ALL EM REVISTA, v.4, n. 4, out./dez. 2017

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO

NÚMERO ATUAL - V. 4, N. 4, 2017 – OUTUBRO A DEZEMBRO SÃO LUIS – MARANHÃO


2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS

2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES

2016 – ANO DE COELHO NETO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA CLORES HOLANDA SILVA Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Presidente CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

NOSSA CAPA: Escudo da ALL

Retrato de Josué Montello


ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da academia ludovicense de letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981

2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4

2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com


V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4

2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1

V.4, n.2, 2017 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_2

V.4,n.3,2017 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v._3__julho-setem


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA 2016-2017

Presidente -

DILERCY ARAGÃO ADLER

Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário –

MÁRIO LUNA FILHO

2º Secretário –

DANIEL BLUME DE ALMEIDA

1º Tesoureiro –

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

2º Tesoureiro –

RAIMUNDO GOMES MEIRELES

CONSELHO FISCAL

ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO

CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

CONSELHO EDITORIAL SANATIEL DE JESUS PEREIRA - Presidente ALDY MELLO DE ARAÚJO - Membro DILERCY ARAGÃO ADLER - Membro

EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536


RELAÇÃO DE CADEIRAS E ACADÊMICOS FUNDADORES E OCUPANTES CADEIRA 01 Claude d’Abbveville – Século XVI 02 Antonio Vieira – 1608 03 Manoel Odorico Mendes – 1799 04 Francisco Sotero dos Reis – 1800 05 João Francisco Lisboa – 1812 06 Cândido Mendes de Almeida – 1818

07 Antônio Gonçalves Dias – 1823

08 Maria Firmina dos Reis – 1825 09 Antônio Henriques Leal – 1828 10 Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) – 1832 11 CelsoTertuliano da Cunha Magalhães – 1849 12 José Ribeiro do Amaral – 1853

ACADÊMICOS ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA (Fundador) Brasileiro, casado, Turismólogo. JOÃO BATISTA ERICEIRA (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado. SANATIEL DE JESUS PEREIRA (Fundador) Brasileiro, separado, Engenheiro Civil. ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO (Fundador) Brasileiro, viúvo, Economista. RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO (Fundador) Brasileiro, Divorciado, Professor Universitário. ROQUE PIRES MACATRÃO (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado. WILSON PIRES FERRO (Fundador) – Falecido Brasileiro, casado, Aposentado (Professor Universitário e Bancário). CLEONES CARVALHO CUNHA 1º Ocupante Eleito - 29 de setembro de 2017 DILERCY ARAGÃO ADLER (Fundadora) Brasileira, divorciada, Psicóloga.

ENDEREÇO ELETRÔNICO

ANIVERSÁRIO

ENDEREÇO

antonionoberto@hotmail.com

30/08

Telefone: 99974-7585, 99116-4130, 99114-0535 e 3226-9175

02/11 jbericeira@veloxmail.com.br

Telefone: 3235-5145 e 99112-8866 17/08

pereirasj@terra.com.br

Telefone: 3772-8257 e 98818-8017

08/11 aarbrandao@ig.com.br

Telefone: 3235-4623 e 99114-4438

29/10 camposoueu@gmail.com professorcampos.ufma@gmail.co m

Telefone: 3227-2837, 98115-6610 e 99971-1090

13/11 ermacatrao@elo.com.br

wilsonferro@uol.com.br

Telefone: 3227-2669

30/07

Telefone: 99974-1712 e 3235-4953

07/07 dilercy@hotmail.com

Telefone: 3246-2018, 98826-5798 e 98161-2361

IRANDI MARQUES LEITE 1º Ocupante Eleito - 29 de setembro de 2017 MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO 1º Ocupante Brasileiro, casado, Médico. ANDRÉ GONZALEZ CRUZ (Fundador) Brasileiro, solteiro, Funcionário Público. MICHEL HERBERT ALVES FLORÊNCIO (Fundador) Brasileiro, divorciado, Médico.

27/07

Telefone: 99603-1576

11/04

Telefone: 3083-0885, 99167-7866, 98106-8770 e 98836-2013

1º./08

Telefone: 99105-3637

mlunafilho@bol.com.br

andre.gonzalez84@yahoo.com.b r

mh.florencio@uol.com.br


13 Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo – 1855 14 Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo – 1855

MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES 1º Ocupante Brasileira, viúva, Aposentada.

15 Raimundo da Mota de Azevedo Correia – 1859

DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA

16 Antônio Batista Barbosa de Godois – 1860 17 Catulo da Paixão Cearense – 1863 18 Henrique Maximiano Coelho Neto – 1864 19 João Dunshee de Abranches Moura – 1867 20 José Pereira da Graça Aranha – 1868 21 Manuel Fran Pacheco (Fran Paxeco) – 1874 22 José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerque Maranhão Sobrinho – 1879 23 Domingos Quadros Barbosa Álvares – 1880 24 Manuel Viriato Corrêa do Lago Filho – 1884 25 Laura Rosa – 1884 26 Raimundo Corrêa de Araújo – 1885 27 Humberto de Campos Veras – 1886 28 Astolfo de Barros Serra – 1900

OSMAR GOMES DOS SANTOS (Fundador) Brasileiro, casado, Juiz de Direito.

12/11

Telefone: 3301-5157 e 99238-1974

25/03

Telefone: 3226-7226, 98703-8025 e 99136-0105

NÃO TEM E-MAIL

fosmargomes@hotmail.com

27/10

Telefone: 98123-1010

danielblume@gmail.com

1º Ocupante Brasileiro, Solteiro, Advogado. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM (Fundador) Brasileiro, viúvo, Médico, Professor Aposentado.

13/05 aymore@elointernet.combr

RAIMUNDO GOMES MEIRELES (Fundador) Brasileiro, solteiro, Capelão Militar.

r.meireles.mei@gmail.com

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO (Fundador) Brasileiro, Desembargador Aposentado.

almada.lim@hotmail.com arthuralmada@bol.com.br

JOÃO FRANCISCO BATALHA (Fundador) Brasileiro, casado, Gestor de RH.

batalha@elointernet.com.br

ARQUIMEDES VIEGAS VALE (Fundador) Brasileiro, união estável, Médico.

arquivale@uol.com.br

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (Fundador) Brasileiro, casado, Professor.

vazleopoldo@hotmail.com

ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA (Candidato Eleito em processo de posse para 1º. Ocupante da Cadeira 22)

ÁLVARO URUBATAN MELO (Fundador) Brasileiro, casado, Pesquisador (Aposentado).

ailtonpoiesis@gmail.com

Telefone: 99974-5398 e 3227-2654

31/10

Telefone: 98804-9424

17/10

Telefone: 3235-5870, 3227-8581 e 98116-9470

08/07

Telefone: 3227-1434 e 98883-0744

22/07

Telefone: 3246-0084 e 98822-8822

23/07

Telefone: 3236-2076

29/12

14/04

Telefone: 3235-1881 e 996060960

Celular: 98135-6388

alvarourubatan@ig.com.br

FELIPE COSTA CAMARÃO (Membro Efetivo Eleito – 1º. Ocupante da Cadeira 24)

felipe.camarao@gmail.com

31/12

MIRIAM LEOCÁDIA PINHEIRO ANGELIM (Membro Efetiva Eleita – 1ª. Ocupante da Cadeira 25) JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO (Membro Efetivo – 1º. Ocupante da Cadeira 26) Brasileiro, casado, Poeta, Administrador. JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado.

miriangelim@hotmail.com

09/12

BRUNO TOMÉ FONSECA 1º Ocupante Eleito – 30 de seteembro de 2017

29/04

Telefone: 99128-1217

30/01

Telefone: 98816-8646 e 32272101

joaobrf@bol.com.br

silviafernandes2011@live.com


29 Maria de Lourdes Argollo Mello (Dilú Mello) - 1913

30 Odylo Costa, filho. – 1914

31 Mário Martins Meireles – 1915 32 Josué de Souza Montello – 1917 33 Carlos Orlando Rodrigues de Lima – 1920 34 Lucy de Jesus Teixeira – 1922 35 Domingos Vieira Filho – 1924 36 João Miguel Mohana – 1925 37 Dagmar Desterro e Silva – 1925 38 João Miguel Mohana – 1925 39 José Tribuizi Pinheiro Gomes – 1927 40 José Ribamar Sousa dos Reis – 1947

AMÉRICO AZEVEDO NETO 1º Ocupante Eleito – 30 de seteembro de 2017

CLORES HOLANDA SILVA (Fundadora) Brasileira, divorciada, Historiadora, Funcionária Pública Federal (Aposentada). ANA LUIZA ALMEIDA FERRO (Fundadora) Brasileira, solteira, Promotora de Justiça. ALDY MELLO DE ARAÚJO (Fundador) Brasileiro, casado, Aposentado e Advogado. PAULO ROBERTO MELO SOUSA (Fundador) Brasileiro, solteiro, Jornalista.

CERES COSTA FERNANDES Brasileira, casa, Professora Universitária JUCEY SANTOS DE SANTANA ((Membro Efetiva Eleita – 1ª. Ocupante da Cadeira 35)

RAIMUNDO DA COSTA VIANA (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado.

11/03

Telefone: 99237-1103, 3227-3634 e 3302-6717

28/08

Telefone: 3227-3789 e 981160733

06/05

Telefone: 98824-5662

28/12

Telefone: 98806-0887 e 32261183

cloresholanda@yahoo.com.br

alaferro@uol.com.br

aldymello13@gmail.com

paulomelosousa@gmail.com

ceresfernandes@superig.com.br

jucey@bol.com.br

11/08

rcv@elointernet.com.br

09/11

claudiopavao@gmail.com

30/11

Telefone: 93227-3071

Cadeira Vaga

Cadeira Vaga

JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA (Fundador) Brasileiro, divorciado, Professor Universitário, Procurador do Estado. Cadeira Vaga

, Telefone: 99971-1858


Parecer nº 003/2017

O Conselho Editorial, abaixo representado pela sua maioria, declara estar de acordo com a proposta da ALL em Revista, do 4º Trimestre do ano de 2017, apresentada pelo seu editor, cujo teor expressa atividades da Academia Ludovicense de Letras, assim como trabalhos de colaboradores. A presente proposta contém a Palavra da Presidente que se refere ao fechamento de um ciclo, além de agradecer a todos aqueles que deram a sua contribuição para o crescimento e a consolidação das conquistas desta Academia ao longo da sua gestão e coloca em foco a importância da revista com as suas sessões realçando assim, asua importância no registrodos feitos e fatos ao longo do trimestre. São Luís, 27 de dezembro de 2017

Aldy Mello de Araújo

Dilercy Adler


SUMÁRIO EXPEDIENTE PARECER SUMÁRIO

3 10 11

COM A PALAVRA, A PRESIDENTE...

16

ABENÇOADO BIÊNIO (2016-2017)

20

AGENDA

21

DECRETO DE UTILIDADE PÚBLICA DA ALL Portaria 9 Resolução 1 SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL -SCLB I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL -SCLB 3ª CONVOCATÓRIA CASA DE CULTURA NAURO MACHADO! Lançamento em Novembro ELEIÇÕES NA ACADEMIA LUDOVICENSE PH REVISTA – O ESTADO – 07/10/2017 13 DE OUTUBRO - DIA MUNDIAL DO ESCRITOR EDMILSON SANCHES O DISCURSO DA PALAVRA LANÇAMENTO MÁRIO LUNA FILHO 11ª FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS – FeliS Participação de membros da ALL 11ª FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS – FeliS PROGRAMAÇÃO

22 23 24

IRANDI LEITE LAÇA LIVRO NA FELIS DILERCY ADLER E OSVALDO GOMES ORGANIZAM E RELANÇAM LIVRO DE MARIA FIRMINA DE 1871 NOITE DE LANÇAMENSTOS COLETIVOS LANÇAMENTO CELSO BORGES CAMPANHA ESTADUAL DE INCENTIVO À LEITURA EXPOSIÇÃO LITERÁRIA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS NA III CAMPANHA ESTADUAL DE INCENTIVO À LEITURA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS 25 de novembro de 2017 PROFESSORA DO IFMA LANÇARÁ LIVRO DE POESIA EM SÃO LUÍS ULTIMA REUNIÃO MDO ANO ELEIÇÕES Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural em Guimarães ACADEMIA EM FESTA

38 39 40 45 47

POSSES AMÉRICO AZEVEDO NETO

25 26 27 28 30 31 34

49 50 51 52 53 54 55 56 57 58

CERES COSTA FERNANDES DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DE AMÉRICO AZEVEDO NETO ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA

60

APRESENTANDO ANTONIO AILTON

71

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA ELOGIO [OBLÍQUO] AO PATRONO - A MARANHÃO SOBRINHO

66

79


JOÃO FRANCISCO BATALHA APRESENTAÇÃO DE IRANDI LEITE

82

ELOGIO AO PATRONO

85

NA BERLINDA

91

IRANDI MARQUES LEITE

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Lançamento da Revista Arte & Estilo, edição 2017, dia 09 de outubro PH REVISTA – O ESTADO MA – 07/10/2017 Ana Luiza no Rio Um Trem chamado Sonho, um Sonho chamado Academia – UBE-RJ 2017 ANA LUIZA NO PH REVISTA – PREMIO UBE-RJ Solenidade de Premiação do Concurso Internacional de Literatura da UBE RJ REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS Diploma de Acadêmica correspondente da excelsa ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS MEMBRO CORRESPONDENTE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA DANIEL BLUME DE ALMEIDA Antologia – A vida em Poesia II – A MOEDA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO FÍSICA – UNICAMP – 1987/2017 – 30 ANOS CONSTRUÇÃO DE UM TESAURUS EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES REVISTA POÉTICA BRASILEIRA Uma publicação do jornalista e editor-sênior Mhario Lincoln / https://www.revistapoeticabrasileira.com.br/ Reportagens Especiais: A VERDADE SOBRE A FOTO DE MARIA FIRMINA CEV/EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES 12TTPS://www.facebook.com/groups/cevefesporte/?fref=ts LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA POR QUE SÃO LUÍS, NO MARANHÃO, É A ‘JAMAICA BRASILEIRA’? ARQUIMEDES VALE AGORA EU CONTO – LANÇAMENMTO JORNADA SOBRAMES NO RIO DE JANEIRO QUEM JUNTO CAMINHA... BRUNO TOMÉ A VITÓRIA DE BRUNO TOMÉ NA ALL DILERCY ARAGÃO ADLER NOVOS IMORTAIS ENTREVISTA COM A ESCRITORA DIANA MANASCHÉ VAVÁ MELO NOVOS IMORTAIS Alvaro Urubatan Melo - Ecos da Baixada. FRANCISCO BATALHA NOVOS IMORTAIS JOÃO BATISTA ERICEIRA REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS JOSÉ FERNANDES

Centenário do Padre Brandt ANTONIO NOBERTO

92

101

107 110 125 128 129

131

134 137

139 141 142 143 144

EFEMÉRIDES

150

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO: Nem 8 nem 80: Ele faz 88 anos

151

"VOU CONTAR-TE MEU CATIVEIRO"

153

MARIA FIRMINA DOS REIS: consolidando a ressignificação de uma precursora SAMARTONY MARTINS (O IMPARCIAL, 11/10/17) NOVA DESCOBERTA SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS O ESTADO MA – CADERNO ALTERNATIVO – 11/10/17 LUZ SOBRE MARIA FIRMINA

162

EDMILSON SANCHES LEONARDO NASCIMENTO DILERCY ARAGÃO ADLER

166 167


SOLENIDADE DE COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE MARIA FIRMINA DOS REIS 11 de outubro de 2017 / Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche – DILERCY ARAGÃO ADLER MARIA FIRMINA DOS REIS: consolidando a ressignificação de uma PRECURSORA: DECLARAÇÃO PÚBLICA DA MUDANÇA (MÊS E ANO) DA DATA DA COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE MFR PARA 11 DE MARÇO DE 1822. O ESTADO MA – 12 DE OUTUBRO DE 2017 – CADERNO ALTERNATIVO ENCONTRO PARA EXALTAR UMA MARANHENSE HOMENAGEM A MARIA FIRMINA - IMPAR SAMARTONY MARTINS Maria Firmina: uma maranhense para se orgulhar JP TURISMO – MARIA FIRMINA DOS REIS – UMA MARANHENSE - POESIA ESPAÇO PARA A LITERATURA NA PRAIA GRANDE - ALTERNATIVO ERRAMOS ABERTURA DA 11ª FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS

2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO Comemoração ao centenário de nascimento Montello - Universidade Estadual do Maranhão

ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE FELIPE CAMARÃO; ROBERT SOUSA

168

172 175 177 179 180 182 183 184 185 186 187

CONVENTO DAS MERCÊS: ESPAÇO DE TODOS

209

TRABALHO, TEMPO LIVRE E LAZER

211

FORTES LAÇOS

221

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO PREMIO NOBEL DE ECONOMIA CERES COSTA FERNANDES A IMPORTÂNCIA DOS ENCONTROS DE ACADEMIAS PARA A CULTURA DO ESTADO CERES COSTA FERNANDES

222 223

REFLEXÕES COM DODÔ

226

O REI PROTESTANTE HENRIQUE IV E A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS: Uma homenagem aos 500 anos da Reforma protestante

227

JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS?

229

ANTONIO NOBERTO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FELIPE CAMARÃO EDUCAÇÃO QUILOMBOLA: INVESTIMENTOS E RESPEITO AO POVO NEGRO AYMORÉ ALVIM

240

A SAGA DE JUCA DE HONORATA

242

DO ABANDONO À ERA ESCOLA DIGNA

243

HOMENAGEM A GOMES DE SOUSA

245

UBIRATAN TEIXEIRA

247

A FELICIDADE RENOVADA

248

GERENCIANDO O ORÇAMENTO PÚBLICO

249

CIDADE MARAVILHOSA

250

SAÚDE E ESPIRITUALIDADE

251

FELIPE CAMARÃO JUCEY SANTANA JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS RAMOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA ESCASSA LUZ SOBRE [O FILME] "LAMPARINA DA AURORA", DE FREDERICO DA CRUZ MACHADO

252


FELIPE CAMARÃO MAIS ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

254

ANTONIO NOBERTO CONDUZ ESCRITOR FRANCÊS ÀS “PEPITAS” DO MARANHÃO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO NOVOS TÓPICOS RELEVANTES – IV ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO GERENCIANDO O ORÇAMENTO PÚBLICO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO FRAGMENTOS DE LUZ E COR AYMORÉ ALVIM. CONTO DE NATAL: MEDICINA, UM EXERCÍCIO DE AMOR.

255

POESIAS & POETAS

262

MANOEL DOS SANTOS NETO

257 258 259 260

OSMAR GOMES O TEMPO PRIMAVERA PALAVRA LETARGIA A VACINA QUE CURA OUTUBRO ROSA DESEJO RAIMUNDO FONTENELE O POETA ANTONIO AÍLTON DIZ A QUE VEIO A GERAÇÃO 90

263

269

DILERCY ADLER TUDO FICARÁ BEM AO AMANHECER ESTAÇÕES

273

PLUTÃO

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RETOUR BRESILIEN

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TERESINKA PEREIRA JEAN-PAUL MESTAS JOÃOZINHO RIBEIRO PLANOS URBANOS

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AYMORÉ ALVIM INDISCRIÇÃO UMA CANÇÃO A GONÇALVES DIAS POEMA PREMIADO, CHEIO DE AMOR PELAS CAUSAS PERDIDAS: O SARAU FRACASSADO DE DOM QUIXOTE AOS OLHOS DE SANCHO PANÇA, SEU ÚNICO ESPECTADOR VIRIATO GASPAR VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA O VELHO NA TARDE SONETO XXII DE ONIPRESENÇA

POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador) FERNANDO BRAGA POESIA DE ONTEM SAMARTONY MARTINS (O IMPARCIAL, 09/10/2017 – CADERNO IMPAR) MULHERES NA LITERATURA FERNANDO BRAGA UM LENDÁRIO CONTADOR DE HISTÓRIAS: Ubiratan Teixeira: São Luís, 14 de outubro de 1931 - 15 de junho de 2014 FERNANDO BRAGA LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO FERNANDO BRAGA VULTOS HISTÓRICOS À LUZ DA CRÍTICA MODERNA FERNANDO BRAGA PERDE O MARANHÃO UM DOS GRANDES POETAS BRASILEIROS DA GERAÇÃO DE 45 HELÔ D'ANGELO QUEM FOI MARIA FIRMINA DOS REIS, CONSIDERADA A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA ALEXANDRE MAIA LAGO PADRE ANTÔNIO VIEIRA, Imperador da língua portuguesa

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FERNANDO BRAGA MANOEL DA CRUZ EVANGELISTA E SUAS HISTÓRIAS EM PROSA E VERSO

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CONVERSAS VADIAS

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FERNANDO BRAGA FERNANDO BRAGA EXERCÍCIO MARÍTIMO FERNANDO BRAGA

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A TARA E A TOGA, DE WALDEMIRO VIANA

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DIREITO & LITERATURA

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CENTENÁRIO DA FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO: FALTAM TRÊS!!!

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ RHUAN FILIPE MONTENEGRO DOS REIS JOSE ROSSINI CAMPOS DO COUTO CORRÊA CONJUNTURA LEGAL DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL E A INCIDÊNCIA DE SEUS PRINCÍPIOS NORTEADORES DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA DIREITO AO ESQUECIMENTO: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE OS SISTEMAS JURÍDICOS PORTUGUÊS E BRASILEIRO DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA ENSAIO SOBRE A PRORROGAÇÃO DOS PRAZOS DECADENCIAIS EM DECORRÊNCIA DAS “FÉRIAS DOS ADVOGADOS" (CPC/15, ART. 220)

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COM A PALAVRA, A PRESIDENTE...


COM A PALAVRA, A PRESIDENTE... Este último trimestre de 2017 fecha um ciclo de um ano que termina e junto com ele o mandato desta Diretoria. E uma nova Diretoria já eleita chega para tomar posse no primeiro dia do Ano Novo. Então, estas são as últimas palavras desta presidente neste ciclo que, como o tempo circular andino, não significam fim em si mesmo, mas Encontro. Encontros simbolizadospor três figuras de animais: o sapo, a serpente e o puma. O sapo come o puma, o puma come a serpente e a serpente come o sapo, e assim, em espiral ascendente, até a eternidade. O sapo busca, encontra e acumula forças; o puma é o limite da acumulação de forças e, ao se tocarem essas forças, a ponto de se chocarem, resultauma explosão do encontro de forças, que logo passa para outro estágio de totalidade, expressada como continuidade. E as acumulações de sensibilidade resultam em forças do bem permeando a continuidade de construção de algo bom, iluminado e iluminando o caminho. Esta Diretoria conseguiu, com a participação dos membros desta Casa, concretizar desde coisas mais simples, mas não menos importantes, até algumas dentre as mais vitais para a existência de uma Academia que necessita cumprir o seu papel e a sua finalidade na sociedade, a exemplo da cessão de uso de um prédio para sua instalação, pelo Governador do Estado, Dr. Flávio Dino (em processo de finalização). Mas voltando o foco para este número da Revista, constata-se quão profícuo de atividades culturais foi este trimestre: outubro, marcado pela comemoração do aniversário de nascimentoda Patrona da Academia Ludovicene de Letras; novembro, com o assinalamento da 11ª Edição da Feira de Livro de São Luís-FeliS, na qual Maria Firmina dos Reis brilhou como Patrona e ainda teve o seu centenário de falecimento celebrado no âmbito da FeliS. Nela muitos membros da ALL fizeram palestras, participaram de mesas redondas, lançaram livros, além de exporem seus livros no estande da Academia. Ainda sobre livros, os de Maria Firmina, reeditados, livros sobre ela lançados, inclusive com a divulgação de dados novos sobre sua vida; nos últimos dias de dezembro, eleição de uma nova diretoria. Também, no decorrer do trimestre, posses com os respectivos discursos e apresentação dos eleitos por membros da ALL, de modo que a Revista, ao longo de suas páginas e das suas seções: Agenda, Posses, Na Berlinda, Artigos, & Crônicas, & Contos, & Opiniões, Poesias & poetas e Por uma Antologia Ludovicense apresenta e traduz muito do que aconteceu e foi dito/registrado neste trimestre. Cabe agora um agradecimento a todos aqueles que deram a sua contribuição para o crescimento e a consolidação das conquistas desta Academia. E, como é a paixão que move o mundo, desejamos que ela se renove a cada dia, em cada um de nós, para que continuemos a realizar muito em prol da cultura da nossa terra. E a todos um Final de ano Feliz, pleno de Paz, e que esta se prolongue por todo o ano de 2018.São os meus votos! Para finalizar esta minha fala, um convite:


CONVITE Dilercy Adler Pequenos brilhantes no chão do paraíso eu vi... colhi... distribuí... não os queria só para mim!!! eu vi estrelas no céu brilhantes... amei! eu vi estrelas no céu opacas sem brilhos... chorei! ... quero acendê-las! vamos? In: DE Súbito... à deriva...& Porto poesia, 2014. São Luís, 31 de dezembro de 2017. Dilercy Aragão Adler


ABENÇOADO BIÊNIO (2016-2017) Dilercy Aragão Adler Presidente O biênio 2106-2017 foi pleno de realizações e grandes conquistas no que diz respeito à consolidação da importância e da visibilidade da Academia Ludovicense de Letras. Esta Diretoria conseguiu concretizar desde coisas mais simples, mas não menos importantes, até algumas dentre as mais vitais para a existência de uma Academia, as quais serão nomeadas mais adiante. Por sermos uma Academia fundada recentemente, muito há por fazer e, a partir dessa compreensão, esta Diretoria, apesar de todas as dificuldades objetivas e subjetivas, não mediu esforços para fazer o seu melhor em prol do coletivo da Casa de Maria Firmina dos Reis. Dentre as realizações, podem ser citadas: a Instituição da Pedra de Toque, em atendimento à reivindicação dos confrades e confreiras, no sentido de ser incluído nas Assembleias deliberativas um momento cultural; definição e confecção do capelo; compra do turíbulo, de modo a cumprir o ritual de cada eleição; criação do site da Academia; confecção da bandeira; cadastro na Agência Brasileira do ISBN (Biblioteca Nacional), sendo a Presidente, Dilercy Aragão Adler, a representante da Editora ALL; realização do concurso para escolha da letra do Hino da Academia (os três primeiros lugares classificados pela Comissão julgadora receberam menção honrosa, ficando a definição da letra para uma outra ocasião); realização da I Semana Ludovicense de Literatura juntamente com a I Semana Maranhense de Literatura e definida em Ata para ser realizada nos anos subsequentes, sempre no mês de agosto, de modo a ser comemorado o aniversário da ALL dentro dessas Semanas; participação da ALL com exposição e vendas de livros na Feirinha de São Luís, projeto da Prefeitura Municipal; concretização de uma réplica, por Marlene Barros, do busto de Maria Firmina dos Reis, obra de Flory Gama, de 1975; restauração de um exemplar original do livro Cantos à beira-mar e da capa da edição fac-similar de um exemplar de Úrsula dessa escritora, ambos presenteados à ALL por Loreley Morais, filha de Nascimento Morais Filho; publicação, em conjunto com o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães - IHGG, da 1ª edição atualizada, segundo o Acordo Ortográfico vigente, de um livro contendo duas de suas publicações:o livro de poemas Cantos à beira - mar e o conto indianista Gupeva, organizado por Dilercy Adler, Presidente da ALL e Osvaldo Gomes, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, obra financiada por estas instituições. Tambémfoi lançado o livro Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, de autoriada Presidente da ALL, que ocupa a Cadeira de Maria Firmina. Nele divulga resultados de pesquisa sobre a vida de Maria Firmina, dentre os quais a data de seu nascimento e a condição étnica da sua mãe (mulata forra), a certidão de batismo e a Portaria da sua nomeação. Os dois livros foram lançados na 11ª edição da Feira de Livro de São Luís-FeliS. Nesse bojo dos dados novos também o conhecimento/divulgação da existência da Lei que institui o dia de nascimento de Maria Firmina como o Dia da Mulher Maranhense, o qual já é conhecido como o Dia da Mulher Vimaranenses. Assim, foi providenciado na Assembleia Legislativa o ajuste do dia de comemoração, que passou de 11 de outubro para 11 de março, e a aprovação da comemoração desse dia a partir de 2018. Foram ainda realizados um documentário em comemoração ao aniversário dos 04 anos de fundação da ALL e duas eleições (2016 e 2017) em quatro dias para preenchimento de oito cadeiras, tendo a Casa recebido oito novos membros. Foi confeccionada e instituída/regulamentada a Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural; foi impresso e entregue aos membros da ALL o diploma definitivo de posse. E três grandes conquistas, a meu juízo, foram a concessão do Título de Utilidade Pública para a ALL, mediada pelo vereador Silvino Abreu, e a escolha da Patrona da 11ª FeliS, pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura– SECULT, coordenada por Rita Oliveira, ter incidido sobre a ilustre figura da Patrona da Academia, a primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis, o que a levou ao âmbito da população local, nacional e internacional, igualmente ao que ocorreu no ano de 1975, quando foi comemorado o seu sesquicentenário de nascimento, momento em que se tornou centro das atenções e foco cultural, circulando nos ambientes, nos grupos e entre pesquisadores culturais neste ano de 2017. E a maior conquista de todas: a cessão, em sistema de comodato,de um imóvel destinado para a sede da Academia


Ludovicense de Letras pelo Governador do Estado, Flávio Dino. O prédio é de propriedade do Estado e está situado na Rua do Giz, nº 139 – Centro Histórico em São Luís do Maranhão (em processo em finalização). No tocante ao novo momento que a ALL vai iniciar em 2018, quero deixar claro que o meu apoio pessoal não se dirige a pessoas ou a grupos, mas ao bem da Academia Ludovicence de Letras, por acreditar que as impressões e sentimentos em relação a cada confrade e confreira são de foro íntimo, enquanto que aquelas que são de interesse da Casa estão na esfera do coletivo. Por isso mesmo, tenho nas minhas ações pessoais, procurado desconsiderar qualquer atitude menos solidária ou menos amigável, infelizmente comuns em convívios em grupos ou instituições. Acredito e reafirmo que o que deve unir a todos, independentemente de simpatias ou ideologias, é a Causa e, neste caso específico, esta Casa, independentemente de qualquer outra condição ou situação. Como cada gestão deixa a sua marca, acredito que esta Diretoria, nesses dois anos, imprimiu a pressa em realizar o que é bom e necessariamente urgente para a Academia.. E assim procedeu com a adesão de poucos ou muitos, em momentos diferentes, porque mesmo não parecendo, cada atividade, cada trabalho requisitava tempo e energia, mas como é essencial a paixão em tudo que se faz, lá estava ela... em cada um e em cada atividade! Afinal, é a paixão que move o mundo! não importando a quantidade de pessoas, mas, sim a intensidade das suas paixões! Como somos uma Academia infante, há muito a ser realizado e por constituirmos uma confraria, todos os feitos têm o empenho de muitas mãos. Portanto, quero agradecer a todos aqueles que contribuíram ao longo destes dois anos na concretização dos objetivos da Casa, mas, sem desmerecer quem quer que seja, permitam -me deixar registrado nesta minha fala dois agradecimentos essenciais para o funcionamento da nossa Academia: agradeço, de coração, ao empenho e à mediação de Felipe Camarão, em diversas atividades da ALL, mas principalmente, no que se refere à aquisição da sede, porque reafirmo que a conquista de um prédio para a instalação da nossa sede vai consolidar a ALL como Academia de relevância na cidade de São Luís.E ao confrade Raimundo Nonato Campos Filho pela dedicação às atividades, a meu ver, mais cansativas, que são aqueles referentes a organização e dos registros de documentos cartórios, em Diários oficiais, mesmo cuidando da contabilidade, além de se responsabilizar pela confecção de medalhas, diplomas, entre outros afazeres. Para finalizar, renovarei os meus votos de dedicação ao engrandecimento da Casa de Maria Firmina dos Reis e desejo muito sucesso à nova Diretoria, que assumirá a partir de 2018, e que sejam anos profícuos de realizações e que a Academia cresça cada vez mais, assim como a confiança e a harmonia entre os seus membros. E que Deus, através da Sua verdade e do Seu Amor, abençoe a Casa de Maria Firmina dos Reis!


AGENDA



PORTARIA ALL Nº. 009/2017, DE 09 DE DEZEMBRO DE 2017. Constitui a Comissão para o recebimento do Governo do Estado, do prédio a ser destinado para a instalação da Academia Ludovicense de Letras -ALL, e outras providências.

A Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, no uso de suas atribuições estatutárias e regimentais e conforme deliberação da Assembleia Geral Ordinária da ALL, ocorrida em 26 de agosto de 2017, RESOLVE: Designar os acadêmicos abaixo relacionados para comporem a Comissão para o recebimento do Governo do Estado, para o recebimento do Governo do Estado, do prédio a ser destinado para a instalação da Academia Ludovicense de Letras -ALL, e outras providências. 1 – Dilercy Aragão Adler – Presidente; 2 – Antônio José Noberto da Silva; 3 – Sanatiel de Jesus Pereira; e, 4 - Paulo Melo Sousa. São Luís, 09 de setembro de 2017.

DILERCY ARAGÃO ADLER Presidente


RESOLUÇÃO - ALL Nº. 001/2017, DE 09 DE DEZEMBRO DE 2017. Institui a Medalha “Maria Firmina” do Literário e Cultural.

Mérito

A Presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, no uso das suas atribuições legais e estatutárias e de acordo com a deliberação da Diretoria e do Plenário, aprovada, por unanimidade, na sessão ordinária da ALL, ocorrida no dia 25 de novembro de 2017, Considerando a necessidade de galardoar personalidades que por suas ações meritórias façam jus ao reconhecimento que a outorga representa; Considerando os trabalhos da Comissão Organizadora de Homenagens, instituída pela Portaria Nº 008, de 25 de novembro do corrente ano; RESOLVE: Art. 1º - Instituir a Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural em homenagem àqueles que forem indicados e aprovados pelo Plenário da Academia os quais, por suas ações meritórias, façam jus ao reconhecimento que a outorga representa. Art. 2º - A Medalha leva esse nome em razão de Maria Firmina dos Reis ser reconhecida publicamente em todo o pais como a primeira romancista abolicionista brasileira entre outros relevantes feitos culturais e educacionais e, ainda, por ser a Patrona da Academia Ludovicense de Letras - ALL. Art. 3º A medalha “Maria Firmina” será conferida a personalidades que tenham prestado relevantes serviços em favor da Casa de Maria Firmina dos Reis, contribuído para o engrandecimento da Instituição e concorrendo assim, para o aprimoramento da cultura e/ou da educação no Estado do Maranhão. Art. 4º - Anualmente poderão ser outorgadas até cinco medalhas, ressalvado o disposto no parágrafo único deste artigo. Art. 5º - Esta Portaria entra em vigor nesta data. São Luís, 09 de dezembro de 2017.

DILERCY ARAGÃO ADLER Presidente


SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL -SCLB

I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL-SCLB 3ª CONVOCATÓRIA De 1ºdezembrode 2017 a 01 de fevereiro de 2018 APRESENTAÇÃO A cultura é um valioso instrumento de transformação revolucionária. A cultura é a percepção que temos do mundo e do outro;é a possibilidade de dotarmos o nosso espírito de sensibilidade e generosidade e, assim, podermosficar verdadeira e amistosamente juntos, numa convivência harmoniosa. A Sociedade de Cultura Latina reúne povos de muitas nações, o que lhe dá força e vigor artísticoliterário, com projeções no todo das sociedades onde atua, daí a sua grande importância. A Sociedade de Cultura Latina do Brasil foi fundada em 24 de julho de 1988, e neste seu 29º aniversário a sua Diretoria lança o Projeto: “I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL”, por acreditar na premissa das artes como instrumento de melhoria do mundo e das pessoas. Esta proposta constitui também, além de fortalecer laços entre as Nações Latinas, uma forma importante de comemoração dos 30 anos da SCLB, em 2018. Os trabalhos serão recebidos no ano de 2017 e início de 2018e o lançamento da obra dar-se-á no dia 24 de julho de 2018. A participação está aberta a todos aqueles que queiram compartilhar as suas produções no mundo latino: poetas, acadêmicos, estudantes, universitários e do Ensino Fundamental e Médio. NORMAS DOS TRABALHOS - Cada poeta poderá apresentar até cinco (cinco) poemas, tema livre; Formato A4, TimesNew Roman, tamanho 12, espaço 1, e enviar, adjunto, currículo literário resumido (no máximo seis linhas), em que conste data de nascimento, cidade e país de origem; e-mail, com foto atualizada. Envio de Poemas para: dilercy@hotmail.com CUSTOS:A antologia adotará o sistema consorciado, na qual os custos serão rateados entre autores que receberão em livros os valores pagos, caso não se consiga financiamento. Contamos com a sua participação e divulgação! Dilercy Aragão Adler Presidente


Estamos preparando muitas novidades para a Casa de Cultura Nauro Machado! Cineclube, cursos, workshops, palestras, pocket show, exposições, lançamentos de livros, de filmes, de discos, peças de teatro, concursos literários... Além disso um café/bar para encontro de todos os artistas da cidade. Muitos planos a altura do poeta e do homem que foi Nauro Machado. Nauro Machado é um monumento da arte no Maranhão e no Brasil! Inauguração será em novembro! O espaço se propõe a ser um local de encontro e aproximação de todos os artistas e da arte em geral em São Luís. A casa é uma ação toda particular até o momento, promovida pela família do escritor, a escritora Arlete Nogueira da Cruz e o seu filho, o cineasta Frederico Machado.


ELEIÇÕES NA ALL PH REVISTA – O ESTADO MA – 07/10/2017


13 DE OUTUBRO - DIA MUNDIAL DO ESCRITOR O DISCURSO DA PALAVRA EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br

O jovem discípulo aprisionou um pequeno pássaro entre as mãos, colocou-se atrás do seu mestre e falou-lhe: “Mestre, tenho um pássaro nas mãos. O senhor, que sabe todas as respostas, diga-me: Ele está vivo ou morto?” Se o mestre respondesse: “Está vivo”, o discípulo esmagaria o pássaro e o exibiria morto. Se a resposta fosse: “Está morto”, o discípulo libertaria o pássaro, que voaria frente ao mestre agora desmoralizado. O que falar? O que dizer? O que responder? Permitam-me que eu os cumprimente a todos aqui com a tradição, a simplicidade e a educação de duas palavras: Senhoras; Senhores. O que podemos falar, e o que devemos dizer, em um discurso? Que palavras devemos usar, que sentidos devemos empregar, que emoções devemos expressar, que reações queremos provocar? Ah!, esse novo jogo verbal, essa nova esfinge vocabular também nos observa e repete: “Decifremme, ou lhes devoro”. Falar sobre o que falar é reabrir a discussão -- tão antiga, tão presente -- entre o ser e o ter. Reflitam comigo: Como escritores, queremos ter o poder da palavra ou queremos ser a palavra do poder? O mundo ainda não acabou por causa da Arte, por causa dos artistas. Há artistas de todos os naipes: gente que musica e compõe, que esculpe e cinzela, que calcula e escreve, gente que pinta e borda. Gente, boas gentes. E há gente que fala, que canta e encanta, que clama e reclama, gente que declama. Nisso tudo, a palavra. A palavra base, baldrame, bastião. A palavra resistência, permanência -- e, disse Guimarães Rosa, “resistir é permanecer”. Senão, vejamos: O que valeu mais para Portugal: ter conquistado, com seus navegadores, algumas terras há muito tempo retomadas ou devolvidas, ou conquistar diária e eternamente o mundo inteiro com “Os Lusíadas” de Camões, com a poesia de Fernando Pessoa? De que valeram os enormes, portentosos, mas ao final destroçados, derrotados tanques de guerra da Alemanha? Porém, as obras de seus pensadores e compositores permanecem inteiras e, elas sim, continuam conquistando todo mundo no mundo todo. Na minha terra -- que, por sua importância econômica e cultural, em meados do século 19, dividia o território brasileiro em dois: Estado do Maranhão e Estado do Brasil --, na minha terra havia gigantescas fábricas de tecidos, que teciam o nome e fama nacionais. Hoje, que é daquelas fábricas? Sumiram. De-sa-pare-ce-ram. Tornaram-se pó (ou tornaram ao pó), como prova da efemeridade, da transitoriedade, da impermanência a que estão submetidas, "ab initio", as coisas materiais. Mas é igualmente da terra das palmeiras, onde cantam os sábios e os sabiás, que vem a obra de Gonçalves Dias, Coelho Netto, Humberto de Campos, Ferreira Gullar, Josué Montello, sem esquecer um dos maiores -- e menos divulgados -- gênios matemáticos que o mundo já teve: Gomes de Sousa, o jovem “Sousinha”, que também era médico, literato e poliglota, e que deixou perplexa a Europa com seus conhecimentos sobre tudo, mas, sobretudo, sobre Matemática, Física e Astronomia, antes de morrer com pouco mais de trinta anos. Senhores: Da bíblica Jerusalém, da Grécia do século oito não restou pedra sobre pedra, mas a palavra de Cristo e os versos de Homero estão aí, a encantar o mundo, a edificar o homem.


Que lição isso traz? A lição, tão bem dada e tão mal recebida ou mal aprendida, o exemplo tão bem demonstrado e muito pouco seguido, é a lição de que aquilo que nos parece ser mais frágil, mais débil, mais fraco, é o que resiste, é o que permanece. A palavra, passada oralmente, escrita em papel, às vezes moldada no barro ou emoldurada no ferro, a palavra é o edifício que não rui, a construção que não desaba, o prédio que não tomba, a casa que não cai. No princípio, e depois do fim, será sempre o Verbo. Senhores, estamos vivendo em um mundo de virtudes rarefeitas. Neste momento empregados estão contrafeitos, clientes são desfeitos, cidadãos mostram-se insatisfeitos e patrões, administradores e governantes podem levar tiro nos peitos porque não estão sendo humildes e honestos no que tinham a falar, no que deviam dizer; porque, mesmo quando lhes é exigido serem duros no falar, não devem perder a ternura jamais. E comunicar também sugere isso. Afinal, ternura não é frescura, delicadeza não é patente de dama inglesa. Não há como confundir, não há porque confundir educação com bajulação, boas maneiras com maneirismos. Servir não é ser vil, ou servil. Comunicação é ação única, ação comum, como um, como única ação. E por que assuntos como este, discussões como esta, sobre palavra e virtudes, por que isso tudo parece ser tão incompreensível, inadmissível, tão "demodè", às vezes tão estranho, hoje? O que foi que aconteceu? Houve a banalização da fala? A vulgarização da palavra? A dessensibilização dos sentidos? A dessacralização dos sentimentos? É o mau uso da Língua, a incorreção da linguagem, a palavra de duplo sentido ou a vida sem nem um significado? É a precariedade ética, a prevenção cética, o primarismo estético, o pragmatismo técnico? É a miopia política, a ausência de crítica, a repetição cíclica, a deseducação típica? É a inafeição cultural, a inaptidão intelectual, a indisposição literal, a desinformação atual, a decomposição moral e coisa e tal, o que é, Senhoras e Senhores? É a falta da virtude rara, da vergonha na cara? Desculpem-me -- peço-lhes -- se, em vez de um fraseado bonito e soluções confortantes, trago-lhes eu aqui um leriado, um palavreado feio e dúvidas cortantes, constantes. Mas até nisto há de se entrever algum mérito, porque o homem também cresce quando duvida. Dúvidas, pois, à mão cheia... e deixa o povo pensar. Dúvidas, pois, à mão cheia, para todos vocês, fiéis e únicos depositários de suas próprias respostas. Trago-lhes a dúvida não da palavra, mas a do que fazer com ela. A mesma dúvida que pensou gerar o jovem discípulo (lembram-se?) ao aprisionar um pequeno pássaro entre as mãos e testar seu próprio mestre: “O pássaro está vivo ou está morto, mestre?” “Filho -- respondeu o mestre --, o futuro do pássaro está em tuas mãos. Como o queiras.” Senhoras e Senhores, usei da palavra para conceder-lhes, para conceder-nos o benefício da dúvida. Pois a resposta, o futuro -- vivo, alegre, de altos vôos aos céus, ou morto, cinzento, ao rés do chão e no pó da terra --, esse futuro, e o que fazer da palavra, dependerá dos Senhores, dependerá de nós. U-ni-ca-men-te. Como assim o decidirmos. Façam o jogo, senhoras e senhores. A sorte novamente está lançada.



11ª Feira do Livro de São Luís – FeliS SOBRE A 11ª EDIÇÃO DA FELIS (10 A 19 DE NOVEMBRO) (Relato da Presidente lido na AGO do dia 25 de novembro) Foi uma honra a patrona da nossa Academia ser neste ano a Patrona da 11ª Edição da FeliS. Participamos com palestras, mesas redondas, lançamento de livros e material para exposição de Maria Firmina. Tivemos como nos anos anteriores o Stand da ALL. Na organização da Programação procurei sugerir que no dia 11 fossem concentradas atividades sobre Maria Firmina, por ser o dia do centenário do seu falecimento, e no dia 15 porque era o dia do lançamento da sexta edição do Úrsula (contagem nacional, existem duas da AML), pelo organizador Eduardo de Assis Duarte da PUC de Minas. Desde 1975 (data do sesquicentenário de nascimento de MFR) o nome de MFR e suas obras não estiveram tanto em evidência, como nessa edição da FeliS. Um ponto alto da ALL juntamente com o IHGG foi o lançamento do livro de Maria Firmina dos Reis com duas obras “Cantos à beira-mar” (poesia) e “Gupeva” (conto indianista). Organizadores Dilercy Adler -ALL e Osvaldo Gomes- IHGG) Participação de Guimarães em muitas atividades

PARTICIPAÇÃO DA ALL E DOS SEUS CONVIDADOS NA 11ª. FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS -FELIS –

PROGRAMAÇÃO DIA 10/11/2017 CONFERÊNCIA DE ABERTURA 20h – TEMA: Maria Firmina dos Reis e a Literatura Romântica PALESTRANTE: Luiza Lobo (UFRJ) indicada pela ALL PROGRAMAÇÃO DIA 11/11/2017 10h – TEMA: A mulher Maria Firmina dos Reis: uma maranhense PALESTRANTE: Dilercy Aragão Adler 17h30 – Vida e Obra de Maria Firmina dos Reis PALESTRANTE: Dilercy Aragão Adler (Café Literário) 19h – Lançamento do livro Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor AUTORA: Dilercy Aragão Adler PROGRAMAÇÃO DIA 12/11/2017 18h – Lançamento do livro O Vale das Trutas AUTOR: Sanatiel de Jesus Pereira


PROGRAMAÇÃO DIA 14/11 15h30 – Tema: Patrimônio Cultural do Maranhão – Paulo Melo MEDIAÇÃO: Amanda Moura Cruz (Superintendência do Patrimônio Cultural)

PROGRAMAÇÃO DIA 15/11/2017 14h – Noite sobre Alcântara: crônica de uma profecia contrariada AUTOR: Paulo Melo MEDIAÇÃO: Felipe Camarão 17h – TEMA: “Maria Firmina dos Reis: centenário de uma precursora”. PALESTRABTES: *Rafael Balseiro Zin (PUC/SP), Algemira de Macêdo Mendes (PUC/RS) MEDIAÇÃO: Régia Agostinho (UFMA) * indicado pela ALL 18h – Lançamento do livro Úrsula – 6ª. Edição Organização: Eduardo de Assis Duarte indicado pela ALL 19h – Lançamento do livro Cantos à Beira Mar/Gupeva Autora Maria Firmina dos Reis - Organizadores Dilercy Adler (ALL) e Osvaldo Gomes (IHGG) 20h – TEMA: Escravidão e Patriarcado na ficção de Maria Firmina dos Reis PALESTRANTE: Eduardo de Assis Duarte (UFMG) MEDIAÇÃO: Dilercy Adler (ALL) PROGRAMAÇÃO DIA 17/11 10h – “Produção e atividades das Academias de Letras do Estado do Maranhão” – Membros das Academias de Letras (Benedito Buzar (AML), Antônio José Noberto (ALL), Natinho Costa Fênix (IHGM), Raimundo Medeiros Academia Caxiense de Letras) PROGRAMAÇÃO DIA 18/11 17h30 – A Fundação Social da Literatura – Joãozinho Ribeiro, Celso Borges, Márcia Manir e Miguel Feitosa MEDIAÇÃO: Zema Ribeiro PROGRAMAÇÃO DIA 19/11 Irandi (eleito para a Cadeira de nº 09, patroneada por Antônio Henriques Leal, na Academia Ludovicense de Letras a tomar posse dia13 dedezembro do ano em curso) PARTICIPAÇÃO DO MEMBRO CORRESPONDENTE DA ALL, Carlos Bruno, no stand da ALL vendendo seu livro.

Quadro demonstrativo/quantitativo da abrangência da 11ª Edição da FeliS: Mesas redondas/ palestras/rodas de conversas - 47, envolvendo 190 especialistas Conferências - 8 Pocket show - 1 Cafés literários -11 Lançamento de livros - 60 Programação artística (shows, performances, atividades circenses e intervenções - 45 Contações de histórias - 263 Oficinas e Minicursos - 26 Rodas de leitura - 6


Jogos literários - 32 Exibição de filmes - 19 Atividades de leitura( rodas, apresentação musical, conversa com escritores, sorteio de livros, exposições de livros) - 107 Exposições fixas - 3 Apresentações culturais com adolescentes - 15 Convidados nacionais - 29 Público visitante: 230.000


ALL NA FELIS 2017 PROGRAMAÇÃO DIA 10/11 ANFITEATRO BETO BITTENCOURT - CONFERÊNCIA DE ABERTURA 20h – TEMA: Maria Firmina dos Reis e a Literatura Romântica PALESTRANTE: Luiza Lobo (UFRJ) PROGRAMAÇÃO DIA 11/11 AUDITÓRIO 2 (ÚRSULA) 10h – A mulher Maria Firmina dos Reis: uma maranhense. PALESTRANTE: Dilercy Adler(ALL). MEDIAÇÃO: Antonio Agenor Gomes (Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães – IHGG) CAFÉ LITERÁRIO 17h30 – Vida e Obra de Maria Firmina dos Reis – Dilercy Adler, Francilene Cardoso, Profa. Ilma Fátima de Jesus MEDIAÇÃO: Francisca Passos (SEDUC) LANÇAMENTOS DIA 11/11 (sábado) - Cine Praia Grande (ODYLO COSTA FILHO) 19h Dilercy Adler Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor PROGRAMAÇÃO DIA 12/11 LANÇAMENTOS DIA 12/11 (domingo) - Cine Praia Grande (ODYLO COSTA FILHO) 18h Sanatiel Pereira O vale das Trutas PROGRAMAÇÃO DIA 14/11 AUDITÓRIO 3 (CANTOS A BEIRA MAR) 15h30 – Patrimônio Cultural do Maranhão – Paulo Melo (Diretor do Convento das Mercês), Deusdedith Carneiro (Diretor do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão), Luís Eduardo Longhi (Superintendente do Patrimônio Cultural do Maranhão), Luiz Phelipe Andrés (Diretor do Centro Vocacional Tecnológico Estaleiro-Escola) MEDIAÇÃO: Amanda Moura Cruz (Superintendência do Patrimônio Cultural)

PROGRAMAÇÃO DIA 15/11 AUDITÓRIO 2 (ÚRSULA) 14h – Noite sobre Alcântara: crônica de uma profecia contrariada – Paulo Melo (Convento das Mercês) TEATRO ALCIONE DE NAZARÉ (ODYLO COSTA FILHO) 20h – TEMA: Escravidão e Patriarcado na ficção de Maria Firmina dos Reis PALESTRANTE: Eduardo de Assis Duarte (UFMG) MEDIAÇÃO: Dilercy Adler (ALL) LANÇAMENTOS DIA 15/11 (quarta-feira) Cine Praia Grande (ODYLO COSTA FILHO) 19h Dilercy Adler e Osvaldo Gomes Cantos à Beira Mar / Gupeva



O ESTADO MA – 15/11/2017 - ALTERNATIVO


Yeah, amigos, tô FeliS! Neste fim de semana realizo um sonho que não pude realizar no final do ano passado: a convite da divartistamiga Dilercy Aragão Adler, no sábado e domingo, respectivamente, dias 18/11 e 19/11, estarei, durante a tarde e a noite, no estande da Academia Ludovicense de Letras (ALL) e em outros espaços, expondo e comercializando a preços promocionais meus livros (com destaque para o mais recente, o meu 9.º livro-filho "O nada temperado com orégano [Receitas poéticas para um país sem poesia e com crise na receita])" na 11.ª Edição da Feira do Livro de São Luís/MA! Será um excelentíssimo momento pra fazer aquele intercâmbio cultural que eu amo (São Luís/MA) já se tornou uma das minhas cidades afetivas - tanto que no meu livro mais recente dedico vários poemas a autores queridos maranhenses - e rever fodásticos artistamigos que conheci lá! Que a poesia alcance todos os cantos do Brasil! Saudações Firminianas e Gonçalvinas! Até breve e Arte Sempre!



DILERCY ADLER E OSVALDO GOMES ORGANIZAM E RELANÇAM LIVRO DE MARIA FIRMINA DE 1871 https://www.vimarense.com.br/single-post/2017/11/23/Dilercy-Adler-e-Osvaldo-Gomes-organizam-erelan%C3%A7am-livro-de-Maria-Firmina-de-1871

Nonato Brito

Osvaldo Gomes e Dilercy Adler no lançamento da última edição de Cantos à Beira Mar e Gupeva, de Maria Firmina dos Reis, em São Luís.

Nova edição do livro Cantos à Beira Mar, poesias de Maria Firmina dos Reis, escrito em Guimarães em meados do século XIX, teve seu lançamento na 11ª Feira do Livro de São Luís - FELIS, encerrada no último domingo, na capital. O livro foi publicado pela Academia Ludovicense de Letras, com a organização e apresentação de Dilercy Adler, presidente da ALL, e do vice-prefeito de Guimarães Osvaldo Gomes, presidente do Instituto Histórico-Geográfico de Guimarães. Esquecido por 100 anos, o livro Cantos à Beira Mar, de Maria Firmina dos Reis foi redescoberto pelo professor Nascimento Morais Filho na década de 1970, que publicou uma 2ª edição no ano de 1976, há 41 anos. A edição lançada na 11ª Feira de Livros de São Luís traz as poesias de Cantos à Beira Mar e o conto Gupeva, este com temática indianista. O conto ainda não havia sido publicado em livro. O livro pode ser adquirido na Livraria AMEI, no Shopping São Luís.









CAMPANHA ESTADUAL DE INCENTIVO À LEITURA RESULTADO DA REUNIÃO QUE PARTICIPEI NA BIBLIOCA PÚBLICA BENEDITO LEITE, SOBRE A III CAMPANHA ESTADUAL DE INCENTIVO À LEITURA DO ESTADO DO MARANHÃO:

1) Hoje foi a última reunião, iniciada às 9h17 e encerrada às 10h30; 2) Dia 28/11/2017 (próxima terça-feira) arrumação dos espaços pelas instituições participantes, na Biblioteca Pública Benedito Leite, às 17h; 3) Dia 29/11/2017 (quarta-feira) – Às 8h30 Abertura do evento nas escadarias da Biblioteca Pública Benedito Leite com a apresentação da Banda de Música O Bom Menino. A Academia Ludovicense de Letras – ALL vai participar das atividades no turno matutino, das 9h às 12h (depois deste horário recolher o material imediatamente exposto); 4) À tarde as atividades vão ser direcionadas ao público infantil; 5) A programação da ALL tem que ser enviada até hoje; 6) Ficou definido, que os organizadores vão receber camiseta com a logomarca do evento e diploma de participação. Ideia da professora Leoneide, acatada pela Diretora da Biblioteca Pública Benedito Leite; 7) Vão ser disponibilizados pelo Governo do Estado 1.000 (mil) lanches para as crianças; sendo que 700 (setecentos) serão destinados à Biblioteca Pública Benedito Leite e também 1.000 (mil) copos de água mineral; assim como 2 (dois) banners da Campanha (as instituições participantes vão ter que providenciar os seus banners); e, 8) A maioria das instituições participantes ainda não mandaram a programação oficial; inclusive a ALL. O prazo para envio encerra hoje até às 18h.

SUGESTÃO DE PROGRAÇÃO QUE APRESENTEI:


1. Exposição com as obras publicadas por membros da ALL e direcionar as atividades para o público infantil, seguindo o seguinte roteiro: . Leitura de Texto sobre a Academia Ludovicense de Letras – por uma aluna da Escola Maria Firmina dos Reis, vestida como Maria Firmina dos Reis, no Auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite. Em seguida Declamação de Poesias por alunos da Escola Maria Firmina dos Reis de autoria da nossa Patrona. O público alvo a ser convidado serão os alunos da Escola Maria Firmina dos Reis e os membros da ALL, entre outros; 2. Visitação à Exposição da ALL – ao final da Declamação de Poesias o público presente será convidado a visitar a Exposição com obras publicadas por Membros da ALL. Depois haverá um momento de leitura de poesias pelos participantes, escolhidas dos livros expostos. Considerando a urgência para encaminharmos a programação, que ressalto que é até hoje, às 18h, solicito aos nobres confrades e confreiras aprovar a minha sugestão ou apresentar outras sugestões. Saudações Acadêmicas,

CLORES HOLANDA SILVA, Secretária-Geral da Academia Ludovicense de Letras.


Exposição Literária da Academia Ludovicense de Letras na III Campanha Estadual de Incentivo à Leitura: Todo Dia. Por um Maranhão de Leitores. — em Biblioteca Pública Benedito Leite.


Assembleia Geral Ordinária da Academia Ludovicense de Letras 25 de novembro de 2017

Presidente em Exercício, Sanatiel, e Secretária-Geral, Clores


PROFESSORA DO IFMA LANÇARÁ LIVRO DE POESIA EM SÃO LUÍS “Espraiamento do sólido” é o primeiro livro de poesia lançado pela professora, que já integrou coletânea de jovens poetas maranhenses em 1983.

A professora Tânia Rêgo, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus São Luís – Monte Castelo, irá lançar o livro de poesia “Espraiamento do sólido” no próximo dia 14 de dezembro, no Centro de Criatividade Odylo Costa Filho. O evento será realizado no Anfiteatro Beto Bitencourt, das 19h às 21h. Trata-se do primeiro livro publicado pela autora, que é mestre em Música pela Universidade de Brasília (UnB) e doutoranda em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO). A obra já foi lançada no Rio de Janeiro no último dia 30 de outubro na Editora 7 Letras e agora será a vez de São Luís, que está presente em muitos dos poemas da publicação. Tânia Rêgo já escreve contos, crônicas e poesias há bastante tempo, tendo integrado a coletânea “Jovens poetas maranhenses”, lançada pela UFMA no ano de 1983. O livro “Espraiamento do sólido” reúne poesias de diferentes épocas da sua produção. A capa da publicação traz a imagem de uma obra do artista plástico maranhense Marçal Athayde, denominada “Paisagem mutante que se dilui com a fugacidade das horas, outras personagens, outras luzes”, que segundo a autora dialoga com os poemas. A apresentação do livro é feita pela poeta maranhense Laura Amélia Damous, membro da Academia Maranhense de Letras. A obra traz ainda um texto escrito em 1988 sobre a poesia de Tânia Rêgo pelo poeta Chagas Val, uma homenagem in memoriam ao poeta piauiense radicado em São Luís e que marcou a poesia do Maranhão. Data: 14 de dezembro de 2017. Local: Anfiteatro Beto Bitencourt – Centro de Criatividade Odylo Costa Filho – Praia Grande-São Luís-MA. Horário: 19h às 21h.


ÚLTIMA REUNIÃO DO ANO, QUE ANTECEDE A ELEIÇÃO NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, QUE OCORRERÁ NO PRÓXIMO SÁBADO, DIA 16,


ELEIÇÕES NA ALL NOVA DIRETORIA ELEITA


Sinto-me feliz em fazer saber a esta confraria que o Governador do Estado do Maranhão, o excelentíssimo Dr. Flávio Dino, respondeu prontamente, ao ser comunicado por meio do OFÍCIO ALL Nº. 029/2017, de 12 de dezembro de 2017, da homenagem desta Academia, ao lhe conceder a Medalha “Maria Firmina” do Mérito Literário e Cultural.

Além da comunicação da condecoração em pauta o ofício tratava da solicitação da definição do dia, local e hora que o Governador indicaria para o recebimento da referida Comenda e solicitamos que quaisquer informações pudessem ser enviadas através dos e-mails: dilercy@hotmail.com (Presidente da Academia Ludovicense de Letras) ou holandaclores@gmail.com (Secretária-Geral da Academia Ludovicense de Letras). Destarte, comunico a definição do dia, local e hora, já inseridos na agenda do Governador. AGENDA DO GOVERNADOR FLÁVIO DINO

24 de Janeiro - Quarta 10h - Entrega da Comenda “Maria Firmina” - Academia Ludovicense de Letras - ALL (Cerimonial)

Local: Palácio dos Leões - Sala de Reuniões

Desejo a todos uma boa confraternização, lamentando não poder estar presente por estar representando esta Academia, em Guimarães por ocasião da solenidade do centenário de falecimento de Maria Firmina dos Reis.

Saudações Firminianas, Dilercy Adler Presidente


EM GUIMARÃES


ACADEMIA EM FESTA O ESTADO MA, PH REVISTA, 23/24 DEZEMBRO 2017


POSSES


AMÉRICO AZEVEDO NETO 11 de dezembro de 2017 – Salão Nobre da AML



DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DE AMÉRICO AZEVEDO NETO

CERES COSTA FERNANDES Senhora Dilercy Adler, presidente da Academia Ludovicense de Letras, Senhor Benedito Buzar, presidente da Academia Maranhense de Letras, Caras confreiras e confrades, Senhoras e senhores, Abro a minha fala de apresentação e saudação ao mais novo confrade da Academia Ludovicensede Letras, Américo Azevedo Neto, primeiro ocupante da Cadeira nº 29, que tem como patrona Dilú Mello, artista,compositora, instrumentista e folclorista maranhense, de renome nacional e internacional, com a bela declaração amor fraternal da nossa confreira Maria Theresa Azevedo Neves. Dona de um texto saboroso de escrita/inscrita no DNA dos Azevedo, ninguém melhor que ela para nos iniciar no prazeroso caminho que conduz ao conhecimento de Américo. E Maria Theresa nos conta: Ainda escuto… osecos daquelas manhãs claras e cheias de risos da casa de meus pais. O poeta, presente desde pequenino, sonhava... e o escritor já romanceava seus sonhos... Eu sempre soube que elogio em causa própria é vitupério. Mas não sou eu. É meu irmão que eu admiro e respeito por seu evidente talento. Reunida, a família, muito cedo, ouvia as longas histórias “vividas” à noite, pelo menino de cinco anos que narrava casos mirabolantes, mistura de mitologia e surrealismo. Era Américo, o Sherazade infantil e matutino, que iluminava nosso despertar, exibindo infinitos veios de imaginação, mostrando, cedo,suas provisões de beleza. Em uma noite voava seguro apenas no “rabo de uma estrela”, Em outra, tendo o “rabo” da estrela se rompido, ei-lo vagando à deriva entre nuvens até cair no colo da lua... Quando sobrevoava, acomodado em grandes galos suas fazendas,conversava com bois gigantes e prateados, seus amigos, nomeados individualmente.


Seriam esses bois um prelúdio do folclorista, amante apaixonado, que chora a saudade de seu CAZUMBÁ, perdido e submerso? ” Senhoras e senhores, Dizem que há pessoas nascidas com o fadário inscrito na alma. Parodiando Carlos Drummond de Andrade, no Poema de Sete Faces, a quem um anjo torto disse: “Vai, Carlos! ser gauche na vida”, outro anjo deve ter dito a Américo Azevedo, “Vai, Américo! ser um iluminado em meio aos boeiros e brincantes do Maranhão; tua vida vai ser viajar pendurado na cauda de uma estrela na busca encantada do entendimentodessas brincadeiras e passar o teu saber e o teu sentimento aos sedentos de iluminação; vai, de São João a São Pedro e a São Marçal, percorrer os terreiros; desde os humildes, alumiados a tochas de querosene, aos rutilantes, alumiados a holofotes e raios laser; desde os enfeitados com fitas detostão e espelhinhos, aos bordados com cristais e emplumados com penas importadas de avestruz; desde os matraqueiros de origem perdida nas brumas do passado – quando o primeiro caboclo teve a ideia de marcar o ritmo batendo dois pedaços de madeira –,aos bois animados com orquestras de metais, sofisticados e ligeirinhos, que nem os de Parintins, com belas moças de saiotes curtinhos, tão curtinhos que levam as plateiasao delírio, a cada voltinha que dão. Vai e conta pra gente. Conta, do palco mágico que povoa teus sonhos e povoou os de teus antepassados ilustres; desvenda o mistério da ópera-boi que nos encanta e encanta terras estrangeiras,d’aquém e d’além mar, o teu Cazumbá. E assim foi feito, Américo contou e continua a nos contar... Senhoras e senhores, Entre o final de 1950 e começo de 1960, bem novinho, Américo foi mandado para Recife, onde já moravam e estudavamsuas duas irmãs, finalizar o segundo grau para depois cursar a Faculdade de Engenharia.Acho que mandado é a palavra certa. Sequer podemos imaginar Américo, um ser feito de sonhos, imaginação e emoção, cumprindo a improvável obrigação de estudar as exatas e áridas matérias da Engenharia. Não carece ser um anjo para profetizar. É claro que não ia dar certo. Daí, numa reviravolta de 180 graus, fez teatro. E, no teatro, se encontrou. O fato não deveria surpreender ninguém. A carga genética, que prazerosamente carrega, justifica a opção. Digo nem chegou a ser opção, melhor seria dizer: fadário, destino, estrela, fortuna... Modernamente, cabe mais a prosaica sigla DNA, esse tal de ácido da moda, de feio nome, ácido desoxirribonucleico, ou melhor, como diria minha bisavó Ritinha,que sabia das coisas: está na massa do sangue. Desde os quatro anos, revela a irmã, Tetê, quase biógrafa, ele participava como “ator” de peças apresentadas em casa, que o próprio pai, Emílio Azevedo, escritor e intelectualencenava e dirigia.Mais tarde um pouco, éa sua vez,começa a criar pequenas peças domésticas escritas e dirigidas por ele mesmo. Na adolescência e juventude, escreveu peças que não sabe onde foram parar, assim como outras de que esqueceu os títulos. Ainda é Maria Teresa quem nos socorre com a lembrança de uma: Minha Plantação de Milho tem um Milho que não Vingou. O resto delas sumiu. A partir do final dos anos 1960, ele escreveu várias peças, algumas encenadas, outras não, por não haver patrocínio, ou seja, falta de dinheiro, como ele mesmo reconhece. São elas: - A Encíclica, de 1968, inspirada na encíclica de Paulo VI, PopulorumProgressio, teve vida curta: foi vetada pela censura prévia da ditadura militar. - Em Tempo de Amor ao Próximo, de 1969,logrou ser encenada no Teatro Artur Azevedo. A peça foi escrita por encomenda do então governador José Sarney. - Santo Ofício da Hipocrisia, s.d. Não chegou a ser encenada, também por falta de patrocínio. As peças de inspiração boeira, foram todas encenadas pelo grupo Cazumbá. Deste grupo de teatro, dedicação de quase a vida inteira,Américo nos revela a gênese. “Foi no começo da década de 1970, quando eu procurava uma linguagem teatral que, pela sua originalidade, fosse eminentemente maranhense,


exportávele competitiva no mercado internacional. À sua procura, acheguei-me mais à cultura popular.Percorrendo a Madre Deus, nos festejos de São João, ouvi uma toada de bumba-meu-boi, iniciada por Manuel Onça, que dizia: ‘Vaqueiro, pra que te tenho’? Prontamente respondida, ‘Pra vos servir, meu amo, pra vos servir.’ E, de pronto, deu-me um estalo, à Vieira,tinha encontrado a linguagem teatral que estava buscando”. Definidas as características da linguagem buscada, fundou, em 1973, o Teatro de Universitários do Maranhão e, nesse ano mesmo, escreveu, coreografou e dirigiuum espetáculo a que chamou Cazumbá, a ópera-boi maranhense para o teatro, palco italiano. Um ou dois anos depois, trocou o nome: o Teatro de Universitários passou a ser a Companhia Cazumbá de Teatro e Dança.O Auto do Bumba meu Boi, de 1973, após dezenas de apresentações, nacionais e internacionais, é encenado pela Companhia Cazumbá, até os dias de hoje, com grande sucesso. Américo Azevedo Neto, segundo consta de suas declarações em Perfis acadêmicos (AML, 4 ed. 1999), “embora seja poeta, cronista, romancista e jornalista, gosta mesmo é de ser chamado Homem de Teatro. Não teatrólogo, por achar pernóstico; nem ator que já foi, nem diretor e coreógrafo, que ainda é, mas Homem de Teatro”. Em sua opinião isso diz tudo. Américo desempenhou as funções de Secretário Municipal de Cultura e Secretário Estadual de Cultura do Maranhão; Foi diretor de turismo em São Luís e diretor do órgão turístico do Nordeste;diretor de recursos humanos como bancário, e por último, diretor do Teatro Artur Azevedo. Pertence, ainda, à Academia Maranhense de Letras, onde ocupa a cadeira nº 19. Mas, de tudo isso, confirma, o que lhe agradou e lhe agrada: é ser Homem de Teatro. Fez quatro vestibulares, passou nos quatro, mas não terminou nem um dos cursos. Razão: não queria ser técnico; “era – e é – um Homem de Teatro”. Outras peças boieiras se sucederam,Bogibuá de 1978; A quadrilha , de 2008 e BonjourCurumin, de 2016. Além de escrever, encenar e dirigir essaspeças, aventurou-se, também, em composições: as trilhas sonoras de A Quadrilha e BonjourCurumin são de sua autoria.Confirmando mais uma vez o seu cognome de Homem de Teatro. Por detrásde tal predestinação, divisamos Artur Azevedo, seu tio-avô, um dos maiores nomes do teatro brasileiro e o maior dentre os dramaturgos maranhenses. Cedo, foi para o Rio de Janeiro tentar a vida artística. O público cariocado final do século XIX havia sido conquistado pela leveza e a alegria das peças francesas musicadas, o popularvaudeville. A simpatia por esse gênero levou Artur a engajar-se nele e conquistar o seu primeiro grande êxito com a peça A Filha de Maria Angu, 1876, - representada mais de cem vezes –, paródia deLa Fille de MarieAngot. A preferência do público pelo repertório estrangeiro e pelos espetáculos musicados dificultava a sobrevivência das produções nacionais. Mas Artur acabou por vencer essa barreira. Fora do vaudeville, escreveu muitas peças, citamos algumas das mais prestigiadas, A Capital Federal, A Joia, O Dote, A Almanjarra, O Mambembe. Ele e o irmão Aluísio pertenceram ao grupo fundador da Academia Brasileira de Letras. Aluísio Azevedo, conhecido nacionalmente como romancista, introdutor do Naturalismo no Brasil, também foi um homem de teatro. Na adolescência, quando ainda residia em São Luís, canalizou seus conhecimentos de pintura para a confecção de cenários, em montagens amadoras. Embora enveredando, definitivamente, pela literatura, após o sucesso nacionalde O Mulato, manteve-se ligado aos bastidores da cena teatral, trabalhando com Arturna montagem de cenários e na criação de figurinos. Escreveu e montouA Casa de Orates, em 1882 eVenenos que Curam, em 1885. Essas peças, contudo, não caíram no gosto do público. Por sua vez,Filomena Borgesobteve um bom resultado de bilheteria. Assim, também, O mulato, em 3 atos, foi peça de recepção entusiástica do público. AburletaMacaquinhos no Sótão foiconsiderada pela crítica asua melhor peça. O terceiro irmão, o mais novo dos filhos homens de David e Emilia Amália Gonçalves de Azevedo, Américo Azevedo, avô de nosso novel confrade, que lhe herdouo nome, também escreveu e montou peças teatrais, mas deixou-se ficar na província. SegundoJomar Moraes, “talvez por isso não alcançasse a nomeada dos outros dois irmãos”.(Alternativo,19 de janeiro de 2013). Uma coincidência, referida por Américo, nos mostraque, certa feita, em São Paulo, dois teatros, ambos na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, apresentavam, simultaneamente,peças da autoria de Américo Azevedo, uma do avô e a outra do neto. De


Américo Azevedo,O Largo de São José de Ribamar; de Américo Azevedo Neto, aÓpera-boi, Cazumbá, no Teatro Aplicado, hoje fechado. Senhoras e senhores, Apesar da predileção e ênfase dada pelo mundo da dramaturgia, Américo Azevedo Neto não é só um Homem de Teatro, mas também um poeta. Podemos dizer que a poesia perpassa toda a sua obra, seja ela em prosa, seja ela em verso; seja ela uma crônica, por vezes fugaz, por vezes permanente ou um ensaio, gênero que pode ser mais árido que as caatingas do Nordeste, expressosem prosa poética. A poesia está presente em todas as artes. Na literatura, se expressa pela emoção através da arte da palavra; emoção acompanhada de ritmo, musicalidade, símbolos, oximoros, metáforas e metonímias. É coisa consabida que a poesia pode estartanto nas formas eleitas para melhor representá-la, soneto, redondilha maior e menor,dístico, ladainha, tanka, haikai, etc., quanto na prosa. Elaé essência, não se aprisiona naforma. É frequente a existência de poemas sem poesia,merafragmentação da prosa em versos.No texto deAmérico, ocorre o inverso: suas crônicas – gêneroda prosa por vezes consideradoparaliterário –reunidas na obra É possível que ainda seja azul,1995, apresentam-se, muitas vezes, transmudadas em textos plenos de lirismo.Vejamos estes excertos de crônicas: Enfim o Inverno A terra está, outra vez, úmida. Novamente fértil e jovem, há quase um oferecimento. A verdade é que os invernos emprenham a terra. E por isso piso o chão molhado com a sensação de quem pisa sobre um ventre emprenhado. Todo o verde é mais verde, todo o chão é mais chão depois que a chuva, ensopando tudo, deu ao solo a certeza de que pode – e deve – fecundar. Ou em Manhã Virgem Como estava esta manhã em que escrevo? Lembro que se ouvia cantos mesmo quando não havia pássaros. Esta manhã realmente me assanha. Sinto-me como se fosse um forno de barro aquecido para receber tortas e pudins. Uma manhã como essa, (tenta lembrar!) vende vulcões a domicílio, amores a varejo e beijos com pagamento a perder de vista. Principalmente os dados de olhos fechados, que esses são os beijos não vistos, mas só pensados, só sentidos. As crônicasenfeixadas nas Cartas a Daniel, publicadas durante quatro anos, no Jornal Pequeno, periódico maranhense, são crônicas de outra estirpe, tratam de crítica política e de costumes. Comprometidas em vergastar mediocridades ecomportamento duvidoso dos políticos e de homens públicos da Ilha de São Luís,estas crônicas se tornaram a coqueluche dos leitores da época e revelam, se não poesia, mas estilo leve, escorreito, falsamente casual, texto permeado de picardia, ironia sutil e cortante.Infelizmente, As Cartas a Daniel não foram editadas em livro, nem sequer chegaram a ser reunidas pelo autor. Em 2013, publica também História realmente geral, obra satírica de desconstrução de verdades da história oficial. Embora usando sempre da paródia, o autor demonstra, nesta obra, sólidos conhecimentos de vários campos do saber. Ainda a poesia, agora em poemas, Garimpando nos achados da suaverdadeiramente declarada obra poética, o longo poema em forma de ladainha, Infelizmente amém, encontramos um poeta de confessada influência e paixão pelo condoreiro Castro Alves, romântico que se consumiu na luta antiescravagista, vociferando contra as injustiças, subindo aos píncaros da paixão, invectivando Deus pela omissãona defesa de seus filhos escravizados. Américo inicia a ladainha, culpando os homens e invocando a Deus, ”Rezemos nós enquanto resta um poucodesse sonho que Deus sonhou pra nós”. Ao mesmo tempo em que descrê e escarnece das boas


intenções dos ingênuos que ainda têm fé na misericórdia divina e na bondade dos homens. E, amargo na sequência,numa antítese de si mesmo, perpetua um dualismo feroz, à Augusto dos Anjosou à Guerra Junqueiro; já não culpa sóos homens pelo“imenso suicídio coletivo/ a que chamou de Civilização. [...] “ Rezemos, todos nós, por esta triste/ Sociedade que progride morta,/ Enquanto Deus, a gargalhar assiste/ O fim disto que vê, mas não se importa. José Saramago, primeiro e único Nobel de literatura da língua portuguesa, 1998, declaradamente agnóstico e comunista, em um país de profundas raízes católicas, enfrentava o desagrado de grande parte dos seus compatriotas mercê de seus escritos e ideias. Escreve, em 1991,O Evangelho segundo Jesus Cristo,obra que coroou essas irreverências e irritoumais ainda os portugueses. Saramago, amargurado, decide mudar-se para Lanzarote, nas Ilhas Canárias, território espanhol, pátria de sua amada Pilar del Rio, embora continue mantendo a cidadania portuguesa. Declarado ateísta, empenha-se no estudo das escrituras sagradas, ainda que para interpretá-las de forma contrária à da igreja católica. Em 1995, publica também Caim, no mesmo diapasão. É interessante notar um ateu, admirador do Cristo, profundamente interessado no estudo e na procura das verdades cristãs. Essas declarações paradoxais de amor e ódio ao Ser Supremo, encontramos também em Américo, que não é ateu, sequer agnóstico. Semelha a revolta do filho abandonado pelo pai muito amado. Parodiando Eça de Queirós, diríamos que “esse amor filial sem emprego” lheinflama a indignação. O texto pagão, entre invectivas e apodos a Deus, na verdade se reveste de ideais daprópria fé cristã. Confira-se istono poema Urgente: Não quero o Cristo preso numa cruz/ nem encarcerado num sacrário./Romperei a prisãode flor e luz,/ pois O quero na rua./Quero-o na praça,/ Quero vê-lo falar à populaça/ irmanado ao campônio e /ao proletário. Após publicar Bumba meu boi no Maranhão, 1983, 2 ed., livro de pesquisa e crônicas sobre o assunto, o poeta surge, mais uma vez. Agora em um ensaio, campo decididamente sáfaro para a poesia, no livrosobre o folclore maranhense, Festa, fogos, fogueira e fé, 2011. Em legítima prosa poética, chora a perda da identidade do bumba-meu-boi: [...] Sem mastro, sem ladainha, sem três dias de festa, sem lauto almoço, sem jantar abundante – o boi morreu. Ainda se vê luzidios barbatõesem roda postos, mas carece poesia, carece o sonho que vos fazia ficar, depois da dança, no terreiro pisado admirando a fogueira, já então solitária onde foram aquecidos pandeiros e corações. [...] Bumbou,meu boi. Bumbou na roda de quem não sabe. Bumbou num terreiro sem data, sem razão, sem motivo. Bumbou na quase indiferença a São João, no crescente desrespeito a São Pedro, na previsível carnavalização das festas, na quase unânime ignorância da importância do fazer em junho. Bumbou na tradição. Hoje, bumba na feira: esquartejado, vendido, mercantilizado. Amanhã, bumbará na lembrança, na saudade, infelizmente haverá de bumbar. Atualmente, enfim destituído de seus misticismos e mitismos, tornou-se, pela mão cega de quem o laçou, apenas inconsequente cordão[...] Ah boi mimoso, no teu passo, hoje apressado, vais matando, sufocado em pena e fita, quem se encantou e cantou contigo. Não deixes, pelo menosnão deixes que se apaguem as fogueiras das lembranças para que, no futuro, a brasa da história faça justiça a quem te amou e defendeu. Salve, portanto, Maracanã e Maioba! Salve Pindoba e Iguaíba! Salve Pindaré e Fé em Deus! Salve Cururupu solitário! Salve vibrantes bois de matraca, ariscos bois cujos tambores batem com as costas das mãos. Foge meu boi, foge para os terreiros distantes, lá onde tem matagais e sombras, onde tem estrela e luar; lá onde deixaste a tua verdade. Foge, boi faceiro, para os braços – seguro abrigo


– de São João, São Pedro e São Marçal. Enquanto é tempo, enquanto ainda podes, foge meu boi [...] Ah, meus amigos, companheiros de velhas estórias e de saudades novas, chorai comigo que o nosso boi, infelizmente, bumbou. Pura poesia! Senhoras e Senhores, Nossa Academia é nova, tem apenas quatro anos. Não cumprimos, ainda, o ritual de chorar a morte de um acadêmico e celebrar a chegada de outro na mesma cerimônia, como manda a liturgia das posses. Nosso único confrade já falecido, o historiador e poeta Wilson Ferro, ainda não teve sua substituição completada. A posse de Américo é só regozijo. Alvíssaras ao que vem somar-se, na Casa de Maria Firmina, aos poetas, historiadores, pesquisadores, romancistas, cronistas e contistas que aqui estão. Sê bem-vindo e vemfolclorista, poeta, prosador, dramaturgo e Homem de Teatro, para o nosso convívio. Vem, mas vem na cauda do cometa da tua infância, com tuas belas metáforas e metonímias, com teus torturados paradoxos, com a suavidade dos teus símbolos,trazer um punhado de sonhos e aspergirfantasias no teupróprio desencanto e no daqueles que já desfiaram décadas; no pragmatismodos mais jovens, ainda comum longo caminho a percorrer.Vem, mas vem com o teu Cazumbá, bailando na esteira de luz, com passos ligeiros e leves. Vem e entra, com os irmãos Azevedo, Artur, Aluísio e Américo, com Lauro, Manuel Onça, João Cândido, Tabaco, Coxinho, Nilo Mota, Leonardo, Terezinha, Zé Olhinho e Carlos de Lima.. Não carece pedir licença, minha gente. Senhoras e Senhores, abram passagem..


ANTONIO AÍLTON E IRLANDI LEITE Cine-Teatro Viriato Correia – IF-MA, 13/12/2017






APRESENTANDO ANTONIO AILTON

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ1

Antonio Aílton é Poeta, professor, e ensaísta, com formação em Letras pela Universidade Federal do Maranhão, Mestre em Educação (com enfoque em Cultura e Imaginário) também pela UFMA; Especialista em Crítica da Literatura Contemporânea, pela UEMA. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, com estudo sobre poesia contemporânea. É professor de Ensino Médio do Estado do Maranhão e tem ministrado disciplinas modulares (Teoria e Crítica Literária, Pós-Modernismo e Literatura, Semântica e Pragmática, Leitura de Poesia, Filosofia e Sociologia da Educação, na UEMA, UFMA e IESF (Instituto Superior Franciscano). Tutor à distância de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura (EaD-UFPE). É Membro da Academia Bacabalense de Letras, cadeira 08. Entre suas publicações tem Compulsão Agridoce (Poesia - Paco Editorial, 2015) 2; Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (2008, Prêmio Cidade do Recife de Poesia), As Habitações do Minotauro (Poesia, 2001 - Prêmio Cidade de São Luís) e Humanologia do eterno empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano, de Nauro Machado. Tem participação em antologias locais e nacionais e na Revista Poesia Sempre (2008). Em 2015, seu livro Compulsão Agridoce foi publicado pela Paco Editorial/SP. Integra os meios culturais e literários de São Luís – MA e colabora no Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante. Apenas esses pequenos dados biobibliográficos já são suficientes para que se justifique sua escolha em eleição disputada, para membro da ALL... Agradeço a gentileza do amigo em me apontar o dedo, para fazer sua apresentação, ao ingressar nesta Casa de Maria Firmina dos Reis. Esta foi a segunda tentativa; quando em 2014, se abriram vagas remanescentes por indicação dos membros fundadores, conversei com ele, lá em casa, durante suas férias, para que me mandasse seus dados para fazer a indicação. Explico: recém fundada a ALL, entrou em contato para saber mais; foi à minha casa – era inicio de fevereiro – e lá olhando em volta disse lembrar que já estivera ali – será? – e lembrou: Louise (minha filha...); sou amigo de Louise e já vim aqui, algumas vezes... Estava 1 2

Membro fundador da ALL, Cadeira 21, discurso de apresentação de Antonio Ailton, no dia de sua Posse, em 13/12/2017 https://www.wook.pt/autor/antonio-ailton/3797454


explicado de onde nos conhecêramos, já... Depois de algumas conversas, fiz o convite para ingresso na ALL; infelizmente, a documentação chegou dois dias após o encerramento do encaminhamento das indicações... Já deveria ser nosso Confrade há mais tempo... Mas nesta primeira oportunidade, cá está ele, com a maioria dos votos... Sem chances para os ‘concorrentes’... Sobre sua vasta obra, afirma: “A minha poesia está voltada para o eu, abordando temas do mundo contemporâneo, sem deixar de investir nos temas do campo, trazendo para o texto um pouco da vida rural, das minhas raízes”, explica o poeta. Consigo trazer esses aspectos para boa parte dos poemas do(s) livro(s) 3 “Idades dos metais”, “Poema para chuva” e “Aqui, mas onde, como” são alguns dos títulos que deixam transparecer essa perspectiva, explorando os versos livres, num misto entre a linguagem erudita e mais popular, contemporânea. Poeta ludovicense, que por descuido geográfico nasceu em Bacabal4 – daí dizer que sua poesia é influenciada pelas suas raízes do campo –, nasceu em 29 de dezembro de 1968. De um dos contatos que mantivemos, mandou-me a sua biobliografia; valho-me de suas próprias palavras para traçar seu perfil, este que prefere: FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS Para Aílton, as biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começou esta de quando avistou, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza de São Luís do Maranhão. Seu destino: Escola Agrotécnica [Bairro do Maracanã], na qual só passou três ou quatro meses, e logo foi “dispensado” por falta de recursos financeiros. Tornou-se insustentável para a Escola. É preciso dizer que já trazia a poesia na algibeira, de tempestades e ímpetos juvenis em Bacabal-MA. Apague-se um certo momento em que perambulou por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais sua irmã, reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem se verem, e à qual fez um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). Sujeito religioso e proveniente de um mundo mítico-telúrico-infernal (Interior da região do Mearim), fez Teologia por quatro anos. Ailton acredita que alguns poemas de As Habitações do Minotauro (Poesia, FUNC – 2000) têm uma carga inegável de momentos de conflito bruto de um sujeito religiosamente desordenado. Isso não explica o livro nem implica biografismo literário. São vivências. Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA, retirado da gaveta, em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e recebeu o terceiro lugar. O maior dos ganhos – afirma - foi conhecer vários outros poetas iniciantes e começar integrar-se na vida literária da cidade. Foi convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegaram a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Pergunta-se: “Que fim levamos?”... 3

In SANTOS NETO, Manoel. Blogo do Manoel Santos, publicado em 23/07/2009, disponível em http://jornalpequeno.blog.br/manoelsantos/2009/10/23/antonio-ailton-realiza-em-sao-luis-o-lancamento-de-seu-premiadolivro-de-poesias/ , acessado em 08/01/2017 4 http://abletras.webnode.com.pt/cadeira-08-antonio-ailton/, acessado em 25/04/2014


O Palacete Gentil Braga e seus Festivais de Poesia Falada passou a ser suas casas (vide antologias desses festivais) de encontros e lembrança de poesia, naquele período. No XI Festival cheguou a receber segundo lugar pelo Poema-Fato ou Fenômeno, interpretado magnificamente por Sandra Cordeiro. Recebeu a amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que o levou às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores. Foi lá que conheceu Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, além da jovem poeta Rosemary Rego. (Inclinemos nossas cabeças, em pranto e oração, pela sua precoce partida... obrigado) Na mesma época, conheceu o incansável Alberico Carneiro, então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para Aílton o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se: Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-o à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formariam o Grupo Curare de Poesia: Eudes de Sousa, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior... O Curso de Letras rendeu-lhe outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres... Substituiu, (junto com Manoel Rosa Gomes), Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos, ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Escreveu Carta a Madré 2º Pacote num dia de solidão e angústia - DA de Letras da UFMA. Estava morando na “Casa de Estudante Universitário do Maranhão – CEUMA”, na Rua São Pantaleão 198. É dessa época o prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras. O Grupo Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome foi acrescentado “.doc” [Sygnos.doc], sugerindo algo de bastante “atual”, naquela época. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Dos encontros aos domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa “e nossa mãe”. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem poderem levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passaram a torcer pelos sucessos individuais. Em 1999 recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Habitações do Minotauro, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Em 2006, foi vencedor do Prêmio Eugênio Coimbra Júnior, categoria poesia do “Prêmios Literários Cidade do Recife”, um importante prêmio nacional, naquele momento, e que já houvera premiado dois maranhenses: José Maria Nascimento, em 1976(?), e Couto Corrêa Filho, em 2005. Também em 2006 fui gentilmente aceito para cadeira 08 da Academia Bacabalense de Letras, patroneada pelo Pe. Carvalho e deixada em vacância pelo falecimento do poeta Eduardo Freitas. Seu livro Os dias perambulados & outros tortos girassóis foi publicado então pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, em 2008. Ano em que fez especialização em Perspectivas Críticas da Literatura


Contemporânea, pela Universidade Federal do Maranhão. Também no mesmo ano iniciou Mestrado em Educação, terminando em 2011 com a dissertação JANELAS DO CONTAR [NA MICROSSÉRIE HOJE É DIA DE MARIA]: Atravessando os limiares entre imagem e educação, narrativa e vida. Não podemos deixar de citar seu trabalho de parceria com Alberico Carneiro - um intelectual que merece admiração e respeito –na colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007. Em 2013 iniciou Doutorado em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, com o projeto de tese A EXPERIÊNCIA LÍRICA ENTRE O MEMORIAL E O IMPREVISÍVEL: injunções de tempo e espaço na poesia contemporânea do Maranhão. Concluiu-o este ano, de 2017, a menos de um mês... BIOBIBLIOGRAFIA5 Hoje mesmo me declaro o empréstimo, também o pó. E a cinza do Holocausto. Criatura do Deus-em-favor-dos-outros, imagem e semelhança dos livros que li, os quais em todos os poemas são a expressão do gozo supremo de meu pai, ao transmitir as dores da mãe que me teve com a sabedoria hebraica das parteiras. Pode-se dizer de minha palavra que sou outro do outro que não se possui. Fica o dito pelo não dito.

Antonio Aílton pertence à geração poética de 90 que legou à literatura maranhense grandes nomes que agora, nos meados desta segunda década do século XXI já dão mostras de amadurecimento – aqui, na ALL, já temos Dilercy Adler, Paulo Melo, Mário Luna Filho, Arquimedes Vale, Daniel Blume, André Gonzalez, Michel Herbert... Sócio-atleta inscrito na geração de poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa. Fizeram, fazem... poesia pura6. Para José Neres (2009) 7, o fato de Antonio Aílton dividir-se entre a criação poética e a crítica ensaística, que poderia trazer problemas para uma pessoa com poucos recursos intelectuais e argumentativos, transformou-se, para ele Antônio Ailton, numa espécie de arma contra as mesmices literárias: 5

Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996) 6 SILVA, Antonio Aílton Santos. Os Cabos de Guerra da Poesia da São Luis Contemporânea. In ALL EM REVISTA, São Luis, n. 3, vol. 4, out/dez. 2016, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4 , acessado em 08/01/2017; Texto originalmente publicado no SUPLEMENTO CULTURAL & LITERÁRIO JP GUESA ERRANTE ANO X, Edição 281, 8 de setembro de 2012 , p. 8 e 9 – Sábado, e no site http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400—os-cabos-de-guerra-dapoesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm, de autoria de Antonio Ailton, apesar de não constar a autoria na página do site.] disponível em https://antonioailton.wordpress.com/


Suas constantes leituras transparecem nas páginas de seus textos e imprimem em cada verso uma dicção própria de quem tem total consciência de seu fazer poético e das conseqüências das palavras impressas no papel. Seus versos não perseguem o lirismo fácil e banal, pelo contrário, estão sempre em busca do inusitado e do aparentemente indizível. Seus poemas não claudicam diante dos obstáculos e seguem em marcha, ora mais lenta, ora mais acelerada, rumo a soluções poéticas que vão além das rimas e da metrificação. Na análise de José Neres, é o ritmo cadenciado imposto por cada situação e a temática a ser desenvolvida, o eu lírico, que age como um flâneur vagando em busca de algo desconhecido até para ele mesmo. É em seu constante observar da realidade que o poeta, como um voyeur consciente de que pode perder a visão a qualquer instante, retira a matéria bruta que será lapidada em forma de poema. Seus textos, rápidos, não dão tempo para o leitor respirar e o sufocam cada tentativa de tomar fôlego. Em suma, seus poemas não são feitos para serem lidos por quem busque apenas lirismo e formas bem comportadas, mas sim por quem tenha coragem de perambular por um labirinto de sensações e de palavras e de onde, às vezes, a única saída é enfrentar algumas verdades para as quais fechamos os olhos no nosso dia a dia. 8 Encerrando, gostaria de transcrever um ‘recado eletrônico’ que recebi de Aílton: Caro Leopoldo, finalmente envio a lista DEFINITIVA dos poemas para a preciosa antologia que estás montando. Estive na correria estes dias, daí o atraso, mas espero que a tempo, pois sei do teu cuidado em agilizar o que realmente precisa ser agilizado. A montagem desses poemas segue criteriosamente meu percurso literário, e espero que me te agrade. São esses os poemas - os quais não vou lê-los: IDADE DOS METAIS Ao amanhecer por entre as ruas o sol tropeçou em dois cadávares. Sombras da noite inoxidável, a catadora de latinhas tem mais coisas a fazer. Chagas Val Bioque Mesito Bruno Azevedo Felipe Magno Silva Pires

O JARDIM DE PO CHÜ-YI Dizem aí que Fulano é um grande poeta que tem estilo, e até consegue imitar a si mesmo, para conservar sua marca Que é como Picasso depois de Les Demoiselles 7

NERES, José. Perambulando pelas habitações. In Blog do José http://joseneres.blogspot.com.br/2009/10/antonio-ailton.html, acessado em 08/02/2017. 8 NERES, José. Perambulando pelas habitações. In Blog do José http://joseneres.blogspot.com.br/2009/10/antonio-ailton.html, acessado em 08/02/2017.

Neres,

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Neres,

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Quanto a mim, sei que meu pequeno jardim não é como o das grandes casas de portões vermelhos dos poetas que olham desdenhosos o outro lado do bulevar Não é como os planejados para a entrada dos grandes colégios nem como os que embelezam ainda mais os fluxos do sol que rebatem nas vitrines das grandes empresas Em meu pequeno jardim, eu sei, há flores grandes e minúsculas, coloridas e tristes, às vezes perfumadas e há também flores falsas como é natural das plantas flores enjambradas e ervas daninhas que tenho preguiça de tirar, ou não sei como então deixo aos poucos amigos quando vêm beber vinho olharem e dizer: “ô, isso cresceu aí...”, e respondo: “foi mesmo...” Então vamos beber um pouco mais de vinho, e aponto uma velha espreguiçadeira herdada de Po Chü-yi poeta mais sábio que todos nós juntos, e que após ouvir o alaúde perguntava: “Por que suspirar por grandes terraços, açudes quando um pequeno jardim é tudo quanto basta?” [tempo TEMPO e caramujo], inédito.

BIOBIBLIOGRAFIA9 Hoje mesmo me declaro o empréstimo, também o pó. E a cinza do Holocausto. Criatura do Deus-em-favor-dos-outros, imagem e semelhança dos livros que li, os quais em todos os poemas são a expressão do gozo supremo de meu pai, ao transmitir as dores da mãe que me teve com a sabedoria hebraica das parteiras. Pode-se dizer de minha palavra que sou outro do outro que não se possui. Fica o dito pelo não dito. PRAIA GRANDE, In memoriam10 Cada um dos que passeiam arrisca uma saída na ironia insuportável das estradas o feliz, a praça o traído, a taça o saudoso, a traça o poeta, o poema aceso 9

Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996) 10 Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996)


nas paredes azulíricas... Metafísico, o destino se aproxima do Teatro marcando em compassos o suicídio das estrelas tic tac tics glub A história e o sangue tornando-se um só corpo sem retrocesso. E quem tentar fugir da cópula Terá sua identidade estraçalhada entre as pedras, entre as pernas.

A RECLUSA11 todos os dias, a reclusa olhava pela fresta da janela e, tecendo o seu tricô, não se importava se os poetas cantam para dentro ou para fora

ESCRITOS ALEATÓRIOS PARA MASCARAS E INCERTEZAS 12 [6]

Flor é a palavra flor, não por dizer, mas por silenciar Flor é o crisântemo aceso, aguardando com ansiedade a visitante tardia Flor é o bicho de Lígia Clark quando você toca e ele se abre Flor é a orelha decepada de tuas obsessões psicossexuais derramando girassóis no ocaso para espantar os últimos corvos (há sempre relações possíveis entre flores e navalhas) Flor: rã de Patrick Süssekind na vulvinha virgem da próxima vítima engolindo insetos e aspirando o hálito ainda quente de um perfume desconhecido Há flores que nascem no estrume das feiras livres de Paris Mas não exagere em arte conceitual, chá de papoula é natureza morta pintada de amarelo

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Do livro OS DIAS PERAMBULADOS & OUTROS TORTOS GIRASSÓIS (Fundação Cultural do Recife, 2008) Do livro OS DIAS PERAMBULADOS & OUTROS TORTOS GIRASSÓIS (Fundação Cultural do Recife, 2008)


O MOINHO DE ARISTÓTELES13 O movimento endurece, passam as mães passam as irmãs passam as amadas as guimbas da primavera e as floradas de frieira nos pés do inverno O eterno é a regra ou a frieza? Eu o misógeno o insólito amarrador de roupas “aonde vais, blusa arrastada na ausência demasiada?...” Descubro agora ó forma louca ápice do meu movimento que me fixei aos moinhos de vento

Desculpem-me se me alonguei demais; é que o meu amigo, e hoje, meu afilhado nesta casa, merece o tempo despendido em sua já vasta obra e militância. Aos que votaram em Aílton, obrigado – em seu nome, e meu pois fiz campanha e pedi votos! –, que permitiram tê-lo como mais um Quixote a lutar contra os moinhos imaginários das letras ludovicenses. Seja bem vindo, Aílton!!! Obrigado.

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De Compulsão Agridoce [Deslizes para o livro imperfeito] – à época, Inédito


ELOGIO [OBLÍQUO] AO PATRONO A MARANHÃO SOBRINHO

ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA Discurso de posse na Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 22 em 13/12/2017 Ilustríssima Senhora Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Senhores confrades, senhoras confreiras, Amigos, ilustres autoridades e convidados, meus familiares. Antes de cumprir o precioso ritual de elogio ao poeta José Américo Augusto Olímpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho, que patroneia a cadeira de número 22, a qual passo agora a ocupar nessa Academia, tenho a alegria de saudar a todos e o dever de agradecer aos confrades e confreiras que muito me honraram com seu voto e sua confiança, não apenas trazendo-me para uma instituição de tão alto valor, mas para um círculo de convivências que há de resultar em parceria e amizade, e que está a buscar o caminho da partilha fraterna, de con-fratres, em prol de interesses, lutas e vitórias comuns. Sem intencionar nenhuma conotação pejorativa ou irônica, como naquela descrição trocista do olhar dissimulado em Machado de Assis, denominei este meu encômio de "elogio oblíquo". Primeiro porque, neste momento, sirvo-me de algumas pesquisas biográficas indiretas sobre a vida e obra de Maranhão Sobrinho, bebendo em fontes já preparadas, sobretudo, com destaque para as do poeta/pesquisador Kissyan Castro, de Barra do Corda, lugar onde nasceu o nosso patrono; do escritor/pesquisador Jomar Morais, que foi por muitos anos presidente da Academia Maranhense de Letras e cujas pesquisas e biblioteca eram vastamente reconhecidas pela intelectualidade brasileira; e, finalmente, para as do Professor e escritor Assis Brasil, organizador da antologia A poesia maranhense no Século XX (1994), onde esplende o nome de Maranhão Sobrinho. A segunda e principal razão dessa evocação da "obliquidade" dá-se pelo fato de que o caminho que passarei a estabelecer a partir de agora como trabalhos consequentes deste ato, será muito mais o caminho em que, entre vida, obra e textos, busque mais o conhecimento e o valor dos frutos poéticos, para onde se dirigirá o meu olhar, dando, portanto, talvez mais atenção ao seu trabalho e produção do que à sua biografia, acontecidos, anedotários, e trilhos do bardo, embora sempre considerando que não existe o texto sem a vida, e nem poeta sem poesia. Podemos dizer sobre qualquer poeta, qualquer escritor, que há o homem e há seu texto. Ao tamanho de um nem sempre corresponde o tamanho do outro. Às vezes o sujeito pode ser um boa praça e ter um texto medíocre, e às vezes pode ter uma obra fenomenal e ser um péssimo ou complicado sujeito. Tal verdade


deve estar sempre à vista daquele que se debruça sobre a obra de um poeta para verdadeiramente considerála, ou para nos aproximarmos de nossos vates, para os engrandecermos ou para os detratarmos. E de fato, em se tratando de Maranhão Sobrinho, podemos dizer que ele nunca foi um santo. Como Baudelaire, Rimbaud, Lautréamont, Verlaine, Laforgue e o simbolista/decadente ainda hoje mais incensado de todos (agora como o revolucionário, já moderno, da "crise do verso"), o grande ídolo de Maranhão Sobrinho, Stéphane Mallarmé, também não o foram. Sua personalidade estava mais para aquela do "enfant terrible" ou do "poeta maldito", tal como muitos daqueles a quem ele admirava. E sua vida, mais próxima dos estertores sofridos por outro ídolo seu, o poeta Cruz e Souza, para quem chegou a fundar um "Apostolado" em São Luís. Todos eles eram apenas seres humanos, assim como nós, alguns bizarros, outros misantropos ranzinzas, outros desregrados, alguns resignados, outros patéticos... Mas é justamente do íntimo dessa humanidade que nasce a poesia. E mesmo que esta aspire às mais altas nebulosas e aos mais sublimes alumbramentos, ainda continua brotando da carne e da alma humanas, muitas delas em frangalhos e lançadas ao sofrimento e ao escárnio, como o foi, em alguns momentos o nosso poeta. O poeta Maranhão Sobrinho viveu sempre em trânsito, entre rumos, tempos e lugares − o que, de certo modo, vem ao encontro de minhas próprias condições e sentimentos vitais, uma vez que se constitui em mais uma das coincidências que, com alegria por tê-lo feito meu patrono, encontro entre tantas de nossas vidas, sobre as quais a ocasião não possibilita discorrer. Tal viver figuradamente, existencialmente e literalmente "em trânsito" denota também, no poeta de Roídos pela traça do símbolo..., o caráter de alguém insatisfeito com as próprias condições e situações impostas por uma vida rica e turbulenta, uma incompletude íntima que se transforma em impulso, e não em nostalgia ou depressão. Conheceu a ebulição entre o apagar do século XIX e as primeiras luzes do século XX. Um trânsito que já começa da sua data de nascimento, em Barra do Corda, no ano de 1879, oscilando nos registros entre os dias 20 de dezembro (data no batistério), 25 de dezembro (data na tradição biográfica) e 30 de dezembro (certidão de nascimento), sendo que ficaremos aqui com a primeira data, a do dia 20, por a considerarmos a mais provável, numa época em que batistério era coisa sagrada e oficial, ficava mais próximo da lembrança uterina e era o primeiro registro prático no cotidiano da época. Nascido, portanto, em 20 de dezembro de 1879 foi o nosso patrono falecer na madrugada alvorecente do dia 25 de dezembro de 1915, isto é, com apenas 36 anos. Mas nesses poucos anos de vida, mudou-se de Barra do Corda para São Luís (1900), de São Luís para Belém (1903), de Belém para Manaus (1906), de Manaus para São Luís (1908), e depois definitivamente de volta a Belém e Manaus (1910), almejando ainda se estabelecer na capital do país na época, o Rio de Janeiro, o que não lhe foi possível. Inquieto e irreverente, com revezes e vicissitudes na vida íntima (o que se reflete na sua obra), há também um trânsito, algo inacabado e inquietante na sua educação formal. Iniciada uma educação com mestres em Barra do Corda, conhecendo ainda lá a intimidade da língua e da poesia, e tendo lido praticamente tudo que lhe era possível e contemporâneo, à época, chegando a São Luís não conseguiu completar a Escola Normal, como pensionista que era, do estado, mas cujos compromissos o estado deixou de honrar, lançando o poeta na rua das próprias forças, da resignação e da autoformação, escolhendo ele, finalmente, atuar na área jornalistica. E, no entanto, tornou-se ele um dos mestres da poesia, da versificação e da língua. Tratando o poeta como um "inspirado parnasiano", diz dele o jornalista Assis Memória, na matéria "um dos últimos atenienses" (Jornal do Brasil, 05/07/1953): Maranhão conseguira, a poder de assimilação fácil e de retentiva assombrosa, uma vasta cultura humanística. Conhecedor profundo de Português e Latim, a sua forma é irrepreensível e o seu estilo todo pessoal tanto se extremava singular na riqueza do colorido como no encanto da fantasia oriental e criadora. [...] Conciso, preciso, toda a sua produção, quer no verso, quer na prosa – que, afinal, importava sempre em estrofes sonoras –, a sua feição dominante era a medida exata, o comedimento. "Não é um homem, porque é um compasso", dizia dele Humberto de Campos. Assim também, ele se movimentou por entre as vertentes literárias do final do século, muitas vezes amalgamando-as, conforme comenta Reis de Carvalho: "se em Maranhão Sobrinho a ideia é simbólica, o sentimento é romântico, e a forma é Parnasiana". No entanto, sua força maior está reconhecidamente no Simbolismo, sendo um dos maiores representantes desse estilo, ao lado de Cruz e Sousa e Alphonsus de


Guimarães. E sabemos que o próprio Simbolismo, por si mesmo, é já um estilo literário que se estabelece no infixo e no inefável, entre a realidade e o sonho, o corpo lúbrico, muitas vezes decadente e satânico, e a alma universal, invocando antigas neblinas entre notas de música, e demônios que se esgueiram sob frestas de sublimidades. É no Simbolismo que Maranhão Sobrinho vai atingir seu mais alto grau de expressão e linguagem, diria que buscando alcançar, e efetivamente alcançando, expressões inusitadas da língua, ao desvelar novos aspectos para sua musicalidade, seus efeitos sensíveis, estésicos e afetivos, e sua imagética, tal como o projeto que Mallarmé já empreendera na língua francesa. O caso paradigmático é o do poema Interlunar: INTERLUNAR Entre nuvens cruéis de púrpura e gerânio, rubro como, de sangue, um hoplita messênio o sol, vencido, desce o planalto de urânio do ocaso, na mudez de um recolhido essênio... Veloz como um corcel, voando num mito hircânio, tremente, esvai-se a luz no leve oxigênio da tarde, que me evoca os olhos de Estefânio Mallarmé, sob a unção da tristeza e do gênio! O ônix das sombras cresce ao trágico declínio do dia que, a lembrar piratas do mar Jônio, põe, no ocaso, clarões vermelhos de assassínio... Vem a noite e, lembrando os Montes do Infortúnio, vara o estranho solar da Morte e do Demônio Com as torres medievais as sombras do Interlúnio... Em sua obra fecunda, de fusão, transição e conscientes interlúnios, o pêndulo da qualidade pode variar entre a suprema genialidade e (é preciso que se diga) o poema de ocasião – fato este que não o diminui, uma vez que, no território da criação literária, como sabemos, podemos dominar a técnica, que pode nos levar a fugir do medíocre, mas a obra-prima, de extrema beleza estética, sensível e afetivamente superior, é coisa rara, caso contrário todos nós a estaríamos produzindo, a todo instante. É desse modo que adentro os umbrais de tão preciosa obra, ao mesmo tempo estranha e valiosa, a qual contribui para elevar a literatura nacional e a poesia deste estado de modo excelente e incontestável. Reitero, no entanto, que esta breve fala apenas introduz a responsabilidade e o muito trabalho que tenho pela frente. Primeiro, em relação a esta Academia, em contribuir com seu fortalecimento, suas atividades, seu brilho e permanência. Segundo, em relação à obra de Maranhão Sobrinho, contribuindo com a ampliação de seu significado, de sua importância e de sua visibilidade. Observo, nesse sentido, que a palavra "contribuir" já deve deixar entender, por si só, que a luz do verão não se constrói sozinha, que uma personalidade e uma obra de tais estaturas não é prerrogativa de uma cadeira, de uma academia, de uma perspectiva ou de um intelecto, e que todo crescimento provém do trabalho de muitas mãos, de trocas, de generosidades, de imprevisibilidades. Assim, que possamos construir juntos, com trabalho e afinco, um sentido positivo neste presente, nessa presença, trazendo a estes uma luz generosa, intensa e fraterna, que também se lance e se desdobre para o futuro. Vamos, pois, de mãos dadas. Minha gratidão, saudações acadêmicas e meu abraço a todos.


SAUDAÇÃO DE JOÃO FRANCISCO BATALHA A IRANDI MARQUES LEITE

Confrades e confreiras, autoridades, amigos e amigas, senhoras e senhores que abrilhantam esta solenidade. Aceitei, com muita honra e orgulho, convite para saudar o acadêmico Irandi Marques Leite neste sodalício e nesta festiva sessão da Academia Ludovicense de Letras. Agradeço ao novo companheiro por confiar-me esta difícil, porém prazerosa, missão de apresentá-lo no momento de sua investidura como membro efetivo desta Casa. Fui escolhido, certamente, não por galardões intelectuais, que não possuo, nem por erudição ou pelo poder da eloquência, qualidades que outros haverão de ter melhor do que eu. Eles o fariam melhor. Acredito que a minha escolha deveu-se muito mais às razões do afeto que me unem ao novo imortal Que não se espere, portanto, desta minha alocução, expressões de rebuscada oratória nem de fino lavor. Faltam-me, para tanto, o engenho e a arte, o expressivo e a eloquência dos poetas, oradores e tribunos. Para apresentar nosso homenageado, devo, em primeiro lugar, destacar a alta qualidade literária e artística de suaprodução intelectual, de forte inspiração, e suacultura, forjada por uma inteligência privilegiada. Seus versos, elaborados com maestria e perfeição, revelam um homem culto que sabe usar as palavras para emocionar. Como já afirmei, não sou orador, não sou poeta nem sei declamar poesias, como como o faz, com muita competência, o homenageado, mas alguma coisa nos aproxima: talvez, o ideal, a humildade, a simplicidade, a lealdade e o sentimento da solidariedade. Eleito para ocupar a cadeira de número 9, nosso condiscípulo é engenheiro civil, advogado e servidor público; talentoso poeta e escritor ludovicense. Na área tecnológica, possui curso de formação de professores. Coerente em suas convicções, representará, com o seutalento, nesta Academia, o seu patrono, o médico, jornalista, escritor e político Antônio Henriques Leal, maranhense de Condimbas (atual Cantanhede), que fora, também, regente do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, e sócio da Sociedade Médica de Lisboa.


A presença e a participação de Irandi Leite irão, com certeza, enriquecer nosso cenáculo, porque uma de suas qualidades é fazer poesia; a outra, servir. Desde muito moço a alma de poeta já se manifestara no estudante secundarista e ele a externava nos momentos de folga, entre uma preleção e outra dos seus amados professores. E sempre exteriorizou o seu espírito de solicitude e colaboração. Nosso mais novo consócio nasceu em São Luís, no bairro de São Pantaleão, centro da cultura dos blocos tradicionais e coração da boemia de nossa capital.Criou-se entre o rufar de tambores de crioula e terecô e de pandeirões do bumba-boi; entre batucadas de sambas,cantorias e marchinhas de blocos carnavalescos; e em meio aos folguedos da capital. Quando criança, participou do Bloco Tradicionalde São Luís Os Mal Encarados e, posteriormente, no Os Versáteis. Padrinho do tradicional bloco Os Guardiões, que no carnaval passado homenageou os poetas maranhenses, Irandir levou para a passarela do samba de São Luís o brasão da Academia Ludovicense de Letras. O passista do bloco afro Juremê cresceu ouvindo histórias do seu bairro, o São Pantaleão, e dos festejos tradicionais do seu santo padroeiro,protetor dos solteiros, dos médicos, das parteiras e da dor de cabeça; e, também, de São Pedro, o protetor dos pescadores. Brincou nas ruas das Crioulas, Cotovias, Barraquinha, Largo Santiago e Madre deDeus. Ouviu falar da grandeza do seu bairroe das fábricas da indústria têxtil de nossa capital, entre elas a Santa Isabel e Cânhamo, que ficavam no bairro de São Pantaleão e que glorificaram São Luís no auge de sua importância econômica, nos séculos XIX e XX; e, também, da Casa das Minas, o Querebetão de Zomadônu, modelo de culto do tambor de mina e terreiro mais antigo do Maranhão fundado por africanos. Gosta de futebol de um modo em geral, mas, em nosso Estado éMaqueano de coração, assim como foram seus pais, dona Didier de Lima Marques Leite e senhor Caetano Santos da Costa Leite, o Benzinho boêmio da São Pantaleão, torcedores do Maranhão Atlético Clube, o Bode Gregório, esquadrão de quatro cores e astro luminoso demolidor de cartazes. No carnaval, torce pela Sociedade Recreativa Escola Turma do Quinto, da Madre Deus,a que detém mais títulos de campeã, em São Luís, e, também, momentos de glória. Orgulha-se de haver nascido no colo da cultura dos blocos tradicionais desta capital, patrimônio da humanidade, marcada pela miscigenação cultural e pela diversidade dos sons, ritmos e das danças típicas. Orgulha-se, sobretudo, de haver nascido nesta cidade fundada por franceses, invadida por holandeses e colonizada por portugueses. Gosta de Bumba-meu-boi e tem preferência pelo Bumba-meu-boi de matraca da Madre de Deus. Instrumentista, tem preferência pelo Reco-reco dos blocos tradicionais. Sua rua preferida, em São Luís, é a Rua São Pantaleão;a Igreja, a de São Pantaleão; cor, azul; música preferida, Ilha Magnética, de César Nascimento. Sua primeira escola foi o Colégio Jardim de Infância Dom Francisco, na Praça da Alegria. Estudou, também, no Colégio Francisco Brandão; e na Escola Técnica Federal do Maranhão. Graduou-se engenheiro civil pela Escola de Engenharia do Maranhão ecursou Direito, na Universidade Federal do Maranhão. Seu poema preferido é Dialética Cultural em São Luís, parte integrante do seu livro Viagem pela Ilha Upaon Açú e além mares. Através de sua expressão e capacidade, nosso homenageado de hoje alcança, por meio dos versos e da poesia,altos padrões literários. Entre suas obras publicadas destacamos: Poemas, mensagens e artigos na Ilha de Upaon-Açú, uma obra de grande magnitude;Dialética Indianista; Viagem da poesia pelas terras do Maranhão; Viagem pela ilha Upaon-Açú e além mares. É autor, também, de “De Caxias para o Mundo”, publicadona antologia “Mil poemas para Gonçalves Dias”; Conto para Maria Firmina; Sons Africanos para Maria Firmina; Viagem da poesia pelas águas e terras do Maranhão; Louvação a São Luís, e tantas outras peças de grande beleza. O novel acadêmico é, também, membro da Associação dos poetas dos Mil Poemas para Gonçalves Dias, sócio da Associação Maranhensedos Escritores Independentes - AMEI -, e sócio diretor da Associação


Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES-Maranhão. Cidadão da mais elevada estirpe, poeta e folclorista que presa as tradições cultuais da cidade dos azulejos, patrimônio da humanidade. Cidadão de notória cultura, humilde,figura simples, que não faz alarde, porém, é uma estrela que brilha no campo das letras e da poesia. Eis os traços básicos do cidadão que ora adentra os nossos umbrais para ocupar a cadeira patroneada por Antônio Henriques Leal. Bem-vindo, Irandir Leite. Nós, seus consócios, respeitosa e fraternalmente, o recebemos de braços abertos e corações jubilosos. As portas da Academia Ludovicense de Letras abrem-se para onovo confrade, para que, junto aos demais membros desta instituição, agregue sua dedicação e amor à casa de Maria Firmina dos Reis. Nós te recebemoscom prazer e orgulho, confrade ludovicense, e fazemos votos de que tenhas vida longa entre nós. Que rufem os tambores e pandeirões, Irandir Leite é o mais novo imortal da ilha de Upaon Açú. Palmas para ele.


ELOGIO AO PATRONO ANTÔNIO HENRIQUES LEAL

Ilustríssima ConfreiraDoutoraDilercy Aragão Adler, Presidente da Academia Ludovicense de Letras. Autoridades presentes, Confrades, Confreiras, Senhoras e Senhores, amigos, parentes e demais convidados. Agradeço a Deus, O Criador dos espaços finitos e infinitos, as bênçãos que Ele me tem concedido. Agradeço a todos que me ajudaram nesta caminhada. Em Deus busco sabedoria e refrigério para a alma Em minha própria alma busco emoção e paixão. Todo este percurso é uma viagem por dentro de mim mesmo e pelo universo, buscando me situar no tempo e no espaço, às vezes me perco e não sei quem sou. E, aí, acordo do sonho. Os poetas voam nas asas da imaginação. O meu livro Viagem pela ilha Upaon-Açu e além-mares traz um versículo bíblico, laureado de sabedoria. “Vão em paz. Sua viagem tem a aprovação do Senhor.”Juízes 18:6 Agradeço a presença dos Confrades e Confreiras da Academia Ludovicense de Letras, dos amigos de infância, do Jardim Dom Francisco, do Colégio Francisco Brandão, da Escola Técnica Federal do Maranhão, da Escola de Engenharia do Maranhão, do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão e da Fundação Getúlio Vargas. Minhas Senhoras e meus Senhores: Agradeço a presença dos meus familiares. Neste momento quero fazer uma saudação aos meus pais, in memoriam. Meu pai Caetano Santos da Costa Leite, o Benzinho boêmio da rua São Pantaleão e minha mãe, Didier de Lima Marques Leite, que


trabalhou no abrigo de Manoel Coelho,na praça JoãoLisboa e vendeu lanche na Estação Ferroviária de São Luís, pilares fundamentais da minha vida. Agradeço a todos meus familiares que me ajudaram nesta caminhada. Confesso-lhes que iniciei muito criança escrevendo cartas para meus avós, tios, primos em São Paulo, pedindo brinquedos e livros. E eles enviaram muitos livros e ajudaram a construir o Irandi que aqui está. Naquela época, em 09 de agosto de 1964, Benzinho partiu de São Paulo para outra dimensão. Hoje eu sinto a presença deles aqui, Benzinho e Didier. Aproveito para falar da minha primeira profissão Artesão, dos 7 aos 13 anos.Fazia com a família caixas para pílulas, as caixinhas para armazenar as pílulas contra o estupor. O papel verde era comprado na Casa Mohana, na rua Formosa, onde passava o bonde da linha São Pantaleão. Neste momento vou cantar, Simbolicamente, é claro. Nasci neste torrão Da querida Madre Deus Da rua São Pantaleão Senhoras e Senhores Quero agradecer aos amigos Meus fiéis conselheiros no percurso para chegar a esta Cadeira nº 9 da Academia,cujo patrono é Antônio Henriques Leal, Aos confrades e confreiras da Academia Ludovicense de Letras, onde fui acolhido com carinho, Aos confrades e confreiras da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, AJuceySantos de Santana, confreira que me levou a descobrir os segredos de tantos ilustres do município de Itapecuru Mirim e me entregou os livros do meu patrono, o também itapecuruense, Antônio Henriques Leal. Aos Confrades e confreiras da Academia Caxiense de Letras e da Academia Vianense de Letras, Ao meu consultor literário, Raimundo Nonato Medeiros da Silva, presidente da Academia Caxiense de Letras. Minhas Senhoras e meus Senhores. Peço permissão para fazer minhas as palavras da itapecuruense Mariana Gonçalves da Luz ao tomarposse na cadeira 32, patroneada por Vespasiano Ramos, na Casa de Antônio Lobo, Academia Maranhense de Letras. “Aqui entro mais pela bondade dos que sufragaram o meu nome do que pelo valor literário de minha obra. Assim é que vindo para o convívio desta casa, não vos possa prometer o fulgor de produções literárias dignas deste Areópago e de meus Pares. Prometo-vos, entretanto, em troca, a minha dedicação pela salvaguarda do prestígio desta casa pelo seu cada vez maior engrandecimento, de que é penhor o meu acendrado amor ao Maranhão e ao culto perene aos seus filhos ilustres que de verdes anos me acostumei a tributar”. Senhoras e Senhores. É hora de navegar mais além. Partir da Ilha Upaon-Açu e navegar pelo Rio Itapecuru, que foi cantado no Livro Rio Itapecuru, rio que corre entre Pedras, do escritor Raimundo Nonato Medeiros da Silva. Este majestoso Rio através deste livro inspirou o tema Rio Itapecuru, as Águas do Maranhão, samba do Bloco Tradicional Os Versáteis, na passarela do Samba de São Luís. (fevereiro de 2005).


Navegando no espaço e no tempo, de volta ao século XIX, década de 80, pelo caudaloso Rio, vou saudando homens e mulheresitapecuruenses ilustres que se destacaram nas letras, artes, política, jornalismo e outras áreas do conhecimento humano, que fizeram parte da Academia Maranhense de Letras. Eles estão na margem do Rio, esperando o escritor, que navega em busca de conhecimento e inspiração para escrever o Poema das Águas. Cumprimento-os – Joaquim Gomes de Sousa – patrono da cadeira 08 da Academia Maranhense de Letras (matemático, escritor); tive oportunidade de conhecê-lo com 12 anos no Curso Exame de Admissão, meu professor de Matemática, AntônioJosé Xavier, me apresentou para Gomes de Sousa em agosto de 1968 e ficamos amigos; preciso estudar as integrais triplas, peço ajuda do professor de matemática José Ribamar Carvalho, nosso professor na Escola Técnica. – Viriato Correia – 3º ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, membro efetivo da cadeira 34 da Academia Maranhense de Letras (romancista, teatrólogo e jornalista); tive oportunidade de conhecê-lo com 12 anos, na Escola Técnica em 1968. E na margem do rio vou encontrando com outros notáveis: –João Francisco Lisboa, patrono da cadeira 11, da Academia Maranhense de Letras(jornalista, escritor) –José Cândido de Morais e Silva, patrono da cadeira 13, da Academia Maranhense de Letras (jornalista, professor) –Pedro Nunes Leal, patrono da cadeira 33, da Academia Maranhense de Letras(lexógrafo, escritor, tradutor) Mariana Gonçalves da Luz, membro cadeira 32, da Academia Maranhense de Letras E, aí, encontro com meu patrono. Desço do barco e o cumprimento.Os ribeirinhos acompanham, a natureza resplandece e reflete cenários do século XIX. A correnteza está forte. Muitas embarcações. As palavras navegam no espaço e deslizam na superfície do rio como se fossem bolhas de sabão, saltitantes, são palavras molhadas pela água divina. Eu reconheço humildemente que Deus é o maior conhecedor de hidráulica e recursos hídricos do universo. BOM DIA, MEU PATRONO -PERMITA-ME FAZER O MEU ELOGIO DIANTE DAS ÁGUAS E CANTO DOS PÁSSAROS! - SEM DÚVIDA, O SABIÁ ESTÁ AQUI -ELE COÇA A BARBA E CONCORDA. És o patrono da Cadeira 10 da Academia Maranhense de Letras -És o Patrono da Cadeira 9 da Academia Ludovicense de Letras por todos os tempos e lugares e infinitas eternidades. Sei que navegas em diversos planos do conhecimento humano, és médico, jornalista, escritor brasileiro, biógrafo, historiador. Agradeço a oportunidade para ocupar esta cadeira por um período determinado numa esfera menor pelos homens e em âmbito maior por Deus. Antônio Henriques Leal, sei que nasceste no povoado de Candimbas próximo à Vila de Itapecuru, hoje município de Cantanhede, MA, em 24 de julho de 1828. És Filho de Alexandre Henriques Leal e Ana Rosa de Carvalho Reis. Ésdescendente de uma família bastante influente no Maranhão, donos de muitas propriedades rurais;concluíste os estudos em São Luís e posteriormente tu te formaste médico na cidade do Rio de Janeiro.


Depois de formado no Rio de Janeiro, Henriques Leal, retornaste para tua província natal para exercer a profissão em São Luís a quarta maior cidade brasileira, sendo excedida apenas por Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Em São Luís pertenceste ao Instituto Literário Maranhense e mais tarde ao Gabinete Português de Leitura, que te fezsócio honorário, do Ateneu Maranhense e da Associação Tipográfica Maranhense. No Rio de Janeiro tu te tornaste sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e, em Portugal foste sócio da Sociedade Médica de Lisboa. Na política exerceste um mandato de vereador em São Luís e foste presidente da Câmara Legislativa na legislatura de 1865/1866 e na seguinte de 1866/1867, foste ainda eleito para a Assembléia Provincial onde também atingiste a chefia. Há registros de que em 1855 o presidente da Província te nomeou para o cargo de auxiliar da Junta de Higiene Pública, entretanto, não exerceste o cargo por mais de um mês, porque no Rio de Janeiro, tu te tornaste regente do Colégio Pedro II e diretor do internato dessa instituição. Começaste tua carreira de jornalista em O Progresso, como colaborador (1847-1848) e como redator em 1861, depois foste para A Imprensa que fundaste junto com Fábio Alexandrino de Carvalho Reis e Antônio Rego (1857-1861) e ao Publicador Maranhense redigiste de 1864 a 1865 e para A Conciliação foste um assíduo colaborador,jornaisestes de natureza política.Nos jornais de natureza literária ou cultural contribuíste com O Arquivo, Ojornal de Instrução e Recreio e Semanário Maranhense e a Revista Universal Maranhense. Deixaste a militância política por motivos de saúde e te dedicasteà intelectualidade, à literatura, biografando os principais nomes de tua província natal. Em 1862 escreveste a "introdução" para a História da Independência da Província do Maranhão de autoria do Visconde de Vieira da Silva e a "Nota Biográfica" no primeiro volume das Obras de João Francisco Lisboa, que ele editou na companhia de Luís Carlos Pereira de Castro em 1864. Foi na década de 1870, que atingiste o máximo e o melhor da tua produção literária; começaste editando os quatro volumes do PantheonMaranhense, editados pela Imprensa Nacional de Lisboa em 1873 e 1874 e dois volumes dos Apontamentos para a História dos Jesuítas no Brasil e Lucubrações, pequenos ensaios sobre assuntos de história, literatura e medicina, e por fim a Biografia de Antônio Marques Rodrigues, publicada em Lisboa em 1875. Estou aqui para citar as tuas obras: PantheonMaranhense (1873-1875) - (Em 4 tomos), Ensaios Biographicos dos Maranhenses Ilustres (falecidos) A Província do Maranhão (1862). Apontamentos para a História dos Jesuítas no Brasil (1874) - (em 2 tomos) Apontamentos Estatísticos da Província do Maranhão (1847). Calendário Agrícola História da Província do Maranhão Lucubrações (1875). Biografia de Antônio Marques Rodrigues (1875). Organizaste outras obras: Obras de João Francisco Lisboa (1864). Obras Póstumas de Antônio Gonçalves Dias (1873) Fizeste tradução das Cartas sobre Química de Jules Liebig(1867). Vou falar também de curiosidades referentes a tua pessoa: Judael de Babel-Mandeb é o teu pseudônimo em A Casca da Caneleira: (steeplechase) romance por uma boa dúzia de Esperanças,de Flávio Reimar, publicado na tipografia de Belarmino de Matos. Recebeste do município de Cantanhede o cognome de O Plutarco de Cantanhede. És primo de Ana Amélia Ferreira do Vale, a musa por quem Gonçalves Dias se apaixonou e que se tornou um dos maiores mitos da Literatura Brasileira. És primo de Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, o primeiro amigo e confidente do poeta Gonçalves Dias. És biógrafo de Joaquim Gomes de Sousa.


Escreveste a biografia de João Francisco Lisboa. Antônio Henriques Leal, o que nos une hoje é uma ponte, não de safena, nem de concreto armado ou estrutura metálica, estrutura espacial, da engenharia civil, mas uma ponte construída de letras, artes e ciências, com pilares de uma longínqua teoria tridimensional inacabada. Senhoras e Senhores, Após conversar com Antônio Henriques Leal Retorno para o século XXI. Quando lancei meu primeiro livro, levei o cenário “as Escolas para a Feira do Livro de São Luís” (12 de novembro de 2016). Levei colegas estudantes do Jardim de Infância e outras épocas para enfatizar a importância da educação. Agradeço a compreensão da confreira Dilercy Aragão Adler, Do escritor Antônio Ailton, dileto confrade que tomou posse hoje,da professora Regina Muniz,exdiretora do IFMA,Monte Castelo, Dos ex-alunos, conselheiros do Conselho Superior do IFMA, Álvaro Costa e João Batista Sousa, Do Reitor e Diretores do IFMA e todos que entenderam e propiciaram, hoje, trazer a Academia Ludovicense de Letras para dentro desta Escola, que neste momento representa uma justa homenagem aos educadores do Maranhão, do Brasil e do mundo. Convém voltar um pouco no tempo para citar os nomes desta Instituição: 1909 Escola de Aprendizes Artífices do Maranhão 1937 Liceu Industrial de São Luís 1942 Escola Técnica de São Luís 1965 Escola Técnica Federal do Maranhão 1989Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão CEFET MA 2008 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA. Relembrando nossos tempos de estudantes na Escola Técnica, cito o jogo da tampinha e as aulas de português do Professor Ramiro Azevedo, enfatizando a equação da análise sintática – Sujeito + verbo + predicado = oração. Eu sou o segundo engenheiro a tomar posse na Academia Ludovicense de Letras Agradeço a homenagem das Entidades de Engenharia. Eu sou o sexto ex-aluno da Escola Técnica Federal do Maranhão a tomar posse na Academia Ludovicense de Letras. Permitam-me, Afirmar A família é o centro do mundo Deus em primeiro lugar A Escola é a primeira Academia do cidadão. Peço desculpas, por não ter tido a devida competência para construir uma biografia à altura e merecimento de Antônio Henriques Leal. Mas,afirmo e reafirmo, vou construí-la ao longo desta caminhada, respeitando os limites, derivadas e integrais da vida terrestre. Peço atenção e permissão


Para representar em palavrasdo nosso idioma e palavras de outros idiomas, a emoção e alegria de receber o aviso através de fumaça e infinitas formas,quando meu nome foi sufragado para confrade da Academia Ludovicense de Letras, da cidade de São Luís que Deus me deu como berço. E GRITEI É UM PRESENTE PRESENTE DE DEUS A intensidade dos votos Causou atrito Nas paredes da urna. Um som ecoou E rompeu ares e mares Os índios Tupinambás Ouviram a mensagem Os tambores rufaram A ilha Upaon-Açu balançou. O eco atravessou mares, Os índios Maias decodificaram A mensagem - Um nome indígena Na Academia Ludovicense de Letras Num plano tridimensional A partir de agora vou navegar Quase imortal A Maria Firmina dos Reis, Ao meu patrono Antônio Henriques Leal, De Itapecuru Mirim (Maranhão) Irmão literário de Joaquim Gomes de Sousa, Aos confrades e confreiras, Merci Danke Grazie Arigatougozaimasu Gracias sem limites, Com tendência para o infinito Zanekuem, Zanekarok, Za’ ari Axipirikoaikoiwipehegwer’ihere A Deus, O criador Do livro maior KATU APO, KATU APO, KATU APO São Luís, 13 de dezembrode 2017. Irandi Marques Leite Confrade ALL


NA BERLINDA


ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Lançamento da conceituada Revista Arte & Estilo, edição 2017, na Livraria Cultura do Shopping Fashion Mall, Estrada da Gávea, no dia 09 de outubro, às 18h. Meus livros e pinturas aparecem em duas páginas internas.




PH REVISTA – O ESTADO MA 07 OUTUBRO 2017


Caros amigos e amigas: É com prazer que anuncio que a obra Um Trem chamado Sonho, um Sonho chamado Academia (ainda não publicada), de minha autoria, baseada no discurso de posse na AML, foi premiada no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores - UBE-RJ, categoria Ensaio, Prêmio Vianna Moog. Meus agradecimentos e parabéns aos organizadores do concurso! Estou honrada.


O ESTADO MA – PH REVISTA – 27 de outubro de 2017

Na ABL a Solenidade de Premiação do Concurso Internacional de Literatura da UBE RJ.





É com prazer que anuncio que recebi o Diploma de Acadêmica correspondente da excelsa ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS, fundada em 1894, que é a mais antiga de todas as academias de letras do País, anterior à própria Academia Brasileira de Letras, de 1897. A sede da ACL é o Palácio da Luz, possivelmente o mais antigo prédio público de Fortaleza, construído por volta de 1781, já tendo, inclusive, constituído a sede do Governo do Estado do Ceará, por mais de um século e meio. Sinto-me muito honrada e feliz, particularmente em razão de minha bisavó Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, professora, jornalista, pianista, violonista e poeta, que era cearense.

Na Academia Cearense de Letras - ACL em 2016.


MEMBRO CORRESPONDENTE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA -

Caros amigos: Tomarei posse como membro correspondente no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina - IHGSC no dia 6 de dezembro (quarta). O IHGSC foi fundado em 1896, sendo o mais importante centro da memória catarinense. Sinto-me muito honrada. Conto com a presença de vocês, especialmente os residentes em Florianópolis.

PH REVISTA – O ESTADO MA – 05/12/2017


PH REVISTA – O ESTADO MA – 16/17 dezembro 2017


DANIEL BLUME DE ALMEIDA


PH REVISTA – 11/11/2017

O ESTADO MA – COLUNA DO BUZAR 11/11/2017


Lançada a nova edição da Revista da PGE-MA (v.3, 2017). Contém artigos, pareceres e petições, como o nosso “Responsabilidade Civil do Estado por Atos Legislativos no Sistema Jurídico Português”. Fica a sugestão de leitura.


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

NO INFO30 30 ANOS DO I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES CAMPINAS – UNICAMP – 28 DE NOVEMBRO DE 2017

De 19 a 20-11-1987 - Brasil. Campinas - SP

Diretores do CBCE-SP, apoiadores do evento; à esquerda, Rafael Castellani, organizador-mor, diretor do CEV também AGUARDANDO O INICIO...


Info30. Comemoração de 30 anos do I Simpósio Brasileiro de Informática em EF & Esportes Programa

INFORMAÇÕES IMPORTANTES:  

Quando? 28 de Novembro de 2017 Onde? Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - presencialmente Instituto Edumed - On line (a distância)

PROGRAMAÇÃO 28.NOV de 2017 - TERÇA-FEIRA 

8h30 às 9h00 Cerimônia de Abertura - Presença de representantes institucionais Moderação: Rafael Moreno Castellani (CEV; CBCE/SP; FAM) o o o

9h00 às 9h30 Palestra de abertura: "Perspectivas da tecnologia em Saúde e sua aplicação em Educação Física e Esporte" o

Laércio Elias Pereira (CEV) Alan Costa (CBCE/SP; SEME) Miguel de Arruda - Diretor da FEF-Unicamp

Renato Sabbatini (Instituto Edumed; Unicamp)

9h40 às 12h00 Mesa redonda 1: "A Tecnologia à serviço da Educação Física e Ciências do Esporte" Moderação: Luciano Mercadante (FCA-Unicamp) o

Lamartine Da Costa (UERJ) "Inovação em Educação Física e Esporte"

o

Bianca Gama Pena (Museu do Esporte; FIRJAN) "Novas Tecnologias e o Museu do Esporte"

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Guilherme Borges Pacheco Pereira (Centro Univ.ersitário Augusto Mota) & Valdo Vieira (UNISUAM; Veiga de Almeida) "Aplicativos em Educação Física e Esporte"

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Tiago Russomano (Centro Olímpico/UNB) "O Congresso Pré-Olímpico "Computer Science and Sport" na UnB e a IACSS"

12h00 às 14h00 - Intervalo

14h00 às 15h30 Mesa redonda 2: Relações entre as tecnologias, Educação Física e o Esporte Moderação: Leopoldo Gil Dulcio Vaz (IFMA) o

Gisele Schwartz (Unesp/Rio Claro) "Webgames com o corpo"


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Yuri Motoyama (UNIP/ UNIFESP - GEPEFEX) "Podcasts em Educação Física e Esporte"

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Alan Costa (CBCE/SP; SEME) "Competências digitais dos professores de Educação Física"

15h30 às 16h00 - Intervalo

16h00 às 17h30 Mesa redonda 3: A tecnologia e a informática em prol do Esporte Moderação: Elaine Prodócimo (FEF-Unicamp; CBCE/SP)

o

Sandra Caldeira (SC Consultoria) "Voleibol e Tecnologia: O que interferiu no treinamento, preparação e jogo desde as primeiras intervenções e o relato no Simpósio de 1987?"

o

Luciano Mercadante (FCA-Unicamp) "Tecnologia e desempenho no basquetebol"

o

Leopoldo Gil Dulcio Vaz (IFMA) "O Teusauro em Esporte"

17h30 às 18h00 Mesa de Encerramento com os Palestrantes: "Perspectivas para a Tecnologia em Educação Física e Esporte" Moderação: Rafael Moreno Castellani


CONSTRUÇÃO DE UM TESAURUS EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Escola Técnica Federal do Maranhão

1987. E já falávamos em tesauro14 na área da Educação Física e Esportes (VAZ e PEREIRA, 1986; 1990 a, b) 15. Até então trabalhávamos com um dicionário controlado (LANCASTER, 1993) 16, utilizado na indexação de revistas dedicadas à educação física e esportes em língua portuguesa (PEREIRA, 1983; VAZ e PEREIRA, 1986) 17. Indexamos mais de 5.000 artigos, de 13 revistas dedicadas, abrangendo o período de 1932 a 1992 (VAZ e PEREIRA, 1986; VAZ, 1987 a, b, c; VAZ e PEREIRA, 1988 a, b; VAZ e PEREIRA, 1990; VAZ, 1990; VAZ, 1991) 18. Para Kroeff e Leoneti (2012) 19 Tesauro é uma lista estruturada de termos associados, empregada por analistas de informação e indexadores, para descrever um documento com a desejada especificidade, em nível de entradas, e para permitir aos pesquisadores a recuperação da informação que procura. Os tesauros geralmente apresentam relacionamentos hierárquicos (do geral para o específico); de equivalência (termos 14

Tesauro, também conhecido como dicionário de idéias afins, é uma lista de palavras com significados semelhantes, dentro de um domínio específico de conhecimento. Por definição, um tesauro é restrito. Não deve ser encarado simplesmente como uma lista de sinônimos, pois o objetivo do tesauro é justamente mostrar as diferenças mínimas entre as palavras e ajudar o escritor a escolher a palavra exata. Tesauros não incluem definições, pelo menos muito detalhadas, acerca de vocábulos, uma vez que essa tarefa é da competência de dicionários. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tesauro. 15 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Coleta de bibliografia para processamento por computador. ENCONTRO DE PESQUISADORES DA UEMA, I, São Luís, 1986. ANAIS... São Luís, 1986. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias & Outros. Indexação: em busca da construção de um thesaurus em Ciências do Esporte. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís, 1990. PEREIRA, Laércio Elias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, e Outros. Organização da Informação em Ciências do Esporte veiculada em periódicos de língua portuguesa. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS...São Luís: UFMA, 1990. 16 Um vocabulário controlado é essencialmente uma lista de termos autorizados, elaborada dentro de uma estrutura semântica. Essa estrutura se destina a: Controlar sinônimos; Diferenciar homógrafos; Reunir ou ligar termos cujo significado apresente uma relação mais estreita LANCASTER, F. W. INDEXAÇÃO E RESUMOS: TEORIA E PRÁTICA. Brasília: Briquet de Lemos, 1993. 17 PEREIRA, Laércio Elias. INDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS. Brasília : SEED/MEC, 1983. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Coleta de bibliografia para processamento por computador. ENCONTRO DE PESQUISADORES DA UEMA, I, São Luís, 1986. ANAIS... São Luís, 1986. 18 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. ÍNDICE DA REVISTA STADIUM. São Luís: SEDEL, 1984 (edição em microficha). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ÍNDICE DA REVISTA CORPO & MOVIMENTO. São Luís: UEMA, 1987. (mimeog). (inédito). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ÍNDICE DA REVISTA DESPORTOS & LAZER. São Luís: UEMA, 1987. (mimeog.). (inédito). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ÍNDICE DA REVISTA COMUNIDADE ESPORTIVA. São Luís: UEMA, 1987. mimeog.). (inédito). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Índice da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. REVISTA BRASLEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 10, n. 1: 33-45, set. 1988. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Handebol - bibliografia básica. ENCONTRO DE TREINADORES DE HANDEBOL, I, Campinas, 1988. ANAIS... Campinas, 1988. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. ÍNDICE DA REVISTA KINESIS. Santa Maria : UFSM, 1990. (mimeog.). (Inédito). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Natação - bibliografia básica. CADERNOS VIVA ÁGUA, São Luís, vol. 2, 1990. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Psicologia aplicada ao Esporte. CADERNOS VIVA ÁGUA, São Luís, vol. 3, 1991. 19 KROEFF, Márcia Silveira; LEONETI, Fabiano Contart. ESTUDO PRELIMINAR DO TESAURO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. REVISTA ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis (Brasil) - ISSN 1414-0594, v. 17, n. 1 (2012).


sinônimos) e de associação (termos relacionados) entre os termos. São usados principalmente para a indexação de documentos em catálogo e bases de dados. Ainda não existe no Brasil um tesauro que atenda a demanda de necessidades das Ciências do Esporte.

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Fonte: BARRETO, 2010 Um Tesouro Construído de Palavras

Para atacar o problema da dispersão da Informação em Ciências do Esporte foi desencadeado um trabalho de indexação de artigos de revistas no início da década de 80 que serviu de base para a implantação de um Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer - CEDEFEL. As ações do CEDEFEL estavam voltadas para um processo de criação de um modelo de "Centro Referencial" informação sobre a informação - com o objetivo de recuperar e organizar as informações básicas em Educação Física, Esportes e Lazer e efetivar a comunicação entre especialistas (VAZ, PEREIRA, 1992) 21. 20

BARRETO, Aldo. UM TESAURO CONSTRUIDO COM PALAVRAS. In VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CEV/BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO EM EF & ESPORTES; 13/09/2010, disponível em http://cev.org.br/comunidade/biblioteca/debate/umtesouro-construido-palavras/ - O Thesaurus de Roget teve grande sucesso de público nos países de língua inglesa e foi também traduzido para diversas línguas. A palavra thesaurus etimologicamente significa tesouro tendo sido usado durante muitos séculos para designar um léxico, ou um tesouro de palavras. Esta palavra popularizou-se a partir da publicação do Thesaurus of English Words and Phrases, de Peter Mark Roget, em Londres, 1852. O subtítulo de seu dicionário expressa bem o objetivo: classsified and arranged so as to facilitate the expression of ideas and to assist in literary composition (Roget, 1925) O sentido actual da palavra remete a um catálogo classificado de palavras, reunindo-as pela ordem alfabética, de acordo com as “ideias que exprimem: conceitos abstractos, espaço, matéria, intelecto, vontade e afeição. O Thesaurus de Roget expressa bem o que o autor pretendia com sua obra: classificar e ordenar para facilitar a expressão de ideias e auxiliar na narrativa. A questão é colocada da seguinte forma:um catálogo de palavras mostrando significados análogos vai sugerir, por associação, outras imagens de pensamento. Na adaptação da obra de Roget para o francês o seu título ficou Dictionnaire idéologique: recueil des mots, des phrases, des idiotismes et des proverbes de la langue française classés selon l’ordre des idées. Assim nos países de língua latina os thesaurus e dicionários analógicos são também conhecidos como dicionários ideológicos no sentido de aumentação de ‘ideias’. O Thesaurus de Roget é um peça importante na história da informação e sua técnicas e pode ser visto ou baixado integralmente no site: Roget’s Thesaurus of English Words and Phrases. http://www.gutenberg.org/files/10681/10681-h-body- pos.htm 21 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PEREIRA, Laércio Elias. ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DO ESPORTE: A EXPERIÊNCIA DO CEDEFEL-MA. Tema livre apresentado no XVIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CI ÊNCIAS DO ESPORTE, São Caetano do Sul, outubro de 1992


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Memórias da Documentação Esportiva No/do Brasil

A Documentação Esportiva no Brasil tem um nome: LAÉRCIO ELIAS PEREIRA! O nosso Prof. Laércio – ex-professor da UFMA!!! Embora a Profa. Versezzi, da USP, tenha iniciado o trabalho, foi Laércio que se empenhou no funcionamento do SIBRADID23, que acabou indo para a UFMG – de triste atuação, chegando ao ponto de proibir pesquisadores da área das ciências do esporte de fazer… pesquisa!!! – fui um dos proibidos de entrar na Biblioteca da Escola de Educação Física da UFMG, no tempo em que fiz meu mestrado em Ciência da Informação; a então bibliotecária -chefe, que também era responsável pelo SIBRADID ficou com medo de que eu viesse a assumir seu lugar na sua operacionalização… A ida do Laércio para a UFMG se deu pelo fato de a sede do SIBRADID ter sido instalada lá. Depois, fui eu, para o Mestrado em Ciência da Informação, em busca de um referencial teórico melhor, para sua operacionalização… nem Laércio, nem eu, tivemos chance devido ao corporativismo das bibliotecárias da UFMG, embora tivéssemos inúmeros trabalhos já publicados sobre Informação e Documentação Esportiva… (VAZ, ANDRADE FILHO, FERREIRA NETO, 1991; VAZ, PEREIRA, 1993, a, b; VAZ, PEREIRA, LOUREIRO, 1993; VAZ, 1995; PEREIRA, VAZ, 1995) 24 Ainda em 1979, quando Laércio e eu planejávamos o que fazer na SEDEL, em uma reunião na casa dele, e ouvindo Som Brasil – com o Rolando Boldrin, e ao fundo Chitãozinho e Xororó e Pena Branca e Xavantinho, criamos um Decálogo, do que seria nossa atuação naquela recém-criada Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão... Não sei onde esta esse documento, mas foi por ele que baseamos nosso trabalho desde essa época; e um deles estava a criação de um sistema (ferramenta) para disseminação de informação – dai o CEDEFEL…

22 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Memórias da Documentação Esportiva No/do Brasil. In CEV/BIBLIOTECONOMIA E CIENCIA DA

INFORMAÇÃO EM EF & ESPORTES; 06/05/2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/biblioteca/debate/arquivo/tema/tesauro 23 SIBRADID - O Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva - SIBRADID é uma rede de informações cuja unidade central, está sediada na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG. A parceria com Instituições de ensino superior e de pesquisa (denominados Centros Cooperantes) é realizada através da assinatura de convênios de cooperação técnica. O objetivo da unidade central é prestar serviços e fornecer produtos de informação em Ciências do Esporte, Educação Física e áreas afins à comunidade e aos demais setores da sociedade, promovendo e disseminando o uso das informações contidas nas bases de dados do Sistema, possibilitando a prestação de serviços de acesso a documentos através da Comutação Bibliográfica (Biblioteca da EEFFTO). O principal serviço do Sistema é disponibilizar, através da Internet, a seguinte base de dados: SIBRA - Base de Dados Bibliográficos Nacional – que contém referências bibliográficas da produção científica nacional (monografias, artigos de periódicos, capítulos de livros, anais de congressos, dissertações e teses). https://www.bu.ufmg.br/bu/index.php/base-de-dados/sibradid . Oficiamente o SIBRADID teve as suas atividades encerradas no dia 5 de dezembro de 2011, conforme ata da congregação da EEFFTO. PEREIRA, Laércio Elias. O Sibradid Encerrou Suas Atividades em Dezembro de 2011. CEV/ Biblioteconomia e Ciência da Informação em EF & Esportes, 04/05/2014, http://cev.org.br/comunidade/biblioteca/debate/o-sibradid-encerrou-suasatividades-dezembro-2011/ 24 VAZ, L. G. D. ; ANDRADE FILHO, S. S. ; FERREIRA NETO, F. D. Implantação da Informática no CEFET-MA. Seminario De Informatização Da UEMA, I, 1991. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A produção do conhecimento na Escola de Educação Física da UFMG. ANAIS Da 45ª Reunião Anual Da SBPC, Recife, 11 a 16 de julho de 1993, Vol. 1 p. 394, A.11 Motricidade Humana e Esportes, 6- A. 11 (Resumo). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A produção do conhecimento na Escola de Educação Física da UFMG. ANAIS CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Belém – Pará, 06 a 10 de setembro de 1993, Universidade Federal do Pará, p. 136 (Resumo) VAZ, L. G. D. ; PEREIRA, L. E. ; LOUREIRO, Luis Henrique. Protocolo De Indexação De Periódicos Dedicados A Educaçao Fisica, Esportes E Lazer Em Lingua Portuguesa. 1993. Software sem registro de patente VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Produção do conhecimento em Educação Física e Desportos no Nordeste Brasileiro. JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, III, São Luis, 05 a 08 de dezembro de 1995. in REVISTA MOVIMENTO HUMANO 7 SOCIEDADE, n. 5, ano II, Edição Especial. ANAIS…, p. 14-21 PEREIRA, L. E. ; VAZ, L. G. D. . Centro Esportivo Virtual – CEV. In: Lamartine Pereira da Costa. (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. 1 ed. Rio de Janeiro: Shape, 2005, v. 1, p. 769-770.


Os Primeiros Trabalhos Acadêmicos – Até onde nossa revisão avançou, é possível afirmar que as primeiras iniciativas acadêmicas sobre o tema tesauro e Educação Física no Brasil foram registradas em 198725; em 90, apresentamos durante o I Encontro de Pesquisadores do Maranhão nossa proposta de trabalho – que vínhamos realizando já desde 1980 (ANDRADE FILHO; PERREIRA NETO; VAZ; PEREIRA, 199026; PEREIRA; VAZ; REIS; ANDRADE FILHO; PERREIRA NETO, 199027; VAZ; PEREIRA; REIS, 1990)28. O Laércio pensava num “centro referencial” – informação sobre a informação. Hoje, vejo que já estava pensando o CEV29. O Pereira sempre foi de “unir as pontas”. O que admiro é a sua capacidade de idealizar as coisas – rápido, num piscar de olhos, enquanto fala…; e a sua incapacidade de “fazer as coisas”. O negocio dele é pensar, e arranjar quem coloque em prática. Desde que o conheço – desde 1976… – foi assim. Acho que por isso nosso trabalho junto deu tão certo. Esse “juntar pontas” consiste a principal atuação do Laércio. Veio da Sociologia, do jornalismo, de sempre ouvir as duas partes… Quem sabe o que e quem precisa dessa informação; como colocar os dois em contato. Isso é o CEV! (PEREIRA, VAZ, 2005)30. Consiste na formação de um grande “colégio invisível”31 – hoje, chamaríamos de ‘colégios virtuais’, em que aqueles que “pensam”, os que agem na ‘fronteira do conhecimento’ comunicam-se entre si, e trocam idéias antes que essas idéias – teorizações – cheguem ao “grande público”, nós pobres mortais na ponta oposta, na sala-de-aula… Eu, um professor de uma escola publica da periferia (estou no Maranhão…) consigo saber do Nélio – técnico da Maureen – um detalhe para minha aula de atletismo que estou dando para os alunos do primeiro ano do curso de design que estão fazendo educação física… Essa a grande sacada! Tiro minhas duvidas com aquele que é o “bam-bam-bam do pedaço”! 25

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONSTRUÇÃO DE UM TESAURUS EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES. IN I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES De 19 a 20-11-1987 - Brasil. Campinas - SP 26 ANDRADE FILHO, Santiago Sinésio; PEREIRA NETO, Francisco Dias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. Programa de implantação de um banco de dados bibliográfico em ciências do Esporte. In: ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, 1., 1990, São Luís. Anais… São Luís: EDUFMA, 1990. v.1, p. 47. 27 PEREIRA, Laércio Elias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REIS, Lúcia; ANDRADE FILHO, Santiago Sinésio; PEREIRA NETO, Francisco Dias. Organização da informação em ciências do esporte veiculada em periódicos de língua portuguesa. In: ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, 1., 1990, São Luís. Anais… São Luís: EDUFMA, 1990. v.1, p. 49. 28 PEREIRA, Laércio Elias. CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL: Um Recurso de Informação em Educação Física e Esportes na Internet. Tese apresentada a Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como requisito para a obtenção do titulo de Doutor em Educação Física, área de Educação Motora, por Laércio Elias Pereira, Orientador Prof. Dr. Joao Batista Andreotti Gomes Tojal, Campinas, 1998. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/centro-esportivo-virtual-um-recursoinformacao-educacao-fisica-esportes-internet/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias; REIS, Lúcia. Indexação: em busca da construção de um tesauro em ciências do esporte. In: ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, 1., 1990, São Luís. Anais… São Luís: EDUFMA, 1990. v.1, p. 50. 29 O Centro Esportivo Virtual (CEV) é uma ONG brasileira sem fins econômicos de gestão do conhecimento em Educação Física, esportes e lazer. Ele tem o objetivo de ser a porta de entrada para a informação esportiva nacional e internacional, dando suporte gratuito a esportistas e estudantes com interesse geral até pesquisadores e profissionais das Ciências do Esporte. Como recurso mais valioso, os grupos de discussão são importantes ferramentas para o desenvolvimento da Educação Física nos países de língua portuguesa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Esportivo_Virtual 30 PEREIRA, L. E. ; VAZ, L. G. D. . Centro Esportivo Virtual – CEV. In: Lamartine Pereira da Costa. (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. 1 ed. Rio de Janeiro: Shape, 2005, v. 1, p. 769-770. 31 A expressão Colégio Invisível, ou muitas vezes encontrada no plural como "colégios invisíveis", foi criada pelo físicoquímico irlandês Robert Boyle (1627-1691), e define um grupo de pesquisadores que trabalham juntos, mas não estão fisicamente próximos, não trabalham na mesma instituição, podendo ter nacionalidades diferentes e falar línguas diversas. O que os une é o objeto da pesquisa. Hoje pode-se também usar a expressão "colégios virtuais". https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_invis%C3%ADvel ; MOREIRA, Walter. Os colégios virtuais e a nova configuração da comunicação científica. Ci. Inf. [online]. 2005, vol.34, n.1 [cited 2011-03-19], pp. 57-63 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652005000100007&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0100-1965. doi: 10.1590/S0100-19652005000100007.


Mas vai mais além, trata-se de juntar os “gatekeepers” 32 – os sentinelas da tecnologia33. Não o professor que esta se graduando, ou fazendo sua especialização, ou o seu mestrado. Mas aqueles que estão no pósdoutorado – lembro que é tão recente essa especialização em nossa área… Aqueles que estão fazendo pesquisas de ponta, não interessando se ela esteja “nas humanas e sociais” ou nas “gias”, na área medicabiológica… COMUNICAÇÃO

CONSTRUÇÃO

USO

Figura 1- O ciclo da informação Fonte: LE COADIC, 1996, p. 11.

Figura 2 - Ciclo da informação na pesquisa Fonte: JORDAN apud CEPEDA 1986, p. 87 FONTE: SANTANA 199934 32

a person whose job is to open and close a gate and to prevent people enteringwithout permission. http://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/gatekeeper. Gatekeepers em inglês significa porteiro, ou seja, o que controla o fluxo dos que entram e saem. Em comunicação, conota o indivíduo que controla o fluxo de informações vindas de fora, aquele que está em contato com muitas pessoas no mundo exterior e na sua organização e veicula informações a seus colegas. 33 SANTANA, Celeste Maria de Oliveira Santana. A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA NA COMUNIDADE CIENTÍFICA DO CENTRO DE PESQUISAS GONÇALO MONIZ/FIOCRUZ: OS “COLÉGIOS INVISÍVEIS E OS “ GATEKEEPERS ” DA CIÊNCIA. Síntese da dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ciência da Informação da Universidade de Brasília. LE COADIC, Yves François. A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Tradução de Maria Yêda F. S. de Filgueiras Gomes. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 1996. CEPEDA, L.M.R. O processo da transferência da informação científica entre os profissionais da área da saúde. CIÊNCIA E CULTURA, [S.l.], v.38, n.1, p.86-92, 1986. ACOSTA-HOYOS, L.E. Colégios invisíveis: uma nova alternativa para o problema de informação técnico-científica. Brasília: EMBRAPA, Departamento de Informação e Documentação, 1980. Apud GUEDES, 1993. FIGUEREDO, Nice M. O processo de transferência da informação. CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, Brasília, v.8, n.2, p.119-138, 1979. GUEDES, Maria das Graças Targino M.; BARROS, Antonio Teixeira de. Comunicação informal do corpo docente da Universidade Federal do Piauí. TRANSINFORMAÇÃO, Campinas, v.5, n.1/2/3, p.43-71, jan./dez. 1993. 34 SANTANA, Celeste Maria. Estudo dos canais de comunicação utilizados pela comunidade científica do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz – CPqGM/FIOCRUZ, Salvador-Bahia, Brasil. 1999. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1999.


Alias, há cerca de 38 anos, naquele papo ao som de Pena Branca e Xavantinho, “decidimos” que trataríamos a Educação Física – ou as Ciências do(s) Esporte(s) – como da área da Antropologia, e não da Medicina… Eu sempre preferi o termo mais tradicional, “Educação Física” e o ManoPereira sempre o das “Ciências”… acho que influencia do Manoel Sergio… Criamos – Laércio e eu – um Centro de Estudos35 que funcionou em uma pasta de papelão que tínhamos, e era itinerante – funcionava onde estávamos – em minha casa, na casa dele, na SEDEL, na ETFM, na UFMA, na UEMA. Locais onde trabalhávamos – era um “centro virtual”, pois só existia em nossa mente – dai considerar como a base do CEV36. Laércio jamais abandonou a idéia e a aprofundou… Mas fizemos acontecer… A idéia surgiu da necessidade. Laércio foi para um congresso internacional de documentação esportiva acontecido na Colômbia – Medelín; por conta disso, o 2º viria para o Brasil – Maranhão… Nunca aconteceu… Como não sei se aconteceram os demais conforme programado…37 Mas o Heiz Guiberhienz do Convenio Colômbia-Alemanha (veio, junto com o Ulrich Jonathan – técnico da seleção olímpica de atletismo da Alemanha; viveu alguns anos da Argentina…) …chegaram a vir ao Maranhão para tratar desse assunto e vendo o trabalho de ‘organização da informação’ que fazíamos, propôs outros convênios… (1980) 38

O CEDEFEL-MA – Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer do Maranhão, integrado pelas UFMA e SEDEL (Laércio) e ETFM e UEMA (eu) teve uma importante e vasta produção científica… cinco trabalhos apresentados naquele I Encontro de Pesquisadores; depois, dois trabalhos na SBPC, e mais dois trabalhos apresentados nos encontros do CELAFICS, além de alguns CONBRACEs… tudo virtual, de dentro daquela pastinha… Começamos a elaborar a indexação de periódicos especializados – o primeiro saiu da minha coleção da Revista Brasileira de Educação Física, editado pela SEED/MEC e feito pelo Laércio, publicado pelo MEC/SEED; depois comecei a adquirir a coleção da Stadium, um ano por mês, e a indexar – fizemos 23 anos da revista… (PEREIRA, 1983)39. 35

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PEREIRA, Laércio Elias. ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DO ESPORTE: A EXPERIÊNCIA DO CEDEFEL-MA. Tema livre apresentado no XVIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, São Caetano do Sul, outubro de 1992 36 PEREIRA, Laércio Elias. CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL: Um Recurso de Informação em Educação Física e Esportes na Internet. Tese apresentada a Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como requisito para a obtenção do titulo de Doutor em Educação Física, área de Educação Motora, por Laércio Elias Pereira, Orientador Prof. Dr. Joao Batista Andreotti Gomes Tojal, Campinas, 1998. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/centro-esportivo-virtual-um-recursoinformacao-educacao-fisica-esportes-internet/ 37 “DECLARACION DE MEDELLIN...”, em seu Acuerdo 2, decide-se pela realização dos próximo eventos: 1981 II conferencia en SAN Luis, Maranhão, Brasil; 1982 III Conferencia em BUENOS AIRES, Argentina; 1983 IV Conferencia en CARACAS, Venezuela. (p. 255 (in. MAIER, Jürgen (Editor). I CONFERENCIA SOBRE DOCUMENTACION E INFORMACION DEPORTIVA EM LATINOAMERICA, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de feveriero de 1980. ANAIS... 38 Dos acordos – 1981 – II Conferencia en São Luis –Maranhão – Brasil!!!! I CONFERENCIA SOBRE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DESPORTIVA NA AMERICA LATINA; Literatura Desportiva latino-americana; Declaração de Medellín. EDUCACIO FISICA Y DEPORTE – n.2, ano 2, maio 1980 – Órgão oficial do Instituto de Ciências do Desporto – Universidade de Antioquia – Convenio Colombia-Alemanha; 39 PEREIRA, Laércio Elias. INDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS. Brasília : SEED/MEC, 1983 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Indice Da Revista Stadium. São Luis: SEDEL, 1984 (Edição em microficha). A “Stadium”, da Argentina, cujo índice foi publicado no formato de microficha, e distribuído através de um ‘clube de microficha’ inventado pelo Prof. Laércio Elias Pereira e distribuída a edição por todo o Brasil, aos “assinantes”; VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Indice Da Revista Corpo & Movimento. São Luis: UEMA, 1987 (inedito); VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Indice Da Revista Desportos & Lazer. São Luis: UEMA, 1987 (inédito); VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Indice Da Revista Comunidade Esportiva. São Luis: UEMA, 1987 (inédita); VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Índice da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Revista Brasileira De Ciencias Do Esporte 10 (1): 33-45, set. 1988. VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Handebol – Bibliografia básica. Encontro De Treinadores De Handebol, I, Campinas, 1988. ANAIS..., Campinas, 1988. VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Indice Da Revista Kinesis. Santa Maria: UFSM, 1990.


Por fim, junto com o pessoal da ETFM (VAZ, ANDRADE FILHO, FERREIRA NETO, 1991) 40, criamos um banco de dados, utilizando (dinossauro) DBase, depois o DBase III, e utilizando Clipper e DBase III Plus; o LTI da EB-UFMG – Luizinho – ajudou muito na fase final, com os programas e as ferramentas computacionais (VAZ, PEREIRA; LOUREIRO, 1993)41; lembro que a Escola de Engenharia da UFMG tinha acesso, já, à Internet; fizemos nossos endereços e começamos a utilizá-la; depois já era possível o acesso através do LTI-EB e por fim, da EEF/SIBRADID… Chegamos a ter 5.013 artigos indexados, de 13 revistas dedicadas em português/Brasil… ( VAZ, PEREIRA, 1993, a, b)42. O principal problema era o resgate da informação; dai termos desenvolvido empiricamente, um tesauro – somente eu dominava, pois era o responsável pela catilografia(gração) (hoje, seria digitação); começamos com aquelas fichinhas de referência bibliográfica, que se aprende nos cursos de iniciação a pesquisa, depois passamos a utilizar um COBRA 286 – o máximo da tecnologia da época; e poderia haver consulta on line via MANDIC – quem lembra? era pré-internet, só depois (final de 92) havia acesso via internet…. Para os primeiros trabalhos de indexação foi criada uma “ficha de Coleta de Bibliografia” a partir do modelo e das sugestões oferecidas pela Sra. Ofélia Sepúlveda, documentalista do BIREME43. Os artigos eram indexados44 com ate cinco palavras-chave, que poderiam ser recuperadas, remetendo ao artigo; e por autores: 

ATLETISMO – CORRIDAS – VELOCIDADE – TREINAMENTO – TECNICA – numa ordem hierárquica, da mais ampla para a mais especifica – recuperável por qualquer uma das palavras…

BASQUETEBOL – FUNDAMENTOS – PASSES – PASSE DE PEITO – TREINAMENTO

EDUCAÇÃO FISICA – METODOLOGIA DE ENSINO – JOGOS PRE-DESPORTIVOS – JOGOS COM BOLA – MINI-HANDEBOL

Desde o início o trabalho sofreu a dificuldade da inexistência de um tesauro45 que servisse de repertório para obtenção de palavras-chave essenciais à indexação. VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Natação – Bibliografia Básica. Cadernos Viva Água, São Luis, Escola de natação Viva Água, 1991, vol. 1 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Natação – Bibliografia. Cadernos Viva Água, São Luis, Escola de natação Viva Água, 1991, vol. 2 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Psicologia aplicada ao esporte. Cadernos Viva Água, São Luis, Escola de natação Viva Água, 1991, vol. 3 Seguiram-se as indexações dos seguintes periódicos: ‘Arquivos’ da Escola Nacional de Educação Física (1992); ‘Boletim da FIEP’ (1992); ‘Artus’ (1992); ‘Homo Sportivus’ (1992); ‘Motrivivencia’ (1993), e o vol 4 dos “Cadernos Viva Água”, sobre Natação para Crianças, com a produção de Stephen Langersdorff (1994). 40 VAZ, L. G. D. ; ANDRADE FILHO, S. S. ; FERREIRA NETO, F. D. Implantação da Informática no CEFET-MA. SEMINARIO DE INFORMATIZAÇÃO DA UEMA, I, 1991. 41 VAZ, L. G. D. ; PEREIRA, L. E. ; LOUREIRO, Luis Henrique. Protocolo De Indexação De Periódicos Dedicados A Educaçao Fisica, Esportes E Lazer Em Lingua Portuguesa. 1993. Software sem registro de patente. 42 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A produção do conhecimento na Escola de Educação Física da UFMG. ANAIS Da 45ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC, Recife, 11 a 16 de julho de 1993, Vol. 1 p. 394, A.11 Motricidade Humana e Esportes, 6A. 11 (Resumo). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A produção do conhecimento na Escola de Educação Física da UFMG. ANAIS CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Belém – Pará, 06 a 10 de setembro de 1993, Universidade Federal do Pará, p. 136 (Resumo) 43 BIREME – Centro Latino americano e do Caribe de Infortmação em Ciências da Saúde, é um Centro Especializado da Organização Pan Americana de Saúde - OPAS, estabelecido no Brasil desde 1967, em colaboração com Ministério de Saúde, Ministério da Educação, Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo. In http://www.bireme.br/local/Site/bireme/homepage.htm) 44 A indexação é a operação que consiste em descrever e caracterizar um documento com o auxilio de representações dos conceitos contidos nesses documentos, isto é, em transcrever para linguagem documental os conceitos depois de terem sido extraídos dos documentos por meio de uma análise dos mesmos. A indexação permite uma pesquisa eficaz das informações contidas no acervo documental (in http://joaquim_ribeiro.web.simplesnet.pt/Arquivo/pdf/class_index_pdf.pdf). 45 O tesauro tem sido considerado como uma linguagem de indexação. Isto é verdade, quando ele está em uso num serviço de recuperação de informação, e destinado ao uso para o qual é desenvolvido, com regras para sua utilização. (in GOMES,


Construiu-se um glossário a partir da listagem acumulada em 20 anos de experiência da Escola de Educação Física da USP pela documentalista Maria Stella Vercesi da Silva46, que recebeu modificações por parte dos dois autores, já que a “Terminologia aplicada à Educação Física ”47 de Tubino (1985)48 se mostrou insuficiente. Silva (1989), em seu estudo, refere-se a trabalho anterior também desenvolvido na USP, com a extensão da classe 796 da CDD, já insuficiente para atender a uma biblioteca específica. Essa extensão foi apresentada por Irene Meneses Dória, durante o I Congresso Paulista de Educação Física, realizado no ano de 194049, aplicada na Biblioteca do Departamento de Educação Física e Esportes. Durante 15 anos essa extensão atendeu às necessidades de classificação de livros da Biblioteca da EEF/USP: “Há algum tempo, com o acumulo de novos documentos ficou patente o desdobramento de itens que estavam defasados na área de Educação Física e Recreação. Este fato levou-me a idealizar uma nova ampliação, em colaboração com Olga S. Martucci50, que atendesse à demanda atual. Essa ampliação das classes 790 e 796 é divulgada com o intuito de auxiliar os bibliotecários que atuam na área de Educação Física e Esportes (p. 43) “[...] O Índice de Assuntos, inicialmente foi adotado o ‘Sears listo f subject headings’ (Frick, 59 e Westby, 72)51 que foi idealizado para auxiliar as bibliotecárias e unificar os assuntos nas Bibliotecas, mas a convivência na área fez sentir a necessidade de inúmeras adaptações para atender o interesse do usuário. Criou-se um Thesaurus, vocabulário específico de uma área do conhecimento, apropriado para Educação Física e Esportes, que poderá ser solicitado à Biblioteca da Escola de Educação Física da Universidade, pelos interessados”. (p. 45). (grifos nossos). Iniciou-se então um cotejamento 52, primeiro com o tesauro da EEFUSP, e, depois com o “Thesaurus em Ciências do Esporte” da UNESCO, o da IASI53, e outros54 , dos quais tomaram conhecimento a partir Hagar Espanha; CAMPOS, Maria Luiza de Almeida. Tesauro e normalização terminológica: o termo como base para intercâmbio de informações. DATAGRAMAZERO - Revista de Ciência da Informação - v.5 n.6 dez/04, disponível em http://www.dgzero.org/dez04/Art_02.htm) 46 SILVA, Maria Stella Vercesi. Adaptação da Classificação Decimal de Dewey para Educação Física. Revista Paulista De Educação Física, 3 (4): 43-49, jun. 1989. 47 Terminologia, em sentido amplo, refere-se simplesmente ao uso e estudo de termos, ou seja, especificar as palavras simples e compostas que são geralmente usadas em contextos específicos. Terminologia também se refere a uma disciplina mais formal que estuda sistematicamente a rotulação e a designação de conceitos particulares a um ou vários assuntos ou campos de atividade humana, por meio de pesquisa e análise dos termos em contexto, com a finalidade de documentar e promover seu uso correto. Este estudo pode ser limitado a uma língua ou pode cobrir mais de uma língua ao mesmo tempo (terminologia multilíngüe, bilíngüe, trilíngüe etc.). (in BARROS, L. A. Curso Básico De Terminologia. 2002. KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José B. Introdução À Terminologia. São Paulo: Contexto, 2004). 48 TUBINO, Manoel José Gomes. Terminologia Aplicada Á Educação Física. São Paulo: IBRASA, 1985. 49 DORIA, Irene Meneses. Sugestões para uma classificação decimal de educação física e esporte. In Congresso Paulista De Educação Física, 1, São Paulo, 1940. ANAIS. São Paulo, 1942, p. 243-6. 50 Bibliotecário Supervisor de Seção do SSD da EEFUSP. 51 FRICK, B. M. Sears List F Subject Headings. 8. ed. New York, H. W. Wilson, 1959; WESTBY, B. M. Sears List F Subject Headings. 10a. ed. New York, H. W. Wilson, 1972, citados por SILVA, 1989. 52 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Organização da Informação em Ciências do Esporte - a experiência do CEDEFEL-MA. In: Encontro De Bibliotecários Do Estado Do Maranhão, 8, 1991, São Luis - MA. Anais - APBEM. São Luís: CRB-13, 1991. V. 1; VAZ, L. G. D. ; PEREIRA, L. E.; LOUREIRO, Luis Henrique. Protocolo De Indexação De Periódicos Dedicados A Educação Física, Esportes E Lazer Em Língua Portuguesa. 1993. (Software sem registro de patente). 53 INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR SPORTS INFORMATION. World Index Of Sportperiodicals. Holanda: IASI, 1984. 54 BUNDSINSTITUT FÜR SPORTWISSENCHAFT KLN. Literatur der Sportwissenchaft. Sportdokumentation 1/78. COMITE DE INFORMACION Y DOCUMENTACION DEPORTIVA DE LATINO AMERICA. Declaracion de Medellín sobre información y documentación deportiva en Latinoamérica. Educación Física Y Deporte 2 (2): 39-43, maio de 1980. GARCIA ZAPATA, Francisco; MAIER, Jorge; MEDINA, Baltazar; SONNESCHEIN, Werner.. Bibliografia Deportiva: Artículos De Revistas. Medellín: Universidad de Antioquia, 1979. Serie Bibliografia 2; SONNESCHEIN, Werner. Literatura deportiva em latinoam,erica. Educacion Física Y Deporte 2 (2): 29-37, maio 1980. BRASIL, Universidade Federal de Minas Gerais. Introdução Ao Sistema Minisis. Belo Horizonte: EEF/UFMG, 1989 (Mimeo).


daquela participação do Prof. Dr. Laércio Elias Pereira na “I Conferencia sobre Documentacion e Informacion Deportiva em Latinoamerica”. Lá, se discutiram problemas relacionados com a “Terminologia deportiva” 55, e foi apresentado um “Informe sobre La X reunión internacional de la comisión ‘Thesaurus’ de la I.A.S.I. - 11 a 17 de nov., 79. Macolin (Suiza)56: “El Thesaurus del deporte em lengua alemana – proyecto de investigacion a cargo de W. Kneyer – BISP (Colônia); “Control por computadora del Thesaurus Basico y de Facetas terminadas em IBM-Viena”; e “Solicitud de financiacion del proyecto ‘Thesaurus multilíngüe’ por El CIEPS-UNESCO” (p. 97-98). Ainda, daquele informe, foi apresentado o programa de trabalho para o biênio 1980-1981 (item 2) dos aspectos e resultados mais importantes da 10ª Reunião da Comissão “Thesaurus”: elaboração e aprovação da estrutura básica (Thesaurus Básico) do Thesaurus e suas partes e facetas, as normas para confecção das distintas facetas (já em fase de conclusão); e o inicio de uma segunda fase, cujos aspectos fundamentais seriam terminar o Tesauro do esporte em língua alemã; e traduzir o Tesauro alemão a outros idiomas. O Item (3) referia-se ao “Tesauro do esporte em língua alemã, projeto de pesquisa a cargo de Kneyer, em colaboração com o Instituto Federal de Ciências do Esporte/Colônia”; e o item (4) “Generacion y control em computadora del Thesaurus Básico, a ser desenvolvido pela IBM-Viena sob a direção de Lang”. Ouvia-se falar, no âmbito das Ciências do Esporte no Brasil, de “Thesaurus”. Estava lançada a semente... Assim, descobrimos depois, poderia vir a ser um tesauro – cheguei a apresentar um trabalho na UFMG sobre isso…; tomamos conhecimento da IASI; depois, do trabalho de uma bibliotecária da USP, o que levou o Laércio para a UFMG – estava-se implantado o SIBRADID -; e depois, eu, para o Curso de Mestrado em Ciência da Informação…(VAZ, 2009, a, b)57 A então bibliotecária da EEF/UFMG, responsável pelo núcleo do SIBRADID – já mudara a bibliotecária e entrara a Jane – ficou com medo de perder o emprego e de todas as formas, boicotou nosso trabalho… Migrei para outra área, não fiz minha dissertação em documentação esportiva e a proposta de um tesauro, mudei o rumo de meus estudos e fui trabalhar com produção do conhecimento na área tecnológica… fim! Ainda tenho esse material, em disquete de 8! (quem lembra?) e depois em cinco de 3 1/2! O máximo da tecnologia – caros…; perdi o arquivo, junto com um com-puta-dor que tinha – um 286! Perdi na mudança de tecnologia, para um 386!!! E nunca mais vi quando fui para um 486… Mas ainda guardo os artigos em casa, brigando com o mofo e as traças e cupins… Tenho alguns dos índices em papel… Depois, vi trabalho semelhante sendo apresentado pelo Victor Melo (1998, a, b)58… Estava-se reinventando a roda… Quem manda trabalhar na periferia? (Maranhão…) Agora, quase 38 anos depois – começamos em 1979!!! Voltamos a ouvir falar em tesauro em educação física… GASPAR, Anaiza Caminha. Biblioteca. Curso De Atualização Em Documentação E Ciência Da Informação. São Luis: UFMA; Brasília: Associação dos Arquivistas Brasileiros, 1989 (Mimeo). GOMES, Hagar Espanha (Coord.). Manual De Elaboração De Tesauros Monolíngües. Brasília: Programa nacional de Bibliotecas de Instituições de Ensino Superior, 1990. 55

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SCHWARZ, Erika. Terminologia deportiva. Características y problemas en el área de habla española. in. MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... p. 81-93. SCHWARZ, Erika; ROMERO, Daniel. Informe sobre La X reunión internacional de La comisión ‘Thesaurus’ de La I.A.S.I. - 11 A 17 DE NOV., 79. Macolin (Suiza). In MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica,, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... p. 97-100

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DEPOIMENTO. In CEV/BIBLIOTECONOMIA E CIENCIA DA INFORMAÇÃO EM EF & ESPORTES. 03/08/2009, DISPONÍVEL EM HTTP://CEV.ORG.BR/COMUNIDADE/BIBLIOTECA/DEBATE/DEPOIMENTO-1/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PIONEIRISMO. In CEV/BIBLIOTECONOMIA E CIENCIA DA INFORMAÇÃO EM EF & ESPORTES. 03/08/2009, DISPONÍVEL EM HTTP://CEV.ORG.BR/COMUNIDADE/BIBLIOTECA/DEBATE/PIONEIRISMO/ 58 GENOVEZ, PATRICIA DE FALCO, MELO, VICTOR ANDRADE DE. Bibliografía brasileña sobre Historia de la Educación Física y del Deporte. LECTURAS: EDUCACION FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 2, n.10, 1998 PAIVA, Fernanda Simone Lopes de; GOELLNER, Silvana Vilodre; MELO, Vitor Andrade de. Revista Brasileira de Ciência do Esporte – Bibliografia e perfil. RBCE, número especial, 20 anos CBCE, setembro 1998. PAIVA, Fernanda Simone Lopes de; GOELLNER, Silvana Vilodre; MELO, Vitor Andrade de. Revista Brasileira de Ciência do Esporte – Bibliografia e perfil. LECTURAS: EDUCACION FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, Año 3. Nº 11. Buenos Aires, Octubre 1998, http://www.efdeportes.com/


Há um trabalho da década de 40 do século passado, proposto pela biblioteca da USP não levado a efeito – acréscimo à CDD59; depois outro na década de 80, da Stela Vercesi, dando continuidade àquele trabalho da década de 40, também na biblioteca da USP, com novos acréscimos à CDD60; o do Tubino, sobre terminologia aplicada61; a nossa proposta, do fim dos anos 80 inicia dos 90 – que seria cotejada com o tesauro da IASI via SIBRADID… Como Mestre (Capoeira e em Administração) André Lacé disse, repete-se sempre o PRIMEIRO, a cada nova tentativa… I SIMPÓSIO PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA (CEV) I Simpósio Paulista de Educação Física De 20-07-1940 até 22-07-1940 Programa I SEÇÃO – Educação Física no Ensino 

Maria Lucia Sampaio Pinto – A Educação fisica no ensino.

Inezil Penna Marinho – A Educação Física nos estabelecimentos de ensino secundário, ênfase dos preceitos legais que o regulamentam.

Alaor Pacheco Ribeiro – Projeto de reorganização do Serviço de Educação Física no ensino profissional do Estado

Mario Miranda Risa – Ensino secundário oficial do Estado de São Paulo.

Cezar de Fonseca e Silva – Sugestões para a resolução do problema da educação física nos estabelecimentos de ensino.

Inezil Penna Marinho – Que exigências devem satisfazer quanto à Educação Física, os estabelecimentos que desejam obter a inspeção peliminar

Ermida Vial Ribeiro – Educação física infantil.

II SEÇÃO – Ensino Da Educação Física

O artigo que falei que foi um dos primeiros a tratar do assunto, não com um tesauro, mas com um vocabulário controlado – lembrei do termo! – que estávamos construindo, a partir do estudo da Stella Vercesi publicada na revista Paulista de Educação Física vol.3, n. 4, jun 198962. Lembrando: Em 1979 foi criada a Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão – SEDEL – a primeira do Brasil, com um Departamento de Estudos e Pesquisas; Laércio era assessor especial; eu estava na Coordenação de Esportes, depois passei a assessorar o assessor… Sai em 1981 – voltei para a Secretaria de Educação, mas continuei prestando ‘consultoria’ – isto é, trabalhando sem receber… Logo em 1980 a I Conferencia Latino-americana de Informação e Documentação Esportiva – a segunda seria em São Luis, em 1981… O Laércio foi um dos representantes do Brasil – fez uma exposição sobre o 59

DORIA, Irene Meneses. Sugestões para uma classificação decimal de educação física e esporte. In CONGRESSO PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 1, São Paulo, 1940. ANAIS. São Paulo, 1942, p. 243-6. 60 SILVA, Maria Stella Vercesi. Adaptação da Classificação Decimal de Dewey para Educação Física. REVISTA PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 3 (4): 43-49, jun. 1989. Maria Stella Vercesi Silva lembra que o trabalho iniciou a partir de 1962, quando da [re] organização da Biblioteca da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, quando foi então adotada a 16ª edição do Sistema de Classificação de Dewey e notou-se que a classe 796 não era suficiente para atender a uma biblioteca específica. (In SILVA, Maria Stella Vercesi. Adaptação da Classificação Decimal de Dewey para Educação Física. Revista Paulista De Educação Física, 3 (4): 43-49, jun. 1989, p. 43). 61 UBINO, Manoel José Gomes. TERMINOLOGIA APLICADA Á EDUCAÇÃO FÍSICA. São Paulo: IBRASA, 1985. 62 SILVA, Maria Stella Vercesi. Adaptação da Classificação Decimal de Dewey para Educação Física. REVISTA PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 3 (4): 43-49, jun. 1989.


CBCE e sobre o CEDEFEL-MA – ai que ele passou a existir… Foi ‘inventado’ para esse encontro, na Colômbia63 O problema seguinte – O CEFEL-MA e a SEDEL-MA, junto com a UFMA, UEMA, e CEFET-MA seriam os responsáveis pela organização do evento – seja, Laércio e eu… Mas… Não tínhamos pesquisas… Passamos a incentivar alguns professores a produzirem alguma coisa para apresentar no ano seguinte… Foi o inicio da pesquisa em Educação Física e Esportes no Maranhão 64… O Indice da Revista Brasileira de Educação Física e Desportos65 saiu em 1983, assinada pelo Laércio (a coleção utilizada, do n. 1 ao 50, foi a minha…); garimpávamos os números que faltavam… Especialmente os últimos; dai já procurávamos unificar a linguagem – controlar o vocabulário – com revisões constantes dos termos de indexação… A seguir, fizemos o Índice da Revista Stadium66, da Argentina – passei a adquirir as revistas, já encadernadas, com os números correspondentes ao ano, de uma livraria de Curitiba… Ate que a Receita Federal se intrometeu – uma época em que estavam proibidos gastos em dólares no exterior – importação particular; tive que levar as notas fiscais, de que as havia adquirido em dinheiro da época, brasileiros – nem lembro mais qual era – e com a nota fiscal emitida por uma empresa brasileira; todo mês era a mesma coisa; e nessa época, já passara a assinar a revista, recebendo os números mensalmente. Já havíamos esgotados os números publicados; diante dessa dificuldade – e a malha fina que se seguiu, não mais renovei a assinatura e ficamos nos primeiros 23 anos da revista… Depois, já num trabalho do CEDEFEL-MA, começamos a reunir outras publicações, muitas doações, algumas aquisições, e outros empréstimos – não devolvidos… E indexamos 13 revistas dedicadas67… Algumas feitas já em 1992/93, quando já estava no Mestrado, e antes da proibição de entrar na Biblioteca da Escola de Educação Física – veja só, um pesquisador proibido de entrar numa biblioteca de uma universidade publica para fazer… Pesquisa! 63

I CONFERENCIA SOBRE DOCUMENTACION E INFORMACION DEPORTIVA EM LATINOAMERICA, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de feveriero de 1980. MAIER, Jürgen (Editor). I CONFERENCIA SOBRE DOCUMENTACION E INFORMACION DEPORTIVA EM LATINOAMERICA, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de feveriero de 1980. ANAIS... 64 “DECLARACION DE MEDELLIN...”, em seu Acuerdo 2, decide-se pela realização dos próximo eventos: 1981 II conferencia en SAN Luis, Maranhão, Brasil; 1982 III Conferencia em BUENOS AIRES, Argentina; 1983 IV Conferencia en CARACAS, Venezuela. (p. 255 (in. MAIER, Jürgen (Editor). I CONFERENCIA SOBRE DOCUMENTACION E INFORMACION DEPORTIVA EM LATINOAMERICA, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de feveriero de 1980. ANAIS... 65 PEREIRA, Laércio Elias. INDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS. Brasília : SEED/MEC, 1983 66 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Indice Da Revista Stadium. São Luis: SEDEL, 1984 (Edição em microficha). A “Stadium”, da Argentina, cujo índice foi publicado no formato de microficha, e distribuído através de um ‘clube de microficha’ inventado pelo Prof. Laércio Elias Pereira e distribuída a edição por todo o Brasil, aos “assinantes” 67 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Índice Da Revista Corpo & Movimento. São Luis: UEMA, 1987 (inedito); VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Índice Da Revista Desportos & Lazer. São Luis: UEMA, 1987 (inédito); VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Índice Da Revista Comunidade Esportiva. São Luis: UEMA, 1987 (inédita); VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Índice da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Revista Brasileira De Ciências Do Esporte 10 (1): 33-45, set. 1988. VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Handebol – Bibliografia básica. Encontro De Treinadores De Handebol, I, Campinas, 1988. ANAIS..., Campinas, 1988. VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Índice Da Revista Kinesis. Santa Maria: UFSM, 1990. VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Natação – Bibliografia Básica. Cadernos Viva Água, São Luis, Escola de natação Viva Água, 1991, vol. 1 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Natação – Bibliografia. Cadernos Viva Água, São Luis, Escola de natação Viva Água, 1991, vol. 2 VAZ, Leopoldo Gil; PEREIRA, Laércio Elias. Psicologia aplicada ao esporte. Cadernos Viva Água, São Luis, Escola de natação Viva Água, 1991, vol. 3 Seguiram-se as indexações dos seguintes periódicos: ‘Arquivos’ da Escola Nacional de Educação Física (1992); ‘Boletim da FIEP’ (1992); ‘Artus’ (1992); ‘Homo Sportivus’ (1992); ‘Motrivivencia’ (1993), e o vol 4 dos “Cadernos Viva Água”, sobre Natação para Crianças, com a produção de Stephen Langersdorff (1994).


Alguns artigos publicados pelo Boletefe68 – jornal de parede editado pelo Laércio – sobre a produção da pesquisa na educação física da UFMG perturbaram… Esses dados foram transformados em informação e viraram artigos apresentados em congressos69… Ainda era o CEDEFEL-MA funcionando em Belorizonte… Fiz um trabalho sobre o SIBRADID, para uma das disciplinas do Mestrado em Ciência da Informação do qual a Bibliotecaria-Chefe da EEF-UFMG não gostou e o corporativismo das bibliotecárias fez o resto – o curso era na Escola de Biblioteconomia… Cessaram, assim, os trabalhos referentes à construção do tesauro em educação física e esportes… Nem ao mesmo me matriculei na disciplina, extra, que poderia fazer no curso de graduação da EB/UFMG – não fui aceito! E Laércio acabou se aposentando do Serviço Público, lá mesmo pela UFMG… o sonho, acabara… Sobre a Conferencia de Medellin – foi de 4 a 7 de fevereiro de 1980. Lá foram representados vários centros: Espanha – INEF; Paulo Medina – Centro de Documentação e Informação do ISEFL (1971/72) (Portugal?); Juan Angel Maañon – a informação e documentação esportiva na Argentina; Jesus Diaz Zurita – idem, Venezuela; Eduardo Garraez – idem, México; Alberto Pereja Castro – Centro de documentação e informação desportiva do Instituto de Ciências do Esporte – Colômbia Há um tópico que fala do glossário e da terminologia técnica: glossário consiste em um catalogo ou vocabulário de palavras técnicas, obscuras ou em desuso, com definição ou explicação detalhada de cada uma delas. A unificação de critérios e fator fundamental para o resultado que se espera obter do nos leitores, portanto, o uso de termos técnicos que criam confusão e/ou dupla interpretação, exige uma definição clara e completa. Ha uma Declaração de Medellín sobre a informação e documentação desportiva na América Latina. Assinam-na, pelo Brasil: Laércio Elias Pereira (SEDEL-MA) e Manfred Loecken (SEED/MEC) -. adido cultural da Alemanha que prestava consultoria à SEED/MEC na época Do/pelo Brasil: 

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Laércio Elias Pereira – O CBCE – inicia em 1968: olimpíada escolar Tijucurru Clube – São Caetano; 1972 I Simpósio de esporte escolar; CELAFISCS; 1977 Congresso Brasileiro de Medicina Desportiva; os professores de educação física não poderiam se filiar à Federação Brasileira de Medicina Desportiva – surge a idéia do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte – VI Simpósio de esporte escolar 1978 e criado o CBCE70

BOLETEFE era um jornal mural que Laércio Elias Pereira criara já, no Maranhão, e servia para comunicação de eventos e notícias, na UFMA; quando foi para a UFMG, levou o BOLETEFE para as paredes da Escola de Educação Física. Crescia como ‘rabo de cavado’: as notas eram coladas uma abaixo da outra, formando uma longa tira... renovada semanalmente... 69 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A produção do conhecimento na Escola de Educação Física da UFMG. ANAIS Da 45ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC, Recife, 11 a 16 de julho de 1993, Vol. 1 p. 394, A.11 Motricidade Humana e Esportes, 6A. 11 (Resumo). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A produção do conhecimento na Escola de Educação Física da UFMG. ANAIS CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Belém – Pará, 06 a 10 de setembro de 1993, Universidade Federal do Pará, p. 136 (Resumo) 70 PEREIRA, Laércio Elias. O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. In MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica,, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... P. 191-193.


Laércio Elias Pereira – Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Desportos e Recreação do Maranhão – CEDEFEL71

Renate V. H. Sindermann – Documentação e Informação do esporte no Brasil –CEDIME (Porto Alegre) – Inicia em 1974 – CEDIME – Centro de Documentação e Informação em medicina desportiva – Porto Alegre – DeRose, Henrique72

Maria Licia Bastos Marques e Manfred Loecken – Situação atual da documentação em ciências do desporto no Brasil73: ( Bibliotecaria-chefe da EEF-UGMG) – ate cinco anos atrás, produção, coleta, organização e difusão da informação bibliográfica em ciência do desporto era desconhecida (1975)

Maria Licia Bastos Marques – Documentação para ciência do desporto – um problema brasileiro; – artigo Suplemento Apoio do Boletim Informativo da Escola de Educação Física da UFMG (ano 1, n. 3)74

Dos acordos (2) – 1981 – II Conferencia en São Luis –Maranhão – Brasil!!!! Educacio Fisica y Deporte – n.2, ano 2, maio 1980 – Órgão oficial do Instituto de Ciências do Desporto – Universidade de Antioquia – Convenio Colombia-Alemanha; I Conferencia sobre Documentação e Informação Desportiva na America Latina; Literatura Desportiva latino-americana; Declaração de Medellín O Processo de Tradução do SIRCThesaurus – Entre os anos de 1994 e 1996, a professora Hagar Espanha Gomes coordenou a primeira tradução do Tesauro do SIRC para o português brasileiro, para ser usado pelo Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva (SIBRADID) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).75 Criação da Lista Cevtesauro Em 2007, Laércio Elias Pereira, Rafael Guimarães Botelho e Cristina da Cruz de Oliveira criaram e coordenaram a lista de discussão Tesauro em Educação Física e Esportes (cevtesauro), que surgiu como lista privada no Centro Esportivo Virtual (CEV). No início de 2008, a lista foi aberta à comunidade científica. O escopo principal da lista era retomar a ideia de Criação do Tesauro Brasileiro em Educação Física e Esporte e, ao mesmo tempo, verificar a demanda de inscrições na lista. Como houve apenas uma inscrição na lista, decidimos convidar alguns participantes. Durante o período ativo da lista, que reuniu um total de 15 pessoas, o fluxo de informação gerado foi de 20 mensagens, enviadas por quatro participantes (os três coordenadores e o professor Leopoldo Gil Dulcio Vaz). Isto, decerto, nos levou a interromper a lista temporariamente e a repensar a melhor estratégia para disseminação do tema em âmbito nacional.76 71

PEREIRA, Laércio Elias. Centro de estúdios y documentacion em Educacion Física, Deportes y Recreacion de Maranhão. In MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica,, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... p. 197-198. 72 SINDERMANN, Renate V. H. Documentacion e Informacion Del Deporte em El Brasil. In MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica,, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... p. 169-173. 73 BASTOS M., Maria Licia; LOECKEN, Manfred. Situação atual da documentação em ciência do desporto no Brasil. In MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica,, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... p. 177-182; 74 BASTOS M., Maria Licia. Documentação para ciência do desporto – um problema brasileiro. In MAIER, Jürgen (Editor). Conferencia Sobre Documentacion E Informacion Deportiva Em Latinoamerica,, I, Medellín – Colômbia, 04 a 07 de fevereiro de 1980. ANAIS... p. 185-187; MARQUES, Maria Lícia Bastos. Situação atual da informação desportiva na America Latina. Revista Brasileira De Ciências Do Esporte, 11(2): 123, jan. 1990. 75 GOMES, Hagar Espanha (Coord.). MANUAL DE ELABORAÇÃO DE TESAUROS MONOLÍNGÜES. Brasília: Programa nacional de Bibliotecas de Instituições de Ensino Superior, 1990. 76 CASTELANNI, Alexandre Moreno. Tesauro Agora é Tema na Comunidade Biblioteca. CEV/BIBLIOTECONOMIA E CIENCIA DA INFORMAÇÃO EM EF & ESPORTES. 02/07/2009. DISPONÍVEL EM HTTP://CEV.ORG.BR/COMUNIDADE/BIBLIOTECA/DEBATE/TESAURO-AGORA-TEMA-COMUNIDADE-BIBLIOTECA/ Ver também http://cev.org.br/comunidade/biblioteca/debate/arquivo/tema/tesauro


Iniciativas Acadêmicas sobre o Tema Tesauro e Educação Física Em dezembro de 2008, foi realizada a oficina Tesauro em Educação Física e Esportes (MOURA, 2008), como parte do segundo Congresso Brasileiro de Informação e Documentação Esportiva (CONBIDE) 77. Ivone Job (2006) 78 e Job e Alvarenga (2008)79 procederam à análise de perfis de 16 professores e 1.171 citações de teses do Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH) da Escola de Educação Física (EsEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), defendidas nos anos de 2003 e 2004, com os objetivos de: detectar as características das fontes de informação utilizadas pelos doutores; contribuir para aos estudos epistemológicos do campo; caracterizar elementos textuais e explorar suas potencialidades, visando ao conhecimento do campo científico da educação física. Em 2009, durante o do II Encontro de Gestão da Informação e do Conhecimento em Acervos Esportivos no Estado de São Paulo foram apresentadas as palestras Tesauros internacionais existentes em Educação Física, por Rafael Guimarães Botelho e Critérios a considerar para a construção de tesauros e aplicação à área da Educação Física, por Cristina da Cruz de Oliveira. Não conseguimos acesso à esse material... Lazzarotti Filho, Silva, Cesaro, Antunes, Salles, Silva, Oliveira Leite (2010) 80 publicam “O termo práticas corporais na literatura científica brasileira e sua repercussão no campo da Educação Física” , buscando identificar os significados/sentidos com os quais o termo práticas corporais vem sendo utilizado na literatura acadêmica brasileira, mediante análise de conteúdo de 260 artigos e 17 teses/dissertações, capturados com o uso de palavras-chave em sistemas de busca e bases de dados. De acordo com Kroeff e Leoneti (2012) 81 ainda não existe no Brasil um tesauro que atenda a demanda de necessidades das Ciências do Esporte. Por meio de um estudo preliminar esses autores desenvolveram um Tesauro Brasileiro destinado às Ciências do Esporte, com as divisões do tesauro seguindo o estabelecido por Tubino (2011)82, Tubino e Garrido (2007, cap.16) 83 e Barbanti (2003)84 . O tesauro foi elaborado por meio do software livre TheW33, de autoria de Tim Craven. O Tesauro tem sua estrutura descrita em formato ALFA e TREE. O tesauro deverá ser disponibilizado eletronicamente, para consulta aos usuários, em versão on-line, disponível na World Wide Web (WWW). e dessa forma foi subdividido de acordo com a demarcação científica aceita internacionalmente, ou seja, as áreas estabelecidas por Herbert Haag e pelo International Council of Sport Science and Physical Education. 77

MOURA, Maria Aparecida. Tesauro em Educação Física e Esportes – Coord. Sibradid/ECI UFMG [Oficina]. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO ESPORTIVA, 2., 2008, Belo Horizonte. Programação… Belo Horizonte: UFMG, 2008. 78 JOB, Ivone. Educação física no PPGCMH/UFRGS : uma visão a partir da análise de citações e perfil dos pesquisadores. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Ciência da Informação. Programa de PósGraduação em Ciência da Informação. http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/7771?show=full, 2006 79 JOB, Ivone; ALVARENGA, Lídia. Citações presentes em teses e perfis de pesquisadores: fontes de indícios para se estudar a área da educação física. PERSPECT. CIÊNC. INF. vol.13 no.3 Belo Horizonte Sept./Dec. 2008. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-99362008000300010 80 Lazzarotti Filho, Ari, Silva, Ana Marcia, Cesaro Antunes, Priscilla de, Salles da Silva, Ana Paula, Oliveira Leite, Jaciara, O termo práticas corporais na literatura científica brasileira e sua repercussão no campo da Educação Física. MOVIMENTO [en linea] 2010, 16 (Enero-Marzo) : [Fecha de consulta: 4 de septiembre de 2017] Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115312527002> ISSN 0104-754X 81 KROEFF, Márcia Silveira; LEONETI, Fabiano Contart. ESTUDO PRELIMINAR DO TESAURO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. REVISTA ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis (Brasil) - ISSN 1414-0594, v. 17, n. 1 (2012). Disponível em https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/825 82 TUBINO, Manoel José Gomes . EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE: DA TEORIA PEDAGÓGICA AO PRESSUPOSTO DO DIREITO. Disponível em: . Acesso em: 6 jul.2011. 83 ENCONTRO DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO EM ACERVOS ESPORTIVOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, 2., 2009, São Paulo. Anais… São Paulo: Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, 2009. Disponível em: <http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/esportes/servicos/biblioteca/0038>. 84 BARBANTI, V.J. DICIONÁRIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE. 2.ed. Barueri, SP: Manole, 2003.


Santos (2013) 85 apresenta TCC de graduação em Biblioteconomkia com o tema: Indexação sobre futebol: estudo de caso em Biblioteca Universitária, com o objetivo de diagnosticar o processo da indexação na Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (BU/UFSC), na área de esportes, para o termo ‘futebol’. A pesquisa foi fundamentada na literatura científica, referente aos princípios, as ferramentas e os métodos adotados na indexação da área da Biblioteconomia e Ciência da Informação. A pesquisa ainda, externa sobre o histórico, os aspectos sociais e a contribuição em publicação cientifica do futebol. Delgado (2016)86 disserta sobre o tratamento da informação em uma coleção particular de 55 jogos de Nintendo 64, objetivando levantar discussões sobre a representação da informação desses tipos de recursos eletrônicos, através dos fundamentos teóricos e práticos da representação temática e descritiva. Este trabalho foi dividido em duas etapas: a primeira tratou dos aspectos teóricos e práticos da representação descritiva, abordando os itens mais relevantes sobre descrição dos recursos eletrônicos, sob a perspectiva da AACR2 campos mais relevantes; a segunda, dos aspectos teóricos e práticos da representação temática da informação, sob a égide da indexação e da análise de assunto e respectivas etapas de processo, para definição dos seus escopos / categorias (gêneros e temas), tomando como base a linguagem desenvolvida e registrada em plataformas colaborativas (wiki's) no ciberespaço. Santos (2017) 87 analisa a preservação da memória dos clubes de futebol, a partir da construção de um repositório digital, levando-se em conta a aplicação da descrição arquivística e contando com a participação do torcedor do Esporte Clube Vitória, clube de Salvador-BA. É este o estado-da-técnica, hoje...

85

SANTOS, Andrea dos. INDEXAÇÃO SOBRE FUTEBOL: ESTUDO DE CASO EM BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA. TCC (graduação) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Curso de Biblioteconomia. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/103790 86 DELGADO, Vitor Rabelo. A representação da informação em games: um acervo particular de jogos de Nintendo 64. 2016. 94 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Biblioteconomia, Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2016. 87 SANTOS, Luciano Souza. Repositórios digitais na preservação da memória de clubes de futebol: a descrição arquivística na análise do Esporte Clube Vitória. Dissertações Mestrado Acadêmico (POSICI), UFBA, Instituto de Ciência da Informação - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/21751


REVISTA POÉTICA BRASILEIRA Uma publicação do jornalista e editor-sênior Mhario Lincoln / https://www.revistapoeticabrasileira.com.br/ Reportagens Especiais: A VERDADE SOBRE A FOTO DE MARIA FIRMINA

“RETRATO FALADO” DE MARIA FIRMINA DOS REIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Neste ano de 2017, comemora-se o centenário de morte de Maria Firmina dos Reis. Em 29 de julho, em O ESTADO DE SÃO PAULO, reportagem de BRUNA MENEGUETTI, Jornalista e escritora, autora do livro 'O Céu de Clarice' (Amazon), sob o título NO CENTENÁRIO DE MORTE, PRIMEIRA AUTORA NEGRA DO BRASIL GANHA REEDIÇÃO1, destaca que Maria Firmina dos Reis, ao publicar, anonimamente, 'Úrsula' (1859), influenciou toda a produção literária do País. Primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa, o livro estava fora de catálogo, mas em setembro desse ano ganha nova edição pela PUC Minas. Eduardo de Assis Duarte, pesquisador da literatura afro-brasileira, autor de livros sobre o tema e doutor em letras, assina o posfácio e escreve sobre a contextualização histórica da obra no conjunto de escritos de escravizados no Ocidente. Neste ano, de 9 a 12 de agosto – a ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS promoveu eventos em comemoração de mais esta efeméride. Aconteceu durante a I Semana de Literatura Ludovicense, no Espaço AMEI, São Luis Shopping Center. Nessa ocasião, também e foram comemorados os 4 da sua fundação da ALL. Maria Firmina dos Reis é a patrona da Academia de Letras da cidade de São Luis... Sua biografia, publicada pela ALL, de Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Dilercy Aragão Adler – Sobre Maria Firmina dos Reis – foi considera da melhor bibliografia publicada, em 2016, pela UBE-RJ. O que quero chamar atenção para quem vai escrever reportagens de cunho jornalístico-informativo é que tem sido comum a ilustração de textos referidos a Maria Firmina dos Reis com um retrato, que, na verdade, é de uma poetisa gaúcha.

Esse quadro acima, considerado até então de Maria Firmina dos Reis, é, na verdade, da gaúcha Maria Benedita Borman, conhecida pelo pseudônimo de “Délia”.


A palavra “Délia”, na página do lado direito, abaixo do bico-de-pena, revela o pseudônimo da escritora gaúcha Maria Benedita Borman.

O bico-de-pena da página 193 do livro “Mulheres Illustres do Brazil”, de 1899, revela o rosto da escritora Maria Benedita Borman, que escrevia sob o pseudônimo “Délia”, e não da escritora Maria Firmina dos Reis. (Acima).

O escritor Nascimento Moraes, pesquisador que descobriu Maria Firmina na Biblioteca Benedito Leite, no início da década de 1970, afirmava que não foi encontrada nenhuma foto dela. Ele morreu em fevereiro de 2009 e até essa data aqui em São Luís não houve nenhuma divulgação em jornais da descoberta da fotografia de Maria Firmina.

O busto da escritora Maria Firmina dos Reis, de autoria do escultor maranhense Flory Gama, foi esculpido a partir das informações prestadas por vimarenses que conviveram com a mestra-régia, como dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista na residência da Praça Luís Domingues, e por dona Eurídice Barbosa, procedente da Fazenda Nazaré, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó.


O busto foi colocado no ano de 1975 na Praça do Panteon, em frente à Biblioteca Pública Benedito Leite, na Capital junto a outros 17 intelectuais maranhenses. Posteriormente, os 18 bustos do Panteon Maranhense foram transferidos para os jardins do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, localizado na Rua do Sol, em São Luís, onde se encontram até hoje.

Com base nessas descrições, e no busto conhecido, a Academia Ludovicense de Letras mandou elaborar um selo comemorativo aos 190 anos de nascimento da ilustre ludovicense, pelo artista gráfico Gustavo Ferreira.

Disponível em ” Disponível em :ção_rosas_de_leitura.htmlIn SARAIVA, Emmanuel de Jesus. A INFLUENCIA AFRICANA NA CULTURA BRASILEIRA. São Luis: 2013, p.

Acima, outro retrato falado de Maria Firmina, elaborado pelo artista plástico Tony Alves. Para a Academia Ludovicense de Letras, estes são os ‘retratos’ oficiais da escritora: o do selo comemorativo e o do retratista Tony Alves, além do busto idealizado por Flory Gama...


Laercio Elias Pereira compartilhou a sua publicação. Moderador · 11 h

CEV/EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES https://www.facebook.com/groups/cevefesporte/?fref=ts

Pedindo desculpas pra quem já viu na CEV EF no Maranhão, e CEV EF Escolar, aproveito para anunciar, mais uma vez, que o Livro do Prof Listello, Educação pelas Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer, está disponível no CEV para baixar. Total ou por capítulos.

Leopoldo Gil Dulcio Vaz para CEV Educação Física no Maranhão

LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA AUGUSTE LISTELLO - França: 1918-2010. Um dos criadores do Método Desportiva Generalizada, quando era um dos diretores do Instituto Nacional de Esportes da França no pós-guerra, o Prof Listello, depois de aposentado, trabalhou por 12 anos como professor de uma escola de primeiro grau, onde experimentou seu novo método, que está publicado em Educação pelas Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer, com edição dedicada aos professores do Brasil, onde esteve 12 vezes ministrando cursos. No primeiro curso, em Santos, em 1952, ele apresentou o Handebol de Salão, sendo considerado o introdutor da modalidade no Brasil. Argelino de nascimento Listello tem cidadania francesa por ter integrado a Legião Estrangeira. Autor de: Educacion Physique pour Tous e Recreación y Educación Física Deportiva. O Método Desportivo Generalizado aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres (CUNHA, 2015) . Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR, 1969) . Esse método pressupõe que os exercícios físicos executados até então por obrigação no ambiente escolar passariam a ser realizados por prazer, pois seriam levados em consideração as experiências, as necessidades e os interesses dos alunos. (MARTINEZ, 2002) : [...] ‘Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer’, de 1979, foi escrita originalmente em francês por Listello e traduzida pelo então professor da USP Antonio Boaventura da Silva e colaboradores. Esta obra parece ter sido uma adaptação do MDG para a realidade brasileira, pois foi publicada após quase duas décadas de contato com o Brasil e em parceria com uma universidade brasileira.(CUNHA, 2012?) .

Obs. Já publicado na ALL EM REVISTA...

Laercio Elias PereiraModerador do grupo ainda estou em busca de alguém que tenha aplicado a proposta do Prof Listello na escola, além do produtor do livro (na UFMA e na Unicamp) e do Leopoldo no Maranhão.


POR QUE SÃO LUÍS, NO MARANHÃO, É A ‘JAMAICA BRASILEIRA’? HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/ENQUANTOISSONOMARANHAO/?HC_REF=ARRRY3CC154RKICEW9C9S4W4EFRPWW_7DCPXLR GZIG6LNL69DJFJHGQVWFL2UQM2JUU

Há várias teorias sobre como o estilo chegou ao Maranhão. Uma das mais difundidas é a de que foi atravé de ondas de rádio do Caribe na década de 1970, que traziam também outros ritmos, como calipso e zouk. “Várias pessoas na faixa de 50 e 60 anos contam que ouviam música jamaicana na rádio mesmo quando nem sabiam o que era reggae”, afirma a jornalista e antropóloga Karla Freire, autora do livro “Onde o Reggae é a Lei”, lançado em 2012. Em sua tese de doutorado “Jamaica Brasileira: a política do Reggae em São Luís, Brasil, 1968-2010”, pela Universidade de Pittsburgh, o historiador Kavin Paulraj escreve que ritmos caribenhos chegaram ainda antes na cidade, entre as décadas de 1950 e 1960. “Apesar de sua exclusão dos salões de dança da alta sociedade, os setores populares de São Luís podiam igualmente ouvir a boleros de sucesso nas rádios AM. E eles rapidamente encontraram outras fontes de música caribenha graças à proximidade geográfica. Apesar de serem difíceis de verificar, há muitos relatos de entusiastas de ondas-curtas do Maranhão e do Pará captando sinais caribenhos de rádio.” Também foi importante para essa importação de ritmos a atuação de marinheiros, especialmente contrabandistas de café brasileiro para as Guianas. Enquanto as rotas por terra até a isolada ilha de São Luís eram traiçoeiras, o tráfego por navio era relativamente simples. Era comum que embarcações vindo ou partindo do Suriname e da Guiana Francesa aportassem em Belém e São Luís. Além de contrabando, os marinheiros também traziam música, lembra Paulraj. Em sua tese, ele argumenta que essas primeiras trocas foram importantes para criar um público ávido por música caribenha que depois solidificaria a preferência pelo reggae. A partir do golpe de 1964, essas rotas entre São Luís e o Caribe foram fortemente combatidas, e o consumo da música caribenha passou a depender mais das ondas de rádio e dos discos de produção nacional. Na década de 1970, o reggae começou a ser difundido em festas. Inicialmente, o ritmo era tocado no final de uma sequência de ritmos agitados como forró, lambada, merengue e salsa, com o intuito de “desacelerar” o público. Em sua tese de doutorado, Paulraj afirma que os discos de reggae tinham o status de raridade, o que ajudou a alavancar os promotores de festas do final da década de 1970, que podiam vender aquele som como um produto exclusivo. Foi nesse contexto que se formou a chamada “massa regueira”, o imenso público de reggae difundido pela periferia de São Luís. A partir da décadas de 1980, programas de rádio e televisão dedicados ao reggae já ajudavam a difundir o ritmo. Na década de 1990, eram mais de oitenta salões e clubes de reggae pela cidade. (Jornal Nexo) Leopoldo Gil Dulcio Vaz Em sua tese de doutorado “Jamaica Brasileira: a política do Reggae em São Luís, Brasil, 19682010”, pela Universidade de Pittsburgh, o historiador Kavin Paulraj escreve que ritmos caribenhos chegaram ainda antes na cidade, entre as décadas de 1950 e 1960. Co-orientei essa tese, a pedido de meu amigo John Freccione, do Centro de Estudos Latinoamericano da Universidade de Pittsburgh, o Tarcisio Selektah também contribuiu...


CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO MARANHÃO CARTA DE APRESENTAÇÃO

Eu, LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Licenciado em Educação Física; Mestre em Ciência da Informação; pesquisadorassociado do projeto “Atlas do Esporte do Brasil” (www.atlasesportebrasil.org.br); sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM -, cadeira no. 40; Professor de Ensino de 1º. E 2º. Graus, Classe Especial, do quadro permanente do Ministério da Educação, lotado no CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO MARANHÃO/Diretoria de Ensino-Departamento Acadêmico de Ciências da Saúde (www.cefet-ma.br), na cidade de São Luís, Estado do Maranhão, Brasil, DECLARO que conheço KAVIN DAYANANDAN PAULRAJ, aluno do Doutorado da Universidade de Pittsburgh, a mim recomendado pelo meu correspondente do Centro de Estudos LatinoAmericanos, Prof. Dr. John Frechione, daquela Universidade americana. Declaro que tenho conhecimento de seu trabalho de pesquisa sobre a Cultura maranhense, que tem como tema o ‘reggae’, e sua história/memória no Maranhão e no Brasil, objeto de sua tese de doutoramento. Declaro ainda que, por recomendação do Prof. Dr. John Frechione, atuarei como facilitador das pesquisas sobre a História do Maranhão, cultura maranhense, e acesso à bibliografia disponível, durante o período de 2009 a 2010. Informo que o trabalho desenvolvido pelo referido Doutorando é de suma importância para a história/memória desse aspecto da cultura e da história maranhense, vindo contribuir para o resgate da identidade e do modo de vida do povo maranhense. São Luis, Maranhão-Brasil, 15 de agosto de 2008 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor do CEFET-MA/DCS Sócio Efetivo do IHGM


ARQUIMEDES VALE


JORNADA SOBRAMES NO RIO DE JANEIRO 20 de outubro de 2017

Clube da Poesia Slz - https://www.mhariolincolndobrasil.com/

QUEM JUNTO CAMINHA... Quem comparece hoje ao Clube da Poesia é o poeta Arquimedes Vale, que nos brinda com um poema de deixar rastro em qualquer coração amoroso. O rastro de quem caminha junto, numa só direção, com um só propósito, em amor e união. VIDA CAMINHO é esse poema para o qual o poeta nos leva e nos deixa a comtemplar a vida de um casal, quando um e outro são dois. (https://www.facebook.com/clubedapoesiaslz/)


JORNAL SEM FRONTEIRAS


BRUNO TOMÉ O ESTADO MA – TAPETE VERMELHO – 14 e 15 DE OUTUBRO DE 2017




DILERCY ARAGÃO ADLER NOVOS IMORTAIS Em sessão extraordinária realizada hoje (14 de outubro), na Casa da Cultura Professor João Silveira, os imortais da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes elegeram dois novos membros efetivos para o sodalício local. Nicodemos Bezerra foi eleito para a cadeira de número 03, patroneada por Apolinário da Silva Fonseca. Natural de Itapecuru Mirim, o novo imortal é letrólogo e pedagogo, com cursos realizados em universidades americanas e europeias, coautor de duas antologias e autor de um livro infantil. Ele é o compositor do hino de Miranda do Norte, além de criador da bandeira e do brasão do mesmo município. Nascida em Itapecuru, Neusilene Núbia Dutra é advogada, psicóloga e psicopedagoga. Atuante nos direitos da mulher, das crianças e dos LGBTs. Dentre suas obras, destaca-se o livro “Andarilha”, onde define o gênero feminino como aquele que atravessa limites entre fronteiras tênues, com a liberdade e a determinação de seres pensantes. Ela ocupará a cadeira de número 39, que tem como patrono Bertulino Campos. No ato, foram eleitos para compor o quadro de membros correspondentes: Mirella Cezar (São Luis), Felipe Camarão (São Luis), Dilercy Aragão Adler (São Luis), Neurivan Sousa (Santa Rita), Nino Dourado (Altos (PI)), Francisco Frazão (São Luis), Vavá Melo (São Bento), Fátima Travassoss (Viana), Cecília Cantanhede (Anajatuba), Jânio Rocha (Chapadinha), João Batalha (Arari), João Carlos Pimentel (Cantanhede), Marcio Aleandro (São Luis), José Neres (São Luis) e Moisés Abílio (Pedreiras). A posse está marcada para o mês de dezembro, durante a V Semana de Cultura de Itapecuru Mirim.



VAVÁ MELO NOVOS IMORTAIS Em sessão extraordinária realizada hoje (14 de outubro), na Casa da Cultura Professor João Silveira, os imortais da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes elegeram dois novos membros efetivos para o sodalício local. Nicodemos Bezerra foi eleito para a cadeira de número 03, patroneada por Apolinário da Silva Fonseca. Natural de Itapecuru Mirim, o novo imortal é letrólogo e pedagogo, com cursos realizados em universidades americanas e europeias, coautor de duas antologias e autor de um livro infantil. Ele é o compositor do hino de Miranda do Norte, além de criador da bandeira e do brasão do mesmo município. Nascida em Itapecuru, Neusilene Núbia Dutra é advogada, psicóloga e psicopedagoga. Atuante nos direitos da mulher, das crianças e dos LGBTs. Dentre suas obras, destaca-se o livro “Andarilha”, onde define o gênero feminino como aquele que atravessa limites entre fronteiras tênues, com a liberdade e a determinação de seres pensantes. Ela ocupará a cadeira de número 39, que tem como patrono Bertulino Campos. No ato, foram eleitos para compor o quadro de membros correspondentes: Mirella Cezar (São Luis), Felipe Camarão (São Luis), Dilercy Aragão Adler (São Luis), Neurivan Sousa (Santa Rita), Nino Dourado (Altos (PI)), Francisco Frazão (São Luis), Vavá Melo (São Bento), Fátima Travassoss (Viana), Cecília Cantanhede (Anajatuba), Jânio Rocha (Chapadinha), João Batalha (Arari), João Carlos Pimentel (Cantanhede), Marcio Aleandro (São Luis), José Neres (São Luis) e Moisés Abílio (Pedreiras). A posse está marcada para o mês de dezembro, durante a V Semana de Cultura de Itapecuru Mirim.

Alvaro Urubatan Melo - Ecos da Baixada.



FRANCISCO BATALHA NOVOS IMORTAIS Em sessão extraordinária realizada hoje (14 de outubro), na Casa da Cultura Professor João Silveira, os imortais da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes elegeram dois novos membros efetivos para o sodalício local. Nicodemos Bezerra foi eleito para a cadeira de número 03, patroneada por Apolinário da Silva Fonseca. Natural de Itapecuru Mirim, o novo imortal é letrólogo e pedagogo, com cursos realizados em universidades americanas e europeias, coautor de duas antologias e autor de um livro infantil. Ele é o compositor do hino de Miranda do Norte, além de criador da bandeira e do brasão do mesmo município. Nascida em Itapecuru, Neusilene Núbia Dutra é advogada, psicóloga e psicopedagoga. Atuante nos direitos da mulher, das crianças e dos LGBTs. Dentre suas obras, destaca-se o livro “Andarilha”, onde define o gênero feminino como aquele que atravessa limites entre fronteiras tênues, com a liberdade e a determinação de seres pensantes. Ela ocupará a cadeira de número 39, que tem como patrono Bertulino Campos. No ato, foram eleitos para compor o quadro de membros correspondentes: Mirella Cezar (São Luis), Felipe Camarão (São Luis), Dilercy Aragão Adler (São Luis), Neurivan Sousa (Santa Rita), Nino Dourado (Altos (PI)), Francisco Frazão (São Luis), Vavá Melo (São Bento), Fátima Travassoss (Viana), Cecília Cantanhede (Anajatuba), Jânio Rocha (Chapadinha), João Batalha (Arari), João Carlos Pimentel (Cantanhede), Marcio Aleandro (São Luis), José Neres (São Luis) e Moisés Abílio (Pedreiras). A posse está marcada para o mês de dezembro, durante a V Semana de Cultura de Itapecuru Mirim.


JOÃO BATISTA ERICEIRA


JOSÉ FERNANDES

JORNAL PEQUENO 26/11/2017


ANTONIO NOBERTO Com o Padre João de Fátima e os amigos Pablo Pablo Zarthur Rebouças e José Joaquim. No Sítio Piranhenga / Projeto CEPROMAR. O Centro Educacional e Profissionalizante do Maranhão é um espaço mantido por franceses de SaintMalo, Laval, Paris e outras cidades. Centenas de jovens frequentam cursos profissionalizantes em diversas áreas: panificação, informática, mecânica de moto, mecânica de carro, corte e costura, etc.

Entregando um exemplar do mapa de minha autoria "Saint-louis capitale de la France Équinoxiale" ao secretário de Turismo da cidade francesa de Saint-Malo, Monsieur Dominique Portbarre. Durante uma agradável visita do mesmo à Exposição França Equinocial. No Forte de Santo Antonio, Ponta d'Areia, São Luís-MA.


ANTONIO NOBERTO É ELEITO O NOVO PRESIDENTE DA ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO LUÍS 17 de dezembro de 2017 / Michel Sousa / 0 Comments FacebookTwitterGoogle+WhatsAppCompartilhar

A Academia Ludovicense de Letras (ALL) elegeu na manhã de sábado (16), sua nova diretoria que comandará a Instituição literária no biênio 2018 / 2019. A chapa encabeçada pelo pesquisador, turismólogo, historiador e escritor Antonio Noberto e pela Vice-Presidente, a promotora de Justiça e escritora Ana Luiza Almeida Ferro, obteve quase 90% dos votos creditados pelos membros da ALL, conhecida como Casa de Maria Firmina dos Reis. Noberto é membro-fundador da Academia Ludovicence de Letras e Sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Entre os seus trabalhos publicados estão “A influência francesa em São Luís”, “Só por uma estação: uma viagem ao Brasil” e “França Equinocial uma história de 400 anos”. Ele é pesquisador e incentivador da reaproximação e fortalecimento dos laços do Maranhão com a França. Noberto realizou viagens de pesquisa ao país gaulês com objetivo de incrementar a relação histórica entre o Maranhão e a terra de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière. Em 2015, a pedido da Prefeitura Municipal de São Luís e do trade turístico local, ministrou palestra em Paris sobre a fundação de São Luís e as potencialidades turísticas do estado do Maranhão. O turismólogo e historiador é o criador do Cemitour do Gavião, passeio musicado que rememora as personalidades inumadas na necrópole do Gavião, em São Luís. Antonio Noberto faz parte dos quadros da Polícia Rodoviária Federal (PRF), onde exerce a função de chefe do Núcleo de Comunicação Social e de assessor parlamentar da Instituição que cuida das rodovias federais do país. Ele é pós graduado em Gestão Mercadológica e Consultoria em Turismo (UNICEUMA) e cursou MBA em Gestão Empresarial pelo Instituto Superior de Administração e Negócios / Fundação Getúlio Vargas (ISAN/FGV). É ex-presidente da Associação Brasileira dos Bacharéis em Turismo – ABBTUR/MA. A Vice-Presidente eleita, Ana Luiza Almeida Ferro, também é membro-fundador da ALL, Promotora de Justiça do estado do Maranhão e uma das escritoras mais premiadas do estado nos últimos anos. Ela é filha do historiador e professor Wilson Pires Ferro, que também ajudou a fundar a ALL e faleceu logo em seguida a fundação da mesma.


A jovem Academia Ludovicense de Letras foi fundada no dia 10 de agosto de 2013, logo após os eventos comemorativos dos 400 anos da capital maranhense, período em que o turismólogo Antonio Noberto presenteou o Maranhão com a Exposição França Equinocial para sempre, trabalho que mostra um pouco do nascimento desta parte do Brasil. A Exposição foi inicialmente lançada no Palácio Cristo Rei, em 14 de agosto de 2012, com o apoio de Clores Holanda e Joana Bittencourt, e atualmente em cartaz no Forte de Santo Antonio, na Ponta da Areia, a convite da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (SECTUR) e da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC). O trabalho foi escolhido naquele ano o “Melhor evento cultural voltado para os 400 anos de São Luís”. “Me considero um pesquisador e escritor dedicado a assuntos basais que nos interessa como sociedade e como civilização (…) recebi um convite generoso de alguns confrades e confreiras que viram grande potencial no meu perfil para chegar a presidência, a exemplo dos amigos Osmar Gomes, Sanatiel Pereira, Ceres Fernandes, Ana Luiza Ferro e Clores Holanda, logo apoiados por Arquimedes Vale, Daniel Blume, Raimundo Meireles e Vavá Melo. A Casa gostou da proposta e respondeu com um fragoroso sim (…) Minha chegada à presidência da ALL é para fazer uma gestão compartilhada com todos os membros, respeitando os ditames do Estatuto e do Regimento da Casa, e valorizando a produção da confraria (..) Fazer parte da Academia de Letras da primeira cidade fundada na porção norte do país, berço de tantos escritores e poetas é uma honra. Estou feliz por ter sido eleito para presidir a Academia da Atenas Brasileira. (…) Minha missão é fazer com que o quadro (os membros e a produção deles) brilhe mais que a moldura”, arremata o Presidente eleito. Ludovicense é o adjetivo gentílico que designa quem é natural de São Luís ou diz respeito a capital maranhense. O termo deriva de Ludovico, Luís, o rei da França, em latim. A composição da nova diretoria da Academia Ludovicense de Letras ficou assim: Presidente – Antonio Noberto Vice-presidente – Ana Luiza Ferro Secretária Geral – Clores Holanda Primeiro secretário – Daniel Blume Segunda secretária – Ceres Fernandes Tesoureiro – Osmar Gomes Segundo tesoureiro – Raimundo Meireles Conselho Fiscal Sanatiel Pereira Arquimedes Vale Vavá Melo


ANTONIO NOBERTO É ELEITO O NOVO PRESIDENTE DA ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO LUÍS https://thaleshcastro.blogspot.com.br/2017/12/antonio-noberto-e-eleito-o-novo.html?m=0

*Antonio Noberto é eleito o novo presidente da Academia de Letras de São Luís* _ele é o terceiro a ocupar a cadeira mais alta da Academia Ludovicense de Letras (ALL), depois de Roque Macatrão e Dilercy Adler. A posse acontecerá no próximo mês de janeiro_ A Academia Ludovicense de Letras (ALL) elegeu na manhã de sábado (16), sua nova diretoria que comandará a Instituição literária no biênio 2018 / 2019. A chapa encabeçada pelo pesquisador, turismólogo, historiador e escritor Antonio Noberto e pela Vice-Presidente, a promotora de Justiça e escritora Ana Luiza Almeida Ferro, obteve quase 90% dos votos creditados pelos membros da ALL, conhecida como Casa de Maria Firmina dos Reis. Noberto é membro-fundador da Academia Ludovicence de Letras e Sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Entre os seus trabalhos publicados estão "A influência francesa em São Luís", "Só por uma estação: uma viagem ao Brasil" e "França Equinocial uma história de 400 anos". Ele é pesquisador e incentivador da reaproximação e fortalecimento dos laços do Maranhão com a França. Noberto realizou viagens de pesquisa ao país gaulês com objetivo de incrementar a relação histórica entre o Maranhão e a terra de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière. Em 2015, a pedido da Prefeitura Municipal de São Luís e do trade turístico local, ministrou palestra em Paris sobre a fundação de São Luís e as potencialidades turísticas do estado do Maranhão. O turismólogo e historiador é o criador do Cemitour do Gavião, passeio musicado que rememora as personalidades inumadas na necrópole do Gavião, em São Luís. Antonio Noberto faz parte dos quadros da Polícia Rodoviária Federal (PRF), onde exerce a função de chefe do Núcleo de Comunicação Social e de assessor parlamentar da Instituição que cuida das rodovias federais do país. Ele é pós graduado em Gestão Mercadológica e Consultoria em Turismo (UNICEUMA) e cursou MBA em Gestão Empresarial pelo Instituto Superior de Administração e Negócios / Fundação Getúlio Vargas (ISAN/FGV). É ex-presidente da Associação Brasileira dos Bacharéis em Turismo - ABBTUR/MA.


A Vice-Presidente eleita, Ana Luiza Almeida Ferro, também é membro-fundador da ALL, Promotora de Justiça do estado do Maranhão e uma das escritoras mais premiadas do estado nos últimos anos. Ela é filha do historiador e professor Wilson Pires Ferro, que também ajudou a fundar a ALL e faleceu logo em seguida a fundação da mesma. A jovem Academia Ludovicense de Letras foi fundada no dia 10 de agosto de 2013, logo após os eventos comemorativos dos 400 anos da capital maranhense, período em que o turismólogo Antonio Noberto presenteou o Maranhão com a Exposição França Equinocial para sempre, trabalho que mostra um pouco do nascimento desta parte do Brasil. A Exposição foi inicialmente lançada no Palácio Cristo Rei, em 14 de agosto de 2012, com o apoio de Clores Holanda e Joana Bittencourt, e atualmente em cartaz no Forte de Santo Antonio, na Ponta da Areia, a convite da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (SECTUR) e da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC). O trabalho foi escolhido naquele ano o "Melhor evento cultural voltado para os 400 anos de São Luís". "Me considero um pesquisador e escritor dedicado a assuntos basais que nos interessa como sociedade e como civilização (...) recebi um convite generoso de alguns confrades e confreiras que viram grande potencial no meu perfil para chegar a presidência, a exemplo dos amigos Osmar Gomes, Sanatiel Pereira, Ceres Fernandes, Ana Luiza Ferro e Clores Holanda, logo apoiados por Arquimedes Vale, Daniel Blume, Raimundo Meireles e Vavá Melo. A Casa gostou da proposta e respondeu com um fragoroso sim (...) Minha chegada à presidência da ALL é para fazer uma gestão compartilhada com todos os membros, respeitando os ditames do Estatuto e do Regimento da Casa, e valorizando a produção da confraria (..) Fazer parte da Academia de Letras da primeira cidade fundada na porção norte do país, berço de tantos escritores e poetas é uma honra. Estou feliz por ter sido eleito para presidir a Academia da Atenas Brasileira. (...) Minha missão é fazer com que o quadro (os membros e a produção deles) brilhe mais que a moldura", arremata o Presidente eleito. Ludovicense é o adjetivo gentílico que designa quem é natural de São Luís ou diz respeito a capital maranhense. O termo deriva de Ludovico, Luís, o rei da França, em latim. A composição da nova diretoria da Academia Ludovicense de Letras ficou assim: Presidente - Antonio Noberto Vice-presidente - Ana Luiza Ferro Secretária Geral - Clores Holanda Primeiro secretário - Daniel Blume Segunda secretária - Ceres Fernandes Tesoureiro - Osmar Gomes Segundo tesoureiro - Raimundo Meireles Conselho Fiscal Sanatiel Pereira Arquimedes Vale Vavá Melo


EFEMÉRIDES

01 08 11 13 14 17 22 25 27 29 31 02 03 09 08 11

13 14 19 28 29 05 09 14 20 25 26 31

OUTUBRO 1884 – NASCIMENTO DE LAURA ROSA – PATRONA DA CASDEIRA 25 1863 – NASCIMENTO DE CATULO DA PAIXÃO CEASRENSE – PATRONO DA CADEIRA 17 1825 – NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – PATRONA DA CADEIRA 8 2005 - FALECIMENTO DE MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD – PATRONA DA CADEIRA 37 1818 – NASCIMENTO DEE CANDIDO MENDES DE ALMEIDA – PATRONO DA CADEIRA 6 1929 – NASCIMENTO DE ARTHUR ALMADA LIMA FILHO – FUNDADOR DA CADEIRA 18 1908 – FALECIMENTO DE ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONHO DA CADEIRA 13 1886 – NASCIMENTO DE HUMBERTO DE CAMPOS VERAS – PATRONO DA CADEIRA 27 1913 – NASCIMENTO DE MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER – DILÚ MELO – PATRONA DA CADEIRA 29 1977 – NASCIMENTO DE DANIEL BLUME DE ALMEIDA – 1º OCUPANTE DA CADEIRA 15 1951 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO – FUNDADOR DA CADEIRA 5 1962 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO GOMES MEIRELRES – FUNDADOR DA CADEIRA 17 NOVEMBRO 1946 – NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA ERICEIRA – FUNDADOR DA CADEIRA 2 1864 – FALECIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS – PATRONO DA CADEIRA 7 1939 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO DA COSTA VIANA – FUNDADOR DA CADEIRA 36 1934 – NASCIMENTO DE ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO – FUNDADOR DA CADEIRA 4 1917 – FALECIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – PATRONA DA CADEIRA 8 1849 – NASCIMENTO DE CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHAES – CELSO MAGALHAES – PATRONO DA CADEIRA 11 1935 – NASCIMENTO DE ROQUE PIRES MACATRÃO – FUNDADOR DA CADEIRA 6 1976 – FALECIMENTO DE LAURA ROSA – PATRONA DA CADEIRA 25 186 - NASCIMENTO DE ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO DA CADEIRA 16 1880 – NASCIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 1934 – FALECIMENTO DE HENRIQUE MAXIMINIANO COELHO NETO – PATRONO DA CADEIRA 18 1880 – NASCIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BERBOSA ALVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 DEZEMBRO 1934 – FALECIMENTO DE HUMBERTO DE CAMPOS VERAS – PATRONO DA CADEIRA 27 2010 – FALECIMENTO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 40 1914 – NASCIMENTO DE ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO DA CADEIRA 30 1879 – NASCIMENTO DE JOSÉ AMERICO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO – PATRONO DA CADEIRA 22 1915 – FALECIMENTO DE JOSÉ AMERICO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO – PATRONO DA CADEIRA 22 1946 – FALECIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BERBOSA ALVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 1981 – NASCIMENTO DE FELIPE COSTA CAMARÃO – 1º OCUPANTE CADEIRA


ARTHUR ALMADA LIMA FILHO: Nem 8 nem 80: Ele faz 88 anos EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br Muitos daqueles que passam pela avenida Getúlio Vargas, em Caxias (MA), e veem o grande prédio e os galpões imensos da antiga estação ferroviária não imaginam o quanto de sonho, de visão, de esperança, de burocracia, de esforço e de amor pela terra está misturado a cada mão de tinta, pá de cal, lata de areia, barro e cimento e metros de fiação elétrica e outros materiais utilizados para a recuperação daquelas construções e o resgate ou ampliação de considerável fatia do amor-próprio dos caxienses. Aqueles prédios da antiga Estrada de Ferro São Luís—Teresina (EFSLT), da Rede Ferroviária Federal S. A. (REFFESA) estavam até há algum tempo ao Deus-dará. Desmoronando -- como sempre, menos pela ação do tempo e mais pela omissão dos homens. Décadas de história estavam ruindo sem ruído, numa fragmentação silenciosa, num desfazimento criminoso de um passado que, embora não tão distante, foi responsável por parte das bases econômico-sociais de que talvez ainda se jactem alguns poucos que vivenciaram aqueles tempos e/ou que deles têm memória. Arthur Almada Lima Filho passava por ali, olhava aquelas edificações e se inquietava -- pode-se dizer, até: se indignava. Era o filho ilustre sabendo o quão igualmente ilustre havia ali de historicidade. Dos contatos iniciais, das correspondências obrigatórias, dos obstáculos e dificuldades que se (o)põem à frente dos que querem fazer a coisa certa neste País, até a autorização para uso e utilização, “sine die”, das portentosas instalações “refesianas”, Arthur Almada Filho teve de munir-se de paciência e persistência, sob pena de suas (boas) intenções irem juntar-se àquelas que assoalham o caminho da Geena. Foi assim que Caxias e seu Instituto Histórico e Geográfico (IHGC) ganharam adequado espaço para se passar o passado -- ou ao menos parte dele -- a limpo. O Instituto é o espaço institucional por excelência e de referência para a busca, guarda, zelo e divulgação de itens e fatos, marcas e marcos do passado histórico de Caxias (que o histérico presente ainda não soube respeitar à altura). Esse espaço, sede do IHGC, vem recebendo pacientes reformas e melhorias e é mantido a troco de suadas colaborações de algumas (poucas, diga-se) pessoas, físicas e jurídicas. Neste ponto entra novamente Arthur Almada: em vez de curtir o merecido ócio após décadas de ofício na Magistratura e na Educação, ele incumbe-se e desincumbe-se nas tarefas de, em igual tempo, presidente do Instituto e encarregado de fazer a cobrança (ou, eufemisticamente, “lembrança”) aos voluntários mantenedores -- muitas das vezes conquistados a troco da confiança e persuasão arturianas. *** O passado só ainda está presente e somente terá algum futuro se dele tiverem cuidadores como Arthur Almada Lima Filho. Aos 88 anos, completados neste 17 de outubro de 2017, esse renovado Arthur senta-se à sua távola quadrada e pequena em uma modesta sala no pavimento superior do remoçado prédio da Estação e dana-se a ler, estudar, pesquisar, escrever, telefonar para outros membros e apoiadores do Instituto, sempre tendo em vista algum aspecto da gestão da Entidade ou, o mais das vezes, sobre fatos históricos de Caxias, cujos documentos ou livros a eles relacionados, existentes no Brasil ou no Exterior, Arthur pede que sejam pesquisados ou conseguidos exemplares ou cópias, para o acervo do Instituto. Anatole France, escritor francês (1844—1924), escreveu que “(...) o passado é o nosso único passeio e o único lugar onde possamos escapar a nossos aborrecimentos diários”, pois “o presente é árido e turvo, o futuro, oculto”. Não é o caso de Arthur Almada de Lima Filho, para quem o passado de Caxias não é aborrecimento, mas desafio e combustível; é mister e mistério de arqueólogo, que se vai descobrindo camada a camada, limpando as contaminações, rearrumando em ordem lógica, até a leitura e documentação final.


O paulista Eduardo Paulo da Silva Prado, que nem o Arthur, era homem do Direito e escritor. Também acadêmico, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Viveu só 41 anos, tempo bastante para, entre seus amigos, contarem-se, entre outros, portentos literários e intelectuais como Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Eduardo Prado escreveu: “Certamente o homem deve viver no seu tempo, mas a tendência para a contemplação do passado é um dom nobilíssimo da sua alma”. Mais do que contemplar, Arthur Almada Filho, no caso do passado de Caxias, quer contribuir para organizá-lo, trazê-lo ao presente para garantir-lhe algum futuro. Como constatou o filósofo e poeta francês Paul Valéry, 146 anos de nascimento em 30 de outubro de 2017: “O passado (...) age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente”. Em geral, Caxias pouco sabe dos esforços e da história, das lutas, lides e lidas desse Arthur Filho, filho caxiense que, à maneira de Bilac, “ama com fé e orgulho” a terra em que nasceu. Juiz de Direito, desembargador, vice-presidente e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, presidente da nascente universidade estadual maranhense, é citado no prestigioso e internacional “Who’s Who”, seus votos como jurista são transcritos em obras de Direito, tem seu nome na testada de prédios públicos, seja em fórum seja em escola estado adentro, tais os méritos que a sociedade maranhense quis reconhecer e homenagear. Ex-reitor da UEMA, autor de livros, pesquisador infatigável, magistrado intimorato, tem honrado o nome e o ofício do pai e o conceito da família -- família que, no passado e no presente (e, pelo visto, para o futuro também), legou tanta gente inteligente para Caxias, o Maranhão e o Brasil. Pelos feitos que fez, certamente não lhe cabe a observação do educador e abolicionista norte-americano Horace Mann (século 19): “Tenha vergonha de morrer até ter obtido alguma vitória para a Humanidade” ("Be ashamed to die until you have won some victory for Humanity”). Arthur e eu somos conterrâneos, confrades e amigos, pertencemos às sadias -- e lutadiras -- hostes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), da Academia Caxiense de Letras (ACL) e da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama). E não estamos apenas para estar ou ser, mas para fazer. É preciso conviver um pouco com o Arthur para ver-lhe os esforços em nome de coisas e causas coletivas, caxienses. É preciso estar perto para dele ouvir exemplos de inconteste entusiasmo e incontida satisfação quando da descoberta de um novo nome de caxiense de talento, ou nova informação sobre Caxias, dados que zanzavam por aí, escondidos sob a poeira da História ou maquiados, encobertos pelo pó do desinteresse humano. No fim do ano 2013, Caxias e o Maranhão receberam de presente uma obra ("Efemérides Caxienses") em que Arthur Almada organiza, sistematiza e sintetiza eventos passados, com nomes e datas da História caxiense, mas com pontos de contato com a História maranhense e brasileira. Como diz o Arthur, ausente todo laivo de ufanismo: "Sem a História de Caxias não há História do Brasil". E, com ardor e energias moças, já organiza e escreve novas obras de fôlego, como um livro de perfis caxienses e um avançado "Dicionário Biobliográfico de Autores Caxienses". Entre outros... É esse conterrâneo, caxiense com muito orgulho, que aniversaria neste 17 de outubro de 2017: nada menos do 88 anos fazendo valer a pena a loteria da criação que concedeu que fosse ele, Arthur Filho, o sorteado com a vida, longa, saudável e útil vida. Esse caxiense de boa cepa sabe de seus fins e de nossa finitude. Sabe, já há muito tempo mas sobretudo a esta altura da vida, sabe que, como ele, muitos de nós, neste jogo da existência, temos mais passado que futuro. E disto nem ele nem nós temos receio. Pois, para nós, para gente do naipe de Arthur Almada Lima Filho, o passado nos fortalece. Como no dizer do poeta e dramaturgo francês Henry Bataille (1872—1922): “O passado é um segundo coração que bate em nós”. Parabéns e feliz aniversário, Arthur. Tim-tim! Vida e coração forte para você. Tum!... Tum!... Tum!... Tum!... Tum!...



Suplemento Pernambuco

Conhecer as obras e a trajetória intelectual de Maria Firmina dos Reis (1825-1917) é tarefa fundamental de reinscrição da história social da cultura brasileira. Seu romance Úrsula proporciona ao leitor a experiência de adentrar na temática abolicionista pela perspectiva dos próprios escravizados, realizando uma potente inversão dos valores dominantes. No especial de capa de outubro, escrito por Leonardo Nascimento com arte de Karina Freitas, traçamos a trajetória desse nome importantíssimo da nossa literatura. Confira o texto: https://goo.gl/6LFwFJ

"VOU CONTAR-TE MEU CATIVEIRO" Escrito por Leonardo Nascimento (imagens: Karina Freitas)

Escrevo o que a vida me fala, o que capto de muitas vivências. Escrevivências... Conceição Evaristo


República. Por trás de tantos eventos e reviravoltas que tiveram palco nesse tumultuado século, é possível reconhecermos um intenso processo de construção do que se convencionou chamar de “projeto nacional”. Se, como bem definiu O século XIX representa um momento-chave na historiografia brasileira: foi nele que o Brasil se tornou um país independente da metrópole, aboliu a escravidão – ao menos na letra da lei – e transformou-se em Benedict Anderson, modelos de nacionalidade são modelos imaginários – que fazem largo uso de elementos como mapas, jornais, textos, imagens etc., visando à construção de uma comunidade que se reconhece entre si –, é preciso atentarmos ao fato de que muitos de nossos modelos de “brasilidade” são oriundos de projetos autoritários e excludentes. Projetos nos quais, grande parte dos brasileiros e brasileiras jamais se reconheceria. Basta lembrar que, em 1838, poucos anos após a Independência, fundou-se no Rio de Janeiro, então capital do país, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Com o intuito de criar uma história que fosse nacional e imperial para o então novíssimo país, em 1844 o Instituto deu lugar a um primeiro concurso, em que os participantes deveriam discorrer sobre a seguinte indagação: “Como se deve escrever a história do Brasil?”. Como vem pontuando Lilia Schwarcz em alguns de seus trabalhos, poderíamos substituir o questionamento por outro um pouco mais apropriado: “Como se deve inventar uma história do e para o Brasil”. O naturalista Carl von Martius foi o autor vencedor do concurso. Unindo-se a outros olhares exotizantes que fundamentaram um imaginário fetichista sobre o país, o cientista alemão defendeu a ideia de que o Brasil poderia ser definido por sua mistura de raças. “Devia ser ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento das três raças humanas que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de uma maneira desconhecida da história antiga, e que devem servir-se mutuamente de meio e fim” – escreveu o autor. A imagem usada por von Martius para sustentar a tese foi a de um rio caudaloso, que corresponderia à herança portuguesa presente entre nós. Esse mesmo rio deveria absorver “os pequenos confluentes das raças indina e etíope”. Estavam dadas aí as bases para um projeto de país mestiçado e racialmente harmônico, em que o grande e caudaloso rio formado pelas populações brancas se uniria a um outro menor, o das populações indígenas, e a um outro ainda menor, composto pelos negros e negras do país. Como se pode perceber, o caráter harmônico defendido pelo autor não flertava com ideais de igualdade, mas antes reforçava as hierarquias do projeto colonial. Desde os tempos coloniais, o Brasil era reconhecido por sua “natureza sem igual”, uma espécie de Éden tropical habitado por raças e grupos de origens variadas, um paraíso mítico a ser explorado por viajantes, naturalistas e cientistas interessados nesse fascinante – mas também temido – laboratório natural e racial. Durante o Segundo Reinado, a construção da imagem da Nação e do Estado também se apoiou na natureza exuberante do país e em seus naturais, com o Brasil sendo representado por indígenas devidamente estilizados. Já as populações negras foram praticamente excluídas das representações oficiais, uma vez que o escravismo representava o oposto da imagem civilizada e progressista que o país procurava veicular. Assim, melhor seria deixar os escravizados como sombra e silêncio, sendo esse silêncio uma ruidosa forma de memória. Na contramão dos constantes silenciamentos, houve também uma significativa produção de narrativas dissonantes lutando por espaço no debate público. Foi justamente em meio ao agitado contexto de disputas da segunda metade do século XIX que emergiu a obra da escritora afrodescendente Maria Firmina dos Reis. Se entendermos a História como uma arena de disputas pelo direito de significar, e reconhecermos que essa mesma História é escrita (e inscrita) a partir de questões e olhares do tempo em que ela é vertida em discurso, poderemos então “retornar ao passado” com dúvidas e questões de “nosso tempo”, principalmente quando temos em mãos outras narrativas que podem auxiliar na árdua tarefa de “escovar o passado a contrapelo”. Desta forma, a memória histórica é reativada e, ao mesmo tempo, restabelecida. Conhecer as obras e a trajetória intelectual de Maria Firmina dos Reis é ponto mais que importante na fundamental tarefa de reinscrição da história social da cultura brasileira.


FIRMINA EM VIDA E OBRA Maria Firmina do Reis nasceu em 11 de outubro de 1825, na ilha de São Luís, capital da província do Maranhão. Nascida fora do casamento, Firmina não chegou a conhecer o pai. Acredita-se que tenha nascido do relacionamento entre uma portuguesa e um escravizado africano, embora não exista um consenso sobre o tema entre os pesquisadores e as pesquisadoras de sua obra. Em 1830, com o falecimento da mãe, a menina passou a morar com a avó, em São José dos Guimarães, no município de Viamão (MA). Segundo Maria Lúcia de Barros Mott, em Submissão e resistência: a mulher na luta contra a escravidão, Firmina viveu alguns anos em casa de uma tia materna melhor situada economicamente. Para Eduardo de Assis Duarte, importante estudioso da obra de Firmina, isto talvez explique o acesso ao letramento e a aquisição de um repertório literário com a presença de obras do Romantismo brasileiro e francês, já que não há condições de afirmar que a intelectual obteve uma educação formal. Em 1847, aos 22 anos, Firmina foi aprovada no concurso público para instrução primária na Vila de Guimarães, tornando-se a primeira mulher a conquistar o cargo na província. Em 1859, mesmo ano em que Luiz Gama publicou suas Primeiras trovas burlescas, Firmina trouxe a público Úrsula, o primeiro romance abolicionista brasileiro de autoria feminina. No entanto, Firmina não gravou seu nome no livro, assinando apenas como “uma maranhense” – fato que dificultou posteriormente a atribuição da autoria e, provavelmente, contribuiu para o silêncio que envolveu a trajetória da obra. Para Eduardo de Assis Duarte, a autora foi “pressionada, como todo afrodescendente que ocupa o espaço público e rompe os muros da cidade letrada, a adotar a ‘compostura’ que o crítico Alfredo Bosi vê em certas atitudes de Machado de Assis”. No prefácio, Firmina apresenta seu “mesquinho e humilde livro” e se declara uma “mulher brasileira” de “educação acanhada”, como a pedir desculpas aos homens letrados pelo atrevimento de publicar seu romance. Eduardo lembra ainda “que uma espessa cortina de silêncio envolveu a autora ao longo de mais de um século”. Mas, apesar do silêncio em torno de sua obra, Firmina teve grande atuação na imprensa local, publicando poemas e contos, além de enigmas e charadas. Úrsula obteve também significativa repercussão por parte da crítica literária maranhense. É importante ressaltar aqui a forte relevância da imprensa local à época. Segundo Ricardo Martins, em Breve panorama histórico da imprensa literária no Maranhão oitocentista, “um fator muito decisivo para a consolidação da atividade letrada no Maranhão foi o jornalismo literário e político que surgiu, sobretudo em São Luís, decorrente da intensa atividade tipográfica que ali se instalou em começos do século XIX (…). Os periódicos maranhenses, que vão desempenhar um papel importante no desenvolvimento político e cultural da província, serão representados por jornais e revistas de conteúdo partidário ou literário”. Esses periódicos nos dão testemunho também do aumento da presença feminina no debate maranhense, desfazendo a ideia de que somente homens atuaram na consolidação da cultura letrada no período. A partir da segunda metade do século XIX, o número de mulheres com acesso à educação formal cresceu consideravelmente no país, e refletiu na circulação de jornais não apenas voltados ao público feminino, mas organizados, editados e escritos por mulheres. Vale destacar que, como lembra Ana Flávia Magalhães Pinto em Imprensa negra no Brasil do século XIX, além dos periódicos organizados por mulheres, “ao longo do século XIX, indivíduos e grupos negros letrados criaram espaços na imprensa para tratar dos assuntos que consideravam importantes e expor suas ideias sobre os rumos do país”. Com a Independência, o Maranhão passou a padecer de problemas semelhantes aos das demais províncias, com muitos tributos e pouco retorno da corte carioca. Além disso, a província atravessava um momento de crise, uma vez que o algodão sofria forte concorrência no mercado internacional. Assim, trabalhadores livres, camponeses, vaqueiros, escravizados e profissionais liberais se uniram em uma revolta popular contra os grandes proprietários locais. A revolta, batizada de Balaiada, teve início em 1838. Mas o Império não caiu, e a insurreição foi contida em 1841, deixando um saldo de 12 mil sertanejos e escravizados mortos nos combates. A experiência de terror vivida na província criou em São Luís esforços coletivos que geraram resultados posteriores. Entre 1830 e 1870, o destaque alcançado por intelectuais maranhenses no cenário nacional foi tão grande, que fez com que a província conquistasse a alcunha de


“Atenas brasileira”. Apesar do grande reconhecimento local, Maria Firmina dos Reis nunca recebeu as mesmas honrarias que seus conterrâneos homens. Embora alguns críticos maranhenses fossem exageradamente condescendentes com a presença de mulheres no meio literário, descambando em alguns casos para críticas extremamente paternalistas, vale destacar aqui o texto publicado no Jornal do Comércio, em 4 de agosto de 1860, uma vez que este faz uma leitura mais nuançada do romance de Firmina: “OBRA NOVA – com o título ÚRSULA publicou a Sra. Maria Firmina dos Reis um romance nitidamente impresso que se acha à venda na tipografia Progresso. Convidamos aos nossos leitores a apreciarem essa obra original maranhense, que, conquanto não seja perfeita, revela muito talento da autora, e mostra que se não lhe faltar animação poderá produzir trabalhos de maior mérito. O estilo fácil e agradável, a sustentação do enredo e o desfecho natural e impressionador põem patentes neste belo ensaio dotes que devem ser cuidadosamente cultivados. É pena que o acanhamento mui desculpável da novela escrita não desse todo o desenvolvimento a algumas cenas tocantes, como as da escravidão, que tanto pecam pelo modo abreviado com que são escritas. A não desanimar a autora na carreira que tão brilhantemente ensaiou, poderá para o futuro, dar-nos belos volumes”. Mais à frente, trabalharei melhor a questão da escravidão e do discurso abolicionista na obra de Maria Firmina, mas já adianto que me oponho a visão presente na crítica do Jornal do Comércio destacada acima. Dois anos depois da publicação de Úrsula, Firmina participou da antologia poética Parnaso maranhense, ao lado de outros autores locais, entre eles seu primo por parte de mãe, o renomado intelectual Francisco Sotero dos Reis. A autora colaborou também com poemas em diversos jornais locais, entre eles O jardim dos maranhenses, em que também publicou, em 1861, o conto indianista Gupeva, dividido em cinco capítulos e classificado por ela como “romance brasiliense”. O conto foi republicado em 1863 no jornal Porto Livre e em 1865 no jornal Eco da juventude. Em sua 1ª edição, Gupeva foi assim apresentado pelo jornal: “Existe em nosso poder, com destino a ser publicado no nosso jornal um belíssimo e interessante ROMANCE, primoroso trabalho da nossa distinta comprovinciana, a Exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis, professora pública da Vila de Guimarães; cuja publicidade tencionamos dar princípio do nº 25 em diante. Garantimos ao público a beleza da obra e pedimos-lhes a sua benévola atenção. A pena da Exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis já é entre nós conhecida; e convém muito aclamá-la a não desistir da empresa encetada. Esperamos, pois, a vista das razões expedidas, que nossas súplicas sejam atendidas, afiançando que continuaremos no nosso propósito: sempre defendendo o belo e amável sexo – quando injustamente for agredido”. Embora se tratasse de um conto e não de um romance, a forma como Gupeva foi previamente anunciado na publicação traz indícios da grande importância conquistada pela autora em tão pouco tempo – fazia apenas dois anos que Firmina havia publicado Úrsula, sob o pseudônimo “uma maranhense”. Foi também em 1861 que o jornal A imprensa elogiou os poemas de Firmina presentes em Parnaso maranhense: “Os versos de Maria Firmina dos Reis indicam uma imaginação cheia de vivacidade da parte da autora; muita leitura e gosto, e do doce perfume dos sentimentos saídos do coração sem ensaio nem afetação. De há muito que todos conhecem os talentos e habilidade da autora de Úrsula, assim não causaram estranheza as poesias que mandou para o Parnaso”.


Seguindo no serviço público enquanto colaborava com a imprensa local, em 1871 a autora publicou o volume de poemas Cantos à beira-mar. Em 1880, aos 55 anos, foi aprovada em primeiro lugar em concurso que lhe valeu o título de mestra régia. No mesmo ano, fundou a primeira escola gratuita e mista do Maranhão – e uma das primeiras do país –, sendo fortemente criticada pela ousadia de reunir crianças dos dois sexos em um mesmo ambiente. Ainda hoje, a atitude de Firmina talvez soe demasiado subversiva para alguns, uma vez que em julho deste ano o jornal carioca O Globo publicou uma matéria sobre uma escola na Barra da Tijuca que separa meninos e meninas. O argumento? “Meninas, em termos afetivos, amadurecem muito antes dos meninos, o que inclui as áreas do cérebro responsáveis pela leitura e pela escrita. Já o cérebro masculino nesta fase (por volta dos seis anos) está pronto para a questão da ciência, mas não da escrita”. Em 1881, após 34 anos de dedicação, Firmina aposentou-se, mas continuou suas atividades em Maçaricó, ensinando crianças pobres das fazendas da redondeza – muitas delas praticamente adotadas como filhos de criação. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, Firmina publicou o conto A escrava, na Revista maranhense, centrando a narrativa no drama da personagem Joana, uma mulher negra e escravizada que narra seus infortúnios, entre eles a perda da razão ao ver seus filhos serem vendidos como mercadoria. Em 1888, logo após a Abolição, Firmina compôs a letra e a música do Hino da libertação dos escravos. Além disso, deixou um diário com registros esparsos, publicado postumamente. A autora também atuou como folclorista na recolha e na preservação de textos da literatura oral. Pobre e cega, Maria Firmina dos Reis faleceu em 1917, na cidade de Guimarães, aos 92 anos, em companhia de seu filho adotivo Leude Guimarães. Mais tarde, Leude se mudou para São Luís e teve seus aposentos assaltados, perdendo boa parte da documentação pessoal da escritora. Em 1962, o pesquisador e bibliófilo Horácio de Almeida encontrou por acaso o romance Úrsula, em meio a um lote de livros usados comprados por ele em um sebo do Rio de Janeiro. Após longa pesquisa, Horácio obteve a identificação da autora, graças ao Dicionário de pseudônimos regionais. Assim, tornou-se detentor do único exemplar da primeira edição da obra de que se tem notícia. Em 1975, finalmente saiu a edição fac-similar de Úrsula, prefaciada por Horácio. No mesmo ano, o historiador José Nascimento Morais Filho organizou a publicação de Maria Firmina, fragmentos de uma vida. A biografia reunia também parte de sua produção (poesias, contos e composições musicais), além de depoimentos dos filhos de criação e de ex-alunos da escritora. Começou-se, dessa forma, a romper o silêncio que impediu a circulação e leitura de Úrsula e demais obras de Firmina. Em 1988, a pesquisadora Luiza Lobo lançou a 3ª edição da obra. Em 2004, a Editoras Mulheres e a Editora PUC Minas publicaram a 4ª edição de Úrsula, acrescida do conto A escrava, com atualização do texto após cotejo com o original e posfácio de Eduardo de Assis Duarte, e reeditaram a obra em 2009, quando se completavam os 150 anos de publicação. Neste ano, que marca o centenário da morte da escritora, a Editora PUC Minas lança a 6ª edição da obra. Eduardo de Assis Duarte escreveu um novo posfácio, atualizando o texto de 2004 e trazendo-o para discussões contemporâneas em torno da “razão negra”, conceito trabalhado pelo filósofo Achille Mbembe, e da “interseccionalidade entre gênero e etnia”. “Preparei também uma nova cronologia, bem mais ampla do que a de 2004, situando Firmina no contexto ocidental de emergência das slaves narratives de fins do século XVIII a meados do século XIX, quando se desenvolvem as campanhas abolicionistas no Ocidente. E a pesquisa me revelou um fato importantíssimo: Firmina é a primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa!” (grifo do próprio Eduardo, em conversa com o Pernambuco). MÁSCARA BRANCA É preciso pensarmos também nos motivos que levam Firmina a ser representada como uma mulher branca nas homenagens que vem recebendo nos últimos anos. Segundo Nascimento Morais Filho, “nenhum retrato deixou Maria Firmina dos Reis. Mas estão acordes os traços desse retrato falado dos que a conheceram ao andar pela casa dos 85 anos: rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros; nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos,


meã (1,58 m, pouco mais ou menos), morena”. Como bem sabemos, o termo morena é um dos muitos eufemismos empregados historicamente para designar pessoas afrodescendentes. Se, no clássico Pele negra, máscaras brancas, Frantz Fanon falava sobre a violência do projeto colonial que agia na subjetividade dos negros, fazendo-os muitas vezes acreditarem em uma suposta inferioridade e buscarem “máscaras brancas”, o que vemos nesse caso é uma imposição literal de mascaramento em uma autora que não aceitou ser subjugada pelo projeto colonial e produziu uma obra de enfrentamento a ele. Segundo Rafael Balseiro Zin, um generoso interlocutor para a construção deste texto e autor de uma dissertação de mestrado sobre a autora (Maria Firmina dos Reis: a trajetória intelectual de uma escritora afrodescendente no Brasil oitocentista), o caso mais emblemático e recorrente é o uso da ilustração do busto da escritora gaúcha Maria Benedita Bormann, que assinava seus textos com o pseudônimo Délia. Branca e neta de um alemão, Maria Benedita, até onde se pode supor, era bastante diferente de Maria Firmina. “O problema é que essa imagem, inadvertidamente, se espraiou pelas redes sociais e em demais ambientes e acabou ganhando a confiança do público, fazendo com que a reparação do equívoco seja um tanto difícil de ser realizada. A origem do mal-entendido não é certa. Mas esse fenômeno se evidencia, inclusive, em outra representação recente, que é o quadro contendo a pintura do que se imaginou ser o rosto de Maria Firmina dos Reis. Afixado na galeria da Câmara Municipal de Guimarães (...), o quadro, no entanto, foi nitidamente baseado no retrato da escritora gaúcha e, nele, como agravante, a representação da suposta Firmina aparece com o tom de pele ainda mais embranquecido.” – escreve Rafael em seu artigo A dissonante representação pictórica de escritoras negras no Brasil: o caso de Maria Firmina dos Reis. ÚRSULA A narrativa de Úrsula se constrói a partir de um triângulo amoroso formado pela jovem Úrsula, seu amado Tancredo e por seu tio, o comendador Fernando P., apresentado como uma figura extremamente sádica. Além de assassinar o pai e abandonar a mãe da protagonista por anos entrevada em uma cama, Fernando é um perfeito representante do senhor cruel que explora a mão de obra escravizada até o limite de suas forças. Como uma autêntica romancista de sua época, Firmina inicia a obra fazendo odes à paisagem local. “São vastos e belos os nossos campos; porque inundados pelas torrentes do inverno semelham o oceano em bonançosa calma — branco lençol de espuma, que não ergue marulhadas ondas, nem brame irado, ameaçando insano quebrar os limites, que lhe marcou a onipotente mão do rei da criação.” No entanto, “em uma risonha manhã de agosto” em que “as flores eram mais belas, em que a vida era mais sedutora”, um jovem se acidenta ao cair do cavalo. Logo em seguida, outro jovem desponta ao longe na paisagem: trata-se de Túlio, o único cativo da decadente propriedade da mãe de Úrsula, e que acaba por salvar a vida de Tancredo. “ – Que ventura! – então disse ele, erguendo as mãos ao céu – que ventura podê-lo salvar! (...) O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar vinte e cinco anos, e que na franca expressão de sua fisionomia deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem-formado. O sangue africano refervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam resfriar, embalde – dissemos – se revoltava; porque se lhe erguia como barreira – o poder do forte contra o fraco. Ele entanto resignava-se; e se uma lágrima desesperação lhe arrancava, escondia-a no fundo de sua miséria.” Se na obra a escravidão é tida como “odiosa”, nem por isso ela endurece a sensibilidade do jovem negro: “E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como a sua alma. Era infeliz, mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena que se lhe ofereceu à vista (a de Tancredo desmaiado)”. É possível apontar aqui uma estratégia autoral de denúncia e combate ao regime escravocrata sem, no entanto, agredir em demasia as convicções dos leitores da época. Ao menos nesse primeiro momento, Túlio pode ser entendido como uma vítima. Ao contrário dos escravizados rebeldes e degenerados presentes em obras do mesmo período, já que seu comportamento é pautado por valores cristãos. No entanto,


tampouco se tratava de condenar a escravidão unicamente porque um escravo específico possuía caráter elevado, mas de condená-la enquanto instituição. Em um contexto em que a própria Igreja Católica respaldava o sistema escravista, essa condenação é operada partindo do discurso religioso que afirmava serem todos irmãos. Ao abrigar o ferido na casa de sua senhora, Túlio propicia o encontro entre Tancredo e Úrsula, e tem início a paixão que os leva a um breve momento de felicidade. Mais uma vez, sobressaem o zelo e a dignidade de Túlio, que, como agradecimento, termina ganhando a alforria, como um sinal de gratidão do homem branco. Um forte elo de amizade passa a uni-los e o negro torna-se companhia inseparável de Tancredo. Túlio é a figura do sujeito compassivo, que respeita a senhora por não tê-lo maltratado e se julga em dívida com aquele que o libertou. Mais à frente, a nova condição de liberto de Túlio é questionada pela preta Susana, comparando a “liberdade” do alforriado à vida que ela levava em sua terra. É essencial perceber que, embora o plano principal das ações seja supostamente centrado na história das três personagens brancas do triângulo amoroso, o texto cresce expressivamente na medida em que emergem os dramas e as histórias das personagens negras. Com isso, Firmina confere um espaço privilegiado a elas, para que assumam a narração de suas próprias histórias, provocando um efeito disruptivo na estrutura do romance e trazendo uma multivocalidade bastante inovadora para época. Desse modo, a obra proporciona ao leitor a experiência de adentrar na temática abolicionista pela perspectiva dos próprios escravizados, realizando uma potente inversão dos valores dominantes da sociedade escravista. Exatamente por isso é possível afirmar que, mais do que obra de interesse sociológico e historiográfico, Úrsula é um romance que oferece inúmeras possibilidades para acuradas análises de críticos e críticas da literatura. Preta Susana era “uma mulher escrava, e negra” como Túlio, uma mulher boa e compassiva “que lhe serviu de mãe enquanto lhe sorriu” a “idade lisonjeira e feliz”. E Túlio estava diante de Susana “com os braços cruzados sobre o peito. Em seu semblante transparecia um quê de dor malreprimida”. É então que se inicia um impactante diálogo entre ambos, possivelmente o melhor e mais marcante momento do romance. Túlio lhe anuncia que graças à generosa alma do mancebo Tancredo, tornou-se um homem livre, “livre como o pássaro, como as águas; livre como o éreis na vossa pátria”. As últimas palavras do jovem despertam no coração da velha uma recordação extremamente dolorosa. Ela solta um gemido magoado e curva a fronte para a terra, cobrindo os olhos com ambas as mãos enquanto chora. “A africana limpou o rosto com as mãos, e um momento depois exclamou: – Sim, para que estas lágrimas? (...) Elas são inúteis, meu Deus; mas é um tributo de saudade, que não posso deixar de render a tudo quanto me foi caro! Liberdade! Liberdade... Ali eu a gozei na minha mocidade! – continuou Susana com amargura. – Túlio, meu filho, ninguém a gozou mais ampla, não houve mulher alguma mais ditosa do que eu (...) Tudo me obrigaram os bárbaros a deixar! Oh, tudo, tudo até a própria liberdade!”

Além de reforçar a própria condição afrodescendente do texto, a entrada em cena da “velha africana” confere maior densidade ao sentido político da obra. Seu território de origem é mencionado sem subterfúgios, sobressaindo a condição diaspórica vivida pelas personagens arrancadas de suas terras e famílias para cumprir no exílio a prisão representada pela escravidão. É preta Susana quem vai explicar a Túlio o sentido da verdadeira liberdade, que não seria nunca a de um alforriado em um país racista e


escravocrata. Ela recorda sua terra natal, a infância, o amor de seu homem e a vida feliz que levavam junto à filha, até o dia em que foi capturada pelos “bárbaros” mercadores de seres humanos. Essa voz periférica traz para a literatura brasileira um discurso demarcado pelo traço ancestral, fortemente recalcado pela ideia do paraíso racial brasileiro. Ao apontar os colonizadores como bárbaros, Susana subverte o discurso hegemônico e macula a imagem da Europa e de seu processo civilizador. Bárbaros! Úrsula traz ainda uma outra figura de escravizado: o que perde a autoestima e se entrega ao vício. Surge a figura decrépita de Pai Antero, sujeito de bom coração, mas dominado pelo alcoolismo. Saudoso dos costumes de seu país, Antero cumpre uma espécie de contraponto dramático ao caráter elevado de Túlio e expõe uma outra faceta da crueldade do projeto colonial – crueldade tão bem trabalhada na obra de Frantz Fanon. É justamente ao estabelecer essa diferença discursiva que contrasta em profundidade com o abolicionismo hegemônico da literatura brasileira de seu tempo, que tratava em geral a escravidão como uma “ideia fora do lugar” no projeto da modernidade, que Maria Firmina dos Reis constrói um outro lugar para si: o da literatura afro-brasileira. Nesse sentido, a autoria não se associa apenas à condição racial da autora, mas ao seu posicionamento político no interior da obra. É importante frisar que a política em uma análise estética não deve ser procurada em seu conteúdo óbvio, e tampouco se configura em um mecanismo de instrução de como olhar o mundo e transformá-lo. A literatura (e outras manifestações artísticas) não deve ser tomada como uma espécie de guia para a ação política, e nem como instrumento de conscientização coletiva, mas, como ensina Rancière, deve ser tomada como um desenho de novas configurações do visível, do dizível e do pensável e, por isso mesmo, uma paisagem nova do possível. A obra de Maria Firmina dos Reis é política por sua alta capacidade de devolver o dissenso e a ruptura, mesmo dentro do debate abolicionista. Assim, Firmina é uma autora profundamente política pelo que opera dentro do próprio dispositivo, e não por seus usos – mesmo que seja fácil perceber na autora um forte desejo de transformação do mundo. Análises que consideram a literatura apenas como gatilho para que se encontre a política em outro lugar desconsideram elementos estéticos e discursivos próprios da linguagem. Firmina reconfigura marcos e opera novos rearranjos no modo como os corpos negros presentes aparecem e indicam possibilidades de subversões e reinvenções dos modelos opressores aos quais estão submetidos. Através de um reagenciamento dos signos, a autora rompe com a ordem natural que destina aos indivíduos negros à subserviência, imputando-lhes maneiras de ser, ver ou dizer. VOZES-MULHERES Durante o processo de escrita deste texto, pensei inúmeras vezes em Conceição Evaristo e em seu belíssimo poema Vozes-mulheres. Quem acompanha o trabalho de Conceição e conhece suas “escrevivências”, sabe que em sua obra quase nada é “verdade”, embora quase nada seja “mentira”. Nas escrevivências de Evaristo, existe uma memória histórica que pulsa, vinga e se vinga. Aqui o verbo vingar tem mesmo um duplo sentido, já que no uso corriqueiro o termo ganha também sentido de “realização” ou “sucesso”. No poema, Conceição tece uma cronologia das mulheres de sua família, começando por sua bisavó, cuja voz ecoou “nos porões do navio”. Penso então na preta Susana e em seu relato do cativeiro, que reproduzo mais abaixo. Conceição atravessa também as experiências de sua avó e de sua mãe, até chegar a si própria, reconhecendo que a sua voz “ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome”. Seu poema também nos conta que a voz de sua filha “recolhe todas as nossas vozes (das ancestrais), recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas”. A voz de sua filha “recolhe em si a fala e o ato”. Se as teóricas feministas têm insistido em escritas feministas do corpo, atravessadas por uma perspectiva parcial capaz de oferecer uma nova visão objetiva, com saberes parciais, localizáveis e críticos, apoiados em redes de conexão – como teoriza Donna Haraway –, sou levado a pensar na corporalidade do poema de Conceição Evaristo, prenhe de subjetividades, dores, intencionalidades e até mesmo contaminado por fluídos corporais. Lamentos, obediência, revolta, perplexidade, sangue, fome, vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A fala e o ato.


Se Susana é como a bisavó do poema de Conceição Evaristo, quantas personagens não surgem hoje na literatura brasileira que são como sua filha? Poderíamos até mesmo pensar nas autoras que conquistaram maior espaço nos últimos anos com uma escrita que parte de um “corpo-mulher-negra em vivência”. Mas, concentrando-me aqui apenas nas personagens criadas por elas, diria que a própria Conceição construiu importantes delas em seu Insubmissas lágrimas de mulheres. Em comum, essas personagens recolhem em si a fala e o ato. Exatamente por isso, não há como não ouvir o eco das vozes-mulheres que vieram antes de todas elas. Para que nunca nos esqueçamos quão perversas foram as estruturas do edifício colonial e os horrores imputados pela escravidão, cujo rio caudoloso de sangue (herança dos bárbaros colonizadores) segue contaminando cada um de nós, termino este texto com a voz de preta Susana – que ecoa também da voz de cada uma das mulheres que tiveram seus filhos assassinados pelo Estado brasileiro, pois é verdade que todo camburão tem algo de navio negreiro. Que essa voz não se transforme em peso ou paralisia, mas que possa gerar falas que a recolham em si e produzam atos transformadores. Com a palavra e, portanto, com o corpo, Susana: Vou contar-te o meu cativeiro. Tinha chegado o tempo da colheita, e o milho e o inhame e o amendoim eram em abundância nas nossas roças. Era um destes dias em que a natureza parece entregar-se toda a brandos folgares, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha sorria-se para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim! Deixei-a nos braços de minha mãe, e fui-me à roça colher milho. Ah, nunca mais devia eu vê-la. Ainda não tinha vencido cem braças do caminho, quando um assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar acerca do perigo eminente que aí me aguardava. E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira — era uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e olhavam- me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi possível... A sorte me reservava ainda longos combates. Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava — pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade! Meu Deus, o que se passou no fundo da minha alma, só vós o pudestes avaliar! Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura, até que abordamos às praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé, e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa: davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca; vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim, e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos! Muitos não deixavam chegar esse último extremo — davam-se a morte. Nos dois últimos dias não houve mais alimento. Os mais insofridos entraram a vozear. Grande Deus! Da escotilha lançaram sobre nós água e breu fervendo, que escaldou-nos e veio dar a morte aos cabeças do motim. A dor da perda da pátria, dos entes caros, da liberdade fora sufocada nessa viagem pelo horror constante de tamanhas atrocidades. Não sei ainda como resisti — é que Deus quis poupar-me para provar a paciência de sua serva com novos tormentos que aqui me aguardavam. (...) a dor que tenho no coração, só a morte poderá apagar! Meu marido, minha filha, minha terra. Minha liberdade.


MARIA FIRMINA DOS REIS: consolidando a ressignificação de uma precursora DILERCY ARAGÃO ADLER Presidente da Academia Ludovicense de Letras -ALL Casa de Maria Firmina dos Reis Comemora-se este ano de 2017 o centenário de falecimento de uma grande escritora maranhense que teve inspiração para escrever o primeiro romance abolicionista, não simplesmente por acaso, mas também,acredito eu, por ter vivido as agruras de um tempo opressor para a mulher, para o negro e para a mulher negra. Em seu livro Maria Firmina: Fragmentos de uma vida, Morais Filho (1975, p. 259) se refere aos traços físicos de Maria Firmina dos Reis, mencionando: [..]Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros, nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos), morena.Aimagem que melhor representa Maria Firmina dos Reis é o busto esculpido, em sua homenagem, por Flory Gama, construído à base de informações prestadas por vimarenses. Constato com pesar que, comumente, a imagem da Escritora Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida pelo pseudônimo de Délia,é veiculada erroneamente como sendo de Maria Firmina dos Reis. Maria Benedita é, de fato, uma cronista, romancista, contista e jornalista. Este é um dos maiores cuidados da ALL hoje: desfazer este inaceitável equívoco.

Maria Firmina dos Reis

Maria Benedita Câmara Bormann (Délia)

No tocante ao nascimento e origem de Maria Firmina dos Reis, nas várias fontes pesquisadas anteriormente, coletei e inclusive assinalei no elogio que fiz a ela, em 2014, por ocupar a sua Cadeirana ALL, a de nº 08, que Maria Firmina dos Reis nasceu no dia 11 de outubro de1825, em São Luís, Maranhão. Seu pai, João Pedro Esteves, era negro, e sua mãe, Leonor Felipe dos Reis, branca, de origem portuguesa (ADLER, 2014, p. 8),dados que passo a refutar, a partir de coletas recentes, em fontes primárias, no Arquivo Público do Estado do Maranhão - APEM. Recentemente encontrei-me com a Profa. Mundinha Araújo, Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Maranhão, escritora, pesquisadora e militante do Movimento Negro, entre outros trabalhos de destaque. Na ocasião me mostrou anotações, conforme documentos coletados na APEM,nos quais consta que a mãe de Maria Firmina não era branca. Fiquei surpresa ainda, a data de nascimento da escritoradifere daquela registrada em vários trabalhos, inclusive nos meus. Ao coletar mais dados entre os documentos pesquisados selecionei os seguintes: Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847 (Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 Documento-autos nº 4.171); Certidão de Justificação de Batismo (Fundo Arquidiocese - Certidão de Justificação de Maria Firmina dos Reis - Livro 298 – fl. 44v), Livro de Baptismo (Fundo Arquidiocese


Batismo de Maria Firmina dos Reis, Livro 116- fl. 182) e Portaria de Nomeação (Fundo Secretaria do Governo, Série: Portarias de Nomeação, Licença e Demissões: (1839-1914), Livro 1.561 (1.844-1.851- fls. 55 e 55V), no qual constava a da professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimarães, Maria Firmina dos Reis. O primeiro documento, AUTOS DE JUSTIFICAÇÃO DO DIA DE NASCIMENTODE MARIA FIRMINA DOS REIS, datado de 25 de junho de 1847, Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 -Documento-autos nº 4.171, ano 1847 (12 fls. Frente e Verso) e assim inicia: Diz Maria Firmina dos Reis, filha natural de Leonor Filippa dos Reis, que ela quer justificar por este Juiso que nasceo no dia 11 de Março do anno de 1822, e que só teve lugar o seu baptismo no dia 21 de Desembro de 1825 (grifo meu). O processo inclui vários documentos. A petição de Justificação do dia de nascimento foi deferida no dia 14 de julho de 1847, sendo aceita então a data de nascimento requerida,a de 11 de março de 1822 (grifo meu). A solicitação se reporta ao livro de Baptismo de nº 116 que traz na Folha 182: Aos vinte e hum de dezembro de 1825 nesta freguezia de Nossa Senhora da Victória Igreja Cathedral da cidade do Maranhão baptizei e pus os santos oleos a Maria filha natural, de Leonor Felippa molata forra que foi escrava do Comendador Caetano Je. Teixei.ª forão Padrinhos o Tenente de Milícias João Nogueira de Souza e Nossa S enhora dos Remédios do que se fez este assento que assignei. A Certidão de Batismo de Maria Firmina coloca em evidência a condição social da sua mãe como mulata forra, tendo esta sido escrava do Comendador Caetano José Teixeira, um dos maiores negociantes do Maranhão na passagem do século XVIII ao XIX. (Diário da Câmara dos Deputados a Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia do Império, 1826 – 1829. p. 901). A respeito da sua nomeação, conforme o que consta no Arquivo Público do Estado do Maranhão. Fundo Secretaria do Governo. Série Portarias de nomeações, licenças, demissões (1832 - 1914) Livro 1.561 (1844-1851) fl. 55-55v, Despacho 13 de agosto de 1847 está registrado: Nomeação para professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimaraes Maria Firmina dos Reis O Doutor Joaquim Franco de Sá Oficial da Imperial Ordem da Rosa, Cavalheiro da de Christo, juiz de Direito da Câmara de Alcântara, deputado á Assembleia Geral Legislativa, e Presidente da Provincia do Maranhão por sua Majestade O Imperador a Quem Deus Guarde.Faço saber aos que este Alvará virem, que atendendo a que Maria Firmina dos Reis opositora á cadeira de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimaraes, se acha competentemente habilitada na forma da Lei de quinze de outubro de mil oitocentos e vinte e sete, tem por bem, em conformidade das leis em vigor provêla na serventia vitalícia da mencionada cadeira, que se acha vaga, havendo o ordenado annual que legalmente lhe competir. [...] Dado nesta cidade de “São” Luiz do Maranhão em dezesseis de agosto de mil oitocentos e quarenta e sete, vigésimo sexto da Independência e do Imperio. Além de ser professora, aos 22 anos (ou 25) publicou o primeiro romance, e, ao mesmo tempo que se tornou a primeira romancista, foi também a única do século XIX. O conjunto da sua obra é de notável reconhecimento e bastante significativa, tanto em quantidade quanto em variedade de gêneros literários e vertentes das artes: romances, crônicas, contos, poesias, composições (letra e música), enigmas, epígrafes, folclores, entre outras.


Apesar de Maria Firmina ter sido recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo, posteriormente foitotalmente esquecida, mas conforme assegura Morais Filho, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas(Morais Filho apud Adler, 2014, p.12). Em 1975 teve início uma nova fase na historiografia de Maria Firmina dos Reis, o marco que eu gostaria de intitular de o seu “ano Rosa de Jericó”. Essa rosa é também chamada de flor-da-ressurreição por sua impressionante capacidade de "voltar à vida". As RosasdeJericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo e, ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar! Vejo muitasemelhança entre Maria Firmina e a Rosa de Jericó. (http://www.icarabe.org/artigos/a-palestina-e-a-rosa-de-jerico). Assim, Morais Filho, como um Sankofa, pássaro africano de duas cabeças, uma cabeça voltada para o passado e outra para o futuro, que, segundo a filosofia africana, significa a volta ao passado para ressignificar o presente, dedicou-se, incansavelmente, para dar novo significado à Maria Firmina dos Reis como mulher, professora e como escritora, dando a ela olugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira. Em 1975, ano do sesquicentenário de Maria Firmina, em São Luís, foi publicada a edição facsimilar do seu romance Úrsula;inaugurado o busto da escritora na Praça do Panteon, em São Luís; foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; na Assembleia Legislativa do Estado foi instituído o dia 11 de outubro, como Dia da Mulher Maranhense.Também foi criada em sua homenagem a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís. Neste ano de 2017,foi inaugurada, pelo Governo do estado do Maranhão e Prefeitura de São Luís, uma praça com o seu nome e ela está como Patrona da Feira do Livro de São Luís- FeliS, deste ano, em sua 11ª edição, de 10 a 19 de novembro. Em Guimarães, também o ano de 1975foi o marco do início de maiores homenagens a ela dedicada.Alémdo desfile em sua homenagem naquele ano, o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, desde o ano de 2007,passou a promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis.Também o dia do seu aniversário foi instituído feriado Municipal e comemorado o Dia da MulherVimarense. A Academia Ludovicense de Letras-ALLdesde 2013, ano de sua fundação,incorporou-se a esse projeto colocando-a como Patrona da Academia, tendo consciência também de quehá muito ainda por fazer e para conhecer Maria Firmina dos Reis, fortalecendo esse trabalho que denomino de Missão de amor. Em2015, em comemoração ao seu aniversário de 190 anos, foram organizadas, por mim e por Leopoldo Gil Dulcio Vaz duas antologias em sua homenagem a Maria Firmina: Cento e Noventa Poemas para Maria Firmina dos Reis e Sobre Maria Firmina dos Reis. A ALL busca ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais, objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, também levando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014. ADLER, Dilercy Aragão e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores). CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015. Arquivo Público do Estado do Maranhão. Fundo: Arquidiocese do Maranhão – Autos da Câmara Eclesiástica/Episcopal. Série 26:Autos de Justificação de Nascimento. Caixa Nº 114 - Documentos/Autos Nº. 4.171 (1847). ______ Fundo Arquidiocese do Maranhão. Autos de Justificação de Batismo - Certidão de Justificação de Maria Firmina dos Reis - Livro 298 – fl. 44v, ______Arquivo Público do Estado do Maranhão. Fundo Secretaria do Governo. Série Portarias de nomeações, licenças, demissões (1832 – 1914) Livro 1561 (1844-1851) fl. 55-55v. Diário da Câmara dos Deputados a Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia do Império, 1826 – 1829. Disponível em:www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/102/mariafirminacritica02.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcioe ADLER, Dilercy Aragão (Organizadores). SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015.


Maria Firmina dos Reis, uma mulher que estava a frente de sua época. Foi a primeira mulher negra no Brasil a passar em um concurso público em primeiro lugar. Foi a primeira diretora de uma escola a colocar meninas e meninos em uma sala de aula. Foi perseguida por um policial. E quer saber mais sobre esta escritora maranhense? Vá à Feira do Livro e saiba mais sobre a patrona desbravadora da educação mista no Maranhão.


O IMPARCIAL, 11 DE OUTUBRO DE 2017


O ESTADO MA – CADERNO ALTERNATIVO 11/10/2017


SOLENIDADE DE COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE MARIA FIRMINA DOS REIS 11 de outubro de 2017 Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche – Centro Histórico de São Luís, Beco Catarina Mina Rua Djalma Dutra - Centro, 128. São Luís/ Maranhão

PROGRAMAÇÃO 18h ABERTURA: Composição da mesa Hino Nacional e de São Luís 18:15 MARIA FIRMINA DOS REIS: consolidando a ressignificação de uma PRECURSORA: Dilercy Aragão Adler DECLARAÇÃO PÚBLICA DA MUDANÇA (MÊS E ANO) DA DATA DA COMEMORAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE MFR PARA 11 DE MARÇO DE 1822. 18:50 PROCLAMAÇÃO DOS ELEITOS: 1 - Américo Azevedo Neto, Cadeira de nº 29, patroneada por Maria de Lourdes Argollo Oliver, Dilú Melo 2 - Bruno Tomé Fonseca, Cadeira de nº 28, patroneada por Astolfo Serra 19 h CAFÉ LITERÁRIO: Sarau Maria Firmina dos Reis – UI MARIA FIRMINA DOS REIS ALUNOS EJA- II ETAPA: Francisco das Chagas Gildete Viana Gleyson Ferreira Jessé Guimarães Jéssica Oliveira José Bento Barros Leonete Ferreira Sidilene Oliveira Thaís de Lelis Thiago Matos PERFORMANCE POÉTICO- MUSICAL: HINO À LIBERDTAÇÃO DOS ESCRAVOS: Deivson Diniz, Diane da Silva, Flor de Maria, Geise Martins, Andressa Oliveira. EQUIPE DOCENTE RESPONSÁVEL: GESTORA ADJUNTA: Professora Marijane Santos SUPERVISORA: Professora Suzanne Carvalho do Nascimento Moraes PROFESSORA: Alice Vasconcelos Melo PROFESSORA: Diana Alves Prado PROFESSOR : Jorge Luís Cabral Mendes

20:15COQUETEL


A Academia Ludovicense de Letras – ALL tem a honra de convidar Vossa Senhoria e família para a comemoração do Aniversário de nascimento de Maria Firmina dos Reis, Patrona da Academia. Dia : 11 de outubro de 2017 Horário: 18h Local: Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche - Centro Histórico de São Luís, Beco Catarina Mina Endereço: Rua Djalma Dutra - Centro, 128. São Luís/ Maranhão. Obs: Uso do capelo, colar e bóton.




O ESTADO MA, 12 DE OUTUBRO DE 2017 – CADERNO ALTERNATIVO



Desvendando Maria Firmina dos Reis As várias edições do romance "Úrsula", publicado, originalmente, em São Luís do Maranhão, em 1859.




Maria Firmina: uma maranhense para se orgulhar A primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa é maranhense e, neste ano, completa 100 anos de falecimento Por: Samartony Martins Data de publicação: 10 de Novembro de 2017

A escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, patrona da 11ª edição da FeliS, foi a primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa, que neste ano completa 100 anos de falecimento, recebendo mais uma homenagem por conta de sua importância tanto na literatura, quanto no protagonismo feminino. A artista plástica Marlene Barros, a convite da 12ª Aldeia Sesc Guajajaras de Artes, realizou ontem, na Praça do Panteon, Centro de São Luís, uma intervenção artística que teve como inspiração a escritora que demonstrou sua afinidade com a escrita ao publicar Úrsula em 1859. O romance a consagrou como escritora e também foi o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afrodescendente. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, a escritora publicou também o livro A Escrava, reforçando sua postura antiescravista. Para homenagear esta mulher que tinha um pensamento considerado à frente do seu tempo, Marlene Barros reproduziu 14 réplicas em gesso com peso de 14 quilos e da cor dourada do busto feito pelo escultor maranhense Flory Gama. As réplicas da escultura original ficaram em exposição apenas por 24 horas. O público poderão apreciá-las novamente durante a FeliS, que começa hoje e vai até o próximo dia 19 de novembro no Centro Histórico de São Luís. “Eu fiz estas réplicas do rosto de Maria Firmina para mostrar quer o papel da mulher vai além dos seus afazeres domésticos e que a mulher tem um papel fundamental no desenvolvimento social e cultural de uma sociedade”, disse Marlene Barros. Em entrevista a O Imparcial, Marlene Barros ressaltou que Maria Firmina dos Reis é a única mulher representada no conjunto de 18 esculturas que homenageavam os grandes nomes da literatura maranhense na praça e que foram retirados 2005 por conta da ação de vândalos e encontram-se guardados desde 2007 no Museu Histórico e Artístico do Maranhão. A reportagem apurou que a proteção dos bustos é de responsabilidade da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Luís e que eles estão no MHAM através de contrato de comodato entre a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico e a Secretaria de Estado da Cultura. Para Marlene Barros, a escritora Maria Firmina foi uma grande mulher e merece esta homenagem. “Maria Firmina merece essa homenagem por conta de sua postura como mulher, como negra e como escritora, e também pelo fato de ser única mulher que figura no meio de tantos outros homens, escritores maranhenses que foram representados em esculturas. Esta também é uma forma de dizer a outras mulheres que existe espaço para elas e que precisamos ocupar esses espaços. A segunda razão, é porque, não deixa de ser um protesto pela volta dos bustos para a praça, onde é o verdadeiro local deles”, explicou a artista plástica. Para fazer as réplicas da escultura de Maria Fimina dos Reis, Marlene Barros solicitou autorização para fazer o molde em gesso da obra de arte que até hoje gera controvérsias por conta da forma que foi representada por Flory Gama, por conta dos traços finos como forma de “embranquecer” o rosto da escritora, que tinha origem negra. Mais sobre Maria Firmina


Aqui um registro de O Imparcial, do governador João Castelo inaugurando Maria Firmina dos Reis na Praça Deodoro, em 1976. A escritora nasceu na cidade de Guimarães –MA no dia 11 de outubro de 1825. Era filha bastarda e mestiça (branco com preto). Aos 22 anos, prestou concurso público para professora, onde passou a colaborar na imprensa local com poesias e contos. Fez da literatura um instrumento de denúncia da escravidão, mostrando o quanto sua existência era contraditória com a fé cristã professada pela sociedade. Em 1859 publicou Úrsula, primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, primeiro escrito por uma mulher no Brasil e também o primeiro da literatura afro-brasileira, entendida como produção de autoria afrodescendente, que tematiza a negritude a partir de uma perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do negro em nosso país. Celibatária e pobre adotou várias crianças e teve inúmeros afilhados. Morreu em 11 de novembro de 1917 aos 92 anos de idade, onde nasceu.


JORNAL PEQUENO – JP TURISMO – EDIÇÃO DE 24/11/2017




O IMPARCIAL 22/11/2017


Abertura da 11ª Feira do Livro de São Luís, no Centro Histórico. Na oportunidade, representei o prefeito Edivaldo Holanda Júnior ao lado de colegas e parceiros que contribuíram para a realização da maior festa literária do Estado. O evento é promovido pela Prefeitura de São Luís e Governo do Estado, com vasta programação gratuita para todas as idades. A FeliS acontece até o dia 19 de novembro, das 10h às 22h.


2017 Ano de JosuĂŠ montEllo


Em comemoração ao centenário de nascimento do grande escritor maranhense Josué Montello, a Universidade Estadual do Maranhão está promovendo, essa semana, uma série de palestras sobre o ilustre literato. O evento, que encerrará amanhã, é uma homenagem à vida e à obra daquele que é, certamente, o maior romancista da literatura maranhense do século XX. Na ocasião, terei a honra de, junto com escritora Arlete Nogueira da Cruz, fazer a palestra de encerramento da homenagem. A solenidade acontecerá no auditório central do prédio de Administração, por volta das 17h. Estão todos mais do que convidados.


ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!


CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE88

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras ALL EM REVISTA, vol. 4, n. 4, out-dez. 2017 Existe uma Capoeiragem (Tradicional) Maranhense/Ludovicense!!! A capoeira do Maranhão, genuína, singular, com uma prática quase bicentenária, tal qual nos outros locais onede surgiu, como o Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Temos indícios de sua prática em São Luis do Maranhão a partir da segunda década dos 1800, embora menções de que de há muito ocorriam, essas práticas da lúdica e do movimento dos negros aqui encontrados. Abrindo parensetes: uso o tormo “negros’, e não ao politicamente correto ‘afro-descendentes’, haja vista que para cá vieram não só africanos escravizados, mas também de outras províncias, traficados, a partir de algumas das revoltas e fugas em massa ocorridas no Brasil – e digo Brasil, pois por muito tempo tivemos dois estados coloniais – o Maranhão e o Brasil, até a chegada da família real, no 1808 e a anexação do Maranhão ao Império Brasileiro, em 1823... fecha o parênteses... Concordamos com Kafure (2012) 89, quando trata do processo de “desconstrução da capoeira maranhense”, de que no início tudo era uma coisa só: capoeira, batuque, punga, tambor de crioula, tambor de mina, bumba-meu-boi – e frevo, samba, cangapé, etc. alhures... por desconstrução, entenda-se que [...] o tipo de transformação [...da] capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Esse autor se propõe: [...] em nível do Maranhão analisar a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (KAFURE, 2012). Esse autor reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”, pois [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato. Outro estudioso, Greciano Merino (2015) 90, refere-se a uma característica, singular, de ‘maranhensidade91, que a mesma teria, em relação às capoeiras regional e angola. Em sua hipótese de pesquisa considera ser a capoeira um jogo popular de interação comunicativa e caráter cultural que veicula um modelo de cidadania e expressa esteticamente como as relações entre o indivíduo, seu grupo e a comunidade na que se inserem podem gestar conhecimento social e sabedoria individual. Ao apresentar suas hipóeteses, afirma que uma aproximação antropológica da visualidade na capoeira ‘maranhense’ permite delimitar aquelas dinâmicas sensitivas e sensoriais que, gestadas no devir das ecologias tecno-culturais, configuram um complexo imaginário social cuja fenomenologia é uma das mais influentes de nossa cultura. 88

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 89 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoesda-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 90 GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015. 91 BARROS. Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 2, n. 3, jan./jun. 2005


Esse autor caracteriza a capoeira maranhense como sendo aquela capoeira que se realiza na cidade de São Luis, capital do estado do Maranhão, em torno da comunidade representativa que se forma ao redor de Mestre Patinho – herdeiro de Sapo – e a metodologia de estudo desenvolvida por ele. Os Mestres Capoeira participantes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, organizado pela UFMA/DEF 2017, concordam com a existência de uma Capoeira genuinamente maranhense/ludovicense. E que esta se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Punga92. É o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes, jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau93. Esse jogo é executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo94. Portanto, concordam com a existência de uma Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense é diferente da Angola, Regional, e Contemporânea porque é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições da Angola, Regional e Contemporânea 95, pois é jogada é jogada em três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região 96. Cinco, dos seis grupos formados, responderam que existe uma Capoeira Maranhense. O Grupo 5 concorda com a existência de uma Capoeira Ludovicense: [...] praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formações de bateria eram usados toques da capoeira Angola, São Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola, e samba de roda.97

Mestre Baé (2017) 98, em correspondência pessoal, informou-me de que, em reunião, a maioria dos Mestres Capoeira, sobretudo os que se declaram como estilo praticado a capoeira/capoeiragem mista, que de ora em diante passarão a adotar “Capoeiragem Tradicional Maranhense”... Estudos demonstram que a Capoeira – no Brasil - tenha surgido – como a entendemos -, e com esse nome, lá pelo final dos 1700, quando aparece o nome do Tenente Amotinado - João Moreira 99, e de um negro chamado Adão, pardo, escravo, preso por ser “capoeira”, em 12 de abril de 1789 100, embora desde o ano anterior - 1788 - as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice-reis 101. Cabe, neste momento, definir o que se entende por Capoeira: a) “Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas 92

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: ANTONIO ALBERTO CARVALHO (PATURI); JOÃO PALHANO JANSEN (CURIÓ); FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA (BAÉ); JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES (TUTUCA); e ROBERTO JAMES SILVA SOARES (ROBERTO). 93 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA (MILITAR); JOSÉ TUPINAMBÁ DAVID BORGES (NEGÃO); MÁRCIO COSTA CORTEZ (CM MÁRCIO); LUIS AUGUSTO LIMA (SENZALA); AMARO ANTONIO DOS SANTOS (MARINHO). 94 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO (MIZINHO); EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ (CM DIACO); ANTONIO CARLOS DA SILVA (CM BUCUDA); JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO (NILTINHO). 95 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: VICENTE BRAGA BRASIL ( PIRRITA); RUI PINTO CHAGAS (RUI); GENTIL ALVES CARVALHO (TIL); EVANDO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); LUIS GENEROSO DE ABREU NETO (GENEROSO). 96 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA (MANOEL); FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO (LEITÃO); HÉLIO DE SÁ ALMEIDA (GAVIÃO); SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE FERREIRA CRUZ (CM FORMIGA ATÔMICA). 97 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE LUIS LIMA DE SOUSA (JORGE NAVALHA); CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES (CACÁ); PEDRO MARCOS SOARES (PEDRO); NELSON DE SOUSA GERALDO (CANARINHO); REGINALDO PEREIRA DE SOUSA (REGINALDO). 98 BAÉ, Mestre – in Correspondencia eletrônica pessoal, para Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 26 de setembro de 2017 99 LIMA, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. DA CAPOEIRA: COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 100 In CAVALCANTI, Nireu. O Capoeira, JORNAL DO BRASIL, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor) 101 CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977


indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada”. Federação Internacional de Capoeira – FICA102 b) ) “um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (VIEIRA, 2005)103.

A “regulamentação” da Capoeira como atividade física dá-se nas primeiras décadas do século passado – os 1900. Segundo Reis (2005) 104, e Vidor e Reis (2013) 105 foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva, destacando-se dois mestres baianos - negros e originários das camadas pobres da cidade -, Bimba - criador da Capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiu-jítsu e luta greco-romana -, e Pastinha - contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da Capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. Para Reis (2005) 106, e Vidor e Reis (2013) 107, Bimba e Pastinha elaboraram, através da Capoeira, estratégias simbólicas e políticas diferenciadas que visavam em última instância, ampliar o espaço político dos negros na sociedade brasileira e propõem dois caminhos possíveis para a inserção social dos negros naquele momento histórico.: Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro108 foi considerada: Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta. Sendo definida como uma arte multidimensional, um fenômeno multifacetado - ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música - que tem na roda o ritual criado pelos capoeiristas para desenvolver esses vários aspectos109. Compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança110. O que é ‘capoeira’? Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada 102

Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 103 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 104 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 105 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. CAPOEIRA – HERENÇA CULTRAL AFRO-BRASILEIRA. São Paulo: Selo Negro, 2013 106 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 107 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa, 2013, obra citada 108 CAPOEIRA É REGISTRADA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 109 CORTE REAL, Márcio Penna. A CAPOEIRA NA PERSPECTIVA INTERCULTURAL: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 110 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004


(Vieira, 2005) 111. Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“? conforme a conceitua Araújo (1997) 112 ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem como: [...] a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado? (p. 69); e capoeirista, como sendo: os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva? (p. 70). Ou devemos entendê-la como: [...] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira) 113; assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a [...] um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e recoreco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40) 114. “Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)115. “Carioca” uma briga de rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX. 116 Para a Capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais. Mestre Euzamor (2006) 117 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Mário 111

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 112 ARAUJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPÓLIGAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA – de uma actividade guerreira para uma actividade lúdica. (S.L.): PUBLISMAI – Departamento de Publicações do Instituto Superior Maia (Porto), 1997. 113 Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 114 PEREIRA DA COSTA, Lamartine. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Belo Horizonte: SHAPE, 2005, VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa - Capoeira http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/escolher_linguagem.php; 115 LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 116 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC 117 MESTRE EUZAMOR in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC (anexo II)


Martins Meireles (2012) 118 traz – embora se questione o uso da palavra capoeira em seu texto – que, por volta de 1702, [...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.[...] (p. 98), referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas. Segundo Coelho (1997, p. 5) 119 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem lingüística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 120, em correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça121 em “A Amazônia na era Pombalina”, traz-nos carta de Mendonça Furtado122 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Mundinha Araújo123 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira: no Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 124.

Encontrei, ainda que, em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus).

Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas. De acordo com Mestre Bamba do Maranhão, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-de-Crioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um 118

MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99. 119 ARAÚJO, 1997, obra citada. 120 ARAÚJO, 1997, obra citada, 121 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 122 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado 123 Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 124 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009


deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga125: Para Ferreti (2006) 126, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula127. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. Mestre André Lacé 128 lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas129, 130. Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’. Mas, já por essa época, a Capoeira recebi um tratamento como “esporte”, como se vê de notícias de jornais, assim como consta de livro sobre a História do Esporte no Maranhão, do grande jornalista esportivo Dejarde Martins: 1877 MARTINS (1989). In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO131. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA - Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o 125

http://www.jornalexpress.com.br/ FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf 127 O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula". 128 LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 129 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 130 SILVA, Vagner Gonçalves da (org.), ARTES DO CORPO 0 MEMÓRIA AFRO BRASILEIRA. São Paulo, Selo Negro Edições, 2004. 131 MARTINS, Dejarde Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís, s/e, 1989(?) 126


tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (179).

Ou anúncio, de 1884, em que havia um desafio entre um “Sansão do século XX; cabe ressaltar que era comum, desde a fundação de nosso teatro, a apresentação de espetáculos de força nos palcos, com ‘artistas’ se apresentando, identificando-se como discípulos de Amoros NASCIMENTO DE MORAES132, em uma crônica que retrata os costume e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utilizam o termo capoeiragem (in MARTINS, 2005) 133. A segunda fase – que identificamos – é a dos anos 30/40, indo até meados dos anos 50. Não existem evidencias de que fosse ainda praticada, a não ser algumas que dizem ser os estivadores da Rampa Campos Melo praticantes da “carioca”, assim como lembranças de que em Codó – sem precisar-se o período, também era praticada com esse nome; Cururupu também é mencionada, como cidade onde se praticava “a carioca”, nas palavras de um senhor, negro, à época da declaração, com mais de 80 anos: praticava na juventude, mas não era conhecida, aquela manifestação do movimento, como capoeira... Mestre Diniz diz que via os carregadores, no porto, praticando ‘capoeira’, quando vinha à cidade, junto com seu pai para fazerem compras; ficava na canoa, o aguardando; tinha, conforme dizia, entre 7 e 9 anos; como nascido em 1929, deveria ser lá pelo final dos anos 30: 1936/1938. Mestre Firmino Diniz teve os primeiros contatos com a capoeiragem lá pelos seus 7-9 anos de idade, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista daquela época: Caranguejo; depois, Mestre Diniz vem a ter lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís, lá pelos anos 1950. Greciano Merino (2015)134, referindo-se às perseguições que a Capoeira recebera do período da Proclamação da República até mesmo o Estado Novo, não obstante a sua ‘legalização’ através das atitudes de Getúlio Vargas, afirma que no Maranhão esta hostilização foi além do período do Estado Novo (19371945), mantendo a Capoeira no ostracismo até entrando nos anos 60. Como podemos observar, há uma ‘primeira fase’ da Capoeiragem praticada no Maranhão, de seu aparecimento, no inicio dos anos 1800, e que vai até os anos 30/40, quando aparece no relato de alguns dos, hoje reconhecidos, Mestres mais antigo, em especial verificado pela ‘história de vida’ de Mestre Diniz, que se refere aos seus tios, e a outros capoeiras que vira ‘jogar’ em sua infância. Parte dos Mestres participes do Curso da UFMA/DEF 2017 desconhece, ou têm pouca informação, sobre a capoeiragem praticada antes de chegada de Serejo, do Grupo Aberrê, e logo em seguida, Sapo. A maioria tem algum conhecimento, embora restrito, e na maioria das vezes, se limita ao ‘ouvir dizer’, de antes das Rodas de Rua organizadas pelo Velho Diniz, ou mesmo Caranguejo. Kafure (2017) 135 não sabe dizer quem eram os líderes daquelas rodas de rua, mas sabe “[...] que existiam as práticas do Tarracá136 e da Pernada ou Punga dos Homens137”. Podemos estabelecer que, 132

NASCIMENTO DE MORAES. VENCIDOS E DEGENERADOS. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000. MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís: UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005 134 GRECIANO MERINO, 2015, obra ciatada. 135 ROCHA, Gabriel Kafure da. DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz através de mensagem eletrônica, datada de 25 de agosto de 2017. 136 Ver: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – O TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. REI ZULU E SEU ESTILO DE MMA – O “TARRACÁ” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. . SAPO x ZULU. DEU ZULU... 137 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “PUNGA DOS HOMENS” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE A “PUNGA” – VISITAÇÃO A CÂMARA CASCUDO VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO(A) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM) REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” 133


naquele final dos anos 50, quando da chegada de Roberval Serejo de volta à cidade, que o Velho Diniz já mantinha suas ‘rodas’ em alguns lugares da cidade. Para Boás (2011) 138, a capoeira começou realmente a dar as caras na década de 1960, aparecendo vários praticantes que ficaram conhecidos: Nessa época começou a circular pela cidade o nome de Roberval Serejo, que estava de volta a São Luís, pois estava servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e lá aprendeu capoeira com o mestre baiano Arthur Emídio. Com o tempo, Serejo foi reunindo amigos e admiradores e formou um pequeno grupo de capoeira, que fazia seus treinamentos nos quintais de suas casas e na rua mesmo. O grupo foi crescendo e, em 1968, criou-se a primeira academia de capoeira de São Luís, chamada Bantu. Esse grupo contava com Roberval Serejo, o Capitão Gouveia (sargento da polícia militar), Babalu, Bezerra, Ubirajara, Jessé Lobão, Patinho, dentre outros. A primeira sede do grupo foi o Sítio Veneza, onde hoje funciona a Guarda Municipal, no bairro da Alemanha. Depois se mudou para a casa de Babalu, na Rua da Cotovia, próximo a Igreja de São Pantaleão. Roberval Serejo era escafandrista e morreu em 1971, quando trabalhava mergulhando, durante as obras do Porto do Itaqui. Com a sua morte, muitos de seus alunos deixaram de treinar, mas outros continuaram e o que mais se destacou e continuou a dar aulas foi o Sargento Gouveia.

Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 139. Greciano Merino (2015)140 ao discorrer da (re)introdução da capoeira no Maranhão faz referencia às mudanças conjunturais sócio-politicas que acometiam o Maranhão naquele período, com a substituição das oligarquias dominantes – Vitorinismo141 e depois, pelo Sarneysmo142 – e a ‘formação de um Maranhão Novo”: [...] En esa coyuntura socio-política la capoeira, desde el campo de las representaciones y del imaginario, encuentra su espacio dentro de las dinámicas, conflictos e interacciones de los procesos que modelan, adaptan y transforman la identidad maranhense. Souza (2002)143, Martins (2005)144, Vaz VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 Disponível também em http://www.capoeiravadiacao.org/index.php?option=com_content&view=article&catid=10%3Abiblioteca&id=46%3Apunga-dos-homenstambor-de-criouloa-qpunga-dos-homensq&Itemid=38 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens+-+capoeiragem+no+maranhao 138 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 139 MARTINS, 2005, obra citada. 140 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada 141 VITORINISMO - Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1945 a 1965, que teve no senador Vitorino Freire a sua figura de realce. BUZAR, Benedito. EU E O VITORINISMO, domingo, 23 de novembro de 2014. In Blog do Buzar, https://www.blogsoestado.com/buzar/2014/11/23/eu-e-o-vitorinismo/ Para CALDEIRA (1978, p, 60) “o vitorinismo, com efeito, foi um coronelismo. Das suas formas de ação excluiu-se a propensão para a dominação econômica. Nesse caso (ao nível de Estado), essa dominação se processava de forma indireta, ou seja, por meio do apoio que dispensava às suas bases de sustentação, através da concessão de garantias específicas. No plano político propriamente dito – esfera exclusiva do interesse do vitorinismo – a sua ação se centrava em torno do controle dos partidos políticos e das sub-lideranças políticas com ele identificadas que, juntamente com os coronéis do estado davam a configuração real do vitorinismo”. CALDEIRA, José de Ribamar. Estabilidade social e crise política: o caso do Maranhão. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 46, p. 55-101, 1978. 142 SARNEISMO Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1965 até os dias atuais, que teve no Presidente José Sarney Costa a sua figura de realce. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sarney http://atlas.fgv.br/verbete/4909 A era Vitorinista perdurou até 1965, quando entra em voga o nosso próximo monarca: Sarney, que toma posse em 1966 no Governo do Estado. A era Sarney iniciou-se em 1965, no entanto, o crescimento do seu nome começou na eleição de 1960 com a ascensão de Newton de Barros Belo, eleito governador pelo PSD-PTB-UDN. Nesta época, Vitorino começa a perder prestígio junto ao governo de Jânio Quadros e cresce o de José Sarney. Assim, Sarney passa a ser o principal interlocutor entre Newton Belo e o Palácio do Planalto. http://blogdocontrolesocial.blogspot.com.br/2012/06/um-breve-relato-da-historia-oligarquica.html 143 SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. 144 MARTINS, 2005, obra citada.


(2005)145 y Pereira (2009)146, destacan la figura de tres capoeiras como los principales responsables por esa reconstitución: Roberval Serejo, Firmino Diniz (Mestre Diniz) y Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo).

Mais adiante, sobre os pioneiros dessa tradição da implantação da capoeira nos anos 60, coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio147 durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ 148. A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015)

Esse pesquisador caracteriza a capoeira praticada nessa época, que não possuía ‘organização’, apesar de ser definada a Bantu como ‘academia’, pois esta não tinha uma estrutura formal, como as atuais escolas/academias e/ou grupos/núcleos de Capoeira: La capoeira era practicada de una forma empírica sin metodologías definidas ni lugares preparados, surgía en los patios de las casas, en la sala de estar de algún iniciado o iniciante y en espacios de la calle apartados de lugares muy transitados. (GRECIANO MERINO, 2015).

A Capoeira, por essa época, era marginalizada, conforme já dito em diversos depoimentos. Afirma Greciano Merino (2015): No debemos olvidar que la capoeira estaba todavía bastante discriminada y existía un amplio prejuicio a su alrededor. En este sentido el Maestro Til (Gentil Alves) afirma que “(...) en aquella época entrenábamos casi escondidos, porque a la policía no le gustaba, decían que era cosa de delincuentes”149; o como afirma el Maestro Indio: “Cuando comencé en 1972 y hasta 1984, la capoeira era marginalizada dentro de São Luís, todo capoeira era considerado vagabundo, marginal, ‘porrero’, alborotador”150. La capoeira, como se percibe a través de estos testimonios, no despertaba el interés de una población aprensiva y estaba lejos de cualquier reconocimiento por parte de los poderes estatales y de las autoridades. Por eso, la intención de Serejo al formar este grupo sería realizar exhibiciones públicas “con pantalón, camiseta y calzado (conga) de la misma forma que había aprendido con el maestro Artur Emídio en Rio de Janeiro”151. (GRECIANO MERINO, 2015).

O desconhecimento de uma história da capoeira no Maranhão, antes da chegada de Roberval Serejo – final dos anos 50 – vem de criar o ‘mito’ de que esse “Renascimento” da capoeira em São Luís se dá justamente com a sua chegada e, logo após, a criação do Grupo “Bantus“ (PEREIRA, 2010; KAFURE, 2012, GRECIANO MERINO, 2015) 152, do qual participava além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio, os Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno 145

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009. 147 599 Capoeira de Itabuna, al sur del Estado de Bahía, que se trasladó a Rio de Janeiro a principio de los años cincuenta donde desarrollaría un importante liderazgo en el desarrollo de la capoeira de vertiente mas deportiva. (GRECIANO MERINO, 2015) 148 Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. Véase: Pereira, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. (GRECIANO MERINO, 2015) 149 Véase: Pereira, Roberto Augusto A. O mestre Sapo, a passagem do quarteto Aberrê por São luís e a (des)construção do “mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. Recorde: Revista de História do Esporte, Vol. 3, número 1, junio de 2010, p. 6. (GRECIANO MERINO, 2015) 150 Véase: Sousa, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. p. 50. 151 Pereira, Roberto Augusto A. Op. Cit., 2009, p. 6. 152 PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: RECORDE: REVISTA DE HISTÓRIA DO ESPORTE. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010. ROCHA, 2012, obra citada GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 146


de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].153 Mestre PATURI, em depoimento relata que: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e Logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. (ANTONIO ALBERTO CARVALHO , 2017, Depoimentos) 154. Firmino Diniz, conhecido também como Mestre Diniz ou Velho Diniz também serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu Mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo e posteriormente com Gouveia passaram a freqüentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o Mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 155 . Augusto Pereira (2010) 156 destaca, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de Mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital.157 Grciano Merino identifica os frequentadores dessas rodas promovidas pelo Velho Diniz, segundo depoimentos que colheu: Sargento Gouveia, Babalu, Alô, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Ribinha, Sururu, Alan, Gordo, Theudas, Mimi, Raimundão, Sansão, Pavão, Naasson (‘cara de anjo’), Faquinha, Valdeci, Curador, Paturi, Rui Pinto, Alberto Euzamor, Elmo Cascavel, Patinho, Bambolê, Manoel Peitudinho, Cural, De Paula, Didi, Miguel, Joãozinho (Wolf), Cordão de Prata, Esticado, La Ravar... entre otros. (GRECIANO MERINO, 2015). Sem dúvidas, que Diniz foi figura fundamental porque conseguiu inserir a capoeira no sistema de pensamento da cidade. Em 1966, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões – sede do governo estadual. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues – Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira:158 Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, ‘a época, menores de idade: - Locais das exibições de Canjiquinha fora da Bahia, dentre elas: “1966 – Maranhão – Bacabal, no teatro de Arena Municipal; São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV 153

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: edição do autor, 2013; 2015 (2ª Ed. Revista e atualizada), disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao ; issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 154 MESTRE PATURI – ALNTONIO ALBERTO CARVALHO. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, UFMA/DEF 2017. 155 PEREIRA, 2009, obra citada. 156 PEREIRA, 2010, obra citada 157 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 158 In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes


Ribamar; Residência do Prefeito da Capital; Ginásio Rodrigues Costa”. (Rego, 1968, p. 277 citado por MARTINS, 2005) 159.

Em 1966, Mestre Sapo, incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e, em 1967 Mestre Sapo retorna a São Luis para trabalhar na construção civil, e posteriormente na Secretaria de Agricultura. Em 1972, começou a dar aulas de capoeira, no ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Sapo morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis, vítima de atropelamento.160 De acordo com Kafure, a história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha era composta por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer agora no final de 2011. Considerando então uma capoeira desconstruída, a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem". (KAFURE, 2012) 161 Patinho, em depoimento a Martins (2005) 162, diz que conheceu Sapo através do Professor Dimas, quem o recrutou para a Ginástica Olímpica, procurando pessoas para essa modalidade entre alguns capoeira que a praticavam no Parque do Bom Menino – Raimundão estava entre eles... -; acontece que Dimas só vem a implantar a Ginástica Olímpica em 1972/73163... O Grupo de Mestres (seis, conforme divisão para os depoimentos, em comum), assim se manifesta sobre esse período de transição, dos anos 60 – chegada de Serejo e Sapo – até o meado dos anos 80, já com a morte de ambos: Quanto à definição: Era Capoeira de Rua (fundo de quintal) 164; Capoeira de Rua165; Nesse período definimos como ‘capoeiragem’, com as características de realizações de rodas de rua, praças e praias e logradouros166. Quanto às características: o jogo era feito ao som do disco vinil na porta de casa167; se caracterizava como capoeira objetiva (luta) 168; Como a capoeira maranhense ficou a característica de Angola e da Capoeiragem169; Como uma capoeira educativa, sua característica: a inclusão de floreios acrobáticos, uma formação de bateria e seus cânticos170. Quanto às principais lideranças: a partir da Escolinha do Mestre Sapo171; Praticada por Serejo e seu Grupo Bantu172; os principais líderes: Sapo, Serejo, e Diniz173; tendo como principal liderança o Mestre Sapo174. 159

REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968) http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html 161 ROCHA, 2012, obra citada 162 MARTINS, 2005, obra citada 163 VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 164 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 165 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 166 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 167 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 168 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 169 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 170 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 171 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 172 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 173 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 174 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 160


Podemos falar, a partir daí, de uma Capoeira do Maranhão – ou Maranhense e/ou Ludovicense -? Não175. sim, com certeza: a partir dessa época temos dados que comprovam a organização e formação da Capoeira do Maranhão176. Sim, podemos dizer que a partir daí surge uma capoeira ludovicense177 Kafure (2017) 178, em correspondência pessoal, confirma a existência de uma capoeiragem maranhense, mas que não se trata de uma modalidade (estilo?) mas sim, uma identidade; afirma: Pelo o que eu entendo existe a capoeiragem maranhense, que não é uma modalidade da capoeira, mas sim uma identidade. Nesse sentido, a capoeiragem maranhense é como se fosse uma camada da realidade da capoeira no Maranhão, é como se ela sempre existiu e continua existindo, mas fica por trás das segmentações de angola, regional ou contemporânea. Ou seja, ela existe na maneira do capoeirista lidar com o outro e expressar o seu próprio amor pela cultura capoeirística. Prossegue: Eu acredito que existam três ou quatro períodos, basicamente o antes de Sapo, o de Sapo, o de Patinho e o de depois de Patinho. Por essa via, não sei dizer como está atualmente, mas a atividade da capoeira, pelo menos no centro de São Luís, esteve muito ligada ao Tambor de Crioula e a boêmia que envolvia esse círculo de pessoas (KAFURE, 2017) 179 As rodas de rua de São Luís continuaram acontecendo durante boa parte da década de 70, lideradas pelo Mestre Diniz e freqüentada pelos capoeiras remanescentes da Bantu e pelos alunos mais velhos e experientes do Mestre Sapo, como: Jessé, Alô, Loirinho e Manuel Peitudinho. Segundo Mestre Pato, “Mestre Sapo proibia seus alunos mais jovens de participarem das rodas de rua, pois os que a freqüentavam eram os que já tinham mais autonomia”. Mestre Rui lembra de que nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participavam de diversos campeonatos, tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, [...] onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na Casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda.Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos anos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do Exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do Exército, grande capoeirista da época180. A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Kafure (2017) 181 acredita que Sapo – da linhagem de Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de re-educação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’: Eu já ouvi os mais velhos falarem, de como Sapo veio da linhagem de Canjiquinha e que conseqüentemente acabou escolhendo se estabelecer no Maranhão, onde desenvolveu um importante trabalho de uma re-educação das lutas e ritos primitivos dos valentões da ilha, por assim dizer. Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos182, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira183, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, 175

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 177 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 178 ROCHA, 2017, obra citada. 179 ROCHA, 2017, obra citada. 180 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 181 ROCHA, 2017, obra citada. 182 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito) 183 VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 176


com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores. Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê.Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Segundo Mestre Índio (Oziel Martins Freitas), ele utilizava exercícios como corrida, polichinelo e flexões para essa preparação. Mestre Sapo se ele se definia como angoleiro ou regional, encontramos o seguinte: 9 alunos responderam angoleiro e os outros 6 responderam que ele não se definia unicamente como angola ou regional, pois ensinava as duas vertentes. De acordo com Antônio Alberto de Carvalho (Mestre Paturi), ele falava em capoeira de angola, mas ensinava misto, ou seja, angola e regional. Segundo o Mestre Pato, ele se definia somente como capoeira e que ensinava “as três alturas, as três distâncias e os três ritmos”. Nestes aspectos, ele se referia ao jogo alto, baixo e médio; ao longe, perto e o médio; e aos toques de angola (lento), São Bento pequeno (médio) e São Bento grande (acelerado). Acreditamos que esses fundamentos em capoeira que Mestre Sapo praticava são heranças de seu Mestre (Canjiquinha) que também os usava, de acordo com a confirmação de Mestre Pato. Além dessas influências, Mestre Sapo utilizava alguns movimentos da Capoeira Regional que ganhou muito mais projeção na década de 70 do que a de angola. (MARTINS, 2005) 184 Mestre Rui Pinto lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, freqüentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol. Mestre Gavião185 lembra dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: [...] ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade.Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. No ano de 1978, Mestre Sapo, juntamente com o seu discípulo Pato, participaram do primeiro Troféu Brasil, o que seria o primeiro campeonato brasileiro de capoeira, promovido pela Confederação Brasileira de Boxe (CBB). Ambos foram vice-campeões em suas respectivas categorias, sendo que o resultado do Mestre Sapo foi muito contestado pelo público e pelos Mestres presentes, fazendo com que a organização do evento lhe homenageasse com uma medalha de ouro. Segundo Mestre Pato186: Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. 184

MARTINS, 2005, obra citada. MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 186 MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006. 185


Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. Ainda nesse ano de 1978 que Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente. Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão. Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação. É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: [...] padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação187 [...] contudo houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições188. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Retorna com uma padronização de uniformes, instrumentação e disciplina. Implantação do sistema de graduação pelo Mestre Pezão, na década de (19)90189. [...] os capoeiristas buscam uma nova organização, criando grupos, academia e começam a divulgar a capoeira mais freqüente190. Após a morte de Sapo, começou o movimento de surgimento de grupos de capoeira, sim, a capoeira saiu das ruas, começou a se organizar, passando a ser desenvolvida em espaços fechados, como escolas, academias e clubes. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão 191. A partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão 192. De acordo com Greciano Merino (2015)193, Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária: [...] que sintonizaba con las formas que la dictadura militar proyectaba en el seno de la sociedad194 . La rigidez de ese método, según explican sus alumnos 195, se aplicaba a través de una fuerte preparación 187

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 189 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 190 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 191 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 192 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 188

193 194

Debemos destacar que durante el período dictatorial brasileño se refuerza ese proceso que impulsó la capoeira en los años 30, o sea, el gobierno pasa a estrechar los lazos con los practicantes de la capoeira. Así, en 1972, la capoeira es reconocida oficialmente como deporte por el Ministerio de Educación y Cultura, incluyéndose en un proceso de institucionalización y burocratización que busca promover la homogeneización de esta práctica a nivel nacional. Dos años después se crea en São Paulo la primera federación de capoeira de Brasil, procurando difundir la capoeira como arte marcial brasileña. Este hecho es cuestionado por algunos segmentos que entendían que ese


física196622 y de la incesante repetición de secuencias de movimientos. El alumno para demostrar que había asimilado el fundamento de esos movimientos debía aplicarlos correctamente en la roda, y si no era capaz de cumplir con las exigencias de su grado la respuesta inmediata era un golpe correctivo que le alertase de que debía depurar aún más su jogo. Debido a la dureza de los entrenamientos mucha gente abandonaba las aulas, lo que propiciaba una amplia rotatividad de alumnos en la escuela y que ésta estuviese separada en dos grupos diferenciados: los iniciantes y los veteranos. Esa división propiciaba, a través de un estímulo competitivo, que los primeros se esforzasen por conquistar un lugar en el grupo de los avanzados y que éstos mantuviesen una gran tensión para mantenerse como los referentes del grupo.

O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR, 1969, CUNHA, 2014) 197 . [...] ‘Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer’, de 1979, foi escrita originalmente em francês por Listello e traduzida pelo então professor da USP Antonio Boaventura da Silva e colaboradores. Esta obra parece ter sido uma adaptação do MDG para a realidade brasileira, pois foi publicada após quase duas décadas de contato com o Brasil e em parceria com uma universidade brasileira. (CUNHA, 2014?)198.

A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira , que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de preofessores de Educação Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem muma ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 200 199

Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações: (seu proceso de “marcialización” de la capoeira infringía principios básicos de esta práctica. En 1975, se realiza, en São Paulo, el primer torneo nacional de capoeira, para su realización se construye un reglamento técnico [...] (GRECIANO MERINO, 2015) 195 Informaciones extraídas deI “Encuentro de Mestres”, evento organizado por la Associação Centro Cultural de Capoeiragem Matroa, el día 1/04/2013. Con la participación de Antonio José da Conceição Ramos “mestre Patinho”, Jose Ribamar Gomes da Silva “mestre Neguinho”, João José Mendes da Silva “Mestre Açougueiro”, Nasson de Souza “Cara de Anjo”. (GRECIANO MERINO, 2015) 196 Que Sapo definía como Educación Física Generalizada, en la que integraba aparatos de gimnasia como el plinto y las colchonetas. (GRECIANO MERINO, 2015). 197 FARIA JR. Alfredo Gomes de. INTRODUÇÃO À DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 198 CUNHA, 2014, obra citada 199 LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão. 200 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016.


retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias [...]201; Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 202. Para Kafure (2017)203, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessas ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes204, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE205, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 206.

Kafure considera que o modelo de capoeira baiano foi talvez a condição de sobrevivência da prática da ética da malandragem: [...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é super importante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade. Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) 207 .

A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo”: [...] a escola funciona no Laborarte, nós temos nove pontos, pra você entender melhor nós temos aqui a nossa árvore genealógica (...) olha, aqui está a minha trajetória, a raiz vem ser onde eu comecei, quem 201

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 203 ROCHA, 2017, obra citada. 204 MESTRE MORAES - PEDRO MORAES TRINDADE é um notório mestre e difusor da Capoeira Angola pós-Pastinha. Seu pai também era capoeirista praticante de Capoeira Angola. Começou a treinar por volta dos oito anos na academia de Mestre Pastinha que já cego e sem dar aula, passou o controle da academia para seus alunos. Moraes foi aluno de Mestre João Grande, que junto de João Pequeno eram grandes discípulos de Pastinha. Por volta dos anos 80, na intenção de preservar e transmitir os ensinamentos de seus mestres, fundou o GCAP - Grupo de Capoeira Angola Pelourinho - na tentativa de resgatar a filosofia da capoeira em suas raízes africanas, que havia perdido seu valor para o lado comercial das artes-marciais. Atualmente vive em Salvador, Bahia e divide seu tempo entre lecionar Inglês e Português numa escola pública, e presidir os projetos culturais da GCAP. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes 205 O LABORARTE é um grupo artístico independente, com 35 anos de trabalhos culturais desenvolvidos no Maranhão, produzindo nas áreas de teatro, dança, música, capoeira, artes plásticas, fotografia e literatura. O grupo está sediado num casarão colonial no centro de São Luís e desenvolve atividades culturais permanentes: oficina de cacuriá, oficina de teatro, oficina de ritmos populares do Maranhão, além de manter uma escola de capoeira angola. Anualmente realiza o "Iê! Camará- Encontro de Capoeira Angola". http://www.iteia.org.br/laborarte 206 BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 207 ROCHA, 2017, obra citada. 202


foram meus netos e tal... e aqui nos temos aqui a Escola de Capoeira do Laborarte e hoje eu estou aqui no Centro Cultural Mestre Patinho, então quem são as pessoas que estudam no centro cultural, quem está dando aula, quem são os alunos formados, que aqui é sobre a minha trajetória. É a árvore genealógica dos nossos trabalhos, hoje aqui nós somos sabe quantas escolas no Maranhão? somos nove escolas no Maranhão regidas pela escola do Laborarte... 208 [...] Aí você vai ver aqui Mandingueiros do Amanhã; quem é, Escola do Laborarte quem é? Nelsinho, e todos eles vão passando, Escola Criação quem é o cara? Mestre Serginho; Aí aqui, Centro Matroá? Marco Aurélio e contra-mestre Júnior, então assim tu vai vendo aonde agente ‘tá’ aqui no Maranhão, e lá fora uma mestra Elma que trabalha em Brasília, Florianópolis e Rio Grande do Sul, e também a galera nossa que está dando aula lá fora como o Bruno Barata que está no Rio de Janeiro, que está trabalhando com a capoeira, aí tem uma galera da gente que ‘tá’ trabalhando aí, e a gente que mora em São Luís, que vai nos Estados Unidos e volta, em Portugal e volta, mas não fazemos questão de estarmos lá, porque o importante é que a gente estude a capoeira no Brasil ‘pra’ entender o que é jogar capoeira,’ pra’ depois ir lá fora fazer uma oficina porque vai ser difícil ‘pra’ ver o que vai ser mal empregado lá fora 209 .

Mestre Alberto Euzamor210 fala que se desconhecia a existência de estilos de capoeira. Explica que: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; Memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogado hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Mestre Rui211 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens.Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. O mesmo diz Mestre Socó212, pois para ele desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima – embaixo”, um jogo no qual não era nem Angola nem regional, era conhecido como “Capoeiragem. Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto213, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas. Para Mestre Índio, [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi 208

In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 209 In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 210 MESTRE ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, quando da construção do Livro-Álbum Mestres de Capoeira de São Luis, 2006 211 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 212 MESTRE SOCÓ – EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 213 MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 214 Por não ter um estilo definido, ou não se filiar aos estilos hoje reconhecidos: Angola, Regional e/ou Contemporânea, foi perguntado aos Mestres como eles chamariam, ou definiriam a capoeira praticada, hoje, no Maranhão e o que é “jogar nos três tempos”, e se essa era a principal característica da Capoeira do Maranhão: - a denominaria “Capoeira Tradicional Maranhense”, com seu: “jogo baixo, intermediário e em cima”, as três alturas ou as três distancias, considerando ser essa a sua principal característica. “É definida em grupos, associações, Federações, sendo que cada um tem seu estilo de jogo e sistema de graduação”. a denominam como “capoeira mista”, ou seja, incutir o novo no velho sem molestar as raízes: “Jogar em um determinado toque as três alturas - Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande”. Como a Capoeira Maranhense se joga nos três tempos e joga no toque de Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande de Angola - jogo em baixo, no meio, e em cima -, essa é a característica maranhense. ’Capoeira mista’, jogada nos três tempos, que significa os três toques do berimbau, Angola, S.B. P. de Angola, e S.B.G de Angola” . [...] uma capoeira mista, por assim ser jogada em três tempos: jogo de chão, malícia: 2º no São Bento pequeno, que um jogo de muita acrobacia e destreza e, 3º o São Bento Grande, que é um jogo em cima rápido e de combate. Patinho215 sintetiza a Capoeira do Maranhão: [...] buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar.

Segundo Greciano Merino (2015) 216, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folclóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión 214

215

ENTREVISTA COM MESTRE ÍNDIO MARANHÃO, disponível em http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-IndioMaranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau

MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006. 216 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada.


corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)217, expresaba que: “El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”218. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”219. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural.

Prossegue: En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 220 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor221. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito222. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás.

Kafure (2017) considera que essa característica de jogar nos três tempos é gananciosa, mas não deixa de ser o ideal de um "super capoeirista": [...] e isso para mim é impossível. Justamente porque a vida tem três tempos, a infância, a maturidade e a velhice e o ritmo de cada um desses tempos é diferente. Então assim, eu acho que o tempo da capoeiragem maranhense é o tempo médio, pois nem é devagar demais nem rápida demais, como se 217

Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 219 Haikel, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 220 VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 221 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 222 Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 218


encontra em alguns grupos na Bahia (lá existem bem visível os extremos). Eu acho que uma das grandes belezas e riquezas da capoeiragem maranhense é a multiplicidade de grupos e rodas em um território pequeno. Pelo menos quando eu morava em São Luís, quase todo dia era dia de roda, pelo o que eu me lembro, de quarta à sábado (curioso que no domingo quase nunca tinha). Enfim, geralmente nas capitais do Brasil, roda de capoeira é de sexta à domingo. Então acho que essa pluralidade de rodas, mesmo com os zumzumzum entre grupos e mestres, ainda assim dava uma perspectiva muito boa de aprendizado para alguém que realmente queira aprender a ser um bom capoeira.

Sapo não definia sua metodologia nem como Angola nem como Regional; de sua perspectiva de ensino, a capoeira estava formada por uma serie de fundamentos de jogo que se aplicavam em função das circunstancias que a roda requeria 223. Su capoeira se enfoca hacia un aspecto más deportivo, pasando a examinar a sus alumnos a través de series de movimientos secuenciados que se correspondían con una escala de cuerdas de colores, como ocurre en las artes marciales. Participó en eventos, simposios y torneos nacionales en diversos Estados e incentivó a sus alumnos para que completasen su formación participando de los cursos de arbitraje y viajasen a Rio de Janeiro para estudiar con Inezil Penna Marinho224. Asimismo, batalló mucho para conseguir que la capoeira formase parte de los Jogos Escolares Maranhenses (JEM’s) como un deporte de competición. Todo eso sin dejar de explorar ese lado folclórico de la capoeira que le había llevado hasta São Luís225. Por tanto, su profunda dedicación al estudio del arte de la capoeira226627 le llevan a convertirse en un profesional de reconocido prestigio por la sociedad. Ese reconocimiento unánime motivó que asumiese el papel de celador de la capoeira en São Luís, mostrando su intolerancia hacia las rodas de calle (que no fuesen las suyas o las del maestro Diniz) y hacia la abertura de grupos que no fuesen suyos. (GRECIANO MERINO, 2015)

Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, O movimento ‘prócapoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis227. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990 228. Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança229. As lideranças: Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão230; Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita231; Pelos 223

El Maestro Sapo seguía una especie de mezcla de las dos vertientes, sus enseñanzas consistían en una práctica que estuviese de acuerdo con el ritmo que dictaba el toque de berimbau: Angola (jogo lento y rastrero), São Bento Pequeno (jogo que mezclaba movimientos altos con rastreros en una cadencia intermedia) y São Bento Grande (jogo practicado encima y en una cadencia acelerada). Los 3 berimbaus tocaban la misma célula. (GRECIANO MERINO, 2015). 224 Inezil Penna Marinho publica en 1945 el libro “Subsídios para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem”, esta obra fue explícitamente inspirada en la “Ginastica nacional (capoeiragem) metodizada e regrada” de Aníbal Burlamaqui. (GRECIANO MERINO, 2015). 225 Entre los años 1977-1979 Sapo formó un cuadro folclórico de exhibición con juego de luces que presentaba principalmente en el recinto ferial (EXPOEMA), durante los festejos juninos, y en algunos terreiros durante determinadas fiestas de santo. Entre las actividades que se presentaban destacan el samba de roda y el maculele que se entrenaba con palos de escobas y después se ejecutaba con machetes. . (GRECIANO MERINO, 2015). 226 Cabe destacar que en una época que las informaciones eran escasas debido a los limitados y precarios medios de comunicación, el maestro Sapo poseía un importante acervo de libros discos y recortes de prensa con informaciones de lo que acontecía en varios Estados. . (GRECIANO MERINO, 2015). 227 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 228 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 229 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 230 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 231 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO.


Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira232. ONDE ACONTECEU? QUAIS OS RESULTADOS? Sá Viana, Bairro de Fátima, Anjo da Guarda, Coroadinho, Liberdade, etc.; foi positivo no sentido de fortalecer a interação entre os grupos233; [...] na área Itaqui-Bacanga, no Teatro Itaqui-Cucuiba, e teve como resultado o fortalecimento da Capoeira; a partir daí, outros grupos da cidade passaram a realizar outros eventos, em prol da Capoeira234;. Foi feito o Pré-capoeira no Bairro do Anjo da Guarda, no Teatro Itapicuraíba235. O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área ItaquiBacanga [...] com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis236. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; [...] com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990237. Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua, com a formalidade É ainda em 2001 que se dá a realização do 1º CONGRESSO TÉCNICO DA FACAEMA, na Academia de Mestre Edmundo. Neste congresso que se tomou a decisão de caracterizar, através da formação da orquestra, a Capoeira do Maranhão/Ludovicense: No ano de 2001, reuniu-se na Academia de Mestre Edmundo representantes da Capoeira de vários segmentos, para a padronização de uma bateria, que seria única, nos grupos filiados à FECAEMA. Estavam presentes, da Capoeira Angola: Marco Aurélio, Abelha, Piauí; de outros segmentos: Índio, Baé, Mizinho, Paturi, Ciba, Edmundo. Decidimos cantar no Gunga e no Médio238. 232

O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 234 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 235 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 236 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 237 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 238 MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO. 233


Fonte: Greciano Merino, 2015 Ainda temos a registrar a atuação do “Forum Permanente da Capoeira do Maranhão”. Concordamos com Almeida e Silva (2012) 239, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 240. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas241. Mestre Gavião já viajou por muitos estados brasileiros a procura de capoeira, e sempre buscou manter suas raízes, só absorvendo o que achava interessante para enriquecer sua capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, o viu jogando e perguntou: “Oh Mestre, essa sua capoeira é africana?” Poderia – ou deveria! – ter respondido: “Não, é Capoeira do Maranhão, de São Luis, ludovicense!!!” É a “Capoeiragem Tradicional Maranhense” 242...

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ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 240 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFROASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 241 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 242 Assim a denominaram os Mestres Capoeiras partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiuras mdo Maranhão, adeptos da denominada ‘capoeira mista’, após os estudos realizados, passando de ora em diante a assim denominar seu estilo de luta, conforme correspondência pessoal, via Facebook, de Mestre Baé, em 28 de setembro de 2017.


CONVENTO DAS MERCÊS: ESPAÇO DE TODOS FELIPE CAMARÃO Professor; Secretário de Estado da Educação Membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão ROBERT SOUSA Diretor administrativo-financeiro da FMRB Sem muito alarde, o Governo do Maranhão vem realizando um valoroso trabalho de alcance social e educativo no antigo Convento das Mercês, prédio que abriga, em São Luís, a Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB). Na atual gestão, ações socioeducativas estão cada vez mais presentes no dia a dia da Casa, além da movimentada agenda de visitação ao prédio, que faz parte do patrimônio histórico tombado pela Unesco. Vale lembrar que, no ano de 2016, o Governo do Estado realizou uma importante obra de reforma do imóvel, vinculado à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (SECTUR).Com boa parte da estrutura interditada por anos, o antigo Convento passou por recuperação estrutural, reforço dos pilares com malha metálica e injeção de nata de cimento, recuperação de todo o piso e dos banheiros, revisão da cobertura, drenagem, reboco e pintura. Logo no início do governo Flávio Dino, o prédio encontrava-se com a estrutura comprometida, escorado e com risco de desabamento. De pronto, o governador autorizou um investimento de cerca de R$ 3 milhões, exatamente para garantir a integridade e preservação deste imóvel, importante exemplar da nossa arquitetura colonial. O governador Flávio Dino, em seguida, escolheu o antigo Convento para dar o pontapé inicial de um importante projeto de seu governo: o ‘Ponto do Saber’, um arrojado programa que pretende universalizar a internet e promover inclusão digital eficaz e gratuita a todos os maranhenses. Com esta proposta, o Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), lançou em agosto de 2016 o programa ‘Ponto do Saber’, que se constitui em um telecentro conceituado, permitindo ao público o acesso a serviços online de educação e atividades multidisciplinares. A Fundação da Memória Republicana Brasileira foi escolhida para abrigar a primeira unidade do ‘Ponto do Saber’ que, hoje, beneficia diretamente diversas famílias do Desterro, Portinho e de outras áreas do centro histórico de São Luís. De igual modo, é importante frisar que, depois de concluída a obra de reforma do Convento, o governador Flávio Dino participou, no início do segundo semestre deste ano, da aula inaugural da Banda de Música do Bom Menino das Mercês. A solenidade marcou oficialmente a retomada das atividades da Escola de Música e da Banda do Bom Menino, após ações de revitalização e ampliação dos serviços para a comunidade. Por meio de parceria entre o Governo do Maranhão e a empresa FC Oliveira, via Lei de Incentivo à Cultura, a Escola e Banda de Música do Bom Menino das Mercês, que corriam o risco de serem extinguidas, receberam investimentos da ordem de R$ 811.905,49. Isso proporcionou que o número de alunos subisse de 256 para 742 alunos. O número de professores também saltou de 8 para 22 e o corpo técnico administrativo de 4 para 7 pessoas, o que permitiu maior atenção e condições de ensino e aprendizagem, vislumbrando o futuro muito melhor para todos. A revitalização da banda do Bom Menino das Mercês atende ao apelo da comunidade e asseguraa continuidade de um patrimônio do povo maranhense, que cumpre um importante papel social e educacional.


Sob a maestria do governador Flávio Dino, uma dedicada equipe da Fundação da Memória Republicana Brasileira, vem trabalhando para que as ações socioeducativas seja ampliadas cada vez mais – sem alarde, como dissemos anteriormente -, em toda a área do tradicional bairro do Desterro e, desta forma, o antigo Convento das Mercês exerça sua função primordial enquanto espaço de história, educação, arte e cultura.


TRABALHO, TEMPO LIVRE E LAZER243 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Introdução Enquanto a Educação Física é conhecida como atividade escolar, a educação para a saúde e a educação para o tempo livre ainda não são aceitas como tais pois sua temática se inclui dentro de várias matérias tradicionais. Isto dá oportunidade ao Professor de Educação Física para considerar assuntos relativos ao tempo livre e a saúde no ensino do esporte, isto é, pode ver o lazer e a saúde em relação com o esporte. Cabe assinalar, então, que o tempo livre e a saúde abrangem ainda outros aspectos, além do esportivo, como, por exemplo, o das artes com relação ao lazer e o da alimentação com relação à saúde ( (HAAG, 1981, p. 118119). Esporte e o tempo livre são, ambos, fenômenos ou formas de manifestação de nossa vida cotidiana sobre as quais se discute muito mas que são mal interpretados. Para esclarecer a relação entre o esporte e o tempo livre, analisemos o que entendemos por esporte: "a palavra provém do verbo latino 'deportare', distrair-se, e logo se substantivou em francês e inglês na forma 'desport' ou 'sport', o que significa diversão" ( HAAG, 1981, p. 91). Apoiando-se neste conceito, o lúdico aparece como sua característica básica, visto que o termo tinha, então, a conotação de prazer, divertimento, descanso. E, apesar das diversas nuances que o esporte assumiu ao longo de nosso século, as pessoas continuam fieis ao seu sentido original, na medida em que o esporte será sempre um jogo, antes de mais nada. (OLIVEIRA, 1983, p. 75). Dessa forma, o processo ensino-aprendizagem da educação física deve ser apoiada na ludicidade, encontrando espaço significativo para a aplicação do jogo - elemento fundamental da cultura humana -, em contraposição à importância que se dá ao resultado desportivo de alto nível. (THOMAZ, 1981; SANTIN, 1987; HUIZINGA, 1971; DICKERT, 1984; ESCOBAR & TAFFAREL, 1987). Analisando-se as alterações havidas na terminologia desportiva, após constatar que a antiga ginástica já não faz parte da área do esporte, pergunta-se "o que houve ? uma simples alteração terminológica ?". Conclui-se então, que "... mais do que isso, pois os conceitos básicos mudaram. Eles mudam de conformidade com os padrões individuais e sociais de cada época e a nova terminologia geralmente reflete a mudança de pensar do homem ... A 'ginástica', no sentido clássico da palavra (como instrumento para o equilíbrio interno e externo do homem), constitui a forma mais primitiva da atividade desportiva e é nesse sentido geral que Guts Muths emprega o termo em sua obra metodológica 'Gymnastik fur die Jugend', publicada em 1793. Em princípio do século XIX introduziu-se na área géo-linguistica alemã, com os trabalhos de F.L. Jahn, a versão germânica do termo 'ginástica' (Turnen), atividade física definida como forma de 'educação cívica através de exercícios físicos polivalentes'." (DIEM, 1977, p. 11-12). Firmou-se, então, o conceito de ginástica como sendo atividade física: "... era a ginástica racional e científica, considerada agora como elemento da Educação Física, expressão cunhada em fins do século XVIII." (OLIVEIRA, 1983). Essa artificialidade começou a ser combatida quando K. Gaulhofer e M. Streicher sugeriram uma nova denominação para designar a atividade desportiva tipicamente escolar: "a educação física natural" (DIEM, 1977). OLIVEIRA (1983) esclarece que 243

Publicado em REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, Volume 02, Número 02, jul/dez/1999, em razão das novas discussões sobre a importância da Educação Física dentro da reforma do ensin o médio.


"... a ginástica artificial utiliza-se exclusivamente de exercícios analíticos, aqueles que, pela fixação deliberada de alguns segmentos do corpo, localizam o trabalho muscular e articular pretendido. O exercício natural, por sua vez, implica a movimentação do corpo entendido como uma totalidade." (p. 64) . Como a confusão perdurava, STREICHER então declara todo o seu descontentamento: "Oficializem o termo que quiserem - 'esporte', 'ginástica', ou 'educação física'- contanto que o termo escolhido denote uma atividade material. Importante é lembrar que a Educação Física efetivamente só existe quando se baseia no princípio do desempenho (Lei do Esporte), no princípio da educação físico-éticasocial (Lei da Preparação Física) e no princípio da forma (Lei da Ginástica)". (citada por DIEM, 1977, p. 12). Difundiu-se, então, o termo "esporte" com o significado de "qualquer modalidade de exercício físico" (DIEM, 1977). Hoje, compreendemos por esporte, em geral, uma " atividade motriz espontânea originada em um impulso lúdico, que aspira a um rendimento mensurável, e a uma competição normalizada" (HAAG, 1981, p. 95). Sob o ponto de vista sociológico, o esporte se organiza: 1 - Informalmente, como esporte de tempo livre; 2 - Formalmente, como esporte de competição; 3- Institucionalmente, como parte de outras instituições sociais cujos valores modificam sua orientação (educação física, esportes escolar, ou militar). (LUSCHEN , citado por HAAG, 1981). MOREIRA (1985) faz referência, em trabalho apresentado à Universidade de Campinas quando discute a "Educação Física definindo uma forma de lazer", após analisar o conceito de Dumazedier -, à função do "desenvolvimento da personalidade" como a que deverá ocupar um papel preponderante na utilização do lazer nas aulas de Educação Física, revertendo as funções de descanso e divertimento "de seu papel educativo-consciente" onde espera, dessa forma, que "o lazer possa se transformar em aprendizagem voluntária e prática de uma conduta criadora, em se tratando de execução de atividade física" (p. 27). LeBOUCH (1983) - citando G. FRIEDMAN -, afirma que a preparação para um lazer mais rico é uma questão pedagógica ou, num sentido mais amplo, de formação, e não dos menores. A nossa civilização tecnológica exige "... que ao assumir a nobre função de educar na plenitude do termo o cidadão, a escola esteja em todos os níveis preocupada em prepará-lo não apenas para o trabalho, mas também e cada vez mais para o lazer". (p. 23). Esse autor considera as atividades ao ar livre e determinadas atividades estéticas à base de expressão corporal como meios de utilizar esse lazer. MOREIRA (1985) destaca, como LeBOUCH (1983), o aspecto do aperfeiçoamento pessoal, pois além de representar uma simples distração ou uma forma de compensar a sedentariedade, elas podem também tornarse verdadeiras atividades culturais. OLIVEIRA (1985) considera que a educação física escolar ressente-se de uma fundamentação filosófica que a oriente em direção às suas finalidades educativas, impedindo que ela, educação física, transforme-se "em uma máquina de não fazer nada". Citando a obra de Celestino F. M. Pereira, faz uma análise da educação física contemporânea, onde destaca as orientações que esta vem assumindo diante do problema de formação da juventude. Considera entre outras, a "concepção utilitária e social da educação física", devido à importância fundamental que o aspecto recreativo assume na sociedade moderna, "na medida em que a industrialização tendeu a privar o homem de seus gestos naturais, aparecendo a necessidade de ocupação do tempo livre".


Trabalho, tempo livre e lazer O lazer tomou a dimensão de hoje após a Revolução Industrial, quando então a jornada de trabalho começou a diminuir paulatinamente, muito embora "os fundamentos históricos do Lazer sejam anteriores à sociedade industrial, porque sempre existiu o trabalho e o não-trabalho em qualquer sociedade" (CAVALCANTI, 1981). A conquista de oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer marcou o início da humanização do trabalho e transformou a recreação e o lazer como um ato social (MARINHO, 1979, 1984; CUNHA, 1987) . Com o reconhecimento das horas livres entre uma e outra jornada de trabalho, dos repousos semanais remunerados, das férias anuais e da cessação da vida de trabalho (aposentadoria) (REQUIXA, 1969, 1976) - gerou-se, então, tempo de lazer compulsório - (TOYMBEE, apud MARINHO, 1979, 1984). O problema da relação entre trabalho e lazer é questão que vem suscitando paixões, sejam em relação à sociologia do trabalho, seja em relação à sociologia do lazer (DUMAZEDIER, 1979). Aristóteles afirmava que "el tiempo libre no es el final del trabajo; és el trabajo el que limita el tiempo libre. Este debe consagrase al arte, a la ciência y, preferentemente, a la filosofia" (apud TOTI, 1975) : A palavra grega para indicar o tempo livre é significativa e perturba a relação que nos é familiar entre o termo e o sentido que se lhe atribui correntemente. Scholé - traduz o dicionário - significa tempo livre, parada, descanso, ócio, falta de trabalho, pausa, ocupação das horas que se tornam livres do trabalho e dos negócios, estudo, conversação e acaba por significar 'o lugar onde se utiliza este tempo livre', a scholé precisamente, a escola, que hoje se interpreta somente como o lugar na qual o tempo livre é utilizado para ensinar e aprender (TOTI, 1975, p. 9). Para Aristóteles, "a diversão parece um descanso, já que os homens, não podendo trabalhar continuamente, têm necessidade de descansar" (in COMES, 1970, p. 43). TOLKMITT (1985)9 considera que as dificuldades decorrentes da industrialização e da formação de concentrações urbanas, além do esvaziamento das zona rural, gerando imensos problemas, servem de incentivo para a formação de grupos, que se preocupam com o aproveitamento adequado das horas livres para a atividade de lazer. Afirmas ainda que "a orientação das atividades nas horas livres tem por objetivo alterar (ou compensar) essa condições de vida ... (física, psíquica e emocional) advindas das facilidades e dificuldades com que o indivíduo se ocupa durante as horas de trabalho (p. 4). Aparece claro, então, que a satisfação do indivíduo durante o trabalho profissional reverte-se de novas características. Horas livres entre uma e outra jornada de trabalho, repouso semanal e férias anuais não são suficientes para o restabelecimento completo do organismo. Supondo-se que o processo do trabalho foi abordado numa correspondente base fisiológica, a um dado momento aparece a fadiga: "A forma mais eficaz e concreta de combater a fadiga que aparece em conseqüência do trabalho, ou outras manifestações patológicas que possam aparecer, como resultado da acumulação, no tempo, da fadiga residual ou da não correção imediata de certos fatores não fisiológicos de microclima durante o trabalho profissional é a recuperação, o recondicionamento ou o equilíbrio biológico" (DRAGAN, 1981, p. 107). Jean-Marie Brohn, numa análise das atividades físicas de lazer na civilização industrial, diz que "há pelo menos duas razões fundamentais que justificam as atividades físicas de lazer como necessidade para o sistema (apud CAVALCANTI, 1981, p. 310) . CAVALCANTI (1981) apresenta dois pontos de vista, segundo o pensamento de Brohn: um, econômico, que vê as atividades de lazer como uma exigência da sociedade capitalista - que considera o indivíduo como um mero apêndice da máquina, no dizer de Marx -, ressaltando os aspectos de compensação e de reajustamento; o outro, político, visto sob o ponto de vista de "fuga da realidade", quando o sistema promove atividades físicas de lazer para preservar a capacidade do indivíduo para o trabalho, destacando que as atividades de tempo livre, na realidade, constituem a melhor maneira de "neutralizar intelectualmente as massas".


MOREIRA (1985), ainda analisando esse aspecto político das atividades de lazer, no pensamento de Brohn, afirma que o tempo livre ocupado dessa forma leva a uma "despolitização da juventude e das massas" cumprindo, pois, as técnicas esportivas de lazer sua função de neutralizar intelectualmente o indivíduo: "Considerar tempo para o lazer um tempo 'socialmente' permitido após o cumprimento de todas as obrigações do indivíduo para com a sociedade é não levar em consideração que a maioria das atividades sociais do indivíduo, principalmente as de ordem profissional, são deficitárias no que diz respeito à saúde - 'bem-estar total, físico e social'. Se o sistema usufrui da força de trabalho do indivíduo por que então não se responsabiliza diretamente por essa recuperação ? " (CAVALCANTI, 1981, p. 311). É ainda MOREIRA (1985) quem pergunta: como fugir a um lazer, pela atividade física, que contém, em seus pressupostos básicos, "os de compensação e reajustamento do trabalho mecanizado ou de fuga da realidade?", Analisando o conceito de lazer emitido por DUMAZEDIER, afirma que "... na prática está presente a permissividade ao indivíduo, do lazer enquanto recuperação psicossomática, essencial à saúde do sistema capitalista. O tempo livre é utilizado pelo lazer como forma de compensação, ou melhor dizendo, como mecanismo de compensação criado pela sociedade industrial" (p. 18). As atividades físicas de tempo livre funcionariam, então, como "antídoto contra o tédio causado por um trabalho monótono e enfadonho" (REQUIXA, 1969), havendo necessidade de orientar o jovem para organizar sua vida de forma equilibrada e racionalizada de modo que a recuperação após o trabalho constitua uma preocupação constante no regime de vida cotidiana. MARINHO ( citado por CANTARINO FILHO & PINHEIRO, 1974), afirma que " ... a atividade física de compensação tem por objetivo geral suscitar, desenvolver e aprimorar as qualidades físicas do industriário, estimular o funcionamento de seus órgãos e, como objetivo especial, desenvolver excepcionalmente certas qualidades, que a natureza da profissão escolhida exige para um rendimento de trabalho maior e, ainda, dar ao organismo uma compensação de modo tal que as sinergias musculares, muito solicitadas durante o trabalho, possam obter para os seus músculos o relaxamento adequado, enquanto outras, cuja solicitação foi quase nula, sejam convenientemente solicitadas, de maneira a evitar a atrofia dos elementos componentes e, em conseqüência, a redução de sua capacidade". (p. 40-41). DRAGAN (1981) comenta que o chamado "... repouso activo (actividades físicas cujas solicitações se dirigem a outros centros nervosos e a outros segmentos musculares ou funções ... a ginástica no local de trabalho, ou exercícios de yoga, etc ... representam hoje meios práticos bem codificados na recuperação, especialmente na prática desportiva" (p. 18). Algumas empresas, considerando esta dificuldade, vem desenvolvendo programas de lazer, envolvendo atividades esportivas e sócio-culturais onde buscam atender às necessidades de todas as faixas etárias, envolvendo não só o trabalhador como sua família, promovendo o lazer com objetivos sociais e de integração dessa comunidade (PEREIRA, 1980; SESC-SP, 1980). Assim, as atividades físicas podem ocupar um papel importante no tempo livre do trabalhador, pois o comportamento humano varia consoante as múltiplas razões pelas quais os indivíduos realizam uma atividade, não existindo entre o jogo e o trabalho uma fronteira absoluta (NEULINGER; CLAPARÉDE (in) GAELZER, 1979; CUNHA, 1987). A falta de habilitação apropriada para a utilização do lazer é lembrada por Robert MacIver (citado por REQUIXA, 1976), quando diz que "... para muitos homens , o trabalho tornou-se uma rotina não muito onerosa, não muito compensadora, e de forma alguma absorvente - uma rotina diária até que a sineta toque e os torne novamente livres.


Mas livres para que ? É uma libertação maravilhosa para aqueles que aprenderam a usá-la; há muitas formas de fazê-la. Mas é um grande vazio para aqueles que não aprenderam a usá-la". (p. 15). LeBOUCH (1983) destaca a importância da aprendizagem psicomotora durante a escolaridade secundária "com vistas à inserção social do futuro adulto" (p. 23) , destacando os problemas atuais de adaptação da mão-de-obra evidenciada na carência da formação física dos jovens. Mais adiante, no plano da preparação para o lazer, destaca que a organização do trabalho, ligada ao progresso dos métodos e ao progresso da mecanização, cria necessidade de descontração de um lado e, por outro lado, de lazer que a satisfação. Perspectiva recreativa da educação física escolar Na abertura do Congresso Internacional de Educação Física, realizado no Canadá, AMADOU (1979) falando sobre a educação física e o esporte para todos, tece considerações sobre o mundo de hoje, onde se impõe uma educação coextensiva à vida e que envolva ao mesmo tempo o conjunto das necessidades e faculdades do homem. As mudanças ocorridas na sociedade atual, a massa de novos conhecimentos que se acumulam cada dia, as modificações mais freqüentes que afetam o processo de produção e a organização do trabalho exigem, com efeito, uma educação que não se limite às primeiras fases da vida, nem ao período escolar e universitário: "Estamos na era da educação permanente .. mas os progressos técnicos e as condições da vida moderna exigem, além disso, e cada vez mais, que cada um seja, daqui por diante, preparado para uma educação física e esportiva que lhe permita manter a saúde ao longo da vida, ou simplesmente ocupar o seu lazer". (p. 52). Ao analisar-se a crise de identidade que a Educação Física parece estar sofrendo nas escolas, com autores assumindo posições contraditórias, caracterizando ora a Educação Física como uma "entidade natural, corporal, puramente instrutiva", verifica-se que o sentido da auto-competição ainda não foi incorporada ao ensino da Educação Física. Assim, as qualidades lúdicas espontaneidade e capacidade de desenvolver satisfação pessoal com desempenho e iniciativa características do esporte educativo, não estão sendo enfatizados pelas atividades de Educação Física (COSTA , 1984, p. 19-20). Esta crise não é nova, pois "houve um tempo em que Esparta enfatizava a aptidão física de seus cidadãos, enquanto Atenas se vangloriava mais da capacidade intelectual dos seus. Um longo período da história da humanidade foi colocado sob o signo dessa dicotomia, que determinava para os indivíduos uma função específica, privilegiando ora o corpo, ora o espírito - mas, raramente, honrava os dois ao mesmo tempo.". (AMADOU, 1979, p. 54). É essencial que a Educação Física e a Educação esportiva "não sejam consideradas entidades distintas e opostas, mas ao contrário, complementares ..." necessitando-se encontrar o sentido, a um só tempo social e cultural, que as atividades físicas tinham em certas culturas antigas (AMADOU, 1979, p. 54). É JORDÃO RAMOS (1978) quem afirma que "... desde a velha Grécia, sente-se enorme afinidade entre cultura e desporto, duas fontes do mesmo humanismo, na apreciação feliz de René Maheu. Ambas procedem da mesma origem, o lazer ..." (p. 21.). A este respeito, Aristóteles já questionava se a ginástica não contribuiria para a recreação mental e para a aquisição de conhecimentos. Para Aristóteles, a preguiça e o ócio é o princípio do universo.


A concepção grega do lazer baseava-se numa associação à aprendizagem ou cultivo do eu, pois nos tempos antigos o homem livre, fora da guerra, não tinha mais do que lazeres. Isso significa que o lazer é uma condição ou um estado – o estado de estar livre da necessidade do trabalho. (PARKER, 1978) Deve-se destacar que os gregos empregavam a mesma palavra para designar o ócio, a escola e a educação pois "... a palavra 'escola' tem por trás dela uma história curiosa. Originalmente significava 'ócio', adquirindo depois o sentido exatamente oposto de trabalho preparação sistemática, à medida que a civilização foi restringindo cada vez mais a liberdade que os jovens tinham de dispor de seu tempo, e levando estratos cada vez mais amplos de jovens para uma vida cotidiana de vigora aplicação da infância em diante". (HUIZINGA, 1971, p. 165). Analisando-se significado da palavra "scholé", verifica-se que esta é traduzida como tempo livre, parada, descanso, ócio ... e acaba por significar "o lugar onde se utiliza esse tempo livre" e que hoje se interpreta tão somente como "o lugar no qual o tempo livre é utilizado para ensinar e aprender" (TOTI, 1975, p. 9). A Educação Física era meio para a formação integral do homem, quando da análise da intencionalidade da educação física na época antiga. Essa mesma preocupação mantém-se atualizada com a Carta Internacional de Educação Física e dos Desportos, adotada em 1978, quando a UNESCO insiste na necessidade de integrar as atividades físicas no "processo de educação global" e de reforçar os laços entre as atividades físicas e os outros elementos da educação (COSTA, 1984; AMADOU, 1970; SANTIN, 1987; MANUEL SÉRGIO, 1987). A UNESCO estabelece ainda que "a prática da educação física e dos esportes é um direito fundamental de todos", após ter lembrado que "nos termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, cada um pode fazer uso de todos os direitos e de todas as liberdades que ali são proclamadas (AMADOU, 1979) . DUMAZEDIER (1979), quando da definição de lazer, estabelece três funções para este, sendo uma delas o desenvolvimento da personalidade e nesse sentido os objetivos do lazer e da educação se harmonizam. Se a escola tende a preocupar-se com a vida recreativa dos estudantes, deve preparar as pessoas para usarem seu tempo de maneira sensata e construtiva ... deve haver uma preocupação direta em explorar o papel do lazer na vida de cada um. As escolas devem oferecer experiências de aprendizado em Exclluíído:: TOTI, 1975, uma ampla variedade de habilidades e interesses úteis para o enriquecimento de ocupações recreativas duradouras. (KRAUS apud PARKER, 1978, p. 117). Aprender a usar o tempo livre significa, em última análise, educar-se para o lazer, ensina REQUIXA (1976), que considera a importância de ser o homem educado para, racionalmente, preparar para si mesmo uma arte de viver em que não se perca o equilíbrio necessário entre o trabalho e o lazer e em que se antecipe a vida de lazer. A família, a escola e todos os educadores, têm papel determinante a desempenhar quando da iniciação da criança numa atividade lúdica e ativa de lazer, na qual a freqüente contradição entre o ensino e a realidade necessita ser eliminada. (CARTA DO LAZER, art. 40). GAELZER (1985), em seu "Ensaio à liberdade: uma introdução ao estudo da educação para o tempo livre", citando NEULINGER e NEULINGER, afirma que não há uma concordância sobre o que significa "educação para o lazer", pois diferentes setores vêem o uso do tempo livre e o lazer de formas diferentes. Os educadores estão inclinados a "pensar na educação para o lazer em termos de atividades extra-cirruculares que levem ao uso proveitoso e digno do lazer. Alguns dizem que a educação para o tempo livre é questão de orientação, desperta interesses e habilidades mas existem opiniões diferentes como este é conseguido. Os religiosos dão ênfase à condução moral e aos valores espirituais do lazer. Eles concordam com educadores, psicólogos, sociólogos e outros que estão interessados no desenvolvimento do caráter. Os psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais tratam com a personalidade, ou ajustamento e desajustamentos sociais e estão interessados na solução dos problemas derivados da falta de orientação para o tempo livre. Os psiquiatras enfocam o "stress", a estabilidade e a saúde mental. "Os professores de educação física estão com a incumbência de promover bons hábitos de saúde, de educação e de lazer, através das atividades físicas, sejam elas lúdicas, esportivas, rítmicas ou gímnicas". HABERMAS vê três formas de comportamento no tempo livre, estando estas relacionadas com o trabalho: Regenerativa - nesse processo o tempo livre serve para recuperar as forças depois de uma jornada fisicamente cansativa. No início da industrialização esta forma de comportamento desempenhou um papel


essencial: atualmente, a mesma se encontra tão somente em um grupo limitado de ocupações, já que muitas profissões não requerem esforço físico algum. Suspensiva - nessa forma se executa durante o tempo livre um trabalho sem a determinação exógena e sem a desproporção da exigência do trabalho profissional. através desta forma que se obtem (ainda que Habermas coloque dúvida) a liberdade e a educação que nos nega o trabalho profissional. Como exemplo dessa forma de comportamento se mencionam a continuação do trabalho profissional em forma de "trabalho negro", o compromisso com grupos religiosos, políticos ou ideológicos mediante a aceitação de cargos em associações correspondentes. Compensativa - essa forma de comportamento tende à compensação psíquica das seqüelas nervosas do trabalho. Como exemplo, assinala Habermas, a maior dedicação à família, ao aproveitamento dos modernos meios de satisfação do lazer proporcionado pela chamada indústria cultural e, finalmente, a ocupação em esporte e jogos. Porém Habermas duvida de que na realidade possa dar-se esta possibilidade compensadora, pois estas áreas mostram características que se assemelham ao trabalho. A análise de Habermas mostra, ademais, que o incremento de horas livres, a redução da semana de trabalho ou a extensão das férias não são suficientes para proporcionar esse verdadeiro tempo livre ganho no transcurso do desenvolvimento industrial; também se necessitam trocas e medidas sociais (citando por HAAG (1981, p. 99), no que concordam SANTIN (1987) e CUNHA (1987). Para HAAG (1981) o tempo livre tem sido determinado pelas formas fundamentais do comportamento de lazer regenerativo, suspensivo ou compensatório. Deve ser visto em relação com as tentativas educacionais de prepara o homem para que saiba dar um conteúdo adequado ao seu lazer. A pedagogia do lazer, desenvolvida por OPACHOWSKI (in HAAG, 1981) põe em destaque a necessidade de abordar com medidas e intenções educativas o relevante fenômeno social do lazer, para garantir que o mesmo seja realmente um "tempo livre" para o homem (p. 101). Essa "pedagogia do lazer" se baseia em oito "teses", resumidas por HAAG (1981): 1 - A pedagogia do lazer constitui uma forma culta de serviço especial que oferece ao indivíduo (desde a etapa pré-escolar até a formação do adulto) ajuda para aprender, desencadear e tolerar as trocas individuais e sociais. 2 - A pedagogia do lazer supõe uma atitude política ante um mundo não armonizável. 3 - A pedagogia do lazer libera da identificação total com os afazeres (e com os afazeres desempenhados durante o tempo livre porém determinados pelo trabalho e por terceiros), da conseqüente idealização do trabalho e do predomínio absoluto do princípio de rendimento. 4 - A pedagogia do lazer estimula ao indivíduo a auto-análise e a reflexão sobre si mesmo e sobre o lugar ocupado por ele no trabalho e no tempo livre. 5 - A pedagogia do lazer vence a angústia, a penúria e a repressão; está aberto ao bem estar, ao lazer e ao desfrute dele mesmo. 6 - A pedagogia do lazer assume uma atitude positiva frente à abundância e variedade das ofertas de consumo, evitando ao mesmo tempo a um permanente autocontrole, vigilância e distância crítica permanentes frente a indústria de lazer. 7 - A pedagogia do lazer proporciona segurança física, psíquica e social e uma nova economia da saúde. 8 - A pedagogia do lazer melhora o estado de ânimo, e assim contribui a atingir o otimismo frente à vida e a fortalecer a autoconsciência." (p. 100-101). BRIGHTBILL (citado por PARKER, 1978) acredita que "Educar para o lazer significa expor as pessoas, desde cedo e por muito tempo, nos lares, escolas e dentro da comunidade, a experiências que as ajudarão a desenvolver critérios e habilidades no uso de um crescente tempo de lazer ... ". (p.114). Afirma, ainda, que esse processo é lento e seguro, e envolve a transmissão de aptidões e a boa vontade em exercê-las. KRAUS (citado por GAELZER, 1972) afirma que o principal propósito da educação para o lazer como em qualquer forma de educação, é promover certas mudanças individuais desejáveis nos estudantes que estão exposta a ela.


Apresenta, então, um esquema de metas nem que estas mudanças podem ser estabelecidas em termos de: Atitude: é essencial que o estudante desenvolva um conhecimento da importância do lazer na sociedade e reconheça os valores significativos que eles podem trazer à sua vida .. Conhecimento: atitudes positivas bem fundadas devem ser suplementadas pelo conhecimento individual; saber "como", "por que", e "onde" deve ocorrer a participação recreativa ... Habilidades: o objetivo de ensinar técnicas não é somente o de conseguir que o estudante domine um certo número de atividades específicas, com a idéia de que ele necessáriamente participará delas, em sua vida recreativa, na juventude e idade adulta; e ainda proporcionar certas habilidades básicas, para que ele possa participar dessas habilidades com um certo grau de competência, sucesso e prazer ... Comportamento: qualquer das metas acima, atitude, conhecimento e habilidades, leva a esse último propósito que é o comportamento. A conseqüência da educação para o lazer dever ser a existência de um comportamento que é marcado pela capacidade de um bom julgamento pessoal, quando da seleção de atividades recreativas ... (p. 1-2). Para esse autor, a escola tem a responsabilidade de proporcionar experiências vivas, tanto pela assistência direta ao corpo discente como pela colaboração com a comunidade que também deve proporcionar atividades recreativas para a intensificação de seu programa de educação para o lazer. O comportamento de lazer pode ser firmado e os hábitos de participação efetiva podem ser solidamente implantados se a escola se esforçar em ensinar uma real participação nas atividades de tempo livre. Para NAHRSTET (citado por GAELZER, 1972), as funções da educação para o tempo livre se sintetizam em: Recuperação - renovação das energias através do descanço; Compensação - elemento harmonizador diante das exigências e fracassos da vida de trabalho; a tarefa pedagógica da educação para o tempo livre é dar relevância às atividades que proporcionem a recreação e favorecer a visão cultural e intelectual; Meditação - ato do indivíduo se questionar a respeito de sua existência e afirmação. Essa função só pode acontecer em momentos de lazer, em percepção contemplativa do indivíduo consigo mesmo levando-o à meditação; essa oportunidade que questiona o sentido da existência e a vida de liberdade e realização pessoal e social se torna possível no campo do tempo livre; Emancipação - consiste na libertação pessoal de domínio e independência indispensáveis para a autonomia individual e social; nesse sentido, o tempo livre se transforma em tempo de liberdade. (p. 3). GAELZER (1985) considera que é uma tarefa difícil, pois significa educar a criança a ser ela mesma, ser autônoma, autorealizadora e consciente: "... talvez a forma mais pura de educação para o lazer seja: ensinar a gostar de fazer coisas, não para apresentação exterior, e sim por satisfação; isto não é novidade, ensinar através do jogo e do brinquedo é provavelmente a melhor maneira conhecida de aprendizagem." (p. 47) Para essa autora, lazer "é a harmonia individual entre a atitude, o desenvolvimento integral e a disponibilidade de si mesmo. É um estado mental ativo associado a uma situação de liberdade, de habilidade e de prazer." (GAELZER, 1979, p. 54)19. Conclusão Não se constitui tema novo que o ensino da Educação Física se refira ao tempo livre, pois em fins do século passado e início deste, a mobilização de grandes massas de jovens e adultos, através de campanhas de recreação, serviram de base para uma educação extra-escolar, sendo incluída, nesse movimento, a Educação Física (TOLKMITT, 1985). O repensar a escola pública em função da clientela das classes populares e do desenvolvimento de metodologias que estimulem a criatividade e o trabalho independentes (BRESSANE, 1986; ESCOBAR & TAFFAREL, 1987; SANTIN, 1987), leva-nos a preconizar uma educação física voltada para os princípios de uma Educação Permanente, com base no esforço comunitário, em substituição à tônica da aptidão física, presente na década passada (FARIA JÚNIOR, apud BRESSANE, 1985) .


Vários organismos internacionais, tomando consciência do inestimável valor formativo das horas concedidas aos trabalhadores e aos estudantes à margem de suas ocupações, têm considerado ser papel da Educação Física orientar a ocupação desses tempos livres em práticas de recreação lúdica e desportiva, pois as sociedades modernas, devido à organização racional do trabalho, são "sociedades de tempo livre" (DUMAZEDIER, 1979; SOBRAL, 1985; CUNHA, 1987). Assim, a Educação para o tempo livre se constitui num caminho a seguir, buscando seus fundamentos filosóficos na concepção utilitária e social (PEREIRA, apud OLIVEIRA, 1985)1 onde a esfera do lazer possa ser tão produtiva e valiosa quanto a esfera do trabalho. Sem perder de vista o disposto na legislação vigente, no que tange à Educação Física Escolars, a escola deve atender às necessidades, interesses e motivações de seus alunos, onde o aspecto recreativo, base da concepção utilitária e social da educação física, deve ser levado em consideração quando do planejamento das atividades a serem desenvolvidas, pois trabalho e tempo livre, tal como a educação intelectual e a educação física, não podem ser consideradas como partes separadas de nossas vidas. Referências Bibliográficas AMADOU, Mahtar M'Bow. Discurso proferido na abertura do Congresso Internacional de Educação Física, Trés-Riviére, 26 de junho de 1979. Boletim da Federação Internacional e Educação Física, Belo Horizonte, v. 49, n. 3, 1979, p. 51-55. BRASIL, Leis e Decretos. Legislação e normas do ensino do 20 grau. Brasília : MEC/SEPS, 1984, v. 3. BRASIL, Leis e Decretos. Leis básicas do ensino de 1 0 grau. ed. atual. Brasília : MEC/SEPS, 1983. BRESSANE, Riselaine. Uma nova maneira de pensar educação física. Comunidade Esportiva, Rio de Janeiro, n. 23, mar.-abr., 1983, p. 7. BRUM, Eloah Freire Fritsc & Outros. Educação Física. (in) O artigo 70 na Lei 5692/71 no ensino do 20 grau. Brasília : MEC/DEM, 1978, cap. 2, p. 31-45. CANTARINO FILHO, Mário Ribeiro & PINHEIRO, Ewerton Negri. Ginástica de pausa, trabalho e produtividade. Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, Brasília, n. 20, mar./abr., 1984, p. 20-30. CAVALCANTI, Kátia Brandão. A função cultural do esporte e suas ambigüidades sociais. (in) COSTA, Lamartine Pereira da. (org.) Teoria e prática do esporte comunitário e de massa. Rio de Janeiro : Palestra, 1981, p. 301-316. COSTA FERREIRA, Vera Lúcia. Prática de educação física no 10 grau: modelo de reprodução ou perspectiva de transformação ? São Paulo : IBRASA, 1984. COSTA FERREIRA, Vera Lúcia. Do pensamento político educacional a uma perspectiva de transformação em educação física. (in) TUBINO, Manoel José Gomes & Outros. hOMO Sportivus. Rio de Janeiro : Palestra, 1985. V. 3, p. 35-50. CUNHA, Newton. a felicidade imaginada: a negação do trabalho e do lazer. São Paulo : Brasiliense, 1987. DIECKERT, Jürgen. A educação física no Brasil.. A educação física brasileira. (in) ESCOBAR, Micheli & TAFFAREL, Celí N.Z. Metodologia esportiva e psicomotricidade. Recife : Gráfica Recife, 1987, p. 2-19. DIEM, Liselott. Esporte para crianças: uma abordagem pedagógica. Rio de Janeiro : Beta, 1977. DRÃGAN, Ioan. Recuperação no trabalho pelo desporto. Lisboa : Horizontes, 1981. DUMAZEDIER, Jofre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo : Perspectiva, 1979. EMERENCIANO, Maria do Socorro Jordão. Preparação para o trabalho. Brasília : MEC/SEPS, 1984. ESCOBAR, Micheli & TAFFAREL, Celí N.Z. Metodologia esportiva e psicomotricidade. Recife : Gráfica Recife, 1987. FONSECA, Marília & PARENTE, Marta Maria de Alencar. A preparação para o trabalho no currículo do 20 grau. Brasília : MEC/SEPS, 1983. FONSECA, Américo J. Cardoso & BARBOSA, Arnaldo Martins. A educação física como meio de prevenção de acidentes de trabalho e de recuperação. Lisboa : Fundação Nacional para a Alegria do Trabalho, 1972. FUNDAÇÃO VAN CLÉ. Carta do lazer. Comunidade Esportiva, Rio de Janeiro, n. 9, 1980, p. 20. GAELZER, Lenea. Ensaio à liberdade: uma introdução ao estudo da educação para o tempo livre. Porto Alegre : UFRGS, 1985. (Tese de livre-docência). GAELZER, Lenea. Lazer, bênção ou maldição ? Porto Alegre : Sulina/UFRGS, 1979.


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FORTES LAÇOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Associação Internacional de Escritores – IWA, de Toledo, Ohio, USA. Fundador da Academia Ludovicense de Letras. Publicado em O IMPARCIAL, 22 de outubro de 2017 “ Assim a língua, os hábitos, as tradições, o culto e as leis são os fundamentos da nacionalidade. ” Henrique Maximiliano Coelho Neto, escritor maranhense, nascido em Caxias, patrono da Academia Caxiense de Letras. O que fazer quando tudo parece perdido, quando ruíram os valores e crenças, usos e costumes da sociedade, quando ousam infringir e ignorar os ditames da Lei? O que esperar do futuro das nossas crianças e adolescentes, quando tudo é desprezível e vulgar, quando a escola abdica da sua função maior de educar e se deixa levar pelo cântico da sereia? Onde está o prazer daqueles que se comprazem apenas com os problemas e seus desdobramentos, sem participar nem oferecer alternativas passíveis de solução? As indagações acima certamente não fazem jus ao perfil de qualquer cidade, da história e d\a sua tradição cultural. Ainda restam esperanças? Devemos continuar perseverando, acreditando que a espécie humana veio para transformar, para agregar valores; não podemos pensar de forma diferente, aceitar que falsos profetas liderem pessoas bemintencionadas que devem respeito à hierarquia e, constrangidas, sejam forçadas a desviar-se do bom caminho. Os “fortes laços” que titulam este texto, que é o título do meu primeiro livro de crônicas e artigos, começam no seio da família: exemplos de vida, convivência pacífica, crenças e valores morais, instrução e educação, limites para todas as coisas, amizade e compreensão, recompensas e castigos. Tudo diferente do que, infelizmente, vem acontecendo. Tudo é liberal, tudo é permitido em nome de uma nova ordem social, que não tem base moral, histórica nem religiosa, e que, por isso mesmo, vem surtindo efeitos medíocres em meio à desarmonia e violência. Tudo é igual, limitado, amedrontado, sem criatividade. O caráter forjado no ambiente familiar, numa boa escola, jamais fraquejará, jamais abdicará em nome de nenhuma causa ou ideologia por mais moderna que possa parecer; nem usará o santo nome em vão de ninguém, para proveito próprio ou de terceiros, permanecendo reto e inquebrantável. O outro pilar dos fortes laços, que nos faz prosseguir encarando de frente o futuro, são os amigos fiéis. E o que é um amigo fiel? É aquele que, desinteressadamente, está do nosso lado nos bons e maus momentos, é solidário e vive o problema do outro, respeita as suas idéias sem tentar impor vontades; eles são poucos, mas ainda existem. Falsos amigos não mandam flores, pois não foram forjados no seio da família, são dissimulados, traem; os traumas deixados por essas pessoas, as cicatrizes, são perdoados, mas não esquecidos. Aí estão os pilares da sociedade: a família e seus valores, e os amigos fiéis. Sem eles não há futuro, o futuro já chegou, mais guerra do que paz; se todos não tiveram ou não puderam ter esse embasamento de vida, paciência, mas pelo menos não cometam a heresia de ignorar a Lei. É preciso ter “ Fé nos homens, Fé na vida, Fé no que virá. ”


PREMIO NOBEL DE ECONOMIA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Associação Internacional de Escritores – IWA, de Toledo, Ohio, USA. Fundador da Academia Ludovicense de Letras.

24/102017

No meu mais recente livro “Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory”, levantei uma tese: a ciência econômica estaria necessitando de novas teorias ou as atualmente consagradas pela comunidade acadêmica, ensinadas nas Universidades e adotadas pelo mercado, estariam sendo mal utilizadas? Pois bem, de alguma forma veio ao encontro dessa tese o ganhador do prêmio Nobel de economia deste ano, professor Richard Thaler, da Universidade de Chicago; partidário da chamada economia comportamental acaba de desqualificar um dos princípios básicos da teoria do consumidor, o da racionalidade econômica. Sua tese tem naturalmente simpatizantes e opositores; entre economistas que veem as ideias de Thaler com reservas está Vinícius Carrasco, professor da PUC-Rio, que diz: “minha visão é que o principal papel de um economista é avaliar o desempenho de instituições econômicas em como obter ganhos mútuos numa interação econômica, não estudar criaturas fictícias ou não”. Afora a maneira jocosa como trata os seus colegas economistas, que de há muito estariam teorizando sobre um consumidor que nunca existiu, Thaler “fez campanha para que a economia comportamental fosse levada a sério no meio profissional”; o fato das pessoas não serem inteiramente racionais, entretanto, “é tido como óbvio até pelos economistas mais tradicionais”. A teoria microeconômica diz que comportamento racional do consumidor é um pressuposto básico e lógico, uma regra geral que pode ter suas exceções: entre comer, vestir e morar, por exemplo, o que você escolheria em primeiro lugar? Por outro lado, esse comportamento racional pode ser influenciado por outros fatores externos determinantes de ações de consumo fora dessa racionalidade, como a psicologia defendida por Thaler, em virtude de apelos promocionais principalmente; às vezes, é certo que agimos por impulso, contudo nem sempre. Cumpre acrescentar que, implícita a racionalidade do consumidor, o ato de consumir continua tendo a ver com a demanda por um determinado bem, com um sistema de preços e quantidades variando em sentido inverso, isto é, quanto menor o preço maior a quantidade, e vice-versa; isto é o que ocorre, sempre, ressalvadas as formas imperfeitas de mercado. Todos compreendem que, sob influência da psicologia empresarial e das formas imperfeitas de mercado, que acabam impondo-se ao sistema de preços, ainda que por exceções, o consumidor não é mais tanto racional, nem os mercados autorreguláveis. Esse comportamento irracional influenciado, todavia, às vezes acaba determinando um “efeito manada” e gerando situações de alto risco; foi o que aconteceu no “crash” da Bolsa de Nova York, em 1929, e mais recentemente a crise da “bolha” imobiliária, nos Estados Unidos, com sérias repercussões principalmente nos países da zona do euro e emergentes. É fácil entender o porquê da euforia do ganhador do Nobel de economia deste ano, pois ele vai receber o equivalente a US$ 1,1 milhão e diz, irreverente como é: “vou gastá-lo do modo mais irracional possível”, defendendo a tese da sua economia comportamental.


A IMPORTÂNCIA DOS ENCONTROS DE ACADEMIAS PARA A CULTURA DO ESTADO CERES COSTA FERNANDES Palestra na I Semana Ludovicense de Literatura Boa noite a todos, confreiras e confrades, senhoras e senhores: Em eventos tais como o que nesta noite se inicia, sempre me senti confortada pelo simples fato de poder estar presente, conferir que sou partícipe de iniciativas que contribuem para incrementar a cultura e a literatura do nosso estado. Esta promoção da Academia Ludovicense deLetras (ALL), em parceria com a Federação de Academias de Letras do Maranhão (FALMA) e a AssociaçãoMaranhense de Escritores Independentes (AMEI), vem retomar o ideal e os objetivos que inspiraram a realização da I e II Mostra Estadual de Literatura realizadas no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, nos anos de 2013 e 2014, quando da minha passagem por esse órgão como diretora. Mostras que, inexplicavelmente, não tiveram prosseguimento, apesar do grande sucesso alcançado em número de municípios participantese de público. Para exemplificar só o fator presença, foi computada, em cada Mostra de quatro dias, a frequência de um público de mais de 5.000 pessoas. Em 2015, pararam as MOSTRAS. A ALL, com o objetivo de não deixar perder-se uma experiência tão rica, procurou,em 2016, a direção do Centro eofereceu-se para colaborar na continuidade do projeto. Infelizmente, nenhum acordo aconteceu. Mesmo sem receber nenhum apoio, a Academia Ludovicense de Letras não esmoreceu, juntou-se à FALMA e à AMEI, e aqui estamos, recomeçando, para que este encontro literário entre municípios não morra na praia, como tantas outras boas iniciativas culturais que morreram no nascedouro, cristalizando negativamente o nome de São Luís como terra do “já teve”. Aqui cabem algumas palavras sobre a FALMA e sobre a AMEI. A FALMA é uma feliz ideia de reunião de todas as academias de letras do Maranhão, hoje presidida por Roque Macatrãoe por seu vicepresidente Álvaro Urubatan Mello, Vavá. Sabemos que as academias afiliadas ainda são poucas, em que pese a luta da sua diretoria na busca de agregar maior número de academias. Há certa resistência à aproximação e à união de municípios diversos, como se cada um se fechasse dentro de sua própria cultura. Ainda não assimilamos esse espírito de corpo, em que se entende que a união faz a força e que o trabalho conjunto rende mais. Precisamos formá-lo. Mas as academias só virão se vislumbrarem, a princípio, alguma possibilidade de crescimento e visibilidade. É o que nos propomos a mostrar com a I Semana de Literatura Maranhense. Contamos, agora, com mais um aliado: a AMEI (Associação Maranhense de Escritores Independentes). Esta associação, em boa hora, veio resgatar a antiga aspiração dos escritores maranhenses da existência de uma livraria que se dispusesse a pôr em destaque os livros de autoria de escritores da terra, sempre colocados à margem nas livrarias aqui instaladas. O que encontramos são funcionários desinformados sobre títulos e nomes maranhenses. que demonstram não conhecer ninguém, excetuando-se, claro, nomes como um Ferreira Gullar ou José Sarney, nomes nacionais, promovidos por editoras famosas, sinônimos de grandes vendas. Dou como exemplo do desinteresse e descompromisso dessas livrarias o meu próprio caso: no ano de 2000, lancei dois livros, O último pecado capital e Apontamentos de literatura medieval – literatura e religião, fui eleita para a Academia Maranhense de Letras, após 22 anos da entrada da última mulher a ser admitida naquele sodalício, a grande escritora Lucy Teixeira. Isso é notícia. Além do mais, fui escolhida, junto com a governadora Roseana Sarney e a Desembargadora Etelvina Gonçalves, primeiras mulheres a assumirem tais cargos no Maranhão, uma das Mulheres do Ano. Reportagens, entrevistas nos jornais e na televisão. Excelente propaganda gratuita para vender um livro. Alguma livraria aproveitou o momento e o material gratuito para promover a venda do livro? Nem preciso dizer: nenhuma.


Colocaram, como sempre o fizeram, o livro na prateleira de uma estante escondida, onde ficam os livros de literatura maranhense e não sabiam informar as pessoas que vinham procurar a obra. Donos de livrarias que são, ao mesmo tempo, papelarias, vendedoras de vídeos, DVDs e material escolar, estão mais interessados em vender “literatura” dos bestsellers da ocasião, tais como, as séries de Harry Potter, de vampiros, zumbis e os tais “tons de cinza”. Nesta livraria da AMEI, vende-se o escritor maranhense, aqui, ele tem visibilidade, ele é a estrela. Além disso, temos este local, um salão de boas proporções, em espaço nobre, para nossos encontros, palestras e exposições. De parabéns, portanto esta iniciativa. Longa vida à AMEI, e que não se desvirtuem os seus objetivos iniciais. Pediram-me que falasse como nasceu a Mostra Estadual de Literatura de 2013, e da importância dos encontros das academias de literatura no contexto da cultura maranhense. Não era minha intenção falar do que passou, mas como as mostras se entrelaçam e se contextualizam para uma futura história, talvez seja de alguma importância o relato. No decorrer do exercício da minha função de diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa,filho, participei de muitas feiras, exposições, semanas e mostras literárias, nenhuma voltada exclusivamente à promoção da literatura maranhense. É claro que os escritores mais destacados dos nossos municípios e, note-se, a quase totalidade com residência em São Luís, por vezes tinham a obra divulgada. Em se tratando de municípios distantes da capital, a exemplo de Grajaú, Imperatriz, Esperantinópolis ou Barra do Corda, a presença de obras nas feiras de São Luís se torna mais rara ou inexistente. Aqui, quero destacar a singularidade de Imperatriz. Talvez pela própria distância de São Luís, este município criou uma academia de letras forte e atuante e um mercado editorial de importância.. Com quase vinte anos, a Academia de Letras de Imperatriz mantém intensa interação com a comunidade local e com a dos municípios próximos. Se a memória não me engana, o SALIMP (Salão de Letras de Imperatriz) está na sua XV edição. Este evento começou expondo em praça pública, à sombra das árvores e hoje é um evento estadual e ocupa um ginásio inteiro. Pois bem, a poderosa Imperatriz, com a sua eficiente editora, criada pelo saudoso Adalberto Franklin, saudou a I MOSTRA ESTADUAL DE LITERATURA, em 2013,com estas palavras, pronunciadas em um debate apresentado pelo editor Adalberto Franklin com o escritor Agostinho Noleto: “ Finalmente a Ilha (como costumam chamar São Luís) reconheceu que existe vida inteligente além do Estreito dos Mosquitos.” Uma severa crítica à politica cultural de nossos órgãos oficiais que não cuidam da interiorização da cultura. Com a realização dos cafés literários e dos saraus, passei a me relacionar com um número maior de escritores interioranos e a escutar queixas da sua não visibilidade e da falta de financiamento por parte dos órgãos de cultura para edição (o que acontece também na capital) e também divulgação de obras já milagrosamente editadas. Muitos escritores, de tanto ver adiada a edição de um livro foram tomados pelo desânimo e pararam de escrever. O escritor quer ser lido. Um parêntese. Mente, ou não sabe que mente, o escritor que diz não querer ser lido. A publicação e a divulgação do nosso texto nos incentiva a escrever mais. Deste desejo não escapou nem mesmo nosso excêntrico e grande Souzândade: “Ouvi dizer que, já por duas vezes, o Guesa Errante será lido 50 anos depois: entristeci – decepção de quem escreve 50 anos antes” (1877). Palavras proféticas. Só passou a ser lido a partir dos anos 50, graças à sua ”descoberta” por Luís Costa Lima e os irmãos Augusto e Haroldo Campos. Colaboraram na divulgação desta descoberta o americano Frederick Williams e Jomar Moraes, com a edição de livros esgotados ou desparecidos. E também a nossa sócia correspondente, Luíza Lobo. Modernamente, a Teoria da Recepção nos diz que o livro só se completa com a sua leitura, o leitor seria, então um coautor. O livro seria tanto ou mais complexo quanto fosse o referencial teórico possuído pelo leitor. Alguns leriam a mensagem direta aparente do texto e outros, além dessa mensagem, as sua entrelinhas. Fecha o parêntese. Voltando à questão da invisibilidade da produção literária dos municípios, a Mostra de 2013 nasceu da inspiração de uma maior interação entre as culturas literárias dos vários municípios maranhenses, na intenção de mostrar a riqueza dos escritores de várias regiões, por vezes somente divulgados nos seus próprios rincões. O objetivo maior seria mostrar o conjunto da produção de poetas, romancistas, contistas, cronistas e historiadores de diversos municípios maranhenses.


Aí, empaca-se nos critérios de escolha dos municípios e de seus escritores. É sempre o nó da questão. Como fazer para distinguir alguns municípios em meio a 217? Elegendo uns, preterindo outros? Como efetuar a comunicação com os órgãos oficiais do município? Só quem já tentou e enfrentou o desinteresse desses órgãos, sabem do que estou falando. Como encontrar escritores nos municípios? A solução surgiu com a ideia do chamamento das academias filiadas à FALMA. A FALMA aceitou o desafio e foi uma longa peregrinação para que dados fossem colhidos. Partimos para os convites da participação. Isso não quer dizer que os escritores estejam todos nas academias, mas que eles se agregam em torno delas, facilitando o chamamento. Mesmo assim não é fácil. Endereços defasados, telefones trocados, novos presidentes, pedidos de brasões que nunca chegam e muito mais. Hoje, as academias estão surgindo com grande força e pedindo a afiliação na FALMA. A AMEI, também, atrai novos escritores ansiosos por expor suas obras de forma condigna. Acreditamos que qualquer encontro entre as academias de letras é positivo. Essas reuniões propiciam a interação entre escritores de diversas regiões do estado, o conhecimento recíproco das atividades literárias e culturais, abrindo para uma identificação maior do nosso estado, gerando o descobrimento de talentos inéditos. Abre também para a possibilidade de trabalharmos projetos conjuntos, de maior amplitude que têm a chance, pela sua maior visibilidade, e do envolvimento de mais de um município, de atrair apoio das autoridades competentes. Sabemos que uma maior divulgação e consequente visibilidade por outros municípios sempre mexem com os brios dos administradores. Estes, competitivamente, passam a dar maior importância ao trabalho das academias de letras no desenvolvimento cultural e literário de seus municípios. A culminância destes resultados dar-se-á com o estímulo para que surjam novos escritores e alento para os que já escrevem e querem continuar a escrever as suas obras, certos de que elas não morrerão esquecidas em suas gavetas. Senhoras e senhores, meus amigos, façamos votos que, neste encontro, os confrades das diversas academias participantes sejam todos tomados por este espírito de interação e impregnados pela inspiração dos nossos numes que, num passado glorioso, tornaram o Maranhão literariamente conhecido e louvado em todo o país. Que a ALL mantenha o descortino de continuar realizando mais e mais encontros como este. Ao futuro.


REFLEXÕES COM DODÔ CERES COSTA FERNANDES Dodô passa os feriados em São Luís. Gosto de conversar com a mana Dodô. Colegas de brincadeira do Largo do Santiago, relembramos: A gente de caubói, a correr, montadas em cabos de vassoura, Tirávamos cabo até de vassoura nova, E a turma, comendo as goiabas de D.Edite, colhidas do pé, na casa de Tarzan, o caramanchão da vizinha, Não ficava uma flor inteira. Empinar papagaio nos meses de ventania, O cerol pitisca, o vidro de garrafa azul, moído no trilho do bonde, era o melhor. As porfias de bicicleta? Não tinha nada igual... Era cair e subir de novo na Monarck, Ir pra casa se queixar, jamais, era a conta de ser recolhida antes da hora de terminar a brincadeira. Ei, estamos falando de brincadeiras de menino. E as bonecas? Meio chatas, né, nem se mexiam. Um chá de vez em quando, aceita uma xícara comadre, Ou um batizado, tinha que “convencer” um menino a ser o padre. Acabava o biscoito, perdia a graça, era sair correndo de novo. Dodô, digo eu, escapamos de boa, ???, Hoje seríamos enquadradas como transgêneros, meninos em corpo de meninas! Credo, mana, eu adoro ser mulher, Eu também. . Mãe dizia: essa menina parece menino, rebenta os vestidos, não tem modos, Ela tão feminina, ai meu Deus, os vestidos de organdi, pinicando o pescoço, A minha, dizia o mesmo, as mães não eram sutis, nem desconfiavam do politicamente incorreto, Mas tudo da boca pra fora. Tenho pena das meninas saudáveis e hiperativas, cheias de energia, convencidas de estarem no corpo errado, que perderão companheiros que as completariam, deixarão de ter filhos por terem se mutilado ou engravidarão, barbadas como uma mulher de circo! Meninas interrompidas, a quem o privilégio de vivenciar o mundo diferenciado e maravilhoso das mulheres será negado. Pra que a doutrinação, o convencimento de criaturas tão vulneráveis,em tenra idade, de que pertencemou não a determinado sexo? As diferenças afloram naturalmente no tempo apropriado. Quem está no“corpo errado” vai descobrir por si só. E tentar sair dele. Pois é, Dodô, temos amigos de diversas preferências sexuais. Não digo orientação, porque isso não se orienta, nem se induz, é natural, O bom é aceitar, acolher, cada um na sua. Preconceito é ignorância. Dodô diz, sabe, mana, quando me perguntam se sou hétero, fico sem graça e digo, é... pois é, acho que não tive oportunidade... Ficou difícil ser hétero. Logo eu que pensava ser tão avançada... Depois de oito casamentos. E aqueles meninos, induzidos a tocar em um homem nu, deitado no chão? O outro, nu, lá, numa bolha de vidro. O novo modismo é o exibicionismo? É, deve ser, Mas não havia aquelas campanhas pra criança ficar alerta com adultos? Denunciar, não tocar nem se deixar tocar?. Vai ver assunto de pedofilia já era. Cansou. Que diria Ferreira Gullar sobre adultos mostrando o sexo para crianças? Será Arte? Vixe, mana, aí danou-se, arte não se discute, é como sentença de juiz, Ora, menino de hoje vê nu a todo instante, tem irmãos, mãe, pai, primos, TV, nem se espanta, não precisa ir pra museu andar de mãos dadas... Psiu, não verbalize essa ideias, corre-se o risco de ser rotulada de atrasada, direitista, eleitora de Bolsonaro e da bancada da bala, Mas Ferreira Gullar meteu o pau em umas instalações lá da Bienal... Sei, havia uma com urubus vivos, acontece que Ferreira Gullar era imexível, já nós... Me dá mais um bolinho de tapioca aí, dane-se a dieta.


O REI PROTESTANTE HENRIQUE IV E A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS: Uma homenagem aos 500 anos da Reforma protestante ANTONIO NOBERTO Escritor, curador da Exposição França Equinocial, membro da Academia de Letras de São Luís e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão São Luís nasceu como a capital da sonhada França Equinocial, empreendimento francês no norte do Brasil que objetivava colonizar um terço ou metade do território brasileiro atual, sendo do Ceará ao Amazonas. O ousado projeto colonizatório junto à Linha Equinocial (a Linha do Equador) contava com a simpatia e incentivo de ninguém menos que o rei protestante Henrique IV de Navarra, o chefe da dinastia dos huguenotes, que só assumiu o trono francês após abjurar o protestantismo e se declarar católico, ocasião em que proferiu a famosa frase “Paris vale mais uma missa” (Paris vaut bien une messe). O casamento com a católica Margarida de Valois foi o primeiro passo para se tornar um dos reis mais amados e reconhecidos de toda a Europa. A conversão ao catolicismo se mostrou, na verdade, uma estratégia política de sucesso para conquista e manutenção do poder, pois o coração e as ações do “Rei bom” continuavam no propósito de pacificar a França e valorizar o poder huguenote. Vendo o Massacre dos seus aliados protestantes da Noite de São Bartolomeu, ocorrido no dia 24 de agosto de 1572 por ocasião do seu casamento com a católica Margarida de Valois, Henrique IV se empenhou em pacificar o reino gaulês, carcomido pelas guerras de religião que traziam morte e impediam o progresso da França. Foi esse Rei protestante, de vida simples – que quando nasceu, mesmo de origem nobre, tinha como berço um casco de tartaruga gigante –, que publicou em 1598 o Édito de Nantes, que definiu os direitos dos protestantes e, com isto, restaurou a paz interna na França. Pacificado o reino, restava a missão de expandir e conquistar. Foi com esse intuito que ele, em 1609, enviou o fidalgo huguenote Daniel de la Touche de la Ravardière para fazer os levantamentos para o estabelecimento de uma Nova França nas terras do Brasil, com sede na Upaon-Açu, que significa Ilha Grande, na língua tupi. Um ano antes, La Touche foi procurado pelo seu amigo e vizinho, o navegador Charles Des Vaux, que já habitava o Maranhão desde o final dos anos mil e quinhentos. Des Vaux fez a propaganda das férteis e abandonadas terras brasileiras, já conhecida em parte por La Touche. Este procurou o seu padrinho, confessor e papa dos huguenotes, Felipe Duplessis Mornay, governador de Saumur, que era amigo e conselheiro do rei Henrique de Navarra. Assim, estava feita a propaganda da parte norte do Brasil. Em 1609, o Monarca, sem perda de tempo, enviou Daniel de La Touche para os preparativos de uma colônia naquelas terras, com predominância de protestantes huguenotes. Ao voltar para a França em 1610, La Touche foi surpreendido com a triste notícia do assassinato do seu rei, que tombou sob o punhal do fanático católico François de Ravaillac. O regicídio representou o adiamento e modificações dos propósitos de Daniel de la Touche de La Ravardière, que convidou católicos de peso para a concretização do sonho do Rei morto. Mesmo com toda a insistência da Espanha em querer prejudicar o projeto, a expedição foi realizada com sucesso. E mesmo sendo vencida pouco tempo depois pelas armas ibéricas, até hoje é considerada como uma empreitada vitoriosa, por ter sido um ajuntamento de gente com bons propósitos de evangelizar e construir uma colônia fundada na paz e no respeito mútuo.


Outro mérito foi conseguir reunir em um mesmo espaço católicos, protestantes e tupinambás, todos sob as ordens da flor-de-lis francesa. Uma conhecida frase do escritor, especialista em História do Brasil e conservador da Biblioteca Santa Genoveva, em Paris, Ferdinand Denis (1798 – 1890), resume bem a convivência na França Equinocial: “Não existiu naquele século (XVII) uma relação mais leal e desinteressada entre católicos e protestantes”. É por isso que, decorridos mais de quatro séculos do assassinato de Henrique IV, ocorrido no dia 14 de maio de 1610, a popularidade dele continua intacta. Ele foi o rei da paz e da reconciliação da França e quem lançou a semente para uma das maiores e mais belas cidades do Brasil, que é a capital do Maranhão, que conserva o nome do seu filho, Luís XIII (1601 - 1643) e do rei Santo, Luís IX (1214 – 1270). Uma parte desta história está à disposição do público na Casa Huguenote Daniel de la Touche e na Exposição França Equinocial, em cartaz no Forte de Santo Antonio, na Ponta da Areia em São Luís. Este texto é uma homenagem a todos os maranhenses, brasileiros e franceses, especialmente ao público evangélico e simpatizantes. Viva Henrique IV, viva Daniel de la Touche e Viva São Luís!


JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Tenho escrito sobre a memória do esporte moderno no Maranhão. Dentre as modalidades implantadas, consta, a partir da primeira década dos 1900, o ‘jiu-jitsu”. Inúmeras referencias se apresentam em nossa imprensa escrita da época, até os anos 1960. É tida essa década a da introdução do Judô no Maranhão, por membros da família Leite – considerados oficialmente como seus precursores. O que vimos contestando. Durval Paraíso, durante evento de arbitragem ocorrido no ano 1980 - e por mim idealizado e coordenado -, afirmava que desde os anos 30 já se praticava Judô e que ele era um desses praticantes. Vamos ver, nos anos 40, 50, e 60 sua participação em eventos de “luta - livre”, que ocorriam na cidade, com desafios entre praticantes de artes marciais e boxe.

Durval Paraíso, Jorge Saito, Paulo Leite, Fernando Pereira, Adalberto Leite, Bernardo Leite, Agachados: Geraldão, Serrinha, Carlos e Olivar Leite Filho. 1980 – realizada uma Clinica de Arbitragem de Judô, promovida pela Confederação Brasileira de Judô, Federação Maranhense de Judô, e a Secretaria de Esportes e Lazer, no período de 21 a 26 de outubro; a Clínica foi ministrada pelos professores Avany Nunes de Magalhães e Antonio Oliveira Costa, e coordenada pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Essa Clínica visou formar o primeiro quadro oficial de árbitros da FMJ. Na ocasião foi prestada homenagem a


Durval Paraíso, o mais antigo judoca em atuação no Maranhão; começou a praticar judô ainda na década de 1930. 244

Servimo-nos da Wikipédia para estabelecer a memória dessas artes marciais, aparecidas no Maranhão. O “The Kodokan Institute”, e conhecido em português como “Kodokan” - Instituto do Caminho da Fraternidade, foi a primeira escola de judô, fundada no Japão, por Jigoro Kano, em 1882245. O Judô teve uma grande aceitação em todo o mundo, pois Kano conseguiu reunir a essência dos principais estilos e escolas de jujitsu, arte marcial praticada pelos "bushi", ou cavaleiros durante o período Kamakura (1185-1333), a outras artes de luta praticadas no Oriente e fundi-las numa única e básica.246. Mas foi só no final de 1886, após uma célebre competição, contra várias escolas de jujutsu, organizada pela polícia, que definitivamente ficou constatado o grande valor do judô kodokan. O resultado dessa jornada constituiu-se num marco decisivo na aceitação do judô, com o reconhecimento do povo e do governo que passaram oficialmente a prestigiar o judô kodokan. Depois da célebre ‘vitória de 1886’, como ficou conhecida, o judô kodokan começou a progredir com passos confiantes. A fórmula técnica do judô kodokan foi completada em 1887, enquanto a sua fase espiritual foi gradativamente elevada até a perfeição, aproximadamente, em 1922. Nesse ano, a Sociedade Cultural Kodokan foi inaugurada e um movimento social foi lançado, com base nos axiomas seryoku zen'yo (lit. máxima eficácia) e jita kyoei (lit. prosperidade e benefícios mútuos)247. Jigoro Kano, com a finalidade de iniciar uma campanha de divulgação do judô, no ocidente, em 1889, visita a Europa e os Estados Unidos da América, proferindo palestras e demonstrações. O Judô foi 244

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (org.) Atlas do Esporte no Maranhão – Judô, disponível em http://novo.cev.org.br/biblioteca/judo-5/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodokan 246 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4 . 247 https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodokan 245


considerado desporto oficial no Japão nos finais do século XIX e a polícia nipônica introduziu-o nos seus treinos. O primeiro clube judoca na Europa foi o londrino Budokway (1918) 248. Em 1909, um fato marcante parecia devolver a hegemonia do judô à kodokan. O governo japonês resolve tornar a kodokan uma instituição pública, uma vez que a prática do judô estava tendo ótima aceitação. Nessa época o judô começava a ser introduzido em quase todas as nações civilizadas do mundo, todavia, no ocidente o termo ‘jujutsu’ ainda era empregado, embora o nome Jigoro Kano fosse citado. Quero acreditar que o Jiu-jitsu – ou o kodokan, ou o jujutsu - devem ter sido apresentados aos sócios do Fabril Athetic Club (fundado em 1907) pelo escritor Aluísio Azevedo. Ao abandonar as carreiras de caricaturista e de escritor, abraça a carreira pública em busca de sobrevivência como funcionário concursado do Ministério de Relações Exteriores, torna-se cônsul, servindo por quase três anos no Japão, entre setembro de 1897 a 1899, na cidade de Yokohama, onde deve ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar Tênis e Futebol, quando de sua estada na Inglaterra. Informa MARTINS (1989) que Nhozinho Santos, em 1908, implanta mais duas modalidades esportivas no FAC: o Tiro, com inscrição na Confederação Brasileira de Tiro; e o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos249. Em “A Pacotilha”, São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo “JIU-JITZÚ” - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão.

Gazeta de Notícias, abril de 1909 – anuncio publicado várias vezes 248

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4 . MARTINS, Djard Ramos. MERGULHO NO TEMPO. São Luís: Sioge, 1989; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIRO º DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 8 , Ponta Grossa, UEPG... Coletâneas ... disponível em CD-ROOM, novembro de 2002. 249


“A Pacotilha” - de 18 de abril de 1910, segunda feira, no. 90 -, noticia de que o “Fabril Athletic Club” – FAC - estava preparando uma jornada esportiva para recepcionar ao Barão de Rio Branco, em visita à São Luís. Em nota do final da noticia é informado que: "Tem funcionado neste clube aos domingos pela manhã, um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia." Nesse mesmo ano, 13 associados do Fabril Athetic Club – FAC - se desligam dessa agremiação pensando na formação de outra, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o ONZE MARANHENSE, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins. Consta que o “Jiu-jitsu” foi introduzido no Brasil, oficialmente, por Mitsuyo Maeda, - "Conde Koma" -, por volta de 1914. Em 1915, o Conde Koma - em viagem de exibição pelo Brasil para divulgar sua arte -, e a caminho de Belém (novembro daquele ano), passou por São Luís e fez algumas exibições. O Conde Koma, em 1915, apresentava-se em São Luis – onde passou cerca de três meses:


PACOTILHA, 09 e 10 de dezembro de 1915

De acordo com Elton Silva250, Koma sempre praticou Judô Kodokan, o termo "Jiu-Jitsu" é genérico e usado por todos os japoneses fora do Japão, incluindo Kano. O próprio Conde Koma falava isso abertamente na imprensa americana, existem dezenas de jornais onde ele explica isso. Sada Miako ficou instruindo militares e civis até 1912, quando foi exonerado da Marinha. Depois disso foi para a colônia japonesa em SP e posteriormente deve ter voltado ao Japão. Os japoneses que deram continuidade ao ensino do "Jiu-Jitsu" no Brasil eram todos ligados ao método de Kano, sendo oriundos ou não do Kodokan. Ainda esclarecendo mais, informa que Katsukuma Higashi, o co-autor do livro “The Complete Kano Jiu-Jitsu”251, esclarece: “Alguma confusão surgiu com o emprego do termo “Judô”. Para esclarecer, vou declarar que Judô é o termo selecionado pelo Professor Kano para descrever seu sistema mais precisamente que Jiu-Jitsu. Professor Kano é um dos líderes da educação no Japão. E é natural que ele deva velar pela palavra técnica que mais precisamente descreva seu sistema. Mas os japoneses geralmente ainda chamam pela popular nomenclatura Jiu-Jitsu”. Já em Belém do Pará, o professor Koma passou a lecionar o verdadeiro Jiu Jitsu – diz-se, que a seu dileto aluno Carlos Gracie. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie foram os precursores do que hoje é chamado de 250

SILVA, Elton. Correspondência pessoal, via facebook, 28/10/2017,com o autor, esclarecendo alguns termos e dúvidas. https://www.facebook.com/elton.judo/posts/1476521202429319?comment_id=1477134512367988&reply_comment_id=1477 140569034049&notif_id=1509214453043699&notif_t=feed_comment_reply 251 The Complete Kano Jiu-Jitsu (Judo) (Inglês) Capa Comum – 11 jul 2016. por H. Irving Hancock (Autor), Katsukuma Higashi (Autor). https://www.amazon.com.br/Complete-Kano-Jiu-Jitsu-Judo/dp/0486443434


Jiu Jitsu Brasileiro, de eficiência comprovada no mundo inteiro252, muito embora em “O livro proibido do Jiu-Jitsu” seu autor Marcial Serrano coloque dúvidas de que os Gracies foram alunos de Koma, quando da estada deste em Belém. Na realidade, foram alunos de um praticante ensinado por Koma, e depois, por Omori, em São Paulo, lá pelos anos 30... Em “O Jornal”, de 27 de abril de 1918, era anunciado o match de Box, com a participação dos campeões Jemy Smith, americano, e João Pedro, brasileiro (baiano). Terminado o jogo, seriam efetuados diversos encontros de jiu-jitsu, entre Jemy Smith e alguns rapazes. No ano de 1946, conforme destaque no jornal “O Combate”, de 6 de agosto, sob o título: “UM DELEGADO DE POLICIA MESTRE DE CAPOEIRA E ‘JIU-JITSU”– contraventores presos com ”cabeçadas’ e ‘rabos de arraia’ – Invadindo residência, o delegado de Alcântara atraca-se com os seus desafetos, armando verdadeiros “sururus”: Assim que assumiu a Delegacia de Alcântara, o delegado nomeado pelo Interventor Saturnino belo, resolveu por em prática uma idéia que há muito tempo vinha acalentando carinhosamente. Convocou para uma reunião, o Prefeito, o escrivão da Coletoria Federal e o tabelião do 2º ofício. E expoz o seu plano, dizendo-lhes mais ou menos o seguinte: -- A nossa crise é de homens, mas de homens fortes. Precisamos – como diria Pittigrili – ser bastante fortes para quebrar a cara de 75%, do próximo. Querendo colaborar na grandeza de nosso paíz, cuja glória, um dia, se firmará pela capacidade física dos seus filhos., eu venho já de há muito tempo, me dedicando a um acurado estudo do ‘jiu-jitsu’, essa tradicional luta do Japão, cuja prática estimula os movimentos, dá agilidade e resistência ao corpo, proporcionando grandes capacidades de defesa e concorrendo para o nosso bem estar físico, moral e espiritual, pois o ju-do, como vulgarmente chamamos essa luta, assegura a confiança em nós mesmos... Os outros tres big olhavam, boquiabertos para o delegado ‘sportman’. E ele continuou sua explanação, afirmando que não tem fundamento a suposição de que o jinjutsu (sic) foi trazido ao Japão por Chin-Gen-Pin e Chaen Yuan, da dinastia de Ming, na China. Explicou que os verdadeiros do ju-do, foram os japoneses, por intermédio do médico Akiuyama Shirobei, estabelecido em Nakasaki e que lhe deu o nome de “Yoskin-riyu”, método que foi depois aperfeiçoado em Kusatsu por Yanagi Sekiaki Minamoto-no-Massarati, pertencente à classe feudal da província de Kynshu. -- Se quizermos ser fortes – explicou o delegado – devemos aperfeiçoar os nossos conhecimentos sobre o ju-do. A força vence tudo, Conhecendo alguns golpes e contragolpes, seremos os donos desta terra. Ninguém ousará defrontar-se conosco. Querem aprender como é? E passando da teoria à prática, o delegado gritou para o escrivão: -- Isto aqui se chama “nagewaza”! e aplicou-lhe um brasileiríssimo ponta-pé no estomago! O prefeito arregalou os olhos e nem teve tempo de abrir a boca. O atlético delegado deu-lhe uma cabeçada bem maranhense, explicando: -- Isto é ‘haraigoshi’! O prefeito caiu desmaiado, por cima do escrivão, que continuava estendido no solo. Quanto ao tabelião, foi mais rápido. Defendeu-se de uma rasteira que o delegado dizia chamarse ‘osotogari’, meteu-lhe o pescoço debaixo do braço e explicou, por sua vez: -- e isto aqui, chama-se ‘grampo’, meu filho! Sáe desse! Serenados os ânimos, o delegado, auxiliado pelo tabelião, tratou de fazer o prefeito e o escrivão recuperarem os sentidos, fazendo-lhes beber ‘água de lima’, método que ele chamou de ‘kwaseiho’. 252

www.pef.com.br/esportes/?e=jiu-jitsu.


E a reunião terminou ali mesmo. No dia seguinte, 29 de maio, dia de inicio da festa do Espirito Santo, saíram os quatro a percorrer a cidade, utilizando-se em todas as barracas do gostoso método “kwassei-ho”. De então para cá, segundo as noticiais que recebemos de Alcântara, o delegado ‘cisma’ com qualquer popular, não discute, nem hesita: Aproxima-se e diz: -- “Esteje preso, por infração! Si o ‘infrator’ pergunta o motivo, entram, então em prática os conhecimentos “ju-doisticos” da original autoridade, que com uma cabeçada e dois rabis de arraia estende por terra o adversário, intimando os presentes a conduzirem o preso para a cadeia. Assim aconteceu, há dias, quando ele invadiu a residência de um rapaz conhecido pelo nome de Antonio “Pirulico”, onde se travou uma luta espetacular, no decorrer da qual, em virtude dos ‘haraigoshi, e dos ‘nage-wasa do delegado, foram quebrados os potes, os alguidares, o espelho, cadeiras e a mesa do pobre rapaz. [...] E assim termina a ‘história’ do delegado de Alcântara, discípulo emérito do método de ‘ju-do’, fundado pelo dr. Prof. Gigoro Kano e adotado pelo Kodohwan em Tóquio [...] No “Diário de São Luis”, edição de 1º de junho de 1949, era anunciado a realização de um festival esportivo em prol da igreja do Anil, com duas taças em disputa, e uma luta de jiu-jitsu, entre os desportistas Durval Paraíso e o Sargento Cirino. Na edição de 4 de junho, trata de uma “atraente tarde esportiva que se realizaria no estádio santa Izabel”:


Em 1949, conforme noticia o Diário de São Luis, edição de 13 de junho, seria aberta a temporada de lutas daquele ano. Nessa data seria fundada a Academia Maranhense de Pugilismo, e todas as lutas dali em diante seriam controladas pela novel entidade. Idealizada por Carlos Ribeiro, a diretoria era assim composta: Presidente de Honra: Cesar Aboud; Presidente: Diógenes Barbosa; Secretário: Durval Paraíso; Tesoureiro: Zilmar Cruz; Diretor Técnico: Carlos Ribeiro; Diretor de Publicidade: José de Ribamar Bogea; Conselho Fiscal: Ivis Miguel Azar, João Silva, e Edmirson Viegas. Suplentes: Raimundo Gonçalves, Raimundo Francisco do nascimento, e Tácito José de Sousa. A abertura da temporada de 1949 iniciaria no mês de julho, com caráter solene, e contaria com lutas de jiu-jitsu livre, Box, etc. Na década de 1950, encontramos que Rubem Goulart mantinha uma ‘escolinha de judô’, no SESC. E que em 1952 anuncia a criação do Curso de Educação Física do Aero-Clube, conforme registro em PACOTILHA, quinta-feira, 24 de abril de 1952 p. 3; dentre os esportes a serem ensinados, consta judô e luta-livre. Em A PACOTILHA, quinta-feira, 24 de agosto de 1956, p.3, sob o título “TOLEDO DESAFIA BLACK PARA UM DUELO DE JUDÔ”, anunciando, para a próxima semana o confronto entre os campeões do Paraná e do Maranhão Lutadoras esperadas. Na próxima semana, os admiradores do pugilismo em nosso estado terão o ensejo de presenciar o primeiro duelo do judô. Toledo, o campeão maranhense vem de lançar um desafio a Black Maciron, campeão paranaense. Os que acompanham a temporada de Luta Livre e Vale Tudo, aguardam com vulgar interesse a resposta de Black DISPOSTO A VENCER Na manhã de hoje Toledo com pareceu à redação dos Diários Associados a fim de comunicar o seu desafio e também declarar aos nossos desportistas que está disposto a conquistar novo triunfo para as cores do Maranhão, no duelo do Judô.

A 29 de agosto – “BLACK ACEITA O DESAFIO COM BOLSA”. O lutador paranaense aceita o desafio de uma luta de judô, desde que haja uma bolsa para o vencedor.


Já na década de 1960, e de acordo com Antonio Matos – um dos maiores nomes do Judô maranhense, junto com Cláudio Vaz, Emílio Moreira, e James Adler – o Judô foi introduzido no Maranhão pela família Leite. Depois, surgiu o Major Vicente. O que é confirmado por Cláudio Vaz, que afirma que Paulo Leite já praticava Judô, em São Luís, antes da chegada do major Vicente.

Em 1966, PAULO LEITE funda a academia "JUDÔ CLUBE IRMÃOS LEITE"; sua primeira sede foi um salão nos altos do antigo Banco do Maranhão, na Rua da Estrela nº. 175 - Praia Grande; mudando-se depois para Rua Rio Branco nº. 276 - Centro. Após terminar o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Ceará, onde iniciou a prática do JUDÔ com o Professor Antonio Lima, retorna a São Luís e, como atleta sagrou-se campeão em vários torneios e campeonatos no estado do Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, e São Paulo. Além de iniciar todos os seus irmãos na prática do JUDÔ, formou vários atletas, inclusive as primeiras mulheres judocas dentre elas sua esposa Margarida. Iniciou o JUDÔ nas escolas de São Luis, sendo pioneiro o Colégio Marista. Promoveu a vinda da seleção Baiana de JUDÔ, evento este que lotou o Ginásio Costa Rodrigues, quando foi homenageado juntamente com o professor Lhofei Shiozawa (atual 2º vice presidente da CBJ - Confederação Brasileira de Judô), pelo também judoca da época, Cláudio Vaz dos Santos, o conhecido desportista "ALEMÃO".


Em 1968, Cláudio Vaz dos Santos – o Cláudio Alemão - retorna do Rio de Janeiro a São Luís, já como praticante de Judô. Com a chegada do Major Vicente é criada a academia “Samurai”, que funcionava atrás do Ginásio Costa Rodrigues; além de Cláudio, praticavam Marco Antonio Vieira da Silva, seu irmão Fabiano Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda. Cláudio Vaz perdeu dois campeonatos para Paulo Miranda. O judô só era defensivo, não valia pontos ofensivos, só valia a defesa, você sempre contra atacava, mas não valia o ataque, só valia a defesa. O Major Vicente permaneceu em São Luís por três anos, criando uma elite de judocas no Maranhão; esse trabalho durou de 68 até 70. Ainda nesse ano é criada a segunda escola de Judô em São Luís, no Clube Sírio Libanês, tendo como instrutor o Major Vicente, após a introdução da modalidade pelo Prof. Paulo Leite; faziam parte do grupo, além de Antonio Matos, Marco Antonio Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda, Sargento Leudo, Cláudio Vaz dos Santos, Francisco Camelo, Alberto Tavares, Gabriel Cunha, Durval Paraíso, Mestre Sapo – Anselmo Barnabé Rodrigues, o maior capoeirista que o Maranhão já teve. É em 1969 que a primeira seleção maranhense de Judô é formada, para disputar um Campeonato Brasileiro, em Brasília-DF; a equipe era formada por Antonio Matos, Paulo Juca Chaves Miranda. Sargento Leudo, e Francisco Camelo, técnico: Major Vicente. No ano de 1970 com a transferência do Major Vicente para o Rio de Janeiro, o grupo já formado procurou trazer um professor no nível dele; foi quando Jorge Saito - campeão das Forças Armadas – foi trazido para o Maranhão.


Em resposta à questão: o que se praticava em São Luis? Indaguei a Elton Silva253 podemos dizer, então, que o que se praticava, em São Luis, identificado como jiu-jitsu era o kodokan, hoje judo? Ao que respondeu: Se veio de Sada Miako ou de Conde Koma, sim. Não conheço ninguém até hoje que não tenha ensinado Kodokan Judô no Brasil. 253

SILVA, Elton. Correspondência pessoal, via facebook, 28/10/2017,com o autor, esclarecendo alguns termos e dúvidas. https://www.facebook.com/elton.judo/posts/1476521202429319?comment_id=1477134512367988&reply_comment_id=1477 140569034049&notif_id=1509214453043699&notif_t=feed_comment_reply


EDUCAÇÃO QUILOMBOLA: INVESTIMENTOS E RESPEITO AO POVO NEGRO FELIPE CAMARÃO Professor / Secretário de Estado da Educação Membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão O Maranhão possui a terceira maior população negra entre os estados brasileiros. Contudo, por décadas, essas comunidades foram esquecidas, sem quaisquer investimentos e políticas públicas, sobretudo, em educação. A Fundação Cultural Palmares (FCP), instituição vinculada ao Governo Federal, certificou, recentemente, 57 comunidades rurais quilombolas em 19 municípios maranhenses, com isso, já são contabilizadas 500 certidões e 682 comunidades quilombolas no estado. A etapa de certificação das comunidades remanescentes de quilombos é a primeira do processo de titulação que pode culminar com a posse definitiva do território, conforme orientações da FCP, amparada na Portaria nº 104, de 16 de maio de 2016. As certificações são fundamentais para que as comunidades tenham acesso às políticas públicas e a educação é, sem dúvida,a mola propulsora para o desenvolvimento, diminuição das desigualdades e a preservação da identidade do povo negro nessas comunidades. De acordo com o Censo Escolar 2016, há no Maranhão 56.603 matrículas quilombolas, com 3.910 professores em 716 escolas de educação básica. A gestão do governador Flávio Dino vemempreendendo esforços no sentido de discutir, propor e executar políticas públicas voltadas para a população negra, e promover a igualdade racial. Entre as inúmeras ações concretas do Governo do Maranhão, destaco a formação continuadapara professoresde Educação Escolar Quilombola, realizada pela primeira vez no estado, cuja etapa final será realizada na próxima semana (6 a 10 deste mês).Além disso, está prevista uma formação para os docentes da rede sobre a educação para as relações étnico-raciais. O relato dagestora de política de igualdade racial do município de Itapecuru, uma das regiões com maior concentração de comunidades quilombolas do estado, Eliane Cardoso Santos, traduz bem o significado desse encontro formativo:“É um momento histórico no estado do Maranhão, pela luta que sempre tivemos por uma educação quilombola de qualidade. Hoje estamos vendo um resgate da nossa cultura por meio dessa formação, que chegará aos alunos do Ensino Médio nessas comunidades”, enfatizou. Os conteúdos básicos dessas formações são inerentes às populações quilombolas, ou seja, conhecimentos acerca dos saberes tradicionais, dos acervos orais, das características históricas, étnicas e culturais das comunidades quilombolas em que as escolas estão inseridas e/ou das comunidades das quais os estudantes são oriundos, conforme orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Outra iniciativa que fortalece essa políticaé a Cooperação Técnico-Científica,firmada entre a Secretaria de Estado da Educação e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), por meio da Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros, para realização do trabalho de campo por pesquisadores maranhenses em Cabo Verde em 2018,sobre a formação e a cultura do povo africano. Após a pesquisa no país africano, será ministrada uma formação continuada presencial e/ou a distância para professores e gestores da educação básica da rede estadual de ensino, contribuindo, dessa forma,para elaboração e execução de projetos e ações educativas sobre a História e Cultura Africana e AfroBrasileira nas escolas estaduais, conforme a Lei 10.639/03, bem como para a promoção da igualdade racial no Maranhão. Os investimentos em formação continuada na educação quilombola já somam R$ 589.514, 29, além das reformas e construção de escolas em comunidades quilombolas pelo programa Escola Digna.


Essas ações, bem como a substituição das escolas de taipa em localidades longínquas e a capacitação dos professores e técnicos com os saberes específicos dessas populações,demonstram o compromisso do governador Flávio Dino com uma educação digna e de qualidade, respeitandoa pluralidade étnico-racial, os direitos legais e a valorização da identidade do povo maranhense.


A SAGA DE JUCA DE HONORATA AYMORÉ ALVIM ALL, APLAC, AMM. Contaram-me que este episódio ocorreu em uma cidade do interior do Maranhão, na década de 1940. Juca de Honorata era um pequeno comerciante que vivia de uma casa de comércio onde negociava, também, coco babaçu. O sonho dele era ser o homem mais rico da Região, talvez devido às grandes dificuldades passadas na infância. O sujeito era “mão de figa”, miserável, não gostava de pagar o que devia, além de ser muito grosseiro, até mesmo com seus fregueses, mas a única venda mais sortida do lugar era a dele, então o jeito era aguentar. Fazer o que? Depois de algum tempo, o negócio cresceu, a casa de comércio aumentou e seu Juca se não era, pelo menos foi considerado o homem mais rico daquela região. Comentavam, no entanto, que tudo começou numa noite em que ele sonhou com o avô que lhe disse haver um tesouro dentro de um pote que estava enterrado, no fundo do quintal da casa dele, debaixo de um cajueiro. Mas, para retirá-lo, deveria ir sozinho, à meia noite de uma sexta-feira que não tivesse lua, levando apenas uma vela para iluminar e um cavador. Juca não esperou. No outro dia, assim que anoiteceu, pegou uma enxada e começou a cavar. Cavou o quintal todo e não achou nada. À noite o velho voltou e lhe disse que somente acharia se seguisse a orientação que lhe dera. Numa noite, como lhe fora orientado, com enxada e uma vela, chegou debaixo do cajueiro e, na primeira enxadada, bateu em algo que lhe chamou atenção. Cavou mais um pouco e o pote apareceu. Abriu. Realmente estava cheio, mas de dobrões antigos de cobre sem nenhum valor monetário. Dizem que foi dormir chateado com o avô. Sonhou, novamente, mas ele achou que foi com o demônio, devido a aparência do bicho, que lhe prometeu o que tanto queria para reparar a frustração com o tesouro do avô. Daí porque tudo passou a melhorar para seu Juca. Ficou muito bem de vida e, realmente, era considerado o homem mais rico da região. O povo, então, dizia que ele havia feito um pacto com o “renegado”. Mas seu Juca dizia que isso era besteira e que ele enriqueceu foi com trabalho duro e sem gastar dinheiro com besteira. Dizia, ainda, que não acreditava em nada, a não ser nele e no seu dinheiro e que se existisse mesmo céu e inferno, quando ele morresse escolheria para aonde ir. Algum tempo depois, Juca adoeceu. Cada dia ia ficando pior. Dona Honorata, sua esposa, resolveu chamar o padre do local para lhe dar a extrema-unção. - Juca, tu crês em Deus? - Nem no diabo, padre. Nunca vi nenhum deles. - Então me respondes com sinceridade: Tu abjuras Satanás? - O que, padre? - Presta bem atenção, Juca. Tu renegas Satanás? Juca ficou calado. O padre perguntou mais duas vezes. Nada de Juca responder. - Juca, por que tu não respondes? - Ah! Seu Padre, eu não sei pra onde eu vou. Por isso, é melhor não me comprometer. O padre foi embora. No outro dia Juca morreu. Que rumo tomou ninguém ouviu falar


DO ABANDONO À ERA ESCOLA DIGNA FELIPE CAMARÃO Professor / Secretário de Estado da Educação Membro da Academia Ludovicense de Letras / Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Vivemos hoje um período interlocutório na história do Maranhão. Estamos em meio a mais uma significativa mudança proporcionada pela gestão do governador Flávio Dino. Já ficou para trás o tempo em que a educação estadual era entregue ao abandono e já nasce o novo tempo das Escolas Dignas, no qual, mais que simples retórica, a educação é, de fato, prioridade e por isso se faz, na prática, um grande instrumento de transformação social. Hoje, como em tempo algum foi feito neste Estado, não há uma semana em que não seja entregue uma unidade escolar construída, reformada ou revitalizada. E, para comentar essa realidade, começamos lembrando das palavras do idealizador deste programa que transforma a realidade da população maranhense, o governador Flávio Dino, que afirma não fazer um governo para colocar placas em paredes, mas, sim, para mudar a realidade do povo, olhar todos os dias para os que antes eram invisíveis e que é apenas através da educação que combateremos a maior das corrupções do país: a desigualdade social, a qual muito está nas mãos de tão poucos e muitos não têm quase nada. E, para materializar este grande programa, lembramos o primeiro ato de governo da gestão de Flávio Dino, ainda em seu discurso de posse, no dia primeiro de janeiro de 2015, com a assinatura do decreto que instituiu o Escola Digna, ao mesmo tempo em que disse aos leões que estes não mais se alimentariam dos recursos públicos, os quais seriam utilizados em benefício da população deste Estado. E assim o tem feito. Mas as escolas não são feitas apenas de muros, tijolos, tinta... tudo isso é fundamental para o aprendizado dos estudantes e para o exercício do ensino por nossos educadores; no entanto, não é tudo. Ciente disso, o governador Flávio Dino lidera a verdadeira reconstrução: aquela na qual o foco são as pessoas. A nossa missão tem sido reconstruir a esperança e proporcionar oportunidades iguais a todos por meio da educação. Neste sentido, o Escola Digna, também, tem ações importantes para o desenvolvimento adequado do processo de ensino e da aprendizagem, a exemplo do “Mais Alimentação”, que visa ampliar a oferta e a qualidade da alimentação escolar da rede estadual. Durante anos, as escolas não possuíam sequer merendeiras para manipular os alimentos, realidade modificada pelo Escola Digna e, agora, além dos recursos repassados para as caixas escolares, o governo licitará a complementação de alimentos que serão distribuídos diretamente para a unidade escolar. Mais uma “primeira vez” deste governo, que reduzirá a evasão escolar e aumentará a produtividade na escola. Fazer educação de qualidade requer muito mais do que visitas e alardear falsas profecias do caos. Temos que ter a esperança e força de vontade para modificar a realidade da população maranhense. Cada escola digna inaugurada em substituição às escolas de taipa leva para aquela população esperança, fé e perspectiva de um futuro de crescimento. E isso ocorre porque as bases do desenvolvimento familiar estão na educação, e com dignidade. Esta é a maior obra do programa escola digna, uma obra que não é feita de tijolos, mas sonhos e oportunidades. E não há como falar de dignidade e transformação social sem mencionar o “Sim, Eu Posso! ”, que está tirando as vendas da cegueira do analfabetismo de milhares de maranhenses pelo Maranhão, com investimento total de mil reais por pessoa alfabetizada. Não há palavras que possam descrever a emoção de ver alguém entender as primeiras palavras e escrever pela primeira vez o seu nome. Trata-se de uma obra do governo Flávio Dino, que não precisa e nem pode ter placas, mas sua marca fica nas pessoas, no povo de um Estado que já foi muito esquecido.


Todos os esforços e investimentos realizados na educação do Maranhão têm um objetivo em especial que é transformar tudo isso em programas de Estado enraizados na cultura do povo de modo que não permitam retrocesso, apenas avanços, independente de quem esteja administrando o Estado. Por esse motivo, convidamos a população do Estado para que vista a camisa do Escola Digna, pois a educação estadual é patrimônio do povo do Maranhão e a chave para transformar a realidade do nosso povo. Não importa o que digam vozes desesperadas e despreparadas para viver este novo momento. A educação precisa da união de esforços para que os avanços sejam cada vez maiores. Viva o Escola Digna! Viva a Educação! Viva o povo do Maranhão!


HOMENAGEM A GOMES DE SOUSA

JUCEY SANTANA https://juceysantana.blogspot.com.br/2017/11/homenagem-gomes-de-sousa.html?spref=fb O Governo do Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), em parceria com a Prefeitura Municipal de Itapecuru Mirim, a Academia Maranhense de Letras (AML através do seu Presidente Benedito Buzar), a Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (AICLA), e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) – campus Itapecuru Mirim, realizou dia 8 de novembro, ato público em homenagem ao patrono do biênio (2017/18) da matemática no âmbito do Estado do Maranhão. Instituído pelo Congresso Nacional, por meio da lei ordinária nº 13.358, de 07 de novembro de 2016, o biênio da matemática Joaquim Gomes de Souza conta com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e do Ministério da Educação. Durante esses dois anos, os eventos mais importantes do mundo da Matemática acontecerão no Brasil, objetivando colocar em relevo essa área de conhecimento. O evento aconteceu pela manhã na praça que leva o nome do patrono com grande número de estudantes professores, autoridades e a sociedade que acompanhou de perto as merecidas homenagens ao ilustre matemático itapecuruense. À tarde as homenagens tiveram lugar no auditório do IFMA mais direcionadas aos estudantes. O secretário de Estado da Educação acompanhado da equipe da secretaria Adjunta de Ensino entregaram certificados aos alunos que se destacaram nas Olimpíadas da Matemática no município, abaixo relacionados: 1 - Anderson Gomes Freitas - Escola Integrada Mariana Luz; 2 – Carla Letícia Silva Ferreira - U. E. Professor Manfredo Viana; 3 – Rafaela Gonçalves Faustino - U. I. Professor João da Silva Rodrigues; 4 – Mateus da Silva Oliveira - Escola Municipal Osvaldo Dias Vasconcelos;


5 – Josiane de Sousa Cabral - Escola Municipal Santo Antônio - Picos I; 6 – Gustavo Rodrigues Muniz - C.E.F. Governadora Roseana Sarney; 7 – João Vítor Mendes Costa - Unidade Escolar de Itapecuru Mirim; 8 – Weslly Ryan Marques dos Reis - C.E. Prof. Newton Neves; 9 – Sheila Santana da Cruz dos Santos – C.E. Ayrton Senna; 10 – Lyandra Luzia Conceição Gomes - C.E. Wady Fiquene. As homenagens ao patrono se estenderão até o final de 2018, pela Secretaria de Estado da Educação, com a realização de várias atividades, visando fortalecer e popularizar o ensino-aprendizagem da Matemática no Estado do Maranhão.


UBIRATAN TEIXEIRA

JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS RAMOS

Todos nós temos defeitos. Pé grande, nariz torto, mão pequena demais, orelha enorme. Uns cheiram mal, outros cheiram bem, mesmo sem usar perfumes. Uns são bons e outros ruins. Questão de caráter. Eu sei que tenho meus defeitos. Mas, entre esses defeitos, tenho certeza que não tenho dois: mal caráter e hipócrita. Também nunca adquiri a desfaçatez de ficar rotulando pessoas por isso ou por aquilo, querendo parecer uma pessoa perfeita. Mas, se ter manias for virtude, eu tenho uma mania que considero boa: gostar das pessoas, fazer amizades, respeitá-las ainda que não concorde com alguns procedimentos. Facilmente me afeiçoo às pessoas – mas quando essas erram e me ofendem, não consigo perdoar facilmente. E nesse momento é que percebo a hipocrisia de alguns. Cheguei em São Luís em fevereiro de 1987. Fui morar inicialmente no condomínio Torre do Sol. Comecei trabalhando logo em dois lugares: no Jornal O Estado do Maranhão, iniciando na Revisão; e na Rádio Timbira do Maranhão, no Jornalismo. No primeiro, encontrei e convivi com pessoas maravilhosas, profissionais de alto gabarito, e logo me afeiçoei a alguns, como José Salim, Jota França (que eu ia chamar de “Neguim França”, mas, agora é proibido e a lei passou a ser diferente, embora eu não trabalhe na TV Globo), Jorge Abreu, Zé Reinaldo Martins, Ester Marques, Alfredo João de Meneses Filho, Joina Moreira, essa mulher fantástica chamada Zilda Assunção, que tem um coração mais aberto do que os Lençóis Maranhenses. Também tive a sorte de conhecer e conviver com pessoas do naipe de José Chagas, Sávio Dino, Américo Azevedo, pai do gente boa Emílio Azevedo, Nonato Masson, Laura Amélia, e esse fantástico homem de bem e do bem, Ubiratan Teixeira. Alegre, aberto, sempre simpático e disposto a ouvir as pessoas. Era como ele mesmo dizia, um “verdadeiro bom sacana” no mais angelical sentido da palavra. Nascido no ano de 1931, mais precisamente no dia 14 de outubro, em São Luís, “Bira” nos deixou no dia 15 de junho de 2014, enviuvando a Dona Mary Teixeira. Pelas mãos da competência, da dignidade e do excelente trabalho desenvolvido entre nós, Ubiratan Teixeira chegou à cadeira 36 da Academia Maranhense de Letras. Na verdade, já se transformara em imortal antes de chegar lá. São essas pessoas que fazem a gente gostar do Maranhão. Mas haverá sempre aqueles que merecem tanger a carruagem da Ana Jansen – e esses jamais farão falta no nosso meio. Vida que segue. Usando sempre uma bolsa à tiracolo, chegava à Redação, e se dirigia em seguida para a Revisão, para ter certeza que havíamos entendido o que ele escrevera, e se havíamos feito a revisão corretamente – ou, como ele queria que ficasse. No que, cumprimentando-o, eu dizia: “Bira, tu és um grande sacana”! E ele rindo com um rosto transformado em criança, respondia: “Sou! E tu não tem anda com isso”! (JOR).


A FELICIDADE RENOVADA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL Você se considera uma pessoa feliz? A pergunta pode ser feita a ricos e pobres, patrões e empregados, professores e alunos; todos normalmente vão considerar-se felizes de alguma forma, mas não é possível medir o grau de felicidade de cada um desses mortais, pois a felicidade, como o amor, é um Graça de Deus. Tenho a sensação de estar, sempre, recomeçando e isto é uma forma de sentir-se feliz. Há algum tempo tenho feito coisas de outrora, mesmo depois de aposentado, com a experiência que Deus tem me proporcionado; tento compartilhar, trabalhar com as pessoas, acreditar nelas, incentivá-las, fazê-las progredir. As pessoas é que são importantes; as instituições e os cargos, passageiros. Procedemos e reagimos, com paciência ou impaciência, dependendo das circunstâncias. Será isto um procedimento inexorável? Há aqueles que conseguem conter a reação do momento portando-se como cavalheiros e donos de si, independente do signo que carregam; todavia, ressentidos, depois explodem da forma mais inusitada possível. Ninguém é perfeito na busca da felicidade. Penso que a felicidade está contida em momentos independentes de unidade de tempo e espaço, e não pode ser programada; pode durar anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. A minha felicidade, na companhia da Conceição, durou sessenta anos entre namoro, noivado e casamento. Foi uma Graça de Deus. Fomos amigos antes de sermos namorados e, de repente, num longínquo dia, naquela Praça, essa Graça foi revelada. Todos nós temos quatro grandes sofrimentos na vida, ouvi um monge budista dizer: quando nascemos, porque choramos; quando adoecemos, porque sofremos; quando envelhecemos, porque vergamos ao peso da idade; quando morremos, porque não pudemos evitar. O monge afirmava que esses quatro sofrimentos são causa e não efeito, como se pudéssemos administrá-los da melhor forma possível, talvez os retardando. Seria uma forma de alcançar a felicidade? A respeito dos meus momentos de felicidade lhes revelo: a infância e a adolescência nas casas onde morei com meus pais e irmãos; as professoras que me ensinaram no curso primário; a amizade, exemplo e convivência dos meus pais; minhas tias e tias da minha mãe; meus avós materno e paterno; meu casamento com Conceição; o nascimento dos meus filhos e netos; minha formatura em economia; minha docência na Universidade; meus alunos; meu ingresso na Academia. Outras recordações de quando o Rio ainda era uma cidade livre: morei inicialmente perto da praça da Cruz Vermelha, no Centro; depois, em Laranjeiras (casado voltei a morar nesse Bairro); a seguir, no Flamengo, no Catete e no Largo do Machado. Ia com frequência aos cinemas desses bairros e ao futebol a quase todos os estádios. Anos mais tarde morei no Leblon, Copacabana e Botafogo. Frequentava o Amarelinho, na Cinelândia, aos sábados, para desfrutar a companhia dos amigos e, nas noites de domingo, o tradicional restaurante Meu Cantinho, na rua da Lapa, perto dos Arcos, que servia um farto picadinho com ovo, a preço acessível se comparado ao quase simbólico cobrado pelo Calabouço, nos outros dias da semana; nos teatros da praça Tiradentes, no Carlos Gomes, das “revistas” com as vedetes do Walter Pinto, comemorei uma passagem de ano e, no João Caetano, assisti apresentação do conjunto americano “The Platters”, ainda na sua formação original; recordo-me do centenário Bar Luís, da rua da Carioca e dos restaurantes Timpanas, Grandeza e Ribatejo, da rua São José. Eu sou como diz Paulinho da Viola: “Eu vivo do passado; o passado é uma coisa que vive em mim”. Um dia ainda vou vivenciar aqueles espaços e tempos que não voltam mais. “Como era verde o meu vale”!


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GERENCIANDO O ORÇAMENTO PÚBLICO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL

São atividades permanentes dos governos federal, estadual e municipal, em períodos não necessariamente coincidentes no tempo, a elaboração de três documentos básicos: a Lei de Diretrizes orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária – LOA, anualmente, e o Plano Plurianual – PPA, a cada quatro anos. Normalmente LDO e LOA estão sob um PPA vigente, porém, no último ano deste, há necessidade de que os três documentos sejam elaborados no mesmo período de tempo. A LDO, em linguagem bem simples, define a “regra do jogo”: quais os grandes objetivos a serem alcançados e convertidos em Programas e suas respectivas Ações, bem como anexa os demonstrativos dos Riscos e das Metas fiscais, onde o Resultado primário é um dos itens mais importantes. Como a LDO deve estar pronta até o mês de abril e a LOA somente em setembro, aquela pode ter sido elaborada sob uma determinada conjuntura e seus parâmetros então vigentes, e é por isso que há comparações entre previsto e realizado em cada período, por exigência legal. Quer dizer: na LOA, elaborada depois, a conjuntura pode não ser mais a mesma quando da LDO. Na elaboração da LOA a fixação das despesas é função das estimativas de receitas; sob acompanhamento permanente, o comportamento das receitas pode sugerir capacidade de aumento ou diminuição de despesas. Sistemas corporativos desenvolvidos pelo pessoal de TecnoIogia da informação - TI devem compatibilizar essa necessidade de gerenciamento da execução orçamentária, visando o equilíbrio primordial. O PPA, elaborado a cada quatro anos, com suas diretrizes voltadas preferencialmente para resultados, aloca, a cada ano, os Programas e suas respectivas Ações, a par de Indicadores e respetivas Unidades de medida à efetiva aferição desses resultados. Assim sendo, quando se elabora a LOA, apenas ocorre alocação dos recursos necessários às definições já estabelecidas no PPA. O PPA é avaliado e, se necessário, revisado a cada ano, para efeito de eventual correção de rumos, o que, na sua dinâmica é conhecido como Ciclo do planejamento - PDCA; esse ciclo completa o gerenciamento indispensável ao alcance dos resultados pretendidos. É indispensável, entretanto, o que se segue: como conseguir que essa interdependência entre LDO, LOA e PPA aconteça da forma como está definida, porque é preciso gerenciar o processo de trabalho e seu conjunto de tarefas, que envolvem diversos órgãos e seus respectivos servidores? Existe uma estratégia mágica: aproximar orçamento de finanças. Quer dizer: a par dos cuidados refletidos na LDO, LOA e PPA, não há como empenhar e liquidar despesas apenas a par da existência de dotação orçamentária; é preciso que existam recursos financeiros disponíveis ao seu pagamento, que favoreçam, portanto, a execução de um orçamento equilibrado. Para tanto deveriam existir: uma “sintonia fina” entre Planejamento e Fazenda, com conhecimento prévio desta das demandas financeiras para determinado período de tempo, de preferência aqueles definidos pela Lei de Responsabilidade fiscal, para poder preparar-se em termos de melhorias nas suas metas de arrecadação e, por decorrência, no seu fluxo de caixa. .


CIDADE MARAVILHOSA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL Da primeira vez foi um encanto geral principalmente pelo futebol, pelo time do Fluminense, amor perdido ao longo do tempo; agora foi o próprio Rio, amor quase perdido pela cidade onde nasceram meus dois dos meus filhos, trabalhei, estudei e vivi por mais de dez anos, e revisitei por vezes incontáveis. Esse amor era tanto que, quando lá estava, não percebia a insegurança vivida por todos; sentia-me imune ao clima de tensão permanente dos arrastões, de balas perdidas e de pequenos assaltos. O fato é que precisava sentir na pele o perigo agravado que, de uns tempos para cá, mora ao lado de qualquer mortal; senti sofrendo situações inusitadas. Certa feita eu e minha esposa Conceição fomos ao Rio e hospedamo-nos num hotel em Copacabana, por indicação de amigos; dos andares mais altos a visão dos telhados escurecidos pelo tempo e das antenas de televisão atestando o refúgio dos melancólicos, dos reféns da violência das ruas. Nossa missão era bem definida: entre tarefas específicas íamos aproveitar o final de semana e visitar parentes, rezar nas igrejas, passear nos shoppings e, no Outback do Leblon, comemorar minha formatura em economia, há mais de 50 anos. Quando ando de táxi gosto de conversar com o motorista geralmente uma pessoa bem informada sobre os acontecimentos que envolvem a cidade e com algum juízo de valor a seu respeito; um deles confirmou a onda de insegurança pairando no ar, mas que os pequenos assaltos, à luz do dia e em locais de grande movimentação, estavam sob controle. Acreditei. Então pensei: as autoridades constituídas estavam atuantes e obtendo resultados. Nas ruas do Rio as pessoas se vestem com sobriedade principalmente as mulheres; nada de joias, relógios e outros adereços, nada que possa despertar a atenção. No metrô ninguém arrisca olhar para ninguém; é aquele silêncio apenas quebrado pelo barulho do trem; quando cada um chega ao seu destino suspira aliviado. Nesse clima de baixo astral explícito tinha que acontecer conosco algo desagradável. Foi numa sexta-feira, entre 10 e 11 horas da manhã, em plena avenida Rio Branco, no calçadão da Biblioteca Nacional, defronte à Cinelândia, fomos conferir a reforma recente do Teatro Municipal. Fotografei a Conceição e quando ela tentou fazer o mesmo comigo surgiu, como um raio vindo não sei de onde, um sujeito que lhe arrancou a máquina das mãos e, no meio daquele trânsito maluco, atravessou a avenida e fugiu em desabalada carreira observado por aqueles que passavam pelo local, sem poderem esboçar qualquer reação. Tento compreender que são problemas decorrentes da desigualdade social. O capital, quanto mais cresce o PIB, é cada vez mais concentrado e os ricos ficam ainda mais ricos, como acontece no Brasil. E isto não se resolve com programas assistenciais, filantrópicos, mas com geração de emprego e renda, e de forma sustentável. Perder um pequeno objeto não significa nada; o trauma vem da forma como o perdemos. Aconteceu conosco, mas por que não? Depois ficamos sabendo que não se deve ir a alguns locais da cidade, pois é muito perigoso, isto sem falar em pontos eternamente críticos da Zona Norte. Continuo gostando do Rio, mas perdi a confiança que me permitia um estar tranquilo, sem receios, pois tudo ficou pior.


SAÚDE E ESPIRITUALIDADE AYMORÉ DE CASTRO ALVIM AMM, APLAC, ALL. Desde tempos mais remotos da história do Homo sapiens sapiens, a interação da Medicina com a Religião está presente no imaginário do povo e, com o avanço das civilizações, quer no oriente quer no ocidente, vem crescendo a aceitação da interferência dos fatores espirituais no processo saúde/doença. Esta temática, no entanto, somente a partir dos três últimos séculos, tem despertado a atenção do mundo científico que para tal vem criando grupos interdisciplinares e interinstitucionais para estudar e pesquisar o assunto. Mas, até meado do século XX, havia ainda um grande temor de que o processo de secularização pudesse minar as bases da fé, eliminando gradativamente o espaço ocupado pela religião. Enquanto isso, vinha se fortalecendo, em diferentes setores da sociedade ocidental, a convicção na ação da divindade ou de entes sobrenaturais, no processo de cura com predomínio da fé no poder da oração, da meditação, da oração intercessória e dos exorcismos. Tais observações, principalmente, nas últimas décadas do século anterior, estimulavam o interesse das comunidades acadêmicas pela dimensão espiritual, na vida humana, o que se fortaleceu a partir da década de 70 do século passado. Os primeiros resultados obtidos, embora não conclusivos, têm demonstrado que não obstante o desenvolvimento científico em disponibilizar cada vez mais informações sobre a estrutura e a fisiologia do organismo humano, os positivos efeitos das drogas, fruto dos avanços da indústria farmacêutica e o êxito que vem sendo obtido com a pesquisa, na área da Biologia molecular, a participação do sobrenatural e do misticismo, no processo saúde/doença, reforça a força da fé, essencial na evolução do processo, como bem destacou Sir William Osler, em 1910, no seu trabalho: The fait hearls. O avanço da ciência médica e a tecnologia cada vez mais presente, no cenário da medicina, passaram a interferir sobremaneira na relação médico-paciente, minando o grau de confiança existente ou que deveria existir para assegurar maior disposição por parte do paciente em seguir a orientação médica e, assim, alcançar os benefícios esperados. No final daquela centúria, já se observava uma crescente procura pela religiosidade, e gradativamente, até mesmo o mundo ocidental se rendeu à busca pela interação da religião com ciência. As investigações que têm sido conduzidas sob a égide da Organização Mundial de Saúde, OMS, têm considerado o atual conceito “Bem-estar espiritual” como uma das dimensões do estado de saúde das pessoas ao lado das outras dimensões: física ou biológica, psíquica e social. Ultimamente, vários estudos vêm demonstrando a importância da religiosidade para a saúde humana. Esses estudos creditam à solidariedade, ao altruísmo, à oração, ao toque terapêutico, dentre outros, recursos fundamentais no processo de cura. São notórios os efeitos fisiológicos das práticas de relaxamento através da oração, da meditação que se mostram capazes de gerar alívio emocional e espiritual mediante mudanças físicas e químicas, no organismo do paciente. Já é aceito por muitas correntes de estudiosos que fé religiosa aumenta a confiança do paciente no médico e o diálogo entre o indivíduo e o divino. Alguns autores já concordam que a cura pela oração pode ocorrer até mesmo à distância. No Brasil, o interesse sobre a possível interação da Saúde com a Espiritualidade vem aumentando de modo que algumas Universidades já criaram Núcleos de estudos e pesquisas sobre o tema como têm, à guisa do que ocorre na Europa e na América do Norte, introduzido, no currículo do curso médico, como disciplinas eletivas ou optativas, Saúde e Espiritualidade para dar ao estudante as ferramentas necessárias à abordagem ao paciente. Também cresce o número de hospitais que desenvolvem serviços especializados, para o apoio religioso e espiritual ao paciente, conforme suas crenças. Esse fato é de grande relevância para o avanço do entendimento da relação da medicina com a religiosidade, contribuindo bastante para alívio ou até mesmo para a cura das enfermidades.


ESCASSA LUZ SOBRE [O FILME] "LAMPARINA DA AURORA", DE FREDERICO DA CRUZ MACHADO ANTONIO AÍLTON SANTOS SILVA

Fui assistir ontem ao "Lamparina da Aurora", novo filme de Frederico Machado. O cineasta, numa de suas postagens, disse que o banheiro do/de um cinema é um ótimo lugar para ouvir, displicentemente, comentários críticos acerca do filme. Mas um dia anódino, num cinema mais popular, parece tornar-se igualmente interessante para colher diferentes percepções, para uma experiência e sentimentos provavelmente muito diferentes da que teríamos naquelas sessões de estréia do filme ou naquelas sessões especiais, com vários convidados – que acabam por, naturalmente, ir tecendo certas opiniões e cumplicidades em torno do filme. Como não pude ir a nenhuma das sessões iniciais, como desejava, fui num momento que me foi mais conveniente, um momento livre dessa segunda-feira (04/12), ali no Rio Anil Shopping. O primeiro estranhamento é que não havia nada próximo ao grande espaço da bilheteria ou dos exibidores de entrada, nenhum cartaz, totem expositivo, imagem em tela, nada que indicasse que ali estavam exibindo aquele filme. Só vi mesmo aquela notação rápida no monitor de preços e sessões, e um pequeno cartaz lá na entrada da sala de exibição, para que o cinéfilo, já em decreto, encontre, talvez, onde entrar, se não souber ler o número da sua sala. Na Internet também, você só acha a sessão se digitar especificamente, o filme não aparece de imediato na programação junto com os outros. No ato da compra, todas as cadeiras livres. Você se dirige para a sala e o atendente, sem liberar a entrada, pergunta o que você quer. Lá dentro, sentimentos controversos inevitáveis: aquela alegria por ser tão especial a ponto de ter sessão exclusiva, sem a maldita luz de celulares, sentindo-se o rei da cocada, podendo mergulhar inteiramente naquela obra de arte (que já evoca por si uma tempestade de sentimentos e uma solidão universal, necessárias à contemplação dos próprios infernos), ao mesmo tempo, sabendo o valor do filme, sentindo uma tristeza pela ausência total de qualquer outra pessoa na sala para prestigiá-lo, naquela cumplicidade... e ainda no risco de ver, coincidentemente, apenas a cara de um conhecido adentrando pela porta, o que poderia ser bom, mas não sei se me alegraria, na circunstância. A questão aí, que está em jogo, já sabemos. É o eterno problema – por vezes dilema – do cinema nacional e de quem tenta romper, como Fred, os circuitos fechados da trilha comercial, de sua pragmática e de sua indústria, ou de qualquer um que deseje mostrar algo diferente da banalização, do pastiche, da jornada ideológica do herói, do circo de consumo certo, fácil e imediato. Só para deixar claro, não sou contra a indústria cinematográfica do bom entretenimento e da pipoca. Ela serve a seu propósito. No entanto, a vida está muito além de comer e defecar. Ou mesmo de trepar, fazer uhuuu, ou dar porrada. Eis por que cada um que se insurge numa luta corajosa para mostrar uma arte profunda e refletir sobre as próprias condições e instrumentos do cinema – e do cinema como experiência vital – como no caso desse incansável Fred, mereceria no mínimo o prêmio da visibilidade. É claro que conseguir salas e um circuito para exibir seu filme, articular-se nesse meio cinematográfico, para quem não tem recursos ou não produz cinema comercial já é um feito extraordinário. A propósito dessa feição comercial exigida, e de como se tenta domesticar qualquer produção que fuja a esse perfil, lembro agora de um momento em que estavam passando o trailer de Lamparina da Aurora na televisão, e eu estava numa sala de espera com outras pessoas. Uma senhora disse: "que coisa horrível, esses filmes de terror, agora é só isso que sabem fazer". Eu ainda não havia assistido ao filme, mas, por conhecer outros trabalhos de Fred, saber de sua cultura e seu cuidado, e conhecer a inspiração do filme – a poesia de Nauro Machado – senti-me imediatamente na obrigação de tentar desfazer aquela opinião, de ser apenas um ou mais um "filme de terror". "Não, senhora, este trabalho é diferente, isso é só o trailer que fizeram assim pra chamar a atenção do público, etc.", e dá-lhe explicação. Mas aquilo tinha mesmo um que de chamada para "Invocação do mal"...


Dito isto, em relação ao filme, é sempre uma experiência impactante nos depararmos com a combinação entre o cinema de Fred, ao mesmo tempo tenso, viscosamente somático, trágico, enigmático e econômico, e a tragicidade poética de Nauro, cuja voz − cinematograficamente tratada, recortada – mais uma vez, o revive para nós, ressoando na sala, desenterrando os subterrâneos de nossas almas e lembranças, e conduzindo-nos a uma atmosfera estarrecedora: aquela do peso da condição humana no universo. A narrativa, esfacelada, é conduzida por três personagens ambíguas, interpretadas por três atores relativamente desconhecidos com desempenho extraordinário (Buda Lira, Antonio Saboia e Vera Leite), vagantes, circulantes numa casa lugubremente iluminada, e seu derredor de plantas, cílios, folhas, água e umidade, onde tudo pode ser memória. Momentos de fotografia(s) derruída(s) na tela também encarnam essa derrisão retentiva do tempo. Na atmosfera soturna e telúrica, o espaçotempo torna-se circular, às vezes difratário, e cuja difração última é a duplicidade entre a vida e a morte como duplos uma da outra (motivo forte da poesia naureana), retratados poeticamente pela degeneração dos corpos em seu eterno retorno para a mesmíssima condição trágica de habitar um mundo perecível e condenado. Há uma crítica de Inácio Araújo, do Folhapress*, que, associando o filme de Fred ao cinema "essencialista", remetendo-o a Tarkovski, faz um elogio ao labor do cineasta maranhense, pelas conquistas que vem tendo, apesar das condições que tem e do lugar difícil no qual desenvolveu seu cinema até agora, o Maranhão, porém comenta que diante de outros trabalhos de Fred, como O signo das tetas e O exercício do caos, Lamparina da aurora foi o que menos lhe interessou. Diz o jornalista: "Sabe-se que este é um filme dedicado por Frederico ao pai. Uma espécie de dívida familiar a resgatar. Está feito. A vantagem é que se pode esperar o próximo com alma mais leve: mais Sousândrade e menos Urais, mais I-Juca Pirama e menos Cáucaso". A questão é, sem dúvida, complexa. Penso porém que uma de suas raízes está naquele mesmo ponto em que se coloca a poesia de Nauro, no escancaramento de uma tragicidade (a dor universal, as perdas, falha, a falta, a opressão, as coisas inelutáveis, como a morte) por meio da lírica, frente uma poesia contemporânea que não quer nem deseja tratar dessas coisas, que opta (a poesia, digo) pelo cotidiano urbano, pela pragmática clean e pela felicidade das linguagens de que se utiliza, se possível, dizendo o que as editoras querem ouvir. Neste caso, Fred terá realmente muita reflexão pela frente. Para mim, não-crítico de cinema, importa por enquanto que o impacto que o filme me causa já exclui por antecedência o desinteresse, porque, quase sem palavras pronunciadas, me sensibiliza, ressoa em mim e fala realmente a alguma coisa que posso chamar de alma, e me dá a certeza, acima de tudo, de que alguém precisa falar dessas assombrações, que muitas vezes varremos para debaixo do tapete, até que elas se revoltam e se põem outra vez à mostra, em seus espectros. Alguém precisa falar delas. Por isso, saio do filme com a alma renovada, torcendo para que você rompa esse silêncio cada vez mais, caro Fred.


MAIS ALIMENTAÇÃO ESCOLAR FELIPE CAMARÃO O Maranhão ainda possui elevado índice de pessoas sem alimentação diária adequada em todas as regiões do Estado. Esse dado é reflexo de décadas sem investimentos sérios e comprometidos com a melhoria das condições de vida do seu povo. Mas essa realidade está mudando a cada dia. O governador Flávio Dino tem feito inúmeros investimentos para geração de renda e fortalecimento da agricultura familiar no Estado. Ações que estão transformando o Maranhão em um estado mais produtivo e que, também, diminuem as consequências da pobreza extrema que, durante anos, foi vivenciada pela população maranhense. O governador determinou que a Educação realizasse uma agenda de fortalecimento da alimentação nas escolas da rede estadual, no âmbito do Programa Escola Digna. Essas ações já fazem parte do dia a dia de milhares de estudantes em todos as regionais. Como exemplo, citamos a educação escolar indígena que, por muitos anos, enfrentava problemas com a aquisição e distribuição da alimentação nas escolas, fato este que gerou diversas ações movidas pelo Ministério Público Federal. Agora, essas escolas contam com distribuição periódica, sistematizada e transparente com investimentos de R$ 9,9 milhões/ano, resultando, inclusive, no arquivamento de demandas judiciais. Os alimentos são adquiridos com a presença dos gestores escolares, a participação das lideranças indígenas e de técnicos da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), desde a pesquisa de preços, passando pela aquisição dos produtos com menor valor, até separação e distribuição das cestas. Avanço, também, com a contratação de merendeiras para as escolas. Durante décadas, não havia pessoas para manipular alimentos na maioria das escolas do Estado, gerando uma alimentação de baixa qualidade, pois, sem ter quem preparasse, a merenda tinha que ser a mais “prática” possível. O Estado contratou 1400 (mil e quatrocentos) novos manipuladores que foram distribuídos por todo o Maranhão, dando um salto de qualidade no atendimento a este serviço. Não há como falar em alimentação escolar sem mencionar os Centros de Educação Integral criados na atual gestão. Lá o estudante faz três refeições diárias com base em um cardápio elaborado por nutricionistas da Seduc, atendendo a 70% das necessidades diárias de cada estudante. Trata-se de investimento realizado com recursos oriundos do Governo Federal e do Tesouro Estadual. Hoje, os alimentos são adquiridos pela escola com recursos transferidos às Caixas Escolares. Mas, visando dar saltos cada vez maiores para melhorar a qualidade e a oferta da alimentação escolar, o governador Flávio Dino determinou a licitação de alimentos para complemento dos valores já existentes, criando o ‘Mais Alimentação Escolar’. Como parte de uma ação do Programa Escola Digna, o Mais Alimentação Escolar tem o propósito de ser uma política de Estado e não de governo, pois, dessa forma, não permitirá o retrocesso para a situação de descaso como ocorreu nas últimas décadas. Além de movimentar a economia, aumentar os investimentos na agricultura familiar e reforçar a alimentação escolar, o programa trará um enorme impacto no processo de ensino e da aprendizagem, notadamente porque o estudante bem alimentado tem melhor desenvolvimento em sala de aula e, com isso, teremos, com toda certeza, uma redução da taxa de evasão escolar. Cabe frisar que ainda há, no Estado, crianças e adolescentes que têm na alimentação escolar, se não a única, mas a melhor e mais consistente refeição do dia. E isso justifica todo o empenho e prioridade do Governo Flávio Dino para ofertar alimentação adequada aos estudantes. Ações como essas e tantas outras empreendidas pelo atual governo buscam cada vez mais elevar os índices sociais e de avaliação da educação do Maranhão neste novo momento da história do Estado. Contudo não é uma simples busca de números e, sim, andar a passos largos para que o povo maranhense, de fato, seja o único destinatário das riquezas e investimentos do Estado.


ANTONIO NOBERTO CONDUZ ESCRITOR FRANCÊS ÀS “PEPITAS” DO MARANHÃO MANOEL DOS SANTOS NETO Um pesquisador francês apaixonado pela África esteve há cinco anos em São Luís buscando informações sobre raízes negras da cultura do Maranhão. Em suas andanças pela tão sonhada França Equinocial, o ilustre visitante, o etnólogo Jean-Yves Loude, teve como cicerone o escritor Antonio Noberto, membro e um dos fundadores da Academia Ludovicense de Letras. A viagem de Jean-Yves Loude ao Brasil resultou no livro ‘Pépites brésiliennes’, lançado em Paris no ano de 2013. A obra, traduzida pelo professor Fernando Scheibe, agora está circulando em português sob o título ‘Pepitas brasileiras - Do Rio de Janeiro ao Maranhão, uma viagem de 5.000 quilômetros em busca dos heróis negros do país’. Nesse livro, de 351 páginas e dividido em 11 capítulos, dois viajantes franceses, ambos escritores, etnólogos e investigadores, envolvem-se em um giro de cinco mil quilômetros de ônibus, pelo Brasil, seguindo os passos de figuras proeminentes que permaneceram nas sombras da história, que têm em comum serem negros, descendentes de escravos, e terem contribuído, por sua coragem, sua criatividade e sua força, com a construção da identidade e da alma brasileira. Com o auxílio do pesquisador Antonio Noberto, que aparece no livro como o ‘turismólogo da França Equinocial’, o escritor Jean-Yves Loude e sua companheira Viviane Lièvre são levados a conhecer o Maranhão através de seis “pepitas” de valor inestimável: Mundinha Araújo, Maria Firmina dos Reis, Catarina Mina, o Quilombo de Frechal, Nhozinho e o Negro Cosme. Jean-Yves Loude abre o livro “Pepitas brasileiras” com homenagem à mais velha ancestral da América. Na obra, ele conta a história de dois etnólogos que recebem a notícia da descoberta de um crânio de mais de 10 mil anos, atribuído a uma mulher negra. A partir daí, eles se lançam em uma jornada pelo País, percorrendo do Rio de Janeiro a São Luís do Maranhão em busca de respostas para esse mistério arqueológico. Ágil e rigorosa, a narrativa de sua jornada desvela fascinantes complementos à história oficial, que esquece tantos e tanto: os homens e as mulheres que encontram têm em comum o fato de serem negros, descendentes de pessoas escravizadas; de terem participado, com sua coragem, criatividade e resistência, da construção da identidade e da alma brasileira; e de terem ficado na sombra, ou à margem. “Pepitas brasileiras” começa e termina com o toque maranhense de Zayda Costa, Nhozinho e outros personagens presentes desde o primeiro capítulo. Em uma carta reveladora Zayda e o tambor de crioula animam os etnólogos a saírem das montanhas geladas das vinícolas do Beaujolais, a cem quilômetros ao norte de Lyon, na França, e percorrer o Brasil desvendando as riquezas deste mundo afro revelador. O pesquisador Antonio Noberto aparece no momento da pesquisa de campo mostrando aos dois garimpeiros das pepitas brasileiras os caminhos a serem percorridos no Maranhão. Em novembro de 2010 o “turismólogo da França Equinocial” se despiu da pele tupi e incorporou a tez africana, mãe dos brasileiros. Ele começa colocando em cena algumas pepitas sepultadas no Cemitério do Gavião, como o escritor Nascimento Morais, autor da importante obra “Vencidos e degenerados” (vencidos os negros e degenerada a sociedade), prefaciada pelo bretão Jean-Yves Mérian, que também prefaciou a obra “O mulato”, da também pepita Aluísio de Azevedo. Desde então se inicia uma verdadeira saga no litoral e interior do Maranhão. Em uma primeira viagem Noberto os leva a Itapecuru Mirim, onde foi enforcado Negro Cosme, “o Zumbi do Maranhão”, cujo maior pecado foi ter criado escolas para negros, algo vedado à imensa maioria dos brasileiros, inclusive aos brancos. Depois Vargem Grande, onde se reuniu na sede da prefeitura com o então chefe municipal Dr Miguel Fernandes e várias lideranças negras de comunidades remanescentes de quilombos daquela região. Em


seguida, partiram para Nina Rodrigues, então Vila da Manga do Iguará, onde a Balaiada teve início em 1838. Lá os pesquisadores foram recebidos por Zé Braga, profundo conhecedor da história da Balaiada. Uma hora e meia foi mais que suficiente para que ele destrinchasse a história e os detalhes daquele que foi o maior movimento daquele século no Maranhão, que terminou sendo sufocado pelas tropas de Duque de Caxias. No dia seguinte pegaram o ferry boat e viajaram para Guimarães e Mirinzal, sendo recebidos por vereadores, prefeito, professores e alunos de uma escola, tudo organizado pelo historiador e edil Osvaldo Gomes e pelo também vereador Athaide Junior. Em seguida visitaram o cemitério municipal, que abriga o túmulo e os restos mortais da primeira romancista brasileira, a mulata Maria Firmina dos Reis, escritora de Úrsula e do hino da abolição do Brasil. Depois a equipe se deslocou ao quilombo de Damásio e, no dia seguinte, para o município de Mirinzal, onde se encontra o conhecido quilombo de Frechal. De volta à Ilha de São Luís os investigadores se prepararam para uma importante viagem à Ilha misteriosa do Cajual, no município de Alcântara, que abriga a comunidade de Santana dos Pretos, que, não obstante a proximidade com a capital do estado, fica completamente isolada da civilização. À tarde o turismólogo retornou a São Luís e o casal permaneceu na cidade de Alcântara. O dia seguinte foi de encontros com personalidades da cultura negra, como o professor Ferreti, a professora Mundinha Araújo, Zayda Costa e finalizou com uma visita à FELIS - Feira do Livro de São Luís. Dois anos depois, Antonio Noberto e a esposa Aline Vasconcelos visitam Loude e a esposa na cidade do Beaujolais, no sudeste da França. A estada foi mais que oportuna, vez que o etnólogo estava escrevendo a parte final do livro das pepitas, justamente na parte que fala do Ceará e do Maranhão. Noberto aproveitou para sugerir ao anfitrião que colocasse no livro a história da primeira outorga da liberdade dos escravos no Brasil, acontecida no Ceará, graças ao pescador Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde, que proibiu o embarque e desembarque de escravos no porto de Fortaleza e, com isso, recebeu do imperador Dom Pedro II o título de Dragão do Mar. Esse marcante evento aconteceu em 1884, quatro anos, portanto, antes da abolição dos escravos. Por conta disto a capital cearense passou a ser conhecida como a cidade da luz.


NOVOS TÓPICOS RELEVANTES – IV ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro efetivo da Academia Caxiense de Letras e da Associação Internacional de Escritores IWA, em Toledo, Ohio, USA. Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras. O Estado do dia 11/12/2017

Esses tópicos nasceram da vontade de continuar multiplicando informações, missão sendo cumprida ao longo da minha vida profissional, como economista, professor universitário e acadêmico. Outra coisa é a necessidade de compartilhar não deixando leitores e amigos sem respostas, porque “as pessoas escrevem para que os outros não se sintam sós”. O balanço de pagamentos de um país totaliza os resultados em Conta corrente e Conta financeira. Em setembro/2017, as Transações correntes do Brasil registraram superávit US$434 milhões e com a Balança comercial ajudando muito. Na conta financeira os investimentos diretos também cresceram. O banco central brasileiro parece ter despertado para o cada vez mais expandido comércio das criptomoedas; não têm principalmente segurança de parte de quem emite, nem liquidez e rentabilidade, pois carecem de regulação. Um grande risco para investidores em busca de ganho fácil, pois já causou perdas de R$450 milhões. O PIB brasileiro caiu 9% entre 2014/2016, em onze trimestres, segundo o professor Delfim Neto, em recente artigo para o jornal “Valor econômico”. O Resultado primário do governo central com déficit inicialmente previsto em R$159 bilhões para 2017, depois baixado para R$129 bilhões na proposta orçamentária 2018 (PLOA), voltou ao nível de R$159 bilhões na reestimativa dessa proposta. Todos estão recordados das graves repercussões sofridas pela zona do euro como consequência da crise da “bolha”; decorridos quase dez anos depois de grave recessão e pressão por ajustes fiscais, mas contando com auxílio à liquidez do Banco Central Europeu - BCE, apesar dos efeitos colaterais, há sinais de recuperação: a França, por exemplo, impulsiona “a região de 19 países, que cresceu 2,5% no terceiro trimestre (2017), em relação ao mesmo período do ano passado”. As expectativas dos agentes econômicos brasileiros estão voltadas para a “cena americana”, do que pode acontecer principalmente com a política de juros, doravante, na administração de Jerome Powell, recém nomeado à presidência do Federal Reserve – FED, o banco central americano. Sabe-se que uma elevação dos juros poderá acarretar uma fuga de capitais em busca de melhor remuneração. Na seção “Conjuntura” do jornal Valor econômico, do dia 03/11/2017: “Na recessão, o empobrecimento da população inchou o número de famílias nas classes “D” e “E”. A base da pirâmide ganhou 4,1 milhões de famílias em 2015 e 2016, passando a representar 56,1% dos domicílios, nível próximo ao de 2011. Conclusão: empobrecemos. Quem perdeu mais foi exatamente a classe média enquanto os ricos ficaram mais ricos. O presidente Donald Trump teria trazido “alívio para emergentes” ao nomear Jerome Powell à presidência do banco central americano, pois essa nomeação, segundo alguns comentaristas especializados, “significa a continuidade da política monetária gradualista atual do FED”. Powell, que não é economista, enfrentará um grande desafio à gestão da liquidez atualmente vigente no sistema financeiro.


GERENCIANDO O ORÇAMENTO PÚBLICO

ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL. O Imparcial do dia 10/12/2017, domingo

São atividades permanentes dos governos federal, estadual e municipal, em períodos não necessariamente coincidentes no tempo, a elaboração de três documentos básicos: a Lei de Diretrizes orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária – LOA, anualmente, e o Plano Plurianual – PPA, a cada quatro anos. Normalmente LDO e LOA estão sob um PPA vigente, porém, no último ano deste, há necessidade de que os três documentos sejam elaborados no mesmo período de tempo. A LDO, em linguagem bem simples, define a “regra do jogo”: quais os grandes objetivos a serem alcançados e convertidos em Programas e suas respectivas Ações, bem como anexa os demonstrativos dos Riscos e das Metas fiscais, onde o Resultado primário é um dos itens mais importantes. Como a LDO deve estar pronta até o mês de abril e a LOA somente em setembro, aquela pode ter sido elaborada sob uma determinada conjuntura e seus parâmetros então vigentes, e é por isso que há comparações entre previsto e realizado em cada período, por exigência legal. Quer dizer: na LOA, elaborada depois, a conjuntura pode não ser mais a mesma quando da LDO. Na elaboração da LOA a fixação das despesas é função das estimativas de receitas; sob acompanhamento permanente, o comportamento das receitas pode sugerir capacidade de aumento ou diminuição de despesas. Sistemas corporativos desenvolvidos pelo pessoal de TecnoIogia da informação - TI devem compatibilizar essa necessidade de gerenciamento da execução orçamentária, visando o equilíbrio primordial. O PPA, elaborado a cada quatro anos, com suas diretrizes voltadas preferencialmente para resultados, aloca, a cada ano, os Programas e suas respectivas Ações, a par de Indicadores e respetivas Unidades de medida à efetiva aferição desses resultados. Assim sendo, quando se elabora a LOA, apenas ocorre alocação dos recursos necessários às definições já estabelecidas no PPA. O PPA é avaliado e, se necessário, revisado a cada ano, para efeito de eventual correção de rumos, o que, na sua dinâmica é conhecido como Ciclo do planejamento - PDCA; esse ciclo completa o gerenciamento indispensável ao alcance dos resultados pretendidos. É indispensável, entretanto, o que se segue: como conseguir que essa interdependência entre LDO, LOA e PPA aconteça da forma como está definida, porque é preciso gerenciar o processo de trabalho e seu conjunto de tarefas, que envolvem diversos órgãos e seus respectivos servidores? Existe uma estratégia mágica: aproximar orçamento de finanças. Quer dizer: a par dos cuidados refletidos na LDO, LOA e PPA, não há como empenhar e liquidar despesas apenas a par da existência de dotação orçamentária; é preciso que existam recursos financeiros disponíveis ao seu pagamento, que favoreçam, portanto, a execução de um orçamento equilibrado. Para tanto deveriam existir: uma “sintonia fina” entre Planejamento e Fazenda, com conhecimento prévio desta das demandas financeiras para determinado período de tempo, de preferência aqueles definidos pela Lei de Responsabilidade fiscal, para poder preparar-se em termos de melhorias nas suas metas de arrecadação e, por decorrência, no seu fluxo de caixa. Para Ilustrar a necessidade e procedência de tudo que foi dito, o jornal “Valor econômico”, edição de 05/12/2017, publicou: dívida fiscal líquida total do setor público entre as diversas esferas de governo, em out/16 R$2.932,8 bilhões e out/17 R$3.534,2 bilhões; resultado fiscal primário do governo central, jan/out/16 R$(-)63,0 bilhões e jan/out/17(-)104,0 bilhões. *


FRAGMENTOS DE LUZ E COR ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL. Publicado em O IMPARCIAL, 17 de dezembro de 2017

Era uma vez quatro irmãs de codinome Lilita, minha mãe Nadir, e as tias Neném, Doninha e Santa, única viva, filhas do velho “lobo do mar”, Augusto do Espírito Santo Ribeiro, comandante do vapor Itapecuru, que fazia a linha entre várias capitais do Norte e Nordeste, na década de 30. Esse comandante, além de inúmeras qualidades, um fato histórico enriquecia sua biografia: durante a Revolução daquele ano houvera dado fuga a um Governador e um Prefeito, premidos pela nova ordem. Essas ilustres irmãs tiveram grande participação na infância dos primeiros sobrinhos ligando-os ao avô materno, pois a avó, portuguesa de nascimento, já havia morrido quando nasceram. A família Brandão morava em Caxias, nos idos de 38-39. Naquela época, havia o rio e a estrada de ferro como únicas vias de acesso à capital. Pois bem: a tia Doninha, professora, durante as férias, enfrentava uma viagem de trem que durava quase 30 horas, com escala de pernoite, para fazer os sobrinhos desfrutarem do aconchego da casa do avô. O primeiro trem saía cedinho para, após o tal pernoite, chegar à capital depois do longo tempo. As locomotivas eram movidas a vapor; suas caldeiras queimavam muito carvão e lenha, liberando grande quantidade de fumaça e das famosas “fagulhas”. A viagem, no início despertando muita atenção e curiosidade dos sobrinhos, Antônio Augusto e Frederico, em pouco tempo tornava-se desconfortável; a noite chegava e as “fagulhas” queimavam a roupa. O trem ia parando em cada estação; era uma diversão conferir e decorar essas “paradas”, geralmente com nomes em homenagem a pessoas ilustres do lugar. O trajeto tinha pontos temidos e outros ansiosamente esperados: uma ponte, a do Codozinho, muito estreita, “cortava a cabeça” de quem fosse descuidado com suas colunas de aço, que cruzavam rente as janelas do trem, diziam; um campo verdejante, Perises, com sua extensa relva que a vista não alcançava o fim, recompensava os momentos de tensão e anunciava a proximidade da capital. Uma ponte, mais adiante, a da Estiva, ligando o continente à ilha, dava a certeza de que a viagem estava terminando. Os sobrinhos estavam eufóricos. A velha “Maria fumaça” estava quase vencendo mais uma batalha dos trilhos; o trem começava a atravessar bairros periféricos à capital e logo todos descortinavam a primeira visão da Ilha, as palmeiras imperiais ao sabor do vento, luzes mais fortes, a Estação aproximando-se. Lá, invariavelmente, éramos recebidos pelas tias que moravam com o pai e avô, na rua do Pespontão; o desembaraço da bagagem, como sempre, a cargo dos conhecidos “Baixinho” e “Jacamim”, velhos carregadores de então. Aí, como a casa do avô ficava bem perto, todos iam mesmo a pé, conversando, os sobrinhos vestindo um capote de lã, que a mãe havia feito e recomendado contra a frieza. Os sobrinhos queriam saber logo se o avô estava em casa, se não estava viajando comandando o seu vapor. É que ele sempre os recebia com muita afeição e carinho, embora fosse enérgico e severo quando a situação assim o exigia. Na casa estavam as tias mais idosas, tias das tias, com a mesa posta para o café com pão e manteiga, bolos, antes que todos fossem dormir sonhando com a longa viagem e pensando em como gozar as férias nos próximos dias. A espera pelo avô, se estivesse viajando, era angustiante: ao final de cada tarde os sobrinhos postavam-se à janela da casa porta e janela, com as vistas voltadas para a esquina da rua. A qualquer momento ele poderia surgir dobrando aquela esquina e, com passos lentos e firmes, subir ao nosso encontro portando algum presente ainda que fosse um simples bombom.


CONTO DE NATAL: MEDICINA, UM EXERCÍCIO DE AMOR. AYMORÉ ALVIM. AMM, ALL, APLAC. Foi em uma cidadezinha do interior. Um jovem médico se encontrava de serviço, no Posto de Saúde local, quando chegaram algumas pessoas trazendo uma jovem de, aproximadamente, 16 anos, que havia ingerido vários comprimidos de cibalena. Após os procedimentos utilizados, o médico conseguiu tirar a paciente do estado de intoxicação medicamentosa, dando-lhe a oportunidade de continuar desfrutando a vida mesmo porque além de muito nova estava grávida. No dia da alta... - Menina, você pode voltar para casa, mas venha todos os meses ao Posto para fazer seu pré-natal. A mocinha estava calada com a cabeça baixa. Chorava. - O seu compromisso a partir de agora é se preparar para esperar o seu filho. Mas, do jeito que chegou aqui, alguma coisa de grave parece lhe ter acontecido. Gostaria de me contar? A moça olhou, demoradamente, para aquele homem de branco à sua frente demostrando uma compreensão que, até então, não havia encontrado da parte de ninguém, tampouco dos seus. - Doutor, realmente, eu queria me matar e acabar de vez com o meu sofrimento. O rapaz que me fez mal me deixou quando soube que estava grávida. Meu pai ao tomar conhecimento me bateu e me pôs de casa pra fora dizendo que eu procurasse a casa das vadias como eu pra morar porque pra casa dele não voltaria mais. Desesperada, corri pra casa da minha tia que me falou que podia ficar por uns dias e depois que procurasse um destino pra minha vida. Sem saber o que fazer, encontrei esses comprimidos de cibalena e tomei todos. Eu queria era morrer com o meu filho e acabar com tudo isso. Agora que o senhor me salvou, não sei o que fazer. - Você vai morar na minha casa até o seu filho nascer. Depois veremos o que fazer. Algum tempo depois, o médico se mudou para uma cidade maior e mais desenvolvida. Levou consigo a moça e o filho. Ela se casou com um rapaz que adotou a criança e foram morar em outra cidade. O médico nunca mais os viu. O tempo passou. Numa noite, deu entrada, na Emergência de um hospital, um senhor idoso que acabara de ser atropelado. Ficou deitado numa maca em um dos corredores aguardando atendimento. Um dos médicos plantonistas, ao passar por ali, foi atraído pelos gemidos que partiam daquele homem. - Enfermeira, que paciente é este? - Não sabemos, Dr. O trouxeram há pouco mas não informaram quem é. Está aguardando atendimento. A emergência está cheia. - O estado deste homem é grave. Está chocando. Mande leva-lo, imediatamente, para a sala de cirurgia. Chame o anestesista e mande providenciar sangue. Já estou indo para lá. Após a cirurgia... - Rapaz, isso foi uma guerra. Rotura de baço. Por mais um pouco esse sujeito estava morto, disse-lhe o anestesista. - O caso era grave mesmo. Agora vamos aguardar a evolução do pós-operatório. Chegou, nesse momento, uma auxiliar de enfermagem e entregou ao cirurgião uma bolsa. - Dr., foi a única coisa encontrada nas roupas do paciente.


O médico abriu, pegou a carteira de identidade que estava na bolsa. Dr. Lívio de Sousa. Brasileiro, viúvo, 79 anos. Médico. Abriu depois um pequeno papel que se encontrava em outra dobra da bolsa. Leu e ficou surpreso: Por quê? Quem é este homem? Perguntou para si mesmo. Alguns dias depois... - Dr. Lívio, vamos lhe dar alta. - Como o senhor sabe meu nome. Alguém veio aqui me procurar? - Não, Dr. Tivemos que verificar na sua bolsa algum documento que o identificasse. - Ah! Bem. Você sabe agora que sou médico, mas aposentado. - Dr., posso lhe fazer uma pergunta? Estou bastante curioso. - Como não, colega. Faça. - Em um pequeno papel que encontrei na sua bolsa estavam escritos dois nomes: Eduwirgem Medeiros e Ivaldo Luís Medeiros. São seus parentes? Quer que os mande avisar? - Ah! Meu rapaz. Isso é uma longa história da minha vida de médico no interior. Essa senhora foi uma grande amiga e o garoto é seu filho. Em certo dia, eu estava trabalhando no Posto de Saúde quando um pessoal levou uma jovem de uns 16 anos que queria dar cabo da vida. Engravidou do namorado e o pai a expulsou de casa, pois o namorado quando soube tirou o corpo fora. Sem saber o que fazer, ingeriu vários comprimidos de cibalena. Fiz os procedimentos necessários e ela se recuperou e salvou a criança. Compadeci-me dela e a levei para minha casa até que deu à luz o filho. Quando viajei para outra cidade de maiores recursos e oportunidades, os levei comigo. Por lá, ela se casou com um bom rapaz, foram morar em outra cidade e nunca mais os vi. Por que? O médico-cirurgião, com os olhos já cheios de lágrimas, abraçou o velho médico e lhe disse: - Obrigado, querido amigo, pela vida. Eduwirgem era minha mãe e o garoto Lívio Luís sou eu. Ela sempre me falava que num dia de desespero um anjo de branco surgiu na sua vida e a salvou da morte com o seu filho. Dizia-me sempre que pedia a Deus para que eu fosse um médico como esse anjo. Agora o encontrei. Abraçaram-se. - Veja, então, Dr. Ivaldo, como são os desígnios de Deus. Agora, quem me devolveu a vida foi você. Essa é a nossa missão. A medicina é um exercício de amor. - É, Dr. Lívio. Como seria a medicina se todos fossem iguais ao senhor. Muito obrigado. E se abraçaram mais uma vez.


POESIAS & POETAS


OSMAR GOMES O TEMPO O tempo passa muito ligeiro Percebi que ele passou Acordei e não vi mais o ontem Como o ontem ficou tão distante Agora só restam as lembranças De um passado passageiro De uma paisagem exuberante Que nunca quero esquecer O tempo não voa Ele passa ainda que ligeiro Ele representa uma época Um fato, um momento O tempo de cada um De cada coisa De cada geração Ele repercute O tempo repercute o passado O presente que vivemos O futuro que desejamos O passado de uma época O presente que experimentamos O futuro de uma geração que surge O tempo não voa , ele passa ligeiro O tempo marca uma época É passageiro como a primavera Que surge depois do inverno E antes da chegada do verão Surge trazendo flores Lindas e perfumadas Que permeiam o nosso corpo E exalam a nossa alma O tempo é das flores Das flores da primavera O tempo não voa, passa ligeiro Viva o tempo das flores Viva o tempo da primavera Osmar Gomes 05/10/2017


PRIMAVERA Passo pelas ruas e vejo Vejo a felicidade das plantas Elas crescem com folhas abertas Largas e exuberantes De tamanho regular Como se tudo fosse calculado Para crescerem igual Elas esbanjam beleza Entrelaçadas de amor Balançam no tempo do vento Sem machucar nem sentir dor Brilham ao avistar do sol Marejam com o pingar da água Ela está no tempo dela No seu tempo de crescer Ficar bonita e florescer Brotar pétalas de rosas Espalhadas pelo chão Esbanjando amor e paixão Como é bom olhar as plantas Vê que estão bonitas Formosas e belas Floridas na cor do seu tempo É chegada a primavera Osmar Gomes 05/10/2017


PALAVRA É Termo É Vocábulo É Expressão O que a palavra exprime? Ou o que deve exprimir? Sentimento? tristeza? frustação? Ou amor? sinceridade? lealdade? A PALAVRA De acordo como ela é empregada Representa um pouco de tudo Ou quase tudo Mas a beleza da palavra Está em representar sentimento Amor, carinho , decência PALAVRA? Sim, palavra Deve servir para acolher Para congregar Para ensinar Para aprender Não usemos a palavra Para ofender Para impor o nosso eu Para fazer valer nosso querer Para subestimar Usemos-na para cultivar Cultivar o amor Tão belo quanto a flor Osmar Gomes 05/10/2017


LETARGIA É noite Vivo a pensar Contemplo a beleza da lua O despertar das estrelas Em meio a escuridão Vivo a sonhar Atravesso oceano Mergulho na água do mar Na tua letargia Em teu sono profundo Na tua inconsciência Invado o teu eu Vivo a caminhar Caminho no teu ser Vivo a tua alegria Recebo o teu mimo Alimento teu desejo Até na hora de acordar Versejo A VACINA QUE CURA Sempre ao final da tarde Os meninos jogavam bola Passavam de um para o outro Se divertiam contente A alegria sempre geral A encantar pelo sorriso Pela beleza do olhar Pelo modo simples de jogar Passando no campo de bola Ficava a avistar A natureza do tempo O tempo que não vai voltar Aquela alegria contagiante Pulsava na minha recordação O esporte é uma vacina Que cura com atenção Cura com prevenção Não deixa as nossas crianças Virarem suas atenções Para as coisas ruins da vida A prática esportiva Faz as nossas crianças


Entregarem-se por inteiro Faz sentir minhas lembranças

OUTUBRO ROSA Trabalho de coração Vem o outubro rosa Para chamar sua atenção Atenção das nossas mulheres Para a sua prevenção Esse passo é importante O cancer é uma doença As células anormais se dividem Destroem o tecido do corpo Alimentando a descrença Observa-se no Brasil O câncer de mama É o segundo entre as mulheres Depois do câncer de pele Como uma verdadeira trama Manter hábitos saudáveis Caminha na direção Para evitar essa peste Que não se condói de ninguém O melhor é a prevenção Apalpar as suas mamas Para identificar Procurar o seu médico Para ouvir os conselhos E não deixar disseminar Esse é o melhor meio Para você se cuidar Levantando a autoestima Sem qualquer dificuldade Que você vai se curar


DESEJO Estou sedento de amor Quero partilhar com você Afagar o teu desejo Sentir o teu calor Quero temperar tua alegria Manusear tua paixão Deixar o pensamento correr Nas veias do coração

Quero banhar de prazer No leito do rio quente Nadar nas tuas curvas Sentir o teu beijo ardente


O POETA ANTONIO AÍLTON DIZ A QUE VEIO A GERAÇÃO 90 RAIMUNDO FONTENELE http://www.literaturalimite.com.br/2016/04/o-poeta-antonio-ailton-diz-que-veio.html?spref=fb&m=1 Nesta quarta feira, 20 de abril, nossa coluna prossegue com o encantamento dos poetas, essa espécie de encantadores de serpente, pois as palavras são isto: cobras, algumas venenosas, outras, como as jiboias, nos sufocam com seus abraços, e outras mais, apenas cobras passivas emoldurando paisagens. Lembro de uma frase do saudoso mestre Domingos Vieira Filho, estudioso, crítico, escritor sapiens (olha a Dilma aí, gente!), durante muitos anos Diretor do Departamento de Cultura do Estado, quando este era ainda apenas um apêndice da Secretaria de Educação e Cultura, ah, vamos lá, a frase: “o Maranhão é pródigo em poetas”. Dizia-o em alto relevo, com gratidão, com satisfação por ser e pertencer a um Estado que lhe dava tanto motivo para a reflexão e o entusiasmo espiritual, o prazer poético, que é como um gozo com a mulher amada. Certamente, vivesse ainda, e tivesse em suas mãos um dos livros, ou todos, do poeta Antonio Aílton sentiria o mesmo que sinto eu: a presença de um artesão do verso, mas não destes que se consomem em noites insones procurando métricas, descobrindo rimas, fabricando metáforas ocas de sentido e vazias de mensagem para enganar leitores obtusos e que se cansam de forma rápida do esforço e do “trabalho” de ler. Nada disso. O poeta Aílton traz em si a presença de uma poesia viva, investigativa, que não se conforma em habitar ambientes fechados, úmidos, obscuros, contrários à luz que emana do espírito sofredor, criador e, por isso, superior. Temos aqui, para o nosso deleite, os versos inventivos do Aílton, e algumas pinceladas da sua biografia, junto com estas mal traçadas aí de cima, que não expressam toda a maturidade presente e a grandeza futura da sua poesia. (RF)

ANTONIO AÍLTON, maranhense, professor, poeta e ensaísta, é Doutorando em Teoria Literária pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Mestre em Educação [enfoque em Cultura e Imaginário] pela UFMA, Especialista em Crítica da Literatura Contemporânea, pela UEMA, e graduado em Letras UFMA. Entre suas publicações tem Compulsão Agridoce (Poesia - Paco Editorial, 2015) Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (2008, Prêmio Cidade do Recife de Poesia), As Habitações do Minotauro (Poesia, 2001 - Prêmio Cidade de São Luís) e Humanologia do eterno empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano, de Nauro Machado. É colaborador do Suplemento Literário e Cultural JP Guesa Errante, de São Luís do Maranhão. E-mail: ailtonpoiesis@gmail.com


IDADE DOS METAIS Ao amanhecer por entre as ruas, o sol tropeçou em dois cadáveres. Sobras da noite inoxidável, a catadora de latinhas tem mais coisas a fazer.

ESCRITOS ALEATÓRIOS PARA MÁSCARAS E INCERTEZAS

Flor é a palavra flor, não por dizer, mas por silenciar Flor é o crisântemo aceso, aguardando com ansiedade a visitante tardia Flor é o bicho de Lígia Clark quando você toca e ele se abre Flor é a orelha decepada de tuas obsessões psicossexuais derramando girassóis no ocaso para espantar os últimos corvos (há sempre relações possíveis entre flores e navalhas) Flor: rã de Patrick Süssekind na vulvinha virgem da próxima vítima engolindo insetos e aspirando o hálito ainda quente de um perfume desconhecido Há flores que nascem no estrume das feiras livres de Paris Mas não exagere em arte conceitual, chá de papoula é natureza morta pintada de amarelo


O FENÔMENO pôs plaqueta de closed no seu cul-de-sac e voltou ao Nada CADEIRA DE BALAÇO

Os bichanos vêm aprender comigo o conceito de falta de dinheiro eles ficam ali sobre a velha cadeira e se espicham, até dormirem entediados com o que tenho a dizer tosse, tosse e cuspe

O PRISIONEIRO

Preso, Bob não pode defender sua ração dos ratos. Bob esgota sua paciência e não fode mais cadelas há muito tempo. Apenas se lambe furtivo e ganido, na solitude amarga das pulgas. Os gatos vêm rir de Bob: de dia, tomam sol e se lambem no telhado baixo para o qual Bob salta raivoso, sem os alcançar para o estraçalho; de noite se lambem no telhado de Bob, e Bob apenas pressente a rinha malévola. Olham Bob e se espicham, fingem que se armam, que caçam os ratos que roubam a ração de Bob. “Bob, velho cão sonolento, puah”. Bob não lê livros ou revistas, não assiste a televisão, não canta, não toma sol. Bob não é um cão depressivo, mas se pergunta o que é tão mais importante que um pedaço de carne, o que poderia


ser tão mais importante que a liberdade, que foder, por exemplo (claro que ele é um animal e só conhece esta palavra. Também lembra das velhas revistas em inglês fuck yes); o que seria mais importante que até mesmo brincar como as crianças fazem se espojando na areia. Bob provavelmente morrerá dentro de alguns dias enquanto alguns homens argumentariam e contra-argumentariam sobre a condição de Bob de ser Cão. Enquanto Cão geral, claro, sobre sua possível existência ou inexistência no universo empírico, ou enquanto “objeto teórico formalmente situado”, e sua possível formulação. A tese: “Bob, cão sem fronteiras”.


DILERCY ADLER TUDO FICARÁ BEM AO AMANHECER A noite vem os segredos vêm com ela os medos em movimentos circulares descem e povoam os sonhos... ou pesadelos? as almas penadas passeiam entre as alamedas do parque vazio... vazio de vida vazio de luz... escuridão! os passos ressoam nas ruas despidas de estrelas e luas... solidão!... as almas penadas entre as palmas do campo vazio ... vaziode mim e de ilusões!... a noite vem e traz insônia falta de sonhos e excesso de dor a noite ruge rumina ressona ressoa angústia e ausência de amor!... não sei bem o que a noite me reserva só sei que o sol de novo vai amarelecer viro a cabeça e o corpo sobre o travesseiro... Não tenho dúvida!... tudo ficará bem ao amanhecer!


ESTAÇÕES

A cada primavera as flores nos chegam... a cada inverno chuva e neve se derramam A cada verão só sol e ondas crespas enfeitando o mar a cada outono só frutas frutas em.paisagem viva de forte cor! A casa vazia na colina chora... sem flores sem sol sem frutas ou pudores... o fim se pronuncia de forma trágica ... cedo foge a aurora sem piedade! mas a primavera reina e reinará aqui cá fundo pra sempre no mundo e em minhas orações !. - ah! eternas e infindáveis estações! -


TERESINKA PEREIRA PLUTÃO Para Alan Stern* Um frio e distante mundo, um planeta, um pequeno paraiso no Sistema Solar: Plutão, o planeta anão, situado a tres bilhões de anos do Sol e quase dez anos indo pela nave espacial Horizon, lançada da Terra. Alan Stern espera: "Vamos conseguir fotografias das cinco luas plutônicas!" Claro, isso pode fazer um astrônomo enlouquecer de felicidade. E a um lunático poeta também. Teresinka Pereira * Alan Stern é um astrônomo da NASA e um grande entusiasta da missão a Pluto. ..................... PLUTO To Alan Stern* A cold and distant world, a planet is a small dream paradise in the solar system: Pluto, the dwarf planet stays three billion years from the Sun and almost ten years of the spacecraft Horizon from Earth. Alan Stern waits: there will be photographs of the Plutonic five Moons, enough to drive an astronomer or a lunatic poet out of their minds.


JEAN-PAUL MESTAS

RETOUR BRESILIEN

Retorno Brasileiro

A Dilercy Adler Pour vous avec amitié.

Para Dilercy Adler

Loin, elle était bien loin la belle brésilienne et l’odeur du café ne venait plus ici, trop chargée en sourires et autres joies de plaire ;

Longe, estava bem longe a bela brasileira e o cheiro de café não vinha mais aqui, toda carregada de sorrisos e outras agradáveis alegrias;

or voilà que soudain la belle Dilercy Adler ouvre son répertoire où les mots sont redevenus la source de la vie comme le plus heureux des sentiments du monde.

mas agora, de repente a bela Dilercy Adler abre o seu repertório onde as palavras se tornaram a fonte da vida como o mais feliz dos sentimentos do mundo.


JOÃOZINHO RIBEIRO PLANOS URBANOS

Subúrbio, senzala e favela Sao faces da mesma moeda A bala se aloja na carne A vida resvala e revela O preço do corpo vazado A lei fo mais fraco é balela Subúrbio, favela e senzala Num canto da sala de espera Meninos jogando sem chances O jogo de muitas quimeras Quem dera tivessem revanches Ao invés de reveses, quem dera Favela, senzala e subúrbio A modernidade do século A vida comete distúrbios E se multiplica nas celas E os planos urbanos repetem: Subúrbio, senzala e favela!


AYMORÉ ALVIM

INDISCRIÇÃO

Um dia, certa amiga perguntou-me Por que eu faço poesias ritmadas? Então lhe disse: Minha modernidade é de fachada Não conseguiu superar minha velhice. Embora ela ficasse perturbada Toda fechada em sua modernice, Falei de novo: Cara amiga, eu lhe disse, Cada um expressa os sentimentos que vão n’alma, A vida é curta, dura pouco ou quase nada, Por isso curta a vida enquanto existe. Deixa voarem teus profundos sentimentos, Solta-os aos ventos se isto te conforta. Nas dimensões do universo que criares Sem te ligares a essa convenção Que é invenção que sufoca e que amarra. Deixa fluir livremente a tua verve. E se te serve, faz teus versos. É o que importa.


UMA CANÇÃO A GONÇALVES DIAS -Do livro: 1000 poemas para Gonçalves Dias,(IHGM).

Canta, oh! Bardo caxiense, Canta tuas lembranças e saudades. Canta teus amores quando daqui partiste. Canta teu povo, teus índios, Canta as palmeiras e os sabiás. Canta, oh! Grande trovador, Canta a tua amada que imortalizaste nos teus versos. Canta as imagens que vislumbraste, na tua angústia, ao te aproximares da terra natal. Canta a esperança e as alegrias do teu coração combalido por retornares ao teu rincão. Canta a paisagem derradeira que, na tua dor, contemplaste do Boulogne antes de Netuno te conduzir ao teu destino final. Descansa, agora, oh! bardo caxiense, Nas águas que te abraçam, eternamente, Dos mares da tua terra, o Maranhão.


POEMA PREMIADO, CHEIO DE AMOR PELAS CAUSAS PERDIDAS: O SARAU FRACASSADO DE DOM QUIXOTE AOS OLHOS DE SANCHO PANÇA, SEU ÚNICO ESPECTADOR

Há uns dias atrás, na postagem anterior a este, trouxe ao blog o conto “Camila,Camila”, de minha autoria, premiado na Categoria Prosa com o 2.º Lugar no Concurso do GREBAL 2017 e publicado na Coletânea Prosa e Verso XX. Pois é, já foi gloriosa essa conquista literária, mas a alegria só começara... Hoje posto no blog o poema “O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador”, premiado na Categoria Verso com o 3.º Lugar no mesmo Concurso do GREBAL 2017 (tanto o conto quanto o poema estão na Coletânea Prosa e Verso XX, que pode ser baixada no site do GREBAL: http://www.grebal.com.br/ ).

O poema “O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador” é uma homenagem ao livro “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes (por sinal, uma curiosidade: é a segunda vez que faço um poema me referindo a Dom Quixote e, nas duas vezes, fui premiado – o primeiro [“Celeiro Dulcineia”] foi premiado em concurso da Academia de Letras de Maringá/PR, em 2011, e pode ser lido na primeira postagem deste blog, que possui o seguinte link: http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2011/07/celeiro-dulcineia.html ), uma crítica lírica aos eventos culturais cada vez mais carentes de público e, ao mesmo tempo, uma ode não convencional aos artistas quixotescos que resistem e insistem em realizarem saraus, mesmo nos períodos de trevas (sim, sou eu Sancho Pança lúcido eu pessoa comum olhando eke Dom Quixote eu poeta insano).


O poema premiado é dedicado, principalmente, aos meus familiares, ao Sarau Solidões Coletivas e MestrePoetamigo Grebalista Eternamente Lembrado J. M. Lago Leal (in memoriam), que sempre apoiaram minhas lúcidas insanidades líricas. Também registro como inspiração a canção “Dom Quixote”, da banda de rock gaúcha Engenheiros do Hawaii, que possui o belíssimo refrão: “Por amor às causas perdidas / Tudo bem, até pode ser / Que os dragões sejam moinhos de vento / Tudo bem, seja o que for / Seja por amor às causas perdidas”. A luta pela arte continua, amigos leitores! Espero que gostem do poema, assim como a Comissão do Concurso Prosa e Verso XX do Grebal gostou! Boa leitura e Arte Sempre! O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador Por que declamas tão alto para as paredes, se elas não te ouvem, incansável poeta? Elas não te entendem e, mesmo se fossem gente, se sensibilizariam com teu tão estranho ardor? Nossos homens – aqui insistentemente ausentes – são tão paredes que agora confundes ambos, meu louco senhor? Fazes elos entre elas e eles pela falta de um vocábulo impessoal mais convincente que expresse melhor essa nossa falta crescente de ceder ao próximo um instante de amor? As paredes – cada vez mais gente, com aquela impassividade urgente de se manterem frígidas ao teu calor –, as paredes – essa nova gente, tua ilusão de Maracanã lotado, como se cada vazio espaço fosse um torcedor -, as paredes... nem elas, nem aqueles ausentes tão insistentes entendem esses teus versos pra ninguém, essa tua estranha dor. Por que insistes numa epopeia se a sala vazia te despreza, indomável sonhador? Qual mito ignorado te faz encerrar o poema declamado com um sorriso de esplendor? Como podes ser motor gigante pra tantos moinhos de vento inoperantes, sorridente cavaleiro andante? Sou só eu, a falta de público e o excesso de perguntas, enquanto desfilas como Deus entre invisíveis súditos, uma triste figura... Consciente da tua inconsciência, choro por tua alegria aflita que preenche a rotina da ausência, a eterna falta de um espectador. Aplaudo teu sonho suicídio tão cheio de vida, enquanto teus olhos de iludida turmalina enxergam esmeraldas no sarau vazio, na caverna pobre e sem brilho. Como podes fazer minha mente rocinante, outrora domada pelo deserto dominante, ser alagada por mares incertos de ilhas distantes e como podes fazer de mim, outrora Sancho Pança cheio de desesperança, novamente uma boba criança, teu mais fiel admirador? Como consegues, neste mundo sem viço, trazer-me sempre uma lágrima, um cisco deste teu ingênuo delírio, meu glorioso perdedor?


VIRIATO GASPAR . . VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA . . (A Oswaldino Marques, in memoriam) perdemos a tarde o ônibus a paciência e a vida perdemos a cor a calma a voz o voto a vergonha .. e agora voltamos pela rua lentamente livres do peso da nossa dignidade . ─ sobrevivemos a mais um dia ─ . O VELHO NA TARDE . (a Clóvis Gaspar, meu pai, em lembrança) Um velho passa, tão lento, que ao passar, é passado. Caminha quase arrastado pela leveza do vento. É como se não quisesse chegar lá onde está indo, e a cada passo estivesse consigo se desavindo. Passa tão devagarmente, que nem passa, se demora, por si mesmo retardado,


como se, parando a hora, e estacionando o presente, se prolongasse, adiado. . SONETO XXII DE ONIPRESENÇA Um homem leva nos braços uma criança, seu filho. Dá para ver-se que brilho lhe põe o filho nos passos. É como se carregasse mais do que um filho, um motivo que lhe enchesse a alma e a face de razões para estar vivo. .Uma razão diminuta, que mal se avista entre as roupas, mas que ele leva sisudo, . como se, mais do que a fruta, levasse consigo a polpa, a própria essência de tudo. .VIRIATO GASPAR é natural de São Luís-Maranhão. Tem 65 anos. Poeta vencedor de muitos prêmios literários, tanto em seu estado natal quanto em Brasília, onde reside desde 1978. Jornalista profissional, é técnico judiciário aposentado do Superior Tribunal de Justiça. Contatos: e-mail: viriato.gaspar@gmail.com, Whatsapp: (61) 99988-5080, Facebook: Viriato Gaspar, Blog: Aurora Clandestina – www.viriatogaspar.com.


POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)


POESIA DE ONTEM FERNANDO BRAGA in Jornal ‘O Estado do Maranhão’, 24.7.73.

É fácil escrever-se alguma coisa sobre poesias, principalmente quando essas poesias chegam-nos fáceis e com forte conteúdo de comunicabilidade. Assim, são as poesias contidas no livro ‘Poesia de Ontem’, de Carlos Cunha [São Luis, 18.5.1933 - São Luis, 22. 12.1990]. Retirei o livro da estante, com afetuosa dedicação a mim, e reli com o interesse de sempre, as mensagens rítmicas que o autor, agora não só de ’poesia de ontem’, mas de hoje também, conseguiu, com a profundeza do seu talento e com o desassombro de sua vocação, justificar uma causa e harmonizar um conflito. Numa das muitas opiniões sobre esse trabalho chega-se a mergulhos mais densos na conteudística do poeta, vez que “sua poesia tem sido uma continuo campo de angústia, produto, talvez de sua infância de menino pobre, de bairro pobre, pobreza que ele estendia pelo futuro incerto, como ele mesmo faz questão de acentuar. Sua poesia é, ainda, como que o eco extravasado de sua alma, tem um grito revoltado de um poeta em que a vida malvada ainda o sufoca possivelmente com medo da sua pujança e do seu talento. Carlos Cunha trás na inquietude dos seus gestos, a marca registrada dos sofrimentos de uma vida prenhe de desilusões e fantasias inacabadas, válvula de escape para a criação de belas canções. E, foi assim, infelizmente, pelo memorial de toda vida... Vejamos o poeta se transportando para o Monte Castelo, antigo bairro do Areal, onde majestosamente se erguiam as “barrigudas” **, depois cortadas pela insídia costumeira dos governantes da Cidade de São Luis, que deveriam ser mais poetas que políticos para melhor compreenderem as coisas do espírito; mas sim, retomando, para o velho Areal, seu bairro de origem, para envolver-se nesta bela irradiação formal: “Eu quisera de novo ser criança, / perdida nas ruas, / nas ruas cinzentas, sem cheiro de sangue / e muros, pintados de misérias./ Eu quisera de novo ser criança, / para beijar aquela face nova, / e depois tomar banho de chuva./ Mas o tempo correu, / o rosto de mamãe se transformou / e eu jamais voltarei a ser criança!” Ou ainda num laivo de revolta ou desespero: “Menino pobre, menino do meu subúrbio, / Papai Noel não te quer...” Em cancioneiro do menino grande, Carlos Cunha com a mesma temática aproveita-se da paisagem distante, já perdida nos tempos para elaborar com grande felicidade este poema, uma constante em suas relíquias de retrospecção: “Ainda escuto a fala do meu pai, /iluminando o silêncio de tapeçaria, / de nossa casa de telhado verde. / Um rio que lavava a ruazinha estreita/ não vegetava as mágoas. /Ainda escuto a canção de aurora/que tocava o homem do realejo/ com seus olhares retos, e o sorriso de orvalho./Saudades de Maria, com seu olhar umedecido de alvorada./Muitas vezes, muitas, percorri a rua/ carregando sonhos nas mãos inocentes,/ brincando com meus irmãos/ que nesse tempo eram apenas anjos de porcelana,/ num país sem memória./ Hoje Rominha tem outro nome e outras crianças que ali residem,/ a perspectiva das casas tornou-se paralela./ Deuses tiranos caminham sobre a lama viva / e os jardins que sorriam como janelas são de nuvens”. [...] E prossegue: Como a infância corre depressa na terra grávida do tempo./ Os meus castelos, já não são fantasiados de papoulas,/ mas castelos de vento./ Os meus sonhos agora, já não tem cor de gerânio/ e o sol que havia no meu olhar tornou-se uma saudade ancestral.” Carlos Cunha é o representante autêntico da sua geração, surgiu por suas estrídulas declamações [o maior declamador de São Luis], mercadejando versos em saraus pela boêmia da cidade, que o ouvia encantada e agradecida, pela rítmica em dizer e pelos gestos comoventes que saiam de seu estar transfigurado... E à hora e a vez dessa liberdade, foi diante da estupidez da morte... Seu filho morto, longe de tantas Cristinas: “Gritos anônimos diluíram-se no espaço por sua causa - / e a lua tornou-se imperfeita e confusa por sua causa -/ os homens serão peixes e pássaros por sua causa -“ Mas não estancou aí essa motivação maldita, o poeta ainda precisava fazer as pazes com a tragédia, para, infelizmente, enriquecer seu acervo literário de tristezas, bem como de odes antológicas, o celeiro do Maranhão, berço de grandes poetas: “As rosas entreabriram-se magoadas,/ quando a plácida Tereza passou nos braços da multidão./Velhos e crianças, homens e mulheres choraram/ naquela triste manhã de agosto,/ só eu permaneci imóvel/ assistindo


ao seu último passeio./ As luzes da vida se apagaram e dentro de mim mesmo,/ sem cravos e violetas,/ meu funeral passou nos braços doutra multidão!” Meu Deus, este poema de Carlos Cunha fora timbrado pelo estigma e pela dor da premonição... Algum tempo depois, morria Tereza, filha e enlevo maior do poeta, dentre as muitas Cristinas... Achei em ‘O Caçador da Estrela Verde’, livro de memórias de Carlos Cunha, que me foi generosamente presenteado pela minha querida amiga, professora Moema de Castro Alvim, já falecida, proprietária da alfarrabia ‘Papiros do Egito’, uma carta do Cônego José de Ribamar Carvalho, professor de Cunha na Faculdade de Filosofia e seu grande amigo, tanto que foi seu recepiendário na Academia Maranhense de Letras, a dizer, a ele, Cunha, em certa altura, que “a Poesia precisa ser sentida para se tornar percebida. Não há inovações. É a simples aplicação do axioma aristotélico de que vai ao intelecto sem antes passar pelos sentidos. Eu disse poesia. Verso obedece a leis de estéticas mais ou menos rígidas ou universalmente livres, conforme o gosto [do poeta e não do crítico]. Quanto à aceitação da mensagem poética, depende muito do hermetismo em que é vazada e da maior ou menor capacidade de expressão”. E Carlos Cunha, tal qual o mestre lhe ensinara, obedecera à risca! Carlos Cunha e ‘Poesia de Ontem’ se identificam com circunstâncias e coragem, com sofrimentos e lirismo. O poeta ficará presente [e ficou] em nossas letras... Era isso mesmo ‘poetinha’, isso mesmo que agora escrevi, aquelas mesmas palavras que num dia de chuva e grogue eu t’as disse. __________________ ** “Barrigudas” eram os nomes populares dados a enormes árvores, de troncos artisticamente talhados pela natureza, erguidas em frente, a hoje Igreja da Conceição, no bairro do Monte Castelo, decepadas pela incúria administrativa da Cidade.

Ilustração: foto do poeta Carlos Cunha, no Salão nobre da Academia Maranhense de Letras, ao saudar ‘Silêncio Branco’, livro de estréia de Fernando Braga, na noite de 30 de dezembro de 1967, vendo-se ainda o jornalista Elbert Teixeira [também de saudosa memória] que transmitia o evento para a Rádio Timbira.





UM LENDÁRIO CONTADOR DE HISTÓRIAS Ubiratan Teixeira: São Luís, 14 de outubro de 1931 - 15 de junho de 2014

FERNANDO BRAGA “Quando entro nesse bar / e vejo um serviço sem par, digo de mim para mim, / esse bar do Serafim, / será fim de todo bar “... dizia o poeta Corrêa de Araújo, depois de beber uma “bomba”, aperitivo que era feito com doses de conhaque, gim, bagaceira, uísque e vinho do Porto. Tinha razão o poeta. Enquanto o Moto existiu, nenhum outro, do gênero, em São Luís, se postou firme. Foi ainda no Moto Bar, que eu ainda rapazote, fui apresentado por meu pai a um gajo de cabelos lisos, caídos à testa, sandálias franciscanas, vestido de macacão frente-única, como se chamava ao tempo, portando a tira-colo u’a máquina fotográfica. Era Ubiratan Teixeira, recém chegado da Europa onde foi estudar teatro. Ubiratan Teixeira a quem carinhosamente chamávamos de “Bira” nessa época era repórter do “Jornal do Povo”, órgão combativo das oposições coligadas, de propriedade do jornalista e Deputado Neiva Moreira, onde ele, “Bira”, alugava suas atividades de escrever, e de onde, com suas reportagens, colheu grandes subsídios para seus livros de contos. Às vezes que estávamos no Moto Bar e aparecia por lá o Ubiratan, meu pai, todo cheio de si, chamava-o para dizer-me que ele conhecia sua terra em Portugal. Foi assim que comecei a ser amigo do “Bira”, como todos o chamavam com abrandamento de afeto; depois de muito tempo, confidenciou-me que foi meu pai que o ensinou a beber vinho, dizendo-lhe que tivesse o máximo cuidado em servir, porque dentro da garrafa estava um ser que merecia cuidados e determinava aos bebedores um certo ritual. Confessa Ubiratan que esses experimentos se davam com o famoso vinho virgem, que na nossa doce inocência o chamávamos de “casca de mangue”. Até o parágrafo acima, evidentemente, com outras informações pitorescas sobre o “Moto Bar”, que fazem parte das minhas memórias [escritos em fase de organização], mandei para a leitura do Ubiratan que ao tempo, juntamente com outros escritores de São Luis, tinham uma coluna semanal n’O Estado do Maranhão, intitulada “Hoje é de dia de...” / E o “Bira’ com esse meu trabalho [extenso, por sinal,] diagramou-o para um mês. isto é, um por semana... Assim deve ter gostado do texto, como lhe chegou na hora de um possível descanso. Estava no Rio de Janeiro, no início de 1976, para espairecer os nervos, vez que minha mãe morrera em junho de 1975 e meu pai, em dezembro [dia de Natal, aniversário dela] daquele mesmo ano... E lá me encontrei por acaso com Nauro Machado, na Praia Vermelha, perto de Botafogo, pois ele estava na Rua Bambina e eu na Voluntários... “Foi aquela alegria, onde ele me falara que Ubiratan estava lá também no Rio, “escondido” por Santa Teresa, resquício de algum “albergue”, quero dizer sobradão, ligado à Casa do Estudante de Teatro”, por onde ele passou certa época a estudar... Pois bem, na noite daquele mesmo dia nos encontramos, na porta do “Cine Ópera”, em Botafogo, e “molhamos o bico” por lá mesmo... Nauro tinha ido lançar seu livro “Órgãos Apocalípticos”... E começou o “delírio ambulatório”, Cabia a Ubiratan marcar os próximos encontros que eram mais ou menos assim “Nos veremos a meia noite no “Amarelinho”, na Cinelândia, ou então, às duas da matina no “Bar do Imperador”, na Lapa... E assim era! Foi numa dessas andanças que visitamos Dom Marcos Barbosa, monge Beneditino, no próprio Mosteiro; ele tinha sido na vida secular um próspero advogado; Dom Marcos é o imortal tradutor do “Petit Prince”. Até que um dia, para o bem de todos, cada um tomou seu rumo e nos dispersamos... Ubiratan Pereira Teixeira nasceu em São Luis, a 14 de outubro de 1931; era professor, crítico de arte, jornalista, ficcionista, diretor e autor de textos teatrais. Integrante de importantes movimentos culturais de São Luis, entre os quais a SCAM – Sociedade de Cultura Artística do Maranhão e o Centro Cultural Graça Aranha. Foi no Maranhão, um os principais baluartes da famosa “Geração de 45”. Era membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 36, patroneada por Tasso Fragoso e fundada por Bacelar Portela.


Trabalhou em quase todos os jornais de São Luis e foi por muitos anos funcionário da Televisão Educativa, onde exerceu várias funções entre as quais, produtor de programas culturais, professor de TV e diretor de programas. Ganhou uma bolsa de estudos para direção teatral, concedida por Paschoal Carlos Magno, estágio na Academia D’Art Dramática “Pró Dei”, em Roma, onde teve aulas com Federico Fellini e no Piccolo Teatro de Milano participou de montagem da peça “Nostro Milano”, dirigida por Giorgio Streller. Era Licenciado em Letras pela Universidade Federal do Maranhão e em jornalismo pela PUC/SP. Um dos principais ficcionistas maranhenses da atualidade é autor de obra contistica que inclui algumas das melhores realizações desse gênero dentre nós. Sua bibliografia é extensa, como a alma era para Fernando Pessoa... “Bira” deixou o nosso convívio em 15 de junho de 2014, todos nós e principalmente sua amada Mary, companheira de muitos e muitos anos [sua dona, como ele chamava], e mais filhos e netos... .Adeus “Bira”, quanta saudade eu tenho de ti, irmão velho! Tu não morreste! Tu estás do lado, como sempre, de Mary e dos teus meninos grandes, e de rezadeiras que rezam melhor assoprando baixinho nas tuas orelhas...


LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO FERNANDO BRAGA in Jornal O Estado do Maranhão, 23 de agosto, de 1973. Os dois últimos parágrafos, naturalmente, foram escritos no fecho desta publicação. Ilustração: O livro’ Moacyr e Ambrósio’, São Luis, Gráfica e Editora Jornal do Dia, 1970.

LAURA BOCAYUVA LEITE FILHO [São Luis, 19.12.1937 – São Luis, 8.10.2016] Soltando um rolo de fumo inglês do cachimbo, o professor Bacelar Portela, meu querido amigo e orientador de como pesquisar e traçar as linhas para a composição de um texto a ensaiar, apressou-se em dizer-me, na Praça Bendito Leite, numa ensolarada manhã de um dia qualquer, que Lauro Leite tinha sido o grande vencedor do concurso literário ‘Antônio Lôbo’, promovido pela Academia Maranhense de Letras, cabendo a Nauro Machado e a mim, o segundo e o terceiro lugares respectivamente... Ao cumprimentá-lo, disse-lhe: “ao vencedor as batatas”, lógica machadiana que reconhece o vitorioso por justas merecidas... E o velho mestre sorrindo, sentenciou: “a poesia de Lauro Filho merece estudos mais profundos”. Domingos Vieira Filho, foi mais longe na apresentação do livro premiado, em dizendo que Lauro Leite “desta vez está mais maturado, tem uma vivência poética mais intensa, se apossou de melhor intensilhagem estética para expressar às notas contrastantes do seu mundo interior, trabalhando pela descrença, mas sem se envolver no amargor insólito das formas shopnhaurianas.” Afinado, mas sorrateiro aos contrapontos do pensador da realidade exterior e da consciência humana, Lauro [filho de Lauro Leite, um dos maiores violinistas do Maranhão], quando toda a Faculdade de Direito o esperava de braços abertos para recebê-lo como o representante intelectual dos fracos e oprimidos, foi a de Odontologia que teve essa honra e alegria; apesar de ele exercitar-se no dia a dia como jornalista e locutor, a expor seu grito social através das rádios Difusora e Educadora, onde todos dispunham de sua inteligência, através de sua voz e do seu talento a serviços da noticia e do entretenimento. Ele foi um dos maiores participantes intelectuais entre as gerações de 45 e 60, porque ele permeava as duas, [juntamente com Nauro Machado, Carlos Cunha e Deo Silva] a se afirmar pela forma marcante do seu talento, dando força exuberante à sua poesia de “pés no chão”: “São pobres – eu vejo – que tão pobres são que vejo a pobreza na dor e no ar - que enche seus peitos sofridos – sentidos – irmão e irmão” E luta desesperadamente por expressar aflições: “Pequenos ainda – passados – levados - irmão e irmão”, Como se verifica sua temática é arraigada na problemática atual. E Lauro não se preocupa com vocábulos de difícil penetração nem com embaralhamentos de formas zigzagueantes, porque o universo lexical em que navega é seu intimo e artesanado por ele mesmo: “O dois – de mãos dadas – correndo no lixo - que o mundo lhes deu – é lama – malvada - que seja seus pés – doridos – feridos – irmão e irmão;”


A arte deve ser intrinsecamente social e Lauro Filho luta por essa posição em suas conquista; ”Tudo que é poético é verdadeiro”. E continua em sua estesia gritando: “Comida – pedida – negadas também – pelos poderosos – os donos – de tudo – de escravos - de Terras – paradas e virgens – que nunca correram ou estagnaram – na solidão – deixando só dome – irmão e irmão!” Essa é a luta ferrenha contra “a fome que não é a causa de revoluções e de profundos sofrimentos humanos de todos injustos. A fome torna impossível a bondade”, afirma ‘Macbeth’, na ópera Shekespeareana: ‘Primeiro a pança, depois, a moral’. Daí a empatia poética de Lauro Leite e Nascimento Moraes Filho, vez que, pra ambos, toda doutrina de bem-estar é contrária e estranha à essência do seu próprio intimo, num extravasamento alheio, ‘douleur de vivre’: “E dinheiro – que podem? – eu bem que recordo que irmão e irmão – recebem - felizes – saem correndo – e compram – o pão – irmão e irmão.” Não pertence, Laurinho Leite, por temperamento e até por questões de limpeza mental, a nenhuma escola literária, porque ‘um bom verso não tem escola’, sentenciou Moras Filho, ao lembrar-se de Flaubert, ao escrever, como sempre fora de seu gosto e de todos, considerações sobre o lado humano e intelectual do premiado. Lauro Leite Filho é o herdeiro legítimo da poesia social de Nascimento Moraes Filho, ‘Moacyr Ambrósio, pés no chão’, respira pelo mesmo cordão umbilical de ‘ O Clamor da Hora Presente’, este o maior grito de dor até hoje dado no Maranhão contra o julgo e a prepotência e ecoado em loas pela pena brilhante e pelo senso crítico de Oto Maria Carpeaux. Há entre os dois uma empatia estética e emocional mais que harmônicas a estreitar-se no plano social... Lauro Leite Filho sente no seu indiferentismo, a revolta contra tudo que lhe parece pérfido, mal e descabido. “Triste o dia em que vim à terra para endireitá-la”, diria o poeta se por ventura fosse o Príncipe Hamlet. Ontem, há tempos, o mestre Bacelar Portela me dava noticias da premiação de Lauro Leite; hoje, ainda há pouco [lê-se 8 de outubro de 2016], o também médico e escritor Mário Luna Filho me dizia do falecimento do autor de ‘Moacyr e Ambrósio’, depois de alguns anos de sofrimentos, estigmas que marcam poetas mártires e santos. E São Luis, assim, fica mais vazia daqueles que como Lauro e tantos, cheios de abnegação e talento, povoaram-na com a luminosidade de seu tempo, a estampar-lhe, quando a cidade ainda vivia, o timbre de uma outra ‘bélle époque’, já distante, mas autêntica, legitima e verdadeira...


Fernando Braga, in “O Imparcial, 29 de abril de 1970

VULTOS HISTÓRICOS À LUZ DA CRÍTICA MODERNA [LUÍS CARLOS CUNHA - SÃO LUIS, 18.5.1933 - SÃO LUIS, 22. 12.1990]. Eis aqui novamente o poeta Carlos Cunha, desta vez nos dando prova de seus aprimorados e vastos conhecimentos sobre História, com o belíssimo trabalho ‘Vultos históricos à luz da crítica moderna’. Carlos Cunha foi realmente feliz em tudo. O trabalho gráfico é de primeira qualidade. A Gráfica e Editora ‘Jornal do Dia’ foi excelente no trato do livro. É realmente um bom parque gráfico. As ilustrações do pintor e não menos poeta Jesus Santos, vem marcado com aquele talento que todos nós admiramos, e seu amor pelas coisas nossas é a tônica que direciona todos os seus traços mágicos. Mas deixemos o romantismo para quando nascer ‘Azulejos e Vitrais’, outro livro prometido pelo poeta Cunha, e vamos, não somente ao autor de ‘Cantiga seca do homem sem fé’, não ao criador revolucionário da ‘datilografia dinâmica’, mas ao historiador, ao cientista que agora se revela mais que autêntico na literatura didática. O poeta de análise própria [digo assim porque não acompanha outras teses] e grande senso de autoconfiança, afirma que Silvério dos Reis não foi traidor e que Calabar foi um injustiçado; ratifica a sabedoria e o patriotismo de Teixeira Mendes, e nega, circunspecto, o heroísmo de Bequimão ou Bekman: escreve sobre o parasitismo de luxo de Homero e timbra Cochrane de ‘doublé’ de ‘pirata e mercenário’. Não são para historiadores dos nossos dias assertivas desta natureza – tão claras e prudentes – como foram escritas. Carlos Cunha escreve com uma convicção impressionante que nos deixa com sede de mais coisas. Tudo de si já foi escrito e comentado. É um moço de espírito irrequieto, com uma capacidade de trabalho invejável. Carlos Cunha no dia-a-dia mostra a essa juventude como o homem vive e se comporta, como parcela no todo de uma sociedade. Vendedor de perfumes, ajudante de pedreiro e lavador de caros, o menino de Monte Castelo [ele faz muita questão disso, e quem não o faz?], com a força de seu talento, rasgou o céu de todos os obstáculos, preconceitos e injustiças para chegar ao moço de hoje. UM ESPELHO ÀS SUAS PRÓPRIAS CRISTINAS Licenciado em história e Geografia pela nossa Faculdade de Filosofia, jornalista, poeta, prosador e educador, à custa de seus trabalhos e esforços, fundou o Educandário ‘Nina Rodrigues’ [Instituto Lourenço Porciúncula de Moraes], que congrega centenas de jovens do ensino médio, muito deles com ou sem bolsa encontram em Carlos Cunha um porto seguro quando querem estudar. Sou testemunha dessa santificada generosidade; foi fundador, também, da Academia Brasileira de Trovas, e na Academia Maranhense de Letras, ocupa a Cadeira nº 33, patroneada por Pedro Nunes Leal e fundada pelo nosso Viriato Corrêa, a quem o chamava de 'Pequeno gigante', cujo discurso de posse, aliás, uma peça magnífica de literatura, fora escrito na sala de jantar de nossa casa, na Rua do Passeio, em um dia chuvoso, em que só eu e a pancada da água, na biqueira do quintal, vimos e ouvimos, entre um parágrafo e outro, os gestos eloqüentes do poeta, a reprisar a leitura. Bacelar Portela deixou nas páginas de apresentação do livro, esta beleza de confissão: “É antiga, e cresce a cada dia, a minha admiração pelo que Carlos Cunha escreve, quer em versos, quer em prosa. Na dinâmica de sua personalidade, encana-me a multidimensionalidade da inteligência.” Carlos Cunha, eu nunca te escrevi nada: este é o meu primeiro quase-bilhete ao teu trabalho de mestre afeito ao apostolado da pedagogia, e ao teu talento conhecido e admirado. Estas são as minhas homenagens. Muito obrigado pela moçada que estuda nesta terra!


PERDE O MARANHÃO UM DOS GRANDES POETAS BRASILEIROS DA GERAÇÃO DE 45 FERNANDO BRAGA

Faleceu na noite passada, 3 de novembro de 2017, em São Luis do Maranhão, depois de longa enfermidade, o poeta Manoel de Jesus Lopes, nascido em Dom Pedro, Maranhão, a 2 de outubro de 1929 e criado em Pedreiras-MA, onde fez seus estudos iniciais. Cursou Humanidades no Seminário de Santo Antonio, em São Luis; Era Bacharel em Letras Clássicas pela Universidade Federal do Ceará. Jornalista iniciou-se em ‘O Combate’, Trabalhou. depois no ‘Jornal do Povo’, do Dia e no Diário da Manhã, onde, além de responsabilidades editoriais e de secretaria, coordenou páginas e suplementos literários. Lecionou Português e Latim em vários estabelecimentos de ensino de São Luís, e foi vice diretor do Ginásio Codoense. Diretor do Sindicato dos jornalistas profissionais de São Luis; Diretor de Relações Públicas da Secretaria de Agricultura; Diretor da Comissão de Planejamento Econômico do Estado. Em 1962 mudou-se para Recife , onde passou a compor o quadro de técnicos da Sudene, órgão em que desempenhou diversas atividades nos setores de cooperativismo, recuros humanos, organização agrária e artesanato. Como bolsista da OEA, fez, em 1964, curso de especialização em cooperativismo e colonização no Centro de Estudos Cooperativos y Laborales de Telaviv, Israel. Participou sob o patrocínio do Ministério do Interior, na Cepal e em outros órgãos, de cursos e treinamentos ligados a problemas de desenvolvimento regional. Retornou São Luis em 1975. Posto, pela Sudene, à disposição da Universidade Federal do Maranhão, exerceu as funções de Assessor Especial e Coordenador do Programa de Interiorização dessa Instituição de ensino superior. Após aposentar-se como Técnico da Sudene, chefiou o Gabinete do Reitor da Universidade Estadual do Maranhão. É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; agraciado com a Medalha do Mérito Timbira. Publicou, também, por algum tempo, uma crônica semanal na seção Sacada, de O Imparcial. Bibliografia: Poesia: Voz no silêncio, 1953 [prêmio José Albano, da Prefeitura de Fortaleza]; Poemas de agosto, São Luis, 1955; Um homem à beira do rio, São Luis, 1961 [Prêmio Sousândrade, de 1957]; Ofício no escuro, São Luis, 1977 [Prêmio Gonçalves Dias] Campo-ilha-urbs ou canto puro, com muito amor, para São Luis do Maranhão, 1977 [Prêmio Gonçalves Dias, 1967]; Canção itinerária, São Luis, edições da AML, 1989; Esses livros, acrescidos de O breviário de Laila ou A reinvenção na tarde, 2001, foram reunidos no volume O verbo contido; Poesias até aqui, São Paulo: Siciliano, 2002 [Coleção Maranhão Sempre].


Trabalhos técnicos: Política para o desenvolvimento do cooperativismo no Nordeste, Recife/Sudene, 1966/70; Estimativa da oferta de emprego pelos projetos governamentais para o Nordeste, Recife/Sudene, 1975. Manuel Lopes é co-autor, com Mário Meireles e José Chagas, de São Luis com ’S’, AML/UFMA, 1984; e autor do Breve histórico do Palácio de La Ravardière, São Luis, 1987 [Ed. Comemorativa dos 375 anos da fundação da Cidade de São Luis]. Ocupava a Cadeira nº 18 da Academia Maranhense de Letras, patroneada por Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade, fundada por Clodoaldo de Freitas, tendo como antecessor, Astolfo Serra. Manuel Lopes foi eleito em 26.7.78 e recebido em 13.11.78 pelo acadêmico e jurista Carlos Alberto Madeira Mais pobre ficou o nosso Maranhão com a morte de Manuel Lopes, um brilhante homem de letras e um divinizado na arte de ser humano... Morreu em 3 de novembro, no mesmo dia da morte de António Gonçalves Dias, o ‘Poeta da Raça’. ________________ Fonte: ‘Perfis Acadêmicos, 5ª edição, pesquisa, organização e textos de JOMAR MORAES, Edições AML, 2014.


QUEM FOI MARIA FIRMINA DOS REIS, CONSIDERADA A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA

HELÔ D'ANGELO 10 de novembro de 2017 – https://revistacult.uol.com.br/home/centenario-maria-firmina-dos-reis/#.WgYPZsr9Oiw.facebook Esquecida por décadas, obra de Maria Firmina só foi recuperada em 1962 pelo historiador paraibano Horácio de Almeida (Arte Revista CULT) São Luís, 11 de agosto de 1860. Logo nas primeiras páginas do jornal A Moderação, anunciava-se o lançamento do romance Úrsula, “original brasileiro”. O anúncio poderia passar despercebido, mas algo chamava atenção em suas últimas linhas: a autoria feminina da “exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis, professora pública em Guimarães”. Foi assim, por meio de uma simples nota, que a cidade de João Pessoa conheceu Maria Firmina dos Reis – considerada a primeira escritora brasileira, pioneira na crítica antiescravista da nossa literatura. Negra, filha de mãe branca e pai negro, registrada sob o nome de um pai ilegítimo e nascida na Ilha de São Luis, no Maranhão, Maria Firmina dos Reis (1822 – 1917) fez de seu primeiro romance, Úrsula (1959), algo até então impensável: um instrumento de crítica à escravidão por meio da humanização de personagens escravizados. “Em sua literatura, os escravos são nobres e generosos. Estão em pé de igualdade com os brancos e, quando a autora dá voz a eles, deixa que eles mesmos contem suas tragédias. O que já é um salto imenso em relação a outros textos abolicionistas”, conta a professora Régia Agostinho da Silva, professora da Universidade Federal do Maranhão e autora do artigo “A mente, essa ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis e a escrita feita por mulheres no Maranhão”. Além de ter se lançado em um gênero literário sem precedentes no Brasil – e dado as diretrizes para os romances abolicionistas que apareceriam apenas décadas depois -, Firmina foi a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão, para o cargo de professora de primário. Com o próprio salário, sustentava-se sozinha em uma época em que isso era incomum e até mal visto para mulheres. Oito anos antes da Lei Áurea, criou a primeira escola mista para negros e brancos – que não chegou a durar três anos, tamanho o escândalo que causou na cidade de Maçaricó, em Guimarães, onde foi aberta. “A autora era bem conhecida para os maranhenses do seu tempo. Professora, gozava de certa circularidade nos jornais. Apesar de mulher, não era um pária social no período no qual viveu, mas claro que enfrentou o silenciamento da sua obra”, conta Silva. Mesmo assim, acabou relegada ao obscurantismo. Esquecida por décadas, sua obra só foi recuperada em 1962, pelo historiador paraibano Horácio de Almeida, em um sebo no Rio de Janeiro – e, hoje, até seu rosto verdadeiro é desconhecido: em seu lugar, nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de Guimarães, está uma gravura com a face de uma mulher branca, retrato inspirado na imagem de uma escritora gaúcha, com quem Firmina foi confundida na época. O busto da escritora no Museu Histórico do Maranhão também a retrata “embranquecida”, de nariz fino e cabelos lisos. Lugar de fala O contato de Firmina com a literatura começou cedo, em 1830, quando mudou-se para a casa de uma tia um pouco mais rica, na vila de São José de Guimarães. Aos poucos, a jovem travou contato com referências culturais e com outros de seus parentes ligados ao meio cultural, como Sotero dos Reis, um popular gramático da época. Foi daí, e do autodidatismo, que veio o gosto pelas letras. Quando se tornou professora, em 1847, Firmina já tinha uma postura antiescravista bem desenvolvida e articulada. Ao ser aprovada no concurso para professora, ela se recusou a andar em um


palanque desfilando pela cidade de São Luís, nas costas de escravos. “Na ocasião, Firmina teria afirmado que escravos não eram bichos para levar pessoas montadas neles”, conta Silva. Mas era praticamente impossível para uma mulher expor sua opinião contra a escravidão – ainda mais uma mulher negra. Foi a estabilidade e o respeito alcançados como professora que abriram espaço para Firmina lançar seu primeiro livro, o romance Úrsula, no qual enfim publicaria seu ponto de vista sobre o tema. Diferente dos escritos de mulheres da época, o romance não era “de perfumaria”, nem algo sem profundidade. Ao contrário: foi o primeiro livro brasileiro a se posicionar contra a escravidão e a partir do ponto de vista de escravos, antes do famoso poema Navio negreiro, de Castro Alves (1869), e de A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães. Em Úrsula, Firmina faz questão de mostrar a crueldade de Tancredo, senhor de escravos e vilão da história. Mas a pérola do livro é a personagem Suzana, uma mulher escravizada que, frequentemente, recorda-se de sua época de liberdade. “É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos”, diz, em determinado momento. Para Silva, a forma é bastante característica de Firmina: “O escravo firminiano é, antes de tudo, aquele que fala da África, que só reconhece a verdadeira liberdade, no tempo em que vivia naquela África saudosa e nostálgica”. Anos depois, quando já se firmara como escritora e professora – e quando o movimento abolicionista já estava mais difundido no Brasil -, a autora publicaria um conto ainda mais crítico, A escrava (1887), que conta a história de uma mulher de classe alta sem nome que tenta, sem sucesso, salvar uma escrava. A crítica à escravidão chega a ser literal: em uma passagem, a protagonista diz que o regime “é e sempre será um grande mal”. “Os tempos eram outros. Em 1887, a escravidão era questionada no país inteiro. Em 1859, Maria Firmina dos Reis teve que usar um tom mais brando em seu romance, pois queria conquistar os leitores para a causa antiescravista. Leitores que, na sua imensa maioria, eram da elite e provavelmente tinham escravos”, afirma. Com o passar dos anos, tendo apenas um livro publicado, o nome de Firmina desapareceu. Para Silva, a insistência da autora em denunciar e criticar a escravidão pode ter sido a causa do obscurantismo. “O assunto do que tratava era insalubre demais, uma fala antiescravista em uma das províncias mais escravistas do Brasil, que era o Maranhão. Não a levaram a sério localmente, não queriam ouvi-la falando. E ela não teve como levar seu texto para outros lugares.” Recentemente, a pela PUC Minas lançou uma nova edição de Úrsula, o que ajuda a difundir sua obra. No entanto, pouco se sabe sobre outros possíveis textos de Firmina, sobre os detalhes de sua vida ou sobre como uma mulher negra de origem pobre alcançou tanto sucesso em pelo regime escravocrata. A própria biografia de Firmina, escrita por José Nascimento Morais Filho em 1975, tem como título Maria Firmina: fragmentos de uma vida. “Autores como Lima Barreto e Machado de Assis [hoje reconhecidos como não brancos] já têm uma fortuna crítica imensa, e por isso também sabemos muito mais sobre eles”, afirma Silva. “A de Maria Firmina dos Reis ainda está sendo construída. E acho que, em algum tempo, saberemos bem mais sobre a autora.”


PADRE ANTÔNIO VIEIRA, Imperador da língua portuguesa

Jornal Pequeno 12/11/2017

Quais dessas façanhas bastariam para escrever uma grande história? Defender os judeus nas barbas da Inquisição, um feito e tanto para ornar a biografia. Ter coragem de propor a cessão de Pernambuco à Holanda por pragmatismo visionário. Ser um diplomata encarregado deimportantes missões em influentes reinos europeus. Missionário nas terras do norte do Brasil, possuidor de vasta erudição eternizada em documentos escritos, de uma verve oratória dos Demóstenes e dos Cíceros... Bastaria uma dessas. Quando, porém, todas elas recaem em um mesmo homem, temos Antônio Vieira, esse jesuíta português que pregou em São Luís, Salvador, Lisboa e Roma, impressionousábios e se fez compreender pela gente simples. Nem sequer suas gafes políticas passam sem nota, sendo tão impressionantes quanto à forma com que as superava. Acrescente-se ao personagem um naufrágio e um ataque sofrido por piratas. Só mesmo tendo vivido até os noventa anos, algo também notável em uma época ondechegar aos cinquenta era feito pra bom vivedor. Hábitos austeros, desapego a bens materiais, notívago a empregar às noites leituras e escritas à luz de velas. Desde cedo, a inteligência privilegiada delineou sua acentuada vocação para o protagonismo. Aos 18 anos, já lecionava retórica no Colégio de Olinda, tendo mesmo “mais aptidão para mestre que para discípulo” como observou João Lisboa. Sagaz observador do cenário político de seu tempo, criticou a Revolução Pernambucana, alegando ser o cerne da causa dos insurretos as dívidas de seus líderes. E, quando estes ameaçaram procurar o socorro de “algum príncipe”, caso o rei continuasse recusar-lhes apoio, Vieira fez pouco caso: “Qual príncipe?”. Lembrou-lhes que, se o mais poderoso e coeso reino europeu, a França, não se atrevia enfrentar a Holanda, causaria admiração que Portugal, o mais exposto e fraco reino fosse tão ousado. A arrebatadora oratória, com estilo e gênio, não sugeria as habilidades silenciosas do diplomata talentoso, cuja objetividade imprimia umaReal Politik avant lalettre. Ao ser acossado por alegações de direito internacional, ironiza com irrefutável realismo: “O que dá ou tira os reinos do mundo é o direito das armas, cujas leis ou privilégios são mais largos; e segundo este direito, costumam capitular os príncipes, quando um deles é menos poderoso”. Ferrenho defensor dos judeus, atuou na defesa destes e, com isso, evitou o colapso da economia portuguesa, unindo ao útil o seu evidente filossemitismo. A Inquisição andou em seu encalço por isso. Tão dono de si, deu reprimendas em Deus. Sim, nEle mesmo, o Criador. A Holanda atingia os interesses portugueses aqui e alhures, infligindo sucessivas derrotas militares a Portugal. Vieira, no Sermão do Bom Sucesso das Armas, cobra, veementemente, providências divinas. “Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas?”, indagou ao Criador um inconformado Vieira. Em tom de advertência, diz que “estes mesmos que agora desfavoreceis e lançais de vós, pode ser que os quereis algum dia, e que os não tenhais”. E vaticina um futuro sem o culto cristão, pois no Natal “não haverá memória de Vosso nascimento”. O que seria do Criador do Universo sem os portugueses e nós... Uma gafe antológica foi a defesa da União Ibérica, que mantinha Portugal sob o domínio espanhol. Num sermão, derramou-se em encômios ao monarca da Espanha, Felipe IV, insinuando, inclusive, ser ele o lendário D. Sebastião, rei português desaparecido no Marrocos. Alguns dias depois desse panegírico, chega a notícia de que acabara o domínio espanhol, e um português voltava a ser rei. Vieira estava em maus lençóis. Parte, então, para Lisboa. Na capital portuguesa, bastou a primeira audiência para que o novo rei fosse seduzido por sua capacidade intelectual. A partir daí, torna-se o mais influente desse reinado.


Seu temperamento e paixões políticas lhe renderam, naturalmente, muitos inimigos e, com eles, muitos panfletos desonrosos. Mas sobre isso, disse o que pensava ao pregar na Capela Real: “Todos os bens, ou sejam da natureza, ou da fortuna ou da graça, são benefícios de Deus; e a ninguém concedeu Deus esses benefícios sem a pensão de ter inimigos”. Mas, se tê-los é um gênero de desgraça, não os ter é ainda pior, pois “pode haver maior desgraça que não ter um homem bem algum digno de inveja?”. Mesmo muito idoso, teve, ainda, ânimo para uma polêmica com o governador da Bahia que o expulsou do palácio, não, porém, sem ouvir duras palavras do velho jesuíta. Vieira foi assim, irreverente e defensor de causas ganhas ou perdidas. Ora recluso, curtindo ostracismo, ora reabilitado,encantando a cúria num púlpito romano, mas sempre combatendo com ardorosa paixão, alicerçado numa visão de mundo inegavelmente à frente de seu tempo. Nos seus últimos 16 anos, teve o cuidado de organizar, para a impressão, os seus sermões, de conteúdo, sem dúvida, atemporal e universal. Libelos das verdades estabelecidas, açoites das mentiras patentes. O outono de uma vida atribulada o recebe muito debilitado e cego, vivendo abrigado no Colégio da Ordem Jesuíta de Salvador para onde se refugiara não atrás de saúde, mas de “um gênero de morte mais sossegado e quieto”. E assim foi. Ele, que desprezou a pompa, recebeu o título de Imperador da Língua Portuguesa, conferido por outro grande de outra época: Fernando Pessoa.


MANOEL DA CRUZ EVANGELISTA E SUAS HISTÓRIAS EM PROSA E VERSO FERNANDO BRAGA in ‘Toda Prosa’ antologia de textos do autor. Ilustração: capas dos livros de Manuel da Cruz Evangelista Recebi de uma vez só, via sedex, um presentão neste Natal que já se avizinha: ‘Minha antologia diferente’, ‘Estrelas do meu caminho’ e ‘Sol de outono’ por generosidade do poeta, cronista e contista Manoel da Cruz Evangelista, esse velho e querido amigo, em que algum tempo agucei-lhe a memória para que se lembrasse de mim, como personagem consigo e outros, em uma reunião de aniversário, num sobrado da Rua de Santana, em São Luis, onde morava Demerval, irmão de Francisco de Assis Carvalho, o ‘Six’, ambos seus colegas do Banco do Brasil. Comecei a gostar do Vanjico desde aí, um empatia espiritual, uma bem querença como se já nos conhecêssemos há mil anos, como naqueles versos de Baudelaire... Uma inteligência viva, a irradiar harmonia e bom humor, um espírito superior e boêmio, daqueles que fazem parte da família das boas-gentes. Demerval nunca mais o vi, e ‘Six’ encontrei-o em Brasília, nos anos 70, no ‘Clube do choro’, onde era uma das estrelas a tocar cavaquinho juntamente com outro maranhense de saudosa memória, o nosso Tasso Vieira que no conjunto, ‘baculejava’ com muito ritmo uma sonora cabaça. Tasso era irmão de Dominguinhos Vieira Filho, e os dois, meus queridos amigos. Tive de fazer esse preâmbulo para clarear a lembrança desse querido poeta que também atende pelo nome afetivo de Vanjico. Mas nessa busca do tempo perdido, volto a clarear, neste dedo de prosa, a memória do poeta Evangelista, como se fosse Proust a passear com ele pelos caminhos de ‘Swann’: Numa noite qualquer de um ano longínquo, ele, o Vanjico, atravessou de canoa com o mesmo Demerval, irmão do “Six”, com Telmar, com o sempiterno Pandiá Calojeras de Sousa, com o professor Araújo, que era do BEM, depois foi para o Banco do Brasil, e depois ingressou na Magistratura; com Américo Azevedo Neto e comigo, nós dois, representantes da boêmia jovem do Banco do Estado, para a ‘Ponta de São Francisco’ [lêse aqui o acidente geográfico]. A ponte de ligação estava em construção, tempo em que José Chagas dizia em versos que a ponte não ficaria pronta devido à maracutaias, onde até a tinta para pintá-la seria ‘furta-cor’. Isso não nos mais interessa. Interessa agora é o destino da canoa que nos levava para a Ponta de São Francisco, onde nada existia a não ser um barracão de palha chamado ‘Base do Calango’ que servia um delicioso mocotó e cervejas geladas. O ‘Calango’ era um guarda-civil [de Trânsito] que tinha esse apelido e lá morava num espaço contíguo ao barracão que já prenunciava o que seria aquelas paragens tempos depois... E lá montávamos nossa serenata particular entre cantigas, poemas e violão, até quase à alva, quando então aportávamos novamente, quase sempre na mesma canoa, no velho Cais da Sagração... Lembra-te Evangelista? Ou não? Eu tenho uma memória de anjo... Os livros do poeta Cruz têm o batismo editorial e conseqüentemente o bom gosto gráfico do professor Antonio Maria Cabral [também ex-Banco do Brasil e Banco do Estado] que com competência os edita e os apresenta lá de sua oficina de trabalho ‘Cantinho das letras’ que também é página de facebook. Mas vamos ao poeta – Velho uma ova! Cora Coralina começou a publicar seus versos aos oitenta, Leon Tostoi, o gênio russo de ‘Guerra e Paz’ aos oitenta fugiu de casa, como nos diz esses fragmentos do ‘Poema da gare de Astapovo’, de Mario Quintana: “O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos./ Com certeza sentou-se a um velho banco, / um desses velhos bancos lustrosos pelo uso / que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo contra uma parede nua… [...] Ele fugiu de casa…/ Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…/ Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!” A seu modo, Manoel da Cruz Evangelista em literatura, é um ator multifacetado, por encarnar em muitos poemas o poeta Emilio de Meneses, refiro-me aos repantes de ‘O Dom Quixote gordo da sátira’; em outros muitos, Boileau [ditador racionalista da poesia de Paris e vulgarizador de uma natureza intelectualizada]; e em outros tantos, Aretino [famoso satírico e panfletário italiano]. E o faz naturalmente e


sem sabê-lo, no alto de sua Lira dos Oitent’anos, sem nada dirigido, de maneira espontânea, simples e por vezes ingênua. Cito três arranques geniais do poeta: na pág. 53 de ‘Minha Antologia diferente’, o nosso Vanjico, na prosa ‘Gosto de ler’, solta essa sacanagem preciosa: “Quando jovem, lia tudo, desde poesia de Cordel até a ‘Divina Comédia’, com tradução de Odorico Mendes. Não entendi nada, e creio que o Odorico Mendes, muito menos ainda...” É mole ou queres mais? Em ‘Solo de outono’, à pág. 101, no poema ‘Os poetas’, o velho Cruz disfarça: “É por isso que não sou poeta./ Poeta tem que falar asneira,/ ser um Manuel Bandeira ou um Ferreira Gullar./ Acordar, de madrugada no quarto da empregada...” No livro ‘Estrela do meu caminho’, Manoel da Cruz Evangelista diz contrito, a desabafar sua formação religiosa construída em meio aos diocesanos: ““ Fé – Crença – convicção íntima. Crer – dar como verdadeiro. Certeza – Conhecimento exato”. Para concluir ou arrematar-se: “Sumid quod sum” – Eu sou o que sou! E é mesmo!


CONVERSAS VADIAS FERNANDO BRAGA in ‘Travessia’ - [memórias de um aprendiz de poeta e outras mentiras] Vivíamos em São Luis, como disse antes, como se num outro século de Péricles, na antiga Atenas. Agora estamos todos dentro deste cenário de tempo, lugar e comportamento a que me propus realizar neste trabalho, a transcrever, de logo, um artigo de Josué Montello, publicado no Jornal do Brasil, o qual, infelizmente, na minha hemeroteca não tem registro de dia e mês, somente o ano: 1971. Josué Montello: Jornal do Brasil, 1971 Um novo grupo maranhense “Dos 19 capítulos em que dividiu a sua História da Literatura Brasileira, um, o 11º, consagrou-o José Veríssimo ao estudo dos poetas e prosadores do Maranhão, no meado do século passado (lê-se século XIX). Tão importante foi esse grupo literário que, a um só tempo, deu ele ao Brasil o seu mais importante prosador, João Francisco Lisboa, e o seu mais alto poeta lírico Antônio Gonçalves Dias. O grupo teve mesmo um biógrafo, que retraçou a vida ilustre dos companheiros, Antônio Henriques Leal os quatro volumes do Panteon Maranhense, lá mesmo esplendidamente editados por Berlamino de Matos, fizeram de seu autor o Plutarco da geração admirável. Para maior glória dessa obra exemplar, não lhe faltou sequer a crítica violenta, com intenções declaradamente demolidoras, que lhe desfechou na província um crítico azedo e inteligente, Frederico José Correia, nas 200 e poucas páginas de Um Livro de Crítica. Para que se tenha uma idéia deste volume, basta ler o seu programa de bordoada: “O meu fim com este livro é desmascarar a impudente cotérir e não consentir que ela zombe por mais tempo da credulidade e paciência pública, nesta dita Atenas brasileira, onde ela principalmente se aninhou tem produzido numerosa prole.” Por esse tempo, a capital maranhense era uma pequena cidade de 40 mil habitantes, sem escolas superiores, e apenas com um ginásio oficial, o velho Liceu. Suas comunicações com o resto do mundo se faziam espaçadamente e por via marítima. No entanto, era de ordem a sua atualização intelectual que, no mesmo ano da Questão Coimbrã, a polêmica era comentada em São Luis no prefácio de um livro, A Casca da Caneleira. Depois da geração do Panteon Maranhense, outras se tem constituído, ao longo do tempo, com o mesmo pendor das letras, na minha cidade natal. Se estes não chegaram a ombrear-se com aquela, na mesma teoria de valores literários, pelo menos serviram a resguardar uma bela tradição cultural, de que eu próprio me beneficiei, há 30 e tantos anos, quando por lá me emplumei pra estes meus modestos vôos de beira de telhado. Recentemente, numa de minhas habituais idas a São Luis, pude mais uma vez sentir e reconhecer que meus conterrâneos se mantém fiéis ao gosto das letras, e de lá trouxe comigo dois dos mais importantes livros de poesia que se publicaram ultimamente em língua portuguesa: Do Eterno Indeferido, de Nauro Machado, e Pele e Osso, de Bandeira Tribuzi. Esses dois grandes poetas, que vivem na província e de lá irradiam seu nome e sua obra para todo o país, dão bem a medida da altitude literária do Maranhão contemporâneo – tanto na técnica de expressão poética, quanto na profundeza e originalidade de suas inspirações. Cada um deles segue o seu próprio caminho. Se Bandeira Tribuzi é mais transparente na forma depurada de seus versos [alguns deles concebidos sob a lição das elegias camoneanas], Nauro Machado serve, sobretudo ao mistério da poesia – uma poesia fechada e esquiva que nos obriga a debruçar sobre ela pra lhe penetrar aos poucos a beleza profunda. Não exagerei em afirmar que ambos se situam entre as mais altas vozes da moderna poesia brasileira. E é desvanecedor reconhecer ainda que outros poetas jovens, como Lauro Leite Filho, Fernando Braga, Viriato Gaspar, Calos Cunha, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Benedito Buzar, Reginaldo Telles e


Ubiratan Teixeira – para citar apenas alguns – seguem o exemplo de Tribuzi e Nauro no gosto de iguais dedicações literárias. Comporão esses poetas um novo grupo maranhense? Presumo que sim – sobretudo considerando que a ele igualmente pertencem um João Mohana, um Erasmo Dias, um José Chagas, uma Arlete Nogueira da Cruz, um Fernando Moreira, um Murilo Ferreira, um Jomar Moraes, um Américo Azevedo Neto, como romancistas, contistas e ensaístas. São Luís tem hoje, no plano da cultura, condições de florescimento e atualização que não tinha à hora em que se constituiu e afirmou a geração de João Lisboa. São maiores, assim, as responsabilidades de seus poetas e prosadores.”


EXERCÍCIO MARÍTIMO FERNANDO BRAGA in Jornal “O Estado do Maranhão, atualizado em parte, encontrando-se o restante do texto conforme o original de 17 de agosto de 1973.

José Tribuzi Pinheiro Gomes, ou simplesmente Bandeira Tribuzi é um dos valores mais atuantes da chamada geração de 45. Poeta de grande profundeza lírica trocou a batina de frade [Ordenado], para não ser “Prior do Carmo”, como gostaria o pai, diz ele no “Memorial da longa vida”, que só durou cinqüenta anos, interrompida por um enfarto fulminante, no estádio “Nhozinho Santos”, ao assistir um jogo entre o Sampaio Correia e o Moto Clube, bem como sua formação, em Coimbra, em Ciência das Finanças... Trocou todos esses quefazeres, como dizia, pelas lides jornalísticas, trazendo-nos da velha Europa, uma educação humanística realmente sólida, a par de uma cultura literária, não só lusitana como universal. Em “O Conto Brasileiro”, Josué Montello comenta, traçando um paralelo entre autores de inspiração ruralista e autores de inspiração litorânea: “Realmente, a paisagem marítima, que serviu de cenário às mais glórias da raça, só raramente aparece na prosa de ficção de Portugal, em contraste com o que ocorre com a poesia, que se volta preferencialmente para o mar.” De Camões e António Nobre, se presencia a justeza dessa tese. E “Exercício Marítimo” é o porto que me atraco na poética de Bandeira Tribuzi: “A A palavra mar em lenta pronúncia úmida, / fria, amarga, d marinheiros, em histórias. /Depois pensar no corpo da infância,/ cartões ilustrados, /recordações, praias, visitas e pensadas”. E mais: “Quem assim escreve é quem já sentiu em demanda de um infinito azul a dimensionalidade das coisas imperceptíveis, até certo tempo ou momento. As coisas deixadas, as lembranças e as ideologias ameaçadas por uma pá de cimento, uma rosa que não brotará nunca nas raízes de uma calçada”. Assevera Joaquim Nabuco em “Minha Formação”: “De um lado do mar sente-s a ausência do mundo; do outro, a ausência do país”. E parte o poeta em vagas imaginárias: “Gosto de sal nos lábios:/ eis construída a paisagem. /Coloquemos nele um barco./ O vento [este vento real que agita os cabelos] /continuará o exercício impelindo o sonho a viagem.” O sonho ou a viagem, tanto podem ser sentidos na Praia do Desterro, aqui em São Luis, como podem ser sentidos na amplidão das praias do Algarves, em Portugal. O gosto de sal, a paisagem e o vento não são determinados. Fernando Pessoa escreveu que “pelo Tejo vai-se para o mundo. Pelo mar ou por um raio de aldeia se consegue partir para o mundo”. Tribuzi prossegue: “Que um dia quando pó forem meus nervos/ e minha carne o adubo de uma rosa/ e uma ave voar no meu silêncio / e tudo quanto fui seja memória,/ quando água se faça meus pensamentos / e os desejos em nuvens se transformem,/ quando já nada reste de meus erros/ e meu ser seja orvalho numa rosa,/ possa alguém lembrar/ ao ler o mais triste dos poemas,/ a sofrida saudade de um bem que foi por ter e,/ lembrando, ouça a música incontida/ da palavra comigo sepultada: doce, nítida, pura, azul e alada.” Um soneto entranhado em meio ao poema, ou pelo menos quatorze versos entrelaçados numa beleza de forma lírica, mais sentida que pensada, características acentuada no estilo de Bandeira Tribuzi. Conteúdo vivencial e técnica perfeita, fazendo-nos lembrar a todo o momento o autor de “O Guardador de Rebanhos”. E prossegue o poeta de “Safra”: “Teus olhos, transparente melodia,/são rios como os rios de uma margem para a terra/ das nuvens, alta e fria./ Teus olhos, permanência fugidia,/ imagem da imaginada imagem/ de teu mais puro ser,/são a viagem mais preciosa [e inatingida],/ dia de luminosa auréola solar recém-nascida/nas manhãs molhadas/ orvalho e seiva, /pétala de estrela, teus olhos rimam com amor e mar /e a saudade da pátria desejada. D teus olhos de faz a vida bela...” “Exercício Marítimo”, neste seu último fôlego não nos leva a verificação daquele fenômeno que Leo Sprizer assinalou no seu ensaio “Interpretação Lingüística das Obras Literárias”: “O poeta é o que se esforça para transformar em enigmático um pensamento claro.” Bandeira Tribuzi traz-nos com seu lirismo inebriante, uma mensagem poética belíssima... Aqui não há transcendência para o enigmático, a força construtiva é que exige, se é eu exige... O poeta nos deixou uma bibliografia extensa e apurada em poesia e prosa, e foi também o autor do Hino da Cidade de São Luis...


Tribuzi ao despedir-se de seu exílio interior, ou da saudade da pátria desejada, tendo o mar como experiência pessoal e melancólica, se justapõe ao lado de Geir de Campos, quando canta: “Ó grande mar – escola de naufrágios! Chora um adeus em cada colo de onda.”


A TARA E A TOGA, DE WALDEMIRO VIANA FERNANDO BRAGA A tara e a toga é realmente um romance imaginativo que gira fundamentalmente em termos das relações humanas. Mas não é só isso, o livro é ainda, ao mesmo tempo, um romance histórico, a contar uma tragédia vivida por um velho magistrado que, no século XIX, em São Luís do Maranhão, sob o surto de uma violenta paixão senil e de um ciúme incontido, matou com resquícios de crueldade, uma jovem moça dos arrabaldes da Ilha, por quem sentia desejos desumanos, só mesmo explicados pela psiquiatria forense. É ainda o livro, uma história romanceada, em que Waldemiro Viana adverte o leitor que o texto não se prende à verdade exata dos fatos, sugerindo cautela aos puristas da História em sua santa ira. E por que diz isso? Por que “em prosa clara, viva e saborosa, arquitetada com magistral competência técnica”, ele conduz a urdidura romanesca a seu modo, levando-a por caminhos temperanças ficcionais, sem, no entanto, arredarse do objeto maior, que é a própria história, daí, sua grandeza! José Cândido de Pontes de Visgueiro era um desembargador de alto respeito na Casa da Súplica [antigo Tribunal de Justiça] de elevado prestígio no Império. Era ele de índole mau e tático maquiavélico, matreiro, e dizem estupidamente feio, de natureza casmurra e circunspecta, a tratar a todos com habituais e mal-humorados monossílabos, quase inaudíveis. O velho magistrado vivia em um luxuoso sobrado à Rua de São João, onde era servido e paparicado por seus empregados, e por mais doutos da sociedade ludovicense que frequentavam seus umbrais m noites de banquetes e que privavam de sua austera e incômoda companhia. O desembargador Pontes Visgueiro conheceu Mariquinha, uma moiçola do subúrbio de São Luís, e com ela, em troca de presentes e mimos, conquistou sua atenção, a ter assim, o que outros tinham de graça. O velho idolatrou-se pelo corpo da jovem, e a jovem enamorou-se pelas algibeiras do velho... E assim começou como não poderia ser diferente, um complicado “romance” entre a doce Mariquinha e o azedo magistrado. Numa bela tarde, daquelas que em São Luís são servidos ótimos crepúsculos, Pontes Visgueiro a sentir incômodos calos a lhes nascerem nas têmporas, resolveu dar um volta de bonde lá pelas bandas do Largo dos Amores, o bastante para ver o que seus amargurados olhos não queriam: Mariquinha a conversar alegremente com um jovem Alferes da Policia, o bastante para que Pontes Visgueiro premeditasse... Numa noite, em seu sobrado, a forjar um banquete para a amada, levou-a para sua alcova e dopou-a com a ajuda física de seu escravo Guilhermino, matando-a com facadas nos seios, e a mamá-los, a beber o sangue que jorrava em seu rosto, como se fora uma fera enfurecida e tresloucada, enterrando-a depois de esquarteja-la no vão das escadas de entrada do aristocrático solar, transladando-a, por precaução para o quintal e enterrando-a, por fim, em um canteiro florido por jasmins e rosas... Corria o ano de 1873, e como não há crime perfeito, logo o macabro homicídio foi descoberto e o desembargador preso e levado para a Corte, e lá condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça a prisão perpétua a ser cumprida na Casa de Correção do Rio de Janeiro. O infeliz magistrado não resistiu, vindo a falecer dois anos depois, em 1875. Os despejos de Mariquinha, separados, cabeça, tronco e membros, foram postos em um caixão de madeira, sobreposto a outro de zinco. O marceneiro Boaventura Andrade foi absolvido, porque foi provado que ele fizera o caixão atendendo uma encomenda do desembargador; o funileiro Amâncio da Paixão Cearense, que construiu o caixão de zinco, teve um agravante por ser compadre de Pontes Visgueiro e foi condenado juntamente com o escravo Guilhermino a oito anos de serviços forçados. Em um novo julgamento, Amâncio provou sua inocência, porque, apenas, também, atendeu uma encomenda do velho juiz... juntou seus filhos menores e foram viver em Fortaleza... Dentre essas crianças, filhos de Amâncio, estava o belo poeta, teatrólogo, músico, compositor e seresteiro, o imortal autor de “Luar do Sertão”, Catulo da Paixão Cearense, o qual, com esse episódio, nunca mais voltou a São Luís, seu chão natal, aonde nasceu em 8 de outubro de 1863.


DIREITO & LITERATURA


CENTENÁRIO DA FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO: FALTAM TRÊS!!!

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física / Mestre em Ciência da Informação

Em dezembro de 2016, em reunião da Academia Ludovicense de Letras – ALL - dois de seus membros trataram das comemorações do centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, a ocorrer em 2018. Dessa conversa inicial, surgiu a idéia de um livro, haja vista que, conforme o Prof. Campos, a Coordenação do Curso de Direito da UFMA não possuí, em seus arquivos, dados e informações sobre os primeiros anos de funcionamento do curso, e que os registros se dão a partir de meado dos anos 40... Comprometi-me, então, em fazer o resgate dessa memória, nos seus primeiros anos, desde a fundação da Faculdade até onde for possível, nos meados dos anos 1940... O primeiro volume, da fundação à formatura da primeira turma, já está pronto. Iniciei, então, o segundo volume, de 1924 até 1929... Encerrei o primeiro volume com a formatura da primeira turma, resgatando todos os atos desse período, incluindo-se a biografia da maioria dos ‘lentes’, catedráticos, substitutos, honorários, como também do curso anexo... Solenidade de colação de grau, realizada dia 30 de março de 1924, constam os seguintes bacharelandos: [...] o dr. Henrique Couto, pela ordem da chamada conferiu o grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais à turma presente, composta dos drs. Adelman Brazil Corrêa. Valdemiro Viana, José Cursino de Azevedo, Zildo Fabio Maciel, Waldemar de Souza Brito, Francisco das Neves dos Santos, Junior, Benedito Ricardo Salazar e Astrolabio da Silva Caldas, os quais prestaram o devido juramento. [...] A PACOTILHA, 32 de março de 1924 Sálvio Dino (1996) 254 registra em seu “A Faculdade de Direito do Maranhão”, replicando artigo publicado no Diário de São Luis, Ed. 31/03/1924: [...] Colaram grau os diplomandos Francisco Santos, Astrolábio Caldas, Zildo Fábio Maciel, Valdemar de Souza Brito, Benedito Ricardo Salazar, José Cursino de Azevedo e Adelman Correa, este orador da turma [...].

Para a construção dos volumes em que estou trabalhando, e o resgate da memória da Faculdade do Maranhão, estou me utilizando de fontes primárias - os periódicos disponíveis para consulta, disponíveis na Hemeroteca da Biblioteca Nacional 255. Como inicialmente se pretendia verificar os atos e fatos relativos apenas ao ano de fundação, e, depois estendendo até a primeira formatura (volume I); pare este segundo volume analisaremos os jornais publicados no período de 1920-29: 254 255

DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luís: EDUFMA, 1996

http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5D2406539118.DocLstX&pasta=ano%20191&pesq=faculdad e%20de%20direito


Opções

093874

Pacotilha (MA) - 1910 a 1938 Diário de S. Luiz (MA) - 1920 a 1949

930 425

107646

O Imparcial - 1926 a 1946 - PR_SPR_02219

228

720593

O Jornal - 1916 a 1923 - PR_SPR_00536_720593

228

720240

Folha do Povo (MA) - 1923 a 1927 O Combate 1925 a 1965 - PR_SPR_00443 Relatórios dos Presidentes dos Estados Brasileiros (MA) - 1890 a 1930

133 52 19

168319_02

763705 720402

Trabalhando, no momento, com o ano de 1924, já verificamos o que contém A Pacotilha; passamos, então, ao segundo diário, o Diário de S. Luiz. Para nossa surpresa, deparamo-nos com a seguinte nota, publicada em 25 de março:

Faculdade de Direito Por motivo de força maior, hontem, às 10 horas na secretaria deste instituto superior, receberam o grão de bacharéis em sciencias jurudicas e sociaes, os alumnos Pedro Corrêa Pinto, Ismael Pessôa de Hollanda e Palmério Maciel Campos. Diário de S. Luiz, 25 de março de 1924.

Verifica-se, pois, por essa nota, de que houve uma solenidade de formatura, em caráter especial, de três quintanistas, alguns dias antes da solenidade oficial. E que os nomes desses três bacharelandos não consta dos formandos, do dia 30 de março de 1924... Pois bem, esta é, agora, a lista completa dos primeiros bacharéis formados pela Faculdade de Direito do Maranhão:

Adelman Brazil Corrêa Astrolabio da Silva Caldas Benedito Ricardo Salazar Francisco das Neves dos Santos, Junior Ismael Pessôa de Hollanda José Cursino de Azevedo Palmério Maciel Campos. Pedro Corrêa Pinto Valdemiro Viana Waldemar de Souza Brito Zildo Fabio Maciel


CONJUNTURA LEGAL DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL E A INCIDÊNCIA DE SEUS PRINCÍPIOS NORTEADORES LEGAL CONJUCTURE OF THE WATER RESOURCES IN BRAZIL AND THE INCIDENCE OF ITS MAIN PRINCIPLES

RHUAN FILIPE MONTENEGRO DOS REIS JOSE ROSSINI CAMPOS DO COUTO CORRÊA RESUMO - Este trabalho visa analisar a historicidade e a aplicação dos instrumentos legais concernentes aos recursos hídricos, em âmbito nacional, a fim de indentificar os principais ideários que imperam sobre esse conjunto normativo. Intenta ainda avaliar de que maneira valores como a cooperação e o aspecto democrático inerente à gestão desses recursos vêm sendo incorporados à essas políticas públicas. Palavras-chave: Direito Ambiental. Polítcas Públicas. Recursos Hídricos. Gestão Democrática. Direito das Águas. ABSTRACT - This work aims to analyze the historicity and the application of legal instruments concerning water resources, at brazilian ambit, in order to identify the main ideas that rule this normative ensemble, as well as to assay how values such as cooperation and the democratic aspect in the management of these resources have been incorporated into that specific public policies. Keywords: Environmental Law. Public Policy. Water Resources. Democratic Management. Water Law.

1. INTRODUÇÃO A constituição federal consagrou em seu artigo 225 inúmeras disposições normativas que tratam da temática ambiental, partindo de uma premissa eminentemente principiológica trazida no caput deste dispositivo, que preconiza: Art 225 – Todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso do comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, incumbindo-se ao poder público e a população defende-lo e preservá-lo para presentes e futuras gerações (Brasil, 1988).

É perceptível a enorme influência que o conceito de desenvolvimento sustentável formulado durante o relatório Brundtland exerceu no referido enunciado de nosso poder constituinte originário, a constituição cidadã - nessa assertiva -, defende o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado como algo irrestrito, difuso e por consequência reservado de forma equânime a todos os estratos populacionais e grupos socioeconômicos. Além disso, zela pela participação simultânea e harmônica do Agente Estatal e da sociedade civil, preservando a inteligência de que um meio ecológico sadio só é viável se todos contribuírem para a gestão de seus recursos, formulando ideias, expondo suas principais necessidades, contribuindo na mediação de conflitos pelo seu uso e, por fim, constituindo um único e eficaz complexo organizacional. Esta abordagem, apesar de incidir sobre todos os componentes do meio físico-biótico, é ubíqua e melhor enraizada no que concerne aos recursos hídricos, em especial após o advento da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei 9,433, objetivando-se esse artigo em auferir que instrumentos intuídos por essa e outras leis tornam efetivos a aplicação de princípios como da cooperação e da gestão democrática. 2. ARCABOUÇO LEGAL E UM BREVE APARATO HISTÓRICO. O Brasil é reconhecido pelo seu robusto conjunto normativo na área ambiental, a Constituição Federal de 1988, apesar de elevar esse tema ao maior dos status dentre nossos diplomas legais, historicamente não se apresenta como um marco inicial no esforço de instituir princípios e instrumentos que tivessem como escopo


a proteção e preservação das biotas e de seus recursos, segundo Weiner(1991) apesar do direito ambiental ser considerado uma disciplina bastante recente, a preocupação com o meio ambiente expressa em leis data de séculos, sendo importante traçar uma linha histórica sobre a previsão legal desses bens, visando a formação de uma boa compreensão da atual conjuntura legal destes recursos, não só disposições adstritas aos direitos de propriedade e de vizinhança como ficara expresso no Código civil de 1916(Lei Nº 3.071/1916). É a partir da década de 1930 que leis são instituídas objetivando constituir políticas especializadas de uso e proteção dos recursos naturais, dentre elas a primeira a versar sobre recursos hídricos no Brasil, o célebre Código das Águas de 1930. Nesta primeira legislação, quando avaliada de maneira teleológica a instituição de parâmetros mínimos para dirimir conflitos com relação ao uso dos recursos hídricos, fica evidente, além do aproveitamento do potencial hidrelétrico no Brasil, a conceituação do que é água comum, particular e pública. Divisão essa não mais admitida pela constituição de 1988(vide artigo 20, II)256, atribuindo a resolução de divergência única e exclusivamente ao governo que passa a centralizar quaisquer competências administrativas257, vale ressaltar a criação de um código específico para as águas minerais em 1945. As já revogadas leis florestais de 1934(Decreto 23.793/34)258 e 1965(Lei Nº 4.771/65) versaram sobre a proteção dos recursos ambientais e hídricos instituindo áreas de proteção permanente(APP)259 ao longo de cursos d’água, lagoas e rios, indicando quais extensões desses corpos estariam protegidas por essa política, a atual lei florestal(12,651/12) mantém a previsão dessas áreas, com algumas ressalvas como a isenção para propriedades de até quatro módulos fiscais. Além disso, o novo código prevê pagamentos e incentivos para serviços ambientais como a conservação das águas e dos serviços hídricos e incentivos a pesquisas que visem a melhoria dos recursos ambientais e hídricos etc. A proteção estatal lastreada na criação de leis penais na lição de Jesus (2009) ocorre quando outros ramos do Direito não conseguem prevenir a conduta ilícita, prima-se então pelo raciocínio de que se os recursos hídricos, dada a sua relevante função biológica e social, forem agravados de forma considerável, e não sendo eficazes outras formas de coerção estatal no escopo de deter tais atos lesivos, é cabível a previsão da conduta em lei penal e a cominação de penas restritivas de direito e de liberdade, o próprio Código Penal de 1945 possui previsão de crimes contra a saúde pública e nesse esforço escuda também a água no crime de corrupção ou poluição de água potável e lei de crimes ambientais (9605/96) que traz previsões de delitos que comprometam esse bem260. O país ainda carecia de uma Política Nacional que mirasse os recursos hídricos ainda com a Política Nacional de Meio Ambiente, que visara a racionalização da água(bem como do solo e do ar) como princípio e a proteção em linhas gerais dos recursos ambientais, nos quais estão englobados as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários e o mar territorial a qualidade da água aliadas. Importa salientar que a já aludida proteção ambiental erigida pelo texto constitucional e as leis supramencionadas não eram satisfatórias para garantir a proteção e ordenar o uso das águas, por essa razão em 1997 é instituída a primeira Política Nacional de Recursos Hídricos e em 2000 é criada a Agência Nacional de Águas para implementação dessa política e coordenação. 3. A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS E SEUS INSTRUMENTOS. O Estado, ao implementar a PNRH em seu ordenamento jurídico, reconhece que as águas podem ser destinadas aos mais diversos usos consuntivos e não consuntivos, e que cada uso demanda uma determinada qualidade do recurso, entende como necessária a participação da sociedade civil organizada e reafirma a condição da água como bem de domínio público, tendo como escopo o cumprimento do princípio constitucional mencionado (Art. 225,CF) no sentido de garantir a boa qualidade dos recursos hídricos para 256

São bens da união os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. 257 Centralização no sentido de não incluir a sociedade civil organizada ao resolver conflitos afetos aos recursos hídricos. 258 Essa lei fala inclusive na conservação do regime das águas. 259 A lei de 1934 não trata, a rigor terminológico, de áreas de proteção permanente e sim em quarta parte (por corresponder a 25% do território). 260 A exemplo de seu artigo 33 que diz: Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras:


as presentes e futuras gerações. Desta forma, conta-se com amplo espectro de instrumentos políticos/institucionais que serão avante esmiuçados . Em qualquer área da gestão pública, bem como da administração dos bens privados, é indispensável que se faça um planejamento. Nos dizeres de Chiavenato(2004) o planejamento se constitui na primeira função do processo administrativo, permitindo o estabelecimento dos objetivos organizacionais em função dos recursos necessários para atingi-los, não raro deparamo-nos com cada vez mais profissionais empenhados em planejar a utilização dos recursos naturais. Ocorre que, após esse complexo processo, é preciso executar de maneira fiel tudo aquilo que foi estabelecido, engendrando-se então um plano. Os Planos de Recursos Hídricos (PRH) são essenciais no cumprimento de todos os objetivos da lei aqui em comento, devendo estes estarem pautados na adequação com o uso do solo, manutenção das biotas e da cobertura vegetal, preservação da biodiversidade e todos os demais recursos naturais. Devem ainda estar em observância com os aspectos demográficos, sociais e econômicos da localidade em que incidem, fazendo valer o que o legislador exprime no artigo 3 dessa lei, cada corpo técnico definirá o que é importante conter no plano, havendo um quantum mínimo de informações a serem consideradas como relações de demanda/disponibilidade, diagnóstico da atual conjuntura hídrica, metas de racionalização, dentre outros. Os PRH asseveram uma primazia dos interesses metaindividuais sobre aqueles eminentemente privados e exclusivos no que concerne a utilização de um bem comum, contudo não são um instrumento estanque. Importante ressaltar que estes, se analisados de forma isolada, tornam-se deveras inócuos. Assim sendo, é preciso evitar um quadro amplamente conhecido na literatura científica desenvolvido pelo ecologista Garrett Hardin (1968) como tragédia dos comuns261, em que um dado recurso, de utilização livre, isto é, desprovido de rivalidade e exclusividade, incorre no risco de ser deteriorado ou mesmo esgotado pela má gerência e demasiada exploração. Nesse sentido, o mesmo estado que confere aos recursos hídricos (status de bem de domínio comum) limita, onera e dirige sua utilização e, para tal, define parâmetros quantitativos e qualitativos para auferir a qualidade ambiental das águas. Este mesmo status indica ainda quais padrões de qualidade são adequadas para cada possiblidade de uso. Balneabilidade, dessedentação animal, composição de paisagens, consumo humano, navegação, dentre outros, tantas são as utilizações possíveis para a água, todavia nem sempre a razão demanda/disponibilidade é positiva e por isso é importante priorizar certos usos como consumo humano e aqueles afetos à produção de alimentos. O artigo 1º, em seu inciso iii, da política tratada revela esse ideário: Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: [...] III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais (Brasil, 1997).

Outra questão a ser ponderada é que cada corpo hídrico, dadas as condições físico/bióticas( climáticas, , geológica, ecológicas etc) do meio em que se situa e a própria interferência humana, vai apresentar características como cor, turbidez, temperatura, pH, dentre outras, diferentes. Os aquíferos, para exemplificar, como são entes geológicos que permitem uma depuração e uma filtragem natural da água, são via regra fontes de um recurso anteposto para usos de maior rigor, como o consumo humano, mas que podem ser afetados por processos como intrusão salina262 e eutrofização. Desta forma, enquadrar cada corpo hídrico a formas específicas de uso, tal como manter a qualidade exigida por cada um, é fundamental. Como visto, o planejamento dos recursos hídricos é regido pelos ditames da racionalização do uso, na medida em que se internaliza o conceito da água como recurso finito, e, que como tal, precisa ter seu uso disciplinado e ordenado de maneira constante, tornando formas de poluição e degradação prevenidas e, no que for possível, vedadas. É fundamental a priorização dos seus usos para atividade de maior relevância dentro da esfera coletiva e, por fim, a adequação que consiste na instauração de uma série de parâmetros que aferem a compatibilidade da água com o uso pretendido e a manutenção da qualidade auferida. Todo esse esforço em enquadrar os corpos em classes está previsto como instrumento da lei aqui em análise e é intitulado como enquadramento dos corpos de água em classes, mais precisamente disciplinado na Resolução 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente(CONAMA). 261 262

Expressão foi cunhada pelo matemático William Forster Lloyd em 1883. A intrusão marinha é o processo em que a água salgada do mar adentra a zona de água doce na estrutura do aquífero.


Há certos usos em que os recursos visados tem relevância tão preponderante ou são altamente lesivos às águas, que a priori o poder público os restringe e seu uso só torna-se possível diante de um ato administrativo em que uma determinada pessoa física ou jurídica requeira ao órgão competente tal utilização, cabendo ao estado acolher ou não a pretensão. Este instrumento, nomeado pela legislação vigente de outorga, tem inúmeras finalidades, dentre elas prevenir problemas ambientais (citando-se as muitas formas de poluição como a eutrofização); acometimento da biodiversidade263 e de espécies abarcadas por hábitats aquáticos; inutilização para as múltiplas formas de usos devido a perda de qualidade ambiental considerável; prevenção de crises de escassez hídrica originados por usos desmedidos; dentre outras tantas funções. É válido ressaltar que não se trata de alienação e sim de uma autorização temporária (não excedente a trinta e cinco anos) para o uso do bem. Com fulcro também no princípio constitucional da economicidade que consiste na eficiência, na gestão financeira e na execução orçamentária, consubstanciada na minimização de custos e gastos públicos e na maximização da receita e da arrecadação (Torres, 2011), além, é claro, da eficiência e eficácia na gestão pública, todos os instrumentos aqui apresentados, uma vez que evitam situações de crise em que o estado dispenda mais recursos para remediá-las, e que, configurados cenários como escassez, poluição e degradação extrema das águas, o montante gasto tende a ser maior que o alocado para os planejamentos, é inegável também a relevância econômica e a contribuição para a gestão pública que o diploma legal aqui tratado nos traz. Destaca-se que se discutiu vastamente sobre minimização de gastos até então, mas a PNRH também traz previsão de um instrumento que regula cobrança de remunerações pelo uso da água. Antes de adentrar em maiores discussões acerca deste instituto, é cabível a observação de que essa cobrança não é considerada imposto visto que não há uma contraprestação direta264, sequer há caráter tributário, como fora reforçado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux que aduz “a natureza jurídica da remuneração dos serviços de água e esgoto prestados por concessionária de serviço público é de tarifa ou preço público, consubstanciando em contraprestação de caráter não-tributário”. São diversos os escopos deste instrumento, em especial os que se encontram enunciados no Artigo 19 da PNRH, são estes: racionalização dos usos; reconhecimento da água como um bem econômico e conseguinte indicação de seu real valor; capitalização de recursos para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos; o preço a ser estabelecido. A gerência de tais fins, como será visto a seguir, compete aos comitês de bacias hidrográficas. Se por um lado a divulgação de índices ambientais tem sido evidenciada por grandes empresas no âmbito privado e “tornou-se um tema de grande importância que, ao longo da década de 1990, se configurou como uma das maiores manifestações da interação das empresas com o meio ambiente” (Gray et Bebbington, 2001) por outro lado, nos serviços e no poder público essa necessidade se faz mais latente ainda pelo próprio princípio da publicidade e da transparência na administração pública e, principalmente, para facilitar a gestão dos planos oriundos desta e de outras políticas ambientais. Assim surge um sistema de informações que será escopo da próxima seção. 4. PRINCÍPIOS INERENTES À GESTÃO D’ÁGUAS Devidamente apresentados os instrumentos da atual PNRH e a linha histórica da preocupação com a qualidade e racionalização dos recursos em comento no ordenamento pátrio, é oportuno apresentar os princípios norteadores da atual política pública. A fim de balizar esta análise e reforçar todos os ideários e diretrizes já listados, os princípios seriam normas diretivas, “no sentido que indicariam a orientação éticopolítica em que um determinado sistema se inspira”, sendo também normas indefinidas, “que comportam uma série indefinida de aplicações”. E normas indiretas, ou seja, “normas que não seriam atuáveis se outras não lhes precisassem o que se deve fazer para as atuar” (Bobbio apud Galuppo, 1998). Em suma, tem-se a definição de uma norma de aspecto geral, tácita ou expressa, que orienta a aplicação e a constituição de um determinado conjunto normativo, não sendo esses princípios estanques(aquilo que basta em si) e, portanto, precisam de outras normas de maior detalhamento e descrição, visam ainda um maior alcance dos objetivos desta ou daquela lei. Após a apresentação dos instrumentos que regulamentam a conjuntura legal dos recursos hídricos no Brasil, julga-se oportuno elencar os princípios que regem tal legislação para uma maior compreensão do tema. 263

Pretende-se com biodiversidade aludir a abundância e riquezas de espécies bem como a equidade. Vide artigo 19 do Código Tributário(Lei Nº 5.172/1966): Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional. 264


Princípio da descentralização: Dentro da extensa gama de definições correlatas ao termo descentralização no âmbito da administração pública e do direito administrativo destaca-se a difundida pelo professor (Bandeira de Mello,1998) que assegura haver na atividade descentralizada a execução desta por pessoas distintas do estado, Considera-se aqui também a descentralização administrativa no sentido de cindir competências e atribuições sobre um determinado segmento do poder público entre todos níveis de governo. Deste modo, todos os entes da federação devem passar a contribuir e ter ingerência sobre as atividades ligadas a política pública e/ou órgão propendidos. Tal como ocorre na gestão da saúde, no que pese nossa atual política de recursos hídricos, ambas as definições apresentadas encontram-se respaldadas, pois existe a participação da sociedade civil organizada. Deve haver ainda a distribuição de competências e colaboração evidente entre os entes da federação. Princípio da Participação: Refere-se à possibilidade da sociedade civil em suas múltiplas dimensões e entidades representativas de formular pretensões que irão nortear a formação, aplicação e efetivação destas políticas. O próprio parecer técnico da Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos encaminhado à lei na fase de elaboração, reconhece que a legitimidade política institucional só poderia ser alcançada por meio da “participação pública e ao conter soluções de compromisso para a resolução dos conflitos entre os usos e usuários de água e entre a apropriação da água pela sociedade e sua disponibilização como meio de suporte para a natureza” (Brasil, 2006). Segundo Hans Kelsen (2000) o indivíduo atribui autoridade e poder a determinados legitimados, pois tal atribuição de autoridade é parte criadora da norma a que se submete e seu poder de mando decorre de sua liberdade. Princípio da gestão democrática: O vocábulo democracia origina-se do grego, δῆμος (demos) e κράτος (kratos), que, respectivamente, são traduzidos como povo e poder. Ao recorrer à etimologia desta palavra pretende-se ressaltar que a democracia não é aqui aludida como apenas a capacidade da sociedade civil organizada junto ao poder público opinar ou orientar sobre a formulação e aplicação da politica em análise, mas sim da investidura de um poder decisório com relação aos instrumentos desta lei, seja na elaboração dos planos, na arbitragem de conflitos em uma primeira instância administrativa ou na definição de diretrizes para a cobrança pelo uso da água. Esse princípio advém, sobretudo do modelo francês que tem nos comitês de bacias suas instâncias decisórias básicas, ou seja, as principais decisões são tomadas pelos que estão sentindo os problemas e envolvidos em conflitos decorrentes do uso dos recursos da bacia(Gomes et al, 2004). Princípio da cooperação: Princípio de esteio constitucional que alicerça todos aqueles já mencionados, traduz-se na ideia assegurada no caput do artigo 225 (Brasil, 1988) de que a defesa e preservação ambiental, de um modo geral, é um dever de todos, cita-se aqui outra dimensão de cunho internacional na ideia de cooperação entre povos, tratado no inciso IX do artigo 4 de nossa carta magna que evoca a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. A exemplo dos diversos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, no tocante a biodiversidade (inclusive da fauna aquática) como a Convenção sobre Diversidade Biológica (Rio de Janeiro, 1992) e a preservação de bacias como visa o Tratado da Bacia do Prata (Brasília, 23/04/1969). Princípio da finalidade: Princípio firmado pela ideia de aquele que administra bem ou coisa pública deve agir de acordo com interesses públicos em detrimento dos eminentemente privados, sempre considerando os ensejos coletivos, assim como respeitar os fins legais265. Tem-se por base indisponibilidade do interesse público, sendo assim aquele que - a título de exemplo - outorga água pra um determinado uso tem de agir pautado nas finalidades da PNRH e demais leis, bem como nas pretensões e necessidades do público de maneira geral, independente de qualquer interesse exclusivo do requerente. Princípio da prevenção: Este princípio visa impedir a permanência dos danos e pressões às biotas, considerando também a irreparabilidade destes, como ocorre no caso da redução do número espécies, alterações significativas nas estruturas físico/bióticas, redução da qualidade ambiental de corpos hídricos etc. Procura-se evitar que impactos ambientais se concretizem 266 sendo comum na legislação a estipulação de instrumentos, procedimentos e sanções que visem prevenir situações que afetem de maneira significativa o meio natural. 5. PAPEL E ATUAÇÃO ESTATAL 265

Definição pacífica na doutrina, trazida de diferentes formas pelos mais diversos autores como (Meirelles, H. L. 1990) É comum na literatura científica a diferenciação entre dano e impacto ambiental, considerando este último uma possível situação futura, sendo o dano resultante da comparação da atual situação com a que presumisse ter existido. 266


Coordenar todos esses instrumentos eleitos pela PNRH demanda um complexo organizacional bem estruturado e com atribuições bem delimitadas em cada órgão que o compõe. Nesse aspecto, a lei aqui tratada além de erigir diversos instrumentos institui o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos(SNGRH) coordenado pela Agência Nacional de Águas(ANA) que, criada em 2000 pela Lei 9,984/00, configura-se como autarquia sob regime especial responsável principalmente pela implementação da PNRH em âmbito nacional, além da fiscalização e outorga dos recursos hídricos. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) atua como máxima instância administrativa para dirimir conflitos de uso, promove articulação do planejamento dos recursos hídricos, acompanha a execução dos planos bem como os aprova, estando todas essas competências devidamente listadas no Decreto Nº 4.613/2003. Este diploma também trata de sua composição que contará com representantes dos ministérios, dos conselhos estaduais, dos usuários, e das organizações afetas à gestão destes recursos. Os conselhos estaduais têm competências semelhantes em seus respectivos âmbitos e, amparados pelas políticas específicas, aprovam a criação de comitês de bacias em seus devidos domínios. Os comitês de bacias constituem-se como impulso democrático da gestão de águas e possuem ampla representatividade da sociedade civil e dos usuários. Deliberam ainda sobre parâmetros para cobrança, arbitram conflitos em primeira instância, aprovam o Plano de Recursos Hídricos da bacia em que atuam (Art. 38 da PNRH) tendo as agências de águas como seu apoio técnico-operacional. Mesmo diante de tal importância existem pressões externas contra criação destes comitês, principalmente por parte de grandes lideranças políticas, que veem a criação de comitês como uma ação que diminui seus poderes e sua capacidade de barganha (Abers; Jorge, 2005). Há de se falar também no Papel do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que, através de sua Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental, propõe políticas, planos e normas e coordena estratégias relacionadas à gestão integrada da água; as águas fronteiriças e transfronteiriças; a revitalização de bacias hidrográficas; gerenciamento costeiro (Decreto Nº 8.975/2007, Art. 22). O Ministério do Meio Ambiente coordena também todos os órgãos que atuam de forma subsidiária.

Quadro 1 Mapeamento gerencial do SNGRH, fonte: Portal do MMA.

Nessa senda referencia-se o Ministério da Saúde como responsável por instituir parâmetros para uma qualidade de água (vide Portaria 2.914) adequada ao consumo humano (competência justificada por se tratar também de uma questão de saúde pública), além do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) com suas várias resoluções. Cita-se ainda aqui a Resolução 357 que versa sobre enquadramento de corpos hídricos e a Resolução 430 que trata sobre lançamento direto de efluentes, além de toda legislação pertinente ao saneamento como a Lei Nº 11.445, vital para qualidade das águas, e sua gestão em termos de abastecimento, e tratamento de efluentes líquidos e águas residuais. Desta maneira, finalizamos nesta seção a apresentação de um vasto acabou-se jurídico acerca do uso de recursos hídricos no Brasil que intenta dar divulgação e compreensão sobre um tema de grande relevância social. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ante o exposto foi possível constatar como o Brasil evoluiu em termos de gestão e cuidado para com os bens ambientais, sobretudo no concernente aos recursos hídricos e hoje se destaca no âmbito internacional nesse quesito. É fundamental ressaltar que os problemas recorrentes como escassez, crise hídrica,


problemas de abastecimento e saneamento dentre tantos outros não decorrem de uma falta de previsão em nosso ordenamento jurídico ou por princípios que destoem de uma gestão ideal, esses podem sim estar vinculados às dificuldades estruturais que tem sua gênese no cerne de nossa gestão pública. Entende-se, a título de exemplo, como aspectos que podem engendrar essas complicações a falta de conscientização da população que muitas vezes não reconhece uma relevância institucional em manter a qualidade dos bens ambientais ou em evitar desperdícios, salvo em momentos de crise; as pressões negativas contra a criação de comitês, alhures mencionadas; formas de fiscalização inertes; ou mesmo determinados eixos da administração pública ou administradores eivados pela corrupção que em dados atos sobrepõem seus interesses particulares acima dos metaindividuais; a tolerância para com os crimes ambientais e práticas desconformes com a legislação aliada à constante sensação de impunidade dentre outros de cediça ocorrência. É preciso atuar na construção de uma mentalidade coletiva que se preocupe mais com a preservação dos bens ambientais, bem como no firmamento e na efetivação de instrumentos legais ou exercícios jurisdicionais que punam efetivamente quaisquer atos que atentem contra o interesse coletivo, posto que a qualidade das águas é um fator conhecidamente importante para manutenção das presentes e futuras gerações. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abers, R; Jorge, K. D. Descentralização da gestão da água: por que os comitês de bacia estão sendo criados? Ambiente e Sociedade, nº 2, 2005. Bandeira de Mello, C. A. Curso de Direto Administrativo. 10 ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 1998. Brasil, Câmara técnica do plano nacional de recursos hídricos. Do parecer sobre a Política Nacional de recursos hídricos) Brasília, 13 de janeiro de 2006. Disponível em < http://www.cnrh.gov.br/attachments/PNRH_PARECER_TECNICO.pdf>. Brasil. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. 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DIREITO AO ESQUECIMENTO: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE OS SISTEMAS JURÍDICOS PORTUGUÊS E BRASILEIRO DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI269533,21048Direito+ao+esquecimento+uma+investigacao+sobre+os+sistemas+juridicos

É uma esfera do Direito estritamente ligada à dignidade humana, cada vez mais discutida no mundo onde as tecnologias são estigmatizadoras das pessoas por grandes ou por pequenos delitos. Introdução O presente trabalho tem como escopo delinear o Direito ao Esquecimento como garantia da dignidade da pessoa humana, assim como dos direitos da personalidade, sobretudo na sociedade mediada pelas tecnologias. Bem pontua Zilda Mara Consalter que, nos dias atuais, vive-se em um mundo que suscita e provoca o resgate da memória a todo o tempo. Nele, os homens são submetidos a permanente exposição de fatos e atos pretéritos, dando-se a impressão de que é até pecaminoso esquecer algo 1. Exatamente nesta quadra da história que emerge a discussão acerca do Direito ao Esquecimento. Afinal, não somos nada além daquilo de que nos lembramos (Bobbio). No Estado Democrático de Direito, sua aplicação deverá ter o cuidado necessário, haja vista o caso concreto, pois sua interpretação pode vir a colidir com a liberdade de informação e expressão. Outro ponto a ser levantado é a importância histórica do método de ponderação como elemento da proporcionalidade descrita pelo jurista Robert Alexy. O tema envolve também a defesa do cidadão contra a invasão de privacidade nas mídias sociais, no mundo virtual que se agiganta na sociedade atual. Na primeira parte do trabalho, falaremos do Direito ao esquecimento e sua aplicabilidade como Direito da Personalidade, centrando a Dignidade como conceito desencadeador. Na segunda parte do trabalho, o que entra em destaque é o Direito ao Esquecimento em si, seu conceito, seu aspecto legal e jurisprudencial. Outro ponto importante é a abordagem do Direito ao Esquecimento versus a Liberdade de Informação e Expressão, vinculado a princípios orientadores da coletividade. Nesse contexto, não podemos deixar de abordar a consagração da internet diante da sociedade globalizada. Por fim, faremos um estudo comparado que ressalta o Direito ao Esquecimento em Portugal e no Brasil a partir de casos de repercussão e seus critérios de ponderação. 1. DIREITO AO ESQUECIMENTO O Direito ao Esquecimento faz parte do Estado Democrático de Direito que incorpora, por ser democrático, a ideia de pessoa e o direito da personalidade, fundamental à possibilidade de ressocialização, por exemplo, de um ex-presidiário. É uma esfera do Direito estritamente ligada à dignidade humana, cada vez mais discutida no mundo onde as tecnologias são estigmatizadoras das pessoas por grandes ou por pequenos delitos. Os danos decorrentes das novas tecnologias de informação têm-se acumulado. O Direito ao Esquecimento possui sua gênese histórica/fática no âmbito das condenações criminais. Nasce como parte importante do direito do ex-presidiário à ressocialização. Assegura a discussão acerca do uso que é dado aos fatos pretéritos, no que tange especificamente ao modo/finalidade com que são lembrados. Tal raciocínio pode também ser aplicado quando, por exemplo, apesar de o Estado ter terminado a investigação do fato


delituoso, o suspeito permanecer sofrendo consequências danosas advindas de informação jornalística mantida na rede mundial de computadores. Muito se discute acerca do Direito ao Esquecimento, seus conflitos, em especial quando está ligado à tutela da dignidade humana, o que exige a aplicação do juízo de ponderação em cada caso concreto. As notícias ultrapassam fronteiras e o acesso às informações se torna instantâneo, em um mundo conectado e digital que incentiva e facilita o crescente consumo de informações. De qualquer forma, ainda que ampla e livre a expressão da atividade intelectual e a comunicação, os direitos da personalidade devem ser preservados, ou seja, a vida íntima, a honra, a identidade.2 Aqui nos deparamos com um dos grandes desafios deste século: compatibilizar internet, smartphones, redes sociais e informações instantâneas com vida íntima e privacidade. É justamente neste momento da história que se debate o Direito ao Esquecimento. Pois bem. Segundo CAVALCANTE 3, o Direito ao Esquecimento (the right to be let alone no direito norteamericano) é aquele que uma pessoa tem de não permitir que um fato – mesmo que verdadeiro – acontecido em determinado momento da sua vida, seja exposto ao público, causando-lhe transtornos e sofrimento. Frase atribuída ao escritor Machado de Assis diz que o maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado. O Direito ao Esquecimento é aquele que assiste aos indivíduos não serem lembrados por fatos havidos no passado, aos quais não desejam mais serem vinculados, pois provavelmente sequer seriam recordados se não existisse a internet e os potentes sites de busca. As pessoas têm o direito de serem esquecidas pela opinião pública e pela imprensa. O condenado, por exemplo, que já cumpriu pena, tem o direito de que os registros sobre aquele crime não sejam utilizados de forma permanente contra ele. Ou mesmo, tem o direito de, simplesmente, aqueles fatos não estarem disponíveis na internet e nas redes sociais para acesso irrestrito, fácil, amplo e perpétuo. Na espécie, o Direito ao Esquecimento não apenas abrange o condenado como também a vítima e seus familiares. Notemos que, até uma pessoa afetada pela associação de seu nome a alguma notícia no campo de buscas, tem o direito de se resguardar. Conforme ensina Ivan Izquierdo, o processo de esquecimento produz o deixar de existir, ao passo que a lembrança carrega o potencial da existência, pois somos quem somos em função daquilo que lembramos, sendo exatamente isso que nos confere identidade e distinção. Por isso que, para Bobbio, não somos nada além do aquilo de que nos lembramos. Logo, também somos o que decidimos esquecer, na condição de indivíduos que vivem em sociedade, a qual necessita reprimir e extinguir para prosseguir.4 Zilda Mara Consalter pontua adequadamente que, no mundo, existe entre os juristas uma concepção tripartite do direito ao esquecimento. Primeiro, serviria para designar o direito reconhecido jurisdicionalmente para evitar que o passado administrativo, judicial ou criminal do indivíduo seja permanentemente resgatado. Segundo, significaria a possibilidade de apagamento ou remoção de informações pessoais, com fulcro no direito à intimidade. E terceiro, significaria a possibilidade de remoção de dados pessoais publicados na internet, ou a restrição de acesso a referidos dados por terceiros, através dos sites de pesquisa, como o Google, por ela denominados motores de busca5. A doutrina moderna aponta no sentido de que a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o Direito ao Esquecimento, ex vi do Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil Brasileiro. O Direito ao Esquecimento ficou explicitado na Europa em 2014, quando o Tribunal de Justiça Europeu apoiou uma decisão que permite que cidadãos possam controlar seus dados e que provedores de pesquisa possam remover dados pessoais inadequados, regulado como Diretiva 95/46. Este ato obriga a todos os Estados Membros à adoção de garantias semelhantes em todo o espaço da Comunidade Européia. O caso concreto se deu na Espanha, o cidadão Mário Costeja González teve seu nome vinculado a um anúncio de leilão de seu imóvel no jornal La Vanguardia, em 1998, para pagamento de uma suposta dívida à seguridade social da Espanha, matéria essa que o divulgava como um dos devedores. No entanto, Mário Costeja González já havia quitado a dívida, sem que o imóvel fosse posto em leilão. Então exigiu a eliminação da referência a tal anúncio quando digitava seu nome em pesquisa na Internet (Google). O Tribunal concordou, tendo em vista que estava infringindo o direito à privacidade. Foi uma decisão histórica. A partir desse julgado, a Google acatou a decisão e disponibilizou um formulário para


facilitar o envio de pedidos de esquecimento. Em um único dia, a Google recebeu mais de 12 mil pedidos de remoção de dados. Em 2016, entra em vigor o novo Regulamento Geral sobre Proteção de Dados (EU) 2016/679 do Parlamento Europeu, revogando a Diretiva 95/46. Segundo a novel regulamentação, os princípios e os objetivos da diretiva continuam válidos, porém não evitaram a fragmentação da aplicação da proteção dos dados ao nível da União, nem a insegurança jurídica ou o sentimento generalizado da opinião pública de que subsistem riscos significativos para a proteção de pessoas singulares, nomeadamente no que diz respeito às atividades por via eletrônica. O regulamento aduz que as diferenças no nível de proteção dos direitos das pessoas singulares, nomeadamente do direito à proteção dos dados pessoais no contexto do tratamento desses dados nos Estados Membros da Comunidade Européia, podem impedir a livre circulação de dados pessoais na União. Essas diferenças podem, com efeito, constituir um obstáculo ao exercício das atividades econômicas em nível da União, além de distorcer a concorrência e impedir as autoridades de cumprirem as obrigações que lhes incumbem por força do direito da União. Essas diferenças entre os níveis de proteção devem-se à existência de disparidades na execução e na aplicação da aludida Diretiva 95/46/CE.6 Na França, o droit à l'oubli garante o direito a qualquer cidadão que tenha sido condenado por um crime e cumprido integralmente a sua pena. Tem o direito à reabilitação perante a sociedade e direito a não serem publicadas eternamente notícias sobre o fato que o condenou. No entanto, nos Estados Unidos, o direito à publicação do registro criminal encontra-se protegido pela First Amendment da Constituição Americana. Então podemos dizer: o que foi feito e o que foi dito foi dito, ninguém pode apagar Na América Latina, países como Honduras, Venezuela e Brasil apresentam marco de proteção de dados pessoais, considerados limitados, sendo que Uruguai e Argentina são os dois únicos países a serem reconhecidos pela Comissão Européia como tendo um nível adequado de proteção de dados.7 Já na Colômbia, a Corte Constitucional Colombiana, no caso em que um artigo de jornal associava um cidadão à realização de atividade criminal, decidiu que o periódico fosse obrigado a utilizar técnicas para garantir que as páginas afetadas não fossem listadas pelos mecanismos de buscas. Ademais, entendeu a Corte que a responsabilidade é de quem publica a informação.8 Portanto, o Direito ao Esquecimento foi reconhecido tanto na doutrina, quanto na jurisprudência de vários países – embora seja um instituto sem ampla e textual explicitação legislativa. Em regra, é um direito constitucional implícito que decorre da privacidade e da dignidade da pessoa humana. Para aplicá-lo caso a caso, os julgadores se valem de técnicas de ponderação e proporcionalidade. 

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_____________________ 1 CONSALTER, Zilda Mara – Direito ao esquecimento: proteção da intimidade e ambiente virtual. p. 170. 2 Portal: Direito ao Esquecimento: tutela da memória individual na era da informação 3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Principais julgados do STF e do STJ comentados. Manaus: Dizer o Direito, 2014. 4 IZQUIERDO, I. A arte de esquecer. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2000. 5 CONSALTER, Zilda Mara – Direito ao esquecimento: proteção da intimidade e ambiente virtual. p. 181/183. 6 Portal: UE Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados 7 Portal: Acess Now 8 Portal: Acess Now


ENSAIO SOBRE A PRORROGAÇÃO DOS PRAZOS DECADENCIAIS EM DECORRÊNCIA DAS “FÉRIAS DOS ADVOGADOS" (CPC/15, ART. 220) DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA HTTP://WWW.MIGALHAS.COM.BR/DEPESO/16,MI267695,11049ENSAIO+SOBRE+A+PRORROGACAO+DOS+PRAZOS+DECADENCIAIS+EM+DECORRENCIA+DAS

Entendemos ser necessária uma atualização jurisprudencial quanto à interrupção dos prazos decadenciais que se encerrem durante o período de que cuida o art. 220 do CPC/15, a fim de se alcançar o objetivo legislativo do NCPC, que contemplou o direito ao descanso dos advogados, bem assim em atenção ao princípio do irrestrito acesso à Justiça. "FÉRIAS DOS ADVOGADOS". ART. 220 DO CPC. DIREITO AO DESCANSO. PRAZOS DECADENCIAIS. PRORROGAÇÃO PARA O PRIMEIRO DIA ÚTIL SUBSEQUENTE. AMPLO ACESSO À JUSTIÇA. AIME. ATUALIZAÇÃO JURISPRUDENCIAL. NECESSIDADE. A doutrina civil, tradicionalmente, aponta o instituto da decadência como improrrogável, ao contrário da prescrição que enseja interrupção e suspensão (CC, art. 207). Entretanto, tal preceito tem sido flexibilizado pela jurisprudência, em atenção ao princípio do amplo acesso à Justiça (CF, art. 5º, XXXV)1. Com efeito, em regra, muito embora prazos de natureza decadencial não se submetam à interrupção ou suspensão, tem-se admitido a aplicação do art. 224, §1º, do CPC/15 (antigo art. 184, §1º, II, do CPC/73), nos casos em que se dá a decadência em dia no qual não há o funcionamento normal da Justiça (fóruns e tribunais), como sucede, por exemplo, nos recessos e férias forenses. O cerne da controvérsia do vertente ensaio reside em saber se as férias dos advogados, instituídas pelo art. 220 do NCPC, prorrogam o prazo de decadência para o ajuizamento de Ação de Impugnação de Mandato Eletivo - AIME, que é de 15 dias, na forma do art. 14, § 1º, da Constituição Federal. Digamos que a diplomação dos eleitos tenha ocorrido em 13 de dezembro de 2016 e o protocolo da AIME apenas em 23 de janeiro de 2017 (primeiro dia útil após o prazo da suspensão prevista no art. 220 do CPC/15), seria a ação tempestiva? Sobre aludida suspensão dos prazos, Daniel Amorim Assumpção neves2 entende que "a contagem dos prazos é interrompida durante o período previsto por lei, sendo devolvido à parte o saldo do prazo ainda não transcorrido antes do início do período de suspensão". Na passagem, o autor todavia não especifica se sua afirmação incluiu os prazos decadenciais3. Após refletirmos sobre o tema, parece que a melhor interpretação a ser dada é no sentido de que haja a prorrogação dos prazos decadenciais para o primeiro dia útil após as "férias dos advogados", pois o espírito da norma é justamente permitir o descanso dos advogados no período compreendido entre de 20 de dezembro e 20 de janeiro do ano subsequente, como se dá, mutatis mutandis, com os demais profissionais do Direito, conforme as peculiaridades de cada carreira. No período das "férias dos advogados", não há sentido que os integrantes da classe e o jurisdicionado continuem apreensivos, atentos, preocupados com prazos prescricionais ou mesmo decadenciais. O acesso à Justiça, o direito ao repouso e o objetivo legislativo do CPC/15 estão bem acima de ortodoxias cíveis ou processuais, como a discutida na espécie. Sabemos que a jurisprudência eleitoral entende, talvez em uníssono, que as chamadas "férias dos advogados" não teriam o condão de prorrogar prazos decadenciais, haja vista o seu caráter material. Diz que a aplicação do art. 220 do NCPC somente ocorreria em casos de prazos processuais. Ressalta ainda que os protocolos da Justiça permanecem abertos no período, o que não inviabilizaria o aviamento de medidas judiciais urgentes, a fim de afastar a "improrrogável decadência"4.


Ao observarmos precedentes, data venia, percebemos que não houve a conveniente atualização do entendimento acerca do tema posto, após a vigência do CPC/15. Assim como se discutiu na vigência do CPC/73 sobre a prorrogação – ou não – do prazo decadencial quando o termo ad quem se dava dentro do período em que havia recesso ou férias forenses5 , hoje e aqui, a questão de ordem prática que surge é se ocorre a prorrogação do prazo decadencial para o primeiro dia útil depois do período denominado de "férias dos advogados", positivado pelo art. 220 do novo CPC. Entendemos que, ao se prorrogar o prazo para o primeiro dia útil, em razão de o lapso temporal se expirar no curso de recesso judiciário ou férias dos advogados, estaremos a possibilitar às partes/advogados a opção de utilizarem ou não esse benefício legal. Não se mostra razoável negar-lhes o direito à prorrogação do prazo, até porque tanto no denominado "recesso judiciário" (dias 20/12 a 06/01, instituído pelo art. 62, I, da lei 5.010/66) como nas "férias dos advogados" (período de 20/12 a 20/01), a conseqüência legal será idêntica, qual seja, a suspensão dos prazos, conforme dispõe o art. 3º da Resolução CNJ 244 de 12/09/16, que regulamentou os prazos e o expediente forense no período natalino 6. Dessa forma, o art. 220 do NCPC criou o que Humberto Theodoro Júnior habilmente denomina de recesso especial cujo efeito é o mesmo das férias coletivas7. Como vemos, os prazos continuarão suspensos no período de 20 de dezembro a 20 de janeiro, não sendo relevante para a situação o fato de se tratar de recesso judiciário ou férias dos advogados, prazos prescricionais ou decadenciais, materiais ou processuais. Distinções tecnicistas não podem suplantar o amplo acesso à Justiça, nem o sagrado direito ao repouso decorrente do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Não merecem prosperar os argumentos de que os prazos decadenciais têm natureza material, logo seria impossível sua interrupção ou suspensão. No que tange a recesso e férias forenses,o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que, independentemente de se tratar de prazo decadencial ou prescricional, o objetivo da lei processual é disponibilizar às partes condições de acesso ao Judiciário – sem nenhuma restrição, razão pela qual se prorrogam os prazos decadenciais. Entende que, por sua própria natureza, Natal e Ano Novo são períodos nos quais, de algum modo, o Judiciário não opera de forma plena8. Acreditamos que idêntico raciocínio há de ser aplicado aos prazos decadenciais durante as chamadas "férias dos advogados". Entendemos que o prazo decadencial não se suspende, vez que permanece a fluir no decorrer do período estabelecido pelo art. 220/CPC/15, porém o seu vencimento fica postergado para o primeiro dia útil depois das férias. No período de que cuida o art. 220 do CPC também não ocorre o funcionamento pleno da Justiça. Não há sessões e audiências. Em muitos tribunais o expediente é reduzido. A Portaria 7/17 do TRE-MA9, por exemplo, estabeleceu que o horário de expediente da Secretaria do Tribunal, dos Fóruns e Cartórios Eleitorais da capital e do interior do Estado seria cumprido das 13 às 18 horas. Ou seja, o horário foi reduzido, não havendo expediente normal no período10. Outro ponto importante. A ação de impugnação de mandato eletivo – de natureza desconstitutiva como a rescisória – não está contemplada, de forma expressa ou tácita, como ação que tenha curso regular no período de férias forenses e/ou dos advogados. Não é possível se ampliar a regra processual que está configurada no artigo 215 do CPC/1511, que veda a suspensão ou prorrogação dos prazos forenses nas hipóteses em que especifica. Quanto à prorrogação do prazo para a proposição de ação rescisória, que, como a AIME, possui caráter decadencial, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que não repercute no desate do litígio a natureza prescricional ou decadencial conferida ao prazo12, pois deve prevalecer o irrestrito acesso à Justiça. Tal entendimento não há de ser afastado no caso de prazos decadenciais expirados entre 20 de dezembro e 20 de janeiro. Falamos das Justiças Comum e Eleitoral, porque, em se tratando de prazos, o intérprete, sempre que possível, deve orientar-se pela interpretação mais liberal, atento às tendências processuais contemporâneas, com esteio nos princípios da efetividade, da instrumentalidade e do amplo acesso à Justiça. Afinal, "sutilezas da lei nunca devem servir para impedir o exercício de um direito"13. Entendemos, por tudo, ser necessária uma atualização jurisprudencial quanto à interrupção dos prazos decadenciais que se encerrem durante o período de que cuida o art. 220 do CPC/15, a fim de se alcançar o


objetivo legislativo do NCPC, que contemplou o direito ao descanso dos advogados, bem assim em atenção ao princípio do irrestrito acesso à Justiça.

_______________ BIBLIOGRAFIA Brasil. Tribunal Superior Eleitoral. Código eleitoral anotado e legislação complementar. - 12. ed. - Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, Secretaria de Gestão da Informação, 2016, 1162 p. GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12a. ed. - rev. atual. e ampl. - São Paulo: Atlas, 2016. 750. p. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Código de Processo Civil Anotado, 20a. ed., revisada e ampliada - Rio de janeiro: Forense, 2016, 2049 p. MEDEIROS, Marcílio Nunes. Legislação eleitoral comentada e anotada. Salvador: Editora JusPodivm, 2017. 1.296 p. NEGRÃO, Theotonio. Código de processo civil e legislação processual em vigor, 47a. ed. - atualizada e reformulada - Saraiva: São Paulo, 2016, 2333 p. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - Volume único. 8a. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2016. 1.760 p. LULA, Carlos Eduardo de Oliveira. Direito Eleitoral. Leme, SP: Imperium Editora, 2008. 771 p. _____________ 1 Vide TSE – Recurso contra Expedição de Diploma 671, Acórdão, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, DJE, Tomo 065, 09/04/13, p. 37; e STJ - EREsp 667.672 SP 2007/0160889-0, Rel. Min. José Delgado, j. 21/05/08, Corte Especial, DJe 26/06/08. 2 Manual de direito processual civil - Volume único. 8. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. p. 360. 3 Não encontramos doutrina processual eleitoral específica sobre o tema. 4 TSE - RESPE 8804 . Relator(a) Min. Luciana Lóssio. DJE 30/06/15, p. 71; TRE-BA. RE 558. Relator Fábio Alexsandro Costa Bastos, DJE 03/06/15; TRE-ES, RCED - 237, Rel. Des. Samuel Meira Brasil Junior, DJE 29/06/17, p. 5/6; TRE-SP, Rel. Des. Marli Marques Ferreira, DJESP 26/07/17; e TRE-PA, RE - 1675, Rel . Des. Lucyana Said Daibes Pereira, DJE 20/02/17. 5 STJ. EREsp 667.672/SP, Rel. Ministro José Delgado, Corte Especial, julgado em 21/05/08, DJe 26/06/08. 6 "Art. 3º Será suspensa a contagem dos prazos processuais em todos os órgãos do Poder Judiciário, inclusive da União, entre 20 de dezembro a 20 de janeiro, período no qual não serão realizadas audiências e sessões de julgamento, como previsto no art. 220 do Código de Processo Civil, independentemente da fixação ou não do recesso judiciário previsto no artigo 1º desta Resolução. Parágrafo único. O expediente forense será executado normalmente no período de 7 a 20 de janeiro, inclusive, mesmo com a suspensão de prazos, audiências e sessões, com o exercício, por magistrados e servidores, de suas atribuições regulares, ressalvadas férias individuais e feriados, a teor do § 2º do art. 220 do Código de Processo Civil". 7 Código de Processo Civil Anotado, 20 ed., revisada e ampliada - Rio de janeiro: Forense, 2016, p. 264. 8 STJ - EREsp 667.672 SP 2007/0160889-0, Rel. Min. José Delgado, j. 21/05/08, Corte Especial, DJe 26/06/08. 9 "Art. 1º - Estabelecer que, no período de 7 a 31 de janeiro de 2017, o horário de expediente da Secretaria do Tribunal, dos Fóruns e Cartórios Eleitorais da capital e do interior do Estado será cumprido das 13 às 18 horas". 10 STJ - REsp 802.561/DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe 05.03.08). 11 Art. 215 - Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas: I – os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento; II – a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e curador; III – os processos que a lei determinar”. 12 EREsp 667.672/SP, Rel. Ministro José Delgado, Corte Especial, julgado em 21/05/08, DJe 26/06/08; e REsp 57.367-0, Rel. Min. Vicente Leal, DJU 17.6.06). 13REsp 11.834/PB, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, Julgado em 17/12/91, DJ 30/03/92, p. 3993.



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