MARANHAY “ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE” REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536 NÚMERO 02 – ABRIL – 2023 MIGANVILLE – MARANHA-Y
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE
MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO Revista eletrônica
EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com
Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 82067923
CHANCELA
Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
UM PAPO
Devido às mudanças ocorridas na plataforma que utilizo para as publicações sobre o Maranhão, fui obrigado a suprimir da REVISTA DO LÉO – Revista Lazeirenta – o material referente à História(s) do Maranhão e à Literatura Ludovicense/maranhense. Daí, também limitada à 50 páginas, máximo que permite o ISSUU para postar gratuitamente, damos início à esta nova publicação, com os colaboradores de sempre.
Mãos à obra
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor
SUMÁRIO EXPEDIENTE 2 EDITORIAL 3 SUMÁRIO 4 BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ 5 INSCRIÇÕES LAPIDARES DE SÃO LUÍS EUGES LIMA 12 BREVE HISTÓRIA DA PRAÇA DO PANTEON EUGES LIMA 13 TESTANDO O CHAT GPT JOAQUIM HEICKEL 15 SÃO LUÍS, BELEZAS E CONTRADIÇÕES DE UMA METRÓPOLE NONATO REIS 17 FORTE DA VERA CRUZ DO ITAPECURU ou FORTE DO CALVÁRIO. RAMSSÉS DE SOUSA SILVA 18 SÍTIO PARAÍSO - SÃO LUÍS (SÉC. XIX) RAMSSÉS DE SOUSA SILVA 19 O PRIMEIRO COMANDANTE NAVAL DO BRASIL 20 INVASÃO DE CORSÁRIOS FRANCESES NO MARANHÃO SETECENTISTA EUGES LIMA 23 CORONEL JOAQUIM RIBEIRO DA SILVA - A PRIMEIRA INVASÃO DAS FRECHEIRAS DA LAMA (Série Balaiada) JOÃO BOSCO GASPAR 24 SÍTIO TAMANCÃO - SÃO LUÍS (SÉC. XIX) FLAVIOMIRO MENDONÇA 25 DE ALCOBAÇA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL. O CORONEL ISIDORO RODRIGUES PEREIRA E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS, ECONÓMICAS E POLÍTICAS NO MARANHÃO COLONIAL ENTRE 1775 E 1825 LEONEL FADIGAS 26 ELPÍDIO PEREIRA 28 DEMISSÃO DE RENATO GALVÃO DE CALDAS KENARD KRUEL FAGUNDES 29 AMARAL RAPOSO, UMA LEGENDA FERNANDO BRAGA 30 VINHAIS VELHO, PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX, SÃO LUÍS-MA 31 HISTÓRIA DO VINHAIS VELHO É PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DO MARANHÃO
“BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO
MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM “LICEU MARANHESE”
SOBRE JOÃO TAVARES
Clóvis Ramos (1986; 1992) ao analisar o surgimento da imprensa no Maranhão, afirma ser jornalista o magnífico João Tavares com sua Informação das recreações do rio Munim do Maranhão. Em seu roteiro literário do Maranhão (2001), refere-se a João Tavares como:
“... cronista, professor de humanidades e filosofia, missionário. Padre da Companhia de Jesus, nascido no Rio de Janeiro a 24 de setembro de 1679, chegado ao Maranhão, e catequizando índios, os tremembés, arrebanhou-os em aldeias, fundou a cidade de Tutóia. Faleceu no Maranhão em onze de julho de 1744. Deixou manuscritos valiosos, interessado em explicar, também, o nome Maranhão e o fenômeno das pororocas, que o fascinava. No Dicionário histórico e geográfico da província do Maranhão de César Marques, no verbete Maranhão, vem mostrado como um escritor original, de prosa poética. (RAMOS, 2001, p. 3-4).
Esse Autor, baseado em César Marques, e citando como bibliografia: Breve descrição das grandes recreações do rio Munim do Maranhão, 1724, passa a transcrever o que consta das páginas 454/455 daquele dicionário:
“AS POROROCAS DO MARANHAY
“Foi de indústria, por dar gosto a Vossa Revma. que, como tão perito na língua brasílica, folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por boca e por escritos antigos, sobre nunca assentarem em nada de quanto disseram nada tem fundamento no meu fraco entender. Veja os antigos manuscritos da missão.
“O padre Bartolomeu Leão, da Província do Brasil, reformador do catecismo da língua brasílica, me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma brasílico, soubesse dele o que sentia nesse ponto. Ambos morreram ignorantes do que aqui quero dizer, e nunca o dissera sem ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhay. Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos e de um substantivo. Os verbos são maramonhangá, que significa brigar e anham que significa correr (até aqui atinava o dito Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra ou letra que significa água, e ainda tirada de Maranhão por corrupção de palavra, assim como estão infinitos nomes da língua brasílica corrupta pela pronúncia dos portuguese.
“Nesta palavra não podia atinar o padre Leão sem ver ou lhe disserem o que passa pelo Maranha. Deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava que são as pororocas, cujo aspecto é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay
água que corre brigando. Perguntar-me-hão pois porque não se chama o Maranhay pororoca; respondo que pororoca é a palavra que explica o que se ouve; parece-me que se compõe da palavra opõe, que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan, que significa roncar continuamente, como o mar; ou é palavra simples, feita pela freqüêntativa, tirada sempre do verbo opõe. De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar ou estalar, de onde do que se ouve se chama aquela fúria das águas – pororoca; e do que se vê se chama todo este Estado – Maranhão”. (RAMOS, 2001, p. 34; MARQUES, 1970, p. 437).
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Realmente, César Marques àquelas páginas refere-se às pororocas do Rio Munim, mas a descrição é outra, como se observa:
“O Padre João Tavares na carta já alegada dá dêste fenômeno da pororoca uma tão poética descrição, que nos pareceu que sem ela não ficaria bem acabado êste maravilhoso quadro:‘Enquanto a maré vaza tudo vai em paz; em enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente, que vem do oceano, com a vazante, que vem dos ditos rios (Mearim e Pindaré). O lugar desta peleja dista da barra dos dois rios como vinte léguas. Briga ali a enchente com a vazante, sem a maré passar daquele lugar para diante por espaço de tr6es horas. Nestas três horas toma a enchente fôrça, e nas águas vivas toma maior fôrça; forma grande pé atrás, alteia sobre a vazante à maneira de dois homens, que estivessem forcejando peito a peito, e um dêles vencendo levasse o outro abaixo de costas; assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas, e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal estouro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés, ou três serras de águas, lançando para trás a modo de guedelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo quanto é baixo com tal fúria , que parece vai a ofender a seus contrários, ou a acudir a algum descuido da natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras e cobre em três horas tudo quanto havia a cobrir nas seis ordinárias de uma maré. Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas, e daí para cima enche em três horas.” (MARQUES, 1970, p. 455).
Prossegue César Marques a descrição da pororoca - não encontrada no texto da “Breve descrição...” abaixo transcrita – como se fosse daquela carta. Como a cópia que tenho, em microfilme, é cópia de outra, conforme consta no final do texto1; é de se supor que no original do Padre Tavares houvesse as explicações citadas:
“Restava agora examinar a causa desta extraordinária vagância das águas, a qual vi, e repetidas vêzes tornei a ver, sem nunca chegar a perceber a sua verdadeira causa. Ocorria-me que o pêso das águas doces pugnando com as salgadas, depois de grandes pugnas, vinha a vencer a fôrça das águas do mar, e com fôrça do receio que tinha tido naquela pugna, rompia naquele extraordinário ímpeto. Porém contra isto está que em muitos, ou em todos os mais rios não faz êstes efeitos, e só são particulares no Estado do Maranhão, onde os há só aqui e nos rios Mearim e Pindaré perto da cidade de S. Luís do Maranhão; e também se diz há uma pequena pororoca no rio Guamá perto da cidade do Pará e nos mais rios nada, nem nos da Europa e outras partes, e só conta a mesma maravilha no Rio Ganges da Índia. Além do que observa-se no curso da dita pororoca que em muitas partes e rios largos sucede correr primeiro uma margem e depois descer pela outra por modo de redemoinho, correndo ao redor quantas canoas encontra, e acabando isto vai surgir mais acima, continuando o mesmo ímpeto com que principiara, de que se convence Ter outra causa êste movimento tão extravagante. Faz um grande estrondo o mar da pororoca, e se ouve em uma légua de distância; comove também os ares em forma que sempre a precede um grande vento comovido dos mares dela.
“Isto é o que observei; deixo a outros o discurso das suas verdadeiras causas”. (p. 455).
Ainda do que consta do Dicionário... de César Marques, no verbete História (p. 372-376), ao relacionar as obras disponíveis do Catálogo dos Manuscritos da Biblioteca Pública Eborence, onde foram colhidas notícias de diversos manuscritos sobre as coisas do Maranhão, encontrando-se entre aqueles uma: “ - Breve descrição das grandes recreações do rio Monim do Maranhão, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, missionário do dito Estado – 7 fôlhas em quarto” (p. 375).
Às páginas 437/448, sob o verbete Maranhão, César Marques passa analisar a etimologia desse nome Maranhão, com base em textos disponíveis e explicações apresentadas. Afirma aquele autor que, para servir de contrapeso às hipóteses de algumas destas pretendidas etimologias:
“... acrescentaremos outra opinião, que se não for a verdadeira terá ao menos o mérito de ser fundada em inéditas indagações sobre a língua brasílica. O Padre João Tavares não escreve na sua carta Maranhão, mas sim Maranhay, do que dá a seguinte satisfação - ...” (p. 437).
1 “Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724. - “Biblioteca Pública Eborence - “Códice CV 1 = 7 = a folha 165”.
Estas são comentários de João Francisco Lisboa, em seus Apontamentos para a história do Maranhão; de um jornal português, Panorama vol. 3, 1939, retirado da obra Maranhão conquistado a Jesus Cristo e à Coroa de Portugal pelos religiosos da Companhia de Jesus; do livro do padre Manoel Rodrigues, Marañon y Amazonas, dentro outros, que reproduzem estes textos (MARQUES, 1970, p. 437)
transcrevendo o que Clóvis Ramos (2001) traz como sendo das páginas 454/455 daquele Dicionário, acima já transcrito ... Ainda à página 438, e ainda referindo-se ao estado do Maranhão, traz que:
“O alegado Padre Tavares, para quem o país era tão familiar, escreveu na carta sobredita o seguinte: ’Dizerem os cronistas que há aqui um rio, que se chama Maranhão, do qual tomou a denominação todo o Estado, é para mim consideração pia, que eles fizeram. E, se não, digamme: onde está esse rio ?’”
Já o sociólogo Rossini CORRÊA (1993), comenta uma carta de João Tavares a um superior seu – seriam as “Breves descrições...” ? -, descrevendo a paisagem da Ilha de São Luís, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão. Afirma que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão, conforme consta das “Breves descrições...”, tecendo os seguintes comentários:
"Como na Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria) antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de diligência em atividade física. Permitiria - na contrapartida da terra de gente excepcional - a alternativa das recreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria etc., considerada a educação do pensamento e do sentimento um fragmento indispensável das recreações. ." (40).
“A afirmativa do padre João Tavares foi riquíssima, porque vaticinou uma permuta - as delícias (da Itália) pelas recreações (do Maranhão). Sociologicamente significativa, haja vista que, na substituição, as delícias européias não terminariam trocadas pelos trabalhos americanos. Ao contrário, o fundamento do intercâmbio seria a validade indicada como vantajosa - a das recreações maranhenses." (p. 39).
OPadrejesuítaJoãoTavares éconsideradoo fundadorda cidade deTutóia - Ma; eranatural doRio de Janeiro, onde teria nascido a 24 de setembro de 1679. Viera para o Maranhão como mestre de Filosofia e Teologia, tendo ensinado também Gramática. Foi Vice-Reitor do Colégio.
Cumprida sua missão, deram-lhe opção de voltar ao Rio de Janeiro, não a aceitando, por amor aos Teremembés. Faleceu em São Luís, em 11 de julho de 1743 – (ou 44, segundo Ramos, 2001).
Os Teremembés dominavam vastas regiões do norte maranhense – região dos Lençóis e Delta do Parnaíba -; o governo manda uma expedição, em 1679, sob o comando de Vital Maciel Parente; encontrando um troço de índios, estes são dizimados – mais de 300. Somente em 1722, se efetuaria a redução desses índios, por obra doPe.JoãoTavares,cognominadoApóstolodosTeremembés. Opróprio padredescreveos costumesdaqueles índios marítimos, definindo-os como “peixes racionais”.
Em 1724, o missionário pediu, e obteve duas léguas de terra e a ilha dos Cajueiros. Teve problemas com fazendeiros – três irmãos e um primo, que a invadiram, para criação de gado – e, não conseguindo resolvê-lo com o Governador – que também tinha interesse na região, retirando índios para seu serviço -, recorreu a ElRei, que deu ganho de causa ao missionário e exigiu que se cumprissem as condições do aldeamento: servir aos brancos nas pastagens degadovacum ecavalaregarantirparaaCoroaa vigilânciadaquelafaixa marítima. O padre comprou os gados introduzidos irregularmente aos fazendeiros.
A missão chamou-se Nossa Senhora da Conceição. Em 1730, contava com 233 índios ainda pagãos, que aprendiam a doutrina.
João Tavares situou a aldeia nas praias dos Lençóis, onde faz barra principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também Canal de Tutóia.
César Marques (1970), no verbete Tutóia, de seu Dicionário..., informa serem os índios Trememés (sic), os mais bem figurados, valentes e prestimosos que tinha a Capitania, segundo o pensar do Governador Gonçalo
Pereira Lobato e Sousa – 1753/1761. Esses índios tinham, em 1727, no tempo do Governador e CapitãoGeneral João da Maia da Gama – 1722/1728 -, duas datas de seis léguas de terra, as quais foram medidas e demarcadas à custa dos mesmos índios. Prossegue:
“Pouco tempo era passado quando das bandas da Parnaíba vieram uns homens que foram situando aí fazendas de gado vacum e cavalar, e sucitando-se questões entre eles, os índios os expeliram, e um jesuíta, que lá vivia em muita intimidade, com o fim de terminar tais pendências, comprou aos seus legítimos donos o gado existente, e de então por diante ficaram os padres da Companhia possuindo como suas as terras destes índios.” (p. 622) (grifos meus).
César Marques não traz João Tavares como o fundador de Tutóia, nem o identifica como o jesuíta que vivia entre os Teremembés - embora fosse conhecido como o Apóstolo desses índios -, o mesmo ocorrendo com CARDOSO (2001)2, que apresenta a descrição dos 217 municípios maranhenses. Às páginas 572-581 traz a descrição de Tutóia, basicamente transcrevendo do que consta no Dicionário de César Marques, não fazendo referência, também, a João Tavares...
João Tavares, padre da Companhia de Jesus, é o autor da “Breve descrição das recreações do Rio Muni do Maranhão, pelo João Tavares da Companhia de Jesus missionário, do dito estado. 1724”. A seguir, transcrição do manuscrito disponível no Arquivo Nacional, Divisão de Manuscritos:
“BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, missionário no dito Estado, ano 1724”.
“São as águas deste Rio tão salutíferas que seis dias purgou com suavidade, a quantas por ele navegamos. Toda a margem deste Rio é de claras areias, em partes descampadas, em parte rendadas em aprazível selva, em partes cobertas de arvoredos copado, em partes cortados de água e lamenta, a que chamam os naturais igarapé, em partes com ribanceiras de altura de dez palmos, de cima das quais desfazem de quando em quando torrentes de frias águas da grossura de um homem encorpado com suave sussurro, a que chamam os naturais tororoma.
“Pelas costas das margens do Rio se levantam grossas árvores entremeadas em parte de vistosas palmeiras entremeadas com as celebres Baunilhas, droga hoje tão apreciada para sal do chocolate, e como rezam; pois é tal a sua graça que não há fera nem aves que a não procure.
“Entre tanto recreativo arvoredo se viu de espaço a espaço umas árvores a que chamam Visgueceyras estas se levantam sobre o mais arvoredo, como para serem vistas, com uma ástea branca, direta, sem algum outro ramo por toda a astea. Querendo armar a copa, cruza dois braços como fez Jacob, sobre eles forma toda a copa maneiras de uma meia laranja com 50 e tantas braças de circuito. Acima desta abóbada não se verá umas folhas mais altas que a outra; o mais curioso jardineiro não tosquiará uma muito mais esfericamente. Não brota fruta alguma pela rama, como o comum das árvores; toda a sua recreativa fruta, esta por baixo da copa, tão igual no comprimento toda pendente, que se pode pegar uma régua pelas extremidades sem que toque com alguma demora, cada fruta terá palmo e meio de comprimento tornando à maneira de bilros de fiar rendas, finíssima sobre o delgado no pé, em grosso proporcionalmente para o meio, torna a abaichar para fazer garganta, inha para fazer cabeça, e a cubra em ponto rombuda.
“O que mais eleva a atenção que depois de tanta coerência, e igualdades do sujeito, se veja tanta incoerência incidentais, por que em uma árvore se vê toda a fruta de verde claro: em outra a fruta cor de carmesim, em outra toda a fruta de verde escuro; em outra toda afruta variada de verde claro, verde escuro e de cor escarlate. Tanto me arrebatava na vista destas árvores que em aparecendo alguma já me chamávamos Soldados para me darem a recreação de a ver em antecipada recompensa das vistas, que ao depois me deva para chorar.
“A largura deste Rio será como de vinte braças, por minha estimativa terá 200 léguas até a nascença. O peixe, as aves, a caça, e o mel, há em grande abundância. Enquanto navegamos, saiam a terra 10, 12, soldados pelas oito horas da manhã, pelas dez damesma manhãos avistamos lavando-se abeirado Rio; tomávamos ali ponta, a bondade de meu Deus.
2 CARDOSO, Manoel Frazão. Tutóia. In O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001, p. 572-582.
“Ali vi porcos monteses, veados de várias castas, antas de tamanho do maior capado, tamanduá uaçú, como uma vitela tatupeba vestido verdadeiramente de armas brancas; ali vi os pobres dos macacos, espretados tão sisudo, como defuntos. Voltei os olhos para as aves e ali vi o Nambyaçú, gênero como de Perdiz comum peito de carne com entrecascas, como cebola em tanta quantidade que debulhamos os entrecascas encheram um prato ordinário. É esta ave mui escassa por falhar, sura 3 vistosa bem armada, voa como a Perdiz, mas a grandeza, que chega a de uma Pavoa, faz que d6e grande baque quando pousa e que não se esconde quando pretende põem 12 ou 15 ovos de azul celeste do tamanho dos da Pavoa; chamo-lhe a gênero como da Perdiz, por ser o maior do qual tenho visto oito espécies de perdizes. Tem o 2º lugar macacauã, o qual canta infortunadamente como o galo, `meia noite formando silabas da maneira que o galo forma quatro. Tem o 3º lugar a perdiz verdadeira assim chamada por ser assim em tudo semelhante a da Europa.
“Segue-se o Namby por antonomasia, cujos ovos são da cor de rosa, impertinentes no falar, e aonde muito ao remedo. Segue o piscoapa que será como uma franga de quatro meses. Segue-se o Nambú pintado de branco, com friso, epéencarnado. Segue-seumaespécie,queagora estandoescrevendofalou juntoaminhachoupana. Fui a o ver, ele se escondeu a erva de sorte que o não cheguei a ver. Disseram-me estes Tapuias que era como uma franga. Segue-se a Tureirina que é como uma rola, a que canta às Avemarias, meia noite e ao amanhecer.
“Ali vi os Mutuns pouco menos de um peru, Huns de crista cor de coturno e penacho negro, e encrespado, outros de crista amarela e penacho; as fêmeas são pintadas de branco, e negro, com lavores como primaveras com penacho crespo, e pintado de branco e preto; metia compaixão ver essa ave morta, se bem que sabe bem dequalquersorteguisado.AliviasJacutingaspoucomenoresqueosMutuns.AliviosJacuminstãoestimados por serem as penas contra o ar, por se demesticarem bem, pela galanteria com que a todos de casa faz festas todas as manhãs pela comparação com que em vendo as galinhas com pintos os furta todas às Mães, e os cria com grande cuidado; no mato dá sinal às 8 horas da noite, a meia noite, e de madrugada. Ali vi o Turu, ave como um franganete, com crista de galo, anda em bandos, cantam juntos a tarde, e de madrugada. Foi o que vi de caças, e aves nesta vez, em outras vezes vi outras castas, perdoando os caçadores as vezes, e caças de menor grandeza, como as pacas, cantam juntos à tarde e de madrugada.
“_______ Pacas, quatis, Acutio, Araras e papagaios prombo, trocas, etc
“Sentei-me a ver aquela benção do Altíssimo, e me esqueci de quantos trabalhos tem esta miserável vida. Vendo-me os soldados absorto, a mim que tenho visto todo sertão desde o Rio de Janeiro até o Maranhão, disseram-me: mais se admirará R. Padre se por aqui viaje quando o Verão oferta mais e faltam águas pelo sertão, e vêm caça e que habitar a beira do Rio. Ferviam os caldeirões e fervia o peixe a comer os fragmentos da cozinha. Lançavam os Soldados uma tripa crua de porco montês dentro da água, e logo pularam e nele vinham e nela vinham pegadas as Piranhas, a duas e a quatro, de sorte que em vinte credos enchiam um cagete de peixe. São estas Piranhas do tamanho, cor e figuram de um panpasso pequeno. As deste rio são gostosas, brancas, de carne alva, e gordura cor de azeite. Chamaram-lhe os naturais piranha, que no seu idioma quer dizer tesouras por que são mui mordazes, e corta o seu dente de sorte que nada agüentará que não tema a piranha.
“Deixo de usufruir o delicioso Manduba, Mandim Açú, ______ leitões da água doce.
“Não é alheio dessa relação, nem de fim dela, dizer que tem esta Ilha do Maranhão a forma de uma cobra em arco, cuja cauda é a ponta de areia onde está até a Fortaleza da barra, e cuja cabeça é aquele negro boqueirão o qual está olhando para a cauda por entre cuja cauda e cabeça entram para o ventre desta Serpente, onde está situada a Cidade do Maranhão: serve de crista postiça a esta cobra a Ilha das Cobras, por entre a qual e o boqueirão tão medonhamente passamos a buscar a terra firme. Esta fazendo ponta em Itaculumin, dá um cerco a aquela cobra de trezentas e tantas léguas na minha estimação até a ponta do Mearim; Meari Itaculumin são duas pontas da grande meia lua que faz a terra firme para dentro deste meia-lua absorvem a cobra, ou Ilha do Maranhão para cujo efeito abre a terra firme set horrorosas bocas dos sete famosos Rios que deságuam ao redor da Ilha do Maranhão: para a parte da cabeça até as costas da cobra lança a terra firme os quatro maiores Rios, convém a saber: Pinaré que para Ter mais força deságua unido com o Meari, Itapecurú, Muni; destes quatro rios não sabemos a nascença ainda dos três primeiros; para a frente do meio da cobra, até a cauda, lança a terra firme três deliciosos rios; convém a saber Tutuaba, Anajatuba, Periá, destes três sabemos as nascenças, mas de nenhum dos sete sabemos os haveres dos seus incultos exteriores. Só sabemos serem habitados por
3 do Tupi, panturrilha (Jairo Ives de Oliveira Pontes, comunicação pessoal)
homens, feras, ferozes; serem de terras pingues cercados para fora de amenas e férteis campinas sobremodo as quais = fluunt Lacte et mele = sem exageração; sertões frios, e por isso sadios.
“O quanto excedem estes sertões no saudável aos do Pará, assim foram seus habitadores mais um pouco macios. Quantas vezes navegando por estes Rios, dizia como magoa do meu coração: ahi! Senhor, não sois aindaservidodepovoanestesRiosdemissões,certosqueseistosechegasse aconseguircomosevaidispondo deixam os Religiosos as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhay.
“TeráVossaReverendíssimareparadonaortografiacom que escrevoapalavra –Maranhay – contra ocomum. Foi de industrias por dar gosto a V.R. que como tão perito na língua Brasílica folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por bocas e por escritos antigos, e sobre nunca assentarem em nada, de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender; Vejam-se os antigos manuscritos da missão. O Padre Bartolomeu Leão da Província do Brasil, reformador do Catecismo da língua Brasílica me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o Padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma Brasílico, soubesse dele o que sentia neste ponto; ambos morreram ignorantes de que aqui quero dizer, e nunca o disseram ser ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhãy: Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-me-ão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe.
“De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay.
“Dizem os cronistas que há aqui um Rio que se chama Maranhon, do qual tomam a denominação todo o Estado é para mim consideração para que ele fizeram. E se não digam-me onde está este Rio ?
“Já que entretive a Relação com estas curiosidades mais próprias para Crônica, quero dizer o que entendo da fundada da pororoca ou causa dela. É de saber que como estas terras são tão rasas visivelmente se se vê a terra abaixando do sertão para o mar, isto se vê sem embaraço de duvidas no Rio Itapecurú pelo qual quem vai navegando vê ao longe terra alta de uma a outra parte. Chega ao lugar em que mascara a terra alta e a vê a rasas como a de donde marcar a tem alta.
“Deste mesmo lugar já demarca outra tem alta, e chegando a dela terra tão baixa ao parecer como o de donde demarcara terra alta, e assim todo o Rio até onde chamam as areias.
“Donde a vir descendo a terra para o Mar de quatro centos e mais léguas. Faz que venham as águas com peso. Para mais peso sobre o Rio Pinaré e Rio Meari; por uma mesma faz, unidos estes dois grandes pesos d’água, acham o mar em que deságuam encanado com meia légua de largura. Por esta meia légua de mar, saírem estes dois Rios Pinaré e Meari, até chegarem e faz, que se forme entre a Ilha dos Caranguejos, e a terra firme. Em quanto a maré vaza tudo vai em paz em a maré enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente que vem do Oceano com a vazante que vem dos ditos Rios, o lugar desta peleja dista da barra dos dois rios com vinte léguas; brigam ali a enchente com a vazante sem a maré passar daquele lugar para diante por esforço de três horas. Nestas três horas torna a enchente força e nas águas vivas torna maior força; Forma grande pé atrás alteia sobre a vazante, a maneira de dois homens que estiveram forcejando peito a peito e um deles vencendo levasse o outro a largo de costas, assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal esturro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés ou três serras d’água lançando para trás a modo de gadelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo o que há com tal fúria a que parece vai a ofender a seus caminhos, ou a acudir a algum da Natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras, e cobrem em três horas tudo quanto havia cobrir nas seis ordinárias de uma maré.
“Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas e daí para cima enche em três horas. Deixada aqui estas notícias, e continuando minha navegação pelo Rio Muni acima. 4
“Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724.
“Biblioteca Pública Eborence “Códice CV 1 = 7 = a folha 165
“Nota: neste doc. Vem sempre escrita “Maranhay” em vez de Maranhão.”
CARDOSO, Manoel Frazão. Tutóia. In O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001, p. 572-582.
CAVALCANTIFILHO,SebastiãoBarbosa.AQUESTÃOJESUÍTICANOMARANHÃOCOLONIAL –1622–1759. São Luís : SIOGE, 1990, p. 36).
CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: o presente de uma arqueologia. São Luís : SIOGE, 1993
MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970.
RAMOS, Clóvis. OS PRIMEIROS JORNAIS DO MARANHÃO – 1821 - 1830. São Luís : SIOGE, 1986; RAMOS, Clóvis. OPINIÃO PÚBLICA MARANHENSE (1831 a 1861). São Luís : SIOGE, 1992.
RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001
SOUZA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís : Fundação Cultural do Maranhão, 1977, p. 5657
Os Autores tomaram conhecimento desse texto de João Tavares quando da elaboração de artigo intitulado “’Pernas para o ar que ninguém é de ferro’- as recreações em São Luís do Maranhão, no período imperial”, estudo segundo colocado do Prêmio “Antônio Lopes” de Pesquisa Histórica, do Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, 1995, quando se referiam aos jornais que se dedicavam ao lazer, instrução, literatura e artes, editados nos primórdios da imprensa maranhense. A primeira referência encontrada foi em Rossini Corrêa, logo depois em Clóvis Ramos; após cerca de 10 (dez) anos de buscas – Biblioteca Pública Benedito Leite, Arquivo Público do Estado do Maranhão, Biblioteca Nacional e no próprio Arquivo Nacional - quando tomou conhecimento da conclusão do levantamento dos manuscritos disponíveis – junho de 2003 – fez nova consulta, dando-se-lhe conta de que havia uma cópia dentre aqueles documentos. Mandaram buscar, então, cópia; adquirida através de suporte em microfilmagem (custo: R$ 40,00), fotocopiada na Biblioteca Pública Benedito Leite (custo: R$ 78,00 !).
4 Comparar este trecho com a descrição em Marques, César, 1970, acima.
INSCRIÇÕES LAPIDARES DE SÃO LUÍS EUGES LIMA
Os sobrados do Bairro da Praia Grande de São Luís e a cidade histórica como um todo, ainda conservam muitas inscrições lapidares em pedra de lioz nos prédios. Veja essa aqui, datada de 1800, quando da inauguração: "Fez edificar esta propriedade o Capitão Antônio José de Souza no anno de 1800". Está localizada na coluna lateral do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão na Rua do Giz, esquina com a Humberto de Campos (antigo beco do Vira-Mundo). Sede do jornal "O Globo " em fins do século XIX.
BREVE HISTÓRIA DA PRAÇA DO PANTEON EUGES
LIMA
Historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM /@eugeslima /eugeslima@gmail.com
A Praça do Panteon, que em 2018 passou por uma ampla reforma, sendo modernizada e revitalizada pelo IPHAN, quando comparada com outras praças seculares de São Luís, é relativamente recente, pois data de meados dos anos de 1950. Porém, já dispõe de certa historicidade. E é para os que transitam e transitaram por ali, uma referência sentimental, social, política e urbana nas últimas décadas, pois está localizada no coração do velho centro de São Luís.
Possui hoje, 25 bustos de ilustres maranhenses, sendo sete novos, inaugurados ano passado, de escritores mais recentes falecidos e de grandes e antigos nomes da nossa literatura, que por alguma razão ou esquecimento, ainda não tinham sidos homenageados. Destaque para Aluísio Azevedo, Celso Magalhães e Sousândrade.
A ideia de se fazer em praça pública um panteon para as ilustres personalidades, que engrandeceram nosso torrão e nossa cultura, seja na política, na arte ou nas letras, não era uma ideia tão nova assim, já tinha sido pensada desde o inicio do século XX e o local escolhido à época foi a Praça Benedito Leite. No entanto, essa ideia nunca foi concretizada nesse logradouro, mas em outro, décadas depois, como veremos a seguir.
O local atual dessa Praça era onde ficava parte do prédio colonial (1797) do antigo quartel do 24 BC, que ocupava toda essa região, desde a Praça do Panteon até o atual prédio do SESC, ladeado pelas Avenidas Gomes de Castro e Silva Maia, estas, erroneamente chamadas por alguns de Praça Deodoro, pois a verdadeira e histórica Praça Deodoro da Fonseca era o quadrilátero defronte a atual Panteon, onde existia um “camelódromo”, antes da recente reforma, que praticamente ligou as duas praças e passaram a chamar de “Complexo Deodoro” (a Deodoro foi completamente descaracterizada, inclusive teve seu histórico coreto removido, pasmem! Não seria tombada...?)
Após a demolição do prédio do quartel nos anos de 1940, construíram no local, mais para o final da área do antigo edifício militar, o prédio da Biblioteca Pública do Estado (1950). Com feições neoclássicas, de cor branca, logo foi apelidado ironicamente pela população de “bolo de noiva”, devido seu formato. Inaugurada na gestão do Governador Sebastião Archer. Então, em meados dos anos de 1950, o Instituto Histórico do Maranhão, retomou a ideia de um Panteon maranhense em praça pública e para isso pensou no espaço vazio gerado com a demolição do prédio do quartel em frente à recém-construída Biblioteca Pública. Segundo o Jornal Pacotilha de 30 de março de 1954, a denominação para nova Praça, “Panteon” e a ideia de reunir nela os bustos dos grandes nomesdanossaliteraturaeintelectualidadedevárias gerações, foisugestãoesolicitação feita à Câmara de Vereadores de São Luís pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e que obteve parecer favorável de n.º 6 da Segunda Comissão permanente em 29 de março de 1954.
Um fato curioso nessa então Sessão do dia 29 de março da Câmara foi que além da aprovação do parecer favorávelàsolicitaçãodedenominaçãodaPraçafeitopelo IHGM,osvereadores,aprovaramtambém o projeto de lei de n.º 11, de autoria do vereador Walter Bessa, onde fez a doação do terreno da Praça ao Instituto. Isso demonstraa importância dopapel do IHGM no surgimento, denominação eidealizaçãodesselogradouro.Ano passado, foi instalado uma placa nessa praça em reconhecimento ao Instituto (pesquisa nossa /2018).
O inicio da construção da Praça foi sendo feita aos poucos e os bustos, também foram sendo colocados um a um, ao longo do tempo, inicialmente por iniciativa do IHGM, AML, familiares das personalidades homenageadaseporintelectuaisacadêmicosquefaziampartedessasagremiaçõescientífico-culturais.APraça teve origem na gestão do Prefeito Carlos Vasconcelos, que em 1955, um ano depois de sua criação, deu início às obras de pavimentação e ajardinamento, feito pelo paisagista João Figueredo. Já na gestão do Prefeito seguinte, José de Ribamar Waquim, foram instalados bancos e pela primeira vez em São Luís, postes com lâmpadas fluorescentes.
Os primeiros bustos a serem inaugurados, foram os de Artur Azevedo (1954), Raimundo Correia (1954), este, de inciativa do IHGM, cujo pedestal foi patrocinado pelo Dr. Odilon Soares, médico, político e sócio do Instituto Histórico. Seguido pelos bustos de Dunshee de Abranches (1958) e Nascimento de Moraes, inaugurado em 19 de março de 1959, por iniciativa da AML. Nos anos e décadas seguintes, bustos foram sendo inaugurados e transferidos de outros logradouros da cidade para compor o Panteon da Praça.
TESTANDO O CHAT GPT
JOAQUIM HEICKEL
Pedi a dois amigos, um com tendência socialista e o outro de tendência liberal, que usassem suas contas no Chat GPT para fazerem, cada um, um artigo sobre a política brasileira atual, usando referências do livro O Príncipe, de Maquiavel, citando os ensinamentos de alguns capítulos desse livro como por exemplo o XVII e o XVIII, comparando Lula e Bolsonaro e as práticas políticas vivenciadas por eles.
Veja alguns fragmentos do artigo encomendado ao Chat GPT por meu amigo socialista:
“A política brasileira tem sido objeto de intensa discussão tanto internamente quanto no exterior. Desde a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, o Brasil tem vivido uma intensa polarização política que tem gerado muita controvérsia e intensos debates sobre o futuro do país.
Para entender melhor o cenário político da atualidade, podemos recorrer ao livro "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel, que contém ensinamentos importantes sobre liderança e governança.
Nocapítulo XVII, Maquiavel abordaaimportância dacrueldade em certas circunstânciaspara manter opoder. Ele argumenta que, em certos casos, a crueldade é necessária para evitar que ações futuras sejam implementadas. No entanto, essa crueldade deve ser aplicada de forma calculada e limitada, para não causar revolta na população. Esse ensinamento pode ser aplicado a políticos como Bolsonaro, que tem adotado uma postura autoritária e agressiva em relação a opositores políticos e minorias, o que pode gerar revolta na população e colocar em risco a governança.
Por outro lado, Lula tem adotado uma abordagem mais conciliadora e pragmática em relação à política. Anteriormente, ele teve um governo marcado pela realização de políticas sociais, o que o tornou popular entre as classes mais pobres.
No capítulo XVIII de "O Príncipe", Maquiavel discute a importância da astúcia e da habilidade política para manter o poder. Ele argumenta que é necessário saber quando ser generoso e quando ser cruel, quando ser honesto e quando ser mentiroso.
Pelo que se viu Bolsonaro ficou reprovado neste quesito, pois demonstrou não ter inteligência emocional, astúcia ou habilidade em seus relacionamentos, políticos ou mesmo pessoais.
Em contraste, Lula tem sido elogiado por suas habilidades políticas, ele é conhecido por sua capacidade de mobilizar e unir diferentes grupos em torno de uma causa.
No artigo encomendado pelo meu amigo liberal ao mesmo chat, as coisas acontecem um pouco diferente:
A grande polarização política do Brasil tem sido intensamente discutida não só no âmbito interno, como também externamente. Desde 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, o Brasil tem se tornado uma espécie balão de ensaio dessa tendência de extrema polarização que se alastra pelo mundo.
Passados 35 anos da promulgação da Constituição Brasileira e quase o mesmo tempo da queda do Muro de Berlim, que simboliza efetivamente a queda do poder soviético no leste europeu e o fim da guerra fria, fatores que pautavam filosófica e ideologicamente grande parte da humanidade, experimentou um renascer das ideias liberais, no Brasil embasadas por 24 anos de governos de esquerda, 8 anos do PSDB e 16 anos doPTe PMDB. Podemos usar um velho livro, publicado a exatos 510 anos, "O Príncipe", de Maquiavel, para tentar aprender com seus ensinamentos coisas importantes sobre como se formam e se mantém ou se perdem as lideranças. Escolhemos dois nomes para comparar: O ex-presidente Bolsonaro e o atual e novamente presidente Lula. No capítulo XVII de O Príncipe, Maquiavel pergunta ao leitor o que é mais importante, se ser amado por suas bondades ou se ser temido por suas maldades, e demonstra que o mais importante é ser amado por uns e ser temido por outros. A pergunta que fazemos é quem entre Lula e Bolsonaro pratica com mais eficiência tal preceito.
Tanto Bolsonaro quanto Lula são seguidores de Maquiavel, mas Lula parece levar vantagem por também ser seguidor de Gramsci, e Bolsonaro fica em desvantagem por não seguir a ninguém.
Já no capítulo XVIII de O príncipe, Maquiavel trata da importância politica de ser astuto e habilidoso, para se manter no poder, dosando amor e medo como combustível que movimenta as engrenagens deste mesmo poder.”
Moral da história. Ficou claro para mim que a inteligência artificial que controla o Chat GPT é extraordinária, mas também ficou claro que ela depende de dois universos. Aquele no qual o seu interlocutor está imerso e no universo no qual está contido o próprio Chat GPT, a base de dados a que ele tem acesso. Ou seja, o produto resultante do trabalho do Chat GPT terá sempre o DNA do interlocutor e o DNA da plataforma a qual ele pertence, o que não deixa de ser um grande perigo.
PS: No início desta semana uma grande quantidade de importantes personalidades ligas a área tecnológica, pediram que haja uma contenção na expansão das inteligências artificiais, pois acreditam que elas sejam inseguras e possam ficar incontroláveis.
SÃO LUÍS, BELEZAS E CONTRADIÇÕES DE UMA METRÓPOLE NONATO REIS
“A primeira imagem que tenho de São Luís remete aos anos 60. Eu era uma criança e viajava de Viana para cá a bordo de uma lancha, a Iara. Ao passar no Boqueirão, aquele canal que fica entre duas ilhas, nas proximidades do Porto do Itaqui, e a cidade se descortinar ao longe, o meu avô, que me acompanhava naquela viagem, apontou o dedo para uma mancha cinzenta, que se destacava naquele aglomerado de manchas menores, e disse. “Está vendo aquilo? É um enorme edifício. Ali ficam os estúdios da Rádio Difusora”.
Aquilo pra mim foi como ingressar em um mundo de encantamento. Naquela época de isolamento, marcada pelaluzdoquerosene,orádioeoscorreioseramosúnicosmeiosdecontatocomomundoexterno.Dormíamos e acordávamos com o rádio, sintonizados na Difusora. Logo cedo, às 5 da manhã, despertávamos com o Bom Dia Compadre, e seguíamos com o Quem Manda é Você, do lendário Zé Branco, um dos programas de maior longevidade no rádio maranhense.
E depois, às 11h55, com duração de apenas cinco minutos, era levado ao ar aquilo que considero a melhor coisa que já se produziu no rádio AM do Maranhão, o editorial “A Difusora Opina”, em que a emissora se posicionava sobre algum assunto de interesse local ou de abrangência estadual e até nacional.
Escrito pelo poeta e escritor Bernardo Coelho de Almeida e apresentado por Fernando Souza, A Difusora Opina era um primor de técnica e de conteúdo, um casamento perfeito de texto e de som. E foi por meio de A Difusora Opina que a cidade me foi apresentada em sua integridade, com seus acertos e contradições. O olhar crítico que tenho hoje sobre São Luís devo, em parte a esse programa, e também ao exercício da profissão de jornalista.
Daquelacidadequemeencantounoiníciodosanos60,paraestaemquevivemosatualmente,háumadistância enorme. Aquela era apenas uma província espremida em seus contornos históricos. A São Luís de hoje é uma metrópole com mais de 1 milhão de habitantes, e um feixe de problemas imensos.
Apesar da alma belíssima que ainda conserva, seja na arquitetura de seus sobrados históricos, seja na obra de artistas ilustres que passaram por ela, São Luís é uma cidade que se expandiu sem levar em conta qualquer noção de planejamento.
Isto se deve a um conjunto de gestões ineptas, que se limitaram a tocar a máquina pública e a fazer pequenas intervenções na paisagem urbana. Não houve a preocupação em projetar a cidade, levando-se em conta as demandas do presente e do futuro.
Creio que a maior contribuição que posso dar para esta cidade, como detentor de um título de cidadania, é manteravisãocríticaque norteiaaminhavidaprofissional.SãoLuísprecisadegestores comvisãoestratégica, que a preparem para suportar as suas enormes demandas. Também precisa de cidadãos conscientes, que a tratem com zelo, e pressionam as instituições para que cumpram com suas obrigações".
FORTE DA VERA CRUZ DO ITAPECURU ou FORTE DO CALVÁRIO.
RAMSÉS DE SOUSA SILVA
Situado na margem esquerda da ribeira do Itapecuru, onde hoje está a cidade de Rosário.
Foi construído por volta de 1620, no contexto da expulsão dos franceses do Maranhão, a mando de Bento Maciel Parente, que disputava com Pedro Teixeira o governo da Capitania. Ambos tiveram muita importância sobre a manutenção do território brasileiro à oeste, guerreando com franceses, neerlandeses e ingleses na região amazônica.
Inicialmente foi usado como proteção dos engenhos de cana de açúcar no vale do Itapecuru contra o ataque de indígenas. Mais tarde, durante a invasão holandesa, foi tomado por estes contra os próprios lusitanos. Após sua expulsão, foi retomado e ampliado pelos portugueses.
É tombado pelo Iphan desde 2009 mas, apesar de sua importância na História do Brasil no contexto das invasões francesas e holandesas, permanece em ruínas.
SÍTIO PARAÍSO - SÃO LUÍS (SÉC. XIX)
Ramssés De Souza Silva
Situava-se junto ao antigo Caminho Grande, vizinho ao Sítio Veneza, onde hoje, aproximadamente, se acha o trecho da Academia Castelo Branco até o Hospital da Criança.
Encontramos já registros de sua construção nos periódicos da primeira metade do séc. XIX. Pertenceu, entre outros, ao comerciante português Luís Manoel Fernandes, sogro do cônsul português no Maranhão Fran Paxeco. Ambos são, respectivamente, bisavô e avô de Rosa Machado, sócia correspondente do IHGM. No alpendre da sede do sítio, achavam-se 4 bustos de filósofos gregos e duas "pinhas" ou romãs maçônicas. Infelizmente, nada restou desta bela construção.
Foto: Acervo do IPHAN
(8)
Jerônimo de Albuquerque Maranhão, foi o lider da conquista do Maranhão dos franceses em 1614. Filho do nobre português Jerônimo de Albuquerque e da princesa indígena pernambucana Muyrã Ubi, batizada como Maria do Espírito Santo Arcoverde, sua primeira atuação destacada ocorreu quando, à frente de uma companhiaquelhe foientreguepelo Capitão-mordePernambuco,Manuel Mascarenhas Homem, empreendeu a reconquista da Capitania do Rio Grande (atual estado brasileiro do Rio Grande do Norte) - que fora invadida pelos franceses - onde ele viria a fundar a cidade de Natal (1599).
Por conta desse feito, foi-lhe atribuído o título de fidalgo. Em 17 de junho de 1614, foi nomeado "capitão da conquista do Maranhão", região que então se achava sob o domínio dos franceses, que nela haviam erigido o forte São Luís e instalado uma colônia - a França Equinocial. Para cumprir a missão que lhe fora confiada, Jerônimo preparou navios, acumulou armas e munições, e recrutou homens, inclusive esvaziando as prisões. Com uma força de cerca de 240 portugueses 30 marinheiros e menos de 100 índios, derrotou a força francesa de 200 soldados, 2500 índios. Por ter expulsado os franceses do território brasileiro, recebeu o sobrenome "Maranhão" do Rei Filipe III de Espanha.
Estes os versos de Bento Teixeira, escritos em 1601, apresentam dois enormes desafios aos portugueses que iniciavam a ocupação e conquista do Norte do futuro Brasil na virada do século XVI para o XVII. Primeiro, a cristianização dos índios e em segundo lugar, fazia-se necessário “acossar o francês”, “com o rigor da tesa lança”, expulsando-o da região.
Para realização dessas duas tarefas, o envolvimento dos pioneiros da família Albuquerque foi fundamental. Um de seus membros mais notórios foi Jerônimo de Albuquerque (1548-1618), que depois juntou Maranhão a seu sobrenome.
Seu pai, também Jerônimo de Albuquerque, chegou ao Brasil em 1535,com a irmã, que era a esposa de Duarte Coelho, o donatário da capitania de Pernambuco. Auxiliou o cunhado, enquanto ele estabelecia as bases de sua propriedade, fundando Igaraçu e Olinda. Substituiu-o depois de sua morte, em 1554, como capitão-mor, até a chegada de seu sobrinho, o segundo donatário. Ajudou, mais tarde, o terceiro donatário ainda no período difícil do início da ocupação de novas terras. Permaneceu o resto de sua vida no Brasil.
O PRIMEIRO COMANDANTE NAVAL DO BRASIL
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Ele combateu índios hostis e franceses invasores, liderando naturais da terra e portugueses. Falava fluentemente o tupi, sualínguadeinfância, eo português, compreendendoclaramente as duas culturas; era alguém,portanto, capaz de conectar mundos distintos.
“O mameluco Jerônimo de Albuquerque, devidamente perfilhado, filho da princesinha índia, como se dizia de Maria Arcoverde, foi
daqueles que se aportuguesaram completamente, ao menos nos fatos públicos da vida”. A experiência inicial, ele obteve acompanhando seu pai nos combates, principalmente contra índios inimigos. Por determinação paterna, casou-se com Felipa de Melo.
Jerônimo de Albuquerque obteve o auxílio de índios, antes um obstáculo à presença lusa na região Norte, em favor da coroa. O “brasileiro”, em uma ação pioneira, comandou uma força naval e teve participação relevante na expulsão de invasores franceses. A partir da aplicação do Poder Naval, foi capaz de assegurar aos portugueses o domínio do Norte do futuro Brasil, permitindo que essa área fosse incorporada à atual configuração do Território Brasileiro. O mérito da conquista e da vitória “tão digna de memória” sobre os invasores fez com que Jerônimo de Albuquerque acrescentasse em seu sobrenome “Maranhão”, vinculando sua própria identidade à terra que, “a custa do seu sangue e fazendas”, defendeu" Fonte: Artigo, Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão.
INVASÃO DE CORSÁRIOS FRANCESES NO MARANHÃO SETECENTISTA
EUGES LIMA
Em 1798, São Luís e o Maranhão experimentaram um período de grande prosperidade econômica, advinda da criaçãoda Companhia Geral doComércio do Grão-Paráe Maranhão, criada em 1755pelo Marquês de Pombal com a finalidade de fomentar o desenvolvimento econômico da região norte do Brasil colonial com a introdução em massa de mão de obra escravizada africana. No ano anterior (1797), foram introduzidos no Maranhão1854 escravizadosdaÁfrica.Aexportaçãodoalgodão,arrozecourama,chegouaumvalorsuperior a mil contos.
No ano de 1798, a capitania do Maranhão possuía 78.860 habitantes, sendo mais de 42 mil livres e mais de 36 mil escravizados. Portanto, com um grande contingente populacional de escravizados, cerca de mais de 40%.
Esse período, também foi marcado do ponto de vista sanitário por uma grande epidemia de varíola que durou mais de um ano e matou mais de 4 mil pessoas, entre 1798/1799.
Em meio a esse contexto, queríamos destacar um episódio em particular pouco conhecido da nossa história. A invasão de águas maranhenses por corsários franceses, oriundos de Caiena, em fins do século XVIII, onde aprisionaram várias embarcações no litoral maranhense, “tornando-se notável a presa da sumaca N. S. do Livramento, feita na baia de S. Marcos, no dia no dia 8 de janeiro de 1798.”
CORONEL JOAQUIM RIBEIRO DA SILVA - A PRIMEIRA INVASÃO DAS FRECHEIRAS
DA LAMA (Série Balaiada)
Em agosto de 1839, uma tropa militar cearense sob o comando do coronel Joaquim Ribeiro da Silva, invadiu a povoação das Frecheiras (termo da Parnaíba) com a incumbência de prender os líderes Balaios, Domingos Ferreira de Veras, José Alves Ferreira de Veras (pai de Domingos), José Benedito Ferreira de Veras e Antônio de Almeida Portugal (cunhado de Domingos). Domingos Ferreira de Veras e José Alves Ferreira de Veras (homem de idade avançada) conseguiram escapar, fugindo para o território de Granja, província do Ceará, onde se refugiaram na fazenda do coronel João Porfírio da Motta; a povoação das Frecheiras, porém, foi saqueada pelas forças do coronel Joaquim Ribeiro da Silva. As casas foram destruídas (incendiadas) e os bens dos “FerreiradeVeras”(louças, roupas, ouroeprata)foram levados pelos soldadoscearenses, como “despojos de guerra”.
Por João Bosco Gaspar. (Imagem: retrato do coronel Joaquim Ribeiro da Silva. Pintura óleo sobre tela em tamanho natural pertencente ao Museu Dom José, Sobral-CE).
Por João Bosco Gaspar
FLAVIOMIRO MENDONÇA
O mapa da Ilha de São Luís de 1820 é a prova definitiva de que o Sítio Tamancão REALMENTE pertencia a Ana Jansen e seu marido, o tenente coronel Isidoro.
"Comparando um mapa de 1820 com o atual, apontando antigos caminhos que viraram ruas e avenidas. Observe a Av. Moçambique, no Anjo da Guarda (Tapicuraiba), ligando até às proximidades do Colégio Cruzeiro do Sul (Terras do Coronel Isidoro, esposo de Ana Jansen), na Vila Ariri. De lá seguia até o Alto da Esperança. A curva do Mangueirão, no Alto da Esperança, foi representada de tamanho capricho!"
SÍTIO TAMANCÃO - SÃO LUÍS (SÉC. XIX)
:
DE ALCOBAÇA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL. O CORONEL ISIDORO
RODRIGUES PEREIRA E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS, ECONÓMICAS E POLÍTICAS NO MARANHÃO COLONIAL ENTRE 1775 E 1825
Leonel Fadigas
(56) De Alcobaça a Independência do Brasil. O coronel Isidoro Rodrigues Pereira e as transformações sociais, económicas e políticas no Maranhão colonial entre 1775 e 1825 | Leonel Fadigas - Academia.edu
2021, De Alcobaça a Independência do Brasil. O coronel Isidoro Rodrigues Pereira e as transformações sociais, económicas e políticas no Maranhão colonial entre 1775 e 1825
A vida aventurosa do coronel Isidoro Rodrigues Pereira, negociante, grande proprietário de fazendas e pessoa influente na vida de São Luís do Maranhão, está intimamente ligada à história da colonização do Brasil, e nomeadamente dos territórios do nordeste e da bacia do Amazonas, de meados do século XVIII até à independênciadoBrasil.Proprietáriodeterras,negociante,coroneldecavalariadoregimentodeCaxias,vereador epresidentedaCâmaradeSãoLuísdoMaranhãonoperíodoconturbadoemquedecorreuaadesãodoMaranhão ao Brasil independente, a sua vida não passou ao lado das paixões amorosas que dão sentido à vida. A necessidade de ocupar e colonizar aqueles territórios e ter neles uma presença permanente para deles tomar posse não se justificava, nem Portugal tinha condições para alargar a África um modelo de colonização idêntico ao que aplicara no Brasil. Muito especialmente a partir da perda da influência portuguesa na Índia e no Oriente após a perda da independência em 1580. Ao mesmo tempo aquelas feitorias acabaram por se revelar determinantes para o comércio de escravos que ali chegavam vindos do interior onde eram capturados pelas autoridades locais que, deste modo, se constituíam como parte importante do negócio. Contrariamente ao que muitas se procura esquecer, a escravatura usada pelos europeus como comércio e exploração desumana de mão-de-obra só foi possível com a conivência ativa de muitos chefes africanos. A chegada de Isidoro Rodrigues PereiraaoMaranhão,em1779,aconteceunummomentodeexpansãoeconómica,quandoainda sefaziam sentir ainda em sentir de forma evidente os efeitos da ação da Companhia Geral do Comércio e Grão-Pará e Maranhão, extinta no ano anterior. O seu percurso de vida e de intervenção social de Isidoro Rodrigues Pereira a partir do registo de acontecimentos em que esteve envolvido, dos textos que escreveu e publicou, de cartas familiares, do seu testamento e muitos documentos que o tempo preservou é a linha orientador deste livro, escrito quase dois séculos depois da sua morte.
Elpídio Pereira, nasceu em Caxias no ano de 1872. Iniciou seus estudos de violino em sua cidade natal. Na época, compôs pequenas peças, preservadas no álbum que está hoje no Museu dos Teatros do Rio de Janeiro. Foi estudar em Paris por três vezes. Entre 1890 a 1892, com apoio de seu pai, e de 1898 a 1903, com subsídios do governo do Amazonas, estudou com Domenico Ferroni. Entre 1913 e 1916, com bolsa do governo Federal, foi estudar com Paul Vidal. Foi residir em definitivo no Rio de Janeiro em 1904. Em seus retornos ao Brasil, organizou concertos com suas obras em Manaus, Belém, São Luís, Caxias, Teresina, Recife e Rio de Janeiro. Em 1916, seu bailado “Les Pommes du Voisin” foi interpretado por 76 vezes no Theátre de la Gaité Lyrique, em Paris, sendo sua obra de maior repercussão. Como sempre passou por dificuldades financeiras, solicitou trabalho no Consulado Geral do Brasil em Paris, assumindo esse cargo em 1921. A partir de então, nunca mais compôs, mas manteve-se ativo na vida musical, tornando-se próximo da pianista Magdalena Tagliaferro (1893-1986). Em 1930, foi reconduzido para o Consulado de Londres. Dez anos depois, aposentou-se, indo residir em Mendes, no Rio de Janeiro. Faleceu em 1961.
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REFERÊNCIAS:
Cerqueira, Daniel Lemos. Piano Maranhense Partituras: Livro 1 Solo / Daniel Lemos Cerqueira.
São Luís: Edição do autor, 2019.
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DEMISSÃO DE RENATO GALVÃO DE CALDAS KENARDKRUELFAGUNDES
- O jornal O Combate (MA), de 24 de abril de 1950, página 2, publicou: “Ato arbitrário de iniqua perseguição - A demissão do sr. Renato Galvão de Caldas do tabelionato de Tutóia -Tutóia, 17 (Do correspondente).Porato dogovernadordoEstado,acabadeserdemitidodo cargodesegundo tabelião público - desta comarca, o nosso conterrâneo Renato Galvão de Caldas, há cerca de treze anos vinha exercendo aquelas funções com elevado espírito de justiça e capacidade. O ato do sr. governador do Estado repercutiu de maneira desairosa no seio da comunidade tutoiense, onde o sr. Renato Galvão de Caldas goza de elevado conceito pelas qualidades honestas e disciplinares.
O sr. Renato Galvão de Caldas, que fora nomeado na interventoria do Dr. Paulo Ramos, além de contar mais de 10 anos de ininterruptos serviços prestados, já contava mais de cinco anos de serviço na época em que foi promulgada a Constituição Federal, tendo sido, portanto, beneficiado pelos Atos das Disposições Transitórias, acrescendo, ainda, a circunstância do ex-tabelião haver se submetido às provas de habilitação, há quase dois anos, para efeito de estabilidade, provas estas que se acham dormindo por cima das carteiras do Palácio dos Leões.
A demissão injusta do sr. Renato Galvão de Caldas prende-se ao fato do mesmo pertencer a um partido de oposição e não haver se sujeitado às ordens dos vitorinistas que têm como espiões e malfeitores os srs. Lucas Cardoso Véras, presidente das perseguições, e o Dr. Olivar Leite, promotor público e ajudante de ordens. Assim, o prefeito municipal de Tutóia, vem prestando inestimáveis serviços à coletividade da terra dele, roubando a tranquilidade de uns e o pão de cada dia de outros, como aconteceu com o sr. Renato Galvão de Caldas que, além de ser um chefe de família, poderia gozar da estabilidade que lhe assegura a Constituição e até mesmo os Estatutos dos Funcionários Públicos, pois vinha exercendo as funções de tabelião há mais de dez anos.
Para o cargo de 2 tabelião público , foi nomeado o inesperiente e leigo garoto, sobrinho do sr. Lucas Cardoso Véras, concludente da 2 série do curso ginasial do Colégio do Colégio do Estado, Raimundo Nonato Véras.
FERNANDO BRAGA
José Gonçalves da Silva [Grajaú, Maranhão, 27 de maio de 1903 – 10 de abril de 1976] usava o pseudônimo de Amaral Raposo, e era, o que pode dizer, com todas as letras, um sujeito extraordinário. Diz a Wikipédia no verbete dedicado a ele: “Amaral Raposo foi um jornalista que primava pelo rigor às normas gramaticais da línguaportuguesa. Em seus textos, amaioriade cunhosatíricoe crítico, anormaculta prevalecia. Nas palavras do professor Sebastião Jorge: “Não tolerava escorregões, nem pequenos deslizes por parte daqueles que se aventuravam em fazer acrobacias na superfície imaculada de uma página de jornal ou de um livro”. Honroume com sua amizade, ensinou-me muitas coisas, me divertiu com suas histórias e me fez ouvir muita canções bonitas [músicas e versos seus] acompanhados pelos acordes que magicamente produzia em seu violão, companheiro inseparável de memoráveis serestas.
Fernando Viana [escritor, médico e político maranhense] que tinha dentro do coração Amaral Raposo como seu heterônimo, quando foi estudar Medicina na Bahia o levou a tiracolo, como companhia. Enquanto Fernando Viana estudava, o nosso Amaral tratou de arranjar um “bico” no jornal “Correio da Tarde” para pagar a pensão. Às noites Fernando Viana envolvido com grossos volumes de Histologia, Anatomia, etc. o Amaral dedilhava o doce e saudoso violão para deleitar o amigo. E assim foram os seis anos da formação do querido companheiro na cidade do Salvador. Um belo dia, Fernando Viana, mandou para o próprio jornal em que o Amaral trabalhava o seguinte soneto que era um perfil irretocável do seu querido amigo:
“Mistura de filósofo e de cético, / na completa inversão de um dom Donzel. / É um gozo vê-lo, súbito, apopléctico, / sobre os doces de a vida pingar fel. / Tendo horror ao grotesco, a que cruel, / pulveriza sem dó – seu senso estético/ ora, fá-lo vestir-se qual Brummel; / ora, impõe-lhe um desleixo ultra-sintético. / Poeta, de um lirismo que comove. / Tem olhos tumefactos, que nos dão/ a lembrança do Mal de Basedow. / Boêmio de nascença e profissão, / É-lhe a prova, mais certa que as do nove, / um cigarro, uma cana e um violão”.
Amaral Raposo, ou simplesmente Zeca foi eleito para a Cadeira nº 37 da Academia Maranhense de Letras, patroneada pelo poeta Inácio Xavier de Carvalho, vaga, por ironia, com o falecimento do Dr. Luís Viana, irmão de Fernando Viana e também médico. Amaral Raposo espalhou pela cidade que iria fazer um discurso de posse sem verbo. Os que acreditavam em Amaral Raposo estavam certos de que o velho mestre seria capaz de tal façanha, apesar de o verbo ser o ponto de ligação entre as orações; sem a presença do verbo se torna muito difícil à comunicação, mas ele nos dizia que era possível; outros duvidavam daquela proeza.
AMARAL RAPOSO, UMA LEGENDA
E de fato aconteceu... Em certa altura, na peroração discursiva, Amaral Raposo num rasgo, justifica a proeza da tal oração sem verbo:
“Feita esta breve digressão, quero, ainda, salientar um episódio, cuja referência me parece oportuna. É que eu, tempos há, em palestra informal com amigos, tinha dito que faria meu discurso de posse, inteiramente sem verbos. E – adiantei – para substituir uma individualidade excepcional como Luís Viana, algo de excepcional se me afigurava mister igualmente realizar.
Ouviu-me dizer isso o jovem e conhecido cronista Benedito Buzar, e, bom profissional que o é, registrou o fato por mais de uma ocasião, em seu jornal.
Asnotíciasnãocorrem;voam.Assim,semdemora,atéaimprensadaGuanabaracomentou,comantecedência, o discurso que eu iria pronunciar, anunciado, aliás, por mim, e, por simples blague, numa ligeira palestra de bar.
Em tais circunstâncias, já agora que sou compelido a cumprir, embora em parte, a promessa, ou a empresa a que me aventurei, bem inadvertidamente.
Consegui-lo-ei? Dir-no-lo-á, depois vosso julgamento, Senhores Acadêmicos: (1)
Eis o texto sem verbo:
“Onde, agora, os elementos essenciais à consecução da meta em pauta? Ante o fulgor sideral da personalidade de Luís Viana, surpreendente de ilustração e de cultura, onde em mim, a energia espiritual, a força de análise, os recursosdeintuição, e, ainda,os documentos imprescindíveis aoestudo e àcríticaparao elogiodo vitorioso didata?
Onde, em mim, a esta altura de uma existência, sem brilho e sem relevo, portador de um coração já deserto de impulsos criadores e de uma alma já órfã de esperanças, de idealismo e de sonho, a conquista dos clarões mentais, indispensavelmente necessários ao exame de tão preclaro representante da capacidade científica maranhense, das vitórias literárias maranhenses, dos triunfos poéticos maranhenses, sobretudo da extraordinária vocação pedagógica do insigne conterrâneo, tão viva e palpitante, entre as cogitações desse grande vencedor de mil batalhas, nos altiplanos da erudição e da sabedoria?
Por isso mesmo, para quem as solenidades desta noite? Para quem esta reunião dos mais categorizados expoentes do nosso romance, do nosso periodismo, de nossa poesia, de nosso teatro, de todas essas multifárias eluminosasatividades,presentes,sempre,naselevadaspreocupaçõesdoshomensdepensamentoedecultura?
Acaso por minha causa, acaso para mim, obscuro combatente de campanhas sem vitórias, pó mim, vaga figura sem projeção e sem nome. Além das fronteiras provincianas de nossa terra? Certo de que não. Para quem esta honra grandiosa, tão repleta de beleza espiritual, de encantamento e de sonho? Para mim, para a inútil insignificância do meu nada?
Não ainda, para quem, pois, a homenagem? Para Luís Viana, para o infatigável mestre de sucessivas gerações, para o professor do Instituto de Manguinhos, para o belo cronista de “O Estado de São Paulo”, para o diretor daInstruçãoPúblicadaParaíba,paraocatedráticodeHistóriaNaturaldoLiceuMaranhense;e,num crescendo
(2) incessantemente de funções e de cargos, cada qual mais à altura de nossos louvores, de nossa admiração e de nosso respeito? Para o diretor do Liceu Maranhense, para o idealista e o pioneiro da Escola Normal do Maranhão, para o fundador, logo depois, do colégio de “São Luís”, essa tradicional fonte de educação moral e cívica de nossa mocidade estudiosa”.
(1) Notas de Amaral Raposo: Conseguiu, pois, a oração fazê-la sem verbo?
(2) Crescendo, no caso, é substantivo. Dizem os dicionários: s.m progressão, gradação.
*Fernando Braga, in ‘Toda prosa’ antologia de textos do autor.
Ilustração: Reprodução fotográfica do jornalista Amaral Raposo.
VINHAIS VELHO, PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX, SÃO LUÍS-MA
O Vinhais Velho é um bairro de São Luís conhecido pela sua importância histórico-cultural, em razão do sítio arquelógico existente na região, é um lugar marcado pela presença dos indígenas tupinambás, franceses e jesuítas que deixaram seus rastros.
Merece destaque a Igreja de São João Batista e seu entorno: o cemitério, os antigos poços e o cais do porto que foi a única porta de entrada do bairro até meados de década de 1960-1970.
Essa fotografia é muito rara e interessante, não se tem a data, não se tem detalhes na legenda. Podemos ver uma área verde e uma casa daquelas que lembra povoados do interior e de outros lugares da ilha. O incrível é que esse tipo de residência ainda existe, quase da mesma forma, um tipo de saber que se passou por gerações e gerações.
Talvez, essa fotografia pode pertencer a alguma pesquisa de campo empreendida por Raimundo Lopes ou alguém influenciado pela obra do intelectual vianense a procurar do vestígios dos antigos indígenas e dos europeus que viveram no local.
- Arquivo Geral do @iphangovbr
HISTÓRIA DO VINHAIS VELHO É PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DO MARANHÃO
Em sessão extraordinária a Assembleia Legislativa aprovou por unanimidade o Projeto de Lei nº 140/2014, que considera Patrimônio Cultural Imaterial do Maranhão a história do bairro Vinhais Velho, em São Luís, por iniciativa do Deputado Bira do Pindaré (PSB). Agora o Projeto vai à redação final.
De acordo com o Deputado Bira do Pindaré, todo o patrimônio do bairro se encontra ameaçado pela construção da ‘Via Expressa’, que vem sendo realizada pelo Governo do Estado. Uma parte do traçado da Avenida em construção passa pelo antigo bairro e pode destruir o patrimônio histórico e arqueológico existente no local.
“Nesse sentido, essa iniciativa legislativa possui como objetivo proteger a memória da cidade de São Luís como o reconhecimento dos monumentos históricos e arqueológicos existente no Vinhais Velho como Patrimônio Cultural Imaterial do Maranhão”, afirmou o parlamentar.
Bira do Pindaré diz ainda que, reconhecer o bairro Vinhais Velho como Patrimônio Imaterial é muito importante, até para a referência do povo, “uma vez que, por ser uma das comunidades mais antigas do Maranhão, compõe nossa história, a nossa identidade”.
HISTÓRIA
O Vinhais Velho de São Luís é, segundo os historiadores, o bairro mais antigo do Maranhão. Foi ali que se verificou a primeira aprovação europeia no Brasil Setentrional. A sua aprovação remonta a meados de 1.500 quando ali habitava a tribo indígena ‘Tupinambá’ que, em 1.612 recebeu os franceses.
A Aldeia de Uçaguaba – Eaussoup – que ficava na região onde está localizado o atual Vinhais Velho, já existia, e era uma das maiores da Ilha. Quando do estabelecimento dos franceses da armada de Daniel de LaTouche, registra-se que DePiseux, ali se estabeleceu com a maior parte dos franceses e que já era conhecida como residência de David Migan, corsário de Dieppe, que aqui negociava como proposto, provavelmente do capitão Gerard ou mesmo de Riffault. Depois, ocupada pelas sucessivas turmas de padres – a começar por 1.617/1.919; depois 1.621, com a segunda turma. Estes Jesuítas lhe deram o nome de Aldeia da Doutrina. Com a usurpação dos bens desses padres pela política do Marquês de Pombal, o local foi eregido a Vila com o nome de Vinhais – Vila Nova de Vinhais (1.757). Essa Vila substituiu como ‘Município’ independente de São Luís até 1.835, quando foi transformada em Distrito de Paz da Capital.
O Vinhais, ou Miganville, como chamava os europeus, foi a única povoação durante muito tempo entre o Rio Grande do Norte, onde havia o Forte dos Reis Magos e o Maranhão. Ao longo dos anos, os povos que ali habitavam, construíram um patrimônio histórico que existe até os dias de hoje. Merece destaque a Igreja de São João Batista (construída em 1.612, data da fundação da comunidade e de São Luís) e seu entorno, como, poços de água, dentre eles os de Dona Jansen, que abastecia a cidade, o cemitério que servia também os vilarejos, como, o Anil, Angelim e Tabocal.