ALL EM REVISTA, Número 5, Volume 3, julho a setembro de 2018

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

2018 – ANO DE GRAÇA ARANHA

NÚMERO ATUAL - V. 5, N. 3, 2018 – JULHO A SETEMBRO SÃO LUIS – MARANHÃO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA CONSELHO EDITORIAL SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER

EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

NOSSA CAPA: Escudo da ALL

Retrato de Graça Aranha


2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS

2016 – ANO DE COELHO NETO

2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES

2017 - ANO DE JOSUÉ MONTELO


ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRôNIcA) DA AcADEMIA LUDOVIcENSE DE LETRAS ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981 2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4 2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com


V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4 2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1 V.4, n.2, 2017 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_2 V.4,n.3,2017 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v._3__julho-setem V.4,N4, 2017 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v.4__outubro-deze 2018 V.5, n. 1, 2018 (janeiro a marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.1__janeiro-mar_ V.5, n. 2, 2018 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.2__abril-junho_ V.5, n. 3, 2018 (julho a setembro)


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33

CHAPA 1 “MARIA FIRMINA” – BIÊNIO 2018 – 2019 MEMBROS DA DIRETORIA: ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – Presidente; ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – Vice-Presidente; CLORES HOLANDA SILVA – Secretária-Geral DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA – Primeiro Secretário; CERES COSTA FERNANDES – Segundo Secretário; OSMAR GOMES DOS SANTOS – Primeiro Tesoureiro; e, RAIMUNDO GOMES MEIRELES – Segundo Tesoureiro. CONSELHO FISCAL: ÁLVARO URUBATAN MELO; ARQUIMEDES VIEGAS VALE; e, SANATIEL DE JESUS PEREIRA. CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938 COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES E EVENTO

SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA CONSELHO EDITORIAL

SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536


SUMÁRIO

EXPEDIENTE - 2 SUMÁRIO - 7 COM A PALAVRA, o PRESIDENTE... - 11 AGENDA - 13 V ANIVERSÁRIO DA ALL - 14 Na Imprensa escrita e falada III SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA - 19 Discurso de NATALINO SALGADO FILHO em agradecimento à medalha de mérito - 19 ARQUIMEDES VALE - GRAÇA ARANHA EM SEU SESQUICENTENÁRIO –- 25 MESA-REDONDA – Aqueles que fazem literatura - 42 MESA-REDONDA – A Literaura ludovicencen na atualidade - 47 JOSÉ NERES - PÉROLAS DE NOSSOS TEMPOS: Um breve panorama da poesia maranhense contemporânea - 49 DILERCY ADLER – PARABÉNS ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (5 anos -10 de agosto de 2018) – 61 ANTONIO NOBERTO - PALESTRA –- 54

FRANCISCO TRIBUZI - 41 ANOS DO LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA HORA DE GUARNICÊ... – 62 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - GUARNICÊ – UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO? - 65 EDMILSON SANCHES - CEM ANOS SEM NADA – 64 EFEMÉRIDES - 71 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - CADEIRA 13 – Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo – PATRONO - 72 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - CADEIRA 19 - João Dunshee de Abranches Moura – PATRONO - 79 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - CADEIRA 35 - Domingos Vieira Filho – PATRONO - 85 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – DILU MELO - 91 CERES COSTA FERNANDES – MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD - 93 DINACY CORREA – DILERCY ARAGÃO ADLER - 98

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - 104 REVISTA DO LÉO – JULHO 2018 REVISTA DO LÉO – AGOSTO 2018 REVISTA DO LEO – SETEMBRO 2018 CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL – ATLAS DO ESPORTE NO CEARÁ = 107 CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL - INDÍCIOS DA CAPOEIRAGEM NO CEARÁ - 131 NA REVISTA DO IHGM – 46 – AS TRÊS FUNDAÇÕES DO IHGM NA REVISTA DO IHGM 46 – PORTUGUESA, FRANCESA... OU FENÍCIA? CDENTRO ESPORTIVO VIRTUAL – QUERIDO PROFESSOR DIMAS – LIVRO II INTERNATIONAL CONGRESS OS SPORTSS HISTORY ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - 169 NA REVISTA CONVIVENCIA NO JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO NA UNIVERSIDADE DE SALAMANCA NA UNIVERSIDADE PORTUCALENSE NO SÍTIO DO IHGM NA REVISTA DO IHGM 46 DANIEL BLUME NO PEN CLUBE DO BRASIL NA UNIVERSIDADE AUTONOMA DE LISBOA RESPOSTA AO TERNO EM ESPANHOL

- 175

NA BERLINDA - 103


NO JORNAL O IMPARCIAL PALESTRA – PROCESSO POÉTICO – AMEI SARAU BRASIL 2018 - CLARA ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO REUNIÃO NA UFMA

- 181

ANTONIO NOBERTO - 182 Palestra ministrada no Congresso Brasileiro dos Guias de Turismo = FRANÇA-BRASIL AO LONGO DE CINCO SÉCULOS – 189 FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS SOB A LUZ CRITICA DA RAZÃO – 189 NO JORNAL – IMPARCIAL, PEQUENO – Mapa frança equinocial – 190 ARAÇAGI – O CAJUEIRO DO PAPAGAIO – 195 FRANÇA EQUINOCIAL PARA SEMPRE - 199 SOBRAMES - 200 CLEONES CARVALHO CUNHA - 201 NO JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO – NA BIENAL DO LIVRO NO JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO – NOVO LIVRO JUCEY SANTANA - 203 IV ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL – SCLB

ALDY MELO - 210 NA REVISTA DO IHGM 46 JOÃO BATISTA ERICEIRA - 211 NA REVISTA DO IHGM 46 ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 212 NA REVISTA DO IHGM 46 SANATIEL PEREIRA - 213 NO O ESTADO/PH REVISTA – PREMIO LITERÁRIO BRUNO TOMÉ - 214 NO O ESTADO/PH REVISTA = PREMIO LITERÁRIO OSMAR GOMES - 215 ÁLVARO MELLO - 216 Desfile de 7 de setembro Homenagens DILERCY ADLER - 218 Liceu de Benedorn – Maria Firmina dos Reis

2018 – ANO DE GRAÇA ARANHA - 219 FERNANDO BRAGA - Graça Aranha e a Estética Moderna - 218 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - José Pereira da Graça Aranha – PATRONO DA CADEIRA 20 DA ALL - 222 ARTIGOS, & cRONIcAS, & cONTOS, & OPINIÕES - 229 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - A FUNDAÇÃO DOS CLUBES ESPORTIVOS EM SÃO LUÍS - 230 BRUNO TOMÉ FONSECA - SIGAMOS COM NEYMAR - 233 FELIPE CAMARÃO - A ESCOLA DIGNA (DE) SOTERO DOS REIS - 234 JOÃO BATISTA ERICEIRA - O SONHO NÃO ACABOU - 235 FERNANDO BRAGA - O SIMBOLISMO E O POETA MARANHÃO SOBRINHO - 237 OSMAR GOMES DOS SANTOS - O ELEITOR E A DEMOCRACIA - 240 JOÃO BATISTA ERICEIRA - O CIDADÃO-ELEITOR

- 242


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO - 244JUCEY SANTANA - BICENTENÁRIO DE ITAPECURU MIRIM - 249 ANTONIO NOBERTO - PRF 90 ANOS: O DNA DA BELA ÉPOCA/ AMIGO DO EXÉRCITO - 251 JOÃO BATISTA ERICEIRA - O S.O.S. DA CIÊNCIA - 252 JOÃO BATISTA ERICEIRA - EFEMÉRIDES CAXIENSES - 254 AYMORÉ ALVIM - FOI ASSIM... - 256 AYMORÉ ALVIM - SAIA JUSTA...! - 258 MICHEL HERBERT - O QUÊ TORNA ALGUÉM UM MITO? - 258

O PENSAMENTO DE BRANDÃO

261

UM BALANÇO NA CRISE DA “BOLHA” 262 GRANDES PENSADORES ENFRENTAM DESAFIOS - 263 NOVOS TÓPICOS RELEVANTES – VIII 265 NOVOS TÓPICOS RELEVANTES - IX - 266 SINAIS 267 PONTO DE VISTA - 270 TETO DE GASTOS E AJUSTE FISCAL 271 NOVOS TÓPICOS RELEVANTES – X - 273 ACADEMIAS EM DIAS DE FESTA - 275 FESTA DE SÃO BENEDITO - 277 POR QUE O DÓLAR ESTÁ SUBINDO - 279 JUBILEU DE OURO - 280 ACERTO DE CONTAS OU REVANCHE - 282

AS cRôNIcAS DE cERES 284 COMIDAS DE RUA 285 EM DEFESA DA ”HONRA” 286 NA CABECINHA DE DORA E DE OUTROS DESMIOLADOS MAIS O TEMPO É CIRCULAR 289 PAU-DE-ARARA DO CÉU 291 DESAPEGAR 293

288

POESIAS & POETAS - 294 IRANDI MARQUES LEITE e Mariana da Hora Montelo - HOMENAGEM A ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - 295 AYMORÉ ALVIM - O HOMEM ANIMAL / SEMPRE AOS DOMINGOS / A VELHA DAMA - 297 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - QUANDO / PROCUREI-TE / NÁUFRAGO / POESIA NETUNIANA - 300 RICARDO LEÃO: CANÇÃO DE NINAR / A ÚLTIMA SUBTRAÇÃO / O ILUMINADO - 303 FERNANDO BRAGA - Poema Insulano / CANTO DE AMOR A UMA ILHA QUE DO AMOR JÁ FOI

HAGAMENON DE JESUS - a flor do design / Esfinge Desimportância / Coleção / Atualmente DILERCY ADLER - MARIO(S) / TIRANIA 312 ROSEMARY REGO / CANÇÃO ONTOLOGICA PARA SÃO LUIS 314 SARAU BRASIL 2018 – 317 WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES – SOBRE AMORES VERDADEIROS 317 TEREZA CRISTINA SANTOS – ALGUMAS PERGUNTAS 318 ROBERTO FRANKLIN – SEM TITULO 319 Evandro nunes – s/t - 320 BEIJA-FLOR – EU ME CHAMO AMOR 321 ADILSON RIBEIRO BATISTA – DOR 322 LILIAN PORTO – PAGINAS AMARELAS 323

Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador) JOAQUIM MARIA SERRA SOBRINHO – 325 JOSÉ AUGUSTO CORREIA - 327 MANUEL ÁLVARO DE SOUSA SÁ VIANA - 328 AUGUSTO TASSO FRAGOSO - 329

306

310

POR UMA ANTOLOGIA LUDOVIcENSE - 324


ANTÔNIO FRANCISCO LEAL LÔBO 331 I. XAVIER DE CARVALHO - 334 JERONIMO JOSÉ DE VIVEIROS 339 ARMANDO VIEIRA DA SILVA 341 RAIMUNDO CLARINDO SANTIAGO 342 JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA – RIBAMAR PEREIRA 344 FRANCISCO DE ASSIS GARRIDO 345 JOSÉ CARLOS LAGO BURNETT - LAGO BURNETT 347 WALDEMIRO ANTONIO BACELAR VIANA 348 JOSÉ DE JESUS LOUZEIRO 357 JOSÉ JOAQUIM FERREIRA DO VALE 355 ANTONIO LISBOA CARVALHO DE MIRANDA 356 JOSÉ NASCIMENTO MORAIS FILHO 360 ROSSINI CORRÊA = JOSÉ ROSSINI CAMPOS DO COUTO CORRÊA 365 DINACI CORREIA – GORETH PEREIRA – 371 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – HEMROQUETA EVANGELINE 373 ANTONIO CARLOS LIMA - O MARANHÃO NA CULTURA NACIONAL 376 FERNANDO BRAGA - GOLPE DE VISTA 377 FERNANDO BRAGA - A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA 379 JOSÉ NERES - UM BREVE PASSEIO PELA ÉPICA DE SOUSÂNDRADE 381 FERNANDO BRAGA - A TARA E A TOGA 386 FERNANDO BRAGA - PERCURSO DE SOMBRAS 378 FERNANDO BRAGA - O MULATO’: UM ROMANCE MARANHENSE 390 FERNANDO BRAGA - O GÊNIO FLORESTAL 392 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - ROSEMARY REGO 394

O VITORINISMO - Benedito Buzar 397 ARMÁRIO DE PALAVRAS – Joaquim Itapary 398 A ÉPOCA E A ÉPICA DE SOUSÂNDRADE – Sebastião Moreira Duarte 399 PASSEIOS PELA HISTÓRIA E CULTURA DO MARANHÃO – Wilson Marques 400

INDIcAÇÕES DE LEITURA - 396 ALEXANDRE MAIA LAGO

HAVANA – Lourival Serejo 401

DIREITO & LITERATURA = 402 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - DA SOMAC À UNIVERSIDADE (CATÓLICA) DO MARANHÃO – FUM: 1956/1966 JOÃO BATISTA ERICEIRA - OS DESAFIOS DA ADVOCACIA 413 JOÃO BATISTA ERICEIRA - FORA DA LEI 415 OSMAR GOMES DOS SANTOS - FUGA DOS BRASILEIROS MILIONÁRIOS Bye, bye, Brazil!! 417 OSMAR GOMES DOS SANTOS - A ÉTICA CONSTRUÍDA COM A VERDADE 419 OSMAR GOMES DOS SANTOS - CHAMAS DO DESCASO: NOSSA MEMÓRIA. 421 JOÃO BATISTA ERICEIRA - EXISTE A CLASSE POLÍTICA? 423

403


COM A PALAVRA, O PRESIDENTE...

A fonte da eterna juventude Nas comemorações do aniversário da Academia Ludovicense de Letras em agosto, e nos 406 anos de São Luís, no mês de setembro, a ALL fez bonito novamente. Em uma diversificada programação que envolveu poesia, história, palestras, entrevistas e apresentações conseguimos levar um pouco mais do que a confraria tem a oferecer ao público interessado. Tanto no ambiente fechado do Palácio Cristo Rei ou da Livraria AMEI, quanto em local aberto, como aconteceu na praça Botafogo, onde existiu o Forte Sardinha, os participantes se encantaram com a programação. Na verdade, as três primeiras gestões da ALL, cada uma a sua maneira, permaneceram com o foco na expansão dos domínios acadêmicos e a busca por ocupação de espaço na vida da cidade. E tais avanços nos remete a nossa infância, quando o desejo de aproveitar a vida e viver em liberdade eram bem maiores que as necessidades materiais. Neste mês de outubro, quando lançamos a presente edição da revista eletrônica, realizamos mais um grande evento externo, a homenagem ao ex-governador Benedito Pereira Leite no cemitério do Gavião, trabalho realizado em uma propositiva parceria com a Escola Modelo e com a administração da necrópole, em perfeita simbiose cultural de valorização da história. Considerando que o homenageado foi um dos “arquitetos” da estrada de ferro São Luís – Teresina, nada mais apropriado que fazer coro com o cantor e compositor João do Vale e os muitos estudantes naquele alto lugar de memória, tudo ao som de violino e violão de profissionais da escola de Música. “Peguei o trem em Teresina pra São Luís do Maranhão. Atravessei o Parnaíba, ai, ai que dor no coração ...

O evento contou com a participação do ator Domingos Tourinho, da confraria, além de vários interessados e curiosos. Outro importante evento a ser realizado em outubro será a vinda da advogada Andreya Mendes de Almeida Navarro, trineta de Cândido Mendes, que deverá percorrer conosco alguns municípios do estado proferindo palestras sobre a vida e a obra do seu trisavô. Enfim, é importante a Academia aproveitar este momento franciscano, quando desembaraçada de necessidades materiais maiores, temos a facilidade de atingir o público externo valorizando a história da cidade e os atores que a fizeram, pois pode não tardar o dia em que estaremos muito bem estruturados ou acastelados, porém, sem a verdadeira alma e sem a essência de uma academia, que, entre outras coisas, tem a nobre missão de multiplicar o saber levando a utopia possível da cultura e da literatura aonde o povo


estiver. As incursões aos espaços públicos ajudam a nos manter sempre jovens, afinal, “só envelhece quem perde a capacidade de sonhar”. Parabéns a todos os confrades e confreiras pelos textos publicados nesta nova edição. E as nossas congratulações ao nosso incansável editor “General”. Avante!

Antonio Noberto


AGENDA





O Estado Ma, 09/agosto/2018

JORNAL PEQUENO 10/AGOSTO/2018



Excelentíssimo Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Acadêmico Antonio José Noberto da Silva, Ilustres componentes da Mesa Diretora, Exmas. Acadêmicas, Exmos Acadêmicos, em especial o Acd Álvaro Urubatam Mello. Ilustres convidados, queridos amigos, colegas da nossa Universidade, Queridos familiares, Senhoras e senhores, Agradecimentos inicias pelo recebimento da comenda maior da ALL, a Medalha Maria Firmina dos Reis. O primeiro a ser agraciado. Conta a mitologia grega que Deucalião, por seu justo e íntegro, foi poupado do dilúvio que se abateu sobre a terra, ao lado de sua esposa Pirra. Ambos tiveram a missão de, a partir das pedras, fazerem surgir novos homens e mulheres para povoar o planeta. A lenda de Deucalião trata de renovação, de esperança, de continuidade. Eu a menciono a propósito dessa reconstrução que este cenáculo proporciona à nossa cidade. Homens e mulheres que, imbuídos da paixão pelas letras, aqui congregam fiéis e preparam novos sacerdotes para que a chama pelo saber nunca se apague. Fundada em 10 de agosto de 2013 – mesma data de aniversário de Gonçalves Dias - a Academia Ludovicense de Letras teve como cenário de nascimento o auditório do Palácio Cristo Rei, por ocasião do evento “Mil poemas para Gonçalves Dias”. Nessa data, com a participação das acadêmicas Clores Holanda e Dilercy Aragão Adler, criamos o Memorial Gonçalves Dias, a ser concretizado após o término da reforma e requalificação do Palácio Cristo Rei. Tive a alegria de ser um dos incentivadores da empreitada, em nome da valorização do vernáculo e pelo discipulamento de outros amantes dessa que é a última flor do lácio, inculta e bela, no dizer de Bilac. A nau se mantém nos mares. Os argonautas são abnegados.


De fato, a Academia Ludovicense de Letras é ainda uma menina, no frescor de seus 5 anos. Mas traz consigo o olhar arguto e inquieto que os infantes sabem ter. Num dos diálogos mais intrigantes do país das maravilhas, a Alice de Lewis Caroll questiona se é possível fazer com que as palavras digam coisas diferentes. A garota que por acaso vai parar naquela realidade paralela é capaz de frases que desconcertam e encantam os adultos. Uma Academia é um espaço de difusão de conhecimento. É como um templo no qual o saber é a seiva que alimenta e mantém o ritmo da própria existência. Louvo a iniciativa de todos os acadêmicos e acadêmicas que não medem esforços para fazer esta augusta academia consolidar-se a cada ano em terras gonçalvinas. Que a literatura viva e se expanda. Que ela encontre devotados amigos a fazê-la cada vez maior. E que na Academia Ludovicense de Letras seja sempre farto o banquete das palavras, estas que tem o poder de criar mundos e evocar sentimentos adormecidos. Muito obrigado!


III SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA No período de 08 a 10 de agosto realizou-se a III Semana Ludovicense de Literatura. Alguns contestam essa periodicidade. Realizamos sim, três eventos. Melhor, participamos de dois eventos, sendo o primeiro ainda como Mostra de Literatura Maranhense, ainda no Centro de Cultura “Odilo Costa, Filho’, na administração de Ceres Costa Fernandes, em parceria com a Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA. Já, naquela ocasião, resolvera-se a realização da semana de literatura da ALL. E com esse espírito que participamos daquela mostra. No ano seguinte, instituída a realização da semana, em decorrência do evento então realizado no ‘Odilo’, houve a mudança de administração, e a Mostra não mais foi realizada. Aguardamos mais de ano, para uma decisão do então administrador, com a proposta, nossa, de continuidade de sua realização, em parceria com a FALMA. Não ocorreu... nem fora realizada naquele ano. Em decorrência, resolvera-se dar continuidade ao evento, firmando-se nova parceria com a FALMA, na realização, em continuidade, à sua Semana de Literatura, mudado agora a denominação. Procurou-se a aAssociação Maranhense dos Escritores Independentes, já formada e constituída, com uma sede estabelecida, agora, no Shoppingt São Luis; no ano anterior, fizera uma mostra – feira de livros – em outro shopping, em que houve a participação de vários membros da ALL, porém sem a realização de nossa semana, já instituída. Assim, em 2017 foi realizada a Semana Maranhense, em paralelo a Semana Ludovicense... portanto, este ano, realizamos nossa terceira semana. Não havendo respostas, em tempo hábil tanto da FALMA como da AMEI, e dada o curto tempo, foi apresentada a proposta de sua realização, da forma que se pudesse. Desde o ano passado, a data de realização fora alterada para o mês de agosto, coincidindo com o aniversário da ALL, não se justificando, mais, a sua realização no mês de julho, data em que tradicionalmente se fazia a Mostra no ‘Odilo’. Aprovada sua realização, constando do programa do quinto aniversário da Academia Ludovicense, a curta semana – três dias – realiza-se sobre a perspectiva de “Espaço Aberto”: a ALL disponibiliza um espaço, dentro da programação, e, aos seus membros, os escritores, cabe o seu preenchimento. A hora em que você chegar, começa; na hora de se encerrar, terminado o horário disponibilizado, termina; se você veio, porque é importante; se você não veio, não tem importância. No primeiro dia – e nos demais -, com inicio às dezesseis horas da tarde, abrese-se o espaço, e aqueles interessados expõe seus livros. Nesse primeiro momento, apenas Álvaro Urubatan Melo e Arquimedes Vale se apresentaram:




Dentro da programação, pensou-se numa série de debates, sobre a literatura ludovicense atual; iniciou-se com palestra, proferia pelo acadêmico Arquimedes Vale, em homenagem ao seu patrono, Cadeira 20, que este ano comemora o sesquicentenário de nascimento; por isso, este ano de 2018, é dedicado à sua memória – o ano de Graça Aranha.


GRAÇA ARANHA NO SEU SESQUICENTENÁRIO ARQUIMEDES VIEGAS VALE Senhoras e Senhores Quero agradecer à organização deste evento pela oportunidade e obrigação de proferir, com a simplicidade da minha posição na literatura, palavra sobre um homem tão importante para a Cultura Brasileira. Para falar sobre o Ludovicense JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA, ou da sua apresentação literária, o brasileiro GRAÇA ARANHA, início como uma sua afirmativa, que como uma efígie cunha o seu extenso e realista pensamento filosófico: “A CIVILIZAÇÃO É UMA VIOLÊNCIA DO HOMEM À NATUREZA” Admira-me a sua coragem de assumir e anunciar posições realistas, mesmo contrariando correntes ou dogmas protetores dos sofismas ufanistas, como espalha por sua obra, considerada pequena, mas profunda. Por suas atitudes podemos afirmar que foi um inovador, procurando novos caminhos para a literatura e as artes para que fugissem do mesmismo catalogado e pedagógico. GRAÇA ARANHA nasceu em São Luís do Maranhão, em uma bela residência assobradada na Av. Pedro II, bem próximo à Catedral da Sé, no dia 21 de junho de 1868, fazendo, então este ano de 2018 150 anos do seu nascimento que para uma fonética matemática mais rebuscada chamamos de sesquicentenário. Era seu pai Temístocles da Silva Maciel Aranha, cidadão abastado financeiramente, considerado e respeitado nos meio sociais por ser dono de tipografia que à época eram onde, além dos impressos comuns ao comércio e educação, se produziam as mídias, que em toda a história da humanidade estas sempre foram


um instrumento de formação de opinião e conduta. A tipografia era instalada em sua própria casa onde também mantinha a redação do jornal diário “O Paiz”. Aí, então Graça Aranha aprendeu o ofício de tipógrafo, ainda muito jovem. Sua mãe, com a qual aprendeu as primeiras letras, era a dona de casa Maria da Glória da Graça, sendo seu avô materno, o descendente de portugueses, José Pereira da Graça que nasceu em 1812 na cidade de Aracati, no Ceará, foi magistrado, político e chegou ao Supremo Tribunal de Justiça e que por decreto imperial em 1887 foi agraciado com o título nobiliárquico de Barão de Aracati Aos treze anos de idade, GRAÇA ARANHA, termina os seus estudos secundários, vai para Pernambuco e em entra na Faculdade de Direito de Recife, onde conclui o seu bacharelado em 1886, com dezoito anos de idade. Foi discípulo do poeta, filósofo e jurista Tobias Barreto, às influências de cujo espírito muito deveu a sua formação mental. Volta ao Maranhão e nesse mesmo ano foi designado para assumir o cargo de Promotor de Justiça em Guimarães (MA), sendo transferido no ano seguinte para Rosário (MA) e logo em 1888 tornou-se o Juiz de Direito de Órfãos de Vitória e Arari, ambas, também, no Maranhão. No ano seguinte, 1889, aos 21 anos, vai exercer o cargo de Juiz de Direito na cidade de Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro e depois na cidade de Porto do Cachoeiro, atual Santa Leopoldina, no Estado do Espirito Santo. A sua meteórica passagem pela judicatura em pequenas cidades brasileiras, conhecendo o drama das populações desprotegidas e oprimidas pelas desigualdades sociais, talvez tenha sido motivo para afastar-se da sua missão judiciária e expor a sua indignação e inconformismo através do realismo da sua literatura, pautada no impulso da libertação, o que o aproxima, em essência, a imagem que constrói de si e dos protagonistas dos seus romances. Em 1899, Graça Aranha assume uma nova missão e passa a compor a diplomacia brasileira. Segue para a Europa como secretário de Joaquim Nabuco com o qual serviu em Londres, Noruega, Holanda e na França e, possivelmente, tenha sofrido o influxo estético desse pensador. Exerceu o cargo de secretário do tribunal boliviano-brasileiro que tinha a atribuição de tentar solucionar problemas de indenizações das terras do Acre, criado pelo Tratado de Petrópolis. Foi Ministro Plenipotenciário ( agente diplomático investido de plenos poderes, em relação a uma missão especial ) em Cuba e em Haia. Exerceu essa atividade durante 20 anos, aposentou-se e retornou ao Brasil em 1921. A sua produção literária oferece, de par com minudente poder descritivo e evidente riqueza verbal, tipos e quadros, ideias e conceitos que lhe assinalam relevante lugar entre os nossos prosadores. Graça Aranha apresenta, em sua obra, a realidade brasileira com as suas mazelas, deficiências e preconceitos, contrariando os moldes da então literatura apoteose cheia de bucolismo e ufanismo. Considerado uma das grandes figuras da literatura brasileira, foi um dos defensores do Simbolismo, depois o precursor do romance de ideias e, em 1922, líder que influenciou e estimulou os jovens escritores a aderir ao movimento renovador em defesa do Modernismo. Nas palavras de um seu contemporâneo, o médico e escritor carioca Afrânio Peixoto, Graça Aranha era “um escritor brilhante, as vezes confuso, que escrevia pouco com muito ruído”. Suas influências provêm de origens distintas, tanto no campo filosófico quanto na esfera cultural. Por sua atuação na diplomacia tem a oportunidade de percorrer diversos países da Europa, nos quais se atualiza artisticamente, entrando em contato com correntes pós-simbolistas que então despertavam no continente europeu. Assim, ao retornar para o Brasil, traz consigo estes novos ideais e procura inseri-los na literatura brasileira. Ponto marcante da sua produção é a valorização da imaginação, que ele vê como o “traço característico coletivo” da cultura brasileira. Faz referências a lendas, como a do curupira e da mãe-d’água. A sua literatura, apesar de ser ele um entusiasta e articulador de movimentos modernistas, nunca adere a essa estética e mantém um estilo próprio e peculiar. Sua primeira e mais vistosa obra — Canaã —, publicada no Rio de Janeiro em 1902, obteve decisivo êxito; e a esse romance seguiram-se: Malazarte, drama (Paris, 1911); A Estética da Vida (Rio, 1920); O Espírito Moderno, conferências e estudos após 1920; A Viagem Maravilhosa, romance (Rio, 1919); e O Meu Próprio Romance (Rio, 1931). Sobre CANAÃ faremos um breve resumo sobre a história, e algumas análises sobre a obra: Em seus aspectos regionais temos um trecho inicial que assim descreve: " Os seus olhos de imigrante pasciam na doce redondeza do panorama. Nessa região a terra exprime uma harmonia perfeita no conjunto


das coisas: nem o rio é largo e monstruoso precipitando-se com espantosa torrente, nem a terra se compõe de grandes montanhas, dessas que enterram a cabeça nas nuvens e fascinam e atraem como inspiradoras de cultos tenebrosos, convidando à morte como um tentador abrigo... O Santa Maria é um pequeno filho das alturas, ligeiro em seu começo, depois embaraçado longo trecho por pedras que o encachoeirado (...)" Revela aspectos da imigração alemã para o Estado do Espirito Santo: " Hoje em dia tudo aqui é de estrangeiro, Governo não faz nada por brasileiro, só pune por alemão (...)" A narrativa começa com Milkau um alemão protagonista da obra, que acaba por chegar em uma colônia de imigrantes Europeus em sua grande parte alemães, no Espirito Santo. Ele por fim decide ir para um local denominado Porto Cachoeiro. Junto com ele vai o guia, um menino de 9 anos, filho de um alugador de animais, no Queimado. O imigrante observa a paisagem e, ao passar por uma fazenda abandonada, entregue aos poucos e pobres escravos, nota o ritmo daquela gente desamparada. Por lá em um armazém de um comerciante alemão ( Roberto Shultz) é apresentado a um homem chamado Von Lentz, filho de um general alemão, e dali nasce uma pequena amizade, e é em torno dela que se cria grande parte das narrativas filosóficas do livro. Milkau e Lentz amigos porém antagônicos ao mesmo tempo. Milkau é a integração e a paz, admirando o Novo Mundo, Lentz é a conquista e a guerra, pensando no dia que a Alemanha invadirá e conquistará aquela terra. Nos mostrando assim aspectos do amor de Milkau e a sede por guerra de Lentz. Os temas sociais e filosóficos são debatidos entre o protagonista Milkau e seu compatriota Lentz. Milkau representa o otimismo, a confiança no futuro do Brasil e na força regeneradora do amor universal. Lentz é um adepto das teorias racistas. Para ele, os brasileiros, por serem mestiços, estão condenados à dominação por parte de raças “superiores”. Lentz profetiza a vitória dos arianos, enérgicos e dominadores, sobre o brasileiro fraco e indolente. Suas ideias deixam entrever "supostamente" a filosofia de Nietzsche e o evolucionismo de Darwin: “Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos escravos em revoltas e quedas (…) Não Milkau, a força é eterna e não desaparecerá; cada dia ela subjugará o escravo. Com isso o livro vai progredindo com inúmeras observações de ambos que nos fazem refletir em torno de todo o livro. Shultz também vos apresenta Felicíssimo um agrimensor, que queria medir terras em Rio Doce. Milkau tinha vontade de se estabelecer por lá, dessa forma partiram ele e Lentz, e em meio esse caminho com várias discussões com o ponto de vista de cada um sobre as misturas deverem ser ou não subjugadas pelas raças arianas. Milkau por fim levanta sua casa e Lentz decide por acompanhá-lo, ambos com visões de mundos diferentes, um em busca de ambição e poder e o outro em busca da vida, do amor e da felicidade. Até que certo dia a vida de Milkau e de uma mulher por ali se cruzam. Era uma festa no sobrado de Jacob Müller, em meio aos festivos, ele conhece Maria Perultz, uma mulher de história triste que o comove. Maria nascera na Colônia, na mesma casa onde ainda vivia, filha de imigrantes não conhecera o pai, que morrera ao chegarem no Brasil. A mãe viúva e quase mendiga, emprega-se na casa do velho Augusto Kraus, antigo colono estabelecido no Jequitibá. A colônia era próspera e os outros habitantes eram o filho casado e o neto que nascera um ano antes de Maria, com o tempo Maria torna-se amante de Moritz, neto do velho Augusto, mas a família desaprovava, pois desejava que ele se casasse com uma mulher rica chamada Emília. Quando o velho Augusto morre, tudo se complica para Maria. Ema envia Moritz para Jequitibá para ficar com Emília, ele parte contente, isso deixa Maria triste e desgostosa. É quando ela descobre que está grávida de Moritz, e espera que ele volte para contar-lhe. Porém, sua família começa a desconfiar, e planeja uma maneira de livrar-se dela. Começam a trata-la muito mal e rigorosamente, a enchem de trabalho e quase não lhe dão comida. Um dia, trêmula e exausta Maria acaba deixando cair um prato no chão. Ema mãe de Moritz como pretexto a expulsa de casa. Ela pede auxílio a um pastor da cidade, mas Ema tem grandes influências sobre ele, e por isso acaba não ajudando Maria.


Ela parte para a vila em busca de abrigo. Encontra uma estalagem, onde ela empenha sua trouxa de roupas para conseguir comida e um lugar para dormir. Milkau então, com pena de Maria, a leva para a casa de uns colonos, onde ela começa a trabalhar num cafezal. Até que certo dia ela começa a sentir as dores do parto e com medo de que fosse despedida se alguém a visse, corre para a floresta e ali mesmo tem seu bebê, a mulher sem forças fica inconsciente e é quando alguns porcos se aproximam e se alimentam da criança, deixando Maria arrasada, porém pra piorar sua situação, a filha de um colono assiste toda a cena e sem entender direito, conta para seu pai que Maria havia matado seu filho e dado de comer aos porcos. Dois dias depois ela estava presa na cadeia de Cachoeiro. Milkau acredita que Maria é inocente e acompanha de perto seu julgamento, mas quando ela é condenada, ele em um gesto heroico e de muito amor programa uma fuga, a tira da prisão e foge com ela em busca da tão prometida Cannã, que seria uma metáfora de uma terra onde reluz harmonia e o amor, a perfeição que todos procuram, “onde as feras não fossem homens”, onde a vida não seja uma competição de ódios, mas uma conquista de amor. Bem é importante ressaltar que em torno de todo o livro está claro um contexto histórico importantíssimo para qualquer tipo de análise sobre ele. Comentários Contexto histórico : pré modernismo É o primeiro romance ideológico brasileiro onde se discute o destino histórico do Brasil. Ao mesmo tempo, Canaã representou uma ponte entre as correntes filosóficas e estéticas do final do século XIX (Realismo, Naturalismo e Simbolismo) e a revolução modernista da segunda década do século XX. Será apresentado pela primeira vez na literatura o Brasil problemático e pobre, onde a Graça Aranha apresenta o problema e além disso nos diz de onde é que ele veio assim como as consequências que esses problemas sociais trazem para os Brasileiros. Onde a realidade do Brasil é mostrada, analisada e criticada. O contexto do livro mostra pela primeira vez os marginalizados, pessoas mais simples como os escravos, todos esses vão adentrar como personagens nas obras, e o interessante é que Graça Aranha aborda de uma forma que nos emociona e nos faz participar dos problemas dos personagens. A verdade é que nessa época em que o Brasil está enfrentando haverá ainda um conservadorismo, mas começará a haver também indícios de inovação, que é onde supreendentemente Graça Aranha entra, publicando um livro que marca esse momento. A principal característica da arte pré modernista é poder criticar, protestar, denunciar e por fim documentar os problemas do Brasil por meio da arte Brasileira, e é por isso que nessa época surgiram autores dispostos a escreverem livros sobre o assunto, Graça Aranha foi um deles. No livro o autor quis nos mostrar os dois tipos de Brasil que existem, o Brasil Arcáico rural, que sim movimenta nossa economia mas no entanto provém de analfabetos e pessoas sem informação alguma, em condições precárias, porém em contra partida também apresenta o Brasil refinado litorâneo onde localiza-se as capitais, possuindo tecnologia, informações e muitos outros meios de comunicações, da mesma forma que existe uma natureza extremamente bela no Brasil também existe seu lado pior, extremo e feio, esse é o papel dos pré modernistas, apresentar esse lado desconhecido para a arte brasileira. Graça Aranha foi o primeiro autor Brasileiro a inovar na literatura no sentido natureza, diferente dos antigos escritores que passavam páginas inteiras a falar da beleza que é a natureza Brasileira, ele vai sim falar de sua beleza, no entanto ele vai também abordar seu lado disforme, e acredito que isso me chamou bastante atenção para esse traço de leitura do autor. A hipocrisia social, é encontrada onde conta a história de Maria, o autor foca bastante na diferença de condição social dela para as outras pessoas, por ser apenas uma criada, a forma em que fora tratada em todo o livro, quando é rejeitada de tal forma que se torna uma miserável, a forma em como é acusada sem que ouçam sua voz, o jeito em que sofreu sem ter nem o que comer ou onde morar tudo isso retrata de forma grandiosa a hipocrisia social. Já a visão sobre a relação da família é encontrada também em Maria, quando é contada que era filha de estrangeiros, não chegou a conhecer seu pai que morreu antes de chegarem ao Brasil e de sua mãe que morrera logo em sua infância, ela é demonstrada no carinho que ela possui com o velho Augusto que a manteve segura por ali até sua morte. Também é retratada quando ela diz ter o neto de Augusto como amante, estar gravida dele e pretender tê-lo como marido um dia


A alusão sobre as relações humanas está clara como caráter pessimista no texto quando todos por ali inclusive a igreja rejeitam Maria, ninguém se importa com a pobre garota, e não se interessam por seu destino, a não ser é claro Milkau, que mostra um belo coração e um amor que acaba salvando Maria. Abordagem da ineficiência do clero: " (...)padres também não temos, nem igreja, como deve ter reparado. Também não há necessidade, raros são aqui os católicos, e para os protestantes, há três pastores, nas capelas do Luxemburgo, Jequitibá e Altona. os católicos do município, são o povo do Queimado (...) " Em torno do livro Graça Aranha demonstra a falta de pátria que os Brasileiros possuem ao tratar todos os alemãs de forma muito melhor ao próprios nativos da região e isso é claro quando narra que Milkau chega a cavalo no cidade, a forma em que é recebido. "(...) Hoje em dia tudo aqui é estrangeiro, governo não faz nada por Brasileiro, só pune por Alemão (...) Vosmecê vai ficar aqui? Daqui um ano está podre de rico. Todos os seus patrícios eu vi chegar sem nada, com as mãos abanando... E agora? Todos têm uma casa, cafezal, burrada... de Brasileiro governo tirou tudo (...)" Continua: " (...) — Onde estão os professores Brasileiros? — Só há um , porque as línguas que se ensinam por aqui é o alemão, e os professores são alemãs. (...)" Escola literária: Simbolismo: "E os pirilampos se incrustavam nas folhas e aqui, ali e além, mesclados com os pontos escuros, cintilavam esmeraldas, saras, rubis, ametistas e as mais pedras que guardam parcelas das cores divinas e eternas. " Quando Maria, em fuga pela mata, adormece e é envolta por cen- tenas de vaga-lumes. É uma descrição que, pela fosforescência das metáforas visuais, pintalgadas pelo pincel do autor, lembra o estilo simbolista de coloridos efeitos sensoriais.: Traços da escrita de Graça Aranha em Canaã: Ele retrata a renovação falando sobre a realidade brasileira e as tensões vividas pela sociedade pelos dilemas vividos pela sociedade na época. A realidade rural brasileira é exposta sem os traços idealizadores do Romantismo. A miséria do homem do campo é apresentada de forma chocante. A literatura retrata fatos políticos, situação econômica e social contemporâneos, diminuindo a distância entre realidade e ficção retratado em certos trechos , como neste: "(...) — No Brasil não há lei e ninguém está garantido — continuava. — O processo é feito de tal maneira que tudo vai em perigo. Olhe, se aqui um homem entender se apossar da propriedade do outro, encontra no nosso sistema de justiça, no modo porque se faz o processo, apoio para sua intenção. E se esse homem é um potentado ninguém o pode embaraçar. — concluiu (...) " " (...) Os trabalhadores do barracão armaram a mesa das refeições no dormitório dos imigrantes e aí puseram-se a cear, a comida era simples e pobre , o peixe salgado, e a carne seca, alimentação habitual dos homens do campo, nos lugares do seu serviço; e todos se banqueteavam alegremente (...) " Sobre o livro “Canaã”, José Veríssimo, crítico dos mais afiados ao tempo, disse: “Estréia, como não me lembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. Valoriza o este comentário de Veríssimo o fato de ser contra a entrada de Graça Aranha na Academia Brasileira de Letras, embora nunca tenha dito o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco. MALAZARTES:


Malazartes é uma peça de teatro que estreiou em Paris em 1911. É uma amostra significativa de como o simbolismo europeu influenciou a dramaturgia pré-modernista brasileira. No palco, os personagens não servem tanto à ação, mas a uma discussão filosófica norteada pelos questionamentos morais de Nietzsche, questionamentos deliberadamente irracionais e perfeitos para o ideal simbolista do período. Um paralelo entre Canaã e Malazartes é possível e revela como as convicções filosóficas do autor transformaram-se num curto período de tempo. Ainda que a peça tenha fracassado como solução estética a obra é uma tentativa de modernização da dramaturgia brasileira em um momento que o país carecia de grupos teatrais profissionais. A ESTÉTICA DA VIDA É um livro de ensaios que os especialistas reconhecem como de grande importância para o Modernismo, uma definição do projeto do movimento. Em tal obra a problemática da brasilidade está presente e sua contribuição para o Modernismo foi exatamente a abordagem dessa questão, uma “filosofia de ação”- na qual o homem brasileiro precisa buscar uma compreensão estética da existência, sendo a arte (e aqui, em especial; a literatura), um dos caminhos privilegiados em direção a formação de um “espírito nacional”, na qual o diálogo oferece á palavra a possibilidade de remeter-se a uma infinidade de respostas, na qual, uma desvendará a “alma brasileira”, quando; “A palavra por si só, diz mais daquilo que se pode ser. ESPÍRITO MODERNO livro de ensaios, lançado em 1925, em que enfeixa as suas memoráveis conferências de 1922 a 1924. VIAGEM MARAVILHOSA Lançado em 1929 foi o seu último romance. Celso Vieira, biógrafo, ensaísta e historiador pernambucano, ao assumir a cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, substituindo Santos Dumont, assim se refere a esta obra: “Graça Aranha, sem o vigor matinal de Canaã, perfaz A Viagem Maravilhosa com o espírito de revolta, que ele cultivou entre os insubmissos, mais ou menos jovens, mais ou menos rubros, temendo envelhecer nas erupções deste começo de século, atormentado pela crise econômica e pela ideia marxista. Da sua novela, porém, não se destacava um só temperamento de grande revolucionário com idealidade e bravura. Os seus agitadores são meramente criaturas de superfície, girando na própria ressaca do Flamengo: nenhuma dessas almas incolores traz consigo a força rebelde, que se desencadeou mais tarde no pampeiro da arrancada outubrista. Sem qualquer preconceito de época ou preferência de escola, suponho que o livro nada acrescentou à glória do esteta e do pensador, não obstante o movimento, a largueza, o impressionismo e a coloração de algumas paisagens ou de alguns episódios como os trechos de macumba e do carnaval, fragmentos esculturais num deserto. Pela instantaneidade, pela vibratilidade, o romance procura adaptar-se ao modernismo da composição cinemática e da trepidação mecânica dos novos tempos. Mas falhou a psicologia no desenho dos caracteres, a imaginação no enredo, o poder sugestivo nas evocações do ambiente social, a ideologia no debate dos personagens, o lirismo ou a tragédia na revivescência das paixões, a dramaticidade no choque dos interesses e dos sentimentos, a própria sintaxe no idioma”. “O MEU PRÓPRIO ROMANCE” Graça Aranha escrevia sua própria autobiografia quando faleceu. GRAÇA ARANHA E A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS No final do século XIX alguns intelectuais brasileiros, radicados no Rio de Janeiro, como Afonso Celso Junior, Medeiros e Albuquerque e José Veríssimo manifestaram-se a favor de uma Academia de Letras. Sessões preparatórias foram realizadas sempre com a participação de Graça Aranha até que se deu a fundação no dia 20 de julho de 1897 tendo Machado de Assis como o seu primeiro presidente. Os quarenta membros fundadores escolheram suas cadeiras e patronos e Graça Aranha escolheu a 38 e como patrono seu antigo professor e influenciador Tobias Barreto. Alguns críticos condenavam ingresso de Graça Aranha sem


nenhuma obra escrita, mas isso não abalou os seus companheiros que conheciam os seus escritos esparsos publicados e jornais e até revistas estrangeiras. Como idealista da inovação Graça via a Academia na estagnação de uma literatura conservadora e obsoleta. Propôs implementação de atitudes que modernizasse a Academia. Como não foi atendido e nem entendido pela maioria dos confrades resolveu manifestar sua insatisfação com uma conferência intitulada “O Espírito Moderno” lida em sessão da Academia Brasileira de Letras em 19 de junho de 1924, na qual o orador declarou “A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro” por não conseguir absorver mudanças. Graça Aranha já vinha rompido desde 1922 com os tradicionalistas que eram liderados pelo também maranhense Coelho Neto que apressou-se em responder: “ O brasileirismo de Graça Aranha, sem uma única manifestação em qualquer das grandes campanhas libertadoras da nossa nacionalidade, é um brasileirismo europeu, copiado do que o conferente viu em sua carreira diplomática, apregoado como uma contradição à sua própria obra”. Em 18 de outubro Graça Aranha comunicou o seu desligamento da Academia, por haver sido recusado o projeto de renovação que elaborara, com esta missiva: Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1924 Excelentíssimo senhor presidente da Academia Brasileira, Desde que na sua última sessão a Academia rejeitou o projeto que apresentei no intuito de modernizar a sua atividade, dou por extinta a minha função acadêmica. Poderia afastar-me sem explicações, como outros já fizeram por motivos pessoais, num gesto de desdém por esta instituição. A atitude, porém, que tomo é de ordem geral e deve ser explicada. Convidado para membro fundador da Academia, escrevi a Lúcio de Mendonça recusando a minha participação por julgar a criação desse instituto prejudicial à nossa jovem literatura, cuja vibração e desordem fecunda seriam juguladas pelo espírito acadêmico. Machado de Assis e Joaquim Nabuco insistiram de tal forma pela minha colaboração, que, num sorriso cético, me resignei à Academia, louvando a incoerência, que me fazia companheiro de tão grandes espíritos, infrangíveis espelhos de educação e beleza moral para os acadêmicos. Longos anos deixei-me ficar nesse suave convívio, um pouco desinteressado dos trabalhos da Academia. Ultimamente resolvi intervir no movimento literário brasileiro. A Academia é uma contradição do espírito moderno, que agita e transforma todo o Brasil. Perante a opinião pública, que a deve policiar, entendi estimular a Academia a orientar-se por esse espírito novo. Em seguida às palavras que lhe dirigi, apresentei o projeto de reforma dos seus trabalhos com o propósito de nacionalizar-lhe e modernizar lhe a ação. O projeto foi rejeitado. A Academia quer persistir na sua posição eclética e antiquada, nefasta à literatura brasileira. Recusa-se a tornar-se um organismo útil e ativo, um fator do moderno sentimento nacional, seu representativo, seu guia. A Academia Brasileira morreu para mim, como também não existe para o pensamento e para a vida atual do Brasil. Se fui incoerente aí entrando e permanecendo, separo-me da Academia pela coerência. Queira, senhor presidente, receber as expressões da alta consideração do seu admirador e amigo Graça Aranha SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22 GRAÇA ARANHA foi dos gestadores da Semana de Arte Moderna que aconteceu no Teatro Municipal da cidade de São Paulo de 11 a 18 de fevereiro de 1922, movimento que revolucionou as artes e a literatura brasileira. Pela sua posição destacada de liderança foi encarregado de proferir a conferencia de abertura que intitulou “A emoção estética da arte moderna” Apresentamos apenas os parágrafos iniciais, realmente emocionantes: “Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de "horrores". Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros "horrores" vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas


transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo. Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza. Os que imaginam o belo abstrato são sugestionados por convenções forjadoras de entidades e conceitos estéticos sobre os quais não pode haver uma noção exata e definitiva. Cada um que se interrogue a si mesmo e responda que é a beleza? Onde repousa o critério infalível do belo? A arte é independente deste preconceito. É outra maravilha que não é a beleza. É a realização da nossa integração no Cosmos pelas emoções derivadas dos nossos sentidos, vagos e indefiníveis sentimentos que nos vêm das formas, dos sons, das cores, dos tatos, dos sabores e nos levam à unidade suprema com o Todo Universal. Por ela sentimos o Universo, que a ciência decompõe e nos faz somente conhecer pelos seus fenômenos. Por que uma forma, uma linha, um som, uma cor nos comovem, nos exaltam e transportam ao universal? Eis o mistério da arte, insolúvel em todos os tempos, porque a arte é eterna e o homem é por excelência o animal artista. O sentimento religioso pode ser transmudado, mas o senso estético permanece inextinguível, como o Amor, seu irmão imortal. O Universo e seus fragmentos são sempre designados por metáforas e analogias, que fazem imagens. Ora, esta função intrínseca do espírito humano mostra como a função estética, que é a de idear e imaginar, é essencial à nossa natureza. A emoção geradora da arte ou a que esta nos transmite é tanto mais funda, mais universal quanto mais artista for o homem, seu criador, seu intérprete ou espectador. Cada arte nos deve comover pelos seus meios diretos de expressão e por eles nos arrebatar ao Infinito” Este é só um precioso fragmento de uma rica alocução. Trata-se de um Ludovicense com marcante participação no mundo literário e artístico brasileiro por colocar o futuro em penas, pincéis, cinzéis e ideias. Graça Aranha morreu em 26 de janeiro de 1931 deixando incompleta a sua autobiografia “ Meu Próprio Romance” Muito Obrigado


III SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA – SEGUNDO DIA Após as explicações de como deveria ocorrer o Espaço Aberto, programação da III Semana Ludovicense, no segundo dia do evento outros escritores se apresentaram: Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Ceres Costa Fernandes, Dilercy Aragão Adler, Sharlene Serra










Dando continuidade aos debates acerca de literatura ludovicence contemporânea, realizou-se mesa-redonda, com a participação dos acadêmico Antônio aílton, na coordenação da mesma, e os debatedores Bioque Mesito e Hagamenon de Jesus Carvalho, discutindo o tema “Aqueles que fazem literatura”

No encerramento da III SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA apresentamos a última mesaredonda, onde se discutiu a literatura produzida na Ilha na atualidade, desta vez com o olhar daqueles que fazem a crítica literária, ligados às nossas academias, Universidade e de letras, com a participação de Ceres Costa Fernandes, na coordenação, e debatedores Antonio aílton, José Neres e Dinacy Corrêa. Na exposição de livros, novos autores compareceram: Roque Pires Macatrão, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dinacy Corrêa e José Neres. Deve-se ressaltar a presença de escritores de fora do quadro da ALL. Entenderam a proposta do Espaço aberto – venha, se tiver algo a apresentar; quando chegar, começa; se veio, é porque importa; se não veio, não tem mimportancia... Desde o dia anterior, o sentido do espaço disponível começou a se fazer presente, entre os participantes: a formação de rodas de conversa entre os presentes, para discussão de literatura, e de sua obra, sem a formalização de uma palestra ou mesa-redonda: a discussão e troca de experiências se faz entre os participantes, quando da circulação entre os grupos de conversa formados... e na medida em que as pessoas chegavam, se inregravam às várias rodas. Mesmo após a mesa-redonda, e durante o lanche servido aos presentes pela ALL, as conversas continuaram, com a formação mdessas rodas de debate e trocas... esse o sentido que se procurava, e finalmente, compreendido...






LITERATURA LUDOVICENSE NA ATUALIDADE A segunda mesa-redonda das comemorações dos 5 anos da ALL, aconteceu no dia 10 de agosto às 18 horas, no auditório do Palácio Cristo-Rei. E contou com os participantes: professora Dinacy, Correa, Letras/UEMA, Antônio Aílton, ALL e José Neres, AML. Como mediadora, atuou a professora Ceres Costa Fernandes, acadêmica da ALL e da AML. A mediadora introduziu a mesa com a apresentação dos debatedores e fez uma ligeira apreciação do tema em debate, comentando a efervescência do fazer literário maranhense na atualidade, o número crescente de escritores e obras, o estabelecimento de uma livraria para comercialização única de escritores maranhenses, com um ambiente para debates e lançamentos de livros, e a criação de numerosas academias de letras nos municípios. Em contrapartida, realçou como pontos negativos a falta de concursos literários, a dificuldade de edição de obras, principalmente pelos escritores iniciantes e o desinteresse dos jovens das nossas escolas pelo conhecimento da literatura e seus autores. A professora Dinacy Correa, frente ao enorme leque de escolhas, optou pela literatura de expressão feminina, elencou um número de mulheres escritoras das mais diversas tendências da poesia e da prosa, e discorreu sobre elas, a partir de Maria Firmina dos Reis até chegar à atualidade, e exaltou cada uma delas, resumindo vida e obra. Fez um painel com Maria Firmina, Conceição Aboud, Dagmar Desterro, Arlete Nogueira da Cruz, Laura Amélia e muitas outras.


O professor Antônio Aílton, abordou questões e desafios que rondam a poesia contemporânea, tanto do lado de sua produção, quanto do de sua recepção, em cujo contexto se insere a poesia maranhense atual. A qualidade estética como busca eterna da poesia, como arte da palavra que é, diante de uma realidade difusa, imprevisível, múltipla e heterogênea, como se configura o contemporâneo. O que é a qualidade nesse contexto e qual o seu valor, no jogo entre os regimes estético, político e ético, que se acirram na atualidade? Ou, ao contrário, conceder um papel soberbo e intransigente à estética, tal como a "operação enigma", isto é, da poesia como vazio, teatro da linguagem e enigma, sem levar em conta os sentidos da experiência e das vivências humanas Do lado da recepção, no exemplo da escola como lugar privilegiado da leitura e compreensão poética, a poesia se depara com novos problemas. Decai, nos documentos oficiais, e passa a ser abordada não mais também dentro de uma experiência mundanal e existencial da literatura, de sua relação com o ser e com o estar no mundo, mas em geral, dentro dos parâmetros da linguística aplicada. Torna-se "gênero textual" tal como a publicidade, a notícia, a carta argumentativa, etc. Ela também se torna, muitas vezes, apenas "auxiliar" para a comoção ou para a apresentação de temas disciplinares e interdisciplinares. Razões válidas, mas que demandam um novo olhar, novas propostas de recepção e compreensão. Na sequência, o professor José Neres apresentou o texto intitulado Pérolas dos Nossos Tempos. Iniciou a fala referindo-se ao orgulho de ser maranhense , partícipe da riqueza cultural e literária do nosso Estado e conterrâneo de grandes nomes da literatura, referindo-se a Gonçalves Dias, Trajano Galvão. Raimundo Correa, Maria Firmina dos Reis e Souzândrade, entre outros. Mencionou também valores contemporâneos da nossa literatura na poesia e na prosa. Escolheu, justificando a resumida escolha face à exiguidade do tempo concedido, para leitura e interpretação, 10 pequenos poemas de autores diversos, são eles: Carvalho Júnior, Lúcia Santos, Luís Augusto Cassas, Viriato Gaspar, Celso Borges, Antônio Aílton, Wanda Cunha. Dilercy Adler, José Maria Nascimento e Luiza Cantanhede., Lamentou, ao final, a diminuição de leitores e de interessados em literatura. Visível, a partir dos eventos de lançamentos de livros, momento em que o livro merece maior atenção do público, antes de adormecer nas prateleiras das livrarias. Todos os apresentadores foram muito aplaudidos. Houve um bem participado debate que durou até as 8:45. Após isso, os palestrantes receberam certificados e as lembranças referentes ao aniversário de 5 anos da fundação da Academia Ludovicense de Letras.


PÉROLAS DE NOSSOS TEMPOS: Um breve panorama da poesia maranhense contemporânea1 JOSÉ NERES* Vivemos em uma terra privilegiada. Se não podemos nos orgulhar de termos um Índice de Desenvolvimento Humano digno de ser apresentado em público. Se não nos podemos ufanar de ter saúde, educação e outros indicadores de qualidade de vida. Se não podemos dizer que temos um patrimônio urbanístico preservado e atraente para os diversos turistas ou mesmo para a população local. Se não estamos podendo aproveitar em sua totalidade as águas de nossas praias. Mesmo com todos esses e muitos outros percalços e entraves, cada um de nós pode bater no peito e se orgulhar de pertencer a uma terra em que as artes fazem parte do dia a dia de quem se dispuser a aproveitar as maravilhas de nossas belas músicas, de nossas peças teatrais, de nosso emergente cinema, de nossa prosa e de nossos versos. É sempre muito difícil enumerar os nomes dos homens e mulheres de letras que ilustram nossa terra. É muito difícil encontrar outra unidade federativa que tenha contribuído tanto para o engrandecimento da literatura brasileira. Podemos nos orgulhar de dizer que vivemos na mesma terra em que nasceram poetas como Gonçalves Dias, Maria Firmina dos Reis, Adelino Fontoura, Raimundo Corrêa, Trajano Galvão, Odylo Costa, filho, Gentil Homem de Almeida Braga, Sousândrade, Nauro Machado, Dagmar Destêrro, Bandeira Tribuzi e Ferreira Gullar. Temos a honra de dizer que somos conterrâneos de teatrólogos como Artur Azevedo, Fernando Moreira e Aldo Leite. Devemos ter orgulho de compartilhar o mesmo solo por onde passaram prosadores como João Francisco Lisboa, Aluísio Azevedo, Viriato Correia, Graça Aranha, Coelho Neto, Lucy Teixeira, Nascimento Morais, Conceição Aboud, João Mohana e José Louzeiro. Mas, felizmente, nem tudo nas letras maranhenses é passado. Temos grandes autores produzindo obras de grande nível, como é o caso de Ronaldo Costa Fernandes, Bruno Azevêdo, Bruno Tomé Fonseca, Bioque Mesito, Hagamenon de Jesus, Luís Augusto Cassas, Rinaldo de Fernandes, Rossini Correia, Arlete Nogueira da Cruz, Viriato Gaspar, Marcos Fábio Belo Matos, Lúcia Santos, Sônia Almeida, Waldemiro Viana, José Ewerton Neto, José Sarney, Laura Amélia Damous, Paulo Melo Sousa, Wílson Marques, Wílson Martins, Sharlene Serra, Tácito Borralho e tantos outros talentosos escritores que diariamente transformam inspiração em ideias, ideias em palavras, palavras em textos e textos em livros e livro em arte. Como nosso tempo é exíguo, vou-me limitar a ler e comentar 10 pequenos textos de autores diversos, apenas como forma de incentivar a busca pelos livros completos de onde os poemas foram retirados. Sem dúvida alguma, em um caso como este, escolher uma dezena de poemas em um universo de milhares é uma tarefa muito dolorosa e injusta, pois fatalmente bons poemas ficarão fora da lista. Mas quais foram os critérios de seleção? Além da evidente qualidade dos textos, o gosto pessoal do autor foi levado em consideração. Como esta data é alusiva também ao aniversário de Antônio Gonçalves Dias, o maior poeta do Maranhão e um dos mais significativos das letras brasileiras, foram selecionados apenas poemas, mas em outra ocasião, o mesmo trabalho pode ser feito com representantes de outros gêneros literários. Começo com uma pequena preciosidade em forma de monóstico escrito pelo poeta caxiense Carvalho Júnior em seu livro No alto da Ladeira de Pedra. Em apenas uma simbólica linha de texto, 1

Comunicação apresentada no dia 10 de agosto de 2018, no Palácio Cristo Rei, São Luís (MA), por ocasião das comemorações do 5ª aniversário da Academia Ludovicense de Letras, em mesa-redonda composta também pelos professores/escritores Antônio Ailton e Dinacy Correa, sob a coordenação da acadêmica Ceres Costa Fernandes. * JOSÉ NERES é graduado em Letras (Português-Espanhol), pela Universidade Federal do Maranhão, especialista em Literatura Brasileira (PUC-MG), em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa (Uninter), em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Espanhola (Universidade Candido Mendes), mestre em Educação (Universidade Católica de Brasília) e Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (Anhanguera-Uniderp). É autor de diversos livros e artigos sobre literatura, educação e meio ambiente em revistas e jornais locais e nacionais. É membro efetivo da Academia Maranhense de Letras (cad. 36), membro convidado da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames) e membro-correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (Aicla).


esticada como se fosse uma corda, o jovem poeta consegue aglutinar uma boa quantidade de temas que atormentam nossa sociedade pós-moderna. Ele diz: matei-me com a corda que não pulei na infância.2 Múltiplos são os temas que podem advir da leitura deste aparentemente singelo verso. A condição infantil, o suicídio físico e psicológico, a reflexão sobre um passado sofrido, a ocultação do próprio eu, que se esconde por trás de uma elipse, a constatação freudiana de que todos os problemas do homem têm origem na infância e a busca de uma identidade são algumas das temáticas que podem ser discutidas à exaustão nesse pequeno verso que pode esconder dentro de si todo um uni-verso de (in)finitudes humanas. Da poetisa Lúcia Santos, autora de livros como Batom Vermelho, Tanto Azul Quanto Blue e Uma Gueixa para Bashô, destaco o poema Quarto Escuro, no qual a escritora metaforiza que: num ponto abstrato desse imenso concreto meu olhar bóia nessa visão analfabeta constato: a solidão é um teto sem clarabóia3 Nesse poema, o eu lírico faz um mergulho de dentro para fora de um ser sufocado e que tem consciência de se equilibrar entre a solidez e a solidão de uma vida cercada de vazios e o desejo íntimo de olhar para fora de um espaço limitado pelas próprias limitações. A leveza da boia e a dureza do concreto servem como ilustração de um paradoxo do qual se torna muito difícil escapar. O teto e o concreto são limitantes e a ausência de um ponto de escape (a claraboia) trazem ao mesmo tempo uma singular sensação de vazio e de sufoco misturada com a incomunicabilidade das sensações inefáveis. Do livro de estreia de Luís Augusto Cassas – República dos Becos – trago o provocativo poema Parábola, abaixo transcrito: Domingo de Ramos eles vestem a fatiola engomada nas dobras e voltam contritos e triunfais com um ramo nas mãos. Um ramo colhido na melhor palmeira da paróquia e bento na igreja santificada do bairro. Seguem puros para casa? Não. Planejam nova invasão no Coroadinho.4 Trata-se de um poema também aparentemente simples, mas que traz uma forte tensão entre o sagrado e o profano, o concreto e o abstrato, a aparência e a essência. O ar de sacralidade presente na primeira parte do texto contrasta com a ironia desbragada no verso final, no qual o leitor acaba percebendo a denúncia sobre o abismo existente entre as teorias religiosas e as práticas mundanas Viriato Gaspar, quase no final de seu livro Sáfara Safra, de 1994, deixa para o leitor o breve, porém significativo poema ALMA, no qual a imagem poética ganha uma projeção que vai além das próprias palavras. Em sua leitura, o texto acaba remetendo ao conhecido poema Serenata Sintética, de Cassiano Ricardo, tanto pela singeleza das palavras quanto pela solução imagética alcançada pelos dois poetas. O escritor maranhense consegue imprimir nesses três versos um dinamismo próprio que possibilita ao leitor visualizar mentalmente uma sutil cena que lembra uma tela em aquarela, mas com movimento. Eis o poema.

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CARVALHO JUNIOR. No alto da ladeira de pedra. São Paulo: Patuá, 2017. p. 13. SANTOS, Lúcia. Batom vermelho. São Luís: Func, 1998. p. 49. 4 CASSAS, Luís Augusto. República dos Becos. Rio de Janeiro: 1981. p. 85. 3


uma rua de passos sonolentos uma porta que bate e foi o vento.5 O poeta Celso Borges, autor de diversos livros, em seu Persona Non Grata, brinca com a obra de um dos maiores nomes da literatura mundial e com seu mais famoso poema. O título – Minha vida sem saída de Edgar Alan Poe – é bastante significativo e serve inclusive como chave para o leitor começar a penetrar nas entranhas do poema e do jogo intertextual a que ele remete. Usando a espacialidade dos vocábulos, mas não se limitando a isso, Celso Borges joga com as palavras e com a imagens para conseguir um efeito gráfico/plástico que remete tanto à figura física do corvo e de seu olhar interrogativo quanto ao vazio e ao centro de tudo (hardcore). Mais que um efeito sonoro, o uso da conhecida expressão em inglês (never more) é essencial para trazer à baila o tom fechado do poema e fazer a fusão entre a melopeia e a logopeia. curvo o corpo eu corvo canto meu vazio hardcore eu corvo maldito never more6 Em dois mil, o poeta Antônio Ailton estreava em livro com seu As Habitações do Minotauro. Um de seus poemas mais conhecidos, tantas vezes recitado em festivais e eventos, é Biobibliografia, no qual há um mergulho no próprio ser. Não se trata de um poema fácil. Na verdade, os múltiplos jogos de linguagem e de imagens desnorteiam o leitor e provocam uma sensação de identificação com um eu lírico esfacelado e multiplicado em pó e cinza. O passado e o presente se mesclam de forma a desnortear o homem que busca em si o próprio eu, seja no reconhecer(-se) na figura dos seus familiares, seja por não se ver em uma aparência que busca eternizar-se em essência. O poema exige cuidado e atenção em sua leitura, tanto em voz alta quanto em um olhar reflexivo em busca do ser humano que se esconde e se mostra em cada verso. Hoje mesmo me declaro o empréstimo, também o pó. E a cinza do holocausto. Criatura do Deus-em-favor-dos-outros, Imagem e semelhança dos livros que li, os quais em todos os poemas são a expressão do gozo supremo de meu pai, ao transmitir as dores da mãe que me teve com a sabedoria hebraica das parteiras. Pode-se dizer de minha palavra que sou outro do outro que não se possui. Fica o dito Pelo não dito.7 Escritora de grande dicção poética, Wanda Cunha, em seu livro Rede de Arame, de 1986, publica o belo e engajado poema Aliteração, no qual aproveita para tecer críticas sociais capazes de atravessar diversas décadas, possivelmente séculos, da história de um país em que as injustiças sociais se tornaram regras travestidas de exceções. O poema aparentemente foi feito para ser lido e recitado ou até mesmo cantado e traz como mote a velha política ancestral do pão e do circo, na qual o povo se transforma em alvo e vítima de manobras escusas por parte de quem tem o poder em suas mãos.

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GASPAR, Viriato. Sáfara Safra. São Luís: SIOGE, 1994. p. 149. BORGES, Celso. Persona non grata. São Paulo: Edições Guarnicê. p. 87. 7 AILTON, Antônio. As habitações do Minotauro. São Luís: Func, 2000. p. 37. 6


Eu quero dançar contigo dentro da poesia, como dança o povo dentro do Estado. Eu quero rebolar contigo em cada rima, como rebola o povo dentro do salário. Eu escolho uma aliteração para a nossa vida: filhos, felicidade, família, feijão, farinha... como o povo, em fé, faz folia, forra a fome com futebol e fantasia.8 Dona de um estilo que mescla sensualidade com a busca das melhores soluções para o que tem que ser suscitado sem precisar expor os detalhes das entranhas carnais, é de Dilercy Adler o poema Mulher. A descrição sensual feita pela poetisa leva em consideração um conjunto de imagens de uma conjunção carnal sem precisar adentrar nos detalhes mais íntimos. Dessa forma, a escritora permite aos leitores uma “visualização” da cena a partir do campo semântico que remete ao tema do poema. Corpo desnudo Sob os lençóis De cetim Pele sedosa E incandescente Contornos perfeitos Sob medida Para a gratificação De olhos ávidos Braços vigorosos E boca sedenta De paixão.9 De José Maria Nascimento, um dos bons poetas a várias gerações, destaco o poema Contradição, que se encontra enfeixado no livro Constelação Marinha, de 1992, no qual o eu lírico se coloca assim: Hoje estou como podre canoa em água escura Partida em fragmentos; - Um pedaço aqui, o outro sempre viajando. Por mais forte que seja o ideal não perdura No cerne dos sentimentos: - Sou a sombra contrária do que estou criando.10 Nesses versos, construídos em torno de paradoxos, o poeta utiliza-se de metáforas para representar um estado de espírito em que o ser humano se encontra em alguns momentos da vida. Palavras como fragmento, pedaço e água escura, associadas ao advérbio hoje, que inicia o poema, trazem a ideia de que a situação de dúvida, angústia e desilusão pode ser momentânea, porém, na segunda parte do poema essa ideia é posta em dúvida e o eu lírico demonstra estar preso nas próprias ações, que nem sempre surtem os resultados almejados. O poema exige reflexão e, embora com vocabulário simples, desafia o leitor a entrar no cerne das dúvidas suscitadas. 8

CRISTINA, Wanda. Rede de arame. São Luís: Edições Mirante, 1986. p. 32. ADLER, Dilercy. Mulher. In: BRASIL, Assis. A poesia maranhense no século XX. Rio de Janeiro: Imago: 1994. p. 292. 10 NASCIMENTO, José Maria. Constelação Marinha. São Luís: SIOGE, 1992. p. 31. 9


Para concluir, destaco a escritora Luiza Cantanhede, que recentemente estreou com seu livro Palafitas, do qual tiramos o poema Treinamento, transcrito a seguir. Na barriga da minha mãe eu andava pelos babaçuais do Maranhão. Não sabia ainda a função do machado. O coco aberto e ferido. O azeite. Depois conheci a fome e a lâmina.11 Trata-se de um poema denso com incursões pelo chamado pacto autobiográfico e no qual as lexias utilizadas remetem a elementos de uma vida sofrida no campo e nos babaçuais maranhenses. A autora se exime de fazer uma descrição detalhada do dia a dia de alguém que passou por dificuldades na juventude. Ela prefere deixar o leitor montar mentalmente o quebra-cabeça oferecido em forma de frames que se encaixam perfeitamente na vivência de quem já utilizou instrumentos para retirar da natureza sua fonte de sobrevivência. Porém, mesmo imiscuído em uma temática social, não se nota no poema o tom de vitimismo, mas sim um olhar agudo e crítico para condições sociais que se repetem cotidianamente ao longo dos tempos. Para cada um desses dez poetas e poetisas aqui citados, podemos ter certeza de que haveria pelo menos mais uma centena que também representaria muito bem nossas letras contemporâneas. Conforme foi dito no início desta breve conversa, temos muitos motivos para sentir orgulho de nossa literatura, de nossos autores e das palavras que emanam das páginas dos livros publicados dentro e fora de nosso Estado. Para concluir, pois o tempo se esvaiu sorrateiramente e ainda temos outros momentos neste mesmo evento, devo dizer que parte do título desta palestra é uma singela homenagem à escritora Rosemary Rêgo, autora de O Ergástulo Gozo da Palavra e de Pérolas do Tempo, e que nos deixou recentemente. Desde sua partida, não apenas os amigos e familiares sentem sua ausência, mas também a própria poesia se ressente dos versos que não foram escritos em sua breve, mas encantadora passagem por nosso mundo terreno. 11

CANTANHÊDE, Luíza. Palafitas. São Paulo: Penalux, 2017. p. 51.


PALESTRA DE ANTONIO NOBERTO SOBRE O FORTE FRANCÊS DO SARDINHA Praça Botafogo, Conjunto Basa, Ilhinha. Palestra de Antonio Noberto sobre o Forte Francês do Sardinha, que existia exatamente na praça onde estamos, na Foz do Anil. Aniversário da Academia Ludovicense de Letras.




FORTE SARDINHA, A PRIMEIRA FORTALEZA DO MARANHÃO Antonio Noberto realiza concorrida palestra em São Luís O evento fez parte das comemorações do aniversário da Academia Ludovicense de Letras (10 de agosto) e da capital maranhense (08 de setembro)

Na manhã de sábado, 11 de agosto de 2018, uma palestra ministrada pelo membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras, Antonio Noberto, atraiu dezenas de pessoas para um dos locais mais bonitos da Ilha


de São Luís, que é a Praça Botafogo, ao lado do Conjunto Basa, no bairro São Francisco. O local foi palco da primeira construção européia no Maranhão que se tem conhecimento. Foi ali que, no final dos anos mil e quinhentos, os primeiros moradores franceses instalaram um forte com quatro peças de artilharia para proteção de um reduto gaulês que fazia a ligação entre o Amazonas e os portos franceses da Bretanha e da Normandia. O reduto francês, protegido pela artilharia do Forte, que dava suporte às atividades no Porto de Jeviré e a feitoria, instalados na Ponta da Areia, também guarnecia Uçaguaba/Miganville, no Vinhais Velho, acessível pela entrada da Ilha, que se dava pelo Rio Maioba ou Cutim, atual Rio Anil.

Um dos maiores eventos ocorridos no norte do Brasil teve o Forte Sardinha como palco, quando houve a rendição de Daniel de la Touche no dia 04 de novembro de 1615, ocasião em que ele assinou a entrega do Forte Saint-Louis ao general português Alexandre de Moura, que de imediato chamou-o de Forte do São Francisco, nome que se estendeu ao bairro. A rendição representou a entrega de metade do território brasileiro, vez que a França Equinocial se estendia do Ceará ao Amazonas e as Guianas. O palestrante, que também é sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), teceu os pormenores do empreendimento gaulês no norte do Brasil e a necessidade da população valorizar a presença estrangeira dos idos coloniais, pois nesse período, “enquanto o estrangeiro esteve nestas terras disputando o território com os portugueses não houve a dizimação do índio e muito menos a escravização do africano”. Somente quando o estrangeiro foi vencido, expulso e marginalizado é que os portugueses ficaram livres para dizimar, escravizar e implantar a cultura do privilégio”, destacou Antonio Noberto. Segundo ele, hoje acontece algo parecido, vez que “a implantação da atual precarização no Brasil está sendo precedida da desvalorização dos modelos estrangeiros, seja de franceses, holandeses e de vários outros que trouxeram para cá o tesouro da educação, do conhecimento e da ética”, finalizou. Encontrar o local onde existiu o Forte Sardinha foi um desafio feito por Rubem Almeida, que por volta de 1955, falou para seus alunos pesquisarem o local onde existiu o forte para ali implantar um memorial dizendo que, nele, São Luís passou de mãos francesas para mãos portuguesas. Entre os que ouviram a palestra, ministrada debaixo de várias árvores, estavam acadêmicos, professores, estudantes, profissionais liberais e moradores do São Francisco, Ilhinha e bairros vizinhos. Muitos fizeram depoimentos emocionados narrando a felicidade do privilégio de ouvir tanto conhecimento reunido na palestra. O pesquisador e acadêmico Leopoldo Vaz destacou a importância do Forte para a manutenção da


segurança de Miganville à época. O acadêmico e juiz Osmar Gomes disse que vai apoiar o projeto para que chegue a todas as escolas. Noberto finalizou que pretende realizar outras palestras no local. Fonte: Academia Ludovicense de Letras


JORNAL PEQUENO, 12/AGOSTO/2018


PARABÉNS ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (5 anos -10 de agosto de 2018) PARABÉNS ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS! PARABÉNS SÃO LUÍS! PARABÉNS GONÇALVES DIAS! PARABÉNS MARIA FIRMINA DOS REIS! Hoje é dia de festa! Dia de comemoração! Tenho a clareza que muitos intelectuais acalentaram o sonho de criação da Academia Ludovicense de Letras. Muitos sonharam, até tentaram, mas por alguma razão não concretizaram o sonho. Mas quem sabe, quis o destino que esse nascimento se desse em um momento especifico para enriquecimento cultural da cidade de São Luís. E foi assim, que no dia 10 de agosto de 2013, dentro de um projeto maior de comemoração do aniversário dos 400 anos de fundação da cidade de São Luís, deu-se por fim a materialização desse sonho tão sonhado: pelas mãos de Gonçalves Dias, nasceu a Casa de Maria Firmina dos Reis, 401 anos depois do nascimento da cidade (foram 3 anos de preparação do projeto Mil poemas para Gonçalves Dias, até a sua concretização, de 2011 a 2013). Quis o destino, e os deuses permitiram que esse nascimento se desse em grande estilo: dentro de um ousado Projeto que teve sua gestação no Chile e envolvia três cidades e várias instituições entre as quais o IHGM, a SCLM, a FALMA. Sem sombra de dúvida, grande estilo! E eu sou testemunha viva e protagonista da concepção dessa bela história, que aos poucos foi agregando pessoas essenciais para que esse feito se concretizasse. O primeiro momento deu-se no IHGM quando apresentei o projeto, o qual foi alvo de calorosas discussões, não sendo aceito de imediato por alguns, mas finalmente aprovado por confrades e confreiras que acreditavam que sonhos podem ser realizados com determinação, dedicação e muitas almas e mãos. E o projeto tomou forma, vida e luz própria: Além de uma grandiosa trilogia em homenagem a Gonçalves Dias: uma Coletânea com 999 poemas, um livro com o milésimo poema e uma Coletânea de textos e pesquisas sobre Gonçalves Dias, foram envolvidas três cidades: São Luís, Caxias e Guimarães, cada uma com rica programação. Em São Luís, a programação constou de lançamento dos livros, entrega de medalhas, lançamento da Pedra Fundamental do Memorial Gonçalves Dias e outras atividades culturais e ainda reuniões da SCLB, e o ponto alto foi a criação da Academia Ludovicense de Letras, com a adesão de 25 ludovicenses e o testemunho de intelectuais de outros Estados do Brasil e de outros países. Muitos dos participantes, em caravana, se aventuraram por muitos quilômetros tanto por terra (ônibus) como por mar (ferry). Fomos cultuar Gonçalves Dias também em Caxias e Guimarães (terra onde Maria Firmina viveu grande parte da sua vida). Essa é, em resumo, a bela história da concepção e nascimento da ALL! História que deve ser preservada, para que não se perca no tempo e na Memória! História que eu amo devotadamente e que faz parte da minha própria! Parabéns Gonçalves Dias! Parabéns Maria Firmina dos Reis! Parabéns Academia Ludovicense de Letras. Parabéns São Luís! Dilercy Adler 2a Presidente (biênio 2016-2017) Cadeira N° 08


41 ANOS DO LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA HORA DE GUARNICÊ... FRANCISCO TRIBUZI

Ainda e estamos aqui (Valdelino, no andar de cima, eternizado pelo seu brilhante trabalho em prol da cultura popular) respirando, recitando poesia, pelos caminhos tortuosos de nossas ladeiras, pelo mirantes mirabolantes dos nossos casarões. Guanicê, no vocabulário dos brincantes do bumba-meu-boi do Maranhão, é algo tão significativo, que simplismente o boi não brincaria se lhe faltasse guarnição. A hora do guarnicê é, portanto, o momento preparatório para a saída do boi. É a fase do chamamento, da convocação geral, em que os participantes do folguedo se encaminham para o terreiro, em suas indumentarias multicoloridas, e vão aquecer os tambores na fogueira acesa, testar a ressonância das matracas, conferir, uns aos outros, o conteúdo melódico e poético das toadas.




GUARNICÊ – UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e geográfico do Maranhão Realizada a III Semana Ludovicense de Literatura, dentro das comemorações do V Aniversário de Fundação da Academia Ludovicense de Letras, e após as discussões que se motivaram em torno de duas mesasredondas sobre a literatura ludovicense da atualidade, considerada aquela que passa a acontecer no final dos anos 60, inicio dos anos 70 – do século passado! – até o presente, fica a pergunta: vivemos um novo movimento literário? Os 41 anos do lançamento da antologia “Hora do Guarnicê” caracteriza esse momento? Francisco Tribuzi12 informa que ainda estão aqui, “respirando, recitando poesia, pelos caminhos tortuosos de nossas ladeiras, pelo mirantes mirabolantes dos nossos casarões”. Menos Valdelino, já no andar de cima, eternizado pelo seu brilhante trabalho em prol da cultura popular... Informa-nos esse Tribuzi, filho d´aquele outro – que Guanicê, no vocabulário dos brincantes do bumba-meu-boi do Maranhão, é algo tão significativo, que simplesmente o boi não brincaria se lhe faltasse guarnição: A hora do guarnicê é, portanto, o momento preparatório para a saída do boi. É a fase do chamamento, da convocação geral, em que os participantes do folguedo se encaminham para o terreiro, em suas indumentarias multicoloridas, e vão aquecer os tambores na fogueira acesa, testar a ressonância das matracas, conferir, uns aos outros, o conteúdo melódico e poético das toadas. Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) - convencionados Geração Luís Augusto Cassas - [...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) 13. Inicia-se, quem sabe, entre 1969 e 1970, no Liceu Maranhense – não podia ser outro o lugar... – com o denominado “Movimento “Antroponáutica”, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)14; o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)15. Dinacy Corrêa (2010) 16 diz ser integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 17, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao 12

TRIBUZI, Francisco - 41 ANOS DO LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA HORA DE GUARNICÊ...IN FACEBOOK CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 14 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. 15 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 16 CORRÊA, 2010, obra citada 17 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 13


“Antroponáutica”, assim como Rossini Corrêa (2014) movimentos literários formais em São Luís do Maranhão.

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, que afirma não ter participado, a rigor, de

Justifica, com o conceber da ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência. Porém diz que si, sim, participou, posto que sempre foi agregador e transformou a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração – a casa da Candido Ribeiro Como diz que a casa de seus pais não fora a única, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa: Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Quando se reuniram na antologia poética “Hora de Guarnicê”, somaram-se pelo menos esses dois “blocos”, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, o poeta e estudioso da cultura popular, que viria a frequentar o espaço público da convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvariam a humanidade e transformariam a vida do mundo. Corrêa (2014b) 19 confirma o surgimento de um ‘novo’ movimento literário, pois [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Refere-se que seu inicio se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica: Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não se pode deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. Percebe-se que surgiram vários espaços, a partir dos anos 70, e por que surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís, com efetiva participação. A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual [...]a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates 18 19

CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014.


intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’. Não houve uma compreensão do surgimento de movimento literário que iria se consolidar 30-40 e poucos anos depois, pois os acontecimentos reais que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão. Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão. E aí Cassas desponta em 1981, com República dos Beco. E atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre ““... um neorromantismo de Deve ser acrescentada nessa fase o grupo do Guarnicê?, “nascidos” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho, que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011)20; chegaram A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica.. (In GUERRA ERRANTE, 2012).21. Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) 22: Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente, Para Corrêa (2014) 23, a explicação necessária sobre esse “movimento”: Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre 20

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 21 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 22 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”. 23 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.


Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Já o programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero24. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília. “Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 25. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponautica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponautica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira. 1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. 24 25

BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.


CEM ANOS SEM NADA EDMILSON SANCHES Hoje, 30 de julho de 2018, completam-se cem anos de nascimento de uma das grandes inteligências maranhenses, o talentoso escritor Manoel Caetano Bandeira de Mello, nascido em Caxias. Em maio passado, quando se completaram dez anos de seu falecimento, escrevi o texto abaixo, onde se perguntava: "CEM ANOS SEM NADA?" A resposta: CEM ANOS SEM NADA. "Nada", aqui, não é o nada absoluto, pois uns poucos conterrâneos do autor anteciparam-se para fazer lembrar o ilustre filho imerecidamente desconhecido e incultivado na terra caxiense e maranhense. "Nada", aqui, significa o olímpico desprezo e desinteresse dos Poderes Públicos estaduais e municipais em relação aos maranhenses e, no caso, aos caxienses que contribuíram para fundamentar, fundar e fortalecer as bases da identidade de nosso País nos diversos aspectos ou áreas -- seja na Literatura, Artes ou Cultura em geral; nas Ciências; na Política e Administração Pública etc. Mandatários, governantes que têm respeito ao lugar onde (des)mandam deveriam, com a devida antecipação, planejar eventos para homenagear aqueles filhos que, desinteressadamente, tanto orgulho causam à terramãe pelos fatos e feitos em prol da inteligência & sensibilidade. Não custava tanto, um ano antes, alguns meses antes, promoverem-se concursos de redação, de poesia, de pesquisa, de edição de livros, de resgate histórico, de trabalhos acadêmicos sobre, neste caso, Manoel Caetano Bandeira de Mello. Não custava reedição de obras do homenageado. Não custava estimular escolas e universidades a (re)fazerem leituras sobre o escritor e produzirem textos críticos, analíticos. Não custava elaborar-se um roteiro de visitas aos lugares de presença do poeta em Caxias. Não custava estimular declamações nas praças, bares, lupanares e outros lugares. Não custava. Não é sem razão que a crítica nacional, já este ano, mais uma vez lamentar a falta de leitura e, até, de releituras da obra de Gonçalves Dias, o mais ilustrado nome de Caxias, do Maranhão e, com certeza, para os brasileiros, autor dos mais inesquecíveis versos brasileiros: "Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá" -- sem falar que, da mesma poesia, saíram passagens para o Hino Nacional ("Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida [no teu seio] mais amores"). Tem nada, não. Todos esses mandatários, governantes e políticos em geral que, podendo fazer, não fizeram... Todos esses que, podendo ser exemplos, não se exemplaram... Todos que, podendo lembrar, não lembraram... Enfim, todos esses que, podendo prestar, não prestaram... --- todos esses rapidamente fruirão seu tempo de "estrelas" (cadentes...) e passarão a gozar do esquecimento, senão do nojo, eterno, a lhes ser dedicado, sem esforço, por todos aqueles que, como Bilac, amam com fé e orgulho, com respeito e reconhecimento, a terra em que nasceram. Feliz centenário do escritor Manoel Caetano Bandeira de Mello, que nasceu em Caxias, Maranhão, no dia 30 de julho de 1918, e faleceu em 7 de maio de 2008, no Rio de Janeiro (RJ).


Edmilson Sanches para Caxienses Mundo afora (Caxias-MA) 30 de maio CEM ANOS SEM NADA? Com as devidas dedicatórias (para pessoas outras, como Cyro dos Anjos, Fausto Cunha e Antônio Olinto) tenho quase todas as obras do conterrâneo caxiense Manoel Caetano Bandeira de Mello, inclusive as "técnico-científico-administrativas". Meu exemplar de "Canções da Morte e do Amor" é o que pertenceu ao notável polímata mineiro Antônio Olinto.O livro "Da Humana Promessa", que tenho, era o do crítico Fausto Cunha. Já o exemplar de "A Estrada das Estrelas" eu o repatriei (melhor, "recaxiensizei") do acervo do jornalista, professor, advogado, cronista, romancista, ensaísta e memorialista mineiro Ciro Versiani dos Anjos (que, literariamente, assinava "Cyro dos Anjos", com "y"). Caxias, no geral, talvez nem se dê conta da enormidade do talento de mais este filho dela. Como tem acontecido com tantos outros nomes caxienses -- apensar dos ganidos meus e de poucos outros conterrâneos --, o silêncio ignorante será o que mais se ouvirá nestes próximos 60 dias antes da data do primeiro centenário de nascimento e primeiro decênio de morte do Poeta. No próximo ano completam-se 90 anos de nascimento de Berredo de Menezes, outro grande escritor caxiense, poeta de nomeada, falecido em 2015, aos 86 anos. O que Caxias vai fazer?


EFEMÉRIDES 07 08 09 10 11 18 22 23 24 30 01 10 12 19 21 24 28 30 03 04 08 09 11 13 17 25 29 30

JULHO 1950 - NASCIMEENTO DE DILERCY ARAGÃO ADLER – FUNDADORA DA CADEIRA 8 1955 – NASCIMENTO DE ARTUR DE AZEVEDO – PATRONHO DA CADEIRA 13 1944 - NASCIMENTO DE JOÃO FRANCSICO BATALHA – FUNDADOR DA CADEIRA 19 1832 – NASCIMENTO DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE – PATRONO DA CADEIRA 10 2007 – FALECIMENTO DE LUCY TEIXEIRA – PATRONA DA CADEIRA 34 2003 – FALECIMENTO DE MARIO MARTINS MEIRELES – PATRONO DA CADEIRA 31 1925 – NASCIMENTO DE MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD – PATRONA DA CADEIRA 37 1922 – NASCIMENTO DE LUCY DE JESUS TEIXEIRA – PATRONA DA CADEIRA 34 1692 – FALECIMENTO DE ANTONIO VIEIRA – PATRONO DA CADEIRA 2 1949 - NASCIMENTO DE ARQUIMEDES VIEGAS VALE – FUNDADOR DA CADEIRA 20 1952 - NASCIMENTO DE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – FUNDADOR CADEIRA 21 1828 – NASCIMENTO DE ANTONIO HENRIQUES LEAL – PATRONO DA CADEIRA 9 1936 - NASCIMENTO DE WILSON PIRES FERRO – FUNDADOR DA CADEIRA 7 AGOSTO (?) - NASCIMENTO DE MICHEL HERBERTH ALVES FLORENCIO – FUNDADOR DA CADEIRA 12 1823 – NASCIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS – PATRONO DA CADEIRA 7 2013 – FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS 1995 – FALECIMENTO DE JOÃO MIGUEL MOHANA – PATRONO DA CADEIRA 36 1979 – FALECIMENTO DE ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO DA CADEIRA 30 1917 – NASCIMENTO DE JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO – PATRONO DA CADEIRA 32 1951 – FALECIMENTO DE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO – PATRONO DA CADEIRA 26 1940 – NASCIMENTO DE ALDY MELLO DE ARAUJO – FUNDADOR DA CADEIRA 32 1970 – NASCIMENTO DE ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – FUNDADOR DA CADEIRA 1 SETEMBRO 1867 – NASCIMENTO DE JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA – PATRONO DA CADEIRA 19 1923- FALECIMENTO DE ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO DA CADEIRA 16 1977 – FALECIMENTO DE JOSÉ TRIBUZZI PINHEIRO GOMES – PATRONO DA CADEIRA 39 1612 – FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS DO MARANHÃO 1925 – NASCIMENTO DE DAGMAR DESTERRO E SILVA – PATRONA DA CADEIRA 38 1981 – FALECIMENTO DE DOMINGOS VIEIRA FILHO – PATRONO DA CADEIRA 35 1911– FALECIMENTO DE RAIMUNDO DA MOTA DE A. CORREIA – PATRONO DA CADEIRA 15 1952 – FALECIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO, PATRONO DA CADEIRA 21, EM LISBOA 1864 – FALECIMENTO DE MANUEL ODORICO MENDES – PATRONO DA CADEIRA 3 1924 – NASCIMENTO DE DOMINGOS VIEIRA FILHO – PATRONO DA CADEIRA 35 1885 – FALECIMENTO DE ANTONIO HENRIQUES LEAL – PATRONO DA CADEIRA 9 1956 – NASCIMENTO DE JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA – FUNDADOR DA CADEIRA 39


CADEIRA 13 – ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ In LITERATOS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA

7 de julho de 1855 / 22 de outubro de 1908 Artur Azevedo26 (A. Nabantino Gonçalves de A.), jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís, MA, em 7 de julho de 1855, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22 de outubro de 1908. Figurou, ao lado do irmão Aluísio de Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira nº 29, que tem como patrono Martins Pena. Foram seus pais David Gonçalves de Azevedo, vice-cônsul de Portugal em São Luís, e Emília Amália Pinto de Magalhães, corajosa mulher que, separada de um comerciante com quem casara a contragosto, já vivia maritalmente com o funcionário consular português à época do nascimento dos filhos: três meninos e duas meninas. Casaram-se posteriormente, após a morte na Corte, de febre amarela, do primeiro marido. Aos oito anos Artur já demonstrava pendor para o teatro, brincando com adaptações de textos de autores como Joaquim Manuel de Macedo, e pouco depois passou a escrever as peças que representava. Muito cedo começou a trabalhar no comércio. Depois foi empregado na administração provincial, de onde foi demitido por ter publicado sátiras contra autoridades do governo. Ao mesmo tempo lançava as primeiras comédias nos teatros de São Luís. Aos quinze anos escreveu a peça Amor por anexins, que teve grande êxito, com mais de mil representações no século passado. Ao incompatibilizar-se com a administração provincial, concorreu a um concurso aberto, em São Luís, para o preenchimento de vagas de amanuense da Fazenda. Obtida a classificação, transferiu-se para o Rio de Janeiro, no ano de 1873 e obteve emprego no Ministério da Agricultura. A princípio, dedicou-se também ao magistério, ensinando Português no Colégio Pinheiro. Mas foi no jornalismo que ele pôde desenvolver atividades que o projetaram como um dos maiores contistas e teatrólogos brasileiros. Fundou publicações literárias, como A Gazetinha, Vida Moderna e O Álbum. Colaborou em A Estação, ao lado de Machado de Assis, e no jornal Novidades, onde seus companheiros eram Alcindo Guanabara, Moreira Sampaio, Olavo Bilac e Coelho Neto. Foi um dos grandes defensores da abolição da escravatura, em seus ardorosos artigos de jornal, em cenas de revistas dramáticas e em peças dramáticas, como O Liberato e A família Salazar, esta escrita em colaboração com Urbano Duarte, proibida pela censura imperial e publicada mais tarde em volume, com o título de O escravocrata. Escreveu mais de quatro mil artigos sobre eventos artísticos, principalmente sobre teatro, nas seções que manteve, sucessivamente, em O País ("A Palestra"), no Diário de Notícias ("De Palanque"), em A Notícia (o folhetim "O Teatro"). Multiplicava-se em pseudônimos: Elói o herói, Gavroche, Petrônio, Cosimo, Juvenal, Dorante, 26

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=259&sid=281 http://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_de_Azevedo http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/08/arthur-azevedo/ AZEVEDO, Arthur. CARAPUÇAS, O DOMINGO, O DIA DE FINADOS – Sátiras I. Col. Resgate, vol, 18. Rio de Janeiro: Presença Edições; Brasília: INL, 1989. FERRO, Ana Claudia Lopes. O CÔMICO EM ARTHUR AZEVEDO: UMA ANÁLISE DE A CAPITAL FEDERAL – Monografia de Conclusão do Curso de Letras, sob a orientação do Prof. Dr. José Dino Costa Cavalcante. São Luís:UEMA-2008.02 (inédita). MARTINS, Antonio. ARTHUR AZEVEDO: A PALAVRA E O RISO. São Paulo: Perspectiva, 1988. VALENÇA, R. T. ARTHUR AZEVEDO E A LÍNGUA FALADA NO TEATRO. In: AZEVEDO, A. O Tribofe. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.


Frivolino, Batista o trocista, e outros. A partir de 1879 dirigiu, com Lopes Cardoso, a Revista do Teatro. Por cerca de três décadas sustentou a campanha vitoriosa para a construção do Teatro Municipal, a cuja inauguração não pôde assistir. Embora escrevendo contos desde 1871, só em 1889 animou-se a reunir alguns deles no volume Contos possíveis, dedicado a Machado de Assis, seu companheiro na secretaria da Viação e um de seus mais severos críticos. Em 1894, publicou o segundo livro de histórias curtas, Contos fora de moda, e mais dois volumes, Contos cariocas e Vida alheia, constituídos de histórias deixadas por Artur de Azevedo nos vários jornais em que colaborara. No conto e no teatro, Artur Azevedo foi um descobridor do cotidiano da vida carioca e observador dos hábitos da capital. Os namoros, as infidelidades conjugais, as relações de família ou de amizade, as cerimônias festivas ou fúnebres, tudo o que se passava nas ruas ou nas casas forneceu assunto para as histórias. No teatro foi o continuador de Martins Pena e de França Júnior. Nelas teremos sempre um documentário sobre a evolução da então capital brasileira. Teve em vida cerca de uma centena de peças de vários gêneros e mais trinta traduções e adaptações livres de peças francesas encenadas em palcos nacionais e portugueses. Ainda hoje continua vivo como a mais permanente e expressiva vocação teatral brasileira de todos os tempos, através de peças como A jóia, A capital federal, A almanarra, O mambembe, e outras. Outra atividade a que se dedicou foi a poesia. Foi um dos representantes do Parnasianismo, e isso meramente por uma questão de cronologia, porque pertenceu à geração de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, todos sofrendo a influência de poetas franceses como Leconte de Lisle, Banville, Coppée, Heredia. Mas Artur Azevedo, pelo temperamento alegre e expansivo, não tinha nada que o filiasse àquela escola. É um poeta lírico, sentimental, e seus sonetos estão perfeitamente dentro da tradição amorosa dos sonetos brasileiros. Bibliografia27 Escreveu cerca de duzentas peças para teatro e tentou fazer surgir o teatro nacional, incentivando a encenação de obras brasileiras. Como diretor do Teatro João Caetano, no Rio, encenou quinze originais brasileiros em menos de três meses. Obra: Carapuças, poesia (1871); Sonetos (1876); Um dia de finados, sátira (1877); Contos possíveis (1889); Contos fora da moda (1894); Contos efêmeros (1897); Contos em verso (1898); Rimas, poesia (1909); Contos cariocas (1928); Vida alheia (1929); Histórias brejeiras, seleção e prefácio de R. Magalhães Júnior (1962); Contos (1973). Teatro: Amor por anexins (1872); A filha de Maria Angu (1876); Uma véspera de reis (1876); Jóia (1879); O escravocrata, em colaboração com Urbano Duarte (1884); Almanjarra (1888); A capital federal (1897); O retrato a óleo (1902); O dote (1907); O oráculo (1956); Teatro (1983). Textos Escolhidos28 O VIÚVO Na véspera de partir para a Europa, o doutor Claudino, sem prever o fúnebre espetáculo de que ia ser testemunha, foi despedir-se do seu velho camarada Tertuliano. Ao aproximar-se da casa, ouviu berreiro de crianças e mulheres, e a voz de Tertuliano, que dominava de vez em quando o alarido geral, soltando, num tom estrídulo e angustioso, esta palavra: "Xandoca". O doutor Claudino apressou o passo, e entrou muito aflito em casa do amigo. Havia, efetivamente, motivo para toda aquela manifestação de desespero. Tertuliano acabava de enviuvar. Havia meia hora que dona Xandoca, vítima de uma febre puerperal, fechara os olhos para nunca mais abrilos. O corpo, vestido de seda preta, as mãos cruzadas sobre o peito, estava colocado num canapé, na sala de visitas. À cabeceira, sobre uma pequena mesa coberta por uma toalha de rendas, duas velas de cera substituíam, aos dous lados de um crucifixo, o bom e o mau ladrão. 27

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=263&sid=281 http://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_de_Azevedo http://portugues.free-ebooks.net/autor/artur-azevedo 28 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=262&sid=281


Tertuliano, abraçado ao cadáver, soluçava convulsamente, e todo o seu corpo tremia como tocado por uma pilha elétrica. Os filhos, quatro crianças, a mais velha das quais teria oito anos, rodeavam-no aos gritos. Na sala havia um contínuo fluxo e refluxo de gente que entrava e saía, pessoas da vizinhança, chorando muito, e indivíduos que, passando na rua, ouviam gritar e entravam por mera curiosidade. O doutor Claudino estava impressionadíssimo. Caíra de supetão no meio daquele espetáculo comovedor, e contemplava atônito o cadáver da pobre senhora que, havia quatro dias, encontrara na rua da Carioca, muito alegre, levando um filho pela mão e outro no ventre, arrastando vaidosa a sua maternidade feliz. Tertuliano, mal que o viu, atirou-se-lhe nos braços, inundando-lhe do lágrimas a gola do casaco; o doutor Claudino estava atordoado, cego, com os vidros do pince-nez embaciados pelo pranto, que tardou, mas veio discreta, reservadamente, como um pranto que não era da família. - Isto foi uma surpresa... uma dolorosa surpresa para mim - conseguiu dizer com a voz embargada pela comoção. - Parto amanhã para a Europa, no Níger... vinha despedir-me de ti... e dela... de dona Xandoca e... vejo que... que... que... E o doutor Claudino fez uma careta medonha para não soluçar. - Dispõe de mim, meu velho; estou às tuas ordens, bem sabes. - Obrigado - disse Tertuliano numa dessas intermitências que se notam nos maiores desabafos - o Rodrigo, aquele meu primo empregado no foro, já foi tratar do enterro, que é amanhã às dez horas. Fazendo grandes esforços para reprimir a explosão das lágrimas, o viúvo contou ao doutor Claudino todos os incidentes da rápida moléstia e da morte de dona Xandoca. - Uma coisa inexplicável! Nunca a pobre criatura teve um parto tão feliz... A parteira não esperou cinco minutos:.. Uma criança gorda, bonita... Está lá em cima, no sótão... hás de vê-la. De repente, uma pontinha de febre que foi aumentando, aumentando... até vir o delírio... Mandei chamar o médico... Quando o médico chegou, já ela agoniza... a... va!... E Tertuliano, prorrompendo em soluços, abraçou-se de novo ao doutor Claudino. No dia seguinte, a cena foi dolorosíssima. Antes de se fechar o caixão, Tertuliano quis que os filhos beijassem o cadáver, medonhamente intumescido e decomposto. Ninguém reconhecia dona Xandoca, tão simpática, tão graciosa, naquele montão informe de carne pútrida. Fecharam o caixão, mas Tertuliano agarrou-se a ele e não o queria deixar sair, gritando: - Não consinto! não quero que a levem, daqui! - Foi preciso arrancá-lo à força e empurrá-lo para longe. Ele caiu e começou a escabujar no chão, soltando grandes gritos nervosos. Três senhoras caíram também com espectaculosos ataques. As crianças berravam. Choravam todos. De volta do enterro, o doutor Claudino, conquanto muito atarefado com a viagem, não quis deixar de fazer uma última visita a Tertuliano. Encontrou-o num estado lastimoso, sentado numa cadeira da sala de jantar, sem dar acordo de si, rodeado pelos filhos, o olhar fixo no mísero recém-nascido, que a um canto da casa mamava sofregamente numa preta gorda. - Tertuliano, adeus. Daqui a meia hora devo estar embarcando. Crê que, se pudesse, adiava a viagem para fazer-te companhia... Adeus! O viúvo lançou-lhe um olhar vago, um olhar que nada exprimia; sacudiu molemente a mão, e murmurou: - Adeus! Às sete horas da noite o doutor Claudino, sentado na coberta do Níger, contemplando as ondas, esplendidamente iluminadas pelo luar, pensava naquela olhar vago de Tertuliano, naquele adeus terrível, e pedia aos céus que o seu velho camarada não houvesse enlouquecido. Meses depois, a exposição de Paris atordoava-o; mas de vez em quando, lá mesmo, na Galeria das Máquinas, no Palácio das Artes, ou na Torre Eiffel, voltava-lhe ao espírito a lembrança daquela cena desoladora do viúvo rodeado pelos orfãozinhos, e repercutia-lhe dentro d'alma o som daquele adeus pungente e indefinível. Interessava-se muito por Tertuliano. Escreveu-lhe um dia, mas não obteve resposta. Pobre rapaz! viveria ainda? a sua razão teria resistido àquele embate violento? Depois de um ano e quatro meses de ausência, o doutor Claudino voltou da Europa, e a sua primeira visita foi para Tertuliano, que morava ainda na mesma casa. Mandaram-no entrar para a sala de jantar. Tertuliano estava sentado numa cadeira, sem dar acordo de si, rodeado pelos filhos, o olhar fixo no mais pequenito, que estava muito esperto, brincando no colo da preta gorda. - Tertuliano? - balbuciou o doutor Claudino.


O viúvo lançou-lhe um olhar vago, um olhar que nada exprimia; sacudiu molemente a mão, e murmurou: - Adeus. Depois, dir-se-ia que se fizera subitamente a luz no seu espírito embrutecido. Ele ergueu-se de um salto, gritando: - Claudino! - e atirou-se nos braços do velho camarada, exclamando entre lágrimas: - Ah! meu amigo! perdi minha mulher!... - Sim, eu sei, mas já tinhas tempo de estar mais consolado... Que diabo! Sê homem! Já lá se vão quatorze meses!... - Como quatorze meses? seis dias... - Ora essa! pois não se lembras que acompanhei o enterro de dona Xandoca? - Ah! tu falas da Xandoca... mas há três meses casei-me com outra... a filha do major Seabra, e há seis dias estou viu...ú...vo! E Tertuliano, prorrompendo em soluços, abraçou-se de novo ao doutor Claudino. (Contos fora de moda, 1894.)

PLEBISCITO A cena passa-se em 1890. A família está toda reunida na sala de jantar. O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade. Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga. Os pequenos são dous, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias. Silêncio. De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta: - Papai, que é plebiscito? O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme. O pequeno insiste: - Papai? Pausa: - Papai? Dona Bernardina intervém: - Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar, que lhe faz mal. O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos. - Que é? que desejam vocês? - Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito. - Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito? - Se soubesse, não perguntava. O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola: - Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito! - Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei. - Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito? - Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito. - Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante! - A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!... - A senhora o que quer é enfezar-me! - Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, falou, falou, e o menino ficou sem saber! - Proletário - acudiu o senhor Rodrigues - é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado. - Sim, agora sabe porque foi ao dicionário; mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira! - Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!


- Oh! ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: - Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito; vai buscar o dicionário, meu filho. O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada: - Mas se eu sei! - Pois se sabe, diga! - Não digo para me não humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo! E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu quarto, batendo violentamente a porta. No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário... A menina toma a palavra: - Coitado de papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é tão perigoso! - Não fosse tolo - observa dona Bernardina - e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito! - Pois sim - acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão - pois sim, mamãe; chame papai e façam as pazes. - Sim! Sim! façam as pazes! - diz a menina em tom meigo e suplicante. - Que tolice! Duas pessoas que se estimam tanto zangaram-se por causa do plebiscito! Dona Bernardina dá um beijo na filha, e vai bater à porta do quarto: - Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco. O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a casa, e vai sentar-se na cadeira de balanço. - É boa! - brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio - é muito boa! Eu! eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu!... A mulher e os filhos aproximam-se dele. O homem continua num tom profundamente dogmático: - Plebiscito... E olha para todos os lados a ver se há ali mais alguém que possa aproveitar a lição. - Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecido em comícios. - Ah! - suspiram todos, aliviados. - Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo!.. (Contos fora de moda, 1894.) UMA APOSTA Se o Simplício Gomes não fosse um rapaz do nosso tempo, se não usasse calças brancas, paletó de alpaca, chapéu de palha e guarda-chuva, daria idéia de um desses quebra-lanças que só se encontram nos romances de cavalaria. De outro qualquer diríamos: "Ele gostava da Dudu"; tratando-se, porém, do Simplício Gomes, empregaremos esta expressão menos familiar: "Ele amava Edviges." O seu amor tinha, realmente, alguma coisa de puro e de ideal, que não se compadecia com os costumes de hoje. Começava por ser discreto; Dudu adivinhou, ou antes, percebeu que era amada, mas ele nunca lho disse, nunca se atreveu a dizer-lhe, não por timidez ou respeito, mas simplesmente porque não tinha confiança no seu merecimento. Estava bem empregado, poderia casar-se e viver modestamente em família, mas era tão feio, tão pequenino, tão insignificante e ela tão linda e tão esbelta, que o casamento lhe parecia desproporcionado. Ele não se sentia digno dela, não acreditava que a pudesse fazer feliz, e isso o desgostava profundamente. Ela, por seu lado, não concorria para que a situação se modificasse: fingia ignorar que ele a amava, e atribuía toda aquela solicitude a um afeto desinteressado. Dudu vivia com a mãe, uma pobre viúva sem outro recurso que não fosse o do meio soldo e montepio deixados pelo marido, brioso oficial do Exército que viveu sempre desprotegido, porque não sabia lisonjear nem pedir; mas o Simplício Gomes, sem fumaças de protetor, e dando a esmola com ares de quem a recebia, achava meios e modos de fazer com que naquela casa faltasse apenas o supérfluo. Como era parente, embora afastado, das duas senhoras, estas consideravam os seus favores simples atenções de família. O caso é que o Simplício Gomes parecia adivinhar os menores desejos de Dudu e nessas ocasiões recorria ao ardil de uma aposta:


- Aposto que hoje chove! - Que idéia! o dia está bonito! - Pois sim, mas o calor é excessivo: temos água com toda certeza! - Não temos! - Façamos uma aposta! - Valeu! se chover eu perco uma caixa de charutos. - E eu aquela blusa que você viu na vitrina da Notre Dame e cobiçou tanto. - Quem lhe disse que cobicei? - Ora, esses olhos não me enganam... No dia seguinte Dudu recebia a blusa. A velha costumava dizer com muita ingenuidade: - Você faz mal em apostar, Simplício! E muito caipora, perde sempre, e então, em se tratando de mudança de tempo, é uma lástima! Conquanto não se atrevesse a falar em casamento, o pobre rapaz sofria, oprimido pela idéia de que quando menos se pensasse, Dudu teria um namorado... um noivo... um marido e efetivamente, não se passou muito tempo que os seus receios não se realizassem. Dudu impressionou-se por um cavalheiro muito bem trajado, que começou a rondar-lhe a porta quase todos os dias, cumprimentando-a, depois sorrindo-lhe, e finalmente escrevendo-lhe graças à cumplicidade de um molecote da casa. Depois de receber três cartas, Dudu contestou, convenceu-se de que as intenções do namorado eram as melhores e mostrou a correspondência à mãe, que imediatamente consultou o Simplício Gomes sem saber o desgosto que lhe causava. Este, que já havia notado as idas e vindas do transeunte suspeito, disfarçou o mais que pôde, os seus sentimentos, limitando-se a dizer que Dudu não deveria casar-se com aquele homem sem ter primeiramente certeza de que ele a amava deveras. A velha, com toda a sua simplicidade, pediu-lhe que se informasse da idoneidade do pretendente, e o mísero logo se transformou de quebra-lanças em quebra-esquinas. Foram desanimadoras (para ele) as informações que obteve: o rival chamava-se Bandeira, era de boa família, de bons costumes, funcionário público de certa categoria, estimado, e tinha alguma coisa. O seu único defeito era ser um pouco genioso. O Simplício, que não tinha o altruísmo heróico de Cirano de Bergerac, não avolumou as qualidades do outro, mas foi leal: não as diminuiu. Em suma: o Bandeira pediu a mão de Dudu; e começou a freqüentar a casa. O coitado não articulou uma queixa, mas começou desde logo a emagrecer a olhos vistos; perdeu o apetite, ficou macambúzio, fúnebre... Dudu, que tudo compreendeu, teve muita pena, teve quase remorsos; mas a velha nem mesmo assim desconfiou que a filha fosse adorada pelo infeliz parente. Entretanto, o Simplício Gomes começou a ser assíduo em casa de Dudu; o seu desejo oculto era não deixála sozinha com o tal Bandeira enquanto não se casassem. O noivo tinha, efetivamente, boas qualidades, mas era não só genioso, mas de uma arrogância, de uma empáfia, de um autoritarismo que começaram a inquietar Dudu. Uma bela tarde em que se achavam ambos sentados no canapé, e o Simplício Gomes, afastado, num canto da sala, folheava um álbum de retratos, o Bandeira levantou-se dizendo: - Vou-me embora; tenho ainda que dar umas voltas antes da noite. - Ora, ainda é cedo; fique mais um instantinho, replicou Dudu, sem se levantar do canapé. - Já lhe disse que tenho que fazer! Peço-lhe que vá desde já se habituando a não contrariar as minhas vontades! Olhe que depois de casado, hei de sair quantas vezes quiser sem dar satisfações a ninguém! - Bom; não precisa zangar-se... - Não me zango, mas contrario-me! Não me escravizei; quero casar-me com a senhora, mas não perder a liberdade! - Faz bem. Adeus. Até quando? - Até amanhã ou depois. O Bandeira apertou a mão de Dudu, despediu-se com um gesto do Simplício Gomes, e saiu batendo passos enérgicos, de dono de casa. Dudu ficou sentada no canapé, olhando para o chão. O Simplício Gomes aproximou-se de mansinho, e sentou-se ao seu lado. Ficaram dez minutos sem dizer nada um ao outro.


Afinal Dudu rompeu o silêncio. Olhou para o céu iluminado por um crepúsculo esplêndido, e murmurou: - Vamos ter chuva. - Não diga isso, Dudu: o tempo está seguro! - Apostemos! - Pois apostemos! Eu perco uma coisa bonita para o seu enxoval de noiva. E você? - Eu... perco-me a mim mesma, porque quero ser tua mulher! E Dudu caiu, chorando, nos braços de Simplício Gomes. (O Século, 9 de julho de 1907. In Histórias brejeiras, 1962.)


CADEIRA 19 - JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ In LITERATOS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA

PATRONO

02 de setembro de 1867 / 11 de março de 1941 DUNSHEE DE ABRANCHES29 nasceu em São Luis, Maranhão, em 02 de setembro de 1867 à Rua do Sol,

141. Seus pais foram o negociante Antonio da Silva Moura - nascido em Portugal e educado desde os cinco até os 21 anos no Havre e em Paris -, e Dona Raimunda Emília de Abranches Moura – filha de Garcia de Abranches, o Censor 30. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar, internacionalista... Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelos “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993) 31 Após os estudos primários em sua terra natal – primeiro, estudando com sua mãe e tias, no famoso ‘Colégio das Abranches 32, onde também deve ter feito os preparatórios para o Liceu Maranhense. Um dos famosos “meninos do Liceu” no dizer de Gonçalves Dias, aos 16 anos de idade, ao concluir seu Curso de Humanidades, foi plenamente aprovado em severos exames de Gramática Portuguesa, Latim, Francês, Alemão, Inglês, Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Geografia, História, Filosofia e Retórica. Há esse tempo, precoce, já estudara Desenho com Horácio Tribuzi, Harmonia com Leocádio Rayol, Piano com sua mãe, d. Emília, e Violino com Pedro Ziegler 33. 29

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 40. REVISTA DO IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 157 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_s__cios_-_ocupantes_-_vo http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/11/03/dunshee-de-abranches/ http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/10/02/sobre-esporte-futebol-e-literatura/ http://www.oexplorador.com.br/site/ver.php?codigo=24121 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012 http://www2.mp.ma.gov.br/memorial/indememorialgaleriapromotpublicoimperio_jo%C3%A3o.asp http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Dunshee++de+Abranches&ltr=d&id_perso=173 0 30 DUNSHE DE ABRANCHES MOURA, J. O Captiveiro (memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. ABRANCHES, D. de. A Setembrada - A Revolução Liberal de 1831 em Maranhão - romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970. ABRANCHES, D. de. A Esfinge do Grajaú. São Luís: ALUMAR, 1993. 31 GASPAR, C. Dunshe de Abranches. São Luís: (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 32 “Preliminarmente teve como professoras, além de sua mãe e das tias Amância e Martinha – estas três, fundadoras do Colégio Nossa Senhora da Glória -, também suas irmãs, Emília, Amélia e Helena. Completamente alfabetizado aos 4 anos de idade, aos seis já traduzia francês e aos sete principiava as lições de inglês e espanhol. “ (GASPAR, C. Dunshee De Abranches. São Luís: (s.e.), 1993, p. 22. Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 33 MORAES, J. Ainda o humanista Dunshee de Abranches. In O Estado Do Maranhão, São Luís, 21 de maio de 2008, quartafeira, pg. 6, Caderno Alternativo. Hoje é dia de Jomar Moraes.


Tornou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Antes, porém, foi aluno da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas não concluiu o curso, cursando-o até o quinto ano 34. No ano de 1889, aos seis de janeiro, casa em cerimônia celebrada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nesta cidade, com a Senhorita Maurina da Silva Porto, de cujo consórcio teve filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini35. Em 1890, estava na Bahia, retomando os estudos de Medicina, porém ‘tirando a carta’ de Farmacêutico; prossegue os estudos de Medicina e inicia o de Direito (1891). De volta ao Maranhão, foi enviado pelo Governador da Província, o pernambucano José Moreira Alves da Silva, como Promotor Público, para averiguar os acontecimentos e decifrar o mistério d’ “A Esfinge de Grajaú” 36. Decifrar o enigma não era outra coisa, senão uma explicação racional para as tantas brigas sangrentas existentes em Grajaú. (GASPAR, 1993). Nos anos seguintes, o advogado Dunshee tornou-se Deputado Estadual no Maranhão (1904-1909), e integraria depois a bancada de sua Província natal na Câmara Baixa do País, tendo sido eleito mais de uma vez (1909-1917) 37. Viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se torna adepto do Positivismo. Em setembro de 1929, chefiou a delegação brasileira à solenidade de lançamento da pedra fundamental da Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Lisieux, França. Na ocasião, falaram apenas três oradores: 34

Informa GASPAR (1993) que não concluiu o curso “em fase de lamentável incidente com um de seus professores, por ocasião de uma das provas do currículo, quando acalorada discussão entre o aluno e o mestre culminou com uma cena de pugilato”. (p. 22) 35 Dunshee de Abranches casou-se com D. Maurina Porto Dunshee de Abranches, filha do filantropo José Maria da Silva Porto; tiveram seis filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini (in ABRANCHES, D. Garcia De Abranches, O Censor (O Maranhão em 1822) – Memória histórica. São Paulo: Typographia Brasil Rothschild, 1922, p. 157158). 36 ABRANCHES, D. de. A Esfinge Do Grajaú. São Luís: ALUMAR, 1993. 37 “Na primeira década do século XX, dentre os vultos notáveis do Congresso Legislativo do Estado, consta o nome de Dunshee de Abranches – descendente do grande João Antonio Garcia de Abranches, cognominado ‘O Censor’, o sangue jornalístico do velho Garcia se transmudou para o neto ilustre. Uma extraordinária cultura, dono de uma das mais vastas Bibliografias de que se tem notícia, só rivalizando com ele o não menos extraordinário Coelho Neto. Iniciou sua carreira política no Partido Republicano de Benedito Leite, elegendo-se deputado estadual em 1904. Espírito irrequieto, polemista notável, foi a maior figura da legislatura que integrou no Congresso Maranhense. “Para aquela 5ª. Legislatura do Congresso maranhense - 1904/1906 – elegeram-se todos os candidatos de Benedito Leite, não tendo a casa nenhum representante oposicionista. As eleições realizaram-se a 06 de dezembro de 1904, com a recondução de muitos parlamentares pelas suas sólidas bases eleitorais garantidas por um sistema de governo que reagia mecanicamente ao comando do Senador Benedito Leite. Todavia, novos nomes iriam figurar naquela casa, dentre esses se destacaria o afamado polígrafo João Dunshee de Abrantes Moura. Dunshe de Abranches teve 14.807 votos, elegendo-se com a 21ª. Votação. Não participou dos trabalhos daquele ano, mas em 1905 foi o Deputado que praticamente tomou as atenções da Casa, quer por seus trabalhos nas Comissões, quer pelos projetos e discursos proferidos, quer elos fulminantes apartes dados em seus colegas, chegando a participar da mesa diretora, como terceiro suplente. Numa de suas intervenções, afirma existindo na casa algumas duplicatas de eleições para as Câmaras Municipais, solicitando nomeação de Comissão – a quem coube a relatoria – para apresentar parecer sobre aquelas duplicatas. De seu Relatório, foram anuladas as eleições de Cajapió, Balsas e São João dos Patos. Nessa legislatura, sem dúvida a questão dos limites entre os municípios de Alto Itapecurú e Barra do Corda demandou um amplo estudo, apresentando projeto de lei onde ficaram delimitados os marcos e as linhas a serem fixadas pelo Governo, pondo fim aquela querela que vinha de longo tempo. De seus inúmeros pronunciamentos, o tema que mais debateu refere-se à situação da Instrução Pública, assunto de sua permanente preocupação. Na legislatura seguinte – 1906 – não mais fazia parte da Mesa Diretora, requerendo licença para se ausentar da Capital. Da sexta legislatura, destacaram-se os Deputados Dunshee de Abranches, José Barreto e Clodomir Cardoso; é a partir de 1907 que as Oposições maranhenses tomam posição de combate ao regime de Benedito Leite, há 14 anos governando, ora por prepostos, ora diretamente. “Em 09 de dezembro de 1906, novas eleições para a renovação do Congresso Legislativo do Estado e unshee de Abranches se reelege no grupo situacionista com a 15ª. Votação, com 10.523 votos. A Oposição elegeu seis deputados, dos 30. Dunshee de Abranches, quando da eleição da Mesa, informa à Presidência da Casa de que não poderia se fazer presente por motivo de moléstia, o que foi lamentado pelo jovem Deputado Clodomir Cardoso (então com 28 anos), que iria desforrar suas mágoas sobre seu colega Dunshee de Abranches, acerca de pronunciamento que fizera ser o Pará, melhor que o Maranhão. Em 1909, ocorreram as eleições para Deputados Federais, e na fórmula ainda traçada pelo falecido Governador Benedito Leite, elegeram-se: para o Senado, o Dr. José Eusébio de Carvalho Oliveira. Para Deputados Federais, Francisco da Cunha Machado e Dunshee de Abranches. Apresentou relatório, nessa legislatura, enviando projeto de lei que fixava a Força Pública para o ano seguinte. (In COUTINHO, M. O Poder Legislativo Do Maranhão – 1830/1930. São Luís: Assembléia Legislativa do Maranhão, 1981, p. 247-294).


o Cardeal Charost, representante do Papa Pio XI, George Goyau, da Academia Francesa, e Dunshee de Abranches38. Escritor, Jornalista, Político Maranhense. Ensaísta, Pesquisador, Memorialista. Intelectual, Ativista, Produtor Cultural. Idealista. Visionário. Dunshee de Abranches foi sócio de diversas instituições sociais, culturais e de classe de seu tempo, dentre outras, Ordem dos Advogados do Brasil, de que foi membro do Conselho Federal e do Instituto dos Advogados. Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI 39. Patrono da Cadeira 40, da Academia Maranhense de Letras. Escreveu dezenas de obras 25 entre as quais, “A Setembrada”, “Garcia de Abranches – O Censor”. Encontra-se na Estante do Escritor Tocantinense, da Biblioteca Pública, do Espaço Cultural de Palmas. Dunshee de Abranches fez poesia, ensinou Direito na Alemanha, escreveu romances, militou na imprensa, exerceu mandatos políticos e foi, acima de tudo, memorialista de um longo período da vida maranhense e brasileira. Bibliografia de Dunshee de Abranches Moura: 01. ‘Sou a Revolução’, discurso: São Luís, 1883. 02. ‘Selva’, poesias. Tipografia Frias: São Luis, 1885. 03. ‘Transformações do Trabalho’, memória. São Luís: Tip. Pacotilha, 1888. 04. ‘Pela Paz’, poemas. Rio [de Janeiro]: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 05. ‘Cartas de um Sebastianista, sátiras em verso. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 06. ‘Memórias de um Histórico’, 2 vols. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 07. ‘Crítica de Arte’ – o Salão de 1896’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 08. ‘Como se faz o Jornal do Brasil’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 09. ‘Papá Basílio’, romance sob o pseudônimo de Ferreira de Andrade. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1898. 10. ‘O ano negro da República’, retrospecto político. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1889. 11. ‘O 10 de abril’, narrativa histórica. Rio de Janeiro: Of. de ‘O Dia’, 1901. 12. ‘Institutos equiparados’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 13. ‘Exames Gerais de Preparatórios’, inquérito. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 14. ‘Ensino Superior e Faculdades Livres’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905 15. ‘O Tratado de Bogotá’, memória histórica. Rio de janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 16. ‘Atos e Atos do Governo Provisório’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 17. ‘Reforma da Justiça Militar’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 38

Dunshee de Abranches proclamava-se ateu em sua juventude, convertendo-se ao catolicismo na maturidade. Contradição que, segundo Moraes (em O humanista Dunshee de Abranches, in O Estado Do Maranhão, 21 de maio de 2008, p. 6, Caderno Alternativo) qualificava-o para representar o Brasil, já católico fervoroso, à solenidade de lançamento da pedra fundamental e pronunciar o seguinte discurso: 39 Ao assumir a presidência da Associação, gozava de boa fama como jornalista, advogado e político (deputado federal à sombra do Barão do Rio Branco). Admirador do modesto confrade Gustavo, foi ele quem lhe trouxe, de uma viagem à França, os dados essenciais para o estabelecimento da Associação (leis e regulamentos de entidades semelhantes e sindicais). João Dunshee de Abranches Moura foi empossado na Presidência da ABI em 13 de maio de 1910, com o apoio integral do grupo que controlava a Associação e prometendo defender a liberdade de pensamento a qualquer custo. Em 1911, foi reeleito para mais dois anos de mandato. Durante sua administração, várias providências foram tomadas, como a reforma estatutária, a mudança de nome para Associação de Imprensa dos Estados Unidos do Brasil, a criação da biblioteca e do cargo de bibliotecário, de congressos de jornalistas, e de um Tribunal de Imprensa, destinado a julgar conflitos da categoria. No mesmo período, foram instituídos a carteira de jornalista, como instrumento de identidade e do exercício efetivo da profissão; o distintivo de sócio, e um fundo de auxílio funeral. A Associação ganhou uma sede modesta no primeiro andar de um prédio da Avenida Central (atual Rio Branco), na esquina com a Rua da Assembléia. Devem-se a Dunshee os primeiros projetos da Escola de Jornalismo, reivindicação dos fundadores da ABI. Também lhe ficamos obrigados pela mudança do Estatuto corporativo. Ocupado com afazeres oficiais e particulares, Dunshee renunciou ao cargo. Fora abolicionista, estudava História e Ciência Política e dedicava-se à música. Escreveu dezenas de livros. Dele é o pensamento: "Os jornais, fato e de direito, constituem uma força preciosa, necessária e bem organizada para encaminhamento e solução dos mais sérios e importantes problemas sociais" (1911). A diretora-proprietária do Jornal do Brasil e antiga associada, Condessa Maurina Pereira Carneiro, era filha de Dunshee de Abranches. (In ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Disponível em http://www.abi.org.br/; SIGISMUNDO, F. Os 95 anos da ABI. In Observatório Da Imprensa. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/).


18. ‘Tratados do Comércio e navegação do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909. 19. ‘Necrológio Político do Dr. Benedito Leite’. São Luís: Tip. Frias, 1909. 20. ‘A Lagoa Mirim e o Barão do Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 21. ‘Limites com o Peru’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 22. ‘Associação de Imprensa’, relatório. Rio de janeiro: Tip. Do Jornal do Comércio, 1911. 23. ‘Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1911. 24. ‘O Brasil e o Arbitramento’. Rio de Janeiro: Tip. Leusinger, 1911. 25. ‘O maior dos Brasileiros’, defesa póstuma de Rio Branco. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1912. 26. ‘Pela Itália’, impressões de viagem. Barceloa, Imprenta Viúva de Luis Tasso, 1913. 27. ‘Lourdes’, conferencia. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1914. 28. ‘A Conflagração Européia e suas causas’. Rio de Janeiro: Tip. Jornal do Comércio, 1914. 29. ‘Em torno de um discurso’, entrevista. Rio de janeiro: Tip. Almjeida Marques, 1914. 30. ‘A administração da República e a obra financeira do Dr. Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 31. ‘O A.B.C. e a Política Americana’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 32. ‘Expansão Econômica e Comércio Exterior do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 33. ‘Brazil and a Monroe Doutrine’, memória. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 34. ‘A Inglaterra e a Soberania do Brasil’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1915. 35. ‘A cultura do arroz e o protecionismo político’, memória. São Paulo: 1916. 36. ‘Código Penal Militar’, projeto de lei. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 37. ‘A Black-list e o Projeto Dunshee’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 38. ‘Ainda a Black-list’, carta ao Presidente da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 39. ‘A Alemanha e a Paz’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques & Cia, 1917. 40. ‘Contra a Guerra’. Rio de Janeiro: Tip. da Rev. dos Tribunais, 1917. 41. ‘A Ilusão brasileira’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917. 42. “Candidaturas Presidenciais – Rui e Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Tip. Da Revista dos Tribunais, 1917. 43. ‘Governos e Congressos da República – 1899-1917’. São Paulo: Tipografia Brasil, 1918. 44. ‘Garcia de Abranches, o Censor – O Maranhão de 1822’. São Paulo: Tip. Rotschild & Cia, 1922. 45. ‘Companhia Brasileira Comercial e Industrial’, relatórios. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 19231927. 46. ‘O Tratado de Versailles e os alemães no Brasil’. Rio de Janeiro: Casa Vallele, 1924. 47. ‘Minha Santa Teresinha’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 48. ‘Dois sorrisos de Maria’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 49. ‘A Setembrada’, romance histórico. Rio de janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1933. 50. ‘Rio Branco e a Política exterior do Brasil’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Of. Gráfica do Jornal do Brasil, 1945. 51. ‘O Golpe de Estado – Atas e atos do Governo Lucena’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica do Jornal do Brasil, 1954. Dunshee de Abranches deixou ainda, muitas obras inéditas, algumas publicadas em jornais e revistas; traduziu ‘o Crime do Congo’, original de Conan Doyle, e o seu ‘O maior dos Brasileiros’ foi traduzido para o castelhano por Melo Carvalho (El mas distinguido de los brasileños – Imprensa Nacional, Rio, 1913); vários de seus trabalhos foram objeto de mais de uma edição. Faleceu em Petrópolis, em 11 de março de 1941, com 74 anos de idade. Oração40 Estas palavras deveriam ser pronunciadas de joelhos! Não é somente um humilde cristão, que se vem postar diante da grande Santinha, cuja intercessão fez em sua família uma cura maravilhosa e uma verdadeira ressurreição, verificados por dois médicos celebres nada crentes, e 40

(Tradução portuguesa da oração que foi proferida em francês). In MEIRELES, M. M.; FERREIRA, A. de J; VIEIRA FILHO, D. (org.). Antologia Da Academia Maranhense De Letras – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 124-125. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia).


atestadas por um apóstolo ilustre da Igreja, o Padre Rubilon, evangelista dedicado da sublime doutrina da terna Flor do Carmelo em meu país. É o Brasil católico, posso dizer, o Brasil inteiro, que eu represento neste instante, porque todos os brasileiros são servos fiéis de Deus; é a minha Pátria, ela mesma que junta a sua voz a este concerto magnífico de preces que, de todos os cantos do Universo, convergem para a França, a terra predestinada dos Santos, para exaltar as graças na pequenina, mas, sem dúvida, a mais brilhante das estrelas do firmamento da Igreja. Santa Teresa de Lisieux, dizem na minha terra, é a Santa dos Brasileiros. Ela é também a padroeira bemaventurada de toda a America do Sul. No Brasil, sobre um vasto território, quinze vezes maior que a França, não há um só lugar, onde, pelas cidades e pelas aldeias, através das florestas virgens, a influencia de nossa Santinha não se tenha feito sentir por favores extraordinários. Um dia, de sua diocese, situada bem longe dos centos civilizados, D. Alberto, o bispomissionário, pediu-me uma estátua da celeste Carmelita para a sua Catedral. No dia seguinte ao da chegada de seu destino, todos os alunos de uma escola protestante abandonaram o professor para se dirigir ao Catecismo. Desde este momento, a chuva de rosas não cessou de cair sobre essas longínquas regiões. A inauguração do altar da Santa foi celebrada por mais de 17.000 comunhões! No Rio de Janeiro, já possuímos a soberba Basílica de Santa Teresa do Menino Jesus, benta, o ano passado, por D. Sebastião Leme, mui justamente cognominado pelo povo – o Arcebispo da Eucaristia. Em São Paulo, outro templo monumental se levanta. E, por todos os Estados Brasileiros, vê-se sempre nas igrejas, nas capelas e nos lares dos ricos e dos pobres, ao lado do Sagrado Coração de Jesus, a imagem sorridente de sua pequenina esposa do Carmelo. Esta basílica, cuja primeira pedra hoje colocamos, será sem dúvida a cidadela invencível de todos os missionários do mundo. De suas muralhas inexpugnáveis, brancas e imaculadas como a Hóstia, partirão bem depressa, em massa, os pregadores predestinados, os novos evangelistas do Amor de Jesus! Senhores, basta de ilusões inúteis! Basta de vaidades efêmeras! Somente o Amor de Jesus, só ele, poderá realizar o supremo ideal dos povos contemporâneos - A PAZ UNIVERSAL! Santa Teresa do Menino Jesus! O Brasil, a terra de Santa Cruz, está a vossos pés! Salve! A SELVA De pé, no tombadilho, olhos fitos no espaço, Colombo, palpitante, estende o forte braço, aos capitães mostrando, ao longe, sobre a esteira dos negros vagalhões a luz de uma fogueira... Há três noites velava, há três noites sentia a esperança deixar-lhe o peito, e a fàntasia fugir-lhe já também. Rugiam os porões de fome e de cansaço... e ocas conspirações iam lentas mudando a bruta marinhagem o amor do comandante em amor à carnagem. Há três luas partira a frota de Castela; e em cada uma lufada a enfunar a vela em toda a aurora nova, em todo o novo ocaso, mais a pátria fugia, e mais e mais o acaso, impávido matava as velhas tradições, mostrando a cada instante aos crentes corações que o Caos inda era a luz, que o Abismo inda era o mar! Jamais se vira um monstro, um só, se levantar por sobre os vagalhões, grandíloquo, medonho, como a Grécia sentiu nesse homérico sonho que os templos levantou e fez as Odisséias. O VIOLINO DO ARTISTA Só lhe restava o mágico violino nessa vida de eterno sofrimento; único amigo, um outro peregrino na rota desgraçada do talento. Como sentia o mísero instrumento, nessa alma rude, um lenho pequenino,


que tinha em mãos do dono um sentimento que era "mais do que humano, era divino!" E juntos iam no fulgor das cenas confundir num adágio as suas penas, irmãos na glória, gêmeos no tormento!... Mas morto um dia o artista, gente absurda quis tocá-lo... mas ah! tinha a alma surda... já não sentia o mísero instrumento!...


CADEIRA 35 - DOMINGOS VIEIRA FILHO

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- PATRONO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ In LITERATOS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA

25 de setembro de 1924 / 11 de setembro de 1981 Nasceu em 25 de setembro de 1924, nesta cidade de São Luis, filho de Domingos Vieira e Celestina Domingues Vieira. Bacharel em Ciencias Juridicas pela Faculdade de Direito de São Luis. Onde ingressou como Professor catedrático de Direito Internacional Publico,após brilhante concurso. Lecionou no Liceu Maranhense (tradicional escola pública da cidade), na Escola Técnica de Comércio Centro Caixeiral e na Academia do Comércio. Quando da criação da faculdade de Filosofia de São Luis ingressou como Professor Fundador do Curso de Geografia e História, na Cadeira de Geografia Humana (1953). Lecionou diversas dsiciplinas do Curso de Geografia e História à proporção que era desdobradas: Geografia Politica, Biogeografia, Introdução ao Estudo da Geografia, e outras que se faziam necessárias.Permaneceu como professor até 1972; após a criação da UFMA, por força da reforma administraiva, foi exigido que pertencesse a um único Departamento, optou pelo Departamento de Direito. Como administrador cultural, demonstrou competência realizando importante trabalho como membro do Conselho Estadual de Cultura, delegado do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, diretor do Teatro Arthur Azevedo e do Departamento de Cultura da Secretaria de Estado de Educação e como presidente da Fundação Cultural do Maranhão de 1975 a 1979, quando reestruturou o Arquivo Público do Estado e viabilizou a criação do Museu Histórico da cidade da vizinha Alcântara42. Ocupou diversos cargos: Procurador do Estado do Maranhão; Diretor do departamento de Cultura do estado; Procurador fiscal da Prefeitura Municipal de São Luis; Chefe da seção Administr5ativa e deleggado Regional do IBGE; Membro da Academia Maranhense de Letras; Membro da Comissão Nacional de Folclore; do Conselho Rgional de Geografia. No IHGM ocupou a presidência de 1957 a 1961. Casado com Ivete Viveiros, de tradicional família maranhense, deixou os filhos Flavia Teresa, Luis Fernando, e Jorge Henrique. Contribuiu com importantes trabalhos que vem servindo de base para pesquisadores: A linguagem popular do Maranhão (1953); Festa do Divino espírito Santo no Maranhão (1955); Folclore Negro (1955); o Negro 41

OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_s__cios_-_ocupantes_-_vo

http://www.culturapopular.ma.gov.br/biografias2.php?id=5

http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/o-poetico-diz--curso-do-escritor-natalino-salgado-filho-5414.htm 42 REIS, Eliana Tavares dos. EM NOME DA "CULTURA": PORTA-VOZES, MEDIAÇÃO E REFERENCIAIS DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO MARANHÃO. Soc. estado. vol.25 no.3 Brasília Sept./Dec. 2010 http://dx.doi.org/10.1590/S010269922010000300005, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922010000300005


na poesia brasileira (1956); Nina Rodrigues (1956); Breva história das ruas e praças de São Luis (1952); a escravidão negra no Maranhão (1961); Estudos geográfisoc do Maranhão (1961) Faleceu em São Luis em 11 de setembro de 1981. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM RELAÇÃO DE CARTAS GEOGRÁFICAS DO MARANHÃO Rev. IHGM, Ano 28, n. 3, agosto de 1951 03-10 Os mortos do Instituto, Revista do IHGM 3, 1951 SUPERSTIÇÕES LIGADAS AO PARTO E À VIDA INFANTIL Ano IV, n. 4, junho de 1952 41-46 O CULTO VUDOU: IDENTIFICAÇÕES EM SÃO LUÍS E NO HAITI Ano IV, n. 4, junho de 1952 90-92 ESTUDOS GEOGRÁFICOS DO MARANHÃO Ano IV, n. 5, dezembro de 1952 25-47 ANTONIO LOPES Ano IV, n. 5, dezembro de 1952 122-125 A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO43 Domingos Vieira Filho A festa do Divino Espírito Santo tem ainda, como antigamente, uma alta significação na vida dos pretos de S. Luís e de Alcântara, os dois logares do Estado onde é celebrada com esplendor. Os devotos do Divino contam-se às centenas e, em sua maioria, descendem dos velhos africanos que vieram para o Brasil nas rotas sinistras do tráfico. Velhas de carapinha de algodão e rosto pregueado, cafusas esbeltas, esplêndidas vênus hotentotes, negras robustas da robustez dos Minas, mulatas sagicas e lestas, crioulos possantes, vária e profusa multidão que conserva carinhosamente a tradição do Divino. Em Alcântara, a outrora faustosa cidade de barões e doutores, a festa do Divino é realizada com certa pompa, atraindo gente de S. Luís e dos sítios vizinhos, que ali chega para se divertir no curso de três longos dias. É o festejo máximo do logar, só igualado pelo de N.S. do Livramento, na ilha defronte. Alcântara, a bem dizer, encerra escasso interêsse turístico, apesar de ter sido considerada cidade-monumento. Afora uns sobrados magníficos, de soberbo azulejo português, o que tem de bom são uns ares saudáveis e uns camarões deliciosos. É uma cidade abandonada, melancólica, vivendo do passado, cercada de ruinas magestosas de um tempo de prosperidade e de glória. Tudo ali ressumbra a coisas mortas e os próprios habitantes, apáticos, um ar de tristeza colado aos rostos envelhecidos, parecem comparsas de um dramav terrível. Vivem da pesca ou do arrastamento do camarão e muitos trabalham nas salinas, manchando a brancura do sal de silhuetas negras e bronzeadas. Mas, por ocasião da festa do Divino, Alcântara renasce, vibra, relembra seus aureos tempos. Os romeiros demandam a cidade fronteiriça em frágeis canoas escoteiras ou em pesadas lanchas, desafiando a fúria do boqueirão e da cêrca, para injetar, por algumas horas, sangue novo naquele burgo morto. À semelhança do que acontece em S. Luís, muito antes da festa, percorre as ruas de Alcântara o chamado “barulho” do Divino, bando precatório para angariar donativos. Duas ou três pretas velhas batendo “caixas”, uma menina levando numa salva de prata a pombinha do Divino, uma outra com uma bandeira imperial, eis a comparsaria do “barulho”. O devoto, ao dar o óbulo, beija respeitosamente a pombinha ou coloca a salva sobre a cabeça para que fique abençoado. As mães fazem o mesmo com os filhas pequenos a-fim-de que tomem juíso. A respeito do “barulho” do Divino corre em Alcântara esta lenda: Certa vez saiu um “barulho” a tirar esmolas e alcançou uma próspera fazenda, cujo dono era mais forreta do que Harpagon. O “barulho”, ao se aproximar, ruflando as “caixas” , foi logo dispersado a páu por um magote de escravos. Houve pancada de cego e a muito custo conseguiu o “barulho” escapar à fúria sangrenta dos pretos. O castigo, porém, não tardou. Na fazenda coisas estranhas se verificaram. Mal desconhecido acometia os bois, matando-os em segundos. Galinhas, patos, perús, tôdas as aves do opulento terreiro, estrebuchavam de papo prô ar e morriam misteriosamente 44. Nas plantações o estrago não era menor. Pés de cana e de mandioca crestavam de repente, como se estivessem sob a ação de atroz soalheira. Cacimbas secavam, rachando a terra. O sumitico fazendeiro, alarmado, a alma em fiapos, mandou positivos ao encalço do bando, rogando aflitamente que voltasse para conjurar o mal. O “barulho” atendeu e as pragas imediatamente cessaram. É crença arraigada de que aquele que nega uma esmola ao “barulho” sofre duros castigos. 43

Boletim número 31 da Comissão Maranhense de Folclore, disponível em http://www.cmfolclore.ufma.br/arquivos/d084f5d7d202483daaa4b74bf86fd26c.pdf , acessado em 27 de março de 2014. 44 Reprodução literal de texto da Revista da Academia Maranhense de Letras, volume IX, publicada em maio de 1954, em São Luís-MA. Texto localizado por Antônio Evaldo Barros.


Em S. Luís, todos os anos, assistimos a diversas festas do Divino. As mais famosas são a da Casa das Minas e de Nagô, organizada pelas devotas do culto fetichista, e de d. Elsa Sousa, na Vila Passos. Além dessas, arrolamos outras festas do Divino no Areal, no candomblé de D. Inez, na Floresta, no João Paulo e no Anil 45. A festa que vamos descrever foi realizada em 1948, na casa de d. Elsa Sousa, na Vila Passos. Esse subúrbio de S. Luís abriga em suas casinhas modestas uma multidão de operários, lavadeiras, pescadores, artesãos, gente miuda e simples, honrada e laboriosa. Em casa da festeira inicia-se a abertura das “tribunas” (tronos) do “império”. Mordomos, caixeiras, impérios, aias, bandeirinhas, todos estão presentes. Escolhido o local onde ficará assentado o trono, as caixas rompem num batido sêco, alternado com louvores ao Divino: Meu Divino Espírito Santo Eu já vim no seu chamado Na vossa salva encontrei Cravo branco desfolhado. Que pombo branco é aquele A lua cobriu de véu É Divino Espírito Santo Que vem descendo do céu. Nos domingos que medeiam entre o sábado da aleluia e a quinta-feira da Ascenção as caixas ruflam em honra ao Divino. Sucedem-se cânticos de louvores em vozes prolongadas e monotonas, numa toada tristonha e envolvente: Se Espírito Santo soubesse Quando era vosso dia Descia do céu a terra Com prazer alegria. Caixeira queira saber Que côr tem Espírito Santo Tem os pés, bico encarnado Seu corpinho todo branco. Andreza Maria era a famosa dona do terreiro das Minas, estudado por Nunes Pereira, em “A Casa das Minas” (Rio, 1948). Morreu há pouco, cremos que nonagenária. Difícil afirmar se o culto fetichista da rua de S. Pantaleão resistirá ao tempo. Andreza Maria era um símbolo de firmesa, constância e lealdade ao substratum animico dos descendentes dos africanos, vozes que lentamente vão emudecendo... Meu Divino Espírito Santo Quem é vós e quem sou eu Sou uma pobre pecadora E vós é um senhor meu Na véspera da Ascenção o movimento intensifica-se na casa da festa. É o dia do levantamento do tradicional mastro. Os que vão tirá-lo a um sítio próximo seguem em bando álacre e colorido, acompanhados dos impérios, devotos, convidados e crianças vadias das redondezas. Preparado convenientemente o mostro, os padrinhos batizam-no com vinho tinto. Enfeitado de ramos de murta, côcos, bananas, jacas e garrafas de guaraná e aguardente, o mastro é solenemente erguido entre exclamações de júbilo e gritos de triunfo. Nas vésperas do grande dia os interessados na festa trabalham febrilmente. Mãos diligentes e hábeis não pousam um instante siquer no afã de concluir as vestes imperiais. Doceiras negras, rechochudas e luzidias, de excelente paladar, capricham no fabrico de alfinins, capelas, suspiros, nãome-toques, papos de anjo, amêndoas, pudins deliciosos, bolo inglês, um mundo de gulodices. Meninotas risonhas, 45

Noticiando a festa do Espírito Santo, um jornal de S. Luís, “O Imparcial”, ed. de 25-6-1949, screveu: “Promovida pelas senhoras Romana Campos e Andreza Maria Ramos, realizar-se-á, amanhã e depois, durante o dia e à noite, animado festejo em honra do Espírito Santo. “Às 8:30 horas, será celebrada missa na igreja do Carmo, seguindo depois, dali para a rua Senador Costa Rodrigues, 876, pequena procissão do Divino Espírito Santo, com acompanhamento de caixa. Durante o dia naquele local, haverá toque de caixa, com a presença de grande número de fiéis, sendo, à noite, rezada ladainha, depois do que será servida farta mesa de doces aos presentes”.


flores mal despertas para o grave mistério da vida, trauteam estribilhos populares e recortam com mãos macias de fada mil enfeites de papel de seda. Arabescos caprichosos, rendilhados que lembram lavores espanhóis, pequeno e sugestivo capítulo de uma arte que aos pouco vai desaparecendo sem protesto. No domínio das caixeiras a azáfama não é menor. As caixas são espanadas e repintadas e passam horas ao sol, para afinar. Quinta-feira da Ascenção celebram a primeira missa. Os impérios são coroados com grande pompa e todos os que assistem a cerimônia trajam obrigatoriamente roupas brancas. Chega afinal o grande dia, o domingo do Espírito Santo. Missa festiva é mandada celebrar pelo imperador. Em casa, ficam os que de todo não podem sair, presos aos misteres da cozinha ou na varanda, arrumando a mesa de doces. Foguetes anunciam a proximidade do bando imperial, de volta da missa. Há uma disputa de logares às janelas. O cortejo surge na volta da rua de terra batida. Agora ouvem-se palmas e vivas em honra dos “impérios” que transpõem garbosos os portais da casa. Penetram enfim na sala do santuário, onde estão os tronos. Desaba sôbre êles um clamor de feira, que aos poucos se avoluma, faz coro com o batecum das caixas. Domina todos os corações o insopitado desejo de ver de perto os “impérios”. O ar torna-se irrespirável. Mulatas gordalhonas, metidas em amplos casacões suarentas e agitadas, praguejam contra molecotes que passam agachados por entre suas saias rendadas e tesas de goma. “Credo! Te esconjuro diabo! Era só o que faltava”. Por fim o zum-zum serena, quebra de força, morre lentamente. Os logares, às janelas e portas, nos escarninhos da sala, estão assegurados. Em meio ao momentâneo silêncio uma exclamação de júbilo corta o ar. “Tá um amor a imperatriz! Benzate Deus!” As caixeiras vibram as marretas e iniciam um baile de roda, exalçando as virtudes dos “impérios”. Destaca-se uma do círculo, dá dois passos para a frente e dois para trás e canta: O meu nobre imperador Como vai sua família Como vai, como passou A minha boa ficou. Lá vai o pombo avoando No bico leva uma flor Vai voando e vai dizendo Viva o nosso imperador. Outra caixeira toma o lugar da primeira e louva: O meu nobre imperador Olhos de estrela do norte O Divino Espírito Santo Queira lhe dar boa sorte. Sintinela brada as armas Sintinela alerta estou Sou um soldado cativo Meu general me mandou. Segue-se ainda outra, ritmando seu canto com o toque da caixa: Se esta rua fôsse minha Eu mandava ladriar Com pedrinhas de brilhante Prô impero passear. O meu nobre imperador É criança, qué brincar Vamos fazer um brinquedo Debaixo do tribunal 46. Bailam tôdas em seguida, cadenciadamente. E cantam quadros de louvor aos “impérios” que, nos tronos, sonolentos e maçados, ouvem com resignação de mártir: Minha nobre imperatriz Olhos de pedra redonda É a pedra mais bonita Aonde o mar camba as ondas 46

O tribunal é o mesmo trono a que também chamam de tribuna. O trono ricamente ornamentado de arminhos e festões prateados, cortinas rendadas e mica em pó. Gastam nessa brincadeira economias de longos meses. O essencial, para êles, é que a festa alcance brilho desusado e encha de inveja as festeiras de outras localidades.


Minha nobre imperatriz É menina não é moça Ela tem um sinal preto Na sua maçã do rosto. Minha nobre imperatriz Viva os anos que desejo Depois dos anos completo No reino do céu se veja. Lá vai o pombo voando Por cima da matriz Vai voando e vai dizendo Viva a nossa imperatriz. Mais que rua tão comprida Toda cheia de pedrinhas Se não fosse imperatriz Nessa rua eu não vinha. Minha nobre imperatriz É a flor do girassol Quem se encosta na sua sombra Não panha chuva nem sol. As horas passam e os “impérios” têm pressa em sorver o chocolate que lá na varanda, grosso e aromático, espicaça o apetite da meninada. Finalmente as caixeiras param de bailar, os convidados abancam-se para o chocolate e os “impérios” são conduzidos à varanda, para presidirem à inocente colação. Ao meio dia há uma corrida pros lados do quintal, onde está fincado o mastro. É a alvorada, como dizem. Convidados, caixeiras, “impérios”, fazem todos um circulo em torno do mastro e as caixas estrondam em uníssono, numa atoarda ensurdecedora. “Viva o Divino!” “Vivôôô!” As caixeiras cantam: Meu Divino Espírito Santo Alegrai vossa folia Hoje é a vossa véspera Amanhã é o vosso dia. Espírito Santo e Deus Ninguém queira duvidar Em toda parte que chega Faz o povo se alegrar O Divino pede esmola Mas não é por merecer É para experimentar Quem seu devoto quer ser. Nesse momento há a prisão de vários convidados. Consiste a amarração ao mastro ou prisão, em colocar a vítima ao lado do mastro e cercá-la de caixeiras. Se não pagar assume proporções de herói e é louvado em seus atributos físicos e morais em quadrinhos improvisadas na hora. Finda a alvorada e recolhidas as multas dos presos os convidados se preparam para o almoço que lembra um festim medieval, tal a cópia de vitualhas que atulham a mesa. A bebida corre silenciosa, sem perturbar ao ânimos. Vinho tinto, guaraná e aguardente da terra, bebida em copos ou em cuais do Pará, artisticamente trabalhadas. À tardinha verifica-se o bailado das caixeiras. Diante dos impérios bailam graciosamente, cantando e batendo nas caixas: Caixeira que está dansando Não me pise no meu pé Eu não quero ser chamada No fuchico de mulher. Vamos por aqui andando Ao redor desta beleza Quem quizer trocar eu troco Alegria com tristesa. Alegria com tristesa Não tem quem queira trocar


Alegria me faz rir, Tristeza me faz chorar. Eu não tenho alegria Tristesa comigo mora Quando eu tiver alegria Botarei tristesa fóra. Pela noite, depois da ladainha, a folia do Divino adquire novo sentido. Um véu profano como que cobre lentamente as almas. Os músicos rompem nos primeiros acordes. Pés movimentam-se em rodopios frenéticos, corpos estremecem em frenesi de coreicos, é o samba quente e sacudido, invadindo os corações das mocinhas sonhadoras e dos galãs endomingados. Velhos atavismos despertam de súbito, há uma fervura de sangue, uma alegria ruidosa e contagiante. O ar adensa-se com as respirações ansiosas, o cheiro forte de corpos suados e vibrantes... Mas como diria Kipling, isto já é outra história... NOTA : - Êste trabalho foi ampliado e corrigido segundo informações de d. Elsa Silva, festeira do Divino. Houve profunda alteração na disposição das quadras que, no trabalho primitivo aparecem em outro local.


DILU MELO47

Patrona da Cadeira 29 da ALL Maria de Lourdes Argollo Oliver, mais conhecida pelo nome artístico Dilu Melo, nasceu em Viana, a 25 de setembro de 1913 ou 191148, e faleceu no Rio de Janeiro em 24 de abril de 2000. Foi uma cantora, compositora, instrumentista e folclorista brasileira. Precoce, começou a estudar música e violino aos cinco anos de idade, , ainda na cidade natal, com o maestro Miguel Dias. Aos nove anos, iniciou seu aprendizado de violão com sua mãe D. Nenê e de piano com a professora Elizéne D'Ambrósio. Aos 10 anos, compôs sua primeira obra, uma valsinha intitulada "Heloísa", em homenagem à sua irmã mais nova. Em 1922 mudou-se com a família para o Rio Grande do Sul e já no ano seguinte, aos doze anos, fez um concerto no famoso Teatro Colon de Buenos Aires, acompanhada pelo pianista também precoce, Angelito Martinez. Como prêmio do governo argentino, os dois receberam patrocínio para uma série de apresentações por diversas cidades daquele país. Três anos depois, em 1925, concluiu o curso de violino no Conservatório de Porto Alegre, conquistando uma medalha de ouro pela impressionante técnica adquirida. Casou-se em 1930 com o Engenheiro Carlos Rodrigues de Melo, união que durou pouco mais de dois anos. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1936, aos 25 anos, onde se formou em canto lírico. No Teatro Municipal, participou das montagens das óperas La Bohème, Um Ballo in Maschera e Vida de Jesus, mas, cativada pelas canções dos tropeiros gaúchos, decidiu abandonar sua formação clássica para dedicar-se inteiramente às músicas regionais. Em 1938, estreou na Rádio Cruzeiro do Sul e, no ano seguinte, compunha, em parceria com Ovídio Chaves, a toada Fiz a Cama na Varanda, por ela gravada em 1941, na Continental, com enorme sucesso. Essa música foi relançada mais tarde por Inezita Barroso, Dóris Monteiro, Nara Leão, Cantores de Ébano, diversos conjuntos de rock e regravada na França, em versão. Abraçando a música popular, com o nome artístico de Dilú Mello, não demorou a chamar a atenção do Maestro Martinez Grau - que a levou para a Rádio Cruzeiro do Sul -, surgindo daí o convite para cantar em São Paulo e gravar o primeiro disco com duas músicas de sua autoria: “Engenho D’água” e “Coco Babaçu.” Influenciada por Antenógenes Silva, comprou um acordeom e passou a apresentar-se na então famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conquistando fama em todo o país. Sempre acompanhada do acordeom, Dilú percorreu o Brasil de ponta a ponta. Países como o Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Peru também se renderam aos seus talentos. Na década de 1950, apresentou-se pelo continente europeu, recebendo veemente elogios da imprensa italiana e portuguesa. Em 1944, registrou em disco a valsinha brejeira Lá na Serra, de Capiba, que se tornou sucesso nacional. Em 1958, gravou de Altamiro Carrilho e Armando Nunes, o xote "Nos velhos tempos". Autora de mais de cem músicas. Entre seus intérpretes estão Ademilde Fonseca, Amália Rodrigues, Carmen Costa, Nara Leão, Fagner, Clara Nunes, Marlene e Dóris Monteiro. 47

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dilu_Melo DILU MELO, A SANFONEIRA MARANHENSE, disponível em http://www.luizberto.com/a-coluna-de-raimundo-floriano/dilu-melo-a-sanfoneira-maranhense http://www.dicionariompb.com.br/dilu-melo/biografia AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Edição do autor. Rio de Janeiro, 1965. MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999. 48 por Luiz Alexandre Raposo in http://www.letras.com.br/#!biografia/dilu-melo


Multi-instrumentista, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita, harpa paraguaia, violão e viola caipira. Autora de 104 canções, teve suas músicas gravadas por grandes intérpretes, como Ademilde Fonseca, Carmem Costa, Carlos Galhardo, Cantores de Ébano, Dóris Monteiro, Marlene, Nara Leão, Clara Nunes, Marinês e sua gente, Zé Ramalho e tantos outros. Entre suas composições mais famosas destacam-se: Fiz a cama na varanda, Saudades do Maranhão, Meu Cariri, Qual o valor da sanfona, Redinha de algodão, Conceição da praia, Meu barraco, Telegrama, Maravia, Candelabro, As coisas erradas do mundo, Meia-canha, entre outras. Apaixonada pelas crianças, Dilú dedicou parte de seus talentos artísticos à infância brasileira, gravando discos com fábulas e historinhas ou escrevendo peças de teatro voltadas exclusivamente para o público infantil. Entre tais peças, encenadas por diversas temporadas nos teatros cariocas, figuram: O baile das tartaruguinhas, O bigurrilho e a princesinha de ouro, Cada criança é uma canção, Uma festa no céu, Festival de palhaços, O sapo dourado (opereta infantil) etc. Pesquisadora do folclore brasileiro, além de pianista, violonista e harpista, viajou por todo o Brasil, divulgando seu repertório. Afastou-se da vida artística depois de 25 anos de carreira, mas ainda gravou um LP na Odeon e outro na Som. Dilú Mello faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, no dia 26 de abril de 2000. Seus restos mortais encontramse sepultados no Cemitério do Catumbi. Discografia: Engenho d'água/Coco babaçu (1938); Fiz a cama na varanda/Sapo cururu (1944); Cesário/Planta milho (1945); Menino dos olhos tristes/Coisas do Rio Grande (1945); Lá na serra/Qual o valor da sanfona (1949); Recordando os pagos/As coisas erradas do mundo (1950); Maravia/Tudo é verdade (1952); Redinha de algodão/Meia canha (1952); Carta a Papai Noel/Tempinho bom (1952); Sans souci/Os 10 mandamentos do sanfoneiro (1954). FIZ A CAMA NA VARANDA49 Dilu Mello e Ovídio Chaves Fiz a cama na varanda, me esqueci do cobertor. Deu um vento na roseira (ai, meus cuidados) Me cobriu todo de flor. Menina, minha menina, ai, Não faça assim como eu Que vivo morto de pena, Porque ninguém me escolheu. Fiz a cama na varanda, Me deitei pensando em ti, Deu um vento na roseira (ai, meus cuidados) E eu, de sono, me esqueci.

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http://letras.mus.br/dilu-mello-ovidio-chaves/760592/ http://www.letras.com.br/#!dilu-melo


LUCY DE JESUS TEIXEIRA

Patrona da Cadeira 34 da ALL Academia Maranhense de Letras, Cadeira 7 Por CERES COSTA FERNANDES50 Lucy Teixeira (11.7.22 – 7.7.2007), foi a quinta mulher a transpor os umbrais da Casa de Antonio Lobo, embora nela encontrasse apenas duas confreiras: a romancista Conceição Aboud e a poeta e prosadora Dagmar Desterro, que tomara posse em 1974, as duas primeiras acadêmicas já eram falecidas, tal o espaço de tempo entre a admissão de cada uma delas. Lucy ocupou a Cadeira nº 7, tendo como patrono Gentil Braga, sendo recebida por José Sarney, em 28.7.79. O ALUMBRAMENTO QUE EU TIVE A primeira vez em que encontrei Lucy Teixeira foi no dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras, em 1979 – tempo em que eu nem sonhava em pertencer à AML. Conheci-a, apenas, de longe, sem que ninguém ma apresentasse. Achei imediatamente que ela só poderia chamar-se Lucy, o nome, curto, leve, estrangeirado, me pareceu perfeitamente apropriado àquela mulher miúda e vivaz. Nessa ocasião, a admiração e o respeito impediram-me de aproximar-me para cumprimentá-la, e perdi assim uns 15 anos. Por longo tempo não mais encontrei Lucy. Mulher cosmopolita, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e os países Bélgica, Espanha e Itália eram sua morada. Em São Luís, tinha apartamento cativo no Panorama Palace Hotel e, por fim, no hotel Pestana São Luís, para suas longas temporadas de retorno às origens. Finalmente, em outro evento da Academia, fomos finalmente apresentadas e aí descobrimos uma série de coincidências a nos ligar. De conversa em conversa descobrimos que ambas moramos durante muitos anos na ladeira da Montanha Russa, em épocas distintas, e que ela conheceu e conviveu com duas pessoas marcantes na minha vida, meu pai e minha sogra. UMA MULHER À FRENTE DE SEU TEMPO Na ocasião de sua posse, não conhecia sua obra, apenas soubera de sua trajetória e já era sua fã. Ouvi falar de seu espírito rebelde na siciliana São Luís dos anos 40. Diziam que se vestia como bem entendia (costume que conservou até na velhice), andava com rapazes metidos a intelectuais e que usava tênis(!) em reuniões sociais.Um escândalo, convenhamos. Ouvindo-a discursar, relembrei a sua permanência em Minas Gerais, quando ela, em 1948, bacharelou-se em Direito, em Belo Horizonte. Lá, freqüentava o grupo composto de ninguém menos que Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Murilo Rubião, numa intensa troca literária. Escrevia para o Jornal do Brasil e Correio da Manhã e recebeu prêmios conquistados em concursos literários de âmbito nacional. De volta a São Luís, na segunda metade dos anos 40, para assumir um cargo no Tribunal de Justiça do Maranhão, vem de posse de imensa bagagem literária e intelectual. E, naturalmente, engaja-se no movimento pela renovação da literatura maranhense. O PAPEL DE LUCY NA RENOVAÇÃO DA LITERATURA MARANHENSE A literatura maranhense, na segunda metade dos anos 40 - pelo que se vê publicado nos jornais e pelos livros editados –, incensava o Parnasianismo e ignorava as novas tendências que agitavam o Sul do país. .Atribui-se a Bandeira Tribuzi, recém chegado da Europa, a tarefa de iniciar os maranhenses na nova estética, apresentada na profissão de fé do seu livro Alguma existência (1948). 50

FERNANDES, Ceres Costa. A ACADÊMICA LUCY TEIXEIRA. Correspondencia pessoal, recebida em 24/03/2014: “Caro Leopoldo, Encaminho, conforme seu pedido, o meu artigo sobre Lucy Teixeira e Conceição Aboud, publicado no livro comemorativo do Centenário da AML. Espero que ajude em alguma coisa. Um abraço, Ceres.”


É nessa ocasião que Lucy, como já foi dito, mulher cosmopolita, informada, advinda da convivência com a nata da literatura mineira, em dia com as mais modernas tendências, retorna a São Luís. Participa do grupo da Movelaria Guanabara, ao lado de Ferreira Gullar – que confessa ter sido ela a primeira leitora da Luta Corporal (1949) -, Bandeira Tribuzi, José Sarney e Odylo Costa, filho. Sempre inovadora, escreveu poesia, contos e fez critica literária em O Imparcial Assinava uma coluna de crônicas sob o pseudônimo de Maria Karla. Como uma pequena amostra do pensamento moderno, de Lucy transcrevo parte de uma análise da poesia de Marcos Konder Reis, feita por ela, em 1949, em O Imparcial: “Mas é necessário perguntar: qual o sentido do místico na obra do jovem poeta? Observemos, em primeiro lugar que a misticidade fornece a Marcos Konder Reis uma ‘tristeza mansa’, evanescente, meio vaga como que oriunda de zona intermediária, apaziguadora dos conflitos entre o anjo e o demônio. Daí notar-se não a raiva de não ser divino( o que seria próprio de um místico sem Deus) mas certo desânimo, assim visível no soneto etc... .

Esse tipo de crítica não se assemelha a nenhuma das críticas feitas pelos escritores da terrinha.Vejam só, isso em 1949!. Talvez a pouca demora de Lucy nas plagas maranhenses, sempre partindo para novos vôos, seja a causa do desconhecimento do seu papel e importância na mudança dos rumos da literatura maranhense nos anos 40..O doutorado, em 1958, veio, por meio de uma bolsa de estudos do governo italiano. E lá se foi Lucy para a Itália. A tese resultante desse doutorado foi L´estetica Crociana e l´Arte Contemporanea . NO TEMPO DOS ALAMARES... Quando Lucy lançou, em 1999, o livro de contos “No tempo dos alamares e outros sortilégios” no espaço familiar da Academia Maranhense de Letras, fui, ansiosa por conhecer o que ela escrevera e participar da festa literária. Mal cheguei de volta a casa, me lanço à leitura do pequeno volume. Reproduzo o que disse na ocasião, vale a pena relembrar: “Sou tomada de sentimentos vários: estranhamento, prazer estético e um certo desconcerto. Se o jeito de menina travessa, com um certo ar moleque combina perfeitamente com o nome ligeiro, um tanto coquete, o texto que se me apresenta, representação do eu poético de Lucy, discorda de ambos. É um texto maduro e denso como uma estrela anã. Embora os significantes, fluindo em ondas como notas de uma pauta musical, nos passem, por vezes, uma sensação de leveza, até de superficialidade, vê-se que isso é apenas um artifício enganoso engendrado por Lucy para atrair-nos, tal qual o flautista de Hamelin, no seguimento do seu texto. Apanhados por seu sortilégio, já sem desejo de volta, somos tomados pelo redemoinho do significado que nos suga a uma profundidade da qual não podemos/ queremos fugir. Que difícil é analisar Lucy! Seu texto é rebelde a classificações. Sobre esses contos nos diz Ferreira Gullar: “Lucy trilha o caminho aberto por Virgínia Woolf e seguido por Clarice Lispector, mas sem com elas se confundir”. Continuo com a minha análise: sobre o texto de Lucy, dizem-no da linha intimista de Clarice, mas há muito mais a dizer. E sensato seria apenas deixar-nos embalar por ele e fruir do seu prazer como nos aconselha Roland Barthes. Mas como, se ele nos desafia, instiga? Começaremos por dizer que ele não é uno (e esse é mais um ingrediente de sua fascinação). Ora se mostra em contos engendrados com um leve fio narrativo não-linear, mas que sempre nos contam histórias, como “Companheiros no Exílio”, “Com Água Tofana” ou “Nusch”. Ora o fio, por vezes fragmentado (como convém ao fluir do inconsciente), empenha-se em rebordar os alamares, indo e voltando - agulha de máquina desenhando labirintos na fazenda – construindo “Recordações de Amelinda” e “Meu Lindo Amor”. Ora faz poesia pura, como em “O Convalescente Amoroso”, Cântico dos Cânticos pós-moderno – a fala do Esposo transparecendo em palimpsesto: “A manhã é alta demais para a minha desenvoltura, mas ninguém ousaria afirmar que não caberias em meus braços, oh! beleza! és tu, íntima da grama do jardim onde tua cabeça, rolando, assusta as margaridas. Desejo ficar louco varrido para sair caçando borboletas para você”...

Seu perfil navalhou de beleza o vestíbulo. Ou pequenos jasmins se abrem na minha garganta. Com frases como estas, Lucy inventa e desinventa o código lingüístico, brindando-nos com o inesperado. Suas imagens e metáforas estalam de novas. Quentinhas, parecem ter sido apanhadas, agora mesmo, da massa estelar à disposição dos poetas e modeladas ao jeito de Lucy”.


O TESOURO OCULTO DE LUCY Em outro instante de prosa, há o Romance Um destino provisório, exemplo de domínio técnico da estrutura romanesca, prosa enxuta e escorreita, por vezes pura poesia, jóia de delicadeza e vigor. Na poesia temos o Primeiro Palimpsesto, São Luís SIOGE, 1978, e a sua Elegia fundamental, Rio de Janeiro, Atelier das Arte, 1962 Poema da dor filial transfigurada em beleza, é reconhecidamente dos melhores da literatura brasileira. São obras de características diversas, ricas, multifacetadas. Difícil rotulá-las. Mas há uma pista, um indício que, se seguido, nos faz chegar sempre a Lucy: a recusa ao aprisionamento do pensamento, com opção pela felicidade e pela subversão seja ela de ordem política ou individual. Essa opção, porém, não se dá de forma tranqüila. A aprendizagem do parecer ao ser é dolorosa e, por vezes, voluntariamente, não se dá por conclusa. A obra de Lucy é como um baú enorme, pejado de riquezas de conteúdo pouco conhecido, nele há escritos consagrados e inéditos, há romances, poesias, contos, artigos escritos em jornais maranhenses e de todo o Brasil, peças teatrais, critica literária e de pintura ( que ela também é pintora).. Em qualquer lugar que se enfie a mão, traremos um punhado de jóias rutilantes. É ter disposição para a garimpagem. As surpresas que virão à luz darão a Lucy o lugar que é seu na literatura maranhense e brasileira. ELEGIA FUNDAMENTAL51 Metamorfose, os fundamentos da tua lógica São cimentados de lâminas vivas, Voraz, Vastíssima, cujos pés não vejo, as tuas normas em que ventre ou motor se organizaram?, pura dilaceração continuada. Obsessão cantando o seu nome initerrupto, nunca verei a tua face, negra e fulgurante, vagarosa e veloz, impiedosa coisa inabalável que me namora a coisa mais esplêndida; ainda não, prestidigitadora, a divertir-se já com o que me foi suave raiz cujo perfume queimo neste campo onde se luta uma lembrança. Começa o teu sigilado festim, enquanto as correias do ar, sustentam o pavilhão onde ficamos cada vez menos acariciados e gradualmente aturdidos. Começa o teu discurso, dragão, e cresta, e cresta onde em nós é que dói. _______________________________ Pela manhã ergue-se o ervatário indo colher no campo vagas ervas medicinais. Colhe a luz do teu sorriso, plantador cujas mãos, cobertas de anéis de areia 51

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lucy_teixeira.html

Miranda

e

publicada

em

setembro

de

2008.


agora possuem a Terra. (Elegia Fundamental / 1962)

PRIMEIRO PALIMPSESTO52 (para a cidade de São Luís e Ferreira Gullar) ...no adro da noite jovem e velhíssima abraçaram-se nossas ruínas azuis Corpos de terracota brasileira fragmentados aqui e ali calafetados de lichino ...mechas de fios que se embebia nas feridas profundas para as drenar nas saudades corroídas Teu nome é meu irmão no meio da noite do adro que flutua tuas mãos de repente acenaram renovado o sinal da louca cintilação quando sorríamos e as estrelas sussurravam São Luís Agora tua voz ceifa no campo devastado erguendo estátuas de som em nossas bocas enganosas enganadas na escuma da vida atravessei sem querer encontrando-me cheio de escuro com alucinados relâmpagos que atravessavam o teu rosto no meu rosto Teu soluço era seco Meu mar de palhas secas mas sólido de ausência São Luís a madrugar pelas esquinas esbatidas da memória Mas em abril ventos lendários desenhavam a Praça Gonçalves Dias das sete colinas de Roma .................................. "vamos morrer" não sabíamos que havia aino.a mel em nossos lábios me perdi me perdi numa etrúria enorme condenada a sobrecéus portáteis ao cair resvalando sem ser Rolando em Roncesvales Minha São Luís cristais pelo meu sangue me feri eis o cadáver para o qual contribuímos com fidelíssima obsessão quis levanta-lo uma duas vezes era de sombra era de eis-nos aqui quase miticamente em casa de Ana Letycia que não vai nem vem pela sala falando de Miquel Ângelo 52

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lucy_teixeira.html

Miranda

e

publicada

em

setembro

de

2008.


Ana Letycia com seu rosto de subterrâneas ternuras Passa como um veludo entre nós dois ..................................... (Primeiro Palimpsesto / 1978)


DILERCY ARAGÃO ADLER

Fundadora da Cadeira 8 da ALL Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Sociedade de Cultura Latina – Maranhão Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Maranhão Por Dinacy Corrêa53 Nasceu em São Vicente de Férrer, em 07 de julho de 1950). Graduada, em Psicologia. Professora universitária (Ceuma e UFMA – pela qual é aposentada). Mestre em Educação e Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP-Cuba) é, atualmente, professora de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Cândido Mendes do Maranhão (FACAM). Naturalmente voltada para a arte poética, ei-la que diz em uma entrevista: Em uma Antologia “A figueira” (1994), do nosso querido e grande poeta da Sociedade de Cultura Latina de Santa Catarina, Abel B. Pereira, ele solicitava aos integrantes (da antologia) que discorressem sobre a questão “porque escrevo poesia” e eu respondi [...]:“A poesia sempre se impôs à minha vida. Até a adolescência eu organizava cadernos cheios delas. Depois da Faculdade, deixei-a um “pouco de lado”. Mesmo assim ela se fazia presente. Mas, os escritos dessa época ficavam dispersos, sem lugar específico. Passados alguns anos, acho que não resisti ao seu poder de sedução e me rendi. “Crônicas & Poemas Róseos Gris” significa [...] “reconciliação” com a poesia que, aliás, sempre foi um dos grandes amores da minha vida (http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/dilercy-adler-entrevista/15.05.2009).

Agraciada com vários títulos e medalhas culturais, nacionais e internacionais, a professora/escritora é membro de entidades literárias, como: Comissione di lettura Internacionale da Edizioni Universum Trento-Itália; Academia Irajaense de letras e Artes – AILA (cadeira nº. 13), Academia de Letras Flor do ValeIpassu/São Paulo; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); Fundadora e integrante da Academia Ludovicence de Letras (ALL) entre outras. Dilercy Adler tem-se destacado no cenário literário atual, não somente por sua produção, como pelo incentivo que vem dando à cultura literária local, através de edições de antologias. Dentre as atividades desse nível, foi editora do livro Circuito de Poesia Maranhense (1996) e organizadora da exposição fotográfica sob o mesmo nome (1995). Também organizou e participou da I Coletânea poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão – Latinidade. Organizou e promoveu a edição da obra Mil Poemas para Gonçalves Dias (2012-comemorativa do centenário do poeta). Hoje, é presidente da Sociedade Cultural Latina do Maranhão (SCL/MA). Além de partícipe de muitas antologias poéticas, a maranhense tem publicados: Crônicas & Poemas Róseos Gris (1981), Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário (1997), Arte Despida (1999), Genesis – IV Livro (2000) e, recentemente, Desabafos... Flores de Plástico... Libido e Licores... Liquidificadores. Sua poesia, em geral, é de cunho lírico/amoroso, na abordagem de temas como a natureza e os sentimentos mais arrebatados, as agruras da paixão, a solidão, a saudade, o desejo, numa subjetividade e sentimentalismo exacerbados, em confidências amorosas do eu lírico, em laivos de fantasia e imaginação, no recriar de uma nova realidade. Vejamos: 53

CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).


NECESSIDADE DE TI – Eu te preciso tanto/ que me dói/ a tua ausência/ eu te preciso tanto/ que te queria sempre junto/ e a possibilidade/ de não ter-te/ me entristece/ me deprime/ me enlouquece!/ eu te preciso tanto/ e no entanto sinto/ que preciso/ não precisar assim de ti/ preciso sim/ - urgentemente para/ manter-me/ intacta e livre/ desvincularme de ti! (ADLER, 2000, p. 41). Embora a liberdade formal seja um marco característico em Dilercy Adler, na sua poesia fazem-se recorrentes certas palavras que colaboram na construção das imagens de saudade, solidão e morte, num eu-lírico como a suspirar, sofrer, chorar, pela ausência do amor, cuja impossibilidade traz sensações pungentes e dolorosas ao coração. Motivada pela convivência no exterior, em especial em países de língua espanhola, frases ou expressões da língua de Cervantes são frequentes nas suas composições, a partir dos títulos ou, às vezes, em poemas inteiros como em Siempre a tus pies, Solo para verte, Desvane(ando), A mi Tristán, La vida es solo un suspiro ahogado, Mulher de pedra de ChichenItza. Ei-la em: SIEMPRE A TUS PIES – “Siempre a tus pies”/ vou despir a minh’alma/ acercar-me com a calma/ de irrefreável desejo!/ “Siempre a tus pies”/ vou cobrir-te de estrelas/ aspirar teus suspiros/ um a um/ com meus beijos!/ “Siempre a tus pies”/ abraçar-me-ás inteira/ como a onda na areia/ numa dança sem igual!“Siempre a tus pies”/ derramarei sem pesar/ os meus dias/ os meus versos/ toda a minha saudade/ e o meu desejo de amar! (ADLER, 2000, p.52) Outro tema constante, na obra de Dilercy Adler, é o arrebatamento do amor carnal, da voluptuosidade, da libido, permanente na mulher apaixonada, como o demonstra o poema a seguir, em que se observa, também, a utilização de versos irregulares e livres, irregularmente dispostos no espaço poético. DESEJOS ESPÚRIOS – Estranha loucura/ nas ruas e becos/ entranhas e luas/ expostos nas vias/ esdrúxula mania/ de corpos e corpos/ que rolam/ copulam/ e calam/ angústia/ desejos/ instintos/ em buscas espúrias! (ADLER, 2000, p. 32) Informa Assis Brasil (1994)54 que, embora escrevendo poemas desde os bancos escolares – Escola Benedito Leite e Escola Estadual - Dilercy só participará, mais efetivamente, da vida literária, quando volta ao Maranhão, década de 90. Participou da Oficina Caderno de Poesia (1993/1994), Poematizando o Cotidiano, e Agenda 94. Sua estreia em livro é feita logo no começo de 1991, com Crônicas & Poemas Róseo-Gris: “Este é um livro sobre ELA/mas para ELE ler também!/ Aquí se fala/ do feminino, / O feminino em todos os seus modos/ de ser mulher!”. Continua, afirmando que, “Ao contrário do que se possa imaginar, os poemas de Dilercy não são amenos ou superficialmente sentimentais, mas trazem uma carga de vivência sensorial que ela transmuta em linguagem poética, a partir do objeto-corpo da mulher aos seus devaneios, delírios e sonhos eróticos. […]” (p. 295)

INCONTIDO PRAZER Escalas monte relva macia dia a dia! penetras a terra sal da vida e morte entre as pernas do tempo que leva ao vento vela vinho luz prazer de toda sorte!! dádiva divina dilúvio dúvida desatino 54

BRASIL, Assis, 1994; p. 295-299).


desaguando água no meu seio ... seio de sereia ... semente de mulher! elementos do universo que versam o meu corpo e te dão penoso prazer pelo esforço incontido que fazes para o ter! PESCARIA E POESIA Nem só de poesia vive o poeta também de peixe pescado pescaria sabor de mar sal cheiro verde ou de verdade maré alta e maresia! ISSO É TUDO... Tu me encantas quando acalenta o meu sonho no brilho dos teus olhos - eutal qual lua desnuda que se veste na aurora do dia e se despe inteira atendendo ao apelo imperioso do poderoso sol de abril... abril que se abre feliz e se fecha e não se diz... aí o encanto se desfaz em tons anis! lágrimas de luz seduz e diz de mim o que nem eu mesma sei só sei que tu me encantas quando acalentas o meu sonho no brilho dos teus olhos! e isso é tudo!....


A MORTE E O MORRER a morte ronda espreita enquanto o sonho descansa às vezes se sente eleita às vezes tudo a consome... a morte me leva amores me deixa dor desespero mas sei que ela é certeza o encontro com ela a encanta e para o mim é tristeza deixar a vida que amo e não ver crescer sementes de verde vermelho e vidas que amo e amarei sempre sempre! antes e depois dela nada se apagará e viverá -acreditoaqui ali acolá! para sempre eternamente no meu peito a navegar! EU - NAMORADA Namorada ada ando nadando nas águas revoltas do amor me afogo... me salvas ferrando afagos com fogo em brasa gosto salobro de amor vencido validade ultrapassada... mendigo o teu amor mesmo assim! soçobro


nas águas turbulentas do amor não te acho... me encontras no nada que é meu tudo - eu do amor enamorada - eu eterna namorada... sem teu amor - te juro não sou nada!


NA BERLINDA


LEOPOLDO GIL DULcIO VAz REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 10 – JULHO - 2018 SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER A GUARDA NEGRA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ZECA FLORIANO E AS ATIVIDADES ESPORTIVAS NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 30 + 70 = 100 ANOS A COMEMORAR... - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ POLITICAS PÚBLICAS DE LAZER E SOCIEDADE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DEPOIMENTO À CANHOTO RIBEIRO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) “RES PRO PERSONA”: MAIS UMA NOTA SOBRE A CAPOEIRA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Mestre PATURI Mestre TIL Mestre ALBERTO EUZAMOR Mestre RUI Mestre SOCÓ Mestre INDIO DO MARANHÃO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES QUEM HABITAVA UÇAGUABA? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ÉTICA NO FUTEBOL - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO / SÃO LUIS/VINHAIS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM PASSEIO EM RECORTES SOBRE O LIVRO “ESCRITOS EM MIGALHAS” - JOABE ROCHA

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SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 11 – AGOSTO - 2018 SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER ECOS MARANHENSES DO “SPORT” - Uma apresentação para Leopoldo Vaz - por Victor Melo QUEM FOI O PIONEIRO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O LAZER DO TRABALHADOR NA INDÚSTRIA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO MEMÓRIA ORAL DOS ESPORTES, EDUCAÇÃO FÍSICA E LAZER MARANHENSE – 1930/1990 O LÚDICO E O MOVIMENTO NO MARANHÃO KARTÓDROMO DE IMPERATRIZ, 27 ANOS - EDMILSON SANCHES ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) 100 ANOS DE "FOOT-BALL" NO MARANHÃO FERNANDO DE NORONHA & ATLAS DA CAPOEIRA MARANHENSE ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO SOBRE A MATÉRIA "SEGREDO NÃO É PRA QUALQUER UM", JUCA REIS & FERNANDO DE NORONHA LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA MESTRE PIRRITA MESTRE JORGE NAVALHA MESTRE CURIÓ MESTRE BAÉ MESTRE GAVIÃO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES É ESSA A EDUCAÇÃO FÍSICA/ESPORTIVA QUE TEMOS? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE SÍTIO DO FÍSICO: PRIMEIRA ESCOLA TÉCNICA DO MARANHÃO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A FUNDAÇÃO DOS CLUBES ESPORTIVOS EM SÃO LUÍS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO, A FACULDADE DE DIREITO E A FUNDAÇÃO DO IHGM... - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A CONQUISTA DO MARANHÃO – FUNDAÇÃO DE MIGANVILLE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SOBRE TUPIS E TAPUIAS - - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 12 – SETEMBRO - 2018

SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER MEMÓRIA DO ESPORTE NO MARANHÃO A MARINHA E A CAPOEIRAGEM - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A PROFISSÃO “EDUCAÇÃO FÍSICA” – INCLUI O CAPOEIRA - Leopoldo Gil Dulcio Vaz INFLUENCIA MILITAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MIGUEL HOERHANN - PIONEIRO DA EDUCAÇÃO PHYSICA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA UEMA - JOSÉ NILSON ANDRADE; LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) ATLETAS OLIMPICOS MARANHENSES LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA CONTRAMESTRE SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA MESTRE ROBERTO MESTRE TUTCA

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MESTRE LUIZ SENZALA

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MESTRE MILITAR

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ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ - MESTRE BAÉ; LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DE BARREIRINHAS – MA: ao Zé Maria - da Casa da Farinha -, do Povoado de Tapuio LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE A ARTE DE CURAR NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SÃO LUIS OU VINHAIS VELHO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O PENSAMENTO DO JORGE BENTO ESCLARECIMENTO: PORQUE TOMO POSIÇÕES BALIZAS PARA A EDUCAÇÃO DO MANICÓMIO DAS MÉTRICAS, RANKINGS E QUEJANDOS PROFISSÃO DO FUTURO: OUVINTE

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PUBLICADO/DEPOSITADO NA BIBLIOTECA DO CEV

Indícios de Capoeiragem no Ceará Por: Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Atlas da Capeeiragem no Ceará.

Resumo Outro dia, pedi para entrar na Roda e desafiei Mestre Pezão, que refugou. Ao anunciar evento de Capoeira em Tianguá, postei uma história da Capoeira no Piauí, e Pezão disse não ter sentido, a publicação. Disse-lhe, então, que era para servir de exemplo, para o resgate da memória da capoeira no Ceará e, quem sabe, a construção do Atlas da Capoeira no Ceará – este o desafio!!! Em resposta, mandou-me uma lista de Mestres, que poderiam constituir o Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Ceará, a exemplo do que se faz no Maranhão Ver Arquivo (PDF)

http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/4040614.pdf

ATLAS DO ESPORTE NO CEARÁ CAPOEIRAGEM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual referindo-se a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf 1832 – a primeira referencia à prisão de um ‘capoeira’, conforme consta do Diário do Império, edição de 1832, seção correspondente aos acontecimentos no Ceará, certamente referentes às estatísticas do ano anterior:


1852 - A primeira referencia com a palavra ‘capoeira’ no Jornal ‘O Cearense”, que circulou de 1846 a 1891 - data de 1847; na edição de 04 de janeiro de 1952 de numero 20, refere-se à mato rasteiro, em uma poesia, que não identificamos o autor. As referencias seguintes também tratam de mato rasteiro... São 84 referencias nesse jornal, sendo a primeira, de capoeira como individuo praticante de uma luta, data de 1852 – “O Cearense”, edição de 17 de dezembro, n.588-, aparece nota sobre o alferes João Torres, que teria sofrido ataque de “um capoeira”:

1853 - Na edição de 13 de setembro de 1853, refere-se à artigo publicado em outro jornal, “Pedro II” – circulou de 1840 a 1889 - como era normal naquele tempo -, rebatendo notícia veiculada, referindo-se à ‘capoeira’, no seu sentido de denegrir outrem, como facinoroso:

1858 - edição de 28 de novembro, a nota – editorial – do jornal O Cearense, defendia-se do sr. João Silveira de Souza, publicada, também, no jornal “Pedro II”, chamando-o de ‘pobre capoeira”:


1859 - Em “O SOL”, de 05 de maio de 1859, acusa-se o Padre Carlos de prática de gestos semelhantes aos de um capoeira durante as missas:

1862 - ‘O CEARENSE’, em sua edição de 28 de outubro, publica carta de um leitor, da cidade de Santa Quitéria, relatando os acontecimentos políticos, refere-se a um cidadão a quem acusa ser ‘capoeira’, pelas injurias que assacava:


1863 - Novamente em ‘O Cearense’, na edição de 10 de novembro de 1863, consta:

- Já na “GAZETA OFFICIAL DO CEARÁ”, edição de 18 de novembro, consta o seguinte:


- Em 24 de novembro, em ‘O Cearense”, há uma resposta, com o mesmo título, à nota da “Gazeta Official, de 18 de novembro (acima),

1865 - Em “O Tagarella”, em sua edição de março traz-nos:

- Em “A Constituição” – circulou de ‘863 a 1889, de 23 de outubro de 1865 a referencia também é de malfeitor:


1866 - Voltamos a “O Cearense, edição de 12 de janeiro, em nota ‘de repudio’, contra o que fora publicado em outro jornal, pelo sr. Francisco Manoel Dias, taxando-o de ‘capoeira’

1868 - Nesse mesmo ‘O Cearense, edição de 22 de novembro, noticia de um assassinato em Indaiá:


1869 - Na edição de 12 de outubro de O Cearense, noticiado o assassinato de um capoeira, por sua mulher:

- Esse crime continua repercutindo na cidade, sendo que no relatório dos crimes do mês, também aparece, como Maria Mussu tendo assassinado a José Capoeira, no bairro do Livramento, da capital. Na edição de 16 de dezembro de 1869 dá-se mais detalhes, informando-se que José Capoeira chegara recentemente do Paraguai:

1871 - 23 de julho, publicado o seguinte diálogo, em O Cearense:


1872 - E derrubam-se ministros por meio de rasteiras e cabeçadas, conforme a edição de 30 de maio d’ O Cearense, sobre boatos publicados em A Reforma:

1874 - Em “O Pyrilampo”, de 15 de março, pedia-se que se ensinasse capoeira a alguns jornalistas:

- “O Cearense”, em sua edição de 24 de junho publica anúncio de fuga de um escravo, oferecendo-se recompensa; uma das características, era o andar de capoeira:


1876 - 16 de janeiro, em O Cearense, em correspondência da cidade de Ipu, Arthedouro Burgos de’Oliveira acusa ao juiz da cidade de o haver agredido, utilizando-se de golpes à moda de capoeira:

- A 13 de abril de 1876, também em O Cearense, em todas a pedido, do interior, um juiz, em suas decisões, contrariando interesses políticos, é comparado à ‘um capoeira”:

- Desta vez, e não é a primeira, um padre é chamado de ‘capoeira’, dada a sua truculência em tratar de seus paroquianos, também por divergências politicas, conforme o Cearense de 27 de agosto de 1876:


1880 - No jornal “A Gazeta do Norte”, do ano de 1880, edição 74, - circulou de 1880 a 1890 -aparece pela primeira vez o termo de busca ‘capoeira’, referindo-se à mato raso. Na edição de 07 de dezembro, n. 149, já se refere a facínoras,

1881 - Em “O Libertador” – órgão da Sociedade Cearense Libertadora, com edições de 1881 a 1889, na sua publicação de 17 de março de 1881, em sua sexta edição, ‘capoeira’ significando malfeitor e vagabundo. Temos a identificação de um capoeira, Júlio de Vasconcelos, português, de cor branca, preso por ser vagabundo e capoeira, embora redator de um jornal rival, O Cruzeiro:

- no jornal “Pedro II”, Noticias de crimes associavam o uso de facas à capoeiras, como malfeitores, aparecem em sua edição 84, de 1881:


- Em A GAZETA DO NORTE, edição de 28 de abril de 1881, um delegado de policia desafia os presos a jogar capoeira:

- O “Pedro !!” em sua edição de 27 de novembro de 1881 trás os instrumentos utilizados na capoeira – o cacete:

1882 - N’A GAZETA DO NORTE, edição de 7 de fevereiro de 1882, em resposta, novamente a designação de ‘capoeira’ a indivíduo sem caráter:


1886 - Em O Libertador de 12 de abril de 1886, ao noticiar a prisão de um Cearense, como era conhecido José Francisco das Chagas, de 20 anos de idade; é apresentada sua ficha criminal, com várias prisões, por vagabundagem, embriaguez e furto. Algumas dessas prisões, pelo exercício de capoeiragem, ou por capoeira:

1883

1887 - O Libertador, na edição de 18 de fevereiro de 1887, caracteriza um capoeira:


- O CEARENSE de 20 de julho de 1887 anuncia o recebimento do numero 13 de A Quinzena, e ao apresentar o sumário, um dos temas é ‘Capoeira”:

1888 - No “Constituição” de 10 de fevereiro de 1888, mais uma nota policial, envolvendo um capoeira:

1892 - O jornal “José de Alencar”, órgão do grêmio literário do mesmo nome, em sua edição de 16 de outubro de 1892, traz-nos umas memórias “do Torres”, escrito por Jubas Coréa; ao descreve-lo:


1893 - Em “A República” – fusão de O Libertador e Estado do Ceará, editado de 1892 a 1897, em sua edição de 28 de maio de 1893, refere-se a um tal de “Domingos Capoeira”:

1895 - N´A Republica de 10 de março de 1895, outra nota de uma agressão, sendo um dos contendores, um capoeira:

- Jornal “O Republicano”, de 28 de dezembro de 1895:


1904 - No “Jornal do Ceará, edição de 03 de agosto de 1904, também se refere à mato; na edição de 26 de agosto, noticia de um crime, ocorrido em Acaraú-Mirim:

1907 - O REBATE, traz:

1921 - No jornal “A Nota”, em sua edição de 30 de julho de 1921,


1928 - No “O Ceará”, de 30 de março de 1928, com o sentido de mato; na de 04 de abril, refere-se à navalha de um capoeira:

DÉCADA DE 1930 – Em “A Razão” – publicado de 1929 a 1938, na edição de 02 de outubro de 1930, refere-se à luta:

- Tem-se, como ponte de partida, no Ceará a participação do cearense Cisnando na constituição da Capoeira Regional de Mestre Bimba: Ele era um jovem que foi estudar Medicina na Bahia, pois na época não havia tal curso no Ceará. Lá conheceu Manoel dos Reis Machado, o famoso Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional. No documentário Mestre Bimba: A Capoeira Iluminada de 2007, o Mestre de Capoeira, Doutor Decânio fala sobre Cisnando e o início da Capoeira Regional.


Referindo-se a história da Capoeira de Bimba, ele diz: “A história começa para mim, quando Cisnando chega na Bahia. Ele corre aos capoeiristas, só encontrou um que ele respeitou, que era um negão, que era carvoeiro na Liberdade, que era Bimba” (sic).Cisnando foi um capoeirista que contribuiu para a história da Capoeira, mas infelizmente não desenvolveu trabalho no Ceará e até onde se sabe não formou discípulos.

FOTO: Bimba y Cisnando -FUENTE: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp020539.pdf

55 55

IMAGEM ENVIADA POR Javier Rubiera Cuervo rubierj@gmail.com, via correspondência eletrônica pessoal, em 07/08/2018, publicada na revista O CRUZEIRO de 14 de maio de 1955, O Cruzeiro : Revista (RJ) - 1928 a 1985 – disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/DocReaderMobile.aspx?bib=003581&pesq=Capoeira%20ceara


- José Cisnando Lima nasceu em 9 de Outubro de 1914, no Sítio Santa Rosa, Crato/CE. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1932, formando-se em 1937. Iniciou suas atividades profissionais em Sta. Bárbara/Ba. Regressou à sua terra natal, em 1943, clinicando em varias cidades do sul do estado até 1950, quando retornou a Sta. Bárbara/BA. Sonhador, empreendedor, apaixonado pela agricultura, trouxe colonos japoneses para incrementar as técnicas agrícolas em sua propriedade e foi pioneiro na irrigação das suas culturas, o que o conduziu à presidência do Sindicato Rural de Feira de Santana/BA. Eleito vereador em Feira de Santana, foi líder do partido situacionista neste município. Nomeado médico da Secretaria de Agricultura, foi requisitado paras a função de legista da Secretaria de Segurança Pública. Exerceu os cargos de Supervisor Estadual da Merenda Escolar e representante federal da Campanha Nacional para a Merenda Escolar. Eleito Presidente da Câmara Municipal de Feira de Santana, assumiu a Prefeitura local durante 4 meses por motivo de saúde do prefeito em exercício. Dois anos depois dedicou-se inteiramente à psiquiatria, fundando duas clínicas particulares para doentes mentais. Ensinou biologia no Colégio Santanópolis, no Instituto Guimarães e no Educandário da Casa São José. Aprendeu Jiu-jitsu com Takeo Yano antes de chegar a Salvador. Com Takamatsu, 5o dan da Shotokan e 2o da Kodokan, praticou e estudou o karatê. Um dos seus colonos japoneses o iniciou em Kendô e Bojitsu. A sua equipe de japoneses, oriunda da TakuDai, incluía Saito Masahiro, 2o dan pela Kodokan e 1o dan pela Shotokan, que ensinou Judô e Karatê no Spartan Gym de Dr. Geraldo Blandy Motta e no Gremio da Escola de Politécnica, com o qual também pratiquei as duas artes marciais. http://capoeiradabahia.portalcapoeira.com/dr-jos-qcisnandoq-lima-a-pedrafundamental-da-regional/ - Continuando com Nascimento (2017), este autor traz duas outras hipóteses da introdução da Capoeira: [...] outras narrativas existentes, alimentam a ideia de que, os primórdios da prática da capoeira do Ceará teve início com o retorno de cearenses, formados em Direito e Medicina nas universidades baianas, que teriam aprendido capoeira naquele estado com Mestre Bimba, criador da capoeira Regional baiana (Neto, 2012). De volta ao estado, após o término dos seus respectivos cursos, alguns destes ex-alunos de Bimba, teriam dado aulas e iniciado alguns neófitos na arte da capoeiragem. DÉCADA DE 1950 – A revista “O Cruzeiro” em sua edição de 14 de maio de 1955 publica artigo sobre o Candomblé na bahia, e apresenta uma foto com o título de “Capoeira no Ceará” http://memoria.bn.br/DocReader/DocReaderMobile.aspx?bib=003581&pesq=Capoeira%20ceara DECADA DE 1960 - José Renato de Vasconcelos Carvalho, conhecido por mestre Zé Renato, natural de Crateús-CE filho primogênito de Joaquim Severiano Ferreira de Carvalho e Vicência Vasconcelos Carvalho. Nasceu em 24 de maio de 1951: Em vinte e quatro de maio, / De cinqüenta e um nasceu,/ Em Crateús e cresceu / Na arte fazendo ensaio, / Para brilhar como um raio,/ O artista Zé Renato; / Mestre em artesanato/ E também em capoeira,/ Essa luta brasileira/ Feita por negros no mato . (CARVALHO FILHO, 1997, p. 1).

1960 - chega a Crateús, lotado no 4 Batalhão de Engenharia de Construção, um sargento de nome Cipolati, gaúcho que havia residido na Bahia por longa temporada, pai de Carlos e Evandro e ex-aluno de um famoso capoeirista, mestre Bimba. Cipolati foi o responsável por iniciar Zé Renato na prática da capoeira. A capoeira fazia parte das atividades em família, treinando após o regresso do trabalho junto aos filhos. Ao ver a capoeira pela primeira vez, José Renato apaixonou-se e iniciou seus treinos. Carvalho Filho (1997) 56 conta que: [...] um militar que chegara a cidade vindo da Bahia, trazia consigo a arte da capoeira. O Mestre muito curioso fazia perguntas sobre a cidade do baiano, encantara-se com a ginga e com a habilidade do mesmo. Depois de terminado o primeiro grau, atual ensino fundamental, vai para a Bahia e conhece o famoso Mestre Bimba. Mestre Zé Renato terminou o Segundo Grau, atual Ensino Médio, em Ilhéus, onde jogava Angola na praia. Todo final de semana estava em Salvador para jogar na capital. Em 1967, retorna à sua terra natal. 56

CARVALHO FILHO, José Bento de. Capoeira: a história do Mestre Zé Renato. Literatura de cordel. Fortaleza – CE, 1997.


1967/68 – parte para o Rio de Janeiro, aos 18 anos de idade, devendo ter ficado nesse Estado por volta de três anos. No Rio, foi jogar capoeira na Central do Brasil com o famoso mestre Leopoldina 57. Conhecido por Ceará e pelo jogo diferenciado, Zé Renato dedica–se ao aprendizado da capoeira em solo carioca, adquirindo sempre novos conhecimentos.

DÉCADA DE 1970 - Ainda seguindo Silva (2013) 58, pouco tempo depois, ao surgir uma oportunidade de trabalho no Maranhão, na área de topografia, o jovem José Renato ficou tentado atingir mais outra meta na vida que era a de conhecer o “berço de negros”, como ele mesmo diz: As experiências do Maranhão pelos idos de 1970 gravitavam ao redor de práticas de capoeira Angola, Tambor de Crioula e de todas as manifestações de que pôde participar. Amante das artes popularescas, Zé Renato defendeu a ideia de que naquela época os praticantes viam capoeira como arte, apenas isso. 1971 – MESTRE OUSADO - José Maria Cardoso da Costa, em artigo de jornal de 2011, afirma que há 40 anos preserva a arte da capoeira em Fortaleza é o tema do livro “As Asas do Mestre”. O material tem projeto editorial e organização de Luiz Renato Vieira, que também é mestre de capoeira e doutor em sociologia da cultura. Mestre Ousado foi percursor da capoeira em outros países, como a Inglaterra, ainda no início dos anos 1990. Atualmente ele ministra aulas em universidades e escolas públicas de Cingapura, sendo reconhecido pelos Ministérios da Educação, Arte e Esporte. “A capoeira é para muitos jovens asiáticos o primeiro contato real com a cultura brasileira. Embora o futebol brasileiro seja admirado é através da capoeira que muitos aprendem a falar português, ao gingar ao som do berimbau e acabam por construir laços de uma vida toda com o Brasil”, afirma mestre Ousado. O nome do livro foi pensado pelo próprio mestre. “Já dei uma volta ao mundo com a capoeira. Ela nos leva igual ao vento”, completa. http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/fortaleza/livro-sobre-mestreousado-conta-parte-da-historia-da-capoeira-em-fortaleza/ 1972 - Mestre Zé Renato regressa a Fortaleza, e começa o processo de implantação da capoeira no Estado. Ensinou nas Escolas Oliveira Paiva e Castelo Branco. Apresentou-se na TV, divulgando a cultura afrobrasileira. Teve como primeiro aluno Demóstenes. Devem ser também lembrados por serem cofundadores Jorge Negão, Everaldo, João Baiano, Márcio, Sérgio, Zé Ivan, George, Juarez, Datim, Antônio Luiz.591972 (?)- Já em Brasília, para onde se mudara, e após observar a capoeira praticada naquela cidade, declara: [...] ter tomado conhecimento de que o estilo regional estava sendo popularizado e praticado em Fortaleza [...] ele ressalta a importância da união entre o jogo baixo angoleiro e do jogo alto da regional e descreve que a sucessão de movimentos da capoeira se torna, desse modo, um movimento em onda com maiores possibilidades de ataque, defesa e malícia. 57

Mestre Leopoldina (12/02/1933 – 17/10/2007) Demerval Lopes de Lacerda, Mestre Leopoldina nascido o 12 de fevereiro de 1933 no Rio de Janeiro. Inicio-se na capoeira na decada de 1950, com Joaquim Felix de Souza, Mestre Quinzinho, um temido malandro de favela que já tinha proceso penal por morte, heredeiro das violentas maltas de capoeira que aterrorizaram o Rio de Janeiro no século XIX. Depois que mestre Quinzinho foi asesinado na decada do 50 na Colonia Penal, o Mestre Leopoldina sumio das ruas por medo a represarias por inimigos de Quinzinho. Logo continuou seu treino com o baiano Mestre Artur Emídio que abriu uma academia e influenciou a capoeira Carioca na década 50 e 60 baseado no método sistematizado de Mestre Bimba. Mestre Leopoldina começo a dar aula em 1961 na academia Guanabara, no Rio de Janeiro, e graças à capoeira viajou na Suiza, Italia, Amsterdam, Alemanha e Senegal. O mestre tem muita afinidade com o povo de rua, na chamada lei dos malandros, com a filosofía da malandragem, que é a estrategias de não confronto. Sua visão de mundo e sua relação com a malandragem transparecem em suas histórias e suas músicas. Protagonista do documentario “Mestre Leopoldina, A Fina Flor da Malandragem”, 2005. O documentário narra a vida de Mestre Leopoldina, de vendedor de bala na Central a Mestre de Capoeira reverenciado mundialmente, feito por seu aluno Mestre Nestor Capoeira. Fonte: Documentario Mestre Leopoldina, a fina flor da Malandragem / Site Revista de História. https://jogodavidaweb.wordpress.com/2017/02/12/mestre-leopoldina/ 58 SILVA, Sammia Castro.. PROTAGONISTAS NO ENSINO DA CAPOEIRA NO CEARÁ: relações entre lazer, aprendizagem e formação profissional. Dissertação submetida à Coordenação do Programa de PósGraduação em Educação Brasileira, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: História e Memória da Educação. Orientador: Prof. Pós-Dr. José Gerardo Vasconcelos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA/ MESTRADO NÚCLEO DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO. FORTALEZA (CE) 2013 59 CARVALHO FILHO, José Bento de. Capoeira: a história do Mestre Zé Renato. Literatura de cordel. Fortaleza – CE, 1997.


1978 – Grupo Zumbi60 foi fundado por Everaldo Monteiro de Assis, mais conhecido como Mestre Ema, o grupo surgiu no bairro Planalto Pici, e hoje tem sua sede instalada no bairro Henrique Jorge, em Fortaleza. Ao longo de sua trajetória, o Zumbi de Capoeira realizou um notável trabalho social com crianças e jovens carentes da periferia, principalmente em comunidades dos bairros Henrique Jorge, Monte Castelo, Padre Andrade, Messejana, João XXIII e Praia do Futuro, além de inserções em outros municípios do estado, como Paraipaba e São Benedito. http://blogs.opovo.com.br/clubedaluta/2018/03/02/coluna-grupo-zumbi-de-capoeiracompleta-40-anos-de-atuacao-no-ceara/ - REGINALDO DA SILVEIRA COSTA - Mestre Squisito., chega a Fortaleza-CE, Nasceu em Montes Claros – MG no dia 11 de março de 1953, sendo filho de José Gomes Costa e Iracema de Paula, ambos mineiros, nascidos também em Montes Claros, já falecidos. Seu primeiro contato com a capoeira foi em meados de 1968, no bairro de Bonsucesso, subúrbio do Rio de Janeiro, onde conheceu um capoeirista que estudava na mesma escola em que freqüentava, porém só se firmou na capoeira no ano de 1974, em Brasília-DF, na Academia Tabosa de Capoeira, a mais renomada da época. A academia era freqüentada por muita gente, onde havia os melhores capoeiristas da cidade e local de encontro dos velhos mestres, o que despertou a sua curiosidade. Desde então começou a treinar e pegou sua 1ª graduação (batizado) em seis de dezembro de 1974, tendo como padrinho, Mestre Tonhão.Devido sua timidez, sempre foi uma pessoa discreta em sua passagem pela Academia Tabosa, mas não fugindo de suas responsabilidades como capoeirista. Por volta de 1975 fundou, em parceria com o Mestre Tranqueira (Luiz Lopes Tranqueira, aluno da Academia do Mestre Adilson e que se formou mais tarde como Mestre pelo também finado Mestre Muzenza, oriundo da Senzala do Rio de Janeiro), o Grupo Berimbau de Ouro de Capoeira, onde embora inexperiente, porém cheio de idéias, associou-se com um capoeirista formado e respeitado em todo o Distrito Federal, porém não desvinculando-se do Mestre Tabosa, conciliando sempre as suas funções entre os grupos, no Berimbau de Ouro, como articulador e organizador e na Academia Tabosa, como aluno e discípulo. O trabalho que desenvolvia no Grupo Berimbau de Ouro, era de apoiar o Mestre Tranqueira, dando aulas em sua ausência, fazendo aquecimentos, alongamentos e garantindo a organização do trabalho no SESC da 503 Sul em Brasília (fichas, inscrições, mensalidades, material de divulgação, etc.). Apesar do seu trabalho independente, sempre foi aluno fiel ao Mestre Tabosa, o qual considera o seu Mestre na Capoeira e mais importante figura em sua formação. Em agradecimento, cita em seu livro: “Ao Mestre Tabosa, meu Mestre na Capoeira: eu serei sempre parte da sombra de sua grandeza, aprendendo sua humildade e admirando sua competência de capoeirista, Mestre!” (Costa, Reginaldo da Silveira (Mestre Squisito). Capoeira: o Caminho do Berimbau, 2ª. Edição – Brasília/DF, 2000. p5.). Em 1976 recebeu a corda amarela (formado), e em 1978 recebeu a corda roxa (contra-mestre), no mesmo ano mudou-se para Fortaleza-CE por motivo de serviço, pois foi transferido para lá (trabalhava na Caixa Econômica Federal, onde é funcionário até hoje). 1979 – Mestre Esquisito (Squisito) em novembro cria a Cia. DA CAPOEIRA Terreiro do Brasil, essa criação se deu através de um sonho que teve quando estava saindo de Brasília para ir trabalhar e morar no Ceará. Na preparação para ir embora para o Nordeste, desenhou numa folha de papel uma idéia que teve de um local de chão batido e cobertura de palha, que deu o nome de Associação Terreiro de Capoeira. Era o seu ideal, com o objetivo de poder ensinar o que acreditava, o que sabia, tendo uma academia rústica e simples, compatível com o Nordeste, mas onde pudesse ter capoeira de alto nível, como achava que havia na Academia Tabosa, de Brasília, da qual se sentia um legítimo representante. http://www.capoeira.art.br/site/site/administrator/squisito.htm - MESTRE ESPIRRO MIRIM se inicia na Capoeira: Começou Capoeira no Colégio Julia Jorge em Fortaleza 1979 com o Mestre Everaldo Ema no ”Grupo Capoeira favelas”. Em 1982 o grupo mudou-se para as favelas Centro Social César Cals e o grupo mudou seu nome para o ”Grupo Capoeira Zumbi”, onde recebeu o apelido de Mirim. Em 1981 foi escolhido pela imprensa esportiva o melhor capoeirista daquele ano. Em 1984 ele recebeu o título de professor. Ele foi o primeiro professor, que foi nomeado pelo Mestre Everaldo. Viajou ao Rio de Janeiro, para a casa de seu irmão em Bara Mansa onde treinou por uns tempos no grupo Palmares com o Mestre Branco e Gomes. No mesmo ano recebeu o convite de seu amigo (Didi) para viajar para São Paulo, pois ele o levaria a academia do Mestre Suassuna. La 60

https://www.socialesporteclube.com.br/historias/associacao-zumbi-capoeira-fortaleza/


chegando encontrou o que almejava, uma capoeira leve e solta, jogada com destreza e avidez. Em 1985 integra-se ao Grupo Cordão de Ouro como estagiário, onde o Mestre Suassuna lhe apelida de “Espirro”, para não fugir de suas origens une os dois apelidos “Espirro Mirim”. Em 1988, foi formado pelo o Mestre Suassuna professor, no mesmo ano retorna a Fortaleza-Ce, com uma experiencia maior resolvi então dar inicio a um trabalho pelo o grupo aqui no Ceará , Nascia então o grupo Cordão de Ouro Ceará. Em 1991 ele foi nomeado Mestre 1o grau pelo o Mestre Suassuna.Em 1997 ele foi nomeado Mestre 3º grau (azul e branco) e em 2001 Mestre (corda branca). No ano seguinte faz sua primeira viagem para São Francisco (E.U.A.) a convite do Mestre Marcelo Pereira (Caverinha). Em 1995 ele retornou aos Estados Unidos e começou a sua carreira internacional. Ele viajou em 1996 pela primeira vez a Israel. A partir do ano de 1998 inicia sua carreira internacional, ministrando durante 4 meses, curso na academia Cordão de Ouro em Orlando (Florida), nesse período fez apresentações da Disneylândia e a abertura da Miss Brasil (E.U.A.), em Miami. Todo ano viaja para Israel, onde participa do Batizado e troca de cordão do Grupo Cordão de Ouro. Em 1999, para Nova Iorque. Em 2000 e 2001, trabalhou em Israel. Em 2004 ele visitou Inglaterra, em 2005, Espanha, em 2006, Franca, Portugal e Alemanha em 2007 e em 2008 na Hungria e na Escócia. Actualmente reside nos Estados Unidos e realiza um trabalho, na Holanda, Ungria e Israel. http://tribunadoceara.uol.com.br/esportes/sem-categoria/dia-da-capoeira-e-lembrado-por-mestrecearense/ DÉCADAS DE 1980/90 - em Fortaleza só havia dois grupos de capoeira, Senzala e Zimbi. Neste apareciam nomes como Espirro Mirim, Geléia, Jean, Soldado, Lula, Ulisses, figura como Paulão, 61Canário, Dingo, Gamela, Araminho, Gurgel. - A Associação Zumbi do Mestre Everaldo tem entre seus Mestres associados, Lula, Ulisses, Júnior, Jean, Geléia e Wladimir. Este último mora no exterior, divulgando a capoeira do Ceará. O Mestre Lula atua na Prefeitura de Fortaleza ajudando capoeiristas, de qualquer grupo, a desenvolverem projetos na cidade. (CARVALHO FILHO, 1997). - O Mestre Ulisses atua no Centro Social do Bairro Henrique Jorge. Os demais também dão sua contribuição através de aulas e rodas. (CARVALHO FILHO, 1997). - Carvalho Filho (1997) não deixa de citar também o Mestre Paulão do Ceará que na década de oitenta divulgou bastante a Capoeira no Estado, indo para o exterior no início dos anos 1990. Ele teve discípulos como os mestres: Ratto, Zebrinha, Ferrim, Picapau, Envergado, dentre outros que formaram seus grupos. E outros como Kim, Cibriba, Marcão, Juruna que continuam a divulgar a Capoeira do estado no Brasil e no Exterior - José Olímpio Ferreira Neto. “A HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO CEARÁ NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 ATRAVÉS DA MEMÓRIA E ORALIDADE”. http://www.uece.br/eventos/encontrointernacionalmahis/anais/trabalhos_completos/52-5434-26082012231518.pdf

1981 - Integrante do Grupo Capoeira Brasil, o MESTRE KIM pratica capoeira desde 1981. Discípulo do Mestre Paulão, ministra aulas em escolas, clubes, além de participar de eventos nacionais e internacionais dando workshops em vários estados do Brasil e em outros países. Ao longo dos anos participou e realizou workshops na Holanda, França, Alemanha, Polônia, Itália, Suécia, Romênia, Bélgica, Turquia , Suíça, Portugal, Hungria, Venezuela, Colômbia e Argentina. Hoje, seu objetivo é continuar contribuindo para o crescimento do projeto social ACCEV, difundindo os aspectos positivos 61

https://www.youtube.com/watch?v=hNIMVWBlfv0 Mestre Paulão é um dos fundadores do Grupo Capoeira Brasil junto com Mestre Boneco e Mestre Paulinho Sabiá. Com um trabalho consolidado em Fortaleza, no ano de 1993, Mestre Paulão decide-se mudar para a Holanda e, de lá para cá, vem realizando um belo trabalho para o desenvolvimento da capoeira na Europa. Hoje o Grupo Capoeira Brasil está nos seguintes países europeus: Austrália, Bélgica, França, Espanha, Alemanha, Itália, Hungria, Polônia e Suécia. As aulas são ministradas por graduados, instrutores, professores, formandos e formados, todos sob a supervisão de Mestre Paulão. https://www.magalicapoeira.com/capoeira-brasil/mestre-paulao-ceara


que a capoeira oferece para a transformação https://www.kimcapoeira.com/mestre-kim/sobre-o-mestre/

de

uma

sociedade

melhor.

1982 – Mestre Esquisito retorna para Brasília, deixando plantada sua semente em todo o Ceará. Nesse tempo em que ficou no Ceará adquiriu respeito, amigos e discípulos que levam sua filosofia de trabalho até hoje. Logo após sua chegada em Brasília recebe a graduação roxo-branco, a última antes da corda de mestre. 1983 - MESTRE RATTO - Eu nasci e me criei em Fortaleza, na beira de praia. Como é tradicional em qualquer beira de praia, é comum ver-se rodas de Capoeira. Meu irmão Ricardo, teve oportunidade de ter um contato com um grupo de rapazes que todo o final de tarde praticava Capoeira, chamada de vadiagem de beira de praia. Logo o Ricardinho passou a fazer parte do grupo, e foi se destacando por sua agilidade e facilidade de girar a cabeça no chão (peão de cabeça). No inicio de 1983, eu já tinha uma certa segurança no jogo e estava mais à vontade numa roda. Na época só existiam dois grupos de Capoeira em vam capoeiristas dos dois grupos. Eu passei então a conhecer os feras da Capoeira. De um lado, o grupo Zumbi com Espirro Mirim, Geléia, Jean, Soldado, Lula, Ulisses. De outro lado, o grupo Senzala com Paulão, Canário, Dingo, Gamela, Araminho, Gurgel. Fiquei sabendo que existiam outras rodas na cidade, como a do Mestre Geléia na Barra do Ceará. Minha mãe ficava cada vez mais preocupada comigo, por rodar cada vez mais a cidade atrás de Capoeira. Em 1984, eu não conseguia mais esconder a admiração e a vontade de conhecer uma aula do Mestre Paulão, na Escola de Arte Senzala. Eu via nas rodas que o estilo dele era diferente, me chamava à atenção essa Capoeira de muita classe praticada pelo Boneco, Cibriba, Pica Pau, Maroca, Bisquim, Atabaque, Querido e Juruna. As acrobacias me enchiam os olhos. Eu decidi então que tinha que participar dessa escola. Um dia apareceram dois capoeiristas de Brasília no DCE, eles pediram informação sobre o horário e local da aula do mestre Paulão, e eu me ofereci a acompanhá-los. Chegando lá, o Mestre Paulão tinha acabado de terminar a primeira aula, e estavam todos, na época chamado colégio Capital. O Mestre convidou a gente a ficar para a aula seguinte e eu nem consegui acreditar nisso. Mostrei então a minha capacidade e no final da aula pedi informações sobre a mensalidade. Ele me perguntou se estava mesmo a fim de treinar e eu respondi bem rápido que sim. Como ele já tinha feito com outros garotos, ele me prometeu uma calça e uma camisa. Foi o necessário, para que eu saísse dali maravilhado. O treino era diferente, a movimentação mais fascinante e a roda de se arrepiar todo. Fui fazendo amizade com a garotada, me integrando e logo fiz parte da equipe de show do Mestre Paulão. No inicio eu era sempre quem carregava o atabaque, fazia os arames dos berimbaus, etc. Comecei a dar aula quando ainda era corda azul, alguns desses alunos ainda são hoje meus alunos, como Peninha e Marcelo. O local era a Academia Linhas e Curvas e as aulas aconteciam três vezes por semana. Através do Capoeira Brasil e do Mestre Paulão, tive a oportunidade de ter contato cedo com grandes mestres do Brasil e no mundo. No Grande Encontro de Mestres e Professores de Capoeira, realizado no Center Um, recebi a corda verde. Conheci nessa ocasião grandes nomes da Capoeira: Mestre João Grande, Mestre João Pequeno, Mestre Suassuna, Mestre Itapoã, Mestre Mão Branca, Mestre Boneco, Mestre Paulinho. Foi assim que nasceu o meu interesse em rodar o Brasil todo atrás de mais conhecimentos e experiências de Capoeira. Em 1992, recebi a corda Marrom e me tornei Formando. Foi nessa época que o Mestre Paulão decidiu morar na Holanda, Europa. Essa foi uma experiência que marcou muita a minha vida como capoeirista, pois passei a ser um dos organizadores do grupo em Fortaleza, juntamente com Mestre Zebrinha, Marcão, Kim, Envergado, Cibriba, Ferrim, Serê. Foi um grande desafio da parte do Mestre Paulão e foi a porta que abriu para os contatos do grupo na Europa. Para o grupo Capoeira Brasil do Ceará. Logo em seguida iniciaram-se as minhas viagens para fora do Brasil. A minha primeira viagem foi um mês na Alemanha. E depois inúmeras vezes a vários países da Europa como a França, Holanda, Espanha, Bélgica, Alemanha, Inglaterra. Em 2001, me tornei Formado Ratto ao receber a ultima corda do grupo, a corda preta. Esse dia foi um dos dias mais importantes da minha vida, pois foi o reconhecimento de 19 anos de trabalho dedicado à Capoeira. Foi um momento inesquecível, uma grande satisfação de receber essa corda na presença de Mestres ilustres como o Mestre Itapoã, Mestre Paulinho Sabiá, Mestre Boneco e Mestre Tony Vargas. Em 2002, fundei oficialmente o projeto social Água de Beber, com o objetivo de trabalhar a Capoeira nas comunidades carentes de Fortaleza, fazendo um trabalho de resgate das crianças que residem nessas localidades. Os esforços investidos nesse projeto valeram a pena, pois rapidamente nosso trabalho cresceu, difundindo-se em várias áreas de risco social da cidade, culminando, no ano de 2006, com a


transformação projeto social Água de Beber em instituição social autônoma com o nome CENTRO CULTURAL CAPOEIRA ÁGUA DE BEBER.” http://capoeira-cecab.eu/cecab-2/mestreratto/?lang=pt-br 1987 - MESTRE PAULÃO CEARA Ik ben paulo Sales Neto en ik ben geboren op 14 januari 1961 in Fortaleza. Ik heb mijn leven van jongs af aan gewijd aan capoeira. Toen ik begon met capoeira wist ik niet dat het mij zo ver zou brengen maar capoeira heeft mij op alle gebieden in het leven een wijzer mens gemaakt. in 1987 hebben Mestre Paulinho Sabiá, Mestre Boneco en ik Grupo Capoeira Brasil opgericht. Om capoeira met een ,voor mij onbekend, nieuw deel van de wereld te delen ben ik in 1993 naar Nederland gekomen. Dit was voor mij een zeer bijzondere ervaring waarbij ik veel heb geleerd over mijzelf maar ook over hoe anders het leven in Nederland is. Dit was heel leuk maar ook vaak zwaar en ik ben daarom erg trots op de groep die ik in Nederland heb opgebouwd. in 2011 heb ik het moeilijke besluit genomen om Nederland achter te laten om bij mijn vrouw en twee kinderen in Hongarije te gaan worden. Ondanks dat ik nu verder weg woon voelt Nederland altijd als thuis en probeer ik zo vaak mogelijk op en neer te vliegen naar Nederland om de band met onze groep sterk te houden. Ik houd heel erg van het leven en ik probeer altijd een goede vader, man, vriend maar ook een voorbeeld voor alle leerlingen te zijn. Toen ik 14 jaar oud was zag ik een van mijn vrienden op het strand bewegingen doen. Het zag er heel mooi uit en ik heb hem gevraagd wat hij deed. Hij zei: Dit is capoeira. Vanaf deze dag was ik verkocht en ben ik gaan trainen. http://www.capoeirabrasil.nl/mestrepaulao-ceara/ 1997 - é publicada em Fortaleza, a história do Mestre Zé Renato através de um cordel de autoria de José Bento de Carvalho Filho, vulgo Zelito. O referido autor conta através de versos a história do Mestre Zé Renato, relatada pelo mesmo e confirmada pelos capoeiristas e alunos que conhece tão admirável nome que inicia a caminhada da Capoeira na Terra da Luz: - CARVALHO FILHO, José Bento de. Capoeira: a história do Mestre Zé Renato. Literatura de cordel. Fortaleza – CE, 1997. 2006 – Rocha (2006) identifica os seguintes grupos de Capoeira atuando em Fortaleza: Abadá – Mestre Camisa. Capoeira Brasil – Mestre Paulão, Boneco, Sabiá Cordão de Ouro – Mestre Espirro Mirim Zumbi dos Palmares – Mestre Lula Terreiro Capoeira – Mestre Esquisito Muzenza – Mestre Pedro Atitude – Mestre Moraes (vulgo Asa Branca) GCAP – Professor Armandinho Candeias – Mestre Suíno Legião Brasileira de Capoeira – Mestre Zebrinha Raízes da Terra – Mestre Assis Camará – Mestre Chimpanzé Capoeira Mundi – Mestre Dingo 2009 - BARROSO, Oswald. Folguedos afro-brasileiros no Ceará: uma aproximação com a capoeira no Ceará. In: HOLANDA, Cristina Rodrigues (org.). Negros no Ceará: história, memória e etnicidade. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secult/ Imopec, 2009. 2010 - CÂMARA, Samara Amaral. Práticas educacionais transmitidas e produzidas na capoeira angola do Ceará: história, saberes e ritual. Dissertação de Mestrado em Educação Brasileira- Núcleo de História e Memória da Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010. 2011 - “Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística”: 62 [...] a professora elenca o que ela denomina de “furadas turísticas” e coloca a Capoeira figurando nessa lista, assim como o Carnaval fora de época, o Fortal, os Resorts etc. Afirma que 62

MACENA, Maria de Lourdes. Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística. In I Fórum IOV Ceará de Folclore e Artes Populares. Fortaleza – CE. 2011.


quando se apresenta um grupo de Capoeira, divulga-se a Bahia e não o Ceará. Em verdade, pensa-se a Capoeira como sendo baiana, talvez pela divulgação da Capoeira que se tem hoje ter sido realizada em grande parte por mestres baianos. Porém, como já foi supracitado, o próprio Dossiê realizado pelo IPHAN não a reconhece como prática oriunda da Bahia e o Governo Federal a reconhece como Patrimônio Imaterial do Brasil. Também é verdade que a Capoeira desenvolvida no Ceará é muito jovem. Poucas ou quase nenhuma cantiga de Capoeira faz referência ao Ceará, mesmo já havendo uma produção cearense divulgada fora do Estado. Dizer que a Capoeira, praticada aqui, é da Bahia é um ledo engano, ou melhor, desconhecimento do assunto. Até porque, existem grupos oriundos do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, etc e que trazem inúmeras características desses Estados. Em qualquer bairro da cidade de Fortaleza percebe-se essa manifestação cultural como prática em ambientes fechados ou em praça pública. Essa cultura que é desenvolvida no Estado é bastante conhecida no exterior por ser uma capoeira solta, estilizada e cheia de floreios63. - I JOGOS ABERTOS DE CAPOEIRA DO CEARÁ - Sob a organização dos mestres; Lula,Ratto,Maizena e Pano. realizado em Fortaleza encontro inédito de quase todos os grupos de capoeira do Ceará . http://portalacapoeira.blogspot.com/2011/09/i-jogos-abertos-de-capoeira-doceara.html 2012 - ALBUQUERQUE, Carlos Vinícius Frota de. Tá na água de beber: Culto aos ancestrais na capoeira. Fortaleza, 2012. Dissertação (Mestrado em Sociologia)- Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará. 2013 - SILVA, Sammia Castro.. PROTAGONISTAS NO ENSINO DA CAPOEIRA NO CEARÁ: relações entre lazer, aprendizagem e formação profissional. Dissertação submetida à Coordenação do Programa de PósGraduação em Educação Brasileira, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: História e Memória da Educação. Orientador: Prof. Pós-Dr. José Gerardo Vasconcelos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA/ MESTRADO NÚCLEO DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO. FORTALEZA (CE) 2013 2014 – Lançamento de livro que conta a história da capoeira no CE: “A capoeira no Ceará”, primeira obra com a temática da história da capoeira no Estado, fruto de uma dissertação de mestrado em Educação Brasileira, pela linha de História e Memória da Educação, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Fruto de uma efetiva pesquisa de campo, lançada pela EdiUECE, de autoria da capoeirista Sammia Castro, e têm co-autoria de José Gerardo Vasconcelos, que foi orientador da obra, autor do livro “Bezouro Cordão de Ouro – o capoeira justiceiro”; e Lia Machado Fiúza. http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/ie-camara/cultura/lancamento-de-livro-que-conta-historia-dacapoeira-ce-nesta-quarta-22/ 2017 - NASCIMENTO, Ricardo. Políticas e performances: Um estudo de caso sobre o processo de patrimonialização da capoeira do Ceará. IN ACENO, Vol. 4, N. 7, p. 65-82. Jan. a Jul. de 2017. ISSN: 2358-5587. Cultura Popular, Patrimônio e Performance (Dossiê). 2018 – Publicado Indicios de Capoeiragem no Ceará, no CEV, de autoria de Leopoldo Gil Dulcio Vaz, base deste Atlas da capoeiragem no Ceará. FONTES: https://www.youtube.com/watch?v=E0QF4QR-fHQ https://www.youtube.com/watch?v=TaOugpBkeSQ http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/ie-camara/cultura/lancamento-de-livro-que-conta-historia-da-capoeira-ce-nestaquarta-22/

http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/6035/1/2013-DIS-SCSILVA.pdf

63

In I FÓRUM DE FOLCLORE E ARTES POPULARES NA CIDADE DE FORTALEZA - IOV – Ceará, Internacionale Organisation für Volkskunst/Organização Internacional de Folclore e Artes Populares, 18 e 19 de março de 2011 -


PUBLICADO/DEPOSITADO NO CEV

Indícios de Capoeiragem no Ceará Por: Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Atlas da Capeeiragem no Ceará.

Resumo Outro dia, pedi para entrar na Roda e desafiei Mestre Pezão, que refugou. Ao anunciar evento de Capoeira em Tianguá, postei uma história da Capoeira no Piauí, e Pezão disse não ter sentido, a publicação. Disse-lhe, então, que era para servir de exemplo, para o resgate da memória da capoeira no Ceará e, quem sabe, a construção do Atlas da Capoeira no Ceará – este o desafio!!! Em resposta, mandou-me uma lista de Mestres, que poderiam constituir o Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Ceará, a exemplo do que se faz no Maranhão Ver Arquivo (PDF) Tags: Capoeira, Estado do Ceará, História

http://cev.org.br/biblioteca/indicios-de-capoeiragem-no-ceara-1/

INDÍCIOS DE CAPOEIRAGEM NO CEARÁ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ64 [...] Os capoeirista cearenses se destacam no cenário mundial da Capoeira, mas muitos de sua gênese, em Terra Alencarina, está obscura. Sabe-se que essa manifestação cultural tem origem incerta, seu primeiro aparecimento em vários pontos do Brasil, sobretudo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Mais recentemente tem-se apontado para a possibilidade de outros estados estarem envolvidos em sua gênese, ainda não é o caso do Ceará, não há registro nesse sentido, apenas meras conjecturas. In “HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO

CEARÁ” disponível capoeira-no-ceara/

em

https://fundacao-axe-dende.webnode.com/historia-da-

Outro dia, pedi para entrar na Roda e desafiei Mestre Pezão, que refugou. Ao anunciar evento de Capoeira em Tianguá, postei uma história da Capoeira no Piauí, e Pezão disse não ter sentido, a publicação. Disse-lhe, então, que era para servir de exemplo, para o resgate da memória da capoeira no Ceará e, quem sabe, a construção do Atlas da Capoeira no Ceará – este o desafio!!! Em resposta, mandou-me uma lista de Mestres, que poderiam constituir o Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Ceará, a exemplo do que se faz no Maranhão65... Na construção do Atlas do Esporte no Brasil66, o termo Capoeira(gem)67 aparece referenciado; no Atlas do Maranhão68, também. 64

Professor de Educação Física, Mestre em Ciência da Informação. Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; membro fundador da Academia Ludovicense de Letras 65 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. Disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. Inédito’ 66 O Atlas do Esporte no Brasil é a maior base de dados de acesso gratuito em língua portuguesa, com resumos em inglês, abrangendo a Educação Física, esportes e atividades físicas de saúde, lazer e turismo. Os dados são produzidos como serviço à comunidade, sem remuneração, por autores voluntários, por iniciativa do Conselho Federal de Educação Física e Conselhos Regionais de Educação Física. Disponível em www.atlasesportebrasil.org..br ; http://www.atlasesportebrasil.org.br/index.php ; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf 67 http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf


Pois bem, apresento uma primeira contribuição, para ver se surte efeito a provocação. Busco as referencias em jornais da época, disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional69, utilizando-me da busca pelo local – no caso: CE; e em todos os periódicos e todas as datas em que foram publicados, utilizando o termo de busca ‘capoeira’; encontrou-se:

68 69

Nome

Descrição

Páginas

Ocorrências

709506

O Cearense (CE) - 1846 a 1891

24325

84

103950

Gazeta do Norte : Orgão Liberal (CE) - 1880 a 1890

9174

21

229865

Libertador : Orgão da Sociedade Cearense Libertadora (CE) - 1881 a 1890

5378

20

216828

Pedro II (CE) - 1840 a 1889

12594

17

234702

A Ordem : Trabalho e justiça (CE) - 1916 a 1933

3746

11

720763

A Lucta (CE) - 1914 a 1924

2406

11

801399

A Republica : Fusão do Libertador e Estado do Ceara (CE) - 1892 a 1897

5836

10

235334

A Constituição (CE) - 1863 a 1889

6830

6

764450

A Razão : Independente, Politico e Noticioso (CE) 1929 a 1938

11784

6

765198

O Ceará (CE) - 1928

2759

6

168092

A Cidade (CE) - 1899 a 1904

1836

4

144843

Revista Trimensal do Instituto do Ceará (CE) - 1887 a 1900

4030

3

231894

Jornal do Ceará : Politico, Commercial e Noticioso (CE) - 1904 a 1911

3425

3

706752

Imperio do Brasil: Diario do Governo (CE) - 1823 a 1833

4420

3

709450

O Sol: jornal litterario, politico e critico (CE) - 1856 a 1898

742

3

720631

O Jornal (CE) - 1932 a 1935

444

3

714380

Gazeta do Sobral : Orgão Imparcial (CE) - 1881 a 1888

209

2

166693

Patria (CE) - 1910 a 1915

1159

1

166731

Revista da Academia Cearense (CE) - 1896 a 1901

1460

1

180238

A Nota (CE) - 1917 a 1921

2266

1

215473

Maranguapense : Jornal Litterario, Commercial e Noticioso (CE) - 1874 a 1875

184

1

247111

Gazeta Official : A Gazeta Official do Ceara (CE) - 1862 a 1864

737

1

404098

O Commercial : Jornal dos Interesses Commerciaes, Agricolas e Industriaes (CE) - 1845 a 1860

728

1

494712

Ipu em Jornal : Castigat Ridendo Mores (CE) - 1957 a 1962

340

1

http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf ; http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5D228670.6326852.DocLstX&pesq=capoeira


Nome

Descrição

Páginas

Ocorrências

701700

O Juiz do Povo (CE) - 1850 a 1851

226

1

721255x

O Rebate : jornal independente (CE) - 1907 a 1913

1140

1

766275

Pyrilampo (CE) - 1874

79

1

770507

A Pilheria : Jornal Critico (CE) - 1897

8

1

770558

O Retirante (CE) - 1877 a 1878

151

1

778451

O Tagarella : jornal livre, critico e noticioso (CE) - 1865

124

1

800015

Mensagem Apresentada á Assembléa Legislativa (CE) 1936 a 1960

1408

1

800040

Diario da Manhã (CE) - 1929

541

1

814741

José de Alencar : Orgão da Sociedade Litteraria José de Alencar (CE) - 1892 a 1893

8

1

815209

O Republicano (CE) - 1895 a 1896

52

1

817295

Almanach Administrativo, Estatistico, Mercantil, Industrial e Literario do Estado do Ceará (CE) - 1896 a 1902

2091

1

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRILIMINARES Partindo do entendimento de que a Capoeira é uma prática cultural no sentido mais dinâmico possível do termo, o que é a Capoeira? 70 Como podemos defini-la? Esse entendimento é essencial, para podermos interpretar o surgimento e o entendimento do que se referia ao utilizar o termo, na imprensa, ao longo do tempo, não só no Ceará... Tenho encontrado as mais variadas respostas: capoeira é luta; capoeira é esporte; capoeira é folclore; outros dizem que é um lazer; é uma festa; é vadiação; é brincadeira; é uma atividade educativa de caráter informal. Não me conformo com essas classificações simplistas e reducionistas; compreendi que a Capoeira é tudo isso... Assim, compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança71. Para Viera (2017) 72: Não podemos perder a perspectiva de que Arte se relaciona com técnica e que muitas modalidades esportivas de lutas são consideradas como "Artes" Marciais. Neste contexto a Federação Internacional 70

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 71 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 72 VIERA, Sérgio. Correspondencia pessoal via correio eletrônico, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 07 de setembro de 2017


de Capoeira é fundadora da União Mundial de "Artes" Marciais (WOMAU) e que a modalidade, enquanto atividade física e esporte é bicampeã mundial de Artes Marciais.

Para Mestre Tuti (2011) 73: A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de análises em seus diversos aspectos – teórico, técnico, didático, tático, filosófico etc. - e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um trabalho (entenda-se: Mestre, Professor, Instrutor etc.). Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira.

Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc.74. A arte apresenta registros documentais e iconográficos desde o século XVIII75. O que é ‘capoeira’? Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 76. No jornal cearense “Pedro II”, do ano de 1852, edição 1090, aparece como se referindo a uma localidade, Capoeira do Araújo, a mesma que aparece por essa época em vários jornais, quando da construção de uma estrada. Aparece também em diversos folhetins de Camilo Castelo Branco, referindo-se a mato rasteiro, e este abaixo, transcrito da edição de 26 de janeiro de 1872, de um folhetim de José da Silva Mendes Leal, em que explica o termo ‘capoeira’ como sendo mato rasteiro, várzea:

73

Mestre Tuti in CHAMADA NA ‘BENGUELA’ -17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’ 74 COELHO, T. DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL. São Paulo: Iluminuras, 1999 75 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. 76 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40.


Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“?

conforme a conceitua Araújo (1997) como:

77

ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem

[...] a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado? (p. 69);

e capoeirista, como sendo: os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva? (p. 70).

Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando Decisão de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores. (ARAÚJO, 1997). Nos jornais cearenses pesquisados, em dado momento surge o termo ‘capoeira de galinhas’ certamente se referindo espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves, conforme Rego, 1968 78:

[...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA – Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79) 79.

77

ARAUJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPÓLIGAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA – de uma actividade guerreira para uma actividade lúdica. (S.L.): PUBLISMAI – Departamento de Publicações do Instituto Superior Maia (Porto), 1997. 78 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982 79 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007.


ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008.

Segundo Coelho (1997, p. 5) 80 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem linguística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 81. Encontrei na correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça82 em “A Amazônia na era Pombalina”, carta de Mendonça Furtado83 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: [...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...] (p. 300). (grifos do texto).

Ou devemos entendê-la, a Capoeira, como: [...] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas 80

ARAÚJO, 1997, obra citada. ARAÚJO, 1997, obra citada, 82 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 83 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado 81


indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira) 84;

assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a [...] um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 3940) 85.

“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)86. “Carioca” Uma briga de rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX. 87

Para Câmara Cascudo (1972) 88, Capoeira: [...] jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos.

Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. 84

Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 85 PEREIRA DA COSTA, Lamartine. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Belo Horizonte: SHAPE, 2005, VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa Capoeira - http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/escolher_linguagem.php; 86 LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (préprint). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC 88 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.


No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. (CÂMARA CASCUDO, Dicionário do Folclore) 89. Para a Capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. CAPOEIRA ANGOLA - a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha -; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano. CAPOEIRA REGIONAL - é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil. CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA – o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”: - CONTEMPORÂNEA – é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro; - ANGONAL – neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro – Mestre Boca e outros; - ATUAL – denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998) 90. -

Do Atlas do Esporte no Brasil: Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. 89 90

CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118


Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). “Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizandose, de modo geral, como uma atividade lúdica. (VIEIRA, 2006) 91.

Na pesquisa realizada pelo IPHAN, ela é definida como: [...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal. 92

Seguindo a justificativa do IPHAN, a partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, através do artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de reclusão), a repressão policial abateu-se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram considerados por muitos como “mendigos ou vagabundos”. Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas. 93. Mais adiante, durante a República Velha, a capoeiragem era uma manifestação de rua, afro descendente, e muitos dos seus praticantes tinham ligações com o candomblé, o samba e os batuques. A iniciação dos capoeiras nessas atividades acontecia provavelmente na própria família, no ambiente de trabalho e também nas festas populares. Ainda sobre o universo das ruas, estudiosos revelam que o cancioneiro da capoeira se enriqueceu dos cantos de trabalho, e que o trabalhador de rua, em momentos lúdicos ou de conflitos, também se utilizava dos golpes e movimentos da capoeira. 94. Consideram que já na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro-brasileiras começaram a ser discutidas, e passaram a constituir um referencial cultural do país. Ao final dos anos 30 a capoeira foi descriminalizada e passou de um extremo a outro, a ponto de ser defendida por historiadores e estudiosos como esporte nacional, considerada a verdadeira ginástica brasileira. A manifestação já foi apontada como esporte, luta e folguedo, e era praticada por diferentes grupos sociais, principalmente a partir do século XX. 95.. Assim, em 1937: [...] a capoeira começou ser treinada como uma prática esportiva, e não apenas como uma “vadiação” de rua. Neste mesmo ano Mestre Bimba criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia. 91

VIEIRA, Sergio Luiz De Souza. Capoeira. In DaCosta, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2005, p. 1.44-1.45) DaCOSTA, 2006, , obra citada. p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br 92 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 93 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 94 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. 95 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40.


“A capoeira regional nasceu como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de aprendizagem, descreveu os golpes, toques, cantos, indumentárias especiais, batizados e formaturas. “Em seguida, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado através de métodos próprios. “A ideia da capoeira como arte marcial brasileira criou polêmica, pois era defendida por uns e criticada por outros, principalmente pelos angolanos, que afirmavam a ancestralidade africana do jogo. 96.

Na linha do tempo estabelecida pelos estudos do IPHAN, uma grande leva de capoeiristas chegou ao Rio por volta de 1950 oriundos da Bahia [a diáspora da capoeira baiana, no entender de Lacé Lopes]. O mais importante deles foi Mestre Arthur Emídio, que trouxe um estilo de capoeira diferente, de movimentação veloz e marcialmente eficaz, mas que mantinha orquestração musical. Ainda na década de 50 a capoeira passou a ser retratada e divulgada por artistas como Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger, entre outros. Nos anos seguintes, entre 60 e 70, ganhou espaço também nas produções artísticas do Cinema Novo, Tropicália e Bossa Nova.97 . Para os estudos do IPHAN, foi a partir de 1970 que a capoeira se expandiu em larga escala pelo Brasil. A Angola deve sua recuperação, em grande parte, à atuação de Mestre Moraes, aluno de Pastinha, a partir de 1980, com a fundação do Grupo Capoeira Angola Pelourinho, que fortaleceu sua prática na Bahia e a disseminou pelo centro-sul do país e no exterior. 98 . Temos que concordar com a Profa. Lurdinha99, quando fala da “Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística”: [...] a professora elenca o que ela denomina de “furadas turísticas” e coloca a Capoeira figurando nessa lista, assim como o Carnaval fora de época, o Fortal, os Resorts etc. Afirma que quando se apresenta um grupo de Capoeira, divulga-se a Bahia e não o Ceará. Em verdade, pensa-se a Capoeira como sendo baiana, talvez pela divulgação da Capoeira que se tem hoje ter sido realizada em grande parte por mestres baianos. Porém, como já foi supracitado, o próprio Dossiê realizado pelo IPHAN não a reconhece como prática oriunda da Bahia e o Governo Federal a reconhece como Patrimônio Imaterial do Brasil. Também é verdade que a Capoeira desenvolvida no Ceará é muito jovem. Poucas ou quase nenhuma cantiga de Capoeira faz referência ao Ceará, mesmo já havendo uma produção cearense divulgada fora do Estado. Dizer que a Capoeira, praticada aqui, é da Bahia é um ledo engano, ou melhor, desconhecimento do assunto. Até porque, existem grupos oriundos do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, etc e que trazem inúmeras características desses Estados. Em qualquer bairro da cidade de Fortaleza percebe-se essa manifestação cultural como prática em ambientes fechados ou em praça pública. Essa cultura que é desenvolvida no Estado é bastante conhecida no exterior por ser uma capoeira solta, estilizada e cheia de floreios100. Pois bem, Mestre Pezão, para encerrar essas considerações iniciais sobre que capoeira estamos falando – e não falamos da baiana, por certo, e concordando com a professora citada acima, que cada estado ou região tem a sua história, inclusive da “sua capoeira”, e, concordo com Almeida e Silva (2012) 101, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e 96

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). 97 VIEIRA, 2005, obra ciatada, p. 39-40. 98 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. 99 MACENA, Maria de Lourdes. Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística. In I Fórum IOV Ceará de Folclore e Artes Populares. Fortaleza – CE. 2011. 100 In I FÓRUM DE FOLCLORE E ARTES POPULARES NA CIDADE DE FORTALEZA - IOV – Ceará, Internacionale Organisation für Volkskunst/Organização Internacional de Folclore e Artes Populares, 18 e 19 de março de 2011 101 ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br


Assunção (1998)102. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas103. Mestre Gavião, maranhense, já viajou por muitos estados brasileiros à procura de capoeira, e sempre buscou manter suas raízes, só absorvendo o que achava interessante para enriquecer sua capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, o viu jogando e perguntou: “Oh Mestre, essa sua capoeira é africana?”. Poderia – ou deveria! – ter respondido: “Não, é Capoeira do Maranhão, de São Luis, ludovicense!!!”. É a “Capoeiragem Tradicional Maranhense”, assim denominada pelos Mestres Capoeiras partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiras do Maranhão, adeptos da denominada ‘capoeira mista’, após os estudos realizados, passando de ora em diante a assim denominar seu estilo de luta, conforme correspondência pessoal, via Facebook, de Mestre Baé, em 28 de setembro de 2017. Pois bem, Pezão, agora a capoeiragem praticada no Maranhão é a CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. Temos a “nossa capoeira”, diferente da soteropolitana, baiana, carioca, ou qualquer outra que seja denominada104. 102

VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 103 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 104 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Alunos do Curso Sequencial de Educação Física turma C, da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Capoeiragem No Maranhão. Parte I. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão - Parte II - Afinal, O Que É Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Maranhão - Parte IV - Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte V - Capoeira regional". IN In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte VI - A Capoeira "CARIOCA". In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens++capoeiragem+no+maranhao VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Qual Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO (A) -“PUNGA DOS HOMENS”. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA. Volume 09, Número 02, jun/dez 2006 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Capoeira nos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança. JORNAL DO CAPOEIRA, Edição 73 - de 14 a 20 de Maio de 2006, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira, aluno do Curso Seqüencial de Educação Física, da UEMA, em trabalho apresentado à Disciplina História da Educação Física e dos esportes, ministrada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 2006. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, JORNAL DO CAPOEIRA http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cluster Esportivo de São Luis do Maranhão, 1860 – 1910. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, 2.7. http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis-maranhao1860-1910/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Punga dos Homens e Capoeira no Maranhão. In DaCOSTA, Lamartine PEREIRA. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006 disponível em WWW.atlasdoesportebrasil.org.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Pungada dos Homens & A Capoeiragem no Maranhão - MESTRE BAMBA, do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (préprint).


Perguntamos aos

Mestres Capoeira do Maranhão EXISTE UMA CAPOEIRA GENUINAMENTE MARANHENSE? O QUE A CARACTERIZA? EM QUE É DIFERENTE, POR EXEMPLO, DA ANGOLA, REGIONAL, E/OU CONTEMPORÂNEA? Ao que responderam: GRUPO 1. Todos concordam que ‘sim’; se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Punga. GRUPO 2. A principal característica era o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes com jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau. GRUPO 3. Sim; seu jogo executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo GRUPO 4. Existe a Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense é diferente da Angola, Regional, e Contemporânea porque ela é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições da Angola, regional e Contemporânea. GRUPO 5. Sim, Capoeira Ludovicense, praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formação de bateria, eram usados toques da capoeira Angola, são Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola e samba de roda. GRUPO 6. Existe; se diferencia porque é jogada em três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região.

MEMÓRIA DA CAPOEIRAGEM NO CEARÁ105 Ao se resgatar a Memória da Capoeira no Ceará, aqui proposta – e espero podermos dar continuidade à ela – podemos afirmar que a capoeira cearense é herdeira da capoeiragem tradicional maranhense? Pois conforme afirmam seus memorialistas e pesquisadores, a cearense é diferente da baiana, embora tenha bebido da mesma fonte, a partir da diáspora dos mestres baianos nos anos 1960, e a procura de mestres de vários estados, já pesquisados, pela capoeira praticada na Bahia, em especial as de Bimba e Pastinha. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM) REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL; IHGM, 2013. Em CD. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: edição do autor, 2013; 2015 (2ª Ed. Revista e atualizada), 2015 disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao ; issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g 105

https://www.youtube.com/watch?v=E0QF4QR-fHQ https://www.youtube.com/watch?v=TaOugpBkeSQ http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/ie-camara/cultura/lancamento-de-livro-que-conta-historia-da-capoeira-ce-nestaquarta-22/ http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/6035/1/2013-DIS-SCSILVA.pdf


Para Silva (2013) 106, poucos são os trabalhos científicos que abordam a história da capoeira cearense. Cita três obras elaboradas na contextura do universo acadêmico da cidade de Fortaleza - Barroso (2009) 107, Câmara (2010) 108 e Albuquerque (2012) 109. A primeira obra trata-se de uma publicação do Museu Histórico do Ceará, enquanto a segunda e a terceira são textos dissertativos submetidos à avaliação dos programas de pós-graduações strictu-sensu da Universidade Federal do Ceará. Ambas as dissertações destinam a essa temática um capítulo, em que se referem à origem da História da Capoeira no Ceará abordando teorias sobre o início da prática no Estado. Barroso (2009) aponta que a capoeira chegou à década de 1960 ao Ceará, e que essa informação foi proferida por capoeiristas cearenses, assim como capoeiristas baianos teriam mencionaram o mesmo dado durante o encontro Capoeira Viva, realizado na cidade de Salvador em 2007. O autor também informa que a capoeira foi trazida por cearenses recém-formados em Direito e Medicina da Universidade Federal da Bahia. Posteriormente menciona que a Capoeira Angola foi trazida ao estado por um médico nomeado mestre Andrezinho, aluno de mestre Bimba. De imediato, não faz o menor sentido tal informação, já que mestre Bimba é criador e maior símbolo da Luta Regional Baiana, popularmente conhecida como Capoeira Regional. Mestre Bimba foi um crítico ferrenho do estilo angoleiro de jogar capoeira. (de acordo com SILVA, 2013). Silva (2013) fala ainda de evidências das origens do ensino da capoeira no Ceará foram relatadas em Albuquerque (2012), páginas de 37 a 40. Dentre os fatos mais antigos, foi mencionada a participação de José Sisnando Lima, cearense que realizara estudos na Faculdade de Medicina da Bahia, na criação da Capoeira Regional na década de 1930. A passagem de mestre Bimba em Fortaleza para apresentar o espetáculo Uma noite na Bahia no Teatro José de Alencar em 7 de fevereiro de 1955, evento em que foi mostrado também a capoeira regional. E a afirmação de que o primeiro professor de capoeira no estado a formar discípulos que deram continuidade ao ensino dessa prática em território cearense teria sido José Renato de Vasconcelos Carvalho. De acordo com Albuquerque (2012) não existem levantamentos estatísticos acerca da quantidade de grupos de capoeira no Estado do Ceará, fato que comprova uma grande difusão dessa manifestação cultural na atualidade.

Ainda Silva (2013), ao analisar o trabalho de Câmara (2010), que tem como foco de estudo o Grupo de Capoeira Angola do Ceará, traz um esboço da história de vida de Mestre Zé Renato. Dentre as afirmações mencionadas, é possível deduzir primordialmente o estilo angoleiro do jogo desse mestre, além de também ser reafirmada a importância do 55 repasse de conhecimentos e saberes da capoeira na década de 1970. O protagonismo de José Renato no ensino da capoeira mostra-se de grande relevância, contribuindo para a crescente popularização da prática. Nesse trabalho são citados os quatro mestres que Zé Renato formou, porém a história da capoeira na perspectiva desses mestres não foi abordada em nenhum momento. Isso ocorre porque eles não possuem relação direta com o grupo de capoeira estudado, conferindo ineditismo a este texto. A partir desse momento iniciaremos maior aprofundamento sobre o protagonismo no ensino da capoeira cearense. Como já dito, o foco desta pesquisa se restringe aos quatro mestres formados por José Renato de Vasconcelos Carvalho, José Ivan, Jorge Negão, Everaldo Ema e João Baiano. Procuraremos, entretanto, elucidar brevemente o 106

SILVA, Sammia Castro.. PROTAGONISTAS NO ENSINO DA CAPOEIRA NO CEARÁ: relações entre lazer, aprendizagem e formação profissional. Dissertação submetida à Coordenação do Programa de PósGraduação em Educação Brasileira, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: História e Memória da Educação. Orientador: Prof. Pós-Dr. José Gerardo Vasconcelos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA/ MESTRADO NÚCLEO DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO. FORTALEZA (CE) 2013 107 BARROSO, Oswald. Folguedos afro-brasileiros no Ceará: uma aproximação com a capoeira no Ceará. In: HOLANDA, Cristina Rodrigues (org.). Negros no Ceará: história, memória e etnicidade. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secult/ Imopec, 2009. 108 CÂMARA, Samara Amaral. Práticas educacionais transmitidas e produzidas na capoeira angola do Ceará: história, saberes e ritual. Dissertação de Mestrado em Educação Brasileira- Núcleo de História e Memória da Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010. 109 ALBUQUERQUE, Carlos Vinícius Frota de. Tá na água de beber: Culto aos ancestrais na capoeira. Fortaleza, 2012. Dissertação (Mestrado em Sociologia)- Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará.


questionamento de alguns capoeiristas mais antigos sobre a hipótese de a capoeira cearense haver se manifestado anteriormente pela orla marítima de Fortaleza.

Para Ricardo Nascimento (2017)110, utilizando as pesquisas disponíveis sobre as origens da capoeira no Ceará, diz ser possível afirmar que, seu início, ocorreu nos anos 70 com José Renato de Vasconcelos Carvalho, conhecido na capoeira como Mestre Zé Renato, considerado, desse modo, o precursor da capoeira no estado (SILVA, 2013). Esta pesquisa revela ainda que, nos anos setenta, quando teve início o ensino da capoeira no Ceará, destacou-se o Centro Social Urbano Presidente Médici, em Fortaleza, onde ensinava o Mestre Zé Renato, lugar também onde teriam sido iniciados e formados outros quatro importantes mestres: José Ivan de Araújo (Mestre Zé Ivan), João de Freitas (Mestre João Baiano), Everaldo Monteiro de Assis (Mestre Everaldo Ema) e Jorge Luiz Natalense de Sousa (Mestre Jorge Negão). Coube a tais mestres, nas décadas que se seguiram, a tarefa de difusão da prática da capoeira na capital cearense, bem como em outras partes do estado.

A principal referencia, hoje, e recente, da capoeira cearense é Mestre Zé Renato, que ainda na década de 1960 retorna ao Ceará, após haver aprendido capoeira na Bahia, embora já tivesse contato com a mesma, de sua infância, em Fortaleza: Silva (2013) nos trás o seguinte relato: José Renato de Vasconcelos Carvalho, conhecido por mestre Zé Renato protagonista no cenário da capoeira cearense, natural de Crateús-CE é filho primogênito, dentre os sete que Joaquim Severiano Ferreira de Carvalho e Vicência Vasconcelos Carvalho criaram. Conheceu o universo da capoeiragem, aos dez anos de idade. Protagonista no ensino da capoeira no Ceará narra o cenário do primeiro contato que teve com a capoeira na cidade em que nasceu. Por volta de 1960, chegaram a Crateús muitos militares para o 14 Batalhão de Engenharia de Construção. Entre esses, havia Cipolati, sargento gaúcho que havia residido na Bahia por longa temporada, pai de Carlos e Evandro e ex-aluno de um famoso capoeirista, mestre Bimba. Cipolati foi o responsável por iniciar Zé Renato na prática da capoeira. A capoeira fazia parte das atividades em família do sargento Cipolati, pois esse treinava após o regresso do trabalho junto aos filhos. Ao ver a capoeira pela primeira vez, José Renato apaixonou-se e iniciou seus treinos com determinada família. Carvalho Filho (1997) conta que: [...] um militar que chegara a cidade [Fortaleza] vinha da Bahia e trazia consigo a arte da capoeira. O Mestre muito curioso fazia perguntas sobre a cidade do baiano, encantara-se com a ginga e com a habilidade do mesmo. Depois de terminado o primeiro grau, atual ensino fundamental, o Mestre inicia suas viagens pelo mundo da Capoeira, vai para a Bahia e conhece o famoso Mestre Bimba. Mestre Zé Renato terminou o Segundo Grau, atual Ensino Médio, em Ilhéus, onde jogava Angola na praia. Todo final de semana estava em Salvador para jogar na capital. Em 1967, retorna à sua terra natal. Mas com seu espírito inquieto, vai ao Rio de Janeiro, onde treinou com Mestre Leopoldina, grande nome da capoeira carioca. [...]Zé Renato defronta-se com a saída da família Cipolati da cidade, em decorrência de deslocamento militar. Desse modo procura novos companheiros de treino e, apesar da insistência em tentar convencer amigos a treinar, mestre Zé Renato passou a treinar sozinho. [...] aquilo ficou dentro de mim e por outra sorte, que eu digo que foi sorte, eu tinha um tio que também era sargento do exército, sargento Carvalho, passou a servir o exército lá em Crateús e certo tempo foi mandado pra Bahia. Ele tinha um filho, e pedi para ele pedir o meu pai pra eu ir com ele. Porque eu pensei, Bahia! Capoeira né! (CARVALHO, 2012).

Depois de retornar, em 1967, volta a procurar novas referencias, indo para o Rio de Janeiro e, em 1971, está no Maranhão!!! 110

NASCIMENTO, Ricardo. Políticas e performances: Um estudo de caso sobre o processo de patrimonialização da capoeira do Ceará. IN ACENO, Vol. 4, N. 7, p. 65-82. Jan. a Jul. de 2017. ISSN: 2358-5587. Cultura Popular, Patrimônio e Performance (Dossiê).


Silva (2013) nos conta, ao dar continuidade a trajetória de José Renato, que é importante ressaltar que nesse período que passou na Bahia adquiriu uma meta na vida, que era partir para o Rio de Janeiro e posteriormente para o Maranhão: De volta a Crateús e à família, porém permanece por quase um ano na terra natal, para logo em seguida partir para o Rio de Janeiro, aos 18 anos de idade, devendo ter ficado nesse Estado por volta de três anos. No Rio, foi jogar capoeira na Central do Brasil com o famoso mestre Leopoldina. Conhecido por Ceará e pelo jogo diferenciado, Zé Renato dedica–se ao aprendizado da capoeira em solo carioca, adquirindo sempre novos conhecimentos.

Ainda seguindo Silva (2013), pouco tempo depois, ao surgir uma oportunidade de trabalho no Maranhão, na área de topografia, o jovem José Renato ficou tentado atingir mais outra meta na vida que era a de conhecer o “berço de negros”, como ele mesmo diz: As experiências do Maranhão pelos idos de 1970 gravitavam ao redor de práticas de capoeira Angola, Tambor de Crioula e de todas as manifestações de que pôde participar. Amante das artes popularescas, Zé Renato defendeu a ideia de que naquela época os praticantes viam capoeira como arte, apenas isso.

Mestre Sapo é a principal referencia, renovando a capoeiragem maranhense, com uma fusão dos estilos, pois pertencera a um grupo folclórico que se apresentava pelo Nordeste. Ao se estabelecer no Maranhão, encontra uma capoeira jogada na rua – capoeiragem – de há muito existente, pelo menos desde a década de 1820. Ao misturar os estilos baianos, Angola e Regional, conforme o opositor, e mistura-la aos ritmos e balanceios do folclore maranhense, em especial do tambor de crioulo(a), onde acontecia a Punga dos Homens – espécie de capoeira primitiva -, criando um ‘estilo’ próprio, que vai se consolidar com seus discípulos, em especial Patinho. Já em Brasília, para onde se mudara, e após observar a capoeira praticada naquela cidade, declara: [...] ter tomado conhecimento de que o estilo regional estava sendo popularizado e praticado em Fortaleza [...] ele ressalta a importância da união entre o jogo baixo angoleiro e do jogo alto da regional e descreve que a sucessão de movimentos da capoeira se torna, desse modo, um movimento em onda com maiores possibilidades de ataque, defesa e malícia.

Os pesquisadores cearenses, que se dedicam ao resgate da sua memória confirmam que ela, a capoeira, praticada no Ceará é ‘cheia de floreios”... não teria sido influencia de Sapo? A Capoeira cearense é uma prática cultural, onde a luta e o espetáculo se misturam. Fortaleza, cidade praiana, é um cenário ideal para a prática de acrobacias que são aprendidas sem técnicas específicas nas praias aos domingos ou nos campos de futebol da cidade. Os movimentos acrobáticos, ou floreios, como são chamados pelos capoeiristas são utilizados para transformar o jogo em um espetáculo aos olhos de quem o vê. São movimentos de equilíbrio e flexibilidade como saltos, bananeiras e giros onde o capoeirista desafia seus limites corporais mostrando uma imensa capacidade sinestésico-corporal. O capoeirista executa esses movimentos também na intenção de enganar o outro jogador e de se movimentar de um lado para o outro da roda.

É o próprio Zé Renato que inclui a influencia do samba de gafieira, atividade tradicional que acontece de forma autêntica na região da Barra do Ceará desde meados da década de 50 do século XX. Pouca gente vai entender agora, mas um dia quando eu partir é que vão descobrir que o gingado cearense tem um diferencial dos outros, vem da gafieira [...] Mestre Armandinho que é uma pessoa de fora observou que nossa capoeira é diferente... Essa ginga trouxe esse diferencial. (CARVALHO, 2012).

Em 1972, Mestre Zé Renato regressa a Fortaleza, e começa o processo de implantação da capoeira no Estado. Ensinou nas Escolas Oliveira Paiva e Castelo Branco. Apresentou-se na TV, divulgando a cultura afro-brasileira. Teve como primeiro aluno Demóstenes. Devem ser também lembrados por serem co-


fundadores Jorge Negão, Everaldo, João Baiano, Márcio, Sérgio, Zé Ivan, George, Juarez, Datim, Antônio Luiz.111 Nas décadas de 1980/90, em Fortaleza só haviam dois grupos de capoeira, Senzala e Zimbi112. Neste apareciam nomes como Espirro Mirim, Geléia, Jean, Soldado, Lula, Ulisses, figura como Paulão, Canário, Dingo, Gamela, Araminho, Gurgel. José Olímpio Ferreira Neto, em sua dissertação intitulada “A HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO CEARÁ NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 ATRAVÉS DA MEMÓRIA E ORALIDADE” 113 nos trás que o ponto de partida é a participação do cearense Cisnando na constituição da Capoeira Regional de Mestre Bimba: Ele era um jovem que foi estudar Medicina na Bahia, pois na época não havia tal curso no Ceará. Lá conheceu Manoel dos Reis Machado, o famoso Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional. No documentário Mestre Bimba: A Capoeira Iluminada de 2007, o Mestre de Capoeira, Doutor Decânio fala sobre Cisnando e o início da Capoeira Regional. Referindo-se a história da Capoeira de Bimba, ele diz: “A história começa para mim, quando Cisnando chega na Bahia. Ele corre aos capoeiristas, só encontrou um que ele respeitou, que era um negão, que era carvoeiro na Liberdade, que era Bimba” (sic).

Cisnando foi um capoeirista que contribuiu para a história da Capoeira, mas infelizmente não desenvolveu trabalho no Ceará e até onde se sabe não formou discípulos.

FOTO: Bimba y Cisnando -FUENTE: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp020539.pdf

Em 1997, é publicada em Fortaleza, a história do Mestre Zé Renato através de um cordel de autoria de José Bento de Carvalho Filho, vulgo Zelito. O referido autor conta através de versos a história do Mestre Zé Renato, relatada pelo mesmo e confirmada pelos capoeiristas e alunos que conhece tão admirável nome que inicia a caminhada da Capoeira na Terra da Luz: Em vinte e quatro de maio, / De cinqüenta e um nasceu,/ Em Crateús e cresceu / Na arte fazendo ensaio, / Para brilhar como um raio,/ O artista Zé Renato; / Mestre em artesanato/ E também em capoeira,/ Essa luta brasileira/ Feita por negros no mato . (CARVALHO FILHO, 1997, p. 1)

Além do Mestre Zé Renato outro mestre que contribuiu para o início do desenvolvimento da Capoeira cearense foi o Mestre Esquisito. Ele trouxe o estilo Regional ao Estado. Onde tem atualmente o Grupo 111

CARVALHO FILHO, José Bento de. Capoeira: a história do Mestre Zé Renato. Literatura de cordel. Fortaleza – CE, 1997. QUEIROZ, Robério. Mestre Ratto. Disponível em: acessado em 30/05/2011. 113 Disponível em http://www.uece.br/eventos/encontrointernacionalmahis/anais/trabalhos_completos/52-5434112

26082012-231518.pdf


Terreiro que contou em seu elenco com os saudosos Mestres Soldado e Samurai. Este último deu uma contribuição para o ingresso na Capoeira no meio acadêmico. (CARVALHO FILHO, 1997). A Associação Zumbi do Mestre Everaldo tem entre seus Mestres associados, Lula, Ulisses, Júnior, Jean, Geléia e Wladimir. Este último mora no exterior, divulgando a capoeira do Ceará. O Mestre Lula atua na Prefeitura de Fortaleza ajudando capoeiristas, de qualquer grupo, a desenvolverem projetos na cidade. (CARVALHO FILHO, 1997). O Mestre Ulisses atua no Centro Social do Bairro Henrique Jorge. Os demais também dão sua contribuição através de aulas e rodas. (CARVALHO FILHO, 1997). Carvalho Filho (1997) não deixa de citar também o Mestre Paulão do Ceará que na década de oitenta divulgou bastante a Capoeira no Estado, indo para o exterior no início dos anos 1990. Ele teve discípulos como os mestres: Ratto, Zebrinha, Ferrim, Picapau, Envergado, dentre outros que formaram seus grupos. E outros como Kim, Cibriba, Marcão, Juruna que continuam a divulgar a Capoeira do estado no Brasil e no Exterior Para Ferreira Neto (?) 114, outro nome que é destaque mundial é o Mestre Espirro Mirim. Ele iniciou na Capoeira em 1979, com o Mestre Everaldo, do Grupo Favela, que mais tarde mudou o nome para Grupo Zumbi. Em uma matéria de uma revista especializada em Capoeira o Mestre Mirim (2001, p. 25) diz o seguinte: “Em 1984, fui formado pelo Mestre Everaldo, porém eu não parei de treinar […] resolvi viajar para o Rio de Janeiro […] onde treinei no grupo Palmares com os Mestres Branco e Gomes”. Lá quiseram colocá-lo para dar aulas, mas ele queria aprender mais, então foi para São Paulo, onde se identificou com o Mestre Suassuna com o qual está até hoje. Em 1988, Espirro Mirim formou-se professor pelo Grupo Cordão de Ouro, ano em que trouxe o grupo para Fortaleza e começou seu trabalho. Em 1991, ele recebeu o título de Mestre, depois de pouco mais de uma década de treino. O Mestre Espirro Mirim inicia sua carreira internacional em 1992 quando vai para São Francisco nos EUA, através do Mestre Caveirinha, para ministrar cursos para os americanos, retornando diversas vezes. Em 1996, foi para Israel também através do Mestre Caveirinha. Realiza seu primeiro encontro internacional em 1999 trazendo diversos nomes da Capoeira mundial como o Mestre Caveirinha e o capoeirista e ator César Carneiro que trabalhou no filme Desafio Mortal, ao lado de Van Damme; e Esporte Sangrento, ao lado de Mark Decassos. Continuando com esse pesquisador, apresenta-nos: Robério de Queiroz, conhecido como Mestre Ratto, fundou o Centro Cultural Água de Beber. O mesmo atua através desse centro cultural composto por vários alunos em diversas frentes da capoeira. Ofereceu um curso de Capacitação e Formação de Profissionais de Capoeira com certificado emitido pela UFC, em 2009 e no mesmo ano a segunda etapa do curso, dessa vez com apoio da Faculdade Católica, Governo Federal e Banco do Nordeste. O Mestre Chitãozinho, por sua vez, fundou o Grupo Negaça Capoeira, publicou quatro livros, oferecendo uma contribuição bibliográfica ao mundo da capoeira e em especial ao estado cearense. Seu primeiro livro foi Capoeira sob uma nova visão, seguido de O ABC da Capoeira, Consciência Capoeirística e A morte de Besouro. Todos produzidos por sua iniciativa pessoal sem grande apoio.

Carlos Magno Rodrigues Rocha (2006)115 afirma que “Diferentemente da Capoeira de rua praticada até hoje em Salvador, a Capoeira de Fortaleza caracteriza-se por ser ensinada e festejada em ambiente fechado, como clubes, academias e residências, e de uma maneira mais pontuada nas praças e nas praias, geralmente motivadas por eventos ou datas comemorativas”. Continuando com Nascimento (2017), este autor traz duas outras hipóteses da introdução da Capoeira: 114

FERREIRA NETO, José Olímpio. A HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO CEARÁ NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 ATRAVÉS DA MEMÓRIA E ORALIDADE (Direito - UNIFOR) jolimpioneto@hotmail.com História, Memória e Oralidade 115 ROCHA, Carlos Magno Rodrigues. A CAPOEIRA NO CEARÁ. Monografia apresentada ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais. Orientadora: Profa. Dra. Simone Simões Ferreira Soares. Fortaleza – Ce, 2006


[...] outras narrativas existentes, alimentam a ideia de que, os primórdios da prática da capoeira do Ceará teve início com o retorno de cearenses, formados em Direito e Medicina nas universidades baianas, que teriam aprendido capoeira naquele estado com Mestre Bimba, criador da capoeira Regional baiana (Neto, 2012). De volta ao estado, após o término dos seus respectivos cursos, alguns destes ex-alunos de Bimba, teriam dado aulas e iniciado alguns neófitos na arte da capoeiragem. Uma terceira narrativa, mais remota, argumenta que existiam escravizados ou negros libertos nos munícipios do Ceará que saberiam e utilizavam formatos gestuais da capoeira e que, estas referências estariam presentes em alguns relatos de passagens em livros locais.

Pois bem, Mestre Pezão: essa é a história da capoeira cearense relatada em diversos trabalhos acadêmicos... Mas ela é muito mais antiga!!! O que ocorreu na década de 1960, também ocorreu em diversos estados do Brasil, quando a capoeira baiana – com a diáspora de seus mestres – “invadiu” outras terras, sufocando as capoeiras primitivas, já existentes. Ao se estudar as origens das capoeiras no Brasil, verifica-se esse fenômeno. Mas ela surgiu, quase que no mesmo período, com variações de alguns registros de anos, ou mesmo décadas, em diversos locais, não apenas Rio de Janeiro, Bahia, e Pernambuco. Verificamos que no Ceará aparece, já, na década de 1830, com a prisão de ‘um capoeira’, conforme consta do Diário do Império, edição de 1832, seção correspondente aos acontecimentos no Ceará, certamente referentes às estatísticas do ano anterior:

A primeira referencia com a palavra ‘capoeira’ no Jornal ‘O Cearense” – circulou de 1846 a 1891 - data de 1847; na edição de 04 de janeiro de 1952 de numero 20, refere-se à mato rasteiro, em uma poesia, que não identificamos o autor. As referencias seguintes também tratam de mato rasteiro... São 84 referencias nesse jornal, sendo a primeira, de capoeira como individuo praticante de uma luta, data de 1852 – “O Cearense”, edição de 17 de dezembro, n.588-, aparece nota sobre o alferes João Torres, que teria sofrido ataque de “um capoeira”:


Na edição de 13 de setembro de 1853, refere-se à artigo publicado em outro jornal, “Pedro II” – circulou de 1840 a 1889 - como era normal naquele tempo -, rebatendo notícia veiculada, referindo-se à ‘capoeira’, no seu sentido de denegrir outrem, como facinoroso:

No ano de 1858, edição de 28 de novembro, a nota – editorial – do jornal, defendia-se do sr. João Silveira de Souza, publicada, também, no jornal “Pedro II”, chamando-o de ‘pobre capoeira”:


Em “O SOL”, de 05 de maio de 1859

‘O CEARENSE’, em sua edição de 28 de outubro de 1862, publica carta de um leitor, da cidade de Santa Quitéria, relatando os acontecimentos políticos, refere-se a um cidadão a quem acusa ser ‘capoeira’, pelas injurias que assacava:


Novamente em ‘O Cearense’, na edição de 10 de novembro de 1863, consta:

Já na “GAZETA edição de 18 de o seguinte:

OFFICIAL DO CEARÁ”, novembro de 1863, consta


Em 24 de novembro, em ‘O Cearense”, há uma resposta, com o mesmo título, à nota da “Gazeta Official, de 18 de novembro (acima),

Em “O Tagarella”, em sua edição de março de 1865 traz-nos:

Em “A Constituição” – circulou de ‘863 a 1889, de 23 de outubro de 1865 a referencia também é de malfeitor:

Voltamos a “O Cearense, edição de 12 de janeiro de 1866, em nota ‘de repudio’, contra o que fora publicado em outro jornal, pelo sr. Francisco Manoel Dias, taxando-o de ‘capoeira’


Nesse mesmo ‘O Cearense, edição de 22 de novembro de 1868, noticia de um assassinato em Indaiá:

Na edição de 12 de outubro de 1869, noticiado o assassinato de um capoeira, por sua mulher:

Esse crime continua repercutindo na cidade, sendo que no relatório dos crimes do mês, também aparece, como Maria Mussu tendo assassinado a José Capoeira, no bairro do Livramento, da capital. Na edição de 16


de dezembro de 1869 dá-se mais detalhes, informando-se que José capoeira chegara recentemente do Paraguai:

23 de julho de 1871, publicado o seguinte diálogo, em O Cearense:

E derrubam-se ministros por meio de rasteiras e cabeçadas, conforme a edição de 30 de maio de 1872, d’ O Cearense, sobre boatos publicados em A Reforma:

Em “O Pyrilampo”, de 15 de março de 1874, pedia-se que se ensinasse capoeira a alguns jornalistas:


“O Cearense”, em sua edição de 24 de junho de 1874 publica anúncio de fuga de um escravo, oferecendo-se recompensa; uma das características, era o andar de capoeira:

16 de janeiro de 1876, em O Cearense, em correspondência da cidade de Ipu, Arthedouro Burgos de’Oliveira acusa ao juiz da cidade de o haver agredido, utilizando-se de golpes à moda de capoeira:


A 13 de abril de 1876, também em O Cearense, em todas a pedido, do interior, um juiz, em suas decisões, contrariando interesses políticos, é comparado à ‘um capoeira”:

Desta vez, e não é a primeira, um padre é chamado de ‘capoeira’, dada a sua truculência em tratar de seus paroquianos, também por divergências politicas, conforme o Cearense de 27 de agosto de 1876:


No jornal “A Gazeta do Norte”, do ano de 1880, edição 74, - circulou de 1880 a 1890 -aparece pela primeira vez o termo de busca ‘capoeira’, referindo-se à mato raso. Na edição de 07 de dezembro, n. 149, já se refere a facínoras,

Em “O Libertador” – órgão da Sociedade Cearense Libertadora, com edições de 1881 a 1889, na sua publicação de 17 de março de 1881, em sua sexta edição, ‘capoeira’ significando malfeitor e vagabundo. Temos a identificação de um capoeira, Júlio de Vasconcelos, português, de cor branca, preso por ser vagabundo e capoeira, embora redator de um jornal rival, O Cruzeiro:


Como já apontamos mais acima, no jornal “Pedro II”, do ano de 1852, edição 1090, aparece como referindose a uma localidade, Capoeira do Araújo, a mesma que aparece por essa época em vários jornais, quando da construção de uma estrada. Noticias de crimes associavam o uso de facas à capoeiras, como malfeitores, aparecem em sua edição 84, de 1881:

Em A GAZETA DO NORTE, edição de 28 de abril de 1881, um delegado de policia desafia os presos a jogar capoeira:


O “Pedro !!” em sua edição de 27 de novembro de 1881 trás os instrumentos utilizados na capoeira – o cacete:

N’A GAZETA DO NORTE, edição de 7 de fevereiro de 1882, em resposta, novamente a designação de ‘capoeira’ a indivíduo sem caráter:

Em O Libertador de 12 de abril de 1886, ao noticiar a prisão de um Cearense, como era conhecido José Francisco das Chagas, de 20 anos de idade; é apresentada sua ficha criminal, com várias prisões, por vagabundagem, embriaguez e furto. Algumas dessas prisões, pelo exercício de capoeiragem, ou por capoeira:


1883

O Libertador, na edição de 18 de fevereiro de 1887, caracteriza um capoeira:

O CEARENSE de 20 de julho de 1887 anuncia o recebimento do numero 13 de A Quinzena, e ao apresentar o sumário, um dos temas é ‘Capoeira”:


No “Constituição” de 10 de fevereiro de 1888, mais uma nota policial, envolvendo um capoeira:

O jornal “José de Alencar”, órgão do grêmio literário do mesmo nome, em sua edição de 16 de outubro de 1892, traz-nos umas memórias “do Torres”, escrito por Jubas Coréa; ao descreve-lo:


Em “A República” – fusão de O Libertador e Estado do Ceará, editado de 1892 a 1897, em sua edição de 28 de maio de 1893, refere-se a um tal de “Domingos Capoeira”:

N´A Republica de 10 de março de 1895, outra nota de uma agressão, sendo um dos contendores, um capoeira:


Jornal “O Republicano”, de 28 de dezembro de 1895:

No “Jornal do Ceará, edição de 03 de agosto de 1904, também se refere à mato; na edição de 26 de agosto, noticia de um crime, ocorrido em Acaraú-Mirim:

O REBATE, de 1907 traz:


No jornal “A Nota”, em sua edição de 30 de julho de 1921,

No “O Ceará”, de 30 de março de 1928, com o sentido de mato; na de 04 de abril, refere-se à navalha de um capoeira:

Em “A Razão” – publicado de 1929 a 1938, na edição de 02 de outubro de 1930, refere-se à luta:


Verifica-se que a maioria das referências se tratam de mato rasteiro, ou a ‘capoeira de galinhas, de patos, perus, e mesmo de maracujá.’. Mas há muitas indicações da “capoeira” como confronto, seja físico, através de lutas e/ou ataques à pessoas, seja como tentativa de qualificar as pessoas, na sua maioria, uma autoridade ou seu preposto, denegrindo-o, chamando-o de ‘capoeira’, ou fazendo uso de ‘capoeira’ como forma de se manifestar, e a sua maioria, nesse caso, de xingamentos entre jornalistas e redatores dos diversos jornais... Nada diferente do ocorrido naqueles estados em que já se fez esse resgate da memória... Vamos ouvir, agora, os Mestres...



Publicado hoje, 04/setembro/2018 no CEV

Querido Professor Dimas Por: Denise Martins de Araujo e Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 488 páginas. Editora EPP. 2014 Send to Kindle

Sobre a Obra Apresentção Em uma das minhas inúmeras visitas à Escola de Natação "Viva Água", em conversas com a sua diretora pedagógica, Profa. Denise Martins de Araújo, esta me demonstrou sua preocupação com seu pai, o Professor DIMAS - como é mais conhecido Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo -, que vinha apresentando alguns problemas de saúde e já estava com 72 anos de idade... Esses comentários surgiram devido a dois acontecimentos recentes - falecimentos do Prof. Ronald da Silva Carvalho (06 de novembro de 2000) 12 e do jornalista Dejard Ramos Martins (07 de novembro de 2000)3, e a perda que representavam para a memória da educação física e dos esportes maranhenses - assim como a morte de Mary Santos4, de Rinaldi Maia5, de Cecília Moreira6, de Rubem Teixeira Goulart 7 -, sem que fosse ouvidos sobre o período de implantação da Educação Física escolar em Maranhão. Ver Arquivo (PDF)


II INTERNATIONAL CONGRESS OF SPORTS HISTORY XV Congresso de História do Esporte, do Lazer e da Educação Física Prezado autor, Temos a alegria de informar que a proposta de comunicação intitulada “Jiu-jitsu, Jujutsu, ou Judô: o que se praticava em São Luis?”, de autoria de Leopoldo Gil Dulcio Vaz foi aceita pela Comissão Científica do XV Congresso de História do Esporte, do Lazer e da Educação Física / II International Congress of Sports History. A apresentação integrará a programação do evento, que acontecerá entre os dias 6 e 9 de novembro de 2018, na Universidade Positivo, na cidade de Curitiba (PR). O texto será incluído no caderno de resumos. Outras informações estão disponíveis na página: http://chelef2018.infratechit.com.br/. Agradecemos seu interesse. Será um prazer nos reunirmos em novembro, em Curitiba. Atenciosamente, Comissão Organizadora CHELEF.


ANA LUIzA ALMEIDA FERRRO https://issuu.com/penclubedobrasil/docs/revista_conviv_ncia_n_._7


O ESTADO MA – PH REVISTA 30/06-1º/07

Ana Luiza Almeida Ferro está em Universidad de Salamanca. 12 h · Salamanca, Espanha ·

Defesa de trabalho de pesquisa "O mito da Máfia: Espanha e Brasil", perante banca examinadora de três professores, na tradicional Universidad de Salamanca, o qual foi aprovado com considerações elogiosas, como último requisito para a obtenção do certificado de Postdoctorado de Derechos Humanos en la Universidad de Salamanca (CEB-USAL).


"Crime de colarinho branco: perspectiva criminológica" no IV Congresso Internacional Dimensões dos Direitos Humanos, na Universidade Portucalense, cidade do Porto, Portugal.

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DIREITOS HUMANOS


Palestra na Universidade Portucalense, no Porto - Segurança e as suas múltiplas dimensões, com o tema "ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS BRASILEIRAS", incluindo referência a estatutos e refrões de funks de organizações criminosas do Maranhão.

No programa ENTREVISTA COM MOREIRA SERRA, em agradável bate-papo com o advogado Geomilson Alves Lima. A entrevista será exibida no domingo, a partir das 10h, em um dos blocos do programa, pela TV Cidade, Rede Record, Canal 6. Fica o convite...


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO-IHGM Sócia do IHGM defende pós-doutorado em Salamanca e faz Conferência em Portugal Posted: 08 Aug 2018 03:10 AM PDT

A Promotora de Justiça e escritora Ana Luiza Almeida Ferro, sócia do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, tornou-se pós-doutora pela Universidad de Salamanca, Espanha, a quarta mais antiga do mundo, após apresentar, com sucesso, perante uma banca examinadora de três membros, formada por dois professores espanhóis e uma professora brasileira, o trabalho de pesquisa intitulado "O mito da Máfia: Espanha e Brasil", no Colégio Arcebispo Fonseca, naquela universidade, no dia 10 de julho, como requisito final para a conclusão do Programa Postdoctoral "Derechos Humanos en perspectiva comparada: Brasil y España". O trabalho mereceu considerações elogiosas da banca. Já no dia 13 de julho, a jurista proferiu palestra, com o mesmo tema de seu trabalho de pós-doutoramento, “El mito de la Mafia: España y Brasil”, no XXI Congre so Internacional de Historia de los Derechos Humanos de la Universidad de Salamanca: La segunda generación de los derechos humanos, em Salamanca. A jurista ainda proferiu mais duas conferências na Universidade Portucalense, na bela cidade do Porto, Portugal, a primeira sobre o tema "Crime de colarinho branco: perspectiva criminológica", no IV Congresso Internacional Dimensões dos Direitos Humanos, promovido pelo Departamento de Direito da UPT e pelo Instituto Jurídico Portucalense (IJP), no âmbito do Grupo de Investigação Dimensions of Human Rights, e a última sobre o tema “Organizações criminosas brasileiras”, no Seminário Direitos Humanos, Segurança e as suas múltiplas dimensões, do mesmo congresso, na qual mencionou, inclusive, algumas facções maranhenses. Também Ana Luiza foi entrevistada sobre sua trajetória acadêmica e literária no programa Entrevista com Moreira Serra, do Canal 6, TV Cidade, Rede Record, no dia 29 de julho. E teve mais um poema de sua autoria traduzido para um idioma estrangeiro. Trata-se de “Desperdício”, traduzido para o italiano, sob o título “Sperpero”, na Revista Il Convivio, da Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, edição 72, p. 43. A Il Convivio é uma revista trimestral de poesia, arte e cultura, voltada, sobretudo, para a poesia e o conto de língua italiana, francesa, espanhola, portuguesa e romena e a pintura europeia. O mesmo poema da escritora foi igualmente publicado na mais recente edição da Revista Convivência, a de nº 7, p. 14-15, que é a Revista oficial do PEN Clube do Brasil, destinada à publicação de ideias e pesquisas literárias e culturais. Na Revista Il Convivio, a poesia de Ana Luiza foi traduzida pelo Sr. Angelo Manitta, presidente da referida Academia italiana, autor, dentre outras obras, de A ragazza di Mizpa (“A moça de Masfa”), de 2018, contendo poemas em italiano, mas com tradução para o português, em edição bilíngue da Il Convivio Editore.



DANIEL BLUME Aprovado como membro efetivo do PEN CLUBE DO BRASIL Indicação dos escritores maranhenses José Sarney (ABL) e Ana Luiza Almeida Ferro (AML). A sugestão foi sufragada pelos integrantes do octagenário sodalício literário, a exemplo de Nélida Pinõn, Cláudio Aguiar, Paulo Coelho, Carlos Nejar, Arnaldo Niskier e Jô Soares.

DOUTORANDOS DA UNIVERSIDADE AUTÔNOMA DE LISBOA LANÇAM LIVROS EM PORTUGAL, NO SECULAR CAFÉ “MARTINHO DA ARCADA”.


“Resposta ao Terno” ganha versão em espanhol






ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Reunião, 07/08, com a Reitora da UFMA, professora Nair Portela, acertando detalhes do Evento comemorativo dos 50 anos de formatura da primeira turma de Economistas do Maranhão, a ser realizado no próximo mês de setembro. Na foto, também estão os professores Heric e Lindalva, do Departamento de Economia, e o professor Brandão, que fará palestra no dia 24 do referido mês sobre o tema: “Desafios à teoria econômica: a política monetária em tempos de crise.”


ANTONIO NOBERTO http://all.slz.br/falando-de-um-novo-brasil/ Palestra ministrada no Congresso Brasileiro dos Guias de Turismo em 2016. Agora disponível aqui no meu perfil e no site da Academia Ludovicense de Letras (ALL). O vídeo é grande, mas vale a pena conferir. Um passeio peka história do Brasil com uma visão bem crítica. Assista. Você vai gostar.

ALL.SLZ.BR

Falando de um novo Brasil 07/08/2018 | por ALL In Notícias Na palestra “Guia de turismo, agente de um Brasil plural”, mini

AMIGO DO BATALHÃO Homenagem que recebi ontem à noite (31) do Exército, no 24 Batalhão de Infantaria Selva (24 BIS), por ocasião dos 148 anos do Batalhão. A comenda se deu pela contribuição que estamos dando em palestras e eventos a oficiais, esposas de oficiais e demais integrantes do Exército, atualmente vinculado à Macapá/AP. Agradecimento ao Comandante, Coronel Marcus Vinicius, que nos diplomou como "Amigo do Batalhão", e ontem ele subiu de patente, ao passar de Ten Cel para Coronel. Parabéns ao Comandante pela nova patente e pela condução do Exército no estado do Maranhão. Antonio Noberto Membro da ALL e do IHGM


DUAS ENTREVISTAS NESTE SÁBADO, 8 DE SETEMBRO, data de nascimento da cidade de São Luís, capital do Maranhão. São 406 anos bem vividos. Ligue seu rádio e acompanhe. Parabéns à única capital brasileira fundada pelos franceses.



França Brasil ao longo de cinco séculos Homenagem aos 406 anos de fundação de São Luís e ao 5º aniversário da Academia Ludovicense de Letras (ALL) *Por Antonio Noberto O historiador Capistrano de Abreu (1853 – 1927) mencionava que os papagaios brasileiros sabiam falar francês, e que no início do século XVI não se sabia “se o Brasil seria colonizado por portugueses ou por franceses”. A assertiva é um resumo do capítulo inicial da relação histórica França Brasil, marcada pela constância corsária, que alternava momentos de disputa e de amizade. A presença gaulesa naquele período era tão marcante que o descobrimento do Brasil já foi creditado a um navegador francês, chamado Jean Cousin, que teria aportado na terra Papagalis em 1488, leitura rechaçada por alguns estudiosos, especialmente aqueles que defendem o legado de Cabral na missão do descobrimento. O que dizer da amizade do Caramuru, o “primeiro brasileiro”, com o importante navegador francês Jacques Cartier, que o levou à França e o hospedou com sua família por um bom tempo. Some-se a fundação da França Antártica no Rio de Janeiro (1555) e da França Equinocial no Maranhão (1612), períodos marcantes da história colonial brasileira. Com a chegada da família real portuguesa em 1808, um novo momento se descortinou para o Brasil, quando a França nos apresentou a beleza das artes e das letras através da Missão artística francesa de 1816, popularizada como a Missão Lebreton que nos inseriu de vez no neoclassicismo, modelo europeu vigente. O selo de união França Brasil veio com os casamentos entre as famílias Orleans, Bragança e Bourbon, no século XIX. Desde então, a relação e a cooperação bilateral nas mais diferentes áreas, a exemplo do setor tecnológico, da engenharia e do turismo vem fomentando o mais novo capítulo na relação França Brasil ao longo de cinco séculos. Um dos primeiros relatos destacados da presença de estrangeiros no Brasil colonial refere-se a chegada do normando Binot Palmier de Goneville, aportado em 1504, provavelmente na região onde hoje se encontra a cidade de São Francisco do Sul/SC, vizinha a Joinville, na região fronteiriça com o Paraná, no sul do Brasil. Uma estada entre os índios carijós conferiu ao capitão um status de amizade e confiança suficiente para o chefe indígena Arosca permitir a ida do seu filho Essomericq (Içá + Mirim = formiga pequena) à França. A embarcação l’Espoir (Esperança) foi atacada por piratas quando atravessava o Canal da Mancha, ocasião em que apenas três dezenas escaparam do naufrágio. Em Rouen, na Normandia, o jovem Essomericq, de 15 anos, teve educação europeia, casou-se com uma filha de Binot e deixou grande descendência na França. Esse contato normando–catarinense ganhou grande destaque nas comemorações dos 500 anos do Brasil, no ano 2.000, quando os francisquenses reivindicaram o status de primeira cidade brasileira. Logo em seguida, entre 1509 e 1510, a relação França Brasil seria ilustrada pelo malogro de uma embarcação francesa no litoral leste, momento em que o português Diogo Álvares Correia, o Caramuru (que significa enguia ou lampréia), também conhecido como o “primeiro brasileiro”, naufragou em uma embarcação francesa nas proximidades do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia. Anos depois, em 1528, o Caramuru e a esposa, a índia Paraguaçu, foram levados para a França pelo famoso navegador de Saint-Malo, Jacques Cartier, de quem se tornou amigo. Paraguaçu foi batizada na cidade bretã fortificada, onde recebeu o nome da sua madrinha e esposa de Cartier. Desde então, a índia tupiniquim passou a ser chamada de Catherine Álvares Paraguaçu, nome representativo da parceria harmoniosa franco-brasileira. Um pouco mais acima, a partir de 1531, um famoso capitão francês, conhecido como Barão de Saint-Blancard, trabalhando para o rei gaulês Francisco I, mantinha uma feitoria no litoral pernambucano, próximo a Recife e Itamaracá. A expulsão do mesmo de terras pernambucanas foi o divisor de águas para o reino português iniciar a divisão do Brasil em capitanias hereditárias objetivando a colonização das terras recém descobertas. No Rio de Janeiro, em 1555, a esquadra comandada por Nicolas Durand de Villegaignon deu início à colonização da Guanabara. Naquele período, em amizade com os índios tamoios, estabeleceram uma Henriville no local que se tornou um cartão postal do Brasil. Alguns fatos negativos, no entanto, dificultaram a vida na colônia, especialmente as disputas religiosas trazidas da Europa. As relações com os nativos se davam na Glória, próximo ao Flamengo, o que só foi alterado quando da chegada das tropas portuguesas de Estácio de Sá, em 1565, que depois da saída dos franceses, transferiram a nascente cidade para a região do Morro de São Januário.


Poucas décadas depois, em um espaço temporal situado nos anos 1580 e 1590, no nordeste brasileiro, entre o rio Paraíba (que quer dizer “rio ruim para navegar”) e o rio Potengi (rio do camarão), o navegador Jacques Riffault assinaria um novo capítulo na relação. Em 1591 ele deixou sua base do Riffoles, na margem direita do rio Rio Grande, berço da capital potiguar, e avançou sobre a recém-criada fortaleza do Cabedelo, porém sem sucesso. Em 1594 chega ao Maranhão, onde deixa o seu imediato, Charles Desternou des Vaux, comandando centenas de marinheiros franceses, juntamente com outros que já habitavam a Ilha Grande, atual capital maranhense. Nesta mesma década, acompanhado de Adolphe de Montville e de duas dezenas dos seus pares, fundam uma pequena colônia na Serra da Ibiapaba, no município de Viçosa do Ceará, onde estabelecem a Rua Paris e a Rua Pedra Lipse, existentes até hoje e que dão acesso à Igreja do Céu, no topo da cidade. Uma década depois, Des Vaux viaja à França e procura o influente fidalgo huguenote Daniel de la Touche, senhor de la Ravardière, para uma empreitada de uma colônia no norte do Brasil. Nasce a partir daí a França Equinocial, tendo Louisville como sede, pequena cidadela fortificada na atual Praça Pedro II, marco zero da capital do Maranhense, onde abriga o palácio do governo estadual, o paço municipal e o palácio da Justiça. Mesmo com vários relatos distorcidos sobre a presença estrangeira no Brasil, é certo que os franceses foram decisivos na fundação de balizas e de cidades importantes ao longo do Brasil colonial, quando direta ou indiretamente participaram do início de cidades como São Luís (MA), Rio de Janeiro (RJ), Cabo Frio (RJ), Natal (RN), São Francisco do Sul (SC), Bragança (PA), Cametá (PA), Marabá (PA), Belém (PA), Viçosa do Ceará (CE), Miracatu (SP) e tantas outras. A expansão do iluminismo francês no século XVIII teve reflexos no mundo inteiro, inclusive no Brasil colonial, então muito refratário à razão. Mesmo a política a ferro e fogo aplicada pela coroa portuguesa no Brasil não conseguiu impedir que os ideais iluministas tivessem eco por aqui. A Inconfidência Mineira de 1789 é um bom exemplo. Igualmente a política expansionista de Napoleão, que em 1808, invadiu Portugal e forçou a vinda da Família Real portuguesa para Salvador e, em seguida, para o Rio de Janeiro. Poucos anos depois, com a queda do poderoso governante francês em 1815, no ano seguinte, o país receberia a primeira missão artística, a Missão Lebreton ou Missão Artística Francesa de 1816, um grupo de artistas renomados que revolucionou o panorama das artes e do ensino no século XIX no Brasil. Foi essa Missão, liderada por Joachim Lebreton, que contava ainda com Jean Batiste Debret, Nicolas-Antoine Taunay, Auguste Grandjean de Montigny e tantos outros, que ajudaram fortalecer o neoclassicismo no país, que teve como resultado, dentre outros, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (mais tarde Academia Imperial de Belas Artes e depois Escola Nacional de Belas Artes). A histórica relação colonial e bilateral entre as duas nações, os casamentos entre as dinastias Bourbon e Bragança e Orleans e Bragança, firmaram fortes laços entre Portugal, França e Brasil, presentes no sangue, no idioma, nos usos e costumes, no ensino, na arquitetura, nas tecnologias, etc., como testemunhas de cinco séculos de amizade franco-brasileira. *Antonio Noberto é membro-fundador e presidente da Academia Ludovicense de Letras (ALL); sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e curador da exposição França Equinocial para sempre, em cartaz em São Luís/MA


JORNAL PEQUENO – ESPECIAL – 08/SETEMBRO 2018

A fundação de São Luís sob a luz da crítica e da razão *Por Antonio Noberto Uma das marcas seculares negativas do nosso país é a prevalência de interesses escusos, que desviam a população da convivência coletiva e a transforma em uma colcha de retalhos fragilizando-a perante a ganância generalizada. Tal característica convida os mais atentos a serem críticos e ficarem alertas quanto as argumentações viciadas que nos bombardeiam por todos os lados. São sofismas (argumentos concebidos com o objetivo de produzir a ilusão da verdade) que quase sempre maqueiam a ambição, com aparência de algo verdadeiro, pois embalados em um bonito pacote repleto de meias verdades que muitas vezes seduzem o mais experiente acadêmico, mas que no final não passam de iscas e antolhos que acomodam as massas e evitam que o “gado se desvie do matadouro” histórico da corrupção e da burocracia estatal escravizantes. E nesse eterno mundo fake infligido aos nacionais, o brasileiro permanece há cinco séculos sendo espoliado e pagando tudo muito caro recebendo muito pouco em contrapartida, resultado das mágicas e do ilusionismo produzido pela política e disseminado através da mídia, da escola, de universidades, etc., onde algumas pessoas fazem o elo com os interesses diversos, acomodando o povo na mera e pobre condição de colonizado e de maior pagador de imposto do mundo. Um desses falsos argumentos, criado há alguns anos pela política e disseminado por grupos de interesses encrustados no seio acadêmico, é a contestação da fundação francesa de São Luís, que no intuito de desviar a atenção e encerrar o assunto fez uso do termo mito, espécie de cortina de fumaça para manter maranhenses e brasileiros afastados daqueles que implantaram uma colônia mais generosa, com menos chicote e mais educação e, portanto, mais alinhada aos interesses dos brasileiros. A contestação da fundação de São Luís foi importada do Canadá francês, onde alguns poucos mais antigos ainda guardam rancor com a pátria-mãe, a França, que teria abandonado seus soldados quando da


luta contra os ingleses, no conhecido Tratado de Paris de 1763, que deu o Canadá para os ingleses. A França, na verdade, perdeu a guerra e depôs as armas. De lá, uma conhecida historiadora maranhense trouxe o mito para São Luís e o massificou entre seus pares. Tal imposição acadêmica nos remete ao termo medieval “bruxa”, que foi a senha para lançar na fogueira um incontável número de mulheres pelo simples fato delas produzirem gororobas medicinais melhores que as desenvolvidas pelos homens. A concorrência entre os sexos fez com que estado e igreja se juntassem para cometer atrocidades. A crítica à fundação de São Luís, apesar de bem escrita, é uma espécie de casamento entre descontentamentos e a ganância política, mas sem respaldo científico. Por isso é frágil e facilmente reprovada pelo fogo da ciência, que a tudo experimenta comparando e fazendo observação sistemática. A crítica se assemelha ao modus operandi dos mágicos de circo, que no intuito de iludir o público distrai a atenção para algo pouco importante para que a realidade não seja vista e descoberta, pois só assim ganham aplausos. Esta foi a frágil receita utilizada por alguns da academia. Mas esqueceram de combinar com os russos ... e com os franceses. Senão vejamos. A fundação da maior cidade do Brasil, São Paulo, não foi mais que uma escola jesuíta de madeira, sem estrutura nenhuma de estado ou de município; a fundação da segunda maior cidade do Brasil, o Rio de Janeiro, foi apenas um acampamento militar, das tropas de Estácio de Sá, e nada a mais; a fundação da terceira maior cidade do Brasil, Salvador, foi o momento em que Tomé de Souza desceu do barco e pisou em solo baiano, sem construir fortaleza, casebres ou qualquer outra coisa. E assim nasceram cem por cento de todas as cidades brasileiras fundadas por portugueses naquele período. Quase nenhuma possuía as quatro exigências mínimas descritas na obra História da Cidade (Leonardo Benevolo, Perspectiva. 1997): alteração do espaço físico natural, delimitação territorial, presença de um governo e local de ajuntamento cívico-militar. Mas São Luís possuía tudo isto e muito mais, sendo uma das poucas capitais brasileiras que conservam o núcleo fundacional quase inalterado, concentrando o poder estadual, municipal, da justiça, eclesiástico, dentre outros, no mesmo lugar, na Praça do Forte, atual Praça Pedro II, marco zero da capital maranhense. Por essas mágicas da contestação e tantas outras, percebe-se a vontade deliberada de atacar quem fez o bem e quem nos legou o verdadeiro tesouro do conhecimento e da ética, virtudes caras e raras no mundo português. Todo brasileiro mais atento e dado a leitura, percebe que foi o estrangeiro quem trouxe desde os idos coloniais o verdadeiro e precioso tesouro que interessa aos nacionais, agrupado na tríade: educação, conhecimento e ética. Foram eles que escreveram os primeiros livros, a exemplo das obras de Jean de Léry e André Thevet, durante a França Antarctica no Rio de Janeiro (1555 – 1567); Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux na França Equinocial no Maranhão (1612 – 1615); Gaspar Barleus durante o Brasil Holandês (1624 – 1654), no leste brasileiro. Foi a generosidade da pena deles que descreveu os pormenores da população nativa e seus costumes, além de vasto relato do território, da fauna e da flora do Brasil. São deles os primeiros mapas, as primeiras leis, que protegiam os nativos. Foram eles que trouxeram as melhores tecnologias, os primeiros passos da ciência, presentes na astronomia, cartografia, letras, engenharia, etc. A universidade no Brasil é algo novo, que ainda não tem um século, pois implantada apenas durante a República, vez que o colonizador luso sempre nos desviou da educação e proibiu a circulação de livros, jornais e praticamente qualquer forma de divulgação do conhecimento. A Argentina, a título de exemplo, possui universidade desde 1613, fruto da prodigalidade da Espanha, pátria-mãe, que possui a quarta universidade mais antiga do mundo. No Brasil, sendo algo novo, a universidade “optou” pelo viés militante e, fazendo jus ao modelo colonial, ficou um pouco avessa à ciência. O que se percebe da contestação da fundação francesa de São Luís, não obstante o valor de alguns que contraditoriamente a defendem, é que ela vai muito além da busca pela verdade, sendo o âmago dela uma isca ou uma tentativa nefasta da ganância política de mais uma vez desviar a atenção da população para que não valorizem quem de fato trouxe aquilo que garantiria um melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aos brasileiros, extinguiria a pobreza e melhoraria a nossa qualidade de vida e, finalmente, acabaria com o famigerado status secular de “pais rico e povo pobre”, este sim, seria o verdadeiro mito. Por fim uma reflexão: se nos idos coloniais, enquanto o estrangeiro disputou o território brasileiro com os portugueses, estes não dizimaram o nativo e nem escravizaram o africano, será que esta segunda expulsão e marginalização do estrangeiro, iniciada a partir da década de mil novecentos e oitenta, e que também acontece em outras partes do país, não está por trás da atual precarização do bolso do brasileiro? Vale lembrar que não se precariza no bolso sem antes precarizar nas ideias. E não se castiga os filhos enquanto o visitante permanece na casa.


Os defensores da contestação, mesmo sendo pessoas de muito saber, agem como uma espécie de Paulo de Tarso antes dele cair do cavalo e de se converter, que pensando agradar a Deus, na verdade, perseguia os cristãos, pois a teoria acadêmica que defendem ajuda a manter as pessoas afastadas de um modelo que deu certo em vários lugares, a exemplo da Guiana, que mesmo cercada por montanhas e florestas ostenta um dos melhores IDHs da América, e para onde afluem milhares de brasileiros todos os dias em busca de uma vida melhor. E parabéns a São Luís pelos 406 anos de fundação! *Membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL), do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e curador da Exposição França Equinocial para sempre, em cartaz no Forte de Santo Antonio, na Ponta da Areia, em São Luís-MA.


LANÇAMENTO DO MAPA FRANÇA EQUINOCIAL Convido-o para a minha palestra e lançamento do mapa FRANÇA EQUINOCIAL, trabalho realizado em uma gostosa parceria com o amigo Terciano Torres, um dos maiores desenhistas do nosso país. O mapa resgata de forma alegre os primórdios da ocupação da parte setentrional do Brasil pelos franceses. Na oportunidade faremos uma homenagem ao meu guru, o historiador e escritor Mário Meireles. Compareça e participe comigo deste momento de alegria.

O IMPARCIAL, 15/SETEMBRO 2018


JORNAL PEQUENO, 15 SETEMBRO 2018

*PALESTRA E LANÇAMENTO DE MAPA ATRAEM GRANDE PÚBLICO NA AMEI* O evento fez parte do calendário de palestras da Academia Ludovicense de Letras. O historiador e escritor Mário Meireles foi homenageado durante o evento_ Uma noite memorável, é o que melhor define o momento de homenagem aos historiadores Mário Meireles e Jerônimo de Viveiros, seguido do lancamento do Mapa França Equinocial e da palestra com o mesmo tema, ocorridos no sábado, dia 15 de setembro, na Livraria e espaço cultural AMEI, no São Luís Shopping. A atração contou ainda com a apresentação da cantora Sheila Castro, que brindou o público presente com duas músicas de Edith Piaf, "La vie en rose" e "Je ne regrette rien". O Mapa "O Brasil francês: a França Equinocial" é um trabalho realizado pelo acadêmico Antonio Noberto e pelo artista plástico pernambucano Terciano Torres. O trabalho mostra um pouco do protagonismo e da locais de presença gaulesa na parte setentrional do Brasil, desde Itamaracá/PE até Macapá/AP, onde Upaon Açu (São Luís-MA) foi escolhida como sede e meio caminho entre os extremos extraoficiais da colônia implantada na região. A obra contêm os topônimos com os termos da época, geralmente em francês e português ou pelas "línguas mortas", sendo o latim e o tupi. O nome do estado do Maranhão, por exemplo, aparece como "Marignan", (misto de tupi, francês e latim?), como era grafado pelos primeiros europeus. Cametá grafado como "Caamutá" (caa - árvore + mutá - casa = casa sobre a árvore). A base do capitão Jacques Riffault na margem direita do rio Potengi não passou despercebido. No mapa consta o nome do Rio Grande em tupi (Poti camarão + iu - rio = rio do camarão). Idem para o Rio Paraíba (rio ruim para navegar), onde em 1587 o rei Felipe III de Espanha concluiu o Forte do Cabedelo.


É possível observar também os Lençóis maranhenses, que o cronista Claude Abbeville chamou de "as areias brancas"; o Rio Paraguaçu, hoje Rio Parnaíba; Cheval (Chaval); Jericoacoara (buraco das tartarugas); Montville (Viçosa do Ceará), Mucuripe (Fortaleza), etc. Um pouco mais sobre evento As duas filhas do historiador e escritor Mário Meireles, professoras Ana Maria e Mimi Meireles, fizeram uma homenagem ao escritor Antonio Noberto. Elas o presentearam com um quadro de metal da Santa Ceia, que pertenceu ao historiador Jerônimo de Viveiros (in memoriam) e foi presenteado a Mereiles (in memorian). Antes da entrega a cantora Sheila Castro fez capela de duas apresentações de canções de Edith Piaf. O evento foi prestigiado por acadêmicos da ALL, do IHGM, por presidentes e representantes de academias de Letras e de outras instituições, escritores, historiadores, professores, estudantes, líderes comunitários, dentre outros. Ao final, o espaço foi franqueado para perguntas, onde a escritora Ana Luiza Almeida Ferro pontuo sobre a presença gaulesa no Maranhão e sobre os trabalhos do historiador e escritor Wilson Pires Ferro, assíduo defensor da fundação francesa de São Luís.



JORNAL PEQUENO, 18/SETEMBRO/2018



ARAÇAGI, O CAJUEIRO DO PAPAGAIO ANTONIO NOBERTO Membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras (ALL), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e curador da “exposição França Equinocial para sempre”, em cartaz no Forte de Santo Antonio, no Espigão da Ponta d’Areia

Não se destrói um povo enquanto não se extermina a sua cultura e o seu legado. Esta assertiva pode ser bem ilustrada na determinação do competente Secretário de estado do reino de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 – 1782), o Marquês de Pombal, que na segunda metade dos anos mil e setecentos proibiu no Brasil o uso de qualquer outra língua que não o português. A decisão, aparentemente, era a pá de cal na língua nativa, a mais falada no Brasil à época. O que se viu depois foi a continuação da dizimação através da depreciação e aviltamento de vários termos indígenas, a exemplo de cunhã (que pode significar prostituta), curumim (moleque, pivete), pindaíba (pobreza extrema), pajelança (atitude destrambelhada), dentre outros, que foram e continuam sendo sistematicamente modificados com o objetivo principal de encobrir um passado virtuoso corrompendo a língua dos primeiros habitantes do Brasil. Soma-se a isto a cobiça de jogar no fosso os outros dois concorrentes do colonizador: o negro e, principalmente, o estrangeiro, primeiro a trazer a cultura escrita para a terra Papagalis, quando colocou no papel e imortalizou a língua, além de muito dos usos e costumes da população autóctone (leia mais em https://brasiliano.wordpress.com/2012/04/05/1399/). E um dos termos desvirtuados é a palavra Araçagi, que representa uma das localidades mais antigas e importantes da Ilha de São Luís, habitada por franceses e tupinambás desde o final dos anos mil e quinhentos. O estudo desta simples palavra de origem tupi nos remete ao mundo mágico e de harmonia vivido pelos mais antigos moradores do lugar, que, mesmo em tempos tão remotos, produziam e exportavam riquezas do tipo urucum e açúcar para lugares bem distantes.

Primeiro mapa do Maranhão onde aparece Araju, próximo à Ilha Daniel de La Touche (Curupu) Não faz muito tempo que a quase totalidade dos maranhenses pronunciava errônea e grosseiramente “Campo de Perizes”, em referência aos dezenove quilômetros por onde passa a BR 135, na saída / entrada da


Ilha de São Luís. A escrita e pronúncia corretas em tupi, ligeiramente aportuguesada, é Campo dos Peris ou Campo de Peris, vez que a palavra originária do tupi é “piri”, que representa o junco ou capim que cobre o lugar alagado. E nas oxítonas terminadas em “i” forma-se o plural acrescentando-se apenas o “s”. Importante destacar que muitas outras localidades e acidentes geográficos no Maranhão e Piauí também foram nomeados a partir da maciça presença deste capim, a exemplo de Peritoró, Piripiri, Peri Mirim e Pericumã. A recente divulgação da grafia correta permitiu que muita gente e a maior parte da mídia abandonasse a aberração “perizes” e adotasse a forma correta, convergindo, assim, para a máxima de que “Em São Luís se fala o melhor português do Brasil” (leia mais em https://www.abimaelcosta.com.br/2015/10/voce-escreve-campo-de-perizes-ou-de.html).

Detalhe de um mapa dos anos mil e seiscentos com uma variação para Arasagi Outro termo curioso que vale a pena se debruçar e buscar a raiz etimológica e a história do lugar é Araçagi, que em tempos muito iniciais era um “país a parte”, com porto, produção e vida própria, era também uma espécie de hiato ou meio caminho entre a desembocadura do “Rio Maranhão” – o Itapucuru, e a foz do rio Mearim. Nos primórdios do lugar, entre o final dos mil e quinhentos e início dos mil e seiscentos o Araçagi estava localizado entre duas fortalezas francesas existentes à época: o Forte Sardinha, situado na então Ilha do São Francisco, que guarnecia a entrada da Ilha e Miganville (atual Vinhais Velho) e o porto de Jeviré (na Ponta d’Areia). Este ancoradouro tinha caráter mais internacional, pois mais especializado em receber mercadorias dos portos franceses de Rouen, Dieppe, Saint-Malo, La Rochele e Havre de Grace, e as riquezas vindas da região amazônica e do rio Mearim, a exemplo do sal (de salinas, na Baixada). Este complexo ou reduto gaulês está descrito na tela “São Luís antes da fundação”, em cartaz no Forte de Santo Antonio, na Ponta d’Areia. A outra fortaleza era o Forte de Itapari, depois reformado em pedra por Daniel de la Touche, quando recebeu o nome de Le Fort de Caillou (o forte de pedra), que virou Caur e hoje é Caúra, em São José de Ribamar. Do pouco que é possível encontrar sobre o Araçagi nas literaturas em tão distante período, pode-se extrair que o lugar era dinâmico, produtor e bastante movimentado, com localização bem próxima à Ilha de Curupu e do porto, onde hoje está a imagem de São José. Neste ancoradouro da baía de Guaxenduba aconteciam muitas movimentações da produção que descia o rio Itapecuru ou da Ilha Grande pelos pequenos portos de Jussatuba, Quebra Pote, Arraial, etc. O Araçagi era, portanto, o elo entre os dois fortes e os dois maiores portos da Ilha Grande, e possuía o que seria o único engenho de açúcar de Upaon Açu, os demais estavam no rio Itapucuru Mirim.


Mapa de São Luis antes da fundação com o complexo franco-tupi entre aPonta d´Areia e Megavilhe (Vinhais Velho) Em vários textos, livros e mapas é possível encontrar o nome do lugar grafado de diferentes formas, a exemplo de araju, araçaju, arasaju, arasagi, arassagi, araçoagi, arassoagi e araçagy. Mas enfim, qual a grafia original e o significado da palavra Araçagi? Verificando mapas (ver detalhes dos mapas dos anos mil e seiscentos), livros e a própria história, chega-se ao termo original aracaju (ara = papagaio + caju), que em português quer dizer “cajueiro do papagaio”. É a mesma origem etimológica do nome da capital sergipana. As principais variações se dão pela troca do “c” pelo “s”, do “j” pelo “g” e do “u” pelo “i” (o “u” no francês pronuncia-se “i”), como acontece no nome do rio “ItapUcuru”, pronunciado “ItapIcuru”. Araçagi é, portanto, Aracaju, o cajueiro do papagaio. Considerando que o termo Araçagi já é uma tradição oral e escrita do tupi aportuguesado, quem preza ou tem apreço pela cultura nativa deve, ao menos, escreve-la sempre com “i” no final, pois a grafia com “y” termina por tutelar e encobrir uma história antiga vivida por franceses e tupinambás que habitavam, comercializavam e viviam em paz no “país do Aracaju”, região da Ilha Grande que mais cresce nos últimos anos.


França Equinocial, uma história de 400 anos em textos, imagens, transcrições e comentários, além de apresentações culturais com a participação do Projeto Abrindo Fronteiras com Música, que apresentou chorinhos, e a Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, que trouxe a peça sobre a vinda dos Franceses para o Maranhão. Os registros de franceses em terras maranhenses e o sonho de fundar a França Equinocial são os elementos motivadores do projeto França Equinocial Para Sempre. Composto por uma exposição, um livro e um álbum, o projeto tem a coordenação do turismólogo e historiador Antonio Noberto



CLEONES CARVALHO CUNHA O ESTADO MA – 10/AGOSTO/2018

O ESTADO MA – 31/AGOSTO/2018



JUcEy SANTANA

IV ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL – SCLB http://juceysantana.blogspot.com/2018/08/iv-encontro-nacional-da-sociedadede.html?m=1 19 a 21 de julho de 2018, em São Luís/MA

A Sociedade de Cultura Latina do Brasil- SCLB é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que tem como objetivos difundir, divulgar e, primordialmente, lutar pela democratização da Cultura Brasileira, congregando os povos latinos presencialmente ou por meio de trabalhos organizados.

Com vasta programação cultural a SCLB comemorou o 30º aniversário, realizando o IV Encontro Nacional em São Luis (MA) de 19 a 21 de julho do corrente ano. Fundada no Brasil, em 24 de julho de 1988, a Sociedade tem atuação em todo o território brasileiro, com os seguintes objetivo: Divulgar a cultura e os vultos latinos; Analisar a dimensão política da Cultura, em especial da Cultura Latina e Refletir sobre o papel da Mulher Latina na Cultura dos seus países. Atividades do IV Encontro: O evento teve início no dia 19 no Convento das Mercês com recepção e credenciamento dos participantes de outros Estados e convidados de várias instituições literárias do Estado do Maranhão.


O primeiro dia foi marcado com uma homenagem a Sousândrade (Joaquim Manuel de Sousa Andrade) pela Profa. Dra. Luiza Lobo (RJ) e o Prof. Mestre. José Neres (MA) que, apresentaram vieses do Guesa, obra épica do escritor maranhense, como tributo à Latinidade. A palestra foi mediada por Paulo Roberto Melo Sousa. A programação ainda contou com a Apresentação Performática de Sousândrade, pelo artista Uimar Júnior a abertura da Exposição de Telas, Escultura e Artesanato nos Corredores Térreos do Convento das Mercês.

No segundo dia (20) pela manhã, com o Tema Integração Cultural e Latinidade, o encontro ocorreu no auditório da Academia Maranhense de Letras, que contou com debate dos seguintes palestrantes: Raimundo Palhano-UFMA (MA); Pepkrakte Jakukreikapiti Ronoré konxarti - Cacique Zeca (Marabá/com a presença A); Joaquim Moncks (RS) - Poética & Associativismo Literário: SCLB & POEBRAS Nacional; Francesco Cerrato (Itália)-A valorização dos pracinhas da FEB como instrumento de integração entre a Itália e o Brasil; Paulo Timm (RS)- Lusitanidade e Latinidade (SC).A Mediadora da mesa foi a Profa. Marcia Regina dos Reis Luz, da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Em seguida, a primeira Mesa de Leitura de Poesia, que teve como Mediador o Prof. Poeta da Academia Ludovicense de Letras, Antonio Ailton.


No mesmo dia a partir das 14h, no Convento das Mercês, foi abordado o tema Mulheres na Literatura Latina, com mesa constituída pelos seguintes escritores: Maria Stela de Oliveira Gomes (MG); Vanda Salles (RJ)-Mariná do Brasil e Gabriela Mistral Musas Latino-americanas; Antonio Agenor Gomes (MA)-Maria Firmina dos Reis e o Boi Caramba para Escravas; Jucey Santana (MA)-Mariana Luz e Renata da Silva de Barcellos(RJ)-As Mulheres na Literatura. A Mediadora da Mesa, Ceres Costa Fernandes (MA), da Academia Ludovicense de Letras-ALL e da Academia Maranhense de Letras-AML.

E ainda o musical Sarau Latino Hélio Bonfim (violino) e poemas com vários participantes: Maria Stela de Oliveira Gomes (MG); Cristiane Coelho Maia Lago (MA); Fátima Travassos (MA); Nico Bezerra (MA); Renata Barcellos (RJ); Inaldo Lisboa (MA); Eneida Cristina da Silva (MA); Joaquim Monks (RS); Clério Borges; Magnólia Pedrina Sylvestre e Soemia (ES); Carlos Brunno (RJ); Erlinda Bittencourt(MA), Dilercy Aragão Adler (MA) e Edvan Caldas (MA).


Ainda no dia 20, às 18h, foi o Lançamento Coletivo de Livros por diversos autores, presentes e a apresentação I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo pontes, em comemoração aos 30 anos de fundação da SCLB, organizada por Dilercy Aragão Adler, Presidente da SCLB. Dela participaram 75 poetas de vários Estados do Brasil e do estrangeiro.

Entrega de Comendas e Diplomas de Mérito Cultural

A partir das 20 horas entregue as Comendas Joaquim Duarte Baptista, Diplomas do Mérito Cultural e Título de Presidente Honorário da Sociedade de Cultura Latina do Brasil para a Região Norte de Portugal, para Antonio Luís Alves -Tony Alves. As primeiras Medalhas Joaquim Duarte Baptista foram concedidas aos/às ex-presidentes da SCLB:Clério José Borges de Sant’Anna (ES), 1º Presidente; Maria Aparecida de Mello Callandra (SP), 2ª Presidente e Antonina de Almeida (in memoriam) (RS),3ª Presidente. Ainda a membros da SCLB, como Arlindo Nóbrega (SP), atual Presidente da Sociedade do Estado de São Paulo e integrante do primeiro Núcleo da Sociedade em São Paulo, e para Antonio Vicente de Alencar (CE), atual Vice-Presidente da SCLB e estendida a personalidades que vêm contribuindo para o engrandecimento da Cultura Latina, a saber: ao Governador do Estado do Maranhão, Flávio Dino, ao Secretário de Estado da Educação, Felipe Costa Camarão; ao Magnífico Reitor da UEMA, Prof. Dr. Gustavo Pereira da Costa; à Magnífica Reitora da UFMA, Profa. Dra. Nair Portela Coutinho; aos Ex-Reitores Prof. Dr. Aldy Mello de Araújo; Prof. Dr. José Augusto Oliveira, e o Prof. Dr. Natalino Salgado Filho; à Diretora Regional do SESC, Rutineia Amaral Monteiro; à Diretora Presidente da FSADU, Evangelina Maria Martins Noronha; à Coordenadora da Comissão da FeliS, Rita Maria Oliveira Teixeira; à Profa. Dra.Luiza Leite Bruno Lobo; ao Poeta e Senador do Congresso da Sociedade (RS), Joaquim Luiz dos Santos Moncks e ao Professor e Poeta, Paulo Cezar Timm

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O Diploma do Mérito Cultural foi concedido a personalidades que vêm trabalhando em prol da Cultura Latina: José Neres, Ceres Fernandes, Uimar Júnior, Raimundo Palhano, Pepkrakte Jakukreikapiti Ronoré konxarti -Cacique Zeca,Alexandre Bueno, Francesco Cerrato, PauloCezar Timm, Antônio Ailton Silva, Maria Stela de Oliveira Gomes, Vanda Costa Salles, Antonio Agenor Gomes, Osvaldo Luís Gomes, Hélio Bonfim, Joãozinho Ribeiro, Zélia Maria Fernandes da Silva, Paulo Melo Sousa, Agostinho Rodrigues, Raimundo Serra Campos Filho, Dilercy Aragão Adler, Jucey Santana, Maria Goreth Cantanhede Pereira, Marcia Regina dos Reis Luz, Lenir Pereira dos Santos Oliveira, Nicodemos Bezerra, Betânia Pinheiro Lopes, Benedito Buzar, Antonio Noberto da Silva, João Batalha, José Maria Alves da Silva, Carlos Nina, Carlos Cézar Branco Bandeira, José Antônio Viegas, Aline Nascimento, Joseane Maria de Souza,Raimundo Quintiliano Filho, Ellyson do Vale Mouzinho, Anselmo Alves, Simão Pereira, Antonio Cabral Filho, Carlos Brunno Barbosa, Stefano Walker Pereira Pontes, Maria Cícera Nogueira, Raimundo Coelho de Sousa; Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Raimundo Ribeiro, Feliciano Mejía, Dinacy Mendonça Corrêa,Daniel Blume de Almeida, Cristiane Coelho Maia Lago, Camila Maria Silva Nascimento, Maria de Fátima Travassos Cordeiro, Julio Pavanetti, Annabel Villar, Renata da Silva de Barcellos, Luiza Cantanhêde, Mires France de Almeida Pereira, Zenaide Emília Thomes Borges, Magnólia Pedrina Sylvestre,Soêmia Pimentel Cypreste, Mário da Silva Luna dos Santos Filho, José Rafael de Oliveira, Paulo Rodrigues, Paulo Roberto Ribeiro, Walter de Negreiros,Lucineia Ferreira Paz Ribeiro Walter de Negreiros, João Roberto Vasco,Teresinka Pereira, Erlinda Bittencourt, Marlene Barros, Beto Pereira, Miguel Veiga, Péricles Rocha, Donato, João Ewerton e André Roberto Pereira.

No dia 21, foi realizado pela manhã um passeio turístico pelo Centro Histórico e outros pontos culturais da Capital Maranhense. Às 14 horas, a Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil e os Presidentes das Estaduais e seus representantes realizaram a Assembleia Geral Extraordinária para resolver questões importantes da SCLB, como a confirmação da Diretoria da SCLB; Definição do local do V Encontro Nacional da SCLB; Proposta de produção da próxima Coletânea a ser lançada no V Encontro Nacional em 2020; Organização do III Encontro Internacional da SCLB e outros.

Às 16h foi constituída a quarta Mesa com o Tema: As SCLs no Brasil e estrangeiro, com a participação de: Paulo Roberto Melo Sousa (MA), Clério José Borges de Sant’Anna (ES) e Dilercy Aragão Adler (MA), os quais discorreram sobre suas experiências no tocante às SCLs para coletas de dados pessoais dos integrantes.


Como última atividade do evento, a palestra de encerramento proferida por Joãozinho Ribeiro: A dimensão política na Cultura Latina. E, como última atração cultural, a apresentação do Bumba Boi “Brilho do SESC”, que brindou, os visitantes, dança do folclore popular (típica do Maranhão.

Sobre o tema Mulheres na Literatura Latina, a mesa passou por algumas mulheres latinas na fala de Renata da Silva de Barcellos e vimos ainda algumas mais especificamente, como a Mariná do Brasil e Gabriela Mistral, Maria Firmina dos Reis e Mariana Luz. O fato é que, historicamente, com raríssimas exceções, o homem tem marcado a sua existência por meio de uma supremacia sobre a mulher. A lacuna no que diz respeito às mulheres como sujeitos na História é vasta. Não há dúvidas de que à mulher coube, por um período histórico considerável, menos espaço e condições favoráveis para o desenvolvimento das suas potencialidades, principalmente no tocante aos aspectos referentes à capacidade de análise crítica e mais abstratos e da sua inteligência. Coube aqui a denúncia, a reflexão e o resgate dessas vozes femininas.

Por isso, entendemos que os objetivos do IV Encontro da SCLB deCongregar os povos latinos presencialmente ou por meio de trabalhos organizados coletivamente, a exemplo, da "I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo pontes"; Divulgar a cultura e os vultos latinos; Analisar a dimensão política da Cultura, em especial da Cultura Latina e Refletir acerca do papel da Mulher Latina na Cultura dos seus países, foram muito bem concretizados.


Que a nossa Sociedade de Cultura Latina do Brasil e no Brasil, trazida para nós pelas mãos de valorosos pioneiros, dentre os quais, Joaquim Duarte Baptista, resista a toda e qualquer intempérie e se perpetue!... EVOÉ!!!! Dilercy Aragão Adler Presidente SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL DIRETORIA EXECUTIVA Presidente – Dilercy Aragão Adler (MA) 1ª Vice-Presidente – Vicente Alencar (CE) 2ª Vice-Presidente – Magnólia Pedrina Sylvestre (ES) 1º Secretário - Gaitano Antonaccio (AM) 2ª Secretário – Raimundo Colares Ribeiro (AM) 1º Tesoureiro Raimundo Nonato Campos Filho (MA) 2º Tesoureiro – João Roberto Vasco Gonçalves (ES) Diretora Executiva – Jucey Santos de Santana (MA) Diretora Cultural – Renata da Silva de Barcellos (RJ) Diretor Social – Arlindo Nóbrega (SP) DIRETORIA FISCAL Ângela Lino de Jesus Veríssimo (ES) Soemia Pimentel Cypreste (ES) Breno Bonnin (PR) PRESIDENTE HONORÁRIO DA SCLB PARA A REGIÃO NORTE DE PORTUGAL Antônio Luís Alves COMISSÃO ORGANIZADORA DO IV ENCONTRO NACIONAL DA SCLB Paulo Roberto Melo Sousa Jucey Santos de Santana Maria Goreth Cantanhede Pereira Marcia Regina dos Reis Luz Nicodemos Bezerra Lenir Pereira dos Santos Oliveira Rita Maria Oliveira Teixeira Clores Holanda Silva


ALDy MELO


JOÃO BATISTA ERIcIERA


ARTHUR ALMADA LIMA FILHO


SANATIEL PEREIRA O ESTADO/ PH REVISTA / 25/26 DE AGOTO DE 2018

Lançamento do Livro: " A curva do Vento " de Sanatiel Pereira. Data: 27 de setembro Hora: 19h Local: Livraria e Espaço Cultural AMEI, no São Luís Shopping

QUI, 27 DE SET ÀS 19:00

Lançamento do Livro: " A curva do Vento " de Sanatiel Pereira


BRUNO TOMÉ O ESTADO/ PH REVISTA / 25/26 DE AGOSTO DE 2018


OSMAR GOMES


ÁLVARO MELLO Com muita honra agradeço a linda homenagem que a Escola Mota Júnior fez na pessoa do estudante João Victor. Sensibilizado foi que em gesto de apreço e gratidão ajoelhei-me para recebê-la. Lillian Boaz



DILERcy ADLER

Un nuevo evento confirmado por delegados del Liceo Poético de Benidorm. En esta ocasión en Maranhão, Brasil. Muchas gracias a Dilercy Aragão Adler. A new reading confirmed by delegates of Liceo Poético de Benidorm. In this case in Maranhão, Brazil. Thank you Dilercy Aragão Adler.


2018 ANO DE GRAÇA ARANHA


GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA FERNANDO BRAGA, in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor. Sesquicentenário de nascimento de Graça Aranha, São Luís do Maranhão, 21 de junho de 1868 – - Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1931.

José Pereira da Graça Aranha foi um dos escritores brasileiros mais importantes da ficção pré-modernista. E é ele quem diz no livro ‘O meu próprio romance’, onde narra genialmente sua vida, tendo este trabalho, infelizmente, ficado inacabado, mas mesmo assim editado em 1931, extraído de manuscritos do autor: “O meu difícil nascimento parece marcar o signo da força, que me prendia ao inconsciente. Foi pela ciência de um médico inglês, que vivi na tarde do domingo de 21 de junho de 1868, na cidade de São Luís do Maranhão, quando eu estava condenado à morte para salvar minha mãe. A ciência arrancou-me do inconsciente. Realizou-me em mim a fórmula do meu pensamento psicológico. Aboli em mim o terror inicial. Desde então a minha vida foi uma aspiração de conhecimento e por este conhecimento tomei posse do universo. Liberto-me do preconceito político e, o que é mais difícil, do preconceito estético”. Aos treze anos ele concluía o curso de humanidades e aos dezoito, o de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, onde se fez o aluno mais querido de Tobias Barreto que, ao longo da vida, viria a influenciá-lo. Foi advogado e professor de Direito, exercendo no Espírito Santo o cargo de juiz. Viveu muitos anos na Europa no desempenho de funções diplomáticas. Voltando ao Brasil, tornou-se figura de vanguarda no movimento modernista, pronunciando na Academia Brasileira de Letras, de onde foi sócio fundador em que “concitava a renovar-se, pela aceitação das novas tendências estéticas “Se a Academia não se renova – gritou – “então morra a Academia”. O grito ali não fora ouvido naquele momento, e Graça Aranha rompeu com a instituição de Machado de Assis, onde ocupava a cadeira de Tobias Barreto. Seu nome, ao lado de Gonçalves dias, dos irmãos Azevedo [Artur e Aluízio] e de Coelho Netto, constitui o quarteto de maranhenses que maior influência exerceu na história da literatura brasileira. Da velha Europa, trouxe consigo o modelo que o fez um arauto do espírito moderno, consagrando-o assim, até o fim da vida, a teorização de uma estética que codificasse padrões novos na estrutura literária àquela época já em crise. Nas mesmas condições, a Graça Aranha se juntava, também chegados da Europa, Oswald de Andrade que tivera convivido com o poeta Paul Fort, coroado príncipe dos poetas franceses; Manuel Bandeira que voltava da Suíça, onde estivera internado por causa da tuberculose, mantendo uma grande amizade com o poeta Paul Eluard, enquanto o Brasil era povoado de notícias que chegavam da revista portuguesa ‘Orfeu’, centro irradiador das poesias de Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro, as quais se corporificavam aos métodos pretendidos por Graça Aranha. E a ‘Semana de Arte Moderna’ explodiu com a exposição, em São Paulo, da pintora Anitta Malfatti que trazia novidades e novos elementos nas artes plásticas pós-impressionistas (cubistas e expressionistas), revelados em seus estudos, principalmente na Alemanha, sendo criticada por uns e defendida por outros, entre estes, Mário de Andrade, já imortalizado com ‘Pauliceia Desvairada’ e ‘Macunaíma’. Continuemos ouvindo o espírito de negação de Graça Aranha, escritos para ‘O meu próprio romance’: “Nada poderia contribuir para o meu incessante progresso intelectual, como o espírito de negação. Aos doze anos neguei Deus, aos quatorze neguei o Direito Natural, aos quinze neguei o princípio monárquico e o direito à escravidão”. Sobre o livro ‘Canaã’, José Veríssimo, crítico dos mais afiados ao tempo, disse: “Estreia, como não me lembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. E por falar em Veríssimo, este era contra a entrada de Graça na Academia, apesar de nunca ter sabido o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco.


Graça Aranha publicou estes trabalhos: Canaã, 1902; Estética da Vida, 1920; Malazarte, 1922; Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923; O Espírito Moderno, 1925; A Viagem Maravilhosa, 1930. As obras completas de Graça Aranha (1939-1941) estão distribuídas em 8 volumes: Vol. I Canaã; vol. II: Malazarte; vol. III: Estética da vida; vol. IV: Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco; vol. V: O espírito moderno; vol. VI: A viagem maravilhosa; vol. VII: O meu próprio romance; vol. VIII: Diversos. ‘O meu próprio romance’ é um dos livros mais perfeitos que conheço. Li-o ainda menino e sua leitura me invadiu para sempre os sentidos. Parece que brinquei com Graça Aranha pela velha rampa do cais de São Luís. Já homem e tão distante daqueles, meu e dele, cenários da velha cidade, uma saudade de doer os ossos me ensombrou de emoção, quando reli, como se alguma coisa indizível me dissesse que a única coisa sublime que temos é a memória, tanto que ela nos é apagada para que nossa consciência, em outros planos, não sofra tanto e tenha sossego. E é o velho Graça quem diz: “Dos quadros da minha infância, nenhum exerceu no meu espírito magnetismo igual ao da casa em que vivi, quatorze anos, no Largo do Palácio. Nasci na Rua da Estrela, número 2, na primeira casa à direita, na grande ladeira que desce para a Praia Grande, cento do comércio que as águas da baia não banham [...] Quando a deixamos, eu não tinha dois anos. Mais tarde, eu a contemplava e imaginava o seu silêncio interior naqueles três andares elevados, e esse silêncio imaginativo tinha a força de me entristecer.” Talvez havendo, como informa Alfredo Bosi, professor de Literatura da USP, “duas faces a considerar no caso Graça Aranha: o romancista de ‘Canaã’ e de ‘A Viagem Maravilhosa’ e o doutrinador de ‘A Estética da Vida’ e de ‘Espírito Moderno’, faz-se às vezes distante no tempo, mas ligadas por mais de um caráter comum, exteriorizar em ‘A Estética da Vida’ este sentido de forma e liberdade espiritual ou ainda de terror cósmico: aquele que compreende o universo com uma dualidade de alma e corpo, de espírito e matéria, de criador e criatura, vive na perpétua dor. Aquele que pelas sensações vagas da forma, da cor e do som, se transporta ao sentimento universal e se funde no todo infinito, vive na perpétua alegria”. Falar-se de Arte Moderna, caberia num livro de ensaios como muitos já foram escritos. Os acontecimentos e os personagens foram muitos para poucos dias, e Graça Aranha, o qual faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, tornou-se, no Movimento, um acontecimento imorredouro, porque trouxe à luz da publicidade o seu ‘Canaã’ e foi personagem, porque, acima de tudo, e pela vida inteira, foi sempre um reformador de métodos e um esteta intemporal.


JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20 DA ALL

21 de junho de 1868 / 26 de janeiro de 1931 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ In LITERATOS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA Graça Aranha116 nasceu em 21 de junho de 1868, em São Luis, capital do Estado do Maranhão, filho de Temistocles da Silva Maciel Aranha e de Maria da Glória da Graça. Faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931. Formado em Direito exerceu a magistratura no interior do Estado do Espírito Santo, fato que lhe iria fornecer matéria para um de seus mais notáveis trabalhos - o romance Canaã, publicado com grande sucesso editorial em 1902. Ao traçar-lhe o perfil o romancista Afrânio Peixoto se manifestara da seguinte forma: "Magistrado, diplomata, romancista, ensaísta, escritor brilhante, às vezes confuso, que escrevia pouco, com muito ruído." Na França publicou, em 1911, o drama Malazarte. De 1920, já no Brasil, é A estética da vida e, três anos mais tarde, A correspondência de Joaquim Nabuco e Machado de Assis. Na famosa Semana da Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, Graça Aranha profere, em 13/02/1922, a conferência intitulada: "A emoção estética na arte moderna". Iniciou-se uma fase agitada nos círculos literários do país. Graça Aranha é considerado um dos chefes do movimento renovador de nossa literatura, fato que vai acentuar-se com a conferência "O Espírito Moderno", lida na Academia Brasileira de Letras, em 19 de junho de 1924, na qual o orador declarou: "A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro". O romancista Coelho Netto deu pronta resposta a Graça Aranha: "O brasileirismo de Graça Aranha, sem uma única manifestação em qualquer das grandes campanhas libertadoras da nossa nacionalidade, é um brasileirismo europeu, copiado do que o conferente viu em sua carreira diplomática, apregoado como uma contradição à sua própria obra." Em 18 de outubro de 1924, Graça Aranha comunicou o seu desligamento da Academia por ter sido recusado o projeto de renovação que elaborara: "A Academia Brasileira morreu para mim, como também não existe para o pensamento e para a vida atual do Brasil. Se fui incoerente aí entrando e permanecendo, separo-me da Academia pela coerência." Diplomata aposentado, Graça Aranha regressara ao Brasil pouco depois do término da 1ª. Guerra Mundial. 116

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%C3%A7a_Aranha

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=595&sid=340 http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/gra.aaranha.htm http://www.brasilescola.com/literatura/graca-aranha.htm http://www.e-biografias.net/graca_aranha/ http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8696


O Acadêmico Afonso Celso tentou, em 19 de dezembro do referido ano, promover o retorno de Graça Aranha às lides acadêmicas. Este, contudo, três dias depois, agradeceu o convite, acrescentando: "A minha separação da Academia era definitiva", e, mais: "De todos os nossos colegas me afastei sem o menor ressentimento pessoal e a todos sou muito grato pelas generosas manifestações em que exprimiram o pesar da nossa separação". Em 1930 surgia Viagem Maravilhosa, derradeiro romance do autor de Canaã, obra em que a opinião dos críticos da época se dividiu em louvores e ataques. Após concluir o romance A Viagem Maravilhosa (1929), inicia a autobiografia O Meu Próprio Romance (1931), interrompida por sua morte117. Em sua autobiografia, Graça Aranha expressa a intenção de mostrar que toda sua vida se pauta no impulso de libertação, o que aproxima, em essência, a imagem que constrói de si e a dos protagonistas de seus romances. Em Canaã (1902), o imigrante alemão Milkau, após um período de crise existencial e isolamento, procura, no Brasil, desenvolver a "simpatia humana" e integrar-se com o universo através de sensações despertadas pela natureza; daí a recorrência de passagens que exploram cores, formas, sons e cheiros. Em A Viagem Maravilhosa (1929), Tereza também se entrega aos sentidos como forma de evasão ao casamento infeliz e de busca da liberdade, processo que se acentua ao conhecer o amor com Filipe. Essa semelhança de aspirações deve-se nitidamente à defesa que o escritor faz do ideal da filosofia monista de fusão de matéria e espírito no Todo infinito, o que só se consegue pela religião, pela filosofia, pela arte ou pelo amor, segundo tese de A Estética da Vida (1921). Eis aí o cerne de seu pensamento. Outro ponto marcante de sua produção é a valorização da imaginação, que ele vê como o "traço característico coletivo" da cultura brasileira. Referências a lendas, como a do curupira e da mãe-d'água, aparecem em Canaã e na peça Malazarte (1911) e prenunciam um repertório de destaque no Modernismo, mesmo sem compartilhar do "espírito satírico-paródico" de alguns de alguns dos integrantes do grupo, como observa o escritor José Paulo Paes (1926 - 1998). A literatura de Graça Aranha, apesar de ser ele um entusiasta e articulador do movimento que culminou na Semana de 22, nunca adere plenamente à estética modernista e, mesmo em seus momentos mais próximos, deflagra um estilo peculiar ao autor. Para Braga (1984; 2014) 118: Graça Aranha foi um dos escritores brasileiros mais importantes da ficção pré-modernista. E é ele mesmo quem diz no livro “O meu próprio romance”, onde narra genialmente sua vida, tendo este trabalho, infelizmente, ficado inacabado, mas mesmo assim editado em 1931, extraído de manuscritos do autor: “O meu difícil nascimento parece marcar o signo da força, que me prendia ao inconsciente. Foi pela ciência de um médico inglês, que vivi na tarde do domingo de 21 de junho de 1868, na cidade de São Luís do Maranhão, quando eu estava condenado à morte para salvar minha mãe. A ciência arrancou-me do inconsciente. Realizou-me em mim a fórmula do meu pensamento psicológico”. Aos treze anos ele concluía o curso de humanidades e aos dezoito, o de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, onde se fez o aluno mais querido de Tobias Barreto que, ao longo da vida, viria a influenciá-lo. Foi advogado e professor de Direito, exercendo no Espírito Santo o cargo de juiz Viveu muitos anos na Europa no desempenho de funções diplomáticas. Voltando ao Brasil, tornou-se figura de vanguarda no movimento modernista, pronunciando na Academia Brasileira de Letras, de onde foi sócio fundador em que “concitava a renovar-se, pela aceitação das novas tendências estéticas “Se a Academia não se renova – gritou – “então morra a Academia”. O grito ali não fora ouvido naquele momento, e Graça Aranha rompeu com a instituição de Machado de Assis, onde ocupava a cadeira de Tobias Barreto. Da velha Europa, trouxe consigo o modelo que o fez um arauto do espírito moderno, consagrando-o assim, até o fim da vida, a teorização de uma estética que codificasse padrões novos na estrutura literária àquela época já em crise. Nas mesmas condições, a Graça Aranha se juntavam, também chegados da Europa, Oswald de Andrade que tivera convivido com o poeta Paul Fort, coroado príncipe dos poetas franceses; Manuel Bandeira 117

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8696 BRAGA, Fernando. GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA. Jornal “O Alto Madeira”, Porto Velho, RO, 24.9.84 e enfeixado em “Toda Prosa, Tomo III, do livro “Travessia” [Memórias de um aprendiz de poeta], de Fernando Braga, em organização.

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que voltava da Suíça, onde estivera internado por causa da tuberculose, mantendo uma grande amizade com o poeta Paul Eluard, enquanto o Brasil era povoado de notícias que chegavam da revista portuguesa “Orfeu”, centro irradiador das poesias de Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro, as quais se corporificavam aos métodos pretendidos por Graça Aranha. E a “Semana de Arte Moderna” explodiu com a exposição, em São Paulo, da pintora Anitta Malfatti que trazia novidades e novos elementos nas artes plásticas pós-impressionistas (cubistas e expressionistas), revelados em seus estudos, principalmente na Alemanha, sendo criticada por uns e defendida por outros, entre estes, Mário de Andrade, já imortalizado com “Paulicéia Desvairada” e “Macunaíma”. Continuemos ouvindo o espírito de negação de Graça Aranha, escritos para “O meu próprio romance”: “Nada poderia contribuir para o meu incessante progresso intelectual, como o espírito de negação. Aos doze anos neguei Deus, aos quatorze neguei o Direito Natural, aos quinze neguei o princípio monárquico e o direito à escravidão”. Sobre o livro “Canaã”, José Veríssimo, crítico dos mais afiados ao tempo, disse: “Estréia, como não me lembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. E por falar em Veríssimo, este era contra a entrada de Graça na Academia, apesar de nunca ter sabido o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco. Talvez havendo, como informa Alfredo Bosi, professor de Literatura da USP, “duas faces a considerar no caso Graça Aranha: o romancista de “Canaã” e de “A Viagem Maravilhosa” e o doutrinador de “A Estética da Vida” e de “Espírito Moderno”, faz-se às vezes distante no tempo, mas ligadas por mais de um caráter comum, exteriorizar em “A Estética da Vida” este sentido de forma e liberdade espiritual ou ainda de terror cósmico: aquele que compreende o universo com uma dualidade de alma e corpo, de espírito e matéria, de criador e criatura, vive na perpétua dor. Aquele que pelas sensações vagas da forma, da cor e do som, se transporte ao sentimento universal e se funde no todo infinito, vive na perpétua alegria”. Falar-se de Arte Moderna, caberia num livro de ensaios como muitos já foram escritos. Os acontecimentos e os personagens foram muitos para poucos dias, e Graça Aranha, o qual faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, tornou-se, no Movimento, um acontecimento imorredouro, porque trouxe à luz da publicidade o seu “Canaã” e foi personagem, porque, acima de tudo, e pela vida inteira, foi sempre um reformador de métodos e um esteta intemporal.

OBRAS Canaã, 1902; Estética da Vida, 1920; Malazarte, 1922; Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923; O Espírito Moderno, 1925; A Viagem Maravilhosa, 1930. As obras completas de Graça Aranha (1939-1941) estão distribuídas em 8 volumes: Vol. I Canaã; vol. II: Malazarte; vol. III: Estética da vida; vol. IV: Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco; vol. V: O espírito moderno; vol. VI: A viagem maravilhosa; vol. VII: O meu próprio romance; vol. VIII: Diversos. Textos Escolhidos119 SACRIFÍCIO DO CAVALO Ao amanhecer de um dia nevoeiro, a paisagem perdera o seu contorno exato e regular. As linhas definitivas dos objetos se confundiam, as montanhas enterravam as cabeças nas nuvens, a cabeleira das árvores fumegava, o rio sem horizonte, sem limite, como uma grande pasta cinzenta, se ligava ao céu baixo e denso. O desenho se apagara, a bruma mascarava os perfis das coisas e o colorido surgia com a sombra numa sublime desforra. Por toda a parte manchas esplêndidas se ostentavam. E sobre a campina esverdeada, vaporosa, uma dessas manchas, ligeiramente azulada, movia-se, arqueava-se, abaixava-se, erguia-se e se ia lentamente dissipando. O sol não tardou a vir, e a natureza se sacudiu, a névoa fugiu, o céu se espanou e se dilatou em maravilhosa limpidez. A mancha móvel sobre a planície se definiu no perfil de um pobre cavalo que passeava na verdura os seus olhos de velhice e fadiga, tristes e longos. De passada, com os túmidos e negros beiços, afagava a erva, triturando-a com fastio e desânimo, enquanto a sua atenção de cavalo experimentado estava voltada para a cabana, a cuja porta os seus donos, os novos colonos magiares, o miravam com interesse. A neblina leve, veloz, vinha distraí-lo daquela postura de curiosidade humilde, e acariciava num frio elétrico o seu pêlo ralo e falhado. Estremecia num gozo manso, e estendendo o focinho, arregaçando os beiços, sensual e grato, beijava o ar. Não mais encontrava a névoa, que fugira para os montes, 119

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levada pela brisa, como se fosse o imperceptível véu que envolvesse alguma deusa errante e retardada. Um rio de sol, porém, descera a brincar-lhe nos olhos e incendiava-lhe a pupila. Meiguices da natureza. Um dos jovens magiares, levando uma corda, caminhou para o cavalo. O animal entregou-lhe a cabeça numa mistura de abandono e tédio. O rapaz passou-lhe o cabresto e o levou ao poste fronteiro à casa, onde o amarrou. Os colonos tinham resolvido principiar naquele dia a plantação do seu prazo, e o velho deu ordem de partir para a queimada. Os filhos armaram-se das ferramentas de lavoura, o cigano, saindo de sua modorra e apenas armado de um chicote, acompanhou os outros, que, desamarrando o cavalo, seguiram com ele para o roçado. As raparigas que ficavam em casa cheias de instintivo pavor, viam o grupo afastar-se vagarosamente. Chegaram ao aceiro que, aberto como uma larga ferida sobre o dorso da terra, era um sulco de alguns metros de largura, circundando a queimada. Da mata carbonizada ainda resistiam de pé alguns troncos despojados, enegrecidos. Milkau e Lentz, passeando àquela hora, passaram perto do roçado e viram chegar aí o grupo dos vizinhos. - Ainda bem, disse Milkau, eles vão trabalhar; fazia-me dó ver esta gente apática, irresoluta, entorpecida na preguiça. - Mas para que trazem eles quase arrastado aquele cavalo? Perguntou Lentz. E os dois se afastaram um pouco e ficaram a distância, acompanhando os movimentos do grupo. O velho colono segurou o animal pelo cabresto e o colocou no meio da vala. Os filhos puseram-se de lado, num recolhimento religioso. O pai puxou o cavalo para a frente. De chicote em punho, o cigano seguia atrás, e a primeira vergastada, cortando o ar num sibilo, caiu em cheio sobre o animal. Este, como arrancando-se de si mesmo, pinoteou assustado. Novas lambadas foram arremessadas por mão vigorosa. Estirou o cavalo o pescoço para a frente, abaixou-se, alongou-se, encostando quase o ventre à terra, como para se libertar do flagelo que lhe vinha do alto. Os seus membros se estorciam, confrangidos sob a dor imensa. E desapiedadamente, puxavam-no para diante, levando-o ao furor do açoite. Naquele sacrifício cumpria-se uma missão sagrada: ligava-se à nova terra o nervo da tradição da terra antiga. Quando os antepassados tártaros desceram do planalto asiático, e no solo europeu renunciaram à vida errante dos pastores, para lavrar o campo e buscar na cultura a satisfação da vida, sacrificaram aos deuses o velho companheiro de peregrinação nos brancos estepes. E, assim, a imolação ficou sempre no espírito dos descendentes como um dever, cujas raízes se estendem até ao fundo da alma das raças. Continuava o grupo a caminhar. O velho, como um sacerdote, conduzia a vítima, seguida do cigano, em cujo rosto se recompunha a antiga expressão infernal e terrível dos antepassados, num retrocesso harmônico e rápido, produzido pelo singular efeito da paixão sanguinária. Os outros assistiam mudos à cerimônia. O chicote vibrava incessante; as suas pontas de ferro cortavam o lombo do animal. O ar leve e frio, penetrando nos fios de carne viva, causava uma dor fina, aguda, acerba, e a vista e o cheiro do sangue excitavam ainda mais a energia do flagelador. Veio-lhe uma histérica insensibilidade, uma rudimentar anestesia, uma assassina obsessão. Estonteou-o uma vertigem, mas o açoite não parou. Os sulcos na carne se abriam mais fundos; o sangue escorria frouxo. Mofino de dor, o cavalo prosseguia arrastado, regando a terra. Gotas vermelhas respingavam sobre a descoberta cabeça do velho magiar, de uma brancura de açucena. As suas narinas se dilatavam em lânguido gozo. Cavos gemidos ressoavam no peito da besta. E no seu olhar infinito de moribundo se traduziam os humildes protestos e os tímidos apelos de misericórdia. E o relho soava, enquanto o mártir ia lento, de pescoço estirado, pernas trôpegas, esvaindo-se pelas veias abertas, como torneiras de sangue. O cigano mais terrível, mais feroz, transfigurava-se, e da sua garganta afinada irrompeu brusco, sonoro, o canto de guerra dos velhos tártaros. O chicote cruel e rápido marcava o compasso desse ritmo estranho. O contágio do furor se apoderou dos outros, que, imobilizados, assistiam ao sacrifício. E embriagados pouco a pouco pelas frases da música, pela sugestão do rito, pelo odor de carne sangrenta, acompanhavam o canto, num coro infernal. O animal, exausto, caíra de lado, como um peso inerte. O açoite inexorável ainda o levantou uma vez, e no solo, como numa verônica, ficou estampada a imagem do seu corpo, impressa em sangue. Prosseguia sem interrupção, fogoso, lúgubre, o canto que feria asperamente o ar, e era o eco da melodia satânica da morte. O cavalo deu mais alguns passos, cambaleando como um alucinado, e afinal se prostrou sobre a terra. Arquejante resfolegando num espaçado estertor, morria vagarosamente. Nas suas pupilas de moribundo se fotografaram num derradeiro clarão as fisionomias dos algozes. E esta imagem medonha, que se lhe guardara no interior dos olhos, era a infinita tortura que o acompanharia além da própria morte, presidindo à dolorosa decomposição da sua carne de mártir. Cessaram as vozes. Os homens se agruparam em torno do cadáver, rezando como fantasmas loucos. Poças e fios vermelhos manchavam o sulco. A camada de argila, lisa, escorregadia como uma couraça, tornava o seio da terra impenetrável ao sangue, que sorvido pelo sol se evaporava e dissolvia no ar. Era a rejeição do sacrifício, o repúdio da imolação, rompendo a cruenta tradição do passado. A nova Terra juntava a sua contribuição aos límpidos ideais dos novos homens...


(Canaã,1902) NABUCO E MACHADO A essência intelectual de Nabuco provém das suas origens e é por isso que nele se acentua, mais do que o artista, o pensador político. É uma tradição espiritual que ele conserva e eleva a um grau superior, ainda que a essa vocação política se alie a sensibilidade artística. Ele não foi artista absoluto e exclusivo; a sua atração pela história e o culto pelo passado são manifestações de um temperamento político. Nos estudos históricos Nabuco considerava sobretudo a evolução social, a diretriz política das sociedades. Herdou do pai o amor da perfeição, o gosto do conceito, a fórmula expressiva e gráfica, a que ele ajuntou a modernidade do espírito, a curiosidade cosmopolita, o sabor da novidade e o ardor romântico. Machado de Assis não tem história de família. O que se sabe das suas origens é impreciso; é a vaga e vulgar filiação, com inteira ignorância da qualidade psicológica desses pais, dessa hierarquia, de onde dimana a sensibilidade do singular escritor. E por isso acentua-se mais o aspecto surpreendente do seu temperamento raro, e divergente do que se entende por alma brasileira. Há um encanto nesse mistério original, e a brusca e inexplicável revelação do talento concorre vigorosamente para fortificar-se o secreto atrativo, que sentimos por tão estranho espírito. De onde lhe vem o senso agudo da vida? Que legados de gênio ou de imaginação, recebeu ele? Ninguém sabe. De onde essa amargura e esse desencanto? de onde o riso fatigado? de onde a meiguice? a volúpia? o pudor? de onde esse enjôo dos humanos? Essas qualidades e esses defeitos estão no sangue, não são adquiridos pela cultura individual. A expressão psicológica de Machado de Assis é muito intensa para que possa ser atribuída ao estudo, à observação própria. Cada traço do seu espírito tem raízes seculares e por isso ele resistirá a tudo o que passa. Em 1865, quando se inicia esta correspondência, quem era Machado de Assis? Já era aquele geômetra sutil, que encerrara o Universo no verbo, que se libertara da exaltação racial e sabia dissimular nas linhas tranqüilas e desdenhosas o frêmito da natureza e revelar a loucura dos homens. Tinha apenas vinte e cinco anos; a sua ação literária era eficiente no teatro, no romance e na crítica. Havia publicado novelas, feito representar comédias, brilhava no Diário do Rio ao lado de Quintino Bocaiúva, que Nabuco chamaria o "jovem Hércules da imprensa daquela época". Fora até "futurista", se por este epíteto recordarmos ter sido o cronista singularmente clássico de um efêmero jornal de 1863, O Futuro. Era o poeta das Crisálidas. Para aí chegar, a viagem espiritual de Machado de Assis foi bem secreta. Veio do nada, venceu as suas origens modestas, tornou-se homem de cultura, de gosto e criou a sua própria personalidade. É um doloroso e belo poema o da elaboração do gênio neste obscuro heroísmo. Machado de Assis não revelou nunca esse árduo combate interior, não fez transbordar no ódio e no despeito a sua humildade inicial. Aristocratizou-se silenciosamente. O seu heroísmo está neste trabalho de libertar-se da sua classe, nessa tragédia surda do espírito que se eleva, na distinção pessoa, no desdém de ser agressivo aos poderosos e aos felizes. Da sua angústia intelectual transpira a perene melancolia da luta. Das tristes fontes da sua inteligência persiste para sempre o travo da amargura. Mas esta amargura da vida é nobre, é o desencanto do civilizado e não o rancor do escravo e o destempero do selvagem. O heroísmo de Joaquim Nabuco foi o de separar-se da aristocracia e fazer a abolição. O heroísmo de Machado de Assis foi uma marcha inversa, da plebe à aristocracia pela ascensão espiritual. Ambos tiveram de romper com as suas classes e heroicamente afirmar as próprias personalidades. (Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923) A EMOÇÃO ESTÉTICA NA ARTE MODERNA Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de "horrores". Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros "horrores" vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo. Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza. Os que imaginam o belo abstrato são sugestionados por convenções forjadoras de entidades e conceitos estéticos sobre os quais não pode haver uma noção exata e definitiva. Cada um que se interrogue a si mesmo e responda que é a beleza? Onde repousa o critério infalível do belo? A arte é independente deste preconceito. É outra maravilha que não é a beleza. É a realização da nossa integração no Cosmos pelas emoções derivadas dos nossos sentidos, vagos e indefiníveis sentimentos que nos vêm das formas, dos sons, das cores, dos tatos, dos sabores e nos levam à unidade suprema com o Todo Universal. Por ela sentimos o Universo, que a ciência decompõe e nos faz somente conhecer pelos seus fenômenos. Por que uma forma, uma linha, um som, uma cor nos comovem, nos exaltam e transportam ao universal? Eis o mistério da arte, insolúvel


em todos os tempos, porque a arte é eterna e o homem é por excelência o animal artista. O sentimento religioso pode ser transmudado, mas o senso estético permanece inextinguível, como o Amor, seu irmão imortal. O Universo e seus fragmentos são sempre designados por metáforas e analogias, que fazem imagens. Ora, esta função intrínseca do espírito humano mostra como a função estética, que é a de idear e imaginar, é essencial à nossa natureza. A emoção geradora da arte ou a que esta nos transmite é tanto mais funda, mais universal quanto mais artista for o homem, seu criador, seu intérprete ou espectador. Cada arte nos deve comover pelos seus meios diretos de expressão e por eles nos arrebatar ao Infinito. A pintura nos exaltará, não pela anedota, que por acaso ela procure representar, mas principalmente pelos sentimentos vagos e inefáveis que nos vêm da forma e da cor. Que importa que o homem amarelo ou a paisagem louca, ou o Gênio angustiado não sejam o que se chama convencionalmente reais? O que nos interessa é a emoção que nos vem daquelas cores intensas e surpreendentes, daquelas formas estranhas, inspiradoras de imagens e que nos traduzem o sentimento patético ou satírico do artista. Que nos importa que a música transcendente que vamos ouvir não seja realizada segunda as fórmulas consagradas? O que nos interessa é a transfiguração de nós mesmos pela magia do som, que exprimirá a arte do músico divino. É na essência da arte que está a Arte. É no sentimento vago do Infinito que está a soberana emoção artística derivada do som, da forma e da cor. Para o artista a natureza é uma "fuga" perene no Tempo imaginário. Enquanto para os outros a natureza é fixa e eterna, para ele tudo passa e a Arte é a representação dessa transformação incessante. Transmitir por ela as vagas emoções absolutas vindas dos sentidos e realizar nesta emoção estética a unidade com o Todo é a suprema alegria do espírito. Se a arte é inseparável, se cada um de nós é um artista mesmo rudimentar, porque é um criador de imagens e formas subjetivas, a Arte nas suas manifestações recebe a influência da cultura do espírito humano. Toda a manifestação estética é sempre precedida de um movimento de idéias gerais, de um impulso filosófico, e a Filosofia se faz Arte para se tornar Vida. Na antigüidade clássica o surto da arquitetura e da escultura se deve não somente ao meio, ao tempo e à raça, mas principalmente à cultura matemática, que era exclusiva e determinou a ascendência dessas artes da linha e do volume. A própria pintura dessas épocas é um acentuado reflexo da escultura. No renascimento, em seguida à perquirição analítica da alma humana, que foi a atividade predominante da idade média, o humanismo inspirou a magnífica floração da pintura, que na figura humana procurou exprimir o mistério das almas. Foi depois da filosofia natural do século XVII que o movimento panteístico se estendeu à Arte e à Literatura e deu à Natureza a personificação que raia na poesia e na pintura da paisagem. Rodin não teria sido o inovador, que foi na escultura, se não tivesse havido a precedência da biologia de Lamarck e Darwin. O homem de Rodin é o antropóide aperfeiçoado. E eis chegado o grande enigma que é o precisar as origens da sensibilidade na arte moderna. Este supremo movimento artístico se caracteriza pelo mais livre e fecundo subjetivismo. É uma resultante do extremado individualismo que vem vindo na vaga do tempo há quase dois séculos até se espraiar em nossa época, de que é feição avassaladora. Desde Rousseau o indivíduo é a base da estrutura social. A sociedade é um ato da livre vontade humana. E por este conceito se marca a ascendência filosófica de Condillac e da sua escola. O individualismo freme na revolução francesa e mais tarde no romantismo e na revolução social de 1848, mas a sua libertação não é definitiva. Esta só veio quando o darwinismo triunfante desencadeou o espírito humano das suas pretendidas origens divinas e revelou o fundo da natureza e as suas tramas inexoráveis. O espírito do homem mergulhou neste insondável abismo e procurou a essência das coisas. O subjetivismo mais livre e desencantado germinou em tudo. Cada homem é um pensamento independente, cada artista exprimirá livremente, sem compromissos, a sua interpretação da vida, a emoção estética que lhe vem dos seus contatos com a natureza. É toda a magia interior do espírito se traduz na poesia, na música e nas artes plásticas. Cada um se julga livre de revelar a natureza segundo o próprio sentimento libertado. Cada um é livre de criar e manifestar o seu sonho, a sua fantasia íntima desencadeada de toda a regra, de toda a sanção. O cânon e a lei são substituídos pela liberdade absoluta que os revela, por entre mil extravagâncias, maravilhas que só a liberdade sabe gerar. Ninguém pode dizer com segurança onde o erro ou a loucura na arte, que é a expressão do estranho mundo subjetivo do homem. O nosso julgamento está subordinado aos nossos variáveis preconceitos. O gênio se manifestará livremente, e esta independência é uma magnífica fatalidade e contra ela não prevalecerão as academias, as escolas, as arbitrárias regras do nefando bom gosto, e do infecundo bom-senso. Temos que aceitar como uma força inexorável a arte libertada. A nossa atividade espiritual se limitará a sentir na arte moderna a essência da arte, aquelas emoções vagas transmitidas pelos sentidos e que levam o nosso espírito a se fundir no Todo infinito. Este subjetivismo é tão livre que pela vontade independente do artista se torna no mais desinteressado objetivismo, em que desaparece a determinação psicológica. Seria a pintura de Cézanne, a música de Strawinsky reagindo contra


o lirismo psicológico de Debussy procurando, como já se observou, manifestar a própria vida do objeto no mais rico dinamismo, que se passa nas coisas e na emoção do artista. Esta talvez seja a acentuação da moda, porque nesta arte moderna também há a vaga da moda, que até certo ponto é uma privação da liberdade. A tirania da moda declara Debussy envelhecido e sorri do seu subjetivismo transcendente, a tirania da moda reclama a sensação forte e violenta da interpretação construtiva da natureza pondo-se em íntima correlação com a vida moderna na sua expressão mais real e desabusada. O intelectualismo é substituído pelo objetivismo direto, que, levado ao excesso, transbordará do cubismo no dadaísmo. Há uma espécie de jogo divertido e perigoso, e por isso sedutor, da arte que zomba da própria arte. Desta zombaria está impregnada a música moderna que na França se manifesta no sarcasmo de Eric Satie e que o grupo dos "seis" organiza em atitude. Nem sempre a fatura desse grupo é homogênea, porque cada um dos artistas obedece fatalmente aos impulsos misteriosos do seu próprio temperamento, e assim mais uma vez se confirma a característica da arte moderna que é a do mais livre subjetivismo. É prodigioso como as qualidades fundamentais da raça persistem nos poetas e nos outros artistas. No Brasil, no fundo de toda a poesia, mesmo liberta, jaz aquela porção de tristeza, aquela nostalgia irremediável, que é o substrato do nosso lirismo. É verdade que há um esforço de libertação dessa melancolia racial, e a poesia se desforra na amargura do humorismo, que é uma expressão de desencantamento, um permanente sarcasmo contra o que é e não devia ser, quase uma arte de vencidos. Reclamemos contra essa arte imitativa e voluntária que dá ao nosso "modernismo" uma feição artificial. Louvemos aqueles poetas que se libertam pelos seus próprios meios e cuja força de ascensão lhes é intrínseca. Muitos deles se deixaram vencer pela morbidez nostálgica ou pela amargura da farsa, mas num certo instante o toque da revelação lhes chegou e ei-los livres, alegres, senhores da matéria universal que tornam em matéria poética. Destes, libertados da tristeza, do lirismo e do formalismo, temos aqui uma plêiade. Basta que um deles cante, será uma poesia estranha, nova, alada e que se faz música para ser mais poesia. De dois deles, nesta promissora noite, ouvireis as derradeiras "imaginações". Um é Guilherme de Almeida, o poeta de "Messidor", cujo lirismo se destila sutil e fresco de uma longínqua e vaga nostalgia de amor, de sonho e de esperança, e que, sorrindo, se evola da longa e doce tristeza para nos dar nas Canções Gregas a magia de uma poesia mais livre do que a Arte. O outro é o meu Ronald de Carvalho, o poeta da epopéia da "Luz Gloriosa" em que todo o dinamismo brasileiro se manifesta em uma fantasia de cores, de sons e de formas vivas e ardentes, maravilhoso jogo de sol que se torna poesia! A sua arte mais aérea agora, nos novos epigramas, não definha no frívolo virtuosismo que é o folguedo do artista. Ela vem da nossa alma, perdida no assombro do mundo, e é a vitória da cultura sobre o terror, e nos leva pela emoção de um verso, de uma imagem, de uma palavra, de um som à fusão do nosso ser no Todo infinito. A remodelação estética do Brasil iniciada na música de Villa-Lobos, na escultura de Brecheret, na pintura de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, e na jovem e ousada poesia, será a libertação da arte dos perigos que a ameaçam do inoportuno arcadismo, do academismo e do provincialismo. O regionalismo pode ser um material literário, mas não o fim de uma literatura nacional aspirando ao universal. O estilo clássico obedece a uma disciplina que paira sobre as coisas e não as possui. Ora, tudo aquilo em que o Universo se fragmenta é nosso, são os mil aspectos do Todo, que a arte tem que recompor para lhes dar a unidade absoluta. Uma vibração íntima e intensa anima o artista neste mundo paradoxal que é o Universo brasileiro, e ela não se pode desenvolver nas formas rijas do arcadismo, que é o sarcófago do passado. Também o academismo é a morte pelo frio da arte e da literatura. (...) O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil, e, como não temos felizmente a pérfida sombra do passado para matar a germinação, tudo promete uma admirável "florada" artística. E, libertos de todas as restrições, realizaremos na arte o Universo. A vida será, enfim, vivida na sua profunda realidade estética. O próprio Amor é uma função da arte, porque realiza a unidade integral do Todo infinito pela magia das formas do ser amado. No universalismo da arte estão a sua força e a sua eternidade. Para sermos universais façamos de todas as nossas sensações expressões estéticas, que nos levem a à ansiada unidade cósmica. Que a arte seja fiel a si mesma, renuncie ao particular e faça cessar por instantes a dolorosa tragédia do espírito humano desvairado do grande exílio da separação do Todo, e nos transporte pelos sentimentos vagos das formas, das cores, dos sons, dos tatos e dos sabores à nossa gloriosa fusão no Universo. (Espírito Moderno, 1925)


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A FUNDAÇÃO DOS CLUBES ESPORTIVOS EM SÃO LUÍS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A fundação dos primeiros clubes para a prática esportiva data de 1881, quando é fundado o Horses Racing Club – depois Racing Clube Maranhense -, pelo irlandês Septimus Summer, situando-se no antigo Campo do Ourique (hoje, Praça Deodoro) – para a prática do turfe, ou hipodrismo, segundo Martins (1989) , subsistindo até o final daquele primeiro ano de funcionamento; ainda em 1881, Alexandre Rayol, Saturnino Bello, Campêlo França, e Raimundo Veiga estão à frente de um clube recreativo, cujo objetivo principal era realizar passeios, pic-nics, e banhos de mar. No ano de 1893, é fundado o Prado Maranhense, por Virgílio Cantanhede e localizava-se no João Paulo, também para a prática de corridas a cavalo. Em 1900, são fundados diversos clubes esportivos, como o Clube de Regatas Maranhense, por Manoel Moreira Nina; a União Velocipédica Maranhense, situada no Tívoli (Remédios), para a prática do ciclismo... Esses clubes, como tantos outros, tiveram vida efêmera, mesmo movimento que vai se suceder nas décadas seguintes, surgindo novas agremiações para logo em seguida, encerrar suas atividades. Como aconteceu com o turfe, que após esses primeiros anos só é retomado na década de 50, por Amélio Smith, no Gangan; ou o ciclismo, que retorna em 1929, quando Zairi Moreira, Carlos Cunha e Mendonça Gonçalves fundam o Velo Clube, para logo a seguir, surgir o Ciclo Moto Clube de São Luís, incluindo-se as corridas de motocicletas, em seus programas esportivos. Em dezembro de 1904, surge o Clube Euterpe Maranhense, a princípio um clube social e literário, para, em 1907, com a fundação do Fabril Athetic Club – clube esportivo e social – passar também à prática esportiva. O Euterpe tinha sua sede na rua 7 de Setembro, onde era a casa do Comendador Leite (pai de Benedito Leite, mais tarde sede de O Imparcial, hoje abandonado e em ruínas ...). Além de passeios embarcados, havia o jogo de bilhar e danças em sua sede, quando em 1907, adquirem um terreno no Parque 15 de Novembro, esquina com a Travessa Independência, para as práticas esportivas, dentre elas, o Tênis e o Tiro ao Alvo. Ao encerrar suas atividades em 31 de dezembro de 1910, seus sócios fundam o Casino Maranhense (1911). Em 1905, Nhozinho Santos retorna da Europa, e, acostumado à prática de esportes, traz em sua bagagem diversos apetrechos, e reúne os jovens da elite maranhense, comerciantes ingleses, alguns empregados do comércio, também ingleses, para dar início à prática de diversas modalidades esportivas, terminando por fundar o seu clube, nas dependências da Fábrica Santa Isabel, na Quinta do Lapemberg, (hoje, o espaço compreendido no prédio do antigo SESI (Procuradoria Pública) e o Canto da Fabril). Assim, em 27 de outubro de 1907, o clube é inaugurado. Daí, surgem outros clubes, como o Maranhense Foot-Ball Club, fundado em novembro de 1908, por rapazes empregados do comércio, com sede na rua São João, 60. Em 1910, o esporte em Maranhão – diga-se, o FAC (Fabril Athetic Club) - experimenta uma de suas inúmeras crises, surgidas com o descontentamento de alguns associados por causa de problemas financeiros, não só da Fábrica Santa Isabel - de propriedade da família de Nhozinho Santos -, mas por falta de pagamento de mensalidades por parte dos associados - da maioria, segundo MARTINS (1989). Das propostas apresentadas, 13 associados não concordaram, pedindo sua eliminação. Pensavam na formação de uma outra agremiação, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o ONZE MARANHENSE, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins. É ainda em 1910, que Miguel Hoerhan começa a prestar à mocidade ludovicence seus serviços como professor de Educação Física da Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, e em diversas escolas estaduais e municipais. Funda o Club Ginástico Maranhense. É nesse período que surge nesse cenário o vice-cônsul inglês no Maranhão, Mr. Charles Clissold, um grande amante dos esportes. Junta-se aos dirigentes do FAC, incentivando a prática de vários esportes.


Muitos jovens tinham feitos suas inscrições, com o clube revivendo seus grandes dias e sendo oferecidas várias modalidades, como salto em altura simples, com vara, distância; corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos; lançamento de peso, de disco, do martelo; placekick (pontapé na bola, colocando-a na maior distância); cricket; crockt ; ping-pong (Tênis de mesa); bilhar; luta de tração, etc. Mas esse clube estava aberto apenas para os filhos da aristocracia maranhense. A população, de um modo geral, não participava dessas atividades. Gentil Silva não concordava com a elitização do clube e sai do FAC, junto com um grupo de outros dissidentes, que comungavam do mesmo pensamento: "foi, sem qualquer sombra de dúvida, Gentil Silva o responsável pela popularização do futebol em terra maranhense, no momento que, deixando as hostes do FAC, achou oportuno desenvolver a prática do apreciado esporte aos olhos do povo, num campo que, de princípio não possuía cercas". (MARTINS, 1989, p. 332) Nhozinho Santos consegue a inscrição de "seu" clube na Confederação Brasileira de Tiro (1908), ao mesmo tempo que implanta o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos. Ao que parece, essa modalidade foi introduzida por Aluísio Azevedo, pois fora cônsul no Japão por quase três anos e deve Ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar tênis e futebol, quando de sua estadia na Inglaterra. Nova crise, desta vez em 1915, pelos mesmos motivos, atingindo não só o FAC, como o Onze Maranhense. O futebol – introduzido oficialmente em 1907, mas praticado desde 1905 – está em crise. Nesse, há uma tentativa de reabilitação por parte de jovens estudantes, alunos do Liceu Maranhense, dos Maristas e do Instituto Maranhense. São criados vários clubes, como o Brasil Futebol Clube, São Luís Futebol Clube, Maranhão Esporte Clube (1916), Aliança Futebol Clube, e Gentil Silva fundada um novo clube, o Guarani Esporte Clube. O FAC é reativado, mas com o nome de Foot-ball Athetic Club, para manter a sigla – anos mais tarde, outro clube se utilizará dessa sigla, o Ferroviário Atlético Clube -. Gentil Silva reativa o seu Onze Maranhense, no Parque 15 de Novembro, na Av. Beira Mar, próximo do Beco do Silva (hoje, Casino Maranhense). O Brasil F. Clube tem sua sede junto ao Gasômetro (Mercado Central); surgem o Vasco da Gama E. Clube, o Santiago E. Clube, o Fênix F. Clube. De uma dissidência do FAC e do Maranhense Futebol Clube, surge o Esporte Clube Luso Brasileiro, nesse ano de 1915. No ano seguinte – 1916 – em 16 de maio, é fundada a Liga Esportiva Maranhense, para disciplinar a transferências de jogadores de futebol, editando-se o Código de Transferência de Jogadores. É fundado o São Cristóvão Futebol clube, por Carlos Mendes; o FAC amplia a oferta de esportes, introduzindo o Basquetebol, o Boliche e continua a prática do futebol, do tênis, do tênis de mesa, do crockt, do críckt, do bilhar e dos atletismo (jogos olímpicos). A 21 de março, os Professores Atimathea Cisne e Oscar Barroso fundam o Maranhão Esporte Clube e, em 23 de setembro desse ano, o FAC enfrenta os tripulantes do navio “Benjamin Constant” em um jogo de futebol. No Anil, surgem o Timbira e o Ubirajara. Após sofrer algumas derrotas frente ao Clube do Remo, o FAC começa a importação de jogadores (1917), contratando o goleiro Corinto. Em 10 de abril, é criada a Liga Maranhense de Futebol, sendo sua diretoria composta pelo Capitão-Tenente Artur Rego Meireles (Presidente), tendo como seu Vice Joaquim Moreira Alves dos Santos (Nhozinho Santos) e Secretários, Gentil Silva e João Belfort, e como Tesoureiro Jonas Hersen. Surgem o Clube do Muque, para a prática do remo, e o Tiro Maranhense, além do Centro de Cultura Física Maranhense, com sede na Rua Grande, 132. No Anil, é fundado o Anilense Futebol Clube. No ano de 1918, vamos encontrar a prática do bilhar no Bar Carioca, destacando-se no taco Sarmento e Paraíso. Esses esportistas, para melhorar suas performances, praticavam halteres, remo, e ginástica. No FAC, as mulheres principiam a praticar esportes, participando de jogos de Tênis e Crockt. As quadras de tênis, os campos de cricket e crickt e de boliche recebem iluminação elétrica, passando-se a realizar jogos à noite. É introduzido o Ciclismo e as corridas rústicas. No Luso, pratica-se ginástica e é criada uma escola de aviação. Em 1919, no dia 25 de agosto, os diversos representantes dos clubes entram em um acordo, unindo as diretorias das duas ligas – a de Esportes e a de Futebol, criando-se a Confederação Maranhense de Desportos:


CLUBES Atenas Colombo FAC Nacional Baluarte Marcílio Dias Hércules Espartano Mignon São Cristovão América Barroso União

REPRESENTANTES Benedito Ciríaco Pedro Mendes Alcindo Oliveira João Krubusly Francisco Furiato Tent. Dias Vieira Humberto Fonseca Tancredo Matos Eliude de Sousa Marques Almir valente Herman Belo Nilton Aranha Antenor Rodrigues da Mota


SIGAMOS COM NEYMAR BRUNO TOMÉ FONSECA

Procurador do Estado do Maranhão, advogado, escritor, professor universitário e membro da Academia Ludovicense de Letras.

Cumpre a sensata advertência que este artigo pode ficar tão amarelado quanto o próprio envelhecer de uma folha de jornal. Ou seja, caso Brasil ganhe a Copa do Mundo da Rússia, daqui a vinte dias, todo o propósito destes escritos perderão por completo a sua razão de ser. O nosso país se transformará numa apoteose coletiva e todos os palpiteiros de plantão (incluindo-me aqui entre eles) serão chamados de chatos e inoportunos. O mesmo digo destino será dado a esse artigo caso o Brasil fracasse no intento do hexacampeonato. Refletindo sobre os risco de escrever algo que pode logo entrar em desuso, lembrei-me de Renato Russo, falecido compositor brasileiro. Ele fez longas reflexões se lançava ou não a música “Que País é Esse?”, grande sucesso da banda Legião Urbana. Existia naquela época a real sensação que a redemocratização do país transformasse num produto obsoleto a sua revolta musical contra o estado de coisas nacional. Porém, esses prognósticos historicamente não se confirmaram. Com a volta da democracia participativa, o seu estado de indignação permaneceu e acabou sendo uma decisão artística acertada o lançamento da referida canção pelos idos de 1987. Entre os riscos da obsolescência de uma ideia e a livre (e, acima de tudo, responsável) manifestação de pensamento, filio-me à segunda opção. Portanto, o medo do caráter perecível deste artigo fica um pouco de lado. Venho aqui falar do que chamamos genericamente de redes sociais em tempos de Copa do Mundo. Essa grande massa disforme de opiniões (ou a completa falta delas) que inundam nossos celulares e computadores, confirma-se como uma terra de ninguém, onde todos os dias vemos no final das intermináveis mensagens palavras mágicas do tipo: “Repassem”, “os brasileiros precisam saber”, ou então “compartilhe com o maior número de pessoas possível”. A bola da vez desses “repasses” chama-se Neymar, principal jogador da seleção brasileira. Cumpre o registro que todos os técnicos brasileiros em nível profissional caso tivessem oportunidade de dirigir a seleção, certamente elevariam Neymar à posição de titularidade. Seria uma exigência nacional, sob pena de ser forjado pelos torcedores brasileiros um grande abaixo assinado demissionário. O que se percebe é que, com a bola em jogo na Copa, os cabelos exóticos e o estilo “cai-cai” de Neymar tomaram conta dos “posts” e dos “likes”. Ora, as madeixas capilares de Neymar e o seu jeito de ser e de viver o futebol não são nenhuma novidade para quem o acompanha minimamente há pelo menos dez anos. Mesmo assim, durante a Copa (logo agora!) Neymar passa a ser uma espécie de inimigo íntimo dos repassadores plantonistas. Alguns o chamam de mal educado e mimado, características que podem até ser pertinentes, porém, não o desabilitam para jogar uma Copa do Mundo. Sendo realista, porém, sem querer ser pretensioso, não dá agora para querer se educar o Neymar, principalmente durante um evento esportivo que dura menos que um único mês. Aliás, pode até ter passado esse bonde educativo e poucos fizeram para neutralizar esse “enfant terrible”. Diante da escassez de tempo e de um torneio de tiro tão curto como é uma Copa, o momento agora é, quem sabe, de corrigir sua função tática e técnica. E restabelecer o foco um pouco mais para o coletivo, caso isso seja realmente possível, num time tão cheio de individualismos. Comportamento é algo que se constrói durante toda a vida. E possivelmente não se tenha tanta vida para tanto. Para a glória ou o fracasso, sigamos com Neymar.


A ESCOLA DIGNA (DE) SOTERO DOS REIS FELIPE CAMARÃO Professor; Secretário de Estado da Educação Membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão A histórica Unidade Integrada Sotero dos Reis, na Rua São Pantaleão, centro de São Luís, passa pela maior reforma de todos os seus 81 anos de existência. E, para deixá-la no padrão da ‘Escola Digna’, respeitando a arquitetura do prédio tombado como patrimônio histórico, o Governo do Estado está investindo o montante na ordem de 1,5 milhão. Fundada em 1937, a ‘Sotero do Reis’ guarda uma história cheia de riquezas e fatos que estão diretamente associados à história de São Luís, mas que pouca gente tem conhecimento. A ampla reforma faz jus, primeiramente, à história do patrono da escola, Francisco Sotero dos Reis – professor autodidata, um dos principais expoentes da educação ludovicense e brasileira, que deixou um legado incalculável à Língua Portuguesa, ao escrever, em 1962, Pastillas de Grammática Geral, considerada por muitos historiadores a primeira gramática brasileira. F. Sotero, como é chamado na obra Phanteon Maranhense TOMO I, de Antonio Henriques Leal (1873), ‘pegou o gosto pela leitura’, ainda adolescente e, aos 18 anos, começou a dar aulas em sua própria residência, na Rua de Nazaré, esquina com a Rua do Giz; mais tarde, foi nomeado, aos 21 anos, para ministrar gramática latina em um colégio da província e, em 1838, foi nomeado primeiro inspetor do Liceu Maranhense, que funcionava no Convento de Nossa Senhora do Carmo. Há um trecho do livro, no qual o autor realça a vocação de Sotero pela educação: “Seu espírito infatigavel e todo inclinado à missão de preceptor da mocidade não se satisfazia só com a aula pública, onde se lhe iam muitas horas: nas tardes ensinava em sua casa, e á noite tomava como agradavel desenfado leccionar grammatica portugueza e francez a suas parentas e a outras meninas de familias de sua amisade, revezando essas licções com outras, tambem não remuneradas [...]”, LEAL, Dr. Antonio Henriques (1873, pag. 132). Além de exaltar Sotero dos Reis, as melhorias estruturais na escola, também, representam o resgate histórico e a preservação do lugar, que já foi o mais luxuoso cemitério de São Luís, no século XIX, de propriedade de ingleses não católicos e financiado pela Coroa Britânica. Assim que chegaram aqui, os ingleses trouxeram suas famílias, empregados e escravos e resistiam em utilizar espaços públicos. Portanto, resolveram construir suas próprias igrejas, escolas, casas e cemitérios. O da São Pantaleão tinha, logo na entrada, um portal de cantaria, que veio de Lisboa (Portugal), portões e gradeados que chamavam a atenção pelo esplendor e qualidade de acabamento. Os jazigos eram quadrados, porque os corpos eram enterrados no sentido vertical. A história conta que, ali, foram enterrados 242 corpos, entre eles, diplomatas, comerciantes, comandantes de navio e marinheiros. De acordo com relatos, até meados de 1970, os túmulos ainda podiam ser vistos no local e, ainda hoje, o espaço da escola abriga dois túmulos. Atualmente, a ‘Sotero dos Reis’ tem 890 (oitocentos e noventa) alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos, nos turnos matutino e vespertino. Em 2010, foi iniciada uma reforma prevista para conclusão em seis meses e, após três anos, foi entregue inacabada, apresentando riscos aos alunos e corpo técnico da escola. A reforma atual segue em ritmo acelerado e dentro do cronograma estabelecido em acordo com a comunidade escolar. Assim como a gestão, estudantes, professores, técnicos e servidores, o literato e educador, Sotero dos Reis, se estivesse vivo, certamente estaria dando saltos de alegria.


O SONHO NÃO ACABOU JOÃO BATISTA ERICEIRA Sexta-feira passada esvaiu-se o sonho do Hexa, adiado para 2022 no Oriente Médio, nas escaldantes areias do Qatar. O país recolheu as chuteiras, e agora, encarará as eleições gerais, ao meio de múltiplas crises, dentre elas, a política. O Legislativo e o Executivo desacreditados. O Judiciário, cumprindo a lei física do poder, que tem horror ao vácuo, ocupa o espaço e as funções destinados aos dois. A preocupação dos analistas e cientistas sociais volta-se para as enquetes dos institutos de pesquisas, reveladoras do desinteresse dos entrevistados. Não querem saber de eleições e candidatos. Eles não estão no centro de suas preocupações. Em tempo de Copa do Mundo são muitas as analogias entre a política e o futebol. O resultado do jogo da sexta-feira refletiu o time do Brasil: dependente de talentos individuais, mas sem visão de conjunto, enfrentou seleção, como a Bélgica, mais bem articulada nesse sentido. O jogo, frequentemente se ganha, não por méritos próprios, mas pelos erros do adversário. A política brasileira também sempre esteve ligada a talentos individuais. Durante o Império gravitava em torno do Imperador, após a Primeira República, centrava-se em torno de uma personalidade forte, Floriano Peixoto, Pinheiro Machado. Na Segunda, a partir 1930 avultou a figura dominante de Getúlio Vargas. Saiu de cena em 1954. Em seguida, apareceram Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, Leonel Brizola. Em 1964 instalou-se a ditadura civil-militar e os presidentes eram designados pelo sistema até 1985, quando ocorreu a transição negociada da eleição de Tancredo Neves. A Constituição de 1988 inaugura novo período, despontam nomes como Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva. Nos partidos políticos emergidos posteriormente a 1988, organizaram-se condomínios, e em alguns casos, têm proprietários da organização partidária, desempenhando atribuições negociais e burocráticas, sem qualquer base de representação da sociedade. A Constituição de 1988 dispõe que o jogo político só pode ser jogado através dos partidos, por esse caminho, a disputa seria coletiva, pois a sociedade civil estaria neles representada. Como eles carecem de representatividade, os alicerces do poder político estão combalidos. Nem eles, nem os detentores de mandatos legislativos e executivos gozam da confiança da sociedade. Resultado, o árbitro, o Judiciário, é convocado a jogar, a sair de suas funções para conduzir-se como órgão do Poder Legislativo ou do Poder Executivo. Está configurado o impasse institucional que atravessamos. A superação da crise de legitimidade se daria com a manifestação da sociedade nas próximas eleições. Será? Qualquer prognóstico nessa área é arriscado. Os céticos apostam na continuação do expecto da crise, argumentam que as regras não foram alteradas, os fundos de financiamento custearão os oligarcas que impediram que se efetivasse a verdadeira reforma político-eleitoral, com o claro propósito de se perpetuarem nos cargos, mantendo os privilégios de sempre. Os otimistas apostam no surgimento de ator individual, de jogador extraordinário, capaz de liderar a sociedade para operar as transformações exigidas pela população que começou a se manifestar nas grandes concentrações de 2013. Os eleitores, por certo, não conseguiram até agora identificar entre os précandidatos à Presidência da República, o líder apto a desempenhar esse papel. Por outro lado, forma-se consciência política clara de que sem a participação da sociedade, sem o jogo do coletivo, não haverá “craque” capaz de responder ao desafio. A Constituição Federal de 1988 dispõe de mecanismos capazes de permitir a presença da cidadania na resolução dos problemas que impedem que o Estado esteja a serviço da sociedade, e não o contrário, como hoje ocorre. Convém que o candidato à `Presidência da República exponha a sua proposta, e ganhe a adesão ativa da sociedade brasileira. Ele poderá começar a executá-la nos primeiros dias do governo. Na Ordem dos Advogados do Brasil, sob a inspiração do professor Fábio Konder Comparato, começamos a trabalhar nessa direção, desde a criação da Comissão de Defesa da República e da Democracia, com a


finalidade de realizar os sonhos que nos moviam quando lutávamos pelo restabelecimento da Democracia, pela realização plena do Estado de Direito. Muitos deles se realizaram, outros nem tanto. Mas se trata de processo histórico, realizável ao longo de gerações. Penso que a nossa, dentro do possível, cumpriu o seu papel. Creio que as atuais e futuras prosseguirão. Muitas etapas ainda serão cumpridas. Resta uma certeza, o sonho do Hexa, como o da construção de sociedade mais fraterna e justa, não acabou.


O SIMBOLISMO E O POETA MARANHÃO SOBRINHO

FERNANDO BRAGA In “Toda Prosa”, antologia de textos de autor Ilustração: Foto do poeta Maranhão Sobrinho.

Ao poeta Kissyan Castro, estudioso da vida e obra de MS. José Augusto Américo Olímpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho. Não era príncipe. Era poeta. Não tinha título nobiliárquico, mas uma eugenia tão ilustre e extensa quanto o seu nome. Nasceu na cidade maranhense de Barra do Corda, em 20 de dezembro de 1879 e faleceu nos arrabaldes da cidade de Manaus, na madrugada de 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade. Por muito tempo, todos os estudos, como ensaios, monografias, artigos e que tais, sobre Maranhão Sobrinho, registravam seu nascimento e morte, numa feliz coincidência, no dia 25 de dezembro, foi quando o poeta e pesquisado Kissyan Castro, membro da Academia Barra-Cordense de Letras, estudioso da vida e obra do nosso simbolista, resolveu revirar documentos em cartórios e na Paróquia de Barra do Corda, onde o poeta nasceu, chegando a conclusão, em confrontando documentos como as Certidões de batismo e de nascimento, bem como outros “velhos papéis roídos pelas traças do simbolismo”, que o poeta nasceu de fato no dia 20 de dezembro de 1879 e não nos dias 25 e/ou 30 de dezembro daquele ano como eram registados anteriormente. Esse exaustivo trabalho de Kissyan Casto teve de logo o reconhecimento do também pesquisador e estudioso da literatura maranhense, escritor Jomar Moraes que, como Presidente da Academia Maranhense de Letras, à época, chancelou, em nome da Instituição, também co-fundada por Maranhão Sobrinho, a autenticidade da data, ficando esta a prevalecer ‘ad eternum’. Conta-nos o Dr. Antônio de Oliveira, membro da Academia Maranhense de Letras e meticuloso no campo da pesquisa científica, in ‘Maranhão Sobrinho’ [notas biobibliográficas], separata nº 82 da ‘Revista das Academias de Letras’, Rio de janeiro, 1976, que o poeta estudou as primeiras letras no colégio do Dr. Isaac Martins, em sua cidade natal, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista, cujos ideais pregava no jornal ‘O Norte’, de sua propriedade e muito divulgado na região. Em 15 de agosto de 1899, o poeta, com o auxílio do pai Vicente e do seu tio querido José, ambos, tios do nosso estimado amigo Monsenhor Hélio Maranhão, já falecido, fiel escudeiro de Jesus, incardinado a vida inteira na Arquidiocese de São Luís do Maranhão, escritor elegante e orador sacro, membro das Academias Maranhense e Barra-Cordense de Letras e Capelão da Polícia Militar do Estado. Em São Luís, Maranhão Sobrinho, nome pelo qual era conhecido e assinado em suas produções literárias, matriculou-se na tradicional Escola Normal, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominados ‘pensão’. Por rezingas com alguns professores, logo abandona o curso Normal e, sem emprego, ao invés de postar-se como autêntico simbolista, estilo que escrevia com brilhante


inspiração, à moda, digamos, de Mallarmé, o poeta do ‘Après-midi d’um faune’ ou o ‘divino Estefânio’, como lhe chamava, não, entregara-se à boêmia descomedida, como uma personagem de Murger. O sábio e etnólogo Raimundo Lopes, autor de ‘O Torrão Maranhense’, escreveu sobre o poeta um estudo publicado in ‘Revista da Academia’, nº 1, São Luís, 1919: “A circunstância do lugar é sugestiva. Na Barra do Corda, atraindo o escol da mocidade sertaneja [...] este se haveria abeberado na poesia espontânea das bucólicas e rapsódias rudes dos vaqueiros, dos descantes selvagens das violas. Agitava-o talvez a ânsia de novas impressões, mercê das quais o seu espírito viveria uma vida mais alta, num mundo estranho e inédito de mistérios...” E continua o nosso querido e saudoso amigo, Dr. Antônio de Oliveira a nos contar, a seu modo, o que sintetizamos por questão de espaço, que em 1903, impressionados com a desregrada vida boêmia que o poeta levava em São Luís, alguns amigos mais íntimos e dedicados, o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali ele mudasse de procedimento e, trabalhando, arranjasse meios de pelo menos publicar seus livros. Na capital paraense começou a trabalhar no jornal ‘Notícias’ e passou a colaborar na tradicional ‘Folha do Norte’. Bem depressa se tornou popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Um dia, em Belém, sem se despedir de ninguém embarcou num navio e voltou para São Luís. Chegando ao velho ‘fortim dos franceses’, fundou com outros intelectuais de sua geração a ‘Oficina dos Novos’ que editava um boletim literário e fazia uma peregrinação todo dia três de novembro à estátua do poeta Gonçalves Dias [patrono da Instituição], em comemoração à data do naufrágio do ‘Ville de Boulogne’, nos baixios maranhenses, em que morreu o imortal Cantor de ‘Os Timbiras’. Foi iniciativa também da ‘Oficina dos Novos’ erguer em Praça Pública o busto do humanista Odorico Mendes, imortal tradutor de Virgílio, a qual, até hoje, solene e serena ilumina o largo que lhe dá o nome. Antônio Lôbo, um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras e seu primeiro presidente traçou o perfil do nosso poeta nas páginas do seu livro ‘Os Novos Atenienses’: “Maranhão Sobrinho ressuscita entre nós o tipo clássico do boêmio. Possui, pelas coisas materiais da vida, a mais soberba das indiferenças. Desde que encontre, ao saltar da cama, a sua fatiota costumeira e o seu indefectível chapéu de palha, este último não para trazê-lo à cabeça como toda gente, mas, ao contrário dos outros, para carregar debaixo do braço, a guisa de um embrulho precioso, reputa-se o mais feliz dos homens”. O poeta, inesperadamente, como sempre fazia, embarcou para Manaus, via Belém, numa rota e num destino semelhante ao de Vespasiano Ramos [já anotado por nós nestes apontamentos]. E lá morreu, deixando para a história literária estes livros: ‘Papéis Velho’, 1908; ‘Estatuetas’, 1909 e ‘Vitórias Régias’, 1911. Ouçamo-lo neste antológico ‘Soror Teresa’, enfeixado em ‘Papéis Velhos’, onde o poeta explode todo o simbolismo em resgates a nuances românticas e realistas em contraposição às tendências cientificistas do positivismo estabelecidas na Europa na segunda metade do século XIX: SOROR TERESA ... E um dia as monjas foram dar com ela morta, da cor de um sonho de noivado, no silêncio cristão da estreita cela, lábios nos lábios de um Crucificado... somente a luz de uma piedosa vela ungia, como um óleo derramado, o aposento tristíssimo de aquela que morrera num sonho, sem pecado... Todo o mosteiro encheu-se de tristeza, e ninguém soube de que dor escrava morrera a divinal soror Teresa... Não creio que, de amor, a morte venha, mas, sei que a vida da soror boiava dentro dos olhos do Senhor da Penha...


O poeta é o patrono da Academia Barra-Cordense de Letras, da qual pertenço com muita honra, a qual é conhecida como ‘Casa de Maranhão Sobrinho’, o que muito se orgulha a Instituição deste epíteto ilustre e honroso. A intuição crítica me leva a pensar de há muito que, se o poeta Maranhão Sobrinho não tivesse migrado para o Norte, mas se dirigido para o Rio de Janeiro, a desenvolver e aplicar o seu simbolismo, como ele mesmo escreve “Papéis velhos... roídos pela traça do símbolo”, teria, juntamente com Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães composto a brilhante trindade simbolista brasileira.


O ELEITOR E A DEMOCRACIA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís, Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

Vivemos um momento de efervescência política que não se via há décadas em nosso país, pelo menos desde os anos 80. A classe política mais uma vez vem passando por um forte processo de renovação e alteração de suas práticas em razão de um sistema político-eleitoral cada vez mais aberto, transparente e participativo. Neste novo cenário, o eleitor – cidadão dito comum, que constrói com braços fortes a nação – tem o papel mais importante na consolidação de nossa juvenil democracia. Fundado na concepção representativa, nosso modelo de Estado Republicano garante a efetiva e plena participação do cidadão nos rumos da nação. Convém anotar que não se fala apenas do cidadão na qualidade de eleitor, mas de uma pessoa que pode e deve exercer uma cidadania ativa, a começar pelas urnas. Isso porque há pouquíssimos lugares no mundo onde o processo eleitoral ocorre de forma tão ágil, segura e transparente, garantindo que prevaleça a vontade da maioria. Temos, vale frisar, uma das justiças eleitorais mais eficientes do planeta. Daí porque, apesar de contestado por muitos, o voto obrigatório é um dos pilares do nosso sistema representativo. Ele mantém aceso o debate cotidiano, garante uma participação massiva e torna mais consciente os cidadãos, quando participam ativamente do processo eleitoral para escolha dos seus representantes. Naturalmente há aqueles que são contra, razão pela qual muitos se abstêm de votar no dia das eleições. Mas mesmo estes dão sua contribuição ao processo democrático, haja vista que seu ato de protesto, embora não seja o mais inteligente, contribui para manter vivo o permanente debate sobre o aprimoramento da nossa política. Essa postura é compreensível, mas, como dito acima, não é a mais assertiva. Isso porque o sentimento imbuído nesse comportamento de protesto, também se coaduna com o desejo da maioria: ver o Brasil mudar para melhor. Não obstante o paradoxo que possa parecer, é preciso entender que até a insatisfação, a omissão resultante dela é uma conduta a ser considerada no sistema representativo. No entanto, apesar de legítimo, o protesto se torna inócuo do ponto de vista da mudança e apenas serve para confirmar que a omissão não garante a mudança que se espera para o país. Somente a participação efetiva dos cidadãos é capaz de alterar a realidade que aflige milhões de brasileiros que não têm acesso a serviços públicos básicos, ou mesmo os mais de 13 milhões que se encontram na fila do desemprego. Já é sabido que toda mudança na sociedade deve começar por nós. No que diz respeito ao nosso sistema representativo, a mudança começa pelo poder do voto. É este que garante que nossos representantes tomem assentos em lugares privilegiados para serem a nossa voz na defesa dos nossos direitos. Primeiro passo dado, o voto, é momento de acompanhar, fiscalizar, participar ativamente da gestão pública do seu bairro, município, estado, país. À disposição do cidadão está um moderno sistema de controle social, além do papel exercido pela imprensa, permitindo maior transparência dos atos públicos. A consolidação do Estado democrático de Direito, portanto, somente encontra consonância nas boas práticas participativas, pelas quais os cidadãos reivindicam seu espaço, atuando para uma sociedade mais justa e igualitária. O poder de escolha de representantes não esgota a verdadeira acepção do conceito e o eleitor


continua

a

ter

papel

decisivo

nas

fases

subsequentes

à

essa

escolha.

Essa tônica da representatividade precisa ser retomada a fim de que o Estado seja efetivamente transformado em um instrumento com capacidade plena para diminuir distâncias entre os cidadãos, mais notadamente econômicas e sociais. Um Estado democrático, construído sobre os auspícios da justiça plena e da igualdade entre todos se faz com a participação constante do cidadão.


O CIDADÃO-ELEITOR JOÃO BATISTA ERICEIRA Analistas, juristas e cientistas sociais apostam nas possibilidades de as eleições de outubro serem as mais judicializadas de toda a História. Vários fatores concorreriam: a indefinição dos competidores, a essa altura da corrida, alguns pré-candidatos desistiram, e as alianças não estão definidas, além da candidatura do expresidente Lula, que certamente será impugnada, mas não há definição do resultado final do Judiciário, pela oscilação da jurisprudência eleitoral em relação à matéria. De 20 de julho a 5 de agosto os partidos realizarão as suas convenções. A partir destas os candidatos escolhidos para concorrer aos cargos do Legislativo e do Executivo passarão a exercer os direitos e deveres correspondentes a essa condição. A Justiça Eleitoral, o Ministério Público, a Ordem dos Advogados tem realizado encontros, seminários, congressos para a discussão dos temas mais polêmicos a desafiarem os candidatos, partidos e coligações, tais como as condutas vedadas aos postulantes; os crimes eleitorais; o marketing; as pesquisas; a Internet e Segurança da Informação, as propaladas fake news; as prestações de contas eleitorais. São atividades preventivas, visam tornar claras as regras, para que os competidores as cumpram, evitando ao máximo possível a intervenção da Justiça Eleitoral. O propósito é salutar, nas eleições, o primeiro juiz soberano é o eleitor. A ele, os órgãos do Estado devem oferecer todas as garantias para que sua vontade e escolha sejam respeitadas. Os vícios do poder econômico, administrativo ou midiático, devem ser coibidos para não influenciarem a autonomia da vontade do cidadão-eleitor. Ao contrário do que pode supor o senso comum, os eventos eleitoralistas se dirigem aos candidatos, partidos políticos, e principalmente ao eleitor, o principal destinatário do processo democrático. Só secundariamente se dirige a juízes, a membros do ministério público e a advogados eleitoralistas, os encarregados da interpretação das normas nas situações de conflitos que inevitavelmente surgirão. Em competição em que se disputa a conquista dos principais cargos do poder político do Estado os litígios são inafastáveis. E não é demais repetir, a interpretação de qualquer ramo do Direito, incluindo sobretudo o eleitoral, não é unívoca. Fica à mercê de visões ideológicas diferentes, da composição dos colegiados dos tribunais em instâncias distintas. O que parece concorrer para o que os críticos rotulam de insegurança jurídica. Nas democracias, a certeza absoluta é impossível, sempre se conviverá com determinado grau de incerteza, incluindo os julgados do Judiciário. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luiz Fux, tomou a iniciativa de firmar acordo com empresas jornalísticas, de pesquisas, e partidos políticos, de compromisso de combater as fake news, as mentiras eleitorais, capazes de atingirem o ânimo do eleitorado, influenciando nos resultados. Independentemente do cumprimento, o gesto, pelo ineditismo, sinaliza com a necessidade de os protagonistas dos pleitos se comprometerem com valores éticos, indispensáveis à construção da sociedade democrática. Outro aspecto essencial é a clara definição do papel do Poder Judiciário, eleitoral ou comum, em qualquer instância. A Constituição Federal define que os poderes do Estado são Legislativo, Executivo e Judiciário. Os dois primeiros são intrinsecamente poderes políticos do Estado, cabendo ao último a função de árbitro dos conflitos, nunca de parte. A colocação, aparentemente óbvia, vem sendo prejudicada pelo fenômeno da judicialização da política, de certa forma, universalizado. São muitas as explicações. A primeira delas de caráter mais geral, respeita a perda de legitimidade representativa de parte do Legislativo e do Executivo. Os antagonistas das duas esferas são os primeiros a baterem nas portas do Poder Judiciário. Em segundo lugar, o excessivo protagonismo de parte de juízes, dos tribunais superiores, do Supremo Tribunal Federal, manifestando-se sobre assuntos de natureza institucional. É explicável do ponto de vista da sociologia política. A crise de legitimidade dos poderes Legislativo e Executivo deslocou o lugar da fala para o Poder Judiciário. Confirmando a assertiva de que o Poder, como energia social, tem horror ao vácuo. Nas eleições, o Poder deve ser do cidadão-eleitor. A legislação político-partidária e eleitoral é falha, exige correções e mudanças de fundo há muito tempo. Mas é a que temos. É fato que não se procedeu a desejada


reforma política, mesmo porque a fazê-la, seriam contrariados os interesses dos detentores dos cargos do Legislativo e do Executivo. A Legislação aplicável é a que aí está posta. As suas regras devem reger os pleitos eleitorais até que sejam substituídas por outras. Sem esquecer, acima delas se inscreve o preceito constitucional de que todo o poder político do Estado brasileiro emana do cidadão-eleitor.


SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Como sabem, minha formação básica é em Educação Física. Sou licenciado, pela então Escola de Educação Física e Esportes do Paraná – hoje, UFPR – turma de 1975. Cursava, junto, a faculdade de Direito de Curitiba, bacharelato que abandonei... Depois, fiz duas especializações – Metodologia do Ensino (1977-78); Lazer e Recreação (1986); Mestrado em Ciência da Informação (1992-93); e iniciei um Doutorado em Ciências Pedagógicas. Minha dissertação de mestrado versou sobre produção do conhecimento na área tecnológica; a tese de doutorado – pronta antes mesmo de iniciar o curso – sobre memória/história do esporte, lazer e educação física no Maranhão... Mas o que tem a ver com produção do conhecimento? Sirvo-me de artigo publicado para dar uma ideia do que está por vir nas novas diretrizes da revista da ALL, segundo o pensamento corrente: Martins e Valentim, em DataGramaZero - Revista de Informação - v.14 n.1 fev/13 publicam um interessante artigo sobre os Indicadores e modos cognitivos de produção da realidade: evidências da aplicação da sociometria na Ciência da Informação. Os autores buscam colocar em cena novos elementos que acreditam terem recebido, até o momento, pouca atenção no campo da Ciência da Informação. Para isto, começam com alguns questionamentos sobre a visão de ciência produtora de um determinado modelo cognitivo que domina esse campo hoje e novas possibilidades de compreensão sobre o saber científico. Na sequência, resgatam uma visão sobre o surgimento histórico da sociometria, as forças que movimentaram a sua história e seus desdobramentos a partir da criação de modelos matemáticos para sua leitura. Por fim, discutem a sociometria no mundo hoje e caminhos que consideram que ela possa seguir. Algumas ideias: sobre Metafísica e a Ciência hoje - é relevante levantar o questionamento sobre movimentos que constituíram a ciência tal como ela é compreendida hoje: Almeida (2005) diz que Heidegger, em sua obra “El ser y el tiempo” (1927/1984), caracteriza o modo do pensamento ocidental compreender o ser como metafísico, vendo na ciência e na técnica moderna suas manifestações mais imediatamente reconhecíveis. Critelli (2007), retomando o pensamento metafísico desde Platão e Aristóteles também a partir do olhar de Heidegger, assinala que foi Aristóteles que estabeleceu uma compreensão do pensar como um processo de produção de ideias, no qual seus procedimentos lógicos seriam seus sistemas de operação e instrumentos. Isto porque, para estes autores, o ser reúne em si mesmo sua substância (forma/essência) e seus acidentes (matéria). A Forma é compreendida como as qualidades genéricas e específicas e, portanto, universais da coisa. A Matéria, por sua vez, é expressa pelos acidentes, correspondendo ao peso, volume, cor, formato, entre outros caracteres da coisa tangível e individual. A Forma, essência, é perceptível pelo intelecto, mediante a abstração de caracteres acidentais dos entes. A essência está na sombra do aparente, pois o que se ilumina à frente da percepção é apenas o individual não universalizado, sem generalização, na sua concretude individual. Nessa linha, Platão e Aristóteles denunciam o mundo sensível e aparente como um mundo enganoso, já que é múltiplo, diverso, mutável e corruptível. O ser como conceito não poderia estar sujeito a estas leis do mundo sensível, a nenhuma degeneração e mutação. Ou seja, a aparência das coisas era vista como extremamente problemática e encobridora do ser, por não o apresentar em sua unicidade, nem na sua estabilidade, nem na sua permanência. O acesso ao conceito, para Aristóteles, seria trabalho do intelecto. Com este autor, fala-se pela primeira vez num método para a conquista do conhecimento verdadeiro do mundo. Este método controlaria o pensamento para que ele cientificamente definisse as coisas em seu “verdadeiro” ser, além de por a prova os juízos já formulados. Critelli (2007), Descartes, posteriormente, apresenta o modelo sobre o qual nossas ciências atuais tomam fôlego. Para o pensamento cartesiano, a substância das coisas é concedida aos homens pela razão mesma dos homens. O que se mostra seguro para este pensador, enquanto procedimento da razão, é a certificação de certos aspectos da coisa que podem ser precisados mediante um controle baseado na observação, na mensuração, na classificação das coisas.


Fora deste controle preciso e metodológico a razão não pode ter segurança de mais nada. Assim, para a metafísica, o critério que põe as coisas e os temas como adequados ou não para o conhecimento, e os identifica como reais ou não, é a sua pureza e capacidade de permanecer ao longo do tempo. E foi especialmente após as indicações de Descartes que a área do saber que se encarrega por responder a questão do ser deixa de ser a Filosofia para ser a Física. Aparece no cenário do pensamento a matematização da natureza, através da física moderna, como aquilo que vai tomar o lugar da filosofia diante desse tema. Nesse movimento do pensamento cartesiano, constrói-se a noção de objetivação. É percebido como objetivo aquilo que está separado do homem, que é coisa em si e que pode ser mensurada, calculada, controlada e, portanto, coisa a respeito da qual a razão se assegura. O que passa a ser importante é o processo de precisão das coisas serem o que são. E é essa precisão que, em sua vulgarização, passa a ser conotada como verdade: a verdade de algo estaria na precisão de sua mensuração. Sendo assim, a precisão metodológica do conceito toma até mesmo o lugar do objeto empírico, em termos de importância para dedicação, pois a representação é muito mais controlável do que o próprio objeto a que ela se refere. A objetividade é, portanto, um atributo da representação e não da coisa em si. A objetividade é conceitual e não da coisa mesma. Essa construção do pensamento produz a não existência do objeto empírico em si mesmo, mas apenas e na medida da sua reconstrução pelo pensamento logicamente parametrizado sobre a base da certificação. Diante desta construção do pensamento metafísico, a fenomenologia se erige como uma genuína alteridade que se estabelece entre uma e outra dimensão epistemológica. A fenomenologia vêm trazer uma compreensão de mundo na qual as coisas são o que são na relação com o homem. Para a metafísica, o ser (substância, identidade) das coisas está nelas mesmas e precisa ser descoberto pela técnica mais perfeita. Para a fenomenologia, o ser de tudo o que há está no estar sendo dos homens no mundo, falando e interagindo com os outros. E é por isto que as coisas, para a fenomenologia, só existem quando aparecem para o testemunho dos homens. O jogo do aparecer é um movimento do ente parecer ser tal ou qual, deste ou daquele modo para espectadores e jamais aconteceria sem estes últimos. A Sociometria trata do indivíduo e o grupo social – traçando cartografias grupais; o vocábulo grupo aparece por meados do século XVII e começa a significar reunião de pessoas, o grupo se torna uma instituição - uma composição de linhas que ao se atravessarem produzem campos de saber, redes de poder, especialismos. Taylor - índice de produtividade. Ford - sistema da linha de montagem Western Electric Company - foco as relações humanas. E. Mayo - sentimento de pertencimento a um grupo. Isto inaugura a visão do grupo como fator de rendimento e solução para conflitos que ultrapassam os aspectos físicos-ambientais, detectados pelas propostas tayloristas e fordistas. O trabalho com grupos se configura, então, como uma tecnologia a ser empregada especialmente frente a situações de conflito, criando então técnicos que passam a gerir tais espaços. Moreno - sociometria - mapear as relações de simpatia, antipatia e indiferença estabelecidas entre os seres humanos. O sociograma seria a representação gráfica dessas redes de preferência e rejeição, revelando hierarquias, sistemas de poder. Kurt Lewin - campo social: a unidade do todo do grupo e as relações dinâmicas estabelecidas entre os elementos que o compõem, cunha o termo dinâmica de grupo. Além disto, cria hipóteses que são até hoje muito fortes no mundo grupalista, tais como: o grupo é mais do que a soma de suas partes; quando há modificação de uma das partes, a estrutura do grupo se modifica; entre outras. Lewin, Alex Bavelas - cálculo dos elementos mais centrais de uma rede de conexão entre pessoas, surgindo daí a ideia e a formalização do cálculo de centralidade de uma pessoa em uma rede: “Ele acreditava que em qualquer


organização o grau pelo qual um indivíduo dominava a sua comunicação – o grau no qual ele era central nessa rede – afetava sua eficiência, sua moral e a influência percebida de cada ator em relação aos demais.” (Freeman, 2004) Nota-se que a visão de mundo dá o tom que constrói e desenvolve o indicador matemático que começa a servir de operador de abstração e de construtor de visibilidade de como os grupos se relacionavam entre si. Análise Estrutural de Redes - A análise estrutural de redes surge baseada na premissa de que o padrão de conexão formada por uma estrutura de relacionamentos humanos transmite comportamentos, atitudes, informações e bens, sejam materiais ou imateriais. Teoria dos Grafos - 1736, Leonard Euler publica seu artigo sobre o problema das pontes de Konigsberg. O problema consistia em encontrar uma forma de como atravessar sete pontes que interligavam uma ilha com o continente (ver figura 1) de maneira a atravessar as pontes apenas uma única vez. Essencialmente um problema de topologia, da forma como visto por Euler, que consistia em encontrar uma forma possível de organizar o movimento no território. Figura 1. Pontes de Konigsberg.

Fonte: Wikipedia

A inovação na solução proposta por Euler, que acabou dando origem a Teoria dos Grafos, foi a maneira como ele imaginou modelar o problema. Sua modelagem transformou os caminhos em linhas e as pontes em vértices, como apresentado na figura 2. Figura 2. Grafo das Pontes de Konigsberg.

Fonte: Wikipedia


A teoria dos grafos foi útil para a análise de redes sociais nos seguintes aspectos (Wasserman e Faust, 1994, p. 93):

 fornece um vocabulário que pode ser utilizado para nomear muitas propriedades das estruturas sociais;  fornece um conjunto de operações matemáticas e ideias sobre como essas propriedades podem ser quantificadas e mensuradas;  fornece o rigor matemático necessário para a produção de teoremas e simulações relacionadas a padrões que representem estruturas sociais. Rigor matemático dos fenômenos sociais - análise estrutural de redes - indicadores de centralidade e filiação dos nós em uma rede. A forma que permite analisar o número de conexões de cada nó é chamada de centralidade. A medida de centralidade tem por objetivo investigar quais seriam as pessoas “mais importantes” de uma rede. A hipótese utilizada para o grau de importância de uma pessoa é de que quanto mais relações e articulação de relações ela tenha numa rede, mais importante ela é para o padrão estrutural que é denotado pela rede (Wasserman e Faust, 1994, p. 169). Três medidas que são utilizadas para o cálculo de centralidade dos vértices em uma rede: grau de centralidade da rede, grau de centralidade por interposição (betweenness) e o grau de centralidade por proximidade (closeness) (Fellman e Wright, 2008, p. 145). A análise estrutural de redes chama essas relações estabelecidas entre pessoas a partir da adesão aos mesmos espaços sociais de afiliação - expressa arranjos organizacionais e institucionais que podem afetar de forma significativa a estrutura social da qual esses arranjos fazem parte. As pessoas tendem a se filiar a vários desses arranjos organizacionais ao longo de sua vida, seja nas relações de trabalho, de lazer, de voluntariado ou mesmo no local onde moram. Muitas delas acabam por se tornar pontes que conectam diferentes organizações, possibilitando o intercâmbio entre elas, gerando zonas de influência, articulação e potencial mobilização social. O conceito de afiliação está diretamente ligado a uma forma de categorização de grafos a partir de modos, também gerando aquilo que é chamado de redes bipartite. Nos grafos modo 1, os vértices são representados por relações diretas entre os atores na mesma rede. Nos grafos modo 2, os vértices são divididos em dois conjuntos, o conjunto das organizações e o conjunto dos atores que se relacionam a essas organizações. Vemos um exemplo de rede modo 2 na figura 3, onde os vértices em amarelo representam instituições e os vértices em verde representam nomes de pessoas. Figura 6. Exemplo de rede modo 2.

Fonte: Nooy, Mrvar, Batagelj (2005).

Normalmente, os dados de afiliação das pessoas a grupos sociais não são tão difíceis de se obter, pois muitos eventos, clubes e organizações registram a participação de seus afiliados. O conceito de afiliação e a utilização de redes modo2 é utilizado quando desejamos estudar a relação de um determinado grupo social com os arranjos organizacionais nos


quais estão inseridos, ou quando desejamos avaliar como um grupo de organizações impacta e produz uma estrutura de articulação social. Os mesmos cálculos estruturais que vimos até aqui podem ser utilizados para as redes modo-2, havendo apenas ajustes necessários na distinção dos tipos de vértices presentes na rede. Dois modos de compreendermos o fazer científico - a metafísica e fenomenologia. A análise de redes sociais mais do que descrever uma determinada realidade de funcionamento de uma rede específica, produz o próprio objeto rede, lhe dá forma, consistência, concretude visual, métrica e matemática, fundindo-se com o próprio objeto empírico, tornando-se a metodologia da própria rede. Desse modo, pode atuar como operador metafísico, servindo ele como estrutura de representação da realidade. Estar atento a esse uso, questionando suas limitações e construindo um uso crítico da metodologia nos parece um passo fundamental nas pesquisas e análises em desenvolvimento na área da Ciência da Informação.

Referências Bibliográficas Almeida, F.M. Ser Clínico como Educador. 2005. 221 fl. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Barros, R.B. Grupo: a afirmação de um simulacro. 2a ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. Critelli, D.M. Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. Fellman, P. V., Wright R. Modelando redes terroristas. In: O tempo das redes. Duarte, F., Quandt, C., Souza, Q. (orgs). 1ª ed. São Paulo: Perspectiva. 2008. 259p. Freeman, L. C. The development of social network analysis: a study in the sociology of science. 1ª ed. Vancouver: Empiracal Press. 2004. 205p. Martins, D. A emergência da análise de redes sociais como campo de pesquisa: perspectiva da análise da produção científica em português e espanhol a partir do Google Acadêmico. Alexandri@ Revista de Ciencias de la Información, v. 8, p. 17-30, 2011. Maturana, H., Yãnez, X. Habitar humano: em seis ensaios de biologia-cultural. São Paulo: Palas Athena. 1ª ed. 2009. 317p. Nooy, W., Mrvar, A., Batagelj, V. Exploratory Social Networks Analysis with Pajek. Cambridge: Cambridge University Press, 1st edition. 2005. 334p. Wasserman, S., Faust, K. Social Network Analysis: methods and applications. Structural analysis in social the social sciences series. Cambridge: Cambridge University Press, 1st edition. 1999. 825p. Sobre o autor / About the Author: [1] Dalton Lopes Martins e [2] Gustavo Giolo Valentim dmartins@gmail.com e gus.valentim@gmail.com [1] Doutorando em Ciência da Informação, Universidade de São Paulo. Professor Assistente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo. [2] Mestrando em Psicologia, Universidade de São Paulo.


BICENTENÁRIO DE ITAPECURU MIRIM

JUCEY SANTANA O município de Itapecuru Mirim, até receber o status de cidade, ocorrido em 1870, teve em sua historia várias fases administrativas, que mostram a sua evolução ao longo do tempo. As mais importantes foram as seguintes: Instalação da Freguesia (1801), Fundação da Vila (1818), Criação da Comarca (1835) e Titulo de Cidade (1870). As povoações, ou as freguesias, menor divisão territorial administrativa do ponto de vista da igreja. De acordo com o aumento populacional e a independência politica e financeira, eram elevadas a vilas e depois recebiam o título de cidade de acordo com o sistema administrativo português. O titulo de cidade no Brasil Colonial, era mais honorifico, uma distinção, e pouco acrescentava em termos de organização política administrativa. Por isso, equivocadamente, muitos municípios comemoram os seus aniversários na data da elevação a cidade, o que não e correto, na realidade alcançaram a autonomia política-administrativa por ocasião da criação oficial da vila, que marcava e a emancipação coma criação da Casa da Câmara e a eleição dos seus mandatários. Portanto, em 20 de outubro de 2018 é a data que se comemora os 200 de fundação da Vila de |Itapecuru Mirim (Itapucuru Mirim), pelo Alcaide Mor José Gonçalves da Silva. Na época que a corte portuguesa estava no Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte que ameaçava invadir Portugal (1808 – 1821), o riquíssimo português José Gonçalves da Silva, a troco de muitos agrados à Família Real solicitou que o Regente Dom João VI lhe outorgasse o título de nobreza de Alcaide Mor. O Rei concordou e em 07 de novembro de 1817 enviou Provisão Régia com a seguinte condição: que o português Jose Gonçalves fundasse a Vila para ser Senhor das terras de Itapecuru, povoação em plena expansão graças à prosperidade dos proprietários de terras com plantio de algodão, arroz e engenhos de cana de açúcar e criadores de gado, na sua maioria amigos e parceiros de negócios do português, sob a seguinte condição: que o proponente construísse uma Cadeia Pública, Casa da Câmara, instalação de 30 casas para casais brancos, um Pelourinho, oficinas além da aquisição das terras para a fundação da Vila. Fundação da Vila Segundo César Marques no Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, “Em 20 de outubro de 1818, presentes o Desembargador, Ouvidor e Corregedor da Comarca de São Luís do Maranhão, Francisco de Paula Pereira Duarte, o Alcaide-Mor José Gonçalves da Silva, representado por seu procurador Antônio Gonçalves Machado, o clero, a nobreza e o povo, levantou-se o pelourinho, deram-se vivas do estilo, criaram-se por eleição de Pelouro, dois juízes ordinários, um juiz de órfãos, os vereadores e a criação das oficinas, instalando-se assim solenemente a Vila de Itapecuru-Mirim”. A Vila foi fundada, porém José Gonçalves não cumpriu todas as exigências da Provisão Régia de 7 de novembro de 1818. Ele só doou as terras e as legalizações de praxe. O rei não aprovou o ato, porém desculpou o ouvidor da comarca por ter antecipado o


evento, dando um prazo de dois anos para atendê-las, sob pena de José Gonçalves da Silva perder as regalias do título de Alcaide Mor. Infelizmente ele faleceu três anos depois sem cumprir o acordo na sua totalidade e seus herdeiros não honraram os compromissos assumidos, porém o titulo de nobreza de Alcaide Mor de Itapecuru Mirim, foi-lhe outorgado e posteriormente repassado aos herdeiros. José Gonçalves da Silva, fundador da Vila de Itapecuru Mirim, foi negociante muito bem sucedido. Ele vendia suas mercadorias por preços abaixo dos concorrentes, monopolizando todo o comércio, razão da alcunha de Barateiro. Foi construtor naval, latifundiário, importador e exportador, criador de gado, coronel de Milícias, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real, Brigadeiro, governador da Fortaleza de São Marcos, Senhor do Margado da Quinta das Laranjeiras e Alcaide-Mor do Itapecuru-Mirim. Prosperidade da Vila de Itapecuru Mirim A Vila de Itapecuru Mirim foi muito Próspera, ficando por muito tempo na categoria de terceira no Maranhão só perdendo para São Luís e Caxias. A Vila teve seu apogeu entre 1818 a 1870 com muitos negociantes, fidalgos da Casa Real, fazendeiros de algodão e cana-de açúcar, comendadores, conselheiros Imperial, jornalistas, poetas etc e grandes feiras de gado e escolas mistas (brancos e negros). Pela Lei nº 7 de 20.4.1835 teve instalado a comarca de primeira entrância e em 23.7.1850 foi elevada a 2ª Instancia. Infelizmente em 09.05.1923 perde a categoria de Comarca pela Lei 1.120/MA., sendo restabelecida somente dez anos depois em 1933. Elevação ao status de cidade Em 21 se julho de 1870 recebeu o status de cidade pela Lei Provincial 919, no governo de José da Silva Maia. O aniversário de Itapecuru Mirim era comemorado anteriormente no dia 25 de setembro, a data da criação da Freguesia. Pela Lei nº 48 de 4.10.1927 a antiga rua Cayana passou a ser denominada de Rua 25 de Setembro, em alusão a instalação da Freguesia. A rua em referencia é a atual Avenida Brasil. A Festa do Arroz e o Aniversário da Cidade Com a vinda para Itapecuru Mirim do agricultor Luis Arcangelo Stafanelo em 1973 com espírito empreendedor, oriundo de Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul, houve uma mobilização da classe politica, empresarial e cultural em em Itapecuru Mirim. Por iniciativa própria, fundou a Loja Maçônica Duque de Caxias e foi um dos fundadores do Lions Club do Distrito 26, em 1981, tendo c por companheiros Raimundo Nonato Silva (Nonatinho), Mário Rogério Araújo, Lécio. Benedito Laborão, Leônidas Amorim, José Ribamar Abreu, Alcione Vasconcelos, Boanerges Bezerra, Manir Amorim, Magno Cirino, Expedito (Emater) Benedito Lima e outros empresários itapecuruenses Saudoso de sua terra o empresário Luis Gaúcho, como ficou conhecido, que chegou a receber o título pelo Ministério da Agricultura em 1980 de maior produtor de arroz do Brasil, se ressentia da falta de memória da cidade que escolheu para constituir sua família e trabalhar, já que na sua terra, Palmeira das Missões, havia muitos festivais e festa do aniversário da cidade, então resolveu mobilizar seus pares para fazer a Festa do Arroz com o objetivo de mostrar a produção agrícola da região e agregar ao aniversario da cidade já que a única informação que obteve foi a do status da cidade. Em 1983 foi realizada a primeira Festa do Arroz que contou com a presença do governador, muitos políticos, empresários do setor agrícola e a eleição da primeira Rainha do Arroz e desfiles de implementos agrícolas. A Festa do Arroz, aconteceu durante 15 anos, organizada pelo Lions Club, evento que trouxe muito desenvolvimento para região. Com o encerramento das atividades do Lions Clube em Itapecuru a prefeitura manteve a comemoração do aniversario do status de cidade em 21 de julho. Cabe aos itapecuruenses o sublime dever de amar sua terra, zelando pela sua memoria que e patrimônio, para transmitir de geração em geração como testemunho da bela historia com centenas de vultos ilustres que fizeram sua grandeza e nos orgulha.


PRF 90 ANOS: O DNA DA BELA ÉPOCA ANTONIO NOBERTO Policial rodoviário federal, membro-fundador da Academia de Letras de São Luís–MA (ALL) e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) Neste dia 24 de julho de 2018 a Polícia Rodoviária Federal (PRF) completa 90 anos de criação. A Instituição surgiu no governo do presidente Washington Luiz, em 1928, através do Decreto nº 18.323 - que definia as regras de trânsito à época, com a denominação inicial de "Polícia de Estradas". O início do trabalho efetivo coube a um personagem marcante na história da PRF, Antonio Felix Filho, o “Turquinho”, considerado o primeiro patrulheiro, que foi chamado para organizar os “serviços de vigilância das rodovias Rio-Petrópolis, Rio-São Paulo e União Indústria”. Em nove décadas a Polícia expandiu rapidamente a sua atuação, tornando-se presente em todas as unidades da federação, através de superintendências ou distritos regionais, delegacias e unidades operacionais. A criação da PRF no Brasil está intimamente ligada a evolução da sociedade mundial, que, no segundo quartel do século passado, ainda vivia à sombra de um dos momentos mais marcantes da história, a Belle Époque (Bela Época), situado aproximadamente entre 1870 a 1914, período de ouro marcado pelo desenvolvimento artístico, científico, intelectual e tecnológico, que legou ao mundo inúmeras inovações, a exemplo da invenção ou popularização do avião, da fotografia, do telefone, do telégrafo sem fio, do cinema e, especialmente, do automóvel, que em todo o mundo, exigiu a abertura de ruas, avenidas e estradas. O rápido aumento da frota de veículos e as primeiras ocorrências de acidentes automobilísticos demandaram a criação de um aparato que cuidasse do patrulhamento das rodovias. Surge, assim, a Polícia de Estradas, que tempos depois receberia o nome de Polícia Rodoviária Federal, responsável pelo policiamento das BRs e atuação nas áreas de interesse da União. A Instituição nonagenária brasileira nasceu no entre guerras, quando os diferentes povos e culturas mundiais davam as mãos e celebravam a paz. A PRF, portanto, traz no DNA os grandes anseios da humanidade, fruto da nobre e feliz gestação, que décadas depois conferir-lhe-ia a denominação de polícia mais cidadã do Brasil e, consequentemente, marcaria a sua missão de garantir segurança com cidadania. A PRF é uma polícia estruturada em carreira única, com jurisdição sobre mais de setenta mil quilômetros de rodovias federais em todo o país. Trabalho desenvolvido diuturnamente com empenho, suor e dedicação por cerca de dez mil policiais rodoviários federais, que mesmo com carência de efetivo, o que as vezes dificulta a realização otimizada de algumas atividades atribuídas, atuam com foco no objetivo maior de bem servir a sociedade brasileira. A Polícia Rodoviária Federal presta uma gama de serviços, sendo especialmente o policiamento das rodovias federais, atendimento de acidentes de trânsito, prestação de auxílio aos usuários e a garantia do patrimônio público e privado, atribuições designadas no artigo 20 da Constituição Federal de 1988 e no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) de 1997. Uma origem que remonta um período tão especial, aliada a uma gestão estratégica, resulta em bons serviços prestados, com o reconhecimento manifesto por parte da sociedade, quando em recente pesquisa realizada, mais de oitenta por cento do universo entrevistado disseram confiar na PRF e aprovar o seu trabalho. Este reconhecimento é o principal propulsor que faz desta instituição policial a que mais apreende drogas no Brasil. Com nove décadas de existência e presente em todas as unidades da federação, a Polícia Rodoviária Federal carrega no gene e anuncia as boas novas de respeito, igualdade e cidadania para todos os brasileiros e estrangeiros que trafegam nas rodovias do país. E a esperança de um Brasil cada vez melhor. Uma homenagem ao dia da PRF, 24 de julho, e ao dia do policial rodoviário federal, comemorado no dia 23 de julho. Parabéns a todos aqueles cujo maior sacerdócio é preservar vidas.


O S.O.S. DA CIÊNCIA JOÃO BATISTA ERICEIRA A Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência-SBPC realizou sua 70ª Reunião Anual no Campus da Universidade Federal de Alagoas- UFAL, em Maceió. O consagrado evento reúne expressivos nomes das ciências, comprometidos com significativos avanços em múltiplas áreas do conhecimento. Convém frisar, a quase totalidade, 90% das pesquisas realizadas no Brasil, provém das universidades públicas, e dos institutos públicos, no momento, atravessado sérias dificuldades de manutenção, para pagar os fornecedores, os prestadores de serviços e honrar o pagamento das folhas de pessoal. A televisão tem exibido, em série de programas, os esqueletos de obras abandonadas pela falta de recursos, com riscos de completa deterioração, algumas delas, como é o caso da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, de prédios destinados a abrigar as bibliotecas, com equipamentos e laboratórios de elevado valor. É inadmissível que a pretexto do cumprimento da Emenda Constitucional nº 95, de contingenciamento de recursos públicos, seja sacrificado o futuro de milhões de brasileiros. Pois daí se depende, só exemplificativamente, para a produção de vacinas e medicamentos de parte de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz e outras congêneres. Só um país ocupado, que não pudesse exercer a sua soberania, poderia admitir o prosseguimento dessa perigosa situação. Felizmente, avizinha-se a eleição presidencial, ocasião em que as organizações da sociedade e o conjunto da cidadania, deverão interpelar os candidatos a respeito de suas posições em garantir a manutenção das instituições públicas, mas também de assegurar os recursos para investimentos em projetos de pesquisas vitais para o futuro do Brasil. A Reitora da UFAL, professora Valéria Correia, anfitriã do evento realizado entre 22 e 28 passados, enfatizou a briga travada pelos reitores para assegurar o funcionamento de hospitais; clinicas odontológicas; museus; escritórios modelos de Direito; pesquisas; pós-graduação; complexos esportivos; além das atividades de ensino. Os alagoanos são bons de combate, no sentido cívico da palavra, se irresignaram com o coronelismo, no fenômeno, descrito como cangaço; no embate contra as formas feudais vigorantes, determinadas pelo latifúndio de então. Prosseguem com o mesmo destemor. Garantiram a realização da Reunião da Anual da SBPC, apesar de todos os óbices financeiros, conseguiram fazê-la com êxito. Ano passado, a Reunião Anual entre 16 e 22 de julho ocorreu em Belo Horizonte, no Campus da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG. Estive presente nas duas, e constatei de lá para cá o crescente empobrecimento e sucateamento das instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão. Ressaltando de que ao contrário do que ocorre entre os norte-americanos e países asiáticos, em que as empresas investem em projetos de pesquisas, entre nós, são os recursos públicos aportados que garantem a sua materialização. Uma das principais reivindicações da comunidade científica é o retorno do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Mas não só. Clama-se pela revogação do contingenciamento na área, sob pena do comprometimento do futuro do país. A posição esteve presente em todos os pronunciamentos na abertura da 70ª Reunião Anual. A Emenda Constitucional nº 95, estima-se, será alterada logo no início do governo do próximo Presidente da República. O Maranhão se fez presente através de suas universidades públicas, a federal e a estadual; pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e pelo Instituto de Ciência Tecnologia do Maranhão-IEMA, com estande bastante frequentado, apresentando a especial novidade de os seus alunos apresentarem projetos de cursos de robótica, e outras inovações ligadas a educação de ensino médio em tempo integral. Seu Reitor, professor Jhonatan Almada, participou de debate, ao lado do Diretor-Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas-FAPEAL, professor Fábio Guedes Gomes; e do Professor Fábio Palácio de Azevedo da UFMA. Na Mesa, a temática estratégica da elevação de investimentos nas áreas para possibilitar


o fortalecimento da nova indústria; da agricultura; da segurança-pública, do bem-estar social; da defesa nacional e do desenvolvimento ambiental consciente. Tudo isso pressupondo a existência de projeto nacional de desenvolvimento sustentável. A Mesa, coordenada por Flávia Calé, Presidenta da Associação Nacional dos Pós-Graduandos- ANPG, apresentou excelentes resultados. O conjunto do que vi e ouvi, ao longo das mesas que presenciei, levou-me a inevitável conclusão: há necessidade urgente de se definir ciência e tecnologia como áreas estratégicas, sobre as quais mediante lei, são vedados contingenciamentos. Trata-se de imposição para a salvaguarda do futuro da nação. Que se façam imediatos redirecionamentos dos recursos disponíveis em fundos constitucionais. São medidas patrióticas aplicáveis ao S.O.S DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA.


EFEMÉRIDES CAXIENSES JOÃO BATISTA ERICEIRA Decorridos vinte anos, as emoções se renovaram na visita que semana passada fizemos a Caxias, cidade que irradia cultura e poesia. Comparecemos ao seu Instituto Histórico, presidido pelo desembargador Artur Almada Lima Filho, nosso confrade na Academia Maranhense de Letras Jurídicas, para o lançamento de três títulos da Biblioteca Básica Maranhense, que tem por finalidade a divulgação de trabalhos de interpretação do Maranhão. O presidente do Instituto Histórico passou a direção dos trabalhos da sessão ao seu membro efetivo, o Reitor do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA, Jonathan Almada, que discorreu sobre o significado do lançamento dos livros e da Revista do IEMA em solo gonçalvino. O poeta Antônio Gonçalves Dias, nascido na cidade em 10 de agosto de 1823, foi fundamental para a formação da identidade cultural do Brasil. Ao contrário do que possa imaginar o senso comum, não era somente poeta, mas emérito pesquisador, etnógrafo, integrante de diversas missões científicas no interior do país e no exterior. Deixou trabalhos de elevado cunho científico, e não fora a precoce morte, no naufrágio do Ville de Boulogne, em 3 de novembro de 1864, o legado seria ainda maior. Sua biografia intelectual revela a perfeita compatibilidade entre a formação técnica e a humanística, valores agregados pelo projeto pedagógico do IEMA, contemplando inclusive uma Oficina com o seu nome para ativar os estudos da língua portuguesa. A memória e o coração retornaram a 9 de julho de 1998, quando estive em Caxias para uma homenagem prestada a professora Laura Rosa, uma das figuras das mais reverenciadas pelos educadores da cidade. Àquele tempo exercia a Secretaria Municipal de Educação o professor Raimundo Palhano, desenvolvendo projetos inovadores. O presidente da Academia Maranhense de Letras, Jomar Moraes, estava presente naquela comovente solenidade em que a professora Erlinda Bittencourt declamou os versos da poetisa Laura Rosa “Esqueleto de Folha”. Laura Rosa, a primeira mulher a ingressar na Academia Maranhense de Letras, fundou a cadeira nº 26, patroneada por Antônio Lobo, que fora seu professor. Exerceu papel relevante em minha infância. Passava temporadas em nossa casa, por conta da amizade ao meu tio materno, cônego Antônio Bonfim. Ensinou-me francês, a ler melhor o português, e algumas regras de etiqueta social. Era uma extraordinária contadora de estórias e de casos da vida política e literária do Maranhão. Combativa jornalista, ficcionista da melhor qualidade evidenciada em seus contos. As poesias estão reunidas em publicação de 2016, organizada pela professora Diomar das Graças Motta. Filha de Cecilia da Conceição Rosa, operária da Fábrica Santa Amélia, em São Luís, era pedagoga ousada, pensava em mudar o homem e a sociedade pela educação. Estava além do seu tempo. Feminista, ativista, participava de causas populares, como a defesa do petróleo, do menor abandonado, contra a corrupção administrativa. Enquanto a professora Erlinda declamava os versos da “Violeta do Campo”, era esse o seu pseudônimo literário: “vede senhor, apodreceu na lama. Eu a vi muito tempo entre a folhagem, / Antes do vento lhe agitar a rama/ E, do regato, sacudi-la à margem. De virente e de verde tinha fama/ De folha mais formosa da ramagem, / Desceu nas águas e resta da viagem o labirinto capilar da trama. Ninguém pode fazer igual rendado/ Nem filigrana mais perfeita e linda/ Nem presente pode ser dado. Guardai senhor, guardai este esqueleto. Todo cuidado! É uma folha ainda/ Onde escrevi de leve este soneto”. Parecia-me vê-la na cadeira de balanço e eu a pedir-lhe: “Dona Laura, recite uma vez mais o “Esqueleto”. E ela: “menino, só esta vez mais”. Os versos traduzem a voragem da passagem do tempo. Todos nós estamos a ele submetidos. Do fundo de minha saudade, resgato o menino que um dia fui, e dele felizmente não me desliguei. Novamente, nas sessões do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias-IHGC, liderado pelo desembargador Artur Almada Lima Filho, tão bem organizado, dispondo de arquivos impecáveis. E na Academia Caxiense de Letras, presidida por Renato Menezes, as duas instituições frequentadas pelos estudantes e por pessoas do povo, pude compreender porque Laura Rosa amava tanto Caxias. Ela bem entendia a alma generosa da cidade, decantada dentre outros pelo poeta Wybson Carvalho.


Recebi comovido o convite de Artur Almada Lima para integrar o IHGC na condição de sócio correspondente. E vi em Jonathan Almada, neto de operários das fábricas de Caxias, algo da ousadia pedagógica de Laura Rosa. Enfim, tratou-se de verdadeira efeméride caxiense.


FOI ASSIM... AYMORÉ ALVIM 03 de setembro, Pinheiro comemora 161 anos da elevação do Lugar do Pinheiro à categoria de Villa. Em homenagem à data publico esta crônica que trata da fundação do Lugar do Pinheiro, em 1806. E foi assim mesmo que tudo aconteceu. O rio não estava pra bagrinho, não. No conflagrado ambiente, ate então tranquilo, lá pras bandas dos campos baixos cortados pelo Pericumã, as escaramuças entre brancos e índios estavam cada vez mais acirradas e as reclamações não paravam de chegar ao Palácio do Governo, em São Luís. Próximo do final do ano de 1805, o governador à época, Antônio de Saldanha da Gama, resolveu intervir. Numa mormacenta tarde, em pleno calor de dezembro em Alcântara, o capitão-mor, Inácio José Pinheiro, tomava um ventinho, pitando o seu cigarro de palha, em frente ao prédio do Comando da vila, quando chegou um esbaforido ordenança e lhe entregou uma carta do dito governador. Nela, Saldanha da Gama o ordenava a ir resolver essas pendengas entre fazendeiros, posseiro e índios. O orientava a tomar qualquer medida que atendesse às partes a fim de serenar os ânimos. Mas, o período das chuvas, o nosso inverno, estava chegando e, assim, só lá para o mês de setembro ou outubro poderia ir, quando os campos estivessem secos. E, assim, ele fez. No final de outubro de 1806 com alguns ordenanças, partiu para a empreitada. O dia em que chegou por lá, eu não sei, mas que ele chegou, chegou. E, com certeza, reuniu as partes em litígio e buscou um acordo que agradasse a todos como queria o governador. - Se ele conseguiu? -Tudo indica que sim. O que sabemos é que ele demarcou uma ponta de terra com 3 léguas de comprido por uma de largura que avança pelos campos do Pericumã, no sentido nordeste. Ali reuniu os índios e suas famílias numa pequena povoação que passou a ser conhecida por Lugar do Pinheiro. Isso ocorreu a 23 de novembro desse mesmo ano. Foi o núcleo inicial do município de Pinheiro. -Todos concordaram? -Por certo que sim, pois não se encontra documentos da época que relatam a continuidade dos atritos. Retornando a Alcântara, o capitão Inácio Pinheiro pretendia, no verão do ano seguinte, voltar a São Luís para prestar contas ao Governador da incumbência recebida. Mas, muito antes de chegar o verão, veio a saber que o Saldanha da Gama havia sido substituído por D. Francisco de Mello Manuel da Câmara a quem o povo apelidara de “cabrinha” devido ser mulato e muito abusado. Tomou conhecimento, também, de que a criatura era um sujeito atrabiliário, violento, devasso e arbitrário; um espécime, um pouco mais grotesco, do nosso atual corrupto. Com tais qualificações, Inácio Pinheiro achou mais prudente enfrentar a fera e a travessia Alcântara – São Luís e vir dar satisfação ao homem antes que viesse saber por vias transversas, pois a fuxicaria no Maranhão daquela época corria solta. E foi o que fez. No início de maio, foi recebido pelo Governador a quem relatou tudo o que acontecera. O “cabrinha” ficou satisfeito com o que ouvira. Isto encorajou o Capitão Pinheiro a lhe propor que doasse as terras demarcadas àquelas famílias de índios como patrimônio e para que elas as possuíssem como coisa sua e de seus descendentes. - Mas, Capitão, essas terras não vão ser reclamadas mais tarde pelos fazendeiros da Região? Inquiriu-lhe D. Manuel. - Não vão ser não, Governador. Todos concordaram mesmo porque essas terras não lhes interessam. Só servem mesmo pra cultivar mandioca e os índios aceitaram.


Aí, então, D. Manuel mandou lavrar o documento de doação das terras do Lugar do Pinheiro, a título de “Dacta” e Sesmaria, conforme lhe pedira Inácio José Pinheiro, que foi publicado, em 13 de maio de 1807. Essa é a história da fundação de Pinheiro, tendo por marco inicial o Lugar do Pinheiro, fundado em 23 de novembro de 1806 pelo Capitão-mor de Alcântara, Inácio José Pinheiro, em uma Sesmaria de índios que lhes fora concedida, em nome do príncipe regente, D. João, pelo Governador do Estado. Alguns conterrâneos ainda não aceitam essa origem para a nossa terra. Claro que preferem a outra versão que nos foi contada. A da grande fazenda. Acham-na mais elegante, uma origem se não mais nobre pelo menos mais fidalga. Puro preconceito! Mas é essa a história verdadeira da nossa cidade e do nosso povo, o povo pinheirense, fruto do caldeamento de índios, negros e caboclos, ao sol ardente da Baixada, no cadinho verdejante dos campos do Pericumã. Não acreditas? Então vá ao Arquivo Público do Estado e pede para dar uma olhada, nas folhas 65 v., do Livro nº 06 (seis) de Dacta e Sesmaria. Assim, comprovarás. É isso aí, meu!


SAIA JUSTA...! AYMORÉ ALVIM, ALL, AMM, APLAC. Há algum tempo, em um dos supermercados locais, encontrei uma velha amiga que trabalhou comigo quando fui Chefe do Serviço Executivo da Capital / INAMPS, em meado dos anos 70. - Eh! Dr., como vai? A quanto tempo. Pelo visto já está aposentado e eu também. Agora vivo mais viajando para a casa dos meus filhos. Um está em Recife e os outros dois no Rio; só ficou comigo a menina. O sr. deve estar lembrado. Ela ia sempre quando criança lá no Serviço. - Caso a veja, não vou conhecê-la, já passou tanto tempo! - Ah! Dr., aquela garotinha, hoje, é moça feita, inteligente, muito estudiosa. Já passou em dois concursos. Formou-se e, atualmente, está bem colocada, ganhando bem. Ficou muito bonita. Deixe-me apresentá-la. Após passarmos por duas gôndolas a encontramos no setor de laticínios. - É aquela. A pequena era mulher demais, meu irmão. A danada era bonita mesmo. - Lívia, vem cá. Quero te apresentar meu ex-chefe e meu amigo. Tu não te lembras mas te levei muitas vezes onde nós trabalhávamos. Eu já falei de ti e ele fez questão de te conhecer. - Mas que cabocla infeliz, pensei só comigo. - Que tal, Dr., minha filha não é mesmo muito bonita? Só está ainda é solteira. O Sr. também ainda não casou de novo, não é? Coitada! A moça ficou lívida com aquele sorriso encabulado e sem saber para onde olhar. Percebi a sua aflição e tentei quebrar o clima. - Minha filha, você não conhece a sua mãe? Sempre foi meio maluca e gostava de meter as pessoas “em saia justa”. Não liga. Ela não está vendo que um mulherão como você é dose letal pra velho? Rimos todos. O ambiente desanuviou. Conversamos por mais alguns minutos e nos despedimos. Ao me despedir de Lívia, ela carinhosamente me abraçou. Um suave e gostoso ou erótico perfume penetrou meus sentidos. Um calor meio estranho escorregou pela espinha e se espalhou pelo meu corpo. O coração disparou. Tomei a mão direita da moça e a coloquei sobre o meu peito. - Dr., está bastante acelerado. -Isso é pra sua mãe vê que se com um abracinho desse ficou assim, imagina se ... É sétimo dia garantido. - Só o sr. mesmo, Dr. Rimos mais uma vez e prosseguimos com os nossos afazeres domésticos.


O QUÊ TORNA ALGUÉM UM MITO? MICHEL HERBERT Mito ou lenda em várias culturas está relacionado a proezas de deuses ou de heróis da antiguidade, e quando se relaciona a alguém, diz respeito a uma pessoa que se representa de forma irrealista, fora da linha do normal , acima da média, além daquilo que normalmente se encontra na vida real. No contexto de nossos dias de Brasil em período campanha eleitoral de 2018 surge um novo mito. Isto, após a desmistificação do governo populista do PT e queda do lulismo. Mito que jaz enterrado, desmistificado por todas as formas de corrupção. A pergunta que não quer calar! O que torna o homem um mito? Suas virtudes? ou o anseio de um povo por um salvador, libertador? No mundo cristão a figura do homem Jesus que por aqui pisou há aproximadamente 2018 anos atrás, surgiu num contexto de anseio por um Messias , um enviado por Deus que libertaria o povo israelita de um jugo de domínio romano em seu próprio território. Amado por poucos e odiados por muitos até por religiosos de sua época, Jesus, permaneceu firme na sua missão salvífica da humanidade apesar da imensa incompreensão, e por ela, assim morreu . Perfeito, impecável justo e reto. Um verdadeiro Mito . Em nosso contexto brasileiro, de caos, crises na área econômica, moral , segurança pública , educação e saúde . Surge diversos políticos , candidatos, com suas idéias e propostas salvífica para a nação brasileira. De um lado a maioria dos candidatos se detém numa agenda pouco agressiva de mudanças para o país, e nem de longe desperta o interesse da grande maioria do eleitorado Por outro lado um candidato ao cargo maior, da presidência da república, Jair Messias Bolsonaro, vem com uma proposta agressiva, com um currículo ilibado, ficha limpa, desprovidos de todos os recursos financeiros possíveis e disponíveis para fazer uma campanha na proporção de um país continental. Sem falar na completa ausência de aliança política partidaria, que restringe seu tempo a oito segundos do horario eleitoral nas redes de rádio e tv. Suficiente para dizer: “Meu nome é Jair . “ Vamos lembrar que este é um homem imperfeito , igual a qualquer um de nós . Embora tenha um nome limpo sem mácula no plano político . Algo raríssimo hoje em dia . Mas o que o faz diferente ? A ponto de receber a alcunha de Mito? Enquanto Jesus expôs a hipocrisia dos religiosos de sua época (fariseus, sacerdotes), Bolsonaro confronta e expõe a hipocrisia dos políticos de Brasília. Jesus revolucionou a maneira de pensar e de se fazer religião, amando e dando exemplo de líder servidor . Fazendo-se sacrifício e não exigindo sacrifícios dos seus fiéis . A maneira nova de se fazer política do candidato Jair , demonstra que é possível com humildade, administrar para a nação com temor à Deus, e amor à família brasileira , assim resgatar o respeito para com a política brasileira. No campo da segurança pública, temos uma metástase, as drogas, que não poupa nenhum lugar do território nacional e trás consigo a violência e a morte de inocentes. Jesus , o verbo que se fez carne, o próprio Deus de amor. Surpreendeu a humanidade neste quesito de enfrentar o mal . Orou por seus inimigos e perdôo seus algozes. Bolsonaro , homem imperfeito , pecador, deixa demonstrar sem pudor um forte sentimento de justiça, primitiva .”Olho por olho dente por dente” . Firme e duro no confronto com os inimigos da sociedade, os bandidos , traficantes , criminosos , autores de crime hediondos.


Outro inimigo sorrateiro que preocupa este líder é a filosofia de ensino que tem se infiltrado na educação das indefesas crianças. A famigerada Ideologia de gênero, uma bandeira dos homossexuais políticos, que querem impor, a todo custo, e implantar nas escolas públicas do Brasil, a partir de seis anos de idade. Sim, promover um despertar da consciência sexual em uma fase de latência das crianças brasileiras .Uma vergonha . Inaceitável. O Mito então ciente desta estratégia, ainda como Deputado, tem se levantado de modo indignado, muitas vezes transtornado em defesa da familia brasileira. “Chega”. “Longe demais “. “Isso jamais “. Assim seus ideais: Deus, Família, Brasil, sua fé, sua esperança, como por milagre semelhante ao milagre dos cinco pães e dois peixinhos, tem se multiplicado, por todo o território nacional . Eis aí um novo Mito.


O PENSAMENTO DE BRANDÃO Fundador da Academia Ludovicense de Letras. Membro da Academia Caxiense de Letras, da Associação Internacional de Escritores – IWA, de Toledo-Ohio, USA e da Comunidade ELOS, em Salvador-Bahia.


UM BALANÇO NA CRISE DA “BOLHA” ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Estamos há dez anos do “estouro” dessa crise, nos Estados Unidos, fruto da desorganização pela falta de maior regulação no seu mercado imobiliário, que acabou contaminando todo o seu sistema financeiro e espalhando-se por países da Europa. Se quisermos bem avaliar tudo que aconteceu e ainda repercute, principalmente em países da chamada zona do euro, devemos considerar dois aspectos básicos: primeiro, a adoção, a partir de 2008, pelo Federal Reserve – FED, o banco central americano, seguido pelo Banco Central Europeu – BCE e seus congêneres de outros países, como China, Japão e Reino Unido, de uma política monetária inteiramente fora dos padrões acadêmicos, o “quantitative easing” – QE, que inundou os mercados de liquidez incompatível com o nível de produtos e serviços existente; segundo, os efeitos, bons e maus, ocasionados por essa política de afrouxamento monetário heterodoxo, além das atuais dificuldades enfrentadas visando o seu total abandono. A adoção de uma política monetária expansionista, o famoso QE, contrariou as teorias relacionadas ao conceito de Base Monetária - BM e seu multiplicador, também da Teoria Quantitativa da Moeda – TQM e sua velocidade de circulação, além de pressionar o sistema de preços endividando empresas e governos. Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional – FMI, essa expansão monetária chegou a atingir o recorde de US$152 trilhões ou 225% do PIB mundial, sendo que 2/3 desse montante transformou-se em endividamento do setor privado. Em meu livro “Desafios/Challenges” levantei a seguinte tese sobre o primeiro aspecto básico desse “QE”: o que estaria acontecendo com os formuladores dessa política monetária heterodoxa, usando mal os modelos existentes ou a teoria econômica estaria precisando de novas formulações? Um dos efeitos surpreendentes dessa política foi que a demanda por crédito se revelou baixa por parte da economia real, a ponto de deixar as carteiras dos bancos abarrotadas de títulos; cerca de US$13 bilhões chegaram a permanecer, no FED e BCE. Apesar de ter evitado um novo “crash” e dos custos impostos aos tomadores dos recursos, empresas e governos emitiram títulos da dívida e acostumaram-se a esse excesso de liquidez a ponto de tornar difícil aos bancos centrais o “fechamento da porta de saída”; apenas através do BCE, essa política de auxílio à liquidez ainda atinge a compra média de US$60 bilhões ao mês. Então, por que essa “financeirização” não provocou inflação? Supunha-se que, pela demanda de crédito e sua chegada à economia real, haveria fatalmente pressão sobre o sistema de preços desequilibrado ante bens e serviços disponíveis, e, segundo especialistas, por causa dos juros muito baixos, “gerando uma nova bolha de ativos.” Mas não foi isso que aconteceu. Uma explicação de ordem técnica e do ponto de vista da TQM (MV = PT), as repercussões positivas havidas na economia americana, em virtude do QE, podem ter sido função da diminuição da velocidade de circulação da moeda, na equação da TQM, como provou o abarrotamento de títulos nas carteiras dos bancos. Uma outra razão pode ter sido o efeito combinado do QE com a adoção de políticas fiscais como as que, a partir de certo tempo, passaram a ser exigidas dos governos dos países beneficiados pela expansão monetária. De qualquer modo, permanece a tese por mim levantada: novos modelos de política monetária, como o QE, deveriam surgir da Academia para os testes de mercado e não vice-versa. Esses modelos, em última análise, se reconhecidos como eficientes pelos foros legítimos, poderiam ser incorporados à teoria econômica existente depois de suficientemente regulados pelas autoridades competentes.


GRANDES PENSADORES ENFRENTAM DESAFIOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO “Precisamos garantir que, ao sairmos dessa crise, não sejam espalhadas as sementes dos desequilíbrios.” Timothy Geithner, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Mesmo levando em consideração as circunstâncias da época em que foram formulados os princípios básicos da Teoria Econômica, principalmente a partir do século XVIII, conjuntura vigente bem diferente dos tempos mais recentes, devemos reconhecer que os grandes pensadores de então representavam a Academia; ou seja, toda produção científica dirigia-se ao mercado, para ser experimentada na prática. Pode-se afirmar, portanto, que a política heterodoxa de auxílio à liquidez adotada pelo Federal Reserve – FED, o banco central americano, a partir de 2008, para conter a crise da “bolha”, fez o caminho inverso da tradição acadêmica. O século XIX esteve sob a influência do liberalismo clássico sendo Thomas Malthus, Adam Smith e David Ricardo seus mais ilustres representantes, e dos efeitos da Revolução Industrial (1760-1820). A propriedade privada dos fatores de produção, a busca do lucro e o sistema de preços à alocação dos recursos foram princípios consagrados. As práticas capitalistas, fruto dos novos tempos de progresso industrial, também trouxeram desvantagens, como a acumulação de riquezas e, por consequência, o aumento da pobreza, fazendo surgir novas correntes de pensamento, em países diferentes, representadas, entre outros, por Stuart Mill, Karl Marx, Stanley Jevons, Carl Menger, Léon Walras, Alfred Marshall, em diversas escolas de pensamento econômico, clássicos, neoclássicos e marginalistas. Alguns desses economistas não admitiam excessos em auxílio à liquidez ou afrouxamento monetário, como ocorreu na crise da “bolha”, à exceção de John Maynard Keynes, que aconselhava essas práticas apenas em períodos de recessão. O ”crash” de 1929, cujo ponto alto foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, refletiu “a crise mais geral do capitalismo e da democracia liberal.” Àquela altura dos acontecimentos, a economia procurava recuperar-se da guerra 1914-1918 através de práticas liberais por parte do Estado, enquanto consolidava-se o capitalismo monopolista. A crise trouxe muitas lições, entre outras: os bancos centrais deveriam acautelar-se no combate às “bolhas” no mercado de renda variável e que usar a política monetária para combate-las poderia “ter consequências amplas, não intencionais e indesejáveis “Economistas e historiadores debateram essas questões durante as décadas seguintes à Grande Depressão. O consenso se uniu em torno da época da publicação de Milton Friedman e Anna Schwartz, a História Monetária dos Estados Unidos, em 1963; suas conclusões a respeito desses eventos são citadas por muitos economistas, incluindo membros do Conselho de Governadores do Federal Reserve, como Ben Bernanke, Donald. Kohn e Frederic Mishkin.” Em 2008, quando estourou a crise das subprimes, nos Estados Unidos, Ben Bernanke era o presidente do FED e vinha de suas experiências anteriores como seu Conselheiro; houvera estudado muito sobre as causas e consequências da Grande Depressão. Mesmo tendo que vencer a resistência de seus pares de diretoria, foi dele a decisão de implementar o “quantitative easing.”


Seguiram-se rodadas de compras de Ativos, nos Estados Unidos. A primeira aconteceu na quebra do Banco Lehman Brothers e as seguintes, em março de 2010 e em setembro de 2012; em decorrência, a carteira de ativos do Federal Reserve – FED subiu de US$800 bilhões para US$4,5 trilhões. Nesse esforço para estimular a economia, o FED, o Banco Central Europeu – BCE, o Banco do Japão, o Banco da Inglaterra e o Banco da Suíça acumularam ativos da ordem de US$15 trilhões. Está em curso uma programação do FED à redução gradual desses Ativos: de outubro 2017/2018, de US$10 bilhões até US$50 bilhões mensais, para que o balanço de sua carteira esteja reduzido a US$2,5 trilhões. O BCE, cujos estímulos atingiram a 2,4 trilhões de euros, pesando danos e benefícios, também vai diminuir gradualmente a abrangência do programa de aquisição de ativos, até o final de 2018, para 15 bilhões de euros. Os mercados financeiros, nos Estados Unidos e na Europa, estão afetados com a redução desse incentivo e está sendo difícil encontrar uma “porta de saída.” O que estaria acontecendo com a Teoria Econômica? A expansão monetária encabeçada pelo FED e seguida pelos maiores bancos centrais, por que não causou inflação? A teoria clássica da inflação define o conceito através da Teoria Quantitativa da Moeda – TQM. A equação da TQM (dada por MV = PT) diz que um aumento na quantidade de moeda deve se refletir em uma das suas outras três variáveis; assim sendo, “quando o Banco Central aumenta rapidamente a oferta de moeda, o resultado é uma alta taxa de inflação.” Outra forma de avaliar a expansão da moeda é através do conceito de Base Monetária - BM e seu multiplicador. A capacidade de “criar” moeda é medida pelo chamado multiplicador monetário, que “será maior quanto maior forem os depósitos à vista junto aos bancos comerciais e menor, quanto menor forem as reservas voluntárias e compulsórias junto ao BC.” A teoria construída pelos grandes pensadores da história econômica estaria sendo insuficiente às práticas de política monetária ou apenas sendo mal aplicada? Comparando-se com o “crash” de 1929, o FED procedeu de forma diferente, em 2008, adotando “salvaguardas”, mas gerou consequências, entre outras: a dívida pública dos Estados Unidos alcançou US$17,3 trilhões, maior do que o PIB de US$16,9 trilhões; a da zona do euro atingiu 86,7% do PIB, sendo este igual a 15,3 trilhões de euros.


NOVOS TÓPICOS RELEVANTES – VIII ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Publicado em O ESTADO MA, 03/JULHO/2018 Alguns entes federativos estão usando reservas de planos para pagar inativos. O Distrito Federal e mais seis Estados, pelo menos, já fizeram essa opção sobre recursos “constituídos para pagamento de compromissos futuros da previdência estadual.” As prefeituras do Estado do Pará estão sendo “passadas na peneira.” Trata-se dos municípios considerados os mais mal geridos do Brasil, que devem experimentar um verdadeiro “choque de gestão”, que bem poderia ser aplicado em muitas outras cidades do Brasil. Os Ministérios existentes no Brasil já foram um total de 39, depois baixados para 31. O governo atual conseguiu reduzir para 29 cargos com status de Ministro, mas ainda perdemos para outros países, tais como: Coreia do Sul (18); Espanha (12); Estados Unidos (15); França (16); Itália (13); Portugal (17); e, entre os emergentes, China (25) e Rússia (22). Recentemente, falei sobre as possíveis consequências danosas que poderiam advir ao Brasil – e demais países considerados emergentes -, em decorrência da recuperação da economia dos Estados Unidos. A valorização do dólar, a inevitável subida da taxa de juros e o aumento na remuneração dos títulos do Tesouro americano oportunizam a possível fuga de capitais principalmente especulativos, também a desvalorização das moedas (o Real é a terceira no “ranking” em queda, tendo perdido mais de 15% do seu valor), queda nas bolsas de valores e aumento da inflação. O Banco Central do Brasil – BCB, antevendo esses riscos, agiu certo e manteve inalterada a taxa SELIC, em reunião anterior do COPOM (voltou a confirmar, ontem, em 6,5% ao ano); nos dias mais recentes, todavia, diante da crise cambial, vem tentando “balancear” suas ações e evitar que o mercado de câmbio dispare ao vender dólar a futuro, através das operações de “swaps.” Cidades médias e pequenas estão tomando posições às discussões no cenário internacional sobre planejamento urbano. Por exemplo, as cidades de Bordeaux, na França, e Curitiba, no Brasil, estão tentando fortalecer suas potencialidades atraindo investimentos, talentos e negócios do mundo inteiro. A Petrobrás nunca alcançou a autossuficiência na produção de petróleo e derivados; em tempos atuais, atrelada a uma “política de mercado”, mostrou-se inviabilizada. Apesar disso, entendo que setores estratégicos considerados de segurança nacional deveriam ficar sob a gestão do Estado, porém a realidade da nossa conjuntura está sugerindo alternativas. No Brasil, um país de dimensões continentais, parecia lógico quando foi adotado um modelo que privilegiava o transporte rodoviário; esqueceram, entretanto, que a manutenção das rodovias exigiria custos maiores e que essa política pública continuada poderia ensejar uma organização cartelizada no processo de distribuição, como aconteceu. O Banco de Compensações Internacionais - BIS, diz: “Bitcoin não tem atributos para ser usado como dinheiro.” E eu complemento: como moeda, não desempenha bem a função reserva de valor e como investimento, tem baixo o pré-requisito de segurança. A tese formulada em meu livro “Desafios/Challenges”, de que o Federal Reserve - FED, o banco central americano e seus congêneres da Europa, China e Japão principalmente, praticando uma política monetária heterodoxa de auxílio à liquidez, desde 2008, embora de menor monta na atualidade, ensejaram a elevação da dívida mundial batendo novo recorde (225% do PIB mundial), conforme Banco de Dados do FMI, recentemente divulgado.


NOVOS TÓPICOS RELEVANTES - IX ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Dívidas oficiais: O nível de endividamento mundial é crescente; governos e empresas de diversos países, principalmente da zona do euro, ainda estão ressentidos dos compromissos assumidos em decorrência da crise das subprimes, iniciada em 2008, nos Estados Unidos. Gastos governamentais: No Brasil, país emergente e de economia reflexa, as despesas do governo vem crescendo acima do Produto interno bruto - PIB, apesar das tentativas de ajuste fiscal e porque a atividade econômica vem desacelerando; “desde 2016, a receita corrente líquida - RCL da União não é suficiente para pagar as despesas obrigatórias.” Câmbio: A alta do dólar vem impactando fortemente as “dívidas soberanas de países em desenvolvimento”, principalmente os considerados emergentes; somente em junho, as moedas já recuaram 2,33%, segundo índice do Deutsche Bank. O Brasil, entre outros países, estaria entre os “menos vulneráveis”, mas o real já sofreu uma depreciação de quase 15% no acumulado de 2018, “terceiro pior desempenho mundial.” Globalização: Os países exportadores em tempos de globalização, com pequenas exceções, começam a reclamar dos efeitos, pois encontram dificuldades à colocação de seus excedentes nem sempre competitivos, pela baixa produtividade dos seus produtos. Orçamento: O Congresso vem de aprovar o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO/2019, do governo federal, “sem os principais mecanismos de contenção de gastos que haviam sido incluídos pelo relator”, tornando mais difícil o ajuste fiscal que o novo Presidente enfrentará. A questão deveria ser resolvida preservando as conquistas sociais, mas cortando gastos considerados supérfluos. Reajuste de servidores: O governo federal pretendeu adiar o reajuste dos servidores, ativos e inativos, fazendo constar do projeto de lei da LDO/2019, mas o Congresso rejeitou; agora, o Ministério da Fazenda quer insistir através de uma medida provisória. Deve-se ressaltar, entretanto, que esse reajuste é direito adquirido pelas leis 13327/16,13371/16 e 13464/17, “que estabelecem escalonamento em percentuais diferenciados, nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019.” Juros: O Federal Reserve - FED, o banco central americano, mantém sua política de elevação gradual da taxa de juros; estão previstos “mais dois aumentos em 2018, e estão projetados três em 2019.” Sabemos que essa subida dos juros, nos Estados Unidos, repercute nos países em desenvolvimento, nos emergentes, podendo provocar fuga de capitais em busca de maior liquidez, segurança e rentabilidade. Recuperação do PIB: Economistas e consultorias especializadas, divergentes até certo ponto, estimam que alguns poucos Estados brasileiros devem recuperar o nível pré-crise em relação à produção dos seus bens e serviços; dizem que o pior desempenho deve ficar para o Nordeste. “Quantitative easing” - QE: Não está sendo fácil para os bancos centrais, nos Estados Unidos e principalmente da Europa, encontrar a “porta-de-saída” à sua atuação heterodoxa de auxílio à liquidez, implementada desde 2008. Essas práticas de política monetária salvaram da “quebra” empresas e bancos, principalmente estes, que acumularam grandes somas de títulos em suas carteiras, pela baixa demanda ao crédito à economia real.


Além desses entraves à redução do QE, remanescem problemas de regulação do mercado financeiro mediante reforço na capitalizaço dos bancos, que alavancaram além do limite dos seus ativos na crise da “bolha”, e de correção de práticas contábeis vigentes.


SINAIS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO “Quem, todavia, saberá jamais o que significa a viagem de cada um?” Fernando Sabino (1923-2004), escritor mineiro. Este texto é em homenagem ao professor Fabrício Almeida, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Sinal é “qualquer manifestação que permite conhecer, reconhecer ou prever alguma coisa.” Este texto explora esta definição e não é, certamente, sobre superstição ou crendice. Você já teria recebido algum sinal que lhe permitisse antecipar acontecimentos futuros? Sabemos que há sinais emitidos pela própria realidade dos fatos, mais fáceis de reconhecer; há outros, contudo, decorrentes de sonhos, pressentimentos ou de estranhas circunstâncias que requerem intuição e sensibilidade para reconhecê-los. As consequências do verdadeiro dilúvio que se abateu sobre algumas cidades importantes do Rio de Janeiro, em tempos não muito remotos foram, em grande parte, fruto da imprevidência dos prefeitos que governaram essas cidades nos últimos cinquenta anos, legítimos detentores da “trágica irresponsabilidade com a vida da população.” Os governadores também tiveram a sua parcela de culpa. Dou meu testemunho narrando um fato acontecido durante as chuvas normalmente copiosas nessa época do ano, quando ainda morávamos na então cidade maravilhosa e que, por razões de segurança, tivemos que abandonar abruptamente. Corria o ano de 1965, mês de outubro. Por coincidência, estávamos de viagem marcada para São Luís. Temporais intensos castigavam o Rio e várias áreas de risco haviam sido mapeadas pelas autoridades competentes. Residíamos em Laranjeiras. O bairro estava sendo duramente atingido pelas águas daquele ano, porém até então livre de tragédias. De madrugada, às quatro da manhã, dia da nossa viagem, fomos despertados por soldados do corpo de bombeiros, para desocuparmos o local, sem delongas, “pois o edifício estava ameaçado de ser atingido por enormes pedras, numa avalanche de grandes proporções.” As crianças foram despertadas e ficaram assustadas. Tivemos que deixar tudo para trás, todos os nossos pertences, sob a declarada ameaça. Viajamos apreensivos, porém fora um falso sinal, felizmente. O prédio resistiu e ainda hoje está lá. Todavia, a tragédia sinalizada pela defesa civil naquele ano acabou acontecendo bem perto dali, três meses depois, quando ainda chovia, na rua General Glicério: um edifício de três andares, onde estava sendo realizada uma festa comemorativa de quinze anos, desabou soterrando muitos jovens, rapazes e moças, alguns da nossa relação de amizade. Os sinais da defesa civil, assim, estavam certos; apenas haviam mudado de lugar! Esse tipo de aviso ditado pela própria realidade serve para constatarmos a ineficiência das administrações que se sucederam nesse meio século, no estado do Rio, naquilo que diz respeito especificamente ao tratamento de encostas. Ou, visto de outro prisma, da total indiferença à ocupação desenfreada de espaços considerados inservíveis à moradia. Tudo que foi plantado por quem podia usar boa semente em solo fértil, mas lançou-a em terreno pedregoso, acabou sendo colhido, dramaticamente, por quem menos merecia o ônus desse descaso. Nos dias atuais, quem sabe a onda de insegurança geral, no universo daquela que já foi tida como “cidade maravilhosa”, seja função dessa catástrofe antecedente?


E sobre os outros tipos de sinais, o que dizer? Um objeto que despenca e se quebra sem que ninguém o tenha tocado; um pássaro estranho que aparece de repente, pousa, permanece alguns segundos e depois voa para nunca mais voltar; sonhos, dialogados ou não, com pessoas, sempre as mesmas, que já estão em outra dimensão. E a sensação de já ter vivido aquela situação e de já ter estado naquele lugar, conversado sobre aquele assunto? Que tal esse rol de sinais inusitados? Merecem atenção. Muitos acreditam que os sonhos trazem algo de premonição embora se saiba que normalmente acontecem no chamado “estado de vigília”, quando são projetadas imagens retidas no nosso inconsciente e não necessariamente dentro de uma lógica. Mesmo assim carecem de interpretação. E os objetos que se movem, sem ninguém por perto? O cinema tem explorado muito esses fenômenos ligando-os a vidas passadas, a extraterrestres; acredito que são sombras do passado, coisas que têm alma reclamadas por antigos donos. Os sinais servem para anunciar situações diversas envolvendo mensagens mais ou menos obscuras e a verdade é que não podem ser simplesmente desprezados. Estejamos atentos, pois.


PONTOS DE VISTA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Sou economista formado desde 1959, quem sabe o decano entre os maranhenses; fui professor universitário por quase trinta anos, ensinando e educando gerações; pertenço a duas Academias de Letras e importantes outras Instituições ligadas à cultura. Desta forma, tenho que perseverar na divulgação dos assuntos pertinentes a essas minhas vinculações, por mais que possam parecer áridos. Considero-me um pragmático convicto; as exceções ficam por conta do título desta crônica, em compartilhamentos ou comentários, quando a liberdade de expressão permite quase tudo. Aí pode-se observar sinais de otimismo, pessimismo e pragmatismo, os quais, dependendo do assunto abordado, não podem permitir conclusões definitivas sobre a personalidade de cada um de nós. A mais recente Copa do Mundo é um bom exemplo disso: a maioria dos brasileiros, otimista, achava que a seleção brasileira conseguiria o hexa; outra parte era mais reticente, pragmática, não pessimista, e argumentava com fatores desfavoráveis ao alcance desse objetivo. A gente deve ser otimista, porque faz bem um pensamento positivo, mas não se pode ser um sonhador apartado da realidade; em economia a conjuntura vigente é um dado importante a ser levado na devida consideração, para recomendações sobre programas de governo e as politicas públicas que deve implementar. O Brasil, economia reflexa ao que acontece nos países desenvolvidos, mas um país entre os emergentes China, Índia, África do Sul e Rússia, enfrenta uma realidade crucial em termos de resultados: desemprego ainda elevado, níveis significativos de pobreza, baixo investimento; atividade econômica sem sustentação no longo prazo, moeda desvalorizada; discreta fuga de capitais, entre outros. É verdade que temos um elevado estoque de reservas, com custo alto de manutenção, principalmente para financiar as importações e, em última instância, como agora, para conter a elevação do dólar. Com relação ao combate à pobreza, considerando um ‘cenário-base’, de referência, “o Brasil se encontrava no ano passado no grupo de países ‘fora do caminho’, aqueles nos quais a pobreza vai sendo reduzida, mas não a uma velocidade suficiente para chegar à erradicação em 2030.” Existem os otimistas, os pessimistas e os pragmáticos: o economista Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central, “enxerga pessimismo exagerado do mercado sobre o desempenho da economia neste ano”, o que chamou de “complexo de vira-lata”, pois acredita que o crescimento será maior que a média. É um otimista menos com a inflação; “prevê o estouro da meta e que pode chegar a 7% em meados do ano que vem.” A recuperação da economia americana enseja a valorizando o dólar e, através do Federal Reserve – FED, o seu banco central, a subida da taxa de juros, fato que poderá provocar – como vem provocando – depreciação das moedas de países emergentes e possível fuga de capitais. Essa realidade pode ser considerada uma visão pessimista, mas está baseada em circunstâncias conjunturais. Já o próprio Banco Central – BC, ao divulgar o resultado fiscal do governo federal, valores em R$ bilhões a preços de junho/2018, não pode deixar de ser pragmático: a Receita total, entre junho 2017/2018, 12 meses, variou (-) 0,47% e de janeiro a junho/2018, 6,53%; a arrecadação melhorou, se considerarmos o período de seis meses, neste ano. Por outro lado, a Despesa total, no mesmo período de 12 meses, diminuiu (~) 5,29%, mas aumentou, em seis meses, 2,24%. Conclusão: aumento nas receitas, nos primeiros seis meses do ano, foi proporcionalmente maior do que o aumento nas despesas, resultado coerente com os objetivos do ajuste fiscal; o ideal, contudo, é que as despesas estivessem diminuindo em proporção maior do que o aumento das receitas, pois, em julho, há notícias de que voltaram a aumentar provocando um déficit de R$ 14 bilhões.


TETO DE GASTOS E AJUSTE FISCAL Antônio Augusto Ribeiro Brandão O governo federal instituiu o teto de gastos os quais, no exercício corrente, não podem exceder a inflação do ano anterior. Tem sido voz geral que a Emenda Constitucional - EC 95, a que se refere essas normas, teria que ser revista, flexibilizada, porque, com a inflação em baixa, além de reduzir as despesas discricionárias, o governo deveria conter também as despesas obrigatórias, em virtude de quase nada estar sobrando aos investimentos. O economista Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central, é um defensor do teto de gastos e argumenta a seu favor: no médio e longo prazo, "se a taxa de acréscimos das despesas for menor ou igual à inflação, esta, por sua vez, poderá ser menor do que a taxa de acréscimo do PIB." Segundo ele, haveria mais vantagens do que desvantagens na obediência ao teto de gastos. Vantagens: a despesa pública estaria caindo; a receita ficaria estável em relação ao PIB; o resultado primário seria cada vez menor até tornar-se superavitário; a dívida pública, como proporção do PIB, deixaria de aumentar e passaria a diminuir. Desvantagens: maior inflação no cálculo dos benefícios do INSS (deveriam ser inflacionados); menor inflação nas despesas obrigatórias (inclusive de Pessoal) e discricionárias (deveriam ser deflacionadas). Em tempos de elaboração da Lei Orçamentária Anual – LOA/2019, embora muitos Estados e Municípios não tenham aderido formalmente à essas medidas de contenção de gastos e de ajuste fiscal do governo federal, tem-se em mente que essa LOA, precedida que foi pela Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, que fixou a “regra do jogo”, e o Plano Plurianual – PPA, listando os programas e ações a serem desenvolvidos em quatro anos, pode-se dizer que aquela, a LOA, é função destes, LDO e PPA. Ante as limitações de recursos, a seção “Especial” do jornal “Valor Econômico”, de 06/08/2018, traz a seguinte manchete: “Cumprir teto de gasto pode paralisar governo a partir do próximo ano.” Essa advertência serviria também à alguns entes federados não alinhados com essa política fiscal do governo federal; além de cortes nas despesas discricionárias, aquelas sobre as quais o governo tem mais controle, também as despesas obrigatórias, principalmente as despesas de pessoal, deveriam ser contidas. O ajuste fiscal do governo federal está em curso. Ao longo do tempo, a um melhor desempenho das receitas em relação às despesas, estas devem diminuir mais do que proporcionalmente ao aumento das receitas, que são de possibilidades mais rígidas, assim correspondendo a um resultado primário em recuperação até o atingimento do seu superávit ; no mês de junho, conforme abaixo, a situação melhorou refletindo-se na melhoria desse resultado, mas voltou a piorar, em julho, com um déficit projetado de R$ 14 bilhões. O Banco Central – BC divulgou o resultado fiscal do governo federal, valores em R$ bilhões, a preços de junho/2018: a Receita total, entre junho 2017/2018, 12 meses, variou (-) 0,47% e de janeiro a junho/2018, 6,53%; a arrecadação melhorou, se considerarmos o período de seis meses, neste ano. Por outro lado, a Despesa total, no mesmo período de 12 meses, diminuiu (~) 5,29%, mas aumentou, em seis meses, 2,24%. O fato é que a melhoria na economia brasileira não pode depender apenas dos gastos em consumo, pois essa política não é sustentável no longo prazo; precisamos de investimentos, mas estão em queda. A regra do teto, diz um pesquisador, “promete mais do que as regras fiscais conseguem entregar”, porque o cumprimento do teto depende das Reformas, como a da Previdência, e os entes, se descumprirem, estão sujeitos a sanções estabelecidas na EC 95. “Chegou a hora de definir as prioridades orçamentárias.” O governo federal enfrentará, neste segundo semestre, fruto em grande parte do baixo crescimento do PIB, um déficit primário de R$ 124,3 bilhões, com repercussões nos Estados e Municípios dependentes das receitas transferidas do FPE e FPM, além das “carimbadas” do FUNDEB e do SUS. O problema maior reside nas despesas obrigatórias, que vem tendo aumentos continuados e, no caso do governo federal, chegam a consumir 98% da receita líquida do Tesouro; sendo assim quase nada sobrará aos


investimentos (somente as despesas com o pagamento dos inativos, aposentados e pensionistas, deverão consumir 71% dessa receita). Estados e Municípios, mesmo aqueles em situação melhor, diante desse quadro federal assustador, deveriam fazer o seu “dever de casa”, ainda que como precaução; nenhum dos entes, entretanto, como pretende o governo federal, deveria tentar adiar direitos adquiridos, como o reajuste dos servidores, em 2019, pois, além de penalizar os que tem menor parcela de culpa, não seria a melhor solução politicamente falando. A gestão das despesas deveria considerar a possibilidade de reduzir o tamanho da máquina administrativa, pois “o sapato está ficando menor do que o pé”, realizando fusões e incorporações de órgãos e redistribuindo o pessoal indispensável.


TÓPICOS RELEVANTES X CÂMBIO No vice-versa costumeiro do mercado o dólar sobe e a Bolsa, desce; crise entre a Turquia e os Estados Unidos reflete-se nos países emergentes, como o Brasil, de economia reflexa. A moeda americana se fortalece, porque os investidores procuram proteção. COMEMORAÇÃO Reunião com a Reitora da UFMA, professora Nair Portela, com a participação de representantes do seu Departamento de Economia, do Conselho Regional Acadêmico de Economia e Palestrantes, foram acertados detalhes do Evento comemorativo dos 50 anos de formatura da primeira turma de Economistas do Maranhão, a ser realizado no próximo mês de setembro. PALESTRA O economista Antônio Augusto Ribeiro Brandão, professor aposentado da UFMA e autor do livro “Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory”, fará palestra, no dia 24 de setembro próximo, sobre o tema: “Desafios à teoria econômica: a política monetária em tempos de crise.” Em evento promovido pela reitoria da UFMA, "Desafios/Challenges" foi lançado em conjunto com os de outros ilustres autores maranhenses, na Academia Maranhense de Letras, em fins de 2015; logo a seguir, foi a vez da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. No momento, através da Associação Internacional de Escritores - IWA, em Toledo-Ohio, USA, o livro está sendo divulgado visando seu lançamento naquele país. CONVITE Convido e espero, desde já, que possam estar presentes a prestigiar-me meus amigos e colegas professores do DECON, ativos e inativos, meus ex-alunos de Economia e de Ciências Contábeis, e de outros cursos, diretores e professores da Universidade. ELEIÇÕES Na semana passada, uma emissora de TV sabatinou os principais candidatos à presidência da República; assisti a essas entrevistas muito interessado em saber o que pretendem fazer pelo Brasil, país emergente entre outros, mas em meio a grave crise econômica e principalmente fiscal. Temperamentos explosivos misturaram-se a posturas mais tranquilas, sensatas, uns mais experientes e tendo significativo conhecimento da nossa realidade, dos seus números e outros, visivelmente superficiais, carecendo de valores e crenças e de uma competente equipe de governo. Quem quer que seja eleito enfrentará grandes dificuldades. A crise fiscal projeta um déficit de R$ 200 bilhões; as Reformas da Previdência, Política, Tributária, além de redução do tamanho do Estado, são ações que precisam ser implementadas imediatamente. Como o próximo Presidente não vai poder governar somente através de Medidas Provisórias, precisará do indispensável apoio parlamentar à essas ações, limitação a ser resolvida pelos eleitores, escolhendo bem os seus senadores e deputados. MEUS TRÊS LIVROS "Fortes Laços" é produto das circunstâncias inspiradoras em que foi escrito. O título traduz intensos vínculos com a terra natal e as pessoas que nela habitam, dos dias da infância e dos tempos da adolescência. Também contém textos relacionados aos compromissos da profissão de economista. "Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans" é uma homenagem a São Luís e aos franceses, seus fundadores; reafirma o estilo narrativo existente desde os tempos de Claude d'Abbeville e Yves d'Évreaux, cronistas pioneiros do cotidiano da Cidade. Contém textos sobre minhas viagens. "Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory" resgata a história do pensamento econômico como instrumento científico de normas acadêmicas à compreensão dos fenômenos econômicos, no caso da crise da "bolha" americana, levanta tese ilustrativa, bem como escreve sobre fatos da realidade do mercado e traça cenários.


Meus Livros também fizeram parte da Semana Cultural que a AAUFMA, junto das produções dos seus associados, realizou em comemoração aos seus 25 anos de fundação, na sede administrativa da Associação, na Cidade Universitária Dom Delgado.


ACADEMIAS EM DIAS DE FESTA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Escrevo pensando nas Academias de Letras às quais pertenço e procuro prestigiar. Primeiro ingressei na Academia Caxiense de Letras - ACL, em 2003, para ocupar a cadeira nº 39 patroneada pelo jornalista João Guilherme de Abreu. Fundada em 1997, tenho insistido na tese de que seria a continuidade do Centro Cultural Coelho Neto, que floresceu antes dela ainda na década de 40 do século passado e deixou o registro de relevantes serviços prestados à cultura da Cidade. Depois, em 2013, apoiando ideia pioneira do confrade Wilson Pires Ferro, tornei-me, juntamente com outros ilustres intelectuais de São Luís, membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL, para ocupar a cadeira nº 04 patroneada por Francisco Sotero dos Reis. Como escritor, também sou filiado à Associação Internacional de Escritores – IWA, em Toledo, Ohio, USA e membro da Comunidade ELOS, de Salvador-Bahia. Neste mês de agosto e em datas próximas, a ACL e a ALL estão aniversariando em meio às comemorações de praxe eivadas de Palestras e lançamentos de Livros. As Academias não fazem política, mas são instituições políticas e, como tal, devem participar do encaminhamento e solução dos problemas que afligem a sociedade na qual estão inseridas, para que não fiquem restritas apenas ao famoso “chá das cinco” e possam ser protagonistas reconhecidos. Foi o filósofo Platão quem fundou, em 387 ªC, próxima a Atenas, uma “escola dedicada às musas, onde se professava um ensino informal através de lições e diálogos entre os mestres e discípulos.” Uma residência, uma biblioteca e um jardim formavam a escola, tendo esse jardim pertencido a Academus, herói da guerra de Tróia, inspirador do termo academia. A Academia Francesa foi fundada em 1635, por iniciativa do Cardeal Richelieu, e serviu de modelo às Academias do mundo todo. No seu âmbito “termos chulos, gíria e expressões coloquiais” deveriam ser evitados. Diziam dela: “[...] constituída por quarenta cadeiras, cujos ocupantes perpétuos são eleitos, depois de se apresentarem como candidatos a uma vaga, apresentando suas qualificações [...]”; o novo acadêmico seria empossado “discursando em agradecimento à Academia e realizando o elogio de seu antecessor.” Esse ritual vigora até os dias de hoje. A Academia Brasileira de Letras, a “Casa de Machado de Assis”, foi criada na segunda metade do século XIX, mais precisamente no dia 15 de dezembro de 1896, no Rio de Janeiro; os intelectuais Rodrigo Otávio, Graça Aranha, Raul Pompéia e Machado de Assis, entre outros, participaram de encontros, que culminaram com o surgimento de “uma sociedade civil de direito privado, ou como se chamaria hoje, como uma organização não governamental.” Machado de Assis foi aclamado seu primeiro Presidente e fundador da cadeira nº 23. Esse modelo inspiraria, daí por diante e pelo Brasil afora, a criação dos inúmeros centros culturais. O embrião da ACL, conforme já referido, foi o Centro Cultural Coelho Neto; da mesma forma, o Centro Cultural Gonçalves Dias, em São Luís, da Academia Maranhense de Letras – AML. A ALL, a “Casa de Maria Firmina dos Reis”, foi fundada em 10 de agosto de 2013 por um grupo de intelectuais nascidos em São Luís ou que tivessem residido, ininterruptamente, por um mínimo de dez anos; seguindo a tradição francesa foram criadas 40 Cadeiras, algumas ainda por preencher, que segue regras da manifestação de vontade dos pretendentes e suas indispensáveis eleição e posse. A ALL ainda não tem a sua sede, mas compartilhamos espaços gentilmente cedidos e possuímos uma biblioteca valiosa; falta-nos um “jardim”, como nos tempos de Academus. Mesmo assim nossas reuniões são acolhedoras e sempre prestigiadas pelos confrades e diversos segmentos sociais. Maria Firmina dos Reis (1825-1917), patrona da ALL, era filha de João Pedro Esteves e de Leonor Felipe dos Reis; por parte de mãe, era prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis. Desde cedo se dedicou ao magistério e lecionou as primeiras letras em terras maranhenses, em Guimarães. Foi uma


importante contribuinte das artes, da literatura, tendo escrito o romance “Úrsula”, em 1859, tida como uma das suas obras mais marcantes. Sob a égide da riqueza cultural das cidades, a ALL e a ACL estão festejando mais um ano de profícuas atividades, com a assunção de nova direção e acolhimento de novos confrades.


FESTA DE SÃO BENEDITO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO “A saudade é o fogo fátuo das venturas mortas pairando sobre o coração.” Coelho Neto, escritor caxiense, laureado como Príncipe dos Prosadores da Literatura Brasileira. Patrono da Academia Caxiense de Letras. Acontece no mês de agosto, em Caxias e nos diversos rincões deste Brasil onde o Santo é venerado. Uma semana de ladainhas culminando com o grande dia da Missa solene rezada aos domingos. Tradicionalmente, na “Princesa do Sertão”, o Largo em frente à Igreja do Santo é o palco dessa festa já incorporada às nossas tradições embora, em tempos idos, tenha sido deslocada para os domínios do Largo de São Sebastião, Santo também muito venerado por todos e particularmente grato aos Atiradores do Tiro de Guerra 194. Quem serviu naquela unidade do exército brasileiro e graduou-se como Reservista de 2ª categoria sabe bem o porquê. Durante a Festa eram feitos convites especiais aos que faziam a vida da Cidade, a setores da administração municipal importantes nos seus grandes objetivos; associações de classe, clubes de serviço, conselhos comunitários e a sociedade civil organizada, também eram convidados. Era uma confraternização geral. As lembranças da Festa são muitas: as rezas sob o fervor do calor intenso, as quermesses de toda sorte de prendas, a roda-gigante a girar vagarosamente, os barquinhos de balanço arriscado e os balões que não resistiam ao sumo de limão. A missa do grande dia da festa, na Igreja cheia de gente, muitos ou quase todos de roupa nova, homens e mulheres, pois fazia parte da tradição, dos usos e costumes daquela época. Era um tempo em que todos se permitiam esse “luxo” e em que as economias acumuladas demonstravam o padrão dessas sobras: para as moças roupas mais simples até as mais sofisticadas, de organza, musseline, seda; para os rapazes ternos de linho importado e tropical inglês. Tudo ficava mais bonito: ver as pessoas sentir-se mais valorizadas, sua autoestima nas alturas e o prazer de mostrar sua beleza. Na nossa família, entre os homens, acontecia mais ou menos assim: tecido fornecido pela Casa Brandão, loja do meu saudoso pai Antônio Brandão; feitio e costura a cargo do Joaquim Gabriel, um alfaiate competente, mas impontual até certo ponto. Ele era fã do Orlando Silva e vivia a cantarolar suas músicas enquanto costurava, e “viajava” dando formato às ombreiras do paletó: “lábios que eu beijei mãos que eu afaguei, numa noite de luar assim; o mar na solidão bramia e o vento a soluçar pedia que fosses sincera para mim [...]”. Os cortes de tecido eram entregues ao Joaquim Gabriel, com muita antecedência, pois ninguém queria correr o risco de não poder vestir roupa nova, no dia da Festa; seguiam-se várias sessões de provas, de ajustes, até que tudo ficasse moldado ao corpo de cada modelo, mas acreditem: toda essa antecedência não era o bastante para o “artista da tesoura”, pois acabava entregando o terno (paletó e calça curta) em cima da hora! Aí era vestir de qualquer jeito mesmo que às vezes o paletó ficasse apertado e a calça, frouxa, fora de prumo, e rumar para o Largo de São Benedito, para a Missa solene das 9 horas. Certa vez minha mãe resolveu trocar de alfaiate, para alegrar uma amiga de longas datas, Zéfinha, antiga colaboradora da nossa casa revezando-se, sempre, com a Cota e a Condessa; não me lembro de nenhuma outra que tenha feito parte da nossa família, fosse lavadeira, copeira ou cozinheira. A Zéfinha tinha um filho empregado da Usina Dias Carneiro, do “seu” Nachor Carvalho, pioneiro nessa atividade empresarial, em Caxias; gente fina, o Zé “macaco” (para os íntimos), como era conhecido o filho da nossa colaboradora, na verdade era eletricista de formação, mas, segundo a própria mãe, conhecedor do ofício da alfaiataria, embora não houvesse compatibilidade entre as profissões. E aí, com a mesma antecedência de sempre, entregamos os cortes de linho ao dublê de eletricista-alfaiate, para a confecção das nossas roupas da Festa. Que desastre! Como foi mais rápido do que o antecessor, o Joaquim Gabriel, o Zé não poderia ter caprichado tanto, pensemos. Dito e feito, as roupas não serviram nem para vestir, pois o paletó ficou frouxo e a calça, apertada; não havia conformidade entre as peças. Destino do paletó, que sobrou: virou uma camisa gandola (aquela que tem dois bolsos, um de cada lado, e termina abotoada à altura da cintura), feitio muito em moda naquela época. Quem não teve uma?


Estas são memórias, lembranças de um tempo bom de pessoas cheias de vontade, ingênuas até certo ponto, apenas desejando ganhar o seu dinheiro honestamente, sem depender, como hoje, das ações da filantropia. Zéfinha, Cota, Condessa, Joaquim Gabriel e o Zé “macaco”, nossos colaboradores e amigos de tempos idos, tempos em que Caxias fazia questão de cultuar suas mais caras tradições e da forma mais digna possível. Continuamos necessitando da união de esforços, de compreensão e integração de propósitos, de perseverança, para podermos honrar nossas tradições. E de muita Fé em São Benedito. Salve o glorioso Santo, salve!


POR QUE O DÓLAR ESTÁ SUBINDO Antônio Augusto Ribeiro Brandão No vice-versa costumeiro do mercado o dólar sobe e a Bolsa, desce; crise entre a Turquia e os Estados Unidos reflete-se nos países emergentes, como o Brasil, de economia reflexa. A moeda americana se fortalece, porque os investidores procuram proteção. A moeda tem três funções básicas: intermediária de trocas, medida de valor e reserva de valor. É considerada fiduciária, que dizer não lastreada, mas é reconhecida e aceita pelo poder da autoridade emitente, os bancos centrais. A paridade entre as diversas moedas, o câmbio, é determinada também por esse poder da autoridade emissora – o dólar, por exemplo, é considerado a moeda-padrão e de conversibilidade mundial - e pelas relações de troca entre os diversos países, cada qual com sua capacidade produtiva ao comércio internacional, para importar e exportar. Nos dias atuais, o dólar vem atingindo cotações elevadas em relação ao real. Há causas endógenas, que estão sob o comando das autoridades monetárias brasileiras, aliadas às exógenas, que o nosso país não comanda. Há quem entenda também influências psicológicas no comportamento dos investidores de mercado. O Brasil, país considerado emergente, porém de economia reflexa, sofre os efeitos da expansão da economia americana e de sua “guerra” comercial principalmente com a China; a elevação da taxa de juros por lá torna as aplicações mais atrativas e acaba determinando evasão de capitais das bolsas brasileiras, por exemplo, em busca de proteção, de reserva de valor. O Banco Central do Brasil vem atuando na tentativa de conter essa alta do dólar ofertando a moeda através das operações de “swap” (venda futura) e até utilizando partes das nossas reservas, que deveriam preferencialmente financiar as importações. A alta do dólar deveria favorecer melhor nossos exportadores, todavia a baixa produtividade limita a competição; por outro lado, encarece as importações à reposição e expansão do nosso parque industrial, tão carente e indispensável aos investimentos indutores do crescimento econômico. A disputa do governo americano com a China também tem tido influência na valorização do dólar frente ao real, pela imposição de tarifas aos produtos importados daquele país; Trump acha que os chineses estão manipulando sua moeda, bem como os países da Europa pertencentes à zona do euro. Outro fator que pode estar influindo nas cotações do dólar é a crise vivida pela Turquia, agravada pelas restrições americanas aos produtos exportados pelos chineses. Conforme aconteceu em 1997 – crise cambial asiática – e em 1988 – crise inflacionária russa -, eventos que repercutiram nos países emergentes, de novo o Brasil está entre os países vulneráveis, embora em menor proporção. Na teoria microeconômica, assim como a psicologia afeta o comportamento do consumidor, também pode estar afetando as expectativas dos eleitores ante as indefinições políticas nas próximas eleições brasileiras: o nervosismo cresce impactando as cotações do dólar frente ao real e os “consumidores” do voto reagem frente ao risco dos mercados, procurando proteção em outras alternativas de investimento. Esse quadro de pressão cambial, embora o Brasil possua robustas reservas – bancadas a um custo elevado -, enfatiza a necessidade de o novo Governo aprofundar o ajuste fiscal fazendo aprovar as Reformas da Previdência e Tributária, pelo menos. *Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras, da Associação Internacional de Escritores – IWA, em Toledo-OHIO, USA, e da Comunidade ELOS, em Salvador-Bahia. Fundador da Academia Ludovicense de Letras.


JUBILEU DE OURO Antônio Augusto Ribeiro Brandão Em 1968, formada na antiga Faculdade de Economia do Maranhão, que teve à frente o saudoso professor Waldemar da Silva Carvalho, colou grau a primeira turma de economistas do Maranhão. O Departamento de Economia – DECON - da Universidade Federal do Maranhão - UFMA e o Conselho Regional Acadêmico de Economia – CORECON, em comemoração, a partir do dia 2 de setembro até 7 de novembro, promovem um Ciclo de Palestras a serem proferidas por professores e especialistas. Sou testemunha ocular de parte da história desses economistas pioneiros em nosso Estado, pois estive presente, na Biblioteca Pública do Estado, para prestigiar a solenidade em que discursou o ex-presidente da República, Juscelino Kubistchek, paraninfo (patrono) da Turma. Também participei, no dia seguinte, do almoço oferecido ao ex-presidente, no Jaguarema, com a presença do governador José Sarney e outras ilustres personalidades locais, entre elas o prefeito Haroldo Tavares. Como decorrência da presença de JK, em São Luís, fatos extemporâneos aconteceram e merecem ser referidos. Foi durante o baile de gala, ainda no Jaguarema, envolvendo o orador da primeira Turma de economistas, José Mário Ribeiro da Costa, meu primo, que certamente estará presente às solenidades e terá oportunidade, se desejar, falar a respeito. Minha palestra versará sobre tese levantada no livro ‘Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory”, editado pela UFMA, escrito no decorrer da crise da “bolha”, de 2008 a 2015, e do qual constam menção ao pensamento da história econômica, artigos sobre aspectos práticos dos acontecimentos que afetaram a economia dos Estados Unidos, da Zona do euro e, por decorrência, dos países considerados emergentes, além de diversos cenários traçados em função desses acontecimentos. Em meu livro “Desafios/Challenges” levantei a seguinte tese sobre aspectos básicos do afrouxamento monetário, auxílio à liquidez ou simplesmente “quantitative easing” - QE: o que estaria acontecendo com os formuladores dessa política monetária heterodoxa, usando mal os modelos existentes ou a teoria econômica estaria precisando de novas formulações? Alguns dos artigos referidos, publicados na imprensa local, foram recomendados à divulgação antecipada, para conhecimento e leitura previa à facilitação dos debates após a realização da Palestra, com slides projetados. A tese do meu Livro, que recomendo para leitura complementar à disciplina Economia Monetária, estará aberta a debates, principalmente voltados aos estudantes da área, pois demandará pesquisas adicionais ao entendimento do que realmente aconteceu. Segue abaixo a programação preliminar do Evento “Turma Juscelino Kubistchek”, um ciclo de palestras a serem proferidas por especialistas do mercado e professores da UFMA, entre estes muitos dos quais foram meus alunos, para mim motivo de justificado orgulho: Debate Simonsen x Gudin, Ricardo Zimbrão Affonso de Paula 2 de setembro, 19h Economia do Crime: uma abordagem econométrica, Alan Vasconcelos Santos 11 de setembro, 19h Crédito Rural no Maranhão, João Gonsalo de Moura 12 de setembro, 19h Oferta de Educação no campo no Maranhão, José de Ribamar Sá Silva 18 de setembro, 19h Transformações econômicas e socioespaciais dos municípios em torno da estrada de ferro Carajás, Welbson do Vale Madeira 19 de setembro, 19h Desafios à Teoria Econômica, Antônio Augusto Ribeiro Brandão 24 de setembro, 15h “Formação Econômica do Maranhão” de Bandeira Tribuzi, Benjamin Alvino de Mesquita 25 de setembro, 19h


“O Capitalismo Tardio” de João Manuel Cardoso de Mello, Ricardo Zimbrão Affonso de Paula 26 de setembro, 19h Divulgação de pesquisa sobre a Dinâmica do Mercado de Trabalho no Maranhão, Grupo de Pesquisa Macroeconômica (GRAMMA) 3 de outubro, 19h Paul Singer e a Economia Solidária, Luiz Eduardo Simões e Nilce Ferreira 10 de outubro, 19h Cadeias Produtivas e Arranjos Produtivos Locais no Maranhão, Alessandra Juliana Caumo e João Gonsalo de Moura 16 de outubro, 19h Debate sobre a recente desvalorização da taxa de câmbio, Alexsandro Sousa Brito e Rodrigo Gustavo de Souza 22 de outubro, 19h Kalecki: ciclo econômico e dinâmica capitalista, Ricardo Zimbrão Affonso de Paula 24 de outubro, 19h Conferência sobre a obra de Ignácio Rangel, Raimundo Moacir Mendes Feitosa 30 de outubro, 19h Financiamento do Desenvolvimento Brasileiro, Alexsandro Sousa Brito 7 de novembro, 19h


ACERTO DE CONTAS OU REVANCHE Antônio Augusto Ribeiro Brandão Há circunstâncias acontecidas nas lutas pelos direitos humanos que o tempo gravou e tenta, sempre, cobrar. Pelo muito que sofreram nessas verdadeiras batalhas em prol de sua afirmação social, minorias vivem numa aparente desordem e ausência de regras onde tudo é pretensamente permitido e considerado normal; há aspectos sociológicos a serem considerados. Antecedentes registrados pela história falam de pessoas marginalizadas pela sociedade refletindo negativamente a realidade que temos hoje; a falta de visão dos nossos governantes deu margem a muitas discriminações e desigualdades. O trabalho de mulheres e crianças nas fábricas inglesas, no auge da Revolução Industrial, poderia ser considerado escravismo; essas crianças cresceram sem ter os valores que cabiam à família ensinar e sem esses valores tornaram-se jovens problemáticos, adultos infratores, imaturos. Outrora, cidades foram literalmente destruídas quando o grau de devassidão e libertinagem atingiu o máximo, e nem Deus suportou mais: mandou um cataclismo avassalador e castigou o mal não deixando “pedra sobre pedra”. Isso também aconteceu, embora em menores proporções, durante o papado de Alexandre VI, o famoso espanhol Rodrigo Bórgia. Em tempos mais recentes, um fato que não acontecia há mais de quatrocentos anos: pressionado pelas forças ocultas de sempre e bem próximas a ele, além de denúncias várias de corrupção, lavagem de dinheiro, vazamento de informações e pedofilia, o Papa Bento XVI renunciou. As mesmas pressões acontecem, agora, com o Papa Francisco. Esses acontecimentos sem dúvida foram e são sinais de que, desde os tempos remotos, houve regras de comportamento do que deve ser considerado certo ou errado; dos usos e costumes exercidos de acordo com padrões geralmente aceitos, e dos valores e crenças alicerçados e praticados. O que está acontecendo para que, em movimento crescente, essas regras e princípios consagrados estejam sendo confrontados? Penso, de forma benevolente e pragmática, que podemos estar diante de uma velhanova “luta de classes” nunca sepultada, mas sempre renascida. Questões concretas e históricas estão por trás de tudo: primeiro o regime escravista, que existiu inclusive entre nós e, por questões econômicas circunstanciais, demorou muito até ser abolido; em segundo lugar a emancipação feminina, fruto inexorável e justo do desenvolvimento mundial e dos próprios direitos individuais. Um outro aspecto é que tudo isso deixou sequelas e ressentimentos agravados pela desigualdade acumulada através dos tempos, que estão sendo postos à prova quase em clima belicoso; minorias usualmente tratadas dessa forma ascendem na escala social, descobre-se uma “nova” classe, que passa a consumir e praticar atos em função da melhoria na sua condição de renda. Logo vêm os efeitos dessas causas, das regras estabelecidas pela própria sociedade em que vivem essas minorias: usos e costumes, valores e crenças definitivamente alicerçados passam a ser postos à prova da forma mais aberta possível, como se os fins justificassem os meios. Como consequência da história e da moral envolvidas, e de forma mais explícita, Movimentos tomaram – e ainda tomam - as ruas, na Europa e nos Estados Unidos, também, em menor escala, no Brasil, em protestos nem sempre bem definidos e com liderança difusa a exigir procedimentos dos governos. A Igreja, a Família e as Instituições estão sendo duramente postas à prova. São os últimos redutos a serem transpostos antes que possam vingar essas condições extremas que muitos desejam estabelecer. E o que dizer desses movimentos sociais, então: “o sistema capitalista guarda dentro de si a solução dos seus próprios dilemas; o absolutismo, lembram, foi levado ao extremo quando a Monarquia deu aos seus Intendentes autoridade sem limites.” Há quem diga ante tudo que vem acontecendo: doravante, vai ser assim mesmo. As redes sociais fizeram surgir um tipo de liderança impessoal; pela capacidade de mobilização das pessoas em tempo real, internautas são líderes e liderados ao mesmo tempo a exigir o que chamam de “democracia direta.”


Estaríamos diante de uma simples revanche ou, embora destituídos de cunho ideológico, esses movimentos pretenderiam mesmo tentar aprimorar o regime capitalista em suas formas ainda mais democráticas de exercer o poder? *Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras, da Associação Internacional de Escritores – IWA, de Toledo-Ohio, USA, e da Comunidade ELOS, de Salvador-Bahia. Fundador da Academia Ludovicense de Letras.


AS cRONIcAS DE cERES


COMIDAS DE RUA Ceres Costa Fernandes Recebera do pai a severa recomendação, muitas vezes repetida: comida de rua é perigosa; ninguém sabe como é feita, se a água é filtrada; se os ingrediente são confiáveis – vai que você come um pastel com camarão estragado ou com o óleo reaproveitado? Pode pegar uma infecção ou, no mínimo, vermes... Está me ouvindo? Sim, pai. Essa cantilena lhe ocupou os ouvidos na infância, e depois a reproduziu aos filhos, nos mesmos moldes - porque mãe e pai são assim -, sem acreditar que eles fossem se abster de comidinhas e bebidinhas deliciosas, ainda mais se proibidas. A carne moída fervendo no recipiente de alumínio cheirava longe, atraindo a garotada que andava de bicicleta nas alamedas tranquilas (havia disso) da Praça Deodoro, ao lado da Biblioteca Pública. Raros automóveis ou ônibus para perturbar. A menina aproxima-se , o nariz guloso, huum... este cheiro. Que vontade! O pão massa fina, branquinho, parece daqueles de derreter na boca. O rapaz do carrinho abre o pão - com a mão que recebeu o dinheiro -, recheia-o com bastante carne, derrama colheradas do molho de tomate, coloca as rodelas de cebola e arremata com a folha de alface: é o famoso “cachorro-quente” maranhense. Não resiste, pede um. Vai valer o castigo, sim, porque havia o pacto da não-mentira com o pai, não poderia esconder a desobediência. Enterra os dentes no pão e suspira. Saboreia o “cachorro-quente” e alonga o olhar para o carrinho da raspadinha mais adiante, outro item de rigorosa proibição – a tal da água não filtrada – e decide tomar uma de morango, para depois do sanduíche. Melhor fazer um pacote de transgressões, ia pegar castigo mesmo, talvez uma semana sem montar a sua amada bicicleta Rudge, uma transgressão a mais... E a raspadinha, hein? Um carrinho, de madeira e alumínio, ostentava, na parte de cima, uma fileira de garrafas coloridas com xaropes de diversos sabores; dentro, um pedaço de barra de gelo era acondicionado, não recordo bem como. O vendedor raspava o gelo com um ralador. As raspas enchiam o copo de vidro (não havia copos descartáveis na rua) e, por cima do gelo, era derramado o xarope de morango, maracujá, uva. O fio colorido caindo sobre o gelo brilhante. Bonito, gostoso. Inesquecível. A raspadinha sumiu. O “cachorroquente” maranhense permanece vendido na Praça Deodoro – cujas alamedas viraram ruas, um caos de veículos e gentes -, com a mesma falta de higiene e o acréscimo de novos ingredientes. Subsiste, também, em lagos e festejos. No índex das guloseimas proibidas ainda figuravam o sorvete de coco na casquinha – aquele vendido pelos caboclos de chapéu de palha e pé no chão –, pastéis fritos, esfirras gigantes e pães-cheios. Ah, mas havia os permitidos: caldo de cana, desde que aprovada a procedência, derressol, pirulito, ”enrolado no palito, amassado no penico”, e as balinhas de coco, embrulhadas em papel de seda branco, a derreter na boca. Estaciono o carro ao lado de uma construção. Uma bicicleta parada à entrada do tapume sustenta uma caixa de alumínio e vidro. Da caixa sai um cheirinho bom, e, através do vidro, vejo pastéis, esfirras, quibes, além de pedaços de bolo de tapioca e macaxeira, tudo em porções gigantes. Ao redor, alguns operários. Deve ser a hora da merenda. Com que apetite e ar de satisfação cada um deles abocanha o seu pedaço. Parecem em paz com o mundo. Que não há nada melhor para provocar bem-aventurança que um estomago confortado E aí, me volta o desejo de comer aquelas frituras gordurosas de higiene duvidosa, altamente calóricas e deletérias. Confesso que meu apetite é, muitas vezes, proletário; mas meu estomago, de hoje, frágil, metido a besta, me obriga a ingerir perfumarias, distantes da comida de sustança. Durante a semana, de acordo com o modismo saudável da vez, como comida comportada, desengordurada, tempero regrado - um tanto pela estética, minha, não da comida; um outro tanto, pela frescura do dito estômago -, escorregando nos doces e biscoitinhos, que ninguém é de ferro. No final de semana, peco um pouquinho em feijoadas, tortas de caranguejo, caldeiradas de camarão. Tudo light. O churrasquinho de gato com farofa amarela, esse escapou das proibições do meu pai. Mas não escapou do meu discernimento adulto: é deletério e ponto. Exceto nos dias de carnaval, quando os fogareiros acesos na Praça da Saudade sopram um cheirinho divino nos narizes foliões; iguaria irresistível após queimar as energias no pula-pula. E aí, peço perdão ao meu pai, e faço o aconselhado pelo meu Tio Janu: como o churrasquinho, com farofa, “pelas barbas de São Pedro”, simpatia que evita indigestão e remorsos.


EM DEFESA DA ”HONRA” Ceres Costa Fernandes Bula para a leitura deste texto: Trata da relação heterossexual. A trajetória da mulher e a violência cometida pelo companheiro, o “feminicídio”. A escolha não implica em desconhecimento ou desprezo por violência dirigida a homossexuais ou a transgêneros, p.ex., que têm histórias outras. A honra é pessoal e intransferível. Parece uma obviedade. Sim. Mas, no fim da segunda década do Século XXI, temos notícia que fulano ou sicrano, movido pela sagrada fúria da “legítima defesa da honra”, espancou, torturou, ou pior, matou a companheira que lhe faltou com uma suposta fidelidade. Estes energúmenos, levados a tribunal - se levados -, contam, muitas vezes, com a simpatia do público (a mulher fez por onde...) e - pasmem! - até a dos componentes femininos do júri. Mesmo em grupos sociais mais informados e intelectualizados, reina o preconceito contra os maridos traídos, os chamados “cornos”, eternas vítimas de críticas e gozações. O epíteto, curiosamente, não se aplica à mulher. O inverso acontece com o adjetivo adúltera, com a acepção de traição. Este é, certamente, um vocábulo feminino. Li, em algum lugar, que: “adúltera é a mulher que trai o marido e adúltero é o leiteiro que põe água no leite”. Explicando melhor, na relação amorosa entre os dois sexos, não há culpa na traição do homem infiel, nem desonra na mulher traída; mas desonra no homem traído e culpa na mulher infiel. Essa pseudo transferência de “honra”, de um indivíduo para outro, incentiva a violência contra a mulher e a valida. Outro motivo para o cometimento da violência contra a mulher pode ser encontrado no acirrado sentimento de posse que domina a maioria dos homens. Lembremos a anedota árabe da mulher que se queixa ao pai de ter sido espancada pelo marido, ao que ele, indignado, em resposta, dá-lhe uma bofetada, dizendo: “volta e diz a teu marido que se ele bateu na minha filha, eu, em troca, bati na mulher dele”. Pois é, se tenho a posse de algo, posso dispor dele como quiser, inclusive destruí-lo. Essa mentalidade, ainda recorrente, advém do uso da força física masculina na sobrevivência humana ao longo da História. No princípio, esse tipo de força era a garantia do alimento e da segurança; mais tarde, foi indispensável para adquirir e manter propriedades. Por séculos, o homem deteve a supremacia e o domínio do chamado sexo frágil. Podemos incluir, no período glorioso do macho, desde a Pré-história até os tempos modernos quando a resistência e a força física ainda contavam pontos. O avanço tecnológico, dispensando a força para realização das tarefas nobres, decretou a sua falência. A superioridade física é cada vez mais desnecessária na Era da Informática, em que as guerras são resolvidas no apertar de botões e as maiores remunerações são ganhas, não pelos carregadores de sacas, mas por aqueles que desenvolvem o trabalho intelectual, Logo cedo, os homens pressentiram que a mulher podia competir intelectualmente com eles e desafiá-los nesse campo, colocando em perigo a sua (deles) hegemonia. Assim, a primeira providência tomada foi alijála do acesso à cultura. Desde a descoberta da palavra escrita, ler e escrever constituíram privilégios do sexo masculino. Na Antiguidade, permitia-se a cultura apenas às mulheres públicas; na Idade Média estudavam enclausuradas nos conventos, único lugar onde isso lhes era permitido; no Romantismo, escreviam romances e poesias sob pseudônimos masculinos. O voto lhes foi negado até 1932, no Brasil. Ridicularizadas e discriminadas quando revelavam, abertamente, os seus talentos, as mulheres foram galgando, lentamente, os degraus do saber. Hoje, para encurtar a conversa, são maioria em quase todos os cursos universitários e militam nas mais variadas profissões. À falência da supremacia física, juntou-se a falência da dominação econômica. Hoje, cada vez menos, elas dependem economicamente do parceiro. Não são mais sua propriedade. É duro aceitar a nova ordem. Talvez, aí, esteja a causa maior dos homicídios de mulheres. São os casos daquelas que abandonam o parceiro e são mortas. Essa assertiva não contradiz o fato de que as agressões à mulher são mais numerosas


nas classes sociais mais baixas, em que a falta de educação masculina se junta à necessidade feminina, perpetuando a figura do macho provedor - “quem dá o pão, dá o ensino”, diz o ditado -; mas a confirma: às dependentes, algumas bordoadas, à guisa de ensino; às rebeldes, metidas a independentes, a morte. Preocupa notar que a mulher que luta em busca de sua emancipação é a mesma perpetuadora dos moldes machistas na educação dos filhos. Absolve o homem que rompe o vínculo conjugal, enquanto condena a sua congênere, na mesma situação, contribuindo para a perpetuação da falácia da “honra” transferida. A saída, onde está a saída? Como sempre, está na educação. Educar as novas gerações, para entender e absorver o impacto do crescimento feminino. Talvez assim os homens consigam assimilar a mudança sexual, intelectual e econômica da mulher, sem se sentirem tão ameaçados, entendendo que ela é, antes de tudo, uma parceira. Nem melhor, nem pior que eles, apenas diferente, com individualidade própria, e não um mero objeto de posse.


NA CABECINHA DE DORA E DE OUTROS DESMIOLADOS MAIS Ceres Costa Fernandes Na cabecinha da Dora/, meu pensamento concentro/ é muito rolo por fora/ e pouco miolo por dentro (Antônio Vieira) E completa nosso grande compositor: “Se é pra enrolar de novo, pra quê que tu manda esticar”? É o que acontece com o nosso sistema penitenciário, manda prender os meliantes e os solta em cinco feriados por ano. Diz o jornal que, dos premiados este ano com as saídas temporárias, 152 não retornaram, até agora. Ano passado, deixaram de retornar 180. A soma foi de 322 fugitivos. (há controvérsias quanto a este número). Ora, sabemos que dá um trabalho danado prender 2 ou 3 malfeitores, não só trabalho como risco de morte dos policiais. A cada feriado, ficamos mais vulneráveis e assustados com o batalhão que sai de Pedrinhas para aproveitar os festejos familiares ou dos santos padroeiros. Muitos são novamente presos logo em seguida, porque voltam a delinquir assim que são soltos. Pergunto: se é pra soltar com tanta facilidade, pra que mandar prender?


O TEMPO É CIRCULAR Ceres Costa Fernandes De uns anos para cá, coisa de gente mais velha, dei de abusar o calendário, essa forma tão exata de marcar o desenrolar de nossas vidas, com eventos sucedendo-se, repetitivos e inexoráveis: Ano Novo, Carnaval, Semana Santa, Dia da Pátria, de pai e mãe, Finados e Natal, e aí vai. Mais um ano passou. E, tão rapidinho que, se não fosse o bendito calendário, nem perceberíamos a passagem dos fatídicos 365 ou 366 dias. E haja máscaras para afivelar aos nossos rostos na obrigação de estar de acordo com cada ocasião: hoje é dia de estar alegre e confraternizar, amanhã é dia de chorar os mortos ou de acender o sentimento patriótico, que anda meio apagado. Liga. Desliga. Ah, meu Deus, avoada que sou, será que, inadvertida, coloquei a máscara trocada? Ué, você tem certeza que já vai ser de novo Natal e já chegou o réveillon? Bom. Eu devo ser mesmo desligada, já que a propaganda das lojas nos vem preparando há algum tempo para esses eventos, buzinando nos nossos ouvidos a contagem regressiva: faltam “apenas” 90, 60, 30, 15...zero dias para o Natal! Há pouco, deram de anunciar o Carnatal. Acho até que já aconteceu. E eu fico com mais dúvidas: será isso um carnaval na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, ou é um Natal do barulho, com mulheres vestidas de Papai Noel fazendo strip-tease (que também é cultura), vinhos e axé music? Digamos, um tremendo bacanatal? Que coisa! Além de o ano passar correndo, ainda querem adiantar os eventos. E eu que ainda nem me recuperei das despesas das festas de fim de ano de 2017... E continuo com a minha má vontade com a marcação do tempo: só o calendário nos lembra que estamos ficando velhos. Velho? Velho é o Outro. Aquele de quem dizemos: Fulano, coitado, está acabado. Não lhe desculpamos a ruga no rosto, nem os cabelos brancos rareando ou as felpinhas ruças pintadas – menos ainda a barriga proeminente –, enquanto seguimos cultivando uma extrema benevolência com a nossa própria aparência. Não nos sentimos velhos. É que acostumamos com a nossa cara e, à custa de tanto vê-la, até simpatizamos com ela O espelho amigo, o companheiro de cada manhã, cúmplice, acompanha as nossas mínimas mudanças. Essa cumplicidade só é quebrada quando, de repente, nos tornamos o Outro de nós mesmos: na ocorrência, talvez, de um gesto simples como o de abrir uma gaveta ou um álbum e deparar com um retrato antigo que, ao avesso daquele de Dorian Gray, conserva o olhar límpido e a pele lisa. Ah, o espelho, esse inimigo. Aí, vem aquela pontada mista de decepção e saudade de nós mesmos. Pior ainda, se conosco estiver um neto, por exemplo, e ele disser, apontando a foto: Vovó, quem é esta moça aqui? E quanto às tais datas, sejamos francos, pra que serve o Natal? É para festejar o nascimento de Cristo ou a chegada de Papai Noel? Façamos uma enquete entre as crianças sobre o assunto e veremos que esta última opção ganha de goleada. E o tal espírito natalino, alguém o viu por aí? Se ele for encontrado, deve estar participando de algum "amigo invisível", trocando presentes de 1,99, a se empanturrar de peru com farofa, presunto tender, frutas secas, acompanhadas de vinho barato - pra acordar com uma tremenda azia no dia 25. No Ano Novo, repetem-se as falácias de confraternização e resoluções de vida nova. Recebemos abraços apertados de pessoas sorridentes que se mordem por dentro e nos morderiam, se pudessem; enganamos a nós mesmos com promessas de mudanças mais vãs que aquelas feitas pelos homens quando pretendem as primícias dos favores de uma mulher. Voltemos à festa familiar do Natal. E lá estamos nós, cheios de uma alegria ensaiada, um ano mais gordos, a comer pavê, em meio àquela decoração anglo-saxônica, equilibrando debaixo do braço mais um presente que nunca vamos usar. E, de repente, na sobremesa sorridente, o bocado engasga. Circulamos o olhar e sentimos a ausência de uma ou mais pessoas queridas, companheiras de tantos natais ensaiados e tantos anos novos sem graça. Um magote de infantes familiares, correndo como que perseguidos por demônios, tromba conosco, pondo em perigo a estabilidade de nosso pavê. A irritação herodiana, que quer assomar, desfaz-se ao vermo-nos reproduzidos naquele menino de bochechas coradas e cabelo repartido, assentado à força com gel ou naquela menina encapetada, que já tirou os sapatos e as meias e cuja ponta do laço do cabelo pende


desmanchada em cima do nariz. Uma onda de ternura vinda de recordações gratas desce-nos pela garganta desmanchando o nó. E pensamos: vai ver que os natais-e-anos-novos-sem-graça-passados não eram tão sem graça assim. Discretamente pigarreamos, pra disfarçar que estamos emocionados, e, de esguelha, vemos o safado do espírito de Natal passar sorrindo, já curado do pifão. Alguma coisa boa nos invade, acho que é o tal sentimento de beatitude. Com a alma bailarina, nas pontas dos pés, de sapatilhas de balé e tudo, descobrimos que a robotização do nosso ser não está completa. Há uma brecha que resiste e se alarga, um pouquinho mais, em cada um desses eventos repetitivos, para voltar a encolher nos outros dias do ano. E, assim, bendizemos Cristo por ter nascido e ao Ano Novo por chegar. É, deve ser por essa razão que ainda fazemos calendários.


PAU-DE-ARARA DO CÉU CERES COSTA FERNANDES

Foi agora, por esses dias que, abandonando a suprema modernidade de voar, decidi ir de Campinas para o Rio de Janeiro, de ônibus, em que pese a duração da viagem. Influíram na decisão a paisagem, o conforto e o estar abusada das compulsórias viagens de avião. A viagem terrestre foi muito agradável. Ônibus executivo. Carrão alto, macio, equipado de vidro fumê, ar refrigerado, água gelada, TV, vídeos, banheiro cheiroso e poltronas largas e reclináveis com apoio para os pés. E mais, paradas em lugares com restaurantes de primeira e uma venda de artesanato e doces divinos. Um céu. Nordestina acostumada a trafegar de ônibus e por rodoviárias, a serviço ou a passeio, através desse Brasil sem porteiras, acostumei-me a considerar os cujos como viveiros de gente tendente mais para o escrachado que para o formal. Não é de estranhar, pois, a surpresa com o chiquê dos coleguinhas de viagem. E com os diversos lugares vazios, o que dava para a gente se esparramar, escolhendo as poltronas A região é rica, o ônibus de luxo. Há pobres lá como cá, claro, mas as passagens dos melhores ônibus são sempre bem menores que as aéreas, além da estrada excelente. Por que a quase ausência de passageiros? Será a mania nacional de comprar tudo “em módicas prestações?” Vira a cena. Dias depois, retornando a São Luís, lá estou eu entalada em uma estreita poltrona de avião. São três de cada lado, sem poder sequer mexer as pernas - ai meu Deus, e a embolia? A distância entre a poltrona da frente e a de trás chegou ao limite máximo. Fico vendo entrar a interminável fila de passageiros vestidos com camisetas, sovacos cabeludos de fora, bermudas, chinelo, carregando sacolas, pacotes, berimbaus (!), malas enormes e crianças, muitas crianças. Rezo para que aquele gordo enorme não seja meu companheiro de fileira. Não é bulling, é medo. Pleno voo. Mastigo, conformada, as barrinhas de cereais - uma por escala - e bebo o suco de caixa de gosto indefinido. O corredor polonês entre as cadeiras nos faz encolher ombros e pernas cada vez que passa um vivente que conseguiu emergir do acocho, trombando, rumo ao banheiro, meio tonto, como galinha que saiu do cofo. Ao meu lado, braço colado ao meu, numa intimidade jamais permitida a uma estranha, a mulher, tossindo grosso, revela-me candidamente que pegou uma gripe arretada em Fortaleza. Desejo fortemente ser asiática e poder ostentar uma máscara cirúrgica. No próximo vôo farei isso, juro. Aliás, todos deveríamos fazer isso. Para supremo azar, ainda fico na cadeira à frente da porta de emergência, a que não reclina. Horas de pescoço duro, e torcicolo instalado logo na chegada. De bom, podemos dizer que chegou a hora e a vez da democratização do direito de voar. Com passagens mais baratas, divididas em até doze vezes nos cartões, todos podem viajar e levar a família inteira. Isso acaba com a elitização do avião. Já não era sem tempo, ainda mais com as estradas tão mal conservadas e perigosas. Daí, a clientela das rodoviárias passou para os aeroportos, e, com ela, seus hábitos. Há que ter o lanchinho na sacola – farofa, não, por favor - e as imensas bagagens de mão, encomendas, talvez. Estas, enfiadas na marra “nos depósitos acima de sua cabeça”, perigam, ao menor sacolejo da aeronave, cair sobre as nossas ditas. Acabaram-se as passagens de papel, o check-in pode ser feito pelo celular ou pela web. As novidades param por aí. As bagagens continuam sendo desviadas e vão apertar mais o espaço. Talvez um passageiro no colo do outro. Minha memória volteia. Onde o glamour das roupas próprias de viagem? Tailleur, frasqueira e luvas (!) eram obrigatórios. Onde as aeromoças bonitas, celebradas em samba-canção? Onde as cadeiras largas e macias? Onde as paradas com descidas para rever amigos? Onde as refeições quentes em recipientes de louça e talheres de verdade? E as bebidinhas? Bom parar por aqui. Já, já estou no rol dos contrários à popularização das viagens aéreas.


Se você sentiu saudades, esqueça, ou viaje para o exterior na primeira classe, que essas coisas não voltam mais. E, um conselho, não fale das delícias de voar na Panair. Pode denunciar que você é da raça dos dinossauros.


DESAPEGAR Ceres Costa Fernandes A moda é desapegar: de roupas, joias, móveis, casas, do marido, da família.... Enfim, você nasceu livre, seu umbigo não é amarrado ao de ninguém, caixão não tem gaveta; entra no mundo nu, sai nu, são tantos os argumentos dos textos de autoajuda, que você, alegremente, se dispõe a doar, vender (aviso: tá difícil), botar fora, libertar-se desse peso que amarra a sua vida e lhe impede de ser feliz. Chega de travas, chega de âncoras. Armada de desprendimento, preparo-me para a sessão de desapego de coisas amontoadas e agregadas à minha vida. Ah, esqueci-me de dizer que vou de mudança da casa que construí, juntamente com meu companheiro, pedra por pedra ou tijolo por tijolo, há mais de vinte e cinco anos, coisa de nada, velhos que estamos para tanta casa. É de somenos acrescentar que esta casa abrigou filhos e netos, reuniu amigos em muitos dias barulhentos de churrasco, quando éramos mais jovens e corriam cantorias desafinadas, acompanhadas de violão. Um grupo unido; alguns já transitaram para outra esfera. Outro detalhe desimportante foram os aniversários dos netos, que duravam o dia inteiro, com direito a jogos na piscina, gincanas, almoço, e os parabéns no final da tarde; todos banhados, de roupas arrumadas, e nós descadeirados e exaustos. Ora, mãos a obra! Onde encontrarei lugar para este móvel do século XIX, que pertenceu à minha sogra, que o usou desde o seu casamento? Desapega. E esta cama, em que dormiram, nasceram e até morreram pessoas de várias gerações? E este lustre antigo, art nouveau que não combina com nada da morada nova? Ora, desapega. E a cristaleira, feita de armário de pharmácia, comprada nos brechós da zona do meretrício? Desapega. Os anjos e os santos de madeira? Irão de qualquer modo. Se não houver lugar para a corte celeste, vão pra debaixo da cama. E as tralhas, que a gente arrecadou nas viagens, recordação de lugares exóticos, emoções novas, tão bonitinhas, chumbo dentro da mala, pagando excesso, nos fazendo tropeçar, com licença, desculpe, com as sacolas, em escadas de avião, Já disse! Desapega! Ai, meu Deus. E as panelas de barro do Espírito Santo, pesando cinco quilos cada uma. Não? Mas como fazer moqueca de peixe?... Tá bem. Já acostumada com a pauleira no lombo, me sentindo forte, vou para os livros. Ora, direis, livros. São só duas salas com estantes. Há que enxugar. Depois que eu morrer, farão, mesmo, uma grande fogueira. Não vou mais ter tanto tempo de vida para ler ou reler tudo isso. As caixas estão à espera. Enciclopédias, clássicos de coleção, livros de estudos que me enfadaram, tudo bem. Saramago, Graciliano, Eça, Fernando Pessoa, Machado, Padre Vieira, João Lisboa, Souzândrade, Umberto Eco, esses e muitos mais, com toda a fortuna crítica que reuni, não!!!. Maranhense ilustres, os grandes poetas, poetas jovens, boto e tiro das caixas para doação. Assim, boi não dança! Desapega. É duro. Toda uma vida, desde jovem, adquirindo livros, são amigos, e agora... Console-se, a casa cumpriu a sua missão, abrigou filhos, fez a parte de casa de avós, reuniu amigos em patuscadas, congregou grupos para tomada de decisões, comemorou datas, fez alguns dos natais mais deliciosos das nossas vidas. Partiremos na sua época mais bonita, os ventos gerais, as plantas explodindo, as buganvílias tal qual imensos buquês multicoloridos, os beija-flores beijando as flores, os lagartos lagarteando. As ararinhas comendo as florezinhas do ipê e da mangueira, em arrulhos com os pardais, que voam por nossas cabeças em grande desrespeito. Ufa!! Não me venham falar em desapego!!


POESIAS & POETAS


IRANDI MARQUES LEITE HOMENAGEM A ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Autores: Irandi Marques Leite e Mariana da Hora Montelo

I A história navegou no fundo da alma, Explodiu corações, Com a flauta tocando melodias e canções, Pelos becos e ladeiras, Das memórias e tradições. II Maria Firmina anunciou: As escavações teóricas, Nos escombros dos poemas, Encontraram uma pedra preciosa. Adormecida ao lado da serpente, E do Rei Sebastião. A Academia Ludovicense, De São Luís do Maranhão. III A Academia Ludovicense nasceu, Nos papiros dos Poetas da eternidade E nas letras que tocam os corações. A poesia vai sorrir com liberdade, Um sorriso sutil, Com a cara do Brasil. IV Ilha bela, ilha do amor, ilha da paixão. Athenas Brasileira, poesia, mistério, emoção. Nos versos dos amores, na magia dos primores. As palavras bailam enfeitiçadas e ritmadas, Pelos tambores dos terreiros, nas noites. V Escravos e Índios ouviram os cantos, Da liberdade, ecoando em infinitos rincões, A toada de Maria Firmina para o mundo, Nas águas, brisas e encantos, As atitudes tangenciaram o horizonte do justo. VI Upaon-Açu, ilha grande dos Tupinambás, Reconhecida além-mares, Por casarões e poetas renomados.


Flor do Maranhão A viagem das almas enamoradas, Na passarela da imaginação. No espelho místico é revelada, Inspiração, dialética e assombração. VII Maria Firmina dos Reis, Com sede do saber buscou conhecimento no infinito, Mergulhou no tempo e no espaço. Nos mistérios da vida encontrou a Academia, Florida e formosa, Majestosa, Perdida nas esquinas da ilusão. VIII Maravilhoso é a lembrança do passado, Que vibra na sonoridade das toadas, A policromia de cores reflete esperança, Gotas nostálgicas no tempo e espaço, O imaginário se transforma em real E decanta. Na Academia a arte, literatura e poética se enamoram, Salve a Academia Ludovicense! Salve o brasão! Da Academia de Letras, De São Luís do Maranhão.


AYMORÉ ALVIM O HOMEM ANIMAL Tempos antigos Modernos tempos Tempos que vão E tempos que vêm, Porem nada muda. E a selvageria Do ser primitivo, Nos dias presentes, Em nós continua. Ao longo das eras Aquele homem fera Apesar do seu tempo Vai desafiando. Enquanto as feras Ao longo das eras, Dos meses, dos anos. Vão se humanizando. A morte é presença De noite e de dia Na cidade e no campo, No mundo afinal. É esta a herança Herança maldita Ainda presente No tempo atual. Se mata no ventre No berço, na vida, E não satisfeito Também no final. Assim vai vivendo Ao longo dos tempos Pra nossa tristeza O homem animal. Não perca a esperança, Nem vá lamentar. Quem sabe, um dia Talvez se verá, Num futuro próximo, Um homem que saiba Respeitar a vida, Viver e amar.


SEMPRE AOS DOMINGOS. Aymoré Alvim, APLAC, AMM, ALL. Saudades! Nostalgia! Só lembranças! De quando juntos, nos domingos lá em casa, Quando as conversas fluíam entre risadas, Das piadas inocentes, Agradáveis. Se conversava com Mó Sobre a história Dos nossos tempos Vividos em Pinheiro. Lá vinham Tate e o Zé Paulo reclamando De que a gente só falava do passado. Mas era esse o nosso assunto preferido Com o qual nos deleitávamos o dia inteiro. Assim era dona Mó. Sempre aos domingos, lá em casa. Com amigos e parentes convidados E dona Inês muito contente conversando Com todos que sentavam ao seu lado. Tudo era festa, meu Deus! Só alegrias! Quantas saudades Desses tempos já passados. A VELHA DAMA Aymoré Alvim, ALL, AMM, APLAC. Sabes que gosto de ti. Lembro-me com que carinho me acolheste, No verdor, ainda, da minha adolescência. Mas, que posso fazer por ti? Nada ou quase nada. Hoje eu vejo com tristeza Que o mar que te rodeia Desmancha-se em lágrimas aos teus pés. Ah!, Minha nobre e velha senhora quatrocentona. A brisa mansa que sopra do Atlântico Já não traz o frescor que permeava Com a sua aragem teus velhos casarões. Agora, espalha apenas o mau cheiro Que do teu corpo exala. Como gosto de ouvir tuas histórias. Dizem que eras bela, radiante e verde. Criada por índios, Cobiçada por ingleses e espanhóis Amada por franceses e portugueses E por holandeses deflorada.


Eras quieta, fascinante, linda,. Cantada por poetas e seresteiros, Criando os filhos que em ti eles deixaram. Envelheceste. Teus filhos não cuidam de ti. Aproveitam-se apenas da tua herança. Teus becos, vielas e ruas estão vandalizados. Tuas praças já não acolhem mais. Afastam. O medo das tuas antigas carruagens Puxadas por mulas sem cabeça Transformou-se em pavor. Para os teus filhos. O que infligiste no passado Àqueles que esperavam de ti guarida, Recai, agora, sobre os que abrigas. O chicote transformou-se em balas Que fazem cair teus filhos Que diariamente choras. Agora, estás só, desamparada, Vestes rasgadas, mal cheirosas, agredida. Os que dizem querer cuidar de ti, te proteger, Apenas te exploram . Ah! Querida e velha dama, Que futuro te espera? Poderás ter, ainda, uma sorte melhor


4 POEMAS DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Publicado em julho 16, 2018 por Carvalho Junior

Ana Luiza Almeida Ferro (São Luís/MA). Promotora de Justiça, escritora, poeta e conferencista. Tem Doutorado em Ciências Penais (UFMG). Autora de vários livros, dentre os quais Versos e anversos (2002, em coautoria), Quando (2008, Prêmio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, Itália), O náufrago e a linha do horizonte (2012, Prêmio Talentos Helvéticos-Brasileiros 2017, categoria “Melhores livros de poesia”) e 1612 (2014, Menção Honrosa do Prêmio Pedro Calmon – IHGB e Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2015). É membro da Academia Maranhense de Letras. QUANDO Quando a última luz se apagar a noite eterna será meu sol as estrelas piscarão no atol e eu lá, pequena, a cismar. Quando a última voz se calar ouvirei o silêncio dos ressentidos soltarei o grito engasgado dos contidos em meio à solidão do mar. Quando o último perfume se esvair buscarei a fragrância das flores com o cheiro de mil amores e me porei, surpresa, a sorrir. Quando o último sabor se perder encontrarei o gosto da vida no doce aceno da partida e degustarei as delícias do ser. Quando o último toque se findar sentirei a chama que me consome apalparei a frágua da minha fome e descobrirei o verdadeiro lar. Quando a última porta se fechar daquele parapeito da janela do tempo verei a vida passar em contratempo e me olvidarei nas asas do sonhar. PROCUREI-TE Procurei-te no silêncio do lago lá o tempo adormece num canto lá o céu corteja a terra lá a brisa se faz de afago. Procurei-te na caudal dos rios


na folha levada pela corrente na vida que corre sem rumo nos meus pensamentos arredios. Procurei-te nas ondas do mar que se elevam contra os rochedos que se batem contra os cascos que morrem na praia, sem lar. Procurei-te na profundeza das águas onde a luz não tem refúgio onde a existência não tem cor onde perenes repousam as mágoas. Procurei-te na limpidez da fonte das vãs paixões em torrente dos afetos esvaídos de amanhã dos amores que não galgam o monte. E lá te encontrei. E lá te perdi. O NÁUFRAGO À espera do chamado, encharco o meu pensamento do que emerge de dentro, do que submerge de fora dos ventos que colho, das entranhas que alimento borbulham ideias no caos oceano do eu em mora. Qual náufrago agarrado à tábua, órfão de seu barco contemplo as nuvens, que me ignoram e passam afundo sob os pedregulhos com que atiro e arco torno à superfície das águas que sitiam e enlaçam. Ah, quisera eu ser levada por ondas encrespadas à ilha de Morus, do nunca e de depois-de-amanhã aonde assomam sereias que não querem ser fadas. Mas a chuva cai e os sonhos enrijecem no sangue a carruagem de Apolo procura os domínios de Pã e eu me debato embalde, e mergulho no mangue. POESIA NETUNIANA É a gota liberta da taça cheia que transborda incerta para o lago


da mente. É o vinho inebriante das vinhas da boa ira que flui pulsante pela corrente do espírito. É a cachoeira do alto da montanha inerte que toma de salto as torrentes do coração. É o rio turbulento sem margem de erro que desemboca sedento no oceano d’alma. É o mar incontinente empurrado pela onda que invade inclemente a praia do eu. A poesia é a gota liberta é o vinho inebriante é a cachoeira do alto é o rio turbulento é o mar incontinente. A poesia é água benta que irriga que inunda que encharca perpetuamente os campos da palavra.


TRÊS POEMAS INÉDITOS DE RICARDO LEÃO POSTADO: 25 JULHO, 2018 JEAN NARCISO BISPO MOURA HTTP://WWW.LITERATURAEFECHADURA.COM.BR/2018/07/25/TRES-POEMAS-INEDITOS-DE-RICARDO-LEAO/

CANÇÃO DE NINAR Amanhã, bem cedo, acordarei e escreverei poemas, E despertarei mais crianças do sono da consciência. Direi a elas, do fundo da floresta das palavras virgens, Que o tempo é de vigília e permanente assombro. Porque aves de rapina vêm engolir nossos sonhos, E querem nos roubar até o que ainda não temos. Por muito tempo velei o sono tranquilo das crianças. Mas urge acordá-las, enquanto ainda é tempo. Porque ao fim do dia temo que os lobos e hienas, Com uivos e risos, devorem toda a existência. O tempo não é mais de palavras leves e serenas. O tempo é de palavras duras, ásperas e intensas. Por isso, acordarei mais cedo, por entre as feras, E despertarei crianças do sono da consciência. A ÚLTIMA SUBTRAÇÃO Alguma coisa falta Aos mortos sem os lábios. Talvez a inútil graça De quem ri de soslaio. Quem sabe uma adaga Ao fim de outro adágio. Um grito meio peralta Entre o vício e o plágio. Quem sabe outra fralda Após mais um desmaio. Uma mesa bem farta Com que sirvo o lacaio. Talvez a morte exata De um chinês ou malaio. Ou mesmo a alma em asma De antigos dinossauros. Talvez o sexo em magma De amantes bem devassos. Talvez um gozo em Málaga. Talvez a mão no mastro. Alguma coisa brada No pó dos mortos flácidos. Uma voz muito fraca Que ouço após um naufrágio. Alguma coisa parca Que é a soma do escasso Com que conto as larvas Que devoram o abstrato.


Alguma coisa vasta Que finjo ser orgasmo, Logo após uma farra Entre o coito e o espasmo. Alguma coisa casta Que penso ser o falo De um deus que se castra Ao som de todo escárnio. Alguma coisa gasta, Que logo entra em colapso, Com a angústia clássica De mortos bem honrados. Alguma coisa vaga Que leio nos decálogos, Com a saudade laica Dos mais rudos centauros. Alguma coisa ingrata Que lembra até o diabo, Com seu riso de fada E os olhos bem estrábicos. Alguma coisa em brasa Que vem dos holocaustos, Com a fúria das fardas E o inferno dos átomos. Os mortos são tua saga, De vasto anedotário. Ainda ontem, em meio às traças, Ouvi o som de seus passos. O ILUMINADO Ouvi falar esses dias Que o bom mesmo é escrever poesia em prosa Que os sonetos e rimas estão velhos e fora de moda E os poetas são os últimos espécimes De uma antiga e banida estirpe de artistas da palavra Que já entrou em extinção há vários séculos Ou mesmo há milênios, Quase ao mesmo tempo Que os dinossauros Ou as testemunhas de Jeová Às portas do dilúvio. Eu, contudo, continuo tangendo os meus céticos instrumentos Toscos e ultrapassados E compondo poemas destituídos De toda glória e encanto Ante os incrédulos de todo tipo Da enorme plateia Desses tempos estranhos De ídolos de barro E versos de antanho


Sem chaves de ouro, Soldo ou salário. No entanto, ouvi dizer esses dias Que existe um poeta capaz de arrebatar multidões, Que os seus poemas são feitos de metáforas de outro mundo, De sons irados e ritmos da hora, E que cortejos de fãs desesperados e loucos Seguem o pó de seus passos e rastros Ao longo de uma high-way de destinos destroçados, Acompanhados por guitarristas cegos, surdos e mudos Que entoam cânticos e salmos apocalípticos. Como não tivesse nada o que fazer Resolvi então seguir aquela procissão de idiotas, Almas penadas e múmias paralíticas Rumo ao horizonte infinito daquela high-way Apenas talvez para ouvir os sábios ensinamentos Do vate perfeito e extraordinário. Ao chegar ao fim da longa jornada Sentei-me sobre um confortável chão de palha E deparei-me com um templo de pórticos abstratos Ante os quais os meus olhos maravilhados Contemplaram enfim a face terrível do poeta iluminado Em estado de transe alucinatório. Então cheguei-me aos seus pés em posição de lótus E indaguei, entre gagueiras e rodeios, Qual o segredo de seu estilo, técnica e poética E o significado de todo o cosmos. Então ele se levantou, e com a mão suspensa, Mostrou o dedo médio, e disse: “Vão à porra todos vocês!”. Então abrimos os olhos Como que despertados do sono da ilusão E houve luz em toda criação. Ricardo Leão é o nome literário de Ricardo André Ferreira Martins, nascido em 2 de março de 1971, em São Luís do Maranhão. Participou ativamente da vida literária maranhense da década de 1990, em grupos literários, como o Poeme-se, Curare e Carranca, com outros pares da cena cultural de sua terra natal. Foi premiado, entre outros, no Festival Maranhense de Poesia Falada (Menção Honrosa), Prêmio SESC de Poesia, Prêmio Literário “Gonçalves Dias” (primeiro lugar na categoria Poesia e em segundo na categoria Engenho e Arte), este último em sua primeira e única edição. Em 2012, foi o vencedor do Prêmio de Ensaio e Crítica Literária da Academia Brasileira de Letras, com o livro Os atenienses e a invenção do cânone nacional, resultado de tese de doutorado. Atuou também em vários grupos literários e artísticos de São Paulo, fundando em Rio Claro (2008) o Grupo Auê de Cultura e Artes, em parceria com escritores e artistas locais. Atualmente é Professor Adjunto do Colegiado de Letras da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Campus de Jacarezinho. Ao longo de sua carreira literária, publicou os seguintes livros: Simetria do parto (2000, poesia, Editorial Cone Sul), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002, ensaio, SECMA), Primeira lição de física (2009, poesia, SECMA), Os dentes alvos de Radamés (2009, 1ª. Edição, SECMA; 2016, 2ª. edição, pela Benfazeja), No meio da tarde lenta (2012, poesia, Paco Editorial) e Os atenienses e a invenção do cânone nacional (2011, 1ª. Edição, Ética; 2013, 2ª. Edição, Instituto Geia), A plumagem do silêncio (2015, poesia, Nobres Letras), Minimália ou O Jardim das Delícias (2017, poesia, Penalux).


FERNANDO BRAGA Poema Insulano Ao 195º aniversário da Adesão do Maranhão à Independência do Brasil. 7 de setembro de 1822 – 28 de julho de 1823. Vejo agora vejo e não estou sonhando que Dom João, o Rei 4º, e bem-andante, não terá o encoberto de Dom Fernando que tem ferro e ferrão sem ser infante. Não é aqui definitivamente o Quinto Império da prédica do Bandarra, sapateiro profeta e profano, nem tampouco é aqui a Corte de Queluz que submergiu nos encantos... Porque a amplidão dos Lençóis é maior que os campos de Alcácer- Quibir. Não há mais na Ilha vinho para os vivos e flores para os mortos, e nem canoas para as travessias. Somente o sol liberta-se de seu claustro a cair vermelho por detrás da tarde, ante meus olhos desarmados e atracados nos cais de minh'alma. O promontório não cresce mais no verão e apodrece num montão de pedras a beijar entulhos e mirantes, e telhados verdes de chuvas. Homens e paralelepípedos despencam dos becos e vielas por cumeeiras sem escápulas, territórios de artistas e pensadores que secam as vísceras ao sol do meio-dia. Todos são poetas até prova em contrário, e nada mais existe escrito a carvão, ou a caco de telhas, nos muros e nos planos das calçadas. As janelas desconjuntaram-se e as rótulas vazias ficaram nos peitoris sem olhos e cotovelos. As bilhas secaram como os peitos das mães de África, e os quintais despomatizaram-se, mas as marrecas continuam em seus baixos vôos... As portas e as janelas, sem mais postigos, foram literalmente fechadas e presa para sempre...


E lá no fundo do corredor, por um aleijão na argamassa, uma réstia de luz vinda do poste da praça, ficou, antes de tudo ser, como realmente o foi, e para sempre... Em antigas casas, de gestos portugueses, plantaram-se às portas e às janelas, não alecrins, e jarros com flores, mas bugigangas do charco, e chinesices, que nada dizem à memória dos ilustres mortos; nas igrejas não têm mais missas e réquiens cantados, nem mais as homilias de Padre Mohana nas manhãs de domingo, e nem os cânticos do ‘Te Deum’, e nem mais rezas à noite, e ladainhas... Os velhos sobrados, depois de tombados, de tantos desamores e maus-tratos, começaram literalmente a cair, por não poder esperar a briga dos herdeiros pelo inventário; são esses mesmos sobrados, esburacados e enfeados, cujos motivos lusônios, foram todos furtados, a trocarem os adereços de endereços, além de serem invadidos por devassas trepadeiras, que se acoitam pelas paredes e sacadas de ferro: que belíssimos jardins de inverno! Os palacetes da média burguesia, com jardins, e terraços, e gradis bordados, viraram espaços de defuntos, e dores, e, ao invés dos rasos risos do passado, vivem hoje dos choros das carpideiras, e do tremeluzir dos círios acesos, e do cheiro adocicado de cravos e de coroas de flores. A Ilha que um dia foi rebelde, de alma pura e corpo sujo, hoje mais se parece uma fotografia esquecida numa mesa de redação, como se fosse um grande abrigo com pátio e poço a desmanchar-se em caliça, onde vivem indigentes, e mais os jubilados da sorte, e vencidos e degenerados, personagens de histórias de ficção e de tratados de sociologia que resolveram sair das páginas em que viviam, para expulsar seus autores e levá-los ao exílio e à morte, e se aboletarem na podre carcaça da Ilha,


como almas calcinadas; pobres personagens sem pessoas, aos poucos defluem como resíduos para os muitos portos, ao redor da Ilha, para serem diluídos no sal e expostos ao sol e ao céu!... Não há mais pregões nas ruas, nem cofos, e paus-de-carga, nem mais comícios políticos no velho Largo do Carmo, e algaravias de estudantes... Nunca mais aquelas brigas panfletárias de morfologia e sintaxe, e nem aqueles filólogos a discutirem se o nome da Cidade, provindo da variação latina de Ludovico, seria mesmo com s, ou z. Nunca mais bondes, vitrinas, saraus e retretas... e pronomes bem-colocados, e verbos conjugados certos, no tempo da carne e no modo do vinho. Mas sempre na Ilha há de existir a crueza da língua viperina, em punir com sentenças extramuros, inocentes, principalmente, com injúrias, calúnias, infâmias e difamações, como se o abecedário predicado por Vieira continuasse a explodir no tempo, dando ênfase à letra M. Diz o hino libertário que “... caiu do invasor a audácia estranha, e surgiu do direito a luz dourada...” E a Ilha ficou sem mais ser! E a história se fez escrita, e ficou na cidade, na cidade que tem nome de santo, e de rei, e de menino. E o passado se fez de rima na poesia encardida nos azulejos, e na saudade de tudo quanto à vista alcança, e na lembrança do que ainda se desdobra, e na inteligência de crânios polidos que rolam à-toa ao rés-do-chão. Morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas! ________________ *Fernando Braga, in “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009. ‘Prêmio Literário Gonçalves Dias’, da Secretaria de Cultura do Estado. Ilustração: Fotos do ‘Cento Histórico’ de São Luís.


CANTO DE AMOR A UMA ILHA QUE DO AMOR JÁ FOI* Gostaria de viver em Macondo numa casa de vidro e ser amigo de Arcádio Buendia para aprender com ele desaforadas imaginações; gostaria de ficar por algum tempo em Pasárgada, para aprender a inteligência poética de Manuel Bandeira e não apenas o relato de uma vida; gostaria depois de chegar a uma certa Ilha, não aquela de espaços e planos temporais, de uma cosmovisão de máquina do mundo; e também não à Ilha Lusíada dos Amores, de José Malhoa, natural e lírica, de signos e em cores; mas uma outra Ilha que ao sol afundou e que não é mais o que fora e era, mas que ainda no meu inconsciente vive como nas histórias que Lenir me contava..


4 POEMAS DE HAGAMENON DE JESUS Publicado em agosto 1, 2018 por Carvalho Junior

Hagamenon de Jesus (São Luís/MA). Poeta e ensaísta brasileiro. É o autor do livro THE PROBLEM e/ou os poemas da transição. A presente seleção de poemas foi publicada no caderno/antologia QUIBANO: 15 poetas do Maranhão. (Org. Carvalho Junior & Antonio Aílton). a flor do design a flor do design é a mesma, a flor do design, é terno furor é terna forma e cor (que jamais esperas do desespero) a flor do design é sempre a mesma flor

Esfinge Desimportância [A um antigo Cabaret] O amor também é uma possibilidade de ausência arranha as margens do que posso, do que sou Ele singra este momento, esfinge desimportância, e desintegra, o padrão fashion dos ternos valentino o amor ainda é uma derrapada de ferráris, precisa ser. O amor ainda faz do arbítrio uma sina ou (pelo menos) escorrega nas sarjetas o pé tardio que buscou consolo na Faustina Coleção


Ao que fez de mim mulher colorida e aberta asa delta deixou de mim no seu quadro flores, e minha queda, cores espalhadas pelo chão. E eis-me aqui, colorida e sem vida, borboleta de coleção. Atualmente lâminas são a minha principal característica, todas elas: a resposta, rápida o sarcasmo, ríspido o cartão a faca do bandido a placa-mãe do concorrente, do inimigo lâminas estão agora no horizonte estão cortando os olhos, a fonte de toda forma terna e ardente, são mais do que giletes ou barbeadores de cabos transparentes são a nossa forma de ser gente.


DILERCY ADLER

MARIO(S) Dilercy Adler Eterna saudade do Mario primeiro -Mario o pai!deixou saudade no Mario - filho verdadeiroverdadeira saudade deixou!... deixou suor e lágrimas também! mas o caminho saindo do ninho para muito além traçado não está só se faz seguindo Mario sai sozinho à sombra dos moinhos sem pá... sem pai!... segue Mario! vai!!!... saudade!... 17/08/2018


TIRANIA Dilercy Adler O meu tempo me trai me deixa vazios difíceis de digerir me impõe silêncios dos quais queria fugir e não me dá respostas quando eu preciso decidir!... e o tempo se impõe... tiranamente dita -o nadana urgência das horas e me tira a paz que a calma poderia me dar na dádiva da decisão! ... o tempo na urgência das horas me aprofunda a dúvida me deixa insegura e de quebra -o medoo grande medo de errar... mais uma vez!!!


ROSEMARy REGO


4 POEMAS DE ROSEMARY RÊGO Publicado em agosto 23, 2018 por Carvalho Junior Rosemary Rêgo (São Luís/MA). Poeta brasileira (em memória), com formação na área de Letras pela Faculdade do Maranhão — FAMA. Lançou os livros de poesia O ergástulo gozo da palavra (FAMA, 2004) e Pérolas ao tempo (Edição da autora, 2010). A escritora deixou a dimensão física deste mundo no dia 23 de agosto de 2017. Esta publicação é um tributo à pessoa e poesia de R.R. que há, exatamente, 1 (um) ano, pintou a estrela da saudade nas páginas da nossa literatura. |Seleção dos poemas: Bioque Mesito|. CANÇÃO ONTOLÓGICA PARA SÃO LUÍS Sol de setembro o sorriso da cidade abre em feição ontológica a cidade impregnada nela mesma relíquia do tempo as horas o devir os dias existem neles a cidade se edifica pedra do tempo PSICOLOGIA DO TEMPO O acaso é a metalinguagem do tempo obra-prima de Deus o tempo não morre renasce Comemos pizza e brigadeiro como quem jamais envelhece O tempo plantou em nós o devir, transformação única de nossa história que um dia escrevemos no asfalto a giz de carvão. Ninguém Leu nossas palavras A flor que jogamos no tempo desabrochou!


REMINISCÊNCIA Sente minha carne a dor da morte pela ida dos meus dias cobertos de vime Silenciaram os Anjos que sacudiram a minha alma diante do Leviatã. ABRIL Ontem flores germinavam sobre mim O onírico prazer de esculpir a vida me transformou no fruto do carbono. O duro ofício de lapidar o pão carrega nas pálpebras O abominável cansaço da alma. Amanhã que seja cedo ou tarde sorrisos repousarão Sobre meu cadáver.









POR UMA ANTOLOGIA LUDOVIcENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)


JOAQUIM MARIA SERRA SOBRINHO – 20 de julho de 1838 / 29 de outubro de 1888 JOAQUIM SERRA (J. Maria S. Sobrinho), jornalista, professor, político, teatrólogo, nasceu em São Luís, MA, em 20 de julho de 1838, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 29 de outubro de 1888. É o patrono da Cadeira n. 21 da ABL, por escolha de José do Patrocínio. Seu pai, Leonel Joaquim Serra, militava na política e no jornalismo, redigindo O Cometa (1835) e a Crônica dos Cronistas (1838), em São Luís. Estudou humanidades na província natal. Entre 1854 e 1858 esteve no Rio de Janeiro para ingresso na antiga Escola Militar, carreira que abandonou, voltando a São Luís. Sem mais a preocupação de ir em busca de um diploma de faculdade, iniciou-se muito moço no jornalismo e na poesia. Seus primeiros escritos (1858-60) saíram no Publicador Maranhense, dirigido então por Sotero dos Reis. Em 1862, com alguns amigos, fundou o jornal Coalisão, que advogava em política o Partido Liberal. Em 1867, fundou o Semanário Maranhense. Foi professor de gramática e literatura, por concurso, no Liceu Maranhense, deputado provincial (1864-67), secretário do Governo da Paraíba (1864-67). Ainda residia na província quando foi apresentado literariamente à corte por Machado de Assis numa de suas crônicas do Diário do Rio de Janeiro (24.10.1864). Em 1868, fixou residência no Rio de Janeiro. Fez parte das redações da Reforma da Gazeta de Notícias, da Folha Nova e do País, foi diretor do Diário Oficial (1878-82), de que, com dignidade, se exonerou por divergir do gabinete de 15 de janeiro de 82. Deputado geral (1878-81) pelo Maranhão, foi um combatente tenaz na campanha abolicionista, "o publicista brasileiro que mais escreveu contra os escravocratas", no dizer de André Rebouças. Escreveu também para o teatro, como autor e tradutor. Suas peças, entretanto, ao que parece, nunca foram impressas. Adotou vários pseudônimos: Amigo Ausente, Ignotus, Max Sedlitz, Pietro de Castellamare, Tragaldabas. Alguns dias após seu sepultamento, Machado de Assis enalteceu, numa página, o amigo, o poeta e o jornalista combatente: "Quando chegou o dia da vitória abolicionista, todos os seus valentes companheiros de batalha citaram gloriosamente o nome de Joaquim Serra entre os discípulos da primera hora, entre os mais estrênuos, fortes e devotados."120 Obras: Julieta e Cecília, contos (1863); Mosaico, poesia traduzida (1865); O salto de Leucade (1866); A casca da caneleira, romance de autoria coletiva, cabendo a J.S. a coordenação (1866); Versos (trad.), de Pietro de Castellamare (1868); Um coração de mulher, poema-romance (1867); Quadros, poesias (1873); Sessenta anos de jornalismo, a imprensa no Maranhão, 1820-80, por Ignotus (1883). A MISSA DO GALO121 Repica o sino da aldeia, Troa o foguete no ar! O rio geme na areia, Na areia brilha o luar. Quantas vozes, que alegria! O povo da freguesia Corre em chusma, folgazão. No caminho arcos de flores, Por toda parte cantores, Folguedos e agitação! Ali no largo da ermida O tambor toca festeiro, Se apinha o povo em redor; E a igrejinha garrida, Tendo defronte um cruzeiro, É toda luz e fulgor! Vêm do monte umas devotas, Trazem o rosário na mão; Uns camponeses janotas, Calças por dentro das botas, Seguindo o grupo lá vão! Que raparigas formosas, Cheias de rendas e rosas 120 121

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=900&sid=225 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=901&sid=225


A ladeira vão subir! Falam cousas tão suaves, Parece gorjeio de aves O que elas dizem a sorrir! A brisa sopra fagueira, Brincando na juçareira E vai o rio enrugar; Chegam de longe canoas, Os barqueiros cessam as loas, Que modulavam a remar! O sino da freguesia, Da branca igreja da aldeia, Cada vez repica mais; O povo corre à porfia, A capela já está cheia, Soam trenos festivais! Porque produz tanto abalo Esta festa sem rival? É hoje a missa do galo, Santa missa do Natal! ..................................................... Este festejo tão lindo Que grande mistério encerra! Poema de amor infindo Que o céu ensinou à terra! Faz-se humano o ente divino, O Eterno se faz menino, Vem viver entre os mortais! Lei cristã, santa e formosa, Salve crença majestosa, Que eu recebi de meus pais! .................................................... (Quadros, 1873) A MINHA MADONA Alva, mais alva do que o branco cisne, Que além mergulha e a penugem lava; Alva como um vestido de noivado, Mais alva, inda mais alva! Loira, mais loira do que a nuvem linda Que o sol à tarde no poente doira; Loira como uma virgem ossianesca, Mais loira, inda mais loira! Bela, mais bela que o raiar da aurora Após noite hibernal, negra procela; Bela como a açucena rociada Mais bela, inda mais bela! Doce, mais doce que o gemer da brisa; Como se deste mundo ela não fosse... Doce como os cantares dos arcanjos, Mais doce, inda mais doce! Casta, mais casta que a mimosa folha Que se constringe, que da mão se afasta, Assim como a Madona imaculada Ela era assim tão casta!...


JOSÉ AUGUSTO CORREIA 3 de agosto de 1854 / 16 de fevereiro de 1919 Nasceu em São Luis do Maranhão, aos 3 de agosto de 1854 e faleceu na mesma cidde aos 16 de fevereiro de 1919. Filho de Frederico José Correia e Inês Pessoa Correia. Lecionou no Seminário das Mercês, e nos famosos colégios de José Ribeiro do Amaral, de Rosa Parga, de Raimundo Tolentino Lisboa Coqueiro, e de Luiza Messina Sá Correia. Funcionário publico exemplar, desempenhou comi9ssões importantes como as da Delegacia Fiscal e Inspetor da Alfnadega.Colaborou na imprensa local, notadamente na “Pacotilha” e no “Jornal” e em várias folhas literárias. Na Acdemia Maranhense de Letras foi fuindador da Csadeira 17, que tem como patrono Sotero dos Reis.122 Bibliografia: Estudinhos de Ligua Portuguesa (1883); Graziela (s.d.); Pontos de aritmética escritos e compilados (1885); Resumo de Ágebra (1886); inclui-se um sem numero de artigos sobre filologia e outros assuntos publicdos em jornais e revistas locais. GRAZIELLA123 Ouvi-me, pois, vós, que sabeis o que é a desdita; vós, que sabeis o que é o infortúnio. Era em s. Luis do Maranhão. De mãe carinhosa, de paiextremoso nascera Graziella aos 24 de julho de 1880. Como si, depois de viagem longa e tormentosa, houvesse avistado a terra desejada, suspirando pelo repouso qie ias encontrar, e recordando ainda com horror os trabalhos, por que passaras; assim, pobre mãe, ficaste, quando livre de perigo, pudeste pela vez primeira beijar, abraçrar, ver e rever o entezinho adorado, que acabaste de dar à luz. Ontem eras uma descuidosa donzela; não te preocupavam senão teus adornos. Ontem a música, o piano, a que com gosto te entregavas, era teu recreio, era teu entretenimento habitual. Ontem o futuro para ti era o presente; e se uma vez ou outra te lembravas dele, era que pensavas num dia aprazado d´alegria, onde ias fruir algumas horas felizes. Hoje teus olhares se contram com os de um mancebo, estremeces, ficas confusa. A que pena é dado descrever a sensação, que expedimentas? A qual o reproduzir o que se passa em ti nesse momento? Ele solicita tua mão; tu lha concedes – eis-te noiva. Algum tempo depois, és conduzida à presenã de um sacerdote. Celebrada a cerimônia, esi-te esposa. Desse momento em diante contraíste novos deveres: tua vida é outra. Ao nome de donzela sucedeu o de esposa, e a este se vem brevemente juntar o de mãe. És mãe, tens teu tesouro junto de ti, velas por ele dia e noite. 122 123

MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 2008, obra ciatada, p. 71-73 Graziella. Romance. Tip. De A. P. Ramos d´Almeida & Cia. Maranhão, s.d., 60 p.


MANUEL ÁLVARO DE SOUSA SÁ VIANA124 14 de agosto de 1860 / 1922 Nasceu em São Luis aos 14 de agosto de 1860 e faleceu em 1922 (?). Homem de profundo saber juridico, uma das glorias do rireito brasileiro. Internacionalista acatado pela erudição e senso jurídico demonstrados no curso de longa existência dedicada ao estudo e ao ensino. Catedrático da faculdade Livre de Direito do Rio de janeiro e sócio da Associação de Advogados de Lisboa e dos Col´gios de Advogados de Lima e la mPaz. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio correspondente da Academia Maranhense de Letras, patrocinando, posteriormente, a Cadeira n. 25, fundada por Oliveira Roma. Bibliografia Esboços críticos da faculdade de Direito de S. Paulo (1880); Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1894); Traços vbiográficos de Augusto Teixeira Mendes (1895); Trabalhos forenses (1899); Arbitragem internacional (1901); Congresso jurídico americano (1902); Das falências (1907); elementos de Direito Internacional (1908); De la non existence d´um droit international americain (1912); Discursos e conferencias (1916); L´Arbritage nu Bresil (1917); Discurso de paraninfo (1920); O trafico e a diplomacia. A LEI MORAL125 Por mais profundo que seja o salutar trabalho das mães, a sobra desse amor que Victor Hugo chamou – “pain merveilleux que Dieu partage et multiplie”, - ele pode perecer, pode diminuir, pode vacilar, porque, reconheçamos a dura realidade, quando o meio social começa a fluir sobre o moral dos atos humanos, não raramente, pessoas e coisas, leis e costumes, se mosntram dúbios, fracos, confusos, indefenidos, bamboleados, sacudidos, num imenso torvelinho por não estarem perfeitamente firmes em seus pedestais – o Bem, a Moral e a Justiça, tanto vale dizer – o Direito – que é a suprema garantia de qualquer organização social. 124

MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 2008, obra ciatada, p. 92-94 http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?session=1WP67203566J9.81665&profile=bn&uri=link=3100018~!445418~!31000 24~!3100022&aspect=basic_search&menu=search&ri=1&source=~!bnp&term=Viana%2C+Manuel+%C3%81lvaro+de+Sousa+S% C3%A1&index=AUTHOR 125 Discurso de Paraninfo; Rio, 1920, 42 p.


AUGUSTO TASSO FRAGOSO126 28 de agosto de 1869 / 20 de setembro de 1945 Nasceu em São Luís, estado do Maranhão a 28 de agosto de 1869. Historiador e militar, chefe da Junta Governativa Provisória em 1930, cuja atuação foi decisiva na deposição de Washington Luís. Diplomado em artilharia pela Escola Militar (1885-1889), depois cursou a Escola Superior de Guerra, onde foi discípulo de Benjamin Constant. Ainda moço participou como alferes-aluno da operação militar pela proclamação da República. Em 1890 foi escolhido, contra a vontade, deputado à Assembléia Nacional Constituinte pelo Maranhão, renunciou ao mandato sem tomar parte de qualquer sessão parlamentar. Recusou o convite do presidente Floriano Peixoto para assumir a Prefeitura do Distrito Federal, no entanto, após insistência do Marechal, aceitou a intendência do Departamento de Obras e Viação Geral daquela prefeitura, exercendo o cargo até o mês de abril do ano seguinte. Durante a revolta da armada que pretendia derrubar o governo de Floriano Peixoto, foi gravemente ferido no combate da Ponta de Armação, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro (1894), recuperando-se em seguida. Viajou à Europa em 1908 como membro do estado-maior do ministro da Guerra, Hermes da Fonseca, a fim de comprar armamentos para o Exército. Foi nomeado chefe da Casa Militar (1914) pelo presidente Venceslau Brás, permanecendo nessa função nos três anos seguintes. Nesse período, desempenhou papel importante na implantação do serviço militar obrigatório e na remodelação do Exército. Alcançou o generalato em 1918 e exerceu o cargo de chefe do Estado-Maior do Exército (1922-1929), onde se destacou no processo de remodelação do Exército orientada por uma missão militar francesa e saiu por discordar de pontos de vista do governo sobre a reestruturação do ensino militar no país. Na chamada Revolução de 30, integrou, a comissão que se dirigiu à residência de Washington Luís para forçar seu afastamento do poder central. Depois que Washington Luís foi deposto em 24 de outubro de 1930, assumiu o governo do Brasil com os generais João de Deus Mena Barreto e Alfredo Malan d'Angrogne. O golpe de estado liderado por ele foi desenvolvido para impedir que o presidente eleito Júlio Prestes assumisse a presidência da república. Garantindo o chamado movimento getulista, dez dias depois a presidência foi entregue a Getúlio Vargas, que contava com o apoio popular e de movimentos militares de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Com Vargas no poder voltou novamente à chefia do Estado-Maior do Exército e, depois, tornou-se ministro do Supremo Tribunal Militar (1933) onde ficou até se aposentar compulsoriamente por limite de idade (1939). Destacado historiador militar, escreveu História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai (1934), A revolução farroupilha (1938) e Franceses no Rio de Janeiro. Casado com a prima Josefa Graça Aranha. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 76 anos. É filho do bem sucedido comerciante português Joaquim Coelho Fragoso e da paraense Maria Custódia de Sousa Fragoso. Morou até aos quinze anos na terra natal onde aprendeu as primeiras letras. Há de lembrar ainda o seu parentesco com o escritor e jornalista Temistocles Aranha, pai de Graça Aranha. Junta governativa 127 126

NOBERTO DA SILVA, Antonio. DISCURSO DE POSSE DO ESCRITOR ANTONIO NOBERTO NA CADEIRA DE Nº 43 DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, PATRONEADA POR TASSO FRAGOSO. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 94 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 SARAIVA, José Cloves Verde. ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA NO. 43 DO IHGM No. 27, julho de 2007 78-87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/augusto-fragoso/biografia http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Tasso_Fragoso http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/tasso_fragoso http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/augusto-fragoso


Com a eclosão do movimento revolucionário de 1930, a junta governativa composta pelos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha depôs o presidente Washington Luís, e assumiu o controle do país. Em meio a pressão de manifestações populares, dos movimentos militares como o de Minas Gerais, revolucionários gaúchos chegam ao Rio de Janeiro, obrigando a junta a entregar a chefia do governo a Getúlio Vargas em 3 de novembro de 1930. Obras publicadas128 Determinação da hora por alturas iguais de estrelas diversas (1904); A Batalha do Passo do Rosário (1922); A Revolução Farroupilha; História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai (1934); Os Franceses no Rio de Janeiro Senhor presidente, venho mais uma vez patentear-lhe a minha lealdade, assegurando-lhe a vida, e desejo comunicar-lhe que a junta governativa já está formada e pede a vossa excelência sua renúncia, a fim de evitar mais derramamento de sangue (...) Então não há mais nada a fazer." - O Último Tenente, de Juracy Magalhães em depoimento a J. Gueiros — editora Record - antes de prender o presidente, diante de uma resposta negativa.Washington Luís.129 127

Fonte: Arquivo Nacional - Centro de Informação dos Acervos dos Presidentes da República. http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/augusto-fragoso/biografia 128 os-franceses-no-rio-de-janeiro-augusto-tasso-fragoso. http://lista.mercadolivre.com.br/os-franceses-no-rio-de-janeiroaugusto-tasso-fragoso 129 http://pt.wikiquote.org/wiki/Augusto_Tasso_Fragoso


ANTÔNIO FRANCISCO LEAL LÔBO130 4 de julho de 1870 / 24 de junho de 1916 Nasceu em São Luís, aos 4 de julho de1870 e faleceu na mesma cidade, ao 24 de junho de 1916. Era filho dePolicarpo José da Costa Lobo e de D. Francisca Leal Lobo. Foi professor da Escola Normal e do Seminário das Mercês. Dirigiusuperiormente o antigo Liceu Maranhense, a Instrução Pública e a Biblioteca Pública, aí imprimindo administração moderna, com aintrodução de novos processos de biblioteconomia. Escritor elegante e jornalista combativo, lobo foi redator e colaborador de muitas folhas sanluisenses, merecendo destaque ‘’Pacotilha’’, ‘’A Tarde’’, ‘’O Jornal’’,‘’Diário do Maranhão’’, ‘’Federalista’’, ‘’Revista Elegante’’ e a ‘’Revistado Norte’’, fundada por ele e Alfredo Teixeira. Nesses periódicos fez política, ficção, crítica literária e ciência, pois que era versado em sociologia e biologia. Exemplo marcante de autodidata, exerceu poderosa influencia na geração de 1900, congregando-se à sua roda os jovens talentos esperançosos que formavam, então, as inúmeras sociedades literárias, surgidas do dia para a noite. Foi um dosfundadores da Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira n.14, patrocinada por Nina Rodrigues Como funcionário público, exerceu os cargos de Oficial de Gabinete do Governo do Estado, da Biblioteca Pública Benedito Leite, do Liceu Maranhense e da Instrução Pública. Juntamente com Fran Paxeco, Ribeiro do Amaral, Barbosa de Godois, Corrêa de Araújo, Astolfo Marques, Godofredo Viana, Clodoaldo de Freitas, Inácio Xavier de Carvalho, Domingos Barbosa, Alfredo de Assis e Armando Vieira da Silva, fundou, na noite de 10 de agosto de 1908, a Academia Maranhense de Letras, uma extensão da Oficina dos Novos. Congregou e aglutinou, em torno da projeção intelectual de seu nome, os escritores de expressão da época. Em virtude de perseguições políticas, moralmente traumatizado, no último ano de sua existência, recolheuse a sua residência e, na madrugada de 24 de junho de 1916, enforcou-se com uma corrente. OBRAS MAIS EXPRESSIVAS A Carteira de um Neurastênico, romance publicado, inicialmente sob a forma de folhetim, na Revista do Norte, em São Luís, sob o pseudônimo de Jayme Avelar, em 1903; Pela Rama, crônicas, São Luís, 1912; Os Novos Atenienses, ensaio, São Luís, 1909. Traduziu as seguintes obras: Debalde, romance da autoria de Stenkiwicz, cuja publicação inicial foi sob a forma de folhetim na Revista do Norte, São Luís, 1901; em parceria com Fran Paxeco, O Juiz sem juízo, comédia da autoria de Bisson; Henriqueta, da autoria de François Coppée. BIBLIOGRAFIA: ‘’Henriqueta’’, romance de François Copée, tradução. Folhetim do ‘’Diário do Maranhão’’ – São Luís 1893.•‘’As novas tendencias do romance ingles’’, idem. Ed. De 16-12-1901 – São Luís.•‘’Juiz sem juízo’’, comédia traduzida de A. Bisson, com Fran Paxeco – Rio, 1901•‘’A doutrina transformista e a variacao microbiana’’. Ed. Da ‘’Pacotilha’’ – SãoLuís,1909. 53p. VISÃO CRÍTICA O perfil intelectual de Antônio Lôbo, no panorama da Literatura Maranhense, tem como paradigma as próprias concepções que ele expressou no texto de uma obra que, sem vias de dúvida, é precursora, fundadora, mestra e pioneira, no campo da crítica e teoria literária maranhense, Os Novos Atenienses, editada em primeira edição pela Tipografia Teixeira, em São Luís do Maranhão, 1909; reeditada pelo SIOGE, sob os auspícios da Academia Maranhense de Letras, em 1970, quando da passagem do Centenário de Nascimento do Autor. Em Os Novos Atenienses, Antônio Lôbo analisa o renascimento da cultura e da literatura maranhense, procurando registrar e resgatar o momento literário de então, bem como a vida e a obra dos escritores que se destacaram na primeira década do século XX, apresentando em seu discurso uma leitura bem peculiar, que 130

http://pt.scribd.com/doc/425853/Aprentacao-de-Academico EDITORIAL. GUESA ERRANTE, edição 55, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina394.htm ANTONIO LOBO E OS NOVOS ATENIENSES. In GUESA ERRANTE, edição 55, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina395.htm


classificaríamos até de profética, dada a verdadeira atenção para as entrelinhas e os subentendidos usados por ele, com certeza para driblar a ditadura das letras da sociedade aristocrática da época, elitista, cartesiana, conservadora e puritana, sobretudo hipócrita, toda poderosa em seu círculo radicalmente fechado. Sem dúvida, para falar dessa fase imediatamente finissecular, ele se estrutura nos precedentes, um momento áureo e de apogeu da Literatura Maranhense, em razão do qual o Maranhão mereceu o epíteto de Atenas Brasileira. Momento marcante, representado por escritores, eruditos, intelectuais e homens cultos do porte de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa, Henriques Leal, Gonçalves Dias e poucos outros. Os marcos anunciadores desse renascimento, na prática, são a fundação da Oficina dos Novos, em 28 de julho de 1900, que teve, como idealizador e responsável, o próprio Antônio Lôbo, e da Renascença Literária, em 17 de março de 1901, movimento cultural dissidente, encabeçado por Nascimento Moraes. O principal mérito da obra Os Novos Atenienses, de Antônio Lôbo, está no caráter da novidade e autenticidade do documento para a época e para hoje, pelo fato de o texto ter vários olhares, leituras e diálogos, cujo descortino aponta para um universo semântico simultaneamente fixado no presente de então, na grande noite negra que o precedeu, num passado áureo e no futuro. Tempo esse sempre escasso e gasto por antecipação por quantos se equivocam sobre o que seja imortalidade. Inquestionavelmente, um manifesto, um documento referencial único, que funda, paralela e simultaneamente, uma teoria e uma crítica literária, portanto uma obra pioneira, no gênero, como referencial de visão crítica de uma época. Entre outros méritos está, também, o de registro e resgate dos movimentos, jornais e revistas literárias que cobrem o final do século XIX e o início do século XX. Lendo Os Novos Atenienses, tomamos conhecimento da cultura literária de um escritor e de toda uma congregação geracional, aglutinada em torno deste como mentor intelectual, que se impôs por mérito e por necessidade. Temos consciência do quanto esta obra é indispensável, para que se possa fazer justiça aos que, do passado, passaram ao tempo presente, literariamente. Travamos conhecimento com a seriedade de propósitos e comprometimento de um homem de firmeza de caráter admirável, como Antônio Lôbo, para com a literatura e a sociedade maranhense. Um homem que preferiu morrer a corromper-se em qualquer plano. Não houve nem há tantos maranhenses da sua estirpe, muito pelo contrário. Com ele, podemos viajar para o passado e conviver com uma visão preconceituosa e restritiva que a intelectualidade maranhense tinha sobre a criação literária. Lendo-se o texto de Antônio Lôbo, tem-se a antevisão de que, no Maranhão do início do século XX, ainda predominava a tacanha concepção parnasiana, equivocada, sobre o que seja a essência do poético ou da poesia. Portanto, poeta ainda era o doutor em se tratando de versificação e metrificação. E ele próprio fez certas concessões a esse tipo de pensamento, creditando, na teoria, conceitos sobre os quais, na prática, não referendara. Felizmente, quando lemos Antônio Lôbo, percebemos, nas entrelinhas, que os seus verdadeiros eleitos não eram, senão, aqueles que a elite cultural da época considerava malditos, decadentes ou manquê, já que ele próprio, no mais belo poema que publicou, Por Amor de uns Olhos, paradoxal e contraditoriamente, se expressou como um legítimo simbolista, contrariando os cânones parnasianos, tão em voga, porém já retrógrados para poetas da estirpe de excêntricos como Maranhão Sobrinho, I. Xavier de Carvalho, Luís Carvalho e Alfredo de Assis, dentre poucos outros, que viveram o tempo cronológico de sua geração e muito além. POR AMOR DE UNS OLHOS131 ........................................................... Olhos que lembram preces e luares, Céus estrelados, vagas marulhantes, Guitarras a gemer, harpas cantantes, Noites de amor em flóridos pomares, ........................................................... Olhos que evocam, sugestivamente, Umas paisagens líricas de sonhos, Sob o clarão nostálgico e tristonho 131

Moraes,

Jomar.

Vida

e

Obra

de

Antônio

Lôbo.

São

Luís:

Revista

Legenda

Editora,

1969.

p.53-55.


De um perene luar, saudoso e algente, Vagos queixumes, indecisas mágoas, Prantos convulsos, nalgum sítio ermo Harpejos tristes de alaúde enfermo, Cisnes boiando sobre claras águas, Velas que passam deslizando mansas, Por tardes tristes, invernosas, frias, Um desfilar de castas utopias, Todo um cortejo branco de esperanças; Olhos que a gente nunca mais esquece, Como eu vos amo e quero, saiba embora Que não se fez pra mim à luz da aurora Que nas vossas pupilas resplandece, Que as horas passem, que se volvam os dias, Que os anos se amontoem sobre os anos, Que um após outro cheguem os desenganos, Que uma após outra fujam as alegrias, Sempre na mente vos trarei brilhando, Sempre em minhalma vivereis luzindo, Olhos que um dia eu conheci sorrindo, Olhos que após abandonei chorando.

4 de Julho é a data natalícia do ilustre saudoso escritor maranhense, Antônio Lôbo, que nasceu, em 1870, e morreu em 24 de junho de 1916, em São Luís. Figura marcante, em sua época, cabeça de geração, Antônio Lôbo reunia os elementos essenciais de uma escala de valores ascendentes, que se destacaram pelo talento e caráter. A obra mais marcante de Antônio Lôbo, Os Novos Atenienses, sobressai pela autenticidade, originalidade e pioneirismo. Centrada em dois pilares da análise literária, a teoria e a crítica, a obra é pioneira no panorama da Literatura Maranhense. Lendo-se Os Novos Atenienses, tem-se a certeza da existência de um maranhense, cuja visão cultural reflete uma consciência sobre o papel que se impusera desempenhar perante seus pares e a sociedade ludovicense. Mentor intelectual de inúmeros jovens escritores, que militavam na imprensa maranhense entre 1900 e 1916, Antônio Lôbo, juntamente com Manoel de Béthencourt e Fran Paxeco, teve um papel decisivo, para que se processasse o clima efervescente de renascimento literário que ocorreu no espírito dos jovens maranhenses da Oficina dos Novos e da Renascença Literária.


I. XAVIER DE CARVALHO132 - (1872-1944) - I.Xavier de Carvalho é o nome literário de Inácio Xavier de Carvalho, que nasceu em São Luís, Maranhão, em 26 de agosto de 1872. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife, após o que retornou ao Maranhão, onde ingressou na magistratura, exercendo sucessivamente os cargos de promotor público e juiz municipal, acumulando-os com a cátedra de Literatura, no Liceu Maranhense. Transferindo-se para Minas Gerais, ali foi nomeado para Abaeté, como juiz municipal. Chamado ao Amazonas, exerceu ali o cargo de procurador-geral do Estado. Em 1917, foi nomeado juiz federal substituto da Seção do Pará. Extinta a magistratura federal nos Estados, foi aposentado. Tomou parte ativa no movimento literário de sua terra natal, liderado pela “Oficina dos Novos”. No seu livro Subsídios para a história Literária do Maranhão, Antônio Lôbo refere-se ao “transviamento” do promissor talento de Inácio Xavier de Carvalho que, com suas Missas Negras se tinha incorporado ao movimento dos decadentistas e nefelibatas; e citava, dentre as suas produções, o soneto que lhe pareceu mais aproximado do parnasianismo, para fundamentar o elogio que fazia dos dons naturais do jovem poeta... Xavier de Carvalho deixou numerosa colaboração nos jornais e revistas do Maranhão, do Pará e do Amazonas. Era membro das Academias Maranhense e Paraense de Letras. Residia nos seus últimos tempos no Rio de Janeiro, onde faleceu, em 17 de maio de 1944. Obras Poéticas: Frutos Selvagens (1892-1894), São Luís Maranhão; Missas Negras, Manaus,1902; Parábolas; Caixa de Fósforos, versos satíricos. 133 CHEGANDO... II D’onde venho não sei... Venho de faina em faina Misterioso a correr desolado e tristonho... Venho talvez de um céu onde a dor não se amaina Ou, quem sabe? Talvez dos infernos do Sonho! Fica a terra queimada onde meus pés eu ponho... - De entre as dobras cruéis desta minha sotaina Jorro poemas sem luz de Extremismo medonho... D’onde venho não sei...Venho de faina em faina... O gemido fatal que do meu lábio escapa Faz tremerem os reis...e até tu mesmo, ó Papa, Deixas rolar da mão o báculo que trazes... E ao fulgor infernal de meus olhos à tona Sinto que ao meu olhar tudo se desmorona, Que a sociedade atual estremece nas bases! III Venho, em nome do Céu, atroando pelo espaço A busina da Dor, sombria e merencórea... - Venho quase a morrer, de fracasso em fracasso, Para depois viver de Vitória em Vitória! Meu peito não é mais que uma tumba marmórea 132

Muricy, Andrade. PANORAMA DO MOVIMENTO SIMBOLISTA BRASILEIRO. 2.ed. Brasília: Ministério da Educação e Cultura/Conselho Federal de Cultura/Instituto Nacional do Livro, 1973. v.1, p.553-555. http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina388.htm 133 De Carvalho, I. Xavier. Missas Negras. Manaus: Livraria Universal de M. Silva & C. 21, 1902. p.05-40.)


A destilar o Mal e o Bem por onde eu passo... -Trago repleto o olhar de pedaços de Glória, -Tudo morre e sucumbe ao poder do meu braço... Sou Lusbel e sou Deus! Nasci do mar na espuma Ou da terra no chão! Sou tudo e nada em suma... -Sobre mim do Universo a atenção se concentra, Pois desejo afinal, com as palavras em Jogo, Envolver a mulher em círculos de fogo Para, em nome do Céu, infecundar-lhe o ventre! AGOSTO (Em meu aniversário) Quem acaso nascer nas desoladas Segundas-Feiras d’este mês odioso Matará, entre as pálpebras inchadas, Em dilúvios de Lágrimas, o Gozo... E, entre destroços de Ilusões Fanadas, No alto do céu do coração choroso Terá mágoas de pássaros seu pouso, Constelações de Crenças Apagadas Terá, nos olhos, sombras de esqueletos E Ironias fatais de Risos Pretos, Em contrações de boca pelo rosto... E morrerá sem ter vivido em suma! Por isso, poeta, é que nasceste numa Segunda-Feira fúnebre de Agosto! TÍSICAS (A um amigo cuja noiva a tuberculose matou) Não sei por que, sob as pestanas pretas Dos tristes olhos das tuberculosas, Em vez de lírios e em lugar de rosas, Deus plantou dois canteiros de violetas... Por que as prendeu em mórbidas grilhetas, Cheias de tosse débeis e queixosas... Por que as fez tão franzinas e nervosas, Fracas e frágeis como as borboletas! Porque às faces sem cor dessas vencidas Pôs o traço das noites mal dormidas Entre olheiras de anêmonas e goivos! Por que as leva, por fim, de olhos risonhos, Em suplícios tantálicos de Sonhos De entre as almas agônicas dos Noivos! CRENÇAS Meu coração é um campo santo cheio De céus sem luz e músicas sem claves, É um cemitério vasto em cujo seio Vê-se uma Igreja de alvacentas naves...


De sobre as amplas cruzes que há no meio Do chão, por entre as catacumbas graves O fogo-fátuo trêmulo do Anseio Matou as flores e espantou as Aves... Ali, quando alta noite o som das onze Chora magoado no saudoso bronze Em vibrações nostálgicas e imensas, Abrem-se as covas e, em montões de escombros, Alvas mortalhas carregando aos ombros, Passa um bando esquelético de Crenças! A UM RICO Das nuvens cor de rosa da opulência Tentas em vão bater a Desventura, E, no entretanto, quanta noite escura, Em vez de auroras, veste-te a existência! Quantos desses que vivem na indigência Dos restos do que comes à procura, Mais do que tu não vivem na Ventura -Da pobreza na pálida aparência? Quantos desses que dentro dos farrapos De uns, em pedaços, miseráveis trapos Que lhes servem de capa ao corpo nu, Quantos desses que míseros, sem nome, Se revolvem no pélago da fome Não são mais venturosos do que tu?

A UM JOGADOR Tu’alma, essa infeliz de vícios farta, Num baralho, a correr, toda se encerra. Teu pão é o trunfo, teu futuro é a carta, Numa marcha de escândalos que aterra! O pano verde: - eis tudo! – Sobre a terra Chovam raios de fogo e o céu se parta! Tua idéia, quem pode emocionar-t’a Embora o mundo se arrebente em guerra? No az, no rei, na dama, no valete, Dois e três, quatro e cinco, seis e sete, E nas mais cartas teu porvir se perde! Tens a honra escondida nas cartadas, Nos ouros e nos paus, copas e espadas, Na atração infernal do pano verde! A UM COVEIRO Constantemente o sino a ouvir terrível Em por defuntos, prolongar os dobres, Tu que colocas todos num só nível: - Fidalgos e plebeus, ricos e pobres; E em pás de terra tristemente encobres


Os vis despojos da existência horrível Dando todo o vigor dessas mãos nobres Em prol do sono último e infalível; Tu que roubas o morto à luz e ao mundo Ao cavar-lhe o jazigo – faze-o fundo, O mais fundo, o mais fundo que puderes! Se a carne após o túmulo inda sonha Livrá-la-ás ao menos da vergonha De ouvir missas, latins e misereres. A UM CARRASCO Quando da forca, tristemente à borda Fores executar um condenado - Nunca tragas o peito contristado, Nunca tremas a mão – puxando a corda!... Mal o infeliz tu tenhas enfrentado Das misérias da Vida te recordas! Dos pulsos teus todo o vigor acorda E quanto antes enforca o desgraçado... Não tens a maldição, como alguns pensam Pelo contrário, fazes jus à bênção Do executado a quem tiraste a vida... Se a cabeça que cai do cadafaldo Pudesse, acaso, te correr no encalço Te beijaria as mãos, agradecida! NOIVAS MORTAS Essas que assim se vão, fugindo prestes De ao pé dos noivos, carregando-os n’alma, Amortalhadas de capela e palma Em demanda dos páramos celestes; Essas que, sob o horror que a morte espalma, Vão dormitar à sombra dos ciprestes Em demanda dos páramos celestes Amortalhadas de capela e palma; Essas irão aos céus, de olhos risonhos, Por entre os Anjos, pela mão dos sonhos, De asas flaflando em trêmulos arrancos, De Alvas Grinaldas pelas tranças frouxas, De olhos pisados e de olheiras roxas, Todas cobertas de Pecados Brancos. POETA Sobre o largo portal do castelo onde mora Meu grande coração de escritor insubmisso, Inundada na luz de um resplendor de aurora, Há uma lira de Rei feita de ouro maciço. Ao meu trono enfrentar, trono de ouro inteiriço, Curvam-se as vibrações da Palavra Sonora... -E, embora seja o aplauso obrigado e postiço, As mãos de muitos reis batem-me palma, embora!


Um soneto ao fazer, cheio de versos lautos, Partem do meu palácio uma porção de arautos, Lembrando o meu poder pela voz de cem trompas! E os vendilhões, então, do amplo templo do Metro Fogem em debandada ao fulgor de meu cetro Feridos pelo Estilo e embriagados de Pompas!


JERONIMO JOSÉ DE VIVEIROS134 11 DE AGOSTO DE 1884 # Nasceu em São Luís do Maranhão, a 11 de agosto de 1884, um dos cinco filhos de Maria Francisca e Jerônimo José Viveiros. Seus antepassados, de origem espanhola, chegaram ao Maranhão por volta de 1780, e se estabeleceram em Alcântara, em cujo meio se tornaram uma família das mais influentes. Seu bisavô (1789-1857), que tinha o seu mesmo nome, foi senador do Império. Seu avô, Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho (1819-1860), Barão de São Bento, foi deputado provincial e geral (10ª Legislatura, 1857-1860), chefe do Partido Conservador, também fidalgo e cavaleiro da Casa Imperial. Órfão de pai aos dois anos iniciou o caminho das letras através de professores particulares, em São Luís. Passou depois ao Colégio Nossa senhora da Glória e ao Liceu Maranhense. Decidindo-se, na juventude, pelo estudo das Ciências Jurídicas, viajou ao Rio de Janeiro, mas, à altura do terceiro ano, teve que abandonar o curso e retornar ao Maranhão, devido à fragilidade da saúde de sua mãe. Aos 22 anos, mediante processo seletivo em que foi sabatinado pelo próprio presidente do Estado, Benedito Leite, iniciava carreira no magistério, como lente de História Universal e do Brasil, no Liceu Maranhense. Esteve depois à frente da Imprensa Oficial do Estado e foi diretor da Instrução Pública, além de fundar e dirigir o Instituto Viveiros, que deixou fama na História da Educação maranhense. No dia 6 de outubro de 1937, quando a Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão votava o orçamento para o ano vindouro, os deputados que faziam oposição ao Governo Paulo Ramos se mobilizou para boicotar a sessão. O professor Jerônimo de Viveiros, funcionário público estadual e do município de São Luís, há esse tempo liderou uma grande manifestação nas galerias da Casa. A Polícia Militar teve que intervir por ordem da Presidência da Assembléia, que suspendeu a sessão e evacuou as galerias. Por essa ocasião, o professor Jerônimo de Viveiros era catedrático de História Universal do Liceu Maranhense e ajudante de Inspetor do Ensino Municipal de São Luís. Por conta desse episódio Jerônimo de Viveiros foi submetido a um inquérito administrativo e a outro policial, que culminou com seu afastamento, a bem do serviço público, em 29 de dezembro de 1937, conforme publicado no Diário Oficial do dia seguinte. A perseguição política estendeu-se a ponto de o prefeito municipal de São Luís, Dr. Pedro Neiva de Santana, também exonerá-lo pelo mesmo motivo, do quadro de servidores do município, conforme ato publicado no Diário Oficial de 30 de dezembro de 1937. Viveiros foi obrigado a transferir-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor do Colégio Pedro II, passando cerca de dez anos naquela cidade, ocasião em que escreveu a biografia de Gonçalves Dias e de Celso Magalhães, e mais 48 artigos sobre a indústria açucareira do País, além de colaborar no preparo da obra A Balaiada, de Astolfo Serra. Sua obstinada vocação de pesquisador teve continuidade no Maranhão, para onde retornou em 1949. Foi ainda consultor técnico do Diretório Regional de Geografia do Maranhão e professor da Faculdade de Filosofia de São Luís. Dentre as suas obras a mais extensa e quiçá a de maior importância é “A História do Comércio do Maranhão”, escrita em três volumes, dividindo-a em ordem cronológica dos acontecimentos. O quarto volume foi escrito pelo renomado historiador professor Mário Martins Meireles, ninguém melhor em competência de conhecimento para dar continuidade à grande obra de Viveiros Em 1950 tomou posse na Academia de Letras do Maranhão na Cadeira nº 08, patroneada por Gomes de Sousa. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira nº 56, da qual é patrono. BIBLIOGRAFIA – O centenario de Temistocles Aranha (1937); O Coronel Luis Alves de Lima e Silva no Maranhão (1940); Alcantara por seu passado econômico, sociel e político (1950); História do Comércio do Maranhão (1954); A vida de um apostolo (1956); Historia do Municipio de Pinheiro (1956); Benedito leite, um verdadeiro republicano (1957); além desses trabalhos tem uma s´perie de artigos para revistas e jornais, BITTENCOURT, Joana. DISCURSO DE POSSE - CADEIRA Nº 56, PATRONEADA POR JERÔNIMO DE VIVEIROS. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p.120 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 134

JORGE, José. BLOG. Disponível em https://www.google.com.br/#q=JERONIMO+JOS%C3%89+DE+VIVEIROS+%2B+textos


destacando-se sua colaboração para “O Combare”, “Diário de São Luis”, (O Imparcial”, “Jornal do Dia”, e “Brasil Açucareiro”. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM O JORNAL “O PAÍS” EM FACE DA GUERRA DA TRÍPLICE-ALIANÇA Ano 28, n. 3, agosto de 1951 79-87 UMA LUTA POLÍTICA DO SEGUNDO REINADO Ano IV, n. 4, junho de 1952 13-39 A FAMÍLIA MORAIS RÊGO Ano IV, n. 5, dezembro de 1952 03-24 SANTO ANTONIO Historiadores e cronistas porfiam em criar lendas que expliquem a razão de ser Santo Antonio advogado dos casamentos. Correm por ai uma porção delas, umas lindamente poéticas, outras grosseiramente ajeitadas. Afigura-se-me a mim que não há necessidade de lendas para explicar o caso. O oficio de casamenteiro está dentro das atribuições do miraculoso Santo, pois é certo que as moças, vaidosas como são, só lhe pedem um noivo quando perdem as esperanças de consegui-lo por força dos seus prioprios atrativos, e fazer achar essa esperança perdida, faze-la aos corações donde fugiram é, como já vimos, um dos atrubutos que Deus lhe conferiu. O mais foi economia de tempo: transformar a esperança em realidade, achando logo o “burro de carga” desejado pela suplicante, para o serviço da vida conjugal. O que surpreende no oficio em apreço é a paciência e a bondade com que o Taumaturgo o exerce. Santo de incontestável sizudez, cuja castidade é pura como o lírio que traz nos braços, recebe ele, entretanto, com infinita bonomia as suplicas de todas as mariposas que lhe esvoaçam em torno d altar, permite que ela lhe falem em namoro, consente confidencias, ouve segredinhos, e quando demora em satisfaze-las, não se zanga com os maus tratos com que ingratamente lhe flagelam, pelo contrario, apressa-se em servi-las. [...] Até 1624 a cidade de S. Luis não se apercebeu da presença do miraculoso Santo, se bem que já tivesse passado por aqui vários frades de sua Ordem, como frei Manuel da Piedade, frei Cosme de São Damião, frei Antonio de Merciana e outros. Foi só naquele ano, com a chegada de frei Cristovão de Lisboa (6 de agosto) chefiando um grupo de religisos, que ele se revelou, justamente quando estes frades lhe erigiram a igreja para o seu culto e o hospício para moradia dos seus irmãos. E revelou-se por um extraordinário milagre, fazneod que a cal de vinte e cinco pipas chegassem para aquelas obras, que exigiam sessenta pipas e ainda sobrassem dezessste. Decorridos vinte anos, Santo Antonio de novo manifesta o seu poder miraculoso de maneira assonbrosa. O caso maconteceu quando sitiamos os holandeses na cidade de Sã Luis, que eles nos haviam tomado de maneira tão traiçoeira. Contamo-lo tal como narram os cronistas: Os holandeses tinham um fortim, situado nas cercanias do local onde é hoje o edifício do IAPTEC, um canhão quem era visado de preferência pelos sitiantes, tais os estragos que lhes causa às trincheiras. Desesperados, os batavos colocaram a imagem de Santo Antonio sobre o canhão, alvejado pelos lusos e brasileiros. Pois uma bala nossa desmontou-o, pegando-o em cheio, e a imagem ficou ilesa, em cima do parapeito. (História e romance de Santo Antonio)


ARMANDO VIEIRA DA SILVA135 30 de agosto de 1887 # 9 de outrubro de 1940 Nasceu em São Luis. Formou-se em direito e ecerceu vários cargos de destaque na na administração publica de sua terra. Dirigiu a Imprensa Oficial e o Sindicato Maranhense de Imprensa. Fundou, com Abelardo Rocha e outros, a Companhia Telefonica do Maranhão. Faleceu como Procurador regional da Republica neste Estado, cargo em que se houve com probidade e competncia. Vieira da Silva era poeta vibrante e escritor de forma colorida e castiça. Na juventude estampou cersos repassados de ternuta como o soneto “Cigana”, que anda em muitas antologias. Na Academia Maranhense de Letras fundou a cadeira 8, patroneada por Gomes de Sousa. Bibliografia – Vibrações da noite (1907); Poesias (1908); Uma candidatura (1934); Portugal (1934); Henrique Coelho Neto (1935); Mussoline (1935); Consolação (1937); nascimento de Morais (1949). CARRO DE BOIS Velho carro de bois, pesado, aos solavancos, Em busca do sertão, sem ter uma pousada, De calhau em calhau, por cima dos barrancos Vagoroso lá vai... cantando pela estrada... Velho, vai se quebrando aos últimos arrancos. Não há sol, nem fadiga e nem mesmo invernada, Que lhe detenha o andar. Lento, caminha aos trancos, Pouco a pouco vencendo a penosa jornada. Há vinte anos atrás, viveu num piquizeiro. Cortaran-no sem dó. Sem paz e sem repouco Hoje vive a andar pelo sertão inteiro... Lento e triste a rolar naquelas soledades... Sempre, porém, cantando e cantando saudoso, Como quem canta só para matar saudades! ...

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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 190-191


RAIMUNDO CLARINDO SANTIAGO136 12 de agosto de 1893 # novembro de 1941 Nasceu em São Luis do Maranhão em 12 de agosto de 1893, e faleceu ainda novo, de morte trágica, em novembro de 1941, nas águas to Tocantins. Foi membro efetivo do IHGM, onde fundou a cadeira 4, tendo como Patrono Simão Estácio da Silveira; na AML ocupou a cadeira 13, patroneada pelo jornalista José Candido de Moraes e Silva, proprietário e redator principal do “Farol Maranhense”, o primeiro jornal liberal de nosso Estado. Graduou-se em Medicina, exercendo a profissão com sucesso, optando também pelo Magistério, literatura, jornalismo e poesia. Tinha forte inclinação de ensaísta, sentindo prazer em elevar o nome daqueles de sua terra que se destacavam culturalmente. O nome que mais lhe despertava interesse era Sousandrade, autor d´ O Guesa Errante; fez um estudo sobre ele que despertou interesse de modo geral e foi pioneiro dentro do que se chamou ‘mundo sousandradino’. Escreveu O Solitário da Vitória. Ensaio critico. In Revista da ABL, Rio de janeiro, 1932; e Comemorações do 1º Centenario do nascimento do poeta Sousa Andrade. Grafica Renascença, Paraíba, 1937; O poeta nacional. A escola mineira e suas fases; Rumo ao sertão; João Lisboa; Neto Guterres – o medico dos pobres. No Magisterio, além de professor, foi diretor do tradicional Liceu Marenhense e da Instrução Publica. Bibliografia – O poeta nacional (1926); A escola mineira. Suas fases (1926); Rumo ao sertão (1929); João Lisboa (1929); Sousa Andrade, o Solitário da Vitória (1932);omemoração ao 1º centenário do poeta Sousa Andrade (1937); Neto Guterres – o medico dos pobres (1937). TU137 Não encontrei, aqui, a minha companheira. Onde soltas, agora, o teu trinado, ó Ave? Quero ouvir-te cantar nessa expressão suave Que me faz prouvir a melodia inteira... Não te perdi, meu bem... que a estrada verdadeira Fazemos dois a dois... em que celeste nave Sôa agora essa voz que me foi sempre e chave De toda a lus e paz na vida passageira? Ficaste para traz ou já passaste adiante? Só agora compreendi a inquietação de Dante. Ansia humana a buscar o ser que nos condiz... Outro Eu, que nos completa a divina Harmonia, A Alma Irmã que se busca e que se encontra um dia E que é Laura, é Marília, é Nercia, é Beatriz!... DUAS IRMÃS Também peito de moça há muoto é dado o nome A dois morros irmãos unidos na base, Duas pomas iguais que o tempo não consome, Dois seios vistos como através de uma gaze. Em baixo o mar feroz, sem que outro institnto dome Investe como um fauno. Antes o sol abrase Do que não tentar saciar aquela fome Ou sede que o devora, antes um raio o arrase. 136

OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu 137 DINO, Salvio. CLARINDO SANTIAGO “o poeta maranhense desaparecido no Rio Tocantins”. (s.l.): Verano, (s.d.), p. 38-41


Velho lobo do mar, guiador de veleiros, Ao passra por ali, dizia aos marinheiros: -“Aqui neste lugar se cumprem dois destinos; Em luta secular, sol a sol, mar e vento Porfiam em beijar, de momento a momento, as curvas sensuais dos dois seios divinos�...


JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA – RIBAMAR PEREIRA138 17 de setembro de 1897 # Nascido em São Luís em 17 de setembro de 1897, filho do Dr. Alcides Jansen Serra Lima Pereira (advogado) e da poetisa Cristina dos Santos Pereira. Fez seus estudos primários no Instituto Nina Rodrigues, passando depois para o Instituto Maranhense, dirigido pelo Professor Oscar de Barros e, em seguida para o Colégio dos Maristas, realizando exames de preparatórios no Colégio Pedro II da Bahia de Salvador. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará em 1925, tendo sido orador de sua escola em todas as solenidades, inclusive nas comemorações do 11 de Agosto (instituição dos Cursos Jurídicos no Brasil). Como orador da Liga Nacionalista falava todos os domingos em praça pública. Em maio de 1920, como sorteado, serviu no 26º. Batalhão de Caçadores, acantonado em Belém, passando a trabalhar na Escola Regimental, que organizou e dirigiu. Fez, na terra guajarina, sua formação espiritual, colaborando intensamente na ‘Folha do Norte’, com Paulo Maranhão; no ‘Estado do Pará’, com Santana Marques e Arnaldo Lobo; no ‘Imparcial’ com Djard de Mendonça e Adamastor Lopes; na “Evolução” com o senador Fulgêncio Simões; e na Revista ‘Guajarina’. Regressando a São Luís, passou a advogar com seu pai, sendo sucessivamente nomeado Colaborador, Praticante e Terceiro Escriturário do Congresso do Estado; Assistente Judiciário ao Proletariado; 2º. Promotor Público da Comarca da Capital. Por treze anos foi consultor jurídico da Caixa de Aposentadoria e Pensões de Serviços 29 IHGM – livro de anotações de Sócios Efetivos, p. 39-39v, (s.d). Públicos dos estados do Maranhão e Piauí; exerceu o cargo de 1º. Promotor Público da Comarca de São Luís. Em 1924, quando acadêmico, exerceu o cargo de professor de Geografia e História do Brasil, do Curso Ginasial do Liceu Maranhense e, em 1926, de abril a outubro, o cargo de professor de Literatura Brasileira do mesmo estabelecimento. Já formado, lecionou História do Brasil no Ateneu Teixeira Mendes, no Colégio São Luís de Gonzaga, na Academia de Comércio do Maranhão e na Escola de Agronomia, tendo sido um dos fundadores destes dois últimos estabelecimentos. Foi redator da ‘Folha do Norte’ e colaborou em ‘O Dia’, “Correio da Tarde’, ‘Tribuna’, e ‘Revista do Norte’, assim como no ‘Jornal Pequeno’, de Recife, ‘A Tarde’, da Bahia, e ‘Tribuna’, de Santos. Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, OAB-MA, e Associação Maranhense de Imprensa. Publicou: Discursos Acadêmicos (Faculdade de Direito do Pará); Os dez mandamentos do Operário; Duas Teses (concorrendo a cadeira de literatura do Liceu Maranhense); Alma – livro de versos, com a qual entrou para a Casa de Antonio Lobo. Autor de 214 produções musicais escreveu o Hino a Bandeira Maranhense. Foi presidente de honra da União Artística Operária Caxiense. A UMA CAVEIRA139 A quem pertencerias tu, na vida, Horripilante e esquálida caveira, Que, hoje, deparo pela primeira vez, Nessa expressão risonha e indefinida? E´s o ponto final da fementida Existencia, que é dúbia e passageira: Mudaste as galas em serapilheira Na sequencia fatal da despedida. Como tu, eu serei assim, um dia... No leito imundo desta terra fria, De mim ninguém se lembrará... ninguém! E então, nas sombras deste Cemitério, Envolta no silencio e no mistério, Minha caveira há de sorrir também 138

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 40. REVISTA DO IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 157 139 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 222


FRANCISCO DE ASSIS GARRIDO140, 141 14 de setembro de 1899 # Nasceu a 14.08.1899 em São Luís do Maranhão. Filho de Florentino Ferreira Garrido e Adélia da Silva Garrido, deixou vários livros de poesias publicados. Pertencia à Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a

Cadeira n.º 4. Jornalista, tetrologo e poeta; poeta, sobretudo, dono de uma lira de fácil inspiração e suave lirismo. Funcion´rio do Ministerio da fazenda, é oficial administrativo na alfândega de S. Luis e já foi Delegado do Serviço de Estatística Economica e Financeira do Maranhão, membro da sociedade Brasileira de Autores teatrais, do centro Cultural Humberto de Campos, do espírito Sanhto, da Associação de Intercambio Cultural de Mato Grosso, da Confraternité Universalle Balzacienne, do grupo Afro americanista de Intelectuales y Artistas, do Uruguai, e do Instituto de Cultura Americana, da Argentina. Na Academia Maranhense de letras é o terceiro ocupante da cadeira 3, patroneada por Artur Azevedo. Bibliografia – Publicou entre outros, os livros Oração materna (1920); Regina (1920); Dom João (1922); Sol glorioso (1922), O meu livro de mágoa e de ternura (1923), O livro da minha loucura (1923), A divina mentira (1944) e Crepúsculo (1969); A vergonha da família (s.d.). Esta vida é uma pomada142 da maciez de veludo... E eu já não sofro de nada, de tanto sofrer de tudo... Eu era um só. Tu surgiste e assim ficamos os dois: depois, eu vi que mentiste, e um só me tornei depois. Até hoje ainda não pude descobrir se bem me queres! - Vê como a gente se ilude com o coração das mulheres!... A castidade, criança, é um vaso fino demais: quebrado, uma vez - descansa! não se conserta jamais... Tic-tac... Ai, que saudade vai-se e aparece a velhice... Tic-tac... Ai, que saudade dos tempos da meninice!...

A FRASE QUE MATOU O OPERÁRIO143 "Não precisamos mais do seu serviço", Disseram-lhe os patrões, há dois meses e pouco. E ele se foi, sob o calor abafadiço Daquela tarde, murmurando como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço". 140

MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 223 http://www.falandodetrova.com.br/assisgarrido 142 http://www.falandodetrova.com.br/assisgarrido 143 http://judoepoesia.blogspot.com.br/2007/09/frase-que-matou-o-operrio-assis-garrido.html 141


"Não precisamos mais do seu serviço..." De tantos anos de trabalho era esse o troco Que recebia. Em vez de lucro, apenas isso... E ele consigo murmurava como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..." "Não precisamos mais do seu serviço..." Tornou-se bruto e respondia, a praga e a soco, Aos filhos e à mulher, famintos no cortiço. E após, chorava murmurando como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..." "Não precisamos mais do seu serviço..." E ele saía a ver emprego, triste e mouco, Nada! Nenhum!... E cabisbaixo, o olhar mortiço, Ele voltava, murmurando como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..." "Não precisamos mais do seu serviço..." E cada vez sentia mais o cérebro oco. Enforcou-se. Morreu. "Foi o diabo ou feitiço..." E ele morreu murmurando, como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..."


JOSÉ CARLOS LAGO BURNETT LAGO BURNETT144 São Luís / 15 de agosto de 1929 # Rio de Janeiro / 2 de janeiro de 1995. Jornalista de grandes e admiráveis recursos, exerceu, praticamente, todas as funções de sua profissão, em que se fez mestre, escrevendo livros que se tornaram clássicos em seu gênero, além de proferir, a convite de cursos de Comunicação Social, palestras que eram verdadeiras aulas magnas sobre como escrever na imprensa. A par de numerosa bibliografia em prosa, na qual se destacam dois livros de crônicas, publicou os livros de poesia Estrela do céu perdido (1949), O ballet das palavras (1951), Os elementos do mito (1953) e O amor e seus derivados (1984). Adeus Quando partiste, qualquer cousa havia de estranho em mim... não sei que força aquela à minha alma corria paralela e os meus olhos de pranto, umedecia. Toda a rua chorou naquele dia: - as árvores, as pedras, a janela... o poste, ao canto, como negra vela, se derreteu em luz só de agonia... Tinhas calmo o semblante. Vi, no entanto, que bem no fundo de tua alma uma asa de dor revoava sobre um mar de pranto... Quando sumiste, à esquina da saudade, a rua toda, como a tua casa, fechou as portas à felicidade... ( Do livro Estrela do céu perdido )

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http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm , acessado em 24/04/2014


WALDEMIRO ANTONIO BACELAR VIANA145 24 de julho de 1943 Bacharel em Direito pela Universidde Federal do Maranhão. Advogado, militou no foro de São Luis. Entre as funções públicas que já exerceu, citam-se as de Assessor de Relações Públicas da CAEMA; Assessor Jurídico da CIMPARN; Diretor da Divisão de Serviços patrimoniais da UFMA; Diretor Técnico da COMARCO; Diretor Administrativo e Financeiro da COHAB/MA; Assessor da Presidencia do ITERMA; Advogado do INEB; Advogado da Comissão Executora do Projeto RADAM-Brasil. De volta a São Luis em 1985, aqui exerceu as funções de Diretor Executivo da Fundação Sousandrade, 1986-87; Diretor do DAC/UFMA, 1987-88; Assessor do Reitor da UFMA, 1988-82. Autor de numerosas colaborações publicadas na imprensa de São Luis, notadamente crônicas e artigos, e dos romances Grauna em roça de Arros (1978), A questio0navel amoralidade de Apolonio Proeza (1990); e O Mau samaritano (1991). A Tara e A Toga (2008); Passarela do Centenário & Outros Perfis (2008); O Pulha Fictício (2013). MEU VERBO AMAR146 Meu verbo amar habita, com certeza, uma cidade à moda portuguesa, de traço desconforme, à velha Alfama, de ladeiras pojadas de Poesia, a ecoar, pelos chãos de cantaria, o crepitar da lusitana chama. Meu verbo amar lhe perambula os becos, onde, em passo nostálgico, ouve os ecos das vozes de poetas singulares, que, traduzindo um mesmo sentimento, soltaram o estro seu à voz do vento, no tributo de amor de seus cantares. Meu verbo amar percorre-lhe os sobrados, onde azulejos, d'Além-mar chegados, emouriscam fachadas tropicais - de tão arquitetônica beleza, em arabescos, tais, de tal leveza que assemelham fantásticos murais. E as ruas onde o verbo amar vadia? Ao Sol, ouve cantar a Cotovia, aspirando Alecrim entre Craveiros... Ouvir-lhe os nomes, lírica emoção: Afogados... Passeio... Viração... Inveja... Paz... Desterro... dos Barqueiros... Meu verbo amar tem pouso firme e certo: por mais longe que eu vá, em rumo incerto, se eu deixo São Luís do Maranhão uma enorme tristeza me desterra e domina, se insisto noutra terra: - meu verbo amar só vive no meu Chão! 145

MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. http://www.waldemiroviana.net.br/index.html 146 http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_meu_verbo_amar.html


Meu caro Presidente Zé Sarney:147 Me há de perdoar Vossa Excelência que, a par do orgulho e júbilo espontâneo que eu sinto, ao ver brilhar um conterrâneo no sagrado mister da Presidência, e, com semblante calmo e pulso forte, nestes momentos de incerteza e medo que nos causa a doença do Tancredo, saber traçar deste Brasil o Norte - que eu venha, num absurdo destempero, desviando-o de tão lídimos serviços, trazê-lo desses altos compromissos ao minimismo do meu desespero. Veja bem, Presidente, não é cobrança - que quem amigo é não cobra amigo. É o miserê nefando que eu persigo, à cata de um momento de bonança. Por falta de um emprego, Presidente, que me permita pôr a vida em trilhos, e devolva o sorriso dos meus filhos e a própria vida torne sorridente. Proventos regulares, que permitam que este poeta não conspurque o nome, e que possa aplacar a imensa fome dos credores que em torno a si gravitam. Um regular e digno salário, que dê para educar minhas crianças e dê para aumentar as esperanças de enfrentar o vulcão inflacionário. Meu ilustre Confrade, é natural (pois bem sabe Vossência que no Estado o salário é pequeno e limitado) que eu almeje um emprego federal. Não só pelo salário (embora pese extraordinariamente na balança). É bem mais por questão de segurança que eu preciso de um cargo que se preze. Eu adoro o aconchego da família. Mas – se for sua maior comodidade - sacrifico os parentes e a Cidade e me ponho às suas ordens em Brasília. Amo São Luís. E, ilhéu apaixonado, respirar estes ares me renova. Mas farei sonhos novos, vida nova e ficarei a postos, a seu lado. E sei que me será gratificante (caso Vossência aprove o meu concurso) seguir no rastro do Poeta, ao curso de seus gloriosos passos de Gigante. Mas... amo São Luís de tal maneira que, se pra cá viesse a indicação, eu lhe juro: teria a sensação de estar ganhando uma loteca inteira. 147

http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_carta_ao_ze.html


Eis meu pedido, amigo Presidente. Não fora a precisão que me fulmina, não viria o poeta que esta assina perturbá-lo em momento tão premente. ........... E demonstre, Sarney, ao mundo inteiro (como à miuçalha crítica e circense) o que pode fazer um maranhense pelo bem deste povo brasileiro! Por toda a dimensão dessa amizade pintada em nossa raça a forte traço, receba um grande e admirado abraço. Cantar da cidade de ontem148 Ladeiras, praias, efusão e história destilam pelos poros da cidade, transmudando mistérios em cimento do progresso integrado na Saudade. Salvador, Salvador! Cantos de ontem, enobrecidos no calor caetano, dos gis gilbertos que te mostram faces do sempiterno e secular humano. Requebros dáfrica, os nagôs batuques ferem-se ao choque do cimento armado, que escraviza a pureza do horizonte dos saveiros e mestres do passado. O amado jorge te cantou bravuras que os amanhãs de hoje sepultaram, e teus jubiabás de glória e garra estupros do Progresso transformaram. Templos e pelourinhos do passado capitalizam patuás, bentinhos, e codaques, de gringo a tiracolo roubaram-te o mistério dos caminhos. O sangue de cimento e cal e ferro naufraga os santos todos de teus mares, e às prenhes praias das manhãs diárias assinam ponto escóis e proletares. Resta-te o Humano: o riso e o trio elétrico da quente e folgazã baianidade, que transmuda cimentos em mistério do progresso integrado na Saudade.

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http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_cantar_da_cidade_de_ontem.html


JOSÉ DE JESUS LOUZEIRO149, 150,151 19 de setembro de 1932 Iniciou sua carreira como estagiário em revisão gráfica no jornal O Imparcial em 1948 aos dezesseis anos de idade. Em 1953, aos 21 anos, se transfere para o Rio de Janeiro onde foi trabalhar no semanário: A Revista da Semana e no grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, mais especificamente como "Foca" em O Jornal e daí foi deixando suas marcas através de suas redações nos jornais Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã, Folha e Diário do Grande ABC e nas revistas Manchete e Diário Carioca. Por mais de vinte anos atuou também como repórter policial. Na literatura, estreou com o conto Depois da Luta, em 1958, no cinema escreveu os diálogos do filme: Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, baseado no romance de sua autoria lançado em 1976 pela editora Civilização Brasileira. Escreveu outros livros sobre casos policiais famosos como "O caso Aracelli" e "O assassinato de Cláudia Lessin Rodrigues". Em Carne Viva (1988) traz personagens e situações que lembram as mortes de Zuzu Angel e seu filho, Stuart.[1] Seus livros são, na maioria, contos biográficos, narrados como romance-reportagem, chegando perto de quarenta publicações. A ele se atribui a introdução no Brasil do gênero literário romance-reportagem, que no exterior tivera como representante Truman Capote, que escreveu A Sangue Frio. Assinou também o roteiro de dez filmes, sendo quatro deles já populares como Pixote, a Lei do Mais Fraco, Os Amores da Pantera de Jece Valadão, O Homem da Capa Preta e Amor Bandido, com Paulo Gracindo. Escreveu telenovelas como Corpo Santo e Guerra sem Fim. Mas sua telenovela O Marajá, uma comédia baseada no governo de Fernando Collor de Melo, foi proibida de ir ao ar, numa época em que não havia mais censura no Brasil. Depois desse episódio, o autor conta que começou a enfrentar dificuldades para realizar novos projetos na televisão. Os livros mais conhecidos de José Louzeiro, são152: Infância dos Mortos, argumento do filme Pixote; Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (título homônimo no cinema); Aracelli, Meu Amor; Em Carne Viva, lembrando o drama de Zuzu Angel e de seu filho Stuart Angel, morto na tortura, na década de 60. Entre os infanto-juvenis: A Gang do Beijo, Praça das Dores (um remember dos meninos assassinados na Candelária, em 1993), A Hora do Morcego (Ritinha Temporal) e Gugu Mania. Em outubro de 97, em São Paulo, lançou a biografia de Elza Soares - Cantanto Para Não Enlouquecer - a "intérprete guerreira" da música popular brasileira. Antes do livro de Elza havia escrito sobre outro negro genial: André Rebouças. Logo depois escreveu O Anjo da Fidelidade, um estudo da trajetória do negro Gregório Fortunato, o guarda-costas de Getúlio Vargas. José Louzeiro é autor de 40 livros e criador, no Brasil, do gênero intitulado romance-reportagem. No cinema já assinou, como roteirista, dez longas-metragens, dos quais pelo menos quatro se tornaram populares: Lúcio Flávio, o Passsageiro da Agonia, Pixote, O Caso Cláudia e O Homem da Capa Preta. Ano passado lançou pela Editora Francisco Alves o estudo biográfico intitulado O Anjo da Fidelidade. Trata-se da história de Gregório Fortunato, o Anjo Negro de Getúlio Vargas. Em 2001, pela Editora do Brasil: "Isto não deu no jornal" ( memórias de sua passagem por cinco jornais cariocas). E em 2002, Ana Neri, a brasileira que venceu a guerra (Editora Mondrian): biografia da heroína baiana, patrona dos enfermeiros brasileiros. Atualmente coordena a coleção de romances policiais para a Editora Nova Fronteira (Primeira Página) já com cinco livros impressos e três lançados: No fio da noite, de Ana Teresa Jardim, Juízo final, de Nani e A fina Flor da Sedução de José Louzeiro. 149

MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Louzeiro 151 http://estranhoencontro.blogspot.com.br/2006/05/biografia-entrevista-jos-louzeiro.html http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2014/04/louzeiro-repassa-suas-memorias.html 152 http://www.louzeiro.com.br/bio.html http://www.criacaodoslivros.com.br/tag/jose-louzeiro/ 150


José de Jesus Louzeiro153 - Nasceu em São Luís, no dia 19 de setembro de 1932. Aos 16 anos, ainda estudante, começou a trabalhar em jornais da capital maranhense, nas funções de revisor e repórter. Mudouse em 1954 para o Rio de Janeiro, passando, no ano seguinte, a trabalhar nestes órgãos de imprensa: copidesque dos jornais Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã, Luta Democrática, Jornal dos Sports, O Globo e da revista PN (Publicidade & Negócios), sendo, ainda, secretário gráfico e subsecretário de redação do Correio da Manhã. De 1964 a 1968 foi editor fotográfico da Enciclopédia Barsa; de 1969 a 1971 dirigiu a circulação do Jornal do Escritor, órgão decisivo para a fundação do sindicato da classe no Rio de Janeiro, o primeiro a ser criado no Brasil. Nesse mesmo períodom, regeu, como professor contratado, as cadeiras de Editoração e Técnicas Gráficas da Escola de Comunicação da UFRJ. Viveu em São Paulo de 1972 a 1975, período em que exerceu as funções de copidesque da Folha de S. Paulo, secretário do Diário do Grande ABC e editor dos Diários Associados (Diário da Noite e Diário de São Paulo). De volta ao Rio de Janeiro em 1975, escreveu reportagens para a Última Hora, jornal de que a seguir foi redator e secretário de redação. De sua vastíssima produção como jornalista e escritor, constam artigos, reportagens, verbetes e outros textos para: Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Caderno do Livro do Jornal do Brasil; suplemento literário de O Globo; Correio da Manhã; Diário Carioca; Diário de Notícias (de Lisboa); Jornal de Letras; Revista da Semana; Revista Nacional e ainda as revistas Eu Sei Tudo, Leitura, Mundo Ilustrado, Vida Infantil, Planeta, Manchete, Fatos & Fotos, Ele & Ela, Panorama (do México), Enciclopédia DeltaLarousse; guias turísticos da Editora Abril; Livro de cabeceira do homem etc. Foi presidente do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro (1984-87), membro do Conselho Nacional do Direito Autoral (1985-86), do Conselho Superior de Censura (1987) e do Conselho de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da ABI (1987). Agraciado com a Medalha do Mérito Timbira. Obras publicadas - primeiras edições154 Conto Depois da Luta - 1958 Judas Arrependido - 1968 Romance Acusado de Homicídio - 1960 Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia - 1975 Aracelli, Meu Amor - 1975 O Estrangulador da Lapa - 1976 Inimigos Mortais - 1976 Sociedade Secreta - 1976 Moedas de Sangue - 1976 O Internato da Morte - 1976 Infância dos Mortos - 1977 O Estranho Hábito de Viver - 1978 Em Carne Viva - 1980 20º Axioma - 1980 M - 20, a Morte do Líder - 1981 O Verão dos Perseguidos - 1983 Devotos do Ódio: Uma Profecia Camponesa - 1987 Pixote: A Lei do Mais Forte - 1993 Mito em Chamas: A Lenda do Justiceiro da Mão Branca - 1997 A Fina Flor da Sedução - 2001 Biografia André Rebouças - 1968 153

http://imirante.globo.com/saoluis400anos/autores/ http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/definicoes/verbete_imp.cfm?cd_verbete=8889&imp=N 154 Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira, disponível em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/definicoes/verbete_imp.cfm?cd_verbete=8889&imp=N


JK: O Otimismo em Pessoa - 1986 Elza Soares: Cantando para Não Enlouquecer - 1997 Villa-Lobos: O Aprendiz de Feiticeiro - 1998 O Anjo da Fidelidade: A História Sincera de Gregório Fortunato - 2000 Ana Neri: A Brasileira que Venceu a Guerra - 2002 Memória Isto Não Deu no Jornal - 2001 Infantil e juvenil A Gang do Beijo - 1984 Ritinha Temporal - 1991 Praça das Dores - 1994 Pink: Viagem ao Submundo Mágico - 1995 Beija-Flor, o Amigo Especial - 1995 Gugu Mania - 1996 O Bezerro de Ouro - 1997 A Hora H do Padre G - 1998 Detetive Fora de Série - 1998 Traduções e edições estrangeiras Espanhol La Infancia de los Muertos [Infância dos Mortos]. Tradução Antonio Samons. Barcelona: Argos, 1978. El Pasajero de la Agonia [Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia]. Tradução Antonio Samons. Barcelona: Argos: Vergara, 1979. Francês Pixote: La Loi du Plus Faible: Roman [Infância dos Mortos]. Tradução Janine Houard et Katherine de Lorgeril. Paris: Éditions Karthala, 1982. Inglês Childhood of the Dead [Infância dos Mortos]. Tradução Ladyce Pompeo de Barros. Los Angeles: Boson Books, 1977. Land of Black Clay [Infância dos Mortos]. Tradução Ted Stroll. Los Angeles: Boson Books, 1997. Adaptação Cinema Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia - Direção Hector Babenco; baseado em obra homônima, 1978. Pixote, a Lei do Mais Fraco: Informações Técnicas155 Título no Brasil: Pixote - A Lei do Mais Fraco Título Original: Pixote - A Lei do Mais Fraco País de Origem: Brasil Gênero: Drama Tempo de Duração: 127 minutos Ano de Lançamento: 1981 Site Oficial: Estúdio/Distrib.: Direção: Hector Babenco Sinopse Pixote (Fernando Ramos da Silva) foi abandonado por seus pais e rouba para 155

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_uenp_portugues_md_sonia_mari a_ovcar_endo.pdf


viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos. Lúcio Flávio, o passageiro da agonia156 “Era assim o Noquinha. Um menino sonhador. Queria ir a lugares distantes, desses que agente vê nas revistas. - Vovô então acha que esse bandido é um bom cara? – pergunta o policial. - Não tou falando de bandido, moço – respondeu Dondinho. - Falo do garoto que veio pra cá com certa idade e aqui terminou de se criar. Se deu no que deu, foi culpa nossa. Ou mais nossa do que dele. É esse mundo aí fora que ta transformando as pessoas e as próprias coisas. É a Zona Sul, afundada aos vícios. É a pobreza, que nem todos podem suportar “.(p.30).

[...] - É um filho da puta esse Bechara. Tudo mentira. Não fugi de delegacia porra nenhuma. O sacana mandou me meter numa privada, na baixada fluminense. Queria acabar comigo, mas a coisa saiu errada. Agora tá inventando essa história. Mas vai se foder, porque vou mandar uma carta pros jornais, contando a verdadeira versão dos fatos. (LOUZEIRO, José. Lúcio Flávio, o passageiro da agonia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 63)·. 157

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http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2598516.pdf http://www.recantodasletras.com.br/trabalhosacademicos/2598516 157 http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2598516.pdf ;

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JOSÉ JOAQUIM FERREIRA DO VALE158 15 de julho de 1823 # Genebra, 03 de fevereiro de 1863 Jornalista, poeta, orador, político, diplomta: cônsul geral do Brasil na Suiça, Visconde do Desterro. Formado em Ciencias Jurídicas e Sociais, é apontado como um espírito eminentemente culto, de ilustração variadíssima, jornalista brilhante. Seus estudos têm acentuada tendência filosófica: Canto do Indio brasileiro, e Prematura morte do príncipe Pedro mAfonhso. MARANHÃO São Luís! É esse o nome Da minha terra natal No mundo não tem igual Minha cidade gentil: Das águas nasce risonha Sempre alegre, e vicejante, A quem saúda o navegante Do seio de um mar de anil. É uma Ilha formosa De mansas águas cercada, De palmeiras é plantada Por toda a sua extensão: A natureza espontânea Nos dá os frutos da terra Mesmo por si ela gera Riqueza da Criação. A brisa é la perfumada, E sempre e sempre constante, E nossa extremosa amante Que nunca nos quer deixar: Festeja o nascer d´aurora, Os raios do sol modera, Da natureza tempera O rigor canicular. Aaurora quando desponta Vem cercada de primores: E harmoniosos cantores Festejam seu despontar; Tudo goza alma alegria Nessa terra abençoada. Quando a manhã desejada No mundo se vem mostrar O Progresso, 16/04/1850 158

RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.


ANTONIO LISBOA CARVALHO DE MIRANDA159 Maranhense nascido em 5 de agosto de 1940. Poeta, escritor, dramaturgo e escultor, já publicou romances, poesias e peças para teatro (gênero pelo qual é conhecido lá fora) em vários países. Em 1967, por decisão própria, exilou-se para viver intensamente um período de efervescente agitação cultural na América Latina, dedicando-se à produção literária e artística. Sua criatividade foi reconhecida com prêmios pela crítica internacional (Medellin - Colômbia, San Juan de Puerto Rico). Miranda viveu e publicou em Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela), Bogotá (Colômbia) e Londres (Inglaterra). Tu País Está Feliz, peça de teatro estreada em 1971, foi representada em mais de 20 países e só publicada no Brasil em 1979. Sobre a infância, juventude e a carreira do acadêmico e poeta Antonio Miranda: LILIANE BERNARDES apresentou uma versão do trabalho sobre Altas Habilidades e Superdotação, centrada na biografia do poeta Antonio Miranda (com destaque para a infância e juventude do autor) na 20th WORLD CONFERENCE – Louisville, KY, USA 10-13 August 2013 WORLD COUNCIL FOR GIFTED AND TALENTED CHILDRENS, cujo texto e imagens estão disponíveis no repositório Prezi: http://prezi.com/eh9i5hynaffp/untitled-prezi/ Doutor em Ciência da Comunicação (Universidade de São Paulo, 1987), fez mestrado em Biblioteconomia na Loughborough University of Technology, LUT, Inglaterra, 1975. Sua formação em Bibliotecologia é da Universidad Central de Venezuela, UCV, Venezuela, 1970. Professor e ex-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília, Brasil, ministra aulas e cursos por todo o Brasil e países ibero-americanos. Também é consultor em planejamento e arquitetura de Bibliotecas e Centros de Documentação. Organizador e primeiro Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, de fev. 2007 a out. de 2011. Membro da Academia de Letras do Distrito Federal, foi colaborador de revistas e suplementos literários como o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil e também o La Nación (Buenos Aires, Argentina) e Imagen (Caracas, Venezuela). POEMAS DE ANTONIO MIRANDA ADEUS Para Pedro Almodóvar Que seja com um machado. Prefiro uma lâmina aguda um simples martelo num golpe de misericórdia. Com palavras, não. Elas ferem muito mais penetram mais ainda mais fundo. Nada de desculpas de explicações. De um só golpe certeiro definitivo. Se não, saia em silêncio. Apague a luz. 159

http://www.antoniomiranda.com.br/sobreoautor/sobre_autor_index.html http://prezi.com/eh9i5hynaffp/untitled-prezi/


... (Laura P.) O FIM COMO PRINCÍPIO No Princípio era a Metafísica e a ela volveremos como Anti-Matéria aqui na Terra como no Céu. Entretanto rezamos versículos e comeremos e cagaremos montículos que logo serão montanhas de terra sobre terra. Nós, degredados degradados filhos da terra — maçã, matéria malsã —, nós despossuídos postergados aos Sete Círculos do Inferno eterno —recapitulemos: antes do Juízo terrenal porque mortal. Afinal, vamos em busca do Prejuízo pré do pré do pré e pontificaremos — escrituras, constituições partituras em marcha-a-ré em procissões em canto em profissões de fé e desencanto. Após, apenas pó. Haja alívio, sortilégio haja paz neste vale de promessas inválidas como crisálidas jamais


libertárias. Neste mundo —vasto mundo fim-do-mundo imundo, no fundo do poço. Nós, infames filhos de Eva filhos-da-Égua primeva — vexames!!! — exilados condenados a este mundo vil maravilhoso!

maravilhoso aravilhos ravilho avilh vil hliva ohlivar sohlivara osohlivarem Extraído de PERVERSOS. Brasília: Thesaurus, 2003 A C A S A E M QU E N A S C I Visito a casa em que nasci mas detenho-me no umbral sem penetrá-la, sem querer profaná-la: o irreconhecível! Outras pessoas é que vivem nela e as tantas reformas e ampliações desfiguraram-na, tornaram-na invisível: só resta uma janela!!! Onde morreu meu irmão Hélio? Em que desvão as visões de menino? E as acres lágrimas de minha mãe e os sonhos acanhados de destino? Havia até mesmo um pátio, e flores e haveria nele rede e abano, e um quintal. A porta sempre aberta, visitas, licores, algum peixe frito no fogão a lenha. Os avós estavam na parede, bisonhos. E o meu desatino, meus desvios


Pressentidos antes que manifestos? E os rios de chuva, em correria descendo a rua para, logo, gemendo, buscarem o Mearim, que seguiria seu curso ao mar. E eu achava que também me levava, e eu seguia... Chácara Irecê, 14.01.2006


JOSÉ NASCIMENTO MORAIS FILHO160, 161 15 de julho de 1922 # 22 de fevereiro de 2009 Nascido em São Luís, aos 15 dias de julho de 1922, o autor de Clamor da Hora Presente, desde cedo, mostrou sua forte vocação de agitador de idéias. Assumiu a liderança de um grupo de jovens, e com eles fundou e dirigiu o Centro Cultural Gonçalves Dias, considerado o mais importante movimento cultural de São Luís, na década de 40. Auditor Fiscal aposentado pela Secretaria da Fazenda do Estado, Nascimento Morais Filho hoje preocupa-se com as novas gerações, que não contam mais com as tertúlias – as conversas noite adentro nos botecos do Largo do Carmo e na Praça Benedito Leite, nas quais jovens poetas e jornalistas falavam de literatura, amor e política. Recolhido às memórias, Nascimento Morais Filho não arquivou a paixão pela poesia, tampouco se esquiva da militância pública. Casado há 52 anos com a enfermeira Conceição Moraes, o poeta fala com orgulho de seus cinco filhos: o professor de Física José Nascimento Moraes Neto; a bacharel em Filosofia Ana Sofia Fernandes Nascimento Moraes; a enfermeira Eleuses Moraes Garrido; o médico veterinário Renan Fernandes Moraes e a professora Lourely Fernandes Nascimento Moraes. Enfermeira do trabalho, exfuncionária da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e da Alumar, hoje trabalhando na Prefeitura de São Luís, Conceição Moraes encantou o poeta aos 20 anos de idade: “Era uma pepita, que eu roubei de lá, da cidade de Turiaçu, onde ela nasceu”, recorda o poeta.Seu primeiro livro, Clamor da Hora Presente, publicado em 1955, foi traduzido para o francês e para o inglês por uma freira dos Estados Unidos da América do Norte. Depois ele publicou Pé de conversa (1957); Azulejos (1963); O que é o que é? (1971); Esfinge do azul (1972); Esperando a missa do galo (1973); Maria Firmina – fragmentos de uma vida (1975) e Cancioneiro geral do Maranhão (1976). Nascimento Morais Filho também promoveu a reedição facsimilar do romance Úrsula (1975) e do livro de versos Cantos à beira-mar (1976). Com mais de 10 livros publicados, Nascimento Morais Filho é dono de uma obra que muitos quiseram condenar ao ostracismo, por conta das ousadas atitudes políticas que assumiu ao longo da vida. Cioso da ascendência africana da sua família e do exemplo de vida de seu pai, o jornalista e escritor Nascimento Moraes (1882-1958), que sofreu na pele o escancarado preconceito racial que havia na sociedade maranhense, Nascimento Morais Filho, até hoje, trava uma luta à sua maneira pelo respeito e pela valorização dos negros. Como parte desse esforço, ele gosta de lembrar que ficou na Imprensa do Maranhão o exemplo do grande jornalista, que foi seu pai. Nascimento Morais Filho162 é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e é o titular da Cadeira Nº 37 da Academia Maranhense de Letras, instituição com a qual acabou travando uma briga memorável. O autor de Esfinge do azul rompeu com a Academia quando os seus pares reuniram-se, no dia 7 de junho de 1979, para eleger o ex-governador Pedro Neiva de Santana (1907-1984). Protestei porque Pedro Neiva nunca escreveu uma linha. Reagi, votei contra e nunca mais pus meus pés lá. Dessa sua atitude, Nascimento Morais Filho diz que nunca se arrependeu: Larguei a Academia, sim. É uma Casa que não imortaliza ninguém. Quem tem valor, quem tem talento mesmo, não precisa de Academia, assinala o poeta, lembrando que seu pai foi presidente dessa mesma Academia. Caso raro entre os literatos maranhenses, o autor de Clamor da hora presente faz duras críticas aos intelectuais da moda, como também tem uma avaliação bastante severa de sua obra e de si próprio. Porém ele enche o peito, deixando a modéstia de lado, quando começa a falar de seus próprios livros: Eu sou um escritor internacional. Minhas obras já foram para outros países e meu livro Azulejos, se fosse traduzido em francês ou inglês, seria um best-seller, porque é um livro originalíssimo, que resgata os meus tempos de menino.

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SANTOS NETO, Manoel. NASCIMENTO MORAIS FILHO. IN GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 28 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/28/Pagina63.htm, acessado em 29/04/2014. 161 CARNEIRO, Alberico. LER/DIALOGAR/SIGNIFICAR NASCIMENTO MORAIS FILHO: Um Poeta Além de seu Tempo. JORNAL PEQUENO, Publicado em: 01/03/2005, disponível em http://jornalpequeno.com.br/edicao/2005/03/01/lerdialogarsignificar-nascimento-morais-filho-um-poeta-alem-de-seutempo/ 162 O HOMEM QUE RENUNCIOU À ACADEMIA IN GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 28 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/28/Pagina62.htm , acessado em 29/04/2014 http://jornalpequeno.com.br/edicao/2009/02/22/nascimento-morais-filho-morre-aos-86-anos-vitima-de-edema-pulmonar/


EVOCAÇÃO163 Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! - Eu sou o sofrimento dos sem nome! - Eu sou a voz dos oprimidos! Não tanjo a lira mágica de Orfeu De quem as aves se acercavam para ouvi-lo E lhe vinham lamber os pés as próprias feras! As láureas, meus irmãos, olímpicas não busco Com que cingis de gloria os vossos sonhos! - Cravaram-me a coroa dos crucificados! Minha Castália – são as lágrimas do povo; Meu Parnaso – a dor da minha gente! Meu instrumento é poliforme e rude! Não tem o aristocrático perfil das harpas nobres Nem as rutilações de sons das pedras raras. - Ele é clamor! Ruge nos seus trons O estrugir do povo em praça pública! Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! Maldigo a resignação infame dos covardes! - Eu prego a rebeldia estóica dos heróis: - Meu evangelho é a liberdade! A liberdade, meus irmãos, Tem a forma simbólica da cruz E a cor do sangue. - O sangue é o apanágio da conquista! Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! Jesus, Se conquistou os céus com suas orações, Ele, o Redentor, Sobre a terra triunfou com o sangue do seu corpo! Sangue, flâmula bendita, E no Calvário – fé – aberta em cruz! Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! EGO SUM QUI SUM Corre sangue de heróis nas minhas veias; Descendo da nobreza dos gigantes; As flamas das batalhas conservei-as, Forjadas na bigorna dos atlantes! Atenas – meu brasão!... e das cadeias Olímpicas dos sonhos deslumbrantes, As vertigens azuis arrebatei-as Aureolando-as com os raios dos levantes! 163

Blog de Luiz Alberto Machado, disponível em http://varejosortido.blogspot.com.br/2010/10/poetas-do-maranhaonascimento-morais.html JOSÉ NASCIMENTO MORAIS FILHO – O poeta, professor, jornalista e folclorista maranhense, José Nascimento Morais Filho (1922-2009), foi um dos participantes do Modernismo no seu estado e ocupante da cadeira 37 da Academia Maranhense de Letras. Fundador do Comitê de Defesa da Ilha de São Luiz e militante ambiental, é autor dos livros Clamor da hora (1956), Azulejos (1963), Esfinge Azul (1972), Pé-de-conversa (1957), Um punhado de Rima (1959) e Clamor do Presente (1992). http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/nascimento_moraes_filho.html


Legionário da glória, dos umbrais Da luz dardejarei coruscantes astas Contra o furor dos vis iconoclastas!... A ressoar as trompas aurorais Formarei novos mundos dos escombros - Carregarei os séculos nos ombros!... APOCALIPSE SOCIAL Ó vós que adorais o Bezerro de Ouro, Olhai para o levante! Vede a coluna incandescente Que fumega no horizonte! - É o sinal dos novos tempos! - É aquela mesma coluna de fogo Que desceu dos céus, Para guiar a humanidade para a Terra da promissão! - São os legionários da liberdade, Que marcham abalando o infinito, Qual terremoto de luz, Craterando as regiões das alvoradas! Tremei, ó potentados! Tremei! - É a sentença dos séculos! Pesa pontiaguda sobre vossa cabeça, Como aquela espada sinistra do banquete!... Mas breve o fio se partirá, ó potentados!.... O juízo final vos espera... Contados, vossos dias! Pesados, vossos crimes! Divididos, vossos tesouros pelos clamores, Que rondam os muros de vossos Palácios e mansões! Não ouvis as vociferações Dos cartazes nas paredes? Não ledes as sentenças ameaçadoras Escritas por mãos misteriosas, Nos muros e nas calçadas? - É a voz do povo Clamando no muro das lamentações! - É a voz de Deus, Escrita com piche à vossa porta! - Quem ouvidos tiver que ouça! - Quem olhos tiver que veja! Ó rubro tonitroar de trombetas - explosões dos Andes aureolados de flamas! Clamarei, ó potentados: “o pesadelo dos céus”! - A liberdade destruindo as muralhas dos Presídios! Presídios, Quem tem como cúpula A toga dos magistrados consteladas de lágrimas! Lágrimas, Que tremem como bocas balbuciantes E acenam para a justiça


Que vós, ó potentados, cegastes. Os arranha-céus - operários petrificados em revolta Desmoronando em cadeia! E dos escombros Falanges de fantasmas sinistros Com os punhos fechados para o alto Avançando sobre vós! Os verdes campos, ridentes de alegria verde, Há séculos, Transformados em campos de tortura da esperança, Despertando da letargia do sofrimento!... E das outrora dadivosas covas das seares, Cardos espectrais brotando agora! Ai de vós, industriais da miséria e da injustiça! Ai de vós Que desperdiçais em vossa lauta mesa A comida que roubais da boca dos meus irmãos! Ai de vós Que transformais em sons de long-play Os soluços e os ais de meus irmãos! Ó vós Que os céus enegreceis de tantos crimes, Levantai-vos de vossa prostração! - É outra vossa crença! É outro vosso culto! - As vossas oblações ofendem a Deus, Ó vós Que celebrais a missa negra da miséria E da injustiça! Escutai, ó meus irmãos, Os trons estranhos de trombetas estranhas! - Eclosões de auroras! Não mais Os apitos enfumaçados das chaminés Açoitando a besta-humana para o trabalho-forçado! - ´W a marcha universal dos novos tempos! Erguei-vos, e vivei, ó meus irmãos! - A luz, o ar, a terra é para todos!... Vinde comigo! Eu vim da idade que virá, Para revelar-vos os dias que virão! Não mais, meus irmãs, fundireis nas oficinas A chave de vossa cadeia! Não mais tecereis nos teares O sudário moral dos vossos dias! Livres, Trareis os vossos pulsos Das algemas da escravidão E vosso rosto das rugas do ferro do senhor! - Não mais a vida de escravo, Não mais senhor o patrão! O suor não é mortalha Nem o labor opressão! Ao som do canto agreste dos campônios, Ó campos reflori! Ó campos reflori!


Cantai na vos dos pássaros, cantai! Cantai na branca voz das cataratas, cantai! Na luz transfigurada das searas Ó campo exultai! Ó campo exultai! De novo cavalgai, homens do campo, Vosso corcel olímpico de auroras! ... Um riso faltava na sociedade... Uma lágrima... e uma idéia.... Inda uma cor faltava na paisagem E uma nota na harmonia universal! - Rides? Vossa alegria será por todos comemorada! - Chorais? Vossa dor será por todos compartilhada! - Pensais? Vossos pensamentos não precisarão esconder-se Nos subterrâneos da noite! - A liberdade é a pátria universal! Vossa consciência é vossa. Consciência, Que não precisareis vender por um prato de Comida, Nos dias de eleição!... Vossa mulher agora terá leite, Para amamentar vossos filhos, E, nos seus fecundos seios, criará os novos homens! Homens, Que, ao contemplar o firmamento azul, Se lembrarão das suas origens... E, então, no êxtase de deuses redivivos, Exclamarão: - Eu vim também do infinito! Nasci naquela estrela!


ROSSINI CORRÊA 164 JOSÉ ROSSINI CAMPOS DO COUTO CORRÊA É de SÃO LUÍS, nascido em 08 de setembro de 1955. Dedicado aos estudos jurídicos, teológicos, filosóficos e sociais, Rossini Corrêa – que participou de seminários jurídicos na Pontifícia Studiorum Universitas Urbaniana, no Vaticano e na Libera Università Maria Santíssima Assunta, em Roma, bem como na Universität Hamburg, na Alemanha e na L’Ecole Nationale de la Magistrature à Paris e de conferência na Sultan Qaboos University, do Sultanato de Oman – possui Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1978), Bacharelado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (1981), Mestrado em Ciência da Religião pelo Instituto de Ensino Superior Evangélico (1998), Mestrado em Direito Canônico pela Faculdade Teológica Panamericana (1998), Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1982), Doutorado em Teologia Th D, pela Faculdade de Teologia Antioquia Internacional (1998), em Theology, pela Antioch Christian University, em Sociologia, pela Universidade de Brasília (1987), Doutorado e PósDoutorado em Direito Internacional, pela American World University (2002 e 2008). Rossini Corrêa é detentor de uma dezena de Doutoramentos Honorários, entre os quais, Doutor Honoris Causa em Ciências Jurídicas, pela Faculdade Ítalo Brasileira - FIB; Doctor of Letters Honoris Causa, pela Academia de Letras Machado de Assis; Honorary Doctor in Laws, pela Cambridge International University; Doutor Honoris Causa em Filosofia, pela Universidade Católica Ortodoxa Unida; Doutor Honoris Causa em Filosofia, pelo Instituto Teológico Emill Brunner; Doutor Honoris Causa em Teologia, pela Faculdade Teológica Bereana Internacional; Doutor Honoris Causa em Direito Internacional, pela Emill Brunner Universidade Aberta; Doutor Honoris Causa em Letras, pela Academia de Ciências, Letras e Artes de Minas Gerais; e Doutor Honoris Causa em Ciências da Educação, pelo Instituto Euro Americano de Educação Superior, Pesquisa e Extensão. Atualmente é/ recentemente foi Consultor para Assuntos de Pós-Graduação do Centro Universitário de Goiás UniAnhanguera e Representante Técnico do Centro Universitário de Goiás-Uni-Anhanguera, no Convênio de Cooperação Internacional firmado com a Universidad de Extremadura-UEX-ES , Coordenador da Cátedra Daisaku Ikeda, sediada no Centro Universitário de GoiásUni-Anhanguera, Vice-Reitor da American World University, Assessor Jurídico da Igreja Memorial Batista, Presidente do Instituto Avocare e Pesquisador Visitante do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos-IMESC. Advogado e Professor Universitário, Rossini Corrêa é Conselheiro Federal Titular, pelo Distrito Federal, da Ordem dos Advogados do Brasil - CFOAB - 2013/2016, Membro Titular da Comissão Nacional de Educação Jurídica, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - CFOAB - 2013-2016, Membro do Instituto dos Advogados do Distrito Federal – IADF, Membro da Academia Brasiliense de Letras – ABRL e detentor da Comenda Luís Vaz de Camões. Rossini Corrêa foi Coordenador Nacional da Lei Sarney, Assessor Especial do Governador de Pernambuco, Secretário de Educação e Cultura de Jaboatão dos Guararapes, Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Maranhão, Assessor da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, Advogado da Secretaria de Planejamento do Estado do Maranhão, Diretor do Centro de Pesquisas Estruturais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, Chefe de Cadastramento do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural, Advogado do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal, Assessor Jurídico da CPI sobre Exploração Sexual de Crianças e de Adolescentes (CD/DF), Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário UNIEURO, Professor do Curso de Mestrado em Direito do Centro Universitário de Brasília-UNICEUB, Professor do Curso de Formação de Oficiais (APM/DF), Professor da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal, Professor da Associação Pioneira de Integração Social, Técnico de Nível Superior da Fundação Escola Nacional de Administração Pública, Coordenador de Estágio da Fundação Escola Nacional de Administração Pública e Diretor de Estágio da Fundação Escola Nacional da Administração Pública. Autor de 25 livros publicados, Rossini Corrêa conquistou 20 prêmios literários e possui cerca de 50 obras inéditas. Eis a sua bibliografia mínima: 164

http://www.thesaurus.com.br/autor/rossini-correa


ALGUMAS TESES · Classe Média Posta em Questão: ensaio de revisão bibliográfica. Recife: UFPE, 1978. 170 p., Trabalho de

Conclusão de Curso de Bacharel em Ciências Sociais. · Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís, SIOGE, 1993, 391 p. · O Liberalismo no Brasil: José Américo em perspectiva. Brasília, Senado Federal, 1994, 710 p. · Política Externa Independente: contribuição crítica à história da diplomacia nacional. São Paulo, USP, 1992. 160 p. Trabalho oferecido ao Programa de Pós-Doutorado em Política Internacional e Comparada. · Elegias de Eraldo. Brasília, Instituto de Ensino Superior Evangélico, 1998, 150 p. Tese de Mestrado em Teologia. · Direito & Teologia: Amós, profeta de qual justiça? Brasília, Faculdade de Teologia Antioquia Internacional, 1999, 150 p., Tese de Doutorado em Ciências da Religião. · Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias, companheiro da Nabuco. Brasília, American World University, 2008, 600 p., Tese de Doutorado em Direito. FICÇÃO · O Prêmio Nobel. Brasília, Corrêa e Corrêa Editores, 1989, 60 p. · Reino Unido do Brasil. São Luís, SIOGE, 1993, 157 p. POESIA · Canto Urbano da Silva. São Luís, SIOGE, 1984, 100 p. · Sinfonia Internacional para a Pátria América: liberdade. São Luís, SIOGE, 1986. 216 p. · Saltério de Três Cordas. Brasília, Guarnicê, 1989. 130 p. Co-autoria com Joaquim Haickel e Pedro Braga. · Almanaque dos Ventos. São Luís, SECMA/SIOGE, 1991. 140 p. · Baladas do Polidor de Estrelas. São Luís, SECMA/SIOGE, 1991. 120 p. · Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos. Brasília, Thesaurus, 2001, 64 p. · Champagne para Nirciene. Brasília, Kelps, 2005, 224 p. SOCIOLOGIA · Mudança Social do Nordeste. São Luís, SIOGE, 1986, 186 p. · O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade: bases para um contrato social universalista. Em parceria com Valdir Perazzo. Brasília, Corrêa & Corrêa Editores, 1998, 327 p. · Da Itália para o Brasil. Brasília, Editores Perazzo & Corrêa, 1998, págs 21 a 39 e 213 a 218. · Atenas Brasileira: a cultura do Maranhão na civilização nacional. Brasília, Corrêa & Corrêa: Thesaurus, 2001, 379 p. · Os Maranhenses: Contribuição para a Teoria Geral do Maranhão. São Luís, IMESC, 2008, 48 p... il. POLÍTICA · 1945: a lição de transição no Brasil. São Luís, Edição do Autor, 1986. 68 p. · Roma de Bravos Guerreiros: o Diabo Loiro na história política de Pernambuco. Em parceria com João Roma Neto. Recife, Instituto Frei Caneca de Estudos Políticos e Sociais, 1998, 330 p. Co-autoria com João Roma Neto. HISTÓRIA · O Modernismo no Maranhão. São Luís, UFMA, 1982. 108 p.; 2ª ed. ver. e aum. Brasília: Corrêa e Corrêa Editores, 1982. 292 p.: 3ª ed. São Luís: Jornal Vagalume, 1990/91, números esparsos. · Paraná: começo de um Brasil melhor. Brasília, Câmara dos Deputados, 1989.168 p. DIREITO · Crítica da Razão Legal. 2ª Edição, Rio de Janeiro, América Jurídica, 2004, 325 p. · Jusfilosofia de Deus. Brasília, Editora Primogênitos de Deus, 2005, 370 p. · Saber Direito: tratado de filosofia jurídica. Brasília. Editora Rossini Corrêa, 2011, 637 p. · Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias, companheiro da Nabuco. Brasília, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 2013, 607 p. MEMÓRIA · Um Fio de Prosa Autobiográfica com Ignácio Rangel. São Luís, IPES/UFMA/SIOGE< 1991. 166 p. il. Co-entrevistador, em cooperação com Maureli Costa, Pedro Braga e Raimundo Palhano, e autor da introdução e das notas. · Brasis que Vivi: memórias de Moura Cavalcanti. Recife, Fundação Joaquim Nabuco/Massangana, 1992, 308 + LXXVII p. il. Entrevistador, pesquisador e responsável pela forma literária.


· Ad Immortalitatem. Brasília: Thesaurus, 1999. 54 p. Discurso de posse na Academia Brasiliense de Letras. Integra os Conselhos Consultivos da Fundação Casa de Penedo (AL), da Fundação Bandeira Tribuzi (MA) e da Escola de Formação de Governantes (MA), bem como o Conselho Pedagógico do Centro de Estudos Constitucionais e Gestão Pública (MA). Foi membro do Conselho Deliberativo da Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil (DF) e componente da Comissão de Ensino Jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil (DF). Tornou-se Cidadão Honorário de Brasília por proposição do Deputado Alírio Neto, aprovada por unanimidade. É, ou foi, membro dos Conselhos Editoriais do Centro de História da Igreja na América Latina e no Caribe, da Câmara dos Deputados, da Editora América Jurídica, da Revista Anhanguera, da Revista CESUC e da Editora Guerra Jurídica e Consultor ad hoc para Filosofia do Direito da Revista CEJ, do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal e do Conselho Editorial da Revista Prisma, do Mestrado em Direito das Relações Internacionais, do Centro Universitário de Brasília. É presidente do Conselho Editorial da Editora Rossini Corrêa. Possui dezenas de artigos jurídicos publicados em órgãos especializados, a exemplo da Revista da Escola Nacional de Advocacia, do Conselho Federal da OAB. É Presidente do Instituto Avocare. No Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil foi nomeado Presidente da Comissão de Direitos Difusos e Coletivos. É integrante do Colégio de Vice-Presidentes da Associação Brasileira dos Advogados – ABA e Vice-Reitor da American World University – AWU/USA, para o Brasil e demais países de língua portuguesa. Recebeu ainda os títulos de Comendador da Soberana Ordem dos Valores Cristãos, de Teólogo Imortal e da Cruz do Mérito Teológico e Educacional e a Medalha do Mérito Candango e foi membro do Conselho Editorial da Câmara dos Deputados. É membro efetivo da Academia Brasiliense de Letras , cadeira N° 7, cujo patrono é Joaquim Nabuco e da Academia Brasileira de Ciências da Religião, cadeira Nº 10, que tem como patrono Dom Helder Câmara. CARTA AOS EFÉSIOS Efésios eterna na branca colina da paisagem azul: são os templos, são as fontes, são os homens, são os deuses, são os barcos, são as fêmeas, são os frutos, são os pastos, cantando martelo na beira do mar. Romanos e gregos na rua, boca de lobo de qual verdade? Gregos e Romanos pintando o sete, bordando a ouro como argonautas pelos mares gregos ou como romanos valentes soldados, ambos senhores da rosa dos ventos boiando nos ares, cantando martelo


na beira do mar. São os banhos, são os carros, são as lanças, são as cabras, são os peixes, são os vinhos são os vícios, são os vícios, Efésios eterna na branca colina da paisagem azul, sem mais martelo na beira do mar. Éfesos, julho, 2007. IBÉRIA Avistei terras de Espanha, de Espanha e de Portugal. E foi uma miragem tamanha, que o azul emocionou a nau. Que o azul lacrimejou o ser, esperto bicho, só de alegria mascarado, logo a renascer, pintando de colorido o dia. Colorido dia de Espanha, de Espanha e de Portugal: (este ouro que o azul apanha e transforma em mel e sal). Madrid, julho, 2007. EM RHODES Ao sol da Grécia, fértil, tu explodes: abaixo, tua Pérsia. Agora, vês Rhodes. Desprezas o colosso. Tens o teu, privado. Nirciene, céu e poço no mar do seu amado. Rhodes, julho, 2007. SALOMÃO EM PARIS -- Pelo vitral, Paris dançava: o sol na bruma. E eu, em suma, o azul escutava no mel, no sal. (Quanta parede


e poucos meios: a vida, apenas...) Tenho 2 Senas: são teus seios à minha sede... (Não tenho rede e também feitos à luz de sábios). Tenho lábios, tenho 2 leitos: sou sono e sede! Paris, dezembro, 2009 POR QUEM OS SINOS DOBRAM “nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram:eles dobram por ti”. JOHN DONNE Empresta-me, John Donne, o celeste verso terreno, o terreno verso celeste: permite-me que eu o clone e, com este coração pleno, ninguém a mim me conteste. Tal como Dante, eu também tenho agora uma vida nova - sem fel, choro ou grito... Pois a dor que a vida tem, o mel do amor bem a renova: rosa de perfume infinito. (Estrela de um céu menino, romã dos pomares de Deus, pétala da melhor das rosas, rosa total do meu destino do nada a tornar-me Zeus). Musa das manhãs licorosas, amém! Amém por tu existires. Por tu seres, por tu estares, O vento a cantar: Nirciene... Amém por tu vires ou não vires, ó sal singular dos meus mares: morena safra, mãe do dia vezes ene! São todos teus os meus hinos, os hinos que dobram e dobram, din, don, din, don como nunca vi. Os meus hinos são teus sinos que em pássaros se desdobram, que os sinos dobram é por ti! É por ti que os sinos dobram!” Brasília, outubro, 2004


QUINTO ENCONTRO Eu vi Lisboa do alto (era um bolo confeitado ou um jardim iluminado?) Nuvem nevada o asfalto... Conversava Dona Nuvem na molhada madrugada, rainha branca e alada: nunca, jamais se curvem. Nunca, jamais se turvem, mesmo à Lisboa do alto... Com uma vontade de salto, Lisboa, meu chão de nuvem. Cheguei para teu abraço, com a rosa amada comigo, minha morena cor de trigo, contigo a disputar o espaço. Eu, um escudeiro fiel, amei a amada em Lisboa. Em Lisboa a amada voa... Ela, eu, em Lisboa. O céu! Lisboa, março, 2010 REGRA DE OURO Vida (unha em si mesma encravada e dolorida): de repente, lépida lesma esvoaçante e/ou abduzida. É melhor, enquanto tê-la, esmerilar o chão amigo e lapidar o azul estrela, colhendo o pão do trigo. Não é motor a gasolina, muito menos a óleo diesel. A vida, minha doce menina, mar é, de fel e talvez mel. A nossa tarefa – difusa e precisa – é pôr carinho, ó amada e morena musa, nos espinhos do caminho, para, assim, poder vivê-la na beleza da mulher nua a iluminar céu e estrela, pois toda noite é de lua! Pirenópolis,-GO, maio, 2014.


GORETH PEREIRA MARIA GORETH CANTANHEDE PEREIRA 4 de setembro de 1974 Por Dinacy Corrêa165 Moradora da Vila Palmeiras, filha de Raimundo Araújo (pedreiro) e de Terezinha Cantanhede Pereira (empregada doméstica e artesã), mãe de três filhos… Ensino Médio completo (antigo Cema), curso profissionalizante (Técnico de Encadernação – Cintra)… De gari a poetisa, passando por outros ofícios (recepcionista, produtora de papel reciclado…), Maria Goreth Cantanhede Pereira, no exercício do trabalho digno e na fidelidade ao culto da poesia, vem construindo a sua história/trajetória gloriosa, marcada por lutas e superações. Hoje, graduada em Letras (Fama) e com livros publicados – Confissões: diálogos em poesias; Garimpando poesias; Desejos poéticos – além de outros trabalhos inéditos, vem comprovando que é, mesmo, de direito e de fato, uma mulher de atitude… Leitora devota de escritores maranhenses, inspirando-se, sempre, em poetas da terra, como Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, sua conexão com a Poesia, estabelece-se muito cedo. Aos dez anos de idade, com a ajuda e orientação de suas professoras – que a ensinaram “como escrever uma poesia” – conquista o primeiro lugar num concurso do gênero, na escola. A partir daí, desponta, em sua alma, o desejo ardente, o sonho dourado de ser autora. O que vem a se concretizar em 2004, aos 29 anos, por obra e graça do seu então chefe, o mecenas Luiz Jandir Amim Castro (diretorpresidente da Coliseu – Companhia de Limpeza e Serviços Urbanos), contando, ainda, com o apoio de amigos e políticos sensíveis à sua aspiração. De modo que, é ainda na condição de gari, varrendo, limpando, embelezando as ruas da sua amada cidade-ilha, que tem o seu primeiro livro editado, numa tiragem de 300 exemplares. O segundo, vem à luz em 2009, lançado na 3ª. Feira do Livro de São Luís. Em 2010, uma segunda tiragem de Garimpando Poesias, sob o patrocínio da Secretaria de Desportos e Lazer (Semdel), onde ela trabalha atualmente (cedida pela Coliseu). Nesse mesmo ano, participa de outros eventos culturais e literários, fora do Maranhão, como a 9ª. Bienal Internacional do Livro do Estado Ceará e a 21ª. Bienal Internacional do Livro do Estado de São Paulo. Em março de 2011, quando das comemorações do Dia Internacional da Mulher, no sudeste do País, por indicação de poetas brasileiros, reconhecedores e admiradores, não só do seu trabalho, como da sua luta “de mulher nordestina de baixa renda, mas que acredita e corre atrás dos seus sonhos”, arrebata o Prêmio Mulher de Atitude, cujo significado, lhe é, ainda, muito caminho a percorrer: Eu sei que tenho muitos obstáculos ainda pela estrada, mas reconhecimentos como esse me levam a ir em frente. Acredito que os sonhos só acabam quando você desiste. Agradeço muito às pessoas que acreditam e me ajudam. Essas pessoas sonham junto comigo – expressa. A inspiração pela capital maranhense e o amor a seu mestre Gonçalves Dias fazem dessa autora um canhão que dispara incessantemente em direção à realização do seu sonho [...] Goreth Pereira [...] deixa para o leitor a marca de que o seu estilo é declaradamente romântico, não deixando de conter em seus versos: a crítica, o lírico, o afeto, a dúvida, o desespero, a incerteza, a amizade, a alegria e a denúncia, enfim [...] por ser a nossa primeira gari a escrever poesia e a publicar um livro dessa natureza… torna-se um exemplo de que a educação ainda pode ser a resposta para os problemas do cotidiano. [...] Os versos de Goreth são uma declaração de amor á vida, aos seus familiares e, principalmente, a sua cidade: São Luís. (Mauro Ciro Falcão Gomes)

O GARI O gari é a mais pura e preciosa pérola Porque do sol do meio-dia de um trabalho árduo Surge um tão belo ser singelo como uma suave brisa do mar Trabalhador lutador em busca de uma Realização profissional mais um guerreiro do dia a dia A sua espada é a vassoura Meu escudo minha dignidade Sou como dom Quixote levando meu carrinho de mão Tirando a sujeira do chão meu senhor minha senhora Trabalho com lixo mas não sou lixo não Trate-me com carinho e me dê sua atenção Sou negra, bela negra, veja o meu rosto é só alegria Chega aí irmão não tenha medo não sou gari por profissão e poetisa por devoção Sou do povo e para o povo vou declarar que um gari conseguiu chegar lá 165

http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2013/03/poetisas-maranhenses-goreth-pereira/ PEREIRA, Goreth. Confissões: diálogos em poesias. São Luís: Lithograf, 2oo4. http//www.jornal pequeno.com.br/2oo7/211pg.50709.htm(25.08.2011)


Mas eu tenho que falar minha cidade é tão limpa que dá para se espelhar

ILHA DOS ENCANTOS Ilha de muitos encantos É grande o teu esplendor Abençoada por todos os santos Ilha do meu amor Te quero com muito carinho Por ti tenho afeição Em ti construí o meu ninho Meus filhos em ti viverão

QUEM VIVE AQUI É FELIZ Quem sai daqui no entanto Lá fora para os outros diz: Minha ilha tem nome de santo Vamos comigo ser feliz Nessa ilha de mil encantos Minha bela São Luís.

MINHA COMPANHIA Você me fez sua detenta O seu amor me alimenta É ele que me sustenta Só você me orienta És um pedaço de mim Só penso em teus carinhos Teus braços minha doce alegria Te quero por toda a vida Te acompanhar me dá prazer Uma parte está em mim A outra em você Teu amor me dá força Para caminharmos e juntos construirmos Sempre o que é de mais belo Nossa união. SEMPRE TE AMAREI Sempre te amarei Na alegria, na dor e na tristeza Sempre te amarei Mesmo que passe as dificuldades Pois você me escolheu Para ser seu grande amor de verdade Sempre te amarei Mesmo que precisasse ir para bem longe Porque na realidade um grande amor fica para Sempre no coração Em qualquer circunstância Seja qual for a situação Não importa a distância Deus nos uniu e abençoou Do nosso amor agora hoje e sempre te amarei Meu amor


HENRIQUETA EVANGELINE 166,167 Ludovicense, nascida “[...] na alvorada de um domingo de sol e muita festa (09.08.1998, dia de São Benedito, dia do Papai)”, desde cedo, começou a falar os seus poemas, no deslumbramento dos seus primeiros contatos com a palavra, com um mundo em incessantes descobertas... a família, a vizinhança, a rua, os passeios, a escola, as professoras... começando pelo Colméia (quando ainda no Monte Castelo), passando pelo Dom Bosco (Renascença)... quando morava no Residencial Girassol. Hoje, domiciliada no Centro Histórico de São Luís, ela estuda no Santa Tereza (Rua do Egito). Dela, diz o professor/escritor Alberico Carneiro Filho (Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, Ano IV, ed. 117), “[....], ser poeta aos 6 anos de idade é um fato raro ou, no mínimo, uma exceção à regra; porém, às vezes aflora, na mente de uma criança, o precoce dom da poesia. Henriqueta Evangeline é um desses casos singulares, ao estrear, em 2004, com a publicação de Castelo da Poesia, uma coletânea de micropoemas surrealistas e em linguagem nonsense que ela tão belamente emoldura com suas próprias ilustrações, demonstrando um outro lado da sua veia artística, em termos de criação, também como poeta, de uma das formas das artes plásticas, a pintura”. Todavia, haveremos de admitir, com velho dito popular, “é de criança que se aprende o ofício”... Aos 13 anos de idade, a quase menina-moça tem publicado Castelo da Poesia, já em três edições, seguidamente ampliadas: a primeira (capa amarela, 17 poemas), comemorativa da sua formatura no Alfabetização (pré-escolar), aos seis anos de idade (2004), por iniciativa da família, em querer celebrar esse momento de encantamento “acústico/imagético” da poetisa-mirim com a Palavra, um mundo em contínuo desvelar-se e revelar-se, ante o seu “olhar-menino”... valorizando esse processo criativo, acolhendo essas suas primeiras intencionalidades poéticas; a segunda (capa verde, 20 poemas), ambas ilustradas com os desenhos infantis da própria autora; a terceira, pela Editora Paulinas (2008), em outro formato, 22 poemas e ilustrações de Ellen Pestile. É importante ressaltar que o livro contém muito de poesia falada, considerando-se que, à época, a pequena não detinha o poder da escrita. Os textos, pois, iam sendo registrados pelos seus familiares, da maneira como eram proferidos, pela poetisa (a partir dos seus quatro anos de idade, por aí assim),“em suas estranhezas morfossintáticas e semânticas”, o mesmo ocorrendo com a pontuação. Para o professor e escritor Alberico Carneiro Filho (id., ibid.) o que há de especial nos pequenos poemas de Henriqueta Evangeline é a técnica com que ela costura sua emotividade, utilizando-se daquele pretexto que dá às palavras sentido poético, a sutileza, com o que ela surpreende e enternece o leitor, valendose do deslance inesperado e inusitado. Já senhora de um considerável currículo de participação ativa em eventos culturais (Festivais de cultura e literatura, como o de Poesia Falada-UFMA, Encontro de Letras, Feiras de Livro, Palestras, Lançamento de livros), Henriqueta vive a arte com muita intensidade, incursionando pela Música (aluna da Escola de Música do Ma.), pela dança (Ballet Clássico, Capoeira d’Angola), pelas Artes Plásticas... E continua, nas entrelinhas da vida, a produzir suas pequenas jóias poéticas (estas já exalando aromas preadolescênticos), que permanecem inéditas, como à espera de um momento propício ou de uma motivação para virem a público. “Talvez quando eu concluir o Ensino Fundamental”... ela diz, evasiva. Bom, aguardemos, visto que a menina ainda vai cursar (2011) o 8º. Ano. Enquanto isso, apreciemos algumas dessas (ine)dicções... como esta: As palavras têm acento As palavras têm sentido As palavras Pegam fogo Incenndeiam-se nos parágrafos... Fim de linha.

POESIA FALADA Você quer rimar comigo? Rimar com palavras, Todos os dias Segunda Terça Quarta 166 167

CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/


Quinta Sexta Sábado Domingo...(RABELO, 2005, p. 4)

PRAIA GRANDE O mar que não se seca O mar que não se enche A vela que não pára de navegar... E o amor? Não sei por que eu não fui com o mar (RABELO, 2005, p. 5) Coração O amor se abre O castelo não se abre O desenho é uma história E a flor não se abre A rosa que se espinha E o nunca do amor (RABELO, 2005, p. 7) A imagem do satélite mostra Nuvens carregadas no Sul e no Nordeste Sol em Campinas Mas, à tarde, nuvens isoladas E à noite mais nuvens isoladas (RABELO, 2005, p. 18) A sereia encanta O velho marujo E depois canta Bela rainha do mar (RABELO, 2005, p. 21)

INSATISFAÇÃO Rogamos, rezamos, choramos por chuva... E ela veio, enfim, causando inundações E aí... rogamos, rezamos, choramos por sol... E ele veio de novo e ficamos ainda a reclamar... a quase morrer de calor. Aff! Ninguém se satisfaz... nem com chuva nem com sol...

COTIDIANO SEM SENTIDO Escuto a Filosofia do meu professor numa sintonia esquisita, quase insana escrevendo as palavras no papel... Os olhos que me fazem ver são os mesmos que lágrimas fazem escorrer... que podem até me cegar para nunca mais ver você Sonho que um dia, com a minha voz num tom floral, Eu possa gritar verdades pelos lugares... Ninguém entenderá a razão; só eu e o meu coração Um poema esquisito, sem sentido Uma tarde de domingo, indo para a casa da avó Uns guarás sobrevoando o rio Anil Umas palavras para aliviar a minha dor... E andarei, enfim, sobre um chão firme.


DESENCANTO Hoje em dia quem diria que os pássaros perderiam o encanto de seus cantos matinais?... Qual profeta previria que as flores morreriam e com elas levariam o espírito dos amores que iriam nascer?... Quem acabou com aquela macieira e destruiu o habitat?... Confessemos: todos nós somos culpados; avisados tantas vezes não soubemos escutar... Soframos as conseqüências!


O MARANHÃO NA CULTURA NACIONAL ANTONIO CARLOS LIMA Em capítulo dedicado a Gonçalves Dias, no livro que acaba de lançar, “Percursos da poesia brasileira”(Autêntica, 366 páginas), o poeta, ensaísta, professor da UFRj e crítico literário Antonio Carlos Secchin lamenta, em belíssimo e profundo ensaio, o fato de que, hoje, o poeta maranhense seja muito pouco lido. Observa, com pesar, que a última edição de sua obra reunida foi a que Alexei Bueno organizou em 1998, vinte anos atrás. Considera incompreensível o lapso editorial em relação a quem classifica como “o primeiro grande poeta indiscutivelmente nacional”. O fato é lamentável porque, no entendimento de Secchin, se a carta de Pero Vaz de Caminha representa nossa certidão de nascimento, como ficou estabelecido na historiografia, a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, simboliza “a nossa carteira de identidade”. No ensaio, o autor analisa o modo como o poeta caxiense reprocessou a questão da alteridade da cultura indígena em sua produção poética, ou seja, de que modo “observou e absorveu”as diferenças e refletiu o espírito nacional. Conclui que, “ao esvair-se”, “o poeta se transforma num alterofilista, sem ‘h’: em vez de erguer alteres, cuida de levantar alteridades”. Se o conjunto de textos do professor e crítico carioca se inicia com o estudo sobre o autor de “Os timbiras”, ele praticamente conclui o livro com dois escritos consagrados a outro maranhense, o poeta Ferreira Gullar. Ao defender na Academia Sueca a concessão do Prêmio Nobel de Literatura ao autor do “Poema Sujo”, Secchin fez a exaltação de “uma vida admirável pela capacidade de dizer não a toda forma espúria de poder, mesmo ao preço de pagar por isso com a própria liberdade”. Ele reconhece na obra de Gullar “uma poesia admirável pela inquietação e pela ampla gama de recursos, que tanto fere a nota pessoal do amor e da solidão quanto se ergue na defesa de valores éticos universais através de sua muralha luminosa de palavras”. O outro texto transcrito é o que Secchin pronunciou na Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira número 19, na recepção ao academico eleito Ferreira Gullar. O tratamento conferido a Gonçalves Dias e a Ferreira Gullar neste delicioso percurso que o professor Secchin nos convida a fazer pelos caminhos da nossa literatura, principalmente na fase de afirmação de nossa nacionalidade, faz justiça a dois grandes poetas brasileiros, um deles, talvez o maior deles, hoje esquecido. E, sem que seja essa sua intenção, o livro reafirma a importância da contribuição maranhense na construção da cultura nacional. Além dos dois poetas destacados, o livro menciona, de passagem, outros maranhenses: Sousândrade, Gentil Homem de Almeida Braga, Raimundo Corrêa, também esquecidos. “Percursos da poesia brasileira” passa, naturalmente, ao largo de questões regionais. O objetivo do autor é oferecer ao leitor o que ele chama de “uma história informal” da poesia brasileira do período mencionado. Nesse livro, Secchin revela-se apaixonado leitor de poesia. Por isso, sua maior alegria, como professor, foi, como diz, perceber que pode auxiliar pessoas a superar resistências contra a poesia, “ou melhor ainda, perceber que, para uns poucos, a poesia passou a integrar também a cesta básica de alimentos indispensáveis à vida”. O Maranhão, como se vê, contribuiu bastante para essa cesta com o pão espiritual de sua poesia. (Publicado na edição de hoje d'O ESTADO DO MARANHÃO)


GOLPE DE VISTA FERNANDO BRAGA , in ‘Toda Prosa’, antologia de textos do autor. In, original, ‘Reunião: Literatura – I’ Jornal de Brasília, 25.3.79. Ilustração: capa do livro ‘Panorama da Literatura Maranhense’, de Mário Martins Meireles.

É preciso que se diga que não existe uma medida de espaço entre os artistas a impor-lhes um meandro desfavorável de geração em termos de um desafio de tempo. A arte é uma marca que ficará para todo o sempre caracterizado com o registro de sua interpretação. Inácio Xavier de Carvalho [1871-1944], de soslaio pelo parnasianismo, pela sua impassibilidade no que tange ser a poesia a expressão objetiva das coisas, pelo esmero da linguagem – que pelo verso bem feito – que supre quase sempre a poesia, e as palavras suprem à ideia, daí dizerem que os simbolistas se radicaram, em definitivo, no subjetivismo pinchado de vulgar e repisado, que caracterizam os românticos, conquistando, dessa forma, a magia dos símbolos como arte de sugerir e evocar os sentimentos inexprimíveis por meio de seus correspondentes – sons e objetos – retirados de um mundo exterior, pelo misticismo que torna a poesia simbolista toda ela moldada, dizem alguns, de religiosidade, dos golpes provindos do destino, dos sofrimentos e dos mistérios. Inácio Xavier de Carvalho ao lado de Maranhão Sobrinho [1879-1915] são dois dos maiores simbolistas brasileiros que, por coincidência publicaram livros em Manaus, no Amazonas. Maranhão Sobrinho (Vitórias Régias, 1911) e Inácio Xavier de Carvalho (Missas Negras, 1902). Creio, e não tenho como pensar diferente, que se ambos tivessem migrado para o Rio de Janeiro, na época, o grande centro intelectual do País, e não para Manaus, com todo respeito à Hiléia de Rangel, não teriam deixado Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães, só os dois, hastearem o galardão simbolista brasileiro. Mas como o homem é ele e suas circunstâncias, era lá no Amazonas que se encontrava a obra-prima da sobrevivência, a seringa, o que também atraiu o nosso Vespasiano Ramos, e que lá escreveu ‘Coisa alguma’ e morreu doente e esquecido. Inácio Xavier de Carvalho, na opinião de Reis de Carvalho, em seu estudo sobre “Literatura Maranhense” [Biblioteca Internacional de Obras Célebres, tomo XX] “foi quem marcou com o livro de estreia “Frutos Selvagens”, 1893, o início do ciclo decadentista nas letras maranhenses, nas quais avulta como uma das expressões mais fortes”. Dominando com segurança a arte e sabendo trabalhá-la com mestria e expressão estética, no entendimento purista de Antônio Lobo. Assis Garrido [1889-1969] e Corrêa de Araújo [1885-1951] foram dois parnasianos na mais verdadeira concepção literária, embora também tivessem trilhado por diversos caminhos poéticos, não fugindo por isso às origens, [a poesia tem vários caminhos] nem mesmo na elaboração do verso branco ou livre, o que Sousândrade há muito tempo já construía com a elaboração de sua metalinguagem. Tanto Araújo como Garrido, são da família parental, na formal, de Afonso Celso e Luís Guimarães, fincados em todos os moldes rítmicos e métricos rigorosamente observados, com predileção pelo verso alexandrino, num apuro inconteste de manifestação e estilo. Assis Garrido foi jornalista, teatrólogo e poeta; poeta, sobretudo, dono de uma lira de fácil inspiração e suave lirismo. Autor imortal de ‘Vênus’. Tive a honra de conhecê-lo e de privar de sua amizade, quando por vezes ia visitá-lo em sua casa, na Rua dos Afogados, em companhia do meu querido amigo e irmão em espírito Nauro Machado. Lá ouvíamos suas histórias e ungíamo-nos com suas bênçãos. Corrêa de Araújo foi também jornalista e grande poeta, um versejador admirável que enriqueceu a poética brasileira de vozes imorredouras, de música eterna. O poeta se correspondia, por carta, com Alexandre Herculano, imortal português de ‘Lendas e Narrativas’. Sobre Corrêa de Araújo escreveu Luso Torres [crítico, na época, do gênero das ‘Mortalhas’, de Emílio de Meneses e dos ‘Retratos a giz’, de Euclides Faria]: “Corrêa de Araújo foi inegavelmente um sonhador, e o seu ideal supremo era celebrar nos seus cantos a perfeição do gênero humano”. Antônio Lobo em ‘Os Novos Atenienses’ [subsídios para a História da Literatura do Maranhão, 1909], assim comenta: “A sua visão estética, sempre espontânea e raramente intencional, é larga e ampla, abrangendo de um golpe único, nos seus grandes relevos típicos, a paisagem que descreve a cena que evoca, e os temas emotivos que se destina a utilizar. O seu verso, que ora se distende, numa ampliação majestosa e empolgante, ora se circunscreve e constrói como se o assaltasse o receio de deixar fugir, pelas malhas largas de suas metáforas, a idéia precisa que vise transmitir, moldaram-se, adaptar-se, aconchegar-se, por assim dizer, numa elasticidade plástica extraordinária, a todas as variadíssimas exigências da tradução escrita do pensamento. E por via desses dois recursos excepcionais, que naturalmente se valorizam e completam, de idealização emotiva e de expressão estética, logra Corrêa de Araújo evocar no espírito do leitor sensações e idéias análogas às que inspiraram e presidiram à fartura de seus versos”. Eu ainda menino, em companhia de meu pai, no ‘Moto Bar’, em São Luís, tive a felicidade de conhecer o poeta Corrêa de Araújo, um homem alegre, brincalhão, generoso e visceralmente poeta.


Foi numa dessas ocasiões, em que se conta que o poeta com um copo de ‘bomba’ na mão [bomba era um aperitivo oferecido por aquele bar aos fregueses ilustres: era uma mistura de vinho do Porto, bagaceira, uísque e gim, com gelo e rodelas de limão]. em dado momento, o poeta viu o Serafim, dono do estabelecimento, entrando no recinto e saiu-se com esta: “Quando entro neste bar / e vejo um serviço sem par / digo de mim para mim / este bar do Serafim / será fim de todo bar”. Realmente, enquanto o ‘Moto Bar’ ergueu-se solene no ‘Largo do Carmo’, nenhum outro estabelecimento do ramo, nas redondezas, soe existiu. Escrevi nestes apontamentos, rapidamente, esses quatro grandes poetas maranhenses de um mesmo tempo, de uma mesma época, cada um dentro de uma moldura parecida, mas diferentes, porque ninguém se assemelha, como todo gênero humano, intelectualmente na forma e no conteúdo, e como espécie, pelo menos no espírito, porque “se pudéssemos contemplar muitos rostos de uma só vez, seria uma aberração visual”, como entendia Santo Thirson, escritor e mártir português


A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA FERNANDO BRAGA in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor. Especial para o Jornal de Brasília, em 16 de novembro de 1975.

Prisioneiro voluntário em uma oficina de criações e emoções diversas, Nascimento Moraes Filho, mergulhou algum tempo atrás em uma gloriosa pesquisa nas salas grandes da Biblioteca Pública do Estado, em São Luís, como se fosse conduzido pela determinação daquele verso de Whitman: “o que não está numa parte está noutra”, usando apenas a vontade como poder. Deste trabalho, sentiu há poucos dias [lê-se o ano de 1975], o resultado dos seus propósitos, quando fez a entrega ao Maranhão, em praça pública, do romance ‘Úrsula’, reeditado em fac-símile, justamente nos 150 anos da escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luis a 11 de outubro de 1825 e falecida na cidade de Guimarães [interior do Estado] a 11 de novembro de 1917. O romance ‘Úrsula’, de Maria Firmina dos Reis, foi publicado pela primeira vez em 1859, pela ‘Tipografia do Progresso’ [São Luís], razão pela qual, se prendeu Nascimento Moraes Filho, provando com a justeza de sua coerência intelectual, ser ela a primeira romancista brasileira. Esquecida entre jornais empoeirados e entre históricos documentos amarelados pelo tempo, Maria Firmina dos Reis, até então, tinha o nome apenas gravado na ‘água’, como no epitáfio famoso escrito na pedra que silencia o sono eterno de Keats. A ninguém coube o fôlego da intencionalidade em fazer conhecida esta grande mulher, neste nosso século e, [lê-se sec. XX] se porventura soubessem da sua existência, diriam displicentemente “que Wattan sem as Valkirias a tenha”, talvez levado pelo descaso consciente de não estar prestando um grande serviço às letras do país, ou pelo medo na incursão de tão cansativo e torturante trabalho. E Nascimento Mores Filho, hoje já com Deus, e quanta falta faz às nossas letras, dela lembrou-se, com a perspectiva vocacional, colhendo do desconhecido subsídios valiosos para a dignidade do conhecer, sabendo que a arte é a sensibilidade humana e neta de Deus através dos homens. E daí o inesperado, a surpresa, legitimando a romancista Maria Firmina dos Reis na escala dos valores merecidos, até então desprezada no bastardismo do esquecimento. A Nascimento Moras Filho coube a petulante coragem, mostrando que nada mundifica tanto a alma dum homem como a criação da beleza e da verdade. E ele não se acobardou diante das seríssimas dificuldades existentes, sem nada que lhe norteasse uma pesquisa de grande valia e sem nenhum instrumento de metodologia cientifica. Como poeta, transcendeu sensivelmente ao apuro da sua criação de artista, norteando-se apenas a sonhos azuis e longínquos e, como folclorista, homem de cultura feita, maturado por vivências às vezes cruéis e também fantasísticas, teve ao seu lado a suprema ousadia da intenção acidental ou não, mas feliz de certo, que é o destino em estado de rigidez, crendo mais na extensão que propôs realizar do que mesmo no pão em substituição terrível ao suor, admitindo, como Spengler, a possibilidade de transpor o presente como limite de investigação. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, já conhecida no Maranhão, devendo, de agora em diante, por processos lentos, ser conhecida em todo país, pela supremacia de ser a primeira romancista brasileira, carente da necessidade crítica que há de vir por certo. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, em busto na Praça do Pantheon *, em São Luís, e com placa comemorativa num velho casarão da Rua de Santana, onde funcionava, na época, a ‘Tipografia Progresso’ que teve a felicidade de editá-la pela primeira vez. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, com nome de Rua em um dos bairros da Ilha, onde o poeta Gonçalves Dias cantou em versos, rogando a Deus não deixá-lo morrer sem avistar pela derradeira vez as palmeiras que ornamentam a triste e melancólica Praça de seu nome...


Parabenizo Nascimento Moraes Filho por ter sabido que a compreensão é mais que a conquista e que o conhecer é mais que o possuir... O ‘ego habeo fatum’ estender-se-á sempre às suas motivações... Por fim, parabenizo o Maranhão, que também agora acolhe feliz Maria Firmina dos Reis entre seus filhos ilustres, no ‘logos’ dos seus imortais, louvando aos filhos de nossos filhos, ‘por nume nossos avos’.


UM BREVE PASSEIO PELA ÉPICA DE SOUSÂNDRADE168 JOSÉ NERES (Academia Maranhense de Letras)

Figura 1 - Composição da mesa-redonda sobre a obra de Sousândrade: José Neres, Luíza Lobo e o mediador Paulo Melo Sousa Aristóteles, um dos maiores pensadores de todos os tempos, ao voltar-se para os estudos da literatura, em sua Poética, diz que a imitação é “algo natural ao homem desde a infância” e que todas as pessoas acabam tendo prazer em imitar. Dessa forma, as manifestações artísticas estudadas pelo filósofo grego acabam sendo vistas como um reflexo direto desse desejo humano de imitar tanto os elementos da natureza quanto as ações humanas, podendo o tipo de imitação diferir quanto o objeto, o meio ou a maneira, mas sendo sempre um reflexo de algo visto ou pelo menos imaginado. Ao comentar os aspectos dos poemas épicos, Aristóteles lembra que, na obra de Homero, os interesses do autor de A Ilíada e da Odisseia recaem na representação de “ações nobres e as de pessoas nobres” (ARISTÓTELES, 1996, p. 34). Partindo-se dos princípios clássicos, em termos gerais e para fins didáticos, é possível considerar a ideia de que “a poesia épica é aquela que narra ações humanas ou divinas, fabulosas ou lendárias, de modo mais ou menos extenso” (MOISÉS, 2008, p. 147). Nas letras universais, alguns poemas épicos acabaram tornando-se bastante conhecidos, lidos, admirados, revisitados e constantemente revistos, como é o caso de A Ilíada e a Odisseia (de Homero), A Eneida (de Virgílio), A Divina Comédia (de Dante Alighieri), Orlando Furioso (de Ariosto) A Canção de Rolando e El Cantar de Mío Cid (ambos de autoria desconhecida), entre outras epopeias. Porém o contato com essas obras acaba vindo mais por outras vias (cinema, televisão, adaptações, quadrinhos, etc.) do que propriamente pela leitura do texto integral. Mas mesmo assim não deixaram de influenciar gerações ao longo dos séculos. 168

Palestra proferida no dia 19 de julho de 2018 na abertura do IV Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina no Brasil, no Convento das Mercês, em São Luís do Maranhão.


Nas letras brasileiras, os poemas épicos tiveram seu espaço mais nas páginas da historiografia literária nacional que na preferência dos leitores. Poemas como Prosopopeia, de Bento Teixeira; Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão; O Uraguai, de Basílio da Gama; A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, e A Invenção de Orpheu, de Jorge de Lima, são muito mais lembrados nas páginas de livros sobre literatura do que efetivamente lidos e comentados. A essa lista podemos acrescentar O Guesa, de Joaquim de Sousa Andrade, o nosso Sousândrade. Um dos primeiros desafios que todo estudioso da obra soudrandina encontra é o de onde e como situar esse poeta maranhense na cronologia literária brasileira. Já que, para muitas pessoas, tudo e todos devem ser classificados e colocados em escaninhos compartimentados a fim de depois serem expostos em vitrines. Porém, Sousândrade e muitos outros autores nem sempre aceitam essas imposições. Um homem que tinha a consciência de haver escrito sua obra cinquenta anos antes de seu tempo, que escreveu, corrigiu e reescreveu seu principal poema ao longo de cinco década, em busca das melhores soluções possíveis para transformar a imaginação em palavras e que alterava constantemente até a própria assinatura realmente não pode ter seu trabalho facilmente classificado. Situar a produção poética de Sousândrade dentro de uma linha estético-cronológica das letras brasileiras, conforme foi dito antes, não é uma tarefa fácil nem mesmo para os mais experientes estudiosos do assunto. O professor Rubens Pereira dos Santos, ao tentar organizar os textos do poeta vimarense na cronologia tradicional do romantismo brasileiro, admitiu que: Assim com Machado de Assis, cuja classificação se tornou muito difícil, dada a diversidade de suas obras e a arguta observação psicológica, Sousândrade pertence cronologicamente à 2ª geração romântica, porém sua obra poética está inserida dentro das características do Ultra-Romantismo. Pode-se considerá-lo da 3ª geração porque o poeta preocupou-se bastante com os problemas sociais. Desde os seus primeiros escritos pregou a necessidade de o Brasil ser uma República. A escravidão também foi alvo de suas críticas. (SANTOS, 1993, p. 62) Essa mesma opinião é compartilhada pelo professor, historiador e crítico literário Massaud Moisés, para quem “Sousândrade se aproxima antes da terceira que da segunda geração. Não obstante, sua poesia transpira, na altura das Harpas Selvagens, o contágio, ainda que precário, das vertentes do tédio e da desesperação” (MOISÉS, 1989, p. 241). Sousândrade passou muito tempo perdido no limbo do esquecimento ao qual tantos importantes intelectuais de nossa pátria ainda estão renegados. Teve momentos de prosperidade, viajou por diversos países, enfrentou dramas familiares, passou por períodos de dificuldades financeiras, teve de metaforicamente alimentar-se das pedras do próprio muro, escreveu muito, defendeu a fundação de uma universidade no Maranhão, fundou jornais, travou polêmicas, exerceu atividades públicas, idealizou a bandeira do Maranhão, lutou pelo voto das mulheres, foi muitas vezes exaltado como gênio e outras vezes tratado como um lunático que andava mal trajado por nossas ruas e becos apontando para os céus, recitando seus versos e tentando dar o melhor acabamento para sua obra maior. Em 1902, quando as letras brasileiras recebiam alguns sopros de renovação e quando eram publicados importantes livros, como Os Sertões, de Euclides da Cunha e Canaã, de Graça Aranha, dando origem ao que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, o poeta calou sua voz, quedou seus passos e passou a fazer parte da eternidade. Figura 2 O poeta Sousândrade. Fonte da imagem: Internet

Mas tal e qual havia previsto, seus escritos só viriam a ser reconhecidos muitos anos após sua morte. Logo após a Semana de Arte Moderna, o poeta Oswald de Andrade reconheceu o pioneirismo do vate maranhense. Anos depois, já na segunda metade da década de 1950, os professores, poetas e pesquisadores Haroldo e Augusto de Campos trazem à luz a famosa Re-Visão de Sousândrade, uma alentada pesquisa que despertou o interesse de muitos outros pesquisadores pela vida e pela obra do poeta maranhense.


Anos depois desse resgate feito pelos irmãos Campos, o professor e crítico literário Frederick G. Williams, no início da década de 1970, concentrado em seus estudos doutorais, atentou para a importância de Sousândrade para a formação canônica da literatura latino-americana e, em busca de mais dados para suas pesquisas, chegou à terra do autor de O Guesa e travou contato com Jomar Morais e dessa parceria surgiram muitos estudos sobre a vida e a obra de Sousândrade e, mais recentemente, em 2002, essa mesma dupla trouxe à luz, em luxuosa edição fac-similar, o livro Poesia e Prosa Reunida de Sousândrade. Nas últimas cinco décadas, a fortuna crítica a respeito desse genial poeta vem crescendo e ganhando dimensões antes inimagináveis. No final da década de 1970, a professora Luiza Lobo publicou seu livro Tradição e Ruptura: O Guesa de Sousândrade, jogando novas luzes sobre a obra-prima do poeta maranhense. Em diversos momentos de sua carreira, essa professora e crítica literária se debruçou sobre os versos de Sousândrade, lendo-os com grande acuidade e desenvoltura, tanto que em 1986 trouxe a público A Épica Moderna de Sousândrade e mais adiante, tanto em seu livro Crítica sem Juízo (de 1993), quanto em outros trabalhos sempre retorna à leitura sobre nosso importante escritor. Outro estudioso que se dedicou e se dedica a elucidar as entranhas da poesia soudrandina é o professor Sebastião Moreira Duarte, que decidiu, em sua tese de doutorado, fazer uma comparação entre O Guesa e O Canto Geral, de Pablo Neruda, além de publicar pelo menos dois outros trabalhos com estudos sobre obra do autor de Harpa de Ouro, publicando, em 1990 o livro O Périplo e o Porto, cujo estudo foi retomado em 2002 no volume A Épica e a Época de Sousândrade, livros essenciais para quem começa a estudar a obra de Sousândrade O poeta e crítico literário maranhense Clóvis Ramos também deixou sua contribuição ao publicar um ensaio seguido de uma breve antologia no qual os principais pontos da obra e do estilo sousandrino são esmiuçados. Importante e elucidativo também é o breve discurso proferido pelo professor Ángel Núñez e que foi transformado em livro pela Universidade Federal do Maranhão em 1982, sob o título de O Guesa de Souzândrade, poema épico latino-americano. Nesse livro-discurso, o leitor tem, de modo sintético, porém profundo toda uma visão sobre a bases estrutural de O Guesa. Sousândrade também foi um dos escritores homenageados pela Editora Agir, que, durante anos publicou a coleção Nossos Clássicos, que constava de dados biobibliográficos, de um estudo crítico e de uma bem selecionada antologia com os mais significativos textos dos principais escritores da língua portuguesa. O número 85 da referida coleção foi dedicado ao ilustre poeta maranhense e contou com a organização, seleção de textos, cronologia e estudo introdutório assinados pelos poetas e professores Haroldo e Augusto de campos. Mais recentemente, a professora Ana Santana Sousa publicou o livro A Nação Guesa de Sousândrade: uma narrativa de Viagem, oriunda de sua tese de doutorado e que traz uma leitura singular do livro que deu origem ao trabalho. Como O Guesa é uma obra que permite leituras sob diversos prismas e ângulos, o professor e poeta Josoaldo Lima Rêgo escreveu e publicou um interessante ensaio Cosmovisão e Modernidade: Sousândrade e a formação do campo visual em O Guesa, no qual parte dos conhecimentos das mitologias, da historiografia e da geografia humana para demonstrar com o espaço físico e as diversas paisagens latino-americanas ganham importância na leitura crítica do poema e revelam o olhar do poeta sobre as Américas e outras partes do mundo. Claro que há inúmeros outros trabalhos sobre o poeta e que seria impossível citá-los aqui. Cabendo a quem se interessar sobre o assunto buscar outras fontes e outros estudos. E o que dizer sobre O Guesa? O professor Ángel Núnez considera esse poema “um texto surpreendente e inovador, sem dúvida verdadeiramente revolucionário para a época” (NÚÑEZ, 1982, p. 07). A professora Luiza Lobo acrescenta que “a metáfora inicia é, no Guesa, como em Homero, o périplo, mas ele se desloca da América do Sul para


a do Norte, e dos índios à democracia norte-americana, numa temática cada vez mais ligada à política da história moderna, sempre acompanhando a autobiografia do autor (LOBO, 2007, 236). Sobre esse pacto autobiográfico, como diria Phillipe Lejeune, existente nos versos do poema, o crítico Sebastião Moreira Duarte comenta que após entrar em contato com o mito/lenda, e “tendo encontrado essa estrutura arquetípica nas bases antropológicas mais antigas da América pré-colombiana” o poeta maranhense logo percebeu que o mito “carecia de história”, então Sousândrade “emprestou-lhe ele mesmo as vicissitudes de sua Biografia” (DUARTE, 1990, p 17; DUARTE, 2002, p. 25). Os irmãos Haroldo e Augusto de Campos (1995, p. 21) comentam que se trata “de uma narrativa que não tem desenvolvimento lógico-linear, mas que evolui, por assim dizer, no plano da memória, tendo como esquema geral a lenda indígena do ‘Guesa Errante’”. Jomar Moraes e Frederick G. Williams (2003) consideram O Guesa como sendo o mais ambicioso e o mais caro projeto literário desenvolvido por Sousândrade em sua vida. Em verdade ele investiu cerca de meio século na elaboração dos treze cantos do poema, e mesmo assim deixou três deles incompletos (o sétimo, o décimo segundo e o décimo terceiro). De modo geral, O Guesa pode ser sintetizado como sendo “um poema épico com uma visão transamericana atípica: o personagem principal, o "guesa" - sem-lar ou errante -, extraído da mitologia dos antigos muíscas, índios colombianos, era um menino sacrificado em homenagem a Bochica, o deus do Sol”, conforme declarou Augusto de Campos em entrevista concedida ao Jornal o Estado de São Paulo, em 2009. Porém essa narrativa épica vai muito além das aparentes facilidades de uma síntese do enredo, pois, conforme escreveu a professora Luiza Lobo (2012, p. 19), “O Guesa inscreve-se no projeto de uma nova épica, cristã e romântica, que queria ser universal, interlinguística e intertextual”, “a figura do Guesa é a de um anti-herói brasileiro e hispano-americano, sincretizado como o modelo do anti-herói romântico que, como eterno exilado, viaja pelo mundo, num incessante périplo em busca de sua identidade” (LOBO, 2012, p. 20). Como se trata aqui de um breve passeio pela épica de Sousândrade, encerramos aqui com as estrofes iniciais do poema, esperando que elas sirvam como passaporte para que cada um de vocês possam fazer a própria viagem, encontrar-se ou perder-se na companhia do Guesa. “Eia, imaginação divina! Os Andes Vulcânicos elevam cumes calvos, Circundados de gelos, mudos, alvos, Nuvens flutuando – que espetac’los grandes! Lá onde o ponto do condor negreja, Cintilando no espaço como brilhos D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde deserto, O azul sertão, formoso e deslumbrante, Arde do sol o incêndio, delirante Coração vivo em céu profundo aberto! (SOUSÂNDRADE, 2012, p. 51) Com esses versos iniciais do grande poema, encerro minha fala, agradeço à presença de todos e espero que essas palavras sirvam de estímulo para novos estudos sobre nosso iluminado poeta. Muito Obrigado!

REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores) CAMPOS, Augusto; CAMPOS, Haroldo (orgs.) Sousândrade. 3 ed. rev. Rio de Janeiro: Agir, 1985. DUARTE, Sebastião Moreira. A épica e a época de Sousândrade. São Luís: AML, 2002. DUARTE, Sebastião Moreira. O périplo e o porto. São Luís: EdUfma, 1990. LOBO, Luíza. Crítica sem juízo. 2 ed. rev. Rio de Janeiro: Garamond. 2007. MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira – Romantismo. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1989.


MOISÉS, Massaud (org.) Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira. 7 ed. atual. São Paulo: Cultrix, 2008. NÚÑEZ, Ángel. O Guesa de Sousândrade, poema épico latino-americano. São Luís: Edições Ufma, 2002. RAMOS, Clóvis. O poeta Sousândrade: Cristal dos Andes, o gênio Imorredouro do Guesa. São Luís: Fundação Sousândrade, s/d. RÊGO, Josoaldo Lima. Cosmovisão e modernidade: Sousândrade e a formação do campo visual em O Guesa. São Luís: EdFunc, 2008. SANTOS, Rubens Pereira dos. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993 SOUSANDRADE, Joaquim de. O Guesa. Rio de Janeiro/São Luís: Ponteio/AML, 2012. SOUZA, Ana Santana. A Nação Guesa: uma narrativa em viagem. São Luís: AML/EdUema/Fsadu, 2008. WILLIAMS, Frederick G.; MORAES, Jomar (Orgs.) Poesia e prosa reunidas de Sousândrade. São Luís: AML, 2003.


A TARA E A TOGA FERNANDO BRAGA in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor. Ilustração: Capa do livro ‘A tara e a toga’, de Waldemiro Viana. A tara e a toga é realmente um romance imaginativo que gira fundamentalmente em termos das relações humanas. Mas não é só isso, o livro é ainda, ao mesmo tempo, um romance histórico, a contar uma tragédia vivida por um velho magistrado, que no século XIX, em São Luís do Maranhão, sob o surto de uma violenta paixão senil e de um ciúme incontido, matou com resquícios de crueldade e volúpia, uma jovem moça dos arrabaldes da Ilha, por quem sentia satânicos desejos. É ainda o livro, uma história romanceada, em que Waldemiro Viana adverte o leitor que o texto não se prende à verdade exata dos fatos, sugerindo cautela aos ‘puristas da História em sua santa ira’. E por que diz isso? Por que “em prosa clara, viva e saborosa, arquitetada com magistral competência técnica”, ele conduz a urdidura real e romanesca a seu modo, levando-a por caminhos e temperanças ficcionais, sem, no entanto, arredar-se do objeto maior, que é a própria história, daí sua grandeza! José Cândido de Pontes de Visgueiro era um desembargador de alto respeito na Casa da Súplica [antigo Tribunal de Justiça] e de elevado prestígio no Império. Era ele de índole mau e tático maquiavélico, matreiro, e dizem, estupidamente feio, de natureza casmurra e circunspecta, a tratar a todos com habituais e mal-humorados monossílabos, quase inaudíveis. O velho magistrado alagoano vivia em um luxuoso sobrado à Rua de São João, onde era servido e paparicado por seus empregados, e por mais doutos da sociedade ludovicense que frequentavam seus umbrais em noites de banquetes e que privavam de sua austera e incômoda companhia. O desembargador Pontes Visgueiro conheceu Maria da Conceição, alcunhada por Mariquinha, uma moçoila do subúrbio de São Luís, e com ela, em troca de presentes e mimos, conquistou sua atenção, a ter assim, o que outros tinham de graça. O velho idolatrou-se pelo corpo da jovem, e a jovem enamorou-se pelas algibeiras do velho... E assim começou como não poderia ser diferente, um complicado ‘romance’ entre a doce Mariquinha e o azedo magistrado, que depois passou a escandalizar a sociedade de São Luís com cenas patéticas, a ponto de o desembargador ajoelhar-se para beijar os pés da adolescente, nas ruas movimentadas da cidade. Numa bela tarde, daquelas que em São Luís são servidos ótimos crepúsculos, Pontes Visgueiro a sentir incômodos calos a lhes nascerem nas têmporas, resolveu dar um volta de bonde lá pelas bandas do Largo dos Amores, o bastante para ver o que seus amargurados olhos não queriam: Mariquinha a conversar alegremente com um jovem Alferes da Policia, o bastante para que Pontes Visgueiro premeditasse... Numa noite, em seu sobrado, a forjar um banquete para a amada, levou-a para seu quarto e dopou-a com a ajuda física de seu escravo Guilhermino, matando-a de forma tão cruel que não deve ser descrita aqui. enterrandoa depois de esquarteja-la no vão das escadas de entrada do aristocrático solar, transladando-a, por precaução para o quintal e enterrando-a, por fim, em um canteiro florido por jasmins e rosas... Corria o ano de 1873, e como não há crime perfeito, logo o macabro homicídio foi descoberto e Pontes de Visgueiro preso e levado para a Corte, perdeu o cargo de desembargador e foi condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça a prisão perpétua a ser cumprida na Casa de Correção do Rio de Janeiro. O infeliz magistrado não resistiu, vindo a falecer dois anos depois, em 1875. Os despojos de Mariquinha, separados, cabeça, tronco e membros, foram postos em um caixão de madeira, sobreposto a outro de zinco. O marceneiro Boaventura Andrade foi absolvido, porque foi provado que ele fizera o caixão atendendo uma encomenda do desembargador; o funileiro Amâncio da Paixão Cearense, que construiu o caixão de zinco, teve um agravante por ser compadre de Pontes Visgueiro e foi condenado juntamente com o escravo Guilhermino a oito anos de serviços forçados.


Em um novo julgamento, Amâncio provou sua inocência, porque, apenas, também, atendeu uma encomenda do velho juiz, apesar do compadrio com ele... Depois desse episódio, juntou seus filhos menores dando adeus a São Luís em rumo de Fortaleza... Dentre essas crianças, filhos de Amâncio, estava o belo poeta, teatrólogo, músico, compositor e seresteiro, o imortal autor de ‘Luar do Sertão’, Catulo da Paixão Cearense, o qual, depois de algum tempo, ao lado do pai e dos irmãos, na ‘Terra de Iracema’, viajou para o Rio de Janeiro, nunca mais voltando a São Luís, seu chão natal, o qual fora palco de uma tragédia histórica, a nodoar-lhe com sangue tantos belos e brejeiros contos de amor lá produzidos, assim como, seu judiciário, manchado pelos impulsos de um dos seus membros, emocionalmente instável, a mercê de uma personalidade torpe e psicopata.


PERCURSO DE SOMBRAS FERNANDO BRAGA in Jornal ‘O Estado do Maranhão’, 4 de janeiro de 2014. Nauro Diniz Machado [São Luís, 2 de agosto de 1935 – São Luís, 28 de novembro de 2015]. É bem difícil ficar-se sem dizer nada diante da beleza estético-formal contida na poemática de Nauro Machado. Acabo de receber ‘Percurso de Sombras’ [lê-se 2014], que só pelo oferecimento e pela generosidade do poeta, já quebraria por si, qualquer resistência de silêncio... Irresistível provocação sentimental de um irmão de estrada, de sombrios sonhos e de terríveis sombras, a ferir, chagar mesmo minha saudade de tantas lonjuras.. Apressei-me de logo e registrar a chegada de seu livro em minha página no facebook, sem a surpresa de continuar a ver o poeta ainda em seu barro cru, como se recém-saído de uma olaria de pesadelos... E uterino como sempre em seu estar-se divino, o satânico sobrepõe-se e faz-me publicar ‘Réquiem para uma Mãe’: “Tudo já entrado em ti, tudo, / enfim estás em ti, / como os pés nos seus sapatos, / dizendo ser a tua morte. / Viúva da eternidade / a se fazer como um sonho / da carne imune ao real. / Dor: arranca a tampa da água / a um náufrago marinheiro, / e o telegrama do fêmur /à volúpia do ovário, / morto ventre de onde eu vim / com meus calos e naufrágios. / Dor: inverte os lábios da água / dando de beber a mãe / pela boca de um cadáver”. A lavoura do léxico nauromachadiano a todos nos atordoa pela sua precisão e pelo seu fôlego a resistir seu canto-lógico e a dispor-se cartesiano, quando, assim, tira a prova dos ‘Noves fora’: Não necessariamente / é igual uma cama / a outra cama, como / uma noite é de outra / feita a mesma noite [...] E até mesmo à soma / que nos subtrai, / nós, humanamente, / somos desiguais.” E o poeta segue pelos becos e ladeiras de São Luís a soltar balões de eternas infâncias, pelas sombras das noites, balões que se soltam de suas mãos carregadas de trevas e furadas pelos pregos do tempo, até chegar a um dezembro festivo a renascer no peito ferido do poeta, onde se aninham flores no seu esôfago, como se fossem miolos de um pão sagrado que Nauro tivera de engolir um dia, para arrebentar-lhe e lhe arrematar o grito: “Minhas netas da luz, / do meu filho o retrato, / iluminando os olhos / da minha mãe sem pálpebras.”. E sereno continua a ouvir as ‘Vozes do Natal’ que lhe chegam assim: “Cristo do anverso, / em minha costa, / durante séculos / dizendo a Lázaro: / --Vem para fora! / --Vem para fora!...”. E ainda no percurso do Advento, clama aos ‘Milagres Natalinos’: “Porque só tu não me apartas, / boneca da minha mãe, / da infância do meu pai / imputrescível nos anos [...] “Todo Natal, como mar, / volta sempre à mesma praia, / enchendo as eternas águas / com o choro dos meus pais...”. Assim o ‘Pássaro de Deus’ alça voo para o percurso das sombras, como se bebesse o nepente benfazejo para esquecer, não a imagem de Lenora, mas “as cáries da carne na boca dos vocábulos” e ainda com o mesmo ritornelo canto igual ao daquele corvo agourento, pousa nos umbrais do poeta Nauro Machado para ouvi-lo dizer que “há coisas que assustam / sem palavra alguma, / assim como as há, / como nossos cúmplices, / pela indiferença / na boca de um morto” [...] “quebrei-as nas mãos / desse estéril poema / de cisne nenhum, / entre o pão e o vocábulo / as virtudes dos pássaros / de nossa inocência”. E diante da ‘Praça de um poeta’ onde se materializa sua memória de carne e verbo, há tempos, périplo indesejável entre esse espaço e a 'Casa das Tulhas', solene no seu comum de 'Feira da Praia Grande', Nauro revive o cancro de dolorosos dias a ressuscitar quase apodrecido pelos muitos açoites que o fazem agora justificar-se diante de um vazio que lhe deflora: “Sabendo olhar / na escuridão, / o povo vê / que não sou nada, / e nem serei / até morrer. / E embora diga / o inverso disso, / o povo sabe / que sou igual / ao mais comum / de todos eles... [...] “Alguma coisa, / depois de eu morto, / me habitará / vivendo ainda”. ‘Naurito’ velho de guerra, enfim chegamos naquele estágio em que não mais reconhecemos nossas visões, porque nosso passado não é mais nosso companheiro, parafraseando Mário de Andrade... Aqui estão alguns traços sobre o belo miolo do teu livro, muito bem apanhado graficamente pelas ilustrações do artista Pedro Meyer... Dize-me que Deus haverá de salvar-te, ainda que andes pelo vale das trevas... É belo o salmodiar de David quando se tem coragem, principalmente embalado pela fé que tens... Agradeço-te o alimento espiritual que tanto agradaria a Verlaine ou a Paul Valéry, tenho certeza, porque mesmo na brenha de um ‘percurso de sombras’, os teus cantos “são enredos de aranhas costurando os verbos...”


‘O

MULATO’: UM ROMANCE MARANHENSE FERNANDO BRAGA

in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor, publicado no Jornal ‘O Alto Madeira’, Porto Velho, RO, 7.9.84, e republicado em 2007, por ocasião do Sesquicentenário do nascimento de AA. Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 4 de abril de 1857 e faleceu em Buenos Aires, em 1913. Estudou as primeiras letras no Maranhão, onde também trabalhou numa casa comercial. Aos dezessete anos foi para o Rio de Janeiro e estuda pintura na Escola de Belas-Artes. Estreou na imprensa como caricaturista, trabalhando em ‘O Fígaro’, ‘O Mequetrefe’ e ‘A Semana Ilustrada’. De volta ao Maranhão, lá escreve o seu primeiro romance de grande êxito, ‘O Mulato’, escrito por Aluísio aos 26 anos de idade num mirante de um solar revestido de azulejos portugueses, à Rua do Sol, em São Luís, tombados pelo Patrimônio Histórico e, consequentemente, pela UNESCO que outorgou a São Luís o título de Patrimônio Artístico da Humanidade, em 1997. Essa casa encontrava-se completamente deteriorada, pela ação do tempo, até que a ferrenha campanha encetada pelo Instituo Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, através de seu presidente, professor Euges Lima, quebrasse a resistência da insensibilidade de alguns, na tentativa de salvar, como salvou, o imóvel, pertencente ao acervo arquitetônico de nossa história artística e literária, a motivar, inclusive, o Ministério Público a sequestrar bens da proprietária, obrigando-a a reconstruir o solar, em obediência aos rigores de engenharia, determinados pelo patrimônio histórico, o que nos leva, agora, a ratificar as palavras e a endossar a sugestão do professor e historiador Diogo Guagliardo Neves, de que “o espaço pode, no futuro, sediar um museu ou memorial sobre o genial escritor ludovicense”. Vide abaixo as fotos comparativos e as notas de pé-de-página. Depois, Aluísio retorna ao Rio, onde publica diversas obras e colabora em jornais e revistas. Tendo feito concurso para a carreira diplomática, serviu como Cônsul em Vigo, Nápoles, Tóquio, e por fim em Buenos Aires, onde morreu. Aluísio é a figura principal do naturalismo no Brasil. Notável observador dos costumes e ambientes da sociedade do Segundo Reinado, a sua produção ressente-se do processo de trabalho do escritor, que era o do folhetim de imprensa. Há em seus livros uma significação histórica ao lado da significação literária. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras e nos deixou estes preciosos títulos: ‘Uma Lágrima de Mulher’, 1879; ‘O Mulato’, 1881; ‘Casa de Pensão’, 1884; ‘O Homem’. 1887; ‘O Coruja’, 1889; ‘O Cortiço’, 1890; ‘O Esqueleto’, 1890; ‘Demônios’, 1893; ‘Livro de uma Sogra’, 1895, além de outras produções espalhadas em jornais e revistas. O Mulato ficou corporificado no Realismo, como o primeiro romance do naturalismo estilizado, dentro do aspecto da ‘art nouveau’, exteriorizando em suas angústias e depressões sociais os mesmo males que oprimiam os artistas europeus, quando as misérias da crise mundial já rondavam a decadência emocional da ‘belle époque’. Aluísio Azevedo, escritor e diplomata foi um dos expoentes maiores da nossa ficção urbana, e em sendo ‘O Mulato’ o primeiro romance naturalista brasileiro – retrata na sua estrutura todo o nódulo social calcado no racismo do meio maranhense do tempo, onde alguns críticos dizem, que para o estigma do nosso autor faltara àquela exigência de Emile Zola, quando normatiza a conduta dos personagens’ retratando o terrível comportamento da paixão, mas que, por outro lado, lhe sobrara, aqueles maneios acirrados que caracterizam a luta contra o conservantismo e as rigorosas imposições clericais que de algum modo entorpeciam São Luís no século XIX – servindo como pano de fundo a principal ação do romance. ‘Raimundo’ [o núcleo central romanesco], filho de escravos e recém-chegado ‘doutor’ da Europa, não se deu conta de sua ‘mulatice’ e se fez amado e amante em circunstâncias dolorosas envolvidas por terríveis preconceitos. Mas foi assim que Aluísio quis que ‘O Mulato’ agisse, tipificando-lhe à moda das histórias de Diderot, e dos romances de Thacheray e Balzac, ou ainda, sob os traços dos contos de Maupassant e Tchékov. ‘O Mulato’ agride o desesperado preconceito racial gerado nas famílias abastadas de São Luís, talvez por isso tão bem recebido pela ferrenha crítica da Corte como exemplo, e ainda, por ter sido escrito no molde do naturalismo bem ao jeito ‘darwinista’, causando forte irritação em seus comprovincianos, que o forçaram


voltar às pressas para o Rio de Janeiro e juntar-se novamente ao irmão, o dramaturgo, comediógrafo e também escritor Arthur Azevedo que, às gargalhadas, o esperava no cais do porto para comemorarem o que escrevia de Lisboa o crítico Valentim Magalhães: “Aluísio Azevedo é no Brasil, talvez, o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa da sua pena, mas note-se que apenas ganha o pão, porque as letras, no Brasil, ainda não dão para a manteiga”. E sempre será assim... A arte é um dom divino, por isso, dádiva de sacrifício!


O GÊNIO FLORESTAL FERNANDO BRAGA in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor.

Quem chamou Nunes Pereira de ‘gênio floresta’ foi um homem que tem a poesia na alma e um decassílabo no nome: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Nunes Pereira foi uma das pessoas mais extraordinárias, generosas e cultas que tive a felicidade de conhecer. Ele nasceu na velha ‘Casa das Minas’, de origem daomeana, com traços da religião ou mitologia jêge-nagô, com culto Vodu, na Rua de São Pantaleão, em São Luís do Maranhão, em 26 de junho de 1893; era filho de Mãe Almerinda e afilhado da velha Nochê, Mãe Andreza Maria... E morreu no Rio de Janeiro noventa e dois anos depois, parnasianamente “numa noite assim, de um céu assim...” Foi muito cedo para Belém do Pará e depois para Niterói e Rio de janeiro, onde abandonou o curso de direito para estudar veterinária, biologia e botânica, sob a direção de Paulo Parreiras Horta, microbiologista de renome, auxiliado por um grupo de colegas, do valor de Arthur Moses, Herbert Pereira, Aleixos de Vasconcelos e Charles Conreur, especializando-se em etnografia e etnologia, cujas ciências dedicou sua vida inteira até aposentar-se pelo Ministério da Agricultura, possuindo nesse campo cientifico, um dos maiores acervos do país, em livros, documentos, anotações, fitas, filmes e registros das mais variadas espécies. Era um etnólogo do porte de Roger Bastide, de Arthur Ramos e de Levi Strauss. Falava correntemente o inglês, o francês, o espanhol, o italiano e o alemão, cujo idioma aprendeu sozinho, em virtude das traduções que tinha de fazer dos livros científicos que estudava... Era “um homem de ciência agudamente provido de sensibilidade e visão humanística, eis o que é o caboclo maranhense Nunes Pereira”, na visão sensível, mas objetiva de Carlos Drummond de Andrade. Era membro da Academia Maranhense de Letras e um dos fundadores da Amazonense de Letras. Como prova de sua grandeza e ‘sacanagens’ em direção do bem, chamo a este dedo de prosa o nosso escritor Jorge Amado que assim escreve, em ‘Literatura Comentada’, edições Abril (1981-2): “... Antes de decretarem o Estado Novo cheguei a Manaus e fui preso... Fui colocado numa cela com o Nunes Pereira, o etnólogo, um homem encantador. Eu e o Nunes Pereira passávamos o dia inteiro debaixo do chuveiro porque fazia um calor infernal, e os integralistas desfilavam na frente ameaçando a gente de morte”... Não irei aqui me alongar sobre a obra de Nunes Pereira, porque sua especialidade é meramente cientifica, e sua bibliografia é muito extensa, mas às suas histórias que são, tanto quanto, muito aprazíveis e pitorescas. Certa vez, no Rio de Janeiro, contou-me Nunes Pereira, procurou o escritor Coelho Neto, nosso conterrâneo ilustre para lhe pedir, dado o seu prestígio, uma colocação em qualquer abrigo desde que o remunerasse, para que ele, o jovem maranhense, pudesse custear os estudos e pagar em dia a francesa dona da pensão, a qual fazia uma algaravia infernal quando recebia a mensalidade fora do prazo combinado. Numa noite qualquer, em casa de Coelho Neto, o jovem disse ao mestre o prazer que tinha em cumprimentálo e o motivo da visita. Depois de ouvi-lo, o escritor levantou-se e se dirigiu à sua escrivaninha. Lá, de pé, como dizem que escrevia, o autor de ‘Rei Morto’ parou e escreveu num papel timbrado com seu nome, um bilhete endereçado a um tal Prestes, Diretor das Docas do Rio de janeiro, que dizia textualmente isto, que me foi ditado pelo velho etnólogo: “Prestes amigo, O portador, Manuel Nunes Pereira é do Maranhão como eu; e em sendo de tal terra é natural que faça versos, pois é filho da ‘Oliveira e da Cigarra’. Ele está precisando de uma colocação aí nas docas do Rio de Janeiro, de cujo parasitário és defensor perpétuo e escarcha contrabandistas. Se deferires este meu requerimento, saberei cantar-te agradecido em rimas d’oiro. Um abraço. Do teu, Coelho Neto”. Essa empreitada da colocação foi frustrada. O diretor das docas do Rio de Janeiro não atendeu ao pedido do ‘Príncipe da Prosa Brasileira’, resultando apenas dessa ilustre pedintaria, os arremedos desse bilhete a ficar na historiografia literária.


Um dia qualquer, Nunes Pereira desembarca em Brasília para receber o ‘Prêmio do Mérito Indigenista’ que seria outorgado pelo Ministério do Interior, pela publicação de sua obra em dois volumes ‘Morunguetá - Um Decameron Indígena’, a qual o contemplara com o prêmio ‘Roquete Pinto’, da Academia Brasileira de Letras; e como de costume, e para minha honra, levei-o para nosso apartamento como sempre o fazia. Quando de sua chegada, naquela mesma noite, bebemos uns goles de pinga que ele trouxera de Ji-Paraná, cidade de Rondônia, de onde era egresso naquela noite e já onde se encontrava por algum tempo a pesquisar indígenas daquela região, tempo em que, também, providenciava o preparo de um ‘tambaqui’ que trouxera carinhosamente consigo... No dia seguinte, o velho, meio triste e decepcionado, pois aquela obra, em dois volumes, consumira quarenta anos de sua vida para escrevê-la, inclusive a passar longos períodos longe da família, teria ainda de procura uma livraria para comprar os dois volumes da coleção para presenteá-los ao Ministro do Interior, ao tempo, o Cel. Costa Cavalcanti, mesmo porque dá um livro a alguém não é uma gentileza, mas um elogio, como diz Pitigrilli... Chegado o dia de sua volta, fui levá-lo ao aeroporto e, num desses vôos que aparecem não se sabe de onde, eis que surge o Fernando Lobo, jornalista, poeta, compositor e, orgulhosamente, como ele mesmo dizia, pai do Edu Lobo. Ao ver o velho Nunes dirigiu-se a ele com carinho e pilhérias bem à moda dos dois, sendo de logo a mim apresentado; no restaurante do aeroporto, nos amesendamos para bebermos uns uisquinhos, entre reminiscências e piadas. Lá pelas páginas tantas, depois de ter perdido uns três aviões da ponte-aérea, o velho Nunes perguntou-me se eu não queria ir com eles para o Rio de Janeiro... E ao tirar do bolso do paletó um ‘calhamaço’ de bilhetes sugeriu que eu fosse ao balcão da companhia marcar uma ida, sendo que a volta seria para o dia seguinte à tardinha. E assim foi! A ponte-aérea tem certas surpresas desagradáveis, às vezes se faz rápida para por fim em momentos que não lhe competem... Chegamos inteiros ao Santo Dumont no Rio de Janeiro; despedimo-nos do Fernando Lobo, uma pessoa que jamais esqueci pela inteligência e simpatia irradiadas, e rumamos para a Avenida Almirante Alexandrino, em Santa Teresa, nobre endereço que escondia o velho cientista, momentaneamente vazio, vez que seus familiares se encontravam de veraneio em Nova Friburgo, no Estado do Rio. No dia seguinte, o velho, irresponsavelmente, pegou o telefone da casa e vendeu para o português dono de um bar no ‘Largo dos Guimarães’, ali perto, para fazer dinheiro, vez que só tinha no bolso passagens, lhes dadas por Universidades para as viagens de suas pesquisas; estabelecido o ‘negócio da China’, pegamos o ‘bondinho de Santa Teresa’ e descemos para a cidade, onde comemos alguma coisa e bebemos outras; e ele, então, conforme o combinado embarcou-me em seguida para Brasília. Voltando o fio à meada. Quis os desígnios de Deus que eu estivesse em Porto Velho, no Estado de Rondônia, antigo ‘Território do Guaporé’, núcleo natural de estudos antropológicos do velho Nunes Pereira, para aonde os ventos da vida me levaram para trabalhos profissionais naquele recém-criado Estado. Pois bem, certa manhã chuvosa, para ser mais triste que de costume, ao atravessar uma praça da cidade, um jornaleiro passou a apregoar o ‘Alto Madeira’, o maior jornal da região, com uma voz de lamento a gritar: “Atenção! Morreu no Rio de Janeiro, o Doutor Nunes Pereira!” Atenção! Morreu, no Rio de Janeiro, o Doutor Nunes Pereira!”. Comprei um exemplar do jornal, encostei-me a mureta da Praça e ali mesmo, antes de ler a notícia, rezei como o salmista na caverna, e “olhei para minha direita e vi; mas não havia quem me conhecesse; refúgio me faltou; ninguém cuidou de minha alma”; e ali mesmo chorei... chorei muito...!


ROSEMARY RÊGO169, 170 Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Maranhense de São Luís, graduada em Letras, pela Fama (Faculdade Athenas Maranhense), militante no campo do magistério, Rosemary Rego pertencente à já convencionada geração de 90 (séc. 20), da Poesia Maranhense. Precocemente dedicada à criação literária, produzindo, a princípio, peças teatrais, é na Poesia que vem a ser reconhecida e apreciada, ainda na referida década, no cenário das Letras ludovicenses onde, no seu grande poder de percepção, sua admirável sensibilidade para captar e traduzir, poeticamente, o mundo, atua como produtora e grande incentivadora da arte da palavra. Em 1998, por exemplo, apresenta, na Rádio Cidade, o programa Som da Ilha, voltado para a literatura, constando, este, de entrevistas e recitais de poesia. Participou, também, na TVE do Maranhão, de clips do Tempo de Poesias, declamando poemas de sua autoria. Entre essas e outras atividades do gênero, vale lembrar sua participação no grupo Poiesis (Universidade Federal do Maranhão), nos famosos recitais Canto & Verso, ao lado de outros poetas, como Geane Fiddan, Bioque Mesito, Antônio Ailton. Sem falar nos Festivais – como o Festival de Poesia Falada (Ufma), em cuja 11ª. edição, arrebatou o primeiríssimo lugar. Em 1997, vem a integrar a Antologia Poética Safra 90, período em que também integra o grupo Curare que, como o Poeisis, põe em discussão a produção literária maranhense da época. ABRIL Ontem flores germinavam sobre mim O onírico prazer de esculpir a vida me transformou no fruto do carbono. O duro ofício de lapidar o pão carrega nas pálpebras o abominável cansaço da alma. Amanhã que seja cedo ou tarde sorrisos repousarão sobre o meu cadáver. (REGO, 2004, p. 43) SIGLO Um final de século flui no peito XX séculos, repousa à eterna idade O cair de folhas secas é charge de um horizonte azul.(REGO, 2004, p.36) APOLOGIA Ouvi baladas Dentro da noite veloz Estrelas da vida inteira. A poesia é canto geral Masmorra Didática Na her me 169 170

CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/


ti ci da de da vida. Anjos malditos Beijam as flores do mal O ócio desperta os canhões do silêncio! (REGO, 2004, p. 10) Amargo silêncio o poema é a meta linguagem do acaso Faca decepando o sol de final de tarde a rua é ócio dor tudo é passional menos o poema essência de tudo de nada do tempo das cinzas. (REGO, 2004, p. 12) PEDRAS A dor que lambe os ossos já não é mais como a agonia dos loucos Como a solidão das pedras a dor que lambe os ossos se encaixa na célebre canção dos dias. A dor que lambe os ossos é como o suor do espírito carne que surge do amanhecer


ĂŠ como um gozo atormentado de ser poeta, a dor que lambe os ossos agora ĂŠ feita de pedra e cal! O ergĂĄstulo gozo da palavra, 2004


INDIcAÇÕES DE LEITURA


Jornal Pequeno 24/06/2018

LETRAS MARANHENSES (Parte 1)

O VITORINISMO - Benedito Buzar

Já é um clássico da história política do Maranhão, e qualquer pesquisa séria sobre o tema, abrangendo os anos 40 e as duas décadas seguintes, necessariamente há de incluí-lo como preciosa fonte. A chegada ao Maranhão desse pernambucano, personagem tão curioso quanto emblemático, a carreira política e o domínio paulatino até se tornar a figura mais proeminente de nossa terra. Isso nos é dado saber em meio à narrativa de cada relevante acontecimento político, minuciosamente exposto com riqueza de informações. Os resultados eleitorais, disputas partidárias internas e externas, as articulações políticas, bastidores, a guerra de informações dos jornais a serviço dos diversos grupos, acompanhado de uma clara noção do contexto em que tudo se deu. Vitorino representou um modelo de fazer política, encarnando o símbolo do mandonismo, incluindo a perseguição como filosofia e elevando fraude eleitoral a uma espécie de recurso jurídico, caso a vontade popular falhasse... A sólida relação no plano nacional determinava a força local do senador. O trecho de um telegrama de oposicionistas ao Tribunal Superior Eleitoral, protestando contra uma decisão absurda daquela Corte dá uma ideia: “Somente hoje, estamos convencidos de que transformaram o TSE numa quitanda de negócios tipicamente vitorinista, acovardados diante das ameaças da imprensa de Chateaubriand, não vacilando em prostituírem a Constituição...”. Foi assim naquele tempo. O TSE não faz mais essas coisas, como todos nós sabemos. Trabalho de fôlego, rigorosamente fiel aos fatos, contextualização precisa facilitada pela percepção apurada do autor. É conhecedor da seara, tendo sido nos anos 60 um jovem deputado cuja carreira foi interrompida por uma arbitrária cassação. Como sói acontecer nesses casos, não houve motivos, só pretextos. Livro envolvente que deveria ser adotado nos estudos escolares de história. Essa é a nossa sugestão de leitura da semana!


Jornal Pequeno 08/07/2018

LETRAS MARANHENSES (Parte 2) ARMÁRIO DE PALAVRAS – Joaquim Itapary Nesse Armário, o autor reuniu textos publicados no período de 15 anos no jornal “O Estado do Maranhão”. Encontramos declarações de amor a São Luís, reminiscências da infância, homenagem a um grande poeta, restauração de uma praça com tanta história, reflexões sobre um ano que termina, considerações a respeito do tempo, equívoco histórico de uma obra de Garcia Marquez... Tratando de um assunto, de repente, uma observação pertinente põe Fernão Magalhães ou Valle del Inclan na conversa, ampliando para o leitor, de forma inteligente, a noção do contexto. Fala dos campos da Baixada ou de uma polêmica arquitetônica com a mesma naturalidade e intimidade que trata dos mestres da literatura universal... A temática é variada, e a narrativa, um primor de elegância. A leitura de certos textos sempre nos levou a não duvidar de magia. O modelar das palavras com o esmero de zeloso artesão, jogar sombra e luz sobre elas em busca da melhor imagem, trabalhar a nota fazendo surgir o som mais preciso e, então, com um sopro, fazê-las ganhar vida e beleza, despertando, no leitor, as melhores sensações. Isso é mistério. Apenas alguns feiticeiros conhecem tais sortilégios, cabendo a nós outros reverenciá-los. Joaquim Itapary é um deles. Autor de outros livros de crônicas, igualmente saborosas, é poeta, ensaísta e romancista. Aliás, o seu livro “Hitler no Maranhão ou o Monstro de Guimarães” bem demonstra sua versatilidade literária. A carga poética, que seus textos encerram, torna legítimo pensarmos, por vezes, em estar lendo poesias disfarçadas de crônicas. As palavras são mesmo assim em mãos de magos: possuem cheiro, cor, peso, sentimento qual gente...podem ser quentes ou frias, sim, guardam temperatura, e ganham brilho também. Leia esse livro e constate. Essa é a nossa sugestão da semana.


LETRAS MARANHENSES (Parte 2) A ÉPOCA E A ÉPICA DE SOUSÂNDRADE – Sebastião Moreira Duarte Teria a Épica, como gênero literário, encerrado sua trajetória a partir da Renascença? Ou a falta de uma teoria capaz de acompanhar seu percurso evolutivo que levou muitos a essa equivocada conclusão? O que é um poema épico? Certas características os distinguem em forma e fundo no período Antigo, Medievo e Moderno? Após esclarecer tais questionamentos provando a perenidade da matéria épica – e, então, dos poetas – o autor começa a nos ciceronear pelos domínios do opus Magnum de Joaquim de Sousa Andrade, nosso Sousândrade. Em poucas páginas, numa admirável capacidade sintética, o livro de Sebastião Duarte nos dá precisa ideia do Guesa e seu autor. O menino arrancado à força do seu lar, tratado com zelo num templo até chegar aos 15 anos, quando seria levado em procissão pela Suna, estrada sagrada. O fim desse ritual se daria com o jovem amarrado a uma coluna e morto a flechadas, seu sangue recolhido em vasos sagrados e seu coração arrancado. Ele, o Guesa, o errante, foge e parte numa viagem monumental. Da elevação dos Andes, “onde o ponto do condor negreja”, atravessará o Amazonas, “pátria das calmas do Equador”, vem ao Maranhão, segue para as terras matrizes de nossa gente, a África e a Europa. Vai até os Estados Unidos, a nação que o encanta: “De ti depende o mundo do futuro”, mas cujo sistema é também criticado. Das quedas do Niágara, iniciará o regresso para a terra dos Incas, de onde “à luz dos crepúsculos de Lima” meditará sobre “a queda dos impérios”. Vigoroso e ousado, o poema ignorou “o indigenismo inocente dos românticos de seu tempo”. Treze cantos, meio século de fazimentos e retoques. Para lhe dizerem que seria lido 50 anos depois. “Decepção de quem escreve 50 anos antes”, disse o poeta. Sebastião Duarte tem formação em Pedagogia e Filosofia. Mestre e doutor por universidades americanas. Pesquisador e professor. É autor e, também, organizador de diversos livros. Possuidor de grande erudição, esse paraibano, que a boa sorte nos concedeu, tem tudo isso proporcional à sua humildade e simplicidade. Suas palestras gratuitas tratando de autores e obras célebres da literatura brasileira falam muito sobre seu desprendimento e amor ao conhecimento. Não nas palavras – para isso já temos muitos –, mas nos atos. Essa é a nossa sugestão de leitura da semana.


Jornal Pequeno 22/07/2018

PASSEIOS PELA HISTÓRIA E CULTURA DO MARANHÃO – Wilson Marques Quem nos conta essas histórias é o distraído Rafa, cuja personalidade sonhadora, a todo instante, o conduz a aventuras imaginárias. Ao sair para um passeio da escola pelo Centro Histórico, ele dorme no ônibus. Ao acordar, se vê sozinho, então, sai à procura do grupo. Caminhando pela Praia grande, à altura da Rua da Estrela, encontra um esquisito ancião com roupas de outro século, bengala, branco igual cera e “mais flutuando que pisando no chão”. Após alguns instantes, a apreensão e desconfiança iniciais, se convertem em uma boa relação, e Touchê - assim se chama a curiosa figura – se propõe a ajudar o garoto a localizar os colegas de escola. Começa um tour pela cidade, Touchê, contando a respeito de lugares, personagens e momentos importantes da nossa história, com seus detalhes e curiosidades. Essa foi a criativa maneira que Wilson Marques buscou para contar às crianças sobre a Upaon-Açu dos maranhanguaras, o aventureiro francês Charle de Vaux que viveu aqui antes da chegada de Daniel de La Touche, o Tratado de Tordesilhas, o projeto da França Equinocial, a fundação de São Luís, a expulsão dos fundadores três anos depois com a Batalha de Guaxenduba, a chegada e expulsão dos holandeses, Revolta de Beckman, realidade e lenda em torno de Ana Jansen... Isso é contado não sem eletrizantes aventuras. Coisa nada fácil é estabelecer uma sintonia entre a intenção de quem escreve e a receptividade de quem lê, despertar o interesse e conseguir a proeza de não ter o texto abandonado antes do segundo parágrafo. Requer ainda mais apuro fazer com que um livro ganhe a empatia de jovens e crianças, cujos critérios e interesses, naturalmente, são mais sensíveis e voláteis. Isso é um dom, e Wilson Marques o coloca a serviço da cultura. Com suas histórias, que são a nossa história, esse público recebe grande quantidade de informações, contadas de forma bem humorada e inventiva. Wilson já é consagrado, recebeu homenagens, inclusive, de uma edição de nossa Feira do Livro. Recentemente, teve seus livros incluídos em catálogo produzido especialmente para a tradicional Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha. Há outra homenagem certa, que independe de aceitação, inescapável da memória pública: um lugar reservado na história da literatura infantil. Essa é a nossa sugestão da semana.


HAVANA – Lourival Serejo

Brevíssimo e pontual. Diria, uma bússola norteando num passeio de interesse histórico e literário os que apreciam as letras cubanas e a cidade que não permite a indiferença de seus visitantes. O autor confessa: “É como se eu fosse me encontrar com minha utopia, a utopia de um jovem sonhador, cheio de planos revolucionários...” Suponho que não tenha encontrado, mas, com toda certeza, ali achou encantos que sobrevivem às utopias... E registrou isso. Um recorrido feito num coco-táxi, improvisado meio de transporte típico da Ilha, passa pela Catedral de San Cristóbal, das mais antigas da América, onde, por um século, ficaram os restos mortais de Colombo; o Malecón, imensa avenida beira-mar, alma dos habaneros; a prestigiosa Casa de Las Américas; os bares e casa imortalizados pela presença de Hemingway com seus morritos e daiquiris. Na busca pela casa onde nasceu Ítalo Calvino, há surpresa e emoção. Aqui e ali, quase sente deparar-se com personagens saídos do Paradiso de Lezama Lima, e, também, recorda-se das descrições de Pedro Juan Gutierrez ou Cabrera Infante, profundos conhecedores de uma cidade, digamos, menos turística. Vai ao “encontro” de Carpentier, mestre da literatura fantástica que repousa no monumental cemitério Colón, onde, também, se depara com o túmulo da “milagreira” Amelia Goyri. Registrou sua passagem pela “Atenas de Cuba”, Matanzas, berço de muitos intelectuais. E, após conhecer Varadero, se pergunta: “Se aquilo não é o paraíso, o que mais poderá ser?” O autor deixa claro que “não desconhece os meandros políticos daquela ilha”, no entanto, o objetivo do livro é outro. Ler “Havana” me fez recordar seus pardieiros, seu sistema com indesmentíveis distorções, seus escritores, os sofisticados hotéis e marinas, as majestosas construções coloniais, suas fachadas com balcões, seus aprazíveis pátios internos, inolvidáveis heranças da Espanha às Antilhas. Essa é a nossa sugestão da semana.


DIREITO & LITERATURA


DA SOMAC À UNIVERSIDADE (CATÓLICA) DO MARANHÃO – FUM: 1956/1966 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

O ano de 1956 começa com a realização dos exames vestibulares, a 6 de fevereiro, com cinquenta candidatos inscritos. No dia 21, sai o resultado do vestibular, com 30 aprovados; dois não compareceram e inabilitados 38. Dentre os aprovados: 1º lugar, José Maria Jesus e Silva (8,66); Edomir Martins de Oliveira (9º); Pedro Leonel (10º). No dia 02/03, em nota, informado que conseguiram matricula, a custa de mandado de segurança, os alunos que conseguiram nota superior a 4 ½ e menos de 5, a que se submeteram. A eleição da Rainha dos calouros da Faculdade de Direito de São Luís, do ano de 1956, ocorreu em fevereiro, saindo vencedora a srta. Delzuita Cunha Brito obteve 4.280 votos, a segunda colocada, Maria Helena Macatrão Costa, 936 votos e a terceira, Liziane Bandeira de Melo, 158 votos. Anunciada visita ao Piauí de uma embaixada de calouros da Faculdade de Direito de São Luiz, para o Jubileu de Prata da Faculdade de Direito do Piauí. Além das atividades culturais, estava prevista a participação em evento esportivo, envolvendo os universitários do Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte, nas modalidades de basquete, voleibol e futebol. Compunham a delegação, dentre outros, Rubem Goulart, Palmerio Campos Filho, José Cardoso Bezerra, Antonio Bento, Daniel Nogueira, Plinio Teixeira, José Couto, Raimundo Sá, José Mario Santos, Márcio Leal, Antonio Sacramento, Wilson Lopes, Yedo Saldanha, Valentim Maia, Wilson Neiva, Sebastião Campos, Alberto Coelho, Manoel Fonseca, Maria dos Remedios Viana, Zilmar Pires, Olga Salomão, Terezinha Cunha, Tereza Melo, Marieta Veiga, Maria Tereza Santos, Terezinha Xavier e Elza Jorge. Em abril, instalado o Parlamento-Escola. A 19 de junho era realizado o concurso para professor catedrático da cadeira de Direito Judiciário, sendo candidato único o dr. Jurandir Brauna, já que o outro candidato, dr. Caetano Jorge havia desistido, por problemas de força maior. Em julho, aconteceu no Rio de janeiro o XIX Congresso dos Estudantes, havendo a par5icipação de representantes da Faculdade de Direito de São Luiz, os acadêmicos Sebastião brito, José de Ribamar Fiquene, e José Ribamar Monteiro Filho. A 9 de setembro de 1956, termina o concurso para provimento da cadeira de Introdução à Ciência do Direito, disputada por: Luis Augusto Caracas e José Maria Ramos Martins, obtendo o primeiro lugar o dr. Caracas; ambos foram aprovados, e o dr. José Maria, segundo colocado, obteve a livre docência. A Pacotilha, a partir de 12/12, começa a apresentar os parabéns aos novos bacharéis de Direito, sendo o primeiro a ter noticiado sua formatura o dr. Daniel Nogueira da Cruz; no dia seguinte, a sra. Leonice Costa Carneiro 17/12, edital de abertura de concurso para professor catedrático da cadeira de Ciência das Finanças, deliberado a realização em 12 de dezembro último, e fixado para 15 de janeiro de 1956, com a seguinte comissão examinadora: Ariosto de Resende Rocha (Amazonas),Luis Sebastião Guedes de Alcoforado (Recife), Rogeritto Barbosa Matos (Piauí), Clodoaldo Cardoso e Fernando Eugenio dos Reis Perdigão. O edital era assinado por Rosa Aroso Mendes, Secretária.


Em 04 de fevereiro de 1957, era divulgado o horário das provas do vestibular da Faculdade de Direito de São Luiz. A nota era assinada pela Bel. Rosa Aroso Mendes, secretária. E a 21 de fevereiro, já estavam abertas as matriculas para todos os alunos, devendo comparecem à Secretaria com todos os documentos em mãos. Em nota, assinada pelo acadêmico José de Ribamar Fiquene, o Diretório da Faculdade de Direito protestava pela cessão da Ilha de Fernando de Noronha aos norte americanos, para instalação de uma base militar. O Parlamento-Escola vinha se manifestando pelas fraudes nas eleições – em greve desde os primeiros resultados, juntamente com a UME, Liceu, e 25 outras entidades representativas, em especial dos trabalhadores. Ainda neste inicio de 1958, continuavam as manifestações, e os piquetes frente às faculdades e escolas, buscando uma solução ao problema das frraudes eleitorais. A 13 de março, realizada recepção dos calouros, quando os novos “bichos” foram tosquiados pelos veteranos, antes do inico das aulas daquele ano. A tradicional passeata dos calouros estava, ainda, sendo organizada, pelos veteranos do 2º ano. Logo a 06/04 era anunciado a fundação, em São Luiz, do Clube dos Advogados, iniciativa do dr. Gotardo Borges Leal. Em junho, logo no primeiro dia, toma posse a nova diretoria do Centro Acadêmico, assim composta: Presidente – Carlos Coelho da Paz; Vice – Palmerio Cesar Maciel Campos; Secretário Geral – Ilzé Jorge Vieira de Melo; 1º secretário – Pedro Emanoel de Oliveira; 2º secretário – Antonio Resende Neto; Tesoureiro – Teresinha de Jesus Carvalho; 2º Tesoureiro – Paulo Abreu Filho; Orador – Sálvio Dino; Bibliotecário – José Mario Santos. Em 02/08, aviso de que as aulas da Faculdade de Direito seriam reiniciadas dia 12, após as férias regulamentares. No dia anterior, 11/08, a solenidade em comemoração à instalação dos cursos jurídicos no Brasil, já tradicional e aguardada pelos acadêmicos, advogados e população em geral. Também se comemorava o 50º aniversário da Conferencia de Haia. !958 começa com a matricula, em 2 de fevereiro, para o vestibular. Inscritos 67 candidatos, sendo que nove foram logo reprovados em Português, a primeira prova. Após a divulgação dos resultados, um grupo de aprovados fora a pé, para São José de Ribamar, pagando promessa pela aprovação. A chuva e o ‘frio’, não impediram a ‘passeata’ dos novos calouros. Já a 28 de março, a Associação Atlética Acadêmica da Faculdade de Direito de São Luiz reunia-se, sob a presidência de Eliezer Moreira, seriam nomeados os chefes dos parlamentos das modalidades esportivas de Futebol, Basquetebol e Voleibol (masculino e feminino), Natação, Atletismo e Futebol de Salão. Também seria marcado encontro esportivo com os alunos da Faculdade de Filosofia. Em 14/04, era anunciada a campanha para a construção do Estádio Universitário, ao mesmo tempo em que eram confirmados os Jogos Internos da Faculdade de Direito, nas modalidades de Futebol, Basquete, Volei e Futebol de Salão, com as equipes compostas do combinado dos 1º e 2º anos x Combinados dos 3º, 4º, e 5º anos. Também a realização de vários jogos entre equipes da AAA e colégios da capital, dentre eles, São Luis, Colégio Estadual (Liceu), Banco da Amazônia, e Clube Recreativo Jaguarema. Também fora nomeado como diretor de imprensa o jornalista Cícero de Oliveira, dos D.A., e Rubem Teixeira Goulart, professor de educação física e acadêmico de direito, como Diretor Técnico de Esportes da Atlética. A 23 de abril, saem os resultados dos jogos do Campeonato Interno da Faculdade de Direito: o Combinado do 1º e 2º anos vence o Voleibol por 2 x 1 sets; os quadros eram formados por: 1º e 20 anos: Elizer, Itapary, Poé, Goulart, Leitão, Ernani, Tavares, e Celso; o combinado dos 3º, 4º, e 5º anos ´por: Couto, José Carlos (Faca), Janjão, Bento, Monteiro, Lima Filho, e Plinio. Já no Basquete, saíram vencedores o Combinado dos 3º, 4º, e 5º anos, por 32x20; equipes: combinado 3/4/5º anos: Janjão, Couto, Bento (Lima Filho), e Monteiro (Plinio); 1/2º anos: Eliser (Poé), Itapary (Goulart), Leitão, Tavares (Walber), e Heluy.


Em junho, o Centro Acadêmico inaugura sua Biblioteca “Pires Sexto”, ultimo ato da gestão do acadêmico João Geraldo Bugarim à frente daquele órgão estudantil. A seguir, deu-se a posse da nova diretoria, assim composta: Presidente: William Soares Cavalcanti; Vice-presidente: Euclides Matos; Secretario Geral – Pedro Leonel Pinto de Carvalho; 1º secretário: José Ribamar Monteiro Filho; 2º secretário: Maria helena Nunes; Tesoureiro geral: Hernani Coutinho Nunes; 1º tesoureiro: José Pires de Fonseca; Bibliotecário: Jurandyr de Castro Leite; Orador: Cícero Oliveira. Logo no inicio de agosto, o Diretor da Faculdade de Direito recebe telegrama do Ministro de Educação determinando o adiamento das provas de segunda chamada, haja vista que alguns estudantes ainda se encontravam em viagem pelo sul do País, participando do Congresso Nacional dos Estudantes. 19 de agosto sai edital para a cadeira de Direito Administrativo. 19 de dezembro, nas notas sociais, começam a aparecer os parabéns para os novos bacharéis: José Fonseca Pires, Cônego Arthur Lopes Gonçalves. 1959, primeira nota a 26 de fevereiro, sobre os exames vestibualres que estavam sendo realizados e, logo a seguir, a 28/02, os resultados. Dentre os 30 aprovados: Gervásio Protazio dos Santos, Carlos Gaspar, Frederico Brandão, Etelvina Ribeiro Gonçalves. A 18 de março, aviso de que estavam se encerrando as inscrições para o segundo concurso de habilitação para a Faculdade de Direito de São Luiz, para preenchimento de 13 vagas. A AAA da Faculdade de Direito começa o ano com várias dispotas, nos mais variados esportes, em especial o Futebol de Salão e o Futebol. Durante a disputa da I Olimpiada Universitária disputada em São Luis, sagra-se campeão do Voleibol. Prosseguindo as disputas, no basquete, o ‘six’ da faculdade de Direito vence os acadêmicos de Medicina, e as meninas, no vôlei dão mostras de grande habilidade, vencendo a sua partida contra a Faculdade de Filosofia. Enfrentariam, agora, o sexteto da Faculdade de Medicina, enquanto o time de basquete de direito sagrava-se campeão do basquete. A 03/08, realizado concurso interno para provimento de vaga para a cadeira de Teoria geral do Estado, em que estava se submetendo o dr. Orlando Leite. A 24/08, era realizado mais um Juri Simulado. Em 7 de outubro, anunciada a formatura para o dia dez/11dos novos bacharéis em ciências jurídicas e sociais: ANTONIO JOSÉ BELO RERREIRA BENEDITO LUIS DE AZEVEDO MAIA CLOVIS MATOS VIANA EDGARD DE BRITO FONTENELLE ELZA AYUB JORGE FRANCISCO DE ASSIS GAIOSO NEVES TRINTA HUGO NAPOLEÃO PIRES DA FONSECA ILZÉ JORGE VIERA DE MELO IRACEMA LUCENA BANDEIRA JOACY QUINZEIRO JOÃO BATISTA FREITAS CARDOSO VERAS JOÃO GERALDO BUGARIM JOMAR MACIEL PIRES JOSÉ MARIO MACHADO SANTOS (Orador) JOSÉ DE RIBAMAR MATOS JOSÉ TEIXEIRA MOTA


LUIS ALMEIDA TELES MARIA CANDIDA NETO SANTANA MARIA JOSÉ FREITAS VEIGA MARIA LUIZA CARNEIRO BANDEIRA MARIA DO SOCORRO LINS RODRIGUES MARIA TEREZA MACHADO SANTOS PEDRO PRUDENCIO DE MORAES PLINIO TEIXEIRA GOMES FERREIRA RAIMUNDO SADOCK COSTA RENATO PEREIRA DE ABREU SAMOEL SEOARES COSTA SEBASTIÃO RIBEIRO SALOMÃO VALDIR PEREIRA ROCHA VALENTIM MAIA FILHO WILLIAM SOARES CAVALCANTE YEDO FIGUEREDO SALDANHA Em 07/03/1960, através de convite oficial, anunciava-se a abertura das aulas do ano, sendo que Pires de Saboia faria a palestra inaugural. Marcada para as 10 horas da manhã, do dia 10 de março. O jornal da mocidade católica, O Maranhão, publica anúncio de curso preparatório para o vestibular da Faculdade de Direito de São Luiz, sob a direção do Prof. Antonio Martins de Araújo. Chamava atenção de que “voce poderia fazer seu curso de direito, seja na Faculdade de Direito de São Luiz, já federalizada, seja na Faculdade da Universidade Católica do Maranhão”. A 31 de março, aviso de realização de novo vestibular (2ª época), para ingresso na Faculdade de Direito de São Luiz, inscritos 28 candidatos. Realizadas as primeiras provas, de português, restavam apenas oito. Para a prova de Frances, restavam: Arlindo Abreu de Castro, Daniel Ribeiro da Silva, Ernesto Pires dos Reis, Gláucia Santos Maciel, José Caldas Góis, Manoel Lima de Carvalho, Merval de Oliveira Melo, e Vicente de Paulo Gomes. Realizadas as provas finais, apenas cinco lograram aprovação: Arlindo Abreu de Castro, Daniel Ribeiro da Silva, Gláucia Santos Maciel, José Caldas Góis, Merval de Oliveira Melo. No dia 04/04, anunciado que os bacharéis de 1960 haviam decidido convidar o Presidente Juscelino Kubitscheke para paraninfo e a turma se chamaria Brasília. Anunciada a presença, em São Luis, no dia 04 de julho de 1960, do irmão marista Mauricio Teissere, vindo do Recife, para tratar da fundação da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Maranhão. E a 17 de julho, uma nota assinada por Pinto de Carvalho “Colunata”, com o título “Faculdade”, comentando sobre a criação de uma segunda faculdade de direito em nossa cidade:




No dia 29 de março de 1961 é publicada nota de que o Presiente da República havia nomeado para o cargo de Diretor da Faculdade de Direito de São Luiz o professor Pedro Neiva de Santana.

Jurandir Lodi, em visita à São Luis, recebe o titulo de professor honorário de nossa Faculdade de Direito (Julho 1961).


Alunos da Faculdade de Direito informavam à imprensa de que continuariam em greve, até que fosse solucuinada a grave crise nacional (A Pacotilha, 29/08/1961). No dia 02/09, ao mesmo tempo em que era anunciada a chegada do corpo do estudante maranhense José Pinheiro, assassinado pela policia de Carlos Lacerda, os alunos da faculdade de Direito e do Liceu Maranhense confirmavam que continuavam firmes e fortes, na greve que então era realizada na cidade. Eleições para o Diretório Academico da Faculdade de Direito de São Luiz, concorrendo duas chapas (Jornal do Maranhão, 28/08/1965):


No dia 1º de novembro chegava a São Luis o professor da Faculdade de Fortaleza o dr. Waldemir Andrade Braga, inspetor federal do ensino superior, para inspecionar a Faculdade de Direito da Universidade Católica do Maranhão. 1962, a 26 de janeiro, anuncio de que estavam abertas as matriculas na Faculdade de Direito de São Luiz, e que as inscrições para o vestibular haviam encerradas. Informava-se, ainda, como já estava se estabelecendo de costume, exames de segunda época para os interessados. A 1º de agosto de 1962, noticia de que apenas 12 alunos da Faculdade de Direito haviam presatado as provas e que o movimento paredista continuava, conforme decisão da União dos Estudantes, realizado na Quitandinha. No dia seguinte, a UME confirmava que 12 alunos da Faculdade de Direito furaram a greve, mas que seriam impedidos de realizar novas provas, caso tentassem. A Policia federal, em nota, garantia a realização das provas. No dia 06/08, a direção da Faculdade publica o horário das provas. Em 21 de dezembro de 1962, anuncio do vestibular da Faculdade de Direito de São Luiz A Universidade do Maranhão, então criada, e fundada pela SOMACS em 18/01/1958 é reconhecida como Universidade livre pela União em 22/06/1961, através do Decreto n.º 50.832, sem a especificação de católica no seu nome, congregando a Faculdade de Filosofia, a Escola de Enfermagem 'São Francisco de Assis' (1948), a Escola de Serviço Social (1953) e a Faculdade de Ciências Médicas (1958). Posteriormente, o então Arcebispo de São Luís e Chanceler da Universidade, acolhendo sugestão do Ministério da Educação e Cultura, propõe ao Governo Federal a criação de uma Fundação oficial que passasse a manter a Universidade do Maranhão, agregando ainda a Faculdade de Direito (1945), a Escola de Farmácia e Odontologia (1945) - instituições isoladas federais e a Faculdade de Ciências Econômicas (1965) instituição isolada particular. D. Delgado, em 1966, vencido na luta pela sobrevivência da Universidade do Maranhão sentiu que não havia alternativa senão de aceitar a sugestão do então Diretor do Ensino Superior da época: propor ao Governo Federal a criação de uma Fundação oficial que englobaria a Universidade Católica e as duas faculdades federais existentes. A Universidade do Maranhão doaria O seu acervo àquele tempo avaliadoem cerca de 2 milhões de cruzeiros e em contrapartida teria 1/3 do Conselho Diretor e um Instituto de Teologia cabendo a Fundação a obrigação de receber o seu corpo docente e administrativo. Assim foi instituída, pelo Governo Federal, nos termos da Lei n.º 5.152, de 21/10/1966171 (alterada pelo Decreto Lei n.º 921, de 10/10/1969 e pela Lei n.º 5.928, de 29/10/1973), a Fundação Universidade do Maranhão – FUM, com a finalidade de implantar progressivamente a Universidade do Maranhão. Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir a Fundação Universidade do Maranhão, que se regerá, por estatutos aprovados por decreto do Presidente da República, depois de homologados pelo Conselho Federal de Educação. Art. 2º A Fundação será uma entidade autônoma e adquirirá personalidade jurídica a partir da inscrição, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, do seu ato constitutivo, com o qual serão apresentados os Estatutos e o decreto que os aprovar, e será dirigida por um Conselho Diretor. Art. 3º A Fundação terá por objetivo implantar, progressivamente, a Universidade do Maranhão, instituição de ensino superior, de pesquisa e de estudo em todos os ramos do saber, visando, imediatamente, a contribuir para a solução de problemas regionais de natureza econômica, social e cultural. Art. 5º O patrimônio da Fundação Universidade do Maranhão será constituído: I - pelos bens de propriedade da União que, na data da publicação desta Lei, integram os patrimônios da Faculdade de Direito de São Luiz do Maranhão e da Faculdade de Farmácia e Odontologia de São Luiz do Maranhão, federalizadas de conformidade com o 171

LEI Nº 5.152, DE 21 DE OUTUBRO DE 1966 Autoriza o Poder Executivo a instituir a Fundação Universidade do Maranhão e dá outras providências.


item II do art. 3º da Lei nº 1.254, de 4 d de dezembro de 1950, compreendendo imóveis, móveis e instalações, veículos e semoventes; Art. 8º Passam, desde logo, a integrar a Universidade do Maranhão, criada por esta Lei, os seguintes estabelecimentos de ensino superior: I - Faculdade de Direito de São Luiz do Maranhão (Lei nº 1.254, de 4 de dezembro de 1950);

A Fundação Universidade do Maranhão – FUM - criada como entidade publica de direito privado, incorporou inicialmente as Faculdades de Direito, Teologia, Filosofia, Ciências e Letras, Ciências Medicas e a Escola Farmácia e Odontologia, e Serviço Social, e a Escola de Enfermagem de São Luis com a finalidade: "de implantar progressivamente a Universidade do Maranhão - instituição de ensino superior, de pesquisa, e de estudos em todos os ramos do saber visando imediatamente contribuir para a solução de problemas regionais de natureza econômica, social e cultural.


OS DESAFIOS DA ADVOCACIA JOÃO BATISTA ERICEIRA As atividades da semana passada centraram-se na data de 11 de agosto, dia em que se criou as Faculdades de Direito de Olinda e Recife e São Paulo, pelo Decreto Imperial de 1827. Por tradição, passou a celebrar-se o dia do Advogado e do Estudante, em um país que recebera o legado português do bacharelismo. Acontece que os bacharéis e advogados não desfrutam do mesmo prestígio de outrora, segundo o trabalho de pesquisa do sociólogo Bolívar Lamounier, publicado em modalidade de livro eletrônico sob o título “O Império da Lei: a visão dos advogados sobre a Justiça brasileira”. O autor concedeu entrevista ao Boletim de Notícias Conjur, em que sintetiza pontos cruciais sobre a evolução da profissão: como ela própria se vê, e enxerga o Poder Judiciário. Alguns deles já eram sabidos, mas não tinham merecido a avalição de pesquisa, obedecendo as regras do trabalho científico. Eles foram da maior utilidade para as reflexões nos seminários e palestras realizados durante a Semana do Advogado, coincidindo com as comemorações pelos 30 anos da promulgação da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988. Naturalmente aquele velho advogado, titular de banca, protótipo do profissional liberal isolado, despareceu, dando lugar aos grandes escritórios faturando fortunas; no meio, os médios, alcançando rendimentos mensais de até 12mil reais, e em baixo, a grande maioria de pequenos escritórios proletarizados, lutando para sobreviver. Lamounier adotou o modelo piramidal para representar a situação atual da advocacia brasileira. Esse profissional não se sente pertencente ao status mais elevado da sociedade. Ele não se interessa pela discussão de grandes temas do Direito ou das instituições políticas do Estado. Sua atenção volta-se para a sobrevivência. Os interesses de leitura são dirigidos a legislação, aos códigos e a questões processuais. Mais de 90% dos entrevistados pela pesquisa considerou a atuação do juiz Sérgio Moro, do Ministério Público, da Polícia Federal como ótima ou boa, sem atentar para a tensão existente entre o combate à corrupção, os direitos individuais e o Direito de defesa. Após o Exame de Ordem, mais de um milhão de advogados, que se sentem integrantes da classe média baixa, e não têm pensamento político ou ideológico estruturado, preocupam-se em sobreviver no difícil mercado de trabalho. A oferta de bacharéis demandando o Exame de Ordem é grande. São 1.200 cursos de Direito em todo o Brasil. De 28 a 30 no Maranhão. Em boa parte, de baixa qualidade, ministrando conteúdos discutíveis. Os índices de reprovação no Exame são elevados, comprovando a fraqueza de suas graduações. O autor constata a acentuada proletarização da advocacia, que não é, como foi no passado, o viveiro das lideranças políticas do país. A sociedade brasileira necessita de advocacia mais qualificada para melhorar os serviços de Justiça, repercutindo também na magistratura e no ministério público, enfim, em toda a estrutura do Poder Judiciário. Dias 8 e 9 de agosto, a Escola Superior de Advocacia-ESA desenvolveu a programação da Semana, sob o título: Justiça e Cidadania. Nele, sob a coordenação do procurador do Estado Miguel Pereira, discutiu-se temas como o Direito do Consumidor; A Questão Ecológica; Os Serviços Prestados pelo Estado a Sociedade; O Acesso à Justiça. Foram expositores os advogados Karen Barros, Luane Lemos Agostini, Marcus Bacelar, Ivaldo Prado. Como debatedores atuaram os advogados Hugo Assis Passos, Flávio Moura Lima, Bruno Tomé Fonseca, Roberto Gomes. Não resta dúvida que a ESA cumpriu seu papel de atualização dos advogados em temas atuais que respeitam ao exercício profissional. O proveito e a avaliação foram positivos. Devendo-se acentuar a parceria bem-sucedida entre a instituição advocatícia e o Centro de Estudos da Procuradoria, dirigido pelo advogado Miguel Pereira, e por seu Procurador-Geral Bruno Tomé Fonseca. Estiveram presentes profissionais representativos da advocacia pública no Maranhão.


No dia seguinte, estive no CECGP, presidido pelo advogado Sérgio Tamer, para discorrer sobre: “Os Desafios da Advocacia Maranhense nos 30 da Constituição. ” Se pode dizer que são os mesmos de todo o Brasil, agravados com as peculiaridades do nosso Estado. Temos a menor relação entre a advogados e habitantes do Brasil. Somos pouco de 14 mil advogados. Os índices de acesso à Justiça são baixos. Nossos desafios são comuns ao restante do país. Qualificar os advogados, torná-los cada vez mais aptos ao exercício profissional de qualidade. Lutar pela melhoria dos cursos jurídicos existentes, impedindo a sua proliferação desmesurada. Por fim, apresentar ideias criativas para a melhoria das atuais condições do mercado de trabalho.


FORA DA LEI JOÃO BATISTA ERICEIRA Dois temas serão centrais nas eleições de 2018: segurança pública e corrupção. O primeiro pela insegurança generalizada do país. Ninguém se sente seguro em lugar nenhum. O segundo, pela maior percepção dela, determinada pela divulgação constante dos casos de corrupção, e naturalmente, a ampliação da consciência crítica dos cidadãos, sabedores de que os desvios dos recursos do erário, implicam em menos dinheiro para a segurança, a educação e a saúde. A questão da segurança se liga, em parte, ao descuido dos governos, após o retorno ao Estado Democrático de Direito, considerando que o regime autoritário anterior adotava a ideologia da segurança nacional, esta voltava-se para o combate ao comunismo, no que chamavam de a guerra interna. No mesmo período, acentuou-se o processo de urbanização, o inchamento das cidades, ao lado do crescimento do narcotráfico. Pela Constituição de 1988, a segurança passou ser competência em ampla faixa dos estados, e em casos específicos, da União. Sucessivos governos têm editado planos nacionais de segurança. Eles não passam de declarações de intenções, nada de concreto se efetivou. A violência alarma em um país de povo havido como cordial. As estatísticas são desafiadoras à ação governamental, pois se não houver gestão da segurança, dentre em breve, estaremos na situação da Colômbia anos atrás, totalmente entregue ao crime organizado. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2016 e 2017, em números absolutos, 63.880 pessoas pereceram vítimas de assassinatos, significando uma média de 175 por dia, correspondendo a 30,8 por cada 100 mil habitantes. Índices superiores a de países que estão em guerra no Oriente Médio e na África. As vítimas situam-se nas camadas mais pobres da população, são jovens, negros e pardos. É preciso reconhecer que se trata de apartheid social que nos envergonha perante a comunidade internacional de nações. Urge a concretização de políticas públicas dirigidas a esses segmentos da população. Quando se fala em segurança, não se diz apenas a repressão policial, mas também de medidas de inclusão na área social, de ações educativas, como escolas de tempo integral, e outras de trabalho e melhoria da renda para as famílias pobres. Claro, a parte policial deve ser melhorada com o aperfeiçoamento técnico dos policiais, investindo mais em inteligência, em recursos tecnológicos, na capacitação de gestores em informações e análise criminal, adotando-se inclusive o sistema de metas para a solução de crimes violentos, necessariamente, melhorando a condição salarial dos policiais. Não se deve esquecer, no período autoritário, os serviços de segurança nos estados foram privatizados, organizaram-se empresas do ramo, faturando fortunas, oferecendo trabalhos a particulares. Nesse aspecto, houve inequívoco engano, com o desaparelhamento das milícias das unidades federativas. Há outros pontos a acentuar de política criminal judiciária, a exemplo da melhor integração entre polícias, ministério público e juízes, com vistas a reservar as penas de prisão a casos de crimes violentos, empregando-se, com critérios técnicos, as penas alternativas, de modo a esvaziar os presídios, investindo mais em suas seguranças. São aspectos do mesmo problema, que devem ser apresentados aos candidatos à Presidência da República, governadores de estados e casas congressuais. Seus programas de governo devem contemplar não apenas conceitos genéricos, abstratos, e sim, medidas concretas para o enfretamento da insegurança pública. Criouse o Ministério da Segurança e o Congresso aprovou o Sistema Único de Segurança Pública-SUSP, esperase que não seja apenas um rol de intenções. Uma das providências imediatas será a coordenação nacional para a articulações de segurança, visando a implantação de decisões de caráter preventivo. Nas democracias, dizia o juiz Oliver Holmes, a convivência das ideias contraditórias é salutar. Como o Brasil é uma Federação peculiar, integrada por União, estados e municípios, não entendo, por exemplo,


porque estes últimos não são incorporados nas ações nacionais de segurança pública, assumindo determinadas responsabilidades. De toda sorte, a discussão sobre a matéria está aberta, os candidatos ao Executivo e ao Legislativo devem apresentar propostas concretas, sem demagogia, populismo, ou a pretensão de terem a “bala de prata” para enfrentar o problema, que não é apenas dos candidatos aos cargos majoritários, também dos aspirantes ao Legislativo. A esse respeito, em recente entrevista à TV Brasil, tive a oportunidade de ressaltar a importância da escolha dos legisladores, sem eles, os chefes do Executivo nada poderão fazer. A angústia pela solução do problema é de toda a sociedade, senão como diz a letra de Ed Mota, será a continuação da farra no telhado dos fora da Lei.


FUGA DOS BRASILEIROS MILIONÁRIOS Bye, bye, Brazil!! OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. No semanário de notícias uma em especial me chamou a atenção: a fuga de brasileiros milionários do país. Açodadamente conclui que poderia ser um modismo, mas inquietei-me em debruçar sobre o tema em questão. Por que tantas pessoas estariam deixando para trás toda uma vida para aventurar-se em terras distantes em um contexto mundial instável? Atrativos lá, ou desilusão cá? Ao cabo de minha análise, percebo que o brasileiro está perdendo a fé nos rumos da nação e, quem pode, está deixando para trás uma dura realidade em busca de uma vida melhor. Após todas as alternativas possíveis, parece que aquela dita ser “a última que morre” teve seu funeral. Esperança, apesar de ser muito falada, é palavra que já não se acredita por cá na parte de baixo dos trópicos. O “sou brasileiro, não desisto nunca”, campanha lançada pela Associação Brasileira de Anunciantes – ABA, tinha como objetivo retomar a autoestima dos nacionais, fazendo-os acreditar, abraçar e assumir seu papel no processo de reconstrução da nação. A tentativa valeu, mas, para muitos, o fogo vivo naquele brado de euforia arrefeceu e a hora de desistir parece ser a única verdade diante de uma cruel realidade de desencanto com a Terra de Vera Cruz. O otimismo deu lugar ao medo, à incerteza e à insegurança. Assistimos sistematicamente a fuga de brasileiros para outros países cujas condições sociais, políticas e econômicas são mais atrativas e estáveis. Dados da New World Wealth, empresa de pesquisa que rastreia o movimento da riqueza no mundo, revelou que continuamos entre os 10 países com fuga de cidadãos com posses de 1 milhão de dólares ou mais. Nos últimos três anos foram 17 mil brasileiros nessa condição. E lá se vão nossos compatriotas, espalhando-se pelo mundo, aventurando-se além-mar, em terras muitas vezes desconhecidas. Se fôssemos somar aqui a evasão de mão-de-obra, incluindo a qualificada, estaríamos falando de números bem superiores, a exemplo da fuga de cérebros, que colocam sua expertise a serviço de outras nações devido à falta de apoio e oportunidade por aqui. Mas em falando dos milionários “brasucas”, para os quais não invoco o sentido pejorativo, Portugal, dos nossos irmãos portugas, tem sido o destino mais buscado. O país reúne boas condições para que os brasileiros possam prosperar, além do fato de que o idioma facilita a adaptação. Portugal e Estados Unidos somaram investimentos de 3,2 bilhões de dólares “verde e amarelo” em 2017, um recorde. Quando são analisados dados mais completos, nos quais não se leva em consideração a posse de valores, pelo menos 69 mil brasileiros declararam saída definitiva do país desde 2014, segundo a Receita Federal. O número só cresce e em 2017 foram quase 22 mil declarações, podendo ser bem maior, uma vez que não se contabiliza a emigração ilegal. Retomo minha reflexão inicial para concluir que o alto índice de corrupção atrelado à má gestão dos recursos públicos gerou grande instabilidade política, acarretando consequências negativas em diversas áreas sociais. A falta de perspectivas para problemas como economia estagnada, saúde, educação, lazer, desemprego e, mais fortemente e segurança tem impulsionado e acelerado a “fuga” daqueles que muito ainda poderiam contribuir com a nação. O quadro de baixa autoestima diante da crise de insegurança – no qual a deterioração do aparelho de segurança pública, aliada à incapacidade das autoridades em lidar com um tema essencial no cotidiano dos cidadãos – mexe com o que cada um tem de mais essencial: a vida. E quem não busca preservar aquilo que tem de maior valor?


Sob um prisma diferente a canção “Bye, bye, Brasil” – de Chico Buarque e Roberto Menescal, que também embalou filme de mesmo título no fim da década de 1970 – retratava mudanças pelas quais a nação passava. Influências estrangeiras no processo de modernização criavam uma interessante dicotomia com a realidade de diversas regiões, retratadas por meio de telefone público, o já praticamente extinto “orelhão”. A letra da música, assim como o enredo gravado na película, fazia críticas à perda de identidade, principalmente na cultura – frente à influencia estrangeira, notadamente norte-americana. De conotativa a realidade hoje não tem nada, uma vez que repousa sobre uma triste e real constatação de que esta terra, para muitos, já não é o que se pode chamar de lar. O autoexílio voltou a deixar de ser uma alternativa para se tornar questão de preservação da vida, como ocorrera em tempos sombrios de nossa história. A última ficha, dita na canção como referência à ficha do orelhão, hoje é substituída pelo sentido figurado que algo fora entendido. Ou seja, para milhões de brasileiros, muito além dos milhares que já levantaram voo, a ficha caiu. Essa desesperança tem profundos e negativos impactos para a nação, motivo pelo qual não se pode assistir a tudo isso sem uma ação de resgate das condições mínimas para que a repatriação aconteça. O Brasil vive um momento ímpar em sua história, no qual precisa retomar seu caminho, concretizar um novo pacto federativo capaz de resgatar a credibilidade das instituições e que possa resultar em melhores condições de vida para a população. Na economia, urge a retomada da credibilidade, criação de condições para a cadeia produtiva, geração de empregos e a possibilidade de acesso a bens de consumo. Por fim, é preciso que na esfera social, especialmente na segurança pública, o país, que parece estar em um descompassado galope, retome as rédeas do seu desenvolvimento. Embora o cenário não parece favorável, devo afirmar que não há melhor momento para iniciarmos uma nova caminhada, fundada em valores outrora renegados, rumo a um futuro de mais oportunidade para todos. Sem essa de bye, bye, o Brasil é dos brasileiros!


A ÉTICA CONSTRUÍDA COM A VERDADE OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

Ética não é apenas uma palavra de significado único, ou mesmo simplório. Embora todos a invoquem em oportunos momentos, a subjetividade que lhe é particular deixa margem a interpretações diversas. A depender do referencial – do arcabouço cultural e ideológico, do contexto no qual ela é moldada e empregada – o seu significado pode ganhar contornos interpretativos bem peculiares. Neste ensaio, não se pretende ficar em cima do muro sobre tema tão fascinante e que mexe tanto com o cotidiano. Daí porque interessante apanhar emprestada a definição da ética como um conjunto de normas de ordem valorativa que norteiam o comportamento e a conduta humana. A derivação do grego remete ao que está intrínseco ao caráter de um indivíduo. Logo tem reflexo nos agrupamentos sociais, incluindo as instituições. Diante de tal conclusão, interessante se faz pensar na relação a ética e a verdade? E que verdade cada um constrói cotidianamente? Pode-se, naturalmente, extrair paralelismos dessa delação – tal como podemos arrancar paradoxos questionáveis de um limiar tênue entre as duas concepções. Assim como a ética, a verdade também depende do referencial que o indivíduo tem de sua realidade, podendo andar juntas ou seguir direções opostas. A linha que aproxima a ética e a verdade tem ganhado força no contexto atual, fazendo-as caminhar lado a lado na busca de uma sociedade mais justa. Nesta concepção, cada um passa a assumir papel importante na construção da realidade e, por fim, daquilo que é tido como verdade, que nada mais é do que um produto social. Diante desse cenário, a discussão em torno das “fake news” começa a ganhar relevância. Dois episódios recentes contribuíram para esse debate: o primeiro trata da suposta influência dessas notícias no resultado das eleições norte-americanas em 2017; enquanto o segundo trata das notícias falsas sobre a vereadora Marielle Franco, divulgadas após seu assassinato. Aquilo que se diz hoje, em regra, já não é dito mais apenas dentro do ambiente familiar ou nas rodinhas de amigos. Em um mundo atravessado pelas tecnologias que possibilitam mais interação, as ditas mídias sociais ganharam espaço de destaque na produção de conteúdos independentes e no seu compartilhamento. E é para este último ponto que está acentuada esta reflexão. Por natureza, o ser humano busca causar uma impressão positiva de si. Vive-se em função do outro, que passa a ser o referencial dentro de um dado contexto. Seja nos âmbitos familiar, amistoso, amoroso ou mesmo profissional, a construção de uma boa reputação não ocorre da noite para o dia, mas leva tempo, dinheiro e dedicação. Reputação é aquilo que permite uma definição de cada um de nós, dos valores que se defende e se carrega. É imagem de si para o outro. Cabe a busca pela compreensão do porquê um caminho que trilhado com tanto esforço, uma história edificada com suor e trabalho é simplesmente ignorada em época de “fake news". Vive-se um frisson de compartilhamentos de conteúdos sem precedente na história. Na ânsia de mantermos o status de “antenado” no que rola nas redes sociais, estamos cometendo afrontas a pessoas e instituições sem, em muitos casos, nos apercebermos disso. Com o propósito de parecer “descolado” e “informado”, vou tendo contato com todo tipo de informação sobre todo e qualquer tema. Minha única preocupação: serei o primeiro a compartilhar nos demais grupos. Daí já seleciono aquele conteúdo e disparo para tantos outros que tal como fiz o farão. Assim, passo adiante uma informação falsa, equivocada, incompleta, invertida sobre um shopping, uma empresa de alimentos, uma loja, uma operadora de telefonia, uma companhia aérea, uma pessoa, um filho,


um pai ou mãe de família. Pessoas físicas ou jurídicas que levaram tanto tempo para consolidar uma imagem positiva, hoje se veem frágeis frente às desventuras trazidas pela falta de responsabilidade de muitos em lidar com os meios tecnológicos. Convém lembrar que todo e qualquer ato que ofenda terceiros é passível de punição e muitas dessas condutas são classificadas como criminosas. Mas há reparação para uma pessoa que teve o nome vinculado a um vídeo que possui conotação sexual? O que pode buscar um candidato que perde uma eleição porque inverdades sobre ele repercutiram nas mídias sociais? O que pode esperar a família de uma dona de casa, esposa e mãe linchada e morta após a confundirem com uma sequestradora de menores? Casos reais envolvendo inverdades são divulgados e compartilhados diariamente nas redes, espaço que parece tão inócuo e serve para expressar rotinas, compartilhar alegrias e manter contatos com amigos. Da mesma forma que a diferença entre o remédio e veneno é a dose, nas redes sociais essa dose deve estar associada à prudência e bom senso. Não se deve compartilhar conteúdo sem a apuração de sua veracidade. Empresas perdem dinheiro e clientes – algumas fecham as portas –, candidatos perdem a corrida eleitoral, autoridades são ameaçadas, pessoas perdem sua reputação, outras perdem a honra, a dignidades e até a vida em consequência das falácias compartilhadas por cidadãos comuns. A efervescência social da conjuntura brasileira propicia um bradar vigoroso para pleitear mais moralidade e um basta naquilo que se entende como errado. Querer um país melhor é legítimo! Mas não se pode permitir que vaidades em querer compartilhar algo que acredita ser útil comprometa a reputação de terceiros. As eleições que se avistam prometem ser uma das mais importantes da história e a responsabilidade de cada um nesse processo cresce na mesma proporção. Esta é, portanto, uma excelente oportunidade para o exercício da ética sob o viés da verdade. Não uma verdade particular, mas daquela que se constrói coletivamente objetivando o bem maior. Ética – antes de ser o que se espera do outro em favor da coletividade – é aquilo que cada um dá ao mundo tendo como propósito esse bem comum. Exercitemos a ética e a verdade prevalecerá.


CHAMAS DO DESCASO: NOSSA MEMÓRIA. OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

Não é preciso ser um especialista para detectar que algo vai mal em nosso país quando o assunto é cultura. Os 200 anos de história do Museu Nacional que viraram pó na noite do último domingo revelam algo que vai muito além do simples acaso. Não se pode culpar o destino pela perda de um acervo que de tão valioso não se pode traduzir em cifras. Em poucos minutos, o fogo tomou conta de todo prédio, levando algumas horas para por fim a uma rica parte de nossa memória. Em um esforço sistemático, praticamente em vão, dezenas de bombeiros se mobilizaram para combater as chamas, trabalho que seguiu madrugada adentro. Já naquele momento as evidências do descaso com a manutenção do prédio começavam a ficar evidentes: faltou água para apagar as chamas. Bombeiros com mangueiras secas nas mãos, apenas torcendo, como se pedissem para uma gota d’água cair do céu. Paradoxo entre teoria e prática denota o abismo que havia entre a concepção da importância do museu e a forma concreta como ele era tratado. Nem mesmo o riquíssimo acervo, tido como referência por pesquisadores do mundo inteiro, foi capaz de sensibilizar as autoridades brasileiras – notadamente as federais – para o estado de deterioração que se encontrava o Museu Nacional. Muito se fala sobre o sistema antifogo, uma medida que certamente teria evitado ou diminuído os efeitos da tragédia. Mas como pensar em algo tão moderno quando faltava o básico, como água nos hidrantes e uma brigada de incêndio? O que se vê, pós-tragédia, são discursos inflamados que servem apenas para trocas de acusações, o velho jeito brasileiro de buscar culpados. A palavra de ordem era tirar dos próprios ombros a responsabilidade, aquela que ninguém se propôs a assumir. Essa é uma postura que não contribui para que o pouco que sobrou renasça e um novo caminho para a nossa cultura e a pesquisa seja traçado. E como não poderia deixar de ser, o tema entrou na agenda eleitoral, inclusive de candidatos que sequer pronunciavam a palavra “cultura”. Demagogia? Oportunismo? Fato é que o drama vivido naquela noite de terror vinha sendo anunciado há tempos. Paredes que testemunharam momentos que entraram para nossa história, como a chegada da Família Real ao Brasil, a assinatura do nosso Decreto de Independência, o nascimento de Dom Pedro II até sua coroação. Quantos segredos do Brasil Império não foram velados por aqueles corpulentos paredões, que nos últimos anos resumiam-se a assistir a deterioração que só o abandono é capaz de causar? As condições eram precárias. Espaços interditados em razão da degradação. Beirais sem sustentação, paredes que pareciam estar se dissolvendo, cupim, vaquinha para recuperação de alguns poucos espaços, fechamentos, reaberturas, resistência. Essas cenas compuseram os capítulos finais de uma trama que, diferentemente da teledramaturgia, não teve um final feliz. O acervo era único, não havia cópias. Peças da antiguidade remontavam a maior coleção egípcia na América Latina. Artefatos pré-colombianos e fósseis que serviam de pesquisas que vinham ajudando a montar o quebra-cabeça da nossa evolução. Mais de 20 milhões de itens ligados às artes, ciências, historia dos quais pouco restou. A já pífia verba, de R$ 520 mil por ano para manutenção, sequer era repassada em sua integralidade desde 2014. Este ano o museu havia recebido apenas R$ 54. Para efeitos de comparação, o Museu Britânico – equivalente na Inglaterra – recebe cerca de 100 milhões de libras, mais de R$ 400 milhões, por ano para sua manutenção. O montante é resultado de uma gestão eficiente e do somatório de esforços da Parceria Público-Privado, algo que no Brasil anda mal das pernas, iniciativa corroída pela corrupção. A forma como a Inglaterra e tantos outros países cuidam de sua memória está ligada a uma administração pública eficiente e à valorização desses espaços pela própria população.


O mundo chorou com o Brasil, mas também cobrou. E a cobrança foi pesada. A repercussão mundial foi imediata e na mesma proporção do nosso descaso. Manifestações de várias partes do mundo que misturavam críticas com uma dose de ceticismo, como se não quisessem acreditar que o Brasil fosse capaz de permitir que parte da sua história e da humanidade virasse cinzas. Como pode? Foi o questionamento que misturou solidariedade, angústia e revolta. Como na expressão popular “não se pode chorar pelo leite derramado”. Ainda que o museu seja reerguido, aquilo que foi perdido já não mais voltará. O ressurgimento das cinzas – tal como a ave fênix – fica guardado à mitologia grega, não podendo, neste plano, infelizmente, ganhar concretude. Lições para a vida costumam vir com a dor. E esta certamente passará a fazer parte da nossa memória, um trocadilho fora de hora, mas necessário. Cabe, agora aprender com essa lição. O sentimento de consternação deve permanecer vivo para que dele possam surgir ações concretas para valorização e preservação da nossa rica cultura na mesma proporção de sua importância. Parte da história se foi, fica, portanto, o alerta para aquela outra parte que ainda agoniza – composta por museus, centros de estudos e pesquisas, conjuntos arquitetônicos – sobreviva ao descaso agudo de governos sustentados na hipocrisia e gestores descomprometidos. Quem assume o poder e/ou a gestão se obriga com valores como educação, saúde, cultura e bem estar da população e o que constitui obrigação não deve servir para exaltação.


EXISTE A CLASSE POLÍTICA? JOÃO BATISTA ERICEIRA é professor universitário e sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados Quase a totalidade da “classe política” brasileira vê-se envolvida em esquemas de propinas e resíduos de caixas de campanhas eleitorais. Estava mais ou menos naturalizada a utilização desses expedientes responsáveis por fortunas advindas do enriquecimento ilícito. Os dados estatísticos são reveladores e contundentes. Envolvem o governo e a oposição. 155 dos 513 deputados da Câmara Federal estão implicados em procedimentos junto ao Supremo Tribunal Federal-STF. 19 dos 26 partidos com assento no Parlamento estão envolvidos em 323 inquéritos e ações penais. 34 senadores são acusados de crimes. 13 deputados acumulam 100 inquéritos e ações penais no STF. Cumpre assinalar que a expressão “ classe política” é herética. Não existe tal categoria na sociologia. Os políticos devem representar as classes sociais, jamais se constituir em uma especifica. No caso brasileiro, alguns historiadores e cientistas sociais falam de estamentos criados pelo Estado patrimonialista transplantado de Portugal para cá no período colonial. A “classe política” se constituiria em um estamento que se apoderou dos aparelhos estatais, perpetuando seculares privilégios. Seria a forma mais razoável de explicação da categoria inexistente no jargão da sociologia geral. No Império tinham o apelido de “casacas”. Proclamada a República pela mocidade positivista, liderada por Benjamin Constant Botelho de Magalhães, que pôs Deodoro da Fonseca no cavalo, em 15 de novembro de 1889, aumentaram ainda mais as suas regalias e privilégios. A juventude militar republicana irresignava-se com as “casacas”, sentia-se humilhada em seus brios cívicos. Depôs o imperador Pedro II sem saber que estava aumentando os poderes dos políticos, criando as oligarquias regionais, entre elas, a do café-com-leite, reunindo São Paulo e Minas que controlaria o governo central até 1930. Nos anos vinte do século passado, a jovem oficialidade do Exército rebelou-se nos movimentos contra o governo, chamados de tenentistas. Insurgentes contra os mesmos privilégios, as eleições falsas, feitas à bico de pena. A insensibilidade da “classe política” com a questão social. O ápice seria a derrubada do presidente Washington Luiz e do seu candidato Júlio Prestes, eleito para sucedê-lo pelos métodos da República Velha. À frente do movimento militar assume Getúlio Vargas, o candidato derrotado, apoiado pelos jovens tenentes. Governa 15 anos, e quando se dá o retorno da Democracia pela Constituição de 1946, com as eleições, a velha classe política, que permanecera hibernando nas intendências, retorna com toda a força. Entre 1946 e 1964, durante a Guerra Fria, da disputa entre capitalismo e comunismo, expande-se o populismo de direita e de esquerda, juntamente com ele, os seculares privilégios da “classe política”. O golpe de Estado de 1964 propunha-se a acabar com eles, a corrupção e a subversão. Após vinte anos de ditadura, e de uma lenta e gradual transição, retorna-se ao Estado de Direito com a Constituição de 1988. Ao longo de quase trinta anos de vigência ampliaram-se os privilégios da “classe política” ao lado da corrupção. Agora a “classe política” está sendo julgada pela população estarrecida com os propinodutos, e a proliferação de esquemas de corrupção nos órgãos da administração pública em parceria com empresas e bancos. O problema tem raízes históricas. Há algumas diferenças em relação ao passado. O Estado enriqueceu mais. Engordaram as tetas da Fazenda Pública. A internetização, a proliferação das redes sociais, dos canais de televisão, tornou a corrupção mais perceptível pela sociedade. Outros países enfrentam problemas semelhantes. A França, por exemplo, como reação, elegeu o jovem banqueiro, Emmanuel Macron para a Presidência da República. Ele não integra tradicional a carreira dos políticos. Adotando o mesmo critério houve a renovação de todo o Parlamento. A legislação francesa, mais aberta, permitiu a mudança, ainda difícil para o Brasil, pela adoção de conjunto normativo protetivo dos profissionais. Mas há sinais importantes em nosso país. Para começar, a consciência da cidadania de que a classe política desvia e mantém privilégios com o dinheiro dos impostos pagos pela população. Em São Paulo, o jurista Modesto Carvalhosa lançou movimento unificado para acabar com os políticos profissionais. Algumas dessas renovações poderão ser falsas. De tudo se pode concluir: não há “classe política” do ponto de vista da sociologia. Os privilégios dos estamentos têm que ser revogados. A legislação eleitoral deve abrir-se e flexibilizar-se, permitindo o controle do Estado pela sociedade brasileira.



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