REVISTA Número 29 – 2008 Edição Eletrônica
DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
ISSN 1981-7770
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Número 29 – 2008 - Edição Eletrônica ISSN 1981-7770
COMEMORATIVA DOS 83 ANOS 1925 – 2008 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Fundado em 20 de novembro de 1925, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75, de 14 de setembro de 1955 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de junho de 1996 Cartório Cantuária Azevedo – Registro Civil de Pessoas Jurídicas – reg. no. 180, registro em microfilme no. 31063, São Luís, 23 de agosto de 2007
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Rua de Santa Rita, 230 – Centro Edifício Prof. Antonio Lopes – 2º. Andar CEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MA Fone (0xx98) 3222-8464 Fax (0xx98) 3232-4766 E.mail: ihgm_ma@hotmail.com As idéias e opiniões emitidas em artigos ou notas assinadas são de responsabilidade dos respectivos autores.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, v.1, n.1 (ago. 1926) - São Luís: IHGM, 2008. COMEMORATIVA DOS 83 ANOS 1925 – 2008. n. 29. Edição eletrônica ISSN: 1981-7770 1. História – Maranhão – Periódicos 2. Geografia – Maranhão - Periódicos p. 207 CDD: 918.21 CDU: 918.121 + 981.21
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GESTÃO 2008/2010 CHAPA: TEMÍSTOCLES DA SILVA MACIEL ARANHA DIRETORIA: Presidente: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Vice-Presidente: Joseth Coutinho Martins de Freitas 1º Secretário: Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva 2º Secretário: Carlos Alberto Santos Ramos 1º Tesoureiro: Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo 2º Tesoureiro: Dilercy Aragão Adler Diretor de Patrimônio: José Marcelo do Espírito Santo Diretor de Serviço de Divulgação: José de Ribamar Fernandes CONSELHO FISCAL José Ribamar Seguins Edomir Martins de Oliveira Raimundo Cardoso Nogueira SUPLENTES: Ilzé Vieira de Melo Cordeiro Carlos Orlando Rodrigues Lima Kalil Mohana EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
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APRESENTAÇÃO A Revista do IHGM, pela falta de recursos próprios e insensibilidade dos poderes públicos, vem sofrendo ao longo dos anos, um processo de descontinuidade em seu aparecimento. O presente número deveria ter saído em 2008. Não foi possível. Ao longo de 2009, a Sra. Presidente e o Sr. Diretor de Divulgação tentaram de todas as formas colocá-la à disposição do público leitor. Inúmeras negociações com os mais diversos entes. Tantas quanto tentadas tantas frustradas... A ‘boneca’ de há muito está pronta, aguardando revisão final. Novos tempos, novas ferramentas, reproduzidos em CD-R. Foi perdido; adquiriu-se um ‘pen drive’ e não se conseguiu lê-lo; depois se perdeu; outro adquirido, todo o trabalho copiado, novamente; gráfica, editoração, enfim, toda a providencia tomadas, e não se conseguiu quem bancasse a impressão. Está-se aguardando... Nesse espaço de tempo, já decorrido mais de ano, os números posteriores foram ‘ao ar’, através da rede mundial de computadores, disponibilizados em edição eletrônica – os números 30, 31, e pronto o 32, iniciado o 33... O 29 ficando para trás... A Sra. Presidente, em que pese sua resistência às novas tecnologias da informação e comunicação – TICs – resolve autorizar a edição eletrônica, neste início de 2010. A presente edição – de numero 29, correspondente a 2008. Está se aguardando os recursos financeiros para seu aparecimento em formato tradicional – papel... Enquanto isso vai de Internet mesmo... E para isso, fui designado como responsável de fazê-lo. Aos que têm acesso ao computador, boa leitura... Aos que ainda não se renderam à ferramenta, só resta aguarda a edição tradicional... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor do presente número, em formato eletrônico São Luís, fevereiro de 2010
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SUMÁRIO 3 5
Expediente Diretoria 2008/2010 APRESENTAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SUMÁRIO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – ANAIS DO I CONGRESSO BRASILEIRO DE INSTITUTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO DISCURSO DE RECEPÇÃO À SÓCIA DILERCY ARAGÃO ADLER ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO DISCURSO DE POSSE DILERCY ARAGÃO ADLER DISSCURSO DE RECEPÇÃO À SÓCIA ELIZABETH PEREIRA RODRIGUES ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO DISCURSO DE POSSE ELIZABETH PEREIRA RODRIGUES HOMENAGEM AO DR. SALOMÃO FIQUENE - JUSTA HOMENAGEM QUE PRESTA O IHGM (Instituto Histórico Geográfico do Maranhão) ao seu ilustre confrade, extensiva aos seus familiares. JOSÉ RIBAMAR SEGUINS DISCURSO DE RECEPÇÃO À SÓCIA THELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO DISCURSO DE POSSE THELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO SÓCIO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM JOSÉ MARCIO SOARES LEITE DISCURSO DE POSSE AYMORÉ DE CASTRO ALVIM DISCURSO DE RECEPÇÃO AO SÓCIO – RAIMUNDO GOMES MEIRELES JOSETH COUTINHO MARTINS DE FREITAS DISCURSO DE POSSE RAIMUNDO GOMES MEIRELES DISCURSO DE RECEPÇÃO AO SÓCIO JOSÉ MARCELO DO ESPÍRITO SANTO JOSETH COUTINHO MARTINS DE FREITAS DISCURSO DE RECEPÇÃO AO SÓCIO EFETIVO CARLOS ALBERTO DOS SANTOS RAMOS JOSETH COUTINHO MARTINS DE FREITAS DISCURSO DE POSSE CARLOS ALBERTO SANTOS RAMOS
7 8 11 17 23 37 43 53
55 61 85 91 97 101 117 123 127
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DISCURSO DE RECEPÇÃO A SÓCIA RAIMUNDA FORTES DE CARVALHO NETA JOSETH COUTINHO MARTINS DE FREITAS DISCURSO DE POSSE CLAUBER PEREIRA LIMA HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 40 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DISCURSO DE RECEPÇÃO DO SÓCIO JOÃO FRANCISCO BATALHA JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES DISCURSO DE POSSE JOÃO FRANCISCO BATALHA DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO SÓCIO GILBERTO MATOS AROUCHA ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO DISCURSO DE POSSE GILBERTO MATOS AROUCHA DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO SÓCIO MANOEL DOS SANTOS NETO ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO DISCURSO DE POSSE MANOEL DOS SANTOS NETO
129 133 157 169 173 179 183 193 197
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O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO : História
ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO Cadeira nº 44 Um grupo de ilustres maranhenses, previamente convocado por Antonio Lopes da Cunha, reuniu-se em prédio da Rua Magalhães de Almeida, para tratar da fundação de um Instituto de História e Geografia em São Luís do Maranhão. Foi apresentado, na ocasião, um projeto de estrutura ou regimento, para entrar em vigor imediatamente. Nessa mesma reunião, em 20 de novembro de 1925, foi realizada a primeira Assembléia Geral, presidida por José Ribeiro do Amaral e secretariada por Domingos Perdigão. Foi eleita a primeira Diretoria constituída assim: Presidente, Justo Jansen Ferreira; Vice-Presidente, José Domingues da Silva; Secretário Geral, Antonio Lopes da Cunha; Tesoureiro, Wilson Soares; Comissão de Geografia: José Domingues da Silva, José Eduardo de Abranches Moura e Justo Jansen Ferreira; de História: José Ribeiro do Amaral, Benedito de Barros Vasconcelos, José Ferreira Gomes (Padre); de Bibliografia: Domingos de Castro Perdigão, Arias Cruz (Padre), José Pedro Ribeiro. Todos autores de importantes trabalhos sobre o Maranhão. Eles foram signatários da primeira Ata de fundação e por isso são considerados sócios fundadores. Na Ata de fundação, datada de 20 de novembro de 1925, ficou registrado o nome da Instituição: “Instituto de História e Geografia do Maranhão” e a inauguração solene marcada para o dia 02 de dezembro de 1925, em comemoração ao primeiro Centenário de D. Pedro II. Foram indicados, ainda na primeira reunião, para sócios Efetivos: Antonio Lopes Dias, Carlota Carvalho, Fran Pacheco, Raimundo Lopes da Cunha, Virgílio Domingues da Silva e Domingos Américo de Carvalho. Ficando ocupadas, ao todo, 17 das 30 cadeiras previstas. Os Sócios Correspondentes, também, em número de 17 foram:
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Amazonas: João Braulino de Carvalho (Maranhense) Piauí: Abdias Neves Ceará: Barão de Studart Pernambuco: Mário Mello Rio de Janeiro: J. Capistrano de Abreu, Rocha Pombo, Viveiros de Castro (Maranhense), Rodolfo Garcia, Tasso Fragoso (Maranhense), Dunshee de Abranches (Maranhense), Max Fleiuss, Nogueira da Silva (Maranhense), Alcides Bezerra. São Paulo: Paulo Prado Santa Catarina: Miranda Carvalho Estados Unidos: Oliveira Lima Portugal: J. Lúcio Azevedo
O Instituto de História e Geografia do Maranhão tem registrado em Regimento seus objetivos: “Art. I – Fica fundada nesta cidade de São Luís, uma Associação Científica para o estudo e difusão de conhecimentos da História, Geografia, Etnografia, Etnologia e Arqueologia, especialmente do Maranhão, o incremento à comemoração dos vultos e fatos notáveis do seu passado e conservação dos seus monumentos. Art. II – A sociedade intitular-se-á “Instituto de História e Geografia do Maranhão” e logo que for possível iniciará sua existência legal mediante o competente registro civil. Art. III – Promoverá o Instituto: a) Reuniões dos seus sócios para apresentação e discussão de assuntos referentes às ciências de que se deverá ocupar. b) Correspondência com associações congêneres, arquivos, bibliotecas e museus sobre quanto possa elucidar os problemas de que tratar. c) Comemorações Cívicas dos vultos, datas e fatos da História do Maranhão e do Brasil. d) Conferências públicas cujos temas se relacionem às ciências de que se deverá ocupar. e) Explorações geográficas e arqueológicas. f) A organização de uma biblioteca histórico-geográfica do Maranhão, na qual devem incluir-se as cartas geográficas e topográficas, plantas de monumentos, medalhas, quadros, estampas, autógrafos. g) A elaboração de uma biblioteca científica do Maranhão e de uma bibliografia geral maranhense. h) A organização de um dicionário histórico-geográfico do Maranhão. i) A colheita de material para o estudo do folclore, maranhense, sua organização e comentário. j) A propaganda de conhecimentos científicos sobre o Maranhão, especialmente da sua Geografia, inclusive na parte econômica.
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Art. IV – Para a publicação dos seus atos sociais, das investigações que realizar e dos trabalhos dos seus sócios sobre assuntos que se relacionarem as ciências de que se deverá ocupar, assim como de contribuições de igual gênero enviadas por investigadores competentes, o Instituto manterá uma Revista bimestral ou trimestral”. Art. V................................................................... O Regimento foi composto de vinte e sete artigos, bem elaborados, especificando os objetivos, a organização e estabelecendo as normas de funcionamento da Instituição. Foram transcritos para que fiquem constatado que os objetivos e normas da Instituição, apesar de ter sido elaborado outro Estatuto no ano de 1951, introduzidas novas alterações no Estatuto, datado de setembro de 1979 e no atual aprovado em Assembléia Geral Extraordinária, realizada em 18 de maio de 2007, tais alterações não se afastaram dos objetivos e normas iniciais que estão sendo transcritos: “Capítulo I Dos Títulos e das Finalidades Art. 1º - O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, identificado pelas suas iniciais IHGM, associação científica e cultural, sem fins lucrativos, fundada em 20 de novembro de 1925, por tempo indeterminado e sob a então denominação de Instituto de História e Geografia do Maranhão, com o foro e sede na cidade de São Luís, tem por finalidade: I – Estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia e Ciências afins, referente ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; II – Cooperar com os poderes públicos que visem o engrandecimento científico e cultural do Estado colocando-se à disposição das autoridades para responder as consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes ás suas finalidades; III – Defender e velar o patrimônio histórico do Maranhão; IV – Promover a coleta de documentos relativos a efemérides; V – Estimular o estudo da História, da Geografia e das Ciências afins em todo país, particularmente neste Estado, possibilitando a organização de um dicionário histórico-geográfico do Maranhão e ampliação da bibliografia maranhense; VI – Manter e estabelecer correspondência e intercâmbio com instituições congêneres locais, nacionais e estrangeiras; VII – Providenciar para que funcionem, plenamente, a biblioteca e o arquivo;
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VIII – Editar revista periódica, em cujas páginas sejam insertos os trabalhos apresentados às reuniões, e registradas as atividades deste IHGM; IX- Estabelecer prêmios para monografias e estudos sobre assuntos previamente escolhidos e postos em concursos; X – Promover a edição e a reedição de obras de autores maranhenses, preferentemente as antigas e as inéditas. Art. 2º............................................................. O Instituto de História e Geografia do Maranhão, ainda no ano de 1926, deu início a um “Curso de Estudos Maranhenses”, que constou de uma série de conferências, proferidas por competentes maranhenses e seus sócios. A primeira foi proferida pelo Engenheiro José Eduardo de Abranches Moura, Sócio Fundador, que expôs com métodos didáticos e demonstrações práticas a Cartografia maranhense; desde as Cartas do Cosmógrafo Pedro Teixeira até os mapas de sua autoria, referentes ao Estado e a Ilha do Maranhão. A programação do Curso foi extensa, tratando além da cartografia, da geologia, fauna, flora, clima, regiões fisiográficas, comunicações, a agricultura, distribuição de terras, migração, comércio, indústria, trabalho, administração municipal e outros assuntos que atraíram a freqüência regular de autoridades, profissionais e diversos outros interessados. Tais dados foram encontrados no número 1, ano I, 1926, da Revista do Instituto de História e Geografia do Maranhão, redigidos pelo seu idealizador Antonio Lopes da Cunha, o “eterno Secretário da Instituição”, Bacharel em Direito, Professor de nível médio e superior, poeta, historiador, jornalista, falecido em 29 de dezembro de 1949, mas legando ao Maranhão dezenas de trabalhos, livros e artigos, listados por seus diversos biógrafos e sempre com a observação de que a lista não estava completa. Outra iniciativa da Diretoria da Instituição (1926) foi a coleta de objetos para organização de um museu de Etnografia, História e Geografia do Maranhão. Desde o início de sua criação (1925) o então Instituto de História e Geografia do Maranhão passou por diversas crises, sempre contornadas pelo Secretário Antonio Lopes da Cunha. Considerado de utilidade pública estadual (1926), por pouco tempo, recebeu da municipalidade uma subvenção que logo lhe foi tirada. Sem sede própria, sofreu até despejos, entretanto, na Presidência do ilustre médico e etnógrafo Braulino Carvalho foi conseguido do Governador Sebastião Archer da Silva a doação de um lindo prédio colonial, ficando sediado o Instituto, na rua Osvaldo Cruz, nº 634, principal rua da cidade de São Luís, com área de 473 m². No final da década de sessenta, o teto do prédio ruiu por falta de cuidados, e ficou por muitos anos ao abandono, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sem local próprio, seus móveis e arquivos foram extraviados, assim os objetos do museu.
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Na administração do Presidente José Ribamar Seguins, em 1975, foi sugerido pelos sócios e depois aprovado pela Assembléia Geral do IHGM, um contrato com a Construtora Pampulha Ltda., para construção de um prédio de dois andares. O Instituto ficou com o segundo andar, constituído de: hall de entrada, hall de escada, corredor de circulação, quatro salas, três sanitários e salão de auditório e a frente do prédio para a Rua de Santa Rita, nº 230, ocupando menos da metade dos 473 m² do prédio anterior. Na atualidade o Instituto ressente-se de espaço para expansão de sua biblioteca e arquivo, constituindo os 45 degraus da escada do prédio um estorno para acesso dos Sócios Efetivos, muitos já setentões. Mantendo-se o IHGM, apenas com a contribuição mensal dos sócios efetivos, atualmente 30,00 (trinta reais), sem receber qualquer subvenção pública ou particular, tem sido difícil a manutenção da Instituição face aos encargos administrativos e reparos das instalações e do imóvel. O quadro do IHGM conta, com 60 cadeiras, enquanto 31 (trinta e uma) estão vagas. Das ocupadas, pelo menos dez sócios, por motivos não explicados, não comparecem, não apresentaram a homenagem ao Patrono, nem cumprem as outras obrigações estatutárias. A atual diretoria está envidando todos os esforços para reestruturar o quadro e reverter essa situação prejudicial ao funcionamento da Instituição. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão não tem publicado sua revista, desde 2002, entretanto está sendo elaborada uma edição para ser lançada na data de 28 de julho de 2007. A data de 28 de julho, adesão do Maranhão à Independência do Brasil, por dispositivo estatutário, é considerada “magna” para a Instituição. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão é reconhecido de utilidade pública: Lei Estadual nº 1.256, de 07 de abril de 1926, publicada no Diário Oficial do Estado do Maranhão, na data de 07/04/1926 e Lei Municipal, nº 3.508, de 20 de junho de 1996, publicada no Diário Oficial do Município de São Luís, em 24/06/1996. O Estatuto publicado no Diário Oficial do Estado do Maranhão, parte II, nº 421, de 17 de dezembro de 1979 – Registrado no Cartório de Registro Especial de Títulos e Documentos e das Pessoas Jurídicas da Comarca de São Luís – Maranhão sob nº 69.073 de ordem do protocolo e nº 3.173 de Registro em data de 26 de dezembro de 1979, no Livro A, nº 12 e averbado – Registro nº 180 e registrado em microfilme nº 29.164, em 11 de setembro de 2006. Registro no Conselho Nacional de Serviço Social sob nº 80.578/75, de 14 de setembro de 1955. A atual Diretoria, eleita para o período de 2006/2008, tomou posse em 28/07/2006, está assim constituída: Presidente: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Vice-Presidente:Joseth Coutinho Martins de Freitas 1º Secretário: Edomir Martins de Oliveira 2º Secretário: Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva
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1º Tesoureiro: Raimundo Cardoso Nogueira 2º Tesoureiro: Salomão Pereira Rocha Diretor de Serviços de Divulgação: Josemar Bezerra Raposo Consta da programação do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, para o segundo semestre de 2007, uma campanha “Adote um rio da ilha”, que será iniciada junto às Indústrias instaladas no Distrito Industrial. Após a escolha, serão apresentados os pontos críticos do rio escolhido e sugeridas as soluções. Contaremos com a colaboração de órgãos específicos.
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DISCURSO DE RECEPÇÃO À SÓCIA DILERCY ARAGÃO ADLER ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO
O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão foi fundado em 1925, por um grupo de intelectuais maranhenses destacados pela elaboração e publicação de trabalhos históricos e geográficos sobre sua terra. Foram eles: Antonio Lopes de Cunha, dele partiu a idéia de criar a Instituição, Justo Jansen Ferreira, José Pedro Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, Benedito de Barros Vasconcelos, José Eduardo de Abranches Moura, Padres: Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes. Deixaram eles esta Instituição que é um orgulho para todos nós associados. Hoje estamos recebendo mais uma associada: a Professora Doutora Dilercy Aragão Adler, na qualidade de Sócia Efetiva, que estou certa contribuirá com o brilho do seu vasto “curriculum vitae”, com sua garra de mulher que colocou sua inteligência na produção de trabalhos de grande valor na área das ciências que abraçou: a Psicologia e a Educação. Vem divulgando essas ciências em trabalhos importantes de sua autoria e na formação de jovens universitários. São pessoas com a garra de Dilercy Aragão Adler, que necessitamos para revigorar o quadro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Estou certa que o fará por tudo o que conheço de Dilercy. Conheci Dilercy, em 1980, já Psicóloga, em unidade de trabalho de uma entidade onde me encontrava, já estarrecida por tudo que via acontecer, na forma de agir de pessoas que deveriam cumprir as normas estabelecidas e em vigor. Pessoas que chegavam ao local de trabalho mal humoradas, ofendendo os servidores, com atitudes completamente fora da normalidade, próprias da formação inadequada para o cargo que exerciam.
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Entre as pessoas lotadas encontrei Dilercy, jovem, cheia de vida, alegre e feliz na sua profissão e apresentando planos e metas de trabalho com a competência que o seu currículum comprova. Considerei uma salvação e daí em diante nos entendemos muito bem. Dilercy Aragão Adler filha de Francisco Dias Adler e Joana Aragão Adler, ambos oriundos de famílias de proprietários de terras na Baixada Maranhense, fazendeiros tradicionais. Francisco iniciou sua carreira como professor primário no seu município, serviu com bravura o Brasil na segunda Guerra Mundial, depois continuou sua carreira na Fazenda Federal, conhecida então como Alfândega, na cidade de São Luís. Joana a serviço de sua família como dona do lar e mais tarde funcionária do Departamento de Estatística do Estado do Maranhão. Casal bem unido e amoroso, cumpridor da sua religião, o cristianismo evangélico, criou os filhos com muito carinho e sadia orientação. Na valorização da leitura, incutindo o amor aos estudos. Os nove filhos do casal, oito vivos, estão graduados e exercendo as profissões escolhidas. Dilercy escreveu um livro dedicado a sua mãe: “Joana Aragão Adler – Uma História de Amor e Fé... Uma história sem fim...” onde relata carinhosamente a vida dos pais e sua própria infância e adolescência. É outro ponto positivo da personalidade de Dilercy o amor e a dedicação aos pais, as filhas e a todos os seus familiares. Dilercy nasceu no Município de São Vicente Férrer, na data de 7 de Julho de 1950. Aos seis anos de idade lia corretamente e na Escola Modelo Benedito Leite, onde cursou o primário, já demonstrava precocidade nos estudos. O curso ginasial foi cursado no Instituto de Educação do Estado do Maranhão e lá cursou o 2º grau de formação para o magistério, obtendo Diploma de Professora Normalista – 1968. Seguiu, no mesmo ano, para a Cidade de Brasília, onde prestou o Exame Vestibular e aprovada iniciou o Curso de Graduação em Psicologia, no Centro de Ensino Unificado de Brasília, Brilhante e dedicada obteve o grau de Licenciada e o de Bacharel em Psicologia de 1969/72 e o de Psicóloga em 1973. Durante o curso superior, submeteu-se a concurso público e exerceu o magistério primário na Rede de Ensino Público do Distrito Federal – Brasília. Graduada inscreveu-se em Cursos de Pós-Graduação a nível de Especialização: “Metodologia da Pesquisa em Psicologia” – 1981 – e Especialização em Sociologia – 1982/84. No período de 1988/90 Cursou o Mestrado em Educação. Estes três cursos foram ministrados pela Universidade Federal do Maranhão. No ano de 1998 partiu para cursar o Doutorado em Ciências Pedagógicas no Instituto Central de Ciências Pedagógicas – Cuba/Havana – concluído em 2005. Recebeu o título de Doutora revalidado, no Brasil, pela Universidade de Brasília/DF – 2006.
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A tese defendida recebeu o título: ”Tratamiento Pedagógico de Los Valores Morales: de la comprension teórica a la practica conciente”. Dilercy ofereceu-me um exemplar de sua tese e em umas das frases ela resume seu objetivo: “este meu trabalho retrata o desejo de uma sociedade mais justa e humana”. O Currículum Vitae de Dilercy é muito vasto, eu não poderia apresentá-lo na totalidade, selecionei, entretanto, uma parte que me pareceu dar uma visão da capacidade intelectual, da habilidade e desempenho de pessoa tão atuante na vida profissional e demonstrar, assim, por que está sendo recebida de braços abertos na casa do ilustre Antonio Lopes da Cunha que, também, brilhou na sua época, primeira metade do século XX. Livros publicados no campo acadêmico:
“Alfabetização & Pobreza: A escola comunitária e suas implicações”. 2002 Carl Rogers no Maranhão – Ensaios Centrados” – 2003.
Pelo título dos trabalhos publicados constata-se que a autora usou sua formação de Psicologia a serviço da educação a exemplo de Carl Rogers. Carl Rogers Psicólogo e Pedagogo muito comentado nos Cursos de Pedagogia e Formação de Treinadores, nas décadas de 70/90, deixou-nos esta observação: “Aflige-me sobremodo a idéia de que o desenvolvimento do estudo científico sobre a conduta humana venha a indicar meios e modos de disciplinarmos os indivíduos, transformando-os em autômatos, entretanto, ainda não perdi de todo a esperança de que o conhecimento, que estamos adquirindo, sirva apenas, em continuação, para propiciar a valorização das pessoas”. A sensibilidade e criatividade de Dilercy são também, expressas na poesia, entre os livros publicados estão: “Crônicas e Poemas Róseos – Gris” – 1991 – São Luís; “Poematizando ou Cotidiano ou Pegadas do Imaginário” – 1997, Rio de Janeiro; “Arte despida” – São Luís – 1999; “Gênesis – IV Livros” – São Luís – 2000; Cinqüenta vezes Dois Mil – 2000”; “Seme ando dez anos – 2001”. Foi organizadora da Exposição de poemas de 61 poetas maranhenses (1995/96), de coletâneas Poéticas; Latinidade I, II, III e IV da sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, anos: 1998, 2000/2002 e 2004. Tem participação em numerosas Antologias, em Estados do Brasil e no Exterior: na Itália, França e Portugal. Recebeu diversos prêmios Literários e Culturais, e Medalhas de reconhecimento:
Prêmio de edição do “Concurso Litteris de Cultura” com a poesia “O Beijo”, da Litteris Editora, 1995 – Rio de Janeiro/Brasil; Agraciada com o Colar do Mérito Cultural da Revista Brasília – 1996; Medalha de Mérito pelos relevantes serviços prestados à Cultura e participação nas iniciativas do Grupo de Brasília de Comunicação – 1996; Diploma de “Honour and excelence”, The International Writers and Artists Association and Bluffton College, 1996, Ohio/EUA;
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Prêmio de Publicação da Obra “Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário” do 1º Concurso Blocos de Poesia, Rio de Janeiro/RJ – 1997; Título de melhor ativista Cultural do ano de 1997, pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, 1998, Mogi das Cruzes/ São Paulo; Título de Honra ao Mérito pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Mogi das Cruzes, São Paulo – 1998; Menção Honrosa pela participação no livro “Mulher” no 3º salão de Artes Plásticas na Biblioteca Nacional – 1998, Rio de Janeiro/RJ; Monção de Congratulações com louvor da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pelo reconhecimento de seus grandes méritos à Literatura Brasileira – 1999 – Rio de Janeiro/RJ; Diploma de Destaque em Literatura do ano de 1998, pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil – 1999 – Mogi das Cruzes/ São Paulo; Prêmio a Latinidade I da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, como uma das melhores coletâneas do ano de 1998 – Sociedade de Cultura Latina Brasil; Título “Autore dell Anno”, da Edizioni Universun, 1999, Trento/Itália; Diploma de Participação no “I Encontro Latino americano de Casas de Poetas y Congresso Brasileño de Poesia em Havana” – 1999 – Cuba. Diploma de Participação no VII Encuentro Internacional em La Mixteca de Mujeres Poetas en el pais de lãs nubes – 1999, nas cidades de Huajuanpan de Leon y Oaxaca/México; “Mulher em Destaque 99”, como reconhecimento pela sua contribuição ao desenvolvimento social do Maranhão – São Luís – 1999; Título de Personalidade do século XX por sua participação na coletânea “Laços de Cultura Brasil Quinhentos anos” e sua brilhante produção poética e integração ao movimento de Cultura Brasileira – Goiás – 2000.
Têm outros prêmios não menos importantes recebidos em Montevideo/Uruguai, Castiglione na Sicília – Itália, outro em Trento – Itália, e em Ohio/ Estados Unidos. Participou de diversos Encontros, Cursos e Congressos Internacionais e Nacionais, onde apresentou importantes trabalhos. Tendo ocupado diversos cargos e funções como Psicóloga e na Docência nas disciplinas específicas de sua profissão, em todos apresentou trabalhos e executou projetos de valor. Aposentada da Universidade Federal do Maranhão continua exercendo a docência em cursos de Graduação e Pós-Graduação: na Faculdade Cândido Mendes no Maranhão, desde 2002.
Professora de Graduação na Universidade de Ensino Superior Dom Bosco – desde 2006. Professora de Graduação do Instituto Florence Superior desde 2007. Psicóloga Clínica, mantém seu consultório, desde 1974.
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Da incansável Dilercy Aragão Adler apresentei apenas um terço do seu Currículum Vitae, disponibilizado ao IHGM. Do casamento com o Sr. Normando, Dilercy tem três filhas: Danielle, Pedagoga, Milena, graduada em Ciências Contábeis e Michelle, Psicóloga e os “netos do coração” Daniel Vitor e João Marcelo. Às filhas e aos netos nossos parabéns pela brilhante mãe e avó. Dilercy o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão a está recebendo com muito orgulho, contando que aqui a sua produção científica e cultural seja tão fecunda quanto foi a sua atuação profissional. A Instituição necessita de sangue novo que lhe dê nova vida, que a impulsione para o rumo da produção científica e cultural, já muito desgastada e sem o brilho do passado. Contamos já com mais cinco promissores Sócios Efetivos que virão somar esforços para elevar a Instituição ao patamar que desejamos. Seja feliz entre nós! Obrigada a todos.
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DISCURSO DE POSSE DA PROFESSORA DRA. DILERCY ARAGÃO ADLER NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
Senhora Presidente, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Senhores Membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Senhoras e Senhores. Inicialmente quero externar o quanto me sinto honrada em ter o meu nome aprovado para integrar o quadro de sócios deste importante silogeu, que se configura como um baluarte da intelectualidade maranhense. Por outro lado, a gratidão é um nobre sentimento que deve ser fortalecido na convivência humana. Desse modo, faz-se necessário iniciar a minha fala com um sincero agradecimento àqueles que estão partilhando deste momento ímpar da minha vida, e ainda faz-se necessário um agradecimento especial aos responsáveis diretos pela concretização deste meu rito de iniciação neste sodalício, ou seja, àqueles que indicaram e aprovaram o meu nome. Assim, quero publicamente, neste instante, agradecer à Presidente desta Casa, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, ao Dr. Edomir Martins de Oliveira, atual 1º Secretário e Ex – Presidente, e ao Dr. Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva, 2º Secretário, que mui gentilmente indicaram o meu nome. Ainda, ao Dr. Raimundo Cardoso Nogueira, 1º Tesoureiro e ao Dr. Kalil Mohana que procederam a análise do meu currículo. Enfim, a todos os sócios efetivos que, em Assembléia, aprovaram a minha indicação.
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Ao ocupar a Cadeira de n° 1, não posso deixar de fazer referência e prestar as devidas e merecidas homenagens aos meus antecessores. Antes, porém, de me referir a cada um deles, individualmente, gostaria de compartilhar com os senhores e senhoras que considerei instigante o fato de que o Patrono desta Cadeira e seus dois sucessores têm entre si algumas características em comum, as quais contrastam com as correspondentes em mim. Ou seja, os três são do sexo masculino, religiosos católicos: Padre, Cônego e Monsenhor e estrangeiros; dois franceses e um húngaro. Enquanto eu, mulher, não católica e brasileira. Acredito que essas condições aumentam a minha responsabilidade em corresponder à honra agora a mim concedida, principalmente como primeira mulher a ocupar esta Cadeira. No tocante à questão de gênero, sabe-se que o espaço da mulher na nossa sociedade é, ao longo da história, ambivalentemente insólito e lírico, o que me causa intensa inquietação retratada em uma poesia de minha autoria: ESPAÇO FEMININO Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço.. inusitado das normas do corpo do sexo do leite materno que eterno sangra do peito a jorrar boca a dentro do homem! Quanto à religiosidade, tive uma iniciação Evangélica, e a “Oração” que fiz, quando adolescente, demonstra o desejo pessoal de intimidade e aproximação com Deus desde cedo: ORAÇÃO Senhor ilumina-me nas horas de incerteza... dá-me forças nas horas de fraqueza... afasta-me do mal quando este me quiser dominar... aproxima-me do bem para dele me utilizar... faz com que me dispa do egoísmo vestindo-me com a armadura do altruísmo
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enche-me a alma de pureza... afasta de mim a cobiça ... a avareza dá-me grandes ideais e forças para elevá-los sempre mais dá-me um coração puro... cheio de amor que irradie segurança e calor e através deste meu amor propague esse Teu imenso e infindo amor! Os primeiros ensinamentos religiosos me foram transmitidos por minha amada e saudosa mãe, Joana Aragão Adler. Mas apesar de, na fase adulta, não professar a fé dos meus primeiros anos, tenho a clareza de que o que a minha mãe me ensinou não foi em vão, e a minha poesia “Deus” retrata a sinceridade e (in)certeza que toda essa polêmica espiritual provoca em mim e provavelmente em outras pessoas que vivem ou viveram conflitos similares. DEUS A dor me aproxima de Deus mesmo que Ele não exista na minha pequenez e fragilidade preciso de uma força externa na minha inconteste efemeridade necessito de algo eterno para minha inspiração contraditória quero algo consistente... a minha consciência o meu cientificismo O nega mas o meu íntimo O deseja necessito que Ele exista preciso d’Ele! Ainda no que diz respeito às minhas origen, sou filha de uma região excentricamente bucólica. O início da minha história dá-se numa ilha... “A Ilha Grande”, encravada entre os campos da Baixada Maranhense, que possuem uma beleza singular. Aves e peixes povoam os campos enfeitados de mururus, aguapeas, vitóriasrégias, pajés, junco, algodão bravo e outras vegetações exóticas, próprias desses campos. Para o tráfego nessas águas é necessário que sejam abertos caminhos entre as plantas e, como resultado, surgem verdadeiras estradas de águas limpas entre a
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vegetação espessa, por onde podem deslizar canoas empurradas com longas varas, já que a profundidade da água, em média, é de 80 centímetros, não ultrapassando dois metros. No verão, esses campos secam e o meio de transporte passa a ser o cavalo. A paisagem fica, então, entrecortada de regiões secas, com o solo rachado pelo sol causticante do verão, e de outras verdejantes com frondosas árvores e capim onde alguns bois ficam soltos para pastar. Nessa Ilha vivia uma família cujo patriarca chamava-se Raimundo Aranha Aragão, sua esposa Maria da Anunciação Cutrim Aragão, chamada carinhosamente de Maroca e seus oito filhos, entre eles, Joana. Ele, proprietário de várias glebas de terra, homem forte, alto, louro de olhos azuis e de forte liderança. Era chamado de “Seu Nhozinho”. Trabalhava com a terra, com o gado e tinha uma oficina de artesanato de couro, onde fazia sapatos, chinelos, tamancos e ainda selas e arreios que pareciam verdadeiras obras de arte. Ela, D. Maroca, era uma mulher calma, doce, muito cordata e doméstica, uma fiel representante do modelo de comportamento feminino da época e do lugar. Todos os filhos, homens e mulheres, trabalhavam em todas as tarefas indistintamente: roça, pesca, criação de gado e de outros animais. Um trabalho vigoroso e digno de fita cinematográfica era a domagem de cavalos, que os homens desempenhavam com habilidade e destreza ímpar. Seu Nhozinho, hábil nessa tarefa, dava verdadeiros espetáculos de força e destreza no cenário da Ilha Grande. Uma outra atividade marcantemente masculina era a ferra de animais de grande porte (gado, cavalo) que consistia em marcar os animais com um símbolo. Este, geralmente, era constituído pelas iniciais do proprietário, em letras góticas, artisticamente desenhadas e cravadas num ferro, que, em brasa, era colocado sobre as ancas dos animais para distingui-los dos demais. Quando acontecia a “ferra do boi”, muita gente se deslocava até o lugar para assistir ao ritual “de domínio do homem sobre o animal de sua propriedade”, materializando o poder do proprietário sobre o seu objeto de posse e domínio. Mais interessante ainda é que esse evento retratava uma verdadeira festa, embora não programado com esse fim. Ainda na lida com os animais, um outro trabalho que deixa uma nostálgica recordação desses tempos já distantes era a transferência de animais para campos cujo pasto era mais propício para o gado. Com as cheias sazonais, os pastos também acompanhavam esse ir e vir das águas, criando a necessidade de levar as imensas boiadas, ao som dos gritos e canções dos boiadeiros, por intermináveis estradas abertas no meio das matas ou dos campos. O pai de Joana, extremamente zeloso, não deixava suas filhas estudarem em escolas distantes. O que era acatado pela mãe. Mas, ao mesmo tempo se preocupava com a educação dos filhos. Tal impasse era resolvido com a contratação de professores que moravam em sua casa, uma espécie de preceptor que tomava para si a tarefa da educação escolarizada dos filhos do casal. A primeira professora chamava-se D. Sinhazinha que, depois de um certo tempo, deixou o trabalho para casar-se. Em seu lugar foi contratado um rapaz de 24 anos, Francisco, filho de um casal amigo que morava na região, mais precisamente em
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Cajapió: Daniel Adler, polonês, naturalizado americano, e Marcelina Dias Adler, brasileira. Joana, minha mãe, conheceu Francisco, meu pai, quando tinha 16 anos, em 25 de julho de 1941. Foi amor “à primeira vista”, intenso e arrebatador a ponto de, em seis meses, desenrolarem-se namoro, noivado e casamento. Para alegria de Joana, a sua escolha teve a aprovação do pai, já que essa não era atitude muito comum no “velho Nhozinho”, que tinha proibido o namoro de duas de suas irmãs. Mas, o jovem professor Francisco tinha contado com a sua aprovação, apesar de não ter posses na época. Critério este que era relevante também para o consentimento de um pai de posses. O pai do noivo, Daniel Adler, tinha morrido quando aquele completara dez anos de idade. A mãe, Dona Marcelina, totalmente afeita às atividades domésticas, não soube lidar com os bens deixados pelo marido, ficando este encargo nas mãos de terceiros, o que levou à ruína do patrimônio deixado pelo pai. O seu Nhozinho tinha mantido uma relação de amizade com seu Daniel e nutria alta consideração à memória do mesmo, extensiva à sua família. Assim, é provável que estes fatores tenham influenciado positivamente na sua aprovação. O casamento foi celebrado depois de seis meses de namoro e noivado, no dia 28 de janeiro de 1942. Ela tinha completado 17 anos, em 1º de janeiro, e ele, 25 anos, em 27 de janeiro, do mesmo ano. A oficialização da aliança entre os dois foi realizada na Comarca, São Vicente Férrer, a qual ficava distante do lugarejo, de modo que o ritual incluía uma viagem a cavalo até o cartório. A noiva ia na “garupa” do pai, só vestia o vestido de noiva ao chegar à cidade e após a cerimônia voltava na “garupa” do noivo à frente do cortejo. Daí, a família ampliou-se gradativamente, totalizando nove filhos, aos quais a D. Joana se referia carinhosamente como “meus nove anjos”. Dentre estes sou a quarta filha, ou o quarto anjo. Quero declarar agora a minha admiração e respeito pelo Patrono desta Cadeira, o Padre Cláudio D’ Abbeville nascido em Abbeville, França na segunda metade do século XV. Capuchinho francês, veio ao Maranhão, integrando a expedição de La Ravardière, em 1612, e por aqui ficou apenas quatro meses que, no entanto, renderam-lhe o equivalente a pródigos anos, e o fizeram interpretar, com uma argúcia singular, os primórdios da Geografia e Etnografia do Maranhão, através da sua obra, História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças, lançada em Paris em 1614 e traduzida no Brasil por Dr. Cezar Augusto Marques em 1874. A narrativa de D’Abbeville inclui diálogos entre os personagens tanto em discurso indireto quanto direto. Abrange não só os episódios mais significativos da permanência dos franceses no Maranhão, a exemplo da edificação da cidade de São Luís, como também das interfaces do cotidiano dos índios tão bem explicitados nos capítulos “De uma escrava de Japi-Açu encontrada em adultério” ou na “História de um certo personagem que dizia ter descido do céu”. Apresenta também informações apaixonadas sobre o clima e a fertilidade da terra, assim como dados minuciosos sobre a rica
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astronomia indígena. Outro aspecto que sobressai nessa obra é a intenção de Claude D’Abbeville em demonstrar como o índio podia ser batizado e de como isso parecia ser uma condição natural para o salvamento da alma. Em dois episódios intitulados “De um índio velho batizado em Coieup e de sua morte” e “De um menino curado milagrosamente pelo batismo” isso fica evidente. Oswald de Andrade aproveitou alguns trechos do livro de Claude D’Abbeville para compor quatro poemas em seu “Poesia Pau-Brasil”, mantendo a escrita original em francês. Um fato que chama a atenção é que La Ravardiére era protestante, e os capuchinhos que o acompanharam deram início à decantada catequese dos indígenas que alcançaria seu paroxismo com os Jesuítas. Dizem os registros históricos que em 12 de agosto de 1612, tendo os franceses passado à Ilha Grande, foi rezada a primeira missa e erguida uma cruz. Em 8 de setembro do mesmo ano, solenemente, fundaram a colônia, a França Equinocial, com a colaboração “espontânea” dos índios, tendo à frente o cacique Japiaçu, e iniciaram a construção do forte, chamado de São Luís, em honra ao rei-menino. A obra de d’Abbeville, como já foi referido, é um clássico da etnografia indígena. Ao analisá-la, o bibliófilo Rubens Borba de Moraes salientou que "a narrativa da viagem é a principal fonte francesa publicada sobre esta tentativa de colonização do Norte do Brasil e contém informações valiosíssimas acerca dos Tupis, não encontradas em nenhuma outra obra". Segundo ainda Mário Guimarães Ferri, nenhum outro cronista, em seu tempo e mesmo depois, tratou a matéria com tanta especificação e clareza. Muito antes de mim, Oswald de Andrade captou a poética na narrativa de Abbeville, de modo que reafirmo a existência da poesia no tom apaixonado imbricado à sua longa e exaustiva descrição e, para exemplificar, transcrevo pequenos trechos da sua magnífica obra “História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, que em seu capítulo XXV, intitulado Do clima do Brasil, particularmente na Ilha do Maranhão, explicita: [...] Mas, por mercê de Deus, observamos [...] na Ilha do Maranhão e terras adjacentes do Brasil, situadas precisamente sob a zona tórrida, a dois e meio graus mais ou menos do equador, para o lado do trópico de Capricórnio, onde, passando o sol duas vezes pelo seu zênite, seria de fato o calor insuportável não fôsse a incomensurável providência divina atenuar e temperar tal ardor por meios muitas vêzes maravilhosos. Se a temperatura, ou o clima, de uma região depende tão sòmente da pureza e da doçura do ar, julgo (o que há de parecer paradoxal a muitos) que não existe lugar no mundo mais temperado e delicioso do que êste. (grifo nosso). Em primeiro lugar não é possível desejar ar mais puro e sereno do que por aqui reina de costume. Os elementos são naturalmente sòmente em virtude de causas estranhas a eles. [...] Na Europa, muitas vezes podemos observar estranhas impressões na atmosfera, presságios de incríveis tempestades; a terra enche-se de vapores infectos e de exalações pútridas que se espalham abundantemente pelo ar, o qual assim se altera e corrompe, o que dá causa a muitas espécies de meteoros, chegando então (como viram os físicos) a chover ratos, rãs,
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vermes, lã, sangue, leite e outras cousas apavorantes. Donde virão, pergunto, todos esses prodígios senão de enorme impureza da terra e do ar? O fato é que nada disso se vê no Brasil (D’ABBEVILLE, 1632, pp. 153-154).
Quando, ainda, no Capítulo XXVI, tratando Da Fertilidade da Ilha do Maranhão e regiões circunvizinhas relata: Regada a terra de todos os lados por boas águas, e maravilhosamente temperada pela doçura do ar, não pode deixar de ser muito fértil, como é, e muito fecunda, apesar de não ter sido roteada nem ter tido descanso, nem amanho de qualquer espécie. Não há necessidade de juntar o gado para esquentá-la, pois está sempre temperada pelas influências dos céus. E nem, para cultivá-la, são necessários cavalos ou arreios, charruas ou relhos de arado para lavrá-la, tanto mais quanto esta terra não deve ser muito trabalhada. Cultivada pouco produz, e abandonada dá grande colheita. Não posso explicar esse paradoxo senão porque estando a terra lavrada entra nela o calor, aquece-a a ponto de queimar as sementes; mas não sendo cultivada conserva-se a umidade. Esta razão parece-me verossímel, pois em verdade a terra é tão refrescada pelo sereno da noite e o orvalho da manhã, pelos rios e fontes e pelas chuvas da estação, que sem sequer cavocá-la antes, que dentro em pouco se tira bom resultado (D’ABBEVILLE, 1632, p. 161. Grifo nosso).
O encantamento de D’Abbeville é indubitável e claramente traduzido na expressão “da pureza e da doçura do ar”, ou ainda na afirmação enfática: “não existe lugar no mundo mais temperado e delicioso do que este”, ou ainda ao declarar que “não é possível desejar ar mais puro e sereno do que por aqui reina de costume”. Também na passagem da Fertilidade da Ilha do Maranhão quando realça: “Regada a terra de todos os lados por boas águas, e maravilhosamente temperada pela doçura do ar, não pode deixar de ser muito fértil”. Adiante declara “em verdade a terra é tão refrescada pelo sereno da noite e o orvalho da manhã, pelos rios e fontes e pelas chuvas da estação”. O Padre D’ Abbeville,que recebeu o nome de Firminno Foullon, ao nascer, era oriundo de família muito religiosa, e também dois irmãos seus, Marçal e Cláudia, seguiram a vida religiosa em conventos distintos. Segundo registros, ao chegar à Ilha de Maranhão o Pe. D’Abbeville tinha por volta de 40 anos, tendo sido ordenado em 1593. Portanto, dezenove anos antes, o que indica vasta experiência sacerdotal à época. Faleceu na cidade de Ruão, em 1621. O seu sucessor, na Cadeira de nº 1, Cônego José Maria Lemercier, sacerdote secular, nasceu em Arles, Diocese de Aix, em Provence, França em 17 de junho de1877. Filho de Laurent Lemercier e Adele Giroux. Foi batizado com quatro dias de nascido e crismado em 12 de março de 1888, logo aos oito meses de idade. Recebeu a sua primeira tonsura em 29 de junho de 1900, as ordens menores em 24 de junho de1901, o subdiaconado, em 29 de junho de 1902, o diaconado, em 20 de dezembro do mesmo ano e, finalmente, o presbiterado em 29 de junho de 1903. Ficou 4 anos, de 1803 a 1807, como professor nomeado do Seminário Menor, época em que o Governo fechou os Seminários e os Colégios Católicos na França.
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Em fevereiro de 1908, veio para o Brasil, diretamente para São Luís, integrando o Clero da Diocese do Maranhão, designado Secretário Particular do Exmo. Sr. D. Francisco de Paula e Silva, cargo que conservou até a morte de D. Francisco, a quem acompanhou até seus últimos momentos de vida, bem como nas últimas homenagens do cortejo fúnebre e no ato litúrgico. D. Francisco recebeu demonstração popular de carinho, admiração e respeito e segundo a História Eclesiástica do Maranhão: “Nunca em São Luís se registrou maior consternação. Todos sentiam e choravam como se tivessem perdido um ente querido de sua família”. Enquanto Secretário Particular de D. Francisco, Lemercier o acompanhou em visitas pastorais incluindo longas viagens, tendo sido uma delas iniciada em 25 de junho de 1908, com retorno a São Luís depois de quatro meses e dias de viagem e labores num percurso de, aproximadamente, 2.500 quilômetros. Esta resultou em uma monografia “Uma excursão pela costa maranhense” escrita anos mais tarde. Embora o relato não tenha sido feito por Lemercier, resolvi incluir um pouco dele para testemunhar o desprendimento e dedicação à causa da Igreja ao se despojarem de qualquer possibilidade de conforto para se dedicarem a uma empreitada tão extenuante, com o objetivo único de propiciar aos seus rebanhos o calor das suas palavras e das suas presenças: A estrada correu por alguns minutos na mata e, subindo insensivelmente, levou-nos em pouco tempo, à chapada. O capim agreste, que ia aparecendo, indicou-nos que estávamos em outro terreno. A vegetação muda por completo. Em vez de mata, com suas árvores esguias e a vegetação cerrada, são árvores baixas, esparsas, copa arredondada. É o cajueiro de galhos retorcidos, a faveira malhuda e a massaranduba. Um ou outro bacurizeiro, o pequizeiro, pondo uma nota verde naquela vastidão cinzenta e clara. É a chapada! O sol, impiedoso, rutilára triunfalmente, causticando-nos durante dez horas de marcha por aqueles descampados, que pareciam intérminos. Ninguém mais falava. Era a vastidão monótona, interminável, a parecer a mesma. Nem uma ave a cortar o azul límpido e sereno, a arquear-se lá em cima, muito alto; nem um animal, a pôr uma nota viva naquela paisagem. Só o resfolegar compassado dos cavalos, lavados em suor. A sede, causada pelo sol abrasador, começava a torturar-nos. Os estômagos, só com uma chicara de café e uns cópos de leite, começavam a reclamar seus direitos. A séla se tornára dura demais. Mas, a bagagem, onde vinha o nosso almoço, ficára muito atrás; e a agua, por aquelas alturas, só se algum Moisés a viesse fazer jorrar de algum capim, que rochêdo ali não ha. E caminhávamos na mesma marcha, e a chapada parecia alongar-se à proporção que nos adiantávamos. (PACHÊCO, D. FELIPE CONDURÚ, 1968, pp. 510-511).
A vegetação, com as poucas notas verdes de um ou outro bacurizeiro, a vastidão cinzenta, o sol, que nesse quadro, impõe-se impiedoso, a morbidez da paisagem na descrição do autor, a falta de água e o sol abrasador causando sede, e ainda, a fome, o cansaço por um caminho sem fim... interminável!... demonstram a tenacidade e até mesmo uma certa teimosia desses valentes caminhantes, verdadeiros desbravadores.
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Na sua trajetória eclesiástica, Lemercier prestou serviços em outras Dioceses do Brasil e retornou para São Luís em fins de 1936, onde continuou à frente da Cúria Diocesana. Lemecier, além do trabalho sacerdotal, dedicou-se à educação regular lecionando, entre outros estabelecimentos de ensino, no Colégio Santa Tereza, das Irmãs Dorotéias, e no Liceu Maranhense. Dedicou-se também ao estudo da história, especialmente da Igreja Católica Apostólica Romana no Maranhão. Elaborou o trabalho “Apontamentos históricos sobre a criação, administração, melhoramentos materiais da Sé, Catedral do Maranhão”, o qual foi publicado na Revista de Geografia e História - nº 1 – Ano II – nov. de 1948. Reorganizou o Arquivo da Cúria Arquidiosesano, publicou catálogo e estudos históricos da Diocese e prestou relevantes serviços à Secretaria do Arcebispado. Foi eleito em 15 de outubro de 1946, Sócio Efetivo deste Instituto, e em 28 de setembro de 1948 apresentou elogio ao Patrono desta Cadeira, Claude D’Abbeville, tendo sido saudado pelo sócio efetivo Leopoldino Lisboa. Vítima de arteriosclerose, faleceu no Seminário Santo Antônio, na manhã de 9 de dezembro de 1948, deixando indeléveis marcas na sua seara sacerdotal e educacional no Maranhão, reafirmando os vínculos ambivalentes entre a França e a nossa querida São Luís. O sucessor do Cônego Lemercier, na Cadeira nº1, foi o Monsenhor Ladislau Papp, que nasceu em Gynla, na Hungria, em 10 de novembro de 1916. Filho de Carlos Papp e Rosa Frida Weisz. Graduado em Filosofia, pela Universidade de Budapeste - Hungria, chegou ao Brasil em 17 de março de 1936. Sobre a vinda do Monselhor Papp para o Brasil não se pode deixar de fazer referência a D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, 22º Bispo e 2º Arcebispo do Maranhão, que apresentava grande preocupação com a formação intelectual e moral do seu Clero e, nesse sentido, empreendia eficiente ação tanto no acompanhamento da formação dos futuros sacerdotes no seu Seminário, como ainda providenciava a vinda de outros novos padres para trabalharem na Arquidiocese. Além de trazer consigo dois dos seus primos, já teólogos, de Minas Gerais, trouxe da Hungria um jovem padre e três seminaristas, entre eles Ladislau Papp. Destes, apenas o Monsenhor Papp ficou definitivamente no Brasil, os outros dois depois de ordenados deixaram o Maranhão. D. Carlos Carmelo ordenou durante o seu episcopado 13 sacerdotes, entre eles Pe. Ladislau Papp, a 08 de dezembro de 1939. Este trabalhou vários anos na Arquidiocese de São Luís, ocupando posteriormente o cargo de Reitor do Seminário de Caxias, sendo depois incardinado na Prelazia de Pinheiro e Vigário de Alcântara. Deixando a Prelazia de Pinheiro voltou a São Luís onde passou a exercer na Arquidiocese o cargo de Diretor da Associação de São José. Além do ministério eclesiástico, Monsenhor Papp exerceu outras atividades. No governo de Matos Carvalho, por exemplo, foi nomeado Diretor do Serviço de Assistência aos Menores – SAM, cargo que continuou exercendo no governo de Newton Belo. Exerceu também, na esfera Estadual, a função de Capelão da Penitenciária do Estado, de 21 de abril de 1949 a 31 de dezembro de 1955. Foi professor também em algumas Instituições de Ensino como o Instituto de Educação e desempenhou outros cargos (Oficial de Gabinete, Assessor Técnico de
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Ensino, entre outros) na Prefeitura Municipal de São Luís, totalizando quase nove anos de trabalho. Em 19 de outubro de 1967, pela Portaria nº11/67, da Fundação Universidade do Maranhão – FUM, atual Universidade Federal do Maranhão, foi contratado como Auxiliar de Ensino de Cultura Religiosa. Posteriormente, nova portaria determinava que Monsenhor Papp continuasse respondendo pela cadeira de Cosmologia que já vinha sob sua responsabilidade desde 1965. Ainda na Universidade Federal, foi designado para responder por outras cadeiras como História da Filosofia (Filosofia Moderna) e Língua Latina. Na carreira de Magistério da UFMA passou de Auxiliar de Ensino para Professor Assistente, a partir de 01 de maio de 1967, e a partir de 16 de setembro de 1969 foi enquadrado como professor Adjunto. Em 1970, pela Portaria de nº 60, foi designado Chefe do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia. Como os demais clérigos ocupantes desta Cadeira, o Monsenhor Papp dedicou a sua vida ao ministério eclesiástico e como o Cônego Lemecier também destinou parte do seu tempo laboral à educação. Como estrangeiro, adaptou-se perfeitamente ao clima e ao estilo de vida da Ilha do Maranhão, tão bem decantados nas descrições poéticas de D’Abbeville e, com certeza, o seu devotamento peculiar o fixou à nossa terra não permitindo, que deixasse São Luís, a exemplo dos seus dois jovens companheiros de viagem da Hungria ao Brasil. Aqui permaneceu até a sua morte, em 19 de abril de 1989. Isto posto, quero lembrar que iniciei o meu discurso apontando algumas diferenças entre mim e meus antecessores. Em contrapartida, quero finalizar, indicando semelhanças importantes entre nós: Em primeiro lugar, somos todos pertencentes ao gênero humano, muito iguais na essência e com as peculiaridades também necessárias para a evolução da própria espécie. Somos também quatro inquietos viajantes, com os olhares sempre atentos, sob a magia do amor que nasce do encantamento e que busca tornar mágico o objeto apreendido. Somos também amantes desta Ilha, às vezes chamada de Ilha do Maranhão, outras vezes de Ilha de São Luís, de Ilha do Amor ou mesmo Ilha dos Amores, como a chamo em uma das minhas poesias. ILHA DOS AMORES São Luís ilha dos muitos mares também pudera é a “Ilha dos amores!” amor e mar combinação perfeita eternizada quando a onda deita meus dissabores sobre a areia branca! são tantas praias
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imensas insondáveis desertas ou cheias de pés descalços pequenos frágeis como os meus sonhos que sempre se esvaem pela madrugada ou morrem afogados pelas ondas! No tocante à fé, tenho observado, há bastante tempo, no comportamento das pessoas, principalmente no âmbito do meu trabalho clínico, e também em outras circunstâncias do comportamento individual, que existe alguma outra dimensão além do orgânico e do psicológico. Alguns chamam de fé x ceticismo, pensamento positivo x pensamento negativo ou alegria, viço x amargura. O certo é que cada pessoa apresenta uma forma singular de reagir aos estímulos, mesmo reconhecendo-se que essa singularidade apresenta uma conexidade com o seu coletivo. Com base nessa premissa, pode ser colocado que existem pessoas que apresentam uma reação de enfrentamento às situações dolorosas, buscando resolver da forma menos danosa possível, para si e para os demais que convivem com elas, tudo aquilo que se lhes apresenta de negativo. São pessoas que apresentam mais resistência à frustração em geral, à dor e à adversidade. Em contrapartida, existem outras pessoas que frente a situações não desejáveis, aversivas, reagem com desespero, amargura e passividade, entregando-se, incondicionalmente, como retrata esta minha pequena poesia: MERGULHO Aquela sensação de perda já conhecida bate outra vez Não abro Mergulho! Defendo a idéia de que a maioria dos sofrimentos das pessoas é plenamente evitável. Em parte isso é explicado pelas condições objetivas e subjetivas da realidade social em que se vive, a qual não apresenta elementos facilitadores para a felicidade, e, por essa razão, o comum é a pessoa sofrer além do necessário. Algumas pessoas conseguem superar esses condicionantes através da fé ou de outras saídas similares. Talvez seja pertinente realçar as condições neurotizantes da sociedade em que se vive explicada pela contínua competitividade e intolerância que submetem cada pessoa num circuito de ansiedade para ser aceita, ser valorizada, ter sucesso, entre outros. Segundo Ribeiro, a Neurociência contemporânea vem desconstruindo, por meio de estudos, a idéia de que a fé é uma superstição atávica, sem efeitos concretos na realidade. Experimentos recentes indicam que a fé é um fenômeno biológico (grifo nosso). Convém ressaltar que não compreendo esses resultados como indicativo de que a fé seja um fenômeno biológico simplesmente, como parece afirmar Ribeiro, mas que tem, sim, repercussão direta no biológico, ou seja, uma inter-relação fortemente estabelecida entre a dimensão afetivo-emocional e a dimensão orgânica.
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Por outro lado, convém lembrar que a fé apresenta-se multifacetada e um dos seus aspectos fundamentais é o da entrega, confiança total, que em alguns casos chega à radicalidade negativa representada pela omissão, pela espera de respostas totalmente milagrosas, o que pode levar a pessoa a um conformismo e imobilismo, afetando negativamente a integridade do organismo, do ser e do seu coletivo, a exemplo de algumas religiões que proíbem determinados procedimentos clínicos ou cirúrgicos. Mas até esses extremismos produzem resultados positivos na ciência, quando pesquisadores se empenham em buscar outras alternativas de intervenção, substituindo-os por outros aceitáveis. Finalizo estas argumentações sobre a fé recorrendo às palavras de Droguett (2001, p.116): A razão de Deus é uma necessidade que está no sonho, na linguagem, na vida. Quando deixamos de acreditar nestas instâncias, Deus desaparece. Destas imagens a fé recolhe ícones do ser mais perfeito –significante último, construído em horizontes de esperança no qual seres humanos depositam seus desejos, suas utopias de um mundo melhor, mais justo, onde o presente é magia e milagre transformador da realidade alienante e sem sentido. Unem-se assim o amor, o desejo, o imaginário, o simbólico e os signos que o ser humano cria para fazer sentido. Realizações concretas dos objetos de desejo ou, como diria Hegel, a objetivação do espírito.
Portanto, reafirmo a importância de que as pessoas através dos seus sonhos, da sua linguagem, da sua vida, façam Deus presente numa sociedade mais equânime, mais amorosa, mais sadia e mais feliz. Um dos caminhos dessa possibilidade é o caminho da FÉ. Fé na predominância da bondade, na contradição da condição humana... Fé na concretização de mudanças positivas no mundo humano... que, em última instância, é indício da mais necessária fé, aquela inspirada em Deus e dirigida a um Deus de uma magnanimidade que extrapola a necessidade humana. Com base nessas argumentaçõe, espero ter justificado razoavelmente algumas das nossas semelhanças e diferenças, harmoniosamente colocadas no nosso modo de ser, homem ou mulher, clérigo ou leigo, estrangeiro ou nativo. Faz-se pertinente lembrar, ainda, que qualquer trabalho humano é feito, de uma forma ou de outra, a muitas mãos. Até certo ponto isso é um privilégio porque evita a solidão da produção. Assim, quero dizer aos senhores e senhoras que muitas pessoas estavam ao meu lado concreta ou simbolicamente na construção desta homenagem aos meus antecessores. Mas quero fazer um agradecimento especial ao Pe. Dr. Raimundo Gomes Meireles, Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico Regional de São Luís-MA, ao Prof. Dr. Raimundo Nonato Serra Campos Filho - UFMA ao Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz – CEFET-MA à Profa. Maria Cícera Nogueira – CEFET-MA e a Emerson Thiago Sousa de Araújo, Poeta e Estudante de Comunicação- Radialismo, pela
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disponibilidade em embarcarem comigo nesta difícil, mas gratificante viagem de catar pérolas históricas e primar por organizá-las de uma forma singular. Espero fazer jus a tão generosa distinção, agradecendo, mais uma vez, àqueles que se pronunciaram favoravelmente à minha inclusão nesta casa e não posso deixar de expressar meu muito obrigada a Francisco Dias Adler, meu muito amado pai, a Joana Aragão Adler, minha muito amada mãe, à minha muito amada irmã Felícia, à minha amada sobrinha Gabriela, que apesar de não estarem presentes hoje, neste plano, estão sempre presentes no meu coração. Meu muito obrigada às minhas amadas filhas, Danielle, Milena e Michelle, aos netos do meu coração Daniel Victor e João Marcelo e aos meus queridos genros Flávio e Giuliano. Meu muito obrigada aos meus queridos irmãos e irmãs, meus sobrinhos e minhas sobrinhas. Meu muito obrigada a todos os amigos e amigas aqui presentes. Meu muito obrigada às autoridades que atenderam ao convite da nossa Presidente, abrilhantando este evento. Obrigada, enfim, pela paciência e atenção e, principalmente, pelo carinho e amizade. E ainda gostaria da permissão dos senhores e senhoras para encerrar a minha fala com uma exortação e uma sugestão: EXORTAÇÃO É necessária a exortação para aceitação de todos os seres de todos os saberes dos saberes de todos os seres... é necessária a exortação para a aceitação de todos os saberes os saberes do índio, da mulher, do negro, do oriental, do cético da criança do velho do moço do pobre do analfabeto... é necessária a exortação para a aceitação de todos os saberes não apenas os saberes de alguns seletos eleitos não se sabe por quem além deles próprios. Abramos nosso peito nossa cabeça nosso coração para enfim
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vivermos num mundo melhor e dentro dele - o Brasil – uma grande nação! E para agilizar a concretização dessa utopia, esta sugestão: Lavra na terra o sulco da vida lavra idéias lava a “culpa” e o “pecado do mundo” limpa com idéias revolve o sumo do inominável com tuas idéias! Obrigada!
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DISCURSO DE RECEPÇÃO À SÓCIA ELIZABETH PEREIRA RODRIGUES ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO.
O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, foi fundado em 1925, por um grupo de intelectuais maranhenses destacados pela elaboração e publicação de trabalhos históricos e geográficos sobre sua terra. Foram eles: Antonio Lopes de Cunha, dele partiu a idéia de criar a Instituição, Justo Jansen Ferreira, José Pedro Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, Benedito de Barros Vasconcelos, José Eduardo de Abranches Moura, Padres: Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes. A nossa homenagem a eles, sempre lembrada por todos os associados do IHGM. Hoje estamos recebendo mais um elemento importante para integrar o quadro de Sócios da Instituição: a Professora Doutora Elizabeth Pereira Rodrigues, pedagoga, Historiadora, e Doutora em Direito, esperamos contar com uma amiga, uma elaboradora de trabalhos em prol da História, da Educação, da Cultura do Maranhao e do Brasil. A vida é uma renovação constante, se assim não fosse o que seria da perenidade das Instituições, especialmente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, quando estamos a procura de ressuscitar e restabelecer os fatos na esperança e na satisfação de encontrar os elementos passados, para orientar o presente e preparar o futuro. O brilhante currículum vitae de Elizabeth Pereira Rodrigues demonstra seu dinamismo e dedicação nas áreas de sua formação superior e em especial na transmissão
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de conhecimentos, através do magistério e hoje, para complementar essa atuação, lançará o livro de sua autoria: “A Reconstrução de Aprender a Teoria na Prática”. Quando falamos de educação lembramos do educador Paulo Freire e ele disse: “A ação humana está inserta em um contexto social determinado. A linha de estudos na sala de aula resgata a importância da relação teoria e prática, demonstrando ao mesmo tempo em que a prática é pressuposta da teoria. Não há forma de que o homem possa criar uma ação cultural a partir do nada ou de uma postura não humana, não social, não histórica”.
Elizabeth Pereira Rodrigues nasceu na cidade de São Luís – Maranhão, em 11 de agosto de 1959. Filha de Luís Pinho Rodrigues e Maria Izabel Belo Pereira Rodrigues. Os psicólogos afirmam: “A figura dos pais exerce bastante influência na formação dos valores dos filhos, visto as relações e contatos estabelecidos, desde a mais tenra idade, perdurando, muitas vezes, pelo resto da vida da pessoa, salvo nos casos de separação precoce”.
O pai de Elizabeth, Luís Pinho Rodrigues, Graduado em Odontologia foi professor e depois Diretor da Faculdade de Odontologia do Maranhão, hoje UFMA, a mãe Maria IZABEL, Bacharel e Licenciada em Filosofia e depois em Pedagogia com Habilitação em Administração Escolar, Professora de Ensino Médio e Superior, membro Fundador do Conselho Estadual de Educação, atualmente Diretora da Unidade de Ensino Superior “Dom Bosco”. Luís e Maria Izabel foram os fundadores, dirigentes e proprietários do Colégio Dom Bosco, nesta cidade de São Luís. Colégio que sempre teve atuação destacada no campo da educação, hoje mantém a Unidade de Ensino Superior. Elizabeth é descendente de família de educadores: sua avó Consuelo Bello Pereira foi professora e dirigiu, por muitos anos, através da Secretaria de Educação do Município, a Educação Municipal. A família Pinho, também, tem vários membros que se destacaram na educação do Maranhão, entre eles a Sra. Maricota Pinho Rodrigues, avó paterna e a Professora de Geografia do Brasil, Odila Pinho (tia avó), Professora Fundadora do Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia de São Luís (1953), hoje UFMA, depois ocupou o cargo de Secretária de Educação do Estado do Maranhão. Elizabeth Pereira Rodrigues sempre teve destaque nos estudos, ainda jovem cursou o Instituto de Idiomas Yásig. A cada etapa foi recebendo títulos que lhe valeram, aos 15 anos de idade, lecionar inglês na Instituição, pelo destaque em exame especial prestado. O ensino fundamental e médio foi cursado no Colégio Dom Bosco. Continuando seus estudos foi obtendo diversas graduações: Licenciada em Pedagogia em duas habilitações – Supervisão de Ensino e a de Administração Escolar; Licenciatura em História e Bacharelado em Direito. As quatro graduações obtidas na Universidade Federal do Maranhão. Depois cursou: “Formação em Psicanálise Clínica”, realizado pela Escola de Psicanálise do Brasil, em São Luís no período de 2000 a 2002 – Defendeu e publicou o trabalho “Complexo de Édipo”. Após outras graduações publicou: “A realidade da Supervisão Educacional nas Escolas” e “Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Matéria Ambiental”.
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Todos esses cursos foram realizados com muito êxito qualificando-a para os cargos e funções que já exerceu e exerce. Na Pós-Graduação é Doutoranda em Direito – “Estudios Avanzados – Programa de Doutorado Mercado e Direito” – Universidade Pablo de Olavide - Sevilla Espanha – 2003 a 2006. A nível de Atualização e Extensão cursou: II – Painel Sócio-Político e Econômico Brasileiro – UFMA – 1982. Curso de Educação Desportiva e Formação Integral do Adolescente – Secretaria de Desportes e Lazer – Governo do Estado do Maranhão – 1983. Work Shop Empretec – SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena e Média Empresa – Agencia Brasileira de Cooperação – United Nations – São Luís – MA – 2001. Elizabeth tem conhecimento e fala fluentemente três línguas estrangeiras: Cursou e obteve o certificado de conclusão de cada uma das seis etapas do Curso de Inglês pelo Instituto de Idiomas Yazigi. Curso Básico e Intermediário de Francês – Aliança Francesa – São Luís – MA – concluído em 1996 Competência lingüística em nível superior. Recebeu o “Certificate of Operational Competence in English – concedido pela Ilinois university – Eduardsville – EUA – 1974 – Diploma de español como língua extranjera - DELF – Instituto Cervantes – Universidade de Sevilha – Sevilha – Espanha 2003. Cabe esclarecer que Elizabeth em uma das etapas dos exames de pós-graduação, em Direito, o fez em língua espanhola, quando seus colegas, de diversas outras nacionalidades prestaram o exame na língua pátria. Esse ato valeu-lhe a escolha para oradora da turma. A participação em Seminários e Congressos foram numerosas e anuais, demonstrando a preocupação de atualização em todos as ciências de sua formação. Ainda lembrado o Educador Paulo Freire: “A existência, porque humana não pode ser muda, silenciosa, nem tão pouco se nutrir de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo”. “O diálogo é uma exigência existencial que não pode reduzir-se a um ato de transmitir idéias de um sujeito ao outro, tão pouco tornar-se simples mudança de idéias consumidas pelos permutantes”.
Elizabeth exerceu o magistério lecionando a língua inglesa e a História. Estudante de História, especialmente na área de sua predileção, História Antiga, teve oportunidade de conhecer, em viagem, entre outros países: o Egito, viu o rio Nilo, considerado “um presente dos Deuses” e os vestígios da milenar civilização que veio se formando durante vinte mil anos a.C em uma faixa de terra de 900 Km de comprimento por 10 a 15 km de largura. Viu as pirâmides, surgidas no IV século a.C durante a VI dinastia Menfita, início do Império Antigo, além de outros locais marcantes. A Grécia, outro berço de civilização. Certamente lembrou-se de Heródoto de Halicarnasso, considerado o “Pai da História” e suas diversas viagens.
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Na Grécia de paisagens contrastantes e belos monumentos deve ter visitado a Ilha de Creta que por mais de 1500 anos foi o centro político, econômico e cultural da civilização do Egeu. Depois, a Ilha de Rodes e lá a romântica Vila de Lindos, situada em uma colina, com suas casas uniformes, todas pintadas de branco, conservando uma tradição. Continuando sua trajetória profissional Elizabeth foi: Coordenadora do III Encontro de Educação do Curso de Pedagogia – UFMA 1981. Diretora Secretária da Associação Profissional dos Estabelecimentos de Ensino do Estado do Maranhão – 1984 – 86. Membro da Comissão de em Encargos Educacionais do Conselho Estadual de Educação. Diretora do Colégio Dom Bosco – 1986 a 2002. Membros do Conselho Técnico Consultivo do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão – 1988 – 89. Membro da Comissão de Negociação Coletiva de Trabalho do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Maranhão – 1988 a 2006. Vice-Presidente do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino no Estado do Maranhão – 1988 a 2006. Membro do Conselho de Representantes da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – FENEN – Brasília – DF – 1989 a 1990. Membro do Conselho de Representantes da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – CONFENEN – Brasília – DF – 1990 a 2006. Membro do Conselho Fiscal da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino FENEN – Brasília – DF – 1989 – 1990. Membro do Conselho Fiscal da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – CONFENEN – Brasília – DF – 1990 – 1991. Em muitas dessas funções permanece e outras retornaram, atualmente exerce a Diretoria Pedagógica do Colégio Dom Bosco e da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. Além da experiência administrativa na Educação do Estado do Maranhão, atuou em órgãos legislativos e controladores da educação brasileira, prestando sua contribuição valiosa e experiência na área. O reconhecimento por todo esse trabalho corresponde às condecorações recebidas dos mais importantes órgãos do nosso Estado e do país. Diploma “Professor Urbano Franco” – Ministério da Educação do Brasil – 1990. Mérito Judiciário – Desembargador Antonio Rodrigues Veloso – “Comenda Antonio Rodrigues Veloso”. Conferida pelo Tribunal de Justiça do Maranhão – Poder Judiciário – São Luís – MA – 2002. Mérito Educativo Profª Ana Maria Saldanha – Comenda conferida pelo Conselho Estadual de Educação do Maranhão – São Luís – MA – 2006.
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Estou certa que diante de tão brilhante trajetória, percorrida na trilha do estudo, demonstrando que compreende o valor do saber e a experiência adquirida na prática, a serviço de seu Estado e do Brasil, Elizabeth Pereira Rodrigues prestará valiosa colaboração ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e cumprirá o compromisso assumido hoje. Do casamento Elizabeth tem um casal de filhos: Evandro Luís Costa, Bacharel em Administração e Professor Universitário e Isabela, Pedagoga, a eles meus parabéns pela brilhante mãe. A professora Maria Izabel Pereira Rodrigues, a inseparável mãe, que acompanhou e acompanham as filhas, em todos os momentos, parabéns pela importante formação que lhes deu. A todos os familiares da nova sócia, minhas congratulações. Elizabeth em nome de todos os Sócios do IHGM, que já estão falando com carinho da nova associada, apresento os votos de boas vindas e sucesso na nova missão. Seja feliz entre nós!
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DISCURSO DE POSSE – CADEIRA N. 59 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO - IHGM SÃO LUÍS – MA - 28 DE AGOSTO DE 2007 ELIZABETH PEREIRA RODRIGUES
Ilma. Sra Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a primeira mulher a ocupar a presidência do Instituto e que, certamente, representará um marco na história do IHGM. Exma. Sra. Mary Ferreira, Secretária Adjunta de Cultura do Estado, neste ato representando o Exmo. Sr. Governador do Estado, Dr. Jackson Lago. Exmo. Sr. Deputado. Joaquim Haickel - escritor e analista político, neste ato representando a Assembléia Legislativa do Estado -. Exmo Sr. Desembargador Dr. Cleones Cunha, sócio efetivo eleito do IHGM. Exmo Sr. Dr. Moacir Feitosa, Secretário Municipal de Educação de São Luís, neste ato representando o Exmo. Sr. Prefeito de São Luís, Dr. Tadeu Palácio. Exmo. Sr. Dr. Joaquim Itapary, Presidente da Academia Maranhense de Letras, que de uma forma bastante atenciosa desenvolve uma parceria com o IHGM, bem como
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com o Conselho Estadual de Educação1, disponibilizando o belo espaço da Academia para as solenidades educacionais e histórico-geográficas. Exmo. Sr. Dr. José Ribamar Bastos Ramos, Presidente do Conselho Estadual de Educação. Ilmo Sr. Dr. Raimundo Soares Figueiredo, amigo de vinte e cinco anos, Presidente do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino no Estado do Maranhão, com quem trabalho há quase três décadas, como vice-presidente do referido Sindicato de Escolas. Ilma Sra. Profa. Maria Izabel Pereira Rodrigues, Diretora Geral do Colégio Dom Bosco e da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB, a quem eu fiz uma dedicatória no meu livro2: a Maria Izabel, aquela que criou o sonho. Exmo. Sr. Dr. Paulo Avelar, nosso parceiro no Conselho Estadual de Educação, como promotor atuante na defesa da educação em São Luís. Um exemplo a seguir. Exmo. Sr. Vereador Ivan Sarney, que, neste ato, não só representa a Câmara de Vereadores de São Luís, como também é sócio honorário do IHGM. Gostaria de me dirigir, inicialmente, aos confrades do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, agradecendo pela presença. Gostaria de agradecer aos ilustres confrades Dr. Raul Eduardo Vieira da Silva de Canedo, Dr. José Cloves Verde Saraiva e Dr. Edomir Martins de Oliveira, autores da indicação do meu nome para integrar o IHGM. Esta é uma cerimônia de Letras, portanto todos os que lidam com as letras são convidados de honra e devem ser anunciados3. Professores de História e Geografia, meus amigos, minha família. Senhoras e senhores Passemos agora, à tarefa a mim confiada pela Profa. Eneida, Presidente do IHGM: homenagear o Patrono da Cadeira n. 59 – Dr. Olímpio Ribeiro Fialho e o último ocupante – Dr. José Mendes Pereira. Iniciaremos pela história do Dr. Mendes Pereira. 1
A Profa. Elizabeth Rodrigues é Conselheira do Conselho Estadual de Educação. A Profa. Elizabeth lançou o livro RECONSTRUINDO O APRENDER: a teoria na prática, na noite de sua posse no IHGM, 28-08-2007, passando a ocupar a cadeira n. 59. 3 Elizabeth Rodrigues saudou seus pares do Conselho Estadual de Educação, Profa. Beatriz Martins de Andrade,Profa. Maria do Perpétuo Socorro Azevedo Carneiro, Profa. Maria Lúcia Castro Martins, Profa. Luís Anísio Camarão Chaves também representando o Uniceuma, Profa. Maria Joseílda Freiras Descovi, Prof. George Viana Mayrink, Prof. José Maria Ramos Martins, agradecendo pela presença.. Dirigiu-se ainda, ao Prof. Serrano Freire, declarando sentir-se honrada com se comparecimento platéia, por ser um dos papas da neurolingüística no Brasil e ter vindo do Rio de Janeiro. Declinou também as seguintes presenças: Desembargador Lauro de Berredo Martins; Profa. Teresa Soares Pflueger, Consultora do Governo do Estado para Assuntos Educacionais; Dra. Néa Bello Sá, Corregedora Geral do Estado; Desembargadora, Josefa Ribeiro; membros da Academia Maranhense de Letras, Dr. Benedito Buzar, Dra. Laura Amélia Damous, Dra. Ceres Costa Fernandes; dirigentes de instituições de ensino, Prof. José Rodrigues Júnior vice-diretor do Cest; Irmã Rosemary, diretora do Instituto Farina; Profa. Socorro Campos Naufel, diretora do Reino Infantil.. 2
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Temos a honra de receber, nesta noite, a sua viúva, a Sra. Terezinha Pereira. Nasceu José Pereira no dia 20 de junho de 1916, em Anajatuba, onde iniciou seus estudos. Decidindo estudar Agronomia, transferiu-se para São Luís e prestou Vestibular na Faculdade de Agronomia da atual Universidade Estadual do Maranhão – UEMA – sendo aprovado. Aí começou a nutrir uma paixão, um encantamento pela natureza, sentimento que iria direcionar toda a sua vida. O interventor Dr. Paulo Ramos, porém, limitou os planos do Dr. Pereira, quando fechou todos os Cursos Superiores do Maranhão. Dois anos mais tarde, os cursos foram reabertos, com exceção de Agronomia. Se estivéssemos em uma sala de aula, seria interessante trabalhar o conceito de interventor. Há uma parte desta platéia, nascida depois da década de 60, que desconhece o significado da palavra. Na Roma antiga, admitia-se a figura de uma espécie de interventor, em casos excepcionais. Como Roma era uma máquina de guerra, quando a guerra era muito difícil, o Senado escolhia um ditador por seis meses. Durante esse período, ele detinha poder de vida e morte sobre tudo e todos. Explicava-se a medida radical, porque a agilidade das respostas na guerra determina a vitória. No Brasil, não era caso de guerra nem de agilidade. Era uma situação de exceção, mas o conceito de interventor muito se assemelha ao do ditador romano. A determinação do interventor obrigou o Dr. Pereira a optar por outro curso. Iniciou, então, os seus estudos de Farmácia. Formado4, trabalhou 10 anos na Rhodia do Brasil, em cuja empresa se deslocava sistematicamente pelas Regiões Norte e Nordeste para divulgar produtos. Essa atividade suscitou uma observação mais acurada do meio ambiente e seus problemas, como o desmatamento e a poluição. Sempre visitava escolas e centros comunitários nas regiões percorridas a fim de trabalhar na conscientização da população em relação à conservação ambiental. Eu dirigi o foco do meu doutorado para o Direito Ambiental, como frisou a Profa. Eneida em sua saudação carinhosa nesta solenidade. Elaborei a minha tesina tendo como tema a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Matéria Ambiental. No Brasil, uma empresa que contamina em níveis inaceitáveis pode ser incriminada. Na Espanha, onde estudei, só se admite a incriminação de pessoa física. Exortar quanto à importância do meio ambiente em 2005 significa seguir um padrão ecologicamente correto deste milênio.
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O Dr. Mendes Pereira se formou farmacêutico em 1945. O momento histórico que correspondeu ao final da Segunda Guerra Mundial e, por conseguinte, o fim do Estado Novo do governo Vargas. A contextualização da época foi elaborada pelos professores Sérgio Neto e Alfredo Vidal Neto e exposta em um painel na noite em que se deu a posse da Profa. Elizabeth Pereira Rodrigues, no IHGM. A cerimônia aconteceu nos salões do São Luís Pestana Resort Hotel.
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Dedicar-se a essa tarefa, divulgar, pregar a consciência ambiental, em 1960, era uma atitude de vanguarda. Esse é o primeiro ponto a enfocar sobre o Dr. Pereira: era um homem à frente do seu tempo. Aliava o seu trabalho à valorização ambiental nas Regiões Nordeste e Norte, inclusive nas cidades que faziam fronteira com Peru, Bolívia e Venezuela, utilizando para tanto diversos meios de transporte terrestres e fluviais. Sempre divulgando a importância de se entender que meio ambiente não é um conceito sectário. Meio ambiente é um conceito global. Se uma queimada acontece em São Luís, isso afeta o Estado do Illinois, nos Estados Unidos. Algumas nações e parte da população mundial crêem que podem preservar o “seu” meio ambiente e danar o do vizinho porque assim estarão a salvo. Dr. Pereira era casado com D. Terezinha, sobrinha do meu pai – Luiz Pinho Rodrigues – o que me honra e gratifica. Passados dez anos, concluiu que sua verdadeira missão não era de divulgador de produtos e sim, de mestre, atribuição que já exercia no seu périplo profissional. Iniciou, lecionando Economia Agrícola, na Universidade Estadual do Maranhão e depois a disciplina com a qual eu o conheci: Estudo dos Problemas Brasileiros (EPB), na Universidade Federal do Maranhão. Os alunos eram unânimes: para se formar tem que passar pelo Prof. Mendes Pereira. Era bastante temido. Por quê? Porque existem alunos que pensam que na Universidade não é necessário trabalho com rigor. O mestre Pereira não aceitava liberar alunos mais cedo, “enforcar” dias letivos ou quaisquer procedimentos similares. Um dos fatos curiosos envolvendo o Prof. Pereira diz respeito às aulas que ele ministrava em uma unidade de ensino na qual faltava luz sistematicamente. Ele escolheu uma sala de aula iluminada pelo poste da rua. Quando o bedel passava anunciando que as aulas seriam suspensas por falta de energia elétrica, ele respondia: não eu. Aqui está muito bem iluminado pelo poste. Vamos continuar. Ele trabalhou trinta anos no Magistério e nunca faltou um dia ou se atrasou um minuto sequer. Nunca admitiu brechas para diminuir o trabalho letivo. Sempre afirmava que o Brasil precisa de seriedade e produtividade para viabilizar o desenvolvimento. Pregou a integração nacional, inspirando-se em Plínio Salgado. Escreveu, inclusive, obras a respeito. 5 O Dr. Pereira assumiu a cadeira EPB, que costumava reproduzir a ideologia sustentada pela ditadura militar. Ele, no entanto, trabalhava temas como: Por que os rios secam; A ecologia e seus problemas. Trilhando caminhos ambientais e de integração nacional sentia-se imbuído de uma missão realmente significativa e realizou um trabalho brilhante, a despeito de ser vigiado pelo governo militar. Dentre suas publicações destacam-se:: Discurso sobre a adesão do Maranhão à Independência 6, A Batalha de Guaxenduba7 e Para onde marcha o
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As obras publicadas pelo Dr. Pereira foram exibidas em um painel na noite de posse da sócia Elizabeth Rodrigues.”. 6 PEREIRA, José Mendes. Discurso sobre a adesão do Maranhão à Independência. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, . São Luís, ano XLII. N. 15,, janeiro,1992.
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mundo? Tais obram revelam uma sólida formação generalista na área de Ciências Sociais8. Esse era o profissional Mendes Pereira. Quanto ao homem Mendes Pereira, é digna de nota a valorização e o respeito que ele dedicava à mulher e, em especial, à sua Terezinha: mulher bonita, espirituosa, inteligente. Eu mesma possa atestar a figura admirável que é Dona Terezinha: recebeume em sua casa com grande amabilidade. Imagino a bênção que é para um homem tê-la como companheira. Dr. Pereira sabia o tesouro que havia conquistado e nunca tomava decisões sem consultar a D. Terezinha. Uma vez meu pai o encontrou e lhe comunicou que “os meninos”- eram Paulino e seus irmãos, hoje professores e economistas – estavam “driblando” bonde e exortou o compadre – era padrinho de sua filha Zuila – a tomar uma providência. Ao que ouviu como resposta: Preciso conversar antes com Terezinha. Dona Terezinha me relatou que ele sempre pedia perdão quando errava. Isso é muito difícil na vida de um casal. Cada um se sente dono da razão. Os dois se dedicam a vencer não sei que corrida e acabam perdendo a felicidade. Eu gostaria que o exemplo do Dr. Pereira iluminasse as relações dos jovens casais. As jovens com quem convivo costumam se queixar que os namorados não as valorizam. Os homens que hoje se formam modernizam o carro, o relógio, o sapato, o computador, mas não atualizam a cabeça; continuam com a mesma mentalidade jurássica, latina, machista do início do século passado. Quando isto vai mudar? Gostaria de que este exemplo de valorização da mulher, da família, na busca pela felicidade, vivendo o encantamento com a sua Terezinha durante toda a sua vida, ficasse gravado para reflexão de jovens e adultos. Neste momento, retorno à expressão “driblar bonde”, desconhecida pela geração nascida no fim da década de 60. Para ajudar um jovem aqui presente a inferir o significado da expressão, utilizaremos a maiêutica socrática. No livro que lanço hoje, posiciono-me acerca do papel do professor como facilitador na descoberta do aluno, na perspectiva de Sócrates: O discurso dialético, que muitos pensam ter sido criado por Karl Marx, foi fruto da mente genial de Sócrates. Ele usava a maiêutica, como método, nas aulas e, em geral, com os seus discípulos. Era o parturiar de idéias, inspirado, como se sabe, na profissão de parteira de sua mãe. Formulava diversas perguntas, conduzindo o aluno à descoberta, como se estivesse parturiando as respostas. Extraímos daí a lição: quem tem que parir a idéia é o aluno; ninguém tem o direito de lhe antecipar a resposta, tirando-lhe o significado impresso na descoberta.9
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PEREIRA, José Mendes. A Batalha de Guaxenduba. Revista do Instituto Histórico de Geográfico do Maranhão, São Luís, anoLXIII, abril, 1993 8 PEREIRA, José Mendes. Para onde vai o mundo? Brasília, Jornal A Marcha, 13/05/1960 9 RODRIGUES, Elizabeth. Reconstruindo o aprender: a teoria na prática.
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Quando um jogador de futebol vai dribrar outro, se ele faz que vai para a esquerda, ele vai?- Não, ele vai para a direita.10 Então, sob esse enfoque o que é driblar? – É fazer que vai para um lado e ir para o outro. Muito bem! Primeiro conceito construído. Outra pergunta: - Quando você entra em um ônibus tem que prestar contas a alguém? – Sim, ao cobrador. Pois bem, então o que é “driblar bonde”? - Enganar o cobrador. Entrar no bonde e não pagar. Imaginem um professor que entra na sala de aula e diz: - Anotem aí, driblar bonde é enganar o cobrador. O aluno rapidamente esquece o conceito, porque foi apenas mais um dado para anotar. Pergunto eu: - Alguém nesta assembléia vai esquecer o que é “driblar bonde”? Isto é maiêutica socrática. Usando esse método, dispende-se mais tempo com o filho, com o aluno, mas se estabelece um aprendizagem significativa. Após este interregno, segue a culminância da caracterização do Dr. Mendes Pereira. Ele faleceu a 9 de março de 2003. Era um homem de vanguarda no quesito valorização da mulher. A minha pesquisa revela que a postura do Dr. Pereira contribuiu significativamente para a felicidade do casal. Dona Terezinha conviveu com um homem de verdade! Parabéns, à senhora pelo marido tão especial! Profissionalmente, um homem disciplinado ao extremo, ambientalista de primeira grandeza, numa época em que o mundo pensava que as riquezas naturais estariam disponibilizadas ad eternum. É uma honra para mim ocupar a cadeira que deteve um antecessor de tamanho quilate. Vamos à segunda parte da minha tarefa. Quem ouve essa tarefa pensa às vezes que é apenas uma sucessão de fatos, mas para quem a executa é uma atribuição encantadora. Adentrar à casa dos parentes do patrono e do último ocupante da cadeira 59 do IHGM e, auxiliada pelas famílias, perscrutar a vida de homens tão especiais, convictos do significado de sua missão de vida, que contribuiram tanto para a comunidade - perseguindo conceitos tão avançados como valorização da mulher, conservação do ambiente e integração como fator de desenvolvimento – é um momento único. Na minha vida, o gosto pela História e pela historiografia teve início quando a Profa. Rita Lima Reis – aqui presente - foi a minha primeira professora de História. Profa Rita, eu devo à senhora o meu primeiro olhar diferente sobre essas questões. E depois, a minha segunda professora de História, Profa. Regina Helena Faria, também presente a esta solenidade. Eu gostaria de registrar que, na minha opinião, não deveria 10
A resposta às perguntas da palestrante foram dadas por um jovem da platéia. O método da maiêutica foi aplicado durante o pronunciamento da empossada.
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existir Instituto Histórico e Geográfico no Maranhão sem a presença de uma das maiores autoridades na área, a professora doutora Regina Faria. Ela semeou o brilho no meu olhar, ao me fazer descobrir que aquele era o caminho que eu queria seguir. Eu te devo isso, Regina. Eu te devo a minha carreira de 30 anos de sala de aula lecionando História. Regina iniciava a aula, na década de 70, com enciclopédias coloridas. Ela bailava com aqueles livros atraentes. Eu voava com ela e era lindo! E isso é História. Não tem nada a ver com memorização de fatos e datas. É a beleza do descobrir...É o brilhar do olhar! É a contribuição para “humanizar” a humanidade. É muito bonita essa ciência! Ao lado da ilustre Profa. Regina, outras brilhantes professoras merecem registro , como a Profa. Esterlina e a Profa. Mimi Meireles. Esta me fez compreender a Geografia interligada à História e não como mero trabalho de memorização de rios e afluentes. Imbuída do entusiasmo que essas lembranças suscitam, passo à segunda parte do meu trabalho: a vida e obra do Dr. Olímpio Ribeiro Fialho, patrono da cadeira 59 do IHGMA. Nasceu em 24 de agosto de 1889. O Brasil havia abolido a escravatura um ano antes e estava próxima a Proclamação da República. Um momento ímpar. Tinha início a modernização e a busca de novos paradigmas. As esperanças estavam em alta. Os escravos - classe baixa e explorada – pensavam que quando a República fosse proclamada iria acabar a desigualdade social no país. Qual não foi a surpresa quando constataram que o dominador apenas mudou de nome: de português para aristocrata. Quem desejar se aprofundar nesse tema, recomendo uma obra espetacular da Profa. Regina Faria – Os Pobres do Brasil – que contextualiza esse momento histórico tão conturbado: o início da República Velha, em que eclodiram diversas rebeliões e se viveu um clima de incerteza e medo. 11 Desde menino, o Dr. Olímpio se revelou um autodidata. Tudo aprendia rápido e sozinho. Quando se tornou rapaz externou o desejo de cursar Engenharia na Faculdade Politécnica da USP: uma das mais rigorosas do país. Hoje, os alunos maranhenses saem das melhores escolas do Estado e encontram muita dificuldade para ingressar na famosa Poli da USP. Imaginem no início do século passado, em 1905, um jovem de Barra do Corda acalentar tal sonho e lograr êxito na primeira tentativa. Esse era o Dr. Olímpio Fialho, o engenheiro formado em São Paulo. Convém ressaltar que Barra do Corda, nesse período, representava um dos pólos de efervescência cultural no Maranhão. Falava-se correntemente grego e latim nos círculos intelectuais da cidade. Os ideais republicanos, no Maranhão tiveram mais ressonância em São Luís, Barra do Corda e Caxias. Dr Olímpio voltou a Barra do Corda para tomar conta da companhia de navegação da família e abriu um comércio. Essas atividades, no entanto, propiciavam oportunidade 11
A contextualização do Maranhão na República Velha foi afixada em um quadro para leitura e apreciação na noite da solenidade de posse a que se refere o discurso. O trabalho foi realizado pelos professores Sérgio Neto e Alfredo Vidal .com o apoio da Profa. Fernanda Frölich, do publicitário Marcelo Vasconcelos e da Profa. Marineis Merçon.
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para que ele se dedicasse à sua atividade preferida: geógrafo e professor. E também desenvolver um hobby: desenhar mapas. O Dr. Olímpio Fialho detinha um profundo conhecimento de “conhecimento”. Dominava, com maestria, Português, História, Geografia, Química, Biologia, Matemática (em especial Trigonometria). Falava fluentemente Inglês, Espanhol, Francês, Latim, Grego, Tupiguarani e Esperanto. Recebia regularmente o escritor Josué Montelo em sua casa para praticarem o esperanto durante o chá das cinco. Foi fundador do Clube de Esperanto de São Luís. Defendeu a integração das línguas em uma única – o esperanto. Defendeu, sob o enfoque geográfico, a integração do Estado do Maranhão, com capital em Barra do Corda – centro geodésico do Maranhão, facilmente verificável no mapa do Estado. Revelou extrema capacidade para acumular conhecimento, no entanto não guardou para si. Desempenhou a função de professor em Barra do Corda. Quando um discípulo, filho, amigo lhe perguntava algo, parava e era como se aquela questão fosse o momento mais importante do mundo: minuciosamente, detalhadamente explicava com todas as particularidades.12 A obra do Dr. Olímpio é tão significativa que está presente na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Ali se encontra catalogada a sua publicação sobre a bacia do rio Corda. Dentre suas obras13, destacam-se: Elementos subsidiários à confecção da monografia das reservas da hulha branca no Maranhão; A Bacia do Rio Flores14; A radioganiometria e sua aplicação na coleta de dados topográficos15, Rio Corda – Quedas D´água16, Elementos para a classificação geológica do litoral maranhense17, Aspectos do revestimento florístico do Maranhão18, Perimetro do revestimento florístico do Maranhão19, A nova carta geográfica20 e 12
A palestrante conversou com Giovani, neto do Dr. Olímpio Fialho, que reside em Brasília. Ele afirmou categórico: - Quando vovô explicava algo para alguma pessoa não era possível deixar de compreender integralmente. 13 As obras publicadas pelo Dr. Fialho foram exibidas em um painel na noite de posse da sócia Elizabeth Rodrigues.. 14 In Rev. de Geografia e História – nº 1 – ano II – 1948 – São Luís MA; 15 In Rev. de Geografia e História – nº 1 – ano I – 1946; 16 A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos tem catalogada a obra “Rio Corda.- Quedas D’ água, de autoria do Dr. Olímpio Fialho, sob o n. 44049754, disponibilizada pelo Departamento Estadual de Estatística do Maranhão, em 1940. A obra foi publicada posteriormente, conforme referência a seguir: in Rev. do IHGM – nº 3 – ano III – fevereiro de 1950 – São Luís MA. 17 In Rev. do IHGM – nº 4 – ano IV – junho / 1952. 18 In Rev. Instituto Brasileiro de Geografia – nº 4 – ano IV – dezembro / 1953. 19 In Rev. do IHGM – nº 5 – ano V – dezembro / 1954. 20 In Rev. o IHGM – nº 6 – ano VII – dezembro / 1956.
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A Casa de Pedra.21 Ele gostava de explorar os rios – nascente, leito, foz – em lombo de burro. Cada vez que regressava a casa, desenhava o objeto de estudo com riqueza de detalhes. Em razão do seu profundo conhecimento acerca de construção de pontes e estradas, Agrimensura, Topografia e Estatística, foi convidado pelo interventor Paulo Ramos para assumir um cargo na Diretoria do Departamento de Estradas de Rodagem do Maranhão. Esse evento se revela uma ironia: o mesmo interventor que fechou a Faculdade em que estudava o Prof. Mendes Pereira22 abriu oportunidade profissional para o Dr. Olímpio Fialho. O Dr. Olímpio se notabilizou, em Barra do Corda, como o conselheiro que era chamado por toda a comunidade para resolver problemas. Ele era juiz, professor, consultor, orientador. O próprio promotor público da região solicitava o seu julgamento quando da ocorrência de litígios na localidade. Dentre os intelectuais que tenho estudado, ele me parece o que melhor sintetiza o alcance do conhecimento holístico, aquele cuja postura mais se assemelha aos estudiosos daquilo que os gregos chamavam de Filosofia – a mãe de todas as ciências, aquela que é composta por todas as ciências. Assim como o Dr. Mendes Pereira tratava o ambiente como um todo, como algo que não pode ser compartimentalizado, o Dr. Fialho via o conhecimento como um todo: a Química se relaciona com a Matemática e isso não pode ser ignorado. Pregava a interdisciplinaridade e a profundidade do estudo, o que nas escolas brasileiras se torna difícil, devido ao acúmulo de disciplinas e a extensão dos conteúdos programáticos cobrados nos vestibulares23. Dr. Olímpio Fialho faleceu em 23 de junho de 1979. Gostaria de fazer uma homenagem a tão ilustrado confrade, solicitando aos voluntários, dentre os presentes, que leiam o nome escrito em cada cartão que passo a entregar à platéia24. 21
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, Revista n. 6, 1957. Ocupante anterior da cadeira n. 59, do IHGM, de cuja biografia se tratou na primeira parte deste texto. 23 No livro de Elizabeth Rodrigues Reconstruindo o aprender: a teoria na prática, ela chama a atenção para o excesso de disciplinas obrigatórias no Brasil. Afirma que, ao seu ver, se os legisladores crêem que certos conteúdos são importantes devem trabalhar para que sejam explorados em disciplinas já existentes., porque o aumento da quantidade de disciplinas inviabiliza o aprofundamento do estudo. 22
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Elizabeth Rodrigues percorreu a platéia, distribuindo aos voluntários cartões contendo os nomes dos oito filhos do Dr. Olímpio Fialho e suas devidas significações para realizar inferências sobre a postura holística por ele adotada ao longo da vida. O primeiro cartão continha o nome da filha Petronília e foi lido pela Profa. Ceres Murad: do grego petros e do latim petra: pedra e nil do latim, relativo aos elementos químicos caracterizados pelo dígito zero no número atômico: pedra zero, pedra fundamental. O segundo cartão foi lido pelo acadêmico Benedito Buzar: Olímpio, pertencente à cidade de Olímpia, na Grécia. A Dra. Íris Fialho Abdalla leu o cartão com o próprio nome: Íris: o espectro solar, arco-íris; certa pedra preciosa, membrana circular do olho em cujo centro se encontra a pupila; paz, bonança. Outra filha do Dr. Olímpio leu o quarto cartão: Juracy, do tupi, a mãe das ondas, mãe das conchas, aquela que faz o bem. Uma outra filha leu: Polo Norte, região que se localiza no extremo norte do planeta;é o lugar onde o eixo de rotação da Terra corta
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Diante do amplo leque de Ciências percorrido para a escolha dos nomes de seus filhos, nada mais é necessário dizer acerca desse pesquisador que dedicou a vida inteira à busca do conhecimento, do aprofundamento e utilizou permanentemente suas descobertas para o bem da comunidade. Quem é, pois o Dr. Olímpio Fialho? O escritor, o professor, o engenheiro, o químico, o juiz, o matemático, o biólogo, o poliglota, o geógrafo, o historiador, o gênio? Não, Dra. Íris, o homem. O homem de Barra do Corda, que teve sempre em mente, desde o início, o significado de uma vida com dimensão holística: perseguir e partilhar o conhecimento, servir a comunidade e cuidar das sementes lançadas com a humildade que só aqueles que detêm a verdadeira sabedoria podem apresentar.
a superfície; pólo celeste positivo. Continuando, um membro da família leu: Rádio, osso dos membros superiores, que constitui o antebraço juntamente com o cúbito; raio ou semi-diâmetro. Em seguida, leu-se Violeta: pequena planta herbácia da família das violáceas e a flor dessa planta. E, por último, Ofal: iniciais de Olímpio Fialho e sua esposa Anísia Lima. Estava homenageada também a Língua Portuguesa.
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HOMENAGEM AO DR. SALOMÃO FIQUENE25 JUSTA HOMENAGEM QUE PRESTA O IHGM (Instituto Histórico Geográfico do Maranhão) ao seu ilustre confrade, extensiva aos seus familiares. JOSÉ RIBAMAR SEGUINS26
Maranhense de Itapecuru-Mirim do Estado do Maranhão, nascido em 27 de outubro de 1907, ocupava a cadeira nº 24, patroneada por Antônio Enes de Sousa em substituição a José Silvestre Fernandes, filho de Roque Darvin Fiquene e Zarifa Fiquene. Iniciou o seu curso superior na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1929. No Instituto Manguinhos, conquistou o primeiro lugar de aplicação. Defendeu tese perante a banca examinadora composta pelos ilustres mestre Carlos Chagas, Lindemberg e Rabelo, dos quais recebeu grandes e merecedores elogios. O seu trabalho sobre “Doenças de Nicolau Fevre” tornou-se clássico, citado como melhor estudo, relativamente, ao assunto durante muitos anos. Prestou na Faculdade Nacional memorável concurso para docente livre parapsicologia e foi, durante sua vida, o único Docente Livre dessa matéria naquela Faculdade. Foi Diretor do Instituto Oswaldo Cruz, proporcionando para a entidade uma fase áurea. Fez um estudo da vacina “Tifica” e publicou suas conclusões nos arquivos de Higiene do Departamento Nacional de Saúde. O Professor Barros Barreto, Diretor Geral do Departamento de Saúde, na época de passagem pelo Maranhão, deu-lhe a maior prova de confiança, mandando-o aplicarlhe a vacina, testando e comprovando ele próprio a eficácia do citado medicamento. Participou da Fundação Paulo Ramos, sendo eleito o primeiro Diretor da Faculdade de Farmácia e Odontologia –1944. Participou da criação da Faculdade de Filosofia de São Luis e da Escola de serviço Social. Foi membro da Academia Maranhense de Letras. Deixou publicados inúmeros artigos e folhetos, entre os quais: “Conceito atual de Farmácia”; “Os Problemas das Desinterias no Maranhão” ; “Paralisia Infantil”; “Radio e Físicoquimica”; 25
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Estes dados foram colhidos do livro”Patronos e ocupantes de cadeiras” – do IHGM.
A homenagem foi elogiosa sugestão da Presidência do IHGM, para ser proferida pelo confrade José Ribamar Seguins, no dia do aniversário do elogiado em 27 de outubro de 2007.
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“Aquiles Lisboa, grande médico do seu tempo”; ”Dr.Neto Guterres, símbolo da generosidade do seu povo; “A República Árabe Unida”; “Lição de Sapiência”; “Gripe Asiática”; “Importância pratica da Parasitologia”; “Jornalismo Incongruente”; “Relembrando Malba Tahan”; Deixou o livro “palestinos e seus judeus”. Era casado com a Senhora Vitória Metre Fiquene deixando os filhos Lilia, Vitória, Lea, Silvia e Liana, todas bioquímicas, Luis Augusto, engenheiro e Luis Salomão, médico. Faleceu em São Luis no dia 04 de junho de 1984.
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DISCURSO DE RECEPÇÃO A TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO
O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão fundado em 20 de novembro 1925, para ter sua comemoração na data de 02 de dezembro, data comemorativa do centenário de nascimento do Imperador Pedro II, foi idealizado pelo escritor: Antonio Lopes da Cunha, com o apoio de outros ilustres maranhenses: Justo Jansen Ferreira, José Pedro Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, Benedito de Barros Vasconcelos, José Eduardo de Abranches Moura, Padres: Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes. Todos destacados pela publicação de trabalhos Históricos e Geográficos sobre seu Estado. Os Sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão prestam-lhes mais esta homenagem ao lembrá-los nesta solenidade. O artigo nº 42 do Estatuto trata da perenidade da Instituição. É para manter essa perenidade que seu quadro social tem que ser renovado constantemente. É através dos Sócios que são concretizados os objetivos da Instituição e prestados os serviços de perpetuação dos fatos históricos e as descrições, as análises e os diagnósticos geográficos. A posse da Professora Doutora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo é a terceira deste ano de 2007 e recaiu na escolha de professora doutora como as anteriores, pois são pessoas capacitadas para realizar tais objetivos. O professor tem a flexibilidade e a presteza para elaborar um texto e divulgá-lo oralmente, sem grandes prazos de antecedência. É, isto também, que o IHGM precisa para a concretização de seus objetivos.
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A posse da Professora Telma, na qualidade de Sócia Efetiva, para ocupar a Cadeira nº 6, Patroneada pelo Padre Antonio Vieira é também uma homenagem da Instituição a mais um centenário de nascimento do Ilustre Patrono ocorrido em Lisboa, na data de 06 de fevereiro de 1608 e sua morte, em 18 de Julho de 1687. A Professora e orientadora Maria de Nazareth Leite da Silva assim se refere a Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, quando prefaciou seu memorial descritivo: “Adotando o ritmo da natureza, foi paciente, além de arrojada e corajosa”. “Solidária, não se deixou embevecer pela glória das primeiras vitórias, dedicando-se também à cátedra, confiante de que o desenvolvimento individual e social perpassam pelos estudos”. “Seu memorial descritivo não deixa nenhuma dúvida quanto à coragem que a imbuia, levando-a ao triunfo como professora-pesquisadora, consciente de que a pesquisa leva ao ápice da carreira do verdadeiro mestre, aquele que não se contenta com a repetição de fatos já conhecidos”. “Além de exímia Educadora, dedica-se a divulgar o estudo da prática docente nos mais diversos municípios maranhenses, idealizando novos cursos que além de promoverem o aperfeiçoamento de profissionais de nível superior, também, interagem com a sociedade, que residindo longe das grandes cidades e de suas Universidades vivem à margem cultura”.
Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo nasceu em São Luís do Maranhão, no bairro do São Cristóvão, sexta filha do casal Marcelino Santos Costa e Siloca. Logo ao nascer seus pais resolveram dar, por adoção legal, a filha ao seu maior amigo e a esposa impedida de procriar. Oriunda da família de prole numerosa foi criada como filha única do casal: José Bonifácio dos Santos e Marly Alves dos Santos, carinhosamente conhecida por Iaiá. Telma teve uma infância feliz e uma educação aprimorada, recebida desde a alfabetização, por professoras capacitadas e amigas. Iniciou o primeiro Grau no Colégio Duque de Caxias, no Bairro João Paulo, depois no Ginásio do Colégio São Luís, no São Vicente de Paula e no Colégio Batista. O 2º Grau (médio) foi cursado na Escola Normal Rosa Castro. Recebido o Diploma de Professora Normalista, casa-se, aos 18 anos, com José Batista Mendes Reinaldo com quem teve seis filhos. Inquieta por aumentar seus conhecimentos, apesar dos encargos de dona do lar, esposa e mãe, prestou o vestibular para o Curso de História da UFMA, em 1976, obtendo aprovação. Concluído o curso de História, em 1980. Professora, leciona em estabelecimentos de Ensino de 2º grau até 1991. Recebeu sua primeira nomeação para o Grupo Escolar Força Aérea Brasileira, no Bairro do São Cristóvão, mais tarde lecionou no Centro de Ensino Médio Nascimento de Morais, Bairro do Vinhais e no Colégio Renascença, interrompeu o trabalho docente por exigência doméstica. Submete-se a Concurso Público para professora da UFMA. Aprovada vai lotada no Departamento de História. O trabalho docente não a impede de prosseguir seus estudos. Inicia um Curso de Pós-Graduação, latu sensu, no Município de Guarapuava, Estado do Paraná, em módulos cursados no período de férias, recebe o título de “Especialização em Teoria e Produção do Conhecimento Histórico” – 1994.
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Concluído esse curso inscreve-se na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, para o Mestrado em História Social. A exigência do Curso, realizado em outro Estado, fora do lar provoca a separação conjugal definitiva. Nesses períodos de afastamento de São Luís, os filhos ficavam aos cuidados do pai e da avó Iaiá. Terminado os quatros anos de mestrado não defendeu a dissertação, ficando em São Luís, para complementar o custeio familiar. Recebe convite da direção da UEMA para atuar no Programa de Capacitação de Docente (PROCADE). O Reitor da UEMA propôs-lhe caso elaborasse o Projeto Político Pedagógico do curso, em 60 dias, ocuparia a Diretoria do Curso de História. O Projeto de autorização do curso foi o primeiro a obter regularização entre os outros projetos. Telma por mais esse ato de competência e dinamismo obteve a Diretoria do Curso de História. No período de 1996 a 2000 trabalhou na UFMA e na UEMA, tendo, por opção, perdido a dedicação exclusiva na UFMA. No ano de 1999, o Centro Federal de Ensino Técnico (CEFET), assina com o Governo cubano um convênio para formação de Doutores. A seleção foi aberta a docentes de outras instituições. Telma inscreveu-se e foi aprovada. Apesar do alto custo financeiro do Curso, conseguiu realizar seu sonho de ser “Doutora em Ciências Pedagógicas”, com a defesa de tese e revalidação do curso. A tese de Doutorado está sendo distribuída aos que estão participando desta solenidade e será autografada ao final. Esse é um exemplo de vida, demonstrando que os obstáculos que a vida oferece as pessoas, especialmente do sexo feminino, não impedem as realizações. Os dons da inteligência e da vontade sempre superam as contingências adversas. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo é um exemplo de mulher que venceu e superou todos os obstáculos que lhe apareceram, merece louvor. Foi excelente filha, as irmãs biológicas são consideradas e com elas mantém um relacionamento carinhoso. Os seis filhos criados receberam formação exemplar e hoje são todos graduados: Tatiana, Odontóloga; Cláudio, Engenheiro; Amanda, Enfermeira; Riedel, Advogado; Ana Paula, História e Pedagogia; Thales, Profissional liberal. A quem parabenizo pela brilhante e lutadora mãe. Estendo as felicitações aos queridos netos e demais familiares. Ao companheiro e amigo de todos as horas César Alberto Coimbra minhas felicitações. O Currículum Vitae de Telma é muito extenso, entretanto devo enumerar alguns dados para complementar a prova de seu dinamismo em prol da educação e da história. - Professora Titular do Quadro da UFMA. Ocupou cargos e funções de Chefe de Departamento, Coordenador de Curso e Membro de Colegiado de Curso, por diversos períodos. -
Fala mais de um idioma.
Publicou diversos trabalhos em periódicos Científicos, Técnicos e Culturais entre eles:
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1. Competência em el discurso oficial de la formacion dos professores en Brasil. 2. Formacion inicial de los professores para la educacion básica, una revision urgente. 3. La formacion docente en UEMA – MA: una concepcion y los resultados de la prática de ensenanza por medio de proyectos. 4. La prática curricular de um modelo basado en competências laborales para la educacion superior Del licenciado em Históra – Pedagogia 2005 e Havana Cuba – 2005. Todos publicados na Revista. 5. O saber histórico em parâmetros: o ensino de História e as reformas curriculares nas últimas décadas do séc. XX – in Encontro Humanístico – 2005. São Luís – MA. 6. Diretrizes macros curriculares de História – uma proposta de definição dos cursos de Graduação em História – in XX SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUNI – Florianópolis/SC – História: Fronteiras – Florianópolis – 1999. 7. Conferências no discurso oficial da formação de professores no Brasil – Ciências Humanas em Revista – UFMA – 2004. 8. História, Currículo e Cidadania – Pesquisa em Foco – UEMA – São Luís – 2005. 9. Fundadores do Estado do Maranhão e seu processo de consolidação – Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB – Rio de Janeiro – 2000. Além de diversos artigos resumidos em outros periódicos. Bancas Examinadoras - Orientações de Monografias de conclusão de cursos de especialização, de cursos de graduação e orientação científica e outras atuações. Telma pelos trabalhos que escreveu demonstrou uma preocupação constante com o currículo dos cursos de formação de professores de todos os níveis de ensino. Eu considero o currículo a parte de maior responsabilidade no setor educacional, pois o currículo direciona a formação do educando e dele depende o futuro dos que estudam. A elaboração do currículo depende e envolve várias equipes compostas de educadores de diversas áreas de conhecimentos e é objeto de preocupação de todos os governantes esclarecidos. Do currículo vai depender a formação das futuras gerações e dos que serão governados. O exame para elaboração de um currículo parte desde a Constituição de cada país, do Plano Geral de Governo, de Programa Setoriais, entre eles o de Educação até o estudo das ciências que poderão contribuir para a formação educacional. As grandes civilizações já demonstravam essa preocupação em especial a grega. Os educadores, os pedagogos estão sempre atentos a formatação laboriosa do currículo próprio a cada faixa etária e série da pré-escola ao curso superior. Augusto Conte já dizia que não se pode estudar a lógica sem a ciência, o método da ciência sem a sua doutrina, ou iniciar-se em seu espírito, sem assimilar alguns de seus resultados.
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Durkhein pensava também, ser preciso aprender coisas adquirir conhecimentos, sem levar em conta o seu valor próprio, porque estão necessariamente implicadas nas formas constitutivas da inteligência. Ele estudou sucessivamente a didática de algumas partes fundamentais do ensino: a matemática e as categorias do número, a forma; a física e a noção do discurso, do tempo e a evolução histórica. Para ele a história é o desenvolvimento, no tempo, das sociedades humanas, mas esse tempo ultrapassa a infinitamente as durações que o indivíduo conhece, de que ele tem experiência direta. A História não pode ter sentido para um espírito que não possua certa representação dessa duração histórica; um bom espírito é notadamente um espírito que a possui. A criança não pode construir sozinha essa representação de que os elementos não lhe são fornecidos pela sensação nem pela memória individual. É preciso, pois ajuda-la a construir tal representação. Vê-se que a didática de Durkheim é semelhante à de Herbart. Colocada no lugar que lhe compete na história das doutrinas pedagógicas, ela parece decidir o conflito do formalismo e das doutrinas que não lhe são contrárias, a oposição entre o saber e a cultura. Ela fornece o princípio que permitirá por si só resolver as dificuldades em que se debatem o ensino fundamental e médio comprimidos entre as aspirações enciclopédicas e o justo sentimento dos perigos que dessas aspirações derivam. Cada uma das disciplinas fundamentais do currículo implica uma filosofia latente, isto é, um sistema de noções cardeais que resume os caracteres mais gerais das coisas, tal como nos as concebemos. É essa filosofia, fruto acumulado de gerações que se torna necessário transmitir desde criança. Sobre valores e currículos Platão já dizia: não haver dúvida de que houvesse uma hierarquia de conhecimento muito clara, com a filosofia no cimo. John Dewey estava ciente de que o desenvolvimento da aprendizagem deve ser orientando e também que isto implicava a existência de algum tipo de meta. Para ele devemos permitir que o conhecimento se desenvolva e envolva e isso não pode acontecer se o conhecimento de uma geração é imposto à geração seguinte. Ele afirma que o único critério que podemos usar ao tentar avaliar um tipo de atividade, um corpo de conteúdo, um conjunto de experiências em relação a outros é uma avaliação da extensão de produzir experiências e desenvolvimentos continuados. Dewey quando fala em “contínuo experiêncial”, que para ele é a essência da educação como um processo contínuo destinado a durar toda a vida e que nos oferece o princípio pelo qual podemos chegar a decisões relativas ao conteúdo do currículo de cada educando, e esse princípio é o de sempre escolher a atividade ou experiências capazes de ser mais produtivas às experiências ulteriores. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, em seu artigo intitulado “História, Currículo e Cidadania” diz: “Paralelamente a essa renovação no campo da história e da educação, o mundo globalizado apresenta-se com modificações expressivas. A constituição do mercado global, a criação dos mega estados com os processos de integração regional, a revolução científica e tecnologia atual e os novos processos comunicativos, entre outros fatores, colocaram outros desafios aos historiados e aos educadores. A interpretação fragmentada do mundo, tanto por parte da mídia como dos intelectuais adeptos da pós-modernidade, tem
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fundamentado a compreensão de que nenhuma classe social tem mais uma memória progressista de tradições. A visão progressista de história que foi incorporada consistentemente ao Currículo escolar, desde o século passado, não é mais suscetível, segundo essa visão por não haver evidência de que os ganhos das lutas sociais, decorreram do desenvolvimento continuo dos ideais abstratos de identidade nacional com os que os intelectuais modernos procuraram cimentar a narrativa histórica, mesmo que essa narrativa tenha sido usada como uma arma nessa lutas” Parabéns Telma! Sua preocupação com a formação docente só pode ser iniciada com um bom currículo oferecido não só no curso superior, mas desde o curso fundamental e médio. Para corrigir os erros dos currículos de formação inicial o trabalho é dobrado. Vá em frente! Telma, representando todos os Sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão dou-lhe as boas vindas. Contamos com sua valiosa colaboração. Seja feliz entre nós! Muito obrigada a todos!
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DISCURSO DE POSSE DA PROFA. DRA. TELMA BONIFACIO DOS SANTOS REINALDO NA CADEIRA DE N.6 PATRONEADA PELO PE. ANTONIO VIEIRA
Joseth Freitas, Dilercy Adler, Cmte. Ramos, Telma Reinaldo, Eneida Ostria de Canedo
Ilma Sra Profa. Eneida Vieira Ostria de Canedo em nome da qual saúdo os integrantes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Autoridades presentes Senhores e Senhoras Amigos e amigas meu muito obrigado por se fazerem presentes a esta solenidade na qual estou tomando posse da cadeira de nº 6 cujo patrono é o Pe. Antonio Vieira e os ocupantes anteriores a mim o Pe. Arias Cruz e o prof. Josué Montello. Iniciarei minha fala agradecendo a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que aqui estivéssemos reunidos neste dia, em especial aos integrantes deste emérito Instituto que me indicaram e aprovaram a minha indicação para a cadeira de nº 6, aos meus familiares que me apoiaram neste percurso até aqui e as minhas alunas da graduação na UFMA Elba Fernanda Marques Mota e Maria Celina da Silva, ambas na época alunas do 5º período de História da UFMA que me ajudaram na
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pesquisa de campo, que possibilitou reunir todo o material que servirá de sustentação teórica para esta fala. Começarei fazendo um histórico da origem dos Institutos Históricos no Brasil posteriormente farei uma retrospectiva do perfil do patrono desta cadeira Pe. Antonio Vieira que nesse ano faz 400 anos de morte e que por coincidência o dia do aceite de minha indicação foi a data de seu falecimento 18 de julho de 1697 com 89 anos, com a mesma idade faleceu também o prof. Josué Montello e o Pe. Arias com 86 anos. Vistos com relativo preconceito hoje em dia por determinados setores da comunidade acadêmica, os institutos históricos e geográficos foram pioneiros na coleta e sistematização da documentação histórica, em levantamentos geográficos e em estudos etnográficos e lingüísticos. Foram responsáveis, portanto, pela produção de um saber na própria época em que a separação entre campos diversos do conhecimento estava se delineando e que a história reivindicava para si um estatuto científico, alicerçado em sólida pesquisa documental. Todo esse esforço foi canalizado para a construção da idéia de nação, buscando no passado exemplos e argumentos que apontassem o caminho glorioso destinado ao Brasil. Entretanto, esses "obreiros da história" não possuíam, obviamente, nenhuma formação específica para o historiador de hoje, eram basicamente membros da elite que ocupavam altos postos na burocracia estatal e políticos de renome: literatos, advogados, médicos, engenheiros, militares – carreiras por cultura a serem seguidas pelos filhos da elite – eram as principais ocupações daqueles que se dedicavam com afinco aos projetos de seus institutos. Durante muitos anos o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) brilhou solitário como único expoente da produção do saber histórico. Instituição localizada no Rio de Janeiro, sede da corte e, portanto credenciada a representar toda a nação, reuniu em seus quadros a nata da sociedade e da intelectualidade da época, aglutinando membros locais – sócios efetivos – e de outras partes do país e do mundo – sócios correspondentes. Sua hegemonia só seria parcialmente quebrada em 1862, com a criação do Instituto Arqueológico E Geográfico Pernambucano (IAGP), este com acentuada preocupação regional. Posteriormente, novos institutos com base local foram criados, como o de São Paulo, fundados em 1894, e o mineiro, em 1907, para citar apenas os da região sudeste. Todos os institutos locais procuravam se filiar, por um lado, ao modelo proposto pelo IHGB – o que pode ser verificado pela comparação dos estatutos, formato das revistas e intercâmbio entre seus membros; por outro, buscavam justamente realçar aspectos da história local, salientando a importância da região na composição da história nacional. O IHGB constituiu-se em instituição pioneira e sólida que, contando com forte subvenção oficial e intervenção pessoal do próprio imperador nos seus 50 primeiros anos, nunca deixou de publicar sua revista. Enquanto instituição mais duradoura e nacional teve atuação decisiva nos debates historiográficos e na sua divulgação, ainda que de maneira indireta, através dos livros didáticos.
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A maioria dos fundadores do IHGB, além de desempenhar funções dentro do aparelho de estado, tinha como elemento nivelador o fato de integrar uma geração ainda nascida em Portugal e transferida compulsoriamente ao Brasil por ocasião das transformações geradas pelo período napoleônico. Socializado pela educação fornecida por Coimbra – refratária, portanto, aos ideais da revolução francesa – tal grupo seria dominante até o início dos anos 50 – tanto no IHGB como na burocracia estatal –, quando seria substituído pela geração formada no Brasil. De maneira geral, pode-se afirmar que o perfil dos membros que engrossaram as fileiras do IHGB foi este: elementos oriundos da burocracia estatal, logo comprometido com a ordem que representava apesar do instituto se definir como instituição políticocultural – apartada, desse modo, dos debates políticos. a hegemonia estabelecida pelos membros do IHGB – que representavam também a elite pensante – era dupla, estendendo-se pelo estado e pela sociedade civil, na qual possuíam ativa participação como clérigos, jornalistas e professores. Destacava-se aí o papel da escola, canal de formação dos filhos da elite – por conseguinte, de reforço do cimento ideológico – e, conseqüentemente, de difusão dos valores dominantes pela sociedade. Criado nos últimos anos de um dos mais conturbados períodos da história brasileira, o IHGB carregaria marcas indeléveis dessa época. Dentro dessa perspectiva que se pode compreender a íntima relação que se estabelece entre o instituto e a monarquia, cristalizada na figura de D. PEDRO II – o imperador "amigo das letras". Já na primeira sessão, o instituto concede ao jovem imperador o título de protetor da agremiação, tornando clara sua perfeita simbiose com o estado. As sessões públicas comemorativas do aniversário da instituição, a partir de 1849, foram deslocadas para o dia 15 de dezembro, data em que o imperador passou a freqüentar as sessões ordinárias. O instituto, que se espelhava nas agremiações iluministas, entretanto adotava o modelo da vida de corte girando em torno do soberano: em 1846, não celebrou a sessão pública de aniversário, já que o imperador encontrava-se fora do Rio de Janeiro. Como no antigo regime, em que a etiqueta sobrevivia mal à ausência do monarca, o IHGB estabeleceu uma íntima relação com a monarquia: sem o soberano não havia espetáculo. na sessão magna de 1865, o presidente do instituto, Cândido José de Araújo Viana, então visconde de Sapucaí, comemorou o retorno do imperador ao Rio de Janeiro, às voltas com o conflito com o Paraguai: Da mesma maneira a revista veicula um discurso monárquico, de suas páginas também podemos acompanhar a decadência do império. assim, a revista nos fornece um painel das transformações da sociedade brasileira no final do século XIX, sendo possível apreender-se a emergência da idéia republicana nas filigranas do discurso oficial. Na primeira publicação do instituto aparecem seus objetivos expressos pelos estatutos: "coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos para a história e geografia do império no Brasil; e assim também promover os conhecimentos destes dois ramos filológicos por meio do ensino público, logo que o seu cofre proporcione esta despesa", reza o artigo 1º. Além da fixação do número de 50 sócios, haveria quantidade ilimitada de sócios correspondentes e honorários, "cujo título será conferido
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às pessoas que por sua avançada idade, consumado saber e distinta representação estejam no caso de dar crédito ao instituto". Percebe-se aí que os critérios de seleção para a agremiação passavam pelo círculo de relações pessoais – ainda não se exigia nenhum trabalho próprio aos aspirantes: as portas do instituto seriam abertas mediante a mera indicação de um de seus membros. por fim, buscava o instituto estabelecer correspondência com sociedades de igual natureza, bem como ramificar-se nas províncias do império. Aos intelectuais do IHGB competia, portanto, a definição do projeto da nação de que se falava esse projeto nacional incluía, além da defesa da monarquia, a apologia da centralização (o que se refletia na própria concepção do IHGB como núcleo produtor de saber) e do catolicismo, alicerce da nacionalidade. O caminho para a tão almejada civilização, pensada segundo os moldes europeus, deveria passar, inevitavelmente, pela educação, elemento fundamental na unificação ideológica das elites. a formação dos filhos das famílias abonadas seguia um trajeto quase que obrigatório: às primeiras letras, geralmente aprendidas junto a um professor particular, seguiam-se alguns anos – ou todo o curso secundário – no colégio Pedro II; posteriormente, via de regra optavase pela formação jurídica em São Paulo ou no Recife. Muitos dos membros do IHGB foram também professores, principalmente do Colégio Pedro II: afinal, ser professor de uma instituição tão sólida e renomada era sinônimo de competência intelectual, não apenas nos anos imediatamente posteriores à sua fundação, mas durante todo o período estudado. Muitas vezes, o trabalho junto ao magistério serviu como ponte para a confecção de obras didáticas que engrossavam substancialmente as rendas minguadas do autor. De fato, muitos dos professores de história do colégio eram nomes de projeção no país em vários meios: Justiniano José da rocha, Gonçalves dias, Francisco Inácio Marcondes homem de Mello, futuramente barão, Joaquim Manoel de Macedo, José Maria da silva Paranhos – o barão do Rio Branco –, Escragnolle Doria, Capistrano de Abreu, Matoso Maia e João Ribeiro. Empenhado no desenvolvimento da historiografia nacional, o IHGB preocupouse, desde o início, com o estabelecimento de uma marca particular para nossa história, sem se desvincular, simultaneamente, das grandes matrizes teóricas européias. Já na primeira sessão, em 1º de dezembro de 1838, foi lançada a questão que serviria de base para futuras discussões, mostrando o empenho do instituto em assentar as bases da história nacional: "determinar-se as verdadeiras épocas da história do Brasil, e se esta se deve dividir em antiga e moderna, ou quais devem ser suas divisões." De fato, as primeiras sessões foram permeadas por discussões sobre os elementos nacionais; limites territoriais do império, periodização, discussão e emissão de parecer sobre as obras de história do Brasil escritas por estrangeiros, como as de John Armitage e Ferdinand Denis, toda essa discussão culminaria no concurso sobre a melhor maneira de se escrever a história do Brasil, cujo vencedor seria o naturalista alemão Von Martius (1794-1868), que esteve no Brasil com Spix por ocasião do casamento de d. Pedro I com d. Leopoldina. em sua monografia, Martius desenvolveu a idéia de que a singularidade do Brasil jazia no cruzamento racial, reafirmando entretanto a hierarquia natural entre as raças.
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O exame das conferências proferidas e dos artigos publicados na revista do IHGB revela uma acentuada preferência pelos temas políticos – que vai decrescendo ao longo do século XX – e pelos períodos passados, uma vez que a proximidade com o objeto de estudo poderia comprometer a tão proclamada neutralidade do historiador. Pode-se observar ainda que há uma nítida incidência dos grandes temas políticos, notadamente o descobrimento – momento que assinala a integração do Brasil ao time das nações conhecidas e civilizadas – e a independência, que marca o nascimento do Brasil como nação autônoma. Posteriormente, a república seria incorporada a essa escala evolutiva. PATRONO DA CADEIRA Nº 6 – PADRE ANTONIO VIEIRA Sacerdote jesuíta, (orador e líder político no Brasil Colônia) nasceu em 06 de fevereiro de 1608, na Rua dos Cônegos, na cidade de Lisboa (Portugal). Vinha de uma família modesta, tendo como pai Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejano e neto de uma serviçal mulata, e como mãe Maria de Azevedo, filha de Brás Fernandes, armeiro da casa real. Com o casamento, seu pai recebeu como parte do dote um oficio de justiça ou fazenda, que fora obtido por Brás Fernandes como carta de lembrança a quem se casasse com sua filha. Cristóvão Vieira Ravasco parte então para a Bahia, em 1609, com o intuito de ocupar o cargo de oficio de escrivão de agravos e apelações da relação da Bahia, retornando para Lisboa em 1612, para buscar mulher e filho. Antônio Vieira tinha seis anos quando veio para o Brasil, ingressando pouco depois no Colégio dos Jesuítas. Como noviço na Companhia de Jesus, em 1624 foi encarregado de escrever a carta Ânua – o relato anual das atividades dos jesuítas aos superiores em Lisboa, esse documento narra de forma pormenorizada os acontecimentos relativos à invasão holandesa na Bahia e da resistência dos portugueses, destacando o papel dos jesuítas no referido confronto, principalmente ao que se refere ao apoio espiritual aos soldados. Tem uma classificação complexa quanto à nacionalidade: passou mais da metade de sua vida no Brasil, e o próprio povo, quando ele caía em desgraça, chamava-o de «Judas do Brasil»; mas foi importante figura na política interna e externa de Portugal, para não falar na cultura. Vieira faleceu na cidade de Salvador (Bahia) em 1697. No ano seguinte, fez seu voto de castidade, pobreza e obediência, deixando a condição de noviço para iniciar os estudos de Teologia. Foi professor de Retórica em Olinda no ano de 1627, pregador na Bahia em 1633, ordenando-se em 1638. Como pregador, defendia os interesses do Brasil contra a ganância da Metrópole, defendia os escravos, os judeus e insistiu numa ação decisiva contra o invasor holandês. Fundou a Companhia Geral do Comércio do Brasil e foi ministro em Haia, em 1646, quando escreveu o documento Papel Forte, pelo qual foi apelidado em Lisboa de "Judas do Brasil". Em 1662 foi expulso do Brasil para Portugal, onde exerceu a função de confessor da regente Dona Luísa e pregador da Capela Real. A mando do novo rei, Dom Afonso VI, foi desterrado para a cidade do Porto. Preso pela Inquisição e posto em liberdade por Dom Pedro, obteve sua absolvição quando viajou para Roma, em 1675. Retornou ao Brasil em 1681, instalando-se na Bahia. Os sermões e cartas que deixou são
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considerados verdadeiros monumentos da literatura barroca e da ciência política. Também deixou fragmentos de um livro de profecias, que tinha o nome de Clavis Prophetanum, publicado em 1718 sob o título de História do Futuro. Nascido em lar humilde, na Rua do Cônego, perto da Sé, em Lisboa. Seu pai serviu a Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição, tendo mudado-se para o Brasil em 1609, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na capitania da Bahia. Em 1614 mandou vir a família para o Brasil. António Vieira tinha seis anos. VIEIRA E SUA VINDA AO BRASIL Estudou na única escola da Bahia: o Colégio dos Jesuítas em Salvador. Consta que não era um bom aluno no começo, mas depois se tornou brilhante. Juntou-se à Companhia de Jesus com voto de noviço em maio de 1623. Obteve o mestrado em Artes e foi professor de Humanidades, ordenando-se sacerdote em 1634. Em 1624, quando da Invasão Holandesa de Salvador, refugiou-se no interior, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Não partiu para a vida missionária. Estudou muito além da Teologia: Lógica, Física, Metafísica, Matemática e Economia. Em 1634, após ter sido professor de retórica em Olinda, foi ordenado e em 1638 já ensinava Teologia. Quando da segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior na época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão do Nordeste do Brasil. VIEIRA EM PORTUGAL Após a Restauração da Independência em (1640), em 1641, iniciou a carreira diplomática pois integrou a missão que veio a Portugal prestar obediência ao novo monarca Impondo-se pela viveza de espírito e como orador, foi nomeado pelo rei pregador régio. Em 1646 foi enviado à Holanda no ano seguinte à França, com encargos diplomáticos. Era embaixador (o pai, antes pobre, foi nomeado pensionista real) para negociar com os Países Baixos a devolução do Nordeste. Caloroso adepto de obter para a coroa a ajuda financeira dos cristãos-novos, entrou em conflito com a Inquisição mas viu fundada a Companhia de Comércio do Brasil NO BRASIL, OUTRA VEZ O povo de Portugal não gostava de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, de 1652 a 1661, missionário no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios.
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Diz o Padre Serafim Leite em «Novas Cartas Jesuíticas», Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem «para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos Índios e crítica de costumes». «Manoel da Nóbrega e António Vieira são, efetivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!» EM PORTUGAL, OUTRA VEZ Voltou para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da Regente, D. Luísa de Gusmão. Com a morte de D. Afonso VI, Vieira não encontrou apoio. Abraçou a profecia sebástica e por isso entrou de novo em conflito com a Inquisição que o acusou de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão, na qual expunha sua teoria do Quinto Império, segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser a cabeça de um grande império do futuro. Expulso de Lisboa, desterrado e encarcerado no Porto e depois encarcerado em Coimbra, enquanto os jesuítas perdiam seus privilégios. Em 1667 foi condenado a internamento e proibido de pregar, mas, seis meses depois, a pena foi anulada. Com a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II de Portugal, recuperou o valimento. EM ROMA seguiu para Roma, de 1669 a 1675. Encontrou o Papa à morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja atuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano. EM PORTUGAL Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando em 1671 uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protetor do Santo Ofício e o recebeu friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos. NO BRASIL, PELA ÚLTIMA VEZ Decidiu voltar outra vez para o Brasil, em 1681. Dedicou-se à tarefa de continuar a coligir seus escritos, visando à edição completa em 15 volumes dos seus Sermões, iniciada em 1679, e à conclusão da Clavis Prophetarum. Suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição. Já velho e doente, teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694 já não conseguia escrever de próprio punho. Em 10 de junho começou a agonia, perdeu a voz, silenciaram-se seus discursos. Morre a 18 de Julho de 1697, com 89 anos.
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OBRAS Deixou obra complexa que exprime suas opiniões políticas, sendo não propriamente um escritor e sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os sermões, dois são os mais célebres: o Sermão da Quinta Dominga da Quaresma e o Sermão da Sexagésima. Lendas Existem muitas lendas sobre o padre António Vieira, incluindo a que afirma que, na juventude, a sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora, e a que, uma vez, um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido. OBRAS DE VIEIRA - TOTAL DE 52 SERMÕES Sermão da Sexagésima Maria Rosa Mística Sermão de Santo António aos Peixes Sermão de Nossa Senhora do Rosário Sermão da Quinta Dominga da Quaresma Sermão do Mandato Sermão Segundo do Mandato Sermão de Santa Catarina Virgem e Mártir Sermão Histórico e Panegírico Sermão da Glória de Maria, Mãe de Deus Sermão da Primeira Dominga do Advento (1650) Sermão da Primeira Dominga do Advento (1655) Sermão de São Pedro Sermão da Primeira Oitava de Páscoa Sermão nas Exéquias de D. Maria de Ataíde Sermão de São Roque Sermão de Todos os Santos Sermão de Santa Teresa e do SantíssimSacramento
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Sermão de Santa Teresa Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma (1651) Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma (1644) Sermão de Santa Catarina (1663) Sermão do Mandato (1643) Sermão do Espirito Santo Sermão de Nossa Senhora do Ó (1640) Quarta parte, licenças e privilégio real Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Sermão da Segunda Dominga da Quaresma (1651) Maria Rosa Mística Excelências, Poderes e Maravilhas do seu Rosário Sermão das Cadeias de São Pedro em Roma pregado na Igreja de S. Pedro. No qual sermão é obrigado, por estatuto, o pregador a tratar da Providência, ano de 1674 Sermão do Bom Ladrão (1655) Sermão da Dominga XIX depois do Pentecoste (1639) Sermão XII (1639) Sermão XIII Sermão de Dia de Ramos (1656) Quarta Parte em Lisboa na Oficina de Miguel Deslandes Sermão do Quarto Sábado da Quaresma (1640) Sermão XIV (1633) Sermão Nossa Senhora do Rosário com o Santíssimo Sacramento Sermão XI Com o Santíssimo Sacramento Exposto Sermão da Quinta Dominga da Quaresma (1654) Sermão nas Exéquias de D. Maria da Ataíde (1649) Sermão de São Roque (1652)
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Sermão Segundo do Mandato (II) Sermão do Mandato (1655) Sermão da Epifania (1662) Sermão da primeira Oitava da Páscoa (1656) História do Futuro (vol. I) História do Futuro (vol. II) Esperanças de Portugal Defesa do livro intitulado Quinto Império
PADRE VIEIRA E SEUS BIÓGRAFOS A obra de Vieira, vasta e complexa, possui elementos que possibilitam as mais variadas interpretações. Muitos falaram a sue respeito, procurando o sentido de seu discurso e de sua vida. No Brasil, privilegia-se a sua postura como missionário, principalmente no período em que esteve na Província do Maranhão (1651-1661). Porém, outras caracterizações acerca do jesuíta já foram apresentadas. Como nos indica Eduardo Hoornaet: Sua figura histórica foi bastante controvertida: seu primeiro biografo, André de Barros (1746), o descreve como o jesuíta modelo, dedicado e santo, enquanto o bispo de Viseu, Francisco Alexandre Lobo (1826), apresenta-o como um homem vaidoso e ambicioso, seguido nisso pelo historiador maranhense João Francisco Lisboa (1865). No final do século XIX, dois autores, Carel (1889) e Cabral (1900), realçaram sua vida sacerdotal e religiosa enquanto o português João Lucio de Azevedo (1918-19210 pôs em evidencia sua personalidade política e Serafim Leite, na sua História da Companhia de Jesus no Brasil (1938-1950), fez dele retrato proeminentemente apologético. Vieira foi descrito como político por Hernani Cidade (1955), missionário por Máxime Haubert (1964), pregador por Luis Gonzaga Cabral (1901) e teólogo por Raymond Cantel (1960). Enfim, qual a imagem verdadeira! Quem foi Vieira na verdade! ( HOONAERT, p.63). Assim, para melhor compreendermos os seus escritos faz-se necessário uma especial atenção ao contexto em que sua obra é produzida, pois se negligenciarmos tal aspecto teremos um entendimento fragmentário dela. Ao traçarmos seu perfil biográfico, a eleição de um elemento norteador, para que não nos percamos na infinitude de questões tratadas pelo jesuíta, para tanto utilizaremos, além dos escritos de Vieira, de quatro de seus mais respeitados biógrafos: João Francisco Lisboa, João Lucio de Azevedo, Hernani Cidade e Serafim Leite. A biografia intitulada “Vida do Padre Antonio Vieira”, de João Francisco Lisboa (maranhense, jornalista e deputado), não deve ser entendida como uma única obra, mas
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sim como duas produzidas em momentos distintos e com objetivos também distintos. A primeira parte, “Vida do Padre Antonio Vieira (na Europa)”, é uma obra inacabada e sem revisão, publicada pela primeira vez após a morte de seus autores, em 1901, juntamente com suas obras completas. Possui uma narrativa linear, dando destaques para as atividades políticas e diplomáticas do jesuíta. Privilegia, como indica o titulo, o período europeu de Vieira, apesar de tratar rapidamente de suas passagens pela Bahia, ou seja, dos antecedentes a sua partida para a Europa e após sua decadência na corte. Já a segunda parte, “Vida do Padre Vieira (Jornal de Tímon) no Brasil”, foi publicada pela primeira vez em 1852 como parte integrante do Jornal do Tímon, sendo assim uma obra acabada. Apesar do título, trata apenas da atuação do jesuíta no Maranhão, não se atendo aos demais períodos de sua vida, deixando de apresentar referencias até mesmo ao pequeno espaço de tempo em que Vieira esteve em Lisboa para tratar da questão indígena junto a coroa. Estas duas partes foram publicadas juntas pela primeira vez em 1891, pela Livraria Garnier, com titulo acima mencionado.Uma questão que transcorre todo o discurso de Lisboa é a ambição do jesuíta, que apresentara tais sentimentos já quando entrara para a Companhia de e depois segundo o biografo, Vieira vira no Instituto o caminho mais curo para a grandeza humana, sendo este um sinal de ambição precoce. Ao analisarmos a biografia de Vieira escrita por Lisboa temos que levar em consideração duas questões: o fato do biografo ser maranhense, sendo que seus pais e avós foram donos de terras neste estado, trazendo consigo os conflitos do século XVII, e de ter vivido nos princípios do Império brasileiro, no primeiro caso devemos considerar a oposição que a população maranhense tinha em relação aos jesuítas, oque resultara na expulsão dos últimos em 1661 e na Revolta de Beckman, em 1684. No segundo, devemos considerar a oposição que havia entre os brasileiros e portugueses no inicio do império, sendo que nesse caso Vieira encarnaria o português explorador que não se preocuparia pelo Brasil. A tal ambição enfatizada por Lisboa, estaria mais presente quando Vieira abandonara muitas vezes a vocação apostólica em favor dos seus projetos para o reino, em defesa da Dinastia dos Bragança, embora em alguns momentos, tenha dado atenção as ações de Vieira no que se refere a diplomacia e as relações internacionais na primeira parte e as missões e conflitos com maranhenses na segunda, pouco destacando o messianismo do jesuíta e a sua teoria acerca do Quinto Império, relegando a segundo plano o discurso apologético do jesuíta na confecção de sua biografia. Já Serafim Leite, padre, membro da Companhia de Jesus no Brasil, trata o Padre Antonio Vieira a partir de sua “História da Companhia de Jesus no Brasil”, dando assim destaque para a sua atuação como missionário no Maranhão, entendendo-o como o nome mais importante do instituto do norte do Brasil, ultrapassando Nóbrega e Anchieta no que se refere a literatura. O autor entende o jesuíta como grande político e diplomata, intitulando-o orador da restauração portuguesa, destacando seu trabalho para o engrandecimento da Companhia de Jesus, fato que é compreensível na medida em que sendo ele próprio membro da Companhia de Jesus, proporciona uma interpretação que parte da própria companhia, apresentando uma versão da ordem sobre um dos seus mais ilustres membros.
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O autor entende o jesuíta como grande político e diplomata, intitula-o orador da restauração portuguesa, mas apesar da atenção dada ao discurso apologético de Vieira, o vê como alegórico e complementar as suas preocupações políticas, na verdade ao fazer a apologia de Vieira traça a história da Companhia de Jesus em terras brasileiras e pelo fato do mesmo ser membro do instituto acaba por proporcionar uma interpretação que parte da própria Companhia. Um autor contemporâneo de Serafim Leite foi Hernani Cidade, grande conhecedor da obra de Vieira, colaborando com a reedição de muitas de suas obras. Português de Lisboa procurou entender a vida do missionário como uma trajetória, daí a linearidade de sua obra, que se divide em: “Na Bahia”, onde destaca o período de formação do jesuíta e sua atuação frente as guerras contra os holandeses, “Na Europa”, onde chama atenção para atuação de Vieira como político e diplomata, sendo considerado aqui um dos maiores defensores da nova dinastia. Hernani Cidade apresenta seus projetos políticos vinculados as suas esperanças messiânicas, entendendo a restauração portuguesa como parte de um processo que levaria Portugal a se consolidar como Império Universal Cristão. Uma questão fundamental para Vieira segundo Hernani Cidade seria seu trabalho missionário, sendo que dele dependeria a conversão mundial e o estabelecimento do Quinto Império (os anteriores seriam o dos assírios, persas, gregos e romanos), pois, para ele , Portugal seria a nação escolhida para levar a cristandade para todos os outros povos, impossibilitando assim uma desvinculação da Igreja em relação ao Estado Cidade elogia o talento de Vieira e sua precoce intervenção nas coisas públicas, destacando seu profetismo, sempre aliado ao seu realismo histórico e as suas resoluções políticas. Dessa forma seu discurso apologético aproxima a história de Portugal com a do povo hebreu, contida no Antigo Testamento, sendo que, segundo o biografo, seria tal discurso que o levaria ao duelo teológico com a Inquisição, o autor apresenta sua versão da vida de Padre Vieira identificando-o com as preocupações do reino como um todo, sendo sua atuação fundamental para a consolidação do reino e do rei, ao contrario de Lisboa não o vê como opressor aos colonos brasileiros, mas, ao contrário, defende tais regiões como parte integrante de Portugal e, dessa forma, preocupa-se com o reino, no qual está incluso a América portuguesa. Uma das biografias mais detalhadas e com maior numero de fontes citadas é a de João Lucio de Azevedo. Um dos maiores estudiosos sobre a história de Portugal de seu tempo, consegue, de maneira brilhante, apontar as questões que preocupam Vieira no momento da confecção de sua obra, levando o leitor ao contexto da restauração portuguesa, com suas intrigas e contradições, destacando o espírito profético do jesuíta que, segundo o biógrafo, não o abandonará até o fim de sua vida. A obra possui dois volumes, é apresentada de forma linear e temática, estando dividida em: 1º Período: O Religioso, onde trata da formação jesuítica e o 2º Período: O Político, com destaque para a sua ação diplomática e defesa dos cristão novos, 3º Período: O Missionário, 4º Período: O Vidente: onde apresenta suas teorias messiânicas e o conflito com a Inquisição, 5º Período: O Revoltado: onde sentindo-se desprezado pelo rei de Portugal, parte para Roma com o intuito de receber o perdão do Papa e finalmente o 6º Período: O Vencido: onde se apresenta o fim da vida de Vieira na
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Bahia, ainda com significativa atuação política, mesmo que se restringindo a uma esfera local. Assim como Hernani Cidade, Azevedo apresenta Vieira a partir de uma perspectiva portuguesa, sendo que sua atuação política e missionária deve ser entendida a partir de sua ligação com a coroa, além de suas perspectivas messiânicas para o reino.Já Serafim Leite destaca mais a atuação missionária do jesuíta, enquanto Lisboa observada de forma marcante o caráter ambicioso do padre, estando mais preocupado em angariar poder político sobre as missões que com a fé indígena, além de prejudicar os colonos que dependiam dos nativos para sobreviver.. As posições dos biógrafos influenciaram as analises feitas por estudiosos brasileiros da obra de Vieira. Estes, no entanto, destacam geralmente sua atuação missionária, por estar mais próximo da realidade brasileira, Apontaremos alguns dos estudiosos do jesuíta da atualidade, sem, no entanto adentrarmos na analise de seus trabalho: Sezinandro de Menezes (Padre Antonio Vieira: a cruz e a espada), Alfredo Bosi (Dialética da Colonização), Alcir Pécora, Eduardo Hoornaert e Luis Palacin, além de Janice Theodoro, Anita Novinsky, Ronaldo Raminelli e Evaldo Cabral de Melo. Uma das mais recentes biografias, apresentada em forma de dissertação de mestrado, é a redigida por Sezinandro de Menezes intitulada “Padre Antonio Vieira, a cruz e a espada”. Neste trabalho o autor tem por objetivo encontrar o conteúdo social da obra de Vieira. Apresenta-o, no entanto, com preocupações estritamente econômicas, entendo os seus conflitos com os diversos setores da sociedade portuguesa como oposição entre a nova sociedade mercantil, representada por ele, e a velha sociedade feudal, representada pelos nobres e a inquisição. Acentua assim que, no século XVII, aqueles que se opunham ao dinheiro seriam conservadores, impedindo o avanço da sociedade portuguesa. Argumenta ainda que a vitória da antiga sociedade seria a causa da derrota de Portugal e da decadência do reino. Sezinandro de Menezes classifica como burguesas algumas posições de Vieira como por exemplo, o fato de propor a extensão da cobrança de tributos para a nobreza, o que confirmaria um questionamento dos privilégios da aristocracia portuguesa e o classificaria como um homem moderno, afastando-se da escolástica para se aproximar do espírito de Francis Bacon. A partir dai o autor busca compreender a posição de Vieiera frente as questões políticas da restauração portuguesa, apresenta os nativos não como súditos do rei, mas como mão de obra jesuítica, endossando a tese de que os padres da Companhia não permitiam a escravização destes para se utilizarem dos mesmos em proveito próprio.Na verdade o autor ao privilegiar o aspecto econômico em detrimento do político, acaba por apresentar uma visão fragmentaria da obra de Vieira e, ao percebe-la como voltada para os interesses econômicos de Portugal, acaba por endossar a tese de João Francisco Lisboa, de que o Padre objetivava a exploração dos colonos brasileiros, legitimando assim a revolta destes contra os membros da Companhia de Jesus. A posição de Sezinandro Menezes a respeito de Vieira ao mesmo tempo se aproxima e se distancia da apresentada por Alfredo Bosi no texto intitulado “Dialética da Colonização”. Neste trabalho, o autor apresenta como principal dificuldade da atuação de Vieira a tentativa de ajustar características feudais presentes na sociedade
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portuguesa com os valores mercantis emergentes. Sua obra buscaria não a eliminação de conceitos medievais como honra, fidalguia e a nobreza, mas sim reordena-las dentro de uma realidade que estava ainda em construção, a da centralização dos estados nacionais e da expansão econômica européia, ou seja, o mercantilismo. Alfredo Bosi apresenta assim o Padre Vieira como um homem de seu tempo, identificando em sua obra as dificuldades de se entender um período de profundas transformações como foi o século XVII., Enfim Bosi apresenta o Padre Antonio Vieira como elemento de engrandecimento da Companhia de Jesus, traçando uma imagem apologética do jesuíta, como Serafim Leite o fez. Já Alcir Pécora, ao destacar a atuação de Vieira como missionário, entende que os interesses espirituais da evangelização associados aos temporais ou seja, a expansão do reino português. Atenta-se assim o messianismo do jesuíta e ao seu discurso legitimador, pois o sucesso da empresa missionária dependeria da consolidação da coroa lusitana. Além disso chama atenção para o fato de Vieira ser o idealizador do Quinto Império, o que justificaria o pragmatismo do jesuíta na sua atuação na colônia, pois, segundo ele, só o esforço missionário levaria a instituição do Império Universal Cristão.Acir Pécora entende assim que, para Vieira , havia necessidade de inserção do índio brasileiro no corpo místico da Igreja, afirmando que a finalidade dos descobrimentos seria a conversão e a conseqüentemente expansão e solidificação da coroa portuguesa.. O índio seria o súdito do rei de Portugal, o que impossibilitaria sua escravidão, estando assim a liberdade indígena vinculada a sua inserção na igreja e no reino. Ao apresentar Vieira como idealista em relação ao seu projeto de instauração de uma igreja universal cristã sob a égide da coroa portuguesa, e que tal idealismo justificaria seu pragmatismo, estaria Pécora compartilhando do discurso de Hernani Cidade e João Lucio de Azevedo acerca da atuação de Vieira frente aos nativos brasileiros. Eduardo Hoonaert analisa a obra de VIEIRA a partir de uma perspectiva teológica onde o messianismo português ocuparia lugar central. Vieira entenderia a historia de Portugal como sagrada, que culminaria na formação de um Império Universal Cristão, sendo que, dessa forma, a separação entre igreja e estado não etria sentido, pois poderia enfraquecer a obra missionária. O jesuíta teria assim uma perspectiva sagrada da historia de Portugal, onde a coroa portuguesa assumiria o papel de estado evangelizador universal, entendo a atuação dos jesuítas junto aos naturais brasileiros a partir da necessidade da expansão de Portugal e, conseqüentemente do cristianismo, aproximando-se assim de Alcir Pécora, das questões apontadas por Hernani Cidade e João Francisco Lisboa. Luis Palacin, ao tratar da obra de Vieira, parte da idéia de consciência possível ou seja, de que o meio imporia limites na forma de se pensar. A partir dai, o vê como representante do barroco português e do pensamento social jesuíta, que partiria de um estado de espírito nacional, ultrapassando os motivos de classes ou grupos, o autor , ao mesmo tempo que se aproxima de Pécora e Hoonaert, por demonstrar que no discurso de Vieira estariam presentes duas motivações que se complementariam, a patriótica e a religiosa, se distancia deles, pois considera a idéia de uma intervenção divina na historia de Portugal atrapalharia suas elaborações políticas e sua atuação tanto na Europa quanto na América, apesar disso não tece criticas ao jesuíta, entendo-o como um homem de seu tempo e assim , limitando a visão de mundo do jesuíta.
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Em relação ao trabalho aqui apresentado, a grande motivação foi compreender e apresenta uma suscinta biografia de Padre Antonio Vieira, principalmente no que se refere a busca de compreender o homem e o padre num ambiente de disputas políticas e num mundo em transformações, assim entendemos que biografizar Vieira significa ver nele um homem fortemente marcado por suas preocupações históricas em relação ao futuro, aliando o messianismo ao discurso legitimador .
PADRE ARIAS DE ALMEIDA CRUZ Primeiro ocupante da Cadeira patroneada pelo Padre Antonio Vieira, Arias Cruz foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGM. Nasceu em Caxias em 14 de novembro de 1893, era filho de José Castelo Branco da Cruz e de Martinha Nunes de Almeida, descendente de uma prole de dez filhos. Desde jovem demonstrou desejo de seguir a vocação religiosa, ingressando no Seminário Santo Antonio, em São Luis, e depois continuando a sua formação em Teresina, ordenando-se padre aos 24 anos, idade mínima para ordenação. Celebrou sua primeira missa na cidade natal , Caxias onde ocupou vários cargos públicos, depois transferiu-se para São Luis onde foi Diretor de Instrução Pública, Diretor da Escola Normal, Diretor do Liceu Maranhense, exercendo também a docência no Liceu Maranhense, Colégio Santa Tereza, Colégio Rosa Castro e no Seminário Santo Antonio. Dentre as disciplinas que lecionou podemos destacar Religião, Língua Portuguesa, História Geral. Foi Capelão da Igreja da Sé, do Colégio Santa Tereza, do Hospital Português. Destacou-se também como jornalista e orador sacro. Publicou sistematicamente por diversos anos nos jornais da capital, onde seus artigos e conferencias tratavam dos assuntos pertinentes a educação, trabalho, questões agrárias, acontecimentos históricos, dentre outros. Seus trabalhos também foram publicados em outros estados notadamente no Piauí, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Caxias sua terra natal. Podemos encontrar seus trabalhos nos jornais Gazeta de São Paulo, Gazeta de Porto Alegre, Gazeta do RIO DE janeiro, Jornal do Maranhão, Tribuna Caxiense, Correio de Timon, Pioneiro de Caxias e Diário da Manhã. Proferiu importante conferencias entre as quais: Missionarismo Inaciano em São Paulo e no Maranhão, no Auditório da Gazeta de São Paulo e publicada por aquele jornal em 9 de janeiro de 1940. A Igreja e o Operariado, conferencia proferida na União Operária Maranhense em 19 de março de 1919, publicada pela Typografia Teixeira. Faleceu em Teresina em 12 de janeiro de 1970. Entre os artigos escritos pelo Padre Arias Cruz podemos destacar: Artigos Escritos Quanto pode a mulher? Cem contos de Reis O jogo de azar Profissão sem Aprendizado Riqueza e Generosidade
ANO Ano XX Ano XX Ano XX Ano XX Ano XX
Pag. ANO .2 11 05- 1958 .2 25 05-1958 .2 01-06-1958 .8, 15 -06-1958 18-05- 1958
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Discurso de paraninfo Ano XX Anita Costa Ano XIX O apoio de Carlos Prestes-Ano XIX Todas não são Assim Ano XIX Contraste Ano XIX Loucura ou Paixão? Ano XIX Maldito Seja Ano XIX Sem ELA Ano XIX O curso de geologia de Recife e mais Ano XIX Coração desumano Ano XIX “Consonância Pastoral” Ano XIX A feijoada Ano XIX Falsos profetas Ano XIX Como, em nome da terra berço, Ano XIX Urge uma revisão Ano XIX Capa sobre capa Ano XIX O concílio Ecumênico Ano XIX Isto, Isso e Aquilo Ano XIX Enchova Inocente Ano XIX Três quartos Ano XIX Terra até onde o sol mente Anunciado programa de bolsas de Mons.-Arias Cruz Dias de intenso júbilo na princesa do Sertão
.2, 11-01-1960 .2 ,11 -01-1960 .4, 17-01-1960 .6, 28-02-1960 .2, 06- 03-1960 .6, 27 -03-1960 .6, 06-03-1960. 6, 27-03-1960 6,03 -04-1960 6, 15-05-1960 6, 22-05-1960 6, 29-05-1960 6, 31- 01-1960 6, 21-02 1961 6, 13-03-1960 6, 24, 04-1960 6, 06-06-1960 4, 12-06 1960 6, 19 -06-1960 6, 26 06 1960 3, 06-02-1966 1, 29-05-1966 6, 16 -06 -1966
“Na obra o ‘Jogo de Azar”, critica a postura dos homens que se entregam á jogatina. Segundo o padre, neste ambiente “prolifera o vírus da ambição desenfreada, que termina por consumir o assassínio da pessoa da irmã. Ele recomenda que os irmãos afastem-se deste ambiente, pois “jogatina é o homem sacudido em emoções e comoções brutais, até a sincope cardíaca (...) jogo de azar é astúcia, é manha, é sutileza que insensivelmente escorrega a mão no bolso do parceiro e o deixa bambo e vazio”.Interessante perceber que o autor crítica as autoridades que abusam do poder público para se autobeneficiar. “O abuso da autoridade é a profanação do poder”. Tendo em vista que o correto é honrar o posto no qual por delegação se instalou. Percebe - se o tom preocupado e conservador de suas palavras, ficando evidente a preocupação com o comportamento dos irmãos. Mons. ARIAS Cruz destaca a analogia entre riqueza e generosidade, para ele deve-se ter a consciência da importância da mesma, em que o rico não faz nenhum favor praticando o bem, pelo contrário á sua obrigação tendo em vista que “maior felicidade está em dar do que em receber” E para aqueles que praticam a indiferença: “Não dou, vomita o coração de pedra, para não perder amanhã”. Fica claro que o padre condena a avareza dos que muito possuem e não ajudam ao próximo. Para ela, ser rico significa ter a obrigação em ajudar aos pobres.Discursa a respeito das funções da mulher, e este as restringe em constituir um lar e a ser educadora. E depois destaca a vocação religiosa, ressaltando que a mulher freira á tão somente a filha de Maria, esposa de seu Augusto Filho ou seja, do esposo ideal e único.Toda profissão é precedida da fase discente. Não há carreira
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liberal! Subordinada, no seu exercício, á posse de uma carta ou diploma que dispense a escola, ou a dureza dos bancos escolares. Não se é alfaiate sem aprender, não se é ferreiro sem o prévio e djuturno contato com a forja, e o mesmo se diga dos demais ofícios, dentro de cada um Este senhor exerce a profissão de médico, esse a de bacharel, e aquele a de químico industrial? Anos e anos consumiram eles, freqüentando os respectivos centros de estudo para só depois, oferecer seus serviços, aos competentes setores, dentro ou fora do país, conforme a legislação. Apenas uma carreira, no Brasil, rende fortuna e celebridade sem preparação, é a política por isso mesmo, pela facilidade com que diploma, alcunha de politicalha ou politicagem.Não é hipótese absurda ou coisa do outro mundo que o inspetor de quarteirão de ontem seja o chefe político de hoje, e amanha pela mão da docilidade incondicional, acompanhada do bom dinheiro, chegue a membro de legislativo estadual, sem obstáculo intransponível na reta para Tiradentes.
JOSUE DE SOUSA MONTELLO Josué de Souza Montello nasceu no dia 21 de agosto de 1917, na cidade de São Luiz do Maranhão (MA) e faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 15 de março de 2006. Ocupou a cadeira nº 29 da Academia Brasileira de Letras por 51 anos. Iniciou seus estudos em sua terra natal, concluindo o seu curso secundário em Belém do Pará (PA). De lá, em dezembro de 1936, veio para o Rio de Janeiro onde se especializou em Educação. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Maranhão. Exerceu diversos cargos, entre os quais destacamos: Conselheiro Cultural da Embaixada do Brasil em Paris; Reitor da Universidade Federal do Maranhão; Professor de Teoria da Literatura da Faculdade de Letras Pedro II (FAHUPE); Embaixador do Brasil junto à UNESCO; e Presidente da Academia Brasileira de Letras. Foi fundador do Museu da República (Palácio do Catete - Rio). Recebeu, dentre outros, os seguintes prêmios: “Intelectual do Ano”, da União Brasileira de Escritores e da Folha de S. Paulo, em 1971, com a publicação de Cais da Sagração; “Personagem Literária do Ano 1982”da Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo, pelo seu conjunto de obra; Grande Prêmio da Academia Francesa, 1987; "Guimarães Rosa", de prosa, do Ministério da Cultura, 1998; e "Oliveira Martins", da União Brasileira de Escritores, pela publicação de Os inimigos de Machado de Assis, em 2000. Foi agraciado com medalhas e condecorações de vários países. Dentre o vasto acervo literário deixado por Josué Montello, temos a obra Romances e Novelas publicado no Rio de Janeiro pela Editora Nova Aguillar em 1986, nesta obra o primeiro capitulo denominado CONFISSÕES DE UM ROMANCISTA trata da autobiografia de Josué Montello que foi jornalista, professor, romancista, cronista, historiador, ensaísta, orador, teatrólogo e memorialista, nasceu em São Luis do Maranhão, em 21 de agosto de 1917, numa casa que ainda hoje existe , na esquina da Rua dos Afogados com a Rua do Pespontão, às 4:30 horas da manhã, filho do casal Antonio Bernardo Montello e de Mância de Souza Montello. Para Josué Montello, seu horário de nascimento serviu de referencia para o hábito de se levantar nesse horário para trabalhar durante toda sua vida,
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“A CLARIDADE DE CADA NOVO DIA, QUANDO SAIO A ME ENCONTRAR COM ELA, SEMPRE TEVE PARA MIM O ENCANTO DA EXISTÊNCIA RENASCIDA” (MONTELLO, 1986). Estudou em São Luis, na Escola Modelo “Benedito Leite”, onde cursou o primário e no Liceu Maranhense onde concluiu o secundário, destacando-se como o primeiro aluno de sua turma. Seus Avós paternos são de Montese (Itália), próximo a Veneza, local onde se bateram os soldados brasileiros na 2ª Guerra Mundial, daí a referencia que o Marechal Mascarenhas de Morais fez a ele nas suas Memórias e a Josué Montello coube receber a espada de ouro do Marechal como Diretor do Museu Republica, quando a mesma foi doada ao acervo de relíquias históricas. Miguel Arcângelo Montello avô paterno de Josué, foi criador de gado na Província do Maranhão, aqui chegando em 1852, como integrante de uma leva de imigrantes que o Dr. Eduardo Olimpio Machado, presidente da Província, fez mandar vir da Europa após a abolição do tráfico de negros africanos, fixando-se segundo o Almanaque do Maranhão de 1865 na localidade Vargem Grande, onde nasceu o pai de Josué Montello. Pelo lado materno, é neto de português e brasileira, filha de índia, de uma prole de 8 filhos é o 5º filho varão, pois todos os anteriores foram mulheres, segundo suas memórias a ele foi dado a incumbência de preservar a índole religiosa do pai e seus dons de comerciante, assim muito cedo já dominava a leitura da Bíblia nos encontros da família, e sendo seu pai Diácono da Igreja Presbiteriana Independente de São Luis, no entanto a ele foi dada na juventude o direito de escolher que religião professar, embora para a família fosse interessante que se tornasse pregador, assim Josué Montello se expressa na dedicatória de suas Memórias: “A MEMÓRIA DO MEU PAI ANTONIO BERNARDO MONTELLO, DIÁCONO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DE SÃO LUIS DO MARANHÃO, A QUEM DEVO ESTA LIÇÃO DE LIBERDADE: QUE EU PRÓPRIO ESCOLHESSE O MEU CAMINHO ATÉ DEUS” Josué Montello foi um adolescente solitário e doentio “sou arvore de folhas estioladas, no mais alto esplendor da primavera”, assim ele se expressava, quando aos 15 anos teve que se afastar dos estudos para tratar-se de uma tuberculose, doença que dizimou uma de suas irmãs e dois tios, sendo no exílio forçado pela doença que se afirmar como leitor e futuro escritor, “o tédio está sempre à espera do romancista, aonde quer que ele vá”. Estudou no Liceu Maranhense onde dirigiu o periódico “A Mocidade”, jornal acadêmico da juventude de sua escola, onde publicou seus primeiros trabalhos literários. Em 1932, aos quinze anos de idade foi integrado à Sociedade Literária “Cenáculo Graça Aranha”, na qual se congregavam os novos escritores maranhenses de filiação modernista. A partir desse momento até 1906, Josué Montello publicou seus trabalhos nos principais jornais maranhenses, notadamente na Tribuna, Folha do Povo e Imparcial. Mudou-se para Belém do Pará onde publicou em colaboração com Nélio Reis, seu livro de estréia “História dos Homens de nossa História”. Foi eleito, aos dezoito anos
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membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ainda na capital paraense colaborou com vários jornais e revistas, sobretudo o jornal Estado do Pará. “A INTUIÇÃO DE UM ROMANCISTA É O DIAMANTE BRUTO QUE A VIDA VAI LAPIDANDO COM SUCESSIVAS EXPERIÊNCIAS DA PRÓPRIA VIDA” No fim do ano de 1936, transferiu-se para o Rio de Janeiro, integrando a seguir o grupo dos intelectuais que fundaram o Dom Casmurro, semanário literário dirigido por Álvares Moreira, Montello colaborou neste semanário literário e ainda em outros como O Malho, o Careta e Ilustração Brasileira, além de publicar aos domingos nos jornais A Manhã, O Correio da Manhã, Diário de Noticias e Jornal do Comercio, tendo exercido ainda a critica teatral do Jornal A Vanguarda. Em 1937, foi nomeado Inspetor Federal do Ensino Comercial, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, inscreveu-se no concurso de Técnico de Educação, do Ministério da Educação, com a tese "O sentido educativo da arte dramática", obtendo uma das mais destacadas classificações. Foi nomeado para o cargo em 1939. Em 1941, publicou seu primeiro romance, Janelas fechadas. Em 1943, foi professor do curso de Organização de Bibliotecas, do Departamento Administrativo do Serviço Público. No ano seguinte, a convite do Dr. Rodolfo Garcia, diretor geral da Biblioteca Nacional, planejou a reforma geral de nosso principal instituto bibliográfico. Em 1944, instalou em bases modernas os cursos da Biblioteca Nacional, de que foi a princípio coordenador e a seguir diretor. Foi professor da cadeira de Literatura Portuguesa do curso superior de Biblioteconomia, logo a seguir. Em 1947 foi nomeado diretor geral da Biblioteca Nacional. Ampliou-lhe a instalação; organizou em bases modernas as suas publicações; iniciou a divulgação das principais peças iconográficas da instituição, instalou o serviço de microfilmes; dotou-a com o primeiro serviço de laminação Barrow que se instalou no país para a conservação de documentos; fez restaurar algumas de suas coleções mais valiosas, como a de gravuras originais de Albert Duhrer. Ainda por sua iniciativa, promoveu na Biblioteca Nacional as primeiras grandes exposições em moldes modernos, a primeira das quais, a Exposição Goethiana, contou com o patrocínio da Academia Brasileira de Letras. Exerceu, cumulativamente, a direção do Serviço Nacional do Teatro. Em 1946, a convite do governo do Maranhão, fez o plano da reforma do ensino primário e normal do Estado, que a seguir se converteu em lei. Ao tempo da interventoria de Saturnino Belo, exerceu o cargo de secretário-geral do Maranhão. Em 1953, a convite do Itamaraty, inaugurou e regeu por dois anos a cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no Peru. Organizou, no correr de sua atuação na mais antiga Universidade do continente, a primeira Exposição de Livros Brasileiros que se realizou no Peru. Em 1954, recebeu da mesma universidade o título de seu Catedrático Honorário. Em 1955, o Teatro Universitário da Universidade de San Marcos, por iniciativa do diretor Pedro Jarque y Leiva, iniciou a temporada com a peça O Verdugo, especialmente escrita por Josué Montello para o mesmo teatro. A partir de 1954, tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, no qual manteve uma coluna semanal até 1990, e das publicações da Empresa Bloch, sobretudo na revista Manchete.
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Em 1956, exerceu o cargo de subchefe da Casa Civil do Presidente da República. Em 1957, convidado pelo Itamaraty, regeu a cátedra de Estudos Brasileiros, na Universidade de Lisboa e em 1958, regeu a mesma cátedra na Universidade de Madri. A convite do Instituto de Cultura Hispânica, ministrou um curso sobre literatura brasileira na Cátedra Ramiro de Maeztu. Organizou e instalou o Conselho Federal de Cultura, sendo o seu primeiro presidente, em 1967-1968, e membro até 1989, quando o Conselho foi extinto. De 1969 a 1970, foi conselheiro cultural da Embaixada do Brasil em Paris. De volta ao Brasil, organizou e instalou o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, onde empreendeu a reforma e instalação da nova Reitoria. De 1985 a 1989, foi embaixador do Brasil junto à UNESCO. De janeiro de 1994 a dezembro de 1995, ocupou a presidência da Academia Brasileira de Letras, realizando uma ampla reforma administrativa na quase centenária Casa de Machado de Assis. “NÃO SOMOS NÓS QUE ESCREVEMOS É A LINGUA QUE ESCREVE POR NÓS, COMO SE ANTECIPAR AO QUE PRETENDEMOS EXPRIMIR”. Prêmios recebidos: Prêmio Sílvio Romero de Crítica e Histórica, da Academia Brasileira (1945); Prêmio Artur Azevedo de Teatro, da Academia Brasileira (1947); Prêmio Coelho Neto de Romance, da Academia Brasileira (1953); Prêmio Paula Brito de Romance, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (1959); Prêmio Fernando Chinaglia de Romance, do Pen Clube do Brasil (1967); Prêmio Intelectual do Ano, da União Brasileira de Escritores e das Folhas de São Paulo (1971); Prêmio de Romance da Fundação Cultural de Brasília (1972); Prêmio de Ficção da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1978); Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro (1979); Prêmio Personagem Literária do Ano 1982, da Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo, pelo seu conjunto de obra; Prêmio Brasília de Literatura para conjunto de obra "1982", da Fundação Cultural do Distrito Federal (1983); Prêmio São Sebastião de Cultura, da Associação Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro (1994). A obra construída por Montello até aquele momento de sua carreira é assombrosa, pois abrange uma significativa variedade de meios de expressão - do romance ao teatro, do artigo jornalístico ao ensaio histórico. Sua prosa é elegante e fluída, passando ao leitor aquela enganadora sensação de ter sido escrita de forma ligeira, fácil, sem esforço aparente. Sua sólida formação intelectual se faz sentir em todos os ensaios e artigos, sempre permeados por análises precisas, argutas e diretas, ao passo que nos romances e peças teatrais a fina sensibilidade do artista impõe uma intensa abordagem psicológica das trama se dos personagens. A quantidade de títulos lançados por Montello é também motivo de espanto, ainda mais quando se leva em consideração o fato de que o autor se ocupava de várias outras atividades que não apenas a literatura, e mal havia chegado aos 38 anos de idade. Seus muitos lançamentos alcançam repercussão nacional e as premiações se acumulam: Prêmio Silvio Romero de Crítica e História, recebido em 1945; Prêmio Arthur Azevedo de Teatro, da Academia Brasileira, 1947; e o Prêmio Coelho Neto de Romance, da Academia Brasileira, em 1953. No dia 04 de novembro de 1954, é eleito para ocupar a Cadeira nº. 29 da Academia Brasileira de Letras - figurando como o mais jovem integrante daquela instituição em toda a sua história. É a consagração, mas está longe de ser o ápice de sua carreira literária. Por outro lado, sua consumada competência
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administrativa vale o convite para ocupar o cargo de subchefe da Casa Civil da Presidência da República em 1956, início da era JK. No ano seguinte, é designada pelo Itamaraty para reger a cátedra de Estudos Brasileiros da Universidade de Lisboa, função que desempenha com o brilhantismo de sempre - tanto que o Instituto de Cultura Hispânica leva-o para a Espanha, onde ministra um curso de literatura brasileira na Universidade de Madri. Em suas obras encontramos citados grandes nomes, entre estes, Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Sousândrade, João Francisco Lisboa, Assim como médicos, bispos, padres, presidentes de província, professores, desembargadores, etc. É o Maranhão narrado por entre becos e ruas famosas, como a Rua dos Afogados, Rua do Oiteiro, Rua do Passeio, Rua do Mocambo, Rua Grande. É a São Luís de beiral no telhado, de ruas longas e estreitas. São os Largos, o do Carmo, o do Santiago, o do Desterro, até mesmo o Cemitério do Gavião em suas obras é lembrado. Lembra ainda o Portinho, a Praia do Caju e o Cais da Sagração, as matracas do Caminho Grande, do Anil e da Maioba por cima das cantigas de bumba-meu-boi. O Liceu Maranhense também ganha uma atenção especial. É um passado/presente que nestas obras se constitui. Um passado que Montello traz com o uso da memória, de forma a fazê-lo presente. É na construção deste passado/presente que Montello ergue sua representação sobre o Maranhão.Para tanto, trabalha espaços distintos, desde São Luís, a Alcântara, até às fazendas do interior. Neste universo, tem-se representado sobre um imenso saudosismo a época de grande prosperidade maranhense de até meados do século XIX e, em contraponto a esta, um Maranhão decadente que tenta reerguer-se já no século XX composto por uma sociedade que se vê incipiente, impossibilitada de exibir-se com a riqueza de outrora. De aristocrática, opulenta e opressora, torna-se esta sociedade melancólica. A Alcântara de tantos sobradões e fachadas torna-se propícia a assombrações, já que entre os vazios das ruas restam apenas os fantasmas dos antigos barões e escravos.Tem-se assim, trabalhada a saga da aristocracia maranhense envolta da idéia de decadência que perpassa o contexto de Noite Sobre Alcântara Montello lembra ainda o vazio da Praia Grande, que mostra as transformações sofridas pela cidade, estas transformações do espaço lembrada em Cais da Sagração dão um significado à história, é pois a memória recompondo a paisagem de São Luís. A saga maranhense construída sobre a visão de mundo de Montello, não se limita à decadência da aristocracia maranhense, mas também dedica-se à construção do imaginário sobre o negro em sua luta contra a opressão desta aristocracia encontrado em Tambores de São Luís.Assim, lembram-se os instrumentos repressores, o feitor, a chibata, a palmatória e ainda as proibições de festas e fandangos, até mesmo a forca na Praça da Alegria. A opressão versus luta pela liberdade, expressa a escravidão no Marantello.Neste imaginário, a dependência da aristocracia maranhense em relação ao trabalho escravo não se esconde, tendo projetado nas linhas destes romances toda a sua ruína após a abolição. São as fazendas empobrecidas transformadas em taperas com antigos barões e viscondes a desfalecer-se ao não suportar desfazer-se de seus últimos bens. Não podemos deixar de ressaltar também as inúmeras referências que Montello dedica a Donana Jansen que é transpostas para seus livros cercadas pelas lendas que até o presente envolvem sua pessoa neste Maranhão. Tal representação construída em torno
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desta comerciante e latifundiária deixa transparecer a sociedade aristocrática e cruel que se impunha.Montello encontra-se ainda atrelado à literatura tradicional, como pudemos demonstrar no decorrer deste trabalho, portador da ideologia da decadência, constrói o enredo de Noite Sobre Alcântara. Traz também consigo outras visões que estará norteando sua visão de mundo, a exemplo de Meireles e Viveiros, seja na forma de ver o Maranhão, a sociedade aristocrática nele presente, seja em suas contextualizações, elitizações e dicotomias. Utilizando-se de todo o seu saudosismo romântico, Montello constrói imagens deste Maranhão, de opulento a decadente. Sobrevive o Maranhão entre reerguimentos e falências, glórias e ruínas. Fica então a memória como expressão de um desejo de retorno ao passado de glórias, efemérides e feitos heróicos.Sempre em busca de novos desafios, Montello não perde o fôlego com o passar dos anos: organiza e instala o Conselho Federal de Cultura e o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, é conselheiro cultural da embaixada do Brasil em Paris, fundador e reitor da Universidade Federal do Maranhão, embaixador do Brasil junto a UNESCO e presidente da Academia Brasileira de Letras. Afável no trato, de conversa fácil e finamente articulada, ele foi um homem forjado pelo tempo e por si próprio - algo raro de acontecer em qualquer lugar ou época, e que por isso mesmo torna lendárias figuras dessa estirpe. Suas qualidades pessoais, assim como as artísticas, eram muitas e variadas, e o amor que devotava ao Maranhão, simplesmente comovente - tanto que sua terra natal é o grande cenário de quase toda a sua obra ficcional. Integrando um dos mais férteis períodos da literatura brasileiro posterior à semana de Arte Moderna, chamado de ciclo do romance nordestino, Montello, ao contrário da grande maioria de seus colegas de geração, voltou-se para o romance citadino ao estilo de Machado de Assis. Dessa forma, valendo-se de um estilo clássico e sumamente elegante de escrever, ele reconstrói com maestria e densidade psicológica toda a arquitetura de vida de um tempo que passou, como bem se vê em sua indiscutível obraprima, Os Tambores de São Luís, de 1975 - o grande romance brasileiro sobre a escravidão. Josué Montello foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão ( último ocupante vivo da cadeira de nº 6, que hoje estou assumindo); da Academia Internacional da Cultura Portuguesa (de Lisboa); da Academia das Ciências de Lisboa; da Sociedade de Geografia de Lisboa; da Academia Portuguesa da História (de Lisboa); da Association Internationale des Critiques Littéraires (de Paris); sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Brasília e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. A macro-visão que Josué Montello tem da História do Maranhão fez com que ele escrevesse uma obra que no conjunto, é um mega romance sobre o Maranhão. Obra densa, ousada, arrojada que segue que como um mapa os contornos e meandros da Ilha de São Luis, detalhando ruas, avenidas, becos, escadarias, casarões, sobradões, solares, ruínas, apogeu e glória. Sob essa ótica, a obra montelliana tem aquele olhar que abrange três tipos de romances: num primeiro plano está o do romance de caracteres, voltado para o perfil historiográfico; no segundo plano, o romance de análise psicológica, bem ao estilo de Machado de Assis e num terceiro plano, o romance de fluxo de memória.
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As três maneiras de ele intuir o romance estão mais claramente delineadas nas obras Cais da Sagração, Os tambores de São Luis e Noite sobre Alcântara. É nessas obras monumentais que podemos coteja-lo entre os grandes construtores da obra romanesca universal contemporânea, trilhando caminhos que pinçam experiências das melhores conquistas de Sterne, Xavier de Maíistre e Machado de Assis, desdobrando-se nos pretextos utilizados por Günter Grass e Gabriel Garcia Márquez, utilizando-se da teoria científica, usando o particular para alcançar o universal. Josué Montello foi e é um dos maiores contadores da História do Maranhão, antes dele poderemos dizer que o Maranhão não tem memória, depois dele, devemos dizer o Maranhão tem história, pois o mesmo, fazendo a revolução estética do romance moderno como o fez Gabriel Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão, Machado de Assis em Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas e o O Alienígena e Gunter Grass em O Tambor, sua experiência não se constitui uma cópia, mas uma recriação dentro da visão mais contemporânea do aspecto paródico, ou seja, uma maneira peculiar de orquestrar ou tornar alegórico, certos mitos e arquétipos, como fala Manoel dos Santos Neto escritor maranhense nosso contemporâneo, quando relembra os 30 anos de lançamento da primeira edição dos Tambores de São Luis. Com ele a história é narrada com descontinuidade, utilizando a técnica do flashback, a ação podendo se desenvolver as avessas, ou seja , a técnica que permite ao romancista começar a contar a história pelo final e finalizar pelo começo ou por no meio o começo; o fim no meio e o meio no fim, com os avanços e recuos da ação na história dos homens, digressões, progressões e interpolações de São Luis do Maranhão com suas “polidas pedras, estreitas ruas, velhas torres, vosso sono é longo e atento: tu guardas, feitos, memórias, nomes; guardas gemidos de escravos; fome de liberdade entre dores; guardas os passos firmes e eternos dos santos e poetas maiores como Josué Montello. (adaptação do poema Vozes de Bandeira Tribuzi). TELMA BONIFACIO DOS SANTOS REINALDO CURRICULA
Profa. Dra. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, 58 anos, casada, seis filhos e seis netos, 1,75 cm de altura, 82 k., residente e domiciliada em São Luis do Maranhão, na Rua dos Professores nº. 10 Quadra 14 Conjunto Cohafuma CEP 65 078 300, e-mail: telboni@terra.com.br ; professora efetiva da Universidade Federal do Maranhão
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(UFMA), desde 1991, concursada e lotada no Centro de Ciências Humanas, com exercício docente no Departamento de História, Adjunta II, consultora e assessora para assuntos educacionais; licenciada em História pela UFMA em 1980, especialista em Teoria e Produção do Conhecimento Histórico pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná – UNICENTRO - Guarapuava-Paraná em 1995, cumpriu os créditos de Mestrado pela Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro - PUC/RJ EM 1995/97; e a seguir ingressou no doutorado em Ciências Pedagógicas pelo Instituto Central de Ciências Pedagógicas - ICCP-Havana/Cuba 2005 obtendo o título de Doutora em Ciências Pedagógicas revalidado pela Universidade Nacional de Brasília–UNB em 28 de junho de 2007, além de possuir outros títulos menores que somam sua trajetória acadêmica. Tem ministrado disciplinas nos Departamentos de História, de Biblioteconomia, Desenho Industrial, Ciências Sociais, orientado monografias em seu departamento e outros afins, participado de projetos de pesquisas, eventos locais, regionais, nacionais e internacionais com apresentação de trabalhos, possui publicações em revistas especializadas e sua tese encontra-se no prelo. Já assumiu por diversas vezes a Chefia de Departamento e a Coordenação do Curso de História, para a qual foi eleita recentemente para o biênio 2007/2009, foi atuante no processo de revisão curricular que culminou com o Projeto Político Pedagógico do Curso de História. Estará integrando o corpo acadêmico do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão a partir de 16 de novembro próximo onde ocupará a cadeira de nº 6 patroneada pelo Pe. Antonio Vieira e ocupada anteriormente por Pe. Arias Cruz e pelo renomado escritor Josué Montello, seu último ocupante.
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DISCURSO DO SÓCIO EFETIVO JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE, CADEIRA Nº 15, SAUDANDO O EMPOSSADO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM, EM 07 DE DEZEMBRO DE 2007. Ilustríssima Senhora Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Professora Eneida Ostria de Canedo Vieira da Silva Ilustres autoridades que compõem a mesa Ilustres confrades e confreiras Senhoras e Senhores Coube a mim, por honrosa determinação da Senhora Presidenta, saudar o Dr. Aymoré de Castro Alvim, em nome dos ilustres pares, nesta sessão solene que registra sua posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão na cadeira nº21 que tem como patrono Celso da Cunha Magalhães e que já foi ocupada por Dr. Odilon da Silva Soares. Agradeço a generosidade da indicação e faço esta alocução com muita honra, em razão da estima e admiração que sempre nutri pelo colega, professor e confrade Aymoré Alvim, ao que se somam os laços da amizade familiar que já perdura por duas gerações. Vinde aliar-vos, ilustre confrade, a uma plêiade de médicos ilustres que por suas ações e pelos trabalhos científicos que produziram no passado, tanto contribuíram para o engrandecimento desta Casa, como César Augusto Marques, Nina Rodrigues, Aquiles Lisboa, Bacelar Portela, Olavo Correia Lima, Clementino Moura e João Braulino de Carvalho, e no presente, Natalino Salgado Filho, Gutemberg Fernandes de Araújo e o confrade que ora vos saúda. Historicamente, contudo, sempre se questionou o porquê de tantos médicos nas Academias de Letras. Encontro resposta a esse questionamento nesta citação de Werner Jaeger, uma das maiores autoridades em história da Grécia Clássica, para quem “de todas as ciências humanas então conhecidas incluindo a matemática e a física, é a medicina a mais afim da ciência ética de Sócrates”. Em livro recentemente publicado sob o título Medicina, Poder e Produção Intelectual, a professora Patrícia Maria Portela Nunes também aborda o tema, descrevendo em certo trecho: _ “Não obstante, não se pode tomar a competência médica como uma competência técnica, unicamente. A medicina também é uma arte: a arte da cura”, complementando sua assertiva, citando os discursos de posse na Academia Maranhense de Letras do Dr. Salomão Fiquene, para quem “Em medicina não é sempre fácil distinguir onde termina a arte médica e onde começa a ciência do mesmo nome. Quanto de arte em transplantar um coração perfeito e restituir a um condenado a alegria de viver? E consolar os aflitos, orientar os desajustados, retemperar as almas inseguras, reconstituir as personalidades transtornadas? E descobrir a doença, aliviar a dor, vencer o sofrimento” e, dentro do mesmo pensamento, o discurso do Dr. Álvaro Serra de Castro: “A muitos, talvez, pareça existir uma certa alergia da medicina pela poesia, e vice-versa, alguma incompatibilidade entre o médico e o poeta. Puro engano. Equívoco
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dos maiores. Talvez não exista ramo de aplicação da inteligência tão ligados à poesia, como a medicina. Poetas e médicos sentem igualmente a dor do próximo, marcham juntos na suprema arte de minorar o sofrimento alheio. Quantas dores têm sido aliviadas pela simples leitura de um soneto ou pela escuta de um poeta? Por outro lado, quantas vezes o trabalho médico tem servido de inspiração a inteligência dos poetas?” Para falar sobre a vida do empossado cremos não existir ninguém melhor do que sua insigne irmã, professora Moema de Castro Alvim, razão pela qual lhe peço a devida vênia para reproduzir aqui o que escreveu sobre a biografia de Aymoré na orelha do livro recentemente lançado por este, Pinheiro em Foco:_ “Aymoré de Castro Alvim nasceu em Pinheiro - MA, em maio de 1940. Filho de José Paulo Alvim e Inês de Castro Alvim. Iniciou os seus estudos com a professora Hortência Abreu e depois com a professora Beni Ferreira. O curso primário foi feito nos Grupos Escolares Elizabetho Carvalho, Odorico Mendes e Escola Nossa Senhora do Sagrado Coração. Em 1953 entrou para o Seminário Santo Antonio, em São Luís. Permaneceu ali até 1958, quando saiu para concluir o científico no Colégio São Luís. Em 1961, iniciou seus estudos universitários, na então Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, na qual recebeu o grau de médico em 1966. Trabalhou como médico, inicialmente, para a Prefeitura de São Luís, vindo a ocupar inclusive a direção de alguns Centros de Saúde. Como médico do Estado, foi Presidente da Junta Médica de Saúde e Diretor do Centro de Saúde Paulo Ramos. Medico da Legião Brasileira de Assistência - LBA, onde exerceu o cargo de Diretor da Divisão Médica e a função de Chefe do Serviço de Ginecologia. Submetido a concurso público, foi médico do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social-INAMPS, onde inclusive dirigiu o Serviço Executivo da Capital. Iniciou o magistério universitário em 1970, no Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, onde até hoje leciona. Dedicou-se também às pesquisas científicas no campo das Doenças Tropicais, com ênfase na esquistossome, sempre em conjunto com sua ilustre consorte e brilhante professora Maria Augusta Brahuna Alvim, recentemente falecida, tendo publicado vários trabalhos apresentados nessa área em Congressos estaduais e nacionais. Na UFMA exerceu os cargos de Chefe de Gabinete e a Pró-Reitoria de PósGraduação. Como jornalista colaborador, mantém, desde 1994, uma coluna no jornal Cidade de Pinheiro. É membro fundador da Associação Cultural, Recreativa e Educacional de Pinheiro - ACREP, da Escola Comercial da ACREP, da Sociedade de Parasitologia e Doenças Tropicais do Maranhão, das Academias Maranhense de Medicina e Pinheirense de Letras, Artes e Ciências. Integra como sócio efetivo as Sociedades Brasileira de Parasitologia, de Escritores Médicos e de História da Medicina. Da sua união com Maria Augusta nasceram os seguintes filhos: Aymoré Filho, Augusto José e Bruno, e tem um neto Augusto José.
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Não se consegue caros confrades, falar de Aymoré sem falar da Cidade de Pinheiro, à qual sempre dedicou grande amor e paixão. Posso inclusive testemunhar que, pelo menos nos últimos trinta anos, não ocorreu nenhuma atividade cultural em Pinheiro que não tivesse a sua participação direta ou indireta. E foi para falar de Pinheiro, sua origem, sua gente, sua cultura, sua religião, sua etnia, seus costumes, sua economia e sua organização político-administrativa, que Aymoré escreveu o seu primeiro livro, Pinheiro em Foco. E é exatamente nesse livro que ele extrapola do campo da medicina científica, ingressando na história, trazendo a sua marca, a sua experiência de pesquisador aplicado, para, adentrando o Arquivo Público Estadual, a Biblioteca Pública Benedito Leite, os arquivos do quase secular jornal Cidade de Pinheiro, os cartórios públicos, o Conselho Indigenista Missionário do Maranhão e os livros de afamados historiadores do passado e do presente do porte de : Jerônimo de Viveiros, Antonio Lopes da Cunha, Milson Coutinho, César Augusto Marques, Carlos de Lima, Claude d’Abbeville, João Renôr de Carvalho, Olavo Correia Lima, Raimundo Lopes, Sebastião Barbosa Cavalcanti, Serafim Leite, Mário Meireles, Bernardino Lago e Elizabeth Coelho, nos provar que a localidade denominada Lugar de Pinheiro é o marco inicial da hoje Cidade de Pinheiro. Vejamos o que escreve Aymoré no que pertine à fundação de Pinheiro: “O município de Pinheiro está situado na Região da Baixada Maranhense que formava com uma parte do litoral norte ocidental do Estado a Capitania de Cumã. Tendo por cabeça a aldeia de Tapuitapera, atualmente Alcântara, a Capitania era uma vasta área de terra localizada a oeste do Golfão Maranhense. Limitava-se ao norte com o Oceano Atlântico numa extensão que se projetava, a partir da ponta de Tapuitapera, cinqüenta léguas na costa, na direção norte até o rio Turiaçu. Nos primeiros meses do ano de 1807, o capitão-mor e Comandante da Vila de Alcântara, Inácio José Pinheiro, procurou o Governador e CapitãoGeneral do Maranhão, D. Francisco de Mello Manuel da Câmara, a quem relatou que, na data de 23 de novembro do ano de 1806, cumprindo ordens de seu antecessor, Governador Antonio Saldanha da Gama, estabeleceu uma povoação entre as de Alcântara e Guimarães com a denominação de Lugar de Pinheiro, para ali viverem e roçarem algumas famílias de índios dispersos. Decidindo, então, o fazer, o Governador mandou expedir, em 13 de maio desse mesmo ano, a concessão das referidas terras por Dacta e Sesmaria às famílias dos índios ali estabelecidos para que as posuissem como coisa sua e de seus descendentes. Tudo isso se acha registrado às fl.65 verso do livro de Dacta e Sesmaria, do qual foi transcrita uma certidão requerida pelos índios, em 21 de outubro de 1817”.
Aymoré, embora essa não fosse sua intenção, ao perscrutar esses arquivos terminou por demonstrar, por meio de dados irrefutáveis, que não assistia razão à hipótese levantada inicialmente pelo Professor e historiador Jerônimo Viveiros sobre a fundação de Pinheiro, em artigo publicado no jornal Cidade de Pinheiro, em 1956, sob o título Uma Fazenda se Transforma em Povoado, onde escreveu: “Naquela manhã, ao atingir a ponta de uma enseada, o capitão-mor Inácio José Pinheiro parou o belo cavalo baio que montava e, deslumbrado, percorreu a vista pela planície imensa que se
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desdobrava à sua direita e pela mata espessa que tinha lá muito longe à esquerda, a cuja frente se lhe afigurava a existência da superfície lisa de um lago. E então pensou: Parece que descobri o que procurava depois de tantas fadigas”. Este artigo do Prof. Jerônimo Viveiros é um dos integram a série Quadros da Vida Pinheirense, recentemente compilados em livro organizado pelo escritor e acadêmico José Jorge Leite Soares E nos permitimos acrescentar sobre esse fato histórico, Dr. Aymoré, senhores confrades e confreiras, que a Capitania de Cumã, segundo o historiador Desembargador Milson Coutinho, em seu livro Memória da Advocacia no Maranhão, foi muito bem descrita pelo fundador deste Instituto Antonio Lopes da Cunha, em tese apresentada quando representou o Maranhão no IV Congresso de História Natural no Rio de Janeiro, em 1945. Embora a instituição oficial da Capitania de Cumã seja datada de 26 de junho de1627, quando o desembargador do Paço, Antonio Coelho de Carvalho, fundamentado na Provisão Real de 19 de março de 1624, a requereu ao seu irmão e primeiro Governador-Geral do Maranhão, D. Francisco Coelho de Carvalho, ela já existia anteriormente, pois segundo o historiador e médico César Augusto Marques, em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, “o vasto território ainda hoje conhecido no Maranhão por Tapuitapera, está hoje dividido pelas comarcas de Alcântara e Guimarães. Antigamente foi ocupado por onze aldeias de índios, das quais a maior era Cumã.” Quem também fez referência a Cumã foi o padre capuchinho Ives D’Évreux, no manuscrito Continuação da história das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos 1613 & 1614, onde nos diz no intróito: “advirto-vos, que não repetirei aqui coisas que o Reverendo Padre Claude d’Abbville escreveu na sua História da Missão dos Padres e Capuchinhos na ilha do Maranhão”.Esse manuscrito, entregue para publicação ao editor François Huby, foi mandado destruir, mas teve um exemplar resgatado por François de Razilly, o qual foi doado ao Rei Luís XIII e conservado na Biblioteca Imperial, hoje Biblioteca Nacional em Paris, por mais de dois séculos, até ser encontrado em 1835 pelo historiador Ferdinand Denis. Assim registrou D,Évreux no seu manuscrito a viagem que fez Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière ao Amazonas: “ No dia 8 de julho de 1613, do porto de Santa Maria do Maranhão, partiu o Sr. La Ravardière, com salva de muitos tiros de canhão e de mosquetes, disparados do forte de São Luís, segundo costume entre os militares.Levou em sua companhia 40 bons soldados e 10 marinheiros, e por cautela 20 dos principais selvagens, tanto da Ilha do Maranhão e de Tapuitapera, como de Cumã.” A essa viagem de La Ravardière ao Amazonas também faz alusão Maurice Pianzola, no livro Papagaios Amarelos, com a descrição_ “margeia prudentemente a costa e mete-se entre um rosário de ilhas e arrecifes. Arriba primeiro em Cumã, onde esperam por ele várias canoas carregadas de guerreiros e farinha, e depois chega aos Caietés, onde estão agrupadas vinte aldeias tupinambás”. Não resta nenhuma dúvida, portanto, confrade Aymoré, para quem conhece a nossa geografia, para quem conhece a baía de Cumã, para quem conhece a subida do rio Pericumã, rumo ao rio Turiaçu, que por aí caminhou a história da Cidade de Pinheiro. Desde os primórdios dos tempos que esse tem sido o papel dos pesquisadores, dos historiadores, buscar nas mais diversas fontes dados que permitam descrever um passado remoto, na busca de trabalharmos o presente e construirmos o futuro. A aceleração e a transitoriedade são características da era em que vivemos. O ontem se
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confunde com o hoje e o amanhã não espera alvorecer. Tudo, portanto, obedece a uma curva exponencial de evolução, trefegamente em marcha. Em recente publicação, o britânico Simon Sebag Montefiore, autor da biografia_Stálin- A Corte do Czar Vermelho, nos relata que pouco antes de sua morte, numa vila às margens do mar Negro, Stálin escreveu: “Historiadores são pessoas que descobrem não apenas fatos enterrados debaixo da terra, mas até os que estão no fundo do mar”. Aymoré foi assim a vida toda, estudioso, inteligente, humilde, cauteloso ao falar, mas muito observador e metódico, procurando sempre executar com muita responsabilidade e zelo as missões a que se apega ou que lhe são confiadas na vida profissional, a par de esposo, pai e filho exemplar. Pude vivenciar e participar, ao longo da vida do professor Aymoré, de três fatos marcantes para minha formação médica e profissional. Primeiro, quando tive a honra de ser seu aluno de Biologia no curso pré-vestibular do saudoso professor José Maria do Amaral, onde, com grande didática e sapiência, nos ensinava os intricados mecanismos da célula, com suas mitocôndrias, ribossomos, cromossomos e complexo de Golgi. Depois na Faculdade, nos ensinava a triste realidade das doenças endêmicas em nosso Estado. O terceiro, quando já médico, Secretário-Adjunto de Estado da Saúde, levei para Pinheiro o Projeto Saúde Comunitária. Mestre Aymoré, zeloso, vigilante, atento a tudo que interessasse à vida de Pinheiro, me convida para que, no auditório do Colégio Pinheirense, discutíssemos com os profissionais de saúde os objetivos desse projeto, sua factibilidade e, acima de tudo, que impacto poderia causar na redução dos indicadores de morbi-mortalidade na população rural de Pinheiro. Eis em síntese, senhores confrades, confreiras, senhoras e senhores, o Aymoré que vos apresento. Um homem culto e um pesquisador sério e aplicado que muita contribuição vai trazer não só pelo seu cabedal de conhecimentos, mas, sobretudo pelas publicações que de certo vai produzir, nesta nova fase do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em que, a par de escrevermos a história, nos tornamos sujeitos ativos dessa história, ajudando a transformá-la nos dias atuais e construindo o seu porvir. Comungo com a idéia de que as Academias de Letras, os Institutos Históricos, não devem permitir que conquistas culturais, científicas e até mesmo socioeconômicas alcançadas sejam perdidas, esquecidas sob a avassaladora pressão dos novos paradigmas, do novo quadro que vai se impondo, em razão de um mundo globalizado. Os resultados dos avanços científicos e tecnológicos alcançados, por exemplo na biogenética, devem ser usados para o bem-estar social, e preservação da nossa cultura e do meio ambiente. Para isso, entretanto, é importante que a educação seja fortalecida e que as relações político-econômicas evoluam, o que significa na atualidade o estabelecimento de uma verdadeira ordem mundial, mais razoável, menos perversa, e com a qual todos deveram colaborar. Nesse novo quadro socioeconômico globalizado, o papel das Academias é de grande importância. Em sua evolução, essas instituições foram e serão sempre claustro de eruditos; guardiães, transmissoras e transformadoras de conhecimentos; introdutoras do extensionismo ao assistir diretamente a sociedade, nos vários domínios do saber. Sede bem-vindo, confrade Aymoré. Estais em casa, entre amigos fraternos.
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Antes de encerrar, quebrando um pouco a práxis acadêmica, não poderia deixar de fazer uma saudação especial a D. Inês de Castro Loureiro, mãe de Aymoré, que inestimáveis serviços prestou à comunidade pinheirense na Drogaria da Paz, e ao poeta Abílio Loureiro, padrasto de Aymoré. Muito Obrigado.
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DISCURSO PROFERIDO POR AYMORÉ DE CASTRO ALVIM, NA SESSÃO SOLENE DE SUA POSSE, NA CADEIRA Nº 25, NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM, EM 07 DE DEZEMBRO DE 2007. Nesta memorável noite de dezembro, de grande significado para mim, corram soltas as minhas lembranças através dos tempos em um preito de perene recordação à memória de Maria Augusta que, com certeza, aqui estaria como sempre o fez com o seu incentivo, apoio, companheirismo compartilhando desta minha alegria somada a tantas outras vividas ao longo das nossas vidas. Parodiando o poeta Vinícius, que a minha saudade seja eterna enquanto eu dure. Sras. e Srs. Permiti-me, senhoras e senhores, neste momento primeiro desta minha oração, que eu expresse, na torrente de emoções que me permeia a alma, a minha grande satisfação em partilhá-las com os meus filhos, causa maior das minhas alegrias, representados, aqui, na pessoa do Bruno; que manifeste, também, a minha gratidão aos meus parentes, a cada amigo, às confreiras e confrades da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências e da Academia Maranhense de Medicina, bem como, a todos vós aqui presentes que, atendendo ao convite formulado, não medistes esforços nem sacrifícios para estardes, aqui, nesta noite, comungando comigo de mais um grande momento que marca de forma indelével a minha trajetória, nesta vida. Braço, também, queria tê-los, aos montes, para abraçar a todos quanto estiveram ao meu lado, em horas tão especiais quanto esta que ora convosco compartilho. Mas sem o poder, quedo-me agradecido ao confrade, amigo e conterrâneo José Ribamar Seguins e ao amigo Prof. José Cloves Verde Saraiva dos quais partiram os primeiros incentivos para estar aqui. Confesso-me, destarte, sensibilizado e agradecido, com indisfarçável sentimento de satisfação pela deferência, aos amigos José Márcio Soares Leite e Natalino Salgado Filho que formularam a proposta com a minha indicação que foi submetida à consideração de seus pares. E, nesta noite, o José Márcio me brinda com a sua eloqüência, fazendo-me envaidecer pelo que de mim vos falou. Perdôo-o; os amigos são muito generosos. Têm sempre uma palavra de incentivo, de estímulo. Quero, ainda, na dimensão maior do meu reconhecimento, exprimir a minha profunda gratidão, na pessoa da Sra. Presidente, Profa. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, a todos vós componentes da casa de Antônio Lopes, Ribeiro do Amaral, Domingos Perdigão, Wilson Soares e de tantos outros luminares e imortais maranhenses, pela fidalguia com que me honrastes ao homologar o meu nome e, agora, pela acolhida que me dais, nesta noite, para formar convosco o quadro de membros efetivos deste sodalício, onde se cultivam e preservam o estudo e a memória da História e da Geografia deste Estado.
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Bem o sei das minhas limitações e da falta de formação acadêmica, nos dois grandes campos que norteiam as atividades desta Casa. Careço do adestramento técnico necessário para esgrimir, com a maestria dos doutos, as ferramentas da Heurística, indispensáveis à consecução dos propósitos pretendidos. Mas conheço bastante a tenacidade em perseguir os meus objetivos e a minha disposição em cumprir os compromissos como os que ora assumo convosco, buscando adequar-me aos ditames formais que conduzem os trabalhos dos que aqui laboram. Auspiciosa honraria que se projeta muito além dos meus parcos méritos, a aceito mais como um incentivo a esta nova atividade que venho desenvolvendo do que como uma distinção, em face dos poucos frutos produzidos até então, nessa área. Já há algum tempo, por peculiar curiosidade, venho me dedicando a pesquisar a história da minha terra, Pinheiro, e da medicina, com maior interesse, na do Maranhão. Curiosidade, sim, em mim despertada, nas aulas de História Universal, nos meus tempos de Seminário de Santo Antônio, ministradas pelo Monsenhor Arias Cruz que também militou neste Instituto. Desde então, passei a compreender que a História perpetua a identidade das sociedades humanas, na medida em que, segundo o médico e historiador pernambucano Leôncio Basbaum, deve buscar as origens e as conseqüências do fato histórico. Mas, o que é um fato histórico senão a ação humana ao longo do tempo; as marcas deixadas pelo homem no percurso de sua vida; o traço que atesta a sua contribuição, no processo de transformação das sociedades? A sua individual contribuição não pode deixar de ser aceita sem um real valor, mas não podemos perder de vista que sendo um produto do seu meio, necessário se faz buscar também as forças com as quais interage. Há um antigo e bastante sugestivo provérbio árabe que bem retrata esse processo interativo do homem com o seu ambiente, na formação da bagagem cultural que vem armazenando desde o Paleolítico: os homens parecem mais com a sua época do que com seus pais. Compreendi, também, que o fato histórico não é um fenômeno isolado, mas uma resultante de um conjunto de interações com outros eventos que lhe sejam antecedentes, concomitantes ou conseqüentes; que tenha ocorrido em determinado espaço físico com suas repercussões, no comportamento social. Surge, assim, a contribuição da Geografia e da Sociologia, na estruturação do processo histórico, uma malha de relações plurais, nos múltiplos e variados aspectos em que se organiza e se estrutura. Constata-se, então, o que afirmou o filósofo renascentista italiano Giambatista Vico, ser a “História a única Ciência feita pelo homem, pois ele é o agente da ação geradora do fato que transforma” em um processo contínuo que, na concepção do historiador britânico e jornalista, Edward Carr, procede da interação entre o historiador e seus fatos, em um diálogo sem fim entre o presente e o passado. É, nesse contexto, que o historiador dá a sua interpretação ao fato cuja expressão resulta da pressão de uma série de valores éticos, morais, ideológicos, religiosos, culturais atuando, na concepção das suas idéias e na manifestação do seu pensamento crítico, que, além das controvérsias geradas, se constituem, às vezes, em permanente desafio à sua neutralidade científica.
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É, portanto, dentro destes parâmetros que tentarei compor, no universo que me é permitido, o cenário onde se desenrolaram os fatos cujos protagonistas compuseram a curta, mas densa e fecunda vida do Patrono da Cadeira Nº 25, que ora passo a ocupar nesta Casa: Celso Tertuliano da Cunha Magalhães. Nascido a 11 de novembro de 1849, na Fazenda Descanso, à época pertencente ao município de Viana, era filho de José Mariano da Cunha, Cavaleiro da Ordem da Rosa e deputado provincial, na legislatura 1848/1849, e de sua esposa dona Maria Quitéria de Magalhães Cunha. As primeiras letras as fez, possivelmente, com o avô materno, o português Manoel Lopes de Magalhães, médico pela Universidade de Coimbra, de quem recebera, com a aquiescência dos pais, o sobrenome que bem o identifica. O conflagrado ambiente político-social que emergiu do fracassado movimento de rebeldia e insatisfação conhecido por Balaiada foi superado por um conjunto de medidas para reorganizar a combalida economia provincial, em meados de 1840. O governo do Presidente Franco de Sá, a partir de 1846, dinamizou a cultura da cana-de-açúcar, melhorou a infra-estrutura viária, propiciando melhor escoamento dos produtos agrícolas, injetando ânimo nos produtores rurais, o que, por certo, concorreu para incrementar bastante a pauta de exportação da Província. Nesse novo cenário, no qual crescia e se desenvolvia Celso Magalhães, foi evoluindo um conjunto de fatores que propiciou a organização de uma sociedade abastada cuja opulência estava assentada no, desde então execrável, modelo escravagista. Muitas e profundas mudanças foram experimentadas, no ambiente cultural da Província, com o retorno da Europa de grupos de jovens bacharéis, médicos, filósofos, poetas, tradutores, jornalistas, professores dando um novo matiz às relações sociais daquela época. Foi nesse novo ambiente que o jovem Celso começou a ensaiar os seus primeiros passos, na vida literária. Com 18 anos, em 1867, desperta a atenção dos leitores de o Semanário Maranhense ao publicar as poesias “Vem, não tardes” e “Para elas”. Nesse mesmo ano, conforme nos relata Washington Cantanhêde, dentre outras poesias publicadas tem destaque “O Escravo” na qual já manifesta uma postura crítica ao modelo no qual se estruturou a própria economia doméstica como podemos constatar, nestes versos: Trint´anos, trinta séc´los la vão que´estou sofrendo, martírios padecendo mais duros que o morrer. Porém se o braço rígido um dia levantar-se tremendo há de vingar-se de quem me faz sofrer.
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O seu espaço interiorano já parecia sufocá-lo. Era preciso alçar vôos mais altos e mais distantes. Em abril de 1868, estava em São Luís e a seguir rumou para Recife a fim de cursar Direito. Matriculado, prosseguiu com a sua atividade literária. É Fran Paxeco quem escreve: “No Recife, enquanto estudou ciências sociais e jurídicas desenvolveu uma profícua atividade, ora escrevendo nos cotidianos de lá, ora enviando verso ou prosa para os daqui”. Ao que complementa Alexandre Eulálio: “no roteiro entre a fazenda e a Academia, havia-se formado um homem novo, consciente de sua responsabilidade social”. Poeta, articulista, romancista, crítico dramático, dramaturgo, comediante. Eis um espírito inquieto. Procurava viver intensamente como se previsse o ciclo tão breve da vida que teve. Abolicionista convicto. Não se permitia apenas decantar a miserável vida do escravo mas punha em prática as suas convicções ao introduzir, na fazenda paterna, um sistema de remuneração ao trabalho executado pelos escravos. Em “Os Calhambolas”, faz uma análise critica da relação senhor/escravo e das repercussões negativas do sistema escravocrata para o desenvolvimento do país. Exalta os que abraçam a causa e enaltece o espírito de luta do negro quando diz: Nasci livre, fizeram-me escravo; Fui escravo, mas livre me fiz. Negro, sim, mas o pulso do bravo Não se amolda às algemas servis. Republicano sincero e destemido. Não se acovardou ao criar um grande constrangimento ao General Ozório, monarquista e amigo pessoal de Pedro II, quando em visita ao Recife, após a guerra do Paraguai. Da saudação que fez ao ilustre visitante podemos destacar: Ante ele o brilho efêmero do trono, que estremece olhando a queda próxima, também desaparece. Maior quem é? Dizei-o: o soberano? Não! De grande não tem título quem nutre a escravidão. Foi mais além. Auscultou o povo e entendeu melhor do que todos a importância da sua cultura. Em “A Poesia Popular Brasileira” resgatou muitos versos que até hoje são cantados, animando as brincadeiras de roda, no interior, em noites de lua cheia. Morreu novo. Em 1879. Não havia completado 30 anos. Experimentou a arrogância e a prepotência do poder. Sofreu dissabores pela retidão de sua conduta, firmeza nas suas decisões, postura ética, no exercício da Promotoria Pública de São Luís.
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Deixou-nos um legado moral que pode muito bem servir de paradigma, nestes nossos dias tão carentes. Esse é o Celso Magalhães que a História resgatou. No cenário maranhense, muitos outros luminares despontaram. Dentre estes, vos trago também um pouco da história do pinheirense Dr. Odilon da Silva Soares, um dos ocupantes da Cadeira nº 25 deste Instituto. Filho de Tito Otaviano Duarte Soares, advogado provisionado, farmacêutico prático e professor. Pela cultura que o distinguia e pela formação que recebera era um autodidata. Da união com dona Maria Thereza da Silva Soares, Odilon era um dos oito filhos. Desde cedo manifestou pendores para a medicina e para a literatura em cujos campos desenvolveu uma produção de inestimável valor. Após completar o ginásio e o científico, foi aprovado no vestibular para a Faculdade de Direito de São Luís. Mas a notícia da sua aprovação, logo no ano seguinte, no vestibular para a Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, forçou a sua mudança para a capital federal. Ali, para se manter lecionava português. Graduou-se primeiro em Farmácia e, a seguir, em Medicina, no ano de 1928. Fez especialização em Obstetrícia e Ginecologia e em Cirurgia geral quando então retornou ao Maranhão deixando para trás muitos convites para permanecer no sul e até mesmo trabalhar, no exterior. Aqui, contraiu núpcias com a Dra. Antônia de Arruda Soares, nascida em Paulista do Rio Claro - São Paulo, farmacêutica, médica, professora universitária e membro fundador da Academia Maranhense de Medicina. Dessa união lhe nascera uma única filha. Desenvolveu, inicialmente, as suas atividades no Hospital Português e na Santa Casa de Misericórdia da qual foi o seu Diretor, vice-provedor e provedor. Mas foi como tisiologista que realizou a sua principal obra. Criou e executou um programa de prevenção, controle e tratamento da tuberculose, doença que nas décadas de 1930, 40 e 50, ceifou muitas vidas embora, ainda hoje, seja uma das mais prevalentes, no quadro nosológico do Estado. Para dar suporte ao seu programa, fundou a Liga Maranhense contra a Tuberculose e o Hospital Ático Seabra que muitos serviços prestaram, gratuitamente, ao povo do Maranhão. Foi pioneiro na implantação, no norte e nordeste do país, da técnica do pneumotórax, tratamento auxiliar da tuberculose, àquela época. Sua excelente e acurada educação lhe permitiu ampliar, ainda mais, as suas atividades. Poliglota, falava, fluentemente, o alemão, francês, inglês, italiano e espanhol sem descuidar de sua preferência pelo latim. Traduziu as obras de Goethe e verteu para o alemão os poemas de Sousândrade.
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Professor dedicado ao problema da educação manteve sempre a sua preocupação voltada à qualidade do ensino, principalmente, das crianças e dos jovens. Como Diretor de Instrução pública do Estado, implantou novos métodos para promover a integração educação e saúde, na rede pública estadual. Como político, foi deputado federal com atuação brilhante e marcante, na Câmara federal, onde vários dos seus projetos transformados em leis tinham sempre por escopo a saúde pública e a educação. Manteve-se sempre coerente ao lema que norteou a sua vida pública: “de todos os problemas que nos afligem nenhum sobreleva o da educação do povo”. E, assim, alegro-me por ter vos falado da vida destes dois grandes homens destemidos, lutadores, éticos, fiéis à causa do seu povo. São exemplos como estes que do passado a História nos ajuda trazê-los para o presente posto que são importantes para a construção do futuro.
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SAUDAÇÃO AO PADRE PROF° DOUTOR RAIMUNDO GOMES MEIRELES JOSETH COUTINHO MARTINS FREITAS IHGM, 18-01-2008.
Mais uma vez, numa noite festiva o IHGM se engalana para receber novo sócio efetivo – o Padre Professor Doutor Raimundo Gomes Meireles, a ser empossado na cadeira n°60, patroneada pelo grande professor e orador sacro Cº José de Ribamar Carvalho. Este reconhecimento é reflexo do dinamismo que atravessa o IHGM, reestruturando seu quadro social. São novos talentos chegando para convívio da Casa de Antônio Lopes. Ao recebê-lo, Padre Meireles, apresentamos-lhe o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, pois já dizia o poeta “só se ama aquilo que se conhece”. É uma associação científica e cultural, fundada em 20 de novembro de 1925, por tempo indeterminado, inicialmente denominado Instituto de Historia e Geografia do Maranhão. Idealizada pelo profº Antônio Lopes da Cunha que juntamente com 10 intelectuais Justo Jansen Ferreira, José Pedro Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, Dr. José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, Desembargador Benedito Barros e Vasconcelos, José Abranches de Moura, padre Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes realizaram o sonho. Reconhecido de Utilidade Publica pelas leis estadual e municipal. Registrado no Conselho Nacional de Serviço Social Estatuto atualizado e registrado no Cartório de Títulos e Documentos de Pessoa Jurídica. O IHGMA tem por finalidades, entre outras: I – Estudar debater e divulgar questões sobre Historia e Geografia e Ciências afins, referentes ao Brasil e especialmente ao Maranhão; II – Cooperar com os poderes públicos que visem o engrandecimento cientifico e cultural do Estado colocando-se à disposição das autoridades para responder as consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes às suas finalidades; III – Defender e velar o patrimônio histórico do Maranhão; IV – Promover a coleta de documentos relativos a efemérides;
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V – Estimular o estudo da Historia, da Geografia e das Ciências afins em todo o país, particularmente neste Estado, possibilitando a organização de dicionário histórico – geográfico do Maranhão e ampliação da bibliografia maranhense. VI – Manter e estabelecer correspondência e intercâmbio com instituições congêneres locais, nacionais e estrangeiras; VII – Providenciar para que funcionem plenamente a biblioteca e o arquivo; VIII – Editar revistas periódicas, em cujas paginas sejam insertos os trabalhos do IHGM; IX – Promover a edição e reedição de obras de autores maranhenses, preferentemente às antigas e as inéditas. O Quadro social possui 04 categorias de sócios Efetivo em números de 60, cadeiras patroneadas por nomes de falecidos escritores reconhecidos como autoridades em Historia, Geografia e Ciências afins; Correspondentes os que residem fora da capital de São Luís; Honorários que são os que distinções conferidas pelo Instituto a autor consagrado e Beneméritos aqueles que se destacarem por atos de benemerência ao Instituto. No ato de posse o sócio efetivo recebera as insígnias do IHGM e o diploma. A casa de Antonio Lopes se orgulha de ter em seu quadro de patronos historiadores do porte de Jerônimo Viveiros, José Ribeiro do Amaral, Pe José de Morais, Antonio Lopes e posteriormente nomes como Mário Martins Meireles, João Lisboa, Eloy Coelho Neto, Geógrafos como Fran Pacheco, César Augusto Marques, Justo Jansen Ferreira, Sá Vale, Cândido Mendes de Almeida, Pereira do Lago, Raimundo Lopes e outro. A 1° obrigação de quem chega é fazer o elogio do patrono e dos predecessores considerando a necessidade de reconhecimento dos valores que nos precederam. A praxe acadêmica exige que a saudação ao recipiendário trace seu perfil intelectual. Apresentaremos uma síntese do extenso currículum Vitae do empossado desta noite festiva, Padre Professor Raimundo Gomes Meireles. Maranhense de Itapecuru-Mirim, nascido 31 de outubro de 1962, filho de João José Meireles e Maria Gomes Meireles, iniciou seus estudos em Caxias, no Colégio Nossa Senhora dos Remédios, veio para São Luís e estudou no Colégio Sotero dos Reis, no centro Educacional do Maranhão e no Colégio São Lázaro, concluindo o ensino fundamental; cursou o médio no Centro de Ensino de 2° grau Gonçalves Dias. Vários cursos de Graduação: Licenciatura em Filosofia e Licenciatura plena em Teologia no Instituto de Ensino Superior do Maranhão onde defendeu a monografia “O catolicismo popular tradicional brasileiro e algumas expressões significativas da religião do povo maranhense”; nota 10. Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão; Monografia “Noção de Direito em diploma de Honra ao Mérito como melhor aluno do curso de Filosofia”.
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Direito no UniCEUMA com a monografia “A noção de Direito em Santi Romano”, também, nota 10. Pós – Graduação: Mestrado em Direito Canônico na Pontifícia Studiorum Universitas – Roma / Itália. Mestrado em Direito Civil – Pontifícia Universitas Lateranensis – Cittá Dell Vaticano. Doutorado em Direito Canônico – Pontifícia Studiorum – Roma / Itália. Publicações: Direito degli índios in Antonio Vieira – Anais de Congresso – Roma, 1997; A Filosofia da Prescrição Penal – Revista ECOS nº 01, 2003; Podemos definir o Direito? Revista ECOS nº2, 2005; Artigo no jornal O Estado do Maranhão; Participação em Seminários, Congresso, Colóquios Nacionais e Internacional (Brasil e Itália), curso de Extensão, palestras etc; Atividades Profissionais: Professor de: Filosofia de Direito, Filosofia Política e Introdução à Filosofia – IESMA (desde 1997); Chanceler da Cúria Metropolitana; Pároco da Paróquia N. Srª Aparecida da Foz do Rio Anil – Cohafuma; Vigário Judicial do Tribunal de Eclesiástico do Regional Nordeste 05; Membro do Conselho Diretor da UFMA na qualidade de representante da Sociedade Maranhense de Cultura Superior – SOMACS. Padre Meireles, sua chegada marca o retorno da presença de religiosos nos quadros do IHGM, pois durante várias décadas tiveram assento neste sodalício, mas se foram para memória da eternidade. Foi o patrono da Cadeira 60, figura marcante na intelectualidade maranhense, de cultura exuberante, um dos maiores oradores sacros do maranhão. Alem do que Cº Ribamar Carvalho, falecido em 1972, lembramos que, também honraram o IHGM, falecidos há poucos anos, Monsenhor Ladislau Papp e Cº Benedito Ewerton Costa (1966). O professor Meireles veio para somar e o IHGM o recebe na certeza de que honrará seus quadros e cumprirá seu compromisso. Ao Maranhão cabe a responsabilidade de zelar pela memória dos antepassados, o dever de transmitir às novas gerações o culto ao valioso patrimônio cultural que herdamos. A partir de agora, confrade Meireles, transpondo os umbrais desta casa, tornou-se um dos responsáveis pela preservação do patrimônio histórico e geográfico do Maranhão. São Luís mudou desde que atravessou o Rio Anil, as precisa preservação de sua estrutura histórica e geográfica.
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Venha somar sua produção intelectual a do grupo de confrades que, aqui trabalha nas letras históricas e geográficas. Fazemos questão da sua contribuição para a renovação intelectual, colaborando no desafio de manter a tradição deste histórico sodalício. É com grande e justificada alegria que lhe damos as boas vindas do IHGM, que o convida a tomar assento na Cadeira de nº60 já conquistado. A casa é sua...
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DEO GLORIA, PROXIMO SALUS, MIHI LABOR RAIMUNDO GOMES MEIRELES
Excelentíssima Sra. Presidenta, Profª. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Senhores Membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Distintas autoridades, Senhores convidados, Minhas senhoras e meus senhores, Antes de tudo, agradeço-lhes o reconhecimento e aprovação de meu nome para integrar o quadro de sócios deste silogeu, onde se reúnem literatos e cientistas, vocacionados pelas coisas do nosso Maranhão e Brasil, referência magistral para os pesquisadores da cultura e intelectualidade maranhense. Um agradecimento especial a Deus, pelo dom da vida, aos responsáveis diretos pela mestria do rito de cerimônia, que se emprega neste ritual de iniciação desta Casa de cultura e de letras. Assim, publicamente, reitero meus agradecimentos à Presidenta desta Memorável Instituição, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo e à Professora Joseth Coutinho Martins de Freitas, que de forma tão gentil e solícita indicaram o meu nome para usar, essa modesta alocução, da palavra. Um profundo
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agradecimento aos que procederam à análise do meu currículo. Enfim, a todos os sócios efetivos, meu muito obrigado. Inicialmente, permitam-me atribuir nesta maravilhosa noite de sexta-feira, na Ilha dos encantos, que o poeta gonçalvino, estando ausente, não hesitou esse seu cantar, Ilha em tempo de férias e encanto, de enamoramento e descanso, o título desta alocução, as palavras de São Francisco Xavier: “Deo Gloria, Proximo Salus, Mihi Labor. A Deus a glória, ao próximo a salvação e pra mim o trabalho”. Palavras que alimentaram a mística e espiritualidade do patrono elogiado desta noite. Pois bem, a originalidade do Canto, da Música, da Poesia, da Arte, do Direito, da História, da Geografia, dos saberes em geral, é algo que fascina o ser humano. Creio que todos nós somos fascinados pela originalidade do ser humano e da natureza. Qual a criança que não deseja perseguir as melhores notas, ser a primeira da classe? Ser a única a conquistar o maior número de pontos em seu boletim, ao final do ano letivo, na disciplina que aparenta ser a mais difícil? Cada ser humano é único, talvez por isso, tenha a sede inesgotável da busca do primeiro lugar em qualquer recinto compatível com a sua condição. Às vezes, o desejo é tamanho que chega a pôr de lado sua capacidade e investe na implementação das forças desenfreadas do cego desejo puramente instintivo. A busca do Bom, do Belo, da Arte, da Vida. A única experiência que o ser humano não tende com facilidade é a da morte. Ocorre, no meu entender, porque somos feitos para a vida, não para a morte. O projeto do ser humano é um projeto para o infinito. Não tenho dúvidas de que somos cidadãos do infinito. Senhores e senhoras, Pergunto-me, o que venho fazer a esta Casa? Que contribuição darei? De uma coisa sou consciente: a originalidade é atributo do infinito, porque é inerente ao ser humano. De duas coisas não me posso furtar: de ser único e humano. A minha originalidade em pessoa. Eis o que posso oferecer à Casa de Antônio Lopes. Desde criança, creio eu, Deus já me havia indicado pistas para momentos semelhantes a estes em minha vida. Só agora entendo os desígnios eternos. Quando menino, na década de setenta, tive a oportunidade e o orgulho de estudar em escolas públicas intituladas “Sotero dos Reis”, “Sousândrade” e “Gonçalves Dias”. Somente no presente percebo que tudo se deu para, que, hoje pudesse compreender não só a importância que estes monstres sacrés da literatura maranhense representam para o Maranhão e o Brasil, mas também além de outros sinais, tomarem consciência cada vez mais de minha pequenez diante dos fatos e acontecimentos da contemporaneidade. Foram além de meus pais, os professores, homens e mulheres abnegados dessas escolas que me levaram o conhecimento, o gosto e o entendimento pelas coisas do nosso Maranhão e de nossa São Luís. Permitam-me destacar o nome de uma prima: Maria do Socorro Meireles, pessoa a quem tanto devo, pela preocupação, apoio, entusiasmo e encorajamento quando criança, nos meus primeiros anos de estudos aqui em São Luís. Senhores e senhoras,
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No dia 01 de outubro de 2007 recebi um comunicado deste Sodalício onde constava que as sócias, Professora Joseth Coutinho Martins de Freitas e a Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, indicavam minha pessoa para ocupar, na qualidade de Sócio Efetivo, a Cadeira nº 60, patroneada pelo Cônego José de Ribamar Carvalho, proposta esta aprovada por unanimidade pela Assembléia Geral, realizada em 26 de setembro daquele ano. Senhores e senhoras, O direito interno desta casa acena para que o sócio efetivo, ao tomar posse solene, deverá, na oportunidade, fazer elogio ao seu patrono. Elogiar o Cônego Ribamar Carvalho é fácil, o difícil será como elogiá-lo, o magnânimo legado que ele deixou ao povo, da pessoa mais humilde ao mais letrado do Maranhão. De certo, procurarei a forma mais simples, mais honesta com ele e comigo, talvez mais para mim que para ele. Acredito não haver maior elogio ao Cônego Ribamar Carvalho, do que aquele que o fez de si mesmo, apresentando-se talvez de forma despretensiosa, quando do aparecimento da publicação de dois Discursos, contendo sua peça oratória de recepção do acadêmico Carlos Cunha na Academia Maranhense de Letras. Quando li pela primeira vez esse escrito, fiquei encantado pela singeleza e simplicidade da fala do grande orador sacro. Sinceramente, minhas palavras deveriam parar por aqui, mas o dever me obriga a continuar. Com certeza não direi muito mais do que estão condensadas nestes parágrafos. Senão, confiramos: Nascido em Codó, de pais humildes e trabalhadores, teve tudo para não ser nada. Tinha boa memória, lá isso tinha, no tempo em que se confundia memória com inteligência. Órfão aos seis anos sentiu o que é desejar sem ter. Mas também conheceu a mulher forte da Escritura: sua mãe. Assim, foi estudante de escola pública, jogou no time do padre Dourado, fez seu primeiro discurso aos 10 anos: discurso político, em comício da LEC. Foi seminarista, padre professor, estudou na Sorbone, celebrou missa no Calvário, conheceu João XXIII e Kruchev, foi Secretário de Estado, Reitor, viu as maiores civilizações da terra e se descobriu querendo mais bem ao Brasil. Perpetrou versos e discursos, que lhe abriram as portas da Academia Maranhense de Letras. Não tem inimigos, e seu canteiro de ressentimentos há muito que muchou. Sentese realizado plenamente na vida, na profissão e no ideal. Quando era garoto sonhava e viva só de esperança. Hoje, ainda sonha e vive também de esperança... E amor! Esse menino sou eu. [1] No presente estou fito diante do binômio: orgulho e responsabilidade. Orgulho em dois sentidos: primeiro porque me comparo com ele no que diz respeito à origem de meus pais, “humildes e trabalhadores e tive tudo para não ser nada”. Do muito que me deram, embora possam hoje achar pouco, fiz de tudo para aproveitar o que vi e ouvi de melhor em todos. Segundo, porque o nome do Cônego Ribamar Carvalho refere-se a uma das figuras mais brilhantes no campo da Oratória, do Magistério, da Gestão universitária, da Política educacional, da Espiritualidade, da História, do Jornalismo, da
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Poesia, da Música e do ministério presbyteral que a Igreja Católica no Maranhão, assim como as Universidades do Maranhão, a atual Universidade Federal do Maranhão e a Academia Maranhense de Letras já possuíram, e que por tais motivos temos a obrigação de fazer jus ao que ele representou e passa representar nos tempos atuais. O Cônego Ribamar possuía a capacidade de dialogar com o lavrador, o homem do campo, a família simples da Baixada maranhense, assim como o intelectual bem mais preparado da cidade ou estrangeiro. Ademais, altamente informado dos acontecimentos de seu tempo. Perguntasse o que perguntar tinha sempre uma resposta pronta à altura de cada expectativa. Creio que muitos dos senhores e senhoras, que hoje me escutam, possuem experiência inaudita, por isso, podem comprovar que não estou falando miragens, mas que, com certeza, corroboram essas palavras. Foi considerado em seu tempo um dos maiores oradores de improviso que o Maranhão já possuiu, dito isso por muitos que conviveram com ele. Por esse motivo, não podemos perder de vista que estamos tratando de uma pérola preciosa da intelectualidade maranhense. Responsabilidade, senhores e senhoras, porque, de certa forma, a figura de um ilustre pensador do quilate do Cônego Ribamar não se encontra com facilidade aos nossos arredores. Homem possuidor de grande cultura na área das Ciências Sociais, expressão de honra, dignidade, respeito, competência e honestidade marcaram a vida desse cultor da esperança e da poesia. A propósito de honestidade ficou célebre uma frase de seu discurso de despedida da reitoria da Universidade Federal do Maranhão, em 14 de novembro de 1972. Disse ele: Sobreviver sempre é forma melhor de viver; mas sobreviver com honra é a única forma honesta e correta de viver, quando não se perdeu o respeito de si mesmo e a medida da própria dignidade.[2] Foi Olavo Bilac quem disse: “sem saudade e sem esperança, não há poesia no Brasil... Mas, caso estranho, nos versos de quase todos os nossos poetas, sempre a saudade è cantada com carinho, ao passo que a esperança é cantada com amargura. E quase todos os nossos poetas acabam sempre por dizer que a sua única esperança... é a morte!”[3] O elogiado desta noite fugiu deste parâmetro, talvez consciente do aviso do grande poeta brasileiro. Ribamar Carvalho caracterizou esperança pelo seu conteúdo bom e generoso. Ademais, acredita como Olavo Bilac ser “o único bem real da vida...”. Assim escreveu em um de seus versos, denunciando o individualismo do mundo moderno: A noite escura é provada De sonhos maus: é noite sem estrela, Na própria idolatria. Não tem uma esperança Não tem uma alegria; Dá pena vê-la, É noite debruçada Sobre um mundo vazio, Nunca faz primavera,
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Há geleiras eternas, É inverno, faz frio. E reitera, em outra passagem, agradecendo o dom que lhe foi dado por Deus: A quem guardou o meu primeiro canto, As alegrias dos primeiros versos; De amor, ansiedade e confiança, Orientou os passos da criança, O adulto de agora, Deposita o que nunca jogou fora: A imensa Esperança. Alem de poeta era jornalista, “merecidamente aplaudido como orador de grandes méritos”, como escreveu um dos grandes poetas maranhenses do séc. XX[4]. A título puramente contextual trago a lume a realidade histórica de uma das décadas vividas pelo Cônego Ribamar Carvalho, a saber, a década de 40. Ilustra a realidade do Maranhão de outrora, dos anos idos em que viveu um dos maiores educadores do Maranhão no século passado. Homem que trazia em suas entranhas o amor pela cultura de seu povo e de seu Estado. Senhores e senhoras permitam-me fazer uma referência sobre a situação econômica do Maranhão de 1948, ano em que o jovem então Padre José de Ribamar Carvalho exercia o seu primeiro ano de ministério presbiteral. Pois como somos sabedores, geralmente os primeiros anos de nossas vidas de trabalho, quando a profissão se alia à vocação, se não determinam nossa trajetória profissional, pelo menos delineiam o futuro de nossas vitórias. Eis o que propagava o IBGE na época: As matas equatoriais e úmidas do Maranhão, prolongamento da flora amazônica, possuem exuberantes variedades de riquezas naturais, sobressaindo os intérminos palmeirais de babaçu, nativos no Brasil e de habitat predominantemente no Maranhão. Um bilhão de palmeiras, aproximadamente, de produção abundante e colheita fácil, permite uma indústria extrativa de amêndoas oleaginosa, de elevado valor econômico (...). O óleo das amêndoas do babaçu constitui ótima matéria prima para diversos fins industriais, destacando-se a fabricação de banha, manteiga, sabão sabonete, etc utilizado ainda como lubrificante e combustível para motores a explosão. [...] É ao sul do Estado, no prolongamento do chapadão amazônico, que a palmeira piaçava medra com maior espontaneidade, oriunda certamente da espécie “Leopoldina piassaba”, de habitat predominante no vale do Rio Negro. O Côco da piaçava, saboroso e de odor agradável, produz um óleo que a França consumiu em larga escala, antes de guerra, na industria de perfumaria, extraído dos coquilhos importados da Bahia. (...) O buriti é outra palmeira que, além do coquilho, fornece ainda, para o fabrico de doces, sua polpa fortemente oleaginosa, exportada de comum, em forma de raspa sêca ao calor do sol. (...).
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A semente oleaginosa do tinguí, arbusto sarmentoso que medra por todo o sertão, é aproveitada no fabrico doméstico do sabão e na medicina caseira, pelas qualidades purgativas de seu óleo, sem cheiro ou sabor particular, substituindo com muito proveito o elo de rício. A apeíba, conhecida também pela denominação de pente de macaco, produz frutos em forma de cápsulas redondas e achatada, envolvidas por uma casca fina, cor preta, recorberta de espinhos curtos, contendo como resina (...) a semelhança semente de gergelim. (...) Os óleos de andiroba não são comestíveis, porém se prestam admiravelmente para o fabrico de sabões, imprimindo ao produto um odor resinoso agradável. (...) As fibras de tucum (astrocaryum) resistentes e flexíveis, com similar apenas nas fibras do ramie, são muitos valorizadas no comércio mundial pelo emprego na fabricação dos tecidos tipo “tussur” e nos sucedâneos dos tecidos de linho. (...) Uma tonelada das cascas de mangue, principalmente do chamado vermelho chega a produzir 400 quilos de estrato tânico, bastante consistente. Esse produto substitui perfeitamente o quebracho da Argentina e do Paraguay (...) O Maranhão ocupa lugar destacado no parque salineiro nacional que, para esse fim, oferece o litoral em toda a sua extensão. (...). É dotado ainda, o Maranhão de outras riquezas do reino mineral, sobressaindo do diamante no rio Tocantins; as jazidas de cobre e grafite, em Grajaú; gesso, nessa mesma localidade e em Barra do Corda; o sulfureto de ferro, em Curuzú, Vargem Grande e Iguaratinga; calcácrios próprios para fabrico de ciemento, em diversos municípios, destacando-se pelo grau de pureza, os depósitos de Caxias; o caolin e argilas corantes, no litoral noroeste; o quartzo, no rio Maracassumé; o manganês, nos municípios, nos municípios de Turiaçú, e Carutapera e no vale do rio Mearim; o giz, no rio Grajaú;as areias monozíticas, em Axixá e Morros; as diatomáceas e sulfato de alumínio, no rio Novo, município de Tutóia; os xistos betuminosos, nos municípios de Codó e Barra do Corda; mica, pirite, cristais de rocha, quartzo, etc., em diversos municípios e finalmente uma fonte hidro-mineral em Caxias. A economia do Maranhão repousa também na indústria extrativa da pesca. O litoral, rios e lados e os imensos campos da Baixada constituem fontes de riquezas inexauríveis, fornecendo abundantes alimentações regionais e fartos recursos para o comércio de exportação interestadual. No Maranhão há terras férteis e propícias para todas as lavouras do clima tropical, sobressaindo a mandioca, milho, fava, cana de açúcar, algodão, gergelim, mamona etc. O Maranhão possui condições especiais, para a instalação de uma indústria amilácea, racional e lucrativa, pois enquanto o ciclo vegetativo da mandioca se encerra aqui, no prazo de oito meses, cresce esse período, nos demais Estado, para dezoito e até vinte e dois meses no Sul do País. A produção de mamona (...) New-York, Paris e Estado do Brasil. O Maranhão produz algodão de ótima fibra cuja produção em tempos de outrora, atingia cifras elevadas, mantendo supremacia nos mercados estrangeiros. (...).[5]
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Senhoras e senhores, não se podem fazer referência à vida do Cônego Ribamar Carvalho sem trazer presente a realidade política, social e econômica do Maranhão. Creio que a história do Cônego se confunde com a história de seu povo maranhense. A Filosofia, Sociologia e a Antropologia nos evidenciam que a verdade da vida de cada um de nós está pautada na verdade dos fatos: cada ser humano é fruto de seu tempo, da história e das relações de convivência de seu povo. A vida do Cônego Ribamar Carvalho não está fora desta compreensão, creio eu. Pois bem, senhores e senhoras, o Cônego Ribamar Carvalho era descendente de uma família humilde do município de Codó - MA, onde nasceu, aos dias 06 de agosto de 1923, filho de Benedito Dias de Carvalho e Maria José Vidigal de Carvalho. Nesta cidade cursou o primário e, posteriormente, aos dias 16 de fevereiro de 1936, ingressou no Seminário Santo Antônio, em São Luís-MA. Recebeu a tonsura aos dias 25 de abril de 1944, sendo oficiante Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. No dia 09 de dezembro de 1945 recebeu das mãos do bispo de Caxias, Dom Luis Gonzaga da Cunha Marelin, as Ordens Menores de Ostiriato e Leitorato. As segundas Ordens Menores lhe foram ministradas por Dom Adalberto Acioli Sobral, aos dias 20 de setembro de 1947. Recebeu o Diaconato aos dias 16 de novembro de 1947 e o Presbiterato aos dias 08 de dezembro de 1947, sendo o bispo ordenante Dom Adalberto Acioli Sobral. Por sua vez, a primeira provisão que recebeu foi de Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Vitória - Catedral da Arquidiocese, época em que não chegou a exercer seu ministério. Transferido para Paróquia de São Benedito de Pedreiras e São Luís Gonzaga, na função de Cooperador, onde fundou um Colégio Católico. Aos dias 02 de maio de 1948 exerceu o ministério presbiteral, na Paróquia de Codó, na função de Vigário Coadjuntor, além de Coroatá, permanecendo aí até dezembro de 1950, em companhia do Cônego Gerson Nunes Freire, irmão daquele que se tornará futuramente governador do Maranhão: Oswaldo da Costa Nunes Freire. Os arquivos da Paróquia de Pedreiras guardam preciosos documentos sobre os feitos do Cônego Ribamar Carvalho. Tanto a Ata de Fundação do Ateneu Pedreirense, escola esta fundada por ele (1949-1950), assim como o Livro de Tombo da Paróquia relatam as investiduras deste homem na área da Educação. Os registros da Paróquia de Pedreiras constatam que, em 19 de março de 1949, o educador assumiu a diretoria da Escola e que, em um ano após, produziu um documento fabuloso, intitulado “Carta Aberta ao Povo de Pedreiras”, onde é relatado que tudo foi feito com muito sacrifício, luta e dissabores. Este documento é de extrema importância para se conhecer a vocação humana do Cônego Ribamar. Documento este, publicado pela “voz do Comércio”, por ocasião de sua despedida da Paróquia de Pedreiras. Em Pedreiras, ainda, organizou o Congresso Eucarístico de Pedreiras, na oportunidade, escreveu a letra e produziu a música do referido Congresso. Eis a produção, como descreve Jacinto de Brito: [6] 1. Sobre o vale formoso das matas Onde a terra fascina e seduz, Brilha a Hóstia de luz em cascatas: Corpo e Sangue de Cristo Jesus.
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Ref.: Cristo Rei, de infinita grandeza, Sol divino de paz e de Amor, De teu trono, na Terra Princesa Abençoa o universo, Senhor (bis). 2. Terra virgem, celeiro da gente, De riqueza do infinito valor, És agora o Sacrário imponente Do Mistério divino do Amor. 3. Cantem aves nas verdes ermidas, Cante o céu todo um hino de luz, E as palmeiras, de palmas erguidas, Batam palmas, louvando a Jesus. 4. Seja o canto solene e profundo Do Brasil ante o Altar do Mearim. Glória à Virgem, Rainha do Mundo, Glória a Deus pelos séculos sem fim. Em 14 de janeiro de 1950 recebeu a nomeação de Pároco de São Vicente Férrer e encarregado de Bacurituba. Aos dias 31 do referido mês foi transferido para a Paróquia de Araioses,na função de Pároco, onde trabalhou durante dois anos, tendo também fundado nesta cidade outra Escola, o Ateneu São José, a exemplo do que havia realizado em Pedreiras. Após o exercício de seu ministério em Araioses, foi transferido para a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em São Luís. Aos dias 12 de fevereiro de 1955 foi eleito Cônego Catedrático do Cabido da Catedral de São Luís, onde desenvolveu várias funções na Cúria Metropolitana. Em outubro do referido ano deu início às obras de construção da sede da paróquia Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Monte Castelo, onde, posteriormente, recebeu um Vigário Coadjuntor, jovem presbítero, recentemente chegado da França, hoje Dom Xavier Gilles, Bispo da Diocese de Viana - MA. Parafraseando o poeta, podemos dizer: se queres olhar uma construção sagrada, construída pelo Cônego Ribamar, entre na igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Monte Castelo! Seus feitos estão ali registrados! Nosso elogiado desta noite foi um homem apaixonado pelo trabalho com a juventude. Assistiu diretamente aos trabalhos da Juventude Universitária Católica, Juventude Independente Católica e o Setor Masculino da Juventude Operária Católica. Tudo isso, porque era consciente da riqueza pela economia do Maranhão e que só a juventude poderia mudar, se não transformar as estruturas de um Estado que sobrevivia em função de poucos à custa de uma massa de não alfabetizados. Assim era seu caminho. Não tendia pela força bruta com expressão da violência tirana, mas através da força maior que um povo civilizado possui a única capaz de desmontar, reconstruir e edificar com solidez qualquer império humano: a Educação. Os jovens foram seu alvo de crendice da mudança, da transformação, porque ele mesmo foi sempre jovem. Jovem nas palavras, nos feitos e em suas ações.
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Aos dias 07 de maio de 1957 foi nomeado Diretor da Faculdade de Filosofia de São Luís, onde se destacou como gestor do ensino superior pela sua capacidade intelectual brilhante. No ano de 1959 ausentou-se do Brasil para estudar na Universidade de Sorbonne, França, obtendo a licenciatura em Psicopedagogia. Em sintonia com a realidade maranhense, nesse período, realizou estágios em vários Centros Pedagógicos da França e Itália. Na Itália, estudou Reforma Agrária e Fundiária. Na Alemanha, participou do Congresso Eucarístico Internacional de Munique. Como homem de profunda espiritualidade, fez peregrinação durante vinte e cinco dias na Terra Santa, sobretudo em Jerusalém. Ao retornar, o Arcebispo Dom José de Medeiros Delgado identificando as qualidades inerentes ao Cônego Ribamar o encarregou para elaborar estudos sobre a Universidade do Maranhão. Em março do ano de 1961 recebeu a nomeação de Diretor Geral do Departamento de Educação do Estado do Maranhão. E em setembro e outubro do ano de 1964, esteve nos Estados Unidos, a convite do Presidente Norte Americano, onde viajou com fins de estudos, cursando por lá Administração Educacional. O Cônego Ribamar era um jornalista nato. Publicou várias poesias e inúmeros artigos em jornais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Fortaleza, Parnaíba, Teresina, São Paulo e São Luís. Redator do Jornal o Combate, O Jornal do Dia, Sócio da Associação Brasileira da Imprensa, colaborador do Anuário do Maranhão, Jornal do Dia, Jornal do Maranhão de São Luís e do Jornal Âncora, de Fortaleza. Escreveu sobre vários assuntos [7], inclusive sobre Divórcio, Reforma Agrária e Mandado de Segurança. No campo das Letras possuiu três amigos que o incentivaram: prof. Ladislau Papp, o escritor Dom José de Medeiros Delgado e o poeta Carlos Cunha. Recentemente foi restaurada uma das mais valiosas fontes históricas de pesquisa em nossa São Luís, o “Jornal do Maranhão”. Durante sua existência passou por três nomenclaturas: nasceu como “Correspondente”, depois “Maranhão” e finalmente “Jornal do Maranhão”. Possui suas origens na década de trinta, precioso pelos relatos históricos tanto da Arquidiocese quanto da cultura, da arte e da literatura do povo maranhense. O Cônego foi um fiel colaborador desta grandiosa fonte histórica, como havíamos referido alhures. Lá se encontra parte da referência de seu legado intelectual. Pena que poucos historiadores maranhenses possuam conhecimento desta fonte preciosa de pesquisa. Foram restaurados em torno de 70 volumes. Um verdadeiro baú de preciosidade. Como quem os fala foi um dos principais autores da façanha da restauração, em contato com alguns volumes, constatamos escritos sobre as principais instituições de nosso Maranhão, inclusive da própria Universidade Federal, Liceu e outras. Desta feita, pesquisadores do quilate de Leopoldo e Delzuite Vaz e tantos outros serão beneficiados em suas pesquisas incansáveis sobre a memória e o resgate histórico do Liceu Maranhense. Fontes para pesquisadores maranhenses, dos escritores Carlos Cunha, Jose Nascimento Moraes Filho, historiador e jurista Lima Filho, Prof. José
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Moreno de Sant’Ana, jornalista, orador e latinista Arias Cruz, o qual foi sócio fundador, pertencente à comissão de bibliografia desta Casa, e por questão de honestidade, declaro-os que ali se encontra boa parte de seu legado jornalístico, além de inúmeros escritos de principais professores da Faculdade de Filosofia, da Fundação Paulo Ramos e tantos outros que o tempo presente não nos permite relatar. Lecionou várias disciplinas, em diversos estabelecimentos de ensino, do médio ao superior, nos municípios e na Capital, dentre as quais, Cosmologia, Filosofia Geral, Psicologia Educacional, Didática, Introdução à Filosofia, Religião, Relações Humanas, Oratória, Filosofia da Educação e Doutrina Social da Igreja. Foi um dos maiores professores do Seminário Santo Antônio, onde lecionou Geografia, Matemática, Português, Literatura Portuguesa e Brasileira. Aos jovens políticos da época lecionou Geopolítica do Maranhão. Além disso, foi professor no SENAC de São Luís, onde ministrou Educação Moral e Cívica e professor no curso de Orientador Vocacional da JEC. Recebeu as condecorações de “Cavaleiro das Palmas Acadêmicas” (1963) concedida pelo Governo Francês; Ordem do Mérito Timbira (1964) e Medalha dos 350 anos de São Luís (1962). O Cônego Ribamar Carvalho pertenceu à Academia Maranhense de Letras, ocupou a cadeira nº 19, patroneada por Teófilo Dias e fundada por Maranhão Sobrinho. Iniciou-se na literatura maranhense com o livro “Uma janela Aberta para a Noite”, que lhe garantiu a “imortalidade”. Eleito para a Academia no dia 1º de agosto de 1959 e recepcionado pelo acadêmico do autor Gomes de Souza e sua Obra[8], no dia 17 de outubro do mesmo ano, o qual também teve a honra de ser membro desta casa. O poeta Ribamar Carvalho, no dizer de Dom Delgado “Deus lhe deu um dom que poucos de nós temos – o dom da poesia – e foi dentro deste dom da poesia que Deus apareceu nos lábios dele para dizer o que ele não devia dizer, para dizer o que Deus queria que ele dissesse!”. [9] Assim, foi um pesquisador da literatura de Catullo da Paixão Cearense, os versos catulianos do “Boêmio” lhe influenciaram profundamente o conceito de poesia. Era extremamente apaixonado por “Luar do Sertão. É de Ribamar Carvalho um dos conceitos de poesia, já mais bem elaborados entre os intelectuais maranhenses do século passado: Poesia não é apenas um estado d’alma, e uma atitude diante da beleza. É sobretudo um esforço generoso de penetração do ser das pessoas e das coisas, uma reflexão à margem do complexo da vida, acompanhando-lhe as vicissitudes, extraindolhe, muitas vezes, entre desesperos e revoltas, a margem oculta, que há nos seres que vivem, nas coisas que existem apenas.[10] E apoiando-se ainda na filosofia do poeta que foi um “rústico, um autêntico, um filho da natureza indômita e inculta, que fez do violão a sua harpa e da modinha a sua elegia”. E insiste ele: É que, senhores, a poesia, como a música, é uma atitude diante do belo e uma resposta da alma enamorada a um aceno de amor.
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Ambas se espalham pela natureza: na voz do vento, no canto das aves, no ribombar dos trovões, no linguajar solene das procelas, numa florinha perdida, num fio d’água que passa, canta, brilha e se some na mata. [11] Porém, coerente que foi sem deixar que a paixão o tomasse pela mão e o conduzisse ao desencanto, soube denunciar a fraqueza do “Filósofo de chapéu de couro”, como descreveu certa vez: Não pode e nem deveu ser chamado gênio, quer pelas limitações que a própria língua lhe impôs, quer pela superficialidade de sua cultura que teve e ainda mais pela desmoralização do conceito pespegado em muita mediocridade empavonada aqui e alhures. Foi só seresteiro; foi e só poeta popular, espontâneo e por isso definitivo. Sua obra, que não teve as veleidades da perpetuação, tornou-se perpétua em virtude dos próprios fatores integrantes e constitutivos em que mergulha. Por temperamento foi um tímido que, por contra posição, atingiu as raias de um destemido orgulho, como forma de reação a um meio “snob” e sofisticado, onde o violão era uma blasfêmia estética e a poesia cabocla uma como palavra feia, face à água perfumada dos versinhos de amor de então. [12] Desta feita, senhores e senhoras, é nesse contexto que, por exemplo, se pode abstrair a explícita coragem e coerência intelectual daquele que foi sincero consigo e com os outros. Contudo, ninguém neste país pode negar a originalidade e a beleza da produção catuliana. Quem confirma é o maior cronista do Brasil, o maranhense HUMBERTO DE CAMPOS. Assim disse ele: Catullo é realmente um misto de singeleza e de opulência, um ponto em que se misturam, formando o mais pitoresco dos riachos, os veios que passam pelos campos cultivados e as fontes que descem, gementes e ligeiras, do largo seio das matas indomesticadas. A sua poesia simples, doce e ingênua, mas em versos de métrica perfeita, é uma resina do sertão a arder, cheirosa, num turíbulo de prata ou de ouro. Evolam-se das suas rimas os mais inocentes perfumes da terra: cheiro de baunilha, de leite, de folha machucada, de gado sadio, de benjoim, do sertão do Norte, em Maio, pelos fins d’água... (...) Catullo não quer, porém, que os seus frutos nasçam no jardim ou brilhem em vasos de porcelana: quer conservá-los no mato, envoltos nas folhas. A seiva para o fruto quem dá é Deus. A árvore compete, apenas, dar forma ao pômo.[13]
Ademais, o Cônego Ribamar Carvalho exerceu o cargo de Vice-Reitor da Universidade do Maranhão, de 1962 a 1966. Nomeado Reitor em 1963 a abril de 1967 da Universidade do Maranhão, cognominada por alguns, “Universidade Católica do Maranhão”. Fundou a Faculdade de Filosofia e Faculdade de Enfermagem. Estas incorporadas posteriormente à Universidade Federal do Maranhão. Foi Secretário de Educação de Cultura do Estado do Maranhão (1962-1966) Acredito que a Arquidiocese de São Luís juntamente com o Instituto de Ensino Superior do Maranhão, este mantido pela SOMACS podem e devem fazer um estudo de
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toda a experiência universitária que Dom Delgado implantou através da Universidade do Maranhão. Só quem tem a ganhar são os atuais gestores da Sociedade Maranhense de Cultura Superior do Maranhão. Foi Dom João José da Mota e Albuquerque, o então Arcebispo de São Luís, que pela última vez realizou um levantamento, resumido que seja, em discurso pronunciado por ocasião da solenidade de instalação da Fundação Universidade do Maranhão, a 27 de janeiro de 1967, no Palácio do Governo Estadual, quando declarou em público a doação dos bens da Universidade do Maranhão, valor estimado em 1 bilhão e 500 milhões de cruzeiros antigos para o Governo Federal. Disse ele: Seria injúria pensar que haja alguém que desconheça o enorme impulso que a Universidade Católica trouxe à Educação e à Cultura, nos seus anos de existência. Um relato estatístico ajuda a confirmar esta realidade. A FACULDADE DE FILSOFIA diplomou 322 Professores. E em 1966 teve 287 alunos matriculados. Seu corpo docente é formado de 57 professores. A FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS, em quatro turmas, diplomou 76 Médicos. Sua matrícula, em 1966, foi de 200 alunos, com o corpo docente de 88 professores. A ESCOLA DE ENFERMAGEM, em 12 turmas, diplomou 96 Enfermeiras. Sua matrícula em 1966 foi de 35 alunas, com o professorado de 30 mestres. A ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL, em 8 turmas, diplomou 53 Assistentes Sociais. Sua matrícula em 1966 foi de 47 alunas, com 22 professores. TOTAL: 547 diplomados, 569 matriculados, em 1966, 197 Professores. Não há sinceridade de grandes esforços de inteligência para se concluir que a grandeza do momento histórico que estamos vivendo agora, tem sua origem e seu fundamento na Universidade Católica do Maranhão. Contudo, como ato de justiça, declarou a seguir: “seria pecado de omissão, imperdoável pecado, silenciar Cônego José de Ribamar Carvalho, Magnífico Reitor da Universidade Católica, e todos os mestres e funcionários da Universidade existência até hoje se deve à doação de suas existências à grande causa da implantação no Maranhão de uma mentalidade universitária”.[14] Percebe-se que memória da Universidade do Maranhão ainda está viva entre nós. Se eu perguntasse entre os presentes, quem teria estudado na antiga Universidade do Maranhão, sem dúvida alguns se manifestariam. O Prof. Altamiro Cavalcante de Carvalho, aqui presente, detém excelentes recordações do tempo das lutas estudantis do Centro Acadêmico. Ele mesmo contou-me que, certo dia, por determinação da agremiação impediu-se o Reitor Dom Fragoso de adentrar as portas da Universidade, por ordem do comando de greve estudantil. Um resgate oral das lutas e conquistas daqueles que construíram história na Universidade do Maranhão! Mas isso tem que ser logo, o tempo urge. Daqui há alguns anos, tornar-se-à mais difícil registrar-se a história desse monumento social maranhense. Exerceu o cargo de Vice-Reitor Pedagógico da Fundação Universidade do Maranhão, de 1967 a 1968, e passou a ser Reitor de 1968 a 1972. Destacou-se na gestão do Cônego Ribamar Carvalho a construção do Campus Universitário Bacanga, obra que se tornou fundamental para o crescimento e desenvolvimento do ensino superior do Maranhão. O Reitor, Prof. José Maria Ramos Martins, homenageou o ex-Reitor da Universidade do Maranhão, Ribamar Carvalho, ao qual o referido Professor dedicou
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um busto de bronze que se encontra em um das dependências do Campos Universitário. A homenagem é justa, mesmo porque foi ele, Ribamar Carvalho, quem conseguiu implantar na Universidade uma gloriosa tradição acadêmica, por representar uma das figuras mais insignes da historia da Universidade do Maranhão. Percebe-se que o Cônego Ribamar Carvalho foi um homem preparado para a gestão universitária, contudo isso não aconteceu por obra do ocaso: foi fruto de um investimento de Dom José Medeiros Delgado. Ele confessou em público por ocasião da missa das bodas de prata de sua ordenação, em 8.12.72, pouco antes de vir a falecer. Eis o trecho de improviso, em agradecimento à homilia de Dom Delgado, que veio de Fortaleza só para presidir à celebração da Eucaristia. Assim se expressou: Desejo agradecer a Dom Delgado, evidente quando ele falou de mim, falou como um amigo e os amigos vêm sempre pelos óculos azuis ou cor de rosa da boa vontade, da afetividade e da amizade. É uma das amizades que eu agradeço a Deus haver encontrado ao longo do caminho. Se alguma coisa ele fez por mim, posso dizer que ele neste instante, representou 50% desses anos de sacerdócio. [15] Ao que após sua morte, apareceu em um jornal local: “Calou-se a mais espontânea voz de poeta maranhense de hoje, emudeceu o orador mais fulgurante de São Luís dos nossos tempos, morreu um sacerdote que amou sua terra, dando-lhe por um quarto de século, o que de melhor possuía de seu coração e de sua inteligência”. Era Dom Delgado que fizera publicar de Fortaleza em São Luís estas palavras. O imortal, patrono da cadeira nº 60 desta Casa faleceu nesta capital, ainda muito jovem, vítima de um ataque cardíaco fulminante, aos dias 27 de dezembro de 1972. E eu cá em meus pensamentos de criança, sonhei que misteriosamente aquele corpo aparecera ali, na rua do Sol, que já não havia raios e luz do dia. Aquele corpo já sem vida, dentro de um automóvel em frente ao Teatro Artur Azevedo. Lugar de muito discurso e pouco silêncio. E ele continuava ali: sem discurso e muito silêncio! Pois nesta noite, senhores e senhoras, prefiro acreditar que o Cônego Ribamar não haja falecido ali, mas que um coro de querubins e serafins amigos, na tentativa de reconduzilo à vida terrena, o trouxe em suas asas e como estava cansado, o depositaram ali por certo tempo, corpo sem vida, sem sangue, pois já não possuía importância para os seus na terra. Quem sabe se aqueles anjos não o teriam deixado ali para que pudesse produzir seu último discurso, mais bem improvisado, como a morte o encontrou e surpreendeu a todos, sem uso da voz e gestos. A notícia da morte logo chegou aos ouvidos dos amigos. Imediatamente foram produzidos vários discursos. E ele, para os que estavam na terra, permanecia calado, inerte. Um dos únicos sepultamentos que o povo foi em procissão do Monte Castelo ao Cemitério do Gavião, a caminhar, ouvindo-se o silêncio do poeta que orou por todos. Senhores e senhoras, O Cônego Ribamar Carvalho, por essas alturas, já deve ter proclamado seu discurso, nós é que somos incapazes de escutá-lo ou percebê-lo, porque podemos ser até “imortais”, mas ainda distantes da eternidade. Senhoras e senhores, obrigado por ter-me concedido generosa atenção e ter usufruído o tão precioso tempo de cada um, de cada uma. Mas não poderia deixar de agradecer à sobrinha do grande orador sacro de Caxias, Mons. Arias Cruz, Sra. Estela
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Cruz de Medeiros, pelo incentivo e amizade, a Dom Xavier Gilles, pelo apoio, sobretudo nos momentos decisivos em que precisei para aprofundamentos dos estudos; aos irmãos presbíteros da Arquidiocese, ao Pe. Ms. Clauber Pereira Lima, que, mesmo distante, não esquece a amizade deixada na terra por onde pregou Antônio Vieira e que reitera este liame, publicando seus artigos pelos principais Jornais de São Luís, com o que demonstra seu amor e presteza pela Ilha de São Luís, a todos da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Foz do Rio Anil, em especial aos Conselheiros, que sabem compreender os motivos de minhas ausências. A Dom Paulo E. Andrade Ponte, meu bispo ordenante, pelo apoio e aos estudos de doutorado. Aos Professores Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Delzuite Vaz, pelo convívio fraterno e, ainda, pelo presente de “Souzinha”, de Bacelar Portela, preciosidade da Literatura maranhense, agora é meu! Aos músicos profissionais maranhenses, Norlan Aragão e sua maravilhosa família pelo convívio amigo e desinteressado. Ele, pai da cantora mirim Amanda. Ainda aos músicos, Lúcio Xavier e Celso Bastos pela mestria e arranjo instrumental, à obra prima do boêmio, Catulo da Paixão Cearense, poeta amante das noites de luar do Maranhão. Sinceramente, e não posso deixar de expressar meu muito obrigado a meu pai, João Jose de Meireles, a minha mãe, Maria Gomes Sá de Meireles, aos meus irmãos José, Maria das Dores, Bárbara, Erotildes, Eronildes, sobrinhas e sobrinhos, afilhado Rogher, primas e ao meu mais novo oferecido afilhado, Lucas, a todos os amigos e amigas aqui presentes. Meu muito obrigado às autoridades que atenderam ao convite da nossa Presidenta, abrilhantando este evento. Obrigado, na verdade, pela paciência em me escutar. Despeço-me não com minhas palavras, mas com as daquele que me trouxe a esta Casa, atribuindo-me alegria, orgulho e responsabilidade. Hospedagem perpétua do que outrora governou São Luís, magistrado polido, Secretário Perpétuo deste Silogeu, o poeta Antônio Lopes, um dos maiores estudiosos do negro no Maranhão. Enfim, disse o patrono, certa vez, em uma de suas magistrais despedidas: “Feci quod potui, fortiora faciant potentes. Fiz o que pude; que os mais poderosos façam coisas mais grandiosas. Aqui está encerrada a minha participação no processo de engrandecimento de minha terra..” E que esta minha modestíssima alocução se assemelhe a uma Habent Sua Fata Libella![16] Contudo o meu desejo intrínseco, ao final destas palavras, era desviar-se da liturgia deste rito e finalizar com os versos do “boêmio”, Catulo, como o Cônego Ribamar o tornou tantas vezes memorável em seu coração. Respinga a verdade que certa vez disse Pedro Lessa: o “Luar do Meu Sertão” “é o Hino Nacional do coração dos brasileiros”, que certamente o foi do coração do Cônego José de Ribamar Carvalho! Meu muito obrigado. [1] RIBAMAR CARVALHO, José -CARLOS CUNHA. 2 Discursos. São Luís: Mirante, 1968, p. 24. [2] Cº RIBAMAR CARVALHO: cores e nuance de uma personalidade e de uma vida. São Luís: Tipografia São José, 1973, p. 27. [3] OLAVO BILAC. Conferências literárias. Rio de Janeiro-Paris: Francisco Alves-Aillaud, 1912, p.103-104. [4] CARLOS CUNHA. Poesia Maranhense Hoje ou 50 anos de poesia. Introdução, seleção e biografias de. São Luís: Mirante, 1973, p. 117.
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[5]INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. DEPARTAMENTO ESTADUAL DE ESTATÍSTICA. Maranhão 1948. São Luís: SIOGE, 1950, p. 25-40. [6] SOBRINHO, Pe. Jacinto Furtado de Brito. A fonte nas Pedreiras. Documentário Histórico da Paróquia de São Benedito. Pedreiras, 1990, p. 4. (datilografado). [7] As obras publicadas do Cônego RIBAMAR CARVALHO ainda necessitam de catalogação. Poesias esparsas em Jornais e revistas do Rio de janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Fortaleza, Paraíba e São Luís do Maranhão. Especificamente no Jornal Anuário de São Luís do Maranhão, O Combate, O Jornal do Dia, Jornal do Maranhão, Ancora, em Fortaleza-CE. Traduziu parte da “Origem das Espécies” de A. Quatrefages. Escreveu problemas maranhenses. Uma série de artigos sobre o Divórcio. Sugestões sobre reforma agrária. Letra e Música do Hino do Congresso Paroquial de Pedreiras – hoje se encontra em Apontamentos para a história de Pedreiras, LAGO, Aderson; SOBRINHO, Pe. Jacinto Furtado de Brito. A fonte nas Pedreiras. Documentário Histórico da Paróquia de São Benedito. Pedreiras, 1990, p. 4. (datilografado); RIBAMAR CARVALHO. Alocução de paranifo. Curso científico do Colégio Santa Teresa 8-XII-1957, São Luís Maranhão, 1957, 13p; Id. Oração patriótica. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965, 15p; RIBAMAR CARVALHO, José-CARLOS CUNHA. 2 Discursos. São Luís: Mirante, 1968, p. 23-29; RIBAMAR CARAVALHO. Et all. O poeta que foi músico. In Catulo, Gonçalves Dias e Coelho Neto. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1965, p. 3-12; Id. Uma janela aberta para a noite. Poesias. São Luís: Tipografia São José, 1958, 43p; FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO MARANHÃO. RELATÓRIO DE ATIVIDADES. (Apresentação e notas por) RIBAMAR CARVALHO, Côn. José de. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 1971, 100p; Obra póstuma: Cº RIBAMAR CARVALHO: cores e nuance de uma personalidade e de uma vida. São Luís: Tipografia São José, 1973, 60p. [8]João Bacelar Portela escreveu a obra Gomes de Souza e sua obra, publicada em 1975, pela Universidade do Maranhão. [9] Cº RIBAMAR CARVALHO. Cores e nuances de uma personalidade e de uma vida. op.cit., 16. [10] RIBAMAR CARVALHO, José-CARLOS CUNHA. 2 Discursos. São Luís: Mirante, 1968, p. 26. [11]RIBAMAR CARVALHO, Cônego. Et all. O poeta que foi músico. In Catulo, Gonçalves Dias e Coelho Neto. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1965, p. 4. [12] Id. Ibidem, p. 5-6. [13] HUMBERTO DE CAMPOS. Homenagem a Catullo Cearense. In CEARENSE, Catullo da Paixão. Meu sertão. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1936, p. 24-25. [14]ALBUQUERQUE. Dom João José da Mota e. A Igreja e a Universidade no Maranhão. São Luís: Tipografia São José, 1967, p. 5. [15] Cº RIBAMAR CARVALHO. Cores e nuances de uma personalidade e de uma vida. op.cit., 19. [16] Alguns atribuem a expressão ao orador romano Marcus Tulli Ciceronis, ou seja, 'os livrinhos têm seu próprio destino’. De outra forma, temos: “pro captu lectoris habent sua fata libelli" (segundo a capacidade do leitor os livros possuem o seu próprio destino) é o verso nº 1286 do De litteris, De syllabis, De Metris, de Terentianus Maurus.
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DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOSÉ MARCELO DO ESPÍRITO SANTO JOSETH COUTINHO DE FREIRAS IHGM, 30-01-2008. A casa de Antonio Lopes abre suas portas para empossar o mais novo integrante do IHGM, o arquiteto José Marcelo do Espírito Santo, na Cadeira nº14, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago. Manda a praxe acadêmica que o proponente fale em nome dos seus pares dando as boas vindas, e por isso estou aqui. Apresento-lhe, inicialmente uma síntese do que é o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, pois dizia o poeta “só se ama aquilo que se conhece”. É uma associação cientifica e cultural, sem fins lucrativos fundada em 20 de novembro de 1925. Idealizada pelo professor Antônio Lopes da Cunha que, associandose a 10 intelectuais Justo Jansen Ferreira, José Pedro Reis Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, Dr° José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, Desembargador Benedito Barros e Vasconcelos, José Abranches de Abranches de Moura, Padres Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes concretizaram seu ideal. Reconhecido de Utilidade Pública por leis estadual e municipal, registrado no Conselho Nacional de Títulos e Documentos de Pessoa Jurídica. O IHGM tem por finalidades, entre outras: 1. Estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia e Ciências afins referentes ao Brasil e, especialmente o Maranhão; 2. Cooperar com os poderes públicos que visem o engrandecimento científico e cultural do Estado colocando-se em à disposição das autoridades para responder as consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes às suas finalidades; 3. Defender e velar o patrimônio histórico do maranhão; 4. Promover a coleta de documentos relativos a efemérides; 5. Estimular o estudo da História, da Geografia e das Ciências afins em todo o país, particularmente neste Estado e ampliação biografia maranhense; 6. Manter e estabelecer correspondências e Intercâmbio com instituições congêneres locais, nacionais e estrangeiras; 7.
Providenciar para que funcionem plenamente a biblioteca e o arquivo;
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8. Editar revista periódica, em cujas paginas sejam insertos os trabalhos do IHGM; 9. Promover a edição e reedição de obras de autores maranhense, preferencialmente às antigas e as inéditas; No quadro social possui 4 categorias de sócios: efetivos em numero de 60, cadeiras, patroneadas por nomes de falecidos escritores reconhecidos como autoridades em Historia, Geografia ou Ciências afins; Correspondentes os que residem fora da cidade de São Luís; Honorários, que são distinções conferidas pelo instituto a autor consagrado e Beneméritos aqueles que se destacarem por atos de benemerência. No ato da posse o sócio efetivo recebera as insígnias do IHGM e diploma. A casa de Antônio Lopes se orgulha de ter em seu quadro patronos historiadores do porte de Jerônimo Viveiros, José Ribeiro do Amaral, Pe. José de Moraes, Antonio Lopes e, posteriormente nomes como Mário Martins Meireles, João Lisboa, Eloy Coelho Neto, geógrafos como Fran Paxeco, César Augusto Marques, Justo Jansen Ferreira, Sá Vale, Candido Mendes de Almeida, Pereira do Lago, Raimundo Lopes e outros. A praxe acadêmica exige saudação ao recipiendário trace seu perfil intelectual. Em síntese, o currículum vitae do empossado José Marcelo do Espírito Santo na Cadeira n°14, patroneada por Antônio Bernardino Pereira do Lago, e fundada por Fran Paxeco, diplomata português, inegavelmente, uma das mais cultuadas figuras da história contemporânea do MA. José Marcelo do Espírito Santo possui um valioso currículum vitae. Nascido em 13 de fevereiro de 1964, em São Paulo, filho de José Geraldo do Espírito Santo e Jovina Spósito do Espírito Santo é Arquiteto Urbanista graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e Mestre em Desenvolvimento Urbano e Regional (MUD) pela Universidade Federal de Pernambuco cuja dissertação foi “Tipologia da Arquitetura Residencial e Urbana em São Luís do Maranhão: Um Estudo de caso a partir da teoria Muratoriana”. É portador de vários cursos sobre temas relacionados à suas atividades profissionais, participante de Oficinas Especialização conferencias, congresso, cursos, comunicações no SBPC; conhecedor dos idiomas francês, italiano, espanhol e inglês, e evidentemente, do português sua língua pátria. Palestrante expositor na sua área de debatedor de temas sobre arquitetura, urbanismo, paisagismo, patrimônio arquitetônico e urbano, instrutor de cursos, portador de cursos de informática, etc. O arquiteto José Marcelo do Espírito Santo é autor de muitos trabalhos sobre nosso Estado demonstrando conhecimento da história, usos e costumes da terra, que escolheu para morar. Há culturalmente, estreito liame entre a entidade e seu exercício profissional: constituição histórica de São Luís, seu patrimônio cultural, urbanismo etc. os Institutos são órgãos de reconhecimento; como centro de estudo e registro de fatos históricos,
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relativos ao nosso Estado precisa da atualização dos membros feitos pelos seus sócios efetivos. Trabalhos em São Luís: Paisagismo Urbano em São Luís (palestra em mesa redonda); Preservação de Patrimônio Arquitetônico e Urbano; Pesquisa Escultura Urbana em São Luís do MA; Planejamento Urbano em São Luís do MA; Coordenador I Semana de Humanidades – UFMA; Patrimônio Turístico de São Luís; São Luís do MA e a paisagem Patrimônio Cultural da Humanidade: A paisagem Urbana, A memória. Plano Municipal de Gestão do Centro Histórico de São Luís do MA no II Encontro Luso – Brasileiro de Gestão de Patrimônio e Reabilitação Urbana (Prefeitura do Rio de Janeiro e Câmara Municipal de Lisboa); Painel de São Luís do MA o Estatuto da Cidade (Seminário em Olinda – PE). O Desafio da Revitalização; Patrimônio Cultural e Arquitetônico; Programação Visual – Carimbo Comemorativo do 5° Aniversario da Inclusão de São Luís na Listagem do Patrimônio Mundial / UNESCO 2002. Prefeitura de São Luís IPLAM e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; Projeto e Paisagismo em São Paulo, São Luís e Caxias; Urbanismo – projetos urbanísticos, loteamento e operações urbanas; Consultor e coordenador técnico do Plano Diretor de Paço do Lumiar; Exposições fotográficas sobre esculturas urbanas de São Luís; Atividades Profissionais: Arquiteto Consultor junto ao Caderno Cidades Jornal Folha de SP dez 87/ jan 88; Projetos Arquitetônicos Civis e atividades de pesquisa – jan 88 a dez 89; Repórter Cad Cidades do Jornal Folha de SP (textos, entrevistas) – fev 88 / jan 89; Revista Arquitetura e Urbanismo (textos, entrevistas e reportagens). Arquiteto Consultor junto à Secretária Municipal de Urbanismo – SEMSUR, Gestão prefeito Jackson Lago; Colaborador em SL, da Rev. Arquitetura e Urbanismo – jan 90 a jan 95; Coordenador de Planejamento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Municipal de terras, Habitação e Urbanismo (SEMTHURB) – gestão Conceição Andrade jul 95 / dez 96; Diretor do departamento do Plano Diretor Instituto de Pesquisa e Planejamento Municipal – (gestão prefeito Jackson Lago) março de 97 / agosto de 98; Presidente do Instituto de Pesquisa e planejamento Municipal – (gestão prefeito Jackson Lago) agosto de 98 / dez 2000; Presidente do Instituto de pesquisa e Planejamento Municipal – (gestão Tadeu Palácio) jan 2000 / 2002; Atual Presidente do Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade – Prefeitura SL (gestão prefeito Tadeu Palácio).
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Pesquisas (CNPq): As Artes Plásticas na Republica – O Palácio das Industrias; Palestras Industriais: Preservação e Restauro. Programa de Humanização do Centro Histórico de São Luís; Exposição Fotográfica da Arte Publica em São Luís, Imperatriz e Caxias; São Luís: Projeto de Lojas comercias, postos de abastecimentos, Centro Comerciais, Praça da Babaçu (Ipem Calhau), reurbanização de avenidas, edifício comercial, ginásio esportivo Colégio Dom Bosco Renascença; Projetos e Paisagismo de residenciais (MG-SP); Projeto de Limpeza, Conservação e Restauro de Monumentos SL; Projeto de Recuperação Arquitetônica; Aprovação em Concurso Publica: Professor de Teoria e História da Arquitetura – Escola de Engenharia de São Carlos / USP; Professor de História da Arte – UFMA (2° lugar); Professor de planejamento Arquitetônico – UEMA (1° lugar); Experiências Magistério Superior Prof° Historia da Arte (desde 1992) UFMA; Chefe Departamento Artes; Atividades de Orientação de Monografias de Conclusão de Curso de Graduação (bacharelado e Licenciatura Turismo, Educação Artística, Liceciatura. História, Arquitetura e Urbanismo participação em bancas / comissões examinadoras de concurso para ingresso na Carreira do Magistério Superior de Defesas de Monografias, colegiados UEMA e UFMA). Prof° das disciplinas: Historia da Arte, Museologia, Historia da Arquitetura Regional e Evolução das Técnicas de Representação Gráfica de Licenciatura; Fundador do Departamento do Ma do Instituto de Arquitetos do Brasil (1992) xpresidente, ex-secretario, ex-vice, ex-membro do Conselho Fiscal). Representante do IAB-MA na comissão do município, conforme Lei n° 3.254 de 29 de dez 1992. Trabalhos Publicados. Textos de Exposição, de convites, artigos na Folha de São Paulo, Folha da Tare, a Tribuna do Parque. Revista Arquitetura e Urbanismo O Estado do Maranhão, O Imparcial. A casa de Antonio Lopes se congratula em recebe-lo, pois sua presença a engrandece. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão tem uma tradição ao longo do tempo, desenvolvendo uma luta de preservação de valores e o seu talento e a sua competência o ajudará a manter sua missão de guardião da história e geografia do Maranhão.
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Marcelo, contamos com a sua significativa participação no trabalho da garimpagem para trazer novos valores para este sodalício. Você veio somar com os que aqui estão. É de tradição acadêmica que o eleito transponha os umbrais da Casa fazendo o elogio ao patrono e predecessores no sentido de valorizá-los e lembrá-los. Quem o recebe deve, pelo menos, traçar o perfil intelectual do recipiendário a fim de que todos tomem conhecimentos das afinidades culturais com o novo confrade. José Marcelo do Espírito Santo, a partir de agora, aumenta a sua responsabilidade pela preservação do patrimônio Histórico e Geográfico do Maranhão, companheiro nosso e continuador da obra que nos reúne e nos irmana. Esperamos uma conveniência intensa e fraterna, que venha somar com seus novos amigos nas atividades empreendidas pela Casa de Antonio Lopes no compromisso com o futuro. As portas do IHGM franquearam a sua entrada por lhe reconhecer valor e ter certeza que os cumprirá o compromisso assumido. Acrescentou o saber comprovado aos dos confrades aqui sentado. A casa é sua e a Cadeira de n°14 o espera. Conquistou-a dignamente. Damos-lhes as boas vindas do IHGM e o dos seus pares, esperando que sejam uns sócios efetivos, efetivamente presentes. Com simpatia, abrimo-los os braços num cumprimento fraterno. Muito obrigado...
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SAUDAÇÃO AO EMPOSSANDO CARLOS ALBERTO SANTOS RAMOS, NA CADEIRA N° 04 DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, EM 30.04.2008. JOSEHT COUTINHO DE FREITAS
“Se tens um verdadeiro amigo, prende-o ao coração, para sempre, não com vínculos de ferro, mas com os laços da cultura, mais fortes que o ferro, imunes à ferrugem e aos desgastes do tempo”. Thomas Meton O instituto Histórico e Geográfico do Maranhão abre suas portas para receber em seu quadro de Sócios Efetivos um intelectual maranhense freqüentador da Casa de Antônio Lopes, onde nos brindou com interessante palestra. Carlos Alberto Santos Ramos deu-nos o sim e veio. Manda a praxe acadêmica, que o proponente, em nome do IHGM e de seus pares, dê as boas vindas, por isso, aqui, estou. Sendo sua amiga de muitos anos, conheço suas qualidades e o ser humano que é. Neste sodalício desfruta-se de ambiente saudável, cordial e fraterno. Não há competitividade, apenas o cumprimento do compromisso, espontaneamente assumido, do culto às novas tradições, do estudo histórico-geográfico do nosso Maranhão, dentro da ética e do respeito, valores indispensáveis em qualquer situação, somos falíveis, mas tentamos acertar. Reverenciamos a memória dos 10 intelectuais FUNDADORES deste sodalício, que em 20 de novembro de 1925, criaram esta associação cientifica cultural com o objetivo de estudar, defender e divulgar o patrimônio cultural brasileiro, principalmente, o do maranhão: Antonio Lopes da Cunha (seu idealizador), Justo Jansen Ferreira, José Pedro Ribeiro, do Amaral, Dr. José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, desembargador Benedito Barros Vasconcelos, José Abranches
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de Moura, padre Arias Almeida Cruz e José Ferreira Gomes, ilustres maranhenses que, daí o cuidado na indicação de novos Sócios Efetivos. Homenageamos os PATRONOS das Cadeiras e seus Ocupantes. Não direi por que seria manifestação de falsa modéstia, que não me sinto feliz por dar as boas vindas ao intelectual Carlos Alberto Santos Ramos, o conhecido e estimado Comandante RAMOS, dos quadros da Marinha do Brasil. O empossado de hoje ocupará a Cadeira nº 4, patroneada por Simão Estácio da Silveira, navegador português e 1º presidente do Senado da Câmara de São Luís, fundada por Raimundo Clarindo Santiago, sendo recebido com todas as honras e profissões de fé cultural. A praxe acadêmica exige que a saudação ao recipiendário trace seu perfil a fim de que todos conheçam a afinidade cultural com o novo confrade. Culturalmente, há perfeito liame entre sua formação profissional e a atividade do IHGM, missão de guardiã da história e da geografia do Maranhão. Na sua costumeira simplicidade, RAMOS aqui está, com sua família e amigos íntimos, para receber o pergaminho e as insígnias da Casa, espécie de comprovante de embarque onde será concomitante, tripulante e passageiro. Dizia Sêneca: “Não há vento favorável para quem não sabe para quem não sabe para onde vai”, mas o nosso recipiendário, desde criança, tinha um projeto de vida: ingressar na marinha, a mais antiga das três Forças Armadas. “A vida começa quando decidimos o que queremos” e decisão é um dos seus atributos. Maranhense de São Luís nasceu em 28 de setembro de 1946 (coincidentemente, uma das datas comemorativas do calendário da Marinha – Dia do Hidrógrafo). Carlos Alberto venceu muitas dificuldades, ingressou na Escola Técnica Federal do Maranhão onde cursou o antigo 1º grau, seguindo para o Colégio Naval - RJ concluiu o 2º grau, matriculou-se na Escola Naval - RJ, bacharelando-se em Ciências Navais. Especializou-se em Engenharia Mecânica e pós-graduou-se na Escola de Guerra Naval, também no Rio de Janeiro. No seu currículum vitae constam cerca de 30 Cursos estritamente ligados à profissão escolhida. Seu referencial de vida sempre foi a Marinha. No ano de 1970, realizou seu sonho, recebeu a espada tornando-se guarda-marinha (entre Aspirante e Oficial) e em seis de março partiu para a viagem de instrução (6meses), em 28 de setembro, data do seu aniversario, passou a oficial sendo nomeado 2º Tenente da Armada Nacional. Foi o maior presente que poderia receber. Responsabilidade, competência e dedicação pautaram sua vida profissional. Lhaneza no trato a todos com quem conviveu no desempenho de suas atividades profissionais, como Imediato de Navios Transporte Fluvial, Encarregado de Navegação de Navio Tanque, Chefe de Divisão de Manutenção de Navio, Aeródromo, Encarregado do Departamento de Máquinas de Navio Hidrográfico, Chefe de Máquinas de Navio Contratorpedeiro, Encarregado de Departamento de Administração, Encarregado do Setor de Ensino, Comandante de Navio Tanque, Imediato de Navio Hidrográfico, trabalhou nos navios da flotilha de Mato Grosso do Sul, em defesa do Pantanal e fiscalização do rio Paraguai e mais, serviu em Brasília, na esquadra do Rio Janeiro, até que retornou ao seu querido estado natal, em julho de 1992, como Capitão-de-Frgata
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para exercer a função de Imediato da Capitania dos Portos e, finalmente, a grande vitória de agosto de 1993, já Capitania dos Portos do Maranhão. Foi o 62º Capitão dos Portos do nosso Estado, completando 32 anos de serviço publico dedicado à Marinha do Brasil, que tanto ama. Atuante, educado, granjeou a simpatia e o respeito de todos que tiveram oportunidade de com ele conviver. O Comandante Ramos foi grande incentivador do Museu Marítimo da SOAMAR, inclusive o IHGN foi uma das Instituições signatárias do Protocolo de Intenções, quando da sua criação em 13 de dezembro de 1994. É bom lembrar a afirmativa de Joaquim Nabuco: “O Marinheiro tem o sentimento da Pátria unitária, nacional, impessoal, por isso as velhas tradições do País conservam-se vivas nos navios depois de quase apagadas em terra”.
Em viagens de instrução Ramos visitou a maioria dos Estados brasileiros vários países das Américas do Sul, do Norte e Central, da Europa e da África. Culto, domina o inglês e o espanhol. A maior alegria e tranqüilidade é a consciência do dever cumprido. E Ramos obteve. Ele navegar no mar da vida tendo como bússola à dignidade, o respeito, a honra, a ética, a solidariedade e o amor à família. Passando à Reserva da Marinha continuou ligado ao mar, tornou-se um dos fundadores da associação dos Aquaviário do Maranhão – AQUAMAR, hoje seu Diretor-Presidente, e do Instituto do Desenvolvimento do Poder Marítimo do Maranhão – IDEPOM, onde é Presidente. Digna de louvor a Biblioteca Marítima e Portuária “Coelho Neto”, que relevantes serviços vem prestando à sociedade. Ex-Diretor Cultural da SOAMAR-MA E Diretor do Museu Marítimo da Sociedade Amigos da Marinha – Maranhão, a querida SOAMAR de todos nós. Admirador e incentivador da Literatura Marítima escreveu oito livros com a temática Mar...Maranhão, a sabe:
Brisa Marinha – O cheiro do Mar O Marulhar das Águas Cousas do Mar...Maranhão Rumo ao Mar...Maranhão Segurança no Mar...Maranhão Águas do Mar...Maranhão Aventuras no Mar...Maranhão e Gente do Mar...Maranhão, que será lançado neste encontro cultural.
Pesquisador responsável, conhecedor profundo do Poder Marítimo do Brasil, da História e da Geografia, competente palestrante, que a todos agrada. É através da palestra que nos inserimos na sociedade. Que seria de nós sem o privilegio da palavra escrita do idioma tão belo com que nos iniciamos no mundo? “Star rosa persiste por seu nome ainda que não esteja presente ou sequer exista”.
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O brocado latino criado por Umberto Eco em “O Nome da Rosa”, alude ao imenso poder das palavras ao conteúdo emocional que cada uma delas traz em maior ou menor dose. Recentemente, o Comandante Ramos fez o curso Inspetores e Historiadores Navais (três meses – RJ), que aborda a situação operacional dos navios mercantes (verificar se o navio está apto para viajar) e ao seu termino retornou a São Luís, assumindo a função de inspecionar os navios mercantes do Porto do Itaqui, cumprindo a proposta da Marinha de “prevenir que o navio se faça ao mar sem segurança ou constitua um perigo de dano ao meio ambiente aquático”. Como se vê, o Comandante Ramos dispensa à cultura e à atividade marítima especial atenção nas mais variadas vertentes. O IHGM tem certeza de que este encontro será o inicio de uma convivência intensa e fraterna, de somatória aos sócios, que aqui labutam, e da engrossada as fileiras da responsabilidade como guardião da história e da geografia do nosso Estado. Comandante Ramos é um vencedor, em todos os desafios, realizou seu projeto de vida, superou as naturais dificuldades, alicerçou seu caminhos, constituiu família com a querida Lusimar, o amor de sua vida, e hoje, com filhos e netos, que são seu sagrado mundo. Pai amantíssimo, apoio da família, que é o fundamento e a base do futuro. Confrades Carlos Alberto Santos Ramos. Ao dar-lhe as boas vindas do IHGM e dos seus pares, há a certeza de que será um sócio efetivo efetivamente presente e atuante. A Casa de Antônio Lopes é sua, e das 60 Cadeiras, a de nº 04 o aguarda, conquistou-a por mérito. Seja bem vindo! Com o devido apreço, o cumprimento fraterno de seus novos familiares. A todos aqueles que me privilegiaram com sua atenção, meu querido muito obrigado...
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IHGM – INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ALOCUÇÃO DE POSSE CARLOS ALBERTO SANTOS RAMOS
Digníssima Presidente deste Instituto, Drª Eneida Digníssimas Confreiras e Confrades do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Digníssimas Senhoras e Senhores convidados que tanto abrilhantam essa boa noite. Há cerca de quatro décadas e um lustro adentrava uma Instituição centenária, imprescindível à defesa dos interesses do Brasil no mar e de grande conceito nacional que é a nossa Marinha do Brasil. Passara, então, a fazer parte da plêiade da gente do mar brasileira. Durante cerca de trinta e dois anos permanecia na ativa, embarcado em vários navios e servindo em varias organizações da terra moldando a cada dia, uma índole marinheira que havia forjado nas graciosas, encantantes, milagrosa e épica águas da grande Baía de São José, uma das envolventes da nossa grande ilha do Maranhão ou de São Luís, a Upaon-Açu dos nossos indígenas. Após ser transferido para a reserva da marinha decidi continuar nas lides navais, considerando que não mais possuía sangue circulando em minhas veias e artérias, mas sim água salgada dos mares e oceanos do mundo, como todos os amantes do mar. Para isso, juntamente com outros homens do mar, criamos uma associação, a dos Aquaviário, a AQUAMAR e o Instituto, o desenvolvimento do poder marítimo maranhense, o IDEPOM, cujo propósito maior é divulgar, motivar e incentivar a sociedade maranhense em especial os estudantes, para as cousas e assuntos relacionados com o poder marítimo
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e com o mar, este pujante e incomparável elemento da natureza. Estamos, sem duvidas, alcançando o nosso propósito, principalmente e através da biblioteca marítima e portuária “Coelho Neto”, aqui coloca à disposição de todos aqui presentes e do projeto literário marítimo que já editou oito títulos distribuídos gratuitamente para a sociedade e estudantes. Hoje, trinta de abril do ano de dois mil e oito mês da comunidade luso brasileira embora seja um experimentado homem do mar, devo confessar que me encontro envolto de perplexidade, porém lisonjeado, agradecido e emocionado por estar adentrando e passar a pertencer ao quadro de sócios efetivos dessa renomada e octogenária Instituição que é o nosso Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Encontro-me também envaidecido e imbuído de ocupar a cadeira de número quatro desta casa, fundada pelo nosso eclético e grande incentivador dos maranhenses que se destacavam na cultura regional, o Sr. Raimundo Clarindo Santiago esta cadeira tem como patrono um destemido homem do mar: o Capitão “Simão Estácio da Silveira”, sobre o qual tecerei alguns comentários Simão Estácio da Silveira fora navegador Português que aportou em nossa enseada portuária foz do Rio Anil e Bacanga em mil seiscentos e dezenove, embarcado e comandando uma nau capitaneia que transportar para o Maranhão uma leva do ano de mil seiscentos e treze quando da campanha de reconquista dessas terras e águas aos franceses sem duvidas, desde então já se encontra com os nossos cenários fluviomarinhas, fauna e flora com nossa terra. Assim fora que, com sua sensibilidade marinheira e literária, veio a escrever uma obra tão conhecida em nossa literatura “relação sumaria das cousas do Maranhão”, até hoje admirada, comentada e considerada um clássico da literatura sobre a região, pois o Maranhão da época compreendia um imenso território, as águas interiores e oceânicas desde o rio Oiapoque até o atual Estado do Ceará estendendo sua fronteira terrestre até os limites com o Peru, Colômbia e Venezuela. A Amazônia legal de hoje fora também um grande estudioso da geografia regional e autor de uma sublime frase “eu me resolvo que é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos e consta-nos que correram os portugueses, o melhor é o Brasil e o Maranhão é o Brasil melhor e mais perto de Portugal”. Isso vem a corroborar a tradição de que o Maranhão sempre fora berço de gente das letras, desde o seu primeiro donatário, Simão Estácio da Silveira, além de pertencer a pleida da gente do mar, fora ainda homem de letras, e acima de tudo é considerado um insigne administrador, tendo sido juiz da primeira câmara de São Luís e procurador da conquista. Finalizando desejo expressar o meu especial agradecimento à professora Joseth Coutinho, um baluarte desta instituição como de outras mais e ao Dr. Nogueira, que tiveram a coragem de indicar-me para pertencer ao IHGM, pois é grande a responsabilidade de preservar a tradição dos ocupantes dessa cadeira número quatro, no entanto, tenho certeza de que contarei com a orientação da nossa presidente e dos demais confrades desta casa insignes ocupantes de cadeiras, também, patroneadas por grandes próceres. Agradeço a tudo que abrilhantaram essa significativa cerimônia e coloca-me à disposição durante o momento do literário que segue com o pré-lançamento do livro de pesquisa histórica marítima “Gente do Mar...Maranhão esta obra literária teve o apoio cultural da VALE, ALUMAR, EMAP, SYNGMAR e da COMUNIDADE MARÍTIMA MARANHENSE e a parceria cultural da CPMA, SOAMAR e IHGM. Sou grato por tudo e a todos. Deus seja louvado.
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RECEPÇÃO A EMPOSSADA PROFª DRAª. RAIMUNDA NONATA CARVALHO NETA NA CADEIRA Nº 27 DO IHGM, EM 24 DE JUNHO DE 2008 JOSETH COUTINHO DE FREITAS
O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão abre as portas para receber em seu quadro de Sócios Efetivos a professora doutora Raimunda Nonata de Carvalho Neta na Cadeira nº27, patroneada pelo intelectual Raimundo Lopes da Cunha. Determinada a praxe acadêmica que o proponente use da palavra em nome de seus pares, dando as boas vindas ao novel confrade, o que esclarece a nossa presença, e mais, que trace o perfil do recipiendário a fim de que todos conheçam a afinidade cultural com o novo sócio. Como tivemos o prazer de sua visita em algumas oportunidades não discorreremos sobre o IHGM, por seu conhecimento. Na casa de Antonio Lopes não há competitividade, desfrutando de um ambiente cordial e saudável, apenas cumprindo o compromisso, espontaneamente assumido, do culto às nossas tradições, do estudo histórico–geográfico do nosso maranhão, dentro da ética e do respeito, indispensáveis valores em qualquer convivência. Do seu extenso e valioso curriculum vitae, extraímos alguns dados,que delinearão o perfil de Raimunda Fortes, maranhense de São Luís, artista plástica, que ora adentra os umbrais do IHGM. Citemos sua formação acadêmica iniciado pela dupla graduação: Licenciatura em educação Artística – Universidade federal do maranhão (UFMA) – 1999. Licenciatura em ciências / Biologia – Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) – 2000. Curso de extensão ligados à área de sua formação acadêmica. Especialização em Avaliação Educacional (UFMA) – 2005. Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistema (UFMA) – 2004. Doutorado em biotecnologia sob o titulo: Biomarcadores em Peixes Estuarinos Residentes de Importância Econômica em Baía de São Marcos – 2006. Atividade Profissional realizadas Professora e pesquisadora. Docência no centro de Ensino Universitário do maranhão – uniCEUMA, de zoologia de invertebrados e supervisão de Estagio Curricular obrigatório na Licenciatura e no Bacharelado de Biologia;
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prestação consultoria, partição em Conselhos, Comissões e Coordenação do Curso de Ciências Biológicas, Membro de Banca Examinadora em seletivo simplificado para docentes das disciplinas Anatomia Comparada, Embriologia, Ecologia Animal e projeto do laboratório de zoologia. Na Universidade Federal Do Maranhão desenvolveu programação de Artes Visuais no Departamento de Artes, lecionou Praticas de Ensino / Estagio Supervisionado em Artes Plásticas e desenho, História da Arte, História da Arquitetura Regional, Fundamentos da Linguagem Visual e atividades de extensão, trabalhos técnicos de conclusão de curso de graduação Profª Raimunda Fortes atuou em magistério na Educação Básica – Ensino Médio nos Complexos Educacionais do Ensino Fundamental e Médio “Cidade de São Luís” e “Profª. Dayse Galvão”, ambas nesta capital. Foi Assessora Técnica do Instituto de Pesquisa e Planejamento do Município – IPLAM ministrando treinamento sobre Educação Ambiental e Reciclagem de papel. Serviços técnicos especializados de jornais e demais impressos, layout no SINTAF etc. Atividade atual Professora concursada da Universidade Estadual do Maranhão lecionado Zoologia dos Invertebrados no Curso de Biologia. A profª Raimunda Fortes tem várias publicações, tanto co-autoria de artigos em periódicos, resumos anais de congresso, textos em jornais, livros (organizados) como autoria dos livros: A obra escultórica de Newton Sá, 2001; Leitura Visual, 2001; Descobertas e descobridores do Brasil, 2003; Arte maranhense: produção e ensino, 2006; Organização do livro “Elasmobrânquios da costa Maranhense” com a professora Zafira Almeida, da UFMA, 2007; Obteve os seguintes Prêmios: Melhor aluna do Curso de Licenciatura em Educação Artística – 1999; Honra ao Mérito por relevantes serviços prestados à cultura e às Artes – Câmara Municipal de São Luís – 1999;
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1º Lugar em Concurso Monográfico “A chegada dos descobridores portugueses no Brasil, em 1500” – Fundação Municipal de Cultura – 2000. Prezada confreira Raimunda Fortes, seja bem-vinda ao IHGM, que recebe de braços abertos, tendo a certeza que será uma Sócia Efetiva, que sempre marcará presença com sua obra enriquecendo a casa de Antonio Lopes. A Cadeira nº27 é sua, ocupe-a e receba os cumprimentos dos confrades que fazem parte do IHGM.
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DISCURSO DE POSSE DO PADRE PROFESSOR MESTRE CLAUBER PEREIRA LIMA CADEIRA Nº 50 Quem acende uma luz é o primeiro a beneficiar-se dela.
(Chesterton) Clauber Pereira Lima
Exma Sra. Presidenta, Profª. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Senhores (as) Sócios (as) do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Distintas Autoridades Civis e Religiosas, Senhores convidados, Minhas senhoras e meus senhores, O grande orador grego Demóstenes dizia que, quando se vai tomar uma grande decisão, em termos de palavras ou ações, o mais apropriado é começar pelos deuses 27. Em sintonia com estas palavras da Grécia pré-cristã, quero agradecer a Deus por ter sido eleito para esta prestigiosa Casa do Saber. Meus sentimentos se confundem no meu coração, que é a sede da alma para os antigos gregos. Neste sentido é que vemos transparecer: Alegria pela escolha; este é o sentimento primeiro que me vem ao coração. Saudades da minha terra; este é o segundo; Humilde aceitação da escolha; este é o terceiro e último. O método utilizado neste discurso será o da narrativa Histórica, permeado por questões de ordem filosófica. Neste sentido é que, se no decorrer deste discurso acontecer de algumas vezes chegarmos a titubear, peço-vos compreensão e lentidão para a crítica, pois o mesmo foi feito a partir de reflexões do autor e, como dizia Tucídides: “(…) decision is the fruit of ignorance, hesitation of reflection”28 (“... )decisão é fruto da ignorância, enquanto que dúvida o é da reflexão”). Se duvidamos, somos lentos nos argumentos, e isto é porque estamos refletindo. Reflexão resulta em decisões pertinentes, trazendo benefício para todos. Sem reflexão tudo se torna impulsividade e conseqüente falta de equilíbrio nas nossas escolhas diárias. Foi com muita satisfação que recebi a notícia de que meu nome havia sido aprovado em Assembléia Geral realizada no dia 19 de dezembro de 2007, neste digníssimo Instituto, para ser sócio efetivo a partir deste mês de agosto de 2008.
Discurso de posse do Padre Clauber Pereira Lima no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e elogio ao patrono da cadeira n° 50, Pe. Antônio Pereira, proferido no dia 1° de Agosto de 2008, pelo Sócio Efetivo Pe. Ms Clauber Pereira Lima.
27
DEMOSTHENES. Letters. English translation by Norman W. DeWitt, Ph.D., and Norman J. DeWitt, Ph.D. Cambridge, MA, Harvard University Press; London, William Heinemann Ltd. 1949, On Political Harmony 1.1. 28 THUCYDIDES, 431 BC, translated by Richard Crawley. The History of the Peloponnesian war. Project Gutenberg, December, 2004 [EBook #7142], p. 69.
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Peço-vos, então, vênia para narrar um pouco da minha vida a fim de que os Senhores e as Senhoras possais saber um pouco das minhas origens. Ei-la: Minhas origens estão ligadas à terra e à família. De ambos os lados da família, paterna e materna, todos são ou foram proprietários, e isto não o posso negar porque é necessário apenas ir aos lugares para comprovar que alguns ainda continuam a ocuparse de suas propriedades nos nossos dias. Por conta dessa origem rural, como não poderia ser diferente, nasci na fazenda Angical, no município de Pedreiras – Maranhão, de propriedade do meu avô materno, Higino, e de minha avó Salu. Na madrugada de meu nascimento, 26 de dezembro de 1962, havia forte tempestade e isto influenciou talvez no moldar do meu caráter forte, desafiador e independente. Nietzsche dizia que “Independence is for the very few; it is a privilege of the strong”29 (“Independência é para poucos; é privilégio do mais forte”). Meu tio João foi buscar a parteira debaixo de muitos raios e trovões e, devido às dificuldades na hora do nascimento, vim a este mundo debaixo de muitas orações a Nossa Senhora do Bom Parto. Durante minha infância morei em Igarapé-Grande, onde residiam meus avós paternos, Delmiro e América, e em Pedreiras, na rua dos Tamarindos, à beira do Rio Mearim; com a beira-rio em frente aprendi facilmente a nadar, e ouvia freqüentemente “Pisa na fulô” de João do Valle nas campanhas políticas de 1966. Tive um começo de paralisia infantil mas fui bem cuidado pelo Dr. Kleber, figura legendária. Parecia que iria viver naquela beira-rio para sempre com meus amigos e vizinhos, mas de repente, meu pai, Justino Lima (que Deus lhe-dê a salvação eterna), e minha mãe, Maria Nunes, tiveram a idéia de sair daquele lugar em busca de melhores dias, tal como disse Odylo Costa Filho em sua narrativa “Vou sair pelo mundo. Esta beira de rio tem um barro bom mas estas mãos, o senhor bem vê (...)”30. De Pedreiras viemos para São Luís e daqui fui convidado a me aventurar pelo mundo e até hoje não parei. Espero um dia poder estabelecer minha morada próximo desta Casa de homens e mulheres honrados e de muita cultura. Por enquanto sigo meu caminho buscando tornar as pessoas ao meu redor felizes e realizadas. É isto para eu viver. É isto ser feliz. “Tout homme qui ne voudrait que vivre, vivrait heureux...”31 (“Todo homem que quisesse apenas viver, viveria feliz”). Como Rousseau, quero apenas viver e isto me basta. As poucas lembranças que guardo da minha infância são marcadas pela minha liderança. Sempre fui o líder daqueles que me rodearam. Sempre tive as idéias e lutei por elas. Lembro-me de que costumava brincar regularmente com meus primos Delmiro, Carlinhos e João Neto, fazendo bonecos de barro lá na saída da cidade de Igarapé-Grande, onde o tempo parou em 1960 com as saudosas músicas do cantor gaúcho Teixeirinha. Nesta mesma cidade ia assiduamente à igreja, participar da Missa do Frei Paschoal e, com o desejo de ser padre, fiz um casamento e celebrei uma Missa com o fardão do meu pai. Já era amadurecido na fé cristã desde a infância.
29
NIETZSCHE, Friedrich. Basic writings of Nietzsche. Beyond Good and Evil: Prelude to a Philosophy of the Future. Translated and Edited by Walter Kaufmann. New York: The Modern Library, 2000, p. 231. 30 FILHO, Odylo Costa. Histórias da Beira do Rio. Rio de Janeiro: Editora Record, 1983, p. 161. 31 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Émile ou De l’éducation. Disponível em: http://www.bibliopolis.fr, p. 35.
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Ia algumas vezes à Fazenda onde nasci. Certa ocasião, lá no Angical, tive que correr com medo dos maribondos que atacavam ferozmente a todos os que se encontravam nos arredores e que não conheciam a forma de proteger-se. Depois de algum tempo minhas idas por lá diminuíram tanto que passaram apenas a ser de algumas horas; apesar disso, a necessidade de sempre retornar continua viva até hoje. Por outro lado, parece que São Luís me atraiu desde cedo porque estive sempre lá e cá. A São Luís imemorial São Luís, como sabemos, foi onde os franceses aportaram e daqui a História traçou um destino diferente do planejado, mas honrado da mesma forma, com a presença dos mais brilhantes intelectuais da nação. As this river flows into the gulf of Maranhao (so named because some French colonists, Rifault, De Vaux, and Ravardière, believed they were opposite the mouth of Maranon or Amazon), the ancient maps call the Meary Maranon, or Maranham. See the maps of Hondius, and Paulo de Forlani. Perhaps the idea that Pincon, to whom the discovery of the real Maranon is due, had landed in these parts, since become celebrated by the shipwreck of Ayres da Cunha, has 32 also contributed to this confusion .
Desde os seus primórdios São Luís cativou os que aqui aportaram pela sua beleza exuberante. Era tão marcante a sua natureza que os primeiros pesquisadores do Brasil não deixaram despercebida as suas observações: (...) Maurício de Heriarte, em 1662 (reproduzido de Varnhagen, 1975, por Papavero et al. 1999) [...] afirma que ‘tem essa ilha bom sitio e assento: hé plaina de muitas árvores, mui boas madeiras para fabrica de navios, a que chamam Pequis; de cuja fructa os moradores tiram manteiga, e se servem dela para frigir e temperar e comer, e fazer pão: hé de muito bom gosto. Tem bacoris, inaubas, maçarandubas, e outras de diferentes castas’, ‘e uma fructa, a que chamam andiroba, que se parece à cola de Angola, de que os 33 moradores fazem azeite para se alumiarem.
Como estudava em Igarapé-Grande no Colégio das Laranjeiras, era em São Luís que passava as férias escolares, até a família decidir mudar-se de vez para cá. Lembrome do deslumbre e alegria quando dos primeiros contatos com a areia branca e o mar espumante das nossas lindas praias. Gostava de passar dias inteiros no meio da areia e das espumas do mar. A praia do Olho-d’Água era tão limpa que não dava vontade de sair. Meus momentos felizes foram curtos em São Luís mas foram bons. Entre os seis e os sete anos de idade tive um acidente terrível: caí num buraco cheio de folhas secas e troncos de árvores que estavam queimando como que eternamente à espera da sua vítima inocente. Este acontecimento horrível modificou a minha estrutura fisionômica e, provavelmente, até minha própria maneira de ser e de reagir aos fatos mais banais. Ao contar esta história para uma médica ela me disse que 32
HUMBOLDT, Alexander von. Equinoctial Regions of America V3, The Project Gutenberg EBook# 7254, January 2005, p. 47. 33 PEIXOTO, A.L. e ESCUDEIRO, A. Pachira aquatica (Bombacaceae) na obra “História dos Animais e Árvores do Maranhão” de Frei Cristóvão de Lisboa, In Rodriguésia 53 (82): 123130. 2002, p. 4 do documento PDF.
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eu deveria escrever um livro, intitulando-o Folhas Secas, para contrastar com Graciliano Ramos que escreveu Vidas Secas. Ouvindo isto cheguei até a sorrir em meio à dor. Logo após o ocorrido fui acolhido por bons médicos e excelentes enfermeiras no Pronto Socorro do Anil, onde um Frade Capuchinho ia visitar-me freqüentemente e chegou a abençoar minhas pernas. Dizia às vezes que por maior que fosse a ferida, um dia ela cicatrizaria. Devido às seqüelas das queimaduras foram precisos longos cinco anos de tratamento no Hospital do IPEM em São Luís e no hospital HSU, em Brasília, onde, também fui tratado como um príncipe pelo Dr. José Serrão Sobrinho. Nas visitas diárias de minha mãe Maria Nunes (hoje casada com meu padrasto e amigo Luís Nunes), no Hospital do IPEM, em São Luís, aprendi o sentido da palavra amor; nos cuidados da Dra Socorro Veras aprendi que amizade é para sempre e não tem fronteiras; com a Dra Arlinda e outros profissionais dedicados aprendi o sentido do profissionalismo e seriedade. As dores que sofri foram compensadas por coleções de álbuns de figurinhas oferecidos por uma médica ou outro profissional da saúde tocado pelo meu desespero durante uma cirurgia em que a anestesia falhou. Todos procuraram humanamente oferecer o melhor de si. Mesmo criticando o ser humano duramente, estou contente. E com uma exceção ou outra, Nietzsche dizia que “(...) también al más grande lo he encontrado- ¡demasiado humano!”34. Foi bom que estes que encontrei fossem demasiadamente humanos, como o irmão da Dra Socorro Veras que na sua bicicleta ia levar-me comida caseira mandada fazer por sua santa mãe. Estes eram tempos de Ditadura Militar, mas que não impediam gestos de solidariedade. Demasiadamente humanos e divinos é o que todos devemos ser para que possa haver uma chance de vida melhor para todos os que vivem neste mundo dilacerado por divisões sociais, raciais, econômicas e religiosas. Presto minha homenagem distante a todo aquele que me acudiu na hora da dor e da dura solidão. O exemplo deles ajudou este país a ser mais humano e amigo. Os livros, estes nossos amigos Minha ida para o Hospital da Asa Norte em Brasília deveu-se ao apoio incondicional do Dr. Ener e de tantos anônimos. Agradeço a todos os que me auxiliaram em todas as circunstâncias da minha longa convalescência. Nos intervalos das cirurgias aprendi de uma forma completamente autodidata a recompor as letras do alfabeto e a formar palavras com um sentido morfologicamente correto: c – a – s – a... Casa. Ler para mim foi algo natural e como que uma brincadeira de criança. Que alegria descobrir o segredo das letras nas palavras cruzadas. Depois disto fui auxiliado por uma Assistente Social que me ofereceu vários livros. Li tudo o que havia sido escrito na época em termos de Literatura Brasileira Infantil (Monteiro Lobato etc.), e depois me defrontei com a Bíblia, com que aprendi a amar a Deus e a conhecer os Seus ensinamentos. A seguir, não parei mais, e li tudo o que caiu sob meus olhos, de Machado de Assis a Gonçalves Dias, passando por Graça Aranha, José Lins do Rego etc. Em nosso século precisamos criar o gosto da leitura e incentivar a criação constante de Bibliotecas para que todos possam desfrutar do aprendizado e da cultura 34
NIETZSCHE. F. Así habló Zaratustra, [bk] eBooket, p. 55.
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universal. Com isto todos irão compreender com a mente e o coração o quanto os livros são nossos verdadeiros amigos. Ao sair do hospital em Brasília tive de reaprender a conviver com o mundo das pessoas com seus conflitos existenciais recorrentes e passei a encontrar na Fé e na Filosofia um caminho sempre renovado. Fiz muitos Exames de Admissão para poder seguir minha formação regular, e em todos me saí bem devido ao esforço que sempre tive. No SENAI fiz o curso de Mecânico de Automóvel e deste tempo lembro-me das aulas de Matemática do Professor Piagoy e do Professor de Mecânica Geral, Estevão. Quando, nos intervalos das aulas teóricas, os colegas aprontavam de tudo e quebravam uma lâmpada da sala-deaula, eu me via obrigado a assumir a responsabilidade para mim, sendo punido e obrigado a ficar sozinho até 6 ou 7 horas da noite escrevendo mil vezes: “Devo ser responsável na presença e na ausência do meu querido professor”. Isto me ajudou a ter inspiração para escrever sempre. No Colégio Creuza Ramos rearticulei com os colegas as atividades do Grêmio Estudantil que tinham sido suspensas pela Ditadura Militar e um Jornal da época publicou um artigo sobre este fato. Nos meados dos anos 80 a censura ainda vigorava mas alguns livros eram publicados e um deles que me chamou a atenção foi o diário da Guerrilha do Araguaia, que líamos nas preparações dos teatros e concursos de poesia ou bingos para promover o Grêmio Estudantil. Nesta época, mesmo antes de ter ouvido falar dos grandes sábios da História da Filosofia, argumentei com o professor de Matemática da época que era melhor ser filósofo, pobre e feliz por ter encontrado o caminho a seguir do que simplesmente viver em função apenas do lucro exorbitante. A Filosofia já estava a me seduzir de algum lugar, pois desta forma estava já em busca da virtude como ponto de equilíbrio para a vida. Although there are various things said by the philosophers about the chief end of virtue and happiness, it is agreed by all that virtue of the soul is the greatest of goods (…).35
Em minhas inquietações de juventude busquei a virtude como único prazer em detrimento de todos os outros. Estava assim moldando minha existência e atualizando minha essência. Jean Paul Sartre dizia que a existência precede a essência: Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para 36 a conceber. 35
“Há muitas coisas ditas pelos filósofos sobre a importância da virtude e felicidade, e todos concordam que a virtude da alma é o melhor dos bens”. PLUTARCH. The Complete Works Volume 3: Essays and Miscellanies. Oxford, MS February, 2002 The Project Gutenberg Etext of The Project Gutenberg Etext of [Etext #3052] The Project Gutenberg Etext. Disponível em http://gutenberg.net. p. 402. 36 SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um Humanismo. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1987, p. 6.
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Comigo foi bem diferente porque minha existência diminuída, quase que eliminada pelo fogo destruidor, fez-me sonhar em ser cientista, filósofo e padre e tive que da essência, do sonho e da fantasia refazer minha existência. Primeiramente, fui essência, descobrindo-me como possibilidade outra que a dor, através de sonhos e fantasias. Defini-me na essência para depois existir no mundo real. Foi assim comigo embora não disconsidere a experiência sartriana. Já que nem comer podia em determinados momentos, pude sonhar apenas. Minha alma alimentava-se de fantasias, já que meu corpo era inexistente, consumido pelo fogo devorador. Aqui cabe bem mais uma palavra de Plutarco: For the soul of man is not an abject, little, and ungenerous thing, nor doth it extend its desires (as polyps do their claws) unto eatables only […], but the 37 desire of glory and the love of mankind grasp at whole eternity.
Foi o desejo de servir um dia a Humanidade, que me fez olhar para o céu Este como que se deslocava rapidamente sob meu olhar atônito, pedi que Deus não me desamparasse. Desta forma esperei e rezei pacientemente por dias melhores e estes dias bons chegaram. Depois de minha formação secundária, entrei para o Seminário de Santo Antônio (Centro Teológico do Maranhão) em 1984 onde fui acolhido pelo Padre Marcelo Pépin, canadense de nascimento mas maranhense por adoção, e, pelo único Padre Maranhense ordenado por Dom Motta: Padre José Bráulio Ayres. Lá foram seis anos de formação, quando conheci grandes professores e formadores de personalidades, Padre João Maria Van Damme, Dom Xavier Gilles de Maupeou etc. Dos colegas do Seminário houve quem dormisse com as Provas no travesseiro para que o Latim fosse aprendido sem nenhum esforço e outros que estudavam noite e dia e com um método adequado, além de terem atividades religiosas e sócio-políticas; aqueles foram tempos bons. Esteve sempre presente em meus caminhos o mais dedicado de todos: Pe Dr. Raimundo Gomes Meireles, hoje Sócio desta casa, a quem disse certa madrugada, de árdua preparação para as Provas da Universidade, que um dia ainda iriam reconhecer a nossa missão de servir ao povo de Deus. Acredito piamente que, dentre tantos outros serviços que prestamos, no momento em que nos escolheram para este digníssimo silogeu, podemos constatar os feitos de tal profecia, tanto na Igreja quanto na sociedade civil. Durante minha militância político-social no percurso do Seminário conheci várias lideranças locais e nacionais, a quem apoiei em suas lutas pela defesa dos que não tinham acesso a seus direitos essenciais. Ao findar meus estudos em São Luís e com as orientações de João Maria Van Damme e o apoio incondicional de Dom Xavier Gilles de Maupeou, a quem devo notadamente boa parte em minha formação acadêmica, e com a aprovação do Exmo Revmo Sr. Arcebispo Dom Paulo Ponte fui enviado para estudar na linda Bélgica, em 37
“Pois a alma do homem não é algo deplorável, que não direciona seus desejos (como as polyps e suas hastes) apenas em vistas de coisas comestíveis, mas em vista do desejo da glória e o amor da humanidade por toda a eternidade”. PLUTARCH. The Complete Works Volume 3: Essays and Miscellanies. Oxford, MS February, 2002 The Project Gutenberg Etext of The Project Gutenberg Etext of [Etext #3052] The Project Gutenberg Etext. Disponível em http://gutenberg.net. p. 22.
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Louvain-la-Neuve, herdeira, como sabemos, da tradição intelectual de Erasmo de Roterdam. Lá me esforcei para honrar a nossa terra e, por isto, fui considerado como um gênio nos Seminários e aulas dos Professores Adolphe Gesché, Michel Schoyans, Emílio Brito etc. Freqüentemente encontrava aquele que Sartre dizia ser o Grande Jean Ladrière da pequena Louvain. Entre os que conheci nessas horas de estudo concentrado destacou-se Joãomar Carvalho e sua família. O pavor dos alunos era o Professor Roger Gryson, com a sua tradução da Vulgata Latina. Bom, a mim não me intimidou porque não descansava noite e dia, encontrando tempo para estudar e trabalhar na Paróquia de Corroy-le-Grand, onde fui recebido por Claude Detienne, sua mãe Eva e muitos paroquianos (as). Em Bruxelas tive sempre o apoio, em todas as horas, de Raymonde Harchies, Thérèse Martin e das Comunidades de Base espalhadas pela Bélgica. Sempre me convidavam para suas atividades pastorais e sociais. Na França tive o apoio do pessoal do CEFAL, em Paris, e do Padre Bouriaud em La Baule. Em minhas idas a Paris tive o privilégio de encontrar pessoalmente e tomar um café com o Filósofo Emmanuel Lévinas, que se mostrava contente naquele ano de 1991 por haver finalmente paz na Europa depois de tantos anos. Durante exames de rotina no Hospital Brugmann descobriu-se a necessidade de se fazer mais uma cirurgia e o Dr. Coessens fez milagres com sua técnica aprendida com os soldados feridos no Camboja. Na preparação para as cirurgias em Bruxelas, lembrome ter escutado fitas de MPB (Vinicius de Morais, Tom Jobim e Elis Regina) que me foram emprestadas pelo Padre Agenor Brighenti, e de ter-me embalado com as músicas do Bumba-meu-Boi. Quem está longe da sua terra e sujeito a cirurgias delicadas só pode suportar tudo com a ajuda das preces da família e com a paz interior que a música transmite. Outros recorrem a outros recursos menos honestos e menos saudáveis, a exemplo de um colega, que lá conheci, ia buscar drogas à porta do Hospital nas mãos de um traficante. Terminei minha tese ainda de cadeira de rodas e agradeço aos irmãos Maristas por todos os cuidados que tiveram para comigo. Os últimos anos em Louvain foram para finalizar o curso de Antropologia e cuidar das atividades da Paróquia de Corroy. Ao retornar a São Luis, em 1995, complementei o curso de Filosofia e ocupei a Vice-Diretoria do Centro Teológico do Maranhão (hoje IESMA) e ajudei-o a se desenvolver e atingir o grau de excelência que tem hoje, sendo um local de estudo e oração tanto para os futuros clérigos como para os leigos e leigas que buscam uma formação acadêmica de excelente nível neste século XXI. Quando cruzava, às vezes, com este edifício Prof. Antônio Lopes, pensava que um dia estaria aqui prestando os meus serviços acadêmicos na qualidade de parte integrante desta Casa. Pelo que fui informado por amigos, esta Instituição continua a ter o respeito e a admiração de toda a sociedade maranhense. Apesar desse sonho de juventude, não fui eu mas a Providência divina quem me guiou até esta Casa dedicada ao estudo sério da História e da Geografia do Estado do Maranhão. Procurarei honrar os que me antecederam, dando minha contribuição intelectual para o seu contínuo desenvolvimento intelectual. Farei de tudo para manter o seu alto nível e espero nunca vir a decepcioná-los. Se eu fraquejar que seja com a firme vontade de vencer, porque, como dizia o holandês Joost van den Vondel: “Is ’t noodlot,
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dat ick vall’, van eere en staet berooft, Laet vallen, als ick vall’, met deze kroone op ’t Hooft (…)38. Literalmente: Se for meu destino o fracasso, sendo desprovido de honra e dignidade, então deixe-me cair, se eu tiver que cair, pelo menos que seja com esta coroa na cabeça.
Isto demonstra que não devemos buscar o fracasso mas uma vida honrada e cheia de amigos, porque é isto o que conta no final das contas. Aqui pretendo encontrar honra e amizade, cultura e amor à pesquisa histórico-literária, porque, segundo Cícero: “Solem e mundo tollere videntur, qui amicitiam e vita tollunt”39 (parece tirarem o sol do mundo os que tiram a amizade da sua vida). Foi pela questão da amizade que, embora às vezes distante, aceitei fazer parte deste Instituto. Presença no Canadá e em São Luís Por questões ligadas aos meus superiores e por uma necessidade de ordem Missionária fui enviado ao Canadá para uma missão junto à comunidade portuguesa e brasileira que emigrou do país por diversas razões e circunstâncias. Embora ausente fisicamente por um certo intervalo de tempo de minha terra, por estar em missão Ad gentes, e isto há nove anos, sempre quis contribuir com os meus conhecimentos para o desenvolvimento intelectual e econômico da cidade de São Luís. Gosto muito do Canadá, que é um país imenso e muito bonito em sua diversidade cultural e geográfica e lá faço parte da Discernment of Spirit Commission, buscando levar uma palavra de esperança para os que sofrem de problemas psicológicos e emocionais. Esta é minha contribuição para o Canadá que me acolhe sempre de braços abertos, e procuro me integrar a seus usos e costumes. Algumas vezes sinto-me exilado. Como dizia Camões: Cá nesta Babilónia, donde mana matéria a quanto mal o mundo cria; cá onde o puro Amor não tem valia, que a Mãe, que manda mais, tudo profana; cá, onde o mal se afina, e o bem se dana, e pode mais que a honra a tirania; cá, onde a errada e cega Monarquia cuida que um nome vão a desengana; cá, neste labirinto, onde a nobreza com esforço e saber pedindo vão às portas da cobiça e da vileza; cá neste escuro caos de confusão, cumprindo o curso estou da natureza. Vê se me esquecerei de ti, Sião!40
Mesmo distante fisicamente não me esqueço de ti, Maranhão, tampouco da bela São Luís e por isso estou aqui para prestar minha homenagem a todos os que fizeram de ti a luz da Nação Brasileira, berço de cultura e literatura nas eiras e beiras dos seus sobrados. Em São Luís nos humanizamos com o sorriso das crianças e a alegria do homem e da mulher nas noites de São João. Por suas ruas, becos e sobrados cansei minhas frágeis pernas; por suas praias encontrei a paz interior e, no povo maranhense, encontro sempre a hospitaleira acolhida no português mais bem falado do Brasil. 38
VONDEL, Joost van den. Lucifer Treurspel. In http://www.gutenberg.org/etext/17076. EtextNº 17076, 2005. 39 CICERO, Marcus Tullius. De Amicitia 13.47. Treatises on Friendship and Old Age, Translator: E.S. Shuckburgh, Etext # 2808, Project Gutenberg, 2001, p. 20. 40 CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br, nº 120.
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Este Canadá e sua gente me acolheram e me fezeram descobrir os valores da família, da gentileza e do despreendimento e por isso aqui vivo e acolho noite e dia aqueles que estão dilacerados pela dor da saudade ou por alguma perda físico-interior. O Canadá de mim espera profissionalismo e fortaleza de espírito para ajudar os seus muitos imigrantes e residentes nativos, e isto o faço com dedicação, mas não esqueço minhas origens interioranas e caboclas. Penso com pesar em todos os que não poderão ler meu discurso por estarem em situação de analfabetismo ou em estado de dor, diminuídos pela fome ou em crise existencial e psicológica. Meu amor por ti, São Luís, é maior que tudo e minha ausência corta meu coração da mesma forma que o fez com Sousândrade, em seu exílio em Nova Iorque, e queria poder fugir para perto de ti, mas por enquanto não posso. Este sentimento de exílio e amor incomensurável só o nosso querido Sousândrade soube bem descrever: Eu careço de amar, viver careço Nos montes do Brasil, no Maranhão, Dormir aos berros da arenosa praia Da ruinosa Alcântara, evocando Amor ... Pericuman! ... morrer... meu Deus! Quero fugir d’Europa, nem meus ossos Descansar em Paris, não quero, não! Oh! Por que a vida desprezei dos lares, Onde minh’alma sempre forças tinha Para elevar-se à natureza e os astros? Aqui tenho somente uma janela E uma jeira de céu, que uma só nuvem A seu grado me tira; e o sol me passa Ave rápida, ou como o cavaleiro: E lá! A terra toda, este sol todo – E num céu anilado eu m’envolvia, Como a água se perde dentro dele41.
Esta casa é o elo de ligação entre todos os que amam a terra maranhense: é uma Casa de homens e mulheres dedicados ao saber, mas não de um saber vazio, descomprometido com os que sofrem. Como dizia Coelho Netto: “Sabio não é simplesmente o que estuda, o que armazena, enthesoira — é o que produz”42. Nesta casa quero ser um dos que irão produzir obras para a posteridade, porque é isto o que todos esperam de nós. Com o cabedal de conhecimentos que possuo irei ser mais um daqueles que irão dedicar-se ao estudo e pesquisa da nossa História e Cultura, a fim de que São Luís continue figurando como berço da cultura e da pesquisa acadêmica, para o bem do Brasil e do Mundo. Sei que, no desenrolar do trabalho intelectual, haverá momentos felizes e cheios de inspiração mas haverá dificuldades também. O que importa é a superação dos obstáculos para seguir em frente, “overcoming every apprehension” superando todos os sobressaltos. 41 42
SOUSANDRADE. DA HARPA XLV. COELHO NETTO. A Glória, Coleção Revivendo n° 4, A bico de penna: Fantasias, contos e perfis. 3. ed. Porto: Lello & Irmão, 1925, p. 27.
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O caminho da glória não pode ser desprovido de lutas e ânsias, mas isto é compensado pela amizade entre as pessoas que vivem uma vida em comum. A afeição comum, como dizia Aristóteles, é o ponto essencial no desenvolvimento de um relacionamento e/ou na formação de um povo. “For friendship we believe to be the greatest good of states and the preservative of them against revolutions43" ( amizade é a maior de todas as coisas na cidade-Estado, é a prevenção contra revoluções). A afeição evita os conflitos entre as partes e cria uma coesão em vista do bem de todos. Neste sentido a amizade e o companheirismo necessários à vida da Pólis são também imprescindíveis para o desenvolvimento do nosso trabalho nesta prestigiosa Casa. Não é bom viver isolado e, pela convivência, o caráter vai-se amoldando e aperfeiçoando, porém é preciso saber com quem convivemos porque disto depende o amadurecimento de todos. Agesilaus II, Rei de Esparta, que faleceu em 360 ou 336 A.C., tinha uma concepção clara a este respeito: “He made it a practice to associate with all kinds of people, but to be intimate only with the best”44 (“Ele tinha como costume associar-se com todas as pessoas, mas ser íntimo apenas do melhor”). Foi para ter intimidade com os melhores que aceitei associar-me com os Sócios e Sócias desta esplendorosa Casa, chamada a justo título de Casa de Antônio Lopes. Elogio à Casa de Antônio Lopes Em meu vagar distante desta terra fui alimentado pela esperança de aqui voltar e fincar raízes, porque a dor da saudade é avassaladora. Só Camões para expressar os sentimentos de quem não pode viver sem vislumbrar a possibilidade de reconhecimento em sua terra amada. Disto sou grato ao Soberano Ser o poder fazer parte desta casa honrada e cheia de perspectivas para os seus participantes. Vamos a Camões mais uma vez: A fermosura fresca serra, e a sombra dos verdes castanheiros, o manso caminhar destes ribeiros, donde toda a tristeza se desterra; o rouco som do mar, a estranha terra, o esconder do sol pelos outeiros, o recolher dos gados derradeiros, das nuvens pelo ar a branda guerra; enfim, tudo o que a rara natureza com tanta variedade nos ofrece, me está (se não te vejo) magoando. Sem ti, tudo me enoja e me aborrece; sem ti, perpetuamente estou passando 45 nas mores alegrias, mor tristeza.
43
ARISTOTLE. Politics Book II, Part IV, Written 350 B.C.E, translated by Benjamin Jowett in Internet Classics Archive, © 1994-2000, Daniel C. Stevenson, Web Atomics. 44 XENOPHON. Agesilaus. Translation by H. G. Dakyns. Champaign, Il, Project Gutenberg. January 1998, Etext # 1169. 45 Camões, Luís Vaz de. Op. cit. Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br, nº 136.
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Ao retornar à terra querida, as forças se recompõem e a tristeza vai-se embora. Cabe agora vislumbrar tantos filhos ilustres e fazer deles um justo elogio. Depois de tantos caminhos percorridos, chego a esta Casa na condição de mais um dos que irão contribuir para o aprimoramento dos laços de amizade e apreço entre todos. Um dos personagens do livro “A Caverna”, de José Saramago, dizia que, “o barro é como as pessoas, precisa de que o tratem bem”46; por isso é que estimo, que a boa acolhida que foi sempre a marca desta Casa deve continuar sendo por muitos anos o ponto central dos seus princípios, para que, através do encontro entre todos os que aqui pesquisam e desenvolvem seus estudos, muito material seja desenvolvido no ramo da Ciência Histórica. Aliás, a hospitalidade sempre foi um marco na vida das pessoas que construíram nossa Ilha. Que o bom tratamento entre nós seja reflexo de objetivos comuns, a fim de podermos traçar metas para o progresso do saber e o aprimoramento das mentes dos jovens e adultos de todos os tempos e de todas as raças. No momento em que aspirei fazer parte deste ambiente onde nos sentimos bem, a Casa que Antônio Lopes amou, recebi duras críticas de pessoas que me diziam que só no amor devemos centrar nossos esforços e que o afã intelectual é vão e desprovido de um sentido maior. Sem desmerecer este pensamento seria bom levar em conta que existem conflitos no mundo e que nem todos podem seguir naturalmente o seu destino, pois é preciso fazer acontecer o seu destino. Senão vejamos o que nos diz mais uma vez José Saramago através de um de seus personagens: “(...) há quem diga que todos nascemos com o destino traçado, mas o que está à vista é que só alguns vieram a este mundo para fazerem do barro adões e evas ou multiplicarem os pães e os peixes”47. Nós, que fazemos do destino desta Casa um agente de multiplicação do saber, não devemos nos envergonhar desta missão por nem todos terem acesso ao saber em nosso país. É justamente por amor ao saber e à ciência que nos reunimos e formamos esta comunidade de cientistas do saber. Que nossa tarefa continue a se desenvolver por muitos anos, sem temer críticas e oposições pois: “(...) nos deveríamos deixar levar pela corrente do que acontece, que sempre chega um momento em que percebemos que o rio está a nosso favor 48”. Não é porque existe alguém contrário que iremos parar o barco no meio do Oceano. É preciso buscar novos lugares do saber, novos pensamentos e conceitos, aprimorando na medida do possível o que os nossos antepassados nos legaram. Plutarco dizia a respeito do pensamento, que é conveniente pensar que onde os princípios não são, os fins e conseqüências o são49. O que importa é que a cultura histórica seja repassada para as gerações futuras e isto faz parte dos fins e conseqüências de que falava Plutarco.
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SARAMAGO, José. A Caverna. Lisboa. Editorial Caminho, p. 33. Id., José. Op. cit., p. 173. 48 Id. Ibid., p. 347. 49 PLUTARCH. The Complete Works Volume 3: Essays and Miscellanies. Oxford, MS February, 2002 The Project Gutenberg Etext of The Project Gutenberg Etext of [Etext #3052] The Project Gutenberg Etext. Disponível em http://gutenberg.net. p. 326. “But in reasoning one ought chiefly to remember this wise apothegm, that where the principles are not necessary, the ends and consequences are necessary”. 47
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Antes mesmo de ser nomeado para esta Casa, estava certo dia com um enorme anseio de pesquisa histórica e, conversando com senhoras açorianas, descobri que o Maranhão fez e faz parte do imaginário coletivo deste povo açoriano em sua luta por estabelecer seu espaço na cultura universal. Estes versos populares que ora apresentamos são uma expressão disto: San Macaio (popular) San Macaio, San Macaio deu à costa, Ai deu à costa nos baixos da Urzelina; Toda a gente, toda a gente se salvou, Ai se salvou, só morreu uma menina. San Macaio, San Macaio deu à costa, Ai deu à costa lá na Ponta dos Mosteiros; Toda a gente, toda a gente se salvou, Ai se salvou, só morreu dois passageiros. San Macaio, San Macaio deu à costa, Ai deu à costa, deu à costa na fundura; Quebrou-se-lhe, quebrou-se-lhe o tabuado, Ai ficou só, ficou só na pregadura. San Macaio, San Macaio deu à costa, Ai deu à costa na Baía da Feiteira; Toda a gente, toda a gente se salvou, Ai se salvou, só morreu uma feiticeira. San Macaio, San Macaio deu à costa, Ai deu à costa nas pedras da Fajãzinha; Toda a gente, toda a gente se salvou, Ai se salvou, só morreu uma galinha. San Macaio, San Macaio já é velho, Ai já é velho e também é marinheiro; Andava, andava sempre perdido, Sempre perdido por causa do nevoeiro. San Macaio, San Macaio deu à costa, Ai deu à costa nos baixos do Maranhão; Toda a gente, toda a gente se salvou, Ai se salvou, só o San Macaio não 50.
Estes versos demonstram o quanto foi importante o estabelecimento desta Casa para recuperar o passado e garantir o futuro das nossas tradições seculares. As tradições Açorianas e Portuguesas foram e continuam sendo nossas também e isto é importante anunciar a todos os povos; e esta Casa é um dos elementos essenciais para que isto aconteça. É preciso, então, valorizá-la cada vez mais para que ela continue a espelhar os desejos do povo, mantendo vivas suas tradições.
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Quadra Popular.
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Certo homem, adoentado, gritava em desespero, dizendo que tudo estava acabado para ele. Em nosso caso, tudo pode vir a perecer, menos o desejo de contribuir para a edificação da Tradição, Cultura e História de Povo Maranhense. Saberemos viver na Cultura e História semeadas pelos lugares mais próximos e distantes desta imensidão geográfica que é o Estado do Maranhão, na medida em que soubermos resgatar o passado e retransmiti-lo de forma articulada para os que vierem depois. Numa de forma de resgate deste passado distante é que lançamos o olhar àqueles que nos precederam na História. Elogio aos meus antecessores Nesta noite deslumbrante em que tomamos posse da cadeira de nº 50, tendo o Céu por testemunha, em que os estudiosos e curiosos no campo da Astronomia poderão contemplar entre as várias formações do nosso Espaço, e tendo a Lua como referência as seguintes constelações: no extremo Norte poderemos vemos a distante constelação da Ursa Menor; um pouco ao sul da Lua temos a constelação do Escorpião; a leste, o inesquecível Planeta Júpiter e, logo a seguir, a constelação de Capricórnio, sem esquecer a Corona Borealis e a Corona Australis. Diante deste radiante Céu, como disse, presto minha sincera homenagem aos que me precederam. Sendo assim, a justo título lembro a saudosa e pequena figura do Cônego Benedito Ewerton Costa e o grande lingüista Padre Antônio Pereira. É justa e apropriada esta homenagem porque sem eles não poderíamos ter feito História. Minhas reminiscências junto a amigos e conhecidos e minhas fontes me dizem que o Cônego Benedito Ewerton Costa nasceu na cidade de Codó, no dia 05 de janeiro de 1924. Como ele amava e tinha orgulho desta cidade, por ser uma terra em que muitas figuras de prestígio aí viram a luz do dia. Deve ter sido difícil sua vida enquanto órfão. Com a perda dos pais, José Maria Costa e Raimunda Noêmia Ewerton, ingressa no Seminário de Santo António. Tinha apenas 12 anos e lá permanece longos 12 anos de formação, onde, segundo relatos do falecido Padre Jocy Neves Rodrigues, podia-se sair apenas uma vez por semana para ir ao cinema. Todos vestidos com suas alvas lá iam em fila única mudar de um ambiente de estudo e oração para o da cultura cinematográfica. O seminarista Ewerton provavelmente participou desta atividade extra-curricular e fez planos de galgar um lugar de prestígio na sociedade ludovicense ao respirar os ares de cultura desta linda cidade. Foi ordenado sacerdote no dia 21 de dezembro de 1948, na Catredral Metropolitana por D. Adalberto Accióly Sobral, em plena agitação da guerra fria. Foi o oitavo padre filho de Codó. Depois de ordenado participou da semana de Estudos da «Juventude católica masculina» onde proferiu uma palestra, no dia 29 de maio, de 1949, demonstrando já suas qualidades de intelectual brilhante. Em 1964, foi Capelão do Orfanato Sta. Luzia e Assistente da ACI e da Obra dos tabernáculos e responsável do IPREC (Instituto de Previdência do Clero) e encarregado dos seguros. Para complementar sua formação acadêmica em Filosofia e Teologia em São Luis foi enviado para estudar Filosofia em Minas Gerais em 1969 na Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras de São João Del Rei. Retornando ao Maranhão foi Professor do Seminário Santo Antônio (hoje IESMA), no Liceu Maranhense e na Escola
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Técnica Federal do Maranhão (hoje CEFET). Como acadêmico formado foi Professor da Escola de Enfermagem, da Faculdade de Serviço Social, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Luis. Foi Professor Assistente do curso de Geografia na Universidade do Maranhão nos anos 60. Foi Professor Titular do curso de Geografia na Universidade Federal do Maranhão, fazendo uma ponte entre a Universidade Católica e a UFMA, permanecendo até sua aposentadoria em 1991. Tinha um profundo conhecimento de História e Geografia do Brasil. Tendo como paixão a Geografia, chegou a ser Chefe de Departamento de Geografia nos duros anos 70. Representando a SOMACS (Sociedade Maranhense de Cultura Superior) fez parte do Conselho Diretor da UFMA, função atualmente desenvolvida pelo Padre Prof. Dr. Raimundo Gomes Meireles, sócio efetivo deste sodalício. No Conselho Diretor defendeu os interesses dos professores e alunos, assim como teve grande zelo pela Instituição Universitária. Participou de diversas Bancas Examinadoras nos concursos para ingresso de Professores na UFMA. Por tantos serviços prestados ao Estado foi agraciado com a medalha do Mérito Timbira em 1986. Em seu discurso de posse no IHGM e em artigos publicados sempre esmerou pelos seus conhecimentos. Com o seu falecimento, vítima de ataque cardíaco, ficou inacabada a obra de um grande Padre, Professor e Pesquisador Maranhense que a História reconhece hoje como uma figura exemplar. Seria muito interessante ter acesso a algum manuscrito seu e ver em que condições ficou a “Geografia do Maranhão” obra que não chegou a ser publicada. O seu falecimento deu-se na cidade de São Luís no dia 11 de janeiro de 1996 e seu corpo foi velado na Igreja de Santo António onde participaram da Missa muitos Seminaristas, Padres e o Sr Arcebispo Dom Paulo Ponte. Conheci-o pessoalmente quando era ainda padre jovem. Chamou-me a atenção o seu jeito espontâneo, simples, calmo, ao travar conversação com as pessoas mais íntimas. Quem o via humildemente nas celebrações da Igreja da Glória no bairro da Alemanha ou no Maiobão, onde prestava auxílio aos respectivos párocos (o saudoso † Frei José Schlütter e Padre Lúcio Couto respectivamente, que hoje vive em Toronto) não imaginava que estava diante de uma figura ilustre. Este fenômeno encoberto talvez por sua timidez se destacava quando da sua pregação, que era calma, firme, e cheia de cultura. Faltou-lhe um maior apoio do Arcebispo Dom Motta, que o destinou certa vez a ocupar-se do gado da diocese, como se ele fosse um simples vaqueiro e não um homem de cultura e de uma sagacidade quase que inigualável. Mais que isto: era ele um pastor das almas e das letras. Sabia dominar muito bem o uso do vocabulário da língua portuguesa, senão vejamos a concisa e brilhante introdução ao seu artigo: “Sesquicentenário da Paróquia de Codó” publicado na Revista do IHGM: “Quando, na época do Brasil-Colônia, os Padres da Companhia de Jesus singravam as águas do Oceano Atlântico, em frágeis embarcações de velas enfunadas, tinham eles os corações abrasados em zelo apostólico e o ideal de trazer do Velho Continente para este outro hemisfério a mensagem de amor e de salvação, contida nas luminosas páginas do Evangelho51”. 51
COSTA, Benedito Everton (1985) “Sesquicentenário da Paróquia de Codó”. In Revista do IHGM, São Luis, Ano LIX. Out. nº 9, pág. 48.
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Em nossos dias dificilmente encontramos figuras ilustres e ao mesmo humildes como esta. Em um pequeno parágrafo ele condensava todo um pensamento, cheio de altivez e ensinamento histórico: “A Paróquia de Codó foi erigida aos oito de maio de 1835, sendo agora o seu Sesquicentenário, que comemoramos com júbilo cristão e religioso fervor. Para nós codoenses é uma data histórica que deve ser ensinada à juventude codoense, para não ficar esquecida nos alfarrábios empoeirados, mas festejada sempre nos corações por nós e pelas gerações vindouras, em manifestações de fé vigorosa e imbatível”.
Vemos neste texto uma linguagem próxima à de autores do século XIX ou do começo do XX, como Coelho Netto, o que denota o seu afinco nos estudos. Gostaríamos que o Clero Jovem deste século XXI tivesse tanto amor às Escrituras e à Literatura como teve o Cônego Benedito Ewerton, a fim de que a busca do saber não se afaste nunca de seus Trabalhos Pastorais e Acadêmicos. Nesta figura culta havia entrosamento entre o Sacerdote e o Intelectual, pois defendia o ardor da fé católica com seus conhecimentos do Direito Canônico e Civil, com a mesma força com que demonstrava seus conhecimentos de História do Brasil, Geografia e Línguas estrangeiras. Conhecia o Francês, Espanhol, Latim e Grego. Sabia contextualizar os acontecimentos no tempo e lugar devidos e isto de forma suscinta e hábil. Com os recursos de que dispôs soube engrandecer o pensamento e a cultura maranhenses. Que a figura singular do Cônego Benedito Ewerton continue a despertar nas gerações futuras anseios pelo saber e amor ao povo e à Igreja. Colho, por fim, o depoimento do Prof. Ramiro Azevedo, colega na UFMA e no Cefet-MA sobre o Cônego Benedito Ewerton: Deu-me aulas de harmônio, na Catedral, e um dicionário etimológico da Língua Portuguesa que teve o trabalho de comprar em Fortaleza. Conversávamos sempre nos intervalos de tempo permitidos, no Cefet. 52 Conversas sempre úteis.
Padre Antônio Pereira e o seu amor pelo Maranhão Por outro lado, o sábio é afortunado, abençoado, e feliz sempre, protegido e livre do perigo53. Estas palavras de Plutarco se coadunam muito bem com a figura brilhante do Padre Antônio Pereira. Minha homenagem ao Patrono da Cadeira de nº 50, Padre António Pereira, visa realçar a figura de um pioneiro nos inícios do Maranhão Colonial. O pouco que sabemos dele deve-se ao registro dos seus feitos por alguns amigos seus e pelo Padre Antônio Vieira, que o considerava o maior e o melhor dos seus contemporâneos. Nesta narrativa do herói imortal convém lembrar o que disse Bento Teixeira, um autor do século XVII: 52
Testemunho colhido pelo Prof. Pe. Dr. Raimundo Gomes Meireles, na residência do Prof. Ramiro Azevedo, em 30.8.08, na Rua I, Qd. I, Casa 10, Alto do Calhau, São Luís-MA. 53 “Although the wise man is fortunate, blessed, every way happy, secure, and free from danger”. PLUTARCH. The Complete Works Volume 3: Essays and Miscellanies. Oxford, MS February, 2002 The Project Gutenberg Etext of The Project Gutenberg Etext of [Etext #3052] The Project Gutenberg Etext. Disponível em http://gutenberg.net. p. 252.
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Os heróicos feitos dos antigos Tende vivos e impressos na memória: Ali vereis esforço nos perigos, Ali ordem na paz, digna de glória. Ali, com dura morte de inimigos, Feita imortal a vida transitória, Ali, no mor quilate de fineza, 54 Vereis aposentada a Fortaleza.
No ano em que morreu Padre Antônio Pereira, havia uma guerra civil na Inglaterra, a Revolução Gloriosa e uma guerra entre Holanda e França: a Guerra da Grande Aliança. Neste mesmo período Portugal reconquista sua independência da dinastia Espanhola dos Filipes, a chamada Restauração, e luta para manter suas Colônias além-mar, e por esta razão talvez é que o poeta Bento Teixeira fala de guerras e das ações dos heróis, combinando-o com a personalidade desafiadora do patrono da cadeira de n° 50. Padre Antônio Pereira, o herói maranhense que ora homenageamos, nasceu em São Luís do Maranhão de uma família portuguesa, em 1615 ou 1641, não sabemos ao certo, mas sendo certo o fato de que foi acolhido pelo Padre Antônio Vieira na Companhia de Jesus, em 1655, a data que melhor se coaduna é 1641, fazendo com que ele tivesse quatorze anos de idade e não quarenta, caso tivesse nascido em 1615. Com quarenta anos seria difícil ser acolhido na Companhia de Jesus e se aprofundar nos estudos da forma como ele o fez. As poucas fontes que temos dizem que “Coube ao Padre Antônio Vieira a dita de receber o jovem Antônio Pereira, em 1655, o qual demonstrava auspiciosos sinais de vocação sacerdotal e do qual deixou Vieira os maiores elogios. Deu-se, porém, a primeira expulsão dos jesuítas do Maranhão em 1661 e António Pereira que já se colocara sob a égide da Companhia, embarcou para Lisboa, onde estudou casos de Consciência, ou seja Teologia Moral, e ordenou-se Sacerdote no Colégio de Santo Antão, na Metrópole Portuguesa”55. Aqui podemos dizer que, se Padre Antônio Vieira recebeu o nosso patrono Antônio Pereira, é porque ele devia destacar-se no meio de todos, chegando a impressionar o ilustre pregador. Tinha um espírito ousado e aventureiro, tanto que foi para Lisboa encaminhar sua formação acadêmica em meio à turbulenta perseguição da Companhia de Jesus. O Cônego Benedito Ewerton Costa, na pesquisa que fez afirma que Padre Antônio Pereira foi enviado ao Estado do Brasil, em 1663, sendo que ”primeiro fixa-se no Colégio da Bahia, depois no de Pernambuco”. Tendo estudado no Colégio da Bahia poderia ter pedido para fazer sua missão pelos sertões bahianos que eram bem mais amenos que outras partes, mas preferiu retornar ao Maranhão por amor a sua terra, mesmo sabendo que as condições de vida56 54
o.
TEIXEIRA, Bento. Prosopopéia. In Revista de História de Pernambuco, ano I, n 1, 1927, Recife. versão eletrônica: CG Produções, LXII. 55 CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria. Patronos e ocupantes de Cadeiras. In Revista do IHGM, São Luis, p. 223; Cf. COSTA, Cônego Benedito Ewerton. Discurso de Posse no IHGM. In Revista do IHGM, São Luís, Ano 1984. Dez. nº 7. 56 Cf. AMBIRES, Juarez Donizete. Jacob Roland: um jesuíta flamengo na América Portuguesa. In Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 50 São Paulo Julho/Dezembro 2005, Disponível em http://www.scielo.br/scielo.
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eram muito mais difíceis do que na Bahia ou em Lisboa. Seu ardor missionário servirá de exemplo para as gerações futuras. Ele era um intelectual orgânico que soube envolver-se com os mais pobres da sua época levando-lhes palavras de ânimo e de esperança. Concluído o ciclo de estudos teológicos voltou a Lisboa e de lá retorna ao Maranhão no ano de 1674. Nomeado mestre de Noviços, trabalhou com índios Guajajaras do Rio Pindaré, com índios das margens do Rio Tapajós e chegou a Reitor do Colégio do Pará e Vice Superior da Missão. Foi então enviado à Missão da Capitania do Cabo do Norte, na companhia dos Padres Bernardo Gomes, Padre Aloísio Dourado Pfeil e o Capitão-mor Antônio Albuquerque. O Capitão-mor e o Superior, Pe. Pfeil deixam ali os dois padres, deviam fazer a catequese dos índios na linha divisória com a Guiana Francesa, área pertencente à Espanha demarcada pelo Tratado de Tordesilhas, então vigente. 57 Iniciam a catequese, especialmente contra a embriaguês e a poligamia .
O fato de ter sido promovido bem jovem a Vice-Superior da Missão demonstrava os seus dotes intelectuais e sua capacidade de liderança. Em nossos tempos precisamos cada vez mais de bons líderes e catalisadores para o bem. No “Catalogo dos Jesuitas que forao para o Maranhao” da obra Corographia Histórica, Chronographica, Genealógica, Nobiliaria, e Politica do Império do Brasil do Dr. Mello Moraes, Tomo III, Tipographia Brasileira – Edictor J.J. do Patrocínio, 1859, consta o seguinte: “1674 – Junho 27. - Padre Antonio Pereira (natural do Maranhão)”58, confirmando assim que seu regresso ocorreu-se realmente em 1674, e o mais curioso é que ele retorna no fim das chuvas, provando que o fator climático esteve sempre presente nas decisões que dizem respeito ao Maranhão. Segundo o Cônego Benedito Ewerton em seu discurso de posse: Em setembro, oito ou nove horas da manhã de 1687, o Pe. Antônio Pereira estava revestido dos paramentos sacros, celebrando a Santa Missa em um altar erguido na selva amazônica, quando os índigenas cometeram o nefando sacrilégio de matar os dois sacerdotes e, com requinte de selvageria, puseram fogo nos corpos e roubaram os pertences dos novos mártires da Igreja no Brasil. Consta como tendo falecido o Pe. Antônio Pereira aos 49 anos. A data do falecimento também é polêmica, pois seus biógrafos dão 59 como 1687 e outros 1702 .
Como vimos a data da sua morte assim como a do seu nascimento, são meio polêmicos, mas o que importa é que ele foi um mártir da Fé e da Lingüística e o pioneiro nas incursões em terras distantes do norte. O Padre Antônio Vieira diz que ele morreu em 1688.
57 CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria. Ibid. 58 MORAES, MELLO DR. Corographia Histórica, Chronographica, Genealógica, Nobiliaria, e Politica do Império do Brasil do Dr Mello Moraes, Tomo III, Tipographia Brasileira – Edictor J.J. do Patrocínio, 1859, p. 33. 59 CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria. Patronos e ocupantes de Cadeiras. In Revista do IHGM, São Luis, p. 223-224; Cf. COSTA, Cônego Benedito Ewerton. Discurso de Posse no IHGM. In Revista do IHGM, São Luis, Ano 1984. Dez. nº 7.
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O pouco que sabemos dele, por carta de Padre Antônio Vieira, é suficiente para percebermos que se tratava de um homem dedicado à Evangelização dos índios e ao estudo e isto foi suficiente. A sua morte no altar durante a celebração da Eucaristia é algo chocante e que nos deixa perplexos e sem saber o que dizer, porque a imagem do seu sangue inocente derramado na solidão da selva cala nosso ser por inteiro. Se fôssemos escrever um romance a esse respeito poderíamos imaginar aquela manhã de setembro de 1687 ou 1688 desta forma: A Missa já estava sendo celebrada no meio da burlesca selva repleta de pássaros e plantas, que não se encontra em nenhum outro lugar do planeta. Imaginamos que os índios estão à espreita e, por fim, avançam em direção àquele homem paramentado de uma forma exótica para eles e houve então um conflito originado por questões etnocêntricas, políticas, sociais e culturais de uma colônia nascente, que culminou com a morte do sábio sacerdote. Avançam e atacam de imeditato, sem chances para que a vítima pudesse defender-se. Padre Pereira foi pego de surpresa. Cai por terra o novo herói do Maranhão, homem cheio de fé e de bravura. Para falar de bravura nada melhor do que o político grego do século V AC, Péricles, filho de Xantipo. Péricles, em seu discurso fúnebre, datado de 431 a.C. em homenagem aos primeiros mortos na Guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta, falou de uma forma tão comovente que até hoje repercute nos corações daqueles que o lêem. Em relação à bravura disse ele: “O louro da coragem será entregue acertadamente, àqueles que sabem a diferença entre o trabalho pesado e o prazer e que nunca são tentados a fugir do perigo” 60. Padre Antônio Pereira pode receber o louro da coragem porque viveu à margem do perigo e sem titubear, levou a sua missão humanizadora a bom termo e só interrompeu-a com sua trágica morte. Tendo morrido durante a celebração da Eucaristia, ao seu sangue misturou-se o sangue de Cristo. Sangue e terra, fogo e cheiro de carnificina, cheiro de mato queimado, gritos de dor misturados aos gritos de alegria daqueles que mataram, queimaram e roubaram. No entrechoque de culturas morre o mais brilhante de todos os maranhenses entre os seus contemporâneos. Convém neste momento lembrar as palavras de Eça de Queiroz diante da morte do personagem Rytmel: “... se nem sequer tens ao entrar na tua derradeira morada as orações de um padre e a luz de um círio, cubra-te ao menos a benção da amizade!61”. Que nossa homenagem e amizade sejam o seu consolo e nosso, passados 320 anos, já que, sendo sacerdote, morreu abandonado, e sem a assistência espiritual necessária em momentos de dor. Fazendo um retorno aos escritos do Padre Antônio Vieira, assim o vemos descrever a grandeza e martírio do Padre Antônio Pereira: Também eu não tive proximamente cartas do Maranhão, onde Deus nas terras do Cabo do Norte permitiu que matassem ou martirizassem os bárbaros o maior sujeito que lá tínhamos. Era português e de maioridade, e bem entendo quão importante é o concurso destas duas condições, nos que hão-de ser colunas e cabeças de que dependa o governo e direção dos 60
“(…) the palm of courage will surely be adjudged most justly to those, who best know the difference between hardship and pleasure and yet are never tempted to shrink from danger.” Cf. THUCYDIDES, 431 BC, translated by Richard Crawley. The History of the Peloponnesian war. Project Gutenberg, December, 2004 [EBook #7142], p. 69. 61 QUEIROZ, Eça de. O Mistério da Estrada de Sintra. Porto: Lello & Irmão – Editores, p. 264.
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demais, principalmente sendo força estarem divididos, e não tão pertos e 62 sujeitos à mesma direção como nos colégios.
A professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo diz o seguinte na pesquisa que fez “O Pe. Antônio Pereira foi um excelente pregador e ardente missionário. Escreveu ‘Vocabulário da Língua Brasileira’ e diferentes tratados ou estudos sobre a Língua dos Gentios. Foi autor do ‘Catecismo para o Exercício cotidiano da manhã e da tarde’”63. Seu profundo conhecimento das línguas indígenas e seus estudos sobre o assunto fazem-no um pesquisador avant la lettre, que nos estimula a continuar escrevendo. Sua morte foi prematura e trágica como ocorre com os gênios, mas seu ardor e inteligência serão para sempre lembrados. Assim narram nossas fontes o seu trágico fim: Em 1687 o padre Pfeil voltou ao cabo do Norte guiando os padres Antônio Pereira e Bernardo Gomes, na companhia do capitão-mor Antônio de Albuquerque. Deixaram-nos instalados na ilha Camonixari, no lago Camacari (lago Macari, ou Carapaporis, atual lago da Jaca). No retorno, na aldeia de Tabanipixi, de índios maraúnus, ergueram também uma casa para Pfeil. A aldeia na ilha de que era principal Macuraguaia tinha então quatro casas de índios. Por um tempo o trabalho correu bem. Mas índios da vizinhança, os oivanecas, não aceitaram a pregação, e no início de setembro de 1688, com a omissão de Macuraguaia, mataram Antônio Pereira e 64 Bernardo Gomes.
Faleceu assim um dos mais brilhantes filhos do Maranhão no século XVII, e apenas depois de sua morte é que se ficou sabendo da sua erudição e espírito desbravador. A narrativa a seguir consta da carta do Reitor do Pará ao Geral da Ordem e refere suas virtudes e talentos, que demonstram que as circunstâncias podem ser mudadas com um pouco de apoio de fora, no caso este apoio veio do Padre Antônio Vieira. Colhamos a narrativa: Contou o reitor do Pará, padre Francisco Ribeiro, ao geral, padre Tirso Gonzáles: Foi eleito, para dar princípio àquela missão o Pe. Antônio Pereira, o melhor e mais capaz sujeito dela, por sua virtude, mais que medianas letras, o melhor língua de todo o Estado, o mais noticioso da missão, como quem de menino acompanhou e lidou com o Pe. Antônio Vieira, que o recebeu na Companhia, e o mais que V. P. saberá das informações que deste sujeito têm ido aos antecessores de V. P. Tinha este por seu companheiro um novo sacerdote, por nome Bernardo Gomes, natural de Pernambuco, sujeito de muita virtude. Estando o Pe. Antônio Pereira com 62
HANSEN, João Adolfo (org.). VIEIRA, Antonio. Cartas do Brasil, 1626-1697, Estado do Brasil e Estado do Maranhão e Grã Pará, São Paulo, Hedra, 2003, Carta a Roque Monteiro Paim, 2 de Julho de 1691. p. 642. Cf. nota: “O Padre Antônio Pereira, morto em setembro de 1688 pelos selvagens, assim como o Padre Bernardo Gomes, seu companheiro. Cf. Bettendorf, Crônica cit., liv. 7º, cap. 18º. (JLA). 63 CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria. Id. p. 224. 64 SARNEY, José e COSTA, Pedro. Firmando Posição. Amapá: a terra onde o Brasil começa. Citado em 3 de Abril de 2008. Disponível em http://www.senado.gov.br/web/senador/jsarney/Historia_Amapa/sarney_05_posicao.pdf, p. 4-5.
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seu companheiro, pacífico, na sua missão, em uma aldeia, e mui amado dos seus paroquianos, na ausência que fizeram os soldados portugueses a virem buscar aprestos para a nova fortificação (que só tinham ido a ver o sítio, não querendo o padre ficassem com eles soldados, por não ver as ofensas de Deus que semelhante gente usa nas tais aldeias), se amotinou o gentio; e, fugindo ao padre todos os seus doutrinados, o deixaram só. E vendo-se assim, quis passar para outra aldeia e estando com o seu fato arrumado, veio outro gentio, que às vezes vinha à dita aldeia, e deteve o padre para que se não fosse, que eles assistiriam com ele, e logo viriam outros muitos. Sossegou-se o padre, e foi dizer missa. Estando nela, e ajudando o padre seu companheiro, deram os bárbaros nele, e com as suas armas que são uns fortes paus, quebraram a cabeça primeiro ao Pe. Antônio Pereira, revestido e posto no altar, e logo a seu companheiro, e quatro índios crioulos, que o padre levara consigo das nossas aldeias domésticas. Por onde não ficou ninguém que referisse as circunstâncias do sucesso, mais que a confissão dos cúmplices, atrás de quem foram os portugueses, na segunda ida que fizeram àquelas partes, e os alcançaram, indo-se já metendo no amparo dos franceses65.
Os corpos dos mártires foram recolhidos pelo Padre Pfeil e levados a Belém, e assim terminaram os dias de Padre Antônio Pereira, que continuará inspirando os homens e mulheres do saber e da cultura Histórica, instigando-os a não se conformarem com o abandono espiritual e intelectual do nosso povo brasileiro. Convém ir aos lugares mais distantes levar a esperança, como o fez Padre Antônio Pereira, fazendo com que o Maranhão continue a ser uma contínua seara de talentos na Literatura e nas Artes. Padre Antônio Pereira continuará patroneando esta cadeira de nº 50, dando-nos inspiração e fazendo com que esta casa continue a ser exemplo para a nossa juventude. Terminou assim de forma trágica os dias do Padre Antônio Pereira. Com sua fé e cultura linguística o Maranhão viu-se exposto ao mundo como lugar de cultivo ao saber. Morreu o homem mas sua história honrada fica. Seu esforço de comunicação com os índios, em meio ao duro processo de colonização de nossas terras, demonstra que não foi em vão seu esforço. Ele será lembrado entre nós como o intelectual orgânico, como o homem de saber e de fé, antrópologo e indigenista, articulador em tempos de crise e missionário em meio a recursos excassos. Foi-se o homem mas ficaram os fatos de sua curta vida para que nossa geração possa seguir adiante com mais audácia em busca do saber e da glória. A vida do Padre Antônio Pereira foi pautada pela busca da felicidade e pelo amor à sua terra e seu povo. Poderia ter ficado em Lisboa e concluir os seus estudos mas preferiu terminá-los no Estado do Brasil e, depois, decidiu retornar ao Estado do Maranhão por um desejo de serviço e satisfação pessoal. Aconteceu com ele o que disse David Hume a respeito do homem: Como o homem é um ser racional e está continuamente à procura da felicidade, que espera alcançar para a satisfação de alguma paixão ou afeição, raramente age, pensa ou fala sem propósito ou intenção. Sempre tem algum objeto em vista; embora às vezes sejam inadequados os meios que escolhe para alcançar seu fim, jamais o perde de vista e nem desperdiça seus 65
SARNEY, José e COSTA, Pedro. Firmando Posição. Amapá: a terra onde o Brasil começa. Citado em 3 de Abril de 2008. Disponível em http:// www.senado.gov.br/web/senador/jsarney/Historia_Amapa/sarney_05_posicao.pdf , p. 6.
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pensamentos ou reflexões quando não espera obter nenhuma satisfação 66 deles.
O propósito do Padre Antônio Pereira foi o de se colocar a serviço dos índios naquilo que costumava ser a catequese da época. Aqui não devemos transpor nossas concepções antropológicas atuais, dizendo que ele era um opressor da cultura indígena já que ele está ligado mais à figura do Servo Sofredor de Isaías do que a do Fármacos grego, bode expiatório da sua comunidade, que expia as culpas de todos morrendo de forma cruel, mas sem poder de salvação. Padre Antônio Pereira, em seu contexto histórico colonial, sentiu-se bem consigo próprio ao catequizar os índios em sua própria língua, tentando compreender seus usos e costumes, levando uma mensagem de esperança para eles nos seus distantes rincões. A esperança de paz entre todos e de participação no bem-comum foi o seu legado. Gostaria de terminar este escurso frisando que pretendemos formar uma unidade de vida e de História com cada sócio e sócia desta querida Casa, escrevendo e publicando, falando e integrando a todos em busca do bem maior. Ao falar do bem, Platão fez um paralelismo entre o bom e o belo, dizendo que “(...) o que é bom é belo(...)”67 e isto nos inspira a buscar o bem, para sermos belos. Falar do bem no belo enaltece sobremaneira a memória do Padre Antônio Pereira e nos entreabre caminhos em nossas pesquisas futuras, onde se possa fazer um paralelo entre os índios e o belo ou entre Padre Antônio Pereira e a beleza da sua missão. Antes de tudo gostaria de agradecer a Cristo Jesus na unidade da Santíssima Trindade, a Virgem de Fátima, à minha mãe Maria Nunes e a meu padrasto, seu dedicado esposo Luís Carlos Nunes, aos amigos e amigas que, de longe ou de perto, sempre estiveram em meus passos ou em meu pensamento, especialmente aos membros do Conselho Pastoral da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Calgary – Canadá (João e Mary Lou da Silva, Francisco, Cristina e sua filha querida Catarina Ávila, Fernando e Alice da Silva) e a todos os meus queridos paroquianos (canadenses, portugueses e brasileiros); ao bispo de Calgary, Dom Frederick Henry (thank you bishop Henry for your support and kindness), ao bispo que me ordenou Dom Paulo Ponte, ao Sr. Arcebispo Dom José Belisário, a Dom Xavier Gilles de Maupeou, Bispo de Viana, que compreendeu desde o primeiro dia em que nos conhecemos o sentido do dever e da amizade; ao Padre Marcelo Pépin, e a todos os meus familiares, amigos e amigas, que se fizeram presentes a esta belíssima cerimônia e que me escutaram pacientemente. Meu muito obrigado à Sra. Presidenta, Profª. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Joseth Coutinho Martins de Freitas, ao Pe. Prof. Dr. Raimundo Gomes Meireles que indicou meu nome para esta Casa, às pessoas responsáveis diretamente pelo rito de cerimônia, aos que estudaram meu currículo, à Assembléia dos Sócios (as) que aprovou meu nome e a todos os sócios que dignificam esta Instituição, às distintas autoridades e convidados (as) da Casa.
66
HUME. David. Ensaio sobre o Entendimento humano, Tradução: Anoar Aiex. Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/, p. 14-15. 67 PLATÃO. O Banquete. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000048.pdf, p. 19.
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Ó, casa de Antônio Lopes, nesta bela cidade de São Luís, que continua sendo a Atenas Brasileira, agora tenho de terminar, citando Platão, que costumava escrever sempre em suas cartas: Εὖ πράττειν (“Seja feliz”)! Muitíssimo obrigado a todos. REFERÊNCIAS AMBIRES, Juarez Donizete. Jacob Roland: um jesuíta flamengo na América Portuguesa. In Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 50 São Paulo Julho/Dezembro 2005, Disponível em http://www.scielo.br. ARISTOTLE. Politics Book II, Part IV, Written 350 B.C.E, translated by Benjamin Jowett in Internet Classics Archive, © 1994-2000, Daniel C. Stevenson, Web Atomics. CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria. Patronos e ocupantes de Cadeiras. In Revista do IHGM, São Luis, p. 223; Cf. COSTA, Cônego Benedito Ewerton. Discurso de Posse no IHGM. In Revista do IHGM, São Luis, Ano 1984. Dez. nº 7. CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br. COSTA, Benedito Everton (1985) “Sesquicentenário da Paróquia de Codó”. In Revista do IHGM, São Luis, Ano LIX. Out. nº 9. COELHO NETTO. A Glória, Coleção Revivendo n° 4, A Bico de penna: Fantasias, contos e perfis, Porto, Lello & Irmão Editores, 1925, Terceira Edição. CICERO, Marcus Tullius. De Amicitia 13.47. Disponível em: Treatises on Friendship and Old Age, Translator: E.S. Shuckburgh, Etext # 2808, Project Gutenberg, 2001. DEMOSTHENES. Letters. English translation by Norman W. DeWitt, Ph.D., and Norman J. DeWitt, Ph.D. Cambridge, MA, Harvard University Press; London, William Heinemann Ltd. 1949, On Political Harmony. FILHO, Odylo Costa. Histórias da Beira do Rio. Rio de Janeiro, Editora Record, 1983, 189p. HANSEN, João Adolfo (org.). VIEIRA, Antonio. Cartas do Brasil, 1626-1697, Estado do Brasil e Estado do Maranhão e Grã Pará, São Paulo, Hedra, 2003, Carta a Roque Monteiro Paim, 2 de Julho de 1691. HUMBOLDT, Alexander von. Equinoctial Regions of America V3, The Project Gutenberg EBook# 7254, January 2005. HUME. David. Ensaio sobre o Entendimento humano, Tradução: Anoar Aiex. Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Disponível em: http://br.egroups.com/group/acropolis/. MORAES, MELLO DR. Corographia Histórica, Chronographica, Genealógica, Nobiliaria, e Politica do Império do Brasil do Dr Mello Moraes, Tomo III, Tipographia Brasileira – Edictor J.J. do Patrocínio, 1859. NIETZSCHE, Friedrich. Basic writings of Nietzsche. Beyond Good and Evil: Prelude to a Philosophy of the Future. Translated and Edited by Walter Kaufmann. New York: The Modern Library, 2000, 862p. PACHECO, D. Felipe Condurú. História Eclesiástica do Maranhão» - S.E.N.E.C Departamento de Cultura - Maranhão –1969.
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PEIXOTO, A.L. e ESCUDEIRO, A. Pachira aquatica (Bombacaceae) na obra “História dos Animais e Árvores do Maranhão” de Frei Cristóvão de Lisboa, In Rodriguésia 53 (82): 123-130. 2002. PLATÃO. O Banquete. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br. PLUTARCH. The Complete Works Volume 3: Essays and Miscellanies. Oxford, MS February, 2002 The Project Gutenberg Etext of The Project Gutenberg Etext of [Etext #3052] The Project Gutenberg Etext. Disponível em http://gutenberg.net. QUEIROZ, Eça de. O Mistério da Estrada de Sintra. Porto: Lello & Irmão – Editores, Porto, 277p. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Émile ou De l’éducation. Disponível em: http://www.bibliopolis.fr. SARAMAGO, José. A Caverna. Lisboa: Editorial Caminho, 350p. SARNEY, José; COSTA, Pedro. Firmando Posição. Amapá: a terra onde o Brasil começa. Citado em 3 de Abril de 2008. Disponível em http://www.senado.gov.br. SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um Humanismo. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1987, 191p. SOUSANDRADE. Da Harpa XLV. TEIXEIRA, Bento. Prosopopéia. In Revista de História de Pernambuco, ano I, no. 1, 1927, Recife. Versão eletrônica: CG Produções. THUCYDIDES, 431 BC. The History of the Peloponnesian war. Translated by Richard Crawley. Project Gutenberg, December, 2004 [EBook #7142]. VONDEL, Joost van den. Lucifer Treurspel. Disponível em http://www.gutenberg.org.
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DISCURSO DE POSSE DE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – CADEIRA DE No. 40 PATRONOS: JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA Ocupantes: JOSÉ DE RIBAMAR PEREIRA; JOSÉ DE RIBAMAR DA SILVA FERREIRA; PEDRO RATIS DE SANTANA
Senhora Presidente, Senhores Membros da Mesa, Senhores Sócios Efetivos, Minhas Senhoras, meus Senhores Senhora Presidente, demais Sócios Efetivos deste Instituto, Profa. Dilercy, Padre Meireles, meus agradecimentos por me receberem nesta Casa. Quando aqui estive conversando com a Profa. Eneida e fazendo a entrega de meu currículo, me foi dada a oportunidade de escolher a cadeira que poderia vir a ocupar, caso aceito pelo nobre Colegiado. Dentre aquelas então vagas, estava a cadeira de número 40 que tem como Patrono JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA – Dunshee de Abranches -; e
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identificados seus ocupantes: JOSÉ DE RIBAMAR PEREIRA, JOSÉ DE RIBAMAR DA SILVA FERREIRA, e PEDRO RATIS DE SANTANA. O que chama atenção, é que todos os ocupantes se destacaram, dentre outras atividades, como Professores. Porque a escolha por essa Cadeira? Quando iniciei minhas pesquisas sobre a memória/história do Maranhão, um dos primeiros autores estudados foi justamente Dunshe de Abranches. Tenho me dedicado ao resgate da Memória do Lazer, dos Esportes e da Educação Física no/do Maranhão. Ao ler “O Captiveiro” 68 – segundo volume da trilogia das memórias de Dunshe de Abranches 69 - deparei-me com o seguinte trecho: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos ..”. (p. 187-188 (Grifos meus).
Ora, por essa época – inicio dos anos 1980 – a então Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje, CEFET-MA -, implantava seu Curso de Formação de Professores de Educação Física; uma das disciplinas, História da Educação Física, ficou sob minha responsabilidade. O programa dessa disciplina, em todos os cursos de educação física, trata dos períodos clássicos da História – Antiguidade, muita coisa sobre Grécia e Roma, Idade Média, Renascimento... – e pouca coisa sobre seu surgimento no Brasil. Tínhamos, à época, poucos autores. Destacando-se dois: Inezil Penna Marinho, e Jair Jordão Ramos. E o que dizer do Maranhão? Nada! Dediquei-me, então, a resgatar essa história. E o primeiro achado foi Aluísio de Azevedo, seguido de Dunshee de Abranches... JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA nasceu à Rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Seus pais foram o negociante Antonio da Silva Moura - nascido em Portugal e educado desde os cinco até os 21 anos no Havre e em Paris -, e Dona Raimunda Emília de Abranches Moura - filha de Garcia de Abranches, o Censor. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar, internacionalista... Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelos “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993) 70. Em “A Setembrada” 71, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô, e Frederico Magno de Abranches, seu tio. 68
DUNSHE DE ABRANCHES MOURA, João. O CAPTIVEIRO (memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. 69 As outras duas obras são: “A SETEMBRADA” e “A ESFINGE DO GRAJAÚ”. 70 GASPAR, Carlos. DUNSHE DE ABRANCHES. São Luís: (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 71 ABRANCHES, Dunshe de A SETEMBRADA - A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO - romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970
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Referindo-se ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno, seu sobrinho relembra que: “... Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão” (DUNSHE DE
ABRANCHES, 1970:31) (Grifos meus) Em “O Captiveiro”, escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, é dominado por figuras femininas e pela denúncia da escravidão, com relatos e documentos significativos sobre a sociedade maranhense do século XIX. Baseou-se em apontamentos de sua adolescência, registrados por volta de 1880, quando consultou pela primeira vez a correspondência de sua avó materna - Marta Alonso Alvarez de Castro Abranches (espanhola, 1800-1855) 72 - e entrevistou com impressionante acuidade, numa antevisão dos procedimentos da história oral, Emília Pinto Magalhães Branco (natural de Lisboa - 1818-1888), mãe dos escritores Aluízio, Artur e Américo de Azevedo 73. Numa das passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcádia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174) 74.
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O autor não esconde a grande admiração nutrida por sua avó, celebrada educadora de São Luís. Em 1844, fundou o colégio Nossa Senhora da Glória, popularmente denominado colégio dos Abranches, primeira escola feminina de São Luís. D. Martinha está a merecer um estudo acurado sobre sua vida e contribuição à educação maranhense...
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Balaiada: construção da memória histórica. In HISTÓRIA, São Paulo, v.24, N.1, P.41-76, 2005; 74 Citado em: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PERNAS PARA O AR QUE NINGUÉM É DE FERRO: AS RECREAÇÕES NA SÃO LUÍS DO, SÉCULO XIX. CONCURSO LITERÁRIO E ARTÍSTICO ‘CIDADE DE SÃO LUÍS’, Prêmio ‘Antonio Lopes’ de Pesquisa Histórica, segundo colocado, São Luís, PMSL, 1995; In JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, III, São Luís, dezembro de 1995 In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, X, Goiânia, 1997 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito ALUÍSIO AZEVEDO E A EDUCAÇÃO (FÍSICA) FEMININA. In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, VII, Gramado, junho de 2000 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES. IN CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, VII, Gramado, junho de 2000
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O ‘Clube dos Mortos’ reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios. Nessa mesma obra, Dunshee de Abranches (1941) lembra que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde "ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias...". (p. 157).
Ainda em “O Captiveiro”, às páginas 39, refere-se ao negro africano Adão, seu “mestre de remo e de caça”. Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993) 75 , deparamo-nos com uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993). Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: "... Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio... Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne... o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais...". (p. 16-17).
Dunshee de Abranches também se referiu à Capoeira. Mais especificamente, à atuação da Guarda Negra 76. Em artigo de Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio Gomes sobre “O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista” 77, os autores se referem à existência de uma Guarda Negra em São Luís. Como desconhecia o assunto, procurei me informar. Não achei nada! Mandei mensagem eletrônica ao Prof. Líbano, da U.F. Bahia, perguntando de onde obtivera essa informação. Disse-me que consta de “O VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O “SPORTMAN” ALUISIO AZEVEDO. In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA VIII, Ponta Grossa, novembro de 2002 75 ABRANCHES, Dunshee de. A ESFINGE DO GRAJAÚ. São Luís: ALUMAR, 1993. 76
A Guarda Negra foi formada por José do Patrocínio em 28 de setembro de 1888, como um movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exército e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão à família real pela abolição e intimidar republicanos e tumultuar os comícios. A ação da Guarda Negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. In http://negro.www.marconegro.blogspot.com/ 77 SOARES, Carlos Eugênio Líbano; GOMES, Flávio. O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista. In REVISTA HISTÓRIA VIVA, São Paulo, edição 25, de novembro de 2005, p. 74-79.
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Negro na Bahia”, de Luis Vianna Filho, obra da década de 40 78. E que este se refere à Dunshee de Abranches... Realmente, Dunshee de Abranches, em suas memórias sobre a escravidão e o movimento abolicionista, se refere à guarda negra, naquele episódio que resultou na queda do gabinete Cotegibe: “Voltando logo depois ao Rio [de viagem a São Paulo e Santos], assisti à agitação revolucionária que se fez em torno do gabinete organizado pelo Barão de Cotegipe. Participei dos memoráveis comícios em que, ao lado de Patrocínio, a mocidade das escolas civis e militares resistia heroicamente às investidas da guarda negra. E, em uma dessas reuniões subversivas no Largo da Lapa, um dos quartéis generaes da capoeiragem carioca, terminada em tremendo e sangrento conflitcto, sendo talves o vigésimo orador, que alli falava do alto do chafariz...”. (in DUNSHEE DE ABRANCHES. O Captiveiro
(memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941, p. 228-229). Os acontecimentos a que se refere Dunshee de Abranches aconteceram no Rio de Janeiro, não em São Luís do Maranhão! Aqui, nada encontrei sobre a existência da Guarda Negra 79; encontrei, sim, um episódio relacionado com a participação dos negros no processo de combate à República recém proclamada, denominado de "o fuzilamento do dia 17", e ocorreu como uma manifestação de escravos, recém-libertos, contra Paula Duarte e o empastelamento de seu jornal “O Globo”, conforme informam Mario Meireles, Barbosa de Godois e Milson Coutinho 80. Ainda se referindo aos Capoeiras, em Nota do “Actas e Actos do Governo Provisório”, trabalho organizado por Dunshee de Abranches e publicado em 1907, onde fica evidente o medo que cercava a realização de quaisquer festividades, patrióticas ou religiosas, nos conturbados tempos pós-República, sobretudo à noite - quando a multidão de apinhava pelas ruas e praças - de que não ocorressem cenas sangrentas e aviltantes de confronto entre policiais e capoeiristas...81 Como se vê, Dunshe de Abranches relata-nos em sua obra – em especial em sua trilogia - os costumes das diversas épocas da História maranhense. E dentre estes, a prática de atividades físicas e esportivas: caminhadas pela cidade e pelos campos, a pé e a cavalo, prática do remo e da caça, prática de jogos esportivos – como o ‘Jogo da Pela’, atual Tênis, do Bilhar Francês – e podemos considerar, ainda, a existência de uma primeira academia de ginástica (musculação) de São Luís... 78
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VIANA FILHO, Luiz. O NEGRO NA BAHIA. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1946.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra. In JORNAL DO CAPOEIRA www.capoeira.jex.com.br Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra II – O Isabelismo. In JORNAL DO CAPOEIRA www.capoeira.jex.com.br Edição 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra III – O Fuzilamento do dia 17. In JORNAL DO CAPOEIRA - www.capoeira.jex.com.br Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 80 MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 307; ver também: BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. HISTORIA DO MARANHÃO. São Luís: Mar. Typ. De Ramos d´Almeida & C., Suces., 1904, tomo II, p. 539-540; COUTINHO, Milson. SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: SIOGE, 1978 81 LINS E SILVA, Marieta Borges. Capoeiras e Capoeiristas. . In JORNAL DO CAPOEIRA www.capoeira.jex.com.br
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DUNSHEE DE ABRANCHES - (JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA) nasceu em São Luis, Maranhão, em 02 de setembro de 1867 – daí ter escolhido o dia de hoje, dois de setembro, para minha posse -. Após os estudos primários em sua terra natal – primeiro, estudando com sua mãe e tias, no famoso ‘Colégio das Abranches’82, onde também deve ter feito os preparatórios para o Liceu Maranhense. Um dos famosos “meninos do Liceu” no dizer de Gonçalves Dias, aos 16 anos de idade, ao concluir seu Curso de Humanidades, foi plenamente aprovado em severos exames de Gramática Portuguesa, Latim, Francês, Alemão, Inglês, Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Geografia, História, Filosofia e Retórica. Há esse tempo, precoce, já estudara Desenho com Horácio Tribuzi, Harmonia com Leocádio Rayol, Piano com sua mãe, d. Emília, e Violino com Pedro Ziegler.83 Tornou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Antes, porém, foi aluno da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas não concluiu o curso, cursando-o até o quinto ano84. No ano de 1889, aos seis de janeiro, casa em cerimônia celebrada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nesta cidade, com a Senhorita Maurina da Silva Porto, de cujo consórcio teve filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini 85. Em 1890, estava na Bahia, retomando os estudos de Medicina, porém ‘tirando a carta’ de Farmacêutico; prossegue os estudos de Medicina e inicia o de Direito (1891). (GASPAR, 1993). De volta ao Maranhão, foi enviado pelo Governador da Província, o pernambucano José Moreira Alves da Silva, como Promotor Público, para averiguar os acontecimentos e decifrar o mistério d’ “A Esfinge de Grajaú” 86. Decifrar o enigma não era outra coisa, senão uma explicação racional para as tantas brigas sangrentas existentes em Grajaú. (GASPAR, 1993). Nos anos seguintes, o advogado Dunshee tornou-se Deputado Estadual no Maranhão (1904-1909), e integraria depois a bancada de sua Província natal na Câmara Baixa do País, tendo sido eleito mais de uma vez (1909-1917) 87. Viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se torna adepto do Positivismo. 82
“Preliminarmente teve como professoras, além de sua mãe e das tias Amância e Martinha – estas três, fundadoras do Colégio Nossa Senhora da Glória-, também suas irmãs, Emília, Amélia e Helena. Completamente alfabetizado aos 4 anos de idade, aos seis já traduzia francês e aos sete principiava as lições de inglês e espanhol. “ (GASPAR, Carlos. DUNSHEE DE ABRANCHES. São Luís: (s.e.), 1993, p. 22. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 83 MORAES, Jomar. Ainda o humanista Dunshee de Abranches. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 21 de maio de 2008, quarta-feira, pg. 6, Caderno Alternativo. Hoje é dia de Jomar Moraes. 84 Informa GASPAR (1993) que não concluiu o curso “em fase de lamentável incidente com um de seus professores, por ocasião de uma das provas do currículo, quando acalorada discussão entre o aluno e o mestre culminou com uma cena de pugilato”. (p. 22) 85 Dunshee de Abranches casou-se com D. Maurina Porto Dunshee de Abranches, filha do filantropo José Maria da Silva Porto; tiveram seis filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini (in ABRANCHES, Dunshee. GARCIA DE ABRANCHES, O CENSOR (O Maranhão em 1822) – Memória histórica. São Paulo: Typographia BrasilRothschild, 1922, p. 157-158). 86 ABRANCHES, Dunshee de. A ESFINGE DO GRAJAÚ. São Luís: ALUMAR, 1993 87 Na primeira década do século XX, dentre os vultos notáveis do Congresso Legislativo do Estado, consta o nome de Dunshee de Abranches – descendente do grande João Antonio Garcia de Abranches, cognominado ‘O Censor’, o sangue jornalístico do velho Garcia se transmudou para o neto ilustre. Uma
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Foi professor de Ciências Física e Naturais, de Anatomia e Fisiologia, de Direito Público e agraciado com o título de Professor Honorário da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde recebeu a mais alta condecoração da Cruz Vermelha Alemã. Em setembro de 1929, chefiou a delegação brasileira à solenidade de lançamento da pedra fundamental da Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Lisieux, França. Na ocasião, falaram apenas três oradores: o Cardeal Charost, representante do Papa Pio XI, George Goyau, da Academia Francesa, e Dunshee de Abranches88. extraordinária cultura, dono de uma das mais vastas Bibliografias de que se tem notícia, só rivalizando com ele o não menos extraordinário Coelho Neto. Iniciou sua carreira política no Partido Republicano de Benedito Leite, elegendo-se deputado estadual em 1904. Espírito irrequieto, polemista notável, foi a maior figura da legislatura que integrou no Congresso Maranhense. Para aquela 5ª. Legislatura do Congresso maranhense - 1904/1906 – elegeram-se todos os candidatos de Benedito Leite, não tendo a casa nenhum representante oposicionista. As eleições realizaram-se a 06 de dezembro de 1904, com a recondução de muitos parlamentares pelas suas sólidas bases eleitorais garantidas por um sistema de governo que reagia mecanicamente ao comando do Senador Benedito Leite. Todavia, novos nomes iriam figurar naquela casa, dentre esses se destacaria o afamado polígrafo João Dunshee de Abrantes Moura. Dunshe de Abranches teve 14.807 votos, elegendo-se com a 21ª. Votação. Não participou dos trabalhos daquele ano, mas em 1905 foi o Deputado que praticamente tomou as atenções da Casa, quer por seus trabalhos nas Comissões, quer pelos projetos e discursos proferidos, quer pelos fulminantes apartes dados em seus colegas, chegando a participar da mesa diretora, como terceiro suplente. Numa de suas intervenções, afirma existindo na casa algumas duplicatas de eleições para as Câmaras Municipais, solicitando nomeação de Comissão – a quem coube a relatoria – para apresentar parecer sobre aquelas duplicatas. De seu Relatório, foram anuladas as eleições de Cajapió, Balsas e São João dos Patos. Nessa legislatura, sem dúvida a questão dos limites entre os municípios de Alto Itapecurú e Barra do Corda demandou um amplo estudo, apresentando projeto de lei onde ficaram delimitados os marcos e as linhas a serem fixadas pelo Governo, pondo fim aquela querela que vinha de longo tempo. De seus inúmeros pronunciamentos, o tema que mais debateu refere-se à situação da Instrução Pública, assunto de sua permanente preocupação. Na legislatura seguinte – 1906 – não mais fazia parte da Mesa Diretora, requerendo licença para se ausentar da Capital. Da sexta legislatura, destacaram-se os Deputados Dunshee de Abranches, José Barreto e Clodomir Cardoso; é a partir de 1907 que as Oposições maranhenses tomam posição de combate ao regime de Benedito Leite, há 14 anos governando, ora por prepostos, ora diretamente. Em 09 de dezembro de 1906, novas eleições para a renovação do Congresso Legislativo do Estado e Dunshee de Abranches se reelege no grupo situacionista com a 15ª. Votação, com 10.523 votos. A Oposição elegeu seis deputados, dos 30. Dunshee de Abranches, quando da eleição da Mesa, informa à Presidência da Casa de que não poderia se fazer presente por motivo de moléstia, o que foi lamentado pelo jovem Deputado Clodomir Cardoso (então com 28 anos), que iria desforrar suas mágoas sobre seu colega Dunshee de Abranches, acerca de pronunciamento que fizera ser o Pará, melhor que o Maranhão. Em 1909, ocorreram as eleições para Deputados Federais, e na fórmula ainda traçada pelo falecido Governador Benedito Leite, elegeram-se: para o Senado, o Dr. José Eusébio de Carvalho Oliveira. Para Deputados Federais, Francisco da Cunha Machado e Dunshee de Abranches. Apresentou relatório, nessa legislatura, enviando projeto de lei que fixava a Força Pública para o ano seguinte. In COUTINHO, Milson. O PODER LEGISLATIVO DO MARANHÃO – 1830/1930. São Luís: Assembléia Legislativa do Maranhão, 1981, p. 247-294. 88 Dunshee de Abranches proclamava-se ateu em sua juventude, convertendo-se ao catolicismo na maturidade. Contradição que, segundo Moraes (em O humanista Dunshe de Abranches, in O ESTADO DO MARANHÃO, 21 de maio de 2008, p. 6, Caderno Alternativo) qualificava-o para representar o Brasil, já católico fervoroso, à solenidade de lançamento da pedra fundamental e pronunciar o seguinte discurso: Oração Estas palavras deveriam ser pronunciadas de joelhos! Não é somente um humilde cristão, que se vem postar diante da grande Santinha, cuja intercessão fez em sua família uma cura maravilhosa e uma verdadeira ressurreição, verificados por dois médicos celebres nada crentes, e atestadas por um apóstolo ilustre da Igreja, o Padre Rubilon, evangelista
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Escritor, Jornalista, Político Maranhense. Ensaísta, Pesquisador, Memorialista. Intelectual, Ativista, Produtor Cultural. Idealista. Visionário. Dunshee de Abranches foi sócio de diversas instituições sociais, culturais e de classe de seu tempo, dentre outras, Ordem dos Advogados do Brasil, de que foi membro do Conselho Federal e do Instituto dos Advogados. Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI 89. Patrono da Cadeira 40, da Academia Maranhense de Letras. dedicado da sublime doutrina da terna Flor do Carmelo em meu país. É o Brasil católico, posso dizer, o Brasil inteiro, que eu represento neste instante, porque todos os brasileiros são servos fiéis de Deus; é a minha Pátria, ela mesma que junta a sua voz a este concerto magnífico de preces que, de todos os cantos do Universo, convergem para a França, a terra predestinada dos Santos, para exaltar as graças na pequenina, mas, sem dúvida, a mais brilhante das estrelas do firmamento da Igreja. Santa Teresa de Lisieux, dizem na minha terra, é a Santa dos Brasileiros. Ela é também a padroeira bem-aventurada de toda a America do Sul. No Brasil, sobre um vasto território, quinze vezes maior que a França, não há um só lugar, onde, pelas cidades e pelas aldeias, através das florestas virgens, a influencia de nossa Santinha não se tenha feito sentir por favores extraordinários. Um dia, de sua diocese, situada bem longe dos centos civilizados, D. Alberto, o bispomissionário, pediu-me uma estátua da celeste Carmelita para a sua Catedral. No dia seguinte ao da chegada de seu destino, todos os alunos de uma escola protestante abandonaram o professor para se dirigir ao Catecismo. Desde este momento, a chuva de rosas não cessou de cair sobre essas longínquas regiões. A inauguração do altar da Santa foi celebrada por mais de 17.000 comunhões! No Rio de Janeiro, já possuímos a soberba Basílica de Santa Teresa do Menino Jesus, benta, o ano passado, por D. Sebastião Leme, mui justamente cognominado pelo povo – o Arcebispo da Eucaristia. Em São Paulo, outro templo monumental se levanta. E, por todos os Estados Brasileiros, vê-se sempre nas igrejas, nas capelas e nos lares dos ricos e dos pobres, ao lado do Sagrado Coração de Jesus, a imagem sorridente de sua pequenina esposa do Carmelo. Esta basílica, cuja primeira pedra hoje colocamos, será sem dúvida a cidadela invencível de todos os missionários do mundo. De suas muralhas inexpugnáveis, brancas e imaculadas como a Hóstia, partirão bem depressa, em massa, os pregadores predestinados, os novos evangelistas do Amor de Jesus! Senhores, basta de ilusões inúteis! Basta de vaidades efêmeras! Somente o Amor de Jesus, só ele, poderá realizar o supremo ideal dos povos contemporâneos - A PAZ UNIVERSAL! Santa Teresa do Menino Jesus! O Brasil, a terra de Santa Cruz, está a vossos pés! Salve! (Tradução portuguesa da oração que foi proferida em francês). In MEIRELES, Mário Martins; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; VIEIRA FILHO, Domingos (org.). ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 124125. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia). 89 Ao assumir a presidência da Associação, gozava de boa fama como jornalista, advogado e político (deputado federal à sombra do Barão do Rio Branco). Admirador do modesto confrade Gustavo, foi ele quem lhe trouxe, de uma viagem à França, os dados essenciais para o estabelecimento da Associação (leis e regulamentos de entidades semelhantes e sindicais). João Dunshee de Abranches Moura foi empossado na Presidência da ABI em 13 de maio de 1910, com o apoio integral do grupo que controlava a Associação e prometendo defender a liberdade de pensamento a qualquer custo. Em 1911, foi reeleito para mais dois anos de mandato. Durante sua administração, várias providências foram tomadas, como a reforma estatutária, a mudança de nome para Associação de Imprensa dos Estados Unidos do Brasil, a criação da biblioteca e do cargo de bibliotecário, de congressos de jornalistas, e de um Tribunal de Imprensa, destinado a julgar conflitos da categoria. No mesmo período, foram instituídos a carteira de jornalista, como instrumento de identidade e do exercício efetivo da profissão; o distintivo de sócio, e um fundo de auxílio funeral. A Associação ganhou uma sede modesta no primeiro andar de um prédio da Avenida Central (atual Rio Branco), na esquina com a Rua da Assembléia. Devem-se a Dunshee os primeiros projetos da Escola de Jornalismo, reivindicação dos fundadores da ABI. Também lhe ficamos obrigados pela mudança do Estatuto corporativo. Ocupado com afazeres oficiais e particulares, Dunshee renunciou ao cargo. Fora abolicionista, estudava História e Ciência Política e dedicava-se à música. Escreveu dezenas de livros. Dele é o pensamento: "Os jornais, de fato e de direito, constituem uma força preciosa, necessária e bem organizada para encaminhamento e solução dos mais sérios e importantes problemas sociais" (1911). A diretora-proprietária do Jornal do
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Não deve ser confundido com outros “Dunshee” ilustres. Faleceu em Petrópolis, em 11 de março de 1941, com 74 anos de idade. Escreveu dezenas de obras 90 entre as quais, “A Setembrada”, “Garcia de Abranches - O Brasil e antiga associada, Condessa Maurina Pereira Carneiro, era filha de Dunshee de Abranches. In ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Disponível em http://www.abi.org.br/; SIGISMUNDO, Fernando. Os 95 anos da ABI. In OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/ 90 Bibliografia de Dunshee de Abranches Moura: 01. ‘Sou a Revolução’, discurso: São Luís, 1883. 02. ‘Selva’, poesias. Tipografia Frias: São Luis, 1885. 03. ‘Transformações do Trabalho’, memória. São Luís: Tip. Pacotilha, 1888. 04. ‘Pela Paz’, poemas. Rio [de Janeiro]: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 05. ‘Cartas de um Sebastianista, sátiras em verso. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 06. ‘Memórias de um Histórico’, 2 vols. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 07. ‘Crítica de Arte’ – o Salão de 1896’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 08. ‘Como se faz o Jornal do Brasil’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 09. ‘Papá Basílio’, romance sob o pseudônimo de Ferreira de Andrade. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1898. 10. ‘O ano negro da República’, retrospecto político. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1889. 11. ‘O 10 de abril’, narrativa histórica. Rio de Janeiro: Of. de ‘O Dia’, 1901. 12. ‘Institutos equiparados’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 13. ‘Exames Gerais de Preparatórios’, inquérito. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 14. ‘Ensino Superior e Faculdades Livres’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905 15. ‘O Tratado de Bogotá’, memória histórica. Rio de janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 16. ‘Atos e Atos do Governo Provisório’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 17. ‘Reforma da Justiça Militar’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 18. ‘Tratados do Comércio e navegação do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909. 19. ‘Necrológio Político do Dr. Benedito Leite’. São Luís: Tip. Frias, 1909. 20. ‘A Lagoa Mirim e o Barão do Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 21. ‘Limites com o Peru’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 22. ‘Associação de Imprensa’, relatório. Rio de janeiro: Tip. Do Jornal do Comércio, 1911. 23. ‘Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1911. 24. ‘O Brasil e o Arbitramento’. Rio de Janeiro: Tip. Leusinger, 1911. 25. ‘O maior dos Brasileiros’, defesa póstuma de Rio Branco. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1912. 26. ‘Pela Itália’, impressões de viagem. Barceloa, Imprenta Viúva de Luis Tasso, 1913. 27. ‘Lourdes’, conferencia. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1914. 28. ‘A Conflagração Européia e suas causas’. Rio de Janeiro: Tip. Jornal do Comércio, 1914. 29. ‘Em torno de um discurso’, entrevista. Rio de janeiro: Tip. Almjeida Marques, 1914. 30. ‘A administração da República e a obra financeira do Dr. Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 31. ‘O A.B.C. e a Política Americana’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 32. ‘Expansão Econômica e Comércio Exterior do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 33. ‘Brazil and a Monroe Doutrine’, memória. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 34. ‘A Inglaterra e a Soberania do Brasil’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1915. 35. ‘A cultura do arroz e o protecionismo político’, memória. São Paulo: 1916. 36. ‘Código Penal Militar’, projeto de lei. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 37. ‘A Black-list e o Projeto Dunshee’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 38. ‘Ainda a Black-list’, carta ao Presidente da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 39. ‘A Alemanha e a Paz’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques & Cia, 1917. 40. ‘Contra a Guerra’. Rio de Janeiro: Tip. da Rev. dos Tribunais, 1917. 41. ‘A Ilusão brasileira’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917. 42. “Candidaturas Presidenciais – Rui e Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Tip. Da Revista dos Tribunais, 1917.
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Censor”. Encontra-se na Estante do Escritor Tocantinense, da Biblioteca Pública, do Espaço Cultural de Palmas.91. Dunshee de Abranches fez poesia92, ensinou Direito na Alemanha, escreveu romances, militou na imprensa, exerceu mandatos políticos e foi, acima de tudo, memorialista de um longo período da vida maranhense e brasileira93. Dentro da tradição desta Casa, de se apresentar este elogio do Patrono da cadeira que se assume, procurei destacar alguns eventos pouco explorados na biografia desse ilustre maranhense: o de ‘sportman’. Ainda dentro da tradição, reportar-me-ei, em breves palavras, aos ocupantes anteriores desta Cadeira 40, que ora assumo:
43. ‘Governos e Congressos da República – 1899-1917’. São Paulo: Tipografia Brasil, 1918. 44. ‘Garcia de Abranches, o Censor – O Maranhão de 1822’. São Paulo: Tip. Rotschild & Cia, 1922. 45. ‘Companhia Brasileira Comercial e Industrial’, relatórios. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 19231927. 46. ‘O Tratado de Versailles e os alemães no Brasil’. Rio de Janeiro: Casa Vallele, 1924. 47. ‘Minha Santa Teresinha’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 48. ‘Dois sorrisos de Maria’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 49. ‘A Setembrada’, romance histórico. Rio de janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1933. 50. ‘Rio Branco e a Política exterior do Brasil’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Of. Gráfica do Jornal do Brasil, 1945. 51. ‘O Golpe de Estado – Atas e atos do Governo Lucena’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica do Jornal do Brasil, 1954. Dunshee de Abranches deixou ainda, muitas obras inéditas, algumas publicadas em jornais e revistas; traduziu ‘o Crime do Congo’, original de Conan Doyle, e o seu ‘O maior dos Brasileiros’ foi traduzido para o castelhano por Melo Carvalho (El mas distinguido de los brasileños – Imprensa Nacional, Rio, 1913); vários de seus trabalhos foram objeto de mais de uma edição. Sob o pseudônimo de Eurico, o Cirineu, escreveu, ainda, ‘A Ilusão Brasileira’ em séries denominadas de ‘o Livro Negro’, ‘O Livro Verde’ e ‘O Livro Branco’. in MEIRELES, Mário Martins; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; VIEIRA FILHO, Domingos (org.). ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 122123. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia: GASPAR (1993) refere-se a 165 obras. Ainda, que sua produção jornalística, pode-se constatar ser ela a maior de todas as que nos legou, haja vista que somente trilhando esse caminho, conforme de refere Gaspar (1993), encontraria espaço para difundir e polemizar suas convicções políticas, voltadas marcadamente para as lutas abolicionistas e republicadas. Colaborou com diversos periódicos de São Luís, e pelo Brasil afora, sempre fiel a seus princípios morais e doutrinários. Foi colaborador, dentre outros, do Federação de Porto Alegre, a República do Pará, A Federação de Manaus, Jornal do Brasil, A Notícia, Jornal do Comércio e O País, do Rio de Janeiro. Muitas das vezes, usava pseudônimos. 91 MARTINS, Mário Ribeiro. DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO DO TOCANTINS. Rio de Janeiro: MASTER, 2001. 92 “Polígrafo, e como todo intelectual da época, poeta, interessado pelas coisas da Ciência e do espírito... No começo do século, já tendo escrito os poemas Selva, Cartas de um Sebastianista e Pela Paz, embora fora do Maranhão, toma conhecimento da existência, na província, da sociedade literária Oficina dos Novos e da Renascença Maranhense... Também de importância histórica... a presença de Dunshee de Abranches é forte o suficiente para que o poeta não fique no ouvido e seja também lembrado pelos historiadores, críticos literários e poetas que tiverem interesse pela ‘legião dos atenienses’...” in ASSIS BRASIL (org.). A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX (ANTOLOGIA). Rio de Janeiro: Imago; São Luís: SIOGE, 1994, p. 49-51 93 FREITAS, Joseth Coutinho Martins de. CADEIRA DE No. 40 – PATRONO: JOÃO DUNSHEE DE ABRANTES MOURA. IN CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 185-188.
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JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA RIBAMAR PEREIRA94 – nascido em São Luís em 17 de setembro de 1897, filho do Dr. Alcides Jansen Serra Lima Pereira (advogado) e da poetisa Cristina dos Santos Pereira. Fez seus estudos primários no Instituto Nina Rodrigues, passando depois para o Instituto Maranhense, dirigido pelo Professor Oscar de Barros e, em seguida para o Colégio dos Maristas, realizando exames de preparatórios no Colégio Pedro II da Bahia de Salvador. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará em 1925, tendo sido orador de sua escola em todas as solenidades, inclusive nas comemorações do 11 de Agosto (instituição dos Cursos Jurídicos no Brasil). Como orador da Liga Nacionalista falava todos os domingos em praça pública. Em maio de 1920, como sorteado, serviu no 26º. Batalhão de Caçadores, acantonado em Belém, passando a trabalhar na Escola Regimental, que organizou e dirigiu. Fez, na terra guajarina, sua formação espiritual, colaborando intensamente na ‘Folha do Norte’, com Paulo Maranhão; no ‘Estado do Pará’, com Santana Marques e Arnaldo Lobo; no ‘Imparcial’ com Djard de Mendonça e Adamastor Lopes; na “Evolução” com o senador Fulgêncio Simões; e na Revista ‘Guajarina’. Regressando a São Luís, passou a advogar com seu pai, sendo sucessivamente nomeado Colaborador, Praticante e Terceiro Escriturário do Congresso do Estado; Assistente Judiciário ao Proletariado; 2º. Promotor Público da Comarca da Capital. Por treze anos foi consultor jurídico da Caixa de Aposentadoria e Pensões de Serviços Públicos dos estados do Maranhão e Piauí; exerceu o cargo de 1º. Promotor Público da Comarca de São Luís. Em 1924, quando acadêmico, exerceu o cargo de professor de Geografia e História do Brasil, do Curso Ginasial do Liceu Maranhense e, em 1926, de abril a outubro, o cargo de professor de Literatura Brasileira do mesmo estabelecimento. Já formado, lecionou História do Brasil no Ateneu Teixeira Mendes, no Colégio São Luís de Gonzaga, na Academia de Comércio do Maranhão e na Escola de Agronomia, tendo sido um dos fundadores destes dois últimos estabelecimentos. Foi redator da ‘Folha do Norte’ e colaborou em ‘O Dia’, “Correio da Tarde’, ‘Tribuna’, e ‘Revista do Norte’, assim como no ‘Jornal Pequeno’, de Recife, ‘A Tarde’, da Bahia, e ‘Tribuna’, de Santos. Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, OAB-MA, e Associação Maranhense de Imprensa. Publicou: Discursos Acadêmicos (Faculdade de Direito do Pará); Os dez mandamentos do Operário; Duas Teses (concorrendo a cadeira de literatura do Liceu Maranhense); Alma - livro de versos, com a qual entrou para a Casa de Antonio Lobo. Autor de 214 produções musicais escreveu o Hino a Bandeira Maranhense. Foi presidente de honra da União Artística Operária Caxiense
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IHGM – livro de anotações de Sócios Efetivos, p. 39-39v, (s.d). CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 187 95
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SILVA FERREIRA nasceu em 03 de janeiro de 1910, nesta cidade de São Luís. Filho de José Vicente Ferreira e Delfina Maria da Silva Ferreira. Casado com Eulina Gomes Duarte Ferreira deixou três filhos: José de Ribamar da Silva Ferreira (médico), Fernando José Duarte Ferreira e Antonio José Duarte Ferreira (ambos, advogados). Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito de São Luís, especializando-se em Direito do Trabalho. Foi funcionário do Ministério da Agricultura; exerceu a advocacia defendendo diversos sindicatos classistas, patronais e de empregados, além de representar inúmeras firmas - Varig, Singer, Lojas Brasileiras, Abraão Skeff, J. Aquino Alencar, e outras. Exerceu a função de jornalista. Foi também Juiz do Tribunal Eleitoral e professor universitário. Faleceu a 25 de julho de 1985. PEDRO RATIS DE SANTANA96 Nascido em São Luís em 26 de abril de 1906. Foi membro da Polícia Militar, galgando os postos de Cabo até Capitão, patente em que se reformou. Fundou o Clube de Sargentos da Polícia Militar. Deve-se destacar que foi o primeiro Oficial da corporação a ter nível superior. Bacharelou-se em Geografia e em História, pela Faculdade de Filosofia de São Luís. Exerceu diversos cargos: Diretor do Liceu Maranhense, do Colégio Municipal Luis Viana, do Ensino Médico do Município (sic), e membro da Comissão Executiva da ADESG – Delegacia do Maranhão. Como Professor, exerceu o magistério nos colégios Batista, Cardoso de Amorim, São Francisco de Assis. Pesquisador publicou inúmeros trabalhos em jornais e revistas, colaborador ativo da Revista do IHGM. Jornalista manteve no Jornal Pequeno uma coluna – Gotas de Luz -, mesmo nome de programa que mantinha na Rádio Timbira. Palestrante se manifestava quando das comemorações de nossas datas históricas. Homem de Fé desenvolveu verdadeira ação religiosa e social na Penitenciaria de Pedrinhas - foi uma das maiores autoridades presbiterianas em São Luís, um dos fundadores da Igreja Presbiteriana do Vinhais. Escritor deixou publicado o livro “Problemas Sexuais à luz da Bíblia e da Ciência” e inédito “Estudos sócio-políticos e geográficos do Maranhão”. Faleceu em 16 de janeiro de 1990, nesta cidade. Obrigado, Senhores membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, pela convocação para essa missão que almejo cumprir com amor e dedicação. Obrigado, caros confrades, por me acolherem para prosseguirmos, juntos, na grande obra iniciada por Antonio Lopes. Obrigado, Senhoras e Senhores, pela muita paciência para ouvir-me... Obrigado...
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CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 187-188
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RECEPÇÃO DE JOÃO FRANCISCO BATALHA DISCURSO PROFERIDO POR JOSÉ RIBAMAR FERNANDES, NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, NO DIA 28 DE JANEIRO DE 2009.
Ilustrada Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, ilustres diretores e diretoras, confreiras e confrades, senhoras e senhores convidados. Cumprindo a praxe regimental, tenho a honra de saudar em nome de todos, o ingresso do pesquisador João Francisco Batalha nesta Casa de Cultura, cujo discurso de posse acabamos de ouvir, fazendo-nos constatar, nesse seu pronunciamento inaugural, o percuciente tratamento biográfico dado por ele ao seu patrono, o ínclito brasileiro do Maranhão, o Visconde Luís Antônio Vieira da Silva. Mostrou ainda o novel imortal não ser um neófito ao lidar com as sutilezas e peculiaridades que envolvem as matérias objeto dos estudos deste sodalício. Com efeito, pelo prisma histórico, o cidadão ora acolhido neste pórtico há decênios se dedica à pesquisa do passado do seu chão de origem – pesquisas que vem publicando em jornais, revistas e livros, além do que o faz merecedor de grande mérito: o seu trabalho como ambientalista, por fazer apaixonada defesa de um dos maiores rios do Maranhão, o Mearim, com seu lagos e igarapés, rio que passa pela sua gleba-berço, nascido de um buritizal que bem conheço, pois, pioneiramente, o fotografei localizado no agreste, vindo a desaguar já próximo ao temível Boqueirão, já na baía de São Marcos.
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Assim, a paulatina degradação do Mearim, direcionamento primordial da preocupação ecológica de João Batalha, vem sendo objeto de suas denúncias constantes, feitas até em simpósios nacionais, sempre tentando alertar as populações ribeirinhas e as autoridades responsáveis sobre as agressões perpetradas pelo ser humano, seu maior algoz, contra aquela formidável corrente de água potável, agressão que já ocorre com outros rios maranhenses, a exemplo do Itapecuru. Pioneiro dessa luta preservacionista, seus escritos de protesto e clamor sobre esse tema vêm sendo observados, de perto, por outros lutadores do bem, contaminados pela sua acirrada defesa daquele imenso veio d`água, que tantos benefícios proporciona a grande parte da população do nosso território – defesa que, de tão intransigente, por muitos incautos é tida como fruto de devaneios. A luta deste novo membro do IHGM vem ganhando a adesão não somente de pessoas das cidades da bacia mearínica, mas também de gente de outras plagas, interessadas na preservação do planeta, eu me incluindo nessa campanha altruísta, pois, para tanto, elaborei o livro “O rio”, minha modesta colaboração ao ecossistema da região. Senhoras e senhores! Sou testemunha e partícipe do trabalho nas letras do ora confrade João Francisco Batalha. Quando éramos bem jovens, fundamos um grêmio cultural, nos anos sessenta e, junto com outros devotados companheiros, escrevíamos e divulgávamos o jornal Vanguarda, de cunho social, no qual, com nossas mentalidades de moços voltados para as boas causas, procurávamos impor as nossas idéias e propugnávamos pela melhoria dos costumes sociais e políticos de nossa terra natal, o município de Arari, com suas carências e deficiências, semelhante a tantos outros municípios do âmbito nordestino. Foi uma experiência enriquecedora. Depois, juntos, ingressamos na Maçonaria, coincidentemente no mesmo dia, sem que o soubéssemos, e ali procuramos desincumbir-nos da nossa missão de solidariedade humana, tentando “edificar templos às virtudes e masmorras aos vícios”. Ainda nessa importante senda filantrópica, fundamos e passamos a integrar a Academia Maçônica Maranhense de Letras – agremiação que, junto conosco, vem cumprindo o seu nobre propósito. Já no ano de 2003, fundamos a Academia Arariense-Vitoriense de Letras, com outros dedicados companheiros, e passamos a atuar no seu corpo diretivo. Pioneira regional, essa academia vem dando um considerável impulso à inteligência das duas cidades, por meio de suas reuniões, do seu jornal, de sua revista e dos livros que vem publicando. Seleto auditório, João Francisco Batalha nasceu na Tresidela do povoado Bonfim, em Arari, a 08 de julho de 1944. Nasceu, portanto, em meio bucólico, nos lindos campos, ora alagados nos invernos rigorosos, ora secos e cheios de torroadas nos tempos de estiagem – campos de pastagens, de roças, sobrevoados por lindas aves, de vários matizes, onde sobressaiam as graúnas e os bem-te-vis. É filho dos ruralistas João da Silva Batalha e Joana Prazeres Batalha. Estudou nas escolas paroquiais em Vitória do Mearim e em Arari e concluiu o antigo curso médio em São Luís. Frequentou os cursos de História, na UFMA; e Jornalismo, da Faculdade São Luís; e é diplomando em Recursos Humanos. Foi funcionário da Caixa Econômica Federal e gerente de algumas de suas agências, cargo em que se jubilou. Para não alongar o seu currículo, no tocante às letras, diremos apenas que desde abril de 1966 João Batalha vem se dedicando a extensa colaboração jornalística nos jornais Vanguarda, Folha Democrática, O Combate Arariense, de Arari; Jornal da AVL,
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de Arari e de Vitória do Mearim; O Imparcial, O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno e Jornal Atos e Fatos, de São Luís; Trabalhismo em Movimento, de Brasília; A Trolha, de Londrina – Paraná e Gazeta Maçônica, de São Paulo. É jornalista registrado na Delegacia Regional do Ministério do Trabalho, associado à Associação Brasileira de Imprensa e Membro das Academias Maçônicas de Letras, maranhense, brasileira e internacional e, como já dissemos, da Academia Arariense-Vitoriense de Letras. Publicou os livros: Conheça Arari, em 1981; Navegadores do Mearim e os Marítimos de Arari, em 2002; O Passageiro da Aurora e Mearim, vida e morte de um gigante, em 2005, além de vários opúsculos. Como se evidencia, a maior parte de sua obra publicada, até aqui, prende-se ao Arari e ao rio Mearim, epicentros do seu trabalho literário. Agora, como vimos, João Batalha parte para nova empreitada. Ingressa, com todo merecimento, nesta Casa de Antônio Lopes, que contribui para manter acesa a chama das nossas tradições de cultura – Casa de um passado altaneiro e de permanente vontade de exercitar e fazer eclodir as potencialidades dos seus integrantes, de destacada atuação durante a sua longa trajetória, que já assessorou projetos governamentais no passado, atinentes às áreas de sua especialização científica, e hoje mantém a sua performance, sob a competente presidência da ilustrada professora Eneida, respaldada pela sua Diretoria, em que pese a falta de participação de muitos dos seus associados – não estes que estão aqui presentes – mas aqueles que se deixaram vencer pelo desânimo ou desinteresse para com os valores espirituais que devem nortear os seres humanos ativos, ainda em processo de evolução mental. Desse modo, Sr. João Francisco Batalha, V. Sa. passa a fazer parte, hoje, desta egrégia entidade, que modestamente cumpre as suas programações, driblando as dificuldades, que não se descura de suas reuniões mensais, de Diretoria e de Assembléia Geral, quando cada um se faz ouvir, são lidos os trabalhos dos associados e proferidas palestras alusivas às datas históricas e de interesse geral. Sua Revista vem sendo editada na medida do possível, e livros são lançados pelos seus membros; mas esta sua sede, infelizmente, para os dias de hoje, não está bem localizada: para acessá-la, os extensos lances de suas escadas constituem um desestímulo aos sócios mais idosos, como este que vos fala, impondo-se a sua transferência para o bem localizado prédio da Rua do Sol, já cedido, em comodato, desde o Governo de João Alberto de Sousa. Senhoras e senhores! É com orgulho e entusiasmo que vimos assistindo, nos últimos tempos, ao ingresso nesta instituição de personalidades do mais alto coturno, competentes e conceituados, homens e mulheres que, em aqui tendo ingressado, por certo darão a sua parcela de contribuição para elevá-la à merecida culminância. É o que sempre se espera. Além desse pretendido reforço promissor, outras esperanças surgem, como ocorre com o empossado de hoje, assim como a expectativa da futura e próxima vinda de outros estudiosos eminentes, que já têm dado mostras de dinamismo nos centros culturais dos quais fazem parte, que em breve estarão conosco, tomando posse, os intelectuais Manoel dos Santos Neto, Washington Cantanhede e Antônio Rafael da Silva que, temos certeza, muito contribuirão para a grandeza deste organismo. Com essa injeção energética que está recebendo, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão sentir-se-á mais apto para atender aos anseios dos novos tempos, oferecendo aos interessados que o procurarem o necessário respaldo cultural, cumprindo seu desiderato, como veículo utilitário de propagação da história, da geografia, da ecologia, da fisiologia social e ciências afins, uma porta aberta ao saber.
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Neste instante de ingresso de V. Sa. neste augusto templo do conhecimento, caro companheiro, diremos, enfim, que será nobre a sua missão entre nós, missão que exige dedicação, mas que será recompensada com a satisfação íntima que terá ao reconhecerse útil, contribuindo para o progresso do mundo, para torná-lo mais saudável, em benefício de todos. Nós o recebemos, neste feliz ensejo, com alegria e fraternidade. Seja bem-vindo, confrade João Francisco Batalha.
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ELOGIO DE VISCONDE DE VIEIRA DA SILVA DISCURSO PROFERIDO POR JOÃO FRANCISCO BATALHA NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, NO DIA 28 DE JANEIRO DE 2009.
Leopoldo Vaz, José Fernandes, João Batalha, Eneida Óstria de Canedo, Dilercy Adler, e Raimundo Meireles
Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Confrades, confreiras, autoridades presentes e representadas. Senhoras e senhores, Nasci no interior do Arari, à beira do Mearim, onde as ondas da Pororoca – hoje, atração turística e desafio para jovens surfistas com suas pranchas e suas manobras espetaculares - continuam a provocar a argúcia dos que tentam explicar o fenômeno. Nesta já longa jornada da vida, sem jamais perder de vista o espetáculo daquela luta incessante do rio contra o mar, que me acompanham desde os meus primeiros dias, percorri caminhos, trabalhei no campo e depois cedi ao fascínio da cidade, da vida urbana, em meio à qual constituí família, tive filhos, plantei árvores e escrevi livros.
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Que honra poder chegar hoje a esta Casa, na condição de convidado, para juntarme a esta confraria de tantas e tão gloriosas tradições! Chego conduzido pelas mãos generosas de José de Ribamar Fernandes, afiançado pelos demais membros deste sodalício, plenamente convencido do significado e da importância desta data para a minha vida. Além da honra e do privilégio de atravessar estes umbrais, tenho a alegria de poder aqui reencontrar velhos companheiros e amigos, como Osvaldo Rocha, Joaquim Elias Filho e Lima Coelho, irmãos de Maçonaria e confrades da Academia Maçônica Maranhense de Letras; Josemar Bezerra, companheiro da ADESG; e Antônio Rufino; amigo da SOAMAR. Reencontro aqui figuras eminentes da cultura, da história e do jornalismo maranhense, dos quais sou admirador há muitos anos: Sebastião Jorge, Benedito Buzar, Kalil Mohana, Ribamar Seguins e Ilzé Cordeiro; e muitos outros, representantes do nosso interior maranhense, entre os quais o confrade Vavá, titular da Academia Sãobentuense de Letras. Neste ambiente, vou, com certeza, ampliar meus conhecimentos, dilatar meus horizontes e consolidar e construir amizades, numa convivência fecunda e construtiva. Senhora Presidente Senhores historiadores, Investindo-me na Cadeira 23 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sou mais um arariense nesta casa, por onde passou José Silvestre Fernandes e, com muita sabedoria e prudência, transita José Ribamar Fernandes, dois expoentes da nossa cultura, polígrafos fecundos de invejáveis conhecimentos, que enobrecem e orgulham a terra arariense. Estou consciente da responsabilidade que importa ter o meu nome entre os vossos nomes, integrando-me a esse radiante painel de homens cultos, devotados à pesquisa, ao conhecimento, às coisas do espírito, à cultura do Maranhão. Tudo farei para corresponder à confiança de todos e honrar o nome desta instituição quase centenária. Para minha maior honra e alegria, a cadeira que passarei a ocupar é patroneada por um dos homens mais ilustres da história do Maranhão, Luiz Antônio Vieira da Silva, o Visconde de Vieira da Silva, de cuja grandeza sempre tive conhecimento, principalmente por sua atuação no âmbito da Maçonaria, onde foi Grão-Mestre Nacional, e no Senado da República, onde teve atuação cívica destacada. Filho do maranhense Joaquim Viera da Silva, Luís Antônio nasceu em FortalezaCeará, em 02 de outubro de 1828. Ainda criança, veio morar no Maranhão. Seu pai figura de proa do Império, foi juiz, político, deputado geral, senador, presidente das províncias do Maranhão e do Rio Grande do Norte e ministro do Supremo Tribunal de Justiça. Maçom militante pertenceu à famosa sociedade dos Jardineiros, ordem maçônica reformadora, que atuava e tinha como pátria Coimbra; cidade de memoráveis tradições estudantis elevadas histórias de cultura e, nessa condição, fundou, em São Luís, a Loja Maçônica Vera Cruz.
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Como o pai, Luís Antônio também foi político, maçom e estadista, dominava, além da poesia, o jornalismo e a história. Tão logo concluiu o curso primário, no Rio de Janeiro, seguiu para a Alemanha, onde estudou na Universidade de Heidelberg, no Grão-Ducado de Baden, tendo se formado em leis Cânones. De lá retorna ao Maranhão, onde foi investido na função de Secretário de Governo do Estado e diretor de terras públicas. Aqui, entre nós, dedica-se à advocacia e à política, sendo eleito deputado para a Assembléia Provincial. Posteriormente, para a Assembléia Geral. Em 1867 se elege, novamente, deputado à Câmara Geral. Entre os anos de 1869 e 1870, exerce a Presidência da Província do Piauí. Em 1871 toma posse no Senado Federal pela Província do Maranhão; em 1876 é eleito vice-presidente da Província do Maranhão. Em 1885, o Conselheiro Luís Antônio Vieira da Silva é eleito, pela Maçonaria, Grão-Mestre e Grande Comendador do Grande Oriente do Brasil, ao tempo em que seu nome passa a ser inserido na relação dos grandes maçons brasileiros. Em 1888 ocupa a pasta da Marinha. Abolicionista e grande defensor da causa, ante a hesitação de seus colegas quanto à lei que abolia imediatamente a escravatura, é dele a memorável frase: “quero já”, dita com a energia que é própria dos Vieira da Silva, em prol da imediata adoção de medidas que colocassem em liberdade todos os cativos do Brasil. Em recompensa pela sua atuação na abolição da escravatura, é agraciado com o título de Visconde de Vieira da Silva, com honras de grandeza. Como Senador do Império, sobressaiu-se com bravura cívica, abordando questões religiosas, pregando a ética, os bons princípios e o aperfeiçoamento dos costumes. Proclamava respeito à democracia e à autoridade constituída; solidariedade através dos princípios de igualdade, liberdade e fraternidade, os mesmos preceitos da revolução francesa. Grande orador, no Senado, foram famosos seus discursos que, muitas vezes, imobilizavam o interlocutor, tamanho era o poder de suas palavras. Famosos seus discursos em favor da Maçonaria quando, principalmente, provocado por Cândido Mendes, outro grande tribuno, jornalista, jurista, escritor e geógrafo, natural da cidade de Brejo, em nosso Estado, e Patrono da Cadeira nº19 deste sodalício. O jurista brejense foi defensor da Igreja Católica e advogado dos bispos Dom Pedro Maria de Lacerda, do Rio de Janeiro; e Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira e Antônio Macedo Costa, de Olinda e Belém, respectivamente, expoentes intelectuais de sua classe, os quais faziam protestos contra a ordem maçônica e lançavam penas espirituais contra irmandades e ordens que estavam ligadas à Maçonaria ou entregues a maçons. Redator dos jornais “A Situação” e “A Nova Época”, Vieira da Silva escreveu, a título de colaboração, para os periódicos “Instrução e Recreio”, “Jornal das Senhoras” e “Correio de Modas”. Advogado e historiador, em 1862 publica “História da Independência da Província do Maranhão”, e, em 1885, “História Interna do Direito Romano Privado até Justiniano”. A primeira das obras, importante subsídio à história política, econômica, social e literária do nosso Estado e que, pelo seu brilho intelectual, como agente do processo-histórico do Maranhão, se tornou obra clássica e rara em nossa historicidade. A segunda, dirigida à disciplina das relações jurídicas das pessoas; foi, também, o primeiro trabalho do gênero publicado em língua portuguesa.
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Sem o rigor lingüístico e afinado dos ocupantes que me antecederam nesta Cadeira de número 23, devo, também, falar um pouco de cada um. E, para tanto, me valho de publicação do próprio Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, que me fora cedida pela respeitável confreira Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, pertencente a esta ilustre família dos Vieira da Silva. Domingos Antônio de Carvalho, foi o primeiro ocupante. Maranhense de Brejo, foi juiz de Direito na comarca de Rosário e Promotor Público em Barra do Corda. No Estado do Acre, foi Desembargador e presidente do Tribunal de Apelação. Retornado ao Maranhão, foi Diretor de Instrução Pública e fundou o jornal “A Pátria”. Detentor de invejável cultura jurídica e literária, orador fluente e jornalista brilhante, foi também professor de Latim do Liceu Maranhense. Casado com Clurubina Rojas de Carvalho, desse matrimônio nasceu Cid Rojas de Carvalho, brilhante deputado federal pelo Maranhão em seis legislaturas. Nicolau Dino de Castro e Costa, maranhense que se mudou para o Estado do Amazonas e, posteriormente, para Belém do Pará, onde concluiu o curso de Direito e iniciou a carreira jornalística no jornal “Folha do Norte”. De volta ao Maranhão, foi nomeado Promotor da Comarca de Grajaú. Promovido a Juiz de Direito, permaneceu naquela Comarca por muitos anos até quando fora transferido para a capital do Estado, onde, finalmente, foi promovido Desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, de onde foi Corregedor, Vice-presidente e Presidente. Exerceu também o cargo de Presidente do Tribunal Regional Eleitoral e foi professor catedrático da Faculdade de Direito de São Luís. É pai do intelectual, ex-deputado e ex-prefeito Sálvio Dino, que pertence às Academias Imperatrizense de Letras e Maranhense de Letras, e avô do brilhante Deputado Federal Flávio Dino, que foi candidato a prefeito de São Luís nas eleições de 2008. Merval de Oliveira Melo era natural de Tutóia, de onde foi prefeito. Advogado, poeta e exímio orador político, foi Deputado Estadual, tendo participado ativamente da vida social, política e intelectual do Maranhão. Jornalista prestou suas contribuições aos jornais “O Imparcial”, “Vanguarda”, “Folha de Tutóia” e “Jornal de Pinheiro”. Professor universitário, lecionou disciplinas nas áreas de comunicação social, legislação trabalhista e crítica cinematográfica. Foi meu irmão de Maçonaria e Companheiro de Lions Clube Internacional, onde deixou traços permanentes de uma personalidade simples, sabendo, segundo palavras do historiador Eloi Coelho Netto, titular da Cadeira nº. 12 deste sodalício, “transmitir a todos aquela leveza do ser que irradiava confiança nos valores maiores de uma vida”. O patrono da Cadeira 23 deste sodalício soube ser um modelo de político, intelectual e escritor. Além de banqueiro, advogado, deputado provincial, deputado geral, secretário de Governo, ministro da Marinha, fidalgo cavaleiro da Casa Imperial e conselheiro de Estado. Maior estadista maranhense de século XIX foi Comendador da Imperial Ordem da Rosa, Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia de Ciências de Lisboa e da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro. Vulto maranhense dos mais cativantes, faleceu no Rio de Janeiro, em três de novembro de 1889, no exercício do Grão-Mestrado da Maçonaria Brasileira. O bispo de
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São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Pedro de Lacerda, proibi-lhe exéquias fúnebres, em torpe e inaceitável instrumento de vingança e ódio que causou indignação à Maçonaria universal. O senador maranhense que, de forma digna, em célebres pronunciamentos defendeu a separação da Igreja do Estado, deixou riquíssimas lições de ética e cultura nos anais do parlamento brasileiro, valiosos escritos e composições poéticas inéditas, e abriu no cenário da República a discussão da “Questão Religiosa” tão debatida em nosso país no século XIX. O Visconde de Vieira da Silva é Patrono da Cadeira nº 28, da Academia Maranhense de Letras, fundada por Carvalho Guimarães, cujo atual ocupante é o poeta José Chagas. Patrono, também, da Cadeira nº 27, da Academia Maçônica Maranhense de Letras, cujo ocupante e primeiro titular é culto confrade Antônio Sabóia Maia Rabelo. Que falem melhor o Senado da República, o Grande Oriente do Brasil, a Academia de Ciências de Lisboa e Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, que mantêm a lembrança arrebatadora do grande homem público que foi o Visconde de Vieira da Silva. Senhoras e senhores, Como afirmei no início desta fala, tenho a exata noção da responsabilidade de ocupar uma cadeira que tem por patrono personalidade tão representativa da nossa história política e cultural. Vou procurar ser digno desse privilégio, preservando, estudando, exaltando e respeitando os fatos da nossa história, de tantas tradições de cultura e inteligência. Mais uma vez, agradeço a todos pela generosidade da acolhida e pelo apoio que me ofereceram para chegar até aqui. Muito obrigado.
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Excelentíssimas Autoridades Caros Confrades Meus Senhores, Minhas Senhoras. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão foi criado em 20 de novembro de 1925. Idealizado pelo escritor Antônio Lopes da Cunha, que reuniu outros maranhenses ilustres para concretizar sua idéia. Foram eles: Justo Jansen Ferreira, José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson Soares, Benedito de Barros Vasconcelos, José de Abranches Moura, Antônio Lopes da Cunha, Padres: Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes, José Pedro Ribeiro e Ribeiro do Amaral. Elaboraram o primeiro Regimento da Instituição, que conserva até o presente, com ligeiras alterações na redação, os mesmos objetivos. Entre eles: I – Estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia e Ciências afins, referentes ao Brasil e especialmente o Maranhão. II – Cooperar com os poderes públicos que visem o engrandecimento cientifico e cultural do Estado, colocando-se à disposição das autoridades para responder as consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes a suas finalidades. Deixaram esses ilustres maranheses importantes trabalhos sobre o Maranhão. A todos eles a nossa grande homenagem. Desejo prestar uma menção especial ao Comendador Temístocles da Silva Maciel Aranha, brilhante professor de Geografia, além de jornalista e fundador do Jornal “O País, (século XIX), Patrono da Cadeira, nº 44, que ocupo com muito orgulho e ao último ocupante Luiz Cortez Vieira da Silva, embora graduado em Direito, foi professor de Geografia nos estabelecimentos de ensino dos municípios de Codó, Coroatá e Balsas, Escola Técnica de Comércio e no Centro Caixeiral em São Luís (séc. XX)”. Estas homenagens estão sendo antecipadas, uma vez que o dia 29 de maio é dedicado ao Geógrafo e hoje estamos fazendo a apresentação de um Geógrafo - Gilberto Matos Aroucha, para ocupar a Cadeira 13, Patroneada por Raimundo de Souza Gayoso. Gayoso deixou um importante trabalho: “Compêndio Histórico – Político dos Princípios da lavoura do Maranhão”. Eu considero esse trabalho como uma Geografia Agrária do Maranhão, pelo seu conteúdo minucioso sobre os elementos que constituem a Geografia Agrária. É com muito orgulho que faço a apresentação de Gilberto Matos Aroucha, foi meu aluno no curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal do Maranhão, concluído em 1989. Aluno brilhante, correto nas ações e um estudioso incansável. Professor chegou ao Doutorado em Ciências Pedagógicas e antes obteve o título de “Mestre em Saúde e Ambiente”, na Universidade Federal do Maranhão. De Gilberto recebi dois de seus importantes trabalhos: “Geo -História da Cidade de São Luís – Uma Análise Tempo Espacial” e “Novos Saberes Sobre o Ensino da Geografia”; Geo – História é de grande importância para estudiosos, pois poucos Geógrafos Maranheses ousaram fazer uma Análise Tempo – Espacial da nossa cidade. No capítulo 3, analisa o Ambiente Urbano, no capítulo 4 trata da População e o Espaço Urbano, já no 5, analisa o Espaço Urbano de São Luís e seus impactos ambientais. Todos os capítulos analisados com muita propriedade.
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Na apresentação de Geo – História de São Luís, Gilberto deixa retratada um pouco de sua personalidade lutadora e perseverante, quando diz: “Todos temos poder para decidir viver uma vida grande; não ter apenas um bom dia, mas um grande dia. Não importa por quanto tempo tenhamos trilhado a passividade, sem podermos escolher mudar o nosso caminho que passa pela educação. E nela podemos encontrar a nossa voz, afirmando que a arte de ensinar é milenar, talvez tanto quanto o ato de aprender”. “O ser humano diante das muitas dificuldades que encontrava para sua subsistência, fez da aprendizagem a sua mais importante habilidade. Portanto, para se desenvolver e crescer, o homem depende de sua capacidade de aprender. É aprendendo que nos transformamos e transformamos o mundo em que vivemos”.
Esse é o pensamento de Gilberto que hoje passa a ser um Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Gilberto além de Doutor e Mestre é especialista em “Administração Bancária e de Qualidade e Produtividade”. Atuou nas atividades Bancárias: Banco Nacional S. A, Caixa Econômica Federal e Banco do Estado do Maranhão S/A. E atualmente desempenha atividades docentes desde 1982. Professor dos cursos de Graduação em Geografia e de Pós Graduação da Universidade Estadual do Maranhão e da Faculdade Miguel Cervantes. Foi consultor em acompanhamento às Escolas da Rede Pública Estadual de Ensino – inserido no programa de qualidade total nos municípios de: Codó, Caxias, São João dos Patos, Timon e São Luís. Atuou como participante expondo seus trabalhos em: simpósios, congressos, e outros eventos científicos nacionais. Entre esses destacam-se os seguintes: “O Ensino da Geografia” – apresentado em Havana – Cuba, “Didática e Pratica de Ensino” – ENDIPE. Publicou artigos em jornais dos Estados do Piauí e Maranhão sobre Educação e Geografia. Orientou diversas monografias de Graduação e Pós Graduação. Gilberto Matos Aroucha é filho do empresário Marcolino Jardim Aroucha, de saudosa memória e da Sra. Sebastiana Matos Aroucha, que lhe deram excelente formação moral. É casado com a Sra. Maria José Rabelo Aroucha de cujo consórcio teve: Rafael, Isadora e Thais. A formação moral e afetiva de Gilberto é demonstrada, também na apresentação de seu livro, quando faz carinhosos agradecimentos: aos irmãos, cunhados, sobrinhos, afilhados e em especial a sogra Maria Lúcia (lamentavelmente falecida a pouco tempo). A todos os parentes os parabéns pelo grande Gilberto. Do livro de Gilberto: “Novos Saberes Sobre o Ensino da Geografia” escolhi o depoimento de dois professores meus ex-colegas: O Professor Doutor José Carlos Pires, do Departamento de Geociência da UFMA diz: “O livro apresenta uma contribuição no campo da Geografia, no momento em que o autor defende as multidisciplinariedades da Geografia em consonância com outras abordagens científicas, tais como: Antropologia, Sociologia, Biologia e Ciência Política, objetivando o ensino da Geografia para contribuir com o desenvolvimento do pensamento consciente e ético do educando, concorrendo para conscientiza-lo e sensibiliza-lo a entender a visão política e econômica do mundo na era da Globalização”.
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A Professora Maria Tereza Cabral, Mestre em Filosofia da Educação, pela Fundação Getúlio Vargas, Assessora Técnica da Secretaria Municipal de Educação de São Luís – MA, Bacharel e Licenciada em Geografia e História escreveu: “A abordagem teórica apresentada pelo autor, Gilberto, é dada de forma coerente, pois identifica problemas pertinentes a uma prática tradicionalista que hoje se verifica nas escolas, onde se desvincula o aluno da realidade, o que torna o ensino da Geografia desmotivado para construção de um espaço novo, no qual se concentra a ação de um ser reflexivo e ativo”.
Como já foi demonstrado, Gilberto além do conhecimento superior, portanto, cientifico da Geografia, partiu para o Doutorado em Pedagogia buscando poder aplicar métodos de ensino-aprendizagem mais modernos e ativos na transmissão da Ciência Geográfica, em exposição no conteúdo dos dois excelentes livros que publicou. É por todo esse trabalho que recebemos Gilberto Matos Aroucha de braços abertos na Casa de Antônio Lopes, antevendo a grande contribuição que trará com novos trabalhos de pesquisa e publicações. Gilberto em nome de todos os associados do IHGM apresento-lhe as boas vindas a nossa Instituição. Seja feliz entre nós! Muito Obrigada!
A Presidente do IGHM com o Reitor da UEMA na posse do Geógrafo Gilberto Araoucha
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DISCURSO DE POSSE DE GILBERTO MATOS AROUCHA NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGMA
Gilberto Aroucha e o Reitor da UEMA
Introdução e saudações Ilustríssima Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Maranhão – IHGM. – Profª. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo. Ilustríssimos componentes da mesa, Ilustres membros efetivos do IHGM. Excelentíssimas autoridades presentes, Minha esposa, meus filhos, meus pais, meus irmãos, meus cunhados, minhas cunhadas, meus amigos, Minhas Senhoras e Meus Senhores Boa Noite Não me imaginava membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Entretanto, não posso negar que a minha vaidade agradece. Vejo-me na concretização de um sonho de adolescência, de ensino médio: professor, mestre, doutor e agora membro efetivo do IHGM.. O sonho de fazer parte deste grupo seleto de intelectuais,
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não passava pela minha cabeça, nem tampouco a idéia de submeter o meu nome ao sufrágio. Entretanto, de modo surpreendente a professora Eneida Canedo deu inicio ao processo de indicação e análise por parte da assembléia. Por outro lado, constitui-se uma honra ingressar nesta data no IHGMA, fundado em 20 de novembro de 1925, com o nome de Instituto de História e Geografia, para ter sua comemoração na data de 02 de dezembro, data coincidente com a do primeiro centenário de D. Pedro II. Foram idealizadores do IHGMA: Justo Jansen Ferreira, seu primeiro presidente, Antonio Lopes da Cunha, José Pedro Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, José Domingues da Silva, Domingos de Castro Perdigão, Wilson da Silva Soares, Benedito de Barros Vasconcelos, José de Abranches Moura, Antônio Lopes Ribeiro Dias, Padres Arias de Almeida Cruz e José Ferreira Gomes. O Instituto foi criado com o intuito de incentivar o estudo, a pesquisa e a divulgação da História e da Geografia, em especial, a dos maranhenses. Agradecimentos Gostaria na oportunidade de agradecer a Assembléia Geral do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão na pessoa da sua presidente a professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, uma das glórias intelectuais da nossa cidade e que faz parte de uma ótima geração de geógrafos, em distinguir-me com a indicação do meu nome para fazer parte desta casa. Este gesto me sensibilizou de tal modo que agradeço imensamente. Tal depósito de confiança em minha pessoa aumenta a responsabilidade perante os companheiros. Tentarei, na medida do possível, não desmerecer essa expectativa e essa demonstração de reconhecimento pelo que atualmente venho produzindo na ciência geográfica. Agradeço aos meus pais, Marcolino Jardim Aroucha, conhecido como Bacute (falecido em 1997 e que tanta falta nos faz) e Sebastinana Matos Aroucha (carinhosamente chamada de Cecé), presente neste ato de posse; aos meus irmãos e irmãs, cunhados, cunhadas, primos e amigos. Eis-me aqui para a sua alegria. Não chegaria até aqui sem eles. Gostaria também de destacar a importante contribuição nesta caminhada da minha sogra Maria Lucia Santos Rabelo que, após os meus 20 anos de idade, foi responsável por parte daquilo que sou hoje; À professora Elizabeth por estar acompanhando a minha caminhada intelectual, com suas revisões precisas e competentes; à professora Cícera Nogueira outra grande baluarte da Língua Portuguesa, meus sinceros agradeciimentos. Finalmente agradeço a Maria José Rabelo Aroucha, minha esposa, que há 25 anos está comigo. Tudo que sou é produto do que fizemos juntos. Aos filhos Rafael, Isadora e Thais, obrigado pelas alegrias que ultimamente têm me proporcionado. Segundo Wittgentein; “tudo o que pode ser dito pode ser dito claramente”. Assim sendo, digo: eu amo todos vocês. Feitos os agradecimentos, é preciso proceder à saudação do patrono e de meus antecessores. Antes contextualizarei o cenário da fundação do IHGMA – 1925.
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Os imigrantes que entraram no Brasil no período de 1910 a 1925 são assim distribuídos: 26% portugueses, 22% espanhóis, 20% italianos, 9% japoneses e 23% de outras nacionalidades; Pela primeira vez no Brasil. O presidente Artur Bernardes decreta o 1º de maio como feriado; A General Motors instala-se no Brasil e começa a montagem de seu modelo Chevrolet. Monta 25 carros por dia.; É fundada a Biblioteca Municipal Mário de Andrade em São Paulo. No Rio, Irineu Marinho funda o jornal O Globo. Mário de Andrade publica A Escrava que não é Isaura. O Rio se surpreende com a novidade e a qualidade extraordinária da exposição de pintura de Di Cavalcanti; Em 31 de dezembro é realizada a 1ª corrida de São Silvestre em São Paulo (somente entre brasileiros até 1945, quando atletas internacionais começam a participar da prova); Chegam ao Brasil os restos mortais de Dom Pedro II e de Dona Teresa Cristina. Os despojos vieram a bordo do Encouraçado São Paulo, ficaram expostos por algum tempo na Catedral do Rio de Janeiro e depois foram transferidos para a Cidade de Petrópolis, estando lá até hoje; Einstein visita o Brasil em maio.
O momento histórico atual está como sabemos, profundamente marcado por uma globalização sem precedentes, tanto da informação e do conhecimento, como dos mercados, dos quais podem surgir novas oportunidades, há pouco insuspeitadas, para muitos indivíduos e, diria mesmo, para populações inteiras. Milhões de homens têm vindo, nos últimos anos, a abandonar a miséria sem redenção a que pareciam condenados, tal como durante séculos haviam sido os seus antepassados. Mas a nossa época está também marcada pelo desafio que representam muitos outros milhões ainda não bafejados pela sorte, nem contemplados por nenhuma espécie de oportunidade, os quais não nos podemos dar ao luxo de ignorar. Senhora Presidenta, Minhas Senhoras e meus senhores, Dados da ONU (2004) relatam que a diferença entre países ricos e pobres aumentou desde o começo dos anos 90, com um grupo milionário de nações (que representa 14% da população mundial) dominando metade do comércio mundial. Outra triste realidade é constatada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), 2006, a qual sinaliza que aproximadamente 854 milhões de pessoas passam fome de forma crônica em todo o mundo. Destas, 820 milhões vivem em países em desenvolvimento, 25 milhões são dos países da antiga União Soviética e nove milhões vivem nos países mais ricos. O geógrafo Josué de Castro, autor do livro Geografia da Fome comentava no prefácio da nona edição do seu livro: “A fome – eis um problema tão velho quanto a própria vida. Para os homens, tão velho quanto a humanidade”. No prefácio da décima
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edição, prefaciado por Alceu Amoroso Lima, 1980, Castro deixou para a posteridade aquela sua frase famosa: “Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come...”. Na verdade, a fome é um fenômeno geograficamente universal, não havendo nenhum continente que escape à sua ação nefasta. Mesmo o nosso país, sendo chamado abundante, isto simbolizado nas lendas dos livros didáticos, sofre os flagelos da fome. O texto Base da Campanha da Fraternidade de 2005 relata que a cada sete segundos, morre uma criança de fome. No mesmo documento, encontram-se informações que se referem à escassez de alimentos e às guerras, donde se conclui que estas são responsáveis por 10% das mortes devido a fome, embora sejam estas, normalmente, as causas apontadas mais frequentemente para este problema. A maior parte das mortes por fome é provocada pela desnutrição crônica. As famílias simplesmente não conseguem obter comida suficiente. A fome, depois de recuar na primeira metade dos anos 90, voltou a crescer e já atinge 850 milhões de pessoas. A cada ano entram nesse grupo mais 5 milhões de famintos (Estudo da ONU, divulgado em 2005). Outro indicador que aqui se aborda refere-se ao trabalho. Senhora presidenta, Minhas senhoras e meus senhores, 185 milhões de pessoas estão desempregadas no planeta (6,2% da força de trabalho). Cerca de 40 mil empresas concentram 25% da economia do planeta, mas empregam (diretamente) apenas 1,5% da mão-de-obra. Apesar do crescimento sem precedentes e da melhoria nas condições de vida experimentados por muitos países do mundo, o abismo entre ricos e pobres aumentou nas últimas décadas. Pode-se atribuir ao fenômeno da globalização, as desigualdades que se mantiveram tanto entre os países como dentro das economias nacionais, o que é observado em áreas como emprego, segurança no trabalho e salários. No início deste milênio, essa diferença aumentou em oito países e o Brasil, que está entre os três países mais desiguais do mundo, detém o recorde da região: os 10% mais abastados têm uma renda equivalente a 32 vezes o que recebem os 40% mais pobres. Homenagem ao Patrono: Raimundo de Sousa Gayoso É bastante conhecida a máxima de que há homens que optam por fazer de sua vida uma missão para mudar a História. Não vêm ao mundo a passeio: estão sempre a serviço de um ideal, de algum projeto grandioso, de uma ambição virtuosa. Raimundo José de Sousa Gayoso era um desses. Nascido na cidade de Buenos Aires – Argentina, em 1747, filho de João Henrique de Souza e Micaela Jerônimo Gayoso, os seus primeiros passos na educação foram realizados na França e na Inglaterra, fixando-se depois em Portugal. Há dados de que em 1792, já residia no Maranhão, mais
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precisamente em Itapecuru-Mirim, tendo lá se estabelecido com as culturas da lavoura e do algodão. Seu pai foi amigo do Marquês de Pombal, o teve no rei D. José um profundo admirador. João Henrique foi tesoureiro-mor, tendo nomeado Raimundo Gayoso seu ajudante. Entretanto, enquanto ocupavam o cargo, desviaram grandes somas de dinheiro. Como não conseguiram restituir os valores subtraídos, Gayoso foi degredado para o Maranhão. Tempos depois consegue provar a sua inocência, oportunidade em que, livre das acusações, o príncipe D. José nomeia-o tenente-coronel a ter atuação em Caxias. No Maranhão, Raimundo Gayoso, casa-se com Ana Rita descendente das famílias Gomes de Souza e Vieira da Silva. Gayoso era um homem acima do seu tempo, possuía uma grande cultura, deixou uma grande obra intitulada “Compêndio histórico – político dos princípios da lavoura no Maranhão”. Publicada por sua esposa em 1818, este livro foi peça fundamental do conhecimento da história econômica maranhense, sendo considerada obra rara. Já perto de morrer, Gayoso confessaria, nos seus manuscritos, velho, de cabelos brancos e com a saúde precária, meio desanimado. Gayoso confessaria em seus manuscritos que, por amor a uma terra que tivera por pátria o Maranhão, recobraria o entusiasmo para escrever o livro “Compendio da lavoura no Maranhão”. Este livro deu inicio a “Coleção São Luís” de publicações Obras Raras no Maranhão. Como frisei anteriormente, sua esposa, Dona Ana Rita de Sousa Gayoso, foi quem mandou editar o livro, Raimundo Gayoso faleceu em 1813, aos 66 anos de idade, tendo vivido seus últimos dias na cidade de Rosário. Registram-se aqui trechos do diálogo entre Ana Rita de Sousa Gayoso esposa de Raimundo Gayoso e o Rei de Portugal Dom José I. “Depois de beijar com o mais profundo respeito a real mão de Vossa Majestade, tenho a completa satisfação de oferecer a Vossa Majestade um novo compendio dos fatos históricos, aumento do comércio e agricultura do Maranhão, verdadeiras origens da felicidade publica dos Estados, em qualquer parte do mundo conhecido, como se mostra verificado na obra de que trato, composta por meu defunto marido Raimundo de Souza Gayoso a respeito do Maranhão. Esta capitania, que por espaço de muitos anos se conservou reduzida a uma total letargia debaixo da sujeição daqueles homens que, fazendo profissão de um instituto religioso, haviam usurpado o governo espiritual e temporal dos mesmos povos, que dirigirão o seu arbítrio, segue diferente sistema, logo que sobre os seus horizontes veio romper a brilhante lei da beneficiência, grandeza e proteção de um soberano magnanismo (...). Agora, porém que debaixo das benignas providencias de Vossa Majestade, tem crescido o seu importante comércio, já não é aquele
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porto em que de um a outro ano se via entrar algum navio com o desígnio de carregar em outra parte, hoje vê-se presentemente um porto freqüentado de embarcações nacionais e estrangeiras destinadas à exportação dos preciosos efeitos que levarão para as grandes praças comerciantes da Europa e que constituindo os maiores interesses dos habitantes deste país(...) Só o poderoso braço de um Rei magnânimo de um príncipe, verdadeiro pai da pátria e dos seus vassalos é que poderia restabelecer e elevar ao maior ponto de grandeza o comercio, a agricultura de um pais(...) E para que o tempo gastador das coisas e julgador imparcial das mais brilhantes ações, não possa destruir pelo decurso dos anos, a generosa lembrança dos benefícios efeitos da real grandeza de Vossa Majestade, tomaram sobre mim a heróica resolução de fazê-los transmitir por este meio a sábia posteridade, para que dando verdadeiro valor à grandeza de tão assinalados benefícios, passando de umas e outras gerações a sua nunca interrompida lembrança chegue o Augusto Monarca o Senhor Rei D. José I a colocar-se no templo da memória, único fim a que se dirigem os sinceros votos de tão fieis e constantes vassalos”. Reverente beija a Real Mão de Vossa majestade D. Ana Rita de Souza Gayoso São ainda da autoria de Raimundo Gayoso, “Minuta Histórico-Apológica da Conduta do Bacharel Manuel Leitão Bandeira”, “Apontamentos do que tem lembrado para aumentar a riqueza do Estado”, “ Reflexões políticas sobre o modo de atalhar algumas desordens da fazenda real, promover a indústria e o comércio, as artes, as manufaturas por meio do restabelecimento do crédito público”, “Manifesto histórico – analítico de documentos verídicos que comprovam a inocência de seu pai e a sua no extravio do erário, e a condenação arbitrária e injusta, com nulidade de sua natureza, visto ser dada contra direito expresso e fundada em falsas definições, 1810”. A justiça considerou depois estes argumentos, sendo Gayoso reabilitado. Quando de sua morte, o Maranhão vivia sob o comando de Paulo José de Silva Gama que administrou o Estado de 1811 a 1819. Registra-se como marco de sua administração a demarcação dos limites com a Capitania de Goiás, a elevação de Aldeias Altas (Caxias) à categoria de vila, o que se efetivou em 1812. Raimundo Gayoso não foi apenas um homem de idéias, mas um homem de ação que buscava sempre concretizar os seus sonhos. Produziu obras eternas: verdadeiros marcos na História do Comércio e da Lavoura do Maranhão. Ter esse homem como patrono da cadeira que passo a ocupar é uma grande honra com imensa responsabilidade.
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Homenagem: Tácito da Silveira Caldas Tácito Caldas foi o primeiro sucessor de Raimundo Gayoso, na cadeira nº 13. Nasceu na cidade de Teresina (PI) a 14 de maio de 1915, filho de Leônidas Soriano Caldas e Detith da Silveira Caldas. Cursou o primário no Liceu Piauiense. A partir do secundário transfere-se para o Liceu Maranhense (que na época era de grande utilidade para diferentes projetos de vida). Uma grande fábrica de sonhos e de talentos por onde circularam jovens que seriam as lideranças políticas do Estado, exercitando-os em beneficio próprio ou da família. Mas a maioria dos estudantes estava voltada para a construção de um Maranhão mais justo e vislumbra no Liceu e na escola pública as âncoras imprescindíveis de sustentação para atingir tais objetivos. Entre os professores, vale lembrar nomes de excelentes mestres como: Antonio Carlos Beckman, José Carlos Pires, Ney Aquino, José Carlos Tavares, Concita Quadros, Luis Aranha, José Rosa, Maria de Jesus, Alexandre Botão, Elenice Melo, Altair, Ivaldo, Murilo Freitas, Vicente Maia, Magnólia, Célia Baroni, Tereza Duailibe, Beatriz, Babá e Floriano de Jesus, entre outros. Tácito Caldas concluiu o curso de Direito pela Faculdade do Maranhão onde, em 1950, recebeu o título de Doutor. Em 1951 ingressa como professor catedrático. Foi consultor jurídico da antiga SURCAP, lecionou em diversos estabelecimentos de ensino, público e privado com as disciplinas, Matemática, História, Geografia, Física e Química. Lecionou ainda na Faculdade de Direito, onde por concurso público tornou-se catedrático vitalício. Dentre os cargos públicos que ocupou destaca-se o de Procurador Geral do Estado, Procurador da Fazenda, Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado e ex-presidente do TRE. Em 1964, no Tribunal de Justiça foi Corregedor, Vice–Presidente e Presidente. Possui as comendas Medalhão II Conferência de Desembargadores; Medalhão III Conferência de Desembargadores; Medalha comemorativa do 350º ano de fundação de São Luís; Medalha do Mérito Timbira; Medalha comemorativa da fundação do curso jurídico do Maranhão. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, advogado nos auditórios do Estado e consultor jurídico. Considerado um grande orador, publicou vários livros além de ser colaborador em várias revistas. Desde a instalação, o Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão foi presidido por vinte e oito desembargadores:
Tácito da Silveira Caldas (posse: 01.10.54; término: 30.01.56);
Tácito da Silveira Caldas (posse:05.02.65; término: 17.02.66);
Assim se refere Marconi Caldas ao seu pai de Tácito Caldas Hoje começo com uma grande saudade. Do meu pai, desembargador Tácito Caldas que, em 1961, recebeu o título de Cidadão de São Luís e pronunciou um dos
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discursos que ficou nos anais da história. Na última página, ele confessa todo seu amor por São Luís: “Evocando o passado, hoje, altamente honrado e agradecido me sinto infanção (título dado a cidadãos do Porto-PT) em conseqüência de cativante deliberação dessa augusta Câmara Municipal, passamos a usar as armas dos seus arsenais, a ostentar punhos de fios de ouro da sua nobreza e a trajar as sedas da cidadania de São Luís: São Luís dos Sobradões coloniais, porcelanados de azulejos multicores! São Luís dos Mirantes – olhos da história voltados para o mar! São Luís de Violas, de ruas tortuosas de altos e baixos de ladeiras e subidas, de subterrâneos e fontes dadivosas! São Luís do bumba-meu-boi, de pai Francisco e mãe Catirina, dos tambores de mina e de crioulas! São Luís dos violões e dos violeiros, filtrando emoções nas noites enluaradas! São Luís de poetas, de cantores, de sábios, de heróis e de Santos! São Luís, São Luís, nossos agradecimentos”.
(Discurso pronunciado por Tácito da Silveira Caldas, às 20 horas, no dia 15 de novembro de 1961, no salão nobre da Câmara Municipal de São Luís quando foi agraciado com o título de Cidadão de São Luís). Homenagem: Aluízio Ribeiro da Silva Nascido no Município de Balsas-MA, filho do comerciante João Ribeiro da Silva, faleceu subitamente deixando a viúva com numerosos filhos. De família simples, mas honrada, Aluízio Ribeiro Silva fez seus estudos com trabalho nas horas vagas, demonstrou desde cedo proximidade com as letras. A sua performance era tão evidente que foi convidado para trabalhar em jornais. Manifestando talento é convidado por Antonio Lopes da Cunha a morar no Estado do Piauí e a cursar Direito, curso que foi concluído no Rio de Janeiro. O jornalista Carlos Cunha, ao fazer saudação a Aluízio Ribeiro da Silva sempre lembrava da maturidade do jovem advinda das leituras de Goethe, Dante e outros. Aluízio contribuiu bastante no magistério e na imprensa, com um jornalismo polêmico, mas com salutar troca de idéias. Exerceu ainda o cargo de Juiz (15/03/1976 a 19/07/1976) e chegou a ser desembargador. Recebeu a Medalha de Mérito Timbira, concedida pelo governo Luiz Rocha em 1986. Faleceu na cidade de São Luís. Homenagem: José Pedro Ribeiro Natural do Maranhão, José Pedro foi vice-cônsul da Noruega e interino na Dinamarca. Representou o Maranhão em 1913 na qualidade de Comissário em uma Exposição de Borracha. Deixou publicado: “Indústria da Borracha em 1913” uma monografia publicada pelo Ministério da Agricultura. Nesta, fazia descrição sumária do Estado do Maranhão dentre elas a fauna e as árvores que produzem a borracha, como a seringueira e a maniçoba. A monografia trazia também dados estatísticos sobre custos, fretes, salário, preço das terras, dentre outros. O ilustre José Pedro deixou ainda vários estudos econômicos sobre produtos do Maranhão publicados nos jornais da época. Constituiu ainda uma empresa cuja razão social foi intitulada “José Pedro Ribeiro e Cia”, em razão de um acidente ocorrido na família de um dos sócios culminando com o falecimento de uma criança (acometida por
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difteria). A firma passou a importar um soro preparado pelo Instituto Pasteur de ParisFrança. Esta atitude evitou a incidência de novos casos, pois era feita gratuitamente. Oswaldo da Silva Soares Substituiu José Pedro Ribeiro. Oswaldo da Silva Soares nasceu na Princesa da Baixada – Pinheiro, em 16 de março de 1903. Entretanto, desde cedo foi levado para a cidade de São Bento. Seu pai foi o conhecido Tito Duarte Soares, que era farmacêutico, médico prático e proprietário da Farmácia Paris. A mãe ficou viúva aos 40 anos, criou e educou os seus nove filhos. Oswaldo concluiu o ensino médio no Colégio Marista e estudou parte do superior na Faculdade de Odontologia. Foi convidado pelo tabelião Domingos Barbosa para ser escrevente juramentado. Tempos depois assume a vaga de titular em função do afastamento de Domingos Barbosa para assumir o cargo de Deputado Federal. Oswaldo além de ser tabelião de 1º oficio zelou pelo patrimônio histórico de Alcântara, São Luís e Rosário. Com seus próprios recursos restaurou o pelourinho de Alcântara. Foi um grande colecionador de moedas, imagens sacras e objetos antigos, porcelana, relógios e jóias. Era pesquisador e publicou na Revista do IHGMA o artigo “Numismática maranhense” – 1948, considerado o único estudo sobre a rede subterrânea de São Luís, do Sítio do Físico e de São Lázaro, dos Fortes de Rosário, de igrejas e capelas. Em 1953 é desfeito o seu acervo histórico, chegando a ser oferecido ao governo do Estado, sem êxito. O museu foi disperso e dividido entre museus públicos e particulares. O seu sobrinho e sócio efetivo do IHGMA, publica na Revista do Instituto em 08 de março de 1985 artigo intitulado “Tradicional Família Soares recebe justas homenagens do IHGMA” Oswaldo da Silva Soares faleceu em 26 de janeiro de 1997, deixou os filhos: Tito Antonio Sousa Soares – Tabelião do 1º Ofício; Maria Tereza Soares Pflueger – Pedagoga; Manuel Otávio Sousa Soares – Procurador; Maria da Graça Sousa Soares – Pedagoga; Oswaldo Fabiano Sousa Soares – Tabelião Substituto; Maria Eleonora Soares Costa – Psicóloga. Encerramento Raimundo José de Sousa Gayoso, Tácito da Silveira Caldas, Aluízio da Silva, José Pedro Ribeiro e Oswaldo da Silva Soares, estas foram grandes biografias de verdadeiros homens públicos maranhenses. Pode-se, então, perceber o quão difícil será a tarefa de honrar a cadeira nº. 13 deste Instituto.
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Que a história desses homens possa iluminar o meu caminho Por fim, quero encerrar esse meu discurso fazendo um comovente agradecimento com emoção aos meus familiares, aos meus amigos, e, enfim, a todos pela presença e paciência e pelo calor que trouxeram a esta cerimônia. Tenho plena consciência da responsabilidade em assumir essa cadeira e presente nesta casa tudo farei para manter acesa a chama clara e luminosa das atividades deste Instituto, honrando suas tradições. Muito obrigado e que Deus abençoe a todos nós.
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DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO JORNALISTA MANOEL DOS SANTOS NETO QUE OCUPARÁ A CADEIRA Nº 11, PATRONEADA POR SEBASTIÃO GOMES DA SILVA BELFORT. ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO
Exmas. Autoridades Caros Confrades Meus Senhores, Minhas Senhoras. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, associação científico e cultural, fundada em 20 de novembro de 1925, com o objetivo de estudar, defender e divulgar questões sobre História, Geografia e Ciências afins, referentes ao Brasil e especialmente ao Maranhão. Cooperar com os poderes públicos que visem o engrandecimento científico e cultural do Estado colocando-se à disposição das autoridades para responder as consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes às suas finalidades. Foi idealizado pelo brilhante jornalista Antônio Lopes da Cunha. A ele a nossa grande homenagem! Hoje estamos recebendo para integrar o quadro de Sócio Efetivo do IHGM O Jornalista Manoel dos Santos Neto que ocupará a Cadeira Nº 11, Patroneada por Sebastião Gomes da Silva Belfort. Manoel escolheu a data 13 de maio para sua posse, data marcante da História do Brasil, assinatura da Lei Áurea – libertadora da escravidão no Brasil. Em 1871, por motivo de viagem do Imperador Dom Pedro II, a princesa Isabel prestou juramento como Regente perante as duas Câmaras legislativas. Nesse mesmo ano, na datas de 27 de setembro, sendo Presidente do Conselho o Visconde do Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco, foi votada a Lei do Ventre Livre, na sessão que foi chamada de “Sessão das Flores”. Quando aprovada a Lei, uma chuva de rosas cobriu o plenário.
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O Ministro dos Estados Unidos, no Rio de Janeiro, presente, colheu algumas dessas rosas e disse: “Vou mandar essas flores para meu país, para mostrar como aqui se fez com flores o que lá custou tanto sangue”. A guerra da secessão nos Estados Unidos custou 600 mil mortes. Em 1888, a princesa Isabel sendo novamente Regente, assinou a Lei Áurea – 13 de maio – libertadora dos escravos do Brasil. D. Pedro II estava em Milão, gravemente doente, mas ao apresentar melhoras, dias depois, a Imperatriz Tereza Cristina deu-lhe a notícia. O Imperador abrindo os olhos disse: graças a Deus e determinou: Telegrafe a Isabel e ditou o texto. O telegrama que foi mandado a Princesa Isabel tinha o seguinte teor: “Princesa Imperial – Grande satisfação para meu coração e graças a Deus pela abolição da escravidão. Felicitações para vós e todos os brasileiros”. Pedro e Tereza
Na partida para o exílio, Isabel passando junto à mesa, onde havia assinado a Lei Áurea, bateu nela o punho fechado e disse: mil tronos eu tivesse, mil tronos eu sacrificaria para libertar a raça negra da escravidão. No exílio, em seu palácio de Boulogne, bairro periférico de Paris, onde residia com seu marido o Conde D’Eu, ela abria seus salões aos brasileiros que iam visitá-la. E não só isso, conseguiu se impor na sociedade parisiense, a tal ponto que várias memórias de personalidades da época a apresentavam quase como uma rainha daquela sociedade. Era tida como principal personagem. Somente ela e o Presidente da República Francesa podiam entrar de carruagem no pátio interno da Ópera de Paris. Outros fatos marcantes relacionados com a data serão abordados por Manoel dos Santos Neto, especialista no assunto. Manoel dos Santos Neto nasceu na cidade de São Luís, Maranhão. Filho do casal: Esmeraldo dos Santos e Alzenira Moraes, a quem aproveito para apresentar meus parabéns pela grande formação que deram ao filho. Manoel é Bacharel em Comunicação Social, pela Universidade Federal do Maranhão, turma de 1991. Exerceu a profissão como repórter e redator em diversos periódicos: O “Jornal Hoje”, “Diário do Norte”, “Jornal Carajás” e “Atos e Fatos”. Foi Chefe de Reportagem e Editor de Política do Jornal “O Estado do Maranhão”, onde trabalhou de maio de 1988 a Janeiro de 2001; integrou a equipe fundadora do Jornal “Folha do Maranhão” ( de junho de 2001 a março de 2002). Atualmente dedicase ao jornalismo e a literatura, trabalha como repórter da Editoria de Política do “Jornal Pequeno”. Jornal onde sempre escreve artigos divulgando a nossa Instituição – O IHGM. Jornalista e escritor de profunda vinculação social foi um dos fundadores do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979), editor do Jornal AKOMABU (de agosto de 1986 a junho de 1988) e co-autor de trabalhos de pesquisa em parceria com a professora Maria do Rosário Carvalho Santos, entre os quais o livro “Bobaromina”, sobre as casas de culto afro do Maranhão; vencedor do concurso literário da Secretaria de Cultura do Estado(SECMA), Edição do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado do Maranhão – ano 1989.
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A convite do Presidente da Câmara de Deputados, João Paulo Cunha e do líder do Partido Verde, Deputado Sarney Filho, (PV-MA), o jornalista Manoel dos Santos Neto participou da cerimônia, data de 13 de maio de 2004, durante a qual fez o lançamento de seu livro “O Negro no Maranhão – A escravidão, a liberdade e a construção da cidadania “. O livro reconstitui a sociedade colonial, escravocrata que existiu no Maranhão. No final de 2004, Manoel conquistou o primeiro lugar no XXVIII Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, com o livro “Os Jornais do Império e o Cativeiro no Maranhão”. A Associação Maranhense de Imprensa (AMI) e a Claro Comunicação responsáveis pelo lançamento do livro, na data de 13 de maio de 2004, através do Jornalista Felix Alberto, responsável pela Claro Comunicação, assim se refere sobre o livro: “ as pesquisas na Biblioteca pública, à cata de livros e jornais Velhos, Manoel dos Santos Neto diz que pôde redescobrir o Maranhão do período colonial e imperial: do Padre Antônio Vieira com seus índios e escravos, de Manoel Beckman e do negro Cosme, de Catarina a Mina e de Mãe Andresa, o Maranhão de Ana Jansen e da Baronesa de Grajaú, da Balaiada e do Duque de Caxias, dos quilombos no meio da mata , dos cativos na senzala, das mucamas e amas-de-leite, dos capatazes, feitores, proprietários e empresários escravagistas, enfim os senhores rurais dos grotões maranhenses e o Maranhão provinciano, latifundiário e escravocrata”. Manoel é, também, co-autor do livro: “Chagas em Pessoa”, redigido em parceria com o Jornalista “Felix Alberto Lima, lançada em janeiro /2005”. Militante do movimento negro participou da equipe fundadora da Secretaria da Igualdade Racial, criada no Governo Jackson Kepler Lago (2007/2009). Publicou, ainda: “João Francisco dos Santos – uma lição de vida”. João do Vale – O Cancioneiro do Brasil – São Luís – 2006. Rei Zulu – 2006 Quilombos maranhenses – Cultura e Política. Por todo esse trabalho Manoel foi convidado a participar da Nossa Instituição. Manoel dos Santos Neto é pelo seu esforço pessoal e por tudo que conseguiu galgar na sua profissão que lhe apresento as boas vindas, em nome de todos os Sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, contando com sua colaboração efetiva de pesquisador. Seja feliz entre nós. Muito Obrigada Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Presidente
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DISCURSO DE POSSE DE MANOEL SANTOS NETO NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
Introdução e saudações Ilustríssima Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Maranhão (IHGM), Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Excelentíssimo Senhor José Reinaldo Tavares, ex-governador do Maranhão, em nome de quem saúdo as demais autoridades presentes Ilustríssima Senhora Diretora-Presidente do Jornal Pequeno, Dona Hilda Bogéa Excelentíssimo Senhor Secretário Municipal de Comunicação, Edwin Jinglins, representante do Prefeito de São Luís, João Castelo Ilustríssimo Senhor Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Luís, Leonardo Monteiro Ilustríssima Senhora Presidente da Associação Maranhense de Imprensa, Wal Oliveira Ilustríssimas Senhoras Diretoras do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), professoras Luiza Raposo e Graça Nina Ilustríssimos demais componentes da mesa, Ilustres Senhores membros efetivos do IHGM, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
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Boa Noite Agradecimentos Minhas primeiras palavras são de gratidão. Cabe-me agradecer a generosidade dos integrantes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, que resolveram distinguir-me com a indicação para ser sócio efetivo desta prestigiada e quase centenária instituição. Foi um gesto que me sensibilizou e que desde já penhoradamente agradeço. Inicio, portanto, esta mensagem com a manifestação de agradecimento àqueles que estão partilhando deste momento ímpar da minha vida. Faz-se necessário um agradecimento especial aos responsáveis diretos pela concretização deste meu rito de iniciação neste Instituto, ou seja, àqueles que indicaram e aprovaram o meu nome. Desta forma, agradeço à Senhora Presidente desta Casa, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, as palavras carinhosas que aqui proferiu, ressaltando que foi ela que muito gentilmente indicou o meu nome. Agradeço também ao professor Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva, atual Primeiro Secretário, ao Dr. Raimundo Cardoso Nogueira, à professora Joseth Coutinho Martins de Freitas, que procederam a análise do meu currículo. Enfim, a todos os sócios efetivos que, em Assembléia Geral, aprovaram a minha indicação. Quanta honra chegar a esta Casa, que guarda a memória de grandes homens do passado. Um passado que dignifica e no qual os mais jovens devem se debruçar e meditar. Portanto, antes de me reportar ao Patrono e àqueles que me antecederam nesta Cadeira, quero fazer uma rápida celebração à memória de duas formidáveis referências da cultura maranhense: Antônio Lopes, o mestre, e Josué Montello, seu discípulo genial. Para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Antônio Lopes, além da sua importância como grande escritor, é a venerável figura patriarcal, que nos vincula diretamente à geração ilustre que fundou esta Instituição. Em relação a Josué Montello, orgulho de todos nós maranhenses, monumento da cultura brasileira, é oportuno lembrar o fato de ele ter pertencido às Academias Brasileira e Maranhense de Letras, e também o fato de ele ter sido membro do IHGM, onde ocupou a Cadeira Nº 6, patroneada pelo Padre Antônio Vieira e hoje ocupada pela ilustre professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo. Como hoje é 13 de Maio, esta especial circunstância me inspira a lembrar de Montello com seus romances, especialmente Os tambores de São Luís, onde se pode redescobrir o Maranhão do período colonial e imperial, do padre Antônio Vieira com seus índios e escravos, de Manoel Beckman e do Negro Cosme, de Catarina Mina e de Mãe Andresa, o Maranhão de Ana Jansen e da Baronesa de Grajaú, da Balaiada e do Duque de Caxias, dos quilombos no meio da mata, dos cativos na senzala, das mucamas e amas-de-leite, dos capatazes, feitores e capitães-do-mato, dos senhores de escravos fazendeiros, proprietários e empresários escravagistas -, enfim os senhores rurais dos grotões maranhenses, e o Maranhão provinciano, latifundiário, escravocrata, embrutecido pela violência e pela crueldade do cativeiro.
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Homenagem ao Patrono - Sebastião Gomes da Silva Belfort Ao tomar posse neste Instituto, para ocupar a Cadeira de n° 11, devo fazer referência e prestar as merecidas homenagens às ilustres figuras que aqui me antecederam. Começo fazendo louvor ao Patrono, Sebastião Gomes da Silva Belfort que, no século XIX, foi um dos integrantes do Conselho da Província do Maranhão. Sebastião Gomes da Silva Belfort seguiu a carreira militar, chegando a obter a patente de brigadeiro. Segundo Ribeiro do Amaral, em sua “Efemérides Maranhenses”, ele nasceu em meados do século XVIII, descendente de família das mais antigas do Maranhão, Gomes de Sousa e Belfort. De fidalga linhagem, tinha o Brigadeiro Belfort o título nobiliárquico de Cavalheiro Fidalgo da Antiga Casa Real Portuguesa. Atuou nos acontecimentos políticos que prepararam o Maranhão para a causa da Independência. Fez parte, na qualidade de secretário, de junta governativa presidida pelo bispo Dom Frei Joaquim de N. S. de Nazareth, constituída no ano de 1822, pelo decreto das cortes portuguesas, na data de 29 de setembro. A junta foi instalada somente em 16 de fevereiro de 1822, após a carta de lei de 4 de outubro de 1821. Proclamada a Independência, esse fez parte dos Conselhos da Província que precederam as assembléias provinciais, ainda como secretário. Deixou escrito o “Roteiro e mapa da viagem da cidade de São Luís do Maranhão até a cidade do Rio de Janeiro”, publicado pela Impressão Régia em 1819. Faleceu vítima de naufrágio, quando retornava do Rio de Janeiro, na noite de 31 de julho para 1º de agosto de 1825. O navio abalroou com a Coroa Grande, formação arenosa na entrada da Baia de São Marcos, local de freqüentes naufrágios. Homenagem ao fundador da Cadeira: Antônio Lopes Ribeiro Dias Falo agora de Antônio Lopes Ribeiro Dias, que foi o primeiro ocupante da Cadeira Nº 11, patroneada por Sebastião Gomes da Silva Belfort. Natural do Maranhão, Doutor em Ciências Físicas e Naturais, pela Universidade de Genebra, Ribeiro Dias também foi engenheiro químico, graduado na Universidade de Lausane, onde foi recebido como assistente de laboratório de Mineralogia e Petrografia. Ele publicou diversos trabalhos, entre os quais “O Sertão Maranhense” – Esboço Geológico, Fisiolográfico e Social” 1922, e “Siderurgia no Brasil”, publicado na Revista de Geografia e História, nº 06 – Ano VI – Maio de 1961 – IBGE. Também proferiu conferências no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1925. Homenagem a Cândido Pereira de Sousa Bispo (1896-1950) Depois de Ribeiro Dias, a Cadeira nº 11 passou a ser ocupada por Cândido Pereira de Sousa Bispo, maranhense nascido em Grajaú, no dia 3 de outubro de 1896. Ele formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais. Exerceu a promotoria e a advocacia. Foi escritor, dedicou-se ao jornalismo, à poesia, em especial aos estudos históricos e geográficos. Na Academia Maranhense de Letras, ocupou a Cadeira patroneada por Dias Carneiro. Pertenceu à antiga Associação Maranhense de Imprensa e foi consultor técnico do Diretório Regional de Geografia. O sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Domingos Vieira Filho, um dos seus biógrafos, faz a seguinte referência a ele: “Sousa Bispo não foi homem de derramada produção intelectual. Mas o pouco que legou à posteridade basta para consagrá-lo como um estudioso sincero de nossas coisas, principalmente da
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nossa geografia. Trazendo no peito a chama ardente da aventura, varou o interior brasileiro num raide memorável cujas peripécias narrou em artigos de jornal. Sobretudo da doença de Mungo Park, ou seja, a incompatível mania deambulatória, esse globetrotter de cultura fixou em artigos para revistas e jornais alguns instantes maravilhosos de nitidez e de concisão da vida sertaneja”. Sousa Bispo faleceu em São Luís no dia 15 de julho de 1950. Homenagem a Mário Meireles Senhora Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Esta cadeira pertenceu também a Mário Meireles, grande historiador, um estudioso de alto nível intelectual, que consagrou sua vida a pesquisas sobre a História maranhense, à semelhança de Jerônimo Viveiros, Rubem Almeida e Carlos de Lima. Quando faleceu, aos 88 anos, no dia 10 de maio de 2003, o professor Mário Meireles deixou a estrada da vida para tomar o rumo da eternidade. Não a eternidade dos homens, porque esta lhe pertencia de há muito. Sua figura proba e elegante viverá indelével na lembrança de sua família, filhas, netos e parentes que lhe tributam a saudade devida a um ente amado e respeitado; daqueles que com ele labutaram nas árduas mas recompensadoras trincheiras do magistério; dos membros tanto no Instituto Histórico do Maranhão quanto na Academia Maranhense de Letras, que nele viam um símbolo das mais elevadas virtudes do intelectual maranhense; dos que com ele se ocuparam dos ofícios públicos; dos que algum dia, ou por muito tempo, tiveram o privilégio de privar de sua companhia sempre gentil, sagaz e inteligente; de seus ex-alunos e admiradores, imensa legião hoje órfã; enfim, dos seus incontáveis leitores, que com ele reviveram, revivem e ainda reviverão, a cada página lida e relida de seus mais de 30 livros, um pouco da História do Maranhão, um pouco da história de todos nós. Para a eternidade divina, partiu de repente, tombou abatido por um inimigo insuspeito, sorrateiro, uma dengue. Não disse adeus e, por isso, deixou-nos essa impressão incômoda de que tanto mais tinha a dizer. Deixou um vazio tanto na Academia Maranhense de Letras quanto no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, que não contam mais com a sua figura esguia, alta, tão alta quanto a sua estatura moral e intelectual, para ocupar uma cadeira em uma nova Academia, onde o esperam seus novos pares, todos também ilustres representantes das Letras timbiras, cavaleiros e damas da Távola Redonda da intelectualidade maranhense, como Gonçalves Dias, Aluízio Azevedo, Artur Azevedo, Sousândrade, Humberto de Campos, Maria Firmina, entre muitos outros e outras, pois felizmente extensa é a lista dos que fizeram de São Luís e do Maranhão a Athenas Brasileira. Foi genial na arte de contar - e tão bem no seu caso - histórias da nossa História, manter incólume a memória dos fatos pretéritos e vivas as nossas tradições. No seio da Academia Maranhense de Letras, sua figura algo paternal se agigantava na posição de decano, aquele a quem cabia a honra de apor o colar acadêmico no novo acadêmico. Por sua pena, vários protagonistas e coadjuvantes da pequena e grande História do Maranhão deixaram as brumas do passado para ganhar vida, uma vez mais, em suas
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páginas. Por elas, desfilaram conquistadores e nativos, senhores e escravos, brancos, amarelos, negros e mestiços; os franceses da França Equinocial; os portugueses e os holandeses; João de Barros, primeiro donatário do Maranhão; Melo e Póvoas, governador e capitão-general do Maranhão; dom Diogo de Sousa, governador e capitãogeneral do Maranhão e Piauí; entre muitos outros. Faço, portanto, meu tributo ao maior historiador maranhense, neste momento em que tomo posse na Cadeira que a ele também pertenceu. Seu título maior não estava nas numerosas honrarias que recebeu, nem mesmo nas obras que publicou, e nem ainda na merecida cadeira que ocupava em nossa Academia de Letras. Simples como ele, seu maior título não era o de historiador, nem o de acadêmico, mas sim o de professor, dos que foram e dos que não foram seus alunos, professor de uma vida correta, honesta e laboriosa, professor de uma história da qual ele fez e permanecerá fazendo parte e que é a epopéia dos triunfos e derrotas de todos nós, que pisamos neste solo ou dele viemos, com suas riquezas e misérias, solo que ele tanto amou. Sem sombra de dúvidas, o seu canto de paixão pelo Maranhão e por São Luís ecoará para sempre, em meio aos bancos da Praça Gonçalves Dias, sobre os azulejos e as pedras de cantaria da Praia Grande, pelas ruas e becos da cidade, junto aos seus monumentos, entre os leões que guardam o Palácio, aos ouvidos das velhas estátuas que enfeitam as nossas praças, ao soprar da brisa do Atlântico, nas areias das praias, no coração de todos nós. E, como a vida é combate e só pode os bravos exaltar, é sempre uma imensa satisfação poder sentar ao redor das obras, literárias e de vida, do ilustre e inesquecível professor Mário Meireles. Homenagem a Almir Moraes Correia (1914-1992) A Cadeira que agora passo a ocupar pertenceu também a Almir Moraes Correia, piauiense, que nasceu no município de Parnaíba, no dia 21 de março de 1914, descendente de tradicional família. Veio residir em São Luís, em 1946, objetivando instalar uma concessionária de automóveis que obteve de início grande sucesso. Daí nasceram as firmas “Moraes & Cia” e “Casa Moraes”, firmas de venda de carros, caminhões, peças e outros bens materiais. Almir Moraes Correia ocupou vários cargos e funções: foi diretor da Associação Comercial do Maranhão nos períodos de 1967 a 1980. No Rotary Club de São Luís, desde sua admissão em 1955, fez parte de Comissões, foi secretário, presidente e governador do Distrito 449. Dedicou-se de corpo e alma ao sistema educativo e ao intercâmbio cultural de jovens através de bolsas de estudo para o exterior. Elegeu o Maranhão como sua terra natal e realizou com sucesso diversos empreendimentos durante sua trajetória de homem de negócios. Contribuiu para o desenvolvimento sócio-econômico do Maranhão. Adepto da filosofia contista, promoveu diversos seminários, produziu discursos e artigos que foram publicados nas revistas Rotárias e outras de divulgação cultural. Faleceu aos 78 anos, no dia 12 de setembro de 1992. Homenagem a Sebastião Barreto de Brito (1930-2007) Por fim, agora passo a falar de Sebastião Barreto de Brito, meu antecessor nesta Cadeira Nº 11 do IHGM, que foi ilustre advogado e professor da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Ele produziu um trabalho literário que se mantém com viva
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atualidade, procurando descobrir intensamente qual é o destino do ser humano. Para enfrentar este desafio, ele utilizou o que a vida lhe ofereceu, a educação que recebeu, as lutas, sofrimentos e vitórias que conseguiu registrar através de suas memórias e documentos. É o próprio autor quem assegura que as suas experiências vivenciais estão fielmente registradas na narrativa das 151 páginas de seu livro mais marcante – Memórias -, dividido em 35 capítulos. Ele confessa que escreveu a obra movido pela grande emoção da perda irreparável de sua querida esposa. Além da paixão pela mulher inesquecível, Maria Isabel Soares de Brito, a Betinha, Sebastião Barreto de Brito era de igual modo apaixonado por seus quatro filhos: Marcelo, Domingos José, Davi e Sebastiãozinho. Em seus textos, ele não consegue esconder seu imenso apreço pela família, e conta como conheceu, em circunstâncias pitorescas, a companheira que viria a ser a sua querida esposa. Da vida conjugal, ele extraiu uma de suas frases prediletas: “De todas as maneiras possíveis, a família é o elo para o nosso passado e a ponte para o futuro.” “Mais forte que a morte é o Amor” – Este era o título original do livro, no qual o autor se revela inspirado em Machado de Assis, esse extraordinário escritor, aparentemente fechado na sua arte, mas que foi o grande memorialista da sociedade que se movimentava à sua volta. Ocorre que, a pedido de seu filho Domingos José, Sebastião Barreto de Brito resolveu mudar o nome do livro, que passou a ter o sugestivo título de “Memórias”. A narrativa se inicia contando a saga de um jovem peregrino, que começa a sua existência nos sertões da Paraíba, percorre vários Estados e por fim chega ao Maranhão, considerado por ele como a Canaan dos brasileiros do Nordeste. Com base na própria experiência, Barreto de Brito reconhece que as impressões da infância nos acompanham pelo resto da vida. Nessa linha, o seu livro reúne admiráveis páginas de recordações, rememora os acontecimentos passados em sua vida, falando com saudades de seus tempos de menino, nos sertões da Paraíba, evoca Patos, cidade paraibana onde viveu toda a infância e parte da adolescência, passa em revista suas lutas como líder estudantil, nos tempos da Faculdade de Direito e também o desafio de desincumbir-se da função de promotor de justiça em Carutapera. Grande homem e extraordinário intelectual, nascido na Paraíba, mas que se tornou, por adoção e coração, filho do Maranhão, Estado que escolheu para ser a sua morada eterna, Sebastião Barreto de Brito acabou se apaixonando por São Luís, cidade onde formou sua família e, afeito à vida acadêmica e ao bom convívio, construiu grandes amizades. Além de resgatar histórias de seus antigos companheiros do Cursilho da Cristandade e de recordar fases memoráveis do Movimento Familiar Cristão, Barreto de Brito aborda em seu livro as alegrias, mas também as dores e sofrimentos em momentos decisivos de sua vida. Ele não deixa de fora a argúcia, a paixão e o espírito de luta de seus antepassados nordestinos. Homem culto e de grande sensibilidade humana, Sebastião Barreto de Brito faleceu no dia 28 de março de 2007, mas deixou o testemunho de sua vida de militante político, o testemunho de suas pelejas intelectuais e também de sua missão evangélica, formando um legado que se precisa preservar. Por isso mesmo, encerro esta singela homenagem, com sentimento de veneração afetuosa, evocando uma outra de suas frases
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prediletas: “O verdadeiro sentido da vida o homem só encontra quando se converte ao Evangelho de Cristo. Não existe outro caminho capaz de levar o homem à verdadeira felicidade”. O 13 de Maio e a Abolição Senhora Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Hoje é 13 de maio, essa data simbólica, que celebramos neste espaço – o Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM) - reservado para a memória de tempos passados da vida maranhense, que se deve preservar. Hoje se comemoram os 121 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, de tal forma que o ensejo desta data nos inspira a fazer reflexões. O regime da escravatura acabou. Mas ainda há muitas desigualdades, preconceitos e discriminações. As estatísticas dizem que o Brasil é um dos países de maior desequilíbrio social do mundo e a concentração da riqueza nas mãos de poucas pessoas é, entre todas as distorções da sociedade brasileira, a mais resistente no tempo e no espaço. A escravidão no Brasil, oficialmente abolida no dia 13 de maio de 1888, por uma lei assinada pela Princesa Isabel (1846-1921), é um assunto histórico de óbvia atualidade, dada a preocupante situação social do país. Não porque o passado condicione mecanicamente o presente. Nem um passado traumático, como o escravista, deve ser encarado como fator determinante da miséria do presente. Mas há, com certeza, uma relação entre os dois fenômenos: a escravidão e a desigualdade social existente hoje no País. Joaquim Nabuco interpretou a História do Brasil centralizando-a no irredutível conflito senhor-escravo. Nessa perspectiva ele mostrou que a chave da História colonial é o conflito, oculto ou aberto, consciente ou inconsciente, entre senhores e escravos. “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”, escreveu Nabuco, em 1900, como se fosse uma profecia, lançando uma idéia destinada a renascer na obra de todos os pensadores brasileiros que conquistaram relevância no século XX. A era da escravidão, cujo resgate Rui Barbosa (1849-1923) ameaçou tornar quase inviável ao ordenar a destruição dos documentos que lembravam o que lhe parecia uma mancha no passado nacional, de fato precisa ser recuperada e reescrita. Aproveito para evocar a figura de grandes brasileiros, como Lima Barreto, Cruz e Souza, João do Vale, Solano Trindade, Abdias do Nascimento, Maria Firmina dos Reis, Maria Aragão, Maria Raymunda Araújo, fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA), e Jeremias Pereira da Silva, o Gerô, brutalmente assassinado em São Luís, no dia 22 de março de 2007. Evoco ainda José do Nascimento Moraes, patrono da Cadeira Nº 53 do IHGM, notável escritor e jornalista, autor do romance Vencidos e degenerados. Ele deixou como legado a bravura moral e o exemplo excepcional de uma luta revolucionária no Maranhão contra o preconceito da cor e da riqueza, num meio onde o racismo, herdado da Colônia e do Império, não permitiu nem acesso fácil nem ascensão
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aos que, como ele, negro e pobre, humilde e sem proteção, tinham de abrir seu próprio caminho, com muito trabalho, perseverança e talento. Gloriosa Imprensa do Maranhão Senhora Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Além de celebrar o 13 de maio, eu tive a pretensão de aproveitar esta data tão importante na minha vida para fazer uma homenagem à imprensa e aos profissionais da imprensa no Maranhão. Como se sabe, os meios de comunicação de massa atingem, de maneira muitas vezes mais mitológica que racional, milhões de pessoas instantaneamente. Isto aumenta, em muito, as responsabilidades sociais dos homens de imprensa. Neste momento temos no Brasil uma demonstração da extraordinária força da imprensa, numa sociedade democrática. Nestes dias de mudanças profundas, tem sido ela mais do que uma tribuna e uma escola do povo. Noticia e esclarece, suscita dúvidas, esclarece equívocos, mobiliza o povo. Esta extraordinária força da imprensa é uma força impulsionadora das mudanças. A sua poderosa capacidade de formar a opinião pública fortalece causas e valores, tendo que estar, pela própria natureza, na vanguarda dos anseios, na luta pela liberdade, na batalha pela transformação social. Quando não desempenha esse papel, quando não exerce tais funções, quando não exprime os legítimos anseios e interesses da sociedade, a imprensa sofre inevitavelmente a sanção da transitoriedade, cuja pena é, de forma invariável, o perecimento. O Maranhão, no entanto, está repleto de edificantes exemplos de como é longa e permanente a influência de valorosos jornais e jornalistas que, por sucessivas gerações, vêm cumprindo esse compromisso de sentido ético e moral. No Brasil, onde temos órgãos de imprensa que são verdadeiras instituições, patrimônio da cultura nacional e expressão de nossa capacidade crítica, desde cedo aprendemos que a imprensa livre não é simples ornamento, mas, ao contrário, fundamento do regime pluralista e democrático, indissociável da história e do progresso do País. A imprensa tem desempenhado no Brasil papel da maior importância para a vida independente, desde o nascimento da nacionalidade. Aliás, desde antes, pois a proibição de haver imprensa no Brasil, acabada com a vinda de D. João VI, traduzia a nítida consciência de que imprensa era sinônimo de independência. Em 1779, portanto há 230 anos, foram ventos trazidos por palavras escritas que passaram por Vila Rica, pelas Minas Gerais. E a efervescência intelectual que, no princípio do século XIX, canalizou as idéias literárias e o projeto de uma nação livre e independente, teve na imprensa o veículo principal de propagação. Nós, brasileiros, devemos um grande tributo à figura ímpar do grande jornalista Hipólito José da Costa, que fez ecoar, de Londres, de 1808 a 1822, os anseios da emancipação política da gente brasileira.
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Falo de uma história em que têm militado grandes nomes do nosso patrimônio intelectual: José do Patrocínio, Evaristo da Veiga, Frei Caneca, o próprio José de Alencar. E nesta galeria dos homens da imprensa brasileira, faz-se necessário citar, também, grandes jornalistas da História do Maranhão. São tantos. Mas é justo dizer que figuram nesta galeria homens que desde João Lisboa, Antônio Lopes, Joaquim Serra, passando por Agostinho Reis, Erasmo Dias, Amaral Raposo, Bernardo Coelho de Almeida e tantos outros que construíram a gloriosa história da imprensa maranhense. Não se pode deixar de citar ainda Bandeira Tribuzi, Carlos Cunha, Vera Cruz Marques, Lopes Bogéa, Nascimento Morais Filho, cuja pena sempre esteve ao lado das boas causas. É com essa consciência histórica que se deve mobilizar a sociedade, permanentemente, a ter compromisso com a defesa da liberdade, com a busca da identidade cultural do nosso País, com o florescimento das ciências e das artes, com a luta pela liberdade e pela Justiça. Esta data marcante na minha vida me traz à lembrança, também, colegas que já desapareceram do nosso convívio, como Oliveira Ramos, Cícero Alves, J. Morada, Koroacy Gomes, Reginaldo Correa, Silva Diniz, Kylma Bandeira e Deny Cabral, estes três últimos recentemente falecidos. Em um de seus livros, “Éramos Felizes e Não Sabíamos”, o escritor Bernardo Coelho de Almeida, recorda que, em seu tempo, havia “grandes homens” até nas redações. Eram os “grandes jornalistas”. O moço Coelho de Almeida ouvia dos mais velhos: “Está vendo aquele ali? É fulano. Jornalista de mão cheia. Grande jornalista”. E caprichava-se na pronúncia da aparatosa palavra grande: “grrraaaannnde”. Inspirado nesta passagem do livro de Bernardo Coelho de Almeida, quero agora fazer homenagem ao saudoso José Ribamar Bogéa, o Zé Pequeno, a Dona Hilda Bogéa, e seus filhos Lourival, Ribamar Bogéa Filho, o Ribinha, Josilda, Gutemberg e Luís Antônio. A companheiros de outras jornadas, como Ribamar Cardoso, Jersan Araújo, Marinaldo Gonçalves, José Salim Rosas, Adenis Matias, Altere Bernardino, Djalma Rodrigues, Mário Reis, João Nepomuceno, Ademir Santos, Aldionor Salgado, Nonato Reis, Sílvia Moscoso, Nilton Ornelas, Waldemar Terr, Jaqueline Heluy, Jorge Vieira, Robson Paz, José Machado, Ademário Cavalcante, Antônio Carlos Lima, Ribamar Correa, Aquiles Emir, Raimundo Borges, Chico Coimbra, Riba Um, Kátia Persovisan, Félix Alberto, Henrique Bois, Paulo Washington, Marcos Nogueira, Sílvia Tereza, Othelino Filho, Othelino Neto e Edwin Jinglins, atual secretário de Comunicação do Município de São Luís. Para não ser injusto com ninguém, quero fazer uma homenagem a todos os jornalistas e demais profissionais da imprensa na pessoa do grande jornalista e poeta Cunha Santos, a quem peço licença para ler o texto de uma de suas poesias mais primorosas. Senhores Cunha Santos é um monumento vivo da intelectualidade maranhense. Seus poemas são a expressão do talento de um dos maiores poetas do Maranhão. A força de sua poesia está expressa neste poema, intitulado
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As lágrimas de Seu Nelson Seu Nelson chorava todas as manhãs não porque estivesse velho ou triste não porque lhe deprimisse estar no mundo Seu Nelson chorava todas as tardes não porque sentisse dor ou soubesse de saudades não porque lhe deprimisse não ter muito aonde ir Seu Nelson chorava todas as noites não porque fosse criança ou tivesse medo do escuro não porque lhe restasse na vida um único e antigo amor Seu Nelson chorava todas as manhãs porque tinha certeza de que jamais haveria outra manhã igual àquela Seu Nelson chorava todas as tardes porque cedo ou tarde todas as tardes acabam Seu Nelson chorava todas as noites porque sabia que as estrelas se repetiriam em outras noites, naquela noite nunca mais e que sua madrugada só duraria até a hora de chorar mais uma vez
Palavras finais Senhores e Senhoras, É com grande emoção que eu vivo este momento. Emocionado pela generosidade da acolhida, honrado pela confiança dos integrantes desta Instituição em me colocar aqui como um de seus membros. Sei o quanto é imensa esta responsabilidade. Mas assumo aqui diante de todos o compromisso de honrar esta Cadeira e de honrar esta Instituição. Senhores, Que Deus abençoe o Maranhão. Que Deus abençoe a todos nós. Uma vez mais, Muito obrigado.
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