MARANHAY 12 - FEVEREIRO 2024

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MARANHAY “ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE” REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536 NÚMERO 12 – FEVEREIRO – 2024 MIGANVILLE – MARANHA-Y

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO

Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076

98 9 82067923

CHANCELA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

UM PAPO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor

SUMÁRIO

EXPEDIENTE

EDITORIAL

SUMÁRIO

A ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

FLAVIOMIRO SILVA MENDONÇA, HISTORIADOR OS "PEREIRA DE SÁ" DE COLINAS-MA

RAMSSÉS SILVA

CASA DAS MINAS

AUTOS DO PEDIDO PARA CONSTRUÇÃO DA IGREJA DAS FRECHEIRAS DA LAMA - ANO 1781 - EXTRAÍDO DOS

ORIGINAIS DO BISPADO DO MARANHÃO.

ACHILLES LISBOA: UM PERFIL (1872 – 1951)

RAMSSÉS SILVA

PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA ESSE NOME, SÃO LUÍS...

DIA 2 DE FEVEREIRO É DIA DE FESTA NO MAR DE IEMANJÁ

JOSE SETTE DE BARROs HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRES. DUTRA, UMA CADEIA?

RAMSSÉS DE SOUZA SILVA

LIVRO “BULLARIUM PATRONATUS PORTUGALLIAE REGUM IN ECCLESSIIS”, UMA RELÍQUIA DOS ARQUIVOS DE PORTUGAL.

SÃO LUIS MEMÓRIA. PORTÃO DA QUINTA DAS LARANJEIRAS

RÉVEILLON NAS DÉCADAS DE 1970/1980 EM VIANA

FESTA DE REIS

CARNAVAL EM VIANA

NONATO TRAVASSOS

PEDRO MORAES CAMPELO

FAZENDA JUSSARAL

A TRAJETÓRIA DO GAVIÃO

O VIANENSE PERSONAGEM DO BONECO MIGUÉ QUE BRILHOU NA TV

RUA CAIO DE SOUZA PERNA

NÉLIO MUNIZ GRANDE MÚSICO VIANENSE

O PADRE VIANENSE SUPLENTE DE SENADOR

CASINHA DA ROÇA, CARNAVAL DE SÃO LUÍS

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

ÁUREO MENDONÇA

SAMBAQUI DA CHÁCARA ROSANE, POSSIVEL ALDEIA TUPINANBÁ CHAMADA TURU FLAVIOMIRO MENDONÇA

EUGES LIMA

MANOEL DOS SANTOS NETO

EUGES LIMA

LOCALIZAÇÃO DA CRUZ DOS FRANCESES

MESTRE SABARÁ E OS 40 ANOS DO BLOCO AKOMABU

CARNAVAL E ELITE LUDOVICENSE NO SÉCULO XIX

SENADOR JERÔNIMO JOSÉ DE VIVEIROS

SOLAR DOS BELFORT / SOLAR DO BARÃO DE COROATÁ / SOBRADO DA PACOTILHA.

PALACETE GENTIL BRAGA / PALACETE DE PORCELANA / CASARÃO DA VIRAÇÃO PALÁCIO DAS LÁGRIMAS

HAMILTON RAPOSO

CASARÃO DA FAMÍLIA AZEVEDO / CASARÃO DE ALUÍSIO AZEVEDO.

A VIAGEM PARA CAXIAS E AS PETAS DE TIA ANTONIETA.

RUA DAS CAJAZEIRAS (PRAÇA PRIMEIRO DE MAIO), CENTRO, DÉCADA DE 1950

Luiz Carlos Amaral

CYNTHIA MARTINS

MANOEL SANTOS

NOTA DE FALECIMENTO: CLEON FURTADO

PAI DE LUZIA PODE ESTAR ENTERRADO NA FAZENDA MARATÁ

DESCOBERTA GRAVURAS DO MARANHÃO DO SÉCULO XVII

REVOLTA DE MANOEL BECKMAN COMPLETA 340 ANOS NESTE SÁBADO

WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHÊDE

DIOGO GUAGLIARDO NEVES

NA REVOLTA DE BECKMAN, HÁ EXATOS 340 ANOS, A PRESENÇA DO MEARIM

ANIMAIS DO MARANHÃO NA ILHA DA COSTA NORTE DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL PERÍODO COLONIAL - 1755 - COMPANHIA GERAL DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO – PARÁ

DUQUE DE CAXIAS LIDEROU TROPAS DO IMPÉRIO QUE REPRIMIRAM O LEVANTE O PELOURINHO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO

EUGES LIMA

O TESOURO DE TUTÓIA E AS AVENTURAS DE ERNESTO RIVERA ÁUREO MENDONÇA

BAILE DE SÃO GONÇALO JOSÉ NERES

NONNATO MASSON, UM MESTRE DA PALAVRA". RAMSSÉS SILVA O CANGAÇO NO MARANHÃO

A ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

FLAVIOMIRO SILVA MENDONÇA, HISTORIADOR

Ao atravessarmos a Baía de São Marcos, bem próximo à cidade histórica de Alcântara, avistamos uma ilhota de pobre vegetação formada principalmente por carnaubeiras e tucunzeiros, sem árvores de grande porte, rodeada de pequenas falésias e arrecifes, na qual ficou conhecida como Ilha do Livramento. No topo de uma de suas pontas, direcionada à baia, encontramos em estado de arruinamento de um dos templos religiosos mais antigos do Maranhão, do século XVII, a Ermida de Nossa Senhora do Livramento, que outrora se apresentava na seguinte descrição da década de 1940, conforme Lopes (2002: 310) “humilde, acaçapada, de arquitetura tosca, um avarandado ou alpendre tendo em seguida a nave com seu paupérrimo altar de madeira ao fundo e, no nicho, mimosa imagem da Virgem, de talvez, menos de quarenta centímetros de altura”. São várias lendas envolvendo a Ilha do Livramento. Aliás, esse tipo de narrativa é muito farto em todos os cantos do Maranhão. De acordo com uma delas, tenta esclarecer sua origem. Portugueses que atravessaram o oceano trazendo consigo uma imagem da Virgem do Livramento, chegando em alto mar, foram surpreendidos por um tufão, e logo começaram a orar, prometendo edificar um santuário no porto em que desembarcassem com vida, nesse caso, a Ilha do Livramento, como ela é hoje conhecida, com ajuda dos indígenas de Tapuitapera.

Uma outra lenda contada na localidade, muito se assemelha à de São José de Penalva, onde a imagem do padroeiro da cidade migra, de forma misteriosa, de um lugar para outro. Contam que em diversos momentos a imagem da Virgem foi levada até a cidade de Alcântara e, no dia seguinte, inexplicavelmente, a encontravam em seu templo de tradicional.

Além dessa, há uma outra lenda que é contada. Segundo ela, um pirata considerado “herege” foi perseguido por naus portuguesas e ao chegar até a Ilha do Livramento, escondeu todo seu tesouro sortido de pérolas, barras e moedas de ouro, além de pedras preciosas, em uma caverna, bem abaixo da ponta onde está

assentada a ermida. Passado um certo tempo, o tesouro é resgatado pelo seu dono, porém muitos acreditam que até hoje ele se encontra no mesmo lugar.

Lendas à parte, vamos aos fatos históricos. De acordo com Lopes (2002), o culto a Nossa Senhora do Livramento já era familiar dos Coelho de Carvalho e seus descendentes. O primeiro donatário da Capitania de Cumã, Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho e sua esposa Inês, após passarem por uma perigosa travessia vindos de Portugal até o Maranhão, com grande risco de naufrágio, prometeram edificar como pagamento de promessa pela benção alcançada (o salvamento de suas vidas) uma ermida dedicada à santa de sua devoção, no local onde hoje se encontra, algo muito semelhante à primeira lenda já narrada anteriormente.

A festa em honra à Nossa Senhora do Livramento, é celebrada no mês de dezembro e era a mais importante de Alcântara, superava até a do Divino Espirito Santo. Havia uma procissão marítima onde barcos de diversas localidades marcavam presença, vindos de São Luís, Guimarães, Pinheiro e São Bento.

Um dia antes de iniciar a festa, o padre junto com seus fiéis se desocavam até a ilha para fazer o translado da imagem até a cidade. No dia da santa, uma missa solene era celebrada. À tarde, uma procissão percorria pelas principais ruas, saindo da Igreja do Carmo até a praia do Jacaré, onde a imagem eram embarcada e reconduzida até a ilha, acompanhada de barcos enfeitados de bandeirolas multicoloridas, ao som de foguetes e dos sinos repicados de todas as igrejas de Alcântara.

Referência bibliográfica

LOPES, Antônio. Alcântara: subsídios para a história da cidade. _- 2.ed. – São Paulo: Siciliano, 2002.

OS "PEREIRA DE SÁ" DE COLINAS-MA

CapitãoPatrícioPereiradeSá,irmãodotambémCapitãoJoséPereiradeSáefilhodeJerônimoPereira deSá.

OsPereiradeSá,entrelaçadoscomosDiasCarneiro,compõemalgunsdosprimeirossesmeirosda regiãodoantigoArraialdoPríncipeRegenteedaantigaPicos,atuaisColinas-MA,PastosBons-MAe região.

Querconhecermaisdessahistória?Acesseadissertação"Entrefronteiras:oArraialdoPríncipe RegenteeodevassamentodoAltoItapecurunoséculoXIX"(2016),dePauloEduardodeSouza Pereira,descendentedosPereiradeSá.

Texto:RamssésSilva

Fonte:https://repositorio.uema.br/handle/123456789/91

CASADASMINAS

TerreiromaisantigodoMaranhão,fundadoporafricanosnadécadade1840,consideradocomotendo implantado o modelo de culto do Tambor de Mina. Foi organizado por “escravos de contrabando” –queingressaramapósaproibiçãodotráfego.CultuaapenasvodunsminaprocedentesdoantigoReino doDaomé,louvadoscomcânticosemlínguajêje(Ewê-Fon).

Conforme pesquisas de Pierre Verger teria sido fundado pela Rainha Nã Agontimé, que foi vendida comoescravaporconflitosnafamíliareal.Nãopossuicasasderivadasehojetemnúmeroreduzidode praticantes.

Nasfotosaparecemantigastobóssis, comonaprimeiraqueassinalaaFestadePagamentodaúltima FeitoriadetobóssisemJaneirode1914.Emdiversasfotosaparecemastobóssiscomsuavestimenta completa, que inclui pano da costa africano, manta de miçangas coloridas, rodilha na cabeça e bonecas. Aparecem também os instrumentos musicais da Casa. As fotos mostram ainda diversas vodunsis,quasetodasjáfalecidas.

Mostram rituais como: a distribuiçãodefrutas do arrambã na quarta-feira de cinzase adistribuição deobrigaçõesnaFestadeAcóssinodiadeSãoSebastiãoa20deJaneiro.

VídeoproduzidoporAcervoMaranhensecombasenasfotoseconteúdosdoMuseuAfroDigital

Fonte:http://www.museuafro.ufma.br

AudiospresentesnovídeosãoconteúdosextraídosdosarquivosdoacervoMaracaCulturaBrasileiro: www.maraca.art.br

AUTOS DO PEDIDO PARA CONSTRUÇÃO DA IGREJA DAS FRECHEIRAS DA LAMA - ANO 1781 - EXTRAÍDO DOS ORIGINAIS DO BISPADO DO MARANHÃO.

Ramssés Silva

AUTUAÇÃO NA CÂMARA ECLESIÁSTICA: “Ano de 1781 – Autos de Criação da Capela de Nossa Senhora do Rosário – Diogo Alves Ferreira. Câmara Eclesiástica – Autuamento. Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil setecentos e oitenta e um [1781], ao primeiro dia do mês de maio, nesta cidade de São Luís do Maranhão, em escritório de mim escrivão adiante nomeado, autuei aqui bom e fielmente na forma de estilo, uma petição do mestre de campo Diogo Alves Ferreira, morador na Parnahyba, com despacho do Reverendíssimo Senhor Doutor Vigário Geral e Governador do Bispado, João Duarte da Costa, o qual é o que se segue adiante e se vê, para efeito de ERIGIR o dito mestre de campo uma capela a Nossa Senhora do Rosário na sua fazenda (...). Do que para constar fiz este autuamento, eu o cônego José Bernardes de França, o escrivão da Câmara Eclesiástica que assino”.

PETIÇÃO DO MESTRE DE CAMPO DIOGO ALVES FERREIRA: “Diz o mestre de campo Diogo Alves Ferreira, que em uma das suas fazendas chamada Nossa Senhora do Rosário do Pacoty, da freguesia de Nossa Senhora do Monte do Carmo [da Piracuruca], da V. [Vila] de São João da Parnahyba deste Bispado [do Maranhão], pretende pelo cordial afeto com que venera o soberano título do Rosário, ERIGIR uma capela dedicada a mesma Senhora, para assistir aos ofícios divinos e a celebração do Santo Sacrifício da Missa, com demais fiéis (...) que se acham espalhados na extensão daquela freguesia, e também para serem ENTERRADOS, por lhes ficar a Matriz [da Piracuruca] 20 léguas de distância, e para a V. [Vila] da Parnahyba 15, e 10 para a capela de Nossa Senhora dos Remédios [do Buriti dos Lopes], e como o suplicante não pode fazer a dita capela sem licença do ordinário”.

TERMO DE VISTORIA “IN LOCO” DO IMÓVEL – EM 1781 NÃO HAVIA CAPELA ALGUMA

CONSTRUÍDA NAS FRECHEIRAS. “Termo de Vistoria. Aos dez dias do mês de outubro de mil setecentos e oitenta e um [1781], na fazenda de Nossa Senhora do Rosário do Pacoty, distrito da Vila de São João da Parnahyba, do Bispado do Maranhão, aonde foi vindo o Reverendo Vigário da Vara João Raimundo de Moraes Rego, comigo escrivão adiante nomeado, estando ali foi mostrado ao Reverendo Vigário pelo mestre de campo Diogo Alves Ferreira, o LUGAR EM

QUE ESTE PRETENDE

ERIGIR uma capela dedicada a Virgem Nossa Senhora com o título do Rosário, o qual LUGAR [da construção], sendo pelo sobredito Reverendo Ministro, VISTO E EXAMINADO, e achou ser decente, honesto, livre de umidades e finalmente capaz de nele SE ERIGIR O DITO TEMPLO, e é na entrada do dito sítio aonde assiste o referido mestre de campo, DISTANTE de sua casa de moradia CINQUENTA braças pouco mais ou menos. Do que para constar, mandou o mesmo Reverendo Vigário da Vara, fazer este termo, eu que assino, e eu, Manoel Pires Ferreira, escrivão comissário por falta do atual”.

TERMO DE AVALIAÇÃO DO PATRIMÔNIO DA CAPELA – VINTE VACAS PARIDEIRAS: “Aos onze dias do mês de outubro de mil setecentos e oitenta e um [1781], em a fazenda de Nossa Senhora do Rosário do Pacoty, onde foi vindo o Reverendo Vigário da Vara João Raimundo de Moraes Rego, comigo escrivão por comissão adiante nomeado, e sendo ali apareceram presentes José Gonçalves da Cruz e José Pereira Montaldo, pessoas conhecidas como os próprios, de que faço menção, aos quais notifiquei por ordem do mesmo Reverendo Ministro para AVALIADORES do rendimento do patrimônio que fez o mestre de campo Diogo Alves Ferreira para a capela QUE PRETENDE ERIGIR [não havia capela], de vinte [20] vacas situadas no mesmo corpo da fazenda sobredita de Nossa Senhora do Rosário do Pacoty, e sendo deferido o juramento dos Santos Evangelhos, pelo mesmo Reverendo Vigário da Vara aos ditos avaliadores, encarregando-lhes que avaliassem segundo entendem em suas consciências, o que poderão render as referidas vinte [20] vacas em cada ano. Pelos mesmos avaliadores foi dito que julgavam pela experiência que tinham de criar gados há muitos anos, que as ditas vinte [20] vacas poderão render livremente mais de seis mil reis em cada ano. E de como assim o disseram, mandou o Reverendo Vigário da Vara lavrar este termo e que assinaram comigo os ditos avaliadores e eu, Manoel Pires Ferreira, escrivão”.

Fonte: Autos de autorização para a construção da capela de Nossa Senhora do Rosário, feito pelo mestre de campo Diogo Alves Ferreira e sua esposa Francisca Tomazia Ferreira de Vera, no ano de 1781, junto a

Câmara Eclesiástica do Bispado do Maranhão. Arquivo de João Bosco Gaspar – pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio. Tianguá-CE.

ACHILLES LISBOA: UM PERFIL (1872 – 1951)

PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA

Membro fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina

Farmacêutico, médico, político (prefeito municipal de Cururupu e governador do Estado do Maranhão na década de vinte e trinta respectivamente), educador (um dos fundadores e primeiro diretor da Faculdade de Farmácia do Maranhão, fundou o Instituto Cururupuense, tendo como modelo a Ecoles de Roche, de Edmond Demolis de inspiração inglesa, preocupou-se com a divulgação do ensino fundamental no Brasil, tendo escrito a esse respeito um livro “Sobre o melhor meio de divulgação do ensino primário no Brasil” que recebeu menção honrosa da Academia Brasileira de Letras), botânico (foi diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, introduziu o cultivo de cacau na sua Fazenda em Cururupu e plantou palmeiras imperiais na praça da Matriz desta cidade, aplicou seus conhecimentos botânicos na fitoterapia. Idealizou a mistura de várias plantas para ser usada no tratamento coadjuvante da malária. Essa fórmula foi apresentada na forma de pílula, a que deu o nome de Achilea, em homenagem a sua primeira filha com este nome que faleceu de malária em Cururupu com menos de um ano de nascida.

Ele fornecia as plantas que coletava em Cururupu para o farmacêutico Wenceslau Tadeu, de Caxias, que as fabricava e vendia. Jamais teve como objetivo ganhar dinheiro com essa atividade, era um médico humanitário), cientista, interessou-se por Doenças Infecciosas, principalmente hanseníase, estrongiloidíase e esquistossomose mansônica, da qual descreveu os primeiros casos no Maranhão em 1918, dez anos após a descoberta do Schistosoma mansoni por Manuel Augusto Pirajá da Silva; interessou-se por Genética, sua tese de doutoramento em Medicina no ano de 1913 versou sobre “Da mestiçagem vegetal e suas leis”, passando a ser conhecido como o “médico mandaeliano brasileiro”; ensaísta e poeta, com vasta produção, infelizmente, na sua maioria inédita.

Desta convém destacar uma composta após súbita inspiração ocorrida quando se dirigia para a sua Fazenda Santo Antônio em Cururupu. A tarde caía e na solidão daquelas paragens pré-amazônicas, ele ouve o canto da Inhambu chorona, tinamídeo muito comum naquela região, que por seu canto triste recebe esta designação. Tirando então do alforje, papel e lápis, compôs os versos a que deu o nome da ave que exalava o seu canto naquela hora finda do dia:

Canta a inhambu chorona (A mata é escura, escurece do dia a claridade):

Modulações de um hino de ternura, Dolências de uma elegia de saudade

Tudo o que é doce, tudo o que a natura

Tem de mais grato aqui – a amenidade

Dos caminhos em for e na espessura

Da floresta o sentir que nos invade

Tudo neste hino sensitivo canta

Num sonoro trinar que nos levanta

Para um mundo de estranhas fantasias

Ao ouvi-lo, revive-me a lembrança

Dos meus saudosos tempos de criança

Triste evocar de mortas alegrias.

Na sua infância em Cururupu teve a felicidade de ter como mestra Herculana Firmina Vieira de Sousa , que exercia o magistério na cidade desde 1855, e teve sobre o pupilo benéfica influência, tanto que, ele a reverenciou a vida toda, em sinal de reconhecimento e agradecimento. Só para citar um exemplo, em artigo publicado no jornal A Pacotilha, ele se refere a ela como “saudosíssima mestra.” (LISBOA, Achilles – Notas ligeiras, A Pacotilha, sexta-feira, 3 de julho de 1914) e em outras ocasiões a cita como “mestra de bela cultura.” A semente caiu em terreno fértil e ele tornou-se um símbolo do resultado que uma boa educação pode dar.

Rio de Janeiro, sábado, 18 de março de 2023, às 10: 00 horas

Nota:

Aquiles de Faria Lisboa (Cururupu, 28 de setembro de 1872 São Luís,18 de abril de 1951)[1] foi um médico, político e cientista brasileiro [2]

Aquiles Lisboa foi governador do Maranhão e prefeito de Cururupu, além de médico e diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Considerado o pioneiro no tratamento da hanseníase no Maranhão, foi condecorado pela Assembleia Legislativa do Maranhão com um selo comemorativo, a ser usado em toda correspondência oficial daquela casa legislativa.

Obras

• O Serviço do algodão e o seu insucesso (1916)

• Discursos (1918)

• O posto socorro médico aos ulcerados (1919)

• Em torno da questão da pesca no município de Cururupu (1920)

• Questão de Interesse Público (1921)

• A Nova Escola (1922)

• Pela Honra do Maranhão (1925)

• Em defesa do regime pervertido e do Maranhão arruinado (1926)

• Profilaxia da tuberculose (1949)

• A penúria dos sábios alemães e austríacos (s/d)

• Oswaldo Cruz (s/d)

• A lavoura e a guerra (s/d)

• Bilharziose ou esquistossomose (s/d)

• Da mestiçagem vegetal e suas leis (s/d)

Referências

1. ↑ «Dados biográficos de Aquiles Lisboa». academiamaranhense.org.br. Consultado em 27 de dezembro de 2022

2. ↑ «Verbete: LISBOA, Aquiles de Faria» www.fgv.br. Consultado em 25 de fevereiro de 2021

OnomeSãoLuíseraabsolutamentedesconhecidoatéocomeçodosanos1900.Aspessoassereferiamao "Maranhão",ou"cidadedoMaranhão"parafalardacapital(assimcomooRiodeJaneiroparaacidadee paraoEstado).Váriosdocumentosepublicaçõesdegrandecirculaçãoocomprovam,comoestapáginada RevistadoNorte,queserefereàviladoAnil,oatualbairrourbano,como"ArredoresdoMaranhão". Onome"SãoLuís"setornaráprevalecenteapenasapartirdadécadade1920,quandoospoderespúblicos divulgamaideiadafundaçãofrancesadacapital.

DIA2DEFEVEREIROÉDIADEFESTANOMARDEIEMANJÁ

EmMemóriadomeufilmeACASADAMINAS.

Lembro-medodiaquandoestivenoMaranhãocomoMestreNunesPereiraefuivisitaracasaNagô ondemeencontreicomaDonaDudu,adonadoterreiro,umavelhinhabrancaedulcíssima,queeujá haviaconhecidonaCasadasMinas.Aproximando-medela,abaixandoacabeça,ecumprimenteicom reverencia:-Comoasenhoravai?...eelafoilogomedizendo:-Comquemvocêachaqueesta falando,meufio?Eurespondi:-ComaDonaDuduevimmedespedir,poisestoudeviagemparao Rio,masvoltoaquianoquevemparalheverelhemostrarofilmequevocêparticipou.Elame respondeucomsuavozmacia:-AquiquemtátefalandoéIemanjá,nãoéoquevocêpensasere quandovocêvoltar,nósnãoestaremosmaisaqui...abriuentãoseusolhinhosmiúdoseolhouparao céu.

FiqueiimpressionadocomacenaeumanodepoisNunesPereiramecontouqueelahaviamorrido. (fotosdofilme)

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRES. DUTRA, UMA CADEIA?

RAMSSÉS DE SOUZA SILVA

Sim. O local atualmente ocupado pelo Hospital Universitário Pres. Dutra era, em meados do séc. XIX, uma Cadeia Pública ou Casa de Correição.

É sabido que a primitiva Casa de Câmara e Cadeia de São Luís ficava onde hoje está instalada a sede da Prefeitura Municipal. Ali, quando virou Intendência Municipal, certamente, teve o serviço de Cadeia transferido para outro lugar e, este lugar foi um terreno entre a Rua do Navio e a Rua do Retiro (atual Rua Barão de Itapary), pros lados do bairro dos Remédios, nos arrabaldes da cidade.

Pesquisa: Ramssés De Souza Silva

Fonte: Planta de São Luís, por J. Veiga (1858).

LIVRO “BULLARIUM PATRONATUS PORTUGALLIAE REGUM IN ECCLESSIIS”, UMA RELÍQUIA DOS ARQUIVOS DE PORTUGAL.

Traz na íntegra a Bula “Ad Sacram Beati Petri” de 1676, pela qual o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado de Pernambuco, desmembrando o seu território do Bispado da Bahia. Por essa Bula, os limites do Bispado de Pernambuco eram os seguintes: “desde a Fortaleza do Ceará, inclusive, ao longo do litoral e para o interior da terra, até ao rio de S. Francisco”. Em Latim: “ad arcem Seará, inclusive, per oram maritimam et terram intus ad flumen Sancti Francisci”, p. 166.

Traz, também, a Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, pela qual o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado do Maranhão em 1677. Essa Bula diz que o território do Bispado do Maranhão criado em 1677, começava no “Cabo do Norte, ao longo do litoral e pelo interior da terra até à Fortaleza do Ceará”. Em Latim: "Capite Nortis, per oram marítima et terram intus, usque ad arcem de Seará"... Até a Fortaleza do Ceará. !!!!

A Bula “Inscrutabili Caelestis Patris” de 1725, pela qual o Papa Bento XIII, "desmembrou, separou e dividiu a capitania do Piauhy do bispado de Pernambuco, e a uniu e anexou ao bispado do Maranhão, com todos os benefícios, mosteiros e igrejas do território da dita capitania", diz que, após a incorporação da capitania do Piauhy ao Bispado do Maranhão, a fronteira litorânea do dito Bispado (Maranhão) permaneceu no mesmo lugar estabelecido pela Bula de 1677, não foi alterada... ou seja, o Bispado do Maranhão ia "até a Fortaleza do Seará".

No aspecto espiritual, a capitania Real do Ceará, como se pode observar, ficou literalmente dividida entre dois Bispados. No aspecto temporal, a capitania Real do Ceará era subalterna ao governo de Pernambuco.

Esse fato foi lembrado pela Mesa da Consciência e Ordens no ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão apresentou uma Representação acerca dos limites do seu Bispado.

Até o ano de 1755 a "questão da divisão dos bispados da América Portuguesa" ainda não tinha sido resolvida pelo Rei. Havia disputas entre os Bispados do Maranhão e Pernambuco (pela Serra da Ibiapaba), Maranhão e Pará (pelas Minas de São Félix e Natividade, e Rio de Manuel Alves) e Pará e São Paulo (nas terras novas de Goyás).

Fonte: Livro “Bullarium Patronatus Portugalliae Regum In Ecclesiis - Tomo II, 1601-1700”, de autoria de Vicecomite (Visconde) de Paiva Manso, Ex Typographia Nationali, Roma, 1870.

SÃO LUIS MEMÓRIA. PORTÃO DA QUINTA DAS LARANJEIRAS

Catálogo ID: 34948 Código de Localidade: 2111300 Município: São Luís Tipo de material: fotografia Título: [Portão da Quinta das Laranjeiras] : São Luís, MA Local: [S. l.] Editor: [s. n.] Ano: 1972

Descrição física: 1 fot. : p&b Série: Acervo dos municípios brasileiros

Notas:

No ano de 1812, a área hoje ocupada pelo Colégio Maranhense dos Irmãos Maristas, constituía-se como uma quinta, denominada Quinta das Laranjeiras, também já foi conhecida como Quinta do Barateiro ou Quinta do Barão de Bagé, isto devido ao Bispo ter ordenado, em 26 de Março de 1911, que se passasse portaria em forma de estilo, com vistas ao requerimento de José Gonçalves da Silva, "O barateiro", para que pudesse erigir um Oratório público com porta na rua, na Quinta das Laranjeiras.

Neste período, seu proprietário, comendador Luiz José Gonçalves da Silva, edificou a casa senhorial, a senzala, a casa dos trabalhadores

e uma capela. Representa uma burguesia extinta, onde aparece acima do pórtico um brasão em cantaria contendo as armas do Comendador Gonçalves da Silva, encimado por elmo.

A quinta passou por vários proprietários até que em 1938 foi adquirida pela Arquidiocese do Maranhão, que a vendeu aos irmãos Maristas para a construção do colégio. Nesta ocasião foi destruído o que restava das antigas construções, permanecendo apenas a capela e o portão principal.

O portão, além da beleza arquitetônica, é um símbolo da prosperidade e riqueza de uma extinta aristocracia. Pilares nas extremidades esquerda e direita fazem seu enquadramento, evidenciando a importância dada à entrada principal. No coroamento estão o frontão curvilíneo e os coruchéus; abaixo do entablamento, alinhado ao eixo central da porta, tem destaque um belo brasão familiar primorosamente trabalhado.

A pesada porta de madeira manualmente almofadada é emoldurada por uma portada em pedras de lioz, que apresenta verga em secção de arco abatido e cuja modernatura exibe elementos neoclássicos e aduela de fecho trabalhada. Acima da verga, encontra-se uma pedra, na qual está inscrito o ano de construção. Em frente ao portão, no passeio público, encontram-se dois frades de pedra, os quais eram utilizados para amarrar animais de carga e cavalos das carruagens.

O Portão da Quinta das Laranjeiras, em São Luís-MA, foi construído em 1812. O brasão do Comendador Gonçalvez da Silva em cantaria representa uma burguesia extinta.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Nome atribuído: Portão da Quinta das Laranjeiras

Localização: R. Oswaldo Cruz, nº 158 – São Luís-MA

Número do Processo: 210-T-1939

Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. nº 282, de 16/04/1940

Descrição: Era o portão da entrada principal da Quinta das Laranjeiras, ou do Barão de Bajé, uma das mais famosas e bonitas propriedades de São Luís no século XIX. A quinta foi construída pelo comendador Luiz

José Gonçalvez da Silva e era um morgadio formado por uma casa de moradia (em estilo colonial), capela, senzala e alojamento de trabalhadores. O portão foi construído em 1812, como consta na inscrição nele existente. Representa uma burguesia extinta, onde aparece acima do pórtico um brasão em cantaria contendo as armas do Comendador Gonçalvez da Silva, encimado por elmo. A quinta passou por vários proprietários, até que, em 1938, foi adquirida pela Arquidiocese do Maranhão, que a vendeu aos irmãos Maristas, para a construção de um colégio. Hoje restam apenas a capela e o portão, este servindo de acesso ao Colégio Maranhense (Marista), ambos tombados pelo IPHAN. Fonte: Iphan.

A Capela de São José integrava a Quinta das Laranjeiras, do português José Gonçalves da Silva, maior comerciante do MA durante o período colonial.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Nome atribuído: Capela de São José da Quinta das Laranjeiras

Outros Nomes: Capela da Quinta das Laranjeiras; Capela das Laranjeiras

Localização: R. Osvaldo Cruz, Centro – São Luís – MA

Número do Processo: 209-T-1939

Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. nº 281, de 16/04/1940

Observações: O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN.

Descrição: Originalmente, a Capela de São José integrava a Quinta das Laranjeiras, situada no final da Rua Grande, cujo primeiro proprietário, o português José Gonçalves da Silva, foi o maior comerciante do Maranhão durante o período colonial. Na Quinta das Laranjeiras existia, primitivamente, um oratório privado na casa-grande; em 1811, José Gonçalves da Silva resolveu construir uma capela pública, com entrada pela rua, para o que pediu autorização ao bispo D. Luís de Brito Homem, já instituindo, no mesmo

documento, que seu corpo deveria ser enterrado na capela. Em 17 de abril de 1811, foi-lhe passada a licença, tendo durado a construção cerca de cinco anos. A Capela de São José das Laranjeiras é um belíssimo exemplar da arquitetura religiosa predominante no Maranhão no século XIX, justamente a época de maior opulência econômica do Estado. A análise estilística da sua decoração interna revela um conjunto harmônico de altar-mor, arco-cruzeiro, guarda-corpo e sanefa, os quais, apesar de possuírem características neoclássicas, guardam ainda elementos do momento artístico anterior, o rococó. Trata-se também, da única edificação religiosa de São Luís que possui o copiar, uma área avarandada que servia como espaço de transição entre o interior (sagrado) e o exterior (profano) dos templos. Fonte: Iphan.

RÉVEILLON NAS DÉCADAS DE 1970/1980 EM VIANA (*)

A galinha caipira é um daqueles pratos com sabor caseiro único e marcante, o que torna a refeição maisespecial.

É surpreendente como um prato pode ser tão simples e tão gostoso ao mesmo tempo, é uma opção certeira para os mais diversos momentos e ocasiões inclusive numa ceia, que na Viana da minha adolescênciaejuventudechamávamosdemeianoite.

Agalinhacaipiraéotermousadonaculináriabrasileiraparasereferiraogalináceodomésticocriado solto nos quintais das casas da cidade de Viana no período da minha adolescência, nas décadas de 1970/1980.

NoRéveillonquesecomemoravanasfestasnosclubessociaisechamávamosmeia-noitenapassagem doanoasfestasapartirdazerohorasechamavaprimeirogritodecarnavaleasorquestasaminavam osfoliõesnoritmodasmúsicascarnavalescas.

NacidadehistóricadeVianahouveumatradiçãoecostumequeemtemposremotosjáexistiaequeas gerações anteriores a minha também praticavam, apanhar galinhas e até patos no quintal alheio, nessaépocaperueraartigodeluxo,essetipode"brincadeira"eracomumpróximoaoperíododefinal deano,umavezquenãoerafeitapormaldadesapenaspordiversão.

Naépocadaminhaadolescênciaalgunscolegasvianenses,próximoaoperíododascomemoraçõesdas festasdefinaldeanotínhamohábitodeapanharasgalinhasqueeramretiradasnascaladasdanoite parafazermeia-noitecomochamávamosasceiasdenataleréveillonnaVianadeoutrora.

Temposbons,períodoqueapacatacidadedeViananãotinhaviolênciaesepodiatransitaraqualquer hora da noite e até sair de casa e deixar a porta encostada, época que se fazia essa brincadeira de apanhar as galinhas apenas por diversão, diferentemente dos dias atuais que se faz com outras finalidades.

Recordo-me que numa certa noite junto com alguns colegas saímos para apanhar as galinhas no quintaldeumapessoabastanteconhecidanacidadeesomentedoisentraramnogalinheirocomtodo o cuidado para não espantar as galinhas, muitas aves faziam as árvores de poleiro no período de estiagem, eram usadas as técnicas para que as mesmas não pudessem cacarejar e estragar a empreitada,alémdosilêncioparaodononãoacordarcomobarulho.

Eramuitodivertidonomomentodeapanharasgalinhasnospoleiros, tantoparaosqueadentravam nos quintais bem como para os que ficavam esperando do lado de fora das cercas e algumas residências possuíam muros, tínhamos muito cuidado para não espantar as aves, para que os proprietáriosnãoacordassemnahoraescolhidaparaaempreitada,geralmentepelamadrugada,pois seascoisasdessemerradasoproprietáriodacasaedasgalinhascolocavamtodaaturmaparacorrer eacabavaatãoesperadameianoiteeficávamossemdegustarapenosa.

Quando a empreitada dava certo e geralmente se escolhia a casa de pessoas próximas e bastante conhecidas na cidade e até de parentes próximos, no dia seguinte o comentário era geral pois os proprietáriosespalhavamnavizinhançaereclamavamquedeuladrãoehaviamfurtadosuasgalinhas.

Portanto uma verdadeira aventura pelas madrugadas pulando muros ou fazendo buracos nas cercas das quintais das casas das pessoas na pacata cidade de Viana, tempos bons que não voltam mais, porémomaisgostosodetudoissoeracomeraquelasgalinhasoupatos,merecordoquenumadessas meia noite fizemos o banquete na casa de um conhecido professor de Viana que por sinal foi meu professoresempreparticipavaconoscodadiversão,umavezquefazíamossomentepordiversãoena horadadegustaçãoocomentárioerageraleficávamosrecordandocomofoiparaapanharasgalinhas easgargalhadaseramboas.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

AFoliadeReis,tambémchamadadeReisadoéumafestapopularetradicionalbrasileira.Trata-sede uma da festa folclórica de caráter cultural e religioso, ocorre no período de 24 de dezembro a 06 de janeiro. A festa é celebrada em diversas regiões do país, de origem portuguesa e espanhola que provavelmente foi trazida para o Brasil no século XIX, uma tradição cristã, celebrada na religião católicacomointuitodecomemoraravisitadostrêsReisMagosaomeninoJesus.

AntigamenteaapresentaçãodafestadeReispelasruasestreitasdacidadehistóricadeViana,aquarta cidade mais antiga do Maranhão era uma tradição nas décadas de 1940/1950/1960 os tradicionais pastorais, os reisados ou folia de reis e os autos de Natal ficavam sob a responsabilidade das professorasCoiaCarvalhoedeAnicaRamos.

AfestadeReisemVianachegouaterseuresgateapartirdosanos2000pelassenhorasMariaPregoe MariadasNevesFerreira(falecidaem12/02/2017)estafestafoiesquecidaporquasequatrodécadas eporiniciativadessasduassenhorasquetiveramalouvávelideiadoresgatedessatradicionalcultura popular.InfelizmenteatualmenteafestadeReisnãoémaisrealizadanasruasdacidadedeViana.

Composto debailado ao som dascançõesnatalinas a festa erarecheadade recitativos querelatam a magiadanoitedonascimentodoSalvadoreaposteriorvisitadosReisBelchior,BaltazareGasparao meninoJesus.

Outra tradição era a queimação de palhinhas evento religioso que marcava o encerramento das comemorações natalinas na cidade de Viana era realizada no Dia de Reis, celebrado no dia 6 de janeiro. Caracterizada pelo desmonte do presépio que reproduz a cena do nascimento de Jesus e a visitadosReisMagos.Osfiéisiamretirando,aospoucos,aspalhinhasdeumaplantachamadamurta, utilizadaparadecoraropresépio,ecolocavamparaqueimaremumfogareiro,produzindoumaroma agradável.

Durante a queimação, eram cantadas ladainhas em latim e língua portuguesa, enquanto balançam a imagem do menino Jesus com uma toalha como se estivessem o ninando, e os fiéis faziam pedidos paraoanoqueestavacomeçando.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

FESTA DE REIS (*)

CARNAVAL EM VIANA

ÁUREO MENDONÇA

Nos antigos carnavais da cidade de Viana no final da década de 1930 o Bloco Anjos da Fuzarca e na década de 1940 o bloco feminino “Conte Comigo” eram tradições pelas ruas estreitas da cidade histórica de Viana nas festividades de momo, também periodo dos fofões. Tempos depois existiam no carnaval vianense de rua a participação de blocos organizados e os chamados blocos de sujos.

Na cidade de Viana época que existia muito preconceito e racismo, os bailes eram divididos por classes sociais, Baile de branco, baile do mulatinho (negros) baile dos cabloquinhos, havia também o baile das prostitutas, conhecido como “baile das inocentes”. Quando não existiam os clubes, os bailes eram realizados em várias residências como na casa que pertenceu a Ananias Castro, na casa onde hoje funciona a Biblioteca “Ozimo de Carvalho”, no canto do Galo, no Casarão chamado de porão na Rua dos Canudos, atual Rua Celso Magalhães, por trás da Escola Normal, e também onde hoje é a prefeitura municipal que por alguns anos foi cedido para a realização dos bailes de carnaval. Nas décadas de 1950/1960, o clube mais popular da cidade tinha por sede o atual prédio do antigo Ginásio Antônio Lopes e chamava-se “Gruta de Satã”, os responsáveis por esses bailes contratavam as respeitadas orquestras de João Araújo e Temístocles Lima e anos mais tarde as orquestras de Zé Piteira e Ozias Mendonça.

Na época da minha juventude os melhores carnavais no interior do Maranhão, eram na Baixada maranhense, as cidades de Viana, Pinheiro, Penalva e Cururupu se destacavam entre as mais procuradas pelos foliões. Período das orquestras de metais que animavam os carnavais durante os quatro dias de folia nos clubes sociais, onde se brincava o carnaval nos matinais, vesperais e nos bailes, porém somente os adultos frequentavam os bailes noturnos, ou nas ruas estreitas e tranquilas na então pacata cidade de Viana, nos blocos de sujos com maisena e nas escolas de samba.

Recordo-me que no final dos nos 1970 na sexta feira começava a chegar os foliões vindos da capital São Luís e de outras cidades para brincar o carnaval em Viana época em que o principal meio de transporte eram as lanchas, No sábado pela manhã eu sempre ia passear pelas ruas da cidade percebia que já estava bastante animada e varias pessoas circulando a espera de iniciar a folia, dava prazer encontrar conterrâneos e um dos que não perdia a folia em Viana era o Roque filho de Bibi Silva vestido com o macacão pintado a seguinte frase “Roque chegou não é pra ficar”, isso marcou o carnaval de Viana.

Também no final dos anos 1970 e início da década de 1980, um grupo de jovens vianenses que marcaram época em várias atividades e principalmente na área cultural da cidade de Viana entre eles o Figueiredo e amigos fundaram a Escola de Samba Ritos & Mitos que foi um sucesso e se juntou às demais escolas de samba já existentes como: Gavião do Samba, Turma de Mangueira, Fluminense e União do Samba.

Uma volta ao passado, a nostalgia do animado carnaval em Viana, na década de 1970 até a década de 1980, onde se via o glamour dos bailes nos clubes sociais, os blocos de sujos, os fofões e os desfiles das escolas de samba, um autêntico carnaval da saudade que conheci, bons tempos e inesquecíveis.

Lembro-me das orquestras de Nonato Travassos, dos Lobatos e da orquestra do Astolfo Amorim, que animavam o carnaval vianense. Num casarão na Rua Coronel Campelo funcionou o clube Cinelândia que era o mais popular da Cidade de Viana, começou a funcionar na década de 1970, onde eram realizados os bailes de carnaval, na época das orquestras em Viana a terra dos músicos. Vale ressaltar que o piso do clube era de tábuas, o chamado assoalho muito comum naquela época. No Cinelândia também funcionou um cinema improvisado, bem antes, foi por muitos anos a residência de uma das mais tradicionais família de Viana a família Zenni.

Os demais clubes onde se faziam os bailes de carnaval eram Grêmio clube da elite, Jaguarema e Alvorada que eram clubes populares. O Jaguarema foi fundado em 06 de abril de 1969, e contou com 105 associados e foi denominado de União Recreativa Vianense, mais a população só chamava Jaguarema. Estiveram à frente da fundação os seguintes vianenses, José Soeiro, Manoel Soeiro, José Morais, Carlos Lopes, José Antonio Farias, Pedro Mendengo, João Batista Melo e José Gonçalves entre outros.

No período carnavalesco em Viana, na década de 1980, no trecho da Rua Coronel Campelo, no canto do comércio de Chico Frango e na Rua Antônio Lopes, no canto da Farmácia Serejo, entre essas duas esquinas na Rua Alteredo Nogueira que liga esse trecho havia uma multidão de foliões e nesse trecho para atravessar

se deparava com aglomeração, visto que nessas imediações ficavam os três clubes mais populares da cidade de Viana bem próximos um do outro, época que fica na memória e na história cultural da cidade histórica de Viana. Atualmente o cento histórico de Viana parece mais um deserto e mesmo no período carnavalesco poucos transeuntes pelas ruas históricas da cidade.

Com a modernidade, infelizmente na atualidade o carnaval em Viana está totalmente diferente da época da minha juventude, pois aquele modelo de carnaval do interior se modificou bastante, abandonou o tradicional e embarcou na onda dos shows das bandas-baile, sertanejo, forro e axé music. Hoje a música carnavalesca está bastante diversificada ao invés de sambas e marchinhas tocam-se outros estilos musicais, bem diferente dos antigos carnavais que conheci em Viana.

Só ainda não foi extinto graças à família Cutrim, descendentes do grande mestre Firmino Tinga que em sua maioria são músicos e anualmente no canto do Gegê mantêm o carnaval tradicional regado a orquestra e muita diversão. E também a Banda vianense Os meninos da Vadia que mantem um repertório com músicas carnavalescas e animam os foliões no pré carnaval aos sábados.

As novas gerações não conheceram o autêntico baile de carnaval, onde os foliões se fantasiavam com lantejoulas, paetês, confetes e serpentinas, epóca em que as Bandas e músicos vianenses eram valorizados possuiam cantores e cantoras de qualidade e não precisavamos de bandas de fora com ritmos que nao tem nada haver com o carnaval e desperdício de dinheiro público com valores exorbitantes.

Só conhecerão através de obras literárias ou em postagens como essa nas redes sociais.

Segundo o grande radialista Riba Sousa, no Clube Cinelândia grande parte do carnaval era movimentado pelo reggae, com

animação da extinta radiola Rock Som, e nos últimos carnavais no Cinelândia foram voltados para o reggae que ficou conhecido como o carnaval jamaicano.

Foto: Acervo do Baianinho e Neto Vale.

(*) Áureo Mendonça é pesquisador, escritor e membro fundador do IHGV

Memóriasdocarnavalvianense(*)

Nesta foto do ano 1951 no carnaval de Viana, um clássico do gênero samba de carnaval e também época das marchinhas foi sucesso no carnaval de Viana naquele ano, gravada em 1950 por Gilberto Milfontamúsica"Praseugoverno"letradeHaroldoLoboeMiltondeOliveira.

Aorquesta"SãoBenedito"comandadaporOziasMendonçairmãodaminhaavóOliviaMendonçaera umasdasorquestrasqueanimavamosfoliões.

Os músicos componentes da orquestra “São Benedito” na foto capturada em 1951 que assim era composta: Capão, Zé Piteira, Antônio Reis, Juarez, Diobede, Gregório, Carlos Mendonça, Júlio Piolho, Mundico de Vitória, Garça, Zé Fugido e Zé Campelo. O músico Mundico de Vitória era o cantor da orquestra,valeressaltarqueMundicodeVitóriaeraopaidoamigovianenseSivamBarrosdaSilveira quegentilmentemeenviouafoto.

A Banda e Orquesta São Benedito durante sua trajetória de 1936 a 1968 teve vários músicos vianensesquefizeramparte,inclusiveosfilhosdeOziasMendonça.

(*)ÁureoMendonçaépesquisadorescritoremembrofundadordoIHGV.

Gatos no baile (*)

Décadas de 1940 a 1960 época de muita segregação racial na sociedade vianense, período em que eram realizados bailes distintos destinados a brancos, caboclinhos e negros (mulatinhos). As mães solteiras eram chamadas de gato, assim como as prostitutas e não podiam frequentar os bailes nos clubesdeelitedacidadedeViana.

Numdessesbailesdecarnaval,osirmãosJoséManoeldaSilvaeJoãoFurtadodaSilva conhecidosna cidade como Zé Gato e João Gato, ambos participavam do animado baile de Carnaval, em um dado momentoohumoristavianenseconhecidocomoZéGatoaproximou-sedopresidentedoclubeGruta deSatãquefuncionavanoantigoginásioAntônioLopesedisse-lheaopédeouvido: Nhozinho,doisgatosentraramnosalão.

Foiobastanteparaopresidentemobilizarosdemaisdiretoresdeplantãoaprocuradasintrusas,após 30minutossemencontrarosgatos. Opresidentevoltaasecertificarcomoinformanteaveracidade dofato.ZéGatoconfirmouqueosgatosaindaestavamnosalão.

Apresençadasprostitutasalisignificavamofimdobaileeconsequentementeadestituiçãodetodaa diretoriadoclube.

OsdiretoresresolveramchamarnovamenteZéGatoparadeclinarosgatos.

ZéGatoconfirmouedisse-lhetemdoisgatosnobaile:EueoJoão.

Fonte:ZéGatoohumoristavianensedeJoséHenriqueCarvalho

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

Raimundo Nonato Travassos Nunes, nasceu em Viana em 10 de outubro de 1940, considerado uma lenda dos antigos carnavais vianense, presto essa homenagem a este músico de nossa cidade de Viana.

Nonato Travassos marcou época e fez história no carnaval vianense, período de ouro, quando a cidade de Viana possuía um dos melhores carnavais do interior do Maranhão, uma multidão de foliões chegavam a cidade dos lagos para a folia do carnaval nos quatro dias de muita diversão, a multidão tomava conta da cidade, Nonato Travassos comandava sua orquestra no Grêmio Cultural Recreativo Vianense um dos quatro clubes sociais da cidade que era bastante badalado devido concentrar a elite da cidade. A orquestra fundada e liderada por Nonato Travassos era a cara do Grêmio, Nonato sua orquestra e o seu saxofone sempre presente nos carnavais do clube, todos os anos era certa a contratação pela diretoria da orquestra comandada pelo homenageado.

Em tempos remotos na época das serenatas, Nonato Travassos no sax e o amigo vianense Sivam Barros da Silveira tocando banjo eram companheiros das noites de serenatas na cidade de Viana.

Em um determinado ano a diretoria do Grêmio Cultural Recreativo Vianense rompeu o contrato que exista com Nonato e nesse mesmo ano o Clube Cinelândia contratou para animar os bailes, como resultado, o carnaval do Grêmio foi um fracasso, enquanto o carnaval do Cinelândia foi um sucesso, esse fato repercutiu bastante que a diretoria do Grêmio no ano seguinte voltou a contratar para animar as festas.

Nonato e sua orquestra tocavam samba e marchinhas animando os foliões no salão superlotado de foliões e só parava de tocar na hora do Zé Pereira que o público já sabia que esse momento era o fim do baile.

Atualmente Nonato Travassos com seus 83 anos de idade reside em São Luís.

(*) Áureo Mendonça é pesquisador, escritor e membro fundador do IHGV.

NONATO TRAVASSOS (*)

Na então pacata cidade de Viana nas décadas de 1960/1970 muitas pessoas marcaram gerações e a minhainfância,algumasfamosaseoutrasbempopulares,épocaqueeramuitocomumseconhecere chamaraspessoaspelosapelidos,muitosnãosabíamossequeroseuverdadeironome.Períodoque aspessoasnãosechateavamseremchamadasporapelidoseatémesmochamávamossemracismoou discriminação.

OcasalquesemprevisitavaeraPedroMoraesCampeloedonaCarmosinaMendonçapeloparentesco próximoqueexistiacomanossafamíliaMendonça.

PedroMacaco,eradecorbrancaassimerachamadoeconhecidonacidadedeViana,assimcomotoda sua família após o nome eram conhecidos pelo apelido e ficaram conhecidos na cidade sem nenhum atoderacismo.

Pedrinho Moraes Campelo, um grande amigo da família Mendonça, era casado com Carmosina Mendonça,filhadeNhonhôMendonçasobrinhodaminhaavóOlíviaMendonça.

Umapelidoderivadodeanimalquetodosconheciaminclusiveascrianças,épocasemmaldades,sem racismooudiscriminaçãoemrelaçãoaosapelidosqueerammuitocomumnacidadedeViana.

EntreosmembrosdafamiliaCampelotinhaDiquinhamuitoconhecidaeirmãdoPedro,tinhatambém Beneditaentreoutrostodosconhecidospeloapelido.

Segundo informacoes da prima Larissa Cruz, a mãe de Pedrinho recebeu uma grande herança em Portugal na época foi sucesso em Viana, tinha aniversário até para papagaio com direito a banda musical.

Ovalorfoicomoacertarna loteria, herançamilionária, quefoideixadaporumatiaavódePedrinho, queficouemPortugal,irmãdeCotaSantosavódelequeeraportuguesa.

A herança fez sucesso na época, foi como acertar na mega-Sena. O pai de Pedrinho abriu uma quitanda/supermercado estilo self-service, ele ficava deitado numa rede e mandava a clientela se servirecolocarodinheironocaixa,nãodeuoutra,ocomérciofaliuemdoistempos.

Fotos:LarissaCruzeAnytatyCampelo.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

PEDRO MORAES CAMPELO (*)

A TRAJETÓRIA DO GAVIÃO (*)

José Raimundo Soeiro Filho conhecido em Viana e na baixada maranhense como Gavião Donaldson nasceunacidadedeVianaem20dejunhode1980,filhodepescador.

Com 11 anos de idade em 1991 foi residir em São Luis, a Jamaica Brasileira, no final da década de 1990 iniciou seus trabalhos no movimento do Reggae, foi proprietário de uma casa de eventos do ritmoJamaicanochamadaTocadoGaviãonoBairrodoAraçagy,ondetinhaváriasradiolasquetocava entreelasDoceNamorada,BlackPowereBlackMusicdaáreadeParqueVitória.

Em2004seapresentouemumconcursodeimitaçõesnaTVMirantedeSãoLuísafiliadaaTVGlobo, com mais de 200 concorrentes passando no teste onde esteve presente a equipe do Domingão do Faustão, ao fazer sua apresentação passou no seletivo juntamente com mais 3 calouros se classificando para uma apresentação a nível nacional no Domingão do Faustão onde esteve se apresentandopordoisanosconsecutivos2004e2005noprogramadoFaustãonoquadroseviranos trintaficandoemsegundolugarimitandováriasanimaiscomperfeição,inclusiveoGavião.

Ao regressar para São Luis foi convidado para participar do programa O Povo com a palavra na emissoradeTVMaranhense,programacomandoporJairzinho.

O vianense Gavião Donaldson era quem fazia o personagem Migué, sucesso ao lado de Raimundo NonatoJairzinhodaSilva,oJairzinhoaposentadordoprogramaOpovocoma palavra.Osjargõesde JairzinhoficaramnahistóriaenamemóriadaimprensamaranhenseassimcomoobonecoMigué.

OapresentadordeTVJairzinhodeixoualgumasmarcasnotelejornalismomaranhense.Umadelasfoi acriaçãodoBonecoMigué.

GaviãotambémtrabalhounaTVGUARÁquandoJairzinhofoiparaaemissora,valeressaltarqueoseu amigoJairzinhodeuaoportunidadeparaGaviãomostrarseutalentonaTV.

Após o falecimento de Jairzinho em 2013, Gavião continuou na TV Guará no programa do Ivan Lima fazendoopersonagemBigodeatérescindirseucontratocomaemissora.

Após o seu retorno para a cidade de Viana sua terra natal trabalhou na Rádio Maracu AM e FM e tambémnaRádioSacoã.GaviãotemoprogramaReggaeMusic.

Atualmente é presidente da Associação União do Reggae e do Bloco União do Reggae fundado em 2016 onde desenvolve um trabalho voltado para a cultura da juventude vianense. Também executa trabalhosdelocuçãoparaquemlhecontrata.Temfortelaçosdeamizadecomograndeapresentador

Riba Sousa que comanda o programa Conexão Reggae na Rádio Maracu liderando a audiência no horário.

Fotos:AcervoGaviãoDonaldson.

(*)ÁureoMendonçaépesquisadorescritoremembrofundadordoIHGV.

Jairzinhomarcouépocacomoradialistanadécadade1970,depoissetornouapresentadordeTVonde por duas décadas comandou o programa O povo com a palavra. Eu sempre assistia o seu programa queeracampeãodeaudiêncianohorárionaTVMaranhenseedepoissetransferiuparaaTVGuará.

Na política Jairzinho foi vereador de São Luís por vários mandatos, em 1985 foi vice-prefeito de São LuísnagestãoGardeniaGonçalveseem1988 foicandidatoaprefeitodacapital, ficandoemterceiro lugarnadisputa.

O vianense Gavião Donaldson era quem fazia o personagem Migué, sucesso ao lado de Raimundo Nonato Jairzinho da Silva, o Jairzinho aposentador do programa O povo com a palavra. Seus jargões ficaramnamemóriaassimcomoobonecoMigué.

OapresentadordeTVJairzinhodeixoualgumasmarcasnotelejornalismomaranhense.Umadelasfoi a criação do Boneco Migué, um companheiro que sempre estava ao lado do apresentador que comentavanotíciasjuntocomele.

OapresentadorJairzinhocrioualgunsjargõesnaTVdoMaranhão.Umdosseusjargõessemprefalava noiníciodoprograma:“Queimeemquemqueimar,doaaquemdoer,aquinesteprogramaaparadaé pravaler,equemtiverrabodepalha,falcatrua,maracutaiaqueprocureseesconder”.

Tambémaocomentarasreportagensdiziaoutrojargão“Mandaquempode,obedecequemtemorabo preso”.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

O VIANENSE PERSONAGEM DO BONECO MIGUÉ QUE BRILHOU NA TV (*)

CaiodeSouzaPernafoiumbrilhanteadvogadoprovisionadonacidadedeViana,umpersonagemque prestourelevantesserviçosaojudiciárioefazpartedahistóriaedamemóriadacidadedeViana.

AtéquandoasautoridadesirãocumprirasLeisecolocarplacasnasruasdacidade.Assimcomoestá rua existem outras como a Rua Dilú Melo que nunca foram colocadas as placas de identificação das ruasqueatravésdeLeimunicipalmudaramdedenominação.

AindaseráescritoumtextocompletocontandoatrajetóriadovianenseCaiodeSouzaPerna. (*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

CAIO DE SOUZA
(*)
RUA
PERNA

MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS (*)

Personagens que exerceram o ofício de fotógrafo por anos, período em que eles vivenciaram o cotidianodacidadedeViananasdécadasde1950a1990doséculoXX.

Rochina, Ribamar Alves (Zé Alves) Simão, Ezequias Araújo, José Ribamar Gomes (Zé Branco), José Ribamar Silva Freitas (Baianinho) e José Ribamar Castro (Castro) contam a história e a memoria da cidadedeVianaatravésdeseusregistrosfotográficos.

EssesfotógrafosforamimportantesparaavidadacidadedeVianaeseushabitantes,poiseternizaram com suas belas fotografias, que na mira de suas lentes clicaram fotos de paisagens naturais, do patrimôniohistórico,docotidianodacidadeedepessoas,elesserãolembradosportodaumageração que não esquecem de suas artes fotográficas que ficaram registrados na história e na memória da cidade.

Esses profissionais contribuíram para construção da memória coletiva por meio dos seus olhares e lentesdeixaramumlegadoparaaposteridadecomimagenspreciosasdafisionomiaantigadeViana. (*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

Nélio Cícero Muniz nasceu no dia 8 de abril de 1934 na cidade de Viana, era filho do casal Onozor Azevêdo Silva e Maria Muniz, e irmão da Senhora Raimunda Tolentina Muniz Barros conhecida em VianacomoMundoquinhaBarros,quefoiumaexímiabordadeiradelombosdeboiefaleceuem24de janeiro de 2008. Na sua infância Nélio Muniz já demonstrava grande interesse pela música e aos 12 anos de idade, já era aluno do grande mestre Zé Piteira, aprendeu a tocar Piston o seu primeiro instrumento musical. Com o passar do tempo, aprendeu a tocar outros instrumentos como saxofone tantooaltocomootenor,tromboneeatébateria.

SaiudesuacidadedeVianaaindamuitojovemnaadolescência,com16anosdeidadefoimorarcom ostiosmaternosRaimundoeCorinaMorgado,nacidadedoRiodeJaneiro,nessaépocaingressouno CorpodeFuzileirosNavaisnaMarinha.PoucotempodepoisfoiremanejadopelaMarinhaparaservir no5ªDistritoNaval,nacidadedeFlorianópolis(SC),quandopassouaseapresentarcomomúsicona SociedadeFilarmônicaComercial.Noano1956,aos22anos,NélioMunizsecasoucomMarilzaLopes Muniz, que era catarinense, com quem teve três filhos: Nelida, Meire eCícero, o casal ainda adotaria mais uma filha, de nome Nélia Cristina, o jovem músico resolveu prestar concurso para a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, ingressando como sargento no ano 1960. Trabalhou na Policia Militarpor35anos,ondeseaposentoucomotenentenoanode1985.

Mudou-se para Tijucas em 1984. Foi Subtenente Músico da Polícia Militar de Santa Catarina por 22 anoseSargentodaMarinhadoBrasil,tendocomoinstrumentoprincipalotrompete.

NéliofoiresponsávelporreativaremantervivaaBandamaistradicionaldeTijucas,assumindopela primeiravezaregência nodia30deabrilde1987.Muitoqueridoportodaacomunidade,atépouco tempo antesde falecer se mantinha na atividade de regentedo grupo, coordenando apresentações e participandodeinúmeroseventos.

O êxito nesse trabalho conduziria o maestro Nélio Muniz à presidência da Sociedade Musical União Tijuquense, em setembro de 2001. Cidadão Tijuquense Durante todos esses anos, construíu boas amizades que foram conquistadas em Tijucas, o que impulsionou o maestro, em 2002, a fixar residência definitiva nessa pequena cidade do litoral catarinense que o adotou como filho. Aos 70 anos, depois de enviuvar, Nélio contraiu um segundo matrimonio, em 2005, com Inalva Silva Muniz comquemviveuatéoseufalecimento.Em2007,pelaultimavezeleesteveemVianaparavisitarsua irmã,donaMundoquinha(falecidanoanoseguinte),edemaisfamiliares.

NÉLIO MUNIZ GRANDE MÚSICO
(*)
VIANENSE

Quandocompletou81anos,Néliocontinuavaemplenaatividade,comomaestrodaBandaSociedade MusicalUniãoTijuquense.Nosúltimostrintaanosdetrabalho,omaestroperdeuacontadequantos jovens ensinou a arte da música e também de quantas vezes se apresentou em ocasiões festivas em Tijucasemunicípiosadjacentes.OmaestroNélioCíceroMunizé,portanto,umremanescentedaquele tempo muito distante, em que Viana exportava músicos para outras cidades, inclusive de outros Estados. Assim como Onofre Fernandes (que fez carreira em Belém do Pará), ou João Balby (que se destacoutocandoemváriasorquestrasdoRiodeJaneiroeSãoPaulo),entreoutros,eletambémsoube levar a fama da boa música vianense além-fronteiras do Maranhão, inserindo desse modo seu nome nagaleriadaquelesprofissionaisqueajudaramVianaamanter,durantedécadas,ohonrosotitulode cidadedosmúsicos.

NélioMunizfaleceudia30demarçode2018aos84anosdeidadenacidadedeBalneárioCamboriú, eraMaestrodaBandaUniãoTijuquense,oSubtenenteNélioCíceroMuniz,seuvelórioocorreunasede daSociedadeMusicalUniãoTijuquense.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

O PADRE VIANENSE SUPLENTE DE SENADOR(*)

Na política nem todo suplente é obediente ao titular e existem muitas divergências, o Padre Constantino Trancoso Vieira nasceu na cidade histórica de Viana - Maranhão em 29 de outubro de 1901 era filho de Aureliano Antônio Vieira e Rita de Cássia Trancoso Vieira, ainda muito jovem o menino Constantino saiu da sua terra natal para ingressar no Seminário Santo Antônio, na capital, onde estudou e foi ordenado sacerdote no dia 22 de março de 1925, na sua turma de seminarista estavatambémoutrovianenseAstolfoSerra.

Após a sua ordenação o jovem Padre na época com apenas 23 anos de idade foi designado para a paróquia da cidade de Alto Parnaíba no Sul do Estado do Maranhão, onde exerceu o sacerdócio durante 5 anos, após esse período foi transferido para a cidade de Pastos Bons, cidade onde ficou como pároco por vinte anos e onde se dedicou às causas das obras sociais da igreja voltada para a população mais necessitada da cidade, devido a esse trabalho social foi nesse período que resolveu entrarparaavidapúblicacomopolítico, secandidatouasuplentedesenadorconseguindoseeleger como suplente de senador na chapa que tinha como titular do cargo o senador pelo Maranhão ClodomirSerraSerrãoCardoso,conhecidonapolíticacomoClodomirCardoso,quealémdepolíticofoi advogado; jornalista; professor e servidor público. Foi também deputado estadual e federal, prefeito de São Luís, governador do Maranhão como interventor e senador por dois mandatos. Em seu segundo mandato como senador, que por sinal foi um grande senador da Republica pelo Estado do Maranhão, No pleito de dezembro de 1945 elegeu-se senador pelo Maranhão à Assembleia Nacional ConstituintenalegendapeloPartidoSocialDemocrático(PSD).TevecomoprimeirosuplenteoPadre vianense Constantino Trancoso Vieira. Clodomir Cardoso assumindoo mandatoem fevereiro do ano seguinte, integrou a subcomissão da organização federal pertencente à Comissão Constitucional encarregada de redigir o anteprojeto da Constituição. Foi ainda presidente do diretório regional do PSD do Maranhão e membro do diretório municipal do partido em São Luís. Com a promulgação da novaCartaem18desetembrode1946,passouaexerceromandatoordinárionoSenado.

Após divergências politicas entre o titular e suplente o Padre decidiu renunciar à suplência, fazendo expressamente através de um telegrama endereçado ao presidente do Senado Federal. Após o falecimento do senador Clodomir Cardoso ocorrido no Rio de Janeiro no dia 1º de agosto de 1953, ainda no exercício do mandato, o pároco Constantino recorreu administrativamente ao Senado e tentando revogar seu ato, mas por já haver sido homologado a renúncia o Senado indeferiu o seu pedido e o padre não deixou por menos e recorreu também na instancia judicial e poder judiciário, tambémnegouoseupedido.

Todos os anos quando o padre tirava suas férias sempre voltava a sua terra natal a cidade de Viana prareverseuspaisedemaisparentes,alémdeseusváriosamigosvianenses.Opadrequetambémera jornalistaescreveuváriosartigosepublicouemdiversosjornaisdoestadodomaranhão,inclusiveno jornal vianense “A Época”, que tinha como diretor responsável o intelectual vianense Ozimo de Carvalho.

JádevoltaacapitalSãoLuísnoanode1952,licenciadopeloentãobispodeCaxias,poisnessaépocaa jurisdiçãoaquepertenciaaparóquiadePastosBonseranacidadedeCaxias/MA,exerceuatividades de caráter administrativo como a de ecônomo do Palácio Arquiepiscopal de São Luís, secretário do arcebispado,chancelerdaCúriaeChantredoCabidoMetropolitano.ComoCônego,assumiutambémo cargo de professor e capelão da antiga Escola de Enfermagem “São Francisco de Assis”, hoje, denominada Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão. Em janeiro de 1964, foiagraciadopelopapaPauloVIcomotítulode“CamareiroSecreto”(oficialdaCâmaradoPapa),mas, infelizmente, a honraria só chegou ao conhecimento do clero maranhense 1 mês após o seu falecimento,quesedeuem10defevereirodessemesmoano.oPadrefaleceunodia10defevereiro de1964,tendocomocausamortesleucemiaaos63anosdeidade.

O padre Constantino Vieira recebeu inúmeras homenagens em diversas cidades por onde foi sacerdote, na cidade de Pastos Bons, existe uma rua como o nome do Padre Constantino Vieira e o Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão TRE – MA, homenageou o padre dando nome do Fórum Eleitoral da cidade Padre Constantino Vieira, inaugurado em 13 de agosto de 2015, situado na Avenida Domingos Sertão, s/n – bairro São José, na cidade de Pastos Bons – MA. A solenidade de inauguração do fórum foi presidida pelo desembargador Guerreiro Junior, então presidente do TREMA.NopovoadoPoçoVerdemunicípiodeParaibano/MAexisteaUnidadeEscolarPadreConstantino Vieira.

A Academia Vianense de Letras - AVL homenageou o Padre Constantino Trancoso Vieira como patronodacadeiradenº26.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

CominformaçõesdedocumentáriodoSenadoFederal

CASINHA DA ROÇA, CARNAVAL DE SÃO LUÍS,

CasinhadaRoçaéumdosmaioressímbolosdoCarnavaldeSãoLuís,manifestaçãoúnicaquesótem noMaranhão,temsuasorigensnaprimeirametadedoSéculoXXejáerabastanteconhecidodesdea década de 1950. A Casinha da Roça é um corso montado na carroceria de uma caminhonete, onde é recriada uma casa típica do interior do Maranhão. A Casinha da Roça é enfeitada com frutas típicas, lamparinas, babaçu, balaios, gaiolaseoutrosobjetosquelembramaroça. QuandoaCasinhadaRoça sai pelas ruas, tem um grupo de tambor de crioula tocando, coreiras dançando, tem as mulheres refazendo cenário de uma cozinha maranhense: fazendo arroz de cuxá, fazendo caranguejo, batendo algonopilão,passandocaféeoferecendoquitutesparaapopulação.

A primeira foto que ilustra a postagem, é do Carnaval de 1965, podemos ver a Casinha da Roça com uma moça dentro, e na parte externa tem dois homens sentados: um moço de chapéu e outro moço quepareceseropoeta,historiadoregrandefoliãoCarlosLima,etambémpodemosverumamultidão acompanhando,muitascriançasacompanhandoaCasinhadaRoça;jáasegundafoto,édoCarnavalde 1979, podemos ver a Casa da Roça, na frente do típico corso tem as pessoas com indumentárias indígenaseumgrupodeTambordeCrioula.

: 1,2 - Acervo Zelinda Lima via livro "Ajuntamento de Memórias"(EDUFMA), de Euclides Moreira Neto(2016),disponívelnositedaEDUFMA(editoradaUniversidadeFederaldoMaranhão,aUFMA)

PesquisaeTexto:SãoLuísMemória.

SAMBAQUI DA CHÁCARA ROSANE, POSSIVEL ALDEIA TUPINANBÁ CHAMADA TURU

Por Flaviomiro Mendonça, historiador e pesquisador

OntemvisitamososambaquimaisantigoatéomomentoencontradoemtodaaIlhadeUpaon-Açu,o da Chácara Rosane. Desde os anos 70 ele já era conhecido pela comunidade acadêmica através das pesquisas feitas pelo professor de Antropologia da UFMA, Olavo Correia Lima. Este levava sempre seusalunosparatrabalhosdecampoeem1979fezumaescavaçãonolugar. Emumaurnafunerária,encontrouumaossadabemconservada,comdataçãode3000anosAP(antes do presente, cujo marco de referência para a Arqueologia é 1950, ano da invenção da datação radiocarbônica).Nãosesabeaindaondefoipararesseesqueletohumano,adulto,desexomasculino. Como ele havia feito várias parcerias com o arqueólogo Mário Simões, do Museu Paraense Emílio Goeldi,háumapossibilidademuitograndedeestarporlá(umasuposiçãominha).

Pelo menos 4 ocupações foram assentadas no mesmo terreno: povo pré-sambaquieiro, povos sambaquieiros,amazônicose,porfim,ostupinambás,jánoperíododecontatocomoseuropeus.

Acredito que era a Aldeia Tupinambá chamada de Turooup (Turu), registrado pelo padre francês Claude d'Abeville, que navega de canoa pelo Rio Miove (atual Rio Anil), e consegue chegar na povoaçãojáànoite.

Valeressaltarqueaformadesepultamentodospovossambaquieiroseraviaenterroprimário(direto na terra)ecorposvoltadosparaopoente. NocasodoachadopeloprofessorOlavo, oenterrosedeu primeiramente no solo e, após a decomposição da carne, os restos mortais (ossos) colocados posteriormente em uma urna, fazendo assim um segundo sepultamento. Entretanto, nem todos tinhamesseprivilegiodeterumsepultamentostãopomposocomoesse.Somentepessoasdegrande prestígioentreeles.

MESTRE SABARÁ E OS 40 ANOS DO BLOCO AKOMABU

MANOEL DOS SANTOS NETO

Neste sábado de carnaval, data em que acontece mais um batizado do Akomabu, me veio à lembrança um personagem que marcou os primeiros anos do Centro de Cultura Negra do Maranhão: Anselmo Almeida, Mestre Sabará.

Nestes 40 anos do Akomabu, Sabará não pode ser esquecido. Foi o nosso grande artista popular, que deu brilho à Bateria do Akomabu. Além disso, como percussionista e compositor, ele fez trabalhos admiráveis no Grita, no Laborarte, na Escola Unidos do Obelisco, no Bloco Pau Brasil e muitos outros.

Participou de inúmeros shows e estava sempre reciclando seus ritmos e gostava, tinha muito gosto mesmo, de trabalhar com a rapaziada que fazia movimento cultural no Bairro Anjo da Guarda. Hoje, no Anjo da Guarda, Sabará é um ilustre desconhecido. Foi simplesmente esquecido.

Mas eu lembro que no ano de 1987, logo no comecinho do Governo Cafeteira, Sabará ganhou uns amigos no governo e vivia exultante. Com todo pique, ele dizia que estava disposto a aprender um ritmo que, na época, não era muito difundido no Maranhão e que o fascinava muito: o candomblé.

“Acho que este é um ritmo muito bonito, muito perto da gente. É a raiz; é um ritmo, entre outros, que estou mesmo a fim de aprender”, disse Sabará que, no mês de janeiro de 1987, participou de um concorrido show na cidade de Imperatriz, sudoeste do Maranhão. Nessa época, ele estava com todo pique, energia e vibração; tinha apenas 27 anos de idade.

Sabará começou sua carreira artística cantando em shows de calouros no Anjo da Guarda. Em 1978 participou do Grita (Grupo Independente de Teatro Amador), onde aprendeu percussão com Gigi. O surdo foi o primeiro instrumento que Sabará aprendeu a tocar; depois se passou para o tambor de crioula, tambor de mina, bumba-meu-boi, tumbadora e atabaque.

Em dezembro de 1985, Sabará passou a trabalhar no departamento de som do Laborarte. Foi a fase em que viveu grandes momentos ao lado de outros grandes percussionistas como Jorge do Rosário; José Roberto, do Anjo da Guarda, e Josemar, da Madre Deus.

Ele dizia que o Laborarte foi sua grande escola, onde passou a ter uma convivência fraterna com Rosa Reis, Ribamar Sá, Saci, Jorge do Rosário, Helena, Paulinho e Dona Tetê. Sabará trabalhou na montagem da bateria da Escola Unidos do Obelisco, no município de Pinnheiro, na Baixada Maranhense.

Não dá para esquecer: Sabará contribuiu, e muito, para a realização da Primeira Noite do Som Afro, realizada no final do ano de 1985, no antigo Adapi, próximo à Praça da Bíblia e ao Canto da Fabril.

Ao lado de João Evangelista, Mestre Sabará esteve no comando da Bateria do Akomabu nos anos de 1984 e 1985.

Foi assim, com o coração cheio de saudades, que consegui escrever mais esta singela crônica, na madrugada deste sábado de carnaval, para uma vez mais render minhas homenagens a estes ilustres personagens do Movimento Negro do Maranhão:

Viva Mestre Iguarajara!

Viva Mestre Sabará!

Viva Mestre João Evangelista!

Viva Mestre Bebeto!

Viva Mestre Eliezer!

Viva Mestre Antônio Paulo, “De Paula”

Viva Mundinha Araújo, nossa eterna matriarca do CCN e do Akomabu!

CARNAVAL E ELITE LUDOVICENSE NO SÉCULO XIX

EUGES LIMA

Historiador, professor, bibliófilo e palestrante / @eugeslima

Em 21 de fevereiro de 1857, o jornal “Publicador Maranhense”, anunciava para tarde do dia seguinte, domingo de carnaval, um “Grande Passeio Carnavalesco” que seria percorrido em “carros” e cavalos, tudo organizado pela “Sociedade Carnavalesca”.

O ponto de concentração, a partir das catorze horas, foi o Teatro São Luiz, atual Teatro Artur Azevedo, localizado à Rua do Sol. O passeio teria inicio às 16 horas e o circuito momesco seguiria o seguinte percurso: Teatro São Luiz (Rua do Sol), Rua de Nazaré, Rua da Palma, Rua de Santana, Rua do Passeio, Rua Grande, Largo do Carmo, Rua da Paz, Quartel do 5.º Batalhão de Infantaria (Atual Biblioteca Pública Benedito Leite e Praça do Panteon) e Rua dos Remédios (atual Rua Rio Branco), retornando pela própria Rua dos Remédios e seguindo pela Rua do Sol, terminando no Teatro São Luiz, onde teve inicio. Esse era o circuito carnavalesco da São Luís de meados do século XIX.

É partir da segunda metade do século XIX que vão surgir em São Luís as “Sociedades Carnavalescas,” como alternativa e apropriação pela elite ludovicense do Carnaval, como uma oposição ao entrudo e ao carnaval popular das ruas, praticados por libertos, escravizados e pessoas do povo.

A origem do Carnaval no Brasil colonial se dá com o entrudo que consistia em uma série de variadas brincadeiras e folguedos que saiam pelas principais ruas das cidades, onde participavam desde escravizados, libertos, ex-escravizados, pessoas do povo, onde os foliões andavam mascarados e fantasiados pelas ruas, munidos de bisnagas e limões de ceras, carregados de líquidos e água de cheiro, jogando uns nos outros na maior “algazarra” e se realizava quarenta dias que antecedia a páscoa.

Num domingo gordo de Carnaval, no dia 12 de fevereiro de 1899, assim se manifestava “O Abelhudo” (uma espécie de folha satírica dos costumes e política sanluisense): “ Hoje é [...] o grande dia destinado á folia, á ratice, á patuscada; - é o inolvidável dia do celebre e burlesco – você me conhece ? – o impagável dia em que devemos esquecer tudo quando ha de grave, triste e sério n’este mundo de miserias, e nos lembrar somente das brejeirices, das momices, dos cantos alegres, das danças patuscas, de tudo em summa quanto possa divertir a humanidade.”

Além do entrudo e do Carnaval de rua como já mencionamos, já se fazia presente na São Luís do final do século XIX a existência também de outro modelo de Carnaval, com um perfil mais elitista, mais aos moldes dos carnavais veneziano e parisiense; dos préstitos - a exemplo dos “Arautos de Momo”-, dos bailes de máscaras, do corso, do Zé-pereira, das batalhas de flores e das sociedades carnavalescas – como a “Mephistopheles”.

Essas sociedades eram responsáveis e organizadoras dos bailes de máscaras, dos corsos, do Zé-Pereira, dos préstitos, das batalhas de flores e toda sorte de diversão carnavalesca, seja em salões, clubes ou nas ruas da cidade. Era um novo padrão do carnaval das elites, cheio de regras, organização e urbanidade.

As bisnagas com água mal cheirosa e limões de cera que eram lançados nos foliões e transeuntes incautos, típicos das algazarras do entrudo, neste novo modelo de carnaval, já não eram mais aceitos e tolerados. Neste sentido, a “Sociedade Carnavalesca roga ao respeitável público que por obséquio não lhes lancem água e pó, pois só se destinam a brincarem com confeitos e flores. (PUBLICADOR MARARENSE, 1857)”. Observa-se a partir daí a apropriação do Carnaval pelas elites, o surgimento do dito Carnaval “civilizado”, que agora estava “longe” das ruas, “desorganização” e permissividade do entrudo, mas mesmo quando ocupava as ruas, largos e praças, o fazia com “organização”, “critérios” o “horários”, cheios de regras de urbanidade e civilidade, eis aí o novo sentido do Carnaval em São Luís e também nas principais cidades do Brasil nessa virada de século. Quanto ao entrudo, passou então, a ser mal visto pelas classes abastadas, sendo a partir daí, marginalizado e criminalizado pela polícia e autoridades.

SOBRADO DA FAMÍLIA ARANHA / DE GRAÇA ARANHA

Localização: Largo do Palácio (Avenida Dom Pedro II), Nº 241.

Um belo sobrado com arquitetura típica do século XIX. Possui dois pavimentos e um mirante e, possivelmente, construído com alvenaria de pedra e cal. Os vãos eram em arco abatido e, no térreo, protegidos por pesadas portas com barra de ferro (por trás) e bandeira também de ferro. A abertura principal tem portão de ferro trabalhado e inscrito o número 241. José Pereira da Graça Aranha (18681931) foi romancista, ensaísta e diplomata. Trabalhou ao lado de Joaquim Nabuco, pertenceu à Academia Brasileira de Letras (com quem rompe, em 1924) e integrou a comissão organizadora da Semana de Arte Moderna (1922); seu romance mais aclamado é Canaã (1902). Seu pai, Temístocles Aranha, tinha uma tipografia neste casarão onde era impresso o Jornal O Paiz, onde foram publicadas obras de tintas republicanas e abolicionistas, e onde fora impressa a primeira edição do romance O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo; já que, ao que tudo indica, nenhum outro órgão de imprensa queria publicá-la. Na 12ª Feira do Livro de São Luís, lancei “O meu próprio romance” (Autobiografia de Graça Aranha), uma 5ª Edição que organizei em homenagem aos 150 anos de nascimento do escritor e também a 2ª edição do meu segundo livro “O sublime jogo estético da vida: ensaios lítero-filosóficos sobre a vida e a obra de Graça Aranha”; ambos pela EDUFMA. Situação atual do sobrado: funciona o espaço cultural Galeria Trapiche, com mostras coletivas, individuais e oficinas de arte.

SenadorJerônimoJosédeViveiros.Assinado“JeronymoJosédeViveiros”,nasceua30deSetembrode 1796 na comarca de Alcântara, Maranhão. Foi senador pela Província na nona e décima legislaturas.

FaleceunacorteimperialdoRiodeJaneiroa13deDezembrode1857.ErafilhodeAlexandreJoséde ViveiroseFranciscaXavierdeJesus.FoicasadocomAnaRosadeAraújoCerveiraMendesemaistarde com Belmira Cândida Ferreira. Foram seus filhos: Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho, barão de SãoBento;AlexandreJosédeViveiros,comendadoreMariaAugustadeViveiros.

Na primeira imagem, veste o fardão do senado imperial, exibindo suas comendas. Na segunda imagem,sobradãoazulejardacidadedeAlcântara,Maranhão.Fotografiadecarte-de-visite,acervode DiogoGuagliardoNeves.FotografiacontemporâneadeDiogoGuagliardoNeves.

SOLARDOSBELFORT/SOLARDOBARÃODECOROATÁ/SOBRADODAPACOTILHA.

Localização:LargodoCarmo(esquinacomoBecodoQuebra Costa/Quebra-Bunda/Becoda Pacotilha,atualmenteJoãoVitaldeMatos),Nº37.

SobradocolonialdofinaloséculoXVIII.Possuitrêspavimentosrevestidosdeazulejosverdes,com sótão,cantariasnasmoldurasdasportasejanelasrotuladas.Afachadanãopossuibalcõeseomirante nãotemcumeeira.Cobertocomtelhascanalecomparedesdemadeira,tipoveneziana,comquatro aberturas.Ainscriçãolapidarindicaoanode1756,umanoapósoterremotoqueatingiuLisboa.

SegundoCoutinho(2005,p.97),foiconstruídopeloirlandêsLancelot(Lourenço)Belfort,que“nasceu em5.7.1708,emDublin,capitaldaIrlanda.em1899,passaatercomoproprietárioojornalistaVítor Lobato,queinstalouaredação,gerênciaeoficinasdejornalPacotilha.FuncionoutambémoHotel Ribamaretambémo“FonteMaravilhosa”(Oliveira,2010,p.475).

Situaçãoatual:fechado.

Fonte:

COUTINHO,Milson.Fidalgosebarões:umahistóriadanobiliarquialuso-maranhense.SãoLuís: InstitutoGeia,2005.

OLIVEIRA,Franklin.Literaturaecivilização.Brasília:INL,1978.

Foto:IPHAN.Cidadeshistóricas;inventárioepesquisa:SãoLuís.DistritoFederal:EditoradoSenado Federal,2007.

PALACETEGENTILBRAGA/PALACETEDEPORCELANA/CASARÃODAVIRAÇÃO

Localização:RuaGrande(RuaOswaldoCruz),Nº782(esquinacomaRuadoPasseio).

Detalhesarquitetônicos:estruturaemformadeL,defachadaazulejada(azulebranco)dofinaldo séculoXVIII(aconstruçãodatade1808).Possuijanelasencimadascombandeirasogivais(asquedão paraaruasãoemnúmerode22),balcõesentalados,escadariaemmarmoritebrancoeumcorredor decoradocomladrilhos.

Tambémfoiresidênciadoprimeirovice-cônsulnoMaranhão,JohnHesketedeJoãoInácioFerreirade Oliveira.Em1976éadquiridopelaUniversidadeFederaldoMaranhão.Oprédiofoiadquiridopela UniversidadeFederaldoMaranhãoem1973.

GentilHomemdeAlmeidaBraga(1835-1876)nasceuemSãoLuíse,bacharelando-seemdireitopela Academia de Olinda, volta para a sua cidade natal para exercer sua profissão, tornando-se, posteriormente, político e romancista. Foi um dos fundadores e colaboradores do Semanário Maranhense e em sua residência se reuniam o chamado Grupo Maranhense que nominaram de “AthenasBrasileira”acidadedeSãoLuís.Entresuasobrasmaisimportantesequeforamcreditadasao seumaisconhecidoheterônimo(FlávioReymar)estão:ClaraVerbena,poemaemdoiscantos,de1866; Eloá–Mistério(traduçãoparafraseada),de1869;eEntreocéueaterra,de1869.

PALÁCIODASLÁGRIMAS

Localização:RuaSãoJoão(noLargodaIgrejadeSãoJoãodosMilitares),esquinacomaRuadaPaz,Nº 546.

Detalhes arquitetônicos: o prédio original era um vasto imóvel de três andares com umbrais de cantaria;e,segundoaliteraturalocal,depropriedadedoricocomercianteemercadordeescravos Jerônimo de Pádua; um dos personagens principais da lenda das “lágrimas que nunca secam na escadariadoprédio”.Apósademoliçãodaconstruçãoantiga,aestruturapassouaserdepavimento único,bemmaisamplo,comfachadaeclética(incluindo:umportãodeferro,umaescadariaamplaea datadeconstruçãodoprédioemumainscriçãolapidar).

Dadoscronológicos:osobradooriginalfoidemolidoem1922,nogovernodeUrbanoSanto,paraa instalaçãodaEscolaModeloBeneditoLeite;masascaracterísticasatuaissãodareformade1955/1956. Aindanadécadade1950,oimóvelpassaasediaraFaculdadedeFarmáciaeOdontologia.

Referência na Literatura: romance “O Palácio das Lágrimas”, de Clodoaldo Freitas, e na obra “Os tamboresdeSãoLuís”,deJosuéMontello.

Localização:RuadoSol(esquinacomaRuadaMangueira),Nº67/567.

Residência em estilo colonial (séculoXIX), formato de morada inteira de um só pavimento e com mirante com beiral. Possuía sala avarandada,quartos com pisos assoalhados, balcão sacado e um pequenopainelinternoformadodeazulejosantigosdeorigemportuguesa(verde,amareloebranco), querevestiaafrentedocasarãoeque,comotempo,foramsubstituídosporoutros,industriais.No iníciodenossapesquisa(2014),restavamapenaspartedasparedeslateraisefrontal,asjanelasem arco pleno e parte do mirante. Em março de 2014, o site do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) denunciou a possível intenção da proprietária do imóvel de transformá-lo em estacionamento.Ocasarãofoirestauradoapósdecisãojudicial;comseuinteriortodoreconstruído.No mirantedestaresidência,AluísioAzevedoescreveuoromance"Omulato"(1881).Nestecasarãoresidiu tambémoescritorAntônioLobo(1870-1916),quetambémescreveuemseumiranteumromance("A carteira de um neurastênico", 1903). Nela também residiram várias gerações da família Colares Moreira.

DAFAMÍLIAAZEVEDO/CASARÃODEALUÍSIOAZEVEDO.
CASARÃO

A VIAGEM PARA CAXIAS E AS PETAS DE TIA ANTONIETA.

HAMILTON RAPOSO

FaziatempoqueaminhamãepretendiavisitartiaMaricotaemCaxias.Jáidosaecomalgumasdificuldades emselocomover,avisitaalémdenecessária,serviriatambémpararevermosTiaJulieta,quehámuitonão saiadeCaxias.

O único meio de transporte disponível no inícioda década de 60 era o velho, lento e fumegante trem da Rede Ferroviária Federal que fazia a linha São Luís / Teresina e, com certeza, não era o meio mais recomendadoparaasminhastiasselocomoverematéSãoLuís.TiaMaricotaeraairmãmaisnovadomeu avô,HegezzippoFranklindaCosta,chamadocarinhosamentepornós,devovôZipo.

TiaMaricotaeracarinhosa,boadeconversaeexcelentenaartedocrochê,bordadosetricô.TiaJulietaera sobrinha do meu avô e poucas lembranças eu tenho, talvez a minha prima Marivalda, uma outra memoristadafamíliaatenhaemsuamemóriaprivilegiadadecausosfamiliares.

A viagem para Caxias fora cuidadosamente planejada. Ainda muito menino, meus pais não queriam me expor à cansativa viagem de trem e resolveram optar por um outro meio de transporte ainda mais complicado,aviaaérea.

Embarcamos em um sinistro avião bimotor da Real Companhia de Aviação, e minha mãe católica praticanteepreocupadíssimacomaviagem,seapegoucomtodosossantospossíveis,eraanossaprimeira viagemdeavião.

Adecisãoporestemeiodetransportefoiapiorescolha.Viajeinocolodaminhamãeenãotevenenhum santoque impedissetanta turbulência etantotreme-treme. Minha mãerezavae eu vomitava, opequeno trecho de 30 minutos pareceu uma eternidade. Todos os santos requeridos para nos proteger estavam devidamentevomitados.

AchegadaemCaxiasfoiinesquecível,ocalordomêsdesetembrocontrastavacomoperíododeventosem SãoLuís,porém,acidadeinspiravaboaconvivênciaeótimospasseios.OPonte,aVeneza,aIgrejadeSão Benedito me fascinaram. A visita na casa de tia Antonieta me traz na lembrança o gosto de bolo frito. A minhairmãHamilenaeomeuprimoFranklinho(inmemoriam)tinhamamesmalembrançadacasadetia Antonieta,HamilenaselembradasempadaseFranklinhoselembravadaspetas.

Umtempoquesefoi...umalembrançaeterna.

UmalembrançaparaFranklinFalcãodaCosta,meuprimoirmão.

RUA DAS CAJAZEIRAS (PRAÇA PRIMEIRO DE MAIO), CENTRO, DÉCADA DE 1950

FotografiaquemostraaRuadasCajazeiras,dandodestaqueaoantigoconjuntoresidencialconstruídopelo IPEM(InstitutodePrevidênciadoEstadodoMaranhão).EsseconjuntodoIPEMfoiconstruídonumaárea chamada Praça Primeiro de Maio ou Largo de Santiago, próximo à antiga Fábrica Martins. Essa foto foi tirada entre a área da Ortopedia Nordestina até o Supermercado Mateus das Cajazeiras. Ao fundo, o rio Bacanga,jánarua,podemosobservartrilhosdobondeporondepassavaalinhaSãoPantaleão.

Atualmente, dessascasasque aparecem na fotografia antiga, uma ouduasdessascasas mantêmparte da arquiteturaoriginaldoconjuntoresidencialinauguradoem1949.

:ÁlbumdoMaranhão1950,organizadopelojornalistaMiécioJorge

TextoePesquisa:SãoLuísMemória(@slzmemoria)

NOTA DE FALECIMENTO: CLEON FURTADO

Nestesdiassombriosemqueaculturamaranhensedesapareceaolhosvistos,faleceuontem,emplenaterçafeiradecarnaval,CleonFurtado.Simplesmente,omaiorarquitetodaescolamodernistanoMaranhão!Estão entreseusprojetosmaisconhecidosoquarteldaPolíciaMilitarnoCalhaueoantigoprédiosededoINCRAno Anil.

Oextintoarquiteto,formadopelafaculdadeMackenziedeSãoPauloentre1950e1955,nasceunacidadede Cururupu,Maranhão,em1929.

Alegendadoversodestafotografiatemosseguintesdizeres:“ParaMãenoca,Mãenicaeorestodaturma,uma posedoneto,bisnetoesobrinho.Saudades:CLEON.18-8-49.TiradanoparquedaQuitandinha.”

Deixamosaquinossossentimentosdeconsternaçãoesaudades.

FotografiadoacervodeDiogoGuagliardoNeves.

PAIDELUZIAPODEESTARENTERRADONAFAZENDAMARATÁ

Ocolonizadorportuguês,coronel,AyresCarneiroHomemdeSouto-Maiorpodeestarenterradono cemitério do Mandi, dentro da fazenda Maratá. A propriedade pertenceu ao industrial, Lázaro Ducangenseaocomerciante,ManoelAnterodosSantos.Atualmente,afazendapertenceaogrupo Maratá, um dos maiores grupos econômicos do Brasil. O autor do livro Fidalgos e Barões, o exdesembargador,MílsonCoutinhorelataqueocoronelAyresCarneiroHomemdeSouto-Maiorsofrera umapuniçãorecomendadapelaigrejacatólicaparaficarreclusonapropriedadedeCantanhede,a fazendaBarbados.Apuniçãoaocolonizadorteriatrazidoumagrandedepressãoeconsequentemente amortedeAyresem24defevereirode1808.Emseutestamento,Ayresdeclaraqueestavadoente, queeranaturaldeLisboa,Portugal,casadocomMariaJoaquinaBelfort,queerairmãodocoronel, JoãoPauloCarneiroHomemdeSouto-Maior,quetivera12filhosequefizerapartilhadasmuitas terras,ouro,prata,brilhantesepérolas.Opatrimônioestimadoseriade300milcruzados,umaquantia bemelevadaparaépoca.Aproduçãodocurtametragemjáfoiautorizadapelagerênciadafazenda MaratáefaráumavisitatécnicaaocemitériodoMandi,queaoladodasruínasdoengenhodecanade-açúcarservirádecenárioparaofilmeFUGADEAROAZES.

DESCOBERTA GRAVURAS DO MARANHÃO DO SÉCULO XVII

POR CYNTHIA MARTINS (ANTROPÓLOGA E PROFESSORA DA UEMA)

A imagem desta postagem, certamente, é uma das mais antigas do Maranhão. Parece ser a representação de um indígena. Localizei em um dos quatro volumes da obra intitulada “Kerckelycke Historie Van de Gheheele Werelt” de autoria do padre jesuíta Cornelius Hazart (1617-1690), no setor de obras raras da Mullen Library, na Catholic University of America, em Washington D.C., nos Estados Unidos. Trata-se da primeira edição do livro, do ano de 1667, escrito em holandês (Dutch), edição Michiel Cnobbaert.

O título do livro pode ser traduzido como “Kerckelycke: História do Mundo Inteiro”, com descrições dos costumes, cerimônias e religiões de diferentes povos ao redor do mundo.

A publicação apresenta a história das explorações de missões mundiais, da Igreja Católica, em localidades descritas como terras de Japonien, China, Braeilien, Mogor, Flórida, Bisnagar, Canadá, Peru, Paraquariano, México e Maragnan.

Sabe-se que o livro foi ilustrado com os trabalhos de Hendrik Herregouts, J. de Lof, Justus van Egmont, Jacob Bruynel, Abraham van Diepenbeeck, Gaspar Bouttats e Adriaen Lommelin. São lindas gravuras das diferentes localidades visitadas, expostas em um livro de grandes dimensões (Format plates, ports, 33cm).

A ilustração do indígena maranhense, de autoria de um dos ilustradores participantes da publicação, é acompanhada de um texto sobre o Maranhão cuja tradução do holandês antigo exigiria um maior investimento na pesquisa.

A localidade Maragnan (Maranhão) está separada da descrição Brasil.

Há duas gravuras na parte referida ao Maranhão, uma delas, reproduzida nessa matéria, apresenta um indígena com o corpo coberto por desenhos, e ao fundo há gravura de casas indígenas, dispostas, em forma circular. Aparecem, também, montanhas que lembram vulcões, o que não faz parte da paisagem maranhense.

Gravuras

Outras edições disponíveis apresentam uma variação da foto do indígena, com as mesmas marcas corporais, cobertas com uma cor vermelha e com a legenda “Kleedinghe van Maragnan”, que em holandês antigo significa “roupas do Maranhão”.

A gravura do indígena, com roupa vermelha, não está presente na primeira edição do livro. Mas aparece em edições posteriores, como a do ano de 1669. Um dos responsáveis pelo setor de obras raras da Mullen Library explicou ser bem comum, em casos de livros com gravuras, as edições subsequentes à primeira, serem pintadas – isso para o livro parecer mais interessante. Inclusive chegou a mostrar várias edições, de outros livros raros em que era possível observar tal prática.

Segundo o arqueólogo maranhense Deusdedit Carneiro Leite Filho, essa imagem pode ser observada também no acervo na Biblioteca Nacional de Lisboa, desenhada com bico de pena, em pequeno tamanho, não colorizada, tal como a que aparece na primeira edição do livro, localizado em Washington DC. Uma cópia ampliada da imagem de Lisboa está disponível, no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão, em São Luís (Brasil).

Deusdedit Filho levanta a suspeita de que os desenhos no corpo do indígena sejam tatuagens tupinambás. Outro detalhe que ele identificou é a de que o indígena, provavelmente tupinambá, apresenta aspectos gregos.

Neste site mostramos as duas imagens, a primeira, somente com as inscrições, observada a primeira edição do livro, e a segunda, com a colocação vermelha, reproduzidas em edições posteriores.

A parte do livro referida ao Brasil se constitui em outra rica fonte de dados e possui uma fotografia de Padre José de Anchieta em plena Mata Atlântica.

Pesquisa

Os dados e gravuras do Maranhão que estão no livro, em Washington DC, ainda precisam ser estudados com maiores detalhes. A minha leitura referente a descoberta foi bem rápida.

Estive na cidade de Washington D.C, nos Estados Unidos, realizando uma pesquisa, na Oliveira Lima Library, vinculada à Catholic University of American. Descobri essa imagem por acaso e esse material não faz parte do foco da minha pesquisa.

A minha pesquisa, de pós-doutorado, realizada no Programa de Pós-Graduação em História da UNIRIO, possui como tema “A etnografia: repensando os limites disciplinares”. A professora Heloisa Maria Bertol Domingues é a orientadora desse trabalho.

Portanto, a publicação e a imagem encontrada referentes ao Maranhão, encontradas nos EUA, não fazem parte do foco direto de minha pesquisa. O livro foi apresentado a mim por um dos diretores da biblioteca, quando soube que eu sou do Maranhão. Então, decidi compartilhar a informação.

REVOLTA DE MANOEL BECKMAN

MANOEL SANTOS

Cabe frisar que diversos intelectuais abordaram em suas obras este importante episódio da História do Maranhão, entre os quais a poetisa Stella Leonardos, os escritores João Francisco Lisboa, Sabbas da Costa, Clodoaldo Freitas, Bernardo Coelho de Almeida e Milson Coutinho.

Sobre o tema, o poeta, jornalista e prosador Bernardo Coelho de Almeida escreveu o romance “O Bequimão”. Trata-se de um livro histórico que conta a saga de Manoel Beckman (1630-1685), líder da Revolta de Beckman e patrono da Assembleia Legislativa do Maranhão.

É importante lembrar que, além de brilhante jornalista, Bernardo Almeida tornou-se grande escritor. E chamou para si a difícil tarefa de escrever um livro sobre este ilustre desconhecido: Manoel Beckman.

De igual modo, é importante lembrar também que o historiador e jornalista Milson Coutinho consagrou sua vida ao estudo de nomes luminares como o de Manoel Beckman e lançou, no ano de 1984, “A Revolta de Bequimão” em homenagem ao herói denominado por ele como o primeiro mártir da independência do Brasil.

Por meio de um acurado trabalho de pesquisa, cuja edição original de 1984 coincidiu com o tricentenário da rebelião, deflagrada em São Luís no dia 24 de fevereiro de 1684, esta obra reconstrói todo o contexto histórico em que se deu o movimento liderado por Manoel Beckman.

“Na luta pela liberdade no continente americano, Manoel Beckman se antecipou a Jefferson, Tiradentes e Bolívar”, enaltece o autor, sem nenhum receio de revelar sua admiração pelo grande líder.

Em seu livro, Milson Coutinho conta que, na São Luís daquela época, “as desordens, as lutas e os escândalos em que viveu a terra desde que se expulsaram os franceses, foram tomando um caráter de violência crescente”. E é neste ambiente de agitação que estoura a notícia de que fora concedido a uma empresa de Lisboa, por 20 anos, o privilégio exclusivo do comércio no Maranhão.

Considerado mártir da luta dos maranhenses contra a exploração portuguesa, Beckman liderou a Revolta de Bequimão, também chamada de Revolta do Estanco, que aconteceu exatamente em 24 de fevereiro de 1684,

COMPLETA 340 ANOS NESTE SÁBADO
ARevoltadeBeckman,insurreiçãopopularqueaconteceunoMaranhão,entre1684e1685,motivadapelainsatisfaçãodapopulaçãocomaadministraçãocolonial, completa340anosnestesábado(24).

dia da procissão do Senhor dos Passos, cuja imagem se trasladaria da Igreja do Carmo para o templo da Misericórdia.

Era a Semana Santa, no calendário litúrgico do Maranhão, um dos motivos do deslocamento de muitas famílias residentes no interior para suas casas em São Luís. Aproveitando a procissão, reuniu-se o povo num dos extremos da cidade, na chamada Cerca dos Capuchos, e foi ali que Manoel Beckman, com um discurso, sublevou a multidão. Era de noite, já tarde. A massa humana se deslocou para o interior da cidade, e foi despertando o resto da população, a gritar, a bater nas portas.

A onda humana cresceu, espalhou-se, tendo à frente Manoel Beckman, e dominou forças armadas, religiosos, autoridades. Diz-nos o padre Bettendorff, no relato do motim, que até os meninos das escolas engrossaram a turba, trazidos pelos pais. Foi nessa circunstância em que ocorreu o levante e a deposição do governador geral Francisco de Sá Menezes e do capitão-mor Baltasar de Sousa Fernandes.

Manoel Beckman criou um governo provisório. Enviou seu irmão Tomás a Portugal para negociar, em nome dos revoltosos, com as autoridades. Preso em Lisboa, Tomás voltou ao Brasil em 1685, na mesma frota que trouxe o novo governador, General Gomes Freire de Andrade. Com a chegada do novo governante, os revoltosos foram presos.

A captura do líder da revolução, por ordem expressa de Gomes Freire de Andrade, tornou-se possível graças à delação de Lázaro de Melo de Freitas, afilhado de Bequimão, seu protegido e pessoa influente no governo rebelde. Tomás foi condenado ao desterro e Manoel Beckman, condenado à forca.

Deu-se o fato na manhã de 10 de novembro de 1685. Bequimão morreu enforcado, aos 55 anos de idade, na antiga Praia do Armazém, local onde hoje existe a praça que o homenageia na Avenida Beira Mar, em São Luís.

Além de Bequimão subiu à forca Jorge de Sampaio de Carvalho, um de seus principais companheiros de revolta. Francisco Dias Deiró, por ter fugido, foi enforcado em efígie; Belchior Gonçalves, açoitado e proscrito; Eugênio Ribeiro Maranhão e Tomás Beckman, advogado, poeta e irmão do líder da fracassada revolta, foram mandados presos para o Reino.

Ao ser executado em praça pública, Beckman encarou a morte com serenidade. Como verdadeiro cristão, do alto do patíbulo, em voz alta, pediu perdão a quem acaso tivesse ofendido. Em seguida, ele proferiu altivamente a célebre frase:

“Pelo povo do Maranhão, morro contente!”

Leia mais: https://jornalpequeno.blog.br/manoelsantos/2024/02/23/revolta-de-manoel-beckman-completa340-anos-neste-sabado/#ixzz8SeqoKLyR

NA REVOLTA DE BECKMAN, HÁ EXATOS 340 ANOS, A PRESENÇA DO MEARIM WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHÊDE

A rebelião conhecida como Revolta de Beckman (ou Bequimão), no Maranhão do final do século XVII, está intimamente ligada à região ribeirinha em que hoje se situa a cidade de Vitória do Mearim.

A pequenina cidade de São Luís do Maranhão, em desassossego pela pobreza crescente de seus moradores, negligenciados pela Coroa Portuguesa, amanheceu em polvorosa num dia como o de hoje, 24 de fevereiro, há exatos 340 anos.

Tarde da noite, no dia anterior, deflagrara-se o movimento que culminaria com a prisão do capitão-mor do Maranhão, a expulsão dos jesuítas e a instalação de uma junta governativa, composta por elementos representativos do clero, da nobreza e do povo, na qual figurava como principal o senhor de engenho e exvereador Manoel Beckman.

1. Antecedentes da rebelião

No século XVII, muitos bens comercializados em São Luís pelos colonos eram obtidos nas matas da capitania do Maranhão. Portanto, a força de trabalho preferencial para angariá-los ou produzi-los era a dos indígenas, já acostumados a esse ambiente e a essas atividades, mão de obra de mais fácil obtenção pelos portugueses. Entretanto, os padres jesuítas, que vinham catequizá-los, opuseram-se a essa escravização do silvícola e o Rei de Portugal criou, em 1682, a Companhia de Comércio do Maranhão e Gão-Pará, cujos principais objetivos eram: introduzir na capitania, em 12 anos, 10 mil africanos escravizados, importar gêneros para a Colônia e incrementar a exploração comercial.

Com o tempo, os maranhenses viram-se enganados e prejudicados: a Companhia cumpria mal as suas obrigações, vendia suas mercadorias, de baixa qualidade, a preços altíssimos e em pequenas quantidades, além de sinalizar que não cumpriria a meta de introdução da escravaria negra. O descontentamento crescia. Fatos anteriores à instalação da Companhia contribuíram para isso, a exemplo da transferência da capital do Estado, de São Luís para Belém do Pará, em 1673, e uma lei de 1680 que proibia definitivamente a escravidão indígena, confiando sua jurisdição espiritual e temporal aos jesuítas.

No início do ano de 1684, em São Luís, pobres não tinham o que comer, ricos estavam empobrecidos e todos maldiziam o governo.

2. Um rápido perfil de Manoel Beckman Era Bequimão, como geralmente o chamavam, homem notável por seu trabalho profícuo e suas boas relações com a nobreza da terra.

Nascido em Lisboa por volta de 1630, filho de mãe portuguesa e pai alemão, jovem ainda chegara ao Maranhão e, assim como seu irmão Tomás, se casou com uma filha de João Pereira de Cáceres. Eram dois

irmãos casados com duas irmãs, herdeiras daquele rico, famoso e respeitado ex-capitão-mor de Gurupá, exmembro do Senado da Câmara de São Luís e dono de engenho no Mearim.

Casados, os irmãos passaram a dirigir o engenho da família, denominado de Vera Cruz, o primeiro do Mearim e um dos mais prósperos da época.

Em 1667, Bequimão foi escolhido vereador em São Luís, tomando posse em 1668, destacando-se como opositor aos desmandos do governo local.

Em 1670, tendo sido encontrado nas matas do seu engenho o cadáver do lavrador Manoel Correa, que ali vivia, acharam os maiorais da terra o pretexto para levar Bequimão e o irmão à cadeia, como responsáveis pelo assassinato. Acusação infundada. Em meados de 1672, foram soltos.

Em 1677, Bequimão, novamente vereador, foi, por oposição à política reinante na Capitania, mais uma vez preso, levado para a Fortaleza de Gurupá. Em 1680, por determinação do rei de Portugal, D. Pedro II, que atendeu a uma representação sua, foi posto em liberdade.

Preso ainda, vira-se ele às voltas com acusações junto ao Santo Ofício da Inquisição, tribunal eclesiástico que julgava as heresias, uma vez que fora denunciado, entre outros, por Vital Maciel Parente, também senhor de engenho no Mearim, como praticante de rituais profanos na sede de sua fazenda, atentatórios à Igreja Católica, sendo ele considerado, inclusive, e assim a sua família e a de sua esposa, como de origem judaica (cristãos novos), o que documentos históricos atestam. Tais acusações, entretanto, não prosperaram, talvez porque a Inquisição de Portugal esteve interditada por ordem de Roma entre 1674 e 1681.

3. A revolta urdida no Mearim e seu ponto final

Em 1684, Bequimão, revoltado com as injustiças que sofrera, liderou o grupo dos descontentes com a exploração que o Maranhão vinha sofrendo. Com fortuna, prestígio, regular instrução e o dom da oratória, seria o chefe natural do levante contra o Estanco, como era chamado o monopólio do comércio na Colônia.

Funcionário da Coroa Portuguesa na Capitania do Maranhão, contemporâneo e adversário de Bequimão, Francisco Teixeira de Moraes afirmou em sua “Relação Histórica e Política dos Tumultos que Sucederam na Cidade de São Luís do Maranhão”, extensa obra escrita em 1692, publicada em 1877, que os planos da revolta germinaram no engenho do Mearim:

"Formou a primeira junta no districto do Rio Meary, onde inda possuía algumas relíquias da sua antiga propriedade, convocadas não muitas pessoas com differente pretexto e fictício, manifestando sobre mesa o verdadeiro em uma accomodada prática, a qual se fundava para persuadir em semelhantes razões as que já nos passados capítulos escrevemos, concluindo: 'que elle e os mais todos viviam sem liberdade, sendo por natureza livres e por qualidade nobres; que o remédio de recuperá-la não havia outro que o de enviarem ao seu príncipe um procurador com uma copiosa informação do que padeciam, e das causas d'onde este tão grande damno se originava; ao que era infallível seguir-se da real benignidade bom despacho; mas que este único meio um só obstáculo continha na contradicção do governador, e para o declinar se devia, se fosse necessário, não lhe obedecer'. Este era o alvo a que todos os seus tiros se acestavam, este o ponto e polo fixo, a que guiava o todo o mareamento e fábrica da sua machinação, com a offerta de liberdade, desbaratar o real domínio, para logo também a ela perverter (...)"

Revisitando a narrativa de Teixeira de Moraes, o grande historiador João Francisco Lisboa diz que, tramada a revolta no engenho de Bequimão, ele e os outros rebeldes expediram aviso aos que ficaram em São Luís em cartas misteriosas introduzidas nos queijos fabricados naquela fazenda. Entretanto, o mesmo João Lisboa, autor que escreveu sobre o fato cerca de 150 anos depois, nega verossimilhança ao conciliábulo do Mearim, por considerar que o local seria distante e ermo.

Ousa-se afirmar, todavia: o maior historiador maranhense, um dos fundadores da história colonial brasileira, errou.

Com efeito, seria natural que daquela forma acontecesse o princípio do levante, visto que a grande maioria dos habitantes da Capitania se encontrava fixada no seu interior, deslocando-se para São Luís apenas por ocasião dos festejos religiosos. Além disso, era necessário conjurar longe das autoridades, que ficavam na cidade.

Ademais, documento do Arquivo Histórico Ultramarino, compulsado há não muito por mim, atesta o fato, como, oportunamente, será demonstrado.

Por motivos que excederam a heroicidade de Bequimão, a revolta fracassou e ele foi executado no dia 10 de novembro de 1685, após prisão comandada pela perfídia de Lázaro de Melo, seu pupilo, um dos membros da chamada nobreza da terra, o Maranhão.

Deixemos, contudo, a abordagem desse assunto (a traição se consumou em terras do Engenho Vera Cruz) para outro texto, talvez no próximo ano, quando dos 340 anos do fato.

4. A localização do engenho de Bequimão

Em 1985, no tricentenário da morte de Bequimão, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão propôs ao Governo do Estado a criação do Parque Estadual de Bequimão, em Santa Cruz, então povoado ribeirinho do Município de Vitória do Mearim (hoje, de Conceição do Lago Açu), onde Olavo Correia Lima, professor de Antropologia na Universidade Federal do Maranhão e sócio da primeira entidade citada, declarou ter comprovado, “com visitas aos locais incertos", ser o ponto exato do engenho de Bequimão. Louvou-se ele no fato de ter encontrado nos arredores do povoado restos de cerâmica e outros vestígios de ocupação humana, muito acima da cidade de Vitória do Mearim (Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, nº 9, outubro de 1985), pertencentes, contudo, a antiga presença indígena, ou portuguesa do século XVIII, como seria demonstrado pelas fontes históricas que se abririam para consulta décadas depois. João Francisco Batalha, autor de livros sobre Arari, sua terra natal, vem declarando em alguns desses trabalhos, mas sem indicar documentos sobre os quais possa assentar sua afirmação, que o engenho teria sido em Sítio Velho, antigo povoado do baixo curso do Mearim e que foi a primeira sede da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré por algumas décadas, paróquia criada em 1723 e há quase 250 anos sediada em Vitória do Mearim.

Registrei a primeira hipótese em meu livro "Vitória do Mearim dos Primódios à Emancipação", de 1998, mas também deixei ali registrado que o grande pesquisador César Marques, em seu Dicionário HistóricoGeográfico da Província do Maranhão (1870), no verbete Mearim (rio), discorrendo sobre a Vila da Vitória, que visitou na década de 1860, como na mesma obra declarou, disse:

“No largo da matriz atual existem alicerces de uma grande casa que indica ter sido de alguma fazenda, e um cano de tijolo, abobadado, que vai ter ao rio, como um canal por onde atravessasse a água do rio para alguma represa.

Achamos a tradição entre pessoas muito velhas, já recebida de seus maiores, que aí houve a fazenda Santa Cruz do infeliz Bequimão.”

Ademais, igualmente, registrei naquele meu livro que "ainda é bastante viva a narrativa oral, existente na cidade de Vitória do Mearim, de que foi nos seus arredores, mais precisamente no lugar chamado Quem Diria, que se deu a prisão de Bequimão por Lázaro de Melo e seus sequazes. Há mesmo quem afirme que esse topônimo originou-se da exclamação proferida pelo líder rebelde ao ver seu pupilo consumando a traição ('Quem diria!', teria sido a expressão)." O lugar é, hoje, a extremidade do bairro Tapuitapera.

Posso sustentar com provas documentais que o Engenho Vera Cruz do Mearim não ficava onde foi, por alguns anos, chamado de Sítio Velho (nome que se devia a ter sido ali o primeiro sítio da Paróquia, como registrou Pereira do Lago em seu Itinerário da Província do Maranhão, de 1820) e hoje chamado, e isso há muito tempo, simplesmente de Sítio, como aliás o fora no passado longínquo, atualmente um lugar desabitado à margem do Mearim, muito abaixo das cidades de Vitória e Arari, mais perto da foz do rio. Assim como também não ficava no ribeirinho Santa Cruz, muito acima da cidade de Vitória, pelo Rio Mearim (chega-se ao povoado, viajando em embarcação motorizada comum, após muitas horas).

A documentação histórica disponível sobre o assunto e que já explorei (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Histórico Ultramarino e Biblioteca de Nossa Senhora da Ajuda, em Portugal; e outros arquivos europeus), mostra, sobre a residência de Manoel Beckman no Mearim, que ele:

1º) não tinha residência no lugar chamado Sítio, pois ali compareceu em 1679 como testemunha da abertura de um testamento que então se procedia, sendo a localidade declarada como propriedade de terceiro;

2º) também não poderia ter residência na região onde se localiza o povoado Santra Cruz, pois, acima do lugar Arraial, então já assim denominado (e que fica de uma a duas horas, viajando-se em embarcação motorizada, acima da cidade de Vitória), tudo somente passou a ser explorado e habitado pelos portugueses após a ordem régia para a "descoberta" do Rio Mearim, de 1750, haja vista a forte resistência indígena à

penetração portuguesa daquela parte das margens do Mearim até então (seguindo-se, por isso, a missão de catequese jesuíta dos índios Gamela, inciada em 1751, e as incursões exploratórias dos remanescentes da bandeira de Jacinto de Sampaio Soares); e

3º) residia, entretanto, acima do Engenho Nossa Senhora da Conceição, de Vital Maciel Parente, que se comprova, por documentos da época, ter sido no lugar que passou a ser chamado de Engenho Grande, povoado existente até hoje com esse nome, pouco abaixo da cidade de Vitória do Mearim.

Então, em homenagem à memória oral vitoriense e a César Marques, que a encontrou viva na Vila do Mearim na década de 1860, como ainda hoje persiste, quedem-se todas as conjecturas e especulações ante as provas documentais: o Engenho Vera Cruz localizava-se mesmo onde depois surgiu, e ainda hoje está, a nossa cidade de Vitória do Mearim.

Em publicação(ões) oportuna(s), poderei transcrever e indicar tais fontes primárias.

De fato, como dito no início, nossa região sediou a gênese do importante movimento que inaugurou a resistência a Portugal no Brasil, e nela o líder de tal levante viu consumar-se o seu destino de homem rebelde que nascera para a forca, deixando, apesar disso, seu nome inscrito na história pátria, como bem destacou o ilustre historiador e jurista Mílson Coutinho, de saudosa memória (A Revolta de Bequimão, 1984):

"Na luta pela liberdade no continente americano, Manoel Beckman se antecipou a Thomas Jefferson, Tiradentes e Símon Bolivar".

ANIMAIS DO MARANHÃO NA ILHA DA COSTA NORTE DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL

DIOGO GUAGLIARDO NEVES

Esta é uma das representações mais antigas e menos divulgadas da natureza da Ilha do Maranhão (que alguns erroneamente chamam de “Ilha de São Luís”). Ela tem, na legenda inferior, o mesmo título desta publicação, em inglês, e na parte superior, a informação de sua procedência: “Engraved for Moores Voyages and Travels”. No impresso, colorizado à mão, são vistas quatro espécies da fauna nativa da ilha: um bicho preguiça (Folivora), curiosamente no chão, onde é pouco visto, um porco-espinho que pela representação se assemelha à espécie africana (Hystrix cristata), um grande macaco que pela aparência julgo ser um bugio ou guariba (Alouatta) e ao fundo um quati (Nasua). A grande palmeira, que caracteriza nossas matas é o babaçu (Attalea speciosa).

Trata-se de um livro publicado em 1778 cujo autor é um cartógrafo escocês chamado John Hamilton Moore (1738-1807). Duas coisas chamam a atenção: Moore jamais esteve no Maranhão e o fato dos animais possuírem expressões humanas. Esse último elemento não era raro, ao menos para as descrições dos primeiros descobrimentos, quando as novas descobertas impressionavam os registradores, ainda envoltos pelo imaginário medieval, pela primeira vez viam aquelas “estranhas obras da Criação”. Curioso o fato de que, em 1778, tais figurações já serem bastante anacrônicas, pois a descrição da natureza possuía um nível superior de tecnicidade, como pode ser constatado pelos trabalhos dos naturalistas Gmelin (1748-1804) e Buffon (1707-1788).

Não era incomum, até o séc. XVIII, que escritores europeus escrevessem sobre o mundo sem saírem de seus gabinetes, produzindo publicações a partir de relatos de terceiros, a rigor, escritos ou desenhos da lavra de viajantes antigos, e isso pode explicar as imprecisões de espécimes e os exageros antropomórficos no livro de Moore. Especulo, portanto, que Moore deve ter pesquisado ou reproduzido relatos sobre a Ilha do Maranhão saídos dos primeiros descobrimentos, pela época ou mesmo antes da chegada dos franceses. Relatos esses que não conhecemos ainda.

Gravura original do acervo de Diogo Guagliardo Neves.

Moore, John Hamilton (1738 - 1807)

John Hamilton Moore (1738 - 1807) foi um professor escocês de navegação, vendedor de cartas e hidrógrafo ativo em Londres durante a última parte do século 18. Ele é mais conhecido como editor da Blueback Nautical Charts e fundador da empresa que um dia se tornaria Imary and Son. Moore nasceu em Edimburgo e foi educado na Irlanda antes de ingressar na Marinha Real. Depois de deixar a marinha, ele montou uma academia de navegação em

Brentford, Middlesex. Por volta de 1772 publicou o livro de navegação The New Practical Navigator and Daily Assistant. A obra tornou-se o texto mais popular de sua época e teve cerca de 17 edições, estabelecendo firmemente as credenciais de Moore. Por volta de 1781, Moore estabeleceu-se em 127 Minories, perto de Tower Hill, Londres, onde ensinou navegação para um público seleto, bem como negociou instrumentos de navegação e cartas náuticas. Moore começou a publicar suas próprias paradas. Estes estavam entre os primeiros gráficos blueback, chamados assim por seu distinto suporte de papel azul. Moore contratou o desenhista William Heather e John Noire, ambos futuros editores de cartas náuticas blueback por direito próprio, para desenhar e gravar suas cartas. Pessoalmente, mas era conhecido por ser arrogante e um tanto controverso. Ele se descreveu uma vez como "tendo uma propensão para o gênio". Ele também foi acusado de 'debochar de um servo'. Na década de 1790, ele começou a se chamar "Hidrógrafo e Cartógrafo de Sua Alteza Real, o Duque de Clarence". Não está claro se sua alegação foi ou não baseada em fatos, mas certamente os muitos inimigos de Moore na indústria editorial o chamaram sobre o assunto, publicando um broadside declarando Moore um "Pretender". De qualquer forma, Moore abandonou essa reivindicação em 1804. Moore foi sucedido por um filho, também John Hamilton Moore, e várias filhas, uma das quais se casou com Robert Blachford, que se tornou um proeminente editor de paradas na esteira de Moore. Apesar da aparente prosperidade de seus negócios, Moore parece ter morrido em relativa pobreza em Chingford, Essex. No entanto, seu obituário na The Gentleman's Magazine, um sinal em si do significado social de Moore, ofereceu-lhe grandes elogios, "ele fez com que os melhores gráficos fossem publicados que já haviam sido feitos por qualquer indivíduo nesta ou em qualquer outra nação".

O Conselho Ultramarino português, órgão regulamentado em julho de 1642 para tratar de todas as matérias e negócios de qualquer qualidade que fossem relativos à Índia, Brasil, Guiné, ilhas de São Tomé e Cabo Verde e demais partes ultramarinas, havia autorizado os habitantes da capitania brasileira do GrãoPará, em 1752, a organizar uma companhia para o tráfico de africanos. O governador e capitão-mor daquela capitania, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1769), irmão de José Sebastião de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal (1699-1782), tentou reunir os fundos necessários à realização do projeto, mas como o dinheiro arrecadado não alcançou montante suficiente, uma delegação de moradores da localidade decidiu então ir a Portugal para tentar convencer capitalistas portugueses a participarem da sociedade. O que realmente foi conseguido após autorização do rei Dom José I (1714-1777).

Mendonça Furtado servia no exército quando seu irmão assumiu o governo, sendo então designado para os cargos que ocupou nas províncias brasileiras do Pará e Maranhão, com a incumbência de reprimir as atividades dos jesuítas e obrigar os índios, que eles dominavam, a submeter-se ao governo da Metrópole. Regressando a Portugal em 1759, foi nomeado secretário dos negócios do reino até 1762, quando ocupou a pasta da Marinha e Ultramar. Quanto ao marquês de Pombal, ao ser empossado como secretario dos Estrangeiros no reinado de D. José I - sucessor de D. João V, seu pai, falecido em 1750 -, por indicação de um de seus mestres, demonstrou logo nas primeiras determinações a prepotência que caracterizaria sua atuação como homem de confiança do rei, degredando, deportando, mandando prender e impondo reformas com mão de ferro (uma das medidas que decretou foi a criação da companhia comercial entregue à direção de seu irmão). Pouco a pouco, ele enfeixou em suas mãos todos os poderes do Estado, conservando-os até o fim do reinado.

Com relação à então recém-criada Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, a ela foi concedido o monopólio, por vinte anos, de toda a importação e exportação feitas pelas duas capitanias, ficando-lhe vedado, porém, o comércio a varejo. A administração da companhia foi declarada independente de todos os tribunais e subordinada diretamente ao rei, ao mesmo tempo em que lhe foram concedidas importantes isenções. Por sua vez, ela se obrigou a manter os preços tabelados, a vender com abatimento considerável alguns produtos coloniais, e a auxiliar, em caso de guerra, a formação de armadas.

PERÍODO COLONIAL - 1755 - COMPANHIA GERAL DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO – PARÁ
FKD: 1755 - COMPANHIA GERAL DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO - Pará (Período colonial) (fernandod.com.br)

Foi muito grande a influência que a Companhia exerceu na vida da colônia. Suas atividades foram favorecidas pela Revolução Industrial, que aumentou a procura de produtos coloniais, bem como pela Guerra da Independência americana. Foi ela a responsável pela introdução do braço africano no Pará e Maranhão, assim como as sementes de arroz e melhores processos de cultura do algodão, o que incrementou grandemente o comércio dessa fibra vegetal e fez com que sua exportação subisse, entre 1760-1771, de 651 para 25.473 arrobas. Os navios da Companhia não navegavam apenas nos mares cujo tráfego exclusivo lhe fora concedido, mas iam até aos portos da Índia e da China, eram carregados de escravos na costa da África e percorriam todo o litoral brasileiro. A prosperidade econômica que beneficiou as capitanias do Grão-Pará e Maranhão logo se refletiu no perfil urbano de São Luís, pois nessa época foi construída a maior parte dos casarões que compõem o Centro Histórico de São Luís que hoje é Patrimônio Mundial da Humanidade. A região enriqueceu e ficou fortemente ligada à Metrópole, quase inexistindo relação comercial com o sul do país.

No entanto, abusos de toda a espécie provocaram a decadência da companhia, e decorridos os vinte anos que o contrato estabelecia para a sua existência, o prazo do privilégio não foi prorrogado pela rainha Maria I, que havia sucedido seu pai dom José I no trono de Portugal. Oito dias depois de assumir o poder ela demitiu o marques de Pombal, libertou os que se encontravam presos por ordem do célebre ministro, ao mesmo tempo em que fazia perseguir os parentes e afeiçoados do estadista, os quais fez processar. Em 16/06/1681 foi exarada a sentença que considerava o marquês culpado dos crimes de que fora acusado, e o declarava merecedor de castigo exemplar, do qual foi poupado por motivo de sua idade avançada e precárias condições de saúde.

Com relação aos atuais estados do Pará e Maranhão, ao longo dos anos de dominação portuguesa eles foram incluídos em diversas divisões administrativas promovidas pela Metrópole:

- em 1621 o território brasileiro foi dividido em dois Estados autônomos: o do Maranhão, ao norte, com capital em São Luís, abrangendo as capitanias do Pará, Maranhão e também a do Ceará, e o do Brasil ao sul, com capital em Salvador, integrado por todas as demais capitanias.

- em 1737 o Estado do Maranhão passou a denominar-se Estado do Grão-Pará e Maranhão, e sua capital foi transferida da cidade de São Luís para a de Belém do Pará. Seu território compreendia as regiões dos atuais estados do Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e Piauí.

- em 1772, pouco antes de expirar o contrato que privilegiava as atividades da Companhia Geral do GrãoPará e Maranhão, a Coroa Portuguesa dividiu a região Norte da colônia em duas unidades administrativas: a do Grão Pará e Rio Negro, com sede em Belém do Pará, e a do Maranhão e Piauí (que só se tornou capitania em 1811), com sede em São Luís.

Duque de Caxias liderou tropas do Império que reprimiram o levante - Pintura de Johann Moritz Rugendas

O PELOURINHO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO

AlocalizaçãoderesquíciosdoPelourinhodeSãoLuís(1815)éumadescobertarecente.Noambiente encontrado existe a Pirâmide de Beckman (1910), erguida em homenagem a Manuel Beckman, líder darebeliãonativistaquelevouseunome,aRevoltadeBeckman(1684),acredita-sequefoinestelocal queBeckmanfoienforcado.

Segundo Euges Lima (2017), o antigo Pelourinho de São Luís (1815) não foi totalmente destruído como se imaginou, pois seu pedestal continuou e foi reaproveitado, utilizado como alicerce da construção da chamada Pirâmide de Beckman. A base desse monumento “estaria apoiada sobre um pedestaldoantigopelourinholocal,de1815”

OhistoriadorEugesLima(2017)fundamenta-seemumapesquisabibliográficaedecamporeferentes àPirâmidedeBeckman,daqualfezfotos,ecomaobraOCativeiro(1941),deDunsheedeAbranches, ajudou a confirmar esse achado, porque neste livro há um desenho de um Pelourinho, que esse pesquisador afirma ser o mesmo em que a sua base compõe a Pirâmide de Beckman (1910). Lima (2017) acredita que Abranches tenha desenhado ou descrito, com riqueza de detalhes e bastante fidedigno, apontando que o autor de O Cativeiro foi contemporâneo desse antigo Pelourinho, “que originalmenteestavasituadonoantigoLargodoCarmo,hoje,PraçaJoãoLisboa.

Nesse livro, ele conta suas memórias de como viveu na São Luís escravagista da segunda metade do séculoXIX”. Valedizer quenessaPraçaJoãoLisboa, noantigoLargodoCarmo, emfrente àIgrejado Carmo,é“localdeorigemdoantigoPelourinhoequedepoisdadestruiçãoparcial,foraremovidosua base para o Parque 15 de novembro, em 1910” (LIMA, 2017: 02). Sobre a Revolta dos Republicanos Radicais (1889) que destruíram o Pelourinho (1815), tem-se a figura de Paula Duarte, que foi um militante jornalista, redator do Jornal republicano “O Globo” em São Luís e ligado aos Clubes Republicanos, “conhecido pelo seu poder de persuasão e eloquência quando discursava em Praça Pública”.

O acontecimento da destruição do Pelourinho foi liderado por Paula Duarte com o auxílio de populares e ex-escravos, “que a golpe de machadadas e de malhos no dia 1.º de novembro de 1889, portanto,catorzediasantesdaProclamaçãodaRepública,destruíramessemonumentoqueeraantes detudo, umsímbolodaopressãonegraemSãoLuís” (LIMA, 2017: 03). Diante disso, percebe-seque essa descoberta é importante para a História do Maranhão, pois estudos recentes não apontavam a PirâmidedeBeckmanconstruídautilizandocomobaseoantigoPelourinhodeSãoLuísde1815

Fonte:https://www.patrimoniosmaranhao.net/.../o-pelourinho-de.../

O TESOURO DE TUTÓIA E AS AVENTURAS DE ERNESTO RIVERA

EUGES LIMA (HISTORIADOR)

O saudoso jornalista, advogado, pesquisador e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Waldemar Santos, em seu livro “Fragmentos da História do Maranhão”, publicado pelo Sioge em 1982, traz um capítulo (Tesouro da Espanha) curioso sobre certo tesouro que teria sido enterradonasareiasdeTutóianoiníciodoséculoXX.Essainformação,oautorconseguiucomopadre JocyRodrigues,netodofamosoCoronelPaulinoNeves,fundadordaTutóiaNova(1901),entãochefe político da região e um dos personagens principais dessa história que parece mais um roteiro de cinema,comtodososingredientes,comocaçaaotesouro,conspirações,prisões,dramaesuspense. Padre Jocy, tinha em sua posse, uma carta, que relatava essa inusitada história, provavelmente herdada do espólio do seu avô. Em 1909, Paulino Neves, recebera uma inesperada e intrigante correspondência vinda da Espanha, cujo remetente era o espanhol Ernesto Rivera, o qual o prócer tutoiense nunca ouvira falar, no entanto, Rivera teve boas referências do Coronel Paulino: “as boas informaçõesquetenhodeV.Exa.,asquaismeforamdadasporumSr.quandoeuestiveemessepaís.” Nacarta,RiverarelataquefoiCapitãoeTesoureirod’ArmadaCavalariadeGuarniçãodaquelaPraçae queparticipoudeumaconspiraçãoparaderrubaramonarquiaespanholaequeteriadesertadocom 900.000 francos em notas do Branco da França e Inglaterra que estavam sob seu poder com a finalidadedecomprararmaseequipamentosbélicosnoestrangeiroparapromoverarevoltamilitar quederrubariaamonarquiaeimplantariaaRepúblicaemtodaaEspanha.

Acontece que quando Ernesto Rivera se encontrava na fronteira da França à espera de instruções, recebe a notícia que o plano do levante havia sido descoberto e que alguns dos seus companheiros tinhamsidopresoseoutros,fugidosparaoexterior.

Imediatamente, decidefugir para América do Sul com a fortuna que trazia. Primeiro, desembarca na Venezuela, não gosta do ambiente do país, então resolve ir para o Brasil. Depois de visitar vários estadosecomarcas,chegaaolitoralorientaldoMaranhão,nalongínquaepacataTutóia,localizadano DeltadoParanaíba,ali,diantedanecessidadederetornarparaEspanhaparasocorrersuaúnicafilha queestavadoenteemumColégiointernona CidadedeToledo,omilitarespanhol,deixa“enterrados dentrodeumapequenacaixadefolhasdelata,nosarrabaldesd’essalocalidade”900.000milfrancos quehaviafurtadodesuaguarniçãonaEspanha.

Comopai, Riveranãopoderiaabandonarsuafilhanaquelascondições, aomesmotempoemquenão poderiaretornarcomaquelaquantiaemseupoder,diantedetalimpasse,descreveoquemelhorlhe pareceufazer:

“Meti 900.000 francos dentro da dita caixa em os arrabaldes d’essa localidade; procurei um lugar rasinho, separadamente, e sem que ninguém me olhava, nem observava, fiz um buraco na terra, de meiometrodeprofundidade,eaísepulteiacaixa,comodinheiro;nomesmoinstante,fizumapauta tipográfica(croquis) fixa e exata do lugar onde sepultei a caixa; a esta pauta, junta com uma fita métrica que me servi d’ela para recolher as medidas edimensõesdoterreno, assim como uma folha explicativa,aondeanoteitodososapontamentos;todasestaspeçasasoculteinumsegredoquetema minhamaladeviagemn’umsegredoqueninguémconhece,maisqueeueaminhafilha.”

O plano do Capitão era retorna à Espanha e trazer sua filha para o Brasil, onde ela poderia se recuperareviverempazcomele.Porém,tudodeuerrado,eelefoipresoaochegarnaEspanha,sendo condenadopeloConselhodeGuerraespanholadezanosdeprisãoeapagarascustasdoprocesso.É nessecenárioqueErnestoRiveravislumbrasolicitaraajudadePaulinoNevescomoaúnicaformade resgatar o tesouro que ela havia deixado enterrado nas areias brancas de Tutóia, se não para ele se beneficiar, já que se encontrava preso e condenado, mas pelo menos para segurança e felicidade de suafilha,ajovemHildade18anos.Paraisso,ofereceametadedaquantiaenterradaaPaulinoNeves como recompensa, mas não sem antes elencar uma série de condições e instruções detalhadas que deveriamserseguidaspeloCoronel:

“1.ª-V.Exa.Teráqueserfielehonestocomminhafilha,enãodivulgaresteassunto;

2.ª-V.Exa.,ououtrapessoademaiorconfiança,temqueviràEuropa,paraacompanharaminhafilha atéoBrasil,porqueeuquerosendosagradacondiçãoqueminhafilhahád’ircomV.Exa.,aajudar-lhe adescobriraditacaixa;euconfioqueV.Exa.Há–decomportar-secomela,comoumhomemd’honra, ecomoumsegundopai;

3.ª-Pelopronto,temqueV.Exa.,pagarasdespesasdeviagemdeminhafilha,porqueeuacho-mesem dinheiro, devido à minha pobre e triste situação, os meus amigos abandonaram-me, e os meus correligionários,unsacham-sepresos,eoutros,emigrados;

4.ª – Também tem que pagar V. Exa. “6.250 pesetas, ouro (1.250), que é necessário pagar para levantaraminhamaladeviagemdodepósitoondeseachadepositada,pordívidad’umaquantia.”

Comovimosacima,nasinstruçõesecondiçõesimpostaporRivera,oplanoeraPaulinoNevesbancar sua viagem até Portugal, o que representaria um custo no valor de um conto e seiscentos mil reis.

QuandodesembarcasseemLisboa, doHotelqueestivessehospedado, deveria escreverparaErnesto Rivera informando seu endereço, então, Rivera responderia informando o Hotel onde poderia encontrarsuafilhaparajuntosresgatarematalmalaqueseencontravaemumdessesarmáriosque se alugam em terminais de transportes, pois nela, encontravam-se todas as peças imprescindíveis paralocalizaçãoprecisadotesouroenterradoemTutoia,comopautatopográfica,fitamétricaeafolha explicativa, mas antes, Paulino Neves deveria mais uma vez meter a mão no bolso no valor de 6.250 pesetas para pagar o resgate da mala e retornar ao Brasil com Hilda, pagando também todas as despesascompassagensdenavionoretornoaoBrasil.

DepoisqueconcluiutodassuasinstruçõesoCapitãoRiverasolicitaquecasooCoronelPaulinoNeves concordecomsuascondições,envieuma“prontaresposta,paraoendereçoseguinte:Sr.AdolfoG.R. Ramirez,CaledeAyal,n.º16/2.º,Madri(Hespanha)[...]ecomaesperançadereceberprontoanotícia deseuavisoàLisboa.”

Finaliza a carta com cumprimentos honrosos e respeitosos, datando de Madri em 19 de agosto de 1909. A pergunta que fica é, teria o Coronel Paulino Neves atendido aos seus apelos e respondido a essa curiosa correspondência? Teria ainda Paulino Neves feito essa fantástica aventura paraLisboa? Certamentenão,talvezoCoroneltenhadesanimadodiantedetantascondições,despesaseaventuras necessáriasparatalfeitoeErnestoRiveraesperouumarespostafavorávelquenuncafoi.

Foto do Cel. Paulino Neves, com uniforme da Guarda Nacional, acervo pessoal: Graça Pereira Jansen (bisneta)

BAILE DE SÃO GONÇALO (*)

OBailedeSãoGonçalosurgiuemPortugal,noséculoXIIIemhomenagemaSãoGonçalodoAmarante e chegou ao Brasil, no início do século XVIII, o baile, dança ou roda de São Gonçalo que é uma rica manifestaçãofolclóricadesignificativaparceladopovobrasileiroapresentavariaçõesderegiãopara região. Veio junto com os colonizadores portugueses, com predominância nas regiões Norte e Nordeste.NosestadosdoCearáeRioGrandedoNortepossuemmunicípioscomonomeSãoGonçalo doAmarante,noEstadodoMaranhão,ocultoaSãoGonçaloaindatemfortepredominânciaemvários municípios maranhenses e em bairros da capital onde tem populações oriundas da baixada maranhense,entreosquaisbairrosdaáreaItaqui-Bacanga.

Na baixada maranhense, destaca-se o município de Viana que possui uma rica cultura diversificada, umacidadedebomnívelculturaledeprofundafécristã.

O Baile de São Gonçalo, popular e folclórico, manifestação de caráter cultural e religioso de origem portuguesa muita antiga e tradicionalmente realizado por famílias de Viana, geralmente a dança é motivada por promessas em homenagem a São Gonçalo do Amarante, um espetáculo que surgiu em PortugalechegouàVianapelosportugueses,naépocadafundaçãodaViladeViana,umbelochorado de Baile de São Gonçalo que é uma manifestação ímpar extremamente festejada na baixada maranhense como movimento cultural específico. Destaca-se como dança religiosa de origem português-Açoriana que, por ser um bailado religioso, em frente ao altar formam-se dois cordões de seis pessoas, traz brincantes homens e mulheres, trajados de branco, com fitas de cores variadas, atravessando as vestes e coroas ou grinaldas na cabeça. Dançam em formas de cordões, com deslocamentonumritualmonótono, entretantobonito, oscantossão quadrasdecorativasoutiradas deimproviso,comacompanhamentodeviolaourabeca,quevaipelamadrugadaadentro.Osbailesde SãoGonçalomanifestam-sefrequentementenoperíododeestiagemquevaideJulhoadezembro,com destaques para a região nos municípios de Viana, Penalva, São João Batista, São Vicente de Férrer e Peri Mirim entre outros. O povo da baixada maranhense tem sua identidade cultural resultante de herançaseessamanifestaçãopopularéautênticanabaixadamaranhenseeemespecialnacidadede Viana.

SegundoSerejo(2016)“OprimeiroescritorvianensequecitouobailedeSãoGonçaloemsuasobras foiOzimodeCarvalho emseulivroRetratodeumMunicípio” eprossegue“ ostrêsguiasdebailede São Gonçalo mais antigos de Viana foram Valentim Antônio dos Anjos conhecido como Valentim AndradequeeradeItans, depoisfoiMarcelina PereiraLobatoquemoroutambémem Itans alémde guia também tocava instrumentos avó e quem criou o músico João Lobato que tocou baile de São Gonçalo e Firmino Cutrim conhecido como Firmino Tinga. O guia é o responsável pelo comando da dançaesegundoomúsicovianenseJoãoLobatoonúcleoondeiniciouobailedeSãoGonçaloemViana foinopovoadoItans”.

Lembro-me na minha infância do Sr. Firmino Cutrim conhecido em Viana como Firmino Tinga, que durante muitos anos foi um dos principais guia dos bailes em Viana. No ano de 2002 os principais guias eram José Ribamar Santos, João Costa, Raimundo Nonato Froz, José Antônio Dias Mendonça (meu parente), João Silva Ferreira, Dalva, José Benedito Silva Santos e José Aluísio Carvalho entre outros.

A Academia Vianense de Letras outorgou Diploma de Honra ao Mérito Vianense às personalidades pelosrelevantesserviçosprestadosaomunicípiodeVianaemdiversasáreaseoSr.JoséAntônioDias Mendonça, conhecido com José Antônio de Bidi, foi homenageado em 24 de novembro de 2018 na categoria tradição popular, o qual conheci na época da minha infância como exímio guia de baile de São Gonçalo e reconhecido pelo desenvolvimento da cultura no município e na região, como um dos maioresemelhoresguiadebailedeSãoGonçalo,umajustaemerecidahomenagem.

Recordo-me na minha infância, de um baile de São Gonçalo em que o guia era o Sr. José Antônio de Bíbi que foi realizado pela minha parenta saudosa Araci Mendonça, que foi nossa vizinha em Viana. BailerealizadonafazendaPonta,depropriedadedoparenteMiltonMendonçaqueficavapróximoao povoadoIbacazinho.

O Baile de São Gonçalo na cidade de Viana foi tema de um curta-metragem de Fábio Azevedo, que participou de um festival na Hungria. O cineasta Fábio Azevedo filmou A Promessa: O Baile de São Gonçalo,curta-metragememqueacompanhaadevoçãoaosantonoscamposverdejantesdacidadede Viana,cujabelezaédestacadanafotografiaassinadapeloprópriodiretor.OroteiroédeZinaNicácio.

Apartirdatrajetória depersonagensquefazemafesta, comsuasmotivações, Azevedoacompanhou as diversas etapas dosritos de devoção a São Gonçalo, e traz também o depoimento do pesquisador JandirGonçalves,enciclopédiavivaquandooassuntoéculturapopularnoMaranhão.

O documentário teve estreia mundial no dia 24 de fevereiro de 2024, no Budapest Film Award, prestigiadofestivalinternacionaldecurtas-metragens.

(*)ÁureoMendonçaépesquisador,escritoremembrofundadordoIHGV.

"NONNATO MASSON, UM MESTRE DA PALAVRA".

JOSÉ NERES

Talvez, hoje, em pleno final de fevereiro de 2024, o nome Raimundo Nonato da Silva Santos possa passar despercebido até mesmo pelos estudiosos da literatura e do jornalismo maranhense. Porém, caso alguém cite o nome artístico-literário desse senhor nascido no dia 28 de fevereiro de 1924, os amantes das letras hão de, com brilho nos olhos, recordar-se de um dos mais elegantes e cultos escritores da língua portuguesa em terras maranhenses. Trata-se de Nonnato Masson, renomado cronista, poeta, jornalista e membro da Academia Maranhense de Letras, instituição na qual ocupou a cadeira 21, de janeiro de 1986 até março de 1998, quando faleceu.

O que sempre chamou a atenção em Nonnato Masson era sua elegância ao escrever. Ele conseguia fazer com que o leitor se sentisse dentro dos textos transitando entre um parágrafo e outro em uma articulação de palavras na qual o ritmo e a sutileza das argumentações clareavam a ideia das pessoas até mesmo sobre os assuntos mais polêmicos e complexos.

Essa capacidade de escrita fez com que ele fosse bem recebido nas redações de diversos jornais de seu estado natal, como é o caso de O Combate, Jornal da Tarde, Jornal do Povo, A Pacotilha e O Estado do Maranhão, veículos de comunicação nos quais ele teve significativa passagem, seja como redator, cronista, chefe de reportagem ou secretário. Porém, sua atuação profissional não se limitou a sua terra natal. Ele, na qualidade de exímio jornalista e cultor das palavras, teve também importante participação no Jornal do Brasil, onde ao lado de seu amigo e conterrâneo Odylo Costa, filho, muito contribuiu para a modernização desse importante jornal brasileiro.

As atividades laborais de Nonnato Masson levaram-no a percorrer praticamente todo o Brasil em busca de assuntos de interesse público que pudessem ser convertidos em reportagens de grande impacto na imprensa nacional, como é o caso da série de textos publicados sob o título geral de “Brasil, Brasis, brasileiros”, na qual levou a público diversas situações ocorridas no Brasil, mas que não eram conhecidas até mesmo por muitas pessoas bem informadas.

História também é sua vasta pesquisa sobre Virgulino Ferreira da Silva – o famosíssimo cangaceiro Lampião – e seu bando pelo sertão nordestino. Dividida em oito partes, essa série de reportagens foi publicada na revista Fatos e

Nonnato Masson: arquivo (Divulgação).

Fotos, nos meses finais de 1962 com o título de “A aventura sangrenta no cangaço” e teve grande repercussão na época, sendo até hoje é tida como um exemplo de investigação jornalística.

Além de tudo isso, é importante lembrar que esse intelectual maranhense viajou por vários países e fez cobertura de diversos eventos esportivos, como, por exemplo, todas as Copas do Mundo ocorridas durante seu período de atuação no Jornal do Brasil, de 1956 até 1980, quando se aposentou desse jornal e passou a chefiar a sucursal maranhense da Empresa Brasileira de Notícia, cargo no qual ficou de 1985 até 1990.

Com o falecimento do acadêmico Salomão Fiquene, em 1984, Nonnato Masson, que sempre foi uma figura extremamente respeitada nos meios intelectuais de seu estado, resolveu candidatar-se à vaga da cadeira 21 da Academia Maranhense de Letras. A eleição aconteceu no dia 11 de outubro daquele mesmo ano e o escritor foi eleito para essa cadeira patroneada por Maranhão Sobrinho e fundada por Raimundo Lopes da Cunha. A posse se deu apenas em janeiro de 1986 e o acadêmico escolhido para recepcioná-lo foi o escritor José Sarney, que, possivelmente por estar repleto de afazeres por estar no exercício da Presidência da República, não pôde comparecer à solenidade de posse, mas enviou o discurso de recepção, que foi lido pelo também acadêmico Evandro Sarney.

Embora tenha escrito bastante, Nonnato Masson publicou poucos livros. Muitos de seus trabalhos ainda se encontram dispersos em jornais e revistas esperando para serem reunidos em livros e/ou servirem como tema para estudos de cunho acadêmico. No entanto, em 1984, alguns de seus textos foram publicados pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE) em dois livros: Inês é morta e Corpo de moça. Nesses dois pequenos volumes, que hoje constituem raridades bibliográficas, o leitor pode ter uma amostra do talento desse escritor e de seu cuidado no uso com a palavra escrita.

Neste 28 de fevereiro de 2024, esse talentoso escritor batizado como Raimundo Nonato da Silva Santos e rebatizado literariamente como Nonnato Masson completa seu primeiro centenário de nascimento. Infelizmente, ele é mais uma dessas personalidades brilhantes de nossas letras a quem tanto devemos e que, nesses tempos obscuros de sucesso efêmeros, precisa ser relembrado, lido, estudado e aclamado. Seu talento é eterno.

O CANGAÇO NO MARANHÃO

RamssésSilva

Muitosdesconhecem,mas,ofenômenosocialdobanditismoruralintituladoCangaçotambémocorreu em terras maranhenses, com seus atores específicos e, na mesma época em que Lampião assolava o semiáridonordestino.

O nosso Cangaço ocorreu, mais precisamente, na região da Baixada Maranhense, em cidades como Bequimão(antigaSantoAntônioeAlmas),Viana,Cajapió,Pinheiro,SãoBentoeSãoVicenteFérrer. O mais icônico destes facínoras por nossas terras foi o famigerado Tito Silva. Bandido de alta periculosidade,ladrãodegado,saqueadoreassassino,TitoassolouaBaixadanasdécadasde1910e 1920.

Emumadaspassagens,TitoeseubandoinvadiramacidadedeBequimão,buscandovingançacontra umdesafeto,oCel.SousaCastro.Amarraram-no,cortaramsuasorelhaseomataramacoronhadasde riflenafrentedesuacasacomercialque,logoemseguida,foisaqueada.

Como a maioria dos cangaceiros, o fim de Tito foi trágico. Segundo os registros de época, quando já preso e prestando serviços no Aprendizado Agrícola Cristino Cruz nos anos 1930, foi fuzilado no interior da escola por agentes da segurança pública, tendo seu corpo sumido, assim como sua fama, agorarevisitada.

Textoepesquisa:RamssésSilva

Fonte:HemerotecaDigital

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