MARANHHAY REVISTA LAZEIRENTA (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
NUMERO 43 – JUNHO - 2020 SÃO LUIS – MARANHÃO
A
presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076
CAPA – ALFREDO MENEZES
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 320 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA – 2020 VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS:
VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020
https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 41 – MAIO 2020
https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020
VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020
REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS
VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/4ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019
VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 –
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/5ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20
VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec
EDITORIAL
A “MARANHAY – REVISTA LAZERENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Volto a publicar uma segunda edição no mês de junho, devido ao tamanho do arquivo, e as inúmeras publicações, ainda neste final de abril. Seria a edição de julho, mas vou começar uma nova edição, antecipando de julho para junho, segunda quinzeba... Assim, saem dois números com a data de junho, mas seguindo-se a sequencia numeérica. Quem sabe, não colocar o mês? Como tenho adiantado as publicações, devido ao número de material que está sendo disponível nesse momento de quarentena – todos estão em casa, trabalhando adoidamente – algumas notícias passarão como velhas. Mas é o caso de registrar que estou fechando este número de junho, referente à segunda quinzena, em abril. No dia do falecimento de Alfredo Menezes. Pela importância desse jornalista esportivo, amigo de todos, a despedida de Oliveira Ramos, outro grande de nossa imprensa esportiva, fará parte deste editorial: Pense num momento difícil! Pensou?! Pois é. É este, o momento difícil. Escrevendo bem ou mal, certo ou errado, por ter passado por uma escola dos bons tempos, e por continuar lendo livros, jornais e revistas, desenvolvi em mim uma certa facilidade para escrever. Nem sempre agrado à quem lê. Sei disso. Mas, pense num momento que me faltam palavras e estabilidade emocional para desenvolver, um ou mais de um parágrafo falando sobre o encantamento do meu irmão ALFREDO JOÃO DE MENESES FILHO! Pensou? Pois está sendo assim, comigo, neste momento. [...] Hoje, fui acordado pela notícia da morte de outra pessoa, com quem tive estreita ligação durante nossas atuações enquanto Jornalistas esportivos cobrindo a área dos Esportes Amadores. É, Alfredo Meneses nos deixou hoje pela manhã. Filho de Itapecuru-Mirim, Alfredo, Alfredinho ou simplesmente “Meneses” como sempre o tratei, formou comigo e Anacleto Araújo, o trio em quem os praticantes do Esporte Amador confiavam nas divulgações. Nosso bom relacionamento com a maioria dos secretários da Sedel e da agora Fumdel sempre foi de respeito institucional e credibilidade. Quantos atletas dos diferentes esportes, olímpicos ou não, mas amadores, estão aí para comprovar o que estou escrevendo, não dá para contar. Nem vou citar nomes porque aqui não caberiam. Mas é difícil deixar de fora os professores Carlos Alberto Chitão, Mário Aguiar, Eduardo Telles, Júlio Monteiro, Alexandre Nina, Rubilota, Viché e quase que a grande maioria dos presidentes de departamentos autônomos que estão em São Luís, Paço do Lumiar, São José de Ribamar. Todos nos respeitavam. E foram gratos.
Também podem ser assinantes destas linhas, Edivaldo Pereira, Tânia, Jota Alves, Denise Araújo, Osvaldo Telles, e os hoje bem posicionados Felipe Camarão, Ana Zélia, Bruna Camarão, Alexandre Pussieldi e tantos outros que colocaram os bons tijolos na construção das diversas modalidades esportivas praticadas em São Luís. Tenho um livro no prelo, faz tempo. Como está sendo industrializado sem custo para mim, não prometo data de lançamento. Mas, lá, estão duas páginas dedicadas a esse cidadão que hoje nos deixou. É o tal segredo da vida. (JOR) Alim Maluf Neto Esses dias estão sendo difíceis semana passada se foi Roberto Fernandes e sexta meu amigo Márcio e hoje Um amigo querido se foi ! Um exemplo de profissional íntegro, dedicado e apaixonado pelo esporte em especial o esporte amador de nosso estado! Sempre respeitou e conquistou o respeito de todos! Que Deus o guarde em bom lugar e conforte a sua família meu amigo Alfredo Menezes e para muitos como eu nosso Alfredinho !! Se cuidem ! *NOTA DE PESAR* A Federação Maranhense de Basquete, em nome do seu presidente Rubem Teixeira Goulart Filho, vem por meio desta, expressar seu profundo pesar pelo falecimento do jornalista Alfredo Menezes. Neste momento de dor, nos solidarizamos com a família e amigos na certeza de que apenas a fé em Deus pode dar o conforto necessário. Assenção Lopes Pessoa Mais do que o tio, ele era o amigo, a referência, ele era meu tudo. Eu te amo meu tio. Que Deus te receba em sua nova morada. Jornalista do esporte amador. Uma pessoa incrívelmente amável e feliz. Nonato Reis Morte é sempre uma coisa muito triste. Mesmo nos tempos atuais, em que morrer se tornou de uma banalidade estonteante, dói a perda daqueles que fizeram parte da nossa vida e estiveram conosco em momentos importantes. Conheci Alfredo Menezes, o Alfredinho, na redação de O Estado, no início dos anos 90. Ele era editor de esportes; eu, chefe de reportagem. Tínhamos uma convivência fraterna e de admiração mútua. Redator brilhante, Alfredinho era também um gentleman. Ao chegar na redação, ia de mesa em mesa, cumprimentando seus colegas de trabalho, e para cada um tinha uma palavra de carinho, um sorriso, um gesto de amor. A última vez que o vi foi em 2018, quando precisei ir ao Sistema Mirante fazer a divulgação do meu livro "A saga de Amaralinda". Ao me ver abriu os braços daquele seu jeito generoso e saudou-me. "Reisinho, que bom te ver de novo!". Alfredinho foi diagnosticado, semana passada, com Covid-19 e precisou ser internado. Recebeu alta na sexta-feira, mas hoje pela manhã se sentiu mal e faleceu logo em seguida. Que Deus o receba em todo o seu esplendor. Antonio Gastao É meus amigos, estamos atravessando momentos dos mais difíceis, amigos estão se indo, outra vez em menos de 24 horas mais dois, o 1° o amigo jornalista Alfredo Menezes, um velho divulgador das cousas do esporte especialmente do esporte amador, grandes reportagens por ele foram realizadas. O 2° outro amigo dos bons tempos de arbitragem, Gildomar irmão do amigo Gildomar, que Deus os receba na morada eterna, e que nos conforte amigos e familiares, um momento em que não temos nem mesmo a oportunidade de oferecer nossas condolencias pessoalmente. É triste.
Como estou publicando os capítulos sobre Fran Paxeco, e são grandes, alguns passam de 150 páginas, nesta edição deixarei de publicar algumas sessões, pois ainda não recebi – ou não encontrei – material para elas: Lazeirices & Lazeirentos, Esporte & Educação Física, e História(s) do Maranhão.
Como estou retomando o volume V de minha Antologia Ludovicense – Mulheres de Atenas – e publicando na página dos Integrantes da Noite, e devido às polêmicos sobre Leonete Oliveira, identificada por Antonio Lopes em 1909 como a primeira poetisa maranhense, parecendo desconhecer Maria Firmina dos Reis e outras tantas que surgiram na segunda metade dos 1800, estou buscando identificar essas escritoras esquecidas... Assim, começo, em Poesias & Poetas a (re)publicar quem fioram essas ‘mulheres da Atenas’, com muitas novidades, a partir do próximo número... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
SUMÁRIO 2 7 10 11 14
EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO
NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO Extraindo histórias com o faraó RAMSSES DE SOUSA SILVA FLAVIOMIRO MENDONÇA SÍTIO ANJO DA GUARDA - SÃO LUÍS (SÉC. XIX)
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MANOEL ODORICO MENDES
17
OS "SÁ VALE" DE SÃO LUÍS
28 19
SOBRE LITERATURA & LITERATOS FERNANDO BRAGA O HOMEM-TIJUBINA & OUTRAS CIPOADAS ENTRE AS FOLHAGENS DA MALÍCIA CERES COSTA FERNANDES A DUQUESA VALE UMA MISSA FERNANDO BRAGA SONETÁRIO DE ONTEM E DE HOJE PARA SEMPRE, DO POETA KLEBER LAGO
20 22 23 25 26
POESIAS & POETAS ANTOLOGIA MULHERES DA ATENAS DUARTE, EDUARDO DE ASSIS. MARIA FIRMINA DOS REIS WYBSON CARVALHO LAURA ROSA DILU MELO CERES COSTA FERNANDES LUCY DE JESUS TEIXEIRA CERES COSTA FERNANDES MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD DAGMAR DESTÊRRO E SILVA DINACY CORRÊA DILERCY ARAGÃO ADLER CLORES HOLANDA SILVA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ÁLVARO URUBATAN MELO CERES COSTA FERNANDES SANATIEL DE JESUS PEREIRA MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES ANA MARIA FELIX GARJAN JUCEY SANTANA MARIANA LUZ DINACY CORRÊA LAURA AMÉLIA DAMOUS SONIA ALMEIDA DINACY CORRÊA LENITA ESTRELA DE SÁ WANDA CRISTINA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – RECORTES & MEMÓRIAS – PARTE IV
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NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO
A MAIOR FESTA DO MUNDO A festa de Bragada tem data fixa: quinze dias após a Páscoa. Na minha infância, enchia-se de familiares e amigos, vindos das aldeias vizinhas. Alguns vinham de longe. Os meus padrinhos vinham, montados em mulas, de Murçós, terra de minas de volfrâmio, sita muito para além da Serra de Nogueira. E havia um parente que vinha a pé desde Lanção, povoação implantada nas fraldas da mesma serra. Enfim, juntava-se tanta gente que não cabia na pequena igreja; chegava e sobrava para pegar nos andores que, no final da missa cantada, saíam em procissão. O pregador era sempre o Padre Almeida, cónego da diocese; e a banda de música era a de Lamas. A D. Arminda, nossa exigente professora, obrigava-nos a integrar a solenidade sacra, vestidos de cruzados. Isto impedia-nos de apanhar as varelas dos foguetes, soltados no início e no recolher da procissão. Eram valiosas, porquanto não havia canas na região, e com elas faziam-se flautas musicais. Depois do almoço, a banda tocava umas penadas no meio do povoado, junto da pedra-dapaciência. E nós comprávamos rebuçados na banca da tia Maria doceira, de Quintela de Lampaças. O folguedo continuava na segunda-feira com missa e procissão em louvor de Nossa Senhora. À tarde acompanhávamos os mordomos do ano seguinte na visita de casa em casa; em todas se comia, bebia e recolhiam donativos ou bens (dinheiro, bolos, salpicões, chouriços, orelhas de porco, etc.) que eram pendurados num ramo de oliveira ou metidos num saco. Tudo decorria numa atmosfera de alegria, generosamente regada com vinhos, jeropigas e licores. Terminada a ronda, seguia-se o arremate do ramo entre os casados e os solteiros. Outras oferendas eram leiloadas e algumas disputadas em jogos ou desportos populares, tais como corridas e lançamentos do ferro e do calhau. Com o decorrer do tempo Bragada foi-se esvaziando. Os velhos faleceram e os filhos da terra partiram para diversos lugares, dentro e fora do país. Agora comparecem poucos, sendo necessário mobilizar até os adolescentes para carregar os santos pelas ruas desertas. Todavia, a festa continua a ser a maior do mundo. Este ano não se realiza; não vamos lá honrar a memória dos ancestrais e o local onde viemos ao mundo e começamos a sonhar outro que nos deu asas de transcendência. A ribeira leva muita água; transbordaria, se recebesse as lágrimas da saudade. DIA DE BALANÇO Faz hoje 4 anos que atingi a jubilação. Foi uma carreira longa e gratificante. Logo após a conclusão do doutoramento, assumi funções de orientação da Escola então incipiente, sem ter vivido e lido o suficiente. Valeram-me os Professores Nuno Grande e Ferreira da Silva. O seu clarividente conselho evitou que cometesse demasiados erros; mas cometi muitos, que não ajoujam a consciência, porquanto foram ditados pela reta intenção. Aos referidos Professores expresso profunda gratidão. Esta tem outro destinatário assaz especial: o Reitor Alberto Amaral, que refundou a Universidade do Porto em todos os sentidos. A sua visão e o seu apoio foram decisivos para consolidar as novas Faculdades, entre elas a de Desporto. Devolhe também a confiança e oportunidade de, na qualidade de Pró-Reitor, ter estabelecido uma vasta rede de edificantes e profícuas relações com o mundo lusófono. Estou igualmente grato aos docentes, então na maioria jovens, que compartilharam a caminhada com dedicação e paixão empolgantes. O mesmo vale para os funcionários e os milhares de estudantes. Estes suportaram as minhas imperfeições e insuficiências; ajudaram-me a entender o exercício da docência universitária como expressão do ócio criativo, e a eleger a axiologia como referência da conduta cívica e política. A todos, vivos e falecidos, evoco com reconhecimento e saudade. Tentarei, até ao fim dos meus dias, honrar o seu crédito e nome.
‘SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA' É longo o nosso contencioso com os holandeses. Diga-se em abono da verdade, nunca o procuramos, sempre tivemos que nos defender deles. No sermão pregado na igreja de Nossa Senhora da Ajuda, na Bahia, no ano de 1640, o Padre António Vieira ameaça voltar as costas a Deus, se Este deixasse que o Brasil caísse nas mãos dos holandeses. Agora é o nosso Primeiro-Ministro que exorta a Holanda a mudar de rumo, sob pena de se autoexcluir da União Europeia e de ajudar a cavar a sepultura desta. Outrora, o pregador foi ouvido; espero que António Costa se inspire no memorável sermão, do qual transcrevo uma passagem deveras elucidativa. “O que venho a pedir ou protestar, Senhor, é que nos ajudeis e nos liberteis: Adjuva nos, et redime nos. Mui conformes são estas petições ambas ao lugar e ao tempo. Em tempo que tão oprimidos e tão cativos estamos, que devemos pedir com maior necessidade, senão que nos liberteis: Redime nos? E na casa da Senhora da Ajuda, que devemos esperar com maior confiança, senão que nos ajudeis: Adjuva nos? Não hei de pedir pedindo, senão protestando e argumentando; pois esta é a licença e liberdade que tem quem não pede favor, senão justiça. Se a causa fora só nossa e eu viera a rogar só por nosso remédio, pedira favor e misericórdia. Mas como a causa, Senhor, é mais vossa que nossa, e como venho a requerer por parte de vossa honra e glória, e pelo crédito de vosso nome – Propter nomen tuum – razão é que peça só razão, justo é que peça só justiça. Sobre este pressuposto vos hei de arguir, vos hei de argumentar; e confio tanto da vossa razão e da vossa benignidade, que também vos hei de convencer. Se chegar a me queixar de vós e a acusar as dilatações de vossa justiça, ou as desatenções de vossa misericórdia: Quare obdormis? Quare oblivisceris? não será esta vez a primeira em que sofrestes semelhantes excessos a quem advoga por vossa causa. As custas de toda a demanda também vós, Senhor, as haveis de pagar, porque me há de dar vossa mesma graça as razões com que vos hei de arguir, a eficácia com que vos hei de apertar e todas as armas com que vos hei de render. E se para isto não bastam os merecimentos da causa, suprirão os da Virgem Santíssima, em cuja ajuda principalmente confio. Ave Maria.”
Extraindo histรณrias com o faraรณ
RAMSSES DE SOUSA SILVA
SÍTIO ANJO DA GUARDA - SÃO LUÍS (SÉC. XIX) FLAVIOMIRO MENDONÇA
Em várias localidades da Ilha do Maranhão, até hoje se conservam seus antigos nomes, alguns de procedência indígena, como Gapara, Maioba, Turu, entre outros. Um grande incêndio ocorreu no Goiabal, nas proximidades da Madre Deus, em 1968. Várias palafitas foram afetadas e para abrigar esses flagelados, foram doados a eles uma área no lugar chamado Tapicuraíba (ou Itapicuraíba), nome que não permaneceu, surgido em pouco tempo, a Vila do Anjo da Guarda. A denominação do bairro Anjo da Guarda está intimamente relacionada ao nome de um sítio homônimo, surgido no século XIX, localizado às margens do rio Bacanga, entre o Sítio Tamancão (de propriedade da viúva Brito e Castro, posteriormente adquirida por Ana Jansen) e o moinho de vento de beneficiamento de arroz, denominado de Boa Vista, cujas ruinas ainda podemos visualizá-las nas proximidades da APRUMA, bem próxima a outra, das seis que funcionavam no Maranhão, no período pós-Balaiada, de propriedade do Tenente-Coronel Sá Viana, que do sobrenome dessa família deu origem ao nome do bairro que o homenageia o industrial (LIMA, 2006: 613; PUBLICADOR MARANHENSE, fevereiro de 1852). No Diário do Maranhão, publicado em 15 de junho de 1876, o comendador José Joaquim Teixeira Vieira Belfort, em seu inventariado, cita um forno de cal no Sítio Anjo da Guarda. A cal que nos referimos é a marinha, produzida através de conchas, usualmente utilizada por séculos em construções locais. Podemos especular que ali existiu um sambaqui, já que era comum dessas caldeiras serem implantadas nas proximidades desse tipo de sítio arqueológico pré-colonial, como por exemplo, o que existia no Gapara. Em dezembro de1885, o Jornal Pacotilha, retrata uma possiblidade de uma nova instalação hospital de lázaros (como eram assim chamados os portadores de hanseníase na época) no sítio, conforme a matéria a seguir: O Ilmo. Sr. presidente da província, na qualidade de provedor da Santa Casa de Misericórdia, acompanhado de alguns membros da mesa administrativa, daquela corporação, médicos e engenheiros, foi hoje visitar o sítio Anjo da Guarda, no rio Bacanga, afim de examinar ali o dito cujo acha-se em condições higiênicas, telúricas e climáticas a admitirem que ali se estabeleça o hospital de lázaros. Parece-me que o sítio de que se trata, recebe todas as condições exigidas para aquele fim; mas cremos que também há outras condições a examinar antes de levar o edifício a louvável medida de remoção de lázaros do local que habitavam de presente – o cemitério do Gavião. O sítio Anjo da Guarda fica isolado da cidade e perfeitamente afastado de outros sítios. Situado entre o Tamancão e o Moinho de Vento, ficava distante de ambas a mais de um quilômetro. (...) Além de que a viração que sopra no Anjo da Guarda é lida N – E. Possivelmente tal ideia de construir um novo leprosário não foi levada adiante. Somente décadas depois, foi construído um na Ponta do Bonfim. Entretanto o sítio foi alugado pelo Estado, conforme veremos a seguir, e para fins de saúde pública. O Diário do Maranhão, em 25 de agosto de 1900, nos informa que a Inspetoria de Higiene, sob o comando de Luís Augusto Rodrigues, ordena que “ as embarcações vindas do Norte ao Sul da República, não poderão desembarcar roupas (...) senão depois de convenientemente na estufa de bordo, ou fervidas na Caldeira existente no Anjo da Guarda.” Na sexta-feira, dia 21 de Outubro de 1904, Jornal Pacotilha, localizamos um informe da Saúde Pública: “Do vapor Gonçalves Dias desembarcou ontem um outro varioloso; mas este foi conduzido para o sítio Anjo da Guarda, sobre a rio Bacanga, que o governo alugou, pela quantia de 300$000 rs. mensais.”
Encontramos no jornal Diário do Maranhão, de 09 de maio de 1905, uma publicação sobre o pagamento de 400$000 réis, referente aos meses de março e abril pelo aluguel do imóvel, ao sr .Joaquim José Gonçalves Júnior, servindo de hospital de variolosas. Conforme alguns moradores da área, décadas atrás ainda se via ruinas da casa grande. Na década de 90, o terreno foi invadido e hoje recebe o nome de Residencial Ana Jansen. No ponto final da linha Alto da Esperança, ficava a casa, e ainda podemos observar algumas mangueiras, provavelmente remanescentes das famosas árvores citadas por Aluísio Azevedo, na sua obra O Mulato. Assim é construída a história do Anjo da Guarda – o sítio, assim como de outras, semelhante a um mosaico tentando constituir um todo, faltando sempre algumas peças. Fonte: LIMA, Carlos de. História do Maranhão – A Colônia. 2ed. revista e ampliada – São Luís; Instituto Geia, 2006. Hemeroteca Digital - Disponível em: memoria.bn.br
MANOEL ODORICO MENDES Nasceu em São Luís, MA, em 24 de janeiro de 1799, e faleceu em Londres de uma lesão cardíaca provocada por violento ataque de asma, quando viajava em um trem, em 17 de agosto de 1864. Filho do capitão-mor Francisco Raimundo da Cunha e Maria Raimunda Correia de Faria. Deixou incompleto o curso de filosofia em Coimbra, voltando ao Brasil em 1824 em virtude das transformações políticas por que passava o Brasil. Passou a dedicar-se à política, elegendo-se deputado-geral, pela sua Província, nas duas primeiras legislaturas. Pela atuação na Câmara, chegou a ser lembrado para integrar a Regência. Na 6ª legislatura, representou Minas Gerais, deixando em seguida a vida política e mudando-se para a Europa, aposentando-se como inspetor de Tesouraria da Província do Rio de Janeiro. Excelente poeta, tradutor notável, grande conhecedor de línguas modernas, do latim e do grego, sacrificou, entretanto, a obra própria com a preocupação de divulgar a dos mestres estrangeiros. Comendador da Ordem de Cristo, foi fundador, com Evaristo da Veiga, da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional (19/5/1831) e seu presidente. Pertenceu à Sociedade Amante da Instrução, à Sociedade de Instrução Elementar, à Academia Imperial de Belas-Artes do Rio de Janeiro, à Academia Real das Ciências de Lisboa e ao IHGB, para o qual foi eleito sócio em 1º de dezembro de 1838. Na imprensa, colaborou em O Argos da Lei, MA, 1825. – O Constitucional; MA, 1830/35, O Homem e a América (jornal da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional), RJ, 1831, e A Liga Americana, RJ, 1839/40. Publicou: Traduções de Merope (de Voltaire), Tancredo (idem), Eneida Brasileira, com anotações (poema de Virgílio), Ilíada e Odisseia (de Homero). De sua autoria: Hino à Tarde, RJ, 1832. – Opúsculo acerca de Palmeirim de Inglaterra, e de seu autor, Lisboa, 1860. – Fala na sessão de 7 de abril de 1831. Foto: Biblioteca Nacional Texto: IHGB
OS "SÁ VALE" DE SÃO LUÍS. A família Sá Vale tem origem na primeira metade do séc. XIX, a partir do entrelaçamento matrimonial do ludovicense José Joaquim Ferreira Vale (Visconde do Desterro e irmão de Anna Amélia Ferreira Vale, amor da vida de Gonçalves Dias) com Rita Costa Ferreira Franco de Sá, do poderoso clã "Costa Ferreira - Franco de Sá", de Alcântara.
Esta união gerou uma ilustre descendência: Domingos Ferreira de Sá Vale; Raimundo de Sá Vale; Graco de Sá Vale; Benjamin de Sá Vale; Túlio de Sá Vale. Os Sá Vale se entrelaçaram com integrantes das famílias Franco de Sá, Viana, Guilhon e Ribeiro, muitos dos quais, também seus parentes, gerando outros ramos. Um dos filhos de Túlio de Sá Vale com Maria Gertrudes Viana foi José Ribeiro de Sá Vale, ilustre professor do Lyceu Maranhense até 1960. Texto: Ramssés De Souza Silva Fonte: "Fidalgos e Barões, uma história da Nobiliarquia Luso-Maranhense", de Mílson Coutinho (2005).
SOBRE LITERATURA & lITERATOS
O HOMEM-TIJUBINA & OUTRAS CIPOADAS ENTRE AS FOLHAGENS DA MALÍCIA FERNANDO BRAGA in ‘Conversas Vadias’, [Toda prosa], antologia de textos do autor. Ilustrações: Foto do poeta Carvalho Júnior e capa do livro ‘O homem-tijubina’, aqui comentado. O professor, ativista cultural e poeta Francisco de Assis Carvalho da Silva Júnior, ou simplesmente Carvalho Júnior, chega pela terceira vez ao ‘Panteon das Letras do Maranhão’ com este seu belo livro de poemas, edição bilíngue, cujo título nomeia este dedo de prosa. O livro é de uma feição gráfica extraordinariamente bonita, a estampar em toda a extensão da capa e contracapa, o desenho mítico do homem-tijubina, impresso em papel linha d’água, poroso como nuvem, onde levitam versos de mestre. O poeta Carvalho Júnior tem pela palavra a mesma fascinação que o lagarto tem pela solidão das pedras, como diz o nosso genial Manoel de Barros, e assim, o poeta nos apresenta este ‘homemtijubina’, dizendo que ele “tem um paladar exigente, não digere o ovo do óbvio, somente silêncio de pássaros lhe passam pelos gorgomilhos, quando o indagam a respeito desta passagem, diz que o outro lado da vida está no verso, não tem idade, apenas caminha, às vezes, para a frente quase sempre para o fundo do poço que guarda as lágrimas dos seus ancestrais, é um composto de cortes de unhas-de-gato e incoerências”. Depois dessas “incoerências”, o poeta vai buscar Fernando Pessoa, o qual traz consigo ‘outras cipoadas entre as folhagens’ e, como se estivesse a sair do ‘Martinho da Arcada’, pondera: “talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo. E é rabo para aquém do lagarto remexidamente”, do que se aproveita Carvalho Júnior para dar subjetivamente uma boa cipoada, com estes versos magistrais: “talvez tijibunda me chamasse, / não seria com o poeta, / invisível aos olhos do homem.” Enquanto o rabo do lagarto ziguezagueia aquém dele, lagarto, este se remexe também além do rabo cortado [confesso que nos meus solilóquios gostava de ver e fazer isso em meu país de infância, cortar o rabo de osgas, ‘tarentola mauritanica’, bichinhos viventes nas paredes dos casarões de São Luís... tive remorsos por algum tempo, até quando me disseram que a natureza recompunha o rabo amputado]. Realmente, o rabo cortado continua a mover-se, motorizado pelos nervos do lagarto provisoriamente tocó, suro..., mas que logo, logo, renasce!... Vejamos o que diz o poeta Carvalho Júnior nessa outra cipoada, nestes versos magnificamente perfeitos: “única espécie de silêncio permitida na casa/ das tiranobinas: o medo. / serei birra e palavra enquanto folclores/ e fôlegos me rastejarem.” Continua o poeta caxiense a cantar entre a folhagem da malícia: “como em manhãs de domingo, / em que versos de herberto descobrem, / do quintal da infância, o portal aberto” [...] “o mundo é em chicote/ arco-vertebrado em anomalias, / a cauda amputada de um calango/ achincalhando a nossa mãe”. Vejamos este poema, a formar uma oitava solta, que atende por tujibina’lma: “Das nenhumas almas que tenho/ treze têm o corpo de tijubina,/ a cabeça esfolada de pedra,/ a carne exposta ao sol da sorte./ a do que me chora em sangue/ é a mesma que em quimeras ri / quanto mais me decepam o ânimo,/ mais recomponho a tinta da teimosia”. Neste poema não existe em nenhuma de suas almas, nem mesmo nas treze restantes, um lugar-comum que se possa repreendê-lo... É a metade da consciência anímica da tijubina, é a metade do psiquê imaterial desse calango, que tem a outra metade homem para estragar o seu todo. Se a tijubina fosse somente tijubina, seria muito mais feliz, e o homem somente homem, talvez nem tanto...
Observemos durante o canto que a tijubina é prefixo na sua identidade personalíssima, e sufixo nas muitas adjetivações no processo kafkiano que tem de submeter-se, de acordo com o cenário em que opera e vive... digamos que essa tijubina tem muito de camaleão... Nessa dúvida, o poeta Carvalho Júnior foi mais adiante buscar a taxonomia científica do calango. Com a formação em Letras e o espirito apurado há tempos nas lides literárias, o poeta sabe manejar com grandeza estilística este nosso idioma em que Camões cantou, chorou e pediu esmolas; assim, Carvalho Júnior brinca de efeitos com figuras de gramática, como nesse ‘um espântano de cores’: “por mais tijuterna que seja,/ a tijubina traz tijolos tensos / e uma carabina velha no dorso./ com o movimento do rabo/ hábil, de lâmina oculta,/ ela mata com delicadeza/ as feiuras do mundo-selva,/ um ‘espântano’ de cores/ que não morre debaixo/ da casca do peito/ do homo lagartiens”... Eis aí a taxonomia científica desse calango metade homem! Por fim, Carvalho Júnior chama o poeta Paul Verlaine, para que traga à tona de nossa percepção poética estes ‘Pelos chãos da malícia pulsativa’... E o poeta francês chega a bradar alto: “Le vent de l’autre nuit a jeté bas l’amour’” [O vento da outra noite derrubou o amor.], talvez para chamar atenção de Arthur Rimbaud, enquanto o poeta deste ‘homem-tijubina’ nos brinda com este poema ‘Araruta’, fazendo provas aos maranhenses de boa cepa que esse farináceo também tem seu dia de mingau. Alegra-me dizer que estes versos de ‘Araruta’, são dignos de se ombrearem com os do tresloucado Pau Verlaine, autor de ‘Poemas saturninos’, o ‘magnum opus’ de sua poemática. Escutemos o poeta Carvalho Júnior: “Somos feitos das mesmas fomes dos nossos pais, / das mesmas lenhas que os guardaram/ do fio súbito das noites caseadeiras de exílios. / De vez em quando, ouço de longe/ a voz da lágrima do meu pai e de minha mãe. / Um quintal de ararutas nasceu dentro/ do chão cansado dos meus olhos.” Por fim, deixo com alegria nesta prosa, para fazer companhia a esse homem-tijubina, uma lagartixa ilustre que vive escondidinha desde 1853, nas páginas da ‘Lira dos Vinte Anos’, pouca conhecida por muitos, mas que aqui, a arribitar a cabeça por entre os ângulos das pedras, se faz anunciada nestes excertos pelo próprio autor, o amado e romântico poeta Álvares de Azevedo: “A lagartixa ao sol ardente vive, /e fazendo verão o corpo espicha:/o clarão dos teus olhos me dá vida, /tu és o sol e eu sou a lagartixa. /Amo-te como o vinho e como o sono, /tu és meu corpo e amoroso leito...” Assim se prova que não só de aves canoras sobrevivem os poetas, mas também de tijubinas e lagartixas!
A DUQUESA VALE UMA MISSA CERES COSTA FERNANDES Após esquadrinhar os segredos dos mares e partilhar dos saberes de pescadores, donos de universo onírico próprio, magistralmente recriado em O dono do mar; mergulhar fundo no garimpo e na floresta amazônica, no enleio de Saraminda, a dos seios dourados, mulher-símbolo do desejo e da ambição do ouro, José Sarney nos brinda com a construção de mais um romance. Um romance urbano: A duquesa vale uma missa. A riqueza imaginativa do autor vai buscar na cidade, seus conflitos do cotidiano e sua pressa, o novo espaço de criação. A ação ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo, e, sem prejuízo, poderia passar-se em qualquer cidade. Mas a natureza confessional do romance, o desenrolar no plano do irreal fazem o espaço interior do imaginário de Leonardo, o narrador, o lugar privilegiado do acontecer. A demarcação das fronteiras cronológicas da narrativa comparece, considerando-se que o narrador situa os acontecimentos do universo fictício - presentes ou convocados pela memória -, entrelaçados com eventos e personalidades da História. O fio condutor que penetra em todos os escaninhos da narrativa e tece a trama é a obsessão amorosa do protagonista pela Duquesa de Villars, cortesã da França de Henrique IV, a belíssima Julienne, imortalizada em um quadro famoso da escola de Fontainebleau, na cena do banho com sua irmã, a concubina do rei, Gabrielle D´Estrées. Sobre a intensidade dessa paixão, diz Leonardo: “ – Ah, Duquesa, se o rei Henrique jurou crença num deus em que ele não acreditava pelo Reino da França, quantas missas, mortes e vidas eu dei pela eternidade de, sendo dois, ficarmos um, dissolvidos um no outro, pelo milagre do amor”? A trajetória da tela famosa é uma história menor dentro da narrativa principal, mas é ela que dá o mote e o fecho ao romance. A tela, expropriada de algum potentado czarista, vem da União Soviética para o Brasil, para ser vendida e ajudar a financiar a Intentona Comunista de 1935. O comprador da obra é o pai do protagonista, um bem sucedido industrial simpatizante do Partido Comunista, que, ao falecer, a deixa para os filhos. Em decorrência da origem de sua compra, a tela permanece discretamente resguardada na biblioteca da mansão, por mais de cinqüenta anos, sabida apenas da família. E é lá, no recôndito silencioso dos livros, que o adolescente Leonardo se apaixona por Julienne e se crê correspondido. A trama dessa paixão inusitada é muito bem urdida, depois de atados os nós dos múltiplos fios de que a compõem: amores presentes, alucinações, dúvidas, ciúmes, a teia se completa, e o leitor cai prazerosamente na armadilha do texto. Movidos pela “suspensão da descrença”, celebramos o pacto de leitura com o narrador e mergulhamos no fantástico-verossímil do amor de um homem do tempo presente por um retrato de mulher pintado no século dezesseis. Guiados pelo imaginário de Leonardo, vivenciamos as suas angústias, desejos, ciúmes de rivais mortos há mais de quatrocentos anos, enfim, a obsessão pela sua Duquesa. A elaboração do personagem Leonardo, narrador confessional, é um processo de autoconstrução. O conhecimento de sua vida e personalidade é limitado por seu testemunho e memória. De forma fraturada, acompanhando a sua visão dos acontecimentos e os volteios de seu pensamento, é que passamos a conhecê-lo. Pertencem a ele a apresentação e o julgamento dos fatos. Devemos acreditá-lo, pois os planos da realidade e os da fantasia/alucinação se superpõem, e não sabemos onde começa um e acaba o outro. O ritmo da narrativa, lento no seu início, vai se intensificando, enredando mais e mais nosso interesse, prisioneiro da trama até o seu clímax e desenlace. Julienne, a Duquesa de Villars, é apenas um personagem, e como tal, diria Roland Barthes, “um ser de papel” ou, se quiserem, um ser de tintas e tela. Mas a sua realidade é tamanha que chega a ser possível, ouvir sua voz encantatória, como um “canto de baleia no cio”, sentir o aveludado de sua pele e, sobretudo, partilhar com emoção de seus amores e desventuras. De seu fascínio e beleza, não duvido nada que fiquem prisioneiros outros tantos Leonardos, após a leitura desta obra surpreendente.
SONETÁRIO DE ONTEM E DE HOJE PARA SEMPRE, DO POETA KLEBER LAGO FERNANDO BRAGA in ‘Conversas Vadias’ [Toda prosa], antologia de textos do autor. Ilustração: Capa do livro do poeta Kleber Lago, aqui comentado. Recebi, graças a Deus, com sentimental e terna dedicatória, o livro ‘Sonetos de ontem e de hoje para sempre’, do meu estimado e mui querido amigo, poeta Kleber Lago, contemporâneo no curso de humanidades do velho Colégio Marista, em São Luís, e companheiro de estrada literária. A debruçar-me para lê-lo no silêncio de nossa várzea, no pé da Serra de Caldas, compulsoriamente confinado em virtude do ‘corona vírus’, confesso que a lembrança me levou até o clássico e pitoresco fato que conto abaixo: O poeta Corrêa de Araújo atravessava a Praça João Lisboa, vindo dos Correios e Telégrafos, onde acabara de postar uma carta, como de costume, ao seu grande amigo Alexandre Herculano, na quinta de Val de lobos, em Póvoa de Santarém, Portugal, e com os passos apressados a segurar a gravata de seda que balouçava pelo sopro dos ventos gerais, o autor de ‘Harpa de Fogo’, naquele dia luminoso, entrava no ‘Moto Bar’, onde o António Tavares, do alto da ‘caixa registradora’, ao vê-lo, determinava ao serviço de balcão: “preparem a ‘bomba’ do poeta!” [bomba era um aperitivo com gim, bagaceira, conhaque, vinho do Porto e undeberg, com uma cereja à parte]. Foi justamente ao cumprir esse ritual, que o poeta Corrêa de Araújo, o ‘Príncipe da Poesia Maranhense’, com a taça à mão, erguendo-a em brinde a todos os fregueses ali acomodados, saiuse com esta: “Quando entro neste bar, / e vejo um serviço sem par, / digo de mim para mim, / este bar do Serafim, será fim de todo bar” ... Estes dois versos finais, que seriam de um possível último terceto, é o fecho do poema, o qual é instintivamente trabalhado, onde a ideia principal do soneto, como impacto, tem o objetivo de encantar ou surpreender quem o ouve ou lê. Vejamos: Serafim [Tavares Roque] era o lusitano proprietário do estabelecimento, e enquanto o ‘Moto Bar’ ali existiu, em frente ao Largo do Carmo, em São Luís, nenhuma outra casa do ramo, ali, se aventurou estabelecer-se [este bar do Serafim, será fim de todo bar]. Foi-me necessário esse preâmbulo para registrar o fato em si, e também como mostra de um versejar que, mesmo sendo de brincadeira, ou um repente, se vê o rosto do soneto pelo lado visível de sua eugenia clássica, marca timbrada pelo lírico ‘sonetto’ italiano cantado por Francesco Petrarca, o nosso conhecido decassílabo, soneto de dez silabas, chamado italiano, clássico ou heroico, cantado esplendidamente pelo épico Luís Vaz de Camões, com seu estilo chamado regular, sendo o mais experimentado, com dois quartetos e dois tercetos, em forma fixa; o decassílabo ‘sáfico’, assim denominado por ser do tipo métrico praticado, de início, pela poetisa grega Safo, imitado pelos latinos Catulo, Horácio, Sêneca e Prudêncio; 0 soneto alexandrino de doze sílabas, em voga também em Portugal e no Brasil, ou francês, porque entre os franceses este é o mais cultuado. Já o soneto inglês, foi desenvolvido por William Shakespeare, sendo composto por três quartetos e um dístico, que são estrofes de dois versos. Há também o soneto ‘monotrópico’, composto por uma única estrofe de quatorze versos, a critério do autor, e o soneto ‘estrambótico’, que são os que contam com versos ou estrofes adicionais, a exemplo dos cantares de Cavalaria de Miguel de Cervantes. Há em língua portuguesa uma plêiade imensurável de brilhantes sonetistas, dentre os lusitanos, Camões, Bocage, Quental, Florbela Espanca; dentre os brasileiros, Bilac, Augusto dos Anjos, Da Costa e Silva, Vinicius de Moraes; e, particularmente, dentre os maranhenses, Raimundo Correia [que forma com Bilac e Alberto de Oliveira, a tríade parnasiana brasileira], Corrêa de Araújo, Maranhão Sobrinho, Assis Garrido, Olímpio Cruz; e tantos, e tantos, e tantos... aqui e alhures!...
Assim, os que são predestinados a escrever sonetos, uma das peças mais difíceis, se não a mais difícil na arte de poemar, já nascem com essa maestria para fazê-lo; dentre estes, o poeta Kleber Lago é um grande artesão nesse ofício divino de sonetar, a quem aqui chamo para nos dizer ‘Sobre o meu sonetar’: “Criei meu jeito de sonetar, / bem leve, simples sem rebuscamento, /e, assim, faço o soneto e me contento / com que ele ganhe marca popular. / Eu não escrevo em busca de um lugar / no universo das letras / nem de assento em qualquer sodalício: / meu intento é minhas emoções compartilhar.../ Se tenho a vida por inspiração, /o que quero é cantá-la com paixão, / sem ceder à vaidade olhos atentos. / Afã de glória em mim não se arquiteta, /pois não me arrogo o status de poeta: / só sou ‘palavrador’ de sentimentos!” José Chagas, grande poeta e um dos mais notáveis cronistas que conheci, amigo fraterno meu e de Kleber Lago, deixou gravado em ‘Cadernos de soneto’ [2007], estes excertos sobre esse extraordinário sonetista: “[...] E o que se pode dizer é que ele, indiferente aos poetas que, hoje em dia, torcem o nariz para o soneto, revela-se um sonetista dos mais hábeis, obedecendo rigorosamente às regras fixadas, com surpreendente domínio do que já parece ter como ofício ...” Vejamo-lo neste ‘Mulher, em todos os sentidos’, oferecido à sua mulher Cláudia: “Quero-te linda, meiga, delicada, / feminina, cumprindo por prazer / missões de esposa e mãe, /mas sem que nada /somente nisso venha te envolver. / Pois te quero, também, valente, ousada / em teus destinos, sem retroceder, / buscando espaços e ocupando cada um / que te caiba, como humanos ser./ Quero-te superando preconceitos, / conquistando na vida os teus direitos/ sem que deixes teus sonhos reprimidos./ Quero-te forte, livre, verdadeira,/ pelo orgulho de ter como parceira/ uma mulher, em todos os sentidos”. Neste soneto, Kleber usa com maestria o recurso elegante do ‘enjambement’ ou encadeamento, ou ainda cavalgamento, que faz o verso continuar no seguinte, sem perder as funções sintáticas, semânticas e rítmicas, a transmitir a ideia de continuidade, de sequência. E o faz com perfeição, dentre outras ferramentas que usa nessa difícil peça literária, a imprimir no meu conceito, não de crítico porque não o sou, mas no meu íntimo gosto de também poeta, como em sendo o maior sonetista vivo destes Maranhões, com as devidas ressalvas feitas pelo Padre António Vieira, no Sermão da ‘Quarta Dominga da Quaresma’, quando a letra “M” explodiu no Reino de Portugal e caiu no Maranhão. O poeta Kleber Lago dirige uma página literária no facebook o ‘Poemando o mundo’, na qual em dias de sexta-feira deixa uma mensagem aos seus ‘face amigos’ acompanhado de um soneto; e um desses sonetos é este ‘Habitualismo’, impresso na contracapa deste ‘Sonetos de ontem e de hoje para sempre’: Ouçamo-lo: “Nos versos de um soneto descrever /amores, sonhos, coisas corriqueiras, / tem sido para mim, nas sextas-feiras, / um hábito tão cheio de prazer! / Já deixo a pena no papel correr / livre, só tendo as margens por fronteiras ,/ desde bem cedo, logo que as primeiras / luzes venham no céu aparecer./ Se ela vai registrar, sem que eu lhe peça, / que sempre se receber algum favor,/ costumo dar em troca uma promessa,/ sabe que duas coisas não prometo:/ passar um dia sem falar de amor/ e uma semana sem fazer soneto” Outra particularidade, como se não bastasse a beleza do miolo deste livro, os belos sonetos nele contidos, distribuídos nas suas 142 páginas, a feição gráfica é belíssima, com a capa e contracapa em cores, a postar fotos do ‘artista quando jovem’ e do artista de agora, como se fizesse uma chamada no tempo, o livro é muito bem recortado, bem paginado e bem diagramado. Pasmem: todo o corpo gráfico do livro foi feito por ele, manualmente, esse poeta-artesão, um autor e editor ao mesmo tempo, um ‘sete instrumento’ na arte literária. Parabéns poeta! Por fim, é-me necessário contar para os que não sabem, que o poeta Kleber Lago trata o soneto, essa difícil e sisuda forma fixa, esse desenho poética de quatorze linhas, de uma maneira tão simples, como se dá o nó numa gravata, ou como se amarra os cadarços dos sapatos, o que levou o poeta José Chagas a dizer que ele “deixa-nos a impressão de que brinca de sonetar.”
POESIAS & POETAS
Uma advertencia: “Escrevi para aprender”1. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção deste espaço intelectual e para a análise das estratégias de afirmação2, disputas e repertórios nele acionados, são importantes fontes as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Para obtenção de dados relativos aos agentes em questão buscaram-se, mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhemos informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sites particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem... A motivação para reunir o material aqui ora apresentado, foi o ingresso como membro fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, e que tem como finalidade: [...] o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º do Estatuto Social).
O presente volume é dedicado às MULHERES de ATENAS, às IMORTAIS 3 não só da Academia Ludovicense de Letras, mas sobretudo daquelas nascidas na cidade do Maranhão – São Luis. Muito embora muitas das atuais ocupantes de cadeiras das nossas instituições academicas não seja ludovicenses de nascença, tiveram sua vida e obra atreladas à cidade; dai estarem aqui elencadas, as Imortais; as demais têm como condição primeira ter nascido aqui, em São Luis do Maranhão. Para Silva (2009)4, ao longo dos cem anos de existência da Academia Maranhense de Letras, dos cento e quarenta e dois (142) membros, apenas oito (8) são mulheres. São elas: Laura Rosa, Mariana Luz, Dagmar Desterro, Conceição Aboud, Lucy Teixeira, Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sônia Almeida. Corrêa; e Pinto (2011) 5, ao lançarem olhar sobre a poesia maranhense contemporânea de autoria feminina a safra poética das últimas décadas do século XX, a partir dos anos 80 -, identificam: Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline. Dinacy Corrêa6, ao lançarb “Um olhar sobre a poesia maranhense contemporânea” , de autoria feminina (especificamente a safra poética das últimas décadas do século 20 próximo passado, a partir dos anos 80, no trânsito para o século XXI), elenca: Arlete Nogueira da Cruz, Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Lenita Estrela de Sá, Lúcia Santos, Maria Martha, Wanda Cristina Cunha, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Goreth Pereira, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 2 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 3 NERES, José. CERES, LAURA E SONIA: TRÊS MULHERES IMORTAIS. Disponível em http://joseneres.blogspot.com.br/2010/01/cereslaura-esonia.html 4 SILVA, RENATO KERLY MARQUES. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses. Dissertação de mestrado. Ufma, 2009. Disponivel em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_docman&task... 5 CORRÊA, Dinacy Mendonça; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE..Núcleo de Estudos Lingüísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema. 1
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A Academia Ludovicendse de Letras, dentre seus membros – Patronos e Fundadores – possui seis Patronas, das Cadeiras: 08: Maria Firmina dos Reis – também Patrona da Academia, por isso “Casa de Firmina dos Reis”; 25: Laura Rosa; 29: Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello); 34: Lucy de Jesus Teixeira; 37: Maria da Conceição Neves Aboud; e 38: Dagmar Destêrro e Silva. Dentre as Fundadoras: ocupam: Cadeira 8, Dilercy Adler; Cadeira 30, Clores Holanda Silva; e Cadeira 31, Ana Luiza Almeida Ferro. Em março, quando da eleição de novos membros das ALL, foram indicadas e aceitas: Ceres Costa Fernandes, cadeira 34 patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatam Melo; Maria Thereza de Azevedo Neves, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira, para a cadeira 13 patroneada por Artur Azevedo; Eva Maria Nunes Chatel, indicação de Ana Luiza Almeida Ferro, para ocupar a Cadeira 29, patroneada por Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello) – renunciou à indicação em abril de 2015.
MARIA FIRMINA DOS REIS7
PATRONA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS PATRONA DA CADEIRA 8 DA ALL Nasceu em São Luiz do Maranhão, em 11 de Outubro de 1825, sendo registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Menina bastarda e mulata vivendo num contexto de extrema segregação racial e social, aos cinco anos teve que se mudar para a vila de São José de Guimarães, no município de Viana, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos. O acolhimento em casa de uma tia materna teria sido crucial para a sua formação. Consta ainda ter obtido ajuda do escritor e gramático Sotero dos Reis, primo por parte de mãe, “a quem deve sua cultura, como afirma em diversos poemas”.
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Úrsula. Romance, 1859. Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude). Poemas em: Parnaso maranhense, 1861. A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense no. 3) Cantos à beira-mar. Poesias, 1871. Hino da libertação dos escravos. 1888. Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha (jornal); e Federalista. Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).
DUARTE, Eduardo de Assis. MARIA FIRMINA DOS REIS E OS PRIMÓRDIOS DA FICÇÃO AFRO-BRASILEIRA. In ALL EM REVISTA, vol 0, n. 0, dezembro de 2013. http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Firmina_dos_Reis
NAS PRAIAS DO CUMAN / SOLIDÃO8 Aqui na solidão minh'alma dorme; Que letargo profundo!... Se no leito, A horas mortas me revolvo em dores, Nem ela acorda, nem me alenta o peito. No matutino albor a nívea garça Lá vai tão branca doudejando errante; E o vento geme merencório - além Como chorosa, abandonada amante. E lá se arqueia em ondulação fagueira O brando leque do gentil palmar; E lá nas ribas pedregosas, ermas, De noite - a onda vem de dor chorar. Mas, eu não choro, lhe escutando o choro; Nem sinto a brisa, que na praia corre: Neste marasmo, neste lento sono, Não tenho pena; - mas, meu peito morre. Que displicência! não desperta um'hora! Já não tem sonhos, nem já sofre dor... Quem poderia despertá-lo agora? Somente um ai que revelasse - amor.
UMA TARDE NO CUMAN9 Aqui minh'alma expande-se, e de amor Eu sinto transportado o peito meu; Aqui murmura o vento apaixonado, Ali sobre uma rocha o mar gemeu. E sobre a branca areia - mansamente A onda enfraquecida exausta morre; Além, na linha azul dos horizontes, Ligeirinho baixel nas águas corre. Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas! Esta brisa, que afaga os meus cabelos, Semelha o acento dessas frases tuas. Aqui se ameigam de meu peito as dores, Menos ardente me goteja o pranto; Aqui, na lira maviosa e doce Minha alma trina melodioso canto. A mente vaga em solidões longínquas, Pulsa meu peito, e de paixão se exalta; Delírio vago, sedutor quebranto, Qual belo íris, meu desejo esmalta. Vem comigo gozar destas delícias, Deste amor, que me inspira poesia;
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CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 177-178, disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014 9 Cuman - praias de Guimarães; CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 25-26; disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014
Vem provar-me a ternura de tu'alma, Ao som desta poética harmonia. Sentirás ao ruído destas águas, Ao doce suspirar da viração, Quanto é grato o amor aqui jurado, Nas ribas deste mar, - na solidão. Vem comigo gozar um só momento, Tanta beleza a me inspirar poesia! Ah! vem provar-me teu singelo amor Ao som das vagas, no cair do dia.
O MEU DESEJO10 A um jovem poeta guimaraense Na hora em que vibrou a mais sensível Corda de tu'alma - a da saudade, Deus mandou-te, poeta, um alaúde, E disse:Canta amor na soledade. Escuta a voz do céu, - eia, cantor, Desfere um canto de infinito amor. Canta os extremos duma mãe querida, Que te idolatra, que te adora tanto! Canta das meigas, das gentis irmãs, O ledo riso de celeste encanto; E ao velho pai, que tanto amor te deu, Grato oferece-lhe o alaúde teu. E a liberdade, - oh! poeta, - canta, Que fora o mundo a continuar nas trevas? Sem ela as letras não teriam vida, menos seriam que no chão as relvas: Toma por timbre liberdade, e glória, Teu nome um dia viverá na história. Canta, poeta, no alaúde teu, Ternos suspiros da chorosa amante; Canta teu berço de saudade infinda, Funda lembrança de quem está distante: Afina as cordas de gentis primores, Dá-nos teus cantos trescalando odores. Canta do exílio com melífluo acento, Como Davi a recordar saudade; Embora ao riso se misture o pranto; Embora gemas em cruel soidade... Canta, poeta, - teu cantar assim, Há de ser belo enlevador enfim. Nos teus harpejos juvenil poeta, Canta as grandezas que se encerram em Deus, Do sol o disco, - a merencória lua, Mimosos astros a fulgir nos céus; Canta o Cordeiro, que gemeu na Cruz, Raio infinito de esplendente luz. Canta, poeta, teu cantar singelo, meigo, sereno com um riso d'anjos; 10
CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 33-35; disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014
Canta a natura, a primavera, as flores, Canta a mulher a semelhar arcanjos. Que Deus envia à desolada terra, Bálsamo santo, que em seu seio encerra. Canta, poeta, a liberdade, - canta. Que fora o mundo sem fanal tão grato... Anjo baixado da celeste altura, Que espanca as trevas deste mundo ingrato. Oh! sim, poeta, liberdade, e glória Toma por timbre, e viverás na história. ---------------Eu não te ordeno, te peço, Não é querer, é desejo; São estes meus votos - sim. Nem outra cousa eu almejo. E que mais posso eu querer? Ver-te Camões, Dante ou Milton, Ver-te poeta - e morrer.
Laura Rosa
Patrona da Cadeira 25 da ALL Por Wybson Carvalho11 Laura Rosa, nascida em São Luis do Maranhão, no dia 1º de outubro de 1884. Por amor à língua portuguesa e às letras, formou-se em Normalista do Magistério, e, como professora, veio para o sertão, ainda, na segunda década do século passado com a finalidade de lecionar na antiga Escola Normal de Caxias. Em sua terra natal, durante sua escolaridade escreveu inúmeros poemas e participava, ativamente, da vida literária estudantil ludovicense, vindo a ser cognominada de "violeta do Campo"; pseudônimo com o qual assinava seus poemas. Na princesa do Sertão Maranhense, a poetisa, Laura Rosa, foi hóspede durante muitas décadas da valorosa professora caxiense, Filomena Machado Teixeira, e com a qual foi das primeiras incentivadoras da criação da Academia Caxiense de Letras, e, na qual, é patrona da Cadeira de Adailton Mediros. Laura Rosa se encantou, em Caxias, na data de 14 de novembro de 1976, aos 82 anos de vida dedicados ao magistério e às letras. Laura Rosa, foi a primeira mulher maranhense a ter acento a uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras. Eis, alguns trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa, realizado no dia 17.04.1943, no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo. No discurso12, destaco um ponto que parece comum na posse de membros homens e/ou mulheres, a referência a algum amigo mais próximo, o qual parece ser responsável pela indicação do membro para concorrer à vaga da Academia. "Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me, porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos, para merecimento de tão honrosas credenciais". A humildade com que a escritora se apresenta frente aos seus atuais confrades prolonga-se por algumas frases reforçando a valorização dos membros mais antigos e ao mesmo tempo, sutilmente reconhecendo o valor de suas poesias.
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CARVALHO, Wybson. http://www.noca.com.br/coluna.asp?cntcod=17&colcod=1727 http://books.google.com.br/books?id=hn8f_VsmZAC&pg=PA325&lpg=PA325&dq=LAURA+ROSA++%2B+textos+%2B+academia+maranhense+de+letras&source=bl&ots=tQxpUsiSTa&sig =3j3PgrjXPsmGZFwk4wOukJlNuRI&hl=pt-BR&sa=X&ei=738wUvMJJLQkQeu84D4BA&ved=0CDQQ6AEwAQ#v=onepage&q=LAURA%20ROSA%20%20%2B%20textos%20%2B%20academia%20maranhen se%20de%20letras&f=false http://www.guesaerrante.com.br/2009/2/17/Pagina1108.htm 12 Trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa (realizado no dia 17.04.1943), no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo.
"Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardas fiéis de nossas tradições literárias". ESQUELETO DE FOLHA13 Vêde, senhor, apodreceu na lama. Eu a vi muito tempo entre a folhagem, Antes do vento lhe agitar a rama E, do regato, sacudi-la à margem. De virente e de verde, tinha fama, De folha mais formosa da ramagem, Desceu nas águas e resta, da viagem, O labirinto capilar do trama. Ninguém pode fazer igual rendado, Nem filigrana mais perfeita e lnida, Nem presente melhorpode ser dado. Guardai, senhor, guardai este esqueleto. Todo o cuidado! É uma folha, ainda, Onde escrevi, de leve, este soneto.
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MEIRELES, FERREIRA, E VIEIRA FILHO, 1958, obra ciatda, p. 185-185. (in Ver. Da Acad. Mar. De Letras, vol.IX, 1954).
DILU MELO14
Patrona da Cadeira 29 da ALL Maria de Lourdes Argollo Oliver, mais conhecida pelo nome artístico Dilu Melo, nasceu em Viana, a 25 de setembro de 1913 ou 191115, e faleceu no Rio de Janeiro em 24 de abril de 2000. Foi uma cantora, compositora, instrumentista e folclorista brasileira. Precoce, começou a estudar música e violino aos cinco anos de idade, , ainda na cidade natal, com o maestro Miguel Dias. Aos nove anos, iniciou seu aprendizado de violão com sua mãe D. Nenê e de piano com a professora Elizéne D'Ambrósio. Aos 10 anos, compôs sua primeira obra, uma valsinha intitulada "Heloísa", em homenagem à sua irmã mais nova. Em 1922 mudou-se com a família para o Rio Grande do Sul e já no ano seguinte, aos doze anos, fez um concerto no famoso Teatro Colon de Buenos Aires, acompanhada pelo pianista também precoce, Angelito Martinez. Como prêmio do governo argentino, os dois receberam patrocínio para uma série de apresentações por diversas cidades daquele país. Três anos depois, em 1925, concluiu o curso de violino no Conservatório de Porto Alegre, conquistando uma medalha de ouro pela impressionante técnica adquirida. Casou-se em 1930 com o Engenheiro Carlos Rodrigues de Melo, união que durou pouco mais de dois anos. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1936, aos 25 anos, onde se formou em canto lírico. No Teatro Municipal, participou das montagens das óperas La Bohème, Um Ballo in Maschera e Vida de Jesus, mas, cativada pelas canções dos tropeiros gaúchos, decidiu abandonar sua formação clássica para dedicar-se inteiramente às músicas regionais. Em 1938, estreou na Rádio Cruzeiro do Sul e, no ano seguinte, compunha, em parceria com Ovídio Chaves, a toada Fiz a Cama na Varanda, por ela gravada em 1941, na Continental, com enorme sucesso. Essa música foi relançada mais tarde por Inezita Barroso, Dóris Monteiro, Nara Leão, Cantores de Ébano, diversos conjuntos de rock e regravada na França, em versão. Abraçando a música popular, com o nome artístico de Dilú Mello, não demorou a chamar a atenção do Maestro Martinez Grau - que a levou para a Rádio Cruzeiro do Sul -, surgindo daí o convite para cantar em São Paulo e gravar o primeiro disco com duas músicas de sua autoria: “Engenho D’água” e “Coco Babaçu.” Influenciada por Antenógenes Silva, comprou um acordeom e passou a apresentar-se na então famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conquistando fama em todo o país. Sempre acompanhada do acordeom, Dilú percorreu o Brasil de ponta a ponta. Países como o Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Peru também se renderam aos seus talentos. Na década de 1950, apresentou-se pelo continente europeu, recebendo veemente elogios da imprensa italiana e portuguesa. Em 1944, registrou em disco a valsinha brejeira Lá na Serra, de Capiba, que se tornou sucesso nacional. Em 1958, gravou de Altamiro Carrilho e Armando Nunes, o xote "Nos velhos tempos".
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Dilu_Melo DILU MELO, A SANFONEIRA MARANHENSE, disponível em http://www.luizberto.com/a-coluna-de-raimundo-floriano/dilu-melo-a-sanfoneiramaranhense http://www.dicionariompb.com.br/dilu-melo/biografia AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Edição do autor. Rio de Janeiro, 1965. MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999. 15 por Luiz Alexandre Raposo in http://www.letras.com.br/#!biografia/dilu-melo
Autora de mais de cem músicas. Entre seus intérpretes estão Ademilde Fonseca, Amália Rodrigues, Carmen Costa, Nara Leão, Fagner, Clara Nunes, Marlene e Dóris Monteiro. Multi-instrumentista, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita, harpa paraguaia, violão e viola caipira. Autora de 104 canções, teve suas músicas gravadas por grandes intérpretes, como Ademilde Fonseca, Carmem Costa, Carlos Galhardo, Cantores de Ébano, Dóris Monteiro, Marlene, Nara Leão, Clara Nunes, Marinês e sua gente, Zé Ramalho e tantos outros. Entre suas composições mais famosas destacam-se: Fiz a cama na varanda, Saudades do Maranhão, Meu Cariri, Qual o valor da sanfona, Redinha de algodão, Conceição da praia, Meu barraco, Telegrama, Maravia, Candelabro, As coisas erradas do mundo, Meia-canha, entre outras. Apaixonada pelas crianças, Dilú dedicou parte de seus talentos artísticos à infância brasileira, gravando discos com fábulas e historinhas ou escrevendo peças de teatro voltadas exclusivamente para o público infantil. Entre tais peças, encenadas por diversas temporadas nos teatros cariocas, figuram: O baile das tartaruguinhas, O bigurrilho e a princesinha de ouro, Cada criança é uma canção, Uma festa no céu, Festival de palhaços, O sapo dourado (opereta infantil) etc. Pesquisadora do folclore brasileiro, além de pianista, violonista e harpista, viajou por todo o Brasil, divulgando seu repertório. Afastou-se da vida artística depois de 25 anos de carreira, mas ainda gravou
um LP na Odeon e outro na Som. Dilú Mello faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, no dia 26 de abril de 2000. Seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério do Catumbi. Discografia: Engenho d'água/Coco babaçu (1938); Fiz a cama na varanda/Sapo cururu (1944); Cesário/Planta milho (1945); Menino dos olhos tristes/Coisas do Rio Grande (1945); Lá na serra/Qual o valor da sanfona (1949); Recordando os pagos/As coisas erradas do mundo (1950); Maravia/Tudo é verdade (1952); Redinha de algodão/Meia canha (1952); Carta a Papai Noel/Tempinho bom (1952); Sans souci/Os 10 mandamentos do sanfoneiro (1954). FIZ A CAMA NA VARANDA16 Dilu Mello e Ovídio Chaves Fiz a cama na varanda, me esqueci do cobertor. Deu um vento na roseira (ai, meus cuidados) Me cobriu todo de flor. Menina, minha menina, ai, Não faça assim como eu Que vivo morto de pena, Porque ninguém me escolheu. Fiz a cama na varanda, Me deitei pensando em ti, Deu um vento na roseira (ai, meus cuidados) E eu, de sono, me esqueci.
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http://letras.mus.br/dilu-mello-ovidio-chaves/760592/ http://www.letras.com.br/#!dilu-melo
LUCY DE JESUS TEIXEIRA
Patrona da Cadeira 34 da ALL Academia Maranhense de Letras, Cadeira 7 Por CERES COSTA FERNANDES17 Lucy Teixeira (11.7.22 – 7.7.2007), foi a quinta mulher a transpor os umbrais da Casa de Antonio Lobo, embora nela encontrasse apenas duas confreiras: a romancista Conceição Aboud e a poeta e prosadora Dagmar Desterro, que tomara posse em 1974, as duas primeiras acadêmicas já eram falecidas, tal o espaço de tempo entre a admissão de cada uma delas. Lucy ocupou a Cadeira nº 7, tendo como patrono Gentil Braga, sendo recebida por José Sarney, em 28.7.79.
O ALUMBRAMENTO QUE EU TIVE A primeira vez em que encontrei Lucy Teixeira foi no dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras, em 1979 – tempo em que eu nem sonhava em pertencer à AML. Conheci-a, apenas, de longe, sem que ninguém ma apresentasse. Achei imediatamente que ela só poderia chamar-se Lucy, o nome, curto, leve, estrangeirado, me pareceu perfeitamente apropriado àquela mulher miúda e vivaz. Nessa ocasião, a admiração e o respeito impediram-me de aproximar-me para cumprimentá-la, e perdi assim uns 15 anos. Por longo tempo não mais encontrei Lucy. Mulher cosmopolita, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e os países Bélgica, Espanha e Itália eram sua morada. Em São Luís, tinha apartamento cativo no Panorama Palace Hotel e, por fim, no hotel Pestana São Luís, para suas longas temporadas de retorno às origens. Finalmente, em outro evento da Academia, fomos finalmente apresentadas e aí descobrimos uma série de coincidências a nos ligar. De conversa em conversa descobrimos que ambas moramos durante muitos anos na ladeira da Montanha Russa, em épocas distintas, e que ela conheceu e conviveu com duas pessoas marcantes na minha vida, meu pai e minha sogra. UMA MULHER À FRENTE DE SEU TEMPO Na ocasião de sua posse, não conhecia sua obra, apenas soubera de sua trajetória e já era sua fã. Ouvi falar de seu espírito rebelde na siciliana São Luís dos anos 40. Diziam que se vestia como bem entendia (costume que conservou até na velhice), andava com rapazes metidos a intelectuais e que usava tênis(!) em reuniões sociais.Um escândalo, convenhamos. Ouvindo-a discursar, relembrei a sua permanência em Minas Gerais, quando ela, em 1948, bacharelou-se em Direito, em Belo Horizonte. Lá, freqüentava o grupo composto de ninguém menos que Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Murilo Rubião, numa intensa troca literária. Escrevia para o Jornal do Brasil e Correio da Manhã e recebeu prêmios conquistados em concursos literários de âmbito nacional. De volta a São Luís, na segunda metade dos anos 40, para assumir um cargo no Tribunal de Justiça do Maranhão, vem de posse de imensa bagagem literária e intelectual. E, naturalmente, engaja-se no movimento pela renovação da literatura maranhense.
O PAPEL DE LUCY NA RENOVAÇÃO DA LITERATURA MARANHENSE A literatura maranhense, na segunda metade dos anos 40 - pelo que se vê publicado nos jornais e pelos livros editados –, incensava o Parnasianismo e ignorava as novas tendências que agitavam o Sul do país.
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FERNANDES, Ceres Costa. A ACADÊMICA LUCY TEIXEIRA. Correspondencia pessoal, recebida em 24/03/2014: “Caro Leopoldo, Encaminho, conforme seu pedido, o meu artigo sobre Lucy Teixeira e Conceição Aboud, publicado no livro comemorativo do Centenário da AML. Espero que ajude em alguma coisa. Um abraço, Ceres.”
.Atribui-se a Bandeira Tribuzi, recém chegado da Europa, a tarefa de iniciar os maranhenses na nova estética, apresentada na profissão de fé do seu livro Alguma existência (1948). É nessa ocasião que Lucy, como já foi dito, mulher cosmopolita, informada, advinda da convivência com a nata da literatura mineira, em dia com as mais modernas tendências, retorna a São Luís. Participa do grupo da Movelaria Guanabara, ao lado de Ferreira Gullar – que confessa ter sido ela a primeira leitora da Luta Corporal (1949) -, Bandeira Tribuzi, José Sarney e Odylo Costa, filho. Sempre inovadora, escreveu poesia, contos e fez critica literária em O Imparcial Assinava uma coluna de crônicas sob o pseudônimo de Maria Karla. Como uma pequena amostra do pensamento moderno, de Lucy transcrevo parte de uma análise da poesia de Marcos Konder Reis, feita por ela, em 1949, em O Imparcial: “Mas é necessário perguntar: qual o sentido do místico na obra do jovem poeta? Observemos, em primeiro lugar que a misticidade fornece a Marcos Konder Reis uma ‘tristeza mansa’, evanescente, meio vaga como que oriunda de zona intermediária, apaziguadora dos conflitos entre o anjo e o demônio. Daí notar-se não a raiva de não ser divino( o que seria próprio de um místico sem Deus) mas certo desânimo, assim visível no soneto etc... .
Esse tipo de crítica não se assemelha a nenhuma das críticas feitas pelos escritores da terrinha.Vejam só, isso em 1949!. Talvez a pouca demora de Lucy nas plagas maranhenses, sempre partindo para novos vôos, seja a causa do desconhecimento do seu papel e importância na mudança dos rumos da literatura maranhense nos anos 40..O doutorado, em 1958, veio, por meio de uma bolsa de estudos do governo italiano. E lá se foi Lucy para a Itália. A tese resultante desse doutorado foi L´estetica Crociana e l´Arte Contemporanea . NO TEMPO DOS ALAMARES... Quando Lucy lançou, em 1999, o livro de contos “No tempo dos alamares e outros sortilégios” no espaço familiar da Academia Maranhense de Letras, fui, ansiosa por conhecer o que ela escrevera e participar da festa literária. Mal cheguei de volta a casa, me lanço à leitura do pequeno volume. Reproduzo o que disse na ocasião, vale a pena relembrar: “Sou tomada de sentimentos vários: estranhamento, prazer estético e um certo desconcerto. Se o jeito de menina travessa, com um certo ar moleque combina perfeitamente com o nome ligeiro, um tanto coquete, o texto que se me apresenta, representação do eu poético de Lucy, discorda de ambos. É um texto maduro e denso como uma estrela anã. Embora os significantes, fluindo em ondas como notas de uma pauta musical, nos passem, por vezes, uma sensação de leveza, até de superficialidade, vê-se que isso é apenas um artifício enganoso engendrado por Lucy para atrair-nos, tal qual o flautista de Hamelin, no seguimento do seu texto. Apanhados por seu sortilégio, já sem desejo de volta, somos tomados pelo redemoinho do significado que nos suga a uma profundidade da qual não podemos/ queremos fugir. Que difícil é analisar Lucy! Seu texto é rebelde a classificações. Sobre esses contos nos diz Ferreira Gullar: “Lucy trilha o caminho aberto por Virgínia Woolf e seguido por Clarice Lispector, mas sem com elas se confundir”. Continuo com a minha análise: sobre o texto de Lucy, dizem-no da linha intimista de Clarice, mas há muito mais a dizer. E sensato seria apenas deixar-nos embalar por ele e fruir do seu prazer como nos aconselha Roland Barthes. Mas como, se ele nos desafia, instiga? Começaremos por dizer que ele não é uno (e esse é mais um ingrediente de sua fascinação). Ora se mostra em contos engendrados com um leve fio narrativo não-linear, mas que sempre nos contam histórias, como “Companheiros no Exílio”, “Com Água Tofana” ou “Nusch”. Ora o fio, por vezes fragmentado (como convém ao fluir do inconsciente), empenha-se em rebordar os alamares, indo e voltando - agulha de máquina desenhando labirintos na fazenda – construindo “Recordações de Amelinda” e “Meu Lindo Amor”. Ora faz poesia pura, como em “O Convalescente Amoroso”, Cântico dos Cânticos pós-moderno – a fala do Esposo transparecendo em palimpsesto: “A manhã é alta demais para a minha desenvoltura, mas ninguém ousaria afirmar que não caberias em meus braços, oh! beleza! és tu, íntima da grama do jardim onde tua cabeça, rolando, assusta as margaridas. Desejo ficar louco varrido para sair caçando borboletas para você”...
Seu perfil navalhou de beleza o vestíbulo. Ou pequenos jasmins se abrem na minha garganta. Com frases como estas, Lucy inventa e desinventa o código lingüístico, brindando-nos com o inesperado. Suas imagens e metáforas estalam de novas. Quentinhas, parecem ter sido apanhadas, agora mesmo, da massa estelar à disposição dos poetas e modeladas ao jeito de Lucy”.
O TESOURO OCULTO DE LUCY Em outro instante de prosa, há o Romance Um destino provisório, exemplo de domínio técnico da estrutura romanesca, prosa enxuta e escorreita, por vezes pura poesia, jóia de delicadeza e vigor. Na poesia temos o Primeiro Palimpsesto, São Luís SIOGE, 1978, e a sua Elegia fundamental, Rio de Janeiro, Atelier das Arte, 1962 Poema da dor filial transfigurada em beleza, é reconhecidamente dos melhores da literatura brasileira. São obras de características diversas, ricas, multifacetadas. Difícil rotulá-las. Mas há uma pista, um indício que, se seguido, nos faz chegar sempre a Lucy: a recusa ao aprisionamento do pensamento, com opção pela felicidade e pela subversão seja ela de ordem política ou individual. Essa opção, porém, não se dá de forma tranqüila. A aprendizagem do parecer ao ser é dolorosa e, por vezes, voluntariamente, não se dá por conclusa. A obra de Lucy é como um baú enorme, pejado de riquezas de conteúdo pouco conhecido, nele há escritos consagrados e inéditos, há romances, poesias, contos, artigos escritos em jornais maranhenses e de todo o Brasil, peças teatrais, critica literária e de pintura ( que ela também é pintora).. Em qualquer lugar que se enfie a mão, traremos um punhado de jóias rutilantes. É ter disposição para a garimpagem. As surpresas que virão à luz darão a Lucy o lugar que é seu na literatura maranhense e brasileira. ELEGIA FUNDAMENTAL18 Metamorfose, os fundamentos da tua lógica São cimentados de lâminas vivas, Voraz, Vastíssima, cujos pés não vejo, as tuas normas em que ventre ou motor se organizaram?, pura dilaceração continuada. Obsessão cantando o seu nome initerrupto, nunca verei a tua face, negra e fulgurante, vagarosa e veloz, impiedosa coisa inabalável que me namora a coisa mais esplêndida; ainda não, prestidigitadora, a divertir-se já com o que me foi suave raiz cujo perfume queimo neste campo onde se luta uma lembrança. Começa o teu sigilado festim, enquanto as correias do ar, sustentam o pavilhão onde ficamos cada vez menos acariciados e gradualmente aturdidos. Começa o teu discurso, dragão, e cresta, e cresta onde em nós é que dói. _______________________________ Pela manhã ergue-se o ervatário indo colher no campo 18
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lucy_teixeira.html
Miranda
e
publicada
em
setembro
de
2008.
vagas ervas medicinais. Colhe a luz do teu sorriso, plantador cujas mãos, cobertas de anéis de areia agora possuem a Terra. (Elegia Fundamental / 1962)
PRIMEIRO PALIMPSESTO19 (para a cidade de São Luís e Ferreira Gullar) ...no adro da noite jovem e velhíssima abraçaram-se nossas ruínas azuis Corpos de terracota brasileira fragmentados aqui e ali calafetados de lichino ...mechas de fios que se embebia nas feridas profundas para as drenar nas saudades corroídas Teu nome é meu irmão no meio da noite do adro que flutua tuas mãos de repente acenaram renovado o sinal da louca cintilação quando sorríamos e as estrelas sussurravam São Luís Agora tua voz ceifa no campo devastado erguendo estátuas de som em nossas bocas enganosas enganadas na escuma da vida atravessei sem querer encontrando-me cheio de escuro com alucinados relâmpagos que atravessavam o teu rosto no meu rosto Teu soluço era seco Meu mar de palhas secas mas sólido de ausência São Luís a madrugar pelas esquinas esbatidas da memória Mas em abril ventos lendários desenhavam a Praça Gonçalves Dias das sete colinas de Roma .................................. "vamos morrer" não sabíamos que havia aino.a mel em nossos lábios me perdi me perdi numa etrúria enorme condenada a sobrecéus portáteis ao cair resvalando sem ser Rolando em Roncesvales Minha São Luís cristais pelo meu sangue me feri eis o cadáver para o qual contribuímos com fidelíssima obsessão quis levanta-lo uma duas vezes era de sombra era de 19
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Miranda
e
publicada
em
setembro
de
2008.
eis-nos aqui quase miticamente em casa de Ana Letycia que não vai nem vem pela sala falando de Miquel Ângelo Ana Letycia com seu rosto de subterrâneas ternuras Passa como um veludo entre nós dois ..................................... (Primeiro Palimpsesto / 1978)
MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD
Patrona da cadeira 37 da ALL Academia Maranhense de Letras, Cadeira 20 Por Ceres Costa Fernandes
20
Conceição Neves Aboud (10.7.1925 – 2006), ingressou na AML em 8 de dezembro de 1955, recebida por Jerônimo Viveiros, ocupando a Cadeira de nº 20, patroneada por Trajano Galvão. Nasceu em São Luís, onde permaneceu até a morte de seu pai, quando a mãe e os irmãos se transferiram para o Rio de Janeiro. Lá estudou no Colégio Sion, estabelecimento de ensino freqüentado pelas moças da mais alta sociedade carioca. Tempos depois regressa a São Luís, dominando o francês e o inglês, rompe com preconceito comum na década de 40 de que trabalho fora do lar não era para as “moças de família”. Havia, quando muito, a opção do magistério. Conceição começa a trabalhar no estabelecimento bancário de Francisco Aguiar, onde conheceu o seu futuro marido, o industrial Alexandre Aboud, de importante família árabe local. A partir do casamento, fixa residência no Rio de Janeiro. Os seus contemporâneos, entrevistados para este artigo, louvam-lhe a extrema beleza e simpatia: morena, elegante, de longos cabelos negros, estatura mediana e corpo bem feito, encantava a todos.
O FAZER LITERÁRIO DE CONCEIÇÃO Não há registro de produções suas nos jornais da terra, antes de 1952, ano do lançamento de Grades e azulejos, embora Ciranda da vida já estourasse nos capítulos da revista O Cruzeiro desde 1951. Nenhuma manifestação anterior, nenhum artigo foi encontrado na imprensa de São Luís. Vamos entender o porquê disso, por meio das palavras da própria Conceição, no seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras, quando revela o seu fazer literário: seus romances, mesmo sem os escrever, ela os trazia na mente desde a infância: “Bendita a minha inerente tendência para imaginar! Quando eu era criança, ela me conduzia a um mundo irreal, fazendo que as horas, no colégio, corressem rápidas, porque ao meu lado conversavam príncipes e princesas, lutavam feias feiticeiras e gigantes cruéis. Essa imaginação desassossegada e irrequieta tem me proporcionado infinitas sensações: o prazer de escrever, a ansiedade de ler as críticas, sobre o que escrevo, e mesmo, a emoção da maternidade que a natureza, até agora, me roubou e que veio através dos meus livros, pois me sinto mãe de todos os meus personagens, mãe privilegiada porque os crio como quero, sem expectativas e desilusões”... (Conceição não teve filhos carnais e, mais tarde, adotou uma menina Maria Júlia, que lhe deu dois queridos netos).
Corroborando a supremacia da imaginação na sua obra, Conceição revela, em entrevista ao jornal O Imparcial, 27.1. 1952, a sua elaboração romanesca: “Empolgando-me por uma idéia vou até o fim sem dificuldade. Escrevo despreocupadamente. Divirtome, escrevendo. Ao iniciar o primeiro capítulo dos meus livros, tenho apenas dois ou três personagens, com seus respectivos tipos físicos e morais, o ambiente em que se desenrolará a história e a maneira 20
FERNANDES, Ceres Costa. A ACADÊMICA LUCY TEIXEIRA. Correspondencia pessoal, recebida em 24/03/2014: “Caro Leopoldo, Encaminho, conforme seu pedido, o meu artigo sobre Lucy Teixeira e Conceição Aboud, publicado no livro comemorativo do Centenário da AML. Espero que ajude em alguma coisa. Um abraço, Ceres.” http://books.google.com.br/books?id=hn8f_VsmZAC&pg=PA420&lpg=PA420&dq=MARIA+DA+CONCEI%C3%87%C3%83O+NEVES+ABOUD&source=bl&ots=tQxpXpfV_a&sig=wavGuhijKJgt9HkEr0eqlacVpQ&hl=pt-BR&sa=X&ei=WZQ0U9_wBmc0gG_zYD4DQ&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q=MARIA%20DA%20CONCEI%C3%87%C3%83O%20NEVES%20ABOUD&f=false SILVA, Renato Kerly Marques. LITERATURA, GÊNERO E ESCRITORAS EM SÃO LUÍS, MARANHÃO. Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder, DISPONÍVEL EM http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST66/Renato_Kerly_Marques_Silva_66.pdf
dos personagens se encontrarem e reunirem pela primeira vez. Não determino previamente enredo para que eu mesma me anime de interesse e curiosidade. Naturalmente, do meio para o fim, começo a concatenar fatos para fechar o livro.”
A OBRA ROMANESCA DE CONCEIÇÃO ABOUD Quando de sua posse na Academia Maranhense de Letras, em 1955, Conceição Aboud não residia mais em São Luís e já era um nome conhecido nacionalmente, graças à publicação do romance Ciranda da vida, em capítulos, na revista O Cruzeiro, na época a revista de maior circulação nacional, lida obrigatoriamente em todos os lares. Além desse romance, havia publicado Grades e azulejos, Rio de Janeiro, Pongetti, 1951. Como o nome indica, a temática desse livro é inteiramente maranhense, ou melhor, são-luisense. Outro romance de Conceição Aboud, ganhador do Prêmio Graciliano Ramos, da União Brasileira de Escritores, inteiramente vivido em sua terra natal, abordando os anos da 2ª Guerra Mundial, é Teias do tempo, São Luís, Sioge, 1993. Estas duas obras mostram que, embora residindo no Rio de Janeiro, a escritora continuava com as suas raízes fortemente fincadas no Maranhão.Ambos são um documento sobre a São Luís dos anos 40.. Outros romances: Os galhos do cedro, publicado em capítulos, na Revista da Semana e Rio Vivo, Rio de Janeiro, Ed. O Cruzeiro,1956. Deixou inéditos O preço (ganhador do prêmio da Prefeitura de São Luís, mas não editado por falta de recursos); Cinza e rosa e Um amor de psiquiatra.
UMA BREVE ANÁLISE DE SUA OBRA Embora os romances tenham características realistas no assunto e composição dos personagens, o linguajar os aproxima da escrita moderna. O texto romanesco de Conceição é vivo e bem elaborado. Tem a estrutura predominantemente novelesca: amarra muito bem cada capítulo, diria mais, cada cena, de modo a prender o leitor para o que há de vir deixando-o sempre interessado no texto. A linguagem é coloquial, sem ser vulgar, despretensiosa, destituída de preciosismos ou eufemismos, muito comuns nos escritores maranhenses das décadas de 40 e 50 do século passado. A vivência cosmopolita lhe concede ver São Luís com um olhar avaliativo, de fora para dentro, sem que esse olhar, no entanto, se constitua em olhar estrangeiro, dada a emoção inserida nas situações vividas no seu ambiente de infância e juventude. Confere-lhe o necessário distanciamento para não se deixar levar pelo provincianismo míope. Espanta a coragem como Conceição assume, nas décadas de 40 e 50, a defesa do homossexualismo (Teias do tempo). Surpreende também o desassombro com que trata questões como a perda da virgindade ou descreve cenas picantes de sexo, com um linguajar muito livre para a época (Grades e azulejos). Imagino como deve ter sido “tesourada” pelo provincianismo ludovicense dos anos 50, não muito distante do narrado por Aluísio Azevedo, em O mulato. Podemos até arriscar que a sua prosa tem o vigor de uma prosa masculina, sem os pudores a que as mulheres escritoras enfrentavam, obrigadas pela censura a eufemizar seus escritos. CONCEIÇÃO ABOUD COMO AGITADORA CULTURAL As ousadias de Conceição não param por aí. Revela-se também uma agitadora cultural. Nas visitas anuais que fazia a São Luís, resolve mexer com o marasmo da cidade e torna-se produtora de espetáculos teatrais de variedades. Escreve, produz e dirige, ajudada por Yedo Saldanha, com elementos da sociedade local atuando como atores, a série de espetáculos denominada Retalhos Daqui e Dali. Chegaram a três apresentações, todas no Teatro Artur Azevedo. Não conheci Conceição Aboud. A última vez que ela esteve em São Luís, em 1993, para o lançamento de seu livro Teias do tempo, infelizmente, eu não tomei conhecimento de sua presença. Depois que ingressei na AML, sempre a soube adoentada, morando fora daqui. Perdi a oportunidade de conhecer, além da escritora – essa pode se nos revelar através dos textos –, uma forte personalidade e uma grande figura humana.
DAGMAR DESTÊRRO E SILVA 21,22
Patrona da Cadeira 38 da ALL Academia Maranhense de Letras GALERIA DE LIVROS Poeta, Dagmar Desterro e Silva (1926? - 2004) nasceu em São Luís, em uma família que, por muitos anos, esteve relacionada a diversas atividades políticas. Estudou no Colégio Santa Teresa, foi professora da Educação infantil, graduou-se em Pedagogia e Direito, ocupou diversos cargos públicos, tendo chegado à vicereitoria da Universidade Federal do Maranhão. Publicou obras em formato de romances, poesias e peças de teatro. Ocupou a cadeira número 24, da Academia Maranhense de Letras, eleita em 15 de abril de 1974, tomando posse em 8 de junho de 1974. Autora de Segredos Dispersos (1957). ÊXTASE23 Amor, bem sabes tu como te quis... No afeto que minha alma te ofertou, dei-te tudo... Ilusão... Dei-te carinho... uma alma vibrante, - essa taça de vinho que sorveste feliz, o vinho delirante que tua vida embriagou. Amor, bem sabes tu como te quis. Na volúpia de querer a tua vida, Tua alma na minha alma confundida, retratei-me toda inteira nos meus versos... Meus segredos dispersos! Amor, bem sabes tu quanto te quis. No momento supremo, iluminado, que ainda agora o coração bendiz, nos encontramos, e nos amamos o meu olhar no teu continuado. Meu ser estremeceu, vibrou minha alma, num lampejo. Senti, na terra, o céu. Tive em mim a volúpia de um desejo. Tudo, agora, porém, é solidão. Já não voltas, não podes mais voltar. A minha alma lamenta em triste pranto, nunca mais te encontrar. Lamenta este meu coração não haver gozado, 21
SILVA, Renato Kerly Marques. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – UFMA 2009 22 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/dagmar_desterro.html http://jornalpequeno.com.br/edicao/2004/08/08/escritora-dagmar-desterro-morre-de-cancer-aos-78-anos/ http://www.jornaldepoesia.jor.br/dag01.html 23 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/dagmar_desterro.html
não haver te dado, carinhos que me deste e eu não aceitei, os beijos que pediste e não te dei... (Segredos Dispersos,1957)
SÃO LUÍS24 pequena sala de objetos antigos do nosso imenso e querido Brasil. São Luís dos sobradões de azulejos, do lendário Ribeirão, do cuxá com peixe frito e do gostoso camarão. São Luís da canção dolente que mexe com o coração da gente na voz doce de um Romeu. São Luís é antiga e tão cheia de ladeiras! Nestas, as casas inclinadas parecem moças cansadas, recurvadas, fatigadas, depois de um baile infernal. São Luís é tão linda! É minha terra natal! São Luís de Ana Jansen, Pai-Avô e o pobre Maia, que pela rua, cantando, deixava a gente pensando, dava trabalho à memória: qual será sua história? São Luís é saudade! Dantes havia, bem me lembro, casinhas pobres, na porta, uma luz vermelha, morta, era a trombeta silenciosa anunciando·a existência da tainha frita, gostosa. Isso foi quando eu era bem criança. Essa luz vermelha, morta, guardei sempre na lembrança. São Luís é sala antiga é o retrato da saudade; 24
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desafio da esperança transformado em realidade. Vibrante, alegre, altaneira, romântica e cultural. São Luís é terra linda. É minha terra-natal! (Parábola do Sonho Quase Vida,1973)
CORRIDA25 O avanço do tempo corre a vida, mas nesse tempo há pedras espalhadas, pedras agudas, carnes esfarrapadas, sangue jorrando de cada ferida. o tempo açoita a vida noite e dia e ele chora, tropeça, levanta e continua. Só e esperança anima a travessia; e a alma corre, descabelada e nua. E a vida não tem tempo, ao tempo, em meio, de ver o belo existente no caminho; não perder na corrida é o seu anseio; sua atenção conserva em desalinho. No embrião da vida, no tempo, avanço. Subidas e descidas - tantas conheço: e na vertigem do correr me canso. Procuro, em vão, meu horizonte do começo. (Pedra-vida,1979)
O QUE É A VERDADE26 Lancei a minha semente na terra que conquistei. Com cuidado e água crescente aquele meu chão reguei. Esperei com esperança esse dia que chegou. Fiz sorriso de criança quando a plantinha vingou. Retirei pedras pequenas, pedras feitas de maldade; com agudas pontas-penas, arestas de falsidade. Adubei com meu amor o meu pedaço de terra; pedaço pequeno, sei, grande, porém, no que encerra. Arranquei ervas daninhas, afastei gestos diversos. 25 26
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De manhã cantei modinhas. A noite, disse meus versos. Meu próprio sangue eu usei para dar à planta alento. Em muitas noite fiquei vigilante e ao relento. No meu chão está plantada. Lutou, cresceu, prometeu. Por muitos foi sufocada, mas reagiu e venceu. Minha vida é aquele chão, pedaço da humanidade. E a semente, simples grão, é minha própria verdade. (Canto ao Entardecer, 1985)
DILERCY ARAGÃO ADLER
Fundadora da Cadeira 8 da ALL Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Sociedade de Cultura Latina – Maranhão Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Maranhão Por Dinacy Corrêa27 Nasceu em São Vicente de Férrer, em 07 de julho de 1950). Graduada, em Psicologia. Professora universitária (Ceuma e UFMA – pela qual é aposentada). Mestre em Educação e Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP-Cuba) é, atualmente, professora de Graduação e PósGraduação da Faculdade Cândido Mendes do Maranhão (FACAM). Naturalmente voltada para a arte poética, ei-la que diz em uma entrevista: Em uma Antologia “A figueira” (1994), do nosso querido e grande poeta da Sociedade de Cultura Latina de Santa Catarina, Abel B. Pereira, ele solicitava aos integrantes (da antologia) que discorressem sobre a questão “porque escrevo poesia” e eu respondi [...]:“A poesia sempre se impôs à minha vida. Até a adolescência eu organizava cadernos cheios delas. Depois da Faculdade, deixei-a um “pouco de lado”. Mesmo assim ela se fazia presente. Mas, os escritos dessa época ficavam dispersos, sem lugar específico. Passados alguns anos, acho que não resisti ao seu poder de sedução e me rendi. “Crônicas & Poemas Róseos Gris” significa [...] “reconciliação” com a poesia que, aliás, sempre foi um dos grandes amores da minha vida (http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/dilercy-adler-entrevista/15.05.2009).
Agraciada com vários títulos e medalhas culturais, nacionais e internacionais, a professora/escritora é membro de entidades literárias, como: Comissione di lettura Internacionale da Edizioni Universum Trento-Itália; Academia Irajaense de letras e Artes – AILA (cadeira nº. 13), Academia de Letras Flor do ValeIpassu/São Paulo; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); Fundadora e integrante da Academia Ludovicence de Letras (ALL) entre outras. Dilercy Adler tem-se destacado no cenário literário atual, não somente por sua produção, como pelo incentivo que vem dando à cultura literária local, através de edições de antologias. Dentre as atividades desse nível, foi editora do livro Circuito de Poesia Maranhense (1996) e organizadora da exposição fotográfica sob o mesmo nome (1995). Também organizou e participou da I Coletânea poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão – Latinidade. Organizou e promoveu a edição da obra Mil Poemas para Gonçalves Dias (2012-comemorativa do centenário do poeta). Hoje, é presidente da Sociedade Cultural Latina do Maranhão (SCL/MA). Além de partícipe de muitas antologias poéticas, a maranhense tem publicados: Crônicas & Poemas Róseos Gris (1981), Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário (1997), Arte Despida (1999), Genesis – IV Livro (2000) e, recentemente, Desabafos... Flores de Plástico... Libido e Licores... Liquidificadores. Sua poesia, em geral, é de cunho lírico/amoroso, na abordagem de temas como a natureza e os sentimentos mais arrebatados, as agruras da paixão, a solidão, a saudade, o desejo, numa subjetividade e sentimentalismo exacerbados, em confidências amorosas do eu lírico, em laivos de fantasia e imaginação, no recriar de uma nova realidade. Vejamos: 27
CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
NECESSIDADE DE TI – Eu te preciso tanto/ que me dói/ a tua ausência/ eu te preciso tanto/ que te queria sempre junto/ e a possibilidade/ de não ter-te/ me entristece/ me deprime/ me enlouquece!/ eu te preciso tanto/ e no entanto sinto/ que preciso/ não precisar assim de ti/ preciso sim/ - urgentemente para/ manter-me/ intacta e livre/ desvincular-me de ti! (ADLER, 2000, p. 41). Embora a liberdade formal seja um marco característico em Dilercy Adler, na sua poesia fazem-se recorrentes certas palavras que colaboram na construção das imagens de saudade, solidão e morte, num eulírico como a suspirar, sofrer, chorar, pela ausência do amor, cuja impossibilidade traz sensações pungentes e dolorosas ao coração. Motivada pela convivência no exterior, em especial em países de língua espanhola, frases ou expressões da língua de Cervantes são frequentes nas suas composições, a partir dos títulos ou, às vezes, em poemas inteiros como em Siempre a tus pies, Solo para verte, Desvane(ando), A mi Tristán, La vida es solo un suspiro ahogado, Mulher de pedra de ChichenItza. Ei-la em: SIEMPRE A TUS PIES – “Siempre a tus pies”/ vou despir a minh’alma/ acercar-me com a calma/ de irrefreável desejo!/ “Siempre a tus pies”/ vou cobrir-te de estrelas/ aspirar teus suspiros/ um a um/ com meus beijos!/ “Siempre a tus pies”/ abraçar-me-ás inteira/ como a onda na areia/ numa dança sem igual!“Siempre a tus pies”/ derramarei sem pesar/ os meus dias/ os meus versos/ toda a minha saudade/ e o meu desejo de amar! (ADLER, 2000, p.52) Outro tema constante, na obra de Dilercy Adler, é o arrebatamento do amor carnal, da voluptuosidade, da libido, permanente na mulher apaixonada, como o demonstra o poema a seguir, em que se observa, também, a utilização de versos irregulares e livres, irregularmente dispostos no espaço poético. DESEJOS ESPÚRIOS – Estranha loucura/ nas ruas e becos/ entranhas e luas/ expostos nas vias/ esdrúxula mania/ de corpos e corpos/ que rolam/ copulam/ e calam/ angústia/ desejos/ instintos/ em buscas espúrias! (ADLER, 2000, p. 32) Informa Assis Brasil (1994)28 que, embora escrevendo poemas desde os bancos escolares – Escola Benedito Leite e Escola Estadual - Dilercy só participará, mais efetivamente, da vida literária, quando volta ao Maranhão, década de 90. Participou da Oficina Caderno de Poesia (1993/1994), Poematizando o Cotidiano, e Agenda 94. Sua estreia em livro é feita logo no começo de 1991, com Crônicas & Poemas Róseo-Gris: “Este é um livro sobre ELA/mas para ELE ler também!/ Aquí se fala/ do feminino, / O feminino em todos os seus modos/ de ser mulher!”. Continua, afirmando que, “Ao contrário do que se possa imaginar, os poemas de Dilercy não são amenos ou superficialmente sentimentais, mas trazem uma carga de vivência sensorial que ela transmuta em linguagem poética, a partir do objeto-corpo da mulher aos seus devaneios, delírios e sonhos eróticos. […]” (p. 295)
INCONTIDO PRAZER Escalas monte relva macia dia a dia! penetras a terra sal da vida e morte entre as pernas do tempo que leva ao vento vela vinho luz prazer de toda sorte!! 28
BRASIL, Assis, 1994; p. 295-299).
dádiva divina dilúvio dúvida desatino desaguando água no meu seio ... seio de sereia ... semente de mulher! elementos do universo que versam o meu corpo e te dão penoso prazer pelo esforço incontido que fazes para o ter!
PESCARIA E POESIA Nem só de poesia vive o poeta também de peixe pescado pescaria sabor de mar sal cheiro verde ou de verdade maré alta e maresia!
ISSO É TUDO...
Tu me encantas quando acalenta o meu sonho no brilho dos teus olhos - eutal qual lua desnuda que se veste na aurora do dia e se despe inteira atendendo ao apelo imperioso do poderoso sol de abril... abril que se abre feliz
e se fecha e não se diz... aí o encanto se desfaz em tons anis! lágrimas de luz seduz e diz de mim o que nem eu mesma sei só sei que tu me encantas quando acalentas o meu sonho no brilho dos teus olhos! e isso é tudo!....
A MORTE E O MORRER a morte ronda espreita enquanto o sonho descansa às vezes se sente eleita às vezes tudo a consome... a morte me leva amores me deixa dor desespero mas sei que ela é certeza o encontro com ela a encanta e para o mim é tristeza deixar a vida que amo e não ver crescer sementes de verde vermelho e vidas que amo e amarei sempre sempre! antes e depois dela nada se apagará e viverá -acreditoaqui ali acolá! para sempre eternamente no meu peito
a navegar!
EU - NAMORADA Namorada ada ando nadando nas águas revoltas do amor me afogo... me salvas ferrando afagos com fogo em brasa gosto salobro de amor vencido validade ultrapassada... mendigo o teu amor mesmo assim! soçobro nas águas turbulentas do amor não te acho... me encontras no nada que é meu tudo - eu do amor enamorada - eu eterna namorada... sem teu amor - te juro não sou nada!
CLORES HOLANDA SILVA
Fundadora da Cadeira 30 da ALL Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Clores Holanda Silva, nasceu na Cidade de Presidente Dutra, no Estado do Maranhão, no dia 11 de março de 1960. É filha de Geraldo Holanda Cavalcante (in memoriam) e Maria Nazaré Gomes Cavalcante, conhecida por Zazá Holanda (in memoriam). Seu estado civil é Divorciada. De uma irmandade de nove irmãos, sendo a antepenúltima. O irmão caçula faleceu em 1996. Do fruto de seu casamento com Ricardo Luís Costa Mendes nasceu Marcella Holanda Mendes. Cursou o Jardim de Infância e o primário na Cidade de Presidente Dutra. Em 1971 passou a residir com seus pais e irmãos na cidade maranhense de Santa Inês. Nela, submeteu-se ao antigo Exame de Admissão para ingressar no Ginásio, obtendo aprovação, permanecendo lá durante dois anos. Em 1972 retornou com sua família à terra natal, Presidente Dutra. Em 1973, a convite de sua irmã e madrinha, Nazi Holanda de Alencar foi morar em Aracajú, Capital do Estado de Sergipe. Em 1975, com a mudança de seus pais para São Luís, resolve deixar Aracaju e fixa residência na Capital do Maranhão, submetendo-se a seleção e sendo aprovada para estudar no Colégio Santa Tereza, tendo concluído o Ginásio e iniciado o 1º. Ano do antigo Científico. Em 1976 pediu transferência do Colégio Santa Tereza para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem – ITA, de São Luís, cursando o 2º. Ano de Estudo Profissionalizante em Técnicas de Laboratório, concluindo o 2º. Grau – Formação Geral em 1978. Graduou-se em História Licenciatura em 1996, pela Universidade Federal do Maranhão. Neste ano foi selecionada pela UFMA – Projeto “Prata da Casa” para cursar o Mestrado em História e Cultura Social, pela UNESP – Universidade Estadual de São Paulo, em Franca – SP. Por motivos familiares, cursou apenas 01 (um) semestre, retornando a São Luís. No ano de 2003 iniciou a pós-graduação no Curso de Especialização em Gestão de Arquivo, pelo Departamento de Biblioteconomia, da UFMA, concluindo em 2004. Iniciou sua vida profissional na Universidade Federal do Maranhão, no dia 30 de novembro de 1979, na função de Arquivista, no Arquivo do Centro de Ciências Sociais. Aposentou-se em 30 de janeiro de 2014, na função de Administradora do Palácio Cristo Rei e Coordenadora do Memorial Cristo Rei, museu da UFMA, perfazendo um total de 34 anos trabalhados na Instituição. Na sua gestão o Memorial Cristo Rei se consolidou como um espaço de memória e integração da sociedade, obtendo o reconhecimento, através das publicações do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM: Revista da Semana Nacional de Museus, Revista Museália e Guia dos Museus Brasileiros; e na Revista da Biblioteca Nacional. Desde o ano de 2010, Coordena o Projeto de Pesquisa “Os Reitores da UFMA”, de sua iniciativa, cujos resultados das pesquisas foi a publicação livretos das gestões dos reitores: Pedro Neiva de Santana, Cônego José de Ribamar Carvalho, Josué Montello, Manoel Soares Estrela e José Maria Ramos Martins; assim como os livretos sobre “O uso das vestes talares na UFMA”, a Bandeira da UFMA e “Histórico do Palácio Cristo Rei”. Fundou a Biblioteca “Mísula do Saber”, do Memorial Cristo Rei, inaugurada em 13 de maio de 2013, cujo acervo foi adquirido por doação, através da parceria firmada com o Instituto Brasileiro de Museus, Instituto do Patrimônio Artístico Nacional – IPHAN e o Museu Imperial, do Rio de Janeiro. O acervo contempla publicações nas áreas de Museologia, História da UFMA, Artes e Cidade de São Luís.
Atualmente, permanece como Administradora do Palácio Cristo Rei com a missão de coordenar as ações culturais do Memorial Cristo Rei. Toda a sua carreira profissional esteve e está vinculada a Universidade Federal do Maranhão, objeto de suas pesquisas. Eleita, no ano de 2012, Sócia-Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupando a Cadeira nº. 18, Patroneada por João Francisco Lisboa; ocupou cargo de Diretoria, 1ª. Secretária. É sócia da Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão e Sócia Fundadora da Academia Ludovicense de Letras, ocupante da Cadeira nº. 30, Patroneada por Odylo Costa, filho, eleita a 2ª. Tesoreira. Honrarias recebidas: Comenda “Palmas Universitárias”, conferida em reconhecimento àqueles que se distinguiram no exercício de suas atividades profissionais, conferida pelo Reitor da UFMA, Dr. Natalino Salgado Filho, no Centro de Convenções Governador Pedro Neiva de Santana, no dia 6 de outubro de 2009. Por unanimidade foi escolhida para fazer o discurso em nome dos Técnicos-Administrativos; Comenda Coral Madrigal Santa Cecília, em 2010, concedida pela Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão, no Teatro Artur Azevedo; Comenda Guará da Amizade, concedida pela Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão, em 14 de março de 2011; Comenda “Mulheres de Expressão”, recebida da Jornalista Rosenira Alves, do Jornal Pequeno, em 9 de abril de 2011 em homenagem ao Dia Internacional da Mulher por o seu nome e o seu perfil se enquadrarem e honrarem a classe, razão pela qual foi indicada para receber a homenagem, que no ano chegou a sua 11ª. edição. A solenidade ocorreu no Brisamar Hotel, às 21h30, em São Luís – Maranhão. Indicada pelo Vereador Ivaldo Rodrigues para receber a outorga Medalha “Mãe Andresa”, a mais alta honraria do Poder Público Municipal às personalidades em prol da Cultura de nossa Cidade, em 20 de setembro de 2012; Medalha e bênção de São Francisco, em reconhecimento por sua colaboração nos últimos anos, que contribuiu para o sucesso de estudo, partilha e devoção à missão Capuchinha de evangelizar, concedida pelo Museu da Igreja do Carmo e da Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo, por ocasião dos 400 anos da presença dos Missionários Capuchinhos no Brasil – 1612-2012, em São Luís – Maranhão; Comenda Gonçalves Dias, considerando a participação e o empenho na consecução do Projeto Gonçalves Dias, realizado no período de 10 a 13 de agosto de 2013 pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em São Luís – Maranhão; “Tupi de Caxias”, por ocasião das comemorações alusivas aos 190 anos de Antonio Gonçalves Dias, concedido pela Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (ASLEAMA), o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e a Academia Caxiense de Letras (ACL) – Sabiás da Cultura Gonçalvina, na Cidade de Caixas – Maranhão, no dia 11 de agosto de 2013; Comenda Memorial Cristo Rei 20 Anos, em reconhecimento de seu trabalho em prol da memória da Instituição, concedido pela Comissão Organizadora da Comemoração dos 20 anos do Memorial Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão. Em março de 2011 foi homenageada pelo Jornal “O Estado do Maranhão”, no Caderno DOM, Coluna Perfil, através de uma reportagem do Jornalista Jack Jeam que a entrevistou. A notícia foi veiculada no dia 27 de março de 2011 Trabalhos apresentados e publicados: “Nascendo das Cinzas”: O papel do Memorial Cristo Rei na preservação da memória da UFMA nos 15 anos de existência”, durante o VIII Encontro Humanístico, do Centro de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Maranhão, realizado no período de 17 a 21 de novembro de 2008; Memorial Cristo Rei: um instrumento de preservação, registro, difusão e reflexão sobre a história da Universidade Federal do Maranhão, na primeira fase do 1º. Ciclo de Estudos/Debates dos 400 anos de São Luís, intitulado: Das primeiras tentativas de ocupação até a consolidação da conquista da terra, realizado no Palácio Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão, no dia 28 de julho de 2011, na modalidade comunicação oral; Palácio Cristo Rei “guardião das memórias da UFMA": Patrimônio histórico arquitetônico do Estado do Maranhão, por ocasião do XV Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD N/NE, na modalidade oral, realizado pelo curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri, ocorrido nos dias 15 a 20 de janeiro de 2012, em Juazeiro do Norte – Ceará; Palácio Cristo Rei “Guardião das Memórias da UFMA”: Patrimônio Histórico Arquitetônico do Estado do Maranhão, no V Encontro Maranhense de História da Educação, que teve como tema Patrimônio cultural em rituais, gestos e objetos escolares na História da Educação, promovido pelo Núcleo de Estudos e Documentação em História da Educação e Práticas Leitoras – NEDHEL, realizado no período de 15 a 18 de maio de 2012, em São Luís – MA; Memorial Cristo Rei: Do resgate a integração, por ocasião do XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina e do I Congresso Maranhense de História da Medicina, na qualidade de Expositora, realizado no Hotel Praiamar, no período de 7 a 10 de novembro de 2012, em São Luís – Maranhão.
Participação em eventos nacionais: 4º. Fórum Nacional de Museus Brasília 2010, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus, nos dias 12 a 17 de julho de 2010, em Brasília – DF; Semana Nacional de Museus durante 7 anos seguidos (2007 a 2014); Primavera de Museus durante 6 anos seguidos (2007 a 2013). Participação em eventos internacionais: VI Encontro de Museus de Países e Comunidades de Língua Portuguesa, realizado em Lisboa – Portugal, nos dias 26 e 27 de setembro de 2011, promovido pelo Conselho Internacional de Museus, com o trabalho intitulado: A contribuição do Memorial Cristo Rei na formação do profissional do museu e na preservação, resgate e divulgação da história da Universidade Federal do Maranhão, em forma de artigo e apresentação de pôster, tendo sido publicado nas Actas 2012, do Museu do Oriente, de Lisboa – Portugal; Iniciação na vida literária: Ciclo de Palestras sobre História e Universo Luso-Brasileiro, ministrado pelo doutor Milton Torres, no período de 4 a 7 e 14 de maio de 2004, na Academia Maranhense de Letras. Participou da comissão de trabalho do Projeto Gonçalves. Fala na Solenidade de Abertura do Projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias”, em 10 de agosto de 2013, na condição de Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em exercício, proferida no Auditório dos Colegiados Superiores, do Palácio Cristo Rei com a presença de poetas de São Luís, Argentina, Peru, Assis – SP, Belo Horizonte – MG, Cabo Frio – RJ, Caxias – MA; Esperantinópolis – MA, Fortaleza – CE, Goiânia – GO, Imperatriz – MA, Inhapim – MG, ItapecuruMirim – MA, Itaituba – PA, Lago da Pedra – MA, Rio de Janeiro – RJ, Salvador – BA, Sambaíba – MA, São José dos Campos – SP, São Paulo – SP, Taguatinga – DF, e Vinhedo – SP. Nos dias 11 e 12 também participou do evento nas cidades de Caxias e Guimarães, do Estado do Maranhão. Nesta solenidade a Academia Ludovicense de Letras foi fundada. Liceo Poético de Benidorm São Luís do Maranhão – Brasil – Leitura Poética Global “Pela materialização da justiça social”, participou no dia 28 de setembro de 2013 (Galeria Trapiche), dia 13 de novembro de 2013 (Casa de Espanha) e em 2014 (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), declamando as poesias de sua autoria: Injustiça Social (poesia elogiada pelo Confrade Wilson Pires Ferro onde disse que a autora já era uma poeta), Poema Branco e Ilha do Terror, e de outros autores. Vale ressaltar que neste evento é que teve a coragem de tornar públicas as suas poesias; embora, desde a sua adolescência gostasse de escrever poemas, acrósticos e crônicas. Pretende lançar um livro com esses escritos. ANDANÇAS NUMA TARDE CHUVOSA DE MARÇO Andando pelas ruas do Centro Comercial de São Luís segui sem companhia. Trilhei caminhos no compasso dos anos vividos numa caminhada de nostalgia. Nessa passagem vivi momentos de desilusão. Caminhando, olhando e parando observei tudo ao meu redor. Encontrei calçadas quebradas onde o esgoto escorreria provocando um forte odor. Cruzei asfalto esburacado em tarde chuvosa na Ilha do Amor. A cidade desfigurada e maltratada pede socorro por não suportar tanta dor. Lixo acumulado em frente às lojas e prédios sem preservação por descaso do seu gestor. Ocupação irregular por vendedores informais por ausência de fiscalização. Ruas maltratadas, casas desgastadas, e muitas lojas de portas trancadas. Muitas promoções em cada estabelecimento comercial sendo poucos os que compravam. Lojas esvaziando na tentativa de vender suas últimas peças, amareladas com cheiro de mofo. O povo sumiu. Cadê o freguês? Quem vai comprar? E quem pode comprar? Em cada passo dado, o impacto dos meus pés nos paralelepípedos incompletos da Rua Grande. Atravesso ruas e sigo meu caminhar numa tarde chuvosa de março. Comigo guardo lembranças do meu olhar por esta cidade quando aqui cheguei em 1975. O centro comercial de São Luís foi palco de desfiles de moda, encontros e desencontros. Hoje busco passear em shopping para alimentar a minha vaidade, aguardando por um momento de calma aparente.
BANDEIRA BRANCA A bandeira branca está pichada de tanto lamento de um povo a se calar. Fica cada vez mais difícil hastear nas ruas quando vou caminhar. Em cada calçada, rua ou avenida a falta de tranquilidade vive a reinar. Peço a Deus libertar o ser humano perturbado das algemas da impunidade. E que o Governo garanta a paz, o amor e a compreensão entre irmãos. Vamos buscar a serenidade almejada na consciência de cada um. Dando atenção ao irmão carente de comida, roupa, saúde, moradia, amor e compreensão. Nesta Capital chamada São Luís, do Estado do Maranhão. A bandeira que eu quero levantar Nas terras do meu Maranhão deve ser hasteada sem nenhuma mancha. Significando paz e tranquilidade pública, entre irmãos. Cada um enfrentando os problemas com dignidade e muita ação. Limpando as pichações de cada coração. Quem sabe um dia os libertará dessa coisa chamada corrupção. Que há anos vem manchando a honra dos cidadãos. Enquanto outros trabalham com dignidade em prol de nossa nação.
Outubro de feiras numa Sexta-Feira de alloween Feira de livro, feira de alimentos, feira de artesanato. O povo se encontrando livremente. Cada qual querendo comprar. Quem sabe uma abóbora do Halloween. Para afastar os maus espíritos duma sexta-feira que não é 13. O saber dos escritos nutre a mente, vestindo a alma dum povo sofrido. Uns plantam; outros colhem; e, outros vendem. Até chegar o tempo da colheita dos frutos do conhecimento. Sinto o sabor dos saberes da arte de um povo. Há Sexta-feira inusitada! Sentindo emoções que vinham de gestos ardentes. Estava envolvida em pedaços de memória da vida familiar. Tentando remendar aquilo que sobrou do tempo que passou. Nesta sexta-feira de bruxas com suas vassouras voadoras. Peço a proteção de Nosso Senhor.
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO29
Fundadora da Cadeira 31 da ALL Academia Maranhense de Letras Jurídicas Academia Caxiense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu na cidade de São Luís-MA no dia 23 de maio de 1966. Promotora de Justiça, jurista, professora universitária, mestra e doutora em Ciências Penais, historiadora, conferencista e palestrante nacional, escritora e poeta, é filha única de Wilson Pires Ferro, já falecido, professor da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, bancário, contabilista, historiador, contista e poeta, e Eunice Graça Marcilia Almeida Ferro, também contabilista, que sempre lhe devotaram amor incondicional e a estimularam ao aprofundamento nos estudos. Seus avós paternos eram João Meireles Ferro, ferroviário da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, e Izabel Pires Chaves Ferro, ambos nascidos em Caxias, onde viveram boa parte de suas vidas. Seus avós maternos eram Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, célebre radialista e locutor na capital maranhense, por duas vezes consecutivas eleito “Rei do Rádio” (1953-1954), e Ducilia Ferreira de Almeida. Seus dedicados padrinhos eram o avô paraense Marcos Vinicius e a avó caxiense Izabel, conhecida como “Bela”. O prenome composto foi uma sugestão da mãe, Dona Eunice, em homenagem às bisavós Ana de Abreu Ferreira e Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, esta nascida no Ceará, professora normalista, jornalista, pianista, violonista e declamadora de poesias, esposa de Raimundo Tomás de Almeida, proprietário da Casa Ribamar, fundada em 1926, em São Luís, na época considerada como o maior empório musical do norte do país. Introduzida pelos pais no fascinante mundo dos livros, cedo se entregou à leitura dos clássicos e dos romances de aventuras, especialmente os das literaturas inglesa e francesa, entre outros. No Colégio Santa Teresa, na capital maranhense, recebeu os mesmos estímulos da família. Aluna exemplar, destacou-se em todas as matérias, porém sempre preferiu os domínios de História, Português e Literatura, Geografia, Educação Artística, Psicologia e Biologia. Como lhe aprazia e seu sonho inicial era a carreira diplomática, que não chegou a ser perseguida posteriormente, dedicou-se, paralelamente, ao estudo de línguas estrangeiras, primeiro a inglesa, depois a francesa e, já na idade adulta, a alemã, a espanhola e a italiana. Na escola, praticou futebol, voleibol e tênis de mesa, esporte pelo qual se tornaria, mais tarde, campeã universitária maranhense e campeã maranhense. Sua vocação para o Ministério Público parece haver se revelado precocemente, ainda nas trincheiras da Literatura, quando foi escolhida para ser a voz da acusação em Tribunal do Júri escolar, no qual foi julgada – e condenada por adultério, registre-se – a personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ana Luiza estudou o primário e a maior parte do secundário no Colégio Santa Teresa, em São Luís, de 1972 a 1982, e concluiu o secundário no Colégio Itamarati, Instituto Guanabara, no Rio de Janeiro-RJ, em 1983, ano em que a família residiu na capital fluminense, onde seu pai Wilson Ferro cursou pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento na Escola Superior de Guerra – ESG. De volta a São Luís, ela ingressou no Curso de Letras (Licenciatura) da UFMA em 1984, formando-se em 1988, com habilitação em Língua Inglesa. No mesmo ano, iniciou Direito, pela mesma instituição de ensino superior, e fez o Curso La Enseñanza de La Traducción, promovido pela San Diego State University, da Califórnia, Estados Unidos, realizado no âmbito da UFMA. Na condição de bolsista do Rotary, realizou estudos de pré-mestrado, na área de Inglês, com foco em Literatura, sobretudo a inglesa, na University of Oregon, em Eugene, Estado
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http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=54
do Oregon, Estados Unidos, no ano de 1991, quando trancou a matrícula na UFMA, em relação ao Curso de Direito, pelo qual viria a se graduar em 1993. Na University of Oregon, cursou as seguintes disciplinas: English Drama (Jacobean Drama), Edmund Spenser, Advanced Shakespeare, The Renaissance Hero, Seminar: Post-Colonial Strategies in the Novel, Film and Folklore, Modern Drama, Seminar: Feminist Constructions of Voice — A Craft Course, English Drama (Medieval and Tudor Drama), Top: 18th Century Literature (Sex & Gender in the Restoration) e Introduction to Graduate Studies. Estudou inglês no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos – ICBEU (1978-1985), francês na Aliança Cultural Franco-Brasileira, conhecida como Aliança Francesa (1984-1995), alemão (1986-1988) e espanhol (1988-1989) no Núcleo de Cultura Linguística do Departamento de Letras da UFMA, sempre em São Luís, e italiano (2000-2002) e alemão (2002-2003) na Escola Luziana Lanna Idiomas, em Belo Horizonte-MG, onde morou, juntamente com os pais, de 2000 a 2003. Em consequência, é portadora do First Certificate in English e do Certificate of Proficiency in English, concedidos pela University of Cambridge, Inglaterra, e do Certificat pratique de langue française (1er degré), do Diplôme d’études françaises (2e degré) edo Diplôme supérieur d’études françaises (3e degré), pela Université de Nancy II, França. Foi aprovada na Seleção de Inglês para professores pró-labore, em setembro de 1988, pelo Departamento de Letras da UFMA, e em Concurso Público para ingresso na carreira do Magistério Superior, na Classe de Professor Auxiliar, na área de Língua Inglesa, Departamento de Letras da UFMA, realizado em 1994, obtendo o segundo lugar, assim como no Processo Seletivo Simplificado para Contratação de Professor Substituto, área de Direito Público, realizado pelo Departamento de Direito, do Centro de Ciências Sociais da UFMA, em 1999, obtendo o primeiro lugar. Ana Luiza foi bolsista do Programa Interinstitucional de Iniciação Científica CNPq/UFMA, desenvolvendo o Projeto de Pesquisa “Programa Permanente de Análise e Indexação de Jurisprudência: Questão Agrária 1981/1989”, sob a orientação do Professor João Batista Ericeira, do Departamento de Direito da UFMA, no período de abril a dezembro de 1990, em São Luís. No magistério, sua experiência se divide, em especial, entre o ensino da língua inglesa e o das Ciências Criminais. Foi Professora de Inglês no ICBEU (1982) e no Yes – Instituto de Idiomas (1989-1990). Já na universidade, foi professora dos cursos de extensão de Língua Inglesa I, II, III e IV, promovidos pelo Núcleo de Cultura Linguística do Departamento de Letras da UFMA, nos anos de 1992 e 1993. Foi Professora de Criminologia da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, ministrando em cursos de pós-graduação em Ciências Penais, de 2001 a 2003, em Belo Horizonte. Ministrou a disciplina Criminologia no Curso de Especialização em Ciências Criminais do então Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, hoje Universidade Ceuma, no ano de 2008. Pela Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, ministrou os cursos sobre “Crime organizado” e “Criminologia: o criminoso de colarinho branco sob a perspectiva criminológica”, ambos em 2011, como etapas de vitaliciamento do Curso de Ingresso na Carreira do Ministério Público do Maranhão, além da disciplina Criminologia no VIII Módulo do Curso de Pós-Graduação em Ciências Criminais em 2012. Igualmente ministrou aula sobre o tema “Tutela repressiva às organizações criminosas” no Curso de Especialização em Ciências Criminais, da Faculdade de Direito de Vitória, no Espírito Santo, em 2013. Compôs várias bancas examinadoras. Desempenhou a função de Membro da Equipe de Correção de Redação na Comissão Permanente de Vestibular – COPEVE, quando da realização do Concurso Vestibular de 1993, da UFMA. Foi e é orientadora de trabalhos acadêmicos. Ainda em 1993, mesmo ano da conclusão do Curso de Direito, quando exercia o cargo de Técnico Judiciário, Área Meio, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Seção Judiciária do Maranhão, foi aprovada no Concurso Público para Ingresso na Carreira Inicial do Ministério Público do Maranhão, tendo tomado posse em 3 de janeiro de 1994, na administração da Procuradora-Geral de Justiça da época, Dra. Elimar Figueiredo de Almeida Silva. Exerceu o cargo de Promotora de Justiça nas Comarcas de Icatu, Olho D’Água das Cunhas e São Mateus, como substituta; e nas Comarcas de Carutapera, São Mateus, Viana e Caxias, como titular, mediante, nos dois últimos casos, promoção por merecimento. Respondeu, em caráter cumulativo, pelas atribuições da Promotoria de Justiça da Comarca de Vitória do Mearim. Foi Promotora
Eleitoral de diversas zonas. Respondeu, cumulativamente, pela 2ª, 3ª e 5ª (Juizado) Promotorias de Justiça da Comarca de Caxias. Foi Diretora das Promotorias de Justiça de Caxias em várias oportunidades. De 2000 a 2003, Ana Luiza esteve afastada das funções ministeriais para cursar mestrado e doutorado em Ciências Penais na tradicional Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG em Belo Horizonte. Concluiu o mestrado com a defesa da dissertação intitulada “O crime de falso testemunho ou falsa perícia no Direito Penal brasileiro e comparado: o sujeito ativo e outras questões”, em 25 de abril de 2002, sob orientação do Prof. Dr. Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva, obtendo conceito A. Também conquistou o título de Doutora com a defesa da tese intitulada: “O crime organizado e as organizações criminosas: conceito, características, aspectos criminológicos e sugestões político-criminais”, em 8 de março de 2006, coincidentemente o Dia Internacional da Mulher, sob orientação do mesmo professor, obtendo novamente média equivalente ao conceito A. Regressando a São Luís, exerceu a função de Coordenadora de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Direito da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão – ESMP, de 2006 a 2009, e o cargo em comissão de Assessor de Procurador-Geral de Justiça de 30 de novembro de 2009 a 16 de junho de 2010. Hodiernamente, é Promotora de Justiça titular da 14ª (antiga 24ª) Promotoria de Justiça Criminal da Comarca de São Luís, de entrância final, para onde foi promovida em 2009, além de Professora de Direito da Universidade Ceuma e Professora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, na capital maranhense. Integra a Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do Ministério Público do Estado do Maranhão. É membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ, da qual foi Presidente no biênio 2011-2013, a primeira mulher a exercer tal posto. Ocupa a Cadeira nº 5, patroneada pelo Ministro Augusto Olympio Viveiros de Castro, desde 3 de dezembro de 2004, data de sua posse no auditório da Academia Maranhense de Letras, em São Luís-MA, ocasião em que foi saudada pela Acadêmica Elimar Figueiredo de Almeida Silva. É membro efetivo da Academia Caxiense de Letras – ACL, ocupando a Cadeira nº 9, patroneada pela Professora Filomena Machado Teixeira, na qual tomou posse em 26 de abril de 2008, em solenidade em Caxias-MA, tendo sido saudada pelo Desembargador Jamil de Miranda Gedeon Neto. É sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, ocupando a Cadeira nº 36, cujo patrono é Astolfo Henrique de Barros Serra, desde 26 de agosto de 2011, data de sua posse em São Luís, oportunidade na qual foi saudada pelo colega Promotor de Justiça Washington Luiz Maciel Cantanhêde. Finalmente, é um dos 25 fundadores da Academia Ludovicense de Letras – ALL, entidade nascida em 10 de agosto de 2013, onde ocupa, como membro efetivo, a Cadeira nº 31, patroneada pelo renomado historiador Mário Martins Meireles, aliás, seu parente, por parte de pai. É autora do projeto do brasão da ALL, assim como o seu patrono Mário Meireles já idealizara o brasão da Academia Maranhense de Letras no passado. É Membro da Comissão Editorial da Revista Eletrônica de Ciências Jurídicas, da AMPEM, desde o segundo semestre de 2004, em São Luís. No âmbito nacional, é Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica – SBPJ, com agraciamento em 21 de agosto de 2008, em cerimônia realizada em Porto Alegre-RS. Proferiu numerosas palestras e conferências em eventos realizados em diversas cidades brasileiras, tais como as intituladas “Instrumentos legais de defesa da mulher contra a violência”, no II Encontro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, em São Luís, no ano de 1998, e no I Seminário sobre os Direitos da Mulher, na cidade de Caxias-MA, em 1999; “O Ministério Público e os Municípios: a questão da improbidade administrativa”, no Encontro de Prefeitos do Maranhão, na capital maranhense, em 1998; “O Tribunal de Nuremberg”, na Fundação Escola Superior do Ministério Público/MG, em Belo Horizonte, no ano de 2003; “O idoso na sociedade”, no I Fórum Municipal do Idoso, na cidade de Caxias, em 2006; “Para entender o Ministério Público”, no I Seminário para Jornalistas, em São Luís, no ano de 2007; “Crime de colarinho branco: perspectiva criminológica”, em cerimônia da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, na capital gaúcha, em 2008, e no 1º Seminário de Criminologia e Segurança Pública, no Rio de Janeiro, em 2009; “O Ministério Público no combate às organizações criminosas”, em painel no I Congresso Estadual do Ministério Público do Maranhão, em São Luís, no ano de 2008; “Crime organizado e organizações criminosas”, no 7º Congresso Brasileiro de Direito Internacional, na Universidade de São Paulo – USP, e na XVI Jornada Jurídica do Curso de Direito – UNICEUMA, em 2009; “Organizações criminosas”, no Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, na cidade
de Florianópolis, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais: apontamentos”, no I Seminário Nacional de Direito Penal e Processual Penal na Região Serrana, na Universidade Estácio de Sá – Unidade Nova Friburgo, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas”, no Rotary Club de São Luís, em 2010, na I Jornada de Direito Penal, da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região – ESMAF, em Manaus-AM, em 2012, na I Semana Acadêmica do Curso de Direito, na UFMA, em São Luís, no ano de 2013, e na I Conferência Estadual de Políticas Penitenciárias, promovida pela Escola de Gestão Penitenciária do Maranhão, da Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária, em São Luís, em 2014; “Delinquência organizada e organizações criminosas mundiais”, no seminário O Ministério Público e a repressão ao crime organizado, em Goiânia-GO, em 2011; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais”, no Seminário: Combate ao crime organizado, em Boa Vista-RR, em 2011; “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, no Seminário 6: São Luís foi fundada por quem? Conclusões possíveis, do Ciclo de Estudos/Debates A cidade do Maranhão – uma história de 400 anos 2011/2012, promovido pelo IHGM, em São Luís, em 2012; “O crime do colarinho branco sob a ótica criminológica”, na Jornada Jurídica: Hermenêutica constitucional e jurisdição penal, em Imperatriz-MA, no ano de 2012, entre outras. Foi oradora das turmas de licenciandos em Educação Artística, Estudos Sociais, Filosofia, História e Letras em 1988 e da turma de bacharelandos do Curso de Direito em 1993, por ocasião das respectivas colações de grau da UFMA, assim como dos Promotores de Justiça do Maranhão, na cerimônia de entrega das vestes talares, em 1994. Obteve o primeiro lugar no Concurso Epistolar Internacional para jovens, promovido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Delegacia Regional do Maranhão, realizado em 1982. Foi premiada no Concurso Jovem Embaixador 1983, promovido por O Globo, pelo Instituto Guanabara e pelo Colégio Princesa Isabel, no Rio de Janeiro-RJ. Também recebeu Prêmio de Publicação no V Concurso Raimundo Correa de Poesia, tendo sido selecionada para participar do livro Poetas brasileiros de hoje 1986.Seus poemas foram igualmente incluídos na obra Poetas brasileiros de hoje 1987 e na prestigiada Revista Poesia Sempre: Polônia, da Fundação Biblioteca Nacional (2008). Alcançou a primeira colocação com a poesia “Quando” no I Concurso Literário de Contos e Poesias em 2012 e o segundo lugar com a poesia “A dama quatrocentona” no II Concurso Literário nos Gêneros de Poesias e/ou Crônicas “São Luís, minha cidade”, no ano seguinte, ambos promovidos pela Associação dos Amigos da Universidade Federal do Maranhão – AAUFMA. Recebeu a Medalha “Souzândrade” do Mérito Universitário, concedida pela Universidade Federal do Maranhão, por haver obtido o maior coeficiente de rendimento escolar da universidade, durante o curso de graduação, até o primeiro semestre letivo de 1987. Foi agraciada com o “Prêmio AMPEM”, em três edições (1997-1999), e, em sequência, com o “Prêmio Márcia Sandes”, em suas edições 2001, 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008, concedidos pela Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão – AMPEM aos autores dos trabalhos jurídicos mais destacados. Recebeu, ainda, a Comenda Arcelina Mochel, outorgada pela AMPEM, pela passagem de quinze anos de serviços prestados ao Ministério Público, em 2009, e a Comenda Gonçalves Dias, conferida pelo IHGM, pela participação e empenho na materialização do Projeto Gonçalves Dias, em 2013. É autora de vários livros e possui numerosos artigos jurídicos e históricos e peças processuais publicadas em livros e revistas especializadas, entre as quais a Revista dos Tribunais, a De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera e a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (edição eletrônica), além de artigos e crônicas veiculadas nos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial e poesias, incluídas em publicações variadas. Sua obra Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009), baseada na tese de Doutorado na UFMG, levou-a a ser entrevistada pelo apresentador Jô Soares em seu Programa do Jô, da Rede Globo, exibido em 26 de março de 2010, e pela revista História em curso (São Paulo, Minuano, v. 2, n. 8, p. 10-17, 2012), entre outras entrevistas concedidas em publicações nacionais desde 2009. É um dos seis autores que colaboraram na obra França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizada por Antonio Noberto (São Luís, 2012). No campo jurídico, teve dois artigos – “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas” e “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas” – incluídos no livro Direito
penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa, no ano de 2011, uma republicação, em edição especial, dos melhores artigos doutrinários já publicados pela prestigiada Editora Revista dos Tribunais ao longo de 100 anos. Seus autores prediletos são o poeta e dramaturgo William Shakespeare e a romancista Jane Austen, cujas principais obras já leu no original, entre as quais Pride and prejudice, tema de sua monografia de conclusão do Curso de Letras na UFMA, além do poeta Gonçalves Dias, sua referência maior na poesia brasileira, e do romancista cearense José de Alencar, com quem teria laços distantes de parentesco, segundo informações de seu avô materno Marcos Vinicius, já falecido, filho da professora, jornalista e pianista Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, nascida no Ceará. Advanced Shakespeare foi, não por acaso, uma das disciplinas cursadas na University of Oregon, nos Estados Unidos. Participa das atividades promovidas pelo Liceo Poético de Benidorm, Espanha, em São Luís. Esta é a sua bibliografia: a) livros jurídicos e afins: O Tribunal de Nuremberg: dos precedentes à confirmação de seus princípios. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 (baseado na monografia de conclusão do Curso de Direito); Escusas absolutórias no Direito Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2003; Robert Merton e o funcionalismo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004; O crime de falso testemunho ou falsa perícia: atualizado conforme a Lei n. 10.268, de 28 de agosto de 2001. Belo Horizonte: Del Rey, 2004 (baseado na dissertação de Mestrado); Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely. Belo Horizonte: Decálogo, 2008; Crime organizado e organizações criminosas mundiais. Curitiba: Juruá, 2009 (baseado na tese de Doutorado); e Criminalidade organizada: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013. Curitiba: Juruá, 2014 (em coautoria com Flávio Cardoso Pereira e Gustavo dos Reis Gazzola); b) livros de poesias: Versos e anversos. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 (em coautoria com o pai Wilson Pires Ferro e o tio José Ribamar Pires Ferro); Quando: poesias. São Paulo: Scortecci, 2008; A odisséia ministerial timbira: poema. São Luís: AMPEM, 2008; e O náufrago e a linha do horizonte: poesias. São Paulo: Scortecci, 2012; c) artigos (em livros e revistas especializadas): “A mão da sociedade”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (1998); “Algumas considerações sobre o testemunho infantil”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2000) e na APMP Revista (2001); “Quem deu a ti, Carrasco, esse poder sobre mim?”, na Revista AMPEM (2001) e em O Sino do Samuel, Jornal da Faculdade de Direito da UFMG (2002); “O problema da Justiça em Kelsen”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2001 e na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2002); “O sujeito ativo do crime de falso testemunho: a questão do não-compromissado e do não-advertido”, na Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2002); “O contador como sujeito ativo do crime de falsa perícia”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2002/2003; “Algumas considerações sobre o imputado, o réu e a autodefesa no Direito penal brasileiro e comparado”, em Justiça e Direito – Revista da Pós-Graduação em Ciências Jurídicas do UNICEUMA (2004); “Os novos conquistadores: as organizações criminosas”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2006 e em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2007); “O crime organizado e as organizações criminosas: uma proposta legislativa”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2006), no site Direito Penal Virtual (2006) e na Revista Âmbito Jurídico, Revista Jurídica Eletrônica (2007); “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas”, na Revista dos Tribunais (2007) e no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa (2011); “Algumas considerações sobre os fenômenos do terrorismo e do crime organizado”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2007, em formato CD-ROM, na Seção “Doutrina”, como parte integrante da Revista Juris Plenum (2008), e na Revista do Ministério Público de Alagoas (2007); “O crime organizado e o crime de colarinho branco”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2007) e em formato CD-ROM, na Seção “Doutrina”, como parte integrante da Revista Juris Plenum (2008); “O crime à luz da teoria da anomia”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2008; “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas”, na Revista dos Tribunais (2008) e no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa (2011); “Sutherland, a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2008); “Sutherland – a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2008); “Da (in)constitucionalidade do art. 23, §§ 2º e 3º, da Lei Complementar nº 013/1991 e da Resolução nº 02/2009-
CPMP-MA”, no CD Prêmio Márcia Sandes 2010; “A teoria procedimentalista de interpretação constitucional de J. H. Ely”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2010) e na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2010); “John Hart Ely e sua teoria procedimentalista de interpretação constitucional”, no livro Direitos fundamentais, democracia e cidadania: estudos em homenagem a Elimar Figueiredo de Almeida Silva (2010); “Uma proposta legislativa no campo da criminalidade organizada”, no CD Prêmio Márcia Sandes 2011; “Uma proposta legislativa para o enfrentamento da criminalidade organizada”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2012); “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “A Era dos Descobrimentos e a partição do Mar-Oceano”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “Crime organizado: caracterização, exemplos de organizações criminosas e proposta de tipificação legal”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão Juris Itinera (2012); “As primeiras tentativas portuguesas de povoamento e colonização do Brasil e do Maranhão e a origem do nome ‘Maranhão’”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “A presença dos franceses no Novo Mundo, no Brasil e no Maranhão do século XVI ao início do século XVIII”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “O caso O. J. Simpson na concepção de John Hart Ely”, na Revista da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (2013); “A situação político-religiosa e a política exterior da França no fim do século XVI e começo do século XVII”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2013); “Crime organizado e organizações criminosas: caracterização e proposta de tipificação legal”, na obra I Jornada de Direito Penal, da ESMAF (2013); e “Edwin Sutherland: o crime de colarinho branco e o crime organizado”, na Revista Juris (2014); d) artigos e crônicas (em jornais): “Mário Meireles, o eterno”, no jornal O Estado do Maranhão, 22 jun. 2003; “Errar é humano, punir também”, no jornal O Estado do Maranhão, 22 fev. 2006; “Um certo Josué”, em homenagem ao escritor Josué Montello, no jornal O Estado do Maranhão, 15 abr. 2006; “Saint Louis”, no jornal O Estado do Maranhão, 7 set. 2008; “Sede bem-vindos!”, no jornal O Estado do Maranhão, 13 jun. 2010, Alternativo; “O Rei do Rádio”, em homenagem ao radialista Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, no jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2010; “Réquiem para a Biblioteca Pública”, no jornal O Estado do Maranhão, 12 set. 2010; “Essas mulheres extraordinárias...”, no jornal O Estado do Maranhão, 19 mar. 2011; “Convite ao passado de São Luís”, no jornal O Estado do Maranhão, 18 ago. 2012; “São Luís, herdeira da França Equinocial”, no jornal O Imparcial, 8 set. 2012 (em parceria com Wilson Pires Ferro); “O fundador esquecido”, no jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2012; e ); e “O fundador esquecido II”, no jornal O Estado do Maranhão, 8 set. 2012; e) poesias avulsas: “O Porteiro”, no livro Poetas brasileiros de hoje 1986 (Rio de Janeiro: Shogun Arte, 1986), no Informativo AAUFMA (1997), no Informativo, da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Maranhão (1997), e na APMP Revista (1997); “O Rei-Menino”, no livro Poetas brasileiros de hoje 1987 (Rio de Janeiro: Shogun Arte, 1987); “A Odisséia Ministerial Timbira”, na APMP Revista (1997); “O Tiro”, na Revista da AMPEM (2005); “Quando”, na Revista da AMPEM (2006); “Em ti, São Luís”, no Jornal O Estado do Maranhão, 8 set. 2007, Caderno Especial São Luís 395 anos: 10 anos de Patrimônio Cultural da Humanidade; “Quero”, na Revista da AMPEM (2007); “O náufrago”, “O náufrago II” e “O náufrago III”, na Revista Poesia Sempre: Polônia, Fundação Biblioteca Nacional, ano 15, n. 30, 2008; f) prefácios: do livro Direito penal e processual penal garantista: das ideias à concretização, de autoria de Justino da Silva Guimarães, São Luís: AMPEM, 2009; do livro No reinado das nuvens, de autoria de Paulo Oliveira, São Luís: AMPEM, 2009; do livro Pedras em Izkor, de autoria de Maruschka de Mello e Silva, São Paulo: Scortecci, 2010; do livro Direito criminal contemporâneo, organizado por André Gonzalez Cruz, Brasília: Kiron, 2012; e do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizado por Antonio Noberto, São Luís, 2012 (em coautoria com Wilson Pires Ferro); g) apresentação: do livro Sombras da noite: contos para a juventude, de autoria de Wilson Pires Ferro, São Luís: Lithograf, 2010; e da Revista da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, na qualidade de sua Presidente, São Luís: Edições AMLJ, 2013. RESUMO DOS LIVROS: 1) Versos e anversos (2002): São três livros em um só, porque escrito por três autores, e nele podem ser encontradas poesias de estilos variados. Há as de estilo antigo e as de feição mais contemporânea. Dedicado ao homem do
campo, há o “Poema Caboclo” e, com inspiração em “Os Lusíadas”, há uma tentativa de narrar os principais eventos da História do Brasil, em homenagem aos 500 anos do Descobrimento. Temas distintos, como a natureza, a violência, o amor, a fugacidade da vida, o sonho, o culto à tradição, a criança abandonada, entre muitos outros, testemunham as andanças e vivências dos autores e compõem uma sinfonia inacabada, cujas notas afloram d’alma. 2) O Tribunal de Nuremberg (2002): Versa sobre o chamado Tribunal de Nuremberg (1945-1946), que julgou grandes criminosos de guerra nazistas, percorrendo a fascinante e polêmica via pavimentada com os seus precedentes, as características de seu Estatuto e julgamento, a jurisdição e o caráter internacional do Tribunal, os principais aspectos de seu procedimento e os princípios de Direito Internacional reconhecidos pelo Estatuto e pelo julgamento do Tribunal, com destaque para a afirmação do Direito Internacional, a questão dos fatos justificativos, a garantia de um processo equitativo, os três crimes internacionais e o tema da participação criminosa, em busca do amanhã de Nuremberg. Questões como a do princípio da legalidade em matéria penal internacional e a da obediência hierárquica, dentre outras, presentes em Nuremberg, afiguram-se hoje fundamentais em qualquer discussão sobre Justiça Penal Internacional. 3) Escusas absolutórias no Direito Penal (2003): Tem como tema as escusas absolutórias, no Direito penal brasileiro e comparado, tendo como parâmetros, além da legislação, doutrina e jurisprudência pátria, os direitos francês, italiano, alemão, português, norueguês, espanhol, chileno, argentino e cubano. Os principais pontos abordados são os antecedentes históricos, a terminologia, o conceito, a natureza jurídica e as características, o confronto entre as escusas absolutórias e as condições objetivas de punibilidade, a comparação entre o instituto referido e o erro, o perdão judicial e outras causas extintivas da punibilidade, a questão da ratio e as isenções penais previstas nos artigos 181 e 348, § 2º, do Código Penal brasileiro. 4) Robert Merton e o funcionalismo (2004): Cuida da teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade, desenvolvida, à luz das ideias de Émile Durkheim, pelo sociólogo Robert Merton, enfocando os seus aspectos gerais, a tipologia dos modos de adaptação individual (conformidade, inovação, ritualismo, evasão e rebelião), o papel da família, a anomia e seus diferentes graus, as suas contribuições e a avaliação crítica do pensamento mertoniano e do Funcionalismo, sem dúvida uma das mais importantes correntes criminológicas. 5) O crime de falso testemunho ou falsa perícia (2004): Trata do crime de falso testemunho ou falsa perícia, incluindo visão histórica, com ênfase na questão do sujeito ativo e temas correlatos, no Direito penal brasileiro e comparado, tendo como parâmetros, além da legislação, doutrina e jurisprudência pátria, os direitos inglês, americano, alemão, norueguês, francês, italiano, português, espanhol, argentino, chileno e cubano. Inicialmente, são enfocadas as provas testemunhal e pericial. Na parte nuclear, sob o prisma dos artigos 342 e 343 do Código Penal brasileiro, com a redação da Lei nº 10.268/2001, é enfrentado o tema do sujeito ativo, examinando-se as situações do imputado, do réu e da autodefesa, do ofendido, do não-compromissado e do não-advertido, do depoimento pessoal em processo civil, do perito e do assistente técnico, do contador, bem como a possibilidade de coautoria e participação. 6) Quando: poesias (2008): Neste livro de poesias, a autora não se associa a um modelo único de escola ou forma, oferecendo, sempre com o domínio adequado da linguagem, poemas rimados, sonetos, poemas de versos brancos e até experimentos com a linguagem, em alguns casos, evocando o concretismo, noutros cortejando as aliterações de inspiração simbolista. Sua navegação pelos mares da poesia é sóbria e fascinante, orientada por temas como a fugacidade da vida, a solidão, o amor, a saudade, a violência, a busca do novo, a inexorabilidade do tempo, a consciência da morte, dentre outros, compondo um mosaico de sentimentos humanos confrontados com a realidade, em permanente estado de tensão e inquietação
existencial, de que são testemunhos pungentes, por exemplo, os poemas “Quando”, “Quero”, “A criação”, “Escrevi teu nome”, “Procurei-te”, “Pesadelo” e “O tempo como o vento”. 7) Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely (2008): Tem como tema a teoria de interpretação constitucional de John Hart Ely, cujos principais trabalhos são: Democracy and Distrust: A Theory of Judicial Review (pelo qual foi agraciado com o prêmio Order of the Coif Triennial Book Award, como melhor livro sobre direito publicado em 1980-82), War and Responsibility (1993) e On Constitutional Ground (1996). Apesar de relativamente pouco conhecido no Brasil, é o quarto jurista americano mais freqüentemente citado de todos os tempos, segundo estudos publicados em janeiro de 2000, divulgados pelo Journal of Legal Studies, da Universidade de Chicago. Democracy and Distrust constitui o livro jurídico mais citado desde 1978, tendo sido referido 1460 vezes. O autor, de tendência formalista, defende uma forma de controle de constitucionalidade, justificada na própria natureza da Constituição dos Estados Unidos e no sistema americano de democracia representativa, orientada para questões de participação e não para os méritos substantivos da escolha política sob ataque. Para ele, as cortes devem proteger os direitos identificados com alguma especificidade na Carta Constitucional como habilitados à proteção, particularmente direitos de acesso político e direitos de igualdade. Sua teoria, de tom procedimentalista, invoca sempre a autoridade do texto e do contexto da Constituição, buscando a afirmação, pelas cortes em geral e especialmente pela Suprema Corte americana, dos direitos encontrados no próprio texto constitucional, dos que são prérequisitos para a participação política e dos que estão incluídos entre aqueles que a maioria controladora assegurou para si. Embora concebida visando à realidade americana, a teoria, pela sua abordagem formal e procedimentalista, pode oferecer importantes contribuições em outros universos jurídicos, como o brasileiro. Além da apresentação da teoria geral de Ely, este livro enfoca a sua aplicação, mediante considerações sobre a separação de poderes, a discriminação racial, o caso O. J. Simpson e o “devido processo substantivo”, entre outras questões. 8) A odisséia ministerial timbira: poema (2008): Trata-se de poema épico com vinte cantos e sessenta estrofes, em homenagem ao Ministério Público do Maranhão, contendo referências implícitas ou explícitas a todas as Promotorias de Justiça do Maranhão e à grande maioria das comarcas maranhenses. 9) Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009): Estudo sistemático sobre o crime organizado e as organizações criminosas, enfocando os antecedentes históricos, as principais organizações criminosas estrangeiras e brasileiras, as teorias e concepções criminológicas mais pertinentes à compreensão do fenômeno, como a teoria da associação diferencial e a noção do crime de colarinho branco, o mito da Máfia, os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas, a questão do conceito e caracterização do fenômeno e de seu confronto com outras modalidades delituosas, a exemplo do terrorismo, o tratamento do tema no Direito penal comparado e no Direito pátrio, via análise do art. 288 do Código Penal, da Lei nº 9.034/95, de outros estatutos legais e de alguns projetos e anteprojetos legislativos, em construção de um conceito o mais abrangente possível de crime organizado, em que as conexões de suas organizações com o Poder Público, sobretudo pela corrupção, e com o mundo empresarial, pela natureza de seus negócios, são elementos essenciais, incluindo sugestões político-criminais e propostas legislativas. 10) O náufrago e a linha do horizonte: poesias (2012): Trata-se de livro de poesias, cujos versos revelam o toque de sonho da mulher, o timbre firme da jurista e o tálamo polinizado de uma alma cheia de paixões. A poesia da autora, caracterizada pela intelectualidade da linguagem e pela seleção minuciosa de temas – egoicos, sociais, ambientais, filosóficos –, parece buscar, nas sutilezas da forma, a sua genealogia: música e feminilidade. A autora explora as possibilidades poéticas da figura emblemática do náufrago diante da linha do horizonte, em meio às vagas do oceano. 11) Criminalidade organizada (2014): Análise, artigo a artigo, da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, nova lei de controle do crime organizado, com ênfase nos antecedentes históricos do crime organizado, nas características doutrinárias da
organização criminosa, na evolução de seu conceito no Direito brasileiro, no crime de organização criminosa, com suas causas de aumento de pena e circunstância agravante, no crime de obstrução à persecução penal, na medida cautelar aplicável ao funcionário público, no efeito da sentença condenatória, na investigação criminal e nos meios de obtenção da prova, em especial no tocante à colaboração premiada, à ação controlada, à infiltração de agentes e ao acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações, nos crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova, no procedimento relativo aos delitos tipificados na Lei nº 12.850/2013, nas questões da duração da instrução criminal no caso de réu preso e da possibilidade de decretação do sigilo da investigação diante do princípio constitucional da ampla defesa, nas alterações infligidas aos artigos 288 e 342 do Código Penal, na revogação da Lei nº 9.034/1995 e no confronto da novel lei com a Lei nº 12.694/2012, quanto ao conceito de organização criminosa. O PORTEIRO30 Sob tênue e dúbia luz, entre prédios, paus e pedras, papéis apressados e triste ladrar, caminha solitário o porteiro – porteiro da noite. Passo inquieto, eterno esperar, olhar fugidio e instinto treinado, aperta a cruz e segue calado sob cortante e ébrio açoite, prossegue acuado o porteiro – porteiro do frio. O silêncio errante perde o fascínio: vozes e vultos emergem distantes, tenso supor de perigo latente a espalhar trêmulo torpor; horror da espera, conflito iminente, cedo aguarda, quieto o porteiro – porteiro do medo. O cerco se faz na rua desnuda, desce a violência insana e vã: irmã da droga, prima do álcool; golpes e socos, animais em luta, gritando e gemendo em surda agonia; morte espreitando no canto da vida: cede o vento, a violência, o porteiro – porteiro da morte. Amanhece. Na polícia, a ocorrência; no jornal, a notícia; e para a rua marcada um novo porteiro: herdeiro da noite do frio do medo da morte.
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(Publicada no livro Versos e anversos, 2002)
QUANDO31 Quando a última luz se apagar a noite eterna será meu sol as estrelas piscarão no atol e eu lá, pequena, a cismar. Quando a última voz se calar ouvirei o silêncio dos ressentidos soltarei o grito engasgado dos contidos em meio à solidão do mar. Quando o último perfume se esvair buscarei a fragrância das flores com o cheiro de mil amores e me porei, surpresa, a sorrir. Quando o último sabor se perder encontrarei o gosto da vida no doce aceno da partida e degustarei as delícias do ser. Quando o último toque se findar sentirei a chama que me consome apalparei a frágua da minha fome e descobrirei o verdadeiro lar. Quando a última porta se fechar daquele parapeito da janela do tempo verei a vida passar em contratempo e me olvidarei nas asas do sonhar.
MEDO32 Sou o beco escuro em noite sem luar Sou o revólver empunhado pronto a disparar Sou a voz sufocada que não consegue falar Sou o barco condenado que afunda em alto-mar Sou a água invasiva que não para de inundar Sou o mar portentoso prestes a encrespar Sou a pena que não escreve para não errar Sou o dedo que aponta para não se culpar Sou a mão que conquista para não se curvar Sou o passado atormentado que não quer acabar Sou o presente ocupado que teima em faltar Sou o futuro incerto que ameaça chegar Sou a morte que não se esquece de matar Sou a vida que não se lembra de viver. Eu sou e jamais deixarei de ser pois temer ou me ter é próprio do ser humano que se diz sano em um mundo de vez em quando cada vez mais por vezes demais insano.
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(Publicada no livro Quando, 2008)
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(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
POESIA NETUNIANA33 É a gota liberta da taça cheia que transborda incerta para o lago da mente. É o vinho inebriante das vinhas da boa ira que flui pulsante pela corrente do espírito. É a cachoeira do alto da montanha inerte que toma de salto as torrentes do coração. É o rio turbulento sem margem de erro que desemboca sedento no oceano d’alma. É o mar incontinente empurrado pela onda que invade inclemente a praia do eu. A poesia é a gota liberta é o vinho inebriante é a cachoeira do alto é o rio turbulento é o mar incontinente. A poesia é água benta que irriga que inunda que encharca perpetuamente os campos da palavra.
O NÁUFRAGO VIII34 Navego pelas ondas do teu corpo sem saber que rochedos evitar sou a vaga do teu anticorpo a explorar as profundezas do mar à espera do iceberg que me afundará se eu perder o controle do timão ou da mão que me oferecerá pequenas tábuas de salvação quando a tormenta se avizinha busco o porto seguro do teu peito e a bujarrona não é mais minha até o próximo coração desfeito 33 34
(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012) (Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
tuas veias bebem meu sangue e eu naufrago na tua ilharga venho à tona e repouso langue e ponho em teus braços a carga me refugio sob teus ombros e deixo os sonhos submersos me junto aos muitos escombros que a maré desfez em versos.
SEDE BEM-VINDOS!35 Senhores visitantes e turistas, neste mês de tantas celebrações, gostaria de vos dizer que São Luís vos recebe de maré cheia, sob a toada do bumba-meu-boi, na Praça da Alegria ou no Largo dos Amores. Sobre a cidade, não espereis de mim o esforço da imparcialidade dos julgadores, mas a prosa apaixonada dos que não se cansam de lhe fazer a corte. Principio vos lembrando de que “minha terra tem palmeiras”, tomando de empréstimo as palavras de certo poeta que ganhou o Brasil e o mundo. Porém, isso já sabíeis, não é surpresa, sobretudo se já percorrestes as suas vias mais próximas do aconchego do mar, na companhia, talvez, dos holandeses, ou se já pisastes na ponta d’areia, no calhau ou no olho d’água de nossas belas praias. Não vos garantirei, no entanto, que nessas famosas palmeiras ainda cante algum sabiá. Mais fácil encontrardes um bem-te-vi. Mas vos asseguro, e não me tomo de pejo em fazê-lo, seguindo a constatação inspirada do mesmo vate, que “minha terra tem primores” e, ainda mais induvidoso, que: Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores (Canção do Exílio). De fato, esta é a “Ilha dos Amores”. Primeiro vieram os franceses, que são conhecidos nessa arte, e a fizeram sua. Talvez já tenhais vos deparado com o seu fundador, Daniel de La Touche, descansando no Palácio La Ravardière, sede do Poder Executivo Municipal, ou transitando em larga avenida. E São Luís se tornou a única capital brasileira que nasceu gaulesa no longínquo ano de 1612. Em seguida, vieram os portugueses, que a cobriram de mimos, enfeitando os seus imponentes sobradões com azulejos. E São Luís, do alto de seus mirantes – que só posteriormente seriam sinônimo de prestigiada rede de TV –, ao som do vira, virou a “Cidade dos Azulejos”, um pedaço de Lisboa no Brasil, bem representado pela Rua Portugal. Depois, vieram os intelectuais, os escritores e os poetas, que não eram gregos, mas a transformaram, com justiça, na “Atenas Brasileira”. E São Luís nunca mais deixou de ser, na observação de Astolfo Serra, “terra onde se amam os versos, os recitativos, a oratória, as tertúlias literárias e onde existe verdadeiro culto pela arte de dizer e de escrever” (Guia histórico e sentimental de São Luís do Maranhão, p. 17). Basta atentardes para o apreço que temos pelo “tu”, preferência, aliás, que compartilhamos, por exemplo, com os irmãos gaúchos. E quando visitardes a Praia Grande e a Rua da Estrela, coração do Centro Histórico e do casario colonial da urbe, apurai a vista, pois podeis vos encontrar com o Mulato de Aluísio Azevedo. Se desejais um encontro com o Poeta, procurai o Largo dos Amores, donde Gonçalves Dias, altaneiro, descortina o Rio Anil e aproveita para cortejar a Maria Aragão. E, como não sabemos o porvir, recomendo-vos uma visita à Igreja dos Remédios, com sua majestade gótica. Todavia, se sentirdes falta de um sermão, segui para a Igreja de Santo Antônio, onde podereis, quiçá, ouvir, extasiados, as preleções do Padre Antônio Vieira. Ou entrai no Convento das Mercês, construído em 1863, ou na Catedral Metropolitana, de cujo acrotério vigia Nossa Senhora da Vitória, a qual, conforme a lenda, em forma de radiosa Virgem, possibilitou o triunfo dos lusitanos sobre os franceses na Batalha de Guaxenduba, ao transformar a areia em pólvora para os soldados. Ou adentrai o prédio ao lado, o Palácio Arquiepiscopal, antigo Colégio dos Jesuítas. Em ambos os casos, estareis em frente ao sítio de fundação da cidade, guardados pelos leões do poder, postados na entrada do Palácio que se estende sobre os alicerces do outrora Forte de São Luís, que deu nome à capital maranhense, em honra ao rei francês. Ainda nessa área, podereis ver caminhar Graça Aranha, a pensar na sua Canaã.
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Publicada no jornal O Estado do Maranhão, 13 jun. 2010, e no livro França Equinocial, organizado por Antonio Noberto, 2012
Se o que quereis é mistério, dai uma espiadela para o interior da Fonte do Ribeirão, edificada em 1796, e imaginai para que serviam as suas famosas galerias subterrâneas no Maranhão Colonial, se para o contrabando de escravos ou se para o trânsito dos jesuítas da Igreja do Carmo até a Igreja de São Pantaleão. Ou, se tendes coragem, esperai a passagem da carruagem de Dona Ana Jansen, senhora de grande fortuna e marcante personalidade, duas vezes viúva, de grande influência na vida socioeconômica e política da cidade no séc. XIX, nas noites escuras de sexta-feira, deixando o cemitério em direção às ruas de São Luís. Atentai para os cavalos e o cocheiro escravo decapitados, mas não esperai para receber da alma penada de Donana uma vela acesa, que certamente se transmutará em osso de defunto no dia seguinte. Preferi a lagoa da mesma senhora, onde, nesta época, no arraial, como em muitos outros espalhados pela cidade, é possível dançar, em homenagem aos santos juninos, com Pai Francisco e Mãe Catirina ao redor do boi, que não é meu, porém da Companhia Barrica, de Morros, Nina Rodrigues, Axixá, Icatu, Cururupu, Maioba, Maracanã, Pindoba, Guimarães, Alcântara, Ribamar, Fé em Deus, São Simão... Mas quando fordes ao mirante da lagoa, procurai a serpente que, segundo contam, envolve a cidade e continua a crescer até que sua cauda alcance a cabeça, momento em que não desejareis estar aqui, porque será o tempo em que São Luís desaparecerá em meio às águas do Oceano Atlântico... Ou talvez isto ocorra antes, quando o Rei Touro, El-Rei D. Sebastião, se desencantar e voltar à forma humana... Não vos preocupeis, todavia; lembrai-vos de que a Virgem está vigilante, do alto da fachada da Catedral. Por fim, quando vos fatigardes com a perambulação pelas ruas e becos estreitos do centro da cidade, como, por exemplo, a Rua Direita, que é tortuosa; a Rua do Norte, que fica ao sul; a Rua dos Remédios, onde não há farmácias; a Rua do Sol, onde há somente sombra por causa dos casarões; a Rua do Passeio, que termina no Cemitério do Gavião; e o Beco do Quebra-costas, que, ao contrário, realiza o que promete; ou ainda for cedo para a brincadeira dos arraiais, fazei uma pausa para provar do sapoti, do bacuri e do cajá. Não vos olvideis que graviola é jacama, açaí é juçara e fruta-do-conde é ata. E preparaivos para um delicioso almoço ou jantar à base de camarão, pescada ou carne-de-sol, com arroz de cuxá, cuxá e macaxeira, à beira do mar de águas prateadas. São Luís vos saúda com a hospitalidade que caracteriza a alma ludovicense, carregada de sonho e poesia. Pois, afinal, como disse o Poeta, nossa vida, sem dúvida, tem mais amores. Sede bem-vindos!
CERES COSTA FERNANDES
PRIMEIRA OCUPANTE DA CADEIRA 34 DA ALL ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS Por Álvaro Urubatan Melo 36 Não fosse convencional o cumprimento das normas estatutárias e regimentais, praxes que sublimam e ilustram os atos acadêmicos e similares, fácil seria para eu desempenhar esta honrosa e agradável tarefa, de maneira bastante simples e gloriosa, porém lacônica, sem, contudo, apequenar a magnitude desta solenidade. Bastaria que, com gesto respeitoso e eloquente dissesse: Professora Doutora Ceres Costa Fernandes adentre neste sodalício, assuma esta cadeira, ela é sua. Cumpriria o restante da liturgia e, com uma calorosa ovação a insigne confreira passaria, com o brilho de seu talento, não do asteroide CERES, mas a prefulgência e uma estrela maior, adamantina, tornar-se-ia dela a legítima fundadora, como ocorre. Sim, sabem por que estaria consumado a assunção desta cadeira? Porque se imagina, até por obrigação que todos os conviventes da comunidade literária, por admiração ou prática; os militantes do magistério: educandos e educadores temos o dever de conhecer a cronista, ensaísta, educadora, poetisa Ceres Costa Fernandes, uma das mais notáveis personagens que enriquecem, passado e presente, os universos em que mourejou e inapagáveis estão às marcas benéficas de sua passagem. Confreira Ceres. Começo a explorar o querido amigo Joaquim Itapary, seu recipiente na Academia Maranhense de Letras quando alertou: esta é uma casa de ritos e solenidades. A Academia Ludovicence também o é. Portanto, convidados e cultores da palavra erudita estamos aqui, atentos e sem pressa, ansiosos para ouvir, escutar e aplaudir Vossa Senhoria. Ilustre Confreira, naquela indelével noite de 24 de maio de 2001, com alusão à sua pergunta por que estavas ali, se muitos e muitas com os mesmos predicados, e outros possuidores de maior valor estavam fora. Itapary, seu recipiente, em sua alocução também se interrogou a respeito, e encarregou-se de justificar, e assim o fez: pela sua reconhecida inteligência e invulgar cultura a iluminar e adornar a tua bela figura de mulher. Se nesta noite essa pergunta voltar a lhe ser tormento, desta vez sou eu quem, com satisfação perene, apresso-me a respondê-la: Professora Ceres - cógnita seus irrefutáveis méritos, louváveis sua faina na consolidação do Café Literário, no êxito das Mostras Literárias, no substancial apoio à FALMA e a neófita ALL, urge e imprescindível é sua presença em nosso quadro que se beneficiará do seu dinamismo e entusiasmo, e, esta barca em demanda de exequíveis portos, terá na tripulação sua experiência de uma resoluta timoneira, fanal capaz de evitar procelas, desviar pélagos e arrecifes, e velejar em mares de almirante. Navegar é preciso. Estimada Professora Ceres. Muitos podem ser os motivos que me fizeram seu admirador. Um deles advém da primeira vez que li uma sua crônica. Gostei do estilo, e os temas quando reminiscências passaram a fascinar-me, sobretudo alusivos aos anos de sua jovial mocidade, a “bel êpóque”. Por serem escritas em linguagem escorreita, amena me conduziam a São Luís da minha infância, tempo da compra nas mercearias com caderneta, dos passeios em bondes, das tertúlias, dos cines, do festival de melancias, da carrocinha de gelo, do vendedor de carvão de varinha, de camarão fresco, do comprador de garrafas, com aqueles palavreados tão próprios. Assuntos esses que eu, por ser mais anoso, vivenciei-os da planície. Senhores espero vosso beneplácito para desviar esta saudação do ritual acadêmico, e enveredar-me no sentimentalismo, liame da amizade nutrida à empossada, hoje estendida ao seu cônjuge, o amigo Dr. 36
MELO, Álvaro Urubatan. APRESENTAÇÃO DE CERES COSTA FERNANDES EM SUA POSSE NA CADEIRA 34, DA ALL, proferido em 03 de fevereiro de 2015.
Antônio Carlos. Outra crônica que muito me tocou e nos aproximou, aludia-se sua viagem marítima à baixada, e em São Bento a dificuldade em encontrar a residência do casal Zé de Nana, desconhecido com esse nome, mas vulgarizado e popular Zé de Lázaro e Nana de Chocolate. Tive a petulância de comentá-la, em artigo publicado no Estado do Maranhão. Já apresentados, quando de sua posse na AML, manifestei-me, com a liberdade de parabenizá-la pelo evento e por ser saudada pelo erudito acadêmico Joaquim Itapary, que após ter lido a aplaudida oração, presenteou-me. Ei-la. Senhores Confrades, Arquimedes, Lourival, Franco, Edna Pinheiro e Marita Gonçalves, em segundo artigo a ela dedicado, ostentei meu orgulho pela substancial e permanente presença de são-bentuenses, nossos conterrâneos, nesta Casa de Antônio Lobo, participes construtores da respeitabilidade desta Catedral das Letras, e o fizerem com inteligência, obras e dedicação de cada um. Sete os efetivos: Domingos Barbosa entre os fundadores, dois a presidiram Luso Torres e Joaquim Itapary, Clarindo Santiago, Luís Lobato Viana, Emilio Azevedo e Evandro Sarney. Filhos de são-bentuenses José Sarney, Odilon Soares (crescidos e lá alfabetizados), Fernando Viana, Jomar Moraes, Américo Azevedo Neto, Ivan Sarney, agora eleito Turíbio Santos. Netos: Luiz Alfredo e Waldemiro Bacelar Viana, Ney Barros Bello Filho. Sim, nessa galeria de intelectuais abrilhantam-na, também, por pulsar nas veias da nossa nova empossada e do seu irmão Ronaldo Costa Fernandes, o sangue materno da são-bentuense, sua genitora dona Maria Isabel Soares Fernandes, membro da família Soares, uma das primeiras do município, patriarcada por José Alexandre Soares, proprietário de terras. Mais distante, seu bisavô Raimundo José Soares, o avô Januário Soares (Zozoca), pai de primeiras núpcias de sua tia Rosa Clara França Soares, com sua mãe foram professoras municipais. O estimadíssimo tio e protetor Zoquinha, uma das mais simpáticas, queridas e educadas criaturas que muito o mimou contando causos da nossa terra, dos apelidos e de Zuleide Castanhoba com suas duas bolsas. Em segundas núpcias, seu avô casou-se com dona Aldenora Brenha, minha prima legítima de 2° grau. Desse consórcio a mui bonita Vanda, Wanderley e Maria de Jesus. Com respeito à ascendência paterna, ressalta-se à tradicional família Costa Fernandes, sobressaindo-se as insignes figuras de seu pai, o Desembargador Francisco Costa Fernandes, emérito professor da Faculdade de Direito, antes promotor público da comarca de São Bento, quando lá conheceu e encantou-se com a beleza da jovem Maria Isabel e a desposou. Seu avô Henrique da Costa Fernandes, famoso jurista, historiador e jornalista, realizador de seus desejos. Essa herança intelectiva continua tão bem preservada e enaltecida pela nossa brilhante confreira. Senhores, se conspícuas a ascendência da nossa confreira, mui preclara sua descendência. Como na mitologia, Ceres a deusa romana, Deméter a grega, a nossa Ceres também cultiva a terra, o amor matriarcal e se orgulha da sua notabilíssima prole. Filhos: Márcio Costa Fernandes Vaz dos Santos, biólogo e professor da UFMA. Tatiana Vaz dos Santos Oliveira, engenheira civil, Carla Vaz dos Santos Ribeiro, professora da UFMA, Glauco Costa Fernandes Vaz dos Santos, advogado e navegador. Donos de sua liberdade os netos: Helena, Eduarda. Lucas, David, Tales, Paula, Júlia, Fernando, Pedro e Marilia. Senhores, Ceres Fernandes, essa apaixonada maranhense de alma e de raízes, cantora dos encantos desta São Luís lírica e apaixonante, e paladina do resgate da Praia Grande, nasceu em Salvador, Soterópolis, portanto é soteropolitana. Dois berços – um de nascença, conterrânea de Castro Alves; outro de opção, Gonçalves Dias. Dois dos maiores poetas brasileiros- Segue deles a esteira, tanto que, aos oito anos de idade, explode sua verve poética e surpreende o mundo literário com as peças: - A Noite. A noite se debruça – meu coração soluça – esperando por ti. (Estava flechada por Cupido), Em seguida vem: - OS DADOS. Jogam os dados - na mesa larga e – comprida; os jogadores- reclamam por falta de torcida. (Que poder de observação da neófita poetisa). Prossegue: – O SINO – Cintilam os pingos – de chuva o sino – toca na igreja esperando amor – que traz flores de cereja. Simplesmente magnífico. (Devia acompanhar-se de véu e grinalda). Essas estrofes bastaram para consagrá-la respeitada emérita arquiteta da palavra sentimental. Quem o fez? A opinião abalizada e douta do jornalista Lago Burnet, em publicação no jornal Imparcial. Se sua poética inicial, pueril, é tão harmoniosa, expressa poesia pura, entendidos à primeira leitura, imaginemos as jorradas na juventude e na maturidade. Certamente, verdadeiras obras-primas. Precisamos conhecê-las.
Sua vocação para literatura e afins é atestada pela sua permanente e exigida presença nos grandes movimentos do Estado, pendores extraordinários que justificam seu festejado ingresso na cadeira 39, desta AML. De muitos vitoriosos episódios de sua vida particular, um é exemplar. Ao construir bem cedo seu lar, suspendeu curso ginasial, e para recuperar o tempo, a jovem mãe confiou em sua inteligência, e para alcançar o deslumbrante futuro glorioso que o acenava glórias, fez por correspondência o curso Madureza, concluiu o colegial, bacharelou-se em Letras e doravante com predicados pessoal conquistou seu mundo. Senhores, pela grandeza de seu currículo, permitam-me abreviá-lo. - Licenciada em Letras – Inglês e Português – UFMA - Mestra em Letras – pela Pontifícia Universidade Católica – PUC –RJ - Cursos de Especialização: Especialização em Metodologia do Ensino Superior, Semiologia Aplicada à Literatura e Ensino à Distância. - Magistério: professora da TV Educativa do Maranhão. - Professora aposentada do Curso de Letras da UFMA, onde ministrou Inglês, História da Literatura, Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. Cargos e funções: Digno de elogios merece a eficiente educadora, tanto na UFMA quanto à Secretaria de Educação, sobretudo, peregrina do livro didático, em desconfortáveis viagens pelo interior maranhense, melhorada quando passageira do “Pé na Cova”, pilotado pelo meu saudoso amigo e parente, competente e maluco comandante José Peperiguassu Brito Rayol. Que o Deus tenha em lugar alegre como viveu. (Relevem-me por essa menção). Chefe da Divisão de Estágio Curricular – UFMA; Pró-Reitora de Graduação UFMA; Assessora de Relações Internacionais UFMA; Assessora Especial de Educação da Gerência Regional de São Luís equivalente à época a uma Secretaria, com as 192 escolas estaduais existentes nos quatro municípios da Ilha de São Luís sob sua responsabilidade; Governo do Estado do Maranhão: Gestora de Programas Especiais do Governo do Estado, abril de 2003 a dezembro de 2006 desenvolvendo o Projeto Saúde na Escola, um programa educativo de melhoria de qualidade de vida dos alunos do ensino fundamental das escolas estaduais e municipais, atingindo 130 municípios. Alcançou a meta de três milhões de atendimentos. Diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho da Secretaria de Estado da Cultura. (2009 a 2014) Membro do Conselho Estadual de Cultura MEDALHAS E OUTRAS HONRARIAS: - Medalha do Mérito Timbira Governo do Estado do Maranhão - Medalha Laura Rosa (concedida às mulheres educadoras que se destacaram em outros ramos do saber) - Medalha Odorico Mendes da Academia Maranhense de Letras. - Palmas Universitárias (distinção honorifica). - Medalha Mérito Timbira Grau de Comendador do IV Centenário de São Luís. - Medalha do 4º Centenário de São Luís, relevantes e inestimáveis serviços prestados à cidade de São Luís, no século XX e no atual. BIBLIOGRAFIA: - Surrealismo & loucura e outros ensaios. São Luís: Editora Uema, 2008. - O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Edufma,1990.
- O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Lithograf, 2003, 2 ed. Todos sabemos ser a autora declarada admiradora e estudiosa desse escritor. - Apontamentos de literatura medieval – literatura e religião. - O último pecado capital & outras histórias. São Luís: Edições AML, 2000. - Seleta. São Luís: Edigraf, 2001. Obra em que Josué Montelo reconhece a autora como completa romancista. - Seleta maranhense de contos e crônicas/ Ceres Costa Fernandes e José Chagas. org., e notas de Jomar Moraes. São Luís: - Participação em Contos e crônicas – livro de leitura recomendada para o vestibular de junho de 2002 da FAMA – Faculdade Atenas Maranhense – org., introdução. e notas de Jomar Moraes. São Luís: Edições AML, 2002. Senhores confrades, comigo a satisfação de haver indicado para o quadro de fundadores desta confraria, ínclitos nomes que o valorizam. Alegra-me e envaide-me a prerrogativa da formulação do convite à recém-eleita, e haver convencido a aceitá-lo. Confreira Ceres, na qualidade de signatário da proposta, e dela um dos relatores, demos primazia do julgamento, escolhendo para patronear a cadeira 34, a imortal e sua amiga Lucy de Jesus Teixeira, por sinal, nome por muitos desejados. Em apreço aos seus atributos, inclusive os aqui não mencionados, mais sua contundente franqueza de expor seus sentimentos, soem as trombetas, estendam o tapete, soltem a girândola de foguetes de taboca de São Bento e vinde receber o amplexo de seus pares porque nossa Academia nesta noite se debruça – seu coração soluça – esperando por ti.
MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES
PRIMEIRA OCUPANTE DA CADEIRA ALL Por SANATIEL DE JESUS PEREIRA O destino, o senhor do tempo, de forma irrecusável, escolheu-me, novamente, para saudar e acompanhar a transpor os portões imaginários do grande edifício onde funciona a Academia Ludovicense de Letras uma das mulheres mais notáveis do Maranhão. A minha satisfação é imensa por compartilhar com ela este momento mágico. Confesso, entretanto, que ambos estamos fazendo parte de um caminhar novo, que ninguém sabe aonde vai chegar, porque assim é o mundo das letras e da imaginação. Este talvez seja o buraco na árvore onde o coelho nos mostra o caminho a trilhar. Ela traz a essência daqueles vinhos raros produzidos com uvas de colheitas tardias no melhor terroir encontrado na Terra: o Maranhão. Ela ficou todos esses anos em seu parreiral intelectual e meditativo, enchendo-se de inspiração e prenhe de motivação para escrever na hora oportuna o que quisesse, pois a sua casta é uma das mais nobres do Novo Mundo: Azevedo. Portanto, temos que festejar com muita alegria a chegada da nova confreira, que veio com a sua presença somar e agregar valor a esta infante confraria. D. Maria Thereza de Azevedo nasceu às quatorze horas do dia 12 de novembro de 1932, em um daqueles casarões da antiga Rua da Paz, em São Luís, quando a Lua se fazia Nova, e os ventos, trazidos do mar, sopravam sobre os telhados de cerâmicas francesas, vindos de Marselha, em pleno século XIX, para refrescar os espíritos iluminados dos ludovicenses criadores daquela época. Provavelmente, os ruídos dos velhos bondes sacolejando sobre os trilhos de aço, que passavam por aquela importante via, foram os primeiros sons externos a lhe assegurar que havia chegado à ilha de Upaon-Açu e iniciado uma nova viagem neste planeta maravilhoso que os gregos chamavam de Gaia e os povos ameríndios, de Pacha Mama. Como primeira filha, não teve olhos de irmãos para espiar-lhe o choro, o sono e os primeiros sorrisos, mas os olhos e os braços de uma mãe dedicada e amorosa que haveria de lhe dar outros irmãos em pouco tempo: Maria Ruth e Américo Azevedo Neto, membro da Academia Maranhense de Letras. Filha de Emílio Lobato de Azevedo e Maria José Costa Leite Azevedo, já trouxe de berço o estigma das letras e a herança atávica dos grandes escritores que construíram a memória artística e cultural da Idade Contemporânea. Ela sustenta, como uma representante das letras, a honra e o peso da responsabilidade de ser uma descendente direta do dramaturgo e jornalista Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, seu tio-avô, irmão de Américo Azevedo, seu avô, e pai de Emílio Azevedo, seu progenitor. Ela nunca será medida pelos belos traços fisionômicos da sua juventude ou pelas suas medidas antropométricas, mas pelo seu legado cultural e artístico. Nem mesmo por esposa companheira e amiga ou mãe devotada pela família, mas pelos versos e anversos que ficarão para sempre guardados na memória daqueles que leram as suas obras, ou que com ela conviveram em seus grandes saraus. Confrades e Confreiras, eu tenho certeza de que a descendência ancestral daqueles que desapareceram se manifesta neste momento e neste local para participar desta faustosa cerimônia de recebimento de uma representante autêntica e à altura dos Azevedo na Academia Ludovicense de Letras. Enfileirar-se-á toda a geração para ver um ramo da mais viçosa vinha que se deixou açucarar para produzir, no outono da sua existência, os mais saborosos sonetos em cantos, rimas e expressões que já não se fazem nesta ilha encantada. O destino, entretanto, reservou-lhe grandes surpresas na vida, as quais se configuraram como atos de uma grande ópera de Verdi em que ora desempenhava o papel principal de cantora, ora um papel de
coadjuvante da peça como componente do coro. Mas ela estava lá, no palco, cantando, sorrindo, dançando e, muitas vezes, orando. D. Maria Thereza adentrou os caminhos das letras como interna do colégio Santa Teresa, onde viveu dos oito aos dezoito anos e de onde saiu somente para prestar exames ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Ceará, em Fortaleza. Foram anos difíceis, mas necessários para desenvolver a sua capacidade de caminhar resoluta na busca da sua própria felicidade. Ela já sabia o que queria, por isso deixou o curso de Medicina pelo de Ciências Biológicas, agora na Faculdade de Filosofia do Recife, onde se formou em 1960. Confrades e Confreiras, D. Maria Thereza nem sabia onde o destino iria a colocar, pois, quando menos pensava, estava casada com o Deputado José Bento Nogueira Neves, um dos mais notáveis políticos do Maranhão. Ainda chegam aos meus ouvidos os seus discursos inflamados apontando novos caminhos para este Estado ainda em construção. Eu pensava comigo mesmo: atrás de um homem poderoso e cheio de sonhos, deve existir uma grande mulher. Desta relação que durou 50 anos, ficaram como prova viva desse tempo e desse amor as filhas, Rafaela, Eugênia e Virgínia; e o filho, Rodrigo Azevedo Neves; e, muito mais tarde, as netas, Maria Paula e Tarsila, e o neto, David. Ainda não havia chegado o tempo de escrever e publicar, somente o de sonhar através das letras dos que já se fizeram famosos e encantavam o mundo através da Biblioteca das Moças, como os romances de M. Delly. Foram-se os dias de Toutinegra do moinho, de Émile de Richebourg; Por quem os sinos dobram, de Hemingway; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brönte. Só mais tarde vieram A casa dos Espíritos, de Izabel Alende; A guerra do fim do mundo, de Vargas Llosa; e a extensa lista das obras de Saramago. Sem que ela percebesse, o senhor do tempo a estava preparando para a escrita pretérita, condensada, como o orvalho na noite, sob a forma de crônicas, contos e romances. Sem duvidar do destino, bons mestres ele lhe deu: os melhores autores; as fases pregressas da sua vida, como filha amada e feliz; jovem alegre a festejar sempre a vida; irmã presente e fraterna; esposa amiga, companheira, parceira – a dama de ouros –, apaixonada; mãe gratificada e realizada. Amiga sincera e leal. Mulher feliz! Todos os ingredientes estavam e estão às suas mãos – por que não dizer, precisamente, aos seus dedos? –, para viver este momento maravilhoso que presenciamos agora. D. Maria Thereza tem o seu début literário em 2005, quando publica o livro de contos Atalhos e o de literatura infantil Historinhas, ambos na Lithograf. Após esse ano, em 2006, publicou o livro de memória Minha Árvore. Em 2008, 107 – Memórias. Em 2012, Pena Vadia: Cantando & Contando, outro livro de contos; e, em 2013, Café ou Chocolate?, também de contos. Apresentar Maria Thereza de Azevedo Neves à sociedade maranhense como membro da Academia Ludovicense de Letras não é somente uma satisfação incomensurável, mas um privilégio diante da sua descendência direta de dois grandes vultos da literatura brasileira, Artur e Aluísio Azevedo, como também do seu próprio e incontestável talento como intelectual das letras. Hoje, a Academia Ludovicense de Letras se torna mais rica e digna, tanto por abrigar a memória daqueles que construíram o substrato intelectual das letras maranhenses, quanto pelas representações atuais dos seus membros. D. Maria Thereza, de forma oportuna e, quiçá, necessária, representa o elo de ouro entre os vultos notáveis da literatura maranhense do início do século XX e o que de melhor se pode encontrar no início deste século XXI. Quem sabe ela seja o vaso de cristal que traz o vinho tardio para as festas literárias deste século, que, somente agora, começa a mostrar a sua cara. Confreiras e Confrades, Senhor Presidente, abramos os braços cheios de alegria para recebê-la em nosso seio e desejar-lhe boa sorte na missão mágica e divina do ato de escrever. Confreira, que sejas bem-vinda e que tragas a Paz, o Amor e a União em teu coração. Muito obrigado!
ANA MARIA COSTA FÉLIX37 ANA MARIA FELIX GARJAN
Membro Correspondente (Fortaleza) da ALL
POEMAS DE AMOR A SÃO LUÍS 402, EM 8 DE SETEMBRO DE 2014 SÃO LUÍS DA HUMANIDADE Habitantes das cidades: Vejam os ritos desta terra, ouçam a voz dos pandeirões, os sons e ritmos das matracas, sintam o vibrar das calçadas, dancem os ritos enfeitados de fitas, e toquem nas cores de São Luís! Habitantes de outras terras: Escutem os sons mágicos desta cidade, façam reverência pras caixeiras do Divino, rezem para o espírito das águas, dancem com os brincantes de bumba – bois e das festas encantadas de sons africanos! Habitantes de todas as terras do mundo: venham mirar os mirantes azuis existentes, corajosos e testemunhas do tempo de São Luís, que teimosos observam os caminhantes das ruas E pedem socorro aos filhos da cidade! Habitantes de São Luís: esta cidade patrimônio da humanidade é mistério, ilha encantada, pedaço de terra solto no mar do leste, é farol que ilumina e une sonhos do lado latino e da Europa ocidental. São Luís, berço sagrado: Tua cidade será palco iluminado de justiça e paz na primavera dos teus 402 tempos, dias e noites, segue teu tempo, sonho, transporta espaços, tu és poesia, rito e paixão para quem te ama, Escuta São Luís, meu amor: acordei no dia da noite encantada, fui à casa dos sonhos, acendi faróis nas tuas águas, escrevi pauta de sinfonia, fotografei tua alma, energia, toquei uma canção, cantei uma poesia, pintei teu coração.
SINERGIA DO TEMPO EM TI São Luís de 402 anos: Um longo tempo passou muita história e lenda contaram. São Luís: sentimento encantado, ilha misteriosa, vestida de azulejos, sonhos e castelos de areia no m(ar)... Quero ler nas tuas ruas e avenidas meus versos azuis azulejantes, sutis. e a poesia, filha das encantadoras fontes embalou sonhos de teus filhos e amantes. Quero ler a linguagem de tuas águas agora, as vozes dos sete mares que te rodeiam anseiam por ti e abrem tuas janelas cobertas de azulejos, vindos de longe. Quero compreender os mistérios de tua alma profunda, de teu mar oceânico, dos versos e prosas dos teus anjos-guias. E em todos nós reluz pura e doce magia. São Luís: que meu olhar audaz nas esquinas compreenda tuas lutas, batalhas e glórias, mistérios do teu passado de 402 anos, reverenciados no tempo do nosso mundo. Que sonhem mais, os poetas, artistas e escritores, sonhem mais teus cantores que dançam na noite, sonhem mais eles e todos, com justiça e tua paz, temos fé nos versos dos teus anjos protetores. Que as almas eternas de teus poetas enviem luz, façam mágicas de energias, digam versos doces aos artistas aprendizes das brisas da tua primavera Que te abraçam todos os dias e te beijam nessa primavera
ALMA DA CIDADE EM MANTRA POÉTICO São Luís e sua história Quatro séculos; São Luís, sua poesia Poetas e cantores; São Luís, sua arte, Pensadores e artistas; São Luís, sua gente, Emoções tantas... Tantos amores! São Luís, musa lírica eterna dos poetas, escritores, cantores E tuas águas inspiram arte. São Luís das esquinas antigas Becos, ruas e mirantes, Dos palácios, palacetes, Solares e pátios coloniais, Janelas e portais, gradis, mirantes, casarios e pontes, Lampiões, praças, gente, paixões. São Luís do outro lado da ponte... Prédios, condomínios, avenidas... Carros, pistas e corridas... Península, espigão, por de sol, Luz lunar de sonhos, ou não... És inédita por tuas águas Dos mares do Atlântico. Seja justa e feliz, São Luís!
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/ana_maria_costa_felix.html FÉLIX, Ana Maria Costa. Na clave de sol: movimentos poéticos. São Luis: SECMA/SIOGE, 1987. 85 P. Ilus. fot. p&b. Capa: Sá Barros. Col. A.M.
SÃO LUÍS – ILHA ATEMPORAL Tempo da cor de primavera Cor de azulejo, cores de anil. Azul de azulejo Cidade – ilha – mulher Dança do futuro Tempo – além Concreta paixão Da vida, do amor, opção. Escolhi amar teu horizonte Entre a Terra, céu e razão, Cor solar, sem fim, nem ponto final OS OLHOS E A SIDERAL EMOÇÃO38 Mágica visão deslumbrante descoberta que perscrutam meus olhos vigias dos telhados das ruí nas e becos e daquele mirante aéreo sideral emoção que parece existir em vão... Mas não!
HISTÔRIAS39 Histórias de chão de homens e pão terra, ração sonho, ilusão Nascerem canto de sala comer em chão de senzala sonhar com casas seguras e claras Viver de luar porque portas não há nas casas, nas ruas varandas de lá Síntese de horizontes espadas e pontes destinos, escolhas múltiplas fontes
VISÃO SIMPLES E PURA E foi assim que a marca do tempo foi vista: Pequena para tantos enganos Média para alguns encantos Grande i para poucos sonhos Pouca para tantos seres Muita para poucos amanheceres
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FÉLIX, Ana Maria Costa. Na clave de sol: movimentos poéticos. São Luis: SECMA/SIOGE, 1987. 85 P. Ilus. fot. p&b. Capa: Sá Barros. Col. A.M. FÉLIX, Ana Maria Costa. Na clave de sol: movimentos poéticos. São Luis: SECMA/SIOGE, 1987. 85 P. Ilus. fot. p&b. Capa: Sá Barros. Col. A.M.
Perto para muitos quereres Longe para tantos credos e dizeres
MARIANA LUZ
Por Jucey Santana40 Academia Maranhense de Letras Patrona da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes. Não vou aqui traçar nenhum perfil filosófico, crítico literário ou científico da professora Mariana Luz, sim, anotar informações, muitas vezes até folclóricas, de pessoas que a conheceram, avaliar o que encontrei nos seus escritos, e principalmente resgatar o quanto de humana e generosa existia na figura da poetisa, que, mesmo não a tendo conhecido, sempre tive o maior respeito pela sua pessoa, que ajudou o meu pai, a escrever as primeiras palavras. Foi uma das figuras mais expressivas na literatura itapecuruense, com uma produção literária de primeira grandeza. O diferencial de Mariana Luz para outros grandes expoentes da nossa terra, é o fato da poetisa sempre ter vivido em Itapecuru, auxiliando na educação de várias gerações de conterrâneos, tendo produzido toda sua obra literária na sua cidade natal, muitas vezes falando do cotidiano das pessoas amigas, vizinhos, alunos, autoridades, figuras ilustres, da exponenciais da cultura... Professora Mariana Luz, filha de João Francisco da Luz, comerciante português e Fortunata da Luz, afrodescendente. Era chamada carinhosamente de “Dona Sianica” (Sinhá Nica) nasceu no dia 10 de dezembro de 1870, em Itapecuru-Mirim, faleceu em 14 de setembro de 1960. Foi Educadora, Poeta, Teatróloga, Oradora e Escritora Teve uma infância muito simples, sem recursos financeiros para subsidiar os estudos, porém trazia o gosto pelo saber intrínseco no seu cerne. Ao longo da sua vida buscava com avidez o conhecimento, com curiosidade, em tudo que estivesse ao seu alcance. Autodidata, abraçou o magistério muito cedo, “desde onze anos já ensinava” gostava de lembrar a professora. Do seu compulsivo hábito de leitura, foi um passo para a poesia. Mariana Luz escreveu sobre vários temas, poesia, peças teatrais, monólogos, porém suas obras tiveram grandes influencia na espiritualidade, por ser católica praticante, sendo da Irmandade “Filhas de Maria” muito atuante na igreja. A obra de Mariana Luz, ficou muito tempo na obscuridade, por falta de condições financeiras da autora, para sua publicação. Recorreu aos conterrâneos, e até a Adhemar de Barros, então governador de São Paulo, em 1951, ajuda para publicação de seus livros, sem êxito. Na década de 40, com o apoio do Centro Acadêmico Clodomir Cardoso da Faculdade de Direito do Maranhão em conjunto com Orbis Clube de São Luis, foi publicado o seu livro “Murmúrios” com pequena tiragem. Livro que a celebrizou, com o qual teve seu mérito reconhecido pela Academia Maranhense de Letras como a segunda mulher a ter um assento na Instituição, eleita como Fundadora da cadeira 32 patrocinada pelo poeta Vespasiano Ramos, em 24 de julho de 1948. “Murmúrios é bem uma coletânea de versos de vários períodos da minha existência. Nele está bem clara a história da minha vida literária, se é que eu a tive realmente. E este prêmio, que os altos valores da intelectualidade maranhense me concederam eu agradeço de todo coração” “Muito me sensibilizou a minha eleição para o mais ilustre sodalício ateniense” em entrevista ao Imparcial em 10 de maio de 1949. Tomou posse em 10 de maio de 1949 recebida pelo professor e historiador Mário Meireles, quando proferido pelo acadêmico Ribamar Pereira, o seu famoso discurso “Assim, é que vindo para o convívio desta casa, não vos possa prometer o fulgor de produções literárias dignas deste Areópago e 40 Itapecuruenses notáveis ( PROFESSORA MARIANA LUZ). http://alvoradanoticias.blogspot.com.br/2011/12/itapecuruenses-notaveisprofessora.html http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2015/03/08/interna_impar,168144/livro-marianna-luz-vida-e-obra-e-coisas-de-itapecurumirim-retrata-a-poeta.shtml http://www.aicla.com.br/mariana-luz/ http://joseneres.blogspot.com.br/2015/01/novas-luzes-sobre-vida-e-obra-de.html
dos meus Pares”. Na época, recebeu subsídio da Administração Municipal para a viagem, com uma comitiva de itapecuruenses, entre autoridades, intelectuais e amigos, que a acompanharam, para testemunhar tão grande honraria. Também foi convidada pelo então governador, Sebastião Archer para ser hóspede oficial do governo, o que foi declinado, com sensibilizado agradecimento. “Prefiro por motivos especiais, hospedagem em casa de parentes diletos, nem por isso deixo de ser grata a bondade cativante do Senhor Governador, que eu sei, um Mecenas moderno acolhendo e amparando os que dedicam as letras e artes” Infelizmente veio a falecer com a frustração de não ter realizado o seu sonho o de ter seus escritos divulgados. Em 1990 o seu ex aluno, o ilustre escritor e historiador Benedito Buzar reeditou “Murmúrios” através das oficinas do SIOGE “Ao tomar a decisão de reeditar Murmúrios, fi-lo com o propósito duplo. Primeiro, resgatar Mariana Luz do esquecimento a que estava submetida, e para que novas gerações possam saber que ela, além de ser uma poetisa da melhor qualidade intelectual, contribuiu de modo acentuado para o aprimoramento da cultura maranhense” confirma Benedito Buzar. Apesar de a crítica ter sido sempre voltada para o foco da tristeza, sofrimento e morte, sendo taxada como a “Poetisa dos Versos Tristes”, ao me aprofundar mais na leitura, do que consegui ainda encontrar, verifiquei outros aspectos temáticos de sua obra, bastante ecléticos, ora versando sobre: Amor, Mocidade, Crianças, Risos, Jovens, Amanhecer, Cenas da Vida, Esperança, ou sobre, Religiosidade, Morte, Sofrimento, Dor, etc - Sofrimento, solidão e tristeza - são os temas muito explorados pela autora. “Uma tristeza vaga, indefinida”, “Esta vida falaz e amargurada”.”A angústia, o mal a que ninguém se exime”. Em entrevista a poetisa confirma: “Prefiro Escola Antiga, porque me parece agradar mais ao coração. Está mais condizente com a minha alma sofredora” - Amor impossível – Um amor tão puro, que talvez por falta de condições, preferiu sucumbir. “As doces ilusões, que tanto amei”... “Morrer!... E vou morrer sem ter vivido”! “Tu não podes viver sem meu amparo. Eu não posso viver sem teu carinho” “É que em meu peito, precioso e caro. Doce tesouro oculto, como o avaro. Um nome, um nome que jamais direi”. - Religiosidade – A espiritualidade, o catolicismo, e a fé, estavam presentes em toda sua obra, “Minhas culpas, meu Pai, meus pecados, Senhor. Levaram-te sem dó ao Calvário da dor”! “Eu creio em ti, meu Deus, no teu poder infinito” - Beleza, natureza; - retratada através das paisagens, jardins, crepúsculo, flores, por do sol, tarde, pássaros, folhas, sorrisos... - Dor e Morte – temas bastante explorados em seus escritos, com mensagens cheias de reflexões sobre vida, morte, cadáveres e dor, como exemplo temos: Suprema Dor, Morte de Almira, Morta, Entre o Berço e o Túmulo, Gracinha Junto ao Féretro da Mãe, “Este caixão teu derradeiro leito” “Eu sinto qual cadáver regelado” - Escravidão – representada em lindo texto escrito em comemoração ao Jubileu de Prata da libertação dos escravos em 1927, com o título “Salve 13 de Maio” “...agora irradiam novos horizontes na sacrossanta asa da liberdade”, - Homenagens – Escreveu belíssimas homenagens a conterrâneos ilustres, visitantes e amigos: À Gomes de Sousa, Gonçalves Dias, Luis Bandeira, Coelho Neto, Padre Possidonio, João Rodrigues, Américo César, Francisco Félix de Sousa e muitos outros. A sua poesia era geralmente cheia de mágoa, mas também escreveu contos, dramas e comédias. Em sua casa montou um Grupo Teatral. Ela atuava como autora e também encenava, participando do elenco. As peças eram bastante procuradas, em uma época que não tinha cinema, constituíam o maior entretenimento na cidade. Em entrevista ao jornal Imparcial, ela confirma “escrevi muitas peças teatrais e 8 comédias que são representadas por senhoritas e rapazes de Itapecuru, no teatrinho de lá” Na época o jornalista folheou as seguintes: “Em casa de Procópio” “Por causa do Ouro” “Noivado de Rosa” e “Um Samba no Cocal” .Chegando até nós, uma, ambientada em Itapecuru talvez da década de 20/30 onde ela se identifica com a “Justina” personagem de rígido padrão moral.
“Doninha ainda criança de peito, com a morte de sua mãe passou a ser criada e amamentada por sua tia Anacleta. Certo tempo depois Anacleta também faleceu e Doninha, novamente órfã passa a ser criada por seu padrinho, Félix Rodrigues, em Itapecuru-Mirim, onde estudou com Mariana Luz. E fez parte do seu grupo teatral, responsável pela encenação de muitas comédias à época”. Livro Cantanhede Memória, de João Carlos Cantanhede Escreveu também um Livro de Orações e Cantos Litúrgicos A educadora Mariana Luz não teve filhos biológicos, o seu filho adotivo Francisco Félix de Sousa, Chiquinho, Enfermeiro do Exército, do Rio de Janeiro, foi o guardião dos seus escritos até a sua morte quando passou a seu irmão Absai Siqueira Sousa, que sempre dizia; “Os documentos da poetisa Mariana Luz, não me pertencem, pertencem à comunidade itapecuruense” Infelizmente grande parte do acervo literário da poetisa, foi perdido, todo trabalho de uma vida dedicada a poesia. A poetisa mantinha correspondência geralmente feita em sonetos com vários amigos, era muito solicitada para escrever homenagens para aniversariantes que eram lidas na “Voz Paroquial”. “ela escrevia com muita espontaneidade, escreveu duas mensagens para minha mãe, baixava a cabeça e fazia rápido um soneto” disse Lósa Felix Com poetisa Laura Rosa, primeira mulher a ter assento na Academia Maranhense de Letras, (fundadora da cadeira 26) cognominada “Violeta do Campo” manteve estreita correspondência em verso e prosa: A Uma Amiga, Resposta, Três Flores e outras... “...Depois de saborear, Com calma, esses teus cantares, Eu vi que tinha razão O teu amigo Tavares”,
Também o poeta Leslie Tavares da “Renascença Literária” grupo dissidente da “Oficina dos Novos” no começo do Século XX, amigo em comum com Laura Rosa, manteve troca de correspondência, tentando negar o escopo da sua poesia, voltada à tristeza. Em Resposta: “Julgaste descobrir na minha pobre rima / Um sofrimento atroz que me alanceia a alma” e em Replicando: “Persistes em supor que minha vida” “ Para mim tudo é belo e sorridente” Tomando por base apenas os sonetos de Murmúrios, Clóvis Ramos, afirma, “é uma poetisa de feição simbolista” Já José de Jesus Moraes Rego, afirma:” Existe um quê, em busca da arte pura, nos seus poemas – aquela poética alicerçada pelo individualismo responsáveis pelos valores eternos da literatura” Na administração de Bernardo Tiago de Matos, (1942 a 1945), foi construída pela Prefeitura Municipal, e doada à professora, uma casa à Rua Caiana (atual Av. Brasil) Fez jus a casa, pela importancia que exercia a professora, na sociedade itapecuruense, como Patrimônio da nossa cultura. A casa supra citada foi deixada, por determinação da poetisa, à Nossa Senhora das Dores depois da sua morte. O imóvel foi vendido, pela paróquia, em 1999 ao Senhor José Ribamar Mubarack onde é hoje a Farmácia Leticia. Somente em 1941, na administração de Felício Cassas, já com mais de 70 anos de idade, que a educadora Mariana Luz conseguiu uma nomeação pelo município de Itapecuru mirim, com lotação da Escola Getúlio Vargas. Depois de antigas reivindicaçoes de Felício Cassas, ao governo, finalmente, através do Decreto Lei nº 1517 de 23 de junho de 1947 tendo como governador Sebastião Archer, passa a ter direito a um subsídio estatal mensal, por merecimento, pelo muito que contribuiu para cultura do nosso povo. A poetisa Mariana Luz, terá finalmente o seu mérito resgatado, sendo Patronesse Geral da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes.
LAURA AMÉLIA DAMOUS41, 42 Academia Maranhense de Letras Movimento Antroponáutica Por Dinacy Corrêa43 Turiaçu/10.04.1945). Autora de uma obra poética que se insere no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estreia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguemse: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010). Presença literária sempre marcante nos eventos socioculturais maranhenses, Laura Amélia tem assumido cargos nos órgãos culturais do Estado, como Assessora Cultural da SECMA (Secretária de Cultura do Estado, 1987-89) – gestão em que, a propósito, funda o anexo da Biblioteca Pública Benedito Leite, para jovens, e o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho e mantém a Colunarte (jornalismo literário). Considerada por muitos dos nossos intelectuais, leitores e avaliadores de sua obra, a nossa Emily Dickinson e comparada a Cecília Meireles, a poetisa cunha os seus poemas numa singularidade muito própria de quem, no uso de poucas palavras, mas em “expressão plenamente poética” e num “ritmo espontâneo do verso”, consegue revelar um mundo... “pelo espraiamento do verso afetivo da linguagem” que, “em muitos momentos se inclina para o sugestivo, sobretudo por esse jeito de começar o poema como quem conclui, reduzindo-o à ideia final” (LYRA, apud ALEX BRASIL,1994, p.267). A autora busca referências em grandes representantes da arte literária. Sua poesia dialoga com obras de outros autores, como Federico Garcia Lorca, Cecília Meireles, Rainer Maria Rilker, Emily Dickinson... Para o poeta Nauro Machado (2001, p. XIX), “seus versos pressupõem um conhecimento a priori da temporalidade a que se reduz a coisificação presentificável do que hoje somos, pois o passado nos convoca o ser para as prerrogativas antecipadoras do que foi”. E ei-lo que acrescenta (id. ibid.), na sua autoridade de poeta maior: “O caminho por onde o texto conduz Laura Amélia Damous é este e, daí pra frente, é ele que cria o poeta em suas várias vertentes de conversa e diálogos com outros textos, leitores, estudiosos, ensaístas e críticos [...]”. Daí, poeta algum ter significado isoladamente, em si mesmo e em seu tempo – eis que todo poeta, na verdadeira acepção da palavra, resume-se no somatório daqueles que leu e absorveu, numa dinâmica trans/intertextual, através de leituras, releituras... recriações. Adepta dos poemas curtos, dos versos livres, expressos, estes, num perfeito raciocínio, rigor e controle na concisão, Laura Amélia não faz restrição de palavras, como bem o diz o escritor e acadêmico (Dr. Honoris Causa-Uema), Jomar Moraes, uma vez que “ao poeta não se prescreve a avareza verbal”. A propósito, ainda Nauro Machado (id. ibid), a categorizar os poemas lauramelianos como “conhecimento intuído”, “desvelamento da realidade”, e “autocontemplada expectação verbal” – na expressão de um lirismo que não se restringe a “um simples sistema sígnico característico de uma pseudo-modernidade, prenhe de velharias descartáveis”, como o demonstram os exemplares que se seguem, colhidos de Cimitarra: OFÍCIO – A palavra/ floresce e/ sangra/ o fruto/ das/ mãos (2001, p.43). INSPIRAÇÃO – A branca luz do papel/ destila suor feito ímã/ o poema se impõe/ e gruda/ na pele do poeta (2001, p.48). POEMA DE ÚLTIMA VIAGEM – Outra vez mais te trago/ à superfície/ da imprecisa/ linha/ onde se alinha/ a sina/ a sorte/ Outra vez/ não mais/ a alma viaja/ e náufraga (2001, p.50).
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CORREA, Dinacy; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE..Núcleo de Estudos Lingüísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro 42 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/ 43 CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
Nos três poemas em leitura, vemos que a metalinguagem (expressa nos jogos de palavra, metáforas e outras figuras, que anteparam as reflexões sobre o fazer poético) é ponto e contraponto no processo de criação literária, na montagem dessas pequeninas joias lírico/verbais. E algo de muito especial, na obra desta poetisa, é a intertextualidade, manifesta em plano semântico, sobretudo nos títulos dos poemas – títulos estes, fundamentais na compreensão e interpretação do texto, pela transtextualidade, as conexões com obras da literatura universal ou referências a personalidades de importância para a sociedade humana, as personagens de clássicos literários, entre outros. Como exemplo, As 2555 noites de Turiaçu; Xerazade; Hamlet; À Humana Comédia; Galileu; Fim de Tarde com Van Gogh; Julieta; A cigarra e a formiga... Títulos que condensam a ideia do poema, em si, prenunciando o que será trabalhado no texto, como observa Nauro Machado. Apreciemo-la em sua verve poética: .JOÃO E MARIA – Ainda que eu pudesse fazer/ de cada estrela/ uma pedra guia/ ainda assim/ não encontraria o caminho/ que me levaria de volta (DAMOUS, 2001, p.117). JULIETA – Agora, que só te posso ver quando/ adormeço/ penso, às vezes, te despedes de mim/ até nos sonhos/ Ansiosa desse encontro busco o sono/ leve carícia na minha alma insone./ Adormeço, de vez, eu te prometo/ se me asseguras um eterno encontro (Ibid., p.134). Como se vê, a autora faz, com maestria, essas releituras em seus poemas e numa linguagem simples e leve, recriando, na modernidade, histórias que remetem a outros tempos. Em João e Maria, por exemplo, remonta ao tradicional conto infantil. Evidentemente, em uma outra, nova abordagem, mas sem perder a linha de quem está em busca do caminho de volta. Em Julieta, a remetência às personagens do clássico shakesperiano, na atmosfera noturna do poema, o “adormecer de vez”, mais que uma promessa (condicionada a uma outra promessa) é proposta de compromisso mútuo de amor eterno, para além da transitoriedade desta vida. Continuemos com a poetisa: HERANÇA – Minha avó Amélia que/ tinha as orelhas rasgadas/ pelo peso do ouro/ me deixou um tesouro:/ não carregue mais/ do que a frágil carne suporta (2001, p.62). OFERENDA – Venho te oferecer meu coração/ como o cansaço se oferece aos/ amantes/ o suor aos corpos exaustos/ depois de definitivo abraço/ Venho te oferecer meu coração/ como a lua se oferece à noite/ e o vento à tempestade/ Venho te oferecer meu coração/ como o peixe se oferece à captura/ no engano do anzol (Ibid., p.107) O lirismo delicado que caracteriza a poesia desta maranhense entra em sintonia com a natureza (noite, lua, dia, sol, estrela, mar, vento, etc.), o infinito, em imagens que vão compondo uma atmosfera de sonho e fuga. Recorrendo a formas poéticas simples, sem métrica regular estabelecida, desenvolvem-se temas como: o amor, a transitoriedade das coisas, da vida... a fugacidade do tempo... Em Herança, como se pode inferir, o eu lírico deixa claro os ensinamentos do velho “Crhonus”, na recordação da avó experiente, provida de ensinamentos e aprendizagens, sabedorias, a advertir para a irrelevância do material, do supérfluo... Em Oferenda, é pela comparação que aflora um lirismo que se derrama na oferenda de um coração inteiramente disponível e entregue ao Amor. A obra poética de Laura Amélia Damous (Turiaçu/10.04.1945) insere-se no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estréia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguem-se: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010). OFERENDA Venho te oferecer meu coração Como o cansaço se oferece aos amantes o suor aos corpos exaustos depois de definitivo abraço Venho te oferecer meu coração como a lua se oferece à noite e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração como o peixe se oferecer à captura no engano do anzol
SONIA ALMEIDA44
Movimento Antoponáutica Academia Maranhene de Letras
VIAGEM Coloco a palavra na asa do poema e faço o que mais quero: vou na asa da palavra vôo na alma do verso e, sempre que preciso, flutuo nas (a)venturas do signo. Penumbra, 2003.
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PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro
LENITA ESTRELA DE SÁ 45 MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA Nasceu em São Luís do Maranhão É graduada em Letras e Direito, com pós-graduação em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas Materna e Estrangeira. Publicou as seguintes obras literárias: Ana do Maranhão (Prêmio Arthur Azevedo, concedido pela Universidade Federal do Maranhão,1980, e Prêmio Brasília de Teatro,concedido pela Fundação Cultural do DF, Governo do DF, Secretaria de educação e Cultura do DF e INL – Instituto Nacional do Livro – por unanimidade, 1981); A Filha de Pai Francisco, teatro infantil, publicado em 1995,com prefácio de Ferreira Gullar (Prêmio Apolônia Pinto,concedido pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, em 1988; e Prêmio Alice Silva Lima,concedido pela União Brasileira de Escritores – UBE – em 1997, em virtude da publicação do texto,o que, por sua vez, ensejou Moção de Aplausos da Câmara Municipal de São Luís, em 13.05.97); Reflexo, poesia – prefacio de Josué Montello,1979; No Palco a Paixão — Cecílio Sá, 50 Anos de Teatro (pesquisa, 1988); A Lagartinha Crisencrise ( história infantil, 2005) e Cinderela de Berlim e Outras Histórias (contos, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura/SECMA, 2009). Participa das seguintes antologias: Antologia Guarnicê, Edições Guarnicê, 1984; Novos Poetas Do Maranhão. São Luís, UFMA,1988; As Aves que Aqui Gorjeiam – Vozes Femininas na Poesia Maranhense, organizada por Clóvis Ramos, São Luís, SIOGE, 1993; Circuito de Poesia Maranhense, CEUMA, 1995; Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, organizado por Nelly Novaes Coelho, São Paulo: Escritura Editora, 2002. Livros inéditos: Catharina Mina (Prêmio Viriato Corrêa,concedido pela Universidade Federal do Maranhão,1979, teatro); O Menino ciumento (teatro infantil), Baraço (teatro), O alferes de Vila Rica (teatro); Além do cabo das Maresias (teatro infantil ); os roteiros de cinema Caso do Vestido, Ana do Maranhão, A Infeliz Perpetinha e Os Tambores de São Luís; a história infantil A Estrelinha Aparecida; ePincelada de Dali e outros poemas, Prêmio Sousândrade 2010 da Fundação Cultural do Município com apresentação de Ferreira Gullar. As peças teatrais A Filha de Pai Francisco e Ana do Maranhão têm sido objeto de monografias de graduação, respectivamente, nos cursos de Letras da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) e da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), tendo sido o primeiro texto também objeto da dissertação de Mestrado da Profª. Lucimar Ribeiro Soares, Professora Assistente de Prática de Ensino de Letras, da Universidade Estadual do Maranhão, com o título A Filha de Pai Francisco – uma leitura sob enfoque proppiano.
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CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo). http://www.estreladesa.com.br/?page_id=724 COÊLHO,Nely Novaes.Dicionário de Escritoras Brasileiras. São Paulo: Escrituras Editora, 2002. CUNHA,Carlos. As Lâmpadas do Sol. São Luís: Editora Fon-Fon, 1980,p.110-111. DANTAS, José Maria de Souza. Didática da Literatura. Rio de Janeiro: Editora Forense-Universitária, 1982.p.152-153. LEITE, Aldo. Memória do Teatro Maranhense. São Luís, Edfunc, 2007. MARQUES, Oswaldino. Prefácio Fulminado. In: Acoplagem no Espaço. São Paulo: Ed.Perspectiva; ]Brasília-DF]: INL,1989. – (Coleção Estudos;v.110). REIS,José de Ribamar. Perfil do Maranhão. São Luís: Editora Prelo comunicação,1980.p.256.
WANDA CRISTINA46 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Wanda Cristina da Cunha e Silva nasceu em São Luis do Maranhão. Jornalista, escritora, poetisa, professora. Estréia na literatura aos dezoitos anos. Pertence ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e à UBE. Cinco livros publicados: UMA CÉDULA DE AMOR NO MEU SALÁRIO (poesias), ENGRAXAM-SE SORRISOS (crônicas), REDE DE ARAME (poesias) GEOFAGIA RUMINANTE NO SÓTÃO DA PREAMAR (poesia) e FLOR DE MARIAS NO BUQUÊ DE COSTELAS (antologia poética). Em fase de publicação, estão os seus livros: O PAÍS ESTÁ NU (crônicas); CACHOEIRA DA SAUDADE (crônicas), MENINAS-DOS-OLHOS DE DEUS (contos); CARLOS CUNHA: planos jornalístico e literário (monografia) e CONFISSÕES DA ILHA (reportagens). Formada em Comunicação Social (Jornalismo), pela Universidade Federal do Maranhão e Letras, pela Universidade Estadual do Maranhão, com pós-graduação em Língua Portuguesa, pela Salgado de Oliveira e Comunicação e Reportagem, pela UEMA. Ganhou prêmio promovido pela Academia sobre a Vida e a Obra de Coelho Neto e ficou entre as 20 melhores colocadas no III Concurso Escribas de Contos de Piracicaba, com o conto PAREDE TEM OUVIDO. Dirigiu e coordenou várias páginas literárias de jornais maranhenses, dentre os quais a do Atos e Fatos e do Jornal o Debate. Colaborou no "Ponto de Prosa", caderno de o Jornal O IMPARCIAL e tantos outros. Professora de Língua Portuguesa e Literatura.
MENSAGEM Asfaltando minha cabeça, Meus cabelos brancos buscam suas raízes dentro de um cérebro que levou ao meu coração a mensagem de te amar nesta poesia.
POEMA PARA A MORTE Não adianta, Morte, encheres a varanda de vazios, desarrumares o cheiro de terra molhada que vem dos sonhos das Cristinas. Não adianta, mesmo mudares os meus versos, soprando ventos frios no meu peito. Eu sei que os 18 anos que Tereza deixou esperaram os meus que já não são. 46
Fonte da biografia: www.varaldaliteratura.ale.nom.br Página organizada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/wanda_cristina.html
e
publicada
em
out.
2008
Mas, mesmo assim, não adianta encheres de procura tudo que encontramos, na busca de Tereza. Não adianta, Morte, labirintares a nossa espera, porque amanhã, quando Tereza voltar, rindo o seu riso, os nossos risos, tu serás, apenas, uma lembrança da brincadeira de Tereza.
POEMA DO SER ASSIM Você precisa conhecer a solidão. Ela é baixinha como eu, e é magra, e é triste e fuma todas as melancolias que, um dia, alguém fumou. E faz poesia em espírito gonçalvino, e adentra o Modernismo sem saber inglês... Já foi boêmia como Baudelaire, e bebeu a multidão de um gole, embriagando-se do perdido pra nunca mais deixar de ser a bêbada predileta dos bares de todos os homens. Você precisa conhecer a solidão. .......................................... Ela é a consciência, o abrigo, a chave de todas as portas que guardam o segredo do SER ASSIM... Ela nunca morreu em alguém, antes desse alguém ter morrido. ............................................ (Uma Cédula de Amor no Meu Salário,1981)
OLHAR DESCALÇO Calcei os olhos com o olhar de sempre e sai a rua para olhar o sol... E voltei com o silêncio pegado a minha língua, e chorei com o olhar pegado às minhas lágrimas... Invadi um jardim de um cão sem dono e o meu olhar descalço pisou nas rosas.
BABUGEM DE ESPERANÇA Este soneto que sai a boca, salgado e amargo, exalando dor, é a babugem da esperança louca, que desbotou em lágrimas de amor. Inúteis foram as noites acordadas, poemas tristes, olhos que choraram: inúteis foram as dores suicidadas nos meus carinhos que te desculparam.
Estou sozinha com a minha mão. E estes meus dedos que te compreenderam puseram a culpa no meu coração. E as saudades que me envelheceram, presas em jaulas de ingratidão, insistem em viver, mas já morreram.
-----------------------------------------------------------------------TERMOLOGIA DE TEREZA Tenho tecido Tereza todo tempo, teimando ter tido todo tempo tudo. Tecendo Tereza, tenho todo tempo Tentativa de ter todo tempo tudo. Turbulenta, traduzo o termo "ter tudo". Ter tudo é ter tido o tempo de Tereza, Torrrente de travessa num tempo tronchudo, transformo a tristeza em Tereza-tardeza. Tereza tricota o termo ternura, traduz a tristeza com tanta ternura, Tangente, tão gente, trajando Tereza. Tracejo um terceto trilhando a tristeza: tropeço, trafego... e a tarde tintura O meu termo todo do termo: Tereza!
POEMA-QUERO Eu quero um poema da cor da minha cor. Um poema-pálido que banhe na chuva. Um poema-pobre que more nos mangues. Um poema-irmão que tenha meu sangue. Um poema-pão que tenha minha fome. Um poema-esmola no chapéu do povo. Um poema-rasgado de vestir meu sujo. Um poema-insensato pra falar sentindo. Um poema-tema de televisão. Um poema-jornal para o imprevisto... Um poema-planeta para eu habitar, quando não mais existir condição para controlar a natalidade do absurdo.
ALITERAÇÃO Eu quero dançar contigo dentro do poesia, como dança o povo dentro do Estado. Eu quero rebolar contigo em cada rima, como rebola o povo dentro do salário. Eu escolho uma aliteração para a nossa vida: filhos, felicidade, família, feijão, farinha... como o povo, em fé, faz folia, forra a fome com futebol e fantasia. (Rede de Arame,1986)
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
FRAN PAXECO: recortes & memórias
SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2020 PARTE IV FRAN PAXECO: recortes & memórias – Em São Luís...
“Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro
de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502)
1904 JANEIRO, O4 – relata uma visita à Caxias, na Fazenda Santa Cruz, ainda dentro das análises que vem fazendo sobre a economia maranhense:
Neste mesmo número, e página (primeira), há um breve comentário sobre as colocações de Fran Paxeco:
E logo segue outro comentário, sobre as repercuções de seus escritos sobre a economia maranhense:
JANEIRO, 07 – volta às suas vríticas literárias, desta vez abordando o Barão de Studart, e Um livro de História:
JANEIRO, 18 – Fran Paxeco volta a publicar seus arrazoados. Na semana anterior saira nota dizendo que, por problemas alheios à vontade, deixava-se de publicar sua matéria. Dando continuidade às questões econômicas, assim, discorre sobre O Porto:
JANEIRO, 21 – Na sua Coluna Raspões Críticos, analisa a obra de Eça de Queiros, Prosas Bárbaras:
JANEIRO, 25 – Na sua coluna semanal sobre economia, analisa as finaças estaduais:
JANEIRO, 28 - na sua coluna semanal, de anรกlise de obras literรกrias, aborda a de Celso Magalhรฃes, Obras Completas:
FEVEREIRO, 1ยบ - Os aรงucares:
FEVEREIRO, 04 – Harpas de Fogo, de Corrêa de Araujo, é analisado:
FEVEREIRO, 08 – aborda a carnaubeira:
FEVEREIRO, 15 – Fran aborda a questão da instrução profissional no Maranhão:
FEVEREIRO, 19 – discorre sobre os chineses:
FEVEREIRO, 22 – Acometida de peste, com várias mortes, anunciuadas diáriamente, Fran Paxeco passa a falar sobre a quarentena:
FEVEREIRO, 25 – Comemora os Quarenta anos de vida literária de Teófilo Braga
MARÇO, 1º - Trata das Imigrições
MARÇO, 03 – Nos Raspões Críticos, sua coluna de crítica literária, aperesenta-nos Maria Amalia Vaz de Carvalho, e sua obra Cérebos e Corações:
MARÇO, 07 – Em sua coluna de análise economica, reclama que, já em março, as estatísticas referentes à 1903 ainda não estavam disponíveis. Passa a discorrer sopbre Vária(do)s) assuntos:
MARÇO, 08 – Astolfo Marques publica um longo artigo, dedicado à Fran Paxeco, com o título “O Socialista”, referindo-se a um personagem a que chama de Narciso
MARÇO, 09 – Fran Paxeco faz aniversário, e os amigos comemoram, com uma festa surpresa:
MARÇO, 11 – Repercute a festa de aniversário oferecida pelos amigos de Fran Paxeco pertencentes ao Club dos Anexos ao mesmo. Na mesma ocasião, foram entregas diplomas aos ganhadores do concurso promovido pelo professor de Ginástica Miguel Hoherann:
MARÇO, 14 – aborda Duas Industrias: canhamo e sericultura:
MARÇO, 16 – Segundo o Paiz, jornal do Rio de Janeiro, havia sido fundada uma Universidade Sociocratica, sendo diretor Magnus Soldal47, e Fran Paxeco membro da mesma:
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Magnús Sondahl, emigrante islandês de primeira geração, chegou ao Brasil aos sete anos de idade, estabelecendo-se no Paraná. Formou-se em Engenharia. Magnus foi objeto de dois contos do escritor carioca João do Rio. Os contos fazem parte do livro As Religiões do Brasil. http://www.revistaideias.com.br/2016/09/05/osvikings-no-parana/
SERIA FRAN PAXECO CARBONÁRIO? 48 De acordo com Aldemir Leonidio (2005, 2008) 49, a carbonária foi uma associação secreta de vocação conspirativa. Em Portugal ela enraizou-se nos setores de classe média mais politizados, bem como entre os militares de baixa patente, mas admitindo indivíduos de todas as classes sociais. Nos anos noventa ela começou por ter grande força na cidade de Coimbra, sob a tutela da loja maçônica Perseverança. Em Lisboa tudo parece ter resultado da confluência de dois núcleos secretos: um de origem “anarco-republicano”, outro de base “maçônica acadêmica”. De acordo com o anarquista José Maria Nunes, ele próprio, juntamente com José do Vale e Heliodoro Salgado, fundaram a Liga do Progresso e Liberdade, agrupamento que esteve na base da constituição da Carbonária Portuguesa50 Por volta de 1899 surgia o jornal O Libertarista51, do Rio de Janeiro, dirigido por Magnus Sondahl e Espiridião de Medicis Dilotti. Em epígrafe vinha a famosa frase de Comte, ligeiramente modificada: “conhecer, para prever, a fim de melhorar”. Isto leva a crer que a intenção do inventor da “ortologia” era fazer dela uma espécie de substituto ou concorrente do positivismo, já que afirma ser aquela um “novo sistema lógico”. No lugar do Apostolado ele colocava a “União Sociocrática”, que, segundo informa, tinha núcleos em várias partes do mundo: Estados Unidos, GrãBretanha, Islândia, Dinamarca, Suécia, França, Grécia e “outras partes da Europa”; além de Brasil, Argentina e “outros centros populosos da América do Sul”. Magnús Sondahl52 foi um emigrante islandês de primeira geração que chegou ao Brasil aos sete anos de idade, estabelecendo-se no Paraná. Formou-se em Engenharia. Foi objeto de dois contos do escritor carioca João do Rio. Os contos fazem parte do livro As Religiões do Brasil53: Os Fisiólatras Quando resolvi interrogar o hierofante Magnus Sondhal, sabia da fisiolatria o que os prosélitos deixavam entrever em artigos de jornal c hei os de nomes arreves a dos e nos comunicados, nos copiosos comunicados trazidos aos diários por homens apressados e radiantes. Pelos artigos ficara imagiando a fisiolatria um conjunto de positivismo, ocultismo e socialismo; pelos comunicados 48
LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-efilantropia.pdf LEONIDIO, Aldemir. CARBONÁRIOS, MAÇONS, POSITIVISTAS E A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL NA VIRADA DO SÉCULO XIX. IN Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Julho/ Agosto/ Setembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 3 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 49 LEONIDIO, 2005, 2008, OBRA CITADA Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf; http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 50
CATROGA, Fernando. O republicanismo em Portugal. Coimbra: FLUC, 1991. p. 107-154, citado por LEONIDIO, 2008, obra citadaDisponível em: www.revistafenix.pro.br. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 51 O LIBERTARISTA, Rio de Janeiro, n. 3, 24 de dez. de 1899 (o jornal adota o calendário positivista, sendo a data constante no jornal a seguinte: 24 dias do 12° mês de 111). In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf http://www.revistaideias.com.br/2016/09/05/os-vikings-no-parana/ 53 https://www.passeidireto.com/arquivo/47390372/as-religioes-no-rio-joao-do-rio
vira que os fisiólatras, quase todos doutores, criavam cooperativas e academias. Entretanto o Sr Magnus Sondhal certa vez à porta de um café definira para meu espanto a sua religião. —A fisiolatria não é um culto no sentido vulgar da palavra, mas uma verdadeira cultura mental. É, antes, a sistematização raci onal do processo espontâneo da educação dos seres vivos, donde resultaram todas as aptidões, mesmo físicas e fisiológica s, respectivamente adquiridas. Pus as mãos na cabeça assombrado. Magnus tossiu, revirou os olhos azuis. — A fisiolatria baseia-se, como toda a reforma sociocrático-libertária, na sistematização da lógica universal ou natural que o hierofonte + SUN intitula ortologia — Ortologia? fiz sem compreender. — Do grego orthos, logos – reta razão. As informações sobre a “ortologia”54, esta “nova religião de caráter sociocrático”, segundo seu inventor, são ainda muito escassas. Para Leonidio (2005)55 a “maçonaria católica” seria uma tendência da maçonaria, que manteve certa relação com os princípios religiosos do positivismo de Augusto Comte, difundidos no Brasil durante a Primeira República pelos fiéis da Igreja Positivista, cujos mentores eram Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Informa Leonidio (2008) que em 15 de março de 1903, Lima Barreto, após ter lido o Catecismo ortológico, enviou a Magnus Sondahl uma carta, pedindo mais informações sobre o assunto. Pedia-lhe a remessa de “algumas mais publicações” que lhe esclarecessem o espírito e contribuíssem para a sua “completa iniciação”.56 Dois dias depois, Sondahl responde-lhe, desculpando-se por não poder enviar as publicações do Areópago57 referentes ao tema, por estarem elas esgotadas. Além disso, informa que grande parte do conhecimento relativo à ortologia, sobretudo a sua parte “esotérica”, “a mais importante da propaganda”, só era comunicada “em lojas, aos iniciados, conforme o seu grau”.58. Aquilo que não era restrito aos iniciados podia ser estudado em seus livros ou através de lições oferecidas na Universidade Sociocrática, por ele fundada.(Grifos nossos). Ainda seguindo Leonidio (2006), Magnus Sondahl tinha uma obra relativamente vasta, podendo-se destacar as seguintes: Descrição resumida de um núcleo sociocrático durante a fase transitória da plutometria. Rio de Janeiro: s.c.e., 1900; Preleções ortológicas realizadas na Biblioteca Pública de Curitiba. Curitiba: Correia, 1901; Ensino racional de leituras em quatro lições sistemáticas. Rio de Janeiro: J. S. Cunha, 1908; Relatório apresentado pelo inspetor agrícola do quinto distrito. Bahia: Offic. dos Dois Mundos, 1911; Da magia natural – revelação do grande arcano. 200° tratado da grande enciclopédia ortológica. Bahia: Offic. Xylo.-Typ., ano 15, 1912; Sociocráticos – a maior revolução do mundo. Apelo ao público pelo fundador da União Sociocrática. Rio de Janeiro: Typ. Guttemberg, s.d.
54
http://memoria.bn.br/pdf/765996/per765996_1910_00002.pdf LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-efilantropia.pdf 56 Documento da seção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 57 Conselho especial da maçonaria que reúne os maçons de grau 30. In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 58 Segundo Sondahl a parte da maçonaria responsável por este ensino era a “Maçonaria Católica” ou Sociedade Iniciática dos Construtores do Templo da Razão e dos Homens Universais, o que leva a crer que se tratava de um desdobramento da maçonaria, com forte influência do Apostolado Positivista. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 55
A Universidade Sociocrática ou Universidade Popular de Ensino Livre foi criada, ao que tudo indica, no início do século XX, embora não se tenha informações detalhadas sobre seu funcionamento. Não se sabe ao certo também se se trata da mesma Universidade Popular fundada por Fábio Luz ou, se não, da sua relação com esta. As aulas tinham um duplo fim: “tornar o estudioso apto para providenciar sua subsistência material e capaz de embelezar seu interior espiritual”, pois que se partia da máxima comtiana segundo a qual, para haver “harmonia na vida”, era “indispensável conciliar as necessidades biológicas ou físicas com as necessidades subjetivas”, criando assim um homem perfeito, completo. Os planos de Sondahl eram ambiciosos, como mostra a citação a seguir: A Universidade Popular de Ensino Livre tomará a si a instrução pública, primeiro no Brasil, depois em todos os outros países do mundo. Ela representa um plano de transição entre a instrução geral de hoje e a instrução mais positiva do porvir. Faz parte da propaganda da União Universal Sociocrática e conduz o homúnculo de nossos dias, através dos altos mistérios da Maçonaria Católica, transformado em homem, até o pórtico majestoso do futuro Templo da razão, onde, por fim, imperará a ortologia, ou a lógica universal.59 Ressalte-se que o termo sociocracia é outro neologismo de Magnus Sondahl, designando um governo da sociedade por ela mesma, daí a simpatia pela ortologia por parte dos anarquistas. É importante destacar que na historiografia brasileira, o termo sempre foi referido como uma invenção de Comte, o que não é certo, pois que não se encontra em nenhum escrito do positivista francês. Além disso, é o próprio Sondahl quem reivindica para si o termo. Para Leonídio (2008), a “nova religião” intentada por Magnus Sondahl foi uma tentativa de dar nova feição à maçonaria tradicional, a partir da grande influência sofrida pela doutrina do Apostolado Positivista, mas também uma tentativa de substituir ou de concorrer com a doutrina de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A adoção da chamada “via iniciática” e sua busca obsessiva pela verdade absoluta – daí, talvez, o uso do termo ortologia, como sinônimo de maçonaria católica – pode ter contribuído, neste caso, para uma maior aproximação com o ideário positivista. Quando a “maçonaria católica” começa a aparecer, no início dos anos noventa, o positivismo também já não dispunha da mesma gravitação de antes, embora se mantivesse o mesmo estado de espírito e o clima de opinião que, a partir dele, passou a contaminar vastas camadas da sociedade brasileira. Neste sentido, pode-se concluir que a “nova religião” intentada por Magnus Sondahl foi uma tentativa de dar nova feição à maçonaria tradicional, a partir da grande influência sofrida pela doutrina do Apostolado Positivista, mas também uma tentativa de substituir ou de concorrer com a doutrina de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A adoção da chamada “via iniciática” e sua busca obsessiva pela verdade absoluta – daí, talvez, o uso do termo “ortologia”, como sinônimo de maçonaria católica – pode ter contribuído, neste caso, para uma maior aproximação com ideário positivista. Por outro lado, o uso do termo “católica” demonstra por si o quanto a oposição Igreja/Ilustração26 está longe de ser o cerne das posições da maçonaria no Brasil. Esta utilização talvez denuncie já a importância da idéia de Religião da Humanidade, uma vez que o próprio Comte nunca escondeu a sua admiração pela instituição católica60 59
GAZETA OPERÁRIA, Rio de Janeiro, n. 7, 9 de nov. de 1902. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 60 LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-efilantropia.pdf
MARÇO, 18 – Refere-se à algumas revistas publicadas no Rio de Janeiro, Bahia, e Maranhão:
PACOTILHA 1904 – 68
MARÇO, 24 em A pacotilha publica nova crítica literária:
MARÇO, 28, nova análise sobre a situação economica do Maranhão, abordando suas indústrias
ABRIL, 04 – continua, em A Pacotilha, a análise da situação economica do Maranhão, com a produção das fábricas aqui instaladas>
– O Diário da Tarde61, de Curitiba, faz referencia ao concurso literário que Miguel Hoerhan, austriaco, contratado como diretor do curso de educação física, residindo já há mais de um ano em São Luis, havia instituido, e que a Comissão formada para julgar as poesias que
61
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=800074&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190
tratavam de educação física haviam concluido seus trabalhos, anunciando-se os premiados e os membros da comissão:
07 – volta a publicar a sua coluna de crítica literária, em A PACOTILHA:
13 – A Pacotilha publica a seguinte carta:
14 - após as críticas, continua a publicar sua página de literatura:
18 – Publica, em A Pacotilha, interessante artigo sobre a Ilha de São Luis:
19 – Confirmado o interesse em publicar os atigos de Fran Paxeco que apareceram em A Pacotilha sobre a economia maranhense:
21 – Nova resenha crítica é publicada, analisando a obra de Guerra Junqueira:
25/04 – Novo artigo sobre a Ilha de São Luis, ocupando quase toda a página do jornal:
28/04 – Mais um artigo, em sua coluna de crítica literária:
30/04/1904 – A Pacotilha anuncia que já estava na gráfica, para publicação, o novo livro de Fran Paxeco, patrocinado pela Associação Comercial, versando sobre a economina maranhense, coletanea de seus artigos publicados em jornal
MAIO, 03 – A Pacotilha replica artigo publicado em jornal de Barra do Corda sobre Fran Paxeco:
09/05 – Novo artigo sobre a economia maranhense é publicado
VIAJA PARA MANAUS E, A SEGUIR, ACRE MAIO - dirige-se a Manaus, de onde parte, em Agosto, a convite do, então, Coronel Taumathurgo de Azevedo62, para o Alto Juruá, como seu Oficial de Gabinete, mesmo depois da recusa de se naturalizar para tal fim.
ALTO TURÚ AGOSTO - dirige-se para o Alto Juruá. SETEMBRO, 28 - Assiste à fundação da cidade do Cruzeiro do Sul63, e o seu nome figura na Ata da Fundação da Cidade, que foi depositada no monumento que ficou a assinalar o evento. As suas funções incluíam a Direção do “Cruzeiro do Sul”, órgão oficial da Prefeitura. 62 GREGÓRIO TAUMATURGO AZEVEDO (Barras, 17 de novembro de 1853 — Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1921) foi um político brasileiro. Filho de Manuel de Azevedo Moreira de Carvalho e de Angélica Florinda Moreira de Carvalho. Sentou praça no Exército aos 15 anos de idade, como segundo cadete do 1º Regimento de Cavalaria. Em 1870, ingressou na Escola Militar no Rio de Janeiro, então capital do Império, e em 1874, tornou-se alferes. Ao concluir o curso de engenharia militar, passou a servir nas fortalezas de Santa Cruz, da Laje e de São João. Em 1879, foi nomeado secretário da Comissão de Limites do Brasil com a Venezuela, chefiada pelo barão de Parima. Em 1883, voltou ao Rio de Janeiro e foi condecorado pelos governos do Brasil e da Venezuela. Já no posto de capitão de engenheiros serviu no Arquivo Militar, onde iniciou a confecção da Carta Geral das Fronteiras do Brasil. Em 1884, foi para o Amazonas como comandante-geral das fronteiras e inspetor de secas e fortificações. Algum tempo depois, foi enviado a Pernambuco como engenheiro da estrada de ferro entre Recife e Olinda e perito do prolongamento que ligava a capital à cidade de Petrolina. Nesse período ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Foi governador do Piauí, de 26 de dezembro de 1889 a 4 de junho de 1890. Governou também o Amazonas, de 1 de setembro de 1891 a 27 de fevereiro de 1892. É fundador do Município de Cruzeiro do Sul no Acre. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 29 de agosto de 1921 aos 67 anos de idade. https://pt.wikipedia.org/wiki/Greg%C3%B3rio_Taumaturgo_de_Azevedo 63Cruzeiro do Sul é um município brasileiro localizado no interior do estado do Acre. É o segundo município mais populoso do estado, superado apenas pela capital, Rio Branco, da qual se distancia 632 quilômetros. É, ainda, um dos mais importantes polos turísticos e econômicos do Acre. Além disso, Cruzeiro do Sul é cercada de construções e monumentos que simbolizam e guardam a história do Acre. O município, cujo nome foi inspirado na Constelação "Cruzeiro do Sul", surgiu da implementação do decreto de 12 de setembro de 1904, quando o Coronel do Exército Brasileiro Gregório Taumaturgo de Azevedo instalou a sede provisória do município, em um local denominado "Invencível", na foz do Rio Moa. Teve sua fundação oficializada em 28 de Setembro de 1904, quando a sede do Departamento do Alto Juruá foi transferida para Cruzeiro do Sul. A área escolhida chamava-se
"Centro Brasileiro" e foi adquirida do Sr. Antônio Marques de Menezes pelo governo da União. Era localizado à esquerda do barracão central da casa de farinha e de algumas barracas isoladas.https://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzeiro_do_Sul_(Acre)
-Escreve a letra do hino de Cruzeiro do Sul64. Hino de Cruzeiro do Sul - AC No regaço da Selva asombrosa onde outrora espumava o Tapi Uma Bela Cidade Ruidosa Vimos hoje fagueira surgir Para o seio da Mata orvalhada as aragens correndo lá vão E no cimo da Selva ondulada Thaumaturgo Azevedo Dirão Pasma o índio bravio confundido Empolgando uma flexa nos ares Ao ouvir que é tão repetido Vosso nome nos nossos palmares O lampejo do sol do progresso Douro ufano este alcantil Contemplado será no universo Novo estado no chão do Brasil E do trono dos seus esplendores Sobre nuvens bordados de azul Deus semeia cascata de flores E abençoa o Cruzeiro do Sul. Composição: Fran Pacheco
PUBLICA - Os interesses maranhenses. São Luís do Maranhão, A Revista do Norte, 1904, XXVIII.
64O hino de Cruzeiro do Sul foi escrito por Fran Paxeco. A música foi composta por C. Ciarline. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/944111/; https://www.youtube.com/watch?v=2sBizzOqKgY
1905 A mudança de nome era comum, àquela época, entre os portugueses que migravam para o Brasil. Segundo Cunha Bento (2018) e Machado (2018), entre os comerciantes, era comum àqueles que chegavam, e homônimos, terem que alterar os nomes, para não se confundirem. Possivelmente Fran Paxeco alterou seu nome, Manuel Francisco Pacheco para Manuel Fran Paxeco devido à uma nota publicada na Gazeta da Tarde, mencionando um caixeiro português; a nota foi publicada ao tempo do estabelecimento de Fran no Rio de Janeiro:
JANEIRO, 30 – Publicada uma nota em O Diário do Maranhão sobre nova polemica envolvendo Fran Paxeco:
JUNHO, 25 – Em O Diário, anunciado o noivado de Fran Paxeco: