MARANHAY 49 - Revista Lazeirenta, Setembro 2020

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MARANHHAY (REVISTA DO LÉO)

REVISTA LAZEIRENTA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

ARY FAÇANHA DE SÁ – DE GUIMARÃES

NUMERO 49 – 2020 SÃO LUIS – MARANHÃO


A

presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA – 2020 VOLUME 49– SETEMBRO - 2020

VOLUME 48– AGOSTO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_48_-__2020_bVOLUME 47– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_47_-__2020_VOLUME 46– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_46_-__2020_VOLUME 45– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_45_-__2020_-_julhob VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020 VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_43_-segunda_quinzen VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41 – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS:

VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/4ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019


VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 –

https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM

https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/5ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20


VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec


EDITORIAL

A “MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Este número é dedicado à ARY FAÇANHA DE SÁ, vimarense: nascido em Guimarães-MA. Um dos maiores atletad que este pedaço de Brasil já teve como nascedouro. De Atletismo. Participou de Olimpíadas, Panamericanos, Sulamericanos, Nacionais, Regionais, locais... Reformulou o esporte brasileiro, quando no DED/MEC, através dos convênios com a Alemanha, e a criação dos Jogos Escolares brasileiros... Continuamos com Jorge Olimpio Bento e Manuel Constantino, dois português, que escrevem sobre desportos, educação física, educação, olimpismo, sobre a Vida... Dos locais, sócios-atletas, Ceres Costa Fernandes e Aymoré e Fernando Braga, e Aílton, e o Faraó, e... Sobre Fran Paxeco, continuamos a publicar os recortes de suas memórias, deixadas na imprensa, um ano a cada número... estamos em 1910... Vamos até quando? 2020? Sinto falta das contribuições dos Lazeirentos: cadê Uvinha, Giuliano, Bramante?

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO 2 7 8

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

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LAZEIRICES & LAZEIRENTOS ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA

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ALBERTO MURRAY NETO HOMENAGEM A ARY FAÇANHA DE SÁ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ARY FAÇANHA DE SÁ – UMA BIOGRAFIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A CAPOEIRA DO MARANHÃO: 1930-1960 JOSE MANUEL CONSTANTINO SOBRAS I

MESTRES DA CULTRA POPULAR – MESTRE PATINHO

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HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO DIOGO GAGLIADO NEVES FRANCISCO DA COSTA PINTO KISSYAN CASTRO O SESQUICENTENÁRIO DE MANOEL JOSÉ SALOMÃO KISSYAN CASTRO GERÔNCIO FALCÃO - O PREFEITO DEPOSTO NA REVOLUÇÃO DE 30

75 76 78 80

NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO Extraindo histórias com o faraó RAMSSES DE SOUSA SILVA

82

OSIAS FILHO FILHO "REI DOS HOMENS"! FERNANDO MOUCHAREK MAESTRO JOÃO CARLOS, PAI DE ALCIONE. FERNANDO MOUCHAREK “OS MOHANAS”

87 88 89 90

LITERATURA & LITERATOS AYMORÉ ALVIM QUE GENTE ESQUISITA! FERNANDO BRAGA VESPASIANO RAMOS: ‘Coisa Alguma & Mais Alguma Coisa CERES COSTA FERNANDES O CIRCO JARBAS NICOLAU CERES COSTA FERNANDES OS REFRESCANTES SABORES DA ILHA E SEU MAGO CERES COSTA FERNANDES A(S) CIDADE(S) QUE ME HABITA(M) FERNANDO BRAGA O ROMANISTA ABELARDO SARAIVA DA CUNHA LOBO CERES COSTA FERNANDES VENDE-SE UM COLÉGIO

MEMÓRIAS & RECORTES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – RECORTES & MEMÓRIAS – PARTE X

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LAZEIRICES & LAZEIRENTOS


ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA


A CAPOEIRA DO MARANHÃO: 1930-1960 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Licenciado em Educação física; Mestre em Ciência da Informação Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Ao comentar uma manifestação de Mestre Marco Aurélio sobre o desenvolvimento da capoeiragem no/do Maranhão, ressaltou que no período de 1930 a 1950 não há registro dessa manifestação. Ao menos, que se conheça; e me provoca para falar sobre esse período. Manifestei-me de que em recente livro lançado trata do período de 1870 a 1930 como o do desenvolvimento da capoeira por estas bandas. Outros artigos do mesmo autor já traziam essa referencia, as quais contestei1. Sem sucesso. Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’. Vejamos, embora improvável que e tratasse de ‘capoeira’, mas está lá registrado pelo nosso maior historiador2, Mario Meireles (2012) 3 ao tratar da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas resolviam suas questões com brigas nas ruas: enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira4. (p. 98). Jeronimo de Viveiros5 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847:

1

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, UFPR/Universidde Positivo, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2018. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Chronica da Capoeira(gem): O “Chausson/Savate” influenciou a Capoeira?”.in PAPOÉTICO 29 de setembro de 2011, debate ocorrido no Sebo do Chiquinho, promovido pelo jornalista Paulo Melo. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 2 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “No tempo das eleições a cacete”, com base em MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Chronica da Capoeira(gem): O “Chausson/Savate” influenciou a Capoeira?”.in PAPOÉTICO 29 de setembro de 2011, debate ocorrido no Sebo do Chiquinho, promovido pelo jornalista Paulo Melo. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 3 MEIRELES, Mário. A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702). In Historia de São LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99 4 Pela data, 1702, cremos não ser ainda a Capoeiragem... 5 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847


A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava-se na casa do chefe...6. (Grifos meus).

MELLO, 2016

O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 7, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado8 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 9: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este

6

AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150. 7 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 8 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295, 9

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAf o3MWBBA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=f alse


homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos). Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Outro episódio que demonstra a existência da capoeiragem no Maranhão no meado dos 1800 10, encontrei durante a XV edição do Congresso Brasileiro de História dos Esportes, Lazer e Educação Física – XV CHELEF -, na cidade de Curitiba-PR, de Pedro Figueiredo Alves da Cunha o “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)11: “Eduardo, como já vimos, era um jovem escravo vindo do Maranhão” (p. 101). O Autor, ao analisar as ocorrências policiais havidas naquele inicio da capoeiragem em São Paulo – Capital e algumas cidades do interior – inicia seu trabalho com a análise de duas dessas ocorrências, uma, no ano de 1831, ocorrida no distante subúrbio do Brás, envolvendo ‘africanos capoeiras paulistas’ e ‘africanos capoeiras cariocas’, com estes desafiando aqueles para um 10

UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM CAPOEIRA PIAUIENSE CHEFE DE POLICIA NA CÔRTE, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 11 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (18301930). São Paulo, Alhambra, 2013.


confronto. O segundo caso, ocorreu entre os ‘pequenos do chafariz’, já na capital, no ano de 1864. Adão dos Santos Jorge – africano congo liberto - agride a Eduardo – preto escravo, quando se encontravam naquele local, caminho do centro para o subúrbio... Local de ajuntamento de pretos... Eduardo era escravo de Carlos Mariano Galvão Bueno – um advogado e professor na Escola de Direito, escritor e poeta conhecido, subdelegado de policia. O Autor nos chama atenção do fato de o agressor, Adão, ser africano livre, registrado no Livro de Matricula de Africanos Livres, dado que a lei de abolição do tráfico de cativos da África de sete de novembro de 1831 dava emancipação àqueles entrados após esta data, por força de convenções internacionais, para acabar com o tráfico no Atlântico; mesmo assim, deveriam servir pelo prazo de quatorze anos a concessionários particulares ou a instituições públicas. No processo que se seguiu, Eduardo disse ser escravo “do pai de Paulino Coelho de Sousa, que se achava ausente desta cidade tendo ido para o Maranhão” 12. Então, deveria estar prestando serviços ao nominado Galvão Bueno. Com 24 anos de idade, disse ser filho de José e Sabina escravos do mesmo senhor -, natural do Maranhão, sem ofício (p. 94). Em seu depoimento, disse que Adão “começou um jogo ou gritos de correr jogar capoeira com este declarante e soltou-lhe uma tapa nas costas...” (p. 94). Eduardo foi ferido com uma navalhada. Alegava o autor da agressão que o fizera por também ter sido ferido, em outro encontro – não com Eduardo – com duas anavalhadas no abdome. Eduardo avocou outros escravos, como sua testemunha da agressão que sofrera desafiado que fora por Adão. Todos frequentavam o chafariz de Miguel Carlos, e possivelmente fora para marcar território, demonstrando sua valentia, caso pretendesse dominar tal espaço; isso explicaria porque Adão “começou um jogo ou gritos de querer jogar capoeira” (p. 100).

https://www.google.com.br/search?biw=1920&bih=969&tbm=isch&sa=1&ei=PMztW5fFLITGwAS3krbwA w&q=rugendas+%2B+chafarizes&oq=rugendas+%2B+chafarizes&gs_l=img.12...134530.140765.0.143128. 37.18.0.0.0.0.0.0..0.0....0...1c.1.64.img..37.0.0....0.Hp1BshBj7Cw#imgrc=0WNpMwjol-YmXM: CUNHA, 2013, P. 97

Pedro Figueiredo Alves da Cunha pergunta-se: que capoeira era essa? Adão estava a conversar com outros negros, no chafariz, quando Eduardo chegou e passou a brincar com Adão jogando 12

Paulino Coelho de Sousa consta como aluno na Faculdade de Direito, no ano de 1863, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_02&pesq=Paulino%20Coelho%20de%20Sousa&pas ta=ano%20186


capoeira. Depois de ‘brincar”, pediu para parar; como não foi atendido, disse que ‘poria a navalha nele’. Adão achara uma navalha na rua – essa explicação que deu ao delegado – e Eduardo, com um pauzinho, passou a provoca-lo, dizendo que cortasse o mesmo com a navalha, para mostrar destreza. Acabou por ferir a Eduardo, só percebendo quando viu sangue em sua mão, cortando-lhe um dedo com a navalha... só depois viu que também o atingira no peito. Cunha chama atenção para o uso de pau, de navalha, e o uso de facas e navalhas, e de cacetes, pelos capoeiras; mais, que as autoridades deram pouca importância à prática da capoeira, em si, mas sim à desordem e agressão física, que ocorrera: se fosse na Corte, seria diferente, pois a capoeira era duramente reprimida. Diz ainda, o autor, que parecia haver um pacto de silencio quanto à prática da capoeira, por parte de todos os envolvidos: agressor, agredido e testemunhas, no sentido de não demonstrar a prática do jogo-luta. O uso de arma branca, o gestual, o uso de pau, faz lembrar, ao autor da tese, uma modalidade de luta que ocorria na África Central denominada ‘cafuinha’, caracterizada como um ritual, de demonstração de valentia, com o uso de armas brancas, que exigia habilidade corporal, com uso de saltos, acompanhado por pancadas (percussão), berrarias (canto) e assobios, muito próximo à capoeira que se descrevia, como praticada em São Paulo, àquela época. Eduardo, nascido no Brasil, também dominava o gestual de demonstração de valentia, naquilo que se denominava capoeira. Ensina-nos Patinho13: No século XIX, em Tutóia, Caxias, Pindaré e Codó não se vê a capoeira com influência bahiana, só se vê na forma capoeiragem, no folclore, como o Boi da Ilha, por exemplo. O caboclo de pena, pela sua malicia, seu gingado e vadiagem em estilo defensivo da capoeira. O miolo do boi, que é a pessoa que fica debaixo do boi, pela forma de artimanha utilizando na coreografia de luta. No tambor de crioula, não só pelos componentes, mas pela primeira colocação antropóloga (sic) afinado a fogo, tocado a muque, e dançado a coice, que vem provar a chamada pernada. Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haikel) 14, desde 1820 têm-se registros em São Luís do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Patinho nasceu em 1953, e afirma: Tinha medo dos meus amigos, pois apanhava cascudo, rasteira, todos da mesma idade simplesmente porque tinha o corpo raquítico, tudo isso os nove anos de idade. Por coincidência bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da 13

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, o MESTRE PATINHO. In Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 14 [Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/


capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. E em outros momentos (entrevistas):

Fugi de casa num sábado, de manhã. Vi dois galos brigando, próximo à Rua da Palha [divisa com a São Pantaleão]. Eu nunca tinha visto aquilo, cara”, conta entusiasmado. “Em seguida, do outro lado, olhei Jessé [Lobão, capoeirista maranhense que havia sido treinado por Djalma Bandeira, no Rio de Janeiro, e, ao retornar para o Maranhão, passou a promover brigas entre galos], fazendo meia lua (golpe tradicional da capoeira), batendo em uma lata pendurada em um arame preso [em duas extremidades]. De imediato tirei a atenção dos galos que estavam brigando e, numa atitude divina, imitei esse momento. E foi justamente por meio de Jessé Lobão, que Patinho descobriu, encantou-se e pôde agregar os primeiros valores oriundos da capoeira15. .... Aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões... No ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos...16

Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi”. (MARTINS, 2005, p. 31) 17.

(Mestre Catumbi) Mestre Firmino Diniz Babalú Manuel Peitudinho Ubirajara Elmo Cascavel

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GRUPO BANTUS | (Mestre Artur Emídio) Mestre Roberval Serejo | Patinho

(Mestre Djalma Bandeira) Mestre Jessé Lobão Gouveia Alô Didi

FÁBIO ALLEX. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. In Jornal Pequeno em 11 de fevereiro de 2012, http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 16 In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes. 17

MARTINS, 2005, obra citada..


Sobre os pioneiros dessa tradição da implantação da Capoeira nos anos 60, Greciano Merino (2015) 18coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ . A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015) Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. 19 Nelsinho se posiciona de que os capoeira que atuavam em São Luís, antes da chegada de Serejo, Sapo e a continuação da obra de revitalização, por Patinho, não deixaram descendência.. Pato, no depoimento que prestou no documentário20, fala de que aprendera capoeira com Jessé Lobão, às escondidas, com aulas no quintal de sua casa, e que não poderia falar disso para ninguém. Ora, a capoeira, naqueles anos – décadas de 30 a 50 – era feita às escondidas, nos quintais das casas dos seus praticantes, certamente devido à repressão policial. Mas havia as rodas de Mestre Diniz (anos 1950 em diante)... Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 – teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Mestre Diniz se referia ainda a outros Capoeiras da época de sua infância, como “Caranguejo”, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 200221, citado por MARTINS, 2005, p. 30) 22. Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO – final do ano 1959, e início dos anos 60 - e a criação do Grupo “Bantus“, do qual participava, além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José

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GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015. 19 Veja-se PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. 20 DIVINO PATO (2018, documentário, 27 minutos), dirigido por Alberto Greciano e produzido por Bruno Ferreira será exibido hoje (quarta-feira, dia 21/11) pela programação do Maranhão na Tela. As sessões acontecem no Kinoplex Golden, no Calhau às 16h30 e 21h30. Não percam a oportunidade de ver este documentário sobre o ícone da capoeiragem maranhense na telona do cinema! 21 SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002 22 BRITO, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS, monografia de graduação em Educação Física orientado pelo Prof° Drdo. Tarciso José Melo Ferreira, 2005


Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].23 Firmino Diniz, conhecido também como Velho Diniz, serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo, e, posteriormente com Gouveia, passaram a frequentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas24. Sobre isso, Roberto Augusto A. Pereira diz que: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 25 Mestre Índio do Maranhão (2015) 26 conta como eram essas rodas, que constituíam verdadeiros momentos de ensinamentos e troca de experiências, sem a formalidade de uma ‘escola/grupo de capoeira’ nos moldes atuais: tenho conhecimento da história da capoeira de São Luís do Maranhão, pois o Velho Diniz passava isso para a gente. Ele dizia que a história da capoeira lá no Maranhão, precisamente em São Luís, ela começa em 1885. Ele dizia que os estados mais antigos da capoeira, eram Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Maranhão. A capoeira chega em 1885 no Maranhão, porque os escravos que eram enviados para lá, vinham do Rio de Janeiro, não vinham de outros estados, eram específicos do Rio de Janeiro, enviados para a cidade de Turiaçu, e de Turiaçu para São Luís. Deste período de 1885 a 1959, quando surgiu o primeiro grupo de capoeira, um grupo chamado Grupo Bantu de Capoeira, comandado por Roberval Cereja (sic), que era marinheiro, e foi do Rio de Janeiro para São Luís, e chegando lá montou esse trabalho de capoeira. Lembro muito bem do Velho Diniz contando isso para a gente, eram: Roberval Cereja, Babalu, Jese, Patinho, Bizerra, Manuel Peitudinho, Murilo, Lourinho, Elmo Cascavel e Alô, esse grupo de 10 pessoas. Era um grupo isolado, não saia muito até por causa do preconceito da época e da taxação que aquela rapaziada recebia de vagabundo, arruaceiro e etc, pois capoeira era tudo o que não prestava na boca da sociedade. Então nego se isolava muito, treinavam muito ali e às vezes saiam para as festas, onde aconteciam as brigas, ai eles quebravam a galera e os caras às vezes nem sabiam de quem estavam apanhando, anos depois vieram a saber, que eram da capoeira. 23

http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. Uma análise das contribuições de Mestre Sapo para a capoeira em São Luís. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 24 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: Recorde: Revista de História do Esporte. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010. 25 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. 26 Entrevista com Mestre Índio Maranhão: Conheça um pouco da história dos 43 anos de capoeira do Mestre Índio Maranhão por suas palavras. Saiba como ele conheceu a capoeira, como a vive e como aprendeu a história da capoeira do Maranhão na qual ele ensina aos seus alunos com alegria e dedicação. In http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1; Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau; grifos nossos


... A roda de capoeira mesmo que me marcou, foi quando eu comecei a frequentar as rodas do Velho Diniz, que era uma roda lá na Bom Milagre, com vários companheiros que eu lembro até hoje o nome deles, que era o Velho Diniz como chefe da roda, Sargento Gouveia, Babalu, Jese, Elmo Cascavel, Esticado, Raimundão, Alan, Gordo, Volf, Mimi, Ribaldo Branco, Ribaldo Preto, Zeca Diabo, Curador, Cordão de Prata, Sabujá, Patinho e Mareco, tinha mais ou menos uns 30 capoeiras que ele comandava essa galera todinha que comparecia lá nessa roda, e isso marcou a minha iniciação na capoeira, foi a roda da Bom Milagre, eu estava com uns 15 anos de idade na época, hoje estou com 58, daqui a 2 anos eu completo os 60 anos nesse mundo cão ai da capoeira. Mestre Curió27 dá seu depoimento: Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertino, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionou-a com a Punga dos Homens, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. Mestre Euzamor28 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Distingue os tipos de capoeira como: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogados hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Explica o motivo que levou a esta escolha que foi origem, habitat, vindo do sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência cotidiana “Madre Deus”. Para Kafure (2017) 29, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Roberval Serejo morre em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui; seus alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo, que forma, então, seu grupo e passa a dar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco: 27

João Palhano Jansen, o Mestre Curió, casado com dona Joana Santos Reis Jansen, da qual teve quatro filhos, nasceu em 15 de fevereiro de 1956 na comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, no interior do Estado do Maranhão. Seus pais se chamavam Domingos PalhanoJansen e Antônia PalhanoJansen. Aos oito anos de idade foi para Santana, uma cidadezinha da região. Aos 10 anos de idade, sem saber, foi vendido para trabalhar em regime de escravidão numa fazendo do interior do Estado, mas sendo observador das coisas ao seu redor, percebeu que havia algo de errado e fugiu. Com 12 anos se mudou para a cidade de Coroatá. Aos 16 anos veio para São Luís, capital do Estado. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO, 2017. Grifos meus 28 Mestre ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU (1962-2017), iniciou-se na Capoeira em 1969. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum da capoeiragem no Maranhão, em entrevista concedida a José Lindberg A. Melo. E Fábio Luiz B. Silva 29 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012


“Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passe a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas que não tinha tempo de se dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira”. (MARTINS, 2005).30 Sapo, que participava do Quarteto Aberrê (nome em homenagem ao mestre de Canjiquinha), juntamente com Vitor Careca e Brasília, além do próprio Mestre Canjiquinha, líder do grupo baiano, de fato, depois de estabelecido em São Luís, a partir de 1966, segundo Roberto Augusto Pereira (2010)-31, passa a ministrar aulas de capoeira somente após cinco anos, no Ginásio Costa Rodrigues, já no governo Pedro Neiva de Santana. Enfim, vamos a alguns registros: A “regulamentação” da Capoeira como atividade física dá-se nas primeiras décadas do século passado – os 1900. Segundo Reis (2005) 32, e Vidor e Reis (2013) 33 foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva, destacando-se dois mestres baianos - negros e originários das camadas pobres da cidade -, Bimba - criador da Capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiu-jítsu e luta greco-romana -, e Pastinha contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da Capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. ANOS 30/40 Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 – que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. 1933 NOTICIAS 14 jul – JANUARIO MIRANDA – Junius Viactor:

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MARTINS, 2005, obra citada, p. 36, grifo nosso PEREIRA, Roberto Augusto. O Mestre Sapo, a passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (des)construção do ‘mito’ da ‘reaparição’ da capoeira no Maranhão dos anos 60 RECORD, Revista de História, v. 3, n. 1, 2010, disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/748 32 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 33 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. CAPOEIRA – HERENÇA CULTRAL AFROBRASILEIRA. São Paulo: Selo Negro, 2013 31


1935 A PACOTILHA 24 JAN – ‘BOM CRIOULO’ – Nascimento Moraes – critica a livro de Adolpho Caminha:

No ano de 1946, conforme destaque no jornal “O Combate”, de 6 de agosto, sob o título: “UM DELEGADO DE POLICIA MESTRE DE CAPOEIRA E ‘JIU-JITSU”– contraventores presos com ”cabeçadas’ e ‘rabos de arraia’ – Invadindo residência, o delegado de Alcântara atraca-se com os seus desafetos, armando verdadeiros “sururus”: Assim que assumiu a Delegacia de Alcântara, o delegado nomeado pelo Interventor Saturnino Belo, resolveu por em prática uma ideia que há muito tempo vinha acalentando carinhosamente. Convocou para uma reunião, o Prefeito, o escrivão da Coletoria Federal e o tabelião do 2º ofício. E expoz o seu plano, dizendo-lhes mais ou menos o seguinte:


-- A nossa crise é de homens, mas de homens fortes. Precisamos – como diria Pittigrili – ser bastante fortes para quebrar a cara de 75%, do próximo. Querendo colaborar na grandeza de nosso paíz, cuja glória, um dia, se firmará pela capacidade física dos seus filhos., eu venho já de há muito tempo, me dedicando a um acurado estudo do ‘jiu-jitsu’, essa tradicional luta do Japão, cuja prática estimula os movimentos, dá agilidade e resistência ao corpo, proporcionando grandes capacidades de defesa e concorrendo para o nosso bem estar físico, moral e espiritual, pois o ju-do, como vulgarmente chamamos essa luta, assegura a confiança em nós mesmos... Os outros tres big olhavam, boquiabertos para o delegado ‘sportman’. E ele continuou sua explanação, afirmando que não tem fundamento a suposição de que o jin-jutsu (sic) foi trazido ao Japão por Chin-Gen-Pin e Chaen Yuan, da dinastia de Ming, na China. Explicou que os verdadeiros do ju-do, foram os japoneses, por intermédio do médico Akiuyama Shirobei, estabelecido em Nakasaki e que lhe deu o nome de “Yoskin-riyu”, método que foi depois aperfeiçoado em Kusatsu por Yanagi Sekiaki Minamoto-no-Massarati, pertencente à classe feudal da província de Kynshu. -- Se quizermos ser fortes – explicou o delegado – devemos aperfeiçoar os nossos conhecimentos sobre o ju-do. A força vence tudo, Conhecendo alguns golpes e contragolpes, seremos os donos desta terra. Ninguém ousará defrontar-se conosco. Querem aprender como é? E passando da teoria à prática, o delegado gritou para o escrivão: -- Isto aqui se chama “nagewaza”! e aplicou-lhe um brasileiríssimo ponta-pé no estomago! O prefeito arregalou os olhos e nem teve tempo de abrir a boca. O atlético delegado deu-lhe uma cabeçada bem maranhense, explicando: -- Isto é ‘haraigoshi’! O prefeito caiu desmaiado, por cima do escrivão, que continuava estendido no solo. Quanto ao tabelião, foi mais rápido. Defendeu-se de uma rasteira que o delegado dizia chamar-se ‘osotogari’, meteu-lhe o pescoço debaixo do braço e explicou, por sua vez: -- e isto aqui, chama-se ‘grampo’, meu filho! Sáe desse! Serenados os ânimos, o delegado, auxiliado pelo tabelião, tratou de fazer o prefeito e o escrivão recuperarem os sentidos, fazendo-lhes beber ‘água de lima’, método que ele chamou de ‘kwasei-ho’. E a reunião terminou ali mesmo. No dia seguinte, 29 de maio, dia de inicio da festa do Espirito Santo, saíram os quatro a percorrer a cidade, utilizando-se em todas as barracas do gostoso método “kwassei-ho”. De então para cá, segundo as noticiais que recebemos de Alcântara, o delegado ‘cisma’ com qualquer popular, não discute, nem hesita: Aproxima-se e diz: -- “Esteje preso, por infração! Si o ‘infrator’ pergunta o motivo, entram, então em prática os conhecimentos “ju-doisticos” da original autoridade, que com uma cabeçada e dois rabis de arraia estende por terra o adversário, intimando os presentes a conduzirem o preso para a cadeia. Assim aconteceu, há dias, quando ele invadiu a residência de um rapaz conhecido pelo nome de Antonio “Pirulico”, onde se travou uma luta espetacular, no decorrer da qual, em virtude dos ‘haraigoshi, e dos ‘nage-wasa do delegado, foram quebrados os potes, os alguidares, o espelho, cadeiras e a mesa do pobre rapaz. [...]


E assim termina a ‘história’ do delegado de Alcântara, discípulo emérito do método de ‘ju-do’, fundado pelo dr. Prof. Gigoro Kano e adotado pelo Kodohwan em Tóquio [...] 1948 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 23 jul – “A OBRA SOCIAL DO P.S.T. – [...] Essa atitude desprimorosa, que caracterisa antes de tudo a mentalidade de capoeira dos seus autores, vem mostrar ao Maranhão e ao Brasil que aqui, na terra gonçalvina (...)” ANOS 50 –Firmino Diniz conheceu a capoeira ainda na primeira metade do século XX no Maranhão, deu prosseguimento ao seu aprendizado no Rio de Janeiro com o Ms Catumbi, e retorna à São Luís, ainda nos anos 50. Anos depois se tornou um dos maiores incentivadores da capoeira ao popularizar a arte em infindáveis rodas que realizava nas ruas e praças de São Luís (PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. Concordamos com Kafure (2012) 34, quando trata do processo de “desconstrução da capoeira maranhense”, de que no início tudo – aqui - era uma coisa só: capoeira, batuque, punga, tambor de crioula, tambor de mina, bumba-meu-boi – e frevo, samba, cangapé, etc. alhures... Por desconstrução, entenda-se que [...] o tipo de transformação [...da] capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Esse autor se propõe: [...] em nível do Maranhão analisar a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (Kafure, 2012). Esse autor reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”, pois [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato. Outro estudioso, Greciano Merino (2015) 35, refere-se a uma característica, singular, de ‘maranhensidade36, que a mesma teria, em relação às Capoeiras Regional e Angola. Em sua hipótese de pesquisa considera ser a capoeira um jogo popular de interação comunicativa e caráter cultural que veicula um modelo de cidadania e expressa esteticamente como as relações entre o indivíduo, seu grupo e a comunidade na que se inserem podem gestar conhecimento social e sabedoria individual. Ao apresentar suas hipóteses, afirma que uma aproximação antropológica da visualidade na capoeira ‘maranhense’ permite delimitar aquelas dinâmicas sensitivas e sensoriais que, gestadas no devir das ecologias tecno-culturais, configuram um complexo imaginário social cuja fenomenologia é uma das mais influentes de nossa cultura. Esse autor caracteriza a capoeira maranhense como sendo aquela capoeira que se realiza na cidade de São Luis, capital do estado do Maranhão, em torno da comunidade representativa que se forma ao redor de Mestre Patinho – herdeiro de Sapo – e a metodologia de estudo desenvolvida por ele.

34

ROCHA,

Gabriel

Kafure

da.

AS

DESCONSTRUÇÕES

DA

http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html,

CAPOEIRA. publicado

In em

segunda-feira, 5 de março de 2012 35 GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015. 36 BARROS. Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 2, n. 3, jan./jun. 2005


Os Mestres Capoeira participantes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, organizado pela UFMA/DEF 2017, concordam com a existência de uma Capoeira genuinamente maranhense/ludovicense. E que esta se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Punga37. É o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes, jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau38. Esse jogo é executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo39. Portanto, concordam com a existência de uma Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense se diferencia da Angola, Regional, e/ou Contemporânea porque é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições das mesmas40, pois é jogada nos três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região 41. Cinco, dos seis grupos formados, responderam que existe uma Capoeira Maranhense. Um dos grupos concorda com a existência de uma Capoeira Ludovicense: [...] praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formações de bateria eram usados toques da capoeira Angola, São Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola, e samba de roda.42 Mestre Baé (2017) 43, em correspondência pessoal, informou-me de que, em reunião, a maioria dos Mestres Capoeira, sobretudo os que se declaram como estilo praticado a capoeira/capoeiragem mista, que de ora em diante passarão a adotar “Capoeiragem Tradicional Maranhense”... A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais.

37

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: ANTONIO ALBERTO CARVALHO (PATURI); JOÃO PALHANO JANSEN (CURIÓ); FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA (BAÉ); JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES (TUTUCA); e ROBERTO JAMES SILVA SOARES (ROBERTO). 38 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA (MILITAR); JOSÉ TUPINAMBÁ DAVID BORGES (NEGÃO); MÁRCIO COSTA CORTEZ (CM MÁRCIO); LUIS AUGUSTO LIMA (SENZALA); AMARO ANTONIO DOS SANTOS (MARINHO). 39 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO (MIZINHO); EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ (CM DIACO); ANTONIO CARLOS DA SILVA (CM BUCUDA); JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO (NILTINHO). 40 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: VICENTE BRAGA BRASIL ( PIRRITA); RUI PINTO CHAGAS (RUI); GENTIL ALVES CARVALHO (TIL); EVANDO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); LUIS GENEROSO DE ABREU NETO (GENEROSO). 41 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA (MANOEL); FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO (LEITÃO); HÉLIO DE SÁ ALMEIDA (GAVIÃO); SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE FERREIRA CRUZ (CM FORMIGA ATÔMICA). 42 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE LUIS LIMA DE SOUSA (JORGE NAVALHA); CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES (CACÁ); PEDRO MARCOS SOARES (PEDRO); NELSON DE SOUSA GERALDO (CANARINHO); REGINALDO PEREIRA DE SOUSA (REGINALDO). 43 BAÉ, Mestre – in Correspondência eletrônica pessoal, para Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 26 de setembro de 2017


CAPOEIRAS CITADOS PELOS ALUNOS-MESTRES EM SEUS DEPOIMENTOS RODAS DO VELHO DINIZ 1929-1914 / (40/50?) Catumbi Alô Babalú Boi Cordão de Prata Curador Didi Diniz Elmo Cascavel Esticado Faquinha Gouveia Índio do Maranhão Jacaré Jessé Lobão Luciel Rio Branco Miguel Mimoso Nei Patinho Paturi Pelé Pesão Raimundão Rui Sapo Sebastião Socó Tacinho Ubirajara Zé Melo Cara de Anjo PATINHO 1953-2017 / (1962) Sapo Babalu Bamba Bruno Barata Diniz Elma Jessé Lobão Júnior Marco Aurélio Nelsinho Roberval Serejo Sapo Serginho Tacinho

GRUPO BANTU ROBERVAL SEREJO Djalma Bandeira Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Jessé Lobão Patinho Raimundão Sapo Ubirajara

PATURI 1946 / (1962) Adalberto Alô Auberdan Babalu Baé Butão Carral Cordão de Prata Curador Fato Pode João Bicudo Leocádio Lourinho Manoelito Ramos Ribaldo Branco Ribaldo Preto Rola Zé Raimundo Zeca Diabo

QUARTETO ABERRÊ Canjiquinha

Brasília Sapo Vitor Careca

RIBALDO BRANCO ? / (?) Sapo Alô Babalu Cara de Anjo Diniz Garfo de Pau Gouveia Jessé Leocádio Luis Murilo Martins Raimundão Ribaldo Preto Sansão Til Zeca Diabo

SAPO (Grupo Bantu) Associação Ludovicense de Capoeira Angola 1948-1982 / (50?) Pelé/Canjiquinha/Zulu Afonso Barba Azul Alberto Euzamor Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Índio do Maranhão Jessé Lobão Patinho Paturi Raimundão Ribaldo Branco Rui Ubirajara

TIL 1955 / (1968) Ribaldo Branco Ribaldo Branco


ALBERTO EUZAMOR 1962-2017 / (1969) Luciel/Sapo/Rui Luciel Rio Branco Sapo Rui Pinto Cacá

RUI PINTO 1960 / (1970) Sapo Alberto Euzamor De Paula Didi Gouveia Jacaré Marquinhos Raimundão Roberval Sena

SOCÓ 1961 / (1971) Raimundão/Miguel Alberto Alcimar Alô Ball Batata Beto (Curió) Biné Bodinho Boi Cabeça Caco Carlos Cesar Celso Chicão China Cobra Negra Cordão de Prata Curador Curio Danclei De Paula Deco Didi Eduardo Faquinha Generoso Gouveia Irineu João Batata Juruna Marcelo Mauro Jorge Messias Miguel Arcangelo Mimoso Miro Mizinho Motor Nei Pato Pelé Pesão Português Raimundão Raspota Riba Roberval Roberval Serejo Rui Sebastião Travolta Uruca Valderez Wadson Zé Mário Zé Melo

ÍNDIO DO MARANHÃO 1957 / (1972) Diniz Alan Alô Babalú Bambolê Batista Boi Cabral Candinho Carioca Carlinhos Cebola Cesar Dentinho Cordão de Prata De Paula Didi Diniz Elmo Cascavel Emídio Esticado Faquinha Fato Pode Geraldo Cabeça Gordo Gouveia Jesse Leocádio Louro Manoel Peitudinho Manoel Pretinho Mimoso Murilo Nelson Galinha Patinho Paturi Pelé Raimundão Ribaldo Branco Ribaldo Preto Rodolfinho Sabuja Samuel Sansão Sapo Sócrates Teudas Tião Carvalho Til Valdecir Wolf Zeca Diabo


PIRRITA 1955 / (1971/72) Pezão Babalu Baiano Banana Bigu Borracha Brasil Candinho Cara de Anjo China Cícero Curador Curió De Aço De Paula Diniz Euzamor Evandro Gouveia Índio Jair João Bicudo Jorge Navalha Leonardo Madeira Magno Manoel Peitudinho Miguel Negão Neguinho Nelson Pato Pedro Pelé Pezão Ribaldo Preto Ribinha de Tapuia Rico Roquinho Ruston Ruy Pinto Sapo Suruba Tita Tucano Urucanga Vanio Zé da Madeira Zeca Zezão

JORGE NAVALHA 1963 / (1973) Pato Betinho Jacaré Pato Pirrita Roberval Sena

CURIÓ 1956 / (1975) Raimundão Beto do Cavaco Boi Caninana Curador João Matavó Manoel Peitudinho Miguel Raimundão Sapo Socó Tancrei Zé Copertino

BAÉ ? / (1976) Paturi/Edybaiano /Bamba Alô Edibaiano Fred Iran Jacaré Marco Aurélio Pato Paturi Riba Telmo


GAVIÃO 1967 / (1977) Madeira/Pirrita Baiano Bigu Curador Didi Fábio Arara Louro Madeira Pato Pirrita Raimundinho Sapo Sócrates

FORMIGA ATÔMICA 1973 / (1979) Madeira Madeira Shell Braço Lôlô Otacílio Fábio Arara Herberth Pelezinho

ROBERTO 1969 / (198?) Guda/Ciba/Baé Ademir Baé Ciba Guda Macaco Nato Filho

LUIS SENZALA 1971 / (1981) Madeira Gavião Madeira

MILITAR 1971 / (1982) Bigodilho Abacate Alberto Euzamor Assis Batman Beleleco Bulão Cabecinha Cacá Candinho Careca Chicão Coquinho Cudinho Curador Daniel Dunga Evandro Jacaré Jorge Navalha Junior de Assis Juricabra Madeira Manoel Mata Rato Miguel Mizinho Neguinho Nijon Paturi Pirrita Robson Rui Pinto Ruso Tutuca Wilson

MIZINHO 1968 / (1982) Evandro Banana Beleleco Betinho Brinco Dourado Chicão Cláudio Danclay Euzamor Evandro Jota Jota Luisinho Manoel Miguel Patinho Rui Pinto Sabujá Sapo Toba Tutuca

TUTUCA 1967 / (1981) Evandro Evandro Cabeça Magão

LUIS GENEROSO 1074 / (1982?) Dunga / Madeira Beleleco Curador Gavião Madeira Miguel Pato Senzala Socó


PEDRO 1970 / (1983) Pirrita Bigú Bira Cadico Cafezinho Ciba Jair Jorge Jorge Navalha Juvenal Kaká Negão Nelson Neto Patinho Pedro Pezão Pirrita Presuntinho Reginaldo

NELSON 1966 / (1985) Jorge Navalha/Pirrita Jorge Navalha Pedro Pedro Marcos Pesão Pinta Pirrita

NEGÃO 1966 / (1983) Pirrita Pirrita

DIACO 1963 / (1986) Pirrita Negão Pirrita

MANOEL 1975 / (1988) Evandro Evandro

NILTINHO 1975 / (1989) indio Indio

MARINHO 1968 / (1983) Medicina Açougeiro Alberto Euzamor Betinho Cachorrão Ciba Dentinho Edybaiano Evandro Fernando Fred Gavião Indio Madeira Mizinho Nissim Notre Dame Patinho Paturi Ribaldo Sarará Simpson Terra Samba Til Tutuca REGINALDO 1975 / (1986) Erasmo Cadico Erasmo Jorge Kaká

BOCUDA 1973 / (1989) Negão/Indio Negão Indio Jorge Navalha

CACÁ 1972 / (1984) Jorge Navalha Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha Neguinho Neto Patinho Robson Valderez

LEITÃO ? / (1986) Indio/Jorge Navalha Cacá Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha Patinho MÁRCIO MULATO 1978 / (1994) Alberto/Curió/ Militar/Baé Alberto Euzamor Baé Bico Camaleão Camelo Curió Dedé Fafá Kaká Militar Ney Quebraossos Teodorinho


PEZÃO 1956 / (?) Bartô Bartô

RAIMUNDÃO 1956 / (1976) Sapo

DE PAULA 1956 / (1973) Sapo Gudemar Sapo Babalú Gouveia Cordão de Prata Curador Batista Magrinho ZUMBI BAHIA 1953 / (1976) Bigode/Boa Gente

Sapo

FRED 1963 / (1980) Patinho Patinho Telmo

MIRINHO 1966 / (1982) Evandro/Baé Evandro Roberval Serejo

NELSINHO 1975 / (1986) Patinho Patinho

PUDIAPEN 1956 / (1989) Patinho/Acinho Patinho Assuero

SENA 1976 / (?) Cbp-rj

AÇOUGUEIRO 1950 / (1967) Sapo Pinta Sapo

BAMBA MARANHÃO 1966 / (1978) Patinho Euzamor Patinho Sapo MARCO AURÉLIO 1963 / (1984) Patinho Patinho

ABELHA 1967 / (1979) João Pequeno

DOMINGOS DE DEUS 1968 / (1985) Patinho Lelis Patinho


IDENTIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE PRÁTICA DE CAPOEIRA PELOS MESTRES: RODAS, GRUPOS/NÚCLEOS MESTRE SAPO SEREJO

RODAS

DINIZ PATINHO

Praça Deodoro Praça Deodoro Olho d´Água Bom Menino

PATURI

Rio das Bicas Fátima Parque Amazonas

TIL EUZAMOR

Quintal de Casa

RUI

Quintal de casa Casa das Minas Jorge Babalo Deodoro Madre Deus Praça da Saudade Largo do Caroçudo Bom Milagre Fé em Deus João Paulo/Beto Fomento/Diamante

SOCÓ

ÍNDIO

Centro Comunitário/ Bairro de Fátima Bom Milagre/Diniz Paulo Frontin/Diniz

PIRRITA

Praça Deodoro Olho d’ Água Cada das Minas

JORGE

GRUPOS/NUCLEOS Ginásio Costa Rodrigues Bantu/Sítio Veneza Bantu/Rua Cotovia Ginásio Costa Rodrigues Academia Senzala Laborarte Lítero Gladys Brenha Centro Cultural Mestre Patinho Mandingueiros Escola Criação Centro Matro-á Maré do Chão Brinquedo de Angola Ginásio Costa Rodrigues Alberto Pinheiro Casa e Bar do Dezico (28) Encruzilhada da UFMA Associação Comunitária Grupo de apoio à Capoeira Ginásio Costa Rodrigues Ginásio Costa Rodrigues ITA/MENG C ITA/MENG

Sede do PDT Grupo Arte Negra Grupo Arte Fiel Capoeira Escola Maria Helena Duarte Ginásio Costa Rodrigues Grupo de Capoeira Filhos de Ogum Associação Cultural de Capoeira São Jorge Ginásio Costa Rodrigues Praça Gonçalves Dias Grupo de Capoeira Aruandê Grupo Filhos de Aruanda Centro de Cultura Negra do Maranhão Grupo Cascavel Grupo Raízes de Palmares Grupo Argolonã Grupo Unidos de Angola Associação de Capoeira Filho de Aruanda

OUTROS DEFER

São Pantaleão

Bairro de Fátima, Areinha, Centro de Esportes (Vila Embratel) Igreja de Fátima São Bernardo

Madre Deus

Anjo da Guarda Itaqui-Bacanga FETIEMA SESC Bumba Meu Boi da Floresta Federação de Capoeira do Estado do Maranhão


CURIÓ

João Paulo Estrada de Ferro Praça Duque Caxias

de

BAÉ

Paulo Frontin/Paturi Bar da Ziloca

GAVIÃO

Desterro Praia Grande Rua da Alegria 13 de Maio/Jorge Babalaô

FORMIGA ATOMICA

ROBERTO

TUTUCA

SENZALA

MILITAR

Grupo de Capoeira Arte Negra Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo Instituto Funcional Viva Rio Anil Associação de Capoeira Regional do Mestre Edy Baiano Grupo Candieiro Escola Alberto Pinheiro Academia Real de Karatê Grupo Tombo da Ladeira

Jordoa Sacavém Anil Bequimão Federação Maranhense de Capoeira

Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira Casa de Festa Cajueiro FEBEM/Rua do Norte Academia Clube Center GRUPO AÚ CHIBATA Centro de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS Grupo Gira Mundo Capoeira

São Francisco

Academia Club Center/ Siri de Mangue Grupo Tombo da Ladeira Escola de Capoeira Angola Acapus

Praça Gonçalves Dias Praça Deodoro Praia da Ponta D`Areia Madre Deus

Grupo de Capoeira Angolano, Escola de Dança PróDança Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares Grupo Mara Brasil Grupo Maranhão Arte Grupo Gira Mundo Associação de Capoeira Aruandê Associação de Capoeira Aruanda Grupo Nagoas Grupo Liberdade Negra Grupo Ludovicense Associação de Apoio à Capoeira GRUPO K DE CAPOEIRA

Tutóia-MA

Associação da Caixa Econômica Federal do Maranhão (APCEF/MA), Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Movimento de Menino e Menina de Rua/ Casa João Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. FEBEM/ Fonte do Bispo/ Madre Deus Escola São Lazaro Gincana Mirante Academia de karatê/Camboa Secretaria de Educação Promotoria de Infância e Juventude Projeto Capoeira Na Escola Projeto Curumim


MIZINHO

LUIS GENEROSO

PEDRO

NEGÃO

MARINHO

Beira-Mar

Academia do Mestre Socó Parque do Bom Menino/CCN Associação de Moradores da Liberdade Laborarte CSU do Habitacional Turú Grupo Mára-Brasil Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira Grupo Nação Palmares de Capoeira GRUPO “MARANHÃO ARTE CAPOEIRA”,

Ginásio Castelão Maracanã Nova República Vila 2000 Quebra-Pote Fé em Deus Coroadinho Alemanha Cidade Operária, Santa Efigênia Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira Filipinho; Bacabal, Imperatriz, Cururupu, Pinheiro, São João Batista, Viana, São Mateus Icatu, Santa Quitéria Bordeaux e Lille/ França

Grupo de Capoeira Jogo de Dentro Academia de Madeira

Caxias /DEFER

Associação Marabaiano Associação Filhos de Aruanda Liga de Educadores de Capoeira da Área Itaqui-Bacanga LECAIB Associação Aruandê Grupo Jêge-Nagô Grupo de Capoeira Congo-Aruandê ASSOCIAÇÃO CULTURAL AFRO-BRASILEIRA RAÍZES Associação de Capoeira Aruandê Associação de Mães de Vila Nova Programa Grupo de Capoeira Congo-Aruandê Associação Cultural Capoeira Raça Grupo Salve Axé

Anjo da Guarda São Raimundo Parque Botânico da Vale Teatro Itapicuraíba

Club da Alumar academia CIA DO CORPO academia Corpo Suor GIM Esporte Center academia MK3 Associação da Caixa


CACÁ

Laborarte/Prodance Grupo São Jorge Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA

CANARINHO

Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes Grupo Marabaiano, Grupo Aruandê Grupo Filhos de Aruanda

CM DIACO

Associação Atlética Barcelona, em Matões Turú Grupo de Capoeira Aruandê Associação Maranhão Capoeira Grupo Amarauê Capoeira Grupo de Capoeira União e Consciência Negra grupo Filhos de Aruanda Laborarte Grupo Filhos de Ogum Grupo de Capoeira Malungos Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. Associação Mara-Brasil Capoeira Associação Cultural de Capoeira São Jorge Grupo de Capoeira União LABORARTE Associação de Capoeira JEJE NAGO

CM REGINALDO CM LEITÃO

MANOEL

NILTINHO

CM MARCIO

Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM grupo Arte Negra do grupo de capoeira Candieiro

JEM´s Teatro Itapicururiba União de Moradores/Clube de Mães do Sa Viana União de Moradores do Angelim Velho/Novo Angelim/novo tempo III – Angelim Conselho Cultural/Sede do Boi/Choperia Madre Deus Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira. Igreja Nossa Senhora Aparecida no Bairro Mauro Fecury II Fundação Assistencial da Criança e do Adolescente (FASCA) Federação Maranhense de Capoeira Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) PACRIAMA LIGA DE EDUCADORES DA ÁREA ITAQUI BACANGA (LECAIB) grupo comunitário, Unidos Venceremos

Associação da União da Consciência Negra Complexo Cultural GDAM Projetos Jatobá e Embratel

Centro Social Urbano no Habitacional Turu. Academia Parati Fitness no Habitacional Turu Associação de Moradores do Bairro Sá Viana Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA SESC – Serviço Social do Comercio Projeto Quinto Batalhão de Arte / Turma do Quinto FEBEM


HOMENAGEM A ARY FAÇANHA DE SÁ ALBERTO MURRAY NETO

Os Jogos Olímpicos de 1952 foram realizados na cidade de Helsinque, capital da Finlândia e a prova de salto em distância foi vencida pelo norte-americano Jerome Biffle. Na quarta colocação ficou o brasileiro Ary Façanha de Sá. Ary nasceu na cidade de Guimarães, no Maranhão, em 1.º de abril de 1928. Transferiu residência para o Rio de Janeiro, estreou no atletismo com 21 anos e, sempre competindo pelo Fluminense Football Club, em 1952, tornou-se recordista brasileiro e sul-americano do salto em extensão, estabelecendo a marca de 7,84 metros que vigorou por 24 anos. No ano seguinte, Ary foi campeão mundial universitário e, na Olimpíada de 1956, integrou a equipe brasileira acumulando as funções de atleta, técnico e capitão da equipe. Ary Façanha de Sá foi o primeiro professor de Educação Física do Brasil a participar, no exterior, de curso de especialização em atletismo. Na época, conseguiu junto aos órgãos competentes que Woldemar Gerschler e Herbert Reindel, criadores do “Interval Training”, viessem ao Brasil para uma série de conferências. Esse contato foi proveitoso e levou os técnicos brasileiros a reformularem os métodos de trabalho. Como treinador, Ary preparou esportistas que se tornaram famosos internacionalmente. Mais tarde, ele chefiou atletas que participaram de estágios técnicos na Alemanha. Tornou-se amigo de Ulrich Jonath, treinador da equipe nacional alemã de atletismo, que herdara de Carl Diem três das tochas que foram usadas para transportar a chama de Olímpia a Berlim, nos Jogos de 1936. Ulrich presenteou-o com uma dessas peças, que foi utilizada muitas vezes nas cerimônias de abertura dos Jogos Estudantis Brasileiros, que Ary Façanha organizou e coordenou durante vários anos. Aos 92 anos de idade, Ary faleceu em Brasília, DF, na madrugada de 16 de agosto de 2020.


ARY FAÇANHA DE SÁ – UMA BIOGRAFIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

1928 – ABRIL, 1º - Nasceu no município de Guimarães; filho do Juiz de Direito José Façanha de Sá Filho;. Foi atleta da Seleção Brasileira de Atletismo - e do Fluminense, do Rio de Janeiro; recordista sul-americano do salto em distância, participou de duas Olimpíadas, de 1952 e 1956. Professor de Educação Física, formado pela Escola Nacional, foi o introdutor do Interval-training no Brasil, assim como um dos idealizadores dos Jogos Escolares Brasileiros. Sobre seus pai e avô, encontramos no Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940, no ano de 1922, referencia a seu avô, como industrial no Ceará44: DOCES – “José Façanha de Sá, nas Damas (Sítio Santa Izabel)” 1905 – OUTUBRO - No Jornal do Ceará, Edição 00273

44

http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=313394&pagfis=81641&url=http://memoria.bn.br/do creader#


Nesse mesmo ano, e mês, uma nota é publicada, ao publico, de dissolução de sociedade de seu pai, ainda no Ceará:

1914 – DEZEMBRO - O Diário Oficial do Ceará, Edição 00053 - traz a inclusão dos oficias de júri para o ano de 1915, constando o de numero 268, o do dr. José Façanha de Sá Filho


1916 – Durante as comemorações do “28 de julho”45, dentre outras personalidades presentes no Palácio sdo Governo, estva o dr,. José Façanha filho, conforme registro em O Jornal de 29 de julho 1918 – OUTUBRO, 8 O Jornal,registrava seu regresso de Fortaleza 1920 – MAIO, 10 - O Jornal traz sua nomeação como juiz substituto:

1921 – FEVEREIRO, 21 - O Jornal o traz como um dos fundadores de uma sociedade carnavalesca ABRIL, 21 – É nomeado professor do Liceu Maranhense:

SETEMBRO, 29 – O Jornal na coluna social, o parabeniza pelo seu aniversário. Fica-se sabendo que era fiscal do Governo junto à Faculdade de Direito

1922 – Nomeado Juiz Municipal de Cururupu; sendo recopnduzido em 1927 1927 - Mensagens do Governador do Maranhão para Assembleia (MA) - 1890 a 1930, nomeando juízes para as mais diversas comarcas. José Façanha de Sá Filho é nomeado para Guimarães:

- encontrava-se em São Luis, no final de março e inicio de abril, sendo registrada na imprensa por vários dias seguidos encontros com o Governador do Estado 1928 – está na promotoria pública de Guimarães:

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O “28 de Julho” é comemorado como data magna no Maranhão, data da “adesão” à Independencia, em 1823...


- é recebido pelo Prefeito Municipal com um banquete 1930 – segue para Cururupu, comparecendo em sua partida inúmeras pessoas, destacando-se seus alunos das escolas públicas 1934 – Em Noticias, Decreto de 24 de abril que faz reajustamento da magistratura maranhense, em função da Revolução de 1930, o Juiz José Façanha Sá Filho é aposentado compulsoriamente:

1937, é revista a sua situação de aposentadoria compulsória, determinando-se que se lhe paguem os salários em débito, assim como apostiulado como juiz aposentado 1947 – O Juiz José Façanha Filho está em Morros, presidindo as eleições municipais.

Década de 1940 Em São Luís, Ary Façanha de Sá cursou o ginasial no Colégio de São Luiz, do prof. Luiz Rego - criador dos Jogos Intercolegiais -, por onde disputava as provas de 100 e 200 metros, além do salto em distância; consegue a espantosa marca de 5,00 metros. 1948 - Quando estava prestes a completar 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer faculdade. Além de estudar na capital carioca, Ary começou a trabalhar em um escritório de advocacia. — Meu pai era juiz federal e tinha muitos contatos no Rio, aí ele me arranjou esse emprego, que não tinha nada a ver com meu curso. Naquela época, morava em uma pensão com alguns amigos que também haviam ido estudar na então capital federal. 1949- Levado pelo irmão, ingressa no Fluminense Futebol Clube, como atleta: — Um dia, um maranhense que morava comigo, amigo do meu irmão, lembrou-se de que eu gostava muito de saltar quando estava na escola e me convidou para conhecer o clube do Fluminense. Eu aceitei. Nesta visita, enquanto passava perto das pistas de atletismo, perguntaram-lhe se não gostaria de dar um salto. Ary não saltava desde o ensino médio, mas decidiu arriscar. Logo de primeira, pulou mais de 6m de distância e impressionou todos os que estavam treinando ali. Então, passou a frequentar o clube para saltar. FEVEREIRO -



1949 – JULHO, – Jornal do Brasil - Ary Façanha não consegue quebrar o recorde JULHO, 19 - Correio de Manhã (RJ)

30/07 – No Correio:


31/07 – Correio da Manhã:


AGOSTO, 20 - A MANHÃ


Além de saltar, também corria diversas provas — principalmente os revezamentos e as corridas com barreiras — e praticava decatlo. Um dos principais atletas da história do Fluminense, AGOSTO, 21 – Ary Façanha consegue 12,49 no Salto Triplo, no Campeonato para Juniors SETEMBRO, 1º -



SETEMBRO, 2 – Estava inscrito no salto em distancia do Troféu Marcio Cunha; consegue o 1º lugar, com 6,94m SETEMBRO, 17


OUTUBRO, 06


OUTUBRO, 08 – No Campeonato Carioca, estava inscrito no Decatlo NOVEMBRO, 13 – Disputando o Campeonato de Juniors, no salto em Distancia NOVEMBRO, 15

DEZEMBRO, 05 – Eliminatória do Sulamericano – Salto em Distancia – 1º lugar com 6,46m


1950 - ingressou na Escola Nacional de Educação Física. A paixão por esportes o levou cursar Educação Física na Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD) – hoje, parte da UFRJ. JULHO, 25 – A Manhã Esportiva


1951~1961

Ary Façanha de Sá representou o Fluminense por uma década, de 1951 a 1961. — Foto: Arquivo Pessoal


Torcedor declarado do Fluminense, Ary defendeu o clube do coração por dez anos. — Foto: Arquivo Pessoal - Ary venceu o primeiro Campeonato Brasileiro que participou, com menos de um ano de treinamento, quebrou o recorde sul-americano logo em seguida, com um salto de 7,57m. 1951, JANEIRO, 21 – A Manhã


FEVEREIRO, 11 – A MANHÃ

ABRIL, 17 – Sport Ilustrado




MAIO, 31 – a Manhã


1952, MAIO, 15 – A Manhã:


- recordista sul-americano de salto em distância, com 7,57 m, o que lhe valeu a convocação para a Olimpíada de Helsinque, tendo conquistado o 4º lugar no salto em distância. MAIO, 27 – A MANHÃ


JUNHO, 28 - Em A Pacotilha de 28 de junho, noticia publicada: “Um Maranhense para as Olimpíadas de Helsinki”, informando que estava preparado para a competição, segundo declarações de seus técnicos Frederico Hokstater e Osvaldo Gonçalves. Convém salientar que Ary Façanha de Sá começou sua carreira esportiva no Colégio de São Luís, ingressando no Moto Clube de São Luís, até sua transferência para o Rio de Janeiro. - Quarto lugar nas Olimpíadas, primeiro brasileiro a ultrapassar a marca dos 7m no salto em distância, recordista sul-americano por 22 anos...


Com menos de dois anos de treino, Ary já havia sido convocado para sua primeira Olimpíada, em Helsinque, capital da Finlândia. No dia das provas de salto em distância, choveu bastante e o brasileiro precisou competir com as chuteiras encharcadas. — Naquela época, os sapatos de salto em distância eram muito pesados. Tinham seis pinos na frente e quatro atrás. Hoje em dia, os sapatos só têm quatro pinos no total. Segundo ele, as chuteiras molhadas pesavam mais de 1 kg. Mesmo com o peso extra, ficou com a quarta colocação. A medalha de bronze lhe escapou por sete centímetros. SETEMBRO, 1º - A Pacotilha noticia a chegada à São Luís na segunda-feira seguinte do campeão sulamericano e quarto colocado na Olimpíada de Helsinki, Ary Façanha de Sá. SETEMBRO, 12 - O COMBATE


SETEMBRO, 13 – O Esportista Ary Façanha de Sá agradece ao Governador do Maranhão, Eugenio Barros, a visita que fez quando de sua chegada. (A PACOTILHA). Nesse mesmo dia, é homenageado pelo TJM. SETEMBRO, 14 – É homenageado na sede do S.E.F.E. – Serviço de Educação Física do Estado, presentes vários esportistas: Carlos Vasconcelos, Rubem Goulart, Dejarde Martins, e outras personalidades. Foram servidos doces e refrescos... SETEMBRO, 23 – É homenageado na sede da F.M.D., com a presença de seu pai, José Façanha de Sá Filho. NOVEMBRO, 05, Em A Manhã


1953 – JANEIRO, 03 – A Manhã:


ABRIL, 09 – A Manhã


1953, o saltador machucou o joelho enquanto disputava um campeonato sul-americano no Chile. A lesão foi séria e o deixou mais de um ano sem competir. — Ninguém acreditava que eu pudesse voltar, achavam que minha carreira de atleta havia acabado. Depois de alguns meses totalmente parado, Ary decidiu voltar a se exercitar. — Eu estava morando na casa de uma tia no Leblon, na frente da praia, e comecei a caminhar na areia todos os dias. Assim, foi se recuperando, até que resolveu voltar a competir escondido, sem contar para o técnico. — Se eu tivesse contado, ele não teria me deixado voltar, por medo de que eu me machucasse de novo — avaliou. O Fluminense iria participar do Campeonato Carioca de Atletismo, mas não podia se inscrever no revezamento 4X100 m, porque faltava um atleta. O maranhense decidiu ajudar o clube e se inscreveu. O técnico só viu Ary quando o atleta já estava na pista. O desempenho foi bom e, depois deste campeonato, o saltador voltou a treinar.



Ary Façanha de Sá representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1952 e 1956. — Foto: Arquivo Pessoal 1954 – 1º abril – A Pacotilha – nas notas sociais, aniversário de Ary Façanha de Sá, filho do Juiz da 3ª. Vara da capital, José Façanha de Sá Filho. 1955 bateu o recorde pan-americano, com a marca de 7,84 metros, a quarta marca do mundo.



1956 – Sport Ilustrado


1956 - Classificou-se mais uma vez para os Jogos Olímpicos (Melbourne —1956), mas, desta vez, não foi bem e não conseguiu passar para as finais. Ele conta que, por causa de vizinhos de quarto muito barulhentos no alojamento, não conseguiu dormir na véspera de sua prova. — As pessoas que estavam no meu alojamento fizeram barulho a noite inteira, gritaram, fizeram festa. Eu pedi várias vezes para fazerem silêncio, mas não me deram atenção. Se eu não durmo bem, não sou ninguém no dia seguinte. Sou assim até hoje. Se eu não tiver uma boa noite de sono, não consigo fazer nada direito durante o dia.


O COMBATE 1957

1958 – MAIO, 17 – anunciada a vinda à São Luís do “fabuloso Ary Façanha”, para inspecionar as quadras, árbitros, e demais condições para a realização dos Jogos Universitários regionais, reunindo equipes do Maranhão, Pará, Ceará e Piauí. A vinda de Ary seria para inspecionar a Comissão de Atletismo. 1961 - Atleta do Fluminense durante toda a carreira, Ary parou de competir – foram dez anos representando o clube do coração. Mesmo aposentado das competições, Ary não parou de atuar no meio esportivo. Tornou-se técnico de atletismo do Vasco e preparador físico do time de futebol cruz-maltino assim que parou de saltar. - Neste mesmo ano, conheceu a maranhense Albanisa, que também vivia no Rio. — Ela é minha pérola, minha cara-metade — declarou-se. 1962 - Em 1962, casaram-se.


Ary Façanha de Sá (centro), com esposa, Albanisa, e neto, Lucas, em cerimônia da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, em que foi homenageado. — Foto: Arquivo Pessoal 1965 – muda-se para Brasília para trabalhar como funcionário público no IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários). Na sequência, foi para o IBGE, — Vim morar em Brasília porque, à época, ofereceram-me um salário bem maior para trabalhar na nova capital. Para mim não faria muita diferença me mudar para cá, pois eu viajava bastante a trabalho, então podia morar em qualquer lugar. Vim com minha esposa e meu filho mais velho e vi a cidade crescer. Dois dos meus três filhos nasceram aqui. Gostamos daqui e ficamos de vez. Porém, infelizmente, o DF anda muito violento. Acredito que a falta de segurança pública é um dos maiores problemas que enfrentamos, Brasília está cada vez mais perigosa. 1970, assumiu o departamento esportivo do MEC (Ministério da Educação), onde idealizou os Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) e trabalhou até se aposentar.


Ary Façanha de Sá, campeão brasileiro de atletismo no início dos anos 1950 e recordista sulamericano do salto em distância, recebeu homenagem especial da Câmara dos Deputados. — Foto: Arquivo Pessoal


SOBRAS I JOSE MANUEL CONSTANTINO Na minha infância não havia sobras do almoço ou do jantar que fossem deitadas fora. Ainda não existia o conceito de reutilizar, mas havia a preocupação em aproveitar e poupar. Não ficava comida nos pratos, mas se sobrava no tacho ou na panela era aproveitado para uma outra refeição. De resto, muitas vezes, a quantidade da comida preparada era já feita no pressuposto de servir para mais de uma refeição. O pão era para comer, mesmo que já estivesse duro. Na fruta com bicho era aproveitada a parte sã. Ao domingo a refeição era melhorada. Os tempos eram outros, mais difíceis, e tudo era feito obedecendo a uma estrita economia das despesas. Para que o essencial, precisamente a comida, não faltasse. Não havia cursos sobre poupanças, nem receitas de culinária sobre aproveitamento de restos, mas a realidade dura da vida ensinava o valor dos bens e o seu aprovisionamento. Imaginemos, para os nossos pais e avós, o cuidado com as sobras, num tempo em que os frigoríficos (…. e a energia elétrica) eram ainda um bem escasso e só acessível a alguns (poucos).

DESIGUALDADE I A desigualdade não é uma necessidade económica. É uma opção do modo como a economia se organiza. E daí ser uma armadilha retórica a tese que defende que só se pode distribuir melhor se produzirmos mais. Aceitar essa condição é ter de aceitar que os critérios de distribuição do valor criado não precisam de ser alterados. E que melhorar os níveis de prosperidade de cada um depende exclusivamente de elevar os níveis de riqueza criada por todos.



SAMPAIO CORREA A imagem mostra o Hidroavião Sampaio Correa II na Praia do Caju, nas proximidades da atual Avenida Beira Mar, pouco tempo depois de amerissar em nossa cidade.

Os peladeiros do Lira entre os curiosos. Tempos depois, rebatizariam seu time de pelada chamado Santiago (por conta do Largo de Santiago) com o nome do hidroavião. Foto histórica e raríssima! O referido hidroavião tinha um desafio audacioso: Ser o primeiro a cruzar o continente americano. Para isso estabeleceram o "Raid Nova York-Rio de Janeiro", escolhendo 15 pontos de parada, dentre eles, São Luís. A tripulação era composta por 4 americanos, dentre eles Walter Hinton, um dos pilotos estadunidenses mais respeitados de sua época, e um brasileiro, Euclides Pinto Martins, um jovem e promissor co-piloto. Em dezembro de 1922, o Hidroavião Sampaio Correa amerissou na capital maranhense para delírio de uma população que aguardava ansiosamente por sua chegada na avenida beira-mar. No começo de 1923 o Sampaio Correa II, alcançou seu objetivo final, chegando ao Rio de Janeiro, onde era esperado pelo Presidente da República, pelo aviador Santos Dumont e por milhares de pessoas que se amontoaram na região da baía da Guanabara para recepciona-los. Em São Luís, em março de 1923, um grupo de jovens da região de São Pantaleão, fundou uma agremiação futebolística com o nome de Sampaio Correa (em alusão ao hidroavião) e que hoje figura como o clube mais popular do estado. PS: O Hidroavião Sampaio Correa I pegou fogo e precisou amerissar em Cuba. O Hidroavião Sampaio Correa II também teve inúmeros problemas na América Central, na Amazônia Brasileira e em boa parte do nordeste. Foto/Via: Hugo Enes


HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO


EM BUSCA DOS MANÉZINHOS: FRANCISCO DA COSTA PINTO DIOGO GAGLIADO NEVES

O Mártir Jesuíta do Ceará. Francisco da Costa Pinto, foi um padre Jesuíta pioneiro da evangelização do Ceará. Nascido em 1552, na cidade de Angra, Ilha de Terceira, nos Açores. Veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão. No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território. Em 2 de fevereiro do 1607, celebraram a primeira missa no território do atual Estado do Ceará, na foz do Rio Jaguaribe. Os dois avançaram até a Chapada de Ibiapaba, chegando a habitar com os índios Tabajara. Em 11 de janeiro de 1608, foi assassinado pelos índios Tocarijus, inimigos mortais dos Tabajara, instigados pelos franceses que ainda mantinham contatos na região após o fim da Feitoria da Ibiapaba. O martírio ocorreu, provavelmente, onde, atualmente, está localizado o Município de Carnaubal, sendo enterrado no sopé da Serra Grande. “ Francisco foi emboscado pelos tapuias ficando só junto do padre um esforçado índio e benfeitor dos padres chamado Antonio Caraibpocu, o qual o defendeu enquanto pôde até morrer por ele e com ele, ainda ficou com vida mas sem sentido nem fala e durou poucas horas; investidos com furor e crueldade diabólica contra o servo de Deus, os tapuias lhe deram repetidos golpes com suas "ybirassangas", que são uns paus duros, largos e compridos, na cabeça, até que lha amassaram toda e lhe deram uma morte muito cruel, aos onze de janeiro de 1608”


Depois da sua morte e sepultamento recebeu o alcunha de Amanaiara(o senhor da chuva) transformando o Padre em uma espÊcie de entidade espiritual entre os Tabajaras. Em 2016 foi iniciado seu processo de canonização por iniciativa do bispo diocesano dom Francisco Xavier, da Ordem dos Agostinianos Recoletos.


O SESQUICENTENÁRIO DE MANOEL JOSÉ SALOMÃO Por KISSYAN CASTRO

MANOEL JOSÉ SALOMÃO nasceu em 17 de fevereiro de 1869, na antiga província otomana da Síria que, até 1918, incluía os atuais Estados da Síria, Líbano, Jordânia, Israel e Territórios Palestinos, a chamada Grande Síria. Era filho do casal José Salomão e Rosa Moussalém. Sob o jugo dos Paxás turcos, símbolo da prepotência e malvadez, o povo sírio sofreu indescritíveis perseguições, obrigando muitos a deixarem seu país de origem, a exemplo da importante família Moussalém, da qual descendia Manoel José Salomão. Chegou ao Brasil com 19 anos de idade, árabe naturalizado brasileiro. Casado com D. Oadia Moussalém Salomão, teve os filhos José Benedito Salomão, Raimundo Salomão, Manoel Urquiza Salomão, Guilnar e Helena Salomão, e o filho legitimado Ismael Salomão. Veio para Barra do Corda no ano de 1888 e logo começou a desenvolver suas atividades, instalando uma casa comercial. Comprou do Sr. Vicente Joaquim de Santana a Fazenda Piripiri, e passou a investir na pecuária, usando o sistema de criação de gado à solta. Também comprou de D. Jovina, viúva do Sr. Deco Falcão, o antigo clube “Catete” e o transformou em armazém. Espírito culto e sobremodo dinâmico, conseguiu, em poucos anos, dominar a inteira zona sertaneja de Barra do Corda. Tornou-se, além de um dos maiores comerciantes locais, um dos dedicados chefes da “União Republicana”, partido político de cujo Diretório era o presidente. “Sua vida, no Brasil, foi inteiramente votada ao trabalho. Não lhe sobrava tempo para distrações. Seu passatempo mais predileto era a resolução dos diversos problemas comerciais, concernentes às diversas casas que mantinha neste e noutros municípios do Estado”[1]. Foi proprietário de extensas faixas de terras, onde se achavam localizados grandes centros de lavouras e vários estabelecimentos comerciais e industriais filiados à sua casa e que representava um elemento importante na vida econômica do sertão.


As primeiras tentativas de impulso à navegação em Barra do Corda ocorreram em 1906, quando alguns negociantes locais formaram uma sociedade para a aquisição de duas lanchas a serem empregadas no transporte de cargas através do Mearim, da Capital a Barra do Corda e outros pontos do Alto Sertão. À frente do projeto estavam Antônio da Rocha Lima, José Nava, Fortunato Fialho, Pedro Braga, Aníbal Nogueira e Manoel José Salomão. Este, não vingando a sociedade e vendo-se prejudicado em seus negócios pela falta de transporte certo, ocasionando demoras no recebimento de gêneros, saiu na frente, montando, sem auxílio dos poderes públicos, dois possantes rebocadores – as lanchas “São José” e “São Benedito” – direto do Arari a Barra do Corda. Em 1916, firmou contrato com o Governo do Estado para a navegação no rio Mearim, no trecho compreendido entre Pedreiras e Barra do Corda, realizando 24 viagens anuais. Waldemar Santos, cujo pai foi funcionário das empresas Salomão, registra esses fatos na sua “História de Barra do Corda”, até hoje inédita: “O Cel. Salomão, com a sua perspicácia, viu que era de muita urgência ter navegação para não depender de outras que demoravam a chegar com as mercadorias. Resolveu ir a São Luís para comprar uma lancha, e, no caso, trouxe duas de nomes “São José” e “Andorinha”. Ao chegar em Barra do Corda com as lanchas, imaginou a necessidade de um gerente. Convidou o Sr. Agostinho Araújo, por ser dinâmico e também seu compadre, pois era padrinho de sua filha Guilnar. O compadre aceitou. Porém, quando chegou em casa, refletiu que, para bom desempenho, era necessário uma oficina mecânica e um competente maquinista. Tem mais, e os batelões para conduzirem as cargas? Resolveu ir até Arari e facilmente arrendou dois batelões. O seu comércio, indústria e navegação cresciam qual maré açoitada pela tempestade. Por essa razão, notou que necessitava de uma navegação direta à Capital do Estado. Foi a São Luís e comprou um iate de dois mastros, chamado “Republicano”, com capacidade para 50 toneladas. Logo, tinha que construir um armazém em Arari para baldeação das mercadorias chegadas e saídas. Com essa inovação o Cel. fez propaganda para todo o sertão maranhense e até o norte de Goiás. Mantendo constantemente os seus depósitos assim: 10.000 sacas de sal, 800 caixas de querosene “Jacaré”, 400 caixas de sabão “Martins”, 200 sacas de café moca dos tipos 4 e 6; tecidos desde o doméstico até o linho, caqui, sedas e o que pudessem inventar as tecelagens”. Manoel Salomão, e, posteriormente, Gerôncio Falcão, detiveram, por muitos anos, o monopólio das navegações que trafegavam de São Luís a Barra do Corda. Exerceu vários cargos públicos, destacando-se, entre eles, o de Juiz suplente de Direito, vereador em várias legislaturas, muitas das quais como presidente da Câmara Municipal, e prefeito. Sua influência política e ligação partidária a Magalhães de Almeida, então Governador do Estado e seu particular amigo, trouxe importantes melhoramentos à cidade, como a participação ativa que teve nos serviços da rodovia Barra do Corda–Curador (atual Presidente Dutra), concluída em 1928. Em 1929, construiu, às próprias expensas, a estrada de rodagem que liga a cidade de Pedreiras ao centro “Três Bocas”, onde era proprietário de importante estabelecimento comercial, impulsionando consideravelmente a economia daquela região. Em 6 de julho de 1930, o diretório da União Republicana Maranhense lança a candidatura do Cel. Manoel Salomão, então presidente da Câmara, ao cargo de prefeito de Barra do Corda, para o pleito de 12 de outubro, em sucessão a Gerôncio Falcão. No entanto, o golpe militar de Euclides Maranhão, fechando a Câmara e depondo o prefeito, veio baldar sua campanha e encerrar a sua carreira política. Faleceu em sua residência, à rua Frederico Figueira, às 15 horas do dia 8 de junho de 1934, cercado da família e amigos e do médico que o assistiu em seus momentos finais, Dr. Otávio Vieira Passos. Para esta biografia, publicada no blog "Barra do Corda - Vultos e Fatos", em 17 de fevereiro 2019, foram pesquisados vários números dos jornais "Pacotilha", "Diário de S. Luís" e "O Jornal". A imagem é a que está em seu túmulo. [1] Notícias, S. Luís, 14.ago.1934.


GERÔNCIO FALCÃO - O PREFEITO DEPOSTO NA REVOLUÇÃO DE 30 Por KISSYAN CASTRO

Gerôncio Bezerra Falcão nasceu em Barra do Corda no dia 19 de março de 1881. Filho do cearense Manoel Ferreira de Melo Falcão e D. Jovina de Sá Forjó. Fez os primeiros estudos em Barra do Corda, no Colégio do professor Manoel Raimundo Nonato de Miranda, ao lado de Maranhão Sobrinho e seu irmão, Raimundo Leonílio Maranhão. Seguindo os passos do pai, dedicou-se desde muito cedo ao comércio, no que muito prosperou. Assim foi que, já no início do século XX, partiu para o Pará, fixando-se em São João do Araguaia, povoado que acumulara muitos dividendos com a exploração da borracha Castillaulei, popularmente conhecida como caucho.Tendo feito bons negócios, regressou ao Maranhão em 22 de abril de 1907, deixando a quantia de cinco mil réis na redação da “Pacotilha” para serem distribuídos entre os pobres[1]. Casou-se, em 22 de junho de 1907, com Adélia Moussalém Falcão, irmã de D. Oadia Moussalém Salomão, esposa do também comerciante Manoel José Salomão. Com este formará a coalizão política e econômica mais influente do primeiro quartel do século XX em Barra do Corda, tornando-se proprietários das únicas empresas de transportes fluviais da região. Teve os seguintes filhos: Maria Amélia Falcão Habibe, que fora esposa do ex-prefeito Clóvis Habibe, José Falcão, médico, Alberto Falcão, comerciante, e Elsa Falcão. Com o crescente desenvolvimento da indústria agrícola local, e, proprietário já de uma usina de beneficiar algodão, resolveu comprar em São Luís uma lancha a que chamou “Laborina”, que fazia a linha Barra do Corda–São Luís, contribuindo para o escoamento dos produtos a serem comercializados não apenas na Capital, como também entre a população ribeirinha, ao longo do percurso, levando crescimento e progresso às regiões menos desenvolvidas. Foi vice-presidente do Diretório da União Republicana Maranhense em Barra do Corda; ajudante do Procurador da República, nomeado em 1919; adjunto da Promotoria e Promotor da Justiça Federal. Exerceu o cargo de Prefeito Municipal por duas vezes, de 1916 a 1918 e de 1928 a 1930, quando chega à cidade o Maj. Euclides Maranhão, armado, invadindo sua residência, confiscando arquivos da prefeitura, exonerando-o do cargo e estabelecendo a ditadura. Entre as muitas realizações que levou a efeito enquanto chefe do poder executivo, destacamos: do primeiro mandato, a sanção da Lei que restaurou a Comarca de Barra do Corda (Lei nº 0766 de


23.4.1917), e, do segundo mandato, a inauguração, em 8 de dezembro de 1928, da iluminação pública do município com combustores, num total de 8.700 velas[2]. Faleceu repentinamente, quando entrava em sua casa comercial, à rua Frederico Figueira, às 13h do dia 7 de novembro de 1934, aos 53 anos de idade. Pesquisa: Kissyan Castro Fontes: “Pacotilha”, de 18.mar.1930/26.jul.1930/12.set.1930, de “O Imparcial”, de 19.mar.1930/21.abr.1930, que o prefeito naquela ocasião era Gerôncio Falcão. Ele mesmo o afirma no “Notícias”, de 8.mar.1934. Foto: Acervo Casa de Cultura Prof. Galeno Edgar Brandes


NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.


DO (DES)GOVERNO DO DESPORTO Manifestamente, o desporto anda sem rei nem roque, desde que a Secretaria de Estado do setor foi fundida com a da Juventude, tal como o Instituto de Desporto. A fusão não lembrava ao diabo, mas lembrou a governantes insanos; e até agora não regressou o discernimento para pôr cobro a semelhante aberração. Se houvesse governo do desporto, por certo ouvir-se-ia uma voz cívica, ética e moral, condenando o despautério de contratações milionárias de futebolistas, feitas por grosso e atacado, anunciadas a toda a hora por um tropel de falsários. O país vive uma aguda crise, o desemprego e a pobreza aumentam, atingindo inúmeros sócios e adeptos de quem pratica contratos tresloucados. Reina sobre isto um silêncio de cumplicidade, de desvario e tragédia. Quo vadis, Portugal? PROFUNDAMENTE CONSTERNADO A partida prematura de um companheiro de caminhada deixa-me profundamente consternado. Nestas alturas, as palavras abandonam-me. Fico dorido, ensimesmado e mergulhado no desalento. E solidário com a família. Quero reafirmar a mais veemente discordância de uma frase incessantemente repetida: “Ninguém é insubstituível”. Repito, discordo deste dislate. Ao longo da vida encontrei inúmeras Pessoas que suscitam admiração, encanto e maravilhamento. Por exemplo, o percurso na universidade proporcionou-me conhecer, entre os estudantes, funcionários e docentes, Seres de Eleição, que jamais morrerão na minha lembrança deslumbrada e saudosa. Essas Pessoas são insubstituíveis. O companheiro, que hoje partiu, figura entre elas. Substituíveis são apenas os arremedos de gente que, por mais que se estiquem, não atingem nenhum grau na escala de valor. A MATRIZ DE PORTUGAL Quando criou a Europa, Deus dedicou especial cuidado à parte fronteira ao Oceano Atlântico. Queria colocar ali um povo messiânico e incumbi-lo da missão de estabelecer pontes entre todo o mundo e lançar as bases da Fraternidade Universal. Assim, preocupou-se com as feições do território, propensas a moldar a alma e conduta das gentes. Com esse fim idealizou Trás-Os-Montes e o Alto Douro. A aspereza da região, com ladeiras pedregosas e empinadas até ao céu, e vales escavados até às entranhas da terra, produziria titãs austeros, firmes e laboriosos, que não recuam perante quaisquer dificuldades. Consumado o intento, Deus achou que era um desamor deixar as criaturas sem as artes e os ofícios do cultivo da graça, da palavra e sabedoria da medida, do olhar e da circunspeção. Desenhou então o Alentejo extenso e plano, entrecortado por ondulações semelhantes aos altos e baixos das sinfonias, das valsas e dos passos de dança. Deus sorriu, imensamente feliz com a Sua criação. Esta congregava os dons do trabalho, do arrojo, da vontade, da música, do canto, do sonho, da imaginação e meditação. Não tinha concebido outra igual. Deu-lhe o nome mágico, místico e sublime de ‘Portugal’, capaz de prolongar Jerusalém, Atenas e Roma para além do seu final. GANHAR O CÉU Dizia amiúde a minha mãe: “O céu é de quem o ganha, a terra é de quem a arrebanha.” O dito, prenhe de sabedoria, não coíbe a esperteza. Os que arrebanham a terra também sabem como ganhar o céu! Para isso inventaram uma solução simples e eficiente: dar esmolas, um arremedo da virtude da caridade. Quanto maior for o número de gente necessitada, mais vasta é a panóplia de possibilidades de comprar uma cadeira cativa no camarote celestial. A isto acrescem ganhos de notoriedade e reverência nas colunas sociais e na voz do povoléu. As bulas são, porventura, a maior invenção económica da história, feita pela igreja numa altura em que estava financeiramente falida. A prática da caridade com estardalhaço público, de tal modo


que todo o mundo conheça os autores, não fica muito atrás. Os mensageiros têm sempre a arte de perverter a mensagem, de glorificar a perversão e pôr sorrisos nos lábios da podre consciência.

DA FAMÍLIA A família é um dos pilares e sustentáculos da sociedade 'sólida'. Quiçá, o fundamental. Quando as amizades se desfazem, as solidariedades murcham e as inimizades e traições nos acometem de todos os lados, é o aconchego familiar que resta como fortaleza inexpugnável, provedora da confiança e esperança para seguir em frente. A fragilização da família faz parte da liquefação da sociedade e do terreno movediço, onde esta se afunda inexoravelmente. O resto são paliativos. Hoje é um dia de celebração, exaltação e gratidão, evocador de memórias felizes, de caminhos exitosos e colheita de frutos saborosos. Graças a Ela, rocha de granito, onde habita o dom da luz e da fecundidade

DA EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA Espinoza (1632-1677) foi perentório: apesar da persistência da injustiça, do opróbrio e da tirania, somos sempre mais livres na cidade dos Homens do que na floresta ou na selva. A norma social, reguladora da associação e do contrato de colaboração e proteção mútuas, constitui a obra-prima e o pilar da liberdade humana. Ora, a ‘educação cívica’ é hoje necessidade imperiosa, dadas as ameaças à democracia. Subentende a preparação para conviver na Pólis democrática. Visa enfrentar a crescente e letal influência exercida pela ignorância, um gravíssimo problema da atualidade. Com efeito, os ignorantes detêm o poder de voto, elegem e sustentam os demagogos que prometem o paraíso a pataco e arranjam bodes expiatórios para todas as frustrações. A ‘educação cívica’ almeja a competência da comunicação argumentada. Para pôr cobro à incapacidade de expressar posições, de compreender as formuladas pelos outros, de questionar e refutar argumentos alheios, de ultrapassar a carência de entendimento dos deveres impostos pela vida em sociedade. Quer ainda contrariar a adesão patológica a tribos, lóbis e corporações de interesses escuros. Ela inspira-se na máxima de Aristóteles: ninguém pode chegar a governar sem antes ter sido governado. Todos têm que adquirir os sentidos da equidade e responsabilidade, aprender a observar as nomas e os valores partilhados. A trave-mestra da democracia consiste em que nela não haja peritos em mandar e especialistas em obedecer; todos os cidadãos devem estar aptos para o desempenho dos dois papeis. Por isso, cumpre à educação otimizar as ferramentas da cidadania, formar os cidadãos como príncipes interpares, inculcando neles tanto a condição de mando como a de obediência, tanto a de objeto das leis como a de sujeito delas. Para tanto a ‘educação cívica’ deve coadjuvar na concretização da prerrogativa basilar e constituinte da pessoa: ser dotada dos meios intelectuais necessários ao exercício da deliberação, ou seja, da liberdade. E isto assenta na formação de indivíduos capazes de persuadir e de se abrir à persuasão, de perceber e apreciar a força da razão e recusar a razão da força, de participar em projetos e celebrar acordos e transações, de agir de maneira racional e razoável, de reconhecer ao outro o estatuto que reivindica para si. Trata-se de aprimorar a aptidão do sujeito para afirmar o que o perfaz intrinsecamente: um ente de pensamento e palavra, de comunicação e cooperação. Isto inclui a disposição para a tolerância. Não para aceitar e valorar tudo por igual; e sim para respeitar os caminhos plurais. Está, pois, arredada a tolerância de todas as opiniões e daquilo que sabota a cultura humanista e democrática. Mais, a aceitação da diferença não converte o tolerado em normativo e obrigatório. Acresce que nem o fanatismo nem o relativismo merecem atitude condescendente ou convivial. O primeiro porque tem subjacente a rejeição do diferente, com medo


de ser contagiado e desmentido por ele. O segundo porque advoga o postulado falso de que todas as culturas são credoras de idêntico apreço. É certo que se aprende algo com cada uma, mas não são igualmente compatíveis com os axiomas, direitos, princípios e avanços civilizacionais e universais. Afinal, o alvo culminante da educação é precisamente o de habilitar os educandos a classificar, a preferir e optar, a escolher o que exalta e a excluir o que avilta e diminui a nossa Humanidade.

NÃO SOU ‘ANTICOMUNISTA’! Procuro ser rigoroso no uso das palavras. Por isso, não dou por perdido o tempo gasto na análise da sua etimologia. A maioria das pessoas não se dá a este cuidado e bota da boca para fora chorrilhos de asneiras, com o maior à-vontade do mundo. A criação da ‘comunidade’ (a ‘coisa comum’) e a sua melhor organização possível, de modo a prover a condigna existência e convivência de todos, constituem a trave-mestra da civilização, da Pólis e da sociedade. É para realizar esse ideal que a sabedoria humana institui entidades e serviços: estado, autarquias, escola, hospital, tribunais, transportes, correios, finanças, polícia, previdência social, redes de saneamento, etc. Tal aspiração tem feito e vai continuar a fazer o seu caminho, com avanços e recuos. Não morreu, apesar dos rudes golpes sofridos no passado recente e na atualidade: nos regimes ditos socialistas, devido, entre outras perversões, à privação da liberdade de expressão e circulação; no sistema neoliberal vigente, devido à regressão civilizacional e à condenação de muita gente a formas de escravidão pós-moderna. A pandemia veio mostrar os problemas do ‘paraíso hodierno’ e lembrar a urgência de alargar as vias para a regeneração da Casa Comum. Continuo, pois, a pugnar pela melhoria da ‘comunidade’ e da individualidade, e contra todas as expressões do obscurantismo e egoísmo, proponentes do retorno à selvajaria e ao ‘salve-se quem puder’.

OBJETIVOS PRIMORDIAIS DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO No livro ‘21 Lições para o Século XXI’, Yuval Noah Harari discorre acerca dos objetivos da educação e formação para esta nossa era, prenhe de informações e desinformações, de falsificações e manipulações, de mudanças e incertezas. A laboração é uma achega para deitar fora a cangalhada putrefacta do paradigma produtivista da ‘competitividade’, dos ‘rankings’ e do ‘sucesso’, que asfixia o ensino fundamental e superior e inibe a respiração da beleza da existência e transcendência. Urge acabar com os remendos em pano gasto, começar de novo e que as crianças, os adolescentes e jovens aprendam a: . Distinguir a ‘verdade’ da crença, a entender que as culturas, religiões, ideologias e a ciência são ‘ficções’ criadas pelos animais ‘ficcionais’ ditos humanos, visando interpretar a origem do universo, orientar a vida e preencher o seu sentido, inspirar e regular o funcionamento da sociedade; . Desenvolver a ‘compaixão’ no tocante aos seres sencientes da Terra; . Valorizar a ‘sabedoria’ e ‘experiência’ dos distintos habitantes do planeta; . Comprometer-se com a ‘equidade’, com o bem da Comunidade e Humanidade; . Cultivar o ‘espírito crítico’, a ‘liberdade de pensar’ e ‘ser cético’, de argumentar e questionar o senso comum e as verdades feitas, de formular perguntas difíceis, sem temer a discordância, as reações hostis e a bruma do desconhecido; . Praticar a ‘coragem’ de abandonar preconceitos, reconhecer os erros, admitir a ignorância e mudar de opinião;


. Assumir a ‘responsabilidade’ pelos atos pessoais e pelo Mundo como um todo. Na ementa sobressai a preocupação de reverter a crise da ética e da vontade, mãe de todas as crises e dos problemas que trazem no ventre. A pandemia, em voga, comprova o quanto tais objetivos são axiais na missão da escola e da universidade. Preferirão estas e os seus atores a bafienta prisão no passado à desafiante invenção do futuro?! REVOLUCIONÁRIO E PROFESSOR Queres mudar o mundo? Não mudarás nada, sem enfrentar o que anseias mudar. Treina intensamente em ti mesmo, na modalidade do teu Ser e Estar, a obrigação da revolução comportamental. Afasta-te dos vermes. Não delapides energias e tempo com peixes menores. Açaima o medo, enche-te de coragem e acomete os tubarões. Fala alto, não te cales. Se estiveres atrecido, canta. À tua voz juntar-se-á outra; tornar-se-ão duas, três, quatro e cada vez mais, um potente coral. Ninguém conseguirá calá-las, por maiores que sejam as ameaças e chantagens. Serás então uma ave com asas de leveza, resistentes à chuva e ao sol, pronta para voar na altura e na lonjura, subir e pairar sobre as circunstâncias. Estarás em condições de ser professor, de aprender o dobro do que ensinas. BOM DIA, PROFESSOR! A Palavra é o teu principal paramento, a tua festiva capa-de-honras mirandesa. Ela é o começo de tudo quanto importa, da criação e comunicação, da amizade e fraternidade, da beleza do amor e do sabor da doação, do júbilo da admiração e do dom da elevação, do encanto da verdade e do vinho da saudade. Com as palavras inventamos o que não existe. Temos cumplicidade e intimidade com a chuva, os ventos e os trovões, as manhãs e os crepúsculos, o sol e a lua, a terra e o céu, a bênção e a graça, a Cidade e a Humanidade. Escrevemos e falamos sobre o nada. Não esqueças que és oficiante da religião do verbo magnífico e sublime. Não faltes a ela, nem à função! As palavras são pontes entre margens inviáveis. Parteiras de mistérios, de poemas e sorrisos, dão nome e significado ao insignificante. Canta e dança com elas, usa-as como estrelas para fulminar a escuridão e solidão. Ensina a fabricá-las, a cumprir o mandamento da compreensão e multiplicação. Se conseguires, realizaste a missão!


Extraindo histรณrias com o faraรณ

RAMSSES DE SOUSA SILVA Excerto de genealogia luso-maranhense:

"REI DOS HOMENS"!


OSIAS FILHO FILHO

Essa é uma foto rara. A cidade de São Luís conhecia o seu apelido, porém o nome poucos conheciam. A pessoa da foto era conhecida como "Rei dos Homens". Ele era alto, porte físico avantajado e só vivia vestido de paletó. Também sempre trazia um jornal debaixo do sovaco, apesar de não saber lê. Ele tinha problemas psiquiátricos. Era querido e vivia com frequência na Praça Benedito Leite e no abrigo em frente à igreja do Carmo. Quem passava ele pedia ou um cigarro ou o qualquer dinheiro para custear o vício do fumo ou da alimentação. E ainda costumava dizer em seu raros momentos de lucidez o seguinte " se todo mundo me der R$ 0,10, ninguém ficará pobre e eu milionário". Ele morreu, porém ficou na saudade da nossa velha e maltrata cidade.


MAESTRO JOÃO CARLOS, PAI DE ALCIONE.

O maestro, mestre e compositor João Carlos Dias Nazareth nasceu no dia 10 de abril de 1911 na Fazenda Aliança município de Cururupu no Maranhão. Desde jovem começou estudar música no interior onde morava tendo como professor José Alípio de Moraes Filho. Com o dinheiro do seu trabalho comprou um piston de segunda mão e aí não parou mais com a música. Em 1936 conheceu Dona Felipa que era de São Vicente de Ferrer com quem se casou. Dessa união nasceram 11 filhos entre eles a nossa querida Alcione a Marrom (aprendeu a tocar piston com ele) e minhas duas amigas pessoais e muita queridas por mim também Ivone e Maria Helena dos bons tempos de Liceu Maranhense. Aqui em São Luis, entrou para Polícia Militar do Maranhão (Foi maestro da Banda) e compôs o Hino da Polícia Militar e diversos dobrados. Depois de reformado da Polícia Militar, assumiu em 1966 a Banda da Escola Técnica Federal do Maranhão hoje IFMA ensinando música para diversos jovens da época.Tem várias composições como valsas e as mais famosas gravadas pela sua filha Alcione que são Cajueiro Velho e Etelvina Minha Nega. Faleceu em 18 de setembro de 1986 em São Luis do Maranhão. Deixou um legado musical para a cultura do nosso Estado. Adorava Bumba-Meu-Boi Sotaque de Zabumba onde compôs várias toadas. Sempre via ele ensaiando na Vila Passos. Texto: Nando Mouchrek


OS "MOHANA".

A cantora lírica Olga Mohana nasceu em Viana no Maranhão em janeiro de 1933 e faleceu em São Luis em novembro de 2013 aos 80 anos de idade. Dona de uma linda voz de contralto (timbre raro), era irmã do Padre João Mohana e descendente de libaneses. Estudou canto na década de 1950 na Bahia onde estudou com maestro austríacos, franceses e alemães. Fez vários concertos no Brasil e no Exterior. Resolveu abandonar a carreira artística e passou a ensinar na UFMA no Curso de Serviço Social. Foi diretora da Escola Música do Maranhão no Governo de João Castelo e participou da fundação do Coral da UFMA.. Gravou no Teatro Arthur Azevedo a Missa Solene de Antônio Rayol e um LP com compositores maranhenses do acervo do seu irmão Era amigo pessoal dela, pois chegou a dá um curso de técnica vocal para o Coral São João. Texto: Nando Mouchrek


SOBRE LITERATURA & lITERATOS


QUE GENTE ESQUISITA! AYMORÉ ALVIM ALL, AMM, APLAC. Em meado da década de 1940, mais precisamente, aos 15 dias de agosto de 1946, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, chegaram a Pinheiro os primeiros padres italianos, liderados por Monsenhor Afonso Maria Ungarelli, depois o primeiro Bispo da nossa Diocese, para instalar a Prelazia de Pinheiro criada em 1939 por Pio XII. Eu tinha 6 anos. Achei esquisito como falavam e me perguntava se eles entendiam o que os outros diziam se a gente não entendia nada? Um ano depois, chegou uma família de americanos: Dr. Fred, dona Kerly e o garoto David, mais ou menos da minha idade. Eram protestantes ou crentes como na época se chamava os evangélicos. O Dr. Fred era pastor e foi a Pinheiro fundar uma Igreja Batista e desenvolver uma ação missionária na “Porca Cega”, um pequeno povoado do município. Alugou para morar com a família uma casa do meu pai, a Vila Moema, ao lado do Vilino Aymoré, nossa residência e onde funcionava a Farmácia da Paz. Era um casal atencioso e, de vez em quando, dona Kerly falava com a minha mãe para David ir brincar comigo, talvez para enturmá-lo e possibilitar-lhe o aprendizado da nossa língua. Foi, aí, que fiquei mais encafifado. Os padres falavam de um jeito, os americanos de outro e mamãe dizia que eram do “estrangeiro”. Mas que diabos de lugar é esse onde cada um fala de um jeito? Pensava eu. Aqui em Pinheiro por onde ando todo mundo fala a mesma coisa por que nesse “estrangeiro” cada uma fala diferente? Não dava pra entender. O padre Fernando era o vigário local e quando ia lá em casa conversar com meus pais, me chamava “bambino”. Eu odiava. Achava que era apelido e fazia de tudo pra turma não ouvir senão pegava. Por outro lado, quando David estava brincando com a gente, Dr. Fred o chamava de “bâri” (buddy = amigo, menino) e ele respondia chamando o pai de “déri” “daddy = papai”. Um dia eu fui buscar o David para brincar. Veio me atender o Dr. Fred. Aí lhe perguntei: “Eh! “déri”, David taí”. Ele respondeu: “Eu déri tu não, senhor Zé Alvim”. Eu pensei: Falei besteira, o homem vai dizer pra papai. Saí correndo e ele chamando “Bari” vem cá. Vou nada. Fui me esconder. Algum tempo depois, David me levou para jantar com eles. Antes, porém, eles rezaram, mas não entendi nada. Quando voltei para casa e fui dormir, aquilo não saia da minha cabeça. Então, pensava: Se Deus entende a reza dos padres, não entende a do Dr. Fred e nem a nossa. Se entende a nossa, não entende a deles. Eu acordei com aquilo martelando na minha cabeça. Na hora do almoço eu cheguei pra seu Zé Alvim que era espírita e perguntei: - Papai, essa gente do estrangeiro fala tão diferente. Quando a gente reza, a quem Deus ouve, nós, os padres ou Dr. Fred? Papai passou a mão na minha cabeça: - Moleque, tu queres saber demais. Senta aí. Meu filho, Deus não é poliglota. - O que troço é esse, papai? - Quero te dizer que a única língua que Deus fala e entende é a do amor. Não importa como as pessoas falam. Se elas fizerem tudo com a mor, Deus entenderá.


Eu não entendi nada, mas fiz de conta que entendi tudo pra impressionar o velho. Só muito depois, lembrando-me desse episódio lá no Seminário, pude avaliar a sabedoria do meu pai. Realmente, Deus é amor e onde o amor e a verdade estiverem presentes, Deus ali está e entenderá tudo o que fizermos aos outros ou Lhe dissermos. “Ubi charitas et vera, Deus ibi est”. O ‘NOVO’ DECÁLOGO DA UNIVERSIDADE Quinze magníficos reitores e afins, inspirados no gesto de Moisés, pegaram na vara do poder, brandiram a pedra dura e nua e exclamaram: Fiat Lux! E a luz fez-se fulgurante, derramada em dez proclamações atinentes à Universidade. Não a Universidade de hoje e sempre, de todos os tempos e lugares, mas a ‘Universidade do Futuro’. Esqueçamos, pois, o passado e o presente; ‘futuremo-nos’! Finalmente, a missão e a obrigação constitutivas da Universidade, ab initio, vão cumprir-se. Passará a estar apenas ao serviço da Sociedade e do bem público, e não de grupos e dos respetivos interesses. O manifesto reconhece e jura emendar os caminhos errados, percorridos nas últimas décadas. E afirma romper com o conformismo que se instalou na instituição, por ação da cúpula dirigente e por cumplicidade e omissão de muita gente da comunidade académica, obediente e submissa, calculista e oportunista. Os ínclitos profetas prometem não ficar por aqui. Vão empenhar-se na concretização da sua pregação urbi et orbi. Adotarão medidas coerentes com o credo e a ementa dos mandamentos enunciados. Libertarão a Universidade da canga burocrática, do RJIES, do Conselho Geral e do Conselho de Curadores. O cultivo do espírito crítico e do intelecto será a trave-mestra do edifício concebido pelos iluminados arquitetos. O que lá vai, lá vai! Ficou para trás, não existe mais, foi morto e sepultado por uma visão e determinação messiânicas. Doravante, no portão de cada Universidade estão escritos e refulgem os rumos e sinais conducentes à Terra Prometida. O novo e infalível decálogo é para valer e empolgante, porquanto “a Universidade do futuro promove um futuro melhor.” Heureca, Arquimedes: desta vez a montanha não pariu um rato!


VESPASIANO RAMOS: ‘Coisa Alguma & Mais Alguma Coisa

Joaquim Vespasiano Ramos, Caxias, Ma, 13 de agosto de 1884 - Porto Velho, RO, 26 de dezembro de 1916 Deus escolhe um tempo para nos presentear com alguma coisa. E justo naquele 1984, fui por determinação de meus quefazeres profissionais, convocado para o honroso e temporário mister de trabalhar na institucionalização do Tribunal Regional Eleitoral, do recém-criado Estado de Rondônia. Cheguei a Porto Velho na madrugada do Natal de 1983 sob um céu festivo e estrelado, a iluminar aqueles longínquos ermos e para pisar pela primeira vez o chão em que o poeta Vespasiano Ramos deu o último suspiro de vida aos 32 anos de idade. Agradeço ao nexo causal do Universo por me ter propiciado essa dádiva, de encontrá-lo no ‘Cemitério dos Inocentes’, naquelas silenciosas paragens do antigo Território do Guaporé, [antes pertencentes às terras do hoje município de Humaitá, no Estado do Amazonas], atualmente Rondônia, a repousar em louça e lousa, os louros de sua lira, o que me permitiu escrever alguma coisa ao poeta de ‘Coisa Alguma’, tempo em que assistia emocionado as comemorações de seu centenário, na companhia de mais três maranhenses ilustres que lá se encontravam: o Juiz de Direito [da judicatura local], João Batista dos Santos, depois Desembargador; e os caxienses, professor Raymundo Nonato Castro, Vice-Reitor da Universidade de Rondônia, já falecido, e o jornalista e advogado Edison de Carvalho Vidigal, recém indicado Ministro do STJ, que lá se encontrava para uma audiência jurídica; e um outro meu colega, o advogado Francisco Djalma da Silva, hoje, Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Acre. Joaquim, Vespasiano Ramos, nasceu na cidade maranhense de Caxias, a 13 de agosto de 1884 e faleceu em Porto Velho, a 26 de dezembro de 1916, aonde tinha chegado no início do mês, a bordo do vapor ‘Andersen’, não como muita gente pensa, impelido pela ‘borracha’, como meio de um melhor aconchego físico-social, mas, para recolher-se no seringal de Aureliano do Carmo, e dar início à escrita de um seu poema amazônico, cantando as belezas do Grande Vale, como fizeram no passado, o paraense José Verissimo, autor de ‘A História da Literatura Brasileira’ e o português Ferreira de Castro, autor de ‘A Selva’, dentre outros textos de contenção universal. A malária foi tirana e arrancou do poeta, a castigá-lo com febres ácidas, associada a uma doença pulmonar, o sonho de escrever o ‘Canto Amazônico’, que talvez tivesse sido a nossa maior epopeia lírica.


Pertencente à segunda geração estoica de românticos, quanto ao seu, ‘modus vivendi’, o poeta, apesar de ter alcançado a efervescência dos movimentos parnasiano e simbolista, a nenhum pertencera, observando-se, no entanto, estilos dos dois em suas produções, mas sem qualquer filiação estilística ou formal em ambos, porque Vespasiano fora um poeta desgarrado de movimentos, apesar de visceralmente romântico. Espírito irrequieto e boêmio por natureza e convicção, Vespasiano Ramos já aos dezesseis anos publicava seus versos nos jornais de sua província e logo passou a integrar o grupo de sua geração que, em Caxias, despontava com muita força, oportunidade em que fundaram o jornal ‘A Mocidade’. [Vide foto abaixo dos componentes do grupo].

“Intelectuais caxienses, em foto sem data, porém sabidamente de início do século XX. Da esq. para a direita, em pé: Hegesippo Franklin da Costa [avô do poeta Roberto Franklin da Costa, da ALL], Francisco Nunes de Almeida, Vespasiano Ramos, Wladimir Franklin da Costa [pai do escritor Franklin de Oliveira], Joaquim Franklin da Costa. Sentados, na mesma ordem: Alfredo Guedes de Azeredo, Leôncio de Souza Machado [pai do escritor Walfredo Machado] e João Lemos”.

Com dezoito anos completos, o poeta transfere-se para São Luís, com o intuito de ampliar seus conhecimentos de humanidades e na esperança de melhores dias. O seu brilhante talento abriu-lhe os caminhos da imprensa, onde escreveu poemas e crônicas. São Luís, palco de tantas e iluminadas histórias, como as de Aluízio Azevedo e Humberto de Campos., este último, seu contemporâneo. Assim, transfere-se em seguida para Manaus onde demorou muito pouco, sendo arrastado pelo fascínio que lhe devotava o irmão Heráclito Ramos, que o fez viajar para o Rio de Janeiro sob a promessa de publicar lhe ‘Coisa Alguma’, seu livro de versos. Esse sonho não aconteceu, em princípio, por graças do irmão, em virtude de o poeta continuar mergulhado em festas e saraus, a levar uma vida boêmia e desregrada. Entretanto, impelido pela grande admiração, Heráclito, entrega os originais de Vespasiano ao editor Jacinto Ribeiro dos Santos, de cujas mãos saiu uma edição de dois mil exemplares em maio de 1916, sete meses antes do poeta falecer. Josué Montello escreveu: “De Vespasiano Ramos se pode dizer que está para as letras maranhenses, na espontaneidade de seu lirismo, como Casemiro de Abreu está para as letras brasileiras; é o poeta do amor e da saudade”. O ilustre mestre Antônio Lopes, ensaísta iluminado e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sentenciou: “Vê-se bem qual seja a inspiração que fazia de Vespasiano Ramos, entre os poetas novos do Maranhão, o poeta preexcelente do amor. O amor para ele é o... eterno e grande sentimento. Havia para o poeta, nesse


velho tema, um filão inesgotável para explorar. E, por isso, o amor era o assunto favorito dos seus versos.” Já o jovem professor e também poeta Carvalho Júnior, conterrâneo de Vespasiano, da bela e aristocrata Caxias, homenageou o autor de ‘Coisa Alguma’, publicando nas redes sociais, em 14 de agosto de 2018, ‘4 Poemas de Vespasiano Ramos’ para a sua série ‘Quatetê’. O escritor Jomar Moraes, orientou a pesquisa, a fixação textual e a revisão do fantástico trabalho ‘Cousa Alguma...&+ Alguma Coisa de/sobre Vespasiano Ramos”, uma bela edição da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, como instrumental de estudos e pesquisas sobre o vate caxiense.

Capas de ‘Coisa Alguma’, edição do Centenário, Porto Velho, 1984; edição da AML, 2010. Ouçamos o Vespa no soneto ‘Samaritana’, antológico, porque belo; bíblico, porque humano: “Piedosa gentil Samaritana/: venho, de longe, trêmulo, bater/à vossa humilde e plácida cabana,/pedindo alívio para o meu viver!/ Sou perseguido pela sede insana/do amor que anima e que nos faz sofrer:/ tenho sede demais, Samaritana/tenho sede demais: quero beber!/ Fugis, então, ao mísero que implora/ o saciar da sede que o consome,/o saciar da sede que o devora?/ Pecais, assim, Samaritana! Vede:/ — Filhos, dai de comer a quem tem fome, / Filhos, dai de beber a quem tem sede”. Sintamos o estro do poeta, neste outro soneto ‘Cruel’, de fino manejo rítmico e de perfeita elaboração estilística: “Ah, se as dores que eu sinto, ela sentisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse;/ talvez nunca um momento me negasse/tudo que eu desejasse e lhe pedisse! /Talvez a todo instante consentisse/ minha boca beijar a sua face,/ se o caminho que eu tomo ela tomasse,/ se o calvário que eu subo ela subisse!/ Se o desejo que eu tenho ela tivesse,/ se os meus sonhos de amor ela sonhasse,/ aos meus rogos talvez não se opusesse!/ Talvez nunca negasse o que eu pedisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse/e se as dores que eu sinto, ela sentisse!” . . . Contemporâneo de Augusto dos Anjos e de tantos outros nomes consagrados da literatura brasileira, e fundador da cadeira nº 32 da Academia Maranhense de Letras, o poeta morreu aos trinta e dois anos de idade, a irradiar uma semelhança de vida, conta um seu biógrafo, com o poeta americano Edgar Alan Poe, o poeta que cantou a maldição d‘O Corvo’, naqueles versos geniais do “Nunca mais...!”, de quem Charles Baudelaire diz que “ a influência rítmica é voluptuosa...e nada podia ser mais melodioso...”


O CIRCO JARBAS NICOLAU

Hoje pela manhã, Dr. Ribamar, clínico do hospital municipal, teve esclarecido um mistério antigo. Depois de tantos anos, o enigma do peru que dança mambo desfez-se. A amena frustração, cultivada com papinhas e mel, desde a infância em Buriti, propiciadora de um incômodo gostoso como a coceirinha de um dartro no pé, foi-se. Tudo resultou de um encontro e uma conversa com o Padre Paulo Sampaio, sabedor de coisas que até Deus duvida e emérito conhecedor de circos mambembes. No ato, o sacerdote matou-lhe a charada. Enfim, o doutor teve a curiosidade satisfeita. Ribinha se impacienta, inda cinco e meia. Eita siô!. O tempo não andava, ter que esperar até as sete era um suplício. Tão dizendo que o Circo Jarbas Nicolau é bom demais. Famoso. O pessoal fala que ele já andou até pelas cidades de Caxias e Timon e, se duvidar, até por Teresina. De ruim é que não tem nenhum animal. Quer dizer, tem o famoso "peru que dança mambo", coisa que nunca vi, mas peru não é bem um animal, assim como um leão ou uma girafa, é mais parente de galinha. Já vira uns retratos desses bichos grandes, no álbum de figurinhas das balas Surpresa. Mas bem que queria ver um de verdade. Não tinha bicho, mas tinha palhaços e trapezista e o terrível "homem que come gente". Era mais que suficiente para provocar aquele friozinho na barriga. Ali, no Buriti, um circo não era coisa de todo dia. A mãe dissera: só vai se for com a Ritinha. Pra ver a função, além de Ribinha, iam também Maristela, Catulé e Bito. A Ritinha de dona Almerinda, mocinha compenetrada, com os peitinhos nascendo, cheia de juízo, é que ia tomando conta de todos. Seis e meia. Nada da Ritinha passar. Ô siô! E se perdessem a sessão? Eh, lá vem ela, acompanhada de uma renque de meninos, todos com tamboretes nas cabeças. Pega também o seu e se integra ao cortejo. Têm que andar rápido para achar lugar para os seus bancos. No circo não há arquibancada nem cadeiras. O folheto dizia que cada um levasse seu assento. Já avistam o Circo Jarbas Nicolau. Riba o acha porreta e Catulé fala: soberbo! O que significa isso, Catulé? Sei, não. Mas ouvi seu Leutério falar e achei bonito. O toldo do circo é engraçado, feito de uma faixa sim outra não de lona crua, de modo que o circo só era coberto pela metade. O morim das laterais, meio transparente, dava até para ver os vultos que se moviam lá dentro. Aproveitando isso, o moleque Cebola, que não teve dinheiro pra comprar ingresso, sentado num barranco, esforçava a vista tentando, de fora, acompanhar a função. Vai começar. Entra o palhaço Farinha com um cabo de vassoura na mão, a cintura amarrada com uma mangueira velha, calçando tênis roídos. Atrás vêm dois homens, com cara pintada de alvaiade, e se põem a conversar. Farinha dirige-se para a dupla e pede a cada um que pegue em uma ponta do cabo de vassoura. Isso feito, pergunta: como é o nome deste circo? Jarbas Nicolau, respondem simultaneamente os dois homens. E Farinha: peguei dois bestas na ponta do pau! Risadaria enorme. Eita siô, é danado, esse Farinha.


É a hora da trapezista. Dizem que ela é de Moscou. Onde é isso? Sei lá, mas deve um lugar longe e, quem sabe, uma cidade maior que Teresina. Entra uma moça baixinha, parda, gordinha, com um maiô de seda preta um tanto desbotado, enfeitado de lantejoulas esparsas e meias de arrastão. Tem os cabelos longos e crespos e um ar de enfado. Desenrola um tapetinho no chão, em baixo do trapézio. Ué, o trapézio mais parece um balanço, tão baixinho, diz Maristela. Cale a boca, você não entende de circo, sua burra! Credo, Ribinha, não falei por mal. A moça faz umas pulitricas em cima do tapete, depois se equilibra em uma tábua colocada sobre um rolo e finalmente, de um pulo, alça-se ao "trapézio". As crianças vibram. Deve ter vindo mesmo de Moscou, essa aí. A próxima atração, "o homem que come gente" não finalizou por falta de voluntários. Não cabe culpa à direção do espetáculo, como registrou devidamente o apresentador. Venham os fatos. Boy Canibal, o artista, um fortão ruivo sem tamanho, entrou em cena, batendo no peito, arreganhando os dentes e rugindo para a assistência enquanto, aos gritos no megafone, o locutor pedia que se apresentasse alguém da platéia para ser comido. As pessoas da primeira fila fingem desinteresse e discretamente vão arrastando os bancos para trás. Súbito, alguém atira um moleque magricelo no meio da arena. O bruto agarra o coitado e ferra-lhe uma dentada na carapinha. O infeliz escapole e foge apavorado, aos gritos. Alguém mais? ruge o trubufu, rodeando o picadeiro. Silêncio profundo. Boy Canibal retira-se fazendo aquele gesto vitorioso de ganhador de uma luta de boxe. Ufa! E agora, qual a próxima atração? Já se anuncia: é o peru que dança mambo. Começam a cair gotas de chuva. Poucas e finas, depois grossas e urgentes. O apresentador, pernas pra que te quero. O jeito é correr que a chuva é de trovoada. Bancos na cabeça, pernas ligeiras, no caminho de volta. A enxurrada vem vindo, não dá para prosseguir. Entram, de cambulhada, na bilharina do seu Jair. O pequeno salão já está cheio de outros refugiados da chuva. O calor é sufocante e o cheiro de urina arde nas narinas de Ribinha. Na rua, a enxurrada desce encachoeirada, cavando o barro. E o peru que dança mambo? No dia seguinte, o circo foi embora levando para sempre o seu segredo. E agora, sem mais, não é que o Padre Paulo desvenda o enigma? O grande sucesso dos circos mambembes é um truque simples: pegam uma vasilha com brasas dormidas, põem em cima uma folha de zinco e amarram o peru para que não fuja. A pobre ave, para libertar-se do calor nos pés, levanta ora um pé ora outro, ao som de um caliente mambo. Eita mistério mais besta, siô.


OS REFRESCANTES SABORES DA ILHA E SEU MAGO CERES COSTA FERNANDES

Neste tempo de calor – e todo tempo é calor em Upaon-açu – é tempo de sorvete. Do sorvete de coco das caixas de zinco com gelo que resiste nas caixas modernas de alumínio forradas de isopor, ainda carregado no ombro do sorveteiro – vêeete coco. Ah, o sorvete de coco na casquinha! Tão bom e tão proibido: “Você sabe com que água ele é feito?” Inquiria meu pai, dedo em riste. Nem queria saber. Aprendi com meu tio Janu – mais conhecido como Zoquinha – que comidas muito temperadas ou de procedência duvidosa, se gostosas e imperdíveis, a gente come “pelas barbas de São Pedro” e todo mal é exorcizado. O sorvete de coco tem uma prima ancestral, também de molecada circundante e procedência duvidosa – e apesar disso, ou até por isso – muito saborosa e desejada: a raspadinha. Patrimônio alimentar da humanidade (não é?), a raspadinha é registrada historicamente desde os tempos de Nero: ele mandava vir neve das montanhas para ser misturada aos sucos de frutas servidos nos festins de Roma. É, pois, ancestral registrada do sorvete. Nos banquetes, os romanos a sorviam reclinados nos divãs, dois deliciosos pecados capitais juntos: gula e preguiça. Só me dano é que, nos filmes de época, não sei o porquê, Nero sempre está saboreando cachos de uva; não é justo, e as raspadinhas? Morro de inveja dos romanos e de saudade das raspadinhas. Não venham me dizer que ainda resistem algumas na Praia Grande. São feitas com xarope industrializado, não mais com suco de frutas de procedência duvidosa. Sorvete é arte, ponto. É perecível? Então é uma instalação; quem nisso puser dúvida, lembre os sorvetes de creme e o de ameixa (meu preferido) saídos das mãos do Lúcio. Quem de nós, ilhéu, viveu nesta São Luís quatrocentona dos anos sessenta ao começo dos oitenta e não soube a fama, ou teve o excelso prazer de provar dos sorvetes do mago conhecido apenas por Lúcio. Ou melhor, o Lúcio do Hotel Central? O curioso é que não lembro a figura dele. Nunca o vi. Conheci o nome, a celebridade e o sorvete. Todos os saídos do Hotel Central eram “do Lúcio”. Às vezes penso que Lúcio era mais uma marca, um mito que uma pessoa real. Existiria de fato? Era mais de um? Talvez fosse um Homero, um Shakespeare do sorvete, cuja autoria pode até ser contestada, mas as criações, únicas e inimitáveis. Confesso que a minha primeira vez foi em Fortaleza; quero dizer, a primeira vez em que saboreei, com ritos de iniciação, um sundae, novidade máxima, na época – não havia em São Luís. A cerimônia se deu nas Lojas Americanas de lá, acompanhada de Guaraná Champanhe. Comuniquei a aventura aos amigos do Largo de Santiago e recebi de volta uma informação solene que me assanhou: no Largo do Carmo, uma sorveteria servia um “sorvete enfeitado” que queria parecer um sundae. Quando convenci meus pais a irmos lá para conferir, ela, vida curta, tinha fechado. Decepção amarga. Muito tempo depois, outra tentativa: a sorveteria em cima da Loja Acácia. Sorvetes bons, mas nada de sundaes. Os verdadeiros surgiram na loja Ocapana da Rua Grande, ponto de encontro dos jovens. São Luís, então conheceu Banana Split, Vaca Preta, Vaca Dourada. Chovia a meninada por lá. E, é bom dizer, com os pais “acompanhando”. E quem se lembra do inicio da sorveteria Elefantinho? Caiu no gosto popular oferecendo sorvetes de sabores da terra; bacuri, cupu, juçara, cajá, murici, milho verde, tapioca e outros que tais. Outras tentaram, mas foi ela que mudou a preferência dos nativos; antes era chocolate, creme, ameixa, morango, caramelo, coco. Frutas da terra, só para picolés, assim mesmo com morango (artificial) ganhando disparado das outras. De nome estranho e lugar longe dos points da moda, lá no Diamante, foi campeão de vendas anos a fio. Ponto de referência obrigatório para turistas, surpresos com a variedade das nossas frutas. A descoberta das excelências do cupu, bacuri e


juçara, os levavam ao êxtase gastronômico. Essa sorveteria tem o mérito de ter acordado os maranhenses para a riqueza e valorização do sabor de suas frutas, tão fora de moda na época em que são-luisenses queriam ser cariocas. Hoje, temos sorveterias sem conta em São Luís (alguém se lembra da do Valentim Maia?), umas muitas boas, outras assim, assim. Mas, neste rememorar de tantos anos (quantos?) de raspadinhas e sorvetes, quero deixar minha homenagem aos sorveteiros anônimos do sorvete de coco; à raspadinha da Praça Deodoro (quando lá era um recanto tranquilo e de convivência); ao sorvete do Lúcio (viverá ainda?) e ao inovador Elefantinho, que deixou São Luís com mais gosto de São Luís. Entrou pelo bico do pato saiu pelo bico do pinto, quem tiver as suas predileções, pode juntar mais cinco.


A(S) CIDADE(S) QUE ME HABITA(M) CERES COSTA FERNANDES Moro numa mesma cidade em duas dimensões diversas, em uma ando lesta, passos firmes, passada elástica; em outra ando lenta, passos cansados, pisada incerta. Em ambas, sinto a mesma brisa de todos os setembros, tenho o olhar aguçado para o caleidoscópio das cores dos poentes, e para os detalhes dos casarios, o semblante das pessoas, o vai-e-vem das ruas, seus sons e cheiros. Cruzo a Ponte José Sarney, sobre o braço do Rio Anil, rumo à Beira-Mar, os ônibus fumarentos disputam espaço com automóveis e motos, as frondosas figueiras benjamim que dividem as duas pistas levantam-se, copadas, retomando seu lugar, e eu desço a rampa do Cais da Sagração para entrar na canoa de vela azul de Pedro Olhudo, com meus filhos, contornando as c’roas, rumo à Praia da Ponta d’Areia, moradia de pescadores e lugar paradisíaco e quase deserto. Vou conferir as reformas feitas na Praça Deodoro, olho com prazer o Pantheon refeito, os espaços largos agora livres de barraquinhas de comidas, a estrada de Oz me leva à biblioteca branca, de alta escadaria, entro e vou direto ao espaço infantil, lá me esperam horas de aventuras, Monteiro Lobato, Emília, Narizinho, o Visconde, o Barão de Münchaussen e Gulliver são meus companheiros. Que belo está ficando o Largo do Carmo com a reposição do piso das ruas, observo as andorinhas em revoada nas torres da igreja, desço do bonde São Pantaleão, no abrigo dos bondes e vou com minha tia Amália e seu noivo, ao Moto Bar comer pastel de carne com Guaraná Champanhe, talvez um sanduíche de fiambre. As calçadas largas foram refeitas, o Beco da Pacotilha, parece novo, ué, nunca tomei pega-pinto na Fonte Maravilhosa, as bancas estão cheias de revistinhas, bem que meu pai podia ser dono de uma delas pra eu ler todos os gibis do mundo. Modernizaram a Rua Grande, nos moldes das calles das grandes cidades, tiraram os camelôs, já podemos andar sem os tropeços do piso esburacado, bancos de madeira servem aos passantes cansados e as meninas de saia rodadas passam pela porta da Sodiscos, cheia de rapazes, é a rota do footing, cuidado com as saias na esquina do Caiçara, aquele edifício novo, outro grupo de boys lá está à espera do redemoinho que varre as folhas e levanta as saias dos brotinhos. Embora sem flores, a Praça Gonçalves Dias, ganhou beleza com a saída do pátio dos trens, sem muros, a vista é prologada com a branca e desolada Praça Maria Aragão, o que será que Niemayer tem contra as árvores, tirados os tapumes, surgiu outra graciosa pracinha frente à imponente estação de trens que será um museu. Aplausos. Desvio de um skatista alucinado e o bonde Gonçalves Dias está virando a lança, cheio de alunos do Santa Tereza, Maristas e Colégio São Luís. Alguns descem para namorar no coreto florido. Eu fico no bonde, olhos baixos, um rapaz do Maristas pagou a minha passagem, diz o cobrador. E se ele vier falar comigo? Que faço, agora? Chego a casa, que é um compósito dos lugares que habitei e que me habitam, olho para a Baía de São Marcos da qual nunca me afastei nas minhas três residências de adulta e sinto que esta Ilha, este mar, este sal, este vento sudeste, estes rios, poentes e praças estão em mim em todas as dimensões, idades e situações que já tive e porventura ainda terei. Indelevelmente, para sempre.


O ROMANISTA ABELARDO SARAIVA DA CUNHA LOBO FERNANDO BRAGA in ‘Conversas Vadias’ [Toda prosa], antologia de textos do autor. Ilustração: Desenho mão livre por Isolda Hora Acioli, o mesmo da capa e do pórtico do livro comentado.

Abelardo Saraiva da Cunha Lobo, autor de ‘Curso de Direito Romano’, “com certeza confirmou o elo entre o Maranhão e as ideias jurídicas no Brasil ao escrever a história interna do Direito Romano [...] vez que excedeu na exposição de seu direito público, chegando a pretender, do ponto de vista externo, realizar a evidenciação de sua influência universal em seu projeto interrompido pela sua morte em 1933” diz-nos o Professor Doutor Rossini Corrêa em seu belo livro ‘Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia’, São Luís, 1993. Este livro de Abelardo Lobo é uma reedição do Centro de Estudos de Direito Romano e Sistemas Jurídicos da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília – UnB. O projeto gráfico do Senado Federal, carinhosamente elaborado por Joaquim Campelo, é o de n° 78, contendo 662 páginas, com prefácio do Professor Doutor Francisco de Paula Lacerda de Almeida, Catedrático de Direito Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e agora enriquecido pelas notas de Pierangelo Catalano, da Universidade de Roma, o que “constitui motivo de grande alegria para os juristas brasileiros, indicando auspícios favoráveis ao desenvolvimento do Direito Brasileiro em consonância com as suas origens culturais”, no entendimento do Professor da Universidade de Brasília - UnB, Ronaldo Rebello de Britto Poletti e Presidente da União dos Romanistas Brasileiros –URBS. Esse volume que na verdade reúne três livros do mestre Abelardo sobre a matéria, enriquece e ilustra os estudos de Direito Romano, contendo, para tanto, o programa idealizado por seu autor, a partir dos primeiros conceitos de Leibnitz, Poponius e Gaius, passando pelas Ordenações (Lei das Sete Partidas), pelo Direito Civil Português, Canônico e Germânico, Ibero-Americano, até chegar ao Monumento Jurídico do nosso Clóvis Bevilácqua. Sobre o autor, valho-me das notas contidas às páginas 665-6, do volume em referência [Notas sobre o Autor], transcrevendo-as na íntegra, para o conhecimento de alguns maranhenses, que pouco ou nada sabem, pela escassa divulgação feita até aqui, sobre esse nosso ilustre conterrâneo: Abelardo [Saraiva da Cunha] Lobo nasceu em São Luís do Maranhão em 24 de janeiro de 1869 e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1933. Filho de Cândido Emílio Pereira Lobo Júnior e de Maria Benedita da Cunha Lobo. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, em 10 de novembro de 1888. Doutorou-se na mesma Faculdade, em 24 de dezembro de 1889. Nomeado em 24 de janeiro de 1890, aos 21 anos de idade, para o cargo de Juiz Municipal da Comarca de Barra do Corda [Maranhão]. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1891, sendo nomeado cônsul em Vera Cruz, no México, posto ao qual renunciou porque o Marechal Deodoro da Fonseca havia dissolvido o Congresso Nacional, e ele, Abelardo Lobo, fora contrário a esse golpe. Casou-se com Alzira Mesquita Bastos, em 18 de novembro de 1893, no Rio de Janeiro. Militou na advocacia. Foi o primeiro colocado no concurso público para Professor Substituto da 3ª seção da antiga Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, que compreendia a disciplina Direito Romano, Direito Internacional Privado e História Geral do Direito, sendo nomeado, incontinenti, professor de Direito Romano. Participou de vários congressos internacionais e pronunciou inúmeras conferências. Seu Curso de Direito Romano, em sete volumes, [sendo nesta edição que agora nos referimos somente reunidos os quatro primeiros tomos que abordam a parte histórica, muito divulgada nos meios jurídicos da Europa e América]. Com a República, foi eleito constituinte pelo seu Estado natal. Nomeado pelo Governo Provisório


membro da Subcomissão pelos seus pares, professores Filadelfo Azevedo e Pereira Braga, dando eficaz colaboração na “Primeira Parte” do Código de Processo Civil. Doutor Honoris causa pela Universidade de Buenos Aires (Argentina), e de San Marcos, de Lima (Peru). Grande Oficial da Ordem do Sol (Peru). Abelardo Lobo tornar-se-ia um dos principais pioneiros dos estudos do Direito Romano entre nós. Participou ativamente da Escola do Recife, associando seu nome aos dos intelectuais de nomeada como Tobias Barreto, Sílvio Romero, Clóvis Beviláqua, Capistrano de Abreu, Graça Aranha, Urbano Santos, Artur Orlando, Araripe Júnior, Gumercindo Bessa, Martins Júnior... O Curso de Direito Romano, de Abelardo Lobo, é um clássico, entre nós, escrito à intenção de seus alunos. O Curso reflete uma grande cultura e erudição, e é o segundo a ser escrito no Brasil, antecedido apenas pela História Interna do Direito Romano Privado, de outro maranhense ilustre, Luís Antônio Vieira da Silva, formado em Direito e Cânones pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Neste livro encontra-se a seguinte dedicatória, o que externa o grande amor de Abelardo Saraiva da Cunha Lobo pelo seu torrão natal: “Ao meu longínquo Maranhão”. “Quanto mais longe de mim te vejo no tempo e no espaço que nos separam, mais perto de ti sinto-me na irredutível singularidade de minha profunda e desinteressada afeição”. Abelardo Lobo, Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1935.


VENDE-SE UM COLÉGIO CERES COSTA FERNANDES A placa diz: “Vende-se. A tratar com…”. Podemos nos informar com o corretor encarregado da venda. Já sabemos que se trata de um colégio, de tanto passar por ali e ver a movimentação saltitante de crianças de uniforme, mochilas às costas, acompanhadas de seus portadores, entrando e saindo às horas em que se deve entrar e sair de uma escola. O corretor certamente informará dos metros quadrados do terreno, área construída ou não, da existência de quadras de esporte, uma piscina, o parquinho infantil com a sua indispensável caixa de areia, um auditório com cadeiras e um palco, salas e mais salas de tamanho mais ou menos igual e outras tantas coisas de ordem material componente de um imóvel que abrigou uma escola durante anos. Ele, o corretor, para valorizar a venda, poderá sugerir novos usos e destinações para o imóvel. Um clube, um edifício de escritórios ou até – pensado, mas não dito – um lugar, digamos, para abrigar negócios menos nobres. A escória do bicho gente também compra colégios. Ora, fosse eu esse corretor, apresentaria ao cliente um imóvel com mais acessórios. É que, quando se compra um colégio, não se leva apenas o que foi arrolado acima. Com o parquinho, segue o prazer, desconhecido nas cidades de asfalto e cimento, de mãos pequenas e gordinhas a fazer bolinhos de terra e o inigualável friozinho na barriga da primeira descida de um escorregador. Acompanha a piscina um punhado de fortes emoções das que enchem o peito, quase a estourar de orgulho, como aquela do dia em que o instrutor de natação diz que já podemos deixar a bóia para os menores. E a ansiedade de chegar logo em casa e contar o feito, quanto vale? Acresce, também, o valor do imóvel a inestimável descoberta das primeiras atrações amorosas, encobertas nos risos abafados das mocinhas tagarelando em grupos, através dos corredores, em cujas paredes rapazes tímidos se encostam, como quem não quer nada, só para vê-las passar. Junto com o amplo auditório que tantas formaturas presenciou, o comprador levará, além do encantamento dos pais e avós, ainda a flutuar no ambiente, ante o talentoso rebento, o ar compenetrado dos egressos do jardim com o seu primeiro, mas definitivo, canudo, e de quebra o discurso emocionado, com o juramento tão sério, cheio de palavras difíceis, da menina, moça por um dia, no seu tão sonhado vestido de baile e brilho nos cabelos presos que se confunde com o brilho dos olhos de todos os Doutores do ABC. Leva a despedida dos formandos do segundo grau, autografada nas camisas com os nomes de todos da turma que vai se dispersar, e as juras sinceras de amizade eterna, que breves anos se encarregarão de desmentir, tão diversos serão os caminhos. Quantos seguirão em busca de mais saber e quantos, menos favorecidos, na busca do trabalho imediato? Quanto valerá a bagagem dos anos esperançosos de tantos jovens mestres, a buscar o aperfeiçoamento em cursos e seminários? Noites insones em planejamentos, recusa de festas e passeios, que o magistério absorve todo o tempo do mundo. Acrescente, senhor corretor, mais esse valor ao preço do imóvel. Quando uma escola acaba, descaracterizam seu prédio ou até o implodem, para construir um edifício sobre as suas ruínas, uma lacuna se instala na historia de vida de uma criança, de um adolescente. Eles só se aperceberão disso muitos anos depois quando quiserem dizer a filhos e netos, Vejam, estudei ali. Parte do seu referencial de vivências se foi. Na sua historia faltará sempre um capítulo. Para conferir, reavivar os traços de seu perfil esmaecido, necessitará, de quando em vez, de uma conversa – tipo lembra? – com colegas cada vez mais difíceis de serem encontrados. Um colégio está sendo vendido. Oxalá suas emoções, sonhos, saudades, despedidas, alegrias, estudos, amores sejam comprados junto com o imóvel e, em assim sendo, ali se instale outro colégio.


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

FRAN PAXECO:

recortes & memórias

SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2020 PARTE X


“Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro

de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502)


EM PORTUGAL 1910 JANEIRO, 03 – A Pacotilha publica artigo com o titulo Os teutõis




08/01 – Nova publicação em A Pacotilha:



10/01 – Sobre teatro, em A Pacotilha, é citado:

E no Diário do Maranhão:


Era comum, entre os jornais da época, fazer um pequeno resumo das principais noticias e/ou artigos publicdos nos demais. Assim, o Diário do Maranhão trazia em 28/01 uma nota sobre publicação dos concorrentes:

11/01 – Novo artigo, Na Pacotilha, sobre a situação internacional:




12/01 – Em A Pacotilha, sobre a “Internacia Ligo”:

E segue um anuncio do Instituto Antonio Lobo, do qual era professor:


13/01 – Continua a fazer análise da situação internacional:


18/01 – Diário do Maranhão publica sobre lançamento de folheto em que é transcrito seu discurso sobre a literatura portuguesa:


O Diário do Maranhão, em notas sobre as publicações dos outros jornais, continua se referindo aos artigos de Fran Paxeco que eram publicados. Em A Pacotilha, continuam as publicações sobre a situação internacional, desta vez, sobre Leopoldo, rei da Bélgica:





20/01 – Em A Pacotilha, duas inserções: a primeira, sobre a situação internacional, e a segunda, local, sobre o Clube Euterpe:




24/01 – Artigo sobre ortografia, em A Pacotilha:


27/01 – Ainda artigo sobre a Inglaterra



31/01 –



FEVEREIRO, 08 – Em A Pacotilha, escrevendo sobre o carnaval:



09/02 - O Diรกrio do Maranhรฃo destaca os artigos publicados por Fran Paxeco em A Pacotilha.


10/02 – Fran Paxeco é contratado como professor do Liceu Maranhense, conforme os vários jornais de são Luis registraram:

E em A Pacotilha escreve:



14/02:


17/02



21/02 – em A Pacotilha




24/02 – em A Pacotilha:



MARÇO, 1º - Jornal do Comercio, de Manaus, registra sua contratação como professor do Liceu Maranhense.


28/03 – O Jornal do Comércio, de Manaus, noticia a fundação do Centro Republicano Portugues em São Luis ABRIL, 21 – O Correio da Tarde registra Baile no Clube Euterpe, com discurso de Fran Paxeco saudando o Barão do Rio Branco, em visita à cidade:

MAIO, 11 – Portaria do Governo nomeando comissão para rever o estatuto da Escola normal:


JULHO, 05 – Participa das homenagens à Antonio Lobo, lembrando de sua amizade 21/07 – Jornal do Comércio noticia sua nomeação para a comissão de instalação do Engenho São Pedro 30/07 – Faz discurso nas comemorações do 28 de julho, segundo o Diário do Maranhão AGOSTO, 15 – Reproduz noticias do Rio de Janeiro, em que Fran Paxeco é citado como um dos oradores nas comemorações do 28 de julho no Maranhão SETEMBRO, 08 – Em Diário do Maranhão, anunciado o casamento de Fran Paxeco


SETEMBRO - casa com a sua noiva, a maranhense Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, passando a residir no casarão da família dela, na Rua da Palma nº 38, (hoje 360) onde também foi o Consulado de Portugal.

Dá início a um período de grande calmaria na sua atribulada vida. Menos de um ano depois é nomeado Cônsul de Portugal no Maranhão. Mantém a sua ligação ao jornalismo, passando a ser o Redator da Pacotilha. É professor no Liceu Maranhense, dando aulas de História Universal e do Brasil, Geografia e Francês. Jeronimo de Viveiros traça sua contribuição ao comércio maranhense, nomeado secretário da Associação Comercial: Nada obstante, essa escassez numerária não impediu a Associação Comercial de agir, pronta e enèrgicamente, sempre que se fazia mister, sobretudo, depois que teve a sua secretaria dirigida e reformada pela formidável capacidade de trabalho e aprimorada cultura de Manoel Fran Paxeco. Escrevendo para uma geração de maranhenses que D não conheceu e ignora-lhe os serviços prestados em Qosso benefício, faz-se preciso consagrar-lhe aqui os trajos biográficos, não só para seguir a praxe observada pela Associação em rememorar os trabalhos de tão dedicado colaborador, se não também para maior clareza dêste estudo. Depois de Martinus Hoyer, dinamarquês de nasci[nento, sôbre cuja personalidade nos ocupamos, com de:alhes, no 2° volume desta obra, foi Fran Paxeco o estrangeiro que mais elevada soma de serviços prestou à nossa terra.


Dava-nos, espontâneamente, sem visar as recompensas, sem colimar interêsses. Metódico, assombrosamente ativo, resistente como poucos, Fran, que aqui aportou aos 26 anos de idade, em 2 de maio de 1900, dedicou ao Maranhão o melhor de sua inteligência e o melhor de seu esforço. Naturalmente, a princípio, foi a isso levado pelo seu temperamento laborioso e fecundo, depois, pelo amor que a terra lhe inspirou. Não se julgue que as suas posses lhe permitiam êsse desprendimento pelas recompensas materiais, que êle como homem pobre vivia do fruto do seu trabalho. É que não tinha em conta êsse fator, quando entrava em jôgo o progresso maranhense. E era animador, e era confortante, então, vê-lo dedicado de corpo e alma, todo entregue ao empreendimento que se tentava. Prová-lo não é difícil; basta recordarlhe a vida. Na cidade de Setúbal, à beira do Sado, nasceu Manoel Fran Paxeco, em 9 de março de 1874. José Anastácio Paxeco e Carolina Amélia Paxeco foram seus pais. Numa escola municipal e num colégio de jesuítas da sua cidade natal estudou instrução primária. O curso secundário fez na Casa Pia de Lisboa, destinada aos órfãos de pai, dos 10 aos 14 anos de idade. Regressou, então, à Setúbal onde se empregou numa conservatória, cujo ajudante era o diretor da "Gazêta Setubalense". Neste jornal ensaiou os primeiros vôos de jornalista. Gostou tanto do ofício que fundou um jornal seu — o "Elmano", em junho de 1890, quando tinha apenas 16 anos. Neste ano entrou para o exército, que deixou em 1894, para ir ser o redator político da "Vanguarda", a mais incendiária das fôlhas portuguêsas da época, e orientar os semanários "Montanha", de Trancoso, e "Cezimbrense". Um artigo exaltado da "Vanguarda", secundado pela "Montanha", deu lugar a que o Govêrno mandasse processar a Fran Paxeco, sujeito ainda ao fôro militar como reservista, pelo que resolveu êle exilar-se. Eis como no "Sangue Latino", livro de sua autoria, o caso é contado pelo próprio Fran, sob o pseudónimo de Viegas Guimarães : "É trivial a causa do nosso exílio. Moveu-o uma vulgar querela jornalística e um vulgarísmo chinfrim. A querela haseou-se em preadivinhadas injúrias ã loura pessoa de sua majestade fidelíssima. O chinfrim promanou de hipotéticos agravos ao rubicundo comando das augustas guardas municipais. O jornal acusado dá pelo nome d'" A Montanha" e penetra nas mercearias dos beirões penhascos de Trancoso; o indivíduo peado pelas injustiças pseudominava-se Brissos Galvão. O monarca chamava-se Carlos Simão de Bragança, afora o restante; o general é conhecido por Antônio Abranches de Queiroz. O tumulto ocorreu na redação do vermelho diário "A Vanguarda" e foi originado pelo médico militar Duarte Egas Pinto Coelho, esposo de uma filha do referido brigadeiro, o qual se estribou numa enigmática local inserta no famoso órgão lisboeta. Éramos autores e declaramo-nos" . No prefácio do mesmo livro — "O Sangue Latino", Teixeira Bastos, esclarece o episódio: "Expulso do nosso meio, emigrante, fugitivo, o autor demajidou o Brasil, que sempre foi e continua sendo para nós, apesar da guerra brutal que lá nos move o jacobinismo dos nativistas, uma segunda pátria. Não foi o espírito de aventura, nem o desejo de fugir ao serviço militar, nem^ tão pouco a miséria — causas principais da nossa emigração — , que o levaram a abandonar a sociedade portuguêsa; mas um incidente devido ao seu ânimo irrequieto, as suas tendências de revolucionário, um delito de imprensa classificado de ato de indisciplina, praticado num instante de esquecimento de que ainda estava, apesar de ter deixado a vida militar, sob a alçadc. dos conselhos de guerra. Entre apodrecer num calabouço infecto e emigrar, optou Francisco Paxeco pela segunda proposição do dilema e sob um nome suposto partiu em viagem de recreio para a Andaluzia, donde, na primeira ocasião que se lhe ofereceu, se transportou diretamente para o Brasil". (455) Depois de haver trabalhado na casa comercial de Soto Maior & Cia. no Rio de Janeiro, de dirigir uma livraria, em Manaus, e exercido as funções de redator da "Fôlha do Norte" e outros periódicos, em Belém, Fran veio ao Maranhão, atraido pelo brilho do nosso passadc literário, que de longe o fascinava. Para logo, engolfou-se na nossa mocidade, que, despertada por Coelho Neto na sua visita dé" 1899 e dirigida por Antônio Lôbo, então, se


aparelhava para as lides literária. Em pouco, tornou-se o seu conselheiro e amigo incomparável. Estava Fran todo absorvido nesses afazeres, quando Manoel Inácio Dias Vieira, a quem Pedro Freire, maranhense, residente em Manáus, o recomendara, reconhecendo-lhe a capacidade de trabalho, convidou-o para dirigir a secretaria da Associação Comercial. Fran aceitou o cargo. Para a Associação, era êle uma belíssima e útil aquisição; era o homem que lhe faltava : organizador, laborioso e culto. Em breve tempo, conhecia como poucos os nossos fenómenos económicos e começou a publicar no jornal "Pacotilha", semanalmente, com uma regularidade de pasmar, uma série de artigos, sob o título "Questões Comerciais", que passamos a enumerar : O algodão — o açúcar — a maniçoba — os transportes — o protecionismo — as comunicações — a cabotagem — a estatística — a navegação estadual — as fibras — as pequenas indústrias — a bananeira — c arroz — a estrada-férrea — o cacaueiro — feijão, milhe e sal — o pôrto — a Companhia de Melhoramentos dc Maranhão — o lendário furo do Arapapaí, — a carnaubeira — o cânhamo — o café e o fumo — o projetado pôrto do Itaqui e o mais que se projeta para inglês ver. Formariam êstes artigos, mais tarde, com o título "Os Interêsses Maranhenses", um dos livros da sua bibliografia. De fato, foram reeditados em livro, em 1904, sob o patrocínio dos comerciantes João Alves dos Santos, Cândido José Ribeiro, Henrique Bastos, Crispim Santos e João de Aguiar Almeida. Referentes aos problemas do Maranhão, seguiram- Ihe, com o decorrer dos tempos, as obras : "Os Recursos Maranhenses", "O Trabalho Maranhense", "O Maranhão" e a "Geografia do Maranhão", que é dividida em três partes — física , económica e administrativa. Sao todos eles livros excelentes, utilíssimos para o estudo da nossa economia, nos quais não se perdem uma so informação, nem um só conceito, mas que se acham infelizmente, de edições esgotadas. Mas de todos os serviços prestados por Fran Paxeco ao Maranhão nenhum se compara ao que nos fez, promovendo, com entusiasmo, a célebre assembléia da Associação Comercial, de 14 de agosto de 1903, da qual adveio a Estrada de Ferro São Luís - Caxias, iniciativa de que muito se orgulhava. Depois de tomar parte, a convite do Coronel Taumaturgo de Azevedo, na comissão que foi fundar a Prefeitura do Alto-Juruá, onde contraiu grave enfermidade, Fran voltou ao Maranhão. Restabelecido, dedicou-se, então, ao professorado, lecionando português, aritmética, geografia, história, literatura e francês. Quase tôda a Escola Normal freqúenta-lhe as aulas. Em 8 de setembro de 1910, casou-se com d. Isabel Eugênia de Almeida Fernandes, moça de primorosa ilustração e do consórcio teve uma filha — Elza. Já por êsse tempo, Fran tinha entrado para a redação da "Pacotilha", jornal político, onde trabalhavam José Barrêto, Clodomir Cardoso, Luso Torres e Agostinho Reis, e era o de maior circulação. Proclamado o regime republicano em Portugal,Fran foi nomeado cônsul de carreira no Maranhão (24 -8-1911). Promoveu-lhe a nomeação o grande sociólogo Teófilo Braga, Chefe do Govêrno Provisório, de quem era êle amigo dos mais afetuosos e dedicados, considerandoo o Mestre dos Mestres. Daí por diante, Fran divide a sua pasmosa atividade entre o Consulado Português e os interêsses maranhenses. Continuou, em relação ao l^íaranhão, o mesmo amigo. Não lhe arrefeceu o ardor no que nos dizia respeito. Assim como o vimos no passado, organizando a "Oficina dos Novos", colaborando na solução dos problemas da Associação Comercial, propugnando tenazmente pelos nossos interêsses económicos na imprensa, ocupando a tribuna de conferencista literário, vamos vê-lo agora fundando o "Instituto de Assistência à Infância", o "Casino", a "Faculdade de Direito" e promovendo o "Congresso Pedagógico".


Proclamam-no, os seus contemporâneos, possuidor dessa capacidade de labor eficiente e inteligentemente dirigida : "Homem de ação pronta, sempre, "diz LtLSo Torres," não adia para amanhã o que hoje pode fazer, e é admirável como,no meio de tôdas as suas ocupações, desde as de simples etiqueta social até as da representação consular, desde a de jornalista ativo as de professor e animador da mocidade, divide as suas horas de lahor e nunca lhe falta o tempo para nada, nem sequer para o desporto do bilhar, com os seus amigos. E não sobe o que é cansaço, quando o dever o impele. Nunca se abateu ante as situações mais difíceis. Ê um forte, que ama o trabalho e detesta as hesitações, as dubiedades". (456) Alfredo de Assis não pensava de outra maneira sóbre a personalidade de Fran. A seu respeito, escreveu aIhures : "Basta vos recorde que se trata de um homem cuja vida ativa assumiu proporções nada comuns, cuja força de vontade pode ser assemelhada a um' jorro d'âgua abundoso e perene e também àquela "Grande Árvore", solene e dominadora, cantada por Alberto de Oliveira em versos maravilhosos que o gente nunca mais esquece. E não haverá decerto quem, de eSpirita bem orientado, imagine que isso é pouco, porque is^o, em verdade,é quase tudo. A vontade é a faculdade do homem consoante lhe chama, com tôda justeza, o Barão Fouchtoreleben. E essa faculdade em tanta marteira dignificadora, tem-na Fran Paxeco em gráu admiràvelmente desenvolvido, o que explica a sua existência de trabalho incessante e fecundo, a confiança que o alenta na eficácia de todo o esforço bem ordenado, a fortaleza com que há transposto as barreiras que no itinerário lhe hão surgido, muitas vezes das mais difíceis âe vingar". (457) Fran deixou-nos, definitivamente, em 1922, transferido para o consulado do Pará, donde passou para o de Cardif, na Inglaterra. No exercício de suas funções de cônsul, depois, aposentado, Fran viveu na Europa até 1952, quando faleceu em Lisboa.

OUTUBRO, 28 – No Diário do Maranhão


NOVEMBRO, 04 – Discursa nas homenagens a Gonçalves Dias 07/11 – Seu discurso foi muito elogiado pela imprensa 24/11 - Lemos, no jornal A Província, de Recife, um reclame do elixir de Muraré46 Composto, em que dá uma declaração – reconhecida a firma – ao sr. Bernardo Caldas; note-se que a declaração reconhecida na data de 28 de outubro de 1905:

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O mururé é uma árvore da Amazônia que combate as dores reumáticas e possui diversas propriedades medicinais.



É de se notar que no ano seguinte, 1911, a 1º de setembro, esse mesmo jornal publicava nova propaganda, em que apresentava declarações sobre o produto, inclusive repetindo a assinada por Fran Paxeco, em 190547:

DEZEMBRO, 05 – Convoca assembléia extraordinária do Clube Euterpe, para informar que o senhorio pedira a sede, pois a alugara a terceiros:

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http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=128066_01&PagFis=8625&Pesq=Fran%20Paxeco




27/12 – Dunshee de Abranches vem a São Luis, e Fran Paxeco está na comissão de recepção


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