ALL EM REVISTA, V. 4, n 3, julho setembro 2017

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO

NÚMERO ATUAL - V. 4, N. 3, 2017 – JUNHO A SETEMBRO SÃO LUIS – MARANHÃO


2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS

2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES

2016 – ANO DE COELHO NETO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA CLORES HOLANDA SILVA Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Presidente CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

NOSSA CAPA: Escudo da ALL

Retrato de Josué Montello


ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da academia ludovicense de letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981

2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4

2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com


V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4

2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1

V.4, n.2, 2017 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_2


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA 2016-2017

Presidente -

DILERCY ARAGÃO ADLER

Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário –

MÁRIO LUNA FILHO

2º Secretário –

DANIEL BLUME DE ALMEIDA

1º Tesoureiro –

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

2º Tesoureiro –

RAIMUNDO GOMES MEIRELES

CONSELHO FISCAL

ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO

CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

CONSELHO EDITORIAL SANATIEL DE JESUS PEREIRA - Presidente ALDY MELLO DE ARAÚJO - Membro DILERCY ARAGÃO ADLER - Membro

EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536


RELAÇÃO DE CADEIRAS E ACADÊMICOS FUNDADORES E OCUPANTES CADEIRA 01 Claude d’Abbveville – Século XVI

ACADÊMICOS ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA (Fundador) Brasileiro, casado, Turismólogo. CPF; 409.253.073-00 RG: 04262-6 – DPRF

02 Antonio Vieira – 1608

JOÃO BATISTA ERICEIRA (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado. CPF: 029-294.653-87 RG: 73789 – SSP-MA

03 Manoel Odorico Mendes – 1799

SANATIEL DE JESUS PEREIRA (Fundador) Brasileiro, separado, Engenheiro Civil. CPF: 063.090.383-20 RG: 98 153 – SSP-MA

04 Francisco Sotero dos Reis – 1800

ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO (Fundador) Brasileiro, viúvo, Economista. CPF: 001.403.923-00 RG: 29271 – SSP-MA

05 João Francisco Lisboa – 1812

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO (Fundador) Brasileiro, Divorciado, Professor Universitário. CPF: 035.315.033-91 RG: 037975062009-1 – SSP-MA

06 Cândido Mendes de Almeida – 1818

ROQUE PIRES MACATRÃO (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado. CPF; 000.235.742-91 RG: 2011817562 – SSP-RS

ENDEREÇO ELETRÔNICO

ANIVERSÁRIO

ENDEREÇO

antonionoberto@hotmail.com

30/08

Rua dos Pinheiros, 15, Residencial Vitória - Araçagi CEP: 65110-000 – São José de Ribamar – MA Telefone: 999747585, 99116-4130, 99114-0535 e 3226-9175

02/11 jbericeira@veloxmail.com.br

Avenida Avicência, Condomínio Green Village, Casa 02 – Calhau CEP: 65075-370 – São Luís – MA Telefone: 32355145 e 99112-8866 17/08

pereirasj@terra.com.br

Rua Perdizes, 27, Quadra 35, Edifício Universite Home, Aptº. 1.103 – Jardim Renascença CEP: 65075-340 – São Luís – MA Telefone: 37728257 e 98818-8017 08/11

aarbrandao@ig.com.br

Rua dos Angelins, Quadra 42, Casa 03 – São Francisco CEP: 65076-030 – São Luís – MA Telefone: 32354623 e 99114-4438 29/10

camposoueu@gmail.com professorcampos.ufma@gmail.com

Rua Júpiter, nº. 1, Aptº. 1.103, Ed. Bela Vista – Renascença II CEP: 65075-045 – São Luís – MA Telefone: 32272837, 98115-6610 e 99971-1090 13/11

ermacatrao@elo.com.br

Rua das Gaivotas, nº. 17, Edifício Coronel Onofre, Aptº. 404 – Renascença II CEP: 65075-160 – São Luís – MA Telefone: 32272669


07 Antônio Gonçalves Dias – 1823

08 Maria Firmina dos Reis – 1825

WILSON PIRES FERRO (Fundador) – Falecido Brasileiro, casado, Aposentado (Professor Universitário e Bancário). CPF: 000.636.813-15 RG: 11421793-9 – SSP-MA CLEONES CARVALHO CUNHA (Ocupante) Eleito em 29/09/2017 DILERCY ARAGÃO ADLER (Fundadora) Brasileira, divorciada, Psicóloga. CPF: 220.467.803-10 RG: 118457 – DFSP – DF

09 Antônio Henriques Leal – 1828

IRANDI MARQUES LEITE (Ocupante) Eleito em 29/09/2017

10 Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) – 1832

MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO 1º Ocupante Brasileiro, casado, Médico. CPF: RG:

11 CelsoTertuliano da Cunha Magalhães – 1849

ANDRÉ GONZALEZ CRUZ (Fundador) Brasileiro, solteiro, Funcionário Público. CPF: 004.403.483-7 RG: 793.755.97-2 – SSPMA

12 José Ribeiro do Amaral – 1853

MICHEL HERBERT ALVES FLORÊNCIO (Fundador) Brasileiro, divorciado, Médico. CPF: 694.656.223-20 RG: 82111-6975 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES 1º Ocupante Brasileira, viúva, Aposentada. CPF: 232.486.453-34 RG: 138731 – MA OSMAR GOMES DOS SANTOS (Fundador) Brasileiro, casado, Juiz de Direito. CPF: 239.187.723-49 RG: 041103242010-6 – SSPMA

13 Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo – 1855

14 Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo – 1855

wilsonferro@uol.com.br

30/07

Rua Engenheiro Rui Ribeiro de Mesquita, nº. 06, Ed. Don Gabriel, Aptº. 901 – Calhau Telefone: 99974-1712 e 3235-4953

07/07 dilercy@hotmail.com

Avenida Litorânea, nº. 9, Ed. Roma Garden, Aptº. 301 – Calhau CEP: 65071-377 – São Luís – MA Telefone: 3246-2018, 98826-5798 e 981612361

27/07 mlunafilho@bol.com.br

11/04 andre.gonzalez84@yahoo.com.br

1º./08 mh.florencio@uol.com.br

12/11

Rua Emílio Azevedo, 260 – Olho D’Água CEP: 65067-290 – São Luís – MA Telefone: 3301-5157 e 99238-1974

25/03

Avenida Mahiba Azar, Quadra L, Casa nº. 003, Jardim América – Olho D’Água CEP: 65065-250 – São Luís – MA Telefone: 3226-7226, 98703-8025 e 991360105

NÃO TEM E-MAIL

fosmargomes@hotmail.com

Rua do Farol, nº. 12, Aptº. 1.391, Ed. Leony do Vale, Torre Graça – CEP: 65077-450 – São Luís – MA Telefone: 99603-1576 Rua dos Rouxinóis, Condomínio Alphaville, Bloco 02, Aptº. 103 – Renascença II CEP: 65075-630 – São Luís – MA Telefone: 3083-0885, 99167-7866, 981068770 e 98836-2013 Rua do Aririzal, Cond. Eco Park, Casa 12 – Cohama CEP: 65072-420 – São Luís – MA Telefone: 99105-3637


15 Raimundo da Mota de Azevedo Correia – 1859 16 Antônio Batista Barbosa de Godois – 1860

17 Catulo da Paixão Cearense – 1863

DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA

27/10 danielblume@gmail.com

1º Ocupante Brasileiro, Solteiro, Advogado. CPF: RG: AYMORÉ DE CASTRO ALVIM (Fundador) Brasileiro, viúvo, Médico, Professor Aposentado. CPF: 001.376.343-15 RG: 47.329 – SSP-MA

RAIMUNDO GOMES MEIRELES (Fundador) Brasileiro, solteiro, Capelão Militar. CPF: 177.752.723-68

13/05 aymore@elointernet.combr

31/10 r.meireles.mei@gmail.com

RG: 22148682002-2 – GEJSP – MA 18 Henrique Maximiano Coelho Neto – 1864

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO (Fundador) Brasileiro, Desembargador Aposentado. CPF: 001.802.203-06 RG: 26205 – SSP-MA

19 João Dunshee de Abranches Moura – 1867

JOÃO FRANCISCO BATALHA (Fundador) Brasileiro, casado, Gestor de RH. CPF: 012.077.683-91 RG: 49.896 – SSP-MA

20 José Pereira da Graça Aranha – 1868

ARQUIMEDES VIEGAS VALE (Fundador) Brasileiro, união estável, Médico. CPF: 068.825.873-53 RG:

21 Manuel Fran Pacheco (Fran Paxeco) – 1874 22 José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerque Maranhão Sobrinho – 1879 23 Domingos Quadros Barbosa Álvares – 1880

24 Manuel Viriato Corrêa do Lago Filho – 1884

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (Fundador) Brasileiro, casado, Professor. CPF: 145.762.441-91 RG: 1.446.325 – SSP-MA ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA (Candidato Eleito em processo de posse para 1º. Ocupante da Cadeira 22)

ÁLVARO URUBATAN MELO (Fundador) Brasileiro, casado, Pesquisador (Aposentado). CPF: 008.338.353-00 RG: 039619622010-6

FELIPE COSTA CAMARÃO (Membro Efetivo Eleito – 1º. Ocupante da Cadeira 24)

Rua Turiaçu, nº. 1, Aptº. 900, Ed. Ney Jersey – São Marcos CEP: 65075-775 – São Luís – MA Telefone: 98123-1010

17/10 almada.lim@hotmail.com arthuralmada@bol.com.br

08/07 batalha@elointernet.com.br

22/07 arquivale@uol.com.br

23/07 vazleopoldo@hotmail.com

ailtonpoiesis@gmail.com

29/12

14/04 alvarourubatan@ig.com.br

felipe.camarao@gmail.com

31/12

Avenida Sambaquis, Quadra 11, Casa 06 – Calhau CEP: 65071-390 – São Luís – MA Telefone: 99974-5398 e 3227-2654 Rua do Rancho, 70 – Centro CEP: 65010-010 – São Luís – MA Telefone: 98804-9424 Avenida Colares Moreira, Quadra 19, nº. 15 – Calhau CEP: 65075-440 – São Luís – MA Telefone: 3235-5870, 3227-8581 e 98116-9470 Rua dos Jambos, Quadra 65, Casa 3 – Renascença I CEP: 65075-210 – São Luís – MA Telefone: 3227-1434 e 98883-0744 Rua 8, Quadra 11, Casa 6 – Planalto Vinhais I CEP: 65074-190 – São Luís – MA Telefone: 3246-0084 e 98822-8822 Rua Titânia, nº. 88 – Recanto Vinhais CEP: 65070-580 – São Luís – MA Telefone: 3236-2076 e 98119-1322 Endereço: Rua Projetada/Bahia, s/n, Bloco 06, Aptº. 201 – Residencial Alcântara – Turu CEP: 65.003.420 – São Luís – MA Rua das Andorinhas, Casa 3, Quadra 11 – Renascença – Ponta do Farol CEP: 65075 – São Luís – MA Telefone: 3235-1881 e 99606-0960 Avenida dos Holandeses, Edifício Zefirus, Torre EOS, Aptº. 302 – Calhau CEP: 65.071.380 – São Luís – MA Celular: 98135-6388


25 Laura Rosa – 1884

26 Raimundo Corrêa de Araújo – 1885

27 Humberto de Campos Veras – 1886

28 Astolfo de Barros Serra – 1900 29 Maria de Lourdes Argollo Mello (Dilú Mello) - 1913 30 Odylo Costa, filho. – 1914

31 Mário Martins Meireles – 1915

32 Josué de Souza Montello – 1917

33 Carlos Orlando Rodrigues de Lima – 1920 34 Lucy de Jesus Teixeira – 1922

35 Domingos Vieira Filho – 1924 36 João Miguel Mohana – 1925

37 Dagmar Desterro e Silva – 1925 38 João Miguel Mohana – 1925

MIRIAM LEOCÁDIA PINHEIRO ANGELIM (Membro Efetiva Eleita – 1ª. Ocupante da Cadeira 25) JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO (Membro Efetivo – 1º. Ocupante da Cadeira 26) Brasileiro, casado, Poeta, Administrador. CPF: RG: JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado. CPF: 040.138.083-15 RG: OAB-2875

miriangelim@hotmail.com

09/12

Rua Augusto Severo, Quadra I 12 – Conjunto Santos Dumont – Anil CEP: 65.046.651 – São Luís – MA

29/04

Rua dos Juritis, Aptº. 704, Quadra 07, Ed. Mirella – CEP: 65075-240 – São Luís – MA Telefone: 99128-1217

30/01

Avenida dos Holandeses, nº. 32, Aptº. 102, Ed. Ecolagune – Ponta D’Areia CEP: 65077-653 – São Luís – MA Telefone: 98816-8646 e 32272101

11/03

Rua dos Cedros, Quadra 26, Casa 7 – Renascença I CEP: 65076-100 – São Luís – MA Telefone: 99237-1103, 3227-3634 e 3302-6717

23/05

Rua Engenheiro Rui Ribeiro de Mesquita, nº. 06, Ed. Don Gabriel, Aptº. 901 – Calhau CEP: 65071 – São Luís – MA Telefone: 99974-1712 e 32354953 Avenida dos Holandeses, 3.630, Ed. San Juan, Aptº. 901 – Ponta D’Areia CEP: 65075-560 – São Luís – MA Telefone: 3227-3789 e 981160733 Rua do Alecrim, nº. 221 – Centro CEP: 65010-000 – São Luís – MA Telefone: 98824-5662

joaobrf@bol.com.br

silviafernandes2011@live.com

BRUNO TOMÉ FONSECA (OCUPANTE) ELEITO 30/09/2017

AMERICO AZEVEDO NETO (OCUPANTE) ELEITO 30/09/2017 CLORES HOLANDA SILVA (Fundadora) Brasileira, divorciada, Historiadora, Funcionária Pública Federal (Aposentada). CPF: 197.911.003-49 RG: 033068092007-7 – SSP-MA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO (Fundadora) Brasileira, solteira, Promotora de Justiça. CPF: 407.302.203-20 RG: 07101441-9 – SSP-RJ ALDY MELLO DE ARAÚJO (Fundador) Brasileiro, casado, Aposentado e Advogado. CPF: 027.696.463-20 RG: 53.994 – SSP-MA PAULO ROBERTO MELO SOUSA (Fundador) Brasileiro, solteiro, Jornalista. CPF: 089.362.003-30 RG: 023004694-0 CERES COSTA FERNANDES Brasileira, casa, Professora Universitária CPF: RG:

JUCEY SANTOS DE SANTANA ((Membro Efetiva Eleita – 1ª. Ocupante da Cadeira 35)

RAIMUNDO DA COSTA VIANA (Fundador) Brasileiro, casado, Advogado. CPF: 003.116.503-68 RG: 796433 – SSP-MA Cadeira Vaga

Cadeira Vaga

cloresholanda@yahoo.com.br

alaferro@uol.com.br

28/08 aldymello13@gmail.com

06/05 paulomelosousa@gmail.com

28/12 ceresfernandes@superig.com.br

jucey@bol.com.br

11/08

rcv@elointernet.com.br

09/11

Rua Desembargador Costa Fernandes, nº. 50, Jardim de Alah – Olho D’Água CEP: 65067-500 – São Luís – MA Telefone: 98806-0887 e 32261183 Rua Mitra nº. 12, Edifício Costa Marina, Aptº. 601 – Renascença II CEP: 65075-770 – São Luís – MA

Rua dos Bicudos, nº. 14, Quadra 14-A, Ed. Aspen, Aptº. 1.300 – Renascença II CEP: 65075-090 – São Luís – MA Telefone: 93227-3071


39 José Tribuizi Pinheiro Gomes – 1927

40 José Ribamar Sousa dos Reis – 1947

JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA (Fundador) Brasileiro, divorciado, Professor Universitário, Procurador do Estado. CPF: 095.087.673-91 RG: 0274422420042 – SSPMA Cadeira Vaga

claudiopavao@gmail.com

30/11

Rua Netuno, Lote 1, Aptº. 1.501, Quadra 28, Ed. Turmalina – Renascença II CEP: 65075-665 – São Luís – MA Telefone: 99971-1858


SUMÁRIO EXPEDIENTE SUMÁRIO

3 12

COM A PALAVRA, A PRESIDENTE...

17

AGENDA

20

A CASA DE MARIA FIRMINA DOS REIS I SEMANA MARANHENSE DE LITERATURA – FALMA/ALL/AMEI I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA E ANIVERSÁRIO DA ALL

21

Livraria e Espaço Cultural AMEI Shopping center em São Luís/Maranhão 09 a 12 de junho de 2017 CONVOCATÓRIA Reunião de organização da Primeira semana Ludovicense de Literatura e I Semana Maranhense de Literatura. Dois eventos em um, que acontecerá em agosto na AMEI PARA HOMENAGEAR OS ESCRITORES DE SÃO LUIS AMEI E INSTUIÇÕES LITERÁRIAS LANÇAM CONCURSO DE POESIA CONVITE(S) – SEMANA DE LITERATURA – MARANHENSE / LUDOVICENSE PROGRAMAÇÃO: ABERTURA DILERCY ADLER - MENSAGEM DE ABERTURA DAS SEMANA MARANHENSE DE LITERATURA - FALMA/ALL/AMEI E I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA E ANIVERSÁRIO DA ALL

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MESA REDONDA: A LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORANEA ANTONIO AYLTON DINACY MENDONÇA CORRÊA - JOSUÉ MONTELLO: centenáriode um clássico da literatura contemporânea MESA REDONDA: Terra sem chuva DILERCY ADLER - TERRA SEM CHUVA VIÉS PSICOLÓGICO ENCERRAMENTO DILERCY ADLER (ALL)- ABARCANDO O MUNDO COM AS PERNAS NESTES QUATRO ANOS DE FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENDE DE LETRAS-ALL ÁLVARO URUBATAN MELO (FALMA) JUCEY SANTANA (AMEI) Brandão e Dilercy Adler, na feirinha da Benedito Leite, no stand da ALL – 09/07/2017 JUCEY SANTANA NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS REUNIÃO NOS JARDINS DO PALÁCIO DOS LEÕES ASSEMBLÉIA JULHO 2017 PEDRA DE TOQUE DESAFIOS à TEORIA ECONÔMICA/ CHALLENGES TO THE ECONOMIC THEORY” ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO CONCURSO NACIONAL NOVOS POETAS. PRÊMIO CNNP 2017 VIII Seminário Internacional / XVII Seminário Nacional Mulher e Literatura “Mulher e Literatura: transgressões, descentramentos, subversão” UFBA - Salvador, 17 a 20 de setembro de 2017 Mesa Maria Firmina dos Reis – Centenário de uma precursora DILERCY ARAGÃO ADLER - A MULHER MARIA FIRMINA DOS REIS: uma maranhense ANTÔNIO AGENOR GOMES -ANEXO - DEPOIMENTO A DILERCY ARAGÃO ADLER SOBRE O CULTO À MEMÓRIA DE MARIA FIRMINA DOS REIS EM GUIMARÃES A ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS-ALL, O LICEO POÉTICO DE BENIDORM E A CASA DE CULTURA HUGUENOTE DANIEL DE LA TOUCHE-CHDT COMEMORAM O ANIVERSÁRIO DE 405 ANOS DA CIDADE DE SÃO LUÍS DILERCY ADLER - DOIS DISCURSOS, DUAS VISÕES DE MUNDO, INTERESSES ANTAGONISTAS DA MESMA REALIDADE OBJETIVA

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NOVA CAPA DA SEXTA EDIÇÃO DO ROMANCE "ÚRSULA" (1859), DE MARIA FIRMINA DOS REIS. CONCURSO ESTADUAL DE INCENTIVO À LEITURA ARQUIMEDES VALRE – LANÇAMENTO DE LIVRO CONCURSO LITERÁRIO – LETRA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ELEIÇÕES SETEMBRO 2017 IRANDI MARQUES LEITE - A intensidade dos votos POSSES JUCEY SANTANA RAIMUNDO GOMES MEIRELES - DISCURSO DE ACOLHIDA DE JUCEY SANTOS DE SANTANA, CADEIRA 35 PATRONEADA POR DOMINGOS VIEIRA FILHO JUCEY SANTOS DE SANTANA - DISCURSO DE POSSE

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NA BERLINDA

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ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO JPTurismo, de sábado. Reportagem de Herbert de Jesus Santos sobre o Evento do dia 20/06/17, na BPBL JOÃO BATISTA ERICEIRA Lançamento de livro – AMEI – O3/07/2017 Lançamento de Livro – O brilhantismo da advocacia - O IMPARCIAL, 23 de agosto de 2017 O IMPARCIAL, 24 de agosto de 2017 DILERCY ARAGÃO ADLER JP TURISMO – 07 de julho de 2017 –Karine Baldez - Noite de autógrafos OBRA ‘ÚRSULA’ EM DESTAQUE – O ESTADO MA – 23 DE AGOSTO DE 2017 REUNIÃO AMEI - Mhario Lincoln DANIEL BLUME NOITE DE AUTÓGRAFOS – SONIA ALMEIDA POESIA EM LISBOA! O ESTADO MA – PH REVISTA – 23 de agosto de 2017 O IMPARCIAL – NM – 23 de agosto de 2017 Rádio Universidade - FM. Entrevista para o programa "Poesia em Movimento" de Ruy Robson ANA LUIZA ALMEIDA FERRRO Rumo à Espanha para cursar Pós-Doutorado em "Direitos humanos em perspectiva comparada: Brasil e Espanha" IL CONVIVIO UBE - RESULTADO CONCURSO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IV SIMPÓSIO DE CAPOEIRA DO MARANHÃO – MESTRE GAVIÃO – SÃO LUÍS, 28 E 29 DE JULHO DE 2017 – CONVENTO DAS MERCÊS O DIFERENCIAL DA CAPOEIRA DO MARANHÃO OBRA ‘ÚRSULA’ EM DESTAQUE – O ESTADO MA – 23 DE AGOSTO DE 2017 JUCEY SANTANA ITAPECURUENSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS A POSSE DE JUCEY NA ALL, POR JOÃO FRANCISCO BATALHA ANTONIO NOBERTO Lançamento Cidadão Honorário Palestra SÃO LUÍS COMEMORA 405 ANOS E HISTORIADOR LAMENTA CIDADE NÃO TER SIDO COLONIZADA PELOS FRANCESES JOÃO FRANCISCO BATALHA DIPLOMA Flash do lançamento de livro de João Batalha sobre o município de Pio XII – MA., durante evento da FLAEMA EFEMÉRIDES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDMILSON SANCHES GONÇALVES DIAS E EU (Registros públicos de lembranças particulares) EDMILSON SANCHES DUNSHEE DE ABRANCHES – 150 ANOS FERNANDO BRAGA EXERCÍCIO MARÍTIMO

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2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO ALDY MELLO O CENTENÁRIO DE JOSUÉ MONTELLO SEMANA MONTELLIANA

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ALDY MELLO A SAGA MARANHENSE

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OS 100 ANOS DE JOSUÉ MONTELLO

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MONTELLO: UM MÚLTIPLO HOMEM DE LETRAS ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ PATRIMONIO HISTÓRICO E CULTURAL FELIPE CAMARÃO EDUCAÇÃO ESPECIAL: A ESCOLA COMO ESPAÇO DE COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ “WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – O TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA JOÃO FRANCISCO BATALHA OS CAMINHOS DA MELINDROSA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO UMA TESE EM ECONOMIA ALDY MELLO VIOLÊNCIA E PENSAMENTO ALDY MELLO A FORMAÇÃO MÉDICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SAPO x ZULU. DEU ZULU... AYMORÉ ALVIM A MOÇA DA JANELA. BRUNO TOMÉ FONSECA NO FUNDO DA CESTA, UM LIVRO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO UMA TESE EM ECONOMIA – FINAL AYMORÉ ALVIM – À MEMÓRIA DE NHÔ DI ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO POLÍTICAS PÚBLICAS AYMORÉ ALVIM E O BRASIL FICOU INDEPENDENTE. ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO – MINHA HOMENAGEM AOS 405 ANOS DE SÃO LUÍS: CRÔNICA DE 405 ANOS ALDY MELLO – AS UNIVERSIDADES FEDERAIS DE PIRES NA MÃO. ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO CRÔNICA DE 405 ANOS AYMORÉ ALVIM APETITE INSACIAVEL FERNANDO BRAGA INFLUÊNCIAS DE BOCAGE NA LITERATURA BRASILEIRA FELIPE CAMARÃO A MODELO DE BENEDITO LEITE PAULO MELO SOUSA CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO AGRIDE SÍTIO HISTÓRICO POESIAS & POETAS VIRIATO GASPAR COM FIDÊNCIA FAROL FECHADO

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MANOEL SANTOS NETO JOSÉ NERES

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RICARDO LEÃO FARENHEIT 451 CARPE DIEM SONETOS DO ABSURDO SONETOS A EROS

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RAIMUNDO FONTENELE SONETO A TRÊS ODE A W. BLAKE

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VIRIATO CORREIA A RESSURGIR

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JUCEY SANTANA AYMORÉ ALVIM. NA ESTRADA DA VIDA A VIDA E AS ESTAÇÕES E, ASSIM, CAMINHAMOS...

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VICENTE ALENCAR CANTO DE AMOR EXISTENCIA

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Sereia " Volta para casa’

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MARCO DUAILIBE MARCELLO CHALVINSKI – Você, que agora passeia na minha cabeça WEBERSON GRÏZOSTE -SEM TÍTULO

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TERESINKA PEREIRA DIA DO ESCRITOR NO BRASIL STRESS

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OS ACORDES DA PALAVRA EM SALGADO MARANHÃO

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ESPERANZA Y MADUREZ

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RICARDO LEÃO ALFRED ASÍS DILERCY ADLER VIDA! ASSIM ÉS TU! EU SOU PSICÓLOGA

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OSMAR GOMES SEM DORMIR A VIDA ANTIGAMENTE MHARIO LINCOLN BEIJO DE SAPÊ CLORES HOLANDA ACRÓSTICO A MEU PAI SELMO VASCONCELOS FRANCISCO TRIBUZI

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Domingo São Luis

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POESIA PARA OS 100 ANOS DO POETA NICANOR PARRA-CHILE TEORIA DA FÍSICA DO DELICADO PERFUME DAS VIOLETAS POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)

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MARIA FIRMINA DOS REIS, A PRECURSORA

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VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES, BRASIL

RAIMUNDO FONTENELE JOSÉ GERALDO DA ROCHA; PATRICIA LUISA NOGUEIRA RANGEL ÚRSULA: A VOZ DOS EXCLUÍDOS DO SÉCULO XIX NO ROMANCE DE MARIA FIRMINA DOS REIS SOBRE FRANCISCO TRIBUZI WALDEMIRO ANTÔNIO BACELAR VIANA RICARDO LEÃO AURORA EM ESTADO DE GRAÇA E POESIA

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RICARDO LEÃO AS LÂMINAS VERBAIS DE VIRIATO GASPAR

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NO CENTENÁRIO DE MORTE, PRIMEIRA AUTORA NEGRA DO BRASIL GANHA REEDIÇÃO

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BRUNA MENEGUETTI LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ “RETRATO FALADO” DE MARIA FIRMINA DOS REIS SERGIO BARCELLOS XIMENES

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UMA BELA AMIZADE LITERÁRIA: MARIA FIRMINA DOS REIS E JOÃO CLÍMACO LOBATO

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AMAR É UM ELO ENTRE O AZUL E O AMARELO

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AS LENTES DA POESIA

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ANELY GUIMARAES KALIL

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MHARIO LINCOLN JOSÉ NERES MHARIO LINCOLN NELSON MELO FILHO DE POETA RESSALTA IMPORTANCIA DE MARIA FIRMINA DOS REIS PARA A CULTURA DO MARANHÃO MHARIO LINCOLN DÉA, A ESPIÃ DIREITO & LITERATURA LANÇAMENTO: ARQUIVOS DITADURA MILITAR EM PUBLICAÇÃO, DE VICENTE ARRUDA

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COM A PALAVRA, A PRESIDENTE...


COM A PALAVRA A PRESIDENTE Quantos significados tem uma mesma palavra? quantas interpretações produz uma mesma palavra? quantas palavras usamos para não dizermos nada? e pior - quantas tantas empregamos para não sermos entendidos-? Dilercy Adler A palavra tem força de construção e ambivalentemente de destruição; força de aproximação/aceitação e força de afastamento/rejeição... Como estão sendo pronunciadas as nossas palavras?... Este trimestre apresentamos nesta nossa revista, por meio do registro das palavras de muitos participantes e das várias notícias, a premissa, com muito orgulho, orgulho de ser maranhense, de ser nordestina, de que São Luís continua sendo merecedora do título de Athenas Brasileira. Sabe-se que a origem desse epíteto remonta à belle époque, quando a vida cultural no Maranhão ganhou em intensidade e expressividade e a literatura apresentou grandes intelectuais e escritores que constituíram aquilo que fez do Maranhão o grande cenário da poesia, da prosa e da produção jornalística no século XIX. Essa minha afirmação se refere à polêmica de que a cidade de São Luís não é mais merecedora desse honroso título, o de Athenas Brasileira, colocando o Maranhão e a sua capital, São Luís, como a terra do “já teve”. Claro que, concordo com o pressuposto de que o curso da história não é linear, por isso acredito que uma cidade como São Luís, apresenta sim, todas as justificativas plausíveis para continuar com esse dignificante título, ainda mais porque,além de ser Patrimônio Cultural da Humanidade, é, ainda, farta de [...] Ladeiras, Escadarias, Telhados, Platibandas, Pedras de Cantaria, que se enroscam em Serpentes, Manguda, Palácio das Lágrimas, nascentes de águas encantadas a se derramarem copiosamente por toda a Praia Grande, Rua Grande, Madre de Deus, e desembocam em praias de firmes areias e cinzas lençóis de águas claras e mornas que adornam e aquecem toda a ilha. Assim é São Luís! (ADLER, 2000). Por isso indago sem qualquer receio àqueles descrentes do poder afrodisíaco da ilha de Upaon-Açu (Ilha Grande), Ilha do Amor, Jamaica Brasileira, Ilha Bela, Cidade dos Azulejos, Capital da França Equinocial: Como a nossa ilha não inspirar arte e cultura e continuar sendo digna de ostentar o título de a Athenas Brasileira? Temos o mau hábito de não valorizarmos adequadamente as nossas raízes, a nossa história, os nossos nomes ilustres em todas as áreas do saber, assim como nas várias vertentes da arte. Não podemos desconsiderar o fato de que hoje, São Luís, assim como todo o estado do Maranhão, se encontra fora do eixo de poder da corte, diferentemente do que acontecia no século XIX. Mas podemos, com muita dedicação, perseverança, apego, veemência, insistência e fervor, buscar reverter a descrença no nosso próprio talento e colocar o Maranhão no espaço que lhe cabe na historiografia brasileira. Temos como exemplo as comemorações realizadas e os trabalhos produzidos em apenas um trimestre deste ano de 2017, dos meses de julho, agosto e setembro. Basta ver o SUMÁRIO desta edição da nossa revista que anuncia a I Semana Maranhense de Literatura - FALMA/ALL/AMEI e I Semana Ludovicense de Literatura e Aniversário da ALL, aniversário de 04 anos; a Comemoração do Centenário de nascimento de Josué Montello, com a participação efetiva da ALL, por meio de uma Comissão Presidida pelo confrade Aldy Mello; a Comemoração do aniversário da cidade de São Luís, 405 anos, pela ALL e, desta vez, fazendo uma homenagem especial às nações indígenas das Terras do Maranhão (como era chamada a Ilha de São Luís); Posse de Membro Efetivo na Academia; lançamento de livros na cidade e na Europa; Participação da ALL na dominical Feirinha de São Luís, por meio principalmente, da exposição e


vendas de livros (este Projeto da Prefeitura foi iniciado desde o mês de julho do ano em curso); participação da ALL no VIII Seminário Internacionale XVII Seminário Nacional Mulhere Literatura, com a temática - Mulher e Literatura: transgressões, descentramentos, subversão, realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia- UFBA, de17 a 20 de setembro de 2017, no qual foi dedicada uma mesa para Maria Firmina dos Reis: Mesa Redonda 7 – Maria Firmina dos Reis: Centenário de uma Precursora, integrada por Norma Telles (PUC São Paulo) – Coordenadora e Debatedora; Dilercy Aragão Adler (Presidente da Academia Ludovicense de Letras), com o texto A mulher Maria Firmina dos Reis: uma maranhense; Eduardo de Assis Duarte (UFMG), com a Escravidão e patriarcado na ficção de Maria Firmina dos Reis e Rafael Balseiro Zin (PUC São Paulo), com A dissonante representação pictórica de Maria Firmina dos Reis: como desfazer os equívocos? Recomendo à leitura do meu artigo A mulher Maria Firmina dos Reis: uma maranhense, por conter nele novas informações acerca da data de nascimento, entre outras. Contamos também com a promessa dos Professores Eduardo de Assis e Rafael Zin de enviarem os seus trabalhos para o próximo número da Revista. Ainda neste número não poderia deixar de ter a presença da Poesia, por meio de muitos poemas, de membros da nossa Academia e de outros leitores e contamos, igualmente, com as notícias para ficarmos antenados com o que vem acontecendo na Ilha e no mundo, através da nossa AGENDA. Desejo a todos uma boa leitura e que as nossas palavras tomem como referência a assertiva que segue: O papel do poeta, segundo a mitologia grega, comentada por Marcei Détienne, em seu livro. "Os mestres da verdade na Grécia antiga", era exatamente o de fazer o elogion - o elogio. Tomado ao pé da letra o elogio significa a boa palavra, a qual consiste em dizer bem ou bemdizer e no latim benedicere significa abençoar (REZENDE, 1993, p. 111 apud ADLER). E finalizo esta minha Palavra inicial com um fragmento de um poema meu, intitulado FALA DE POETA, o qual dedicado, com muito carinho, a todos os leitores da nossa Revista: ...fala poeta por ti e por nós a palavra de amor por sob os lençóis a palavra benigna que não fere jamais a palavra de vida que lava a ferida tantas chagas e dor fala poeta palavraspalavras em rimas de amor! (ADLER,1997, p. 19). Evoé!!!! São Luís, 30 de setembro de 2017. Dilercy Aragão Adler REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. A ARTE E A POESIA ENQUANTO CAMPO DE CONHECIMENTO: À Guisa De Reflexões. REVISTA IHGM N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 128-137. ______. ADLER (ORG.). Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: LATINIDADE-II, São Luís:Estação Produções Ltda., 2000. REZENDE, Antonio Muniz de. Bion e o futuro da psicanálise. Campinas/SP: Papirus, 1993.


AGENDA


A CASA DE MARIA FIRMINA DOS REIS Fechamos o mês de setembro com a notícia mais esperada nestes e destes quatro anos de fundação da Academia Ludovicence de Letras - ALL. Este dia 30 será um marco na história da Casa de Maria Firmina dos Reis. Vejam a imagem (o oficio em anexo) e a nota explicativa a seguir: "Eis o despacho assinado pelo governador de próprio punho. Queridos confrades, queridas confreiras, Quero compartilhar com vocês uma grande alegria e imensa conquista da nossa academia. Saí há pouco de despacho com o governador e ele autorizou a cessão do prédio onde funcionava a Aliança Francesa para nós! A ALL terá sede própria!" Felipe Camarão xxxxxxxxxx Nós da Casa de Maria Firmina dos Reis só temos a agradecer ao empenho do confrade Felipe Camarão e à sensibilidade e comprometimento com a cultura da cidade de São Luís e do estado do Maranhão do nosso governador Flávio Dino. A gratidão eterna de todos os membros da ALL para o Governador Flávio Dino e ao confrade e Secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão! Dilercy Aragão Adler Presidente



Reunião de organização da I Semana Ludovicense de Literatura e I Semana Maranhense de Literatura. Dois eventos em um, que acontecerá em agosto na AMEI 03/julho/2017

I SEMANA MARANHENSE DE LITERATURA – FALMA/ALL/AMEI I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA E ANIVERSÁRIO DA ALL Livraria e Espaço Cultural AMEI Shopping Center em São Luís/Maranhão 09 a 12 de junho de 2017 CONVOCATÓRIA INTRODUÇÃO Na Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Academia Ludovicense - ALL, do dia 24 de junho de 2017, foi apresentada a proposta de realização, ainda este ano, da “III MOSTRA MARANHENSE DE LITERATURA” e da “I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA”, pelo membro fundador Leopoldo Gil Dulcio Vaz. O autor da proposta justificou que a Confreira Ceres Costa Fernandes, enquanto Diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho vinha promovendo, junto com a Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA - o referido encontro. A ALL participou do segundo, e, quando da mudança do governo estadual, e da mudança da direção do ‘Odylo’, não houve continuidade na programação, muito embora a ALL e a FALMA tenham se reunido com o novo diretor, que ficou de dar uma resposta sobre o calendário de eventos, o que não aconteceu até os dias de hoje. Por outro lado, foi aprovada, em Assembleia Geral Ordinária da ALL, a realização da Semana Ludovicense de Literatura, e que seria realizada junto com a programação da FALMA em parceria com o “Odylo”. No entanto, esta não chegou a ocorrer. Assim, essas questões subsidiaram a presente proposta do membro fundador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, nos mesmos moldes do que ocorrera anteriormente e que se aproveitasse o espaço disponibilizado pela Associação Maranhense de Escritores Independentes – AMEI -, e se propusesse parceria àquela Associação, nesse sentido. Na proposta original o evento seria realizado no mês de julho, mas a Presidente Dilercy Aragão Adler propôs que a semana fosse realizada anualmente, a partir de 2017, no mês de agosto, abrangendo o dia do aniversário da ALL, de modo que este


fosse comemorado dentro da Semana Ludovicense de Literatura, o que também foi aprovado na referida AGO. Após a AGO, a Presidente Dilercy Aragão Adler, acompanhada do membro fundador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, reuniu-se com a Diretoria da AMEI, Sr. José Viegas e Cléo Rolin – para tratar da realização dos eventos: “III MOSTRA MARANHENSE DE LITERATURA” e da “I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA”. Nessa reunião, foram retomados os contatos considerando que a Presidente da ALL já tinha feito um contato prévio para saber da disponibilidade da AMEI para a parceria. Na ocasião foi declarada a aceitação da AMEI, caso a proposta fosse aprovada. Nessa reunião ficou definido o período da realização dos dois eventos: de 09 a 12 de agosto, e que seria realizada uma reunião ampliada com a participação da FALMA. A segunda reunião foi realizada na AMEI, no dia 03 de julho, com a participação das três instituições, pela ALL: Dilercy Adler –Presidente; Antônio Noberto- Curador da Exposição de Obras sobre a França Equinocial – ALL e Ceres Costa Fernandes, pela FALMA: Roque Pires Macatrão - Presidente, Álvaro Urubatam –Vice - Presidente, Jucey Santana- Secretária e pela AMEI: José Viegas- Presidente. Nessa reunião foram definidos: 1- Os Nomes dos eventos: I SEMANA MARANHENSE DE LITERATURA – FALMA/ALL/AMEI I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA/ANIVERSÁRIO DA ALL 2- Atividades/Horários: 2.1 Exposição/venda de livros durante todo o evento de 10 da manhã às 21h. 2.2 Atividades culturais diversificadas no espaço AMEI: desenvolvidas pelas Academias individua ou conjuntamente, nos horários: - De 10 as 12- atividades voltadas para o público infanto-juvenil: contação de histórias, leituras de poemas, performances e outras; - De 14 às 18h - com atividades de 1 hora, 2 horas - individual ou conjunta. Ex. lançamento/relançamento de livros, mesas redondas, leitura de poesias, palestras, performances, projeção de filmes etc. - De 19 às 21h - com atividades de 1 hora, 2 horas - individual ou conjunta. Ex. lançamento/relançamento de livros, mesas redondas, leitura de poesias, palestras, performances, filmes etc. Obs: No dia 09 abertura dos eventos, às 19h No dia 12 - horário das 18 às 21h reservado para a Comemoração do Aniversário de quatro anos da ALL e encerramento dos eventos. CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO DE CADA ACADEMIA: 3.1 Oficializar a participação no(s) evento(s), encaminhando à FALMA, ALL, e AMEI, com prazo até 15 de julho de 2017, entregando a Sra. Cléo Rolin ou José Viegas. Em anexo, relacionar as atividades que deseja desenvolver no espaço AMEI, indicando se individual ou coletivamente, e os horários de preferência, para serem compatibilizados e, posteriormente, serão confirmadas a inclusão na programação; 3.2 Providenciar pôster, nas medidas de 120 x 90 cm, identificando a Academia; este deverá ser colocado nos estandes no dia 09 de agosto, no horário de 10 às 16 horas (ainda a definir); 3.3 Providenciar mesa, de plástico, retangular, 120 x 90 cm (aproximadamente) para seu estande, que se localizará no corredor em frente ao espaço da AMEI; deverá ser entregue na AMEI no dia 09 de agosto, no horário das 10 às 16 horas; a partir deste horário, os estandes deverão estar arrumados, para início do evento, as 19 horas; deverá ter, desde então, uma pessoa responsável pelo funcionamento/atendimento do mesmo (ainda a definir- a mesa);


3.4. Designar um membro da Academia, ou funcionário, para permanecer durante o período de exposição das obras em seu estande, além de incentivar a presença dos autores. 3.5. Cada estande, de responsabilidade da respectiva Academia, deverá conter as obras de seus filiados, devidamente anotadas em cada exemplar, o preço de comercialização, incluindo neste, já, o valor de 30% da AMEI; a comercialização será através da livraria AMEI, no sistema de comodato; 3.6 O prazo para entrega das obras encerra-se em 30 de julho de 2017, até às 20:00 horas. Para todos os autores, que desejem participar. Àqueles que já tenha obra entregue à AMEI, para comercialização, deverão informar que, nesse período, estarão participando do evento de sua academia, e, ainda, se desejarem, poderão encaminhar novas obras, ou aumentar a quantidade das já entregues; 3.7 Àqueles que, após o evento, desejarem que suas obras permaneçam no Espaço AMEI, deverão comunicar à Diretoria da mesma, a sua disponibilidade. 4. OUTRAS INFORMAÇÕES: 4.1 A venda de livros ficará por conta da AMEI, mediante consignação de 30%, para fazer frente aos procedimentos de comercialização das obras e sua legalização perante os fiscos do município e estado, e demais custos; 4.2 A prestação de contas, dos livros comercializados, devidamente encaminhados oficialmente, através dos seu(s) autor (es), se dará entre 40 e 60 dias após o encerramento do(s) evento(s) devido às vendas poderem ser efetuadas através de cartão de crédito e/ou de débito; preferível que a entrega das obras que serão expostas, e comercializadas, seja feita individualmente (pelo seu autor...), para facilitar a prestação de contas das vendas.

Roque Pires Macatrão Presidente da FALMA Dilercy Aragão Adler Presidente da ALL José Viegas Presidente AMEI


O IMPARCIAL – 09 DE AGOSTO DE 2017 – CADERNO IMPAR




AMEI E INSTUIÇÕES LITERÁRIAS LANÇAM CONCURSO DE POESIA Em comemoração ao Dia Estadual da Poesia, celebrado em 10 de agosto, data criada pela Lei 10.545/2016, de iniciativa do dep. estadual Adriano Sarney, a AMEI, em parceria com ALL (Academia Ludovicense de Letras) e FALMA (Federação das Academias de Letras do Maranhão) lançam o concurso NOVOS POETAS MARANHENSES - PRÊMIO GONÇALVES DIAS.

Mais informações no site da AMEI: https:/www.ameiosfl.org/concurso.






MENSAGEM DE ABERTURA DAS SEMANA MARANHENSE DE LITERATURA - FALMA/ALL/AMEI E I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA E ANIVERSÁRIO DA ALL DILERCY ADLER Presidente e Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL e ocupante da Cadeira Nº 08, patroneada por Maria Firmina dos Reis. Emprestamos a nossa alma para as coisas que tocamos... Dilercy Adler Nesta noite glamorosa, o sentimento que me assoma é o júbilo, extrema alegria por ver se concretizar, por parte da Academia Ludovicense de Letras – ALL, um projeto aprovado, discutido e cobrado por alguns membros, em mais de uma Assembleia Geral Ordinária da nossa Academia. Vejamos um pouco dos antecedentes históricos da realização desta I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA: - Na Reunião da Diretoria, em conjunto com a Assembleia Geral Ordinária -AGO Nº 05/2014 –, dia 26 de abril de 2014, foi colocada como ponto de pauta a determinação de se instituir uma Semana da Literatura Ludovicense, a acontecer no mês de julho, no âmbito da ALL. A Vice-Presidente, à época, a atual Presidente, Dilercy Aragão Adler, e o Secretário-geral, também à época, Leopoldo Gil Dulcio Vaz, trataram do disposto na Lei nº 4.916, de 15 de janeiro de 2008, que INSTITUI A SEMANA MUNICIPAL DO LIVRO E DO AUTOR MARANHENSE, NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Além desse evento da SECMA, no mês de julho era realizada a Mostra Estadual de Literatura, no Centro de Criatividade Odylo Costa Filho. Alguns membros chamaram atenção para a possibilidade de alteração dessa Lei para incluir expressamente a ALL entre as entidades citadas. Foi decidido pelo plenário que em julho a ALL participaria dos eventos programados e que partiríamos para a realização de eventos próprios somente a partir de 2015, após a Academia estar devidamente estruturada. Na Ata DE Nº - 1/2015, de Reunião da Diretoria em conjunto com a 4ª Reunião Plenária Ordinária, realizada dia 28 de fevereiro de 2015,falou-se também da III Mostra Estadual de Literatura, no Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, que ocorreria em julho, propondo-se que nessa mesma data se realizasse a “Semana de Literatura Ludovicense”, o que foi aprovado, e foi determinada à Comissão de Eventos que tomasse as providências necessárias para a realização da Semana de Literatura Ludovicense, inserida na Mostra de Literatura; Por fim, na Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Academia Ludovicense - ALL, do dia 24 de junho de 2017, foi apresentada e aprovada a proposta de realização, ainda este ano, da Semana Ludovicense de Literatura e que esta seria realizada junto com a programação da FALMA e ocorreria no espaço disponibilizado pela Associação Maranhense de Escritores Independentes –AMEI. Na proposta original, apresentada pelo confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, o evento seria realizado no mês de julho, mas a Presidente Dilercy Aragão Adler propôs que a Semana fosse realizada anualmente, a partir de 2017, no mês de agosto, abrangendo o dia do aniversário da ALL e, por extensão, o aniversário de Gonçalves Dias, já que a fundação da ALL se deu no aniversário de 190 anos de Gonçalves Dias, o que também foi aprovado na referida AGO. Portanto, havia um desejo e forte intenção de uma Semana Literária promovida pela ALL desde os primórdios da sua fundação. No entanto, impedições ligadas a espaços e recursos financeiros, principalmente, foram adiando o primoroso e necessário Projeto. Essa condição objetiva só reafirma a necessidade da soma/adição das instâncias/instituições existentes na sociedade nas realizações culturais e educacionais necessárias. Nessa operação, as parcelas


conservam as suas quantidades e potenciais, mas o resultado, o total é muito rico, é bem mais significativo. Daí a necessidade de somarmos idéias, planos, projetos, ações, emoções. Juntos seremos mais fortes, juntos seremos melhor!!! E então vamos emprestando a nossa alma para as coisas que tocamos, em tudo aquilo que realizamos!... Hoje, neste espaço que inspira cultura, todos nós que integramos a FALMA, que integramos a ALL, e aqueles que integram a AMEI, a Secretaria de Estado da Educação, estamos todos doando, sobrepondo, com o nosso toque, um pouco da nossa alma neste evento. E essa soma, com certeza, só fará bem para nós mesmos, para as nossas instituições e para a cultura da nossa querida São Luís! Destarte, ao longo destes dias teremos, todas as manhãs, atividades voltadas para o público Infanto-Juvenil: Contações de histórias, apresentação de livros infanto-juvenis, e o público convidado é constituído por alunos de escolas públicas e comunitárias embora estejam abertas ao público em geral. E, nesta atividade específica, contamos com o apoio fundamental da Secretaria de Estado da Educação, no tocante ao apoio logístico, de transporte e lanche. Na parte da tarde e noite teremos mesas redondas temáticas, projeção de vídeos, lançamento de livros, concurso de poesia, exposição de telas, exposição e venda de livros de autores maranhenses e, como não podia faltar, poesia... muita poesia.Mas, talvez o mais importante seja o congraçamento entre as pessoas nesses dias. Assim, temos certeza de que a inspiração da Patrona da nossa Casa, Maria Firmina dos Reis, a inspiração dos nossos patronos e intelectuais da nossa Athenas Brasileira continuarão a tocar as nossas almas para ficarmos cada dia melhor e fortalecer a cultura da nossa terra, do nosso país!




EXPOSIÇÃO DE ARTE: MATIZ VIANENSE. SUSANA PINHEIRO. MATIZ VIANENSE É UMA MOSTRA DE ARTE QUE CELEBRA A GAMA DE CORES DA REGIÃO DOS LAGOS DA CIDADE DE VIANA . LAGOS ESTES QUE PERFAZEM UM RICO CAMINHO POR TONS VERDES E AZUIS COM PIGMENTAÇÕES FERRUGINOSAS E TERRAIS DE UMA COMPLEXIDADE FABULOSA DE CORES, IMPREGNADAS DE TEMPO E DE HISTÓRIA. ESTA COLEÇÃO DE PINTURAS, TENTA MOSTRAR AS CORES DE VIANA ATRAVÉS DE MAIS UM, DOS MUITOS OLHARES DE AMOR E ENCANTAMENTO PELA CIDADE, QUE ESTE ANO COMEMORA SEUS 260 ANOS DE FUNDAÇÃO. LOCALIZADA NO ESTADO DO MARANHÃO, NA BAIXADA MARANHENSE, É UMA REGIÃO ENTRE RIOS E LAGOS QUE TRANSBORDAM SUAS ÁGUAS DEVIDO ÀS CHUVAS ANUAIS DE FEVEREIRO A JUNHO. ESTE EPISÓDIO TRASFORMA COMPLETAMENTE O BIOMA QUE METADE DO ANO APRESENTA-SE ÁRIDO, EM UM AMBIENTE ÚMIDO E ALAGADO MUDANDO COMPLETAMENTE O VISUAL LOCAL E A VIDA DE SEUS HABITANTES, HOJE POR VOLTA DE 50.503, SEGUNDO DADOS DO IBGE DE 2016. COM A VINDA MISSÃO JESUÍTICA PARA O BRASIL, PADRES JESUÍTAS APORTARAM TAMBÉM EM TERRAS MARANHENSES, INSTALANDO-SE NO QUE É HOJE A CIDADE DE VIANA. NA ÉPOCA, 1683, FUNDARAM ALI, A MISSÃO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO MARACU, ÀS MARGENS DO RIO MARACU, REGIÃO HABITRADA POR ÍNDIOS GUAJAJARAS. INICIVA-SE ENTÃO A COLONIZAÇÃO DE UM POVOADO QUE CHEGARIA À CATEGORIA DE VILA DE VIANA, DURANTE O REINADO DE D. JOSÉ I, REI DE PORTUGAL, E DURANTE A GESTÃO DO GOVERNADOR DA CAPITANIA DO MARANHÃO GONÇALO PEREIRA LOBATO E SOUSA, NO DIA 08 DE JUNHO DE 1757. O RECONHECIMENTO DA VILA COMO CIDADE, CHEGOU UM POUCO MAIS TARDE, POR MEIO DE UMA LEI PROVINCIAL DE NÚMERO 377, NO ANO DE 1855. ASSIM, DESSA DATA EM DIANTE, VIANA FORA ELEVADA À CATEGORIA DE CIDADE. DE SUBSISTÊNCIA AGRÍCOLA, PECUARISTA E PESQUEIRA, CONHECEU A GLÓRIA E TAMBÉM A DECADÊNCIA ECONÔMICA COM O DECLÍCIO DAS EXPORTAÇÕES DE SEUS BENS MAIS PRODUTIVOS, O ALGODÃO, O MILHO, O ARROZ E A MANDIOCA. EM SUA ÉPOCA ÁUREA, VIANA POSSUÍA TEATRO, CINEMA, TRASLADOS AÉREOS E SARAUS DE POESIA E MÚSICA. PORÉM, MUITOS DESSES BENS QUASE FICARAM NA LEMBRANÇA, NÃO FOSSE O ESFORÇO DAS MUITAS MÃOS QUE ABRAÇARAM A CIDADE, E EM ESPECIAL NA ATUALIDADE, DA AVL, ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS, QUE TRÁS COMO MISSÃO, A PRESERVAÇÃO CULTURAL E ARTÍSTICA PARA UMA SOCIEDADE MELHOR ENGAJADA, MAIS ESCLARECIDA E PRODUTORA DE CULTURA.


A MOSTRA DE ARTE, MATIZ VIANENSE, PROPÕE UM PASSEIO VISUAL PELA ÓTICA CONTEMPORÂNEA USANDO COMO INSPIRAÇÃO ASPECTOS DA HISTÓRIA DA CIDADE DE VIANA E DE SUA REGIÃO. PARA ISSO, FOI NECESSÁRIO MERGULHAR E RELER SUA ARQUITETURA, SUA FAUNA E FLORA, DESTACANDO A BELEZA DO LUGAR, SEM ESQUECER NO ENTANDO AS ANGUSTIAS QUE ENCORARAM COM O DESGASTE E O POUCO RECURSO PARA MANTER A CIDADE VIVA. A ARTE COM INFLUÊNCIAS EUROPÉIAS NASCIDA EM VIANA, MANIFESTOU-SE PRIMEIRAMENTE COM A CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS RELIGIOSOS E MORADIAS, QUE NOS INDUZ AO MANEIRISMO. ESTILO QUE PROPÔS UMA REINTERPRETAÇÃO AO MODELO CLACISSISTA ITALIANO. ESTE MODELO INSPIROU NA ARQUITETURA, TRATADOS COMO O DE VIGNOLA EM ROMA, QUE CHEGOU A PORTUGAL E ATRAVÉS DESTE, AO BRASIL. ALGUMAS CONSTRUÇÕES DE IGREJAS FORAM BASEADAS NA IGREJA DE GESÚ, CUJA FACHADA FOI CRIADA POR GIÁCOMO DELLA PORTA, EM ROMA. ESTA, ERA SEDE DA CONGREGAÇÃO CRIADA PELO PADRE INÁCIO DE LOYOLA.(COMPANHIA DE JESUS). DEVIDO À COLONIZAÇÃO DO BRASIL PELOS PORTUGUESES, DEMOS INÍCIO ÀS NOSSAS EDIFICAÇÕES COM TRAÇOS MANEIRISTAS, BARROCOS E CLASSICISTAS. PODEMOS AFIRMAR QUE REUNIMOS DIVERSAS INSPIRAÇÕES PARA NOSSAS CONSTRUÇÕES, E O RESULTADO É UMA ARQUITETURA MULTICULTURAL, ECLÉTICA. ORA COLONIAL COM TRAÇADOS ROCOCÓS, ORA SÓBRIA COM COLUNAS E FRONTÕES IMPONENTES, ORA TRAÇADOS CURVOS, DELICADOS OU CONTORCIDOS COMO AS ESCADARIAS DE UM ARTNOVEAU. PERCEBEMOS ESTA INFLUÊNCIA COM MAIOR NITIDEZ NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. COM SEUS CONHECIMENTOS, DESTACA-SE TAMBÉM OS POVOS INDÍGENAS GUAJAJARAS, HABITANTES DAQUELA REGIÃO QUE DEIXARAM SUAS IMPRESSÕES NAS EDFICAÇÕES, NA PINTURA , NO MODO DE VIDA E NA SUA RELAÇÃO COM A NATUREZA. VIANA COM LADEIRAS EM PEDRARIAS, ABRIGA AINDA PRÉDIOS COM FACHADAS QUE NOS REMETEM A UM PASSADO COLONIAL E BELO, DAS CASAS DE ENGENHO E GRANDES CASARÕES DE CAMPO, TECIDAS EM MADEIRA COM MUITAS JANELAS, COM IMENSAS SALAS E CORREDORES SEM FIM! COROANDO ESTA BELEZA ARQUITETÔNICA, TEMOS A RIQUEZA NATURAL QUE ENVOLVE TODO O ENTORNO DA CIDADE. LINDOS LAGOS COM ILHAS, RECHEADAS DE UM VERDE MISTERIOSO, LASTRADO DE TONS TERROSOS E FERRUFINOSOS QUE POR VEZES VEMOS INVADIR E MORAR EM CASARIOS COMO O SOBRADO AMARELO, QUE OUTRORA FORA CELEIRO COMERCIAL FORTE PARA OS VIANENSES E HOJE RUI NO DESGASTE QUE O TEMPO E O DESVELO IMPÕE! AS SIMALMEIRAS CADA VEZ MAIS RARAS, AINDA MORAM POR LÁ, CARNAUBEIRAS, INGÁS, CRIVIRISEIROS, ALGODOAIS E TAMARINEIROS! AS MARRECAS, JACARÉS DOS AÇUDES, SAPOS GIGANTES NO MEIO DA PRAÇA DA MATRIZ E AOS MORCEGOS DANDO RASTEIROS NOS CASAIS QUE OUSAM SENTAR-SE NOS BANCOS DOS LARGOS. ASSIM É NOSSA VIANA! ESTA MOSTRA PROPÕEM OBSERVAR A PAISAGEM, COLOCADA AQUI NÃO SOMENTE NO ÂMBITO DA APRECIAÇÃO DA NATUREZA, MAS NAS INTERRELAÇÕES QUE SE ESTABELECE ENTRE O AMBIENTE, A CIDADE E O CIDADÃO. VIANA “A PRINCESINHA DOS LAGOS” AINDA RESISTE. ESTA SINGELA MOSTRA DE ARTE É UM LEMBRETE DE QUE PODEMOS FAZER ALGUMA COISA, AINDA QUE AMIÚDE, PARA PRESERVAR E RECUPERAR NOSSO PATRIMÔNIO QUE GUARDA TANTAS HISTÓRIAS E TANTAS POSSIBILIDADES. SUSANA PINHEIRO ARTÍSTA E ESPECIALISTA EM HISTÓRIA DA ARTE










MARCELLO CHALVINSKI SETE ESTROFES PARA ALÉM DA FALA 1. para voltar a ser anjo é preciso perder a alma não há outra saída a imortalidade é tão cruel quanto a vida 2. minhas palavras gotejam em tua boca & por um momento nuvens mínimas umedecem as asas íntimas do teu pensamento 3. mulher do fim do mundo que rega as roseiras da primavera chama-me do sono profundo livra-me de todos os infernos & prende-me a esta era em que teu canto noturno é capaz de aquecer toda a terra 3. não voltarei a ser anjo prefiro essa alma ébria, incompleta centelha que se deixa arrastar por metáforas incompletas & bebe verbosa nos bares da cidade velha 4. sim! entorpeço-me de horror & maravilhas sim! entorpeço-me pois preciso do teu calor & do teu brilho é nesse estado de coisas que os verbos perdem o siso & os substantivos ganham delírio


5. enlevadas pelo teu olhar, as pedras agora podem mostrar sua verdadeira face a nós dois, audazes & também à manada dos normais. elas se desprendem das ruas & flutuam não muito alto com engenhos tais que formam novos becos, ágoras & vielas, para que possamos enfim de mãos dadas caminhar sobre elas 6. abraçadas a uma sombra única, as nuvens se aproximam & entram por tua boca úmida. mas nuvens & sombras são incapazes de deter o teu sorriso iluminado ou de evitar o brilho esfomeado desses teus olhos vorazes olhos que atravessavam pelos cabelos & sorrateiros miram disfarçados como um felino de finos pelos em meio à selva camuflado 7. agora, enquanto por tua boca falo, na velocidade plástica do cinema, percebes que meu sonho persiste em seu sólido sistema: quero em mim esse olhar que afeta esse par de olhos que assiste silencioso à escrita que me faz poeta. musa, alma gêmea, fêmea dileta, noema alitera-me a imaginação & me completa com tudo que há do outro lado do poema













BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Licenciado em Educação Física Especialista em Lazer e Recreação Especialista em Metodologia de Ensino Mestre em Ciência da Informação Condutor da Tocha Olímpica, em São Luís – Olimpíadas Rio 2016 – Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Sócio efeitivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 Uma advertencia: “Escrevi para aprender”1: não há pesquisa inédita nos arquivos, assim como não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção do que tratamos por espaço intelectual e análise das estratégias de afirmação2, disputas e repertórios nele acionados, constituíram-se em importantes fontes para obtenção de dados relativos aos agentes em questão, as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscaram-se, mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhemos informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sítios particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, 1

MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 2 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.


de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem... A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012)3. No Maranhão, foram publicadas, já, várias antologias, que se tornaram clássicas. Da safra atual, temos: Antologia AML 1908-19584, de Mário Meireles; Arnaldo de Jesus Pereira; Domingos Vieira Filho (1958); Clóvis Ramos: Nosso céu tem mais estrelas – 140 anos de literatura maranhense (1972); Onde canta o sabiá – estudo histórico-literário da poesia do Maranhão (1972); Roteiro literário do Maranhão – neoclássicos e romanticos (2001); Rossi Corrêa, com O modernismo no Maranhão (1989); Formação social do Maranhão – o presente de uma arqueologia (1993); e Atenas Brasileira – a cultura maranhese na civilização nacional (2001); Jomar Moares com seu Apontamentos de literatura maranhense (1976); Perfis Academicos da AML (1993); Assis Brasil e A poesia maranhense no século XX (1994); Arlete Nogueira da Cruz, com o seu magistral Sal e Sol (2006); José Henrique de Paula Borralho, com Uma Athenas equinocial – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro (2010) e Terra e Ceu de Nostalgia – tradição e identidade em São Luis do Maranhão (2011); Ricardo Leão: Os atenienses – a invenção do cânone nacional (2011); José Neres- Tábua de papel – estudos de literatura maranhense (2010); Dinacy Côrrea: Da literatura Maranhense – o romance do século XX (2015). É de Ricardo Leão que nos utilizamos, no uso do termo atenienses para definir a condição de literatos do Maranhão: “Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes - depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial 5 brasileiro. [...]”. (Leão, 2011, p. 33) .

Reis Carvalho (citado por DURANS, 2012)6 dividiu a literatura maranhense em três ciclos (CARVALHO, 1912, v. 4, p. 9737, 9742 e 9748)7; Mário Meireles8, seguindo e citando a periodização de Reis Carvalho, admite, no século XIX, a presença de três grandes ciclos, embora ressaltando que, no início daquele século, ocorreu um ciclo de transição (1800-1832); no prefácio da Antologia da AML apresenta seis fases, sendo a última a que corresponde ao ciclo do modernismo (inicio da década de 50...). Jomar Moraes é responsável por consolidar a demarcação da literatura maranhense em ciclos, uma vez que se propõe a atingir o objetivo de 3

DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 4 MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958 MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958. Edição fa-similar comemorativa do centenario de fundação da Academia Maranhense de Letras, AML, 2008. 5 LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 6 DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 7 CARVALHO, Antônio dos Reis. A literatura maranhense. In: BIBLIOTECA Internacional de Obras Célebres. Rio de Janeiro: Sociedade Internacional, 1912. v. 20. (citado por DURANS, 2012). 8 MEIRELES, Mário. PANORAMA DA LITERATURA MARANHENSE. São Luís: Imprensa Oficial, 1955; MEIRELES; FERREIRA; e VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obras citadas;


[...] apreciar a evolução da literatura maranhense, assim como o papel que lhe cabe no contexto da literatura brasileira, examinando a questão sob seus aspectos mais relevantes [...]: o da importância pessoal de certas figuras e o da repercussão que como grupo geracional foi possível alcançar [...]. 9 (MORAES, 1976, grifo nosso) .

Ramos (1972, p. 9-10)10 afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases, sendo, para este estudo, considerada as duas ultimas: 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com exito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta e neoconcretista, ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenomeno que também ocorreu no ambito nacional; 9ª fase – a patir de 1969, de jovens que buscavam, atraves de movimentos como a Antroponáutica11, novas formulas poeticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores.

Dinacy Corrêa (2015) 12 coloca que: de geração em geração, de Gonçalves Dias a Sousândrade (1832/1902 – autor, dentre outros títulos de O Guesa Errante, escrito entre 1858-1888), passando por Maria Firmina dos Reis, em seus Cantos à Beira-Mar (1871), remontando ao Grupo Maranhense (1832/64), passando pela Oficina dos Novos (1900), por Corrêa de Araújo (que, transitando do parnasiano ao pré-moderno, antecipa a geração de 30/40)... Lembrando Bandeira Tribuzi (que, com Alguma Existência, descortina novos horizontes estéticos)... Chegando a Ferreira Gullar (que com o seu Poema Sujo -1976, estruturalmente complexo, num misto de lirismo e memória narrativa, vem a ser classificado como um dos melhores poetas brasileiros do século XX), a Luís Augusto Cassas, no transe do século XX/XXI... A poesia maranhense vai construindo/percorrendo seu itinerário histórico-literário. A poesia do Século XX é dividida em “gerações”, começando pela de Sousândrade, presidente de honra da Oficina dos Novos; seguindo-se a geração de Correa da Silva, a de Bandeira Tribuzi, e a de Luis Augusto Cassas... Conforme Corrêa (2010) 13 afirma: De geração em geração a poesia maranhense vai construindo/percorrendo seu itinerário históricoliterário – de Gonçalves Dias a Sousândrade, remontando ao Grupo Maranhense, passando pelos Novos Athenienses, pela Oficina dos Novos (1900), por Corrêa de Araújo (que, transitando do parnasiano ao pré-moderno, antecipa a geração de 30/40)... Lembrando Bandeira Tribuzi (que, com Alguma Existência, descortina novos horizontes estéticos), o grupo Antroponautico (1972)... Chegando a Luís Augusto Cassas, no transe do século XX/XXI.

Rodrigues (2008) 14 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala. Nos anos 50/60, Cruz (Machado) (2006) 15 refere-se à Galeria dos Livros, do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados os livros, nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as 9

MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976 RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. Em 26 de maio de 1972, foi lançada, em Noite de Autógrafos, em São Luís do Maranhão, a antologia poética Antroponáutica, que apresenta poemas de poetas até então inéditos, em livros. Eram eles Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Valdelino Cécio. Para eles, alguma coisa estava errada, já que a Semana de Arte Moderna havia acontecido, de maneira ruidosa, há 52 anos antes, em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo e poucos, à exceção de Nascimento Moraes Filho, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Oswaldino Marques, Lago Burnett e José Chagas, pouquíssimos outros dela tomaram conhecimento, decorridas cinco décadas. Era como se São Luís vivesse ainda em plena época do soneto parnasiano sem tomar conhecimento sequer da linguagem revolucionária de O Guesa, de Sousândrade. GASPAR, Viriato. Os Trinta Anos Pós-Antroponáutica. GUESA ERRANTE, Suplemento literário – Jornal pequeno, São Luis, 29 de novembro de 2005. 12 CORRÊA, Dinacy A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol.2, no. 2, maio-junho de 2015. 13 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 14 RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014 15 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006. 10

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‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais: Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97).

É nesta mesma época que aparece o Suplemento Literário do Jornal do Maranhão – por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José Ribamar Nascimento. Nas manhãs de sábado reuniam-se todos por lá, agregando-se ao grupo José Carlos Sousa e Silva, Jamerson Lemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex. Surge o Plano Editorial SECMA16 e o Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” 17, com objetivo de incentivar a produção intelectual e literária de alto nível do Maranhão. Para Leão (2008) 18, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”: [...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros.

O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC). Silva (2013) 19 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001) 20, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e 16

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PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em 1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009

Instituído pela Prefeitura de São Luís, através da Fundação Municipal de Cultura – FUNC, atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 – Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso. 18 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 19 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014


de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas: Para Borges, Abreu, Garrone e Chalvisnki (2016, os editores da Antologia da Akademia dos Parias) 21 A poesia produzida no Maranhão até o final dos anos 1940 permaneceu presa a uma linguagem do final do século 19, predominantemente parnasiana. Foi o poeta Bandeira Tribuzi, voltando de Portugal onde fora seminarista, quem trouxe para São Luís, em 1947, algo do modernismo português de Fernando Pessoa e Almada Negreiros, além de poetas brasileiros da Semana de Arte Moderna de 22, principalmente Mario de Andrade e Manuel Bandeira. Ainda assim, os escritores que começaram a escrever nos anos 1950 na capital maranhense foram muito mais influenciados pela Geração de 45, cuja proposta era combater os ‘excessos’ do modernismo brasileiro. Salvo algumas exceções, somente no começo da década de 1970, com o movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio e Raimundo Fontenele, entre outros), a poesia maranhense liberta-se da estética do soneto e se aproxima do lirismo, da ironia e do verso livre da escola modernista.

Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas: [...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. 22 (Corrêa, 2010) .

O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu23 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)24; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)25. Dinacy Corrêa (2010) 26 diz ser integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 27, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Para Mesito28, a antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas - e Lenita 20

REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 21 BORGES, Celso; ABREU, Fernando; GARRONE, Raimundo; CHALVINSKI, Marcelo. AKADEMIA DOS PÁRIAS: A POESIA ATRAVESSA A RUA. Teresina: Halley, 2016. 22 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 23 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 24 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. 25 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 26 CORRÊA, 2010, obra citada 27 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 28 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm


Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”... Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 29, assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a idéia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a freqüentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo.

Em outro contato, Corrêa 30confirma: [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. [como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?] Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão.

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CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014.


A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’.

Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neoromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 31. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968). Concordamos que se deva ser acrescentada nessa fase o grupo do Guarnicê, “nascidos” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011) 32; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê. Seria uma 10ª fase? A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 33 [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica. (In GUERRA ERRANTE, 2012) 34.

Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) 35: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”, 31

ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 33 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 34 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 35 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”. 32


quanto em Corrêa (2014) 36, a explicação necessária sobre esse “movimento”: Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, João Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão.

O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estréia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero37. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília. “Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 38. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponáutica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponáutica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.

1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. 36

CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 38 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 37


Lima (2003) 39 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros. Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas. Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato, e ao lado de poetas estudantes da UFMA, já em 1979, cria a revista Vivência, portaestandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim. Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê... Em suas páginas, também aparece João Ewerton, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas: ele é o presidente da Associação Maranhense de Artes Plásticas, onde transitam, entre os anos 1970 e 1980, Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu Quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide. Segundo Lima (2003), os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tablóide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo Neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013) 40; e outros de 39 40

LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003


maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro. Bioque Mesito41 respira fundo e desabafa: Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura.

Bruno Azevedo (2012) 42 ao referir-se à revista/editora Pitomba, criada por ele, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha assim se posiciona: A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora. Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões Norte-Nordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poeme-se e do Chico Discos.

Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo – escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou oito livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogia A posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub, A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com trabalhos publicados nas revistas Cult, Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa. Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio das ALUMAR. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranqüilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão. Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 43 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. 41

MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 42 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-naovomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014 43 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003.


Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem44. Para Mesito45: É bem verdade que desse grupo [Akademia dos Párias] apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas três poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de dois livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura.

De acordo com Pedro Sobrinho, em seu Blog46 A AKADEMIA DOS PÁRIAS – A POESIA ATRAVESSA A RUA será lançado dia 19 de maio, às 20h, na Livraria Poeme-se, na Praia Grande, com direito a recital de poesia com os integrantes da Akademia, entre eles, Fernando Abreu, Guaracy Jr, Paulo Melo Sousa, Garrone, Paulinho Nó Cego, Rezende e Celso Borges. O que é quem são os Párias? Nos anos 1980 uma geração de jovens poetas, em sua maioria da Universidade Federal do Maranhão, reúne-se em torno da revista Uns & Outros e formam a Akademia dos Párias. Vestem a roupa da irreverência e assumem uma linguagem que dialoga com a prosa de Charles Bukovski e John Fante, o reggae de Bob Marley e Peter Tosh, a poesia de Leminksi, o rock brasileiro e a geração marginal nascida na zona sul do Rio de Janeiro na década anterior. Politicamente o Brasil vive a agonia da ditadura militar, o fim da censura e o surgimento da geração coca-cola, conforme leitura do compositor Renato Russo (Legião Urbana), que forma, ao lado de Cazuza (Barão Vermelho) e Arnaldo Antunes (Titãs), o triunvirato do melhor da poesia nascida das letras e atitudes incorporadas ao rock e ao mundo pop daqueles anos. Entre 1985 e 1989, principalmente, realizam recitais regados a vinho barato, catuaba e diamba, e espalham pelas ruas, becos e bares da ilha, uma dicção poética até então inédita na cidade. Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua reúne quase 100 poemas dos mais de 420 publicados nas oito edições da revista Uns & Outros, porta voz da Akademia. Na obra estão versos de 25 desses poetas, entre eles Ademar Danilo, Antonio Carlos Alvim, Celso Borges, Fernando Abreu, Garrone, Guaracy Brito Jr, Joe Rosa, Mara Fernandes, Marcelo Silveira (Chalvinski), Paulinho Nó Cego, Paulo Melo Sousa, Rezende, Ronaldão, Ribamar Filho e Suzana Fernandes. – Esta antologia não é um acerto de contas com os Párias. Há, claro, algum rigor na escolha dos poemas, mas também um olhar generoso sobre o que aquilo representou, tanto para as pessoas agentes daquela intervenção como também para o momento cultural e político que São Luís vivia – afirma o poeta Celso Borges, um dos organizadores da antologia ao lado de Fernando Abreu, Raimundo Garrone e Marcelo Chalvinski. Segundo Garrone, boa parte dos poemas escolhidos sobreviveu esteticamente ao tempo. “Outros, em menor número, já envelheceram, mas estão presentes porque têm a cara daquela década”, diz. 44

LIMA e Outros, 2003, obra citada.. MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 45

de

Sousândrade.

Guesa

Errante,

15

de

novembro

de

2006,

disponível

em

46

PEDRO SOBRINHO, in Na Mira Pedro Sobrinho, disponível em http://www.blogsoestado.com/pedrosobrinho/2016/05/04/akademia-dos-parias-lanca-livro-dia-19-de-maio/, quarta-feira, 04 de maio de 2016.

publicado

em


Ribeiro (2016) 47 em entrevista com os poetas Celso Borges e Fernando Abreu sobre o lançamento de “Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua”, antologia que celebra os 30 anos do movimento poético que agitou a ilha dá como: O surgimento da Akademia dos Párias se dá no apagar das luzes da ditadura militar brasileira, que assombrou o país por 21 anos. “Coincidiu também com uma abertura gráfica, editoras como a Brasiliense começaram a publicar [Paulo] Leminski, Chacal, John Fante, [Charles] Bukovski”, lista Fabrico. “Caprichos e relaxos, Dops de abril, Pergunte ao pó, Cartas da rua e Mulheres eram bíblias, uma espécie de Pentateuco particular”, Tanto Fernando Abreu revela ser de São Luís, embora criado em Grajaú: [...] foi estudar piano. A Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo funcionava ao lado de sua casa, na Rua da Saavedra, no Centro da cidade, o que gerou uma pergunta de um desconfiado Gilles Lacroix, então professor do instrumento na instituição: “mas é só por isso que você quer estudar piano?”, referindo-se ao fato de ele morar perto da escola. “Não. Quero estudar piano por que quero ser músico”, respondeu. Foi por pouco: Fabreu, como hoje o jornalista e poeta é conhecido pelos amigos mais íntimos e leitores em geral, não tinha, no entanto, piano em casa, para as lições. Olga Mohana, então diretora da EMEM, orientou-o a procurar dona Maria Eugênia Borges, que morava na Rua da Paz, também no Centro, e tinha um piano em casa. Era a mãe do poeta Celso Borges. Fabreu tinha por volta de 14 anos e CB estava às voltas com o lançamento de Cantanto [ed. do autor], sua estréia na poesia, de 1981. “Uma amizade atávica”, exclama Fabreu, para lembrar-se, logo depois, de que o avô de Celso ajudara seu pai a se estabelecer em São Luís. “Ele ficou anos ocupando um imóvel, sem pagar aluguel. Com a barbearia custeou seu curso de odontologia, depois pagou os aluguéis, mas nada teria acontecido sem aquela força”, agradeceu. As lembranças vão se emendando umas às outras como cigarros acesos nas baganas dos anteriores, embora ninguém fume durante a entrevista regada a água e coca-cola. No Cafofo da Tia Dica, detrás da Livraria Poeme-se, na Praia Grande, converso com os poetas sobre os 30 anos que a Akademia dos Párias, movimento integrado por eles nas décadas de 1980 e 90, completa em 2016, e que será comemorado com o lançamento da antologia Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua. “Eu sou mais ou menos seis anos mais velho que toda a turma”, revela Celso, à época já formado em jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) – onde grande parte dos párias se encontrou, principalmente nos corredores do curso de Comunicação Social –, pai de família e com carteira assinada no Sistema Mirante de Comunicação. “Eu tinha completa liberdade na rádio [Mirante FM, inaugurada há pouco], levei Ademar Danilo [jornalista e DJ] para fazer o Reggae Night, ele já tinha um conhecimento fabuloso do ritmo”, lembra. “A gente ouvia Bob Marley, Peter Tosh, Jimmy Cliff. Foi através de Ademar que começamos a ouvir outros nomes da Jamaica”, enumera Fabreu. “O estúdio era pequenininho, mas uma vez Celso levou a galera lá, botou a gente sentado no chão, crivou de perguntas e publicou uma entrevista”, conta. O papo saiu na Guarnicê, que era um encarte do jornal O Estado do Maranhão – depois a revista circularia de forma independente –, editada por Celso com Roberto Kenard e Joaquim Haickel. “Outro cara importante foi Ronaldão. Era um cara versado em Bob Dylan, Kraftwerk, Pink Floyd. Encarnou um personagem, sumiu. Ninguém sabe por onde anda. A última vez que eu falei com ele, ao telefone, foi em 1997. Guaracy [Brito Jr.] também já sacava muito de música, Joy Division”, Celso lista outros autores de poemas que estarão na antologia.

47

RIBEIRO, Zema. UMA AMIZADE ATÁVIDA. In JP TURISMO, São Luis, sexta-feira, 6 de maio de 2016. Disponível em https://zemaribeiro.wordpress.com/


ACERTO DE CONTAS, de Rezende. A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995. Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 48. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos: Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou “… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. [...] Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu? “Até 1980, eu costumava freqüentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela idéia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui 48

LIMA e Outros, 2003, obra citada..


do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”49

O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! Zeca Baleiro, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 50. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha. E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012) 51

Aparecem, assim, novos grupos organizados, como o caso do Poeisis, ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde52. Sobre esse movimento, Antonio Aílton53 deu-me o seguinte depoimento: O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo. A idéia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com idéia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, 49

CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 50 LIMA e Outros, 2003, obra citada. 51 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 52 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 53 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.


violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale54, o maior e mais importante deles55, o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público. Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal. Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª FELIS, como ocorreu logo depois. Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento.

Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense56. Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca 57: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu. O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta.

Leão (2008) 58 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: 54

Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. 55 Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome... 56 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 57 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico 58 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm


[...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.

Para Dyl Pires59, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito60 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Mauro Portela, Alberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta. Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Em 1995, segundo Leão (2008) 61, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. [...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro.

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ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 60 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 61 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm


Ricardo Leão recorda que a idéia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008). Antonio Aílton Santos Silva (2014) 62, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). [...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... [...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego. [...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). 62

SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS - DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.


[...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das idéias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). [...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.

Dilercy Adler (1995) 63 organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade64. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael 63 64

ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998.


Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 200465. Atualmente, Dilercy dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções... Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros: [...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poeme-se, ex-integrante da Akademia dos Párias. 66

Para Mesito67, Os poetas do Safra 90 (nome dado a uma antologia lançada pelo governo local, em 1997, formada por 23 poetas que compunham a cena poética do final do século 20 e início do século 21) poucos, desses poetas que integram esta antologia, ainda demonstram que vieram para ficar. Nomes como Antonio Aílton, Rosemary Rêgo, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dyl Pires, Jorgeane Braga, Eduardo Júlio, Paulinho Dimaré, Marco Pólo Haickel, - estes três últimos nomes, apesar de não fazerem parte do Safra 90, comunicam do mesmo momento literário, e todos já possuem importantes premiações locais e nacionais, além de possuírem seus livros lançados. O que demonstra, para os que fazem vista grossa ou que desconhecem, que a produção maranhense continua muito boa e a renovação está acontecendo com qualidade.

As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego68. Alberico Carneiro 69 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno: O Guesa Errante70. Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores: Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a 65

ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004. 66 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 67 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 68 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 69 ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html 70 Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/


celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas consagrados, pois dá destaque aos novos, inclusive aos quase desconhecidos e aos desconhecidos, desde que suas produções apresentem valor no processo evolutivo da criação literária maranhense.71

Também de 2002 é o movimento denominado Poesia Maloqueirista, nascida em São Paulo, do encontro de poetas que veiculavam seus libretos pelas ruas, de identidade mambembe; atualmente, na era digital, o coletivo reforça tais elementos com uma posição artística multifacetada, que mantém a poesia como base de linguagem, porém abrindo o campo de criação e troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídias. Convidados para se integrar ao grupo, os maranhenses Celso Borges, Reuben da Cunha Rocha, Josoaldo Lima Rego, além do cantor Marcos Magah, que participam de uma antologia organizada neste ano de 201472. A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Maranhão – SOBRAMES-MA – lança, em 2003, sua primeira antologia: Arte de Ser. Cinco anos depois, 2009, aparece a sua segunda – Receita poética73. Em 2011, é realizada a exposição TrezeAtravésTreze74, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta ou indiretamente, apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! “Poesia não é só poesia e nunca apenas poesia, mas diálogo e atrito com outras formas de expressão”. TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego Bioque Mesito escreve em O Guesa Errante75 sobre a 20ª edição do Festival de Maranhense de Poesia (2006), promovida pela UFMA, resgatando um pouco o que foi: [...] Falando, especificamente, do Festival Maranhense de Poesia - evento promovido pela Universidade Federal, juntamente com o seu Departamento de Assuntos Culturais, em suas últimas edições vem perdendo o fôlego. A boa vontade do Diretor do Departamento de Assuntos Culturais, Euclides Barbosa Moreira Neto, é o que ainda impulsiona esse evento. Euclides vem dando chances aos artistas locais com sua política de difusão. O festival de poesia está repleto de poemas de baixa qualidade. Talvez por falta de uma lista de seleção mais rigorosa e também pelo grande número de concorrentes nas eliminatórias. Com certeza, diminuindo o número de participantes nas eliminatórias, o público ganhará com poesias de melhor qualidade e não o que vem acontecendo – poemas muito fracos, em sua maioria. Compreendemos, Euclides, a política que você realiza. O evento deveria ser realizado em apenas uma semana, com 71

http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm Jornal O ESTADO DO MARANHÃO. LEITURAS DE UMA NOVA LITERATURA MARANHENSE. Caderno Alternativo, São Luis, 13 de março de 2014, p.1. 73 HERBERT, Michel (Organizador). RECEITA POÉTICA – antologia. São Luis: Lithograf, 2009 74 http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-na-galeria-hum/ 75 MESITO, Bioque. 20 edições do Festival Maranhense de Poesia da UFMA. MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 72


palestras, oficinas e debates sobre a literatura maranhense e brasileira. Assim, o Festival só ganharia e poderia possuir a estirpe do Maracanto e/ou do Guarnicê – Cine/Vídeo, a maior e melhor realização do Departamento de Assuntos Culturais, coordenado por Euclides. O festival é um evento que aproxima o público da poesia e também serve de intercâmbio entre os poetas. Este ano o Teatro Arthur Azevedo ficou completamente lotado, o que demonstra o valor desse evento e da poesia maranhense. O festival é um dos poucos que ainda privilegia o talento poético em nosso Estado, somando-se, é claro, ao Concurso Cidade de São Luís, da Fundação Municipal de Cultura. Em uma cidade que respira poesia e tem uma efervescência poética, ainda é pouco. Temos, por exemplo, uma Academia Maranhense de Letras que passa quase sua totalidade fechada, sem realizar quase nada em prol dos escritores. Academia de Letras que é de suma importância na fomentação da cultura do nosso Estado, mas, que faz muito pouco, além de não socializar a Casa de Antonio Lobo, fechando-a para os intelectuais e o público em geral. A Academia Maranhense de Letras, esperamos, em sua nova administração, que democratize a Casa de Antonio Lobo e abra as portas para projetos práticos, sem o caldo político que era prática comum na gestão anterior. Sim. Voltando ao Festival Maranhense de Poesia, mais uma vez. Esse festival, ao longo dos anos, serviu para descobrir vários poetas como são os casos de Paulo Melo Souza, Roberto Kenard, Fernando Abreu, Antonio Aílton, Paulinho Dimaré, Rafael Oliveira, Ribamar Feitosa, Rosemary Rêgo, Mauro Ciro, Eduardo Júlio, Maria Aparecida Marconcine, Josoaldo Rêgo, César Borralho, João Almiro Lopes Neto, Francisco Tribuzi, Bioque Mesito, Dyl Pires, Cibele Bittencourt, César William, Junerlei Moraes, Geane Fiddan, Lúcia Santos, Ronnald Kelps, dentre outros.

Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz organizam a Antologia “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” 76, em 2013, após quase três anos de intenso trabalho. Obra em dois volumes, contendo, o primeiro, 999 poemas em homenagem ao Poeta Caxiense, e o segundo, o poema: “Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia”, de Alberico Carneiro 77, completando mil poemas. Ainda, um terceiro volume, coletânea sobre a vida e obra de Antonio Gonçalves Dias, reunindo 46 pesquisadores78. E um quarto volume...79,80 A Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias é a quarta organizada nesse sentido, em todo o mundo. Reuniu poetas do: Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Portugal, Equador, México, Canadá, Panamá, Japão, e de Moçambique; dos Estados Unidos América; da Argentina, Bolívia, Venezuela, Espanha, França, Bélgica e Áustria. Do Brasil, diversos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Piauí, Sergipe, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte. Do Maranhão, a cidade de São Luís foi representada por 89 poetas, seguida de Caxias, Esperantinópolis, Guimarães, São Bento, Sambaíba, Carolina, Balsas, Palmeirândia, Pinheiro, Pedreiras, São Vicente Férrer, Vitória do Mearim, Codó, Paraibano, Turiaçu, Lago da Pedra, Coroatá, Pio XII, Dom Pedro, Cururupu, Presidente Dutra, São Francisco do Maranhão, Itapecuru-Mirim, Viana, Barra do Corda, Vargem Grande, São João Batista, São Bernardo, Barão do Grajaú. Há outros participantes sem identificação de país e/ou estado brasileiro. De acordo com Teixeira (2014) 81, um novo grupo se forma: “Marcha pela poesia”, movimento que nasceu numa dessas redes sociais que circulam pela Internet. Vem se reunindo no Centro de Criatividade 76

ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b_-_parte_2; CARNEIRO, Alberico. ILHA DO AMOR – GONÇALVES DIAS E ANA AMÉLIA. IN ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ 78 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1; 77

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. “Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013... Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’. Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.” In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - DIÁRIO DE VIAGEM. São Luis, 2014, no prelo. 80 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - DIÁRIO DE VIAGEM. São Luis, 2014, no prelo. 81 TEIXEIRA, Ubiratan. HOJE É DIA DE... POETAS SE REUNEM NO “ODYLO”. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luis, 25 de março de 2014, sexta-feira. Caderno Alternativo, p. 8, disponível em http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2014/04/25/pagina266627.asp, : Rapazes e moças que formam o grupo maranhense "Marcha pela Poesia" estarão se reunindo hoje no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho para escutar mais um luminar de nossa história


“Odylo Costa, filho”. O autor da matéria não fala quem são os seus membros, mas trata-se de jovens com idade entre 25 e 30 anos, já com uma vasta produção divulgada através dos meios digitais, que já podem compor uma coletânea. Novamente Dilercy Aragão Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz se unem, desta vez para a Antologia “190 poemas para Maria Firmina dos Reis” 82, e a Coletânea “Sobre Maria Firmina dos Reis” 83. Em comemoração aos 190 anos de nascimento da primeira escritora (negra) brasileira e maranhense, Maria Firmina, patrona da Academia Ludovicense de Letras. E tem-se o “Catálogo dos Cafés Literários do Odylo”, organizado por Ceres Fernandes, dos quatro anos de palestras, debates, entrevistas e mesas redondas, 30 cafés, editado por Jomar Moraes. Certamente mais um documento de atividades literárias realizadas em São Luís84... Agora, publicado - em 2015 - sob o título “Café Literário – Centro de Criatividade Odylo Costa, filho 2010-2014 – Memória, organização de Ceres Costa Fernandes”.

literária, desta vez a poetisa, cronista e contista Arlete Nogueira da Cruz Machado e debaterem com a convidada aspectos importantes da cultura literária maranhense, sobretudo aqueles que forem destacados por Arlete ao longo de sua conversa. 82 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, leopol,do Gil Dulcio. 190 POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015. 83 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luis: ALL, 2015. 84 FERNANDES, Ceres. Correspondência pessoal. Em 11 de março de 2014. Via correio eletrônico. FERNANDES, Ceres. 2015


ANTONIO AÍLTON

Vertentes da poesia contemporânea no Maranhão Expõe algumas das possibilidades de leitura e delineamentos da poesia contemporânea produzida por poetas maranhenses, dentro da multiplicidade, da diversidade e do hibridismo dessa poesia.


JOSUÉ MONTELLO: centenário de um clássico da literatura contemporânea DINACY MENDONÇA CORRÊA Professora Estadual (Seeduc/Uema).Profa. Adjunta. Me./Doutora em Letras (Ciência da Literatura-UFRJ).

Josué de Sousa Montello (São Luís-MA. 21.08.1917/RJ.15.03.2006) – jornalista, professor, teatrólogo, cronista, romancista, autor de contos infantis... Um dos introdutores do Modernismo na Literatura Maranhense (com Janelas Fechadas-1941, romance), ao lado de Bandeira Tribuzzi (com Alguma Existência-1948,poesia). Autodidata. Membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira 29). Ascendência italiana – filho de Antônio Bernardo Montello e Mância de Sousa Montello. Estudos primários na Escola Benedito Leite e secundários no Liceu Maranhense, quando então dirige o periódico A Mocidade, ali dando a público seus primeiros trabalhos escritos. Jornalista e escritor precoce (aos 15 anos integra a sociedade literária Cenáculo Graça Aranha, da qual participaram muitos outros intelectuais maranhenses). Em 1936, segue para Belém-PA. e dali, para o Rio de Janeiro-RJ. Escreveu em muitos jornais e revistas importantes do País, bem como assumiu cargos e funções de relevo, em órgãos do governo. No Maranhão (São Luís), criou e organizou o Museu Histórico e Geográfico, o Conselho Federal de Cultura e fundou a Casa de Cultura Josué Montello. Considerado um clássico da Língua Portuguesa, premiado muitas vezes como mestre do romance moderno brasileiro, Montello é, sem dúvida, o nosso magno representante do gênero. Em sua ampla e variada bibliografia (cerca de 160 títulos diferenciados de produção: do infanto-juvenil ao romance, passando pelo conto, crônica, novela, ensaio, obras de pedagogia e biblioteconomia), sobressaem-se os romances, cunhados, estes, numa linguagem clara, direta, fluente e primando por um enredo centrado na abordagem de temas especificamente maranhenses: usos e costumes, tradições sanluisenses; caracterização psicológica das personagens, sempre ambientadas na capital do Estado ou na fronteira cidade de Alcântara.


São vinte e seis romances85 a integrarem esse circuito, seguindo-se a Janelas Fechadas (romance de estreia -1941), culminando com A mais linda noiva de Vila Rica (2001). Dentre todo esse elenco de obras, figuram entre as mais lidas e apreciadas, eleitas na preferência do público, em geral: Cais da Sagração, Noite Sobre Alcântara e Os Tambores de São Luís – este último considerado um ícone da moderna literatura brasileira, “o mais completo, o mais vívido, tecnicamente o melhor acabado [...] com extraordinária qualidade”, no dizer de Octávio Faria (In: MONTELLO, 1971 – aba esquerda da obra). CAIS DA SAGRAÇÃO (1971). O que a audição desse título pode suscitar em nossa condição de maranhenses/ludovicenses? Evidente que a visão de uma área importante, da paisagem urbana da nossa capital (em sua tradicionalidade e contexto histórico-cultural), situada na nossa tão encantadora Avenida Beira-Mar – o que já insinua um mergulho na nossa memória histórica. Vamos lá? O projeto de um Cais, ao sopé do Forte São Luís (Palácio dos Leões Daniel de La Touche), em direção à Praia do Convento das Mercês (área do Desterro, Centro Histórico) já vinha sendo idealizado desde 1717 (início do século XVIII), no governo do Capitão General Bernardo Pereira de Berredo. E por que um Cais, ali, naquele espaço? Uma questão geológica, convenhamos. Ora, o palácio governamental fora construído sobre o antigo Forte (à Beira-Mar) – região instável, por conta do movimento intensivo das ondas sobre a praia. O mar destruía, continuamente, as barreiras ali armadas para proteger a fortaleza. O duplo baluarte São Cosme e São Damião não fora suficiente para prevenir, conter tais danos. Enfim, tem início a edificação do Cais a 14 de setembro de 1841 (dia da Sagração de D. Pedro II como Imperador do Brasil), sob a direção do Major do Corpo de Engenheiros João Victor da Silva 86. Daí, o nome, Cais da Sagração, numa homenagem ao novo monarca. Iniciado no Império e concluído na República (dezembro de 1909), foram anos e anos, décadas, de trabalho e de espera. Em 1865, por sinal, o processo de construção (que durou mais de meio século, exatos 68 anos), foi paralisado, retomado após 25 anos de “trancos e barrancos”. Partindo do local hoje designado como porto do cais (Rampa Campos Melo), passando pela antiga Praia do Caju (ora, Avenida Beira-Mar, incluindo a Praça Manuel Beckman, no Parque 15 de novembro), pela Ponte São Francisco, seguindo, expandindo-se até à antiga Praia de Jenipapeiro87 (aproximando-se das ruínas da Quinta da Vitória, onde residiu o poeta Sousândrade, de 1866 a 1902), área fronteira ao Bairro dos Remédios (imediações da Praça Maria Aragão, em frente à Praça Gonçalves Dias, à Igreja dos Remédios)... Muita luta e demora, mas os resultados foram exitosos e até mesmo exaltados na voz do povo, como podemos constatar nesta quadrinha de Euclides Farias (apud. VIVEIROS, 1964, p. 93): Também gostei outro dia/ de passear pelo Cais;/ tapou-se tudo de areia/ a maré não volta mais;/ quem vem lá do baluarte/ e quer ir a outra parte/ não precisa ir pela rampa/ porque sem molhar o pé,/ sobe a Rua dos Barqueiros,/ vai sair atrás da Sé. Cais da Sagração88. Um romance do Maranhão. Um Romance do Mar. Do litoral maranhense/nordestino, em seus velejadores, na contínua/cotidiana travessia São Luís/Alcântara (pela Baía de São Marcos),na dinâmica marítima do Porto, na Praia Grande, enfocando agente do mar; os marítimos, em suas peculiaridades – jeito de ser e de viver, de amar e mal amar. Tudo muito bem representado (através de um narrador heterodiegético) em Mestre Severino,barqueiro e pescador (morador de Alcântara, proprietário do Bonança)– que,então já idoso89 e com problemas cardíacos, persiste na firme decisão de viajar para São Luís (contrariando a orientação médica e o pedido da sempre companheira Lourença). É que, 85

- Janelas Fechadas (1941); A luz da estrela morta (1948); O Labirinto de espelhos (1952); A décima noite (1959); Degraus doParaíso (1965); Cais da Sagração (1971); Os Tambores de São Luís (1975); Noite sobre Alcântara (1978); A coroa de areia (1979); O silêncio da confissão (1980; Largo do Desterro (1981); Aleluia (1982); Pedra viva (1983); Uma varanda sobre osilêncio (1984); Perto da meia-noite (1985); Antes queos pássaros acordem (1987); A última convidada (1989); Um beiralpara os bemte-vis (1989); O camarote vazio (1990); O baile da despedida (1992); A viagem sem regresso (1993); Uma sombrana parede (1995); A mulher proibida (1996); Enquanto o tempo nãopassa (1996); Sempre serás lembrada (1999); A mais linda noiva de Vila Rica (2001); 86 - nesse cargo desde 1846, por determinação do Ministério dos Negócios da Marinha. 87 - nesse trajeto, tempos mais tarde, teve lugar a estação de trem, seguindo-se a (já extinta) Estrada de Ferro S. Luís/Caxias (idealizada em 1809). 88 - título que vem da toponímica da cidade para a capa dessa obra monteliana. 89 - e entãojá liberto, após o cumprimento da pena (20 anos) pelo assassinato da “amada” Vanju...


fiel a sua tradição familiar, quer transmitir ao neto Pedro, seus conhecimentos de homem do mar (se bem que, já adolescente, Pedro não deseja seguir, continuar, essa herança dos seus ascendentes). Enquanto organiza todo o necessário para a travessia marítima, vai rememorando os acontecimentos passados, suas experiências vividas (seu apego ao mar, sua paixão, sua relação “amorosa” com Vanju, os anos passados no presídio de Alcântara...). E, dentre essas reminiscências, vêm à memória do protagonista, imagens da São Luís de outrora, em sua estrutura arquitetônica, pautadas estas em referências socioculturais, comunitárias, e que se vão alterando, transmudando, no percurso do tempo. Ouçamo-lo que diz: – Quando eu tinha a tua idade, este Cais da Sagração era bem diferente. Tinha outra vida, outro movimento. Do meu tempo, a bem dizer, o que sobrou foi esta muralha, o mar, aqueles sobradinhos, o muro do Baluarte. Acabaram com o mercado e com as barracas de pescadores, ali adiante, na velha praia do Caju. Foi pena. Agora a vida é aquela ponte, com os carros passando, sem a animação de antigamente. (MONTELLO, 1976, p. 233). Antes de alcançar a rampa para descer ao barco, anteviu a morte do Cais da Sagração – prolongamento natural do silêncio da Praia Grande. [...]. A praia do Caju que continuava o cais até a praia de Jenipapeiro, junto às ruínas da Quinta da Vitória, já havia desaparecido, com seu mercado, suas barracas suas quitandas de peixe frito. A ponte, ligando a cidade a Ponta de São Francisco, mudaria tudo ali. E como já fazia muito tempo que dragava o porto, as coroas de areia, à hora da maré vazante, davam a impressão de que terminariam de aterrá-lo dentro de pouco tempo. Assim, o cais do Pedro seria no Itaqui, do outro lado de São Luís, enquanto o de Mestre Severino, continuava sendo aquele, sobre as águas do rio Anil. Praticamente já quase não existia o Cais da Sagração. Quase todos os barcos atracavam agora junto a Rampa Campos Melo, alguns iam para o Portinho, outros mais para o Desterro; somente o Bonança, fiel ao seu passado, deitava a âncora ali – como nos dias de outrora, quando passavam pelas ruas de São Luís as velhas carruagens puxadas pela parelha de cavalos, com seu cocheiro na boleia (MONTELLO, 1976, p. 262). No romance em questão, Mestre Severino é personagem extraída da vida real e que se imortaliza, nessas páginas, em sua reconhecida determinação e força de vontade, seus dilemas sentimentais, no conflito amoroso entre a humilde, solidária Lourença e a bela e atraente Vanju – prostituta por quem se apaixona, após libertá-la dessa “profissão” e com quem se casa (e tem uma filha), vindo a assassiná-la, por ciúmes, asfixiando-a, num banho, no mar de Alcântara 90. Sempre convivendo, ao mesmo tempo, com Lourença que, na sua generosidade ou submissão, de primeira mulher, passa a ser a empregada da casa, cuidadora e mãe de criação de Mercedes (filha de Vanju); mais tarde,mãe de criação e cuidadora também de Pedro (filho de Mercedes – que falece ao dar à luz – e neto de Vanju, também já falecida). Vale ressaltar que o romance – variedade narrativa (eclética, complexa, inclusiva), forma dramatizada da poesia oral, herdeira direta da epopéia clássica, em seu permanente renovar-se (sem perder, contudo, a própria essência), em sua modalidade receptiva, sempre apta ao diálogo e à intersecção com outras artes e áreas, é gênero que se abre “às mais diversas esferas da experiência humana, desafiando, desestabilizando o convencional, conjugando continuidades/descontinuidades, reinventando-se, permitindo ao ficcionista a liberdade de expressão, a recriação de formas, a proposição de novos caminhos” (CORRÊA, 2015, p. 75). Vejamos essa capacidade de inovação/renovação em Cais da Sagração, um romance do mar, reiterando. Especificidade que, já denotando uma tipologia transcendente (que se nos remete ao passado, referencializando a história,situando-se no presente e se projetando para o futuro), nos faz refletir sobre a importância do mar, no transcurso da civilização humana e seus influxos e reflexos na literatura universal de todos os tempos. Narrativas, cuja temática remontam (na Literatura ocidental) a Homero (Ilíada e Odisséia – últimos anos do sec. IX AC), passando por Camões (Os Lusíadas,1572, enfocando a expansão marítima portuguesa). E, numa seqüência, podemos lembrar: Eram Melville (Moby Dick-1851, numa reconstrução de Ulisses); Fernando Pessoa (Mensagem-1934: o Portugal do presente, evocado nas suas glórias do passado); Ernest Hemingway (O velho e o mar-1952: a luta pela sobrevivência em alto mar); Jorge Amado (Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso: a saga de Vasco Moscoso de Aragão, marinheiro que aporta em 90

- fato que só se vai esclarecer no final da obra (último capítulo).


Periperi, litoral baiano, atraindo a atenção dos moradores locais); Derek Walcot (Omeros-1990: centrado nos negros de Santa Lúcia, às margens do Caribe). Na Literatura Maranhense, podemos apontar como representantes do convencionado romance do mar (ou poema-romance do mar), Josué Montello (Cais da Sagração) e José Sarney (O Dono do Mar). Ambos num regionalismo que circunscreve o vai-e-vem marítimo dos barqueiros e pescadores na região urbana e suburbana da Ilha de São Luís, respectivamente. No Cais da Sagração monteliano, já podemos observar, transparente, um alcance dialógico/intertextual, que se nos remete à Ilíada (guerra entre gregos e troianos) e à Odisséia (volta de Ulisses, da Tróia já vencida, para a sua terra natal,Ítaca, onde deixara sua esposa Penélope – símbolo de fidelidade – e seu filho Telêmaco), cujos episódios e ação narrativa se fazem executar pelo mar. E o motivo desse embate que durou quase dez anos?... Como já sabemos (pela nossa memória historiográfica/literária ocidental), o fio dessa meada está no rapto da bela e atraente Helena, esposa de Menelau (rei da Grécia), pelo príncipe troiano Paris – em Esparta (cidade grega),onde os dois se encontram, casualmente, e se apaixonam. Daí, o rapto, a fuga de Helena, que deixa Menelau enfurecido, levando-o a organizar um exército, com guerreiros como Aquiles (ferido no seu ponto fraco, o famoso “calcanhar de Aquiles”) e Ulisses (Odisseu, o inventor do ainda citado “presente de grego”, o também famoso “Cavalo de Tróia”), comandado pelo general Hagamenon. Nesse enredo narrativo, temos também o tradicional “triângulo amoroso” (Menelau-HelenaParis91), temática muito cultuada na literatura e que se nos remete a outros também memoráveis casos amorosos “triangulares”, como Tristão e Isolda 92 (Tristão-Isolda-ReiMarco), Lancelot e Guinevere (Lancelote-Guinevere-ReiArthur) e, numa seqüência, vamos relembrando outros autores e obras, como: Camilo Castelo Branco (Amor de Perdição); Eça de Queirós (O Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro); Aluísio Azevedo (O Mulato); Machado de Assis (Dom Casmurro)... dentre outros. No romance em apreço, possivelmente, inspirado em Aluísio Azevedo e em Machado de Assis (dentre outros autores integrantes do circuito de leitura de Josué Montello93e cujos eflúvios transparecem na semiose narrativa desse Cais) é possível reconhecer traços característicos desses autores, senão vejamos: de Aluísio Azevedo (O Mulato-1881),além do triângulo amoroso, a visão panorâmica da cidade, em seu espaço geográfico, em sua toponímica. Como se sabe, Aluísio Azevedo (em O Mulato) foi o primeiro romancista maranhense a retratar, na arte literária, a São Luís Beira-marinha, no trânsito do século XIX para o século XX, em seu tradicional Centro Histórico (hoje Patrimônio Cultural da Humanidade e conhecido por Reviver), seguido por Josué Montello– que também memorializa na sua obra aquela região, incluindo a área da antiga ZBM (Zona do Baixo Meretrício, nas imediações do Desterro), que foi, na obra em leitura, o ponto de encontro entre Mestre Severino e Vanju. De Machado de Assis (Dom Casmurro): o triângulo amoroso (Bentinho-Capitu-Escobar),que se repete no Cais da Sagração – ainda que inovado, como se pode conferir, tendo o representante masculino entre duas mulheres (Lourença-MestreSeverino-Vanju), e num clima de paz e tranqüilidade, sem as costumeiras intrigas e rivalidades, o ciúme... – próprios dessa circunstância relacional. Clima de Paz e tranqüilidade, ressaltemos, que se deve a Lourença, primeira mulher do Mestre Severino que, apesar de não ter ignorado, mas até sofrido, com o casamento de seu homem, procura adaptarse à nova situação, aceitando Vanju como amiga, dedicando-lhe um amor fraterno (assim inovando-se o tradicional triângulo amoroso). Certamente inspirada nas leituras bíblicas diárias, procedidas por Josué Montello (a Bíblia do seu pai, pastor protestante, que tanto desejava que o filho o sequenciasse, na senda religiosa/evangélica), Lourença é personagem magnânima,que se delineia na obra como modelo de perfeição humana. Assim, ao ver o seu homem chegar com a bela Vanju, retira seus pertences do quarto do casal, indo ocupar o aposento de hóspedes, responsabilizando-se por todos os afazeres domésticos da casa, cuidando de Vanju (quando grávida e parturiente). A propósito, vale lembrar, Vanju rima com Capitu. Melhor dizendo, Vanju remete a Capitu – no que tange à sensualidade, à atração erótica. Duas mulheres, por sinal, um tanto quanto à frente de seu tempo: avançadas, rebeldes, personalidades fortes...Os “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” da personagem machadiana, substituem-se, na personagem monteliana, por uma dubiedade que se lhe é concernente,refletindo-se em sua maneira de ser: moça da cidade, bonita, simpática, risonha, vistosa, 91

- mas sem o assassinato de Helena. -versão literária dos ecos ancestrais de uma antiga lenda celta (sec. IX – Reinado de D. Marco), baseada em fatos reais, normal e possivelmente desenrolados na Cornualha, província da Grã Bretanha (reino de Marco). 93 - como Eça de Queiroz, Sthendhal, Dostoievski, Tolstoi, Perez Galdós, Pio Baroja... 92


extrovertida, atraente, sensual, inconstante, vaidosa, sempre bem arrumada, a se exibir na janela... Apta a seduzir, enfeitiçar, desequilibrar até mesmo um ser humano já tão experimentado na vida, como o Mestre Severino – a quem responde com firmeza e segurança, “olho no olho”, que só partirá com ele, para Alcântara, deixando (“aquela vida”) casada, “de papel passado”. A dúvida machadiana (instigante/intrigante) sobre a traição conjugal de Capitu, também se repete no Cais da Sagração, em relação a Vanju. Mestre Severino também desconfia, mas não tem certeza da infidelidade da esposa/ex-amante – incerteza que permanece na obra. Em Cais da Sagração, Mestre Severino é personagem paradoxal que, no retratar da coragem, da benquerença, da severidade,a rudeza do homem do mar, como ser humano (maniqueísmos à parte),pode configurar uma síntese do bem e do mal. Homem capaz de matar “por amor” – numa trama que se inicia quase no fim da narrativa, após o clímax emotivo da história (a morte, por assassinato, de Vanju, fato que vem a se esclarecer só no último capítulo) o que, entretanto, não vem a obscurecer um enredo, em cuja tessitura, presente e passado se vão alternando, sem desconstruir a unidade romanesca.Obra-prima da literatura contemporânea, a reunir, harmonicamente, em sua estrutura narrativa alinear (seguindo a técnica do flash-back): ação, tempo,espaço, personagens. Obra aberta, o que já se lhe confere um estigma de modernidade. Enfim, ler a romanesca montelliana é encontrar um tesouro, uma jóia preciosa da Arte da Palavra; é conhecer um grande clássico, um mago da Literatura universal – contemporânea e de todos os tempos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32 ed. São Paulo: Cultrix, 1995. CORRÊA, Dinacy. DA LITERATURA MARANHENSE; O Romance do Século XX. São Luís-MA; Eduema, 2016. FARIA, Octávio. In: MONTELLO, Josué. Os Tambores de São Luís. São Paulo: Martins, 1971 (aba esquerda da obra). HILL, Telênia. Josué Montello: pedra preciosa. In: Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Ano IV, Edição 120 (20/01/2007). www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina674.htm dbgdf

MONTELLO, Josué. Cais da Sagração. São Paulo: Nova Fronteira, 1976. QUEIRÓS, Raquel. In: MONTELLO, Josué. A Coroa de Areia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979 – aba esquerda da obra.









TERRA SEM CHUVA VIÉS PSICOLÓGICO DILERCY ADLER Estou de acordo que um esquizofrênico é um esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é um homem e tem necessidade de afeto, de dinheiro e de trabalho; é um homem total e nós devemos responder não à sua esquizofrenia, mas ao seu ser social e político. Franco Basaglia Primeiramente quero parabenizar o Projeto e todos aqueles que trabalharam neste vídeo Terra sem Chuva,que trata de um tema tão pertinente e tão doloroso do nosso cotidiano, do cotidiano de muitas famílias e, ainda mais, em intrínseca relação com as condições da estrutura econômica da nossa sociedade. E introduzindo o tema, propriamente dito, me deparo com as seguintes questões: O que é loucura?O que é lucidez? Vou responder inicialmente a essas interrogações recorrendo a uma piada Clássica sobre os hospitais psiquiátricos: O visitante entrou no hospício, viu todos aqueles loucos e perguntou a um deles: “-todos os loucos da cidade estão aqui dentro?” A resposta foi imediata: “ – Não, senhor. Aqui dentro está o Estado-Maior. O grosso da tropa está lá fora mesmo. Pág.7 SERRANO, p.07, 1982). A loucura sempre foi um fenômeno social com uma múltipla gama de interpretações. Resumidamente, de forma esquemática poderíamos dizer que: -Na Idade Média, era interpretada num paradigma Teológico, uma ordem divina como Razão própria, embora diferente.Fazia parte de um plano de Deus e todos tinham responsabilidade pelos loucos, dentro de um espírito de caridade, mediante dessa atitude as pessoas podiam salvar as suas almas, ou seja, por meio da caridade, os abastados poderiam salvar as suas almas. Já os loucos gozavam de uma relativa liberdade e eram considerados inocentes. - Com o advento do capitalismo, as cidades cresceram e passaram a apresentar problemas sanitários e econômico- sociais, junto com um aumento exacerbado da miséria e nesse contexto era interpretada como Razão errada. Os pobres e loucos passam a ser temidos e considerados vagabundos, passam a ser vistos como parasitas (que não produzem lucro para a nova ordem econômica). Daí surgiu a ideia da necessidade de internação, de confinamento, objetivando afastá-los do convívio público e/ou obrigá-los ao trabalho. Loucura nesse contexto passa a ser considerada perda da razão, ou parte dela, doença, alienação e incapacidade de pensar logicamente. As sociedades dos séculos XIX e XX buscam explicações dentro de parâmetros de comportamentos próprios, que negam as perversas contradições em suas organizações. O certo é que tememos a loucura; a sociedade humana a rejeita e a figura instaurada no imaginário coletivo é similar à do inferno. Assim, nos entendemos como normais e a sociedade como harmoniosa e perfeita. E os limites são traçados: de um lado, os loucos e, de outro, os sãos. Tememos a loucura e a negamos no nosso dia a dia. Ao ser negada, precisa ser projetada e a projetamos no outro. Aqueles que mais se desviam das normas vigentes passama ser os doentes, então projetamos neles as nossas angústias, pensamentos ilógicos. A ciência não é neutra e assim, a Psicologia e a Psiquiatria refletem a mentalidade da própria realidade objetiva, que por sua vez cria a visão de mundo, as ideologias. De fato, há um fio muito tênue entre a loucura e a lucidez. Para elucidar mais estas reflexões, façamos uma pequena análise, tomando como exemplo a estrutura


da organização social mundial, destes dois últimos séculos: - Até meados do século XX, existiam duas potências no cenário mundial: Estados Unidos da AméricaEUA e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -URSS. As duas possuíam, já naquela época, capacidade de destruir o planeta cem vezes com suas armas nucleares. - Dois terços da população mundial não consomem o mínimo de alimentos necessários para uma sobrevivência adequada. Daí, vejamos: - Por que a capacidade para destruir a terra cem vezes se ela é uma só? - Qual a racionalidade de um governante que autoriza bombardeios em cidades inteiras, dizimando populações? - Por que aquele que mais trabalha é aquele que é excluído da divisão dos bens e serviços? - Por que toneladas de alimentos se deterioram ou são queimadas, enquanto dois terços do planeta não têm acesso a uma alimentação necessária? Então como podemos interpretar essas condições da ordem econômico – - social mundial? Fica claro que nesse contexto parecemos totalmente loucos, na medida em que não percebemos racionalidade no mundo em que vivemos. Convém lembrar que no plano individual o comportamento só é considerado racional ou irracional em função do contexto social em que essa pessoa está inserida. Agora podemos voltar à piada (lúcida) do início da minha fala: “-todos os loucos da cidade estão aqui dentro?” Para Laing e Cooper (1987), a normalidade não significa o mesmo que sanidade nem o avesso da loucura. O normal é estabelecido em termos estatísticos, ou seja, normal é tudo aquilo que a maioria das pessoas de uma determinada sociedade faz. Normal, portanto, é aquele que se adapta às prescrições, mesmo que a sociedade seja opressiva e desumana. Desempenha os seus papeis sem questionar, não se arrisca na busca da desconstrução da perversidade. A sanidade transcende o estado de normalidade (normalidade parada), traduzida na rejeição dos papeis sociais vigentes e concomitantemente na busca de estratégias para evitar a invalidação dos seus comportamentos, por parte dos ditos normais. No estágio de sanidade encontram-se os indivíduos criadores, revolucionários. A normalidade não cria nada. Nela o indivíduo apenas se adapta A discussão sobre sanidade, loucura e normalidade é, portanto, ampla e instigante e extrapola o campo das ciências naturais. Nas suas análises, é imprescindível a consideração de premissas teóricas das ciências sociais e humanas, entre elas a Filosofia e a Política. A vida é política e a opção por teorias e métodos para compreendê-la e atuar sobre ela é também política. No vídeo Terra sem chuva, contemplado com vários prêmios, um louco foge do manicômio em busca da lucidez da cidade e,ao percorrê-la depara-se com a verdadeira loucura que lhe aparece como sonho que as pessoas são obrigadas a viver, no dia a dia. Por fim, o louco acaba retornando ao manicômio, onde poderá viver sua vida em bases mais concretas e mais acertadas. Ou seja, o roteiro trabalha inteligentemente com dois vieses imbrinca dos que não podem ser entendidos separadamente: o da saúde mental e o da organização social. Senão,vejamos, as experiências e emoções são internalizadas e elaboradas e, posteriormente, e manifestadas na realidade social e essa internalização tem a ver com os estímulos experiencia dos na/da realidade objetiva.


Enquanto a Psiquiatria clássica considera os sintomas da doença mental como sinal de um distúrbio orgânico, a antipsiquiatrias e afirma como negação radical da Psiquiatria tradicional ou clássica, compreendendo que a doença mental é uma construção a partir da relação do indivíduo com a sua sociedade, isto é, que a doença mental não existe em si, mas é uma ideia construída, uma representação para dar conta de diferenciar, isolar determinada ordem de fenômeno que questiona a universalidade da razão. Diante disso, não é possível discutir a questão da normalidade e da patologia sem referência às contribuições de Freud, ousado teórico revolucionário que quebra paradigmas da ciência, num contexto conservador e opressor (06 de maio de 1856 a23 de setembro de 1939). Para a Psicanálise, o que distingue o normal do anormal é uma questão de grau e não de natureza, isto é, nos indivíduos considerados normais e nos considerados anormais existem as mesmas estruturas de personalidade e de conteúdo, que, se mais, ou menos ativadas, são responsáveis pelos distúrbios no indivíduo. Essas são as estruturas neuróticas e psicóticas. Também Michel Foucault, Erving Goffman, Gilles Deleuze, Félix Guattari e outros criticaram o poder e o papel da psiquiatria na sociedade, incluindo a utilização de instituições totais, rótulos e estigmas. Assim, Foucault argumentou que os conceitos de sanidade e loucura são construções sociais que não refletem padrões quantificáveis de comportamento humano e que por issoa doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal. Como estamos em um evento Literário, não posso deixar de fazer alguma referência ao escritor e, em especial, me permitam, ao poeta,me reportando a Freud. Ele nos seus textos: O poeta e a fantasia e A interpretação do sonho se refere à questão do desejo. Isso significa dizer que psicanaliticamente falando existe uma estreita relação entre o sonho, o mito e o poema, ligados pelo fio do desejo. O sonho desfigura o desejo, desestruturando-o, fragmentando-o. A angústia do sonho é o desejo não realizado. Mas o desfigurado necessita reconfigurar-se, reestruturar-se e isso é viabilizado pela interpretação simbólica terapêutica (com a ajuda do terapeuta) e a interpretação simbólica poética (elaborada pelo poeta). Assim, argumenta Bion, "o sonho é um mito individual enquanto o mito é um sonho coletivo". E o poeta diz ambas as coisas, o sonho individual e o coletivo (REZENDE, 1993, p. 114). O poeta faz-se instrumento de acesso ao espaço do mito, através do uso poético das figuras e todo mito é poético. A poesia cria um espaço comum ao sonho e ao mito (REZENDE, 1993, p. 116). Para finalizar, acho pertinente utilizar uma comparação entre o poeta (artista) e o louco feito por COOPER, citada por João Francisco no seu livro "Política da Loucura" que diz: [...] ambos mergulham num mundo para além das palavras, dos símbolos, das verdades estabelecidas, num mundo dos sentimentos e das emoções. Contudo, o louco não consegue voluntariamente retornar desse mergulho, o artista retorna através da sua obra, retorna concedendo ao mundo uma transcrição de sua viagem interior (Duarte, 1987, p.70). Essa afirmativa comprova os vários papéis do poeta e, principalmente, o de profeta no sentido da busca, da mais necessária verdade, a verdade interior, a verdade negada como resultado da pressão exterior, das normas, da intolerância, dos pré-conceitos próprios do coletivo humano. Aí a presença da palavra do poeta- profeta se faz pertinente para a restauração, o resgate do desejo e da identidade perdidos, ao longo da vida do homem. ABENÇOADO DOMINGO Dilercy Adler Domingo à tarde nos olhos vagos entristecidos abrutalhados pela dor e solidão repentinamente aveludados


pela Santa Clara naquela prisão prisão de corpos sepulcros de mentes de tantos domingos solitários!... por entre as árvores daquele pátio tão sujo tão desumano ele vagueia em transe místico erótico eloqüente -vê Santa Clara – em beleza ardente corpo de mulher sacro e profano trazendo à sua mente memórias... Santa Clara! Santa Clara! não se vá ~ fique comigo um pouco mais! grato momento de fantasiosa lucidez grita em seu corpo vibra em sua mente quente libido desejo de mulher imaculada santa pecaminosa profana naquele momento ímpar nessa prisão insana desse bendito domingo! REFERÊNCIAS BASAGLIA, Franco. A Psiquiatria Alternativa. São Paulo: 1972. BERLINGER, G.. Psiquiatria e Poder, Belo Horizonte: Interlivros, 1976. DUARTE. João Francisco Jr. A Política da Loucura: a antipsiquiatria. Campinas/SP Papirus Editora, 1987. FOUCAULT, M.A História da Loucura na Idade Clássica (1961). 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997. LANE, Sílvia T. Maurer. O que é Psicologia Social. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Cortez, 1985. MOFFAT, Alfredo. Psiquiatria do Oprimido. São Paulo: Cortez, 1980. REZENDE, Antonio Muniz de. Bion e o futuro da psicanálise. Campinas/SP: Papirus, 1993.


SERRANO, Alan Índio. O que é Psiquiatria Alternativa. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Cortez, 1982. STACY, Barrie. Psicologia e Estrutura Social. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1975. WHELDALL, Kevin. Comportamento social. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1976.




Membros da AICLA participaram da I Semana Maranhense de Literatura, realizada de 9 a 12 de agosto no Espaço Cultural AMEI, shopping Sāo Luís.


CONVITE Lançarei amanhã, sábado, 12 de agosto de 2017, uma pequena publicação sobre o município de Pio XII, e, para coroar de brilho o evento, convido Vossa Senhoria e família a se fazerem presente. Local: Espaço Cultural da livraria da Associação Maranhense de Escritores Independentes – AMEI, no Shopping.

PIO XII Sua história, sua gente.

Data: 12 de agosto de 2017 Horário: 17 horas. Conto com vossa presença João Francisco Batalha





UIMAR JUNIOR – BUSTO DE GONÇALVES DIAS


RECEPCIONANDO OS CONvIDADOS


DIOGO BONFIM – ESCRITOR E MÚSICO PROPORCIONANDO O FUNDO MUSICAL



MESTRE DE CERIMONIAS – LEOPOLDO G. D. VAZ Senhoras e Senhores, obrigado pela presença. Em nome da Academia Ludovicense de Letras, da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA - e da Associação Maranhense dos Escritores Independentes – AMEI -, damos as boas vindas a todos, e passamos a compor a mesa de abertura, desta Assembléia Geral Extraordinária, Pública, Solene, em comemoração ao quarto aniversário de fundação da ALL. Gostaria de dizer uma palavras, iniciais, à título de esclarecimento: como propalado desde o primeiro dia, quando da abertura desta I Semana Maranhense de Literatura, promoção da FALMA, ALL e AMEI, e da I Semana Ludovicense de Literatura, da ALL, não sou, realmente, o responsável, ou propositor, da execução das mesmas. No primeiro ano de existencia da ALL, lembrei aos nobres confrades que havia uma Lei, emanada da Camara Municipal de São Luis, proposta do então vereador Ivan Sarney, de realização de uma semana de litertura, a acontecer na segunda quinzena de julho, para divulgação e promoção do autor ludovicense e maranhense... deviamos, então, como a Academia do Municipio de São Luís, nos responsabilizar pela execução dessa Lei, haja vista que, neste país, Leis pegam ou não; esta, não pegou... Argumentando que estava muito em cima da hora, naquele ano de 2014, deixamos para, a partir de 2015, promover a mesma; ao mesmo tempo, o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, sobre a administração da Academica Profa. Ceres Costa Fernandes, junto com a FALMA, estavam promovendo a I Mostra da Literatura Maranhense, em que se procurava reunir todas as Academias de Letras interioranas, num evento na Capital. Nos integramos nessa empreitada... Realizadas duas Mostras, houve, como natural, a troca da administração estadual, e logo em seu inicio, nomeado o novo administrador do “Odylo”, o procuramos, para nos apresentarmos, e falar da programação para aquele ano, e da realização da III Mostra, e de nossa I


Semana Ludovicense... argumentando que estava recém-empossado, e retornando ao Maranhão após longos anos fora do país, e da cidade, por conta de estudos de doutorado, primeiro precisava tomar pé da situação, e das possibilidades, pois ainda não havia um Calendário de Eventos - uma programação – preparada, mas que estudaria com carinho nossa proposta, de parceria, entre os entes – ALL e FALMA – na realização da Mostra de Literatura, Maranhense e Ludovicense... tão ‘carinho’, que até hoje, tres anos e meio após este primeiro encontro – e repetidas solicitações – não fomos chamados para discutir, nem mesmo uma satisfação nos foi dada... Voltamos, então à carga, lembrando que já fora aprovada em Assembléia a realização da Semana Ludovicense de Literatura, e que deveriamos estar, neste ano de 2017, realizando a sua terceira edição, assim como a III Mostra, da FALMA, decidiu-se que sim, se daria seu início, reinventando-se a roda, isto é, começariamos tudo do zero... Zuenir Ventura já disse que, a cada 15 anos, começamos novamente nossa História, esquecendo-se dos ultimos 15 anos; no Maranhão, esse ciclo é mais curto: a cada quatro anos, esquecemo-nos dos ultimos quatrro e, após a permitida reeleição, e em esta ocorendo, a cada oito anos, inicia-se um novo ciclo: é o que está ocorrendo!!! A atual administração não deu continuidade aos eventos que até então vinham se realizando, pois iniciativa de administração anterior, como se Políticas Públicas, e desta da Cultura, sejam apequenadas, como politicas de governo... mudado este, mudam-se as politicas, reinventando-se as tradições; a simples continuidade, mesmo em sua segunda realização, e apenas nesta, já se convencionou chamar de ‘tradição’, da ‘tradicional’, mudando-se o nome, e começando da primeira... Pois bem, estamos incorrendo no mesmo erro, iniciando uma ‘nova tradição’, e dentro do tradicional costume, de inicarmos uma I Semana de Litertura Maranhense – quando deveria ser, já, a V... – e a nossa I Semana da Ludovicense – quando deveria ser, já, a III... Só foi posível, esta realização, com a parceria da AMEI. Cedendo-nos espaço, palavra, tempo, trabalho... esperamos que essa parceria, ALL, FALMA, AMEI venha se tornar sólida, ainda mais, e dar continuidade às nossas propostas. Esperamos que as Academias do interior venham a depositar, novamente, a confiança no trabalho da FALMA, comparecendo no próximo ano – e nos seguintes. Como foi dito na abertura pela Confreira Ceres, há vida inteligente para além do Estreito dos Mosquitos... a quantidade de livros, aqui expostos, não só das Academias participantes oficialmente deste evento, em número de sete!!! – mas mais de mil títulos de autores maranhenses, à venda nesta Livraria dedicada... AMEI... amém... oremos... obrigado!!!! Chamamos: Dilercy Adler, da ALL, Álvaro Ramos, da FALMA, e Jucey Santana, da AMEI; que se iniciem os trabalhos, comemoração do quarto aniversário de fundação da Academia Ludovicense de Letras, e encerramento das duas Semanas – Maranhense e Ludovicense – de Litertura...


ABERTURA – HINO NACIONAL


FALA DA PRESIDENTE DA ALL ABARCANDO O MUNDO COM AS PERNAS NESTES QUATRO ANOS DE FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENDE DE LETRAS-ALL DILERCY ADLER Presidente e Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL e ocupante da Cadeira Nº 08, patroneada por Maria Firmina dos Reis.

Der Geist der Zeit (O espírito da época) aceita ou rejeita ideias em um determinado tempo e sociedade, a exemplo da aceitação da escravidão africana; da ideia da superioridade ariana; ou a rejeição das premissas teóricas de Freud; das ideias de Marx; determinadas obras artísticas e literárias. São infindáveis os exemplos. Isso tudo nos remete à necessidade de aceitação da multiplicidade e do cuidado com a rigidez de interpretação e, principalmente, com o entendimento da nossa interpretação como única e completa, ou seja, a absolutização da minha verdade. Dilercy Adler Neste aniversário de quatro anos de fundação da nossa amada Academia Ludovicense de Letras ALL, optei por iniciar a minha fala em sua homenagem usando um recurso da língua portuguesa, o adágio, que significa uma máxima, uma sentença moral de origem popular, que traduz a sabedoria do povo, que interpreta a realidade vivida, sem os recursos da erudição e, nem por isso, menos importante, pelo contrário, esses enunciados devem ser considerados e levados muito em conta. Mas, porque a escolha do abarcando o mundo com as pernas, para parabenizar o ilustre Gonçalves Dias, que emprestou o seu aniversário, comungando a mesma data com o nascimento da ALL,


para parabenizar Maria Firmina dos Reis, a sua patrona, assim como os seus membros fundadores, os seus membros efetivos e a própria cidade de São Luís? A nossa Academia foi fundada em 10 de agosto de 2013, no aniversário de 190 anos de Gonçalves Dias e, ainda, 401 anos depois da fundação da cidade de São Luís. Até para o tempo histórico, que é diferente do tempo humano, é muito tempo!!!! Por isso a Pressa, por isso a urgência de compensar o tempo perdido! Por isso a necessidade de abarcar o mundo com as pernas. Um tempo perdido... não por falta de intenso desejo de muitos intelectuais da Athenas Brasileira, mas que, por motivos diversos, que eu mesma não sei dizer com precisão, nesses quatro séculos não se efetivou a fundação da academia de letras da cidade. Por isso a pressa, até como obrigação de compensar o tempo perdido... E aí pesa uma grande responsabilidade sobre os ombros de todos aqueles que constituem a confraria da Casa de Maria Firmina dos Reis... Precisamos, sim, abarcar o mundo com as pernas, e nessa tarefa que não é árdua, porque amorosa, devemos Arregaçar as Mangas – concretizando essa tarefa com entusiasmo, dando exemplo, com trabalho sério e competente, nos entregando de corpo e alma. Nessa perspectiva, entendo ainda, que,além de cumprirmos o que reza afinalidade desta Academia, no seu do Estatuto: [...] o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior. E a essa finalidade da ALL acrescento: sem distinção de gênero, credo, raça, religião, condições econômicas, ou outra qualquer que possa segregar cidadãos, pessoas, para que não se repitam injustiças na nossa história cultural. Nesse sentido, devemos reavivar a nossa memória, principalmente no que concerne àqueles que não tiveram o devido reconhecimento no seu tempo ou depois dele, e Maria Firmina dos Reis se encontra entre os ilustres intelectuais que constituem uma plêiade, à qual não foram dedicadas as honrarias que lhe cabem. Tenho a clareza de que, para tornar possível esse objetivo, é indispensável que se percorram caminhos antagonistas daqueles traçados por uma elite intelectual e econômica, que expressa a sua força em tudo aquilo que dita. Pois, como assevera Cruz (2006 p. 265): [...] Venho também insistindo que já é hora de abandonar essa mania de seguir a mesma trilha, de repetição, louvação e imitação, concordando mais uma vez com Zuleide Duarte quando ela cita Robert Frost: “Quem anda sempre pelo mesmo caminho nunca vai saber o que há nas outras estradas e isto faz toda a diferença”. No caso específico de Maria Firmina dos Reis, a despeito de todas as condições e características adversas: mulata, pobre, bastarda, mulher, tudo isso em um Brasil escravocrata no século XIX, ainda assim, com os mais louváveis méritos, e, por isso, Maria Firmina dos Reis viveu uma entrada oficial apreciável na Literatura maranhense, sendo bem recepcionada pela imprensa maranhense, com palavras de entusiasmo e de estímulo à estreante. Segundo Morais Filho, [...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, 1975, p. 3).


Entretanto, ainda conforme esse autor, na mesma obra, Maria Firmina dos Reis foi vítima posteriormente de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas, ou seja, após longo período de hibernação, voltou ao cenário das letras, e suas obras foram reveladas, (re) descobertas, trazidas à luz, pelas abençoadas mãos de Horácio Almeida (paraibano) e Nascimento Morais Filho (maranhense). É pertinente colocar que, esse caminho trilhado por Nascimento de Morais foi alvo de duras críticas à época: E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265). No entanto, a evidenciação da importância de Maria Firmina dos Reis na historiografia maranhense e brasileira por Nascimento de Morais Filho e Horácio Almeida tem agregado adeptos que se renderam ao encantamento da figura humana e da grandeza da história dessa grande mulher. Nesse sentido eu não poderia deixar de citar a cidade de Guimarães, que também apresenta uma vocação cultural digna de destaque, e tem dedicado muita atenção ao louvor e ao culto à memória de Maria Firmina dos Reis, por ter ela vivido a maior parte de sua vida nessa cidade, tornando-se testemunha de suas atitudes, feitos e obras. Mais recentemente estamos nós, da Academia Ludovicense de Letras, também trilhando essa vereda similar à de Guimarães, pois escolhemos Maria Firmina dos Reis como patrona da Casa, por vislumbrarmos no seu perfil intelectual e humano, baluarte perfeito para a efetivação do escopo da Casa: na concretização do desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, na defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, na perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, no culto às origens da cidade e na sua formação pelas letras, na valorização do vernáculo e no intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior (Estatuto da Academia Ludovicense de Letras). E, nestes quatro anos, temos trabalhado com afinco, tanto para a realização do nosso propósito mais geral em relação à cultura quanto no sentido de fortalecer a grandeza de Maria Firmina dos Reis. Destarte, Maria Firmina dos Reis vem se estabelecendo, reconhecidamente hoje, como uma das escritoras mais admiráveis de toda a literatura brasileira... A justiça está sendo feita! E precisamos, intensa e urgentemente, “abarcar o mundo com as pernas”, sim! Para finalizar esta minha fala, vou recorrer a outro riquíssimo adágio popular: Abrir o coração. Precisamos pressurosamente abarcar o mundo com as pernas e abrir os nossos corações para trabalhos grandiosos, para valorização da humanidade de quem está perto de nós, de quem está longe, de quem já se foi e precisa de nossa atenção e carinho. O mundo precisa de Luz! O mundo precisa de Paz! Que a nossa Academia, a exemplo da sua patrona, Maria Firmina dos Reis, possa cumprir essa missão. Parabéns à nossa Academia! Parabéns a todos os que nela comungam cultura e laços fraternos! Parabéns à nossa cidade por ter a sua Academia! E os meus desejos para a Casa de Maria Firmina dos Reis são que: Abarquemos o mundo com as pernas! Arregacemos as Mangas!e Abramos os nossos corações, incondicionalmente, sem restrições, com respeito, tolerância e muito amor ! Obrigada! REFERÊNCIAS CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006. MORAIS José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975.


VICEPRESIDENTE DA FALMA ENCERRA O EVENTO


E GONÇALVES DIAS SE FEZ PRESENTE...

PERFORMANCE DE UIRMAR JUNIOR – MINHA TERRA TEM PALMEIRAS...

MEMBROS DA ALL COM O ILUSTRE ‘VISITANTE’: GONÇALVES DIAS


FOTO OFICIAL Michel, Álvaro, Noberto, Batalha, Miriam, Clores, Jucey, Dilercy, Ceres, ana Luiza, Campos, Macatrão, Leopoldo




Brandão e Dilercy Adler, na feirinha da Benedito Leite, no stand da ALL – 09/07/2017 Registrei a presença, também, minha e Del, Osmar e Osmar Filho e demais familiares, Clores, Felipe... (Leopoldo)

E NA COLUNA DO PH, DE HOJE, 10/07/2017


JUCEY SANTANA NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS http://juceysantana.blogspot.com.br/2017/07/jucey-santana-na-academialudovicense.html?spref=fb

No dia 27 do corrente acontecerá a posse da escritora itapecuruense Jucey Santos de Santana na Academia Ludovicense de Letras. O evento ocorrerá as 19 horas na Academia Maranhense de Letras que tem por presidente o imortal Benedito Buzar. A escritora será recepcionada na solenidade de posse por outro imortal itapecuruense, membro da Academia Ludovicense de Letras, da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, padre Raimundo Gomes Meirelles. Jucey Santana foi eleita para a ALL em 11 de fevereiro para ocupar a cadeira 35 patroneada pelo escritor, professor, folclorista e pesquisador Domingos Vieira Filho que atualmente se tornou objeto de suas pesquisas. Obras Publicadas Com dois livros publicados na categoria pesquisa, Mariana Luz, vida e obra (2014) e Itapecuruenses Notáveis (2016) este já necessitando de uma nova edição por se encontrar esgotado e com grande procura, Jucey ainda tem outras publicações. Em 2016 em parceria com o imortal da AICLA e diretor geral do IFMA de Itapecuru Mirim o professor Inaldo Lisboa, publicou, João Batista: um homem itapecuruense e sua múltipla história, ainda em 2016, em parceria com a escritora e imortal da AICLA Assenção Pessoa publicou a coletânea Inspirações Poéticas, favorecendo as produções poéticas de quatro imortais de Itapecuru Mirim: Maria Sampaio, Geraldo Lopes, Moaciene Lima e Nato Lopes. Em abril de 2017 em parceria com o escritor e pesquisador João Carlos Pimentel Cantanhede publicou a obra Púcaro Literário I que contempla textos de 35 autores maranhense entre os quais vinte e três itapecuruenses, com o objetivo de dar oportunidade aos nossos autores a publicarem suas produções. Além disso, Jucey Santana, já encaminhou mais de uma dúzia de autores maranhenses para publicação de seus livros, sendo tratada carinhosamente por muitos de “madrinha”. Jucey ainda tem dois livros inéditos: Sinópse da História de Itapecuru Mirim e A História da Igreja e padres de Itapecuru Mirim que pretende lançar por ocasião das festividades dos 200 anos de Itapecuru Mirim, em 2018.


Instituições Culturais que faz parte Jucey é fundadora e atual presidente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, faz parte da Diretoria Executiva da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA, da Diretoria da Associação Maranhense dos Escritores Independentes – AMEI, da Diretoria da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APAC, da Diretoria da Academia Nacional de Literatura Moderna – ANLM, da Sociedade de Cultura Latina SCL e agora como membro efetivo da cadeira 35 da Academia Ludovicense de Letras. Porém a que mais lhe causa orgulho é a de ter ajudado a fundar e fazer parte da Academia de Letras da sua cidade a bicentenária Itapecuru Mirim.


REUNIÃO REALIZADA NOS JARDINS DO PALÁCIO DOS LEÕES, PREPARAÇÃO DE UM DOCUMENTÁRIO EM COMEMORAÇÃO AOS 4 ANOS DA ACADEMIA.SALVE DANIEL DE LA TOUCHE, SALVE!


FEIRINHA DE SÃO LUIS 23/JULHO/2017


ASSEMBLÉIA GERAL 29/07/2017

JUCEY, BATALHA, ALDY, LEOPOLDO, CLORES, MIRIAM, DILERCY, BRANDÃO, LUNA, ZÉ FERNANDES, SANATIEL, NOBERTO – NA CAMERA MEIRELES

JUCEY, BATALHA, ALDY, LEOPOLDO, CLORES, MIRIAM, DILERCY, BRANDÃO, LUNA, ZÉ FERNANDES, MEIRELES, NOBERTO – NA CAMERA SANATIEL


PEDRA DE TOQUE DESAFIOS à TEORIA ECONÔMICA/ CHALLENGES TO THE ECONOMIC THEORY”

Durante grande parte do meu tempo de professor universitário, na UEMA e na UFMA, até minha aposentadoria, em 1997, ensinei Teoria Econômica e Política Monetária. Artigos selecionados, entre 2008 e 2015, e reunidos em Livro, sob o patrocínio da EDUFMA, abordam assuntos que vão desde o uso de instrumentos de política monetária tradicionais em um sistema capitalista a práticas heterodoxas, por parte dos bancos centrais, no uso desses instrumentos. Para complementar, esse conjunto de ideias foi ilustrado com a história do pensamento econômico e traçados cenários. Meu livro faz indagações e propõe uma tese: por que o chamado afrouxamento monetário (“quantitative easing”) praticado pelo banco central americano, o Federal Reserve, não causou inflação? A teoria econômica necessitaria de novas formulações ou os especialistas, principalmente os economistas, estariam combinando mal os modelos existentes? Meu terceiro livro, repito, foi escrito no decorrer da chamada crise da “bolha”, iniciada nos Estados Unidos e repercutida principalmente nos países da zona do euro. É um livro técnico, de fácil leitura, não seqüenciado de começo, meio e fim. Ao longo do tempo fui produzindo textos à medida que a crise se desenvolvia; ao todo são quarenta selecionados. Está dividido em três partes, que podem ser lidas sem preocupação de seqüência; entretanto, os textos da terceira parte estão embasados nas teorias expostas na primeira e nos cenários traçados, na segunda. Não tive a intenção de estabelecer contradições entre a teoria econômica existente, tradicional e consagrada pelos grandes autores, e que é ainda ministrada nas Universidades. Acabei levantando uma tese em virtude de medidas heterodoxas adotadas pelo Federal Reserve – FED, o banco central americano, para combater a crise; é que políticas de auxílio à liquidez, de afrouxamento monetário (“quantitative easing”) não causaram inflação. A questão acima levanta indagações sobre a Teoria Quantitativa da Moeda e sua velocidade de circulação; Base Monetária e seu multiplicador. Os autores, professores e acadêmicos sabem que excesso de


meios de pagamento sobre bens e serviços disponíveis não são compatíveis. Estou propondo discutir essa tese. O que estaria acontecendo: usamos mal os modelos econométricos existentes ou a Teoria econômica estaria necessitando de novas formulações?


FEIRINHA DE SÃO LUIS – 30/07/2017

HOJE, A BARRAQUEIRA FOI A CLORES...



CONCURSO NACIONAL NOVOS POETAS. PRÊMIO CNNP 2017. Estão abertas as inscrições para o Concurso Nacional Novos Poetas, Prêmio CNNP 2017. Podem participar do concurso todos os brasileiros natos ou naturalizados, maiores de 16 anos. Cada candidato pode inscrever-se com até dois poemas de sua autoria, com texto em língua portuguesa. O tema é livre, assim como o gênero lírico escolhido. Serão 250 poemas classificados. A classificação dos poemas resultará no livro, Prêmio CNNP 2017. Antologia Poética. O certame está entre os mais destacados concursos literários da língua portuguesa. A licença poética em pleno exercício, através do ineditismo da nova poesia em sua forma e conteúdo. A poesia contemporânea, egressa do cotidiano, merecedora das condições de permanência entre o que há de melhor no patrimônio literário brasileiro. Concurso literário e uma importante iniciativa de produção e distribuição cultural, alcançando o grande público, escolas e faculdades. Inscrições gratuitas De 05 de junho a 05 de setembro de 2017 pelo site: www.cnnp.com.br Realização: Vivara Editora Nacional Apoio Cultural: Revista Universidade


VIII Seminário Internacional / XVII Seminário Nacional Mulher e Literatura “Mulher e Literatura: transgressões, descentramentos, subversão” UFBA - Salvador, 17 a 20 de setembro de 2017 Mesa Maria Firmina dos Reis – Centenário de uma precursora Coordenadora/Debatedora: Norma Telles (PUC SP) Escravidão e patriarcado na ficção de Maria Firmina dos Reis Eduardo de Assis Duarte UFMG/CNPq Ao publicar Úrsula em 1859, Maria Firmina dos Reis traz para a nascente literatura brasileira nada menos do que o primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa. A esse gesto inédito no território da lusofonia, acrescenta-se a perspectiva de crítica ao patriarcado senhorial e escravista enquanto formação social de opressão tanto do negro quanto da mulher. A presente intervenção objetiva uma leitura atenta à interseção entre gênero e etnicidade nos escritos da autora, que a coloca em pé de igualdade com suas contemporâneas de outros países e revela o quanto a autora foi, “mulher de seu tempo e de seu país”. A dissonante representação pictórica de Maria Firmina dos Reis: como desfazer os equívocos? Rafael Balseiro Zin PUC SP/Neamp A presente proposta tem por objetivo desenvolver uma reflexão crítica acerca da representação pictórica da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, cuja fisionomia, mesmo sendo desconhecida dos autos da história e da historiografia literária nacionais, continua sendo veiculada de modo errôneo e distorcido, tanto em ambientes físicos quanto virtuais. Ao realizar uma leitura sincrônica e de imersão das principais imagens que são utilizadas para se referir à autora, o que se pretende é despertar a atenção da comunidade acadêmica e do conjunto da sociedade para os impactos negativos que esse tipo de abordagem gera, sugerindo, ao mesmo tempo, caminhos possíveis para se desfazer os equívocos. A mulher Maria Firmina dos Reis: uma maranhense Dilercy Adler FCM-M/ALL/IHGM Apresentação da vida e obra de Maria Firmina dos Reis. Parte-se da etnicidade e identidade étnica, desde a sua concepção biológica, passando pelas marcas deixadas por essa condição na sua vida pessoal e na sua obra. Procura-se evidenciar, neste breve estudo, os estereótipos e preconceitos por ela vividos e a sua forma de lidar, no sentido da desconstrução desses na sociedade vigente. Ainda, o percurso na historiografia maranhense por ela trilhado: desde uma aceitação considerável da sua obra, inicialmente, seguido por um esquecimento, uma amnésia por quase um século e, finalmente, mais recentemente, o seu ressurgimento pelas mãos de Nascimento Moraes e Horácio Almeida e, também, pela cidade de Guimarães/MA onde viveu a maior parte de sua vida e veio a falecer, que cultua a sua memória e pela Academia Ludovicense de Letras-ALL, Academia de Letras da cidade onde nasceu, São Luís, fazendo-a Patrona da sua Casa: Casa Maria Firmina dos Reis.


A MULHER MARIA FIRMINA DOS REIS: uma maranhense DILERCY ARAGÃO ADLER RESUMO Apresentação da vida e obra de Maria Firmina dos Reis. Parte-se da identidade étnica, desde a sua concepção biológica, passando pelas marcas deixadas por essa condição na sua vida pessoal e na sua obra. Procura-se evidenciar, neste breve estudo, os estereótipos e preconceitos por ela vividos e a sua forma de lidar com eles para desconstruí-los na sociedade vigente. Discorre-se sobre o percurso na historiografia maranhense por ela trilhado: desde uma aceitação considerável da sua obra, inicialmente, seguido por um esquecimento, uma amnésia por quase um século e, finalmente, mais recentemente, o seu ressurgimento pelas mãos de Nascimento Morais Filho e Horácio de Almeida. Também a cidade de Guimarães/MA onde viveu a maior parte de sua vida e nela veio a falecer, cultua a sua memória, bem como a Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis, a Academia de Letras da cidade onde nasceu, São Luís/Maranhão, que a escolheu como Patrona.

Palavras-chave: Maria Firmina. Vida. Obra.

INTRODUÇÃO Para mim, é uma grande honra atender ao convite da organização deste evento, na pessoa da professora Nancy Vieira, por indicação de Luiza Lobo, para integrar esta mesa de Maria Firmina dos Reis: Centenário de uma Precursora. Também é um imenso prazer estar ao lado do Professor Eduardo de Assis Duarte (UFMG), do Professor Rafael Balseiro Zin (PUC São Paulo) e da Professora Norma Telles (PUC São Paulo), sendo este momento uma demonstração de que o pássaro Sankofa maranhense, o grande Nascimento de Morais Filho, com suas duas cabeças, uma voltada para o passado e outra para o futuro, ao dedicar-se, incansavelmente, para ressignificar Maria Firmina dos Reis, como mulher, como professora e como escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira, conseguiu consolidar as suas intenções e motivações. Falar de Maria Firmina dos Reis é uma missão de amor, o que declaro no Elogio que fiz a ela como parte do ritual de ocupação da Cadeira de número 08, por ela patroneada, na Academia Ludovicense de Letras - ALL. No entanto, tenho a clareza de que esta não é uma tarefa fácil, considerando as condições objetivas da época em que Maria Firmina viveu. Tempo pródigo em escassez de fontes de registros, e estes por vezes, apresentam dados distintos e mesmo inexistência de imagens. Neste caso específico, a que melhor representa Maria Firmina dos Reis é o busto esculpido, em sua homenagem, por Flory Gama, construído à base de informações prestadas por vimarenses (os cidadãos da cidade de Guimarães, no estado do Maranhão, Brasil que conviveram com a Mestra Régia, como a Dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista, na residência da Praça Luís Domingues, e a Dona Eurídice Barbosa, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó. Ainda sobre o busto de Maria Firmina em seu livro Maria Firmina: Fragmentos de uma vida, editado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado -SIOGE, no Maranhão, Nascimento Morais Filho (1975, p. 259) diz: O BUSTO – ao Flory Gama - notável escultor brasileiro – que se reencontra depois de muitos anos – artística e sentimentalmente – com a terra berço na memória rediviva de Maria Firmina dos Reis– a Comissão deu-lhe a liberdade de concepção da figura homenageada. No mesmo livro Morais Filho (1975, p. 259) se refere aos traços físicos de Maria Firmina dos Reis, mencionando: TRAÇOS FÍSICOS – Nenhum retrato deixou Maria Firmina dos Reis. Mas estão acordes os traços desse retrato falado dos que a conheceram ao andar pelas casas dos 85 (oitenta e cinco) anos:


Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros, nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos), morena. Constato com pesar que, comumente, a imagem da Escritora Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida pelo pseudônimo de Délia, é veiculada erroneamente como sendo de Maria Firmina dos Reis. Maria Benedita é, de fato, uma cronista, romancista, contista e jornalista que nasceu em 25 de novembro de 1853, na cidade de Porto Alegre/Rio Grande do Sul e faleceu em julho de 1895, no Rio de Janeiro/RJ. Ainda chama a atenção que aparece na maioria das pesquisas e trabalhos a mesma foto de Maria Benedita tanto para retratar ela própria quanto Maria Firmina. Este é um dos maiores cuidados da ALL hoje: desfazer esse inaceitável equívoco. O MARANHÃO DE MARIA FIRMINA DOS REIS Antes de me reportar aos dados pessoais de Maria Firmina, passando por sua etnicidade, convém elencar alguns dados socioeconômicos do lugar do seu nascimento, o Maranhão, já que destaquei a sua maranhensidade, elegi o termo para compor o subtítulo do trabalho e, também considerando a possibilidade de haver, segundo Lígia Teixeira (2013),se há uma aura de maranhensidade no espírito do sujeito nascido nas terras timbiras, entranhada nos sinuosos códigos da subjetividade contemporânea do maranhense. Outra motivação, não menos importante, se firma na crença de que as condições sociais objetivas, a partir, também, da posição social e econômica que um sujeito ocupa na sociedade, o marcam, indelevelmente. Segundo Ferreira (2008) apud Pereira Filho (2016), o Maranhão surgiu como unidade geográfica e política em 1534, quando a Coroa portuguesa dividiu o território brasileiro em 15 lotes que receberam a denominação de Capitanias Hereditárias, um resquício da cultura feudal. Posteriormente ocorreram mais seis divisões e somente em 1920 o Maranhão alcançou a atual conformação territorial (FERREIRA, 2008). O Maranhão teve um surgimento glorioso no cenário econômico da Colônia no século XVII, em plena vigência do Mercantilismo. Isso porque encontrava-se inserido no mercado internacional, desde a expulsão dos franceses, em 1615. A economia maranhense estava em seu apogeu, com a vinda da família real para o Brasil em 1808 e com a abertura dos portos. O comércio exterior da Capitania girava em torno de um milhão de libras por ano e movimentava mais de 100 navios. Nesse período, a economia do Maranhão superava a de Pernambuco e só era menor que a da Bahia. Ainda por volta de 1774, o Maranhão liderava o PIB per capita do Brasil com 112 dólares. (Arruda, 1980 apud Ferreira Filho, 2016). Em 1895, o Maranhão ocupava o segundo lugar entre os estados industriais à frente da Capital Federal, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo. O primeiro era o de Minas Gerais. Mas, uma série de fatores foi determinante para que não se firmasse como estado industrial a partir do começo do século XX. Dentro do contexto histórico da belle époque, a vida cultural no Maranhão ganhou em intensidade e expressividade. A literatura foi colocada em foco e grandes intelectuais e escritores sobressaíram no cenário nacional. Nomes, como os de Gonçalves Dias, João Lisboa, Cândido Mendes, Odorico Mendes, Sousândrade, Humberto de Campos e outros, constituíram aquilo que fez do Maranhão o grande cenário da poesia, da prosa e da produção jornalística no século XIX, o que levou a cidade de São Luís, hoje patrimônio cultural da humanidade, a ser agraciada com o título de Athenas Brasileira. Era comum os filhos das famílias abastadas estudarem na Europa, principalmente em Portugal, mas também nessa época, embora fosse reservada educação específica para as mulheres, esta não incluía estudos mais avançados. A participação das mulheres no mundo da escrita, e principalmente da escrita pública, era bastante reduzida no século XIX. A participação feminina naquilo que Henriques Leal intitulou “Pantheon Maranhense” (LEAL, 1987) era rara, visto que as mulheres passaram muito tempo sem acesso à educação e à possibilidade da escrita.


No caso de Maria Firmina, as barreiras a serem transpostas eram recrudescidas, pois, enquanto os homens brancos e ricos iam para a Europa estudar nas melhores faculdades, até meados do século XIX, poucas eram as mulheres educadas formalmente. A educação para mulheres, ainda de forma precária, foi iniciada no período imperial, com a chegada da família real ao Brasil. A partir de então, segundo Lívia Menezes da Costa Molina, as mulheres começaram a moldar uma nova visão acerca do seu papel e passaram a materializar, nas artes, o instrumento de visibilidade do seu potencial e capacidade intelectuais. Vale salientar que a imprensa foi um importante veículo nesse processo; produções femininas começaram a ser publicadas na forma de artigos, crônicas e poesias, com o objetivo de contribuir para a superação da supremacia do pensamento preconceituoso dominante, ao qual eram submetidas. A ousadia da época pululava em temas revolucionários, abordando e defendendo direitos como o divórcio e também a abolição da escravidão. Neste último caso, libertando parte da população brasileira que ainda era considerada instrumento de trabalho, privada, portanto, da sua cidadania e de sua humanidade (ADLER (2014, p. 9). No caso de Maria Firmina, ela nunca saiu do Maranhão. LOBO, (2007, p.363), na sua Conclusão do Auto-retrativo de uma pioneira abolicionista expressa: Como Sousândrade, Maria Firmina dos Reis viveu deslocada do eixo de poder da Corte. Contudo, ela difere radicalmente daquele, que foi viajante dos grandes centros e do exterior, como Paris, Londres, Nova York e Rio de Janeiro, África e Américas. Ela não herdou terras, fazendas nem escravos. Passou a vida em Guimarães, com poucas travessias pela baía de São Marcos até São Luís. É um notável exemplo de abnegação e força de vontade de quem, vivendo numa pequena vila no interior maranhense, se dedicou à criação literária por meio da árdua profissão de professora pública primária. Adler (2014, p. 7) expressa ainda: A despeito da falta de todas essas condições elencadas, Maria Firmina não se atemorizou nem se recolheu; ousou continuar a externalizar e disponibilizar naquele tempo produções que pudessem ser valorizadas mais contundentemente, talvez em outros tempos... Assim a sua voz seria ouvida e o seu grito compartilhado com a força real com que tais obras foram produzidas! [...] Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. [...] Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir." Excertos de: No Álbum de Uma Amiga In: CANTOS À BEIRA MAR, 1871.


É nesse contexto econômico-social que a mulher Maria Firmina dos Reis produz literatura e arte e consegue um espaço de realce no panorama cultural do Maranhão. DADOS PESSOAIS DE MARIA FIRMINA No tocante à mulher Maria Firmina dos Reis, inicialmente vou abordar alguns traços da sua personalidade, de modo sucinto, e com a clareza que são inferências com base nas leituras acerca da sua própria vida e dos protagonistas das suas tramas, ou também das palavras que saltam dos seus poemas. Luiza Lobo, na coletânea SOBRE MARIA FIRMINA (2016, p.116), se refere a alguns dos traços dessa escritora revelados na sua escrita, os quais, segundo ela retratam [...] toda a dimensão da sua melancolia devido a sua posição social e étnica fragilizada. Essa situação tornou-lhe impossível o casamento, por mais leitura que tivesse. [...] além da cor da pele, era desprovida de qualquer fortuna, era bastarda e ficou órfã de mãe. [...] O resgate da situação inferior da mulher é sempre mais árdua e delicada. Ainda segundo Lobo (2016, pp.110),a autora escreve também poemas em prosa “Meditação”, por exemplo, tem caráter ultra-romantizo, traz traços de aproximação com a natureza e sabor confessional de diário.Nele revela uma melancolia doentia. Apresenta em seus escritos também algumas insinuações a suicídio, que não se consolidam pela forte formação religiosa. Morais Filho (1975, p. 259) igualmente também se refere aos traços morais de Maria Firmina dos Reis, evidenciando: [...] TRAÇOS MORAIS – A sua presença, na literatura, na arte e no magistério e as revelações do seu álbum fornecem-nos as linhas da sua fisionomia moral. Se não são bastantes para um retrato, são-no para um debuxo, ou como diriam os romanos: “paucasedbona”. No entanto, queremos avivar um traço do seu caráter, que lhe evidencia também o sentimento e a sua filosofia – liberdade, fraternidade e igualdade e que nos recorda o “episódio do palanquim”.

Esse episódio me encanta porque demonstra sua sensibilidade e consciência política diz respeito ao dia em que ela foi receber o título de nomeação para exercer o cargo de Professora Régia, muito importante à época. Seus familiares queriam que fosse de palanquim (espécie de liteira em que as pessoas mais ricas se faziam transportar, conduzidas por escravos) ao que ela se recusou irrevogavelmente explicando: Negro não é animal para se andar montado nele. De forma inteligente e verdadeiramente cristã afirmava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo (ADLER, 2014, p.12). No tocante aos dados pessoais relativos ao nascimento e origem de Maria Firmina dos Reis, nas várias fontes pesquisadas anteriormente, coletei e inclusive assinalei no elogio que fiz a ela, em 2014, por ocupar a sua Cadeira na ALL, a de nº 08, que Maria Firmina dos Reis nasceu em 1825, em São Luís, Maranhão. Seu pai, João Pedro Esteves, era negro, e sua mãe, Leonor Felipe dos Reis, branca, de origem portuguesa (ADLER, 2014, p. 8), dados que passo a refutar, a partir de coletas recentes,em fontes primárias,no Arquivo Público do Estado do Maranhão - APEM. Mas antes devo explicar o que motivou a minha ida à APEM: No período de 21 a 25 de agosto do ano em curso, por ocasião da realização da Semana Montelliana, na Casa de Cultura Josué Montello – CCJM -, encontrei-me com a Profa. Mundinha Araújo, Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Maranhão, escritora, pesquisadora e militante do Movimento Negro, sendo ela inclusive pioneira na realização do mapeamento dos Quilombos, assim como no processo de investigação de temas para a história


do negro no Maranhão. Na ocasião ela me disse que a mãe de Maria Firmina não era branca e me compartilhou que tinha alguns apontamentos acerca de Maria Firmina dos Reis coletados no Arquivo Público do Estado do Maranhão – APEM, e como demonstrei interesse, ela ficou de levar-me no dia seguinte. Além da informação de que a mãe de Maria Firmina, Leonor Felippa, não era branca, mas, mulata, tendo sido inclusive escrava do Comendador Caetano José Teixeira, fiquei surpresa ao ver a data de nascimento de Maria Firmina que diferia daquela registrada em vários trabalhos, inclusive nos meus. E me dirigi ao Arquivo Público para coletar mais dados acerca de Maria Firmina, onde pude contar com a orientação da própria Chefe do Arquivo, Maria Helena Pereira Espínola, na busca dos documentos e também na tradução do português do Império, e a coleta incluiu os seguintes documentos: Autos de Justificação do dia de Nascimento de Maria Firmina dos Reis Autos (Câmara Eclesiástica/Episcopal), Livro de Baptismo Nº 116 e Portaria de Nomeação, do Livro 1561, no qual constava a da professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimarães, Maria Firmina dos Reis. O primeiro documento, AUTOS DE JUSTIFICAÇÃO DO DIA DE NASCIMENTODE MARIA FIRMINA DOS REIS, datado de 25 de junho de 1847, Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 -Documento-autos nº 4.171, ano 1847 (12 fls. Frente e Verso) e assim inicia: Diz Maria Firmina dos Reis, filha natural de Leonor Filippa dos Reis, que ela quer justificar por este Juiso que nasceo no dia 11 de Março do anno de 1822, e que só teve lugar o seu baptismo no dia 21 de Desembro de 1825, como mostra pelo documento junctos, por causa de molestia que então lhe sobreveio e privou ser baptisada antes; o que feito requer se julgue por sentencia, e que mande abrir novo assento por tt.o (grifo meu). A solicitação se reporta ao livro de Baptismo de nº 116 que traz na Folha 182: Aos vinte e hum de dezembro de 1825 nesta freguezia de Nossa Senhora da Victória Igreja Cathedral da cidade do Maranhão baptizei e pus os santos oleos a Maria filha natural, de Leonor Felippa molata forra que foi escrava do Comendador Caetano Je. Teixei.ª forão Padrinhos o Tenente de Milícias João Nogueira de Souza e Nossa S enhora dos Remédios do que se fez este assento que assignei. O processo inclui vários documentos, entre os quais: o auto lavrado pelo escrivão, o requerimento dela e o certificado dado pelo escrivão. No certificado dado pelo escrivão ele se reporta à certidão do batismo, citada mais adiante e registra os depoimentos das seguintes testemunhas:1ª Testemunha: Tenente Raymundo José de Sousa, natural da província do Maranhão, pardo, casado, cinqüenta e seis anos, 2ª Testemunha: Martiano José dos Reis, natural desta cidade e província do Maranhão, pardo, casado, trinta e oito anos e 3ª Testemunha: Joanna Maria da Conceição, cafusa, livre, Solteira, cincoenta e oito anos. A petição de Justificação do dia de nascimento foi deferida no dia 14 de julho de 1847, sendo aceita então a data de nascimento requerida, a de 11 de março de 1822 (grifo meu). A Certidão de Batismo de Maria Firmina coloca em evidência a condição social da sua mãe como mulata forra, tendo esta sido escrava do Comendador Caetano José Teixeira, um dos maiores negociantes do Maranhão na passagem do século XVIII ao XIX. Era português, dono de empresas que negociavam por todo o Império colonial português, sobretudo nas praças de São Luís, Belém, Lisboa, Porto e em Guiné, assim como nos outros domínios da África. Empregou 2.000 escravos, sendo proprietário bem estabelecido na província, (Diário da Câmara dos Deputados a Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia do Império, 1826 – 1829. P. 901). A respeito da sua nomeação,conforme o que consta no Arquivo Público do Estado do Maranhão. Fundo Secretaria do Governo. Série Portarias de nomeações, licenças, demissões (1832 – 1914) Livro 1561 (1844-1851) fl. 55-55v, Despacho 13 de agosto de 1847 está registrado: Nomeação para professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimaraes Maria Firmina dos Reis


O Doutor Joaquim Franco de Sá Oficial da Imperial Ordem da Rosa, Cavalheiro da de Christo, juiz de Direito da Câmara de Alcântara, deputado á Assembleia Geral Legislativa, e Presidente da Provincia do Maranhão por sua Majestade O Imperador a Quem Deus Guarde. Faço saber aos que este Alvará virem, que atendendo a que Maria Firmina dos Reis opositora á cadeira de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimarães, se acha competentemente habilitada na forma da Lei de quinze de outubro de mil oitocentos e vinte e sete, tem por bem, em conformidade das leis em vigor provêla na serventia vitalícia da mencionada cadeira, que se acha vaga, havendo o ordenado annual que legalmente lhe competir. Mando por tanto a quem pertencer, que dando-lhe a posse desta cadeira, depois de prestar o juramento do objeto, a deixa servir e exercitar. Em firmeza de que lhe mandei passar o presente Alvará, que lhe servirá de título, indo por mim assignado e sellado com os sellos das Armas do Império, e se registrará. Dado nesta cidade de “São” Luiz do Maranhão em dezesseis de agosto de mil oitocentos e quarenta e sete, vigésimo sexto da Independência e do Imperio. Augusto Cesar dos Reis Raiol as fez - E eu João Rufino Marques Oficial maior da Secretaria, no impedimentonesse sentido do Secretário e fez escrever e subscrever - Estava o Sello Alvará= Estava o Sello – Alvará porque V. Ex.a há por bem prover a Maria Firmina dos Reis na serventia vitalicia da Cadeira de Primeiras lettras do sexo feminino da/ Villa de Guimaraes, como acima se declara ... (Grifo meu). NASCIMENTO MORAIS FILHO (1975 pp. 230-231) demonstra, nas páginas do seu livro, grande interesse, considerando as buscas que fazia à época para encontrar a Portaria da Nomeação de Maria Firmina dos Reis de professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimarães (embora chame de detalhe sem importância). A mim parece indicar que não lhe bastava conhecer a sua obra cultural, mas, além da mulher, escritora, como já foi demonstrado, também a professora nela, personificada, ainda que registre: Embora seja um detalhe sem importância, considere-se como certa a indicação de Sacramento Blake, quando diz que Maria Firmina dos Reis começou a reger a cadeira de primeiras letras desde agosto de 1947. Por incrível, não consta no “Publicador Maranhense” (jornal que servia de órgão oficial) a sua nomeação, embora visse e revisse a coleção deste jornal desde a sua fundação (1842). Intrigava-nos o mistério [...].... Não desanimamos, mas resolvemos descansar da busca [...] Já agora na revisão da pesquisa, convidamos Luís Melo, que, de boa vontade, datilografava o material, para que nos desse uma mão na última tentativa para desvendar o “mistério da nomeação”...Demos-lhe o “Publicador Maranhense” e o “Progresso”, ambos de 1847. Este último por havermos verificado que trazia algumas vezes atos oficiais. E qual não foi a surpresa, dele e nossa ao deparar, não como o ato oficial da nomeação, mas como uma notícia local da sua aprovação no concurso a que se submetera disputando com mais duas, e no mês de agosto [...] a seguira nota: NOTÍCIA LOCAL “Tendo sido examinada no dia 11 da corrente no Palácio do Governo as opositoras à cadeira de 1ªs Letras do sexo feminino da Vila de Guimarães, D. Úrsula da Graça de Araújo, D. Mariana Firmina dos Reis, e D. Antônia Bárbara Nunes Barreto, unicamente a segunda foi aprovada, por ter sido julgada competentemente habilitada”. (O Progresso, 13 de 8 de 1847) A troca de nome de Mariana por Maria evidente erro tipográfico não invalida a informação.


De algum modo consegui realizar o desejo de Morais Filho, também por acaso, porque, como eu estava no Arquivo Público pesquisando Maria Firmina dos Reis, quis ver se havia lá alguma cópia da sua nomeação e, para minha grata surpresa, encontrei o documento original tão procurado por Morais Filho. Além de ser professora, aos 22 anos (ou 25) publicou o primeiro romance, e, ao mesmo tempo que se tornou a primeira romancista, é também a única do século XIX sendo bem recebida pela crítica, a saber: [...] Esta obra, digna de ser lida não só pela singeleza e elegância com que é escrita, como por ser a estreia de uma talentosa maranhense, merece toda a proteção pública para animar a sua modesta autora a fim de continuar a dar-nos provas do seu belo talento – TIPOGRAFIA PROGRESSO -Imp. Por B. de Mattos,- 1860 ((Morais Filho, 1975, p. 239); [...] Convidamos os nossos leitores a apreciarem essa obra original maranhense, que, conquanto não seja perfeita, revela muito talento da autora – JORNAL DO COMÉRCIO, 4 de agosto de 1860 (Morais Filho, 1975, p. 12); [...]O aparecimento do romance “ÚRSULA” na literatura pátria foi um acontecimento festejado por todo jornalismo, e pelos homens de letras, não como por indulgência, mas como homenagem rendida a uma obra de mérito- A VERDADEIRA MARMOTA, 18 de maio de 1861 (Morais Filho, 1975, p. 16); Ou ainda, [...] Existe em nosso poder, com destino a ser publicado no nosso jornal um belíssimo e interessante ROMANCE, primoroso trabalho da nossa distinta comproviciana, a Exma. Sra. D.Maria Firmina dos Reis, professora pública da Vla de Guimarães... JARDIM DOS MARANHENSES,30 de setembro de 1861, nº 24-anoI (Morais Filho, 1975, p. 12). De forma mais sucinta, citamos:A Moderação, 11/08/1860 (sobre a venda na Tipografia Progresso); A Verdadeira Marmota, 18/05/1861 (faz referência a uma obra de mérito); Jardim dos Maranhenses, 30 /09/1861 (garante ao público a beleza da obra); A Imprensa, 19/10/1961 (se refere à imaginação cheia de vivacidade) e o Jornal do Comércio, 04/08/1880 (obra que conquanto não seja perfeita, revela muito talento da autora). O conjunto da sua obra é de notável reconhecimento e bastante significativa, tanto em quantidade quanto em variedade de gêneros literários e vertentes das artes: romances, crônicas, contos, poesias, composições (letra e música), enigmas, epígrafes, folclores entre outras. Segundo Morais Filho (1975), a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na Literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante. Argumenta que nessa perspectiva, [...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, apud ADLER, 2014, p.12). Entretanto, ainda conforme esse autor, Maria Firmina foi vítima, posteriormente, de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas (Morais Filho apud Adler, 2014, p.12). Apesar desse lamentável episódio da nossa historiografia literária, após longo período de hibernação, voltou ao cenário das letras, e as suas obras foram reveladas, (re) descobertas, trazidas à luz, pelas abençoadas mãos de Nascimento Morais Filho, maranhense e Horácio de Almeida, paraibano (ADLER, 2014, p.6).


Lobo (2007) relata que Horácio de Almeida, em 1962, comprou um lote de livros usados, dentre os quais estava Úrsula: romance original brasileiro, por “Uma Maranhense” (1859), e buscou identificar a autora no Dicionário por Estado da Federação, de Otávio Torres, chegando a Maria Firmina dos Reis e continuou a pesquisa sobre ela no Dicionário Biográfico Brasileiro, conforme expõe no prefácio à edição fac-similar do romance que preparou em 1975. Essa edição conta com notas de José Nascimento de Morais Filho. MORAIS FILHO (1975) expressa que ao procurar, na Biblioteca Pública Benedito Leite, nos jornais do século XIX, textos natalinos de autores maranhenses para a sua obra Esperando a missa do Galo, deparou-se com registros de/sobre Maria Firmina dos Reis, mulher que participava ativamente da vida intelectual maranhense, lida e aplaudida nesse tempo, ao colaborar quer em jornais e revistas literárias quer em antologia Parnaso Maranhense, cujos nomes foram relacionados por Silvio Romero, na sua História da Literatura Brasileira, registrada no cartório intelectual de Sacramento Blake – o Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Em 1975, teve início uma nova fase na historiografia de Maria Firmina dos Reis, que merece destaque especial e que eu intitulo de Ano Rosa de Jericó de Maria Firmina dos Reis, do qual falo a seguir. 1975 - ANO ROSA DE JERICÓDE MARIA FIRMINA DOS REIS: o ano de verdejar O ano de 1975, foi o ano de verdejar para Maria Firmina, o marco que eu gostaria de intitular de o seu “ano Rosa de Jericó”. Essa rosa é também chamada de flor-da-ressurreição por sua impressionante capacidade de voltar à vida. As Rosas de Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo e, ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar! Vejo muita semelhança entre Maria Firmina e a Rosa-de-Jericó, senão vejamos: a Rosa de Jericó, tem aparência frágil, mas, concomitantemente, demonstra consistente defesa diante da situação adversa, neste caso, ausência total de chuvas. Nesse período, as suas folhas caem, seus ramos se contraem e se curvam para o centro, adquirindo uma forma esférica, capaz de abrigar as sementes e protegê-las da aridez dos desertos. Mesmo frágil e ressequida, ela continua como “peregrina”, devido à quase inexistência das suas raízes, o que facilita o seu deslocamento, e, como “viajante incansável”, deixa-se levar pelo vento do deserto, que tem a força de arrancá-la do solo e arrastá-la por áreas distantes. Também nesse período, ela permanece seca e fechada, aparentando estar totalmente sem vida por alguns meses. No entanto, basta algum contato com a umidade para a Rosa-de-Jericó estender suas folhas, espalhar suas sementes e retornar à vida, mostrando a sua beleza (http://www.icarabe.org/artigos/a-palestina-e-a-rosa-de-jerico). Ainda no tocante às gotas d’água que deram a umidade necessária para Maria Firmina retornar ao cenário literário mostrando a sua beleza, Arlete Nogueira da Cruz, no seu livro Sal e Sol (2006) apud ADLER (2014), fundamentando-se no trabalho intelectual de Janilto Andrade, A Nação das Dobras da Ficção, explicita: [...]. Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265). No limbo... Sob o tapete... Expressões que retratam não apenas rejeição, mas desprezo, o que não deixa de retratar a alienação e falta de humanidade no trato com as pessoas e suas obras por aqueles que se julgam donos do saber e da verdade ADLER (2014, p.6). Mas, antagonistamente, outros maranhenses, a exemplo de Josué Montello, reconhecem a importância de Maria Firmina.Montello escreve por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis um artigo intitulado A primeira Romancista Brasileira, que publicou no Jornal do Brasil, Rio de


Janeiro, em 11 de novembro de 1975 e na Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de Brasil, 1976, jun., n. 41, p. 111-114. Embora eu reconheça que não deva colocar o texto de Josué na íntegra nesta apresentação, não resisti ao desejo de transcrever pequeno trecho da sua primorosa referência à Maria Firmina e a Nascimento de Morais Filho. No referido texto, Josué Montello nomeia outro maranhense, Antônio de Oliveira, juntamente com Nascimento de Morais Filho, como responsáveis pela ressurreição de Maria Firmina, e, desse modo, a eles se refere: [...] o primeiro falando em voz baixa como é do seu gosto e feitio e o segundo, falando alto ruidosamente, com uma garganta privilegiada, graças à qual, sem esforço, pode fazer-se ouvir no Largo do Carmo, em São Luís, à hora em que se cruzam os automóveis, misturando a estridência das suas buzinas e de seus canos de descarga ao sussurro do vento nas árvores da praça. Desta vez, ao que parece, Nascimento Morais Filho ergueu tão alto a voz retumbante que o país inteiro o escutou, na sua pregação em favor de Maria Firmina dos Reis. Há quase dois anos, ao encontrar-me com ele na calçada do velho prédio da Faculdade de Direito, na Capital maranhense, vi-o às voltas com originais da escritora. Andava a recomporlhe o destino recatado, revolvendo manuscritos, consultando jornais antigos, esmiuçando almanaques e catálogos como a querer imitar Ulisses, que reanimava as sombras com uma gota de sangue. E a verdade é que, no dia de hoje Maria Firmina dos Reis de pretexto a estudos e discursos, e conquista, seu pequeno espaço na história do romance brasileiro – com um nome, uma obra, e a glória de ter sido pioneira. Assim, Nascimento de Morais Filho, como um Sankofa, pássaro africano de duas cabeças, uma cabeça voltada para o passado e outra para o futuro, que, segundo a filosofia africana, significa a volta ao passado para ressignificar o presente, dedicou-se, incansavelmente, para dar novo significado à Maria Firmina dos Reis como mulher e como escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira. E ainda seguindo a máxima de Morais Filho, mais pessoas, instituições, cidades e estados brasileiros têm se dedicado a estudos e homenagens a Maria Firmina dos Reis. Renan Nascimento, filho de Morais Filho, em entrevista recente, ao Jornal Pequeno de São Luís/MA, do dia 1º de setembro deste ano (2017), na Seção Literatura de Nelson Melo, ressaltou a importância de Maria Firmina para a cultura do Maranhão. Nessa entrevista enfatiza que o seu pai foi o descobridor de Maria Firmina, que muitos maranhenses ainda a desconhecem, lembrando ainda que nem nas provas de vestibulares para ingresso nas universidades a primeira escritora negra do Brasil é citada. Relembra que seu pai foi o autor da primeira biografia da escritora: MARIA FIRMINA: Fragmentos de uma vida, muito usada por todos que a estudam e da inauguração do Busto de Maria Firmina, na Praça do Panteon em São Luís, em 1975; salienta que seu pai, em seu projeto de resgate da memória, fomentou estudos em diversas áreas do conhecimento, como Antropologia, Artes Plásticas, Literatura. Atuou ainda como Presidente do Centro Cultural Nascimento de Morais que, inicialmente, em 1940, era denominado Centro Cultural Gonçalves Dias. Esse Centro era formado por jovens poetas, prosadores, teatrólogos, músicos, artistas plásticos e jornalistas e tinham como objetivo renovar a poesia modernista, sem desprezar os escritores do passado e, acima de tudo, preservar a memória cultural do Estado. É constatado que o trabalho de pesquisa e resgate de Maria Firmina por Morais Filho, de fato resultou em muitos outros trabalhos acadêmicos. Renan Nascimento dá destaque para a tese sobre a romancista, defendida por Charles Martin na Universidade de Nova York. Eu cataloguei várias Monografias de Graduação, Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado sobre algum aspecto de sua vida ou obras. O romance Úrsula encontra-se entre os objetos de estudo mais analisados.


SÃO LUÍS E MARIA FIRMINA DOS REIS Conforme Morais Filho (1975), em São Luís, em 1975, ano do sesquicentenário de Maria Firmina também foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, com tempo determinado de utilização, que se destina a difundir o trabalho de relevantes personalidades e instituições, bem como assinalar um dado ou acontecimento, destacando comumente o motivo, a legenda, a data e o local de sua emissão. Um detalhe digno de realce é que na parte inferior do carimbo consta um grilhão de ferro rompido, como marca significativa da Campanha Abolicionista que Maria Firmina empreendeu por meio da literatura, e eu acrescentaria, por meio da música (compôs o Hino da Libertação dos Escravos (1988) e a própria postura que retrata a sua orientação político ideológica. O carimbo foi lançado, solenemente, no dia 11 de outubro, nos Jardins do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, com a presença do então governador do Estado, Osvaldo da Costa Nunes Freire. Nesse mesmo ano, o governador Nunes Freire inaugurou o busto da escritora na Praça do Panteon, em São Luís, e promoveu a publicação da edição fac-similar do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Também na data de 11 de outubro de 1975 foi criada em sua homenagem a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís, Na Assembleia Legislativa do Estado, o deputado vimarense Celso Coutinho propôs e conseguiu a aprovação de projeto de lei na Assembleia Legislativa instituindo o dia 11 de outubro - dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis - como Dia da Mulher Maranhense. Neste ano de 2017, o governador, Flavio Dino e o prefeito, Edivaldo Holanda Filho no dia 02 de setembro, entregaram à população de São Luís um importante equipamento social de desporto e lazer. Desta vez, inaugurando a Praça Maria Firmina dos Reis, com quadra poliesportiva, e a sede do Conselho Tutelar Centro-Alemanha. A inauguração integra o calendário de eventos que Prefeitura e Governo do Estado realizam em homenagem ao aniversário de 405 anos de fundação de São Luís. Outra homenagem meritória de realce é a nomeação de Maria Firmina dos Reis para a ser a Patrona da Feira do Livro de São Luís- FeliS, deste ano, 2017, em sua 11ª edição, de 10 a 19 de novembro. Vale ressaltar que cada edição da FeliS é desenvolvida em torno de um tema delimitado coletivamente, com a participação de diversas instituições na formatação da programação, definição do patrono e homenageados, eixos temáticos, planos de divulgação, apoio institucional, estratégias de viabilização, projeto arquitetônico e ambiental, etapas de ação, entre outros pontos. A FeliS está consolidada como o maior evento literário do estado do Maranhão, promovida pela Prefeitura de São Luís, a partir da criação da Lei Municipal nº4.449, em 2005, tendo sido realizada a 1ª Edição em 2007. Traz desde a sua criação o objetivo de fomentar a tradição literária e cultural da capital maranhense, propiciar o maior acesso ao livro, estimular a formação de novos leitores e incentivar as cadeias produtivas em torno do livro e da mediação da leitura. Esta 11ª Edição da FeliS está sendo realizada pelo Governo do Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo – SECTUR -, Secretaria de Estado da Educação – SEDUC - e pela Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Cultura - SECULT - e Secretaria Municipal de Educação - SEMED.

GUIMARÃES E MARIA FIRMINA DOS REIS Em Guimarães, também o ano de 1975, ocasião do Sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina foi o marco do início de maiores homenagens a ela dedicada. Anterior a esse ano, têm-se conhecimento apenas da atribuição do nome de Maria Firmina para uma rua, na sede, substituindo o nome Rua da Estrela, em 1931, e, nesse mesmo ano, a Escola Noturna


Municipal também recebeu o seu nome mediante a Portaria 59, de 15 de agosto de 1931, cujo teor, digno de realce, se transcreve adiante. Pelos 150 anos de nascimento de Maria Firmina, comemorados em 11 de outubro de 1975, o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção desfilou em sua homenagem e desde o ano de 2007 passou a promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis. A seguir transcrevo dados da vida de Maria Firmina em Guimarães, com base no depoimento de um ilustre vimarense, o Dr. Antônio Agenor Gomes, Juiz de Direito em São Luís/Maranhão, que também já foi Prefeito de Guimarães (1989 a 1992), o qual, mui gentilmente, atendeu à minha solicitação de prestar informações acerca da relação de Guimarães com Maria Firmina dos Reis: Após a sua morte, em 1917, Maria Firmina dos Reis continuou lembrada pelos seus alunos e pelas famílias de Guimarães como a respeitada Mestra Régia, ainda não como escritora.Também as suas composições musicais continuavam lembradas, como Hino à libertação dos escravos, os Pastores na época natalina, seus poemas. O culto à Maria Firmina Romancista só passou a ocorrer depois da sua redescoberta realizada pelo Professor Nascimento Morais Filho, conforme já mencionado. Um fato digno de nota, mas que, por sinal, o faço com muito pesar, é que sete anos antes da morte de Maria Firmina, o governador Luís Domingues esteve na Vila de Guimarães para inaugurar o Telégrafo, em 1910. Na ocasião, a professora, já idosa, com 88 anos, residia em uma casa de taipa, coberta de palhas, de propriedade de um filho de criação – Leudes Guimarães, na Rua Firmiano de Barros, onde foi morar em 1861, deixando a residência da Praça da Independência (hoje, Luís Domingues). O governador, ao presenciar o seu estado de saúde decidiu contratar, às expensas do Estado, uma pessoa da vila para cuidar dela: a escolha recaiu sobre dona Bárbara (Babu), moradora da Rua Riachuelo (hoje, Filomena Archer da Silva). O primeiro registro de que se tem notícia de culto à sua memória ocorreu no ano 1931, quatorze anos após a sua morte, durante o Estado Novo, por Decreto do prefeito nomeado, capitão Nilo Ludgero Pizon, que substituiu o nome da Rua da Estrela por Rua Maria Firmina (sem o patronímico “dos Reis”). Ainda no início da década de 1930, a Prefeitura Municipal de Guimarães, em Decreto datado de 15 de agosto de 1931, colocou o nome da professora na Escola Noturna Municipal. O Decreto, firmado pelo prefeito municipal Nilo Ludgero Pizon, citado anteriormente, determina o que segue e seu teor vale a pena ser transcrito: “Considerando que se deve render culto de gratidão aos mortos que trabalharam, de qualquer forma, pelo engrandecimento de nossa Pátria; considerando que o município de Guimarães deve, e muito, quanto à instrução, à veneranda Senhora Maria Firmina dos Reis, primeira professora Régia deste Município; resolve mudar a denominação de Reis Perdigão dada à Escola Noturna Municipal desta cidade, para a de Maria Firmina”. Em data posterior, foi, também, denominada mais uma escola municipal, desta vez no Povoado Genipaúba, com o nome da professora. Atualmente, há, na Rede Municipal de Ensino, outra escola com o nome de Maria Firmina dos Reis, no povoado Maçaricó, onde a Mestra Régia fundou a sua escola mista, após aposentar-se da Rede Pública. Por ocasião das comemorações do Bicentenário de Guimarães, em 1958, o prefeito Olavo Barbosa Cardoso nomeou uma comissão para instituir um hino do bicentenário. Embora Maria Firmina tenha nascido em São Luís, os vimarenses a consideram filha da terra e a situam na categoria de filhos ilustres, a exemplo da estrofe do hino composto: (...) Filhos ilustres tens tantos Que sua história fascina: Sousândrade, Urbano Santos, Mestra Maria Firmina. (...)


No tocante à consideração da escritora Maria Firmina dos Reis, deve-se muito ao professor Nascimento Morais Filho, o qual fez, além das pesquisas em Bibliotecas,várias viagens a Guimarães com vistas a coletar dados sobre Maria Firmina. Nesse trabalho, contou com o apoio de Alice Nogueira, Secretária de Administração do Município. Contou ainda com o apoio do prefeito Agenor Oswaldo Gomes Filho. O sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis,no dia 11 de outubro de 1975, foi comemorado com grandes festividades, com sessão cívica na Prefeitura e na Câmara, encenação dos personagens literários da escritora e desfiles de escolas municipais.O Prefeito Agenor Oswaldo Gomes Filho sancionou a Lei municipal, proposta pela vereadora Carmelita de Carvalho Cuba, que instituiu a data de nascimento de Maria Firmina dos Reis como feriado Municipal e como o Dia da Mulher Vimarense. Nos anos seguintes, as escolas municipais voltaram a destacar a obra literária de Maria Firmina dos Reis, como a primeira poetisa maranhense, e seu pioneirismo no romance brasileiro. Em 2007, foi instituída a Semana Literária Maria Firmina dos Reis pelo Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, que passou a ser um marco na divulgação da obra da romancista. Instituída com os esforços do diretor da escola, professor Osvaldo Gomes, atual Vice-Prefeito de Guimarães e dos professores, a Semana Literária Maria Firmina dos Reis ocorre todos os anos. Dentro da sua programação já levou para Guimarães grandes expressões do mundo literário, a exemplo de Luiza Lobo, Dilercy Aragão Adler, Weberson Fernandes Grizoste, Antônio Noberto, Carlos Brune, Ceres Fernandes, dentre outros, e busca envolver, cada vez mais, número significativo de pessoas da escola e da comunidade para conhecer e discutir a obra de Maria Firmina dos Reis. A ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS E MARIA FIRMINA DOS REIS A Academia Ludovicense de Letras-ALL foi fundada no dia 10 de agosto de 2013, como fruto de um projeto apresentado por mim ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão -IHGM. Ele foi inspirado em um projeto similar, realizado no Chile, por Alfred Asís, do qual participei com poemas e indo ao lançamento do livro Mil Poemas a Pablo Neruda, em homenagem ao grande poeta chileno. De volta ao Maranhão/Brasil, lancei a ideia, de forma ampliada, que resultou no Projeto Mil poemas para Gonçalves Dias, o qual foi apresentado para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM e aprovada a sua concretização. O Projeto previa atividades culturais diversas, além do lançamento de duas antologias “Mil poemas a Gonçalves Dias” (poemas) e “Sobre Gonçalves Dias” (artigos, pesquisas e similares). Foi pensado um grande movimento cultural, até porque, além de São Luís, foram convidadas mais duas cidades para se engajarem, pela importância que têm na história de vida de Gonçalves Dias: Caxias (onde o poeta nasceu, em10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá, a 14 léguas da Vila de Caxias) e Guimarães (onde faleceu, ou se encantou,como dizem os vimarenses, em 03 de novembro de 1864, no naufrágio do navio Ville de Boulogne, próximo à região do Baixio dos Atins, na Baía de Cumã). E lá em Guimarães, por ocasião da divulgação do projeto Mil poemas para Gonzales Días, na V Semana Literária Maria Firmina dos Reis, promovida pelo Centro de Ensino Médio Nossa Senhora da Assunção, no período de 26 a 30 de novembro de 2012, ano em que eram homenageados grandes nomes da Literatura Maranhense, como Gonçalves Dias, Sousândrade (Guimarães), Raimundo Correia, Artur Azevedo, Aluísio de Azevedo, José Loureiro, Ferreira Gular, Maria Firmina dos Reis, Josué Montello, Bandeira Tribuzi e outros autores da terra, além de músicos maranhenses, nasceu a ideia de trazer Maria Firmina de volta a São Luis, de forma honrosa, para ocupar um nobre lugar na sua cidade natal; um lugar digno da primeira romancista brasileira, qual seja, o de Patrona da Academia de Letras da cidade.Assim é que Maria Firmina dos Reis tornou-se a Patrona da Academia Ludovicense de Letras –ALL -, Casa de Maria Firmina dos Reis. O nome de Maria Firmina foi proposto por mim e por Ana Luiza Almeida Ferro, tendo sido acatado pelos presentes. Nestes quatro anos, a Academia tem buscado formas e estratégias de consolidar a sua importância na difusão da cultura e das Letras maranhenses, ao mesmo tempo que o nome de Maria Firmina dos Reis.


Em 2015,apresentei o projeto da elaboração de um selo comemorativo, objetivando registrar, no referido ano, dois importantes aniversários para a cidade de São Luís: o de dois anos de fundação da Academia Ludovicense de Letras - ALL - e os 190 (cento e noventa anos) de nascimento de Maria Firmina dos Reis - Patrona da Casa (1825-1817). Para tal empreitada encomendamos um projeto gráfico para a arte do selo para o Designer Gustavo Ferreira, aprovado em plenária da ALL, sobre o busto de Maria Firmina, proposto por Nascimento de Morais Filho, com base em descrição de alunas e sobrinha. No entanto, não se conseguiu concretizar naquele ano esse projeto, mas estamos trabalhando no sentido de, este ano, marcarmos o centenário de seu falecimento com um lançamento do selo em sua homenagem. Na justificativa do selo, expus na ocasião: Desse modo, com esse selo objetivamos honrar a memória da grande escritora maranhense, como prova do nosso reconhecimento pelo seu grande trabalho literário, de cunho político muito forte e singular, já que viveu nos últimos dias da escravidão e realçava sempre em suas obras a humanidade do negro, do índio e da mulher. E ainda comemorar o nascimento de mais uma Academia de Letras nesta cidade, que já foi conhecida como a Athenas Brasileira, por ter filhos ilustres no cenário da cultura brasileira. Embora a ALL tenha sido fundada 401 anos após a fundação da cidade de São Luís, talvez essa demora fosse em função da espera do tempo/destino do momento adequado para que Maria Firmina tivesse nela lugar de destaque. Às vezes me pergunto: Se tivesse sido fundada antes, seria ela a Patrona? Acredito que dificilmente. Em 2015, em comemoração ao aniversário de 190 anos de Maria Firmina, foram organizadas, com a aprovação da ALL, por mim e por Leopoldo Gil Dulcio Vaz duas antologias em homenagem a Maria Firmina: CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS (um poema para cada ano), e SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS (artigos, pesquisas e similares). A ALL busca ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais, objetivando desenvolver e a difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, também levando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há como ser refutada a tese da grandiosidade da obra de Maria Firmina dos Reis, como já argumentei ao longo deste trabalho. Sem contar que, segundo Morais Filho (1975), manuscritos, cadernos de romances e poemas, que não se sabe se inéditos, foram perdidos nesse episódio, com base no depoimento de Leude de Guimarães, filho de uma das suas filhas adotivas, que um baú contendo documentos de Maria Firmina foi roubado numa pensão onde vivia em São Luís, mas que salvou uma parte do diário de Maria Firmina. Só me resta louvar Maria Firmina que, a despeito de todas as condições e características adversas: mulata, pobre, bastarda, mulher, tudo isso em um Brasil escravocrata no século XIX, ainda assim, com os mais admiráveis méritos se estabelece, reconhecidamente hoje, como uma das escritoras mais admiráveis de toda a literatura brasileira... (ADLER, 2014, p. 6). Destarte, a reparação está sendo feita! EU TE LOUVO SENHORA À Maria Firmina dos Reis DilercyAdler Eu te louvo senhora pela agonia sentida que te tirou o prazer do gozo do corpo


impondo agonia profunda doída mas que te fez renascer em palavras e versos de puro querer! Eu te louvo senhora pelos crus dissabores nesta vida sofridos ... Eu te louvo senhora por tua teimosia por tua leveza de corpo e de alma... por suave alegria parcamente sentida apesar da tirania da dor revelada em toda tua vida... Eu te louvo senhora pelo amor do qual abdicaste -quimera humana!de uma vida a outra vida ... para entregar-te a outro amor também profundo aquele amor aos desvalidos abandonados pela sorte jogados aos destinos inumanos neste mundo!... Eu te louvo senhora pelo teu imensurável amor à humanidade por tua luta incansável pela igualdade por tua excepcional dedicação materna aos filhos abandonados nesta terra pela vida pela história pela verdadeira e única humanidade! renasce agora - nesta horao gozo do corpo e da alma neste louvor que hoje a ti dedico e não há gozo maior que este gozo devolvido em palavras e versos desejos...fantasias... eternos perenes romanescamente femininos!


Eu te louvo senhora agora nesta hora hoje e para sempre te louvarei também amém! REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014. ADLER, Dilercy Aragão e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e (Organizadores). CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015. Arquivo Público do Estado do Maranhão. Fundo: Arquidiocese do Maranhão – Autos da Câmara Eclesiástica/Episcopal. Série 26: Autos de justificação de Nascimento. Caixa n. 144 – Documentação/Autos n. 4171- ano 1847. Arquivo Público do Estado do Maranhão. Fundo Secretaria do Governo. Série Portarias de nomeações, licenças, demissões (1832 – 1914) Livro 1561 (1844-1851) fl. 55-55v CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Diário da Câmara dos Deputados a Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia do Império, 1826 – 1829. FERREIRA, Antônio José de Araújo. POLÍTICAS TERRITORIAIS E A REORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO MARANHENSE. São Paulo: USP, 2008. GOMES, Antônio Agenor. Depoimento de Antônio Agenor Gomes para Dilercy Adler sobre o culto à memória de Maria Firmina dos Reis em Guimarães, Mimeo, 2017. LEAL, Antônio Henriques. PHANTHEON MARANHENSE. 2. ed. São Luís: Alhambra, 1987. LOBO, Luiza Leite Bruno. CRÍTICA sem JUÍZO. Rio de Janeiro: Garamond(2007, p.363), MOLINA, Lívia Menezes da Costa Disponível em:www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/102/mariafirminacritica02.pdf MONTELLO, Josué. A primeira romancista brasileira. Jornal do Brasil. 11 de maio de 1975, p. 5 MORAIS, José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. NASCIMENTO, Renan. Sessão Literatura - Nelson Mota-, São Luís, JORNAL PEQUENO, 1º de setembro de 2017. PEREIRA, JomarFernandes Filho. FORMAÇÃO ECONÔMICA DO MARANHÃO: super exploração e estado oligárquico como entraves ao desenvolvimento 2016. TEIXEIRA Lígia. Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/206119-1. 18 de fevereiro de 2013 http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo1/formacao-economica-do-maranhaosuperexploracao-e-estado-oligarquico-como-entraves-ao-desenvolvimento.pdf http://www.portalentretextos.com.br/materia/caetano-jose-teixeira,12507 http://www.icarabe.org/artigos/a-palestina-e-a-rosa-de-jerico VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e ADLER, Dilercy Aragão (Organizadores). SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015.


ANEXO DEPOIMENTO DE *ANTÔNIO AGENOR GOMES PARA DILERCY ARAGÃO ADLER SOBRE O CULTO À MEMÓRIA DE MARIA FIRMINA DOS REIS EM GUIMARÃES Após a sua morte, em 1917, Maria Firmina dos Reis continuou lembrada pelos seus alunos e pelas famílias de Guimarães como a respeitada mestra régia. Não como escritora, mas como a professora que era sempre consultada e de presença requisitada nas festas cívicas e sociais da vila. Os seus livros Úrsula e Cantos à beira mar, com poucos exemplares editados na capital, havia sido publicado cerca de 50 anos antes e poucos ainda se lembravam da atividade literária da Mestra Régia. Mas as suas composições musicais continuavam lembradas, como os Pastores na época natalina, seus poemas, assim como Hino à libertação dos escravos. Sete anos antes da morte de Maria Firmina, quando o governador Luís Domingues esteve na vila de Guimarães para inaugurar o Telégrafo, em 1910, reservou um tempo para visitar a professora, já idosa, com 88 anos. Nessa época, ela já residia em uma casa de taipa, coberta de palhas, de propriedade de um filho de criação – Leudes Guimarães, na Rua Firmiano de Barros, para onde transferiu-se em 1861, deixando a residência da Praça da Independência (hoje, Luís Domingues). O governador, ao presenciar o estado de saúde da professora aposentada, decidiu contratar, às expensas do Estado, uma pessoa da vila para cuidar dela: a escolha recaiu sobre dona Bárbara (Babu), moradora da Rua Riachuelo (hoje, Filomena Archer da Silva). No mundo oficial do município, o primeiro registro de que se tem notícia de culto à sua memória vem a ocorrer no ano 1931, quatorze anos após a sua morte, durante o Estado Novo, por Decreto do prefeito nomeado, capitão Nilo Ludgero Pizon, que substituiu o nome da Rua da Estrela por Rua Maria Firmina (sem o patronímico “dos Reis”). Isso é uma comprovação de que a professora era tão conhecida e respeitada na cidade que bastava ser chamada pelo prenome Maria Firmina, sem necessidade de identificar o sobrenome, mesmo a família Reis tendo considerável destaque em Guimarães. Sotero dos Reis, o renomado gramático, que foi vereador em Guimarães, e depois deputado à Assembleia Provincial, era seu primo. Felinto Elísio dos Reis, que foi advogado provisionado e prefeito de Guimarães de 1905 a 1909, também era primo de Maria Firmina. Ainda no início da década de 1930, além do seu nome em uma rua da cidade, a Prefeitura Municipal de Guimarães, em decreto datado de 15 de agosto de 1931, colocou o nome da professora na Escola Noturna Municipal. O Decreto, firmado pelo prefeito municipal Nilo Ludgero Pizon, determina: “Considerando que se deve render culto de gratidão aos mortos que trabalharam, de qualquer forma, pelo engrandecimento de nossa Pátria; considerando que o município de Guimarães deve, e muito, quanto à instrução, à veneranda Senhora Maria Firmina dos Reis, primeira professora Régia deste Município; resolve mudar a denominação de Reis Perdigão dada à Escola Noturna Municipal desta cidade, para a de Maria Firmina”. Em data posterior, foi, também, denominada mais uma escola municipal, desta vez no Povoado Genipaúba, com o nome da professora. Atualmente, há, na rede municipal de ensino, outra escola com o nome de Maria Firmina dos Reis, no povoado Maçaricó, onde a mestra régia fundou a sua escola mista, após aposentar-se da rede pública. Por ocasião das grandes comemorações do Bicentenário de Guimarães, no ano de 1958, o prefeito Olavo Barbosa Cardoso nomeou uma comissão composta por Orfila Cardoso Nunes, Ney Nunes e Lauro Cardoso, para instituir um hino que fosse cantado pelo povo nas festividades do bicentenário. A comissão escolheu o poeta Ribamar Pereira para fazer a letra e compositor Sebastião Teles, para compor a música. Nela, embora Maria Firmina tivesse nascido em São Luís, os vimarenses a consideram filha da terra e a situam na categoria de filhos ilustres:


(...) Filhos ilustres tens tantos Que sua história fascina: Sousândrade, Urbano Santos, Mestra Maria Firmina. (...) Mas todas essas homenagens restringiam-se à sua condição de professora, não de escritora. O culto à romancista só passou a ocorrer depois da redescoberta realizada pelo Professor Nascimento Morais Filho, da obra literária de Maria Firmina dos Reis, nos arquivos da Biblioteca Pública Benedito Leite, no ano de 1973, em São Luís. O professor Nascimento Morais Filho fez muitas viagens a Guimarães em sua pesquisa sobre Maria Firmina e lá conseguiu uma grande aliada para o seu trabalho: Alice Nogueira, que era Secretária de Administração do Município. Com ela e com o apoio do prefeito Agenor Oswaldo Gomes Filho, organizaram, na cidade, as grandes festividades dos 150 anos de nascimento de Maria Firmina, no dia 11 de outubro de 1975, com sessão cívica na Prefeitura e na Câmara com encenação dos personagens literários da escritora, e escolas municipais desfilando pelas ruas da cidade. Dentro das comemorações do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis, o prefeito Agenor Oswaldo Gomes Filho sancionou a Lei municipal, proposta pela vereadora Carmelita de Carvalho Cuba, que instituiu como feriado municipal o Dia da Mulher Vimarense – a data de nascimento de Maria Firmina dos Reis. Nesse mesmo ano, o governador Nunes Freire inaugurou o busto da escritora na Praça do Panteon, em São Luís, e promoveu a publicação da edição fac-similar do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Na Assembleia Legislativa do Estado, o deputado vimarense Celso Coutinho propôs e conseguiu a aprovação de projeto de lei na Assembleia Legislativa instituindo o dia 11 de outubro - dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis -, como Dia da Mulher Maranhense. Nos anos seguintes, as escolas municipais voltaram a destacar a obra literária de Maria Firmina dos Reis, como a primeira poetisa maranhense e seu pioneirismo no romance brasileiro. Mas foi a partir de 2007, com a instituição da Semana Literária Maria Firmina dos Reis pelo Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, que esta escola começou a ser um marco de divulgação permanente da obra da romancista, com enfoque especial, ultimamente, para a discussão da temática abolicionista na obra da escritora. Instituída com os esforços do diretor da escola, professor Osvaldo Gomes e um considerável número de professores, a Semana Literária Maria Firmina dos Reis ocorre todos os anos na semana que antecede o nascimento da romancista, já tendo conseguido trazer a Guimarães grandes expressões do mundo literário, a exemplo de Luiza Lobo, Dilercy Aragão Adler, Weberson Fernandes Grizoste, Antônio Noberto, Carlos Brune, Ceres Fernandes, dentre outros, e envolver, cada vez mais, expressivo número de pessoas da escola e da comunidade para conhecer e discutir a obra de Maria Firmina dos Reis. *Juiz De direito em São Luís/Maranhão, Vimarense e já foi Prefeito de Guimarães.



A ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS-ALL, O LICEO POÉTICO DE BENIDORM E A CASA DE CULTURA HUGUENOTE DANIEL DE LA TOUCHE-CHDT COMEMORAM O ANIVERSÁRIO DE 405 ANOS DA CIDADE DE SÃO LUÍS 09 de setembro de 2017 PROGRAMAÇÃO 9:00 ABERTURA: composição da mesa Hinos do Brasil e São Luís 9:20 MESA REDONDA: A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUIS: um outro lado da mesma história João Mendonça Ewerton, Dilercy Aragão Adler e Iramir Araújo 10:00 TEATRALIZAÇÃO DO TEXTO: “UMA ETNIA EM EXTINÇÃO”: COLETÂNEA “MEU ANCESTRAL TUPINAMBÁ” - Autora: Joana Bittencourt e Ator: Júlio César Fernandes.

10:15 RECITAL POÉTICO MUSICAL: POEMAS: Poemas em homenagem à São Luís - Participação da ALL, Convidados Poemas contra a Guerra e pela Paz, a Sustentabilidade e a mudança Social no Mundo - Participação LICEO POÉTICO DE BENIDORM, ALL e Convidados

ALL, LICEO POÉTICO DE BENIDORM E CONVIDADOS EM HOMENAGEM A SÃO LUÍS E À PAZ –

11:10 LANÇAMENTOS E EXPOSIÇÃO


- LANÇAMENTO DO REGULAMENTO DO CONCURSO DA LETRA DO HINO DA ALL - LANÇAMENTO DA REVISTA EM QUADRINHOS AJURUJUBA - Iramir Araújo. - EXPOSIÇÃO ARTE SUSTENTÁVEL: vultos históricos da Fundação da Cidade de São Luís

11:30 ENCERRAMENTO: CONGRAÇAMENTO DOS PRESENTES E BRUSCH APRESENTAÇÃO DOS INTEGRANTES DA MESA E APRESENTAÇÃO POÉTICA TEATRAL E MUSICAL JOÃO MENDONÇA EWERTON Assino só João Ewerton Designer multimídia com atuação nas artes visuais e design de moda de vestuário e moda de decoração. Ator e diretor teatral, com 48 prêmios em nível nacional. Dramaturgo com 52 textos escritos, 32 já encenados. Roteirista de cinema e TV , tendo um roteiro de longa metragem: "Aguaeretama - O cortejo da serpente fantasma" premiado pela secretaria de audiovisual do MinC no ano 2000. Escultor e pintor. DILERCY ARAGÃO ADLER Psicóloga, Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação. Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL. Delegada Cultural em Maranhão-Brasil do Liceo Poético de Benidorm (Espanha), Titular da Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Ex Presidente e Delegada Cultural em Maranhão-Brasil do Liceo Poético de Benidorm (Espanha) Presidente fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão SCL-MA, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil e Embaixadora do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz. 12 livros de poesia, 01 biográfico, 01 de história infantil e 03 acadêmicos, organizou 12 Antologias Poéticas e tem participação em mais de cem antologias nacionais e internacionais. Já recebeu vários prêmios, troféus e menções honrosas por trabalhos poéticos e culturais IRAMIR ARAÚJO LANÇAMENTO DA REVISTA AJURUJUBA Historiador, Mestre em História pela Universidade Federal do Maranhão, Artista gráfico e Redator publicitário, Foi colaborador do jornal “O Estado do Maranhão”, onde publicou tiras diárias e manteve aos domingos uma coluna sobre quadrinhos. Autor de diversas histórias em quadrinhos para fins educacionais e sociais, como Gatos Pingados, Os viajantes do Pião do Tempo e O misterioso segredo. Em 2007 lançou, com a participação de diversos artistas de São Luís, ‘‘Corpo de Delito’’, quadrinhos de ficção policial. Em 2009, publicou a primeira edição de ‘‘BALAIADA - a Guerra do Maranhão’’. Em 2012 lançou ‘‘AJURUJUBA - a fundação da cidade de São Luís’’, também em quadrinhos. Em 2015 publicou ‘‘A Flecha, a Pedra e a Pena - João Affonso, Aluízio de Azevedo e a primeira revista ilustrada do Maranhão’’. Primeiro lugar na categoria Ensaios no 350 Concurso ‘‘Cidade de São Luís’’ APRESENTAÇÃO MUSICAL E LEITURA DE POEMAS EM HOMENAGEM A SÃOLUÍS E À PAZ MÚSICO/CANTORA: MÚSICO: HÉLIO PEREIRA BONFIM -Graduado em Ciências, com Habilitação em Matemática -Estudante de Violino na Escola de Música Lilah Lisboa -Corista da Orquestra Jovem do Maranhão João do Vale -Membro da Associação Maranhense de Escritores Independentes - AMEI -Professor de Matemática -Multi-instrumentista -Romancista e poeta


CANTORA: JANETH ROCHA BONFIM -Graduada em Letras -Especialista em Ensino de Língua Inglesa -Estudante de Canto Lírico na Escola de Música Lilah Lisboa -Corista da Orquestra Jovem do Maranhão João do Vale -Professora de Língua Inglesa -Cantora -Escritora JOANA BITTENCOURT Compositora, Produtora Cultural, poeta cordelista, teatróloga, escritora, Membro da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências – APLAC, Gestora Ambiental, especialização em Educação Ambiental, cadeira nº 09, dirige a Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt. Livros: Itagiba – o braço de pedra da França Equinocial, Arte e Devoção, A História do Boizinho de Brinquedo, O Alevino dourado, O Menino e o Passarinho. Coletâneas: Agosto Poético, Setembro Poético, Revivendo Memórias, Meu Ancestral Tupinambá. Peças teatrais: Histórias de Ana Jansen na visão do Mamulengo, A História do Boizinho de Brinquedo, Oh! Minha Cidade, A História de Upaon-Açú, França Equinocial para sempre, No Reino da Jardineira, Natalina do Maranhão. JÚLIO CÉSAR FERNANDES Ator, Diretor Teatral, Artista Performático, Dançarino Atuou no teatro Viva Cidadão, Cia. Beto Bittencourt, Arte In Cena.

MARIA GORETH CANTANHEDE PEREIRA Poetisa e escritora, cordelista, artistas plástica e artesã. obras literárias: Confissões, diálogos em poesias, Garimpando poesias, Desejos Poéticos, O diário de sentimentos . e o cordel Cenas escondidas É Membro da Diretoria da Sociedade de Cultura Latina do Brasil e Membro da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão, Membro da Academia Norte Americana de literatura moderna Capítulo Brasil. Homenageada pela ONG -Professora. Mercedes Muller -Amigos da educação e do CTC Clube dos trovadores Capixabas com o título de Comendadora em Distinção em Educação e pela sociedade de Cultura Latina do Brasil o título de personalidade Cultural do ano 2017.




DOIS DISCURSOS, DUAS VISÕES DE MUNDO, INTERESSES ANTAGONISTAS DA MESMA REALIDADE OBJETIVA DILERCY ADLER

Inicio a minha fala identificando os dados arrolados no título: A realidade objetiva é a Fundação da cidade de São Luís, os outros três componentes do título se referem a duas nações envolvidas nessa fundação: de um lado a nação indígena, dona da terra e, do outro, a francesa, invasora, colonizadora? Depende também da visão de mundo do leitor/ouvinte. Há algum tempo fiz um texto intitulado “A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville e nele usei como epígrafe: Não faz muito tempo a terra tinha dois bilhões de habitantes, isto é, quinhentos milhões de homens e um bilhão e quinhentos indígenas. Os primeiros dispunham do Verbo (grifo nosso) e os outros pediam-no emprestado. Jean-Paul Sartre Vou transcrever para esta minha fala excertos da introdução do trabalho referido, o qual foi apresentado pela primeira vez no COLÓQUIO IBERO SUL - AMERICANO DE HISTÓRIA: entre os dois


lados do Atlântico“, em Florianópolis, de 07 a 19 de setembro de 2009, e publicado na Revista Eletrônica do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Volume 31 - novembro de 2009. Introduzo a temática dizendo nas páginas 44 e 45: Todos os colonizadores, sem exceção, apresentam, à primeira vista, uma lógica no discurso da dominação muito convincente e sempre permeada por uma nobreza incontestável. Os portugueses, franceses e espanhóis engendravam o fio condutor dos seus discursos de dominação dos povos das Américas Central e do Sul, principalmente a partir da fé, ou seja, da necessidade de expandir o cristianismo para salvar os pagãos através da catequese e do batismo. Demonstravam, nesse argumento, ser essa uma condição natural para o salvamento da alma dos povos indígenas, a exemplo de: “[...] o senhor de La Ravardière [...] sempre desejoso da glória de Deus, da salvação das almas dos selvagens e da honra que colheria a França de tudo isto [.]” (D’ABBEVILLE, 2002, p.37), e ainda, “Não tendo o Sr. de Rasilly, quando se associou a essa empresa, outro fim além do piedoso desígnio de plantar nessas terras a nossa fé, por isso suplicou humildemente à rainha alguns padres capuchinhos, por ele estimados desde a sua infância” (D’ABBEVILLE, 2002, p.37). Quero abordar parte de três discursos com as devidas réplicas para subsidiar estas reflexões: O primeiro é o notável discurso de Japiaçu, o grande líder Tupinambá da região, o qual convidou o Sr. De Rasilly para uma reunião para acertaram as regras da boa convivência. Na tenda do cacique, cada um numa rede como já era o costume. Diz Japiaçu Estou muito contente, valente guerreiro, da tua vinda a esta terra para nos felicitares e defender-nos dos nossos inimigos já começávamos a entristecer-nos vendo que não chegavam franceses guerreiros sob o comando de um grande Buruuichaue para habitarem esta terra e já tínhamos resolvido deixar esta costa e abandonar este país com receio dos peros, nossos mortais inimigos[...] Deus teve piedade de nós, mandando-te aqui [...] Alcançarás grande fama entre as pessoas distintas, por haveres deixado tão belo país como a França, tua mulher, teus filhos, e todos os teu parentes para vires habitar esta terra, a qual não seja tão bonita como a tua, e nem tenhas aqui todas as comodidades como lá, contudo quando notares a bondade da nossa terra [...] e quando te acostumares aos nossos viveres acharás que a nossa farinha não difere muito do teu pão, que já comi muitas vezes. Quanto às casas, fortalezas e outras obras manuais, nelas trabalharemos todos [...] Nossos filhos aprenderão a lei de Deus, vossas artes e ciências [...] Agora porém nada tememos, porque tu chegaste, e com tua boa gente há de restituir a nossa nação à sua grandeza primitiva. Finalmente tenho muita esperança em tua bondade e brandura, porque me parece ver, entre teus modos guerreiros, maneiras afáveis e próprias de uma personagem que nos governará mui prudentemente, e ainda te digo que, quanto mais distinto é o berço do homem e quanto maior for o seu poder sobre os outros, mais dócil, mais obsequioso e clemente deve ser. Porque os homens, especialmente os desta nação, mais facilmente se levam pela brandura do que pela violência. Quanto a mim, sempre pratiquei essa máxima com aqueles que tive sob meu comando e sempre me dei bem".Tenho também notado entre os franceses, e se o contrário acontecesse, esconder-nos-íamos nos bosques, onde ninguém nos descobriria (D’ ABBEVILLE 2002, pp. 85-91). Transcrevo agora o segundo discurso, discurso do velho índio, chamado Mamboré-Uaçau, maior de 180 anos, o qual tomou a palavra em presença de todos os principais da aldeia, depois de plantada a grande cruz na frente da capela, no meio da praça, dirigindo-se ao Sr. Des Vaux: Vi o estabelecimento dos peros (portugueses) em Pernambuco e Potiiú e o seu princípio foi como o vosso agora. No princípio, os peros só queriam negociar, e não morar aí; dormiram à vontade com as raparigas, o que os nossos companheiros reputavam grande honra. Depois lhe disseram ser preciso morar, construir fortalezas, edificar cidades e morarem juntos parecia só desejarem ser uma nação; depois fizeram entender que não podiam ter as filhas sem casamento


e só podiam casar-se com elas se fossem batizadas. Vieram os padres, plantaram uma cruz, começaram a instruí-los e depois foram batizados. Depois fizeram ver que eles e os padres precisavam de escravos para servi-los. Não satisfeitos com os escravos aprisionados na guerra, quiseram também seus filhos, e finalmente cativaram toda a nação com tirania e crueldade levando aqueles que escapavam a deixar o país. Assim aconteceu com os franceses, primeiramente viestes só para negociar e não falastes em vir morar aqui, agora para morardes aqui nos aconselhais a fazer fortaleza e trouxestes-nos um buruuichue e padres. Depois da chegada dos padres plantastes a cruz e começastes a instruí-los a batizá-los e como os perosdizeis que não podeis possuir nossas filhas senão em casamento, e depois de batizadas. A princípio também não quisestes escravos, agora pedis e quereis possuí-los. Não creio que tenhais os mesmos projetos e nem receio isso, porque já sou velho demais e nada temo, porém conto ingenuamente o que vi. O discurso do velho índio abalou a maior parte dos espíritos e causou muita admiração ao Sr. Des Vaux, que assim respondeu: Admira-me muito que tu, que bem conheces os franceses há muito tempo, ouses compará-los aos peros, como se não conhecesses a diferença entre uns e outros. [...] A afeição que, como sabes, sempre tive à tua nação me fez empreender tão longa e perigosa viagem, com risco de minha vida, para trazer um maioral e valentes soldados, como me pedistes, não só para defender e proteger [...] Se os franceses têm feito tantos bens a ti e aos teus semelhantes, se são vossos melhores amigos e aliados, como não podes deixar de confessar (grifo nosso), és muito injusto comparando-nos aos peros[...]. (D’ABBEVILLE, 2002, pp. 156-158). No discurso do velho índio, Mamboré-Uaçau, apesar de afirmar que acreditava que os franceses não tivessem os mesmos projetos dos portugueses e colocasse que não tinha receio, me parece que a desconfiança estava plantada, até pelos procedimentos de os franceses seguirem a mesma estratégia dos portugueses. Des Vaux replica insistindo nas boas intenções, afeições e o bem que os franceses já tinham feito para os nativos chamando o velho índio de injusto. E por fim, o terceiro diálogo que se encontra registrado no Capítulo XIII do livro “Viagem à Terra do Brasil”, de Jean de Léry, publicado na França em 1578. Léry (1534-1611). Jean de Léry fez parte do grupo de 14 calvinistas que vieram de Genebra com o objetivo de criar a “França Antártica” dirigida por Villegagnon, uma colônia francesa na Baía da Guanabara. Sua permanência no Brasil foi de fevereiro de 1557 e janeiro de 1558, revelando-se depois um notável observador da natureza local e dos costumes indígenas que resultou na publicação do livro anteriormente referido. Passemos então ao rico diálogo entre um velho índio Tupinambá e Jean de Léry: Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutã (madeira pau-brasil). Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, mais e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muitas, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele supunha, mas dela extraímos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente: - E porventura precisais de muito? - Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas; acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? - Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo:


- E quando morrem para quem fica o que deixam? - Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes próximos. - Na verdade, continuou o velho, que como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados (publicado no livro "Viagem à terra do Brasil" de Jean de Léry)http://www.iande.art.br/textos/velhotupinamba.htm Esse diálogo demonstra claramente os ideais de acumulação do sistema mercantilista em contraposição à não privatização dos meios de produção da sociedade tribal, o comunismo primitivo, e somada a essa questão, a ecológica, demonstrada no amor à natureza e cuidado com o ambiente entendidos e experiencia dos de modo antagônico nos dois tipos de sociedades aqui colocados. Para finalizar quero enunciar o conceito de Colonização, que, segundo o dicionário da língua portuguesa, é a ação e o efeito de colonizar, estabelecer colônia, fixar num terreno a morada daqueles que o cultivaram. A colonização costuma referir-se ao assentamento de um povo, os colonos numa zona desabitada. O conceito é usado como justificação para apoiar o direito à ocupação de um território supostamente virgem, o que implica ignorar uma ocupação anterior por parte de outros grupos nativos ou indígenas. Como segundo passo desta argumentação fica incontestável que tanto o discurso como o agir do dominador podem materializar-se por clara violência, acompanhado de um discurso de justiça ou outro similar, ou mesmo por falsa amizade que oculta os interesses escusos, como é o caso dos franceses, que, como já foi referido, tinham a intenção de conquistar as terras já conquistadas (invadidas) pelos portugueses e se valeram da amizade de J. Riffault com o índio Ouirapiue, de modo a obter as informações sobre a cobiçada terra. Por outro lado, existem aqueles que, no seu próprio tempo, conseguem vislumbrar o real significado do discurso e do agir do dominador, a despeito de toda a força ideológica. Estes podem ser observados na fala contundente do índio Mamboré-Uaçau, ou em outro tempo como no poema Na Missão,também no poema Declaração solene dos povos indígenas do mundo. Eles traduzem a implacável violência do conquistador-dominador: Na Missão No aldeamento quem mandava não era mais o chefe indígena. Quem mandava era o missionário. Era o missionário que mandava plantar a roça. Era o missionário que mandava assistir à missa. Era o missionário que mandava construir as casas. O missionário mandava na vida do índio. Na missão os índios trabalhavam para os padres. Tinham que trabalhar três dias por semana para os padres. Tinham que trabalhar com hora marcada. Não podiam mais caçar na hora que queriam. Não podiam mais pescar na hora que queriam. Não eram mais eles que dividiam a caça. Não eram mais eles que dividiam todas as coisas da roça. O aldeamento da missão quase acabou com os índios. Os índios morreram de doença.


Morreram de fome. Morreram de tristeza. (Conselho Indigenista Missionário – CIMI). Declaração Solene dos Povos Indígenas do Mundo Nós, povos indígenas do mundo, unidos numa grande assembléia de homens sábios, declaramos a todas as nações: Quando a terra-mãe era nosso alimento quando a noite escura formava nosso teto, quando o céu e a lua eram nossos pais, quando éramos irmãos e irmãs, quando nossos caciques e anciãos eram grandes líderes, quando a justiça dirigia a lei e a sua execução, Aí, outras civilizações chegaram! Com fome de sangue, de ouro, de terra e de todas as suas riquezas, trazendo em uma mão a cruz e na outra a espada. Sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos, nos classificaram abaixo dos animais. Roubaram nossas terras e nos levaram para longe delas, transformando em escravos "os filhos do sol". Entretanto, não puderam nos eliminar, nem nos fazer esquecer o que somos, porque somos a cultura da terra e do céu, Somos de uma Ascendência milenar E somos milhões, E mesmo que nosso universo inteiro seja destruído NÓS VIVEREMOS Por mais tempo que o Império da morte! (Conselho Mundial dos Povos Indígenas). Não pode ser negado que os que habitam a Ilha até hoje, a meu exemplo, são também implacáveis invasores, mas como não poderia deixar de ser, concomitantemente fervorosos amantes desta Ilha, e como forma de amenizar o peso do nosso “pecado” e “limpar a nossa culpa” louvamos por meio da poética esta ilha afrodisíaca, às vezes denominada de Ilha do Maranhão, outras vezes, de Ilha de São Luís, de Ilha do Amor ou mesmo Ilha dos Amores, como a chamo em um dos meus poemas. ILHA DOS AMORES São Luís ilha dos muitos mares também pudera é a “Ilha dos amores!” amor e mar combinação perfeita eternizada


quando a onda deita meus dissabores sobre a areia branca! são tantas praias imensas insondáveis desertas ou cheias de pés descalços pequenos frágeis como os meus sonhos que sempre se esvaem pela madrugada ou morrem afogados pelas ondas! (ADLER 1997, p. 36). Que a combinação perfeita amor e mar possam trazer não apenas aos habitantes da Ilha, mas aos habitantes de todo o planeta a necessidade de um discurso e de um agir permeado pela verdade, solidariedade, que são resultantes do amor ao outro e ao mundo humano. REFERÊNCIAS

ADLER, Dilercy Aragão. A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville. REVISTAELETRÔNICADO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, Nº 31, novembro de 2009. ISSN 1981-7770. D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. Reprodução Fac-similar da edição publicada pela Livraria Martins Editora: 1945; trad. Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de SÃO Paulo, 1975. ______. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. SÉRGIO MILLIET segundo a edição de PAUL GAFFÁREL com o Colóquio na língua brasílica e notas tupinológicas de PLÍNIO AYROSA BIBLIOTECA DO EXÉRCITO – EDITORA, 1961.







Rafael Balseiro Zin Pesquisadoras e Pesquisadores das Literaturas Negra e Afro-Brasileira

Aos que aguardavam ansiosamente, como eu, eis a mais nova capa da sexta edição do romance "Úrsula" (1859), de Maria Firmina dos Reis. O lançamento oficial está previsto para acontecer durante as atividades do VIII Seminário Internacional e XVII Seminário Nacional Mulher e Literatura, que será realizado entre os dias 17 e 20 de setembro, na UFBA. De acordo com o professor Eduardo de Assis Duarte (UFMG), responsável pela organização do livro e pelo novo prefácio que acompanha essa edição, a Editora da PUC Minas garantiu a logística para o lançamento em Salvador. Estarei por lá participando de uma mesa em homenagem à Firmina e quero ser o primeiro da fila. Mas, para quem não puder comparecer ao encontro, "Úrsula" estará à venda pela internet e nas principais livrarias de todo o Brasil, a partir da segunda quinzena de setembro.





CONCURSO PARA A LETRA DO HINO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS -ALL 08 de setembro a 20 de outubro de 2017 REGULAMENTO A Academia Ludovicense de Letras-ALL lança no dia 08 de setembro, aniversário de 405 anos da cidade de São Luís, o concurso para a escolha da letra do seu Hino. 1.Tema: Louvor às letras/literatura e à Academia Ludovicense de Letras - ALL A referência à cidade de São Luís e à Maria Firmina dos Reis são fundamentais. A letra deve ter uma métrica regular e fluente; A letra deve ter forma de rima, embora possam ser usados versos livres. Contudo, a rima, quando bem utilizada, facilita a execução e a memorização do canto. 2. CRITÉRIOS PARA A ANÁLISE DA QUALIDADE LITERÁRIA DO TEXTO: Tratando-se de forma poética serão observados, em especial, os seguintes critérios:  Emprego da função da linguagem mais adequada ao tema;  As qualidades do estilo, em especial quanto aos princípios da correção, da originalidade e da expressividade poética, mediante o emprego pertinente de figuras de linguagem;  O desenvolvimento do texto quanto ao ordenamento das ideias (Início, meio e fim). 3. PRAZO: As composições devem ser enviadas à ALL até o dia 20 de outubro de 2017, para serem encaminhadas para a Comissão Julgadora, que escolherá os 3 primeiros colocados, elaborando uma lista tríplice que será apresentada em plenário, para a escolha da letra vencedora pelos membros da ALL, por meio de votação/eleição. O resultado será anunciado o resultado no dia 11 de novembro, por ocasião da comemoração do centenário de falecimento da Patrona da ALL, Maria Firmina dos Reis. 4. NORMAS DE INSCRIÇÃO: Qualquer pessoa pode participar, membro ou não da Academia, salvo os integrantes da Comissão Julgadora, podendo haver parceria entre letristas;  O prazo de entrega é até dia 20 de outubro de 2017. Para quem entregar pelo correio, vale a data do carimbo do envio;  Os concorrentes deverão enviar três cópias da letra do Hino em um envelope com o pseudônimo (nome de fantasia) do(a) autor(a), no remetente. Ainda dentro deste envelope, os dados de identificação num envelope fechado do(a) autor(a) com o pseudônimo, junto com o termo de Cessão de Direitos Autorais (Cf. ANEXO I), preenchido e assinado, para o seguinte endereço: 

Casa de Cultura Josué Montello-CCJM Rua das Hortas, nº327 Centro CEP: 65 020-270


ANEXO I TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS PATRIMONIAIS

PSEUDÔNIMO____________________________________________________ NOME ____________________________________________________________ RG _____________________________________________________________ CPF ____________________________________________________________ ENDEREÇO Rua ____________________________________________ Número _____________ Bairro ______________ Caixa Postal _________ CEP ____________Cidade ______________ Estado ________________ E-mail ________________TELEFONE ________________ FAX ___________________

Por meio deste termo, cedo à Academia Ludovicense de Letras -ALL com sede provisória no Palácio Cristo Rei, inscrita no Cadastro de Contribuintes sob o número 20. 598. 877/0001-33, os direitos autorais patrimoniais da(s) minha(s) letras para o Hino da ALL.

Cidade, _________________________________data ______________

NOME______________________________________________________

Assinatura ______________________________________________


RESULTADO DAS ELEIÇÕES VOTANTES: (01) Dilercy Aragão Adler, (2) Sanatiel de Jesus Pereira, (3) Raimundo Nonato Serra Campos Filho; (4) Leopoldo Gil Dulcio Vaz; (5) Álvaro Urubatan Melo; (6) Paulo Melo Sousa; (07) Osmar Gomes dos Santos; (08) Arquimedes Vale; (09) Aldy Mello; (10) Jucey Santana; (11) Miriam Leocadia Angelim; (12) José Fernandes; (13) Mário Luna Filho; (14) João Francisco Batalha; (15) Felipe Camarão; Votos por correspondência: (16) Daniel Blume de Almeida; (17) José Cláudio Pavão Santana; (18) Antonio Augusto Ribeiro Brandão; (19) Ceres Costa Fernandes; (20) Ana Luiza Almeida Ferro; (21) Maria Tereza Neves; (22) Clores Holanda Silva; (23) Raimundo da Costa Viana; Candidatos à Cadeira 07 patroneada por Antonio Gonçalves Dias; votação: CANDIDATO CLEONES CARVALHO CUNHA BANCOS/NULO

VOTOS 21 02

O CANDIDATO CLEONES CARVALHO CUNHA, CANDIDATO ÚNICO, atingiu 21 votos, sendo eleito para a cadeira 07, patroneada por Antonio Gonçalves Dias. Um voto em branco, e um voto nulo. Apuração da Cadeira 09, patroneada por Antonio Henriques Leal: CANDIDATOS CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA LULA RAIMUNDO NONATO LOPES JUNIOR IRANDI MARQUES LEITE BRANCO/NULO

VOTOS 06 02 11 04

2º 3º 1º

Como nenhum candidato atingiu 16 votos necessários, partiu-se para o segundo escrutínio, sendo necessários 12 (DOZE) votos, indo para a segunda votação os candidatos Carlos Eduardo de Oliveira Lula e Irandi Marque Leite, com a seguinte votação: CANDIDATOS CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA LULA IRANDI MARQUES LEITE

VOTOS 07 13

2º 1º


NULO/BRANCOS

3

-

O CANDIDATO IRANDI MARQUES LEITE, atingiu 13 votos, sendo eleito para a cadeira 09, patroneada por Antonio Henriques Leal . Um voto em branco, e dois votos nulos: Segundo dia (1) Dilercy Aragão Adler; (2) Sanatiel de Jesus Pereira; (3) Raimundo Nonato Serra Campo Filho; (4) Leopoldo Gil Dulcio Vaz; (5) Paulo Melo Sousa; (6) Álvaro Urubatam Melo; (7) Aldy Mello; (8) Felipe Camarão; (9) Roque Macatrão; (10) Raimundo Meireles; (11) Mario Luna Filho; (12) Osmar Gomes; votarão por correspondência: (13) Daniel Blume de Almeida; (14) José Cláudio Pavão Santana; (15) Antonio Augusto Ribeiro Brandão; (16) Ceres Costa Fernandes; (17) Ana Luiza Almeida Ferro; (18) Maria Tereza Neves; (19) Clores Holanda Silva; (20) Raimundo da Costa Viana; (21) José Fernandes; (22) Francisco Batalha; (23) Jucey Santana; (24) Arquimedes Vale; (25) Miriam Leocádia Amorim cadeira 28, patroneada por Astolfo Serra, com cinco candidatos: (a) ANTONIO FRACISCO DE SALES PADILHA; (b) BRUNO TOMÉ FONSECA; (c) MARIA GORETH CANTANHEDE PEREIRA; (d) MOISÉS ABILIO COSTA; e (f) WEWMAM FLÁVIO ANDRADE BRAGA; foi a seguinte votação: CANDIDATOS ANTONIO FRANCISCO DE SALES PADILHA BRUNO TOMÉ FONSECA MARIA GORETH CANTANHEDE PEREIRA MOISÉS ABILIO COSTA WEWMAM FLÁVIO ANDRADE BRAGA BRANCOS/NULOS

VOTOS 9 10 01 03 02 -

2º 1º 5º 3º 4º

Como nenhum candidato atingiu 16 votos, passou-se à segunda votação, concorrendo os dois mais votados, Bruno Tomé Fonseca (10 votos); Antonio Francisco de Sales Padilha, com 9 votos; precisando, agora, de 13 votos: CANDIDATOS ANTONIO FRANCISCO DE SALES PADILHA BRUNO TOMÉ FONSECA BRANCOS/NULOS

VOTOS 09 11 05

2º 1º

Como nenhum candidato conseguiu os 13 votos necessários, passou-se à terceira votação, sendo eleito o mais votado; foram 4 votos nulos e 1 em branco foi a seguinte a votação: CANDIDATOS ANTONIO FRANCISCO DE SALES PADILHA BRUNO TOMÉ FONSECA BRANCOS/NULOS

VOTOS 09 12 4

2º 1º

O candidato BRUNO TOMÉ FONSECA, com 12 votos, foi eleito para a cadeira 28, patroneada por Astolfo Serra; Cadeira 29, patroneada por Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilu Melo), com os seguintes candidatos: (a) Américo Azevedo Neto; (b) Dinacy Mendonça Correa; (c) Roberto Franklin Falcão da Costa; um envelope do voto por correspondência veio sem o voto do primeiro escrutínio, considerado abstenção;foi a seguinte votação: CANDIDATOS AMERICO AZEVEDO NETO DINACY MENDONÇA CORREA ROBERTO FRANKLIN FALCÃO DA COSTA BRANCO/NULO/abstenção

VOTOS 15 06 3 1

1º 2º 3º

Como nenhum candidato conseguiu os 16 votos necessários, passou-se para o segundo escrutínio, concorrendo os dois mais votados: Américo Azevedo Neto (15 votos) e Dinacy Mendonça Correa (06 votos), sendo necessários, agora, 13 votos CANDIDATOS AMERICO AZEVEDO NETO DINACY MENDONÇA CORREA BRANCO/NULO/abstenção

VOTOS 17 07 1

1º 2º

Eleito o candidato AMERICO AZEVEDO NETO, com 17 votos, para a cadeira 29, patroneada por Dilú Melo;


IRANDI MARQUES LEITE A intensidade dos votos Causou atrito Nas paredes internas da urna Um som ecoou E rompeu ares e mares Os índios Tupinambás Ouviram a mensagem Os tambores rufaram A Ilha Upaon Açu balançou O eco atravessou mares Os índios Maias decodificaram a mensagem -Um nome indígena Na Academia Ludovicense de Letras. A partir de agora vou navegar Num plano tridimensional. À Antônio Henriques Leal, Aos confrades e confreiras, A Deus, o criador do livro maior, Za ' ari Katu apo Gracias sem limites, Com tendência para o infinito.


POSSES


JUCEY SANTOS DE SANTANA, CADEIRA 35 PATRONEADA POR DOMINGOS VIEIRA FILHO





DISCURSO DE ACOLHIDA DE JUCEY SANTOS DE SANTANA, CADEIRA 35 PATRONEADA POR DOMINGOS VIEIRA FILHO RAIMUNDO GOMES MEIRELES

Senhora Dilercy Adler, Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Senhor Benedito Buzar, Presidente da Academia Maranhense de Letras, Senhor Inaldo Lisboa, Vice Presidente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, Senhoras e Senhores acadêmicos, Senhoras e Senhores, Itapecuru-Mirim presente, São Luís presente, não tenhamos dúvidas de que a presença de uma rosa num jardim, uma simplesmente, faz a diferença. O perfume, a cor, os espinhos, o tamanho e o formato das pétalas, tudo tem seu significado e sua representação na Casa de Maria Firmina dos Reis. Senhoras e senhores, A minha participação nesta bela noite encantada da Ilha de São Luís do Maranhão, não creio que vá além do que o laboro do teoro, do grego, theorós, que possuía a função de apenas ver, observar, examinar os espetáculos, de assistir às festas solenes, à contemplação do espírito, assistir aos jogos etc. Hoje, pela própria natureza do encargo, não que vá, além disso, mas ao acolher a nobre Confreira Jucey, estarei realizando uma ação coletiva e dinâmica, semelhante ao vocábulo ita, originário do topônimo Itapucuru, para indicar o local de seu nascimento: pedra, “pé”, igual a caminhar, dando-nos a idéia de dinamicidade, mulher diligente, ágil e proativa.

Acadêmico da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL), Cadeira nº 17, patroneada por Catulo da Paixão Cearense.


Digo-vos isto, Senhores e Senhoras, porque não serei detentor do conhecimento da prática e muito menos farei qualquer alteração na vida da Confreira Jucey Santana, antes, apenas assumo o papel de trazervos à baila o que de mais belo e significante esta Itapecuruense traz consigo para engrandecer o patrimônio literário de nosso Silogeu, tamanha experiência, enorme bravura e muita vontade de colaborar com os que somam para elaborar e construir um legado favorável às letras, literatura e artes de nossa São Luís e de nosso Maranhão. Senhora Presidente, Estamos diante de uma mulher, Jucey Santos de Santana,que não fala de si, às vezes tímida, mas não nos enganemos, talvez por possuir o sangue nas veias daquela que “viveu na vanguarda do seu tempo, que na época já vislumbrava uma prefiguração da mulher dos tempos atuais. Ela não temia quebrar as regras de uma sociedade preconceituosa para impor o seu trabalho e talento”. Exemplo de simplicidade, marcada por um recato que lhe era peculiar. Senhora esta, que posteriormente, veio a ser eleita no dia 24 de julho de 1948 como a segunda mulher a ter assento na Academia Maranhense de Letras, como fundadora da Cadeira 32, patroneada pelo poeta caxiense Vespasiano Ramos. Senhoras e Senhores, Revelo-vos, do fundo do coração, a alegria e satisfação em saudar a mais nova Pedra preciosa que hoje adentra oficialmente as portas da Academia Ludovicense de Letras. A sua beleza não se explicita somente pela exterioridade, pois o exterior é falho, enganoso e traiçoeiro, quando não superficial, além disso, facilmente somos atraídos pela vaidade. E nem teria motivação para agir de tal forma, pois seguirá a anuência de uma das maiores personagens da literatura maranhense e do Brasil. Confrades e Confreiras, Esta noite é privilegiada, porque assumimos uma postura de verdadeiros irmãos, pois ao nos comportarmos não simplesmente com base nas normas estatutárias de nossa Academia, bem melhor seria se transcendêssemos no mínimo um obstáculo, que geralmente invade os sobreviventes da casa comum – a vaidade humana, que geralmente nos torna míopes. A propósito, permitam-me referir-me sobre o maior pensador da língua portuguesa do séc. XVIII, o brasileiro Mathias Aires. Certa vez o escritor Ariano Suassuna comentou que as universidades brasileiras pensam e ensinam de costas para o nosso país. Provou dizendo o seguinte: Pedi que levantassem a mão os que, ali, pelo menos uma vez, já tivessem ouvido falar em Kant. Todo mundo fez gesto que eu solicitara. Fiz então, pedido igual em relação a Mathias Aires e somente um rapaz ergueu, de novo, a mão que baixara. Comentei: Estão vendo? Mathias Aires, o maior pensador de língua portuguesa do século 18, era brasileiro e paulista: e, aqui, só é conhecido por aquele rapaz que ali está! Voltei-me para o solitário e indaguei: Você já leu Mathias Aires? Ou somente ouviu falar sobre ele, em alguma das aulas que recebeu? O rapaz respondeu: Nem uma coisa nem outra. Conheço o nome porque, aqui em São Paulo, moro na rua Mathias Aires (MATHIAS AIRES. Reflexões/d: 10). Senhora Presidente, Quem bate à porta desta Casa não é gente desconhecida: é gente que reside em nossa Cidade, bebe nossa água, nutre-se dos frutos do nosso mar, conhece a feitura dos nossos casarões e sabe o valor a atribuir às nossas letras e à nossa cultura maranhense. Contudo, não nos esqueçamos de que a vaidade humana é traiçoeira. Eis o motivo pelo qual insisto na Filosofia de Aires: Vanitas vanitatum et omnia vanitas (Eclo I,2). Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Permitam-me retornar ao pensamento deste sábio escritor. Insiste ele: Tudo o que consta de imaginação unicamente, nem se passa, nem se dá, nem se transmite. A vida com que vive um não é a mesma que outro vive; a imaginação de um não é a mesma que outro tem. A vaidade desperta a imaginação, ou a idéia de nobreza; esta não vem como imaginação herdada, mas adquirida; e ninguém sabe que a tem, ou a não tem, senão depois que o imagina: naquela imaginação o que se ganha, ou perde, é um pensamento; e este, quando é


falso, não tem menos entidade que quando é verdadeiro; porque nas coisas vãs, a vaidade não vale mais do que mentira. Confrades e Confreiras, eis por que também a nós, ao despontar a vaidade, mantenhamos a chama acesa da vigilância. Contudo, esta noite também é digna de certa vaidade, porque dá alento e alegria aos nossos corações, pois seríamos mais que mentirosos ao negar a vaidade beligerante entre nós. O autor sagrado citado alhures, diria que a omissão da vaidade também seria vaidade. Desta feita, o meu patrono, Catulo da Paixão Cearense, o boêmio das noites de luar, na visão de certos críticos, era tido como homem de extrema vaidade. Considerava-se “grande”, por isso nutria respeito às pessoas pequenas. Viveu sempre entre os pobres. Diga-se de passagem: a vaidade era em relação à sua arte, e não à sua pessoa. Ele adquiriu consciência de sua obra na labuta da sobrevivência. A despeito disso, enquanto declamava não admitia um ruído sequer, em um botequim que fosse, ou na residência do intelectual. A este também não lhe escapou a vaidade. E poderíamos perguntar-nos: por que a insistência? – exatamente para que a confreira não altere sua disponibilidade e se mantenha, como de fato ela é, pois a acolhemos como expressou o poeta itabirano: “não nos afastemos muito, não nos afastemos nunca, vamos de mãos dadas”. Jucey Santana que foi eleita para a Academia Ludovicense de Letras para ocupar a cadeira 35, patroneada por Domingos Vieira Filho que foi professor, advogado, escritor, jornalista, pesquisador, folclorista; portanto, se não houver de início nenhuma afinidade a princípio com o mestre, uma dica do confrade que vos fala: iniciai pelo seu instrumento de labor, o Direito, matéria com que o mestre forjou muitos discípulos em nossa Universidade Federal do Maranhão. Como amicus curiae, por ser conhecedora do jus, saberá com mestria, identificar as qualidades de quem ofereceu uma vasta contribuição à literatura de nosso Estado, pois, com certeza é conhecedora do incremento de qualidade das decisões judiciais, assim como a perfeita harmonia ante a enorme contribuição do patrono em tela. Coloquei em suas mãos alguns exemplares de suas obras, de certo, não o suficiente para seu aprofundamento, mas para que levasse consigo o tesouro que futuramente lhe poderia oferecer alento, gratidão e louvação ao se deparar com um poeta profundo conhecedor de nossa gente, de nossa cultura e de nosso belo folclore. Confreira Jucey, seu patrono é um homem de Letras raras, que escreveu sobre São Luís, o Maranhão, o Brasil com os valores que lhe são peculiares. Sim, quem foi mesmo Domingos Vieira Filho? Para esta pergunta não se obterá resposta, para que, nesta noite possa nos falar com maior autoridade, com beleza e encanto. A Confreira Jucey possui dois livros publicados, Mariana Luz, vida e obra e Itapecuruenses Notáveis, com outras publicações no prelo. Em 2016 em parceria com o imortal da AICLA, o confrade Inaldo Lisboa publicou, João Batista: um homem itapecuruense e sua múltipla história.No mesmo ano, em parceria com a confreira Itapecuruense, a brilhante escritora Assenção Pessoa, publicou a coletânea, Inspirações Poéticas. Em abril de 2017, em parceria com o amigo escritor e pesquisador João Carlos Pimentel Cantanhede publicou a obra Púcaro Literário I, uma obra fabulosa, prefaciada pelo nosso Confrade João Batalha. A Confreira Jucey possui dois livros inéditos: Sinopse da História de Itapecuru-Mirim e A História da Igreja e padres de Itapecuru Mirim que pretende lançar por ocasião das festividades dos 200 anos de Itapecuru Mirim, em 2018! Senhores e Senhoras, peço-vos vênia, com certo medo da injustiça, não mais comentar absolutamente nada sobre aquela que chega às portas de nosso templo, mas, para não pecar por omissão, a Confreira contribuiu diretamente em várias publicações, que sem sua participação teriam acarretadas em prejuízo: a obra do General Hastimphilo de Moura, as obras do Confrade Tiago Oliveira, as obras do Confrade Brenno, além de auxiliar tantos escritores na publicação de suas obras junto a AMEI. Na verdade, é uma entusiasta da juventude que ama as letras e as artes.


Atualmente está sob sua égide, a organização e publicação dos textos dos recuperandos da APAC que incentiva através do projeto de Leitura para Remição da Pena. Além disso, está organizando um projeto para publicação da produção dos textos dos alunos do SESC Ler, de Itapecuru Mirim. Possui vários projetos de sua autoria: Semana da Cultura de Itapecuru Mirim, Escola de Desenho e Pintura da Casa da Cultura de Itapecuru Mirim, a Sexta Cultural e a AICLA Vai à Escola. É conhecida como ”madrinha” de alguns grupos culturais de sua terra natal. É Vice-Presidente da Associação Maranhense de Escritores Independentes – AMEI, tesoureira da Federação das Academias de Letras do Estado, Presidente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA. Senhora presidente, Prefiro parar por aqui, hoje devemos calar-nos, para que aquela que veio com cheiro da poetisa, que nos precedeu, Mariana Luz, possa ser ombreada à Maria Firmina dos Reis, a quem honra manifestamos pela magnitude de sua obra. Mariana Luz exalta a unidade entre o sol e a flor: Outrora, a fronte orgulhosa, Planta cheia de amor! Bendita a luz dos teus olhos: Foste o Sol, eu era a flor. E Maria Firmina em seu encanto, desfecha: Canta, poeta, teu cantar singelo, Meigo, sereno com um riso d´anjos; Canta a natura, a primavera, as flores, Canta a mulher a semelhar arcanjos. Que Deus envia à desolada terra, Bálsamo santo, que em seu seio encerra. Portanto, Confreira, podes entrar mas entra como quem veio para ser o brilho encantador do legado destas duas Mulheres. Uma que trazes, a outra que encontras. Para tanto, tenha contigo que não és somente flor, mas uma rosa, embora a rosa possua em seu caule espinhos que ferem, mas o perfume de suas pétalas é mais encantador. Enfim, como disse certa vez o nobre Confrade João Mendonça Cordeiro, do IHGM, “Domingos Vieira Filho era como ABELHA que na defesa do seu trabalho ferroa, fere, e pode também oferecer um favo de mel, no atendimento afável, na busca da cultura, na difusão do saber” (CORDEIRO, Perfis, 2015, p. 233). Por outro lado, a abelha serve-se do néctar da flor e despreza a rosa, provavelmente em função do cheiro. Às vezes preferimos as rosas, por seu perfume duradouro, como deve ser tua presença entre nós. Mantenhamos a abelha, a flor e a rosa, pois, com toda evidencia, os favos serão conseqüências. O importante agora é seu legado e sua luta. A Casa é tua!


DISCURSO DE POSSE Acadêmica Doutora Dilercy Aragão Adler, Presidente da Academia Ludovicense de Letras. Acadêmico Benedito Bogea Buzar, Presidente da Academia Maranhense de Letras. Autoridades presentes, Senhoras e Senhores Acadêmicos, amigos e demais convidados. Meus familiares – as filhas Adriana e Gabriela, meus filhos Santana Júnior e José Manoel (ausente) meus netos Hugo, Paulo José, Bruna e Davi, meus genros Fábio e Nilo, irmãos e demais parentes que considero o centro da gravidade de minha vida, me acompanhando e alegrando minha existência. Agradeço a presença dos meus conterrâneos, dos confrades e confreiras da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, aos diletos amigos de São Luís da Igreja aqui representada pelos Padre Caetano e Raimundo Meireles e o secretário de cultura de Itapecuru Mirim, Senhor Evalto Diniz e prefeito municipal representado pelo imortal Benedito Buzar. Minhas Senhoras e meus senhores: Neste momento quero fazer uma saudação aos meus pais in memorian. Minha mãe afro descendente, filha de cearenses retirantes da seca, que povoaram a Ribeira do Itapecuru no início do Século XX. Viúva e com limitados estudos me encaminhou para a vida com bom senso, honestidade e sabedoria próprias das mulheres do interior. Meu pai também descendente de uma cearense e de um libanês. A ele devo o gosto pela leitura, por histórias e avidez por conhecimentos gerais. Um enfarte interrompeu este aprendizado quando eu tinha apenas 12 anos. Pelo lado nordestino me considero, sonhadora, roceira, meia cangaceira, costureira, bordadeira, vendedora, teimosa, devota de Padre Cícero, simpatizante de Gonzagão e Domiguinhos. Quando criança apreciava nas noites de lua ouvir os cantadores narrarem ou cantarem cordéis de Patativa do Assaré, Firmino Teixeira Amaral, Cego Aderaldo, Gonçalo da Silva e tantos outros naqueles livretos ilustrados com xilogravuras sobre a memória dos sertões, bravuras de Lampião e Maria Bonita, as secas nordestinas, a luta dos sem terra, pelejas de ricos e pobres e tantos outros temas nordestinos. Também trago na veia o sangue libanês, do meu avô paterno, povo trabalhador que no final do Século XIX e início do século XX chegou na decadente Itapecuru Mirim dando-lhe um impulso progressista. E como Itapecuruense, tenho orgulho da minha terra, amo a sua história, os seus saberes culturais, a sua gente e as minhas raízes familiares. Dedico este momento a memória dos meus pais. Senhoras e Senhores Acadêmicos e convidados.


Quero agradecer aos amigos Raimundo Gomes Meireles, Álvaro Urubatam Melo e Ceres Costa Fernandes meus fieis conselheiros no percurso para chegar a esta Cadeira 35 da Academia Ludovicense de Letras, onde mesmo sem ainda está oficialmente integrada fui acolhida com o carinho de todos, especialmente por parte da Senhora Presidente, a Doutora Dilercy Aragão Adler. Minhas Senhoras e meus Senhores Peço permissão para fazer minhas as palavras de outra itapecuruense que há 78 anos tomou assento como a segunda mulher a adentrar nesta Casa de Antônio Lobo, eleita em 28 de julho de 1948 e tomou posse em 10 de maio de 1949 na Cadeira 32 patroneada pelo autor de “Coisa Alguma” Vespasiano Ramos que atualmente com justiça é amplamente homenageado pelos conterrâneos caxienses pelo recente centenário de sua morte. Mariana foi recepcionada pelo professor e historiador Mário Meireles em evento ocorrido nos salões da Associação Comercial do Maranhão sendo presidente na época o imortal Clodoaldo Cardoso. Conduzida ao recinto pelos imortais José Mata Roma e Rubem Almeida, ela disse em seu discurso lido por Mata Roma: (abre Aspas) “Aqui entro mais pela bondade dos que me sufragaram o meu nome do que pelo valor literário de minha obra. Assim é que vindo para o convívio desta casa, não vos possa prometer o fulgor de produções literárias dignas deste Areópago e de meus Pares. Prometo-vos, entretanto, em troca, a minha dedicação pela salvaguarda do prestígio desta casa pelo seu cada vez maior engrandecimento, de que é penhor o meu acendrado amor ao Maranhão e ao culto perene aos seus filhos ilustres que de verdes anos me acostumei a tributar”. (fecha aspas) Ela chegou a esta casa no advento da abertura à mulher nas suas cadeiras, tendo acolhido seis anos antes, segundo suas palavras a sua “maviosa” amiga Laura Rosa. Mulher resoluta, politizada, sempre esteve na vanguarda do seu tempo educou várias gerações de maranhenses, ensaísta de renome, poetisa, teatróloga, cronista, dramaturga, musicista e oradora inflamada. Rendo neste momento minhas homenagens a Mariana Gonçalves da Luz que também pertenceu a esta casa. Senhoras e Senhores Destaco também outros itapecuruenses nas letras, artes, política, jornalismo e algumas outras áreas do conhecimento humano que fizeram parte desta casa como patronos ou acadêmicos. Como patronos: 1 - JOAQUIM GOMES DE SOUSA- Cadeira 08 (matemático, escritor); 2 - ANTONIO HENRIQUES LEAL – Cadeira 10 (biógrafo, escritor, jornalista); 3 - JOÃO FRANCISCO LISBOA - Cadeira 11 (jornalista, escritor); 4 - JOSÉ CÂNDIDO DE MORAIS E SILVA – Cadeira 13 (jornalista, professor); 5 – PEDRO NUNES LEAL – Cadeira 33 (lexógrafo, escritor, tradutor). Na cadeira 28 temos por patrono um filho de itapecuruense,Luis Antonio Vieira da Silva, que casualmente nasceu em Fortaleza, Ceará quando seu pai Joaquim Vieira da Silva, exercia o cargo de Ouvidor Geral e depois prefeito daquela capital. Como membros efetivos: 1 – SALOMÃO FIQUENE - Cadeira 21 (cientista, professor, escritor); 2 – VIRIATO CORREA - Cadeira 34 (romancista, teatrólogo e jornalista); 4 – BENEDITO BOGEA BUZAR - Cadeira 13 (escritor, professor, jornalista e pesquisador); 5 – MARIANA LUZ - Cadeira 32; E ainda Manoel Caetano Bandeira de Melo, que pertenceu a cadeira 11, filho do desembargador itapecuruense Raimundo Públio Bandeira de Melo.


Para a Academia Ludovicense de Letras Patronos Itapecuruenses: Viriato Correa Cadeira 24 e João Lisboa Cadeira cinco. Membros itapecuruenses: Raimundo Gomes Meireles - Cadeira17 Maria Teresa Azevedo Neves Cadeira 13 (viúva do advogado e político itapecuruense José Bento Nogueira Neves) - Cadeira ? Paulo Melo Sousa cadeira33(filho de um itapecuruense); E agora mais esta itapecuruenses que adentra a esta Casa de Maria Firmina! Não posso deixar de citar aqui os ilustres escritores itapecuruenses de Cantanhede: os meus amigos Arlete Nogueira Machado e João Carlos Pimentel Cantanhede, a quem sou grata. Faço aqui um breve adendo com duas curiosidades. Uma minha e a outra sobre o imortal Benedito Buzar: - Quando me sinto cansada, estressada, largo tudo e vou arrumar minhas plantas. Encontrar formigas, fungos, replantar, mexer virar, trocar de lugar. O verde me favorece e alimenta o meu corpo e revigora o meu espírito. - Quando o presidente da Academia Maranhense de Letras, o imortal Benedito Buzar, está inquieto, estressado, sua esposa o envia para Itapecuru. Lá ele revê os amigos, bate papo aqui e ali, visita os doentes, contemporâneos e volta curado. Receita certeira da Solange. Senhoras e Senhores, A Cadeira 35 para a qual fui eleita tem por patrono Domingos Vieira Filho, um dos maiores estudiosos da cultura maranhense no século XX. Professor, advogado, escritor, jornalista, pesquisador e folclorista. Nascido em São Luís, no dia 25 de setembro de 1923. Filho do farmacêutico Domingos Vieira e de dona Celestina Domingues Vieira. Faleceu, precocemente, em 11 de setembro de 1981, em São Luís, deixando a esposa viúva, Ivete Viveiros Vieira, com os três filhos: Flávia Teresa, Luís Fernando e Jorge Henrique, que exercem, atualmente, os cargos de Procuradora de Justiça, Engenheiro e advogado, respectivamente. Para melhor discorrer sobre a grandiosidade desse ilustre maranhense, tomei como alicerce textos de dois pares seus, tão significativos quanto ele para as letras e para a cultura maranhense de modo geral: o saudoso Nauro Machado e sua viúva Arlete Nogueira. Nauro em seu livro “PROVÍNCIA –O pó dos pósteros” (2012 páginas 95/98) cita Domingos Vieira destacando seu importante papel na defesa das raízes culturais de seu povo e exaltando-o como homem culto, sólido e íntegro, “que se orgulhava da honestidade, jamais desmentida¨. Arlete com grande generosidade, que agradeço carinhosamente, concedeu-me um texto seu, ainda inédito, que trata da trajetória de Domingos Vieira e dela mesma na luta pela valorização da cultura em nosso Estado. Senhora e Senhores, Arlete Nogueira e Nauro Machado, que por longos anos conviveram com Domingos Vieira Filho, agora novamente se juntam a ele como memórias cognitiva e afetiva nesse singelo texto biográfico rabiscado por mim. Domingos Vieira Filho, em 7 de novembro de 1935, recebeu o diploma de conclusão de Primário da Escola Normal Primária, sendo o orador da turma. Teve por mestra a professora Rosa Castro. Fez parte do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. No Último ano do curso (1948) o Diretório integrava um elenco de futuros brilhantes, profissionais seus amigos: José Vera Cruz Marques,


Kleber Moreira Sousa, José Bento Nogueira Neves, Eurico Bartolomeu Ribeiro, José Joaquim Ramos Filgueira, e Murilo Lebre Travassos. Formou-se pela Escola de Direito de São Luís, lecionou no Liceu Maranhense, na Escola Técnica de Comércio Centro Caixeiral e na Academia do Comércio. Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia, tendo sido professor titular nessa Faculdade e no Departamento de direito da Universidade Federal do Maranhão. Foi membro da Comissão Maranhense de Folclore, do Conselho Estadual de Cultura, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, onde ocupou a cadeira 47, que tinha como patrono Joaquim Maria Serra Sobrinho, e da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a cadeira 16, cujo patrono é Corrêa de Araújo. Exerceu, dentre outros cargos, os de Consultor Técnico do Diretório Regional de Geografia, Conselheiro Técnico da Federação do Comercio, Delegado do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Secretario da Subcomissão Nacional de Folclore, Diretor do Teatro Artur Azevedo, Diretor do Departamento de Cultura do Estado do Maranhão e Presidente da Fundação Cultural do Maranhão. Durante o exercício desses cargos, foi reestruturado o Arquivo Publico e concretizada a criação do Museu Histórico de Alcântara. Domingos Vieira Filho era um homem bom, propenso a ajudar a quem lhe recorria com uma causa justa. Ele exigia apenas aquilo que lhe norteava o próprio cumprimento do dever: uma alta responsabilidade moral no trato com a coisa pública. Entre 1961 a 1971, Domingos Vieira Filho foi diretor do Departamento de Cultura, órgão da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Maranhão, em três gestões seguidas: a do Governador Newton Belo (entre 1961 a 1965), do Governador José Sarney (entre 1966 a 1970) e Antonio Dino (entre 14 de maio de 1970 a 15 de março de 1971). Ao Departamento de Cultura estavam vinculados dois órgãos: o Teatro Arthur Azevedo e a Biblioteca Pública Benedito Leite. Durante o período em que esteve à frente desse órgão, Domingos estimulou a pesquisa e produção, prioritariamente, da cultura popular do Maranhão, apoiando artistas populares e grupos folclóricos. Empenhou-se na organização de uma Hemeroteca. Ajudou muitos artistas plásticos, escritores e poetas, colaborando na publicação de seus livros, editando inclusive A história eclesiástica do Maranhão, do Padre Felipe Conduru em 1969. A escritora Arlete Machado substituiu Domingos Vieira Filho, no Departamento de Cultura, em março de 1971, no Governo de Pedro Neiva de Santana (1971-1975). Importante destacar a luta desses dois grandes intelectuais, Domingos e Arlete, pela valorização da cultura do Estado, que antes deles não tinha uma estrutura própria, sendo apenas ligada à Secretaria de Educação. Arlete, sentindo a necessidade de melhores condições para o desenvolvimento da cultura maranhense, sugeriu ao Governador Neiva de Santana a criação de uma Fundação Cultural, em lugar daquele pequeno Departamento, pleito que já vinha sendo cogitado desde o Governo anterior, sendo prontamente atendida pelo Governador, que nomeou uma comissão composta pelo Professor Mário Martins Meirelles, Dr. José de Ribamar Bello Martins e ela própria, Arlete, para organizarem a referida Fundação Cultural que, criada, propiciou o surgimento de novos órgãos que se somaram aqueles dois, já existentes. Criada essa Fundação, o romancista Josué Montello quis ser seu primeiro presidente. Arlete Machado foi nomeada Diretora do Departamento de Assuntos Culturais da Fundação e, a seguir, Diretora do Teatro Arthur Azevedo, enquanto José de Ribamar Martins foi nomeado interinamente Presidente da recémcriada Fundação, guardando lugar para Josué Montello, que, ao mesmo tempo, foi nomeado Reitor temporariamente para UFMA, acabando José Martins por permanecer como Presidente da Fundação Cultural até o final do governo de Pedro Neiva de Santana. Em março de 1975, assume o Governo do Maranhão Dr. Nunes Freire, convidando Domingos Vieira Filho para Presidente da referida Fundação, substituindo José Martins. Domingos restaurou através de convênios com o IPHAN alguns prédios em Alcântara e São Luís, como, por exemplo, o belo sobradão, hoje


Casa do Maranhão, na Praia Grande. Permaneceu até o final desse Governo, março de 1979, passando a presidência do órgão para Bernardo Coelho de Almeida, no governo de João Castello. Bernardo ficou até 1980, quando Arlete Machado foi nomeada para substituí-lo. Nesse período a Fundação Cultural foi transformada em Instituto Maranhense de Cultura (reduziu?) e ficou vinculada à Secretaria de Educação e Cultura. Arlete, então, sugeriu ao Governador Castello que criasse, em lugar do Instituto, uma Secretaria, argumentando que o Maranhão merecia. O Governador atendeu e criou a Secretaria de Cultura do Estado em 1980, nomeando Arlete sua primeira Secretária. Estava Arlete nesse cargo, quando o Professor Domingos Vieira Filho veio a falecer. Coincidentemente naqueles dias, ela concluía a restauração completa de um sobradão, à Rua do Giz, que o Prof. Domingos, durante sua gestão entre 1975 e 1979, adquirira em estado de ruínas, para a Secretaria. Nesse prédio foi inaugurado um centro de cultura popular, que Arlete Nogueira Machado sugeriu ao Governador que batizasse como Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho. Na ocasião, foi lançado o livro O Populário Maranhense, de Dr. Domingos, que dona Ivete, viúva do homenageado, cedeu para lançá-lo na ocasião das festas de inauguração do novo órgão de cultura, em que esteve presente o grande antropólogo maranhense Nunes Pereira, a quem Domingos Vieira Filho dedicava profundo respeito. Como escritor, Domingos Vieira Filho foi discípulo amado de Antonio Lopes, que foi o mentor de uma geração a que pertencem Francklin de Oliveira, Josué Montello, Lucy Teixeira, Manoel Caetano Bandeira de Melo ,Oswaldino Marques, Viégas Neto e muitos outros. Escrevendo com exacerbado amor ao Maranhão, a cultura popular e as tradições folclóricas foi premiado no gênero erudição no ano de 1956, no Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís. Escreveu vários livros, dentre os quais: - “A Linguagem Popular no Maranhão”; “Superstições ligadas ao Parto e à Vida Infantil”; “A Festa do Divino Espírito Santo”; “Folclore Sempre”; “Populário Maranhense” “Os Negros Deformados”, “O Negro na Poesia Brasileira; “Estudos Geográficos do Maranhão”; “A Síntese Histórica da Polícia Militar do Maranhão” e “Breve História das Ruas e Praças”. Além disso, deixou inacabado o livro A Cultura Maranhense, definido por ele como (abre aspas) “Coletânea de artigos sobre escritores, artistas, políticos, estadistas, poetas, cientistas, educadores, prelados maranhenses”. (fecha aspas) A Importância de sua obra foi reconhecida por eminentes estudiosos da cultura popular brasileira que o citaram, como Antenor Nascentes, Luís da Câmara, Mario Souto Maior, Verissimo de Melo. Em 2015, o conjunto de sua obra foi revitalizado com a publicação do “Dicionário da Obra de Domingos Vieira Filho”, de autoria dos pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão Conceição de Maria de Araújo Ramos, José de Ribamar Mendes Bezerra, Maria de Fátima Sopas Rocha, Luís Henrique Serra e Edson Lemos Pereira. O dicionário reúne 118 verbetes, com sínteses do conteúdo publicado pelo escritor“. Na ocasião do lançamento, Domingos foi agraciado com o Título de Doutor Honoris Causa” (in memoriam), pelo então reitor da UFMA, Natalino Salgado. Senhoras e Senhores, Encerrando este breve discurso, peço desculpas, por não ter tido a devida competência para construir uma biografia a altura e merecimento de Domingos Vieira Filho. E ainda um agradecimento especial, ao carinho e cuidados com que sempre me foi dispensado pelo ilustro conterrâneo presidente da Academia Maranhense de Letras Benedito Bogea Buzar. Meu muito obrigado a todos!


NA BERLINDA


ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO JPTurismo, de sábado. Reportagem de Herbert de Jesus Santos sobre o Evento do dia 20/06/17, na BPBL.


JOÃO BATISTA ERICEIRA Lançamento do livro: A Empresa de Economia Mista, o Desenvolvimento do Maranhão.Autor João Batista Ericeira. Livraria e Espaço Cultural AMEI, Associação Maranhense de Escritores Independentes AMEI, Shopping São Luís, São Luís do Maranhão.

O IMPARCIAL, 23 de agosto de 2017




O IMPARCIAL, 24 de agosto de 2017


DILERCY ARAGÃO ADLER JP TURISMO – 07 de julho de 2017 –Karine Baldez Noite de autógrafos

103 años de Nicanor Parra Isla Negra-Las Cruces Poetas del mundo


Dilercy Adler, Brasil ASSIM ÉS TU! De vinagre e de azeite comestível mistura de anjo e belzebu assim Nicanor Parra és feito! assim Nicanor Parra -és tu-! e eu te vi - grande poeta - aquele dia


em frente ao mar em plena calmaria e incursionei por tua anti poesia e passeei por teu passado negro e errante explorando os teus espaços sem paraísos e sobrevivi sem medo ou fobia e me instalei aos teus jardins de luz e sombra me agarrando a tudo que eu queria e me lancei no vácuo sem receio mas com a certeza que te encontraria no meu caminho - não como uma pedra!mas como destino... ...da poesia!

REUNIÃO AMEI Mhario Lincoln Na reunião de ontem (sábado, 26.08.2017), quando José Viégas e Cléo Rolim prestaram contas do primeiro ano da AMEI - Associação Maranhense de Escritores Independentes, além do anúncio dos trabalhos sobre a Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense, (eu serei voluntário), que acontece a partir do dia 8, numa grande promoção, ocupando vários espaços dentro de um dos maiores shoppings da cidade, o São Luís Shopping. a presença colaborativa de dois monstros das artes cênicas do Maranhão: Uimar Junior (ator performista, criador de inúmeras personagens de sucesso, inclusive a famosíssima Mulher Babaçu) e João Ewerton (o primeiro à direita), com um currículo invejável, tendo trabalhado neste Brasil inteiro. Em São Luís, JW prepara roteiro de um longa que deve começar a ser rodado no ano que vem. Na outra foto, com Dilercy Aragão Adler e eu, conversando sobre as festividades de comemoração aniversária de fundação da Cidade de São Luís, (8 de setembro de 1612), que a Academia Ludovicense de Letras irá promover. Dilercy é a presidente. Como se vê, São Luís respira arte todos os dias, todas as horas, todos os minutos, em quaisquer que sejam os lugares. Quando um ou dois artistas se encontram, vira sarau. Tudo isso graças ao esforço hercúlio da AMEI que conseguiu, por esforço individual de diretoria privada e artistas, a concepção dessa instituição que hoje guarda em seus salões de Livraria (ampla) e auditório público, mais de 10 mil obras de autores maranhenses, em diversas áreas, dantes completamente esquecidas. Parabéns mil, José Viegas (Soham Jñana) e Cleo Rolim. Continuo acreditando nesse empreendimento. Está funcionando muito bem, apesar de pouco apoio dos poderes públicos, infelizmente. Em uma das fotos, o prestígio dos autores maranhenses e da sociedade em geral ao empreendimento cultural, talvez, um dos mais saudáveis deste país,



DANIEL BLUME JP TURISMO – 07 de julho de 2017 –Karine Baldez


POESIA EM LISBOA!

O ESTADO MA – PH REVISTA – 23 de agosto de 2017


O IMPARCIAL – NM – 23 de agosto de 2017

Rádio Universidade - FM. Entrevista para o programa "Poesia em Movimento" de Ruy Robson.



ANA LUIZA ALMEIDA FERRRO Caros amigos: Embarco rumo à Espanha para cursar Pós-Doutorado em "Direitos humanos em perspectiva comparada: Brasil e Espanha", na Universidad de Salamanca, a quarta mais antiga do mundo, a partir de segunda-feira, dia 10. O programa é coordenado pela Profa. Dra. Maria Esther Martínez Quinteiro e tem duração de um ano. No fim do mês, volto ao Brasil para escrever o trabalho de pesquisa, a ser defendido perante uma banca de 3 membros na prestigiosa universidade em 2018, com posterior publicação do trabalho. Até breve!

Não dia 19 de julho ministrarei a palestra crime organizado, crime de colarinho branco e direito de segurança na Universidade de Salamanca, Espanha, por ocasião do Congresso Internacional de história dos Direitos Humanos: Dimensões do direito humano de segurança e amplitude.


Caros amigos e amigas: É com prazer que anuncio que a obra Um Trem chamado Sonho, um Sonho chamado Academia (ainda não publicada), de minha autoria, baseada no discurso de posse na AML, foi premiada no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores - UBE-RJ, categoria Ensaio, Prêmio Vianna Moog. Meus agradecimentos e parabéns aos organizadores do concurso! Estou honrada.


Uma boa notĂ­cia publicada na PH Revista, jornal O Estado do MaranhĂŁo, 23 e 24.09.17.



LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Confirmado: Dia 18 de julho inicio minha disciplina – Desenvolvimento e História da Capoeira(gem – do Curso de Capacitação dos Mestres de Capoeira do Maranhão, oferecido pela UFMA/DEF, em parceria com a SEDEL e o Fórum Permanente da Capoeira no Maranhão. Serão capacitados 30 mestres capoeiras. 30 horas, para falar de mais de 200 anos de história/memória... e o mais difícil: aos velhos mestres maranhenses... Patinho, a grande referencia da Capoeira maranhense, da atualidade, seria aluno do Curso... Convite aceito, de Mestre Gavião, para um ‘bate-papo’ sobre A Capoeira no/do Maranhão, em evento de seu grupo, no dia 28 de julho...

IV SIMPÓSIO DE CAPOEIRA DO MARANHÃO – MESTRE GAVIÃO SÃO LUÍS, 28 E 29 DE JULHO DE 2017 – CONVENTO DAS MERCÊS

O DIFERENCIAL DA CAPOEIRA DO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS E DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

Sinto-me honrado com o convite de Mestre Gavião para participar deste IV SIMPÓSIO DE CAPOEIRA DO MARANHÃO. Obrigado, Mestre... Especialmente quando se dá o batizado de seus discípulos. Considera-se o batizado uma roda de capoeira solene e festiva, onde alunos novos recebem sua primeira corda e demais alunos podem passar para graduações superiores. Tradicionalmente, o batizado é o momento em que o capoeirista recebe ou oficializa seu apelido, ou nome de capoeira. A maioria dos capoeiristas passa a ser conhecida na comunidade mais pelos seus respectivos apelidos do que por seus próprios nomes. Apelidos podem surgir de inúmeros motivos, como uma característica física, uma particular habilidade ou dificuldade, uma ironia, a cidade de origem, entre outros. O costume do apelido surgiu na época em que a capoeira era ilegal. Capoeiristas evitavam dizer seus nomes para evitar problemas com a polícia e se apresentavam a outros capoeiristas ou nas rodas pelos seus apelidos. Dessa forma, um capoeirista não poderia revelar os nomes dos seus


companheiros à polícia, mesmo que fosse preso e torturado. Hoje em dia, o apelido continua uma forte tradição na capoeira, apesar de não ser mais necessário.94 Ainda, o capoeirista, além de seu nome dentro da arte-jogo-luta, a partir de seu batizado, estará vinculado ao seu Mestre... Portanto, deve sempre honrar seu Mestre, em todos os momentos de sua vida, dentro e fora da capoeira. Lembrem-se sempre disso, desse compromisso que assumem hoje: todo acerto, ou erro, que cometam, terá reflexos na vida de que os está acolhendo – ‘fulano’ é aluno de Mestre ‘Tal’... Mas passemos ao tema deste bate-papo: “O diferencial da capoeira maranhense”. Tenho advogado a existência de uma capoeira genuinamente maranhense, ao longo destes mais de 20 anos de pesquisas sobre a capoeira, em especial a praticada no Maranhão. Quero deixar claro a todos que não pratico capoeira, não sou capoeira, sou um simples estudioso, em função de minha profissão – professor de educação física – que escreve para aprender. Dedico-me ao resgate da memória dos esportes, da educação física e do lazer no e do Maranhão. Sou pesquisador-associado do Atlas do Esporte no Brasil, e organizador/editor do Atlas do Esporte no Maranhão. Daí, meu interesse e meus escritos sobre a capoeira do Maranhão. A capoeira ainda é motivo de controvérsia entre os estudiosos de sua história, sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu surgimento e o início do século XIX, quando aparecem os primeiros registros confiáveis com descrições sobre sua prática. A capoeira ou capoeiragem é uma expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música95. Desenvolvida no Brasil por descendentes de escravos africanos, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas.96 Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro foi considerada: Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta97. A Roda de Capoeira foi registrada como bem cultural pelo IPHAN no ano de 2008, com base em inventário realizado nos estados da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro, considerados berços desta expressão cultural. E em novembro de 2014, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.98 Considero, como sua origem e definição de capoeira, a que consta do Atlas do Esporte no Brasil 99: A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). “Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança esporte, 94 95

https://pt.wikipedia.org/wiki/Capoeira

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 344. 96 «Roda de Capoeira». IPHAN. 97 Capoeira é registrada como patrimônio imaterial brasileiro - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 98 «Roda de Capoeira é declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade». ONU Brasil. 99 Sergio Luiz De Souza Vieira In DaCosta, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.441.45) DaCOSTA, 2006, , obra citada. p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br


arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica.” Para Vieira (2004)100: “[...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.” Mas, ao estudarmos os diversos documentos – oficiais, e alguns tantos trabalhos acadêmicos sobre a origem da capoeira no Brasil, a maioria – senão todos – se referem como tendo surgido na Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco... todos portos de entrada dos africanos escravizados, para cá trazidos... sobre o Maranhão, nenhuma referencia... e no entanto, a capoeira é conhecida, aqui, desde os mesmos períodos que reconhecida naqueles estados... Buscando as origens da Capoeira no Maranhão101, encontrei referencia à prática da “carioca”. Fora proibida, em Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124). Em conversa com Mestre Mizinho, ele informa que em uma de suas apresentações em Cururupu um senhor - já idoso e negro - disse que praticava aquela brincadeira, mas a conhecia como “carioca”, não como “capoeira”. Em aula da disciplina “História do Esporte no Maranhão” referi-me à capoeira e à carioca. Um dos alunos disse-me que o avô, ex-estivador no Portinho, dizia-lhe que já praticara muito aquelas ‘brincadeira’, mas era chamada pelos estivadores de “carioca”. A prática de Capoeira por estivadores é confirmada por Mestre Diniz, nascido em 1929, quando lembra que “na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira”. Também em Codó, entre os antigos, a capoeira é denominada de “carioca”. EVIDÊNCIAS DA CAPOEIRA(GEM) EM SÃO LUIS Tenho colocado que a Capoeiragem, no Maranhão, é tão antiga quanto às do Rio de Janeiro, Bahia, ou Recife... Fato contestado por alguns Capoeiras... Diz o ditado: “mata-se a cobra e mostra-se o pau”; prefiro mostrar a cobra morta... Venho trazendo ao conhecimento dos estudiosos da área várias evidências de que desde o principio dos 1800 já se falava – e se praticava – a capoeiragem por estas bandas. De acordo com Mario Meireles (2012)102 até antes... Referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas: “[...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.” (p. 98). No lançamento do ‘livreto’ “RODA DE RUA – memória da Capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX”, de Roberto Augusto A. Pereira103, Mestre Patinho 104 falava do Renascimento da Capoeira no Maranhão nos anos 1960/70, através de Roberval Serejo e Sapo... Renascimento, porque desde os idos da década de 1820 temos referências sobre a lúdica e o movimento dos povos radicados no Maranhão, especialmente os negros. 100

VIEIRA, 2004. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/ . VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Chronica da capoeira(gem); A Carioca. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeriro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas… VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf 102 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In Historia de São Luis (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99 103 PEREIRA, Roberto Augusto A. RODA DE RUA – memória da Capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luis: EDUFMA, 2009 104 Antonio José da Conceição Ramos, ‘Antonio” de Santo Antonio; ‘José’, de São José; ‘Conceição’, de N. S. da Conceição, e ‘Ramos’, de Domingo de Ramos – herdeiro de Mestre Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues 101


Mundinha Araújo105 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira, no Código de Posturas de Turiaçú do ano de 1884.106 Encontrei, ainda, que em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“107(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus). Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haikel) 108, desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice“. De acordo com Mestre Bamba109, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-deCrioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. Em 1861 é publicado em A IMPRENSA110, de 11 de dezembro de 1861 o seguinte: “[...] Serafim é um jovem de cara lavada, moreno, barba a lord Raglan, desempenado de capoeira, e andar de cahe a ré, como marinheiro tonto, ou redactor do Porto Livre, nas horas em que o sol procura as ondas do mar [...]” Antes, em 1860111, 112 esse mesmo jornal publica um artigo, dividido em partes, que apareciam em várias edições, como era costume na época, sob o titulo A FAZENDA, na coluna de variedades: “Jogos e danças dos negros – No sábado à noite, depois do ultimo trabalho da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e repouso, concede-se aos negros uma ou duas horas para a dança. Reunem-se então no terreiro, chamam-se, grupam-se incitam-se, e a festa começa. Aqui, é a capoeira, espécie de dança física, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do Congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas, que os sons da viola aceleram ou demoram: mais além tripudia-se uma dança louca, na qual olhos, seios, quadris, tudo fala, tudo 105

Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. Negro Cosme – Tutor e Imperador da Liberdade. Imperatriz: Ética, 2008 106 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 107 Jornal ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus). 108 Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). [Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/ 109 http://www.jornalexpress.com.br/ 110 OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia. A IMPRENSA, 11 de dezembro de 1861, p. 4 111 OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia. A IMPRENSA, 11 de dezembro de 1861, p. 4 112 CH RIBEYROLLES. VARIEDADES. A Fazenda (continuação do numero anterior), São Luis, 29 de setembro de 1860, p. 2


provoca; espécie de frenesi convulsivo e inebriante a que chamam lundu. Alegrias grosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tudo isto é nojento, é triste, porém os negros apreciam estas bacanaes, e outros aí encontram proveito. Não constituirá isto um sistema de embrutecimento?”. Meireles (2012)113, no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública – implantado em 1863 -, fala da falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: “Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima.” (p. 222, grifo meu). Em 1843, José Antônio Falcão, tenente-coronel reformado do Exército, organizador da Casa dos Educandos Artífices, diretor no período de 1841 a 1853, informa ao Presidente da Província que havia “outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local114 Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados.115 O que nos leva à seguinte pergunta: Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada?116 Outro fato, PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868 117: “ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO” da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295, referente à Sessão de 24 de julho de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão.118 [...] “Tres são os partidos que alí existem e pleiteram as eleicões de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominacão de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interese do momento. 113

MEIRELRES, Mário. Historia de São Luis (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, FALCÃO, 1843, citado por CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL: uma história da Casa dos Educandos Artífices (1841-1889). São Luís: EdFUNC, 2007. (Prêmio Antonio Lopes (Erudição) do XXX Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luis, 2006, p. 191-192 115 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001 ARAUJO, Mundinha. EM BUSCA DE DOM COSME BENTO DAS CHAGAS – NEGRO COSME – Tuto e Imperador da Liberdade. Imperatr0z: Ética, 2008 ASSUNÇÃO, Mathias Röhrig. A GUERRA DOS BEM-TE-VIS – a balaiada na memória oral. São Luís: SIOGE, 1988 CRUZ, Mago José; CRUZ, Carlos César França. A GUERRA DA BALAIADA (a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos). 2 ed. São Luis: CCN-MA, 1998 SANTOS NETO, Manoel. O NEGRO NO MARANHÃO – a escravidão, a liberdade, e a construção da cidadania. São Luis, 2004 SERRA, Astolfo. A BALAIADA. 2ª Ed. Rio de janeiro: DEBESCHI, 1946 SERRA, Astolfo. CAXIAS E O SEU GOVERNO CIVIL NA PROVINCIA DO MARANHÃO. 2 ed. Rio de Janeiro, 1944 COELHO NETO, Eloy. CAXIAS E O MARANHÃO SESQUICENTENÁRIO. São Luis: 1990 OTÁVIO, Rodrigo. A BALAIADA – 1939. São Luis; EDUFMA, 1995 116 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRA(GEM) EM SÃO LUIS DO MARANHÃO – NOVOS ACHADOS 117 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas… 114

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http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA&sa=X&oi=boo k_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false


“Devo confessar que o chefe desto grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa indole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fóra de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectarios, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudida violencia. “Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policía, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente proximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragedia que mais tarde se devia representar. A agresâo, como se ve, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas. “Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policía, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horaa da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. > “A confissão não podia ser mais completanem mais franca.A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a camara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouvou um movimento de confusão,e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto,onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja;e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo “[...]Vê a camara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos. “E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...)”(grifos nossos) Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interese do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Recuemos mais no tempo: 1863 Josué Montello, em seu romance “Os degraus do Paraíso”, em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863 quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: "Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas." O que é confirmado por VIEIRA FILHO (1971) quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato.


Mario Meireles (2012)119 –no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública (1863-1918), referindo-se a falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: “Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima.” 1835 na Rua dos Apicuns, local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural:- “A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” 120. Mestre Militar afirma que a capoeira no Maranhão tem seu inicio em 1835 (Costa, 2009)121 . 1825 Em “O Censor”, edição de 24 de janeiro - Garcia de Abranches ao comentar o posicionamento político do Marques governante – Lord Cockrane – compara alguns portugueses com os desocupados do Rocio – em sua maioria caixeiros – que “pela sua péssima educação, muitos brancos da Europa são tão vis, e tão baixos, como esses mulatos que andam a espancar, a roubar e a matar, pelas ruas da Cidade...” (p. 1213). Estaria o Censor referindo-se aos capoeiras? Vamos avançar, 1877 MARTINS (1989)122. In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA - Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". Como descreve nosso mais importante historiador do esporte no Maranhão, com caráter competitivo, aparece, aqui, já no ano de 1877... A partir daí, encontramos uma sucessão de artigos, quase diários, referindo-se a ocorrências policias, todas envolvendo capoeiras... Mas a imprensa nos dá conta que, também, no interior já apareciam essas manifestações, como em Carolina, Itapecuru-Mirim, Barra do Corda, Cururupu... E avançamos pelo século XX, com várias notícias até que, em 1924, deparamo-nos com uma bem interessante, com o seguinte título: em A Pacotilha, edição de 02 AGO – UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE – O ULTIMO CAPOEIRA... tratava da tentativa do Chefe de Policia em introduzir a capoeira como método de luta na Guarda Civil, e não o conseguiu. E traz o Sr. Mário Aleixo como o ultimo capoeira, que havia incentivado a introdução do jogo-luta não só na Guarda Civil, mas também seu ensino nas escolas; restava-lhe voltar às aulas de Ginástica Sueca às alunas da Escola Normal... Através dessas noticias, vamos encontrando nomes de pessoas que eram praticantes de capoeira – década de 10, de 20, de 30, de 40, de 50... Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929, e que até sua recente morte era considerado o mestre mais antigo de São Luís -, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Firmino Diniz conheceu a capoeira ainda na primeira metade do século XX no Maranhão, deu prosseguimento ao seu aprendizado no Rio de Janeiro com o Ms Catumbi, e retorna à 119

MEIRELES, Mário. Historia de São Luis, org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé. Edição póstuma, p. 222-225 120 In ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36 121 COSTA, C. A. A. História da Capoeira no Maranhão. In: < http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeiradomaranhao.html>. 122 MARTINS, Djard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: s.n, p. 179


São Luís, ainda nos anos 50. Anos depois se tornou um dos maiores incentivadores da capoeira ao popularizar a arte em infindáveis rodas que realizava nas ruas e praças de São Luís 123 ANOS 60 “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO no início dos anos 60. Criação do Grupo “Bantus”, do qual participavam, além de Mestre Roberval Serejo (graduado por Arthur Emídio); Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. 1965 Mestre Paturi (Antonio Alberto Carvalho, nascido em 1946, o Mestre mais velho em atuação, hoje), inicia-se na Capoeira com os Mestres Manoelito e Leocádio, e após a chegada de Mestre Sapo, passa a treinar com este. Foi o primeiro a registrar uma Associação de Capoeira. Permitam-me apresentar uma origem da capoeira, conforme o introdutor da Capoeira em Açailândia, no ano de 1996 - Roberth Francisco de Sousa Cruz – “Mestre” Piabão, que fazia um trabalho de divulgação da modalidade junto às crianças de várias escolas locais; quando se refere à introdução da Capoeira, que esta é “uma modalidade esportiva que surgiu na Bahia, em 1649. Naquela época, Vicente Ferreira Pastinha juntou-se em uma capoeira com os negros africanos que vieram para o Brasil, fazendo uma luta disfarçada de dança, para defender suas colônias e aldeias. Daí originou-se a dança Abada-Capoeira e a Maculelê.”. Fonte: NASCIMENTO, Evangelista Mota. AÇAILÂNDIA E SUA HISTÓRIA. Imperatriz: Ética, 1998, p. 147. Encerrando, quando a primeira aula da disciplina História e desenvolvimento da capoeira, do Curso de Capacitação de Mestres Capoeiras do Maranhão, após inúmeras discussões – por quase três horas - com a participação dos Mestres-alunos presentes, e diante das provocações do ministrante, ficou certo que a Capoeira do Maranhão é singular, portanto única, não se enquadrando como Angola e/ou Regional, muito menos Contemporânea. Mestre Índio muito bem definiu como uma capoeira mista... com características das diversas manifestações culturais maranhenses, sofrendo influencia - como preconizava já Mestre Patinho do Tambor de Crioulo (Punga dos Homens), do Tambor de Crioula, e outras formas de luta maranhense. Que a Capoeiragem - assim é o entendimento da maioria dos Mestres, dada a sua característica de ser luta de rua - dentro de seu tempo de vida na Capoeira, tem três momentos - as rodas de rua que aconteciam na Praça da Misericórdia e na Praça Deodoro, num tempo anterior à chegada de Roberval Serejo e de Sapo; a fase Serejo/Sapo e o Grupo Bantus, introduzindo-se a capoeira bahiana, e a sua 'nacionalização', vamos dizer assim, com a herança de ambos os capoeiristas - um carioca e outro, baiano - com os elementos que caracterizavam a capoeira praticada no Maranhão, a partir de Sapo e seu principal discípulo, Patinho; um interregno, pelo meado do inicio dos anos 80, quando da inclusão da capoeira - anos 70 - nos jogos escolares e seu ensino sistematizado, através das escolinhas de esportes, dentre eles a Capoeira, que ocorriam no Ginásio Costa Rodrigues e nas escolas, retirando a capoeira das ruas e a conduzindo para o espaço escolar, sistematizando-se seu ensino, para se adequar às exigências da educação física e esportiva curricular; o 'retorno' da capoeira para as ruas, a partir de 85/86, quando os seus praticantes iniciaram um movimento de restauração das rodas de capoeira, em especial na Praça Deodoro, no Largo dos Amores e, em especial, na área Itaqui-Bacanga... É por essa época que Mestres Capoeiras de outros estados começam a visitar o Maranhão, em busca de conhecer aquela Capoeira aqui praticada e levada para as principais competições em outros estados, por Sapo e Patinho, seguido por outros Mestres... Que Capoeira era aquela, do Maranhão? 123

(PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009.




ITAPECURUENSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

BRENNO BEZERRA HTTP://JUCEYSANTANA.BLOGSPOT.COM.BR/2017/08/ITAPECURUENSE-NA-ACADEMIA-LUDOVICENSE.HTML?SPREF=FB domingo, 6 de agosto de 2017

A Presidente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, Jucey Santana, tomou posse como imortal da Academia Ludovicense de Letras como representante da cadeira 35 patroneada por Domingos Vieira Filho. Em uma linda cerimônia, ela foi acolhida pelo conterrâneo e também imortal da ALL Raimundo Gomes Meireles. O cerimonial ficou a cargo do acadêmico Antonio José Noberto. Ela foi conduzida ao recinto pelos acadêmicos: Mirian Angelim, Clores Holanda e Alvaro Urubatan Melo (Vavá). A cerimônia teve lugar no salão nobre da Academia Maranhense de Letras que ficou pequeno para acolher tantos itapecuruenses que se deslocaram para a capital para acompanhar a nossa Presidente.


Em seu discurso, lembrou de sua infância, seus pais, suas influências, os Itapecuruenses que conquistaram o mundo com a escrita e agradeceu ao apoio dos escritores de São Luís que a abraçaram. Grande parte de membros da AICLA estiveram presentes para prestigiá-la. Sobre isso ela disse: "Estas ocasiões servem também para o fortalecimento da nossa instituição quando testemunhamos a união e solidariedade de todos quando convocados a participar de ações culturais coletivas ou individuais de seus membros, quando verificamos os fortes laços fraternais que nos une". A solenidade se encerrou com um recital de poesias de Mariana Luz, pela renomada teatróloga Estrelinha.



A POSSE DE JUCEY NA ALL JOÃO FRANCISCO BATALHA Quem foi na Academia Maranhense de Letras, no dia 27 de junho do corrente ano, pôde se deleitar na beleza e grandeza de uma sessão cívica da maior expressão cultural preparada para receber Jucey Santos de Santana na cadeira de número 35, da Academia Ludovicense de Letras, patroneada por Domingos Vieira Filho. A casa de Antônio Lobo estava repleta de intelectuais, autoridades, amigos e parentes da empossada, estudantes e representantes da Academia Maranhense de Letras; Academia Ludovicense de Letras; Academia Maçônica Maranhense de Letras; Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes; Academia de Letras de Paço do Lumiar; Academia Anajatubense de Letras;Academia Sambentuense de Letras; Academia Vianense de Letras; Associação Maranhense de Escritores Independentes e, também, membros das Academias de Letras de Brejo e Barreirinhas, e, na mira lúcida e intelectiva do presidente Buzar. Poeta, escritora, ativista cultural e redatora do Jornal de Itapecuru,comprometida com as atividades culturais de sua terra e na defesa das tradições do seu Estado, Jucey é fundadora e atual presidente da Academia Itapecuruense de Letras; fundadora e integrante da Associação Maranhense dos Escritores Independentes; Diretora da Academia Nacional de Literatura Moderna e da Sociedade de Cultura Latina.Mulher afeita à cultura e aos saberes do presente e do futuro e estudiosa dos feitos do passados. De sua biografia podemos catalogar excelentes publicações, entre as quais, Mariana Luz, vida e obra;Itapecuruenses notáveis; João Batista: um homem itapecuruense e sua múltipla história; Púcaro Literário, em parceria com João Carlos Pimentel; além da coletânea Inspirações Poéticas, em parceria com Assenção Pessoa. A nova imortal, natural da cidade de Itapecurú-Mirim, foi saudada pelo conterrâneo, acadêmico Raimundo Gomes Meireles (Padre Meireles), presbítero católico,filósofo, advogado, doutor em direito canônico, que fez um primor de discurso. Foi romântico e falou de flores. E não poupou elogios às mulheres, ânforas de ternuras infindas, ninho quente de todos os bens e poema de todas as felicidades. Com beleza, inteligência e na harmonia das palavras a empossada discorreu longamente sobre a vida intelectual do seu patrono, Domingos Vieira Filho,sobre Mariana Luz - mulher polivalente e luz da poesia -, e sua importância no cenário literário do Maranhão; e dos demais itapecuruenses que cruzaram os umbrais da Academia Maranhense de Letras.Não poupou elogios a Arlete Nogueira e Benedito Buzar e enalteceu a terra natal, o Itapecuru, celeiro de artistas e grandes vultos: jornalistas, políticos,escritores, matemáticos, músicos, teatrólogos... Conduziram-na ao palanque de honra os acadêmicos Vavá Melo, Clores Holanda e Míriam Angelim. Colocaram o Colar e o Bottons as filhas Adriana e Gabriela. O Pelerine lhe foi posto pela presidência da ALL, Dilercy Adller. Foi uma solenidade de grande expressão no cenário cultural do Maranhão e de demonstração da saga intelectual dos itapecuruenses.


Integrantes da Academia Ludovicense de Letras presentes à posse da escritora Jucey Santos de Santana. Da E p/a D: Sanatiel de Jesus Pereira, João Francisco Batalha, Clores Holanda, Jucey Santana, Dilercy Aragão,Ceres Costa Fernandes, Míriam Angelim, Vavá Melo, Antônio Noberto, Padre Meireles e Ana Luiza Ferro.


ANTONIO NOBERTO PH REVISTA – O ESTADO MA – 08/AGO/2017

O IMPARCIAL – 09 DE AGOSTO DE 2017 – CADERNO IMPAR



O IMPARCIAL, 15 de agosto de 2017




O IMPARCIAL, 24 de agosto de 2017


Minha obra mais recente, o quadro "São Luís antes da fundação", que mostra o DNA francês de São Luís. Arte de.


SÃO LUÍS COMEMORA 405 ANOS E HISTORIADOR LAMENTA CIDADE NÃO TER SIDO COLONIZADA PELOS FRANCESES Cidade abraçada por turistas do mundo inteiro, cultua lendas, tradições portuguesas, francesas e indígenas, e serviu de inspiração para gênios da literatura regional e nacional.

Por João Ricardo, G1 Maranhão, São Luís, MA Aos 405 anos, São Luís do Maranhão é cidade dos azulejos, a ilha do amor, a Jamaica brasileira, a ilha rebelde, a Atenas brasileira, é uma cidade com terras antes ocupadas pelos índios tupinambás, mas fundada por franceses e após a Batalha de Guaxenduba, colonizada pelos portugueses. Uma cidade marcada por conflitos desde o começo, como o da liberal Ana Jansen contra seus inimigos conservadores. Uma cidade abraçada, até hoje, por turistas que se transformam em residentes por não terem mais coragem de ir embora. Uma cidade que cultua lendas, inclusive uma que trata da sua própria destruição, quando a serpente acordar. Uma cidade que busca a modernidade, mas a duras penas conserva um impressionante acervo arquitetônico que nos remete a séculos passados. Uma cidade que foi o berço e inspirou gênios da literatura como Josué Montello, Gonçalves Dias, Graça Aranha, Aluísio de Azevedo, Ferreira Gullar entre outros. Uma cidade que não consegue se contentar com pouco quando se fala em manifestação cultural. Dos livros à dança, a cidade com diversidade que impressiona. Blocos tradicionais, escolas de samba, blocos de sujo, tribos de índio, bumba meu boi, tambor de crioula, cacuriá, dança do coco, o caroço, os clubes de reggae, e as atrações de todos os gêneros nos ‘quatro cantos da Ilha’ durante todos os dias. É uma cidade de culinária que agrada sem fazer muito esforço. É fácil gostar dos pratos típicos da terra. Mas pra chegar a tudo isso e muito mais, São Luís passou por uma série de eventos ao longo da história. Antônio Noberto é cearense e recentemente recebeu título de cidadão ludovicense dado pela Câmara de Vereadores. De fato, ele é uma pessoa que tem relações profundas com a cidade. Um trabalho de anos de pesquisa e apresentado todos os anos sobre a fundação e o desenvolvimento de São Luís revela situações como a boa relação entre os povos no começo da cidade, quando os franceses tomavam as ações comandados por Daniel de La Touche de La Ravardière. “Daniel de La Touche foi o fundador, mas algumas pessoas ainda falam que foi Jerônimo de Albuquerque. Os franceses chegaram primeiro e três anos depois os portugueses desembarcaram. A fortaleza construída pelos franceses era toda a área onde hoje é a Praça Pedro II e o fosso para evitar invasões, era onde hoje temos a Rua do Egito”, disse Noberto. A cidade foi fundada no dia 8 de setembro de 1612 e Daniel de La Touche foi governador da Ilha até 1615. O primeiro nome dado foi ‘Fort Saint Louis’ (Forte São Luís, em homenagem ao rei francês Luís IX da França, monarca da época). Mas os primeiros habitantes, os tupinambás, a chamavam de Upaon Açu, que significa 'Ilha Grande'. Para Noberto, os franceses desenvolveram um ambiente de harmonia entre todos os povos que estavam no Forte São Luís e depois em outras regiões mais afastadas, que hoje são outros municípios maranhenses. Segundo o turismólogo, as crianças francesas e indígenas estudavam no mesmo local. Alguns franceses começaram relacionamento com índias e a tranqüilidade e o progresso marcou aquele momento.


“Uma colônia com todas as virtudes daquelas implantadas na América do Norte, formada por gente de valor, geralmente ligada à religião e aos ofícios. A qualidade do material humano da França no Maranhão era de impressionar. "Após a cerimônia de posse trataram de promulgar o primeiro conjunto de leis das Américas, construíram quatro fortalezas na Ilha Grande, enviaram embaixadas de reconhecimento aos principais rios, como o Mearim e o Grajaú. O próprio La Touche foi ele mesmo reconhecer a região amazônica subindo o rio Tocantins passando pela terra dos caetés, atual Bragança-PA, além de Cametá e Pacajá, seguindo em direção a Marabá e Imperatriz, sendo a viagem interrompida pela ameaça portuguesa. Construíram em pedra o primeiro convento capuchinho do Brasil, o convento e igreja de São Francisco, atual Convento de Santo Antônio, mais precisamente a Capela dos Navegantes, local onde os indiozinhos e francesinhos aprendiam juntos a língua um do outro. O ponto alto da colônia foi a boa convivência entre católicos, protestantes e tupinambás, que não obstante os conflitos religiosos na Europa e algumas poucas alfinetadas recíprocas, eles conseguiram se entender por aqui. A colônia, enfim, era de paz”, diz o historiador. Os franceses perderam a guerra e foram expulsos pelas tropas comandadas por Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura. Antônio Noberto faz um desabafo. Ele acredita que São Luís perdeu muito em ser colonizado por portugueses e não pelos franceses. Na opinião do pesquisador, o Maranhão a partir de sua capital, teria uma realidade melhor se fosse uma colônia francesa por conta da forma que os colonizadores adotavam a educação. Ele faz um paralelo com a Guiana Francesa. “A diferença entre o Maranhão, que um dia sediou uma Nova França, e a Guiana, que continua sendo uma França Equinocial, é muito grande. Atualmente, parte considerável dos trabalhadores brasileiros que pulam a cerca para tentar a vida no território francês é formada por maranhenses, que se aventuram em garimpos de ouro, ou como pedreiros, carpinteiros, motoristas, cozinheiras, babás ou em outras profissões. O salário mínimo por lá é de 1.500 euros, cerca de R$ 5.600,00. A principal diferença entre os dois, no entanto, está no modelo colonial implantado, pois enquanto os portugueses proibiam a educação, os franceses foram um pouco mais generosos com sua colônia. A primeira escola de segundo grau no Maranhão só chegou após a independência do Brasil, o Liceu, implantado em 1838, cujo primeiro diretor foi Francisco Sotero dos Reis, e o primeiro jornal só circulou em terras timbiras em 1823”, conclui Antônio Noberto, que também é turismólogo, escritor e membro-fundador da Academia de Letras de São Luís. A tradição dos portugueses deixou marcas que ficaram estampadas nos casarões coloniais construídos no Centro Histórico de São Luís. Os belos azulejos, as formas arquitetônicas dos casarões fizeram de São Luís uma cidade admirada pelo mundo inteiro. Reconhecimento de tanta beleza e importância foi destacado quando em 1977, o conjunto arquitetônico de São Luís foi coroado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação, ciência e cultura. Inauguração do Forte de Santo Antonio e da Exposição França Equinocial para sempre. No dia 8 de setembro de 2017. Com a presença do Governador, do prefeito, autoridades e convidados Inauguração do Forte de Santo Antonio e da Exposição França Equinocial para sempre. No dia 8 de setembro de 2017. Com a presença do Governador, do prefeito, autoridades e convidados Inauguração do Forte de Santo Antonio e da Exposição França Equinocial para sempre. No dia 8 de setembro de 2017. Com a presença do Governador, do prefeito, autoridades e convidados7 h ·


INAUGURAÇÃO DO FORTE DE SANTO ANTONIO E DA EXPOSIÇÃO FRANÇA EQUINOCIAL PARA SEMPRE. NO DIA 8 DE SETEMBRO DE 2017. COM A PRESENÇA DO GOVERNADOR, DO PREFEITO, AUTORIDADES E CONVIDADOS



JOÃO FRANCISCO BATALHA

Com Celeste e Dr. Mário Carabajal, Presidente da Academia de Letras do Brasil -ALB, em 31.08.17, na solenidade da ALB, no Salão de Eventos do Copacabana Pálace Hotel do Rio de Janeiro.


Flash do lançamento de livro de João Batalha sobre o município de Pio XII – MA., durante evento da FLAEMA – Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense, ocorrido na noite de 11.09.2017, no Espaço Cultural da livraria da AMEI, no Shopping São Luís.


No salão de eventos do Copacabana Pálace Hotel, do Rio e Janeiro, no dia 31.08.2017, recebendo o diploma de Doutor em Filosofia Univérsica, Honoris Causa, com o mérito Ph.I. Philosophos Immortalem concedido pela Academia de Letras do Brasil – ALB , vinculada ao Conselho Superior Internacional das Academias de Letras do Brasil.


EFEMÉRIDES

07 08 09 10 11 18 22 23 24 30 01 10 12 19 21 24 28 30 03 04 08 09 11 13 17 25 29 30

JULHO 1950 - NASCIMEENTO DE DILERCY ARAGÃO ADLER – FUNDADORA DA CADEIRA 8 1955 – NASCIMENTO DE ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONHO DA CADEIRA 13 1944 - NASCIMENTO DE JOÃO FRANCSICO BATALHA – FUNDADOR DA CADEIRA 19 1832 – NASCIMENTO DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE – SOUSANDRADE – PATRONO DA CADEIRA 10 2007 – FALECIMENTO DE LUCY TEIXEIRA – PATRONA DA CADEIRA 34 2003 – FALECIMENTO DE MARIO MARTINS MEIRELES – PATRONO DA CADEIRA 31 1925 – NASCIMENTO DE MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD – PATRONA DA CADEIRA 37 1922 – NASCIMENTO DE LUCY DE JESUSN TEIXEIRA – PATRONA DA CADEIRA 34 1692 – FALECIMENTO DE ANTONIO VIEIRA – PATRONO DA CADEIRA 2 1949 - NASCIMENTO DE ARQUIMEDES VIEGAS VALE – FUNDADOR DA CADEIRA 20 1952 - NASCIMENTO DE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – FUNDADOR CADEIRA 21 1828 – NASCIMENTO DE ANTONIO HENRIQUES LEAL – PATRONO DA CADEIRA 9 1936 - NASCIMENTO DE WILSON PIRES FERRO – FUNDADOR DA CADEIRA 7 AGOSTO (?) - NASCIMENTO DE MICHEL HERBERTH ALVES FLORENCIO – FUNDADOR DA CADEIRA 12 1823 – NASCIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS – PATRONO DA CADEIRA 7 2013 – FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS 1995 – FALECIMENTO DE JOÃO MIGUEL MOHANA – PATRONO DA CADEIRA 36 1979 – FALECIMENTO DE ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO DA CADEIRA 30 1917 – NASCIMENTO DE JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO – PATRONO DA CADEIRA 32 1951 – FALECIMENTO DE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO – PATRONO DA CADEIRA 26 1940 – NASCIMENTO DE ALDY MELLO DE ARAUJO – FUNDADOR DA CADEIRA 32 1970 – NASCIMENTO DE ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – FUNDADOR DA CADEIRA 1 SETEMBRO 1867 – NASCIMENTO DE JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES DE MOURA – DUNSHEE DE ABRANCHES – PATRONO DA CADEIRA 19 1923- FALECIMENTO DE ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO DA CADEIRA 16 1977 – FALECIMENTO DE JOSÉ TRIBUZZI PINHEIRO GOMES – NANDEIRA TRIBUZI – PATRONO DA CADEIRA 39 1612 – FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS DO MARANHÃO 1925 – NASCIMENTO DE DAGMAR DESTERRO E SILVA – PATRONA DA CADEIRA 38 1981 – FALECIMENTO DE DOMINGOS VIEIRA FILHO – PATRONO DA CADEIRA 35 1911– FALECIMENTO DE RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA – RAIMUNDO CORREIA – PATRONO DA CADEIRA 15 1952 – FALECIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO, PATRONO DA CADEIRA 21, EM LISBOA 1864 – FALECIMENTO DE MANUEL ODORICO MENDES – PATRONO DA CADEIRA 3 1924 – NASCIMENTO DE DOMINGOS VIEIRA FILHO – PATRONO DA CADEIRA 35 1885 – FALECIMENTO DE ANTONIO HENRIQUES LEAL – PATRONO DA CADEIRA 9 1956 – NASCIMENTO DE JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA – FUNDADOR DA CADEIRA 39


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Curitiba-Pr, em 23 de julho de 1952 MEMBRO FUNDADOR – CADEIRA 21 Posse em 30 de janeiro de 2014 Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 230 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Recebeu a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


GONÇALVES DIAS E EU (Registros públicos de lembranças particulares) EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br “Conto as coisas como foram, Não como deviam ser”. (GONÇALVES DIAS, Sextilhas) DIA DE GONÇALVES DIAS – Neste 10 de agosto, em 1823, nascia o escritor maranhense Gonçalves Dias, que escreveu aqueles versos que praticamente todo brasileiro, de agora e de outrora, conhece: “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá”. Sou da mesma cidade (Caxias, Maranhão) e morei na mesma rua daquele ilustre brasileiro. Mais: o primeiro livro que li -- “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França” -- também foi o primeiro livro lido por Gonçalves Dias na sua infância. A seguir, texto que escrevi e atualizei. *** Hotel Serra Azul, em Gramado, Rio Grande do Sul, década de 80. Náutico Clube, Fortaleza, Ceará, início dos anos 90. Colégio Rio Branco, bairro Higienópolis, São Paulo. Auditório Petrônio Portela, Senado Federal, Brasília. Montes Claros e Belo Horizonte, Minas Gerais. Mossoró e Baraúnas, Rio Grande do Norte. Campina Grande, Paraíba. Rio de Janeiro, Maceió, Recife, Curitiba... Onde quer que eu esteja, Caxias é presença e referência permanente. Caxias e, claro, seu maior poeta e sua melhor rima –– Gonçalves Dias. Caxias, terra e rima de Gonçalves Dias. Qualquer que seja o espaço, qualquer que seja o tempo, a mesma constatação: Gonçalves Dias vive. Em todos os lugares acima, e muitos outros mais, em momentos internacionais, em conferências nacionais, em encontros regionais, em palestras locais, em discursos ocasionais, em eventos formais, em “provocações” casuais ou em bate-papos triviais, dou um jeito de fazer um “teste”: crio um pretexto dentro do contexto e digo, falsamente desafiador, o primeiro verso da “Canção do Exílio” (“Minha terra tem palmeiras”)... somente para, logo em seguida, perceber/receber os sorrisos cúmplices da platéia de ouvintes não-maranhenses, o que denuncia que todos estavam continuando mentalmente –– quando não recitando audivelmente –– o verso seguinte: “Onde canta o sabiá”. Daí em diante fica fácil puxar ou esticar conversa acerca de literatura, de Cultura, dos “verdadeiros valores” da pessoa e das comunidades humanas. Dizer da permanência do que tem valor e da finitude do que tem preço. Preço, dá-se a coisas. Valor, dá-se a pessoas. Os versos gonçalvinos entram como exemplo de um “valor” que se sobrepõe a muitas “coisas”. Embora a fragilidade do papel, os versos foram mais resistentes que as grandes construções de pedra e cimento, como as fábricas de tecido. Estas, aparência; aqueles, essência –– e por aí podem ir as obviedades, quase platitudes. Escritos em julho de 1843, quando Gonçalves Dias ainda não completara 20 anos, os versos da “Canção do Exílio” atravessam gerações e se depositam e se (re)transmitem quase como que por hereditariedade. Parece não mais ser essa fixação resultado da leitura, mas produto de um código genético, uma informação cromossômica que se repassa no intercurso sexual e se vai instalando na mente de cada novo ser.


Seja em gente da antiga, seja no jovem de hoje, a poesia cometida em Coimbra está inscrita na memória das várias gerações de brasileiros dos últimos 165 anos. Embora, ressalve-se, em grande número de vezes, nunca esteja o poema inteiro, de 24 versos, 5 estrofes, 113 palavras, 487 letras. Mas aqueles dois primeiros versos, quando não toda a primeira estrofe, não há negar: está na cabeça, melhor, está na alma do brasileiro. Tudo isso me chega à lembrança no instante em que, também neste 10 de agosto de 2017, Caxias continua a nos relembrar, a nós conterrâneos e contemporâneos, a importância de ser a cidade onde, mais que um poeta, nasceu uma expressão de maranhensidade e de brasilidade. Muito da obra de Gonçalves Dias mostra de peito aberto o amor, o orgulho, o sentimento de pertencimento ("ownership") que o poeta tinha e desenvolvia pela sua própria terra. Quantos, hoje, manifestamente, denunciam assim orgulhosa e escancaradamente essa emoção telúrica, essa querença pátria? Fora a conterraneidade, tenho outras “aproximações”, bem particulares, com Gonçalves Dias. A primeira delas, o primeiro livro que um e outro lemos: “História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França”. Gonçalves Dias o leu em 1833, aos 10 anos de idade, enquanto ajudava na casa comercial paterna, ali na rua do Cisco (depois Benedito Leite, agora Rua Fauze Simão), para onde seus pais, João Manuel e Vicência Ferreira, haviam se mudado, oito anos antes (1825). De minha parte, aos cinco, seis anos de idade já havia “ouvido” e lido aquela obra, ali na Rua da Palmeirinha -- onde as casas tinham, como fundo de quintal, o rio Itapecuru. Explico o porquê do “ouvido” o livro, que escrevi no parágrafo acima. No mesmo lado da Rua da Palmeirinha, algumas casas adiante da minha, morava o casal “seu” Miguel e dona Corina. Esta, naqueles idos, vivia de lavar e passar roupa. Sustentava a casa. “Seu” Miguel era paraplégico, ficava como que sentado em uma rede, um pano cobrindo as pernas macérrimas pendentes, e lia, lia muito. Usava um cachimbo, cujas baforadas recendiam em toda a casa. Más línguas diziam que era diamba, tirada de algumas mudas que, diziam, eram bem cuidadas no seu quintal, para a produção das endiabradas folhas e sua transformação em trescalante fumo. Acostumei-me a visitar o “seu” Miguel. Ele gostava da minha atenção; eu gostava das suas histórias. Ouvia a leitura de capítulos e capítulos e, às vezes, o resumo de “romances” –– que era o nome que também se dava aos folhetos de literatura de cordel. Um dia, "seu" Miguel me emprestou um livro que eu já “ouvira”. Era a história do imperador Carlos Magno. Ali, além do magno imperador, estavam Roldão, Oliveiros, Ferrabraz e tantos personagens mais... Lembro que eu li todo o livro e que pedi explicações sobre o motivo da morte e posterior “reaparecimento” de alguns personagens após a “parte” da morte. Claro que eu estranhava aquela minha primeira leitura “séria”: naquela idade, os textos a que estava acostumado eram os de cartilhas escolares, bastante fáceis para mim, demasiado, por assim dizer, lineares, sem recursos nem estilos mais elaborados. Em Caxias, da Rua da Palmeirinha mudei-me para a Rua da Galiana (aliás,Galiana era o nome da mulher do imperador Carlos Magno). Tempos depois, nasceu um irmão meu... e chama-se Carlos Magno (depois veio Júlio César, outro irmão “imperador” na família). Décadas mais tarde, consegui, em um sebo do Rio de Janeiro, um exemplar igual ao que me fora emprestado pelo “seu” Miguel: capa em tecido e sem o nome do autor (Vasco de Lobeira). Reli os dez capítulos da obra e revi(vi)-me criança. (Uma curiosidade: Meu irmão Carlos Magno, depois que aprendeu a ler e escrever, não se fez de rogado: pegou o raro e caro livro, empunhou uma esferográfica e, nas folhas de rosto, onde houvesse o nome do imperador, um sobrenome –– “Sanches” –– foi acrescentado...). Outra “aproximação” com o autor d’"Os Timbiras": Mudei-me para a Rua do Cisco, número 1000, próximo à “casa onde morou o poeta Gonçalves Dias” (era assim que registrava uma placa acobreada e quase despercebida). Eu estava aí por volta dos 15 anos e diariamente subia e descia quase toda a extensão da rua, para trabalhar no Banco do Brasil, menor estagiário. Invariavelmente, passava pela casa. Ali mora(va) a família de dona Labibe e do seu Fauze Elouf Simão. Um dos filhos, Jamil Gedeon, hoje desembargador em São Luís, e eu fomos colega de turma em todo o 2º Grau (Ensino Médio), no “colégio das Irmãs” (missionárias capuchinhas), o colégio São José. Ali fui presidente do Grêmio Santa Joana d’Arc durante três anos (Roldão -- Roldão Ribeiro Barbosa --, coincidentemente nome de personagem do livro sobre Carlos Magno, ganhara a presidência no primeiro ano e renunciara meses depois; assumi). O ex-


secretário de Cultura Renato Meneses (ex-presidente da Academia Caxiense de Letras) e o ex-presidente da Fundação Vítor Gonçalves Neto, Jorge Bastiani, também estudavam ali, nós todos sob o tacão da querida Irmã Clemens (Maria Gemma de Jesus Carvalho). Pois foi o colega secundarista Jamil quem me disse, ainda no colégio, que encontrara “moedas e papéis” antigos em alguns pontos da casa de Gonçalves Dias. Mas as referências à casa da Rua do Cisco não terminam aí. Dona Labibe foi secretária de Educação de Caxias, na administração de José Ferreira de Castro. Ali pelos bares do Arthur Cunha e do Herval, no Largo de São Benedito, contava-se a história de que a secretária Labibe, pretendendo morar numa casa melhor e não querendo derrubar a “casa onde morou o poeta”, se esforçou junto ao seu superior, instando para que ele, como prefeito, adquirisse a casa e a tombasse como patrimônio histórico. Conta-se que a resposta do prefeito foi pouco cavalheiresca e fazia comparação entre comprar a casa onde Gonçalves Dias “morou” e tombar o riacho do Ponte, onde ele, digamos... lavava as partes, digamos, pudendas. Pode não ser verdade o fato, mas era verdadeiro o boato –– e, pelo menos este, se cuida de preservar aqui. Resumo da ópera: a casa de Gonçalves Dias foi destruída e, no seu lugar, ergueu-se uma residência de feições modernas, “combinando” com o prédio da outra esquina, que abriga as instalações de uma companhia de telecomunicações. No mesmo ano da derrubada da casa, como réquiem à memória de Gonçalves Dias, escarafunchei o arquivo do fotógrafo Sinésio Santos (falecido), que ficava ali próximo ao Banco do Brasil, e consegui localizar negativos da residência. Pedi que fossem feitas cópias daquelas e de outras “vistas” de Caxias. Separei uma foto da ex-morada de Gonçalves Dias e a enviei, junto com um breve texto, para a Rede Globo de Televisão (Rio de Janeiro). Foi menos por denúncia e mais por sentimento de perda. Disseram-me que saiu um rápido registro no jornal (nacional) do meio-dia ("Jornal Hoje"). Não confirmei. Estas anotações, com algo de confessional, são uma episódica e epidérmica contribuição ao trabalho de um punhado de jovens caxienses de todas as idades, que teimam cuidar do que Gonçalves Dias merece -- memória -- na cidade que há 194 anos o viu nascer -- História. E quem está fazendo não faz isso só por “vocação”: faz por legitimidade –– e com competência. Parabéns, Caxias! Viva Gonçalves Dias!


EXERCÍCIO MARÍTIMO FERNANDO BRAGA in Jornal O Estado do Maranhão, 17 de agosto de 1973, para a antologia de textos em prosa do autor…

José Tribuzi Pinheiro Gomes [São Luís do Maranhão, 2 de fevereiro de 1927 — 8 de setembro de 1977], ou simplesmente Bandeira Tribuzi é um dos valores mais atuantes da chamada geração de 45. Poeta de grande profundeza lírica trocou os estudos de Teologia para não ser “Prior do Carmo”, como gostaria o pai, diz ele no “Memorial da longa vida”, que só durou cinqüenta anos, interrompida por um enfarto fulminante, no estádio “Nhozinho Santos”, ao assistir um jogo entre o Sampaio Correia e o Moto Clube, justamente em um domingo de seu aniversário, como também aniversário de fundação de São Luis, cidade que lhe pulsava na rima do verso e no ritmo do coração ... Trocou sua formação Coimbrã, em Ciência das Finanças, aplicando-a quando era chamado a colaborar, e todos esses quefazeres, como dizia, pelas lides jornalísticas, trazendo-nos da velha Europa, uma educação humanística realmente sólida, a par de uma cultura literária, não só lusitana como universal. Em “O Conto Brasileiro”, Josué Montello comenta, traçando um paralelo entre autores de inspiração ruralista e autores de inspiração litorânea: “Realmente, a paisagem marítima, que serviu de cenário às mais glórias da raça, só raramente aparece na prosa de ficção de Portugal, em contraste com o que ocorre com a poesia, que se volta preferencialmente para o mar.” De Camões e António Nobre, se presencia a justeza dessa tese. E “Exercício Marítimo” é o porto que me atraco na poética de Bandeira Tribuzi: “A A palavra mar em lenta pronúncia úmida, / fria, amarga, de marinheiros, em histórias. /Depois pensar no corpo da infância,/ cartões ilustrados, /recordações, praias, visitas e pensadas”. E mais: “Quem assim escreve é quem já sentiu em demanda de um infinito azul a dimensionalidade das coisas imperceptíveis, até certo tempo ou momento. As coisas deixadas, as lembranças e as ideologias ameaçadas por uma pá de cimento, uma rosa que não brotará nunca nas raízes de uma calçada”. Assevera Joaquim Nabuco em “Minha Formação”: “De um lado do mar sente-s a ausência do mundo; do outro, a ausência do país”. E parte o poeta em vagas imaginárias: “Gosto de sal nos lábios:/ eis construída a paisagem. /Coloquemos nele um barco./ O vento [este vento real que agita os cabelos] /continuará o exercício impelindo o sonho a viagem.” O sonho ou a viagem, tanto podem ser sentidos na Praia do Desterro, aqui em São Luis, como podem ser sentidos na amplidão das praias dos Algarves, em Portugal. O gosto de sal, a paisagem e o vento não são determinados. Fernando Pessoa escreveu que “pelo Tejo vai-se para o mundo. Pelo mar ou por um raio de aldeia se consegue partir para o mundo”. Tribuzi prossegue: “Que um dia quando pó forem meus nervos/ e minha carne o adubo de uma rosa/ e uma ave voar no meu silêncio / e tudo quanto fui seja memória,/ quando água se faça meus pensamentos / e os desejos em nuvens se transformem,/ quando já nada reste de meus erros/ e meu ser seja orvalho numa rosa,/ possa alguém lembrar/ ao ler o mais triste dos poemas,/ a sofrida saudade de um bem que foi por ter e,/ lembrando, ouça a música incontida/ da palavra comigo sepultada: doce, nítida, pura, azul e alada.” Um soneto entranhado em meio ao poema, ou pelo menos quatorze versos entrelaçados numa beleza de forma lírica, mais sentida que pensada, características acentuada no estilo de Bandeira Tribuzi. Conteúdo vivencial e técnica perfeita, fazendo-nos lembrar a todo o momento o autor de “O Guardador de Rebanhos”. E prossegue o poeta de “Safra”: “Teus olhos, transparente melodia,/são rios como os rios de uma margem para a terra/ das nuvens, alta e fria./ Teus olhos, permanência fugidia,/ imagem da imaginada imagem/ de teu mais puro ser,/são a viagem mais preciosa [e inatingida],/ dia de luminosa auréola solar recém-nascida/nas manhãs molhadas/ orvalho e seiva, /pétala de estrela, teus olhos rimam com amor e mar /e a saudade da pátria desejada...” “Exercício Marítimo”, neste seu último fôlego não nos leva a verificação daquele fenômeno que Leo Sprizer assinalou no seu ensaio “Interpretação Lingüística das Obras Literárias”: “O poeta é o que se esforça para transformar em enigmático um pensamento claro.” Bandeira Tribuzi traz-nos com seu lirismo


inebriante, uma mensagem poética belíssima... Aqui não há transcendência para o enigmático, a força construtiva é que exige, se é que exige... O poeta nos deixou uma bibliografia extensa e apurada em poesia e prosa, e foi também o autor do Hino da Cidade de São Luis... Tribuzi ao despedir-se de seu exílio interior, ou da saudade da pátria desejada, tendo o mar como experiência pessoal e melancólica, se justapõe ao lado de Geir de Campos, quando canta: “Ó grande mar – escola de naufrágios! Chora um adeus em cada colo de onda.”


DUNSHEE DE ABRANCHES, 150 ANOS EDMILSON SANCHES www.edmilsonsanches.com

Parece até caso pensado: grandes datas sobre grandes maranhenses continuam não merecendo a atenção maciça e massiva de autoridades de nosso Estado. A partir do talento e até da coragem de filhos seus do passado, o Maranhão legou ao Brasil um grande número de ações e contribuições que modificaram (para melhor) nosso país e concorreu para fortalecer a identidade do povo brasileiro. Já escrevi aqui um texto sobre alguns nomes pioneiros que contribuíram enormemente com a brasilidade ("POR QUE O MARANHÃO ABANDONA SEU MAIOR PATRIMÔNIO"). Quem desejar este texto, solicite-o e será enviado por e-mail ou como anexo na caixa de mensagens privadas do solicitante. Hoje, 02 de setembro de 2017, completa exatos 150 anos de nascimento um dos maiores intelectuais maranhenses: Dunshee de Abranches, Nascido em 02 de setembro de 1867, João Dunshee de Abranches Moura foi escritor, advogado, promotor público, jornalista, poeta, músico (tocava violino), sociólogo, político (deputado estadual e federal), professor de Ciências Físicas e Naturais, Anatomia e Fisiologia Comparadas, de Direito Público Americano e professor honorário da Universidade de Heidelberg (Alemanha). Aos 4 anos, Dunshee de Abranches já sabia ler e escrever; aos 6, fazia traduções do Francês. Aprendeu também Inglês, Espanhol, Alemão, Latim... Como jornalista, foi presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e em sua gestão foi implantada a carteira de jornalista. O escritor maranhense Joaquim Vieira da Luz, de Matões, escreveu uma das mais completas biografias sobre seu conterrâneo: o livro "Dunshee de Abranches e Outras Figuras", de mais de 400 páginas, impresso nas oficinas do "Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro - RJ), em 1954. A obra traz diversas fotos e outras imagens relacionadas a Dunshee de Abranches e às demais "figuras" (Aluízio Azevedo, Raimundo Lopes, Antônio Lobo, Correia de Araújo e Raimundo Correia). Tenho em minha biblioteca particular diversos livros de Dunshee de Abranches, entre os quais: - "Como se Faziam Presidentes" (386 páginas; Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1973); - "A Ilusão Brasileira" (dedicado ao também maranhense Urbano santos, à época vice-presidente da República; 384 páginas; Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1917); - "A Esfinge do Grajaú - Memórias" (266 páginas; Rio de janeiro: Jornal do Brasil, 1959); - "Actas e Actos do Governo Provisório" (2ª edição; 402 páginas; Rio de Janeiro: edição do autor, 1930. - "Rio Branco e a Política Exterior do Brasil (1902-1912)" (1º e 2º volumes; 254 + 224 páginas; Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1945). No Maranhão, Dunshee de Abranches é patrono da Cadeira nº 40 da Academia Maranhense de Letras e da Cadeira nº 20 da Academia Imperatrizense de Letras (AIL). (Coincidentemente, a AIL acaba de eleger o ocupante da Cadeira nº 20: o escritor Ribamar Silva, que sucede a Adalberto Franklin, fundador da Cadeira). Dunshee de Abranches faleceu aos 73 anos em Petrópolis (RJ), em 11 de março de 1941. Ilustrações: capa de livro sobre Dunshee de Abranches e capa de "A Esfinge de Grajaú", sua obra regional mais conhecida. (Livros do acervo da biblioteca de Edmilson Sanches).



2017 Ano de JosuĂŠ montEllo


O CENTENÁRIO DE JOSUÉ MONTELLO ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL

Publicado em O ESTADO MA, 8 de julho de 2017 No dia 21 de agosto, Josué Montello faria 100 anos. Figura importante para a literatura brasileira e, sobretudo, para a maranhense, deverá ser homenageado pela Academia Ludovicense de Letras, Academia Maranhense de Letras e pela Casa de Cultura José Montello com uma vasta programação. Como escritor, o autor definiu o romance como espelho da vida. Sempre, em suas obras, transitou nos mistérios da vida do ser humano, unindo a tradição romanesca realística com apelos da memória, buscando a identidade perdida do Maranhão, voltando ao passado, indo a São Luís ou Alcântara, cujos passos se transformaram na literatura montelliana. Em suas lembranças, Josué Montello sempre recordava os velhos casarões que abrigavam condes, barões, viscondes e sinhás moças. O inesquecível autor maranhense, em quase todas as suas obras, destacou os movimentos políticos e religiosos de sua terra. Como homem público, exerceu vários cargos, participou de importantes colegiados nacionais e internacionais, recebendo, ainda em vida, inúmeras condecorações que o reconheciam como um dos maiores romancistas do país e o mais destacado na literatura maranhense. Nacional e internacionalmente seus romances foram destaques a exemplo de “Os Tambores de São Luis”, que encarna a tragédia libertadora do negro brasileiro e o “Cais da Sagração”, que trata da vida dos barqueiros no porto de São Luís. Os Tambores foi a obra mais laureada pela crítica e público. O Cais da Sagração foi considerado um dos quatro melhores de Josué Montello, a partir da qual a sua imortalidade foi reconhecida no Brasil inteiro. Os episódios das obras de Montello foram incluídos na boa literatura e se passaram, em grande parte, em São Luis e Alcântara, onde o autor vivera seus encantos e predicados. Outras obras foram importantes como “Nos Degraus do Paraíso”, “Noite sobre Alcântara”, “Coroa de Areia”, “Labirinto de Espelhos” e o “Baile da Despedida”. Em “Noite sobre Alcântara”, Montello revive a prosperidade da cidade e se decepciona com o declínio do seu quadro econômico. O autor expressa seu pensamento social, percorrendo os caminhos da ideologia da opulência e da decadência da cidade. Em “Labirinto de Espelhos”, aborda os mistérios da vida do ser humano, afirmando ser a vida um verdadeiro labirinto. Seus personagens, embora nem sempre existentes, seguem sua imaginação, sendo considerado um dos maiores romancistas do século XX, ungido pela brilhante imaginação, não importando o gênero literário. Montello sempre teve a intenção de realizar uma obra, não apenas livros. Seu grande objetivo era unir a sua tradição romanesca realista com os apelos da memória, buscando a identidade que o Maranhão vem perdendo, por isso sempre lança mão do passado. Montello é o verdadeiro criador da saga maranhense que, em linguagem e sabedoria, expressa fortes figuras literárias. Sempre em suas obras, Josué Montello vincula literatura à história, procurando ajustar suas ficções com os fatos. Em “O Baile da Despedida”, o auto, além de descrever bem a época e os sentimentos de seus personagens, nos traz suas narrativas factuais e ficcionais quando mostra a vinculação entre o imaginário e o real, provocando um verdadeiro diálogo entre a literatura e a história. De estilo sofisticado e preciosista, Josué Montello é dono de uma linguagem rebuscada, com pitadas de humor e fortes figuras de linguagem. Além de leves ironias, seus discursos eram marcados por um estilo próprio e inconfundível.


VII SEMANA MONTELLIANA CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE JOSUÉ MONTELLO

Local: Casa de Cultura Josué Montello Programação 21/08 9h - Lançamento do Concurso Artístico e Literário Josué Montello: vida e obra, para alunos do ensino médio da rede pública - SEDUC/SECTUR 17h – ABERTURA PALESTRA: “Por quem tocam os Tambores de São Luis”com o acadêmico Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras Lançamento da Coletânea de crônicas de Josué Montello, v. 1 – tema: Escritores maranhenses: 1955 a 1965 Fundação do Grupo de Escoteiros do Ar “Josué Montello” – GEArJoMo Abertura das Exposições: Exposição Fotográfica “Cais da Sagração” Coordenação:Ed Wilson Araújo Fotografia: Marizélia Ribeiro Exposição “Centenário Josué Montello” Coordenação: Wanda França Bibliotecária CCJM. Apresentação musical – Escola de Música Lilah Lisboa




A SAGA MARANHENSE

Por toda a cidade pipocam homenagens a Josué Montello pelo seu Centenário. A elas se junta a Academia Ludovicense de Letras que o tem como patrono da cadeira 32. A Academia Ludovicense de Letras (ALL), também chamada de Casa de Maria Firmina dos Reis, foi fundada em 10 de agosto de 2013, aos 190 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias e aniversário dos 400 anos de fundação da cidade de São Luís. Existem acadêmicos que nunca foram imortais, nem durante a vida nem mesmo depois de mortos. A imortalidade do acadêmico, daquele que pertence a uma academia, nada tem a ver com a morte física. Diz respeito às ideias e à formação do pensamento que se transformou em seu legado. Josué Montello é maranhense, nascido em São Luis, no dia 21 de agosto de 1917. Morreu com 88 anos, em 15 de março de 2006. Era homem de uma vida de retidão, decorrente da formação requintada que teve. De hábitos conservadores, revelava hostilidade às coisas irreais, embora seus romances agradassem a todos. Defendeu os valores democráticos a sua maneira e os desmandos da corrupção de seu tempo. Era sofisticado e gostava da convivência com políticos, filósofos,escritores famosos e cientistas. Fez o curso primário na Escola Modelo Benedito Leite e curso secundário no Liceu Maranhense, destacando-se como primeiro aluno de sua turma. Colaborou nos principais jornais maranhenses, notadamente, A Tribuna, a Folha do Povo e O Imparcial. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, logo Integrou o grupo intelectual que fundou o Dom Casmurro, colaborando assiduamente com esse semanário literário. Assinou os suplementos dominicais de A Manhã, O Jornal O Correio da Manhã, o Diário de Notícias e o Jornal do Comércio. Tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, no qual manteve uma coluna semanal até 1990, e das publicações da Empresa Bloch, sobretudo na revista Manchete. Como Leonardo Da Vinci foi eclético, pois tinha as seguintes profissões: Professor, romancista, jornalista, cronista, ensaísta, historiador, orador, teatrólogo, memorialista. O homem público Josué Montello exerceu vários cargos, inclusive Reitor da UFMA, participou de colegiados nacionais e foi agraciado, ainda em vida, por inúmeros órgãos, entidades e governos.


Josué Montello exerceu as atividades de professor desde os 18 anos, ensinando línguas como Português, Francês, Inglês, mas intelectual era sua grande vocação. O notável romancista não tardaria a encontrar na prosa (ficção, ensaio, crônica, oratória) o caminho de sua verdadeira e consagrada realização literária. Montello foi um escritor corajoso, independente e de pulso firme, o que nem sempre é comum entre os imortais. Muito cedo descobriu o seu dever cívico e a contribuição que deveria deixar para as futuras gerações, driblando, às vezes, a crítica que lhe cercava. Soube, com a sabedoria de poucos, exercitar seus olhos para o futuro e sua memória privilegiada. Na utilização de sua memória, demonstra um grande apego ao passado. O Maranhão estava sempre presente em suas lembranças, principalmente São Luís e Alcântara. Dono de uma produção literária diversificada, em seus 160 títulos dos vários gêneros, foi o mesmo no conto, na novela e no romance, onde se concentra o apogeu de obra literária. Podemos contabilizar a obra de Josué Montello assim: 26 romances, 27 ensaios, 4 histórias literárias, 6 novelas, 9 peças de teatro,além da literatura infanto-juvenil, das antologias, das obras educacionais e dos discursos. José Montello é um romancista e memorialista. Em seus romances denuncia ou testemunha fatos que viveu durante sua vida de nordestino e brasileiro. Seu estilo é próprio de narrar, marcado pela descontinuidade do tempo, um forte apelo visual, uma linguagem prática e um apelo à memória. Montello retoma a linha realista de Aluisio Azevedo. Fala muito da morte em sua obra. Costuma-se dizer que Montello é clássico na linguagem narrativa. O primeiro traço que marca sua obra é a sua terra, espaço preferencial de seus romances. É próprio de o autor transpor o meramente regional para utilizar o universal das relações humanas. Montello transitou nos mistério da vida, falando do amor, saudade, da inveja, do tempo. Para ele, a vida é um labirinto. Josué Montello soube ser imortal desde quando expôs suas ideias ao mundo. Disse, em seus livros, o que pensava do amor, da saudade, do sofrimento, da inveja, do tempo. Suas figuras literárias, frutos de fértil imaginação, foram inteligentes quando transcritas em suas obras. Sua fama igualmente se estende aos ensaios e na crítica, deixando ao mundo uma biografia literária de alto quilate. Josué tem um caminho luminoso e suas obras expandem luzes que não deixarão a escuridão dominar a mente e os corações daqueles que compartilham de suas ideias. Do romance ao teatro, do artigo jornalístico ao ensaio histórico, é dono de uma prosa elegante. Fala-nos do incesto (A mulher proibida), da herança (Labirinto de espelhos), da gravidez fora do casamento (Janelas fechadas), do tempo representado por um relógio antigo e da longevidade (A luz da estrela morta e o Largo do Desterro), do fanatismo religioso (Os degraus do paraíso), da vida dos pescadores (Cais da sagração), da escravidão (Os tambores de São Luis), da decadência e da aristocracia (Noite sobre Alcântara) e outros temas. Sem ser um figurão literário, Josué Montello soube com elegância e finesse conviver com outros imortais de seu tempo, sempre expondo suas convicções, às vezes, com postura combativa. Seu projeto literário era ser autor de uma obra, não apenas de livros. Na originalidade de Montello, percebemos que ele soube reunir a tradição com o realismo. Soube buscar a memória dos fatos para encontrar a identidade do Maranhão, quase perdida. Soube juntar fatos e ficção, a ficção com o real, o que podemos chamar de diálogo entre a literatura e a história. Soube usar os símbolos da época em suas narrativas. Montello deixou-se guiar pelos imperativos da memória involuntariamente e sentimentalmente. Ele disse: “As memórias nada mais são do que aquilo que nos restou de nossos esquecimentos”. Montello chega ao social através do indivíduo. Por isso usa muito em sua narração: costumes, tradições, locais, lendas, política e história, buscando o psiquismo de seus personagens nas diversas camadas sociais como o burguês, o pescador, o trabalhador, o militar, o escravo etc.. Até a publicação do Cais da Sagração, em 1971, os romances de Montello estavam restritos aos interiores dos casarões e dos sobrados. Os romances montellianos, que integram a Saga Maranhense, têm um contraste do velho com o novo; do poder transformador ou degenerador do tempo; da memória do passado. O Termo “Saga Maranhense”, referido a Josué Montello, foi usado pela primeira vez pelo seu conterrâneo Franklin de Oliveira, em 1978, quando, analisando sua obra toda. Uma coisa levou Franklin de


Oliveira a nomear a obra de JM de saga maranhense: Nos relatos de prosa da obra maranhense montelliana se fundam a história e a preocupação com o destino do ser humano. Montello deixa transparecer em sua obra não só a preocupação de fundir a história ao destino do homem, mas os elementos principais que caracterizam uma saga: os vínculos de sangue e os laços de família. Esses elementos retratam o que foi a sociedade maranhense como um todo, sua história, suas tradições, seus valores. Constata-se que seus livros trataram das relações familiares, da herança cultural e da hereditariedade. Em sua variada obra, Josué Montello apresenta retratos do Maranhão, especificamente de São Lisa e Alcântara, recriando comportamentos individuais e o que representava a influência da raça negra naquele momento histórico. Em toda a sua obra dedica referências especiais a São Luis. Como bom maranhense, soube muito bem falar de São Luis, sua terra, destacando seus movimentos políticos e religiosos, suas conquistas através do tempo e, o mais importante, a forma simples de viver dos ludovicenses com sua vocação lúdica. São Luis, para o famoso romancista, era um território livre com seus ventos embalados nos sons dos tambores trazidos pelos bois de São José de Ribamar, da Maioba, do Maracanã ou da Fé em Deus, como diz nos Tambores de São Luis, que os franceses chamam de Les tambours noirs. A Saga Maranhense é, portanto, “o conjunto de romances que dá noticia e é um testemunho, ao mesmo tempo, histórico e social dos modos de ser e sentir-se maranhense. Esse testemunho ou essa notícia dá-se através do registro de costumes, dos falares, do folclore, das lendas, da cultura maranhense de modo geral e como um todo”. Saga tem como sinôminos a determinação, a predestinação, o designo espiritual, o estado de sagacidade. Todo ser que não desiste de seus objetivos, a ponto de perder ou ganhar, tem saga. A saga envolve, também, um personagem famoso que é descrito a partir de sua religião ou cultura. Se considerarmos o sentido tradição, a saga marca uma cultura histórica, uma memória remanescente, uma ficção narrativa, uma memorização de hábitos e costumes. Existem críticas sobre o termo Saga Maranhense. Há autores que afirmam ser o termo saga usada sem a devida apropriação. Saga está ligada intimamente à família, aos laços de sangue, a hereditariedade. É distante da noção de “grupo social”. O que existe na obras de Montello é, sobretudo, uma epopéia maranhense, baseada na sociedade existente naquela época. Aqui citamos algumas obras onde a Saga Maranhense está presente: - Janelas Fechadas – 1941 Cenário - São Luis Tema - Social. Explora a questão da gravidez fora do casamento. Foi o romance de estréia de Josué Montello, publicado em 1941. Benzinho, moça bonita, que morava no Anil, esperava sempre a vinda do bonde que podia trazer uma carta do pai de seu filho, enquanto D. Binoca deixava o tempo passar, - A Luz da Estrela Morta - 1948 Cenário - São Luis Tema - Romance Filosófico e psicológico. Personagem principal o tempo representado por um relógio antigo, que acompanhou várias gerações e serve de metáfora para Eduardo que reage aos acontecimentos e vê nele apenas uma máquina. É um romance filosófico. - Labirinto de Espelhos - 1952 Cenário - São Luis Tema - Herança


Obra-prima passada no Maranhão. Estória de uma viúva rica (Marta) com seus parentes pobres que esperam ficar ricos com a sua fortuna. Ela sabe de tudo e, sobrevivente, ainda, assiste várias mortes antes da sua. Retrata a inveja humana e a cobiça. - A Décima Noite - 1959 Cenário - São Luis Tema - Consumação do casamento Anulação do casamento, por erro essencial da pessoa, narrativa. - Os Degraus do Paraíso - 1965 Cenário - São Luis Tema - Fanatismo Religioso Em “Os degraus do Paraíso”, Josué crítica o fanatismo e o puritanismo religiosos e, referindo-se a uma epidemia da gripe espanhola, fala da morte física e espiritual. Seus personagens Ernesto, Cristina, Cipriana e Dr. Luna morrem. - Cais da Sagração - 1971 Cenário - São Luis Tema - Vida no Mar e Pescadores Ele conquistou o Prêmio Romance da Fundação Cultural de Brasília e o Prêmio Intelectual do Ano da Folha de São Paulo. Conta a estória do Mestre Severino - velho barqueiro - desenganado pelo médico do coração que viveu 2 casos afetivos com 2 mulheres: Vanju e Lourença. De família de barqueiros não teve herdeiro e sim um neto que vai continuar a carreira da família. Nome do barco era Bonança. - Os Tambores de São Luis – 1975 Cenário - São Luis Tema - Escravidão. Personifica as crenças, tradições, lutas, castigos e humilhações da escravidão, onde Damião é o maior símbolo. Refere-se à problemática do negro brasileiro, de suas lutas e tragédias. Foi a obra considerada mais cientifica de todas e laureada pela crítica. - Noite sobre Alcântara - 1978 Cenário - Alcântara Tema - Decadência de Alcântara e sua Aristocracia Estória do Major Natalino e Maria Olívia, filhos da aristocracia alcantarense sobre os destinos humanos de cada um. - Largo do Desterro - 1982 Cenário - São Luis Tema - A longevidade, o tempo. A estória do major Ramiro Tobarda, que sobreviveu todos os seus contemporâneos. Conheceu D. João VI e Getúlio Vargas, andou de carruagem e de automóvel e acompanhou a evolução da moda. Vivia a sensação de que a morte o esquecera. - Aleluia - 1982 Cenário - Jerusalém Tema - Religião


Um discípulo obscuro acompanha Cristo, em gratidão por um de seus milagres. Quando ocorre a identidade, só então, o narrador relata sua história. - Antes que os pássaros acordem - 1987 Cenário - Paris Tema - 2ª Guerra Mundial e invasão nazista na França. Em Paris, com personagens franceses e temas franceses. O livro reflete os valores e as angustias daquele tempo na França e na Europa. - O Baile da Despedida - 1992 Cenário - São Luis Tema - O baile da Ilha Fiscal. “O Baile da Despedida” acontecia enquanto se preparava a proclamação da república brasileira. A monarquia nem imaginava que aquela era a última oportunidade para se despedir do poder. Dona Catarina foi a única convidada do Maranhão. - Sempre serás lembrada - 2000 Cenário - São Luis Temário - Progresso da cidade de São Luis. Estória do jovem Aluisio que de volta a São Luis, depois de estudar na Europa, não consegue esquecer um relacionamento que teve com uma colega de classe. Vive angustiado em São Luis.

Conclusões sobre a Saga Maranhense:

1ª conclusão - A saga é o conjunto de narrações, histórias, verdades, lendas, orientações de vida, e figuras heróicas que habitam um mundo do povo, cultura ou religião. Para haver saga é preciso intimidade com à família, aos laços de sangue, à hereditariedade. É distante da noção de “grupo social”. Baseado nesse princípio, o que existe na obras de Montello está mais para uma “epopéia maranhense,” do que para saga maranhense.

2ª conclusão - SAGA MARANHENSE é, pois, o conjunto de romances que dá notícia e é um testemunho, histórico e social dos modos de ser e sentir-se maranhense, através do registro dos costumes, dos falares, do folclore, da cultura maranhense como um todo. 3ª Conclusão - Josué, como bom maranhense, soube muito bem falar de São Luis, sua terra, destacando seus movimentos políticos e religiosos, suas conquistas através do tempo, e o mais importante a forma simples de viver dos Ludovicenses. São Luis, para o famoso romancista, era um território livre com seus ventos embalados aos sons dos tambores trazidos pelos bois e da Casa das Minas. Tudo lembrava os negros e suas lutas em busca da liberdade. 4ª conclusão - Josué disse: “São Luis pulsa e se derrama na essência de meus romances. De onde concluo que não fui eu apenas, com a minha língua materna, que escrevi..........foi também minha terra que os escreveu comigo, com seus tipos, com seus sobrados, com suas ruas estreitas, com a luz inconfundível que se desfaz ao fim da tarde sobre seus mirantes, seus telhados, seus campanários, na Praia Grande, no Desterro, no Largo do Carmo, no Cais da Sagração.” Aqui Josué Montello foi poeta.


OS 100 ANOS DE JOSUÉ MONTELLO Palestra na CCJM terça-feira, 22 de agosto de 2017 (Apresentação do livro de MANOEL SANTOS NETO sobre a vida e a obra de Josué Montello:

Inicialmente, agradecer a consideração desta Casa, na pessoa de sua diretora Joseane de Souza, que me fez honroso convite para falar um pouco sobre a obra de Josué Montello. Vim mais com o propósito de dar um testemunho pessoal, como cidadão maranhense, nesta data tão importante, em que se celebra o centenário deste grande escritor do Brasil, nascido aqui, em São Luís do Maranhão. Foi com esse propósito de dar este testemunho pessoal, justamente porque eu fui um dos poucos jornalistas que tiveram a chance e o privilégio de entrevistar Josué Montello, na sua última visita a São Luís, em agosto do ano de 2001. Portanto já se passaram 16 anos desse memorável encontro com o grande escritor maranhense, que na época comemorava seus 84 anos de idade. Aqui nesta mesma casa, aqui neste mesmo espaço, com um grande número de pessoas em torno dele – intelectuais, autoridades, gente do povo. Muita gente mesmo, aqui, neste mesmo espaço. E hoje, estamos aqui a celebrar o seu centenário de nascimento. Naquela época, quando Josué veio a São Luís comemorar seus 84 anos, eu trabalhava, num jornal que não existe mais: a Folha do Maranhão, que funcionava na Rua Cândido Ribeiro (antiga Rua das Crioulas). Eu tive a chance de ter uma longa conversa gravada, com o escritor, e esta entrevista foi publicada numa terça-feira, 21 de agosto de 2001. Importante lembrar que, na comemoração dos 84 anos de Josué, ele foi condignamente homenageado com a encenação da peça O baile da despedida, uma adaptação do romance homônimo do escritor feita pelo teatrólogo Reynaldo Faray. A apresentação desta peça aconteceu no Teatro Arthur Azevedo, na Rua do Sol, às 20h30. Mas, antes da sessão de estréia do espetáculo, Montello foi chamado por amigos e admiradores para confraternização aqui nesta Casa de Cultura. Não podia ser maior a surpresa. Logo que ele entrou na Rua das Hortas, ele avistou as faixas em sua homenagem. A Casa estava repleta. Tinha ar de festa, com as luzes acesas, as janelas escancaradas, os vizinhos à espera do conterrâneo ilustre. Ele sentia em seu redor o carinho de pessoas de todas as idades, sensíveis às suas letras. Abraçado pelos amigos, também foi saudado por leitores que vinham ao seu encontro com seus livros, para que os autografasse. Sinal de que, embora esquivo e retraído, ele tinha em a popularidade que o consagrou, confirmando-lhe a grandeza. FOI UM ALVOROÇO DANADO Muitos repórteres e radialistas, apertados por microfones, máquinas fotográficas e câmaras de televisão, faziam a cobertura do evento – como aconteceu ontem, aqui nesta casa, com a cerimônia de abertura desta Semana Montelliana. Após tanto alvoroço, eu tive a chance de realizar uma longa e memorável entrevista com o grande escritor. Naquela tarde que seria uma inesquecível sexta-feira, o local não poderia ser mais adequado. Logo percebi que Montello, discreto e sereno, admirava os livros, limpos e perfilados, nas prateleiras das estantes que ocupam as aconchegadas salas deste casarão. E ele não conseguia esconder seu contentamento e emoção em ver tantos professores e estudantes visitando esta Casa: Cito aqui uma declaração dele:


“Dou-me por bem recompensado de todo o meu esforço, ao ver que os meus jovens conterrâneos dispõem, hoje, dos livros que eu não pude ter na idade deles”, afirmou ele, visivelmente fascinado. E era grande o burburinho e, de fato, as salas estavam repletas de estudantes que se debruçavam, no salão de leitura deste velho solar, com direito a consulta, sobre os cerca de 30 mil volumes que o escritor já havia transferido para esta Casa, que o tem como patrono. O acervo continuava a ser acrescido, com as novas levas que o romancista sempre remetia para este mesmo estuário. Esta velha Casa, bem cuidada, bem restaurada, guarda o legado romanesco e cultural deste grande mestre. Os 26 romances dele aqui estão. Estão aqui também o seu longo Diário de escritor. Aqui estão muitos documentos raros e significativos, que merecem a curiosidade de qualquer pesquisador. As gravuras, as condecorações, os recortes de jornais e, sobretudo, sua vasta biblioteca particular composta de livros e manuscritos – que lhe abriu caminho para ser o que é – encontrando-se a si mesmo. Importante dizer que quem estuda a extensa obra de Josué Montello logo reconhece que ele nasceu para o gosto do livro e o encanto da leitura. Seu horizonte natural seria assim a linha impressa. Por sua vontade, empregaria na leitura o mais de suas horas. E foi assim que se efetivou como o mestre que nada mais quis ser do que um puro homem de letras, com muito de homem de jornal. Sim, homem de jornal também. Não há como negar que Josué Montello é uma das figuras mais eminentes e operosas da literatura brasileira. OBRA EXTENSA Ele é autor de mais de 160 livros, entre os quais 26 romances e cinco volumes de novelas. E também escreveu suas memórias, divididas em seis volumes : Diário da manhã (1952-1957). Nova Fronteira (1984) Diário da tarde (1957-1967). Nova Fronteira (1987) Diário do entardecer (1967-1977). Nova Fronteira (1991) Diário da noite iluminada (1977-1985). Nova Fronteira (1994) Diário de minhas vigílias (1985-1990) Diário da madrugada (1990-1995) Importante explicar: Diário da manhã (1984). Abrange o período de junho de 1952 a agosto de 1957. Diário da tarde (1987). Abrange o período de setembro de 1957 a agosto de 1967. Diário do entardecer (1991). Abrange o período de agosto de 1967 a agosto de 1977, e tem como desfecho o texto “O drama de Kubitschek”. Diário da noite iluminada (1994). Abrange o período de agosto de 1977 a agosto de 1985. Diário de minhas vigílias. Abrange o período de agosto de 1985 a agosto de 1990. Diário da madrugada. Abrange o período de agosto de 1990 a dezembro de 1995. Estes seis diários são os livros de memórias em que Montello relata sua trajetória como jornalista, cronista, ensaísta, crítico literário, contista e romancista. E mostram como ele construiu sua carreira de escritor verdadeiro, com o sentimento da palavra como substância da obra de arte.


Além dos romances, novelas e diários, somem-se ainda a esses volumes os milhares de artigos que, para jornais e revistas do Rio e de São Paulo, escreveu Montello, no fluxo de uma colaboração diária. Nos seus artigos, como nos seus ensaios, ele sempre tinha uma novidade para contar ou comentar, refletindo a variada curiosidade de seu espírito e o propósito pedagógico de passar adiante, em estilo direto e objetivo, tudo quanto lia, em matéria de ciência, de literatura, de tecnologia, e que trouxesse o cheiro e o sabor da novidade. A obra completa de Josué Montello é muito desafiadora. Falo aqui sobre o escritor excessivo. E sobre o trabalhador incansável que ele foi. Porque, de fato, Montello escreveu muito. E trabalhou muito. Ele achava que não tinha tempo a perder. E não se cansava de trabalhar. Trabalhava sem parar. Em seu Diário, ele conta que, ao longo da vida, cultivou o hábito de trabalhar sempre, sem parar, daí não ter o costume de tirar férias. E, mesmo nas férias, continuava trabalhando. Foi assim que Montello viveu uma vida operosa. Muito operosa, de uma intensa atividade intelectual. Cabe a pergunta: por que Montello trabalhou e escreveu tanto: Cito aqui outra declaração dele: “Meus predecessores, no Século XIX e neste século, realizaram obra mais importante, do ponto de vista do valor literário e cultural; eu reclamo para mim o contentamento de ter realizado a obra mais extensa que o Maranhão inspirou a um de seus filhos.” Com gestos calmos e voz pausada, sorridente e bem-humorado, não conseguia esconder o gosto e a paixão por seu trabalho de escritor. Com mais de meio século dedicado à literatura, ele atribui a sua grande vitalidade – e sua produção literária é de fato das mais impressionantes – primeiro a uma curiosidade insaciável, e depois ao chamamento de sua vocação: Aqui esta frase dele: “Cada um de nós traz consigo, desde o berço, o seu voto perpétuo, imposto pela natureza, e que é a vocação. O meio, com as suas circunstâncias, e o tempo, com as suas eventualidades, se encarregam de favorecer ou contrariar essa vocação, daí resultando, na sua harmonia ou na sua dissonância, as vidas vitoriosas ou as vidas malogradas.” Com uma paixão sem igual pelas letras e pelas coisas da cultura, Montello foi tudo isso: jornalista, cronista, ensaísta, crítico literário, contista e romancista. E foi tudo isso, com um modo muito seu de exprimir-se. Mas ele também fez teatro. E também escreveu para crianças. E ainda compôs versos poéticos. Grande escritor, reconhecido como figura altamente representativa de seu tempo e de nosso país, o velho mestre é um exemplo de toda uma vida consagrada à literatura. E é como romancista que ele diz que plenamente se realizou. 84 ANOS Perguntei a Montello o significado daquela festa pelos seus 84 anos. Ele respondeu: “A esta altura da vida, posso reconhecer que me mantive fiel a mim mesmo, e foi isso que deu coerência ao meu destino. O que eu tinha de ser, com os meus próprios valores, se espelha e se evidencia em todas as minhas obras. O sonho de menino fez o homem.” Trabalhador incansável e uma pessoa obstinada


Mestre na arte de compor situações romanescas, e com o espírito de quem está sempre ávido por aprender coisas novas e descobrir outros caminhos, Montello é a inegável expressão de uma pessoa obstinada: “Sempre tive a curiosidade da experiência alheia. É bom saber que o mundo não é apenas como nós o vemos, mas também como vêem aqueles que tiveram o privilégio de viver na mesma faixa de tempo.” É assim que, de pronto, revela-se nele a figura do homem incansável, multidisciplinar, determinado e rigoroso, que trabalha de forma obsessiva na construção de seus livros. Ele faz questão de frisar que, ao longo de sua extensa trajetória de romancista, teve o tempo todo a preocupação de juntar a tradição romanesca com a renovação técnica, de modo que, no contexto da narrativa, se fundissem os novos elementos expositivos, trazidos pelos mestres modernos, sem perder de vista o gosto singelo de contar uma história ao leitor. “Bem ou mal, com a junção desses elementos, consegui construir uma obra que hoje alcança, no seu conjunto, 26 romances, com os quais, a meu modo, tentei penetrar nos mistérios da consciência humana, naturalmente delimitado pelas fronteiras de meus personagens. Se o que fiz ficou aquém do que pretendia, salve-se ao menos, em meu favor, o cuidado em levar a bom termo o projeto que me propus.” Naquela data festiva, Montello não conseguia esconder sua alegria. Ele se rejubilava por estar sendo homenageado em sua terra natal e confirmava, prazerosamente, os seus 84 anos. Sim, isto mesmo: são 84 anos. VELHICE Perguntei a Montello como ele se sentia, com tanta idade sobre os ombros. Ele respondeu que o tempo, se lhe deu a idade, não lhe deu a velhice. Acentuou que a velhice, para quem vive a queixar-se dela, é uma forma de ingratidão. Por que assim? Ele explicou que quem não quer morrer quer viver e, vivendo, tem por obrigação ajustar-se às limitações que o tempo impõe à natureza. “Mas não é isso que geralmente acontece. Em vez de aceitar a idade, como quem concorda em pagar na fonte o seu Imposto de Renda, sob a forma de restrições miúdas, muita gente reage, escamoteando o que recebeu da bondade divina e nega a idade verdadeira. O que é uma forma de dizer que recebeu menos, quando na verdade recebeu mais ...” Ainda fascinado com tanta gente nova em seu redor, visitando o acervo desta Casa que o tem como patrono, Montello também acentuou: “Eu sou muito grato a Deus pela idade que já me deu, mas continuo a protestar contra seus excessos e suas limitações. A meu modo, trato de seguir à risca a recomendação de Montaigne, segundo a qual devemos viver sem perder de vista aqueles que vão chegando, com seus sonhos, suas esperanças e suas ilusões.” Ah, a sua gratidão por todos aqueles que, ao longo da vida, lhe deram a mão confiante, na hora de seus problemas. Tinha a memória tenaz dos benefícios recebidos. No entanto, nascera mais para dar do que para receber. Mais do que um companheiro, ele soube ser sobretudo o amigo, com o gosto do louvor, a vocação instintiva de estímulo aos jovens escritores e a alegria de bater palmas ao triunfo alheio.


(O livro de coletâneas lançado nesta segunda-feira, 21 de agosto de 2017, é uma prova disso: Montello tinha a preocupação constante de estender a mão aos novos escritores e de procurar dar força, dar estímulo aos novos talentos Daí uma série de artigos sobre personalidades maranhenses, sempre buscando fazer louvor aos novos talentos. Ele gostava de elogiar e de incentivar os que vinham chegando) Josué Montello deixou o melhor de seu pensamento e de seu estilo tanto nos seis volumes de seu livro de memórias – Diário da manhã, Diário da tarde, Diário do entardecer, Diário da noite iluminada, Diário de minhas vigílias e Diário da madrugada – quanto nas famosas crônicas que publicou na revista Manchete e, especialmente, nas páginas do Jornal do Brasil, durante quase 40 anos – de 1955 a 1993. São uma evidência de que Montello se preparou, ao longo da vida, para ser o homem culto de sua esplêndida maturidade. Muito provavelmente, na sua geração, poucos poderiam medir-se com ele, no saber profundamente refletido e assimilado, e ainda no poder verbal para expressar esse saber. O que Montello escreveu e publicou assegura-lhe a presença obrigatória na história da literatura do Maranhão e do Brasil. Portanto, não há como negar a Josué Montello a condição de mestre. Sim, de um mestre a quem a natureza dotara com uma cintilação de gênio, no privilégio do destino adequado, como um dos grandes escritores do Maranhão e do Brasil que, além de ensaísta, crítico literário e historiador, foi também jornalista, poeta e um extraordinário romancista e memorialista. Voltando à entrevista: Montello afirmou que obteve um de seus maiores reconhecimentos em 1954, quando foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. “No dia da eleição, eu estava nervoso. Fiquei sentado ao lado do telefone até saber o resultado, e voltei a fumar, depois de ter parado por mais de três anos. Ganhei a cadeira por unanimidade, logo no primeiro escrutínio”, conta. Josué diz que nunca viveu conflitos no momento de criar. “Ouço escritores falando que escrever é uma tortura etc., mas comigo não é assim. Escrevo como um passarinho canta, naturalmente. Quando um livro começa a se formar na minha mente, tenho alucinações. Ouço vozes, vejo rostos. São os personagens se apresentando para mim. Só me livro dessas assombrações escrevendo”, diz, com bom humor. Foi um autor precoce Muito cedo começou a escrever seus livros. Muito cedo chegou à Academia Maranhense e, logo em seguida, chegou à Academia Brasileira de Letras. Em 1954, quando foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ele tinha 37 anos. E muito cedo ele teve toda a sua vida pública foi balizada por vitórias sucessivas, legitimamente alcançadas por seus altos méritos. Fez da vida pública uma seqüência admirável de grandes vitórias, entre as quais convém ressaltar o cargo de embaixador do Brasil em Paris. Ele lecionou literatura na Universidade de São Marcos, em Lima, no Peru, e também lecionou na Espanha e em Portugal. Portanto, poucos intelectuais brasileiros tiveram a sua cultura. Mais do que isso, a sua folha de serviços. Não se pode esquecer que, dentre os vários cargos que ocupou, Montello também foi reitor da Universidade Federal do Maranhão e justamente nessa fase foi que ele escreveu o romance Os tambores de São Luís. Outra informação importante que cabe assinalar:


Logo no começo de sua carreira de escritor, Josué Montello ganhou três prêmios da Academia Brasileira de Letras: 1948 – ABL concede a Josué Montello o Prêmio Sílvio Romero, de Crítica e História, por sua História da Vida Literária 1950 – ABL concede a Josué Montello o Prêmio Artur Azevedo, por sua peça Escola da Saudade 1956 – ABL concede a Josué Montello o Prêmio Coelho Neto de Romance, por seu Labirinto de Espelhos. Extremamente disciplinado, anotava tudo sobre os livros que lia, deixando-os rabiscados. Metódico, nunca falhou com seu artigo semanal para o Jornal do Brasil, que saia todas as terças-feiras desde que começou a escrever ali, em 1955 - atividade que resolveu encerrar no ano de 1993. Por fim, lembrar que Montello gostava do aconchego de sua terra, de sua gente e de seus amigos e familiares. Autor de vários romances genuinamente maranhenses, ele pertenceu à geração que despontou nos anos 30. Com milhares de personagens, multiplicidade de cenários e diversidade de situações que retratam São Luís desde os primórdios coloniais até a realidade que encontrou nos anos do século 20. Integram esse ciclo o romance Cais da sagração, uma das poucas histórias do mar de nossa prosa de ficção. E, atravessando o mar pela Baia de São Marcos, o romancista retratou a dolorosa decadência da velha Tapuitapera, em Noite sobre Alcântara. (Mas vamos deixar esse assunto – o da Saga maranhense para amanha, com o professor Aldy Mello, que vem realizando de forma paciente e dedicada um estudo sobre esse tema Boa parte da história do Maranhão, neste último meio século, se reflete na obra admirável de Josué Montello. Atenas Brasileira Lembrar aqui de um artigo dele sobre a Atenas Brasileira: Durante os primeiros 40 anos que se seguiram à Independência, o Maranhão foi uma das principais referências culturais do Brasil, por isso mesmo cognominado de Atenas Brasileira – título que, na época, representava a suprema glória, pois supunha a existência, numa ilha afortunada do Norte, de uma constelação de celebridades tão iluminada quanto os luminares da antiguidade grega. É realmente impressionante e admirável o número de talentos que, naquele período, em diversas áreas do conhecimento, e não apenas na literatura, como se diz comumente, eclodiu no Maranhão. Figuras nascidas e ainda vivendo na província ganharam notoriedade no país e arrancaram aplausos entusiasmados até mesmo na antiga corte, Lisboa. Foi um tempo em que aqui viveram (século 19) Odorico Mendes (1799-1864) Sotero dos Reis (1800-1871) João Francisco Lisboa (1812-1863)


Gonçalves Dias (1823-1864) Antônio Henriques Leal (1828-1885) Joaquim de Sousândrade (1833-1902) Nina Rodrigues (1862-1906) ...

Tradição cultural do Maranhão O Maranhão tem a força de uma poderosa tradição cultural. Basta lembrar que, dos 40 membros iniciais da Academia Brasileira de Letras, cinco eram do Maranhão: Graça Aranha, Coelho Neto, Artur Azevedo, Aluísio Azevedo e Raimundo Correia. Dos escolhidos para patronos: Gonçalves Dias, João Lisboa e Joaquim Serra, Odorico Mendes e Sotero dos Reis. Depois chegaram à Academia Brasileira de Letras os maranhenses Humberto de Campos, Viriato Correia, Odylo Costa, filho. E por fim Josué Montello, José Sarney e Ferreira Gullar. Eles representam o Maranhão como jornalistas, poetas, historiadores, cientistas – homens de sólida formação humanística, vasta erudição e originalidade. José Veríssimo, autor da História da literatura brasileira, uma das obras fundadoras da historiografia nacional, registra, em cores fortes, o fenômeno da coexistência, numa mesma região brasileira, de tão inacreditáveis talentos, concluindo, pesaroso, que o mesmo não se repetiria jamais. “Console-se o Maranhão”, arremata, para fazer uma comparação que segue o gosto predominante da referência às civilizações antigas: “Também a Atenas, que lhe deram por ontonomástico, nunca jamais lhe voltou o tempo de Péricles”. Aqueles 40 anos de glória talvez não se repitam mesmo, como diz Veríssimo. Eles formam um capítulo importante da história da inteligência brasileira e estão corretamente consignados e avaliados nos estudos fundamentais da literatura nacional. (Abrir aqui um parênteses Uma coisa é constante na maioria dos livros de Josué, seja nos diários ou nos prefácios de seus romances: o amor pela companheira Yvonne. “Ela criou as duas filhas do meu único casamento anterior, que nos deram cinco netos. Foi sempre a primeira a ler e opinar sobre os meus escritos”, diz, emocionado. Ele acrescenta que, quando recebe a visita da família, aproveita para exercitar a habilidade em contar histórias. “Gosto de observar as reações nos olhos deles, a respiração, e assim concluo que continuo em forma. Às vezes me perguntam o que eu seria se não fosse escritor. Eu respondo: seria um grande mentiroso”. E explica: seria “um recriador da vida, nas suas surpresas, nos seus mistérios, com o pendor que Deus também nos transmitiu quando pôs diante de cada um de nós o enigma de nosso futuro.” A imensa obra de Josué Montello (digo imensa porque há sempre um acréscimo a fazer-lhe, por força da descoberta de novos textos e de novas versões) As novas gerações precisam saber que boa parte da história do Maranhão, neste último meio século, se reflete na obra admirável de Josué Montello. Coube-lhe recolher o sofrimento, a emoção, o drama, as impaciências do povo maranhense, ao longo da saga romanesca que lhe fluiu da pena. Ninguém o lê sem admirá-lo. É o narrador por excelência. É o romancista que escrevia romances e mais romances e, que como grande escritor, será sempre um grande orgulho para o Maranhão. Senhores, era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado!


MONTELLO: UM MÚLTIPLO HOMEM DE LETRAS JOSÉ NERES (Professor e Membro da AML) Artigo publicado no Jornal do Maranhão, nº 94 – agosto de 2017. p. 15. O dia 21 de agosto é uma data especial para todas as pessoas que gostam de literatura e que admiram a produção literária de um dos mais profícuos intelectuais maranhenses de todos os tempos. Foi nesse dia, em 1917, que nasceu, na Rua do Sol, na casa 119, uma criança que, alguns anos depois, iria tornar-se uma das mais expressivas personalidades das letras brasileiras: Josué de Sousa Montello. Filho do casal Antônio Bernardo Montello e Mância de Sousa Montello, o garoto, que começou seus estudos na Escola-Modelo Benedito Leite e fez os estudos secundários no Liceu Maranhense, sempre foi reconhecido por seus professores e colegas como aluno dedicado, atencioso e talentoso. Mergulhado, por força do destino, em um universo de leituras clássicas, o próprio Josué Montello confessa que desde muito cedo decidiu que iria dedicar-se às letras e que com palavras e livros faria o alicerce que sustentaria toda a sua carreira. E Isso foi feito. Após beber nas fontes dos maiores nomes da literatura nacional e universal, Montello, aos 19 anos, durante breve passagem pelo Pará, publicou, em parceria com o amigo Nélio Reis, seu primeiro livro, intitulado História dos Homens de Nossa História. Mas quatro anos antes, mal completado o primeiro lustro de vida, viu seu nome pela primeira vez impresso em jornais como autor de um texto, ao publicar um artigo sobre Educação, a pedido de Antônio Lopes, seu professor de Literatura. Logo após a publicação de seu livro de estréia, o nome de Montello começou a ser divulgado nos círculos literários de várias cidades do Brasil. Mudando-se para o Rio de Janeiro no final de 1936, o Jovem escritor começa a conviver com alguns dos mais respeitados nomes da intelectualidade nacional, exerce diversos cargos públicos, colabora com diversos periódicos e começa a construir uma sólida carreira de ficcionista e de ensaísta, é premiado diversas vezes por instituições e acaba sendo eleito para a Academia Brasileira de Letras, instituição na qual posteriormente iria ocupar o cargo de presidente. Extremamente atento a tudo o que ocorria no seu entorno e observador das muitas mudanças políticas, culturais e sociais, Montello resolveu registrar os principais acontecimentos do qual tomou parte em diários que depois foram publicados e que hoje se constituem em importantes documentos para pesquisadores interessados nos detalhes da história do Brasil quem nem sempre foram comentados em jornais e/ou e documentos oficiais. Nas milhares de anotações feitas por Montello é possível reconstituir parte do intrincado cenário político de diversas décadas. Embora tenha escrito também crônicas, peças teatrais, poemas, obras infanto-juvenis, contos, novelas, ensaios, historiografia e crítica literária, são os romances de Josué Montello que são mais lembrados quando se trata de fazer um levantamento de suas obras mais significativas. Navegando por temáticas variadas, o escritor se notabilizou por construir narrativas que prendem o leitor em um emaranhado de peripécias muito bem articuladas e que tem seus múltiplos nós desatados no momento exato de levar o leitor a aproximar-se do clímax do romance. Poucos são os escritores brasileiros que demonstraram tanto domínio da técnica da narrativa longa quanto Josué Montello. Em seus livros, é possível visualizar as cenas descritas e também fazer um passeio literário pelas ruas e becos de uma de sua musa mais recorrente: a cidade de São Luís. Trabalhos como Os Tambores de São Luís, Cais da Sagração, Os Degraus do Paraíso, Largo do Desterro, Uma Sombra na Parede e Os Degraus do Paraíso são exemplos bem acabado de como um escritor de talento é capaz de transformar o espaço narrativo em cúmplice da própria história que está sendo contada. Embora menos comentados, os textos curtos de Montello também são extremamente bem construídos. Um bom exemplo disso são as novelas enfaixadas no volume intitulado Um Rosto de Menina, nas quais é possível identificar uma mescla da densidade do estilo Machadiano com a leveza da narrativa de um Humberto de Campos e acidez contundente de um Nelson Rodrigues. Em suas novelas e contos,


Montello tenta mostrar tanto a superficialidade quanto o âmago das relações humanas, deixando claro que muitas vezes a verdade foge aos olhos e aos demais sentidos humanos, escondendo-se nas frestas de ações quase imperceptíveis. É o que ocorre em O Monstro, uma novela de altíssimo nível e que nada fica a dever aos grandes mestres da ficção mundial. Cônscio de sua importância para a cultura não apenas de seu Estado mas também para toda a literatura nacional, o próprio escritor tratou de deixar para os futuros estudiosos de sua obra algumas informações necessárias para os primeiros contatos com seus trabalhos artísticos. Basta ler seu relato intitulado Confissões de um Romancista, que faz parte do primeiro volume de Romances e Novelas, publicado pela Editora Nova Aguilar, em convênio com o Instituto Nacional do Livro, para que se tenha uma ideia do modus operandi desse escritor que fazia da palavra sua grande companheira de jornada. No dia 15 de março de 2006, quando estava próximo a completar seu nonagésimo aniversário, Montello cumpriu sua missão na terra, mas deixou como herança para todos, mais de uma centena de livros sobre assuntos variados. Agora, no ano de seu centenário de nascimento, melhor presente que poderia ser dado a ele é pegar alguns desses livros e lê-los com a certeza de que essas páginas, com todas as suas nuances saíram da imaginação de uma das melhores mentes de nossa terra.


I SEMINÁRIO LITERÁRIO CENTENÁRIO JOSUÉ MONTELLO NO CENTRO CULTURAL CONVENTO DAS MERCÊS.



ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!


PATRIMONIO HISTÓRICO E CULTURAL124 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Professor de Educação Física Especialista em Lazer e Recreação; Mestre em Ciência da Informação

INTRODUÇÃO125 O turismo é uma das atividades que mais cresce no Mundo. Por permitir rápido retorno do investimento, gerar empregos diretos e indiretos e por sua ligação com os mecanismos de arrecadação, o turismo é a atividade que mais contribui para o desenvolvimento de diversos países. Para obter resultados é imprescindível que este turismo seja feito de forma organizada e racional. O Maranhão possui grande vocação para o turismo e o tem como símbolo de suas melhores expectativas de integração e desenvolvimento, graças às condições territoriais, climáticas e culturais. O turismo envolve uma multiplicidade de serviços: transporte, hospedagem, alimentação, agenciamento, trabalho de intérprete e tradutor, guias turísticos, organização de eventos, entretenimento, etc. São muitas empresas e profissionais envolvidos, diversas interações e etapas a serem percorridas, tornando a atividade complexa e de difícil mensuração. Investimento na formação da cultura do turismo, aqui incluídas a formação profissional e gerencial, é a grande lacuna que deve ser preenchida. Atuar neste cenário é propiciar a um maior número de investidores, empresários, técnicos e trabalhadores o ingresso no mercado de trabalho, favorecendo a geração de trabalho e renda, contribuindo inclusive para um melhor equilíbrio social. As experiências universais têm demonstrado que a orientação das atividades turísticas, e, portanto, a ação da liderança turística é mais importante que instalações, equipamentos e material adequado. Por esse motivo a liderança deve desenvolver uma base cultural e de conhecimentos teóricos e práticos que lhes garantam êxito na orientação dos programas. Daí a importância de ser considerado, pelos gestores do turismo, que a orientarão e o planejamento dos programas de atividades deva estar fundamentado na filosofia dos direitos humanos à liberdade. Por essa razão é que GOUVEIA (1969) tenha afirmado que a primeira atitude do turismólogo é planejar e elaborar programas com os que se recreiam e não para eles. Para cada tipo de atividade de lazer existe um equipamento específico. Os equipamentos de turismo caracterizam-se como equipamentos destinados a programação turística em geral, associando hospedagem e atividades recreativas. Além das programações tipicamente de hotelaria - recepção, hospedagem e alimentação, são executadas programações diversificadas de lazer e recreação, construídas segundo as características geográficas-naturais e/ou histórico-culturais. Quanto ao tempo em que ocorrem geralmente o são em temporadas de férias, em períodos determinados, em feriados e nos fins de semana. Ou nos períodos de pacote turístico programado.

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MIX CULTURAL - PATRIMONIO HISTÓRICO E CULTURAL LUDOVICENSE - 3º. PERÍODO DO CURSO DE TURISMO – UFMA - Profa. MARILENE SABINO Gostaria de agradecer o desafio feito, haja vista que fui contatado ontem pela tarde para estar aqui. Trata-se de um ‘bate-papo’, não de uma palestra... Assim como a abordagem que farei está calcada em trabalho de Silvia Helena Zanirato e Wagner Costa Ribeiro sobre Patrimônio cultural... 125 Leopoldo Gil Dulcio Vaz. O profissional de turismo e lazer. In Simpósio de Turismo da UFMA, março de 1999.


ATIVIDADES HISTÓRICO-CULTURAIS126 Aqui, seguiremos Zanirato e Ribeiro (2006) 127, quando se referem à associação do patrimônio cultural com a natureza na escala internacional iniciada em 1956, quando a UNESCO, por meio do ICCROM — Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração dos Bens Culturais, uma organização intergovernamental, dedicou-se ao tema. Depois, na Conferência de Washington em 1965, criou-se a Fundação do Patrimônio Mundial para estimular a cooperação internacional a proteger "as zonas naturais e paisagísticas maravilhosas do mundo e os sítios históricos para o presente e o futuro de toda a humanidade". Em 1968, a União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos, organização não governamental internacional criada em 1948, elaborou propostas similares para seus membros, que foram depois apresentadas na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, organizada em Estocolmo em 1972. Os debates ocorridos naquela ocasião indicaram a viabilidade da associação entre natureza e cultura no que se refere aos bens patrimoniais. Também foram relevantes, no processo de ampliação do que se compreende por patrimônio, as conclusões de uma comissão italiana encarregada de realizar estudos para a tutela e valorização do patrimônio histórico e artístico italiano, a Comissão Franceschini. Essa Comissão realizou estudos entre 1964 e 1967 e elaborou seus resultados em uma Declaração de Princípios na qual definiu um bem cultural como "todo bem que constitua um testemunho material dotado de valor de civilização" e reuniu um elenco das categorias de objetos integrantes dos bens culturais, a saber: bens arqueológicos, artísticos e históricos, ambientais, arquivísticos e bibliográficos. Nos últimos anos, o conceito "patrimônio cultural" adquiriu um peso significativo no mundo ocidental. De um discurso patrimonial referido aos grandes monumentos artísticos do passado, interpretados como fatos destacados de uma civilização, se avançaram para uma concepção do patrimônio entendido como o conjunto dos bens culturais, referente às identidades coletivas. Desta maneira, múltiplas paisagens, arquiteturas, tradições, gastronomias, expressões de arte, documentos e sítios arqueológicos passaram a ser reconhecidos e valorizados pelas comunidades e organismos governamentais na esfera local, estadual, nacional ou internacional. Os bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis que compreendem o patrimônio cultural são considerados "manifestações ou testemunho significativo da cultura humana", reputados como imprescindíveis para a conformação da identidade cultural de um povo.128 Já os bens ambientais surgiam como "as zonas corográficas que constituem paisagens naturais ou transformadas pela ação do homem e as zonas delimitadas que constituam estruturas de assentamentos urbanos ou não urbanos, que apresentem particular valor de civilização". Em se tratando do patrimônio natural, a avaliação é ainda maior, posto que a salvaguarda dos recursos materiais e do conhecimento tradicional sobre os usos desses recursos é tida como essencial para a garantia de uma vida digna para a população humana. Apesar disso, outros interesses são identificados na conservação do patrimônio natural, em especial a intenção de reservar informação genética nas áreas protegidas para uso futuro. 126

Quero deixar claro que este não é um trabalho original. Devido ao pouco tempo de prepará-lo – menos de 24 horas – servime de conceitos buscados na Internet, em especial do trabalho de Silvia Helena Zanirato; Wagner Costa Ribeiro sobe Patrimônio cultural. Inédita, é a abordagem... 127 Silvia Helena Zanirato; Wagner Costa Ribeiro. Patrimônio cultural: a percepção da natureza como um bem não renovável. IN Rev. Bras. Hist. vol.26 no.51 São Paulo Jan./June 2006 128 GONZALES-VARAS, Ignácio. Conservación de bienes culturales. Madrid: Cátedra, 2003. p.44. [ Links ]


O patrimônio natural pode ser definido como uma área natural apresentando características singulares que registram eventos do passado e a ocorrência de espécies endêmicas. Nesse caso a sua manutenção é relevante por permitir o reconhecimento da história natural e, também, para que se possam analisar as conseqüências que o estilo de vida hegemônico pode causar na dinâmica natural do planeta. Uma área natural protegida é um laboratório de pesquisa que possibilita estudar reações da dinâmica da natureza em si. Além disso, a singularidade que faz a área merecer sua elevação à condição de patrimônio pode apresentar beleza cênica ou, ainda, ser fundamental para o desenvolvimento de processos naturais, como ocorre com o mangue, responsável pela reprodução de microrganismos que servem de base da cadeia alimentar. Ainda seguindo as conclusões daquela Comissão Franceschini (ZANIRATO e RIBEIRO, 2006), esses bens podiam ser paisagísticos ou urbanísticos. Os paisagísticos são aqueles especificamente naturais, como as zonas territoriais em estado de natureza que tivessem caráter geográfico ou ecológico unitário e de relevante interesse para a história natural, ou que documentassem a transformação cívica do ambiente natural pela ação do homem, como exemplo as áreas naturais, as áreas ecológicas e as paisagens artificiais. Os bens urbanísticos, por sua vez, são aqueles "construídos por estruturas de assentamentos de particular valor, enquanto testemunhos vivos da civilização nas várias manifestações da história urbana", como exemplo, os centros históricos. As conclusões desse relatório, bem como as deliberações da Conferência de Estocolmo, reapareceram nas discussões dos representantes dos Estados Partes da UNESCO por ocasião da Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural, convocada por essa Organização em 1972. 129 As deliberações desse encontro foram de que o patrimônio cultural englobava os monumentos, o grupo de edifícios e lugares que tivessem valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. Segundo o entendimento dos convencionais, os lugares deveriam ser entendidos como as obras do homem e as obras conjuntas do homem e da natureza. As zonas seriam os lugares arqueológicos que tivessem um valor excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. O patrimônio natural, nesse momento, compreendia os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por grupos dessas formações que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista estético ou cientifico; as formações geológicas e fisiográficas das zonas estritamente delimitadas que constituam o habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas e que tenham valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; e os lugares ou as zonas naturais estritamente delimitadas que tenham um valor excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação e da beleza natural. Como se pode depreender, a Convenção acabou por incluir no rol de bens patrimoniais as criações da cultura e da natureza. Em 1985, por ocasião da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, ocorrida no México, se definiu que "o patrimônio cultural de um povo compreende as obras de seus artistas assim como as criações anônimas surgidas da alma popular". Assim, as obras modestas que adquiriram com o tempo uma significação cultural, passaram a ser incorporadas ao rol de bens culturais. Ora, na década de 1980, o tema da sustentabilidade surgiu com grande evidência por meio do relatório "Nosso futuro comum", obra da Comissão Mundial de Meio Ambiente. Conciliar o desenvolvimento econômico e minimizar os impactos ambientais passou a ser imperativo perseguido em diversas reuniões internacionais. Era mais um aspecto a ser ponderado na conservação de áreas naturais protegidas. 129

UNESCO. Convenção para a proteção do patrimônio mundial natural e cultural. 1972. Disponível em www.whc.unesco.org, [ Links ]


Os anos 90 confirmaram que a preocupação com a preservação dos recursos naturais tornara-se internacional. Logo no início da década ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, a Conferência do Rio em 1992, que teve o objetivo de regular a ação humana em relação à emissão de gases que afetam o efeito estufa e a informação genética. Nela foram celebradas as Convenções sobre Mudanças Climáticas e sobre Diversidade Biológica e assinados documentos que continham um conjunto de princípios a respeito dos recursos genéticos e da soberania de cada país sobre o patrimônio existente em seu território. Um ponto alto da Convenção sobre Diversidade Biológica ocorreu quando se buscaram políticas destinadas a garantir os direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais sobre os recursos genéticos, haja vista a estreita relação entre a preservação desses recursos e os conhecimentos, costumes e tradições dessas populações. A Carta de Nara, de 1994, reformulou a compreensão sobre o valor dos bens quando estabeleceu que "o juízo sobre os valores atribuídos ao patrimônio cultural, além de depender de credibilidade das fontes de informação, difere de cultura em cultura e deve ser formulado dentro de cada âmbito cultural". Através desse documento ficava reconhecida a existência de culturas distintas, assim como valores diversos para a consideração de um bem. A relação estabelecida entre a preservação dos recursos e a dos conhecimentos tradicionais indicava o valor atribuído à diversidade, que advinha do conceito antropológico de cultura e da importância que esta confere à diversidade cultural da humanidade. As comunidades e a cultura, em sua diversidade, são vistas pelos antropólogos como "ingredientes básicos da humanidade, que dão sentido e conteúdo ao princípio abstrato da igualdade". A diversidade converte-se assim num elemento constitutivo da universalidade. O patrimônio imaterial passou a ser objeto de análise, mesmo com as dificuldades encontradas em sua manutenção e conservação. Diálogos, ritos e práticas religiosas passaram a incorporar as obras da humanidade para a UNESCO. Já o patrimônio natural é conservado à luz da ciência. Menos por permitir uma identidade a quem nele vive, mas sim pelos atributos que lhe conferem beleza cênica, a possibilidade de novas experiências e a busca de informação genética. Ou seja, a conservação de áreas naturais ainda obedece à visão utilitarista, que predomina na sociedade capitalista. Ao mesmo tempo, possibilita reconhecer nesses verdadeiros refúgios aos processos produtivos e de urbanização o foco de alternativas à reprodução da vida. GONZALES-VARAS, Ignácio. Conservación de bienes culturales. Madrid: Cátedra, 2003. p.44. [ Links ] CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Ed. Unesp, 2001. [ Links ] UNESCO. Centro del Patrimonio Mundial de la. Carpeta de información sobre el patrimonio mundial. Paris, 2005. p.2. [ Links ] Convenção de Haia, 1954. Disponível em www.portaliphan.gov.br, [ Links ] UNESCO. Convenção para a proteção do patrimônio mundial natural e cultural. 1972. Disponível em www.whc.unesco.org, [ Links ] Carta de Nara, 1994. Disponível em www.portaliphan.gov.br, [ Links ] RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2005. [ Links ]O autor discute como a temática ambiental passou a ser tratada em escala internacional; SCIFONI, Simone. Patrimônio mundial: do ideal humanista à utopia de uma nova civilização. GEOUSP — Espaço e Tempo, São Paulo, n.14, p.77-88, 2003. [ Links ]A autora analisa como a Unesco incorporou o patrimônio ambiental em suas ações. CASTILLO-RUIZ. Hacia una nueva definición de patrimonio histórico? PH Boletín del Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico, Sevilla: IAPH, n.XVI, sept. 1996, p.22. [ Links ] JELIN, E. Cidadania e alteridade: o reconhecimento da pluralidade. Revista do patrimônio, Rio de Janeiro: Iphan, 1996, p.21. [ Links ]


EDUCAÇÃO ESPECIAL: A ESCOLA COMO ESPAÇO DE COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS FELIPE CAMARÃO Professor; Secretário de Estado da Educação Membro da Academia Ludovicense de Letras; Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão A diversidade é uma característica inerente a nós seres humanos e uma das maiores riquezas que temos, pois graças a isso nos tornamos uma espécie única e cheia de complexidades que nos estimulam à superação. Durante toda a vida, somos desafiados a conviver com a diferença. Comumente,é na escola onde ocorremos primeiros contatos com toda essa diversidade da vida humana e onde somos levados a compreendê-la, independente da forma em que se apresente. Com base em dados do último Censo(IBGE, 2010),no Brasil somos mais de 190 milhões de pessoas e em torno de 23,9% da população do país, possui pelo menos uma deficiência, quer seja visual, auditiva, motora, mental ou intelectual. Fazendo um recorte em nosso estado, no Maranhão essa parcela aumenta, totalizando 24,97% da sua população com algum tipo de deficiência. Diante disso, um dos principais desafios é pensar e trabalhara escola como um espaço acolhedor, que possibilite o desenvolvimento integral de seus atores, promovendo a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Nesse sentido, o governador Flávio Dino tem atuado fortemente pelo desenvolvimento educacional do estado, enfrentando com respeito as adversidades legadas, levando em consideração a realidade de aproximadamente ¼ da população maranhense, que necessita de um olhar diferenciado e inclusivo. Este governo tem inovado em ações para assegurar que nossas salas de aula regulares sejam verdadeiros espaços de inclusão, como previsto na Política Nacional de Educação Especial. De maneira inédita, logo em seu primeiro ano de gestão, foi realizado o primeiro concurso para professores com carga horária de 40 horas, com vagas para a educação especial, que inseriu mais de 200 profissionais da educação especial em nossa rede, para nos ajudar nessa transformação de nossas escolas e contribuírem com o direito de todos os estudantes que necessitam deste apoio. O ingresso dos estudantes da educação especial nas escolas do ensino comum trouxe à tona não somente a necessidade da inclusão de profissionais da educação especial, mas, principalmente, a tomada de consciência dos demais profissionais e a formação destes com conhecimentos específicos, necessários para acolher esses estudantes e, sobretudo, desenvolver práticas pedagógicas que atendam as suas necessidades educacionais. Desta forma, novamente de maneira inédita, o Governo do Maranhão realizou um seminário sobre o tema que contou com a expressiva participação de educadores, gestores e técnicos, que muito contribuíram com as discussões e debateram suas experiências e desafios vivenciados na ponta do trabalho, que são nossas salas de aula. Dia após dia, vamos galgando avanços,como a implantação da gratificação para os profissionais da educação especial,que ocorrerá já agora neste 2º semestre. Mais uma conquista histórica, que coroa anos de luta da categoria. Somado a essas ações, destaco importantes reformas de centros que executam primoroso trabalho de apoio a crianças e jovens da educação especial, como o Centro de Ensino de Educação Especial Padre João Mohana, que além de reforma e ampliação de sua estrutura, teve seu Projeto Político Pedagógico reestruturado. Além disso, destaco outras importantes ações do governador Flávio Dino, que tem contribuído com a política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva, como o inédito convênio com a Escola de Cegos do Maranhão, a implantação de sedes próprias para outros importantes órgãos que atuam em favor da educação especial, como o Centro de Apoio ao Deficiente Visual (CAP) e o Núcleo de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) e o trabalho de Parceria com a Promotoria de Justiça Especializada das Pessoas com Deficiência, para socialização da Lei Brasileira de Inclusão (LBI).


Os desafios são muitos, mas precisamos encará-los e ultrapassar estas barreiras, que não são somente arquitetônicas, mas principalmente atitudinais. Nosso desafio é agora!


“WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

[…] ladies and gentlemen, let me introduce you to…Tarracá. It was used by a Vale Tudo fighter who called himself “Rei Zulu” in the early 80´s here in Brazil; he kicked (better yet, throwed around) quite a few asses before getting tapped out by Rickson in 1984. www.bullshido.net

Ao buscar a origem do ‘tarracá’ deparamos com alguns termos realcionados às lutas tradicionais portuguesas, introduzidas no período colonial, por migrantes açorianos, que se dedicavam à criação de gado, em especial, na Baixada maranhense – ocidental e oriental. Rei Zulú, que praticava um jogo/luta aprendido ainda na infância, e que denominou de “tarracá” e é a maior referencia do “Vale Tudo” no/do Maranhão. Nascido Casimiro de Nascimento Martins, em 09 de junho de 1947 é um lutador de Vale-Tudo: “criado em Pontal, no interior do Maranhão. Lá, aprendeu a Tarracá, luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região. Como seus 17 irmãos, nunca freqüentaram a escola. Cresceu forte e brincalhão. Aos 14 anos, mudou-se com a família para a Vila Ilusão (sic), na Ilha de São Luís.” (LAROCHE, 2010) (grifos nossos). Para justificar seu estilo peculiar – força bruta – e por não ‘pertencer’ a uma escola do então Vale Tudo, ‘inventa’ a tradição de luta aprendida dos índios, TARRACÁ – atarracar, segundo Baé, ou atarracado, segundo Marco Aurélio – que vai se constituir em um estilo - maranhense – disseminado tanto por Zulu, em suas investidas no mundo da luta livre pelo mundo afora, como por seu filho Zuluzinho, quando coloca que seu estilo fora criado por seu pai – quem o treinava - e se chamaria ‘Tarracá’, de tradição indígena e negra, maranhense… É encontrada em diversas regiões do Maranhão, e ainda hoje praticada como luta, recebendo diversas denominações – tarracá, atarracado, atarracar, queda – de origem possível portuguesa, tradicional hoje nas brincadeiras de crianças. Ao se perguntar o que é o TARRACÁ, encontra ser 1. uma luta indígena praticada em comunidades ribeirinhas. 2. uma manifestação lúdica, uma brincadeira comum entre pescadores da região (Baixada) 3. luta praticada na Baixada que foi “popularizada” pelo Rei Zulú. Tubino (2010, p. 20) ao tratar da ‘origem do esporte’, refere-se aos estudos de Diem (1966) para quem a história do esporte é íntima da cultura humana. Ela vem da natureza e da cultura humana (EPPENSTEINER, 1973): “[...] a natureza e a cultura coexistem ao criar um ‘instinto esportivo’, que para ela é a resultante da combinação do lúdico, do movimento e da luta.” Tubino (2010) refere-se que as antigas civilizações já tinham atividades físicas/pré-esportivas em suas culturas, a maioria com características utilitárias, que desapareceram com o tempo; outras se transformaram em esportes autônomos, esportes considerados “puros”, que continuaram a ser praticados ao longo do tempo sem sofrer influência de outras culturas. Quando essas práticas permanecem, mas sofrem


modificações de outras culturas, geralmente de nações colonizadoras, passam a ser chamados de Esportes ou Jogos Tradicionais. Dentre as correntes esportivas contemporâneas (TUBINO, 2010, p. 54), encontramos, dentre outros, os Esportes Tradicionais, esportes consolidados pela prática durante muito tempo; os Esportes das Artes Marciais – provenientes da Ásia, inicialmente praticadas militarmente pelos guerreiros feudais, e hoje práticas esportivas: jiu-jitsu, judô. Karatê, taekwondo; os Esportes de Identidade Cultural, que são aqueles com vinculação cultural: no Brasil, a Capoeira principalmente; são identificadas outras modalidades esportivas de criação nacional, de prática localizada nos seus ”lócus”, inclusive as indígenas: Uka-uka, Corrida de Toras, etc., sem preocupações de práticas por manifestação. (p. 56-57): Entre algumas das culturas de luta presentes no contexto brasileiro, tendo algum impacto sobre a luta livre brasileira, podemos considerar wrestling huka huka (dos povos indígenas amazônicos), marajoara wrestling (praticado nas areias da Ilha do Marajó), tarracá (praticado no Maranhão) e capoeiragem (especialmente a partir da tradição praticada no Rio de Janeiro). Enquanto alguns especialistas mais antigos vieram do "greco-romano" wrestling contexto, a luta livre também recebeu algumas de suas influências” Notes on the History of Brazilian Luta Livre).

“Wrestling” tradicional (em inglês: folk wrestling; lit. luta tradicional) é denominação geral de várias disciplinas de “wrestling” ligadas a um povo ou a uma cultura, que podem ou não ser codificados como um esporte moderno. A maioria das culturas humanas desenvolveu seu próprio tipo de estilo de “grappling”, único se comparado a outros estilos praticados. Enquanto diversos estilos na cultura ocidental podem ter suas raízes na Grécia Antiga, outros estilos, particularmente os da Ásia, foram desenvolvidos de forma independente. No Brasil, temos o “Uka-uka”, um estilo de “wrestling” tradicional brasileiro dos povos indígenas do Xingu e dos índios Bakairi, de Mato Grosso. O uka-uka faz parte do Jogos dos Povos Indígenas como parte da modalidade luta corporal que é praticada como modalidade de demonstração. A capoeira ou capoeiragem é uma expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música. Desenvolvida no Brasil por descendentes de escravos africanos, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas. Uma característica que distingue a capoeira da maioria das outras artes marciais é a sua musicalidade. Praticantes desta arte marcial brasileira aprendem não apenas a lutar e a jogar, mas também a tocar os instrumentos típicos e a cantar. Um capoeirista que ignora a musicalidade é considerado incompleto. A Roda de Capoeira foi registrada como bem cultural pelo IPHAN no ano de 2008, com base em inventário realizado nos estados da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro, considerados berços desta expressão cultural. E em novembro de 2014, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. A “Agarrada Marajoara” é uma manifestação de Identidade Cultural da Ilha do Marajó/Pará. A Agarrada Marajoara é praticada pelos nativos da Ilha do Marajó, especificamente do Município de Cachoeira do Ararí, localizada no oeste do estado do Pará. Esta manifestação cultural contribui assim para o desenvolvimento da qualidade de vida e física do homem do campo marajoara e valorização de raízes e heranças do povo marajoara. No Jornal do Capoeira (Ed. 05/06/2005) escrevi: Já retornei de Caratupera, região do Alto Turi, fronteira com o Pará ... Conversei com alguns capoeiras da área - Caratupera e Maracassumé - que estão ligados ao Pará, através do Mestre Zeca... Turiaçu fica bem próximo de Carutapera, na mesma região do Turi... O grupo de Carutapera denomina-se ACANP - Associação Capoeira Arte Nossa Popular - fundada por


Mestre Zeca, de Belém do Pará - Jose Maria de Matos Moraes (33 anos); Mantém vários grupos atuando na região do Alto Turi, no Maranhão, e em outras localidades do Pará, alem de Belém. A ACANP é filiado à Federação Paraense de Capoeira - e o estilo praticado é o "Angola com Regional", estando desenvolvendo, em Maracassumé, e introduzindo em Caratupera, o estilo desenvolvido pelo Mestre Zeca, que denominam de "Onça Pintada" - que seria uma fusão da Regional com o Agarre Marajoara. De acordo com Álvaro Adolpho, de Belém do Pará, exdiretor do Departamento de Educação Física do Pará, o "Agarre Marajoara" é uma luta desenvolvida pelos índios da Ilha do Marajó - que guarda uma certa semelhança com o AkuAku - havendo registro de sua pratica ha mais de 300 anos. De acordo com o Prof. Álvaro, talvez seja a primeira luta-esporte com registro de sua pratica no Brasil. Jiu-jitsu brasileiro, Brazilian Jiu-Jitsu ou Gracie Jiu-jitsu é uma arte marcial, estilo de judô, desenvolvido pela família Gracie, no início do século XX, que se tornou a forma mais difundida e praticada do jiu-jitsu (exceto o judô) no mundo, principalmente depois das primeiras edições dos torneios de artes marciais mistas (MMA), o UFC, nos idos da década de 1990. Apesar do nome da modalidade ser jiu-jitsu, na verdade, a modalidade foi desenvolvida como especialização e ênfase das técnicas de controle e luta de solo, ne waza e katame waza, e com menos ênfase às técnicas de luta executadas de pé, tate waza, das técnicas de judô, de Mitsuyo Maeda, representante direto do Instituto Kodokan. Por não serem o foco principal da modalidade, os golpes de ate waza e kansetsu waza, acabam tendo papel coadjuvante e/ou intermédio para a execução de um golpe final de submissão do adversário. O nome do estilo de luta da família Gracie permaneceu como jujutsu, porque na época em que os irmãos Carlos e Hélio Gracie, principalmente, finalizaram seu repertório, o nome "judô" ainda não era de uso comum mas Kodokan jujutsu. O criador do estilo foi, em princípio, Carlos Gracie, que adaptou o judô com especial apreço à luta de solo, haja vista que seu porte físico punha-lhe em severa desvantagem contra adversários de maior porte. Partindo do princípio de que numa luta de solo, quando projeções ou mesmo chutes e socos não são eficientes, mas alavancas, sim, o porte físico dos contendores torna-se de menor importância. Nessa situação, aquele que tiver mais técnica possuirá conseqüentemente a vantagem. Se não foram originais em adaptar uma arte marcial provecta, haja vista que no Japão isso já há muito ocorrera com o aiquidô e o próprio judô, oriundos do Jiu-jitsu, com o caratê, oriundo do tejutsu de Okinawa, ou mesmo no resto do mundo como o krav maga (Israel) ou a capoeira regional (Brasil), Carlos Gracie e depois Hélio Gracie foram originais em criar um paradigma que prima pela efetividade. Comprovado o seu sucesso em competições, o Jiu-jitsu brasileiro serviu de cerne do que viria a ser a modalidade artes marciais mistas.

SENHORAS E SENHORES PERMITAM-ME APRESENTAR-LHE… TARRACÁ. Mestre Baé – da Federação de Capoeira – responde e informa sobre o “ATARRACAR” em correspondência eletrônica, Recebi seu Email, Com relação ao tema ATARRACAR; posso lhe adiantar o seguinte: desde criança tenho ouvido falar, assim como quase todos que também como eu sou da Baixada maranhense, grande parte da minha família é de Viana, Penalva, e Municípios vizinhos. Minha família sempre foi voltada para criação de gado e pescaria no interior, quando éramos crianças sempre a gente se atarracava um com o outro na beira do curral ou do rio e até no campo para ver quem era melhor de queda e isso porque a gente via os mais velhos fazerem também, meus avós e tios/avós falavam que isso sempre existiu o nome ATARRACAR e conhecido em vários interiores do Maranhão mas nunca ouvir dizer que era uma LUTA ou eu tenho lido algo afirmando ser luta, sempre foi o nome dado a forma de nos pegarmos para dar uma queda no outro em um corpo a corpo mais nunca foi denominado como luta até porque era


baseada mais na força física e jeito de cada um pegar e arremessar o outro no chão através de uma queda. Luta pelo que eu tenho conhecimento possui técnica, bases, nomenclatura de movimentos, regras e etc..

Então, é uma tradição na Baixada, uma forma de movimento agonístico, em forma de luta, conforme Baé guarda em suas memórias. Este Mestre Capoeira não considera aquela brincadeira como luta, dado seu conhecimento da Capoeira, e sua sistematização. Em outra correspondência, recebida de Mestre Marco Aurélio, em que indaguei sobre a busca da origem do “TARRACÁ”, estilo de luta livre (hoje seria MMA) adotado pelo lutador maranhense Zuluzinho, que aprendera com seu pai, o Rei Zulú; Zulu, criado em Pontal, no interior do Maranhão, onde aprendera uma luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região: o Tarracá: Quanto ao Atarracado, desconheço sua presença no centro-sul do Maranhão, apesar de poder haver, mas é uma prática muito comum no centro-norte, pelo menos na região do Pindaré e na Baixada, nesta última, pelo que já ouvi de alguns capoeiras originários daquela região das águas falarem-me a respeito. No que diz respeito à sua presença na região do Pindaré é fato, pois eu mesmo a praticava bastante, tendo sido ao longo do tempo, na qualidade de menino, e aí vai até meus doze (12) anos, a base de tudo o que sabia nas minhas ”brigas de rua”. Apesar de ter nascido em São Luís, me criei, desde bebê, até os sete (07) anos de idade, na cidade de Pindaré-Mirim, outrora, Engenho Central, e em sua origem, Vila São Pedro. Como toda criança ribeirinha, as brincadeiras eram em torno do rio, dos lagos e igarapés, ou então nas várzeas, e aí, não faltavam os embates. Lembro-me que a minha afinidade com a prática era bastante estreita, talvez, por desde pequenino ter sido corpulento, de maneira que não era muito afeito à briga “corpo fora”, como se dizia, mas, mais no “atarracado“, ou “corpo dentro”, o que se dava a partir de uma cabeçada. A ponto de quando ousava me aventurar pelo “corpo fora”, na maioria das vezes saía perdendo… Foi na Capoeira, que fui aprender o embate, digamos, “corpo fora”, a partir da ginga, de peneirar… – por favor, deixo claro que “corpo fora” e “corpo dentro”, não é nem um tipo de modalidade de luta, mas somente para fins, talvez, de didática, consoante dizíamos no interior.

Quanto à origem do Atarracado – Tarracá -, Mestre Marco Aurélio diz: [...] não sei afirmar, se indígena ou africano, quiçá, até mesmo européia, nesta senda, somente pesquisando-se para buscar referências. Posso afirmar, no entanto, o que não quer dizer que a priori seja africana, é que tive oportunidade de ver, em um evento internacional de lutas de origem africana, em Salvador/BA, em 2005, quando levamos daqui, a “Punga dos Homens” i, uma prática que existe rasteiras e desequilibrantes, no tambor de crioula, um pessoal de Angola/África, apresentar a Bassúla, uma luta, a despeito de alguns golpes diferentes, muito semelhante ao Atarracado, pois imediatamente, quando vi os angolanos praticando-a, eu achei bastante parecida com o Atarracado, impressão esta, também denunciada pelo Mestre Alberto Eusamor, que lá estava comigo, assim como tantos outros, representando o Maranhão.


No que diz respeito a uma influência indígena direta, e que é uma brincadeira da região do Pindaré e, acho, da região Norte como um todo, é o “Cangapé”, uma espécie de rabo de arraia e outros molejos que se pratica lançando-se para cima do contrário, na água.

Em outra mensagem eletrônica, Mestre Marco Aurélio acrescenta: Falei de como o atarracado tem semelhança com a Bassúla, luta de um país africano (Angola) e, no entanto, não me lembrei, na oportunidade, de falar de uma luta de origem indígena, o que se faz necessário, para ponderarmos, trata-se do Uka-Uka, um embate indígena, que consiste em fazer com que o contrário ponha um dos ombros no chão, hoje, ocorrente durante o “Quarup” um grande evento-cerimonial existente entre os povos do Alto-Xingú. Mas poderiam perguntar o que uma prática existente entre povos indígenas do Alto-Xingú tem a ver com uma prática ocorrente no Maranhão? Segundo Roberto da Mata, desculpem-me não dispor da referência bibliográfica, os povos Krahô e Xavante saíram em uma corrente migratória, a partir do Maranhão, para onde se encontram hoje, respectivamente, Tocantins e Alto-Xingú. Daí há de notar-se que o Maranhão em razão de ser banhado por inúmeras e grandes bacias hidrográficas era e é um celeiro de alimentos, o que deve ter sido berço de inúmeros povos indígenas, entre atuais, extintos e migrantes. Talvez, esse berçário, para os que possuem uma visão míope, e consideram que o maranhense tenha uma cultura ”preguiçosa” é por desconhecerem exatamente esse manancial de alimentos que é e, que outrora, tenha sido ainda mais.

Em resposta ao Mestre Marco Aurélio, coloquei que o Xavante é originário do Maranhão, forçado a migrar, indo para os lados do Tocantins, subiu o Araguaia, se estabelecendo na Ilha do Bananal, forçado pelas ‘guerras justas’ do período colonial. As frentes de penetração, mais modernas, têm forçado essas migrações. É um fato histórico. Sobre o Uka-uka, andando por esses interiores, fui encontrar em Carutapera o estilo ‘onça pintada’, introduzido na região por um mestre paraense – Mestre Zeca – baseado em luta de antiga tradição marajoara – o agarre marajoara; lembrando que muitas das nações indígenas que se estabeleceram na Ilha do Marajó foram ‘desterradas’ do Maranhão durante o período colonial; inclusive, há certa semelhança entre as cacarias encontradas nas estearias do lago Cajari com motivos marajoaras. Além da correspondência do Marco Aurélio, recebo de Javier Cuervo, lá das Astúrias (Espanha) um comentário, de que no Calahari sub-sahariano, entre os bosquímanos, luta semelhante àquele apresentada pelo Rei Zulu; mandou-me vídeo via iutube, demonstrando as semelhanças, comparando-se com o da luta de Rei Zulu e Rickson Gracie , nos anos 80…, disponível em vídeo do link anexo: E “Batuque duro” do Kalahari -1930. Encontrei, ainda, descrição de luta-jogo semelhante, trazida por vaqueiros portugueses, durante o período colonial, a Galhofa - o “wrestling tradicional transmontano” - que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha. Galhofa é um estilo de luta tradicional da região portuguesa de Trás-os-Montes, que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. O objetivo deste jogo é imobilizar o adversário, mantendo-lhe as costas e os ombros assentes no chão. Quaisquer movimentos


mais violentos, como puxões, murros ou pontapés, não são permitidos. A luta começa e termina com um abraço cordial. Outra regra é jogar descalço e de tronco nu, ou usar camisolas justas ao corpo para dificultar ao adversário que se agarre e calças de ganga ou de outro material robusto. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha. A galhofa foi integrada no currículo das licenciaturas em Desporto e Educação Física - variante ensino, da Escola Superior de Educação em 2008 [7]. No Soito, em Sabugal esta luta chamava-se de maluta. Maluta ou Queda é uma forma de luta tradicional, conhecida em quase todo o distrito de Guarda e praticada ainda em várias aldeias. È semelhante à luta Greco-romana, embora tecnicamente mais rudimentar. Ocorre no feno e na palha, no Outono e no Inverno, que os homens das zonas rurais medem as suas forças tentando derrubar o opositor. Também no Verão, na época das malhas, surgem os desafios nas eiras. Na Maluta ou Queda, os dois lutadores agarram-se, passando um dos braços por cima do ombro do adversário e o outro por baixo, entrelaçando os dedos das mãos, assentes sobre as costas do adversário. O único objetivo do jogo é fazer cair o opositor, por forma a que toque com as costas no solo. Conforme o combinado, poderá fazer-se ou não uso da “travinca” (meter a perna para desequilibrar o outro lutador). Trata-se, pois, de lutas saudáveis, em que os participantes continuam amigos depois de medirem forças, independentemente dos resultados e das pequenas mazelas que possam ser originadas pela entrega mútua ao jogo. De Barreirinhas, em conversa com alguns professores de educação física de algumas comunidades do interior daquele município, falaram-me haver por ali, ainda, um jogo/luta semelhante ao ii descrito, mas que ali, denominavam de ‘queda’. Em depoimento de Álvaro (Vavá) Melo, de Osvaldo Pereira Rocha, e de Edomir Martins, jovens nos seus mais de 80 anos, que quando crianças e adolescentes, costumavam praticar o ‘atarracado’ e o ‘atarracar’, na região da baixada, onde moravam; Osvaldo Rocha, ilustre pesquisador e historiador, disse-me que, embora franzino, costumava ganhar algumas das ‘brincadeiras’, pois o segredo era a agilidade em agarrar a perna do adversário e levá-lo ao chão; tão logo autorizado o combate, a rapidez com que se lançava ao adversário era fundamental. Já Álvaro Mello, Vavá, presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, cronista do Arari e de São Bento, deu seu depoimento, ressaltando que os embates se davam na beira do rio, e os combatentes saiam cobertos de lama; O mesmo disse Aymoré Alvim – ilustre pesquisador hoje aposentado, da nossa UFMA/Medicina.

LAROCHE, Marília de. “Conheça Rei Zulu e Zuluzinho, os lutadores do Maranhão, disponível em http://www.divirtase.uai.com.br/html/sessao_13/2010/11/15/ficha_ragga_noticia/id_sessao=13&id_noticia=30972/ficha_ragga_noticia.shtml e em http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140 TUBINO, Manoel José Gomes. ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE – ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010 DIEM, Carl. História de los deportes. Barcelona: Corali, 1966 EPPENSTEINER, F. El origen Del deporte. In CITIUS, ALTIUS e FORTIUS. Madri, XV, p. 259-272, 1973 in http://www.facebook.com/topic.php?uid=136381899755284&topic=70 https://pt.wikipedia.org/wiki/Huka-huka http://www.efdeportes.com/efd157/a-agarrada-marajoara-como-manifestacao-de-identidade-cultural.htm http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/capoeira+maranhao+agarre+marajoara Mestre Baé - FECAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão. Mestre/Presidente do Grupo Candieiro de Capoeira Ver Orkut;Mestre Baé ou baecapoeira@hotmail.com VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In Blog do Leopoldo Vaz, disponível em: http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/22/em-busca-do-elo-perdido-historiamemoria-da-educacao-fisicanodo-maranhao/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notícias do Maranhão in JORNAL DO CAPOEIRA – 05/06/2005 – disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/capoeira+maranhao+agarre+marajoara http://salavideofica.blogspot.com/2010/11/1930-c-ernest-cadlewild-men-of-kalahari.html


OS CAMINHOS DA MELINDROSA JOÃO FRANCISCO BATALHA Publicada na edição de número 6 (Maio/2017), da revista ELOS Literários, de Salvador/Ba, editado pela Editora Alternativa, de Porto Alegre/RS) Enche-me de satisfação relatar que, quando criança, ainda morando na Tresidela do Bonfim, costumava passar temporadas na Melindrosa (entre Pio XII e Satubinha), então um povoado desenvolvido do interior de Vitória do Mearim, atualmente decadente, pertencente ao município de Pio XII. Lá, morava minha irmã mais velha, Beni. Era uma jornada adorável, de mais de 30 horas de viagem montados a cavalo. Partindo do Bonfim, atravessávamos os campos da Nindiba e passávamos por Vitória do Mearim, Pedro Leite, Mato Grosso e Coque. Atravessávamos o igarapé do Puraqueú, em dois lugares: próximo a Vitória do Mearim, e próximo ao Angical. O rio Grajaú, na Lajem Comprida, e, serpenteando este rio, à sua montante, passávamos por Morada Nova e outros vilarejos até a travessia do Igarapé das Ciganas. Logo em seguida, um descanso obrigatório na casa/fazenda do Cel. Pedro Gonçalves. Prosseguindo viagem, cruzávamos o Andirobal dos Crentes (hoje Pio XII) e Boa Vista, outro povoado também em decadência que, no passado, fora desenvolvido. Dois dias de viagem. Não havia hotéis, nem restaurantes, nem quiosques, naquelas paragens. O rancho, a base de paçoca de carne seca, ou farofa de capão com ovos fritos, levávamos nos alforjes laterais. Pernoitávamos em casas das pessoas mais importantes dos lugarejos. E quando nos era servida a refeição local, esta era preparada em fogões à lenha e possuía um certo cheiro de fumaça, mesmo assim gostosa. Comum o encontro com tropeiros e mercadores da região. Ao ultrapassarmos o Cemitério do Mato Grosso, tínhamos que ter um galhinho de mato à mão que atirávamos em direção ao Campo Santo, saudando os espíritos perdidos, conhecidos irmãos das almas. Nosso condutor era o senhor Augusto, cidadão atencioso e diligente no serviço, tropeiro que trabalhava para meu cunhado Wilson Gonçalves. Não existia estrada, apenas trilha no meio da mata. Viajávamos no lombo de burros e cavalos, em marchas silenciosas. A montaria era confortável, diferente daquela dos vaqueiros da Baixada. Os acessórios se diferenciavam até nos estribos. Não se usava maca na garupa do animal, usava-se carona, dentro da qual se transportava roupas, toalhas e lençóis. Sobre a carona, um colchinil de fios brancos e macios, ou uma manta de lã de carneiro, colorida, que chamávamos de pelego e eram bonitos e de fino acabamento. Viagem que começava no alvorecer e avançava até a boca da noite, ouvindo-se, sempre, as sonoridades dos pássaros, e respirando-se o ar puro da natureza. Não sei exatamente a distância do lento e sinuoso percurso, mas, era, aproximadamente, de umas 15 léguas de beiço. Os pernoites aconteciam conforme a marcha dos animais. Assim, é que recordo haver pernoitado em diversos lugares embaraçosos. Na Coque, nos hospedamos, certa vez, na casa do Sr. José Filomeno Santos, numa noite agitada devido à violência política da época. Zé Filomeno era da oposição e a casa estava protegida por guardacostas e capangas. Existia, na entrada do povoado, um juçaral, com córrego de água corrente muito boa, onde tomávamos banho e lavávamos os animais. Próximo ao Angical, ficamos uma noite, na residência do Sr. Guerra, polêmico Inspetor de Quarteirão da Região. O clima, naqueles momentos, também não era de paz. As pessoas viviam armadas e em sobressaltos. Em outra ocasião, de rigoroso inverno chuvoso, a instabilidade meteorológica nos fez mergulhar em noite escura de medonhas trevas e muita chuva, forte e intensa, estrondosos trovões e tempestades elétricas, entre árvores gigantescas no meio da floresta vitoriense. A luminosidade dos raios e dos relâmpagos era que nos orientava naqueles atalhos estreitos e tenebrosos, entre os arvoredos da espessa mata. Pedimos hospedagem em uma casa de jiraus altos, pouco aconchegante, que encontramos no meio da selva, à beira do caminho. O hospedeiro que deu guarida, nos recebeu com uma lamparina à mão, nu de cintura para cima,


calçando uma velha pele cata de couro cru e pitando fumo porronca em um cachimbo de barro com canudo de taquara. Tivemos mais tranqüilidade em nossos pernoites, quando fazíamos essa caminhada, uma vez que nos hospedamos com Dona Dalva, amiga de minha mãe e esposa do primo Nélio Costa, na Lajem Comprida. Dessa vez, a viagem de Vitória até Lajem Comprida foi feita em caminhão: saímos de Vitória do Mearim às cinco horas da manhã para chegar a Lajem Comprida já quase entre o dia e a noite. Lembro-me que era uma festa inaugural naquele povoado. O motorista teve que interromper a viagem várias vezes, para que fossem cortados, a machado, troncos de madeira, que impediam a passagem do caminhão, que ia cheio de gente na carroceria, na maioria, rapazes e moças que se dirigiam para a festa. Eu e minha mãe fomos acomodados na “boleia”, juntos com Sebastião Pedro dos Santos (Sebastião Advogado), e o chofer. A filha do Sebastião, Francisca, uma moça alegre e contagiante, viajou na carroceria. Na Melindrosa, passava temporadas de férias. Curtia com toda a tranqüilidade as quintas, os poços, as gangorras e as brincadeiras noturnas, entre as quais, a do anel, que consistia em colocá-lo em um cordão de fio com as pontas unidas por um nó. Um dos participantes era convidado a ficar no centro da roda para descobrir com quem estava o anel, que circulava de mão em mão, de forma oculta, até que o brincante do centro o localizasse, enquanto todos cantavam: “Anel, anel, anel, Ele anda de mão em mão, Alerta, menino alerta, Alerta bestalhão...” Quando este descobria com quem estava o anel, segurava as mãos do figurante da roda e, se acertasse, os dois trocavam de lugar. Brincava-se, também, na Melindrosa, de Cabra-Cega, que, no Bonfim, era Pata-Cega, e Chicotinho Queimado. “Chicotinho queimado, cavaleiro dourado, Quem olhar para trás, leva chicotada...” Havia, também, e não sei o significado de uma piada local, que dizia: “A moça da Melindrosa tá só o milho debulhado na bacia nova”. Aperta-me o coração quando vejo tudo aquilo mudado, transformado e destruído. Harmonizo-me quando entendo que é obra do progresso, mesmo tendo a certeza de que muito ainda tem a evoluir e desenvolver. Inquieta-me constatar a derrubada e queimada da mata nativa, a destruição do meio ambiente, o empobrecimento do solo, o assoreamento do rio Grajaú, dos igarapés, riachos, córregos e regatos; o desequilíbrio da natureza, a extinção de espécies animais e vegetais e da cadeia alimentar e produtiva da região. Caminhos que me fascinaram na adolescência. Cheios de mistérios e imprevistos. Repletos de encantos dominados pela simplicidade dos seus habitantes. Paisagem típica da região, com casinhas de palhas, isoladas e distantes, no decorrer do trajeto, num cenário simples e bonito dominado pela pura natureza, então mais respeitada do que nos dias atuais. Matas, árvores frondosas, várzeas, jussarais, aterrados, frutos nativos à beira das picadas, flores silvestres e perfumadas. Percurso de belezas tantas, como da sapucaieira, quando florida; e de fragrâncias agradáveis como o aroma natural das vagens secas da baunilha que o vento se encarregava de espalhá-lo pelas veredas percorridas; e de riquezas profusas como as andirobas que abasteciam os fabricantes de óleo e sabão. Sua abundância deu origem ao nome do maior povoado da região, o Andirobal dos Crestes, hoje cidade de Pio XII. Assim eram os caminhos da Melindrosa.


UMA TESE EM ECONOMIA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL Público em O ESTADO MA, 25 de julho de 2017 “Desafios/Challenges” foi escrito no decorrer da chamada crise da “bolha”, iniciada nos Estados Unidos e repercutida principalmente nos países da zona do euro. É um livro técnico, de fácil leitura, não sequenciado de começo, meio e fim. Ao longo do tempo, de 2008 a 2015, fui escrevendo artigos à medida que a crise se desenvolvia; ao todo são quarenta selecionados. O Livro está dividido em três partes, que podem ser lidas sem preocupação de seqüência; entretanto, os textos da terceira parte estão embasados nas teorias expostas na primeira e nos cenários traçados, na segunda. Não tive a intenção de estabelecer contradições entre a teoria econômica existente, tradicional e consagrada pelos grandes autores, e que é ainda ministrada nas Universidades. Acabei levantando uma tese em virtude de medidas heterodoxas adotadas pelo Federal Reserve – FED, o banco central americano, para combater a crise. É que políticas de auxílio à liquidez, de afrouxamento monetário (“quantitative easing” - QE) não causaram inflação! A questão acima permite indagações sobre a Teoria Quantitativa da Moeda -TQM e sua velocidade de circulação, Base Monetária - BM e seu multiplicador; os autores, professores e acadêmicos sabem que excesso de meios de pagamento sobre bens e serviços disponíveis causam inflação. Mas isto não ocorreu! Estou propondo discutir essa tese. O que estaria acontecendo com os formuladores de política monetária: usando mal os modelos existentes ou a Teoria econômica precisaria de novas formulações? As práticas heterodoxas adotadas pelos bancos centrais “testaram com êxito novos caminhos para a política monetária”; “Draghi, do banco central europeu, “levou adiante a experiência do FED e recolocou a economia europeia na dinâmica do crescimento”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros (“A política monetária”, Valor Econômico, edição de 15/07/17). Economistas clássicos, neoclássicos e marginalistas, entretanto, como Adam Smith, David Ricardo, Alfred Marschall e John Maynard Keynes, à exceção deste que admitia, excepcionalmente, auxílio à liquidez em períodos de caracterizada recessão, não pregaram essas práticas. Mas por que não houve inflação, por quê? A mencionada TQM (dada pela expressão MV = PT) relaciona as variáveis quantidade de moeda e sua velocidade de circulação, que devem corresponder ao produto ao nível de preços de mercado e o volume de transações). No caso específico das repercussões positivas havidas na economia americana em virtude do QE, a velocidade de circulação da moeda pode ter diminuído. Quanto à Base monetária e seu multiplicador, sob supervisão e controle dos bancos centrais, se expandida além da conta, pode-se esperar efeitos muitas vezes maiores às unidades monetárias postas em circulação. Thomas Piketti e Yanis Varoufakis, nos seus livros “O capital do século XXI” e “O Minotauro global”, explicam os efeitos maléficos do capital em sua crescente concentração, principalmente em tempos de globalização, e as dificuldades enfrentadas pelos países periféricos, como a Grécia, para fazerem os ajustes fiscais severos e que lhes foram exigidos. A Teoria econômica precisa adequar-se aos novos tempos.


VIOLÊNCIA E PENSAMENTO ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro do IHGM e da ALL Publicado em O ESTADO MA, 29/30 de julho de 2017.

Das leituras que andei fazendo, procurando as causas de tanta violência no mundo, outras ideias me fizeram pensar diferente daquilo que comumente se atribui como causa da violência. Assim como se encontra grandes homens que pensaram na ciência antes que fosse comum, como hoje, também existiram homens que se preocupavam com o pensamento, algo que permite aos seres humanos encararem a vida e o mundo e o que acontece ao redor deles. Jean Piaget, considerado um dos maiores pensadores do século XX, responsável pela teoria do conhecimento baseada nos estudos da gênese psicológica do pensamento humano, ensina que o pensamento é construto do conhecimento. É o principal veículo do processo de conscientização. Como ele, René Descartes demonstrou, através da matemática, as formas e as medidas dos corpos. Em sua obra “Discurso sobre o método”, de 1636, mostrou o pensamento filosófico para todas as ciências: “Penso, logo existo”. Para ele, uma verdade é conseqüência da outra. Pitágoras, filósofo grego antes de Cristo, também afirma que é preciso educar as crianças para que não seja necessário punir os adultos. Nunca o mundo viveu tão longe do pensamento, deixando-se contaminar pela violência, desequilibrando sistemas, nações e pessoas. Os homens deixaram de pensar?O pensamento lógico, que predomina os conceitos e arrasta o raciocínio, sumiu? Onde está o mundo racional, que difere os seres humanos dos demais seres? A escravatura foi banida da face da terra porque os homens de bom senso assim pensavam e queriam. As mulheres ocuparam seu espaço no cenário social e econômico porque o pensamento evoluiu. Os preconceitos foram diminuindo porque se espalhou um novo pensamento acerca da diversidade. E a violência? A nossa vida é comandada pelos sentimentos. Eles vão e vêm em nossos pensamentos, passam pelas nossas emoções e podem comandar as nossas ações. Cabe-nos, então, regrá-los conscientemente, fazendo isso de acordo com o pensamento que domina o mundo. Hoje, o pensamento dominante é aquele em que a sociedade vive as paranóias de segurança com muros, cercas eletrônicas, câmaras e sensores, em nome da violência urbana, outras paranóias avançam no mundo contemporâneo, que são as arquiteturas de conveniência. A paranóia das arquiteturas existe de fato e se expande por todas as grandes cidades do mundo. Convivemos, hoje, com as paranóias cibersociais, que são aquelas difundidas pelas redes sociais, exercendo uma força sobre os indivíduos a ponto de fazer desaparecer a soberania deles sobre sua vontade. É possível que não haja espaço para o pensamento se não houver uma saída de cada pessoa de si mesmo em direção à existência e experiência do outro, o que na linguagem da comunicação humana se chama diálogo. Pensamento tem muito a ver com o comportamento pessoal, com a relação que o homem tem com o mundo e vice-versa. O homem, como um "ser no mundo" edifica sua consciência que deve ser a consciência do mundo, porque não há consciência no vácuo de si mesmo. Cabe aos homens, às instituições fazer a história do pensamento, e aqui os escritores, as academias de letras e cultura têm o papel preponderante de construir um novo pensamento. O pensamento, que tanto serviu à evolução da humanidade, não atingiu a violência, que se expande cada vez mais no mundo inteiro. O respeito pela vida e o amor ao próximo são essências. A inteligência há muito deixou de ser instrumento para servir à vida e sem ela não haverá pensamento.


A FORMAÇÃO MÉDICA ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro da ALL e do IHGM Publicado em O ESTADO MA, edição 11/12 de agosto de 2017

São várias as atividades desenvolvidas pelas universidades brasileiras, contribuindo para o desenvolvimento do país, inclusive na área da saúde. Tudo isso é importante, mas o essencial mesmo é a preocupação da instituição com a formação de seus profissionais, principalmente na área da saúde, como o Médico. A medicina, como área do conhecimento humano, está intimamente ligada à manutenção da vida, através da restauração da saúde. Como ciência, volta-se à prevenção e cura de doenças humanas. Foi Hipócrates, o pai da Medicina, vivendo 300 anos antes de Cristo, quem primeiro cuidou da formação médica, deixando aos seus profissionais um verdadeiro código de ética e regras de moralidade que prevalecem até nossos dias. No Brasil, a história de medicina passa por diferentes momentos, desde a instalação do ensino oficial, em 1808, por D. João VI, quando foi criada a Escola Anatômico-Cirúrgica e Médica, precursora da Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Depois,em 1829, deu-se a criação da Academia Nacional de Medicina e, em 1954, nasce o Instituto Brasileiro de História da Medicina Hoje, as instituições de educação superior que formam os profissionais das ciências médicas se preocupam não somente com a capacitação e as habilidades profissionais, mas sobretudo com a formação geral do médico, fazendo cumprir um período não inferior a seis anos de estudos, de acordo com as diretrizes curriculares estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação. Vale dizer que as etapas de formação do profissional em Medicina compreendem dois momentos importantes: o primeiro diz respeito ao conhecimento adquirido, onde o aluno estuda as disciplinas que mostram a medicina como ciência; o segundo visa a aplicação desses conhecimentos, permitindo ao aprendiz vivenciar a aplicação dos conhecimentos adquiridos na primeira etapa. Evidentemente são processos conduzidos pela metodologia adotada em cada curso, de cada instituição formadora. Com a outorga do grau de Médico, o aluno prossegue seus estudos na chamada Residência Médica, com duração de três anos, podendo ser mais, dependendo da especialidade escolhida. A proposta é graduar médico de formação geral, médicos generalistas, habilitados e treinados para atuar na promoção de saúde, principalmente com os procedimentos preventivos e curativos exigidos pela atenção e, nível primário e secundário, porém com os conhecimentos dos procedimentos do nível terciário. As universidades brasileiras devem formar médicos para atuar com a competência na recuperação, proteção e manutenção da saúde, estando habilitados às ações de pronto atendimento e de emergência. Para ser especialista o Médico deve cumprir os estudos da Residência Médica, quase sempre prestando concurso junto á Associação Médica Brasileira , com a interveniência do Conselho Federal de Medicina (CFM). Não cumprindo os estudos de uma Residência Médica, o formado é apenas um Médico, sem especialidade. No Brasil, as especialidades médicas são regulamentadas por Resolução do Conselho Federal de Medicina e formam uma extensa lista de opções. Ultimamente, fala-se muito nas especialidades de Microbiologia Clínica que se preocupa com os diagnósticos de bactérias, fungos e protozoários, em Medicina do Trabalho que trata das patologias causadas pelo trabalho, em Informática Médica que envolve a vasta cadeia de recursos de nível gerencial, incluindo a computação médica, em Ultra-sonografia, e também de Imaginologia que trata de diagnóstico e terapia na base de novos métodos como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética, fazendo surgir o medico imaginologista. Para um médico não falta mercado de trabalho. Mas é preciso lembrar que ele, além de saber se relacionar com as pessoas de forma humana, precisa ser competente em sua área.


SAPO x ZULU. DEU ZULU... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Tenho em mãos livro – inédito – do Bruno Tomé Fonseca. Um contador de histórias fantástico!!! Procurou-me para saber sobre o tarracá e o Rei Zulu, pois pretendia escrever uma biografia desse fantástico lutador de vale tudo (luta livre)... Pois bem, passei-lhe as metodologias e as técnicas da ‘história oral’ e da ‘história de vida’... surpreendeu-me com uma história sobre a vida de Zulu... Ah, se eu conseguisse escrever dessa maneira... Mas vamos ao que interessa: vou transcrever o que consta de seu livro, breve nas livrarias... Comecemos pelo título: “A majestade bárbara do Rei Zulu”, o capítulo ‘Caserna’: começa com as lembranças de Zulu dos tempos de guarda-vidas na Praia do Olho D´Água, também freqüentada por Sapo – Mestre Sapo – um dos pioneiros da capoeira em São Luis: Por ali, rodas de capoeira comandadas por ele levantavam a areia fina da praia. Sob o olhar pasmo de Zulu, Mestre Sapo fazia apresentações antológicas, efetuando golpes complexos, como o chamado de ‘boca de siri’, em pleno por do sol.

É por essa época que Casimiro de Nascimento Martins ingressa no Exército – 24 BC, hoje BIL -; trabalhava, também, como segurança nos fins de semana em que não estava de serviço. Zulu já tinha certo nome nas pugnas de luta livre, forjados no vale-tudo. Certo oficial, acompanhado de um amigo, que se dizia dono de uma emissora, e amigo do Mestre Sapo, da capoeira, comentam sobre quem venceria uma luta entre ambos; o Oficial exaltava Zulu, o amigo, Sapo; começou uma discussão acalorada se capoeira era páreo para vale-tudo, e vice-versa. Lançada a semente de um desafio! Próximo da Semana da Pátria, precisava-se de um evento para animar a tropa e a comunidade. Algo além do tradicional desfile de 7 de setembro... Sem que Zulu soubesse, os comandantes articularem uma luta de portão aberto no quartel: - Zulu está servindo a Pátria, não pode cobrar ingresso – dizia o comandante. Já tinham até providenciado um ringue para sustentar a peleja. Zulu é chamado pelo Comandante, recebendo ordens expressas que não podia sair do quartel. Tinha que ficar arranchado: - Dorme no quartel. De manhã está liberado do serviço. Veste o uniforme de educação física e corre em volta para te preparares. Nada de farra e de bagunça. Tu vais lutar e quebrar um cara pra mim. Ao recruta só restava cumprir a ordem... Só mais tarde soube ser o adversário Mestre Sapo, lamentando a oportunidade de ganhar algum dinheiro escapando pelo ralo: se essa luta fosse fora do quartel,


sabia que muita gente iria pagar para assistir. A fama de Zulu e Sapo corria pela cidade, era público garantido! Zulu fica matutando como ganhar algum. Faltando dois dias para a pendenga, ligou para seu irmão Jeco, para que fosse até a casa de Sapo para convencê-lo a não participar da quizila que se estava armando: seria fácil arrumar uma desculpa. Que esperasse Zulu dar baixa do Exército para os dois faturarem bem numa luta fora dos muros do 24 BC: Sapo não quis saber de acordo. Ainda mandou um recado: Zulu que esperasse que iria apanhar no quartel diante de todo o Batalhão. Zulu ficou furioso com a oportunidade perdida de faturar um bom capital. O apetite para a luta fermentou, quando foi chamado para ‘um particular’ por um dos comandantes: quem está lutando aqui não é o Rei Zulu e nem o soldado Zulu. É o batalhão. Se tu perderes, quem perde é o batalhão inteiro. Pensou o soldado Zulu em voz alta: “eu vou matar esse Sapo’. Chegada a hora, ringue armado. Bufando, Zulu deu um ultimato ao adversário estipulando contagem regressiva: - Sapo, tu tens cinco minutos pra fazer alguma coisa comigo e tem dois minutos pra sair daqui pro hospital. O capoeirista ignorou o disparar do cronometro fictício dado por Zulu. Apresentou como cartão de visitas uma meia lua espetacular em direção ao soldado. Zulu conseguiu pegar o contendedor no ar. Ao proteger o corpo da queda com o braço, Sapo acabou por deslocá-lo. Sucumbiu. Fim da luta...


A MOÇA DA JANELA. AYMORÉ ALVIM , APLAC, AMM, ALL. Quando estava no Seminário, na década de 1950, numa tarde após o jogo de vôlei, Biné Curau me chamou à parte e me mostrou uma moça que estava em uma das janelas de um sobradinho amarelo que ficava de frente para a nossa quadra. Aproveitei quando ninguém estava olhando e bati a mão para ela que me respondeu com um sorriso meio maroto. Fiquei perturbado. Não deixei mais de pensar na pequena. Meu prazer, a partir de então, era vê-la na janela. Por algumas vezes, no salão de estudos, o padre disciplinário, me encontrava absorto. - Estás pensando em que? E tome “varetada” na cabeça. - Não estou pensando, padre Leo, estou meditando. - Pois aqui não é lugar de meditar, é de estudar. Um dia após a missa, estava fechando a Igreja quando ela foi saindo. Parou, disse-me até logo acompanhado de um sorriso cheio de charme. A caboclinha era mesmo abusada e perturbadora. Mas, nessa hora, tomei coragem e lhe disse: - Você não imagina o quanto me perturba. - Cuidado, você não pode. É pecado. Tem de guardar castidade. E saiu quase correndo após dar uma piscadela de olhos e um risinho debochado. A condenada era tipo serpente de paraíso, mostrava a maçã e caia fora. Era o capeta em forma de gente. Fiquei doidinho. Não conseguia pensar em outra coisa. Resolvi fazer-lhe uma poesia expressandolhe toda a emoção de um coração adolescente de catorze anos. Numa tarde, quando me aproximei do muro para atirar-lhe a poesia, eis que chegou o seminarista regente. - Eh! Aymoré, que papel é esse que tu vais jogar para aquela sirigaita? - Papel, que papel, rapaz? Que sirigaita? - Deixa de “enrolação” comigo, rapaz. Passa logo esse papel pra cá. Eu já venho te observando há tempo. Entreguei-lhe o papel. Hum! poesia de amor? Tu és um seminarista, Aymoré, não podes te prender a essas coisas do mundo. À noite após o jantar, vá falar com o Diretor espiritual. Estás precisando de orientação. A morena da janela morria de rir da minha aflição. Após o jantar fui falar com o padre. - Com licença, padre. O Sr. quer falar comigo? - Sente aí, meu filho. Você está precisando de orientação para esse espírito conturbado. Como é que você anda produzindo escritos lascivos, lúbricos. - Não é nada disso que o senhor está falando. Eu só fiz uma poesia. - Exato, meu filho, uma poesia licenciosa, salaz. Inconveniente ao ambiente onde você vive. Eu não entendia nada do que o padre estava dizendo. Que troço é esse que ele está falando? Pensei comigo. - Você vai levar essa poesia ao padre Reitor. - Espere um pouco, padre. Para o Reitor, não. Diga qualquer coisa para eu fazer. Rezo o que o senhor quiser, mas não me mande para o padre Reitor.


- Vá, então, para a Igreja e reze um Rosário e medite para não voltar a cair em tentação. E vamos encerrar de vez com esse tipo de poesia. Você é um seminarista. Você não quer ser padre? - É o que mais quero, padre. - Então, meu filho, vá para a Igreja e esqueça essas coisas. Padre e mulher é uma mistura perigosa. Saí, fui à Igreja cumprir o estabelecido. Daí a alguns dias, a moça desapareceu. Nunca mais a vi. E, assim, sem a ovelhinha por perto, voltei ao meu redil. Vejam, a seguir, a poesia e me digam se ela tem aqueles nomes esquisitos que o padre falou.

A MOÇA DA JANELA. Aymoré Alvim. Não afastes com desculpas O amor que te dedico, Tu bem sabes que te amo Esse é o meu conflito Pois não sei se tu me amas Ou queres brincar comigo. Um amor igual ao meu Sei que nunca encontrarás, Pois além de desejar-te, Só te ver me satisfaz. Tua lembrança me alimenta, Teu sorriso me compraz. Eu vivo em função de ti, Pensar em ti me consola, É de noite, é todo o dia É rezando, não tem hora. Quero te amar, neste mundo, Deixa pra lá castidade. Esse tipo de amor Não tem lá na eternidade.


NO FUNDO DA CESTA, UM LIVRO BRUNO TOMÉ FONSECA Escritor, Procurador do Estado do Maranhão, advogado e professor universitário.

Num desses Natais passados, vi minha esposa sorrindo de uma orelha a outra. Deleitava-se na conferência dos produtos que integravam a cesta natalina, um dos benefícios dados aos empregados pela empresa que ela trabalhava. Muitas delícias encantavam nossos olhos e nossa papilas gustativas: frutas em calda, pistache, chocolates e achocolatados, chester, bebidas diversas e, no final, no fundo da cesta, escondido como um mineral que não deseja se revelar facilmente no cio da terra, estava ele, surpreendente: um livro. Sim, um livro numa cesta de Natal! “Meu Pé de Laranja Lima”, pequeno clássico das letras nacionais, escrita por José Mauro de Vasconcelos. Uma edição simples, em formato bruchura, estampando na capa um menininho sonhador, debaixo de um arvoredo, emoldurado por um céu noturno, coalhado de estrelas. Um produto sem recheio proteico no meio de tantas delícias e tentações contidas naquela caixa de prazeres. Num dado momento, fiquei encantado com a ideia dos executivos da área de RH da antiga empresa da minha esposa. Pensaram em leitura. Investiram na possibilidade de uma reflexão silenciosa. Apostaram no debruçar dos olhos cansados dos empregados, entrecortado pelo sutil virar de folhas. Justamente num período em que tudo é celebração, barulho e estourar do alto dos pescoços dos espumantes e champanhes. Pensaram realmente os executivos em tudo isso que estou falando? Ou rechearam ao acaso uma cesta natalina sem qualquer intenção de remarem contra a maré? A resposta não vou saber. Agora, convenço-me a cada dia que instigar a leitura vem se transformando num ato político. A leitura, digna, sem ceder a vaidades e sem a urgência para dar respostas rápidas e irrefletidas, compara-se ao ato do chinês solitário investindo contra os tanques da Praça Paz Celestial. A leitura e seu o genuíno prazer de ser o que é, na década de 10, do século XXI, deve investir contra os tanques poderosos e desgovernados dos nossos tempos, comandados por tantas abreviações de raciocínio, palavras cifradas, pílulas de informação, irreflexão, equívocos e mal-entendidos. As redes sociais e as blogosferas estão nos transformando em meros repassadores de informações, sem qualquer capacidade de intelecção. Aprendemos com rapidez que tudo é relativo sem entendermos sequer quais são as opções disponíveis. Portanto, a leitura acaba sendo realmente mecanismo de resistência política, instrumento para nos portarmos e suportarmos o mundo e as suas incontingências. Nada contra o ato de fazer do homo faber, mas devemos buscar um pouco mais o ato dosaber do homo sapiens. Ocupemo-nos, por ora, no que fazer com os livros ao invés de apenas mudá-lo de lugar, do fundo escondido da cesta de Natal para o alto de uma prateleira encoberta de artesanais teias de aranha. Ainda acredito (e muito) no investimento, a lucro rápido e a baixo custo quem vem do fomento real das práticas para que os funcionários raciocinem realmente naquilo que estão fazendo, no certo e no errado, ampliando o seu campo de ação e de ideias. Portanto, gestores, que tal investirmos em espaços e grupos de leitura nas empresas e nos setores de governo? Seria luxo morto o fomento para a criação das escolas e universidades corporativas? Não creio.


UMA TESE EM ECONOMIA – FINAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista, membro da ACL e do IWA, fundador da ALL

21 DE AGOSTO DE 2017 A tese proposta em meu livro “Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory” justifica-se através do principal argumento: os bancos centrais das economias mais desenvolvidas utilizaram a política monetária expansionista, para estimular a retomada do crescimento, gerando uma desproporção entre produto e meios de pagamento. Alfred Marshall (1842-1924) buscou o desenvolvimento com crescimento e justa distribuição de renda, e no campo da política monetária destacou a Teoria quantitativa da moeda e sua velocidade de circulação, que têm tudo a ver com o assunto. Desde a Conferência de Bretton Woods, em 1944, procura-se um novo marco mundial à uma nova ordem econômica a ser negociada; houve uma recente reunião, em Jackson Hole, nos EUA, com os principais formuladores de política monetária, onde foram discutidas essas ações não convencionais adotadas por parte dos bancos de investimento. Depois que as economias mais desenvolvidas se transformaram em práticas de políticas monetárias verdadeiras promotoras de uma “financeirização”, por ação deliberada dos bancos centrais e do sistema bancário como um todo, acentuou-se a violação dos princípios contábeis geralmente aceitos. Os bancos centrais criados como guardiões da moeda, agora, podem socorrer outros tipos de bancos assoberbados pelas alavancagens arriscadas e mal reguladas, e comprar papéis da dívida pública, sem maiores preocupações com a emissão de moeda fiduciária. Essas questões, repito, estão relacionadas à Teoria quantitativa da moeda e sua velocidade de circulação, como destacado por Marshall, além de e principalmente à Base monetária e seu multiplicador. Acontece que essa expansão monetária causou endividamento em maior proporção do PIB, dos governos e das empresas, situação considerada anormal pelos padrões internacionais, embora grande parte dos recursos captados tenha ficado no caixa dos bancos. Escrevi “Desafios/Challenges” pensando em contribuir à discussão das práticas heterodoxas adotadas ao ensejo da crise da “bolha”, que ainda repercutem nos seus efeitos expansionistas e sem vislumbre de “uma porta de saída”. É um Livro técnico, mas de fácil leitura, não sequenciado de começo, meio e fim, dividido em partes que podem ser lidas sem preocupações de sequência; seu conteúdo presta-se à realização de Seminários para diretores, professores e alunos das Universidades, a estes especialmente, como leitura complementar à Teoria macroeconômica. Não tive a intenção de estabelecer contradições entre a teoria que se ensina e pratica atualmente, tradicional e consagrada pelos grandes pensadores como Marshall e o mais importante deles, John Maynard Keynes (1883-1946). Pretendo continuar debatendo sobre “Desafios/Challenges”, com economistas e profissionais de áreas afins, diretores, professores e universitários, assim como fiz com os da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV. Tenho palestra e sessão de autógrafos sendo programadas; nos Estados Unidos, a par de tratativas devidamente instruídas e oficializadas junto a Universidades americanas, espero repetir o feito.


À MEMÓRIA DE NHÔ DI AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL. Pinheiro, no próximo domingo, 3 de setembro, vai completar 161 anos da elevação do Lugar do Pinheiro à categoria de vila com a denominação de Vila de Santo Inácio de Pinheiro. Em homenagem, publico hoje esta crônica, com um episódio do folclore da minha cidade. A leitura é desaconselhável aos puritanos e a menores de 18 anos porque ainda são crianças.

Nhô Di era uma pessoa afável, amiga e prestativa. Era difícil haver alguém que não gostasse de Didi Soares ou, simplesmente, Nhô Di. Amigo, brincalhão, levava sempre a alegria para aonde ia. Tinha sempre uma piada para descontrair o ambiente ou uma charada para desafiar o interlocutor. Funcionário público do IBGE, Nhô Di, sempre no fim do expediente, em noites de lua cheia, costumava pegar a sua canoa, no porto de Francinê ou no de Antenor Correia, para ir pescar bagres. Quando retornava, por volta das dez da noite, pedia para a esposa, Santa, mandar preparar aquele cozidão, à base de sal, limão e cheiro verde, que se passou a chamar “Ceia de bagre” Enquanto isso, chamava alguns amigos com os quais degustava a iguaria regada a umas cervejinhas e muito papo. Acredito que a “Ceia de bagre” que, atualmente, é um dos pratos preferidos da culinária pinheirense tenha sido criado por Nhô Di. Durante a safra de cana-de-açúcar, as garapeiras se multiplicavam em Pinheiro. As mais freqüentadas eram a de Onofre Ribeiro e a de Valdinar Sessenta que ficavam lá pras bandas do antigo matadouro, atual, bairro de Santa Teresinha. Todas as noites, o pessoal descia para conversar, tomar garapa ou caldo de cana, e passar o tempo, pois não havia, àquela época, a televisão. As únicas distrações de que o povo dispunha eram as festas de largo da Igreja, os reisados no fim do ano, as feiras de melancia, as novenas de santos realizadas em algumas residências ou, de vez em quando, um circo que aparecia na cidade. Certa noite, a garapeira do Onofre estava cheia. Um grupo de amigos sentado a uma das mesas viu quando Nhô Di chegou. A turma logo se levantou e o chamou. - Senta aqui, Nhô Di, vamos bater um papo. Nessa hora, chega Onofre e diz: Didi, cuidado com o repertório, aqui têm muitas famílias. - Que repertório, Onofre? Minhas piadas são familiares. Não falam do diabo, nem do capeta, nem da roubalheira de gado que tem por aqui. Dizem só coisas boas. - Então, ta. O papo, então, começou a rolar solto. Como não havia o jogo da “porrinha,” a turma começou a disputar rodadas de garapa à base de charadas e adivinhações. - Queres começar, Didi? - Vamos lá. Se ninguém acertar vocês pagam e se um de vocês acertar a conta é comigo. - Tá bom disseram todos, - O que é o que é: “Há uma coisa no mundo, difícil de entender, quanto mais ela aumenta, mais difícil é de se vê”, o que é? - E aí, ninguém se manifesta? É escuridão. A conta é de vocês. - Manda outra que seja mais fácil. - Fiquem atentos, meus senhores, pra esta que lhes vou contar: “Não tem pé e o bicho corre, mas tem leito e nunca dorme e quando o danado pára, pode esperar, seca e morre”. O que é, o que é?


- É camaleão, disse Belizário de Doca. - Deixa de bestidade, Belizário. É rio. Paguem outra rodada. Querem mais? - Mais outra, Nhô Di. - Prestem bem atenção. Esta é de medicina: “Quando a bolota tá grande, sentar mesmo ninguém pode; se comer uma pimentinha, aí é que a coisa explode. Se peida, o bicho assobia, se cagar, o sangue escorre”. O que é o que é? - É cujuba. - Que cujuba, sua besta. É hemorroida. Vocês nunca tiveram? - Tem mais uma? - Só mais esta. Vou trabalhar amanhã cedo: O que é o que é: “É uma frutinha gostosa que a natureza criou; é felpudinha e macia, igual ninguém nunca achou. A bichinha é papudinha e de tão papuda rachou. Subiu morro, desceu morro, um lugar não encontrou e não tendo onde ficar, vizinha do c_ ficou”. O que é o que é? O pessoal caiu na gargalhada. Onofre, lá do balcão, gritou: - Seu Didi! - O que tu queres, mente suja? É a maçã. E foi embora.


POLÍTICAS PÚBLICAS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL. Publicado em O ESTADO MA, 1 e 2 de setembro de 2017 Os economistas clássicos do século XIX acreditavam nas forças automáticas de mercado e no pleno emprego dos fatores de produção. Hoje, não é mais assim. John Maynard Keynes (1883-1946), ao estruturar a macroeconomia, discordou dos economistas clássicos afirmando que importante era o nível de equilíbrio da renda e, como conseqüência, os níveis de produção. O funcionamento da economia não se dá de forma automática. Problemas de inflação, desemprego, equilíbrio fiscal, dívida pública, são complexos e interdependentes exigindo competência e perseverança na sua solução, requisitos que estão sendo exigidos do Brasil, doravante, cuja probabilidade de passar a conviver com déficits primários é possível inclusive no próximo mandato presidencial. O instrumental teórico disponível não é mais o mesmo desde que Keynes, em 1936, escreveu a Teoria Geral, pois os bancos centrais, a partir da crise da “bolha”, defendidos por Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve-FED, e Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu-BCE, passaram a adotar práticas heterodoxas em relação à economia monetária, mas estão enfrentando dificuldades à uma “porta de saída”, o que será discutido na próxima reunião do FED, a ser realizada em Jackson Hole, Wyoming, USA. A elaboração de políticas econômicas é um processo que consiste em combinar, de forma adequada, esse instrumental, mesmo em tempos de menor intervenção do Estado na economia, pois remanesce o seu poder regulador, que permanece carente. Praticadas em países industrializados ou não, as políticas econômicas de combate à inflação, ao desemprego, à promoção do desenvolvimento foram, sempre, de natureza monetária e fiscal. Essas políticas, ora restritivas à demanda e preços, ora de ajustamento à conjuntura vigente, tiveram por base o desempenho do balanço de pagamentos, do mercado de câmbio e do fluxo de capitais. A política monetária, combinada com tentativas de ajuste fiscal, tem sido largamente utilizada no contexto das políticas econômicas, principalmente em países do Terceiro Mundo às voltas com processos inflacionários crônicos. Nas ações de natureza monetária o difícil tem sido compatibilizar os objetivos de pleno emprego, de equilíbrio da renda, com estabilidade de preços: é que restrições à expansão da moeda levam à recessão e, como decorrência, ao desemprego (foi isso que o FED teria procurado evitar com o “quantitative easing”QE). Os instrumentos tradicionais de política monetária – auxílio à liquidez, fixação da taxa de reservas e operações de mercado aberto - sempre foram argüidos quanto à sua maior ou menor eficácia. Entretanto, a restrição do crédito, via sistema bancário, combinada com a necessidade de o governo financiar o déficit aumentando a dívida pública, tornam esses instrumentos imprescindíveis. Importante mesmo para uma eficiente política monetária seria que não gerasse incertezas quanto ao seu direcionamento e aplicação. Se assim fosse, as empresas poderiam almejar eficiência operacional e elaborar seu planejamento sem receios de mudanças repentinas, de recuos inesperados. O assunto está continua na pauta do governo brasileiro, que tem pouco tempo para reverter as expectativas e agir.


E O BRASIL FICOU INDEPENDENTE. AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL. Comemora-se, hoje, 195 anos da Independência do Brasil. Mas, que independência? O povão continuou pobre como sempre e os escravos sem nenhuma expectativa de que tal movimento lhes trouxesse a oportunidade de se libertarem do jugo de seus senhores. E o país? Este continua a reboque das grandes economias do dito primeiro mundo, de onde tudo que vem é bom, sempre melhor do que o que aqui é feito. Escravidão cultural. Não poderia ser diferente. Àquela época, o apoio de que precisava o Príncipe Regente para consolidar seu projeto de poder vinha exatamente das elites políticas e rurais. Mas, de qualquer forma era um sonho alimentado de há muito, seja para fugir aos escorchantes impostos e taxas que lhes eram aplicados pela Coroa Portuguesa ou para reagir ao monopólio concedido às duas Companhias Gerais de Comércio do Grão-Pará e Maranhão aqui implantadas, uma em 1682, quando reinava D. Pedro II de Portugal, e a outra, em 1755 por Marquês de Pombal, no reinado de D. José I. A avidez por impostos da Coroa parecia que nada a satisfazia. Era uma turma da pesada. Mas a coisa parecia ser boa, pois deixou seguidores, fez escola. Dizem que atualmente o brasileiro trabalha os cinco primeiros meses do ano só para paga-los. Essa ganância alimentou muitas revoltas. Lembram-se da dos irmãos Beckman aqui no Maranhão, em 1684? Outras também pipocaram ao longo do tempo: Inconfidência Mineira, 1789, Conjuração Baiana, 1798, Revolução Pernanbucana, 1817, para ficarmos só nestas. Todos esses conflitos levaram as Cortes Portuguesas a exigir o retorno de D. João VI a Portugal com a família. O velho, muito vivo, resolveu deixar D. Pedro, na Regência. Era o que ele queria. A Imprensa e os políticos, influenciados pelos resultados da Independência dos Estados Unidos (1776), e da Revolução Francesa (1789), redobraram a pressão sobre D. Pedro e insuflavam o povo que em delírio se apinhava na Praça frente ao Paço para pedir a D. Pedro que ficasse. Caiu a sopa no mel. Era o que ele também esperava. Daí pra frente foi um pulo. Viajou para São Paulo e, quase chegando, resolveu parar com sua tropa às margens do Ipiranga para se refrescar, pois ninguém é de ferro. Aí, aconteceu o inesperado. Leu umas cartas que lhe mandara D. Leopoldina e José Bonifácio e decidiu subir no cavalo e dar aquele célebre grito. Pronto. Estava tudo consumado. Como se pode ver, cada um cuidava dos seus próprios interesses. O que mudou? E o povo? Ah! O povo... Continua ate hoje cantando o “Já podeis da pátria, filhos” ou o “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas”. É isso, aí. Vamos comemorar. Festa é festa e feriado nem se fala


MINHA HOMENAGEM AOS 405 ANOS DE SÃO LUÍS: CRÔNICA DE 405 ANOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL.

Em 2012, comemorando o quarto centenário de São Luís, lancei meu segundo livro “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, no Palácio Cristo Rei, editado pela EDUFMA da Universidade Federal do Maranhão, depois lançado também, na França e em Portugal. O Brasil foi descoberto em 1500 e seu território distribuído a fidalgos, distribuição mantida, por analogia, a seus sucessores em um sistema feudal, a partir de 1532. O litoral do país, alvo constante da pirataria especialmente francesa ressaltava a inexistência de alguma defesa capaz de manter “os direitos da Coroa lusitana sobre o Brasil”. A Capitania Hereditária do Maranhão, concedida a João de Barros e Fernão Álvares de Andrade, como as demais, enfrentou dificuldades ante a distância da Metrópole, problemas de limites, administração e outros pontos de discórdia entre os próprios donatários; assim, apenas prosperaram as capitanias de São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa, e Pernambuco, a Duarte Coelho Pereira. Por que dúvidas sobre os verdadeiros fundadores de São Luís, se foram franceses que pirateavam a costa brasileira desde antes, ou portugueses já estabelecidos em nosso território, mas interessados em outras paragens? Porque as evidências da fundação não foram suficientes à outorga desse laurel, argumentam alguns aplicados pesquisadores. A verdade, porém, é que pouca gente compreende bem o porquê dessas dúvidas. É certo que os franceses permaneceram pouco tempo em terras maranhenses depois da fundação, de 1612 a 1615, ao todo cerca de três anos e meio; durante esse tempo, entretanto, implementaram várias ações à concretização da sua conquista. Jacques Riffaut, que chegara em 1594, retornou a França e tentou obter de Henrique IV proteção e apoio à posse da Ilha, o que determinou a missão chefiada pelo Senhor de La Ravardière, em 1612; ele mesmo também retornou a França e tentou viabilizar recursos, contudo circunstâncias adversas acontecidas e ainda repercutindo entre os franceses descontinuaram o seu trabalho. Poderia ter sido diferente, se essa ajuda tivesse chegado a tempo? Nas páginas da Wikipédia pode-se ler: “São Luís é a única cidade brasileira fundada pelos franceses, no dia 8 de setembro de 1612, que terminou por ser colonizada por portugueses”. Todos sabem que Daniel de La Touche, vindo de Cancale e Saint-Malo, em companhia de 500 homens, chegou para fundar a França Equinocial; uma missa rezada por capuchinchos e a construção de um forte denominado Saint Louis, em homenagem a Luís XIII, o rei francês da época, concretizou a fundação. Ilustres historiadores maranhenses do século passado pronunciaram-se a respeito da fundação de São Luís, em obras reeditadas pela Academia Maranhense de Letras, em 2008, por ocasião das comemorações do centenário da Casa de Antônio Lobo. Essas obras, ricas em pesquisa bibliográfica, são muito esclarecedoras. Em seu livro História do Maranhão, Barbosa de Godóis diz textualmente: “Enquanto os portugueses tentavam sem resultado estender a colonização ao Maranhão, os franceses, que tinham sido sucessivamente repelidos de vários pontos do litoral do sul e norte, neles se estabeleciam com fortes elementos que lhe auguravam uma posse longa e definitiva.” E em “Fundação do Maranhão”, Ribeiro do


Amaral diz: “[...] plantar e arvorar em triunfo o estandarte da Santa Cruz [...], mas ainda em memória eterna do fim por que tomavam eles (os franceses) posse de sua terra [...].” Claude d´Abbeville em “Histoire de la mission des pères capucins em l´Isle de Maragnan [...]” e Yves d´Évreux em “Voyage dans le nord du Brésil fait durant les années [...]” foram os cronistas pioneiros da Cidade, testemunhando o cotidiano dos seus primórdios. Afinal, qual a importância do que aconteceu primeiro, para oficializar a fundação de São Luís: a construção do Forte em homenagem a Luís XIII, a celebração da Missa Solene em louvor à Virgem Maria ou o Planejamento arquitetônico da cidade? Cada um no seu devido tempo, atos de posse e de religiosidade, todos foram importantes e fundamentais.


AS UNIVERSIDADES FEDERAIS DE PIRES NA MÃO. ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo da ALL e do IHGM Publicado em O ESTADO MA, 08 de setembro de 2017 Tenho lido e assistido na televisão que as universidades federais, novamente, estão em crise, faltando dinheiro até para as despesas com manutenção. Já vivemos esse momento em outros tempos, quando a missão do Reitor, sobre maneira, era estar no MEC com o pires na mão. No Brasil, política e universidade nunca andaram juntas. Enquanto na universidade se fortalece a ideia da razão, na política se fortalece a ideia do poder. É interessante notar que foram os gregos os criadores da política, como espaço público, e da filosofia, como o conhecimento racional e sistemático do homem e das coisas. Foi dessa vinculação entre o poder e o saber que surgiram as universidades medievais dedicadas à formulação de teorias jurídicas e teológicas e o poder do Estado, nascendo daí a relação entre cidadania e conhecimento. Na historia dessa relação, a universidade pública viveu momentos distintos. Quando as universidades eram criadas sob a influência das ideias liberais, que predominavam o ocidente, buscava-se um saber desinteressado que não interferisse nas relações com o Estado e a sociedade. Com o advento do progresso tecnológico, e suas repercussões na sociedade, surgiu um novo perfil de universidade. No momento em que vivemos atualmente, a universidade convive com uma nova vocação influenciada pelo modelo tecnicista e racionalista, voltando-se aos interesses nacionais, ficando mais próxima de sua vocação política. Passaram a ser preocupações da universidade os vínculos entre ciência, tecnologia e mercado de trabalho. Essa compatibilização de vocações afetou diretamente as forças produtivas do Estado e das classes sociais, no entanto, nem a vocação científica da universidade, nem sua vocação política conviveram pacificamente. A história tem mostrado que a ação política se caracteriza mais como uma ação autônoma, pela origem dos grupos de poder, e os interesses políticos que impõem presteza e prontidão de respostas. A ação científica segue lógica diferente e tem menos pressão por não ser tão imediatista. Ela persegue outras vias e os instrumentos usados são diferentes. A política tem seu tempo, a universidade tem outro tempo – o tempo do conhecimento. A grande maioria dos políticos esquece que é na pesquisa e na consolidação do pensamento que estão os melhores resultados, aqueles que podem acelerar os processos e apresentar soluções mais emergentes. Essa incompatibilidade, tanto no nível da temporalidade como no nível da continuidade só é prejudicial à universidade por sair das preocupações e prioridades dos governantes e à política por não poder contar com os novos conhecimentos e parâmetros para o exercício do poder. Os estudos em torno da incompatibilidade das duas vocações não se esgotam no presente artigo, não se restringindo tão pouco nas considerações aqui feitas. Eles vão muito além e trazem um tipo de reflexão que muito tem a haver com a ação política e a ação científica, onde se exige bons profissionais da política e universidades qualificadas. É fundamental que as universidades não se afastem da política, não abandonem o Estado e a sociedade, como faziam as universidades medievais. Às universidades, esse exército nacional, devem enfrentar o empasse no seio da política e isso se faz , sobretudo, com a qualidade da profissionalização e o conhecimento do mercado de trabalho. Para tanto é importante que as universidades se conheçam bem e o seu sistema de avaliação seja participativo. Tudo isso contribuirá para que a universidade, com sabedoria e coragem, possa contabilizar o tempo da política com o tempo do conhecimento e da ciência, mais precisamente o tempo da ação com o tempo do pensamento. Aí não haverá mais crise.


CRÔNICA DE 405 ANOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL Publicado em O IMPARCIAL, 10 de setembro de 2017

Em 2012, comemorando o quarto centenário de São Luís, lancei meu segundo livro “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, no Palácio Cristo Rei, editado pela EDUFMA da Universidade Federal do Maranhão, depois lançado também, na França e em Portugal. O Brasil foi descoberto em 1500 e seu território distribuído a fidalgos, distribuição mantida, por analogia, a seus sucessores em um sistema feudal, a partir de 1532. O litoral do país, alvo constante da pirataria especialmente francesa ressaltava a inexistência de alguma defesa capaz de manter “os direitos da Coroa lusitana sobre o Brasil”. A Capitania Hereditária do Maranhão, concedida a João de Barros e Fernão Álvares de Andrade, como as demais, enfrentou dificuldades ante a distância da Metrópole, problemas de limites, administração e outros pontos de discórdia entre os próprios donatários; assim, apenas prosperaram as capitanias de São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa, e Pernambuco, a Duarte Coelho Pereira. Por que dúvidas sobre os verdadeiros fundadores de São Luís, se foram franceses que pirateavam a costa brasileira desde antes, ou portugueses já estabelecidos em nosso território, mas interessados em outras paragens? Porque as evidências da fundação não foram suficientes à outorga desse laurel, argumentam alguns aplicados pesquisadores. A verdade, porém, é que pouca gente compreende bem o porquê dessas dúvidas. É certo que os franceses permaneceram pouco tempo em terras maranhenses depois da fundação, de 1612 a 1615, ao todo cerca de três anos e meio; durante esse tempo, entretanto, implementaram várias ações à concretização da sua conquista. Jacques Riffaut, que chegara em 1594, retornou a França e tentou obter de Henrique IV proteção e apoio à posse da Ilha, o que determinou a missão chefiada pelo Senhor de La Ravardière, em 1612; ele mesmo também retornou a França e tentou viabilizar recursos, contudo circunstâncias adversas acontecidas e ainda repercutindo entre os franceses descontinuaram o seu trabalho. Poderia ter sido diferente, se essa ajuda tivesse chegado a tempo? Nas páginas da Wikipédia pode-se ler: “São Luís é a única cidade brasileira fundada pelos franceses, no dia 8 de setembro de 1612, que terminou por ser colonizada por portugueses”. Todos sabem que Daniel de La Touche, vindo de Cancale e Saint-Malo, em companhia de 500 homens, chegou para fundar a França Equinocial; uma missa rezada por capuchinchos e a construção de um forte denominado Saint Louis, em homenagem a Luís XIII, o rei francês da época, concretizou a fundação. Ilustres historiadores maranhenses do século passado pronunciaram-se a respeito da fundação de São Luís, em obras reeditadas pela Academia Maranhense de Letras, em 2008, por ocasião das comemorações do centenário da Casa de Antônio Lobo. Essas obras, ricas em pesquisa bibliográfica, são muito esclarecedoras. Em seu livro História do Maranhão, Barbosa de Godóis diz textualmente: “Enquanto os portugueses tentavam sem resultado estender a colonização ao Maranhão, os franceses, que tinham sido sucessivamente repelidos de vários pontos do litoral do sul e norte, neles se estabeleciam com fortes elementos que lhe auguravam uma posse longa e definitiva.” E em “Fundação do Maranhão”, Ribeiro do Amaral diz: “[...] plantar e arvorar em triunfo o estandarte da Santa Cruz [...], mas ainda em memória eterna do fim por que tomavam eles (os franceses) posse de sua terra [...].”


Claude d´Abbeville em “Histoire de la mission des pères capucins em l´Isle de Maragnan [...]” e Yves d´Évreux em “Voyage dans le nord du Brésil fait durant les années [...]” foram os cronistas pioneiros da Cidade, testemunhando o cotidiano dos seus primórdios. Afinal, qual a importância do que aconteceu primeiro, para oficializar a fundação de São Luís: a construção do Forte em homenagem a Luís XIII, a celebração da Missa Solene em louvor à Virgem Maria ou o Planejamento arquitetônico da cidade? Cada um no seu devido tempo, atos de posse e de religiosidade, todos foram importantes e fundamentais.


APETITE INSACIAVEL AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL.

Há, no interior do Estado, uma cidade para a qual vou atribuir um nome fictício para evitar constrangimentos com antigos moradores ainda vivos ou com seus descendentes. Nessa época, Boa Vista era uma cidade pequena onde havia uma escola municipal sem nenhuma professora normalista, um posto de Saúde sob a responsabilidade de uma parteira e um delegado que era primo do prefeito. O padre do local já estava idoso com mais de 50 anos à frente da Paróquia. De vez em quando, caso houvesse necessidade, vinha o Juiz de uma cidade próxima, mas, há muito tempo, o Promotor havia sido removido para outro município. O prefeito se dizia cansado de tanto enviar seus preitos ao Governador e não ser atendido. No início da década de 1960, um movimento encabeçado por políticos da oposição levou o Tribunal Eleitoral a fazer uma revisão do número de eleitores do Estado. Eliminados os fantasmas, nas eleições de 1965 foi eleito pelas oposições coligadas o deputado federal e jovem político José Sarney. Sentimentos de mudança e ventos de esperanças varreram todo o Estado. A expectativa de bons tempos contagiava todos. Após alguns meses, o Governador iniciou as viagens itinerantes pelos municípios para verificar, in loco, as suas necessidades. Em uma dessas viagens, Boa Vista foi incluída no itinerário. Quando a comitiva chegou à cidade, foi recebida com muitas festas pelo prefeito e pelo povo. Após ouvir as lideranças locais, o Governador lhes prometeu enviar logo duas professoras normalistas e um promotor e, assim que fosse possível, viria o médico de vez que a Faculdade de Medicina do Estado estava formando seus primeiros médicos. E assim o fez. Após, aproximadamente, uns dois meses chegaram duas professoras normalistas e logo depois o Promotor. O Prefeito e a sociedade local aprontaram uma animada festa de recepção aos novos moradores da cidade. Sessão solene na prefeitura, banquete e baile. Tudo corria muito bem. Após uns dois anos, em nova itinerância, novamente Boa Vista foi incluída entre as cidades a ser visitadas. Quando o avião pousou, o Prefeito juntamente com outros senhores do município se adiantaram para o avião. - Governador, nos desculpe virmos receber V. Exa. aqui. Queremos, antes da recepção popular, lhe falar reservadamente. - De que se trata? - Do Promotor, Governador Esse homem não nos serve aqui. - Mas, o que está acontecendo, vocês não estavam satisfeitos? - Ocorre, Governador, que esse homem já “comeu” quase todas as mulheres aqui da cidade. O homem não tem consideração com ninguém. Por isso, a gente gostaria que o senhor o tirasse daqui e nos enviasse outro Promotor, mas que seja casado pra vir com a família ou, então, um velho. - Digam-me uma coisa: Nesta cidade não tem homem? Perguntou o Governador. - De ter tem, seu Governador, mas ele não gosta, disse-lhe o Prefeito. - Está bem, vamos ver o que é possível fazer.


Um mĂŞs depois, chegou outro Promotor a Boa Vista para substituir o anterior. Mas esse veio com a esposa. E, assim, a paz voltou a reinar em Boa Vista.Vai ter apetite assim...


INFLUÊNCIAS DE BOCAGE NA LITERATURA BRASILEIRA FERNANDO BRAGA130 Esta é minha homenagem ao aniversário do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage [Setúbal, 15 de setembro de 1765 – Lisboa, 21 de dezembro de 1805], que com apenas 39 anos e três meses de idade consagrou-se um dos maiores líricos portugueses de todos os tempos e o maior sonetista da Península Ibérica do século XVIII. Por isso, e outros sentimentos, cumpre-me aqui publicar as breves palavras que disse sobre a ‘influência de Bocage na literatura brasileira’, conseguido alinhavar com simpleza e com mais simpleza dizer a tão seleta platéia, que com paciência me ouviu, na cidade de Setúbal, Portugal, no ‘Café Ritália e Bocage’, na Rua Marquesa do Faial, 10, às 17 horas do dia 10 de setembro de 2014, concretizando-se assim, premonição que tivera sobre a realização de tal evento, desde quando comecei a rabiscar as primeiras anotações do ensaio ‘Elmano, o injustiçado cantor de Inês’, a lançar-se naquele instante. O presente cometimento só se tornou possível pela gentileza do escritor e pesquisador setubalense António Bento da Cunha, e pelas generosidades dos integrantes da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão – LASA.

Diz-nos à Doutora Elza Paxeco, no seu belo ensaio ‘Alguns aspectos da Poesia de Bocage’, publicado pela Revista da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, Tomo V, nºs 1 e 2, Lisboa, 1938, “que Olavo Bilac, o príncipe dos poetas parnasianos do Brasil, numa conferência de 1917, emite uma opinião, já estabelecida há cerca de meio século pelos Castilhos, exaltando em Bocage “o máximo cinzelador da métrica portuguesa”, a descrever-lhe os métodos artísticos em sua habituada felicidade. Quis o destino entrelaçar-nos; eu, em estando aqui hoje, nesta noite mais que mirífica e encantadora, a trazer meus apontamentos sobre o nosso Manuel Maria Barbosa du Bocage, escritos há tempos, pela orientação lusônia e espiritual de meu pai, que daqui deste querido Portugal saiu em 1928, levando consigo os seis tomos das ‘Rimas’, para presenteá-los, um dia, à minha curiosidade de escritor em formação, lá longe, no peitoril do Atlântico mundo, na Ilha de São Luis, capital do Estado do Maranhão, onde nasci, e também onde nasceu a Dra. Elza Paxeco, quando seu pai, o ilustre setubalense, Dr. Fran Paxeco, ali exercia as funções de Cônsul de Portugal, a deixar legado àquelas terras, por força de seu trabalho e inteligência, juntamente com outros abnegados, a Faculdade de Direito do Maranhão, hoje integrada à Universidade Federal, e mais, a Academia Maranhense de Letras e a Associação Comercial do Maranhão, sendo reverenciado ali, até hoje, onde seu nome é dado ao Largo do Comércio de São Luis; sua filha, a Dra. Elza Paxeco, a primeira mulher a doutorar-se pela Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, de cujo trabalho retirei algumas linhas deste pronunciamento, é filha, portanto, de Fran Paxeco, e da Sra. Isabel Eugênia de Almeida Fernandes Paxeco, vindo a ser esposa, mais tarde, do Professor José Pedro Machado, arabista e filólogo português, de cuja união nasceram Maria Helena, João Manoel e Maria Rosa, esta, a Dra. Rosa Pacheco Machado, querida amiga e minha recepiendária neste evento, a quem procurei de imediato no aconchego de sua morada em Caldas da Rainha, assim que desembarquei, juntamente com o Nando, meu filho, no aeroporto de Lisboa, ávido em vê-la para trocarmos idéias, não só sobre o lançamento do livro, evidentemente, mas sobre as saudades de Portugal e os cantares do Maranhão... Pois bem, depois dessas necessárias considerações e querenças benfazejas, a Dra. Elza Paxeco, finaliza, nesta minha pontuação, em dizendo que “Antônio Feliciano de Castilho, além dos elogios que concede a Bocage, diz no capítulo VIII, do seu ‘Tratado de Metrificação Portuguesa’ que os versos de Filinto desagradam e martirizam a qualquer ouvido, até mesmo sem ser dos melindrosos; os de Camões, comumente satisfazem; os de Bocage encantam; a estes, se alguma coisa houvesse de repreender seria a sua mesma perfeição excessivamente constante.” 130

Esta conferência está enfeixada em ‘Toda Prosa’, antologia de textos de Fernando Braga, a ser publicada. Ilustração: [1] Estátua de Manuel Maria Barbosa du Bocage, na Praça do Sepal, em Setúbal, feita do mesmo material, no mesmo estilo, na mesma oficina e pelo mesmo escultor, Pedro Carlos Quádrios dos Reis, que fez a do poeta António Gonçalves Dias, erigida na Praça do mesmo nome, em São Luis do Maranhão, Brasil. [2] Capa do ensaio ‘Elmano, o injustiçado cantor de Inês’, de Fernando Braga.


Cremos que Castilho fora um tanto impiedoso nessa colocação, vez que foi o velho Filinto Elísio que saudou o estro do nosso gênio de Setúbal na hora da morte!... E os ventos brasileiros sopram sobre o destino de Manuel Maria... Ao falarmos há pouco sobre destinação, e agora a trazer a influência de Manuel Maria na literatura brasileira, nos deparamos com um acontecimento, digno de se dizer, que nada acontece por acaso, desde que haja, para tanto, um nexo causal. E este, senhores, é de que seu avô, um normando chamado Gil Le Doux Du Bocage, naturalizado, entrou para a Marinha Portuguesa em 1704, combatendo no Mediterrâneo contra os barbarescos, e no Brasil, contra os franceses, na invasão de Duguay-Trouin, no Rio de Janeiro, em 1711, tendo sido, por esses feitos, promovido em 1717, ao posto de Vice-Almirante. O professor Elmano Cardin em suas ‘Evocações da vida e obra de Bocage’ é quem nos conta esse outro fato pouco conhecido por muitos... “Bocage, o valente normando, teve assegurado em elogios a sua carreira de marinheiro em Portugal. Por certo, ao escolher a vida do mar, tinha o poeta, na herança, as aventuras do avô na Baía de Guanabara, e quando, rumo à Índia, tocou no Rio de Janeiro, deslumbrando-se com a terra que sua imaginação já conhecia... Descobriu o historiador Mello Moraes que Bocage esteve hospedado em uma casa na Rua das Violas, hoje Rua Marechal Floriano, no centro da Cidade Maravilhosa. O poeta brasileiro que traz a métrica no coração, a poesia na alma e um decassílabo no nome, não poderia ser outro, senão Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, o poeta das ‘Naus Portuguesas em Sagres’ e dos bandeirantes no ‘Caçador de Esmeraldas’, encantou nos trinta e cinco sonetos de sua ‘Via Láctea’, o seu motivo maior, o amor sensual, vivenciado numa fugaz exaltação. Vaza-os em estilo neoclássicos, bem próximos de Bocage, e mais raramente de Camões; diz-nos, o professor Alfredo Bósi, lente de Literatura na Universidade de São Paulo. E o poeta carioca, discípulo ardoroso do estro apaixonante de Bocage, com a mesma intensidade do amor deste por Camões, assim canta ao querido mestre: A Bocage Tu, que no pago impuro das orgias Mergulhavas ansioso e descontente, E, quando à tona vinhas de repente, Cheias as mãos de pérolas trazias; Tu, que de amor e pelo amor vivias, E que, como de límpida nascente, Dos lábios e dos olhos a torrente Dos versos e das lágrimas vertias; Mestre querido! Viverás enquanto Houver quem pulse o mágico instrumento, E preze a língua que prezaste tanto; E enquanto houver num ponto do Universo Quem ame e sofra, e amor e sofrimento Saiba, chorando, traduzir no verso. [Olavo Bilac] Olavo Bilac é hoje freqüentemente citado nas referências a Bocage, porque ninguém melhor elevou ao poeta o amor de uma admiração que o levaria a proclamá-lo seu mestre e o inculcava como modelo. O grande poeta brasileiro o elevaria à glória que merecia, arrancando-o, revoltado, dos baixios da popularidade repulsiva. Olavo Bilac reclamava, ainda, a reabilitação do famoso lírico que compôs tantos sonetos e idílios, e tantas alegorias, e tantas canções que honram a nossa raça; clama pela urgente reabilitação do grande


arquiteto da expressão verbal, o admirável artista da palavra, o inexcedível metrificador que foi o desventurado Manuel Maria. O poeta fluminense Álvarez de Azevedo, da segunda e estóica fase dos românticos brasileiros, escreveu, em 1850, aos vinte anos de idade um ensaio intitulado ‘Literatura e Civilização em Portugal’, onde diz entre muitas coisas “que Camões na fase heróica e Bocage na fase negra, para dividir assim em dois períodos a história literária portuguesa, que Bocage foi a figura mais representativa, a única realmente grande, da fase negra que se processou no tremedal das ruas sujas da Lisboa do século XVIII”... O que importa acontecer nesse trabalho do jovem poeta de ‘A Lira dos Vinte Anos’ é que a obra poética de Bocage, pelo reconhecimento de seu gênio e pela influência por ele exercida nas letras lusas e, sobretudo pelo influxo do talento contagiante de Bocage sobre ele mesmo, Alvarez de Azevedo, que deixou em seu universo léxico um legado riquíssimo e imagístico de metáforas bocageanas, no mais alto estilo de um poeta que foi o maior sonetista do século XVIII, não só português, mas de toda a Península Ibérica. E as confissões de influência são muitas. Até o nosso Gonçalves Dias, ‘O Poeta da Raça’, chegou a sair do seu aconchego de romântico indianista, também ávido de aplausos e cioso de paixões, para receber de Elmano Sadino, influência na sátira que imprimiu, principalmente quando o poeta da ‘Canção do Exílio’ enaltece em um soneto digno do talento de ambos, uma evocação à bela Anarda, uma das Gertrúrias de Manuel Maria. Sobre esse fato, Lúcia Miguel Pereira, a maior biógrafa do poeta maranhense, comenta: “O cinismo, nesse caráter puro, nesse homem de vida digníssima, só se revelou em questões femininas. Nessas oscilou entre o romantismo etéreo: é um realismo que não o contentava, que o amesquinhava aos próprios olhos, mas com o qual ia enganando o seu isolamento afetivo... Lúcia Miguel Pereira deixou escondida a frustração de Gonçalves Dias pelo amor de Ana Amélia, que lhe foi arrancado pelos preconceitos familiares, assim como Elmano, viu Gertrúria nos braços d’outro amante, senão o seu irmão, o também poeta e jurisconsulto Gil du Bocage, como diz L.A. Rebello da Silva, um dos seus mais antigos e autênticos biógrafos. Até nas estátuas dos dois poetas, de Bocage e de Gonçalves Dias, há as mãos do destino... Ambas foram feitas com o mesmo material, no mesmo estilo, na mesma oficina pelo mesmo artista, o escultor Pedro Carlos Quádrios dos Reis, que soube, naturalmente sob o pálio Divino, dar às duas peças as suas respectivas grandezas... E as similitudes crescem. Assim como o Brasil, por intermédio da Academia Brasileira de Letras, ofereceu a Setúbal o busto do nosso grande Olavo Bilac, Portugal retribuiu ao Brasil, com o busto de Bocage, inaugurado, na Rua Fernando Ferrari, em Botafogo, no Rio de Janeiro, por ocasião do centenário de nascimento do poeta. Por fim, consigno no clamor da hora presente, um fato talvez não muito conhecido. Na pequena biblioteca de Bocage, após sua morte, foi encontrado um exemplar do ‘Caramuru’, romance histórico em versos, que revivem, à custa dos hábitos nativos, as intenções apologéticas do Frei Santa Rita Durão. O maior sonho literário de Manuel Maria Barbosa du Bocage era escrever um poema épico sobre o descobrimento do Brasil. Esse exemplar do ‘Caramuru’ estava apostilado por Bocage em forma de cantiga, indício de que Elmano se preparava para escrever o planejado poema, que teria sido, por certo, a sua maior criação poética, a qual, ao lado de ‘Os Lusíadas’ é a obra que até hoje falta à glória dos descobrimentos. “Feliz foi meu encontro com Bocage”, como diz o professor Raymond Cantel, ‘Diretor de Estudos Portugueses e Brasileiros da Sorbonne Nouvelle’, de quem me fiz amigo quando cumpri estágio de Direito Penal Comparado naquela ilustre Universidade [Pantheon I], infelizmente falecido, o qual me dera a honra de assinar sua apresentação no meu ensaio ‘Elmano, o injustiçado cantor de Inês’, o qual, hoje, aqui, fora reapresentado pela Dra. Rosa Pacheco Machado, essa amiga querida que juntamente com o incansável intelectual António Cunha Bento e os confrades da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão – LASA, que me proporcionaram essa tão grande alegria, porque “esta é a glória que fica, eleva a honra e consola, segundo a sentença de Machado de Assis, como se ratificasse os sentimentos do próprio Elmano, o injustiçado cantor de Inês quando disse que “das almas boas a nobreza é esta.” A todos os presentes... Digo que agradecer é mais obrigação do que mérito!


A MODELO DE BENEDITO LEITE FELIPE CAMARÃO Professor / Secretário de Estado da Educação Membro da Academia Ludovicense de Letras / Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

O Governador Flávio Dino inaugurou, recentemente, durante as comemorações alusivas aos 405 anos de São Luís, a reforma geral da centenária Escola Modelo Benedito Leite, que foi fundada em 1900 e se constitui em uma das mais antigas escolas do país. Cabe ressaltar que, desde 1948, ano em que passou a funcionar no prédio da Praça Antônio Lobo, a Escola Modelo nunca havia recebido uma reforma com a mesma dimensão da que foi executada pela gestão do Governador Flávio Dino. Naquela ensolarada tarde de 5 de setembro de 2017, dia em que comunidade escolar recebeu a nova Escola Modelo, rememorei em meu discurso o legado deixado pelo patrono da escola, o político maranhense Benedito Pereira Leite, que foi promotor de justiça, juiz, deputado estadual e federal, senador e governador do estado. Como membro sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), não poderia deixar de destacar essa figura histórica, que também deu nome à Biblioteca Pública, reestruturada em sua gestão; a uma maternidade, praças e um importante município maranhense. Na época em que foi governador, Benedito Leite vivenciou um estado de profunda crise econômica tal qual vive o Brasil nos dias atuais e,como alternativa para amenizar essa situação, foi lhe apresentada a possibilidade de extinguir a Escola Normalista e a Escola Modelo. Prontamente ele respondeu que preferia cortar sua mão a assinar o ato de extinção da Modelo e essa é a razão pela qual a estátua localizada na praça, que também recebe seu nome,Benedito Leite figura sem a mão direita. Faço questão de relembrar o ilustre estadista e político maranhense da segunda metade do século XIX e início do século XX, para fazer uma analogia ao trabalho que o Governador Flávio Dino vem realizando no estado do Maranhão, mesmo diante de um momento de crise, similar ao que se passava naquela época. O governador Flávio Dino pode sacrificar qualquer outra área, mas jamais fará sacrifício ou concessões com a educação. É por isso que o governador e toda a sua equipe, da qual faço parte com muito orgulho, veste a camisa do Programa Escola Digna, que tem como objetivo reestruturar todas as escolas da rede estadual,e a Escola Modelo, que é a segunda escola mais antiga de São Luís, não poderia ficar de fora. Ao mesmo tempo em que parabenizo toda comunidade escolar pela belíssima Escola Modelo, aproveito para agradecer os estudantes e professores pelo sacrifício que fizeram de estar durante a reforma em um prédio provisório. Mas agora vocês têm uma escola digna, totalmente reformada, climatizada, com laboratório, quadra e auditório adequados para a aprendizagem com qualidade. Viva Bendito Leite! Viva a Escola Modelo! Viva o Governador Flávio Dino! Viva o Maranhão!

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CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO AGRIDE SÍTIO HISTÓRICO PAULO MELO SOUSA PUBLICADO NO JORNAL PEQUENO, 29 DE SETEMBRO DE 2017 O grande compositor brasileiro Jackson do Pandeiro é autor de uma letra de música que tem um trecho que já virou ditado popular: “o diabo quando não vem, manda o secretário...”. Não se sabe ao certo se foi um secretário qualquer ou o próprio diabo que teve a lamentável e execrável ideia de dar início a uma “obra” (no sentido sinonímico de ato de defecar) no espaço urbano mais significativo e glorioso da histórica cidade de Caxias. Justamente no local que hoje é conhecido como Memorial da Balaiada, situado no Morro do Alecrim, motivo de orgulho para os moradores da velha e altaneira Princesa do Sertão, mas que na verdade é motivo de orgulho nacional, em razão da importância que esse sítio histórico representa não apenas para a cidade, mas para o Brasil. A “obra” em questão seria a construção de um mirante, com um santuário que contaria com a inserção da estátua monumental de uma santa. Santa insensatez! Na verdade, não importa que seja a imagem de uma santa. Qualquer outra imagem desproporcional ali instalada e que não se relacione com a história do lugar seria uma incoerência. Caxias, uma das maiores cidades do Maranhão, berço de Gonçalves Dias e de grandes outros nomes da intelectualidade timbira, tais como Coelho Neto, Vespasiano Ramos e Déo Silva, foi palco da Balaiada, a maior revolta acontecida na história do Maranhão (1838/1841), sendo que a batalha final aconteceu no Morro do Alecrim, ponto mais elevado dessa importante cidade maranhense. Pesquisas arqueológicas feitas no local a partir de 1997, lideradas pelo arqueólogo Deusdédit Leite Filho, diretor do Centro de Pesquisa e História Natural do Maranhão, revelaram rico material arqueológico, que hoje integram o acervo do Memorial da Balaiada (350 peças de artefatos, tais como balas de chumbo, gargalheiras, ossos humanos, botões e fivelas dos militares e demais integrantes que participaram da revolta, restos de armamentos, esculturas de argila dos líderes da Balaiada, dentre outros objetos). O memorial foi inaugurado em 2004, e hoje é considerado o maior museu de Caxias, recebendo milhares de visitantes, anualmente. Restaurado em 2014, o museu se localiza no antigo Quartel de Polícia, que abrigou, no passado, as tropas do português Fidié (que resistiu à Independência do Brasil) e do próprio Duque de Caxias, que debelou a Balaiada. Dessa forma, o Morro do Alecrim, na sua totalidade, é considerado um sítio arqueológico de valor inestimável para a história, tanto de Caxias quanto do Maranhão e do Brasil. Existem legislações internacionais, federais, estaduais e municipais que tratam da questão patrimonial. Preocupados com a destruição do patrimônio histórico das cidades, arquitetos, museólogos, historiadores, dentre outros, reuniram-se em Atenas, Grécia, em outubro de 1931, e desse encontro saiu o primeiro grande documento internacional referente à defesa do patrimônio histórico, que ficou conhecido como Carta de Atenas, publicado em novembro daquele ano como resultado do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - CIAM. No item dedicado ao patrimônio histórico das cidades, lê-se: “os valores arquitetônicos devem ser salvaguardados (edifícios isolados ou conjuntos urbanos). A vida de uma cidade é um acontecimento contínuo, que se manifesta ao longo dos séculos por obras materiais, traçados ou construções que lhe conferem sua personalidade própria e dos quais emana pouco a pouco a sua alma...Eles fazem parte do patrimônio humano, e aqueles que os detém ou são encarregados de sua proteção, têm a responsabilidade e a obrigação de fazer tudo o que é lícito para transmitir intacta para os séculos futuros essa nobre herança”. Quem são os responsáveis pela salvaguarda do patrimônio caxiense? A prefeitura local, a Câmara dos Vereadores, os intelectuais, através da Academia Caxiense de Letras, a comunidade de Caxias, o povo maranhense, o povo brasileiro, pois o Morro do Alecrim deve ser interpretado como patrimônio nacional e deve ser respeitado como tal.


Boa parte da intelectualidade caxiense, hoje representada por nomes como Renato Meneses, Wybson Carvalho, Edmilson Sanches, Carvalho Júnior, Silvana Meneses e tantos outros, certamente alertaram os gestores com relação ao despropósito da “obra”. Com o título de “Caxias e a ameaça de descaracterização do Morro do Alecrim”, o poeta Jorge Bastiani, membro da Academia Caxiense de Letras - ACL, corajosamente se pronunciou a respeito: “A construção em andamento de um santuário sobre as ruínas das guerras da Balaiada e da Independência tem gerado um problema. De um lado tem-se a Prefeitura que diz que a referida obra é da igreja, de sua parte a igreja diz que o terreno é da Prefeitura e que não investe nada na obra. Placas publicitárias, assinadas pela Prefeitura estão expostas no local onde querem erguer o monumento. Faltam debates sobre a cidade, sobre o patrimônio, que não é somente o Morro do Alecrim. Mas a quem cabe esse chamamento está calada: a Câmara Municipal de Caxias. Não pode alguém, ou entidade, simplesmente resolver e decidir que vai ou não fazer algo no território caxiense. É preciso construir e fomentar o desenvolvimento, mas sempre preservando a nossa história, que é o nosso alicerce”. A Promotoria de Justiça da Comarca de Caxias solicitou à Prefeitura local um laudo sobre o patrimônio arqueológico do Morro do Alecrim, missão que foi desempenhada pelo arqueólogo Deusdédit Leite Filho. O laudo que foi concluído no último dia 6 de setembro. “Em vistoria realizada no local no dia 31 de agosto de 2017, constatamos que o canteiro de obras se encontra instalado, com os serviços preliminares já em execução, obras de aterramento, construção de alvenaria correspondente aos quiosques laterais, baldrames e escavações para implantação das instalações hidro sanitárias”, informa o arqueólogo. Importante lembrar que, na verdade, o Morro do Alecrim e seu entorno estão sob Tombamento Estadual, sob a tutela do Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico do Maranhão DPHAP / MA, da Superintendência do Patrimônio Cultural – SPC, da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo - SECTUR. “A ‘obra’ foi iniciada de forma arbitrária, sem autorização, sem parecer técnico, de tal forma que enviamos a Caxias, no último dia 22 de setembro, a técnica Amanda Cruz, diretora do DPHAP/ MA, que fez uma vistoria no local e entrou em contato com autoridades, informa o Superintendente do Patrimônio Cultural - SPC, Luís Eduardo Longhi. Na verdade, informou Amanda Cruz, foi feita uma negociação verbal na qual a Prefeitura se comprometeu em reparar o erro e enviar um relatório para o DPHAP / MA. Uma fonte da Academia Caxiense de Letras, que integra a Associação dos Amigos do Patrimônio de Caxias, informa, contudo, que “houve, na verdade, um embargo da obra, por conta das irregularidades, que configuram crime patrimonial, e a Prefeitura, para não se prejudicar politicamente, mandou até retirar a placa na qual fazia a propaganda do mirante e do santuário antes da visita técnica da chefe do DPHAP / MA”. O patrimônio histórico de Caxias é um lugar de memória, pleno de significados para aqueles que vivenciam a cidade e para todos que se identificam com a mesma, de tal forma que não se pode tolerar ações lesivas a esse patrimônio. Segundo a assessoria jurídica do DPHAP / MA, mesmo após ações de notificação e embargo, proprietários de prédios, gestores e diretores de instituições ainda não compreendem que o desrespeito a estas normas significa crime contra o patrimônio. Como recomenda a Carta de Veneza, que ampliou as regulamentações da Carta de Atenas, “a conservação do monumento implica a de sua área envoltória; quando o quadro tradicional subsiste, ele deve ser conservado, sendo proscritas as construções, demolições ou reformas que alterem suas relações de volume e colorido”, determinação que se encaixa perfeitamente no caso do Morro do Alecrim. Cabe aos gestores trabalhar em observância às leis, em vez de ficar tentando inventar a pólvora. Por exemplo, em vez de investir dinheiro numa obra absurda, que tal reformar o Centro de Cultura, antiga fábrica de Caxias, que está, literalmente, em petição de miséria? Ou então recuperar o calçamento antigo da cidade, sepultado por um asfalto que aumenta o calor infernal da cidade? Que bons ventos soprem na direção da Princesa do Sertão, iluminando os gestores para que realizem obras de preservação do patrimônio e da memória, e que não promovam sua deformação, sob pena do veredicto negativo da posteridade.



POESIAS & POETAS


VIRIATO GASPAR

COM FIDÊNCIA Vou te contar, enfim, o meu segredo: Melhor arfar o mar, que arder no medo. Quem teme naufragar morre é no seco.

FAROL FECHADO (em lembrança de meu pai, Clóvis Gaspar) Um velho me gritava Da janela Pra eu tomar cuidado Ao atravessar a rua, Tomar cuidado Ao atravessar a vida, Não tropeçar no mundo E seus açougues. A rua escura E suja Fede a tempo passado E solidão. Atravesso a rua, Com cuidado. A casa ainda está lá. O velho, não.


A BABUGEM (Em memória de Rosemary Rêgo) Ela trouxe um poema, Um quase-nada, Um farrapo de azul, Um sabugo de Deus Nas unhas curtas. Passou tão rápido; Um súbito pássaro Aceso em nosso espanto, Ou talvez nem isso, Apenas o seu susto, Seu clarão. E quando olhamos, Já tinha (s)ido, nem foi, Virou só vento. Largou-nos um dedal, Um naco, um trisco, Uma lágrima Lambuzada de sol e poesia.

Viriato Gaspar 24/08/2017


RICARDO LEÃO FARENHEIT 451 Os censores sensíveis Estão escandalizados, Com as obras e seus crimes E todos os seus vocábulos. Com seus juízos infalíveis, Dizem-nos, em atos falhos, Que os livros mais sublimes São todos velhos e falsos. E, de forma indiscutível, Devemos todos queimá-los A fim de que nossos filhos Não leiam tais alfarrábios. Na poeira das perdizes Já seguimos surdos passos, Ao som de versos incríveis Que não lemos nos decálogos. E são muitos os juízes Que nos proíbem, aos sábados, De comermos fartos bifes Com livros ao molho tártaro. E juram que somos livres Para ler todo o catálogo, Embora, em meio às elipses, Só há normas e obstáculos. Porque os livros só denigrem O que dizem os oráculos, Segundo tudo o que existe À luz de todo o vernáculo. Então urge que, aos chiliques, Fechemos, a curto prazo, As bibliotecas que oprimem Os censores mais irados. Só os sensíveis mais tristes São capazes, sem embargo, De julgar em que consiste Um delito ou um clássico.


Afora isso, tudo é chiste, A ser logo censurado Pelo mais duro regime Dos leitores mais lunáticos. Os censores só nos dizem, De um modo muito prático, Que devemos ser felizes Com os livros mais exatos. “Aqueles que só transmitem Os conteúdos mais didáticos, E não as verdades cínicas Que nos dizem os anárquicos”. Das muitas apendicites Aos mais doutos gramáticos, A liberdade é a crendice Dos acordos ortográficos. Os censores, das marquises, Apontam, em tom fleumático, Que, do fundo dos esquifes, Os finais são sempre trágicos. Que os livros mais insignes Evitam assuntos grávidos De tudo que polemize As certezas dos incautos. Os censores, das matrizes, Agora são os raros árbitros De tudo aquilo que vive Sob o silêncio dos diálogos. Resta-nos o que nos disse O nosso último orgasmo, Antes que os censores fixem Que todo poema é um plágio. Ricardo Leão, 2017


TAÇA DE ABSINTO A chama verde e tísica da vida, E das palavras jamais olvidadas, Agora sangra das águas vívidas E das vozes outrora silenciadas. E dos versos e coisas nunca ditas Ouço agora as ágoras tresnoitadas De lágrimas e milagres de sílica, De faunos e centauros em malta. Do fundo das ânsias mais primitivas Vem o fio bem agudo das espadas De antigas deusas agora já extintas. Em torno do caos, o nada gravita, Bem logo após outro conto de fadas De ninfas nuas e de noites infindas. Ricardo Leão, 2017


CARPE DIEM Você que se acha, meu chapa, na crista da onda, que acredita que tudo que você faz e diz está na moda, que teus pensamentos e palavras são a vanguarda, que acredita que os teus valores são os mais avançados, que tuas crenças e opiniões são as únicas que valem de fato, que teus discursos e críticas devem ser seguidos e adotados... Você que acha que tua visão distorcida sobre tudo e todos é a verdadeira, a mais correta e inconteste. Você que acha que conseguirá impor tua visão de mundo a todo o mundo e a qualquer custo. Você que acha que apenas você está correto. Você que acha que a tradição é melhor que a mudança. Você que odeia mudanças. Você que odeia tudo que você não aprova. Você que não quer diálogo. Você que apenas vocifera e grita. Você que mede tudo pelas tuas medidas. Você vai morrer, meu chapa. É só uma questão de tempo. Consulta o relógio, agora. O teu tempo está esgotando. Dia após dia. Ano após ano. Você vai morrer. E com tua morte, os teus valores, a tua política, a tua visão de mundo, tuas crenças, a tua tradição (ah, sobretudo a tua tradição, a tua preciosa e estimada tradição), os teus hábitos, o teu ódio, a tua intolerância, o teu fundamentalismo e preconceito, e, finalmente, o teu corpo. Tudo morrerá. Você vai morrer, meu chapa. Pode acreditar. Nem os teus herdeiros e descendentes te seguirão ou te ouvirão. E os que virão farão picadinho de tudo, absolutamente tudo em que você acreditou. Porque é o que a natureza e a sociedade sempre fazem com tudo aquilo em que você acredita, com tudo que já foi e não é mais. Você vai morrer. E o mundo finalmente vai estar livre de você, assim como estará livre de mim, estará livre de nós, de todos os que vivem agora. O mundo poderá, finalmente, esquecer a minha e a tua existência. Porque a ordem da vida é mudar sempre. Não há nada eterno, fixo, imutável, permanente. Tudo muda, meu chapa. É o que ordena o cosmos. Está fixado em lei indelével, muito antes de Heráclito. Tudo muda, sempre muda. Nem que para isso a minha e a tua morte seja a única alternativa possível. Não adianta berrar, tampouco fazer algo. Pode teimar, insistir, re-sistir, amar, beijar, gozar, dormir. Tentar fazer qualquer coisa. É inútil. Não adianta. Para o bem do mundo e da humanidade, morreremos. Você vai morrer. Eu vou morrer. E as gerações que ainda virão, sem qualquer culpa ou remorso, festejarão, com a alegria e o êxtase de viver que talvez um dia tivéssemos, a minha, a tua morte. Ricardo Leão, 2017


SONETOS DO ABSURDO a Francisco Carvalho, in memoriam I O eterno muge Atrás das rótulas Com o azedume De tantas cópulas. O eterno alude Às vãs apostas De nomes rudes Por trás das obras. Alcanço os cumes Da infância morta Entre os curtumes Às nossas costas. O eterno estruge E, ao fim, espoca. II Ao som do sábado A chuva canta Nos meus sapatos Coisas estranhas. O sonho tártaro De almas infantas São como adágios De verso e samba. Por sobre os prados Que a noite alcança Há gozos diáfanos. Sombras satânicas Compõem o diálogo. E a morte dança. III O tempo é a ossatura do abandono A roer os cascos gastos dos centauros. Ao fim do eterno existe um pombo Que atravessa, sonolento, o vácuo.


Os deuses coaxam entre os gnomos Com as dentaduras dos minotauros. Ao fim de tudo, talvez sobre um pomo Do mito que criei, surdo e fleumático. O eterno não dura mais que um sonho. Não mais que o sono de elfos e de faunos Que deixam suas pegadas pelo asfalto. Que adianta botar a alma onde não ponho, Se, ao cabo de um verso, o poema é trágico, E a vida é só uma ilusão de cânhamo? IV A eternidade é o tempo que me esgota O silêncio de noites enluaradas. E o tempo é a chave que abre as portas Sob as pontes que sobem as escadas. O tempo é o silêncio de crianças mortas, A carne tenra que atravessa espadas. A fome que nutre o azul em compotas, O fim de esperanças carbonizadas. O tempo são os cavalos pelas aortas Dos instantes que acabam em camadas De lentas frustrações, longas derrotas. Do tempo extraio estas formas esquálidas Com que componho os ritos e as rotas E os versos que rasgo pelas estradas. V As sombras que evaporam dos cigarros São escaravelhos do antigo Egito, Perdidos na distância dos sapatos E dos amuletos de extintos mitos. Os logaritmos dos malditos ábacos Somam a hipotenusa do infinito Com os dedos que contamos os dados E as insígnias dos signos do zodíaco. Talvez entre os espectros em colapso E as palavras mais puras de uma tribo O eterno é apenas a morte a prazo.


Ou quem sabe o intervalo de um tiro. Talvez seja apenas um fogo-fátuo. Um cisco nos olhos. Ou talvez, nem isso. VI O soneto que escrevo é bem antigo Como as torres de estranhas catedrais. À sombra dos álamos deito lívido, À luz dos incensos e dos vitrais. Bebo agora, aos soluços, todo o líquido Dos vinhos carcomidos pela paz, Ao fim de um suspiro exótico e tímido Do corvo que há sobre meus umbrais. À sombra do silêncio desmaio rígido Entre os silos de safras outonais Que semeio em um campo de desígnios. Os burgueses que comem ananás São os mesmos que encontro nos asilos De onde não ressuscitam nunca mais. VII Pelas pupilas do assombro e do fogo Os monumentos seguem devastados Entre os signos do efêmero sem gozo E os algodões do sono deste sábado. As princesas se misturam ao povo Às portas dos castelos incendiados Quando abrimos a sala do tesouro Aos deuses que matamos afogados. Ao longe, escuto o clarim glorioso De exércitos de rapsodos e bardos De uma terra de homens, elfos e ogros. A morte me acena com seus pecados Ao fim de um dia em que sou o oposto Do arcano dos mistérios desvelados. VIII Quando vi a morte pelas rosas rubras Dos velhos mecanismos assassinos, Caí em desespero por sobre as curvas Das fêmeas que amei desde menino.


Aos poucos pareceu-me até abstrusa A forma como as despi de seus brincos, Quando, por entre as névoas e as brumas, Não há mais nada e nada mais distingo. Apenas ouço o cântico dos sutras Que escuto em meio ao ranger dos sinos Ao fim do êxtase de lendários budas. São como a chuva, que cai de fininho, Entre os beirais, bem acima das turbas, E os mitos de outubro e do domingo. IX Na lavoura dos seios arquejantes Colho as amoras de auréolas silvestres Dos mamilos rígidos dos romances Que beijo com os anseios mais rupestres. Então ceifarei o gozo das bacantes Com as mãos ainda sujas dos ciprestes Onde gravei um nome, a tinta e sangue, Deste amor, sob o luar, rudo e agreste. E então nada mais será como antes Após o longo inverno das estepes E a insônia milenar dos infantes. Talvez sobre um soluço entre os vermes E novamente amarei o peito arfante Onde a minha alma ainda freme. E ferve. X Eu celebro o banquete dos famintos Sobre as curvas cálidas de alvas ancas Com o desespero dos platelmintos Que devoraram a última esperança. Há eras, pelas arcadas dos domingos, Sorvo a seiva dos beijos das sultanas. Nos prazeres de ácidos tamarindos Bebo o sumo amargo das toranjas. Mas a mulher que adoro quase rindo Tem na nudez um gosto de pitangas E um sabor de ópio e leite nos mamilos. Há anos que apascento as suas tranças Com o gozo que extraio dos seios lívidos E vai corando as duas coxas brancas.


SONETOS A EROS A Salgado Maranhão, Viriato Gaspar e Filinto Silva I As duas luas que vejo naqueles seios Por estas mãos agora circundadas São dois alfanjes rasgando o desejo Com que bebo o absinto desta taça. Talvez seja tarde ou talvez bem cedo Enquanto sorvo as palavras lácteas Ao redor dos mamilos que não beijo Com a sede infinita das galáxias. Enquanto contemplo o luar ainda cheio O vento sopra sobre as curvas cálidas Onde respiro sons e escuto cheiros. Com o êxtase milenar das borrascas Aos poucos me perco nos vastos reinos De um corpo que arpejo e me embriaga. II As amoras que mastigo em meus lábios Vão caindo sobre a seda de duas coxas De onde extraio silvos, cânticos e adágios, Ao som de suspiros e vozes roucas. E dos pêssegos macios sob os álamos Brota o frêmito e o cio das lobas Que, sob a lua cheia, uivam em desvairo Se os dentes cravo na tenra polpa. E assim mordo as flores sobre os prados Entre os brasões de infantarias loucas, Ouvindo o silêncio e o voo dos pássaros. Mas, bêbados de cânhamo e papoulas, Colhemos das ancas prazeres diáfanos, Safras de beijos de invisíveis bocas. III Os glúteos rotundos da negra moça São dois pomos de ébano reluzente, Dois trêmulos seios que só ela balouça Com a graça das plumas e serpentes.


Um deus antigo logo se alvoroça Com os meneios vívidos e ardentes Das nádegas que dançam sob as roupas E apascentam desejos em suspense. Alguém talvez dirá uma cousa boba, Ou talvez até mesmo algo que ofende, Enquanto o cosmos contempla-a da alcova. Decerto a moça passa e nem pressente Que os deuses ínvidos abrem a boca E gozam, aos soluços, de repente. IV A galáxia que eu vi nos olhos glaucos Tem a emanação de mirras e incensos, De aromas de amoras e amores ávidos Que aportam nestes braços sonolentos. Através do eterno sou todo orgasmo E no corpo da amada estou sedento Com o gozo violento de mil faunos Em oceanos de êxtases concêntricos. Encontro o labirinto dos centauros Sobre a nudez da mulher que alimento Com o pão milenar dos minotauros. Pelos hipocampos do amor imenso Ouço o marulho de ondas e sargaços E o ruído do desejo de outros tempos. V Pelo oceano das curvas misteriosas Vou cruzando teu corpo de escultura. E das rosáceas dos seios, luminosas, O eterno é uma espera que não dura. As duas mãos que despetalam as rosas Celebram as carícias dissolutas Do amor lambuzado de uvas e amoras Nas crinas do silêncio e da angústia. Meus lábios sorvem o suor das costas Com o licor das nêsperas maduras Sobre as nádegas imensas da aurora.


Nas adegas do profano ergo as blusas Dos amores que gozei em verso e prosa No intervalo de estranhas garatujas. VI O verão reluzente das praias mornas Entre as altas colunas dos mamilos Começou pelas colinas da aurora Quando tudo é silêncio ou só gemido. Nem sempre o líquido do gozo jorra Do torpor eloquente dos sentidos Assim que o amor, de repente, glosa Outro verso que fiz entre rabiscos. Só sei que a amada aos brados goza Com os lábios molhados da libido Sobre um leito de pétalas de rosa. Mas nos calhaus do amor louco e fingido Encontro, sob os lençóis, novas formas De amar outra vez por entre os livros. VII As luas carcomidas por estes sóis Outra vez sobre o corpo adolescente Da mulher que amei, sob os lençóis, Arderam entre as chamas do poente. E novamente escuto aquela voz E um canto elegíaco entre os dentes Ao chegar, úmido e exausto, à foz Dos rios do gozo. E novamente. Qualquer um que visse o que vi após Diria, talvez surpreso, de repente, Que o amor é uma história bem atroz. Mas, após um segundo de suspense, O escorpião do desejo que há em nós Lambe o suor que havia sobre o ventre. VIII Quando singro as águas mar adentro De volta ao país do sonho fecundado, Logo estou cercado de pensamentos Nas costas do desejo, onde atraco.


Por vezes até esqueço o que relembro Enquanto leio os signos dos astrolábios, Mas logo avisto as ilhas de onde venho E as enseadas do prazer e do orgasmo. As algas dos cabelos sob os ventos Ondulam nas praias côncavas do olfato Onde mergulho sem jeito e sem tempo. Mas de lá regresso, mudo e afogado, Com os sentidos exaustos e trêmulos E o sabor de ninfas nos meus lábios. IX Na concha de teu púbis há labirintos Quase ao redor dos montes silenciosos Onde habitam os deuses do Olimpo E os mitos do Tejo e de Cnossos. E dos seios mais belos e mais divinos Jorra o néctar dos prazeres lactosos Que lambuza os amantes metafísicos Com a seiva dos sêmens mais gozosos. E assim me perco entre os jacintos Enquanto os vivos sacodem os ossos Sobre o leito onde gozamos aflitos. A morte ri dos amantes jocosos E acorda os gnomos de nossos risos Em um jardim de êxtases caudalosos. X A deusa que caminhou nestes prados Com a nudez de um corpo de violino, Chegou em silêncio, cobrindo os rastros, Tangendo os centauros de sua libido. Aos poucos os deuses, maravilhados Com aquele espetáculo atrevido, Caíram aos seus pés, lúbricos e pasmos, E chuparam o néctar dos mamilos. Os faunos vieram de todos os lados Enquanto as mortais prendiam os maridos Que gemiam pelos campos, extasiados.


A deusa então voou acima dos mitos E plantou dentro dos homens mais ávidos O êxtase de seu amor, como um castigo. Ricardo Leão, 2017


RAIMUNDO FONTENELE SONETO A TRÊS Todo desejo a três é uma poética. Uma língua de mel que a abelha sorve. Um rapaz bem dotado é poesia, Os três entre os lençóis, o esperma doce. Um seio róseo, ó brancura da nádega! De que são feitas tuas pernas longas? Teus vermelhos lábios? Tua costa macia? Pelos, esboços, vulva e axilas? Os três são mais que três, menos que um. Ela se deita, toda aberta, nua. Um a boca bebe, o outro o ânus suga. Aqui nós somos dois: Thanatos, Eros. Em guerra sobre a cama digladiam-se eles-nós; abertos, possuídos e chupados. ODE A W. BLAKE bom é viver o Céu e o Inferno assim não me perco nem me salvo nestas cidades com seus vestígios de vermes cidade: pântano de serpentes ancorado em alguma ilha faísca verde, sentidos o vômito, a fala o Vento: causador de domas na alma primeiro eu e meus inimigos Vencidos, toldo “Abre-te, Paraíso!” com o pênis exangue escrevo sob a chama de maravilhosa lâmpada por que o Bem? por que o Mal? Deus, uma escada que a gente salta Deus, uma pestana do infinito eu sou apenas o olho que vê e vê tudo


VIRIATO CORREIA A RESSURGIR JUCEY SANTANA http://juceysantana.blogspot.com.br/2017/04/viriato-correia-ressurgir.html

É com satisfação que os membros da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes receberam a notícia da indicação do nome do ilustre itapecuruense Viriato Correa, patrono da cadeira 26 da instituição, representada por Raimundo da Cruz Soares (Raí), para o patronato da Biblioteca da UEMA, campus de Itapecuru Mirim. Além de Viriato foram indicados mais dois nomes para o pleito, Antonio Henriques Leal (escritor e biógrafo) José Cândido de Morais e Silva (jornalista e mártir da setembrada), todos patronos da AICLA e merecedores. Nada mais justos do que resgatar um dos maiores nomes da literatura maranhense que se encontrava esquecido. Eleição merecida. Patrono da Academia Ludovicense de Letras Está entre os principais objetivos das instituições literárias consta o resgate da nossa história e da nossa literatura. Diante deste critério a ALL, escolheu para patronear a cadeira número 24 o escritor Viriato Correa. O primeiro membro a ter assento na cadeira, eleito em dezembro passado, será o intelectual Felipe Costa Camarão, com posse marcada para o dia 28 do corrente no auditório da Fundação da Memória Republicana ocasião que fará o elogio ao seu patrono. Regozijamo-nos com esse importante resgate. A biblioteca da AICLA detém livros raros do autor como: Chica da Silva e outras histórias editado em 1955 – São Paulo e Baú Velho, roupas antigas da História Brasileira – 1941 Rio de Janeiro. À disposição de estudantes, professores e pesquisadores. VIRIATO CORREA Manuel Viriato Correia Baima Filho, nasceu em Pirapemas, distrito de Itapecuru Mirim em 23 de janeiro de 1884. Filho de Manuel Viriato Correia Baima e de Raimunda Silva Baima. Foi jornalista, contista, romancista, teatrólogo e autor de crônicas históricas e livros infanto-juvenis. Começou a escrever aos 16 anos os seus primeiros contos e poesias. Iniciou o curso de Direito no Recife, depois se mudou para o Rio de Janeiro com o objetivo de concluir o curso. Na capital da República juntouse à geração boêmia de intelectuais do inicio do século XX. Em 1903 lançou no Maranhão o seu primeiro livro de contos, Minaretes, uma coleção de poemas sertanejos.


Iniciou sua carreira jornalista, como redator na Gazeta de Notícias, a qual se estendeu por muitos anos e em outros jornais como: Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Folha do Dia, além de ter sido fundador do Fafazinho e de A Rua. Colaborou também em O Careta, Ilustração Brasileira, Cosmos, A Noite Ilustrada, Para Todos, O Malho e o Tico-Tico. Muitos dos seus contos e crônicas foram divulgados pela primeira vez em periódicos do Rio de Janeiro. Produção Literária e Teatral Além de poeta, com narrativa histórica, obteve muito sucesso, escrevendo historietas e crônicas, com abrangência a todas as faixas etárias. Escreveu mais de uma dezena de títulos, como: Histórias da nossa história (1921), Brasil dos meus avós (1927) e Alcovas da História (1934). Ao público infantil, recorreu à figura do bondoso ancião com a garotada em sua chácara para ensinamentos escolares. As sugestivas "lições do vovô" encontram-se em livros como História do Brasil para crianças (1934) e As belas histórias da História do Brasil (1948). Deixou obras de ficção infantil, entre elas o romance Cazuza, (1938), em que descreve cenas de sua meninice utilizando uma linguagem ágil e adequada à compreensão infantil, com suas experiências escolares e os costumes; é considerado um dos maiores clássicos da literatura infantil. O meio teatral, onde foi crítico de jornal e mais tarde, professor de história do teatro, propiciou a Viriato Correia amplo domínio das técnicas dramáticas, transformando-o num dos mais festejados e fecundos autores teatrais em sua época. Escreveu quase 30 peças, entre dramas e comédias, que focalizam ambientes sertanejos e urbanos. Foi eleito deputado estadual no Maranhão, em 1911, e deputado federal em 1927. Esteve preso durante a Revolução de 1930 e quando liberto afastou-se da política, e dedicou-se integralmente à literatura e ao teatro. Outras obras: Chica da Silva e Outras Histórias (1920); Novelas Doidas (1921); Os Meus Bichinhos (1931); Gaveta de Sapateiro (1932); O Gato Comeu (1943); Baú Velho, Roupas Antigas da História Brasileira (19941); A Bandeira das Esmeraldas (1945); O Grande Amor de Gonçalves Dias (1959); Varinha de Condão; Brasil dos Meus Avós; Terra da Santa Cruz; Era uma Vez; Minaretes (contos); Zuzú (comédia); .Nossa Gente (comédia); Contos do Sertão; Contos da História do Brasil; Histórias Ásperas; A Arca de Noé; Bichos que Falam; Apólogos Cruéis e A Coluna Prestes Através do Brasil. Viriato Corrêa foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Maranhense de Letras e patrono da Academia Itapecuruense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras. Faleceu a 10 de abril de 1967.


AYMORÉ ALVIM.

NA ESTRADA DA VIDA.

O meu amor Perdeu-se, Na imensidão etérea, Por um imenso tempo Em busca de quimeras Num espaço diáfano, irreal. Errando qual um nômade Sem destino, Qual viajor Perdido em seu caminho, Eu vou andando e, Aos poucos, Pressentindo Haver chegado a tudo isto Um fim. Qual uma flor Que num jardim floresce, Um novo amor, Desabrochando, cresce, Reflorescendo A minha vida, enfim. E, assim, caminho, Fazendo a minha estrada, Com os meus sonhos, Lembranças, Sem mais nada Mas tendo tudo Por te levar em mim.


A VIDA E AS ESTAÇÕES

Na nossa vida, há tantos desenganos, Parece muito com o meio onde vivemos. Evoluem tal qual nela prevemos As quatro estações em cada ano. A primavera é o renascer das alegrias. Tudo é lindo, fascinante e multicor. Talvez a época melhor em nossa vida Se bem vivida com desvelo e muito amor. Chega o verão e com ele as mudanças, Com os hormônios modulando a adolescência; Nos conduzindo até a maturidade E, no percurso, cultivando experiências. Mas ao chegarmos aos campos do outono, Tudo é cinzento, tranqüilo, diferente; Porém, mais livres nós ficamos, de repente, Pra refletirmos o caminho percorrido. Com inverno o fim já se aproxima. E outras oportunidades, nunca mais. - Então que fiz? - Pergunta ao teu passado; Arrepender-se, agora, tanto faz.


E, ASSIM, CAMINHAMOS...

Mudam os tempos, Na linha do tempo E com eles também Civilizações. Mudam as culturas Ao longo dos tempos E novas culturas, Então, surgirão. A moral vai mudando Ao longo dos tempos Dos tempos que mudam E a fazem mudar. A ética muda Com as gerações Que vão assumindo Novos padrões. Trafica-se, mata, Corrompe-se, rouba. Ninguém mais respeita Qualquer cidadão. Crianças e velhos Abandonados São subprodutos Da triste exclusão. E, assim, caminhamos, Ao longo dos tempos Dos tempos que mudam E nos fazem mudar. E os nossos valores Também vão mudando Conforme o interesse Que nos força mudar.


VICENTE ALENCAR CANTO DE AMOR Desnudo minha alma quando estou contigo. E amo, penso, vibro, descubro raízes brigo com meus valores, caminho firme dentro da vida, pois teus conceitos são janelas por onde passo a enxergar pormenores. São momentos de atenção, onder ao sabor do movimento e do calor dos corpos, sei que vivo. sou um homem aberto aos teus encantos, aos teus olhares e ao teu amor. Encontro-me contigo, e, comigo mesmo, quando estamos juntos. Juntos, em corpo, pois, juntos, estaremos sempre todo o tempo o tempo todo, mesmo separados. Teu sorriso é meu sorriso, tua dor é a minha dor, pois divido nossas emoções.


EXISTÊNCIA Existem poemas no céu como existem estrelas na terra como existem corações em brasas como olhos que não enxugam às lágrimas. Existem pessoas queridas Existem pessoas amadas Existem pessoas que apenas existem. Existem mãos que acalentam Existem mãos que clamam Existem mãos que afagam Como existem mãos que matam. Existe beleza nas palavras, Existe rubor nas faces, Existe um homem que chora. Existe uma mulher arrependida Existe uma história de amor Existe um movimento que não tem fim quando se vive o infinito do coração. Existe uma espera, e, Existe um dia, um mais curto, um mais longo. Assim como existe o amor e ama-se longamente até o fim. E mesmo sem ter fim. Amar é apenas amar. Existe.


MARCO DUAILIBE Sereia " Volta para casa’::

Havia uma moça e uma história. Mas foi proibida de cantar nas noites de luar Onde morava a memória. E na terra da encantaria, A lenda perdeu sua poesia. A sereia foi condenada a santa inquisição Porque a arte blasfema contra aquela religião. E no lugar do corpo da mulher encantada Colocaram uma coisa que não diz nada com nada E o que nasceu para ser lagoa onde a mãe d'água se penteia Perdeu a dona da praça A cunhã cheia de graça Dessa cidade sereia.


MARCELLO CHALVINSKI

Você, que agora passeia na minha cabeça com seu corpo suave, não esqueça que deixou no meu peito uma ausência & que essa ausência se chama saudade. Você, que hoje mora na minha vontade, como na memória, uma música que encanta, não esqueça que agora, na minha lembrança, seu beijo é um desejo que dança. Você, que habita & se faz senhora do meu pensamento como quem namora, a cada momento, a toda hora, o próprio tempo, por favor não esqueça: meu coração está em festa. & eu te quero. Apareça.


GRÏZOSTE WEBERSON SEM TÍTULO Dói mi o peito inflamado pel’chama que o destino coisou sem dor nem piedade. Dói grunhindo mia’alma, cegado o mundo não vê! Pel’ flamejo dum olhar cerrado Fantasma infernal dos céus! Assombras de boca açaimada, i só quisera, par Deus, ter sido contigo de vez flamejo frisado. Não mi sai da triste memória ter negado mi o fado inimigo aquel’ beijo rebento dos céus. Ali doeu mi o peito inflamado cegado o mundo não viu! Como se fora teu riso tredo degredo qui Deus me legara tilintou mia lira já desgraçada mais um risco da pena asilada. Fantasma que mais te não fiz!? (o título ainda não sei)


TERESINKA PEREIRA DIA DO ESCRITOR NO BRASIL 25 DE JULHO, 2017 O escritor faz striptease de pensamentos oferecendo aos leitores sua opção de vida intelectual. Os leitores, importantes personagens na vida dos escritores, analisan e aceitam ou rejeitam as idéias e de uma maneira ou de outra dão vida às escrituras. É uma mentira diplomática quando se diz que o escritor escreve para si mesmo. STRESS O jardim sem flores, a lua rubra, os olhos espantados com o vazio do mundo. A estátua da Liberdade amortalhada na foto. Minha cabeça retalhada tentando renunciar o que foi vivido.

STRESS No flowers in the garden, red moon, eyes looking at the empty world. The statue of Liberty shrouded in the photo... My mind is scattered trying to renounce what was lived.


OS ACORDES DA PALAVRA EM SALGADO MARANHÃO RICARDO LEÃO poeta e ensaísta http://orugidodoleo.blogspot.com.br/2017/07/os-acordes-da-palavra-em-salgado.html?spref=fb

A poesia de Salgado Maranhão ocupa, indubitavelmente, um lugar de absoluto destaque no concerto da poesia maranhense contemporânea. Além disso, a própria trajetória existencial deste poeta, oriundo do interior de Caxias, de uma comunidade remanescente de quilombolas, é um caso extraordinário, tal como seu indiscutível talento para a palavra, pois nem o fato de ter sido alfabetizado apenas aos 15 anos de idade o impediu de um encontro marcado e inelutável com a literatura e, sobretudo, com a poesia. Dir-se-ia que Salgado Maranhão, que testemunha na pele e nas origens as profundas e graves injustiças e desigualdades da sociedade brasileira, é uma espécie de predestinado, desses que são assinalados com uma estrela, um sol particular, um signo cuja voz o convoca, dos apriscos mais humildes da terra e do silêncio mais profundo de seu ser, a ser uma das vozes altissonantes da tribo. E, com isso, levantar adiante a tarefa árdua, mas gratificante, de realizar a missão enunciada por Mallarmé e “donner un sens plus pur aux mots de la tribu”. [1] E, literalmente saído da tribo de sua aldeia original, Salgado Maranhão construiu com esforço lídimo e consciente o seu caminho ímpar e pessoal em direção à consagração meritória e indiscutível de um genuíno artista do verso e da palavra, hoje reconhecido como uma das vozes mais potentes de sua geração de poetas conterrâneos, com qual não conviveu após migrar. Salgado Maranhão, nascido José Salgado Santos, nasceu no pequeno povoado Cana Brava das Moças, interior do município de Caxias, cidade que, entre outros nomes, gerou para os quadros do sistema literário maranhense poetas e escritores como Gonçalves Dias, Coelho Neto, Déo Silva, entre muitos outros. Contudo, iniciou a sua formação e trajetória literária na cidade de Teresina, capital do Piauí, a pouca distância de Caxias, em função de ser um centro urbano mais desenvolvido e próspero. Daí, seguiu em 1973 para o Rio de Janeiro, tendo cursado Comunicação Social na capital carioca, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e Letras na Universidade Santa Úrsula, este último inconcluso. Paralelo à atividade de poeta, compositor e letrista, trabalhou como jornalista e consultor cultural. Os primeiros poemas serão publicados na antologia Ebulição da escrivatura (Civilização Brasileira, 1978). Na sequência de sua carreira poética, publicou, até o momento, 11 livros: Punhos da serpente (Achiamé, 1989); Palávora (7Letras, 1995); O beijo da fera (7Letras, 1996); Mural de ventos (José Olympio, 1998); Sol sanguíneo (Imago, 2002); Solo de gaveta (Sescrio.com, 2005); A pelagem da tigra (Booklink, 2009); A cor da palavra (Imago/Fundação Biblioteca Nacional, 2010); O mapa da tribo (7Letras, 2013); Óperas de nãos (7Letras, 2015); e Avessos avulsos (7Letras, 2013). Como se vê, trata-se de um autor prolífico, fecundo e vitorioso, pois, ao longo dessa trajetória singular, ganhou vários prêmios muito importantes, entre os quais se destacam o Jabuti, em 1999, com Mural de ventos, e o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, em 2011, com A cor da palavra. Além disso, tem poemas traduzidos em inglês, italiano, francês, alemão, sueco, hebraico e esperanto. Como compositor e letrista, tem canções e parcerias com os grandes nomes da MPB, entre os quais se destacam Alcione, Elba Ramalho, Domiguinhos, Paulinho da viola, Ivan Lins, Zizi Possi, Ney Matogrosso, Elton Medeiros, Rita Benneditto, Zé Renato, Selma Reis, Rosa Maria, Xangai, Vital Farias, Zé Américo Bastos, Moacyr Luz, Amélia Rabelo, Carlos Pitta, Gereba, Mirabô Dantas, Wagner Guimarães e Naeno. Ou seja, a trajetória de Salgado Maranhão, a despeito de todos os óbices que um menino de origens afro-brasileiras poderia enfrentar, oriundo dos rincões agrestes do interior do Maranhão, é absolutamente exitosa sob todos os aspectos. O que não quer dizer que seja resultado apenas do reconhecimento e do mérito próprio, aliás indiscutíveis na obra e no talento de Salgado, mas fruto de uma labuta e pugna incessante, do trabalho sem descanso de um artista que conhece bem os obstáculos interpostos aos migrantes nordestinos pobres e, sobretudo, aos afro-brasileiros. Contudo, Salgado Maranhão ignorou olimpicamente toda a sorte de barreiras e impedimentos, e projetou-se em uma carreira em que, é necessário frisá-lo e


reconhecê-lo, é resultado do esforço concentrado do talento e da persistência e, portanto, seu reconhecimento e consagração são totalmente devidos e justos, em um país que não é célebre por ser generoso com seus quadros de origens mais humildes e marginalizadas. Salgado Maranhão, no entanto, sobreviveu para além de tudo isso, e impôs a si mesmo como um modelo de êxito, jamais esquecendo suas origens, a cor da pele, que também se transfere para a cor da palavra. É o que podemos atestar em poemas como Negro soul e Tributo a Bob Marley, constantes em Punhos da serpente (1989): sou um negro, orgulhosamente bem-nascido à sombra dos palmares, da grande democracia racial ocidental tropical. sou bem um outdoor de preto com a cara pro luar inflando a percussão do peito feito um anjo feliz. sou mais que um quadro-negro atrás de um giz: um livre livro. e sangue de outras sagas; e brilho de outros breus: quanto mais me matam mais eu sobrevivo. (negro é feito cana no moedor, sofre e tira mel da própria dor.) .... das vielas da Jamaica aos confins da Etiópia, todos ouviram teu som: gritarra enfurecida osso atravessado na goela do ocidente. todos notaram teu vulto arrastando as tranças, arrastando a rasta: um Isaías no deserto anunciando a vinda do Messias. os mil céus de uma canção de amor contra os mísseis da moderna Babilônia, babylouca explosão de dor.


louvado seja o teu clamor estrela solitária, pássaro negro do novo mundo! de tudo que restou de nós fica valendo o teu canto e as milícias do amor em todos os recantos remendando a história: uma chaga que dói mais que a dor. Esses e outros poemas confirmam que Salgado Maranhão não ignorou a relação atávica entre canto e pele, entre cor e identidade, entre a negritude e a literatura, de modo está registrado o testemunho de sua consciência como autor afro-brasileiro, incrustado que está na história do sistema literário de uma sociedade preconceituosa, racista e injusta. Afinal de contas, o próprio Salgado confirma em Sol sanguíneo (2002), em poema homônimo: “Minha terra é minha pele”.

Entretanto, para muito além de ser um dos talentos poéticos afro-brasileiros mais genuínos, profícuos e fecundos, desde talvez Cruz e Sousa, Salgado Maranhão é, sobretudo, um poeta maior, de primeira grandeza, com todos os sinetes e chancelas de tal condição. Notavelmente, soube distinguir-se através de uma trajetória que, desde o primeiro livro, é assinalada por uma constante evolução metafórica e verbal, de modo que é possível constatar, livro por livro, saltos em direção a uma poética que afunila uma concepção de ser e de poesia que demonstra, a cada poema, a força inquestionável de seu talento como artesão da palavra e como poeta. É evidente que sua carreira poética não se iniciou no Rio de Janeiro, conforme referimos linhas atrás, e, portanto, Salgado ainda teve tempo de entrar em contato com a seiva da tradição poética nordestina, sobretudo maranhense e piauiense, estados da federação que compartilham um sistema literário relativamente homogêneo, juntamente com o Pará. Dessa forma, é possível notar, desde os livros iniciais aos mais recentes da obra de Salgado, que o autor está à procura de uma expressão poética muito pessoal, na qual o papel da metáfora é altamente definidor e muito importante e, para não dizer, a própria tônica da tessitura textual, embora em seus inícios talvez a dicção esteja ainda afeita ao discurso poético em voga no período. Refiro-me, mais especificamente, aos poetas da chamada “poesia marginal”, dos quais Salgado bebeu o tom mais discursivo, de certas tonalidades sociais e existenciais:


dentro da jaula do peito meu coração é um leão faminto que devassa a madrugada como um felino atento seguindo a órbita da urbe e a têmpera do tempo. já foi casa de marimbondos, já foi covil de serpentes, já foi um sol sob nuvens. vez em quando veste a calma de uma floresta sem pássaros, enquanto rosna em sigilo, afiando as garras para o próximo salto. .... tem que haver uma mudança na gramática, uma mudança substancial, que não é direito um verbo irregular passar a ser sujeito no plural. dever haver um jeito de romper os elos anormais entre o agente da passiva e as conjunções causais. deve haver uma conjugação geral de todo o pessoal interessado na situação da posição dos verbos na oração. que não é direito um verbo no passado ser sujeito. não duvido até que possa haver uma manifestação total dos verbos irregulares, visando a uma transformação gramatical no futuro do presente tempo estado, que não é normal um sujeito só com tantos predicados. No entanto, mesmo entre esses poemas em que o compromisso com a ética dá-se no mesmo compasso com a estética, é notável uma preocupação formal com a palavra, e, em termos mais metafóricos, com a construção de imagens e objetos verbais insólitos, repletos de aliterações, assonâncias, jogos rítmicos, sintáticos e lexicais, tais como neologismos e palavras-valise. Assim, despontam oximoros elegantes, obtidos através de construções típicas do experimentalismo moderno, como “a órbita da urbe”, “a têmpera do tempo”, “urbanotrópole”, “grandemocracia”, “carne-morango”, “flores-navalha”, “africalegremente”, entre outros recursos expressivos, os quais explodem nos versos de Doidonauta: se lavro silabaredas falavras levo na manha manhã comum galo sideral a zen milhas milharando estrelas doidonauta poetávido num harém de letras mastigoelando palavárias.


Todos estes eventos linguísticos sinalizam, já no livro de estréia, o que o próprio Salgado afirma em Estado de ânimo: “estou grávido de palavras”. E, como poeta excepcionalmente fecundo, Salgado prossegue rumo a uma arte de ostensiva ourivesaria do verso, sem esquecer a lição drummondiana – “lutar com palavras/é a luta mais vã. / Entanto, lutamos/mal rompe a manhã” –, que nos predica que a arte da palavra é uma labuta incansável e diária, sem tréguas, consciência que o autor ostenta de modo explícito e que está muito patente em Laborárduo: Meus olhos exilaram-se na planície das palavras. E luto com elas no breu como um louco que adestrasse nuvens; - como o outro a depenar-se. Ainda que no desconcerto ante as coisas que pedem silêncio. Daí em diante, livro após livro, o talento de Salgado confirma-se em um crescendo contínuo. Em Palávora (1995), desde o título sugestivo, que traz consigo o sinete da imagem, através de uma palavravalise, de uma lavoura de palavras, o autor acerca-se da metapoesia, da inquirição do fazer poético e da palavra, na esteira de uma tradição que já encontra, na literatura brasileira, grandes praticantes desde Jorge de Lima, em Invenção de Orfeu, em João Cabral de Melo Neto, particularmente em Psicologia da composição, ou mesmo em Carlos Drummond de Andrade, em muitos poemas de A rosa do povo e ao longo de toda sua obra. No entanto, a metapoesia tem sido, no caso dos poetas brasileiros, uma espécie de parada obrigatória anterior a desenvolvimentos posteriores. Ou seja, uma espécie de agachamento preparatório para um salto, não no sentido de que a metapoesia seja um gênero menor em termos líricos, mas na direção da abertura de novas searas, pois a metapoesia, no que ela tem de rica exploração dos sentidos potenciais da palavra e de investigação do próprio fazer poético, obriga-nos a uma atitude reflexiva e atenta diante do poema, uma vez que as imagens adentram o território do abstrato puro, solicitando então que o poeta, fascinando pelo artesanato verbal, conjugue e conjure as melhores forças de seu talento. Em outros termos, a metapoesia abre caminhos estilísticos e metafóricos, desenvolve novos recursos expressivos, na medida em que a reflexão sobre o fenômeno poético obriga-nos à exploração do instrumental lingüístico à disposição para a criação de imagens insólitas e, portanto, grandiloqüentes. É nesse sentido que Palávora aponta para uma nova fase no projeto lírico de Salgado Maranhão, na medida em que o poeta, ao tentar atingir o cerne e o ser da palavra, põe em experimentação o limite de suas próprias capacidades verbais e artísticas. Vejamos: a palavra coexiste no dilúvio ao açoite do sangue nas pedras. a palavra é a pedra – e o arquétipo que dança. e o tempo do fogo flama e a memória das águas lavra em/canto e plenilúnio. a palavra lavra o tempo naja imaginária submersa no invisível mar, goiva do cais dos loucos deusa do silêncio. a palavra em si é o cio


virtude a divertir o vício de saber saber. .... aceito a liturgia do verbo e sua voragem. aceito o rito e suas pedras de fogo, oráculo do tempo em revoada, relíquia da persistente memória. o verbo acena ao clamar dos povos reverbera pássaros sob as línguas. .... no fim da linha o que sobra é a poesia: construção sobre ruínas plasmada em palavras e silêncios. quem saberá os limites da beleza e do desespero? [...] No entanto, Palávora é um livro plural, sob muitos aspectos. A despeito de sua vertente metapoética, Salgado Maranhão degusta nesse livro outros recursos expressivos, que fornecerão, nos livros seguintes, a tônica imagética de seu laboratório poético, em constante maturação e câmbio. Dir-se-ia aqui que o poeta, consciente agora das infinitas possibilidades expressivas à sua disposição, adquire então a definitiva consciência de que pode explorar para muito além dos territórios até então conhecidas da palavra poética, e arriscar-se agora em experimentos cada vez mais ousados, que ultrapassam as fronteiras do já conhecido. Não à toa uma das seções do livro é batizada de modo irônico de Dez limites, um conjunto de 10 poemas cujos títulos são os mesmos, mas numerados, de forma jocosa, pelo neologismo “deslimite”. Acompanhemos um pouco o fluxo das imagens de alguns desses dez Deslimites de Salgado: navalha um sol de azeviche negride - guerreiro em dorso de pedra. desfrute de um tempo escultor de tragédias. [...] auroram prímulas de sangue e amargaridas ávidas nos meninos que trepam na chuva.


[...] uma larva de sombras - íris de ônix – oceana meu trem de transes fundem ao sol as origens: chumbo cravado em ouro. [...] e esta ópera na carne e este cego que delira flores da cápsula da nave novo movem movies floram ícones na vida rasurada pelos corvos.

Estes poemas são reveladores de um trânsito muito interessante para o próximo livro de Salgado Maranhão, O beijo da fera (1996), no qual, a meu ver, o poeta atinge o domínio completo de sua dicção e seu repertório de recursos expressivos e técnicas imagéticas, as quais consistem no emprego consciente e lúcido de instrumentais desenvolvidos ao longo da história da lírica moderna, muito bem refletida por Hugo Friedrich em Estrutura da lírica moderna (1956), obra rara, cuja edição brasileira encontra-se esgotada há algumas décadas. Neste livro, o crítico e teórico alemão desenvolve uma tese sobre a poesia dissonante da modernidade, caracterizada sobretudo pelo ilogismo e pelo uso intenso do oximoro, um gênero muito peculiar de metáfora que consiste não em uma associação de campos semânticos semelhantes ou contíguos, mas justamente na intersecção semântica entre campos semânticos completamente estranhos um ao outro, de modo que a associação entre os termos provoca uma aprazível e, por vezes, áspera, mas bela estranheza, cujo resultado é uma poesia que, a despeito de uma aparente construção alógica, combinada ao longo do fluxo verbal, fornece possibilidades expressivas extraordinárias. Ora, ao longo da modernidade literária, desde Baudelaire, que afirmou alhures que “existe uma certa glória em não ser compreendido”, desenvolvese um projeto estético que, passando pela mão dos modernos espanhóis, franceses e alemães, através da movimento Dadá, do Surrealismo e da Expressionismo alemão, prima pela elaboração de uma poesia que tenta romper completamente com a linearidade discursiva, em todos os níveis linguísticos (gráfico-visual, fonético, morfológico, lexical, semântico e interpretativo), a fim de se obter uma linguagem poética insólita, repleta de imagens capazes de fascinar pela plasticidade visual impossível de ser concebida em termos racionais e lógicos. Nesse sentido, parece-me que, a partir de O beijo da fera, é possível afirmar que a poesia de Salgado Maranhão abraça de vez tal projeto estético, uma vez que, desse livro em diante, o tônus verbal de seu fazer poético adquire a robustez das mais altas constituições líricas, antevista, é claro, em seus livros anteriores, mas de agora em diante absoluto senhor dela. Um dos poetas que mais contribuiu no século XX para apontar essa inesgotável seara de possibilidades da poesia alógica, de oximoros e metáforas insólitos, foi, sem dúvida, Garcia Lorca. Sua influente lírica disseminou, sobretudo no mundo de línguas castelhana e portuguesa, o gosto por este projeto estético da modernidade lírica, embora a fonte da modernidade espanhola esteja mais diretamente ligada à riqueza metafórica dos poetas barrocos espanhóis, como Gôngora, um grande inventor de paradoxos semânticos, uma usina de oximoros à disposição dos modernos espanhóis, como Garcia Lorca, Alberti, Aleixandre, Cernuda, entre outros, que souberam buscar no antecessor histórico a matéria prima para os procedimentos semânticos necessários à invenção poética. Não tardou que poetas portugueses, particularmente Eugênio de


Andrade, seguissem o mesmo trajeto, e desenvolvessem uma poesia intensamente dissonante, com intenso uso de oximoros e imagens ilógicas. No Brasil, as gerações de 45 e de 60 foram as que mais empregaram tal recurso. Salgado Maranhão pertence a uma geração posterior no tempo e no espaço, sobretudo em termos culturais, mas em seus poemas, de O beijo da fera em diante, abraça de vez um projeto lírico característico, coalhado das lições dos modernos europeus, produzindo, a partir de então, uma poesia elegante, fluente e sedutora, de tonalidades sensuais e fecundas, típica de um poeta atingiu a plenitude de seu próprio talento. O poema Fênix, título cuja simbologia remete à ressurreição através do fogo e das cinzas, da morte para o renascimento, aponta justamente para um poeta que nasce de novo, de suas próprias cinzas e morte, em um ato de autofecundação, “grávido de palavras”, fértil de lirismo e pura poesia: Tornei-me pássaro em meus assores, buscando um segundo andar no tempo. Aro revanches na tarde e vívido voo em mim. Tornei-me argila e aço. Nevo lavas de amor e amargo. Fênix a cantar para cinzas. Sinto na veia o revérbero - nave rítmica – a dublar o silêncio. Pesco a manhã - bailarina de raios – a despir meus remendos; e essa adaga de sonhos feita de sangue e exemplo cravada no coração, meu templo. É simplesmente fascinante acompanhar o florescimento de um talento espontâneo e vigoroso como o de Salgado Maranhão. Sua poesia, que defino como viril, fértil, sumarenta, de uma sensualidade arrepiante e magnética, abraça-nos com uma dicção envolvente e melíflua, muito própria dos artistas da palavra mais sedutores. Sem dúvida, o poder verbal de Salgado Maranhão é o próprio sal da condição humana, de uma pulsão erótica que atravessa cada imagem, cada pausa, cada ritmo e verso. As imagens fluem através em tropel de cenas e metáforas que deságuam em uma espécie de gozo vocabular, como em Os corcéis: Árdego e só este sol que arrima os corcéis do amor. Tão livre que desacata com suas patas e seus recatos. Tão vasta via que avaro se desvairia.


(Sob os pés a estrada imersa o tempo, sulca o ser em signo e pó.) Halo de fogo imprevisto deste deus que se diz rito e é cio. Aura de pavor que avisto de escalar sua prece quando ela apenas transparece. Não à toa, Salgado agora sente a necessidade de um novo canto, de uma nova poética, salpicada de intenso lirismo. Que o diga em O canto: Canto as arestas do árido onde mora minha tribo. Canto o que reluz do pó dentro da casca e da cor. Canto aos tentáculos do amor que visam içar o azul. Canto o despudor do onírico onde ele é múltiplo e é único. Canto o que sou e o que queres, canto ao gozo das mulheres. Canto ao vivendo e seu jogo na estalagem dos lobos. Canto por tudo e porquanto canto a canto e desencanto. Absolutamente cônscio de que sua poética atingiu novos patamares expressivos, Salgado levanta-se na altivez e altura dos grandes poetas da língua, ao se lançar na venturosa aventura de uma nova “delírica”, cujas novas delícias anunciam tempos de amor e de lírica, substancial lírica. Cada vez mais, os livros de Salgado são convites para viagens verbais, repletas de paisagens fascinantes, cuja geografia nos conduz às escarpas do gozo e da sedução, às falésias do desejo e da vida, às praias exuberantes do corpo e do sexo, aos esplendores do amor e do prazer, e de uma cornucópia inesgotável de sumos e súmulas de experiência e cosmovisão com relativo sabor de neopaganismo. Nesse sentido, o crítico Luiz Fernando Valente aponta, em ensaio apenso em A cor da palavra (2009), a presença do apolíneo na poesia de Salgado Maranhão. Não necessariamente discordo da tese de Valente, no entanto diria que não é apenas do apolíneo, no sentido de saúde, racionalidade e luminosidade, que se compõe a lírica de Salgado, mas de um saudável equilíbrio entre o apolíneo e o dionisíaco, à feição da poesia de Eugênio de Andrade, pois ambos os poetas, Eugênio e


Salgado, ostentam a sensualidade e a fluidez natural dos autores que cultivam o culto do aqui-agora, de um carpe diem atualizado, não nos termos e na dicção neoclássica, mas de uma percepção de um novo paganismo, de um neopaganismo sem um ethos religioso, mas de uma atitude ontológica, uma filosofia do ser e do estar, ou melhor, poética, diante da vida e da existência. Colher os frutos e os sumos do dia, das searas e adagas do amor, dos seios-ubres do desejo e da libido, e, no entanto, celebrar o simples fato de estar vivo e feliz, em meio às contradições inexoráveis da existência, mas sem o desespero amargo dos existencialistas ou dos céticos, como em A adaga e o amor: Feras da mesma seara a adaga e o amor, da mesma sanha urgente e visceral moldam, no tempo, o ser e seu metal irmãos em fogo: a forja e o forjador. Diz-se que o sangue benze o sabre e o sal do dia a dia: trevas e esplendor. Conspiram todos sobre o mesmo pó o pão, a dor, o dom e o bem no mal. Mais do que a luz oculta em seus fusíveis é o silêncio: esse acervo de azul e vis ardis. Eterna trama de ravina em chamas: o amor em múltiplos níveis. E a lucidez do afeto – água da mina - vai abrindo o caminho para a lâmina. Percebe-se, então, a partir dessa constatação, que a obra poética de Salgado Maranhão é atravessada de uma enorme lucidez, mas também de uma alacridade comedida, o que confirma que os dois conceitos nietzcheanos, elaborados para a reflexão sobre o nascimento da tragédia no mundo ocidental, estão em pleno e salutar convívio na poesia salgadiana. O que é salgado na poesia de Salgado, serve como tempero e têmpera para sabor e textura suculentos aos víveres líricos do humano. Não se trata apenas de saber de cor as cores da palavras, mas de acordá-las entre as outras palavras, torná-las um instrumento vívido da vida, fora dos corredores trevosos dos acordos espúrios e das tenebrosas transações, traduzindo o efêmero e eternizando-o através da matéria vocabular do humano. É o que reclama o poeta sumarento de A cor da palavra: Poeta é o que esplende a labareda entranhada ao rugir das pequenas agonias. Assim se erguem (em meio ao tropel dos dias) as cidades da memória: contêineres feitos de gestos, palavras incendidas de milagres; assim se alumbra o coração em seu charco de prímulas: este atol que atou-me à borda do deserto e ao sangue em que partilho estas horas carnívoras, tangido a barlavento por minhas perdidas ítacas.


ALFRED ASÍS ESPERANZA Y MADUREZ Es en la “esperanza” que necesitamos cada vez con mayor fuerza que este significado sea comprendido por los niños. La esperanza en un mundo mejor en la que los niños son protagonistas y podrán enseñarnos a convivir como seres humanos y como naturaleza. Pero, que importante es entregarles las herramientas con las cuales ellos forjarán sus propias vidas y eso pensando como ellos, pero dando a entender como es el mundo de los adultos. Por ello entra en escena la palabra “madurez” la cual puede ser a temprana o avanzada edad o según la comprensión, todo dependerá de la asimilación del concepto y la comprensión del niño, todo esto con una buena explicación en acorde a la edad de los infantes. Cuando llegamos a esa etapa de la “madurez” miramos hacia atrás y vemos lo que fue nuestra anterior vida y recordamos los errores que cometimos, cuando depredamos la naturaleza o tuvimos un mal comportamiento con nuestros compañeros o en casa con nuestros padres y hermanos, cuando tratamos mal a un animal o le tiramos piedras a una pajarillo. Entonces nos damos cuenta de nuestros errores y eso ya con nuestra “madurez” al comprenderlo, nos duele el alma, es algo que ha quedado marcado en nuestras vidas y casi imposible de borrarlo. He aquí entonces “la esperanza” de poder entregar a los niños estos conocimientos y factores que puedan marcar sus vidas, que en su momento temprano lo comprenderán y eso será un aliciente para el desarrollo de su compromiso con la naturaleza humana y de la tierra. Así estos niños crecerán respetando los comportamientos humanos y el entorno y cuando asuman su rol de desarrollo en la tierra, al mirar atrás solo encontrarán cosas bellas y la paz inundará sus vidas y la “esperanza” por un mundo mejor será su tarea cumplida con las sociedades que necesitan de ellos para seguir sembrando “esperanza”


DILERCY ADLER VIDA! Tenho múltiplas e infindáveis vocações... entre linhas curvas e retas transpiro sangue alinhavo sonhos ... sem culpa sem remorso me encontro ou me perco no reverso... pouco importa... vivo! procuro - me procuram - me viva ou morta!... Dilercy Adler 06/08/2017


ASSIM ÉS TU! De vinagre e de azeite comestível mistura de anjo e belzebu assim Nicanor Parra és feito! assim Nicanor Parra -és tu-! e eu te vi - grande poeta - aquele dia em frente ao mar em plena calmaria e incursionei por tua anti poesia e passeei por teu passado negro e errante explorando os teus espaços sem paraísos e sobrevivi sem medos ou fobias e me instalei nos teus jardins de luz e sombra me agarrando a tudo que eu queria e me lancei no vácuo sem receio mas com a certeza que te encontraria no meu caminho - não como uma pedra!mas como destino... ...da poesia!


EU SOU PSICÓLOGA Dilercy Adler Eu sou psicóloga mas sou gente! também com direitos a inseguranças conflitos e fossas dessas menos densas ou quiçá colossais!... eu sou psicóloga estudo o comportamento humano o esforço sobre-humano que fazes e faço pra sobreviver!... eu sou psicóloga explico explícita e loquazmente os emaranhados da mente mas não significa que de quando em vez não jogue para fora de forma incoerente imprecisa e inconsistente minhas frustrações... eu sou psicóloga mas um ser humano como outro qualquer jogado nessa teia de regras e normas e espezinhado por desigualdades mentiras e poder!

In: Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário, 1997.


OSMAR GOMES SEM DORMIR Era noite e estava sem sono Não conseguia dormir, pensando Lembrei-me do controle Liguei a televisão Era um programa de peso Tinha muita emoção Já quase a meia noite Serginho se comovia Em seu programa altas horas Mulheres se apresentavam Falavam de experiência Da violência que sofria O assunto era tão sério De muita repercussão Era violência doméstica Causava muita emoção Maria da Penha estava lá Cobrava do poder público Um pouco mais de atenção Falaram de uma lei A lei que levou seu nome Fácil de pronunciar Disse pra não ter medo Em qualquer situação Temos que denunciar


A VIDA Quero viver com atenção A saúde sempre boa Com grande disposição Sem nunca fazer coisas à toa Tudo como distração Antes quando machucava o pé Em uma bola dividida Quase não tinha torção Levava na benzedeira Que ela tinha solução Batia com uma boneca Feita de sal e limão Um dia não tão distante Aqui na cidade da gente Em um jogo de futebol Estava todo contente Me vi por algum momento Quase que inconsciente Sem que ninguém me tocasse Pisei em falso na grama O tornozelo rompeu Sentir o primeiro drama Ao olhar para o céu Sentir um belo sinal Fui levado ao hospital Não tinha a benzedeira O rompimento foi total O médico olhou e disse Aqui você vai ficar Hoje faz os exames Amanhã vai operar Durante sessenta dias Não vai poder trabalhar Percebi que tudo na vida Qualquer que seja a atitude Nenhuma tem importância Além da nossa saúde


ANTIGAMENTE A vida era assim Cheia de encantos Sem choro nem prantos As pessoas se admiravam Havia respeito e sinceridade As palavras tinham valor Qualquer que fosse a idade A vida era assim Filhos não questionavam pais Havia ordem e respeito Se brigavam na escola Eram repreendidos em casa Apanhavam não tinha jeito A vida era assim A educação era de qualidade Da saúde não se falava Construíam Escolas e hospitais Era um povo dedicado O dinheiro era pouco Más era economizado A vida era assim Não existia violência Não se falava em facções Havia muita exigência Nada de crime organizado A polícia estava nas ruas Tudo era detalhado A vida era assim Em drogas nem se falava Crianças iam pra escola Na volta iam trabalhar Os pais não eram chamados Em conselho tutelar A vida era assim No país se fazia festas Existia felicidades Sendo rico ou pobre Não se fazia greve Pois não havia necessidade A vida era assim


MHARIO LINCOLN

BEIJO DE SAPÊ Acordo cedinho e beijo Beijo, beijo e beijo Abraço, abraço e beijo Isso que é sonhar... Casinha de sapê, desejo Beijo, beijo e beijo Pertinho de você me vejo Como é bom cantar Aurora do sertão, almejo E beijo, beijo e beijo Vestida de luar, gracejo Muito melhor assanhar Volto pra casa cedinho Com vontade de beijar Beijo, beijo e beijo Pra sempre vou te amar... (Mhario Lincoln. Petrópolis. Rio de Janeiro. Julho de 2017).


CLORES HOLANDA ACRÓSTICO A MEU PAI Pai há quanto tempo sinto falta da tua presença. Hoje tu és um pássaro azul vivendo no firmamento. A tua ausência deixou um enorme vazio em mim. Quisera poder voar contigo ao som dos querubins. Infinitas recordações guardo de ti, até um dia poder te retribuir os momentos que me fez sorrir. São Luís, 13 de agosto de 2017.


SELMO VASCONCELOS

Sรณ, sรณbrio Solitรกrio sofรก Soberana solidรฃo Selmo


FRANCISCO TRIBUZI Domingo

Todos os dias são domingos No meu anti-rigor cronológico Os outros dias tão iguais Nos seus acontecimentos trágicos Tudo é convenção e os dias Não são exceções, ao contrário O astral é quem determina as orgias A vontade,não o calendário O domingo com seu perfume de missa Seu silencio de cemitério Sua angustia de despedidas Um porto deserto...adeuses naufragados Lembrando uma quarta-feira de cinzas Um dia de lembranças mortas Nas saudades do nunca mais!

São Luis

Soletro São Luis É ela que me passeia por brejos,luares,varandas Limos e lustres;fortes e fontes muros e mares Basta-me um barco As lanternas do cruzeiro do sul Para navegar o cortejo desse presépio de luzes Ancorado na beira-mar e, o precipício dos becos Empurrando poesias,pelas ladeiras da história Soletro São Luis E aprendo a didática de amar a cidade Muito além da arquitetura de seus azulejos portugueses!


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES, BRASIL POESIA PARA OS 100 ANOS DO POETA NICANOR PARRA-CHILE TEORIA DA FÍSICA DO DELICADO PERFUME DAS VIOLETAS I Semente brota, aprendamos Como escolher e colher, disse-nos o poeta universal Em sua cosmogonia: “Hoje é um dia azul de primavera, creio que morrerei de poesia.” – Esmero e aprimoro a versão e a consciência para transfigurar-se diálogo, no dente em que mastigo o ato, fixo a imortalidade quântica poética no criar a pauta-argonauta com que risco na pele da escrita a senda e a senha com que a forma tece a impensável forma da física desse ridículo poema a que denominamos amar o amor em processo, mesmo em pulos e sobressaltos, no agito dos ramos... Nessa úmida folha em que traço a imensurável Teoria da Física do Delicado Perfume das Violetas, dedico a ti, Ó amado poeta, Nicanor Parra! II Das margens, observo Sua aparência, seus mistérios... Nesse azul de primavera, creio Do quanto em ti, a nau estética Da antipoética define a luz primorosa Dessa imensa Lua A inebriar os corações, até O côncavo/convexo do dia, quando Surge do nada o aroma Inebriante das violetas, perfeitas e amarelas, todas Ondas sonoras de uma pauta musical destemida. III E se a primavera agrega A ideia quântica da descoesão, do abismo Em arco-íris flui... O Tudo/Nada Para criativo deleite o gozo cria alegria em todos nós, aprendizes do grito IV Nada é o que parece ser No enigma das órbitas proibidas Um homem caminha e assobia Chopin, inebria-se mirando A cópia de si mesmo, o chapéu irônico de poeta louco


Ou a pretensão de um corpo bem localizado no espaço Mesmo na imprecisão do rumo, no prumo que assume o lume, Independente da distância em que esteja E na probabilidade de ali estar O mesmo rouxinol, a cigarrilha, o canto e as palavras que encantam Ah! Esse princípio da incerteza de ter e ser, quem crê No azul da primavera do pôr-do-sol em bel-menor... Os sonhos de Deus!, ( quando o raio incide sobre o alvo e pára), e Na partícula clara e suave... Na clave de dó, Ah, Nicanor Parra! Quantas poesias nos olhos teus?!


POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)


MARIA FIRMINA DOS REIS, A PRECURSORA RAIMUNDO FONTENELE HTTP://WWW.LITERATURALIMITE.COM.BR/2017/06/MARIA-FIRMINA-DOS-REIS-PRECURSORA.HTML?M=1

30 de jun de 2017 - Pesquisa e texto final: Raimundo Fontenele

A nossa homenageada do mês de junho, escritora maranhense MARIA FIRMINA DOS REIS, é considerada uma pioneira na luta pela igualdade racial e intelectual entre homens e mulheres, muitos antes que as feministas botassem a cabeça de fora, ou melhor, queimassem sutiãs. Nesta nossa homenagem, além de uma pequena biografia, apresentamos um trabalho dos professores José Geraldo da Rocha e Patrícia Luisa Nogueira Rangel, intitulado Úrsula: A voz dos excluídos do século XIX no romance de Maria Firmina Dos Reis, e recomendamos também a leitura de mais dois trabalhos excelentes: trata-se de Maria Firmina dos Reis: A trajetória intelectual de uma escritora afro descendente no Brasil oitocentista, de Rafael Balseiro Zin, e A Voz e a Memória dos Escravos: Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, de autoria de Bárbara Loureiro Andreta e Anselmo Peres Alós. E gostaria de contar que também fui um dos primeiros a participar, como auxiliar do professor e escritor Nascimento de Moraes, na redescoberta de Maria Firmina nos idos dos anos setenta. Ainda muito jovem, meio poeta e metido em vagabundagens mil, aceitei o convite do professor Nascimento de Moraes para trabalhar como seu assistente na feitura do seu livro sobre Maria Firmina dos Reis, fragmentos de uma vida. Meu trabalho consistia em datilografar seus escritos e quanto ao romance Úrsula datilografá-lo, mas atualizando alguma coisa da sua linguagem que o tornasse mais inteligível naqueles novos tempos. E assim, pude testemunhar o quanto ela estava além do seu tempo, seu valor como mulher e ser humano, sua coragem de enfrentar aquela sociedade rica, branca, europeizada e preconceituosa de então, inserindo seu nome na história da literatura maranhense e brasileira. (RF) Dados biográficos: Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís no Maranhão, em 11 de outubro de 1825. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Negra, bastarda, era prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis por parte da mãe. Em 1830, mudou-se com a família para a vila de São José de Guimarães, no continente. Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária nessa localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de primeiras letras, de 1847 a 1881.


Negra e bastarda, enfrentou a barreira dos preconceitos e publicou, em 1859, o romance Úrsula, considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil e um dos primeiros escritos produzidos por uma mulher brasileira. Em 1887, Maria Firmina escreveu também um conto sobre o mesmo tema, "A Escrava". Em 1971, publicou a coletânea de poesias Cantos à beira-mar. Também colaborava com jornais literários. Em 1880, fundou uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, o que causou escândalo no povoado de Maçaricó, em Guimarães. Afinal, a escola teve que ser fechada em menos de três anos. O romance “Úrsula” consagrou Maria Firmina como escritora e também foi o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afro descendente. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, a escritora publica o livro “A Escrava”, reforçando sua postura antiescravista. Ao aposentar-se, em 1880, fundou uma escola mista e gratuita. Maria morre aos 92 anos, na cidade de Guimarães, no dia 11 de novembro de 1917. Em 1975, Maria recebe uma homenagem de José Nascimento Morais Filho que publica a primeira biografia da escritora, Maria Firmina: fragmentos de uma vida. Principais obras da autora: ·

Úrsula. Romance, 1859. Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude). Poemas em: Parnaso maranhense, 1861. A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense n° 3) Cantos à beira-mar. Poesias, 1871. Hino da libertação dos escravos. 1888. Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha; Federalista. Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).


ÚRSULA: A VOZ DOS EXCLUÍDOS DO SÉCULO XIX NO ROMANCE DE MARIA FIRMINA DOS REIS JOSÉ GERALDO DA ROCHA PATRICIA LUISA NOGUEIRA RANGEL

Introdução Este artigo possibilitará a análise de representações de elementos excluídos pela sociedade do século XIX, como mulheres e negros, dentro do romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis. A autora é considerada a primeira escritora brasileira, e por ser negra, também assume a categoria de primeira escritora da literatura que aborda temas sobre o negro. Sua literatura, portanto, revela a importância da mulher na literatura brasileira, como reconstrução da história. A literatura afro-brasileira é uma grande fonte histórica, em que ocorre o resgate da identidade de negros escravizados, os quais sofreram com tentativas de aculturação de uma classe dominante. O livro Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, é um romance que trata do tema escravidão, em que a oralidade dos personagens retoma os saberes africanos, de forma que esta obra resgatou uma nova construção do sentido e perspectiva histórica, pois deu voz aos negros para expressar seus pensamentos, sentimentos e contar a sua história. Outra questão abordada por Firmina foi a questão da mulher no sistema patriarcal da época. Suas personagens, Úrsula e Luísa B…, fogem ao padrão da época. Luísa B… casa-se contra a vontade do irmão e, quando viúva, assume as responsabilidades de casa. Úrsula se apaixona por Tancredo e não se submete ao casamento com seu Tio. Reis apresenta mulheres fortes. A narrativa Úrsula trata do romance entre Úrsula e Tancredo, no entanto, surge um terceiro, Fernando F…, tio da mocinha, que a deseja e, para tê-la, é capaz de ir até as últimas conseqüências. Surgem na trama, como aliados do casal, os escravos: o jovem Túlio e a Velha e boa Suzana. Enfim, o trabalho em questão evidencia o resgate de uma escritora do século XIX, por meio do seu romance, de uma herança histórica, política, literária e revolucionária. 1. Maria Firmina dos Reis: a autora e a obra


Maria Firmina dos Reis nasceu em 1825, na cidade em Ilha de São Luís, capital da província do Maranhão. Mestiça e filha ilegítima de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Aos cinco anos mudou-se para Vila de Guimarães, município de Viamão, ainda no mesmo estado, em que sofreu forte influência do primo, por parte da mãe, Sotero dos Reis, escritor maranhense. Segundo Mendes (2006), Firmina era autodidata e seus conhecimentos se deram através de muitas leituras, inclusive, lia e escrevia francês fluentemente. Martin (1988), segundo a pesquisa de José Nascimento Moraes Filho (1975), declara que, em 1847, Maria Firmina foi a única aprovada no concurso de professora primária na Vila de Guimarães, se aposentando em 1881. Em 1880, aos 55 anos, ela fundou a primeira escola mista de Maranhão, no entanto, Mendes (2006) comenta que esta escola foi fechada em 1890. Faleceu em 1917, pobre e cega, aos 92 anos. De acordo com Martin (1988), o romance Úrsula foi publicado em 1859, no entanto, o nome da autora era representado por um pseudônimo “uma Maranhense” e começa a circular em 1860. Esta obra foi o primeiro romance abolicionista e o primeiro escrito por uma mulher. No entanto, Lima (2009) comenta que embora Reis tivesse escrito sua narrativa antes de o Poeta dos escravos, Castro Alves, escrever seu poema expressivo “Navio negreiro”, em 1869, somente no século XX é que recebe o reconhecimento devido, após sua morte. A partir de 1860, Maria Firmina dos Reis começa a colaborar com diversos textos literários de sua autoria em diversos jornais da época, como A Imprensa, O Jardim dos Maranhenses, Porto Livre, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, e outros do estado, conforme Martin (1988). Firmina não assinava seu nome em seus trabalhos, mas as iniciais M.F.R., tática usada para maior aceitação na sociedade. Ainda segundo o autor, citando José Nascimento de Moraes Filho (1975), o romance Úrsula foi recuperado através do pesquisador Horácio de Almeida, em 1962, quando comprou um lote de livros usados e entre eles se encontrava o único exemplar que se conhece do romance. Nesse momento, Maria Firmina dos Reis ficou reconhecida como a primeira escritora brasileira e da literatura negra. Em 1973, José Nascimento Morais Filho (1975) encontrou outras obras da escritora e as registrou na Seção de Livros Raros da Biblioteca Pública Benedito Leite, em 10 de dezembro do mesmo ano. Mendes (2006) declara que Firmina escreveu, esteticamente, dentro do contexto da realidade na época, com dificuldades econômicas e geográficas por sempre viver em Guimarães e São Luís (MA), e inserida numa sociedade patriarcal. Seus temas eram o que escritores de seu tempo negavam, de forma que demonstrava não só sua contemporaneidade, como também consciência política e social fora dos padrões da sociedade interiorana daquele século. Mendonça (1999, p. 68) comenta que a leitura de obras escritas por mulheres, além do reconhecimento de suas presenças, como escritora, também funcionam como sujeito histórico que participa de diferentes contextos discursivos. Firmina, antecipadamente, propõe “a necessidade de um redirecionamento da história do país, sugerindo sutilmente a valorização e o resgate das minorias (negro, índios e até detentos), para que também elas fizessem parte do contexto histórica”. Schmidt (1999, p. 37) comenta que os textos literários de autoria de mulheres possibilitam críticas, pois sua “função e valor são produzidos em relação a contextos culturais e sociais que são historicamente específicos”: À medida que a herança literária deixada por mulheres se torna visível e suas continuidades começam a se somar em direção ao mapeamento de uma nova cartografia simbólica, desarticula-se a visão canônica do passado literário e se instala a demanda pela reescritura da história literária (SCHMIDT, 1999, p. 37). No prólogo de Úrsula, Maria Firmina se justifica por não seguir os padrões da época e apresenta seu livro como sendo humilde e certa de que passaria pelo indiferentismo de uns e deboche de outros. Ela enfatiza a desvalorização do romance por ser mulher, além de pouca escolaridade, numa sociedade em que os homens dominam. Sei que pouco vale este romance escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens iletrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS, 1988, p. 19).


No final do prólogo, ela compara seu livro a uma donzela que a natureza negou a formosura, e solicita que deixem seu livro circular, apesar de sua humildade para que ela própria venha escrever coisa melhor ou que sirva de incentivo para outras. A narrativa do romance Úrsula é uma crítica feita por Maria Firmina Reis da sociedade do século XIX, pelas vozes dos personagens, dando visibilidade aos pensamentos de mulheres e de negros escravos, de maneira que, as personagens apresentam características diferentes, com suas individualidades e experiências, fugindo do estereótipo definido pela sociedade literária da época. A partir da obra, se desestabiliza a linha divisória da história, pois são várias vozes, e não uma só, da classe dominante, de forma que a história se transforma em blocos de verdades. Enquadrando-se ao que Walter Benjamin (1987, p. 222) entende por história, uma postura de narrar e colocar-se ao lado dos oprimidos, além de “levar em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história”, questionando assim, o conceito de verdade. 2. Negros e escravos Maria Firmina dos Reis aborda a temática do negro, situando-o no tempo e espaço do sistema colonial, uma sociedade patriarcal e escravocrata, com discurso ideológico, refletindo assim “uma oportunidade revolucionária de lutar por um passado oprimido” (BENJAMIN, 1987, p. 231). A favor dos escravos, Firmina apresentou, ao leitor, o negro com outra visão – bom, generoso, fiel, com memória, sofrido e, principalmente, como ser humano. Através de seu romance, é possível uma leitura nas entrelinhas o que era ser negro naquela sociedade, levando o leitor a refletir sobre o universo escravista. Benjamin (1987) declara que o cronista ao narrar os acontecimentos, não faz distinção entre os grandes e os pequenos, levando em consideração a verdade de cada um, porque não se pode descartar a experiência vivida e o que um dia aconteceu não pode ser considerado perdido para a história. Um dos personagens negros em Úrsula é Túlio, jovem que socorreu Tancredo, jovem cavaleiro branco e melancólico, ferido em uma queda de cavalo. Caiu, e de um jato perdeu o sentimento da própria vida; porque a queda lhe ofendeu o crânio, e aturdido, e maltratado, desmaiou completamente. Para mais desastre o pobre animal no último arranco do existir, distendendo as pernas, foi comprimir acerbamente o pé direito do mancebo, que inerte e imóvel, como se fora frio cadáver, nenhuma resistência lhe opôs (REIS, 1988, p. 23). Reis (1988) apresenta Túlio como uma pessoa que sofria com o cativeiro, considerando-se mísero escravo, pois a condição escravo era de infelicidade, levando uma vida mesquinha. Mas apesar do rigoroso desprezo dos homens brancos, Túlio não se tornou desumano, porque Os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como a sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista (REIS, 1988, p. 25). Maria Firmina mostra o negro numa visão positiva, considerando-o nobre por se dispor em ajudar alguém que não conhecia e se compadecer da dor do mesmo, mas essa característica não foi obtida com o convívio com os brancos, mas era próprio de Túlio como ser humano. “Túlio observava-o com angústia: as dores do mancebo senti-as ele no coração” (REIS, 1988, p. 32). Dessa maneira, Firmina desconstrói a ideologia de que os negros eram coisas ou animais, mas possibilita uma nova visão sobre eles ao mostrá-lo como seres humanos com sentimentos. O escravo tinha um amor desinteressado e tinha empatia, se colocando no lugar do outro e como resultado foi alforriado pelo jovem Tancredo como símbolo de gratidão e amizade. O jovem negro ansiava pela liberdade, “a liberdade era tudo quanto Túlio aspirava; tinha-a – era feliz!” Mesmo livre decidiu acompanhar Tancredo, porque não significava trocar “cativeiro por cativeiro”, e sim, trocar “escravidão por liberdade, por ampla liberdade!” (REIS, 1988, p. 37, 81). De forma que a autora reforça que a amizade e relação interpessoal entre etnias diferentes, branco e negro, é possível. Apesar de jovem, Túlio discursa em conformidade com a razão, de forma sensata, quando reconhece que seu corpo pode ser escravizado, mas sua mente não. O escravo tem os seus pensamentos livres, no entanto, o corpo não. Ele geme e sofre.


Cadeia infame e rigorosa, a que chamam: – escravidão?!… E, entretanto este também era livre, livre como pássaro, como o ar; porque no seu país não se é escravo. Ele escuta a nênia plangente de seu pai, escuta a canção sentida que cai dos lábios da sua mãe, e sente como eles, que é livre; porque a razão lho diz, e a alma lho compreende. Oh! A mente! Isso sim ninguém a pode escravizar! Nas asas do pensamento o homem remonta-se aos ardentes sertões da África… E a realidade opressora lhe aparece – é escravo e escravo em terra estranha! Fogem-lhe os areais ardentes, as sombras projetadas pelas árvores, o oásis no deserto, a fonte e a tamareira – foge a tranquilidade da choupana, foge a doce ilusão de um momento, como ilha movediça; porque a alma está encerrada nas prisões do corpo! Ela chama-o para a realidade, chorando, e o seu choro, só Deus compreende! Ela não se pode dobrar, nem lhe pesam as cadeias da escravidão; porque é sempre livre, mas o corpo geme, e ela sofre, e chora; porque está ligada a ele na vida por laços estreitos e misteriosos (REIS, 1988, p. 35, 36). Túlio é um personagem secundário na trama, mas de grande importância, pois foi o responsável pelo encontro de Tancredo e Úrsula e está diretamente ligado a eles na Trama, tornando-se amigo fiel e companheiro dos dois, a ponto de perder a vida. Também, foi o personagem responsável pelas vozes da escrava Susana e do escravo Antero, porque foi para ele que discursaram ideologicamente sobre a escravidão e trouxe a realidade da África. Benjamin (1985) diz que narrar é intercambiar experiência, é uma troca dialógica em que um enriquece o outro. Em Úrsula, foi justamente Túlio, o outro, enriquecido pelas narrativas de uma velha escrava de Luísa B…, Suzana. Trata-se de uma escrava que narra suas reminiscências e no seu romance, Firmina chama atenção para a brutalidade do processo de escravidão, através da voz e experiência de Suzana. De acordo com Benjamin (1987), o historiador precisa articular o passado, ou seja, apropriar-se das reminiscências, ao momento do perigo (presente), a fim de responder os questionamentos do momento. E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome da minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi possível… a sorte me reservava ainda longos combates. Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava – pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade! Meu Deus! O que se passou no fundo de minha alma, só vós o pudestes avaliar!… Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até abordarmos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. Davam-nos água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda porca: vimos morrer ao nosso lado companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos! (Reis 1988, p. 82, 83). A voz da escrava, que experimentou a liberdade/escravidão, assume um papel social e histórico. A narrativa de Suzana não se trata de um simples discurso ao Túlio, mas a representação de todo processo escravagista, desde que é arrancada de sua terra natal até o momento em que chega numa terra estranha e é tratada como objeto do homem branco para o trabalho. A história se apropria das recordações do passado para preservar a memória e provocar reflexões no presente, enquanto a classe dominante se prevalece da memória fraca das pessoas para que sua ideologia permaneça. A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’. Assim, a Roma antiga era para Robespierre um passado carregado de ‘agoras’, que ele fez explodir do continuum da história. A Revolução Francesa se via como uma Roma ressurreta. Ela citava a Roma antiga como a moda cita um vestuário antigo. A moda tem faro para o atual, onde quer que ele esteja na folhagem do antigamente. Ela é um salto de tigre em direção ao passado. Somente ele se dá numa arena comandada pela classe dominante. O mesmo salto, sob o livre céu da história, é o salto dialético da Revolução, como o concebeu Marx (BENJAMIN, 1987, p. 229, 230).


Em Úrsula, quando o jovem negro perguntou “para que essas recordações?”, a escrava mostrou quão importante são as recordações. Ela respondeu que “não matam, meu filho. Se matassem, há muito que morrera, pois vivem comigo todas as horas.” (REIS, 1988, p. 82). Benjamin (1987) assinala que o narrador relata suas experiências, incorporando à experiência da outra pessoa, tratando-se de uma forma artesanal, imprimindo a marca do narrador, que não está interessado em transmitir a coisa narrada como uma informação ou relatório. Através de suas experiências, a escrava Susana acreditava que a verdadeira liberdade só poderia acontecer na sua terra natal e não somente com a alforria, como Túlio acreditava ter. Liberdade! Liberdade… ah! Eu a gozei na minha mocidade! – continuou Susana com amargura. – Túlio, meu filho, ninguém a gozou mais ampla, não houve mulher alguma mais ditosa do que eu. Tranqüila no seio da felicidade, via despontar o sol rutilante e ardente do meu país, e louca de prazer a essa hora matinal, em que tudo aí respira amor, eu corria às descarnadas e arenosas praias, e aí com minhas jovens companheiras, brincando alegres, com o sorriso nos lábios, a paz no coração, divagávamos em busca das mil conchinhas, que bordam as brancas areias daquelas vastas praias… (REIS, 1988, p. 81). Firmina também aborda, através de Suzana, outra ideia de liberdade, a morte. Quando oferecida a oportunidade de fuga antes de ser condenada a morte, Suzana recusou por ser inocente. Outra inovação de Firmina é com respeito à caracterização. Freyre (1998) comenta sobre como as mulatas e negras eram vistas pelos homens naquela sociedade: Provocação de mulatinhas e negras da casa se arredondando, em moças; de molecas criando peitos de mulher; e tudo fácil, ao alcance da mão mais indolente… Parece que as negras não ficavam velhas tão depressa, nos trópicos, como as brancas; aos quarenta anos dão a impressão de corresponder às famosas mulheres de trinta anos dos países frios e temperados. Uma preta quarentona é ainda uma mulher apenas querendo ficar madura; ainda capaz de tentações envolventes… O intercurso sexual de brancos dos melhores estoques – inclusive eclesiásticos, sem dúvida nenhuma, dos elementos, mas seletos e eugênicos na formação brasileira – com escravas, negras e mulatas foi formidável (FREYRE, 1998, p. 442). A caracterização das negras era a exploração do lado sexual, enquanto Susana é descrita como reflexo de sua amargura e sofrimento. De acordo com Reis (1988, p. 80), a velha escrava usava “saia com grosseiro tecido de algodão preto, cuja orla chegava-lhe ao meio das pernas magras e descarnadas como todo o seu corpo” e na cabeça um lenço encarnado e amarelo, que mal tampava os cabelos brancos. Outra caracterização que acontece em Úrsula é o da África sem nunca ter estado lá e, através da voz da escrava, envolve o leitor, a ponto de transportá-lo ao local e mostrá-lo que lá, na África, eles tinham uma vida comum – casavam, tinham filhos, eram felizes, desmistificando a ideia de uma sub-raça, conforme Mendes (2006). Outra figura negra que aparece é do pai Antero. Apesar de pequena participação no romance não é tão grande quanto de Túlio e da escrava Susana, mas sua experiência é valiosa, pois através de suas recordações, resgata uma particularidade da cultura africana – as festas e a bebida. Pois ouça-me, senhor conselheiro: na minha terra há um dia em cada semana que se dedica à festa do fetiche, e nesse dia, como não se trabalha, a gente diverte-se, brinca, e bebe. Oh! Lá então é vinho de palmeira mil vezes melhor que a cachaça, e ainda que tiquira (REIS, 1988, p. 143). Conforme a autora Reis (1988, p. 141), “Antero era um escravo, que guardava a casa, e cujo maior defeito era a afeição que tinha a todas as bebidas alcoolizadas.” Mesmo em condição servil, o personagem revela o negro num aspecto diferente da escravidão, aparecendo como um escravo saudosista, que sente pela pátria perdida e lembra-se o quão feliz era, fazendo referência às festas e bebidas que tomava. Lamenta a vida como escravo e afirma que somente o vício da tiquira lhe permite suportar a escravidão. A identidade cultural desse escravo não foi ignorada, mas suas lembranças resgatadas por permitir que conversasse com Túlio. Benjamim (1987, p. 225), assinala que “o processo de transmissão de cultura”, pode “escovar a história a contrapelo”, ou seja, por narrar as experiências vividas, pode levar o outro a refletir sobre pensamentos, ações e outros elementos que a classe dominante definiu como natural e lógico. Através da voz do escravo Antero, Firmina aborda a questão do trabalho. Quando criticado por Túlio por fumar e beber, o velho escravo disse ser o único vício que tem e o conserva, até porque não prejudica


ninguém. E acrescenta que quando vivia na África, “bebia muitas vezes, embriagava-me, e ninguém me lançava isso no rosto; porque para sustentar meu vício não me faltava meios. Trabalhava, e trabalhava muito, o dinheiro era meu, não o esmolei” (Reis, 1988, p. 143). Firmina mostra que na África, os negros trabalhavam para se manterem e se divertiam nos dias de descanso. E através do trabalho podiam comprar produtos de boa qualidade, tendo assim uma vida tranqüila e satisfatória, diferente da vida que levavam no Brasil, em que como escravo tinha o pior tratamento e lhe sobravam o pior de tudo. Enfim, Maria Firmina dá, historicamente, visibilidade ao negro e as relações sociais entre eles e os seus senhores, compondo, assim, a realidade em que os escravos se encontravam, concedendo-lhes dignidade humana, sentimentos e memória. Eles passam a ser agente, sujeito de sua história. 3. Mulher no sistema patriarcal

Segundo Martin (1988), no século XIX, raros livros expunham a tirania do homem com respeito à mulher, como Reis descreveu. Schmidt (1999) comenta que em obras resgatadas de escritoras do passado, mesmo com dificuldade em instituir sua autoria, questionam e discutem aspectos relacionados a personagens femininas, provocando deslocamentos semânticos significativos do campo convencional e tradicional sob a ótica masculina. A ideia de autor no século XIX estava diretamente associada à identidade masculina, como pai da obra, e não mãe, e era ele que tinha direito a voz. Tais deslocamentos abrem espaços de resistência, de não submissão dos textos à coerção ideológica dos scripts impostos pelo contexto histórico-social e pelos valores estéticos da época em que os mesmos foram produzidos (SCHMIDT, 1999, p. 37). A representação das mulheres brancas em Úrsula é uma visão crítica do papel delas na sociedade patriarcal no século XIX. Mendonça (1999) expõe que enquanto o poder patriarcal se impunha sem contestações, essa nova perspectiva quanto à posição da mulher, considerada inferior, se instaurava imperceptivelmente livre de questionamento. Ainda de acordo com a autora, uma das características do Romantismo era a preparação de uma nova perspectiva de mudanças sociais, econômicas, que iriam influenciar as ideologias da época. E foi nesse período, século XIX, Maria Firmina dos Reis rompe com a ideologia da época e promove uma mudança de posturas, ou seja, surge uma nova relação identitária. Reis (1988) mostra a personagem como a típica heroína romântica: tão caridosa; bela; olhos negros, formosos e melancólicos; tímida, ingênua e singela em todas as ações. A personagem é apresentada como sendo uma donzela frágil e desamparada é disputada pelo bom moço, Tancredo, e o vilão, seu tio Fernando P… De acordo com Mendes (2006), na tentativa de estar em sincronia com os padrões literários da época, Reis reproduz alguns Estereótipos femininos que atenda a perspectiva masculina.


Mendonça (1999) declara que as personagens femininas desestabilizaram a ordem patriarcal, fazendo, sob o ponto de vista imaginário, outras escolhas. Reis (1988) narra que a casa de Luísa B… e de Úrsula era diferente dos padrões da época, em que não havia um homem para assumir o comando: eram as duas e os escravos. Além disso, a casa era simples e modesta, porém agradável. Simples e solitária era essa casa implantada sobre um pequeno outeiro, donde a vista dominava a imensidade dos campos. Um aspecto de nobre singeleza apresentava; pouca extensa era, mas coroava-a um agradável mirante, orlado de largas varandas, por onde uma onda de ar tépido divagava rumorejando (REIS, 1988, p. 29). Conforme Mendes (2006), a casa da matriarca na narrativa é um espaço privilegiado, pois representa o lugar em que a mulher reina como soberana, detentora do poder. Na visão da autora, o casa também simboliza o refúgio, a proteção e o seio materno. A obra fala de Luísa B…, mãe de Úrsula, levou uma vida de sofrimento com o irmão Fernando P… e depois com o marido e mãe de Tancredo que sofreu sob o jugo do marido opressor. Tancredo comenta sobre sua mãe, que não tem o nome revelado, ser uma mulher santa e humilde, pois convivia com seu pai, Comendador P…, homem impiedoso e orgulhoso, que a magoava a ponto de chorar de infelicidade e desgosto. O personagem continua contando seu passado, mostrando o quanto o sistema patriarcal era forte, porque ele ficou afastado de sua mãe por seis anos para estudar direito e ela estava cheia de saudades. Ela sofria a sua ausência, “porque era vontade de seu esposo”, além de temê-lo e respeitá-lo, conforme Reis (1988, p. 49). Nesse sentido, a mãe de Tancredo, submissa ao marido, é a representação do sistema patriarcal do século XIX. Mendes (2006) conta que Maria Firmina usa um homem, Tancredo, para denunciar e criticar a relação hierárquica entre homem e mulher naquela época, em que era natural o mundo ter comando masculino, demonstrando o desejo de igualdade de gêneros, uma vez que a mulher era vista como ser inferior. Meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava em silêncio, e resignava-se com sublime brandura. Meu pai era para com ela um homem desapiedado e orgulhoso – minha mãe era uma santa e humilde mulher (REIS, 1988, p. 49). Ainda no núcleo dramático de Tancredo, surge Adelaide, por quem se apaixonara quando retornou da faculdade de direito para casa e que o fizera sofrer de amor até encontrar Úrsula. A personagem Adelaide, bela e encantadora, era órfã de pai e mãe e foi acolhida pela mãe de Tancredo como uma filha. Comendador P… não aceitava a união dos dois, mas após muitas insistências, permitiu o casamento entre eles, desde que o filho esperasse um ano, trabalhando em outra província. Tancredo aceitou a proposta do pai: “Baixei os olhos, meditei por largo tempo, e submeti-me a sua vontade férrea. Saí do seu quarto prostrado de amargura, e porque a dor era funda em meu coração” (REIS, 1988, p. 58). Quando retorna para casa, devido à morte de sua mãe e na tentativa de encontrar seu amor, Adelaide, é surpreendido com o casamento entre ela e seu pai. – Mulher infame! – disse-lhe – perjura… onde estão os teus votos? É assim que retribuíste a estremecida paixão que te rendi? É com um requinte de vil e vergonhosa traição que compensaste o ardente afeto da minha alma?… Monstro, demônio, mulher fementida, restitui-me minha pobre mãe, essa que também foi tua mãe, que agasalhou no seio a áspide que havia de mordê-la!… (REIS, 1988, p. 66). Mendes (2006) explana que Adelaide representa a mulher do povo, que submete a tudo pela sobrevivência, aceitando determinadas práticas em prol da sobrevivência. Ela inicialmente é apresentada como uma pessoa sofredora e de repente reverte o jogo, ou seja, passa de agregada à amante. Adelaide, portanto, representa a imagem das diabas, sereias e medusas, simbolizando a luxúria. Luísa B…, mãe de Úrsula, na trama é uma mulher paralítica, que sofre com o ódio do irmão, após contrariálo, uma vez que ele reprovava seu casamento. Seu coração só se abriu uma vez, foi para o amor fraterno. Amou-me, amou-me muito; mas quando tive a infelicidade de incorrer no seu desagrado, todo esse amor tornou-se em ódio, implacável, terrível, e vingativo. Meu irmão jamais me poderá perdoar… Amou-me na infância com tanto extremo e carinho que o enobreciam aos olhos de meus pais, que o adoravam, e depois que ambos caíram no sepulcro, ele continuou a sua fraternal ternura para comigo. Mais tarde, um amor irresistível levou a desposar um homem que meu


irmão no seu orgulho julgou inferior a nós pelo nascimento e pela fortuna. Chamava-se Paulo B… (REIS, 1988, p. 73, 74). O ódio de Fernando P… surgiu com o casamento de Luísa B… com Paulo B…, porque julgava o cunhado de nível inferior a sua irmã. Uma transgressão de valores na época, em que se uma mulher cria um conflito com o detentor do poder no sistema patriarcal da época. Paulo B… não compreendeu a grandeza do amor de Luísa B…, e ela cumulou desgostos e aflições, pois seu esposo desrespeitava seus deveres conjugais, gastando sua fortuna com amantes. Seu marido foi assassinado e, meses depois, ela ficou paralítica e com muitas dívidas, que foi comprada por seu irmão, deixando-as no infortúnio. A sua alegria, no casamento, foi a sua filha Úrsula. Com a morte de Luísa B…, Tancredo a leva para o convento, como proteção de Fernando P…, que tenta de todas as formas possíveis tomar sua sobrinha em casamento. Pouco antes do casamento entre os dois protagonistas, Tancredo e Úrsula, Túlio é capturado, mas consegue escapar do cativeiro. Túlio é morto antes de avisar ao amigo da perseguição de Fernando P…, de forma que o tio de Úrsula encontra o casal feliz por ter sua amada como esposa e mata Tancredo antes de consumar o matrimônio. Úrsula fica louca até a morte. Mendes (2006) aponta que Úrsula sofre duplo martírio, um grande sofrimento, perda do esposo e da razão, ao amar Tancredo e sofrer com os assédios do tio e as consequências disso: Seu amado assassinado pelo tio antes da consumação do matrimônio. Novamente, Reis (1988) reforça, de modo crítico, o poderio do homem naquela sociedade. Tanto o Comendador P… como o Fernando P… são representações do machismo da época. Segundo Mendes (2006), eles simbolizam a encarnação do mal, o vilão que destruiu a vida de várias pessoas para alcançar os seus objetivos, assumindo assim o papel de antagonista. Considerações finais Esse artigo permitiu uma análise do romance Úrsula, que possibilita conhecer a história, não nas vozes dos dominantes, mas nas dos excluídos, como mulheres e negros, mas com perspectivas diferentes dos demais escritores de sua época. Maria Firmina dos Reis, como mulher e afrodescendente, foi uma escritora, que, por muito tempo, teve suas obras esquecidas, sendo reconhecida após sua morte, como a primeira escritora brasileira, quando um pesquisador encontra um único exemplar do livro Úrsula, que é considerado o primeiro romance abolicionista na literatura brasileira. O resgate dessa produção literária, ao ser escrita por uma mulher, e que assumiu uma posição inferiorizada, pois diante do domínio literário masculino, traz à tona uma nova história que permite rediscutir conceitos sobre negros e mulheres no século XIX.


FRANCISCO TRIBUZI131132 FRANCISCO JOSÉ SANTOS PINHEIRO GOMES São Luís do Maranhão / 24 de janeiro de 1953 Geração Hora do Guarnicê / 1970 Geração Cassas Grupo da Rua Candido Ribeiro Filho do saudoso escritor José Tribuzi Pinheiro Gomes e da Sra. Maria dos Santos Pinheiro Gomes. Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil, em 24 de janeiro de 1953. Fez o curso primário no Instituto Lourenço de Moraes e no Colégio Zoé Cerveira. O segundo grau, no Colégio Nina Rodrigues. No Colégio de São Luís, o Curso Técnico em Contabilidade. Cursou Química pela Universidade Federal do Maranhão,UFMA, não o concluindo. Profissionalmente, exerceu o magistério, nos colégios Nina Rodrigues, Almirante Tamandaré e Unidade Integrada Bandeira Tribuzi. Foi chefe de gabinete do Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente, no Governo João Castelo. É funcionário da Companhia Energética do Maranhão, onde trabalha, há 16 anos, como assessor de Comunicação Empresarial. Do primeiro matrimônio com Izaíde de Araújo Rodrigues, nasceram Clarice Rodrigues, poeta, e Vinicius Tribuzi Pinheiro Gomes. Do segundo matrimônio, com Maria das Dores, nasceram Artur e Raul Tribuzi. A priori, optou pela pintura, seguindo a trilha do italiano Domingos Tribuzi, tio-avô do seu pai. Expôs seus trabalhos em várias mostras, nas quais logrou prêmios. No final da década de 70, ele entremisturou-se de pintura e literatura: “achava, a princípio, que a pintura era a minha arte. Ela não deixou de ser a minha arte, mas foi suplantada por uma arte maior, que é a poesia”, observa. Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”. É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís. A antologia virou movimento", afirma. Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em Porto Alegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera. Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por Herberth de Jesus Santos e “Tempoema”, ambos de poesias. O terceiro, intitulado “Sob a ponte”, reúne contos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal. Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova 131 132

CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem). In RECANTO DAS LETRAS, Disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2394790, acessado em 24/04/2014. 50 ANOS DE FRANCISCO TRIBUZI. In Suplemento Cultural e Literário JP GUESA ERRANTE, publicado em 29 de novembro de 2005. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina224.htm, acessado em 24/04/2014


geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”. Seu pai, Bandeira Tribuzi, num plano espiritual superior, certamente retribui o orgulho que o filho sente do pai. E em nome do pai, do filho e da poesia, Francisco Tribuzi encontrou sua própria identidade: “Por mais que eu não quisesse, todos os dias eu amanheceria com a poesia norteando todo os meus caminhos. Por mais que eu quisesse fugir da poesia, ela continuaria me perseguindo e eu me sinto feliz, por ser um eterno aprendiz dela.” Francisco Tribuzi é da geração de Rossini Corrêa e Cunha Santos Filho. De livro, publicou apenas Verbo Verde, poesia, composto e impresso pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís, MA, julho, 1978. No entanto, participou de várias antologias, entre outras, A Atual Poesia do Maranhão, organizada por Arlete Nogueira Machado; As Lâmpadas do Sol, organizada por Carlos Cunha, e em outras antologias como Hora de Guarnicê I e II, Poetas da Ponte; Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil. Também participou da revista literária Um Degrau. Tem premiação em vários concursos: Menção Honrosa Especial do 5º Concurso Nacional de Poesia, organizado pelo Instituto de Poesia Internacional, Porto Alegre-RS, dezembro, 1972; 1º lugar no Concurso de Poesia Dia de Luz, da Companhia Energética do Maranhão – CEMAR, em 1995, com o poema Delirium Tremens, Medalha de Ouro no 18º Concurso Nacional de Poesia, promovido pela revista Brasília, 1996. É membro fundador da Associação Maranhense de Escritores (AME). Tem alguns livros inéditos: Azulejado e Tempoema, poesia, e Sob a Ponte, conto.

ODE AO JORNALISTA Acorda que a cidade dorme e o silêncio perpetua a imensidão das coisas. Acorda que a madrugada é fria e principia a manhã sonhada. Acorda que logo mais o jornaleiro estará nas ruas e as notícias cruas desvendará: o que aconteceu, a vida que morreu nessa noite a mais. Noite em que o jornalista não dormiu e a tudo assistiu madrugada afora, e colheu a notícia na hora e aproveitou a essência da rosa recém-nascida para colocar em manchete no jornal de seus olhos onde não dormem nunca o Segredo e a Madrugada. (Poema do livro Verbo Verde)


DELIRIUM133 Vomitando nuvens no dia de chuva atropelo sonhos dos jardins de ócio no fel da fantasia falsa da uva criatura expulsa, réu do mau negócio Arrepios dissonantes de tantas noites vãs tecendo as trevas do abandono apagando os sóis telúricos das manhãs incendiando a noite irreal, no sono tanto mar defronte e tanta brisa eu turvando a vida do lado de dentro com a alma solta o corpo agoniza distorcendo o mundo no perdido centro Ó pesado álcool que me aprisiona ao submundo mudo dos precipícios na cadeia escura e cruel da zona onde bebo e como todos os hospícios Onde Deus que me levantasse desse chão de cuspe medo e solidão e me arrependesse e me atirasse desse mundo alheio para outro chão Onde sonhos sóbrios me arrematassem das trevas trêmulas da desilusão e num rio límpido me lavassem e me devolvessem pleno, salvo e são para o raiar de um novo dia feito do pão puro da poesia! (Do livro inédito Tempoema)

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http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina221.htm


WALDEMIRO ANTÔNIO BACELAR VIANA

http://www.academiamaranhense.org.br/waldemiro-antonio-bacelar-viana/

Nasceu em São Luís, a 24 de julho de 1946. Filho de Fernando Viana e Maria de Lourdes Bacelar Viana. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Luís. Advogado, militou no foro de São Luís. Entre as funções públicas que já exerceu, citam-se as de Assessor Administrativo da Sanel – Companhia de Saneamento de São Luís; Assessor de Relações Públicas da Caema – Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão; Assessor Jurídico da Cimparn – Companhia de Implantação de Projetos Agrários do Rio Grande do Norte; Diretor da Divisão de Serviços Patrimoniais da UFMA; Diretor Técnico da Comarco – Companhia Maranhense de Colonização; Diretor Administrativo e Financeiro da Cohab-MA; Assessor da Presidência do Iterma – Instituto de Terras do Maranhão; Advogado do Ineb – Instituto Estadual do Babaçu; Advogado do Projeto Radam – Brasil, em Salvador. De volta a São Luís em 1985, aqui exerceu as funções de diretor-executivo da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão, 1986-87; diretor do Departamento de Assuntos Culturais da UFMA, 1987-88; assessor especial do Reitor da UFMA, 1988-92; assessor do Secretário de Fomento à Indústria e ao Comércio do Estado do Maranhão; chefe de Gabinete da Secretaria de Agricultura do Estado do Maranhão; assessor de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi membro titular do Conselho Estadual de Cultura do Maranhão; membro titular do Conselho Universitário da UFMA; membro do Conselho Administrativo da Emater. Integrante do quadro de pessoal permanente do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão (em processo de aposentadoria). Membro do Conselho Curador da Fundação José Sarney. Agraciado com a Medalha do Mérito Timbira, no grau Oficial; Medalha João Lisboa, pelos relevantes serviços prestados à Cultura, outorgada pelo Conselho Estadual de Cultura do Maranhão. Autor de numerosa colaboração publicada na imprensa de São Luís, notadamente crônicas e artigos, dos romances Graúna em roça de arroz. São Luís: Sioge, 1978 (2ª ed., São Luís: Sotaque Norte, 1994); A questionável amoralidade de Apolônio Proeza. São Luís: Edufma, 1990; O mau samaritano. São Luís: Edufma, 1999; A tara e a toga. São Luís: Fundação José Sarney, 2011; O pulha fictício. São Luís: Edições AML, 2013 e de Passarela do centenário & outros perfis (sonetos). São Luís: Edições AML, 2008. Publicou, às quintas-feiras, crônica na seção Sacada, de O Imparcial, ao longo de dois anos, e no jornal Folha do Maranhão, por cerca de um ano.


AURORA EM ESTADO DE GRAÇA E POESIA RICARDO LEÃO poeta e ensaísta http://orugidodoleo.blogspot.com.br/2017/07/aurora-em-estado-de-graca-e-poesia-ha.html?spref=fb

Há tempos venho devendo um ensaio, uma crítica sobre a obra de uma das vozes femininas mais distintas da poesia maranhense. Refiro-me a uma poeta que já tem poesia no próprio nome: Aurora da Graça Almeida. Certamente, nesses tempos em que o feminismo não é apenas uma questão de afirmação política do feminino, mas uma luta sem trégua para que a mulher seja enfim reconhecida em todos os campos, a voz poética de Aurora da Graça reclama, cada vez mais, o devido reparo da crítica e a atenção que sempre exigiu entre nós. A bem da verdade, a poesia maranhense, ao longo do século XX, foi ocupada por vozes masculinas poderosas, como a de Ferreira Gullar, José Chagas, Bandeira Tribuzi, Nauro Machado, o que certamente inviabilizou a apreciação de outras vozes, sobretudo femininas, no contexto da produção literária que se afirmou ao longo do período. É preciso, sem dúvida, considerar uma dose significativa de falocentrismo em tudo isso, uma vez que, apesar do Maranhão ter gerado a primeira voz feminina do romance brasileiro, Maria Firmina dos Reis, a presença de mulheres na produção local sempre esbarrou em um denso véu de silêncio e, porque não dizer, de preconceito explícito em relação à literatura produzida pelas representantes do gênero no campo literário. Desde o século XIX, Maria Firmina dos Reis e algumas vozes femininas solitárias têm disputado posições no campo literário massivamente masculino, e apenas a partir da segunda metade do século XX é que escritoras e poetas começaram a surgir e a ser reconhecidas com mais frequência no cenário da produção literária do Maranhão. Entre essas vozes constelares, que começam a dar uma feição peculiar e própria à literatura produzida por mulheres em um dos estados com um dos mais antigos e consolidados sistemas literários do Brasil, decerto figura a obra ímpar e fecunda de Aurora da Graça Almeida. A obra de Aurora é uma das finas e elegantes que a literatura maranhense tem produzido nos últimos 40 anos, já devidamente consolidada, tendo chamado inclusive a atenção de alguns poetas e intelectuais nada invulgares, a exemplo de Carlos Drummond de Andrade, Arlete Nogueira da Cruz, José Chagas, Carlos Cunha, Marcia Tiburi, e até mesmo um contato breve com Clarice Lispector, de forma que, a despeito de relativo silêncio crítico sobre sua produção, sua escrita atraiu e tem atraído a atenção meritória do campo literário e época em que tem produzido seus livros. Com certeza, o dilatado espaço de publicação entre as obras, somado ao fato de que Aurora da Graça não fez questão de ser outro medalhão do meio, ostentando sua presença e figura entre os escritores, contribuiu para que sua produção ficasse ao largo dos nomes que circulam com mais destaque entre os agentes do campo. Contudo, a despeito dessa ausência relativa, a produção de Aurora tem apenas crescido, tornando-se distinta desde o primeiro livro, Cavalo dourado (1977) até o mais recente, a coletânea de inéditos e de todos os demais títulos, O tempo guardado das pequenas felicidades (2009), no qual reúne uma vasta reunião de poemas, demonstrando um alentado e inventivo fôlego, o que confirma que sua contribuição para a literatura produzida no Maranhão vai muito além dos poucos títulos publicados em um intervalo considerável de anos, desde 1987, quando de seu Memória da Paixão. Entretanto, o que exatamente Aurora da Graça Almeida tem a nos dizer em seus delicados versos? Qual exatamente a matéria com a qual trabalha, da qual arranca a tessitura de seus textos? Qual exatamente o sopro de angústia ou motivação existencial que conduz Aurora à expressão poética? Tais questionamentos, a despeito das respostas, são respondidos em parte desde o primeiro livro de Aurora, que já nasce com um estilo e uma expressão muito próprios, que nos revelam a cada livro uma poeta que não está preocupada com uma dicção grandiloqüente ou, em outro sentido, desvelar-nos formas inéditas de composição e experimentos vanguardistas. Aurora da Graça Almeida é uma poeta do humano, em todos os sentidos possíveis, mas de um humano que retira, da matéria do cotidiano e até dos eventos mais banais da existência, a matéria lídima de sua reflexão poética, marcada por versos e imagens que nascem de construções discursivas eivadas de um ritmo espontâneo, muito pessoal, e que a aproxima muito de outras poetas que extraem dessa mesma matéria o canto que as singularizou, pontuado pelo mais intenso e expressivo confessionalismo, como Adélia Prado ou Cora Coralina, por exemplo. No entanto, não há nos


versos de Aurora o diálogo algo religioso bem peculiar de Adélia ou as notas memorialistas de Cora Coralina. A trajetória de Aurora singra por outros oceanos, em que o diálogo com o divino ou com a memória tem outras tonalidades, muito próprias de uma mulher que deseja exprimir-se por meio da palavra não apenas pelo desejo de um exercício vocabular de natureza intelectual, mas porque há uma necessidade emocional e ontológica de manifestar o seu assombro e sua percepção do tecido existencial, cujos fios são desvelados através de seus versos repletos de uma pulsante vitalidade feminina, como em Esperança vã: A manhã me nutre de esperança e não vens a manhã me comove pela praça e não vens a manhã comparece e jorra luz vaza telha transparente e não vens a manhã se mistura com a brisa muitas águas maré alta concretiza sua essência e não vens a manhã me insinua que tu vens nalguma tarde embriagada de manhã. Dir-se-ia que Aurora extrai, portanto, do confessionalismo emocional a força da expressividade espontânea e genuína de seus versos, marcados por um ritmo natural, que é o ritmo natural do discurso, no entanto atravessado por uma necessidade de dizer que desautomatiza a percepção das construções vocabulares mais comuns que, enfeixadas através de uma sequência repleta do pathos da experiência, da emoção e da percepção plástica da língua, explodem em verdadeira poesia, ainda que despida dos trajes austeros do verso de tons mais rebuscados. Isso porque a poesia de Aurora não dá sinais de que pretende ser uma poesia rebuscada, pretensiosa do ponto de vista acadêmico, ou, como alerta magistralmente Drummond em uma correspondência à autora: “Vejo que para você a poesia não é simples exercício verbal, mas sim uma forma de existir e sentir-se existir, com emoção e percepção interna dos versos, das situações e das coisas.” E o mestre de Itabira conclui: “Poesia viva, portanto”. E é dessa ordem de poesia, ainda rara entre os poetas brasileiros, da qual estamos falando. Uma poesia sumarenta, feita da mais pura matéria existencial, da própria vida do artista, que não tem a pretensão intelectual, no entanto, de ser apenas um artesão linguístico, um sofisticado e por vezes abstruso artista da palavra e da língua, mas simplesmente o artista que tem a necessidade linguística e artística de exprimir-se, de ser e de existir, e transformar em poesia o próprio tecido da vida, forjando, através do verso, uma arte que dispensa o exercício verbal que pretende rasgar o tecido linguístico da expressão, mas justamente aproveitar a pulsão erótica, a pulsão emocional, a pulsão da própria percepção, em estado de assombro, a fim de extrair, da matéria confessional, rasgos de uma expressão sincera, mas despojada. E, ainda assim, de uma genuína força poética, rara até mesmo entre as constituições poéticas mais consagradas, ou entre os poetas capazes de conduzir o idioma aos experimentos linguísticos mais radicais, e que, no esforço, perdem a comunicação com o humano e com a existência, forças que, quando ignoradas em uma obra poética, a tornam alienada, vazia, um belo objeto de arte pela arte, mas que não conta com a participação viva e vívida do leitor que busca, no verso, a transubstanciação da matéria inerte da existência e da vida em poesia. Que outros artistas, ao longo do século XX, que também trilharam por senda semelhante? Um nome, muito aparentado à poesia que Aurora cultiva, é o de Jacques Prévert, na França, e aqui no Brasil, além das poetas já citadas, a voz de Carlos Drummond de Andrade, que também soube perceber a profunda conexão que há entre a confissão, através da força pulsante de uma poesia mais despojada, e a própria vida. Aurora nos fornece a todo momento o testemunho disso em uma produção repleta de poemas curtos, entre outros menos curtos, onde a vida, em ritmo cativante, assalta-nos através de uma delicada e sentida elegância verbal:


Estirada no varal do coração escorre o que não digo ou sinto a palavra paz. .... Contemplar a noite e vê-la arrastar-se pelas entranhas dos que ainda esperam em vão entre o que pulsa e o que adormece em quietude desafio constante entre desejos afagos martírios e lembranças viver entre o escuro e o clarão prometido do dia guardião de olhos abertos sentinelas da espera viver enquanto te exclues e te eximes de mim. ... Enquanto dormes tua alma vagueia engana teu sono estremece tuas entranhas deságua em tua boca e move o insuportável. ... Quisera não ter pernas meu riso se espalharia quisera não ter pernas usaria minhas asas quisera não ter mãos o poema se calaria quisera não ter olhos o escuro seria imagem quisera não ter alma seria irmã do robô quisera não ter febre fosse brasa camuflada quisera não ser estilhaço


que a palavra fere e cala. ... Minha morte não transmitam na televisão não anunciem aos que não me amaram não revelem aos que não souberam como sou alegre ou contundente abstenham-se de um choro que não quero matriculem-se na lembrança mais longínqua de vosso coração não permitam que conversem ao meu redor se tantas vezes ninguém me ouviu tão perto de mim não façam de meu silêncio definitivo palco de vossas vozes excitadas comedidas ou tranquilas se tantas vezes o que disse não tocou vossos ouvidos agora não me falem o que não ouço. ... A mulher veio primeiro cabelos mais brancos que neve pés expostos ao frio o homem negro sob chapéu de abas largas cinza de cor seu paletó pede poucos pães o rapaz adentra quer café quente e açúcar cabelos negros de moldura para sua face bela entra outras mulheres com suas vestes rancheiras aprumadas sob o frio de Minas escolhem leite frio sobre o balcão o caderno de notas crediário para os que alongam sua dívida de pão. ...


O café da manhã me supre em seiva me socorre e só, corro para o dia. Tais exemplos, e muitos outros, servem para testificar a capacidade desassombrada e natural de Aurora de lidar com os elementos e recursos mais singelos, perceptíveis no tecido do idioma, para fabricar a sua poesia de tons confessionais, emotivos e genuinamente poéticos. E isto é revelador de uma poeta que tem consciência absoluta do repertório instrumental que domina para obter os efeitos insólitos que alcança em níveis expressivos. O grupo francês OULIPO (Ouvroir de Littérature Potentielle ou Ateliê de Literatura Potencial), em décadas de experimentação e pesquisa chegou à conclusão de que a perfeita consciência das regras linguísticas e formais que permitem a produção do texto poético é que distingue os poetas mais talentosos daqueles que não têm absoluta consciência e domínio dos recursos expressivos que utilizam para a produção literária. Em outros termos, um poeta que afirma que não obedece regras e recursos formais para exprimir-se em termos poéticos é porque desconhece as regras e recursos formais que utiliza o tempo todo. Ou seja, não possui consciência de seu próprio fazer poético, porque todos, ao cultivar um artesanato qualquer, incluso o linguístico, desenvolvem também um conjunto de instrumentos próprios com o qual desenvolve um estilo, uma marca expressiva que os distinguem de outros. Com Aurora da Graça tal inconsciência não se dá em nenhum momento. Utilizando de modo intencional uma expressão despojada e até mesmo singela, Aurora é senhora completa do seu ofício, pois tem um absoluto domínio de seus recursos expressivos, uma vez que controla o fluxo verbal discursivo como poucos, tornando-se assim muito distinta da massa enorme de versejadores vulgares e prosaicos, que se esforçam sem sucesso por arrancar verdadeira matéria poética da confissão, mas não conseguem porque não percebem com agudez, perspicácia e sensibilidade o andamento rítmico da língua, a beleza plástica das ferramentas vocabulares, cujo mister não necessita de formação teórica ou absoluto empenho retórico e intelectual em dominar todo o repertório moderno ou clássico da versificação, mas tão somente uma consciência linguística sensível e fecunda, atributos que são fartos na obra de Aurora da Graça Almeida, a poeta que já tem, em seu próprio nome, uma pequeno poema que sela o seu fado, assinalando, assim, o nascimento à criação literária. Muito além de uma simples professora que eventualmente faz versos, Aurora da Graça Almeida, com sua sensibilidade feminina ímpar e notória capacidade expressiva de lidar com a plasticidade espontânea da língua, produziu e tem produzido, nos quadros literários da poesia no Maranhão, uma obra singular, ornada com a simplicidade despojada de versos algo prévertianos, inundados dos ritmos e imagens da existência e do cotidiano, que também nos inundam de uma percepção da vida que, em tempos assinalados pela brutalidade e pela barbárie, exigem que retornemos à doce e singela poesia das auroras em estado de graça.


AS LÂMINAS VERBAIS DE VIRIATO GASPAR RICARDO LEÃO poeta e ensaísta http://orugidodoleo.blogspot.com.br/2017/07/as-laminas-verbais-de-viriato-gaspar.html?spref=fb Tratarei agora de uma das vozes mais poderosas e distintas da poesia contemporânea maranhense, que me atraiu atenção e fascínio desde o seu primeiro livro. Refiro-me ao poeta Viriato Gaspar, dono de uma dicção singular que, desde 1984, quando publicou Manhã portátil, seu primeiro livro de poemas, foi auspiciosamente recebido pelo melhor da crítica à época. Neste livro, que despertou o meu interesse ainda quando adolescente, na distante São Luís de 1985, encontrei um poeta senhor de uma técnica invejável, de uma espontaneidade vocabular e metafórica muito peculiar, cultivador de um engenho poético definitivo na feição de uma tradição maranhense do verso que remonta, como um de seus mais legítimos herdeiros, na linha do tempo, a lírica poderosa de Teófilo Dias e Maranhão Sobrinho, e que em tempos mais recentes familiariza-se com a poesia dos modernos maranhenses Nauro Machado, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi e o paraibano de nascimento, mas naturalizado maranhense, José Chagas. De todos esses, Viriato Gaspar herda o artesanato verbal, o esforço consciente de criar poesia mais moderna envergadura com os instrumentos do clássico e do moderno ao mesmo tempo, desprezando os vanguardismos vazios e retóricos que resvalam em ressentimento contra o verso tradicional, com metro e rima, recursos expressivos através dos quais o poeta, desde Manhã portátil, exprime-me como poucos.

Cabe, talvez, aqui uma pequena anedota. Certa vez, em visita ao extinto SIOGE (Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado do Maranhão), um verdadeiro centro editorial da cultura maranhense de então, através não apenas do Plano Editorial Gonçalves Dias, encontrei, entre outras figuras do cenário literário da época, Nauro Machado. Sobre uma mesa, estavam exibidos os últimos títulos do Plano Editorial, entre os quais, o Manhã portátil, de Viriato. Eu, ainda na aurora de meus experimentos verbais, vi o Nauro tomar o exemplar de Manhã portátil nas mãos, folheá-lo com paciência e atenção, e, após alguns longos minutos de silêncio, fez um muxoxo com os lábios, e declarou em voz alta para mim, ao seu lado: “É, isso sim é que é poesia.” Foi o que bastou para mim, ávido leitor de Nauro, para adquirir um exemplar de Manhã portátil, e lêlo por dias, meses e anos a fio, sem parar. Com efeito, havia encontrado naquela reunião de poemas, a atestar a acuidade irretocável do juízo literário e crítico de Nauro, um poeta de primeiro time, daqueles que


nos convidam, desde o primeiro poema, a uma jornada de inesgotáveis prazeres estéticos com versos que são, a meu ver, uma das mais belas e significativas contribuições do século XX ao acervo literário do Maranhão, um estado que não cessa, em sua usina inexaurível de palavras e de talentos artísticos, de gestar poetas de uma grandeza inquestionável e arrebatadora. Pois arrebatadores são os poemas de Manhã portátil, desde os primeiros versos do alentado Índice: o homem é a matéria do meu canto, qualquer que seja a cor do que ele sente. e não importa o motivo do seu pranto, é um homem, meu irmão, e estou doente de sua dor, e é meu o seu espanto do mundo e desta hora incongruentes. na trincheira do verbo me levanto contra o que contra o homem se intente. o homem é o objeto e o objetivo de quanto sei cantar, e o canto é tudo que pode me explicar porque estou vivo. às vezes sou ateu, noutras sou crente, em outras sou rebelde, em algumas mudo: - sou homem, e canto o homem no presente. Um poema muito sensível e humano, de um livro muito sensível e humano, muito apropriado aos tempos de ferro dos últimos anos no mundo e no Brasil. O talento poético de Viriato, no entanto, tem uma longa história, que não começa de Manhã portátil em diante. Pertencente a uma geração profícua e extremamente talentosa, talvez a mais fecunda e robusta após a geração de Nauro Machado, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi e José Chagas, a poesia de Viriato foi fecundada no leito do vigoroso caudal da tradição literária maranhense. Seu nome alinha-se aos de outros poetas surgidos no período, como Chagas Val, Valdelino Cécio, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Francisco Tribuzi, Rossini Corrêa, e, na música, César Teixeira, Sérgio Habibe, Josias Sobrinho, Giordano Mochel Filho, entre outros talentos que, juntos, formaram a atmosfera cultural da ilha de São Luís durante as décadas de 1970 a 1980, na qual poetas mais jovens, como eu, fomos nutridos por lufadas de uma poderosa cultura verbal e musical, sem contar com as obras dos grandes nomes já citados: Gullar, Tribuzi, Chagas, Nauro. Neste sentido, em termos históricos, Viriato inscreve-se num cenário muito fecundo, do qual irá provir o grupo de poetas mais representativo do período, que, desde o Liceu Maranhense, quando ainda secundaristas, começaram a agitar o cenário local criando grupos e, em decorrência disso, mais tarde, o movimento Antroponáutica, fundado ainda nas dependências do Liceu, num dia de domingo. No ano de 1972, publicam juntos uma antologia batizada com o nome do movimento, e depois a antologia Hora de guarnicê, publicada em 1975 sob o selo editorial da José Olympio, adicionados os nomes de João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa, entre outros. Com estes dois feitos, surge um dos mais fecundos e vigorosos grupos literários da poesia contemporânea maranhense, que, desde então, vem publicando sucessivamente. No entanto, o projeto estético de Viriato Gaspar distingue-se, sob muitos aspectos, dos demais poetas do grupo. Afeiçoado aos instrumentos tradicionais do verso, como o metro, ritmo e a rima, Viriato tem sido um dos raros poetas maranhenses que, com a convicção de que a iconoclastia não é um caminho necessariamente inexaurível e criativo à toda prova, resolve adotar uma dicção que retorna, sobretudo na esteira verbal de Nauro e Chagas, ao cultivo dos recursos expressivos que sempre caracterizaram a construção arquitetônica da arte poética da palavra, sem desprezar, no entanto, os recursos expressivos desenvolvidos ao longo da modernidade. Neste sentido, Viriato construiu uma trajetória poética e literária que se afasta do intenso e, por vezes, vazio prosaísmo que tem caracterizado o discurso poético dos poetas dos últimos 40 anos, particularmente à entrada do século XXI, em que se tornou praticamente um tabu


velado ou explícito o ato de escrever sonetos, utilizar o rimário opulento da língua portuguesa, e adotar a métrica, além de outros recursos, como instrumentos do artesanato verbal da poesia. Com efeito, Viriato recusou-se à crença algo dogmática de que a beleza irredutível da palavra só pode ser alcançada se o poeta desprezar por completo e para sempre o soneto, entre outras formas fixas, o metro e a rima. Desde Manhã portátil (1984), passando por Onipresença (1986), A lâmina do grito (1988) e Sáfara safra (1996), Viriato Gaspar tem se mantido fiel a uma dicção bem peculiar, na qual os instrumentos do moderno aliam-se às forças da tradição, no cultivo de versos em que a força metafórica explode através de coerções que ampliam o poder expressivo da palavra, condicionado à arquitetônica da rima e do metro, como em Prefácio, dedicado a outro mestre do verso tradicional, José Chagas: Para que o mundo não pesasse tanto nem me doesse tão profundamente, era preciso que não houvesse pranto ou que meu coração fosse dormente. Para que a vida me fosse tranquila (não esse pantanal que a vida medra e onde a própria existência se aniquila), era preciso que eu fosse de pedra. Mas como eu não sou cego, surdo ou mudo, e a vida e o mundo, a hora e o homem, tudo me pesa com sua crosta de agonia, ergo meu canto como uma trincheira, sabendo-o parco, mas sentindo inteira a dor de cada um, que a minha expia. Ou mesmo na força vocabular do Soneto 19, de A lâmina do grito, no qual Viriato demonstra a perfeita consciência da lição assimilada em As flores do mal, de Baudelaire, a qual consiste em demonstrar que é possível romper com a sintaxe, a dicção metafórica e linguística do clássico com a introdução de elementos vocábulos e rítmicos que são totalmente modernos e, por isso, desautomatizam a percepção viciado do verso tradicional, demonstrando a força ainda fecunda da rima e do metro: O corpo. Sim, o corpo ─ uma arapuca de músculos e nervos enfeixados, pedaço do universo que se ocupa como se, em nós, nós fôssemos fechados. O corpo. Oh sim, o corpo, este arsenal de pomos de poeira acesa em chama. Objeto de uso estritamente pessoal, que a gente empresta às vezes, quando ama. O corpo, sim. A atômica mistura de líquidos e hormônios, carne e ossos, neurônios em fusão com h2O. Brochura estrutural dos voos nossos. Capaz de, no milagre da ternura,


leirar em luz o pez do próprio pó. A tranquilidade expressiva de Viriato no verso metrificado e rimado demonstra, para além da prova inquestionável de que bebeu nas fontes mais vigorosas da tradição ocidental da poesia, uma outra tese: a de que a espontaneidade no verso depende diretamente do uso consciente de uma gama vigorosa de recursos e instrumentos coercitivos da palavra, que permitem, dentro de uma liberdade limitada pelas regras do artesanato verbal, justamente o oposto de uma suposta prisão e asfixia do poético. Ou seja, assim como demonstrou o teórico formalista Iuri Tinianov, em célebre ensaio intitulado O ritmo como fator construtivo do verso (1924), a respeito justamente da poesia em verso livre, ou como afirma o grupo OULIPO (Ouvroir de Littérature Potentielle ou Ateliê de Literatura Potencial), um poeta que não conhece as regras e coerções que utiliza na confecção do próprio verso é mais escravo do que aquele que domina os instrumentos, regras e coerções que utiliza, de modo consciente, em seu artesanato verbal. A obra poética de Viriato Gaspar é a demonstração dessas assertivas, pois Tinianov, em seu ensaio, demonstrou que o verso livre não está livre das pressões dos acentos ritmos da sílaba poética se o poeta, de fato, deseja obter efeitos e resultados expressivos por meio do verso livre. A ausência de uma métrica regular no verso não é ausência desculpável de ritmo, elemento imprescindível para que o texto poético resulte em um conjunto articulado de aliterações, assonâncias, oximoros, metáforas, entre outros recursos expressivos nos mais diversos níveis e estratos da língua (gráfico, fonológico, morfológico, sintático, lexical, semântico e interpretativo), a fim de que se obtenha o esperado resultado artístico: o fenômeno poético. Ou, nos termos formalistas, a literariedade. Ou, em vocabulário mais rasteiro, a beleza verbal poética. Em outros termos, Viriato Gaspar demonstra absoluta consciência, em seu artesanato poético, de que a poesia possui, assim como a música e outras linguagens artísticas, o seu repertório próprio de regras, coerções, instrumentos expressivos, e que desprezá-los, em nome de um suposto vanguardismo ou de uma furiosa iconoclastia, não é garantia de resultados nobres e apreciáveis no que diz respeito à arte do verso. Assim, mesmo praticando o verso livre eventualmente, Viriato não se afasta da lição de Ezra Pound (melopeia, fanopeia e logopeia), a qual diz que a poesia só é completa se garantimos altivez e beleza expressiva em nível de ritmo, forma e conteúdo, tanto em verso rimado e metrificado, como em verso livre. A preferência de Viriato pelo verso rimado e metrificado é apenas a consciência de que sua expressão poética manifesta-se melhor, e com mais alvedrio, utilizando os instrumentos que muitos poetas decretaram como uma prisão, e que, no entanto, nas mãos de poetas como Viriato, operam justamente o fenômeno contrário: a liberdade. Assim, vemos a liberdade poética dos recursos expressivos de Viriato de muitos poemas metrificados ou livres, de sabor de protesto e denúncia social, como em Feira de amostras: na fila do INPS não tem homem só aleijados sifilíticos cegos opilados paralíticos na fila do INPS não tem gente só andrajos úlceras pústulas tumores fome na fila do INPS não existem pessoas só o refugo das máquinas as sobras das indústrias o lixo das fábricas


as fezes da vida a merda do desenvolvimento na fila do INPS não há homens há gado coisas dejetos peças quebradas da engrenagem do progresso a fila do INPS é o outro lado da moeda a outra face das estatísticas os bastidores do país o subúrbio da nação o lado escuro dos gabinetes a lama por debaixo dos tapetes a fila do INPS é o retrato exato perfeito irretocável do brasil. Ou, ainda, nos versos de metro curto, ao estilo de pequenas trovas, herdados da tradição nordestina e portuguesa, que chegaram ao Maranhão do século XX através da poesia de José Chagas e Bandeira Tribuzi, e que nas mãos de Viriato Gaspar explodem de uma intensa significação poética e existencial, como em Exercice’s book: Muito difícil edificar este edifício de puro ar. Este bizarro prédio mental, feito do barro do bem e do mal. É cansativo, pesa bastante, sem ter motivo viver o instante, que a vida dá (divertimento) e só de má torna cinzento, pura neblina que se levanta e nos domina


com sua manta, por ver que é duro se construir o vão futuro de algum porvir [...] deste difícil vício de ser o árduo exercício de um novo ser, raiz comprida de lua calma, tirando a vida da própria alma, só tendo a mim por companheiro, mas mesmo assim me sendo inteiro, sim mais profundo que qualquer não: - à flor do mundo, meu coração. Poemas como esses são a prova de que a geração de Viriato, assim como ele próprio, assimilou muito bem a lição de verso que foi transmitida pelo grandioso quarteto maranhense, formado por Gullar, Nauro, Tribuzi e Chagas. O próprio Viriato confirmou, através de depoimento para a Feira do Livro de São Luís, em 2013, que a publicação de livros como Necessidade do divino e Noite ambulatória, de Nauro Machado, Os telhados, de José Chagas, e o Pele e osso, de Bandeira Tribuzi, foram fundamentais para que os poetas de seu grupo adquirissem a consciência poética que os distinguiria enquanto grandes continuadores dos recursos expressivos postos à prova por essas quatro altas vozes da poesia maranhense. Sem tais recursos, a poética desenvolvida por Viriato não teria sido vitoriosa, síntese do esforço de gerações inteiras de poetas na busca de uma expressão genuína, ao mesmo tempo moderna e clássica. Por esta razão, não é à toa que Viriato também se indague, em seu célebre poema Poemar, se há receituários que possam ser ensinados ou aprendidos na confecção do poema, se há, de fato, alguma lição que possa ser transmitida em forma de poética desde Aristóteles até os dias atuais: O que botar no poema e o que dele retirar? Falar em bomba, em cinema, ou em flor, em chuva, em luar? Como Fernando Pessoa, só ver mesmo o que se vê? Mentir que a vida está boa, se está ruim como o quê?


Denunciar, engajado, o que qualquer cego vê? Pregar ao operariado, que nunca nem vai me ler? [...] Citar Pound, Mallarmé, Maiakovski, o cacete, se o povo, em vez de me ler, vai é batalhar seu leite? Donne, Lorca, Baudelaire, Hölderlin, Villon, Rimbaud? Ser um grande bricoleur do que se leu ou escutou? Verlaine, Guillén, Neruda, Corbière, Rilke, Musset? Ah! Quanta coisa maçuda um poeta tem de ler. Gautier, Eliot, Sand, Laforgue, Blake, Éluard? Antropofálgis, noi-grandes, Processo, práxis, dadá? Ser um poeta bem pobre ou nadar no vil metal? Sá-Carneiro, Régio, Nobre, Cesário Verde, Quental? Cecília, Drummond, Bandeira, Jorge de Lima, Cabral? Estrelar a vida inteira no país do carnaval? Ser um poeta Vinícius, o grande, o de Morais, e escrever, por desperdício, belos versos imorais? [...] O que jogar no poema e o que dele retirar? Escalavrar o morfema, numa sintaxe de ar? E o corte epistemológico, o sintagma estrutural?


Surrealista, gongórico, hermético, marginal? [...] Que profissão desmedida para um salário de fome. Ser funcionário da vida e escriturário do homem, Cirurgião do concreto, intérprete do universo; deixar sangrar o alfabeto na carne viva do verso, passando a limpo o momento, plantando fundo uma lavra de fogo, de fúria e vento, no duro chão da palavra. O poema todo, uma verdadeira obra-prima da literatura maranhense contemporânea, aqui abreviado a fim de caber nos limites físicos de um breve ensaio, é o registro de um poeta dotado de uma elevada e grandiloquente consciência artística e literária, que ostenta uma invejável cultura poética, que tem sido cada vez mais rara entre escritores e jovens poetas que, no afã algo desenfreado de publicar um livro e tornar-se uma celebridade – síndrome que é o retrato irretocável da cultura patológica de nossos tempos, de despudorado narcisismo -, ignoram a necessidade do cultivo da língua, da leitura diária e constante, do permanente exercício e experimentação da palavra. Em suma, Viriato é outro legítimo herdeiro da tradição de um sistema literário vigoroso, cujo legado vem sendo transmitido há gerações de poetas que, esteados nos recursos expressivos desenvolvidos por artesãos da palavra de primeira grandeza, deseja nos deixar uma preciosa herança de poemas que atingem o cerne e o ser da palavra. Enfim, fiquemos com o seu O legado: Aquele poema que não consegui, mas a duras penas carreguei em mim. Aquela pequena coisa indefinida, que não foi poema nem encheu a vida. O sol escondido que não se acendeu. Este não ter sido que em mim fui eu.


NO CENTENÁRIO DE MORTE, PRIMEIRA AUTORA NEGRA DO BRASIL GANHA REEDIÇÃO

BRUNA MENEGUETTI Jornalista e escritora, autora do livro 'O Céu de Clarice' (Amazon) Colaboração para o Estado SP- 29 Julho 2017 | 16h00 http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,no-centenario-de-morte-primeira-autora-negra-do-brasil-ganhareedicao,70001909178

Maria Firmina dos Reis publicou anonimamente 'Úrsula' em 1859 e influenciou toda a produção literária do País

Busto de Maria Firmina dos Reis foi inaugurado em 1975 em São Luis, no Maranhão Foto: Diego Emir

Em 2017 completa-se o centenário da morte da primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa. Maria Firmina dos Reis publicou Úrsula em 1859, livro que estava fora de catálogo, mas em setembro desse ano ganha nova edição pela PUC Minas. Eduardo de Assis Duarte, pesquisador da literatura afro-brasileira, autor de livros sobre o tema e doutor em letras, assina o posfácio e escreve sobre a contextualização histórica da obra no conjunto de escritos de escravizados no Ocidente. Filha de mãe branca e pai negro, provavelmente escravo, Firmina adquiriu, dentro das possibilidades, referências culturais e o domínio da norma culta através da família da mãe, composta de músicos e um primo estudioso. É possível que tal fato proporcionou que escrevesse músicas, sendo a primeira mulher aprovada num concurso público para o magistério em sua terra natal, o Maranhão, e também para que fundasse, mais tarde, a primeira escola mista – com alunos brancos e negros – e gratuita do estado, algo inovador naquele tempo. Ainda que muito importante, Firmina é pouco citada e conhecida. De acordo com Duarte, no posfácio de uma edição de Úrsula de 2004, os elementos determinantes para o silenciamento foram a ausência de assinatura, a indicação de autoria feminina, a distante localização geográfica e o tratamento inovador dado ao tema da escravidão. Ao contar a história de Úrsula, protagonista branca; Túlio, escravo que se torna livre; Tancredo, que se apaixona por Úrsula; Fernando, o grande vilão; e Susana, que narra suas vivências antes de ter sido trazida como escrava, Firmina busca humanizar o negro através da valorização da memória, algo pouco comum na época. Diferente dela, “os autores defendiam a abolição por que a escravidão corrompia a família branca brasileira, como acontece em As Vítimas-Algozes (1869), de Joaquim Manuel de Macedo e A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães”, explica Duarte.


Apesar da excelente escrita, Firmina omitiu seu nome assinando as obras como “Uma Maranhense”. No prólogo, ainda diz: “Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor”, falando logo em seguida que o mesmo não tem valor por ser de uma mulher. Antigamente, era comum esse “recato literário”, pois a escrita não costumava ser feita por mulheres. “Evidências confirmam que escritoras do século 19 e primeiras décadas do século 20, na produção hispano-americana, apresentaram-se com uma escrita ‘menor’ como estratégia de veiculação e aceitação de suas obras”, explica Luciana Martins Diogo, mestra em Culturas e Identidades Brasileiras pela USP. Embora existisse o “recato”, Firmina não só publicou como antecedeu diversas questões atuais. Para o professor Duarte, “a autora maranhense, pela primeira vez, constrói a crítica do patriarcado escravista do duplo ponto de vista da vítima, mulher e negra”. Para Luciana, um dos grandes legados da obra firminiana foram “seus questionamentos em relação ao lugar e ao papel da mulher na sociedade”, algo que se percebe, por exemplo, quando a protagonista diz: “Nunca pude dedicar a meu pai amor filial que rivalizasse com aquele que sentia por minha mãe, e sabeis por quê? É que entre ele e sua esposa estava colocado o mais despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher, e ela, triste vítima, chorava em silêncio.”

'Semeadura' (1954), de Clóvis Graciano Em questão histórica, Firmina, no entanto, não foi quem inaugurou a literatura afro-brasileira. Segundo Luciana, essa literatura pode ser entendida como uma interação dinâmica de cinco componentes: temática, autoria, ponto de vista, linguagem e público. Já para Oswaldo de Camargo, jornalista, estudioso da literatura negra e autor dos livros O Negro Escrito, A Descoberta do Frio (ficção) e Carro do Êxito (contos), é fundamental que “o escritor negro se veja como negro, tire as consequências e escreva seu texto. Por isso que um branco não pode fazer literatura negra.” Maria Nilda de Carvalho Mota, a Dinha, poeta e doutoranda de estudos comparados nas letras, que atua nos campos de literatura afro-brasileira e africana, no entanto, acha que é possível, teoricamente, escrever da perspectiva de um negro, mas diz que não tem encontrado. “Noto que as pessoas que não vivem na pele tendem a ser sensacionalistas porque passou pelo estômago, que é a indignação, mas tem que passar pelo coração e pela cabeça.” Assim, para entender como a história da literatura negra se desenvolveu, é preciso voltar antes mesmo de Firmina. O negro apareceu primeiramente nos poemas (que antecedem os romances na maior parte das literaturas). Oswaldo explica que o primeiro escritor mulato que vai dar “relances de uma literatura voltada para a questão racial” é Domingos Caldas Barbosa, com o livro Viola de Lereno. Oswaldo cita o verso em que se lê: "Ai Céu! / Ela é minha iaiá / O seu moleque sou eu.” “Manuel Bandeira fala que nossa poesia vai começar com Domingos Barbosa, porque sua linguagem usa pela primeira vez palavras brasileiras. Quando ele fala moleque, isso tem uma conotação, porque moleque era sempre preto. Muito tenuamente, está insinuando também uma condição racial.” Mas, segundo Oswaldo, o primeiro autor que usa o eu negro para escrever foi Luiz Gama, com o livro Primeiras


Trovas de Getulino, de 1859. Um dos poemas, conhecido como Bodarrada, diz: “Se negro sou, ou sou bode, / pouco importa. O que isso pode? / Bodes há de toda a casta, / pois que a espécie é muito vasta...” Ou seja, no mesmo ano em que Gama torna-se o primeiro negro a se dizer como tal em São Paulo, Maria Firmina, anonimamente, torna-se a primeira mulher a fazer literatura negra no Maranhão. “Bode quer dizer mulato. Então é um passo grande entre Caldas Barbosa e Luiz Gama, que vai responder à sociedade da Pauliceia mostrando que nossa sociedade está cheia de bodes, mas todos tentando esconder a sua parte negra. Alguns conseguiram”, explica Oswaldo. Para o escritor e estudioso, não é à toa que o negro não costumava ser visto ou citado sequer pelos mulatos. “A primeira coisa que um pardo ou mulato fazia era passar a linha de cor porque ser negro era sinônimo de escravo. A partir daí há um embranquecimento social muito sério. Então, o próprio branco, quando uma pessoa escura ascendia, queria tirá-lo do rol de pessoas negras.” Não é à toa que até hoje o rosto verdadeiro de Maria Firmina é desconhecido. O branqueamento da imagem foi sendo construído ao longo desses anos com base em um equívoco. Um retrato existente na Câmara dos Vereadores de Guimarães foi inspirado na imagem de uma escritora branca gaúcha, que acreditava-se ser Firmina. O busto que está no Museu Histórico do Maranhão também reproduz a imagem de uma branca. Apesar das tentativas de se ocultar o negro da história, muitos outros nomes surgiram, como o mulato Francisco de Paula Brito, o primeiro editor do Brasil. Considerado um dos precursores do conto, além disso, editou O Filho do Pescador (1843), primeiro romance do País, escrito pelo mulato Antônio Gonçalves Teixeira e Souza. Outros nomes são Cruz e Souza, filho de ex-escravos e que fez literatura negra; Lima Barreto, que se assume como mulato e é o homenageado da Flip em 2017; Lino Guedes, que é o primeiro autor negro a escrever mirando o público da mesma cor; isso sem citar Machado de Assis e Mário de Andrade. Paralelamente a eles, outros escritores surgem colocando o negro em suas obras, nem sempre de modo positivo. Segundo estudos da pesquisadora Maria Nazareth Soares Fonseca (2011), os negros na literatura, quando vistos como objeto, podem ser agrupados do seguinte modo: escravos e ex-escravos, como em Gregório de Matos (século 17); branqueamento, como em O Mulato (1881), de Aluísio de Azevedo; vítima, como em O Navio Negreiro (1869), de Castro Alves; negro ruim, como em Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha; negro como depravado, em A Carne (1888), de Júlio Ribeiro; negro como inferioridade, como em O Demônio Familiar (1857), de José de Alencar. A partir de 1870, o negro é tema constante na pena de quase todos os poetas do Brasil e, desde o início da década de 1980, há um aumento da produção de escritores que “vinculam a noção de sujeito à de etnia afrodescendente”, como explica Duarte. Com a primeira edição de Cadernos Negros, em 25 de novembro de 1978, pelo grupo Quilombhoje, que proporcionou a autores negros a possibilidade de terem textos publicados, de preferência com a temática negra, as mulheres finalmente voltam a aparecer. “Os escritores e escritoras negras existiam, mas não tinham meios de publicar”, informa Maria Nilda. A iniciativa ainda existe e já revelou diversos autores e autoras consagradas, como Conceição Evaristo, que publicou seu primeiro poema em uma edição dos Cadernos e hoje é uma das principais expoentes da literatura afro-brasileira. Outros nomes atuais ou recentes na nossa literatura são Carolina Maria de Jesus,que publicou Quarto de Despejo (1960), um diário em que registrava o dia a dia como catadora de latas na favela do Canindé, em São Paulo; Joel Rufino dos Santos, vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura; Ana Maria Gonçalves, com Um Defeito de Cor, Prêmio Casa de las Américas de 2007; e Cuti (Luiz Silva), com mais de 20 títulos publicados abrangendo poesia, contos, dramaturgia e crítica. Para Maria Nilda, que também escreve “a gente é mais comercializável do que no passado. Mas ainda falta muito, né?” Para termos uma dimensão melhor dos tempos atuais, há a pesquisa de Regina Dalcastagnè, presente no livro Literatura Brasileira Contemporânea: Um Território Contestado (2012), que analisou 258 romances publicados no período de 1990 a 2004 pelas editoras Companhia das Letras, Record e Rocco. De acordo com os dados, no romance brasileiro atual, apenas 7,9% das personagens são negras. Desse pequeno universo, 20,4% são bandidos, 12,2% empregados e 9,2% são escravos. Entre as causas de morte, 61,1% das personagens negras são assassinadas pelos escritores em seus romances, enquanto apenas 28,1% das personagens brancas são vítimas de assassinatos.


Para Oswaldo, a dificuldade do autor negro hoje em dia é apostar em uma temática que não é conhecida. “O importante não é, de fato, ser lembrado como um grande autor. Não são citados tanto agora? Não importa. O benefício que estão fazendo com seus textos, não dá para mensurar. A literatura não é feita só com grandes autores, é feita com arroz e feijão também.” Já para Maria Nilda, a literatura atual vive um momento “revolucionário”, que está mudando as formas, linguagens, conteúdos e sujeitos. “Escritoras novas são impulsionadas pelas mais velhas, mas a gente também as promove. É dialético esse movimento. Elas nos dão referência e a gente lhes dá sustentabilidade.” Assim, cem anos depois da morte de Firmina, a situação mudou, mas a voz da escritora e de tantos outros que vieram depois ainda ecoa em um país que pouco conhece a história e a cor de seus escritores e escritoras do passado e presente. Como diria Firmina em seu livro: “Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo – e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante!... Aquele que também era livre no seu país... Aquele que é seu irmão?”


“RETRATO FALADO” DE MARIA FIRMINA DOS REIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Neste ano de 2017, comemora-se o centenário de morte de Maria Firmina dos Reis. No ultimo final de semana, 29 de julho, em O ESTADO DE SÃO PAULO, em reportagem de BRUNA MENEGUETTI, Jornalista e escritora, autora do livro 'O Céu de Clarice' (Amazon), sob o título NO CENTENÁRIO DE MORTE, PRIMEIRA AUTORA NEGRA DO BRASIL GANHA REEDIÇÃO134, destaca que Maria Firmina dos Reis, ao publicar, anonimamente, 'Úrsula' (1859), influenciou toda a produção literária do País. Primeira escritora negra do Brasil e primeira autora de romance abolicionista em toda a língua portuguesa, o livro estava fora de catálogo, mas em setembro desse ano ganha nova edição pela PUC Minas. Eduardo de Assis Duarte, pesquisador da literatura afro-brasileira, autor de livros sobre o tema e doutor em letras, assina o posfácio e escreve sobre a contextualização histórica da obra no conjunto de escritos de escravizados no Ocidente. A partir do próximo dia 9 – e até o dia 12 de agosto – a ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS inicia as comemorações de mais esta efeméride, durante a I Semana de Literatura Ludovicense, no Espaço AMEI, São Luis Shopping Center, e comemorações do quarto aniversário de sua fundação. Maria Firmina dos Reis é a patrona da Academia de Letras da cidade de São Luis... Sua biografia, publicada pela ALL, de Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Dilercy Aragão Adler – Sobre Maria Firmina dos Reis – foi considera da melhor bibliografia publicada, em 2016, pela UBE-RJ. O que quero chamar atenção – em especial à quem vai escrever, nos próximos meses, em especial reportagens de cunho jurnalístico-informativo – como recente reportagem na imprensa local – em que é estampada uma gravura como se de Maria Firmina o fosse...

Tem sido comum essa confusão. A foto – retrato – estampada é de uma poetisa gaucha... Foi publicada aqui, como sendo de Maria Firmina, encontrada na tese de doutorado da Profª. Algemira de Macedo Mendes, professora da Universidade Estadual do Piauí. O título da tese é “Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na História da Literatura Brasileira135. Nesse trabalho consta esse retrato atribuído a Maria Firmina com a seguinte legenda abaixo da foto: “Um dos poucos registros de Maria Firmina, encontrado na biblioteca pública de São Luís-MA”. O artista plástico Rogério Martins – induzido ao erro - pintou o quadro da escritora gaúcha Maria Benedita Borman, conhecida pelo pseudônimo de “Délia”, como se fosse da romancista Maria Firmina dos Reis. O quadro encontra-se atualmente na Câmara Municipal. O bico-de-pena da página 193 do livro 134

disponível em http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,no-centenario-de-morte-primeira-autora-negra-do-brasil-ganhareedicao,70001909178 135 Disponível em ” www.fapepi.pi.gov.br


“Mulheres Illustres do Brazil”, de 1899, revela o rosto da escritora Maria Benedita Borman, que escrevia sob o pseudônimo “Délia”, e não da escritora Maria Firmina dos Reis. Reeditado no ano de 1996, pela Editora Mulheres, com sede em Florianópolis-SC, onde se encontra, na página 193, o bico-de-pena com o rosto da escritora Maria Benedita Borman, e que postamos aqui. Observa-se que é o mesmo utilizado pelo artista plástico em sua obra, que se encontra em exposição na Câmara Municipal - site onde também se pode confirmar o mesmo bico-de-pena com o rosto de Maria Benedita Borman, utilizado pelo pintor na sua Obra 136

A palavra “Délia”, na página do lado direito, abaixo do bico-de-pena, revela o pseudônimo da escritora gaúcha Maria Benedita Borman. O escritor Nascimento Moraes, pesquisador que descobriu Maria Firmina na Biblioteca Benedito Leite, no início da década de 1970, afirmava que não foi encontrada nenhuma foto dela. Ele morreu em fevereiro de 2009 e até essa data aqui em São Luís não houve nenhuma divulgação em jornais da descoberta da fotografia de Maria Firmina. O busto da escritora Maria Firmina dos Reis, de autoria do escultor maranhense Flory Gama, foi esculpido a partir das informações prestadas por vimarenses que conviveram com a mestra-régia, como dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista na residência da Praça Luís Domingues, e por dona Eurídice Barbosa, procedente da Fazenda Nazaré, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó. O busto foi colocado no ano de 1975 na Praça do Panteon, em frente à Biblioteca Pública Benedito Leite, na Capital junto a outros 17 intelectuais maranhenses. Posteriormente, os 18 bustos do Panteon Maranhense foram transferidos para os jardins do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, localizado na Rua do Sol, em São Luís, onde se encontram até hoje 136

Disponível em :www.normatelles.com.br/coleção_rosas_de_leitura.html


Com base nessas descrições, e no busto conhecido, a Academia Ludovicense de Letras mandou elaborar um selo comemorativo aos 190 anos de nascimento da ilustre ludovicense:

Abaixo, outro retrato falado de Maria Firmina, elaborado pelo artista plástico Tony Alves137 137

In SARAIVA, Emmanuel de Jesus. A INFLUENCIA AFRICANA NA CULTURA BRASILEIRA. São Luis: 2013, p. 33


Para a Academia Ludovicense de Letras, estes são o ‘retrato’ oficial da escritora.


UMA BELA AMIZADE LITERÁRIA: MARIA FIRMINA DOS REIS E JOÃO CLÍMACO LOBATO SERGIO BARCELLOS XIMENES sbximenes@superig.com.br (em mensagem através do Correio Eletrônico ao Editor) Fiquei intrigado com a informação de Nascimento Morais, sobre o primeiro romancista maranhense (João Clímaco Lobato, "O Diabo", 1856; ver em MFR - Fragmentos (208) - Aposentadoria.jpg), e resolvi procurar o livro. Resumindo o resultado da longa pesquisa. Descobri uma tese de doutorado (excelente) intitulada "A Prosa de Ficção nos Jornais do Maranhão Oitocentista", de Antonia Pereira de Souza (PB), defendida em março deste ano e publicada na Web em abril, segundo indicação da URL: 2017/04. http://www.cchla.ufpb.br/ppgl/wp-content/uploads/2017/04/A-PROSA-DE-FIC%C3%87%C3%83O-NOS-JORNAIS-DOMARANH%C3%83O-OITOCENTISTA.pdf

Seguindo as informações, encontrei a história em folhetim (http://memoria.bn.br/DOCREADER/823317/1688) e conheci a interessante prática jornalística do livrojornal, livro que era impresso em jornal para ser encadernado pelo leitor. Aparentemente, o livro "O Diabo", que realmente teve lançamento à época, numa foi reeditado, assim como outros desse autor maranhense. Também era dramaturgo, mas deixou a ficção para se dedicar à carreira na Justiça. Mas a informação mais valiosa estava escondida na página 239, como tantas pérolas informativas ficam escondidas em livros e trabalhos acadêmicos. É esta: "As notícias transmitidas nos jornais também divulgavam as obras do Maranhão, como esta veiculada no Publicador Maranhense, em 20 de dezembro de 1861, informando que o escritor maranhense João Clímaco Lobato publicaria o romance A Virgem da Tapera, recomendado pela originalidade e interesse. Quando o livro saiu dos prelos, a informação também circulou na coluna Noticiário, acrescentando que a obra era dedicada a Maria Firmina dos Reis, conforme Publicador Maranhense de março de 1862." Fui atrás da informação, e eis a prova ("Publicador Maranhense", 1º de março de 1862, ano XII, número 49, quarta coluna, primeira nota em "Noticiário"). http://memoria.bn.br/DocReader/720089/12889 "Noticiário ROMANCE — Acaba de sair dos prelos do Sr. Ramos de Almeida o romance original — A Virgem da Tapera —, composição do Sr. João Clímaco Lobato, oferecido a Exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis. Felicitamos o autor por esta nova produção, cuja leitura recomendamos ao público." "A Virgem da Tapera" (1862) foi o terceiro "romance" de João Clímaco Lobato, seguindo-se a "A Cigana Brasileira" (1853) e a "O Diabo" (1856 - este, o segundo "romance", na verdade). Não encontrei essa informação da ligação literária entre MFR e Clímaco Lobato nas fontes disponíveis. É mais uma indicação de que a autora era integrada ao meio literário maranhense, e bem-vista por seus membros. Outra surpresa. Na tese de doutorado, a autora reproduz, na página 232, o texto daquela resenha de "Úrsula" (17 de outubro de 1857) que eu pensava haver "descoberto".


Portanto, pertence à paraibana Antonia Pereira do Souza o mérito da descoberta e da divulgação, tanto da primeira resenha sobre "Úrsula", quanto da dedicatória de João Clímaco Lobato à sua amiga Maria Firmina dos Reis, no livro "A Virgem da Tapera" (1862).


AMAR É UM ELO ENTRE O AZUL E O AMARELO MHARIO LINCOLN Presidente da Academia Poética Brasileira Quem vê Cleonice Rolim atrás do linear balcão abarcando toda a área interna do salão de exposição de livros, CD's, quadros e artesanato genuinamente maranhense, na AMEI (Associação Maranhense de Escritores Independentes), concentrada, sempre séria, mas dinâmica, pouco vai descobrir sua alma - aliás, da alma, nasce o olhar; não o olhar leva à alma, em meu parecer.

Simplesmente Cléo Rolim, exubera e gratifica - a nossa alma - quando escreve. Exemplo clássico, são seus dois livros anteriores - "O Gato que queria ser Sapo ", encantadora história; e, "Lila, a formiguinha albina". Veja nos detalhes desses títulos a delicadeza indiscutível dos temas, instigando o leitor a criar seus personagens, literalmente, ao lê-los. Neste novo livro - "Miguel - Na Terra das Cores", além das características dos dois primeiros, senti ( e só dentro da alma a gente sente) o espírito de doação, de compartilhamento de Cléo Rolim. É incrível como chegou à idéia de escrever esse livro: 'Agradeço um ser lindo, que hoje tem sete anos e que me inspirou o Miguel com seu jeito falante de ser: Matheus, filho de meus amigos Danielle e Leonardo...". No mundo de hoje onde o ego está muito acima da qualidade profissional, a inveja ultrapassa os limites da benquerença, a concorrência substitui o abraço carinhoso, os espaços são disputados à tapa. Contudo, ainda há momentos de atitudes serenas, amigas e sinceras como esse, de Cléo Rolim. Isso me chamou muito a atenção. Pois foi exatamente desse parágrafo introdutório de "Miguel - Na Terra das Cores", a certeza de ter às mãos não só um livro físico, igual a muitos. Mas um pedaço de alma aberta para se ler seu conteúdo. Daí, vi quão abissal era a diferença entre o livro de Cléo Rolim e "Flics", de Ziraldo, aquele que conta a história de uma cor 'diferente', que não conseguia agregar valores em lugar nenhum, pois não tinha encaixe no arco-íris, muito menos nas bandeiras. Ou seja, não conseguia compor nenhuma paisagem colorida. Por causa disso, 'Flicts' vai se conformando em não ter...' a força do Vermelho, não tinha a imensidão do Amarelo, nem a paz que tem o


Azul'. (Lembra da discussão da caneca azul que a mãe comprou para substituir a canequinha amarela de Miguel, logo no início do livro?). Mesmo sendo um conteúdo completamente inverso ao imaginado por Ziraldo, foi esse o livroreferência que me veio à cabeça ao ler as primeiras páginas de "Miguel - Na Terra das Cores". O que seria o bom livro de Cléo, não fora a referência inversa de Ziraldo. Na trama de Cléo Rolim, o amor inicial do personagem pela cor amarela continha um segredo relevante: A formação do caráter das crianças, numa linguagem inter/gente, inter/leitor, inter/contador (livro maravilhoso para se contar histórias à beira da cama, numa noite de lua), que absorve a atenção do leitor - e não só ao contrário. É simplesmente interessante a conotação livro/história/leitor. A começar pela quase independência de Miguel. Impressiona a flexibilidade da escrita, do roteiro e da trama e sua grandiosidade, na mesma linha dos grandes clássicos da literatura infanto-juvenil, como 'Alice no País das Maravilhas', onde sempre se questiona: Seria o Sonho, o da Alice ou realidade da menina-mulher amada por Lewis Carroll, o autor? No caso deste clássico (sim, porque, não?) de Cléo Rolim, o sonho de Miguel é grandioso, amarelo, comandado por uma amarela estrela ficcional. A estrela aterrissou na (alma) de Miguel, sem dúvida, e o levou ao mundo amarelo por uma 'toca de tatu', próximo a um pé de goiaba. Veja a originalidade regional do conto. Achei genial, até mesmo mais emocionante que a viagem do ET numa bicicleta voadora, comum demais para meu gosto. Atingir o Mundo Amarelo por um buraco de Tatu? (Fiquei curioso para saber mais detalhes e continuei lendo sem parar...). Uma das lições subliminares incríveis desse trecho: "Como nunca havia visto esse buraco antes?", pergunta-se Miguel. Quantas e quantas vezes a nossa felicidade está a um palmo do nariz e nós, com tantas coisas ruins pairando sobre nossas cabeças, não conseguimos enxergá-las, né? Pois bem, a trama inteligente de Cléo Rolim, não se resume ao gosto pelo amarelo e destrato com as outras cores. Mas sim, como pedagoga e especialista em gestão educacional, mostra variações e liberta as asas da imaginação. E isso é bem diferente de outros roteiros. A autora segue um caminho transversal, único, original, resgatando a função limiar de um livro: Fazer com que o leitor raciocine e tire suas conclusões pessoais e intransferíveis: "Vocês não são daqui. Tem cores estranhas", diz a personagem Ana, da loja de doces, no mundo vermelho; eles, vindos do Mundo Amarelo, lembram? Que sensibilidade. Nessa frase a autora dá a entender ao leitor um lema há muito discutido. Nós, seres humanos, com raríssimas exceções, temos a tendência de achar estranho ou endeusar a maioria das coisas e fatos desconhecidos, sem explicação lógica, não é mesmo? A grande sacada de Cléo Rolim foi incorporar a essa trama lógica, algo além do normal. Como uma fórmula a ser destrinchada. Sutilmente o fêz em forma poética. Cada chave para mudar a cor do próximo mundo estava contida nos versos dos poeminhas que o tatu (a chave-geral do aparato ou da nave imaginária) ia cantando ao longo do caminho, rumo a sua toca. Incrível criação lógica. Muito mais lógica e de fácil entendimento do que a do 'Carimbador Maluco', do Balão Mágico. Lá, ele gritava aos integrantes assim: '5... 4... 3... 2.../ - Parem! Esperem aí./ Onde é que vocês pensam que vão?/ Plunct Plact Zum/ Não vai a lugar nenhum!!/ Tem que ser selado, registrado, carimbado/ Avaliado, rotulado se quiser voar!/ Se quiser voar....".... Muito complicado. Eis a beleza na escrita da autora de "MIguel - Na Terra das Cores". Na verdade, e ao contrário do livro de Ziraldo, citado acima, Cléo Rolim vai ensinando a agregar cores e paraísos. Didaticamente - e de forma suave e inteligente - mostra a realidade de uma paleta de cores primárias; e delas, a mistura cromática da vida. Outra mensagem subliminar fantástica. E vai além do encantamento infantil, para os mais velhos. No fundo esse livro também é poético-imaginário levando adultos a refletirem sobre seus dramas pessoais. Da insatisfação com o que tem ou mesmo do apego incontrolável de uma idéia ou concepção planetária única. É uma amostra real dos 'buracos de tatus' que atormentam nossos 'eus', nos levando a indiferentes mundos, a fim de saciarmos nossas curiosidades, algumas vezes, mortais. Entretanto, ao final da obra, chega-se a uma mistura de cores, gerando outras cores. Isto é, agregando o cinza das inquietações e da falta de oportunidades com o vermelho da depressão e da decepção,


surge a esperança cor-de-rosa. Um prólogo consistente, como nas Fábulas de Esopo. Eis o segredo! Eis a beleza da trama de Cléo Rolim, num livro infanto-juvenil com cores brilhantes intercedendo na concepção adulta de entender o prisma. Claro, nesse caso do livro, pelo lado infanto-juvenil, uma lição clara e evidente de vida, anunciada a partir de uma frase que a autora sempre ouvia do seu pai:" O que seria do Azul, se não fosse o Amarelo?" Digo que é um livro para todas as idades. Lembrei de minha avó Isabel Fialho Felix, autora do livro de poesias "O Por-do-Sol de Minha Terra", escrita à beira do rio Itapecuru, quando lia as histórias da 'Carochinha', para os netos pequenos (inclusive eu) e ao final, tirava suas conclusões e afirmava: "Eu também já fui assim, etc e tal...". Daí, acabava tornando uma história da 'Carochinha', um fato real em minha cabecinha de criança. 'Ora, se isso aconteceu com Vovó 'Biluca", isso foi real e pode acontecer comigo também...', indagava eu em minha inocência. Cléo Rolim de forma sublime, intercalou inteligentemente essa linha tênue, que acaba ajudando adultos (que lêem para seus queridos) e crianças (quem ouvem de seus queridos). E isso me traz a força dos versos de (*) Paulo Leminski, poeta extraordinário, nascido no Paraná, onde resido atualmente: "...amar é um elo/ entre o azul/ e o amarelo". Pois que seja..


AS LENTES DA POESIA

JOSÉ NERES Este texto foi publicado inicialmente como prefácio do livro O Ergástulo Gozo da Palavra, São Luís, 2004.

Amarga ânsia posta em cálice. Nenhuma das duas faces da moeda... Nem cara, nem coroa, Apenas o que em mim ressoa. (Outra face – Rosemary Rêgo)

Muitos só conseguem conceber a poesia como um emaranhado de rimas e de soluções métricas, mesmo que a construção esteja vazia de sentido e carente de imagens. Felizmente, há também aqueles que sabem que o ato de fazer poemas não consiste apenas em alinhar palavras e forçar terminações esdrúxulas. Para tais pessoas, a Poesia é o fluir da própria essência vital de cada pessoa que lê e/ou escreve, não importando o quando, o onde e o para quem. Poesia é indefinível. Para uns, inútil; para outros, vital. É exatamente nesse segundo grupo que podemos encaixar (sem muito esforço) a figura de Rosemary Rego, uma jovem escritora que, dede a metade da década de noventa, vem procurando ocupar seu espaço no cenário literário maranhense e para quem o ato de passar para o Papel suas emoções parece ser tão fundamental como o de viver, como o de sorrir, como o de sonhar. Dona de variadas e importantes leituras, a escritora não faz questão de esconder os caminhos trilhados rumo ás inúmeras batalhas da escrita. Em seus poemas, qualquer leitor mais atento poderá perceber as influências de Drummond, José Chagas, Manuel Bandeira, Nauro Machado, Cecília Meireles, Baudelaire


e Augusto dos Anjos, entre tantos outros nomes da enorme constelação poética das letras mundiais. Porém irá enganar-se quem imaginar que a influência se transformou em mero pastiche ou em apropriação dissimulada de imagens, assuntos ou idéias. Não. De forma nenhuma. Rosemary Rego pode até respirar os ventos dos poetas acima citados, mas, ao expirar, bafeja, os leitores com suas próprias palavras, com seu próprio tino artístico e deixas suas digitais em cada verso. Ela tem consciência de que fazer poesias é uma tarefa difícil, uma verdadeira construção de algo que talvez nunca se concretize, afinal: O cerne da palavra basta para que em mim o estro não saia oco. Apenas transforme em poema A humanidade E é essa incessante busca de transformar o Humano em palavras o diferencial dessa escritora que tem coragem de mostrar-se ora pensativa e filosófica, ora arrebatadora e sensual. Não importa o tema, o importante é que dentro de cada texto “a palavra, pulsa / grita / berra”, que o grito da palavra não seja apenas uma forma de enfeitar uma página em branco, mas sim que os “mistérios de alegorias a esconder-se / por trás do tempo” se transformem em sussurros que nos façam sonhar embalados com a melodia da “breve canção” de uma chuva caindo mansamente e celebrando “o coito que faz parir o ontem e o hoje”, mas também sirva para despertar em cada um a consciência de que a realidade pode ser apenas “a máscara de um sonho terçã”. Rosemary busca em seus poemas muito mais que realizar um mero exercício de busca das melhores palavras para dar vida a uma imagem, ela busca, sim, “rasgar o verso ainda que a alma se canse dos vocábulos”. E consegue. Em cada um de seus textos o grito da Poesia pode ser ouvido, basta apurar os ouvidos, para ter a certeza de que cada poemas deste livro é, a meta linguagem do ocaso faca decepando o sol de final de tarde. Só quem usa as lentes dos grandes poetas é capaz de pinçar da frieza de uma língua uma imagem que represente a essência da poesia. E Rosemary Rego parece ter conseguido umas lentes bem especiais... as de quem sabe que a poesia é mais visível no invisível da palavra, às vezes, não ditas.


ANELY GUIMARAES KALIL

MHARIO LINCOLN Presidente da Academia Poética Brasileira. São Luís (AMEI), 28.08.2017 Anely Guimaraes Kalil será homenageada em grande estilo pela Academia Poética Brasileira, na primeira semana de Setembro/17. Abaixo crítica de Mhario Lincoln aos livros de Kalil. ESPELHO DE UMA ALMA

Se a poeta que ora leio o livro (BAILANDO NOS SONHOS) não sabia o que fazer com tantas letras e insights prazerosos pelo escrever poesia ("por que escrevo/o que me leva a escrever..."), logo em seguida ela concebe seus delírios e o prazer do poema. Leia: "Quando leio um poema/fico em estado de graça". À príncípio um paradoxo. Mas na sequência, a gloriosa capacidade de transformar letras em revelação profunda de sua alma e de seus sentimentos. As poesias de Kalil Guimarães (minha conterrânea do Maranhão, morando em Brasília, profissional tecnicafinanceira) me transforma em escravo da leitura de, por exemplo, SUBLIME - "O amor é tão sublime/que só mesmo/um anjo/poderia inventá-lo". Magnífica amplitude. Minha sensibilidade é despertada à medida em que vou naufragando nas águas poéticas de seus livros, como o mais novo ESPELHO DE UMA ALMA, um livro sensível, pois as poesias de (Kalil Guimarães) Anely Guimaraes Kalil são em sua plenitude, prosa melódica com riqueza em percepção casuística, levando o leitor (do simples, ao crítico de linguagem) a ter reações quase iguais diante do universo implantado nos versos sem rima. Nos axiomas ou na normalidade impecável do acento ou da vírgula, na hora hamônica certa. Em tempo: Como Kalil veio da lide econômica, mulher dos números, acabou me levando a um outro axioma ("Axiomas de Zurich, livro mostrando conselhos dos banqueiros suíços para orientar investimentos). Mas o que se exala mesmo nas folhas de 'Espelo de Uma Alma', são os axiomas envolventes, versos punjentes, cujas verdades inquestionáveis (universalmente válidas), são, ao longo do livro, utilizados como princípios, na construção de uma argumentação não necessariamente lírica. E se Charles Baudelaire tivesse tido o prazer incomensurável de ler este código poético, certamente diria assim: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa? Poema em prosa: poética reflexiva, musical sem ritmo e harmônica sem rima, maleável e rica em contrastes, para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência”. (Citado por Fernando Paixão, em estudo sobre a Prosa poética). Na mosca. Esse era um Charles Baudelaire antecipando uma visão que dezenas de anos depois estaria perpetuada neste novo livro de Kalil (Anely Guimaraes Kalil).


A prosa poética de Kalil é, sem dúvida, inerente às pessoas que vivem a vida de forma liberta de amarras irreais. Por isso ela esbanja maturidade ao escrever em verso: "...num emaranhado de loucuras eróticas/deixar que os desejos ardentes/se consumam na liberdade do amor..." (Bailando nos Sonhos). Extraordinária sensatez inerente à mulheres de seu tempo, tempo de ser poeta, como ela mesma escreve: "Ser poeta é ver a beleza no ar que dá vida/ na lua que envolve os amantes(...)/ nas lárgimas marcando sentimentos..." É assim que Kalil Guimarães escreve. Com talento e com emoção. Com força e com a batuta de quem tem n'alma a experiência de sentir o todo. De sonhar com o muito. De vivenciar o sangue que lhe corre nas veias. E com coragem imbatível: "Não sei.../Felicidade!/ que poder irracional/ que desconfiança injusta/que não incorpora a mentalidade sã/ que pede sempre a liberdade plena...". Parabéns Kalil. Os livros me emocionaram. E com certeza, a todos que os lerem.


JORNAL PEQUENO – 28 de agosto de 2017


DÉA, A ESPIÃ MHARIO LINCOLN Presidente da Academia Poética Brasileira "OS SEGREDOS DE UMA JOVEM ESPIÃ é, sem dúvida, um marco interessante na literatura maranhense de ação, onde raramente se vê grandes obras, nesse segmento, ultrapassarem as barreiras da ponte do Estreito dos Mosquitos, que separa a ilha de São Luís, do continente do Maranhão...." Déa Alhadeff. Como me senti bem lendo seu OS SEGREDOS DE UMA ESPIÃ. Não porque eu também penso como alguém infanto-juvenil. Mas como alguém apreciador de uma boa trama de ação. Desde os tempos idos, aprecio esse tipo de leitura. Muitas vezes transformada em filme, como no caso do mais famoso espião das últimas décadas. O James Bond. Foi assistindo ao agente 007 que aprendi a gostar desse gênero. Sabe aquele momento em que você senta diante da telona para assistir a um filme de James Bond e é impactado logo às primeiras cenas com algo, tipo, subterfúgio e a enganação? Sim, esses são os dois principais elementos da espionagem. Mas vamos à cena que me impactou muito lá pelos anos 1973. A cena abre mostrando uma procissão fúnebre pelas ruas de Nova Orleans. Depois corta para um agente britânico disfarçado que, sei lá, mas, infantilmente, pergunta a um transeunte: - De quem é o enterro? O transeunte, na verdade, era um assassino de aluguel e transpassa o coração do agente com uma lâmina, respondendo à indagação: - O enterro é o seu! Imediatamente o corpo do agente é colocado dentro do caixão. E marcha fúnebre se transforma abruptamente numa manifestação parecida com o nosso carnaval... E porque eu falo isso. Por que, você, Déa Alhadeff foi muito mais além de uma cena de ação, essa da telona, criada pelo jornalista e escritor britânico, Ian Fleming. Você, Déa Alhadeff, conseguiu uma proeza que poucos conseguem: Incluir o leitor na cena, de forma a sentir os impactos dessa ação. Isso se deu comigo logo às primeiras páginas de OS SEGREDOS DE UMA JOVEM ESPIÃ . Um triller incrível. Deixou-me quase sem fôlego. Eu estava apenas lendo. Imagina a cena desse livro sendo transformada em filme? Você, Déa Alhadeff, além de tudo, joga uma pitada de perfume pueril, incluíndo sutilezas femininas, como fidelidade, amizade e proteção entre as agentes secretas. Por isso digo que você foi um pouco mais além dos enredos construídos em livros do gênero. Comecei a leitura desse livro me apaixonando, de cara, por Charlottie Lance (Mosqueteira, naquela missão inicial), Amy e Amelie. Cada uma agente com seus respectivos dons e treinamentos, protegendo uma importante figura, nas ruas festivas de Livorno, da região da Toscana, na Itália. Incrível como você, Déa Alhadeff, consegue em poucas palavras situar o leitor nessa cidade, com a perfeição de um 'Google Maps', mesmo citando poucas referências. Contudo, de uma abundância imaginativa incomensurável. E quem é você, Dé Alhadeff, sob o prisma deste cultuador da boa literatura? No meu entendimento, é uma daquelas autoras impregnativas. Quando a gente lê, nunca mais consegue esquecer. Imagina uma maranhense de 17 anos, até então, escrevendo enredos de muita ação, romances de espionagem e imprimindo realismo tão fantástico, de cuja idade física, não se acredita, haja vista os destinos que seguem a jovem espiã Charlottie Lance, sabendo-se louca por uma aposentadoria dessa vida? Isso lembrou-me o "O Guarda Costas", com atuação esmerada no cinema, de Whitney Houston, no papel de Rachel Marron e Kevin Costner, como Frank Farmer, seu guarda-costas. Ambos se apaixonam perdidamente. Ele, por sua protegida, primeiro.


De certa forma, o enredo seu, Déa Alhadeff, segue exatamente uma linha cautelosa, às vezes, abundante, em outras. Na maioria, graciosa (pois escreve também numa linguagem infanto-juvenil), fazendo emergir desse emaranhado de ações e enredos uma história romântica, interativa e de muita ação. Por isso a considero, Déa Alhadeff, a mais nova romancista do século XXI, indo ao encontro do mesmo sucesso que faz, por exemplo, Ally Carter, com sua série sobre espiãs, ou mesmo, em certas passagens, Jostein Gaarder, com o fantástico "Mundo de Sofia", e, ainda, "A Espiã", de Louise Fitzhugh. A mim me parece, queridíssima Déa Alhadeff, sua aprendizagem em escrever, juntando-a ao seu talento. Sim porque escrever um romance de ação, assim como o seu, precisou de algumas técnicas usadas e ensinadas por Ken Follet, por exemplo. Sim. parabéns por sua técnica também. Pois romances de sucesso precisam de linhas clássicas para se tornarem best-seller, tipo, sequenciar os eventos do mais antigo ao mais recente, de forma a não deixar o leitor se perder no meio da história, fazendo com que quem lê saiba em que sequência os eventos acontecem em sua narrativa. E, principalmente, definição iminente e atributiva (parece comigo esse personagem, por exemplo) de traços em seus personagens. O detalhe desse seu enredo, Déa Alhadeff, é a chave da concentração do leitor usada em todo o livro. Os vícios, as tormentas, os pequenos detalhes que só você conhece, divide gradualmente com quem lê. Com isso, o leitor, já envolvido com seus personagens, passa a nutrir por alguns, amor, por outros ódio, por outros pena, e assim, sucessivamente Isso dá a sensação do 'déjà-vu'. É assim que um bom enredo faz o leitor reagir. A provocação é perfeita. Dá a ilusão de você viver um personagem no meio dos outros personagens. Há quem admire Zac Miller, líder da banda inglesa, protegida por Charlottie Lance. E quem, no meio dos sonhos infanto-juvenis, não gostaria de receber um beijo de Zac Miller? Quase um príncipe dos contos de fada. E foi pensando exatamente nisso que você, Déa Alhadeff, pega o gancho e inclui nesse triller, um romance que me deixou inquieto para saber de sua continuidade, no próximo DESAPARECIDO, sob minha cabeceira e iniciada a leitura. Gostei do ciúme de Zac ao escutar um telefonema de alguém, falando com Charlottie e ela respondendo "fala amor..", " bobo..." etc, com um sorriso de menina marota. Eu, em cima dos meus 64 anos, também ficaria com ciúmes, ora! Bm, o livro é magnífico. Foge à regra geral. Ultrapassa os limites, inclusive de idade, pois você, Déa Alhadeff, construiu uma história consistente, surfando entre o infanto-juvenil e o adulto, através de ondas complementares gigantescas, em um ritmo alucinante. Técnicamente, Déa Alhadeff, você fez um planejamento impecável. Há uma tábua capitular, onde regras são seguidas. Detalhes sobre a construção de cada capítulo, os personagens neles envolvidos. Isso é fantástico quando se junta aí o seu talento. OS SEGREDOS DE UMA JOVEM ESPIÃ é, sem dúvida, um marco interessante na literatura maranhense de ação, onde raramente se vê grandes obras, nesse segmento, ultrapassarem as barreiras da ponte do Estreito dos Mosquitos, que separa a ilha de São Luís, do continente do Maranhão. O livro merece voar e atravessar continentes, sim. Pela construção harmoniosa, performática, carismática, envolvente, que a espiã Charlottie Lance, criada por você, Déa Alhadeff, imprime em suas incursões no perigoso mundo dos espiões, juntamente com seu lado iminentemente humano, como deve ser: Uma garota pós-adolecente. Eu, daqui, torcendo um monte por todo um sucesso merecido. Parabéns Déa Allhadeff. .


DIREITO & LITERATURA


O IMPARCIAL, 23 de agosto de 2017


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