MARANHHAY REVISTA LAZERENTA (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
NUMERO 41-B – MAIO - 2020 SÃO LUIS – MARANHÃO
A
presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 320 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
MARANHAY – REVISTA LAZERENTA – 2020 VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS:
VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020
https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 41 – MAIO 2020
https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020
VOLUME 41-B – MAIO 2020
VOLUME 42 – JUNHO 2020
VOLUME 43 – JULHO 2020
REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS
VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_
VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/4ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019
VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 –
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/5ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec
EDITORIAL
A “MARANHAY – REVISTA LAZERENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Em tempos de confinamento, nossos colaboradores estão produzindo muito. Comecei a dar visibilidade aos números das revista no ultimo dia do mês, correspondente ao mês seguimte; a seguir, antecipando em duas semanas: já no inicio da segunda quinzena, estava pronhta e publicada; agora, estou já com dois meses de antecedência... o numero de junho já estava pronto, e iniciado o de julho, e ainda nos primeiros dias de abril... então... vou dar publicidade com o que seria de junho ainda como maio, segundo numero, numero 41-B, segunda quinzena de maio; o de julho, será o de junho, agora, já com alguns artigos... é que já estava passando de 200 páginas, e era para junho... Vamos em frente... A pesquisa sobre Fran Paxeco terá sea segunda parte: FRAN PAXECO – RECORTES E MEMÓRIA: INÍCIO DO EXÍLIO NO BRASIL: RIO DE JANEIRO... Continuamos com o resgate das familías maranhenses, disponibilizadas pela Genealogia Maranhense, sob a responsabilidade do Faraó Ramnsses... assim como o Pensamento Vivo de Jorge Bento, nosso confrade correspondente da Universidade do Porto... O resgate da memória do esporte, lazer e educação física maranhense é o objetivo maior dessa revista, sem descurar da(s) história(s) do9 Maranhão, através de seus cronistas: Ceres, Fernando, Hamilton, Reis, além dos Poetas e Prosadores: Aílton, Bioque, Hagamenon, João Batista... Nesses tempo de pandemia, o ficar em casa resulta em muito tempo para copiar e colar as contribuições dos colaboradores... e são muitas...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
SUMÁRIO 2 6 7 8
EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO
LAZERICES/LAZERENTOS ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA
9
CARINA ÁVILA ARY FAÇANHA DE SÁ - 92 ANOS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ARY FAÇANHA DE SÁ
10 19 43
HISTÓRIA(s) DO MARANHÃO NONATO REIS ATERRO DA RIBEIRA: O DIA EM QUE O REPÓRTER VIROU CAÇA JOÃO LUIS ESQUIVEL A FAMÍLIA BECKMAN E AS SUAS LINHAS PORTUGUESA (ALGARVIA) E BRASILEIRA HAMILTON RAPOSO LICEU UMA LEMBRANÇA PARA SEMPRE! HAMILTON RAPOSO RUAS, APELIDOS E COMUNICAÇÃO, O MARANHENSE É DE OUTRO MUNDO.
NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO Extraindo histórias com o faraó RAMSSES DE SOUSA SILVA GENEALOGIA DE ICATU-MA. OS "ABRAHAM" (ABRAÃO) DE SANTO AMARO MARANHÃO A BARONESA DE GRAJAÚ, DESCENDENTE DOS "LAMAGNERE" DE CANTANHEDE-MA. OS "GARRETT" (GARRETO) DE ANAPURUS E MATA ROMA. OS "COELHO DE CARVALHO", DO PRIMEIRO DONATÁRIO DA CAPITANIA DE CUMÃ, ATUAL ALCÂNTARA A CASA DE BELFORT NO BRASIL
SOBRE LITERATURA & LITERATOS CERES COSTA FERNANDES QUANTO MAIS ANTE VERSOS... CARTA A UM AMIGO HAGAMENON DE JESUS FOI ASSIM CERES COSTA FERNANDES UM FIM DO MUNDO DIFERENTE
POESIAS & POETAS ANTONIO AÍLTON AS LÂMINAS INTERSTICIAIS DE PAULO RODRIGUES
44 46 86 88 89 91 92 93 94 96 99 101 103 104 106 108 109 110
NOVIDADES 113 ENTREVIDTS COM LAÉRCIO ELIASS PEREIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – RECORTES & MEMÓRIAS – PARTE ii
114 121
LAZERICES & LAZERENTOS
ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA Espaço destinado às discussões sobre o Esporte e a Educação Física – antes, dedicado ao Atlas do Esporte no/do Maranhão.
ARY FAÇANHA DE SÁ - 92 ANOS CARINA ÁVILA https://globoesporte.globo.com/df/noticia/referencia-no-atletismo-brasileiro-ary-facanha-de-sacompleta-92anos.ghtml?fbclid=IwAR15t3VyYN2bKqnpyuEvBLBQzc9bKx4DSwPjBNtuSADIGdHGvIRaI9zH97I
Quarto lugar nas Olimpíadas de 1952, primeiro brasileiro a ultrapassar a marca dos 7m no salto em distância, recordista sul-americano por 22 anos... Relembre quase 100 anos de conquistas
Arquivo Pessoal Conversar com Ary Façanha de Sá é mergulhar em uma série de histórias, aventuras e casos inusitados. Além de ter sido um dos maiores nomes do atletismo nacional, teve grande participação na evolução esportiva do país. Primeiro brasileiro a ultrapassar a marca dos 7m no salto em distância, duas Olimpíadas no currículo — com direito a um quarto lugar nos Jogos de 1952, em Helsinque —, recordista sulamericano por 22 anos, recordista pan-americano, preparador físico do time de futebol do Vasco,
idealizador dos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) e descobridor do campeão olímpico Joaquim Cruz são apenas algumas das façanhas — como o próprio sobrenome indica — de Ary. Nascido no interior do Maranhão, em 1928, e criado na cidade de São Luís (MA), o ex-atleta completa 92 anos nesta quarta-feira. De Brasília, cidade em que se firmou em 1965, Ary relembra algumas das boas histórias dos quase 100 anos de conquistas.
Ary Façanha de Sá completa 92 anos — Foto: Arquivo Pessoal Ary Façanha de Sá começou a praticar esportes nas aulas de educação física da escola. A modalidade preferida: atletismo. Quando estava prestes a completar 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer faculdade. A paixão por esportes o levou cursar educação física na Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD) – hoje, parte da UFRJ. Além de estudar na capital carioca, Ary começou a trabalhar em um escritório de advocacia. — Meu pai era juiz federal e tinha muitos contatos no Rio, aí ele me arranjou esse emprego, que não tinha nada a ver com meu curso — explicou Ary. Naquela época, o ex-atleta morava em uma pensão com alguns amigos que também haviam ido estudar na então capital federal. — Um dia, um maranhense que morava comigo, amigo do meu irmão, lembrou-se de que eu gostava muito de saltar quando estava na escola e me convidou para conhecer o clube do Fluminense. Eu aceitei — contou. Nesta visita, em 1949, enquanto passava perto das pistas de atletismo, perguntaram-lhe se não gostaria de dar um salto. Ary não saltava desde o ensino médio, mas decidiu arriscar. Logo de
primeira, pulou mais de 6m de distância e impressionou todos os que estavam treinando ali. Então, passou a frequentar o clube para saltar.
Torcedor declarado do Fluminense, Ary defendeu o clube do coração por dez anos. — Foto: Arquivo Pessoal — Na minha época, os atletas eram realmente amadores. Não recebíamos dinheiro algum para praticar esportes, treinávamos por paixão — destacou. De fato, durante toda a carreira, Ary precisou conciliar trabalho, estudos, treinos e competições. O esporte era um hobby e, não, uma profissão. Além de saltar, também corria diversas provas — principalmente os revezamentos e as corridas com barreiras — e praticava decatlo. Um dos principais atletas da história do Fluminense, Ary venceu o primeiro Campeonato Brasileiro que participou, com menos de um ano de treinamento, e quebrou o recorde sul-americano logo em seguida, no fim de 1951, com apenas um salto de 7,57m.
Ary Façanha de Sá representou o Fluminense por uma década, de 1951 a 1961. — Foto: Arquivo Pessoal Em 1955, nos Jogos Pan-Americanos, na Cidade do México, bateu o recorde pan-americano, com 7,84m, a quarta marca do mundo. Ele quebrava os próprios recordes sul-americanos, que só foram superados mais de 20 anos depois, pelo lendário João do Pulo.
Jogos Olímpicos e chuteiras molhadas Com menos de dois anos de treino, Ary já havia sido convocado para sua primeira Olimpíada, em Helsinque, capital da Finlândia. No dia das provas de salto em distância, choveu bastante e o brasileiro precisou competir com as chuteiras encharcadas. — Naquela época, os sapatos de salto em distância eram muito pesados. Tinham seis pinos na frente e quatro atrás. Hoje em dia, os sapatos só têm quatro pinos no total — pontuou o ex-atleta. Segundo ele, as chuteiras molhadas pesavam mais de 1kg. Mesmo com o peso extra, ficou com a quarta colocação. A medalha de bronze lhe escapou por sete centímetros. No ano seguinte, em 1953, o saltador machucou o joelho enquanto disputava um campeonato sulamericano no Chile. A lesão foi séria e o deixou mais de um ano sem competir. — Ninguém acreditava que eu pudesse voltar, achavam que minha carreira de atleta havia acabado. Depois de alguns meses totalmente parado, Ary decidiu voltar a se exercitar.
Ary Façanha de Sá representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1952 e 1956. — Foto: Arquivo Pessoal — Eu estava morando na casa de uma tia no Leblon, na frente da praia, e comecei a caminhar na areia todos os dias. Assim, foi se recuperando, até que resolveu voltar a competir escondido, sem contar para o técnico. — Se eu tivesse contado, ele não teria me deixado voltar, por medo de que eu me machucasse de novo — avaliou. O Fluminense iria participar do Campeonato Carioca de Atletismo, mas não podia se inscrever no revezamento 4X100m, porque faltava um atleta. O maranhense decidiu ajudar o clube e se inscreveu. O técnico só viu Ary quando o atleta já estava na pista. O desempenho foi bom e, depois deste campeonato, o saltador voltou a treinar.
Ary quebrou o recorde pan-americano nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1955, com 7,84m, a quarta marca do mundo. — Foto: Arquivo Pessoal Classificou-se mais uma vez para os Jogos Olímpicos (Melbourne —1956), mas, desta vez, não foi bem e não conseguiu passar para as finais. Ele conta que, por causa de vizinhos de quarto muito barulhentos no alojamento, não conseguiu dormir na véspera de sua prova. — As pessoas que estavam no meu alojamento fizeram barulho a noite inteira, gritaram, fizeram festa. Eu pedi várias vezes para fazerem silêncio, mas não me deram atenção. Se eu não durmo bem, não sou ninguém no dia seguinte. Sou assim até hoje. Se eu não tiver uma boa noite de sono, não consigo fazer nada direito durante o dia. Atleta do Fluminense durante toda a carreira, Ary parou de competir em 1961 – foram dez anos representando o clube do coração. Neste mesmo ano, conheceu a maranhense Albanisa, que também vivia no Rio. Em 1962, casaram-se. Já são 58 anos de união. — Ela é minha pérola, minha cara-metade — declarou-se.
Ary Façanha de Sá (centro), com esposa, Albanisa, e neto, Lucas, em cerimônia da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, em que foi homenageado. — Foto: Arquivo Pessoal Mesmo aposentado das competições, Ary não parou de atuar no meio esportivo. Tornou-se técnico de atletismo do Vasco e preparador físico do time de futebol cruz-maltino assim que parou de saltar. Em 1965, mudou-se para Brasília para trabalhar como funcionário público no IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários). Na sequência, foi para o IBGE, até que, em 1970, assumiu o departamento esportivo do MEC (Ministério da Educação), onde idealizou os Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) e trabalhou até se aposentar.
— Vim morar em Brasilia porque, à época, ofereceram-me um salário bem maior para trabalhar na nova capital. Para mim não faria muita diferença me mudar para cá, pois eu viajava bastante a trabalho, então podia morar em qualquer lugar. Vim com minha esposa e meu filho mais velho e vi a cidade crescer. Dois dos meus três filhos nasceram aqui. Gostamos daqui e ficamos de vez. Porém, infelizmente, o DF anda muito violento. Acredito que a falta de segurança pública é um dos maiores problemas que enfrentamos, Brasília está cada vez mais perigosa.
Ary Façanha de Sá, campeão brasileiro de atletismo no início dos anos 1950 e recordista sulamericano do salto em distância, recebeu homenagem especial da Câmara dos Deputados. — Foto: Arquivo Pessoal Participações em Jogos Olímpicos: 1952 (Helsinque, Finlândia) – 4º lugar 1956 (Melbourne, Austrália) – Não foi para as finais
OS GRANDES NOMES DO ESPORTE VIMARENSE
ARY FAÇANHA DE SÁ – 1928 Nasceu em 1º de abril, no município de Guimarães; - atleta da Seleção Brasileira de Atletismo - e do Fluminense, do Rio de Janeiro; - recordista sul-americano do salto em distância, participou de duas Olimpíadas, de 1952 e 1956. - Professor de Educação Física, formado pela Escola Nacional, foi o introdutor do Interval-training no Brasil, assim como um dos idealizadores dos Jogos Escolares Brasileiros. Década de 1940 Em São Luís, cursou o ginasial no Colégio de São Luiz, do prof. Luiz Rego criador dos Jogos Inter-colegias -, por onde disputava as provas de 100 e 200 metros, além do salto em distância; consegue a espantosa marca de 5,00 metros. 1949 foi para o Rio de Janeiro estudar - levado pelo irmão, ingressa no Fluminense Futebol Clube, como atleta. 1950 ingressou na Escola Nacional de Educação Física. 1952 recordista sul-americano de salto em distância, com 7,57 m, o que lhe valeu a convocação para a Olimpíada de Helsinque, tendo conquistado o 4º lugar no salto em distância. 1955 bateu o recorde pan-americano, com a marca de 7,84 metros, a quarta marca do mundo. Fonte: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins; VAZ, Delzuite Dantas Brito. QUERIDO PROFESSOR DIMAS (Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) e a Educação Física maranhense – uma biografia (autorizada). São Luís : (s.e.), 2003. (Inédito) – (in ENTREVISTAS).
ATLAS – ATLETAS OLIMPICOS MARANHENSES ATLETISMO
ARY FAÇANHA Ary Façanha de Sá nasceu no dia 1º de abril de 1928, em Guimarães (MA). Filho de um Juiz de Direito. Descobriu o que era o atletismo em 1949, no Colégio São Luis, onde estudou; depois muda para o Rio de Janeiro. Corria, saltava, mas gostava mesmo era de futebol, chegado a jogar pelo Moto Clube, porém a atividade era proibida pela sua mãe, receosa que ele se machucasse. Começou a treinar atletismo no Fluminense, com o técnico Frederico. Logo no primeiro treino saltou 6 metros e passou a se dedicar a essa prova. Em seu primeiro campeonato, obteve o 2º lugar. No ano seguinte, venceu o campeonato de juniores e também o campeonato brasileiro. Foi preterido na primeira edição dos Jogos Pan-Americanos realizados em Buenos Aires, em 1951, mesmo tendo o melhor índice. Isso o fez se dedicar ainda mais aos treinos, para não mais ser esquecido ou superado. Foi, então, ao Jogo Olímpicos de Helsinque, em 1952. Estava em 3º lugar na prova de salto, quando uma chuva torrencial interrompeu a competição. Ao saltar, seu sapato de couro encharcou, impedido-o de fazer um salto melhor. Terminou a prova em 4º lugar. Foi recordista brasileiro de salto em distancia. Em 1955, foi campeão universitário na Espanha. Foi também aos Jogos Olímpicos de Melbourne, na Austrália, em 1956. Desiludido com a prova de salto, passou a correr os 110 e os 400 metros com barreiras. Formado em Educação Física, atuou como técnico no Vasco da Gama. Em 1965, mudou-se para Brasília, onde passou a trabalhar como Professor de Educação Física e, depois, Diretor de Escola. Em 1968, foi para a Secretaria de Esporte do Ministério de Educação e Cultura (MEC), e, nessa Secretaria, criou os Jogos Estudantis Brasileiros
1949 – Correio de manhã (RJ) 29 de julho
30/07 – No Correio:
31/07 – Correio da Manhã:
SETEMBRO, 1ยบ -
17/09
06/10 -
15/11
1949 – Fevereiro
A MANHÃ, 20/08/1949
JORNAL DO BRASIL – 1949 – 31/07 – Ary Façanha não consegue quebrar o recorde AGOSTO, 21 – Ary Façanha consegue 12,49 no Salto Triplo, no Campeonato para Juniors SETEMBRO, 2 – Estava inscrito no salto em distancia do Troféu Marcio Cunha; consegue o 1º lugar, com 6,94m OUTUBRO, 08 – No Campeonato Carioca, estava inscrito no Decatlo NOVEMBRO, 13 – Disputando o Campeonato de Juniors, no salto em Distancia DEZEMBRO, 05 – Eliminatória do Sulamericano – Salto em Distancia – 1º lugar com 6,46m 1950 – A Manhã Esportiva – Julho, 25
1951 – A Manhã, 21 de janeiro
A MANHÃ, FEVEREIRO, 11 1951
ABRIL, 17 – Sport Ilustrado
MAIO, 31 – a Manhã
1952 – A Manhã – 15 de maio:
MAIO, 27 – A MANHÃ
1952 - Em A Pacotilha de 28 de junho, noticia publicada: “Um Maranhense para as Olimpiadas de Helsinki”, informando que estava preparado para a competição, segundo declarações de seus técnicos Frederico Hokstater e Osvaldo Gonçalves. Convém salientar que Ary Façanha de sá começou sua carreira esportiva no Colégio de São Luis, ingressando no Moto Clube de são Luis, até sua transferência para o Rio de Janeiro. Esse mesmo jornal (1º setembro) noticia a chegada à São Luis na segunda-feira seguinte do campeão sulamericano e quarto colocado na Olimpiada de Helsinki, Ary Façanha de Sá. O COMBATE, 12 DE SETEMBRO DE 1952
13/09 – O Esportista Ary Façanha de Sá agradece ao Governador do Maranhão, Eugenio Barros, a visita que fez quando de sua chegada. (A PACOTILHA). Nesse mesmo dia, é homenageado pelo TJM. 14/09 – É homenageado na sede do S.E.F.E. – Serviço de Educação Física do Estado, presentes vários esportistas: Carlos Vasconcelos, Rubem Goulart, Dejarde Martins, e outras personalidades. Foram servidos doces e refrescos... 23/09 – É homenageado na sede da F.M.D., com a presença de seu pai, José Façanha de Sá Filho. NOVEMBRO, 05, Em A Manhã
1953 – JANEIRO, 03 – A Manhã:
ABRIL, 09 – A Manhã
1954 – 1º abril – A Pacotilha – nas notas sociais, aniversário de Ary Façanha de sá, filho do Juiz da 3ª. Vara da capital, José façanha de Sá Filho. O COMBATE 1957
1956 – Sport Ilustrado
1958 – Maio, 17 – anunciada a vinda à São Luis do “fabuloso Ary Façanha”, para inspecionar as quadras, árbitros, e demais condições para a realização dos Jogos Universitários regionais, reunindo equipes do Maranhão, Pará, Ceará e Piauí. A vinda de Ary seria para inspecionar a Comissão de Atletismo.
HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO
ATERRO DA RIBEIRA: O DIA EM QUE O REPÓRTER VIROU CAÇA NONATO REIS O engenheiro Pedro Aurélio da Silva Carneiro, especialista em saneamento ambiental, é um dos profissionais mais competentes, com quem tive a oportunidade de conviver. Foi dele o projeto que recuperou a área do lixão do Jaracati, para que pudesse receber o São Luís Shopping, numa operação que muitos julgavam temerária, em face do que havia ocorrido com o shopping de Osasco/SP. Pedro provou que quando a ciência é bem aplicada os riscos de insucesso se reduzem drasticamente. Nas gestões de Pedro Fernandes Ribeiro e Tadeu Lima à frente da Coliseu, foi consultor técnico da empresa, para quem elaborou os estudos que deram suporte à implantação do aterro sanitário da Ribeira. Sob seu comando, elaborou-se o Rima (Relatório de Impacto Ambiental) e o EIA (Estudo de Impacto Ambiental), documentos indispensáveis para as licenças dos órgãos que cuidam da preservação do meio ambiente. E conduziu as audiências públicas, onde travou debates memoráveis com outros técnicos de renome. Pedro Aurélio não é do tipo que costuma perder uma discussão técnica. Podia ser com quem fosse. Sua oratória clara e concisa, a voz grave e o ar de quem domina amplamente o assunto, lhe davam uma aura de superioridade e ele sempre deixava os ambientes, exibindo um sorriso de vitória. Pedro Fernandes e Tadeu Lima tinham total confiança nele. A implantação de um aterro sanitário é um processo complexo. Exige estudos, discussões, investimentos e muita paciência. O aterro da Ribeira, porém, jamais foi uma unanimidade. Aqui e ali surgiam críticas quanto ao seu monitoramento e localização. Diziam que o lixo não era adequadamente aterrado e que ao chorume (líquido que se desprende da matéria orgânica em decomposição, altamente perigoso, pelo seu poder de contaminação), não era dado o tratamento devido. A maior reclamação sempre foi a concentração absurda de urubus nas áreas de sua influência, o que poderia colocar em risco as operações de pouso e decolagens no aeroporto Cunha Machado. No tempo em que Pedro Aurélio fazia o monitoramento do aterro, as denúncias tinham pouca consistência e não passavam de eventuais notas nos jornais locais, às quais ele sempre rebatia com precisão. Um dos maiores críticos do aterro era o maranhense João Tinoco Pereira Neto, um dos especialistas mais acreditados do País, respeitado no mundo todo por seus estudos sobre técnicas de tratamento do lixo. Tinoco defendia a ideia de que São Luís adotasse um projeto de sua autoria, que tinha um preço relativamente baixo e oferecia bons resultados. A usina de compostagem trata o lixo orgânico por meio de um processo químico, para transformá-lo em adubos e fertilizantes com aplicação na agricultura. A parte sólida, como papel, alumínio, vidro e plástico é separada e reciclada. Contudo, suas críticas ao aterro sanitário, apesar de válidas, deixavam no ar uma sensação de ego ferido, pelo fato de a prefeitura ter optado pelo aterro e descartado a sua fórmula. Um dia, já sob a gestão de Tadeu Lima, a Coliseu promoveu um seminário para discutir formas de tratamento do lixo e, entre outros convidados, trouxe Tinoco, Professor Doutor da Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, para proferir palestra. No dia do evento o clima já era carregado porque Tinoco havia concedido entrevista ao jornal O Estado do Maranhão, em que criticava a forma de operação do aterro.
Eu era assessor de imprensa da Coliseu, mas a minha condição de repórter falou mais alto e, ao ver Pedro Aurélio, perguntei-lhe de chofre. “Pedro, afinal o aterro é seguro ou não? Você viu a entrevista do Tinoco de hoje?”. Ele explicou que estava atrasado para a sua palestra, mas sugeriu que eu formulasse a pergunta na hora em que ele terminasse a exposição do tema e abrisse para os debates. E assim foi. Mal terminou a palestra e eu ergui o dedo indicador, solicitando o microfone. Ao fazer a pergunta, os olhos de Pedro faiscaram. E sem papas na língua, fuzilou: “Olha, meu ilustre repórter, sou obrigado a acreditar que algumas pessoas agem por má fé. Quem diz que o aterro é mal conduzido na verdade torce para que ele não dê certo”. Tinoco, que se encontrava no fundo do auditório, tentou rebater e o clima ficou insustentável. Foi aí que Jackson Lago, então prefeito, fez valer o peso do cargo e da sua autoridade moral. Com ar circunspecto, falou calmamente. “Vejo que esta é uma plateia de estudiosos, de gente que professa o conhecimento. Eu também pertenço a esta área, porque me formei em Medicina e trabalhei como médico durante muitos anos, procurando amenizar o sofrimento de muita gente". Fez uma pausa, olhou o auditório como se o medisse de cima a baixo, e concluiu: "A ciência deve ter como objetivo tornar melhor a vida das pessoas. Agora, o que vejo aqui, os senhores me desculpem, isto não é ciência. É ciência de menos”. O silêncio caiu pesado sobre a sala e logo em seguida o debate foi encerrado. Eu saí do recinto, me sentindo desconfortável e uma dúvida me atormentava. Teria sido ético, agindo como repórter, ao invés de manter a postura de assessor de imprensa da empresa? Ia descendo o corredor do Hotel Pestana, onde se dava o encontro, quando encontrei um diretor da Coliseu, que com o bom humor habitual, alfinetou-me. “Reis, tu querias derrubar o cara?” Não sei a quem ele se referia, mas respondi com a primeira ideia que me ocorreu. “Não, amigo. Eu é que me dei uma rasteira”.
A FAMÍLIA BECKMAN E AS SUAS LINHAS PORTUGUESA (ALGARVIA) E BRASILEIRA JOÃO LUIS ESQUIVEL. http://genalg.blogspot.com/2015/08/ https://genalg.blogspot.com/2015/08/a-familia-beckman-e-as-suas-linhas.html
I Avant-propos Iremos ver como da Alemanha a descendência chegou ao Brasil sendo que alguns dos seus membros foram figuras destacadas e controversas da política colonial quer contra, quer em representação da coroa assim como membros destacados da elite algarvia e lisboeta deixando descendência nos apelidos Beckman, Vilalobos, Correia da Silva e Leote. Introdução Este texto tem como objectivo reunir informações sobre a descendência de um mercador, negociante e empreendedor alemão que viveu em Lisboa no final do Séc. XVI e XVII e que deu origem a dois ramos importantes da família em ambos lados do oceano Atlântico. O primeiro membro desta família de que se tem notícia é Tomás Bequeman, (Thomas Beckman), que foi baptizado em Timunt, Alemanha [Schappelle, 1917]. Esta informação consta de um dos assentos de baptismo de um dos filhos que pode ver-se mais abaixo. No entanto, não consegui descobrir qual a equivalência a uma qualquer cidade alemã ou considerada alemã no fim do séc. XVI, princípio do séc. XVII. Até poderia ser holandesa, belga ou mesmo hanseática, ou outro país europeu do norte pois o pároco que escreve o assento, lamentavelmente, não se dá ao trabalho de o clarificar. Será que queria dizer Dortmund? Já existia nessa época e era um dos maiores centros comerciais do Rhur. Especulações! Tomás era negociante em Lisboa e vivia na freguesia da Madalena, freguesia da baixa na capital desse século, zona central de concentração do comércio citadino e de importação e exportação de tudo o que passava por Lisboa, à beira-rio. A cidade sofreu uma convulsão tremenda a partir de 1 de Novembro de 1755 com o terramoto que a devastou. Muitos estragos foram feitos nos edifícios e, particularmente, nos arquivos paroquiais
e outros. Lamentavelmente, da Madalena, só estão disponíveis os assentos posteriores a 1755, ano desse desastre, o que dificulta a pesquisa de informações mais concretas. Thomas Beckman casou com Leonarda das Neves, filha 1 de António Soeiro e Rosa Rodrigues 2. António e Rosa ainda foram pais de Polónia de Barros casada com José Aleixo e de Frei José de Santo António. Enquadramento histórico Os sucessos que se vão relatar carecem de enquadramento histórico para um mais fácil entendimento das acções, suas justificações e respectivas consequências. O fim do séc. XVI e princípio do séc. XVII vê o território nacional governado pela dinastia dos Habsburgos numa união dinástica (1580-1640) que nem sempre favorece os interesses portugueses. Tinha sido convencionado que os territórios além-mar seriam governados por Portugueses e que não haveria interferência da casa soberana espanhola o que, na realidade, não veio a acontecer. Países europeus como a França, com o objectivo de fazer guerra ao seu arqui-adversário Inglaterra, e a Holanda, em guerra independentista com os seus soberanos Habsburgos, acharam que ao atacar as províncias portuguesas fariam dispersar as forças defensivas, primeiro as portuguesas e depois as espanholas. Os objectivos eram diferentes: a França queria colonizar, a Holanda pilhar! Vejamos o que se passou na região do Maranhão, centro da nossa história no Brasil. Os ataques na costa brasileira começaram a ser feitos pelos Franceses nos anos 1555, 1594 e entre os anos 1612-1615 e pelos Holandeses entre 1624 e 1654 não encontrando muita oposição e apostando, essas nações, em que não seriam enviadas tropas reais portuguesas para defender os nossos colonos e territórios. Assim aconteceu. De França partiram, primeiro, Nicolas Durant de Villegagnon que aportou à baía de Guanabara a 10 de Novembro de 1555 com 600 almas a bordo. Só foram expulsos cinco anos depois, em 1560. Seguidamente, Jacques Riffaut fundou uma feitoria (1594) no local onde depois (1612) seria instalada a primeira colónia francesa que adoptou o nome de São Luís em honra do rei francês Luís XIII e de seu antecessor Luís IX, São Luís. Nesse ano, Daniel de la Touche, Senhor de La Ravardière, chegou com cerca de 500 colonos mas a colónia só resistiu até 1615. A 9 de Maio de 1624 uma armada holandesa com 3400 homens comandada por Jacob Willekens, e depois de bombardear fortemente a cidade, conseguiu a rendição do governador e a ocupação da cidade da Baía de todos os Santos. A dita ocupação durou até 27 de Março de 1625. Nova invasão, desta feita em 1630 com 56 navios pelos mesmos Holandeses, conquista Recife. João Maurício de Nassau assume o comando dos interesses da Companhia das Índias Ocidentais na costa brasileira em Pernambuco (1637). De seguida, os Holandeses liderados por Pieter Baas, desembarcaram em Novembro de 1641 no Desterro e destroem a cidade de São Luís. Vinte e sete meses depois eram obrigados a sair do Maranhão. Destituído em 1644, Nassau volta aos Países Baixos e em 1654 os Holandeses abandonam o Recife. Apesar de terem sido derrotados em quase todas as batalhas que travaram com as tropas luso-brasileiras, pelo Tratado de Haia (1661), 1
2
Outras fontes repetem a informação que segue: Senhora de Montargil, a 11 de Novembro de 1615 batizei a Leonarda filha de Gaspar Ximenes e de sua mulher Ana Correia. Padre António Correia. ANTT, Lisboa, Conceição Nova, M-6-? Imagem 529. No entanto, e uma vez que já não existem os registos paroquiais do local de nascimento, confio mais nuns apontamentos (datados entre 1668 e 1744) de Francisco Correia da Silva e que se incluem num Instrumento de Testemunhas e que se encontram no Arquivo da Relação Eclesiástica de Faro relativos a Rozendo Manuel da Silva.
FHL, maço19n2.
Portugal obriga-se a dar Ceilão e Sri Lanka aos Holandeses e a pagar uma indemnização de 4 milhões de cruzados (8 milhões de florins ou 63 toneladas de ouro!) em troca de reconhecer a soberania portuguesa sobre os territórios brasileiros e Angola, o que a coroa Portuguesa ficou a pagar durante os 10 anos seguintes.
Lisboa, Terreiro do Paço (1662, Dirk Stoop) Para resolver todas as questões pertinentes dos territórios colonizados a Coroa Portuguesa criou o Conselho Ultramarino em 1642 que veio substituir o Conselho das Índias e Conquistas Ultramarinas. Todas estas incursões, invasões e situação de guerra latente e desgastante, se deveram à cobiça dos países intervenientes em conseguir para si um quinhão do grande negócio do açúcar – o ouro branco –, das "drogas" amazónicas, como cacau, baunilha, canela, cravo resinas aromáticas, etc e do mercado de escravos africanos. O açúcar e restantes produtos da terra eram exportados para Portugal que por sua vez os distribuía no resto da Europa com ganhos consideráveis. Aos colonos eram dadas terras e isenções de modo a aliciar as migrações para as regiões ultramarinas. Muitos dos que partiram eram atraídos pela potencial melhoria da sua condição pessoal e social, para escapar à Lei, em consequência de ordens de desterro, ou simplesmente pelo espírito aventureiro. Eram acompanhados por membros do aparato militar, religioso e de Estado nas suas vertentes judiciária, policial, burocrática e da Fazenda que acautelavam os interesses últimos da coroa. A composição dessa sociedade variou no tempo e com o tamanho das comunidades que, se umas vezes primavam pelo equilíbrio das suas forças, outras vezes resultavam em situações despóticas e arbitrárias de alguém em quem se aliava a sede de poder com a maldade. Nem todas as comunidades tinham sempre o mesmo figurino nem cada comunidade deixava de ter variações destes modelos ao longo do tempo.
São Luís do Maranhão (1629, Albernaz)
Passada a primeira centúria que se caracterizou pelo estabelecimento de feitorias simples nas orlas costeiras, à medida que o tempo ia passando iam chegando mais colonos. Nas roças plantavam algodão, cana, tabaco, cacau e baunilha. Os incipientes centros urbanos iam desenvolvendo-se funcionando como centros distribuidores da produção açucareira dos engenhos, unidades unifamiliares e latifundiárias que com base no trabalho escravo conseguiam a produção em massa do dito Ouro Branco. As safras eram vendidas na maioria das vezes de antemão, sendo esse dinheiro usado na compra de escravos, sua alimentação, manutenção dos plantios, sobrevivência da família, investimentos nas infra-estruturas industriais e/ou novas propriedades o que a partir de certa altura passou a fazer parte do universo imediato e responsabilidades do senhor do engenho. A maioria dos fazendeiros teve que sofrer a escassez da mão-de-obra, a variação dos preços do açúcar, a valorização ou desvalorização da dívida pessoal à Coroa ou ao Estanco, a ocupação forçada pelas tropas invasoras, os ataques dos índios autóctones e as carências generalizadas de uma população entregue aos seus próprios artifícios num clima quente e difícil. Se conseguiram sobreviver deveuse à sorte, à capacidade de gestão individual e à existência de uma política de casamentos e correspondente descendência que foi consistentemente capaz de levar os engenhos a bom porto, mas não necessariamente por esta ordem de importância. A intervenção da Coroa Portuguesa, particularmente na zona do Maranhão, tinha como objectivo o controle do escoamento da produção e a sua valorização, disponibilizando em contrapartida os recursos que seriam necessários a uma comunidade variável em crescimento e com características próprias em cada território. Foi criado o que era conhecido como Estanco, a Companhia Geral do Comércio do Maranhão. Como a Coroa não conseguiu o retorno esperado arrendou-o a uma companhia privada de acções em Lisboa a quem foram dados privilégios por 20 anos, isenção de impostos e tribunal específico para tratar as ditas demandas. Entre outras obrigações devia fornecer aos maranhenses objectos de ferro e aço, produtos manufacturados do reino, especiarias do Oriente, por troca de géneros da terra vendidos na Europa, exclusividade do tráfego de escravos devendo importar um total de 10 000 cabeças, a 500 escravos por ano [Barroso, 1937, p.80] 3. Os bens que vinham da metrópole eram, por exemplo e segundo Frei Ivo D'Evreux: cabos de pau, tesouras, pentes, espelhos, contas de vidro, machados, foices, chapéus baratos, casacos, camisolas, apitos, brincos de orelha, anéis de cobre dourados, guizos, anzóis, etc. A funcionalidade desta companhia, governada a 6000 km de distância, foi precária sob o ponto de vista moderno mas foi um feito considerável para à época, tendo em conta a unidade e quantidade total dos territórios sob colonização portuguesa no Atlântico, Índico e Pacífico Oriental e o facto do governo português estar a recuperar a independência fazendo a guerra nas suas fronteiras imediatas e remotas (1640-1668) o que provocou, em muitos casos, o descontentamento das populações, escassez de matéria-prima e de escravos e a demora no escoamento da produção agrícola. Se à distância somarmos a pouca segurança das rotas marítimas e o assédio constante aos navios mercantes portugueses que cruzavam os mares e faziam a ligação entra a Europa a África e América do Sul temos todos os indicadores para que, em algum período, houvesse uma crise de continuidade com as correspondentes consequências. Os fazendeiros não estavam entregues a si próprios como referimos acima mas havia ainda um outro terceiro poder na sociedade que se entrepunha entre essa independência e a autoridade real. Um grupo de religiosos, os Jesuítas 4, queria impor os seus valores e vontades de acordo com uns princípios que chegaram a ter a oposição da Igreja Católica. As “reduções”, ou missões jesuítas, eram unidades autónomas, autóctones e auto suficientes de índios com governo próprio cujo objectivo era a conversão e ensinamento da Palavra de Deus mas em moldes europeus com objectivos algo utópicos. A mão-de-obra semi escravizada era a força de trabalho das plantações e engenhos dos jesuítas que faziam concorrência à produção dos senhores de engenho. Apesar dos fazendeiros preferirem os escravos africanos os conflitos com a Ordem surgiam por haver escassez 3
Barroso é notoriamente faccioso e agressivo nos termos que usa para tratar estes temas. Há que ter alguma cautela com a utilização desses textos. 4 Veja-se http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/padres-fora para mais informação sobre este grupo de religiosos no Maranhão.
deles e terem, os fazendeiros, que recorrer aos escravos indígenas cujo monopólio era controlado pelos Jesuítas.
Canibalismo, índios Tupinambá (Séc. XVI, Theodor de Bry) Distribuídos pelos 827 km2 da ilha de São Luís havia mais de vinte e cinco aldeias de índios que mantinham uma constante instabilidade social. A tribo de índios Tupinambáque ocupava o território disputado pelos colonos e a primeira a ser alvo da cobiça e da vontade escravizadora dos colonos. Deslocavam-se acompanhados de todos os membros do grupo, viviam da recolha de frutos e da rapina de outros agrupamentos tribais roubando-lhes os pertences e, inclusivamente, praticando o canibalismo dos vencidos, comportamento que de certa maneira justificava a ideia de serem animais e a determinação da sua redução à escravatura. Os colonos usaram, ainda assim, os índios como guerreiros, integrando-os nas suas tropas, como “línguas” para contactos com outros grupos de indígenas, como batedores ou como espias levando-os com eles quando “desbravavam” o interior nos sertões ou atacavam as posições dos inimigos, quer fossem holandeses, quer fossem franceses, quer outros quaisquer que ameaçassem a segurança do agrupamento de colonos. Há relatos bastante numerosos e detalhados onde se descrevem os comportamentos violentos de ambos os bandos, colonos e índios, demonstrando uma notória insensibilidade dos vencedores e falta geral de humanidade para com os vencidos, incluindo mulheres e crianças. Ora o ponto de conflito dos colonos com os jesuítas era que, ao abrigo da alegada protecção dos indígenas, os jesuítas usavam os índios nas suas múltiplas fazendas e engenhos como trabalhadores na produção de açúcar ou algodão, mantendo um monopólio e controle sobre os mesmos índios e não deixando aos colonos o seu quinhão de trabalhadores. Havia denúncias de exploração do trabalho dos ameríndios por parte dos jesuítas: eles não pagavam pelo serviço e também não permitiam que os colonos o fizessem; impediam o contacto dos gentios com os moradores; castigavam os índios que desejavam trabalhar sob remuneração para os portugueses; não “repartiam” os índios de maneira igualitária entre os membros da sociedade; também mandaram prender o líder da aldeia do Maracanã, o que levou à revolta dos seus. Com essa conjuntura, em 15 de maio de 1661, os
moradores do Maranhão decidiram expulsar os jesuítas 5. As condições estavam criadas para o desenrolar dos acontecimentos que de seguida se referem.
Expulsão do Padre António Vieira e outros Jesuítas de São Luís do Maranhão, 8 de Setembro de 1661, Brasil (gravura Séc. XVIII)
OS FILHOS DE TOMÁS BECKMAN E LEONARDA DAS NEVES Manuel Beckman (Manuel Bequimão), nascido em a 1 de Janeiro de 1638, em Lisboa, Conceição Nova. Foi padrinho João Nicolau morador na freguesia de São Paulo. Veio para o Maranhão em 1662 [Costigan, 2010, p. 147.]6 e casou em 1664, com 26 anos, no Brasil, com Maria Almeida Albuquerque Pereira de Cáceres, uma mulher de famílias judaicas cunhada de seu irmão [Costigan, 2010, p. 147]. A descendência assume-se extinta. Veja-se ponto II. Catarina Bequeman, b. a 21 de Novembro de 1640 na freguesia da Conceição Nova 7 em Lisboa e que casou com Francisco Correia da Silva com descendência no Algarve e Lisboa. Veja-se ponto III - A Ligação Algarvia. Thomas Beckman (Tomás Bequimão) nascido a 30 de Novembro de 1643 na Conceição Nova 8. Casou no Brasil com Helena de Cáceres, irmã de sua cunhada, com descendência. Veja-se ponto II. Juliana Beckman, a mais nova dos 4 irmãos, casada com André da Costa Villalobos, com geração. Veja-se ponto IV.
5
http://www.ohistoriante.com.br/revolta-de-beckman.htm (Jan 2014) Carlos de Lima já o dizia, p. 378. 7 Aos 21 de Novembro de 1640 baptizei a Catarina filha de Thomaz Biqimão e de sua mulher Leonarda das Neves, foi padrinho Jaqes Stuberat morador nesta freguesia e madrinha Maria de Bairros moradora nesta Freguesia. Banha. ANTT, Lisboa Conceição Nova, M-8-29, imagem 33. 8 Nasceu a 30 de Novembro de 1643 na mesma freguesia. O pai é referido como Thomas deCimão, sendo padrinho Roberto Coque morador na freguesia da Madalena. 6
OS FILHOS DE TOMÁS BECKMAN As ligações dos irmãos Beckman à inteligentia do Maranhão e a Lisboa. Num texto curioso vem referido que João Pereira de Cáceres, de quem eram genros Manuel e Tomás, foi um dos primeiros e talvez o mais importante empreendedor a instalar-se no Mearim, ainda em meados do séc. XVI (…) era rico e influente proprietário de engenhos [Fernandes, 2011, pág. 145]. Era comerciante de açúcar, homem de grande fortuna e proprietário do engenho Vera Cruz9. As suas duas filhas casaram com os irmãos Beckman. Tinha ainda dois outros filhos, Inácio Pereira e João de Cáceres, e viviam todos no engenho Vera Cruz propriedade de João Pereira de Cáceres, no Mearim. Ainda assim o mesmo texto afirma que Manuel Beckman o sucedeu na direcção dos engenhos. João Pereira de Cáceres, vereador mais velho da câmara em 1652, já estava em terras brasileiras pelo menos desde 1639 ano em que já comandava o forte de Gurupá 10. Em 1652, João Pereira de Cáceres foi escolhido pelo Padre António Vieira como portador da resposta aos protestos dos moradores contra a lei desse ano que proibia o cativeiro dos índios [Lima, 2006, p. 379, nota 4]. Em 1654 João Pereira de Cáceres tinha sido indigitado para substituir André Vidal de Negreiros no governo do Maranhão demonstrando-se assim a sua importância na comunidade de São Luís11. Na Crónica de Bettendorff 12 é feita referência ao facto que o Colégio Nossa Senhora da Luz em 1663 tinha três pleitos, um dos quais era com Manuel Beckman que dizia respeito à herança deixada pelo seu sogro, disputada também pela companhia de Jesus [Bettendorff, 1990, p. 224]. Maria Liberman estudou outros processos de membros da família Cáceres instaurados pela Inquisição, como os de Maria de Cáceres, João da Costa Cáceres, Filipa da Costa Cáceres e Leonor da Costa Cáceres. Outros foram chamados como testemunhas como Manuel da Costa 9
Vastíssima propriedade que abrangia grande parte do que depois seria o município de Victória do Mearim. A sede da propriedade, ao que tudo indica, ficava no lugar de Santa Cruz, hoje pertencente ao município de Conceição do Lago de Açu criado em 1997 após desmembrar-se do de Victória. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_do_Mearim (Mar 2015). 10 http://www.hpip.org/Default/pt/Homepage/Obra?a=1499. (Set 2014). 11 AHU_CU_009, Cx. 3, D. 352, Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. João IV, sobre a petição do mestre de campo, André Vidal de Negreiros, nomeado governador do Maranhão, para que António Teixeira de Melo, João Pereira de Cáceres e Baltazar de Sousa Pereira o substituam no governo do Maranhão enquanto não chegar o seu substituto para o Pernambuco. Lisboa, 27 de Novembro de 1654. 12 João Felipe Bettendorff era luxemburguês nascido em 1625 e foi padre e missionário no Maranhão na época da revolta do Bequimão, in [Arenz, 2013, p. 271-322].
Cáceres ou Pestana e Antónia Cáceres [Liberman, 1983, p. 70]. António Baião compilou muitos processos da Santa Inquisição entre os quais os do poeta António Serrão de Castro onde são aludidos membros destas famílias [Baião, 1924, p. 9 e seg.] 13. Por outro lado, e segundo os autores João Francisco Lisboa e Maria Liberman, vão-se sabendo as ligações dos Beckman à comunidade judaica. Ambos eram sobrinhos do importante mercador de Lisboa, João Nunes de Santarém, conhecido como cristão-novo e que teve papel importante nas negociações entre portugueses e holandeses sobre os territórios ocupados pelo inimigo no Brasil [Lima, 2006, p. 381.]. À primeira vista julgou-se que sendo Portugal e Holanda velhos amigos e o duque de Bragança elevado a rei da nova monarquia, obter-se-ia a libertação pacífica dos territórios usurpados. Mal D. João se senta no trono, a 19 de Dezembro aproxima-se do soberano o mercador de Lisboa, Jerónimo Henrique da Veiga, que supomos ser cristão-novo, e aconselha o entabulamento de boas relações com a Holanda, caso deseje a recuperação do Brasil, geográfica e economicamente. Como negociante que é, percebe que a classe e o Reino só têm a lucrar, o que D. João também reconhece. Por isso, um dos seus primeiros actos à frente do Estado consistiu em mandar uma embaixada àquele país, convencido de ser essa a melhor política. A 8 de Fevereiro de 1641 seguia para lá, chefiando o grupo de delegados, Tristão de Mendonça e os adjuntos Guilherme Rosen, holandês naturalizado em Portugal, e o mercador hebreu João Nunes Santarém [referido acima]. Entre as instruções que levavam, uma delas dizia respeito à restituição pelos holandeses das terras conquistadas, porquanto fora Portugal que as descobrira e as colonizara, de sorte que a Holanda não podia reter o que pertencia a um Estado amigo. As conferências duraram cerca de dois meses disputadas com firmeza de lado a lado. Conclui-se, por fim, um tratado englobando trinta e cinco artigos, que, no referente às conquistas, favorecia os Estados Gerais, mas a questão ficaria pendente por muitos anos ainda, nela se envolvendo elementos da estirpe judaica, uns defendendo a causa portuguesa, outros porém exigindo a indemnização dos prejuízos que sofreram no Nordeste brasileiro [Salvador, 1976, p. 353].
OS BECKMAN NO BRASIL Os dois irmãos, Manuel e Tomás, foram cedo para o Brasil, o primeiro em 1662, com 32 anos, e o segundo alguns anos depois [Lima, 2006, p. 379]. Aparentemente a família tinha sido alvo de processo de inquirição por suspeita de judaísmo o que, pelos vistos, não foi conclusivo. No entanto a sua origem cristã-nova é dada como certa por Maria Liberman na sua obra emblemática sobre este tema [Liberman, 1983, p. 5] e ainda por Rita de Cássia Freire Silva na sua alegação jurídica 14. Os conflitos entre cristãos-novos e cristãos-velhos deram-se por estes assumiram que os outros privilegiariam os judeus da Diáspora na Holanda e na Inglaterra nas suas trocas comerciais. No entanto se bem que não tenhamos bases exactas para afirmar que os irmãos Beckman, promotores da revolta do Maranhão, fossem judeus, essa hipótese não seria descabida, especialmente se nos guiássemos pelo nome, que lembra bem o de judeus holandeses ou alemães. Sobre isso não insistimos [Izeckson, 1937, p. 82]. Desde 1619 que a Inquisição actuava no Maranhão [Liberman, 1983, p. 7]. O vigário geral visitador e provisor do Estado mandava constantemente papéis ao Reino apontando heresias de mamelucos, índios e cristãos-novos. Os irmãos Beckman foram denunciados à Inquisição de Lisboa como blasfemos e hereges e o Santo Ofício encarregou o comissário em São Luís de averiguar os factos através da inquirição de testemunhas. Rafael Chambouleyron 15 transcreve 13
Vale a pela ler na íntegra esta obra, interessantíssima. http://pt.scribd.com/doc/59548067/BAIAO-Antonio-Episodios-Dramaticos-da-InquisicaoPortuguesa-Vol-II#scribd (Nov 2014). 14 Aspectos Jurídicos da Condenação De Manuel Beckman http://www.webartigos.com/artigos/aspectos-juridicos-da-condenacao-de-manuelbeckman/129769/ (Dez 2014) 15
Professor da Universidade Federal do Pará. Texto apresentado num Seminário no Centro de Estudos Religiosos da Universidade Católica Portuguesa em 25 de Maio de 2002.
que além dos grandíssimos favores do sereníssimo rei para com esta missão, também o eminentíssimo senhor dom Veríssimo de Lencastre, cardeal da santa Igreja romana, e inquisidor geral de Portugal, arcebispo que foi de Braga, nos mandou por uma provisão sua impressa, e em pública forma, que os reitores destes dois colégios [Nossa Senhora da Luz, Grão-Pará e Santo Alexandre, Maranhão] fossem sempre comissários do Santo Ofício da Inquisição em todo este Estado do Maranhão [Chambouleyron, p. 188, nota 89]. II MANUEL BECKMAN Nasceu em a 1 de Janeiro de 1638, em Lisboa, Conceição Nova, como se disse. Veja-se o assento.
Assento de baptismo de Manuel Beckman Era homem bom 16 dos de São Luís do Maranhão, já nesta província, pelo menos desde 1662 [Lima, 2006, p. 378]. Manuel Beckman, o Bequimão como era chamado, era um lavrador abastado no Mearim, português de nascimento mas ligado aos negócios públicos da terra, antigo vereador de São Luís, respeitado e estimado pela seriedade e coragem de suas atitudes, “notável por sua indústria e honrado procedimento” [Marques, 1970, p. 320], (…) o espírito mais lúcido e vigoroso da colónia [Godoy, 1904, p. 317]. Ora esta vida aparentemente pacata não era isenta de conflitos e em consequência de uma desavença, Manuel, o seu irmão Tomás, o seu cunhado José de Cáceres e o alferes Jorge de Barros foram presos acusados da participação do crime de morte de um trabalhador do engenho de Vera Cruz, filho do ex-sargento-mor Agostinho Correia. Os Beckman passarem 2 anos na prisão de Gurupá, Barros foi enforcado [Morais, 1877, p. 402] e esquartejado e o feitor do engenho
16
“O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos”. [ANTONIL, 1711]. Os denominados "homens bons" ao longo do período colonial brasileiro eram os grandes proprietários de terras e de escravos e constituíam o que se pode chamar de classe dominante colonial. O seu poder económico podia também ser convertido em poder político na medida em que eram eles os responsáveis pela composição das Câmaras Municipais da sua área de influências. http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?printconceito=789 (Fev 2015)
degredado para Angola por não testemunhar favoravelmente aos juízes [Lima, 2006, p. 382]. Os Beckman só foram libertados em 167217. Manuel começou a sua vida política sendo eleito vereador de que prestou juramento a 14 de Janeiro de 1668 [Lima, 2006, p. 343] como representante das vontades e ensejos dos colonos residentes perante os representantes da Coroa Portuguesa. Aliás e curiosamente, existe um acórdão da vereação da Câmara de São Luís do Maranhão, do séc. XVII, do qual consta a assinatura de Manuel Bequimão. Adiante a imagem da sua assinatura de uma carta que ele escreveu a D. Pedro II.
Assinatura de Manuel Beckman na carta escrita a D. Pedro II (Arq. Biblioteca da Ajuda, Códice 50-V-37, fls. 39 a 44) Ao opor-se às políticas do general governador Inácio Coelho da Silva é acusado pelo governador de ser um homem turbulento. Esta acusação e outros processos pendentes como uma invetigação pela Inquisição levam-no a escrever para Portugal. Protestou ao Rei (D. Pedro, Príncipe Regente) escrevendo-lhe uma carta em 167918, quando já pela segunda vez em menos de dez anos, se encontrava preso, degredado, no Forte de Gurupá, amargando os dissabores de seu génio insurrecto [_____, Acusar…, p. 21]. Daquele cárcere, perdido na imensidão da selva amazónica, o prisioneiro dirigiu à coroa comovente petição, datada de 13 de Junho intitulada Representação a S M de hum homem culpado numa morte e com a relação do sucedido e algumas notícias do Maranhão. Nessa correspondência Manuel Beckman procura inocentar-se, a seu irmão Thomaz Beckman [Liberman, 1983, p. 71-73] e aos restantes envolvidos no processo de morte do dito trabalhador do engenho. Desta situação resulta uma devassa do governador Coelho da Silva a Manuel Beckman de que resultou que o Rei ordenou o mandasse para sua casa, pois bem castigado estava com o tempo de uma prisão tão larga.19
17
18
19
AHU_CU_009, Cx. 5, D. 567. Consulta do Conselho Ultramarino ao príncipe regente D. Pedro, sobre o requerimento dos irmãos Manuel Bequimão e Tomaz Bequimão, presos na cadeia da cidade de São Luís do Maranhão, em que solicitam que se lhes passe provisão para obterem alvará de fiança. Lisboa, 9 de Abril de 1672. AHU_ACL_CU_009, Cx. 5, D. 567. Requerimento dos irmãos Bequimão, 1672-04-29. Cotas Antigas: AHU_MARANHÃO, CX829 doc 54. AHU_CU_009, Cx. 6, D. 641. CONSULTA do Conselho Ultramarino ao príncipe regente D. Pedro, sobre a devassa levantada a Manuel Bequimão pelo governador Inácio Coelho da Silva, por comportamento desordeiro. Lisboa, 12 de Janeiro de 1680.
D. Pedro II (*1648, R 1683, †1706) Nessa missiva, Manuel Beckman relata as miseráveis condições de vida das populações e a exploração a que estavam sujeitas. Acrescenta ainda que os governadores que vêm para o Maranhão não amam o seu rei porque atraiçoam as suas Leis e a sua ordem. Dá conta de que os quatros fortes das redondezas, Gurupá, Itapicurú, Maranhão e Pará, estão em estado lastimável e abandonados pelos governadores sendo um risco para os colonos permanentes e ao Império Português. Da devassa a que fora submetido, não resultara sua culpabilidade e El-Rei o mandou pôr em liberdade20. Curiosamente esta carta de Manuel Beckman foi escrita um ano depois do Santo Ofício ter começado umas inquirições sobre o estado de ortodoxia dos colonos do Maranhão. Foram inquiridores no Maranhão Frei Cristóvão de Lisboa, Padres Manuel de Lima, João Filipe Bettendorf21, Manuel de Brito e Inácio da Fonseca e Silva22. Os Beckman tinham sido alvo de uma denúncia feita em 1675 pelo Padre Francisco da Madre de Deus que se valeu de um depoimento de uma escrava, Grácia Tapanhuma, que o acusa de ter celebrado uma missa na capela da sua fazenda [Liberman, 1983, p. 78]. A descrição do episódio alvo de inquirição é contado como segue e reproduz-se pela sua curiosidade. Foi uma cerimónia em que participou Tomás Beckman e a sua família e ainda os seus escravos índios e negros. Num Domingo de Páscoa, vestido em traje clerical, ele "celebra" na ermida de sua fazenda uma missa, levantando a hóstia e o cálice. Depois todo um grupo, acompanhado pelo cunhado de Tomás, Inácio Pereira, saiu festivamente numa procissão, para o qual Tomás armara um pálio que seus escravos carregavam, todos vestidos a carácter, simbolizando anjos. Inácio Pereira acompanhava a procissão com um livro nas mãos cantando ladainhas. E ainda que no dia anterior ao da procissão Tomás Beckman realizou a cerimónia do lava-pés nos seus escravos. Agravando a denúncia, um dos donos da escrava Tapanhuma testemunha que presenciou a António da Costa, sobrinho de Tomás Beckman, ser violentamente açoitado e ainda, em desacato à religião católica, haviam levantando duas cruzes em sua fazenda, para serem pisadas pelos moradores. Mas segundo as outras testemunhas, António da Rocha Porto, 53 anos, António de Matos Quintal, 53 anos, Vital Maciel Parente, 59 anos e sua mulher Maria de Melo, 27 anos informam que, para além dos escravos, estas práticas heréticas foram praticadas pela família Beckman os únicos brancos participantes [Liberman, 1983, p. 78-79]. Nota curiosa: o sobrinho António da Costa, referido acima, podia ser filho de sua irmã Juliana Beckman casada com André da Costa Vilalobos cuja descendência também andou pelos "Brasís". 20
Carta Régia de 24 de Janeiro de 1680. Barroso, Gustavo, História Secreta do Brasil, 1.ª parte (1500-1831), 1937, p. 82. 21 Posteriormente expulso de São Luís, por Manuel Beckman, depois da Levantada do Bequimão. 22 Vigário da Igreja Matriz da cidade de São Luís, AHU_ACL_CU_009,Cx.9,D.934 1697-01-08.
O padre Manuel de Brito certificou à Santa Inquisição estas ocorrências sobre os irmãos Beckman e sobre um seu cunhado, Inácio Pereira. O comissário encarregado do seu processo foi o padre Inácio da Fonseca e Silva23 e contra eles foram registados cinco testemunhos, entre eles, os de Vital Maciel Parente24 e de sua jovem mulher Maria de Melo [Lima, 2006, p. 384]. + A REVOLTA DE MANUEL BECKMAN, O LEVANTE DO MARANHÃO OU A REVOLUÇÃO DO MARANHÃO Francisco Teixeira de Moraes escreveu um relato [Morais, 1877, p. 303] do que se passou em 1692, oito anos depois do sucedido. Sendo pró-governamental, pinta um quadro bastante negro de Manuel Beckman em nada justificando o seu comportamento. No entanto Carlos de Lima faz um relato bastante completo e presta informações muito detalhadas sobre tudo o que se passou, apoiado nas obras de Marques, João Lisboa [Lisboa, 1976, p. 386], Berredo [Berredo, 1989, p. 507.] e Varnhagen [Varnhagen, 1978] entre outros. Sabe-se que os dois irmãos fizeram parte da Junta dos Três Estados criada na sequência da Revolta do Beckman que teve lugar em 1684. Manuel ficou como representante da nobreza e Tomás como adjunto. Também foram cabecilhas o escrivão da vedoria, Jorge Sampaio de Carvalho25, o vigário provincial de Nossa Senhora do Carmo, Frei Inácio, O Venturoso e o carapinha Francisco Dias Deiró [Moura, 2004, p. 67] procurador do povo. Bequimão articulou a conjura com sessenta companheiros, que se reuniam à socapa no convento dos capuchinhos. Desde tempos que seu irmão [Tomás] vinha colando pasquins em prosa e verso pelas paredes, pois não havia jornais e essa era a imprensa da época, os quais pasquins concitavam o povo à revolta e criticavam a gente do estanco e do governo que o sustentava. Mais violentos e desabusados ataques faziam os frades capuchos e carmelitas nos seus sermões. Todo o clero "aderiu à revolta", menos os jesuítas, por causa das turras com a nobreza rural desde o caso da escravização dos índios. O próprio bispo não foi estranho ao sucesso e como que até o favoreceu [Bettendorff, 1990, cap. 1]. Tentou conseguir adesões de outras povoações, nomeadamente de Belém e de Tapuitapera (actual Alcântara) mas sem sucesso uma vez que estes não apoiavam a deposição das autoridades reais apesar de concordar com a extinção do Estanco.
23
Que acabou sendo preso e mandado para o Reino em 4 de Maio de 1691. AHU_CU_009, Cx. 8, D. 832. Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre o provimento do padre José Gonçalves Golarte na igreja matriz do Maranhão, em substituição ao padre Inácio da Fonseca e Silva, que fora preso e enviado para o Reino. Lisboa, 4 de Maio de 1691. 24 Sobre quem tinha havido discórdia sobre uma nomeação, entre Manuel Beckman e Inácio Coelho da Silva, que tinha sido expulso aquando da Levantada, mas que agora ocupava o posto de capitão-mor do Maranhão. Vítor Maciel era filho do famigerado Bento Maciel Parente, o maior exterminador dos índios do Maranhão. 25 AHU_CU_009, Cx. 4, D. 462, Certidão (anexo) de Manuel de Carvalho, em que certifica os direitos de Jorge Sampaio, no ofício de escrivão de Ouvidoria. Lisboa, 14 de Novembro de1662. Jorge de Sampaio já tinha desentendimentos com os Jesuítas como se pode ver pelo seguinte requerimento. AHU_CU_009, Cx. 4, D. 455, Requerimento do procurador e de religiosos da Companhia de Jesus do Maranhão para o rei D. Afonso VI, sobre os requerimentos feitos pelo procurador do povo do Maranhão, Jorge de Sampaio de Carvalho, contra os ditos missionários, e os papéis do padre António Vieira. De 19 de Agosto de 1662.
Mapa com a localização de São Luís e Tapuitapera, hoje Alcântara, do lado direito do rio e defronte de São Luís (Atlas de João Teixeira Albernaz, de 1640, Torre do Tombo, Lisboa) O governador que queriam ver posto fora era Francisco de Sá e Menezes aos olhos de todos culpado de se aproveitar, em conjunto com o Estanco, de explorar e tirar partido dos poucos barcos que aportavam a São Luís para expedir cargas particulares e pessoas não deixando espaço livre para os outros comerciantes. Além disso era acusado de usar os escravos e tropas para suprir as necessidades de trabalhadores das suas roças e fazendas impedindo-os de trabalhar para os outros fazendeiros. Um exemplo desta prepotência era o facto dos armazéns do seu palácio serem utilizados para guardar tanto as suas próprias especiarias como as do assentista Pascoal Pereira Jamsen, do Estanco. Havia uma sociedade entre ambos. O cravo que o governador embarcava ia junto com o do Estanco. Contrariamente, e pouco depois de criado o bispado do Maranhão, o seu primeiro bispo, D. Gregório dos Anjos, alinhou, com o povo e com as suas reivindicações e em oposição aos Jesuítas ao disputar a autoridade sobre os índios e escravos. As suas críticas eram também dirigidas ao governador e ao Estanco. Mas com a excepção dos Jesuítas acusados, carmelitas e franciscanos também criticaram assiduamente dos seus púlpitos o status quo até poucos dias antes da Levantada. O movimento fez-se na noite de 14 de Fevereiro de 1684, em São Luís do Maranhão, para acabar com os monopólios dos Jesuítas e da Companhia Geral do Comércio do Maranhão mais conhecida como Estanco criada em 168226. Grande parte da população maranhense estava insatisfeita com a baixa qualidade e altos preços pagos pelos produtos manufacturados e comercializados pela Companhia na região. Outros produtos como trigo, bacalhau e vinho chegavam à região em quantidade insuficiente, demoravam a chegar e ainda vinham em péssimas condições para o consumo. Havia também o problema de falta de mão-de-obra escrava na região. Os escravos fornecidos pelo Estanco eram insuficientes para as necessidades dos proprietários rurais e os seus preços muito altos. Uma solução seria a
26
Por Thais Pacievitch in http://www.infoescola.com/historia/revolta-de-beckman/
escravização de indígenas, porém os jesuítas defendiam27 os autóctones da escravidão [Azevedo, 1999, p. 123]. Tomás Beckman também já tinha tido problemas com as autoridades por pertencer ao rol de homens versistas, como fabricadores de satyras e pasquins contrários ao decoro dos governantes. A Câmara já o tinha processado por desacato ao apelo que lhe fizera para que não continuasse com os seus papéis porque com eles trazia escandalizados os ânimos [Lisboa, 1976, p. 175 e seg.]. Na tentativa de legitimar o golpe, Tomás, homem hábil e versado em Leis, foi enviado a Lisboa onde só chegou 10 meses depois tendo dado tempo a todos os seus inimigos de fazerem uma exposição tendenciosa junto do rei e da corte – Memorial das Doze Propostas28 – e dificultando enormemente a tarefa de Tomás de pleitear a sua causa e a do seu irmão. Segundo Maria Liberman, enquanto permaneceu em Lisboa esteve alojado em casa de seu cunhado versado em Leis, que a autora não consegue identificar achando pertencer à família Cáceres. Ora segundo esta minha investigação, é muito provável que tenha sido em casa de sua irmã Juliana Beckman casada com André da Costa Vilalobos. Veja-se parte IV mais abaixo. Não chegou a ser recebido e foi imediatamente posto a ferros e devolvido ao Brasil. Tentou fugar-se, numa escala que os barcos fizeram em Cabo Verde, com o pretexto de ir a terra ouvir missa e escondendo-se nos gavetões dos paramentos, mas sem qualquer sucesso, sendo reconduzido a terras brasileiras onde chegaram em 15 de Maio de 1685, trazendo o novo governador tenente-general Gomes Freire de Andrade. O patacho onde vinha Tomás atrasou-se e entrou dias depois. Enquanto isto, seu irmão Manuel, homem rico, respeitado, politicamente experiente e lavrador, senhor de engenho e comerciante [Linger, 1992, p. 22], depois de todos as decisões tomadas que incluíam a prisão dos oficiais nomeados pela metrópole, a expulsão dos Jesuítas “culpados” de impedirem a escravização dos povos autóctones índios, e da venda e sorteio e selagem dos bens do Estanco, formou uma milícia composta por outros fazendeiros e povo que ao fazerem-no deixaram de trabalhar nas suas fazendas como era devido e necessário. A segunda expulsão dos Jesuítas de São Luís fazia parte das decisões tomadas pela junta revolucionária. Foi o próprio Manuel Beckman quem comunicou ao reitor do colégio dos jesuitas, João Felipe Bettendorf, a decisão tomada. Transcrevem-se as suas palavras por serem das poucas que se conhecem proferidas por ele e anotadas por Bettendorf: Reverendo padre reitor, eu Manuel Beckman, como procurador eleito do povo, por aquele povo aqui prezente, venho intimar a vossa referência e mais religiosos assistentes em o Maranhão como justamente alterado pelas vexações que padece por terem vossas paternidades o governo temporal dos índios das aldeias se tem resolvido a lança-los fora assim do espiritual como do temporal e não por esta parte não tem que se queixar de vossas paternidades portanto notifico a vossa paternidade e mais religiosos, por parte deste alterado povo que se deixem estar recolhidos ao colégio e não saiam para fora delle para evitar alterações e morte que por aquella via se poderiam accasionar; e entretanto ponham vossas paternidades cobro em seus bens e fazendas para deixá-las em mãos de seus curadores que lhes forem dados e estejam aparelhados para o todo tempo e hora se embarcarem para Pernambuco em embarcações que para este efeito fossem concedidas. [Bettendorf, 1669, p. 363] E assim como se disse assim se fez..... Diz o Padre Iodoco Peres, da Companhia de Jesus, superior da Missão de Vossa Magestade em o Estado do Maranhão, que obrigado em parte pela razão de seu ofício, e em parte das moléstias que lhe causaram alguns dos ministros de Vossa Magestade, partira, em fevereiro de 1684, do Pará 27
Provisão em forma de Ley sobre a liberdade dos Indios do Maranhão e forma em que devem ser admenistrados no espiritual pellos Religiosos da Companhia e os das mais religiões de aquelle Estado, 12 de Setembro de 1663, Anais da Biblioteca Nacional, vol. 66 (1948), p. 29-31. 28 Que os Padres Missionários do Estado do Maranhão Representaram a Sua Majestade, valendo-se do prestígio do Padre António Vieira e de outros jesuítas junto dos poderosos igualmente comprometidos pelos mesmos interesses.
para o Maranhão, onde, à primeira chegada foi preso em o collegio, onde os mais missionários estavam presos já cinco dias havia, pelo povo levantado, com guardas à porta; e pouco depois foi expulsado com os mais para o Brazil, e mandados em dous barcos, com obrigação de pagar fretes delles (...) [Fragmento de carta do Padre Superior Jodoco Perez ao Rei transcrito por João Filipe Bettendorff, p. 404.] À medida que o tempo passava era cada vez mais difícil manter acesa a chama do levantamento tendo Manuel Beckman tomado a decisão de extinguir a milícia entregando a tropa ao sargentomor Costa Belo recém-chegado da metrópole e que viria, depois, a alinhar com o novo governador aplicando o golpe de misericórdia no movimento que pouco menos de um ano tinha. Manuel Beckman ficou algo inactivo retirando-se para o seu Engenho de Vera Cruz do Mearim. Finalmente este homem superior, cedendo à influência contagiosa do abandono geral, do desânimo, da indiferença e do temor, cheio de desgostos e sem ânimo para atinar com uma solução possível às dificuldades em que se via embaraçado, cruzou os braços e desgostoso viveu meses retraído sem quase sair de sua casa, esperando que o tempo viesse pôr termo a esses acontecimentos [Marques, 1970, p. 322]. Com a aproximação e chegada da frota 29 que trazia o novo governador e um juiz desembargador, Manuel Vaz Nunes [ _____, Acusar… p. 23], que tinha o objectivo de julgar a revolta, e sabedores que seriam culpabilizados dos actos praticados, saem todos em debandada. Manuel Beckman, depois de infrutiferamente ter tentado reavivar os companheiros revoltosos e face à completa debandada dos mesmos, não se acanhou e enfrentou o novo governador indo assistir com altivez [Meireles, 1977, p. 134], ao desembarque das novas autoridades. A indiferença com que foi acolhido por Gomes Freire de Andrade, que nem sequer o cumprimentou, levou-o a retirar-se para um esconderijo num engenho da localidade.
Monumento a Manuel Beckman em São Luís do Maranhão, inaugurado em 1910. A base, por debaixo da pirâmide, fez parte do antigo Pelourinho que se pensava completamente destruído em 1889. 29
Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_015, Cx. 13, D.1291
As pessoas intervenientes no processo e julgamento de Manuel Beckman tinham sido alvo, em anos anteriores de conflitos com ele, não ajudando em nada a sua desculpabilização. Desde o padre Inácio da Fonseca e Silva, expulso aquando da Revolta e que depois se viu ser uma fraca rês mas que foi um dos inquiridores do processo, a Vital Maciel Parente que testemunhou contra ele e não favoravelmente devido a Manuel se ter oposto à sua nomeação como sargento-mor e que agora o era, a mulher deste último com certeza por ter sofrido as consequências da não nomeação do seu marido, etc. Manuel acabou ainda sendo traído por um afilhado seu, Lázaro de Melo30, sendo levado à forca31 na Praia do Armazém [Amaral, 2003, p. 86] no dia 2 de Novembro de 1685, em conjunto com Jorge de Sampaio de Carvalho, em consequência da sentença que visava a condenação exemplar dos dois líderes da Revolta do Bequimão32. Ao subir ao patíbulo gritou “Morro satisfeito em dar a minha vida pelo Povo do Maranhão!” ou “Pelo Povo do Maranhão, morro contente!”, verdade ou ficção ficou na memória colectiva pelas mãos dos seus historiadores.33 Deiró foi executado em efígie por se encontrar foragido; Belchior Gonçalves foi proscrito e castigado com açoites em público e desterrado para o Algarve; Eugénio Ribeiro e Tomás Beckman foram remetidos presos para Lisboa e degredados para Angola, depois comutada a pena para Pernambuco, dos frades que participaram um ficou preso no convento, outro foi expulso da sua igreja e outros 30 multados. Fosse como fosse, foi pedido a Vaz Nunes no fim de Novembro desse ano que mandasse para Lisboa as diligências efectuadas no caso do Levantamento do Bequimão 34. Num registo de uma consulta do Conselho Ultramarino, consta que Eugénio Ribeiro, de facto, foi remetido preso para o reino junto com Tomás Beckman, por Manuel Vaz Nunes, desembargador que devassara da revolta. O nome de Ribeiro, neste documento é referente a Eugénio Ribeiro Maranhão35. Manuel Beckman deixava viúva e duas filhas na maior miséria uma vez que seus bens haviam sido confiscados. Conta-se que Gomes Freire de Andrade praticou o acto generoso de mandar arrematá-los em segredo por pessoa segura, doando-os às infelizes [Barroso, 1939, p. 91]. Verdade? Não se sabe!
30
Blog “Gente da Nossa Terra”, tendo como fonte a Enciclopédia Abril Cultural – 1977. http://www.gentedanossaterra.com.br/beckman.html (Mar 2015) 31 Bequimão, como era popularmente chamado, foi conduzido pelo desembargador em processo sumário. Foi condenado à morte na forca, juntamente com seu companheiro revoltoso Jorge de Sampaio de Carvalho, execução que se deu ou no dia 2 ou 10 de Novembro do ano de 1685, na chamada Praia do Armazém, em São Luís, ordenada pelo Governador, “onde depois de convulsas contorções aos poucos foi-se amortecendo até à paralisação total”in [Coutinho, 2004]. 32 -manuel-beckman-bequimao.html (Março 2015). 33 AHU_CU_009, Cx. 6, D. 729, CARTA do governador do Estado do Maranhão, Gomes Freire de Andrade, para o Conselho Ultramarino, sobre a execução dos culpados no levantamento ou revolta encabeçada por Manuel Bequimão e Jorge de Sampaio de Carvalho. São Luís do Maranhão, 15 de Novembro de 1685. AHU_CU_009, Cx. 6, D. 730, CARTA do sindicante Manuel Vaz Nunes para o Conselho Ultramarino, dando conta da execução de Manuel Bequimão e Jorge Sampaio de Carvalho, culpados no levantamento do Maranhão. São Luís do Maranhão, 15 de Novembro de 1685. 34 AHU_CU_009, Cx. 6, D. 732, CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre as diligências realizadas pelo desembargador Manuel, como sindicante no Estado do Maranhão, relativamente à revolta chefiada por Manuel Bequimão e Jorge de Sampaio de Carvalho. Lisboa, 24 de Novembro de 1685. 35 Ver sobre o que escreve o sindicante do Maranhão Manoel Vaz Nunes acerca de remeter presos a este Reino. O Thomaz Bequimão e Eugénio Ribeiro Maranhão com o treslado da devassa que se tirou do levantamento dos moradores da cidade de S. Luiz. 12 de Fevereiro de 1686. AHU, códice 274, fls. 45-45v.
TOMÁS BECKMAN Nasceu a 30 de Novembro de 1643 na freguesia da Conceição Nova, em Lisboa. Como se disse. Veja-se o assento.
Assento de nascimento de Tomás Beckman Entretanto seu irmão Tomás depois de ser desterrado por 10 anos36 por participar na revolta retorna, em 170437, a São Luís. Ao cabo e ao resto, da Levantada ou Revolta do Bequimão, ficou que o Estanco foi definitivamente encerrado, a maioria dos que tinham sido perseguidos foram amnistiados e reconduzidos nos seus postos, quem cooperou foi recompensado com nomeações para cargos públicos e foram postas a descoberto a ineficácia do modelo e o abuso dos gestores do próprio Estanco como se pode ver por documentos da época como por exemplo o que sucedeu com Pascoal Jensen a quem os sócios não aceitaram as contas e que mandaram confiscar-lhe os bens remetendo-o preso para Lisboa. Lisboa não ficou satisfeita com os sucessos de tal modo que em Fevereiro do ano seguinte de 1686 voltava a pedir informações sobre a execução dos culpados de todo o incidente.38 Absorvida e erradicada a intentona, a Revolta do Beckman foi lavada da história pelos poderes estabelecidos na metrópole só voltando a ser reabilitada quando uma jovem república sul-americana necessitou de promover heróis e satisfazer e compor uma justificação ancestral de um movimento que não passava de uma réplica de outros mais antigos, mas com uma grande diferença: o sucesso.
DESCENDÊNCIA DOS BECKMAN NO BRASIL Veja-se agora a descendência dos Beckman de acordo com o que José Ribeiro do Amaral publicou no fim de 1911 e com o que foi apurado pelo autor deste texto até este momento. Vários autores informam, entre eles Amaral, que a descendência dos irmãos Beckman tentou (e conseguiu!) 36
[31] http://www.consciencia.org/o-estado-do-maranhao-a-colonizacao-do-brasil/3 (Nov 2014). https://www.algosobre.com.br/biografias/manuel-e-tomas-beckman.html (Março 2015) 38 AHU_CU_009, Cx. 6, D. 735, Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre a execução dos culpados pelo levantamento dos moradores da cidade de São Luís do Maranhão. Lisboa, 12 de Fevereiro de 1686. 37
destruir muita da informação e documentação arquivada nos cartórios civis e religiosos e que os ligava aos autores da revolta, para não se verem descriminados na sua vida. Esses procedimentos irão dificultar e muito a descoberta das ligações e relações de parentesco entre os seus descendentes. A descendência de Manuel parece não ter seguimento pois a única notícia que até ao início da segunda década do século XX se tem é que depois da sua execução lhe ficaram a viúva e duas filhas, não constante das crónicas do tempo que houvesse deixado filho varão algum, a menos que alguma das suas filhas casando-se, não houvesse dado a descendente seu o apelido de seu pai para assim lhe perpetuar o nome [Amaral, 2003, p. 23-28]. Há uma outra pista que talvez não seja disparate seguir. Numa peça de teatro intitulada Manoel Beckman, drama original brasileiro em 5 actos, da autoria de Carlos Luiz de Saules e impressa no Rio de Janeiro em 1848, (leia on-line aqui), conta-se a história da Revolta do Bequimão pondo nas bocas destas personagens presumivelmente verídicos uns diálogos assumidamente fictícios. Ora o drama desenrola-se não só à volta da morte de Manuel Beckman como à volta da paixão de uma sua pertença filha chamada Ambrosina com Manuel Serrão de Castro, senhor de engenho, e a paixão não correspondida de Lázaro de Mello por ela, afilhado de Manuel Beckman, em sua casa criado e seu traidor. Quem sabe se a descendência possível de Manuel Beckman não vem daqui? Fica a pista.
DESCENDÊNCIA DE TOMÁS BECKMAN NO BRASIL No entanto, de Tomás, consta ter havido numerosa descendência que usou variantes do apelido como Bequimão, Bekman ou Bequimanz. Compulsados que foram vários documentos antigos no Brasil, Amaral depara-se com a referência a um filho de nome Roque, nascido em São Luís, que em 1717 é designado (eleito) para trabalhar no Senado da Câmara, mas uma carta régia, enviada ao governador do Maranhão [Liberman, 1983, p. 116], impede que ele exerça funções públicas em razão dos antecedentes familiares 39. Por essa provisão de 20 de Novembro de 1717 se dizia que tratando da introdução de Roque Beckman no senado recomendava que se tivesse causado algum escândalo não fosse ele mais admitido nessa corporação [JAP 7Jun1915]. Uma outra versão diz que só ficaria impedido se prevaricasse nas culpas das perturbações [Cantanhede, 2011, p. 61]. Foi mandada uma carta pelo governo da metrópole datada de 15 de Maio de 1721 respondendo a queixas feitas por um sargento-mor sobre o revoltoso Roque Beckman e outros [JAP 7Jun1915] 40. Uma outra carta de 15 de Agosto de 1723 faz queixa do comportamento de Roque41. Manuel Inocêncio Beckman ou Bequimanz, em 1725, aparece referido como nessa data ter conseguido obter sentença para poder servir como procurador da Câmara em São Luís do Maranhão, e nas alegações diz que não deve ser discriminado pois Manuel Bequimão era apenas seu tio. Já tinha sido escrivão do Juízo Eclesiástico. É comprovadamente irmão de Roque Beckman e como tal, filho de Thomas Bequimão e de D. Elena de Almeida [Albuquerque Pereira de Cáceres] conforme é referido no acento de casamento. Sabemos que nasceu em São Luís do Maranhão e lá se casou a primeira vez a 14 de Fevereiro de 1711 com Maria Juliana Vilalobos, filha do Capitão André da Costa Silva e de sua mulher Juliana da Costa, todos moradores nesta cidade e fregueses nesta freguesia, as testemunhas que presente foram o Capitão Francisco Gomes Vellozo, o Capitão Diogo Pedro, e Maria Bandoa, 39
https://www.algosobre.com.br/biografias/manuel-e-tomas-beckman.html (Março 2015) http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=7288 Texto de António P. Barbosa de Godois. 41 Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CU_003, Cx. 3, D. 290. 40
viúva, e Maria de Oliveira Tomás Beckman.)
42
. (Veja-se, mais adiante, a descendência das irmãs de Manuel e
Assento de casamento de Inocêncio Beckman com Juliana de Vilalobos (provavelmente sua prima) Depois de enviuvar, Manuel Inocêncio Beckman, voltou a casar com Mariana de Castro Silva Barbosa de quem teve geração. Assim sendo, do primeiro casamento houve a 1) Tomás Beckman, referido em 3). 2) Joana da Purificação Beckman. Do segundo casamento houve 3) Inácio de Loyola Beckman, nasceu em São Luís a 2 de Abril de 1721, era tabelião, escrivão por mais de três décadas na Câmara Municipal de São Luís do Maranhão [Coutinho, 2005, p. 212] e, segundo documentos datados de 1793 e 1789, síndico dos religiosos de Santo António. Inácio e seu meio-irmão Tomás 1) acima, aparecem num processo de justificação de Manuel Corrêa de Faria43 que casara com Joana Francisca Beckman filha de Benedita Maria do Rosário Beckman, referida abaixo. Ignoro se houve descendência. No óbito do pai ocorrido em 1/3/1764 já é referido como falecido. 4) Dr. Bernardo Bequimão foi sacerdote do hábito de São Pedro e já era padre em 1759 [Coutinho, 2005, p. 211]. Em 1779 era promotor do Juízo Eclesiástico e cura da Sé de Maranhão e em 1792 ainda era vivo. 5)
José Valério Beckman, nascido em São Luís a 21 de Dezembro de 1726, falecido jovem.
6)
Uma filha que pouco sobreviveu.
7)
Benedita Maria do Rosário Beckman que segue.
Esta Benedita Maria do Rosário foi casada com o Capitão Francisco Nogueira de Sousa de quem houve, pelo menos uma filha 7.1) Joana Francisca Beckman Nogueira (Joana Francisca Beckman de Faria, de casada), que foi casada com Manuel Correia de Faria, escrivão da Câmara de São Luís do Maranhão, nascido em 1734 teve mais do que os cinco filhos que se citarão de seguida. Os primeiros quatro fizeram habilitações de génere, mas pelo menos um deles não seguiu a carreira eclesiástica como se dirá. 7.1.1) António Juliano Correia de Faria 42 43
Family Search, Brasil, São Luís Maranhão, Maranhão, casamentos, 1707-1780, p. 15 (imagem 24). APE, liv. reg. geral anos 1803-1805 in [Coutinho, 2005, p. 211].
7.1.2) Manuel Raimundo Correia de Faria, seguiu a carreira das armas e foi vereador em São Luís do Maranhão. 7.1.3) José Benedito Correia de Faria 7.1.4) Raimundo Correia de Faria 7.1.5) Francisco Raimundo Correia de Faria, que estudou matemática em Coimbra. 7.1.6) Maria Raimunda Correia de Faria, que sendo solteira teve com o fazendeiro e capitão Francisco Raimundo da Cunha, a Manuel Odorico Mendes, o “Virgílio Brasileiro” ou o “Virgílio Maranhense”, com reputada importância na literatura portuguesa. Veja-se biografia44. Com descendência [Coutinho, 2005, p. 214]. Depois de oficializado o casamento teve, pelo menos, mais um filho. 7.1.6.1) Francisco Raimundo Beckman [Coutinho, 2005, p. 129], referido como tendo levado a juízo um testamento em 23 de Janeiro de 1810. Tomás Raimundo Beckman Júnior, provavelmente aparentado com os Raimundo Beckman citados anteriormente, foi escrivão dos órfãos da cidade de Alcântara e do seu termo como consta numa guia de recebimento de dinheiro daquele juízo visada em 7 de Dezembro de 1870. Num inventário documental45, datado de 1858 é Juiz Municipal do Tribunal da Relação do Maranhão em Alcântara. O Tenente Tomás Raimundo Beckman em Novembro de 1858 era presidente da Câmara Municipal de Alcântara e seu termo. Foi administrador da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em 1867. José João Beckman Caldas 46 assinou duas certidões como pároco da freguesia de N.ª Sr.ª da Vitória datadas, uma de 1790 e outra de 1803. Também era vigário-geral da diocese. Intitula-se sacerdote secular e escrivão na Câmara Eclesiástica na cidade do Maranhão (final do Séc. XVIII) [Coutinho, 2005, p. 125-126]. Em sessão das cortes portuguesas foi redigida a primeira Constituição liberal a 23 de Setembro de 1822 de cujo elenco de deputados fazia parte Beckman Caldas [app.parlamento.pt]. Miguel Ângelo Beckman, que faz um pedido reflectido nesta Carta do governador e capitãogeneral das capitanias do Maranhão e Piauí, D. Fernando António de Noronha, para a rainha D. Maria I, sobre o pedido de Miguel Ângelo Bekman de confirmação de patente no posto de capitão da 6.ª companhia de Pedestres da vila de Alcântara, datada de a 24 de Maio de 1797. João António Beckman foi administrador de diversas rendas e inspector da Alfândega de Paraíba de 1835 a 1841. Miguel Eliseu Beckman foi capelão da catedral de Maranhão em 1859.
44
Veja-se http://pt.wikipedia.org/wiki/Odorico_Mendes (Dez 2014). [CDMPJM] p. 111, 112, 115, 122, 138 (1867), 161 (1873), 198 (1882). 46 AHU_CU_009, Cx. 114, D. 8870, Documento fragmentado relativo ao pagamento de côngrua ao cónego José João Beckman e Caldas, a ser efectuado pela Junta da Fazenda Real da capitania do Maranhão. 1800. AHU_CU_009, Cx. 174, D. 12642, Requerimento do sacerdote José João Beckman e Caldas ao rei D. João VI, solicitando passaporte para se deslocar ao Maranhão. Post. A 10 de Junho de 1823. 45
Catedral Metropolitana de São Luís do Maranhão (Bernard Lemercier, 1860, Biblioteca Nacional Digital) Pedro Beckman, rico, foi carcereiro da Cadeia Pública da capital em 1860 e mais tarde sargentovago-mestre do corpo de polícia. Ainda vivia em 1879 era magro e de estatura bastante elevada. João Baptista da Silva Beckman, era delegado da polícia na cidade de Vigia, província do Pará, em 1868. Sabemos da existência deste indivíduo por ter assinado um documento que prova a passagem de um navio, ironicamente chamado Odorico Mendes, entre 11 e 14 de Abril desse ano. Francisco Xavier Beckman faleceu sendo chefe da seção do Tesouro Público Provincial em 1869. Foi um músico e violinista reputado tendo sido professor de Leocádio Rayol [Sobrinho, 2004, p. 21] e regente da orquestra do Teatro São Luís durante muitos anos. Foi professor de instrumentos de corda no colégio Perdigão, em São Luís em 1867 [JAP 26Jun1915].
"A Pacotilha" de 28 Junho de 1911 e de 19 de Abril de 1913. Rodolfo Olímpio Beckman [CDMPJM p. 178, 196, 291, 333], em 1877 referido num auto por requisição de dívida de que é autor no tribunal da relação do Maranhão, Juizado dos Órfãos. E noutro em 1882. Ainda outro, em 1859, em que é referido como réu no auto de sumário de culpa movido pelo Promotor Público contra o Alferes Francisco Herculano Barbosa e o Alferes Rodolfo
Olímpio Beckman, pelo crime de espancamento que um cometeu no outro e pela desordem que acusaram com a briga no consultório da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Num outro caso em 1882, Autos de Denúncia Crime movida contra o alferes Rodolfo Olímpio Beckman pelo crime de injúrias verbais e desobediência ao Juiz de Paz do 1.º Distrito. Tem o seu aniversário a 6 de Abril47. A 18 de Abril de 1914 em sessão ordinária da Câmara Municipal de São Luís do Maranhão foi indeferida a petição de Rodolfo Beckman pedindo a relevação do imposto para os seus carros, empregados na condução de carnes verdes [JAP 18Abr1914]. Na Rua de Santa Rita foi inspeccionada a cocheira de propriedade de Rodolfo Beckman [JAP 16Mai1916]. Aparece relacionado como inscrito no quadro social do Crédito Mútuo Predial [JAP 20Mai1914]. Pelo jornal, comunica a mudança de residência, em nota de 6 de Junho, para a rua do Apicum, n.º 2 [JAP 7Jun1917]. Foi sua mulher [JAP 20Abr1918] Inês Duarte Beckman que é referida como se tendo inscrito na Secção Predial da Caixa Popular [JAP 9Mai1914] e que aniversaria a 19 de Abril [JAP 19Abr1916]. Faleceu a 8 de Março às 13h. Era mãe de Ildemira Leontina Beckman e irmã das senhoras Ana Duarte Nunes esposa de Satyro Nunes, Maria Aurora Pacheco casada com Firmino Pacheco e a senhorinha Almerinda da Conceição Parada casada com Feliciano António Parada [JAP 9Mar1926]48. A 16 de Abril de 1926 Ildemira casa-se civilmente com Julião Alves de Amaral. Foram testemunhas os tios Satyro e esposa, a prof.ª Joana Rita Campelo, o pai Rodolfo, Francisco António de Miranda e Lúcia R. Ferreira [JAP 14Abr1916]. Crispim Olímpio Beckman [CDMPJM, p. 212], também em 1887, é referido nos autos cíveis de recursos e requerimentos para fins eleitorais, tendo como recorrentes e recorridos pessoas diversas e requerido o Juiz de Direito de Alcântara Pedro António Alexandrino Beckman, inventariante de testamento [CDMPJM, p. 72 do ficheiro PDF]. Num outro processo datado de 1882, é denunciado nuns Autos de queixa-crime movida contra Olímpio Beckman a requerimento do Promotor Público, acusado pelo crime de espancamento em Raimunda Roberta Pinheiro e em seu filho Severo António Pinheiro. Raimundo Olímpio Beckmam participa o nascimento de sua filha, reconhecida, Maria José Beckman, nascida a 11 de Setembro 1920 em São Luís do Maranhão [JAP 17Set1920]. Raimunda Beckman, falece a 27 de Abril de 1923 às 9 horas da manhã, com 39 anos de idade. A inditosa moça era irmã do nosso amigo sr. Rodolfo Beckman. O enterro sairá da casa à rua do Apicum, n.8, amanhã às 8h da manhã [JAP 27Abr1923]. Ursulina Beckman Filgueiras que celebra a sua onomástica a 17 de Janeiro [JAP 17Jan1916]. Irmã dos anteriores. Fica registado no jornal no dia 28 de Junho de 1924, o seu óbito, em que estão presentes seu irmão Rodolfo Beckman e família, Maria Beckman e Alfredo Cabral e família, Filomena Cabral, irmãos, tios, cunhadas e primas [JAP 28Jun1924]. É publicada uma convocatória/convite da Sociedade de Auxílios Mútuos, Victor Marques Filgueiras, Inês Duarte Beckman. Provavelmente é o nome do marido de Ursulina uma vez que a notícia é publicada em 1926 dois anos depois da sua morte [JAP 27Nov1926]. Tenente Rodolfo Beckman Cabral foi nomeado contínuo do Tribunal de Justiça [JAP 15Jul1927] sendo oficial do mesmo. Maria Beckman irmã dos anteriores, assim como os tios Filomena Cabral e Alfredo Cabral, participaram nas exéquias de Raimunda [JAP 26Mai1923]. Alferes António Carlos Beckman, juiz do Juízo da Provedoria de Resíduos e Capelas, em Alcântara, no qual se pode consultar o processo de Autos cíveis nos quais Tomás Alexandrino Beckman e outros vêm requerer ao Juízo da Provedoria de Resíduos e Capelas, como representantes da mesa administradora da Irmandade do Glorioso S. Benedito, requerer a nulidade da eleição [CDMPJM, p. 217]. A sua exoneração do posto de agente fiscal dos impostos de consumo na 21.ª circunscrição deste Estado [Maranhão], foi confirmada a 3 de Novembro 1911 e vem publicada no jornal [JAP 7Nov1911].
47 48
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=1685 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=20267
Casimiro Francisco Beckman, era, em 1911, escrivão de um cartório da cidade de Alcântara. Num caso datado de 1888 [CDMPJM, p. 343], Autos de denúncia crime movida por Leonardo Severo Martins contra Raimundo Nonato Ribeiro e [CDMPJM, p. 343] Francisco Beckman, pelo crime de falsificação de certidão eleitoral. Casimiro foi nomeado mordomo das festas de N.ª S.ª do Livramento em 24 de Novembro em 1912 [JAP 10Set1912]. Manuel da Luz Beckman [CDMPJM, p. 228], em 1898, é requerente no juízo de Direito do Superior Tribunal de Justiça Autos cíveis de petição nos quais Manoel da Luz Beckman, como procurador de Raimundo Rufino Pereira, vem requerer que lhe seja concebida licença para advogar. Celeste de Sá Beckman [CDMPJM, p. 230], em 1900 referida num auto de inventário cujo inventariante foi Mariano Zacarias Beckman, actuando como escrivão do tribunal Casimiro Francisco Beckman. Este Mariano Zacarias Beckman por decreto de 20 de Setembro de 1911 foi nomeado Capitão Ajudante do 232.º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional [JAP 27Out1911]. Foi eleito como vereador em Alcântara a 26 de Julho de 1914 [JAP 3Ago1914]. Manuel Lázaro Martins Beckman [CDMPJM], p. 263.] é referido num processo em péssimo estado, cujo teor é: Autos cíveis de petição na qual o viúvo Manoel Lázaro Martins Beckman vem requerer que se proceda ao inventário do espólio de sua falecida esposa, Raimunda Lopes Beckman. Manuel comprou uma casa de meia morada, sob o número 14, na Praça da Matriz, que tinha como vizinhos, por um lado, a Câmara Municipal e do outro, um terreno onde por ordem de Antonino da Silva Guimarães se edificara “um quarto de casa que serve de Armazém àquele senhor”, [LRI-A, p. 137, n.º de ordem 362, 10/06/1926]. António Onofre Beckman [CDMPJM, p. 375], em 1934, como escrivão da delegacia da Polícia, na Corte de Apelação, num inquérito policial. Em 1919 é relacionado como vereador da Câmara de Alcântara [JAP 22Ago1919]. Foi nomeado agente fiscal das rendas estaduais em S. João Côrtes, município de Alcântara [JAP 12Mai1919]. Em 1928, era secretário da Directoria da Devoção de São Benedito, em Alcântara [JAP 7Mai1928]. Membro do Partido Social Democrático, de Alcântara [JAP 14Set1934]. Existem partituras de marchas fúnebres de sua autoria no acervo João Mohana [PEC-SECM, 2007, p. 58]. No Jornal “A Pacotilha” de 1920, a 12 de Novembro, faz-se uma relação dos nomeados para integrarem a comissão de festas desse ano a 22 de Dezembro em que, simultaneamente se incluem, como mordomas, Maria Beckman, como mordomos, António Onofre Beckman, Manoel Lázaro Beckman, Mariano Zacarias Beckman e Raimundo Beckman. No Jornal “A Pacotilha” de 1910, a 9 de Novembro, faz-se uma relação dos nomeados para integrarem a comissão de festas desse ano em que, simultaneamente se incluem, como mordomas, Julieta Beckman, Hortência Beckman, Maria Beckman Berniz, e como mordomo ao Alferes António C. Beckman [JAP 9Nov1910][44]. Raimundo Nascimento Beckman vem referido no mesmo jornal “A Pacotilha”, mas de 1910, 30 de Março, numa relação de eleitores de 1.ª e 2.ª secções. Provavelmente o mesmo que faz queixa na Polícia por ter sido espancado por Florêncio do Nascimento [JAP 28 Mai1918]. António Pinto Beckman é nomeado Tenente-secretário do 81.º Batalhão de Reserva, conforme se vê do decreto de 11 de Novembro de 1911 publicado no Diário Oficial do Rio [JAP 21Nov1911] Maria T. Beckman é referida como se tendo inscrito na Sociedade de Crédito Mútuo, na série Económica [JAP 2 Fev1914]. Maria Firmina Beckman aparece relacionada como inscrita no quadro social do Crédito Mútuo Predial [JAP 20Mai1914]. Esmeralda Correia Beckman aparece relacionada como inscrita no quadro social do Crédito Mútuo Predial [JAP 15Dez1915].
Igreja Matriz de St.º Inácio de Loiola, Pinheiro, Maranhão Tomás Beckman Júnior é referido como se tendo inscrito na Secção Predial da Caixa Popular [JAP 4Jun1914]. Aparentemente era proprietário da Funilaria São João49, na Rua da Cruz 120, canto com a rua da Fonte das Pedras [JAP 6Fev1915] onde se casou a 30 de Outubro de 1917. Tinha a patente de tenente quando casou [JAP 30Out1917]. Num edital datado de 11 de Outubro de 1917, o escrivão dos casamentos, publica faço saber que pretendem casar-se Tomás Beckman, filho solteiro, artista, e Ambrosina Lopes Pinto (nascida a 18 de Novembro [JAP 18Nov1919]), solteira, de serviços domésticos, ele filho legítimo de Tomás Alexandrino Beckman, falecido em 11 de Março de 1901 e Raimunda Correia Beckman de 49 anos de idade residente nesta cidade, com 28 anos de idade, dizendo ser natural da cidade de Alcântara, deste estado e residente nesta capital; ela filha reconhecida de Guilherme Lopes Pinto, filho, falecido a 17 de Março de 1901 e Ana Amélia dos Santos, de 39 anos de idade, residente nesta cidade, com 23 anos de idade dizendo ser natural e residente nesta capital [JAP 15Out1917]50. Em 17 de Outubro de 1919 celebra o seu aniversário e é referido como capitão [JAP 17Out1919] assim como em 1921 em cuja listagem se faz referência ao alferes com o mesmo nome, mas esse sim proprietário da funilaria São João [JAP 17Out1921]. É eleito vogal do Conselho Fiscal da União Militar [JAP 19Mar1919]. A 28 de Março de 1924 deflagrou um incêndio nos armazéns com que os seus bens foram parcialmente destruídos [JAP 28Mar1924].
Centro histório da cidade de Alcântara, antiga vila de Tapuitapera. 49
Que posteriormente foi propriedade de Tomás Beckman & Filhos, na Rua 7 de Setembro.
50
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=10196
João Pinto Beckman, nascido a 19 de Agosto de 1918, filho natural de Raimunda Correia Beckman [JAP 28Ago1918], provavelmente parente próxima dos anteriores conforme se pode inferir de uma necrologia (17 de Agosto) em São Luís de D. Joana Correia do Prado. António Faustino do Prado e família, José Bassone Correia e família, Raimunda Correia Beckman e seus filhos, (ausentes) João Correia Beckman e família, (ausentes) Anézio Bassone Ribeiro e Floriano Bassone Ribeiro, penhorados agradecem a todas as pessoas que têm enviado pêsames pelo falecimento da sua inesquecível esposa, mãe, filha, irmã, sobrinha e prima Joana Correia do Prado (…) [JAP 18Ago1911]. Foi eleito presidente do Centro Artístico Operário Pinheirense em 16 de Dezembro de 1928 [JAP 14Jan1929]. Miguel Arcanjo Correia Beckman celebra o seu aniversário a 8 de Maio [JAP 8Mai1915]. Foi casado com D. Virgínia Beckman e baptizaram a sua filha Leutres a 12 de Outubro de 1919, sendo madrinha D. Raimunda Correia Beckman e o capitão José Ferreira da Silva [JAP 13Out1919].
"A Pacotilha", Maranhão, 28 de Novembro de 1916 Raimunda Cândida Beckman faz queixa na polícia de São Luís por sua mala ter sido violada sendo-lhe roubado um vestido [JAP 19Jul1915]. Por telegrama chegado à redacção do jornal A Pacotilha ficou-se a saber do óbito da mesma no dia 28 do mês passado (Maio de 1924) em São Bento onde se encontrava em tratamento. Tinha 32 anos de idade [JAP 12 Jun1924]. Raimunda Ribeiro Beckman foi registada no dia 15 de Maio de 1928, em São Luís filha legítima de Nelson Correia Beckman [JAP 16Mai1928] assim como Teresinha do Menino Jesus Beckman, filha legítima, nascida a 10 de Outubro de 1929 [JAP 11Out1929]. Benedita de Jesus Beckman cujo aniversário era a 7 de Novembro [JAP 7Nov1936]. Nelson Correia Beckman residia em São Luís do Maranhão na Rua de Santa Ana, 350 [JAP 18Set1934] e era proprietário do quino à Rua de Santanna canto com a Rua de São João, [um cofre que] ali mantém a favor dos infelizes lázaros [JAP 3Mai1935]. O jornal informa que legalizou a sua casa de jogo na Rua José Augusto Correia [JAP 24Mai1935]. Santóca C. (Correia?) Beckman, festeja o seu aniversário a 15 de Abril [JAP 15Abr1916]. Maria Victória Beckman faz anos a 27 de Janeiro [JAP 27Jan1917]. O recorte de jornal "A Pacotilha", São Luís do Maranhão, de 2 de Setembro de 1912, com mais um Beckman por identificar.
João Correia Beckman e a sua esposa D. Leonor Reis Beckman participam o nascimento de seu filho Clodomir a 16 de Janeiro de 1916 [JAP 29Jan1916]. Noutra notícia mais triste se diz que a 8 de Junho de 1922 falece D. Leonor Reis deixando viúvo e seis filhos tudo na cidade de Pinhero [JAP 9Jun1922]. A 27 de Janeiro de 1937 declara, com assinatura reconhecida, que se afasta definitivamente do Partido Republicano Maranhense e de qualquer outro partido político, ficando dessa forma completamente independente [JAP Fev1937]. Miguel Correia Beckman é, a 6 de Novembro de 1937, exonerado, de acordo com a Chefatura da Polícia, do cargo de Delegado da Polícia do município de Pinheiro [JAP 12Nov1937]. Romão Maranhão Beckman dos Santos alistou-se no “24 de Caçadores”, a 19 de Janeiro de 1922 [JAP 20Jan1922]. José Cupertino Borges de Araújo, filho natural de Felinta Beckman Borges, informação de 4 de Outubro de 1922 [JAP 4Out1922].
Para as festas de N.ª S.ª do Livramento em 17 de Dezembro de 1916 foram nomeados mordomos, Manuel Beckman, Tomásio Beckman, Tomás Beckman, António Onofre Beckman e Raimundo Nascimento Beckman [JAP 14Out1916]. Augusto Floriano Beckman apresentou uma queixa na 2.ª Delegacia de São Luís do Maranhão contra um desordeiro que desrespeitava a sua família [JAP 14Mar1935]. Iberê Oliveira Beckman faz notícia por haver promovido desordem à Praia do Cajú e foram recolhidos ontem num dos “apartamentos” da Central [da Polícia] [JAP Dez1938]. Como se vê pela listagem, está longe de ser compreendida este ramo da árvore genealógica da família Beckman que carece de aturada investigação. Aqui deixamos estas pistas. CURIOSIDADES EM SÃO LUÍS E OUTROS LUGARES Foi construída uma pirâmide comemorativa no dia 31 de Julho de 1910, conforme se noticia na RevistadeHistória.com.br no artigo "O Enígma da Pirâmide" (leia aqui) ou no jornal “Jornal da Tarde”, Maranhão, n.º 179, de 1 de Agosto de 191051 e cuja foto se pode ver acima. Esse pelourinho foi fundado em 1815. Há ainda que referir que o novo edifício da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, em São Luís, inaugurado em 2008, tem o nome de “Palácio Manuel Beckman” e onde é atribuída a Medalha de Mérito Legislativo Manuel Beckman52. Na cidade de São Luís de Maranhão há uma loja maçónica chamada Loja Maçônica Beckman, na travessa de São João, 22, São Luís, 65010-000 Brasil. A actual Prefeitura Municipal de Bequimão está localizada a 368km de São Luís, na nascente do rio Itapetininga. Os seus primeiros habitantes deram-lhe topónimo de Cabeceira, mudando-o, em 1918, para o de Santo António das Almas. Em 1923, tornou-se município, recebendo o nome do então governador do Maranhão, Godofredo Viana, o qual seria mantido até 1930, quando foi trocado, por questões políticas, passando à jurisdição do município de Alcântara. Em 1935, por Decreto-Lei assinado pelo capitão António Martins de Almeida, à época interventor federal do Maranhão, teve restaurada a sua condição anterior. Em Abril de 1939, foi elevado à categoria de cidade. Há ruas com o nome de Manuel Beckman em Piratininga, Osasco, SP; Panambi, RS; Monte Castelo, São Luís, MA; e Rio de Janeiro, RJ. Para quem gosta, pode ler a peça de teatro com o título Manuel Beckman, drama histórico em verso e em seis actos da autoria de Domingos Joaquim da Fonseca e publicado em Pernambuco em 1888. Leia aqui. VEJAMOS DE SEGUIDA AS IRMÃS DE MANUEL E TOMÁS BECKMAN. A ligação Portuguesa
51 52
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=789 http://www.al.ma.leg.br/busca.php?palavra=medalha+manuel+beckman (Abril 2015)
As ligações algarvias dos Beckman
III Descendência de Catarina Beckman Irmã de Manuel e Tomás Beckman. Catarina Bequeman, foi b. a 21 de Novembro de 164053 na freguesia da Conceição Nova em Lisboa e casou com Francisco Correia da Silva com descendência no Algarve e Lisboa.
Assento de baptismo de Catarina Bequeman 53
ANTT, Lisboa, Conceição Nova, M-8-29, imagem 33.
Quem era Francisco? Francisco Correia da Silva nasceu em Tanger a 5 de Junho de 1644 54 sendo padrinho o adail (cabo de guerra) Rui Dias da Franca. Antes de passar à descendência de Catarina e Francisco referiremos a dos irmãos de Francisco e a respectiva ascendência. Francisco era filho de Manuel de Carvalho que casou a 9 de Novembro de 1642 55 na Sé de Tânger com Maria de Sousa Bassém de quem não temos confirmação de ter nascido, ou em Lisboa ou em Tânger. Este casamento de Maria de Sousa só durou 5 anos pois, ficando viúva, volta a casar ainda em Tânger a 14 de Julho de 164756 com Manuel de Azevedo Leitão, natural de Pontével, Santarém, de que houve descendência, os irmãos de Francisco, portanto cunhadas e cunhado de Catarina Beckman. Como os dois casamentos de Maria de Sousa Bassém foram muito próximos e não temos as datas de nascimento de todos os filhos, há dúvidas relativamente a duas das suas filhas. Veja-se Esquema II. Uma delas foi: Joana de Sousa e Bassém, irmã de Francisco Correia da Silva, casou com uma figura importante no meio financeiro português. Jorge Ferrão Ribeiro foi um capitalista a quem D. Afonso VI a 2 de Dezembro de 1679, arrendou por quatro anos a Casa da Moeda de Lisboa a Jorge Ferrão Ribeiro e outros57, obrigando-se estes a dar em cada ano 4:500$000 réis pelo rendimento da dita casa, comprometendo-se a lavrar no prazo estipulado 400.000 cruzados em prata, desde tostões até vinténs, e 40.000 cruzados de cobre nas chapinhas, conforme os padrões, vindos do estrangeiro livros de direitos para se fazer a cunhagem no reino. Este contrato foi aprovado por alvará de 13 de Março de 1680 [Aragão, 1875, Vol. I, p. 61]. Havendo Jorge Ferrão Ribeiro terminado o tempo por que arrematara os direitos de moedagem fez-se novo contrato em 21 de Maio de 1684 com Gaspar da Silva e Alexandre Pimenta que se obrigaram também ao fornecimento do ouro e da prata sendo estes metais lavrados pelos oficiais da casa da Moeda e conforme o seu regimento como se fosse por conta da fazenda [Aragão, 1875, vol II, p. 53]. Joana e Jorge foram pais de, pelo menos, Isabel Ferroa Bassém Ribeiro que por, eventualmente ser única descendente, recebeu alvará de propriedade de ofício58 e pouco depois outro alvará para nomear serventuário59. Isabel casou com Neutel de Castro Meneses, fidalgo escudeiro60, moço fidalgo61 e capitão de infantaria no presídio de São Lourenço no Funchal62, filho de Aires Lima Telles e Mariana de Meneses63. Provavelmente com descendência. Brites de Sousa Bassém, de quem não sabemos a data de nascimento nem a de casamento, este última informação pelo estado deplorável em que se encontram os livros de assento desse intervalo de datas, mas que casou entre o ano 1671 e 1672, provavelmente em Lagos, com João Represo de Matos Leote, filho de António Tavares Leote (irmão mais novo do Grande Capitão 54
BN, Registos Paroquiais, Sé de Tânger, Códice 1575, p. 216v, 2.º. Rodrigues, Registos Paroquiais Sé de Tânger, Casamentos, p. 357, 1.ª. 56 Rodrigues, Registos Paroquiais Sé de Tânger, Casamentos, p. 396, 3.ª. 57 Arquivo da Casa da moeda de Lisboa, Registo Geral, Livro 1, fol. 410v e 412. 58 PT/TTRGM/B/12/10543, RGM D. Pedro II, livro 12, f.3 Alvará, propriedade de ofício. Filiação Jorge Ferão Ribeiro. (8 de Julho de 1698). 59 PT/TTRGM/B/12/10544. RGM D. Pedro II, livro 12, f.3 Alvará, para nomear serventuário. Filiação Jorge Ferão Ribeiro. (30 de Agosto de 1700). 60 PT/TT/RGM/C/0017/50320. RGM, D. João V, Livro 17, f. 209. Alvará. Foro de fidalgo escudeiro. 13 de Abril de 1745. 61 PT/TT/RGM/C/0017/50319. RGM D. João V, Livro 17. F. 209.Alvará. Foro de Moço Fidalgo. Filiação: Aires Teles de Meneses. 18 de Março de 1745. 62 PT/TT/RGM/C/0017/50266. RGM, D. João V, Livro 17, f. 203.Alvará. Capitão de Infantaria no Presídio de S. Lourenço no Funchal. Filiação: Aires Teles de Meneses. 63 Francisco Telles de Meneses, José Telles de Meneses e Álvaro de Lima Telles foram cunhados de Isabel Ferroa Bassém Ribeiro. 55
Francisco Leote Tavares) e de seu 3.º casamento64 com Margarida de Sousa de Matos65 com quem tinha casado em Lagos em 1651, neto paterno de Gaspar Leote e Maria Tavares ambos de Tânger, e neto materno de João Represo de Matos e de Brites de Vilalobos de Sousa. Este casal foi pai de outro António Tavares Leote que casou com Maria de Sousa, sua prima, pais de 11 filhos e que serão responsáveis por quase toda a descendência Leote e de outro Francisco Correia da Silva que casou com Maria Teresa Saraiva da Silva, pais de 5 filhos. A mais nova daqueles 11 filhos foi Francisca Xavier de Sousa Bassém e irá casar com seu primo em 3.º grau, Francisco Correia da Silva, como se verá. Isabel de Sousa Bassém, n. a 11 de Outubro de 1648 em Tanger, portanto, filha de Manuel de Azevedo Leitão, casou com Gregório Aranha Freire natural de Lagos, Santa Maria, onde nasceu a 1 de Outubro de 1645. Isabel teve vários filhos, mas lamentavelmente não conseguimos averiguar a informação completa sobre a sua descendência uma vez que os livros de assentos de baptismo de Santa Maria de Lagos faltam no intervalo de 1665 a 1677. Desses filhos alguns morreram recém-nascidos ou na infância, como Manuel (1678) e dois chamados João (1681 e 1683) e outros na puberdade como Joana (1688-1702) e Lourenço Anes de Sousa que provavelmente testemunha o casamento de sua irmã Leonor onde assina de quem não encontrei data de nascimento mas que é referido em conjunto com o pai num baptizado em 1684 e de quem não se houve mais falar. Por fim Leonor de Sousa Bassém para quem é dada a data de nascimento de 26 de Abril de 1678, mas sem fonte 66, (o que é manifestamente contraditório com a data de nascimento de seu irmão Manuel essa sim com a respectiva fonte confirmada), Leonor essa de quem se falará adiante por ter casado como seu primo irmão Manuel Correia da Silva. Voltemos a Catarina. O casamento de Catarina Beckman e Francisco Correia da Silva realizou-se na paróquia da noiva, Conceição Nova de Lisboa, a 16 de Julho de 166767. Antes de passar à descendência de Catarina é necessário esclarecer que não se conseguiu encontrar o assento de baptismo de Brites de Sousa Bassém pelo que não se sabe qual é o o pai, se Manuel de Carvalho ou se de Manuel de Azevedo Leitão. Com alta probabilidade será do segundo. Sendo assim será meio-irmão de Francisco Correia da Silva e portanto, cunhada de Catarina Beckman.
64
João Represo Tavares Leote foi o único filho sobrevivente deste 3.º casamento de António Tavares Leote. Ainda nasceram dois Gaspar em 1655 e 1658 mas de quem não temos notícia. 65 Margarida depois de enviuvar de António ainda voltou a casar uma 3.ª vez com o licenciado João Dias Ribeiro de quem teve, pelo menos, três filhos, Lourenço Anes de Sousa, Laurência de Jesus e Brites de Sousa. 66 Informação no portal Geneall mas que não refere a fonte. Não existem livros com assentos de baptismo em Santa Maria de Lagos para essa data pelo que não consegui confirmar. Ainda assim fica aqui a nota. 67 Aos dezasseis de Julho às cinco horas da tarde recebi por marido e mulher a Francisco Correia da Silva filho de Manuel de Carvalho e de Dona Maria de Sousa da cidade de Tânger com Dona Catarina Bequimans filha de Tomás de Bequimão e de Leonarda das Neves desta freguesia naturais e ela baptizada e moradora e ele na Sé de Tânger e era morador na freguesia de Santa Ana. Foram testemunhas Jerónimo de Freitas de Sequeira, Francisco Banha de Sequeira, o cura Francisco de Barbosa (?) ANTT, RP, Conceição Nova, C2_m0679 (PT-ADLSB-PRQ-PLSB56-002C2_m0679 C)
Casamento de Catarina Beckman e Francisco Correia da Silva No assento de casamento diz-se que ele era natural de Tânger e que era, à data do casamento, morador na Freguesia de Santa Ana (Pena), em Lisboa e que foram padrinhos Jerónimo de Freitas de Sequeira e Francisco Banha de Sequeira, (irmãos e filhos casados de Simão Banha de Sequeira e de Margarida Velles da Silveira, tudo gente de Tânger sendo Jerónimo de Freitas de Sequeira tenente-general, estribeiro-mor da rainha e comendador da Ordem de Cristo). Francisco Correia da Silva teve foro de escudeiro e cavaleiro68, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, da principal nobreza de Tânger, Capitão de Infantaria de Lisboa, Escrivão Proprietário dos Cavaleiros e Comendas do Ribatejo [Côrte-Real, 2003, p. 123] e Tesoureiro da Chancelaria das Ordens Militares69. Foi-lhe feita mercê a 19 de Julho de 1666 (fls. 438) do Hábito de Cristo e promessa de dois ofícios de justiça ou fazenda pelos serviços prestados70. 68
Alvará a Francisco Correia da Silva, natural de Tanger, filho de Manuel Carvalho da Silva, dos foros de escudeiro e cavaleiro com 700 réis de moradia por mês e 1 alqueire de cevada por dia; pelos serviços ali prestados. De 3 de Janeiro de 1663. 69 FHL, M19. Por carta de 13 de Novembro de 1675 foi nomeado Tesoureiro das Chancelarias, Capitão de infantaria, L.º 80 ou 8v. (?). 70 Mercê a Francisco Correia da Silva, natural de Tanger, e filho de Manuel de Carvalho, de 40.000 réis de tença efectiva com o Hábito de Cristo e promessa de dois ofícios de justiça ou fazenda para as pessoas que casarem com
Do casamento de Francisco Correia da Silva e Catarina Beckman houve: (1) Manuel Correia da Silva, que segue em IIIa, nascido e batizado em casa pelo padre António Rodrigues Jerónimo na freguesia de São Cristóvão e São Lourenço, em Lisboa, a 10 de Junho de 166871 assistindo aos exorcismos o Conde Regedor Luís da Silva Telo [de Meneses]. Ora, é curioso o facto de este conde regedor (2.º Conde de Aveiras) ser proprietário do cargo de regedor da Casa da Suplicação. O seu pai, Lourenço da Silva, 1.º Conde de Aveiras, já o tinha sido72. Ora o tio do neófito, André da Costa Vilalobos, era lá advogado. Coincidência?
Assento de baptismo de Manuel Correia da Silva Houve ainda: (2), Leonarda, também filha de Francisco Correia da Silva e Catarina Beckman, que é batizada a 10 de Fevereiro de 167073 mas em cujo assento se diz que sua mãe já era falecida com se comprova no assento de óbito de 5 de Fevereiro anterior74. Veja-se o assento de Leonarda.
Assento de baptismo de Leonarda, filha de Catarina Beckman
duas das suas filhas, pelos serviços que prestou em Tânger e suas fronteiras com armas e cavalos, acudindo, sem faltar nas guardas e vigias, rebates e socorros, contra os mouros, achando-se no reino na recuperação de Évora e por lhe pertencer a acção dos serviços do seu padrasto, Manuel de Azevedo Leitão feitos na mesma cidade de Tânger. ANTT, Portarias do Reino, Livro 5, p. 213. 71 ANTT, Lisboa, São Cristóvão e São Lourenço, B-01-16, 3.ª (20.tif). Confirmando o baptismo pelo prior Diogo Mendes Pinheiro. 72 Foi alcaide-mor de Lagos, capitão-mor do Algarve http://autoridades.arquivos.pt Telo de Meneses. Família, Conde de Aveiras. 73 ANTT, Lisboa, São Cristóvão e São Lourenço, B-1 imagem 25. 74
A mãe morreu, presumivelmente, de complicações do parto. Como nota curiosa o assento informa que Catarina faleceu no adro da igreja de São Cristóvão sendo enterrada na mesma. Verifiquei o livro de óbitos até ao fim de Abril de 1693 e nada mais consta. Veja-se o óbito de Catarina.
Óbito de Catarina Beckman Segundo as informações dos arquivos da família Leote75, Francisco Correia da Silva casa um total de três vezes, sendo que a segunda vez foi com Catarina Pejser Henriques de quem houve uma filha Brígida Maria ou Brígida Maria da Silva e presumivelmente uma terceira que não nomeia nem a esposa nem a hipotética descendência. A DESCENDÊNCIA DE MANUEL CORREIA DA SILVA EM IIIA. Manuel Correia da Silva foi filho de Francisco Correia da Silva e Catarina Beckeman IV Descendência de Juliana Beckman Irmã de Manuel e Tomás Beckman. Juliana casou com o doutor André da Costa Vilalobos, (que apadrinhou sua sobrinha Leonarda, acima), advogado na casa da suplicação76 em Lisboa e vivia na freguesia de São Julião77, também em Lisboa. É muito provável que tenha sido em casa desta irmã que se alojou Tomás Beckman quando veio a Lisboa defender a Levantada no Maranhão. Juliana e André foram pais de, pelo menos, três filhos: Dr. Tomás Bequeman, frade Teatino, natural de Lisboa, e baptizado na paróquia da Madalena a 30 de Janeiro de 166078. Professou o sagrado instituto dos Clérigos Regulares Teatinos a 10 de Março de 1680 no convento da sua pátria, onde exercitou o ministério de Orador Evangélico com geral aceitação.
75
FHL, M19n2. FHL M19n2. 77 Lamentavelmente só existem livros de assentos posteriores ao terramoto. 78 Conforme se disse, não existem livros de assentos por terem sido destruídos no terramoto. 76
São Caetano de Tiene, (Tiepolo) fundador. Devido a sofrer de uma falta de vista aguda e evitando dar esse facto a conhecer recorria a outros religiosos que lhe fizessem as leituras que rapidamente memorizava aparentando assim conseguir ler. Por isso, passou a Itália onde aprendeu na cidade de Florença a Óptica de um insigne professor desta ciência, na qual saiu eminente fabricando com suma perfeição óculos de ver ao longe e ao perto. Faleceu na pátria a 9 de Maio de 1729 quando contava 69 anos de idade e 49 de religião [Machado, 1752, p. 741]. Foi autor de (1) Ramalhete de Nove Açucenas, Lisboa por Miguel Deslandes impressor d’El-Rei 1685.8. He novena de S. Caetano, traduzida da língua italiana do P. Paulo de Juliis clérigo regular. Saiu com o nome do tradutor; (2) Sermão da gloriosíssima Virgem Maria Senhora nossa com o título da Divina Providência, pregado na Dominga segunda post Epifania, 14 de Janeiro de 1691, ibi pelo dito impressor 1691.4; (3) Sermão Segundo da Gloriosíssima Virgem Maria Nossa Senhora com o título da Divina Providência, pregado na sexta da Irmandade das Escravas na Dominga Segunda post Epifania a 15 de Janeiro de 1696. ibi pelo dito impressor 1696, entre outros. Foi autor da segunda tradução de Combate Espiritual, de Lourenço Scupoli. Foi ainda autor da obra de referência em óptica Tratado em que se ensina com doutrinas especulativas, e práticas toda a sorte de lavrar vidros, cameras escuras, lenternas (sic) mágicas, e outras curiosidades dignas de se saberem dos que têm propensão à arte óptica [Boletim da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, História da Oftalmologia Portuguesa, Augusto da Silva Carvalho, 2013, p. 22.]
Maria Catarina Bequeman, outra filha de Juliana Beckman, tomou no nome religioso de soror Catarina Maria do Sacramento, foi abadessa do Convento de Nossa Senhora da Soledade79 (Convento das Trinas de Mocambo, Lisboa). Em Junho de 1678 pretendeu provar a limpeza de sangue de sua geração. Garcia de Burgos Vilalobos, outro filho de Juliana Beckman, era estudante em Coimbra em 1674. Goes refere o nome de Doutor Garcia de Burgos Villalobos, que era morador defronte da igreja de S. Mamede [Goes, 1732, p. 318/319]. A informação disponível não indica o nome da pessoa com quem casou mas informa que houve dois filhos. (1) André Burgos de Vilalobos, Juiz do Cível na Corte [Oliveira, 1901, p. 141]. (2) José Burgos de Vilalobos80 foi Juiz de Fora no Crato e Juiz de Fora da vila de Mourão conforme nomeação de 28 de Outubro de 170981. Cavaleiro da Ordem de Cristo conforme carta de 11 de Novembro de 172882. Na carta de nomeação do cargo seguinte diz-se que a sua carta se registou no registo 1.º da creação do dito cargo83, e nela se diz que servindo com boa satisfação teria um lugar sem concurso na Relação do Porto. Os escrivães nomeando-o desembargador nos autos judiciais obraram o grande prodígio de fazer existir o futuro, porque nem no futuro sucedeu pois o mesmo ministro morreu naquela vila em 1737 [Sequeira, 1850, p. 149]. De facto foi para o Brasil onde José de Burgo de Vilalobos é referido como Ouvidor. Talvez por ser o primeiro a ocupar esse cargo, a sua chegada a Cuiabá não foi recebida com aplausos pela Câmara [JESUS, 2009, p. 4] e polarizou os maiores da população, pois houve quem se lhe arrimasse na tentativa de defender os seus futuros interesses, ou quem fosse contra ele pela posição arrogante que assumiu como detentor do poder absoluto. Referem-se a ele como Ouvidor, que tinha sido encarregado pelo monarca da criação desse cargo de ouvidor nessa capitania onde tinha chegado nos princípios do ano de 1731. [Sequeira, 1850, p. 145, 149] data aproximada que é confirmada quando nos Anais se diz que José de Burgos Vilalobos chegou a Cuiabá no fim do ano de 173084.
79
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4224414 No "livro", Inventário da Colecção Jorge Moser, datilografada em Lisboa, 1974, oferecido à Biblioteca Nacional, a p. 23 consta no item 345, "José Burgos de Vilalobos" carta de Martinho, 1723. No verso, a cópia do testamento de Duarte Pacheco de Araújo, (1 doc.). 81 PT/TT/RGM/C/0003/50468, RGM, livro 3, f. 405v. 82 PT/TT/RGM/C/0003/50469, RGM, tença de 12$000 rs de tença com o hábito. 83 Criado a 29 de Março de 1729 por D. João V. 84 Anais da Biblioteca do Brasil, 1881, Volume 8, pág. 93 80
É referido nos seguintes cabeçalhos: Em seguida dá-se conta da nova lotação dos ofícios de justiça feita pelo Ouvidor Geral de Minas, José de Burgos Vilalobos; ou ainda Carta de Diligência do Ouvidor Geral de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, José de Burgos Vilalobos85. Ainda o era em 1731 ano em que escreve a D. João V sobre as mortes causadas pelo gentio Parecí que impedia a continuação do descobrimento do ouro onde, curiosamente, se escutam as próprias palavras: Como esta nasção dos Parasis he menos barbara ainda que despois de domesticados tem alguns fugido e morto a seus admenistradores, o que tem acontecido muitas vezes nas Rossas do destrito destas minas, onde se acha muito grande numero desta gente, que se apanharaõ em bandeiras, sem outro justo titullo, e se occupaõ no cultivo das Rossas, por cuja cauza hâ abundancia de mantimentos. Diz ainda, as nasções do gentio que confinaõ com estas dos Parasis saõ cruellissimos, e comem carne humana, e andão huns com outros em continua guerra: e por estas hostelidades devia todo o gentio ser cativo86. Entrou em conflito com o superintendente da Real Fazenda, Tomé Ferreira de Morais Sarmento, obrigando-o a retirar-se de Cuiabá87. Foi tão duro nas execuções fiscais que através de execuções, fez com que em 1732 desertassem de Cuiabá mais de 2.000 pessoas, do que resultou grande decréscimo dessa arrecadação, fato pelo qual foi até denunciado ao Governo de Lisboa [Póvoas, 1995, p. 94]. E para finalizar, uma queixa do Provedor da Fazenda Sá Queiroga, que diz que José de Burgos de Vilalobos era na verdade possuidor de índios administrados e, contrariando ordens régias, se recusava a fazer a matrícula dos mesmos e a recolher o imposto sobre eles devido [Morgado 2007, p.58]. Apesar de tudo deixou obra feita: poz os seus cuidados não só na arrecadação das Fazendas da Coroa, e dos Defuntos e Ausentes, mas na construção das Casas da Câmara, Cadêa, e sua residência que fez erigir [Araújo, 1822, p. 47,48]. No entanto os seus opositores e detractores não se coibiram de enviar queixas sendo acusado de ter desviado as rendas da fazenda real, não ter pago as taxas de entradas, ocultado por um ano a carta referente ao pagamento do donativo real, alterado os rendimentos dos ofícios, cobrado erroneamente os quintos dos gentios, arrecadado com violência as fazendas dos defuntos e ausentes e empregado indevidamente o escrivão da ouvidoria, dentre outras movimentações envolvendo seus parciais [JESUS, 2011, p. 6,7]. José de Burgos Villalobos é dado como falecido na vila de Cuiabá em 5 de Abril de 1736 [Sousa, 1977, p. 23,25]88. Uma nota curiosa é o que se lê na cota marginal do assento de óbito de Catarina Beckeman. O que se vê, na imagem acima, é o que está fotografado pelo que a sombra tapa parte do que foi escrito. Consegue ler-se sem qualquer dúvida os nomes Bequimans Garcia. Provavelmente um sobrinho da falecida fiho da irmã Leonarda.
85
Revista do Instituto Geográfico Brasileiro, 1957, p. 43, 56. AHU, Mato Grosso, cx. 01, doc. 52. 87 Carta de Thomé Ferreira de Moraes Sarmento Discorrendo Sobre as Desavenças com o Ouvidor José de Burgo VillaLobos nas Minas de Cuiabá, (20 de Julho de 1731) fundo ACBM-IPDAC, Pasta 1777, n.º 9-A transcrita in Santos, 2014, p. 23. 86
88
Esta fonte faz um total de 25 referências a José de Burgos de Villalobos.
É muito provável que haja (mais) descendência deste ramo Costa Vilalobos, quer em Portugal quer no Brasil. É de notar que Manuel Inocêncio Beckman (filho de Tomás Beckman, conjurado da Revolta de Bequimão) casa em 1711 com Maria Juliana Vilalobos, filha do Capitão André da Costa Silva e de sua mulher Juliana da Costa como consta do assento. Ora todos estes nomes são semelhantes, senão idênticos, aos que referimos aos filhos de Tomás Beckman. Coincidência? Provavelmente os noivos eram primos irmãos ou primos em segundo grau apesar de não virem referidas as dispensas. Haveria que investigar!
EPÍLOGO Ainda há muito que investigar. Pode ser que algum estudioso ou amador de genealogia e descendente destas linhas queira continuar as buscas. Todos os anos mais documentos são disponibilizados para consulta através da internet o que facilita de sobremaneira esse trabalho. No entanto isso não dispensa a consulta de documentos de uma forma presencial pois não só nos damos conta do tempo que passou como temos a oportunidade de manusiar documentos que, literalmente, passaram pelas mãos de pessoas próximas dessas que investigamos, em tempos recuados. Caso hajam afirmações ou conjeturações menos certas ou mesmo erradas agradeço a quem teve a paciência de chegar até aqui que me escreva umas linhas e que deixe a corrigenda. Será prontamente introduzida. Saudações! “Beyond the past and the future, there is the family historian role itself, performed and enjoyed in the present and among the living. It is this role which ties together many of the reasons for doing genealogy.” Ronald D. Lambert, University of Waterloo, Ontario, Canadá. ("Para além do passado e do futuro, há ainda o papel do historiador da família, feito e disfrutado no presente e entre os vivos. É este papel que une muitas das razões para fazer investigação genealógica.") Bibliografia Arquivos & Instituições Arquivo da Fundação Henrique Leote, Serra d’Ossa. (Port) Arquivo da Casa da Moeda de Lisboa, (Port) Arquivo Histórico Ultramarino, Colecções Maranhão. (Br) Arquivo Nacional da Torre do Tombo, (Port) Registos Paroquiais. Portarias do Reino. Registo Geral de Mercês. Biblioteca Nacional de Lisboa, (Port) Biblioteca do Brasil, Anais de 1881 (Br) [CDMPJM] Catálogo de Documentos Manuscritos do Poder Judiciário do Maranhão, 1801-1975, São Luís, 2013. (Br) http://gerenciador.tjma.jus.br/app/webroot/files/publicacao/400253/catalogo_alcan tara_vol4_22082014_1043.pdf, Ficheiro Nacional das Actividades Arquivísticas, http://autoridades.arquivos.pt (Port) [LRI-A] Livro de Registos de Imóveis da cidade de Alcântara, no Maranhão. (Br) [PEC-SECM] Plano Estadual de Cultura, 2007-2010, Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (PDF). (Br) [JAP] Jornal “A Pacotilha”, Maranhão, 1910-1938, (Br)
Sites & Blogs Algo sobre Vestibular, www.algosobre.com.br (Br) Arquivo público de informações escolares, http://www.infoescola.com/ (Br) Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, http://www.al.ma.leg.br/ (Br) Biblioteca Nacional Digital do Brasil, http://memoria.bn.br/ (Br) Enciclopédia on-line, http://pt.wikipedia.org (Port-Br) Espaço Virtual de Estudo, http://www.consciencia.org/ (Br) Fundo de publicações http://www.webartigos.com (Port) Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova, www.fcsh.unl.pt (Port) Fundo de publicações, http://pt.scribd.com (Port) Genealogia Mormons, www.familysearch.org (USA) Gente da Nossa Terra, http://www.gentedanossaterra.com.br (Br) Património de Influência Portuguesa, http://www.hpip.org (Br) Moisés Martins Jr. https://moisesmartinsjr.wordpress.com (Br) Makes No Difference, http://sweepsofday.blogspot.pt/ (Port) O Historiante, http://www.ohistoriante.com.br (Br) Livros e Revistas ……………. Acusar, Julgar e Punir no Maranhão Colonial: em Acção, Governadores e Procuradores da Coroa e da fazenda Real, in “O Ministério Público Embrionário”, Revista do Ministério Público (brasileiro), p.21. AMARAL, José Ribeiro do, O Maranhão Histórico, Artigos do Jornal, (1911-1912), São Luís do Maranhão, Geia, 2003, p. 86. “Descendência dos irmãos Boquimão”, p. 23-28. ANTONIL, André João, Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas, Lisboa, 1711. ARAGÃO, A. C. Teixeira de, Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em Nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, Imprensa Nacional, Lisboa, 1875, Vols. 1 e 2, p. 61(I), 53(II). ARAÚJO, José de Sousa Azevedo Pizarro e, Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das Províncias Anexas, Tomo IX, Rio de Janeiro, 1822, p. 47,48. ARENZ, Karl Heinz, Não Saulos Mas Paulus – Uma carta do Padre João Felipe Bettendorff da Missão do Maranhão (1671), Revista de História, São Paulo, n.º 168 Jan-Jun 2013, p. 271322. AZEVEDO, João Lúcio de, Os jesuítas no Grão-Pará: suas missões e a colonização, 1ª edição, Belém, Secult, 1999, p. 123. BAIÃO, António, Episódios dramáticos da Inquisição Portuguesa, V. II, Rio de Janeiro, Tipografia do Anuário do Brasil, 1924, p. 9 e seguintes. BARROSO, Gustavo, História Secreta do Brasil, 1.ª parte (1500-1831), 1937, p. 80. BERREDO, Bernardo Pereira de, Annaes Históricos do Estado do Maranhão, em que se dá notícia de seu descobrimento, e tudo o que mais nelle tem succedido desde o anno em que foy descuberto até o de 1718, 1749, Iquitos, Ceta / Abya-Yala / IIAP, 1989, p. 507. BETTENDORFF, João Felipe, Crónica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, Belém-Brasil, 1990. P. 224. CANTANHEDE, Washington Luiz Maciel, Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, Matriz do Povoamento da Ribeira de Mearim, in “Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão”, n.º 37 Junho de 2011, p. 61. CHAMBOULEYRON, Rafael Em Torno das Missões Jesuíticas na Amazônia (séc. XVII), p. 188, n nota 89: “1688. Catalogo dos Religiosos do Maranhão [...] e bom p.a not.as. BPE, códice CVX/2-11, fl. 33. S. Luiz do Maranhão. D.ª Amaro Guerreiro, IAN/TT, Inquisição de Lisboa, livro 922, fl. 482”.
CÔRTE-REAL, Miguel M.ª Telles Moniz, Fidalgos de Cota de Armas do Algarve, Junho de 2003, Ed. de autor, numerada n.º 295, p. 123. COSTIGAN, Lúcia Helena, Through Cracks in the Wall: Modern Inquisitions and New Christian Letrados in the Iberian Atlantic World, Koninklijke Brill N V, Leiden, 2010, p. 147. COUTINHO, Mílson, A Revolta de Bequimão. 2.ed., São Luís, Instituto Geia, 2004. COUTINHO, Mílson, Fidalgos e Barões, uma História da Nobiliarquia Luso-Maranhense, Instituto Geia, São Luís do Maranhão, 2005, p. 212 FERNANDES, José, Notícia Histórica sobre o rio Mearim, in “Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão”, n.º 39 Dezembro de 2011, pág. 145. GODOY, António Batista Barbosa de, História do Maranhão, Ramos d’Almeida & Cia., São Luís, 1904, p. 317. Goes, Dr. Francisco Trigeiros, Ecco Jurídico Contra as Vozes das Reflexões que Formarão os Reverendos Padres da Congregação do Oratório desta Cidade de Lisboa Occidental, Oficina da Música, Lisboa, 1732, p. 318 e 319. IZECKSON, Dr. Isaque, loc. cit. pág. 20, in Barroso, Gustavo, História Secreta do Brasil, 1.ª parte (1500-1831), 1937, p. 82. JESUS, Nauke Maria de, Governadores e Ouvidores na Fronteira Oeste da América Portuguesa: Conflitos de Jurisdições (1730-1793) in Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, 2011, (1-12). JESUS, Nauke Maria de, Regência, Regentes e Ouvidores: A câmara municipal de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (primeira metade do século XVIII) in XXV Simpósio Nacional De História – ANPUH, Fortaleza, 2009, p. 4. LIBERMAN, Maria, O Levante do Maranhão: Judeu Cabeça do Motim: Manoel Beckman, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo, 1983, LIMA, Carlos de, História do Maranhão, A Colónia, 2.ª ed. Instituto Geia, Coleção Geia de Temas Maranhenses, Vol. 10, São Luís, 2006, p. 379, nota 4. LINGER, Daniel Touro, Dangerous Encounters: Meanings of Violence in a Brazilian City, Stanford University Press, Standford-California, 1992, p. 22. LISBOA, João Francisco, Crónica do Brasil Colonial: Apontamento para a História do Maranhão, Petrópolis, Vozes, 1976, p. 386. MACHADO, Diogo Barbosa, Biblioteca Lusitana, histórica, crítica e Cronologia, Tomo III, Lisboa, Oficina de Inácio Rodrigues, 1752, p. 741. MARQUES, César Augusto, Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, 2ed, Fon-Fon e Seleta, Rio, 1970, p. 320. MEIRELES, Mário, História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão, SIOGE-Universidade do Maranhão, São Luís, 1977, p. 134. MORAIS, Padre Francisco Teixeira de, Relação Histórica e Política dos Tumultos que sucederam na Cidade de São Luís do Maranhão com os Sucessos mais Notáveis que nele Aconteceram, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 40, 1877, p. 303- (328- PDF); p. 402. http://www.ihgb.org.br/trf_arq.php?r=rihgb1877t00401.pdf MORGADO, (orientação) Eliane Maria Oliveira, [et al.], Coletânea de Documentos Raros do Período Colonial (1727-1746), v. 1, EdUFMT, Mato Grosso, 2007, p. 58. MOURA, Clóvis, Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, Editora da USP, São Paulo, 2004, p. 67. OLIVEIRA, Eduardo Freire de, Elementos para a História do Município de Lisboa, vol. 11, Tipografia Universal, Lisboa, 1901, p. 141. PÓVOAS, Lenine de Campos, História de Mato Grosso: dos Primórdios à Queda do Império, S/Ed, Cuiabá, 1995. Vol. I, p. 94. ……………. Revista do Instituto Geográfico Brasileiro, 1957 a p. 43 e 56.
SALVADOR, José Gonçalves, Os Cristãos-novos. Povoamento e Conquista do solo Brasileiro (1530-1680), Pioneira, São Paulo, 1976, p. 353. SANTOS, Grasiela Veloso dos, Manuscritos Mato-Grossenses: da Filologia à Gramaticalização Univ. Fed. Mato Grosso, Cuiabá, 2014, p. 23. SCHAPPELLE, Benjamin Franklin, The German Element in Brazil: Colonies and Dialect, Americana Germanica Press, nr. 26, Philadelphia, 1917. http://www.gutenberg.org/files/17361/17361-h/17361-h.htm SEQUEIRA, Cap. Joaquim da Costa, Compêndio Histórico Cronológico das Notícias do Cuiabá, Repartição da Capitania de Mato Grosso, desde o princípio do ano de 1778 até o fim do ano de 1817, in “Revista Trimestral de História e Geografia”, segunda série, Tomo VI, Rio de Janeiro, Tipografia Universal de Laemmert, 1850, n.º 17, p. 145, 149 SOBRINHO, João Berchmans de Carvalho, A Música no Maranhão Imperial: um Estudo sobre o Compositor Leocádio Rayol Baseado em dois Manuscritos do Inventário João Mohana, em (Pauta), V. 15, N.º 25, Junho a Dezembro de 2004, p. 21. SOUSA, Maria Cecília Guerreiro de, Inventário de Documentos Históricos sobre o Centro-oeste, Fundação Universidade Federal de Maro Grosso, Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional, 1977, (caixa 1 n.º 48). VARNHAGEN, Francisco Adolfo, História Geral do Brasil antes da sua Separação e Independência de Portugal, 10 ed, 3v., Melhoramentos, São Paulo, 1978.
LICEU UMA LEMBRANÇA PARA SEMPRE! HAMILTON RAPOSO
São Luís sempre teve seus encantos e seus momentos de metrópole e de província. São Luís é surreal e em tempos de coronavírus vou relembrar um pouco do meu inesquecível Liceu Maranhense. Estudei no Liceu Maranhense e tive a satisfação de conhecer e de fazer amigos das mais diferentes classes sociais. No Liceu o aluno tinha a opção de pertencer e de participar de duas entidades estudantis, o CIL (Clube dos Intelectuais Liceistas) ou do CCCL (Clube Cultural Científico Liceista), era esta a condição e a possibilidade de se chegar ao Centro Liceista, o grêmio estudantil. O CIL e o CCCL eram os “partidos políticos” do velho e tradicional Liceu Maranhense. Era o exercício prático da democracia em ambiente escolar. Depois veio a ditadura e o fim de tudo. O fim do Centro Liceista não acabou com o espírito de liberdade do colégio, se não podíamos fazer política, fazíamos outras coisas, ali se fez de tudo. Fizemos greves, passeatas, gincana, torneio de esportes, festival de teatro, música, poesia e muita rebeldia. Desses festivais surgiu Cassas, Cesar Teixeira, Leda Nascimento, Alcione, Chico Saldanha, Cristina Costa, Valdelino, Welligton, Tampinha, Ivaldo, Célia, Katia, Roseana, os irmãos Medeiros e tantos outros. A vida do Liceu era intensa e começava sempre na Praça Deodoro, bem antes das 7 horas da manhã com a colheita dos oitis, uma fruta travosa, mas muito deliciosa. Logo cedo a aula de educação física com o Professor Luís Aranha era imperdível, com um cigarro Minister entre os dedos, Luís Aranha comandava os polichinelos, agachamentos e apoios, as aulas terminava sempre em uma animada “pelada”. O senso de responsabilidade era o da não exigência, não era cobrada nada, tornávamos responsável pela liberdade concedida ou conquistada. Era proibido proibir. Entretanto algumas exigências existiam, e uma delas, era a caderneta com as notas mensais, que eram entregues zelosamente por um dos maiores maranhenses de todos os tempos, o eterno Nerval Lebre Santiago, que em toda a sua vida de Liceu, nunca perdeu a paciência com nenhum aluno, exceto com Nelson Santiago. As aulas de matemática do Professor Sued e o seu método diferente de ensinar, fazia com que as suas aulas fossem concorridíssimas e a matemática a mais fácil das ciências. Os Professores Vicente Maia e Buti davam as aulas de inglês. Concita Quadros e Maria da Graça Jorge comandavam o latim, espanhol e português. Floriano e seu inseparável cigarro Continental fazia da história uma aventura no tempo. Os Professores Butão e Beckma que dirigiram o Liceu com estilos diferentes merecem referência pela amizade que ficou. O saudoso Murilo com seu cabelo sempre penteado e lustrado com brilhantina ensinava pacientemente química e física. As aulas do Liceu nunca acabavam, elas são eternas, são recordações para sempre. “Gazear” uma aula, faltar voluntariamente uma aula, fazia parte da grade curricular do Liceu, não conheço nenhum ex-aluno que não tenha gazeado uma aula. O destino da falta voluntaria era variado. Alguns iam para a Rua Grande ou para frente do Colégio Rosa Castro olhar as alunas deste colégio entrar e sair, outros ficavam nas escadarias da biblioteca tocando violão e nesta leva de gazeteiros o Júlio Bezerra Neves era o mais assíduo, e em algumas ocasiões se gazeava para tomar banho de mar na Avenida Beira-Mar ou atravessava um canal para jogar futebol em uma croa que se formavam em frente do asilo quando a maré baixava. Algum tempo depois, meus pais descobriram a peraltice e a confusão foi formada, fiquei de castigo e proibido de uma série de regalias, minha mãe me vigiava diariamente e uma das suas “revistas”, consistia em me lamber, para se certificar se estava ou não salgado, melhor, se continuava ou não banhando de mar.
Nos jogos escolares quem mandava era a famosa turminha do Liceu. Tínhamos nossos ídolos e grandes atletas: Gimba, Tribi, Timóteo, Binga, Ivone, Helena, Júlio, Carlito, Juca, Catel, Tininho, João Carlos, Afonsinho, Sebastião Albuquerque e irmãos, Baldez, Esquerdinha e muitos outros craques. Por ocasião dos jogos escolares costumávamos cantar: Quem não conhece, quem nunca ouviu falar, na famosa turminha do Liceu, que no esporte nunca perdeu, já se comenta pelo Brasil, Liceu, Liceu vitórias mil! O Liceu não era somente um colégio, era um estado de espírito. Não se ia simplesmente para um colégio adquirir conhecimento, frequentávamos e vivíamos uma escola como se fosse a nossa casa. O Liceu é e será uma lembrança eterna!
RUAS, APELIDOS E COMUNICAÇÃO, O MARANHENSE É DE OUTRO MUNDO. HAMILTON RAPOSO Existem situações bem pitorescas e muito característica de São Luís, por exemplo, o nome das ruas, apelidos, a linguagem, o modo de falar e principalmente a maneira de como nos dirigimos às pessoas, o que fazem desta cidade ter uma forma diferente de se viver e de conviver. Andar em São Luís não é nada fácil, não falo pela falta crônica de mobilidade urbana, o trânsito caótico e desrespeitoso, buracos ou falta de estrutura e sinalização. Falo pela nomenclatura dúbia que existe nas ruas de São Luís. Ir à Praça João Lisboa ou ao Lardo do Carmo, a Rua do Sol ou Nina Rodrigues, Paz ou Colares Moreira, Flores ou Candido Ribeiro? Esta simpática dualidade poderia causar uma certa confusão se não fossem o mesmo logradouro ou a mesma rua. A quantidade de nomes varia com a disposição de trabalho do burocrata municipal ou do vereador sem ter o que fazer. Quanto menos trabalho tiverem, mais nomes terão as nossas ruas. Decidir entre a Rua 13 de Maio ou Rua de Santo Antônio pode parecer fácil, mais não é. Tudo é a mesma coisa. Esta confusão de nomes não se resume apenas ao centro histórico, a parte mais nova da cidade é ainda pior. A avenida em que moro tem três nomes: Avenida do Vale, Papa João Paulo II e Jornalista Miércio Jorge. A Avenida Litorânea é Avenida Governador Edson Lobão, a Rua Mitra é Rua Dr. Luís Pinho, a Avenida dos Holandeses é Avenida Conselheiro Hilton Rodrigues e por aí vai. Cada bairro tem as suas confusões e quem sofre é o pessoal dos correios e os entregadores de contas. Chamar alguém pelo nome parece ser bem mais educado do que chamar por um apelido, que além de ser pejorativo, desrespeitoso, pode configurar-se como um constrangimento. Negão, Gordo, Baleia Terrestre, Tampinha, Alfinete, Rolha de Poço, Louro, Dentinho, Cutia, Seu Ré, Brequista, Redenção, Perna de Breque e Coxinho foram alguns dos muitos apelidos que convivi e ouvir. A quantidade de apelidos em São Luís e no Maranhão é riquíssima e o melhor exemplo desta peculiaridade linguística maranhense é a escalação dos times de futebol: Negão, Neguinho, Bimbinha, Vareta, Pelezinho, Chicão, Feição de Rato, Carrapato, Faz que Dorme, Carapuça, Catel, Já Morreu, ... Apelido de jogador pode ser considerado como o maior exemplo de subdesenvolvimento. Quando os times começam a escalar os seus jogadores pelo nome de batismo, e os nomes cada vez se tornaram sofisticados ou americanizados, como Jean, Wallace, Mickel, Andrey ou Anthony, dando a entender que quanto mais complicado for o nome do jogador, isto representaria um aumento do PIB e do IDH na região. Verdade ou folclore, vale a pena examinar as escalações dos times de futebol e conferir a realidade social do lugar. E alguém já prestou atenção de como o maranhense se comunica? O “hum, hum” ou “hem, hem” são expressões de dúvida ou de afirmação e são bem mais fáceis do que “o bem ali”, uma expressão usada quando se pergunta a distância de algum lugar. E se ouvir um “êi piqueno” ou “êi piquena”, pode ter certeza de que algum maranhense estar chamando uma criança a atenção ou simplesmente chamando uma pessoa mais jovem. A dúvida maior é descobrir o que é cantor do que é cantador, que pode ser tão difícil quanto entender o que é “qualira” ou “banhar na maré”. Um bom dia a todos e eu agora vou merendar um bolo de puba com refresco de murici.
NAVEGANDO COM O JORGE BENTO
CONTENÇÃO E SUSPENSÃO DO CRITICISMO Sem abertura e atenção ao mundo, e sem disponibilidade para questionar as convicções próprias, não há espírito crítico. Este encontra-se morto e enterrado, cuidando que está vivo e acordado. O postulado vale em todas as épocas, e de modo especial nas conjunturas eivadas de desorientação e incerteza. Estamos a viver uma era assim. Andamos às apalpadelas atrás de um inimigo invisível. Não sabemos exatamente a forma de agir e os roteiros que ele segue. Tateamos e avançamos no escuro, em tentativas marcadas por acertos e erros. Ora, não é ditado pelo espírito crítico o frenesim de encontrar e apontar contradições e afirmações menos felizes nos atos e palavras das autoridades sanitárias. Elas enfrentam um assoberbamento de tarefas e uma sobrecarga de estresse, enquanto nós assistimos de longe ao penoso trabalho de quem é obrigado a tomar decisões difíceis e arriscadas. Nesta hora o espírito crítico pede sugestões, e que se contenha e suspenda o criticismo! ERA DE CONVERSÕES IDEOLÓGICAS “Quem tem o dito cujo, tem medo.” E, nas horas do aperto, nem um feijão lá cabe. Pois, é! Nunca assisti a uma onda de conversões ideológicas tão alta como nestes dias. Os que antes manobravam para destruir o Sistema Nacional de Saúde, queixam-se agora das suas insuficiências. Os que queriam o Estado desmembrado, esquartejado e reduzido ao mínimo possível, e exigiam que a mão estatal ficasse longe de tudo, reclamam da falta de recursos humanos e materiais, e imploram por assistência oficial. Enfim, jamais se ouviu tanta gente, dos mais diversos setores, soltar ingentes bramidos pelo Estado. Com razão, porque nenhuma crise é transponível sem ele. Tal como a vida dos desvalidos da fortuna não atinge dignidade sem a sua ajuda e proteção. DAS MÃOS A ordem é dura e intransigente: não podemos dar as mãos uns aos outros! A intimação exige ser cumprida, à risca. Ah, como sentimos, nesta altura, a falta da mão que aperta a nossa e poisa no nosso ombro, num gesto de saudação e conforto! Mas a proibição não impede que as mãos vão para além de nós, derrubem as barreiras do desamparo e da solidão, toquem o coração e a alma dos outros, escrevam e enviem mensagens transbordantes de afeto e encorajamento. No meio da pandemia e da dúvida apavorantes, não há outra forma de atravessar a noite e tecer a manhã com fios de luz. A palavra cria estrelas e rosas, faz renascer a vida e acrescenta-lhe sentido. Não esqueceremos isto, quando chegar o fim destes dias amargos e voltarmos à praça central da Cidade.
Extraindo histรณrias com o faraรณ
RAMSSES DE SOUSA SILVA
GENEALOGIA DE ICATU-MA.
Fazendas Históricas do Maranhão D. Ana Joaquina Jansen da Silva Cardoso de Almeida. A personificação das matronas das antigas fazendas do Maranhão, apesar de também ter vivido no ambiente citadino da capital. Era parente de Ana Joaquina Jansen Pereira, a "Donana". Faleceu com apenas 45 anos. Estava gestante no momento da foto. * 05/04/1827: Icatu-MA + 09/03/1872: São Luís-MA Acervo: Rosa Machado (sua trineta)
GENEALOGIA MARANHENSE
OS "ABRAHAM" (ABRAÃO) DE SANTO AMARO MARANHÃO Este ramo tem origem na chegada de Jorge Abraham (1857 - 1947) no séc. XIX, vindo da Síria para trabalhar com comércio no Maranhão. Veio acompanhado de alguns dos seus irmãos, que se dividiram pelo território nacional. Jorge Abraham faleceu em Santo Amaro em 1947 e lá está sepultado. Deixou grande descendência, que está presente no município até hoje e espalhada pelo Maranhão e pelo Brasil. É bisavô de Margareth Carvalho, maranhense radicada no Rio de Janeiro, membro do grupo. Fotos: Acervo familiar
A BARONESA DE GRAJAÚ, DESCENDENTE DOS "LAMAGNERE" DE CANTANHEDE-MA.
O CRIME DA BARONESA (1876) Esta é Ana Rosa Viana Ribeiro, mulher do médico e então vice-presidente da Província do Maranhão Carlos Fernando Ribeiro. Ana Rosa era descendente das primitivas famílias de Cantanhende-MA, através do seu ancestral, o colonizador francês Pierre Lamagnere. Através do seu enlace matrimonial com o Dr. Carlos Fernando Ribeiro era, portanto, a baronesa de Grajaú, titulação ganha por seu marido junto a D. Pedro II. Tida como cruel e rígida com seus escravos, típica matriarca dessa época, a baronesa ocupava lugar de prestígio na arrogante, preconceituosa e escravocrata São Luís oitocentista. Certa vez, acometida por uma crise de ciúmes do seu marido, mandou arrancar os dentes da escrava Militina à torquês, por esta ter recebido elogios do barão. Cabe a ela também a acusação de um hediondo crime nas dependências do seu casarão na esquina da Rua do Sol com a Rua de São João, onde funcionou até pouco tempo o Museu de Arte Sacra; tomada de fúria, Dona Ana Rosa torturou até a morte o escravo Inocêncio, de apenas 8 anos. Golpes por todo o corpo, torções, equimoses e hemorragias, além de grave ferimento no ânus da criança, provavelmente provocado pela inserção de um garfo, além de marcas de uso de cordas como forma de estrangulamento. O cortejo fúnebre foi organizado às pressas pela dona do escravo, com o caixão lacrado, algo incomum para a época, principalmente se tratando de uma criança, pois nesses casos ou quando tratava-se de um cortejo de pessoa importante, o caixão costumava seguir aberto até o lugar do sepultamento. O investigador de polícia desconfiou. O médico da família, de forma tendenciosa, fez um exame cadavérico na criança e atestou como causa do óbito um acometimento por vermes. O que não convenceu boa parte da sociedade, principalmente os adversários políticos de seu marido, que era líder do Partido Liberal. Celso da Cunha Magalhães, jovem advogado abolicionista, conseguiu levar Dona Ana Rosa ao banco dos réus. Algo inédito. Infelizmente, eram tempos onde o pequeno Inocêncio não passava de simples mercadoria e a baronesa, que comparecera de vestido e véu negros junto às suas damas de companhia, foi absolvida por unanimidade.
Celso, perseguido e pressionado após o desfecho do caso, acaba falecendo pouco tempo depois, acometido por vários problemas de saúde. A baronesa, rica, bonita e ainda com 40 anos, ficou livre e seguiu sua vida até os últimos dias. Deve estar em algum lugar do Gavião ou em alguma igreja. O que restou do pequeno Inocêncio, coitado, sabe-se lá onde foi parar...
OS "GARRETT" (GARRETO) DE ANAPURUS E MATA ROMA. Fazendas Históricas do Maranhão Fazenda Estrela - Anapurus (1743) Este é o Requerimento feito por Anna Maria Cavalcante de Albuquerque, do famoso clã pernambucano, ao Rei Dom João V, pedindo carta de confirmação de Data de Sesmaria entre os Rios Estiva e Limpeza, no caminho da Casa Forte do Iguará para a Capitania do Piauí. A Sesmaria media 3 léguas de comprido por 1 légua de largo entre os referidos rios que hoje são, respectivamente, o Riacho Estrela (que corta Anapurus) e o Riacho Limpeza (que fica a caminho de Brejo).
A rodovia federal que corta Anapurus ao meio era, no Período Colonial, um antigo caminho de boiadas. Inclusive, Anna Maria Cavalcante de Albuquerque explorou a criação de gado vaccum nesta propriedade, provavelmente de modo a suprir o mercado de produção de charque na Capitania do Piauí. E as "Casas Fortes" nada mais eram, segundo especialistas, do que antigas fortificações provisórias de madeira ao estilo romano, que garantiam a segurança do transporte de animais e produtos nessas antigas rotas contra o ataque de indígenas. Existem registros encontrados pelo pesquisador Gairo Garreto de, pelo menos, duas Casas Fortes no Maranhão Colonial, uma no Iguará (atual município de Nina Rodrigues) e outra no município de Anajatuba. Esta Sesmaria, posteriormente, passou para a propriedade de Antônio Raulino Garrett, filho de Antônio Garrett (mercador de escravos e administrador da Cafúa das Mercês) e fundador da Fazenda Estrela, onde cultivava algodão na virada do séc. XVIII para o séc. XIX, às margens do Riacho Estrela, exatamente próximo de onde existiu a sede da Sesmaria de Anna Maria Cavalcante. Junto da propriedade, existe um cemitério bicentenário chamado de Cemitério dos Vieira, muito usado pela referida família durante todo o séc. XX porém, o local de sepultamentos remonta a, pelo menos, final do séc. XVIII, sendo usado não só pelos contemporâneos de Antônio Raulino Garrett como, provavelmente, também pelos contemporâneos de Anna Maria Cavalcante de Albuquerque. Ao redor da fazenda logo surge uma povoação denominada Arraial Estrela que, posteriormente, virou um distrito de Brejo chamado Povoado Estrela, e que deu origem ao atual município de Anapurus. Não temos notícia do paradeiro de Anna Maria Cavalcante de Albuquerque, se abandonou as terras, se apenas vendeu a Antônio Raulino Garrett, se morreu por aquelas terras porém, quanto ao último, ainda possui muitos descendentes na região; são a família Garreto, muito numerosa em Anapurus e no Baixo Parnaíba. Fonte: Conselho Ultramarino de Portugal Pesquisa: Gairo Garreto
OS "COELHO DE CARVALHO", DO PRIMEIRO DONATÁRIO DA CAPITANIA DE CUMÃ, ATUAL ALCÂNTARA. Fazendas Históricas do Maranhão A Capitania de Cumã - Alcântara (séc. XVII). Brasão de Armas da família Coelho de Carvalho que ficava no frontão da capela de Nossa Senhora do Livramento na Ilha Do Livramento, Alcântara-MA. Antônio Coelho de Carvalho foi o primeiro donatário de Alcântara, quando esta era o centro administrativo da antiga Capitania de Cumã, no séc. XVII. Ele mandou erigir a capela na ilha após membros de sua família e governo salvarem-se de um acidente marítimo em sua chegada à Vila, dando origem ao primitivo Festejo de Nossa Senhora do Livramento. O Brasão, em pedra de lioz, encontra-se hoje exposto à visitação pública no Museu Casa Histórica De Alcântara e a capela, em ruínas. Ruínas estas que podem ser visitadas com ajuda de Dona Mocinha, única moradora e mantenedora da ilha.
A CASA DE BELFORT NO BRASIL Segundo o genealogista Wilson da Costa, Lancelot Belfort nasceu em Dublin, reino da Irlanda, em 1708, filho de Richard Belfort, e sua mulher, Isabel Lowther Belfort. Ainda jovem, migrou para Portugal, onde se naturalizou. Seu nome também foi aportuguesado, tornando-se, assim, Lourenço Belfort. Tomado por instinto aventureiro e, segundo alguns autores, fugindo de disputas religiosas e de terras com os ingleses, logo atravessaria o Atlântico rumo ao antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão. Em 1739 tem-se o primeiro registro de Lourenço Belfort no Maranhão, ocupando o posto de capitão-cabo de uma tropa de resgate de índios. Portanto, segundo a pesquisadora Antônia da Silva Mota, Belfort logo ocupou-se da atividade mais lucrativa em curso: a escravização indígena. Lourenço, estrangeiro astuto, logo nota que tinha um trunfo para jogar em terras tão inóspitas e esquecidas; alegava uma ascendência nobre e, segundo ele, originária do antigo castelo medieval irlandês de Kylrue, pertencente à sua família, uma das mais antigas da Irlanda, fato este questionado ou não confirmado por alguns autores. Ainda na década de 30 dos setecentos, arranja um casamento com Isabel de Andrade Ewerton, filha do capitão Guilherme Ewerton, americano e rico proprietário de terras radicado em Cajapió, baixada maranhense, que estava aqui desde o final dos 1600. Com esse casamento, Lourenço garantia já um futuro promissor para sua linhagem. Nasceram dessa união 3 filhos: Maria Madalena, Ricardo e Guilherme Belfort. Infelizmente Isabel não viveria muito; morre ainda jovem em São Luís, em 1742. A essa altura, Lourenço já tinha uma fábrica de artigos de couro em São Luís e, mesmo sendo um estrangeiro e possivelmente por ser bem relacionado, consegue autorização régia para o monopólio dessa atividade exportadora na Praça do Mercado. Um ano após a morte de sua esposa, Lourenço contrai núpcias com D. Ana Tereza de Jesus, maranhense, filha do capitão português Felipe Marques da Silva, almoxarife da Fazenda Real, também rico proprietário rural na região do Itapecuru. Concomitante às suas atividades empresariais, Lourenço Belfort também se ocupava com a vida pública, em cargos políticos. Foi almotacel, vereador e juiz de fora interino. Certamente o seu bem relacionado ciclo de amizades, associado à influência da família de seu sogro, lhe abriu precedentes para o passo maior que estava por vir para aumentar seus investimentos; logo ele consegue autorização para adentrar a ribeira do Itapecuru e lá estabelecer um engenho. A propriedade ficava entre as vilas de Rosário e Itapecuru e logo Lourenço a batizou de Kelru, um aportuguesamento de Kylrue, nome do castelo irlandês de propriedade de sua família. É erigida também uma capela em nome de St. Patrick (São Patrício), padroeiro irlandês cujo festejo, único no Brasil, é realizado até hoje. Estimulado pela política Pombalina, Lourenço Belfort consegue transformar Kelru num enorme núcleo exportador de algodão, fazendo testes, inclusive, com o bicho da seda, que sucumbiu ao clima do local. Belfort, através dos seus entrelaces familiares e bom tino comercial, torna-se um dos homens mais ricos do Maranhão e garante as condições necessárias para o início da solidificação daquele que seria o mais poderoso clã maranhense dos séculos XVIII e XIX, o clã dos Belfort. No auge da aristocracia rural maranhense, além da atividade algodoeira, Belfort cuida também de criação de gado e da construção de inúmeros imóveis opulentos em São Luís para moradia de seus familiares ou investimentos diversos, como soque de arroz e prensagem de algodão. Do alto de seu imenso solar no canto do Beco da Pacotilha, Largo do Carmo, onde funcionou o Hotel Ribamar e onde um de seus descendentes (o Barão de Coroatá) morou, Belfort observa todo o seu império construído através de astutos entrelaces familiares, cuja metodologia foi passada às gerações posteriores mesmo após sua morte em Lisboa, em 1777.
Através de requerimentos de seus descendentes junto à Coroa justificados por documentos conseguidos ainda por Lourenço atestando sua linhagem nobre, muitos conseguiram títulos de nobreza e cargos públicos importantes durante muitas gerações, através de consórcios nos casamentos com famílias também abastadas, gerando uma perpetuação de riqueza e multiplicação do patrimônio. Com uma cartada de mestre e através de consórcios que interessavam a ambas as partes familiares envolvidas nos casamentos setecentistas, Lourenço Belfort consegue, assim, garantir o futuro promissor de sua linhagem por quase 200 anos. Muitos são os seus descendentes hoje em dia no Maranhão e fora deste. Alguns escravos aglutinaram o nome do seu senhor, fora aqueles que eram filhos bastardos dessa família, de modo que hoje há muitos afromaranhenses de sobrenome Belfort. Há também muitos brancos descendentes diretos no Maranhão, como minha amiga Vanessa Belfort. Outros tantos migraram e, por exemplo, Belfort Roxo no Rio de Janeiro só existe por conta de uma bisneta de Lourenço Belfort, o clube de futebol América-RJ só existe em função do seu fundador ludovicense Belfort Duarte e o lutador Vítor Belfort tem suas raízes nesta família também. A ilustre Casa dos Belfort é um assunto à parte e merece ser sempre alvo de pesquisas e divulgação da saga desta família que muito contribuiu para o Brasil. foto: registro de Tiago Oliveira das ruínas da fazenda dos Gomes de Souza e capela de São Patrício na antiga propriedade de Lancelot Belfort.
SOBRE LITERATURA & lITERATOS
QUANTO MAIS ANTE VERSOS... CARTA A UM AMIGO CERES COSTA FERNANDES “Quanto mais ante versos me vejo, mais me ligo às amarras do metro”. Com estas palavras, na verdade um eneassílabo, meu amigo Paulo Brandão, cardiologista de renome e leitor seletivo, me encaminha o soneto de um catarinense, Solange Rech - é isso mesmo -, bancário aposentado, que obteve o segundo lugar entre 1775 concorrentes, num concurso de poesia patrocinado pelo Jornal do Brasil. Eis o poema, um soneto composto, de forma e inspiração petrarquiana, de dois quartetos e dois tercetos, tecido em versos decassílabos: “Imenso amor o meu, de tal jaez/ Que minha alma, liberta da couraça/ Do egoísmo, da mágoa, da aridez,/ Vive no espaço que esse amor lhe traça./ Dia após dia, mês depois de mês,/ Sigo teus passos, preso à tua graça./ És a resposta a todos os porquês/ E a afirmação de que nem tudo passa./ Quando disseste "vem comigo", eu vim,/ Pois eras a esperança, eras meu sonho/ Mais divino, mais puro, mais pudico./ Como a lei natural impõe um fim,/ Morra eu, que de matéria me componho,/ Mas nunca morra o amor que te dedico. Embora não chegue a inovar na forma ou na essência, não resta dúvida que se trata de um belo e inspirado soneto, com chave-de-ouro e laivos camonianos. Sua escolha só confirma a sensibilidade e o gosto poético do emissor da mensagem. Gosto que compartilho se acordarmos que a emoção estética vinda do gênero poesia, tanto se nos envolve pelos liames dos versos brancos e livres como pelas amarras do metro e da rima. E se, pelo contrário, os versos são maus, então, amigo, tanto lá como cá, más fadas há. A ruptura modernista com a tradição literária, trouxe a abolição da obrigatoriedade do uso da métrica e da rima, interpretada por muitos como a morte de ambas. Bastou para que todo e qualquer cidadão com fumos literários, a considerar ultrapassados os versos à moda antiga, se pusesse furiosamente a compor versos brancos e soltos. Daí a enxurrada de lançamentos de livros de “poesia” que nos assola. Poeta é quem se considera, diz o remoque. O que esses “poetas” necessitam saber é que bons versos não nascem apenas da inspiração. Para fazê-los há que, prosaicamente e literalmente, suar. Sejam eles de qualquer natureza, brancos, rimados, soltos, metrificados, dispostos de forma tradicional ou esparsos na página. Para Bilac, príncipe dos parnasianos, poema é lavor de ourivesaria que o poeta ”torce, aprimora, alteia/, lima a frase, e no verso de ouro engasta a rima (que nada mais é que a palavra) como um rubi. José Saramago, dizendo de modo diferente, e mais de acordo com nossos dias, a mesma coisa, recomenda: “pegue nas palavras, pese-as, meça-as veja a maneira como se ligam, o que exprimem, decifre o arzinho velhaco com que dizem uma coisa por outra – e venha-me cá dizer que não se sente melhor depois de as ter esfolado.” Literatura é a arte criada pela palavra. E poema, na sua essência, a emoção através da palavra. Não de qualquer palavra, mas da palavra polissêmica, rica em conotações, esfolada até ser encontrado o seu âmago, para ser, aí, finamente engastada como gema no verso, rimado ou não. Para desconstruir o poema é mister saber construí-lo, o que, para muitos poetas, é bobagem. É mais fácil começar pelo fim. Grandes poetas criam o novo com instrumentos tradicionais. Sem sair do Maranhão, basta nos referirmos a alguns dos nossos maiores: Tribuzi, que estremeceu a província no final dos anos 40, espanando o mofo da mesmice literária, trazendo o sopro das vanguardas aprendidas em Portugal, era um apaixonado do soneto e com ele compôs muitas de suas obras, inclusive o épico A máquina do Mundo; Nauro Machado, o enfant terrible, que caminha na contramão do tradicional, editou um livro composto só de sonetos, A nau de urano, de temática originalíssima, sem concessões ao já-dito; José Chagas, amado cantor de nossas ruas e sobrados, em Os canhões do silêncio, mistura redondilhas maiores e menores, quadras e até sonetos, com versos brancos, conseguindo assim um belíssimo efeito, musical e metafórico, forma que os modernosos desprezam. Até nosso pós-moderno Luis Augusto Cassas, em meio a sua revolucionária dicotomia regional/espiritual, humano/transcendental, por vezes, encontra espaço para o uso da rima. O que
não impede, após tudo o que foi dito, que Laura Amélia, a musa da concisão poética, sem ceder a nenhuma das formas antepostas, nos encante com a delicadeza e lucidez de seus versos. Como se vê há lugar para todas as formas e temáticas. Só precisa haver talento. Pois é meu amigo, ainda há muitos outros exemplos dessa saudável mistura em bons poetas maranhenses. Mas é bom ficarmos por aqui, que já me alongo. Só quero acrescentar que, para mim, admiradora de um gênero que não me sinto capaz de perpetrar, poesia tem que ter sempre ritmo e musicalidade. Como melhor diria Verlaine: de la musique avant toute les choses. Um abraço.
FOI ASSIM HAGAMENON DE JESUS Foi assim. Você pode até achar que é minha mentira, mas foi assim. Na verdade, a realidade algumas vezes derrete e aceita ser sonho. E, deve-se concordar, o primeiro beijo de uma pessoa deveria, sempre, ser um sonho. Mas a grande indagação continua a ser: qual foi a que criou condições para o sonho se realizar, eterno sonho? Talvez a moreninha, canela, rosto redondinho e de corpo realmente lindo, ou quem sabe, a quase feia, a magra, na verdade meio ossuda, que tinha o mesmo nome da moreninha, e cujo artifício para deixar que se derramasse sua indefesa ternura eram palavras e modos agressivos. Talvez aquela, a de rostinho maçã, gordinha, das de corpo perfeito, das que fazem ballet, das que, o que excede um pouco em corpo, exala em apelo sensual, apesar da voz muito nasal, até meio irritante. Ou, quem sabe (o mais provável), aquela que alguns meses depois viria a ser sua namorada, a branquinha, das branquinhas rosadas, de lábios rosados, de pernas grossas, meio arrebitada, e com seu nome tão incomum. Enfim, talvez (e esta uma possibilidade remotíssima!) a loura, uma loura que naquela época já era candidata a loura fatal. Ainda não era, mas que nascera para ser, e que viria a se tornar a loura fatal que jamais houve naquela escola. Ela também estava lá, e poderia até ser ela, embora isto ainda hoje continue a ser totalmente impossível. Naquela escola, num daqueles austeros e imensos casarões da centenária cidade de São Luís, quase ninguém ficava nas salas de aula na hora do recreio, e isto simplesmente porque, pela imensidão do prédio, a cantina era muito longe das turmas. Só ficavam uns pouquíssimos alunos, os mais macambúzios, os mais tímidos. Mas esse não era bem o seu caso. Não, esse não era de modo algum o caso dele, Duda, apelido pelo qual já era conhecido àquela altura de seus já bem experimentados 12 anos! De modo algum, ele não era um tipo macambúzio, muito menos tímido. Não entendia então (ou não recordava) porque naquele dia havia ficado sozinho na sala, enquanto todos tinham ido lanchar na cantina, lá do outro lado do Atlântico, como se dizia na escola em tom de galhofa. De fato, passados tantos anos, ainda hoje se pergunta porque tinha ficado na sala nesse dia. Imagina até que foi porque, mesmo sendo um garoto sacativo, malaca, um garoto esperto de bairro, mesmo assim, até então nunca havia beijado ninguém, isto é, nenhuma garota. E não é que não houvesse tido oportunidades. Havia várias, tanto no bairro quanto na escola. Então, talvez fosse por isso que ele estivesse ali pensativo, sozinho com seu silêncio... Então elas entraram demolindo o seu silêncio, rindo, falando bobagens gargalhando, colorindo o ambiente, como só as mulheres sabem fazer. Lembra-se bem até hoje da imagem que lhe ficou: um bando de pássaras multicores voando, dançando, brincando, entre as austeras cadeiras e mesas da sala sisuda. Foi por isso, porque tão grande foi a surpresa que - mesmo não sendo macambúzio - a única reação possível foi baixar a cabeça, frio, e tentar manter-se fixo em seus pensamentos. Na verdade, a ideia era passar a mensagem de não estar nem aí com a presença de meninas tão bonitas. Tentar manter-se firme, impassível. Mas, enquanto a moreninha de rosto bonito refastelava-se em cima da mesa do professor com o seu corpo lindo, a magra, meio ossuda, sentou-se bem ao seu lado e falou com ele. Não lembra bem o que ela lhe falava (na verdade, estava nervoso). A moreninha, da mesa olhava bem dentro dos seus olhos, e a magra lhe falava. E ele, cada vez mais nervoso, sem saber o que fazer nem o que dizer. Ele nem imaginava que, naquele momento, a armadilha já estava pronta, que o bote já estava preparado. A loura sentou-se na mesma direção da magra, um pouco mais distante, a gordinha de corpo bonito aproximou-se como se fosse sentar-se na carteira logo atrás e a branquinha (com quem iria namorar depois) veio na direção de sentar-se próximo à magra.
Então aconteceu. A moreninha, suavemente, como uma dançarina, deslizou sensualmente da mesa do professor e, lentamente, veio andando em sua direção sem tirar da boca aquele sorriso maroto, travesso, sem tirar o olhar de dentro do seu olhar. De repente, alguém tampou-lhe os olhos, enquanto duas, ou por certo quatro mãos, seguraram-lhe firmemente a cabeça para trás, neste instante, uma delas deu-lhe um doce, rápido, suave beijo, que jamais seria esquecido. Em seguida, soltaram-lhe a cabeça e só foi possível ver-lhes novamente rindo, correndo, adejando, gargalhando, sobrevoando a sala com seu ar travesso entre as carteiras da velha sala de aula. Meses depois, tentou descobrir, primeiramente pelo beijo, e depois perguntando (para a branquinha que agora era sua namorada) qual delas o havia beijado. Ela nunca disse. Foi uma apenas uma brincadeira, uma combinação e um pacto, era só o que podia dizer. E foi mesmo só isso que ela lhe disse. Os anos se passaram, algumas delas mudaram para outras escolas, três permaneceram. Não sabe se intencionalmente, mas nunca criaram intimidade suficiente com ele que lhe desse a mínima chance de descobrir ou sequer perguntar quem lhe dera seu primeiro beijo (principalmente a branquinha, depois que terminaram o namoro). Foi um pacto, cumprido exemplarmente por um grupo de adolescentes, e que iria envelhecer com elas, como um enigma sempre presente, a estética surpresa das borboletas em eterno segredo na lagarta. Com o tempo, resolveu deixar aquilo de lado, e até esqueceu. Depois de alguns anos, talvez por um dia ter visto, de longe, a antiga loura fatal, já envelhecida como ele, a lembrança insistentemente começou a voltar. Na época vinha escrevendo pequenos textos para um jornalzinho que circulava numa invasão perto da sua casa. Pensou em escrever a história. Mas desistiu. Sempre soube que jamais poderia capturar a beleza e magia daquele momento. Mesmo assim, agora, à proporção que envelhece e vê a morte se aproximando, tudo retorna. Agora, ali, sozinho na noite de seu quarto, enquanto escorre mais uma madrugada de seus 91 anos, e oito anos após a morte da esposa, agora, noite após noite, antes de dormir, se vê pensando naquele mágico instante, a cada dia mais distante. Todas já terão morrido? Como sua esposa? Será que agora só restou ele como testemunha de um mínimo mistério que se perderá nos meandros de uma (a sua) banal e ínfima vida? Qual delas? Se pergunta. Qual delas? Se pergunta o vovô para sempre Duda. Será que se soubesse quem tinha lhe dado seu primeiro beijo seria tão belo? Então, agora, quando o sono começa a chegar, apenas agradece, todos os dias, por este magnífico enigma (qual delas?) que é o primeiro beijo e que ainda lhe acalenta, por todas as noites, enquanto a morte suavemente, suave seda se aproxima...
UM FIM DO MUNDO DIFERENTE
CERES COSTA FERNANDES
Criança, vivia em sustos, mercê do ensino fundamentalista e medieval das freirinhas do colégio e a leitura precoce da Bíblia, de preferência os livros não indicados. Assombrada pelas imagens do Apocalipse, a água dos rios transformada em sangue, estrelas caindo na Terra, crianças e pais soltando-se as mãos, inexoravelmente separados, oh, e aqueles horrendos quatro cavaleiros marchando em sua direção, acordava banhada em suor, Pai, Mãe, Vem para a nossa cama... Outros terrores pela vida afora foram se sobrepujando ao fim do mundo; compreendeu que o Apocalipse acontece todos os dias, com datas diferentes para cada vivente, o apocalipse de duzentos mil japoneses deu-se naquele tsunami, engraçado esse nome, antes era maremoto, a água afastando-se num silencio ensurdecedor, deixando ver o fundo do mar, e, depois, voltando em ondas gigantescas a levar tudo pela frente. O apocalipse de milhares de brasileiros aconteceu quando foram engolfados por vários tsunamis de lama que os enterrou para sempre e transformou as férteis terras das Minas Gerais, em maldição onde nada cresce. Delenda est Cartago. Na Bíblia, não há nada tão terrífico, a não ser a destruição de Sodoma e Gomorra, em que, pelo menos, não havia um só justo! Quantos justos foram soterrados em Mariana, Brumadinho? A perspectiva de findar, juntamente com toda a humanidade, hoje, não seria de todo ruim, me sabe melhor que morrer sozinha. Estava, pois, sem maiores preocupações com o famigerado fim do mundo e, eis que, se anuncia uma nova hecatombe mundial, diz-se que ela vai suprimir da Terra todos os idosos, considerados como tais os acima de 60 anos, vai buscá-los onde estiverem. Ué, praga seletiva e preconceituosa? Quer dizer, só a minha turma? Não contava com essa Covid 19, que provoca um cenário só imaginado em distopias mais aterrorizantes: cidades desertas, sem um vivente, limpas, silenciosas, belas, intactas, sem sinal de destruição, mais assustadoras que cidades bombardeadas. Parecem ter sido atingidas por poderosíssima bomba de nêutrons, aquela que dizem exterminar toda a vida, sem destruir edificações. Vi um filme, não lembro o nome, em que pessoas trabalhando em lugares subterrâneos de grande profundidade escapam dos efeitos dessa bomba. O que se segue é clichê, essas pessoas lutam por comida, artigos de primeira necessidade; a sobrevivência em cidades perfeitas em que nada funciona, não é menos assustadora que em uma floresta. Neste pré-apocalipse atual adicionam-se outros ingredientes, sobremodo inquietantes, não há ataque visível, o cenário deserto advém do confinamento espontâneo das pessoas, fugindo de uma ameaça não palpável, por isso mais aterrorizante. É uma situação expectante que nos priva da condição de animal social que somos. Nos segrega até mesmo do núcleo familiar. Nós, os idosos, somos os segregados da nova era, temos que usar luvas e máscaras, abstendo-nos do contato com todos, comunicando-nos pela telinha. Netinhos gostosos, queridos, devem guardar distância. Filhos nos deixam comida e outros artigos de necessidades básicas à porta, como se estivéssemos em uma cela solitária, isso os bons. Quem já não visitava mesmo os pais, aproveita para dizer que os está protegendo. Amigos estão proibidos de reunirem-se, encontros são punidos com prisões. Qual o seu crime? Fiz um churrasco... Acho que não gosto desse apocalipse furtivo, aos pedacinhos, em que mortos sem velórios são cremados de pacote e vivos não se tocam e têm o toc de lavar as mãos sem parar. Quero minhas estrelas cadentes e meus rios vermelhos de volta.
POESIAS & POETAS
AS LÂMINAS INTERSTICIAIS DE PAULO RODRIGUES ANTONIO AÍLTON A poesia é uma soleira de possibilidades e sutilezas que pode acolher dimensões insuspeitas. É o que o poeta Paulo Rodrigues vem nos mostrar com maestria no seu recente livro, A Interpretação para São Gregório (Penalux, 2019) – livro com o qual o autor recebeu o meritório Prêmio Álvares de Azevedo no Concurso da UBE (RJ). A primeira grande clarividência de Paulo Rodrigues está justamente na porta de entrada do livro, que é o título. Causa sem dúvida estranhamento a quem está acostumado apenas aos títulos regulares de tantas publicações com as quais temos recentemente tropeçado, que têm atingido, por vezes, o cansaço do pastiche. Estranhamento porque nos empurra para o conceito religioso, da tradição católica, aparentemente distante, portanto, do universo da poesia. Mas o que o poeta faz é justamente uma reviravolta ao conceito, uma secularização em favor da poesia, no sentido de apresentar uma interpretação intersticial, que corresponde a uma dupla torção: a atualização do lado humano, sapiente, político, social e justo incrustado à imagem do prefeito-papa-santo Gregório Magno (qualidades que, independentemente do cunho religioso ou eclesiástico, estão reconhecidamente ligadas à própria pessoa de Rodrigues); e, por outro lado, a oportunidade de praticar uma poesia que, sem deixar as inflexões da solitude gregoriana e os impactos das forças do mundo no indivíduo, dá abertura a uma voz em favor das questões sociais e da defesa, pela garganta da figuração poética, da dignidade vital e de cunho reivindicatório – sem que em nenhum momento deixe sua razão fundamental de ser: essencialmente poesia. Num dos mais fortes poemas do livro, Café preto, no qual Rodrigues se utiliza de uma atmosfera cinematográfica, encontramos a denúncia de uma violência que invade tanto os espaços outrora tranquilos, tais como o espaço de caráter campesino, uma das referências vivenciais do poeta, conforme observou o poeta Fernando Abreu no prefácio do livro, como também os espaços da comunidade e da intimidade quieta, os espaços da memória de um outro estilo de vida, já agora violado, violentado, com o peso de um mundo que beira a ficção científica ou uma bárbara profecia de HQ: CAFÉ PRETO as mulheres juntavam cuidados e saudades, nas fotos antigas. dois meninos brincavam no meio fio, pintado de cal; escoltados pelos olhos das formigas. os vingadores desceram do carro atirando nos inimigos, que estavam na rua. os meninos tiveram as camisas atravessadas pelas balas. a ambição escorrega nas lágrimas, de uma das mães. a outra ficou no chão olhando para o sangue na asa da xícara. (p. 19).
Já no belíssimo Interpretação para São Gregório, abaixo, deparamo-nos com aquele solitário limiar entre o mundo, o sujeito, seus fantasmas e sua intranquilidade, um sujeito que é impossibilitado pelas circunstâncias de salvar tudo ao mesmo tempo, e, na soma de toda a responsabilidade que assume ante a realidade, torna-se o próprio sacrificado, e sacrifica (sobretudo a casa, este lugar último para onde devemos conduzir com alegria o nosso presente e o nosso tesouro). São Gregório, em algum momento da sua vida há de ter feito aquela pergunta vital que fica ecoando na intimidade: “Tudo vale a pena?...” (aguardando uma difícil resposta que talvez só Fernando Pessoa ensaiaria muitos anos depois). Eis o poema: UMA INTERPRETAÇÃO PARA SÃO GREGÓRIO arrasto séries de memórias num saco de gatos, jogo-as numa manjedoura, mas elas miam alto. arrasto os pelos pelas ruas; não consigo deixar marcas nem respostas. encontro mortos por onde passo. entro em casa e não levo incenso ouro ou mirra . (p. 57). O poema aponta também para um outro caminho de Paulo Rodrigues, o pisar entre o presente e o passado, o presente e a duração das memórias. Há um fértil chão de memórias, reminiscências emergentes e uma rica convivência com os mortos (opa!, mas diferentes daqueles mortos do poema acima, que são aqueles a quem Cristo diria para deixá-los entregues ao próprio enterro), no livro como um todo. E não apenas nesse último. Diríamos que em toda a poesia de Rodrigues, desde O abrigo de Orfeu (Penalux, 2017) e Escombros de ninguém (Penalux, 2018), ele nos apresenta também laivos de um mundo e de uma cultura que se esvaem, ante o vórtice avassalador dos problemas e modos de vida urbanos e mundiais. Esse chão é sobretudo o familiar, o chão dos lugares vividos e da experiência da comunidade, no sentido de Walter Benjamin. Inclusive o chão da oralidade. Não à toa, um dos férteis procedimentos modais do poeta é a narrativa, que ora ou outra insinua-se na base dos poemas (Cegueira, Seminômades, Antártida...), não para torná-la menos (in)tensa, mas para enriquecê-la. E mais: aquela narrativa comum aos causos populares, perceptível mesmo embaixo do rigoroso aparato laminar da poesia de Paulo Rodrigues. Neste caso, podemos agregar aí esse valor da memória como transcendendo a afirmação da soleira do indivíduo e atingindo o registro da experiência sensível social-comunitária. Vale a pena lermos esse cartaz, no Desaparecido: DESAPARECIDO os velhos continuam arrastando as sandálias no quartos. as quatro da manhã, o cheiro do café reacende a infância. meu bisavô está lá, toca fogo no chiqueiro
dos porcos. todos estão lá! a ausência é só minha e só em mim está colado um cartaz. (p. 55). Nessas verdadeiras lâminas poéticas, a concisão e o rigor agudizam o sabor das vivências e os impactos comoventes da realidade, das relações e da memória. São estes elementos que, justamente, conforme já observou Abreu no prefácio do Interpretação..., “refrescam” organicamente a aridez da disciplina poética. Essa opção pela concentração formal, que exige labor e certa frieza no trato com a linguagem – conforme lições exaltadas, na verdade, desde a alta modernidade francesa às poéticas contemporâneas – em contraste com as paisagens sensíveis e emotivas constitui-se em mais um dos pontos intersticiais dessa poesia, isto é, na sua possibilidade de se fazer entre regiões, entre dimensões. Na leitura dos últimos três livros de Rodrigues, é perceptível um amadurecimento cada vez maior no seu fazer poético. Amadurecimento no sentido de que, embora a literatura tenha suas peculiaridades e idiossincrasias, qualquer atividade deve encaminhar-se para uma qualidade cada vez mais afiada, superior. No caso de Paulo, fico feliz que ele tenha dispensado, ou dispense cada vez mais certas estruturas que acabam por se mostrar como produções de efeitos construtivos dentro do poema. Neste sentido, a experiência consciente da escrita, a inclusão cada vez maior dos aspectos memoriais, sociais e cotidianos, a tomada simbólica de uma personagem interpretativa da proposta geral e uma aguda sensibilidade vertida no poético transformaram o breve Uma interpretação para São Gregório num grande livro.
NOVIDADES a maior comunidade acadêmica e de pesquisa em Educação Física, Esportes e Lazer da Internet.
http://cev.org.br/Educação Física no Maranhão
comunidades quem é quem biblioteca eventos educação sobre o cev contato
Comunidades Ponto de encontro para troca de informações sobre conceitos, livros, congressos e artigos entre pesquisadores, professores e estudantes da área de Educação Física, Esportes e Lazer. Comunidade Participantes Anatomia em Educação Física ANPPEF - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação Física APEF - Associações de Profissionais em Educação Física Aprendizagem Motora Artes Atividade Física no Programa Saúde na Família Atividade Motora Adaptada Atletismo Avaliação em Educação Física e Esporte Dança Dança e Educação Física: Diálogos Desportos Aquáticos Dirigentes de IES em Educação Física e Esporte Dopagem na Atividade Física e Esportes
Badminton Basquete Biblioteconomia e Ciência da Informação em EF & Esportes Biomecânica Bioquímica do Exercício
Capoeira Ciclismo Corpo e Educação Indígena Corporeidade - Estudos Transdisciplinares Criança
EAD - Educação a Distância Economia Editores de Publicações Científicas Educação Educação Física do Trabalhador & Ergonomia Educação Física e Circo Educação Física e Esporte Educação Física Escolar Educação Física Militar
Educação Física na Paraíba Educação Física no Acre Educação Física no Amapá Educação Física no Amazonas Educação Física no Ceará Educação Física no Distrito Federal Educação Física no Espírito Santo Educação Física no Maranhão
Educação Física no Mato Grosso Educação Física no Mato Grosso do SulEducação Física no Pará Educação Física no Paraná Educação Física no Piauí Educação Física no Rio de Janeiro Educação Física no Rio Grande do Norte Educação Física no Rio Grande do Sul Educación Física en Latinoamerica Gênero e Esporte Genética e Atividade Física Gestão Desportiva Ginástica Ginástica Laboral
Educação Física em Alagoas Educação Física em Goiás Educação Física em Minas Gerais Educação Física em Pernambuco Educação Física em Rondônia Educação Física em Roraima Educação Física em Santa Catarina Educação Física em São Paulo Educação Física em Sergipe Educação Física na Bahia Esporte Escolar Esporte para Todos Esporte Universitário Esportes de Aventura Esportes Diferenciados Esportes Náuticos Esportes Paralímpicos Estudos Olímpicos Ética e Moral no Esporte Handebol História da Educação Física e dos Esportes
Fisiologia do Exercício Fisioterapia Esportiva Fitness e Qualidade de Vida Futebol Futsal Filosofia do Esporte Idoso Instalações Esportivas Legislação Desportiva - CEVLeis Lusofonia Nutrição em Educação Física e Esportes
Jiu-Jitsu Judô Marketing Esportivo Mídia e Esportes Musculação Oftalmologia Esportiva ONGs e Esporte
Rádio CEV Recreação e Lazer Rugby
Sociologia do Esporte Surfe
Volei
Wushu
Karate Lusofonia
Pedagogia do Esporte Políticas Públicas Professores Universitários em EF Psicologia do Esporte Tecnologia no Esporte Tênis Tênis de Mesa Treinamento Desportivo Triathlon Xadrez
Newsletter Você também pode receber todas as Novidades do CEV, uma vez por dia, no seu e-mail. Basta informa-lo no formulário abaixo: assinar
Seu E-mail:
Acompanhe:
CEV, a maior comunidade virtual de Educação Física, Esportes e Lazer da Internet Ana Paula de Jesus
Criado no Núcleo de Informática Biomédica (NIB) da Unicamp, como parte de um trabalho de Pós-Graduação da Faculdade de Educação Física, o Centro Esportivo Virtual (CEV) é um site de Gestão do Conhecimento em Educação Física, Esportes e Lazer. Ele foi criado em janeiro de 1996, mas a sua primeira lista – Oxigênio do CEV foi para o ar em 30 de Julho, data em que é comemorado o seu aniversário. O site possui uma vasta biblioteca e apontadores: revistas, livros, teses, manifestos e posicionamentos, legislação, instituições, publicações eletrônicas, quem é quem (páginas pessoais), endereços importantes para a Educação Física e Esportes (em Navegando). Uma história de quase duas década, com o objetivo de ser a porta de entrada para a informação esportiva nacional e internacional, atendendo desde esportistas e estudantes com interesse geral até pesquisadores e profissionais da área. O CEV tem o apoio da Secretaria Nacional de Esporte e conta com a colaboração tanto dos especialistas coordenadores de páginas e administradores de listas de discussão até do visitante que encontra, em cada página, um mecanismo de interação para comentar, sugerir e/ou acrescentar alguma informação. Além disso, mantém parcerias com várias instituições, dentre elas o Conselho Federal de Educação Física. Fórum permanente de esportistas e profissionais, o CEV caminha para constituir-se num importante centro de informações para o suporte de programas de Educação com Informação à Distância – EIAD participando dos esforços de preparação e atualização profissional em Educação Física, Esportes e Lazer.
ENTREVISTA LAÉRCIO ELIAS PEREIRA
Jornalista – Que balanço o senhor faz dos primeiros anos do Centro Esportivo Virtual (CEV)? LEP – Como produto de tese de doutoramento, o CEV reuniu várias experiências de publicações, desde a editoria da Revista Esporte e Educação, na década de 70. Também abarcou o projeto de publicações em microfilme, o Micro Esporte Clube na década de 80, e as experiências em informática da década de 90. Essa reunião foi possível com a chegada da Internet. O Projeto inicial era um CD, mas a chegada da Internet comercial no Brasil, em 1995, proporcionou a instalação como um sítio. Nesses dez anos, muita gente ajudou a ampliar o acervo e essa comunicação intra e inter-profissional. Começamos com três canais de comunicação: um sítio, uma lista de discussão e a abertura para a interação entre os profissionais e estudantes. A primeira lista tinha 18 participantes. Hoje, soma mais de 21 mil, em quase 200 listas, que já integraram mais de 100 milhões de mensagens. Jornalista – Sabemos que muitos sites e grupos de discussão surgem e desaparecem em poucos meses. O CEV, entretanto, está na rede desde 1996, mantendo um número impressionante de visitas diárias. Quais as razões deste sucesso? LEP – Acredito que essa explosão dificilmente aconteceria em outra profissão. Lembro que, no século passado, sempre que os visitantes estrangeiros e ilustres vinham fazer palestra na Escola do Futuro, da USP, diziam que a Educação Física era a profissão que já estava no século XXI, especialmente pela liderança e competência na comunicação. O CEV facilitou essa atuação e está abrindo caminho para que esse profissional líder tenha mais ferramentas através das TICs (Tecnologias de Informação e Conhecimento). Jornalista – O portal tem hoje mais de 190 listas de discussão. O senhor acredita que os fóruns virtuais são importantes ferramentas para a disseminação e troca de informações referentes à Educação Física? LEP – Sabemos todos que o conhecimento de ponta é depositado em publicações e bibliotecas. A fronteira do conhecimento está nos vetores de tecnologia, nas pessoas. Usamos todas as ferramentas da Internet para permitir a interação entre professores, estudantes e pesquisadores com os vetores de tecnologia das suas áreas de interesse. Tem a aposta no respeito ao tempo das pessoas. Usamos ao máximo as ferramentas chamadas assíncronas, como o correio eletrônico, que não obrigam as pessoas a estar em algum lugar ou à disposição sem ser em obediência ao seu próprio horário. As mensagens ficam lá e a pessoa acessa quando tem tempo e/ou interesse. Jornalista – O CEV conta com importantes parceiros, o que destaca o prestígio que possui junto aos diferentes públicos ligados ao esporte e à Educação Física. Como essa credibilidade foi conquistada?
LEP – Somos apenas um portal de disseminação da informação técnica e científca em Educação Física e Esportes. Praticamente todos os grupos importantes da EF, mesmo com divergências ideológicas ou técnicas, estão no CEV, que respeita e assegura o direito de cada um escrever o que pensa. Além disso, o que cada um diz fca registrado. Tivemos sorte nas parcerias iniciais com o Uruguai e Argentina (Lecturas). Foi fundamental o fato de o Presidente do CONFEF ser administrador de uma das listas Associações Profissionais desde antes de ter sido presidente do CONFEF. Por falar nisso, a primeira reunião oficial dos Conselheiros Federais foi numa sala virtual do CEV.
Jornalista – Poderia falar um pouco sobre o trabalho realizado pela ONG Centro Esportivo Virtual, que foi criada em 2002? LEP – Quando criamos o CEV, a Internet estava naquela fase do delírio que se mostrou depois uma bolha, que estourou. Tinha muita gente interessada nos projetos do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp. Nós desenvolvemos o CEV junto com o Hospital Virtual, sob a orientação do Prof. Renato Sabbatini. Quando terminei o doutoramento e a bolha já tinha estourado, a Uni-camp teve uma orientação sábia: passaria o domínio para uma ONG. Daí criamos a ONG CEV. O futuro que já está acontecendo é o apoio às atividades de educação aberta e à distância. Jornalista – Sabemos que o CEV prepara-se para passar por mudanças que potencializarão ainda mais seu alcance. O que o senhor pode adiantar a respeito dessas mudanças? LEP – Temos parceiros na vanguarda da Internet, como a Escola do Futuro, da USP, e a Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, que é líder nos conteúdos on-line em Educação Física. Estamos projetando abrir todo o conteúdo do curso de Educação Física. Acredito que isso vai ter um impacto nos mais de 500 cursos de graduação em Educação Física e vai permitir que as pessoas que passaram por um curso revejam algumas unidades de aprendizagem (disciplinas) que recebem atualizações freqüentemente. NÚMEROS DO CEV: 4.500 visitas por dia, 192 listas de discussão com mais de 21 mil participantes. Já distribuiu mais de 100 milhões de mensagens. Mais de 20 mil endereços internos. O CEV é um obra coletiva. Conheça os administradores e as suas listas no site: www.cev.org.br
Práticas de Esporte e Lazer nas Políticas Públicas da Cidade de Aracaju Notas Para Uma Proposta de Manual de Criatividade, Atividade e Serviço Para o Bacharelado Internacional Criação do Manual de Sinais Técnicos Aplicados Ao Futebol Fedepdal 2019 Detecção Preliminar de Crianças Equatorianas de 7 a 8 Anos Para Ginástica Artística Aprimoramento da Capacidade na Ginástica Artística Masculina Infantil Resultados do Testes Pedagógicos em Atletas da Escola de Salto em Distância (14 a 15 Anos) Autopercepção da Saúde e Nível de Atividade Física de Praticantes de Exercícios Físicos Quedas Laterais Baixas do Goleiro de Futebol. Incidência, Biomecânica e Treinamento Narrativas Autobiográficas: Tecendo Caminhos da Formação Profissional em Educação Física O Segredo do Sucesso Falando de EaD Jogos Tradicionais Moçambicanos Postar Preprints Antes da Avaliação Por Pares Está Associado à Maior Visibilidade e Citação dos Artigos Publicados Cuidados com a Saúde Entre Usuários de Esteróides Confiança em Deus: Dimensão da Espiritualidade na Vida do Adolescente Revisão Integrativa: Temperança e Saúde do Adolescente Efeito de Destreinamento em Idosos com Síndrome Metabólica A Influência da Luz Solar na Saúde do Adolescente Efeito de 12 Semanas do Treinamento de Força Ondulatório Semanal na Composição Corporal e na Aptidão Cardiorrespiratória de Um Individuo com HIV/AIDS A Importância do Sono na Saúde do Adolescente: Uma Revisão Integrativa Educação Física e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde A Importância da água na Vida dos Adolescentes
O Esporte em Tempos de Pandemia: Lições da Gripe Espanhola de 1918-1919. Oficina 4 - Danças Populares Brasileiras Oficina 5 - Jogos Teatrais na Educação Oficina 3 - Danças Circulares Sagradas na América Latina Oficina 2: Lazer e Educação Ambiental Oficina 1 – Lazer e Educação Popular O Adiamento dos Jogos Olímpicos Por Uma Perspectiva Sistêmica Investigando as Práticas Corporais Realizadas Pelos Profissionais de Educação Física das Equipes do NASF em Natal-RN Interação Entre Dupla-tarefa Motora e Idade Cronológica em Idosos Saudáveis Horizontes da Educação Física no NASF: Contribuições da Hermenêutica Exercícios Intensos e Qualidade de Vida Pós Câncer de Mama Exercício Físico Para Pessoas Pré-hipertensas: Revisão Sistemática com Base no RE-AIM Exercício e Hiperandrogenismo em Mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos: Revisão de Literatura Efeitos do Treinamento Resistido Sobre a Ansiedade e Depressão Efeitos do Treinamento Resistido no Processo de Emagrecimento, Modulação Hormonal e Qualidade de Vida de Mulheres com Hipotireoidismo Efeitos da Administração de Solução Oral de Alpiste (phalaris Canariensis L.) em Parâmetros Metabólicos de Ratas Wistar Tratadas com Dieta Hiperlipídica Efeito Imediato do Uso da Creatina na Frequência Cardíaca e na Pressão Arterial em Indivíduos Jovens Adultos Ativos
Efeito do Treinamento Resistido em Um Indivíduo com Hérnias de Disco Educação Musical em Um Projeto de Lazer Sócio-educativo Efeito de Protocolos de Treinamento Intervalado de Alta Intensidade na Composição Corporal de Adolescentes Obesos: Uma Revisão de Literatura O Potencial da Arte na Vida e Educação Humana: Contribuições da Fenomenologia Ao Encontro do Buen Vivir Concepções de Motricidade Resultantes de Experiências no Contexto Educacional O Ensino das Atividades Circenses na Educação Física Escolar: Algumas Reflexões Ciclismo Urbano: o Des-velar da Experiência de Cicloativistas da Cidade de São Paulo, Brasil Fuzaka Ped: Processos de Interpretação e Criação Musical em Curso de Formação de Professores/as
Motricidad Humana: ¿cultura Del Cuerpo o Cuerpo Cultural? Conhecimento de Pediatras Sobre a Atividade Física na Infância e Adolescência Revista Paulista de Pediatria Compreensões Sobre o Processo de Formação de Mediadores/as no Fútbol Callejero Compreensões Sobre o Processo de Formação de Mediadores/as no Fútbol Callejero Políticas Públicas e Mídia Sergipana no III Mundial Escolar de Vôlei de Praia Prenúncios de Uma Epistemologia Merleaupontyana – Contribuições de Joel Martins O Que Pode a Educação Física no Território? Visibilizando Conexões Entre Práticas Corporais, Vida e Cuidado O Que Pode a Educação Física com as Práticas Corporais? da Clínica Ampliada às Tecnologias Leves O Profissional de Educação Física em Um Centro de Referência em Obesidade no Sistema único de Saúde Voleibol nas Aulas de Educação Física Escolar: Uma Experiência Formativa O Exercício Resistido na Qualidade de Vida em Pessoas com Doença de Parkinson O Efeito do Treinamento Resistido na Força dos Membros Superiores de Uma Aluna com Esclerose Múltipla – Estudo de Caso Jogos Estudantis de Ilhabela: Valorizando o Esporte-educação na Construção de Competições Interescolares Nível de Atividade Física, Sinais de Estresse e Desempenho Acadêmico em Estudantes Universitários Leptina, Grelina e Insulina: Hormônios Que Influenciam a Obesidade e a Sua Relação com o Exercício Físico A Festa na Praia: Bares Pé-na-areia na Zona de Expansão Urbana de Aracaju-sergipe Métodos de Pesquisa Qualitativa em Ecomotricidade: Relato de Experiência de Um Projeto de Pesquisa Olhando o Mundo com a Cabeça Para Baixo: Um Diálogo Entre a Capoeira Angola e as Motricidades do Sul O Basquetebol Como Possibilidade Pedagógica no Ensino da Educação Física na Escola A Inserção da Temática Ambiental no Currículo de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe Representações da Motricidade Humana na Educação Física Brasileira Percepções Sobre o Uso de Estratégias Não Convencionais em Disciplinas de Graduação Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana O Desporto e a Motricidade Humana: Teoria e Prática Educação e Motricidade: Trilhando Caminhos A Leitura de Mundo na Educação Física Escolar Jogos Africanos e Afro-brasileiros: Possibilidades Para a Educação das Relações étnico-raciais nas Aulas de Educação Física Sobre a Educação Física na Educação Infantil: Desafios da Prática Pedagógica Corpo Humano: Conhecer e Movimentar-se é Preciso Relato de Uma Experiência
O Jiu-jitsu e Ações Extensionistas na Ufscar: Um Relato de Caso Aikidô e Dialogicidade: Um Possível Caminho de Sabedoria Merleau-ponty, a Linguagem e a Palavra Um Estudo Sobre a Relação Aluno-piano-professor em Conservatório Público Mineiro Capoeira Angola e Pertencimento étnico-racial Treinamento com Pesos: Educação em Saúde na Terceira Idade Introdução à Dança do Ventre Jogos/brincadeiras de Lutas: as Culturas Corporais de Lutas na Formação de Professores de Educação Física Fundamentos de Laban na Dança Educativa Gestão do Lazer: Formação e Campo de Atuação do Profissional da área Qualidade de Vida e Nível Atividade Física em Idosos Frequentadores de Uma Universidade da Maturidade (UMA) Ritmo e Dança Popular Brasileira Psicomotricidade Relacional em Grupo Melhora Interação Social do Transtorno do Espectro do Autismo: Um Estudo de Caso Karatê-do na Escola Proposta de Classificação da Coordenação Motora Para Diferentes Estágios de Maturação Sexual Por Meio do Teste KTK As Lutas dos Estudantes de Educação Física Prevalência de Lesões em Jogadores de Basquetebol em Cadeira de Rodas Saúde Mental: Educação Física e o Centro de Atenção Psicossocial de Pau dos Ferros Uso do álcool e Outras Drogas, Por Crianças e Adolescente: Possibilidades de Instrução A Dança na Escola Sob a Perspectiva da Formação de Subjetividades Críticas e Resistentes Tai Chi: Linguagem Corporal de Expressividade, Criação e Cultura A Pedagogia dos Corpos no Terreiro de Candomblé Caxuté: Culturas, Identidades e Ancestralidade A Obra Coreográfica Como Experiência Poética e Educativa A Influência dos Cantos e das Danças nos Modos de Ser Guarani Mbyá A Dança na Etnia Indígena Bororo: Primeiras Aproximações A Dança Como Prática Corporal no Contexto das Academias de Ginástica: Motivos de Inserção e Permanência A Corporeidade Como Instrumento Mediador de Desenvolvimento de Aspectos Emocionais e Sociais Por Meio da Educação Física na Infância Cultura Lúdica Híbrida: Práticas Inovadoras Karate-do e Capoeira: Um Diálogo Entre Duas Tradições Futebol, Gênero, Política e Sociedade: Percepção de Alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental Sobre Aulas de Educação Física Para Além do Jogar Entrando na Roda: Pessoas com Deficiências Brincando de Capoeira Efetividade de Um Programa de Ginástica Laboral Associado à Avaliação e Prescrição de Exercícios Físicos Sobre os Estados de Humor Efeitos do Exercício Físico Sobre a Composição Corporal e Perfil Lipídico de Mulheres Menopausadas Educação Física no Enem: Análise das Questões à Luz dos Pcns Educação Física Escolar: Dança Circular Sagrada no Universo Infantil Educação Física Escolar: Conhecendo as Origens da Capoeira Educação Física e Inclusão Escolar: dos Limites às Possibilidades Convivendo e Aprendendo: Reflexões no Contexto Escolar Indígena da Aldeia Ekeruá – Avaí/sp Conteúdos da Educação Física no Ensino Fundamental Ii: Uma Proposta de Organização Curricular
Atividades de Lazer Como Possibilidade de Inclusão Social: Uma Experiência com as Crianças da Comunidade Jardim Gonzaga Ação Pet-saúde na Usf-jardim Gonzaga: Percepção de Mudanças Entre os Participantes e Educadores A Visão de Professores Universitários dos Cursos de Educação Física Sobre o Fenômeno Corpo/corporeidade A Pretensa Ideia de Música Universal: Um Estudo do Conceito de Cultura em Paulo Freire, Enrique Dussel e Alfredo Bosi A Inclusão do Deficiente Físico Cadeirante Por Meio da Dança Educativa nas Aulas de Educação Física Escolar A Experiência Lúdica em Parques Públicos: Espaços e Tempos da Cultura Lúdica Infantil A Evolução da Prova do Lançamento do Martelo: Um Breve Histórico Influência do Tamanho e Densidade Populacional no Rendimento Esportivo da Ginástica Artística Brasileira Condições Sociais de Emergência de Um Subcampo Esportivo: o Caso do Parkour RETOS. Nuevas Tendencias en Educación Física, Deporte y Recreación O Tempo da Finitude Aspectos da Gripe Espanhola e as Competições de Polo Aquático no Rio de Janeiro As Publicações Eletrônicas Dentro da Comunicação Científica Apontamentos Críticos Acerca da Produção Acadêmico-científica Sobre Educação a Distância no Brasil. Instrumento de Mensuração dos Determinantes da Não Adesão à Prática de Exercício Físico Durante a Gestação: Desenvolvimento e Validação de Conteúdo Os Estágios na Formação Inicial de Professores de Educação Física O Papel da Educação Física na Educação Inclusiva de Alunos com Síndrome de Down Mostra Internacional de Videodança na Ufscar, Um Olhar Sobre a Dança e o Vídeo Comunidades Quilombolas e Práticas Corporais Identitárias: Uma Revisão Sistemática CINEDUC: Corpo, Cinema e Educação Conhecimento de Profissionais da Saúde Sobre Conceitos Relacionados à Ciência do Exercício: Um Estudo Transversal Matriz de Referência Para a Avaliação dos Conteúdos de Fisiologia do Exercício em Cursos de Licenciatura em Educação Física Autoapresentação Corporal de Lutadoras de Artes Marciais Mistas no Instagram Atividades Aquáticas no Curso de Educação Física: Uma Boa Prática Pedagógica Aspectos Culturais no Ensino de Lutas na Universidade As Técnicas Corporais na Renovação Carismática Católica As Rodas de Samba, Capoeira e Xirê : Lazer, Cultura, e Religiosidade nas Ruas Soteropolitanas As Brincadeiras Populares: Regastes e Vivências em Inhangapi, PA Anotações Sobre a Utilização da Bicicleta Entre Trabalhadores em Irati – PR Alunos do Ensino Médio da EJA, Corpo e as Aulas de Educação Física A Técnica Corporal do Taekwondo: A Intercorporeidade e os Ensinamentos da Tradição A Presença do Circo na Educação Física no Uruguai
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
FRAN PAXECO: recortes & memórias
SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2020 PARTE II
INÍCIO DO EXÍLIO NO BRASIL: CHEGA AO RIO DE JANEIRO
FRAN PAXECO: recortes & memórias “Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro
de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502)
INÍCIO DO EXÍLIO NO BRASIL: CHEGA AO RIO DE JANEIRO Em “O Sangue Latino”, Lisboa, 189789, faz-nos um relato pormenorizado da sua partida, em 28 de Março de 1895, para o exílio no Brasil; Como ele mesmo narra:
OLIVEIRA GOMES, 1898
89
CUNHA BENTO, 2014, obra citada.
90
[...] roupas enlaçadas, livros cintados, sob o codinome de Viegas Guimarães, Francisco tomou o primeiro navio que lhe apareceu e rumou para a Espanha, donde, também sem perda de tempo, escapou rumo ao Brasil. Aportou no Rio de Janeiro a 8 de maio de 1895, com 21 anos de idade, e empregou-se no comércio. Com pouco tempo no Rio, em dezembro daquele ano, seria despedido do emprego por haver fundado um jornal chamado “A República Portuguesa”.
- PUBLICA - O Uruguai, prefácio a este poema de Basílio da Gama. Rio de Janeiro, Livraria Clássica de Alves &Comp, 1895.
PARTE PARA BELÉM - PARÁ DEZEMBRO -Nos principios de dezembro de 1895, parte para Belém do Pará, onde chega a 17. Nesse mesmo mês, sem perda de tempo, embarcou-se para o Pará, onde saltou a 17. Já em Belém, associou-se na publicação de um jornal intitulado “Folha do Norte”, cujo primeiro número sairia menos de um mês após a sua chegada,
90
OLIVEIRA GOMES, Novas Literárias. In A GAZETA DE PETRÓPOLIS, ed. 75, 21/06/1898
1896 JANEIRO, 1º - exatamente no dia 1º de janeiro de 1896. Fran Paxeco (Que passou a abreviar nome de Francisco e grafar o sobrenome com x) era um dos redatores da Folha do Norte
Neste jornal publica um conjunto de artigos sobre a descoberta do Brasil que gera viva polémica, ainda que consiga fazer prevalecer a sua versão.
1896/1897/1898-trabalhou em jornais daquela cidade, onde também organizou a biblioteca do Grêmio Português, lecionou em escolas privadas e, em março de 1898, expôs à venda o seu primeiro livro: “Sangue Latino”. MARÇO, 9 - É também neste periódico – Folha do Norte - que, a partir de 9 de Março de 1896, publica um conjunto de seis artigos sobre Bocage91. Trata-se de uma versão revista e melhorada do artigo que publicou inicialmente em “O Século”, de 16 de Setembro de 1894. MAIO - Colaborador da “Folha do Norte”, saindo em maio de 1896, JUNHO - organiza o catálogo da biblioteca do Gremio Litarário Portugues. DEZEMBRO, 3 - Prefacia o libreto do “Guarani”, quando uma companhia ali apresentou essa opera, em 03 de dezembro de 1896. - continua lecionando até 1897; PUBLICA - O Guarani, proêmio ao libreto da ópera de Carlos Gomes. Belém-Pará, 1896. . 1897 Se torna sócio solidário da papelaria Silva. Organiza homenagens a Mousinho de Albuquerque92, pelas vitórias contra os vátuas. JULHO, 17-No Diário do Maranhão era informado que Fran Paxeco assumira a direção do jornal amazonenses “Diário de Notícias”;
AGOSTO -em agosto, começa a polemica com Arthunio Vieira, ex-redator daquele jornal (Diário do Maranhão, 02 de agosto). SETEMBRO, 18 -(O Pará do dia 18) uma nota sobre o que se passava em “Manaus”, envolvendo novamente Arthunio Vieira e Fran Paxeco; tratava o colunista sobre a questão do Acre.
91
MANUEL MARIA DE BARBOSA L'HEDOIS DU BOCAGE (Setúbal, 15 de setembro de 1765 – Lisboa, Mercês, 21 de dezembro de 1805) foi um poeta nacional português e, possivelmente, o maior representante [1] do arcadismolusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século [2] XIX. Era primo em segundo grau do zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage. https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage 92Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque foi um oficial de cavalaria português que ganhou grande fama em Portugal por ter protagonizado a captura do imperador nguniGungunhana em Chaimite e pela condução ... Wikipédia
OUTUBRO, 8, 10 - Em A FEDERAÇÃO (08 outubro), órgão oficial do Partido Republicano Federal, e no Commercio do Amazonas (10/10) informa-se que o colaborador do Jornal Diário de Noticias encontrava-se enfermo.
OUTUBRO, 9 -No dia seguinte (em O Pará de 09 de outubro) novamente Arthunio Vieira assaca contra Fran Paxeco, em sua coluna “Manaus” (publicada a 03 de outubro). NOVEMBRO, 21 –O Diário de Noticias traz a seguinte nota:
DEZEMBRO, 05 - comemorava-se o 1ยบ de Dezembro, sendo que Fran Paxeco, assim jรก se referiam a ele, estava envolvido, participando como membro da comissรฃo dos festejos:
DEZEMBRO, 18 - Encontramos referência a Fran Paxeco no jornal “O Pará”, edição de 18 de dezembro de 1897, como um dos responsáveis pela “A Revista”93:
93
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
DEZEMBRO, 17 -Pertencia também, já a essa época, à “Mina Litterária”, grupo de jovens literatos conforme se depreende de noticia veiculada nesse mesmo jornal a 27/12/1897, em que se anunciava, além da ordem do dia, o lançamento de “A Revista”94:
94
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
- Publica O Sangue Latino, em parte, um livro de viagens, aonde Fran Paxeco vai retratando as terras por onde passou, e particularmente Sevilha. Mas é igualmente um livro de reflexão política sobre Portugal.95
95
ALDEIA, João. Setubal na Rede. Disponível em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=7659, acessado em 16 de janeiro de 2014
PUBLICA - O Centenário Indiano, manifesto das associações portuguesas do Pará. Belém-Pará, 1897; O Sangue Latino. Lisboa, 1897.
1898 Prosseguiam as reuniões literárias da Mina – e dos mineiros, como eram chamados seus membros (O Pará, 11/01/1898). JANEIRO, 26 – (O Pará) destacado como membro da colônia portuguesa96:
MARÇO, 8 -(O Pará, 08/03) saia o segundo numero de A Revista, com a colaboração de Fran Paxeco, escrevendo sobre Teófilo Braga97:
MARÇO, 9 – anunciado o livro Sangue Latino, à venda na Papelaria Silva98
96
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=178&Pesq=Fran%20Paxeco 98 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=178&Pesq=Fran%20Paxeco 97
MARÇO, 19 -Segundo o “O Pará”, de 19 de março de 1898, haveria a recepção aos novos associados; Fran Paxeco não se fez presente, justificando a ausência por achar-se adoentado.99 Nesta mesma edição (“O Pará” edição de 19 de março de 1898), Fran Paxeco propõe a mudança de nome de “Mina Literária” para “Centro Litterário Paraense”100.
99
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=178&Pesq=Fran%20Paxeco http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=178&Pesq=Fran%20Paxeco
100
MARÇO, 20 - Seu livro recebeu algumas críticas, desfavoráveis ao autor, como se vê na coluna Livros, de “O Pará”, edição de 20 de março de 1898, escrita por Arthunio Vieira101.
101
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=178&Pesq=Fran%20Paxeco
Arthunio Vieira, que foi redactor do Fortaleza..http://www.ceara.pro.br/cearenses/listapornomedetalhe.php?pid=33329
Jornal,
de
Nessa mesma edição, na Coluna CATURRICES Ambrosio de Jesus e Paiva também o critica por querer mudar o nome da “Mina Literária”;
ABRIL, 30 – Em O Pará, noticiada reunião do Grêmio Literário Português, para tratar do Centenário Indiano. Reuniram-se os subscritores para a compra de um navio, que seria doado ao Governo Português. Fran Paxeco secretariou, uma vez mais, a sessão.
Ainda nesta edição, é anunciado o aparecimento do numero 4 de A Revista:102
MAIO, 20 – anunciado novo numero, o de n. 5, de A Revista103:
102 103
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco
MAIO, 20 – Realiza-se a festa do Centenário Indiano, com a presença maciça da colônia portuguesa de Belém-PA, e Fran Paxeco ocupa ligar de honra, entre os expositores e organizadores. 104
104
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco
JUNHO, 5 -Fran Paxeco continuava nos quadros da Mina, participando ativamente de seus saraus, e pronunciado palestras, como se pode ver nesta nota de junho de 1898 JUNHO, 21 - “A Gazeta de Petrópolis”, ed. 75 21/06/1898, ao comentar o aparecimento de “Sangue Latino” 1897, nos traz um pouco das aventuras de Fran Paxeco, de sua fuga de Portugal: Do Algarve passa a Espanha, dá um salto a Ceuta, embarca em Málaga, no navio Provence, chegando ao Rio de Janeiro a 1 de Maio seguinte.
OLIVEIRA GOMES, 1898 105 Tomou parte dos atos comemorativos do centenário da morte de Basílio Gama106, prefaciando o seu poema “Uruguai”107 e foi um dos promotores da “Nova Revista”.
105 OLIVEIRA GOMES, Novas Literárias. In A Gazeta de Petrópolis, ed. 75, 21/06/1898 106José Basílio da Gama foi um poeta luso-brasileiro que escrevia sob o pseudônimo TermindoSipílio. Célebre por seu poema épico O Uraguai, de 1769, e investido como patrono da cadeira 4 da Academia Brasileira de Letras. Wikipédia 107O Uraguai é um poema épico escrito por Basílio da Gama em 1769, conta de forma romanceada a história da disputa entre jesuítas, índios (liderados por Sepé Tiaraju) e europeus (espanhóis e portugueses) nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul. O poema épico trata da expedição mista de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas para executar as cláusulas do Tratado de Madrid, em 1756. Tinha também o intuito de descrever o conflito entre ordenamento racional da Europa e o primitivismo do índio. Esse poema é também um marco na literatura brasileira representando uma quebra com o modelo clássico do poema épico. O Uraguai é composto por apenas cinco cantos (ao invés dos dez cantos de Os Lusíadas) e apresenta 1377 versos brancos (sem rima) e nenhuma estrofação. Outra característica que diferencia O Uraguai dos outros poemas épicos é o fato de narrar um episódio histórico muito recente. https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Uraguai
108
OLIVEIRA GOMES, 1898 109 JULHO -Membro da comunidade lusitana em Belém fazia parte da Comissão do Centenário Indiano, em comemoração aos 400 anos da descoberta do Caminho para as Índias. Foi Luciano Cordeiro, secretário perpétuo da Sociedade de Geografia de Lisboa, que o incitou a interessar a colônia nas comemorações do centenário indiano. Redigira já, em Julho daquele ano, o manifesto das associações portuguesas acerca desse fato histórico. Elegeram-no secretário-geral da comissão executiva.
108Adolfo Ferreira dos Santos Caminha (Aracati, 29 de maio de 1867 — Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1897) foi um escritor brasileiro, um dos principais autores do Naturalismo no Brasil. Colabora também com a imprensa carioca, em jornais como Gazeta de Notícias e Jornal do Commercio, e funda o semanário, Nova Revista. Já tuberculoso, lança o último romance, Tentação, em 1896. Morre prematuramente no Rio de Janeiro, no dia 1º de janeiro de 1897, aos 29 anos.https://pt.wikipedia.org/wiki/Adolfo_Caminha 109
OLIVEIRA GOMES, Novas Literárias. In A GAZETA DE PETRÓPOLIS, ed. 75, 21/06/1898
110
Na edição seguinte, aparece nota sobre seu aniversário e anunciado o lançamento de seu primeiro livro – Sangue Latino, no Pará
110
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720011&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
JULHO,. 20 – Anunciado novo numero de A Revista, o 6º 111
111
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco
AGOSTO, 2 – anunciado o numero 7 de A Revista112
112
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco
AGOSTO, 17 – O Jornal Gazeta da Tarde, do Rio de Janeiro, publica um comentårio, assinado por M. Lobato, sobre o teatro paraense, citando Fran Paxeco:
SETEMBRO, 2 – anunciado que já se encontrava nas bancas o numero 8 de A Revista:113
SETEMBRO, 11 – é publicado O Raio
113
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco
- DEZEMBRO - o jornal “O Pará” noticia: É um facto innegável que o meio litterário augmenta progressivamente no Pará… Os livros são raros por que raro é também por enquanto o público que lê… ainda assim a publicação augmenta… Os srs. Alfredo Silva & Cª que se têm arvorado em paladinos da profusão da ideia tiveram a louvável lembrança de tentar a publicação de um revista… Junte-se à garantia de bom exito, [nomes dos colaboradores], os de Fran Paxeco e Alfredo Silva, directores litterario e thecnico da «Revista» e cada um de per si julgará se é ou não justificado o enthusiasmo que a publicação está despertando.” A revista tinha uma longa lista de colaboradores, citam-se, por exemplo, entre os portugueses: Teófilo Braga, Gomes Leal, Teixeira Bastos, Cândido de Figueiredo, Guerra Junqueiro, Magalhães de Lima, Manuel Maria Portela, “e outros”.
Ao que parece, terá sido nesta revista que Fran Paxeco assinou os primeiros artigos com o seu “novo nome”. “Declaro que, desde o anno de 1897, residindo nessa data no Estado do Pará, República dos Estados Unidos do Brasil, mudei o nome de Manuel Francisco Pacheco, para o de Manuel Fran Paxeco, que de então para cá tenho adoptado em todos os actos publicos. O motivo desta alteração consistiu em existirem na cidade de Belém do Pará quatro pessoas com o nome Francisco Pacheco, exercendo uma delas a profissão de comerciante. E sendo praxe ali, quando appareciam negociantes com nomes eguaes, mudar o seu aquelle que surgia depois do já conhecido, tive que realizar essa transformação, ao entrar no commercio paraense. S. Luiz do Maranhão, 12 de outubro de 1905”
Manteve-se o nosso ilustre conterrâneo na Direcção Literária da “Revista” desde o nº 1 (Janeiro/1898) até ao nº 7 (Julho/1898), altura em que é anunciada a sua substituição “visto retirar-se para a Europa o nosso confrade Fran Paxeco”.114 E em 1898 principia a colaborar na “Provincia do Pará” e publica “O Álbum Amazônico”. Sobre a participação de Fran Paxeco na vida associativa, literária e jornalística de Belém, Cancela, Tavares e Luna assim se manifestam em “os portugueses em Belém: patrimônio, origem e trajetória (1850-1920)115---: Autores como Arthur Vianna, renomado escritor e jornalista paraense, Lino de Macedo, portuguêshabitante do Rio de Janeiro, e Manoel Francisco Paxeco ( ou, como ficou mais conhecido,Fran Paxeco), o cônsul de Portugal mais lembrado em livros e homenagens do início do século xxna região, publicaram algumas obras em que Medeiros Branco, devido às suas largas contribuiçõesà comunidade imigrante, é inevitavelmente mencionado. São elas: O Pará e a colónia portuguêsa,História da Sociedade Portugueza Beneficente, uma ampliação do texto escrito por Arthur Vianna em1904 e publicado no Jornal do Commercio e Amazonia. O Album da Colonia Portuguesa no Brasainda reedita - repetindo as mesmas falhas, por sinal - o texto de Fran Paxeco e apresenta MedeirosBranco para as outras regiões brasileiras.(grifos nosso). VOLTA A PORTUGAL - PUBLICA - O Álbum Amazônico. Genova, 1898. ABRIL, 5 – A Gazeta da tarde, do Rio de Janeiro, publica na coluna Tretas comentário sobre o lançamento de O Sangue Latino, em artigo assinado or Orlando Teixeira116
114 115
CUNHA BENTO, 2014, obra citada. CANCELA,Cristina Donza; TAVARES, • AnndreaCaroliny da Costa; LUNA, • OtonTássio Silva. os portugueses em Belém : patrimônio ,origem e trajetória ( 1 850-1 920). Belém, UFPA. Este artigo faz parte do projeto de pesquisa Imigração portuguesa e alianças matrimoniais: património, casamento efamílias em Belém (c. 1850 - c. 1920), financiado pelo CNPq.
PEREIRA, Miriam Halpern. A política portuguesa de emigração (1850-1930). Bauru/São Paulo: Edu sc; Portugal: InstitutoCamões, 2002. CANCELA, Cristina Donza&BARROSO, Daniel Souza. "Casamentos portugueses em uma capital da Amazônia. Perfildemográfico, normas e redes sociais. Belém (189 1 - 1920)'� História - Unisinos, vol. 15, no 1, jan.-abr. 2011. p. 60-70. 116 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=226688&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
AGOSTO, 19 – O Jornal do Recife publica nota sobre o aparecimento d´A Revista:
1899 FEVEREIRO, 11 –O Pará publico artigo sobre O Álbum amazonico, tradução de Fran Paxeco117:
117
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=25&Pesq=Fran%20Paxeco
VOLTA PARA O BRASIL – MANAUS Já está no Brasil, a subir o Amazonas rumo a Manaus, onde é diretor do “Diário de Notícias” e secretário-geral da Associação de Imprensa Amazonense (1900). - em Manaus, é atacado pelo empaludismo118.
VOLTA PARA BELÉM – PARÁ De volta a Belém do Pará escreve “A Questão do Acre”. FEVEREIRO, 11 -Em O Pará consta que ainda residia em Belém, quando do lançamento do “Álbum Amazônico”, de autoria de Arthur Caccavoni, que teve a tradução do italiano para o português por conta de Fran Paxeco. MARÇO, 3 - Na edição de O Pará Emilio Zoilo ao comentar artigo sobre regras ortográficas do português refere-se ao estilo de escrita de Fran Paxeco.
118
Doença contagiosa causada por um protozoário parasito dos glóbulos vermelhos do sangue, do gênero Plasmodium, sendo transmitida por um mosquito das regiões quentes e pantanosas, o anófele; malária.https://www.dicio.com.br/impaludismo/
[...] Entre estes últimos anos há uns que, com certa dose de critério, imitam os primeiros; eles os tomam como exemplar; há outros, porém, que, maníacos, adoptam systemas ridículos e inexplicavbeis, para emcobrirem a sua ignorância da língua que escrevem. D´estes maníacos os há no Brasil e em Portugal. Há bem pouco tempo ainda, andou entre nós um sr. Fran Paxeco, cujos escriptos me causavam frouxos de gargalhadas. Cumpre reconhecer, entretanto, que em Portugal, mais do que no Brazil, já se estabeleceu a uniformidade orthographica entre os escriptores de nomeada. Citemos, porém, as palavras do filólogo que me induzeu a formular estas considerações [...] MARÇO, 6 - O “Diário do Maranhão” dá-nos conta de Fran Paxeco residindo ainda em Belém, em reunião da Mina Literária,
ABRIL, 18 -O Pará, é descrita mais uma reunião da Mina Literária, na qual Fran Paxeco teve ampla participação. As propostas de Fran Paxeco foram aceitas e encaminhadas através de oficio às autoridades; ele passou a fazer parte das comissões que se estavam formando, para se comemorar o descobrimento do Brasil. Propunha ele que se desse o nome de Pedro
Álvares Cabral a uma rua, ou a uma praça, em Belém do Pará; e mais, que fosse feito um congresso nacional comemorativo aos 400 anos do descobrimento.119, 120
119 120
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&pesq=FRAN%20PAXECO&pasta=ano%20189 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=1688&Pesq=FRAN%20PAXECO
121
ABRIL, 28 – O Pará,
121
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&PagFis=1688&Pesq=FRAN%20PAXECO
MAIO, 4 –Fran Paxeco estava às voltas com os preparativos do Centenário do Descobrimento, ainda em Belém do Pará. JUNHO, 21 -O jornal “Commercio do Amazonas”publica uma crítica assinada por J. Brandão sobre o “Sangue Latino”, de Fran Paxeco122
Deve-se ressaltar que Fran Paxeco tivera intensa participação na vida literária de Belém antes de assumir a função de redator do Diário de Notícias, em Manaus; esses artigos publicados em Manaus eram replicados em Belém pelo “O Pará”.
122
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=301337&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
SETEMBRO, 18 – Arthunio Vieira volta a atacar Fran Paxeco, em sua coluna publicada no O Pará123
123
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=306223&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
:
Humberto de Campos, em Memórias Inacabadas124, se refere à essa sova: Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão, procedente de Manaus, onde o seu temperamento combativo lhe havia criado grandes e aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre, saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que o acusara de gravíssima desonestidade literária. João Barreto de Menezes, filho de Tobias Barreto, surgiu em defesa de Sílvio. Fran 124
http://www.portalentretextos.com.br/download/livrosonline/memorias_e_memoria_inacabadas_humberto_de_campos.pdf , p. 287
Paxeco volta à imprensa, investindo contra Tobias. E o resultado foi um pugilato em uma das praças públicas da capital amazonense, a partida de Fran Paxeco para o Sul, e a perfídia de João Barreto de Menezes, que, segundo se tornou corrente em todo o Norte, fazendo uma alusão espirituosa à transformação do nome de Francisco Pacheco em Fran Paxeco, mandou gravar no castão da sua bengala a seguinte legenda comemorativa: “Esta bengala, no dia tanto de tal, tirou, em Manaus, o cisco das costas de um galego insolente.” (p. 287, grifos meus). OUTUBRO, 9 - O Jornal ‘O País”, do Rio de Janeiro, tras o seguinte artigo, referindo-se de forma desabonadora, à Fran Paxeco:
OUTUBRO, 21 - Em nova publicação (O Pará), Arthunio Vieira novamente se refere à Fran Paxeco, em sua coluna; embora datada de 15 de setembro, chega à redação d´O Pará somente a 20 de outubro (nota da redação). Nesta nova publicação, Arthunio refere-se ao fato de há um ano Fran Paxeco o substituir na redação do Diário de Notícias. NOVEMBRO, 7 -Não obstante os ataques entre os redatores do Diário de Notícias de Manaus – o atual (Fran Paxeco) e o ex (Arthunio) – vamos encontrar Fran Paxeco envolvido na constituição da Associação de Imprensa amazonense, atuando como secretário da assembléia de fundação (A FEDERAÇÃO, 07/11/1899).
NOVEMBRO, 8 -No dia seguinte, uma nota sobre noticia publicada em outro jornal, envolvendo Fran Paxeco (A FEDERAÇÃO, 08/11);
NOVEMBRO, 10 -outra nota. O que teria havido? Segundo o jornal “Commercio do Amazonas”, edição de 07 de novembro de 1899125 um funcionário da Casa Souza & Cia – Almeida Pimentel – tinha agredido a Fran Paxeco. O motivo?
125
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=301337&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20189
ENCONTRA-SE NOVAMENTE EM MANAUS - DEZEMBRO, 20 -Fran Pacheco começa a escrever, em Manaus, notas sobre escritores e filósofos portugueses, e de brasileiros que se destacam em Portugal. 1900 JANEIRO, 3 - A Pacotilha registra a publicação desses artigos:
RETORNA AO RIO DE JANEIRO Vai ao Rio de Janeiro onde colabora no “O País” MARÇO, 18 – O Jornal do Recife registra sua passagem pela cidade, em direção ao sul:
Assim como A Província126:
ABRIL, 14 – anunciada a publicação de um poemeto de Teófilo Braga por Fran Paxeco, por ocasião do 4º Centenário do descobrimento do Brasil:·.
126
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=128066_01&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190
MAIO, 05 – Sai artigo assinado por Fran Paxeco no jornal O paiz, do Rio de Janeiro127
127
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=178691_03&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190