MARAMHAY - Revista lazeirenta 45 - 2020 (julho)

Page 1

MARANHHAY REVISTA LAZEIRENTA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (REVISTA DO LÉO) Prefixo Editorial 917536

NUMERO 45 – 2020 SÃO LUIS – MARANHÃO


A

presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 320 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA – 2020 VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS:

VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020

https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 41 – MAIO 2020

https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020

VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020

VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/4ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019


VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 –

https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM

https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/5ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20


VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec


EDITORIAL

A “MARANHAY – REVISTA LAZERENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Deixo de referir-me ao mês de publicação... apenas a sequencia dos números publicados: esta será a de numero 45... é que em tempos de confinamento, devido à pandemia ocorrendo no mundo, no Brasil, no Maranhão, em São Luis, no Recanto Vinhais, na Rua Titânia... o ‘povo’ está escrevendo muito... Continuamos com o resgate de fatos, eventos, atos... Continuamos com as mesmas sessões: Lazeirizes e lazeirentos, destinada ao Lazer: atividades, resgates, memórias... História(s) tem três divisões: a do esporte & educação física, e a(s) do Maranhão... E a coordenada pelo Faraó Ramssés, genealogia maranhense... Jorge Bento, desde o Porto – seguro – ou em qualquer outro porto – seguro – onde esteja atracado dentro do imenso mundo lusófano... continuamos navegando, haja vista ser preciso... Literatura, seus atores e seus atos, é a segunda parte, vamos dizer assim... Escritos – em especial as crônicas do cotidiano – seria redundância? – de ludovicenses, maranhenses, e de nascidos alhures, mas aqui militantes, seja prosa, seja poesia... Terminando, os Recortes & Memória de Fran Paxeco... seguimos recuperando os fatos de sua vida, no Maranhão, em portugal, e em litros portos... navegar é preciso...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO 2 7 8 10

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

LAZEIRICES & LAZEIRENTOS NONATO REIS A BELEZA MAJESTOSA DE UM JOGO DE FUTEBOL ANTONIO NOBERTO O MARANHÃO PÓS-PANDÊMICO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ USO SOCIAL DOS ESPAÇOS ABERTOS URBANOS

HISTÓRIA DO ESPORTE & DA EDUCAÇÃO FÍSICA MARCO AURELIO HAIKEL MESTRE CANJIQUINHA - "A ALEGRIA DA CAPOEIRA". MARCO AURELIO HAIKEL DA TRADIÇÃO DE CANJIQUINHA/SAPO/PATINHO: LEGADOS DE ABERRÊ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE... O ULTIMO CAPOEIRA... RAMSSES DE SOUSA SILVA BIMBINHA, O MENOR JOGADOR DO MUNDO! HAMILTON RAPOSO REI ZULU, MONTILLA E MMA (2017)

11 13 15 16 19 24 31 33 34

HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO

39

FERNANDO SOUZA O PIONEIRISMO DE JUDITH PACHECO NA MAGISTRATURA MARANHENSE E NACIONAL EDMILSON SANCHES O CAXIENSE OSVALDO FERREIRA DE CARVALHO DANIEL PIRES O MARQUÊS DE POMBAL, O TERRAMOTO, MALAGRIDA E SETÚBAL CARLOS ANJOS GABRIEL PADRE GABRIEL MALAGRIDA: O ÚLTIMO CONDENADO AO FOGO DA INQUISIÇÃO F GERSON MENESES NOVOS REGISTROS SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO PADRE GABRIEL MALAGRIDA NA CONSTRUÇÃO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO EM PIRACURUCA

40

NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO Extraindo histórias com o faraó RAMSSES DE SOUSA SILVA

55

JOÃO DIAS REZENDE FILHO‎ ENTRELAÇAMENTO ENTRE OS CORRRÊA DE MATOSINHOS, PORTUGAL E OS RIBEIRO E MORAES DE ALCÂNTARA, MARANHÃO. OS GARRIDO CHALÉ DA FABRIL (1950-2017) TATÁ MARTINS FAZENDA SÃO JOSÉ - PERI-MIRIM (SÉC. XIX) JOÃO DIAS REZENDE FILHO A CIÊNCIA GENEALÓGICA AUSÊNCIA NAGÔ EM CODÓ FAZENDA E ENGENHO BREJO - GUIMARÃES (SÉC. XVIII) A CASA DE BELFORT NO BRASIL

45 49 51

61 62 64 66 67 68 69 72 74 75

LITERATURA & LITERATOS CERES COSTA FERNANDES ATÉ QUE O CELULAR OS REÚNA MÁRIO LUNA FILHO DO PLANO FINITO 4 POEMAS DE CARVALHO JUNIOR CERES COSTA FERNANDES PÍTI, A ANDORINHA OU EU E OS BICHOS CERES COSTA FERNANDES

42

77 79 81 83 86


O CORONA E O REBANHO

MEMÓRIAS & RECORTES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – RECORTES & MEMÓRIAS – PARTE VI

103


LAZEIRICES & LAZEIRENTOS


A BELEZA MAJESTOSA DE UM JOGO DE FUTEBOL NONATO REIS Sábado de setembro. Ano de 2013. Sob sol escaldante fui assistir a Cruzeiro e Atlético Paranaense, no Mineirão, e fiquei a pensar na letra de “É uma partida de futebol”, música de Nando Reis, porém na voz de Samuel Rosa, o vocalista do Skank, ele próprio um cruzeirense apaixonado. Em qualquer lugar do mundo, seja no lendário estádio de Wembley ou num areal de praia qualquer, um jogo de futebol é algo bonito de se ver. Mas se for no Mineirão, há que se carregar no adjetivo. O que vi ali foi algo mágico, singular, surreal: uma catarse, que congrega arte, paixão, ódio, loucura. O futebol é tudo isso e talvez até mais, porque chega uma hora que extrapola o sentido mais abrangente da palavra que o descreve. Já assisti a um sem-número de jogos de futebol, a maioria nos estádios de São Luís, mas também em gramados de outras capitais. Fui testemunha, por exemplo, do jogo Brasil X Paraguai, em 1985, no velho Maracanã, válido pelas eliminatórias da Copa do México do ano seguinte. Em campo, um desfile de realeza, capitaneado por Zico, Sócrates, Junior. Mais de 150 mil torcedores viram o empate sem graça de 1x1 e o pau comendo no gramado, os jogadores se agredindo como se aquilo fosse uma arena de gladiadores. Nada porém se compara em beleza e emoção, ao fenômeno que presenciei no remodelado Magalhães Pinto. A torcida do Cruzeiro é um caso digno de estudo. Eles não apenas torcem, jogam junto com o time, como se agarrassem os jogadores pelos braços e gritassem, “vamos lá, estraçalha!”. Durante o espetáculo que se desenrola dentro das quatro linhas, as confortáveis cadeiras numeradas do Mineirão perdem a utilidade, se transformam em simples adereços ou peças decorativas. Ninguém senta. O estádio inteiro assiste e participa de pé. Cantando, aplaudindo, gritando, formando belíssimas coreografias. Quando em coro berram o nome do time, marcando, compassadamente, cada sílaba mágica, “Cru-zei- rô!”, parece que uma espécie de big bang explode dentro daquela imensa caixa de ressonância e viaja pelo espaço afora, levando medo aos adversários e raça aos fiéis e simpatizantes. Os cruzeirenses parecem um bando de malucos e fazem questão de serem confundidos dessa forma. Não por acaso a letra de uma das diversas canções que entoam durante o jogo faz exortação ao insano. “Dizem que somos loucos da cabeça/amamos o Cruzeiro é o que interessa/o mundo inteiro teme la bestia negra/seremos campeões e não se esqueça: somos loucos, somos Cruzeiro!”. Agora imagine-se um cântico desse entoado em coro por mais de 30 mil fanáticos dentro daquele globo circular? As pilastras do Mineirão parecem vergar. Se o concreto, que é de ferro e cimento, estremece; o que dizer da arbitragem, que é de carne e osso? Primeiro tempo de jogo, 37 minutos. O Cruzeiro já vencia pelo placar mínimo e desfilava soberano em campo. Depois de uma troca rápida de passes na intermediária, Ricardo Goulart fica cara a cara com o goleiro. Dá uma cavadinha por cima dele. Mansamente a bola balança as redes. As arquibancadas vêm abaixo. Em vão. A auxiliar Katiuscia Berger havia levantado a bandeira assinalando impedimento absurdo. Depois, como que arrependida, baixa o equipamento e caminha para a extremidade da linha que divide o campo. Tarde demais para evitar o apito do árbitro Raphael Claus. Os jogadores cercam Katiuscia. A torcida urra ensandecida. “Pi-ra-nha! Pi-ra-nha!”. Sobra também para Claus. “Ei, juiz! Vai tomar no cu!”. Até o final do primeiro tempo e boa parte do segundo os dois tiveram que conviver com a pressão das arquibancadas.


Sob o meu olhar indulgente, a bandeirinha se transformou de vilã em vítima. Dava pena vê-la caminhando, tropegamente, pela zona marginal do campo, arrastando o seu bastão que, àquela altura, devia pesar uma tonelada. Muito além do aspecto puramente mecânico, o que é o futebol, afinal? Nelson Rodrigues o definia como uma paixão avassaladora, uma luta heroica não pela vitória, mas pela vida entre gladiadores uniformizados e cercados por torcidas delirantes. Pode ser. Porém, vendo aquele fenômeno do Mineirão, desconfio de que há, misturado a essa força indômita, algo sublimado, que o faz transcendental. Armando Nogueira foi quem mais entendeu e exercitou essa linguagem do futebol, metade física, metade quântica. Na despida de Zico do Maracanã, ele fez uma crônica de véspera, exortando o maior templo do futebol a uma despedida digna dos deuses. “Maracanã, enfeita de bandeiras tuas arquibancadas que hoje é dia de festa. Encomenda um céu repleto de estrelas. Convida a lua (de preferência, a lua cheia). Veste roupa de domingo nos teus gandulas. Põe pilha nova no radinho do Geraldino. E, por favor, não esquece de regar a grama (de preferência, com água de cheiro)”. O futebol é inexplicável, porque concreto e ao mesmo tempo imaterial. Como descrever, por exemplo, o instante em que a bola ultrapassa a linha do gol e se esparrama na rede, fazendo-a tremular, sabe-se lá se de raiva ou simplesmente pelo prazer de ver explodir aquela onda de sentimentos diametralmente opostos? De um lado, os que se regozijam no prazer visceral da supremacia. Do outro, a mais dura frustração do golpe certeiro no fígado, que faz perder a respiração. Quando um jogador lança a bola de um dos lados do meio de campo para a outra extremidade, procurando um companheiro postado rente à linha lateral, não se poderá comparar com um objeto qualquer arremessado de longa distância. Porque a bola, ao invés de agredir o espaço, se harmoniza com ele. E viaja, tão soberana e majestosa, que se tem a impressão de um objeto luminoso enfeitando o céu. E quando, afinal, encontra o seu destino, não se pode dizer que agride o peito do jogador, porque nele morre tão mansamente que, ao contrário do baque esperado, parece um abraço entre ambos. Futebol é tudo isso: força, poesia, arte em movimento. Suscita sentimentos diversos e trafega nos limites do insano. Pode matar de tristeza, mas também fazer explodir de alegria. Uma soma de opostos que Samuel Rosa soube interpretar muito bem. “Posso morrer pelo meu time/Se ele perder, que dor, imenso crime/Posso chorar, se ele não ganhar/Mas se ele ganha, não adianta/Não há garganta que não pare de berrar”. Até hoje sinto ecoar de algum lugar o grito de guerra da nação azul-celeste. “Cru-zei-rô!”. E fico a cismar, algo esquisito. Será que também fiquei louco?


O MARANHÃO PÓS-PANDÊMICO ANTONIO NOBERTO Para entendermos melhor o mundo que nos espera após um semestre de pandemia e parte dele em quarentena, além dos lockdowns da vida, será preciso vasculhar um pouco dos porões da história em busca dos melhores remédios para uma sociedade empobrecida material e psicologicamente e com direitos restringidos. E inevitavelmente a sociedade sairá da pandemia debilitada, mais pobre e com muitos traumas. Por outro lado, considerando que toda tragédia traz consigo oportunidades e um recomeço, é preciso mais do que nunca ter fé para acreditar no “pote de ouro no pé do arcoíris” e enxergar os nichos de oportunidades que se nos apresentam. Aqueles que se prepararem com a confiança, estratégias, e um espírito forte e desbravador colherão os frutos oferecidos pela reconstrução e pelo recomeço de um novo mundo. E este deverá ser o perfil das empresas e dos profissionais que obterão sucesso em todo o mundo. Foi o cultivo destes e de outros valores que fez do Maranhão uma estado forte e pujante a partir de meados do século XVIII. Foi um espírito desbravador e empreendedor que fez de São Luís a “Quarta cidade brasileira”, uma princesa em meio a plebe das cidades nortistas. Tudo isto nos faz crer que temos muito a aprender com aqueles que nos legaram exemplos de como vencer as dificuldades e as depressões do espírito e da economia. O historiador e palestrante Leandro Karnal disse em entrevista, que toda guerra, revolução ou pandemia abrevia processos já existentes, a exemplo da aceleração do uso de tecnologias, o trabalho home office, as reuniões por vídeo conferência e a realização de lives. E outra tendência para o mundo pós-pandêmico é aprender a viver melhor com menos recursos, simplificar e ressignificar a vida e quase tudo em volta. E neste processo de ressignificação, o estado do Maranhão poderá sair na frente se trabalhar a contento e as suas vocações e potencialidades, especialmente no turismo. Foi exatamente o que fez a Espanha no início da década de 90, quando investiu forte no setor de turismo e em dez anos conseguiu quadruplicar seu PIB no segmento, que saltou de quatro por cento para dezesseis. O investimento no turismo foi tal monta que o país ibérico subiu posições e passou a figurar entre as sete maiores economias do mundo, graças as estratégias aplicadas no setor. A Espanha nos ensina que precisamos voltar os olhos para o turismo, enxergar nossas potencialidades e oportunidades. No Maranhão, a estratégia em um primeiro momento é investir no turismo natural em paralelo com o histórico-cultural. Investir no natural é a estratégia em curto e médio prazos, vez que a pandemia está voltando as pessoas para a natureza, para as atividades físicas, e também porque a retomada das viagens privilegiará roteiros de curta distância e, portanto, dentro do próprio país. E o estado sendo rico em belezas naturais, coloca-se em situação privilegiada. No plano do histórico-cultural, ele deve ser preparado como nunca para ser o nosso carro chefe, vez que o engenho humano, presentes nestes atrativos, voltarão a ser mais valorizados a médio e longo prazos. E para isto será preciso abrir os olhos dos maranhenses para o real valor da nossa história, quando São Luís comandou as ações nesta parte do Brasil, tanto durante a França Equinocial, quanto no século do XIX, período em que éramos a “quanta cidade brasileira”, nas palavras dos viajantes Spix e Martius, que aqui chegaram no início dos anos mil e oitocentos. Precisamos ressignificar e valorizar o legado dos nossos antepassados, combatendo aqueles que sem a correta visão holística se deixam usar pela política pérfida que busca desvalorizar o grande legado que nos foi dado por aqueles que nos antecederam. E falando em legado e antepassados, eles tem a receita para o crescimento e desenvolvimento do estado nos dias atuais. Só precisamos fazer um exercício de humildade para entender que eles possuíam a devoção ao trabalho e a virtude do conhecimento, qualidades que se traduziram em produção e riqueza material. Eles venceram os obstáculos da época e se tornaram grandes empreendedores, grandes ruralistas e industriais. Tudo começou com o espírito elevado de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 – 1782), o Conde de Oeiras, mais conhecido como o Marquês de Pombal, Primeiro ministro do rei Dom José I, que reinou de 1750 a 1777. Foi ele quem lançou as bases para o crescimento de Portugal e de suas colônias. O espírito judaico-empreendedor de Pombal foi a senha para o nosso crescimento, que teve início com uma petição de 1752 da Câmara Municipal de São Luís solicitando ao governador Mendonça Furtado a criação de uma sociedade autorizada a explorar o


comércio. Daí surgiu a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, instalada no Centro de São Luís a partir de 1755. Foi o divisor de águas para o estado, que nunca mais foi o mesmo. As casas de palha ou de taipa foram, gradualmente, substituídas para grandes casarões coloniais. Uma lei aprovada pela assembléia provincial autorizou que os filhos dos maranhenses fossem estudar na Europa, fazendo assim o casamento entre conhecimento e empreendedorismo. Desta união resultou o progresso, com o comércio pujante e intenso e, ao mesmo tempo, uma província que sabia transpor questões menores e galgar espaço internacional. No século XIX, além de uma forte presença lusa, que negociava o grosso do comércio regional, São Luís mantinha com seus gostos e gastos uma colônia de comércio de artigos de luxo, ligada à França, e uma colônia inglesa, que vendia o conforto, através das máquinas. Deste período glorioso restou o maior acervo colonial português da América, o título de Atenas brasileira e o legado do empreendedorismo daqueles que não aceitaram as cortinas de fumaça que os interesses localizados tentavam impor. Esse deve ser o espírito que precisamos absorver para fazer do Maranhão novamente um lugar de liderança, onde maranhenses, brasileiros e estrangeiros fizeram da sua capital La petite vile aux palais de porcelaine (a cidadezinha dos palácios de porcelana). Neste período de depressão econômica que nos acomete, é importante lançarmos mão dos ensinamentos e do espírito das outras gerações, especialmente aquelas que fizeram do Maranhão um lugar vicejoso, onde o Brasil e o mundo para cá afluíam em busca de oportunidades, qualidade de vida e de dias melhores. *Turismólogo, guia de turismo, pesquisador e escritor. Membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL); sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); membro da Luminescence Academie Française (Vale do Loite/França); membro da Academia Vargemgrandense de Letras e Artes (AVLA) e curador da exposição França Equinocial, em cartaz no Centro Histórico de São Luís. #sindegturma


HISTÓRIA: ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA


MESTRE CANJIQUINHA - "A ALEGRIA DA CAPOEIRA". MARCO AURELIO HAIKEL Assim se considerava e era reconhecido esse Grande Mestre da maravilhosa Arte Guerreira genuinamente brasileira, de matriz Africana, a Capoeira. Em respeito e honra à sua memória, cujo legado tem relação direta com a "reaparição" - termo cunhado por Mestre Patinho - da Capoeira em São Luís, eu vou contar um fato que presenciei e espero possa contribuir para esclarecer a verdade, acerca da ascendência do Mestre Sapo. Antes, porém, vale ressaltar duas questões: A uma, que a Capoeira foi presença marcante no Maranhão ao longo do século XIX, aonde desde a década de 1830 estendendo-se ao longo do século, ocorrências de ações e atos de capoeiras que punham em polvorosa as "famílias de bem". A primeira delas, na Vila de São Vicente de Férrer consta registrada nos anais do Senado e trazida à lume pelo Prof. Leopoldo Gil. Outras estampadas em jornais de época pedindo providências contra ações de capoeiras na capital; ou ainda, a sua prática proibida em códigos de postura, como o de Turiaçú-MA, nos idos da década de 1880. A duas, no contexto "reaparição", durante a década de 1960, por meio de duas vertentes. A primeira, com o Mestre Roberval Serejo, um maranhense que recebeu os saberes e práticas da Arte, como marujo, precisamente, quando estacionado em terras cariocas. Deve-se a ele, a criação da primeira academia de Capoeira em São Luís, a Bantú, em 1960. A segunda vertente tem relação direta com Mestre Canjiquinha, que em sua passagem por aqui na referida década nos deixou o seu discípulo, Mestre Sapo, cuja marcante atuação influenciaria em definitivo a prática de nossa Arte Guerreira, na Ilha do Maranhão. Pois bem, a razão maior desse texto diz respeito ao fato de ter sido Mestre Sapo, discípulo de Canjiquinha, ou, do Mestre Pelé da Bomba? Este, graças a Deus, ainda entre nós, no que desejo-lhe saúde e vida longa. Não obstante a honra que também seria se a nossa Tradição derivasse desse outro Grande Mestre, categoricamente, não o é, no que direi por qual motivo! Em uma das muitas viagens que fiz com Mestre Patinho, depois de descermos de Brasília até Porto Alegre aonde passamos uns bons e maravilhosos dias com Elma, sua discípula na Capoeira, e por ele formada mestra, subimos rumo a São Paulo. Em lá chegando ficamos na morada do grande artista popular, músico, compositor e, assim como Patinho, mestre - e seu irmão - de Capoeira, Tião Carvalho, por quem fomos calorosamente acolhidos. Outros bons dias, pois pela casa, feras, como Cacau Amaral, Nazaré, entre outros que faziam das manhãs, tardes e noites delícias regadas à música, danças populares, capoeira etc. Em São Paulo, Patinho me levou para conhecer o Mestre Brasília que, junto com Sapo e Vítor Careca, sob a liderança do Mestre Canjiquinha formaram o QUARTETO ABERRÊ, e saíram pelo Brasil afora na década de 1960 levando a Capoeira, entre folguedos e brincadeiras da Bahia. Ao se reverem, após vinte e cinco anos, não pude deixar de sentir-me maravilhado, pois Mestre Brasília recebeu o meu mestre com honras e festa, como quem recebe a um filho que há muito não via. A partir dali, eu pude ver a fina flor do que seja um capoeira recebendo um outro, por quem possui grande estima. Mestre Brasília, após as apresentações nos levou a conhecer o seu enorme espaço, com vários ambientes, o qual envolvia até um teatro. A partir dali, só deferências, o que culminaria com a oportunidade de Patinho retribuir a honra trazendo-o para um evento, no qual o Mestre Brasília se


tornaria o único mestre, convidado especial para uma das seis versões do "Festival de Cânticos de Capoeira", da Escola de Capoeira Angola do Laborarte, sendo a primeira, em 1992. Naquele dia, em São Paulo, depois do caloroso reencontro presenciado por mim e vários discípulos de linha de frente do Mestre Brasília, este nos apresentou boa parte dos ambientes que comprendiam todo aquele portentoso espaço, até chegarmos a um enorme salão aonde aconteciam as aulas. Uma vez lá terminadas as apresentações a quem ali presente, Brasília entregou a aula aos comandos de Patinho que, elegantemente agradeceu e pediu que ao término pudesse mostrar alguns folguedos e brincadeiras do Maranhão, no que agradou a todas/os. Então, o próprio Mestre Brasília visivelmente emocionado e alegre com a presença de Patinho resolveu dar a aula - o que uns alunos depois me confidenciaram que a maneira como tudo se procedera era uma raridade por parte do mestre - no que aproveitei, não sem antes pedir ao meu Mestre, e em seguida, ao mestre anfitrião para receber os ensinamentos. E ali, para minha surpresa e emoção a cada detalhe de movimento passado durante a aula, me sobrevinha uma profunda mistura de honra, de reverência, satisfação, júbilo e alegria, por saber que eu, Marco Aurelio Haikel, verdadeiramente pertencia a uma estirpe; a uma Tradição da Capoeira, em que meu Mestre era um direto e dileto praticante. Em nada, mas em nada era diferente dos ensinamentos que Patinho vinha me passando ao longo de anos. Tudo minimamente nos conformes! Nesse sentido, como negar que Canjiquinha seja verdadeiramente o elo entre nós e Aberrê e, antes desse, de gerações que nos legaram práticas, saberes e fazeres!? Com todo o respeito e honra que merece o Mestre Pelé da Bomba, mas depois de tudo o que experienciei com o Mestre Brasilia, sem nunca tê-lo visto, até o dia em que meu mestre, após 25 anos reencontrá-lo e eu vir a receber aula dele sem que nenhuma diferença houvesse entre a aula dada por Patinho e a de Brasília, como Mestre Sapo pode ter sido discípulo de Pelé da Bomba, se este nunca reivindica para si, o aprendizado de Brasília!? Enfim, eu não tenho a menor dúvida de que somos descendentes diretos de Canjiquinha, Aberrê e assim... uma vasta estirpe de grandes capoeiras.

MESTRE CANJIQUINHA - BA (1925- 1994) "A Capoeira é alegria, é encanto, é segredo" Washington Bruno da Silva, nasceu em Salvador (BA), filho de D. Amália Maria da Conceição. Aprendeu Capoeira com Antônio Raimundo - o legendário Aberrê. Iniciou-se na Capoeira em 1935, na Baixa do Tubo, no Matatu Pequeno. "No banheiro do finado Otaviano" (um banheiro público). Filho de lavadeira, Mestre Canjiquinha foi sapateiro, entregador de marmita,


mecanógrafo. Dentre outras atividades foi também jogador de futebol (goleiro) do Ypiranga Esporte Clube, além de cantor de boleros nas noites soteropolitanas. Participou também dos filmes "O Pagador de Promessas", "Operação Tumulto", "Capitães de areia", "Barra Vento", "Senhor dos Navegantes" e "A moça Daquela Hora". Além de fotonovelas com Sílvio César e Leni Lyra. Fundou o Conjunto Folclórico Aberrê, tendo sido Mestre de Antônio Diabo, Paulo dos Anjos, Burro Inchado, Madame Geny, Vitor Careca, Robertão e Brasília, dentre outros nomes da Capoeira atual.

Uma questão mais: qual o critério de Canjiquinha para arregimentar os membros de seu grupo folclórico? que saiu pelo Brasil?1

1

Questão que levantei para Mestre Marco Aurélio, que em resposta postou:


“DA TRADIÇÃO DE CANJIQUINHA/SAPO/PATINHO, LEGADOS DE ABERRÊ” MARCO AURELIO HAIKEL Mestre Canjiquinha era um artista de rua! Ele, além de capoeira era versátil em outras manifestações lúdicas e populares da Bahia. Logicamente que o carro-chefe era a Capoeira, haja vista que todos, sem exceção eram praticantes da Arte e alunos do mestre. Ele criou um jogo - dentro da Capoeira - denominado Samango2, aonde os jogadores se posicionavam como de lado, um para o outro. Ao ver a prática da "Ladja"3, uma dança-luta da Martinica - país da América Central - em que alguns movimentos, muito se assemelham aos da Capoeira, foi então que ao ver o "samango" jogado pelo próprio Canjiquinha - até então eu ainda não havia conhecido o Mestre Brasília - vi que tudo o que Patinho nos ensinava era o âmago, pois em nada diferençava. Notei que o "samango" tinha cono uma de suas fontes a Ladja. Ressalto que não foi o Mestre Canjiquinha quem me disse isso, mas sim, uma impressão minha, a partir do que pude perceber na prática da Ladja. O "samango", no que diz respeito ao toque em si, ressaltada a sua característica: o ir e vir constante na barriga, no entanto, o jogo - o qual o Mestre Canjiquinha reivindicava sua criação era praticado com os jogadores de lado um para o outro, aonde se movimentavam no ir e vir em relação ao outro soltando os golpes,os quais, poderiam ser giratórios ou martelo; chapa e outros possíveis ataques laterais, o que, obviamente, jamais uma bênção, ou, outro golpe frontal. Aliás, o "samango" é uma outra evidência de que Sapo fora discípulo de Canjiquinha, caso contrário, como Patinho conheceria o referido jogo e "toque", exatamente, nos termos praticados por Canjiquinha, se não fosse aquele ter recebido de seu mestre, Sapo!!!?? Mestre Madeira e eu nos idos 1990, nos encontramos em Salvador, na oportunidade fizemos várias visitas ao Mestre Canjiquinha, tanto no trabalho dele - era funcionário público municipal como na Academia dele, em um bairro, não recordo o nome, mas que ficava à margem da Avenida Paralela, salvo engano. Foi lá, que nós dois a convite do Mestre pudemos vivenciar uma semana inteira com ele e seus alunos, no que fomos muito bem recebidos. O Mestre possuía muitos recursos de malandragem de jogo, e não era bobagem não; pois esses recursos quando não imobilizantes tiravam o sujeito de tempo. Ele era muito inteligente - ressalte-

2 SAMANGO pode se referir a: Samango - gíria utilizada no Brasil para se referir a um policial; Samango (capoeira) toque de capoeira no qual a acústica da barriga é enfatizada; Samango - Homem muito preguiçoso; Samango - Uma espécie de Macaco; Samangos também refere-se a um grupo de amigos de Santa Cruz do Capibaribe - PE, muito conhecidos por suas poivas e reuniões mensais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Samango SAMANGO CAPOEIRA - Samango é um toque de capoeira onde a acústica da barriga é enfatizada. Era utilizado para mostrar que existia a aproximação de pessoas no local onde estava sendo executado e levava a velocidade das passadas, aumentando com a aproximação. 3 EL LADJA, DANMYÉ O AG'YA es una danza folclórica de combate de la isla de Martinica de origen africano, similar a la capoeira.1 Esta danza relacionada con la lucha, consiste en un juego de maña, habilidad y de la agilidad acrobática entre dos combatientes. El jefe en el círculo y los músicos controlan el tiempo de la competencia cantando, tocando los tambores y el otro instrumento que fue traído por los esclavos durante la colonización francesa a este territorio insular, que hoy constituye un departamento de ultramar de Francia. Se han planteado algunas incógnitas referentes a este arte como el posible parentesco que tiene con la capoeira pese a su lejanía con el Caribe o incluso que pueda ser el origen de ese arte brasileño.2 Como en todas las manifestaciones culturales de la música africana de la pendiente, la canción, la danza y la espiritualidad forman entonces una entera unificación. https://es.wikipedia.org/wiki/Ladja


se, uma característica, também, do mestre Madeira4, pelo que pude perceber no convívio com o mesmo em Salvador, por sinal, de extrema significância para mim, pois Madeira me levou a eventos e rodas, os quais, sem ele certamente não teria tais oportunidades. Essa prática do "quebra-gereba"5, Patinho costumava fazer entre os alunos mais antigos dele, no Laborarte, o que me restou claro ser um legado de Sapo, e deste por Canjiquinha. O "quebra-gereba", ao final das rodas, Canjiquinha - o que Patinho fazia na mesma pefada - dizia que só não podia bater nas genitálias e na cabeça, o resto era cair pra dentro e todos contra todos, o que segundo eles - Canjiquinha e Patinho - era para os capoeiras saberem se safar no momento de uma pancadaria geral, daí que nesse momento, final de roda, "madeira comia", generalizada. Das tradições: Quem diz que Meste Canjiquinha é um "bastardo" não conhece as diversas tradições da Capoeira Angola, ou, Capoeira-mãe, em Salvador, nas ilhas e no recôncavo. O conhecimento de tais pessoas se restringem, geograficamente, tão somente - no que eu fiz abordagens mais aprofundadas em outro momento, a respeito - a uma Tradição da Capoeira Angola, a qual se faz hegemônica no "corredor" Terreiro de Jesus--Santo Antonio, depois do Carmo, e que por ter mais visibilidade midiática passa como se fosse "a legítima" em detrimento das demais "bastardas". Eu digo e afirmo que tal fato é pura jogada bem sucedida de mercado! Essa Tradição ou Escola é a do Mestre Pastinha, hegemônica no referido espaço geográfico, pois vários mestres alunos daquele têm suas academias ali. Por outro lado, a verdade é que a Capoeira Angola ou Capoeira-mãe - assim como as muitas "tradições" ou, "sotaques" de Tambor de Crioula e Bumba-boi no Maranhão - na Bahia, precisamente, Salvador, ilhas e o Recôncavo são muitos os seus redutos. Em Salvador, de forma aleatória por bairros, Uruguay, Ribeira, ao longo da "cidade baixa"; Piripiri, Mangueira, Fazenda Grande, Brotas Federação, Tororó, Sete Portas, Pernambués, Itapuã Liberdade etc; as ilhas de Itaparica e de Maré; rumo ao recôncavo, Nazaré de Farinha, Cachoeira se estendendo até Santo Amaro da Purificação são vários os redutos da Capoeira Angola. Tais redutos decerto que alguns se materializam em manifestas "tradições", ou, "escolas". Quanto a Sapo ter sido aluno da Bantú, portanto, de Roberval Serejo, eu desconheço, pois nunca ouvi isso de Patinho, que antes de ter sido aluno de Sapo fora também da Bantú, cuja sede era próxima à sua casa, na rua perpendicular à São Pantaleão, a qual faz canto com a igreja do mesmo nome. O que não deixa de ser interessante pois segundo escritor e acadêmico Nascimento Morais, em sua obra "Vencidos e degenerados", o "bairro de São Pantaleão" sempre foi um reduto de capoeiras. Ainda sobre Sapo ter sido aluno de Roberval Serejo, dos três outros remanescentes da Bantú, vivos, aos quais fui apresentado por Patinho - Babalú, Mestre Bezerra, há muito radicado em

4

https://www.facebook.com/SIRIDEMANGUE/photos/mestre-madeira/10156974247739744/ 5 JEREBA substantivo de dois gêneros BRASILEIRISMO•BRASIL 1. equídeo ou muar ruim de montaria, magro e fraco; pangaré. 2. conjunto de peças com que se prepara a cavalgadura para montaria; arreios. jereba. Significado de Jereba. substantivo masculino Animal ruim de montaria, magro, fraco. Sujeito desajeitado. substantivo feminino [Brasil] Urubu-caçador. QUEBRA JEREBA. Dentro da prática da Capoeira esta é uma modalidade ou momento em que os golpes não tem mais uma enfase na dança, ritmo ou na cultura... a enfase é acertar o adversãorio pra valer. Vê-se muito esses mmomento em que os golpes não tem mais uma enfase na dança, ritmo ou na cultura ... a enfase é acertar o adversãorio pra valer. Vê-se muito esses momentos quando um determinado grupo visita outro, por quererem medir forças, acabam chegando ao Quebra-Jereba. Enfim, seria a luta pra valer...

http://www.achando.info/significado/65255/quebra-jereba.html


Belém, e, "cara de anjo" - e com todos eu tive oportunidade de conversar, não ouvir de qualquer deles tal afirmação. Quanto aos capoeiras terem influenciado e serem influenciados em danças e músicas, não tenho dúvidas. Um exemplo diz respeito ao Recife, aonde há estudos que apontam o passo do frevo como sendo oriundo da ginga, aonde para disfarçar e não chamar atenção da polícia, inicialmente, os capoeiras durante o carnaval à frente dos gremios recreativos assim o faziam até se consolidar em definitivo. A CARIOCA Mas uma boa leitura para se compreender o que afirma com propriedade, Mizinho, são as obras de Carlos Eugênio Libano Soares, a primeira, "Negregadas Instituições - a Capoeira no Rio de Janeiro, de 1850 a 1889, e, a segunda, "A Capoeira Escrava - de 1808 a 1850", com início na chegada da corte portuguesa no Brasil e se estabelecendo no Rio. O Rio, por ser a Capital do Império e depois, da República, para la confluiram negros, dos mais variados tipos e nações, quando não provindos diretamente de África, das inúmeras fazendas do nordeste e de outras regiões do país. Cá comigo imagino ser o Rio - cada qual com suas devidas originalidades, épocas e epeculiaridades - com o Quilombo dos Palmares, para onde confluiram negros, muitos, ancestralmente inimigos entre si; ameríndios, idem. E, judeus e muçulmanos, todos sabemos da animosidade entre esses povos, no que todos uma vez em Palmares, a ânsia pela liberdade, puseram os demais sentimentos de lado para conceber o que pode ser considerada a primeira república das Américas. O Rio era a confluência de tudo e de todos, aonde cada nação africana, ou, como diz Libano, estas com simbolismos do catolicismo popular somados aos de seus territórios e culturas oriundos de África foram se estabelecendo na geografia do Rio, de tal sorte que as freguesias, hoje, bairros representavam, além das questões diversas, entre as mesmas, de natureza econômica, socioculturais, políticas e étnicas. Afora o tráfico externo, proveniente dos portos ao longo da costa ocidental africana havia as levas internas de escravizados que ocorriam de uma região para outra, a depender da situação econômica, tanto dos ciclos, como de senhores grandes proprietários que se desfaziam de enormes contingentes, antes necessários para suas lavouras e, com o tempo não mais. Isso fazia com que os novos ares se tornassem motivo de apropriação geopolítica, se não, entre as inúmeras nações, as gentes africanas que chegavam nos "novos territorios . Esse contexto aponta para que entre essas migrações forçadas, a "carioca, ou, capeira" - quiçá em estilo próprio daquelas terras - tenha "surgido" nas bandas ocidentais das praias à leste da Ilha do Maranhão. Ainda somente para fins de registro - o que nada tem a ver com a presença da "carioca" pr'aquelas bandas - Cururupu foi durante um tempo após a proibição do tráfico e consequente bloqueio inglês na costa brasileira, um porto clandestino.

CAPOEIRAS DA VELHA GUARDA Quanto aos capoeiras receberem contribuições e ensinamentos de pares de outras "tradições" eu entendo como normal, agora, para quem possui raízes; legado; âmago... elementos os mais diversos, sejam no sentido de movimentação, ritualidade com simbólico, esses, sempre será possível observar o radical. Com relação a esses elementos lembro-me de um episódio comigo, logo nos meus três, quatro anos de Capoeira. Era um momento que Patinho nos proibia, terminantemente, de jogar em roda ou fazer jogo fora de sem a sua permissão, sempre negada nessa época - e ai daquele que ousasse. Foi então que havia conhecido Alan Preto - um dos capoeiras mais autênticos que já conheci, pois


o típico em tudo, irmão de meu grande amigo Pity de Alcântara. Alan, certa vez me viu treinando só na Praia da Ponta ďAreia e chegou junto me convidando para umas pernadas, dali rolou uma amizade e de quando em vez - sem Patinho saber - jogávamos umas pernadas na praia, de maneira que certa vez, ele me convidou para irmos além das pedras, rumo ao Farol de São Marcos, em uma época que a erosão ainda não havia derrubado boa parte da falésia sobre a qual o velho farol iluminava a praia de São Marcos. Naquelas imediações, lá embaixo, na direção do mesmo, então um lugar ermo para lá iam capoeiras da velha guarda. Foi então que pela primeira vez me deparei com os Mestres, Ruy Pinto e Euzamôr, junto ao um grupo seleto de capoeiras que Alan participava e até lá me levara, no que tive a honra de jogar com Euzamôr, oportunidade que ao ingressar naquela "roda" levei um natural "sambalêlê", no que após o jogo, Mestre Ruy me perguntou afirmando, "ei rapaz, tu és aluno de Patinho, não é?", no que afirmei que sim e ele respondeu, "eu logo vi pelo teu jogo". Um claro exemplo do "radical" próprio de uma Tradição, ou, Escola. CAPOEIRA ou CAPOEIRAGEM? Quanto ao termo Capoeiragem, você sabe ser a denominação dada à prática nos idos do século XIX, sendo os praticantes, capoeiras. No que diz respeito, à denominação que você dá, "Capoeiragem tradicional maranhense", eu não sei o Maranhão, embora saibamos da existência da Arte, em São Vicente de Férrer-MA e TuriaçúMA, mas é em São Luís que a "reaparição da Capoeira" acontece, sendo que esta influencia o interior do estado a partir do corpo que tomou o MARABRASIL, ao longo da década de 1990, por mestre Evandro, o precursor, de levar a Capoeira da ilha para outros rincões do estado. Quanto à "punga dos homens", esta, não chega a ser uma variação da Capoeira, apesar de alguns tipos de derrubadas - rasteiras e joelhadas - terem similaridades, mas a Capoeira com a sua diversidade de movimentos de defesa e ataque e outras tantas peculiaridades está muito mais para o conceito de arte marcial; ao passo que a "Punga dos homens" para um jogo de luta, no dizer de Serginho, ao relacionar contextos da E. F.


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10158380621562008&set=pcb.10158380649762008&type= 3&theater


UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE... O ULTIMO CAPOEIRA... O Jornal “A PACOTILHA”, edição de 02 AGO 1923 publicou o seguinte: ‘UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE - A capoeiragem e seus mais ilustres adeptos’. Como sempre fazia, reprodução de uma reportagem publicada no Rio de Janeiro, sem citar o local, nem o autor. Ocorria o mesmo em São Luis, por essa época? A respeito da capoeiragem e sua lamentável decadência, muita coisa interessante há a dizer. Salvo um ou outro malandro já em idade de aposentadoria, os novos valentes não conhecem mais os efeitos terríveis de uma ‘banda’ ou de uma ‘cocada’, preferem prosaicamente o uso de armas, sobretudo de fogo, porque a própria faca está também desacreditada. O desordeiro, deixando a calça bombacha e a botina de salto alto, fez-se almofadinha; a bravura foi substituída pela astucia. O Rio perdeu assim, o aspecto característico que apresentava em certos bairros escusos. Desapareceram aqueles negralhões hercúleos, de gaforinha eriçada e lenço no pescoço, que perambulavam a noite na praça Onze e outros lugares, amedrontando os transeuntes retardatários e ‘achacando’ os donos de botequins e bilhares. O valente de hoje, ao contrário, é débil e se veste com certo apuro de elegância; e ao em vez de arrancar o dinheiro aos pobres portugueses do pequeno comercio, age de preferencia nos clubs de jogo, como ‘mantenedor da boa ordem entre os frequentadores’. Tudo mudou. A navalha, que era a arma tradicional da malandragem e cujo uso foi até regulamentar para os marinheiros, desapareceu completamente dos registros policiais. Todos os crimes agora são praticados a revolver. Entretanto, não pode deixar de ser lamentável, sob certos pontos de vista, essa decadência da nacionalíssima capoeiragem. Se é verdade que a cidade perdeu os tipos pavorosos que a infestavam, menos verdade não é que nem por isso diminuiu a estatística de delitos. Talvez tenha até aumentado o numero de assassínios. Antigamente, as lutas eram decididas lealmente, de homem para homem, frente a frente; vencia o mais forte ou o mais ágil. Eram verdadeiros duelos em que cada um procurava tirar o maior partido, sem contudo empregar processos menos dignos. Esses encontros se realizavam principalmente nos dias de eleição e alguns ficaram memoráveis. Agora, é tudo diferente. O valente da ultima geração mata friamente a tiro e, quase sempre, de ‘chaveco’. Não há mais luta. Vence o que for mais ligeiro em apertar o gatilho. A CAPOEIRAGEM E SEUS ADEPTOS A capoeiragem, todavia, não era apreciada somente pelos malandros; tinha também adeptos nas camadas mais altas da sociedade. Rapazes de boas famílias procuravam, sem desdouro, aprender os seus difíceis passos, tomando como professores conhecidos especialistas. Sempre houve, porém, um forte preconceito contra ela, motivo pelo qual esses últimos apreciadores guardavam segredos de suas habilidades. Até na literatura teve a capoeiragem um representante. O sr. Luiz Murat6, poeta insigne e até durante uma legislatura, deputado federal, foi segundo dizem, um exímio salteador e um ‘braço’ de respeito. O “Moleque Baleiro” 7 atualmente na detenção, cumprindo uma sentença de trinta anos por crime de morte, conta maravilhas da sua ligeireza. Ainda poderíamos citar outros nomes igualmente notáveis, mas não é necessário; recordemos apenas o saudoso empresário Paschoal Segreto8 e a surra tremenda que aplicou no famoso lutador “El Tigre”. Chefiava esse 6

7

LUÍS NORTON BARRETO MURAT (Itaguaí, 4 de maio de 1861 — Rio de Janeiro, 3 de julho de 1929) foi um jornalista, poeta, filósofo e político. Foi o fundador da Cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Murat Ano 1921\Edição 08280 - Pag: 4 memoria.bn.br › docreader › WebIndex › WIPagina ... CRIMINOSO TA DELEGACIA MOLEQUE BALEIRO apresentava-se kailmo, na delegacia, na oceasião '¦ de ser autoado Não se mostrava arrependido da façanha; ... http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_03&pagfis=8240&url=http://memoria.b n.br/docreader

8

PASCOAL SEGRETO (San Martin di Cileno - Salerno, 22 de março de 1868 - Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1920) foi um empresário ítalo-brasileiro e pioneiro do cinema no Brasil. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pascoal_Segreto


brutamontes um grupo de atletas que disputavam campeonato de luta romana no ‘Maison Moderne’, quando, certa noite, procurou o empresário e fez umas exigências descabidas. Tratava-se de uma exploração, evidentemente. Paschoal Segreto negou-se a atendê-lo. El Tigre, consciente de sua força, insistiu e terminou fazendo uma ameaça. Não chegou, dizem, a conclui-la, porque rolou logo no chão, com uma cocada oportuna de Paschoal Segreto. Erguendo-se, tentou subjugar o seu adversário, porém, desvencilhou-se rapidamente e, em seguida, deu-lhe uma serie de tombos perigosos, deixando-o completamente liquidado em poucos minutos. Entretanto, Paschoal Segreto era um homem de compleição mediana, ao passo que o outro era gigante. A CAPOEIRAGEM E A POLICIA O sr. Aurelino Leal9, quando chefe de policia, tentou introduzir a capoeiragem na guarda civil como meio de defesa pessoal. Queria empregar aqui o exemplo dos Estados Unidos, cuja policia, constituída, aliás, de homens atléticos, era rigorosamente instruída em todos os processos uteis e conhecidos de subjugar um inimigo. Contratou, então, para isso o professor Mario Aleixo10, que é, talvez, o derradeiro cultor da capoeiragem. Mas, debalde. Os pobres guardas, obrigados a um trabalho normal excessivo, contra os exercícios a que eram obrigados e negaram-se a comparecer as instruções. Os próprios jornais protestaram também, vendo na louvável iniciativa uma exigência violenta e arbitrária. Desistiu o sr. Aurelino Leal e a Guarda Civil ficou, como era, isto é, só constituída de homens absolutamente incapazes de sustentar uma luta com qualquer meliante sem usar o cassetete ou, pior ainda, o revolver. DEFINITIVAMENTE CONDENADA Realmente, já agora parece definitivamente condenada a capoeiragem a desaparecer. O box, a luta romana, etc., empolgaram a nossa mocidade e até a malandragem. Ninguém mais quer saber como se dá uma excelente rasteira; entretanto, a capoeiragem, como meio de defesa ou de ataque, é insustentavelmente superior. E é pena. A capoeiragem consiste um esplendido exercício de agilidade, desenvolve os músculos, harmoniosamente, e, ao mesmo tempo, tempera o animo. Mas, é nacional e isto basta para lavrar a sua condenação. Preferimos sempre o que é estrangeiro, mesmo quando inferior. No Japão o ensino do ‘jiu-jitsu’ é obrigatório em todas as escolas e estabelecimentos públicos de instrução: não há japonês que não o pratique. Poderia ser feito o mesmo, entre nós, com a capoeiragem, se o governo resolvesse salva-la de olvido em que vai caindo. Mas seria inútil, ainda, qualquer tentativa nesse sentido. Como sucedeu com a Guarda Civil, no tempo do chefe Aurelino Leal, todos protestaram contra a ‘crueldade’ de sujeitar os rapazes das escolas a exercícios violentos. O ULTIMO CAPOEIRA É o sr. Mario Aleixo. Verdadeiro cultor da capoeiragem, que para ele não tem segredos, muito se tem labito pelo seu resurgimento, ora pela imprensa, concitando os poderes publicos a auxiliar e promover a instrução da capoeiragem entre nós, ora estabelecendo cursos de ensino da dificil arte. Ultimamnente, porem arrefeceu. Desilidiu-se de certo. E agora é professor de cultura física da Escola Normal, onde ensina as moças a inofensiva e inutil ginástica sueca.

Personagem 9

AURELINO DE ARAÚJO LEAL ou simplesmente Aurelino Leal (Rio de Contas, 4 de agosto de 1877 — Rio de Janeiro, 8 de junho de 1924) foi um advogado, jornalista e político brasileiro. https://pt.wikipedia.org/wiki/Aurelino_de_Ara%C3%BAjo_Leal 10 MÁRIO ALEIXO. Professor de Educação Física, mestre de capoeira, instrutor de defesa pessoal, professor de jiu jitsu, esgrimista, fotógrafo de jornal e teosofista. Um dos precursores no campo do magistério da Educação Física no Brasil, Mário Aleixo iniciou sua carreira no ano de 1917 na antiga Escola Normal. Auto-didata, numa época em que se davam os primeiros passos no Brasil da Educação Física aplicada às escolas, Aleixo distinguia-se pela sua criatividade, enorme energia e amor desmedido ao trabalho. Foi ele quem introduziu no Brasil a ginástica com música, e os movimentos plásticos, através de aulas acompanhadas por canto. http://almanaquedofluminense.com/index.php/tag/mario-aleixo/


O MESTRE DE CAPOEIRA Carlos Santoro http://almanaquedofluminense.com/index.php/2017/11/07/o-mestre-de-capoeira/

Mario Aleixo foi também um ardente divulgador da capoeira, prática introduzida no Brasil pelos escravos africanos, e considerada por um longo tempo como atividade perniciosa e proscrita, condenada até pela polícia. A memorável luta travada no Pavilhão Internacional da Empresa Pascoal Segreto, na Avenida Central, hoje Rio Branco, em 1909, entre o negro Ciriaco Francisco da Silva e o campeão japonês de jiu jitsu, Sada Miako, talvez tenha sido o auge da capoeiragem no Rio de Janeiro. No desenrolar da luta, os pulos de Ciriaco desnortearam o oriental, que foi colhido na cabeça por um rabo de arraia, caindo desacordado e sangrando na segunda fileira de cadeiras da plateia. Carregado por populares num cortejo que percorreu parte da Avenida Central, o vencedor, Moleque Ciriaco, vivia seus quinze minutos de fama. Tinha início a rivalidade entre a capoeiragem e o jiu jitsu que atravessaria as próximas décadas. Apesar da vitória de Ciriaco, Aleixo sabia das limitações da capoeira, de suas deficiências e falhas, e resolveu melhorá-la, incorporando ao esporte, que passaria a chamar de Defesa Pessoal (fig. 5), uma série de golpes de jiu jitsu, de luta romana e do boxe (seria Mário Aleixo o precursor do MMA no Brasil?) (fig. 6). Um procedimento condenado pelos puristas, que viam nos seus métodos um desvirtuamento das características tradicionais e primordiais da capoeira que tinham sido preservadas pelos mestres desta arte. Mas foi como capoeirista que Mário Aleixo voltou às manchetes dos jornais em 1931, por ocasião de uma famosa luta, realizada no Teatro República em 3 de dezembro, contra ninguém menos que George Gracie, o Gato Ruivo, irmão mais novo de Carlos Gracie. Aleixo, de 44 anos de idade, não foi páreo para o campeão de jiu jitsu, muitos anos mais jovem, perdendo a luta no segundo assalto após sofrer uma chave de braço (fig. 7).


fig. 5 – Mårio Aleixo demostrando alguns golpes que ensinava a seus alunos em reportagem de 1921.


fig. 6 – Seria Mário Aleixo um dos precursores do MMA no Brasil?


fig. 7 – Os jornais cariocas não foram simpáticos à Mário Aleixo após sua derrota para George Gracie em 1931.


Como professor de Educação Física, instrutor ou treinador, Aleixo trabalhou nos seguintes colégios e instituições: Colégio Pedro II, Colégio Anglo-Brasileiro, Abrigo Sete de Setembro (depois FUNABEM), União dos Empregados do Comércio, professor de Defesa Pessoal da Guarda Civil, introdutor da Esgrima de baioneta no Tiro de Guerra no. 5 (Forte do Leme), professor de Esgrima e jiu jitsu do Clube Boqueirão do Passeio, entraineur (como se dizia na época) do Vila Isabel, do Fluminense e do Andaraí, além do selecionado brasileiro, campeão sul-americano de 1919.

fig. 8 – Mário Aleixo em foto de 1927, ao retornar de um congresso teosófico na Holanda.

Filho de Luiz Antônio Pinto de Miranda e de Maria Gertrudes Aleixo, Mário Aleixo casou-se em 4 de abril de 1914 com Maria Egydia do Sacramento. O único filho do casal, Walter José, faleceu tragicamente antes de completar dez anos, em 1928, vítima de apendicite. Ao falecer, em 30 de maio 1947, aos sessenta anos de idade, Mário Aleixo trabalhava como professor de Educação Física da Escola Normal Carmela Dutra de Madureira.


BIMBINHA, O MENOR JOGADOR DO MUNDO! https://historiadofutebol.com/blog/?p=12883&fbclid=IwAR2ZborTdIQLfKODJqkqo7U5U_mvHYPAChjYmc0YkhnW638_zvTECwlZXQ

Bairro ludovicense do Tamancão, 10 de Junho de 1956; nascia ali um dos personagens mais emblemáticos do futebol maranhense, talvez o mais amado e odiado ao mesmo tempo de todos os craques que aqui foram revelados, o saudoso Reginaldo Castro, o eterno Bimbinha! Gênio com a bola nos pés, o endiabrado ponta esquerda talvez não tivesse noção de que suas características físicas e futebolísticas singulares iriam marcar para sempre a sua trajetória dentro e fora das 4 linhas, dentro e fora do seu Estado de origem. Ainda moleque, Bimbinha sempre ia observar os irmãos bons de bola Reinaldo e Egui nas disputadas peladas do Tamancão, em São Luís. Um dia, Egui não pode comparecer a um dos compromissos do clube amador Atlântico, do qual fazia parte. Na calor do momento, restou ao treinador completar o quadro com um pirralho que viera “vestido de jogador” ao lado dos irmãos, para quebrar um galho. Rapidamente todos notaram que aquele guri era muito mais talentoso do que o irmão titular; não seria fácil retirá-lo agora da equipe que acabara de integrar… Mas foi defendendo a camisa do Pedrinhas (provavelmente um time interno do famoso presídio da Zona Rural de São Luís), contra o Onze Irmãos (clube de presidiários), que o gigante apareceu de vez para o futebol maranhense. Bimbinha fez e aconteceu neste jogo. Diante de tal feito, o diretor do presídio José Carlos Viana Mendes, que também era dirigente do Maranhão Atlético Clube, proferiu ao nosso ídolo as imperativas palavras: “Moleque, você só vai sair daqui do presídio se der bode!” O que ele quis dizer, na verdade, era que Bimbinha estava, a partir de então, intimado a vestir a camisa do Maranhão, o famoso Bode Gregório. O garoto, afim de sair daquela “saia justa”, topou na hora. Mas, acostumado a driblar a tudo e a todos, terminou indo jogar mesmo entre os juvenis do Sampaio Corrêa. E não tardou a ocupar o posto de titular da ponta esquerda no time principal. Com estratosféricos 153 cm de altura e 51 kg no auge da carreira, Bimbinha várias vezes calçou as emblemáticas chuteiras Bubble Gummers nº 34, com as quais entortava quaisquer lateral mais


desavisado. Diretamente proporcional ao seu tamanho era também o seu salário, muitas vezes não condizente com o seu talento nato. Era o menor jogador do futebol mundial em atividade na época, e talvez até hoje ninguém tenha batido este curioso recorde. A verdade é que nunca ninguém o viu jogar mal; ou atuava de forma regular ou brilhantemente, jamais de forma medíocre! Era uma atração à parte nas disputas e clássicos futebolísticos maranhenses ganhando as mais diversas alcunhas a cada apresentação. Era tanto talento que irritava qualquer adversário! “Alegria do Povo“, “Xodó da Vovó” ou “Pequeno Prodígio“, Reginaldo era assim. Amado e odiado. Respeitado e difamado. Mortal dentro da área, Bimbinha lembra que, nos seus aproximados 250 gols durante a carreira, uma pessoa muito especial teve grande participação; seu falecido amigo e ídolo do Sampaio Campeão Brasileiro de 1972, o saudoso Djalma Campos, um genial armador maranhense. Foi Djalma que, em 1975, viu Bimbinha fazer desgraça numa pelada na salina do Tamancão e decidiu levá-lo, a todo custo, para defender o tricolor de São Pantaleão. Deu certo, e muito certo! Houve um jogo contra o Corinthians-SP onde Bimbinha fez uma jogada antológica depois de um drible tão esdrúxulo quanto inesperado. Depois de passar por outros jogadores da defesa corintiana, Bimbinha deu um “drible da vaca” passando por debaixo das pernas do zagueiro Zé Maria! Até hoje essa jogada ecoa na lembrança dos torcedores mais saudosos da capital maranhense, registrada, inclusive, em foto raríssima…Bimbinha era a arma secreta para irritar também outros times que vinham do Sul e Sudeste do país enfrentar o Sampaio Corrêa. Era a cura pra todos os males da apaixonada torcida boliviana! Infelizmente, quase no fim de sua carreira, Bimbinha foi obrigado a sair do Sampaio por questões trabalhistas; haviam explorado o craque durante anos a fio, deixando-o muito magoado. Foi atuar no arqui-rival Moto Clube, onde viveu ainda efêmeros dias de glória. Jogou também no Expressinho, Tupan e no futebol do Pará. Tentou a carreira política, com grandes chances de ser eleito vereador de São Luís em 1988, mas foi convencido por um cartola boliviano, que também estava na disputa, a deixar a idéia de lado, visto que a Nação ficaria dividida, arriscando não eleger ninguém ligado ao seu clube de coração. Pai de Régis e Silvano, Bimbinha tem por ídolos Zico e Roberto Dinamite, outros entortadores natos. Anos atrás, com a perda do emprego, passou por inúmeras dificuldades financeiras e ganhava a vida com as cotas das peladas e Campeonatos de Masters pelo time de veteranos do Sampaio. Atualmente está bem. Pobre mas bem. Simpático e acessível, sempre é visto nos principais eventos relacionados ao futebol maranhense e será homenageado nesta Sexta-feira, dia 3 de Dezembro, pela torcida organizada do Sampaio Corrêa, a Tubarões da Fiel, por tudo aquilo que já fez pelo clube e pelo futebol do Estado. Parabéns gigante Bimbinha! Continue sempre driblando as dificuldades da vida com um grande sorriso no rosto… BÔNUS (Bimbinha atuando na Final do Maranhense de 1982): http://www.youtube.com/watch?v=2-VljtIYRoY FONTE: http://candangol.blogspot.com/2010/04/bimbinha-o-entortador-do-maranhao_08.html


REI ZULU, MONTILLA E MMA (2017) HAMILTON RAPOSO

Escrevi este texto em 2017 e posto hoje como homenagem ao lutador da vida REI ZULU. Não há como ficar indiferente a grave contusão de Anderson Silva. O cara representa ou tem o perfil do brasileiro simples, negro, pobre e vitorioso. Devo fazer uma ressalva, admirar o homem Anderson Silva é muito diferente do que admirar o lutador de MMA. Não gosto de MMA e não a considero como esporte. Sou do tempo do telecath Montilla. Meus ídolos não eram desfigurados e não transmitiam a sensação de violência. Ted Boy Marino era o galã do telecath, depois de lutador virou palhaço na primeira versão dos Trapalhões. Tinha o Verdugo e uma série de lutadores, todos muito bem caracterizados, representando o bem e o mal, mocinhos e malvados. As lutas eram exibidas no horário nobre da televisão, não tinha fratura, não tinha sangue. Todos se deliciavam com as tesouras voadoras, imobilizações e saltos acrobáticos. Tudo era diversão, alegria e fantasia. Um circo televisivo! O patrocinador do evento era o Rum Montilla, uma bebida alcoólica de péssima qualidade, capaz de provocar a pior das ressacas e induzir da alegria ou o inferno. Teve aqui em São Luís um pico máximo de consumo da bebida, o período de carnaval da década de 1960 a 1970, era a bebida que embalava as matinais carnavalescas do Grêmio Litero Recreativo Português e ninguém da minha geração ficou isento de um porre e de uma ressaca provocado pelo Rum Montilla. Pois bem, o excesso de testosterona nos jovens tupiniquins maranhenses, embalados na onda do telecath, repaginou o telecath com o nome de luta livre, e surgiu o maior e mais completo lutador de todos os tempos: O REI ZULU. Acho ou tenho quase que certeza que o Rei Zulu descenda diretamente de alguma realeza africana. Forte, corajoso, educado, carismático e invencível na arte de trocar socos e pontapés. Rei Zulu não tinha técnico, não tinha treinamento qualificado em nenhuma arte marcial, sabia apenas dá porrada, porém dizia ser especialista no agarra/agarra. Certa vez a TV Mirante exibiu um de seus treinamentos, quando puxava pelo pescoço um imenso pneu de trator. Duvido se Anderson Silva tinha a força suficiente para puxar um pneu de trator pelo pescoço. Outra vez apareceu puxando uma carroça pelas ruas do seu bairro cheia de crianças. Rei Zulu era temido e capaz de vencer qualquer adversário sem desferir qualquer golpe, bastava fazer uma de suas famosas caretas que desconcentrava qualquer um. Suas lutas lotavam ginásios e campos de futebol, tudo sem mídia, sem patrocínio e sem o glamour global. Ninguém sabia o que era MMA. Rei Zulu representa o brasileiro nordestino, o mais forte de todos os brasileiros, o maranhense mais pai d’egua que existe. Um lutador invencível, nada na vida o abateu. Rei Zulu merece o respeito e admiração de todos. O Maranhão deve um imenso favor a este bravo guerreiro da luta pela vida e pela sobrevivência!


USO SOCIAL DOS ESPAÇOS ABERTOS URBANOS11 por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Mestre em Ciência da Informação Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão RESUMO O uso dos espaços abertos urbanos é essencial para o desenvolvimento de atividades comunitárias de caráter recreativo, pois além de permitir o uso social desses espaços por uma parcela da população, permite a urbanização e manutenção de áreas consideradas como problemas para as administrações públicas. Após análise do processo histórico do surgimento de parques públicos, apresenta-se sugestões do uso de espaços abertos urbanos para atividades de recreação pública.

Introdução: As grandes cidades brasileiras vem crescendo sem o necessário planejamento urbano. Suas zonas centrais, geralmente tombadas pelo Patrimônio Histórico, não permitem o estabelecimento de um plano de ocupação dos espaços abertos sob pena de descaracterizá-las. As novas áreas residenciais que vêm sendo criadas apresentam inúmeras áreas institucionais - chamadas de "áreas verdes" - que não recebem urbanização quando da entrega dos conjuntos residenciais. Outras áreas, públicas ou particulares, também não recebem qualquer tratamento. Constituem-se problemas - como centros de procriação de ratos, baratas e outros inconvenientes, quando não o são simplesmente invadidas por um contingente populacional proveniente das migrações da zona rural. As sugestões ora apresentadas visam sanar alguns desses problemas, com o uso social dos espaços abertos urbanos, planejando-se ambientes para o lazer. Espaço aberto urbano: origens: Na Inglaterra, antes da era industrial, grande parte da recreação ao ar livre se realizava em terrenos que se consideravam de propriedade comum. Os jovens nadavam despidos nos rios e canais; os esportes eram praticados em terrenos informalmente reservados para uso comum; as pessoas caçavam e passeavam em locais sem se importarem a quem pertenciam. Isto se modificou com a industrialização do país. Em algumas aldeias em desenvolvimento, os ricos conseguiram estabelecer zonas para seu uso exclusivo. Muitas dessas áreas eram antes ocupadas por pessoas comuns para sua recreação. Considera-se que essa situação levou o trabalhador a utilizar-se cada vez mais das tabernas como lugar para empregar seu tempo livre. Segundo CUNNINGHAN (apud GODBEY, 1986): "(...) o espaço que até então era considerado comum e público, um núcleo de atividades comunitárias, foi expropriado para o uso (ou de acordo com os parâmetros morais) de uma classe exclusivamente. O crescimento das cidades trouxe consigo a segregação de classes e uma ruptura com o sentido de comunidade usuais". Nos Estados Unidos, como na Inglaterra, antes do desenvolvimento dos parques urbanos, a recreação era realizada em pequenas porções de terras que estavam disponíveis - pátios de colégios, ruas, jardins de tabernas, ou qualquer outro local. Quando os primeiros parques urbanos foram desenvolvidos entraram em concorrência com os parques de diversão. De modo geral foram criados sobre terrenos que eram inapropriados para outros usos - terrenos pantanosos, dunas de areia, barrancos, solos rochosos - eram convertidos em parques. Segundo CRAZ (citado por GODBEY, 1986), o desenvolvimento do parque urbano pode ser dividido em quatro etapas históricas:

11

I Conferência apresentada no Seminário de Recreação da UFMa, I, setembro de 1989;

Publicado em REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, Volume 08, Número 01, jan/jun/2005 (Disponibilizado em Dezembro de 2006)


1. O Parque de Prazer: desenvolvido por Frederic OLMSTED e outros, representavam uma tentativa de recuperar a vida do campo na cidade, com o intuito de dar condições opostas à vida urbana. Se caracterizavam por terem lagos artificiais, gramados aparados, caminhos para carruagens. Os edifícios eram considerados um horror nestes locais, mas às vezes eram necessários. O ideal era permanecer o dia todo no parque, por isso necessitavam de locais para as pessoas se refrescarem, tomarem banho e outras necessidades. Igualmente surgiu a necessidade de se estabelecer ordem nesses parques, o que conduziu a muitas regras e regulamentações, reforçada pela polícia; 2. O Parque Reformatório: entre 1900 e 1930 as crianças foram um ponto importante no planejamento dos parques urbanos. O Parque Reformatório não constituía um substituto da zona rural, seno da rua. Era para uso diário, porém não para todo o dia. Impulsionaram a natação - para promover o banho entre as classes trabalhadoras -, os hortos infantis, a venda de leite puro, as artes manuais, os bailes populares, os serviços de biblioteca e a promoção do atletismo foram características dos Parques Reformatórios, planejados para melhorar a vida física, intelectual e moral dos habitantes das cidades; 3. As Facilidades Recreativas: durante essa etapa, os parques perderam a característica de melhoramento ou controle social. Os parque se voltaram para a vida urbana. Os sistemas de parques e de recreação começaram a guiar-se pelo conceito de "demanda" em vez de servir a considerações éticas ou morais - demanda significava o que as pessoas faziam ou queriam fazer durante suas horas de lazer. Os programas de recreação eram planejados para grupos comunitários, cujos interesses eram em uma única atividade, como a fotografia, treinamento de cães, tiro com arco e flexa; 4. O Sistema de espaço aberto urbano: esta etapa inicia-se em 1965 e se caracterizou pelo vazio filosófico a respeito da razão de ser dos parques. Por iniciativa de Thomas HORING, diretor de Recreação e Parques de Nova Iorque, os parques se tornaram cenários de concertos de "rock" e outros eventos de massa. A etapa de Sistema de Espaço Aberto representou, em certos aspectos a incapacidade de se estabelecer algum ideal de significado de espaço. Espaço aberto é definido simplesmente como "toda terra e água de uma área urbana que não está coberta de construção" - (GOLD, apud GODBEY, 1986). Se tornou um conceito quase genérico, concebido para ser aplicado indistintamente a todas as áreas urbanas. Para GODBEY (1986), o processo de desenvolver parques urbanos não é tanto assunto tecnológico senão de descobrimento cultural. Tendências atuais: Os locais para a prática de atividades de lazer são, em quase sua totalidade, construídos sob a perspectiva de atividade física de lazer e seguem as exigências do esporte de competição e elaborados a partir somente dos conhecimentos de arquitetos e engenheiros, que tornam esses ambientes monofuncionais e não oferecidos para a maioria da população. O cidadão comum tem outros objetivos, interesses e desejos do que o atleta, pois procura primeirammente a alegria, o prazer, a interação e comunicação com seus amigos e bem estar para seu corpo, através da prática das atividades físicas de lazer. É necessário planejar as construções esportivas respeitando as condições do homem, desenvolvendo outros tipos de instalações esportivas e recreativas de que as piscinas, estádios e ginásios tradicionais para a execução do esporte de alto nível. É necessário, nesse caso, considerar os critérios do movimento denominado " Esporte para Todos". Segundo PEREIRA DA COSTA (1981) "Esporte para Todos - EPT - é apenas um nome entre vários que convergem para pontos de identificação comum - esporte de massa; desporto de lazer; esporte recreativo; esporte comunitário; lazer esportivo; iniciação esportiva; educação física permanente...". A seguir so apresentadas algumas sugestões para ocupação de espaços abertos:


3.1. Parque "Esporte para Todos": iniciado na Alemanha, o "Programa Trimm Dich" corresponde ao projeto " Esporte para Todos", e desenvolve programas com corridas, passeios a pé, de bicicleta. Foi desenvolvido também um programa denominado "TRIMM PARK" para aproveitamento de áreas disponíveis em todos os centros urbanos. O "Trimm Park" é constituído de: 1 percursos de 1.000 a 3.000 metros, aproveitando a topografia do terreno; 2 um total de 1.000 a 3000 metros quadrados para um grupo de aparelhos naturais feitos de troncos de árvores, cordas, argolas e construções simples; 3 áreas definidas para grandes jogos e descanso; 4 pequenas construções rústicas para proteção contra chuva, lanchonete, vestiários, sanitários e fiscalização do Parque. Na Suíça foi montado um projeto padrão de nome "Vita Parcour" e se constitui de um percurso de 2.000 a 3.000 metros e 20 estações intercalando o percurso. Finlândia e França, com seus projetos " Cross Promenade" e "Parcour" procuraram percursos variáveis mais simples de diversos tipos de pisos (terra, areia, grama, etc) aproveitando obstáculos naturais dentro do percurso. O Parque "Esporte para Todos" é constituído de um conjunto de áreas, equipamentos e instalações que proporcionam aproveitamento total de áreas verdes disponíveis com objetivos de : lazer, esporte, ginástica e saúde. Constitui-se em um percurso de 1 a 3 quilômetros, acompanhado de estações (pequenas áreas livres para exercícios com e sem aparelhos); áreas para utilização de construções de apoio; vestiários, chuveiros, sanitários, salão de jogos recreativos, lanchonete, que deverão ser feitas de material rústico; áreas de grandes jogos: de acordo com o tamanho da área disponível e o número de freqüentadores, serão demarcadas áreas para realização de jogos que dispensem o uso de quadras oficiais; áreas para desenvolvimento de costumes regionais; áreas para "play-ground" e estacionamento. 3.2. Praças e Quadras de Esportes: projeto implantado pelo arquiteto Jaime LERNER em Curitiba-Pr, e estendido a outras cidades, como Florianópolis-SC, consiste na construção de equipamentos esportivos e de recreação em praças e quadras, com atividades voltadas para a comunidade. Os programas de Praças e Quadras de Esporte têm como objetivos: 1. oportunizar a iniciação esportiva e a recreação orientada para as mais variadas faixas etárias; 2. orientar a prática esportiva e recreacional ao ar livre, principalmente às crianças, de maneira a darem valor e a preservarem áreas verdes, parques, quadras e praças; 3. criar oportunidade de melhoria de saúde do povo, no que se refere à prática de atividades físicas de lazer. Funcionando nos períodos de 8 a 12 horas e das 14 as 18 horas para as populações infantil e juvenil e das 18 as 22 horas para a adulta, a programação proporciona o funcionamento de Escolinhas de Esportes (atletismo, basquete, futebol suíço, ginástica olímpica, handebol, volibol); Recreação (jogos e brincadeiras); Criatividade (desenho, pintura, colagem); Torneios inter e intra praças e quadras (visando a integração dos participantes) e outras atividades. Todas as atividades so orientadas por professores de Educação Física, mantidos pela Prefeitura Municipal, que organizam as turmas, respeitando as faixas etárias e desenvolvendo atividades de acordo com as mesmas. 3.3. O Quintal Comunitário: se constitui em uma ação conjunta entre o poder público municipal e a comunidade, na ocupação social de terrenos baldios existentes numa comunidade densamente


povoada e com falta de equipamentos urbanos de lazer. A ocupação social de terrenos baldios, iniciativa pioneira da Prefeitura Municipal de Sorocaba-SP, projeto idealizado pelo Prof. Dr. Antônio Carlos BRAMANTE, tem como objetivo: 1. oferecer à população equipamentos de baixo custo e alta eficácia de utilização comunitária; 2. minorar os problemas decorrentes da existência de terrenos baldios em áreas povoadas; 3. oferecer uma opção social de utilização de terrenos baldios a seus proprietários, quando o terreno não tem destinaçãoimediata ou mediata; 4. oferecer uma opção de urbanização. Para se atingirem esses objetivos, utilizou-se da seguinte metodologia: 1. levantamento sumário, numa aço conjunta entre o poder público municipal e associação de moradores, dos terrenos baldios existentes num bairro densamente povoado e com falta de equipamentos urbanos de caracterização social; 2. realização de um pequeno esboço do que poderia ser colocado no terreno, dependendo de sua localização, perímetro e condições topográficas; 3. discussão, com o poder público municipal, sobre a maneira mais viável de realização de serviços necessários - ou por meio de aço direta do poder público municipal ou através de ação conjunta, mutirão comunitário, etc.; 4. localização, via Prefeitura, do proprietário da terra, quando área particular; 5. discussão e apresentação para o proprietário do terreno, visando a autorização de uso da área; 6. elaboração de contrato entre o proprietário e o poder público municipalm contendo as finalidades do uso e o tempo pretendido para a utilização. Com essas ações busca-se diminuir o custo/benifício ao atendimento à demanda da população aos locais onde se possam desenvolver atividades de lazer, possibilitando a integração familiar e criando oportunidades para que a comunidade participe de todos os passos de implantação, execução, manutenção e avaliação. Os equipamentos implantados tem de ser de baixo custo operacional, podendo se constituir em: minicampo de futebol (20x40m); quadra de volibol de areia; circuito de "jogging"; aparelhos para exercícios físicos; quiosques de 6 m de diâmetro, aberto, com bancos de madeira ou de cimento ao redor; tanques de areia com 4 metros de diâmetro, etc... A partir de um certo número de equipamentos, e dependendo da área, será necessária a contratação de um professor de Educação Física para coordenar as atividades do "Quintal Comunitário". Conclusão: O crescimento das cidades só é possível com o desenvolvimento de áreas periféricas, com a construção de novos bairros. No traçado urbanístico dessas novas áreas são previstos espaços destinados ao uso comum - as chamadas áreas institucionais ou verdes - as quais não vem recebendo a urbanização necessária ou são abandonadas pelo poder público municipal, após recebê-las e incorporá-las ao seu patrimônio. Inúmeras áreas particulares sem a ocupação a que se destinam - construções residenciais ou comerciais - também se constituem em problemas. Estes espaços podem ser ocupados com equipamentos e facilidades que permitam a integração da vida comunitária, melhorando não só as condições de vida - a urbanização dessas áreas evitará a procriação de ratos e baratas e impedirá que se façam uso das mesmas como esconderijos de marginais e pessoas desocupadas - como se


constituirão em ambientes para o lazer, melhorando as condições de saúde da população, com a substituição do sedentarismo urbano por uma vida ativa. Bibliografia: BORGES, Maria Izolina. Quintal Comunitário. Comunidade Eportiva, n. 23, p. BRASIL, Ministério da Educação. Parque " Esporte para todos". Brasília :

14-16, 1983.

MEC/USP, 1979.

DIECKERT, Jurgen & MONTEIRO, Floriano Dutra. Parque de lazer e de esporte para todos. Brasília : MEC/SEED, 1983. GODBEY, Geoffrey. Espaço Aberto Urbano - perspectivas norte-americanas. in ENCONTRO INTERNACIONAL DE PESQUISADORES DE LAZER, I, Bertioga-SP, 1986. Anotações de conferência. GUIMARÃES, Hélio.O Lazer. Comunidade Esportiva, n.8, p.8-10, 1980. PEREIRA DA COSTA, Lamartine (ed). Teoria e prática do esporte comunitário e de massa. Rio de Janeiro : Palestra, 1981. PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA, Secretaria de Educação e Saúde. social de terrenos baldios.Comunidade Esportiva. n. 24/25/26, p. 20-21, 1983. REIS, Sérgio Roberto dos. Praças e quadras de esporte para todos em Comunidade Esportiva, n. 14, p. 9

A ocupação

Florianópolis-SC.

THARGA, Jacintho F. O esporte e a família. Comunidade Esportiva. n. 21, p. 822, 1982. TRAPP, Wilton Orlando. Ambiente de esporte de lazer em escola. Uma investigação sobre o planejamento de um modelo com a participação dos futuros usuários. Comunidade Esportiva n. 33, p. 16-24, 1985.


HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO


MEMÓRIA |

O PIONEIRISMO DE JUDITH PACHECO NA MAGISTRATURA MARANHENSE E NACIONAL FERNANDO SOUZA http://www.tjma.jus.br/cgj/visualiza/sessao/50/publicacao/433174?fbclid=IwAR2VhanG461nvXt_CIRvCm6TTXMwC Bxzsi2xgwxMH1UoWplx7SaBgZnp6hs

Historicamente a mulher teve sua participação obstaculizada em inúmeros espaços, seja pela herança colonial ou pelo comportamento patriarcal da sociedade brasileira. Até o início do século passado, a mulher era excluída da vida em sociedade, devendo-se ater aos afazeres domésticos. Mesmo com o advento da República e a instituição de um novo Código Civil (1916), a mulher continuou a amargar por longos anos a posição secundária na estrutura familiar, com total dependência do marido e a autorização expressa deste para realização de alguns atos da vida civil. Na magistratura, essa situação não foi diferente. Há estudos que revelam que a busca por espaços em uma área, tida como essencial para a sociedade e dominada por homens, foi ainda mais penosa. Ao longo do século passado a figura feminina precisou enfrentar uma árdua luta contra o preconceito e pelo direito de igualdade também na seara jurídica, movimento que ganhou força em meados do século XX. Nesse cenário, no Maranhão se destacou a personagem Judith de Oliveira Pacheco. Formada em Direito, foi a primeira mulher aprovada em concurso público para o cargo de Juíza de Direito no Estado, uma das poucas em todo o Brasil naquele período. Atuou nas Comarcas de Carolina, Tutóia, Icatu, Humberto de Campos, Buriti, Araioses, Bacabal, Pinheiro, Caxias e São Luís. Sua destacada atuação como juíza a levou a quebrar barreiras nacionais, sendo a primeira mulher a compor um tribunal regional eleitoral em todo país, em 28 de fevereiro 1969, oportunidade em que também foi a primeira a ocupar a cadeira de Corregedora Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA), no período de fevereiro de 1970 a março de 1973. No âmbito eleitoral, sua atuação ganhou notoriedade e seus trabalhos renderam notório reconhecimento, a exemplo daquele encampado no combate a fraude eleitoral. Em 30 de novembro de 1976 voltou a protagonizar novo episódio de pioneirismo, sendo a primeira juíza a ascender à Corte de Justiça Maranhense, assumindo o cargo de cargo de Desembargadora. Sua nomeação ocorreu por antiguidade, após aposentadoria do desembargador Aluízio Ribeiro da Silva.


Mulher de fibra, enfrentou resistência e preconceito de uma sociedade ainda marcada pelo patriarcalismo, que não aceitava uma mulher na condição de aplicadora da lei. Destemida, abriu caminho para a ala feminina também na magistratura, sendo esta uma conquista de todas as juízas que hoje fazem parte dos quadros da magistratura maranhense. Sua trajetória ficou marcada pela Integridade, honestidade, coragem e dedicação à causa da Justiça, atuando como uma verdadeira guardiã das leis. Posteriormente, em sua homenagem, o Tribunal de Justiça inaugurou a Creche Judith Pacheco, que acolhe filhos de servidores do Poder Judiciário durante o horário de expediente de trabalho. Na memória do Judiciário, maranhense e nacional, a obstinada magistrada Judith de Oliveira Pacheco, certamente possui um capítulo todo especial reservado à sua história. Fernando Souza Assessoria de Comunicação Corregedoria Geral da Justiça * Com informações extraídas do repositório alusivo aos 200 anos do Tribunal de Justiça e do sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral (http://www.tse.jus.br/o-tse/cultura-e-historia/museu-dovoto/temas/historia-da-justica-eleitoral-e-do-tse) asscom_cgj@tjma.jus.br www.facebook.com/cgjma


O CAXIENSE OSVALDO FERREIRA DE CARVALHO

EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br https://edmilson-sanches.webnode.com/

Neste 23 de maio marca-se o nascimento, em 1933, do educador caxiense Osvaldo Ferreira de Carvalho, que faleceu há 28 anos, em 06 de janeiro de 1991, em Imperatriz. Foi professor (de Inglês) em Caxias (MA), sua terra natal, nos colégios Caxiense, São José e Diocesano.e, mais tarde, professor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), em Imperatriz. Seus pais eram José Ferreira de Carvalho, maestro da banda Lira Operária Caxiense, e Eloya Maria dos Santos, a Dona Ló, que tiveram também Oneide Carvalho de Melo (residente em Caxias); Osvaldina Carvalho dos Santos (Rio de Janeiro - RJ); Maria de Carmo Carvalho da Silva (falecida); Odenise Ferreira de Carvalho (Rio de Janeiro - RJ); Oseneide Maria de Carvalho Pereira (Rio de Janeiro - RJ); e Marcus Vinicius de Carvalho (Rio de Janeiro - RJ). Um de seus alunos em Caxias foi Jacques Inandy Medeiros, escritor, pesquisador, médico veterinário, professor emérito e ex-reitor da UEMA, membro e diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e também ex-diretor do Banco do Estado do Maranhão, ex-secretário municipal de Educação e de Cultura de Caxias e ex-presidente da Academia Caxiense de Letras. Jacques Medeiros recorda que, na condição de reitor da UEMA, quando vinha ao "campus" de Imperatriz, ficava duplamente feliz, porque, nas reuniões na UEMA local, ele tinha um ex-aluno (o engenheiro civil Ronaldo Neri Farias, professor universitário) e um ex-professor, Osvaldo Ferreira de Carvalho, que viera de Caxias para Imperatriz a convite do irmão de Jacques, o desembargador aposentado Antônio Carlos Medeiros, que na época foi juiz em Imperatriz e apresentou Osvaldo Carvalho ao também magistrado José de Ribamar Fiquene, fundador da Faculdade de Educação de Imperatriz, instituição de Ensino Superior que mais tarde seria incorporada à Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM), depois UEMA. Curiosidade: Antônio Carlos Medeiros foi diretor do Colégio Caxiense quando Osvaldo Carvalho lá era professor, e mais tarde viria a ser padrinho de um dos filhos de Osvaldo, Wladimir.


O que pouco se sabe ou o que quase não se lembra é que, como recorda Jacques Medeiros, Osvaldo Carvalho "foi um dos maiores jogadores de futebol que eu já vi na minha vida; era um craque". Outros caxienses, conhecedores de futebol, asseguravam que Osvaldo foi um dos maiores centroavantes (jogador de ataque, geralmente o camisa 9) que eles viram jogar, no nível do mineiro Heleno de Freitas, que, de 1940 a 1953, atuou profissionalmente no Botafogo, Boca Juniors, Vasco da Gama, Santos, Junior de Barranquilla e América (do Rio de Janeiro). O economista e escritor Antônio Augusto Ribeiro Brandão, membro da Academia Caxiense de Letras, diz ter conhecido “muito” o jogador Osvaldo: “Jogava no Comercial, em Caxias, um time amador daqueles tempos. Uma das ‘linhas’ era fornada por Galvão, Zeca, Osvaldo, Nonato e Flávio”. O Sampaio Corrêa Futebol Clube, de São Luís (MA), conta-se, "ficou doido" para contratá-lo, mas o futuro professor caxiense "não ligou": à bola no pé, preferiu o giz na mão. As "quatro linhas" (do campo de futebol) tornar-se-iam as da lousa, o quadro-negro ou verde das salas de aula. Com a esposa, Hermínia Maria Lisboa de Carvalho, nascida em Fortaleza (CE) e residente em Palmas (TO), Osvaldo Ferreira de Carvalho teve um casal de filhos, que deram três netos aos pais: Aimée Desano, nascida em Fortaleza e casada com o americano Tim Desano, com quem tem um filho (Rafael Desano) e reside no estado de Michigan, nos Estados Unidos; e Wladimir Lisboa de Carvalho, residente em Palmas – TO e casado com Selma Carvalho, com quem duas filhas, Mariana Carvalho e Fernanda Carvalho. Osvaldo formou-se Bacharel em Letras Anglo-germânicas em abril de 1960, pela Faculdade Católica de Filosofia, da Universidade do Ceará. Uma curiosa coincidência: o diploma, expedido seis anos depois da formatura, é assinado, entre outros, pelo reitor Antônio Martins Filho (19042002), advogado, professor e escritor, nascido em Crato (CE) e que, em 1929, em Caxias (MA), fundou a firma “A Cearense” e, em 1935, foi um dos 14 fundadores do Ginásio Caxiense, do qual também foi diretor. Talvez nem o formando nem o reitor soubessem que Caxias e aquele diploma eram elos que os ligavam à “Princesa do Sertão Maranhense”. Antônio Martins também deu a Caxias um filho talentoso: nasceu caxiense José Murilo Martins, médico formado nos Estados Unidos, talentoso escritor e pioneiro em Hemoterapia no Ceará. Até hoje Osvaldo Ferreira de Carvalho não sai das lembranças de muitos de seus alunos. Wilton Lobo, engenheiro agrônomo e ex-vereador de Caxias, lembra: “Foi meu professor no Colégio Caxiense”. Cleide Magalhães, de Mirador (MA) e professora universitária em Imperatriz diz ter de Osvaldo “saudosa memória... meu professor na UEMA [Universidade Estadual do Maranhão]”. Fernando Cunha, fotógrafo e escritor imperatrizense, que o conheceu, atesta: “Grande educador”. Inês Maciel, advogada e escritora, membro da Academia Caxiense de Letras, relembra: “Foi um dos meus professores de Inglês, em Caxias. Gratas recordações!” Música e formada em Letras, a acordeonista e vocalista Fátima Boré, de Imperatriz, com “saudades eternas desse grande educador”, escreve: “O professor Osvaldo era um poço de sabedoria. Se bem me lembro, em suas aulas de Latim, o assunto que mais chamava a minha atenção, eram os ‘casos’ e as cinco declinações, não esquecendo a fábula ‘Lupus et Agnus’!” (“O Lobo e a Ovelha” foi escrita originalmente pelo escritor grego Esopo, dos séculos 7 e 6 antes de Cristo e reescrita para o Latim por Caio Júlio Fedro, escritor romano do século 1º da Era Cristã). Colega do professor Osvaldo e, por um tempo, coordenadora do curso de Letras onde ambos ensinavam na Universidade, Liratelma Cerqueira revela: “Sanches, com estes registros, ascendeume a saudade de um grande amigo e companheiro de milenares labutas profissionais. Criamos, artesanalmente, o jornal ‘O Coruja’, de cuja safra, devo ter algum exemplar, também. Lembra?” *** Além de conterrâneo, fui amigo do professor Osvaldo Ferreira de Carvalho. Conhecemo-nos na faculdade de Imperatriz (MA), onde eu fazia o curso de Letras. Nosso gosto comum pela Cultura e Literatura e, sobretudo, nossa cidade de Caxias, além da franqueza da amizade, do sentir-se à vontade com o outro, tudo isso permitiu-nos uma relação saudável, amiga, orgulhosa de nossa conterraneidade.


Brincávamos que, de tanto aprender outros idiomas (alemão, latim, grego, inglês...), ele, Osvaldo, já quase não inteligível em português... Após as aulas, depois das 22h, às vezes ele fazia questão de dar carona ou nos sentávamos a uma mesa de um discreto barzinho, para trocar ideias e relembrar Caxias. Como nem sempre uma carona é de graça, frequentemente eu tinha de ajudar o Osvaldo... a empurrar o fusquinha, para “pegar” e seguirmos pela cidade, cujas ruas àquela hora estavam pouco habitadas de seres automobilísticos. Não soube de imediato do falecimento do notável professor da Universidade Estadual do Maranhão, hoje Uemasul. O ano de sua morte, 1991, foi também o ano de passamento de minha mãe, que vinha há tempos enfrentando uma rara doença (colangite primária), de pouco mais de 30 casos no mundo na época. Atordoado com a progressiva, inexorável, inelutável perda materna e tendo de realizar muitos cuidados e viagens para atrasar o inevitável, não fiquei sabendo que, no começo daquele ano, já o grande amigo havia partido... Osvaldo e eu ainda criamos um jornalzinho na universidade -- parece-me que o nome era “O Coruja”. Devo ter, com certeza, exemplares entre as dezenas de milhares de itens bibliográficos de minha biblioteca. Apesar de, para alguns, ser um professor “severo”, creio que essa característica pode ser relativizada, em especial se dada por alunos que queriam, só, facilidades ou não se “aplicavam” nos estudos. Eu nunca encontrei dificuldade nas disciplinas do ilustre professor conterrâneo. Sua importância na Educação em Imperatriz foi reconhecida para além do carinho de seus alunos. A Biblioteca Pública Municipal de Imperatriz, criada em 1970, tem seu nome. Parabéns à família e familiares do talentoso professor Osvaldo Ferreira de Carvalho.


O MARQUÊS DE POMBAL, O TERRAMOTO, MALAGRIDA12 E SETÚBAL

O Terramoto de 1755, de João Glama Stöberle https://pracadobocage.wordpress.com/2018/01/26/o-terramoto-de-1755-na-pintura/

DANIEL PIRES Dificilmente poderia ser melhor a ocasião para o Centro de Estudos Bocageanos publicar “O Marquês de Pombal, o Terramoto de 1755 em Setúbal e o Padre Malagrida” Ainda sob os ecos da eleição do jesuíta argentino Jorge Bergoglio como papa Francisco, eis que Daniel Pires, autor deste quinto volume da colecção “Clássicos de Setúbal”, acaba de trazer à luz episódios de um enredo político tão famoso quanto trágico, mas com muitos detalhes por conhecer, envolvendo o padre Gabriel Malagrida, a Companhia de Jesus e o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, aquele que viria a ser o Marquês de Pombal. O protagonista central da investigação de Daniel Pires agora publicada é o padre jesuíta G. Malagrida, italiano de nascimento, missionário em terras brasileiras, pregador com fama de santo e homem empreendedor e influente junto da alta nobreza nacional. O autor aprofunda assim a atenção que havia já dedicado ao personagem com a edição de “Padre Gabriel Malagrida: O Último Condenado ao Fogo da Inquisição”13. As consequências do terramoto de 1755 em Setúbal são o pano de fundo diante do qual decorre a trama que opõe Malagrida e os jesuítas ao ministro Sebastião José de Carvalho e Melo. Ou, para ser mais preciso, o jogo de forças que decorre entre o Estado do despotismo iluminado, personificado por Pombal, e o imenso poder e influência da Companhia, com amplas repercussões 12 Gabriel Malagrida (Menaggio, Milão, 18 de setembro de 1689 — Lisboa, 21 de setembro de 1761), nascido Gabriele Malagrida, foi um padre jesuíta italiano. Tendo sido missionário no Brasil e pregador em Lisboa, veio a ser condenado como herege no âmbito do Processo dos Távora. Foi garrotado e queimado na fogueira num auto-de-fé realizado no Rossio de Lisboa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Malagrida 13 https://pracadobocage.wordpress.com/2012/12/06/padre-gabriel-malagrida-o-ultimo-condenado-ao-fogo-dainquisicao/


não só no continente europeu, como em terras brasileiras onde os jesuítas dispunham de uma importante presença (missões) e exerciam uma actividade que desafiava a afirmação dos poderes estatais ibéricos. E que se viria traduzir na guerra guaranítica (1753-1756). O terramoto em Setúbal Trata-se de uma obra de relevante importância para o conhecimento da história de Setúbal. Vejase, por exemplo, o recurso ao testemunho presencial do historiador setubalense Gregório de Freitas, contemporâneo do terramoto (in Notícia do Terramoto do mês de Novembro de 1755 pelo que respeita a esta Vila de Setúbal) ou a representação do Senado da Câmara Municipal de Setúbal ao Rei D. José em resposta à pretensão de um “grupo de moradores”, sob a égide da Companhia de Jesus, em fundar uma Casa de Exercícios Espirituais na ermida do Senhor do Bonfim. Mas é também um importante contributo para o conhecimento e caracterização da figura de G. Malagrida, nomeadamente da sua passagem por Setúbal e dos esforços para a propagação da obra religiosa da Companhia. Dá-se à estampa um conjunto de cartas do padre jesuíta, também escritas em Setúbal e na sua maioria dirigidas à Marquesa de Távora – uma das vítimas, decapitada em 1759, do processo que ficou conhecido pelo nome da família – mas também a outros religiosos, de onde avulta uma dirigida ao papa Clemente XIII, a quem se queixa do Primeiro-Ministro Carvalho e Melo. Ainda neste âmbito consta uma significativa bibliografia dedicada a Malagrida. A obra organiza-se em torno de capítulos dedicados a) A terramoto de 1755 e as medidas do Marquês de Pombal para Setúbal, O Padre Malagrida, O Marquês de Pombal, a expulsão dos jesuítas e a execução do Padre Malagrida e A ofensiva final. O exílio de Malagrida em Setúbal, decretado pelo ministro de D. José na sequência das críticas públicas do jesuíta (em Juízo da Verdadeira Causa do Terremoto que padeceo a corte de Lisboa no Primeiro de Novembro de 1755) às explicações naturais de Sebastião José, torna Setúbal num centro de acção e difusão jesuíta. Afastado da corte para Setúbal, multiplicam-se a partir daí as obras e as iniciativas de Malagrida. A adesão de altas figuras da nobreza aos Exercícios Espirituais (Exercitia spiritualia, de Inácio de Loyola, 1548) ministrados com grande sucesso por Malagrida, granjearam-lhe crescente influencia e acesso a recursos materiais e financeiros. Na obra agora publicada dá-se conta de um exemplo dos valores cobrados por Malagrida em serviços religiosos prestados a altas figuras da nobreza. Do processo que viria a ser instaurado pela Inquisição consta um “recibo seu, datado de 26 de Junho de 1755, passado em nome da Marquesa do Louriçal. Ascendia a duzentos mil reis, a terça parte do que fora acordado, para, com as suas orações, interceder pela fertilidade da sua confessada”, quando o “vencimento anual do cirurgião do Colégio de S. Francisco Xavier de Setúbal, Manuel Julião, em 1755, ascendia a 32400 mil reis, pode-se inferir que se trata de uma quantia extremamente elevada.” Vitória de Pombal Vergados pelo poder pombalino após a tentativa de regicidio de D. José, Malagrida, acusado de autoria moral, acabaria executado e a Companhia de Jesus expulsa de Portugal e dos seus territórios em 1759. A acção sistemática de Pombal viria a contribuir para a expulsão da Companhia dos países católicos anos mais tarde, bem como à sua própria supressão, ditada pelo papa Clemente XIV. Pombal e a sua máquina de poder não deixaram também de dedicar a sua atenção à eliminação dos testemunhos da passagem de Malagrida por Setúbal (como por outros sítios) emitindo ordens nesse sentido: “nesta mesa há informação que em um recolhimento, que na vila de Setúbal regia o padre Gabriel Malagrida, se acham algumas pinturas com a efígie do dito padre, assim em azulejo como em outras especies. Vossa mercê, logo que esta receber, passará à mesma vila e examinará as sobreditas pinturas com toda axacção, e achando-as em azulejo as fará reduzir a pó, e quando


em outra espécie a cinza; e de assim o haver executado nos enviará com resposta sua na margem desta” (pg.

Filho do médico Giacomo Malagrida e sua mulher, aos 12 anos de idade foi enviado a estudar com os Padres Somascos em Como e, demonstrando interesse para a vida religiosa, concluídos os estudos secundários foi para Milão, onde ingressou no Colégio Helvético para realizar os estudos de Filosofia e Teologia. Em 1711, querendo tornar-se religioso, aproximou-se da Companhia de Jesus em Como, tendo sido admitido como noviço naquele mesmo ano (23 de outubro), em Génova. Trabalhou como professor na ilha de Córsega e, após completar os estudos de Teologia em Génova, pediu ao Superior Geral da Ordem Jesuíta para ser destinado como missionário, para as Índias. No entanto, em 1721, partiu antes para as missões no Brasil. No Brasil No Brasil, já ordenado como padre, foi mandado para Belém do Pará, a fim de aprender a língua indígena e trabalhar como padre na cidade. Em 1723 foi enviado, pela primeira vez, como missionário aos Caicazes, tribo indígena que habitava ao longo do curso dos rios Itapicuru e Munim, na Capitania do Maranhão. Desta nação indígena passou a outras: os Guanarés e os Barbados, no rio Mearim, onde encontrou dificuldades, quer pela resistência dos feiticeiros da tribo, quer pela epidemia de peste que assolava os indígenas. Até ao ano de 1727 esteve entre eles, onde viveu diversos episódios arriscados. Foi retirado definitivamente da missão indígena por volta de 1729 para ensinar no Colégio de São Luís do Maranhão, a fim de preparar futuros missionários, ensinado Filosofia e Teologia. A partir de 1735 inicia-se uma nova etapa como "missionário apostólico" ou missionário popular, quando, ao sair de São Luís, se dirige ao sul, via capitania do Piauí, em direção à Bahia, pregando missões populares por todas as localidades em que passou, promovendo a renovação espiritual por


meio dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e animando a vida religiosa do sertão da região Nordeste do Brasil, até então desamparado religiosamente. Chegou a Salvador (Bahia) em 1738, onde continuou as suas pregações populares com grandes conversões, em número e qualidade. Nessa capital iniciou um convento para "convertidas" e um Seminário para o clero diocesano. De 1741 a 1745 andou pelo sertão da capitania de Pernambuco e da capitania da Paraíba, sempre pregando retiros e tomando iniciativas de fundação de Conventos e Seminários. A capela existente até hoje no Colégio Santa Teresa, das Irmãs Dorotéias do Brasil, no Maranhão, também foi fundada por ele, onde existem até hoje objetos pessoais de Malagrida que podem ser vistos mediante autorização das irmãs. Entre esses objetos encontram-se uma santa e um humilde banco de madeira onde ele dormia à época. De 1746 a 1749 retorna ao Maranhão e Pará onde continua a sua ação de pregador de missões populares, até que concebeu a ideia de ir a Portugal, solicitar a aprovação do Rei, para funcionarem legalmente as suas fundações e conseguir recursos.

Ilustração da execução de Malagrida http://www.executedtoday.com/2010/09/21/1761-gabriel-malagrida-jesuit-pombal-lisbon-earthquake/


PADRE GABRIEL MALAGRIDA: O ÚLTIMO CONDENADO AO FOGO DA INQUISIÇÃO CARLOS ANJOSGABRIEL MALAGRIDA, JESUÍTAS, MARQUÊS DE POMBAL6 COMENTÁRIOS

Gabriel Malagrida, padre jesuíta no século XVIII, entrou para os anais da história de Portugal (e da igreja católica) pelo conflito que o opôs àquele que viria a ser o Marquês de Pombal. A querela acabaria com a prisão e execução do missionário italiano num auto de fé realizado no Rossio, corria então o ano de 1761. A estória do famoso jesuíta que afrontou o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, mais tarde Conde de Oeiras (1759) e Marquês de Pombal (1770), cruza-se com Setúbal. O investigador Daniel Pires, há muito radicado na cidade do Sado, foi actualizá-la com uma obra que acaba de ver a luz do dia, “Padre Gabriel Malagrida: O Último Condenado ao Fogo da Inquisição“, uma edição do Centro de Estudos Bocageanos, no que corresponde ao quarto volume da colecção Clássicos de Setúbal. A estória de G. Malagrida é a sua própria estória mais a das relações entre o primeiro-ministro de D. José e a Companhia de Jesus. Malagrida era, aliás, uma importante figura jesuíta e um homem com suma influência nos mais elevados círculos. Detentor de um conjunto de características pessoais, em que se associava um perfil de santidade ao pragmatismo de um promotor de obras espirituais e terrenas. Com um trabalho de muitos anos de missionação por terras do Brasil, junto de várias comunidades indígenas, Malagrida semeou obra religiosa por onde passou. O estabelecimento do Tratado dos Limites entre Portugal e Espanha (1750), que visou regularizar as fronteiras entre os dois reinos, viria a ser fonte de sangrentos conflitos em zonas de assentamentos jesuítas junto de comunidades índias no sul do actual Brasil. Episódio retratado no filme “A Missão” (de Roland Joffé, 1986) – ver trailler aqui. A resistência ao avanço português, que os jesuítas promoveram junto dos povos indígenas nas missões, não poderia deixar de inflamar o Marquês de Pombal contra a Companhia de Jesus.


Malagrida, o terramoto e o exílio setubalense Contrariando as explicações assentes em causas naturais, que Pombal havia divulgado como justificação para o terramoto de 1755, Malagrida faz publicar o “Juízo da Verdadeira Causa do Terremoto que padeceo a corte de Lisboa no Primeiro de Novembro de 1755”. Aí aponta o castigo de Deus como a verdadeira razão para uma catástrofe cujas culpas “são unicamente os nossos intoleráveis pecados”. A ousadia permitida pelo seu estatuto de taumaturgo e eivada de fervor religioso, valer-lhe o exílio… em Setúbal, decretado por Pombal. Da sua permanência em Setúbal dá-nos a obra agora publicada várias notas: a fundação de duas Casas de Retiro; lugar para a visita de damas da primeira nobreza que buscavam o conforto espiritual do “Exercícios” de Santo Inácio, frequentemente a troco do patrocínio de obras da Companhia; o lugar de encontro dos que conspiravam contra o ministro Sebastião José. Sabe-se também que G. Malagrida foi, nesse tempo de exílio, “reitor do colégio jesuíta de Setúbal (actual sede dos serviços administrativos do Instituto Politécnico de Setúbal), sendo responsável pelas obras de reedificação do referido colégio, gravemente atingido pelo terramoto” (A. Chitas, in O Setubalense, 28 de Novembro de 2012). O atentado de que o monarca viria a ser alvo em 3 de Setembro de 1758 colocaria os jesuítas (e Malagrida) novamente em rota de colisão com o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo. É conhecido o sangrento epílogo desta estória: a expulsão ou a prisão dos membros da Companhia de Jesus em Portugal e a execução de um conjunto de nobres de primeira linha, no que ficou conhecido como o processo dos Távoras. De que resultou a afirmação do poder real… e do seu primeiro-ministro. O auto de fé “(…) que com baraço e pregão seja levado pelas ruas públicas desta cidade até à Praça do Rossio e que nela morra morte natural de garrote, e que, depois de morto, seja seu corpo queimado e reduzido a pó e cinza, para que dele e de sua sepultura não haja memória alguma” – e assim se cumpriu o fim de Gabriel Malagrida, após muitos meses de duras penas e sofrimentos vários nos cárceres. Acusado de heresia… No “Padre Gabriel Malagrida: O Último Condenado ao Fogo da Inquisição” podem-se ler transcrições de documentos de primeira importância para a compreensão do caso: o já citado “Juízo da Verdadeira Causa do Terremoto (…)” bem como as “licenças” do Santo Ofício, do Ordinário e do Paço, para a respectiva publicação; a “denunciação” de Pombal, que esteve na origem do processo instaurado pelo Santo Ofício ao padre Malagrida; ou “a sentença dos Inquisidores, Ordinário e Deputados da Santa Inquisição com a qual foi relaxado à Justiça Secular o réu Gabriel Malagrida (…)”. Um aviso. Aos menos habituados a ler textos em português da época de setecentos (é o meu caso!) é requerida alguma concentração. Que é compensada pela riqueza que os conteúdos nos revelam sobre a época. E por uma estória que ilustra os principais conflitos de história portuguesa de então. Ficha técnica Autor: Daniel Pires; Título: “Padre Gabriel Malagrida: O Último Condenado ao Fogo da Inquisição” Capa: “Auto de fé”, de Pedro Berruguete; Design gráfico: Ricardo Fraga Pires; Editor Centro de Estudos Bocageanos; Depósito legal: 351564/12; ISBN: 978-989-8361-10-3; tiragem: 1000 exemplares; Impressão: Cafilesa – Soluções Gráficas, Lda (Venda do Pinheiro)


NOVOS REGISTROS SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO PADRE GABRIEL MALAGRIDA NA CONSTRUÇÃO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO EM PIRACURUCA F GERSON MENESES

Em 22 de maço de 2014 publiquei aqui um pequeno artigo intitulado: “A passagem do Pe. Gabriel Malagrida por Piracuruca” (1), agora com o objetivo de agregar mais informações a esse fato histórico e assim tentar contribuir para a pesquisa sobre esse importante personagem e sua relação com a construção da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, trago alguns complementos. Gabriel Malagrida era um jesuíta italiano, nascido na vila de Managgio, a 18 de setembro de 1689, desde criança deu provas de sua engenhosidade e ao mesmo tempo de uma tendência exagerada para o misticismo. Depois de completar em Milão os seus estudos entrou para a Companhia de Jesus, em Génova, a 27 de setembro de 1711. Resolvendo dedicar-se às missões, saiu de Génova em 1721, seguindo para o Maranhão, onde os seus superiores o designaram para pregar, sendo depois nomeado em 11 de outubro de 1723 pregador do colégio do Pará (3). Foi um personagem importante para a Companhia de Jesus no Brasil, o padre Gabriel Malagrida foi um missionário popular muito conhecido nos sertões do país, no século XVIII. Preso em 1759, após os jesuítas serem expulsos de Portugal e de suas colônias, foi perseguido pelo Marquês de Pombal. Anos depois, em 1761, foi julgado e condenado à fogueira pela Inquisição em Lisboa, Portugal (2). Enquanto esteve nas terras brasileiras Gabriel pregou internando-se no sertão nordestino, enfrentando sérios perigos, destemido, em 1727 começou a árdua tarefa de catequizar os índios no Maranhão, conseguindo nessa mesma ocasião amansar a feroz tribo de Barbassos. Fundou no Maranhão uma missão que teve grande desenvolvimento, sustentando uma peregrinação apostólica. Foi em seguida, em 1730, para a Bahia e Rio de Janeiro onde continuou a pregar, alcançando grande ascendência sobre os índios (4).


Gabriel Malagrida (14) Ao pesquisar sobre Gabriel Malagrida, inclusive na sua história pessoal, relatada no livro “História de Gabriel Malagrida da Companhia de Jesus”, disponível para download em (5), na página 96 cita a passagem dele por Piracuruca, em uma dessas viagens apostólicas pelo sertão. Tamanhos perigos não estremecem a coragem do intrépido apostolo: sempre tranquillo e sereno, caminha afoitamente, distrahido em Deus, e suavisando na oração as fadigas do caminho. Depois de ter seguido a corrente do Maratoan, um dos confluentes do Parnahyba, voltou para Cerobis; d’ahi passou á Piracuruca, paiz dos indios Ilaroás, e chegou emfim até Moicha, aldeia mais importante que se topa nessas bastas savanas (5). No entanto, há relatos que comprovam que na passagem de Malagrida por Piracuruca ele teve alguma influência na construção da histórica Igreja de Nossa Senhora do Carmo, datada de 1743 e que tem a sua construção atribuída aos irmãos Dantas, por volta do ano de 2003 publiquei o artigo “O mistério dos irmãos Dantas em Piracuruca-PI”(11) com alguns questionamentos sobre esse assunto. Vejamos então alguns fatos: Um documentário sobre Gabriel Malagrida que conta a trajetória do jesuíta, está disponível na internet. A ideia de digitalizar o material foi do padre Luís Corrêa Lima, professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio. Segundo o ele, o objetivo foi facilitar o acesso à história de vida de Malagrida. “Hoje, poucos conhecem esse importante jesuíta, porém, com acesso a esse material, muitos terão prazer em conhecê-lo”, afirma (2). Os links para o documentário, dividido em três partes estão logo no final desse artigo. De acordo com o documentário: Aos 46 anos Malagrida iniciou uma jornada em que percorreu 7000 km pelos sertões brasileiros, uma longa caminhada que durou 12 anos, conheceu o interior do nordeste como poucos no século XVIII. No minuto 25 da primeira parte do documentário diz: “…reformou as igrejas de Icó no Ceará e Piracuruca no Piauí…“


Caminho percorrido por Malagrida pelo sertão nordestino (5) Em (8) consta que: Em carta a Dom Ignácio de Santa Teresa, bispo de Algarve e membro do Conselho real, Malagrida fez um levantamento das missões de quando esteve no Maranhão junto aos índios, das igrejas que até então tinha ajudado a construir ou reformar em Aldeias no Maranhão; Piracuruca, Aroazes, Mocha e Parnaguá no Piauí; Barra e Pilão Arcado em Pernambuco; Juazeiro, Jacobina, Serrinha e Cachoeira na Bahia. Em todos os casos citou que seu trabalho era sustentado pelas esmolas dos moradores locais. Já em (9), cita que Malagrida numa carta mandada ao Bispo do Algarve, em Portugal diz: Primeira longa parada: Piracuruca, no norte do Piauí. ‘‘Servia de igreja aí uma vil casa de farinha com quatro paredes mal pintados por cima, cheia de morcegos. Eu mesmo dei a ideia de construir grandiosa igreja. Todos ofereceram suas esmolas’’ (9). Outros relatos importantes são observados em (7) que diz: Em Piracuruca sabe que o jesuíta Padre Malagrida transformou uma modesta casa de farinha em majestosa Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a expensas dos Irmãos Dantas e das esmolas dos fiéis? Não só em Piracuruca. O missionário construiu igrejas, escolas e conventos da Bahia a Belém (7). E em (10): De 1728 a 1735, dividia-se entre o Maranhão e o Piauí…na sua estada em Piracuruca pediu esmolas e mobilizou a comunidade da região para ajudar aos Irmãos Dantas a concluir a Igreja de Nossa Senhora do Carmo (10). Finalmente em (6) é observado que: Malagrida esteve entre os índios Barbados, aldeados na Região das Missões de Viçosa e a 50 léguas ao seu redor onde fundou uma Missão que teve logo grande desenvolvimento”. Será esta a Missão que Jureni Machado acreditava tratar-se da origem de Piracuruca? Bom, penso que são registros históricos importantes que carecem de um estudo mais aprofundado, daí, à luz de uma confirmação científica é razoável que se faça uma reconsideração histórica sobre o quão foi relevante a participação do Padre Gabriel Malagrida na construção do histórico templo de Nossa Senhora do Carmo em Piracuruca. Documentário: Cordel: Peleja entre os Irmãos Dantas e o Padre Gabriel Malagrida


Cordel disponível para download em: Referências: 1 – https://portalpiracuruca.com/personagens/a-passagem-do-pe-gabriel-malagrida-por-piracuruca/ 2 – http://www.jesuitasbrasil.com/newportal/2016/10/28/documentario-sobre-padre-malagrida-edigitalizado/ 3 – http://www.arqnet.pt/dicionario/malagrida.html 4 – https://ceubrio.com.br/textos-e-artigos/124-frei-gabriel-malagrida-o-jesuita-caboclo-das-seteencruzilhadas. 5 – https://portalpiracuruca.com/download/historia-de-gabriel-malagrida-da-companhia-de-jesus/ 6 – https://www.meionorte.com/blogs/josefortes/remexendo-o-bau-e-a-historia-de-piracurucalivro-de-maria-do-carmo-fortes-de-brito-1-205121 7 – https://www.meionorte.com/blogs/josefortes/malagrida-missoes-no-nordeste-morte-nafogueira-da-inquisicao-328445 8 – https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/11881/1/Arquivototal.pdf 9 – http://cppecaridade.blogspot.com/2008/11/histriabiografia.html 10 – http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=10050&cat=Contos&vinda=S 11 – https://portalpiracuruca.com/misterios-do-piaui/o-misterio-dos-irmaos-dantas-em-piracurucapi/ 12 – http://www.executedtoday.com/2010/09/21/1761-gabriel-malagrida-jesuit-pombal-lisbonearthquake/ 13 – https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/44/Gabriel_Malagrida.png 14 – https://i2.wp.com/capeiaarraiana.pt/wp-content/uploads/2016/06/PadreMalagrida.jpg?resize=450%2C629


NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO


DA RENOVAÇÃO ‘ARTÍSTICA’ DA EDUCAÇÃO Vivemos tempos requerentes de mudança do rumo na educação, de conceitos arrojados, de a perspetivar como projeto artístico. A arte não é apenas simbólica; é útil (não ‘utilitária’), ferramental, instrumental e imprescindível. Cumpre o ofício de auxiliar a imaginar e visualizar coisas que não existem. Tem, pois, uma função educativa. Imaginar o que ainda não existe é fundamental, um pressuposto indispensável: se não conseguirmos imaginar, é muito difícil criar. Será irreal propor isto para a educação? O espaço da arte é o da confabulação do inexistente. Logo, pode também propor outra sociedade. Sim, ela assume um papel funcional na estruturação do pensamento; visiona o mundo e instiganos a modificá-lo. Continua a fazer todo o sentido o dito de Auguste Rodin (1840-1947), eminente escultor francês: “O mundo não será feliz, a não ser quando todos os homens tiverem alma de artista”, isto é, realizarem a vida como expressão de criatividade e ócio criativo. A arte convida a vida a imitá-la e segui-la, a sair do banho-maria do eterno adiamento. A sua grandeza suprema mede-se pela capacidade de nos arrebatar para a intuição do inexprimível e até do não representável, mesmo que estes não possam ser descritos. O verdadeiro artista é aquele que configura, em símbolos, a experiência transcendente e nos atrai para essa viagem. A arte avisa para não deixarmos espinhar o coração, a alma e os olhos, para o perigo de que isso pode suceder em todo o tempo. Dribla e mitiga a dor e a frustração, faz-nos sonhar com a beleza e a leveza, alimenta-nos de esperança e encanto, ajuda a enfrentar, enganar e suportar a gravidade da existência. Obsta à desidratação de ideais e utopias. Mantém vivas a curiosidade e candura da meninice, para não sermos consumidos por uma caminhada sem benignidade e ingenuidade, fechada ao maravilhamento e fantasia, e escancarada à insanidade e ao pasmo. Não são estas a fonte e a meta do empreendimento educativo? VIVA A ALMA BRASILEIRA! É luxuriante e tem dimensão universal, criada por uma miríade de Homens e Mulheres da ciência, arquitetura, escultura, ecologia, fotografia, literatura, música, pintura e de todas as artes performativas, que são luzeiros no firmamento mundial. A alma brasileira é astral, uma chama acesa no lábaro da admiração internacional. Vive uma hora apagada e triste, abafada por seres medíocres, sem consciência, sem escrúpulos, sem horizontes e ideais, por homúnculos e gentalha vil e amoral. Os cúmplices da maldade tentam escapar ao vírus da sua escabrosa opção, lavando as mãos na bacia cheia de sangue da traição. O gesto é obsceno, podre, tétrico e em vão: não limpam o coração, nem a história lhes concederá perdão. Mas o espírito do Brasil voltará, em breve, a iluminar a Cidade da Humanidade com o fulgor do seu clarão. DO MEDO Há quem tenha medo de que o medo acabe. De que se perca o medo de ver e afirmar a verdade. De denunciar a aldrabice e a intrujice. De recusar a conivência com a falsidade e maldade, a cobardia, o oportunismo e a perversidade. De pagar qualquer preço pelo valor de Ser, em altura e autenticidade, em dignidade e generosidade, em fraternidade e solidariedade. Ah, se acabasse o medo de sonhar outra Humanidade! Bendito seja o medo que acorda a minha mortalidade! Ora, não sendo imortal, agarro-me ao cuidado de tentar andar longe dos males e perto das bênçãos, de não mudar a cor da pele e o pé de apoio ao sabor dos ventos. Não posso correr o risco de consumir a vida nos caminhos da futilidade e vacuidade. Estou obrigado a fazer escolhas, a optar contra a indecência e iniquidade. Eis o peso leve da fatalidade!


EXERCÍCIO E IMUNIDADE Peço aos diversos tipos de especialistas na matéria que esclareçam a opinião pública. Não me refiro à exercitação corporal de intensidade adaptada a cada idade e estado de saúde, cujos efeitos positivos estão sobejamente comprovados. Pergunto se, dada a pandemia em curso, o treino de alta intensidade e a competição de igual teor são recomendáveis para a melhoria da imunidade ou, ao invés, deixam o corpo suscetível ao coronavírus? Não requerem um maior período de recuperação (vários dias)? Mais, não foram estas algumas das razões do cancelamento dos Jogos Olímpicos? O esclarecimento é relevante numa altura de pressões para o regresso às competições e também para abrir as academias de fitness. Não são estas, devido aos materiais da exercitação e às condições do seu uso, locais assaz propícios à propagação do vírus? A gula de valoração de uma atividade ou profissão, não raras vezes, dá tiros nos pés. DA MISSÃO DA UNIVERSIDADE Wilhelm von Humboldt (1767-1835) refundou a Universidade Moderna à luz da ideia da ‘Formação’ (Bildung). E Ortega y Gasset (1883-1955) formulou, de maneira clarividente, a incumbência da instituição na obra ‘Missão da Universidade’. A Universidade é a Casa da Espiritualidade, da Intelectualidade e da Razão, seja esta científica, seja de outra ordem. Obviamente, também é Casa da Ciência e da Cultura. A primeira está ao alcance de poucos, de gente talentosa, com extraordinárias qualidades de criatividade, curiosidade e engenho, e igualmente deveras culta. Mas a segunda é obrigação de todos. O maior logro, que se passa para a opinião pública, é o de que a totalidade dos docentes é ou deve e pode ser cientista. Muitos exibem este penacho e vivem num divórcio manifesto com o espírito e o intelecto. Ora, a missão cimeira das universidades é a de formar pessoas ‘cultas’, que se meçam e sobreponham ao seu tempo, capazes de entender os fenómenos e as coisas, de pôr a nu as diversas formas de hemiplegia espiritual e moral. Assim, a formação e a investigação visam dotar os estudantes de um sistema de ideias vivas que represente o nível superior de desafios, anseios e ideais próprios de cada era. Almejam ser uma força intelectual, ética e estética, reformadora da vida individual e coletiva, oponente à arrogância, às certezas e aos poderes da estupidez, frivolidade, insinceridade, mesquinhez e irracionalidade. Para tanto, a filosofia, a axiologia e o pensamento humanista e iluminista não podem ser afugentados do espaço universitário com fogo e matracas, como as bruxas e as ratazanas na Idade Média. SABEM O QUE É A ‘EUGENIA’? O termo ‘eugenia’ não é estranho à maioria dos leitores. Porventura, não se passa o mesmo com a sua origem e significado. Muita gente associa-o, com razão, às práticas do nazismo, voltadas para o extermínio de povos. Mas, antes da Segunda Guerra Mundial, o movimento eugenista, cujo fito era o de ‘melhorar’ as características genéticas da raça humana, fez curso nalguns países, nomeadamente nos Estados Unidos e na Inglaterra, com base no ‘determinismo biológico’ de Francis Galton. Ou seja, chegou tardiamente à Alemanha e aí encontrou uma sanguinária aplicação. A eugenia não morreu; mudou de formas para tentar passar despercebida. As palavras e os atos de governantes psicopatas, face à pandemia do coronavírus, mostram que ela continua viva e de boa saúde na atualidade. Os energúmenos não têm pejo em sacrificar os doentes, os idosos e frágeis. O importante é que sobrevivam os jovens e ‘atletas’! Um dia, o TPI vai julgar os monstros.


DO DESTINO DE HEITOR, O GUARDIÃO DA CIDADE O filho de Príamo não tem possibilidade de escolha ou dom do livre arbítrio, nem projeto próprio. É obrigado a defender os valores a que está sujeito: a família e a Cidade, o que funda e sustenta a comunidade. O resto não brilha nos seus olhos e não lhe alimenta o ânimo, a consciência e o coração. A boca e a mão só sabem falar e agir em nome dos ideais e princípios que obrigam Heitor a viver e morrer por Troia. As suas dores não são suficientemente ácidas e agudas. Os céus ordenam que sejam intensificadas e lavadas com lágrimas de sangue. Heitor não ignora que o fim da vida tanto chega a quem nada faz como a quem muito alcança. E que a morte da vítima contém a de quem mata; a existência deste fenece no finamento daquela. Se morrer o Cidadão, morre a Cidade; o matador fica sem matar.

OBJETIVOS PRIMORDIAIS DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO No livro ‘21 Lições para o Século XXI’, Yuval Noah Harari discorre acerca dos objetivos da educação e formação para esta nossa era, prenhe de informações e desinformações, de falsificações e manipulações, de mudanças e incertezas. A proposta é mais uma achega para a alteração do paradigma vigente no ensino fundamental e superior. Urge que as crianças, os adolescentes e jovens, na escola e na universidade, aprendam a: • Distinguir a ‘verdade’ da crença, e entender que culturas, religiões e ideologias são ‘ficções’ criadas pelos humanos, visando interpretar a origem do universo, inspirar e orientar a vida e regular o funcionamento da sociedade; • Desenvolver a ‘compaixão’ com os seres sencientes da Terra; • Valorizar a ‘sabedoria’ e ‘experiência’ dos distintos habitantes do planeta; • Comprometer-se com a ‘equidade’, com o bem da Comunidade e Humanidade; • Cultivar o ‘espírito crítico’, a ‘liberdade de pensar’ e ‘ser cético’, de argumentar e questionar o senso comum e as verdades feitas, sem temer o desconhecido; • Ter a ‘coragem’ para combater opressões e preconceitos, admitir a ignorância, mudar de opinião e formular perguntas difíceis; • Assumir a ‘responsabilidade’ pelos seus atos e pelo Mundo como um todo. Na ementa sobressai a preocupação de reverter a crise da ética, mãe de todas as crises e dos problemas que elas trazem no ventre. A pandemia, em voga, revela o quanto estes objetivos são centrais na missão da escola e da universidade. Preferirão estas e os seus atores a cómoda prisão no passado à desafiante invenção de outro futuro?!

A PROPÓSITO DA ESTESIA E SENSIBILIDADE A estesia e a sensibilidade são categorias antropológicas fundamentais. Logo, factíveis e indispensáveis na educação, formação e aprimoramento do Ser Humano. Os poetas, os músicos e os autores de obras plásticas e das artes performativas são, porventura, quem atinge o mais apurado índice de sensibilidade estética. Convidam os restantes a imitá-los e seguir os seus passos. Se ela mirrar e secar, o mesmo sucederá à consciência. Precisamos de cultivar a primeira para aguçar a segunda. A pandemia evidencia sobremaneira a incapacidade ou inaptidão de muita gente para distinguir a beleza e a feiura, o virtuoso e o grotesco, para reconhecer e recusar a maldade da exploração do planeta e do Outro, a opressão, a tirania e o trato inumano das pessoas e dos entes sencientes que habitam a Terra e sucumbem perante a nossa gélida indiferença e insensibilidade. Esta enxurrada, se não eliminarmos a sua nascente, engole-nos a todos; ninguém vai sobrar para contar a história. Razão tem, pois, o meu Amigo Mário Vitória, insigne pintor e docente da Faculdade de Belas


Artes da Universidade do Porto, quando propõe a criação de uma cadeira sobre a sensibilidade. Obrigatória na generalidade dos cursos do ensino superior! REGRESSO À ‘NORMALIDADE’: DESALENTO No princípio era o Verbo. E o meu era de esperança. Julgava que a maioria das pessoas tinha percebido os malefícios do ‘capitalismo do desastre’, postos a nu pela pandemia. Cuidava que estava aguçada e inconformada a consciência acerca de quão funestos são o sistema de vida, imposto pelo neoliberalismo, e a destruição da rede de salvação por ele ocasionada. Sim, acreditava na vontade de não mais pactuar com a exploração brutal da natureza, seja a extrínseca, seja a intrínseca à nossa corporalidade. Pensava que os professores não esbanjariam a oportunidade para reclamar e edificar outra educação e formação, outra escola e universidade, opostas às aberrações conducentes ao abismo emocional, existencial e relacional. Imaginava ainda que os cidadãos e os políticos acordariam: se a quantidade e o nível de preenchimento do tempo livre são indicadores fiáveis da riqueza e desenvolvimento de uma civilização ou de um povo, então nós pertencemos a uma das eras mais atrasadas e miseráveis da história. Porquê? Porque trabalhamos desalmadamente e sacrificamos a vida a esse fim. E porque vivemos em contraciclo do progresso material e tecnológico. Esperava que isto levasse a dar passos decisivos em direção ao usufruto da existência e do ócio criativo, possibilitado pela tecnologia. Com efeito, esta permite altos índices de produtividade, de modo a reduzir dias e horários laborais, a assegurar trabalho para todos e a gerar uma florescente economia de bem-estar abrangente. Com o passar dos dias, o Verbo inicial empalideceu. São poucos os que aprenderam a lição. A disponibilidade para a mudança murchou. Os jovens propensos, por definição, à modificação e à generosidade de propósitos parecem conservadores ávidos de voltar aos folguedos perdidos; alijam a obrigação de estar à altura das responsabilidades, dos desafios e premências do seu tempo. Até os docentes, habitualmente inflamados pela reivindicação, emudeceram. Pensar, projetar e envolver-se na criação de um mundo novo e melhor é custoso e dificultoso. Afinal, o alvo desejado é o regresso à normalidade anterior a este deprimente presente. A caminhada para a ruína vai seguir em frente.

DA LINGUAGEM A linguagem (tanto a escrita como a falada) representa a forma das ideias, da alma e do coração, do espírito e intelecto, da mente e do pensamento, da consciência e do ânimo, da lógica e da racionalidade, do que temos por dentro, move e avalia os nossos atos. Somos as palavras. Temos a medida delas, das que proferimos, toleramos e aplaudimos. Somos a palavra dada e difundida, respeitada e admitida. As palavras conferem honra. E também há as que cobrem de infâmia, sujidade e vergonha; não as podemos usar na relação com amigos, familiares e estranhos, com os outros. A civilidade impõe a regra do decoro. Ainda mais apertados são os limites para quem exerce funções públicas; só lhe é permitido dizer palavras elevadas e limpas. Ninguém educa e edifica, se não for educado e aprumado. Se o Presidente da República, o Primeiro-Ministro ou algum Ministro de Portugal usasse termos prenhes de baixaria e ordinarice, abjetos, asquerosos, podres, reles, soezes, torpes e vis, a nação ficaria horrorizada e enojada. O clamor da indignação subiria da terra ao céu.

DA NECESSIDADE DE SABEDORIA Nenhum indivíduo é capaz de abarcar todas as coisas. Homero formula isto, de modo sublime, no Canto 13 da Ilíada, pela boca do conselheiro Polidamante, que assim falou a Heitor: “É que a um homem dá deus as façanhas guerreiras, / a outro a dança e a outro ainda a lira e o canto; / e no


peito de outro coloca Zeus, que vê ao longe, / uma mente excelente, de que muitos homens tiram vantagem: / a muitos ele consegue salvar, coisa que sabe mais que todos.” Esta hora testemunha o acerto de tal visão e igualmente a necessidade de sábios que nos salvem. Mas… ainda se cultiva e valoriza a busca da sabedoria? Digam-me, por favor, qual é a instituição que assume, com afinco e coerência, esse compromisso, para que lhe bata à porta! FRACASSO HUMANO Será esta era dominda pela pulsão da vida (‘Eros’) ou pela da morte (‘Thanatos’)? Lembremos que a primeira agrega, assegura a unidade do Ser, incita a buscar o Outro. A segunda desagrega, causa a desunião, ocasiona a falência da convivência. Qual é a que predomina no mundo? O que vemos? Seres errantes e sobrantes do sonho de edificar uma melhor humanidade. Seres desligados dos outros, perdidos num individualismo destruidor, logo inútil. Estamos, pois, sob a pata opressora de ‘Thanatos’. Não se sabe o que é ‘ser humano’. Reconheçamos a realidade e tiremos ilações. Haverá nisto pessimismo? Há, antes, recusa em alinhar com um ‘otimismo’ alienante, assente no ludíbrio de sustentar que tudo está bem, quando está mal, que tudo é feito para um fim elevado, quando serve propósitos inconfessos. Os escombros do intento humano são manifestos. O nome, que temos dado ao animal hominiano, não faz mais sentido. Outro nome e outro projeto aguardam uma invenção regeneradora e salvífica. Que designação lhe daremos? A que institua a solidariedade como linha axial do viver individual e coletivo.


Extraindo histรณrias com o faraรณ

RAMSSES DE SOUSA SILVA Excerto de genealogia luso-maranhense:


ENTRELAÇAMENTO ENTRE OS CORRRÊA DE MATOSINHOS, PORTUGAL E OS RIBEIRO E MORAES DE ALCÂNTARA, MARANHÃO. JOÃO DIAS REZENDE FILHO Joaquim Júlio Corrêa de Mattos nasceu em 13 de março de 1857, em casa de seus pais à Rua Visconde do Alto Mearim, no concelho de Matosinhos, districto do Porto, Reino de Portugal, filho de Antônio Júlio Corrêa e de Dona Cústodia Maria de Jesus de Mattos e faleceu em 20 de fevereiro de 1937 em seu palacete na Praça João Lisboa, antigo Largo do Carmo, na cidade de São Luís do Maranhão onde residia e está sepultado no Cemitério do Gavião. Casou-se em São Luís na Capela do Senhor dos Passos, Igreja do Carmo com Dona Emília Rosa d’Almeida Moraes nascida em 17 de outubro de 1867 na cidade de São Luís, Maranhão e falecida em 03 de fevereiro de 1955 aos 87 anos de idade na mesma cidade. Dona Emília Rosa é filha do Sr. Antônio José d’Almeida Moraes, comerciante maranhense, descendente dos Ribeiro e dos Moraes de Alcântara. Pelos Ribeiro, por meio de sua Mãe, Dona Anna Francisca Ribeiro de Moraes, Antônio José é primo do Dr. Carlos Fernando Ribeiro, que governou a Província do Maranhão e foi titulado no Império, Barão de Grajaú e de Dona Maria do Carmo d’Almeida. Transcrição da nota publicada no Jornal Diário do Maranhão de 31 de dezembro de 1886. Interessante que um dos padrinhos do nubente é o intelectual e jornalista Libânio Valle, descendente da aristocracia maranhense e cunhado dos escritores Arthur e Aluísio Azevedo, e sua esposa, irmã dos já citados literatos maranhenses. Na capella dos Passos, egreja de N. S. do Carmo, terá lugar amanhã, às 8 horas da noute, o consorcio do Sr. Joaquim Júlio Correia (sic) com a exma. Sra. Emília Rosa de Almeida Moraes, sobrinha da exma. Sra. D. Francisca Helena Ribeiro Almeida. São testemunhas por parte da noiva sua exma. Tia e o sr. Bernardino Ferreira da Silva, e por parte do noivo, o snr. Libanio Valle e a exma. Sra. Maria Amalia Valle de Almeida. Celebra o acto o sr. Conego Mauricio F. Alves. Diário do Maranhão, 31 de dezembro de 1886.


Na fotografia de 1888, tirada em Portugal, na Cidade do Porto, Joaquim Júlio Corrêa e Dona Emília Rosa d'Almeida Moraes ( de casada, Corrêa)

Autor: PeJoão Dias Rezende Filho do Colégio Brasileiro de Genealogia e trineto do casal Joaquim Júlio-Emília Rosa.


OS GARRIDO Os Garrido eram, essencialmente, burgueses. Comerciantes citadinos emergentes que se entrelaçaram com membros da já decadente aristocracia rural maranhense. Em homenagem ao ano do centernário (2019) da Farmácia Garrido, uma das farmácias tradicionais mais importantes da nossa cidade, que começou na Rua Grande e hoje está espalhado em diversos filiais na nossa cidade. Histórco(texto tirado de uma matéria do Imirante.com com algumas intervenções da página São Luís de Antes e Depois).

Fonte das imagens: Rua Grande: Um Passeio no Tempo/ São Luís de Antes e Depois.

A Farmácia Garrido foi fundada em 1919, funcionando em um casarão localizado no coração comercial da cidade à época, a Rua Grande, chamando-se Farmácia Garrido & Pacheco, por causa da sociedade entre Antônio Ferreira Garrido e o sr. Pacheco. "Antônio Garrido foi um português que chegou a São Luís em 1904. Ele trabalhou em alguns laboratórios da cidade naquele tempo e depois fundou sua farmácia", informou o atual gerente administrativo da Garrido, Rafael Lima. Fim da sociedade - Em 1927, desfeita a sociedade, o estabelecimento ficou sob a propriedade apenas de Antônio Ferreira Garrido, passando a chamar-se Farmácia Garrido e funcionando, então, no casarão de número 87, também na Rua Grande(o prédio que ta na imagem em destaque pela montagem). A farmácia funcionava no andar térreo do imóvel e Antônio Garrido e família moravam no pavimento superior. No casarão, nasceram os filhos do fundador da farmácia, entre eles Ernani Garrido, em 1931. Foi ele quem assumiu os negócios da família com o afastamento do pai, em 1965.


Em 2005, e ainda morando no mesmo casarão, ele descreveu à pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Raquel Gomes Noronha, que publicou o artigo Memória estética e atualização funcional: as representações da visualidade da Rua Grande, como era a antiga fachada da farmácia. "Enquanto a arquitetura do prédio correspondia à sua função original, identificá-la como tal era uma apreensão natural, em que a cor verde, os detalhes arquitetônicos, como o símbolo da farmácia (o cálice, o caduceu alquímico e a serpente), contribuíam e eram suficientes para esse fim. A única inserção publicitária era o nome da farmácia, em aplicações de letras de chumbo, logo abaixo da sacada", disse. Atualmente, o prédio onde funcionou a farmácia, na Rua Grande, abriga em seu pavimento superior a residência de familiares do fundador, Antônio Ferreira Garrido. No pavimento térreo, funcionam três estabelecimentos comerciais: uma loja de confecções populares, uma loja pertencente a asiáticos, onde são vendidas bolsas e presentes, e uma loja onde são vendidos artigos artesanais. Fonte do Texto: https://imirante.com/…/arte-no-preparo-de-medicamentos-per…/#


CHALÉ DA FABRIL (1950-2017)

O chalé, localizado no centro de São Luís, foi construído no começo do século XX e era vinculado à Fábrica Santa Isabel, administrada pela Companhia Fabril Maranhense, e eram pertencentes à família do industrial Nhozinho Santos. Na década de 1930 a fábrica foi vendida, juntamente com os demais bens vinculados a ela, como o chalé e o estádio de futebol, e passou a ser administrada por César Aboud. A fábrica entrou em falência na década de 1970 e o chalé passou a ser administrado pelo INSS e posteriormente foi tombado pelo Estado. O casarão, que já foi um dos mais belos da cidade e que desperta tanta curiosidade nas pessoas, se encontra atualmente em situação lastimável. Curiosidades: O chalé veio pre-moldado da Inglaterra e chegou a São Luís armado e pronto para ser montado. A Fábrica Santa Isabel (atualmente um depósito da Walmart) foi considerada uma das 11 maiores fábricas do Brasil. A Companhia Fabril Maranhense era proprietária de grande parte dos terrenos daquela região, incluindo o atual Cejol (antigo Cegel) e parte do Parque do Bom Menino, por isso a área ficou popularmente conhecida como Canto da Fabril. Créditos: Álbum do Maranhão (1950) e Google Street (2017) Imagem colorizada


TORQUATO COELHO DE SOUSA E O QUILOMBO DO FRECHAL. Torquato Coelho de Sousa nasceu em 1804 na Fazenda Pindobal em Guimarães Maranhão. Filho do colonizador açoriano Manoel Coelho de Sousa e de Maria Francisca da Pureza Gomes, fundadores das fazendas guimarantinas Pindobal, Frechal e Haiti. Estudou em São Luís e voltou pra administrar as fazendas de seus pais junto de seus irmãos José e Francisco Coelho de Sousa, produzindo algodão, cana de açúcar, mandioca, casa comercial em Gepuba e fábrica de cal (Frechal). Em 1853, funda a Colônia Santa Isabel às margens do Rio Urú, para onde mandou trazer alguns casais de açorianos e outros brasileiros para desenvolver a agricultura. A Colônia existe até hoje com o nome de Povoado Colônia, em Mirinzal e, por lá, ainda vivem muitos descendentes destes colonizadores. Após o seu falecimento em 1860, a fazenda Frechal foi passando aos descendentes de Torquato Coelho de Sousa. Um deles, Antônio Coelho de Sousa, doou as terras aos descendentes dos africanos ali escravizados. A doação não foi formalizada e, tempos depois, os afrodescendentes sofreram o regime de servidão com novos proprietários das terras. Somente no governo Fernando Collor de Mello a comunidade ainda residente no povoado conseguiu o título definitivo da antiga fazenda e hoje o povoado é conhecido mundialmente como Quilombo do Frechal, símbolo de resistência negra, onde desenvolvem atividades sócio-culturais. Fica atualmente no município de Mirinzal, a poucos quilômetros da rodovia estadual. Fonte: Jerônimo de Viveiros


FAZENDA SÃO JOSÉ - PERI-MIRIM (SÉC. XIX) TATÁ MARTINS "Fazenda São José,fica localizado no povoado Tapera ,município de Peri-Mirim. Construída no século xIx, por mãos talentosas e mágicas de escravos que viveram naquela época. A mesma ainda encontra-se intacta,sem nenhuma modificação,tudo feito com materiais bem resistentes.

Essa fazenda tem uma grande história para ser explorada e contada. No centro da cozinha, encontra-se até hoje um poço, com águas cristalinas que serve para saciar a sede dos moradares daquele lugar. Fazendas está que no século XIX era iluminada por candieiros que funcionavam a queirosene, depois a motor e atualmente energia elétrica. Várias famílias residiram na fazenda São José:família do coronel Joaquim Sousa( fazendeiro rico , prestativo com sua comunidade ); Dr. Viera Fontes (em relatos do senhor Antônio Brígido Ribeiro, o Dr. Vierira Fontes, era desembargador, homem mais rico da redondeza , até sua própria caneta era de ouro, respeitado por quem o conhecia, foi um dos primeiro a trazer helicópteros na nossa cidade) coronel Altiberto Câmara (serviu a segunda guerra mundial), um dos seus filhos, Ney Câmara, relatou-me que este, era homem de caráter, valorizava a família sendo o bem mais precioso, deixou saudades à família e à comunidade . Ainda, estive o prazer de conhecer sua amável esposa Maria do Rosário Câmara, a qual passávamos horas conversando, e eu, como amo escutar sobre nossas raízes, apreciava cada momento; esta propriedade também já pertenceu ao senhor José Domingues Pinheiro, dono de inúmeras fazendas na baixada, que conservara os detalhes historicos ; atualmente é do doutor Sergio, advogado, conselheiro da ordem dos advogados do Maranhão, tem por meta, restaurar a fazenda, e garantir a preservação da fauna e flora, com intuito de deixar as futuras gerações um património Histórico- Ambiental preservado."


A CIÊNCIA GENEALÓGICA JOÃO DIAS REZENDE FILHO https://idisabel.wordpress.com/2015/06/29/artigo-a-ciencia-genealogica/?fbclid=IwAR1wnwkKNIPXypx8pttq5e2uCIO7-IumzYHl5K1UFjBv49SIyWz7Mn-jxQ

Ciência auxiliar da História, a Genealogia é, muitas vezes, percebida como excentricidade ou mera vaidade de quem deseja alardear origens nobres. Na apresentação da obra genealógica A Mística do Parentesco (1987), de Edgardo Pires Ferreira, o historiador Laima Mesgravis explica que os estudos genealógicos “foram consignados à vaidade dos seus autores que pretendiam através deles enaltecer-se com a comprovação de ascendentes ilustres e parentela poderosa” (p.13). A ciência genealógica, todavia, é bastante multifacetada para ser aprisionada no chavão de “presunçoso estudo das origens”. Se ela serve a legitimações dinásticas e nobiliárquicas — está fora de dúvidas que sempre serviu, pelo menos até o século XIX —, ela pode igualmente servir de auxílio, um rico auxílio, à Antropologia, à Sociologia, à Demografia, à Estatística etc. Tanto assim que a quase totalidade dos cientistas sociais mais importantes do séc. XX nunca prescindiram dela para lhes socorrer em suas muitas teses explicativas do fato social. Aos que empreendem pesquisas genealógicas para exibir uma origem diferenciada, superiorizada, da maioria das pessoas, há, em contraponto, diversos textos satíricos, em todas as línguas. Recorramos, por exemplo, ao Pe. Paulino Antonio Cabral (1719-1789), então vigário de Jazente, em Portugal, conhecido na literatura lusa como “Abade de Jazente”. No poemeto abaixo, ele faz troça do fato de que descendemos todos das mesmas pessoas, tendo gente nobre e célebre dentre os antepassados, tanto quanto indivíduos comuns e desconhecidos: Qualquer homem como eu tem quatro avós: Esses quatro por força dezesseis, Sessenta e quatro a esses contareis, Em só três gerações que expomos nós. Se um homem só dá tanto cabedal, Dos ascendentes seus, que farão mil? Uma província? Todo o Portugal Por esta conta, amigo, ou nobre vil, Sempre és parente do Marquês de Tal, E também do porteiro Afonso Gil. O Abade de Jazente esboça em seus versos a chamada teoria do implexo dos ancestrais, formulada no século XIX por Ottokar Lorentz e Oscar Hager, mas já antevista desde a antiguidade clássica grega, em que se estima que Platão teria dito: “Não há príncipes que não descendam de servos e servos que não descendam de príncipes!”. Segundo o implexo dos ancestrais, não há correspondência exata do número real (histórico) de ancestrais que cada um tem com o número teórico (matemático). Explica-se: todos os humanos têm 1 pai e 1 mãe, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós, 64 pentavós, e daí por diante. A cada geração que se recua dobramos nossa linha ancestral numérica projetada. Sendo assim, qualquer humano do início do século XXI teria, no início do século XIV, em sua árvore de costados, mais de 28 milhões de antepassados. Ocorre que no século XIV a população mundial não alcançava nem 25% desta impressionante cifra! A conclusão é óbvia: descendemos, em verdade, várias vezes dos mesmos antepassados por linhas diferentes. E, ao fim e ao cabo, somos todos primos uns dos outros, uns mais longe, outros mais distantes, em graus diversos, claro, mas primos. E é por isto que em todas as famílias haverá sempre antepassados célebres e antepassados não tão célebres, como escreveu o bem humorado padre


português: sempre serás parente do Marquês de Tal e também do porteiro Afonso Gil. Ao recuarmos algumas gerações em um estudo genealógico aparecerão avós que tornaram a aparecer repetidas vezes nos costados de determinado indivíduo. Sempre existiram muitos casamentos entre parentes — a endogamia —, o que resulta na diferença entre a quantidade teórica de ancestrais de alguém e a sua quantidade real. Um exemplo histórico célebre desta diferença entre a quantidade de avós em teoria e na realidade é apontado pelo historiador e genealogista austríaco de origem polonesa Otto Forst de Battaglia (1889-1965), quando analisa diversas genealogias das dinastias europeias e conclui por apontar que o Rei D. Alfonso XIII de Espanha (1886-1941) tinha apenas 111 nonos-avós, e não os 1024 teóricos que teria, em tese, naquela geração.


Árvore de descendência por meio da qual ingleses aficionados em genealogia ilustram a ancestralidade de sua rainha atual, Elizabeth II, chegando ao Patriarca Abrãao, um dos mais ilustres personagens veterotestamentários — o que faz da monarca britânica uma prima distante de Jesus Cristo. Em artigo que fiz publicar, em 2011, na Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, escrevi que a genealogia tem o importantíssimo papel de revelar modos de configuração e compreensão da organização do corpo social. Tendo em vista que a família é um dos grupos sociais básicos e de grande significação que formam a sociedade, sendo uma das primeiras instituições, senão a primeira, a influenciar as pessoas, é necessário estudá-la e conhecê-la para que se possa bem compreender as questões sociais. (Revista da ASBRAP número 17, p. 205) A genealogia deve, pois, ser considerada uma ciência, na medida em que possui um objeto de estudo definido e um método de estudá-lo, além de fornecer dados muito preciosos para a análise da formação das sociedades, servindo de base para importantes conclusões históricas e sociais.


AUSÊNCIA NAGÔ14 EM CODÓ O forte da imigração africana deu-se, em Codó, no período de 1780 a 1790. Chegaram para trabalhar principalmente na agricultura e a pecuária também surgia. Nasceram fazendas prósperas nas imediações de Codó: Os Colares Moreira, os Brandão, os Salazar e outros grandes donos de escravos, o fluxo de portuguêses, também aumentou a vinda dos africanos para Codó. Negros Daomeanos, Bantus, Cabindas, Haussás, Mataranas, Felupes, Bijagós entre outros formaram o plantel de mão de obra escrava em solo codoense. Do ponto de vista religioso destacaram-se os jejes e bantus, onde inicialmente se falava dentro do Terecô de Voduns e Nkisis15. Antes que o panteão dos encantados ganhasse espaço entre estes. Curiosamente pouco se falou em orixás dentro do Terecô , exceto Oxóssi, talvez pelo sincretismo católico com São Sebastião que ali é o padroeiro da cidade de Codó. Estranhamente nota-se nitidamente a ausência das práticas iorubás dentro do Terecô.

14 "NAGÔS" OU ANAGÔS era a designação dada aos negros escravizados e vendidos na antiga Costa dos Escravos e que falavam o iorubá. Os iorubas, iorubanos ou iorubás são um povo do sudoeste da Nigéria, no Benim (antiga República do Daomé) e no Togo. Historicamente, habitavam o reino de Ketu (atual Benim) e o Império de Oyo, na África Ocidental. Do século XVIII e até 1815, foram escravizados e trazidos em massa para o Brasil durante o chamado "Ciclo da Costa da Mina", ou "Ciclo de Benin e Daomé". “A nação nagô, ou a etnia yorubá, seria do âmbito das formações imaginárias – identidades ou tradições inventadas para dar conta de eventos culturais, políticos e econômicos – que neste caso, começou a tomar a configuração atual, entre os anos de 1890 e 1940 – uma identidade 'criada em uma sociedade crioula da Costa, que estava em constante diálogo [ com as nações religiosas emergentes da diáspora afro-latina'. Como o candomblé e o xangô são referidos como de modelo nagô, em termos das matrizes míticas africanas (as nações), no Recife – talvez para que não restem dúvidas das diferenças entre o nagô baiano e o nagô pernambucano – o termo "nagô" é utilizado apenas para o xangô, e para o modelo baiano a denominação utilizada é o candomblé-de-nação.” “ 'Nagô', nome pelo qual se tornaram conhecidos, no Brasil, os africanos provenientes da Iorubalândia. Segundo R. C. Abrahams, o nome nàgó designa os Iorubás de Ipó Kiyà, localidade na província de Abeokuta, entre os quais vivem, também, alguns representantes do povo popo, do antigo Daomé. O termo proviria do fon anago, usado outrora com o significado pejorativo de "piolhento". Isso porque, segundo a tradição, os iorubás, quando chegaram à fronteira do antigo Daomé, fugindo de conflitos interétnicos, vinham famintos, esfarrapados e cheios de piolhos. Segundo William Bascom, o nome nàgó ou nago se refere ao subgrupo iorubá Ifo-nyin. Na Jamaica, o nome nago designa o culto de origem iorubá. Termos como "nagôs", "jejes", "angolas", "congos" e "fulas" representavam identidades étnicas criadas pelo tráfico de escravos, onde cada termo continha um leque de tribos escravizadas de cada região. "Nagô" era o nome que se dava ao iorubano ou a todo negro da Costa dos Escravos que falava ou entendia o iorubá. Migeod assinala que "nagô" é nome dado, no antigo Daomé, pelos franceses ao iorubano: do efé anagó.[16] Acredita-se que 'nagô' seja uma corruptela do efe anago, um termo que designa os povos de língua iorubá da costa da África Ocidental.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Iorub%C3%A1s 15

TERECÔ é a denominação de uma das religiões afro-brasileiras da cidades de Codó no Maranhão, Teresina no Piauí , Porto Alegre no Rio Grande do Sul ,e Bacabal no Maranhão. Também é chamado de Encantaria de Maria Bárbara Soeira, Tambor da Mata ou simplesmente Mata. Embora alguns de seus elementos identificados como jejes e nagôs, o Terecô possui sua identidade mais atrelada à cultura banto (Angola e Cambinda), tendo como língua ritual é o português. Encontra-se integrado ao Tambor de Mina e à Umbanda, absorvendo os elementos da Encantaria ("encantados da linha da mata"). A origem do termo poderia ser banta, derivando a de “intelêkô” e teria o mesmo significado que Candomblé. Já se acreditou que poderia ter se originado da imitação do som dos tambores da Mata . Segundo Freire (2018), no estado do Maranhão é possível encontrar diversos terreiros de Terecô: Açailândia (MA), Codó (MA), Pedreiras (MA), Bela Vista do Maranhão (MA), Bom Jardim (MA), Bom Jesus das Selvas (MA), São Luís Gonzaga do Maranhão (MA), Coroatá (MA), São Mateus (MA), Santa Inês (MA), Caxias (MA), Conceição do Lago-Açu (MA), Dom Pedro (MA), Esperantinópolis (MA), Lago da Pedra (MA), Presidente Dutra (MA), Trizidela do Vale (MA), Lago Verde (MA), Alto Alegre do Maranhão (MA), Peritoró (MA), Imperatriz (MA), São Luís do Maranhão (MA), Lima Campos (MA), Bom Lugar (MA), Brejo (MA), Pindaré-Mirim (MA), Pio XII (MA), Bela Vista (MA), Tufilândia (MA) e Timom (MA).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Terec%C3%B4


O povo Nagô foi marcante no Região do Baixo, Médio e Alto Mearim, prcisamente nas localidades do Miragaia ao Canaã importantes redutos de escravos entre as cidades vizinhas de Bacabal e Pedreiras onde se concentraram grandes grupos de escravos da etnia nagô, por isso naquela região o Terecô também é conhecido como "nagô". E numa investigação mais aprofundada percebe-se claramente a ausência do Nagô dentro do Terecô de Codó. Na foto uma descendente do povo Nagô residente do Miragaia.


FAZENDA E ENGENHO BREJO - GUIMARÃES (SÉC. XVIII) Uma das fazendas mais antigas de Guimarães. No ano de 1770 já temos o requerimento de Manuel Marques solicitando a confirmação da carta de Sesmaria ao rei D. José I, radicando-se nessa localidade Brejo, sendo um dos ancestrais de Honório Marques Café (viveu no séc. XIX), que vem a ser parente do ex-presidente Café Filho e do Coronel Henrique da Costa Schalcher, líder político influente em Guimarães na primeira metade do seculo XX. Fonte: Floresteiro dos Guarás


CASA GRANDE DA FAZENDA ENTRE RIOS GUIMARÃES (SÉC. XIX). PARTE 2 Nessa casa morou o Alferes, depois Major, Domingos Lourenço da Silva Mondego, que contratou Maria Firmina dos Reis, já aposentada, para lecionar para suas filhas. Pertence à família Mondego. Próximo, havia também uma senzala. Fonte: Floresteiro dos Guarás, Christoffer Melo



A CASA DE BELFORT NO BRASIL Segundo o genealogista Wilson da Costa, Lancelot Belfort nasceu em Dublin, reino da Irlanda, em 1708, filho de Richard Belfort, e sua mulher, Isabel Lowther Belfort. Ainda jovem, migrou para Portugal, onde se naturalizou. Seu nome também foi aportuguesado, tornando-se, assim, Lourenço Belfort. Tomado por instinto aventureiro e, segundo alguns autores, fugindo de disputas religiosas e de terras com os ingleses, logo atravessaria o Atlântico rumo ao antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão. Em 1739 tem-se o primeiro registro de Lourenço Belfort no Maranhão, ocupando o posto de capitão-cabo de uma tropa de resgate de índios. Portanto, segundo a pesquisadora Antônia da Silva Mota, Belfort logo ocupou-se da atividade mais lucrativa em curso: a escravização indígena. Lourenço, estrangeiro astuto, logo nota que tinha um trunfo para jogar em terras tão inóspitas e esquecidas; alegava uma ascendência nobre e, segundo ele, originária do antigo castelo medieval irlandês de Kylrue, pertencente à sua família, uma das mais antigas da Irlanda, fato este questionado ou não confirmado por alguns autores. Ainda na década de 30 dos setecentos, arranja um casamento com Isabel de Andrade Ewerton, filha do capitão Guilherme Ewerton, americano e rico proprietário de terras radicado em Cajapió, baixada maranhense, que estava aqui desde o final dos 1600. Com esse casamento, Lourenço garantia já um futuro promissor para sua linhagem. Nasceram dessa união 3 filhos: Maria Madalena, Ricardo e Guilherme Belfort. Infelizmente Isabel não viveria muito; morre ainda jovem em São Luís, em 1742. A essa altura, Lourenço já tinha uma fábrica de artigos de couro em São Luís e, mesmo sendo um estrangeiro e possivelmente por ser bem relacionado, consegue autorização régia para o monopólio dessa atividade exportadora na Praça do Mercado. Um ano após a morte de sua esposa, Lourenço contrai núpcias com D. Ana Tereza de Jesus, maranhense, filha do capitão português Felipe Marques da Silva, almoxarife da Fazenda Real, também rico proprietário rural na região do Itapecuru. Concomitante às suas atividades empresariais, Lourenço Belfort também se ocupava com a vida pública, em cargos políticos. Foi almotacel, vereador e juiz de fora interino. Certamente o seu bem relacionado ciclo de amizades, associado à influência da família de seu sogro, lhe abriu precedentes para o passo maior que estava por vir para aumentar seus investimentos; logo ele consegue autorização para adentrar a ribeira do Itapecuru e lá estabelecer um engenho. A propriedade ficava entre as vilas de Rosário e Itapecuru e logo Lourenço a batizou de Kelru, um aportuguesamento de Kylrue, nome do castelo irlandês de propriedade de sua família. É erigida também uma capela em nome de St. Patrick (São Patrício), padroeiro irlandês cujo festejo, único no Brasil, é realizado até hoje. Estimulado pela política Pombalina, Lourenço Belfort consegue transformar Kelru num enorme núcleo exportador de algodão, fazendo testes, inclusive, com o bicho da seda, que sucumbiu ao clima do local. Belfort, através dos seus entrelaces familiares e bom tino comercial, torna-se um dos homens mais ricos do Maranhão e garante as condições necessárias para o início da solidificação daquele que seria o mais poderoso clã maranhense dos séculos XVIII e XIX, o clã dos Belfort. No auge da aristocracia rural maranhense, além da atividade algodoeira, Belfort cuida também de criação de gado e da construção de inúmeros imóveis opulentos em São Luís para moradia de seus familiares ou investimentos diversos, como soque de arroz e prensagem de algodão. Do alto de seu imenso solar no canto do Beco da Pacotilha, Largo do Carmo, onde funcionou o Hotel Ribamar e onde um de seus descendentes (o Barão de Coroatá) morou, Belfort observa todo o seu império construído através de astutos entrelaces familiares, cuja metodologia foi passada às gerações posteriores mesmo após sua morte em Lisboa, em 1777.


Através de requerimentos de seus descendentes junto à Coroa justificados por documentos conseguidos ainda por Lourenço atestando sua linhagem nobre, muitos conseguiram títulos de nobreza e cargos públicos importantes durante muitas gerações, através de consórcios nos casamentos com famílias também abastadas, gerando uma perpetuação de riqueza e multiplicação do patrimônio. Com uma cartada de mestre e através de consórcios que interessavam a ambas as partes familiares envolvidas nos casamentos setecentistas, Lourenço Belfort consegue, assim, garantir o futuro promissor de sua linhagem por quase 200 anos. Muitos são os seus descendentes hoje em dia no Maranhão e fora deste. Alguns escravos aglutinaram o nome do seu senhor, fora aqueles que eram filhos bastardos dessa família, de modo que hoje há muitos afromaranhenses de sobrenome Belfort. Há também muitos brancos descendentes diretos no Maranhão, como minha amiga Vanessa Belfort. Outros tantos migraram e, por exemplo, Belfort Roxo no Rio de Janeiro só existe por conta de uma bisneta de Lourenço Belfort, o clube de futebol América-RJ só existe em função do seu fundador ludovicense Belfort Duarte e o lutador Vítor Belfort tem suas raízes nesta família também. A ilustre Casa dos Belfort é um assunto à parte e merece ser sempre alvo de pesquisas e divulgação da saga desta família que muito contribuiu para o Brasil. foto: registro de Tiago Oliveira das ruínas da fazenda dos Gomes de Souza e capela de São Patrício na antiga propriedade de Lancelot Belfort.


SOBRE LITERATURA & lITERATOS


ATÉ QUE O CELULAR OS REÚNA CERES COSTA FERNANDES Um trem partindo da estação, o comboio coleando e emitindo um nostálgico apito, um navio ao largo, alguém que chega atrasado para um encontro ou mesmo uma viagem a dois, são cenas presentes nos filmes ou nos romances de amor, ícones de coisas perdidas ou inalcançáveis. Aí, dava-se o desencontro, o desenlace, a separação. Às vezes, anos mais tarde, o reencontro, já com as vidas refeitas, outros companheiros, filhos e compromissos a impedirem, novamente, a concretização da grande paixão. A partir desses desencontros, construíram-se grandes filmes, tocantes poemas e famosos romances de amor. Em “Tarde Demais para Esquecer”, Deborah Kerr e Gary Grant, protagonistas do filme, vivem um cálido affair em um cruzeiro marítimo. Ao final, combinam encontrar-se, dentro de seis meses, após resolverem seus impedimentos, no topo do Empire State. O encontro não se realiza, a mocinha sofre um acidente. Gary a espera no terraço do edifício até anoitecer e se convence de que ela não o ama mais. Ela fica paraplégica e não quer a sua piedade. O delicioso dramalhão leva anos até culminar no final feliz. Um celular daria conta disso e economizaria lágrimas e desencontros. Tudo muito prático e rápido. E adeus um filme, um conto, um romance. Falar dos mistérios do amor é algo passadista. As relações começam no que antes seria o final feliz. No primeiro encontro, os casais já “ficam”, vão pra cama e começa a morrer o desejo. O desejo prolongado que mantinha as paixões acesas das relações que começavam com uma ardente troca de olhares, depois um toque tímido de mãos e muito depois um beijo, uma carícia mais ousada. A paixão durava e durava. O amor platônico de Dante e Petrarca por damas impossíveis, que nunca chegaram sequer a tocar, gerou alguns dos mais belos textos da literatura universal. Beatriz brilha no Paraíso da Divina Comédia e Madona Laura, apenas contemplada, é musa de belos e perfeitos sonetos renascentistas, inspiradores de gerações e escolas literárias. Existiriam, hoje, essas obras-primas com as quais tem se gasto rios de tinta e toneladas de papel só ao estudá-las? Um toque de celular para Beatriz ou Laura, marcando encontro em horas mortas em alguma igreja sombria, aonde elas iriam acompanhadas de uma aia ou parenta cúmplice, dando inicio a um namoro vulgar que logo secaria as fontes cristalinas da paixão, colocaria aí um ponto final? Vai que Beatriz, tão lindo rosto, tivesse uma voz irritante ou Madona Laura fosse de insuportável beatice. Uma mensagem do celular de Frei Lourenço, avisando Romeu que a morte de Julieta era fake, em vez da carta que se perdeu, evitaria o suicídio verdadeiro de Romeu e, em seguida, o de Julieta, que se matou, desta vez de verdade, ao deparar com Romeu morto aos seus pés. Seriam felizes para sempre, e a peça de Shakespeare mais um drama romântico, sem a força trágica que a caracterizou. Está difícil para o escritor contemporâneo criar tramas e desencontros amorosos verossímeis. Os celulares rastreadores desmascaram adultérios, os chips guardam declarações inapagáveis, somos fotografados em lugares onde cremos estar incógnitos, dentro de elevadores, não podemos tirar nem ouro do nariz nem cometer crimes. Talvez a volta do realismo fantástico ou apelar para o sobrenatural, vampiros, zumbis, extraterrestres seja a solução. Eu, de minha parte, continuo apostando no nonsense.


DO PLANO FINITO* MÁRIO LUNA FILHO, médico e escritor. In Jornal “O Estado do Maranhão”, em 16 de maio de 1981; Nota: ‘Do Plano Finito’ seria o título do livro ‘O Exílio do Viandante [1982], de Fernando Braga’’, título este sugerido pelo escritor Wolney Milhoem... E assim ficou!

É sempre bom sentir-se que a poesia permanece viva e autêntica nos nossos dias, apesar da pressa de cada um de nós teimar em sufocá-la e a reprimir cada vez mais em nossas almas. A luta pelo cotidiano – na maioria das vezes nos cansa sobremaneira o corpo e nos mortifica o espírito. Fernando Braga, o mesmo autor do inesquecível “Silêncio Branco”, e que se agigantou e se superou em “Ofício do Medo”, de repente se fez exílio em Brasília, onde inaugurou uma nova fase poética com “Planaltitude” e agora nos chega maduramente falando do seu desterro em “Do Plano Finito”. O espírito de Fernando – neste seu discurso – se torna vigilante, num querer esquadrinhar toda gama de conflitos da alma humana, partindo da miséria, mergulhando profundamente num desespero-revolta e depois se postando como um autêntico saudosista e, por fim, deixando transparecer uma mescla de esperança, um brilho de sol através de uma réstia do seu espírito ao angustiado. O que se sente é o gosto amargo de um Fernando sabendo-se parte desta humana gente que se sente finita e que se dilui apenas em ossos para um pasto de vermes: “No vermelho do lume / o fátuo lampejo/no abandono de ossos / os vermes da tarde / o sentir-me sem tato / no escuro que vejo / no breve delírio / só esta febre me arde”. Fernando não é um aficionado da forma, mas neste seu livro, uma das coisas que se mais nota é o ritmo que consegue imprimir aos versos, longe de virgulas e cheios de musicalidade. Musicalidade que em momentos se torna mais pesada e em momentos mais leve. E inexoravelmente ele vai deixando sua mensagem impregnar os nossos sentidos. Sente-se nestes seus versos o quanto é profundo o seu desespero perante a sua condição de impotente perante a miséria humana: “Nas tábuas silêncio / esquemas sequências / a noite não enxerga / as lavras que come / as longas promessas / as curtas frequências / de um eterno sem meu de um poema sem nome”. E o frio que cabe e veste Brasília, expande-se e atinge Fernando, domina sua mente, fazendo-o deixar brotar este lamento: “Esquemas de um eixo / verão malefícios / do gelo horizonte / de tempos fechados / meridiano de ar em inverno edifícios / do verde de Lorca aos cinzas vingados”. Aí está. Quando se pensa que esse peso-acinzentado perdura por toda a obra, acaba-se por descobrir que à medida que evolui o seu discurso e se chega à segunda parte, quando muda o cenário e não mais se observa como pano de fundo as nuvens carregadas e plúmbeas do Planalto Central e sim esta nossa Ilha tão vestida de Sol. Fernando vai deixando cair também, ao longo do seu caminho, sementes de esperança. Pode-se dizer que são rasgos de fé saídos dos escombros de uma alma cansada de desacreditar. Passa-se então a sentir um Fernando mais leve, embora saudade, Fernando – porém – jamais superficial. Sabe explorar os sentimentos e dizê-los de tal maneira a despertar uma participação efetiva dos seus leitores. E assim São Luís – distante e esquecida – toma conta de suas retinas, transmuda-se em poesia, despertando histórias e lendas. Acordando sobradões e mirantes, aflorando à lume mitos que nos fazem amar esta nossa França Equinocial de um sonho maior de La Ravardière. E pelas ruas e rumos desta cidade, Fernando vai se descobrindo lembranças insepultas de incorrigível criança: “No meio da noite / me ferve a lembrança dos tempos ficados / nos rastos das pistas / no sonho da noite / me finjo em criança / sorrindo aos perigos de outras conquistas”.


O fingir-se criança é uma forma manifesta de saudade. E nesse impulsionar-se nos rumos de fantasia, sente-se, mesmo de maneira tênue, quando fala em “conquista”, um gesto de puro acreditar, um vislumbre de esperança que começa a crescer e criar forma em sua alma de poeta e crescer e criar forma em sua alma de poeta angustiado. E desta forma, quando se percebe um navio que segue por mares profundos de sua mente, descobre-se em suas manifestações líricas emoções bem mais amplas, através das múltiplas e indefinidas razões de um pranto: “Na boca-danoite / no pé que [e de vento / no farol que ilumina / toda barra de fora /o afogar do canal / em torpe momento / explode num grito / um navio que chora”. Há momento em que descobrimos como Fernando a olhar estas verdades mais duras: bondes e trilhos soterrados pó mãos mais negras que vestiram de noite nossa cidade. Vejamos, pois o que ele nos tem a dizer: “Nos trilhos sem bondes /cobertos de asfaltos / tateio-os à noite / tentando encontrar-me / nas longas medidas / de voo sobressalto / no musgo de âncoras / ferrugem a matarme”. Sente-se o fato: Trilhos, bondes e Fernando criança. Três verdades presas a um passado que o sufoca, despertando um nostálgico sentimento de saudade. E assim vai Fernando, de verso em verso, de canto em canto, transmudando-se a cada passo, posto que em busca de uma identificação mais autêntica. Desfilam sentimentos, dores, angústiadesespero, lembranças dolentes, laivos de esperança, até que se sente, em seus momentos finais de “Do Plano Finito”, desabrochar uma quase-canção-de-ninar: “Nas rugas do limbo / no verde das telhas / estoura em fadigas / na palma da rua / rumores partidos / das lembranças mais velhas / que cantam ninando / a beleza mais nua”. Percebe-se nele um plano e fuga das correntes duras e frias da realidade, uma fuga que Guerra Junqueiro tão bem nos fala em “O Melro” “... Prende-se a asa, mas a alma voa...” E então Fernando se deixa aprisionar pela fantasia, pelos versos e pelas canções, numa forma de superar o fado mais duro de se saber exílio: ”Algemando em canções / com estrofes de ferro / tão longe do Sol / de minha ilhada cidade”. O fato é que o clamor de Fernando Braga põe a nu a sua verdadeira identidade de poeta. E ininterruptamente, das sacadas de sua alma, ele vai regando – com a emoção da esperança – cada milímetro de sua lavoura de sonhos. Fernando se mostra, neste seu trabalho, profundamente maduro, deixando que as palavras fluam livremente de sua alma para um contato bem direto com o espírito do leitor. Lede-o, pois, e vede que a poesia se veste com sua melhor roupa e abre espaço para sentir Fernando com o seu Canto Maior – do Plano finito – para uma própria razão de viver.


EM BUSCA DAS ESCRITORAS MARANHENSES: ISABEL FIALHO FELIX

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ16 Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Licenciado em Educação Física. Mestre em Ciência da Informação

Mhario Lincoln, em critica ao livro de Cléo Rolim17, compara: Lembrei de minha avó Isabel Fialho Felix, autora do livro de poesias "O Por-do-Sol de Minha Terra", escrita à beira do rio Itapecuru, quando lia as histórias da 'Carochinha', para os netos pequenos (inclusive eu) e ao final, tirava suas conclusões e afirmava: "Eu também já fui assim, etc e tal...". Daí, acabava tornando uma história da 'Carochinha', um fato real em minha cabecinha de criança. 'Ora, se isso aconteceu com Vovó 'Biluca", isso foi real e pode acontecer comigo também...', indagava eu em minha inocência.

16

Com a colaboração de MHÁRIO LINCOLN FIALHO FÉLIX SANTOS, seu neto; ISABEL FIALHO FÉLIX, sua neta, a quem o autor agrade as fotos e os poemas manuscritos por Isabel (a neta), de suas lembranças. 17 MHÁRIO LINCOLN. AMAR É UM ELO ENTRE O AZUL E O AMARELO. In ALL EM REVISTA, v. 4, n. 3, julho a setembro, 2017, p. 400-402, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v._3__julho-setem


Isabel Fialho Félix nasceu em Grajaú, em 05 de maio de 1905, casada aos 13 anos de idade com o libanês Antonio Cachem Felix, comerciante em Rosário; o primeiro filho, aos 15 anos: mãe de Isilda Fialho Felix, Flor de Liz Fialho Felix, Grace Iris Fialho Felix, e Wilson Paulo Fialho Felix.

Poetisa, conforme registro em vários jornais de São Luis, tendo publicado o livro “O por do sol de minha terra”; segundo A Pacotilha (05/05/1958) Os versos da poetisa Isabel Fialho Felix vem sendo publicados em várias revistas literárias do país e merecendo as mais elogiosas referencias de renomados críticos nacionais”


1923 – No Diário de São Luis, anunciado o nascimento de um filho, Wladimir18

18

Nome correto, segundo sua neta Isabel Fialho Felix (mesmo nome...)


1931 – O Combate de 09 de dezembro anuncia a formatura em Farmåcia de sua filha Isilda Felix:


1945 – No Diário de São Luis de 29 de maio, de que havia sido atendida no Pronto Socorro:

1948 – 1º de janeiro, registrado enlace matrimonial das famílias Fialho Feliz-Correia Lima:


1948 – O Diário de São Luis de 05 de maio parabeniza pelo transcurso de seu aniversário:

1948 – Diário de São Luis, de 21 de dezembro:


1949 – 22 de fevereiro, no Diário de São Luis, nota social sobre aniversário de uma filha, Alaila

1949 - Diário de São Luis de 05 de maio, mais uma vez registra o aniversário de Isabel:

1952 – Em A Pacotilha de 05 de maio, em Notas Sociais, parabenizando por seu aniversário 1956 – O Combate, de 26 de dezembro: mais uma filha de nossa biografada é identificada:


1958 – A Pacotilha de 05 de maio em nota “Fz anos hoje a poetisa Isabel Fialho Felix”, esposa do comerciante em Rosário Antonio Felix: “[...] a distinta aniversariante, que é inspirada poetisa e autora do livro ‘O por do Sol de minha terra’ a ser dentro em breve publicado, nasceu em Grajau, interior do Maranhão. (...) Os versos da poetisa Isabel Fialho Felix vem sendo publicados em várias revistas literárias do país e merecendo as mais elogiosas referencias de renomados críticos nacionais”







PÍTI, A ANDORINHA OU EU E OS BICHOS CERES COSTA FERNANDES

Em nossa casa do Centro, havia um exíguo quintal pavimentado que não favorecia a criação de animais, ainda que de pequeno porte. Mas vá tentar convencer quatro crianças a aceitar argumentos e ponderações contrários ao forte desejo de acolher bichinhos de estimação. Daí que, durante a infância dos meus filhotes, fui obrigada a conviver – e digo, sem nenhum remorso, que não sou chegada à convivência intima com nenhum tipo de animal, me bastam os humanos – com três cachorros, um vira-latas e dois pequineses; três coelhos e dois jurarás. Em épocas distintas, bem entendido. O que aprontaram esses adoráveis animaizinhos nem queiram saber. Muitos dias de purgatório me serão abonados pelo muito que aturei. Não exagero, se incluir na lista também uma rápida convivência com uma colônia de formigas corredeiras, instalada em um aquário – onde, obviamente, não quiseram permanecer – e com um tamanduá-mirim, comedor de cupins, ambos trazidos por meu filho-cientista-em-projeto, e impiedosamente expulsos. Não o filho, bem entendido, mas a colônia de esforçadas formigas, devidamente exterminada por inseticida, e o tamanduá, devolvido ao manguezal de origem, acompanhado do respectivo lanche. Mas entre os rói-róis e xixis de coelhos e cachorros, corridas noturnas ao veterinário e, ainda, o misterioso desaparecimento de um jurará, enterrado(!) em nosso minúsculo jardim, houve um animalzinho que encheu a casa só de enlevo e ternura. Foi uma andorinha de asa quebrada, que nos caiu literalmente do céu, direto em nosso quintalejo. Parecia tão coitadinha, que mereceu o nome de Píti. Logo, providenciamos um arremedo de curativo que o tempo nos mostrou estar correto. Enquanto se processava a cura, Píti comia na nossa mão e andava pela casa muito à vontade, tanto que precisávamos de cuidados para não pisá-la inadvertidamente. Quando sarou e alçou vôo, foi uma vitória de todos. Havíamos recuperado uma vida. Alegria e tristeza. Voltaria? Voltou. Uma, duas, muitas vezes. Um dia, não voltou mais. A decepção se instalou na casa, juntamente com as muitas conjecturas. Ingratidão? Teria sido morta? Por mão e baladeira ou comida por um gavião malvado? Teria arranjado um companheiro e estaria cuidando de um ninho cheio de bebês-andorinhas? Por consoladora, esta foi a nossa escolha. Os filhos cresceram, os netos vieram. Outro cenário, uma casa perto do mar, com um quintal grande e cheio de plantas. Continuo sem apreciar animais, mas quem se importa? A minha sina estava escrita. Maktub! Agora, se descuido, sou lambida pela língua gotejante de um enorme Rottwailler, que, sabe-se lá o motivo, salta em cima de mim ao menor sinal de apreço. Sempre que passo por ele, fico ereta, gélida e distante. O truque é esse. Com o aumento do terreno, variamos os animais. Houve um cavalo, belo e de maus hábitos: roer colunas e escavar pisos. Foi banido para a Baixada. Temos uma família de camaleões gordos, proprietários do terreno, que passam o dia pelos muros aquentando-se ao sol. Nem aí para nós. O mais saliente deles, apelidado, pela netinha Marília, de Lorenzo, acompanha, de cima de uma folha de coqueiro, os encontros familiares e chega bem perto de nós sem demonstrar receio. Passarinhos fazem, sem o menor respeito, vôos rasantes sobre nossas cabeças enquanto almoçamos na mesa de fora. Sapos, esses, temos a granel. Inclusive um, grandão, o pai de todos, que inferniza a vida do cachorro: adora senta-se em cima da tigela de ração do coitado.Nem vassoura dá jeito. Uma gata da vizinhança, driblando o cão, não deixa de dar uns bordejos na área e até dorme na mesa do jardim. Como vêem, moro num zoológico. Deve ser praga de madrinha. E mais, os adoráveis bichinhos, xodó dos netos, são “imexíveis”. Por falar nisso, se virem por aí um camaleão jovem, ainda esbelto, com ar malandro, que atende pelo nome de Lorenzo, por favor,


me avisem. É que o folgado, desejando prestigiar o ministro da economia, levantou o traseiro, bem da folha do coqueiro, aquela por cima da piscina, e fez baixar os juros. Tal ato patriótico levou o caseiro a pegá-lo pelo rabo e arremessá-lo por cima do muro. Ofendido, Lorenzo não retornou. E como Marilinha deve vir passar as férias, estou em sérias dificuldades... E por tudo isso, homenageio a mim mesma e a todas as mães que, embora não tendo afinidades com esses adoráveis bichinhos – as que gostam estão fora da homenagem - aturam todas essas coisas e muitas outras por amor a filhos e netos. Eita nós!


O CORONA E O REBANHO CERES COSTA FERNANDES

Imunização de rebanho? Que coisa é essa? Qual rebanho? Bovinos, ovinos ou qualquer outro que seja? Não, trata-se de gente mesmo, população de humanos, considerada, de raso, na sua condição de animal. Essa denominação circula na época de mais uma pandemia que assola o bicho da Terra tão pequeno, a terrível COVID. Teoria, defendida por um grupo que preconiza o fim da pandemia por imunização natural. Nessa linha, estima-se que, depois de infectados 60% do “rebanho” (o rebanho brasileiro tem 210 milhões de indivíduos), 126 milhões seria o provável número de infectados para atingir a tal imunidade. Nesse meio tempo os mais velhos, os que têm comorbidade relacionada à COVID, os fracos, integrarão a maioria dos mortos. A taxa de morbidade varia de país para país, de estado para estado. Os sobreviventes ficarão à espera da próxima praga. Seria, então, a velha lei da Seleção Natural de Darwin, a sobrevivência do mais apto? Pandemias não são nenhuma novidade, nos últimos trezentos anos as mais famosas repetem-se, curiosamente, de cem em cem anos, a saber, 1720, peste negra; 1820, cólera; 1920, influenza; 2020, COVID 19. E, de entremez, as epidemias de varíola, febre amarela, sarampo, ebola e muitas outras. Mas nada se compara à famosa peste negra ou bubônica do século XIV, causada pelo bacilo Yersinia, oriundo da China, e que chegou à Europa a bordo dos navios mercantes e teve sua porta de entrada em Gênova e Veneza. Varreu um terço da população europeia de 1347 a 1351, cerca de 70 a 150 milhões de vítimas, um número fantástico considerando-se a população mundial de então. Em 1353, Giovane Boccaccio, escreve o famoso Decamerão, obra do início do renascimento italiano, que marca a ruptura com a moral medieval e inicia um realismo distanciado da mítica cristã na literatura. Na novela famosa, dez jovens, sete mulheres e três homens, fugindo da peste reinante na cidade de Florença, uma das mais ricas e requintadas de então, refugiam-se em uma propriedade rural e lá, em completo isolamento do mundo exterior, passam os dias a preparar e contar as cem histórias de que consta o livro. As lives de então. A licenciosidade que apimenta a obra não advém do comportamento dos jovens, aliás, corretíssimo, mas das narrativas que apresentam. Narrativas famosas que inspiraram outros livros, filmes e peças teatrais. Por esta obra, sabemos que há exatos 873 anos já se praticava o isolamento social como medida para evitar o contágio; pinturas da época também mostram pessoas com máscaras com bicos de pássaros e roupas pesadas. No decálogo de medidas contra a Influenza, de 1820, atualíssimo, consta a lavagens de mãos, o isolamento social e a cobertura do rosto com máscaras ou lenços. Ou seja, tudo como dantes no Quartel de Abrantes. As duas correntes, a do solta pra imunizar e a do isola pra preservar, continuam a se digladiar e nós, no meio, perplexos, sem saber se saímos ou ficamos. Antibióticos de última geração, medicamentos milagrosos, higiene de viagem espacial, diminuem, mas não cessam a mortandade. Creio firmemente que a Terra é chata, paciente, mas reimosa, e que de tempos em tempos sacode os incômodos carrapatos que a poluem e, assim, faz a sua higiene. Depois de um tanto de limpeza de ar e águas, volta a hibernar. Esperemos, pois, a mudança do humor de Geia.


POESIAS & POETAS


4 POEMAS DE CARVALHO JUNIOR

CARVALHO JUNIOR |Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior, Caxias/MA, 1985|. Professor, ativista cultural, gestor público e poeta brasileiro. Vencedor do Troféu Nauro Machado, categoria poema, no I Festival Maranhense de Conto e Poesia (Universidade Estadual do Maranhão, 2015). Publicou os livros de poemas Mulheres de Carvalho (Café & Lápis, São Luís, 2011), A Rua do Sol e da Lua (Scortecci, São Paulo, 2013), Dança dos dísticos (Editora Patuá, São Paulo, 2014), No alto da ladeira de pedra (Editora Patuá, São Paulo, 2017) e O homemtijubina & outras cipoadas entre as folhagens da malícia (Editora Patuá, São Paulo, 2019). Organizou a antologia Babaçu Lâmina – 39 poemas (Editora Patuá, São Paulo, 2019), tendo organizado, também, anteriormente, em parcerias, a Antologia Poetas Locais Integrantes da Noite Universal (e-book, 2019, org. com Ricardo Leão) e a antologia/caderno de poemas Quibano: 15 poetas do Maranhão (Appaloosa Books, 2017, org. com Antonio Aílton). Membro da Academia Caxiense de Letras e da ASLEAMA, pesquisa vida e obra do poeta Déo Silva. Realiza, com algumas parcerias, o sarau/encontro de poesia Na Pele da Palavra e faz parte dos coletivos de autores Academia Fantaxma e Os Integrantes da Noite. Participou com o poema Abrigos da Exposição POESIA AGORA (Itaú Cultural, Rio de Janeiro, 2017). Foi o curador da Exposição Sementes de Poesia, em Caxias/MA, no espaço do Caxias Shopping Center (2018). Integra o Conselho Editorial do Círculo Poético de Xique-Xique. Edita a página de poesia Quatetê. Tem poemas publicados em jornais, antologias literárias e revistas do Brasil e do exterior. Possui poemas vertidos para o espanhol pelo poeta Antonio Torres.

PAREDES DA INFÂNCIA na persistência no reboco das paredes da infância, notei no coração da minha alma uma velha Singer que pulsa. há uma máquina de costura e um tamborete gasto como se fosse a asa da mãe a me cingir os vazios com linhas de cores diversas.


no zigue-zague da saudade, [re]visto-me de calções de cotelê, de camisas quadriculadas [com botões e colchetes do mercadinho do Élder]: [re]teço-me e [re]bordo-me nas entretelas de um amor na ponta da agulha.

O NARIZ DA MINHA MÃE SANGRA… enquanto o político derrocado posa de moralista na estação de rádio, o nariz da minha mãe sangra. enquanto jogam peteca a cidade e o caos nas fendas da ladeira vermelha do sono, o nariz da minha mãe sangra. enquanto o trânsito segue áspero e a delicadeza murcha nas hortas e palavras (dos homens?), o nariz da minha mãe sangra. enquanto as filas não diminuem no número de desrespeito e o farmacêutico vende pílulas antiamor, o nariz da minha mãe sangra. como se falasse com Deus, toda vez que me toma nos braços e me embala com o curioso cântico — tingadonga-donga-donga/ tingandanga-danga-danga — o nariz da minha mãe morre o sangue e vive o sonho.

ÁGUA DE ME INUNDAR como se a língua da tijubina me beijasse cada ferida, o teu sopro nos meus cabelos de menino me azeita de febres e forças


para a travessia interminável à margem que me azougueia. mãe, minha índia, minha gamela de amor. mãe, minha vida, olho d’água cercado, de onde tiro toda a água de beber, a água de me inundar.

PELOS CHÃOS DA MALÍCIA PULSATIVA da voz conselheira de meu avô, tua coragem em me levar, mãe, pelos chãos da malícia pulsativa, entre arapucas rachadas de sol, sob o canto religioso dos azulões, com os pés em vitória sobre as corcundas espinhosas dos caminhos da roça e a desconfiança das sementes não vingadas. do fogo que me marcou o corpo, tua habilidade em me mergulhar no rio do teu perene afeto, me sarar e me salvar do não existir. a cacimba do teu olhar me protege dos afogamentos que o carrasco funda.


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

FRAN PAXECO: recortes & memórias

SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2020 PARTE VI


“Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro

de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502)

FRAN PAXECO E “A QUESTÃO DO ACRE” – 1906 PUBLICA - O Departamento do Juruá. Cruzeiro do Sul, 1906. MAIO, 06 – O Jornal Cruzeiro do Sul19, do Acre, publica nota, em que Fran Paxeco ocupa a função de Secretário do Diretório do Partido Autonomista do Juruá, que lutava pela emancipação do Acre:

Também nessa data é publicado o discurso de Fran Paxeco durante solenidade de inauguração do retrato de Thaumaturgo de Azevedo20:

19

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190

20




















MAIO, 13 – Nesse mesmo Jornal, nota sobre as comemorações do dia 03/05 21:

JUNHO, 12 – A Pacotilha publica:

21

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190


JULHO, 17 – Republicado correspondência ao Congresso Nacional, sobre a emancipação do Acre:


:






JUNHO, 24 – A questão do Acre, discurso escrito por Fran Paxeco








MAIO – Decretos assinados por Fran Paxeco, como Secretário





JULHO, 15 – publica anuncio procurando por um conterrâneo que viveria no Acre:


JULHO, 22 – Novo comunicado referente à Autonomia da região22:

22

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190


Nessa mesma edição de O Cruzeiro do Sul, aparecem alguns avisos assinados por Fran Paxeco, normatizando as atividades comerciais e financeiras da cidade:



JULHO, 29 – Aparece anuncio das obras de Fran Paxeco à venda no Acre:23

23

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190



Assim como novos avisos, de ordem administrativa, regulamento atividades comerciais e financeiras da cidade:



AGOSTO, 05 – Paraná dos Mouras indica Fran Paxeco para ser seu representante junto ao Partido Autonomista do Juruá:24

24

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&PagFis=39&Pesq=Fran%20Paxeco





SETEMBRO, 28 – Além de assinar vários decretos regulamentando a vida da cidade, Fran Paxeco apresenta seu relatório de viagem que fez ao interior do território:25

25

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&PagFis=40&Pesq=Fran%20Paxeco

























OUTUBRO, 21 – Nomeado novo Prefeito de Cruzeiro do Sul, um delegado de Polícia, começam as perseguições a Fran Paxeco, por irregularidades constatadas pela Promotoria Pública, na concessão de exclusividade no comércio de carnes e peixes na cidade, sendo que é acusado de adulterar os valores acertados, quando de seu registro:



Um dos primeiros atos do novo prefeito foi anular o contrato de exclusividade no fornecimento de carnes e peixes,




Fran Paxeco torna-se réu em processo aberto pela Promotoria Pública, conforme aviso dirigido ao Prefeito do Departamento do Alto Juruá:


OUTUBRO, 28 – Boatos correm pela cidade de que se tentaria retirar, à força, Fran Paxeco da cadeia, e que o Prefeito não permitiria desordens na cidade, tomando as providencias necessárias26:

26

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=420530&PagFis=45&Pesq=Fran%20Paxeco





DEZEMBRO, 05 – A Notícia (RJ) publica a nota que segue:27

27

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=830380&pesq=Fran%20Paxeco&pasta=ano%20190


DEZEMBRO, 08 – A Pacotilha publica o seguinte aviso:




DEZEMBRO, 11 – a Pacotilha publica transcrição de jornal do Rio de janeiro:


A Pacotilha volta a se referir Ă Fran Pacheco, em crĂ­tica aos seus escritos de literatura, conforme nota de 16 de dezembro:





A 21 de dezembro, continua a crítica à Fran Paxeco:



No dia seguinte, continua:




A Pacotilha de 25 de dezembro transcreve noticia do Rio de Janeiro, em que Fran Paxeco ĂŠ citado:



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.