MARANHAY (Revista do Léo) 54 - FEVEREIRO 2021

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MARANHAY (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

NUMERO 54 - FEVEREIRO 2021 SÃO LUIS – MARANHÃO


A

presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


NÚMEROS PUBLICADOS: VOLUME 54 – FEVEREIRO DE 2021 VOLUME 53 – JANEIRO 2021 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_53_-_janeiro_2021 VOLUME 52 –DEZEMBRO – 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maaranhay_-_revista_lazerenta_52__2020b VOLUME 51 –NOVEMBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maaranhay_-_revista_lazerenta_51__2020b/file VOLUME 50 – OUTUBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_50_-_2020b VOLUME 49– SETEMBRO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_49_-__2020_VOLUME 48– AGOSTO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_48_-__2020_bVOLUME 47– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_47_-__2020_VOLUME 46– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_46_-__2020_VOLUME 45– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_45_-__2020_-_julhob VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020 VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_43_-segunda_quinzen VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41 – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS: VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b

REVISTA DO LÉO - NÚMEROS PUBLICADOS


VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/4ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE


https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/5ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec


EDITORIAL

A “MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Ao me dedicar ao resgate da memória de Fran Paxeco, através de recortes de sua imensa produção na mídia impressa, fiz uma base desde seu nascimento até sua morte, e dai em diante. Pois bem, perdi essa base, em jornais e revistas fora do Maranhão. Tenho que começar tudo de novo, a partir de 1915... Farei ano a ano, de novo, perdendo muita coisa. Se conseguir abrir o aquivo, será bem mais fácil... No mais, continuamos com os sócios-atletas: Ceres, Fernando, Ramssés, Paulo, Ayoré... Neste início do ano da graça de Nosso Senhor de 2021, uma série de entrevistas, buscando ‘a vista do meu ponto’, sobre o estado-da-arte dos esportes, lazer & educação física, por aqueles que a fazem ter um sentido e um pensamento... Demos inicio à uma revisão e atualização do Atlas do Esporte no Maranhão, nesses 15 anos de publicação pelo Mestre Lamartine doAtlas do Brasil... estamnos aguardando as contribuições...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO 2 6 7

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

ESPORTE, LAZER, & EDUCAÇÃO FÍSICA

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A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM JOÃO BATISTA FREIRE A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM LAÉRCIO ELIAS PEREIRA A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM LINO CASTELLANI FILHO NA CAPOEIRA, QUEM EXERÇA FUNÇÃO DE REPASSAR SABERES, OFÍCIOS E FAZERES, SE IMPÕE QUE A EXERÇAMOS COM RESPONSABILIDADE CIDADÃ! MARCO AURÉLIO HAIKEL 5 LENDAS INESQUECÍVEIS DO FUTEBOL PORTUGUÊS

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HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO

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FAMÍLIA SAULNIER DE PIERRELEVÉE RAMSSÉS DE SOUSA SILVA “ARCHIDIOECESIS SANCTI LUDOVICI IN MARAGNANO”: ANOTAÇÕES PARA O SEU CENTENÁRIO PARTE 2 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ A MEMÓRIA DE FRAN PAXECO CONTINUA BEM VIVA EM S. LUÍS DO MARANHÃO ANTÓNIO BENTO GENEALOGIA DE JOSÉ FÉLIX PEREIRA DE BURGOS, O "BARÃO DE ITAPECURU-MIRIM" OS "BURGOS" DE ITAPECURU RAMSSÉS DE SOUSA SILVA FREI CUSTÓDIO ALVES SERRÃO – O CIENTISTA ÁLVARO URUBATAN MELO BAILES DO JAGUAREMA CERES COSTA FERNANDES AGORA, É CINZAS. AYMORÉ ALVIM

NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO P’ra não dizer que não falei de Poesia... e de Poetas ORAÇÃO DE SAUDADE A UM POETA MAIOR FERNANDO BRAGA "AUTOFICÇÃO: UM NOVO GÊNERO LITERÁRIO?" ROGÉRIO HENRIQUE CASTRO ROCHA E, SE? CERES COSTA FERNNDES 11 POEMAS DE DÉO SILVA (1937 – 1983) CARVALHO JUNIOR. LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO FERNANDO BRAGA 3 POEMAS + 1 CONTO DE GABRIELA LAGES VELOSO CARVALHO JUNIOR 4 POEMAS DE ALBERICO CARNEIRO CARVALHO JUNIOR 4 POEMAS DE MICAELA TAVARES CARVALHO JUNIOR

MEMÓRIAS & RECORTES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – RECORTES & MEMÓRIAS – PARTE XV

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ESPORTE, LAZER, & EDUCAÇÃO FÍSICA


A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM JOÃO BATISTA FREIRE

Joao Batista Freire da Silva   

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8503911954257694 ID Lattes: 8503911954257694 Última atualização do currículo em 30/06/2009

Possui graduação em Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santo Andre (1973), mestrado em pela Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em Psicologia Educacional pela Universidade de São Paulo (1991). Em 1991 foi aprovado em concurso de Livre Docente em Pedagogia do Movimento pela Faculdade de Educação Física da Unicamp. Atualmente é professor aposentado pela Universidade Estadual de Campinas. Coordena o grupo de estudos Oficinas do Jogo em Florianópolis. É vinculado atualmente ao Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Estado de Santa Catarina, na qualidade de professor visitante Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Educação Física, atuando principalmente nos seguintes temas: educacao fisica, educacao fisica escolar, educação, jogo e educação física, pesquisa-ação, pedagogia lúdica. Publica suas produções em revistas científicas, revistas de divulgação e livros, mantendo, com isso, o compromisso ético de tornar públicas suas produções. Suas publicações não têm por objetivo contabilizar pontos para satisfazer o sistema Capes de avaliação. (Texto informado pelo autor)

Outro dia li sobre 'a importancia freireana na educação física'; me manifestei dizendo que a única "influencia freiriana" que conhecia era a de João Freire... Algum comentário? Acho que não sou uma referência em Paulo Freire. Li Paulo Freire como muitos de nossos colegas também o fizeram. Durante minhas aulas nas Faculdades de EF procurei discutir os ensinamentos do mestre com meus alunos. Em meus trabalhos, muito do que fiz, coincidiu com as práticas de Paulo Freire, antes mesmo de conhecê-lo. Acho que trabalhos dedicados aos mais necessitados, fundados no aluno e no ambiente em que vivem, que dão vez e voz aos alunos, coincidem com Paulo Freire. Tive várias referências (Piaget, Vygotsky, Gehlen), assim como Paulo Freire teve vários, entre eles, Paulo Freire. E acredito que vários colegas da Educação Física leram e aplicaram Paulo Freire, embora eu não saiba mencioná-los agora.


Voce atuou no sudeste, depois no Nordeste - interior, Campina Grande, e no atletismo regional e volta para o sul - Santa Catarina. Nessa trajetória, pelo menos 45 anos, ou mais, quais as principais diferenças, seja no antigamente, e no hoje? São 50 anos, que se completam em fevereiro de 2021. Aí tem algo que coincide com Paulo Freire e aprendi na prática. Cada aluno é diferente do outro, cada região exige que a gente mude o jeito de dar aulas. Não é fácil fazer isso, porque é mais confortável manter um padrão. Já dei aulas em aldeias indígenas e não posso fazer o mesmo que faço numa escola de classe média de São Paulo. A arte de fazer um país é saber integrar vários Brasis em um só Brasil, mas se a gente não respeitar as diferenças, só dá problemas. Antes eu dava aulas sem muitas referências teóricas. Era a prática que me ensinava. Hoje tenho mais teorias. Mas, de qualquer maneira, sempre olhei de maneira especial para a educação da rua, para a educação da vida. É nesse aprender no mundo, com todas as misturas, toda essa complexidade, que as pessoas tiram seus maiores ensinamentos. Acho que essa capacidade que a vida tem para ensinar deveria virar pedagogia e metodologia e chegar às escolas. O currículo escolar é tirano, excludente, meritocrático. A educação física acabou? nesses tempos de pandemia... Não acabou e nem vai acabar. O que vai acabar é a pandemia. Imagino quanta coisa está sendo criada na pandemia, mas só poderemos conhecer isso mais tarde. Tenho ouvido falar, nos ultimos 45 anos, da 'crise da educação física'; nesse contexto, surgiram, então, as pós-graduações, mestrados, doutorados, pós... qual o cenário de hoje? Crises, ao contrário do que se pensa, não são coisas provisórias; crises são permanentes para quem enxerga a complexidade das relações no mundo. A EF está em crise desde que foi inventada, mas a ideologia que a orientava fazia acreditarem que era tudo calmo, tranquilo, sempre igual. Foi só aparecerem pessoas inconformadas com essa calmaria falsa que a crise ficou transparente. Isso aconteceu durante a ditadura. A crise continua. No atual governo, muito parecido com a ditadura de 1964 e, em alguns aspectos, até pior, imagino que a crise ficará novamente transparente. Deixa acabar a pandemia para vermos só quanta coisa virá à tona. De minha parte, pretendo denunciar fortemente a meritocracia da escola, denunciar o absurdo que são os currículos escolares, o absurdo de centrar todo o conhecimento no pensamento centro-europeu. Nossos currículos são supremacistas, são feitos só para alguns aprenderem. Mas a EF tem uma coisa muito interessante: não é presa numa sala e em carteiras. Isso é fantástico, ensinar fora da sala, em movimento. Só não aprendemos ainda como aproveitar isso. O CEV está completando 25 anos - qual a sua importancia, para a educação física, os esportes e o lazer? o seu inicio e a atual conjuntura? O CEV é um marco na EF brasileira. Sempre digo aos meus alunos que o CEV e o livro do Medina (A EF cuida do corpo ... e mente) foram as grandes novidades da EF nos últimos 50 anos. Mas o CEV tem que acompanhar as mudanças no mundo. Precedeu as redes sociais, mas foi engolido em parte por elas. Tem que aprender a lidar com isso. Hoje, os graduados - licenciatura e/ou bacharelato - só se veem trabalhando como 'personal', em academias e outros espaços. O que será da escola? do esporte não-profissional? Esses graduados fazem isso porque as Faculdades não praticam Universidade. Ensinam coisas que poderiam ser aprendidas em cursos técnicos. Não é preciso ser formado para fazer boa parte do que se faz por aí onde esses alunos arrumam empregos. Universidade é lugar para pensar, para ter


consciência das coisas, para aprender conhecimentos universais. Não é para aprender a bater bola ou dar treino, é para aprender os mistérios do esporte e do jogo. Não é para aprender a levantar pesos, mas para aprender sobre o método. Aprender sobre o método é algo que as faculdades não ensinam. As faculdades não ensinam nem sobre O que é Educação Física. Tenho observado o surgimento de 'escolinhas de esportes', em especial, a proliferação das de futebol; é a falencia da educação física escolar, do esporte escolar, em detrimento das aulas formais? ou apenas uma esperança de melhoria de vida, através da profissionalização, jogador de futebol, dado os grandes salários - de uns poucos - e a repercussão das mídias? Entregar-se a esse jogo perverso do mercado, exigindo pouco salário por muito trabalho, em escolinhas e academias, mata a profissão. Quem estuda muito, se prepara, sabe falar, escrever, não se submete a salário de fome. Não tem emprego para quase ninguém nos clubes profissionais de futebol e outros esportes. Isso é uma ilusão. O maior empregador é a escola. Tem muito mais empregos como professores em escolas que em clubes e escolinhas. Só que as faculdades trabalham com conhecimentos rasteiros, os alunos sequer aprendem a ler e escrever direito, porque não se exige leituras, não se exige discursos, não se exige reflexões. Os CREFs deveriam se preocupar mais com essa qualificação, isso deveria ser preocupante. Se o CONFEF preza tanto o mercado de trabalho, deveria se preocupar com a qualificação dos professores. E a produção? mais fácil o debate 'ao vivo' através das midias eletronicas, do que a produção de livros? ainda teremos livros dedicados? essa é a tendencia? Embora estejamos vivendo problemas sérios com edição de livros, ficamos sabendo na pandemia que o mercado de livros melhorou, os brasileiros estão lendo mais. Porém, temos que sair fora da armadilha da CAPES e algumas Universidades, que só valorizam papers que ninguém lê. Conhecimento tem que ser divulgado e não ser encerrado, engessado. Já conversei com avaliador da CAPES que mal sabia o que era EF. Eu estou produzindo muito em outras mídias (vídeos, textos, gravações etc.). Como voce vê o futuro de nossa profissão? afinal, formamo-nos 'professores'... Uma coisa é eu ver o futuro da profissão, outra coisa é ele acontecer. Acho que eu gastaria algumas páginas para escrever o que vislumbro para a EF. Teríamos que romper com uma filosofia, essa que separa corpo e mente, matéria e espírito. Isso é uma armadilha. Somos uma coisa só, uma criatura que manifesta a vida. Não há corpo ou mente, há criaturas vivas que somos nós, que são as amebas, que são os morcegos e assim por diante. A Educação Física foi inventada para cuidar da saúde, da higiene e da disciplina do corpo das pessoas. Ela deveria fazer isso enquanto as outras disciplinas, em sala de aula, cuidariam das pessoas. Está errado, falso. Não cuidados do corpo das pessoas, cuidamos das pessoas, temos que aprender isso. É mais que cuidar da saúde, é cuidar da vida, é mais que ensinar a ter saúde, é ensinar a viver. Valeu a pena? Não foi uma pena, foi um privilégio!



A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM LAÉRCIO ELIAS PEREIRA

Laercio Elias Pereira Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV Nascido há (muito)mais de meio século em São Caetano do Sul - SP, onde se formou no SENAI e trabalhou como metalúrgico como quase todo mundo lá, veio pra vida a passeio - e não em viagem de negócios. Vive em Maceió. Cursou Educação Física na EEFE-USP, depois de um vestibular em Sociologia. Foi professor de Educação Física do Ginásio Vocacional de São Caetano, da Escola Anne Sulivan (para surdoscegos) e SENAI. Atuou na rede de ensino de São Paulo. Foi treinador de Handebol do General Motors, São Caetano, Seleção Paulista Feminina (Vice campeã brasileira), e Seleção do Maranhão (Campeã brasileira adulta). Foi preparador físico da seleção brasileira masculina na Copa Latina dsputada na Romênia. Trabalhou em várias universidades (São Caetano, Federal do Maranhão, Federal da Paraíba, Estadual de Mossoró, Federal de Minas Gerais , Católica de Brasília, Estadual de Santa Catarina, Fac. Serra Gaucha, FMU, Muzambinho, UAB/UPE, Unicamp...) e foi assessor do Ministério da Educação. Atualmente dirige o Centro Esportivo Virtual, é da comissão do CBCE-Alagoas, membro do Conselho da SBPC-Maranhão. Foi pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Projeto Diagnóstico Nacional do Esporte-DIESPORTE) e da Universidade Federal do Paraná-Ministério do Esporte no Projeto Inteligência Esportiva. Gostou de ter escrito o conto curto Parábola da Aula Final, participado do Juca Entrevista da ESPN; ter sido secretário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SEC/MA (atualmente é Conselheiro); co-fundador do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE; (Vice-Presidente de Educação 79-81; Presidente-Eleito 83-85 e Presidente 85-87. É um dos criadores do Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Esportiva (SIBRADID), do Conselho Federal de Educação Física - CONFEF, tendo sido Conselheiro Federal de 1998 a 2002, e da Confederação Brasileira de Handebol. Fez mestrado na EEFEEUSP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV). Atualmente é assessor do AgitaSP e membro do conselho técnico do eMuseu Nacional do Esporte.

25 anos de CEV, mais de 40 de 'jornalismo esportivo'. O que mudou? Ficou mais consistente, Alguns bons jornalistas esportivos contextualizam as noticia. Os exemplos são os clássicos mestres Juca Kfouri, José Trajano, José Cruz, Roberto Torero, Tostão.. e o despontar da nova geração como o Breiller Pires, que começou na Placar e hoje trabalha no El País. A vocação primeira foi o jornalismo, depois, a educação física... qual a importância da Esporte& Educação, e a coluna rumorismo?


Acho que foi tudo junto. Não cheguei a ser jornalista. O Mestre José Marques de Melo, que criou a Intercom (na época em que criamos o CBCE), e depois participou do curso de jornalismo esportivo que está na origem do CEV, no LABJOR, quando diretor da ECA USP - onde comecei o doutorado em Ciência da Informação que desembocou no CEV - tinha a proposta de criar na ECA o curso de Editor. Não teve o curso, mas eu me acho mais um aspirante a editor. Chego nem perto de ser jornalista. Ah! O Rumorismo começou na revista Esporte e Lazer, feita na APEF São Paulo. Como eu fazia artigos e traduções, e depois fui editor, arranjei outro nome pra autoria do Rumorismo. O Rumorismo foi publicado na Corpo e Movimento e tb no Jornal Pequeno, do Maranhão. Descobri por acaso que o antigo verbo larecer significava também "vagabundear com palavras". Tudo a ver: Larécio. Como foi o processo de mudança de profissão? e de mudança de locais de exercício? As minhas mudanças de profissão foram: 1. Ajustador Mecânico (GM); 2 Ferramenteiro (GM e Ford) 3. Vendedor de enciclopédia 4. Professor de Educação Física: Ginásio Vocacional, Rede pública de São Paulo, SENAI (Mogi das Cruzes e São Caetano), e escolas de EF: FEC-ABC, Mossoró-RN, UFMA, UF Paraiba, UFMG, UNICAMP, MUZANBINHO, UDESC, Serra Gaúcha, Católica de Brasilia, USCS, FMU-SP, UPE... e projetos na UE Montes Claros(MG), UFBA (Diagnóstico Nacional do Esporte e UFPR (Projeto Inteligência Esportiva). Hoje não estou na UFRJ, mas palpito no Museu do Esporte, acompanhando o Prof Lamartine Pereira da Costa. Ah! E o Centro Esportivo Virtual - CEV, há 25 anos rs. Cconsidero que o surgimento de CEV se de deu naquele "decálogo" elaborado lá na São Geraldo, e um deles se referia à documentação esportiva... SIM, todas as nossas conversas sobre documentação desde aquele tempo, a criação do CEDEFL na Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão, o seu mestrado em Ciência da Informação na UFMG, meu doutorado que começou na Ciência da Informação na ECA e eu consegui matar na Unicamp... deram o caldo de cultura e a efetivação para o CEV. Claro, além da participação de inumeráveis amigas e amigos nesses 25 anos. Como foi ser um dos editores da Desportos & Lazer? Já consegui publicar quase todos os 9 números no CEV. O sindicato dos jornalistas do Maranhão não queria me ver no expediente por falta de diploma. Quem coordenava tudo era o Jornalista Sebastião Jorge. A gente fazia o braçal.

O processo de criação do Boletefe? UFMA, depois UFMG? Boa lembrança!. Isso foi um costume que eu sempre tinha onde trabalhava. Um jornalzinho que era pregado nos quadros de aviso e, especialmente na sala do café dos professores & funcionários. No MEC, na FEF-Unicamp em duas ocasiões, quando fui professor - 86 a 89 e quando voltei aposentado como estudante do doutorado, 94 a 98. Acho que foram mais de 100 números. Teve na EF UFMA (educAÇÃO Física), ESEF Muzambinho, UDESC (JornalEF), FMU, no Mestrado da USP (Posologia e Regra-Três), na diretoria do CBCE (Pensando Alto) na SEED MEC. Acho o que mais repercutiu foi o da EEFFTO-UFMG, Pereba. Foi rasgado por um ex-diretor que esteve no Brasil Nunca Mais, virou nome de chapa pro CA (vencedora). Fizeram uma festa inesquecível quando eu sai (foi patrono de turma nos dois anos que estive lá) O que aconteceu com o SIBRADID? como foi a sua constituição, evolução, e desaparecimento?


Quando o Bruno Silveira assumiu a SEED-MEC (O primeiro civil no cargo. Já era o governo Tancredo-Sarney) fizemos uma entrevista com ele em São Paulo pra Corpo & Movimento, da APEF São Paulo. Comecei a dar palpites e ele perguntou se eu topava tentar fazer. Fui pra Brasilia. Como ainda tinha muitos funcionários do regime anterior o Bruno reuniu todos (eu era Assessor) e listou os principais problema do Brasil em EF&Esporte. Chegamos a 16. Eu fiquei com Criança e Documentação & Informação. O Criança logo ficou com a Profa Clotildes, que já vinha trabalhando com criança na ginástica. A bibliotecária da EEFFTOUFMG Maria Licia Bastos tinha criado o CEDOC e era do comitê executivo da IASI. Montamos um grupo e foi criado o SIBRADID, com sede na UFMG, que teve um grande computador, distribuiu 13 computadores e impressoras pra treze polos (um luxo na época), e foi fechado em 2011, depois de algumas tentativas de reanimação. Educação física e esportiva, hoje? o que está acontecendo? Vamos saber só no século 21, que começa depois da pandemia. O que acontece com a documentação esportiva, hoje, após os 30 anos daquele simpoósio na UNICAMP? Bem lembrado. Primeiro Simpósio Brasileiro de Informática em EF&Esporte. Evento final da minha gestão como presidente do CBCE em parceria com a Unicamp. 1987. Temos os anais em vídeos no CEV. Fizemos um evento pra comemorar os 30 anos em 2017: Info30. Vc participou dos dois.

A educação física escolar, os esportes, têm futuro? qual seria a atuação desses profissionais/professores pós-pandemia? Quando estive no começo da Escola do Futuro (ECA USP), fim da década de 80, vinha muito professor estrangeiro pro pós-doutorado. Quando eles encontravam o professor de EF no grupo diziam (todos): Se a escola sobreviver , ou o que sobreviver da escola no século 21, a Educação Física já está lá. A explicação é longa e dá tema pra outro encontro.

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A VISTA DO MEU PONTO: ENTREVISTA COM LINO CASTELLANI FILHO

http://lattes.cnpq.br/9594368005634895

História que não se conta - temos História? Claro que sim! Não há hipótese de ser diferente. A EF é invenção dos Homens (seres sociais), logo construção histórica. Em sendo construção histórica, só a história a explica. Que crise é esta? novamente estamos vivendo uma crise... dá para comentar? Não vejo crise na EF. Entendo que ela vai bem. Nunca tivemos alternativas de trabalho pedagógico como nos atuais tempos. O que temos é uma política educacional avessa ao campo das Humanidades, lugar que a EF passou a ocupar - de forma mais consciente - a partir do denominado "Movimento Renovador" lá da década de 1980. A Educação Escolar, inerente à essa Política Educacional não valoriza sua presença no âmbito da Educação Básica, da mesma forma que não valoriza as ciências sociais e humanas, as artes, a filosofia. Advogam uma formação acrítica voltada à inserção subalterna dos futuros trabalhadores no mercado de trabalho, submisso aos interesses do primeiro mundo, do capitalismo central, em uma lógica geopolítica reforçadora do nosso lugar de país subdesenvolvido, de capitalismo periférico. O que está acontecendo com a educação física? acabou? Como aponto acima, digo que não só não acabou como nunca teve tantas opções pedagógicas para subsidiar sua ação pedagógica. O que vem ocorrendo é um esforço deste governo de acabar com a educação pública - vide seu sucateamento, as péssimas condições de trabalho nelas presentes, a indecente remuneração dos trabalhadores da educação -, e com tudo mais que não se vincule ao objetivo de mostrar ao mundo, que existe aqui mão-de-obra barata, semi-qualificada, incapaz de desenvolver tecnologia, e minimamente capaz de manipular tecnologia importada do 1º mundo, portanto, pronta a atender ao mercado globalizado. Por sua vez, tal concepção de política educacional minimiza a necessidade de políticas públicas, que permitam aos professores acesso ao debate acerca do processo de conhecimento presente na nossa área acadêmica, inibindo a interlocução entre os que estão no cotidiano escolar e os que formam esses professores, como também dificultando o acesso ao próprio conhecimento produzido, o que conduz à reprodução de práticas pedagógicas já sedimentadas entre eles pelo tempo. Como se sente, sendo 'o pai do Rafael'? o mininu cresceu...


Rsrs, Rafael é motivo de orgulho. Soube lidar com minha presença na área, jamais se sentindo intimidado por ela. Amadurece a cada momento, com autonomia intelectual para buscar suas referências teóricas e espaços de intervenção, não abrindo mão de postura crítica diante dos descalabros presentes em nosso país. Faz parte de nova geração que busca seu espaço profissional sem desconsiderar o papel daqueles que vieram antes dele, respeitando-os e... seguindo em frente. Meus netos só 'fazem' aulas de educação física virtual: pesquisa tipo copiar e colar e o professor acha que está bem. Para a atividade física, uma experiência com um esporte, só pagando por fora, nas famigeradas 'escolinhas', terceirizadas... de quem é a responsabilidade, para não dizer culpa? Sinto pelos seus netos Léo, mas não devemos perder de vista que nem todas experiências particulares são passíveis de serem universalizadas. A EF possui, hoje, teorias permissionárias de práticas pedagógicas bastante qualificadas. Certamente a escola que frequentam não está atenta e/ou interessada a permitir as condições necessárias para que seu corpo docente se aproprie desses referenciais teórico/pedagógicos, de modo a fazer com que ali fiquem o fazer pedagógico sob responsabilidade deles. Um secretário de esportes e lazer, municipal, que afirma, em entrevista, que nunca praticou esportes - nem gosta! -; dá para ter-se uma política de governo, desse jeito? Rsrs, Não ter praticado esporte e não gostar, não são pontos a favor dele, mas não são suficientes para que digamos que, por si só, esteja inviabilizada a existência de política esportiva na "ilha Rebelde". Se for inteligente, se cercará de pessoal com expertise no assunto, permitindo a eles a elaboração e execução da política pública, chamando para si a tarefa de garantir as condições necessárias para que isso aconteça. O compromisso de um prefeito em nomear um secretário de esportes em acordo com a comunidade esportiva de sua cidade, e após o resultado da eleição, nomeia outro, e a tal comunidade se rebela, não aceita e cria uma liga esportiva escolar e apresentam planos e projetos para desenvolvimento do esporte regional, sem a participação nos eventos oficiais, ligados à Prefeitura... funcionaria? Não sei dizer. Gosto da ideia de ações que independam do poder público, mas entendo que elas devam existir junto à estratégia de disputar o fundo público destinado às políticas desse setor. Fazer pressão para a substituição desse político no cargo de secretário, ao lado de demonstrar o entendimento de que recurso público não pertence a este ou aquele governo, mas sim & agrave; população e a seus interesses públicos, é o melhor a ser feito, no meu entender. Vê-se, nestes tempos de novas administrações, a quantidade de escolinha de esportes, 99% de futebol... a que se deve isso? falência da escola em ofertar uma educação física e esportiva, ou a população pensa que o caminho para o sucesso é ser jogador profissional e assinar com um grande time... Nem uma coisa nem outra, ou tudo isso, misturado, rsrs... Escolinhas de Esporte, se organizadas por uma secretaria de esporte, são bem vindas desde que a) a política esportiva não seja limitada a elas; b) que haja pluralidade de modalidades esportivas contempladas por elas, seja tendo como horizonte o nosso acervo cultural esportivo ou, melhor ainda, sua ampliação; e c) estejam voltadas para o atendimento do preceito constitucional que estabelece a educação, o esporte e o lazer como direitos sociais. Tudo isso combinado com a comunidade dos lugares onde elas serão implantadas. Isso acontecendo, permitiria à Escola ( e à EF escolar) dar conta de seu papel no processo de escolarização do estudante, e não "correia" dos interesses da instituição esportiva no espaço escolar... No pertinente à EF, obviamente ela não pode se limitar ao conteúdo "Esporte" e, em relação a ele, à sua prática, ao mero "fazer esportivo". Por sua vez, Léo, em país com


concentração de renda e desigualdade social absurdos, com política trabalhista reforçadora da precarização do trabalho e da vida do trabalhador, ter a expectativa (ingênua, romantizada, difundida e reforçada pela mídia) de ser possível ascender socialmente através da profissionalizaç&atil de;o esportiva, não deveria ser motivo de surpresa. A profissão 'educação física', nas suas duas vertentes: licenciado e bacharel, ainda existe? é necessária? Léo, o assunto é polêmico, e vem chamando atenção de nossa área já há um bom tempo. Dados recentes (INEP, 2017) dizem existir no Brasil, 1318 cursos superiores de EF, dispersos em suas distintas formas organizativas (universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades isoladas e Institutos de educação tecnológica). Esses mesmos dados mostram o crescimento dos bacharelados, se comparado a dados de 2008 do mesmo INEP. Particularmente, entendo que a configuração de dois cursos potencializou a qualificação da formação do licenciando, como também a dos bacharéis em suas distintas vertentes (treinamento esportivo, saúde, lazer, gestão esportiva...). Não obstante, não possuímos estudos de larga escala para sabermos se aquilo potencialmente posto, se materializou. Em relação à Diretriz Curricular de dezembro 2018, entendo-a como retrocesso, mas ainda sem inferir mudanças nos cursos por conta do período apocalíptico que vivemos desde o golpe ao estado democrático de direito, somado à pandemia sanitária mundial, aqui reforçadora da necropolítica, tão a gosto de Bolsonaro e seus aceclas. Valeu a pena? afinal, são mais de 45 anos de uma trajetória aqui no Maranhão, e ainda se mantém 'influencer'... Valeu não, Léo, está valendo!, rsrs. Não abro mão de nada que vivi. Mesmo as experiências "ruins", mesmo os equívocos" praticados, tudo faz parte de minha história, e não abro mão dela. Como diz Paulinho da Viola, "não vivo do passado; o passado vive em mim...". Ainda que tenha encerrado meu ciclo de trabalho junto à Unicamp, longe estou da intenção de "recolher-me aos aposentos" (sentido da palavra "aposentadoria"). Continuo atento e atuante em nosso campo de intervenção profissional, fazendo o que gosto: lendo, estudando, escrevendo, publicando, dando pareceres, participando em eventos acadêmicos e pol&iacut e;ticos (em 2020 perdi a conta das "lives" das quais participei de forma protagônica...), participando do esforço coletivo de organização do CBCE e, mais do que nunca, na luta pela recuperação da democracia brasileira, tão agredida e aviltada por este governo de extrema direita, retrógrado e reacionário.



NA CAPOEIRA, QUEM EXERÇA FUNÇÃO DE REPASSAR SABERES, OFÍCIOS E FAZERES, SE IMPÕE QUE A EXERÇAMOS COM RESPONSABILIDADE CIDADÃ!

MARCO AURÉLIO HAIKEL Ao contrário de outrora, hoje, em uma Roda é comum a presença de crianças e pessoas idosas, por isso, a importância de fazermos uso de seu imenso manancial pedagógico. Há que se primar pela a musicalidade como forma que sobressair a arte e o lúdico, habilidades essenciais de nossa Arte Guerreira, aonde a luta, ao ser despertada, se manifesta pelo bom combate, de maneira que assim a violência muito dificilmente prevalecerá. A ausência de violência, não significa jogos de compadre e nem de comadre, apenas que por meio da arte, a dança e o lúdico dão o tom e a integridade física e moral são preservadas. Esse é o desafio que nos impõe aonde ao se priorizar a vida se aperfeiçoa o corpo, a mente e o espírito. Não se engane quem considere que de tal forma a força, velocidade e potência não se manifestará, mas na Roda, tão somente como arte. Já como sobrevivência é outra coisa, o termo por si já diz tudo. E isto não é na Roda! Em se tratando de sobrevivência, "quem não queira ver estrela que não olhe para o céu", pois "malandro que marca bobeira dá com aracanga no arêrê". Se antes capoeiras aprimoravam suas habilidades de luta para as Rodas, hoje é momento de superação de vaidades pessoais e fazer com que a Roda se encante por meio do jogo, da brincadeira, da criatividade e da arte. Mestre Patinho em sua constante busca de aperfeiçoamento afirmava que finalizar era fácil, bastava que dissociasse o lúdico e a arte da luta, pois uma vez aguçada, o capoeira fica feroz e perigoso. Em uma Roda aonde a violência se faz presente, ausentes estarão a empatia, a alegria e o equilíbrio. Nossos antepassados, os suplícios sofridos, não os impediu que nos legassem essa maravilha temida pelos opressores, mas para chegar até os dias de hoje foi por meio do toque da cavalaria para avisar da intromissão de pessoas alheias e assim deu-se ensejo para o aperfeiçoamento da arte e ludicidade. A nossa geração tem um grande desafio, o de manter a integridade da nossa Arte Guerreira, de maneira a preservá-la de elementos externos aos seus princípios, o que não quer dizer que a cada geração não acrescente seu ponto, mas como sabiamente cunhou o Mestre Patinho, "inserir o novo no velho sem molestar raízes". Os capoeiras, se não foram os únicos, certamente foram preponderantes na interação das mais diversas manifestações da cultura popular brasileira, pois estavam entre mestres-salas; passistas de frevo; dançarinos; sambistas; ogans; batuqueiros, e na nossa terra, caboclos de pena; boieiros; miolos de boi etc. A história do futebol relata que os primeiros jogadores pretos para evitar o choque entre jogadores brancos, pois tinham que se submeter a ficarem parados e o jogador que levou a falta aplicassem sem bola um chute no jogador preto, no mesmo local aonde este no contato sofrera um trauma no


jogo. Daí deu-se início às fintas, aos dribles e à lateralidade como se caracterizou o nosso futebol fugindo ao estrito conceito de "tiro de meta". Há quem diga que Leônidas da Silva, se não era ele próprio um capoeira foi entre esses que ele se inspirara para trazer à luz no campo o que iria se eternizar, "a bicicleta"! Tudo isso foi feito com arte, para se livrar da violência, não sendo à toa que a Capoeira ganha o mundo e se torna uma Arte que a cada dia mais encanta o mundo e se sobressai como uma das maiores propagadoras da linguagem do povo Brasileiro. Por isso não creio no uso da violência nas Rodas. Nesta deve prevalecer princípios como a ética, o equilíbrio, a solidariedade, entre outros que bem demonstram sabedoria. É preciso que tenhamos em mente que a Roda gira. Por isso, nem todo dia estamos inspirados e se caímos que tenhamos a condição de poder nos levantar, pois sendo os/as capoeiras a maioria da gente do povo, no dia seguinte precisamos está aptos ao trabalho. Atualmente parece vivermos à semelhança de Roma no período áureo dos gladiadores, pois na febre do vale-tudo, o mercado é quem dita e a falta de sabedoria de lideranças leva a se acreditar que as Rodas de Capoeira são octógonos, quando não são. São espaços sagrados de uma Arte Guerreira, aonde se aprimoram crianças, mulheres e homens. O Brasil sendo um país jovem, suas raízes culturais, na medida em que sofrem massiva intervenção de uma mídia voraz, quem depositária de saberes e ofícios, a Velha Guarda, esta está deixando de ser prestigiada, pois acredita-se que por seus membros não mais realizarem exímios movimentos nada vão acrescentar aos mais novos. Ledo engano! O distanciamento dela quebra nossos laços com os ancestrais. E isso é perigoso, sobretudo, quando fora nos damos conta de quão ricos somos enquanto povo detentor de uma vasta cultura popular como poucos povos, pois somos um povo eminentemente musical. Não atentar à guardiã dos saberes, fazeres e ofícios corre-se o risco de perder a identidade e o sentimento de pertencimento. Já não é mais possível mantermos nossa autoestima baixa, pois isso permite à quem de dentro e de fora vir com discursos de que a Capoeira não é uma arte brasileira. Tenho a honra de dizer que tive um verdadeiro Mestre, cuja grandeza e genialidade me fez perceber a importância da ginga do caboclo de pena; dos volteios do miolo do boi; da tomada de centro da punga dos homens, enfim, das riquezas e peculiaridades de nossa terra. As injustiças causadas por séculos contra o povo Brasileiro, primeiro, por autoridades do Reino de Portugal, depois perpetuada pelo Estado Brasileiro, ao reconhecer e incentivar a escravidão de uma etnia sobre as duas outras formadoras de seu povo é um malefício que repercute até os tempos atuais tendo a violência como suprasumo de um racismo institucional vigente. É isso que queremos!? Para quem acha que isso é necessário faz tão somente o jogo dos poderosos, que precisam fomentar a violência para se intrometer, manobrar e oprimir. Se a violência oprime, a arte liberta! Ressalto que ao me manifestar contrário à violência, não estou a negar a força e capacidade de resistência e resiliência da Capoeira, pois essa é sua história e assim deve ser, no que uma e outras são valores nitidamente diversos. A Capoeira tem como fontes maiores e mais pujantes, as periferias, os bairros populares, os quilombos e redutos aonde se encontra a fina flor do povo Brasileiro. Não é lá fora e nem entre as elites que está o ouro é aqui dentro, e no seu âmago! Que não nos esqueçamos disso, capoeiras! Arte-dança-criatividade/esporte-jogo-lúdico/resistência-resiliência-sobrevivência-luta, a sincronia desses e tantos outros elementos é que requer se fazerem presentes nas Rodas da Capoeira, e não, a violência!


Nesse contexto, o tempo que é um senhor mestre, me curou o suficiente para fazer leituras, no que ao reconhecer por onde ronda a violência, embora tenha sido forjado para lidar com intempéries, não vou em toda função.


5 LENDAS INESQUECÍVEIS DO FUTEBOL PORTUGUÊS IN PORTAL DO FOLCLORE PORTUGUES Os portugueses levam o futebol nas veias, milhares de lusos seguem as transmissões das competições de suas equipes de futebol favoritos. Este fervor tradicional tem sido transmitido de geração em geração, motivando muitos a jogar desde muito jovens para se tornarem grandes estrelas da seleção nacional. E assim tem sido ao longo da história, com o tempo surgiram grandes futebolistas capazes de mobilizar multidões aos estádios entrando no ranking como melhores futebolistas do planeta, por outro lado os adeptos se animam a apostar na Betway apostas desportivas em seus jogadores favoritos. Estas são as 5 grandes lendas portuguesas que deixaram uma herança futebolística indelével na história do esporte rei. O grande Cristão Ronaldo Cristiano Ronaldo é considerado uma eminência do futebol europeu, sua atuação não passa despercebida no cenário esportivo. Com sua força avassaladora conseguiu romper marcas importantes no campo de jogo. Sobram-lhe habilidades e se posiciona como um dos melhores jogadores ativos do momento. A seleção portuguesa espera que o seu capitão consiga todas as vitórias e ganhe a próxima Copa do Mundo de Futebol 2022, o troféu mais importante a nível de seleções. Mas além de protagonizar os melhores encontros com a equipe nacional tornou-se um astro imbatível no Real Madri e continua brindando um excelente espetáculo a sua passagem pela Juventus de Turim. Em toda a sua carreira profissional conseguiu obter títulos, ligas, Champions e muitos outros palmarés colectivos e individuais. O capitão CR7 deixou um legado valioso e é o único que continua ativo e em boas condições físicas para continuar somando prêmios, sem dúvida o melhor jogador português de todos os tempos. Eusébio, a Pérola Negra Eusébio foi uma das figuras mais proeminentes do esporte português de acordo com publicações da FIFA, antes da chegada de Cristiano Ronaldo. A Pérola Negra portuguesa tornou-se um ícone indiscutível do futebol para os adeptos do futebol em Portugal e em todo o mundo. Por seu excelente desempenho em sua seleção e no Benfica passou a integrar a lista dos melhores jogadores do século XX. Paulo Futre Paulo Futre foi uma divindade para os adeptos do Atlético de Madrid, embora também militou em outras equipas. Foi condecorado duas vezes com a distinção de melhor jogador da liga nacional e recebeu a “Bola de Prata” como melhor jogador da Europa. Em seu repertório destaca-se uma Copa da Europa, 2 ligas, 2 Supercopas e uma Copa em Portugal, 2 Copas do Rei e uma Liga italiana, eventos disponíveis na seleção de apostas da Betway, marca líder em apostas esportivas. Luís Figo Figo integrou com sucesso as fileiras do Barcelona e do Real Madrid, duas equipes poderosas da Liga Santander, além do Inter de Milão, clubes nos quais se consolidou como um dos melhores jogadores da Europa. Pôde competir em países europeus como Portugal, Itália e Espanha e conquistar 7 ligas, 4 Copas e 3 Supercopas nacionais, 2 Supercopas da Europa, uma Recopa, uma Champions e uma Intercontinental. Com a camiseta de Portugal alçou-se com troféus juvenis, entre estes um Europeu sub-16 e um Mundial sub-20. Na sua galeria individual tem uma Bola de Ouro e está na lista FIFA dos 100 melhores futebolistas.


Rui Costa Junto com Figo, o “Mestre” Rui Costa completa o quadro de grandes jogadores da chamada Geração de Ouro portuguesa, figuras emblemáticas e esperançosas do inesquecível Mundial sub20. A participação da Costa foi definitiva naquele encontro com o Brasil para ganhar em pênaltis a preciosa copa do mundo juvenil. Também integra o ranking de 100 melhores jogadores FIFA.


HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO


RAMSSÉS DE SOUSA SILVA:

FAMÍLIA SAULNIER DE PIERRELEVÉE

Dr. Affonso Saulnier de Pierrelevée: * Ele nasceu em 07 de dezembro de 1832 e faleceu 31 de janeiro de 1909 aos 77 anos de idade. Ele era formado em: Letras 1848 Universidade de Paris Sorbonne Ciências Físicas e Naturais 1850 Universidade de Paris Sorbonne Medicina 1854 Universidade de Paris Sorbonne. * O Doutor Affonso Saulnier foi o Primeiro médico cirurgião do tradicional Hospital Português de São Luís Maranhão. * Foi também médico cirurgião fundador da Santa Casa de Misericórdia. * Foi o primeiro médico cirurgião do Maranhão e um dos primeiros do nordeste a implantar uma prótese em membro inferior (perna) em uma escrava de sua


propriedade. * Era Lente da Cadeira de História Natural do Colégio Lyceu Maranhense * Ele casou-se em 29 de novembro de 1857 com a senhora Izabel Maria Bruce Barradas. * Foi membro da Junta Governativa do Estado do Maranhão encabeçada pelo Comendador Joaquim Teixeira Vieira Belfort juntamente com o Doutor Antônio Henriques Leal. * Era Pai do Dr. Eduardo Carlos Saulnier de Pierrelevée * Era Pai da Senhora Clarisse Judit Saulnier de Magalhães Braga, que se casou na Igreja do Carmo em 26 de dezembro de 1881 com o Desembargador Sebastião José de Magalhães Braga * Era Avô de Bertha Braga Estrella esposa do Coronel Benedicto Estrella, Alice, Isabel Saulnier Braga Belfort esposa do Capitão Heitor Basileu Belfort, Clarisse e Carmem Braga * Em 1881 o Dr. Affonso Saulnier de Pierrelevée foi agraciado pelo Governo Português com a Real Ordem Militar de N. S. Jesus Christo. Locais Onde Morou Dr. Affonso em São Luis 1860 - Rua da Cruz nº 29 1863- Lago do Carmo- 10 1866 - Rua Formoza -17 1866- Lago do Carmo- 09 1869- Praça do Palácio- 24 1874- Praça do Palácio- 02 Praça da Misericórdia Já Foi Dr. Afonso: Essa praça que fica situada entre as ruas de Santa e Rita e do Norte, fronteira com o Hospital de Santa Casa da Misericórdia, teve diversas denominações. Em 1894, uma resolução da Câmara Municipal datada de 08 de outubro, a designava Praça Conselheiro Silva Maya. Antes o povo a conhecia por Lago do Hospital da Misericórdia. Em 1903, pela resolução nº 19, de 23 de maio, chamou-se de Praça da Caridade. Depois, Praça 1º de março e ainda praça Dr. Affonso Saulnier, em alusão ao médico descendente de tradicional família francesa, Dr. Affonso Saulnier de Pierrelevée. https://www.france-voyage.com/cidades-vilarejos/les-sables-d-olonne-34075/castelo-pierre-levee12836.htm?fbclid=IwAR0sAXhoL_kspPVclb0_D0nc9coYDewXPxtmDgrB1WNMyfxL27vM0w t07QM


“ARCHIDIOECESIS SANCTI LUDOVICI IN MARAGNANO”: ANOTAÇÕES PARA O SEU CENTENÁRIO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA. MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

DELZUITE DANTAS BRITO VAZ C.E.M. LICEU MARANHENSE LICENCIADA EM ESTUDOS SOCIAIS LICENCIADA EM HISTÓRIA ESPECIALISTA EM METODOLOGIA DO ENSINO

PARTE 2 ANTECEDENTES Em outubro de 1535 saiu do Tejo1 para o Maranhão a armada comandada por Aires da Cunha2, em cuja companhia vinham os dois filhos de João de Barros3: Jeronimo e João. Eram mas de 900 homens, com artilharia e 113 cavalos, em cinco naus e cinco caravelas. Sabe-se que teriam alcançado o golfão maranhense aí por março de 1536. Meireles (1977) 4 pergunta-se em como admitir que na expedição de Aires da Cunha não viessem sacerdotes? Está convicto que sim, de que a Igreja terá estado presente na expedição, mas não se sabe até hoje quem seria esse primeiro mártir - se um único – que ou pereceu no naufrágio da nau capitania ou se inclui no número dos setecentos que não lograram sobreviver à aventura e regressar o Reino. 1 O rio Tejo (em castelhano Tajo, aragonês Tacho) é o rio mais extenso da Península Ibérica. A sua bacia hidrográfica é a terceira mais extensa na Península, atrás do rio Douro e do rio Ebro. Nasce em Espanha - onde é conhecido como Tajo - a 1 593 m de altitude na serra de Albarracim, e após um percurso de cerca de 1 007 km, desagua no oceano Atlântico formando um estuário em Lisboa. A sua bacia hidrográfica é de 80 600 km² (55 750 km² em Espanha e 24 850 km² em Portugal), sendo a segunda mais importante da Península Ibérica depois da do rio Ebro. Nas suas margens ficam localidades espanholas como Toledo, Aranjuez e Talavera de la Reina, e portuguesas como Abrantes, Santarém, Salvaterra de Magos, Vila Franca de Xira, Alverca do Ribatejo, Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria, Sacavém, Alcochete, Montijo, Moita, Barreiro, Seixal, Almada e Lisboa. Do estuário do Tejo partiram as naus e as caravelas dos descobrimentos portugueses. A onda que assolou Portugal no dia do terramoto de 1755 subiu o rio e inundou Lisboa e outras localidades na margem. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Tejo 2 Aires da Cunha (Portugal, ? — litoral maranhense, 1536) foi um capitão donatário do Brasil. Tendo recebido de João III de Portugal em 1535 a Capitania do Maranhão, associou-se a Fernando Álvares de Andrade e João de Barros, que organizaram uma expedição para colonizar a região norte do Brasil. Em novembro de 1535 a expedição aportou na Capitania de Pernambuco, onde recebeu auxílio de Duarte da Costa. Rumando para o norte, para a costa do Maranhão, um violento temporal fez naufragar a embarcação, perecendo a maior parte de seus integrantes. https://pt.wikipedia.org/wiki/Aires_da_Cunha 3 João de Barros, chamado o Grande ou o Tito Lívio Português, (Viseu, c. 1496 — Pombal, Ribeira de Alitém, 20 de Outubro de 1570) é geralmente considerado o primeiro grande historiador português e pioneiro da gramática da língua portuguesa, tendo escrito a segunda obra a normatizar a língua, tal como falada em seu tempo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Barros 4 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUIS DO ARANÃO. São Luis: SIOGE/EDUFMAA, 1977


O início da evangelização do Maranhão se dá com a notícia da presença de um Padre jesuíta na então Miganville – feitoria de Jacques Riffault e Charles DesVaux estabelecida em 1594 na Ilha Grande do Maranhão, mais precisamente junto à Aldeia de Uçaguaba, depois Aldeia da Doutrina -, e que viria ser o núcleo habitacional que deu início ao projeto de colonização da França Equinocial. Renôr (2015) 5 servindo-se de Willeke (1978) 6 registra a presença de frades franciscanos entre 1600 e 1615: missionários volantes que estrearam no Maranhão: “o irmão Frei Francisco do Rosário, catequista volante e um sacerdote franciscano cujo nome se ignora, foram os dois estreantes da evangelização do Maranhão por volta de 1600, talvez, vindos da Paraíba pelo litoral”.

FORTE DO SARDINHA, QUE PROTEGIA MIGANVILLE Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) 7 traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; á esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil (PROVENÇAL, 2012) 8. Em 1607, houve uma nova tentativa de se chegar ao Maranhão, desta vez com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado. 5

CARVALHO, João Renôr Ferreira de. A IGREJA CATÓLICA NO NORTE DO BRASIL NOS SÉCULOS XVII E XVIII (Franciscanos, Jesuítas e Clero Secular). Teresina: UDUFPI, 2015. 6 WILLEKE, frei Venâncio, O.E.M.. OS FRANCISCANOS NO MARANHÃO: 1600-1878. In RIHGB, volume 318 (janeiro-março, 1978). Rio de janeiro: Departamento de Imprensa nacional, 1978, p. 119-134 7 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 8 PROVENÇAL, Lucien. LES FRANÇAIS AU BRÉSIL, LA RAVARDIÈRE ET LA FRANCE ÉQUINOXIALE (1612 -1615) par Conférence du mardi 20 mars 2012. Texte intégral et illustration du conférencier mis en page par Christian Lambinet. Société Hyéroise d'Histoire et d'Archéologie


Francisco Pinto é considerado o primeiro mártir da Igreja do Maranhão, embora não tenha chegado a alcançar a terra (MEIRELES, 1977, p. 11).

Francisco da Costa Pinto, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba. Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão. No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró, juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território. Em 2 de fevereiro do 1607, celebraram a primeira missa no território do atual Estado do Ceará, na foz do Rio Jaguaribe. Durante a viagem, esteve em um aldeamento denominado como Paupina, que corresponde atualmente ao centro de Messejana. Os dois avançaram até a Chapada de Ibiapaba, chegando a habitar com os índios Tabajara. Em 11 de janeiro de 1608, foi assassinado pelos índios Tocarijus, instigados pelos franceses que mantinham contatos na região por meio da Feitoria da Ibiapaba. O martírio ocorreu, provavelmente, onde, atualmente, está localizado o Município de Carnaubal, sendo enterrado no sopé da Serra Grande. [...] investindo com furor e crueldade diabólica contra o servo de Deus, lhe deram repetidos golpes com suas "ybirassangas", que são uns paus duros, largos e compridos, na cabeça, até que lha amassaram toda e lhe deram uma morte muito cruel, aos onze de janeiro de 1608... Depois da sua morte e sepultamento recebeu a alcunha de Amanaiara (o senhor da chuva) em Tupi, entre as etnias indígenas, transformando-se assim numa entidade espiritual. Os seus restos mortais viraram amuletos para o combate à seca, sendo estes trasladados até a Parangaba pelos índios Potiguara.


Já Luís Figueira (1574 ou 1576, Almodôvar, Portugal - outubro de 1643, Ilha de Marajó (na época chamada de Ilha de Joanes), Brasil Colônia) 9, foi um padre jesuíta de destacada atuação no Brasil colonial. Foi autor de uma das primeiras gramáticas da língua tupi, a partir do contato com potiguares, tupinambás, tabajaras e caetés, denominada Arte da Língua Brasílica10, impressa pela primeira vez em 1621.

9 https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Figueira A vida de Luís Figueira foi primeiro estudada pelo historiador Serafim Leite, que publicou sua biografia e seus escritos em 1940.[2][3] Nascido em Almodôvar, no Alentejo, em data imprecisa (1574 ou 1576), Figueira entrou como noviço jesuíta no Colégio do Espírito Santo de Évora em 22 de janeiro de 1592[4], onde cursou Humanidades, Filosofia e Teologia. Ordenado padre, veio para o Brasil em 1602. Instalou-se no Colégio Jesuíta da Bahia, localizado em Salvador.[3] Segundo o cronista Jacinto de Carvalho, Figueira aprendeu a "língua dos índios" com o padre Francisco Pinto, que conheceu no Colégio de Salvador.[3]. Pouco tempos depois de sua chegada, foi escolhido para redigir a "Carta Bienal da Província", relativa aos anos de 1602 e 1603, um relatório enviado à sede da Companhia de Jesus em Roma, o que demonstra que suas qualidades literárias foram reconhecidas por seus superiores. LEITE, Serafim. Luís Figueira. A sua vida heróica e a sua obra literária. Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1940. LEITE, Serafim. Luís Figueira. A sua vida heróica e a sua obra literária. Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1940. LEITE, Serafim. Luís Figueira. A sua vida heróica e a sua obra literária. Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1940. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Figueira 10 Figueira, Luiz, 1573-1643, Arte de grammatica da lingua brasilica, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, com descarga de PDF


Em 2 de fevereiro do 1607, celebraram a primeira missa no território do atual Estado do Ceará, na foz do Rio Jaguaribe. Chegaram a uma aldeia na Chapada de Ibiapaba (atual Ceará), e dali seguiram à aldeia de Jurupariaçu, onde receberam notícias sobre a presença de franceses e índios hostis. Dali partiram para o Maranhão, mas foram atacados por índios tarairiús (tapuias), instigados pelos franceses. O padre Francisco Pinto foi morto pelos indígenas em 10 de janeiro de 1608; Luís Figueira conseguiu escapar e foi depois resgatado por outro jesuíta, Gaspar de Samperes, regressando a Pernambuco. Estes fatos são bem conhecidos pela Relação do Maranhão, escrita por Luís de Figueira em 1609, na qual são descritos em detalhe as peripécias da viagem. A análise de escritos de Luís Figueira permite concluir que ele acreditava que os jesuítas teriam o dever de converter e conservar os povos nativos contra os abusos cometidos pelos colonos, sempre ávidos em obter a todo custo a mão-de-obra dos "negros da terra". Figueira acreditava que as agressões dos portugueses contra os nativos atrapalhavam a propagação do catolicismo entre os gentios. Trata-se da crença de por meio da preservação da liberdade dos povos nativos, juntamente com a sua conversão, seria possível assegurar a expansão e a preservação da colonização portuguesa. O quadro da época é analisado por Figueira na obra Dificuldades da missão do Maranhão (1609), em que discute a extensão do território, os índios e os franceses. Em 1610, Figueira foi nomeado como Prefeito dos estudos no Colégio Jesuíta de Olinda e, entre 1612 e 1616, foi reitor daquela instituição, após esse período continuou a trabalhar no Colégio até 1619, quando foi designado como Superior da Aldeia de Nossa Senhora da Escada, onde moravam índios caetés, onde escreveu sua famosa gramática da língua tupi. Em 1621, voltou a trabalhar no Colégio, como mestre de noviços, quando foi enviado para o Estado do Maranhão. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) 11 apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente 11

PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS – os franceses na conquista do Brasil. Brasília: Alhambra; São Luís: Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, 1992


feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, MigaoVille, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011)12.

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NOBERTO DA SILVA, Antonio (Organizador). FRANÇA EQUINOCIAL – uma história de 400 anos em textos, imagens, transcrições e comentários. São Luis, 2012.


O Padre Claude D'Abbeville, quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes afirma que a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais Velho foi o primeiro núcleo residencial dos brancos, que se estabeleceram no Maranhão: a primeira a ser ocupada, foi Eussauap13. Segundo Capistrano de ABREU, “EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP14. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais15, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”.

Continuemos com Noberto Silva (2011) 16: [...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luís Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan. 13

D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 14 IN nota de pé de página em D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 15 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ Rio de Janeiro : Alhambra, 1987. 16 http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/


A PRESENÇA INDÍGENA NA ILHA DO MARANHÃO A "ilha de Maranhão" - como a chamavam os franceses -, e suas cercanias, haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada à região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 17. Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 18 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi. A hoje Vila Velha de Vinhais – a Uçaguaba dos Tupinambá - é ocupada desde tempos imemoriais: primeiro, pelos povos dos sambaquis; depois pelos Tremembés, e por ultimo, pelos Tupinambá (BANDEIRA, 2013) 19. A ocupação do hoje Vinhais Velho data de, pelo menos, 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76).

17 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S010471832004000200004 18 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S010471832004000200004 19 BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO – Arqueologia, História e Memória. São Luis: Ed. Foto Edgar Rocha, 2013.


[...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76).

A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

A presença de traficantes de pau-brasil no litoral brasileiro, remonta ao ano de 1503 e é aceito como o do início das incursões francesas na costa norte-rio-grandense e 1516 como o momento em que traficantes e corsários vindos da França agiam na Costa dos Potiguares, como era então conhecido o território habitado por aqueles silvícolas, dele fazendo parte o atual Rio Grande do Norte.


Ao descrever as migrações dos Tupinambá20, Caeté e Potiguar do litoral de Pernambuco e da Bahia para o Maranhão, Fernandes (1989), argumenta que ao fugirem dos portugueses que ocupavam estas regiões, estes grupos se aliaram e no trajeto percorrido a partir de 1570-72, ocuparam diversas áreas do interior e litoral “A composição dessas migrações é perceptível na distribuição dos emigrantes nas terras do Maranhão e do Pará, conquistadas aos Tapuias, seus antigos senhores. Os Tupinambá abandonaram a zona do Ibiapaba, e localizaram-se na Ilha do Maranhão. Os Potiguar continuaram a viver ali. Em virtude do rompimento dos laços de solidariedade, os dois grupos tribais tornaram-se inimigos designando-se reciprocamente como Tabajara.” (1989, p. 43, grifos nossos). Em virtude disso, os grupos que se fixaram na serra da Ibiapaba ficaram conhecidos nos registros históricos como Tabajara. Nesta região, viviam ainda inúmeros grupos tapuias, tais como Tacarijú, Quitaiaiú, Ocongá, Caratiú, Reriiú (Areriú), Acriú, Anacé, Aconguassu (Acoanssu), que eram de certa foram subordinados aos Tabajara. Ainda no século XVII, após as invasões holandesas, centenas de índios Potiguara da Paraíba e Pernambuco, convertidos ao calvinismo, buscaram refúgio na Ibiapaba, até então, uma área livre do controle português. No século XVIII quando os padres jesuítas conseguem finalmente instalar uma missão na serra da Ibiapaba esta vai ser composta por uma variedade de etnias indígenas, muitas vezes citadas na documentação como Tabajara (Cf. Barros, 2001). Essa população aldeada vai sendo incorporada ao projeto colonial paulatinamente, destacando-se a sua utilização como mão-de-obra agrícola e fornecimento de tropas para combater índios rebeldes e invasões estrangeiras. A associação entre o etnônimo Tabajara e as populações nativas da serra da Ibiapaba vai se costurando nesse processo, de modo que, nos séculos seguintes serão tratados em muitos textos quase como sinônimos. Com a elevação das aldeias missionárias à categoria de vilas de índios a partir de 1759, registram-se na capitania do Ceará uma grande dispersão dos índios aldeados, em virtude das novas condições de trabalho, ditadas pelos diretores civis que substituíam os padres (Porto Alegre, 1992, p. 203-208). Na Ibiapaba, as aldeias missionárias constituirão as vilas de Viçosa, São Benedito e Ibiapina, que serão registradas como lugares habitados por índios até o século seguinte (Porto Alegre, 1992; 2004). http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabajara_(Cear%C3%A1) ORIGENS DO NOME ‘MARANHÃO’ Não há só uma hipótese para a origem do nome do Estado do Maranhão. A teoria mais aceita é que Maranhão era o nome dado ao Rio Amazonas pelos nativos da região antes dos navegantes europeus chegarem ou que tenha algum relação com o Rio Marañon no Peru. Mas há outros possíveis significados como: grande mentira ou mexerico. Outra hipótese seria pelo fato do Estado conter um emaranhado de rios. Também pode significa mar grande ou mar que corre21.

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CUNHA, Manuela Carneiro da. (org.) História dos índios no Brasil, 2ª ed., São Paulo: Cia. Das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura/FAPESP, 1998 OLIVEIRA, João Pacheco de (org.). A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: Contracapa. 1999. DANTAS, Beatriz Gois (Orgs.). Documentos para a história indígena no nordeste : Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. São Paulo : USP-NHII/FAPESP, 1994. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Aldeias indígenas e povoamento no Nordeste no final do século XVIII : aspectos demográficos da "cultura do contato". (Trabalho apresentado no GT "História Indígena e do Indigenismo", no XVI Encontro Anual da ANPOCS, Caxambú-MG, 1992) 21 http://maranhaonews.com/especiais/memorial-maranhao/95-memorial-maranhao/281-historia-domaranhao.html


De onde vem esse nome – Maranhão? – recorramos22 ao Padre Antônio Vieira, que em seu sermão da Quinta dominga da Quaresma, do ano de 1654, servindo-se de uma fábula, afirma que: ... caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. “Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e, sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (LISBOA, 1991) 23 Simão Estácio Da Silveira24, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, escrito em 1624, afirma que "... a terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”. (Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois, in História do Maranhão25, 1904; e Berredo, in Anais Históricos) 26. Marañon era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome. Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão - dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar ? E o outro responde: Non. Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (desproposidatamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás - indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida 22

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. Inédito. 23 LISBOA, João Francisco. OBRAS COMPLETAS... V. IV, 3a. Ed. São Luís: ALUMAR, 1991. LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON II – Apontaments, notícias e observações para servirem à História do Maranhão. São Luís: ALUMAR/AML, 1991 vol. I e vol. II 24 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/SIOGE, 1979 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976 – Edição facsimilar 25 BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II 26 BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988.


pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (SILVEIRA, 1976; BERREDO, 1988; MEIRELES, 1980)27. Para Tavares (1724): Terá Vossa Reverendíssima reparado na ortografia com que escrevo a palavra – Maranhay – contra o comum. Foi de industrias por dar gosto a V.R. que como tão perito na língua Brasílica folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por bocas e por escritos antigos, e sobre nunca assentarem em nada, de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender; Vejam-se os antigos manuscritos da missão. O Padre Bartolomeu Leão da Província do Brasil, reformador do Catecismo da língua Brasílica me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o Padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma Brasílico, soubesse dele o que sentia neste ponto; ambos morreram ignorantes de que aqui quero dizer, e nunca o disseram ser ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhãy: Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-me-ão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe. 28. “De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve, se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay. 29 “Dizem os cronistas que há aqui um Rio que se chama Maranhon, do qual tomam a denominação todo o Estado é para mim consideração para que ele fizeram. E se não digam-me onde está este Rio ? 30 “Já que entretive a Relação com estas curiosidades mais próprias para Crônica, quero dizer o que entendo da fundada da pororoca ou causa dela. É de saber que como estas terras são tão rasas visivelmente se se vê a terra abaixando do sertão para o mar, isto se vê sem embaraço de duvidas no Rio Itapecurú pelo qual quem vai navegando vê ao longe terra alta de uma a outra parte. Chega ao lugar em que mascara a terra alta e a vê a rasas como a de donde marcar a tem alta. (TAVARES, 1724). 27

SILVEIRA, 1979 SILVEIRA, 1976 – Edição facsimilar BERREDO, 1988 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 28 Comparar este trecho com a descrição em RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001 29 Comparar este trecho com a descrição em RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001. 30 Comparar este trecho com a descrição em MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970..


A MEMÓRIA DE FRAN PAXECO CONTINUA BEM VIVA EM S. LUÍS DO MARANHÃO ANTÓNIO BENTO Empossada a recém-criada Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política, de São Luís do Maranhão. A ideia surgiu de um grupo de intelectuais maranhenses quando das comemorações do Centenário da Fundação da Faculdade de Direito, em 2018. É bom recordar que foi a 23 de Abril de 1918 que Manuel Fran Paxeco, então cônsul de Portugal em São Luís, lançou a ideia, de imediato concretizada, da fundação de uma Faculdade de Direito no Maranhão. Em sua memória a Cadeira Nº 1 da Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política terá como Patrono Fran Paxeco. https://jornalpequeno.com.br/.../intelectuais.../...


GENEALOGIA DE JOSÉ FÉLIX PEREIRA DE BURGOS, O "BARÃO DE ITAPECURU-MIRIM" OS "BURGOS" DE ITAPECURU

RAMSSÉS DE SOUZA SILVA JUCEY SANTANA

José Félix Pereira de Burgos, natural da Freguesia de Itapecuru-Mirim (1780 - 1854). Era filho do tenente-coronel José Félix Pereira de Burgos, nascido na cidade do Recife, Capitania de Pernambuco, e de sua mulher Ana Teresa de Jesus Belfort de Burgos, de Itapecuru Mirim, filha de Lourenço Belfort, fundador do Engenho Kelru e de sua segunda mulher Ana Teresa de Jesus Marques Belfort. Neto paterno do capitão do mesmo nome José Félix Pereira de Burgos, e de Francisca Xavier de Jesus Bandeira de Melo, oriunda de um antiquíssimo Morgado da Capitania da Paraíba do Norte. O Barão de Itapecuru era, portanto, descendente de ilustríssimas famílias maranhenses e pernambucanas. Sua mãe descendia de pioneiros colonos do Maranhão, como o americano Guilherme Ewerton (rico proprietário de terras radicado em Cajapió no final dos anos 1600) e o irlandês Lancelot Belfort (fundador no Engenho Kelru em Itapecuru nos anos 1700). Seu pai descendia de tradicionais famílias pernambucanas como os Burgos, os Bandeira de Mello e, também, descendente direto do pioneiro em terras pernambucanas João Fernandes Vieira (João Dornellas), considerado o "Restaurador de Pernambuco" quando da expulsão dos holandeses. Em São Luís, morou no bairro da Madredeus, numa morada inteira no atual "Beco dos Burgos". Faleceu no Rio de Janeiro em 1854. Há, ainda, descendentes deste ramo no Maranhão mas, muitos foram embora para outras Províncias ou para a Corte no Rio de Janeiro, principalmente após a abolição da escravidão, dando origem a outros ramos. Seus parentes no Maranhão são os Ewerton, os Burgos, os Belfort, os Bruce, os Bandeira de Lima etc.


TERREIRO DA TURQUIA 130 ANOS DE PURA RESISTÊNCIA.

Quiçá o terreiro de Tambor de Mina mais antigo em atividade no Maranhão, embora com apenas dois toques de tambores no seu calendário festivo no dia 24 de Junho (em comemoração a sua fundação) e 26 de Julho quando se festeja ali Nanã Burukú sincretizada com Nossa Senhora Santana. Apesar de um grupo reduzido deu pra perceber durante a festa realizada no último dia 24 próximo passado uma oxigenação importante dos seus rituais sem invenções, o centenário terreiro continua firme e forte sob o comando dos poderosos encantados turcos. Tudo aconteceu a contento numa noite especial cheia de brilho, cores, ritmo e sabores que só os terreiros de Mina do Maranhão conseguem produzir. Destaque também para parte importante da comunidade da religiosidade afro maranhense se fizeram presente prestigiaram o evento. Devo lembrar que o Ilê Nifé Olorum, mais conhecido como terreiro da Turquia foi fundado pela vodunsi Ohunssidahou Mãe Anastácia (Akissiobenã) em 23 de Junho de 1889 A cabeça de Mãe Anastácia era Nanã Burukú e também se manifestava nela o encantado REI DA TURQUIA, O FERRABRAZ DE ALEXANDRIA (foto). Após um ano do falecimento de sua fundadora, em 27 de Março de 1972 o Talabyan Lissanon, nosso saudoso Pai Euclides assumiu a liderança da Turquia até o seu falecimento Atualmente esse terreiro está sendo zelado por parte da família Ferreira Menezes (família biológica de Pai Euclides). Mais longos anos ao terreiro da família dos encantados turcos!



FREI CUSTÓDIO ALVES SERRÃO – O CIENTISTA

ÁLVARO URUBATAN MELO No primeiro número de o jornal são-bentuense, O Imparcial, datado de 12 de novembro de 1921, hebdomadário que circulou em São Bento até 1924, publicou como são-bentuenses o desembargador Dr. Raimundo Felipe Lobato, arcediago Antônio Lobato Araújo, o médico Antônio Marcolino Pinheiro, o advogado Vidal Raimundo Pinheiro, coronel José Demétrio de Abreu e o frei Custódio Alves Serrão. Essa notícia chamou-me atenção por todos eles haverem nascidos em Alcântara, no Século XIX, antes da criação da Vila de São Bento dos Peris, emancipada pela Resolução do Conselho Geral da Província, de 19 de abril de 1833. Estudos atinentes ao assunto comprovaram que, realmente, vieram ao mundo na vila de Santo Antônio de Alcântara, porém, em propriedades rurais que passaram pertencer à Freguesia de São Bento, criada e desmembrada da freguesia do apóstolo São Matias, pela provisão régia de 7 de novembro de 1805. Essa dita área ficou mantida para integrar o território da nova Vila de São Bento dos Peris. Compunha-se de 4200 Km2, delimitada pela Mesa da Consciência e Ordens, confirmada pela Resolução nº 27, de 15 de julho de 1813, aprovada pelo príncipe regente por alvará de 11 de outubro seguinte. Confrontava-se a freguesia ao Norte com a freguesia Santo Antônio e Almas e os campos do Pericumã; Oeste, com Santo Inácio de Pinheiro e as Freguesias de Viana e São Vicente Ferrer; ao Sul, com esta última; a Leste com a extremidade ocidental da baía de São Marcos e a freguesia de São Matias Dos vultos acima referidos, os alcantarenses/são-bentuenses por mim assim denominados, conforme documentos oficiais exarados, inclusive publicados nosso livro São Bento dos Peris – água e vida, 2º volume, nascidos em glebas logo identificadas da futura vila. Frei Custódio Alves Serrão, de todos, o único que de início constituiu-se exceção, pois, segundo o exarado em correspondência dele próprio, enviada ao solicitante, Dr. Antônio Henriques Leal, publicada em o livro Pantheon Maranhense, tomo II, Antonio Henriques Leal, página 456 a 462, a qual tomo a liberdade de adiante transcrevê-la na íntegra, e nela cita haver nascido na vila de Alcântara, e por constar toda a sua autobiografia. Gávea (Rio de Janeiro) 30 de setembro de 1865. Sua carta colocou-me em grande embaraço; porquanto .profundamente penhorado pela confiança com que a mim se dirigiu, não me é todavia permitido alimentar as esperanças, que, para a glorificação de nossa província, lhe fizera conceber a meu


respeito tão generoso e ilustrado, como o nunca assaz chorado Gonçalves Dias: e antes pelo contrário, porque não esse nosso benemérito patrício, como outros amigos, iludidos por aparências ou por circunstâncias que não me cabe explicar, me vão fazendo reputação de ilustração que não tenho, e com ela responsabilidade muito superior às minhas forças; contra isso devo e quero protestar, pois prezo sobretudo a verdade. Em toda minha vida só tive um grande empenho, o de confundir-me na massa geral da humanidade, empregando esforços para não descer às camadas inferiores, nunca, porém ambicionando conservar –me à superfície; e se alguma vez aí apareci, foi isso devido à iniciativa estranha que não à vontade própria. Com tal propósito já vê v. que seria embalde pretender de minha parte fatos que se possam prestar como materiais para a alta construção a que os quisera v. destinar, e que esse propósito não tem outro merecimento que não seja o de alguma prudência, como o verá da confissão que passo a fazer-lhe, em reconhecimento da benevolência com que me trata, não descobrindo outro meio de cordialmente corresponder-lhe. Pelo fim do ano último do século passado, na cidade, então vila de Alcântara da Província do Maranhão, nasci de pais legítimos, José Custódio Alves Serrão e D. Joana Francisca da Costa Leite, pessoas parcamente favorecidas dos bens da fortuna, para o grande número de filhos que tiveram; por isso cedo fui entregue à direção de meus avós maternos, Cristóvão da Costa Leite e Dona Mônica Teresa, sob os cuidados imediatos de minha madrinha e tia D. Francisca Romana da Costa Leite: esta senhora, solteira, filha dos meus referidos avós, em cuja companhia vivia sempre me tratou com extremado carinho de mãe; e tendo eu perdido a verdadeira, quase sem a conhecer, na idade de seis para sete anos, de todo substituiu. Nessa idade comecei o estudo das primeiras letras, som inspeção, ora de minha madrinha e tia, na fazenda de meus avós, ora com pessoa estranha à família, mediante gratificação, e isto na vila, onde só residíamos metade do ano. Não sobrando a meus parentes meios de dar-me maiores conhecimentos nas letras, e nem existindo na vila outro estabelecimento ou pessoa de quem pudesse esperar, confiaram-me como pupilo aos religiosos da Nossa Senhora do Carmo, entre os quais gozava minha família dalguma consideração, por haver aí parentes meus ocupando importantes lugares: contava eu então a idade de doze anos já feitos. Nunca soube explicar-me como pude conseguir o conhecimento das primeiras letras; consistindo o método principalmente das pessoas estranhas à família que me dirigiam, em dar-me por tarefas as lições, e sem nenhuma explicação, exigir o seu desempenho, e aplicarme, quando o não conseguia, correção; porque também noutra não consentiram nunca meus avós, em atenção à natureza tímida e sumamente vergonhosa de que era dotado: por isso quando penso sobre os meios de facilitar nas primeiras idades, chego a duvidar se o método, que perante a razão ilustrada parece mais perfeito, terá resultado nessas idades onde, se ela não falta é muita fraca, e se a parte real de tal método não consistirá, evitadas ideias falsas, em procurar por todos os meios prender a atenção de maneira que por mais tempo se demore sobre o objeto do estudo para assim o fixar na memória, sendo tudo o mais quase que indiferente à criança? Seja como, o certo é que, com boa vontade, excitada talvez pelo medo da correção, consegui, senão aprender, ao menos adivinhar a arte de ler e a operar sobre números; e com esses conhecimentos mais ou menos perfeitos, e alguma ortografia, levava de cor para o convento os primeiros rudimentos de latinidade que consistiam na cartinha de Padre Antônio Pereira. Se não foram de grande valor os meios de que me coube dispor para os primeiros passos no caminho das letras, seguindo a direção de meus avós, nem mais perfeitos, ou mais abundantes os encontrei sob o auspício dos religiosos; assim que, no decurso de três anos não havia alcançado outra instrução senão a leitura mais ou menos correta do latim, alguma tentativa de tradução sobre lições do Breviário, e a prática das obrigações cenobíticas, para as quais, devo confessar com profundo sentimento meu, nunca tive nenhuma das qualidades mais apreciadas; pois,


extremamente acanhado para as desempenhar em público, falta-me, além disso, a voz para o cantochão, e até qualquer habilitação para a música. Meus parentes, porém, o não entendiam assim, e não cessavam de considerar como excelente a minha posição, e talvez tivessem razão, que me não foram concedido melhor quinhão na vida Desde então começava para mim a manifestar-se a contrariedade do meu destino: contra as minhas mais doces aspirações, à da vida em família; sem vocação, sem aptidão para o sacerdócio, via-me induzido a seguir uma carreira, que por todos os modos me era desagradável; mas respeitava demasiado as conveniências da sociedade e reconhecia o amor e o interesse com que me tratavam sempre meus parentes. Sem compreender bem o alcance do sacrifício a que ia submeter-me, sem queixar-me, aceitei-o, entrando para o noviciado. Pensando assim haver pagado uma parte de minha dívida de gratidão, concentrei-me, vendo que não podia parar no ponto que me achava, e que era forçoso prosseguir; pois que não tinha a escolha do caminho, ficando-me aberto um único trilho, e daí com verdadeiro empenho dediquei-me ao estudo. Sem mestre, porque o único que no convento conheci, de forças pouco superiores às minhas, fora um companheiro de noviciado; mas possuía alguns livros, como o Magnun Lexicon, as seletas latinas, a sintaxe do Dantas e a artinha; e tanto os consultei, tal persistência empreguei em descobrir o sentido dos autores, que por fim os fui compreendendo; quando o caso excedia minha penetração, deixava-o de lado ou passava adiante, mas não os esquecia, e por locuções semelhantes consegui quase sempre sair da dificuldade. Com esse sistema seguido por pouco mais de um ano e com vontade, que nunca desanimou, alcancei que feito o ato da profissão religiosa, e sendo mudado para convento do Maranhão, onde professava latinidade, em aula régia, Fr. Inácio Caetano de Vilhena Ribeiro, pessoa muita distinta, e que me examinando, me achasse habilitado para entrar na classe dos mais adiantados, e me admitisse à tradução dos clássicos superiores; faltava-me grande cópia de termos latinos; mas os elementos, as regras de construção sabia-os. Pelo mesmo sistema, quase com os mesmos meios, aprendi conjuntamente com o latim o francês e o italiano. Corria o ano de 1817. Ou fosse que em mim achassem disposição para as letras, ou que se quisessem distinguir dos anteriores, estreitando relações com Portugal, ou por estas todas razões, permitiu Deus que propuseram as autoridades do convento a meus parentes mandar-me a Coimbra para o fim de continuar os estudos, fazendo o convento as despesas de alimentação e transporte, e as outras, minha família. Aceita a proposta, partimos para Lisboa, e aí aportamos pelo meado do ano de 1818 eu e um companheiro Fr. Antônio da Encarnação[1], natural de Caxias, que havia conseguido as mesmas condições. Recolhidos ao convento da Ordem em Lisboa, e indo prestar obediência ao provincial, fomos acolhidos com as seguintes palavras: não são muitos meladinhos; o que não recordo senão como um dos motivos da convicção que cada vez mais se fortificava em meu espírito, de qual tal corporação, cuja instituição sumamente humana tivera por fundamento a igualdade, e mesmo fraternidade , de há muito havia decaído de seus primitivos fins e já então, sob essas palavras só encobriam com raro merecimento muita soberba e vaidade. Passados alguns dias em Lisboa partimos para Coimbra, onde recolhidos ao convento colegial da Ordem e feitos os exames de latim e português, matriculamo-nos no colégio de Artes, dependência da universidade, em filosofia racional e grego, preparatórios que nos faltavam para o estudo das ciências superiores, sendo-nos necessário, para completar o do grego, empregar também os meses de férias. Aprovados nessas doutrinas, seguimos, o meu companheiro as ciências teológicas, eu as naturais: e não foi sem grande contestação do reitor e doutores do colégio que os alcancei, cedendo unicamente à explícita declaração, que preferia antes voltar Maranhão do que dedicar-me qualquer das ciências positivas, para as quais me não sentia a menor habilitação; e na verdade, fui sempre fraco de memória, nunca julguei de mui


subido valor a autoridade, repugnando sujeitar-me à opinião de outrem por mais qualificado que fosse, sem que antes a houvesse submetido ao débil critério de minha razão. Superado julgava esse obstáculo, cujas consequências não apreciava bem, nem pudera apreciar por tão infundado que sempre me pareceu o preconceito na Ordem contra o estudo das ciências naturais, caminho aliás o mais direito e seguro para a esclarecida a adoração da Suprema Sabedoria; achei-me, porém, envolvido em grande embaraço; num convento colegial não tinha livros para consultar; e entre os doutores e companheiros todos faziam profissão nas letras, estava isolado; não me sendo de mais permitido frequentar os condiscípulos senão nas aulas! Foi ainda necessário limitar-me aos próprios e mui acanhados recursos. Felizmente quis a Providência que apesar dos obstáculos, ou por isso mesmo. Fiz nesse primeiro ano boa figura nas aulas, tanto nas ciências físicas como nas matemáticas; e aprovado plenamente: benquisto dos professores, considerado dos condiscípulos, fui passar ao Porto as minhas primeiras férias. Aí assistir ao pronunciamento da nação pela liberdade que saudei do fundo da alma com todo o entusiasmo da oposição e da idade: tinha então vinte anos. Recolhendo a Coimbra cheio de contentamento e animado de grandes esperanças, matriculei-me no segundo ano; principiou porem logo a espalhar-se que haveria nesse ano perdão de atos, e, com efeito, veio à concessão para os que estudavam as ciências positivas, e de frequência das aulas para os de ciências naturais. Impossibilitado de dedicar-me aos estudos no malvisto e constrangido isolamento do colégio, o resto do ano e as férias, passei-as na Figueira. De volta a Coimbra, matriculei-me no terceiro ano, frequentando conjuntamente as aulas do segundo. Estavam já interrompidas as relações do Brasil com Portugal, e foi-nos declarado pelo reitor do colégio que não podia continuar a alimentação pelo convento, sendo nós da mesma jurisdição religiosa e os do convento do Maranhão dependentes do de Portugal; e, contudo, quantos religiosos iam de Portugal para o Maranhão, foram ali sempre bem recebido, ainda muito depois da emancipação, com agasalho e distinção, o passo que a nós cortavam-nos a carreira, negando-nos os meios estipulados para continuarmos nossos estudos! Por fortuna nossa não foram os correspondentes particulares de nossas famílias de entranhas tão duras, e nem haviam sido fortemente contrariados pelas ideias novas; e posto que com dificuldade pelo receio de perderem as quantias que nos houvessem adiantados, facultavam-nos alguns recursos; e sujeitando-nos às maiores privações, chegamos ao fim do ano quase desligados da obediência conventual. Feitos os exames fui aprovado plenamente em todas as matérias que frequentara, e premiado nas do segundo de ciências físicas; devo, porém, confessar que não foram as circunstâncias de tempo e a boa reputação adquirida no primeiro ano, a consideração que me vinha de ser premiado e a bondade dos lentes, não conseguiria tão bom resultado no exame de matemáticas; achei-me muito perturbado por saber pouco de matéria. Por isso abandonei-a como de ordinário, desistindo de nelas também formar-me como intencionara. As férias, a convite de um amigo fui passar na pequena povoação perto de Coimbra, e Mondego abaixo, de nome Santo Varão da qual ainda conservo as mais gratas recordações. Ainda não eram concluídas quando voltei a Coimbra, e matriculei-me no quarto e último ano, de ciências físicas, sob grande tribulação; pois me escasseavam por um lado os meios, e por outro estavam mudadas as condições políticas do país devido à contra revolução de Lisboa: e eu tinha contas a pagar, especialmente no convento, porque me havia pronunciado com grande ardor pelas ideias de liberdade, e pela independência do Brasil, ainda que este motivo reputei sempre que meus superiores o tinham em lugar secundário, não o julgando eu mais do que consequência inevitável daquelas indisposições de seu ânimo. Conseguir, todavia chegar ao fim do ano, e era tempo; porquanto aprovado nas matérias respectivas, laureado em bacharel e formado, apresentou-se no convento o provincial da Ordem o mesmo religioso que servia de reitor nos tempos de liberdade, e convocando a capítulo todos os confrades, doutores e colegiais, após furiosa reprimenda em que não foram poupados os brasileiros, declarando


todos mais ou menos díscolos, intimou-me ordem de recolher-me ao convento de Lisboa. Findava o ano de 1823. Entendi que a separação do Brasil pudera servir de pretexto para faltarem às autoridades, e neste sentido ao provincial, alegando de mais a mais falta de meios de transporte , o que real; e em lugar de seguir para Lisboa, retirei-me novamente a Santo Varão, à espera de oportunidade para regressar ao Brasil. Soube por esse tempo que havia chegado a Lisboa o Comendador Honório José Teixeira, parente meu ainda que afastado: escrevi-lhe pedindo coadjuvação para aquele fim. Forneceu-me meios para ir até Lisboa, e aí me ofereceu voltar em sua companhia, o que aceitei. Tratava-o então de alcançar a volta da tropa que do Maranhão tendo sido mandada para Portugal[2], e de justificar perante o rei a necessidade em que se tinha achado o príncipe real, o Sr. D. Pedro, de assumir a coroa do Brasil, como único meio de conservá-la à dinastia de Bragança, sendo a independência de todo inevitável, depois dos fatos ocorridos em Portugal. Disto sou testemunha, pois que não só conheci as relações do comendador com o Marquês de Palmela a esse respeito como com ele fui a Mafra mais de uma vez em pessoa apresentar ao rei memoriais no mesmo sentido. Alcançada a primeira pretensão, sob condição de fazer o transporte da tropa a expensas suas, e persuadido de haver igualmente conseguido a segunda, partimos de Lisboa em um brigue de sua propriedade e em uma galera hamburguesa tomada a frete, e recebida a tropa na baía de Lagos, no Algarve, e daí, sem notável acidente, aportamos no Rio de Janeiro. Grande foi a decepção por que passou o meu parente na Corte, pensando haver prestado serviços valiosos ao seu país, e trazer a favor o reconhecimento da independência as primeiras e melhores notícias; mas quando fundeávamos salvavam as fortalezas por ter a Independência sido oficialmente reconhecida! Desembarcados, apresentou-se no paço onde foi recebido com gracejos de os seus serviços completamente desconhecidos! Eu fui pedir hospedagem ao convento da Ordem, onde fui muito bem recebido e tratado com grande agasalho. Estávamos no ano de 1825. Desejando aproveitar, e não esquecer o pouco que com tanto trabalho havia adquirido de meus estudos, solicitei o lugar então vago na imperial academia miliar de lente de zoologia e botânica; estando habilitado, como diziam os títulos que acabava de alcançar da Universidade de Coimbra e informação da junta que dirigia a academia, fui escusado, e só devi emprego à benevolência de um amigo nas graças do ministro, isto contra o meu desejo; pois pretendia levar por concurso público, tendo-o requerido ao Imperador, e do eu fui dissuadido pelo referido amigo, que já melhor conhecia a marcha dos públicos negócios! A independência era apenas nascida; estava no seu primeiro lustro e o ministro era português de nascimento. Corria o ano de 1826. Pela mesma época aceitava eu a comissão de redator de uma parte do Diário da Câmara dos Deputados, cujos membros quase todos os tratei individualmente e com algum entretive bem estreitas relações. No ano de 1828 fui nomeado diretor do Museu Nacional, emprego que exerci conjuntamente com o de lente da academia, havendo resignado a comissão de redator do Diário. Em 1832 sofria a academia a sua primeira reforma para escola militar, e o curso de ciências físicas, criado com algum desenvolvimento nos tempos coloniais, e sendo restringido às duas cadeiras de física e química e mineralogia, fui encarregado desta. Empregando grande economia havia conseguido pelos anos de 1835 alguns recursos pecuniários, primeiros de que me fora possível dispor, e havendo já perdido se os tornar a ver meus bons avós, alcancei licença para ir ao Maranhão visitar minha saudosa madrinha: única interrupção que teve o exercício de meus empregos. Apenas deixei a Corte, foram-me suspensos os tênues vencimentos de diretor do museu, por inacumuláveis com os de lente, sendo aquele de 600$000 reis e estes de 400$000reis, e nessa excursão explorava com meus fraquíssimos recursos a serra de Itabaiana, na província de Sergipe, afamada em oito e salitre, e formação betuminosa das praias de Camaragibe, na das Alagoas, pressentida por indícios que encontrei na cidade de Jaraguá, e delas remeti amostras para o Rio de Janeiro! Voltando à Corte em 1836, conseguir que me fossem restituídos esses


vencimentos com que em boa fé contado para minha viagem; e continuei a exercer em paz os dois empregos tão largamente gratificados até o ano de 1842. Por esse tempo experimentava também a diretoria do museu a sua alteração, mas aí por esforços meus e em sentido oposto ao da academia militar: de um que era, na verdade impossível de desempenhar-se satisfatoriamente, subdividiu-se em quatro seções e coube-me com a direção-geral a particular de mineralogia, geologia e ciências físicas, e interinamente a de numismática e artes liberais, arqueologia, uso e costumes das nações modernas. Não tendo podido sujeitar-me aos meios admitidos na alta administração do país, para que pudesse ser utilizado os meus pequenos serviços; anelando por experimentar a vida particular, pois que desde a idade de doze anos me achava submetido à direção estranha; e, sobretudo reconhecendo que as minhas fracas habilitações me não constituíam na altura dos empregos que exercia, e menos na possibilidade de dar-lhes mais proveitoso desenvolvimento, para deixar oportunidade a que fizessem outros mais felizes ou mais habilitados, resignei o lugar de diretor do museu, e consegui jubilação no de lente, em 1847, e com os vencimentos deste já então elevados a 1:200$000reis, e tendo obtido em 1840 breve secularização perpétua, retirei-me para um pequeno sítio fora da cidade. Tranquilo começava a desfrutar a vida do campo, empregando na pequena cultura os melhoramentos que me permitiram os meus limitados recursos, quando em 1849 fui convidado para tomar a direção do Jardim Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas: estavam-me, porém muito fresco na memória os embaraços com que lutara na vida pública e a improficuidade de meus esforços para produzir alguma coisa de útil; e conquanto encarregado em 1846 do exame e relatório do estado desse estabelecimento, e subsequentemente de formular-lhe o regulamento, em conformidade com as ideias ali enunciadas, o houvesse cumprido, e de certo modo me visse por isso obrigado a aceitar-lhe a direção; pude, todavia, senão recusá-la, ao menos adiá-la pela consideração de que estava provido, e nunca poderia prestar-me a justificar a suspeita, que naturalmente nasceria de que desde o exame referido preparava eu o caminho para chegar a tal direção: embora me fosse assegurado que o seu diretor ficaria de tal modo empregado, que não sentiria ter deixado o lugar. Como tantos outros, porém, passou esse ministério, e o que lhe seguiu trouxe diferentes ideias, e com elas felizmente a minha isenção. Se conseguir declinar o encargo de diretor do Jardim Botânico em 1849, não aconteceu o mesmo e daí a dez anos, o fosse que o tempo houvesse apagado as mesmas ideias de contrariedade com os meios da pública administração; ou que julgasse possível em idade já bem tão adiantada, empregando sinceros esforços, amoldar-me a eles para prestar o único serviço, que me parecia ainda comportavam com as minhas forças, e no desempenho do qual me ajudaria muito boa vontade, alguma experiência adquirida na cultura, e a predileção que sempre tive pela vida do campo; o certo é que em 1859, estando o lugar desprovido, aceitei-o e sem condições, o que me dava direito o empenho com que era solicitado, e alguma independência que conseguira criar-me. Completo e não tardio foi o meu desengano: o estabelecimento estava desmantelado. Nos meios de administração, no pessoal, no material desacreditava o país; e, portanto, eram urgentes medidas para reorganizálo; e eu não aceitara o encargo para servir de testemunha passiva de tanta vergonha, e por isso propu-las de conformidade com as vistas de sua larga instituição. O ministro que me havia empregado passara a administração a outro, e este viajava em companhia do Imperador; e ainda que o seu antecessor interinamente substituísse, hesitava em gomar as medidas que por deferência quisera deixar à sua iniciativa daquele. Em virtude disso adotei por meu arbítrio aquelas cuja responsabilidade me pareceu que podia assumir, e assim, já muito contrariado, tive de esperar. Voltando o Imperador, levei novamente ao governo as minhas requisições, instando para que o


menos ordenasse a limpeza do Jardim para desbastá-lo da muita erva ruim! Foi a informar à secretaria, e apesar de instâncias minhas, não visitou o Jardim, e não deu uma única solução às dúvidas que se lhe apresentaram, e até suspendeu por fim algumas das providências que eu havia iniciado! As poucas vezes que procurei o paço fui perfeitamente recebido, e conhecia o caminho para sair com vantagem minha tão desagradável posição; mas para isso seria necessário deslocar com a autoridade a responsabilidade do ministro, e a tanto, porém nunca me pude resolver. Felizmente criara-se por esse tempo o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, e sendo-lhe confiada a administração do Jardim Botânico, como fora de razão se não o contrariasse a lei, fui exonerado dela em 861. Além de outras comissões temporárias de menor importância, honrou-me ainda a regência permanente em 1834 com a nomeação de membro do Conselho de Melhoramento da Casa da Moeda, eo Governo Imperial em 1862 com a do Conselho Fiscal do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura. Fui sócio instituidor da Sociedade de Melhoramento da Instrução Elementar; tenhoo sido efetivo e atualmente honorário do Instituto Histórico e Geográfico; e efetivo e presidente honorário da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Nas associações, como nos empregos, os serviços que prestei não me cabe avaliar; são decerto bem humildes, mas diz-me a consciência que no desempenho das obrigações, que me impunham, empreguei todos os recursos, materiais e intelectuais de que pude dispor. Para não ser injusto quero declarar que nunca fui desconsiderado por nenhuma das administrações com que servi, nem mesmo, pela última, cujo procedimento a meu respeito, não atribuo à má parte, mas à diferença de ideias e circunstância do tempo; e, todavia o cumprimento do dever, como entendi, forçou-me mais de uma vez resistir-lhes, recusando execução mesmo a decretos imperiais. Todos os empregos servi-os sempre com o mínimo dos vencimentos, nunca reclamei gratificação alguma, ainda aquelas que me garantia a lei, desprezei-as, se para sua percepção dependiam de algum favor dos ministros; e os de que me vinham maiores proventos, deixei-os na administração de amigos. Não podendo conservar minha biblioteca com os vencimentos que me ficavam, na vida que ia dedicar-me, e repugnando-me cede-la a uso particular, como instrumentos que me auxiliaram no cumprimento dos deveres de empregado, ofertei-a ao museu. Em compensação dos serviços prestados, que pelo governo tive a vantagem de serem reputados bons, e talvez da oferta referida, fui agraciado com a comenda de Cristo, honra que agradeci, cujo título, porém nem tirei por se não conformar com as minhas ideias, nem com a minha posição. Professo, não tomei Ordem alguma, nem a de Prima Tonsura, não por desprezo ao sacerdócio, que reputo mui venerando, mas porque tive sempre a convicção de que para o desempenho das obrigações, que me impõe, exige grande perfeição; e na minha fraqueza não achei nunca forças para aceitar-lhe a responsabilidade; e isso em manifesta oposição com os meus mais conhecidos interesses. Em decurso tão longo de funções mais ou menos literárias, e de razão se presuma que alguma coisa terei escrito; e na verdade assim o é, e talvez em demasia; fi-lo, porém, unicamente com auxílio da memória, ou cumprimento de; e persuadido que trabalhos dessa ordem só podem ser de proveito, e merecer publicidade quando alcançam alo grau de perfeição; nada confiei à imprensa, porque os meus não o atingiriam. Se me coube alguma inteligência foi demorada a compreensão e mui difícil à memória, de sorte que nada pude fazer sem grande trabalho e aturada reflexão;


e convencido de que o homem traz de Deus para a vida marcada a sua missão, com os meios de a desempenhar, designando a posição que na sociedade me permitirão as minhas mui limitadas faculdades, prestei culto, talvez exagerado, à dignidade do homem e à independência de caráter; amei instintivamente a liberdade; cultivei a igualdade; e respeitei as conveniências sociais, sem outra nenhuma ambição mais do que o cumprimento o dever, na esfera a que me limitaram as minhas forças: acostumado a viver de pouco, fazendo sempre descer as minhas necessidades ao novel de meus recursos, satisfeito agradeço à Previdência o haver-me eximido das provações da glória e das riquezas. Eis minha vida. V. sem dúvida pretendia mais de talvez o enfade tanto: peço indulgência: não podia dar senão o que é meu. Quanto à fotografia, é ainda pequice minha, e consinta que lho diga com franqueza: apesar de permiti-lo o exemplo de tantas pessoas autorizadas, e de quase o ordenar a moda, ainda me não pude resignar a esse pequeno tributo da vaidade humana; se lá chegar, coimo querem outros amigos, conte v. que será lembrado entre os primeiros. De V. Patrº e sevo Custódio Alves Serrão Diante dessa correspondência escrita a próprio punho, uma profunda interrogação de mim se apoderou por entender, à primeira vista, que ele nascera na sede da vila. Restava saber o porquê da equipe daquele órgão de imprensa, O Imparcial, composta de cidadãos da estirpe do diretor Urbano Pinheiro, dom Felipe Conduru, do professor Opílio Justino Lobato , vultos de comprovada credibilidade, considerados conhecedores históricos certamente, jamais praticariam a leviandade de tal afirmação, se não estivessem alicerçados em consubstancial fundamento. À proporção que me inteirava do assunto, coligidas informações, vários motivos levavam-me a dar crédito à equipe jornalista e admitir ao insigne frade, a cidadania são-bentuense, semelhantes àqueloutros. Em pesquisas diversas, construí meus argumentos, fortalecidos a começar pelos fatos: BATIZADO De posse da certidão de seu batizado[3] celebrado pelo padre Joaquim José dos Reis, ocorrido com tão poucos dias de vida, menos de uma semana, ato realizado logo na primeira dominga de outubro desse ano [1799], consagrado a Nossa Senhora do Rosário, no oratório público de São Roque, no Inambu, bem próximo da fazenda de seu avô materno, o agricultor Cristóvão da Costa Leite, local que, salvo provas contrárias ele nasceu, e, não na sede da vila de Alcântara, ao longo de 12 léguas. É impresumível admitir que os familiares permitissem um nené, recémnascido, com sua genitora, fizessem uma viagem, sobretudo longa e desconfortável naquela época, apenas para celebração desse ato religioso. . É de bom alvitre lembrar ser então comum, as filhas irem parir na Casa Grande, sob a experiência e proteção da mãezona, que as esperavam com mucamas e galinheiro lotado. Foi esse notável frade e cientista, criado pelos avós maternos Cristóvão da Costa Leite[4] e dona Mônica Tereza do Rosário e pela sua tia e madrinha dona Francisca Romana da Costa Leite, na mencionada propriedade Inambu, localizada em área que passou a fazer parte da nova vila de São Bento dos Peris, distante uma légua da sede do município. Teve por padrinho – Bernardino da Costa Leite. Frei Custódio Alves Serrão, filho legítimo de José Custódio Alves Serrão e Joana da Costa Leite nasceu a 2 de outubro de 1799 e faleceu dia 10 de março de 1873. Avós paternos. Manuel Alves Serrão e dona Eleutéria Almeida.


Com 15 anos ingressou na Ordem Carmelitana, mas por se julgar sem vocação para o sacerdócio nunca tomou posse. Começou seus estudos de Humanidades no Convento do Carmo de Alcântara e concluiu em São Luís. Em 1823 estava matriculado na Universidade de Coimbra, formando aí sua reputação de sábio naturalista. Regressando ao Brasil, fixou residência na Corte do Império, onde exerceu os cargos de redator do “Diário da Câmara dos Deputados”, professor de Química da Escola Militar, diretor do Museu e diretor do Jardim Botânico. Em 1835, explorou em Sergipe, as serras de Itabaiana, onde constava existirem minas de ouro e salitre e, em Alagoas, a formação betuminosa das praias de Camaragibe. Publicou as seguintes obras: Lições de Química e Mineralogia - Rio 1833; processo para separar o paládio de outros metais com que se acha ligado - 1845; breve notícia sobre a coleção de madeiras do Brasil - 1867; memória em que se prova que o Brasil fora visitado por alguma nação conhecedora da navegação, antes que aqui viessem os portugueses. (Trecho transcrito do Livro Revista de Geografia e História - Alcântara no seu Passado, páginas 230 e 232, de Jerônimo de Viveiros). Esse extraordinário naturalista sugeriu em 1838 que fosse criado o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, no Conselho Administrativo da Sociedade Auxiliadora da Indústria, sugestão essa lida pelo marechal Raimundo José da Cunha Matos. Descendente de duas famílias importantes na região. Do lado paterno, seu bisavô José Alves Serrão, natural da cidade de Lisboa, batizado na freguesia de São Julião, filho legítimo de João Alves e Úrsula Maria da Condeixa. Em 16 de novembro de 1770, solicitou ao Rei Dom José, carta data de sesmaria, junto ao Rio Pericumã ([5]). De seu testamento, a mim presenteado pelo saudoso historiador Sr. Mário de Jesus Martins, constam os filhos: Padre (Frei) Custódio Álvares Serrão, ordenado em 1º de janeiro de 1767, para freguesia de São José da vila de Guimarães. Em 5 de maio de 1774, oficiou ao secretário de Estado da Marinha e Ultramarina, Sr. Martinho de Melo e Castro, solicitando sua nomeação para vigário da vila de Tapuitapera.([6]) - Major Manuel Álvares Serrão, lavrador, ex-capitão de milícias, vereador suplente da Câmara Municipal de Alcântara, tesoureiro de cizas e juiz de fato, “com algumas luzes e inteligência”. Arquivo Público do Estado do Maranhão, livro de Atas do Conselho Geral da Província – 1832 – 1833. Eleitor de São Bento em 1837. Pai de José Custódio Álvares Serrão, seu pai, nomeado pelo Conselho Geral da Província, em 22 de janeiro de 1832 para provimento de cadeira de 1ª letras, em 2° lugar para o lugar Pinheiro. Residia na vila São Bento. Jurado constante da relação de 1837. Sua filha, Maria Clara Alves Serrão, casou-se com Tomaz Ascenço da Costa Ferreira ([7]), votante do distrito de Cajapió, 7/9/1833 – juiz de Paz. O capitão Manoel Alves Serrão e Eleotéria Ferreira Alves[8] deixaram aos herdeiros Dr. Tomaz Costa Ferreira Serrão e Manuel Alves Ferreira Serrão, porção de terras em Jequiruna e Juçara. - Frei João Álvares Serrão-

religioso carmelita.

- Paulo Francisco Álvares Serrão, nomeado promotor público da vila de Alcântara, professor de gramática latina, “com luzes, e inteligência e boa conduta”. eleitor de São Bento, 1844. Juiz Municipal e suplente de delegado – 1844 – demitido do segundo cargo, por incompatibilidade de funções, com algumas luzes e inteligência. - Feliciana Maria da Conceição. Outro fortíssimo argumento foi domicilio na vila de São Bento dos membros dessa família, inclusive desempenharam importantes funções. Inseridos na relação de jurados de 1837, encontram-se: - O próprio pai, José Custódio Alves Serrão jurado 1837 - Antônio Florêncio Alves Serrão, vereador em 7 de abril de 1837. Jurado de São Bento em 1837, eleito suplente juiz de paz, do 1º distrito Juiz de paz em 1853 – proprietário de terras e engenho em São Antônio. Eleitor em 1895 - Antônio Inocêncio Serrão – vereador em 1833. - Cristóvão Pedro Alves Serrão, jurado 1837, alistado na esquadra. - Inácio Antônio Alves Serrão, juiz municipal em 1853.


Na relação de jurados de 1838.([9]), - Cristóvão Pedro Álvares Serrão, 30 anos. - João Mariano Alves Serrão, eleitor juiz de paz 1844 – 30.04.1840, e padrinho de Dom Luís de Brito. - José Custódio Alves Serrão Júnior, 26 anos. - Saturnino Álvares Serrão, 19 anos. Outros familiares. - Joaquim Mariano Alves Serrão, proprietário terras S. José. - José Marcelino Serrão, vereador em 1846. - Torquato Alves Serrão, vereador em 1866, filhos: 1 - Vicente Alves Serrão, vereador, capitão da 2ª Companhia da Guarda Nacional. Agente de coletor – 1861 2 -José Alves Serrão, coletor federal. Suplente delegado exonerado em maio de 1864. Eleito 5º intendente em 30 de maio de 1906, o primeiro depois da elevação da vila de São Bento à categoria de cidade. Casado com dona Torquata de Matos Serrão. Filhos do casal: 2-1-Raimundo de Matos Serrão nasceu a 18 de março de 1914. Bacharelou-se primeiro em farmácia, pela Faculdade de Farmácia e Odontologia do Maranhão, depois, em 8 de dezembro de 1832 doutorou-se em medicina pela Faculdade de Janeiro. Professor universitário um dos fundadores da Fundação da Universidade da Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, Maranhão, como membro da comissão organizadora. Professor decano da UFMA, da Faculdade de Farmácia e Ciências Naturais. Chefe do Dispensário do Departamento de Saúde. Diretor do Hospital Tarquínio Lopes. Médico clínico e cirurgião dos mais afamados. Membro presidente em muitas gestões do Conselho Estadual de Educação. 2-2- José de Matos Serrão nasceu a 11 de dezembro de 1911. Aluno da primeira turma da Escola Prática do Comércio. Agrônomo, formado ; em 19 de novembro de 1936, aluno da primeira turma da Escola de Engenharia do Maranhão (depois extinta). 2-3 Maria José Matos Serrão, professora catedrática de Química. 2.4 – Mary Matos Serrão. Outros: - Antônio Inocêncio Serrão, votado em 1841 para juiz de Paz de – Ipueira. - Caetano Alves Serrão – guarda nacional, para o 4ºbatalhão do Estado Maior, ,nomeado em 1866. - Cândida Rosa Serrão Ewerton – professora e fundadora da confraria Nossa Senhora da Conceição. - Clóvis Serrão Ewerton – capitão ajudante do 168 Batalhão de Infantaria. - Cristóvão Pedro Serrão Martins, 6º intendente, eleito 31 de agosto de 1909.Vereador 3ª Câmara Municipal, 1901/1904. - Fernando Lázaro Serrão. Proprietário urbano. - João Bernardino Alves Serrão. 1831, juiz de paz 1º distrito, nomeado membro da Intendência em 6 de maio de 1890. - João Serrão Ewerton (Nhozinho Ewerton), poeta, capitão da 4ª Companhia, patrono da Cadeira 39, da Academia Sambentuense. - José Ewerton Serrão, tabelião em 1931. Ajudante de ordens do Estado Maior da 26ª Brigada de Infantaria. Guarda Nacional. - José Marcelino Serrão – vereador em 1846. - Raimundo Serrão Martins, negociante, vereador da 1ª câmara republicana, 1893/1896. - Raimundo Serrão Pinheiro, tenente-coronel do 37ºBatalhão de Infantaria. 1904. Guarda Nacional - Benjamim Maria Serrão Cardoso, mãe do Dr. Clodomir Serra Serrão Cardoso. Dos vereadores supracitados alguns foram reeleitos.


- João Mariano Serrão, eleitor juiz de paz – 1844. OS COSTA LEITE. Do lado materno, o cientista Frei Custódio Alves Serrão, filho da senhora Joana Costa Leite. Dessa numerosa família, a primeira informação data de 13 de março de 1770, quando o patriarca José da Costa Leite requer ao Rei Dom José 1, solicitando confirmação da carta data de sesmaria, junto a enseada do Inambu.([10] JOSÉ DA COSTA LEITE. Filhos: 1. - Bento da Costa Leite. 2 - Cristóvão da Costa Leite, rico e abastado criador. 2.1 Alexandre Pedro Costa Leite nasceu no Inambu, filho Cristóvão da Costa Leite (que nasceu em 1751), e de dona Mônica Tereza do Rosário. Neto materno de Ignácio Xavier Gamita e Ana Josefa de Aragão. Batizou-se em 6 de janeiro de 1792, pelo padre Manuel Rodrigues da Costa. Padrinho o alferes cirurgião Antônio da Costa Pinheiro. 2.2 - Sátiro Celestino da Costa Leite, fazendeiro, juiz de paz- 1831. Filhos: 2.2.1 Sátiro Celestino da Costa Leite Junior, filho legitimo de Sátiro Celestino da Costa Leite e dona Francisca Xavier Alves Arcos, naturais de Alcântara. Neto paterno de Cristóvão Costa Leite e dona Mônica Tereza do Rosário Gamita; materno de José Alves Arcos, natural da Freguesia de São Miguel dos Arcos, do Arcebispado Primar do Braga, em o Reino de Portugal, e de sua mulher Lourença Seria Gamita. Em 5.10.1850. Anelando habilitar-se súplicas primeiramente certidão de genere. Nasceu a 2 de setembro de 1827, batizou-se a 6 de novembro de 1827, com o padre Raimundo José de Amorim (seu padrinho) e madrinha Francisca Romana da Costa Leite. Coadjutor do Padre Zaqueu – 1862.Vigário colado de Bacurituba - 1879 vereador em S. Bento -1858. 2.2.2 – Padre Antônio Mauricio da Costa Leite. Dados extraídos do processo de genere (auto de patrimônio), documento 1246, de 16.11.1835 – cx 53. (auto de patrimônio) e documento 2391, de 19.11,1835 – caixa – 72 (Vita e moribus, lista 10 – Arquivo Público de São Luís). Filho de Sátiro Celestino da Costa Leite e sua mulher Francisca Xavier Alves, naturais de São Bento dos Peris. Neto paterno de Cristóvão Costa Leite e da finada Mônica Tereza do Rosário Gamita, naturais de Alcântara . Inquisição feita em Alcântara, moradores Alcântara. Neto materno de José Alves Arcos, natural da Vila de Arcos, Reino de Portugal, e de dona Loureça Seria Gamita. Testemunha – José da Costa Neto, 41 anos, natural do Bispado do Porto, Reino de Portugal 3 - Francisca Romana da Costa Leite. 4 - Joaquim José da Costa Leite. 5 - Maria da Costa Leite, casada com Francisco das Chagas. 6- Padre Fabricio Alexandrino da Costa Leite.[11] (Ordinário) – Auto de patrimônio, nº 1279, de 4.1.1840, cx-34. Ordenado padre em 1850. Nomeado vigário da Paróquia de S. Bento de Bacurituba, S. Vicente Ferrer. . Passou por outras paróquias. .Em 1856 eleito vigário-geral da capital, substitui o bispou dom Saraiva. Testemunhas: Francisco José de Carvalho, branco, agenciador, português, 40 anos incompleto; José João P. Branco, português, alfaiate, 31 anos; João de Deus Soares de Melo, professor (empregado público), natural de Aterro da Boa Vista (Pernambuco), 61 anos Patrimônio-casas na Praça da Matriz, doadas por Satiro Celestino da Costa Leite. Concorreu à freguesia de São Vicente do Cajapió, com o padre Salustiano da Cruz e foi aprovado com 15 pontos e nota bom. (O Eclesiástico n.º 3, de 4 de novembro de 1852). 7 - Joaquim José da Costa Leite, professor. RAMOS. 2 – MIGUEL ARCÂNGELO DA COSTA LEITE, casado com dona Rosa Clara de Amorim. Filhos do casal:


2.1 - Tenente-coronel Marcolino da Costa Leite nasceu em 1809 e faleceu 01/06/1884. Vereador e primeiro presidente da Câmara Municipal de S. Bento – 9/8/1833. Deputado provincial várias legislaturas. Empregado público, agenciador. 2.1.1 - Major Felipe Augusto Costa Leite, vereador 1875. 2.1.2 - Rita Barbosa Costa Leite (45 anos). 2.1.3 - Mariano José da Costa Leite (43), 2.1.4 - João Batista da Costa Leite (42), 2.1.5 - Miguel Arcângelo da Costa Leite (39). 2.1.6 - Major Felipe Augusto da Costa Leite, 2.1.7 - Luiza Rosa da Costa Leite (35) 2.1.8 – Mestre-Escola Luís Raimundo da Costa Leite[12], vigário da paróquia de S. Bento – 1835/1838. Cônego, mestre-escola, presbítero secular, cavaleiro da ordem e Cristo, examinador sinodal, provisor-geral, juiz de gênere e das justificações, juiz de casamento e das dispensas matrimoniais. Vigário capitular do bispado. Duas vezes bispo interino. Patrono da Cadeira 39, da Academia Sambentuense, fundada por Antônio Trinta Trindade. 2.1.9. Maria Custódia da Costa Leite, casada com o Desembargador Raimundo Felipe Lobato. Filhos do casal: : 2.1.9.1 - João Clímaco Lobato, nascido em 1829, formado em Recife, tabelião em S. Luís - . 2.1.9.2 - Raimundo Felipe Lobato Júnior. 2.1.9.3 - Atahualpa Franklin Lobato, pai de Ana Lobato Viana, casada com Manoel Ferreira Viana: filhos – os médicos Luís, Waldemiro, Fernando Lobato Viana. 2.1.9.4 - Miguel Huascar Lobato, casado com Maria Quitéria Padilha Lobato, pais de: 1 - Maria Eugênia Padilha Lobato, casada com Américo Gonçalves Azevedo: filhos Emilio Lobato Azevedo, David Lobato Azevedo. . 2 - Antônio Padilha Lobato, casado em segundas núpcias Carmem Dolores Pereira, filha: Maria Rita (Marita Lobato Gonçalves). 2.1.9.5 - Luís Raimundo Lobato. O Desembargador Raimundo Felipe Lobato era filho de Filipe Nery Lobato e teve por irmãos: 1 - Arcediago Cônego Antônio Lobato Araújo, filho de Felipe Nery Lobato e Maria Clara Martins, neto de Manoel Lobato Araújo e Agostinha Teresa de Jesus Araújo. Nasceu na fazenda Mato Grosso, atual povoado de Palmeirândia. Deputado provincial morreu com oitenta anos, no dia cinco de novembro de 1872 (documento nos presenteado pelo desembargador Milson Coutinho). Deputado provincial, sétima legislatura (1848/1849), quando ocupou a vice-presidência da Mesa. Autor do projeto proibindo todo e qualquer trabalho servil aos domingos e dias santos de guarda. 2 - Carlos Guilherme Lobato, criador, vereador, delegado. 3 - Rita Barbosa de Araújo, filha Felipe Nery Lobato e mãe do padre José Aureliano da Costa Leite. 3 - JOÃO BATISTA DA COSTA LEITE, casado com dona Rita Barbosa de Araújo. Filhos do casal. 3.1 – José Aureliano da Costa Leite, ambos hoje (1830). Clérigo minoritário tonsurado capelão da catedral. Paroquianos da nova Freguesia de São Bento, desmembrada _da Freguesia do Apóstolo São Matias), neto paterno de José da Costa Leite, natural de Lisboa, e de sua legitima esposa dona Loureça Justiniana, natural da Vila de Alcântara, e pelo lado materno de Felipe Nery Lobato, natural da cidade de Lisboa, de sua esposa dona Maria Clara Martins e Araújo, natural de Alcântara. (patrimônio doado pelos pais – terras de São Roque) proprietário terras Canarana e outras. Testemunhas – Duarte Nunes de Oliveira, natural de Portugal, 36 anos, lavrador. Outros Costas Leites.


- Alfredo Augusto da Costa Leite, presbítero, querendo ascender ao sacerdócio, requer habilitação primeira tonsura, às ordens sacras. Filho de Isabel Carolina Nodosa de Araújo. Neto paterno de Antônio José Barros Pimentel e dona Agostinha Maria Jesus, nascidos na freguesia da cidade do Ceará, Bispado de Pernambuco. Estudou no Seminário das Mercês, onde anelando ao sacerdócio, chegou a suplicar, em setembro de 1850, o habite primeiro de genere, para receber a prima tonsura. Elegeu-se deputado das legislaturas, 1880/8l, 1882/83, 1886/1887. Tribuno de grande porte, de vasto saber, membro do Partido Liberal, republicano de primeira ordem, frustrou-se com a queda da Monarquia, quando os adversários foram os que mais triunfaram. Desprestigiado, a convite de um admirador, que o encontrou em situação difícil, assumiu a promotoria pública da comarca de Breves, no Pará. Morreu nesse Estado, na cidade de Óbidos, dia 8 de fevereiro de 1908. Deixou escrito, para os homens do Direito, um trabalho do mais alto valor, intitulado Formulário do Código Penal Brasileiro. Sobre ele, E. Marinho Aranha escreveu: homem de estatura regular, corpulento, fronte altiva, inspiradora de confiança, olhar sereno e prescrutador revelando respeitosa afabilidade, barba escanhoada aos lados e um pouco longe no queixo. Sóbrio nos gestos empolgava com a rapidez de sua eloquência o auditório atento e silencio. Empregado de fábrica sem uma falta, reconhecido pelos seus méritos foi elevado a gerente. Publicou em 1906. “Manual Prático do Código Penal, merecendo da Província do Pará as melhores referências". Batizado em São Bento, 10 de agosto de 1840, pelo reverendo Dias. Padrinhos Bráulio da Costa Dourado e Nossa Senhora. Certidão firmada pelo padre Pinto Cardoso. doc. 1939, de 1/10/1850, cx. 54 – Arquivo Público do Maranhão. Patrono da Cadeira 9, da Academia Sambentuense. Testemunhas. - Bernardino da Silva Brito.[13] - Gabriel Pereira da Cunha e Silva, português, proprietário. - Joaquim Pereira da Silva Luso, português, negociante, proprietário. - José Corrêa de Almeida – português, negociante, - José Ferreira da Costa, português e negociante. - José Luís Ferreira, português, negociante, lavrador. - Manuel Pereira da Silva, português, negociante, proprietário. A menção das testemunhas é para chamar atenção da quantidade de portugueses na vila de São Bento, fato encontrado em outros processos. - Antônio Custódio Costa Leite, jurado 1837. Proprietário em Camapuan. 1861 - Antônio da Costa Leite - Cônego Antônio Julião Costa Leite, professor da Aula de gramática Latina (1826). - Antônio Custódio da Costa Leite, jurado em 1837, proprietário em Camapuam. - Tenente-coronel. Antônio Raimundo Costa Leite. 2ª Região. 1848, proprietário em Inambu, na Enseada Bebedouro. - Antônio Sebastião da Costa Leite, jurado 1837. Eleito juiz Paz 1853, vereador 1844. - Tenente Augusto Vespasiano da Costa Leite, proprietário em Bacabal e fazendeiro. Eleitor 1895 e 1844. Juiz de paz 1866, do 1º distrito. - Aurora Cândida da Costa Leite, senhora que ofereceu sua decente casa para guardar o sagrado material da igreja matriz, quando ameaçada de desabar. Proprietária Pedrinhas. - Benedita de Jesus Costa Leite – cirurgião dentista - viva - Bento da Costa Leite, jurado em 1837. - Euclides Raimundo da Costa Leite, vice-prefeito 1906 e 1909. - Padre Fabricio Alexandrino Costa Leite - Felipe Augusto da Costa Leite, professor, vereador em 1875 e 1919. - João Alexandre da Costa Leite, alistado para esquadras. Fazenda São José, pai de Francisco Costa Leite. (Chico Leite – Pinheiro). - João Joaquim da Costa Leite, jurado 1837, em professor 1861. Vereador. 1852. Membro da comissão para soerguimento da igreja matriz -1862. - Joaquim Clementino da Costa Leite, vereador em 1843, da 4ª Câmara. - Joaquim José da Costa Leite, jurado 1837. Residente em S. Roque.[14] - Cônego José Antônio (Mauricio) Costa Leite.


- Padre José Aureliano Costa Leite – jurado 1837. Alferes José Bernardo Costa Leite, 1853, vereador 1857.juiz paz 1°distrito.1880, juiz paz 1873. Comandante Destacamento. . - José Emiliano Costa Leite, jurado 1837. - Tenente José Filipe da Costa Leite, 1872. 5ª Companhia - Juvêncio Antônio da Costa Leite, professor de Latim e eleitor. 1861 - Leonildes Clementino Costa Leite, vereador 1854 - Manuel João da Costa Leite, jurado 1837. - Manuel Francisco da Costa Leite, jurado 1837. - Maria de Jesus Costa Leite – médica – viva. Filha José Nina. - Matias Romano da Costa Leite, proprietários terras no Inambu. - Porfirio Alexandre Costa Leite, vereador, compôs Mesa Apuradora. 1841. - Raimunda Custódia Costa Leite, em 1851 encontrada morta, pescoço deslocado. - Salatiel da Costa Leite – morador da Canarana. Filhos: Salvador, –Félix, Jorge-pai de Antônio Celestino Costa Leite (Antônio de Cotinha = vereador), Aluísio – pai de Dico Costa Leite, Bento, Benedito e Severiano; Servílio Clementino e Joana Generosa Costa Leite, filhos de Amália Francisca Pires, e irmãos maternos de Dom Luís e Brito. - Alferes Teotônio Alexandrino Costa Leite, da 4ª Companhia. 1904. - Terezinha da Costa Leite, viúva do professor João Miguel da Cruz, mãe do padre Joaçaba. - Tomé João da Costa Leite, jurado 1837. - Marieta Costa Leite. Mais recentes – - Dr. Eliúrdes Abreu Costa Leite - advogada. - Dra. Maria Regina Costa Leite, procuradora de Justiça.

[1] . Secularizou-se depois, foi lente de retórica no Liceu Maranhense, deputado-geral e provincial,

e na Sé cônego mestre-escola do nosso cabido. [2] . Refere-se ao regimento comandado pelo falecido Barão de Turiaçu (ainda coronel Pino de

Magalhães), e que foi chamado de Caxias, onde estacionava, por suspeitá-lo a junta governativa de enão afeiçoado na sua maioria à causa da Independência.., [3] Documento 3637, de 22.06.1815, caixa - 4, maço 505 – Arquivo Público do Maranhão [4]Nasceu em Alcântara em 1751, filho de José da Costa Leite e Loureça Justiniana Gonçalves.

Vereador, exerceu a função de juiz-presidente do Senado da Câmara de Alcântara. Fidalgos e Barões de Milson Coutinho. Pag.204 [5] - AHU-ACL-CU-009-caixa 44, doc. 04366 – Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao

Maranhão, Biblioteca Milson Coutinho. [6] - AHU-ACH-CU-009- caixa 47, doc. 04610, idem, idem. [7] Fidalgos e Barões, de Milson Coutinho, pag.274. [8] Registro do livro de recadastramento de 1854, matriz de São Bento, conforme lei imperial. [9] Pasta Secretaria de Governo, Juiz de Paz, almário B, maço 8, constam como são-bentuenses: [10] AHU-ACL-CU-009-caixa 44. Doc. 0430 Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao

Maranhão, biblioteca Milson Coutinho., [11] Como mestre- Escola Luís Raimundo Costa Leite foi o segundo cônego

bentuense, interinamente o bispado do Maranhão. [12] Vide São Bento dos Peris – agua e vida, 1º volume, páginas 54 a 61.

são-


[13] Pai de Dom Luís de Brito, avô de minha avó Esmeralda. [14] Foi na casa deste, no São Roque que o Padre Malagrida profetizou que morreria queimado.


BAILES DO JAGUAREMA CERES COSTA FERNANDES Deu na página do decano dos colunistas sociais, Benito Neiva: "O Jaguarema não realizará nenhuma festa neste Carnaval"... Para os foliões em geral a notícia não deve ter trazido grandes surpresas. Sabe-se que as atividades sociais do querido clube não vão lá muito bem das pernas, e a suspensão das festas era uma consequência a ser esperada, mais cedo ou mais tarde. Lida a notícia, viajei a um passado recente. Bem aí nos anos 80. O Jaguarema comemorava o auge de seu carnaval com o baile do desfile de fantasias da Segunda-Feira Gorda. O baile mais esperado da cidade. O clube enchia de regurgitar. Alguns dos sócios mais antigos chegavam a reclamar o excesso de gente não associada a perturbar o conforto dos donos da casa que ficavam de dedinho levantado por horas para conseguirem um balde de gelo ou uma carne-de-sol trinchada. O desfile das fantasias, nas categorias luxo, originalidade, masculino, feminino - a bem da verdade, nada que chegasse a se ombrear com os desfiles famosos do Teatro Municipal carioca, modelo de dez entre dez eventos do gênero - fazia o deleite dos foliões. Os gritos, aplausos e assovios acompanhavam as evoluções de cada concorrente, denotando as preferências do público. O clube quase vinha abaixo mesmo era com a performance de Bezerra, cabeleireiro já afamado à época. Os gritos e aplausos à sua passagem eram entremeados com o coro provinciano de: Bicha! Bicha! Imperturbável, dominando a passarela, ele ignorava a patuléia e prosseguia altaneiro no seu desfile, sorvendo o momento para o qual um ano de espera era pouco. Gravou-se-me também o desfile de uma jovem de belíssimas pernas, fantasiada de russa que levava a platéia ao delírio no rodar a saia de seda debruada de arminho. Um lance de tão pura beleza que Nóris Garrido advertiu sobre a perfeição ímpar daquele instante, a não se repetir, pois seremos outros a cada momento, nós e a desfilante. Fiquei a matutar, e hoje, passados tantos anos, chego a me contrapor à querida Nóris, buscando argumentos na imagem que cristalizou o momento e vive na minha memória, perfeita como no dia de sua criação. E peço vênia para acrescentar as palavras: a thing of beauty is a joy forever ( algo belo é uma alegria para sempre) que peço emprestadas ao poeta inglês, John Keats.. Havia ainda outras festas concorridas, a matinal de domingo, com o desfile de fantasias infantis e a festa do aniversário do clube. Todas cheias e animadas. Mas o que me toca o sentimento e do que quero falar, mesmo, não é dessas festas grandiosas e sim daquelas pequenas, na juventude do clube. Festas sossegadas, de pouca gente, animadas pelos mesmos foliões de sempre, a dançar no enorme salão: Orlando Araújo, José Rego, Mendonça, Mário Lameiras, Antônio Frazão, Elias Desgraça, Cleon Furtado, Inácio Braga, Chico Matos, Rubem Goulart, Biné Duailibe e suas famílias. Festas em que havia ônibus estacionados na Igreja de São João para levar e buscar os associados - extremo conforto em época de poucos automóveis na cidade. Festas em que a confraternização alegre continuava dentro do dito veículo, com cantorias, brincadeiras e piadas para cada um que descia. Festas em que, nos dias de chuvarada, com o riacho transbordante quase cobrindo a pequena ponte, os foliões eram forçados a apear e prosseguir a pé até a entrada da sede. Isso em nada diminuía o entusiasmo. Enfrentar desafios e fazer sacrifícios pelo clube fazia parte do modo de ser do associado do que podemos denominar de os tempos heróicos do Clube Jaguarema. Réquiem, não só para o final deste clube, mas dos outros clubes sociais e esportivos de São Luís que nos são caros por serem parte da história da cidade e da pequena história de cada um de nós que neles dançou, jogou, nadou e namorou. Parece que o progresso matou o espírito de clube que já cultivamos. Não sei se este falecimento se deve à corrida em direção às praias - depois das belas estradas -; se à overdose de ofertas de diversão. Não tenho as respostas. Deixemos a questão aos sociólogos que alisaram as cadeiras da universidade para isso mesmo. O que sei, e não pode ser contestado nem pelos mesmos sociólogos, são assertivas simples: as Tertúlias dos domingos no Grêmio Lítero tornaram-se apenas tópico de conversas amenas entre coroas de olhar perdido e as festas do Casino Maranhense não mais terminam, sob a luz do sol, com o cortejo de foliões seguindo animadamente a orquestra até à velha sede do clube. Mas sei


também que houve, para cada um dos que viveram essas festas, o instante de beleza. E isso é para sempre


AGORA, É CINZAS. AYMORÉ ALVIM AMM, ALL, APLAC. Quem pensou no célebre samba cantado por Nat King Cole se enganou. Na verdade, eu quero fazer referência ao dia de hoje, Quarta-feira de Cinzas, de grande significado para a Igreja. Há até quem pense que este dia foi instituído para a purificação dos excessos do carnaval, mas, quem assim pensou, também se enganou. Esta data, sequenciando a terça-feira gorda, é pura coincidência, embora quem assim a determinou parece que estava focado, no carnaval do Brasil. Quem sabe? No calendário eclesiástico, a Quarta-feira de Cinzas marca o início oficial da Quaresma ou do Tempo da Quadragésima se assim preferi. É um período de 40 dias que se estende até a quarta feira da Semana Santa, permitindo ao cristão se preparar para a grande festa da Páscoa, ponto central do Ano Litúrgico. Na realidade, é um período que nos rememora os 40 anos que Moisés conduziu o povo de Deus pelo deserto, levando-o à terra da promissão após a saída do Egito e os 40 dias de jejum passados também por Moisés, no Monte Sinai, antes de receber as Tábuas da Lei. Nos lembra, ainda, os 40 dias de caminhada empreendida por Elias em direção ao Monte Horeb, e, por fim, os 40 dias passados por Jesus no deserto se preparando para a sua missão. Como podemos ver pelas experiências citadas, é um tempo, preferentemente, de orações e jejum que a Igreja nos propõe para revermos as nossas relações com Deus, conosco e com o nosso irmão. Por isso, atualmente, a Igreja privilegia a oração, o jejum e a esmola. Daí, o início do período ser marcado com a imposição de cinzas para nos chamar à reflexão da importância da humildade e abandonar a vaidade, a arrogância, a hipocrisia, a soberba que dificultam as nossas relações sociais e nos mostram, ao mesmo tempo, a nossa condição humana à medida que evoca a admoestação do Senhor a Adão: “Lembra-te, homem, que do pó foste feito e ao pó retornarás” (Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris”. Desde os tempos pré-históricos, as pessoas acreditam na purificação pelo fogo, bem como, que a vida renasce das cinzas como nos dizem as lendas da Fenix da Grécia Antiga e de Benum, no Egito. Ao longo do Antigo Testamento, são observadas várias passagens em que o povo de Deus se vestia de panos de saco e cobria a cabeça com cinzas para reparação de suas faltas, buscando nova aliança, isto é, a reconciliação com o Senhor. No século VIII da nossa era, a imposição de cinzas era usada em diversas regiões para expiação de faltas de domínio público como o que chamamos agora de corrupção, desvio de recursos públicos, apropriação indébita do patrimônio público e outras coisas semelhantes. É uma pena que isto não ocorra mais em nossos dias, principalmente, aqui no país. O ritual, como atualmente ocorre, teve a sua origem, na antiga região da Inglaterra, mas o seu primeiro registro, em Roma, data do século XI e, no ano de 1091, o papa Urbano VI o estendeu para todo o mundo católico, no Concílio de Benavento. Portanto, dispa-se das suas fantasias. Agora, é Cinzas. O carnaval que não houve por decisão de seu Corona acabou


NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.


BOM DIA! O amanhecer constitui um acréscimo à dádiva do viver. Hoje é mais um dia de nascer de novo, de abrir os braços e acolher a manhã, que atravessou a noite e chegou como presente. Não pensemos muito, nem fiquemos parados, procurando encontrar explicações para tudo. Ficar parado é andar para trás e olvidar que as velas ardem até ao fim. Corramos, pois! Tanto quanto possível, cúmplices e juntos, e dando o nosso melhor. Corramos alegres, porque a tristeza é um vício que leva a escutar como gemido o canto do vento ao nosso redor. Sejamos carregdores da alegria. E tentemos voar suavemente como uma borboleta multicolorida. É esta a nossa vocação.

CURRICULUM VITAE Nestes dias de pandemia, de confinamento e meditação passo, frequentemente, revista às etapas e páginas do meu currículo. Tal como o de muita gente, está cheio de marcas da terra e de feridas da guerra. Sorrio para as primeiras e acaricio-as, por serem o meu berço, chão e suporte. Quanto às segundas, cuido de as lamber e sublimar, porquanto tenho pacto com a alegria e a vida, não com a dor e a morte.

ANDEBOL DO NOSSO CONTENTAMENTO Até recentemente, o andebol era parecido a uma mistura de boxe com bola. A alteração das regras favoreceu a entrada em cena de novos atores. A corpulência e a força podem ser superadas por qualidades motoras mais finas. A criatividade, a agilidade física e mental, a capacidade de análise e perceção, a inventividade, etc. tornaram o andebol um excelente espetáculo, com acréscimo de ludismo e beleza plástica. Portugal tem dado, nos últimos anos, um notório contributo para esta evolução. Vamos para qualquer embate sem complexos, confiantes no reportório das nossas habilidades. Pomos em campo a dança, o folclore, o fandango e o corridinho. Também está lá o fado, quando perdemos por um golo e, no último segundo, acertamos no poste, como foi o caso, há dois dias, com a Noruega. Hoje, com a Suíça, abrimos todas as páginas do livro da nossa idiossincrasia lúdica.

DA CAMINHADA DO CORPO Nestes dias de ‘corpos confinados’ é pertinente uma reflexão sobre a lenta caminhada do corpo, até ver reconhecido o seu papel na edificação da pessoa. ‘Pertinente’ porque nunca foi tão sentido e, paradoxalmente, nunca esteve tão esquecido na consciência pública. É nele que vivemos, é com ele que resistimos à pandemia. Saltemos etapas e foquemos o século XX, por ser um tempo de redescoberta do corpo, da sua reinvenção, revalorização e envolvimento material. Isso é evidente em distintas correntes do pensamento. Segundo Freud (1856-1939), “o inconsciente fala através do corpo.” Para Edmund Husserl (1859-1938), representante da Fenomenologia, o corpo é o “berço original de toda a significação”. E o existencialista Merleau-Ponty (1908-1961) conclui: o corpo é “encarnação do espírito”,“pivô do mundo”, “estrutura do viver”. Idêntica é a formulação do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): “Salve, meu corpo, minha estrutura de cumprir os ritos de existir!” Por sua vez, Marcel-Mauss (1872-1950) assinala o aparecimento da noção de “técnica corporal”, a multiplicação e expansão das formas, dos métodos e usos do corpo pela sociedade e pelos indivíduos. A segunda metade do século XX é marcada pela racionalidade científica e tecnológica, que prolonga e acentua o propósito da Modernidade: a transformação e recriação da natureza, tanto da


extrínseca como da intrínseca. Assim, surgem inúmeros especialistas acreditados e apostados em impor o primado de tal racionalidade em todas as áreas. Consequentemente emerge uma onda de ‘ativismo’ e ‘intervencionismo’ no corpo, sem precedentes. Ele deixa de ser apenas natureza primeira; torna-se campo experimental dos desejos, das visões, das esperanças, expectativas e fantasias mais prodigiosas. De corpo espontâneo, esquivo, insubmisso, resistente e natural ele evoluiu paulatinamente para corpo intencional, obediente, conhecido, dócil e ‘artificial’, lavrado, colonizado, transfigurado e edificado para os mais diversos fins. Um narciso à medida das aspirações e vontades, das metáforas e utopias, da função e necessidade, fiável na superfície e na profundidade. Esta é uma marca indelével da conjuntura corporal da nossa era. A segunda natureza (cultura) quer dispor da primeira a bel-prazer, torná-la mais elaborada e ‘produzida’, dar-lhe nova pele, fazê-la desaparecer progressivamente. Fica difícil definir a relação entre o ‘natural’ e o ‘artificial’. Enfim, o mito prometeico do progresso, da melhoria e modificação da natureza, subjacente à civilização, continua a iluminar a caminhada, hoje com o fogo da ciência e da técnica. Foi no contexto da racionalidade científico-tecnológica que surgiram e se afirmaram as Escolas de Educação Física e Desporto. O corpo é o principal objeto. Elas têm cumprido a missão; mas carecem de um ímpeto cultural e intelectual, antropológico e filosófico, que as leve a acompanhar a passada dos autores de outras áreas. A obra de António Damásio é deveras estimulante, por ensinar que não é o cérebro a base de tudo. Igualmente valioso é o último livro de Luís Fernandes, poeta e professor da FPCE-UP. ‘As lentas lições do corpo’ ensinam que neste começa a formação da nossa identidade; somos o corpo que temos, nele se origina o Ego pessoal, na ordem corporal acomoda-se a social. Sobretudo, ensinam o direito à dignidade, ao cuidado e respeito de todos os corpos, a acabar com a diabolização dos gordos e a divinização dos magros.

SUICÍDIO DOS PROFESSORES A queda na conformação à vulgaridade do senso-comum, na ausência de linguagem e pensamento elevados, na fuga à tomada de posição perante os males que afligem a Humanidade, a Comunidade e a Sociedade, na renúncia ao compromisso da afirmação e defesa do bem público, da decência, dignidade, equidade, justiça e liberdade - eis um crime que os professores cometem contra si mesmos, contra a axiologia, contra a educação e a sua missão. Este suicídio não é raro. Ao invés, é praticado diariamente por não poucos docentes de todos os graus do ensino: básico, secundário e superior. Por comodismo? Por esquecimento? Por ignorância? A cobardia, a indiferença, o oportunismo e a traição têm muitos nomes e vestem-se com roupas várias.

DO CORRER Gosto de correr. Aprecio ver, mas não fazer, corridas de velocidade. Prefiro as de fundo. Sinto prazer na perceção das contrariedades, dificuldades e resistências do corpo, no exercício da vontade de as vencer. Tenho tempo para reparar nos outros, que passam por mim ou ficam para trás, para contemplar e ouvir o entorno, para retomar assuntos suspensos na reflexão, para burilar frases e textos sempre imperfeitos, para inventar respostas a perguntas que bailam na minha inquietação, para falar comigo num diálogo de diferentes personagens, para aplicar fintas ao cronómetro da vida e da ilusão. Excetuando a prova final do curso de oficiais milicianos em 1967 (Escola de Infantaria sediada em Mafra, no edifício do ‘Memorial do Convento’ de Saramago), nunca venci uma corrida atlética de fundo. (Triunfei noutras!) Mas o que nela me acontece é, em si mesmo, um enorme ganho.


QUEM SOMOS? Provimos do barro e da água, e de algum fogo. Somos feitos de tantas coisas materiais e imateriais que não conseguimos percebê-las a todas. Atravessamos o tempo, contra e a favor do vento. Recebemos luz e também areia nos olhos e na alma. Com asas de sonhos e pés de chumbo, voamos e andamos para nos encontrarmos. O encontro pleno nunca acontece. Há sempre partes que faltam e entendimentos que não se acham. Somos obrigados a escolher nas bifurcações dos caminhos. Ninguém escolhe por nós. Estamos por nossa conta. Assumir o risco de prosseguir além da Taprobana é a decisão sublimadora do trânsito existencial. Só assim nos aparece o sol, a romper as manhãs submersas.

DO POUCO QUE SEI "Sei que nada sei", assumiu Sócrates (469-399 a.C.), o enigmático filósofo da maiêutica. Sei que o mundo precisa urgentemente de ser mais decente e humano! - Eis o que um espírito atento reconhece e aprende ao olhar para as circunstâncias. Sei que é possível fazer da Terra um cenário da fraternidade, da hospitalidade e da solidariedade! Eis a proclamação dos utopistas em canções que incendeiam a alma, em imagens que desacorrentam lágrimas nos olhos, em textos que arranham a pele, em atitudes que semeiam trigo no rosto, em partilhas que multiplicam o pão e o vinho na boca, em encontros onde a felicidade se concretiza e transborda. Sei que é altura de dar forma ao espanto desmedido. De tornar intenso e visível o seu traço. De afirmar, cantar e viver o Paraíso sonhado e construído. De lutar por ele e com ele encher o tempo e o espaço.

AQUELE QUE TRABALHA A TERRA Quando observamos, nas prateleiras dos supermercados, os produtos da terra, não nos lembramos de quem os produziu. Nem da sabedoria que o agricultor possui acerca do amanho do chão, das mudanças da lua e do tempo, das alturas propícias para plantar e semear. Ignoramos as madrugadas para levantar. Não vemos os calos nas suas mãos, os trabalhos árduos, as chuvas, o frio e o sol inclementes que lhe vergam o corpo e tornam a face crestada. Aquele que trabalha a terra é um sonhador. Idealiza sonhos e acredita na sua realização. Comanda o arado, a charrua e a enxada com o coração fervente e a esperança iluminada. Tem alma lavada, fronte erguida, palavra honrada e dignidade acrescentada. Constitui exemplo para os que descreem do agro pedregoso, árido e ruim. Uma metáfora dos que labutam em todas as áreas, contra a dureza das circunstâncias.

QUAL HUMANISMO UNIVERSALISTA?! É fácil e tranquilizante encher a boca com a proclamação de direitos, princípios e valores universais. Mas eles jamais alcançarão configuração efetiva, se não forem defendidos e concretizados localmente. Todos, não apenas os ‘convenientes’ à elite, lesta e perversa a atirar poeira para os olhos! Serão os desempregados e explorados, os excluídos e esquecidos, os abandonados e marginalizados, os pobres e miseráveis, que estão ao nosso redor, tão ‘livres’ como os outros cidadãos? Usufruem dos pressupostos indispensáveis para uma existência com a marca da dignidade? Reluzem neles os direitos fundadores da civilização? São realmente membros da Cidade Humana? Quantas inquietudes para as consciências acordadas! “O universal é o local sem paredes”, disse Miguel Torga. É o nível do cuidado devotado à comunidade e territorialidade que traça o destino e perfil da universalidade.


PACTO EDUCATIVO GLOBAL / ALDEIA DA EDUCAÇÃO Em 12 de setembro de 2019, apoiado por líderes judeus e muçulmanos, o Papa Francisco lançou o apelo para um “Pacto Educativo Global”, visando a construção da “aldeia da educação”. No essencial, o Sumo Pontífice desafiou o mundo a ter a coragem de colocar no centro da educação a pessoa, a investir as melhores energias na criatividade e na responsabilidade, a formar cidadãos disponíveis para servir a comunidade. “Caríssimos: Na carta encíclica ‘Laudato Sí’, convidei-os para colaborar na salvaguarda da nossa ‘casa comum’, enfrentando juntos os desafios que nos interpelam. Passados alguns anos, visto que toda a mudança precisa duma caminhada educativa para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora, renovo o convite para dialogar sobre o modo como estamos a construir o futuro do planeta e sobre a necessidade de investir os talentos de todos. Com esta finalidade, desejo promover um encontro mundial no dia 14 de maio de 2020, que terá como tema ‘Reconstruir o pacto educativo global’: um encontro para reavivar o compromisso em prol e com as gerações jovens, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, de diálogo construtivo e mútua compreensão. Nunca, como agora, houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações, em ordem a uma humanidade mais fraterna. O mundo contemporâneo está em transformação contínua, vendo-se agitado por variadas crises. Vivemos uma mudança epocal: uma metamorfose não só cultural, mas também antropológica, que gera novas linguagens e descarta, sem discernimento, os paradigmas recebidos da história. A educação é posta à prova pela rápida aceleração (…), que prende a existência no turbilhão da velocidade tecnológica e digital, mudando continuamente os pontos de referência. Neste contexto, perde consistência a própria identidade e desintegra-se a estrutura psicológica perante uma mudança incessante que “contrasta com a lentidão natural da evolução biológica” (FRANCISCO, 2015, p. 18) (…) Por isso, é necessário construir uma ‘aldeia da educação’, onde, na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas. Como afirma um provérbio africano, “para educar uma criança, é necessária uma aldeia inteira”. Mas, esta aldeia, temos de a construir como condição para educar. Antes de mais nada, o terreno deve ser bonificado de discriminações com uma inoculação de fraternidade, como defendi no Documento que assinei com o Grande Imã de Al-Azhar, em Abu Dhabi, no passado dia 4 de fevereiro. Numa aldeia assim, é mais fácil encontrar a convergência global para uma educação que saiba ser portadora duma aliança entre todos os componentes da pessoa: entre o estudo e a vida; entre as gerações; entre os professores, os alunos, as famílias e a sociedade, com as suas expressões intelectuais, científicas, artísticas, desportivas, políticas, empresariais e solidárias. Uma aliança entre os habitantes da terra e a ‘casa comum’, à qual devemos cuidado e respeito. Uma aliança geradora de paz, justiça e aceitação entre todos os povos da família humana, bem como de diálogo entre as religiões. Para atingir estes objetivos globais, a caminhada comum da ‘aldeia da educação’ deve dar passos importantes. Primeiro, ter a coragem de colocar no centro a pessoa. Por isso, é preciso assinar um pacto para dar uma alma aos processos educativos formais e informais, que não podem ignorar o fato de que tudo, no mundo, está intimamente conexo e é necessário encontrar – segundo uma sã antropologia – outros modos de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso. Num percurso de ecologia integral, coloca-se no centro o valor próprio de cada criatura, em relação com as pessoas e com a realidade que a rodeia, e propõe-se um estilo de vida que rejeite a cultura do descarte. Outro passo é a coragem de investir as melhores energias na criatividade e responsabilidade. A ação propositiva e confiante abre a educação para um projeto a longo prazo, que não encalhe na tendência estática das condições. Assim, teremos pessoas abertas, responsáveis, disponíveis a encontrar o tempo para a escuta, o diálogo e a reflexão, e capazes de construir um tecido de relações com as famílias, entre as gerações e com as várias expressões da sociedade, de modo a constituir um novo humanismo. Um novo passo é a coragem de formar pessoas disponíveis para se colocarem a serviço da comunidade. O serviço é um pilar da cultura do encontro: “significa inclinar-se sobre quem é necessitado e estender-lhe a mão, sem cálculos nem receio, com ternura e compreensão, como


Jesus Se inclinou para lavar os pés dos Apóstolos. Servir significa trabalhar ao lado dos mais necessitados, estabelecer com eles, antes de tudo, relações humanas, de proximidade, vínculos de solidariedade” (FRANCISCO, 2013). No serviço, experimentamos que há mais alegria em dar do que em receber (cf. Atos dos Apóstolos 20, 35). Nesta perspetiva, todas as instituições se devem deixar interpelar acerca das finalidades e métodos com que desempenham a sua missão formadora. Por isso, desejo encontrar-vos em Roma a todos vós que, pelos mais variados títulos, trabalhais no campo da educação em todos os níveis da lecionação e da pesquisa. Convido-vos a promover em conjunto e ativar, através dum pacto educativo comum, as dinâmicas que conferem um sentido à história e a transformam de maneira positiva. Juntamente convosco, dirijo idêntico apelo a personalidades públicas que ocupem, a nível mundial, lugares de responsabilidade pelo futuro das novas gerações; espero que acolham o meu convite. E faço apelo também a vós, jovens, para que participeis no encontro e sintais plena responsabilidade de construir um mundo melhor. O encontro será no dia 14 de maio de 2020 em Roma, na Sala Paulo VI do Vaticano. Uma série de seminários temáticos, em várias instituições, acompanhará a preparação do encontro. Juntos, procuremos encontrar soluções, iniciar sem medo processos de transformação e olhar para o futuro com esperança. Convido cada um a ser protagonista desta aliança, assumindo o compromisso pessoal e comunitário de cultivar, juntos, o sonho dum humanismo solidário, que corresponda às expetativas do homem e ao desígnio de Deus. Fico à vossa espera e, desde já, vos saúdo e abençoo.” DOS LADRÕES ANTIGOS E DOS PÓS-MODERNOS Antigamente os ladrões tinham vergonha da sociedade; e medo da polícia e da justiça, que lhes malhavam o toitiço e os metiam no xilindró. Por isso roubavam às escondidas. Mais, a gatunagem não era profissão; era recurso arriscado, não dava prazer. Os ladrões pós-modernos roubam às escâncaras; podemos assistir ao vivo, nos canais de televisão. O risco é nulo, exibem bravatas e ainda são pagos para exercer a função. Alguns deles são comentadores e árbitros de futebol. Os primeiros roubam-nos o direito à informação correta. Os segundos fazem toda a sorte de tropelias, cientes de que nada lhes acontece. Em tempos de pandemia, como os estádios estão vazios, os reis do apito nem sequer têm que suportar as vaias dos espectadores. A justiça desportiva e a geral deixam que a impunidade grasse. A omissão encomenda a vinda de outro modo de acertar contas, que não será justiça, mas vindicta, caos e violência. Parem a corrida para o abismo, em nome da civilidade e do desporto! PENSAMENTOS ATIRADOS AO VENTO Não te limites a receber, a reter e guardar só para ti. Se não compartilhares, desaguares e misturares com os outros, corres o risco da transformação num mar morto. O progresso supremo é o ético. É ele que examina, pesa e credita a valia dos restantes avanços. Sem equidade, partilha, solidariedade e compaixão não há civilização. Esta era comprova isso; a extraordinária evolução tecnológica coabita com a barbárie e suscita, portanto, inquietação. Como reages a isto? Se fazes constantemente sinais de assentimento a tudo, então não tens cabeça. Hipotecaste-a e vives (?!) com a hipoteca dela. És realmente um fenómeno do Entroncamento; consegues circular, sem escolher o caminho. DESPORTO: SOLIDÃO DISCURSIVA E APAGÃO REFLEXIVO O desporto nacional assemelha-se a uma embarcação homérica, obrigada a enfrentar a inclemência dos ciclopes implícitos na pandemia. O Professor José Manuel Constantino, Presidente do Comité Olímpico, tenta conduzir a nau por entre a tormenta. Está só na empreitada; ninguém de peso institucional o acompanha e lhe presta auxílio. O apagão reflexivo e discursivo também tomou conta das Escolas ou Faculdades e dos seus docentes, com a honrosa exceção do Professor Carlos Neto. A conjuntura trouxe a oportunidade rara de reformular a legitimação da área da Educação Física e Desportiva, em torno da necessidade e qualificação dos afetos, do jogo e movimento do corpo. Mas é desaproveitada; fica


assim por dar um contributo para a renovação da Educação e da Escola. A omissão inscreve-se no medonho cenário geral de aversão ao pensamento e à tomada de posição. As criaturas vestem a pele de lobo, e fogem ao exercício da função.

DESPORTO: HORA DE PREMENTE REFLEXÃO A pandemia atinge em cheio o desporto, as instrumentalizações e um pouco do coração. Este encontra-se contaminado; requer depuração. Os fins intrínsecos não podem ser esmagados pelos extrínsecos. Exige-se harmonia. É hora de descer o pano sobre o palco mercadológico, de passar a pente fino os abusos. De tirar de cena e colocar em quarentena: negócios obscuros e negociantes ardilosos, falsificações e perversões imundas, dirigentes obscenos, juízes batoteiros, programas televisivos indecorosos, jornalistas paus-mandados e comentadores alucinados. Vivam o estádio e o atleta; calem-se a desvergonha e a incivilidade! Estes dias não consentem a cobardia intelectual. O desporto não é redutível a comércio ou indústria. Como arte performativa, é bem axiológico e cultural: os praticantes servem o aprimoramento corporal e comportamental; a inversão de preço e valor promove o efémero e banal. Combater a podridão e a ignorância faz parte da desinfeção viral. Contudo, é inaudível a voz cívica, e muda a oficial e política. Não se aponta o rumo, nem condena o despautério de contratações milionárias de futebolistas, anunciadas a toda a hora pelo ruidoso tropel de falsários. O desemprego e a pobreza aumentam, atingindo inúmeros sócios e adeptos de quem pratica contratos tresloucados. Reina um silêncio de cumplicidade, de desvario e tragédia. Quo vadis, desporto? Nesta ‘era de infelicidade coletiva’, expressa pela não realização da Festa Olímpica, o desafio colocado ao desporto é maior do que o enfrentado por Coubertin para repor os Jogos da Modernidade. O inimigo de agora é a superestrutura ideológica, que comanda o sistema regente do mundo e o modo de vida, e está profundamente entranhada no desporto, nos desvalores que o pervertem e ele reverencia. Cumpre-nos proteger a importância social do desporto, defender o património público das suas organizações, os ideais, símbolos e valores. Urge ponderar o grave desequilíbrio entre os princípios fundadores e as externalidades, e a insana maximização, associada à racionalidade científica e tecnológica. Requer-se indisponibilidade para tecer loas à paixão por um desporto gerador de ídolos, pagos a peso de ouro, venerados pelo povo, mas incapazes de se posicionar ao lado dele, das suas agruras e dificuldades; e, ao invés, sempre lestos a juntar-se aos cavernícolas, safados e sacripantas. Segundo o filósofo José Gil, podemos chamar à conjuntura ‘apocalipse’, pela primeira vez na história, anunciado pela ciência e não por seitas proféticas e fanáticas. Este dado é positivo, afasta-se dos negacionismos de figuras macabras, e também de lucubrações ambientalistas de teor etéreo. Todavia, não é animador; expõe a possibilidade do fim da nossa espécie, as razões para termos angústias e a urgência de enfrentamento dos problemas. O mundo está cheio de hostilidades, de competitividades destrutivas, de jogos de soma zero. Temos medo do Outro; encaramo-lo como perigo potencial. Ora, isto é muito mau. A ecologia, de que carecemos, não é só ambiental; é societária e espiritual, económica e energética, comunitária e pessoal, racional e emocional, jurisdicional e sapiencial. É o nosso destino que está em jogo. Precisamos de mudar radicalmente. Alguém possui a ideia, a chave e a vontade para tal mudança, para sair do receio de existir e do caos, e recriar a pulsão altruísta e inventiva, o ritmo e sentido da vida? Estamos parados numa estação de reinvenção. Logo, impõe-se a recusa do regresso à normalidade anterior. Neste empreendimento o corpo é peça fulcral. A pandemia alterou a perceção e relação com ele. A vocação interna do corpo, dos movimentos corporais, é de juntar e relacionar com os outros. As restrições da pandemia reduziram a espontaneidade da vida e de tudo que nos distingue de robôs. Procuram-se janelas para corpos e sujeitos confinados! O tempo é de silêncio e vazio. Falta uma linguagem performativa desta realidade, que a descreva e explique, e convoque outra. Tudo isto parece um ensaio acerca da morte do corpo material e real na era virtual. Ademais, os filmes em voga celebram os instintos brutais do ente humano, determinantes da evolução da inteligência artificial: ensinam como um destrói e mata o outro, ganha e chega ao topo. É aterrador, mas a maioria está sendo habituada ao horror, para não o notar e estranhar. Com a chegada da vacina, a dias de profundo desânimo sucedem dias de otimismo. Isto é de saudar; porém não significa que a esperança de cura da pandemia seja promissora da cura dos outros males, nomeadamente os sociais.


A tão saudada luz ao fundo do túnel revela que se deseja viver a normalidade que já vivíamos anteriormente, e equivale a mitificá-la. Será ela a nova normalidade, que tanto ansiamos? Será feita de certezas e não incertezas, de segurança e não insegurança, de previsibilidade e não imprevisibilidade? Estaremos seguros e duradoiramente estáveis? Não sabemos se vamos, no curto prazo, poder instaurar a estabilidade ou se, no futuro, seremos obrigados a viver na instabilidade, devido a alterações climáticas, a recessões económicas, a tensões e conflitos políticos. O medo perdura. Tudo sugere que o ‘novo normal’, assaz ‘anormal’, veio para ficar, durante bastante tempo. São muitas e difíceis de responder as inquietudes! Como ficará a devastação da cultura do lazer (incluindo o desporto) e da sua economia? Como ficarão a democracia, as instituições, os movimentos sociais, a configuração do quotidiano, as rotinas adquiridas no passado e abandonadas no presente? Como vamos eliminar o ‘medo’, criado pela pandemia e regulador do contexto material e psicológico em que vivemos? Deixaremos de olhar os outros e abeirar deles com a espontaneidade anterior? A ‘fobocracia’ é explorada pelos populismos. Se os jovens sentirem mais medo do que os idosos, isso terá graves sequelas para o porvir. Como impedir que não floresça a ‘cultura’ do desafeto, e como repor a da proximidade, da partilha e da cumplicidade? Como enfrentar o discurso distópico sobre as maravilhas da tecnologia, promovida a substituto da presença, do abraço, da materialização dos afetos, da escola e educação de copresenças corporais? Como reverter a resignação à falta de contacto físico? Como nos adaptaremos a este quadro? Temos que reinventar o desporto e tornar este um dos meios de elevação e qualificação do viver! Como? A solução da questão consiste em captar e conjugar as interrogações que estão nas coisas, em entretecer, com elas e como obra de benquerença, esforço e união, a colcha de retalhos multicoloridos do desporto da nossa sublimação. Nesta era de mágoas, agonias e opressões é preciso filosofar, pensar e agir melhor para trazer à tona o fundo do destino. O amontoado de desesperança e desilusão expõe o quanto nos faltam a clarividência e o fulgor do sonho, da utopia e da imaginação. Nesta época de trevas brancas, a tentação de parar e desistir deve ser um aguilhão para ressuscitar e prosseguir. E o pasmo e a incerteza obrigam a combater a resignação e a fraqueza. Nesta plaga de amargura, o que nos atraiçoa e intenta derrubar deve acordar e renovar a determinação de recomeçar. Nesta altura de balanço, as lições do passado constituem um património de saber acumulado. Nesta antecâmara de guerra e morte geral, somente nos salvamos, se a graça e o sorriso forem comunhão universal. Oh, desporto eu te saúdo, porque revelas tudo, mau e bom, o que a gente é e não é, tem e não tem! Volta e traz a bandeira do Ser cantante contra o tédio asfixiante!

CORPO ARTÍSTICO Todas as artes são expressas pelo corpo. Balé, dança, desporto e teatro são aquelas em que reparamos facilmente. A literatura, o romance e a poesia, a linguagem e tonalidade da declamação, a gestualidade no cinema, o tom, o timbre, a harmonia e a voz do canto, os traços da pintura, da escultura e do desenho são igualmente prestações corporais. O corpo é o supremo artífice da humanização. Fala, escreve, canta, chora, corre e salta, dança e voa, desenha, esculpe e pinta, namora e beija, saúda e sorri, dá forma ao Ser, configura os ideais sonhados e os caminhos andados. Tem alma e brilho. Não há estrelas sem corpo, na terra como no céu. Quando deixará o corpo de ser alvo de suspeição? Ele lê, aprende e arquiva muito; o do idoso é biblioteca e museu. O corpo é ‘pontífice’: tece pontes para o absoluto, o infinito e o impossível, tira do pasmo e convive com o espanto. E assim edifica o Eu! Sem janelas para dentro e fora de si, fica ‘confinado’ e

separado da arte; nele murcha a vida e apaga-se a fogueira do espírito. PANDEMIA E ARBITRAGEM Não tem cabimento tomar o todo pela parte. A imensa maioria dos árbitros do futebol português goza de boa saúde mental e moral; não foi atacada pela Covid-19, nem por outro vírus do mal. Apenas uma minoria, graduada em general, está infetada por forte carga viral: arrogância,


empáfia, pesporrência, desfocagem visual, vedetismo, vaidade e novo-riquismo a mais, comedimento, humildade e probidade a menos. Os figurões beneficiam do confinamento imposto pela pandemia. Estão num paraíso fiscal! Além de contarem com a proteção das costas pelos órgãos federativos, não têm que suportar a fúria e as vaias dos adeptos, impedidos de frequentar o estádio. E assim sentem-se à vontade para agir com acrescida impunidade e leviandade. Quem os ameaça fisicamente desce às catacumbas da incivilidade; e faz-lhes o favor de os transformar em mártires. O único remédio, com efeito garantido, é tirar do cesto as maçãs podres, confiná-las e livrar delas o espaço público. DA DOENTIA ORDEM NEOLIBERAL A ideia de que a humanidade cria os meios de sobrevivência através do controlo e da transformação da natureza (cara aos pensadores da Modernidade, nomeadamente Karl Marx) está falida. A natureza não é amorfa e passiva; reage e dá troco, não somente a extrínseca, mas igualmente a intrínseca. A obsessão do produtivismo, da aceleração, do frenesim, da hiperatividade e hiperagitação, da sobrecarga de informações e tarefas, uma marca das últimas três décadas, traduz-se em doenças que matam e levam a morrer e não viver antes da morte biológica. Alzheimer, burnout (esgotamento físico e mental), depressões e demais variantes do estresse são resultantes do rumo imposto à civilização pela ordem neoliberal. Para sobreviver é urgente romper com o estilo de vida, em vigor, e criar outro superior no plano cultural e existencial. A civilização da correria e da pressa, da competitividade e do sucesso, da classificação e do ranking deve sair de cena e dar lugar à civilização do ócio criativo, da lazeira, da lentidão e do vagar, do banzo e do elusivo, dos inutensílios, do ludismo e desporto, do tempo para disfrutar, contemplar, admirar e filosofar, cantar e versar, conviver e concelebrar. Sejamos quem somos: seres analógicos e não digitais!


P’ra não dizer que não falei de poesia... e de poetas


ORAÇÃO DE SAUDADE A UM POETA MAIOR FERNANDO BRAGA Há dias, respondi um questionário elaborado por Natércia, neta de Nascimento Moraes Filho, como instrumental para sua tese de doutorado, quando me perguntava qual era o real sentimento pelo autor de ‘Pé de conversa’. Respondi que o meu sentimento era ao mesmo tempo filial e fraterno, porque foi ele, que numa certa tarde arrancou-me das mãos os originais de ‘Silêncio Branco’, meu primeiro livro de poemas e fê-lo editar pelo Departament6o de Cultura do Estado, sob a direção, na época, do querido Dominguinhos Viera Filho, que de pronto escreveu as orelhas, e deu a apresentação para Erasmo Dias, já que eu tinha a unção de Fernando Viana, Bacelar Portela e Rubem Almeida; a capa entregaram-na para Pedro Paiva Filho... Creio que fora um excelente batismo para um jovem de 20 anos... E é justamente a ele, Zé Moraes, o meu Cireneu, a quem escrevo estes apontamentos para jornal, porque foi por suas mãos, repito, que um dia cheguei aos valores reais de minha terra. Este poeta, ensaísta e folclorista chama-se José Nascimento Moraes Filho, São Luís, 15 de julho de 1922 - São Luís, 22 de fevereiro de 2009. Deixei o verbo no presente, porque homens como ele não morrem nunca, e nunca saem de cenário, principalmente quando seu grito também de jovem arrancou da crítica brasileira, e do outro lado do Atlântico, os crivos merecidos. “Poetas meus irmãos, / acompanhai o meu grito! / Eu sou o sofrimento dos sem nome! / Eu sou a voz dos oprimidos”. Assim ecoava o grito libertário de Nascimento Moraes Filho através do seu “Clamor da Hora Presente”, a estilhaçar métodos e conceitos, com sua poesia social e participativa. Era um poeta que já nascia maduro, egresso do Centro Cultural Gonçalves Dias, ao lado de Clóvis Sena, Vera Cruz Santana, Agnor Lincoln da Costa, Clineu César Coelho, e outros talentos, que ao tempo se reuniam nas escadarias da Igreja do Carmo, bem antes do movimento “Ilha”, que se reunia na “Movelaria”, de propriedade do pintor Pedro Paiva, que congregava José Sarney, Bandeira Tribuzi, Lago Burnett, Ferreira Gullar, Floriano Teixeira, Cadmo Silva, Antônio Luís Oliveira, Yêdo Saldanha, José Bento Neves, dentre outros... Era essa a plêiade dos jovens intelectuais da época que viriam a formar a famosa geração de 45 maranhense.. Sobre esse seu canto de estreia de Nascimento Moraes Filho, disse Otto Maria Carpeaux, numa página inteira do ‘Correio da Manhã’, do Rio de Janeiro, de onde este excerto diz tudo: “Inspiroume grande simpatia. Agradeço a oportunidade de entrar em contato com a alma de um poeta realmente generoso e forte”. Zé Moraes, como era conhecido, não despontava apenas por ser filho do mestre Nascimento Moraes, “O lutador”, catedrático do Liceu Maranhense e um dos maiores intelectuais do seu tempo; nascia ele da espontaneidade do seu talento, da explosão dos seus gestos de revolta, como címbalos a retinir no bronze, como era sua voz grave a trovejar sempre ao lado da equidade e da justiça. Nascimento Moraes Filho pertenceu a nossa mais autêntica ‘Bélle Époque’ a se reunir costumeiramente no ‘Atena Bar’, na Rua de Nazaré, onde numa das paredes, à direita de entrada do boteco, na Rua de Nazaré, estavam as mais nobres assinaturas de intelectuais do Maranhão e deste velho Brasil, os quais, de passagem por São Luís, e quase sempre hospedados no Hotel Central, ali perto, eram chamados para participar daquele tradicional rito. Se o Raimundo, dono do bar, soubesse o valor daquele patrimônio, teria inventariado a parede em separada, antes de negociar o estabelecimento.


Vejam esse lance de boêmia e generosidade: Nascimento Mores Filho chegou ao ponto de organizar uma caixinha de contribuição de todos que frequentavam o ‘Atena Bar’ para pagar os ‘tragos e cervejas’ de poetas e pensadores menos afortunados... Foi numa dessas ocasiões que Zé Moraes apresentou ao Maranhão (lê-se São Luís), um dos seus filhos ilustres, mas que, infelizmente, não era conhecido ainda pela maioria de seus conterrâneos, vez que saiu de São Luís muito moço com destino aos mistérios amazônicos, atraído, já ao tempo, pelos estudos da etnologia, e depois se transferindo em definitivo para o Rio de Janeiro. Essa figura era Nunes Pereira, etnólogo e botânico, um cientista do mesmo porte intelectual de Roger Bastide, de Arthur Ramos e de Levy Straus; no entanto, Nunes Pereira, fora nascido e criado bem ali na Casa das Minas, na Rua de São Pantaleão, filho de mãe Almerinda e afilhado da Nochê da Casa, Mãe Andreza Maria, nome que, com emoção, dei à minha filha, exclusivamente em sua homenagem. Nunes Pereira dá nome hoje a uma das alas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, pertenceu as Academias Maranhense e Amazonense de Letras... Deixou grande bibliografia nesse campo científico, e mais outorgas brasileiras e estrangeiras e o Prêmio Roquette Pinto, da Academia Brasileira de Letras, pelo seu trabalho ‘Morunguetá: um Decameron indígena’. Honroume muito ter o velho Nunes Pereira como querido amigo e mestre... Quanto aprendi com ele... E se mais soubera...mais teria aprendido! Voltando o fio à meada, sobre os quefazeres literários de Zé Moraes, disse o velho Nunes ser ele um “escritor maranhense cuja obra merece minha admiração e o meu apreço, como nenhum outro aqui já por mim lido e analisado (...) sua capacidade de pesquisador e de verdadeiro mestre, senão discípulo de Smith Thompson...” Já eu estava fora de São Luís, quando o contingente boêmio e literário, egresso do ‘Atenas Bar’ que fora demolido, mudara-se para o ‘Restaurante e Bar Aliança’, do sempiterno lusitano António Tavares, tendo, ele, Zé Moraes, estabelecendo-se de corpo presente na ‘Esquina do protesto’ ou do ‘fuxico’, nas imediações da Praça Benedito Leite, como passou a ser chamada, para ‘bater’ forte’ em defesa da conservação ecológica da Ilha ameaçada por desastres ecológicos de uma multinacional na Ilha instalada. Se essa derrocada não aflorou como ele a construíra no seu imaginário de homem de bom senso, plantou para os pósteros aquela revolução de ideias eternizada por Santo Tomás de Aquino quando diz que se protesta quando o bem comum está seriamente ameaçado; quando o alvo da contestação é tido como desnecessário pelos homens prudentes na organização social em que vivem; quando houver forte probabilidade de êxito e quando o provável dano feito pelo protesto não seja maior que o provável dano feito pela ausência dele, e finalmente, quando não houver outro remédio que conjure o perigo que ameaça o bem comum... Foi isso que ele fez! Foi Zé Moraes o descobridor de Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista maranhense, depois de longa e constante pesquisa em jornais e documentos pertencentes ao acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite; foi ele, Zé Moraes, que ao buscar no folclore maranhense, encontrou preciosidades e as fez publicadas no seu ‘Pé de Conversa’; foi ele que, em numa antologia, selecionou poesias, contos e cantares do Natal, de autores maranhenses e os enfeixou no seu ‘Esperando a Missa do Galo’; foi ele quem escreveu ‘Esfinge do Azul’, onde se transforma num moleque lírico que briga por uma estrela, a mostrar a beleza da poesia em sua simplicidade. Como funcionário público [Fiscal de Rendas do Estado] entrou em disponibilidade por não aceitar ser impelido a certas práticas viciosas do sistema, na época, institucionalizadas, em prejuízo ao fisco que defendia. E nunca mais assentou os pés na tal repartição, tendo morrido com seus proventos reduzidos. José Nascimento Moraes Filho é para minha honra o patrono da cadeira nº 23 que ocupo na Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política. Foi ele a mais retumbante voz social e política do Maranhão por todo o Século XX e o criador da poesia social maranhense... Aqui está o homem em frente da ética e da moral para dizer: Presente! Este é meu grito de saudade a José Nascimento Moraes Filho que esbravejava o presente, a orgulhar-se do passado e a esverdear-se numa indomável esperança no futuro...


"AUTOFICÇÃO: UM NOVO GÊNERO LITERÁRIO?" ROGÉRIO HENRIQUE CASTRO ROCHA "(...) fazer de sua vida, do seu ego e identidade matérias literárias, é o que aparenta ser a autoficção."

Neologismo cunhado pelo escritor e professor francês Serge Dubrovsky, a autoficção é um dos temas em evidência no cenário acadêmico deste início de terceira década do século. Objeto de uma demanda crescente de estudos no plano das pesquisas crítico-literárias, esta nova categoria, como é comum a qualquer pauta que surge, tem dado margem a posições ainda contraditórias. Contudo, segue na agenda das discussões atuais, ganhando corpo em relação à propositura de novos olhares em torno de si e do seu gênero matriz (a ficção). Com base nesse debate, e na novidade do tema, penso ser necessário refletirmos sobre o seu foco e os seus entornos, na perspectiva de também trazer, ainda que em caráter introdutório, algumas luzes sobre o objeto de nossa atenção neste texto. Nas palavras de Doubrovsky (2011, p. 25), "a autobiografia não é nem mais verdadeira, nem menos fictícia que a autoficção. E por sua vez, a autoficção é finalmente a forma contemporânea da autobiografia". Assim sendo, fazer de sua vida, do seu ego e identidade matérias literárias, é o que aparenta ser a autoficção. Mas de que forma isso é feito? Através de uma escrita híbrida, capaz de apresentar ao público não só as virtudes e belezas, mas os segredos, as lacunas e os problemas da existência humana. Ao fazer isso, traz-se para o campo das letras o universo nem sempre sólido da unidade identitária, do eu subscrito na pele da personagem real que deveríamos ser, mesmo que com todas as suas/nossas impermanências. Com isso, parece colar ao terreno da subjetividade outros rótulos que retiram de centro a segurança do narrador como um eu uno, denso, estruturado, para então conduzi-lo ao campo das mudanças constantes, ao seu próprio descentramento. Tal prática acaba por assumir um nível de plasticidade extremamente sofisticado, rompendo com algumas noções já consolidadas na forma de descrição do mundo pelas técnicas de escrita. Desse modo, supera o real com a ficção para, em seguida, transpor a ficção ao plano de uma subjetividade múltipla e mista, promovendo um deslocamento que leva junto todos esses itens, na medida em que escreve-se uma história da qual o escritor faz parte e que diz muito dele (sem apegar-se a uma verdade), num movimento que vai da vida ao texto e do texto à vida.

Ilustração não original do texto: Google. Um dos melhores exemplos dessa ficcionalização de si (traço essencial do gênero ora em desenvolvimento), e que tem sido muito lembrado por quem vem se dedicando a compreendê-lo, é a obra "O filho eterno", de Cristóvão Tezza.


Na zona limítrofe entre biografema e autoficção, o livro trabalha com a narrativa de eventos retirados da vida do autor, bem como da relação com a problemática existencial vinculada a um aspecto da condição de saúde de seu filho e todo o impacto decorrente dessa realidade. Tezza opera, portanto, com o artifício da autoficcionalização, ou seja, mescla algumas notas ou elementos biográficos (no caso, os seus próprios) com a ficção, montando com isso uma história comovente, cheia de lições de humanidade, mas que não corresponde necessariamente à totalidade do que ocorrera em sua jornada depois do nascimento do 'filho eterno'. Vemos, assim, que há muito de memória em jogo. Do contar o conto, de um dizer o antes não dito sobre o não visto, não havido e não vivido. Aquela zona alargada da invenção e da invencionice aceitável dentro do espírito criativo. Mas há, também, não nos esqueçamos, todo um arremate, um acabamento proporcionado pelas técnicas narrativas de expressão da mais pura subjetividade. No jogo de entrelaçamentos proposto pela autoficção, há um entrelaçar de camadas que leva à fusão das identidades de narrador, personagem e autor, criando uma outra persona (que não me atrevo dizer o gênero) dentro da escritura. Um exercício ficcional deveras interessante, para dizer o mínimo, e que mexe com a superexposição de si (intimidades que atiçam aos mais curiosos), mas que também dá ensejo a avanços perigosos no campo da transgressão de certos princípios éticos e morais, podendo chegar a ferir bens jurídicos (civil e penalmente tutelados) da esfera dos direitos da personalidade. Nomeadamente quanto à imagem, a honra, a boa fama e o nome dos terceiros eventualmente envolvidos ou referenciados nas tramas, como bem nos alerta Anna Faedrich Martins em excelente trabalho a respeito do tema e sua prática na literatura brasileira contemporânea. Como escrita-limite que é, a ficcionalização de si (ou autoficção), é um fenômeno digno dos gabinetes psicanalíticos, sintoma de uma época de esfacelamentos, incertezas e não-lugares, e que tem se disseminado viroticamente pelas literaturas nacionais, levando consigo (e em si) questões autobiográficas (mal)resolvidas das chamadas narrativas de introspecção, que, num efeito contrário, põem para fora todos os fantasmas da pessoa humana, em busca, quem sabe, de instituir-se como uma escrita de cura, no âmbito mesmo de uma catarse, que parece ser a todo custo almejada pelos seus cultores,. Enfim, gosto da ideia e tenho imensa curiosidade em acompanhar o deslinde da trajetória de disseminação deste projeto de gênero literário do século XXI. Aliás, mais autoficcional que a persona fluida e inacabada deste nosso período histórico, impossível. Para os autores e autoras, penso ser um prato mais que cheio. Para os críticos, teóricos e historiadores da literatura, um novo campo de estudos, um outro objeto para o qual devam voltar suas atenções e um brinquedo a mais para ocuparem seus tempos. Quebrado, contudo, o pacto de autoengano e mútuo fingimento, isto é, do reconhecimento implícito da inverdade textual, instante em que o leitor suspende temporariamente sua descrença e o autor empresta algumas boas doses de verossimilhança às suas histórias, me pergunto como eles e elas (leitores e leitoras) ficarão no meio dessa conversa toda. No mais, vejo que ainda temos muita estrada pela frente. Isto é só o começo de algo cujo fim não sei onde dará. Quero pagar para ver. Lendo, lendo, lendo, deleitando-me, mesmo que por vezes sem entender. Mas quem se importa com isso, não é mesmo?


E, SE? CERES COSTA FERNNDES O porvir se afasta cada vez mais. O que era para o fim se 2020, passa para o começo de 2021, para março, e agora com o distanciamento da miragem da vacina total, que vai vir em conta gotas, com distribuição atabalhoada, e, como tal, será pouco eficiente. Não duvidem será mais um ano de confinamento, de desamor, de temor ao próximo. No Reino Unido, a vacinação começou em janeiro, em Londres, sei, por meio de ludovicenses residentes lá, que os habitantes estão em rígido lockdown, saindo apenas uma hora por dia. E assim ficarão até a completa vacinação, o que deverá acontecer em março. Aqui, começaremos espaçadamente, com muitas categorias (já estão todas mapeadas?). E com base em diversos estudos e previsões, teremos sorte em completar a vacinação em fins de 2021. Os idosos e os portadores de comorbidades, uma das palavras que entraram para o vernáculo leigo do dia-a-dia por conta desta peste moderna, são os que estão sofrendo mais com estas alterações. Vivendo os últimos dias de suas vidas, dias, em que até as horas são valorizadas, porque são poucas e passam muito mais rápidas do que queríamos. Nosso tempo é precioso, porque curto. Deixamos de ter agradáveis encontros com amigos de muitos anos, que vivem confinados como nós, e os telefonemas não bastam, deixamos de reunir e abraçar filhos e netinhos fofinhos, deixamos de sair para assistir um show, um filme, uma peça de teatro. E não me digam que é a mesma coisa no Netflix, nas enjoativas lives. Ó céus. Os agradáveis papos de supermercados, que mantínhamos com o encontro de amigos, acabaram. Quando nos encontramos, no máximo, nos damos ridículas cotoveladas e a conversa é breve; de alguns, com menos intimidade, fugimos. Acham os otimistas, aqueles que veem o copo meio cheio, que sairemos melhores disto tudo, apurados por nossas agruras, deste interregno que já se faz longo demais. Eu, pessimista de carteirinha, acho que, além de permanecermos os mesmos, na era pós-COVID, ainda acrescentaremos mais algumas indignidades ao nosso currículo. Não necessitamos pensar muito para chegar ao crime hediondo, bandidos estão assassinando pessoas quando roubam a verba destinada à compra de respiradores, oxigênio, remédios e outros insumos. Em hora dessas, assoma a barbárie em nosso peito, tal a indignação e pensamos que em certos países estes bestas-feras estariam de mãos cortadas, degolados ou, em roubos menos letais, levando chicotadas em praça pública. Não seria mau, pensa o primitivo dentro de nós, ainda mais que sabemos serem esses crimes, julgados, ad infinitum, até o seu esquecimento. Como tem acontecido até aqui. E se não reaprenderemos a abraçar para consolar amigos? O aperto de mãos, coisa muito antiga, mas que pegou moda depois da Segunda Grande Guerra, influência do shake hands americano trazido pelo cinema, permanecerá com a mesma popularidade? Ou, após a máscula saudação, correremos para desinfetar as mãos com álcool em gel? Os dois beijinhos, introduzidos há não sei quantos anos e nunca muito bem aceitos por muitas mulheres, que, de longe, fingem que beijam e são aproveitados por alguns homens que se excedem dando estalados beijos nas mulheres, fato detestado por maridos e que tais. Esses, eu acho que deveriam acabar, pela hipocrisia das mulheres e falta de decoro dos homens. E se, após tanto confinamento, ficarmos ”cocooners”, como muitos americanos e anglo-saxões ao largo do mundo, e não quisermos mais compartilhar a vida com outros amigos? E se, traumatizado com velórios, perdermos a tradição consoladora de acompanhar amigos à sua última morada ou de assistirmos à missas de sétimos dia? E se a mania de assistir lives permanecer? E se a maioria for de sertanejo universitário e funk? E se?…


11 POEMAS DE DÉO SILVA (1937 – 1983) Demetrios Galvão

Apresentação e seleção de poemas por Carvalho Junior. Déo Silva [Caxias-MA, 15 de agosto de 1937 — em viagem: Caxias – São Luís, 27 de setembro de 1983]. Nome literário do poeta e jornalista brasileiro Raymundo Nonato da Silva. Esteve ligado ao movimento da experiência concretista no Maranhão ao lado de nomes como Ferreira Gullar, Nauro Machado, Bandeira Tribuzi e José Chagas, tendo participado da I Mostra de Arte Concreta, no Ceará, na década de 70. Funcionário do Banco do Brasil, peregrinou pelo país, tendo deixado poemas publicados em vários jornais desses lugares. Em Manaus, esteve vinculado ao Clube da Madrugada, grupo que congregava escritores daquela região. Deixou marcas, também, pelos estados do Pará e de São Paulo. O poeta estreou com “Ângulo noturno” (Edições Jaguarema, 1959), livro de alta poesia com certo vínculo ao movimento neoconcreto, mas que logo Déo alça voos livres de qualquer enquadramento de escola literária. Segue publicando em jornais e cadernos literários até a publicação de “Equação do verbo” (SIOGE, 1980). Acredita-se que o hiato entre a publicação de um livro e outro tenha relação com o nível de exigentismo de Déo na manipulação do verso. Afirmava o poeta: “A palavra, em verdade, é funda em si mesma. Raso, contudo, é o nosso poder de entendê-la.”. Trabalhos inéditos e outros materiais do poeta se perderam em meio às mudanças de casa. Nos quarenta e seis anos de existência física, Déo foi a revelação de um grande espírito humano e artista.

(Ângulo noturno, Déo Silva, São Luís, Edições Jaguarema, 1959)

REVELAÇÃO (trecho) I. Dentro do poema estou. Não sob formas tênues e claras. Não como uma frustração impronunciável que o tempo dissolve no ar, ou como


uma paisagem fácil, que degrada os espelhos. Não apenas cheio de vivências íntegras e com a palavra inútil em sua lógica. Mas, oculto e denso, na mutação que sou de mim mesmo. AS FLORES ESPÚRIAS As flores espúrias crescidas apenas em sua inércia no jarro ficaram Que tempo lhes mede o caminho se o caminho das flores como o de nenhum peixe é estar? A morte lhes penetra as pétalas de náusea ou as envolve na manhã do intacto? As flores sem o verbo a decompor-se são o medo ou a inibição de ir para dentro de si mesmas As flores espúrias em cujo exercício me nego O MURO O naufrágio do muro é o vermos como tal. O muro, antes que se o edifique (e o muro há de ficar sem muro) já o é. O relevo do muro é ignorar-se, e seu desastre é estar com o ar que lhe degrada o puro. O puro puro. O vocábulo corrompe o muro. O muro que ficou no mundo exigindo uma flauta. ÁRVORE A árvore paradoxal na sala chora fogo e neve Ventos de terras esquecidas não a sopram porque em dezembro as janelas não se abrem para o abismo A árvore paradoxal só constringe o menino sem estátua sem rio sem fruto Mas extasia o mundo.


PEDRA A pedra sofre-se no tempo sob o impacto de si mesma. E recria o som, a sombra, o sono, o sal. A pedra, imóvel no espaço, não gera o pó ingênuo. Trabalha a fome e o mito. A pedra medra a pedra. E fulge-se, e sente-se.

(Equação do verbo, Déo Silva, São Luís, FUNC/SIOGE, 1980)

PERSPECTIVA DE UM EXERCÍCIO Eis o de quanto, agora, preciso, para meu encanto: abrir a palavra até descobrir-lhe o núcleo fundamental e, depois, semeá-la numa terra sem memória de que flores verbais se abrirão, um dia, a desprender o olor de uma estranha primavera. Abrir a palavra que ficou longe, em seu misterioso concreto e desvendar, no imo tônico do verbo, a verdade agônica de um desejo que seja, sobretudo, eterno.


Abrir a palavra que eu não tenho agora e de que a alma se nutre para o ânimo da fantasia. Abrir, enfim, a palavra de que nasce o fruto humano de cada dia, para o fenômeno só da poesia. DO PÁSSARO EM QUE VOO O meu pássaro de prata se deslumbra, com a intacta existência do seu fim. Não finge o voo. Só o intenta, quando a esfinge, que o sustenta, se abre em volta de mim. O meu pássaro de prata da essência não se aparta que o move em minha mão. No entanto, fosse possível, para torná-lo sensível, dar-lhe o canto. O voo, não. LADO INÚTIL Tua infância é muita, para o que envelhece, dentro do absurdo que me torce e tece. Tua infância é pouca, para o que me cabe. (E que a vida seja o que, em mim, não sabe). ESTÁGIO O enriquecimento do ódio e o nojo oculto, ainda, na fala. O corpo, em densa discórdia, e o caminho sem espaço. O odor de sonho, entre as plantas, e o chão, sem o ânimo do sol. O erro acasalado na mente e o escárnio preso à alma. O silêncio dos últimos pecados e a chuva para a semente inútil.


E, enfim, o despejo do que, na lida, não foi mistério, nem nada. TESTAMENTO Deixo-te o verbo que afugenta o Homem das imprecações que, em si, o consomem. Deixo-te o amor, amplo e concreto, junto à sesmaria do teu desafeto. Deixo-te, em segredo, no sol que expirou, a última bênção que herdei do que sou. Deixo-te um tesouro de súpera importância: minh’alma fracionada pela tua infâmia. Deixo-te a memória do quanto perdi, no sexo convulso a que me rendi. Deixo-te o inverno que nutre meus passos e a alegoria dos meus planos lassos. Deixo-te, no ser, o tudo que é teu e o todo, que é nada, do muito que é meu. Deixo-te, em letras, meu jeito de vida: um excesso na mente e um esbarro na ida. Deixo-te, enfim, minha sorte vã e a luz que escondi no meu amanhã. ENSAIO SOBRE A PORTA Perto da porta está o abismo. A porta – exausta do caos que a fecha – dá-se em desespero e seu imaturo silêncio cresce nas muralhas. A porta, sem a ruína que a espera e a espreita, é o flagelo de quem a abre. A porta é o começo real de tudo quanto fica, pois sua viagem válida é inventar caminhos para o Homem. Se amadureço no verbo, (onde aporto) descubro, na porta, mais do que uma porta: um porto. Porto donde parto para o acontecimento, aquele em que sou a volta de um longo desperdício.


A porta, fora da lógica e do que a torna plena e plana, é a origem da solidão que a move, fechando-a. A porta existindo indefinidamente está e razão é que a observemos. * Links para downloads dos livros de DÉO SILVA digitalizados pelo prof. Carvalho Junior: 1. https://www.4shared.com/office/jGufca9Xca/NGULO_NOTURNO_1959_DO_SILVA.html 2. https://www.4shared.com/office/zO8wJ0W5ei/EQUAO_DO_VERBO_Do_Silva__1980.html


LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO* FERNANDO BRAGA in Jornal O Estado do Maranhão, 23 de agosto, de 1973; enfeixado em ‘Conversas Vadias’, antologia de textos de autor.

[Lauro Bocaiuva Leite Filho, São Luis, 19.12.1937 – São Luis, 8.10.2016] Soltando um rolo de fumo inglês do cachimbo, o professor Bacelar Portela, meu querido amigo e orientador de como pesquisar e traçar as linhas para a composição de um texto a ensaiar, apressouse em dizer-me, na Praça Bendito Leite, numa ensolarada manhã de um dia qualquer, que Lauro Leite tinha sido o grande vencedor do concurso literário ‘Antônio Lôbo’, promovido pela Academia Maranhense de Letras, cabendo a Nauro Machado e a mim, o segundo e o terceiro lugares respectivamente... Ao cumprimentá-lo, disse-lhe: “ao vencedor as batatas”, lógica do ‘velho bruxo’ que reconhece o vitorioso por justas merecidas... E o querido mestre sorrindo, sentenciou: “a poesia de Lauro Filho merece estudos mais profundos”. Domingos Vieira Filho, foi mais longe na apresentação do livro premiado, em dizendo que Lauro Leite “desta vez está mais maturado, tem uma vivência poética mais intensa, se apossou de melhor intensilhagem estética para expressar às notas contrastantes do seu mundo interior, trabalhando pela descrença, mas sem se envolver no amargor insólito das formas shopnhaurianas.” Afinado, mas sorrateiro aos contrapontos do pensador da realidade exterior e da consciência humana, Lauro [filho de Lauro Leite, um dos maiores violinistas do Maranhão], quando toda a Faculdade de Direito o esperava de braços abertos para recebê-lo como o representante intelectual dos fracos e oprimidos, foi a de Odontologia que teve essa honra e alegria; apesar de ele exercitarse no dia a dia como jornalista e locutor, a expor seu grito social através das rádios Difusora e Educadora, onde todos dispunham de sua inteligência, através de sua voz e do seu talento a serviços da notícia e do entretenimento. Ele foi um dos maiores participantes intelectuais entre as gerações de 45 e 60, porque ele permeava as duas, [juntamente com Nauro Machado, Carlos Cunha e Deo Silva] a se afirmar pela forma marcante do seu talento, dando força exuberante à sua poesia de “pés no chão”: “São pobres – eu vejo – / que tão pobres são que vejo a pobreza na dor e no ar - que enche seus peitos sofridos – / sentidos – irmão e irmão” E luta desesperadamente por expressar aflições: “Pequenos ainda – passados – levados - irmão e irmão”, Como se verifica sua temática é arraigada na problemática atual. E Lauro não se preocupa com vocábulos de difícil penetração nem com embaralhamentos de formas ziguezagueantes, porque o universo lexical em que navega é seu íntimo e tecido por ele mesmo:


“O dois – de mãos dadas – / correndo no lixo - que o mundo lhes deu – / é lama – malvada - que seja seus pés – doridos /– feridos – irmão e irmão;” A arte deve ser intrinsecamente social e Lauro Filho luta por essa posição em suas conquistas;” Tudo que é poético é verdadeiro”. E continua em sua estesia gritando: “Comida – pedida – negadas também – / pelos poderosos – os donos – de tudo – de escravos / - de Terras – paradas e virgens – / que nunca correram ou estagnaram – na solidão / - deixando só dorme – irmão e irmão!” Essa é a luta ferrenha contra “a fome que não é a causa de revoluções e de profundos sofrimentos humanos de todos injustos. A fome torna impossível a bondade”, afirma ‘Macbeth’, na ópera Shakespeariana: ‘Primeiro a pança, depois, a moral’. Daí a empatia poética de Lauro Leite e Nascimento Moraes Filho, vez que, pra ambos, toda doutrina de bem-estar é contrária e estranha à essência do seu próprio íntimo, num extravasamento alheio, ‘douleur de vivre’: “E dinheiro – que podem? – / eu bem que recordo que irmão e irmão – /recebem - felizes – saem correndo – e compram – / o pão – irmão e irmão.” Não pertence, Laurinho Leite, por temperamento e até por questões de limpeza mental, a nenhuma escola literária, porque ‘um bom verso não tem escola’, sentenciou Moraes Filho, ao lembrar-se de Flaubert, ao escrever, como sempre fora de seu gosto e de todos, considerações sobre o lado humano e intelectual do premiado. Lauro Leite Filho é o herdeiro legítimo da poesia social de Nascimento Moraes Filho, ‘Moacyr Ambrósio, pés no chão’, respira pelo mesmo cordão umbilical de ‘ O Clamor da Hora Presente’, este o maior grito de dor até hoje dado no Maranhão contra o julgo e a prepotência e ecoado em loas pela pena brilhante e pelo senso crítico de Oto Maria Carpeaux. Há entre os dois uma empatia estética e emocional mais que harmônicas a estreitar-se no plano social... Lauro Leite Filho sente no seu indiferentismo, a revolta contra tudo que lhe parece pérfido, mal e descabido. “Triste o dia em que vim à terra para endireitá-la”, diria o poeta se por ventura fosse o Príncipe Hamlet. Ontem, há tempos, o mestre Bacelar Portela me dava notícias da premiação de Lauro Leite; hoje, ainda há pouco, o também médico e escritor Mário Luna Filho me dizia do falecimento do meu querido amigo Lauro Leite Filho, depois de alguns anos de sofrimentos, estigmas que marcam poetas mártires e santos. E São Luis, assim, fica mais vazia daqueles que como Lauro e tantos, cheios de abnegação e talento, povoaram-na com a luminosidade de seu tempo, a estampar-lhe, quando a cidade ainda vivia, o timbre de uma outra ‘Bélle Époque’, já distante, mas autêntica, legitima e verdadeira... ------------------------------------


3 POEMAS + 1 CONTO DE GABRIELA LAGES VELOSO CARVALHO JUNIOR

Gabriela Lages Veloso [São Luís/MA]. Autora de contos, crônicas e poemas. Graduanda do curso de Letras –Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), pesquisadora do Grupo de pesquisa TECER – Estudos de Tradução, Discurso e Ensino (UEMA), participa como ouvinte do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura – NIELM (CNPq/UFRJ) e é bolsista de iniciação científica da FAPEMA. Em dezembro de 2020, publicou o conto O Relicário na Revista Intransitiva da UFRJ. A ilha de pedra Certa vez foi dito que Precisamos sair da Ilha para vê-la, Em sua plenitude. Daqui observo os telhados, O traçado das ruas, O ir e vir de pessoas Carros e motocicletas. Daqui enxergo tudo claramente, O verde quase inexistente, O ar cinzento, Os lugares invisíveis. Daqui vejo a ilha de pedra Edificada sobre os restos de vida, Onde todos correm sem destino E os dias são sempre os mesmos.

Vida Sou intensamente breve, Como um sonho. Feita de retalhos de instantes. E, nessa minha brevidade, De segundos contados, Devo ser tratada sabiamente. Nas tormentas, Os pesos devem ser arremessados


No mar do esquecimento. Nas bonanças, As lembranças devem ser recolhidas, Ternamente, no abrigo da memória. Em mim, tudo é essencial Chuva e aridez. Resisto ao tempo e às intempéries. Não tenho caminhos fixos, Sou caleidoscópica. Por isso, não se engane, Não existe um único propósito para mim. Sou um enigma a ser descoberto. A estação Ouço melodias que me transportam A tempos de frio Cálice Transbordando em vinho De amargas uvas. Mergulho nas Águas de Março E saio Sozinho. Mas, Apesar de você Eu vou. O Relicário Após uma longa noite de sonhos intranquilos 1 , Moira desperta sobressaltada, levanta-se e põe-se em frente a uma antiga penteadeira – uma relíquia pertencente à sua família por gerações. Por um instante, ela contempla o espelho e vê uma mulher de oitenta anos, com seus cabelos grisalhos em completo desalinho, rugas ao redor dos olhos e da boca, bem como olhos azuis, que outrora cintilavam, mas agora se encontram opacos. “Em qual espelho ficou perdida a minha face?” 2 , suspirou, angustiada. Moira é uma juíza renomada, aposentada há alguns anos, que mora em uma suntuosa mansão. Mas, apesar de toda a sua riqueza, não tem herdeiros. Logo após a aposentadoria, ela entrou em crise, pois encontrou-se frente a frente com a pergunta que a inquietou por toda a sua vida: quando será o meu tempo? Ao sair de seu quarto, Moira caminha até uma grande janela, no final do corredor, e põe-se a observar a chuva. À medida que cada pequeno cristal d’água cai sobre a grama, traz à tona, com toda a vivacidade, as antigas memórias da aurora de sua vida 3 . A pequena Moira adorava dias de chuva, pois, nesses dias, sua mãe tinha o hábito de contar histórias, sentada em uma cadeira de balanço, para ela e suas duas irmãs, que faleceram em um trágico acidente quando Moira tinha apenas cinco anos de idade. Por isso, a menina cresceu sufocada pela superproteção materna e pelas altas expectativas do pai. Agora, em frente à grande janela, Moira estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu o avançar das horas. Permaneceu nesse transe até as sete horas, quando a governanta veio chamála para tomar seu desjejum. Alguns instantes depois, Moira estava perante a mesa posta com fartura, mas estava sem apetite, e quis tomar apenas uma xícara de chá. “De fato, do fundo do poço só se pode tirar memórias ou mesmices…” 4 , refletiu Moira. Que contraste Moira enxergou entre a fartura desse café da manhã, para uma única pessoa, e todas as refeições de sua família – ou até mesmo a ausência delas – em seus dias de infância. Essa percepção transportou-a para o dia em que sua mãe recebeu um misterioso presente de uma


falecida senhora: uma penteadeira de mogno, com miligramas de ouro incrustado em desenhos floreados, e um espelho embutido no majestoso móvel. Moira aprendeu a ler e escrever bem cedo. Seus dias eram milimetricamente administrados pelo pai, que tinha um único objetivo na vida: fazer com que a filha jamais enfrentasse as mesmas privações pelas quais ele passou. Por isso, a menina tinha de estudar, dia e noite, para que, no futuro, tivesse uma profissão de prestígio e retorno financeiro a curto prazo. Após o seu desjejum, Moira caminha por vários corredores e decide ir até o seu oásis particular: uma biblioteca de grandes dimensões, com prateleiras até o teto, todas preenchidas com edições de luxo de centenas de livros, desde os clássicos até os contemporâneos da literatura universal, em vários idiomas. Um leve lampejo acende uma fagulha em seus olhos azuis. Ela está no único lugar em que realmente se sente realizada. Moira pensou como teria sido sua infância em uma biblioteca como aquela, como teria se divertido inventando suas próprias histórias, ou até mesmo imaginando ser a protagonista de seus romances favoritos. Quando menina, seus passatempos favoritos, nas folgas de sua pesada rotina de estudos imposta pelo pai, eram ler contos de fadas e romances que a transportavam para outros momentos e mundos, e brincar em frente à majestosa penteadeira de sua mãe. Ao contemplar o espelho, ela não via a pequena garota de belos cachos castanhos e olhos azuis cintilantes, e sim a protagonista da história que estava lendo ou escrevendo. O maior sonho de Moira era se tornar uma grande escritora no futuro. Por isso, ela tinha um diário, no qual criava um mundo todo seu, cuja única lei era a liberdade. Bem, esse era o seu sonho, porém ele não estava nos planos de seu pai, que queria, a todo custo, que ela fosse rica. Por essa razão, ela escondia seu diário na última gaveta do imponente móvel de mogno, assim também como sua força para escolher o próprio destino. Ainda na biblioteca, uma pequena lágrima cai dos tristes olhos azuis de Moira, ao lembrar de seu antigo diário infantil e perceber o quanto a sua existência foi vazia… Vazia de significado, e, principalmente, de felicidade. “Cada instante do nosso passado nos faz ser quem nós somos”, disse consigo mesma. Nesse instante, a governanta entra na biblioteca e encontra Moira em prantos. — A senhora está se sentindo bem? – perguntou a governanta. — Não se preocupe comigo, só estou um pouco emotiva – disse Moira, enxugando as lágrimas. — Desculpe interrompê-la, mas o Contador está lhe aguardando na sala de visitas. Devo pedir-lhe que retorne em outro momento? – disse a governanta, com um olhar compreensivo. — Não. Diga que irei descer em alguns minutos – disse Moira, resignada. — Certo, Você realmente está se sentindo bem? – insistiu a governanta. — Obrigada pela preocupação, mas o meu problema não pode ser resolvido agora – disse Moira, enigmática. – Não deixe o Contador esperando, diga que irei em instantes. A compaixão de sua funcionária a fez viajar mais uma vez em suas memórias. Moira viu-se perante o seu único e melhor amigo, que era também seu vizinho. Os dois costumavam brincar juntos no quintal de suas casas. Ele costumava ouvir pacientemente as queixas de Moira sobre a super-proteção dos pais e como se sentia sufocada por isso. O garoto sempre a alegrava e distraía com suas histórias, pois ele também era dono de uma imaginação fértil. Porém, estava fadado a um destino no qual sua criatividade de nada valia. Ele era extremamente pobre, vivia em uma miséria maior do que a família de Moira jamais experimentaria. Por isso, quando completou apenas dez anos de idade, teve de começar a trabalhar em uma fábrica de tijolos, para que a família não definhasse de fome. Temendo que a filha se apaixonasse pelo garoto quando eles chegassem à juventude e, assim, tivesse um destino diferente do que ele planejara, o pai de Moira proibiu a amizade das duas crianças, o que as condenou a um caminho no qual não havia tempo nem espaço para amizades ou sentimentos, somente para a monotonia diária e a solidão. O temor do pai de Moira tinha uma explicação. No passado, ele é que fora o melhor amigo pobre de sua esposa. A avó, que Moira jamais conhecera, era uma mulher muito rica, que tinha apenas duas filhas, dentre as quais a primogênita um dia viria a ser a mãe de Moira. Contudo, a rica senhora não aprovava o relacionamento entre sua distinta filha e um rapaz tão humilde, pois acreditava não passar de um mero interesse financeiro. Por isso, deserdou sua primogênita no dia


em que recebeu a notícia do casamento, e se ausentou, assim, para sempre da vida de sua filha. Somente em seu leito de morte arrependeu-se pela dura decisão e suplicou a sua segunda filha, a única herdeira de toda a sua fortuna, que entregasse a penteadeira à sua irmã, pois era uma relíquia que atravessava gerações de primogênitos dos seus antepassados. Agora, em seu escritório, Moira discute acaloradamente com o seu Contador, pois descobre um desfalque em suas finanças. E toda essa agitação causa-lhe uma enorme dor no peito, e ela cai desmaiada. Quando Moira recobra seus sentidos, ela encontra-se deitada em sua cama e percebe o olhar cansado de sua governanta, que ficara em vigília a noite inteira, cuidando de sua estimada senhora. Um turbilhão de pensamentos invade a mente de Moira. Ela enxerga sua vida como um delicado castelo de areia que está sendo soprado pelo impetuoso vento da morte. Restam, agora, poucos grãos… Ela percebe que sua existência foi preenchida unicamente pelas ausências de seu passado. Em seu peito, aquela mesma dor se acentua; ela enxerga uma luz muito forte e imagina como teria sido a sua vida se ela tivesse, de fato, tomado as rédeas de seu próprio destino. Pois, em seu último suspiro, ela compreendeu que o futuro é um quebra-cabeça, com inúmeras lacunas, que podem ser preenchidas por várias peças disponíveis. Inquieta, com a respiração ofegante, Moira desperta no dia de seu décimo oitavo aniversário. Tudo não passou de um sonho… ____________________________________________________________ 1 Referência à obra A Metamorfose, de Franz Kafka (1915). 2 Verso do poema Retrato, de Cecília Meireles (1939). 3 Referência ao poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu (1859). 4 Referência ao livro As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (1865).


4 POEMAS DE ALBERICO CARNEIRO CARVALHO JUNIOR

Alberico Carneiro autografando. Fonte imagem: rede social do escritor Charles Simões.

Alberico Carneiro [Primeira Cruz/MA, 15 de maio de 1945]. Poeta e romancista brasileiro. Editor, por muitos anos, do Suplemento Guesa Errante, suplemento cultural e literário do Jornal Pequeno. Dirigiu o setor de Editoração e Assuntos Culturais do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE), tendo criado, na entidade, o suplemento Vagalume, em 1988, órgão premiado nacionalmente. É o autor de, entre outros títulos, O Andrógino (1975), O Jogo das Serpentes (1985), As Damas Negras em Noite de Núpcias (1994), Ilha do Amor: tratado do amor natural (2013).

ADVERTISEMENT REPORT THIS AD um homem e uma mulher que se encontram ou se esbarram que se despem e se assaltam que se enlaçam e se arrastam que se conquistam e congraçam se emocionam e comovem numa cidade ou numa ilha se aconchegam e se envolvem se enamoram e se resolvem no que se inflamam e transbordam num muro de lamentações e esquecidos de conflitos do dia a dia do mundo descobrem a eternidade enquanto fazem amor e enlouquecem os relógios e alucinam as bússolas e dão potência a tendões e músculos sob o descontrole do plasma e fazem uma guerra que torna nada a guerra de troia e sem sentido esparta e a eternidade minúscula e tornam inúteis os calendários e os corpos vomitam ouro quando os corações disparam


choram imortalidade tomam porres de amor e sóbrios de álcool se embriagam na essência de cardo e flor que de felicidade soluçam e se desfazem em lágrimas de contentamento e os díspares se tornam uma só carne quando um no outro deságua para que a humanidade se salve como se esse ato de vida fosse feito de destroços de corpos se apossando um do outro como se a verdade mais clara fosse fruto do absurdo como se o absurdo fosse cópia da realidade da cópula e aí são deuses os corpos e sagrada a hora do coito que só se remendam quando um despedaça o outro comendo-se nos diafragmas tutano medula e miolo que um sem o outro não come que um só come enquanto o outro é comido só quando comidos é que comem como antropófagos e canibais que um só em si do que se some quando se projeta no outro e lhe derrama o seu soro e aí está todo o tesouro em baixo do subterrâneo dos corpos pelos recôncavos por onde se erguem por baixo e elevam das profundezas ao céu e esse ato é o mistério irrevelado mas concreto de toda riqueza do planeta da eternidade na terra por obra e graça da costela de adão em eva

_______________ *[Trecho de Ilha do amor: tratado do amor natural, terceira parte, Exílio no Mediterrâneo]

O CANTO a morte chega e diz: stop! e o canto avança no seu galope. o corpo tomba. O invólucro não soma é o canto em ascese do seu própria soma.


que a morte é sempre pretérita ao canto, quando ela gera seu assédio e espanto.

de Edgar Allan Poe, Villon ou Pope a morte é antes, que o canto é izope e salta adiante no seu galope.

SIMULACRO

Em quanto cada um e mais que a representação? Ou o ser só encontra paz na ficção? Sou quem me inventei. O real não existo. Coroai-me rei, serei rei como todos, protagonista. A realidade deixamos nos bastidores como lixo. Após o último ato, no entanto, o morto é o próprio artista.

AS DAMAS NEGRAS EM NOITE DE NÚPCIAS 1 talvez um poema seja simples sobra de palavras impronunciadas por pessoas na inútil BabeI da fala mas impressas como em tábuas da sarça do Verbo em chamas nessa partida de Damas Negras em Noite de Núpcias que num lance de dados e de dedos o acaso não abolirá 2 talvez um poema seja simples poeira de palavras projetadas de pessoas imprimidas como trevas bem no coração da névoa que acaso num lance de dedos e dados como silhuetas que se projetam como penumbra esfumada que o acaso não abolirá


3 talvez um poema seja simples sombras de pessoas transformadas em palavras silhuetas tatuagendadas por invisíveis carimbos que explodem na claridade a pista de rastros e restos de cacos caos e resíduos do simulacro das lágrimas mumificadas em larvas de adeuses e últimos gestos salvo após o rescaldo em caligramas e símbolos que de súbito num lance de dedos e de dados o acaso não abolirá 4 talvez um poema seja simples escombros de palavras projetadas de pessoas balbuciados pedaços de silêncios e silícios de gritos amordaçados silenciosos ideogramas gritos dos olhos dos mudos barulho de dedos dos surdos o supertato dos cegos na visão dos surdomudos aprisionados em páginas imagens anônimas das almas mensagens psicografadas na comunhão dos sentidos que num lance de dados e de dedos o acaso não abolirá

5 talvez um poema seja simples sobra de palavras projeção de suas sombras ou o espectro de suas auras que da escassez ou da falta ingressam na noite e tombam no elíptico canto deságuam no despenhadeiro da ascensão que por um lance de dados e de dedos acaso não abolirá

6 talvez um poema seja simples sobras de palavras impronunciadas por pessoas projetadas como sombras tatuagendadas na pele tangenciadas na neve com impressões digitais silhuetas que despreendem


oscilam dos corpos e tombam num lance de dados e dedos que o acaso não abolirá 7 talvez um poema seja simples sobras de pessoas encantadas em palavras projetadas como sombras tatuagendadas incisões como impressões digitais de cicatrizes em ronda que se despreendem da pele oscilam dos corpos e tombam num lance de dedos e dados que o acaso não apagará 8 talvez um poema seja somente sombras de palavras pó que despreende dos corpos como poeira de estrelas que viola a gravidade do Cosmo e telescópios e foge de apelos celestes viaja a mil anos-luz e à noite poleniza as folhas em suas densas carolas e no coração das trevas inscreve-se em simples larva e deixa aí manuscrito todo o poema da Terra que nos charcos enfim enfloresce como num lance de dedos e de dados que o acaso não abolirá

9 talvez um poema assim seja simples como sombras de palavras simples silhuetas ímpares de simples pessoas pares anônimo canto dos parias que no caminho meio desta vida entre lances de dedos e de dados como as Damas súbitas da partida o acaso não abolirá talvez o poema assim seja


4 POEMAS DE MICAELA TAVARES CARVALHO JUNIOR

Micaela Tavares [São Luís/MA]: Aquariana com ascendente em peixes, 20 anos, por isso escreve poemas. Estudante de Direito na UEMA nas horas restantes. Leitora apaixonada dos poetas marginais e contemporâneos. Talvez anarquista. Um pouco tanto simpatizante comunista. Sapatona. @micatavsamp TALVEZ ELA TENHA ME FISGADO ontem eu falava bem mais das meninas as quais não hei de negar que adoro quando tão desengonçadas armam planos criam fábulas para me ver hoje eu falo bem mais da menina a qual não hei de negar que adoro quando tão arrepiada sussurra baixo um segredo que me faz gaguejar e me render qual era o assunto? I’M BAD FOR YOU BUT I’m bad tentei te escrever canções perdi o trecho que dizia que me acompanharia no teu ukulele azul


eu pensava em notícias para dar: o cinema em que íamos fechou e te vejo tímida ao beijar-me sob a areia talvez eles vejam e não me importo que vejam

porém, darling, tu te importas mas tudo bem! às vezes jogo pedras na água e faço-as quicar consegue ver? Talvez não viste pois atendia o celular darling, I’m bad for you but estou disposta a esperar as cinco horas de trânsito sem sinal me fazem enlouquecer sem você por isso escrevo poemas

TENHO REPARADO NOS IPÊS PELA CIDADE

o meu corpo restringe que tua alma me queira pouco me importa o corpo dos outros pouco me interessam fico de ver se vens quando vens vou abaixo a cabeça enrubesço mas volto o olhar ao teu – de vez em sempre procuro pelo melô que dançamos na mesma intensidade em que reparo os ipês floridos pela cidade: como se fosse a última coisa a se


fazer antes de morrer.

A VOLTA DA BOSSA Baby de todas as canções que me deixaste reconhecer ao sofrer por ti agora entendo bem o que a Gal quis dizer ao interpretar o Gil Caetano Salomão Melodia & etc tente entender em que ano estamos Baby Honey, Baby eu preciso esquecer que tudo é Divino Maravilhoso e me lançar no Mel with Sugar que é viver sem você porque o Pai da Tropicália é a Bossa e a bossa diz Chega de Saudade.


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

FRAN PAXECO:

recortes & memórias

SÃO LUÍS – MARANHÃO – 2020 PARTE XV


“Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro

de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502) PACOTILHA, 09 DE JANEIRO DE 1915

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03 DE JUNHO – O PAIZ – RJ

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