ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
2018 – ANO DE GRAÇA ARANHA
NÚMERO ATUAL - V. 5, N. 4, 2018 – OUTUBRO A DEZEMBRO SÃO LUIS – MARANHÃO
2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS
2016 – ANO DE COELHO NETO
2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES
2017 - ANO DE JOSUÉ MONTELO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA CONSELHO EDITORIAL SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER
EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com
NOSSA CAPA: Escudo da ALL
Retrato de Graça Aranha
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981
2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4
2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com
V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4
2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1
V.4, n.2, 2017 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_2
V.4,n.3,2017 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v._3__julho-setem V.4,N4, 2017 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v.4__outubro-deze
2018 V.5, n. 1, 2018 (janeiro a marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.1__janeiro-mar_ V.5, n. 2, 2018 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.2__abril-junho_ V.5, n. 3, 2018 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.3__julho-setemb
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33
CHAPA 1 “MARIA FIRMINA” – BIÊNIO 2018 – 2019 MEMBROS DA DIRETORIA: ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – Presidente; ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – Vice-Presidente; CLORES HOLANDA SILVA – Secretária-Geral DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA – Primeiro Secretário; CERES COSTA FERNANDES – Segundo Secretário; OSMAR GOMES DOS SANTOS – Primeiro Tesoureiro; e, RAIMUNDO GOMES MEIRELES – Segundo Tesoureiro. CONSELHO FISCAL: ÁLVARO URUBATAN MELO; ARQUIMEDES VIEGAS VALE; e, SANATIEL DE JESUS PEREIRA. CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938
COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES E EVENTO
SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA
CONSELHO EDITORIAL
SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER
EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536
SUMÁRIO 3
Expediente sumário
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Um balanço positivo...
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agenda confraternização eleição
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RETRATO-FALADO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – por Tony Alves, retratista MARIA FIRMINA DOS REIS E A REDESCOBERTA DA LITERATURA BRASILEIRA por Pai Rodney ESCOLA MODELO HOMENAGEIA BENEDITO LEITE DILERCY ARAGÃO ADLER HOMENAGEM AOS 161 ANOS DE NASCIMENTO DE BENEDITO PEREIRA LEITE NESTES 118 ANOS DA ESCOLA MODELO BENEDITO LEITE AÇÃO SOCIAL DO DIA DAS CRIANÇAS NO VINHAIS VELHO, PROMOVIDA PELA ASSOCIAÇÃO MARANHENSE DE VEÍCULOS ANTIGOS - AMAVA, , palestra ‘BEM VINDOS A MIGANVILLE’, por LEOPOLDO G. D. VAZ E ANTONIO NOBERTO CANDIDO MENDES, VIDA E OBRA DISCURSO DA TRINETA DE CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA, DRA ANDREYA MENDES DE ALMEIDA SCHERER NAVARRO, POR OCASIÃO DE UMA VISITA DELA AO MARANHÃO NAS COMEMORAÇÕES DO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO POLÍTICO E ESCRITOR CÂNDIDO MENDES. EM ITAPECURU-MIRIM - FLIM FESTA LITERÁRIA DE ITAPECURU MIRIM - 200 anos de fundação da Vila - JUCEY SANTANA TRINETA DE CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA TEM RECEPÇÃO DIGNA DE CHEFE DE ESTADO NA CIDADE DE BREJO-MA NA OAB-MA: “Cândido Mendes de Almeida, jurista e humanista maranhense”. FALMA EDMILSON SANCHES MARANHENSES NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
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EFEMÉRIDES
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13 14 17 19 23 25 40 44 48 48 56 61 64 68 71 73 77 80 84 91 94 96 97 99
CERES COSTA FERNANDES – (Aml) AOS 89 ANOS DE ARTHUR ALMADA LIMA – EFEMÉRIDES CAXIENSES – EDMILSON SANCHES PATRONO CADEIRAS 16 - ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS PATRONO CADEIRA 17 - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE PATRONO CADEIRA 30 - ODYLO COSTA, FILHO DANIEL BLUME DE ALMEIDA PATRONA CADEIRA 25 – LAURA ROSA – PATRONA Por Wybson Carvalho EDMILSON SANCHES - LAURA ROSA MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – POR SANATIEL PEREIRA ANTÔNIO AYLTON SANTOS SILVA Faleceu em 28 de novembro, há 84 anos COELHO NETTO - EDMILSON SANCHES
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NAURO MACHADO - EDMILSON SANCHES
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EDMILSON SANCHES – SALGADO MARANHÃO, 65 ESTE MÊS DE OUTUBRO A ALL DESENVOLVERÁ A SEGUINTE PROGRAMAÇÃO
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NA BERLINDA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REVISTA DO LÉO 13 – OUTUBRO 2018 REVISTA DO LÉO 14 – NOVEMBRO 2018 REVISTA DO LÉO 15 – DEZEMBRO 2018 NO CHELEF 15 – CURITIBA – 06 A 09 DE NOVEMBRO DANIEL BLUME ROQUE MACATRÃO LANÇAMENTO DE LIVRO – CANDIDO MENDES
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CERES COSTA FERNANDES ANTONIO NOBERTO Lançamento do livro França Equinocial, capital São Luís Passeio no Cemitério – CEMITUR Medalha Simão Estácvio da Silveira ANTONIO AÍLTON ESPAÇOS VIVIDOS, ERRÂNCIAS E ATRAVESSAMENTOS NA ESCRITURA POÉTICA – UM QUASE RELATO DE EXPERIÊNCIA LANÇAMENTO DE LIVRO – O ESTADO - ALTERNATIVO LANÇAMENTO DE MARTELO & FLOR – horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea APRESENTANDO ANTONIO AILTON - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MENSAGEM PARA CADA CAMINHO VAVÁ MELO UM ESCLARECIMENTO A UMA MESTRA QUE ME CHAMOU DE ANAFALBETO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO BRUNO TOMÉ O ESTADO MA, 24/11/2018 – TAPETE VERMELHO/Evandro Junior – LIVRO SOBRE ZULU IRANDI MARQUES LEITE Lançamento de livros – FELIS 2018
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ARTIGOS, & CRÔNICAS & CONTOS & OPINIÕES
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RENATA BARCELLOS A MULHER NA LITERATURA DILERCY ARAGÃO ADLER MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE: o eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano JOÃOZINHO RIBEIRO A DIMENSÃO POLÍTICA NA CULTURA LATINA DILERCY ADLER VIDA E ESPERANÇA PARA A(S) ANANDA(S) E FELIPE(S) DO MUNDO DILERCY ARAGÃO ADLER RESUMO - MARIA FIRMINA DOS REIS: seus Cantos à beira-mar e o conto indianista Gupeva DILERCY ADLER – TAVOLA ROTONDA “LA SALUTE MENTALE: UN DISCORSO TRANCULTUIRALE” Experienze a confronto di psichiatria sociale AYMORÉ ALVIM À MEMÓRIA DE NHÔ DI. SANDRA REGINA RODRIGUES DOS SANTOS O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO E A MEMÓRIA DA BALAIADA. EDMILSON SANCHES QUANDO A LITERATURA INFANTIL NÃO É COISA DE CRIANÇA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM CAPOEIRA PIAUIENSE CHEFE DE POLICIA NA CÔRTE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE?
O PENSAMENTO DE BRANDÃO
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RELEBRANDO A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS CRÔNICA DE UMA CIDADE SEMPRE AOS DOMINGOS PRIMOGENITO A CASA ONDE NASCI BREVE HISTÓRIA DAS UNIVERSIDADES MAIS UMA NOVA MORADA CRÔNICA DE NATAL
AS CRÔNICAS DE CERES DE URNAS, BEBÊS e JUÍZES
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FINADOS FESTIVO DE CAFÉ E MEMÓRIA A INIMIGA FIEL A MAGIA DO PLÁSTICO AS LENTES MÁGICAS NATAL SEM BEIJO QUEM ROUBOU O MEU SONHO?
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AS CONVERSAS VADIAS DE FERNANDO BRAGA
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ARTUR AZEVEDO – ARROS DE CUXÁ A POEMÁTICA DE DANIEL BLUME LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO DOS CÁRCERES DA ALMA MANOEL DA CRUZ EVANGELISTA E SUAS HISTÓRIAS EM PROSA E VERSO SILÊNCIO EM FAMÍLIA
POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador) ARNALDO DE JESUS FERREIRA - OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida; FREITAS, Joseth; PEREIRA, Maria Esterlina; CORDEIRO, João Mendonça. LUIS DE MORAES REGO - OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida; FREITAS, Joseth; PEREIRA, Maria Esterlina; CORDEIRO, João Mendonça. CLODOMIR CARDOSO LUIS CARLOS BELLO PARGA – Jomar Moraes . UBIRATAN TEIXEIRA SABBAS DA COSTA LAURO BOCAYUVA LEITE FILHO COSTA FERREIRA OSWALDINO MARQUES REGINALDO TELLES DE SOUSA PAULO MORAES JOÃO ALEXANDRE JUNIOR LUIS INACIO ARAUJO ROBERTO KENARD DANIEL ROMANHOLO JOAQUIM HAICKEL JOÃO ALMIRO LOPES NETO NATINHO CAMPOS LENITA ESTRELA DE SÁ MICHELE DE CARVALHO JOSÉ RICARDO COSTA MIRANDA FILHO RAFAELA ROCHA KEILA TAVARES JOSÉ NERES UM BREVE PASSEIO PELA ÉPICA DE SOUSÂNDRADE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ OS ANOS 1970/80 NO MARANHÃO: UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO?
278 279 280 282 284 285 290 292 293 294 297 301 303 304 307 308 309 316 318 319 321 322 324 325 327 331 339
MANOELSERRAO ANTONIO AÍLTON POESIA, TRANSCENDÊNCIA ORLANDA LUÍZA ‘SABOLIM’, de Fernando Braga
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POESIAS & POETAS DILERCY ADLER ALMA DE POETA I ALMA DE POETA II
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PALAVRAS INSONESPALAVRAS INSONES-I ESCUTA JOÃO BATISTA DO LAGO258 259ABOIO AYMORÉ ALVIM260 MEMENTO HOMO! O HOMEM E A PAZ. MÁRIO LUNA FILHO LÁGRIMA IRANDI MARQUES LEITE O NATAL MILENAR NAVEGA NA ENGENHARIA DA PALAVRA
INDICAÇÃO DE LEITURA ALEXANDRE MAIA LAGO SURREALISMO & LOUCURA – Ceres Costa Fernandes O OFÍCIO DE MATAR SUICIDAS – José Ewerton Neto O LABIRINTO – Adonay Moreira O DOCE INFERNO DO PADRE VIEIRA – Sermão XIV de N. Sra. do Rosário
DIREITO & LITERATURA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - O PÓS (19)41 – A FACULDADE DE DIREITO DE SÃO LUIS JOÃO BATISTA ERICEIRA - O SALVADOR DA PÁTRIA OSMAR GOMES DOS SANTOS - SAUDADES DO FUTURO OSMAR GOMES DOS SANTOS - A JUSTIÇA QUE SE FAZ À HISTÓRIA OSMAR GOMES DOS SANTOS - SER POETA OSMAR GOMES DOS SANTOS - MINHA TERRA NATAL - CAJARI-MA OSMAR GOMES DOS SANTOS - BODAS DE PÉROLA PARA A CONSTITUIÇÃO OSMAR GOMES DOS SANTOS - CONSCIÊNCIA HUMANA OSMAR GOMES DOS SANTOS - FAMÍLIA: A BASE DE TUDO OSMAR GOMES DOS SANTOS - O DIA DA JUSTIÇA OSMAR GOMES DOS SANTOS - ENTÃO É NATAL OSMAR GOMES DOS SANTOS - TODOS PELA EDUCAÇÃO
349 350 351 352 354 355 356 357 358 359 360 406 408 410 412 414 416 418 420 422 424 426
O ESTADO MA, 29/30/12/2018
AGENDA
Confraternização da Academia Ludovicense de Letras.
Eleição para membro efetivo da Academia Ludovicense de Letras. — em UFMA - Palácio Cristo-Rei. A CÚPULA...
RETRATISTA TONY ALVES E NOVO RETRATO FALADO DE MARIA FIRMINA DOS REIS
MARIA FIRMINA DOS REIS E A REDESCOBERTA DA LITERATURA BRASILEIRA por Pai Rodney publicado 23/11/2018 18h00, última modificação 23/11/2018 11h55 No Brasil, muitos escritores negros foram ocultados, mas um importante resgate de suas obras reescreve a história de nossa literatura https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/maria-firmina-dos-reis-e-a-redescoberta-da-literaturabrasileira?fbclid=IwAR0XMkW-maDuLZVYaHpDO71E0jmnVIZikfx-GFV5Aex0UjJv6LEObi5F7cc Reprodução
Maria Firmina dos Reis é um dos nomes mais importantes para a historiografia da literatura brasileira A trajetória intelectual de Maria Firmina dos Reis pode ser considerada bastante incomum se a compararmos com a dos demais escritores e personalidades de seu tempo. Conversamos com Rafael Balseiro Zin, sociólogo e pesquisador do Núcleo de Arte, Mídia e Política da PUC-SP, onde cursa o doutorado em Ciências Sociais e vem aprofundando seus estudos sobre a autora por meio de uma tese na qual investiga a participação de escritoras abolicionistas do Brasil-império na luta contra a escravidão. Zin nos conta um pouco mais sobre essa maranhense que nasceu em 11 de março de 1822, na ilha de São Luís, e foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis, mas nunca conheceu o pai. Aos cinco anos teve que se mudar para o município de Viamão, onde foi acolhida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente. Essa mudança possibilitou sua primeira formação, além do apoio que teve do jornalista, escritor e gramático maranhense Francisco Sotero dos Reis, a quem deve sua cultura, como afirma em diversos poemas. Cresceu em uma casa de mulheres, na companhia da avó, da mãe e de suas duas únicas amigas, a prima Balduína e a irmã Amália Augusta dos Reis. Em 1847, aos 25 anos, foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instrução Primária em Guimarães, tornando-se, a primeira mulher a integrar oficialmente os quadros do magistério maranhense como professora efetiva. Aposentou-se em 1881 e fundou a primeira escola mista e gratuita do País, no vilarejo de Maçaricó. “Úrsula”, sua primeira obra, foi publicada em 1859, em São Luís, pela Tipografia do Progresso. Sob o pseudônimo “Uma Maranhense...”, de forma inédita, a autora aborda a questão da servidão a partir do entendimento do negro. Num momento em que as mulheres viviam submetidas a inúmeras limitações e
preconceitos, a ausência do nome, somada à indicação da autoria feminina, aliam-se ao tratamento absolutamente inovador dado ao tema da escravidão no contexto do patriarcado brasileiro. Em seu romance inaugural, Firmina já expunha as duras condições do cativeiro, revelando as contradições entre a fé cristã e as crueldades do regime escravagista. Foi um exemplo de erudição, mas apesar de ocupar um lugar proeminente no cenário cultural maranhense oitocentista ficou esquecida por décadas. Esse possível silenciamento ideológico teria vindo das elites condutoras da vida intelectual brasileira e perdurado por mais de um século. Firmina morreu em 11 de novembro de 1917, cega, pobre e sem nenhuma honraria. Apesar da tímida produção literária, Maria Firmina dos Reis é um dos nomes mais importantes para a historiografia da literatura brasileira. “Úrsula” está consolidado como o primeiro romance de autoria negra e feminina do Brasil, além de ser o primeiro de cunho abolicionista. É também o romance inaugural da chamada literatura afro-brasileira, entendida como a produção literária que tematiza a negritude sob uma perspectiva interna. Os contos “Gupeva” e “A escrava” e o livro de poesias “Cantos à beira-mar” são outras obras de destaque. Firmina encontrou na literatura uma forma de expressão estética e política. Mesmo não tendo vivido sob a condição de cativa, assistiu de perto as mazelas da escravidão, o que fica evidente em boa parte de seus trabalhos. Alguns de seus textos literários ou jornalísticos provavelmente não chegaram ao nosso conhecimento. Como as políticas de preservação dos acervos históricos nacionais nunca receberam a devida atenção dos governantes, especula-se que uma parte de suas criações possa ter se perdido. Apesar das conquistas sociais da população negra nos últimos anos, o racismo e o sexismo continuam estruturando as relações sociais no Brasil. Por esse motivo, as recentes reedições das obras de Maria Firmina dos Reis tornam-se fundamentais, uma vez que denunciam o lugar social destinado a negros e mulheres em nosso País. Para se ter uma ideia, de setembro do ano passado, quando rememoramos o centenário de falecimento da autora, até novembro deste ano, já foram publicadas 11 novas edições do romance Úrsula. Obras clássicas da nossa literatura fizeram aniversário em 2018 e não tiveram a mesma repercussão. “Urupês”, de Monteiro Lobato, por exemplo, completou o seu primeiro centenário de publicação neste ano. “Macunaíma”, de Mario de Andrade, fez 90 anos. “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, atingiu 80 anos de publicação. “Úrsula” passou a integrar a lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A instituição mudou a concepção da prova de literatura para o exame de 2019 e incluiu as obras de Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus (já contemplada na edição do ano passado) e Florbela Espanca. No ano do centenário de falecimento da autora, o Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP promoveu um ciclo de debates intitulado “Desvendando Maria Firmina dos Reis”. Como desdobramento desse primeiro encontro foi criada a Rede de Pesquisadores sobre Maria Firmina dos Reis, que conta com cerca de quarenta membros de 17 estados. O objetivo é articular e aprofundar os estudos sobre a autora, além de fazer circular as informações e as novas documentações em torno do seu nome. Ao mesmo tempo, divulgar suas ideias e fazer com que passe a ocupar o lugar que lhe é devido: o de pioneira das belas-letras nacionais. Em 2019, comemoram-se os 160 anos de publicação da primeira edição do romance “Úrsula” e em 2022, os 200 anos de nascimento da autora. Com essa novidade, e somando esforços de pesquisa, espera-se conseguir fortalecer e espraiar pelos quatro cantos do país o pensamento e os escritos dessa maranhense. “Embora a atuação política de Maria Firmina dos Reis tenha se dado de modo indireto e através das letras, ela não pode e nem deve ser subestimada. Até porque, a resistência e a luta das mulheres contra a escravidão resgatam uma forma de participação informal exercida quase sempre fora das esferas de poder e dos quadros político-partidários. Portanto, recuperar a produção literária e as ideias dessa escritora, uma das poucas intelectuais negras do século XIX, revela de que forma, naquela decadente sociedade brasileira oitocentista, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade se estabeleceram e se propagaram, contribuindo na luta pela construção de um país mais justo e sem opressão”, conclui Zin.
Homenagem que a Academia Ludovicense de Letras e a Escola Modelo prestaram ao ex-governador Benedito Leite, que no pior momento de crise das finanças do Maranhão, ele se recusou a "suprimir a Escola normalista e a Escola Modelo". Feliz por ter cumprido mais essa missão à frente da Academia.
HOMENAGEM AOS 161 ANOS DE NASCIMENTO DE BENEDITO PEREIRA LEITE NESTES 118 ANOS DA ESCOLA MODELO BENEDITO LEITE DILERCY ARAGÃO ADLER
Estátua de Benedito Leite
Benedito Pereira Leite
Escola Modelo Benedito Leite
Hoje é aniversário de nascimento de Benedito Pereira Leite, filho de Antônio Pereira Leite e de Ana Rita de Sousa Leite. Benedito Leite, ilustre maranhense, nasceu na cidade de Rosário/Maranhão/Brasil, em 4 de outubro de 1857 e faleceu em 6 de março de 1909, em Hyeres/França (Riviera Francesa, próximo à Toulon). Os restos mortais do grande maranhense, como se sabe, foram trasladados para São Luís, para o cemitério do Gavião, onde agora, neste momento, nos encontramos para render esta merecida homenagem. Inicialmente, quero louvar a iniciativa do resgate dessa comemoração pelos alunos atuais da Escola Modelo Benedito Leite e pela adesão da Academia Ludovicense de Letras-Casa de Maria Firmina dos Reis, grande ícone da educação e literatura maranhense. Digo resgate, porque havia a tradição desde o século passado, quando alunos e docentes da Escola celebravam a data de nascimento do Governador Benedito Leite e declamavam poesias, liam sua biografia, textos e encenavam peças teatrais, como hoje, em frente ao túmulo do ex-governador. Falar sobre Benedito Leite, como Político, Magistrado, Jornalista e Governador do Maranhão, confesso que é um desafio porque tenho a clareza de que sei menos do que eu gostaria, considerando a multideterminação e complexidade da esfera política e da personalidade humana, e toda análise que prima por objetividade deve considerar essa premissa. Mesmo assim, não fujo à tarefa a que me comprometi, de prestar esta homenagem a Benedito Leite, por entender que ele personifica uma personalidade importante no cenário político e humano do Maranhão e, também, por ter sido aluna dessa Escola, literalmente Modelo, de 1957 a 1961. Neste momento, tomo para mim a responsabilidade de representar todos os alunos da história mais inicial desta Instituição. Quero ter como marco inicial desta análise sobre Benedito Leite uma frase sobre a educação que o imortalizou. No curto período que governou o Estado, a grave crise instalada se alastrava por todo o Brasil, teve que solicitar um empréstimo para minorar o déficit das contas públicas do Estado, dinheiro que só foi liberado alguns anos depois, na gestão do governador Luís Domingues. Deparou-se, então, com um
impasse: uma das soluções apresentadas para amenizar o déficit dos cofres públicos seria a extinção da Escola Normal e da Escola Modelo. E a resposta que o imortalizou dada a essa imposição foi: Prefiro cortar a própria mão a assinar o ato de extinção da Escola. É esse o viés de Benedito Leite que quero eleger como suporte desta minha homenagem, por meio do qual faço a projeção do político e do homem digno que considera a esfera pública a serviço da coletividade. E não se pode negar que a educação de qualidade é um importante pilar para o desenvolvimento de uma nação e bem-estar social. Por outro lado, convém realçar que, no final do século XIX, as ações políticas no bojo dos ideais republicanos contemplavam a garantia da formação do homem, proporcionando-lhe os saberes elementares que resguardassem a sua participação nas ações políticas e econômicas, nascentes, voltando-se, desse modo para a formação de um novo cidadão, e, nesse contexto, Saldanha (1992, p. 12 ) ressalta: Em todo o País, o ideal liberal democrático republicano fez surgir novas bandeiras de luta e entre elas estava a de expandir o ensino, o tema da educação popular passou a frequentar mais assiduamente o discurso político e a educação a ser proclamada, remédio para todos os males que afligiam a nação. Benedito Leite apresentou na sua vida pública atividade política expressiva culminando com o cargo de Governador do Maranhão, de 1º de março de 1906 a 25 de maio de 1908, quando se licenciou e viajou para a França para tratamento de saúde. Em sua homenagem, foi batizada com seu nome a Ponte Metálica Benedito Leite, inaugurada em 1928, e pertencente à ferrovia São Luís-Teresina, sobre o Estreito dos Mosquitos, que separa a ilha de São Luís do continente. Também são batizadas com o seu nome: a cidade de Benedito Leite; a Maternidade Benedito Leite, a Praça Benedito Leite, a Biblioteca Pública Benedito Leite, no centro de São Luís, e a Escola Modelo Benedito Leite, também em São Luís. No tocante à Escola Modelo Benedito Leite, foram iniciadas as suas atividades em 1900 no prédio onde funciona atualmente a Faculdade de Farmácia e Odontologia, na Rua da Paz. Foi reinaugurada em 1948, no prédio estadual localizado na Praça Antônio Lobo, ao lado da Igreja de Santo Antônio. Aos 117 anos a Escola Modelo foi reinaugurada, após a primeira grande reforma de sua história, realizada pelo Governo do Maranhão, Flávio Dino, por meio do Programa Escola Digna, da Secretaria de Estado da Educação, que tem à frente o Prof. Felipe Camarão, também membro efetivo da ALL.
Escola Modelo Benedito Leite As lembranças que eu tenho da Escola Modelo do final da década de 50 e início de 60 são memoráveis. Afinal, ela foi a minha primeira escola. Como era grande a minha escola! Logo ao entrar, a primeira visão magnífica era uma escadaria imponente! Eu tinha seis anos e já sabia ler um pouco, ainda sem desenvoltura. Lá aperfeiçoei a leitura aprendi as primeiras operações aritméticas, os trabalhos manuais femininos, as primeiras regras de convivência em ambiente social mais amplo, aprendi o hino nacional, que era entoado no pátio coberto da escola, diariamente, com vigor, em amor à pátria amada.
Lembro do nosso nervosismo e da apreensão das professoras na época dos exames finais, porque as provas do curso primário vinham da Instrução Pública, órgão de regulação e controle do ensino nas escolas públicas e particulares maranhenses (primárias e secundárias) e eram aplicadas pelas supervisoras da Instrução Pública, e as professoras, tanto quanto nós, ficavam apreensivas porque o trabalho delas estava sendo avaliado junto com o nosso desempenho. Nunca me esqueci da última lição do nosso livro de leitura a Cartilha Vamos Estudar? de Theobaldo Miranda, que é o poema Eu sei ler de Martins D’ Alvarez:
Eu sei ler Martins D’ Alvarez Eu sei ler corretamente, faço contas de somar, sou batuta em dividir, gosto de multiplicar. Quando a professora escreve no quadro-negro da escola, leio até de olhos fechados: “Paulo corre atrás da bola.” Pra somar uma banana com mais duas e mais três, vou comendo e vou somando 1 mais 2 mais 3 são 6. Pra dividir três pães comigo e com meu irmão? Eu sou o maior, ganho dois. Para ele basta um pão. Se mamãe me dá um doce na hora de merendar,
acabo comendo três. Como eu sei multiplicar!
REFERÊNCIAS SALDANHA, Lílian Maria Leda. A instrução pública maranhense na primeira década republicana. 1992. 237 f. Dissertação (Mestrado em Educação)- Programa de Pós-Graduação, Universidade Federal do Maranhão. São Luís, 1992. SANTOS, Theobaldo Miranda. Cartilha Vamos Estudaer? Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1957.
ASSOCIAÇÃO MARANHENSE DE VEÍCULOS ANTIGOS - AMAVA: Palestra ‘BEM VINDOS A MIGANVILLE’, Leopoldo G. D. Vaz e Antonio Noberto Ação social do Dia das Crianças no Vinhais Velho, lanche e distribuição de brinquedos, com a participação da ALL
PRESIDENTE DA AMAVA e PADRE JADSON, ANUNCIADO A INSTALAÇÃO DA SEDE DA ENTIDADE NO VINHAIS VELHO E A PROPOSTA DE PARCERIA DE ATIVIDADES CULTURAIS E EDUCACIONAIS COM A PARÓQUIA DE SÃO JOÃO BATISTA E A ALL
PALESTRA DE LEOPOLDO
A FALA DE NOBERTO
Arqueólogo Arkley Bandeira falando sobre a pré-história do Vinhais velho
LEOPOLDO E RAMSÉS...
BENVINDOS A MIGANVILLE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – Mestre em Ciência da Informação Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras
De algum tempo tenho defendido a ideia de que o Maranhão e a sua cidade, São Luís, foram obra de conquista e ocupação – e fundação – de dois aventureiros franceses: Jacques Riffault e Charles de Vaux, pois ambos antecederam à expedição de instalação da França Equinocial, comandada por LaTouche e Razzily. A partir da França Equinocial, o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco das Tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará.
Neste 20 de outubro comemoramos, na Vila Velha de Vinhais – ou Vinhais Velho, como carinhosamente é chamado pelos seus moradores, 406 anos do dia em que foi rezada a primeira missa na capelinha, de pau e palha, erguida pelos primitivos habitantes – os Tupinambá – junto com os franceses de Monsieur De Pézieux que aqui se estabeleceram, quando da instalação da França Equinocial. O Vinhais Velho de hoje já recebeu diversas denominações: Uçaguaba, MiganVille, Sítio de “Monsier Pineau”; Aldeia da Doutrina, Vila Nova de Vinhais; já foi habitada por índios e por europeus; e sua História tem já mais de 418 anos: sua ocupação por europeus precede à fundação de São Luís. ESTA TERRA TINHA DONO: OS POVOS DOS SAMBAQUIS; OS TUPIS (3.600 ANOS) ; OS TAPUIOS (TREMEMBÉ ?); E DEPOIS OS TUPINAMBÁ – OS PRIMITIVOS HABITANTES Bandeira (2013) traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76).
[...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76).
[...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76).
A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...]
[...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76). BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013.
Quando os franceses foram lançados do Rio de Janeiro (1567) passaram para Cabo Frio e daí para o Rio Real, entre Bahia e Sergipe. Escorraçados dessas paragens, procuraram se estabelecer nas costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a também perseguir os franceses do território do Maranhão. Jacques Riffault negociava madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica. Levava madeiras do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro. Na hoje Natal, a boa amizade com que Riffault tratava os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território. Expulsos da Paraíba e do Rio Grande foram mais para o Norte.
Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas. É de Jacques Riffault a primeira ideia de ocupação do Maranhão, tendo passado por aqui em 1590, Para Bueno (2012), Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des Vaux partiram para o Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84). Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses dos três que formavam a frota de Jacques Riffault ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Usirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas”.
Riffault, Des Vaux, e Davi Migan “fundam” Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão. Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para governá-los e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França. Beatriz Perrone-Moisés (2013) retoma a trajetória de Charles des Vaux, jovem nobre responsável pela ideia da fundação da França Equinocial no século XVII, assim como a história de David Migan, jovem intérprete francês que viveu entre os índios tupi. O centro do argumento de Beatriz Perrone-Moisés é que "Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter". Ao colocar o que chama de "intérpretes-embaixadores" como protagonistas da história da França Equinocial, a antropóloga lança luz sobre estratégias fundamentais de contato e de conquista ainda pouco visíveis para a historiografia oficial. Mas para os planos de Riffault e Des Vaux, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão, estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil (PROVENÇAL, 2012). Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Em 1604, Pero Coelho de Souza, passou rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contas o franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barreto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92). BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958
Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia) (NOBERTO DA SILVA, 2012). Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 veem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard (BITTENCOURT, 2008). Essa autora informa que Jacei, filha do cacique Japiaçu era
casada com Guérard, e que a outra filha, Aracei, casada com o interprete Sebastien. Des Vaux era casado com “Lua Cheia”, também filha de Jupiaçu. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os comerciantes de Dieppe encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos. É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.
FORTE DO SARDINHA, QUE PROTEGIA MIGANVILLE
VISITA AO TERRENO ONDE SERÁ EDIFICDA A SEDE DA AMAVA
A Academia Ludovicense de Letras (ALL) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) convidam para a palestra "Cândido Mendes de Almeida: vida e obra", que será ministrada nesta sexta-feira, 19 de outubro, às 17h30 (cinco e meia da tarde) na livraria AMEI, no São Luís Shopping, pela trineta de Cândido Mendes, Andreya Mendes de Almeida Scherer Navarro. O evento é aberto ao público.
COM O PREFEITO MUNICIPAL DE SÃO LUIS
LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE CÂNDIDO ALMEIDA – MACATRÃO E CÉLIO SARDINHA
DISCURSO DA TRINETA DE CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA, DRA ANDREYA MENDES DE ALMEIDA SCHERER NAVARRO, POR OCASIÃO DE UMA VISITA DELA AO MARANHÃO NAS COMEMORAÇÕES DO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO POLÍTICO E ESCRITOR CÂNDIDO MENDES. Na introdução à biografia escrita por seu bisneto, prof. Candido Antonio Jose Francisco Mendes de Almeida, magnifico reitor da universidade que leva o nome do nosso patrono, regressaremos a julho de 1839, quando a cidade de Caxias é toda fogo e desolação. Balaio aproxima-se, a cidade contudo possuia um chefe na altura da situação: o capitão de milícias português Fernando Mendes de Almeida. Durante o longo assédio, toda a população dá mostra de incrível coragem. as mulheres não podendo tomar parte nos combates dedicam-se dia e noite ao fabrico de cartuchos, transporte e atendimento aos feridos. tamanha resistência não podia prolongar-se indefinidamente: cai por fim caxias, a heróica, denominada a tróia do nordeste. Apesar de condenado a morte, Fernando Mendes de Almeida milagrosamente escapa de fúria dos balaios. a cisão entre os revoltosos foi a causa de sua salvação. o chefe dos balaios resolvera descer o Itapicurú com os presos que, com a ajuda da mulher do chefe principal dos balaios, conseguem fugir. estavam salvos! Fernando Viera de Beira Baixa, Portugal, em 1816, e estabelecera-se em Caxias como negociante, casara-se com d. Esméria Alves de Souza, com quem teve quatro filhos: Candido, Fernando, João e Maria Elisa. Assim, em 14 de outubro de 1818, na então modesta São Bernardo do Brejo dos Anapurus, nascia Candido Mendes de Almeida, um dos brasileiros mais notáveis do século XIX. Em 1839 formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Olinda e, aos 22 anos de idade, coube a este jovem advogado prover o sustento da mãe e dos tres irmãos. iniciou sua carreira como Promotor Públco e Professor de Historia e Geografia no Liceu Profissional (sic) de São Luiz, em cuja cátedra mantida por 14 anos afirmou sua poderosa inteligência e vontade inquebrantável. Iniciou a sua carreira política em 1842, cabendo-lhe o lugar de primeiro suplente, vindo a tomar assento na Camara de Deputados em outubro de 1843 pelo Partido Conservador. reeleito sucessivamente de 1843 a 1871. Uma das formas de expressar seu patriotismo foi pela ação jornalística colaborando em diversas publicações até fundar em 1842 seu primeiro jornal “A Opinião Maranhense”. pioneiro na introdução da imprensa fundou em 1845 “O Brado de Caxias” publicação que não só era redigida, mas impressa por ele no porão de sua casa. Candido Mendes, por força de suas convicções políticas por mais de uma vez sofreu persguições e teve sua oficina tipográfica invadida pela polícia e seus operários presos. mas estas violências e dificuldades financeiras longe de trazerem-lhe esmorecimento, cada vez mais, o animavam. Segundo seu Biografo Sá Viana o Senador possuía: “uma face imperiosa, tinha linhas solenes e marmóreas do busto de um Cesar, forma romana, dentro do qual habitava um espirito rígido de doutrinário representando no Governo a tradição; era o contrapeso conservador do ministério de que fazia parte, e onde estava como um bloco de granito constitucional para impedir que outros ministros se adiantassem muito pela grande estrada da Revolução, e tinha por isso essa ampla solenidade de maneiras (...) de quem se honra em guardar as coisas supremas – a Coroa, a Igreja, a Educação, o Direito e a integridade do Império do Brasil”.
Homem de estudos, apaixonado pelos livros e sempre absorvido pelo trabalho o deputado maranhense possuia um singular poder de sedução como, quando em certa noite, estando na côrte, em visita ao colega deputado pela província da Paraíba, dr Antonio Ribeiro Campos, ao ser apresentado as suas filhas causou tão profunda impressão em uma delas, que em poucos dias estava se casando com Rosalina Ribeiro Campos, em 20 de setembro de 1850. D. Rosalina tornou-se não só esposa compreensiva, mas também, colaboradora esclarecida e discreta do marido que, por sua vez, foi sempre modêlo de virtudes, espôso exemplar e pai dedicadíssimo. A manifestação de cofiança e apreço que o Maranhão fez a Candido Mendes, escolhendo-o para secretário da Província, foi por ele retribuída com a publicação da monografia “O TURIASSÚ” que recuperou do Pará a extensa região que se alonga do Turiassú ao Gurupi. Ao se estabelecer na Côrte, o deputado maranhense é condecorado com o Oficialato da Ordem da Rosa e recebe também a Comenda de N.S. da Conceição de Vila Viçosa de Portugal. Após ocupar o cargo de Diretor de uma seção da Secretaria de Justiça do Império, Candido Mendes dedicouse a publicar obras de fôlego entre elas “O DIREITO CIVIL ECLESIÁSTICO BRASILEIRO’ monumento até hoje por ninguém excedido e o “ATLAS DO IMPÉRIO DO BRASIL” que lhe abriu as portas do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil em maio de 1869”. tornando-se membro dos mais ativos, exercendo por vários anos a presidência de trabalhos geográficos. A sua preocupação era servir a pátria por meio da pena, auxiliar a mocidade brasileira e cultuar a ciência, cuja afirmação deste desejo é a gigantesca compilação do Código Filipino que, em 1869 alcançou merecida fama mundial. Foi também neste ano que Candido Mendes proferiu na Tribuna da Câmara o memorável discurso de 20 de julho sobre a questão dos bens eclesiásticos, discurso que fez época e que cuja autoridade ainda hoje se acata. Em 19 de maio de 1871 Candido Mendes chega ao auge de sua carreira política ao ser nomeado por sua Majestade, Senador pela Província do Maranhão. EM 27 de setembro de 1871, pela ocasião da aprovação da Lei do Ventre Livre discursa: “Pela minha parte, Sr. Presidente, amo e aprecio todas as raças que residindo no país, hão concorrido para o seu engrandecimento e progresso, desejo que todas, sejam em nosso solo felizes. O que não quero é o predomínio, o predomínio opressor de umas sobre outras, desejo que todas tenham perfeito direito às regalias que a Constituição dá e o país merece. Neste ponto de vista não sou inclinado a nenhuma, como todas nascem de um só tronco, em todas conta irmãos, e, para sermos inteiramente justos, não devemos querer o predomínio de umas sobre as outras”. E nos Anais se registra que: “das galerias caem flores, de que fica juncado o recinto e os expectadores prorrompem em prolongados e estrepitosos vivas ao Senado”. Durante dez anos em todas as legislaturas via-se o senador maranhense subir a tribuna e pronunciar inúmeros discursos sobre os mais diversos assuntos. Em 1873 propõe ao Senado a criação de uma nova província, a “Pinzonia” no extremo norte do país, visando a proteção das fronteiras do império. Candido Mendes logo que entrou no Senado passou a ser uma de suas figuras mais centrais. alma apaixonada de ideal e coração compreensivo para todas as misérias, não podia admitir a mancha da escravidão para o Brasil. nunca possuira escravos, a todos dera liberdade e defendia suas idéias abolicionistas não só nas colunas de diversos jornais, mas na própria tribuna do senado. No último decênio de sua vida, Candido Mendes manifestou cada vez mais ser um gigantesco defensor da Igreja, combatendo sobretudo uma poderosa adversária, a Maçonaria. exemplo marcante desta épica luta foi a sua defesa em favor de Dom. Vital, Bispo de Olinda, infamemente perseguido por não pactuar com a Maçonaria.
A Questão Religiosa foi um reflexo no Brasil da confrontação que se verificava na Europa entre a Maçonaria e a Igreja Católica Romana. Além disso, envolveu a autonomia da Igreja diante do poder civil. O primeiro incidente ocorreu quando o bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, lembrou ao padre Almeida Martins os cânones católicos contra a Maçonaria e suspendeu o uso de ordens sacras por ter o sacerdote proferido um discurso em homenagem ao Visconde de Rio Branco, em regozijo pela Lei do Ventre Livre, em março de 1872. Posteriormente, D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Olinda, e D. Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará, determinaram que as Ordens Terceiras e Irmandades excluíssem os seus membros que também pertencessem à Maçonaria. Acostumadas à autonomia, elas desobedeceram, francamente, às determinações, e D. Vital não teve dúvidas: lançou o interdito canônico sobre as capelas ligadas àquelas entidades, as quais, inconformadas, apelaram ao Imperador, alegando abuso de poder por parte do bispo. O Imperador acolheu o recurso das irmandades. Deveriam os bispos declarar sem efeito os seus atos, pois a constituição das Ordens Terceiras e Irmandades do Brasil era de exclusiva competência do poder civil e a atitude dos bispos constituía uma usurpação da jurisdição do poder Os bispos reagiram. D. Vital declarou que o beneplácito imperial não passava de uma aberração, pois o recurso contra as decisões dos bispos configurava-se absurdo e herético. D. Macedo Costa foi mais rigoroso: reconhecer no poder civil autoridade para dirigir as funções religiosas equivalia a uma apostasia. Logo o presidente do Supremo Tribunal de Justiça expediu mandado de prisão contra os dois bispos, dandoos como incursos no artigo 96 do Código Criminal. D. Vital foi preso em janeiro e D. Macedo em abril de 1874. O julgamento foi rápido e os bispos se recusaram a defender-se, pois não reconheciam a competência do Supremo Tribunal de Justiça para julgar matéria de alçada exclusiva da Igreja. Assumiram a defesa de D. Vital, como advogados, políticos católicos de grande importância, Cândido Mendes de Almeida. E Zacarias de Goés e Vasconcelos. Os advogados de defesa apresentaram exemplares peças oratórias, especialmente Cândido Mendes de Almeida, que declarou: “Se, pondo os olhos em Deus, na lei, na ciência, absolverdes o paciente, os vossos nomes serão inscritos no livro da imortalidade e vossa memória atravessará séculos, bendita não só pelos homens de nossa crença, mas também por todos os homens de coração; se, porém, infelizmente, seguirdes outro caminho, tereis os aplausos de momento, dados por aqueles que querem sacrificar este mártir – apontando para D. Vital, mas não podereis contar senão com a severidade da história neste mundo e implorar a infinita Misericórdia Divina no outro”. E ainda: “Que todos neste país, que tanto amamos, vivam em paz, católicos e maçons, seguindo cada um sua lei, nem a Maçonaria imperando sobre os filhos da Igreja, invadindo e apossando-se de suas associações pias, nem os fiéis sobre os maçons com opressão de suas consciências; o que de todo não admito é a proscrição e ninguém”. Apesar da brilhante defesa, D. Vital foi condenado à pena de quatro anos de prisão com trabalhos, grau médio do artigo 96 do Código Criminal, sendo a mesma comutada em prisão simples por D. Pedro II. D. Macedo Costa também foi condenado a quatro anos, parte dos quais cumpriu na fortaleza da Ilha das Cobras. Depois de 18 meses de prisão, o Imperador decretou a anistia de ambos em setembro de 1875. Qualquer que fosse o assunto tratado era de notar que sempre transparecia o homem profundamente religioso, que em tudo se norteava pelos ditames da fé. No campo do Direito são de sua autoria: *DIREITO CIVIL ECLESIASTICO BRASILEIRO, ANTIGO E MODERNO,
*O CÓDIGO FILIPINO, OU ORDENAÇÕES E LEIS DO REINO DE PORTUGAL, RECOMPILADAS POR MANDATO DO REI FILIPE I. *O AUXILIAR JURIDICO, QUE SERVE DE APENDICE AO CÓDIGO FILIPINO, obra essencial aos que se dedicam ao estudo do direito e da jurisprudência pátria. *PRINCÍPIOS DO DIREITO MERCANTIL, publicado em 1874 com dois volumes, o primeiro com 400 páginas. *ARESTOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, coligidos em ordem alfabetica e contendo todas as sentenças proferidas até o ano da sua morte, num total de 1560 páginas, publicaçao póstuma editada por seu filho fernando mendes de almeida. Como historiador publicou: *ELEIÇOES DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO EM 1842. *SERVIÇOS RELEVANTES DE MANOEL DA SILVA LOBO, curioso estudo sobre este personagem intimamente relacionado com a história do maranhão, publicado em sao luiz em 1851. *MEMÓRIAS PARA O EXTINTO ESTADO DO MARANHÃO. *SÃO LUIZ E O PONTIFICADO, livro histórico publicado em 1879. Como geógrafo escreveu: O TURIASSÚ, tambem conhecido como a incorporaçao deste território ao maranhão, publicado na corte em 1851. A CAROLINA, também chamada a definitiva fixaçao entre as provincias do maranhao e goiás. ATLAS DO IMPERIO DO BRASIL, obra prima de Candido Mendes como geógrafo compreende as respectivas divisões administrativas, eclesiásticas, eleitorais e juduciarias. antes da parte cartográfica encontra-se um relatório completo dos limites do país. todo em cores, com o mapa de cada província acha-se dividido em suas comarcas, cada qual sinalizado por uma matiz difrente. consta de um mapa mundi cartas do imperio do brasil com suas 20 provincias. esta grande obra foi publicada o Rio de Janeiro em 1868 em grande formato. pinzonia, trabalho que publicou para apresntaçao ao senado. é a exposição dos melhoramentos que adviriam com a criação desta província, documentos e notas. editado na capital do imperio em 1873. Candido Mmendes levantou pela última vez a voz no senado em defesa dos interesses ameaçados de sua provincia natal. o seu canto do cisne foi assim um último protesto de amor ao seu querido maranhão, a favor do qual brandiu sempre a espada de sua palavra e de sua pena. Após sua morte, às margens do Turiassú a localidade de redondo recebeu o nome de Candido Mendes, em homenagem ao integralizador do território maranhense. O Santo Padre, em virtude dos inumeráveis serviços prestados pelo grande brasileiro á igreja católica, concedeu o título hereditário de conde à sua viúva e seus dois filhos. O Jornal do Comércio de 3 de março de 1881 publicava: “jurisconsulto, historiador, geógrafo, jormalista, parlamentar e principalmente homem de fé, ninguém o excedeu em nosso país e raros compedidores encontrará entre os povos onde mais se estuda”. nesta ocasião o conde d’eu afirmou que no brasil havia dois sábios, “meu sogro e Candido Mendes de Almeida”.
EM ITAPECURU-MIRIM – I FLIM
FESTA LITERÁRIA DE ITAPECURU MIRIM
200 anos de fundação da Vila JUCEY SANTANA https://juceysantana.blogspot.com/2018/10/festa-literaria-de-itapecurumirim.html?spref=fb&fbclid=IwAR2BhwAeHXBZwyyjnvhO6kyFF5-kfT91ZLKPCsm7rlZn98LbiWXA8piX38 Itapecuru Mirim comemorou o seu bicentenário de fundação da vila, ocorrido em 20 de outubro, realizando uma grande festa cultural com abrangência em todo o Estado, organizada pelos membros da Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes – AICLA.
O evento já vinha sendo programado pela AICLA, notadamente os pesquisadores Jucey Santana, Benedito Buzar e Mauro Rego, desde 2012, desejosos de tornar realidade o sonho do saudoso professor João Silveira, de resgatar a importante memória histórica do nosso município, para conscientização e orgulho da população Itapecuruense.
Em março do corrente ano, em assembleia geral, os membros do sodalício, elegeram uma comissão para organização do evento composta pelos seguintes acadêmicos: Assenção Pessoa, Benedito Buzar, Brenno Bezerra, Júnior Lopes, Beto Diniz, Teresinha Cruz tendo sido indicado para presidir a comissão o professor Francisco Inaldo Lisboa. Jucey Santana (presidente da AICLA), também integrou a comissão.
Primeiros Passos A primeira ideia da comissão, seria de uma feira literária. Depois de várias reuniões e sugestões, optou-se por uma festa literária com a junção de todas as linguagens culturais, como: teatro, música, artesanato, cinema, folclore, danças populares e principalmente a arte literária. Foi eleito para título da festa. I FLIM, Festa Literária de Itapecuru Mirim, com o lema:Preservação da Memória e Incentivo a Cultura, a Luz da Mariana. Em comemoração ao bicentenário de emancipação política de Itapecuru. As primeiras iniciativas da comissão foi elaboração de um projeto com levantamento dos itens prioritários para viabilização do projeto, em seguida listou os possíveis parceiros, patrocinadores e apoiadores.
A comissão buscou formar uma subcomissão com representantes das secretarias municipais e órgão simpatizantes para disseminação dos primeiros informes do projeto aos estudantes universitários, professores e a população.
Apoio Cultural A segunda parte do projeto foi à busca de apoio cultural. Depois que a comissão recebeu o apoio do prefeito, o médico Miguel Lauande que já estava ciente desde outubro de 2016, bateu à porta da Secretaria do Estado da Educação e prontamente o secretário Felipe Camarão, se comprometeu com oito itens da lista, em seguida a comissão visitou o Senhor Diego Galdino, Secretário do Estado da Cultura e Lazer. Este colocou à disposição da I FLIM, a Biblioteca Benedito Leite, com oficinas de leitura e lançamento coletivo de livros de autores maranhense, sob a coordenação da diretora Aline Nascimento e a Casa da Cultura Josué Montello com a Exposição Itinerante do centenário do escritor, coordenada por Joseane Souza.
O SESC também foi um grande parceiro. A diretora Regional Rutineia Amaral Monteiro, abraçou a causa das comemorações dos 200 anos de Itapecuru, com carro Biblio/SESC e várias atividades, aquisição de livros, apoio publicitário, orientações técnicas e auxilio financeiro, intermediado pela diretora de programas culturais Maria Betânia Pinheiro.
A UFMA marcou presença com a Ilha da Ciência e a doação de material gráfico. Outro apoio decisivo foi o do empresário Antonio Lages, com o acolhimento dos palestrantes na sua rede de hotéis e a tenda Vip de apoio aos turistas. A AICLA ainda contou com vários apoios, entre os quais: Faculdade IEJA, Academia Maranhense de Letras, CEUMA, o empresário Amaro Leite, IFMA, o Sindicato dos Ceramistas de Itapecuru, que através da empresária Teca Cruz montou uma lindo stand para os turistas, as secretarias municipais e muitos outros simpatizantes da nossa cultura. A medida que o projeto evoluía, com uma dimensão acima do esperado, se tornou necessário a contratação de um profissional de eventos, com conhecimento em feiras literárias, para dar suporte a comissão, tendo sido escolhida a paulista Leila Coelho, que assumiu os detalhes técnicos do evento.
Programação Todos os espaços ao entorno da Praça Gomes de Sousa, onde ficou instalado o palco central, foram disponibilizados para I FLIM, tais como: o Clube Social, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, o
Auditório da Câmara Municipal, as instalações da APAE, Clube das Mães e o Auditório da Prefeitura Municipal, tendo ainda como escritório de apoio a sede da AICLA, situado na rua Paulo Bogeia. A I FLIM ofereceu a população mais 70 atividades durante os três dias de sua realização, de 19 a 21 de outubro, como as seguintes oficinas: desenho, charge, teatro, cinema, leitura, reciclagem, haicai, produção textual, canto, oficina de escrita de projeto científico, biscuit, cordel, poesia e outras. Também houve contações de histórias infantis com performances, documentários, recitais poéticos, vários shows musicais, peças teatrais, performances artísticas, apresentações cinematográficas e exibições de vídeos. O ponto alto ficou por conta das contínuas palestras, mesas redondas e conferencias, realizadas no auditório da Prefeitura municipal, tendo por público alvo, os universitários, professores e os acadêmicos das diversas academias de letras do Estado que compareceram ao evento. Entre os conferencistas, contamos com o professor Cícero Monteiro, de Pernambuco, estudioso do matemático Itapecuruense Gomes de Sousa, que sob a égide do IFMA, esteve no evento falar sobre o seu biografado. Contamos ainda com membros das diversas academias de letras do Estado, em palestras e mesas redondas como da Academia Maranhense de Letras (presidente Benedito Buzar, Sebastião Moreira, José Neres e Ceres Costa Fernandes), Academia Ludovicense de Letras (presidente, Antonio Noberto e os membros, Dilercy Adler, Antonio Ailton, Cleones Cunha, Ceres Fernandes, Raimundo Gomes Meirelles, Paulo Melo e Irandi Leite) Academia Caxiense de Letras (o presidente Raimundo Medeiros e os escritores, Wibson Carvalho, Elany Morais, Fátima Stela e Carvalho Júnior) de Viana a presidente Fátima Travassos, de Matinha o presidente César Brito, de São Bernardo o presidente Antonio de Pádua, da FALMA o presidente João Francisco Batalha, de Zé Doca o presidente Ezequias Silva, de Santa Rita, o poeta Neurivan Sousa, Academia Anajatubense de Letras (o presidente Adriano Rodrigues, Mauro Rego, Irani Oliveira e as confreiras Ivone Mendonça Fernandes e Cecília Cantanhede Dutra). Também presentes membros do Instituto Histórico e Geográfico, da Academia Codoense de Letras, da Academia Grajauense de Letras e de professores da Universidade Federal do Maranhão como Antônia Mota e os cientistas Antonio Oliveira e Ivone Lopes da Ilha da Ciência.
Presentes também as bandas musicais das cidades de Santa Rita, Codó, Anajatuba, Itapecuru Mirim, o Baile de São Gonçalo da cidade de Presidente Dutra e o tambor de crioula de Maria Sampaio. Homenageados da I FLIM Foram 6 homenageados na I FLIM, em comemoração aos 200 anos de fundação de Itapecuru Mirim. Em primeiro lugar a patrona geral do evento a poetisa, Mariana Luz, que também é patrona da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes. Também foram homenageados os seguintes itapecuruenses: o saudoso João Silveira, pela passagem dos seus 90 anos, em 2018, se vivo fosse, Benedito Buzar pelos 80 anos de idade, o médico escritor, o Antonio Henriques Leal, pelos 190 anos de nascimento, o desembargadorRaimundo Públio Bandeira de Melo pelos 130 anos de nascimento e o jornalistaZuzu Nahuz pelo centenário de nascimento. O jornalista e imortal Benedito Buzar, publicou o livro "O itapecuruense Zuzu Nahuz" . Lançamento Coletivo de Livros Realizado pelo Governo do Estado por meio da Biblioteca Pública Benedito Leite (BPBL), vinculada à Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Sectur), o evento aconteceu neste sábado (20), durante a I Festa Literária, no Palco Central, olançamento Coletivo reuniu 40 escritores maranhenses em Itapecuru Mirim.
O lançamento reuniu escritores de Itapecuru, Caxias, Anajatuba, Zé Doca, São Bernardo, Santa Rita, Miranda, Cajari, Cantanhede e São Luís. Entre eles estava o professor, escritor, membro da Academia Ludovicense de Letras e secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão, que lançou dois livros e mais um capítulo do Púcaro Literário II, que afirmou: “está feliz e honrado em participar da I Festa Literária da
cidade de Itapecuru Mirim, berço de talentos como João Lisboa e Viriato Correa. Está é mais uma ação conjunta entre a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo e Secretaria de Estado da Educação”. Estiveram lançando suas obras 11 autores itapecuruenses: Jucey Santana, Inaldo Lisboa, Benedito Buzar, Brenno Bezerra, Assenção Pessoa, Mauro Rego, Raimunda Frazão, Benedita Azevedo, Allysson Rilktt, Samira Fonseca e Nico Bezerra. Os livros dos autores estão disponíveis na AMEI, no Shopping São Luis, na sede da AICLA ou na Casa da Cultura. Dois bicentenários - Itapecuru e Cândido Mendes Por ocasião da comemoração do bicentenário da fundação da Vila de Itapecuru Mirim, tivemos também outro relevante bicentenário, o do nascimento do senador do Império e escritor brejense Cândido Mendes de Almeida, (14.10.2018),. A ocasião veio a trineta do ilustre maranhense, a Dra Andreya Mendes de Almeida S. Navarro, advogada e pró-reitora internacional da centenária Universidade Cândido Mendes as merecidas comemorações, promovida pe Academia Ludovicense de Letras (ALL) em parceria com outras instituições acadêmicas e de classe, a exemplo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ), Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Maranhão (OAB/MA), dentre outras. Depois de proferir palestra na Associação dos Escritores Independentes em 19 de outubro, sábado (20), esteve na Festa Literária de Itapecuru Mirim, que no auditório da Prefeitura encantou os presentes respondendo os questionamentos sobre o trisavô, Cândido Mendes. A caravana integrada por vários imortais seguiram para a terra natal de Cândido Mendes para as devidas homenagens.
TRINETA DE CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA TEM RECEPÇÃO DIGNA DE CHEFE DE ESTADO NA CIDADE DE BREJO-MA
Foi a primeira vez que ela veio ao Maranhão e visitou a cidade natal do senador do império Cândido Mendes de Almeida_ O domingo, 21 de outubro de 2018, será uma data lembrada por muitos brejenses e moradores de municípios vizinhos à cidade de Brejo/MA, por conta da visita da advogada e pró-reitora internacional da Universidade Cândido Mendes, Dra Andreya Mendes de Almeida Scherer Navarro, trineta do saudoso escritor, advogado, jornalista e senador Cândido Mendes de Almeida (CMA). A advogada veio ao Maranhão para as comemorações do Bicentenário do ilustre maranhense, nascido no dia 14 de outubro de 1818, no município de Brejo, distante 350 quilômetros de São Luís/MA, na região do Baixo Parnaíba, a nordeste do estado. A ação foi promovida pela Academia Ludovicense de Letras (ALL) em parceria com outras instituições acadêmicas e de classe, a exemplo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ), Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Maranhão (OAB/MA), dentre outras. A visitante é Pró-Reitora internacional da Universidade Cândido Mendes e reitora do Campus Ipanema, no Rio de Janeiro. A ALL organizou programação para a visitante contemplando a participação dela em eventos na capital e no interior do estado. A convidada chegou na capital maranhense na última quinta-feira (18) e, no dia seguinte, proferiu a primeira palestra, realizada na Associação Maranhense dos Escritores Independentes (AMEI), evento organizado pela ALL e pelo IHGM. Em seguida à palestra, no mesmo espaço, aconteceu o lançamento de um livro sobre a vida e a obra de CMA, trabalho realizado pelos acadêmicos Célio Sardinha e Roque Macatrão. No sábado (20), palestra na Feira Literária de Itapecuru Mirim, evento organizado pela Academia Itapecuruense de Letras e Artes. No final do dia a caravana seguiu para a cidade de Chapadinha e, no domingo, para a cidade de Brejo. Na chegada, na praça da igreja, ao lado do busto de CMA, a surpresa para os integrantes da caravana. Uma turba convidada pela Prefeitura Municipal de Brejo e pela Academia
de Letras do município aguardavam a visitante ilustre, entre os quais o presidente da Academia, o prefeito, vice-prefeito, presidente da Câmara Municipal, secretários municipais, vereadores, diretores de escola, professores, dentre outros. Uma afinada banda de música da cidade tocou o hino do município, que tem no refrão um verdadeiro louvor ao filho mais ilustre. A recepção contou ainda com uma missa, fotos no busto de Cândido Mendes, visita à escola que tem o nome do homenageado e à Academia de Letras e artes de Brejo e ao memorial do acadêmico Roque Pires Macatrão, um grande museu da cultura sertaneja. Em seguida o grupo seguiu para um almoço caprichado em um restaurante à beira de um riacho. A estada no município brejense foi finalizada com uma visita à casa onde morou o desembargador e membro da Academia Maranhense de Letras (AML) Henrique Costa Fernandes, avô da acadêmica Ceres Costa Fernandes, que integrou a caravana. A última atividade da agenda da visitante Andreya Mendes de Almeida em solo maranhense foi uma palestra na sede da OAB/MA, ocorrida às 19h desta segunda-feira (22). O evento é aberto ao público e está sendo promovido pela AMLJ, OAB/MA e ALL. A convidada retorna ao Rio de Janeiro na terça-feira (23). A vinda da doutora Andreya Mendes de Almeida S. Navarro faz parte da programação da Academia Ludovicense de Letras (ALL), que neste ano decidiu homenagear algumas personalidades ilustres que prestaram relevantes contribuições ao estado do Maranhão, a exemplo de Graça Aranha (no sesquicentenário do seu nascimento), Fran Paxeco (por ocasião do centenário da Faculdade de Direito), Benedito Leite (161 anos) e Cândido Mendes de Almeida (no seu bicentenário).
A Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ) e a Academia Ludovicense de Letras (ALL) têm a honra de convidá-lo(a) para participar da solenidade de celebração do Bicentenário de Cândido Mendes, a
realizar-se no próximo dia 22 de outubro(segunda-feira), a partir das 18h30, no Plenário da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Maranhão (OAB/MA). Na oportunidade, a Dra. Andreya Mendes de Almeida(Trineta de Cândido Mendes de Almeida) ministrará a palestra com o tema “Cândido Mendes de Almeida, jurista e humanista maranhense”.
Em lançamento coletivo patrocinado pela UFMA, a reitora Nair Portela, o editor e escritor Sanatiel Pereira e os autores Antonio Ailton, Mariana Montelo, Flaviano Menezes , Andreia Katiane e o acadêmico José Ewerton Neto que lançou em segunda edição o livro O ABC bem humorado de São Luís ( na mesa, ao centro)
MARANHENSES NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
EDMILSON SANCHES
Em 15 de dezembro de 1896, às 15h, tinha início a primeira reunião preparatória de fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL), com sede no Rio de Janeiro (RJ). O Estatuto original da entidade é datado de um mês e meio depois: 28 de janeiro de 1897. A fundação oficial só ocorreria em 20 de julho de 1897, sete meses e cinco dias depois da primeira reunião preparatória. A ABL tem 40 membros, que ocupam Cadeiras, que levam, cada uma, o nome de um patrono. PATRONOS MARANHENSES – A ABL, em seu nascimento, expressou a força da cultura maranhense: dez nomes de escritores conterrâneos integram aquele histórico início. São cinco patronos, inclusive o da Cadeira nº 1, ADELINO FONTOURA, poeta, jornalista e ator, nascido em Axixá; o primeiro ocupante dessa Cadeira foi o poeta, jornalista e filósofo carioca Luís Murat; - GONÇALVES DIAS, de Caxias, advogado, poeta, teatrólogo, etnógrafo, patrono da Cadeira 15, ocupada inicialmente pelo poeta, jornalista, contista e cronista carioca Olavo Bilac; - JOÃO LISBOA, de Pirapemas, historiador, jornalista, escritor, patrono da Cadeira 18, ocupada inicialmente por José Veríssimo, escritor, jornalista e educador paraense; - JOAQUIM SERRA, de São Luís, jornalista, professor, teatrólogo, patrono da Cadeira 21, ocupada primeiramente por José do Patrocínio, escritor carioca; e - TEÓFILO DIAS, de Caxias, advogado, jornalista, poeta, patrono da Cadeira 36, que teve como primeiro ocupante o poeta, historiador e professor mineiro Afonso Celso. FUNDADORES MARANHENSES Além dos patronos das Cadeiras, acima, o Maranhão participou com outros cinco grandes nomes da Literatura e Cultura nacionais, como membros fundadores: ARTUR AZEVEDO (Cadeira 29), poeta, contista, dramaturgo, jornalista e crítico teatral, nascido em São Luís; - ALUÍSIO DE AZEVEDO (Cadeira 4), romancista, contista, cronista, jornalista, desenhista, caricaturista, pintor, diplomata, criador do Naturalismo na literatura brasileira, nascido em São Luís; - COELHO NETTO (Cadeira 2), romancista, poeta, cronista, folclorista, crítico, teatrólogo, professor, jornalista, orador, nascido em Caxias; - GRAÇA ARANHA (Cadeira 38), romancista, diplomata, nascido em São Luís; - RAIMUNDO CORREIA (Cadeira 5), poeta, jornalista, advogado, juiz de Direito, nascido em um navio, em águas de São Luís. SÓCIOS CORRESPONDENTES Dois maranhenses foram sócios correspondentes da ABL: ODORICO MENDES, poeta, tradutor, publicista, humanista, e SOTERO DOS REIS, poeta, jornalista, filólogo, gramático, tradutor, professor, ambos nascidos em São Luís. OUTROS MEMBROS – No correr dos anos, outros maranhenses foram eleitos e ocuparam Cadeiras na ABL: HUMBERTO DE CAMPOS (1886-1934; Cadeira 20, eleito em 1919), cronista, poeta, crítico literário, jornalista, nascido em Miritiba (hoje, Humberto de Campos);
- VIRIATO CORREIA (1884-1967; Cadeira 32, eleito em 1938), cronista, contista, jornalista, teatrólogo, autor de livros infantis, nascido em Pirapemas; - JOSUÉ MONTELLO (1917-2006; Cadeira 29, eleito em 1954), romancista, teatrólogo, jornalista, professor, nascido em São Luís; - ODILO COSTA FILHO (1914-1979; Cadeira 15, eleito em 1969), romancista, novelista, cronista, poeta, jornalista, nascido em São Luís; - JOSÉ SARNEY (1930-; Cadeira 38, eleito em 1980), romancista, cronista, contista, poeta, jornalista, advogado, nascido em Pinheiro; e - FERREIRA GULLAR (1930-2016; Cadeira 37, eleito em 2014), poeta, ensaísta, memorialista, biógrafo, crítico de arte, tradutor, nascido em São Luís. PRESIDENTES – Dois escritores maranhenses foram presidentes da Academia Brasileira de Letras: o caxiense COELHO NETTO, em 1926, e o são-luisense JOSUÉ MONTELLO, em 1994/95. edmilsonsanches@uol.com.br Fotos: Fundadores
EFEMÉRIDES 01 08 13 14 17 22 25 27 29 31 02 03 09 08 11
13 14 19 28 29 05 09 14 20 25 26 28
OUTUBRO 1884 – NASCIMENTO DE LAURA ROSA – PATRONA DA CASDEIRA 25 1863 – NASCIMENTO DE CATULO DA PAIXÃO CEASRENSE – PATRONO DA CADEIRA 17 2005 - FALECIMENTO DE MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD – PATRONA DA CADEIRA 37 1818 – NASCIMENTO DE CANDIDO MENDES DE ALMEIDA – PATRONO DA CADEIRA 6 1929 – NASCIMENTO DE ARTHUR ALMADA LIMA FILHO – FUNDADOR DA CADEIRA 18 1908 – FALECIMENTO DE ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONHO DA CADEIRA 13 1886 – NASCIMENTO DE HUMBERTO DE CAMPOS VERAS – PATRONO DA CADEIRA 27 1913 – NASCIMENTO DE MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER – DILÚ MELO – PATRONA DA CADEIRA 29 1977 – NASCIMENTO DE DANIEL BLUME DE ALMEIDA – 1º OCUPANTE DA CADEIRA 15 1951 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO – FUNDADOR DA CADEIRA 5 1962 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO GOMES MEIRELRES – FUNDADOR DA CADEIRA 17 NOVEMBRO 1946 – NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA ERICEIRA – FUNDADOR DA CADEIRA 2 1864 – FALECIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS – PATRONO DA CADEIRA 7 1939 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO DA COSTA VIANA – FUNDADOR DA CADEIRA 36 1934 – NASCIMENTO DE ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO – FUNDADOR DA CADEIRA 4 1917 – FALECIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – PATRONA DA CADEIRA 8 1849 – NASCIMENTO DE CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHAES – CELSO MAGALHAES – PATRONO DA CADEIRA 11 1935 – NASCIMENTO DE ROQUE PIRES MACATRÃO – FUNDADOR DA CADEIRA 6 1976 – FALECIMENTO DE LAURA ROSA – PATRONA DA CADEIRA 25 186 - NASCIMENTO DE ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO DA CADEIRA 16 1880 – NASCIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 1934 – FALECIMENTO DE HENRIQUE MAXIMINIANO COELHO NETO – PATRONO DA CADEIRA 18 1880 – NASCIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BERBOSA ALVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 DEZEMBRO 1934 – FALECIMENTO DE HUMBERTO DE CAMPOS VERAS – PATRONO DA CADEIRA 27 2010 – FALECIMENTO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 40 1914 – NASCIMENTO DE ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO DA CADEIRA 30 1879 – NASCIMENTO DE JOSÉ AMERICO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO – PATRONO DA CADEIRA 22 1915 – FALECIMENTO DE JOSÉ AMERICO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO – PATRONO DA CADEIRA 22 1946 – FALECIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BERBOSA ALVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 1942 – NASCIMENTO DE CERES COSTA FERNANDES
http://www.academiamaranhense.org.br/ceres-costa-fernandes/?fbclid=IwAR3ZKnSXQ-sRK1kj5LAuim279mFQ2JZIwSiA2yGKbPwX9bUXoaVqZeWDvRw
Nasceu em Salvador-BA, em 28 de dezembro de 1942. Filha de Francisco Costa Fernandes Sobrinho e de Maria Isabel Soares Costa Fernandes. Permaneceu naquela cidade até os dois anos de idade, quando retornou ao Maranhão. Estudou o primário em São Luís, no Colégio Santa Tereza, das Irmãs Dorotéas, e parte do secundário no Rio de Janeiro, no Colégio Sacré-Coeur de Jésus, onde era interna. Interrompeu os estudos, aos 15 anos, para casar-se. Completou-os, bem mais tarde, nos cursos de Madureza dos 1◦ e 2◦ graus, realizando as provas no Liceu maranhense. É Licenciada em Letras – Inglês e Português – Universidade Federal do Maranhão – UFMA (1974) e Mestra em Letras – pela Pontifícia Universidade Católica – PUC –RJ (1987). Possui os seguintes cursos de especialização: Especialização em Metodologia do Ensino Superior, Semiologia Aplicada à Literatura e Ensino à Distância. Foi professora da TV Educativa do Maranhão (1973-82) e é professora aposentada do Curso de Letras da UFMA (1975-96), onde ministrou Inglês, História da Literatura, Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. Nessa mesma Universidade, exerceu a chefia da Divisão de Estágio Curricular (1978), o cargo de Pró-Reitora de Graduação (1993-96) e o de Assessora de Relações Internacionais (1997-98). Após a aposentadoria federal, desempenhou, no Governo do Estado, o cargo de Assessora Especial de Educação da Gerência Regional de São Luís (1998-2003) – equivalente à época a uma Secretaria, com as 192 escolas estaduais existentes nos quatro municípios da Ilha de São Luís, sob sua responsabilidade. De abril de 2003 a dezembro de 2008, exerceu a função de Gestora de Programas Especiais do Governo do Estado, desenvolvendo o Projeto Saúde na Escola, um programa educativo de melhoria de qualidade de vida dos alunos do ensino fundamental das escolas estaduais em 25 municípios-sede das Regionais. A partir de 2005, o programa foi estendido a mais 86 municípios de mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) do Maranhão. Diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho desde 2009, ali realiza o Café Literário, evento que já se tornou parte da agenda cultural de São Luís. OBRAS O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Edufma, 1990, 2ª ed. São Luís: Lithograf, 2003; Apontamentos de literatura medieval – literatura e religião. São Luís: Edições AML, 2000; O último pecado capital & outras histórias. São Luís: Edições AML, 2000; O último pecado capital & outras histórias – seleta. São Luís: Edigraf, 2001; Seleta maranhense de contos e crônicas/ Ceres Costa Fernandes e José Chagas.org., e notas de Jomar Moraes. São Luís: Edições AML, 2002; Surrealismo & loucura e outros ensaios. São Luís: Editora da Uema, 2008. Participação em Contos e crônicas – livro de leitura recomendada para o vestibular de junho de 2002 da FAMA – Faculdade Atenas Maranhense – organização, introdução e notas de Jomar Moraes. São Luís: Edições AML, 2002. MEDALHAS E HONRARIAS: Medalha do Mérito Timbira (2013),categoria cavaleiro, Governo do Estado do Maranhão; Medalha João Lisboa, 200 Anos.Academia Maranhense de Letras, 2012; Medalha dos 400 anos de São Luís. Assembleia Legislativa do Maranhão, 2012; Medalha São Luís 400 Anos – Vale, 2012; Palmas Universitárias, UFMA, 2009; Medalha Laura Rosa (concedida às mulheres educadoras que se destacaram em outros ramos do saber), 2008; Medalha Odorico Mendes da Academia Maranhense de Letras; Medalha do Mérito Timbira (2006), Governo do Estado do Maranhão; Comendadora do IV Centenário de São Luís, 2012, Governo do Maranhão.
AOS 89 ANOS DE ARTHUR ALMADA LIMA FILHO 17/10/2018 EFEMÉRIDES CAXIENSES (Apresentação de Edmilson Sanches ao livro do desembargador Arthur Almada Lima Filho, "Efemérides Caxienses", lançado em 25/07/2014, em Caxias – MA) Explique-se logo: efêmero é uma coisa; efeméride, outra. Efêmero é o transitório; efeméride, o histórico. Efêmero pode até durar o dia todo. Efeméride, resiste todo dia. O que é efêmero passa em branca nuvem. O que é efeméride inscreve-se em alva celulose. Todos e tudo têm suas efemérides: o universo, o planeta, países, estados, municípios, profissões, academias... Tem as "Efemérides Astronômicas" e as "Efemérides da Aeronáutica". As "Efemérides Navais", as "Efemérides Judiciárias" e "Efemérides Médicas". As "Efemérides do Teatro Brasileiro". Das Artes Plásticas. Tem as "Efemérides Acadêmicas", da Academia Brasileira de Letras. As "Efemérides da Academia Mineira de Letras". E da Pernambucana de Letras também. Tem as "Efemérides Universais", de M. A. Silva Ferreira. Tem as "Efemérides Luso-brasileiras", de Heitor Lyra. As "Ephemerides Nacionaes", de 1881, de Teixeira de Mello. As "Efemérides Brasileiras", do Barão do Rio Branco. As "Efemérides da Campanha do Paraguai" e as "Efemérides de La Historia del Paraguay". As "Efemérides y Comentários", de G. Maragñon. As "Efemérides e Sinopse da História de Portugal", as "Efemérides Literárias Argentinas", as de Macau... Tem as "Efemérides Alagoanas", de Moacir Medeiros. As "Efemérides Cariocas", de Antenor Nascentes. As "Efemérides Mineiras", de Xavier da Veiga. E, completando 90 anos em 2013, as "Efemérides Maranhenses", de José Ribeiro do Amaral. As "Efemérides de Brasília", de Cáceres, do Cariri, de Diamantina, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, de Guarapuava, de Itaúna, de Juiz de Fora, de Júlio de Castilhos, de Porto Feliz, de Rio Claro, de São João del-Rei... Portanto, seja no Universo infinito ou na limitada localidade coisas acontecem, fatos ocorrem. E há, entre essas acontecências e ocorrências, há as que duram, perduram... e que merecem ser registradas como efemérides, como legado de memória e história que se passou, a ser herdado e, no mínimo, respeitado pelos tempos que haverão de vir. E entre tantas efemérides -- de diferentes atividades, de diversas instituições, de distintos lugares (países, estados, municípios)... -- faltava a de Caxias, uma cidade cujo solo, segundo a geologia humana, se assenta fundamente sobre camadas e camadas de (form)ações políticas, sociais, econômicas e culturais. Pois bem: não falta mais a Caxias seu livro de efemérides. E para costurar retalhos do passado, para colher e coser pedaços dos ontens, para cerzir nesgas d’antanho, para retrazer esses registros à memória das gerações viventes e vindouras, o desafio encontrou quem o arrostasse. Alguém com o conhecimento, a determinação, a vivência e, entre outras pré-condições, a paixão pela cidade onde nasceu -- Arthur Almada Lima Filho, jurista, desembargador aposentado, professor, escritor, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Ante a historicidade do município, parece que as "Efemérides Caxienses" teriam demorado a chegar. Não importa. Chegaram. ***
Quem pegar deste livro e suas páginas manusear, um favor por gentileza: faça-o com respeito; a obra é recente, mas o que ela contém é basicamente mais velho que nós -- e devemos respeitar os mais velhos... Cada entrada, vale dizer, cada data que aqui se perfila e enfileira, cada data deste que é o repositório cronológico pioneiro senão o mais extenso da bibliografia e historiografia caxiense, quiçá maranhense, cada entrada daria pelo menos um livro -- e cada esforço para fazê-la, dois... tanto é o que há neste livro de trabalho, de talento, de tempo, de tino e de tesão pelo que se faz, tudo empregado em cada item cronográfico. Trabalho, porque é ação, fazimento. Talento, pois que é conhecimento, raciocínio, intuição. Tempo, posto que é chama e limitação, devendo ser aproveitado antes que o murrão encurte e a chama enfraqueça... e tudo escureça. Tino, vez que é “queda” para algo, para o alto, inclinação, tendência, propensão. E tesão por ser a energia intensa e impulsionadora para ritmados movimentos de (pro)criação. Seus "Ensaios", Montaigne já os apresentava como “um livro de boa fé” ("c’est icy un livre de bonne foy"). Mas, sabia o notável francês, um livro vai além, muito além da pureza de intenção, do agir com correção. Livro é gestação e parição. Alegria e dor. Realidade e incerteza. Sou testemunha ocular e auricular do enorme esforço do autor, Arthur Almada Lima Filho, de seus exigentes cuidados, da busca, localização e posterior seleção de dados e eventos e o texto final para esta coleção de datas. Para encontrar algumas agulhas, vi Arthur Almada mover toneladas de palha e feno no armazém sem-fim da História: livros, jornais, revistas, documentos, mídias digitais e espaços virtuais -- enfim, todo tipo de suporte crível, confiável, onde pousava e repousava a informação acerca de algum aspecto da caxiensidade, em especial filhos e fatos da terra. Schopenhauer observou que “livros são escritos ora sobre esse, ora sobre aquele grande espírito do passado, e o público os lê, mas não as obras desses próprios; porque só quer ler o recém-impresso (...)”. Com o índice de venda de livros e o nível de leitura que temos em nosso país, estado e município, bem que um autor se daria por satisfeito por pelo menos sua obra “recém-impressa” ser lida. Mas tem razão o filósofo alemão, autor de Sobre Leitura e Livros: um livro, em especial um livro como o "Efemérides Caxienses", é do tipo que deve(ria) suscitar o gosto, instigar o espírito, provocar a inteligência, estimular a curiosidade, ampliar o orgulho do leitor, em relevo o leitor caxiense e maranhense, para o conhecimento mais encorpado acerca dos homens e mulheres, dos fatos e feitos aqui expostos com comedimento, pois que em obra deste gênero não cabe desmedir. Tenho certeza, pelas conversas e debates que (man)tivemos e pelo que nele “leio”, tenho certeza de que Arthur Almada Lima Filho se sentiria agradecido se este livro incitasse uma saudável “ressurreição” de parte(s) do passado histórico e glorioso de nossa cidade ou ampliasse o interesse de mais e mais caxienses pelas bases, pelas fundações, pelos alicerces do passado sobre os quais os anos posteriores e os dias atuais alevantaram paredes, assentaram pisos e construíram tetos. Alicerce de que não se cuida compromete a estrutura que por sobre ele se pôs ou que a partir dele se ergue. Sabemos, nós caxienses, que não cuidamos de nosso passado como ele deveria ser cuidado... e não é por vergonha dele -- muito pelo contrário! Nós nos descuidamos de nossa ancestralidade sobretudo porque a desconhecemos, ou somos apáticos, preguiçosos, somos esse coletivo de pessoas, essa ruma de gentes atarefadas com o "hic et nunc", o aqui e agora de nossa vida presente, paradoxalmente passadiça -- passadiça porque nela (nessa vida) somos passageiros, consumidores, quando dela (dessa vida) temos de ser motorneiros, condutores. (Afinal, é a vida que nos conduz ou nós é que devemos conduzi-la?) Os ditos países e comunidades desenvolvidos são aqueles que têm e se sabem fortes em seus fundamentos históricos e em suas fundações de historicidade, que enriquecem sua Cultura e enrijecem sua Identidade, cada vez mais afirmadas e reafirmadas com o passar das eras. No mundo todo paga-se muito dinheiro para (vi)ver cultura, para (re)viver história(s). A Caxias de hoje parece (parece?!) fazer questão de eleger o fugidio, o fugaz, o presente que está em trânsito, daí tão transitório... Caxias parece (parece?!) fazer questão de não querer conhecer-se a si mesma, não escutar seu grito primal, não analisar seu DNA mitocondrial, sua vida ancestral. Como querer sermos reconhecidos, se de nós mesmos somos desconhecidos?
Como lembrar aos outros o que somos pelo que fomos se, no dizer de Pierre Chanou, somos amnésicos do que somos (“se nous sommes amnésiques de ce que nous sommes”)? Quem sabe até cairia bem, em muitos aspectos, a máxima do espanhol George Santayana (1863—1952): “Os que são incapazes de recordar o passado, são condenados a repeti-lo”. Com certeza há tempos, pessoas, modos e feitos do passado caxiense que pegaria bem se pudessem ser reproduzidos, copiados, repetidos, adequadamente adotados no presente -- descontados os pecados veniais e tais e mais que cada um possa ter, já que adiante não se verá uma lista hagiográfica, um rol de santos. De toda sorte, teríamos talentos à maneira de ADERSON FERRO (“Glória da Odontologia Nacional”), ADERSON GUIMARÃES (cônego, latinista, jornalista, professor), ALDERICO SILVA (empresário pioneiro, jornalista, acadêmico), ANICETO CRUZ (empresário pioneiro, jornalista), ARTHUR ALMADA LIMA (desembargador, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, juiz de Direito, promotor público, professor concursado da Universidade Federal do Maranhão, orador, com obra inédita de discursos), BENEDITO JOAQUIM DA SILVA (primeiro prefeito de Caxias pós-Revolução de 1930), CÂNDIDO RIBEIRO (“O maior industrial do Maranhão dos séculos 19 e 20”), CARLOS GOMES LEITÃO (magistrado, político, fundador do município de Marabá – PA), CELSO MENEZES (pintor, professor, considerado um dos maiores escultores do Brasil), CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA (“revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”), CÉSAR MARQUES (médico e historiador), CHRISTINO CRUZ (criador do Ministério da Agricultura; agrônomo, com estudos em outros países; presidente honorário da Sociedade Nacional de Agricultura), CID ABREU (escritor, professor, latinista, acadêmico), CLÓVIS VIDIGAL (monsenhor, educador), COELHO NETTO (escritor, “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”), DÉO SILVA (poeta, jornalista), DIAS CARNEIRO (os dois: o industrial e jornalista e o magistrado e desembargador), ELEAZAR SOARES CAMPOS (advogado, professor, magistrado, escritor, interventor federal do Maranhão), ELPÍDIO PEREIRA (músico de renome internacional, autor do Hino de Caxias), FLÁVIO TEIXEIRA DE ABREU (advogado, jornalista, escritor, poeta, professor), GENTIL MENESES (administrador, jornalista, escritor), GONÇALVES DIAS (poeta, etnógrafo, professor, fundador do Indianismo na literatura brasileira), HERÁCLITO RAMOS (jornalista, escritor, poeta; irmão de Vespasiano Ramos), JOÃO LOPES DE CARVALHO (pintor e desenhista, estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos foi elogiado por diversos jornais de Lisboa), JOÃO MENDES DE ALMEIDA (considerado o mais completo jornalista brasileiro; advogado, abolicionista, redator da Lei do Ventre Livre), JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ (médico, militar e político, participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas), LAURA ROSA (educadora, poeta, escritora, nascida em São Luís),
LIBÂNIO LOBO (escritor, acadêmico), MÃE ANDRESA (Andresa Maria de Sousa Ramos, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta fon, comandou durante 40 anos a Casa de Mina em São Luís), MARCELLO THADEU DE ASSUMPÇÃO (médico humanitário, professor, criador e mantenedor de escola gratuita, prefeito de Caxias), NEREU BITTENCOURT (professor, escritor), NILO CRUZ (magistrado, desembargador), ODORICO ANTÔNIO DE MESQUITA (advogado, político, magistrado), OSMAR RODRIGUES MARQUES (jornalista e escritor), PAULO RAMOS (advogado, deputado federal, interventor e governador do Maranhão, criador, entre outras instituições, do Banco do Estado do Maranhão e da Rádio Timbira), RAIMUNDO FONSECA FREITAS NETO (poeta; ex-funcionário do Banco da Amazônia), SINÉSIO SANTOS (fotógrafo), SINVAL ODORICO DE MOURA (bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, ainda hoje um raro caso de alguém que governou quatro estados – Amazonas, Ceará, Paraíba e Piauí), TEIXEIRA MENDES (escritor, filósofo, autor da Bandeira Brasileira), TEÓFILO DIAS (advogado, jornalista e escritor, sobrinho de Gonçalves Dias, introdutor do Parnasianismo e colocado por Sílvio Romero entre os “quatro dos maiores poetas do Brasil”), TIA FILOZINHA (Filomena Machado Teixeira, professora), UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA (primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro), VESPASIANO RAMOS (poeta), VÍTOR GONÇALVES NETO (jornalista, escritor), WALFREDO DE LOYOLA MACHADO (jornalista, bacharel em Direito, escritor), WILSON EGÍDIO DOS SANTOS (professor universitário, escritor, odontólogo)... Em todos os campos -- Administração (Empresarial e Pública), Artes, Cultura, Direito e Justiça, Literatura, Política, Ciências etc. --, são inúmeros os nomes, muitos deles desconhecidos, poucos deles reconhecidos, no sentido de que (não) são lembrados, cultivados, publicados e republicados, biografados, estudados, pesquisados (eles e seus trabalhos, suas atividades, sua obra). E a listagem acima (não intencional, aleatória) é só uma impressão digital, marca pequena no grande locus e corpus cultural, artístico, político, histórico e social do município caxiense. É patente que o céu histórico-cultural de Caxias tem mais estrelas. Muito mais. Claro, temos orgulho de nossos atuais professores, historiadores, cientistas, pesquisadores, escritores, poetas, músicos, artistas, intelectuais... Para citar três caxienses, três mulheres, que saltaram obstáculos, quebraram barreiras e transpuseram limites (inclusive geográficos), temos orgulho de gente que nem Aline de Lima, que cantou e encantou na França e em mais uma dezena de países; de Tita do Rêgo Silva, que faz artes (plásticas) na Alemanha; de Bruna Gaglianone, bailarina, premiada pelo Bolshoi Brasil e integrante do corpo de dançarinos do Teatro Bolshoi de Moscou... ... Mas o de que se trata aqui não é a transposição pura e simples de um passado que tem seu tempo. Trata-se de um presente que não tem memória -- pelo menos não com a desejada consistência, não com o necessário zelo e a sadia revivificação ou reviçamento. Que os caxienses procurem saber mais acerca do passado de Caxias, e reforcem em si o sadio orgulho do porque ele é sinônimo, em igual tempo, de reverência e referência. ***
"Efemérides Caxienses" quer lembrar isso para nós. Dia a dia. De janeiro a dezembro. E mais: do ponto de vista editorial e didático, o livro traz um aporte de, digamos, instrumentos para facilitar a vida do leitor ou corresponder às expectativas do pesquisador. Assim, veem-se aqui índices onomástico e cronológico, com os quais, no primeiro caso, o interessado encontrará rapidamente as páginas onde determinado nome próprio é citado; e, no outro caso, a listagem em ordem crescente dos anos, cobrindo séculos de história caxiense. Claro que um livro de poucas centenas de páginas não poderia cobrir, abarcar todos os fatos, todas as pessoas, toda a quadrissecular e multivariada História de Caxias. Testemunhei a vontade imensa do autor à cata de mais dados e percebi as imensamente maiores limitações materiais e de tempo que se impunham, imperiais, em desfavor do escritor. Até que ele se convenceu da verdade borgeana: um livro não se termina - se abandona. Foi para chegar a esta obra -- repita-se: sem a inútil pretensão de ser completa -- que Arthur Almada Lima Filho dedicou muito do seu tempo, muito de sua saúde física e de sua energia intelectual, além de outros recursos, a serviço da materialização desse seu desejo pessoal e dessa nossa necessidade coletiva: ter um livro de referência histórico-cronológica das acontecências mais pretéritas de nossa Caxias, mas sem esquecer alguns registros da recentidade. Um livro que estudantes e professores, jornalistas e historiadores, curiosos e pesquisadores, aquele escritor em especial e todo o povo em geral pudessem diariamente folhear e consultar: o que aconteceu? quem nasceu? quem morreu? o que houve em determinado dia de determinado mês de determinado ano em minha cidade? Este livro traz as respostas, e a partir dele podem ser iniciados ou referenciados trabalhos escolares, pesquisas universitárias, matérias jornalísticas, pronunciamentos políticos, festas comemorativas, reuniões familiares... ou simplesmente enriquecer uma conversa, um discurso, o orgulho e amor pela terra natal. Ao lado de fazeres cotidianos e afazeres especiais, o autor, desembargador aposentado, deveria ter saído do ofício para o ócio... mas Arthur Almada não larga dos ossos de uma ocupação útil (coletivamente falando) e quase sempre dá expediente com fidelidade bancária, de manhã e à tarde (às vezes entrando pela noite), no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias que ele há dez anos fundou e dirige com amor, gosto e dedicação de recém-casados. No escritório ou na residência, tal qual o pintor Apeles, "nulla dies sine linea" -- ao menos uma linha todo dia. O autor-arqueólogo, à maneira do que escreveu Shakespeare, vai retirando dos escombros da História as “ruínas amorfas” e o “pó do olvido”, que recobrem tanto “o que passou” quanto “o que está por vir”. E assim foi-se formando e formatando este livro. Arthur Almada é um homem de Hoje que sabe cuidar do Ontem. Que seu exemplo comunique aos de Amanhã para cuidarem eles do Agora -- a que os pósteros chamarão Passado. Pois, no dizer do poeta brasileiro-nordestino-universal Manuel Bandeira, “só o passado verdadeiramente nos pertence. O presente... O presente não existe (...)”. Parabéns, Arthur. Esta obra do Passado tem tudo para estar presente. Tem tudo para ter futuro. Tem tudo para permanecer no Tempo. Confirma-o o poeta brasileiro Dante Milano: “O Tempo é um velho leitor, eterno leitor, atento e incansável. Nem um instante larga o livro.” E finaliza: “Parece que da vida só existe para o Tempo aquilo que ficou escrito. O resto desaparece, o Tempo não o lê”. Pois é, Arthur. Está escrito. *** Caxias, a partir deste instante, tem sua cronologia de fatos notáveis, seu calendário de eventos históricos. Passado caxiense, doravante, é igual a Efemérides. Pois efêmero, agora, só o presente... EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br www.edmilson-sanches.webnode.com
ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS - PATRONO
10 de novembro de 1860 / 4 de setembro de 1923 Barbosa de Godois1 nasceu em São Luís a 10 de novembro de 1860 e faleceu no Rio de Janeiro em 4 de setembro de 1923; foi um escritor, poeta e professor. Foi um educador, escritor, poeta, historiador e político. Formou-se em Direito pela Faculdade do Recife (atual Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco), exercendo, no Maranhão, o cargo de procurador da Justiça Federal. Como político, foi Deputado Estadual do Maranhão e Vice-Presidente do Estado do Maranhão. Exerceu o magistério, tendo lecionado, como professor da cadeira de História e Instrução Cívica , entre outros, e dirigido (entre 1900e 1905) a Escola Normal do Estado do Maranhão, e na Escola Modelo “Benedito Leite”, publicando inúmeras obras na área de educação. Participou ativamente na imprensa de sua época e, aliado a intelectuais de expressão que então se empenhavam em resgatar a cultura e a literatura maranhense, fundou a Academia Maranhense de Letras, tendo ocupado a cadeira n.º 1, cujo patrono é o Professor Almeida Oliveira, atualmente ocupada por Sebastião Moreira Duarte. Entre suas obras de maior destaque e importância, pode-se citar a “História do Maranhão”, em 2 volumes, publicada em 1904. Como poeta, destaca-se sua composição da letra do Hino do Estado do Maranhão. Gaspar (2008) 2 transcreve, por inteiro ou em parte, alguns documentos que chegaram às suas mãos, objeto de pesquisas realizadas, tentando reconstituir a biografia dos que concretizaram a existência da Academia Maranhense de Letras: Escritura de reconhecimento e perfilhação que faz João Batista de Barbosa a seu filho menor Antônio Batista Barbosa de Godois, tudo como abaixo se declara = Saibam quantos este público instrumento de reconhecimento e filiação como em direito melhor nome tenha virem que no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de 1875, aos 30 de junho do dito ano, nesta Freguesia de S. Joaquim do Bacanga, Juízo de Paz do Município da Capital do Maranhão, em meu cartório compareceu João Batista Barbosa de Godois, brasileiro, solteiro, oficial de armeiro, que reconheço ser o próprio de que trato, faço menção e dou fé. E por ele foi dito em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assinadas que, pela presente escritura reconhecia como seu legítimo filho o menor Antonio Batista Barbosa de Godois, nascido a 10 de novembro de 1860, havido com Joana Camila de Menezes, mulher livre com que se quisesse //fl.4v// quisesse casar não haveria impedimento algum para que assim possa gozar o referido seu filho de todos os privilégio que a lei tem, garante e lhe possam pertencer, e por sua morte seja seu herdeiro conjuntamente com outras que possa ter de qualquer matrimônio que tenha de contrair. Assim o disse, outorgou, aceitou e assina com as testemunhas presentes Joaquim Maria Torres e Antonio Felipe Cayres, depois de ouvirem ler por mim que reconheço a todos, do que dou fé. E eu Paulo Francisco da Cunha, escrivão que subscrevi e assino em público e raso ___ João Batista Barbosa de Godois; Joaquim Maria Torres; Antonio Felipe de Cayres; Freguesia de S. Joaquim do Bacanga, 6 de dezembro de 1878. E eu Severo Ângelo de Sousa, escrivão do Juiz de Paz que a escrevi e assinei. Severo Ângelo de Sousa.
Outro documento que lhe chega às mãos, na busca de outros detalhes que poderão ser considerados interessantes quanto ao estudo do autor de História do Maranhão, adotado na Escola Normal, para atender à 1
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Baptista_Barbosa_de_Godois http://estantedosaber1.blogspot.com.br/2012/08/antonio-baptista-barbosa-de-godois.html 2 GASPAR, Carlos. APONTAMENTOS SOBRE BARBOSA DE GODOIS. Disponível em http://www.carlosgaspar.com.br/2008/16112008.htm
disciplina curricular, não menos interessante do que aquele acima transcrito, dirigido ao Bispo Diocesano desta capital: Antonio Batista Barbosa de Godois, filho natural de Joana Camila de Menezes, requer a V. Ex. Rev.ma que lhe haja mandar passar por certidão o conteúdo do assentamento de seu batismo, que teve lugar na Igreja de N. S. da Vitória da Capital, tendo sido seus padrinhos Antonio Nogueira de Sousa e sua Senhora Dona Maria Joaquina Ribeiro Nogueira de Sousa. Maranhão, 28 de maio de 1875. Antonio Batista Barbosa de Godois
E logo, sem maiores tardanças, veio a reposta assinada pelo Arcediago Manoel Tavares da Silva: Certifico que revendo um dos Livros findos de assentos de batismo da Freguesia de N. S. da Vitória que serviu nos anos de 1856-1863, nele não // fl.3.v // achei o assento requerido. O referido é verdade e dou fé. São Luís, 12 de junho de 1875. E eu o Arcediago Manoel Tavares da Silva, Secretário do Bispado, a subscrevi e assinei.
Obras Instrução cívica (Resumo Didático) - Maranhão, 1900. História do Maranhão - Maranhão, 1904, 2 volumes. Escrita rudimentar - São Luís, 1904. À memória do Doutor Benedito Pereira Leite - Maranhão, 1905. O mestre e a escola - Maranhão, 1911. Higiene pedagógica - São Luís, 1914. Os ramos da educação na Escola Primária - São Luís, 1914. Doutor Almeida Oliveira. Discurso na Academia, in RAML. Vol. I - São Luís, 1919 Hino do estado do Maranhão3 Letra por Antônio Baptista Barbosa de Godois Melodia por Antônio dos Reis Raiol Entre o rumor das selvas seculares, Ouviste um dia no espaço azul, vibrando, O troar das bombadas nos combates, E, após, um hino festival, soando. Salve Pátria, Pátria amada! Maranhão, Maranhão, berço de heróis, Por divisa tens a glória Por nume, nossos avós. Era a guerra, a vitória, a morte e a vida E, com a vitória, a glória entrelaçada, Caía do invasor a audácia estranha, Surgia do direito a luz dourada. Reprimiste o flamengo aventureiro, E o forçaste a no mar buscar guarida E dois séculos depois, disseste ao luso: - A liberdade é o sol que nos dá vida. Quando às irmãs os braços estendeste, Foi com a glória a fulgir no teu semblante Sempre envolta na tua luz celeste, Pátria de heróis, tens caminhado avante. E na estrada esplendente do futuro, Fitas o olhar, altiva e sobranceira, Dê-te o porvir as glórias do passado Seja de glória tua existência inteira. 3
http://pt.wikisource.org/wiki/Hino_do_estado_do_Maranh%C3%A3o
CATULO DA PAIXÃO CEARENSE4 - PATRONO
8 de outubro de 1863 / 10 de maio de 1946 Nasceu em São Luís do Maranhão a 8 de outubro de 1863, faleceu no Rio de Janeiro em 10 de maio de 1946. Ppoeta, músico e compositor brasileiro. A data de nascimento foi por muito tempo considerada dia 31 de janeiro de 1866, pois a data original foi modificada para que Catulo pudesse ser nomeado ao serviço público. Filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga (natural do Maranhão). Mudou-se para o Rio em 1880, aos 17 anos, com a família. Trabalhou como relojoeiro. Conheceu vários chorões da época, como Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva, quando se iniciou na música. Integrado nos meios boêmios da cidade, associou-se ao livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório de modismos da época. Catulo da Paixão Cearense passou a organizar coletâneas, entre elas O cantor fluminense e O cancioneiro popular, além de obras próprias. Vivia despreocupado, pois era boêmio, e morreu na pobreza. Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Francisco Braga e outros. Suas mais famosas composições são Luar do Sertão (em parceria com João Pernambuco), de 1914, que na opinião de Pedro Lessa é o hino nacional do sertanejo brasileiro, e a letra para Flor amorosa, que havia sido composta por Joaquim Calado em 1867. Também é o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da "modinha". Aos 19 anos, Catulo interrompeu os estudos e abraçou o violão, instrumento naquela época, repelido dos lares mais modestos.Iniciante tocador de flauta, a trocou pelo violão, pois assim, podia cantar suas modinhas. Nesse tempo passou a escrever e cantar as modinhas como, "Talento e Formosura", "Canção do Africano" e "Invocação a uma estrela". Moralizou o violão levando-o aos salões mais nobres da capital. Em 1908, deu uma audição no Conservatório de Música. Catulo foi autodidata autentico. Suas primeiras letras foram ensinadas por sua genitora e toda sua grande cultura foi adquirida em livros que comprava e por sua franquia à Biblioteca do Senador do Império, por ser professor dos filhos do Conselheiro Gaspar da Silveira. "Aprendi musica, como aprendi a fazer versos, naturalmente", dizia o Velho Marruêro. Seu pai faleceu em 1 de agosto de 1885, desgostoso por seu filho ter abandonado os estudos para ser poeta, sem tempo de assistir a moralização do violão, o que veio a marcar tremendamente Catulo. À medida que envelhecia mais se aprimorava. Catulo homem, não se modificava, sempre fiel ao seu estilo. 4
http://pt.wikipedia.org/wiki/Catulo_da_Paix%C3%A3o_Cearense http://www.letras.com.br/#!biografia/catulo-da-paixao-cearense http://blogdomimica.blogspot.com.br/p/catulo-da-paixao-cearense.html http://letras.mus.br/catullo-da-paixao-cearense/ http://www.biografia.inf.br/catulo-da-paixao-cearense-poeta-musico-teatrologo.html
"...Com gramática ou sem gramática, sou um grande Poeta..". A sua casinhola em Engenho de Dentro, afundada no meio do mato era histórica. Alí recebia seus admiradores, escritores estrangeiros, acadêmicos nacionais, sempre com banquetes de feijoada e o champagne nunca substituía o paratí, por mais ilustre que fosse o visitante. As paredes divisórias eram lençóis e sempre que previa a presença de pessoas importantes, dizia para a mulata transformada em dona de casa. "Cabocla, lave as paredes amanhã, que Domingo vem gente!" Sua primeira modinha famosa "Ao Luar" foi composta em 1880. Catulo morreu aos 83 anos de idade, em 10 de maio de 1946, a rua Francisca Meyer nº 78, casa 2. Seu corpo foi embalsamado e exposto à visitação pública até 13 de maio, quando desceu à sepultura no cemitério São Francisco de Paula, no Largo do Catumbí, ao som de "Luar do Sertão". Obras5: Canções musicadas - Luar do Sertão - Choros ao Violão - Trovas e Canções - Cancioneiro Popular - A Canção do Africano - O Vagabundo - Etc... Livros de Poemas: - Meu Sertão - Sertão em Flor - Poemas Bravios - Mata Iluminada - Poemas Escolhidos - O Milagre de São João - Etc.... Obras teatrais; - O Marroeiro - Flor da Santidade - E o clássico "Um Boêmio no Céu".
Comentaram pró Catulo personalidades como: Julio Dantas, Ruy Barbosa, Machado de Assis, Clóvis Beviláqua, Francisco Braga, Humberto de Campos, Monteiro Lobato, Ignácio Raposo, Heitor Vila Lobos, Assis Chateaubriand, Bastos Tigre, Amoroso Lima, João Barros, Roquete Pinto, Pedro Lessa, Mário José de Andrade e outros
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http://www.letras.com.br/#!biografia/catulo-da-paixao-cearense
LUAR DO SERTÃO6 (Letra de música) Não há, oh gente oh não, Luar Como esse do sertão Oh que saudade Do luar da minha terra Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão Este luar cá da cidade Tão escuro Não tem aquela saudade Do luar lá do sertão Não há, oh gente... Se a lua nasce Por detrás da verde mata Mais parece um sol de prata Prateando a solidão E a gente pega Na viola que ponteia E a canção É a lua cheia A nos nascer do coração Não há, oh gente... Coisa mais bela Neste mundo não existe Do que ouvir-se um galo triste No sertão, se faz luar Parece até que a alma da lua É que descanta Escondida na garganta Desse galo a soluçar Não há, oh gente... Ah, quem me dera Que eu morresse lá na serra Abraçado à minha terra E dormindo de uma vez Ser enterrado Numa grota pequenina Onde à tarde a sururina Chora a sua viuvez Não há, oh gente...
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/catulo_da_paixao.html http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/solealua.html http://blogdomimica.blogspot.com.br/p/catulo-da-paixao-cearense.html http://letras.mus.br/catullo-da-paixao-cearense/ http://www.biografia.inf.br/catulo-da-paixao-cearense-poeta-musico-teatrologo.html os textos completos de Catulo da Paixão Cearense estão http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/catulo3.html#12 acompanhados de valiosos glossários.
disponíveis
no
sítio
TERRA CAIDA Ao insígne Mário-José de Almeida (1ª. Parte) FAZ hoje sete janêro, que eu dêxei o Ciará, e rumei lá pró Amazona, a terra dos siringá. N’aquelas mata bravia, lá, nos centro arritirado, as arve tem munto leite, mas nós já tâmo cansado! O inverno, n’aquele inferno, é uma grande infernação! No inverno não se trabaia, que é o tempo da alagação. Isperei. Veio o verão. É mais mió não falá!... Tu qué sabe, meu amigo, o que é os siringá?! É trabaiá... Trabaiá! É um hôme se individá! É vive n’uma barraca, n’um miserave casebre e sé ferrado da febre, que anda danada prú lá! É trabaiá, trabaiá, dendê que rompe a minhã, prá de dia sé chupado pulo piúm, que é marvado, e de noite sé sangrado pulo tá carapanã!! É um hôme dá todo o sangue pró mardito do piúm, e vortá mais disgraçado, cumo eu — o Chico Mindélo, duente, feio e amarelo, cumo a frô do girimúm. Ansim, lá dos siringá, no fim de três, de três ano, sem um vintém ajuntá, ia vortá prá Manáu, tândo fixe na tenção de Manáu vim pró sertão do meu quirido Ciará. Apois!... siguindo os consêio que me dava o coração, arrêzôrvi não vortá!
ODYLO COSTA, FILHO - PATRONO
14 de dezembro de 1914 / 19 de agosto de 1979 Odylo Costa, filho, jornalista, cronista, novelista e poeta, nasceu em São Luís, MA, em 14 de dezembro de 1914, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de agosto de 1979. Filho do casal Odylo Costa Moura Costa e Maria Aurora Alves Costa, transferiu-se ainda criança do Maranhão para o Piauí, onde fez estudos primários e secundários em Teresina, os primeiros no Colégio Sagrado Coração de Jesus e os segundos no Liceu Piauiense. Desenvolveu, assim, dupla afetividade de província, fraternalmente desdobrada entre as duas cidades, e estendida a Campo Maior, no Piauí, onde nasceu sua mulher, D. Maria de Nazareth Pereira da Silva Costa, com quem se casou em 1942, sob a bênção de três poetas: Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Carlos Drummond de Andrade, padrinhos do casamento. Mas já aos 16 anos, em março de 1930, Maranhão e Piauí ficaram para trás e Odylo Costa, filho, em companhia dos pais, fixou-se no Rio de Janeiro, bacharelando-se em Direito, pela Universidade do Brasil, em dezembro de 1933. Desde os 15 anos, porém, já se revelava no jovem maranhense a vocação de jornalista, que encontrou, aliás, seu primeiro abrigo no semanário Cidade Verde, de Teresina, fundado em 1929. Por isso mesmo, em janeiro de 1931, conduzido por Félix Pacheco, entrou Odylo para a redação do Jornal do Commercio, onde permaneceu até 1943. O jornalismo, entretanto, embora ocupando boa parte de sua atividade intelectual, não o fazia esquecer a literatura e, em 1933, com o livro inédito Graça Aranha e outros ensaios, publicado no ano seguinte, obtinha o Prêmio Ramos Paz da Academia Brasileira de Letras. Em 1936, em colaboração com Henrique Carstens, publica o Livro de poemas de 1935, seguido, nove anos mais tarde, do volume intitulado Distrito da confusão, coletânea de artigos de jornal em que, nas possíveis entrelinhas, fazia a crítica do regime ditatorial instaurado no país em 1937. Mas o jornalismo, apesar desses encontros sempre felizes com a literatura, foi na verdade sua dedicação mais intensa, exercido com notável espírito de renovação e modernidade. Deixando o Jornal do Commercio, Odylo Costa, filho, foi sucessivamente fundador e diretor do semanário Política e Letras (de Virgílio de Melo Franco, de quem foi dedicado colaborador na criação e nas lutas da União Democrática Nacional); redator do Diário de Notícias, diretor de A Noite e da Rádio Nacional, chefe de redação do Jornal do Brasil, de cuja renascença participou decisivamente; diretor da Tribuna da Imprensa; diretor da revista Senhor; secretário do Cruzeiro Internacional; diretor de redação de O Cruzeiro e, novamente, redator do Jornal do Brasil, função que deixou em 1965, ao viajar para Portugal como adido cultural à Embaixada do Brasil. Mas nem sempre, ao longo dessa extraordinária atividade, foi apenas o jornalista de bastidores, o técnico invisível. Em 1952 e 1953, exerceu a crítica literária no Diário de Notícias, onde também criou e manteve a seção “Encontro Matinal”, juntamente com Eneida e Heráclio Salles. Durante prolongado período, publicou uma crônica diária na Tribuna da Imprensa. Na vida pública, Odylo Costa, filho, foi Secretário de Imprensa do Presidente Café Filho, diretor da Rádio Nacional e Superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. A partir de 1963, circunstâncias dolorosas levaram-no de volta a uma prática mais constante da poesia, que não abandonara de todo embora fugisse à publicação em letra de fôrma e até mesmo à leitura pelos amigos mais íntimos. E foi o maior deles, Manuel Bandeira, ao preparar a 2a edição da sua Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos, o primeiro a ler alguns desses poemas, sobretudo os inspirados pela morte de um filho ainda adolescente, que tinha seu nome, poemas esses que Bandeira colocava entre “os mais belos da poesia de língua portuguesa”. Animado ainda por Bandeira, Rachel de Queiroz e outros amigos, Odylo Costa, filho, reuniu afinal seus versos em volume publicado em Lisboa em 1967. Ampliado com os poemas da “Arca da Aliança” e abrangendo toda a poesia do autor, saiu o volume Cantiga incompleta em 1971. Mas se a poesia foi constante presença em sua vida, a ficção também participou de sua bibliografia literária desde 1965, quando, aos 50 anos, publicou a novela A faca e o rio, traduzida para o
inglês pelo Prof. Lawrence Keates, da Universidade de Leeds, e para o alemão por Curt Meyer-Clason. Com o mesmo título, A faca e o rio foi adaptada para o cinema pelo holandês George Sluizer. À edição portuguesa de A faca e o rio (1966), acrescentou Odylo Costa, filho, o conto “A invenção da ilha da Madeira”, nova e feliz experiência do ficcionista até então oculto pelo poeta, e ainda prolongada no conto História de Seu Tomé meu Pai e minha Mãe Maria, em edição fora do comércio. Profundamente ligado ao Maranhão (foi eleito para suplente, no Senado Federal, de José Sarney), escreveu a introdução aos desenhos da pintora Renée Levèfre no belo livro: Maranhão: S. Luís e Alcântara (1971). De abril de 1965 a maio de 1967, foi adido cultural à Embaixada do Brasil em Portugal, onde mereceu a honra de ser incluído entre os membros da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. De regresso ao Brasil, embora tivesse recusado o convite do Presidente Costa e Silva para exercer o cargo de Diretor da Agência Nacional, Odylo Costa, filho, voltou no entanto ao exercício do jornalismo, primeiro como diretor da revista Realidade, de São Paulo, mais tarde como diretor de redação da Editora Abril, no Rio, e posteriormente como membro do Conselho Editorial. Quarto ocupante da Cadeira 15 da ABL, eleito em 20 de novembro de 1969, na sucessão de Guilherme de Almeida e recebido pelo Acadêmico Peregrino Júnior em 24 de julho de 19707. O jornalista Sebastião Jorge escreveu: Odylo, não dá para esquecer8 Odylo Costa, filho (é assim mesmo que se chamava e fazia questão de ser conhecido com a vírgula e depois a palavra filho) tinha tédio para ouvir e fazer palestras. Fugia dessas participações com aquele jeito bonachão que Deus lhe deu e os amigos gostavam de tê-lo ao lado, para conversar e ouvir sua opinião no campo literário ou político. Por falar em anjo, Ribeiro Couto, a propósito, soltou esta verdade: “Sorri com ar do Menino Jesus do Maranhão.” Preferia escrever, escrever, ler o quanto bastasse, daí o refinamento como intelectual. Pela idiossincrasia a certos conferencistas que enchiam e enchem a paciência do participante, obrigando-o a ouvir tolices, viu-se envolvido em atos que estão para o riso e menos ao sério. Quem nos conta tais passagens é Peregrino Junior, amigo desde a mocidade e colega da ABL. Faziam parte de um movimento literário conhecido por “Nova Geração”. Os participantes, ligados às artes e livros, reuniam-se mensalmente para comerem, beberem e cair na esbórnia. Todos dividiam as despesas, até os convidados. O grande jornalista do quadro da AML era uma pessoa desligada. Esquecia-se das coisas e ficava procurando em certos lugares aquilo que se encontrava no bolso. Aconteceu com um editorial quando trabalhavam no Jornal do Brasil. Outra: ao querer promover uma “Escola Doméstica de Natal”, anunciou que faria palestra em nome de um Centro do Norte. Encarregou-se dos convites. No dia, lá estava ele e três convidados, que incluíam a dona da casa (auditório), que nada sabia, e dois amigos. Um terceiro caso: morto o grande amigo Félix Pacheco, que o ajudou num emprego no Jornal do Comércio ao chegar ao Rio de Janeiro, aos 16 anos de idade, comprometeu-se a fazer uma palestra a respeito desse maranhense. Presentes, autoridades da educação e outras pessoas importantes. Horário: 15 h. Ele chegou 30 minutos depois. A conferência constou de um livro que levou consigo e leu versos de Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud e até do homenageado. Recebeu aplausos. Alta qualidade jornalística Quando chefe do Departamento de Comunicação Social da UFMA, com aprovação do colegiado, convidei-o, insistentemente, para vir a São Luís e falar na “Primeira semana de estudos sobre a imprensa maranhense”. Depois foi a vez de Lago Burnett. Para surpresa, aceitou. No dia da chegada fui 7
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=453&sid=187 http://pt.wikipedia.org/wiki/Odilo_Costa_Filho http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/brasil/odylo_costa.html http://www.releituras.com/ocostaf_menu.asp http://www.jornaldepoesia.jor.br/ocosta.html http://www.escritas.org/pt/poemas/odylo-costa-filho http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_odylo_nao_da_para_esquecer 8 JORGE, Sebastião. 18/02/2014 na edição http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_odylo_nao_da_para_esquecer
786,
em
esperá-lo no aeroporto. Ele veio acompanhado da esposa, dona Nazaré. Momentos de tensão. Todos os passageiros desceram. Nada de mestre Odylo. Esperado como uma celebridade. Não perdi a esperança. Fiquei de olho grudado na porta do avião da Vasp. Já sem esperança, ei-lo que surge com a esposa! Exultei. Ao cumprimentá-los, disse-lhe: “O senhor quase me mata do coração. Pensei que não viesse”. Ele respondeu sorridente: “Quem quase me mata foste tu (pelo convite). Eu me senti mal do coração.” Dona Nazareth interferiu com humor – passará, depois de ele comer o arroz de cuxá e provar os sorvetes com frutas da terra. Dito e certo. Levei-os a restaurantes e sorveterias. Bom de prato e amante das frutas, ficou feliz. Passou o mal-estar. Quanto à palestra, uma aula impecável. Auditório cheio e o assunto, ninguém melhor que ele poderia discorrer. Isto, pela fama reconhecida como um dos maiores jornalistas do século 20 e pelo espírito empreendedor e inovador realizado à frente das maiores empresas de informação de São Paulo e Rio de Janeiro. O jornalista Evandro Carlos de Andrade (1931-2001), que trabalhou no JB e O Globo, deu um depoimento sobre a competência de Odylo, que transcrevemos neste trecho: “Com a reforma feita por Odylo Costa, filho, na década de 50, o JB viveu quase meio século de reconhecimento público de sua alta qualidade jornalística” (Observatório da Imprensa). Ao completar cem anos de nascimento, em dezembro próximo, não dá para esquecer essa extraordinária figura humana, grande jornalista e autor da novela A faca e o Rio, traduzida para o alemão e inglês e que virou filme. É considerado um dos maiores poetas do Brasil. O Maranhão poderia decretar 2014 o Ano de Odylo Costa, filho (1914-2014).
Bibliografia9 Poesia e prosa em livro Graça Aranha e outros ensaios, Selma Editora, Rio de Janeiro, 1934. 47 p. Livro de Poemas de 1935, com Henrique Carstens, edição dos autores, Rio de Janeiro, 1936. 55 p. Distrito da Confusão, crônicas políticas, Editora Casa do Estudante do Brasil, Rio de Janeiro, 1947. 90 p. A Faca e o Rio, novela, Livraria José Oympio Editora, Rio de Janeiro, 1965; A Faca e o Rio e A Invenção da Ilha da Madeira, Edição Livros do Brasil Lisboa, Lisboa, 1966; A Faca e o Rio, Coleção Sagarana, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1973; A Faca e o Rio, Livraria José Olympio Editora/Mobral, Rio de Janeiro, 1973. 148 p. Tempo de Lisboa e outros Poemas, Livraria Moraes Editores, Lisboa, 1966. (incluído em Cantiga Incompleta) 106 p. Retrato Desordenado e Declaração de Amor a Portugal, Editora Verbo, Lisboa, 1967; in Seleções do Readers Digest, Lisboa, julho 1983. 5 p. História de Seu Tomé meu pai e minha mãe Maria, conto, Estúdios Cor, Lisboa, 1970. (incluído em Histórias da Beira do Rio) 27 p. Oratório de Djanira, poemas para gravuras, Júlio Pacello e Editora Cesar, São Paulo, 1970, 2 p. Cantiga Incompleta, poemas, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1971. 153 p. Maranhão: São Luís e Alcântara, com desenhos de Renée Lefèvre, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1971. 32 p. O Balão que caiu no mar, peça infantil, in O Teatro Infantil, de Lúcia Benedetti, 2º vol., SNT. 23 p. Os Bichos no Céu, poemas infantis, desenhos de Nazareth Costa, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1972; Los Bichos en el Cielo, tradução para o espanhol de Abelardo Sánchez León, Centro de Estudos Brasileños, Lima, 1979; Os Bichos no Céu, Memórias Futuras Edições, Rio de Janeiro, 1985. 32 / 16 p. A Menina que tinha o Nome de Minha Mãe, Edições Fenasp, Rio de Janeiro, 1975.(incluído em Meus meninos, os outros meninos) 6 p. Notícias de Amor, poemas, edição fora do comércio, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1974; Notícias de Amor, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1976. 136 p. A Vida de Nossa Senhora, poemas feitos para os desenhos de Nazareth Costa, Editora Agir, Rio de Janeiro, 1977. 76 / 38 p. Un Solo Amor, poemas seletos, traduzidos para o espanhol por Homero Icaza Sánchez e Estela dos Santos, Centro de Estudos Brasilenõs, Buenos Aires, 1979; Um só Amor/Jedina Ljubav, edição bilingue traduzida para o servo-croata por Radoje Tatic, Edições Grongula (XIII), Embaixada do Brasil em Belgrado, 1987. 9
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=452&sid=187
Boca da noite, poemas, Editora Salamandra, Rio de Janeiro, 1979; Boca da noite, poemas, Massao Ohno Editor, São Paulo, 1995. 150 p. Anjos em Terra, poemas com desenhos de Nazareth Costa, Monteiro Soares Editores, Rio de Janeiro, 1980. 61 / 30 p. Meus meninos, os outros meninos, crônicas sobre o problema do menor abandonado e do deficiente, Editora Record, Rio de Janeiro, 1981. 96 p. Histórias da Beira do Rio, contos, Editora Record, Rio de Janeiro, 1983. 189 p. Poesia Completa, reunião da obra poética, Aeroplano Editora, Rio de Janeiro, 2011. 568 p. Textos Escolhidos10 A MEU FILHO Recorro a ti para não separar-me deste chão de sargaços mas de flores, onde há bichos que amaste e mais os frutos que com tuas mãos plantavas e colhias. Por essas mãos te peço que me ajudes e que afastes de mim com os dentes alvos do teu riso contido mas presente a tentação da morte voluntária. Não deixes, filho meu, que a dor de amar-te me tire o gosto do terreno barro e a coragem dos lúcidos deveres. Que estas árvores guardam, no céu puro, entre rastros de estrelas, a lembrança dos teus humanos olhos deslumbrados. (Cantiga incompleta, 1971.) SONETO DE JÓ Este grito, que é rio amargo, choro que não é meu apenas, mas de todos que o filtro das insônias decantou, ouve-o, Senhor, que é grito de infelizes. Perdi-me e Te procuro pela névoa, no céu em fogo, no calado mar. A Teus pés volto. Faça-se o que queres. Tanto me deste que por mais que tires sempre me resta do que Tu me deste. Deus necessita do perdão dos homens e é esse perdão que venho Te trazer. Com o coração rasgado, mas ao alto, Senhor, te entrego os filhos que levaste pelo amor dos meus filhos que ficaram. (Cantiga incompleta, 1971.) SONETO DE N. Sa DO BOM PARTO A adolescente era a palmeira esguia de tranças. Mas no mel do seu cabelo tal mistério morava que de vê-lo a alma desesperada renascia. Era a Beleza? A simples alegria? Era a presença do sutil desvelo? Era a graça, era o corpo, era a poesia? Era a saudade do materno zelo? Era a esperança, a fé, a caridade? Impossível dizê-lo com certeza. Mas nela havia tanta eternidade 10
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=452&sid=187
que pôs Nossa Senhora do Bom Parto nove bocas em torno à nossa mesa e uma sombra perene em nosso quarto. (Cantiga incompleta, 1971.)
SONETO DE FIDELIDADE Não receies, amor, que nos divida um dia a treva de outro mundo, pois somos um só que não se faz em dois nem pode a morte o que não pôde a vida. A dor não foi em nós terra caída que de repente afoga mas depois cede à força das águas. Deus dispôs que ela nos encharcasse indissolvida. Molhamos nosso pão quotidiano na vontade de Deus, aceita e clara, que nos fazia para sempre num. E de tal forma o próprio ser humano mudou-se em nós que nada mais separa o que era dois e hoje é apenas um. (Cantiga incompleta, 1971.) SONETO DA REVISITAÇÃO Partamos juntos a rever o rio onde primeiro o nosso amor nasceu e acalentando o meu humor sombrio entre os teus seios amadureceu. Nasceu tão pleno quanto um sol de estio mas sobre a dor e a morte ainda cresceu, embora a prata tenha posto um fio no teu cabelo, e muitos neste meu. Vamos em busca de um repouso fundo que nos envolva de uma leve areia no banho antigo, em meio aos juçarais. Que a viagem nos cure deste mundo, cheia de vozes de teus filhos, cheia desta alegria de te amar demais. (Cantiga incompleta, 1971.) ILHÉU Nasci numa ilha. Era meu destino. Numa ilha vivo desde pequenino, a estender os braços pelo mundo todo em busca de traços que à terra me liguem. Quero o continente! Não me deixem só, não me quero ausente. Ninguém me compreende esta busca ansiosa: tenho o mar comigo, quero ainda a rosa. Joguem fora a âncora! Pois o amor que achei, meu anel de amigos e a casa do rei
trazem sede e fome de mais terra e céu. Por Deus compreendam quanto sou ilhéu! Careço de afetos em roda de mim. Foi sorte ou desgraça, numa ilha vim. Tempo de enxurrada nessa ilha nasci, como a água que corre sou daqui, dali. Por Deus me acarinhem que nasci na ilha, num mês de enxurrada, mês de água andarilha, sobrados e terra porém terra pouca, lavado azulejo sob uma água rouca. Meu amor me abraça porque sou ilhéu ando só - na areia entre águas e céu. (Boca da noite, 1979.) PAZ DE AMOR Calemos esta paz como um segredo de amor feliz. Não seja este silêncio ponto final em nosso terno enredo: não nos encerre o amor, antes condense-o. Olhemo-nos nos olhos face a face. sem recuar surpresos como o amigo que de repente no outro deparasse apenas o lembrar do tempo antigo. Não. Sempre em nós renascerão searas. novas chuvas trarão nova colheita. folhas novas, translúcidas e raras. E brotará da tua mão direita água súbita e casta do rochedo um novo amor, que vença a morte e o medo. (Boca da noite, 1979.) SONETO DA TARDE Não digo que o sol pare, nem suplico que teu cabelo não se faça branco. Nos segredos serenos que fabrico vive um pouco de mago e saltimbanco. mas te desejo simples, natural, e que o dia na tarde amadureça. Venceste muita noite e temporal. Confia em que outra vez ainda amanheça. O teu reino da infância sempre aberto guarda o campo e os brinquedos infinitos nas cores puras, sob o céu coberto. Nos cajueiros, os pássaros... Os gritos infantis... Mas a ronda neles nasce e embranquece o cabelo em tua face. (Boca da noite, 1979.)
O AMOR CALADO Ainda que o canto desça, de atropelo como abelhas no enxame alucinante em torno a um tronco, e me penetre pelo ouvido, em sua música incessante, juro a mim mesmo: nunca hei de escrevê-lo. Hei de fechá-lo em mim como diamante dentro da pedra feia. Hei de escondê-lo na minha alma cansada e navegante. E nunca mais proclamarei que te amo. Antes o negarei como os namoros secretos de menino encabulado. Que se cale este verso em que te chamo. Cessem para jamais risos e choros. Meu amor mineral é tão calado! (Boca da noite, 1979.)
DANIEL BLUME Maranhense de São Luís, nasceu em 27.10.1977, filho de Sonia Almeida (professora universitária, poeta, escritora e membro AML) e Djalma Almeida (engenheiro civil e empresário). Estudou na escola Literato, cursou Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e se especializou em Processo e Direito Eleitoral pela Faculdade Cândido Mendes (RJ). É advogado militante, procurador do Estado do Maranhão e professor da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB-MA. Autor do livro Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Lithograf, 2003), já teve publicados os seguintes trabalhos jurídicos: A Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais (Revista da OAB/MA n. 02, 2002), Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Revista do Tribunal de Contas do Distrito Federal n. 27, 2001), Parlamentar e Tributo (www.pge.ma.gov.br e JUS-MA, 2007) e Publicação da Sentença Condenatória em Jornais de Grande Circulação (Júris Síntese e Revista da OAB/MA n. 05, 2008). É colaborador eventual do jornal O Estado do Maranhão, na condição de cronista, e poeta com poemas publicados na I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (1998), Antologia de Poesias e Crônicas Scortecci (1998), II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (2000) ePalavras de Amor (2000). Em 2009, lançou o livro de poesias Inicial pela Editora Belas Artes. Atualmente exerce a Presidência da Associação dos Procuradores do Estado do Maranhão – Aspem e da Comissão da Advocacia Pública da OAB-MA. É membro do Conselho Federal da OAB e do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. SÃO LUÍS SITIADA Sempre é tempo de gritar que a violência em São Luís está avassaladora e generalizada. Parece ter saído das frias páginas policiais, que muitas vezes pareceram narrativas de uma realidade longínqua, para a esquina ao lado. Ninguém a salvo. Não reconheço mais a cidade em que cresci. Até quando? Sem exceção, todos os dias, conversas, jornais, redes sociais dão conta de mais uma vítima de assalto, golpe, latrocínio, assassinato. Destaco o caso da Sra. Lena Murad, pessoa, mulher, mãe, cidadã que – ao terminar uma simples caminhada na Lagoa da Jansen – foi abordada por bandidos menores de idade, que a alvejaram com um tiro no rosto, ao pôr-do-sol, num dos principais pontos turísticos da Cidade. Quase o seu pôr-da-vida. Na Litorânea, os crimes idem são constantes. Não se pode dizer que o problema se agrava porque as autoridades estariam isentas desta realidade. Todos estão sujeitos aos riscos a que a violência expõe. Cito o vereador Ivaldo Rodrigues e o Secretario de Estado Alberto Franco, pois divulgaram os incidentes. Outros casos – apesar de ter conhecimento – deixo de especificá-los, seja por falta de autorização, seja mesmo por ausência de espaço. Não disponho aqui de tomos. Da mesma forma, um semnúmero de cidadãos, cada dia sempre e mais. Eu próprio já fui roubado na Lagoa à mão armada, oportunidade em que me foram levados tênis, relógio e tranqüilidade. Talvez o primeiro passo a ser dado seja reconhecer o problema como grave e real. Sabe-se que o crescimento da violência é um problema nacional, porém, em São Luís, os índices são singularmente alarmantes. No ano de 2012, tivemos seiscentos e trinta e cinco homicídios. Em 2013, já foram duzentos e vinte e três. Só em abril, há registro de nada menos que setenta e seis assassinatos na Ilha, segundo mês mais violento da história. Terra que sangra encurralada, cercada não apenas de água, mas especialmente de criminalidade. Todavia, para desespero ou revolta de muitos, alguns integrantes da segurança pública preferem minimizar a endemia, tratando-a como uma doença tópica, pontual. Pior que há quem afirme que a escalada da violência seria ilusória, não passaria de ficção, sensação artificial. Absurdo. Estaríamos então loucos, vivendo em O Alienista de Machado Assis? Será que tiro na cara e revólver na nuca são pura ilusão? Cada gota de lágrima e de sangue das vítimas que vão (e das que ficam) seriam obra da imaginação popular, uma espécie maligna de folclore? A tranqüilidade, a integridade e a dignidade da população de São Luís não merecem e não podem ser tratadas com sofismas. Sangue humano não é ficção. Desde 2007, na crônica O Sangue de São Luís já lamentava que, infelizmente, homicídios e assaltos passaram a fazer parte do nosso dia a dia. Agora, não estão eles apenas esporadicamente noticiados nos jornais lidos pela manhã. O terror está, com freqüência, na porta de casa, na lagoa, na litorânea, nos shoppings, nos semáforos, nos bares, nos cafés, nos restaurantes. No cotidiano, temor. Disse, na época, que a violência que atinge São Luís gera espanto até em cariocas que nos visitam. Porque, mesmo no Rio de Janeiro (capital marcada pela violência urbana protagonizada pelo tráfico organizado de drogas), não se vê encapuzados entrando nos bares e restaurantes para roubar ou matar, especialmente, na dita área nobre da cidade. Mas isso ocorre aqui em São Luís. O ludovicense ou mesmo o turista nem pode mais passear com sua família
tranqüilamente. E se for, deve ir preparado para uma agressão. Lamentável. Todas estas afirmações permanecem atuais e alarmantes, haja vista também o crescimento demográfico da Capital. Assim, não se pode compreender como alguns insistem em dizer que a sensação de violência de São Luís é artificial ou que está (quase) tudo bem com a segurança pública em nossa cidade. As evidências dispensam comentários, vez que revelam o oposto. Ainda urge providência. Frente à São Luís sitiada, fica o até quando...
PASSAGEIRA Desta forma ela vem: rápida, mas sorrateira. Insana, porque cega, violenta e incontrolável. Temerária. Enfim, sem ser amor, há paixão: aflita e duvidosa, mas urgente e imprescindível. Perigosa e mordaz, e imprecisa, e intensa, e desequilibrada e terrível, ela invade a estacão, derrete a neve. No máximo dos frios, ela altera invernos. Mas, de passagem, ela vai.
CEM VEZES Às vezes, cem motivos pra chorar, sorrindo. Cem razões para fugir, parado. Sem olhar, mas enxergando, sendo tudo como foi... Sem ética e moral. Cem controvérsias. Cem paradoxos. Sem vontade de gritar – calado. Sem força para andar – parado. Cem motivos pra ficar. Sem vontade de estar cantando. Cem motivos para estar vivendo. Cem sonhos, no entanto, pra sonhar. Cem cenários no olhar. Sem sentido de sorrir. Sem força centrípeta. Sem centro: perdido. Sem razão para aceitar, sendo tudo como está...
Cem semanas se passaram: memória. Cem semestres chegarão, talvez. Sem-números pra contar. Sem sóis, cem luas, sendo sempre como é... Cem sentenças para o ser sentido. Cem senzalas para estar sentindo, sendo tudo como irá... Cem motivos. Só cem passos para ir. Cem saberes encantados. Cem vezes, às vezes. No encanto, caminho.
VERDADE Há casos em que omitir é melhor que dizer a verdade; ou mesmo melhor é mentir para deixar... a realidade punhal coberta pela bainha
IMPUREZA As palavras esgotaram-se, o descobrir, não. Persiste crescente, infelizmente. Agora o dizer finda, entregue ao cansaço e à impaciência. Dizem: é a maturidade. Silêncio. A criança dorme.
LAURA ROSA
Patrona da Cadeira 25 da ALL Por Wybson Carvalho11
Laura Rosa, nascida em São Luis do Maranhão, no dia 1º de outubro de 1884. Por amor à língua portuguesa e às letras, formou-se em Normalista do Magistério, e, como professora, veio para o sertão, ainda, na segunda década do século passado com a finalidade de lecionar na antiga Escola Normal de Caxias. Em sua terra natal, durante sua escolaridade escreveu inúmeros poemas e participava, ativamente, da vida literária estudantil ludovicense, vindo a ser cognominada de "violeta do Campo"; pseudônimo com o qual assinava seus poemas. Na princesa do Sertão Maranhense, a poetisa, Laura Rosa, foi hóspede durante muitas décadas da valorosa professora caxiense, Filomena Machado Teixeira, e com a qual foi das primeiras incentivadoras da criação da Academia Caxiense de Letras, e, na qual, é patrona da Cadeira de Adailton Mediros. Laura Rosa se encantou, em Caxias, na data de 14 de novembro de 1976, aos 82 anos de vida dedicados ao magistério e às letras. Laura Rosa, foi a primeira mulher maranhense a ter acento a uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras. Eis, alguns trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa, realizado no dia 17.04.1943, no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo. No discurso12, destaco um ponto que parece comum na posse de membros homens e/ou mulheres, a referência a algum amigo mais próximo, o qual parece ser responsável pela indicação do membro para concorrer à vaga da Academia. "Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me, porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos, para merecimento de tão honrosas credenciais".
A humildade com que a escritora se apresenta frente aos seus atuais confrades prolonga-se por algumas frases reforçando a valorização dos membros mais antigos e ao mesmo tempo, sutilmente reconhecendo o valor de suas poesias. "Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardas fiéis de nossas tradições literárias".
11
CARVALHO, Wybson. http://www.noca.com.br/coluna.asp?cntcod=17&colcod=1727 http://books.google.com.br/books?id=hn8f_VsmZAC&pg=PA325&lpg=PA325&dq=LAURA+ROSA++%2B+textos+%2B+academia+maranhense+de+letras&source=bl&ots=tQxpUsiSTa&sig=3j3PgrjXPsmGZFwk4w OukJlNuRI&hl=pt-BR&sa=X&ei=738wUvMJJLQkQeu84D4BA&ved=0CDQQ6AEwAQ#v=onepage&q=LAURA%20ROSA%20%20%2B%20textos%20%2B%20academia%20maranhense%20de%20letras&f=f alse
ESQUELETO DE FOLHA13 Vêde, senhor, apodreceu na lama. Eu a vi muito tempo entre a folhagem, Antes do vento lhe agitar a rama E, do regato, sacudi-la à margem. De virente e de verde, tinha fama, De folha mais formosa da ramagem, Desceu nas águas e resta, da viagem, O labirinto capilar do trama. Ninguém pode fazer igual rendado, Nem filigrana mais perfeita e lnida, Nem presente melhorpode ser dado. Guardai, senhor, guardai este esqueleto. Todo o cuidado! É uma folha, ainda, Onde escrevi, de leve, este soneto.
http://www.guesaerrante.com.br/2009/2/17/Pagina1108.htm 12 Trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa (realizado no dia 17.04.1943), no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo. 13 MEIRELES, FERREIRA, E VIEIRA FILHO, 1958, obra ciatda, p. 185-185. (in Ver. Da Acad. Mar. De Letras, vol.IX, 1954).
LAURA ROSA
EDMILSON SANCHES LAURA ROSA Há 42 anos, em 14 de novembro de 1976, falecia em Caxias a escritora Laura Rosa. Ela morava na casa de sua amiga Filomena Machado Teixeira, a Tia Filozinha, que foi minha professora no Ensino Fundamental e era minha vizinha "de quintal", na Rua São Benedito, cujos fundos "batiam" com os do quintal da casa em que morava minha família, na Rua Afonso Pena, em Caxias. Quando estudava o Ensino Médio, fui durante os três anos presidente eleito e reeleito do Grêmio Santa Joana d'Arc, do Colégio São José (Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas). Tenho forte lembrança de que vi a assinatura de Laura Rosa em algum documento que eu manuseava durante as tardes ou noites em que eu ficava na escola, para conhecer mais e organizar melhor as atividades do Grêmio. Abaixo, transcrevo o que escreveu sobre Laura Rosa meu confrade da Academia Caxiense de Letras Wybson Carvalho, jornalista e poeta, referência literária em Caxias. Laura Rosa é a patronesse de uma das cadeiras da Academia Caxiense de Letras, ocupada pela professora doutora -- e minha amiga -- Joseana Maia, chefe do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Maranhão em Caxias EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br
MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES
PRIMEIRA OCUPANTE DA CADEIRA ALL Por SANATIEL DE JESUS PEREIRA O destino, o senhor do tempo, de forma irrecusável, escolheu-me, novamente, para saudar e acompanhar a transpor os portões imaginários do grande edifício onde funciona a Academia Ludovicense de Letras uma das mulheres mais notáveis do Maranhão. A minha satisfação é imensa por compartilhar com ela este momento mágico. Confesso, entretanto, que ambos estamos fazendo parte de um caminhar novo, que ninguém sabe aonde vai chegar, porque assim é o mundo das letras e da imaginação. Este talvez seja o buraco na árvore onde o coelho nos mostra o caminho a trilhar. Ela traz a essência daqueles vinhos raros produzidos com uvas de colheitas tardias no melhor terroir encontrado na Terra: o Maranhão. Ela ficou todos esses anos em seu parreiral intelectual e meditativo, enchendo-se de inspiração e prenhe de motivação para escrever na hora oportuna o que quisesse, pois a sua casta é uma das mais nobres do Novo Mundo: Azevedo. Portanto, temos que festejar com muita alegria a chegada da nova confreira, que veio com a sua presença somar e agregar valor a esta infante confraria. D. Maria Thereza de Azevedo nasceu às quatorze horas do dia 12 de novembro de 1932, em um daqueles casarões da antiga Rua da Paz, em São Luís, quando a Lua se fazia Nova, e os ventos, trazidos do mar, sopravam sobre os telhados de cerâmicas francesas, vindos de Marselha, em pleno século XIX, para refrescar os espíritos iluminados dos ludovicenses criadores daquela época. Provavelmente, os ruídos dos velhos bondes sacolejando sobre os trilhos de aço, que passavam por aquela importante via, foram os primeiros sons externos a lhe assegurar que havia chegado à ilha de Upaon-Açu e iniciado uma nova viagem neste planeta maravilhoso que os gregos chamavam de Gaia e os povos ameríndios, de Pacha Mama. Como primeira filha, não teve olhos de irmãos para espiar-lhe o choro, o sono e os primeiros sorrisos, mas os olhos e os braços de uma mãe dedicada e amorosa que haveria de lhe dar outros irmãos em pouco tempo: Maria Ruth e Américo Azevedo Neto, membro da Academia Maranhense de Letras. Filha de Emílio Lobato de Azevedo e Maria José Costa Leite Azevedo, já trouxe de berço o estigma das letras e a herança atávica dos grandes escritores que construíram a memória artística e cultural da Idade Contemporânea. Ela sustenta, como uma representante das letras, a honra e o peso da responsabilidade de ser uma descendente direta do dramaturgo e jornalista Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, seu tio-avô, irmão de Américo Azevedo, seu avô, e pai de Emílio Azevedo, seu progenitor. Ela nunca será medida pelos belos traços fisionômicos da sua juventude ou pelas suas medidas antropométricas, mas pelo seu legado cultural e artístico. Nem mesmo por esposa companheira e amiga ou mãe devotada pela família, mas pelos versos e anversos que ficarão para sempre guardados na memória daqueles que leram as suas obras, ou que com ela conviveram em seus grandes saraus. Confrades e Confreiras, eu tenho certeza de que a descendência ancestral daqueles que desapareceram se manifesta neste momento e neste local para participar desta faustosa cerimônia de recebimento de uma representante autêntica e à altura dos Azevedo na Academia Ludovicense de Letras. Enfileirar-se-á toda a geração para ver um ramo da mais viçosa vinha que se deixou açucarar para produzir, no outono da sua existência, os mais saborosos sonetos em cantos, rimas e expressões que já não se fazem nesta ilha encantada. O destino, entretanto, reservou-lhe grandes surpresas na vida, as quais se configuraram como atos de uma grande ópera de Verdi em que ora desempenhava o papel principal de cantora, ora um papel de coadjuvante da peça como componente do coro. Mas ela estava lá, no palco, cantando, sorrindo, dançando e, muitas vezes, orando. D. Maria Thereza adentrou os caminhos das letras como interna do colégio Santa Teresa, onde viveu dos oito aos dezoito anos e de onde saiu somente para prestar exames ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Ceará, em Fortaleza. Foram anos difíceis, mas necessários para desenvolver a sua capacidade de caminhar resoluta na
busca da sua própria felicidade. Ela já sabia o que queria, por isso deixou o curso de Medicina pelo de Ciências Biológicas, agora na Faculdade de Filosofia do Recife, onde se formou em 1960. Confrades e Confreiras, D. Maria Thereza nem sabia onde o destino iria a colocar, pois, quando menos pensava, estava casada com o Deputado José Bento Nogueira Neves, um dos mais notáveis políticos do Maranhão. Ainda chegam aos meus ouvidos os seus discursos inflamados apontando novos caminhos para este Estado ainda em construção. Eu pensava comigo mesmo: atrás de um homem poderoso e cheio de sonhos, deve existir uma grande mulher. Desta relação que durou 50 anos, ficaram como prova viva desse tempo e desse amor as filhas, Rafaela, Eugênia e Virgínia; e o filho, Rodrigo Azevedo Neves; e, muito mais tarde, as netas, Maria Paula e Tarsila, e o neto, David. Ainda não havia chegado o tempo de escrever e publicar, somente o de sonhar através das letras dos que já se fizeram famosos e encantavam o mundo através da Biblioteca das Moças, como os romances de M. Delly. Foram-se os dias de Toutinegra do moinho, de Émile de Richebourg; Por quem os sinos dobram, de Hemingway; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brönte. Só mais tarde vieram A casa dos Espíritos, de Izabel Alende; A guerra do fim do mundo, de Vargas Llosa; e a extensa lista das obras de Saramago. Sem que ela percebesse, o senhor do tempo a estava preparando para a escrita pretérita, condensada, como o orvalho na noite, sob a forma de crônicas, contos e romances. Sem duvidar do destino, bons mestres ele lhe deu: os melhores autores; as fases pregressas da sua vida, como filha amada e feliz; jovem alegre a festejar sempre a vida; irmã presente e fraterna; esposa amiga, companheira, parceira – a dama de ouros –, apaixonada; mãe gratificada e realizada. Amiga sincera e leal. Mulher feliz! Todos os ingredientes estavam e estão às suas mãos – por que não dizer, precisamente, aos seus dedos? –, para viver este momento maravilhoso que presenciamos agora. D. Maria Thereza tem o seu début literário em 2005, quando publica o livro de contos Atalhos e o de literatura infantil Historinhas, ambos na Lithograf. Após esse ano, em 2006, publicou o livro de memória Minha Árvore. Em 2008, 107 – Memórias. Em 2012, Pena Vadia: Cantando & Contando, outro livro de contos; e, em 2013, Café ou Chocolate?, também de contos. Apresentar Maria Thereza de Azevedo Neves à sociedade maranhense como membro da Academia Ludovicense de Letras não é somente uma satisfação incomensurável, mas um privilégio diante da sua descendência direta de dois grandes vultos da literatura brasileira, Artur e Aluísio Azevedo, como também do seu próprio e incontestável talento como intelectual das letras. Hoje, a Academia Ludovicense de Letras se torna mais rica e digna, tanto por abrigar a memória daqueles que construíram o substrato intelectual das letras maranhenses, quanto pelas representações atuais dos seus membros. D. Maria Thereza, de forma oportuna e, quiçá, necessária, representa o elo de ouro entre os vultos notáveis da literatura maranhense do início do século XX e o que de melhor se pode encontrar no início deste século XXI. Quem sabe ela seja o vaso de cristal que traz o vinho tardio para as festas literárias deste século, que, somente agora, começa a mostrar a sua cara. Confreiras e Confrades, Senhor Presidente, abramos os braços cheios de alegria para recebê-la em nosso seio e desejar-lhe boa sorte na missão mágica e divina do ato de escrever. Confreira, que sejas bem-vinda e que tragas a Paz, o Amor e a União em teu coração. Muito obrigado!
ANTÔNIO AYLTON SANTOS SILVA14 Bacabal / 29 de dezembro de 1968 Concursos Safra 90 Naceu no município de Bacabal – MA, em 29 de dezembro de 1968. É Doutorando em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco-UFPE com o projeto de tese A EXPERIÊNCIA LÍRICA ENTRE O MEMORIAL E O IMPREVISÍVEL: injunções de tempo e espaço na poesia contemporânea do Maranhão. Mestre em Educação com foco em Suportes da linguagem, Cultura e Imaginário e Licenciado em Letras – Português e Francês com respectivas literaturas, pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Fez especialização em Perspectivas Críticas da Literatura Contemporânea pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. É professor de Ensino Médio do Estado do Maranhão e tem ministrado disciplinas modulares (Teoria e Crítica Literária, Pós-Modernismo e Literatura, Semântica e Pragmática, Leitura de Poesia, Filosofia e Sociologia da Educação, na UEMA, UFMA e IESF (Instituto Superior Franciscano). Tutor à distância de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura (EaD-UFPE). Com participação em diversas antologias locais e nacionais, publicou os livros As Habitações do Minotauro (Poesia, São Luís – FUNC, 2000) e Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, São Luís – FUNC, 2003), ambos premiados em edições do “Concurso Cidade de São Luís”. Foi vencedor da categoria poesia do “Prêmios Literários Cidade do Recife”, em 2006, com o livro Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2008).Tem poemas publicados também na Revista Poesia Sempre, organizada por Marco Luchesi (Biblioteca Nacional, 2009) e diversos artigos ensaísticos publicados no Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante, do qual é colaborador. Membro da Academia Bacabalense de Letras, cadeira 08. Do contato com Antonio Ailton, mandou-me a sua biobliografia, a seguir transcrita – a que prefere: FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. Meu destino: Escola Federal Agrotécnica [Bairro do Maracanã], na qual só passei três ou quatro meses, e logo fui “dispensado” por falta de recursos financeiros. Tornei-me insustentável para a Escola. É preciso dizer que já trazia a poesia na algibeira, de tempestades e ímpetos juvenis em Bacabal-MA. Apague-se um certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). Sim, sujeito religioso e proveniente de um mundo mítico-telúrico-infernal (Interior da região do Mearim), fiz Teologia por quatro anos. Acho que alguns poemas de As Habitações do Minotauro (Poesia, FUNC – 2000) têm uma carga inegável de momentos de conflito bruto de um sujeito religiosamente desordenado. Quero deixar claro que isso não explica o livro nem implica biografismo literário. São vivências. Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA, algo, para mim extraordinário, pois participava da comissão julgadora ninguém menos que José Chagas, de quem eu havia lido o extraordinário Os Canhões do Silêncio (1979, capa azul). O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. Ora, para um ser anódino aquilo foi o máximo. Mas penso que o maior de todos os ganhos foi conhecer vários outros poetas iniciantes e começar a poder integrar-me na vida literária da cidade. Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... 14
http://abletras.webnode.com.pt/cadeira-08-antonio-ailton/ , acessado em 25/04/2014
O Palacete Gentil Braga e seus Festivais de Poesia Falada passou a ser nossa casa (vide antologias desses festivais) de encontros e lembrança de poesia, naquele período. No XI Festival cheguei a receber segundo lugar pelo Poema-Fato ou Fenômeno, interpretado magnificamente por Sandra Cordeiro. “Nossa casa”, digo, porque então já me integrara num círculo de amigos poetas e visionários, dos quais falarei. Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, que ainda vi comparecer a uma ou duas dessas reuniões (de quem não tinha coragem de me aproximar direito e que era, para mim, a encarnação poética da cidade, com seus bares e becos), além da jovem poeta Rosemary Rego. Sim, bebemos muito. Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). Aliás, por conta dessa Antologia houve um almoço promovido pela Secretaria de Cultura do Maranhão no Calhau, Wilson Martins parece-me, era o nosso anfitrião no almoço, o qual serviu para consolidar e aproximar mais o grupo – descalços depois, ao léu da tarde nas areias espumadas do Calhau, em busca de um bar, e poesia. O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Escrevi Carta a Madré 2º Pacote num dia de solidão e angústia DA de Letras da UFMA. Eu estava morando na “Casa de Estudante Universitário do Maranhão – CEUMA”, na Rua São Pantaleão 198. Eu, e só eu: bagaceira. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus
(Edição do autor, 2002). A propósito, este livro é o resultado, quase um recado programático, de muito do que Hagamenon vinha conversando conosco sobre questões de linguagem poética e a necessidade de um repertório metafórico de representação do nosso momento, da cultura urbana. Em 2006, fui vencedor do Prêmio Eugênio Coimbra Júnior, categoria poesia do “Prêmios Literários Cidade do Recife”, um importante prêmio nacional, naquele momento, e que já houvera premiado dois maranhenses: José Maria Nascimento, em 1976(?), e Couto Corrêa Filho, em 2005. Meu livro Os dias perambulados & outros tortos girassóis foi publicado então pela Fundação de Cultura Cidade do Recife em 2008. Também em 2006 fui gentilmente aceito para cadeira 08 da Academia Bacabalense de Letras, patroneada pelo Pe. Carvalho e deixada em vacância pelo falecimento do poeta Eduardo Freitas. Fomos lá, uma cambada de poetas participar da festa. Em 2008, fiz especialização em Perspectivas Críticas da Literatura Contemporânea, pela Universidade Federal do Maranhão. Também no mesmo ano iniciei Mestrado em Educação, terminando em 2011 com a dissertação JANELAS DO CONTAR [NA MICROSSÉRIE HOJE É DIA DE MARIA]: Atravessando os limiares entre imagem e educação, narrativa e vida. Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007. Em 2013 iniciei Doutorado em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, com o projeto de tese A EXPERIÊNCIA LÍRICA ENTRE O MEMORIAL E O IMPREVISÍVEL: injunções de tempo e espaço na poesia contemporânea do Maranhão.
IDADE DOS METAIS Ao amanhecer por entre as ruas o sol tropeçou em dois cadávares. Sombras da noite inoxidável, a catadora de latinhas tem mais coisas a fazer. Chagas Val Bioque Mesito Bruno Azevedo Felipe Magno Silva Pires O JARDIM DE PO CHÜ-YI Dizem aí que Fulano é um grande poeta que tem estilo, e até consegue imitar a si mesmo, para conservar sua marca Que é como Picasso depois de Les Demoiselles Quanto a mim, sei que meu pequeno jardim não é como o das grandes casas de portões vermelhos dos poetas que olham desdenhosos o outro lado do bulevar Não é como os planejados para a entrada dos grandes colégios nem como os que embelezam ainda mais os fluxos do sol que rebatem nas vitrines das grandes empresas Em meu pequeno jardim, eu sei, há flores grandes e minúsculas, coloridas e tristes, às vezes perfumadas e há também flores falsas como é natural das plantas flores enjambradas e ervas daninhas que tenho preguiça de tirar, ou não sei como então deixo aos poucos amigos quando vêm beber vinho olharem e dizer: “ô, isso cresceu aí...”, e respondo: “foi mesmo...”
Então vamos beber um pouco mais de vinho, e aponto uma velha espreguiçadeira herdada de Po Chü-yi poeta mais sábio que todos nós juntos, e que após ouvir o alaúde perguntava: “Por que suspirar por grandes terraços, açudes quando um pequeno jardim é tudo quanto basta?” [tempo TEMPO e caramujo], inédito. BIOBIBLIOGRAFIA15 Hoje mesmo me declaro o empréstimo, também o pó. E a cinza do Holocausto. Criatura do Deus-em-favor-dos-outros, imagem e semelhança dos livros que li, os quais em todos os poemas são a expressão do gozo supremo de meu pai, ao transmitir as dores da mãe que me teve com a sabedoria hebraica das parteiras. Pode-se dizer de minha palavra que sou outro do outro que não se possui. Fica o dito pelo não dito.
PRAIA GRANDE, In memoriam16 Cada um dos que passeiam arrisca uma saída na ironia insuportável das estradas o feliz, a praça o traído, a taça o saudoso, a traça o poeta, o poema aceso nas paredes azulíricas... Metafísico, o destino se aproxima do Teatro marcando em compassos o suicídio das estrelas tic tac tics glub A história e o sangue tornando-se um só corpo sem retrocesso. E quem tentar fugir da cópula Terá sua identidade estraçalhada entre as pedras, 15
Leopoldo
Caro , finalmente envio a lista DEFINITIVA dos poemas para a preciosa antologia que estás montando. Estive na correria estes dias, daí o atraso, mas espero que a tempo, pois sei do teu cuidado em agilizar o que realmente precisa ser agilizado. A montagem desses poemas segue criteriosamente meu percurso literário, e espero que me te agrade. Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996) 16 Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996)
entre as pernas. A RECLUSA17 todos os dias, a reclusa olhava pela fresta da janela e, tecendo o seu tricô, não se importava se os poetas cantam para dentro ou para fora ESCRITOS ALEATÓRIOS PARA MASCARAS E INCERTEZAS 18 [6]
Flor é a palavra flor, não por dizer, mas por silenciar Flor é o crisântemo aceso, aguardando com ansiedade a visitante tardia Flor é o bicho de Lígia Clark quando você toca e ele se abre Flor é a orelha decepada de tuas obsessões psicossexuais derramando girassóis no ocaso para espantar os últimos corvos (há sempre relações possíveis entre flores e navalhas) Flor: rã de Patrick Süssekind na vulvinha virgem da próxima vítima engolindo insetos e aspirando o hálito ainda quente de um perfume desconhecido Há flores que nascem no estrume das feiras livres de Paris Mas não exagere em arte conceitual, chá de papoula é natureza morta pintada de amarelo
O MOINHO DE ARISTÓTELES19 O movimento endurece, passam as mães passam as irmãs passam as amadas as guimbas da primavera e as floradas de frieira nos pés do inverno O eterno é a regra ou a frieza? Eu o misógeno o insólito amarrador de roupas “aonde vais, blusa arrastada na ausência demasiada?...” 17
Do livro OS DIAS PERAMBULADOS & OUTROS TORTOS GIRASSÓIS (Fundação Cultural do Recife, 2008) Do livro OS DIAS PERAMBULADOS & OUTROS TORTOS GIRASSÓIS (Fundação Cultural do Recife, 2008) 19 De Compulsão Agridoce [Dezlises para o livro imperfeito] – Inédito 18
Descubro agora รณ forma louca รกpice do meu movimento que me fixei aos moinhos de vento
COELHO NETTO Faleceu em 28 de novembro, há 84 anos
EDMILSON SANCHES
O 28 de novembro marca a morte, em 1934, do escritor e jornalista maranhense Coelho Netto, conhecido, entre outras coisas, por ser o responsável pela popularização do título de "Cidade Maravilhosa" ao Rio de Janeiro. Nascido em 21 de fevereiro de 1864, em Caxias (MA), o romancista Coelho Netto alcançou em vida glórias que o pós-morte não sustentou. Quando se casou, em 24 de julho de 1890, o padrinho foi o presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca. Machado de Assis, José do Patrocínio e Olavo Bilac, entre outros, eram nomes ilustres que estiveram presentes ao casamento. Coelho Netto faleceu em 28 de novembro de 1934, no Rio de Janeiro, três anos depois da morte de sua esposa, Dª Gaby. A ausência da mulher “aniquilou-o completamente, tornando-o indiferente a tudo”, diz seu filho, Paulo Coelho Netto, autor de um estudo magistral sobre o próprio pai, intitulado “Imagem de Uma Vida”. Coelho Netto, segundo relaciona seu filho Paulo, escreveu e publicou 130 livros. As cerca de 8.000 crônicas que publicou em jornais e revistas daria para outros 200 volumes. Outros 100 livros poderiam ser feitos com o material de suas improvisações. Teve semana de, em São Luís, pronunciar 64 discursos; e, em São Paulo, em 1921, na cidade boiadeira de Barretos, o maranhense improvisou 31 discursos e uma conferência no espaço de 60 horas. O homem era polígrafo, escrevia de tudo, sobre tudo, no ABC da literatura: apólogo, comédia, conferência, conto, discurso, drama, fábula, história, novela, pastoral, poesia, romance. Tinha ano de publicar 11 livros, quase um por mês! E foi pai de 14 filhos, dos quais oito viu morrer, além da esposa. Paulo Coelho Netto, filho que, pelo que escrevia, devia lhe devotar verdadeira adoração, calcula que Coelho Netto escreveu cerca de 21.000 páginas e poderia ter chegado a algo entre 75.000 e 80.000 páginas. De Coelho Netto disse um dia Humberto de Campos, outro grande escritor maranhense: “O senhor Coelho Netto não é um autor; é uma Literatura”. Tanto que, em 43 anos de produção, de 1891 a 1934, foi publicado um total ao redor de 600.000 volumes das obras de Coelho Netto, ou cerca de 14.000 volumes por ano, no cálculo do filho Paulo. É como se todo santo dia, incluindo-se sábados, domingos e feriados, perto de 40 exemplares de livros de Coelho Netto saíssem da gráfica, durante 43 anos! Contagens feitas a partir de seus textos apontam-no como o escritor de mais rico vocabulário. Lembro-me de que li em algum lugar que, enquanto o comum dos mortais nasce, vive e morre utilizando de 2.000 a 4.000 palavras, Coelho Netto já teria chegado às 20.000. Esse seu estilo rico -- Brito Broca anota: “opulento e luxuriante” -- contribuiu para uma das piores campanhas de degradação a um intelectual brasileiro ainda em vida. Isso tudo e mais a morte da mulher foram desanimando o espírito e afinando o corpo do “Último dos Helenos” (como Netto se audenominou). Ao morrer, não pesava mais do que 40 quilos. Como sempre, em relação a um grande escritor, sua obra, com certeza, pesava mais. É desse gigante da literatura brasileira, ainda por ressuscitar, que uma amiga minha, escritora, dramaturga, pesquisadora, moradora no Rio de Janeiro, estava a procurar-lhe os herdeiros, para tratar de assuntos relacionados a direitos autorais, de vez que a obra de Coelho Netto, em termos legais, ainda não havia passado ao domínio público. Sabendo-me conterrâneo caxiense de Coelho Netto, pediu-me, em 2012, ajuda para saber de um herdeiro, parente, familiar ou equivalente, com quem pudesse tratar sobre uma possível autorização para inclusão de um poema do maranhense em uma obra de referência que abarcará os 500 anos da poesia brasileira.
À primeira vista, parecia-me simples. Recomendei a ela que procurasse a Nova Fronteira, editora que comprou o editora José Aguillar (ou Nova Aguillar), que publicara em 1958 uma seleta da farta obra coelhonettiana. Com certeza, na editora teriam as pessoas de contato. Mas a editora disse não ter os direitos autorais dos poetas que publicou. Segundo a editora, o poeta Manoel Bandeira era quem cuidava disso. Não desisti, e menos de uma semana depois tentei com diversas pessoas. Em todas elas o desconhecimento em relação aos herdeiros e familiares de Coelho Netto. Portanto, há 16 anos, em 2002, assumi essa incumbência de uma amiga escritora e autora de novelas do Rio que, sabendo-me maranhense e, mais ainda, da cidade do grande escritor (Caxias), pediu-me para pesquisar e localizar algum descendente de Coelho Netto, para fins de direitos autorais. Sobre essa busca a Coelho Netto escrevi na época o texto a seguir, republicado com atualizações/alterações. (EDMILSON SANCHES) ===== PROCURA-SE COELHO NETTO Na busca de notícias de familiares e herdeiros do escritor Coelho Netto, conversei com o maranhense (de Brejo) Tobias Pinheiro, no Rio de Janeiro. Tobias, à época o rijo jornalista e escritor setentão, que vive há décadas no Rio de Janeiro, ele e sua mulher, dona Ozita (que certa vez, em seu apartamento, na Barra da Tijuca, me brindou com um prato de favas, no jantar. Parece que ela adivinhava que eu gostava de favas.) Tobias é também um polígrafo, uma enciclopédia viva, uma memória admirável. Disse-me que teve contatos com Violeta, irmã de Coelho Netto, e dona Zita, filha, esta que congregava na mesma igreja da mulher dele, Tobias. Mas, melancolicamente, Tobias Pinheiro disse-me que não teve mais contatos com eventuais descendentes ou familiares do "Último dos Helenos". Informou que os familiares de Coelho Netto moravam em Laranjeiras, lá mesmo na capital carioca. Falei com outro grande escritor maranhense, pesquisador de nomeada, autor de obra monumental sobre Gonçalves Dias -- Jomar Moraes, na época presidente da Academia Maranhense de Letras. Mas, apesar da boa-vontade, Jomar também não tinha mais elementos. Foi aí que me lembrei de Josué Montello e também de José Louzeiro, ambos grandes escritores maranhenses que vivem no Rio. Em um final de agosto, pouco depois do meio-dia, conversei longamente com o Josué Montello, depois de, na noite da véspera, eu ter incomodado dona Ivone, sua esposa, que lamentou o fato de seu marido já ter se recolhido mais cedo que de costume, em função de uma solenidade da qual ele viera, muito cansado, como é de seu direito natural estar (Josué de Sousa Montello, maranhense nascido em São Luís em 21 de agosto de 1917, faleceu no Rio de Janeiro, em 15 de março de 2006). Montello já superara a sesquipedálica obra de Coelho Netto: igualmente polígrafo, escreveu mais livros e -disse-me – tinha pelos menos uns cinco na boca do forno, para impressão, e outros já desenhados na cabeça. Mas Josué Montello, que tanto sabia de coisas e loisas do mundo intelectual (como o registram seus diversos "Diários") não sabia de familiares de Coelho Netto. Disse que Coelho Netto se afastou muito da Academia; que a obra de Coelho Netto ficara em silêncio depois da morte do autor; que o editor Ênio Silveira (da Civilização Brasileira) reeditou dois títulos de Coelho Netto, mas não houve repercussão; que tanto o Paulo Coelho Netto (que era quem cuidava da obra do pai) e uma filha ou familiar, que era cantora (deve ter sido a filha Violeta Coelho Netto), morreram... Enfim, não teve mais notícias de herdeiros do escritor caxiense. Antes de conversar com Josué Montello, eu havia falado com dona Zezé, da secretaria da Academia Brasileira de Letras. Disse-me ela que, depois que um acadêmico morre, normalmente cessa a movimentação administrativa em torno dele. Era o caso de Coelho Netto. Não havia registros de endereço(s) ou familiares. Restou-me continuar a procura, ou esperar. Tinha de descobrir alguém que fosse o responsável legal pelo espólio de Coelho Netto. Saberiam sobre isso o José Louzeiro e outras fontes, como o ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão, Jacques Medeiros, ex-presidente da Academia Caxiense de Letras (ACL)? O desembargador Arthur Almada Lima Filho, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias? O Rodrigo Otávio Baima Pereira, memorialista e arquivador-mor das coisas de Caixas? O poeta Renato Menezes, ex-secretário de Cultura de Caxias? O Wybson Carvalho, à época presidente da ACL? O Jorge Bastiani, o Jotônio Viana, além de outros representantes da velha guarda intelectual caxiense?
Coelho Netto constituiu família no Rio de Janeiro, para aonde foi aos 6 anos de idade e onde está enterrado, no cemitério São João Batista. Foi Coelho Netto quem disseminou o título de "Cidade Maravilhosa" para o Rio de Janeiro e, também, o nome de "Cidade Verde" para Teresina. Ainda tenho foto e lembrança da casa onde, em Caxias, nasceu Coelho Netto, local que de há muito é sede do Centro Artístico e Operário Caxiense, na rua Coelho Netto -- na verdade uma ruazinha, de poucos metros, um quarteirão só, bem no centro da cidade que é "Princesa do Sertão". Portanto, fui ao encalço dos familiares e herdeiros do escritor caxiense Henrique Maximiano Coelho Netto, o "Príncipe dos Prosadores Brasileiros". Eu sabia que seus descendentes não poderiam ter desaparecidos. (CONTINUA) EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br
NAURO MACHADO EDMILSON SANCHES
Há três anos, em 28/11/2015, a Poesia maranhense e universal perdeu um Poeta maranhense e universal. Na madrugada daquele dia, um sábado, Nauro Diniz Machado morreu. Por mais que digam que poetas não morrem, isso é só... uma liberdade poética. Poetas morrem, sim, embora não morra a poesia de cada um, poesia que, contrariamente, pode até se tornar mais vívida. Nauro Machado completara em 2015 seus exatos 80 anos de nascimento (em São Luís, dia 02 de agosto de 1935). Se sua poesia era universal, o poeta era provinciano, isto é, gostava de ficar, de permanecer em sua cidade natal, dela só se afastando para raras incursões fora do estado. Desde a década de 1970 que conheço Nauro. Conheci-o por intermédio do jornalista e escritor teresinensecaxiense Vítor Gonçalves Neto. Depois, em Caxias, Imperatriz e São Luís encontrei-o em momentos fortuitos. Apenas uma vez combinamos um encontro, um almoço, momento que juntos partilhamos em Imperatriz. Tenho e mantenho dele boa imagem como pessoa, agradável e sem "intelectualismos" nas conversas que (man)tivemos, bem humorado, apesar da gravidade do rosto nas fotos. Chego a dizer que, pelo menos nos momentos comuns que dividimos, Nauro Machado era um sujeito muito simples. Claro que, aqui e acolá, se a conversa descambava para algo mais, digamos, sofisticado em termos de Literatura, ali estava o literato à altura. Sua obra, então, nem se fala -- pois mentes mais competentes dela já falaram e vêm falando, analisando, avaliando... com as melhores notas. Se Nauro era ou parecia ser um sujeito comum, sua obra, não. Nauro, filho de "seu" Torquato e dona Maria de Lourdes, marido de Arlete (escritora de ótimas obras), homem versado nas Artes e na Filosofia, partiu há três anos para o desvelamento do mistério pós-morte. Em verso não metrificado, Nauro media-se a si mesmo, ao dizer que estava ocupando... ... "o espaço que não é meu, mas do universo",... ..."espaço do tamanho do meu corpo aqui, enchendo inúteis quilos de um metro e setenta e dois centímetros [...]". Nesse poema "do ofício", Nauro menciona aqueles que o... ..."mandam pro inferno, se inferno houvesse pior que este inumano existir burocrático". Também ouve ou identifica"o escárnio da minha província" e vaticina (pois que é um vate...) que... ..."o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada". Liberdades poéticas e sensibilidades literárias à parte, claro que Nauro Machado era, com Ferreira Gullar e José Salgado Maranhão, a grande referência maranhense contemporânea na difícil arte da grande "ars poetica". Claro que seu espaço ia além, muito além, dos autocentimetrados 172 centímetros. Claro que o inferno não é uma escolha nem lugar para onde se mande, se ele existir -- como o verso nauriano se permitiu duvidar. Claro que não há escárnio -- só ex-carne. E claro que o mundo e a Vida continuarão sem Nauro -- pois é do mundo e da Vida continuarem, ainda que sem um ser que sabia observá-los,... ...sabia absorvê-los... ...e sabia (re)pintá-los com originais pinceladas de letras. edmilsonsanches@uol.com.br
SALGADO MARANHÃO, 65
EDMILSON SANCHES José Salgado Maranhão continua recebendo mensagens de todo o país por seu 65º aniversário nesta terçafeira, 13 de novembro. Sua página no Facebook mostra o carinho de seus leitores, amigos e conterrâneos. * Há quatro anos, em 2014, Salgado Maranhão esteve todo o dia 8 de novembro em Caxias, sua terra natal, como convidado para o 1º Sarau Literário "Na Pele da Palavra". Junto com o jornalista Jorge Eugênio Gonçalves, estive na estação rodoviária caxiense e recebi o grande poeta. Hospedou-se, por minha indicação, no tradicional Excelsior Hotel, ali ao lado da Praça Gonçalves Dias, no centro da cidade. Juntos (mas o convidado era ele), palestramos no auditório do Memorial da Balaiada, no histórico Morro do Alecrim, para dezenas e dezenas de estudantes de escola pública, a convite da professora Ana Lúcia Ana Lucia Gonçalves. Éramos ali dois caxienses que, quando nascemos, reuniam, em princípio, todas as précondições para nos dar mal na vida: nascemos pobres, negros, no interior do Maranhão / do Nordeste. Mas o "casulo" que aparentemente nos apertava e segregava foi o mesmo que nos fez robustos, vigorosos, pelo esforço que empenhamos para sair dele e ir (para) longe. E Salgado Maranhão foi longe. Bem longe. Em livro e pessoa. Em verso e versão/tradução. Todo prosa -mas, sobretudo, todo poesia. Foi (e continua indo) pelo mundo. Só nos Estados Unidos, em 2012, a convite, o caxiense Salgado Maranhão (per)correu pelo menos 20 mil quilômetros e visitou e palestrou em 52 universidades exigentes e superorganizadas universidades americanas. Já está lá de novo, neste 2018. Salgado Maranhão tornou-se “escritor de uma literatura”, não apenas “escritor de uma língua”, de que nos fala o também maranhense Josué Montello em seu “Diário da Tarde”. Em Caxias, naquele novembro de 2014, Salgado Maranhão foi perto. Bem perto. Juntos re/buscamos ruas e nestas ruas buscamos lugares e casas dantanho imóveis em suas lembranças crianças... mas (trans)mudados,
(trans)feridos pelo amor ao agora e desamor ao (e)terno. O poeta não encontrou o que procurava e que se encontra permanente e indelevelmente em sua memória doutrora. Caxias, confirma-se, está bem presente em Salgado Maranhão. Naquele novembro de 2014, às vésperas do aniversário do filho, a cidade-mãe teve presente o filho. Em tempo de aniversário, um e outro se presenteiam. Parabéns para eles. Parabéns para nós. EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br ============= Abaixo, texto que escrevi na visita de Salgado Maranhão a Caxias, em 2013. O FILHO PRODÍGIO VOLTA À TERRA Há o filho pródigo e há o filho prodígio. Um dissipa. O outro, condensa. Um é desalento. O outro, puro talento. Na quarta-feira, dia 09/10/2013, um filho prodígio do Maranhão voltou à terra onde nasceu. José Salgado Santos, nacional e internacionalmente conhecido como Salgado Maranhão, poeta, letrista e jornalista, retornou a Caxias, sua terra natal, onde foi homenageado com diploma de honra ao mérito pelo Espaço Cultural Gonçalves Dias (ECGD). Recebi convite pessoal e escrito da socióloga, pesquisadora, escritora, poetisa, artista plástica e fotógrafa Ana Maria Felix Garjan, que, com a família, à frente seu pai, o Sr. Francisco Félix Costa, mantém em Caxias o ECGD, a Livraria & Cia. do Livro Azul e o Núcleo Artforum Brasil XXI. SALGADO MARANHÃO - Salgado Maranhão recoloca Caxias no cenário nacional da Poesia e reafirma o talento maranhense na Literatura. É considerado um dos principais poetas do Brasil, ao lado do também maranhense Ferreira Gullar. Já ganhou o Prêmio Jabuti, um dos mais respeitados do país. Com Salgado Maranhão no cenário nacional e internacional da excelência na Arte Poética, Caxias deixa de ter apenas em séculos passados suas referências maiores na Literatura e na Cultura em geral -- entre as quais Gonçalves Dias (o autor da “Canção do Exílio”), ...Coelho Netto (o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”), ...César Marques (médico e historiador), ...Vespasiano Ramos (poeta), ...Rodrigues Marques (contista e romancista), ...João Mendes de Almeida (advogado, redator da Lei do Ventre Livre), ...Ubirajara Fidalgo (ator, produtor e diretor teatral, introdutor do Teatro Profissional do Negro no Brasil e personagem de destaque no movimento negro brasileiro, considerado o primeiro dramaturgo negro do Brasil), ...Aderson Ferro (odontólogo e escritor, considerado “Glória da Odontologia Brasileira”), ...Teófilo Dias (principal nome do Parnasianismo no Brasil, advogado, jornalista e escritor, sobrinho de Gonçalves Dias), ...Raimundo Teixeira Mendes (filósofo e matemático, autor da atual bandeira do Brasil)... Todos caxienses de relevância no Brasil, embora diversos deles não serem conhecidos ou, especialmente, reconhecidos em sua própria cidade natal. A homenagem caxiense a Salgado Maranhão chega às vésperas de o grande poeta caxiense, maranhense e brasileiro completar seus 60 anos de vida, a dar-se em 13 de novembro (1953), 40 anos de sua ida para o Rio de Janeiro, em 1973, onde mora até hoje, e 35 anos de estreia em livro, na antologia “Ebulição da Escrivatura”.
Como tantas pessoas de talento, Salgado Maranhão apresenta singularidades em sua vida inicial. Nasceu em um povoado de Caxias, Cana Brava das Moças. Trabalhou na roça. Só quando contava os 15 anos começou a ser alfabetizado, na vizinha Teresina, capital do Piauí, para onde a família se mudara. Em Teresina conheceu Torquato Neto, grande expressão da poesia e da música brasileira, que lhe sugeriu o nome literário e artístico “Salgado Maranhão”. Além dos poemas que escreve, também têm tido excepcional acolhida as letras que compõe, musicadas e cantadas por grandes nomes da música popular brasileira. Entre livros que já escreveu e publicou listem-se “Aboio ou a Saga do Nordestino em Busca da Terra Prometida” (cordel, 1984); “Os Punhos da Serpente” (1989); “Palávora” (1985); “O Beijo da Fera” (1996); “Mural de Ventos” (1998, que ganhou o Prêmio Jabuti em 1999); “Sol Sanguíneo” (2002); “Solo de Gaveta” (2005); “A Pelagem da Tigra” (2009); e a reunião de livros “A Cor da Palavra” (2010). Que a homenagem caxiense a Salgado Maranhão seja tanto um reconhecimento dos seus conterrâneos quanto um estímulo para todos os caxienses e maranhenses em cujo espírito pulsa a arte de escrever com arte -- mister e mistério a que Salgado Maranhão se dedica e expressa tão bem em letras. Parabéns Salgado Maranhão. Parabéns, Caxias, Maranhão. EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br _____ Ilustração: Salgado Maranhão, em charge de Rodriguez.
ESTE MÊS DE OUTUBRO A ALL DESENVOLVERÁ A SEGUINTE PROGRAMAÇÃO:
1 - Assembléia Geral Ordinária para tratar das eleições de novos membros, com data a ser apresentada nesta semana; 2 - Visita a última morada do ex-governador Benedito Leite, no Gavião, no dia 04 de outubro. Trabalho em parceria com a Escola Modelo e com a administração da necrópole. A atividade contará com músicos, artistas cênicos e com uma pauta diversificada. A visita é uma tradição cultivada no século passado, mas que se perdeu com o tempo. O dia 04 de outubro é o dia de nascimento de Benedito Leite que, quando governador (1906 a 1908), pressionado para fechar a Escola Modelo disse que preferia cortar a própria mão a assinar documento fechando a Escola; 3 - Vinda da advogada, Dra Andreya Mendes de Almeida Navarro, descendente de Cândido Mendes de Almeida. Ela participará conosco de extensa agenda no estado, com a seguinte programação: Dia 18 - chegada da palestrante a São Luís; Dia 19 - palestra na AMEI (ALL / IHGM); Dia 20 - palestra na FLIM - Feira do livro de Itapecuru Mirim; Dia 21 - visita a cidade de Brejo com a realização de uma palestra. Obs.1: Cândido Mendes é natural do município de Brejo; Obs.2: a ida a Brejo depende da confirmação da Academia Brejense de Letras; Dia 22 - palestra na OAB/MA, em São Luís Dia 23 - retorno da palestrante ao Rio de Janeiro; A vinda da conferencista ao Maranhão é uma realização da Academia Ludovicense de Letras, em parceria com o IHGM e com a OAB/MA, sendo sugestão da confreira vice-presidente Ana Luiza Almeida Ferro.
NA BERLINDA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 13 – OUTUBRO - 2018 MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER INDÍCIOS DE CAPOEIRAGEM NO CEARÁ MARCO ESTRELA JOSÉ DE , UM DRIBLADOR MARANHENSE. INTRODUÇÃO DO ESPORTE MODERNO EM MARANHÃO: Novos Apontamentos para sua História – 1907/1910 ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) RUGBY ATLAS DO ESPORTE NO CEARÁ - CAPOEIRAGEM LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA MIZINHO LUIS GENEROSO PEDRO NEGÃO MARINHO CACÁ ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DAS ARTES NAVAIS NO MARANHÃO O MUSEU DA VILA VELHA DE VINHAIS NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE ELITISMO DO IHGM GUARNICÊ – UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO? ESPORTE & LITERATURA - MARANHÃO O PENSAMENTO DO JORGE BENTO DIA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL DE QUEM EU GOSTO… CORPO PERFORMATIVO O MILAGRE DO CCDEFPLP 2018 SER PROFESSOR SE FOSSE PARDAL… DA IDEIA DA ‘DEMOCRACIA’
REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 14 – NOVEMBRO - 2018 OS ESCOLARES E OS JOGOS/ESPORTES NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: A HISTÓRIA QUE (AINDA) NÃO FOI CONTADA - (através de depoimentos daqueles que a construíram) – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA CLUBE RECREATIVO TOCANTINS = CENÁRIOS E CENAS DE UMA HISTÓRIA DE 55 ANOS - EDMILSON SANCHES PARAIBANENSE É CAMPEÃO EM SALTO DOS JIF’s ETAPA NORTE NORDESTE – LÉO LASAN AUTOMOBILISMO IMPERATRIZENSE COMPLETA 31 ANOS - Edmilson Sanches CAPOEIRAS PRIMITIVAZ – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) CAPOEIRAS EM ALAGOAS – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA MESTRE NELSON (CNARINHO) CONTRAMESTRE DIACO CONTRAMESTRE REGINALDO CONTRAMESTRE LEITÃO MESTRE MANUEL MESTRE NILTINHO CONTRAMESTRE BOCUDA CONTRAMESTRE MÁRCIO MULATO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES ARTIGOS PUBLICADOS NO JORNAL DO CAPOEIRA PESQUISA: A CAPOEIRA NA ECONOMIA ARTUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ COMECEMOS POR HABERMAS E THOMAS KUHN - MANUEL SÉRGIO CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JIU-JITSU, JUJUTSU OU JUDÔ – O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS? NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE
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COMMONS – O QUE A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA TEM COM ISSO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ BENVINDOS A MIGANVILLE O PENSAMENTO DO JORGE BENTO CINCO TESES SOBRE A EDUCAÇÃO PRAXES ACADÉMICAS: A FORÇA DA TRADIÇÃO DESAFIO AOS PROFESSORES E ESTUDANTES AOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E SECUNDÁRIO AS PROFISSÕES INFERNAIS – JOSÉ PACHECO PEREIRA
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COMO EM 13 ANOS D. JOÃO VI REINVENTOU O BRASIL - LEONÍDIO PAULO FERREIRA
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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 15 – DEZEMBRO - 2018 MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER
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“TRIBUTO AO MESTRE SAPO” - LAÉRCIO ELIAS PEREIRA
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A FORMAÇÃO TÉCNICA E O SEU PAPEL NO MERCADO TURÍSTICO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ GESTÃO DO LAZER E EVENTOS: uma nova habilitação a ser oferecida pelo CEFET-MA - Leopoldo Gil Dulcio Vaz A FORMAÇÃO TÉCNICA E O SEU PAPEL NO MERCADO TURÍSTICO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAZER, HOSPITALIDADE, IDENTIDADES E CULTURAS REGIONAIS E LOCAIS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A TRAVESSIA NO EXISTENCIAL - JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) COM A PALAVRA, OS MESTRES OU A PALAVRA DOS MESTRES LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA GENEALOGIA DE MESTRE PATINHO MESTRE PEZÃO MESTRE SENA MESTRE AÇOUGUEIRO MESTRE DE PAULA MESTRE RAIMUNDÃO MESTRE ZUMBI BAHIA MESTRE BAMBA (DO MARANHÃO) ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES PUNGA DOS HOMENS – ALGUMAS (NOVAS) CONSIDERAÇÕES - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ESTUDO REVELA O QUE BRASILEIRO FAZ NO TEMPO LIVRE E COMO ESCOLARIDADE INFLUENCIA - Por Ivanir Ferreira GENERAL FRAME OF THE #YOG2018 - YOUTH OLYMPIC GAMES - BUENOS AIRES 2018 - Leonardo Mataruna. ESPORTES E LAZER E QUALIDADE DE VIDA - Leopoldo Gil Dulcio Vaz
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FASHION LAW NO BRASIL: COMO O DIREITO PROTEGE A MODA NACIONAL - THAÍS ARAGÃO DA ROCHA UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864 - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE
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A GERAÇÃO DE 45 – A DA MOVELARIA GUANABARA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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LUSOFONIA JOSÉ MANUEL CONSTANTINO – PERFIL & (ALGUMAS) OBRAS & PENSAMENTO JOSÉ MANUEL CONSTANTINO DESPORTO – UM MERCADO DE FUTURO E CRESCIMENTO ECONÓMICO A COMPREENSÃO ANTROPOLÓGICA DO DESPORTO - MANUEL SÉRGIO A MODA DA ÉTICA - JOSÉ MANUEL CONSTANTINO O PENSAMENTO DO JORGE BENTO PARABÉNS A TODOS VÓS DA INVOLUÇÃO DA DEMOCRACIA NA EUROPA E NO BRASIL
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CONSELHOS DE SUPREMA UTILIDADE DOS MEUS FRACASSOS MILAGRES IMPROVÁVEIS NA VIDA DE UM ANDARILHO DOS MITOS HORA DO CANTO E DA POESIA RADIOGRAFIA DA CONTEMPORANEIDADE REAFIRMAÇÃO DE PRINCÍPIOS
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JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ20
Se procura estabelecer quando teve inicio a prática do Judô em São Luís do Maranhão, pois é tida a década de 1960, introduzido família Leite, como o inicio dessa modalidade no Maranhão. Encontramos indícios de que desde o inicio dos anos 1900 já era praticado. O nome jiu-jitsu aparece em inúmeras reportagens publicadas, a partir do ano de 1908, provavelmente introduzida por Aluísio de Azevedo no âmbito do Fabril Atletic Club, fundado em 1907, assim como em outros clubes esportivos fundados por essa época. A questão que se apresenta é: o que foi introduzido? jiu-jitsu? jujutsu? Ou judô kodokan? O Konde Koma passa por São Luís em 1915, fazendo inúmeras apresentações, por cerca de três meses, antes de seguir e se estabelecer em Belém; era praticante do judo kodokan... Durval Paraíso, o mais antigo judoca maranhense, o pratica desde a década de 1930, participando de vários combates de 'luta livre'; encontramos referencias à prática do judô na década de 1940, assim como inúmeras competições nos anos 1950, inclusive como disciplina em Curso Livre de Educação Física.
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Professor de Educação Física (aposentado) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (aposentado); Mestre em Ciência da Informação; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; membro fundador da Academia Ludovicense de Letras. vazleopoldo@hotmail.com
CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ21
Resumo: Existe uma Capoeira genuinamente maranhense? Ante esta pergunta a resposta é: sim! Baseado em pesquisas que resgatam a memória da capoeiragem desenvolvida no Maranhão, e em depoimentos dos Mestres Capoeiras maranhenses que atuam no Estado, com a construção do Álbum dos Mestres Capoeiras, durante o desenvolvimento do Curso de Formação de Mestres Capoeiras, ministrado pela Universidade Federal do Maranhão no ano de 2017, e a disciplina História da Capoeira, foi possível estabelecer a singularidade da capoeiragem praticada no Maranhão – existente desde a década de 1820, conforme registros, e consolidada após a chegada de Mestre Sapo, e seus discípulos, dentre os quais Mestre Patinho, e o movimento de renovação ocorrido após a morte de Sapo, nos anos 1980. Com base nos registros históricos e na memória oral e história de vida dos mestres atuantes, foi possível estabelecer a existência de uma capoeira singular, única, praticada no estado do Maranhão, que se convencionou de denominar Capoeiragem Tradicional Maranhense.
Palavras-chave: CAPOEIRA; MEMÓRIA/HISTÓRIA 21
CAPOEIRAGEM
TRADICIONAL
MARANHENSE.
Licenciado em Educação Física, Especialista em Lazer e Recreação; Mestre em Ciência da Informação; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sócio efetivo; Academia Ludovicense de Letras, sócio fundador; vazleopoldo@hotmail.com
DANIEL BLUME Prêmio Talentos Helvéticos, no dia 30.04.2019, em Genebra, na Suíça, oportunidade em que será lançado o meu “Resposta ao Terno” em italiano e francês. Dedico o êxito à minha mãe e professora Sonia Almeida! Estaremos lá!
O ESTADO MA, 13/OUTUBRO/2018 Nossos “Évora” e “Portuguesa” publicados na Antologia “A Vida em Poesia” do Festival de Poesia de Lisboa. Muito obrigado!
O IMPARCIAL – ELITE – ED. 28/11/2018
ROQUE PIRES MACATRÃO LANÇAMENTO – AMEI – 18/10 LANÇAMENTO FLIM – 19/20 LANÇAMENTO BREJO – 20/20
CERES COSTA FERNANDES REINAUGURAÇÃO DA BIBLIOTECA NA ESCOLA MONICA VALE
No dia 23 de novembro, às 5 h, na ESMAN, estarei conversando com os amigos sobre o tema ARTE/LOUCURA/SURREALISMO. Espero a presença de vocês.
ANTONIO NOBERTO Antonio Noberto Inauguração do Centro de Diplomação DELF DALF no IFMA.... evento ocorrido na sexta-feira, 09 de novembro de 2018, no Renascença, em São Luís-MA, com a presença de uma representante da Embaixada da França. O DELF e o DALF são diplomas de proficiência da língua francesa.
Lançamento do livro França Equinocial, capital São Luís. Escritor: Antônio Noberto, presidente da Academia Ludovicense de Letras. Associação Maranhense de Escritores Independentes AMEI. Shopping São Luís. São Luís do Maranhão.
Ultimo passeio musicado do ano no Gavião será neste sábado (24) Às 8h45 da manhã deste sábado, dia 24, realizaremos o último passeio musicado do ano no Gavião. O Cemitour é um passeio diferenciado, que permite aos participantes conhecer um pouco mais da história da cidade e do estado a partir das personalidades inumadas no espaço cemiterial, a exemplo de Aluísio Azevedo, Sousândrade, Domingos Vieira Filho, Bandeira Tribuzzi, Coxinho, Maria Aragão, Joãozinho Trinta, e tantos outros. Obs.: o investimento é de R$ 10,00, que servirá para pagamento dos músicos. Participe.
Cerimônia de entrega da MEDALHA DO MÉRITO SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA, concedida pela Câmara Municipal de São Luís através do gabinete do Presidente, vereador Osmar Gomes Filho. Evento realizado na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 2018. https://www.blogsoestado.com/…/osmar-homenageia-personalid…/
ANTONIO AILTON Tenho um capítulo nesta fantástica reunião de artigos sobre escrita criativa que está sendo lançada hoje em Recife. O encontro hoje conta com a participação do honorável professor Lourival Holanda, falando sobre o fogo e a literatura. Não pude ir festejar esse lançamento, mas digamos que estou presente em espírito e em verdade, na mesma alegria. Parabéns a Patricia Tenório pela organização.
ESPAÇOS VIVIDOS, ERRÂNCIAS E ATRAVESSAMENTOS NA ESCRITURA POÉTICA– UM QUASE RELATO DE EXPERIÊNCIA
ANTONIO AÍLTON Era aceito lamber a facão a face alheia. Esculpir a barbárie a frio com a rubrica do abismo. Recolho (agora) essa prímula seca como se sonhara. Despovoado daqueles pré-humanos que, decerto, ainda são-me. Mesmo depois da pátina que me veste a moderno. Mesmo após o Goethe à luz da lamparina. Salgado Maranhão (2013, p. 29.) Volto a Comala Um mulo pasta nos pavilhões do silêncio Trago a criança que não está ali entre as salamandras Um saco nas costas Derramo os brinquedos entre as libélulas "Mãe, olha o Lava-cu!" aponta o bêbado minha irmãzinha Meu pai deve ser o breve vaga-lume que guardei na caixinha Mamãe está morta da missa de 7 dias só sobram sinais wireless Recordação trazendo a fuligem vila dos confins Puxada a embira da memória mínima solta os fiapos no entardecer * [...] Antonio Aílton (2015, p. 57)
RUMO O espaço e sua experiência, como lugar do vivido, de atravessamentos e reminiscências estarão, de um modo ou de outro, bruxuleando em nosso ato criativo e ressoando na linguagem, a qual, por si mesma, também engendra suas próprias disposições. São vivências, habitações, recordações, imaginários, enfrentamentos e afetos evocados que, fluindo d(n)a experiência de um "ato criador", configurante, refluem também em espessuras de sentido a cada experiência de leitura, nas evocações ou recriações do leitor. Estudos recentes sobre a questão do espaço na literatura e do espaço literário – termo de semântica plural – têm se concentrado bastante nos aspectos atinentes à própria escritura do texto literário. Sustêm-se na lógica ou na semiótica da linguagem como disposição geradora de significações e estratégias formais no texto, na orquestração do poema. As imagens das constelações-signos que descambam na página, e de palavras-objetos que se agregam ou desagregam, explodem e se fragmentam em palavras, esgarçamentos, lances e danças, recortes, microrritmos e disritmias na página, são bem conhecidas. Mallarmé: mestre maior. Concretismo: razão semioespacial do poema, plastipalavra. E um sem-número de (re)invenções. Tais estudos podem ser entendidos, e complementam-se, a partir da visão da obra como espaço, a exemplo de abordagens como O espaço literário, de Maurice Blanchot (2011[1955]), ou pela metaobra, concebida por Mallarmé como "o Livro", o grande livro sempre irrealizável, sempre vindouro, aglutinador de todos os livros, conforme o mesmo Blanchot (2005[1959]) tratou em O livro por vir. Nessa abordagem, a linguagem pretende seu próprio mundo, seu próprio espaço, e se manifesta como seu próprio enigma. Embora não dispense esse olhar colocado sobre lances e constituições da linguagem no texto, o rumo desta conversa é outro: invocar a presença dos espaços enquanto lugares de experiência, cicatrizes e errâncias, atravessamentos e retenções patêmico-afetivas do vivido; travessias, dispersões. A proposta é, desse modo, comentar sobre diversas concepções desse espaço na configuração do texto poético e refletir, a modo de (auto)compreensão, sobre a experiência dos espaços em alguns dos meus próprios textos, em correlação com a forma como vêm sendo constituídos representativamente e fecundado essa experiência na escrita poética contemporânea. Nessa experiência da escritura como liricidade, estamos lidando com envolvimentos nuançados entre o íntimo e a exterioridade, forças patêmicas e afetivas que constituirão horizontes e entrelaçamentos entre poesia, linguagem e mundo. É preciso, portanto, levarmos em conta que estamos diante de disposições e paixões, razões e expectativas entrelaçadas em tecidos, espessuras. A riqueza de aspectos e constituição da experiência do espaço no poema é, certamente, infinda, impossível de encaixotar num discurso, numa perspectiva. Tento manter esta discussão mais ou menos aberta, para que caiba nela, sem alarde, o mundo das nossas vivências e os espaços da linguagem. Surge, nessa compreensão, a possibilidade de evocarmos também uma noção de espaço conjuntivo na escritura lírica. Ele pode aqui ser evocado dentro da noção de "espaço transicional", isto é, "espaço potencial", como formulada por D. W. Winnicott (1971)22, e também utilizada por Paul Zumthor (2000) em relação ao espaço da performace. Nessa concepção, cada instância, da realidade e da virtualidade imaginativa, afirma-se ao mesmo tempo precária e fissurada em relação à outra, sendo muito válido pensar, portanto, na perspectiva do jogo (ludos). Há um jogo em campo, mas nem sempre esse jogo é de “faz de conta” – e daí o jogo entre o real e o ficcional precariamente estabelecidos em muito da criação poética, por exemplo, colocando-se no entre-lugar entre realidade (empírica, histórica) e ficção. Pactua-se aí, portanto, uma "co-incidência", "co-fluência" e "co(m)-fusão" de regimes, perpectivas, afetividades e sentidos diversos num mesmo ato, no texto e suas paisagens, mais que uma "costura" de partes autônomas ou semiautônomas. O lugar potencial instituído na experiência do pacto lírico, da sua escritura e da sua leitura, torna-se, por conseguinte um entre-lugar entre o mundo e seus espectros. É a partir dessa noção que pretendo trazer à cena a experiência do meu próprio trabalho, e suscitar caminhos de escrituras que porventura nos levem a refletir compreensivamente sobre o ato criativo. Há muitos autores que poderiam estar na pauta. Mas recorro à oportunidade deste ambiente de aclarar o próprio fazer – desconhecido, no geral –, começar pela a própria escrita. Eis o mote deste quase relato com cara de ensaio e tom de reflexão. Falar da obra pessoal é sempre ambivalente, e precisa ser encarado com cuidado. Porque ora pode adquirir um efeito de limitação entre os sentidos possíveis trazidos por outros olhares, ora pode passar do 22
Donald Woods Winnicott (1896-1974), médico psiquiatra, pediatra e psicanalista, fala da relação especular, lúdica e simbólica entre o bebê e a mãe (como “imagens que, relacionalmente, se confundem e se separam), e entre o bebê e os objetos.
ponto e resvalar para a autoapreciação monocórdica e hipervalorizante. No entanto, é claro que é possível refletir coerentemente sobre o próprio trabalho, de modo a termos uma fala enriquecedora para todos aqueles que se estão engajados em fazeres e experiências semelhantes. É o valor, por exemplo, dos relatos, das entrevistas, das confissões sobre o próprio trabalho, de incomensurável contribuição para quem busca os caminhos da escrita. Uma das coisas que mais validam a exposição reflexiva do próprio fazer e a busca de compreensão da própria experiência é justamente esse compartilhamento de dificuldade e descobertas que são percebidas como dificuldades, achados ou paixões comuns. Nada disso é estranho, nem aos procedimentos, nem à alma da Escrita Criativa. OLHARES Em Teorias do espaço literário, Luiz Alberto Brandão (2013) apresenta algumas das abordagens e olhares pelas quais têm sido vistas as relações entre espaço e literatura, ou espaço na literatura. Essas relações passaram por interrogações sobre a representação dos espaços da realidade (o espaço dado como categoria existente no universo extratextual); sobre esse espaço como forma de estruturação textual (procedimentos formais, simultaneidades, relações entre paisagens, imagens e linguagem); sobre o espaço como “visão” ou “lugar de fala”, ou seja, a experiência perceptiva e perspectival, o ponto de vista, sobre espaço visto e espaço vidente; e, finalmente, sobre espacialidade da linguagem verbal na literatura, enquanto composta de significantes e elementos estruturados. Hoje, conforme o autor, o conceito ganha relevância e importância, e as recentes indagações (desconstrucionistas, recepcionais, culturalistas) vinculam-no a um debate tanto filosófico quanto antropológico, colocando-o sobre três linhas de força, em grande parte imbricadas: semiótica, política e filosófico-antropológica. Entre tantos posicionamentos, cabe destacar também outra concepção, que não desatrela o espaço do tempo. Podemos falar, nesse caso, de uma espaçotemporalidade. Ou mesmo cronoespacialidade, termo, por sua vez, ainda bastante capenga para expressar as dimensões efetivas, acontecimentais, dessa relação. Isto porque o tempo também não tem feição apenas cronológica, mas também ontológica, experiencial (da experiência íntima do tempo), durativo, escoante. O que, afinal, nos importa mais nessa conjunção entre espaço e tempo é justamente compreender que tudo se estende e se aprofunda numa rede complexa de vivências e vazões, evocações e retenções, trânsitos e prospecções intercomunicantes, que culminam na experiência da escritura, de um lado, e da(s) leitura(s) do outro. Em termos práticos, a evocação ou a convocação do espaço carrega, em si, a sua feição temporal e afetiva, relacional. Cabe reconhecer, neste ponto, que tais questões não ocorrem de maneira “natural” no poema, principalmente no que diz respeito a sua escritura. O caminho da poesia desde o alto modernismo é o de sua precipitação para a racionalidade, para a construtividade e o objetivismo. Se isso não diz respeito a toda posição poética, os autores que pretendem certa respeitabilidade sobre o seu fazer falarão de trabalho, suor e lapidação, e até mesmo de uma engenharia do poema (hoje, talvez, em certas vertentes como a poesia visual, poderíamos falar de uma tecnologia do poema). Aquele que não vigia o correr da espontaneidade estará quase sempre fadado à pecha de praticar um “lirismo diarréico”23, portanto desprestigiado dentro da política da poesia – um terreno minado, afinal, que perpassa quase sempre pela estranha necessidade de muitos de precisarem se afirmar em certos pressupostos, de um e outro lado, cada um com fortes justificativas, quase sempre irreconciliáveis. Ainda bem que a poesia ultrapassa tudo isso, e vai brotando. No entanto, temos que nos perguntar sobre a medida da racionalidade e da política no poético, e de que modo tais pressupostos interferem na leitura dos espaços [no poético], pois nem tudo é, realmente, afetividade, evocação ou memória. Assim, a partir dessa problemática, ganha força a visão do espaço como construto, como representação crítica, consciente e orientada para a realização de um resultado final: uma posição que defende determinada visão de mundo. Caminhamos, por outro lado, no momento atual, para uma situação na qual, deliberadamente, o poema não deseja esquecer os “lugares de fala” de um sujeito histórico e identitário, os lugares de pertencimento como discurso vital ou pragmático. É a experiências da reivindicação e afirmação por via da 23
A palavra deriva da ironia de João Cabral de Melo Neto,como em O ferrageiro de Carmona: "[...]Dou-lhe aqui humilde receita/ao senhor que dizem ser poeta:/o ferro não deve fundir-se/nem deve a voz ter diarreia.”(João Cabral de Melo Neto. 1997[1987], p. 289)
palavra poética, buscando, por outro lado, não descair de sua potencialidade estética. Dessa forma, o entendimento do poético torna-se outro, e as concepções que exigem a suspensão das cronoespacialidades vividas, dos espaços extratextuais, em prol de uma territorialidade exclusiva da linguagem, mais claramente, de um lirismo como enigma e como pura exaltação da linguagem, muito provavelmente precisarão ser revistas – diante desse barulho do mundo. Sabemos, porém, que a grande poesia continua a dispensar conceitos e justificações. Essa face do poema como construto, precisa ser considerada, em sua cota de racionalidade, pela própria Escrita Criativa, na medida em que a escrita não está desprovida do conhecimento de um fazer,e de um saber-fazer (isto é: saber criar...). Há uma mobilização de paisagens e de um corpo de imagens no ato configurativo do poema que estão dentro de uma dimensão de consciência, direcionamento e crítica, quando não das opções instigadas pelas forças mobilizadoras dos afetos, das recordações e dos mais profundos imaginários prévios que vibram no “por em forma” da escritura. Não se trata de paisagens inscritas numa imitação, mas que estão entre reverberações, exclusões e diferenças. Nesse caso, distante de uma noção de espelhamento do real, mas de confronto e precarização da própria realidade, é preciso convocar, outra vez, aquela noção de espaço potencial antes referida, se pudermos acreditar, por um instante que seja, que nem tudo da poesia ou de sua escritura está sob controle, no ato criativo do demiurgo, no seu projeto – e que aquele que escreve, mesmo objetivamente, está atravessado por suas próprias experiências e disposições, seus discursos, imaginários, afetos e pulsões. Com isso, creio oportuno trazer o que já coloquei em outro texto, em relação à lida do poeta com o espaço: [...] O poeta parte de suas percepções, relações e conexões com o espaço real e, ao lidar com o mundo que o cerca enquanto espaço de vivências, configura no texto poético uma visão de espaço como realidade imagética própria e cabível ao seu projeto poético. Pode, assim, configurar esse espaço como feliz, amado ou aconchegante [...]. Mas também como sufocante ou opressor, espaço de lutas e engajamentos, de adequação ou inadequação, habitado ou desabitado, espaço desolador ou tenebroso, caótico, cosmológico e de amplidão etc., em confluência, divergência ou conflito com seu espaço próprio de vivências, [...] que implica em desejo, acomodação, ou repulsa. (SILVA, 2013, p. 4) Abertas essas frestas de compreensão, trago alguns textos a partir dos quais serão discutidos com maior especificidade tais processos e ocorrências, de como a experiência desses espaços de vivências – ou lugares que dão concretude e carnalidade à experiência do espaço – transfiguram-se em imagens, traços e reverberações que se tornam conjuntamente espaços do indizível, do universal, do sentido sorrateiro e do inominável que o poema pretende encarnar. Isto porque, como na diferenciação de Georges Poulet 24 entre “espaço” e “lugar”, os lugares no poema, mesmo por vezes nominalmente invocados, são lugares vacilantes no deslizamento da metáfora e da labilidade: são ou poderão ser, simultaneamente referidos e encaminhados para a universalidade do ser e da evocação memorial. São lançados, portanto numa imagem que se realiza como feixe de labilidades, fugacidades, possibilidades de leituras e digressões. Aí, nessa imagem constituída no poema, esse espaço-lugar é elevado à condição de entre-lugar, de lugar vazio e mesmo de não lugar. UMA EXPERIÊNCIA Neste tópico, em que pretendo tratar da experiência do espaço em minha escrita poética,para elucidála, comentarei brevemente sobre como tem sido tratado o espaço em muito da poesia contemporânea, justamente para expor alguns dos problemas que trago à tona. É fato que não somente a poesia, mas a arte contemporânea em geral (talvez possamos mesmo falar do “olhar contemporâneo”) coloca o espaço urbano, o lugar urbano como centro da referência estética e da discussão. E é fato também que eles se tornam nossas referências e legibilidades cotidianas, disponibilizadas num corpo de signos metafóricos, de linguagens e de imagens que podem povoar, configurar nossos escritos. Estamos, assim, diante da escrita da cidade e da cidade como escrita, alçada a um processo de metaforização e textualização: “símbolo capaz de exprimir a tensão entre racionalidade geométrica e o emaranhado das 24
Afirma esse autor: "O espaço é uma espécie de meio indeterminado onde os lugares erram, assim como os planetas no espaço cósmico. O movimento dos planetas, porém, é calculável. Mas como calcular o movimento de lugares errantes?"(POULET, 1992, p. 17-18)
existências humanas” (GOMES, 2008, p. 23) – esse papel da cidade-texto não se encontra muito próximo daquele da poesia conforme expus há pouco? Tal extensão de sentido da cidade, no entanto, em muitos casos pode ser prejudicada pelo risco do chavão, da redução (exemplo: asfalto, grafite, geometria) do autocentramento como metalinguagem e como volúpia do centro, a recusa do que lhe é diferente e, a partir daí, da pretensão de totalidade. Sua importância é legítima, é bem verdade, na medida em que ela, a cidade, é tanto o centro demográfico, político, econômico e de aglutinação cultural, bem como também se estende em redes de comunicação e territórios virtuais, para além dos limites da sua realidade factual. No entanto, na maioria das vezes, o que lhe é diferente, como o “inculto”, o camponês, o desprovido e o desplugado só lhe apetecem na medida em que ela possa apreender como curiosidade, exotismo e utilidade. Também precisamos estar atentos ao fato de que, assim como temos megacidades e culturas urbanas de referências, as dominantes culturais, a realidade brasileira mostra, em sua formação heterogênea, cidades mistas, coloniais e provincianas, cidades em que transitam lado a lado a carroça e a ferrari, cidades que reúnem bairros de sobradões que exalam cheiro de alho e pimenta, casas de ferragens, de um lado, e, de outro, bairros de arranha-céus envidraçados, em que a vida, as relações e as referências são completamente outras. Na minha experiência, principalmente nos meus dois últimos livros25, percebo que, em meio à exuberância do espaço da cidade, onde habito, e da sua anima urbis(esse sentimento, percepção, contemplação e exaltação da “alma da cidade”), essa questão do espaço veio tomando mais consciência e, sem excluí-lo, redimensionou-se noutro sentido. Os espaços contrastantes que tenho convocado são os lugares íntimos da origem, dos barrancos telúricos, dos caminhos velhos por entre raízes, charcos, lagartas e melões-de-são caetano... tais lugares entranhados e raízes são trazidos, na convivência e no confronto, em um corpo tocado, pela presença e pela deserção – pois surtando, repleto dos lugares da recordação e da reminiscência. Ou preenchido por vozes fantasmáticas e reverberantes (reminiscentes) que, no fundo, colocam-se como diferença, no olhar que desconjunta, espaçotemporalidade outra, outridade. Concebo que as reminiscências desses espaços outros em minha poesia, ao modo de evento ou advento do telúrico, não são colocadas como fuga, nem como instrumentação metafórica de um território ultrapassado “anterior” à corrente da urbe, com seus painéis eletrônicos e virtuais – todos, afinal, também ultrapassáveis. Nem como idealização nostálgica de um paraíso perdido. Não tenho a pretensão, também, de que seja aquele sertão do Guimarães Rosa ou o universo orgânico-primitivo de Manoel de Barros, como alguns muitas vezes enxergam, bocejadamente. Tampouco se trata de uma reserva linguística, de palavras que estão ali prontas para funcionarem como apliques e fazerem sacar o inusitado, numa imageria exótica. É, antes de tudo, um espaço encerrado que perambula e que arrasta confins e estranhamentos, locais por dentro, das diásporas encalacradas. Uma diáspora muda, que claramente não é prerrogativa única: recobre a voz de muitos, milhões talvez, imersos nessas mesmas trajetórias, cujos abismos escondidos podem ser descosturados pela voz da poesia. Sim, esta que é convocada para abrir as cascas das pátinas e acúmulos, conforme lembra Salgado Maranhão (2013, p. 29 – itálico nosso), na epígrafe deste texto: "[...] Despovoado daqueles pré-humanos que, decerto, ainda são-me". Por outro lado, também se trata da possibilidade de espaços que se impõem mais como um confronto (sem, necessariamente, afronta), na tentativa de fazer emergir através desses mundos que se entremeiam, entretecem, o paroxismo e revelação de uma realidade bem mais complexa do que a de certas faces autocentradas, quase midiáticas, quase publicitárias, de algumas escrituras do contemporâneo. Evidentemente a poesia não é uma coisa só. Seus horizontes são plurivocais, difusos, espessos. Talvez seja possível, com isso apontar também para outra questão apagada na escritura desses espaços, os quais são, afinal, também espaços de desconjunção, heterotopias: o fato de que muitos que a produzem são fruto de uma diáspora interna, uma diáspora provocada pelas próprias condições, políticas e circunstâncias deste país, que obriga a maioria dos seus a "buscar rumo" fora do seu local, em geral do campo desprovido, oprimido, desassistido e tórrido para a cidade, e por vezes também apenas mudando de forma de opressão. Assim, tais Comalas vão se acendendo e arrefecendo, iguais às chamas bruxuleantes de vela ou lamparina, internalizadas como o lugar dos mortos, o lugar para onde não se pode voltar – ou porque já foram grilhados e transtornados, ou porque já foram completamente enterrados, tornando-se apenas lugar vazio, sussurro íntimo, poeira, relva noturna. 25
Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis, publicado em 2008 pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, e Compulsão Agridoce, publicado em 2015 pela Paco Editorial.
“Memória mínima” (um pedaço lá na epígrafe) é um poema dessa façanha onde as mães estão mortas, mas cujas vozes azinhavram os sinais wireless que rondam nossas urgências e nossos modems. Mamãe está morta da missa de 7 dias só sobram sinais wireless Recordação trazendo a fuligem vila dos confins Puxada a embira da memória mínina solta os fiapos no entardecer (SILVA, 2015, p. 57) Dessa embira (tipo de barbante/corda, de uma fibra tirada da casca dessa árvore, com que amarrávamos caibros de casinhas velhas, paneiros, feixe de romanços de cordel, aselha de cabaça,) que puxo, e com a qual tanto atrelo a forma contida quanto desfiapo a memória de um mundo desolado mas pulsante, deixo esfiapar espontaneamente o que estava fragilmente atado: Quando vínhamos da casa de nossa bisavó, noite adentro, o vento vibrava forte, as lamparinas se apagaram e os vagalumes caíram nos baixios encharcados. Viramos lagartas-de-fogo no breu infinito Cipós-de-boi e embiras esfarrapadas ficamos pendurados balançando no ermo Vínhamos de algum festejo ou de algum enterro? Nosso primo Lelê tinha dado derrame As lagartas-de-fogo, nos beirais das casas, embrenhadas na erva molhada na beira dos caminhos, costumam pontilhar de altares barrocos e anjinhos descaídos a escuridão da noite As lagartas-de-fogo assemelham-se aos vagalumes, mas são espinhentas e não voam perfazem a terra enevoada, no charco fervilhante dos tempos chuvosos e antigos, mas só aparecem quando o aguaceiro dá trégua aos bons dias, e o céu limpo pode dar as caras com suas faíscas olhudas e fantasmagóricas. Lagartasde-fogo são coriscos cintilantes resguardados como espectros para o extremo da solidão [...] * Mamãe deixou para soluçar depois, mas estava feliz, porque o mundo ainda nos queria mais uma vez. (SILVA, 2015, p. 60) É o jorro, o movimento de um fantasma por dentro, quase impossível no espaço da urbis, e talvez só possível de ser extravasado por meio da poesia. O técnico, dentro da técnica, não o permitiria; a história não o faria, a geografia tampouco o faria. Não com essa nuance patêmica do afeto, do esgarçamento e da experiência mundanal, vivencial. Experiência esta ligada pela raiz [ex-]“per”, que tem o sentido de “passar através de”, “cruzar”, “atravessar”. É uma noção que traz a dimensão de um movimento, de um “ir adiante”, na frente, entrar, penetrar em/“dentro de”, na travessia de uma espessura (densidade) do real que se
desenvolve pela descoberta dos limiares (Πέρας, péras, extremos)pela prova e pela provação: base para instauração de um sentido da vida, das jornadas dos heróis, anti-heróis e não-heróis como das vias que a própria vida estabelece ou deserda. É também uma formulação para os espaços construídos na/pela linguagem e dispostos na página em branco: um espaço não correlato, mas que provoca entremeios de murmúrios e vazios, um silêncio gritante, uma imagem, uma cancela aberta para o sentido, uma fresta para o jorro do sensível: espasmo perfurando a contenção, nessa escrita que comporta os estilhaços e aposta que o dizer poético está lançado sobre mil e uma possibilidades, na razão de sua desabusada coerência, outra. Pois bem, se não pudermos tratar de tais travessias, dores e pungências, perdas e ultrapassamentos por via da voz poética, da escrita poética, através de qual meio ela estaria livre para manifestar-se? Então aqui já cabe uma pergunta sobre as próprias imposições e controles que os melindres da poesia, quer dizer, os melindres de sua racionalidade, tentam sobrepor. Acabaram-se as escolas, mas vivemos rigidamente os efeitos de um acordo sisudo da nossaintelligentsia poética. Estamos falando de uma dupla errância: as errâncias desses espaços e as errâncias da própria linguagem desse espaço. Ela não deve ficar em silêncio. Outros espaços que procuro tornar presentes, e eu diria que entranhados no que busco criar poeticamente são aqueles dos sujeitos exclusos de uma poesia do sublime, sujeitos “não poéticos”. Não estou falando de termos como os trazidos, por exemplo, por Augusto dos Anjos na poesia brasileira, tal como o conhecido “escarro”, em seu “Versos íntimos”. Mas digo de um mundo intermediário, da sobrevivência, de um riso patético e comovente, de uma imprecação, enfim, do universo da pessoa comum, em sua raiva ou delicadeza, procurando não descair no banal ou no impropério gratuito. Falo do mundo com suas mazelas e achaques, do trabalhador – o operário sim, mas o que está meio que embotado, na surdina, não (necessariamente) o esclarecido, o engajado de esquerda, mas aquele que sabe que precisa voltar para casa e alimentar seus filhos, na sobrevivência e na unha cronicamente encravada, não (necessariamente) o carinha angustiado porque não conseguiu seu cigarro de maconha do dia. A ciclista que passou iluminando a rua... A poesia opera assim com um certo povoamento do espaço, seus personagens. É o baixo escriturário, o biqueiro, o porteiro, a catadora de latinhas, as pessoas na fila do SUS, os passageiros diários dos coletivos e vans. Quem se importa com essas pessoas, com esses territórios desgraçados e espaços aturdidos?... Trazer também deles sua necessidade, sua reificação e patência, é um desafio que exige também a percepção de seus locais de vivência e circulação, sua espaçotemporalidade precisa ser evidenciada, escancarada, como em “Idade dos Metais”: Ao amanhecer por entre as ruas o sol tropeçou em dois cadáveres. Sobras da noite inoxidável a catadora de latinhas tem mais coisas a fazer (SILVA, 2008, p. 16) Em “Homenagem à mulher que disse ‘Bom Dia’”: “Bom dia!” a eternidade sopra farpas crianças sãos pombos e porcos na manhã sem papilas ouvi berros e girassóis (SILVA, 2008, p. 21) Ou como em “Cartão do SUS”:
[...] enquanto o homem pega minha moeda como se ela o pagasse ou me pagasse ou pagasse os dias sem maca, os dias que carrego nas calças enquanto todos nós aguardamos desde a madrugada que o dia seja diferente, que recebamos o cartão do SUS como quem recebe um cartão de crédito como quem acredita e quem sabe avança para mais ali (SILVA, 2015, p. 24) Na impossibilidade de tratar mais detidamente de cada poema, pelos próprios limites deste texto, suscito um último ponto a que nos conduz essa discussão, para encerrar, ao menos provisoriamente este texto – ou para abrir, ainda um pouco mais, os rumos com os quais acabamos por nos deparar. A compreensão da poesia dentro desses “espaços potenciais” que dizer, desses entre-lugares possíveis entre o mundo da vida e o mundo da linguagem, pode levar ao entendimento de que o seu horizonte poético também vacila entre a concepção de uma utilidade da poesia e a da sua inutilidade. Na verdade, estamos mais diante de uma armadilha que de uma clareira. A poesia, como a arte em geral, advoga sua inteira inutilidade, enquanto objeto estético, e está voltada para seu próprio universo, a linguagem: plenitude e carcaça. A bem dizer, ela não enseja ser humana, mas pertencer a uma região do divino, do verbo que se contempla suspensivo e eterno em sua paixão narcísica. Foi o que toda a modernidade nos ensinou, e que defendemos não com unhas e dentes, mas com o que há de mais sublime em nosso espírito. A defesa de sua inutilidade torna-se válida, sobretudo, para que ela não caia na banalidade instrumental, na reificação, no dizer que já não lhe toca. Ao mesmo tempo, precisamos vivê-la e disseminá-la incontivelmente, socialmente, dolorosamente. Confessemos que a poesia nos toca, que os poetas são a alma, a elevação, a dignidade e a expansão da língua, quiçá sua educação, sua plasticidade, seu afeto e sua revelação; confessemos que ela está contaminada de humanidade. E isto, diante de seu pressuposto de inutilidade, a coloca no horizonte do indecidível. E esse é o lugar que, nela, vejo como meu, como ser ainda tateante e bruto diante de seus desatrelamentos, sublimidades e vastidões. Fato é que, se a poesia está no rol da linguagem, precisaremos, muito provavelmente, interrogar o ser da linguagem antes de interrogar o ser da poesia. A linguagem-arte sim, mas também essa linguagem como fala, instituição, nomeação, atitude, provocação, memória individual e coletiva, pragmática e promiscuidade (inclusive mercadológica) nos mais diversos níveis. E aí, talvez, descobriremos também que o lugar da nossa mais alta criação ainda será um interstício inquietante e singular, entre lanhos, girassóis e espantos.
[REFERÊNCIAS] BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. ______. O livro por vir. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Tópicos) BRANDÃO, Luis Alberto. Teorias do espaço literário. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: FAPEMIG, 2013. (Estudos; 314) GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 2008. MARANHÃO, Salgado. O mapa da tribo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013.
MELO NETO, João Cabral. Crime na Calle Relator. In: ______ A educação pela pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. POULET, George. O espaço proustiano. Trad. Ana Luiza B. M. Costa. Rio de Janeiro: Imago, 1992. (Coleção Biblioteca Pierre Menard) SILVA, A. A. S. Compulsão Agridoce. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2015. SILVA, A. A. S. Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2008. SILVA, A. S. S. Dos espaços das vivências aos lugares construídos na liricidade: três poéticas da contemporaneidade. Revista Investigações – Linguística e Teoria Literária. Recife: Repositórios UFPE, vol. 26, n. 1, jan. 2013. (ISSN Edição Digital 2175-294X). Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/INV/article/view/379. Acesso em julho/2018. WINNICOTT. D. W. Jeu et réalité: l'espace potentiel. Traduit de l'anglais par Claude Monod. Paris: nrf; Gallimard, 1975. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000. Referência deste texto: SILVA, A. A. S. Espaços vividos, errâncias e atravessamentos na escritura poética – um quase relato de experiência. IN: GONÇALVES, Patrícia Tenório (Org). Sobre Escrita Criativa II. Recife, PE: Raio de Sol, 2018. p. 99-119.
DEU PRIMEIRA PÁGINA NO O ESTADO 15/16 DE DEZEMBRO 2018
APRESENTANDO ANTONIO AILTON LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ26 Antonio Aílton é Poeta, professor, e ensaísta, com formação em Letras pela Universidade Federal do Maranhão, Mestre em Educação (com enfoque em Cultura e Imaginário) também pela UFMA; Especialista em Crítica da Literatura Contemporânea, pela UEMA. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, com estudo sobre poesia contemporânea. É professor de Ensino Médio do Estado do Maranhão e tem ministrado disciplinas modulares (Teoria e Crítica Literária, Pós-Modernismo e Literatura, Semântica e Pragmática, Leitura de Poesia, Filosofia e Sociologia da Educação, na UEMA, UFMA e IESF (Instituto Superior Franciscano). Tutor à distância de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura (EaD-UFPE). É Membro da Academia Bacabalense de Letras, e da Academia Ludovicense de Letras Entre suas publicações tem Compulsão Agridoce (Poesia - Paco Editorial, 2015) 27; Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (2008, Prêmio Cidade do Recife de Poesia), As Habitações do Minotauro (Poesia, 2001 - Prêmio Cidade de São Luís) e Humanologia do eterno empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano, de Nauro Machado. Tem participação em antologias locais e nacionais e na Revista Poesia Sempre (2008).. Integra os meios culturais e literários de São Luís – MA e colaborador do Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante. Sobre sua vasta obra, afirma: “ “Minha poesia busca, com uma fala simples e irônica, às vezes ácida e amarga, tratar das contingências da vida, do tempo e dos achaques humanos, aqueles inexoráveis e aqueles impostos por um sistema social injusto, nas paisagens do mundo contemporâneo. As vozes nela presentes é a voz dos diferentes, dos "invisíveis" e recusados. Como diria Alberico Carneiro, trata-se de 'simples elementos do cotidiano, aparentemente banais, aos quais o poeta sempre resgata, dando-lhes sobrevivência eterna'. Há, por outro lado, duas outras questões que penso estarem em geral presentes em minha poesia: 1) o universo da memória, de um mundo telúrico, mítico e materno, mas pertencente ao chão do vivido, e 2) o trânsito universal, cosmopolita, entre as formas literárias, intertextuais e culturais, que traz também a lírica do nordeste, que carrego comigo desde a infância e que faz parte de minha própria condição, digamos, "diaspórica".28 Poeta ludovicense, que por descuido geográfico nasceu no Centro dos Carpinas, próximo à localidade Brejinho, interior do município de Bacabal - MA, em 29 de dezembro de 1968 – daí dizer que sua poesia é influenciada pelas suas raízes do campo. Seus pais, Orácio Ferreira Silva e Alzira Santos Silva, vieram do Ceará na seca de 1942, com uma leva de cearenses, visando às chuvas e as águas do MA, para plantar&colher. Eram lavradores, analfabetos, depois aprenderam a rabiscar a assinatura, e compraram terras para trabalhar. Trouxeram do Ceará, junto com outras famílias que vieram e se instalaram no médio Mearim, a Literatura de Cordel na Algibeira. Seu Lourenço tinha caixas e caixas; os Rosenos, tinham contato direto com as fontes, em viagens. Seu imaginário era esse arcaico-religioso, sertanejo e do cangaço. Roça, açudes, babaçuais e escolinha distante. Professora Luíza, a das cartilhas e das estórias. Professora Graça, a da histórias e da "Terra das Palmeiras". Estudou numa localidade chamada Brejinho, que ficava umas léguas de casa. Iam e voltavam a pé, a criançada. Domingo tinha instrução na Igreja e o padre vinha uma vez por ano. 26
Membro fundador da ALL, Cadeira 21, discurso de apresentação de Antonio Ailton, no dia de sua Posse na Cadeira... https://www.wook.pt/autor/antonio-ailton/3797454 28 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz via correio eletrônico, em 25 de janeiro de 2017. 27
Quase todas as noites, a comunidade se reunia em sua casa para ouvir, à luz da lamparina - o cabeção - ler literatura de cordel. Sua avó, com quem morou alguns anos, fazia festejo para o Sagrado Coração de Jesus. Era uma semana e encerrava com festa, cozidões e assados de pequenos animais, para toda a região e legião de família. E muitas flores de papel, fitas e fogos. Aílton tem quinze irmãos, do mesmo pai e da mesma mãe. Eram 16, portanto. Faleceu uma, com cerca de seis anos. Ele era o décimo. Entre dores, desejos, e o julgo de um pai titã, seus irmãos foram se largando aos poucos, procurando rumo pelo Brasil. A mãe faleceu em 2010. O pai mora com um filho, em Bacabal. Cuidar das vacas e dos animais. Casa de forno, estradas velhas, estradas novas. Foi morar com sua avó em Bacabal. Oportunidade para fazer o ginásio e o segundo grau. Alguns anos depois, sua avó mudou-se para o Ceará e foi morar sozinho. Vendia picolé nas ruas, salgados. Trabalhou em oficinas de lanternagem de veículos. Foi ajudante de pedreiro, construiu meios-fios nas ruas, foi agregado. Serviu o quartel, saindo como cabo. Anos difíceis e alguns períodos de fome. Chamaram-no para limpar armas no Exército. Estudou primeiro no CEMA-TvE, depois passou para o Colégio Leda Tajra. O Professor de Literatura – Augusto -, exímio conhecedor da língua e de muita sensibilidade lia seus cometimentos poéticos e o incentivava a escrever mais. Primeiros anos de poesia e engajamento cultural. Vendia cartões com seus poemas em feiras culturais da cidade. Teve contato, também, com as Comunidades eclesiais de base. Fez Teologia por quase quatro anos. Veio para São Luís no início de 1987, por falta de perspectiva financeira, para a Escola Agrícola Federal, no Maranhão, resolvendo fazer um novo segundo grau técnico. Saiu quatro meses depois, por falta de qualquer ajuda externa e insustentabilidade da situação. Depois de quase um ano desempregado, foi selecionado na Transportadora Itapemirim, onde trabalhou três anos. Depois foi agente administrativo no HEMOMAR, de onde, sendo aprovado para o vestibular em Letras/UFMA (1994), saiu para ensinar Português&Literatura. Suas primeiras participações literárias foram nos Festivais de Poesia Falada da UFMA, ficando sempre entre os primeiros classificados, sem o primeiro lugar, por uma ranhura ou outra, dos poemas, acredita ele. Está casado com Tereza, e têm três filhos (Ana Clara, Ana Letícia e Lucas). Mais um (Úni), que mora em SP, de uma primeira coabitação. Antonio Aílton pertence à geração poética de 90 que legou à literatura maranhense grandes nomes que agora, nos meados desta segunda década do século XXI já dão mostras de amadurecimento – aqui, na ALL, já temos Dilercy Adler, Paulo Melo, Mário Luna Filho, Arquimedes Vale, Daniel Blume, André Gonzalez, Michel Herbert... Sócio-atleta inscrito na geração de poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa. Fizeram poesia pura29. 29
SILVA, Antonio Aílton Santos. Os Cabos de Guerra da Poesia da São Luis Contemporânea. In ALL EM REVISTA, São Luis, n. 3, vol. 4, out/dez. 2016, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4 , acessado em 08/01/2017; Texto originalmente publicado no SUPLEMENTO CULTURAL & LITERÁRIO JP GUESA ERRANTE ANO X, Edição 281, 8 de setembro de 2012 , p. 8 e 9 – Sábado, e no site http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400—os-cabos-de-guerra-dapoesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm, de autoria de Antonio Ailton, apesar de não constar a autoria na página do site.] disponível em https://antonioailton.wordpress.com/
Para José Neres (2009) 30, o fato de Antonio Aílton dividir-se entre a criação poética e a crítica ensaística, que poderia trazer problemas para uma pessoa com poucos recursos intelectuais e argumentativos, transformou-se, para ele, Antônio Ailton, numa espécie de arma contra as mesmices literárias: Suas constantes leituras transparecem nas páginas de seus textos e imprimem em cada verso uma dicção própria de quem tem total consciência de seu fazer poético e das consequências das palavras impressas no papel. Seus versos não perseguem o lirismo fácil e banal, pelo contrário, estão sempre em busca do inusitado e do aparentemente indizível. Seus poemas não claudicam diante dos obstáculos e seguem em marcha, ora mais lenta, ora mais acelerada, rumo a soluções poéticas que vão além das rimas e da metrificação. Na análise de José Neres, é o ritmo cadenciado imposto por cada situação e a temática a ser desenvolvida, o eu lírico, que age como um flâneur vagando em busca de algo desconhecido até para ele mesmo. É em seu constante observar da realidade que o poeta, como um voyeur consciente de que pode perder a visão a qualquer instante, retira a matéria bruta que será lapidada em forma de poema. Seus textos, rápidos, não dão tempo para o leitor respirar e o sufocam cada tentativa de tomar fôlego. Em suma, seus poemas não são feitos para serem lidos por quem busque apenas lirismo e formas bem comportadas, mas sim por quem tenha coragem de perambular por um labirinto de sensações e de palavras e de onde, às vezes, a única saída é enfrentar algumas verdades para as quais fechamos os olhos no nosso dia a dia. 31 Em HORIZONTE DA POESIA CONTEMPORÂNEA, que hoje é (re)lançado), parte do contexto difuso e multifacetado da poesia brasileira contemporânea e da interrogação de suas faces e de eeus rumos, para compreender cinco horizontes que, podemos considerar, a têm orientado. Os horizontes são são postulados a partir de seis poetas de estratos criativos e editoriais diferentes: Salgado Maranhão, Alexandre Guarnieri, Carlito Azevedo, e Ana Martins Marques, Hagamenon de Jesus e o visceral pernambucano Miró da Muribeca, convocando, ainda, obras de outros/outras autores/autoras importantes para a discussão. Tal delineamento coloca em evidencia a importância das dimensões da forma e da experiência na percepção e apreensão dos textos poéticos, inclusive em seu caráter patemico, ao considera-los como constituintes de verdadeiros pactos líricos.32 Senhoras e Senhores,
ANTONIO AILTON
Apresentação do músico violonista clássico Daniel Bertholdo – Falas: Norberto, Sanatiel, Aílton
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NERES, José. Perambulando pelas habitações. In Blog do José Neres, disponível em http://joseneres.blogspot.com.br/2009/10/antonio-ailton.html, acessado em 08/02/2017. 31 NERES, José. Perambulando pelas habitações. In Blog do José Neres, disponível em http://joseneres.blogspot.com.br/2009/10/antonio-ailton.html, acessado em 08/02/2017. 32 SILVA, Antonio Aílton Santos. MARTELO 7 FLOR – horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea. São Luis: EDUFMA, 2018, orelha do livro.
MENSAGEM PARA CADA CAMINHO Muito provavelmente, as mensagens de Natal serão esquecidas pouco antes do Carnaval. Isso não impede que as enviemos, porque, no final, ficará mais o gesto que as palavras. O fato de alguém, de algum modo lembrou-se de nós. Ou lembrou-se de doar algo de si, mesmo que seja uma palavra. Então sigo o rito, que de cristão tornou-se humano, por vezes demasiado humano. Gostaria de dar um abraço em cada um de todos e todas, e é hora de pensar num abraço que abarque o próprio universo. Não seria esse o recado de Deus ao homens, a união de tudo em sua carne tenra e frágil? Na falta de palavras belas, deixo abaixo uma vereda de palavras do poeta espanhol Antonio Machado, porque temos todos um longo caminho pela frente. Esse, que nós reiniciamos a cada reflexão. Desejo felizes Festas a você, a cada um, que se alegra e recomeça a cada passo, com o que Deus pode nos ensinar sobre o caminho e nossa perecível humanidade, e do que podemos deixar nascer em nós. Feliz Natal, iluminação contínua do caminho e vitória em cada trilha que continuarmos abrindo, corajosamente, à nossa frente. Antonio Aílton
Caminhante, são tuas trilhas o caminho e nada mais; Caminhante, não há caminho o caminho se faz ao caminhar. Ao andar se faz o caminho, e ao voltares a vista para trás vês a vereda que nunca haverás de novamente pisar. Caminhante, não há caminho senão estrelas no mar. (Antonio Miranda - Extracto de Proverbios y cantares [XXIX]. Conservei o espanholismo do "Caminante", que traz esse sentido do ser agindo sobre o caminho)
VAVÁ MELO UM ESCLARECIMENTO A UMA MESTRA QUE ME CHAMOU DE ANAFALBETO Aos poucos que desconhecem o autodidata e historiógrafo Álvaro Urubatan Melo (Vavá Melo), no mundo acadêmico maranhense, apresento-lhes: Concluiu o primário em São Bento, no Grupo Escolar Mota Júnior (1952), sempre entre os três melhores alunos. Aprovado em 1954, primeiro lugar, no Exame de Admissão ao Ginásio Colégio de São Luís (I954). Em São Bento, berço natal, por concurso ingressou no Banco do Estado. Promovido a gerente instalou as agências de Zé Doca e Timon, e nesse cargo trabalhou nas congêneres de Pedreiras, João Paulo e São Francisco, na qual se aposentou na última letra. Em São Bento lecionou Matemática na Escola Normal e Araújo Castro, Contabilidade Bancária no e Sambentuense; Matemática e História no Piamarta. Em sua gestão na presidência do Conselho da CNEC, criou o Ginásio Araújo Castro e transformou Escola Normal Regional Felipe Benicio Conduru em Escola Pedagógica. Como acadêmico é membro fundador da Academia Sambentuense – Cadeira 9, patroneada pelo advogado e parlamenta Alfredo Augusto da Costa Leite; Academia Ludovicense de Letras, Cadeira 23, patroneada por Domingos Barbosa; ocupou a convite a Cadeira 56, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Patroneada por Dom Felipe Conduru . Membro Honorário da Academia de Letras de Paço do Lumiar. Membro fundador e 1º presidente da FALMA – Federação das Academias de Letras do Maranhão. Sócio Correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências Artes e Letras, 10/12/2017. Honra ao Mérito da Academia Arariense – Vitoriense de Letras – 23/02/2013. Diretor e membro do Conselho Editorial da Fundação José Sarney – Gestão Joaquim Itapary. Vogal da Jari – Detran – Maranhão. Titulo Distinção Unidade Escolar – 3/07/2009. Patrono da Academia de Cultura da Juventude São-bentuense –p0 19/12/20129 Medalhão Comemorativo do Bicentenário da Justiça Militar da União – 4/8/2010.; Medalha Dom Luís de Brito – Câmara Municipal de São Bento Medalha do Bicentenário de João Francisco Lisboa- Academia Maranhense de Letras. Dezenas de curso profissionais, inclusive pela USP. Diplomas e certificados em diversas participações. Artigos em obras – Mil poemas a Gonçalves Dias sonetos) e Eco da Baixada Recipiente de membros eleitos no IHGM, Academia Sambentuense – ALL. Apresentação e prefácio de mais de dez obras. Obras publicadas – São Bento dos Peris- água e vida- 2 volumes. Perfis acadêmicos Apontamentos para Literatura de São Bento. Mistérios da Vila de São Bento – reorganização. Memorial de São Novo – Dom Luís de Brito - o politico, o orador, o revolucionário, o pedagogo. Ensaios- São Bento um Jardim de Academus; Joaquim Itapary, Evandro Sarney, Luso Torres, Domingos Barbosa, Luís Viana, Clarindo Santiago e Emilio Azevedo. Inéditos. Três livros e quatro ensaios. Destes, intitulado: Como escrever o gentílico pátrio de São Bento, pelo autor discordar do inserido no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Na ortografia antiga – SAMBENTUENSE, o consuetudinário, conforme cópias em poder do autor. Com a evolução da gramática o SAM – passou para SÃO. SAMPAULINHO – são-paulinho. SANLUISENSE são-luisense . SAMBENUENSE – são-bentuense. .. Em compensação o ÃO final da terceira pessoa plural do pretérito perfeito passou para AM. Fizerão – fizeram. Morrerão – morreram. Nomes próprios antigos Cristovam passou para Cristóvão. Estevam – Estevão. Ocorreu que, lamentavelmente, nos idos de 1943/1945, na organização do VOLP o informante de São Bento, absurdamente respondeu sambentoense, contrapondo-se ao consuetudinário sambentuense, conforme documentos comprobatórios em poder do autor, ele que estudioso das glórias de São Bento, luta para ratificar mais essa anomalia. Em seu ensaio alusivo tema, adverte: “Qualquer pessoa com conhecimento médio da Língua Portuguesa, sabe que as palavras pertencentes ao Latim, da 4ª declinação, cujo ablativo termina em (U), tem o O mudado para U. Benedictus . Exemplificou o inolvidável professor Padre Newton Neves. AnO=anUal, casO=casUal, espírito - espiritUal, visO - visUal, gradO - gradUal, pontO - pontUal, conventO - conventUal, intelectO- intelectUal, estadO estadUal.(BentO=BentUense), qual a exceção? “ “Outra regra prática também elementar, resumida no ensinamento do Professor – Jader Cavalcante, (Jornal Pequeno de 25 de junho de 2006) – Em todas as palavras paroxitonas primitivas, a última vogal não faz parte do radical, sendo eliminada quando se vai aclopar a um sufixo. (OENSE não sufixo, e sim, ense. Vale para qualquer vogal. Esta regra é válida para diminutivos, aumentatovos e superlativos. Bento é paroxitona e primitiva. Exemplos – Estado – estadual, caso – casual, fato – fatual, bucho- buchudo.....” Primário a regra de formação de plalavras, sobretudo dos gentilicos. Gentílico ou pátrico SÃO-BENTUENSE, a razão primordial desta pesquisa. Segundo lições de grandes mestres, A MORFOLOGIA ESTRUTURAL da palavra é formada pelo RADICAL e MAIS o AFIXO. Sabemos que únicos sufixos de procedência, formadores de adjetivos pátrios são: ACO, AICO, ANO, ÃO, EIRO (brasileiro, mineiro, alguns gramáticos classificam como sufixo de profissão, no entanto vale o consetudinário), ENHO, ENO, ÊS, ESA, EU, ESA, INO, IO, ISTA, ITA, OL, OTA e ENSE, portanto OENSE não é SUFIXO. RADICAL – BENT, acrescido da vogal U intercalada mais o sufixo ENSE, forma SÃO-BENTUENSE. Esse U denomina-se, de LIGAÇÃO LATINA TEMÁTICA, INFIXO OU EPENTESE (metaplasmo ) que consiste em introduzir uma letra no interior de uma palavra. Origem da Língua Portuesa (ALPHEU TERSARIOL, página 55, com o objetivo de evitar hiatos. Exemplos de vários autores: Arcos — arcuense e não arcOENSE, Aceburgo(MG), aceburguense e não aceburgOENSE, Friburgo — friburguense e não friburgoense, Porto(Portugal) — portuense e não portOENSE, Santiago de Compostela — santiagueiro ou santiaguês e não santiagOÊS ou santiagOElRO, São Domingos do Maranhão —são-dominguense e não sãodomingOENSE, Santo Antonio de Içá-santuense e não santOENSE, São Tiago-santiaguense e não santiagOENSE. Recebeu a aprovação presidente da Academia Brassileira de Filologia, Senhor Doutor Antonio Martins Araujo; do filólogo Dr. Vilar, do Dicionário HOUSIS e do IBGE – que já consta são-bentuense. Levando em consideração ser extenso este trabalho que estiver interessado solicite ao autor.
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Lançarei os livros O Tribunal de Nuremberg (2a. edição, ampliada) e Justiça em Kelsen e Direito em Luhmann, em evento promovido pela UFMA, no qual também serão lançadas obras dos amigos James Magno A. Farias e José Raimundo Leite Filho.
RECEBIMENTO DO DIPLOMA DE HONRA AO MÉRITO E DA RESPECTIVA MEDALHA EM RECONHECIMENTO A MAIS DE VINTE ANOS DE DESEMPENHO DAS FUNÇÕES MINISTERIAIS.
BRUNO TOMÉ O ESTADO MA, 24/11/2018 – TAPETE VERMELHO/Evandro Junior
PROF. DR. SÉRGIO SOUSA, BRUNO TOMÉ, LEOPOLDO G.D. VAZ
O ESTADO MA, 22/23 DEZEMBRO 2018 – PH REVISTA
IRANDI MARQUES LEITE Lançamento dos livros - Viagem pela ilha Upaon-Açu e além mares e Engenharia da Palavra - escritor Irandi Marques Leite. Feira do Livro. Multicenter SEBRAE. São Luís do Maranhão.
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Lançamento do livro Engenharia da Palavra. Engenheiro e escritor Irandi Marques Leite. Dia do Engenheiro. 11 dez 2018, às 19h. Livraria e Espaço Cultural AMEI. Associação Maranhense de Escritores Independentes AMEI. Shopping São Luís. São Luís do Maranhão.
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ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!
A MULHER NA LITERATURA RENATA BARCELLOS (CECA/CEJLL/ UNICARIOCA)
Ainda hoje, em pleno século XXI, quando se pensa em representantes da Literatura Brasileira, imediatamente, vem à mente nomes de escritores como Castro Alves, Machado de Assis, Drummond, Gullar... E, muitas vezes, não se menciona nenhuma mulher. Cabe ressaltar que muitas têm exercido papel fundamental no cenário cultural. Infelizmente, por fatos históricos, as mulheres permaneceram à sombra dos homens em diversos setores, dentre eles: artísticos e culturais. Embora, muitas vezes, não se saiba e/ou se valorize, o primeiro romance do qual se tem notícia foi escrito por uma mulher: Murasaki Shikibu, uma japonesa da classe nobre, que escreveu no ano 1007, “A História de Genji”. Assim, como ela, existem muitas escritoras que ganharam (e continuam ganhando) destaque na literatura mundial, como Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Virginia Woolf, Agatha Christie, Hilda Hist, entre outras. Especificamente, no Brasil, ainda, na maioria das vezes, nas instituições escolares, quando refere-se às mulheres, apenas três são citadas: Cecília Meireles, Clarice Lispector e Raquel de Queiros. Geralmente, não se aborda, por exemplo, Nísia Floresta Brasileira Augusta, nascida no Rio Grande do Norte, uma das primeiras mulheres a publicar textos em jornais. Seu livro,“Direitos das mulheres e injustiça dos homens” (1932), é o primeiro a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho no Brasil e Eurídice Eufrosina Barandas, considerada a primeira cronista do país. Vale destacar que, em obras de referência, como História Concisa da Literatura Brasileira (1994), Alfredo Bosi menciona apenas quatro poetisas: Francisca Júlia, Gilka Machado, Auta de Sousa e Narcisa Amália. Mas somente a primeira teve biografia e algum destaque. Já, no cenário acadêmico, somente, na década de 20, foi realizada uma tese intitulada A Mulher na Literatura. Provavelmente, o primeiro estudo sobre o assunto, escrito por Maria Ritta Soares de Andrade. De acordo com ela, documentar toda a obra feminina, “os nomes de suas autoras que, sempre, principalmente na sociedade que nos antecedeu, ficavam incógnitas, comoincógnitas ficaram muitas produções valiosas de cérebros femininos” (1929). A ausência do reconhecimento da influência feminina na cultura brasileira tem sido “corrigida”, assim, através de pesquisas, teses, livros, artigos e ensaios. A obra Escritoras Brasileiras do Século XIX (2000), organizado por Zaidhé Muzart, foi a primeira iniciativa rumo à reavaliação do patrimônio literário e cultural. Cabe destacar o quanto a produção literária de mulheres vem ganhando destaque desde o início do Século XX, quando, no Brasil, surgiram nomes como Pagú, Gilka Machado, Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Orides Fontela, Carolina Maria de Jesus e Adélia Prado. No entanto, é lamentável constatar que a produção de qualidade não é determinante para a ocupação dos postos de prestígio na cena literária. Segundo Rosana Cássia Kamita (coordenadora do Grupo de Trabalho A Mulher na Literatura – ANPOLL) compreender a literatura de autoria feminina é “não se limitar à visão da tradição literária, mas contextualizá-la observando as relações mantidas com outros textos e as estruturas sociais e culturais que compõem o panorama da época. Somente não observando os padrões estabelecidos foi possível conhecer melhor os textos escritos por mulheres”. Diante deste cenário, cabe às escolas ter não só em suas bibliotecas obras de mulheres na Literatura como também serem lidas e analisadas nas salas de aula. Urge os professores incluírem-nas em suas práticas pedagógicas. Apresentando assim que, ao longo da história da humanidade, foram representativas de seu tempo. Dentro desta abordagem, A escritora e ensaísta, Márcia Camargos, autora de “Villa Kyrial: crônica da Belle Époque paulistana” e “A Semana de 22: entre vaias e aplausos”, propõe a seguinte solução para aumentar a presença da mulher na literatura: começar a discussão e propor às pessoas que lideram o mercado literário fazerem uma autocrítica, para refletir se elas olham da mesma forma uma obra de um homem e a de uma mulher. “Não estou falando de cotas, mas de uma decisão mais consciente”, defende.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Maria Ritta Soares de Andrade. A Mulher na Literatura. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2006. 327p. AUGUSTA, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens (1932) BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. CAMARFOS, Márcia. “Villa Kyrial: crônica da Belle Époque paulistana” e “A Semana de 22: entre vaias e aplausos”. CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004 _________________. Formação da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1987. 183p. DUARTE, Constância Lima. Literatura feminina e crítica literária. In: GAZOLLA, Ana Lúcia Almeida (org.). A mulher na literatura. Belo Horizonte: UFMG, 1990. p. 70-79. LUFT, Lya. Perdas e Ganhos. Rio de Janeiro: Record, 2006. 158p. PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.146p. _______. Cacos para um vitral. Rio de Janeiro: Record, 2006.112p. SAVIANI, Demerval. O legado educacional do século XX no Brasil. In: ALMEIDA, SOARES, Jane de. Mulheres na educação: missão, vocação e destino? (Org). Campinas. Autores Associados, 2006, 2 ed. XAVIER, Elódia. Tornar visível o invisível: um desafio feminista. In: REIS, Livia Freitas et alii (org.) Mulher e Literatura. Niterói, UFF, 1999. ZOLIN, Lúcia Osana. Literatura de autoria Feminina. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (Orgs.). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3. ed. Maringá: EDUEM, 2009.
MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE: o eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano DILERCY ARAGÃO ADLER
MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE é o tema maior da minha fala adotando, assim, o da própria Mesa. O eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano, elegi como um subtema que se firma como um esclarecimento a mais acerca da linha argumentativa que defeni para esta manhã, neste belíssimo e marcante evento, nesta bela aniversariante cidade de Itapecuru-Mirim, na sua Primeira Feira de Livros, por isso um grande marco na história da cidade: a I FLIM!!! Além dos meus Parabéns a esta cidade, quero expressar o meu desejo de que a esta I FLIM, se sucedam infinitas feiras de livros nesta pródiga cidade. Quero iniciar esta minha breve análise com palavras positivas e verdadeiras ,para dar alento ao coração das mulheres e aos homens de boa vontade, as quais se referem à quebra de paradigmas relativa a essa temática, afirmando que essa quebra está sendo feita há algum tempo, lentamente, mas quebrando sempre... numa viagem sem volta, e observa-se também uma quebra mais lenta inicialmente, mas com visíveis avanços que se fortalecem a cada dia. Também com palavras de agradecimento a todas as mulheres, [...] deusas e humanas que ousaram quebrar os paradigmas opressores do seu tempo e, destemidamente, fizeram da fragilidade feminina a sua força, o seu escudo, a sua lança nos embates indispensáveis da vida, sem esquecer o amor e o erotismo, forças geratrizes de vida e criação (ADLER, 2001, p. 02). Nesse sentido, temos coletado em diversas fontes que, historicamente, com raríssimas exceções, o homem tem marcado a sua existência por meio da sua supremacia sobre a mulher, em decorrência de que O universo masculino é caracterizado por mais plasticidade e acesso a um quantitativo e maior intensidade de estímulos para o desenvolvimento das suas potencialidades do que o feminino. Assim é que, também a arte, a exemplo da ciência, tem demonstrado um quantitativo maior de expressões, de obras masculinas do que de femininas. Ou seja, em todas as áreas do conhecimento, o pensamento adotado e divulgado socialmente é aquele que tem na sua base o modelo eurocêntrico, masculino, caucasiano e aristocrático (ADLER, 2016, p.230). Ao se ter acesso a qualquer manual de História da Literatura, nota-se a débil presença ou completa ausência de mulheres escritoras. A lacuna no que diz respeito às mulheres, como sujeitos na História, é vasta. Nesse contexto, cabe à crítica literária feminina pesquisas e estudos, darem visibilidade às mulheres, tornando também audíveis suas vozes e discutindo o real lugar da autoria feminina no cânone literário, desconstruindo a visão predominante eurocêntrica, masculina, caucasiana e aristocrática, referida anteriormente. E esta mesa traduz e concretiza essa preocupação. De forma prática traremos alguns nomes e situações de mulheres na literatura maranhense, tomando por fio condutor a inserção dessas mulheres em três Academias de Letras do Maranhão, mas tomando por base, inicialmente, a Academia Brasileira de Letras, de modo sucinto.
A Academia Brasileira de Letras-ABL foi fundada no Estado do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, por iniciativa de Machado de Assis, seu primeiro presidente, com o objetivo de preservar a língua e a literatura nacionais. A sessão inaugural foi realizada numa sala do Museu Pedagogium, na Rua do Passeio, com a presença de dezesseis acadêmicos.
Em pé [da esquerda para a direita]: Rodolfo Amoedo, Artur Azevedo, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, José Veríssimo, Sousa Bandeira, Filinto de Almeida, Guimarães Passos, Valentim Magalhães, Rodolfo Bernadelli, Rodrigo Octavio e Heitor Peixoto. Sentados [também da esquerda para a direita]: João Ribeiro, Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e Silva Ramos.
Anteriormente, no dia 28 de janeiro de 1897, fora realizada a sétima e última sessão preparatória da fundação. Na ocasião foi apresentado o seu Estatuto com as assinaturas de: Machado de Assis, Presidente; Joaquim Nabuco, Secretário-Geral; Rodrigo Octavio, Primeiro-Secretário; Silva Ramos, Segundo-Secretário e Inglês de Sousa, Tesoureiro. E, no seu artigo 2º, preconiza: Art. 2º - Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. As mesmas condições, menos a de nacionalidade, exigem-se para os membros correspondentes. Ainda no início dos anos 50, o Regimento Interno da ABL ratifica a impossibilidade de elegibilidade feminina e altera o artigo: os membros efetivos serão eleitos, dentre os brasileiros, do sexo masculino, deixando mais claro ainda a prerrogativa excludente do gênero feminino. A primeira candidatura feminina, Amélia Beviláqua, em 1930, foi rejeitada, sob a justificativa de que o vocábulo “brasileiros” restringia suas vagas apenas ao sexo masculino; ficou claro que a Academia relacionava valor literário a gênero. A segunda mulher a tentar participar do círculo de literatos imortais foi Dinah Silveira Queiroz, cuja candidatura também foi rejeitada. Apenas em 1977 a instituição discutiu novamente a questão da mulher na Academia, para dar parecer favorável a Rachel de Queiroz (Cadeira 5). Assim, durante as primeiras oito décadas de existência da Academia Brasileira de Letras, nenhuma mulher fez parte da instituição (grifo meu). Só a partir dos anos setenta as mulheres ocuparam cadeiras na ABL. Em 1980, foi a vez de Dinah Silveira de Queiroz (Cadeira 7), que já tinha sido candidata anteriormente. A terceira mulher a ser membro foi a escritora Lygia Fagundes Telles, em 1985 (Cadeira 16); em seguida, Nélida Piñon (Cadeira 30), em 1989; Zélia Gattai, em 2001 (Cadeira 23); Ana Maria Machado (Cadeira 1), em 2003; Cleonice Berardinelli, em 2009 (Cadeira nº 8); e por fim, Rosiska Darcy (Cadeira 10), em 2013.
Mas outro fato digno de nota é que nenhuma mulher patroneia nenhuma Cadeira na ABL. Outro fato digno de nota : A história da maior ausência dos 121 anos da ABL foi descoberta, por acaso, durante uma pesquisa em 2005. Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), foi o primeiro e mais emblemático vazio institucional produzido pela barreira de gênero", diz Michele Fanini. No livro de Michele Asmar Fanini A (in)visibilidade de um legado – Seleta de textos dramatúrgicos inéditos de Júlia Lopes de Almeida, lançado em março de 2017, pela Editora Intermeios e coedição da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ela demonstra a importância da escritora e a redime de uma sociedade machista, cujas barreiras de gênero a relegaram ao ostracismo institucional. Júlia era um caso raro: uma escritora que vivia com o dinheiro da própria escrita. Mãe de família, casada com o poeta português Filinto de Almeida, foi uma das primeiras romancistas do Brasil, metade do século 19. No papel de intelectual, que defendia o abolicionismo, assumia posições feministas e era sucesso de vendas, ajudou a criar a Academia Brasileira de Letras (ABL). Tudo para ver seu nome rejeitado a uma Cadeira dentro da instituição por ser mulher. No Maranhão, vou me reportar à Academia Maranhense de Letras-AML, à Academia Ludovicense de Letras-ALL e à Academia anfitriã: a Academia de Ciências, Letras e Artes de Itapecuru Mirim- AICLA. A Academia Maranhense de Letras, fundada em 10 de agosto de 1908, por Antônio Lobo, Alfredo de Assis Castro, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I. Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva, considerada de utilidade pública pelo Dec. Nº 92, de 19.novembro de 1918, do governador Urbano Santos da Costa Araújo. No seu quadro, 40 cadeiras patroneadas exclusivamente por intelectuais do sexo masculino. Nela existem três categorias de membros Fundadores: Fundadores pioneiros, num total de 12; Fundadores complementares, num total de 08 e Fundadores de Cadeiras, num total de 20. Nesta terceira categoria encontramos duas mulheres: Laura Rosa (Cadeira. 26) e Mariana Luz (Cadeira. 32). Nos seus quadros de membros, na qualidade de antecessores, apresenta três nomes femininos: Lucy Teixeira (Cadeira 7); Dagmar Desterro (Cadeira 24) e Conceição Neves Aboud (Cadeira 20), cuja sucessora e ocupante atual é Sônia Almeida. No quadro atual de ocupantes de cadeiras, existem mais três mulheres, além de Sônia Almeida: Laura Amélia Damous (Cadeira 6(Cadeira); Ana Luiza Almeida Ferro (Cadeira 12) e Ceres Costa Fernandes (Cadeira 39). A Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis foi fundada em 10 de agosto de 2013. Sabe-se que a Academia de Letras de São Luís, apesar de ter sido pensada por muitos intelectuais da cidade, só se concretizou no bojo de um Projeto proposto pela ocupante da Cadeira nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, Dilercy Aragão Adler, intitulado “Mil Poemas para Gonçalves Dias. Tendo sido aprovado o Projeto, a proponente convidou o Confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, ocupante da Cadeira nº 40 do IHGM, para assumir conjuntamente a implementação do referido Projeto. A ideia da elaboração do Projeto veio do Chile, o primeiro dessa modalidade, “Mil Poemas para Pablo Neruda” que contou com a participação da poeta Dilercy Adler tanto com poemas como do lançamento no Chile. No projeto local a ideia proposta foi ampliada, e, além de poesias, uma segunda Antologia intitulada “ Sobre Gonçalves Dias”, constituída de artigos e pesquisas sobre a vida de Gonçalves Dias e ainda foram envolvidas três cidades: São Luís, Caxias (onde Gonçalves Dias nasceu) e Guimarães (onde faleceu em um naufrágio na Costa dos Atins. Cada cidade tinha a sua programação e São Luís incluiu nas suas atividades a fundação da Academia de Letras da cidade: A Academia ludovicense de Letras- ALL. Vinte e cinco pessoas assinaram o livro ata da Fundação, juntamente com outras pessoas, como testemunhas, pertencentes a diversas instituições, nacionais e de outros países, presentes ao ato. Dentre esse total de assinantes tinha apenas 3 mulheres: Dilercy Aragão Adler, Ana Luiza Almeida Ferro e Clores Holanda Silva. Depois, o ingresso na Academia deu-se por indicação de nomes pelos membros fundadores e as demais cadeiras foram ocupadas por meio de eleições, de modo que as mulheres estão assim distribuídas dentre as categoria: Membros efetivos fundadores: Dilercy Aragão Adler (Cadeira 8), Clores Holanda Silva (Cadeira 30) e Ana Luiza Almeida Ferro (Cadeira 31). Dos Membros efetivos indicados por Membros Fundadores: Ceres Costa Fernandes (Cadeira 34) e Maria Thereza de Azevedo Neves (Cadeira 13).
Membros efetivos eleitos, sendo o 1ª. Ocupante da Cadeira: Miriam Leocádia Pinheiro Angelim (Cadeira 24) e Jucey Santos de Santana (Cadeira 35). Um dado interessante é que das 40 Cadeiras, seis são patroneadas por mulheres, além do que a Patrona da Casa é uma mulher, negra, filha de uma mulata forra e pai negro. Patronas das cadeiras: Maria Firmina dos Reis (Cadeira 8), Laura Rosa (Cadeira 25), Maria de Lourdes Argollo Mello (Dilú Mello - Cadeira 29), Lucy de Jesus Teixeira (Cadeira 34), Maria da Conceição Neves Aboud, (Cadeira 37) e Dagmar Destêrro e Silva (Cadeira 38). A ALL em 3 gestões já teve uma Presidente do sexo feminino: a Psicóloga, Escritora e Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler (2016-2017. No livro Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, lançado em 2017, na página 76, Dilercy Adler expõe a seguinte inquietação: [...] Embora a ALL tenha sido fundada 401 anos após a fundação da cidade de São Luís, talvez essa demora fosse em função da espera do tempo/destino do momento adequado para que Maria Firmina tivesse nela lugar de destaque. Às vezes me pergunto: Se tivesse sido fundada antes, seria ela a Patrona? Acredito que dificilmente. A Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes-AICLA foi fundada em 9 de dezembro de 2011, por 34 Membros Fundadores. O seu quadro de Patronas apresenta 5 mulheres: Mariana Luz (Cadeira 1); Maria das Dores Cardoso (Cadeira 7); Graciete de Jesus Cassas e Silva (Cadeira 8); Maria José Lopes Martins (Cadeira 23) e Lili Bandeira (Cadeira 24). As ocupantes de cadeiras da AICLA são 5: Maria da Assenção Lopes Pessoa (Cadeira13), Jucey Santos de Santana (Cadeira 17), Maria das Mercedes Sampaio de Menezes (Cadeira 33), Benedita Silva de Azevedo (Cadeira 34) e Terezinha Maria Muniz Cruz Lopes (Cadeira 36). Membros Correspondentes. De um quadro de 24 cadeiras, duas são patroneadas por mulheres: Blandina Santos (Cadeira 2), Teresinha Bandeira de Melo (Cadeira 15). Ocupantes Dilercy Aragão Adler (Cadeira 2), Mirella Cezar Freitas (Cadeira 5), Antonia Silva Mota (Cadeira 7), Maria de Fátima C. Travassos (Cadeira 14) e Maria Cecília Cantanhede Dutra (Cadeira 15). Dentre os dois Presidentes na recente história da AICLA, nota-se com satisfação, a presença de uma mulher: a Escritora Jucey Santos de Santana, atual Presidente. Uma homenagem especial a uma mulher maranhense que traduz a palavra nos embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano: Através da medicina, Maria Aragão entregou-se às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária. Foi uma eterna defensora das bandeiras libertárias e continua a ser referência para a luta popular do Maranhão. A médica foi também Diretora do Jornal Tribuna do Povo e lutou contra a ditadura militar. Os dados apresentados ratificam as ideias iniciais, tanto de exclusão das mulheres como da quebra de paradigmas quanto à inserção da palavra feminina no mundo humano, e já se percebe o eco da palavra lírica e da palavra dos embates femininos de inserção em todas as áreas de saber, como também nos campos profissionais. Assim, nas academias de letras mais novas, já fundadas neste novo milênio, se observa na amostra pesquisada que, das quatro academias citadas, as duas centenárias ( ABL, 1897 e a AML, 1908) têm patronos, na sua totalidade, escritores do sexo masculino, enquanto as duas academias criadas neste novo milênio (ALL, 2013 e a AICLA, 2011) têm patronas e ocupantes de cadeira do sexo feminino, embora não seja ainda expressiva essa presença.
Por isso, reafirmo que essa quebra está sendo feita, lentamente, mas quebrando, sim, paradigmas, superando exclusão... numa viagem sem volta. Percebe-se ainda, claramente, um movimento mais lento inicialmente, mas com visíveis avanços que se fortalecem a cada dia. Evoé! Nota: Do latim evoe : Grito de evocação proferido pelas sacerdotisas que cultuavam Baco, pelas bacantes Por Extensão Grito de felicidade, de alegria; expressão de entusiasmo e exaltação. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Poesia feminina: estranha arte de parir palavras. São Luís: Estação Gráfica.2011. ADLER, Dilercy Aragão. Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor. São Luís: ALL, 2017. ADLER, Dilercy Aragão. Poesia Polarizada a partir do gênero: Condição real ou engendrada. Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-AJEB: Palavras 2016. Porto Alegre: Evangraf, 2016. SANTANA, Jucey Santos de. Mariana Luz: vida e obra. Itapecuru Mirim: editora, 2014.
A DIMENSÃO POLÍTICA NA CULTURA LATINA JOÃOZINHO RIBEIRO
“Para mim terminaram os tempos de solidão. Começaram os tempos de solidariedade”. (Alejo Carpentier)
Senhores e senhoras, Em tempos delicados de cultura e de cuidados, torna-se fundamental que todas nossas intenções e gestos possam convergir para aquilo que o emérito e saudoso Prof. Milton Santos conceituava como lugar – “O espaço do acontecer solidário.” Com toda certeza, posso afirmar, deste lugar de onde acontece a minha fala nesta noite, que este Continente Latino-americano talvez nunca tenha precisado de tanta solidariedade entre seus povos e suas culturas, ao invés de solidão e de distanciamento de seus habitantes; agora, aqui e sempre, principalmente quando tenebrosas nuvens rondam todos os hemisférios e propagam ondas de retrocesso, de intolerância, de torturas, prisões, mentiras e assassinatos, derrubando governos legitimamente eleitos, perseguindo lideranças populares, e o mais preocupante: golpeando os direitos fundamentais, dentre estes, um dos mais simbólicos e significativos para nossa latinidade – os Direitos Culturais. E falando de direitos, nunca é demais lembrar e deixar registrado a grande simbologia que carrega consigo este ano de 2018, ano em que Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 70 anos; ano em que a Constituição da República Federativa do Brasil, completa 30, juntamente com a Sociedade de Cultura Latina do Brasil, que nos proporciona esse maravilhoso Encontro. Em 2018, completam 50 anos a passeata dos 100 mil, a Primavera de Praga, os movimentos e rebeliões estudantis que tiveram seu ápice no Maio 68 em Paris, disseminados posteriormente por quase todo o planeta. 2018 é o ano de centenário de um dos maiores símbolos de resistência e liberdade que a humanidade tem notícia – Nelson Mandela (“Gaiola não é prisão pra negro, prende segredos, mas não pode nos prender...”). Infelizmente, também, 50 anos do assassinato de Martin Luther King e da decretação do famigerado Ato Institucional nº 5, que teve como um dos seus maiores alvos a Cultura, materializado na censura à produção intelectual, artístico-literária de compositores, escritores e cientistas brasileiros, nas prisões, exílios e até na morte de muitos representantes da inteligência nacional. Ao ser provocado pelos confrades da Academia Ludovicense de Letras, Dilercy e Paulão, há alguns meses atrás, para proferir a palestra sobre “A dimensão política na Cultura Latina”, confesso que morri momentaneamente, embora costume dizer que não morro nem que me matem, pois só então compreendi, nerudianamente falando, a complexidade e atualidade da dimensão mais que política das incontáveis janelas que se escancararam, feito veias abertas desta nuestra América, dispostas a refutarem toda palavra vã, nessa estranha transfusão de concepções de vida e arte, diante dos elevados objetivos deste Encontro. O dilema do intelectual, do qual é quase impossível escapar quando se trata de submeter uma temática ampla como essa a sua concepção de mundo, de sentidos e crenças. Qual o tamanho e justificativa do recorte para um tema de tamanha envergadura envolvendo termos tão complexos como política, cultura... E mais: cultura latina? Lembrei-me do poeta alemão Goethe, e de suas inquietações sobre as influências recíprocas entre o escritor, o meio e a sua produção criativa, assim enunciadas por ele: “O início e o fim de toda atividade literária é a reprodução do mundo que me cerca por meio do mundo que está dentro de mim.” Ou, licenciando os ensinamentos do poeta amazonense Thiago de Mello: “Não tenho um caminho novo, o que tenho de novo é o jeito de caminhar.”
Não há como escapar ileso desta guerra dos mundos e de suas diferentes concepções. Algumas concessões, seleções escolhas teriam de ser feitas. É o que tentei e estou intentando nesta conversa que compartilho com vocês, nesta noite, que tem uma pequena parte escrita e outra que pretendo construir a partir do mundo que me cerca e daquele que carrego comigo, feito de vivências e convivências com aquele outro. Sou esse intelectual negro, artista militante, compositor, poeta, ludovicense com muito orgulho, maranhense, brasileiro, latino-americano, cidadão do mundo, nascido na travessa 21 de Abril, do bairro da Coreia, há mais de sessenta abris, criado no bairro do Desterro no coração do Centro Histórico, que viveu os anos de chumbo, que foi preso durante a ditadura militar, que lutou incansavelmente pelas liberdades democráticas, que marcou presença no Congresso de Reconstrução da União Nacional dos Estudantes, que integrou o Comitê Brasileiro pela Anistia, o Comitê Central de Luta pela Meia Passagem, que fundou a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, o Partido dos Trabalhadores, o Fórum Municipal de Cultura de São Luís e Rede Mundial de Artistas (Aliança por um Mundo Plural, Responsável e Solidário); que vivenciou o bom combate e os ricos embates e debates da gestão da Cultura nos níveis federativos municipal, estadual e federal, culminando com a coordenação executiva da II Conferência Nacional de Cultura (2010). Portanto, tenho consciência do lugar da minha fala, sei que ela pode desagradar a muitos e até atiçar o coro dos indignados e descontentes, porém não faço concessões neste sentido, para não falsear as minhas convicções, entendendo que a cultura pode ser o grande cimento da humanidade para colar as fraturas expostas do tecido roto das nossas desigualdades, mas não deixa de ser também o lugar do dissenso e dos conflitos. Por isso, subvertendo o consenso de domínio popular, afirmo que devemos buscar a harmonia nas nossas convivências existenciais graças as nossas diferenças e não apesar delas. Localizei num autor cubano, de profunda e respeitada erudição, chamado Alejo Carpentier, uma cunha intelectual para o desenvolvimento do tema, dado o grau de compromisso que teve, durante sua breve passagem por esta também finita estação terrena com a Cultura Latina e, de forma mais contundente, com a Cultura da América Latina e suas lutas políticas, assim apresentado pelas palavras do premiado crítico literário brasileiro, com formação em Literatura Comparada na Alemanha, Leo Gilson Ribeiro, na obra de sua autoria O Continente Submerso, editada em 1988: “Alejo Carpentier acumula séculos, talvez milênios, mesmo, de Cultura, e essa palavra não fazia só o nazista Goebbels empunhar o revólver: os governantes e a burguesia lânguida da América Latina recusam um autor que só pode ser subversivo, pois não produz telenovelas nem segue as trilhas alienantes de um Jorge Amado: deve ser então posto de lado imediatamente – não será um subversivo? Felizmente Alejo Carpentier e sua magnífica criação literária são subversivos no sentido de denunciar o marasmo e a poeirama que se acumulou sobre todos os mitos desse Museu de Cera que é a literatura bombástica, demagógica, de divertimento e desvio de assuntos profundos do tipo do xaroposo milk-shake de uma Janete Clair em cores no vídeo. Alejo Carpentier e seus numerosos livros são mais audazes ainda: contestam a mentira das esquerdas paternalistas, que acham e decidiram arbitrariamente que o “povo”, essa abstração que serve para qualquer fim, só pode ter elementos inferiores ou de um folclore “autorizado” da cultura, da sensibilidade ou da inteligência.” (Milhões de Uns, apropriação indébita) IDEM “A América brota essencialmente do mágico das lendas do milho narradas por Miguel Ángel Asturias, pelo pluri-real dos contos de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, pelas ficções cerebrais, atemporais, de Borges. Para captar essa cosmogonia, Carpentier segue a estrita realidade: atém-se rigorosamente a documentos históricos, com datas precisas, com a minúcia de ruas localizadas topograficamente em seu lugar exato. A América Latina é a antípoda da Europa cartesiana, computadorizada, desprovida do fantástico, pois é inócua também uma literatura que se queira meramente engajada, ideológica, voluntariamente descrente da multiplicidade de realidades que coexistem na América mestiça, pois isso seria impor uma óptica herdada cegamente da Europa para impô-la a uma realidade que não é mais a vista por Marx no século passado.” 200 ANOS DE MARX (comentários...) Política e Cultura, antes dos meados do século passado nem sempre mereceram um tratamento adequado dos historiadores, pois atribuía-se ao político apenas as referências aos grandes feitos de estadistas e diplomatas,
ou à definição de regimes de governo (Sebastianismo...). Somente na primeira metade do século XX é que esse conceito passa a ser modificado com a contribuição de historiadores como o francês Marc Bloch e o germano-americano Ernst Kantorowicz (Os reis taumaturgos/1924 e Os dois corpos do rei/1957). Destaque para a contribuição do sociólogo alemão Norbert Elias, em O processo civilizador (1939), que atrai o político para os gestos cotidianos, para o universo do comportamento e da cultura, os modos de sentar à mesa nos primórdios da modernidade, os códigos de etiqueta da sociedade cortesã, os valores de autocontrole e disciplina que então emergiam. Citar: Michel Foucault, Jacques Rancière, Stuart Hall, Raymond Willians, Eric Hobsbawm… E aqui cabe perfeitamente inserir a contribuição da antropóloga americana Ruth Benedict, acerca do conceito de cultura, citada pelo seu colega brasileiro Roque Laraia, referenciando uma passagem do livro O crisântemo e a espada, em sua obra Cultura - um conceito antropológico: “A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas.” Dito isso, rebusco no folder divulgador desse memorável Encontro um dos seus principais objetivos: refletir acerca do papel da Mulher Latina na cultura dos seus países, e resgato a figura de Sor Juana Inés de la Cruz, exortada por Alejo Carpentier em discurso pronunciado na Aula Magna da Universidade Central da Venezuela, em maio de 1975, ano denominado “Ano da Mulher”. “É aqui, nesta terra, onde, com as ininterruptas sublevações de índios e negros (desde os primórdios do século XVI), com os Comuneros de Nova Granada, com a gestão de Túpac Amaru, até o tempo das nossas grandes lutas pela independência, se assistiu às primeiras guerras anticoloniais – da história moderna... E, indo aleatoriamente sem me deter nesta ou naquela mostra de nossa originalidade, caberia lembrar, neste ano que se denominou “Ano da Mulher”, que o primeiro documento energicamente feminista, firmemente feminista (documento onde se reivindica para a mulher o direito de acesso à ciência, ao ensino, à política, a uma condição social e cultural oposta ao “machismo” que muito se vê em nosso continente...), esse documento se deve à portentosa mexicana Sor Juana Inés de la Cruz – autora, diga-se de passagem, de poemas “negros” que, pelo tom, se antecipam de maneira incrível a certos poemas de Nicolás Gillén, o grande poeta que vocês ouviram, há pouco, neste mesmo salão nobre.” Sor Juana Inés de la Cruz (Juana de Asbaje, 1651 – 1695) é uma das grandes figuras do barroco americano. Sua escrita contribui decisivamente para o desenvolvimento das letras hispano-americanas pela sua relação original com a literatura espanhola dos Séculos de Ouro (última deste ciclo). Constitui uma complexa personalidade criadora, de notável profundidade reflexiva e sutileza de pensamento que se faz patente em distintos campos do trabalho intelectual e literário. Sua obra é formada por peças teatrais, poesias e os textos polêmicos Carta Atenagórica (1690) e Carta Respuesta a sor Filotea de la Cruz (1691), que Carpentier qualifica como “o primeiro documento energicamente feminista”. Neste último, às voltas com um debate de aparência teológica que tem como primeira referência seu comentário crítico a um sermão do Padre Antonio Vieira, sor Juana Inés defende o direito da mulher à cultura com lógica irrebatível e uma audácia sem precedentes no contexto colonial dos virreinatos (forma autoritária e truculenta de organização político-administrativa da Coroa Espanhola). Citar trecho do livro Maria Bonita – Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, a ser lançado em agosto (Adriana Negreiros) A essas alturas, após expor alguns conceitos históricos e antropológicos de Cultura, creio já ser possível perceber o recorte geográfico da América Latina como o espaço escolhido do acontecer, nem sempre solidário, da minha palestra e o campo de resistência da luta dos seus artistas e intelectuais para delimitar a dimensão política na Cultura Latina, tomando como fio condutor dessa incompleta tradução preciosas observações do escritor Alejo Carpentier, que desafiaram a linha do tempo, confirmando que toda luta anticolonial ou anti-imperialista é, antes de qualquer outra adjetivação, uma batalha cultural contra a hegemonia e a imposição de valores e concepções de mundo totalmente excludentes e alheios à história do nosso Continente.
Hoje, ao falarmos de hegemonia, mais do que nunca reitero e advogo a atualidade dos estudos de Antonio Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere, quando alertava que para avaliar a densidade política da noção de hegemonia, se fazia necessário entender a articulação entre política e cultura. E mais, a cultura como o lugar privilegiado de formação do consenso e de difusão da concepção de mundo das classes dominantes entre todas as camadas da população. Entendo que essa parte foi e continua sendo bastante negligenciada pelos intelectuais progressistas, principalmente aqueles que se dizem de esquerda e militam em partidos políticos, que concentraram suas teorias e práticas na superestrutura, na economia e na organização política, desconsiderando os temas da atualidade, sem conseguirem incorporar os conteúdos das lutas e reivindicações dos movimentos LGTBI, dos jovens, dos movimentos negros, das mulheres, crianças, loucos, delinquentes, ciganos, minorias étnicas, punks, prostitutas, escravos, mendigos, párias, migrantes... E por aí vai. Talvez os ditadores tenham compreendido até com mais profundidade a dimensão política da cultura e o perigo que esta representava e continua representando para a implantação dos regimes de exceção, como foi invocado no início da nossa fala sobre a reação de um dos mais poderosos homens do estado-maior de Hitler, Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, quando ouvia a palavra cultura e sua mão procurava instintivamente o revólver. (fake news) Em nossa América, mais precisamente no ano de 1973, quando da implantação do sanguinário regime do ditador Augusto Pinochet no Chile, um dos primeiros atos dos golpistas foi a proibição do uso dos instrumentos musicais como o charango e a quena, que o compositor Victor Jara, assassinado no Estádio Nacional, com 44 tiros, juntamente com outros artistas da chamada Nova Canção Chilena haviam recuperado do folclore local. Vale à pena destacar neste momento, a condenação de nove covardes executores do músico Victor Jara, acontecida no último dia quatro de julho, ainda que com 45 anos de atraso, pelas cortes de justiça chilenas, reconhecendo finalmente a responsabilidade do Estado do Chile pelo sequestro e assassinato desse grandioso artista, genuíno representante do cancioneiro popular de nossa América Latina. E por falar em golpe e em golpistas, somos testemunhas em terras brasileiras da resistência cultural oferecida ao golpe civil-militar de 1964 e ao atual judicial-parlamentar, de 2017, que teve como um dos seus primeiros atos a extinção do Ministério da Cultura. Também lembramos oportunamente da Escola de Samba Unidos do Tuiti, que no carnaval do Rio de Janeiro, deste ano de 2018, levou para a avenida um enredo, que tinha como alvo principal das críticas as peripécias do vampiro que ocupa hoje o cargo de presidente da república. Despedindo-nos aqui das valiosas contribuições do nosso guia literário, Alejo Carpentier, compartilhamos um trecho interessante do seu já citado discurso, proferido em conferência realizada na Universidade Central da Venezuela, em 1975: “Não sei até que ponto os jovens latino-americanos de hoje se dedicam ao estudo sistemático científico, de sua própria história. É provável que a estudem muito bem e saibam tirar fecundos ensinamentos de um passado muito mais presente do que se costuma acreditar, nesse continente, onde certos fatos lamentáveis costumam repetir-se, mais ao norte, mais ao sul, com cíclica insistência. Mas, pensem sempre – tenham sempre presente – que, no nosso mundo, não basta conhecer a fundo a história da pátria para adquirir uma verdadeira e autêntica consciência latino-americana. Nossos destinos estão ligados diante dos mesmos inimigos internos e externos, diante das mesmas contingências. Podemos ser vítimas de um mesmo adversário. Daí que a história de nossa América deva ser estudada como uma grande unidade, como a de um conjunto de células inseparáveis uma das outras, para chegar-se a entender realmente o que somos, quem somos, e que papel devemos desempenhar na realidade que nos circunda e dá um sentido a nossos destinos. Dizia José Martí, em 1893, dois anos antes da sua morte: “Nem o livro europeu, nem o livro ianque, nos darão a chave do enigma hispano-americano”, acrescentando mais adiante: “É preciso ser, ao mesmo tempo, homem de sua época e homem de seu povo, mas deve-se ser antes de mais nada, o homem de seu povo”. E para entender esse povo – esses povos, acrescentaria eu – é preciso conhecer sua história a fundo.” Ao longo de toda sua existência, esse nosso continente latino-americano tem se constituído num vasto campo de experimento para centenas de golpes implantadores de regimes cujas matrizes de crueldades
banharam de sangue a história de várias gerações, como é o caso das experiências coloniais e da chaga nefasta da escravidão negra e indígena, cujo legado até hoje permanece como avalista principal das colossais desigualdades que se eternizam como ervas daninhas no território onde estão semeadas as nossas ancestralidades étnicas e culturais. A faceta mais contemporânea do gênero golpe em nossa América, agora se apresenta sob a forma de um intenso massacre midiático, perpetrado pela também desigual concentração dos meios de comunicação, seguido da desqualificação dos opositores, redundando na abertura de processos judiciais e o consequente impedimento daqueles dirigentes legitimamente eleitos, dentro dos marcos legais da democracia representativa, tendo como a principal palavra de ordem o combate à corrupção. Assim sucedeu no Paraguai, Panamá, e Brasil; e assim prossegue no Equador, Argentina, Brasil, Bolívia etc. (Personalização dos processos políticos) É justamente aí que localizamos um novo modus operandis dos golpistas de plantão, que dispensa o uso das forças armadas, das torturas físicas e dos exílios, para substituí-los por um esmerado ativismo judicial, que se manifesta na politização do Poder Judiciário, em escala crescente nos diferentes países da América Latina, trabalhando intensamente com a desinformação, com a imbecilização cultural, aprofundando sem peias uma hegemonia, através das novas tecnologias de informação e comunicação, criando um tipo cômico e trágico em nossa cultura – o informado inconsciente. Essa nova e intensa concentração comunicativa e cultural talvez fosse impensada há alguns tempos atrás, mesmo com as observações de Gramsci relacionadas com o seu conceito de hegemonia, e as críticas de pensadores marxistas do quilate de Adorno e Walter Benjamin a respeito das nascentes indústrias culturais, tratadas com mais acuidade pela professora de filosofia política (aposentada) da UFPR, Anita Helena Schlesener, num texto intitulado “A dimensão política da cultura na leitura de Gramsci”: “A dimensão da cultura na contemporaneidade se deve ao desenvolvimento acelerado das indústrias culturais e das corporações transnacionais de comunicações que, no contexto das relações de poder vigentes atuam na homogeneização cultural, interessante para o processo de mundialização da economia.” IDEM “A partir da inserção de novas tecnologias principalmente no âmbito da informação houve um desenvolvimento acelerado das indústrias culturais de produção, circulação e troca cultural, de modo que a cultura assume importância central na organização da sociedade moderna tardia, conforme Stuart Hall e outros teóricos que se referem a uma expansão de relações sociais por meio das novas mídias eletrônicas.” (Centralidade da Cultura) De outro modo, porém muito mais recente é o que observa a jornalista Rosa Miriam Elizalde, em conferência realizada na semana passada no Foro de São Paulo, na cidade de Havana. “Numa sociedade que transita aceleradamente da produção e comércio de bens e serviços físicos à produção digital, a nova e intensa concentração comunicativa e cultural – cujo centro está nos Estados Unidos – é o que decide como as pessoas gastam a maior parte dos seus recursos e suas horas diárias, e sua influência abrange ao menos um quarto da população mundial.” Dados atualizados da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, corroboram de forma incontestável essa contemporânea concentração comunicativa e cultural. Cerca de 90% da informação eletrônica que circula na América Latina e no Caribe passa por algum filtro administrado direta ou indiretamente pelos Estados Unidos, e entre 70% e 80% desses dados intercambiados internamente pelos países da região também passam por cidades estadunidenses, onde se localizam 10 dos 13 servidores raízes que conformam o código mestre da Internet. Esses mesmos dados apontam que a América Latina “é a região mais atrasada com respeito à produção de conteúdos locais, embora seja líder em termos de presença de internautas nas redes sociais. Dos cem sítios mais populares na região somente 21 difundem conteúdo do seu próprio pais ou região: isso quer dizer que em vez de criar riqueza para a região, o continente está transmitindo riquezas todos os dias aos Estados Unidos, onde estão alojadas as grandes empresas de internet. (Plataformas digitais, repertório nacional)
Comunicação é cultura, cultura é política e política é disputa de poder. Tratar a dimensão política da cultura como coisa secundária é o mal de que padece grandiosa parte da esquerda do mundo inteiro, e o terreno fértil para o crescimento da onda reacionária e neofacista de extrema direita que se instala no continente europeu e em terras latino-americanas, de forma vertiginosa, contundente, tendo a juventude desinformada e mal instruída como seu alvo prioritário e favorito. Uma teratológica opção preferencial pelos jovens, na chocadeira de vários ovos da serpente. Em artigo recente do escritor e prêmio Nobel de Literatura, Salman Rushdie, intitulado O Grau Zero da Linguagem, publicado na Revista Piauí, ele aborda a questão com o seguinte enfoque: “A democracia não é gentil. Ela é, muitas das vezes, uma disputa no grito em praça pública. Temos de nos envolver nessa discussão, se quisermos ter alguma chance de vencê-la (não posso me esquecer do fato de que quase metade dos eleitores americanos registrados não compareceu às urnas, em novembro de 2016, incluindo-se aí muitos dos jovens que, mais tarde, marcharam apaixonadamente para protestar contra o resultado).” Por tudo que aqui foi exposto, creio não ser preciso comentar o peso e a relevância das eleições presidenciais este ano no Brasil para a Cultura Latina e sua respectiva dimensão política, até porque não caberia nesta palestra e seria deselegante assim fazê-lo. Independentemente das preferências de cada um dos presentes e o respeito que devemos ter por estas, não poderia deixar passar em branco e muito menos em um negro como este que vos fala... FORA TEMER! FORA TEMER! FORA TEMER! Esta semana, quando estava em fase de elaboração desta palestra, e colecionando algumas anotações, solicitei para um velho camarada da vida e da arte, o poeta curitibano Hamilton Faria, uma pequena contribuição para a minha fala no IV Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. Ele lembrou oportunamente das contribuições do sociólogo catalão Agusti Nicolau para o debate do Fórum Intermunicipal de Cultura no início do milênio, do qual integrávamos juntos a coordenação executiva. A contribuição foi encaminhada na última noite para o meu zap. Com ela encerro esta minha modesta participação. “A política com uma visão cultural necessita também mais que nunca buscar os impulsos mais generosos da civilização para incidir sobre a desigualdade e a vida banal e consumista, pois a grande chave para abrir o futuro é buscar todas as nossas potências de vida simples e bem viver. A nossa sociedade está desencantada, há que reencanta-la; a política está desencantada, há que reencanta-la, com novos métodos, atores da diversidade e da biodiversidade, com novas práticas assentadas na verdade e na não violência. A Cultura de Paz é a alma do reencantamento do mundo. E a política precisa acessar não apenas a razão mas a poesia da vida, presente na vida cotidiana e na nossa capacidade de transformar as nossas realidades mais duras.” MUITO OBRIGADO!
VIDA E ESPERANÇA PARA A(S) ANANDA(S) E FELIPE(S) DO MUNDO Sem amor não há vida! DILERCY ADLER Ao receber o romance Felipe Pai D´égua, de Antonio Melo, para tecer alguns comentários deparei-me de início, com um agradecimento deveras contundente: Agradeço ao Criador, por ter me concedido a aptidão natural para as artes e a Literatura e para descrever e narrar por escrito meus pensamentos, minhas ideias e caprichos da minha imaginação (grifo meu). E, ao final, na sua biografia, os primeiros dados são os de sua profissão. A primeira é a de Marceneiro (aposentado), seguido de Artesão escultor, Radiotécnico – Rádio e Televisão e Eletrônica. Só depois vêm as funções e títulos culturais, como membro fundador de academias, entre outros.Vi também que já lançou seis livros: Contos e Histórias de Melo I e II – 2012, A face Inspiradora da Poesia – 2015, O Bicho do “Zoolhão” e As Proezas do Filho do Pescador - 2013 (infantil) e em 2010 um livro de comédia “Cozinhando osso” e outros em seguimento. Esses dados me remetem à necessidade de trazer à baila as condições estruturais da nossa sociedade na esfera do trabalho, na sua divisão: trabalho intelectual e trabalho manual, e sabe-se que aqueles que desempenham o trabalho manual, na divisão social do trabalho, não têm, ou pouco têm o direito de desenvolver a sua intelectualidade, sendo-lhes negadas condições e estímulos favoráveis à expansão da sua prodigiosidade, e ainda, via de regra, na rotina diária, o trabalhador da classe operária vive extensas e cansativas jornadas de trabalho, o que lhe dificulta, ainda mais, dedicar-se à leitura e reflexões de escritos literários ou acadêmicos. Para Gramsci, a classe operária é aquela que pode comandar a mudança social, no sentido da superação da desigualdade econômico-social posta e, para isso, deve contar com os seus próprios intelectuais, os quais configuram um novo tipo, em conformidade com a desconstrução da sua situação de classe, que passa pela subordinação no campo material e ideológico. Nessa perspectiva, as mensagens no livro são de denúncia, expõe a ferida aberta que macula a história de muita gente e da nossa dita civilização. Vejo o escritor Antônio Melo como um desses intelectuais que, a despeito de tudo, vence densas barreiras, e, na linguagem gramsciana, personifica um intelectual orgânico, nascido da sua própria classe, a trabalhadora. Nesse sentido, ele ratifica que lhe foi concedida pelo Criador a aptidão natural para as artes e a Literatura! Sabe-se que as aptidões não são dadas externamente, mas internamente, a princípio. Quanto ao texto, diria que se configura como uma leitura instigante desde o sentido estrutural, porque não existe uma linearidade na exposição de fatos e situações, mas um intercalamento intencional no relato das histórias dos protagonistas e mesmo em relação às épocas vividas por cada um deles. Vi e viajei num drama, no qual a estupidificação do ser humano abre a ferida da existência e, contraditoriamente, também revela o lado amoroso e mais salutar da natureza humana. Sem essa coexistência de tendências comportamentais antagonistas, talvez na própria realidade a vida fosse insuportável, ou seja, se prevalecesse apenas o embrutecimento nas relações interpessoais, a humanidade não mais existiria. Daí a importância do amor na preservação da espécie humana. Sem amor não há vida! Encontrei na história um amor efêmero, leve, por parte da protagonista, que poderia se firmar e fortalecer no decorrer da vida dos personagens, mas o destino impediu que essa possibilidade se consolidasse no decorrer da história, ceifando precocemente a vida do desafortunado parceiro, que parecia apresentar beleza física e interior. Por outro lado, esse mesmo destino concedeu à protagonista um segundo amor, forte, arrebatador que se firmou como sentimento, mas foi efêmero no tempo e brusca e tragicamente impedido de se prolongar ao longo da vida do casal, configurando aquele final feliz dos contos de fada: E foram felizes para sempre! Foram felizes, mas não para sempre, pouco durou, apesar da força e beleza desse amor! Viajei também pelas belas paisagens de um lugar pródigo em belezas naturais, de um lugar onde a vida da maioria das pessoas era simples e interiorana, sem luxos e outros atrativos ou comodidades da vida urbana,
que para alguns basta, mas para outros, como Ananda, a protagonista, não! Ela sonhava com uma vida melhor para si e para a sua família, o que de fato conseguiu por meio das mesadas enviadas para a família com o seu parco salário, mas oriundo de um trabalho que a satisfazia e, por outro lado, teve condições de concomitantemente estudar e se formar para desempenhar a função de professora, incentivada, também, pela doce mulher que encontrou no seu caminho. Mas, ao viajar por essas belas paisagens bucólicas e encontrar pessoas simples e saudáveis, psicologicamente falando, com contradições comuns à existência humana, mas respeitosas, encontrei também figuras embrutecidas, com egos inflados pela crença de que quem tem dinheiro tem poder sobre as coisas do lugar e até sobre a vida das pessoas, configurando uma polarização entre a estupidez e a afabilidade nas relações entre as pessoas. Não fosse esse tipo de pessoa, o final desta história seria feliz. Se não fosse a amabilidade existente em um dos polos dessa contradição posta, a existência seria insuportável! Tenho, sim, frente aos meus olhos um drama, com nuances comuns na vida de muita gente de estrato social não dominante, pois, há milênios, a história da humanidade se assenta em muito sangue e na dominação, humilhação e dizimação de muitos homens, mulheres, jovens e crianças por outros, detentores do poder, em diferentes esferas da vida coletiva, tais como: abuso de poder e uso da força física e ideológica sobre as camadas pobres ou escravas; inferiorização da mulher, percebendo-a como objeto sexual e, agravada muitas vezes, pelo uso da violência física e verbal, culminando com os feminicídios. Mas, ao mesmo tempo, apresenta peculiaridades que o diferenciam dos demais, tornando-o singular, pela própria época, gente e lugar e pela estrutura do engendramento da trágica trama. Hoje, estamos vivendo no Brasil um período social de muita intolerância e preconceito. Esta leitura, com certeza, despertará o desejo de paz, o desejo de amor e união entre as pessoas, principalmente pela constatação de que no confronto do ódio, da força, todos saem perdendo... perdemos a possibilidade da tão desejada felicidade!!! Parabéns, Antônio Melo, por ter sido abençoado pelo Criador com a aptidão natural para as artes e a Literatura e para descrever e narrar por escrito seus pensamentos, suas ideias e caprichos da sua imaginação!!!(grifo meu). Parabéns por sua dedicação à superação das barreiras materiais! Antonio Melo, a você, a minha admiração!!! E o meu desejo de Sucesso sempre!!! São Luís, 25 de outubro de 2015. Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler Membro fundador e presidente (biênio 2016-2017), da Academia Ludovicense de Letras-ALL Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGM Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB Delegada no Maranhão do Liceo Poético de Benidorm/Espanha
DILERCY ARAGÃO ADLER RESUMO
MARIA FIRMINA DOS REIS: seus Cantos à beira-mar e o conto indianista Gupeva Parte-se de sucinta apresentação da primeira romancista brasileira, do estado do Maranhão, Maria Firmina dos Reis, incluindo a sua vasta produção em diferentes vertentes das artes. Colocam-se em evidência duas de suas obras que compõem uma única publicação: Cantos à beira-mar (poesia) e Gupeva (conto indianista), abordando-se desde as características peculiares da escrita firminiana até às inferências relativas as suas motivações retratadas no testemunho/interpretação próprias da escritora, atreladas às condições objetivas e subjetivas da sua época. Apresentam-se também reflexões acerca dos contornos temáticos dessas obras que, apesar de menos conhecidas, são muito importantes e ainda possibilitam o conhecimento de novos vieses da sua produção literária, desenvolvidas no contexto de ascensão do Romantismo. Palavras-chave: Maria Firmina dos Reis. Poesia. Conto. MARIA FIRMINA DOS REIS: SEUS CANTOS À BEIRA - MAR E O CONTO INDIANISTA GUPEVA 1
APRESENTAÇÃO DE MARIA FIRMINA DOS REIS
Falar de Maria Firmina dos Reis é uma missão de amor, o que declaro no Elogio que fiz a ela como parte do ritual de ocupação da Cadeira de número 08, por ela patroneada, na Academia Ludovicense de Letras-ALL (Academia da Cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão/Brasil). No entanto, tenho a clareza de que esta não é uma tarefa fácil, considerando as condições objetivas da época em que Maria Firmina viveu. Tempo pródigo em escassez de fontes de registros que fundamentem com mais exatidão determinadas condições e características pessoais e da sua vida. Mas, de início quero reafirmar que se trata de uma grande mulher, dentre tantos títulos, o de primeira romancista brasileira, primeira romancista abolicionista e a única romancista do século XIX. Uma grande mulher, não apenas no tocante à vasta obra, que passa por várias vertentes da arte, como por sua nobreza, simplicidade e engajamento político numa época marcada por profundas desigualdades que maculam a história da humanidade, como a escravidão dos africanos, a extinção de nações indígenas, a inferiorização da mulher, como ser humano e como cidadã, entre tantas outras. No tocante aos seus dados pessoais, um dado incontestável é que Maria Firmina dos Reis nasceu no bairro de São Pantaleão, na Ilha de São Luís, capital da província do Maranhão/Brasil, e aos 05 anos de idade foi morar com uma tia na Vila São José de Guimarães do Cumã, hoje cidade de Guimarães. Porém outros dados no contexto do seu nascimento, assim como da etnia da sua mãe foram refutados com base em pesquisas recentes (2017), em fontes primárias, encontrados no Arquivo Público do Estado do Maranhão, empreendida por mim, com a indicação da Profa. Mundinha Araújo, Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Maranhão, escritora, pesquisadora e militante do Movimento Negro. No tocante aos novos dados cito a seguir: - A data de seu nascimento, até meados de 2017, todos os trabalhos publicados registravam 11 de outubro de 1825. No entanto, por meio dos documentos: Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847 (Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 Documento-autos nº 4.171); da Certidão de Justificação de Batismo (Fundo Arquidiocese - Certidão de Justificação de Maria Firmina dos Reis - Livro 298 – fl. 44v) e do Livro de Baptismo (Fundo Arquidiocese Batismo de Maria Firmina dos Reis, Livro 116- fl. 182), ficou constatado que o seu nascimento, de fato, data de 11 de março de 1822:
DOCUMENTO DIGITALIZADO E TRANSCRITO: FUNDO ARQUIDIOCESE DO MARANHÃO. AUTOS DA CÂMARA ECLESIÁSTICA EPISCOPAL. SÉRIE 26. AUTOS DE JUSTIFICAÇÃO DE NASCIMENTO CAIXA Nº 114 –DOCUMENTOS AUTOS Nº 4171- (1847). (ADLER, 2017, p. 105).
[fl.1] 1847 Maranhão Autos de Justificação do dia de Nascimento de Maria Firmina dos Reis. <Camera Eca. Escr.vamCarvalho [Rubrica]> <rubrica> Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos quarenta e sete annos, aos vinte e cinco dias do mez de Junho do dito anno, nesta Cidade de São Luis do Maranhão, em a Camera Eccleseasteca, authou, e preparei na forma do estillo huma Peticao, e hum Documento da Justificante á cima declarado, em cumprimento do Despacho do Illustrissimo, e Reverendissimo Arcediago, Provisor, e Vigario Geral deste Bispado, profferido em a mencionada Petição e tudo he o que ao diante se segue: de que para constar fiz este authoamento. Eu o Padre Antonio Joao de Carvalho, Escrivao da Camera Eccleseasteca o escrevi DOCUMENTO DIGITALIZAIDO E TRANSCRITO: FUNDO ARQUIDIOCESE. CERTIDÃO DE JUSTIFICAÇÃO DE BATISMO MARIA FIRMINA DOS REIS (LIVRO 298 - FL 44V) (ADLER, 2017, p. 117).
Aos vinte e um de Desembro de mil oitocentos vinte e cinco annoz, na Freguesia de Nossa Senhora da Victoria Igreja Cathedral da Cidade do Maranhão o Reverendo Cura da mesma Francisco Jose Pereira, baptisou e pôz os Santoz Oleoz á Maria, nascida aoz onse do mez de Março do anno mil oito centoz vinte e douz filha natural de Leonor Felippa doz Reiz Forao Padrinhoz o tenente de Miliciaz João Nogueira de Sousa solteiro e Nossa Senhora doz Remedioz – O que tudo assim constou da justificaçan que a requerimento da Justificante se procedeu por este Juiso e foi julgada por sentença do Illustrissimo e Reverendissimo Mestre Eschola o Doutor Antonio Bernardo da Encarnação e Silva Provisor e Vigario Geral do Bispado, profferida noz respectivos Autoz aoz nove de Julho de mil oito centoz quarenta e sete, o [sic] digo e Despacho do mesmo profferido noz dittoz Autoz aoz quatorse do mesmo mez e anno, em que manda abrir este assento com az declarações necessariaz salvo o prejuizo de terceiro = E para constar e cumprir este se fez Mar.am 14 de Julho de 1847 Eu <P C. aos 14 de/ de Julho de 1847// Maria > - Filiação: nos registros pesquisados consta o nome de João Pedro Esteves como seu pai, no entanto nenhum outro dado é colocado sobre ele, salvo que era negro. Assim, a sua origem e vida são totalmentes desconhecidas até hoje. No tocante à mãe de Maria Firmina, Leonor Felippa dos Reis, nos trabalhos anteriores aparece como branca e de origem portuguesa, todavia, aparece como molata forra, no livro de Baptismo, de nº 116, na Folha 182, está assim registrado: DOCUMENTO DIGITALIZADO E TRANSCRITO: FUNDO ARQUIDIOCESE. BATISMO DE MARIA FIRMINA DOS REIS. (LIVRO 116- FL 182) (ADLER, 2017, p. 118).
Aos vinte e hum dia de mil oito centos e vinte e cinco nesta Freguesia de Nossa Senhora da Victoria Igreja Cathedral da [sic] digo da Cidade do Maranhao baptizei e pus os Santos Oleos a Maria filha natu ral de Leonor Felippa molata forra que foi escrava do Commendador Caetano Jose Teixeira forao Padrinhos Tenente de Milicias Joao Nogueira de Souza solteiro e Nossa Senhora dos Remedios de que se fez este assento que assignei. O Cura Francisco Jose Pereira <P. Isic] 22 de/ Junho de 1847 [rubrica]> - Imagem: Maria Firmina não deixou nenhuma foto. Existe uma réplica da sua imagem em um busto esculpido, em sua homenagem, por ocasião do sesquicentenário de seu nascimento, de autoria do artista plástico Flory Gama, construído à base de informações prestadas por vimarenses (os cidadãos da cidade de Guimarães, no estado do Maranhão, Brasil) que conviveram com ela, como Dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista, na residência da Praça Luís Domingues, e Dona Eurídice Barbosa, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó. Em seu livro Maria Firmina: Fragmentos de uma vida, editado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado - SIOGE, no Maranhão, Nascimento Morais Filho (1975, p. 259) se refere aos traços físicos de Maria Firmina dos Reis, mencionando: [..] Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros, nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos), morena. A esse respeito, convém registrar que a imagem da escritora Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida pelo pseudônimo de Délia, é veiculada erroneamente como sendo de Maria Firmina dos Reis. Maria Benedita é, de fato, uma cronista, romancista, contista e jornalista, que nasceu em 25 de novembro de 1853, na cidade de Porto Alegre/Rio Grande do Sul/Brasil e faleceu em julho de 1895, no Rio de Janeiro/RJ/Brasil. Ainda chama a atenção que aparece em trabalhos distintos a mesma foto de Maria Benedita, ora para retratar ela própria, ora para retratar Maria Firmina dos Reis.
Maria Firmina dos Reis
Maria Benedita Câmara Bormann, (Délia)
Isso posto, reafirmo dados já enunciados em vários trabalhos sobre Maria Firmina dos Reis. Além de ser professora e, aos 25 anos ter publicado o primeiro romance, Úrsula (1859), tornando-se a primeira romancista, foi, também, a única do século XIX, como já referido. Segundo Nascimento Morais Filho (1975), a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante. Argumenta que nessa perspectiva, [...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em
nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, apud ADLER, 2014, p.12). O conjunto da sua obra é de notável reconhecimento e bastante significativa, tanto em quantidade quanto em variedade de gêneros literários e vertentes das artes: romances, crônicas, contos, poesias, composições (letra e música), enigmas, epígrafes, folclores, entre outras: Obras: Úrsula (romance, 1859), Gupeva (romance de temática indianista,1861, Cantos à beira-mar, (poesia, 1871), A escrava (conto antiescravista,1887), Antologia Poética Parnaso Maranhense: coleção de poesias, editada por Flávio Reimar y Antonio Marques Rodrigues. (1861); Publicações em jornais literários: Federalista, Pacotilha, Diário do Maranhão, A Revista Maranhense, O País, O Domingo, Porto Livre, O Jardim dos Maranhenses, Semanário Maranhense, Eco da Juventude, Almanaque de Lembranças Brasileiras, A Verdadeira Marmota, Publicador Maranhense e A Imprensa; Composições Musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música), Valsa, Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis ou (letra e música de Maria Firmina), Hino à Mocidade (letra e música), Hino à liberdade dos escravos (letra e música), Rosinha, valsa (letra e música), Pastor estrela do oriente (letra e música), Canto de recordação, “à Praia de Cumã” (letra e música). Entretanto, ainda conforme Nascimento Morais Filho (1975), Maria Firmina foi vítima, posteriormente, de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas (Morais Filho apud Adler, 2014, p.12), de modo que na atualidade existe uma quantidade significativa de trabalhos sobre a vida e obra dessa grande escritora. Por meio desses dados, busco apresentar, mesmo que de forma bastante sucinta, a mulher e escritora Maria Firmina dos Reis, antes da apresentação de duas de suas obras, que me proponho fazer como objeto desta minha missão de amor. 2 SOBRE AS OBRAS CANTOS À BEIRA-MAR (POESIA) E GUPEVA (CONTO INDIANISTA) Inicialmente, convém esclarecer que a escrita firminiana tem características peculiares, a exemplo, de uso frequente de travessão, de vírgulas, de apóstrofos, bem como de separação do sujeito do predicado, sobretudo nos poemas. No que diz respeito a essa questão, procurou-se preservar seu texto o mais precisamente possível, de modo a conciliar a escrita da época com a atual, mas com o cuidado de retratar o testemunho próprio da escritora, considerando sua época e seus valores, por meio da interpretação por ela apregoada. A obra em pauta é uma produção da Editora da Academia Ludovicense de Letras-ALL, sob o auspício da Academia Ludovicense de Letras-ALL (Academia de Letras da cidade de São Luís/Maranhão/Brasil) e do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães (Maranhão/Brasil), que se dispuseram a oferecer ao público leitor em geral e aos estudantes dos vários graus de ensino esta primeira edição, atualizada, conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em vigor. Para tal contaram com o trabalho acurado da Profa. Maria Cícera Nogueira, licenciada em Letras, que primorosamente se debruçou sobre a escrita firminiana, a qual traz consigo o contexto de sua época em linguagem e condições históricas, segundo o Acordo Ortográfico. A obra apresenta Prefácios da Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Dilercy Aragão Adler, à época (2017), e do Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, Osvaldo Gomes. Assim, lanço mão das minhas palavras traçadas no referido prefácio para cumprir o meu objetivo de apresentar as duas obras reunidas nesta edição. No que diz respeito aos Cantos à beira-mar tem-se conhecimento de apenas duas edições anteriores: a original, em 1871, e a 2ª Edição, impressão fac-similar publicada por José Nascimento Morais Filho, em 1976. Enquanto o Gupeva conta com três publicações em jornais literários: em 1861, O Jardim dos Maranhenses, inicia a publicação do conto indianista Gupeva, dividido em quatro capítulos; em 1863, nova edição do Gupeva pelo Jornal Porto Livre e, em 1865, o jornal literário Eco da Juventude. Mas a
primeira edição em livro dá-se em 1975, no livro de Nascimento Morais Filho, intitulado: Maria Firmina: fragmentos de uma vida, no qual publica o Gupeva juntamente com outras obras da escritora. Como já foi referido, embora talvez não suficientemente, esta renomada autora maranhense, sem contar o montante da sua obra que aglutina várias vertentes da arte, não tem as suas obras literárias disponibilizadas no mercado editorial, com exceção do romance Úrsula, que já conta com sete edições em nível nacional e duas pela Academia Maranhense de Letras - AML. Declaro no referido texto que, com o intuito de preludiar de forma que traduza o mais próximo possível da riqueza e beleza destas obras, confesso que me encantei de início com a Dedicatória de Maria Firmina para a sua mãe, no seu Cantos à beira-mar: À MEMÓRIA DE MINHA VENERADA MÃE, e na primeira oração, me parece, de forma imperativa e doce, diz: Minha mãe – as minhas poesias são tuas (grifo meu). E continua... É uma lágrima que verto sobre as tuas cinzas! – acolhe-as, abençoa-as para que elas possam te merecer. [..]verti lágrimas de pungente saudade, de amargura infinda sobre a tua humilde sepultura, como havia derramado sobre o teu corpo inanimado. [...]a dor era cada vez mais funda, mais agra e cruciante – tomei a harpa, - vibrei nela um único som, - uma nota plangente, saturada de lágrima e de saudade... [...]Este som, esta nota, são meus cantos à beira-mar. Ei-los! É uma coroa de perpétuas sobre a tua campa, - e uma saudade infinda com que meu coração te segue noite, e dia - é uma lágrima sentida, que dedico à tua memória veneranda. [..] Eis pois, minha mãe, o fruto dos teus desvelos para comigo; - eis minhas poesias: - acolheas, abençoa-as do fundo do teu sepulcro. E ainda uma lágrima de saudade, - um gemido do coração... Guimarães, 7 de abril de 1871. Maria Firmina dos Reis (ADLER, pp. 06-07, 2017) (grifos meus). Digo também que, alguns podem achar um texto piegas, sentimental ao extremo; eu não comungo com essa interpretação. Traduzo nesses versos um amor profundo e adornado por muita admiração e gratidão de uma filha por sua mãe. Aí me vem a constatação de quão necessária é essa obra, porque vestida e revestida de sentimentos nobres e, nesse sentido, pouco usuais na nossa empobrecida contemporaneidade, na qual o consumismo e a necessidade de poder são exortados como condições indispensáveis de bem viver. Quem sabe assim possamos refletir acerca do quê estamos vivendo, para quê estamos vivendo e como estamos vivendo. Chama a atenção que alguns poemas são oferecidos a pessoas de sua estima e admiração, inclusive a Gonçalves Dias, mas também outros para louvar Guimarães, a Praia de Cumã e ainda aqueles que tratam das questões amorosas do amor romântico e outras dores, como Queixas, Não quero amar a mais ninguém, A dor que não tem cura, Confissão, Esquece-a, Seu nome, Melancolia, entre tantos outros. Mas um poema que muito me enternece é: No Álbum de uma amiga. NO ÁLBUM DE UMA AMIGA D'amiga a existência tão triste, e cansada, De dor tão eivada, não queiras provar; Se a custo um sorriso desliza aparente, Que máguas não sente, que busca ocultar!?... Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. D'amiga a existência Não queiras provar,
Há nelas tais dores, Que podem matar. O pranto é ventura, Que almejo gozar; A dor é tão funda, Que estanca o chorar. Se intento um sorriso, Que duro penar! Que chagas não sinto No peito sangrar!... Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir. Talvez assim deus queira o meu viver Tão cheio de amargura. P'ra que não ame a vida, e não me aterre A fria sepultura. In: CANTOS À BEIRA MAR, 1871. Por sua vez, O Gupeva trata de um amor impossível com final trágico. Nas suas falas, fica claro todo um ranço de desamor expresso em preconceitos e intenção clara de dominação. Mas, concomitantemente e contraditoriamente, o amor também se impõe de forma contundente no casal protagonista, sobrepujando o que há de mais sombrio na estrutura da personalidade humana, o que na linguagem analítica Junguiana (Carl Jung) diz respeito ao arquétipo primordial, incluso na estrutura psíquica, o chamado lado sombra de todo ser humano. Assim, esse conto também, inteligentemente, é entrecortado por descrições belíssimas do amor romântico, verdadeiro e puro, e também de descrições enfáticas de uma natureza mais virgem, no sentido da inexistência, ainda, da ação predadora do homem moderno sobre ela, a exemplo de: [...]Era uma bela tarde; o sol de agosto animador, e grato declinava já seus fúlgidos raios; [...]Mas, as trevas eram já mais densas, e o coração do moço confrangia-se, e redobrava de ansiedade. Seus olhos ardentes pareciam querer divisar através dessas matas ainda quase virgens um objeto qualquer. [...] Gastão, disse procurando tomar-lhe entre as suas mãos, que loucura meu amigo - que loucura a tua te apaixonares por uma indígena do Brasil; por uma mulher selvagem, por uma mulher sem nascimento, sem prestígio: ora, Gastão sê mais prudente; esquece-a. - Esquecê-la! - exclamou o moço apaixonado, nunca! [...]Era pois na lua das flores, que à tarde um velho cacique, e um mancebo índio, do cume deste mesmo outeiro, lançavam um olhar de saudosa despedida, sobre o navio normando, que levava destas praias uma formosa donzela. [...]Como Paraguaçu, Épica havia recebido o batismo. Conquanto a jovem princesa do Brasil não poupasse esforços em chamar os homens do seu país ao grêmio da igreja; conquanto sua voz fosse persuasiva, suas palavras insinuantes; todavia foi a voz de Épica que rendeu o moço
índio. Ele abraçou o Cristianismo, quando soube que Épica era cristã. Oh! mancebo, murmurou o tupinambá, quanto pode o amor, quando ele é santo, como o que há no céu! (ADLER, pp. 06-07, 2017) (grifos meus).
Gostaria de dar realce ainda à questão da relação entre os povos tratada de modo forte por Maria Firmina no conto Gupeva, ao colocar como protagonistas personagens da Europa e da Nação Tupinambá. E a esse respeito coloco num artigo meu intitulado: A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville, apresentado pela primeira vez no COLÓQUIO IBERO SUL- - AMERICANO DE HISTÓRIA: entre os dois lados do Atlântico, em Florianópolis, de 07 a 19 de setembro de 2009, e publicado na Revista Eletrônica do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Volume 31 - novembro de 2009. Introduzo a temática dizendo nas páginas 44 e 45: Todos os colonizadores, sem exceção, apresentam, à primeira vista, uma lógica no discurso da dominação muito convincente e sempre permeada por uma nobreza incontestável. Os portugueses, franceses e espanhóis engendravam o fio condutor dos seus discursos de dominação dos povos das Américas Central e do Sul, principalmente a partir da fé, ou seja, da necessidade de expandir o cristianismo para salvar os pagãos através da catequese e do batismo. Demonstravam, nesse argumento, ser essa uma condição natural para o salvamento da alma dos povos indígenas (grifos meus). Essas questões nos parecem distantes, mas continuam vigentes nas sociedades atuais, embora em algumas situações com nuances diferentes. Desse modo, objetivando ampliar o conhecimento da obra da autora, inclusive com vista ao uso/estudo no ensino regular, é que a Academia Ludovicense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães disponibilizaram este livro que contempla essas duas obras de Maria Firmina dos Reis, esperando que os frutos dessa leitura acrescente, além de mais conhecimento, mais amor na sua vida, caro leitor! Isso posto, apresento esta obra neste evento, que, além de marcar a celebração do VIII Centenário da Universidade de Salamanca, marca a realização do I Congresso Internacional de Literatura Brasileira Nélida Piñon en la República de los Sueños, promovido pelo Centro de Estudos Brasileiros, em colaboração com a Academia Brasileira de Letras e o GIR "ELBA" (Estudos de Literatura Brasileira Avanzados), que, desde 2009, realiza anualmente Jornadas Literárias sempre dedicadas a importantes nomes da literatura brasileira, como Machado de Assis, Jorge Amado, Guimarães Rosa, João Cabral de Mello Neto, Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira e Ferreira Gullar. O meu objetivo maior é, ao apresentar estas duas obras de Maria Firmina dos Reis, incluí-la, caso não esteja, nesse importante Centro de Estudos Brasileiros, de modo a consolidar a ressignificação da sua vida e obra, iniciada ao final da década de 60, eclodindo com maior vigor em 1975, ano do sesquicentenário de seu nascimento. E os autores desse grande feito foram Horácio Almeida (paraibano) e, principalmente, Nascimento Morais Filho (maranhense), que se lançou com muito vigor e dedicação na empreitada de reavivar o reconhecimento esquecido de Maria Firmina dos Reis, por quase um século e coloca-la de volta, ao lugar anteriormente por ela ocupado, no Panteão Maranhense, de onde nunca deveria ter saído. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville. Revista do IHGM N. 31 –, novembro 2009 ed. Eletrônica (pp.44-53). ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014.
ADLER, Dilercy Aragão e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cento e Noventa poemas para Maria Firmina dos Reis (orgs.). São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2015. ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017. MORAIS, José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. REIS, Maria Firmnina dos. Cantos à beira-mar e Gupeva. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e ADLER, Dilercy Aragão. Sobre Maria Firmina dos Reis (orgs.). São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2015.
TAVOLA ROTONDA “LA SALUTE MENTALE: UN DISCORSO TRANCULTUIRALE” Experienze a confronto di psichiatria sociale DILERCY ADLER- BRASILE O Brasil é um país de grande extensão territorial, com 8.516.506 Km², muito rico e que apresenta muitos contrastes em diversos aspectos: geográficos, climáticos, influências culturais diversas e, principalmente, grande desigualdade na distribuição da riqueza produzida e, consequentemente, no acesso à educação, habitação, saúde, entre outras.Poucos brasileiros têm acesso à saúde e, a grande maioria que dispõe dessa garantia a obtém na rede privada. Com raríssimas exceções de algumas instituições públicas e de importantes Universidades dos grandes centros urbanos, a exemplo de São Paulo, que oferecem atendimento de saúde de excelente qualidade, o serviço de Saúde brasileiro é bastante deficiente. No tocante à doença mental o atendimento é bastante precário. Constata-se grande predomínio do atendimento tradicional: manicômios com estruturas e procedimentos arcaicos e até sub-humanos. No entanto, existem também no Brasil há algumas décadas movimentos no sentido do estabelecimento de um serviço de saúde mental mais humanizado e sério. Esses movimentos incluem defesas de estruturas antimanicomiais nas quais o indivíduo não seja privado de suas relações sociais. Existem também iniciativas alternativas como um projeto de Extensão Universitária da Universidade Federal do Ceará, no Nordeste do Brasil, chamado “Quatro Varas”, o qual é coordenado pelo prof. Dr. Adalberto Barreto. Este projeto tem como filosofia de ação a soma do saber popular com o saber acadêmico, tanto no que se refere aos medicamentos, como formas de terapia. Nesse sentido, entende-se ainda que a preocupação não é com a doença mental, mas com a saúde, aqui entendida no sentido mais global. Para sintetizar algumas dessas idéias toma-se como referência João Francisco Duarte Júnior, psicoterapeuta brasileiro, no seu Livro Política da Loucura: Todas as nossas relações, inclusive as afetivas, são políticas, ou seja, implicam num jogo de poder; Não há ser humano neutro, totalmente racional, que interprete o mundo de maneira puramente lógica. As relações do homem com o seu mundo estão sempre impregnadas de emoções e sentimentos; A relação paciente-terapeuta deve ser entendida como estabelecida num espaço político entre duas pessoas, das quais fluem sentimentos diversos nessa relação; Não há fórmulas nem teorias que expliquem ao terapeuta o indivíduo que ele tem à sua frente. O ser humano é sempre um campo inesgotável de liberdades e possibilidades. As peculiaridades do paciente não devem ser vistas como existindo apenas nele, mas como produto das relações que ele mantém com os outros. O seu existir decorre dos relacionamentos (políticos) entre ele e os grupos sociais aos quais pertence. Compartilho das idéias dessa parcela de especialistas da saúde mental no Brasil que rejeita a ênfase das características do indivíduo isolado, mas entende a singularidade humana a partir da forma única e particular da interação: indivíduo e seus pares, dentro de um contexto mais amplo. Ou seja, compreende o paciente como um ser-em-relação, numa dimensão social e política. No tocante ao trabalho específico desenvolvido na Universidade Federal do Maranhão-UFMA, em São Luís, Nordeste do Brasil, coordeno e sou psicoterapeuta do Programa de Psico e Pedagogia da UFMA que se destina ao atendimento da comunidade universitária: estudantes, professores e funcionários. Possui duas linhas de ação principais:
PROFILÁTICA: que inclui palestras, seminários, projeção e discussão de filmes, entre outros, com o objetivo de catalisar reflexões acerca de temas diversos (escolhidos pelos grupos), de forma a propiciar maior compreensão do indivíduo, do seu coletivo e do mundo. Esta linha é estendida a segmentos pobres da cidade de São Luís. PSICOTERÁPICA: com objetivos terapêuticos que se desenvolve tanto em nível individual, como de grupo. O acesso ao atendimento dá-se de forma espontânea, ou seja, o próprio sujeito procura o serviço e escolhe o especialista para atendê-lo. Não há triagem inicial do cliente. Isso, por acreditar-se que tal procedimento constrange o paciente e o faz sentir-se inferior, estigmatizado. Se o profissional escolhido sentir a necessidade de acompanhamento por outro, efetiva esse encaminhamento. No caso do encaminhamento por terceiros, professores, chefes ou pais, estes são envolvidos no processo de atendimento, de forma diferenciada, mas participativa. Uma preocupação do Programa é o estabelecimento de vínculo afetivo com a sua clientela. Não com o objetivo de gerar dependência, mas de possibilitar desbloqueios da afetividade que, em geral, é bastante reprimida nas relações na nossa sociedade, ou seja, humanizar mais as relações entre seus pares. Uma outra preocupação do Programa é desmistificar o papel do terapeuta como “agente de recuperação” e o do paciente com “sujeito passivo” estabelecendo uma relação na qual ambos sejam sujeitos responsáveis pelo fracasso ou sucesso da terapia ou da atividade educativa. São efetuados estudos e pesquisas. No momento está sendo realizada uma pesquisa sobre o uso de tabaco, álcool e outras drogas com a comunidade universitária. Para finalizar reafirmamos que a vida é política antes de tudo. E a escolha de determinadas posições, teorias e métodos para compreendê-los e sobre eles atuar, é antes de tudo uma OPÇÃO POLÍTICA! Vedano Olona/Itália, 28 de outubro de 1995
À MEMÓRIA DE NHÔ DI. AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL. Nhô Di era uma pessoa afável, amiga e prestativa. Era difícil haver alguém que não gostasse de Didi Soares ou, simplesmente, Nhô Di. Amigo, brincalhão, levava sempre a alegria para aonde ia. Tinha sempre uma piada para descontrair o ambiente ou uma charada para desafiar o interlocutor. Funcionário público do IBGE, Nhô Di, sempre no fim do expediente, em noites de lua cheia, costumava pegar a sua canoa, no porto de Francinê ou no de Antenor Correia, para ir pescar bagres. Quando retornava, por volta das dez da noite, pedia para a esposa, Santa, mandar preparar aquele cozidão, à base de sal, limão e cheiro verde, que se passou a chamar “Ceia de bagre” Enquanto isso, chamava alguns amigos com os quais degustava a iguaria regada a umas cervejinhas e muito papo. Acredito que a “Ceia de bagre” que, atualmente, é um dos pratos preferidos da culinária pinheirense tenha sido criado por Nhô Di. Durante a safra de cana-de-açúcar, as garapeiras se multiplicavam em Pinheiro. As mais freqüentadas eram a de Onofre Ribeiro e a de Valdinar Sessenta que ficavam lá pras bandas do antigo matadouro, atual, bairro de Santa Teresinha. Todas as noites, o pessoal descia para conversar, tomar garapa ou caldo de cana, e passar o tempo, pois não havia, àquela época, a televisão. As únicas distrações de que o povo dispunha eram as festas de largo da Igreja, os reisados no fim do ano, as feiras de melancia, as novenas de santos realizadas em algumas residências ou, de vez em quando, um circo que aparecia na cidade. Certa noite, a garapeira do Onofre estava cheia. Um grupo de amigos sentado a uma das mesas viu quando Nhô Di chegou. A turma logo se levantou e o chamou. - Senta aqui, Nhô Di, vamos bater um papo. Nessa hora, chega Onofre e diz: Didi, cuidado com o repertório, aqui têm muitas famílias. - Que repertório, Onofre? Minhas piadas são familiares. Não falam do diabo, nem do capeta, nem da roubalheira de gado que tem por aqui. Dizem só coisas boas. - Então, ta. O papo, então, começou a rolar solto. Como não havia o jogo da “porrinha,” a turma começou a disputar rodadas de garapa à base de charadas e adivinhações. - Queres começar, Didi? - Vamos lá. Se ninguém acertar vocês pagam e se um de vocês acertar a conta é comigo. - Tá bom disseram todos, - O que é o que é: “Há uma coisa no mundo, difícil de entender, quanto mais ela aumenta, mais difícil é de se vê”, o que é? - E aí, ninguém se manifesta? É escuridão. A conta é de vocês. - Manda outra que seja mais fácil. - Fiquem atentos, meus senhores, pra esta que lhes vou contar: “Não tem pé e o bicho corre, mas tem leito e nunca dorme e quando o danado pára, pode esperar, seca e morre”. O que é, o que é? - É camaleão, disse Belizário de Doca. - Deixa de bestidade, Belizário. É rio. Paguem outra rodada. Querem mais? - Mais outra, Nhô Di. - Prestem bem atenção. Esta é de medicina: “Quando a bolota tá grande, sentar mesmo ninguém pode; se comer uma pimentinha, aí é que a coisa explode. Se peida, o bicho assobia, se cagar, o sangue escorre”. O que é o que é?
É cujuba. - Que cujuba, sua besta. É hemorroida. Vocês nunca tiveram? Tem mais uma? - Só mais esta. Vou trabalhar amanhã cedo: O que é o que é: “É uma frutinha gostosa que a natureza criou; é felpudinha e macia, igual ninguém nunca achou. A bichinha é papudinha e de tão papuda rachou. Subiu morro, desceu morro, um lugar não encontrou e não tendo onde ficar, vizinha do c_ ficou”. O que é o que é? O pessoal caiu na gargalhada. Onofre, lá do balcão, gritou: - Seu Didi! - O que tu queres, mente suja? É a maçã. E foi embora.
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO E A MEMÓRIA DA BALAIADA. SANDRA REGINA RODRIGUES DOS SANTOS Sessão Magna comemorativa dos 93 anos do IHGM O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, ao comemorar sua data magna, que neste ano corresponde aos 93 anos de fundação, escolheu como tema a Memória da Balaiada, também em data comemorativa dos 180 anos de sua eclosão. Para essa reflexão daremos destaque para duas obras de referência de membros do IHGM que muito contribuem para a historiografia da Balaiada. A produção historiográfica é consensual ao reconhecer que a Balaiada foi a maior revolta popular ocorrida no Maranhão, e uma das maiores do Brasil, não só pelo grande número de participantes, como também pela extensão geográfica onde agiram seus atores. Assim sendo, considera-se ser oportuno nesta ocasião apresentar os discursos de dois estudiosos ligados ao IHGM, em diferentes temporalidades, que escreveram sobre a Balaiada, procurando entender quais as razões de suas interpretações, o que as aproxima e distancia em relação ao referido movimento social. Os dois estudiosos em destaque, Ribeiro do Amaral e Astolfo Serra, são considerados como “autoreshistoriadores”, conforme classificação de Ângela de Castro Gomes (1996). Esses autores, sem formação na área de história, eram eruditos do mundo, espíritos cosmopolitas por viagens, leituras e pesquisas, múltiplos em termos de perfil profissional e político, com suas raízes na terra e nos problemas brasileiros. Os estudos dos autores-historiadores são obras canônicas, fontes secundárias que trazem uma significativa reprodução de documentos importantes e outras informações consideradas pertinentes á compreensão da Balaiada, em sua perspectiva de matizes plural. A obra Apontamentos para a História da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão, de José Ribeiro do Amaral, publicada em três volumes nos anos de 1898, 1900 e 1906, é um relato dos acontecimentos do movimento, reproduzido de fontes primárias, com destaque para o jornal Crônica Maranhense, de autoria de João Francisco Lisboa. Apresenta adjetivações pejorativas da Balaiada e seus rebeldes, mas considera o estopim da revolta resultante de fatores como os erros e as imprudências cometidas pelas administrações cabanas, especialmente dos presidentes da província Bibiano de Castro (1837), e Vicente Pires de Figueiredo Camargo (1838), que fez aprovar a Lei dos Prefeitos e Subprefeitos, destituindo os juízes de paz de suas atribuições. Com isso, o autor procura desfazer a acusação de que a revolta foi preparada pela oposição liberal, liderada por Lisboa, ao dizer que o grande jornalista não admitia “alianças e unidades de vistas com indivíduos tirados da última ralé da sociedade, pois tais eram os chefes da revolução”. A obra intitulada A Balaiada, de Astolfo Serra, foi publicada em 1946, e apresenta uma análise diferenciada da revolta, sem a acusação de banditismo que até então caracterizava as interpretações. A obra está dividida em 03 capítulos: A Terra, O Homem e A História. Na parte introdutória, o autor justifica a necessidade de aprofundar o estudo da Balaiada em razão de novas interpretações à luz da Sociologia moderna. A visão de Astolfo Serra quanto ao estopim da revolta também atribui aos desmandos e abusos cometidos pelas administrações cabanas, como a de Vicente Pires de Camargo, que criou a Lei dos Prefeitos. Porém, aprofundando sua análise sobre esse movimento, Serra o situa como integrante do "ciclo histórico da Regência", quando o Império foi sacudido por várias revoltas. A Balaiada é interpretada como uma rebelião de "massa", "nascida do povo e da plebe", baseando-se em teorias sociológicas e psicológicas. Procura corrigir a injustiça histórica de considerar a Balaiada como um movimento de banditismo, ao dizer que: “Não se pode julgar uma rebeldia pelos atos de vandalismo que dela decorrem. Os sertanejos rebelados do Maranhão não agiram no crime pelo prazer do crime. Eram uma horda de rebeldes, mas não um bando de celerados, conscientemente celerados” (SERRA, 1946, p. 146). Por fim, ao sintetizar as idéias sobre dois grandes intelectuais, membros do IHGM, é possível afirmar que a abordagem historiográfica desses autores-historiadores sobre a Balaiada permite conhecer visões bem
diferentes, até mesmo antagônicas sobre seus participantes. Como se explica? Cada autor fala do "lugar" que lhe é próprio, isto é, em determinada época, com noções de mundo e valores decorrentes da classe social que ocupa, da formação acadêmica que teve e até da motivação que o levou a estudar esse tema.
QUANDO A LITERATURA INFANTIL NÃO É COISA DE CRIANÇA EDMILSON SANCHES No início da tarde deste sábado, 24/11/2018, recebo em primeira mão, da própria autora, exemplares ainda quentinhos ("saídos do formo") do mais recente livro da professora maranhense Tereza Bom-Fim. Trata-se da obra "A Literatura Infantil para Maiores de Dezoito Anos: Sob a Ótica da Análise do Discurso Foucaultiana".
O livro estará à disposição dos interessados a partir das 18h de quarta-feira, 28/11, no evento "Dois dedos de prosa com o autor: Drª. Maria Tereza Bom-Fim Pereira", que integra o 7º Seminário de Práticas Educativas do Curso de Pedagogia, realizado pelo Centro de Ciěncias Sociaìs, Saúde e Tecnologia (CCSST) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em Imperatriz (rua Urbano Santos, 1734, Centro, Imperatriz). A autora estará também em outros eventos do Seminário nas noites seguintes. * O novo livro abriga o trabalho (relatório) que Tereza Bom-Fim escreveu na conclusão de seu pós-doutorado em Letras, na Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araraquara - SP. Tereza Bom-Fim construiu uma sólida carreira acadêmica na área de Educação desde a sua graduação em Letras na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), mestrado em Educação (Universidade Federal de São Carlos - SP) e doutorado em Educação Brasileira (Universidade Federal do Ceará). Nesse percurso, Tereza Bom-Fim foi ampliando possíveis espaços de influência de seus saberes e ideias, por meio de outros livros, como: ---> "Asas da Imaginação - Leituras Sobre a Criança que Lê", de 2013; ---> "Professor-leitor: De um Olhar Ingênuo a um Olhar Plural" (2007); ---> "O Livro-de-imagem: Um (Pre)texto para Contar Histórias" (2001), que, logo de chegada, recebeu a classificação "Altamente Recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. A professora e escritora também publicou "Caderno de Atividades - Orientações para o Trabalho Educativo com Livros-de-imagem", de 2009. É membro da Academia Imperatrizense de Letras.
Sempre pronta para desafios, Tereza Bom-Fim, em universidades do Maranhão e de São Paulo, participou de grupos de estudos e pesquisa e supervisão de programa, de assuntos e ações que vão da Análise do Discurso à Iniciação à Docência, além de Linguagem, Discurso e Mídia e Pedagogia. Pelas razões que só ela sabe e sente, fui escolhido por Tereza Bom-Fim para fazer leituras e elaborar o prefácio de todos os seus livros -- algo que, para mim, mais que honra, trouxe-me responsabilidade tão grande e polissilábica quanto a própria palavra. O prefácio do livro que saiu hoje da Editora Ethos e Encadernadora Estampa, ambas de Imperatriz, é o seguinte: * PREFÁCIO “Tenho-me impressionado sempre de ver quão pouco os adultos compreendem as crianças [...].” (DOSTOIEVSKI, 1821-1881) Não se julga um livro pela capa, sabe-se. E pelo título, julga-se? Este livro trata da difícil tarefa de julgar -- pois que é julgar o comparar, o escolher -- e da mais difícil ainda tarefa de compreender crianças para fazer escolhas para elas e em nome delas. Ainda bem, o(s) julgamento(s) em que se baseia esta obra tem/têm a ver com conteúdos, inclusive os que estão em uma (ou são a) capa -- título, imagens, “design”, textura... São livros para crianças; podem ser grossos ou finos, “normais” ou multidimensionais (3D, por exemplo), lineares ou (des)dobráveis. Voltando ao começo... Os tempos atuais de intolerâncias, preconceitos e conceitos prévios, estes tempos “modernos” de leituras e literaturas rápidas, voláteis, recomendam que se esclareça logo que o título deste mais recente trabalho de Tereza Bom-Fim -- “A Literatura Infantil para Maiores de Dezoito Anos” – não sugere, não remete, nada tem a ver com qualquer aspecto da lascívia, lubricidade, impudicícia. Infâmia e infância, aqui, nem em pensamento se tocam ou se cruzam. Por isso, a pergunta inicial: Julga-se um livro pelo título? Bom, eu pelo menos julgo. Neste caso, como leitor privilegiado dos originais e prefaciador convidado das obras da autora, do seu mestrado ao pós-doutorado, julgo um “achado” o título deste livro. Não é fácil dar nome às coisas, dar título a obras. E Tereza Bom-Fim, mulher, educadora e autora sensível, criativa e produtiva, soube construir inteligentemente -- e adequadamente -- o nome do seu mais novo esforço acadêmico e editorial. O título atrai a atenção do leitor, carrega -- involuntariamente -- um tiquinho de ambiguidade e instigação e, sobretudo, o título tem tudo a ver com o conteúdo da obra. Os referidos “maiores de dezoito anos” são 23 mulheres e homens, voluntários, professores, escritores, pesquisadores, estudiosos, todos especialistas em Literatura Infantil e Juvenil, para os quais editoras de obras desse gênero, delas mantenedoras da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), enviam anualmente quase um milhar de livros dessa faixa etária, para seleção, análise e, posteriormente, premiação em pelo menos 18 categorias (número que pode ser duplicado, já que, após vencer três vezes, um ganhador ainda pode ser selecionado para premiação “hors concours”, o que, vale dizer, estimula o surgimento e o reconhecimento de novos talentos nas diversas categorias). O foco de Tereza Bom-Fim nesta obra, ela mesma conta, “é compreender de que forma a leitura e a criança são concebidas pelo grupo de votantes” (aquelas duas dúzias quase de especialistas mencionados acima). A autora orienta esse foco, leva luz e, também, didática mas não professoralmente, conduz o leitor para alguns aspectos do assunto mais históricos e lineares, como quando discorre sobre a FNLIJ, e quando situa o leitor, por exemplo, na história social da criança. Profissional consciente e experiente, crítica e exigente, a professora-doutora sabe quando é hora de elevar o “tom” acadêmico: assim, ela traz e faz, trata e retrata abordagens, análises, questionamentos, visita autores. Sua expectativa, diz ela, é “despertar em cada leitor a vontade de ler, escrever, instigar/investigar, contar histórias [...]” e, a partir daí, “inscrever a Literatura Infantil em um patamar mais elevado de análise e crítica”.
Essa “análise e crítica”, quer a autora, deve contribuir para que, na Literatura Infantil, o “punctum saliens”, aquilo a que se deve “dar mais visibilidade”, é o “espaço, a voz e o desenvolvimento da criança” e não necessariamente os “livros e seus autores”. Ao mesmo tempo em que não nega “a qualidade da literatura produzida para crianças atualmente”, Tereza Bom-Fim alerta que “a literatura para criança continua carente de uma crítica madura, consistente, sem melindres, menos rasa [...]”. Como se percebe, a autora tem seu tanto lúdico e lúcido, crítico e cítrico -- leve acidez... A Literatura Infantil, vê-se, é assunto de gente grande. Não deve ser fácil para os especialistas votarem, entre centenas de títulos, os poucos que serão objeto de conhecimentos e reconhecimentos maiores, as obras que, no jargão da FNLIJ, merecerão ser “altamente recomendáveis”. Esse processo, crítico, analítico, deve/ria levar em consideração -- como propõe ou reforça Tereza Bom-Fim –- “o pensamento e a visão infantis”. Não é fácil... Só a criança sabe ser criança -- porque é isso que ela é. Criança é só o instante presente, o aqui e agora, o “hic et nunc”. Criança é um presente. É o presente. Adultos, não mais podemos ser criança. Podemos pensar/agir como criança -- muitas das vezes uma atuação, um teatro, que vai do cômico ao patético. É difícil ter, de verdade, “pensamentos” e “visões”, modos e medos, posturas e imposturas de criança. Não há como o adulto limpar-se da poluição de sua adultez e tornar à altivez pueril e pura. Como adultos, falhamos até mesmo em compreender outros adultos, inclusive aqueles bem próximos a nós, na nossa casa -às vezes, na nossa cama... Mas vida é isso: um vir a ser de seres a vir. Vida é obra em construção desfinda. Assim, é nesse contínuo fluir de vida que também os especialistas em Literatura Infantil têm de pôr seus saberes, sentires e amares, a serviço de um ser que é pleno viço, força potencial e manifesta em crescimento -- a criança. Na tríade autores, especialistas e criança, apenas esta é. Pois, na biodiversidade humana, enquanto autores e especialistas são funções, a criança é ser. Adultos são personagens. Só a criança é plenitude. EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br Fotos: O livro e sua autora.
UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física Tenho discutido a singularidade e a ancestralidade da “Capoeiragem Tradicional Maranhense” 33 desde 1982, assim como resgatando a Memória das demais atividades da lúdica e do movimento no/do Maranhão. Minhas inquietações deveram ao assumir a cadeira de História da Educação Física e dos Esportes de Curso de formação de técnicos em Educação Física, na antiga Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje, IF-MA. Para fugir do currículo clássico, Atenas, Roma, Idade Média, Moderna, Contemporânea, o que havia no Maranhão? Este ano, realizou-se a XV edição do Congresso Brasileiro de História dos Esportes, Lazer e Educação Física – XV CHELEF -, na cidade de Curitiba-PR. Lá, encontrei, de Pedro Figueiredo Alves da Cunha o “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)34. “Eduardo, como já vimos, era um jovem escravo vindo do Maranhão” (p. 101). O Autor, ao analisar as ocorrências policiais havidas naquele inicio da capoeiragem em São Paulo – Capital e algumas cidades do interior – inicia seu trabalho com a análise de duas dessas ocorrências, uma, no ano de 1831, ocorrida no distante subúrbio do Brás, envolvendo ‘africanos capoeiras paulistas’ e ‘africanos capoeiras cariocas’, com estes desafiando aqueles para um confronto. O segundo caso, ocorreu entre os ‘pequenos do chafariz’, já na capital, no ano de 1864. Adão dos Santos Jorge – africano congo liberto agride a Eduardo – preto escravo, quando se encontravam naquele local, caminho do centro para o subúrbio... Local de ajuntamento de pretos... Eduardo era escravo de Carlos Mariano Galvão Bueno – um advogado e professor na Escola de Direito, escritor e poeta conhecido, subdelegado de policia. O Autor nos chama atenção do fato de o agressor, Adão, ser africano livre, registrado no Livro de Matricula de Africanos Livres, dado que a lei de abolição do tráfico de cativos da África de sete de novembro de 1831 dava emancipação àqueles entrados após esta data, por força de convenções internacionais, para acabar com o tráfico no Atlântico; mesmo assim, deveriam servir pelo prazo de quatorze anos a concessionários particulares ou a instituições públicas. No processo que se seguiu, Eduardo disse ser escravo “do pai de Paulino Coelho de Sousa, que se achava ausente desta cidade tendo ido para o Maranhão”35. Então, deveria estar prestando serviços ao nominado Galvão Bueno. Com 24 anos de idade, disse ser filho de José e Sabina - escravos do mesmo senhor -, natural do Maranhão, sem ofício (p. 94). Em seu depoimento, disse que Adão “começou um jogo ou gritos de correr jogar capoeira com este declarante e soltou-lhe uma tapa nas costas...” (p. 94). Eduardo foi ferido com uma navalhada. Alegava o autor da agressão que o fizera por também ter sido ferido, em outro encontro – não com Eduardo – com duas anavalhadas no abdome. 33
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. Tema livre apresentado no XV CONGRESSO DE ESPORTES, EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E DANÇA, II INTERNACIONAL CONGRESS OF SPORTS HISTORY, UFPR/Universidade Positivo, 06 a 09 de novembro, 2018, Curitiba-Pr. 34 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alhambra, 2013. 35 Paulino Coelho de Sousa consta como aluno na Faculdade de Direito, no ano de 1863, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_02&pesq=Paulino%20Coelho%20de%20Sousa&pasta=ano% 20186
Eduardo avocou outros escravos, como sua testemunha da agressão que sofrera desafiado que fora por Adão. Todos frequentavam o chafariz de Miguel Carlos, e possivelmente fora para marcar território, demonstrando sua valentia, caso pretendesse dominar tal espaço; isso explicaria porque Adão “começou um jogo ou gritos de querer jogar capoeira” (p. 100).
https://www.google.com.br/search?biw=1920&bih=969&tbm=isch&sa=1&ei=PMztW5fFLITGwAS3krbwAw&q=rugendas+%2B+chafarizes&oq=rugendas+%2B+c hafarizes&gs_l=img.12...134530.140765.0.143128.37.18.0.0.0.0.0.0..0.0....0...1c.1.64.img..37.0.0....0.Hp1BshBj7Cw#imgrc=0WNpMwjol-YmXM: CUNHA, 2013, P. 97
Pedro Figueiredo Alves da Cunha pergunta-se: que capoeira era essa? Adão estava a conversar com outros negros, no chafariz, quando Eduardo chegou e passou a brincar com Adão jogando capoeira. Depois de ‘brincar”, pediu para parar; como não foi atendido, disse que ‘poria a navalha nele’. Adão achara uma navalha na rua – essa explicação que deu ao delegado – e Eduardo, com um pauzinho, passou a provoca-lo, dizendo que cortasse o mesmo com a navalha, para mostrar destreza. Acabou por ferir a Eduardo, só percebendo quando viu sangue em sua mão, cortando-lhe um dedo com a navalha... só depois viu que também o atingira no peito. Cunha chama atenção para o uso de pau, de navalha, e o uso de facas e navalhas, e de cacetes, pelos capoeiras; mais, que as autoridades deram pouca importância à prática da capoeira, em si, mas sim à desordem e agressão física, que ocorrera: se fosse na Corte, seria diferente, pois a capoeira era duramente reprimida. Diz ainda, o autor, que parecia haver um pacto de silencio quanto à prática da capoeira, por parte de todos os envolvidos: agressor, agredido e testemunhas, no sentido de não demonstrar a prática do jogo-luta. O uso de arma branca, o gestual, o uso de pau, faz lembrar, ao autor da tese, uma modalidade de luta que ocorria na África Central denominada ‘cafuinha’, caracterizada como um ritual, de demonstração de valentia, com o uso de armas brancas, que exigia habilidade corporal, com uso de saltos, acompanhado por pancadas (percussão), berrarias (canto) e assobios, muito próximo à capoeira que se descrevia, como praticada em São Paulo, àquela época. Eduardo, nascido no Brasil, também dominava o gestual de demonstração de valentia, naquilo que se denominava capoeira.
UM CAPOEIRA PIAUIENSE CHEFE DE POLICIA NA CÔRTE
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ36 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS+ Ao buscar as formas ancestrais da Capoeiragem, deparei-me com o livro de Pedro Figueiredo Alves da Cunha: “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)” 37. Ao tratar da “a capoeira na Academia de Direito” [de São Paulo] (p. 87-153), trás quatro personagens, brancos, da elite, praticantes do jogo-luta-arte: um professor – de francês, baiano – e três de, à época, alunos: Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira38, José Basson de Miranda Osório39, e Couto de Magalhães40. Para Costa (2007) 41, no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia – e agora, com a obra de Cunha, inserimos São Paulo -, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca 36
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. 2 ed. São Luís: Edição do Autor, 2015. Disponível em https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 37 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo: Alamenda, 2013. 38 LUIZ JOAQUIM DUQUE ESTRADA TEIXEIRA, nasceu em 06 Junho 1836, no Rio de Janeiro-RJ, falecendo em 09 Setembro 1884 na mesma cidade. Filho de Joaquim José Teixeira e Rita Manuela Duque Estrada Furtado, casado com Isabel Duque Estrada Teixeira, e pai de Luiza Tosta Duque Estrada Teixeira. Doutor em direito pela faculdade de S. Paulo; membro da assembleia provincial do Rio de Janeiro; deputado geral pelo distrito da Côrte nas legislaturas, 14ª, 15ª, 16ª e 18ª; e pela Província do Rio de Janeiro na 16ª; 1º juiz de paz da freguesia da Glória, na Côrte, onde é chefe do partido conservador; distinto advogado, filosofo e literato, membro do Instituto da Ordem dos Advogados brasileiros; deputado geral em 1881-4. Fonte: https://www.geni.com/people/Luiz-Joaquim-Duque-Estrada-Teixeira/6000000032673397007 39 JOSÉ BASSON DE MIRANDA OSÓRIO era filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório e nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde seguiu para São Paulo, ingressando na Faculdade de Direito. Foi um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822. Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. Faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais, justamente a um mês depois do falecimento de Dona Filismina Basson Carvalho Osório, sua cunhada, sobrinha e esposa. Em sua homenagem, José Basson é o nome de uma Rua, localizada no Centro de Parnaíba, cujo percurso vai da Praça Santo Antonio à Av. Capitão Claro. PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982, p. 236). 40 JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES (Diamantina, 1 de novembro de 1837 — Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1898) foi um político, militar, escritor e folclorista brasileiro.Iniciou os estudos no Seminário de Mariana. Estudou matemática na Academia Militar do Rio de Janeiro e frequentou o curso de Artilharia de Campanha em Londres. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1859, doutorando-se em direito em 1860. Couto de Magalhães conhecia bem o interior do Brasil e foi o iniciador da navegação a vapor no Planalto Central. Foi conselheiro do Estado e deputado por Goiás e Mato Grosso. Foi presidente das províncias de Goiás, de 8 de janeiro de 1863 a 5 de abril de 1864, Pará, de 29 de julho de 1864 a 8 de maio de 1866, Mato Grosso, de 2 de fevereiro de 1867 a 13 de abril de 1868, e São Paulo, de 10 de junho a 16 de novembro de 1889, presidência que ocupava quando foi proclamada a república. Preso e enviado ao Rio de Janeiro, foi liberado em reconhecimento da sua enorme cultura e ações em prol do desbravamento dos sertões brasileiros. Foi afiliado a maçonaria durante o cargo. Falava francês, inglês, alemão, italiano, tupi e numerosos dialetos indígenas. Foi quem iniciou os estudos folclóricos no Brasil, publicando O selvagem (1876) e Ensaios de antropologia (1894), entre outros. Fundou em 1885 o primeiro observatório astronômico do estado de São Paulo, na sua chácara em Ponte Grande, às margens do rio Tietê. https://pt.wikipedia.org/wiki/Couto_de_Magalh%C3%A3es 41 COSTA, Neuber Leite CAPOEIRA, TRABALHO E EDUCAÇÃO. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007.
da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48) 42; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968)43; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73) 44; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)45. Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio46. Outro professor, Pedro Meyer, para além da esgrima, desenvolveu um trabalho mais abrangente no CPII: Nesse sentido, é esclarecedor o relatório apresentado pelo inspetor geral da Instrução Pública do Município da Corte em 1859: Durante o anno passado começou a funccionar com a possível regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares que permittem a maior parte dos exercicios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer 17. De acordo com o inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do coronel Francisco Amoros y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa, falecido em 1848. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amoros, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinville-le-Point, local para o qual Foi transferido em 1852, o principal ginásio antes dirigido pelo Coronel Amoros (Baquet, 199-). Segundo Carmen Lúcia Soares (1998), no método organizado por Amoros destacavam-se os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No CPII, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos.47.
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NESTOR CAPOEIRA: PEQUENO MANUAL DO JOGADOR. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: UM ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968. 44 PIRES, Antonio Liberac A. CAPOEIRA NA BAHIA DE TODOS OS SANTOS: ESTUDO SOBRE CULTURA E CLASSES TRABALHADORAS (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 45 CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (CADERNOS DE FOLCLORE). 46 Guilherme de Taube, como a maioria dos mestres de gymnastica que passariam pelo CPII ao longo dos oitocentos, era um exoficial do Exército. Sua experiência com os exercícios ginásticos no meio militar serviu como um atestado de sua aptidão para o emprego no Colégio. Durante todo o período imperial não haveria concurso para esse cargo, sendo os profissionais contratados diretamente pelo Reitor ou pelo Ministro do Império, de acordo com a necessidade da instituição. A gymnastica era considerada uma atividade eminentemente prática. Ao contrário dos responsáveis pelas outras cadeiras oferecidas pelo CPII, os pretendentes ao cargo de mestre de gymnastica não eram avaliados por seu conhecimento teórico, mas por sua perícia e experiência de trabalho com esta arte no meio militar ou nas instituições escolares civis. [...] (CUNHA JR, C F F. Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” - uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004) on line, disponível em http://eubras.blogspot.com/search/label/1841-Gymnasia%20militar%20en%20el%20Colegio%20Pedro%20II 47 CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN EDUCACION FÍSICA Y DEPORTE, Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 http://www.efdeportes.com/; CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html 43
Um aluno, reconhecido como capoeira, foi José Basson de Miranda Osório48, nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982) 49: Para Carvalho (2001) 50, entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam: “A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street do Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade. Cunha (2013) 51, ao analisar os depoimentos de vários casos de policia que coletou, reconstituiu uma faceta do jogo da capoeira naquela época caracterizada por uma espécie da dança na qual um homem armado de navalha nas mãos tentava acertar uma varinha curta sustentada pelo adversário. A documentação mostra a capoeira como uma ‘atenuante’ nos casos de ofensa física em São Paulo, uma vez que é associada a uma ‘brincadeira’. [...] 52 ... Correspondências reproduzidas pelo Farol Republicano, em 1829, revelam o envolvimento de um professor de francês do Curso Anexo à recém-montada Academia de Direito, criticado por jogar capoeira também em um chafariz com negros. O caso aponta ser a cabeçada um importante componente do caráter de luta que tal prática já trazia, mas que ganhava ares de brincadeira, beirando a espetáculo, com palmas e assobios acompanhando o gestual. O 48
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Piauí. In CRONICA DA CAPOEIRAGEM, obra citada, p. 723-738 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atlas da Capoeiragem no Piauí. In CRONICA DA CAPOEIRAGEM, obra citada, p. 740-768 49 PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 50 CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html 51 Obra citada, p. 352 52 Aqui, refere-se à análise de um jogo de capoeira entre um africano livre e um cativo, maranhense, tidos como ‘meninos do chafariz’. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864, in REVISTA DO LÉO 15, DEZEMBRO de 2018, p. 123-124, disponível em https://issuu.com/home/published/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20
professor não seria o único intelectual a participar de encontros com cativos e libertos, sendo acompanhado por alguns estudantes do Curso Jurídico em diversas ‘patuscadas’ e desordens noturnas53. Informa Cunha (2013), que dentre essas ‘patuscadas’, estava o furto de galinhas, perus, cabritos, que se transformavam em almoços e jatares, promovidos pelos acadêmicos. Em suas investidas noturnas, aos quintais alheios, algumas vezes confrontavam-se grupos de escravos e/ou libertos, que também perambulavam pelas ruas e, algumas vezes, haviam confrontos. Dai, diz o pesquisador, alguns desses estudantes dominavam a principal forma de ataque-defesa dessas populações menos favorecidas. Duque-Estrada comentava com seus colegas que (CUNHA, 2013, p. 128): a prevenção existente contra a capoeiragem era justificada pela degeneração dela. A verdadeira capoeiragem, explicava ele, não admite o auxilio de armas de qualquer natureza. O seu principio básico é que – o homem deve empregar para a sua defesa, ou para o ataque somente os órgãos que da natureza recebeu. E, com efeito, são eles mais que suficientes para a completa preservação da pessoa e para a subjugação do adversário por mais terrível que este seja, ou por mais armado que se apresente, uma vez que não conheça o segredo da arte ou não disponha de agiloidade resultante do seu exercício. Em seguida, expunha ele com método, com clareza, e de modo convincente as funções agressivas ou defensivas da cabeça, das mãos, dos pés, das pernas, e até dos joelhos, próprias a darem imediatamente superioridade nos jogos da capoeira. Cunha (2013) destaca haver “um segredo da arte” entre os praticantes, um significado profundo. Também indica o pesquisador haver, na cidade de São Paulo, uma metodologia de ensino e aprendizagem, algo que ele, o autor, conforme diz, não tem como conferir entre escravos, forros e homens livre pobres, pois não deixaram relatos escrito. Nesse sentido, o uso da palavra “arte”, na fala de Duque-Estrada, implica na compreensão, entre os estudantes de Direito, de que a capoeira era mais do que um ‘jogo de escravos, aproximando-se de outras artes marciais, como o boxe e o savate, e até mesmo como uma forma de expressão artística. Chegou a cogitar-se em fundar uma “Escola de Capoeiragem” em São Paulo, ideia de “um importante capitalista, então na sua completa integridade mental, o general Couto de Magalhães”. Cunha (2013, p. 138) considera que Couto de Magalhães tenha praticado capoeira com estudantes e em meio a cativos e libertos por volta de 1850, além de ter grande proximidade com Duque-Estrada, chegando os dois a participar do mesmo jornal acadêmico. O general ao que parece não desistiu da ideia de fundar uma ‘escola de capoeiragem’, pois em 1897, durante a 2ª Conferencia para o Tricentenário de Anchieta, defendeu o uso da capoeira pelos militares, como mforma de treinamento para lutas corpo a corpo. Voltemos à Basson. Na turma de 1855-1859, José Basson de Miranda Osório era reconhecido como conhecedor da capoeira. Um piauiense descrito como “baixo, claro, loiro, olhos azuis e imberbe. Perito na arte da capoeiragem, destro e valente cacetista”. “Valente e bom capoeira, chefe do grupo de matadores de cabritos”.
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CUNHA, 2013, p. 152-153.
Cunha (2013) detalha qual era a atividade ordinária desse grupo: uma espécie de esporte noturno com caçadas a galináceos pelos quintais e cabritos pelas praças e ruas da cidade. Identificado desde os primeiros anos da faculdade, esse “esporte acadêmico” perdurou até o final dos oitocentos, provavelmente associado à capoeira. Continuando o relato, para fazer parte desses exercícios, era essencial estar pronto para os enfrentamentos, como ocorreu certa vez com Basson, surpreendido “quando já havia deitado a unha” em um peru e “apesar da chuva de pancadaria que lhe caiu sobreb o costado, não largou o peru, raciocinando, explicou ele depois que pior seria apanhar a sova e ainda ficar sem o peru. Basson era discípulo de José Calmon Nogueira da Gama, o Juca Gama, exímio esgrimista, de uma das mais tradicionais famílias paulistas. “Robusto e acrobata”.
MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física
Ontem (21/11/2018), foi lançado documentário sobre Mestre Patinho, direção de Alberto Greciano Merino e produção de Bruno Ferreira, dentro do Festival de Filmes “Maranhão na Tela”:
O filme DIVINO PATO (2018, documentário, 27 minutos), dirigido por Alberto Greciano e produzido por Bruno Ferreira será exibido hoje (quarta-feira, dia 21/11) pela programação do Maranhão na Tela. As sessões acontecem no Kinoplex Golden, no Calhau às 16h30 e 21h30. Não percam a oportunidade de ver este documentário sobre o ícone da capoeiragem maranhense na telona do cinema! Agradecimentos especiais ao Centro Cultural Mestre Patinho e FAPEMA que viabilizaram o Projeto de Patrimônio Imaterial que desenvolvemos este ano no Museu Histórico do Maranhão.
Certamente baseado em sua tese de doutorado, defendido na Universidade Autônoma de Barcelona, em 201554. 54
GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015.
Poucas pessoas no lançamento dessa obra magnífica!!! A maioria, para assistir ao filme que se lhe seguiu, produtores, diretor, atores... Da Capoeira, identifiquei umas poucas pessoas: Nelsinho, o filho de Patinho e uma acompanhante, e eu. E só... Depois da apresentação, seguiu-se uma discussão, em torno de um cafezinho, já na praça de alimentação... Conversamos sobre a ancestralidade da capoeiragem maranhense – Capoeiragem tradicional maranhense55 – e a participação de Sapo e Pato Rouco no ressurgimento da capoeira em São Luís, na década de 60. Sobre os pioneiros dessa tradição da implantação da Capoeira nos anos 60, Grciano Merino (2015) 56coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ . A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015) Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. 57 De acordo com Kafure (2012), a história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha eram compostos por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer no final de 2011. Considerando então uma capoeira desconstruída, a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem".58 Nelsinho se posiciona de que os capoeiras que atuavam em São Luís, antes da chegada de Serejo, Sapo e a continuação da obra de revitalização, por Patinho, não deixaram descendência... Pato, no depoimento que prestou no documentário, fala de que aprendera capoeira com Jessé Lobão, às escondidas, com aulas no quintal de sua casa, e que não poderia falar disso para ninguém. 55
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, ufpr/Universidde Positivo, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2018. 56 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 57 Veja-se PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. 5858 KAFURE, 2012; ROCHA, 2012, obras citadas
Ora, a capoeira, naqueles anos – décadas de 30 a 50 – era feita às escondidas, nos quintais das casas dos seus praticantes, certamente devido à repressão policial. Mas havia as rodas de Mestre Diniz (anos 1950 em diante)...
Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 – teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Mestre Diniz se referia ainda a outros Capoeiras da época de sua infância, como “Caranguejo”, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 200259, citado por MARTINS, 2005, p. 30) 60. Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO – final do ano 1959, e início dos anos 60 - e a criação do Grupo “Bantus“, do qual participavam, além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].61 Firmino Diniz, conhecido também como Velho Diniz, serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo, e, posteriormente com Gouveia, passaram a frequentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o mestre deu grande impulso para a 59
SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002 60 BRITO, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS, monografia de graduação em Educação Física orientado pelo Prof° Drdo. Tarciso José Melo Ferreira, 2005 61 http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. Uma análise das contribuições de Mestre Sapo para a capoeira em São Luís. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005.
popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas62. Sobre isso, Roberto Augusto A. Pereira diz que: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 63 Quanto à afirmação de que não havia descendência de Mestre Diniz, por exemplo, tomamos a graduação de Mestre Índio do Maranhão:
Mestre Índio Maranhão Graduado por mestre Diniz em 07 de setembro de 1996 na presença do irmão de capoeira o Mestre 64 Patinho - ambos treinaram juntos na adolescência .
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BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: Recorde: Revista de História do Esporte. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010. 63 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. 64 Fonte: http://saojorgerj.blogspot.com.br/2008/07/mestre-indio-maranho-vai-espanha.html
GENEALOGIA DE MESTRE DINIZ
ZÉ BAIANINHO
MANÉ CATUMBI
DINIZ
JORGE NAVALHA
INDIO DO MARANHÃO
NEGÃO
BOCUDA
LEITÃO
NILTINHO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, 2018
Para Mestre Mirinho65 – Casimiro José Salgado Corrêa - a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantus”, em época remota (anos 60). Este grupo praticava a capoeira na antiga Guarda Municipal, no Parque Veneza. Mestre Patinho relata o aparecimento desse grupo: bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci... Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60; Babalú, um apaixonado pela capoeira; outro amigo que era marinheiro da Marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio (sic) e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. “Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.” (Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira) 66.
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO, em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. 66 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO MARANHÃO”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. Grifos meus
(Mestre Catumbi) Mestre Firmino Diniz Babalú Manuel Peitudinho Ubirajara Elmo Cascavel
GRUPO BANTUS | (Mestre Artur Emídio) Mestre Roberval Serejo | Patinho
(Mestre Djalma Bandeira) Mestre Jessé Lobão Gouveia Alô Didi
Mestre Euzamor67 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Distingue os tipos de capoeira como: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogados hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Explica o motivo que levou a esta escolha que foi origem, habitat, vindo do sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência cotidiana “Madre Deus”. Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio68, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira:
Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 69. Patinho, aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões... No ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos 70: Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam 67
Mestre ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU (1962-2017), iniciou-se na Capoeira em 1969. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum da capoeiragem no Maranhão, em entrevista concedida a José Lindberg A. Melo. E Fábio Luiz B. Silva 68 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Artur Emídio e a capoeiragem em São Luis do Maranhão. In http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/15/cronica-da-capoeiragem-artur-emidio-e-a-capoeiragem-em-sao-luisdo-maranhao/ 69 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. Monografia apresentada ao Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. São Luís, UFMA/DEF, 2005. Orientador: Prof. Drdo. Tarcísio José Melo Ferreira 70 In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes.
modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.
Mestre Patinho – o mestre de referencia da capoeira maranhense -, afirma ter recebido influencia de Artur Emídio: “Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê”. (Mestre Patinho in Entrevistas) 71 Roberval Serejo morre em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui; seus alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo, que forma, então, seu grupo e passa a dar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco: “Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passe a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas que não tinha tempo de se dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira”. (MARTINS, 2005).72 Sapo, que participava do Quarteto Aberrê (nome em homenagem ao mestre de Canjiquinha), juntamente com Vitor Careca e Brasília, além do próprio Mestre Canjiquinha, líder do grupo baiano, de fato, depois de estabelecido em São Luís, a partir de 1966, segundo Roberto Augusto Pereira (2010)-73, passa a ministrar aulas de capoeira somente após cinco anos, no Ginásio Costa Rodrigues, já no governo Pedro Neiva de Santana. ABERRÊ | CANJIQUINHA JESSÉ LOBÃO
SAPO | PATINHO
ROBERVAL SEREJO
A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Sapo – da linhagem de 71
Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio0. “MESTRES DE CAPOEIRA DO MARANHÃO”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 72 MARTINS, 2005, obra citada, p. 36, grifo nosso 73 PEREIRA, Roberto Augusto. O Mestre Sapo, a passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (des)construção do ‘mito’ da ‘reaparição’ da capoeira no Maranhão dos anos 60 RECORD, Revista de História, v. 3, n. 1, 2010, disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/748
Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de reeducação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’ Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores74. Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê. Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação contudo, houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, mostras e competições. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária. Passa a utilizar – como todos os professores da época, o Método Desportivo Generalizado, introduzido, no Maranhão, por Laércio Elias Pereira.75 A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira76, que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das 74
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito); VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de. QUERIDO PROFESSOR DIMAS – Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo e a Educação Física maranhense: uma biografia autorizada. São Luis: EPP, 2014, VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. IN XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DOS ESPORTES, ALZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, i congresso internacional de história dos esportes, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2015, UFPR/Universidade Positivo, Tema Livre 75 O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR. Alfredo Gomes de. Introdução à didática de Educação Física. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 76
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI.
escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de professores de Educação Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem numa ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 77 Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações: (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias 78. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 79. Para Kafure (2017) 80, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessas ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 81 . Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão. 77 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016. 78
Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, pelo Grupo 1, formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 79 Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz pelo Grupo 2, formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 80 ROCHA, 2017, obra citada. 81 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes ; http://www.iteia.org.br/laborarte BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf
[...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no Maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é superimportante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade. Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) . A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo” 82. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão. A partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão. Mestre Rui83 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto84, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas. A existência de grupos – vamos dizer assim, já que àquela época, final dos anos 50, inicio dos anos 60, antes da passagem de Serejo e Sapo -, é confirmada por Mestre Paturi – ANTONIO ALBERTO CARVALHO – que diz: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fatima , Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, 82
ROCHA, 2017, obra citada. RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 83
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MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.
Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. Passei um Período treinando com SAPO, no Ginásio Costa Rodrigues, e depois no Alberto Pinheiro . Depois passei a treinar direto com ALÔ na 28, mais precisamente na CASA E BAR DO DEZICO. Mestre “Socó” 85 iniciou-se na pratica da capoeira em 1971, com mestre Raimundo Aprígio, no bairro Bom Milagre, no qual ele era aluno de mestre Gouvêia, que foi aluno de Roberval Cerejo. Treinávamos aos sábados e domingos. Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem (Angola nem regional), era conhecido com “Capoeiragem”; Eram alunos: Miguel, “China”, Zé Mario, “Socó”, Beto, “Cabeca”, “Boi”, “Raspota”, Danclei, Messias, Batata, Nei, Roberval, Riba e muitos outros: Eu participava muito das rodas de capoeiras do mestre Diniz, no qual estavam: “Curador”, “Pelé”, “Didí”, “Cordão de Prata”, “Pesão’’, Miguel, “China”, D´Paula, “Mimoso’’, Alberto, Rui, “Jacaré’’, Mariano,”Boi’’, Nei,” Faquinha’’, Ze Melo, ‘’Pato’’, ‘’Aló’’, Sebastião e muitos outros. Fizemos muitas rodas no feriado de 7 de setembro, e nos festejos de Nossa Senhora da Conceição, também no dia do soldado no quartel do 24º BC, na Casas das Mina, Jorge Babalaô no dia 13 de maio, dia dos escravos no bairro da Fé em Deus, assim como nos sábados a tarde tínhamos no João Paulo, na casa do Beto na antiga Estrada de Ferro. No fim dos anos 70 foi feito um bloco carnavalesco por Afonso “Barba Azul”, que era aluno do finado mestre “Sapo”, era na Rua da Saúde, onde se reuniu a grande massa capoeirista, para desfilar no carnaval da João Lisboa. No ano de 1976, no bairro do Diamante centro, no estacionamento do “fomento”, (Ministério da Agricultura), treinávamos capoeira, com os alunos, “Biné”, Celso, Alex, Missinho, Déco, Mauro Jorge, Marcelo, “Uruca”,” Motor”, e muitos outros. Aprendiam a praticar a capoeira com Socó. Nessa época, não era necessário o reconhecimento como mestre para dar aula, bastava saber e conhecer na pratica o “jogo” da capoeira. Ouçamos Mestre Índio do Maranhão86: Eu como todo menino traquino, pulador e saltador, aos meus 9 para 10 anos já apresentava vocação para a luta. Gostava de brigar, “tarracar”, termo usado pelos mais velhos da época, por esta razão era chamado para “garrotiar” com os garotos do meu tope ou até maiores naquela época. Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão. Filho de policial e mãe crente da Assembleia de Deus, eles jamais deixariam eu fazer capoeira, quando falei que queria fazer foi um terror a palavra capoeira para meus pais. Como eu em minha inocência, queria era praticar capoeira, toda tarde subia para o Alto de Fátima e ia correr, pular, saltar, fazer movimentos de minha cabeça, e nisso eu passei um bom tempo, saltando e pulando fazendo movimentos de capoeira, sem saber que todos os movimentos que executava eram de capoeira. 85
EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA (1961); (1971 INICIA-SE NA cAPOEIRA). IN Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres capoeira do Maranhão, 2017. 86 Mestre INDIO DO MARANHÃO - OSIEL MARTINS FREITAS (1957); iniciou-se na Capoeira em 1972. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres capoeiras do Maranhão. Depoimentos, 2017
Foi quando um companheiro me observando, um bom tempo, chegou pra mim e disse: - Tu quer fazer judô comigo? então lhe respondi: - Não, eu quero é capoeira. Ele então falou, eu faço judô lá no Ginásio Costa Rodrigues com Jorge Saito, um japonês, mas todo dia eu assisto o treino do Mestre Sapo, ai eu venho e te passo os nomes dos movimentos Na semana seguinte ele estava lá e já foi me falando, eu vou dá uma meia lua de frente e você se abaixa, o nome da defesa é cocorinha, eu vou dá um martelo e você faz assim....uma resistência. Essa atenção comigo durou de julho de 1971 a Abril de 1972, ele se chamava José de Ribamar, mas era conhecido como Hipopótamo, apelido que ele não gostava, foi esse rapaz que me iniciou na capoeira com os primeiros passos, porém ele não era capoeira. No dia 22 de junho, ano que eu me intitulo capoeira, foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “ Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. Final de julho, começo de agosto, eu brincando de rouba bandeira na Rua Nossa Senhora de Fátima, bem em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fato pode, Nelson galinha, Geraldo cabeça, Manoel pretinho, Cesar dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro. De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mais sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua,e sobre seu comando. Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre
Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio, Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro. Mas o mestre que me deu toda a orientação para eu me tornar um capoeira, foi o Velho Firmino Diniz a quem eu devo Saúde, dinheiro e obrigação, foi quem me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia e da Bahia tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho. Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo, foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em outro depoimento, Mestre Índio do Maranhão (2015) 87 conta como eram essas rodas, que constituíam verdadeiros momentos de ensinamentos e troca de experiências, sem a formalidade de uma ‘escola/grupo de capoeira’ nos moldes atuais: tenho conhecimento da história da capoeira de São Luís do Maranhão, pois o Velho Diniz passava isso para a gente. Ele dizia que a história da capoeira lá no Maranhão, precisamente em São Luís, ela começa em 1885. Ele dizia que os estados mais antigos da capoeira, eram Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Maranhão. A capoeira chega em 1885 no Maranhão, porque os escravos que eram enviados para lá, vinham do Rio de Janeiro, não vinham de outros estados, eram específicos do Rio de Janeiro, enviados para a cidade de Turiaçu, e de Turiaçu para São Luis. Deste período de 1885 a 1959, quando surgiu o primeiro grupo de capoeira, um grupo chamado Grupo Bantu de Capoeira, comandado por Roberval Cereja (sic), que era marinheiro, e foi do Rio de Janeiro para São Luís, e chegando lá montou esse trabalho de capoeira. Lembro muito bem do Velho Diniz contando isso para a gente, eram: Roberval Cereja, Babalu, Jese, Patinho, Bizerra, Manuel Peitudinho, Murilo, Lourinho, Elmo Cascavel e Alô, esse grupo de 10 pessoas. Era um grupo isolado, não saia muito até por causa do preconceito da época e da taxação que aquela rapaziada recebia de vagabundo, arruaceiro e etc, pois capoeira era tudo o que não prestava na boca da sociedade. Então nego se isolava muito, treinavam muito ali e às vezes saiam para as festas, onde aconteciam as brigas, ai eles quebravam a galera e os caras às vezes nem sabiam de quem estavam apanhando, anos depois vieram a saber, que eram da capoeira. Em 1966, um grupo chamado Aberrê, fez sua primeira viagem a São Luis, era comandado pelo Mestre Canjiquinha, acompanhado de Brasília, Vitor Careca e João Pequeno. Dois anos depois eles retornaram, isso em 1968, dessa vez com uma alteração no quarteto, tendo Canjiquinha como mentor, Sapo Cola, Brasília e João Pequeno, o Vitor Careca não foi. Assim eles ficaram como uma referência dos percussores da capoeira, sendo que o Sapo Cola, a convite do governador, permaneceu em São Luis. Dessa forma, até o José Sarney, querendo ou não, tem um dedo dele na capoeira do Maranhão, isso em 1968 quando ele foi governador do nosso estado. A roda de capoeira mesmo que me marcou, foi quando eu comecei a frequentar as rodas do Velho Diniz, que era uma roda lá na Bom Milagre, com vários companheiros que eu lembro até hoje o nome deles, que era o Velho Diniz como chefe da roda, Sargento Gouveia, Babalu, Jese, 87
Entrevista com Mestre Índio Maranhão: Conheça um pouco da história dos 43 anos de capoeira do Mestre Índio Maranhão por suas palavras. Saiba como ele conheceu a capoeira, como a vive e como aprendeu a história da capoeira do Maranhão na qual ele ensina aos seus alunos com alegria e dedicação. In http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-MestreIndio-Maranhao/1; Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau; grifos nossos
Elmo Cascavel, Esticado, Raimundão, Alan, Gordo, Volf, Mimi, Ribaldo Branco, Ribaldo Preto, Zeca Diabo, Curador, Cordão de Prata, Sabujá, Patinho e Mareco, tinha mais ou menos uns 30 capoeiras que ele comandava essa galera todinha que comparecia lá nessa roda, e isso marcou a minha iniciação na capoeira, foi a roda da Bom Milagre, eu estava com uns 15 anos de idade na época, hoje estou com 58, daqui a 2 anos eu completo os 60 anos nesse mundo cão ai da capoeira.
Mestre Curió88 dá seu depoimento: Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionou-a com a Punga dos Homens, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. No mesmo ano, em 1975, aos 19 anos de idade, já fazia alguns movimentos e golpes da capoeira, sem no entanto saber direito o que fazia. Passou a assistir as apresentações de capoeira na antiga Estrada de Ferro, na casa de um amigo conhecido como Beto do Cavaco. Começou a se motivar. Os dois ainda iniciantes, brincavam juntos tentando aprender alguma coisa. Por meio desse amigo entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”. Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar a casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Beto do Cavaco o levou para treinar com Raimundão. Treinou apenas dois meses, pois Raimundão precisou viajar para o Rio de Janeiro. Ali conheceu alguns capoeiras que também estavam aprendendo, Miguel, Tancrei, Boi, Caninana, Socó, dentre outros. Sem seu mestre, passou a treinar sozinho novamente, fazendo o que já sabia e esporadicamente pegando dicas com um e com outro, aprendendo a capoeira “no tempo”. Autodidata também não teve mestre de berimbau, aprendeu olhando e imitando. Quando ele conheceu a capoeira ainda morava na Jordoa, no João Paulo, e já com família, mulher e filhos, prosseguiu treinando. Em 1979 mudou-se para o bairro do Coroado, alguns meses depois para o bairro do Sacavém, e em 1980 já estava morando no bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. Na época em que Mestre Sapo ensinava nas escolas da cidade, Curió aprendia a arte da capoeira nos quintais e nas rodas de rua. Não conheceu pessoalmente o Sapo, só ouvia falar. Entretanto, conheceu personalidades da capoeira que não foram alunos de Sapo, mas de capoeiristas anteriores a ele.
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João PalhanoJansen, o Mestre Curió, casado com dona Joana Santos Reis Jansen, da qual teve quatro filhos, nasceu em 15 de fevereiro de 1956 na comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, no interior do Estado do Maranhão. Seus pais se chamavam Domingos PalhanoJansen e Antônia PalhanoJansen. Aos oito anos de idade foi para Santana, uma cidadezinha da região. Aos 10 anos de idade, sem saber, foi vendido para trabalhar em regime de escravidão numa fazendo do interior do Estado, mas sendo observador das coisas ao seu redor, percebeu que havia algo de errado e fugiu. Com 12 anos se mudou para a cidade de Coroatá. Aos 16 anos veio para São Luís, capital do Estado. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO, 2017. Grifos meus
Mestre Baé89 também relata que, naqueles anos iniciais, a capoeira era praticada nos quintais, com os ‘mestres’ ensinando durante as rodas que ocorriam na cidade, sem uma formalização, do tipo ‘grupo’, ‘escola’, ou ‘academia’: Em 1974 conheci O SR. ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO (MESTRE PATURI) na Avenida Kennedi em frente da Paulo Frontim pois foi o primeiro local onde fui morar e logo depois me mudei para o bairro de Fátima; morava ao lado do bar da ZILOCA, que era um local muito freqüentado pelos amigos capoeiristas do Mestre Paturi, mas foi só em 1976 através de ALÔ que comecei a freqüentar os treinos do Mestre Paturi, na época não tinha academia para a gente treinar pois a gente treinava era nos locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. Em outro depoimento90: Iniciei a capoeira em fevereiro de 1977, na feira do João Paulo com o finado Alô, depois passei a treinar com o mestre Paturi até conhecer o mestre Patinho tendo me afastado devido o mesmo ter se dedicado só à capoeira de angola, e meu objetivo eram me aprofundar mais na capoeira, pois a mesma está no sangue. Em 1989, comecei a praticar e estudar a capoeira regional pelo Brasil inteiro.
Mestre Rui Pinto91 lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, frequentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol: Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão. Mas esse treinamento durou pouco, pois nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre 89
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Mestre BAÉ - FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. In DEPOIMENTO. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Album dos Mestres capoeiras do Maranhão, 2005. entrevista realizada por: Raimunda Lourença Correa; Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra; Maria do Socorro Viana Rego; José César Sousa Freire; Hermílio Armando Viana Nina ; Roberval Santos Corrêa. Grifos meus. Mestre BAÉ - FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Livro-Album dos Mestres capoeiras do Maranhão, 2017. Grifos meus. RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.
Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula. No mesmo período já com 15 anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados. As competições de capoeira chamadas de “A Grande Roda” só aconteciam em Salvador no mês de Dezembro de cada ano, e por falta de patrocínio poucos éramos os alunos que iam, pois os custos eram altos, a outra forma de ir era por conta própria, o que era muito difícil para alguns. Nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participamos de diversos campeonatos tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na igreja de nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos a nos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do exército, grande capoeirista da época. Com a morte de Mestre Sapo em 1982, a capoeira sofreu uma grande perda, causando a dispersão de muitos capoeiristas que o tinham como mestre, enfraquecendo assim a capoeiragem (congregação dos capoeiras), por um curto período de tempo. Até que movimentos começaram a ser criados renovando e incentivando a manutenção da capoeiragem, que, com esse incentivo fui em busca de mais informações em outros estados, como São Paulo, no DEF (Departamento de Educação Física - em Água Branca), e em União dos Palmares – Serra da Barrica – Alagoas, e dessa forma adquiri mais conhecimento. Hoje componho o Fórum Permanente dos Mestres de Capoeira, e faço parte do Curso de Capacitação de Mestres do Maranhão. Mestre Gavião92 lembra-se dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro eo antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com 92
MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.
Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. Ainda em 1978, Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente. Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão.
Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali.
Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’[93] a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica.94.
Para Mestre Índio, [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 95 Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc. 96. Para Mestre Tuti (2011) 97: Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira. Kafure (2012) 98 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc.; entende por desconstrução, primeiramente: o tipo de transformação que se inicia no discurso acerca do folguedo ou cultura popular. Logo, um discurso sobre a capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Então podemos dizer que essa palavra mestre é a primeira desconstrução fundamental de toda a capoeira, pois sendo ela uma luta afro-brasileira transmitida pelos escravos vindos de angola e congo, questionamos até que ponto ela era ensinada por supostos "mestres", já que diversas origens rituais foram atribuídas 93
MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA (Resumo do Projeto Geral). 2 ed. Brasília: 1982 PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao Mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17. 95 ENTREVISTA COM MESTRE ÍNDIO MARANHÃO, disponível em http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-comMestre-Indio-Maranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau 94
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COELHO, T. DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL. São Paulo: Iluminuras, 1999 Mestre Tuti in CHAMADA NA ‘BENGUELA’ -17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’ 98 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 97
a esta cultura. É de fato impossível encontrar uma origem específica desta brincadeira popular ou arte marcial... Esse autor se propõe: [...] a nível do Maranhão analisar(emos) a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (KAFURE, 2012) 99. Como também reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”: [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato.100. Segundo Greciano Merino (2015) 101, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folclóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)102, expresaba que: El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de 99
100
ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012
ROCHA, 2012, In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 102 Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte 101
los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”103. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”104. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural. Prossegue: En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 105 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor106. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito107. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis108. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – 103
Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 104 HAIKEL, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 105 VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 106 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 107 Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 108 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO.
FMC -, no ano de 1990 109. Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança110. As lideranças: Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão111; Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita112; Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira113. Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua... Concordamos com Almeida e Silva (2012) 114, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 115. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas116.
109
O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 111 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 112 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 113 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 114 ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 115 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 116 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 110
GENEALOGIA DE MESTRE SAPO
BENEDITO
PASTINHA
ZECA
ABERRÊ
ARTUR EMÍDIO
CANJIQUINHA ZULU
PELE
ROBERVAL SEREJO
JESSÉ LOBÃO
SAPO ANTONIO BEERRA PATINHO
AÇOUGUEIRO
RAIMUNDÃO
DE PAULA
RUI PINTO
LUCIEL ALBERTO ALZAMOR
LEOCÁDIO
MANUELITO
AUBERDAN
ALÔ PATURI
GENEALOGIA DE MESTRE RAIMUNDÃO
SAPO MIGUEL ARCANGELO RAIMUNDÃO
CURIÓ BAE
ALZAMOR
SOCÓ MILITAR
MARCIO MULATO
GENEALOGIA DE MESTRE PATO
JESSÉ LOBÃO
ROBERVAL SEREJO SAPO BARTÔ PATO
MARCO AURELIO PEZÃO
FRED
BAMBA JORGE NAVALHA
INDIO
CACÁ
LEITÃO
PIRRITA
NELSON CANARINHO
DIACO
NEGÃO
DOMINGOS DE DEUS
PEDRO
MADEIRA NELSINHO
GAVIÃO
PUDIAPEN SILVIO
ARY
BOCUDA
GENEALOGIA DE MESTRE PATURI
LEOCÁDIO
UBERDAN
MANUELITO SAPO
ALÔ PATURI EDI BAIANO
BAMBA BAÉ
(S GUDA
LZAMOR
MILITAR
(Salvador)
CIBA
ROBERTO CURIÓ EVANDRO MIRINHO
MARCIO MULATO
CAPOEIRAS CITADOS PELOS ALUNOS-MESTRES EM SEUS DEPOIMENTOS RODAS DO VELHO DINIZ 1929-1914 / (40/50?) Catumbi Alô Babalú Boi Cordão de Prata Curador Didi Diniz Elmo Cascavel Esticado Faquinha Gouveia Índio do Maranhão Jacaré Jessé Lobão Luciel Rio Branco Miguel Mimoso Nei Patinho Paturi Pelé Pesão Raimundão Rui Sapo Sebastião Socó Tacinho Ubirajara Zé Melo Cara de Anjo PATINHO 1953-2017 / (1962) Sapo Babalu Bamba Bruno Barata Diniz Elma Jessé Lobão Júnior Marco Aurélio Nelsinho
GRUPO BANTU ROBERVAL SEREJO Djalma Bandeira
Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Jessé Lobão Patinho Raimundão Sapo Ubirajara
PATURI 1946 / (1962) Adalberto Alô Auberdan Babalu Baé Butão Carral Cordão de Prata Curador
QUARTETO ABERRÊ Canjiquinha
Brasília Sapo Vitor Careca
RIBALDO BRANCO ? / (?) Sapo Alô Babalu Cara de Anjo Diniz Garfo de Pau Gouveia Jessé Leocádio Luis Murilo
SAPO (Grupo Bantu) Associação Ludovicense de Capoeira Angola 1948-1982 / (50?) Pelé/Canjiquinha/Zulu Afonso Barba Azul Alberto Euzamor Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Índio do Maranhão Jessé Lobão Patinho Paturi Raimundão Ribaldo Branco Rui Ubirajara
TIL 1955 / (1968) Ribaldo Branco Ribaldo Branco
Roberval Serejo Sapo Serginho Tacinho
Fato Pode João Bicudo Leocádio Lourinho Manoelito Ramos Ribaldo Branco Ribaldo Preto Rola Zé Raimundo Zeca Diabo
Martins Raimundão Ribaldo Preto Sansão Til Zeca Diabo
ALBERTO EUZAMOR 1962-2017 / (1969) Luciel/Sapo/Rui Luciel Rio Branco Sapo Rui Pinto Cacá
RUI PINTO 1960 / (1970) Sapo Alberto Euzamor De Paula Didi Gouveia Jacaré Marquinhos Raimundão Roberval Sena
SOCÓ 1961 / (1971) Raimundão/Miguel Alberto Alcimar Alô Ball Batata Beto (Curió) Biné Bodinho Boi Cabeça Caco Carlos Cesar Celso Chicão China Cobra Negra Cordão de Prata Curador Curio Danclei De Paula Deco Didi Eduardo Faquinha Generoso Gouveia Irineu João Batata Juruna Marcelo Mauro Jorge Messias Miguel Arcangelo Mimoso Miro Mizinho
ÍNDIO DO MARANHÃO 1957 / (1972) Diniz Alan Alô Babalú Bambolê Batista Boi Cabral Candinho Carioca Carlinhos Cebola Cesar Dentinho Cordão de Prata De Paula Didi Diniz Elmo Cascavel Emídio Esticado Faquinha Fato Pode Geraldo Cabeça Gordo Gouveia Jesse Leocádio Louro Manoel Peitudinho Manoel Pretinho Mimoso Murilo Nelson Galinha Patinho Paturi Pelé Raimundão Ribaldo Branco
Motor Nei Pato Pelé Pesão Português Raimundão Raspota Riba Roberval Roberval Serejo Rui Sebastião Travolta Uruca Valderez Wadson Zé Mário Zé Melo
PIRRITA 1955 / (1971/72) Pezão Babalu Baiano Banana Bigu Borracha Brasil Candinho Cara de Anjo China Cícero Curador Curió De Aço De Paula Diniz Euzamor Evandro Gouveia Índio Jair João Bicudo Jorge Navalha Leonardo Madeira Magno Manoel Peitudinho Miguel Negão
JORGE NAVALHA 1963 / (1973) Pato Betinho Jacaré Pato Pirrita Roberval Sena
CURIÓ 1956 / (1975) Raimundão Beto do Cavaco Boi Caninana Curador João Matavó Manoel Peitudinho Miguel Raimundão Sapo Socó Tancrei Zé Copertino
Ribaldo Preto Rodolfinho Sabuja Samuel Sansão Sapo Sócrates Teudas Tião Carvalho Til Valdecir Wolf Zeca Diabo
BAÉ ? / (1976) Paturi/Edybaiano /Bamba Alô Edibaiano Fred Iran Jacaré Marco Aurélio Pato Paturi Riba Telmo
Neguinho Nelson Pato Pedro Pelé Pezão Ribaldo Preto Ribinha de Tapuia Rico Roquinho Ruston Ruy Pinto Sapo Suruba Tita Tucano Urucanga Vanio Zé da Madeira Zeca Zezão GAVIÃO 1967 / (1977) Madeira/Pirrita Baiano Bigu Curador Didi Fábio Arara Louro Madeira Pato Pirrita Raimundinho Sapo Sócrates LUIS SENZALA 1971 / (1981) Madeira Gavião Madeira
FORMIGA ATÔMICA 1973 / (1979) Madeira Madeira Shell Braço Lôlô Otacílio Fábio Arara Herberth Pelezinho
ROBERTO 1969 / (198?) Guda/Ciba/Baé Ademir Baé Ciba Guda Macaco Nato Filho
MILITAR 1971 / (1982) Bigodilho Abacate Alberto Euzamor Assis Batman Beleleco Bulão Cabecinha Cacá Candinho Careca Chicão
MIZINHO 1968 / (1982) Evandro Banana Beleleco Betinho Brinco Dourado Chicão Cláudio Danclay Euzamor Evandro Jota Jota Luisinho
TUTUCA 1967 / (1981) Evandro Evandro Cabeça Magão
LUIS GENEROSO 1074 / (1982?) Dunga / Madeira Beleleco Curador Gavião Madeira Miguel Pato Senzala Socó
Coquinho Cudinho Curador Daniel Dunga Evandro Jacaré Jorge Navalha Junior de Assis Juricabra Madeira Manoel Mata Rato Miguel Mizinho Neguinho Nijon Paturi Pirrita Robson Rui Pinto Ruso Tutuca Wilson PEDRO 1970 / (1983) Pirrita Bigú Bira Cadico Cafezinho Ciba Jair Jorge Jorge Navalha Juvenal Kaká Negão Nelson Neto Patinho Pedro Pezão Pirrita Presuntinho Reginaldo
NEGÃO 1966 / (1983) Pirrita Pirrita
Manoel Miguel Patinho Rui Pinto Sabujá Sapo Toba Tutuca
MARINHO 1968 / (1983) Medicina Açougeiro Alberto Euzamor Betinho Cachorrão Ciba Dentinho Edybaiano Evandro Fernando Fred Gavião Indio Madeira Mizinho Nissim Notre Dame Patinho Paturi Ribaldo Sarará Simpson Terra Samba Til Tutuca
CACÁ 1972 / (1984) Jorge Navalha Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha Neguinho Neto Patinho Robson Valderez
NELSON 1966 / (1985) Jorge Navalha/Pirrita Jorge Navalha Pedro Pedro Marcos Pesão Pinta Pirrita
DIACO 1963 / (1986) Pirrita Negão Pirrita
MANOEL 1975 / (1988) Evandro Evandro
Cadico Erasmo Jorge Kaká
NILTINHO 1975 / (1989) indio Indio
PEZÃO 1956 / (?) Bartô Bartô
RAIMUNDÃO 1956 / (1976) Sapo
DE PAULA 1956 / (1973) Sapo Gudemar Sapo Babalú Gouveia Cordão de Prata Curador Batista Magrinho ZUMBI BAHIA 1953 / (1976) Bigode/Boa Gente
MIRINHO 1966 / (1982) Evandro/Baé Evandro
LEITÃO ? / (1986) Indio/Jorge Navalha Cacá Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha Patinho
BOCUDA 1973 / (1989) Negão/Indio Negão Indio Jorge Navalha
Sapo
FRED 1963 / (1980) Patinho Patinho
REGINALDO 1975 / (1986) Erasmo
MÁRCIO MULATO 1978 / (1994) Alberto/Curió/ Militar/Baé Alberto Euzamor Baé Bico Camaleão Camelo Curió Dedé Fafá Kaká Militar Ney Quebraossos Teodorinho
SENA 1976 / (?) Cbp-rj
AÇOUGUEIRO 1950 / (1967) Sapo Pinta Sapo
BAMBA MARANHÃO 1966 / (1978) Patinho Euzamor Patinho Sapo MARCO AURÉLIO 1963 / (1984) Patinho Patinho
ABELHA 1967 / (1979) João Pequeno
DOMINGOS DE DEUS 1968 / (1985) Patinho Lelis
Telmo
Roberval Serejo
NELSINHO 1975 / (1986) Patinho Patinho
PUDIAPEN 1956 / (1989) Patinho/Acinho Patinho Assuero
Patinho
IDENTIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE PRÁTICA DE CAPOEIRA PELOS MESTRES: RODAS, GRUPOS/NÚCLEOS MESTRE SAPO SEREJO
RODAS
DINIZ PATINHO
Praça Deodoro Praça Deodoro Olho d´Água Bom Menino
PATURI
Rio das Bicas Fátima Parque Amazonas
TIL EUZAMOR
Quintal de Casa
RUI
Quintal de casa Casa das Minas Jorge Babalo Deodoro Madre Deus Praça da Saudade Largo do Caroçudo Bom Milagre Fé em Deus João Paulo/Beto Fomento/Diamante
SOCÓ
ÍNDIO
Centro Comunitário/ Bairro de Fátima Bom Milagre/Diniz Paulo Frontin/Diniz
PIRRITA
Praça Deodoro Olho d’ Água Cada das Minas
GRUPOS/NUCLEOS Ginásio Costa Rodrigues Bantu/Sítio Veneza Bantu/Rua Cotovia Ginásio Costa Rodrigues Academia Senzala Laborarte Lítero Gladys Brenha Centro Cultural Mestre Patinho Mandingueiros Escola Criação Centro Matro-á Maré do Chão Brinquedo de Angola Ginásio Costa Rodrigues Alberto Pinheiro Casa e Bar do Dezico (28) Encruzilhada da UFMA Associação Comunitária Grupo de apoio à Capoeira Ginásio Costa Rodrigues Ginásio Costa Rodrigues ITA/MENG C ITA/MENG
Sede do PDT Grupo Arte Negra Grupo Arte Fiel Capoeira Escola Maria Helena Duarte Ginásio Costa Rodrigues Grupo de Capoeira Filhos de Ogum Associação Cultural de Capoeira São Jorge Ginásio Costa Rodrigues Praça Gonçalves Dias Grupo de Capoeira Aruandê Grupo Filhos de Aruanda Centro de Cultura Negra do Maranhão
OUTROS DEFER
São Pantaleão
Bairro de Fátima, Areinha, Centro de Esportes (Vila Embratel) Igreja de Fátima São Bernardo
Madre Deus
Anjo da Guarda Itaqui-Bacanga FETIEMA SESC Bumba Meu Boi da Floresta Federação de Capoeira do
JORGE CURIÓ
João Paulo Estrada de Ferro Praça Duque de Caxias
BAÉ
Paulo Frontin/Paturi Bar da Ziloca
GAVIÃO
Desterro Praia Grande Rua da Alegria 13 de Maio/Jorge Babalaô
FORMIGA ATOMICA
ROBERTO
TUTUCA
SENZALA
MILITAR
Grupo Cascavel Grupo Raízes de Palmares Grupo Argolonã Grupo Unidos de Angola Associação de Capoeira Filho de Aruanda Grupo de Capoeira Arte Negra Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo Instituto Funcional Viva Rio Anil Associação de Capoeira Regional do Mestre Edy Baiano Grupo Candieiro Escola Alberto Pinheiro Academia Real de Karatê Grupo Tombo da Ladeira
Estado do Maranhão
Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira Casa de Festa Cajueiro FEBEM/Rua do Norte Academia Clube Center GRUPO AÚ CHIBATA Centro de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS Grupo Gira Mundo Capoeira
São Francisco
Academia Club Center/ Siri de Mangue Grupo Tombo da Ladeira Escola de Capoeira Angola Acapus
Praça Gonçalves Dias Praça Deodoro Praia da Ponta
Grupo de Capoeira Angolano, Escola de Dança Pró-
Jordoa Sacavém Anil Bequimão Federação Maranhense de Capoeira
Tutóia-MA
Associação da Caixa Econômica Federal do Maranhão (APCEF/MA), Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Movimento de Menino e Menina de Rua/ Casa João Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. FEBEM/ Fonte do Bispo/ Madre Deus Escola São Lazaro
D`Areia Madre Deus
MIZINHO
LUIS GENEROSO
PEDRO
Beira-Mar
Dança Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares Grupo Mara Brasil Grupo Maranhão Arte Grupo Gira Mundo Associação de Capoeira Aruandê Associação de Capoeira Aruanda Grupo Nagoas Grupo Liberdade Negra Grupo Ludovicense Associação de Apoio à Capoeira GRUPO K DE CAPOEIRA Academia do Mestre Socó Parque do Bom Menino/CCN Associação de Moradores da Liberdade Laborarte CSU do Habitacional Turú Grupo Mára-Brasil Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira Grupo Nação Palmares de Capoeira GRUPO “MARANHÃO ARTE CAPOEIRA”,
Gincana Mirante Academia de karatê/Camboa Secretaria de Educação Promotoria de Infância e Juventude Projeto Capoeira Na Escola Projeto Curumim
Grupo de Capoeira Jogo de Dentro Academia de Madeira
Caxias /DEFER
Associação Marabaiano Associação Filhos de Aruanda Liga de Educadores de Capoeira da Área Itaqui-Bacanga LECAIB Associação Aruandê Grupo Jêge-Nagô Grupo de Capoeira Congo-Aruandê ASSOCIAÇÃO CULTURAL
Anjo da Guarda São Raimundo Parque Botânico da Vale Teatro Itapicuraíba
Ginásio Castelão Maracanã Nova República Vila 2000 Quebra-Pote Fé em Deus Coroadinho Alemanha Cidade Operária, Santa Efigênia Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira Filipinho; Bacabal, Imperatriz, Cururupu, Pinheiro, São João Batista, Viana, São Mateus Icatu, Santa Quitéria Bordeaux e Lille/ França
NEGÃO
MARINHO
AFRO-BRASILEIRA RAÍZES Associação de Capoeira Aruandê Associação de Mães de Vila Nova Programa Grupo de Capoeira Congo-Aruandê Associação Cultural Capoeira Raça Grupo Salve Axé
CACÁ
Laborarte/Prodance Grupo São Jorge Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA
CANARINHO
Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes Grupo Marabaiano, Grupo Aruandê Grupo Filhos de Aruanda
CM DIACO
Associação Atlética Barcelona, em Matões Turú Grupo de Capoeira Aruandê Associação Maranhão Capoeira Grupo Amarauê Capoeira Grupo de Capoeira União e Consciência Negra grupo Filhos de Aruanda Laborarte Grupo Filhos de Ogum
CM REGINALDO CM LEITÃO
Club da Alumar academia CIA DO CORPO academia Corpo Suor GIM Esporte Center academia MK3 Associação da Caixa JEM´s Teatro Itapicururiba União de Moradores/Clube de Mães do Sa Viana União de Moradores do Angelim Velho/Novo Angelim/novo tempo III – Angelim Conselho Cultural/Sede do Boi/Choperia Madre Deus Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira. Igreja Nossa Senhora Aparecida no Bairro Mauro Fecury II Fundação Assistencial da Criança e do Adolescente (FASCA) Federação Maranhense de Capoeira Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) PACRIAMA LIGA DE EDUCADORES DA ÁREA ITAQUI BACANGA (LECAIB) grupo comunitário, Unidos Venceremos
Associação da União da Consciência Negra Complexo Cultural GDAM Projetos Jatobá e Embratel
MANOEL
NILTINHO
CM MARCIO
Grupo de Capoeira Malungos Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. Associação Mara-Brasil Capoeira Associação Cultural de Capoeira São Jorge Grupo de Capoeira União LABORARTE Associação de Capoeira JEJE NAGO Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM grupo Arte Negra do grupo de capoeira Candieiro
Centro Social Urbano no Habitacional Turu. Academia Parati Fitness no Habitacional Turu Associação de Moradores do Bairro Sá Viana Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA SESC – Serviço Social do Comercio Projeto Quinto Batalhão de Arte / Turma do Quinto FEBEM
O PENSAMENTO DE BRANDÃO
HOMENAGEM DA FALMA
RELEBRANDO A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS Antônio Augusto Ribeiro Brandão As praças do mundo todo estão cheias de homenagens a grandes vultos da história. Na Place des Vosges, em Paris, existe um belo monumento erigido em memória de Luís XIII (1601-1643), Rei francês entre 1610 e 1643. Eu e Conceição estivemos naquela praça e, diante da estátua daquele que deu o nome à nossa querida cidade de São Luís, deixamo-nos fotografar. O Rei está montado num fogoso corcel, no topo de um pedestal em mármore nobre com inscrições alusivas ao seu casamento com a princesa Ana de Áustria (1601-1666), filha de Filipe III de Espanha (1578-1621). Lembrei-me de que Luís XIII tinha pouco mais de dez anos de idade, e dois de reinado, quando o nobre Daniel de La Touche, Senhor de la Ravardière, em 1612, em sua homenagem e a título de ‘consolidar a presença francesa desde o século XVI’, fundou a colônia e o Forte de Saint-Louis, marco inicial da futura capital do Maranhão. Luís XIII era filho de Henrique IV de Bourbon (1553-1610), primeiro rei de França e de Navarra, com quem conviveu, no Louvre, para aprender os ofícios do cargo que futuramente iria desempenhar, e de Maria de Médicis (1575-1642), que foi sua regente durante a menoridade. O menino cresceu na companhia dos irmãos; o pai morreu quando começou o seu reinado, em 1610. Ele tinha apenas nove anos de idade. A Regente foi, sempre, coadjuvada de perto por Armand Jean du Plessis (1585-1642), o Cardeal Richelieu, chefe do Conseil d’État, de amplos poderes. Richelieu foi de grande influência junto à Regente; foi ele, digase de passagem, também ligado à intelectualidade da época, quem patrocinou a fundação da Academia Francesa, em 1634, e todo o ritual das academias de letras, a partir de então, segue a mesma liturgia daqueles tempos. Quando avaliamos a ocupação francesa em terras brasileiras precisamos refletir sobre algumas das circunstâncias mais representativas e vigentes, na França, quando ocorreu a fundação de São Luís, no Maranhão, em 1612. Entre 1610 e 1617, um Rei regido pela mãe viúva e ‘insegura ante a nobreza do reino e seus vizinhos europeus’, obrigada a romper com a política até então desenvolvida por Henrique IV, e tendo sua imagem inseparavelmente ligada ao primeiro-ministro, Richelieu, que levara a nobreza à rebelião quando à frente do Conseil, tinha os poderes de governante inteiramente limitados. A viagem autorizada de Daniel de la Touche, experiente capitão da Marinha Francesa, ao Norte do Brasil, foi longa e tormentosa. Consumiu 116 dias desde a partida da cidade portuária de Cancale, próxima de Saint-Malo, no norte da França, na região da Bretanha, com uma caravela e duas naus nominadas SaintAnne, Régente e Charlote, tripuladas por 500 homens, entre eles frades capuchinhos. Ele teria convencido a Henrique IV ‘sobre a importância de tomar posse das regiões não ocupadas pelos portugueses’. Chegou durante o mês de setembro à Montanha dos Canibais, um ponto elevado na Ilha Grande, domínio dos Tupinambás. O corsário francês Jacques Riffaut, que então pirateava a costa setentrional do Brasil, bem antes travara conhecimento com um chefe indígena e foi por ele animado a estabelecer-se nessa região; voltou à França, arregimentou recursos e retornou ao Brasil, isto em 1594. Ficou um pouco, contudo, não conseguindo firmar-se, retornou ao seu país, deixando a missão a cargo de Charles de Vaux. A propaganda feita a Henrique IV, sobre as maravilhas da nova terra, convenceu o Rei a determinar a viagem de Daniel de la Touche, em 1612, que, após tomar posse e depois de dois anos de colonização, também retornou em busca de recursos; voltou de novo, mas não pode mais retomar nem consolidar o processo iniciado naquela cidade que seria a base da tão sonhada França Equinocial. A verdade é que os portugueses, no Brasil, há mais tempo, àquela altura na região onde, hoje, estão os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pará, foram despertados pelos franceses ante o seu aparente desinteresse pelas terras do Norte, e porque tudo aconteceu conforme as circunstâncias daquela época, na França. A regente Maria de Médicis, abalada com o trágico assassinato do marido Henrique IV e com o Rei Luís XIII ainda na menoridade, demorou a decidir pela ajuda solicitada por La Touche. Aí os portugueses
foram chegando e acabaram vencendo os franceses na célebre batalha de Guaxenduba, ajudados por alguns chefes indígenas anteriormente aculturados. O Senhor de la Ravardière, vencido, depois de pouco mais de três anos de ocupação da terra apossada, assinou a rendição sob diversas condições de reparação, mas não evitou sua prisão, por cerca de dois anos, na Torre de Belém, em Portugal; a manutenção do nome ‘São Luís’, entretanto, permaneceu nesta cidade que, neste ano de 2018, comemora 406 anos de sua fundação. São Luís parece mais com Lisboa, pelo menos no casario sacado-a-ferro, nos sobradões; porém, estando na Pedro II (antiga Avenida Maranhense), basta olhar em direção ao mar e notar, à direita, os palácios La Ravardière (antiga Casa da Câmara e Cadeia), e dos Leões (nascido Forte São Luís), para sentir fortes laços da presença francesa, aqui. Em tempos idos, além da arquitetura dos prédios, os salões de festas e das recepções oficiais refletiam os usos e costumes parisienses no vestuário e no comportamento das damas e cavalheiros, bem como os espetáculos de teatro e de ballet eram atrações refinadas. Precisamos manter vivos os laços com nossos fundadores, assim como vem fazendo a nossa Academia Ludovicense de Letras.
CRÔNICA DE UMA CIDADE Publicado em 01/10/2018 Voltei, mais uma vez, ao Rio de Janeiro, cidade onde morei por mais de dez anos, nasceram dois dos meus primeiros filhos com a querida e sempre lembrada esposa Conceição, trabalhei muito, me formei em economia e fiz amigos. Já perdi as contas de quantas vezes fiz isso, desde a primeira vez, em dezembro de 1954. Desta vez fui parar pelas bandas da Barra da Tijuca, que conheci praticamente sem nada e apenas com o mar à frente, em 1961, agora densamente povoada, cheia de condomínios residenciais e grandes hotéis. É uma nova cidade dentro da outra dos meus velhos tempos. É feriado de 7 de setembro. Visto aqui do alto, muito sol e as piscinas do Hotel estão cheias de gente; a música toca bem alto um samba da melhor estirpe carioca, por conta de um Evento. Esse clima de violência gerando insegurança, que a imprensa martela na mente dos brasileiros, não existe nesta tarde. Andei muito de táxi, de frota não muito nova, com jovens, idosos e mulheres dirigindo; gosto de conversar com eles e saber opinião sobre a cidade, seus usos e costumes. Não escondem receios em relação à insegurança vivida, mas enfrentam a realidade do dia a dia evitando certos trechos. Muitas coisas chamaram minha atenção: o volume de obras realizadas na zona oeste; a quantidade de crianças e jovens circulando nos shoppings; o empobrecimento da zona sul com muitos imóveis pichados e à venda; o paulatino desaparecimento de áreas mais antigas do centro, algumas muito caras à minha memória. Resolvi revisitar a rua e a casa onde fiquei hospedado, desde dezembro de 1954 e por mais de seis meses, quando pela primeira vez cheguei ao Rio de Janeiro. O café da esquina da praça da Cruz Vermelha, portas estreitas e bem altas, ainda está lá, mas quase toda a quadra da rua Washington Luiz, onde morei no número 88, sumiu. Ficou na lembrança. Aliás, as ruas adjacentes também estão mudadas e parece que os espaços encurtaram. Passamos pela Lapa, Glória, Praia do Flamengo nesse reencontro nostálgico. Estive com tia Santa, que deverá completar cem anos, em abril do ano que vem. Ela praticamente perdeu a memória recente, mas lembrou de muita coisa que lhe falei ao ouvido, pois eu sou seu sobrinho primogênito e ela, a tia caçula, remanescente de quatro irmãs; convivemos muito, nas férias, na casa do meu avô, Augusto Ribeiro, na rua do Pespontão, e lembro de passagens do casamento da tia realizado ali. Foi um encontro muito agradável e cheio de lembranças. Andei pelos shoppings, livrarias e museus, como sempre faço, em movimento normal de muita gente andando e pouco comprando; os restaurantes também sofrem os dissabores da crise, mas continuam caros. Visitei a ‘Casa Roberto Marinho’, no Cosme Velho, mansão convertida em museu com as obras colecionadas pelo jornalista que lhe dá o nome, desde a década de 30 do século passado e ao longo da vida, entre pinturas, esculturas e gravuras de artistas já conhecidos na época e iniciantes que se tornaram famosos. Uma obra para a posteridade. Antes de percorrer os amplos espaços da Casa, os visitantes assistem a um curta metragem mostrando como eram a decoração dos seus diversos ambientes e as inúmeras recepções ali acontecidas, às quais compareciam figuras carimbadas do “high Society” do Rio e do “jet set” internacional, também da política e da televisão. Por fim, um desabafo: as viagens domésticas de avião estão cada vez mais sofridas. Tanto na ida como na volta, embora em primeira fila de algum espaço à frente, tudo muito desconfortável, misturado, lotado, com direito apenas a um copo d’agua!
SEMPRE AOS DOMINGOS Antônio Augusto Ribeiro Brandão “O passado não é aquilo que passa, é aquilo que fica do que passou.” Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athaíde (1893-1993), pensador carioca. Segunda metade da década de 40. Todo domingo era sempre a mesma coisa: ainda pela manhã a ansiedade tomava conta daqueles jovens amantes das vesperais dos cinemas da cidade, Rex e Pax. A luz chegaria a tempo de proporcionar o imenso prazer, que se renovava a cada final de semana, de ver, por exemplo, um filme com o William Boyd e mais uma sequência da série estrelada pelo Wild Bill Elliot? Naquela época dispunha-se de luz das seis horas da tarde até a meia-noite; um apito avisava o início e o fim da claridade. A velha usina e suas caldeiras a vapor não aguentavam o dia todo; seus operários procuravam fazer um esforço adicional nas tardes de domingo, para alegria dos adeptos da sétima arte. Depois do almoço, lá pelas duas horas da tarde, íamos nós em direção à Usina, a fim de incentivarmos os operários já empenhados, desde o meio-dia, na alimentação das caldeiras, que precisavam de certo nível de pressão à custa de muita lenha e carvão. Essa operação levava tempo e podia fracassar, pois nem sempre os motores funcionavam na primeira tentativa de liberação dessa pressão a vapor. E aí, se tal acontecesse, tudo tinha de começar de novo e a vesperal daquele dia certamente ficaria para o próximo domingo, e ninguém suportava mais esperar para ver o resultado da célebre frase “voltem na próxima semana”, exibida na semana anterior. Para que os motores funcionassem da primeira vez, contudo, valia a torcida: aqueles garotos vidrados em cinema ficavam postados literalmente na “boca” da caldeira, quase que encarnados nos homens suarentos pelo esforço de cada vez mais lenha e carvão. E tome pressão, e todos de olho no seu medidor; quando começava a chiar, acusando nível suficiente, era hora de transferir essa pressão para as engrenagens do motor, que havia de gerar a tão esperada luz. Na medida em que o vapor da caldeira ia sendo liberado, as correias começavam a deslizar e ir e vir pelas grandes rodas do motor, que dava seus primeiros sinais de vida e aos poucos ia acelerando seus movimentos, cada vez mais rápidos até que atingisse o nível adequado à geração da tão esperada luz. Às vezes todo esse esforço era em vão e o motor não conseguia “pegar”, e o processo deveria ser repetido; mas quando tudo dava certo, as palmas e os gritos ensurdecedores daquela torcida ensandecida saudavam as lâmpadas que se acendiam, numa luminosidade cada vez mais forte. A seguir, em desabalada carreira, depois daquela enorme conjugação positiva de pensamentos e ações, tomávamos o rumo do cinema, anunciando a boa nova pelo caminho: chegou a luz! Depois, já acomodados nas poltronas de madeira e, de preferência, próximos a um dos ventiladores, suados e exaustos, dali em diante estaríamos atentos à telinha mágica, para aplaudir a vesperal daquele domingo. E assim que o prefixo musical começava a tocar, um famoso “dobrado” dos tempos da Guerra, e as luzes iam diminuindo de intensidade até se apagarem por completo, todos gritavam como se fossem participar do maior espetáculo da terra. E, de fato, naquelas circunstâncias, era mesmo o maior espetáculo da terra. “Jovens tardes de domingo quantas alegrias, velhos tempos, belos dias!” *Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras, da Associação Internacional de Escritores, IWA, de Toledo-Ohio, USA, e do Movimento Nacional ELOS Literários, em Salvador-Bahia. Fundador da Academia Ludovicense de Letras.
PRIMOGÊNITO *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Sou o primeiro filho de uma família de dez irmãos. O dia do meu nascimento está marcado por meu pai, Antonio Brandão, declarante em Cartório, na Certidão original, com aquela sua letra inconfundível e em lápis-de-cor azul: 8/11/34. Sou, de acordo com o zodíaco, do signo de Escorpião, do segundo decanato, regido por Netuno, que diz ser “a emoção e a intuição marcantes no meu jeito de ser.” E que também sou: “independente, persistente, extremista, emotivo, exigente, corajoso e criativo.” O Documento datilografado é do dia quatorze do mesmo mês e ano, e diz, entre outros detalhes, que “serviram de testemunhas os senhores Ausonio Neoseculo Carneiro da Câmara, jornalista, e Arthur de Moura Pedreira, empregado público”, que conheci patriarca de uma nobre família da qual dois dos seus filhos, Rita de Cássia e Manoel Gonçalves Pedreira, foram meus colegas, no Ginásio Caxiense, entre 1946 e 1949. Minha Certidão de Nascimento está assinada, sobre estampilhas, por João Francisco de Moraes, Official do Registro Civil da Comarca de Caxias, Estado do Maranhão, que também diz eu ter nascido “à rua Aarão Reis, número trinta e quatro, desta cidade, às dezessete horas e quinze minutos”, uma quinta-feira. Meu perfil, segundo a astrologia, seria de uma pessoa “que não suporta informalidades e dá mostras da mesma persistência nos estudos e no trabalho”; e que ainda podem existir traços de personalidade quanto a primeira letra do nome e o dia da semana em que nasci. Minha querida e saudosa mãe, Nadir Celeste Ribeiro Brandão, gostava de escrever e escrevia muito bem. Se tivesse perseverado, poderia ter escrito muitos romances, seu estilo predileto. Mamãe biografou filhos e netos falando da personalidade de cada um, seus cuidados e aflições enquanto crianças, seus incentivos e conselhos à prosseguirem na vida. Para mim fez uma carta datada de 24/12/1974, quando eu já havia completado quarenta anos, dizendo: “este segredo nunca revelei a ninguém!” “Como primogênito, desejamos tua vinda e trouxeste alegrias ao nosso lar, construído para ti oferecermos, com amor e carinho. Nasceste em Caxias, terra gloriosa do imortal Gonçalves Dias, no memorável 8 de novembro de 1934, às 17 e 15 da tarde, quinta-feira, e recebeste o nome de ‘Antonio Augusto’, homenagem justa ao teu pai e avô materno. Durante inúmeros dias, antes de nasceres, quedava-me em êxtase, perto do teu berço ornamentado de rendas e fitas e em minha fértil e romântica memória descobria-te em contínuos movimentos, sorrindo para mim! Quando escutei teus primeiros vagidos, emocionei-me até as lágrimas e agradeci a Deus, tão rico presente. Teu pai não se alimentou, tal era o seu contentamento; alegrou-se com teu sexo, haverias de ser seu sucessor na família, dirigindo outros irmãos que nasceriam depois. Sempre adorei crianças e, se podia, as tomava em meus braços, supondo serem minhas, Achava linda uma prole numerosa. Com teu nascimento senti-me realizada no meu feliz enlace e apenas faltava tua doce presença, para preenche-lo totalmente. Com oito dias de nascido, foste levado à pia batismal, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição; oficiou o ato Monsenhor Gilberto Barbosa, sendo teus padrinhos o Dr. Pedro José de Oliveira e a Senhora Clara Oliveira. Foste consagrado ao milagroso São Raymundo Nonato.” Coincidência ou não, casei-me com Conceição, em 1961, na mesma Igreja em que fui batizado, em 1934, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, e em Ato conduzido por quem me batizou, Monsenhor Gilberto Barbosa. Muito obrigado, minha mãe, seus carinhos e ensinamentos em muito contribuíram à realização dos meus ideais. *Economista. Membro da ACL, do IWA e do MN Elos L.
A CASA ONDE EU NASCI *Antônio Augusto Ribeiro Brandão A cada onde em nasci existe até os dias de hoje, mas com arquitetura diferente. Ao longo do tempo suponho ter ganho o andar de cima ficando parecida com um “bangalow”, dos poucos ainda existentes, em Caxias. Nunca mais adentrei àquela casa, revi por dentro, porém, outro dia, eu e meu neto caçula, Davi, deixamonos fotografar defronte, enquanto eu lhe contava sobre a história dos meus primeiros passos, ali. Naquele tempo – acho que era moda – as casas eram enfeitadas com barras coloridas e desenhadas a partir do encontro do teto com a parede. Deitado no meu “berço ornamentado de rendas e fitas”, conforme assim descreveu minha mãe, Nadir, lembro-me de ficar olhando para esses enfeites coloridos, os primeiros desenhos fixados em minha mente, “em contínuos movimentos sorrindo para ela." Até hoje tenho uma foto de quando eu ainda tinha sete meses, de pé em uma das colunas que haviam no formado do muro, amparado por minha mãe aos vinte e cinco. Certamente não avaliava o privilégio que era conhecê-la tão jovem, no vigor da maternidade tão esperada. Esse devia ser um costume diário, ao cair da tarde, quando os vizinhos passavam em frente e cumprimentavam os à porta, como o “seu” Joel, marido da dona Tereza, amigos os meus pais; é disso que mais me lembro. A rua Aarão Reis, onde nasci, ainda hoje é uma das principais da Cidade, onde pontificou a Usina Elétrica Dias Carneiro e, ainda pontifica, embora bem diferente de tempos idos, o Ginásio Caxiense; esses endereços foram marcantes em minha vida de adolescente, anos depois. O escritor Khaled Rosseini, autor do famoso livro “O caçador de pipas”, a propósito do drama dos refugiados, diz que sofremos o primeiro exílio quando nascemos, deixamos o útero da mãe. Deve ser verdade, porque choramos “a plenos pulmões”, um choro que traz toda intensidade desse trauma da separação. Quando a gente nasce ganha um Anjo da Guarda. O meu chama-se Hariel e vem à Terra, todo dia, entre quatro e quarenta e cinco horas da madrugada. Na doce e sempre lembrada convivência com minha mãe, Nadir, aprendi que todo cristão tem o seu Anjo da Guarda; é como se fosse um guardião que nos protege diariamente, para quem devemos rezar e pedir proteção. Como é reconfortante saber que temos um Ser superior que nos orienta e ampara nesta caminhada terrena, e devemos rezar: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a Ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarde, defende, governe, ilumine. Amém.” "Os anjos tem nome e são de diversas categorias: protegem os dias, indicam os números de sorte, os meses de mudança dos seus protegidos, as cartas do Tarô; estão na Terra em horários determinados e pedem a leitura de um determinado Salmo. O anjo Hariel é da categoria dos querubins e invocado contra os incrédulos da religião; sua influência está ligada aos sentimentos religiosos, que se distinguem pela pureza, ajudando a descobrir tudo o que é útil e novo, protegendo as ciências e as artes." “Os protegidos de Hariel são puros de sentimentos, simples e algo refinados para os bens materiais e sociais; tem tendência ao perfeccionismo, terão facilidade para aprender, criar e estudar, e devem fazer as coisas sem perder tempo, pois um ano de suas vidas comparado ao de qualquer outra pessoa equivale a cinco. Profissionalmente, poderão ter sucesso na vida como professor, advogado, artesão, restaurador e estudioso de pinturas e objetos antigos.” Os protegidos de Hariel devem rezar, sempre, o Salmo 93. *Economista. Membro da ACL, do IWA e do MNELOSL Fundador da ALL.
BREVE HISTÓRIA DAS UNIVERSIDADES Antônio Augusto Ribeiro Brandão A gênese do processo de criação da primeira universidade pode ter tido origem na Academia fundada pelo filósofo grego Platão (em 387 a.C.), no bosque de Academos (ou Academus), próximo a Atenas. As primeiras universidades foram fundadas na Itália e na França, para os estudos de direito, medicina e teologia; antes existiram outras no mundo islâmico, no Cairo. A Universidade de Coimbra, onde estive e fiz Palestra, é a mais antiga de Portugal e foi inicialmente fundada em 1290, e está entre as dez mais antigas da Europa, em funcionamento contínuo. Outras universidades antigas e também famosas merecem destaque: - Universidade de Bolonha, na Itália, fundada em 1088, famosa por suas escolas de Humanidades e Direito Civil, e por onde passaram Dante Alighieri e Francesco Petrarca; - Universidade de Paris, na França, fundada em 1090 (ou 1170), a partir da escola da catedral de NotreDame, tendo São Tomás de Aquino sido um dos seus professores e, desde 1970, dividida em treze universidades autônomas destacando-se a Panthéon-Sorbonne, a Sorbonne Nouvelle, a Paris-Sorbonne e a Paris-Nord; - Universidade de Oxford, na Inglaterra, fundada em 998 (ou 1096) e dedicada a pesquisas nas áreas pública e educacional, com cerca de 40 Colégios espalhados pela cidade que lhe empresta o nome; entre seus famosos alunos e colaboradores destacam-se presidentes, estadistas e intelectuais; - Universidade de Cambridge, no Reino Unido, fundada em 1209, é uma das mais importantes e a segunda mais antiga ainda em funcionamento no país; produziu o maior número de ganhadores do prêmio Nobel (82) do que qualquer outra universidade do mundo. Homens que mudaram o curso da história foram por ela diplomados, destacando-se Isaac Newton e associados como o naturalista Charles Darwin, o economista John Maynard Keynes, o filósofo e matemático Bertrand Russell; - Universidade de Salamanca, na Espanha, onde tenho Livro doado e autografado, fundada em 1218, é a mais antiga da Península Ibérica; foi pioneira em diversos estudos destacando-se o de viabilidade do projeto de Cristovão Colombo, que culminou com a descoberta da América. Foram seus alunos e professores várias personalidades, entre outras: Hernán Cortés (conquistador do México), Giulio Raimundo Mazzarini, mais conhecido por Cardeal Mazarino (primeiro-ministro do rei Luís XIV de França), Calderón de La Barca (escritor e poeta), Miguel de Unamuno (que foi, por três vezes, reitor da Universidade); - Universidade de Colônia, na Alemanha, fundada em 1388, é também uma das mais antigas da Europa e uma das maiores do seu país tendo tido professores e estudantes ilustres. As universidades brasileiras são mais recentes: Universidade do Paraná, fundada em 1912; Universidade Rural do Rio de Janeiro, em 1913; Universidade de Minas Gerais, em 1927; Universidade de São Paulo, em 1934; Pontifícia Universidade Católica de Campinas, em 1941, entre outras mais recentes. A Universidade Estadual do Maranhão - UEMA foi antecedida pela Federação das Escolas Superiores do Maranhão - FESM, criada em 1972, cuja história remonta à incorporação das escolas isoladas então existentes; em 1981, a FESM foi transformada em UEMA, autorizada a funcionar com esse status a partir de 1987. A Universidade Federal do Maranhão - UFMA tem também a sua história, sempre, de bons serviços prestados à comunidade maranhense; antes de chegar ao status atual, a UFMA teve sua origem na antiga Faculdade de Filosofia, fundada em 1953. Depois de transitar por alguns outros processos de transformação somente foi reconhecida, como universidade, pela União, em 1961, agregando, sucessivamente, outras faculdades.
Com a finalidade de implantar progressivamente a Universidade do Maranhão, o Governo Federal instituiu a Fundação Universidade do Maranhão, em 1966. Seus primeiros dirigentes foram: o Professor Pedro Neiva de Santana, Reitor; o Professor Mário Martins Meireles, Vice-Reitor Administrativo, e o Cônego José de Ribamar Carvalho, Vice-Reitor Pedagógico. À atual reitora da UFMA, Professora Nair Portela, sucessora do professor Natalino Salgado, são creditadas inúmeras realizações.
MAIS UMA NOVA MORADA *Antônio Augusto Ribeiro Brandão
Era o tempo da realização do 1º Congresso Eucarístico Sacerdotal, em 1938, quando mudamos para o Largo da Matriz, à uma casa de calçada alta, meia-morada de estilo, de onde se descortinava um belo visual; destacavam-se a Paróquia de N.S. da Conceição e São José – construída no ano de 1735, onde fui batizado e casei-me com a Conceição, em 1961 -, e o monumento denominado “O Cruzeiro” erguido na sua frente. Durante todas as noites o movimento refletia o fervor dos fiéis nas Ladainhas da Igreja; no Largo, muita animação com as quermesses ao som de banda-de-música, venda de balões de gás e muitos foguetes. Lembro-me de que em uma dessas noites, à porta da nossa casa, ‘empinando’ um desses balões, presos à minha mão por linha da carretel, por um breve descuido o brinquedo escapou-me e ganhou o céu; além do susto registrei em lágrimas uma das minhas primeiras perdas. A casa era ampla e tinha um grande quintal cheio de árvores frutíferas; lembro-me de que havia um portão que se abria para a rua Gustavo Colaço, onde fomos morar novamente anos depois, bem em frente à casa onde residiu a Rosa Beleza, um dos nomes bem lembrados de Caxias. Tenho algumas recordações desse tempo, que culminou com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, em 1939, e fomos morar em Picos (atual Colinas), no início de 1940. Meu pai, Antônio Brandão, novamente nomeado Prefeito da cidade, de onde já fora, em 1937, penso; no meu livro “Fortes Laços”, tem uma crônica sobre essa viagem de quase uma semana, com pernoites, rio Itapecuru acima, batelão puxado por uma lanchinha. Há outras lembranças dos meus aniversários sempre comemorados com festas e fotos; em uma dessas fotos que mais tarde vai ilustrar esta crônica, estou segurando uma motocicleta de brinquedo ganha de presente da ‘Dengo’ Macedo, irmã da ‘Preta’ – esta era muito alegre e gostava de dançar -, ambas de ilustre família caxiense. Lembro de muitas outras coisas: nos preparativos de uma dessas festas, comidas diversas estavam sendo preparadas e, uma vez prontas, eram colocadas em grandes bandejões de madeira em cima da mureta que dividia a copa/cozinha de uma área livre; veio ao chão quando o executor da limpeza dessa área tentou apoiar-se na mureta e acabou ‘levando’ consigo alguns desses bandejões. Muita comida estragada! Outra lembrança, em outro dia, envolveu as minhas traquinagens: as cadeiras-de-balanço, articuladas em madeira e de encosto de pano, tinham seus encaixes na base em ganchos de cada lado; pois bem, balançando-me fortemente eis que os encaixes ‘sacaram’ dos ganchos da base e a cadeira ‘fechou’ sobre meus dedos das mãos, pois apoiadas estavam exatamente à altura da articulação. Ainda hoje, no dedo mínimo da mão esquerda, tenho as marcas do que aconteceu naquele dia. Mas marcante mesmo foi a mudança para Picos. Em uma tarde chuvosa, fomos levados no automóvel de cor vermelha (seria um Ford?) do prestigiado comerciante-exportador de Caxias, amigo da nossa família, José Delfino da Silva; guiado por ele, na beira-do-rio, embarcamos no batelão que meu pai havia adaptado à nossa viagem, quase um apartamento de chão de madeira e divisões de palha, com armadores às redes e tudo mais ao nosso conforto. Àquela altura já éramos cinco irmãos, pela ordem: Antônio Augusto, Frederico, Rosa, Laura e o mais novo, José, com poucos meses de nascido. Em Picos, pude conviver mais de perto com meu avô Frederico Brandão, que tinha uma vacaria aonde íamos, diariamente, ‘tomar’ leite-mungido; tinha a famosa Farmácia do tio Osano, a Igrejinha do Largo e as ruas do Cancão e do Fogoso. Mas não foi possível demorar muito, em Picos, porque, no mês de agosto daquele ano de 1940, falecia, em São Luís, meu avô materno, Augusto do Espírito Santo Ribeiro, a quem fui sempre muito ligado desde os meus três e quatro anos de vida, nas estadas na porta-e-janela da rua do Pespontão. Minha saudosa mãe, Nadir, muito abalada, quis vir para perto dos seus.
CRÔNICA DE NATAL *Antônio Augusto Ribeiro Brandão
“Ribeiro não corras mais/que não hás de ser eterno/o verão vai te roubar/o que te deu o inverno”. Amália Rodrigues (1920-1999), cantora portuguesa, em fado que trata das cheias dos rios e do orgulho humano. Você sabia que existem escolas ensinando a arte de ser Papai Noel, aprimorada em qualquer pessoa esperta disposta a encarnar o “bom velhinho”? A ficção tornou-se realidade. Quem poderia pensar Papai Noel, que já foi a grande fantasia na mente das crianças do mundo inteiro – inclusive na minha, brasileiro nordestino e de Caxias -, tornar-se realidade podendo ser representado por alguém com pendores artísticos desde que seja gorda, vista a indumentária característica e saiba dar a famosa gargalhada hô-hô-hô. Velhos tempos e belos instantes de criança naquelas madrugadas de Natal. Lembro-me bem da espera pelos presentes que chegariam a qualquer momento, mas quando ainda estivéssemos dormindo, trazidos pela figura antológica diretamente da fria Lapônia em carruagem puxada por fogosas renas. Era assim que a gente imaginava acontecer. Para quem começava a desconfiar do portador o jeito era ficar de “olho aberto”, fingir estar dormindo; porém bastava um simples cochilo e lá estava a lembrança, debaixo da rede ou da cama. No Natal da minha infância os presentes variavam de um simples carrinho de madeira, passando por um tambor, motocicleta, bola, velocípede, até uma rara bicicleta, coisa de luxo naquele tempo. Meu primeiro veículo de duas rodas, que meu pai certamente importara diretamente da Lapônia, ficou “grande”. Lembram daquele filme “Quero ser grande”? Pois é, como era realidade e não fantasia de cinema, a bicicleta teve que ser trocada por outra de menor porte. A troca foi com a Amelinha Fonseca, de tradicional família caxiense e irmã do Beto, grande jogador de basquete; como ela já estava mais crescida do que eu, sua bicicleta havia ficado “pequena”. “Caiu a sopa no mel” e o negócio realizado deve ter sido bom para os dois lados. Ganhei uma bicicleta do meu tamanho e a Amelinha, uma “novinha em folha”; os pneus da minha eram de borracha maciça, sem câmara, uma antevisão do que viria acontecer nos dias atuais; que saudades daquela bicicleta e das “voltas” proporcionadas sentado na sua sela, de guidom solto, na pracinha que existia ao lado da casa dos Tadeu, na praça Cesário Lima. As fantasias estão desaparecendo, contudo muitos não conseguem enfrentar a vida sem criar as suas. É uma necessidade existencial, se feitas ou exercidas com a inocência da criança que ainda existe em cada um de nós; outros mais realistas acham que confraternização e integração deveriam existir de forma permanente entre todos, no dia a dia, e não somente em eventos esporádicos. Enfim, as fantasias de nossa infância transformaram-se em realidade. Charles Chaplin, o famoso Carlitos, viveu diversos tipos com arte incomparável; os nossos artistas são levados a interpretar Papai Noel, talvez por vocação, talvez por falta de melhor alternativa de trabalho, de qualquer forma fazendo a oferta de mercado provavelmente exceder a procura ocasionando baixa no preço dos seus próprios serviços. Feliz Natal para todos!
AS CRONICAS DE CERES
DE URNAS, BEBÊS e JUÍZES Ceres Costa Fernandes Costumava-se dizer que de urna, barriga de mulher e cabeça de juiz ninguém saberia afirmar o que, de repente, poderia vir à luz. Sabedoria popular. Da barriga da mulher, desvendada pela tecnologia científica e avanços da genética, sabe-se, além do sexo da criança, se o feto tem má formação e será portador de alguma deficiência física ou mental. Com a ajuda do DNA, preveem detectar a predisposição genética para desenvolver determinadas doenças ou até a tendência ao alcoolismo ou à dependência de drogas. Excelência científica que poderá levar a práticas nazistas de eliminação de um ser defeituoso ou de um futuro pinguço, ainda no embrião. Versão antecipada da Rocha Tarpeia. O lado ameno da questão: em breve, os pais poderão não só saber, mas escolher o sexo do pimpolho, assim como a cor de seus olhos. Nada mais previsível e comezinho do que um ventre grávido de mulher. Adeus aos enxovais mistos, disfarçando na ambiguidade do amarelo terno e do verde-água, a dúvida e o desejo do azul e do rosa; decretamos o fim das alegres torcidas familiares por menino ou menina e a emoção da descoberta do sexo do recém-nascido. “É um machinho, eu não disse?” ou “Eu sabia que era mulher!” O outro ventre, o das urnas, esse mesmo é que não guarda mais nenhum mistério. Os candidatos são eleitos ou derrotados já na campanha, antes da eleição. 80% ou mais da emoção (preciso fazer uma pesquisa a respeito) se esvaem com o resultado das intenções sendo divulgados maciçamente, incutidos de hora em hora na cabeça do eleitor. Vai daí que a apuração não traz surpresas. Nada mais tedioso do que aqueles números aparecendo na telinha e confirmando os percentuais das pesquisas prévias. Alguns desses candidatos, os derrotados nas urnas, antes mesmo de passar por elas, são “fabricados” por um processo curioso, que pode começar com um boato, ou com algo que o desacredite, e passar por um efeito cascata. Às vezes, é alguma gracinha infeliz dita na telinha ou nas redes sociais, que a turma de maria-vaicom-as-outras de pronto acolheu. E lá se vai o imprudente ladeira a baixo nas pesquisas. Como ninguém gosta de apostar em perdedor, o cujo passa de favorito a azarão em tempo recorde. Mesmo ocorrendo o perigo de indução – dos males o menor-, não vejo porque não trocarmos as eleições pela simples pesquisa de intenções, solução porreta para economizar tempo e dinheiro. Rápida, limpa e mais barata. Rápida, porque saberíamos o resultado antes de realizar-se a eleição; limpa, porque muitas toneladas de lixo eleitoral seriam diminuídas; mais barata, porque o dinheiro gasto seria apenas o da propaganda e o dos marqueteiros. Economizaríamos um montão com as despesas “sujas” de bocas-de-urna, transporte ilegal de eleitores, compras de votos, subornos, e também com as legais, dispensando mesários, fiscais e advogados e, principalmente, suprimindo o pessoal e a parafernália eletrônica exigidos para a votação, a contagem e registro dos votos. Aí está a minha sugestão para a insossa eleição que se aproxima. Ao contrário, o que sai da cabeça de juiz continua inesperado. Quem duvidar disso veja as surpresas que nos proporcionam as sentenças de Gilmar Mendes, Lewandowski e outros que tais.
FINADOS FESTIVO Ceres Costa Fernandes Ao que me apronto para sair, Julinha, minha neta de sete anos, já se convida para acompanhar-me; autoconvite logo desmanchado quando se inteira para onde vou. Cemitério, vó? Argh! Isso é lugar da gente passear? Criança habituada à cultura dos vídeos e jogos eletrônicos, Julinha identifica cemitério como um lugar terrífico, repleto de assombrações, morcegos e tudo o mais que consta do elenco. Que ideia, cemitério, logo no dia de Finados, não é precisamente o melhor lugar para passeios infantis. Logo me recupero, e por que não? Explico à minha neta que o cemitério do Gavião, onde estão Tio Janu e Vovó Zezé, é um lugar claro, com muitas pessoas e flores neste dia, muito diferente da imagem lúgubre de um lugar povoado de mortos. Ela decide ir. Já animada com a novidade. Penso na estranha relação do mundo ocidental contemporâneo com a morte. Uma relação, diríamos, de ocultamento, principalmente no que se refere à educação das crianças. Crianças não podem tomar conhecimento da morte, seu mundo de faz-de-conta não deve comportar a dor ou coisas pouco divertidas. Então as criamos sempre felizes, preservadas da participação nas preocupações e tristezas familiares, e assim, quando crescerem, egoístas e despreparadas, estarão aptas a fugir do enfrentamento dos problemas, das frustrações e das responsabilidades. Estou pronta, vó. Juju me tira das divagações que, se não estacam, não sei aonde iriam parar, talvez na teoria da marginalidade ou no criminoso adolescente. Sacudo o exagero. Vamos lá, digo. O que há de estranho é que não sou muito de tradições e nem sei bem porque vou ao cemitério no dia de Finados. Meus mortos queridos fazem parte do meu dia-a-dia: estão sempre presentes no que digo e falo. Lá, não sei bem se estão. Espero que o leitor não me questione, pois nem eu entendo a contradição. No caminho vou preparando o espírito de Juju para a visita inusitada, com medo de que ela não goste ou possa se chocar. Estacionamos o nosso carro bem distante do Gavião. Diferentemente dos outros anos não há lugar nem na Rua do Passeio nem nas suas paralelas ou transversais. Ué, será que aumentou tanto assim o número de defuntos do nosso cemitério mais antigo? Dizem até que estava superlotado... Temos que ir a pé Juntamo-nos à multidão de gente indo e vindo. Juju diz, parece carnaval, lembrando o corso nessa mesma rua. Tenho idêntica sensação. E à medida que vamos avançando – tem até o pessoal do sereno postado nas portas e nas janelas - essa sensação aumenta e finalmente se confirma na chegada ao Largo do Cemitério. O Largo está em festa: apinhadinho de gente. Algo de euforia paira no ar. Lá está a legião dos vendedores de água, flores e velas dos anos anteriores e os eternos lavadores e pintores de túmulos, a nos cutucar - vai uma limpeza aí, baroa? Até aí, tirando a quantidade bem maior dos “empresários” do ramo, está tudo nos conformes de um dia como esse. Chegar ao portão principal não está nada fácil, puxo Julinha – mãozinha suada agarrada à minha, bem forte de medo de se perder – abrindo caminho entre os ambulantes que apregoam refrigerantes em caixas de isopor, terços, bentinhos e fitas de São José pendurados em armações de madeira, Deus me perdoe se não vi também nessas armações roque-roques e máscaras coloridas. E lá estamos nós desviando dos carrinhos de cachorro-quente e churros, que eles mesmos não arredam do caminho, quando deparo com as barracas de churrasquinho com farofa, instaladas junto ao muro da frente do cemitério, a fumaça cheirosa evolando-se, enquanto pessoas comem de pé numa grande animação. Aquela cena me deixa um tanto chocada, parece falta de respeito. Nem me recupero da cena do churrasquinho, e já me assusto com o vozeirão de um gajo que, microfone na mão, trepado em um dos canteiros que rodeiam as árvores, apregoa as vantagens para a saúde de uma salada de frutas geladinha. Vida e morte. Ora senhora escrevinhadora, tantos anos de São Luís e nem se toca! Em que lugar do Brasil a concentração dos festejos carnavalescos se dá em frente a um cemitério, intrigando turistas e não-iniciados? Chocada de quê? Me poupe. Tá certo, então, nada a estranhar.
Lá dentro as coisas não são muito diferentes, e Juju passa a achar que cemitério é um lugar bastante divertido. A única coisa que a impressiona são os túmulos pequenos que ela julga ser de crianças – alguns o são. E eu explico, morreram de acidente. Criança morrer de doença é um pouco demais para ela. Ainda não conferi o resultado da experiência, só espero que, depois dessa visita de caráter pedagógico, Julinha não queira, de vez em quando, trocar o passeio do shopping pelo do cemitério.
DE CAFÉ E MEMÓRIA Ceres Costa Fernandes Nada se compara ao aroma do café sendo passado ou coado, como querem alguns. Irradia-se da cozinha e perfuma o resto da casa. Tem um cheiro de lar, de família, de pessoas reunidas em volta de uma mesa. Anuncia a hora de fazer a primeira refeição do dia. Tem cheiro também de hospitalidade: é com ele que obsequiamos os amigos que chegam, aceita um cafezinho? Recebo a notícia do falecimento de Dona Lia Damous Maluf e, junto com a funda tristeza que essa notícia me causa, vem-me à memória um cheiro de café torrado, que me remete à infância, a Rosário. Os Maluf eram donos de um grande comércio na cidade de Rosário, interior do Maranhão. A casa deles vizinha à loja, como era o costume, situava-se na praça da matriz, ao que me lembro, ainda sem pavimentação. Meus pais e Seu Alim e Dona Lia trocavam visitas. De Dona Lia, lembro a beleza tranquila, a suavidade, a delicadeza. Parecia estar sempre em paz consigo mesma. Do Seu Alim daquela época lembro menos. Mais tarde, no decorrer de outras visitas, já em São Luís, para onde ambos os casais se mudaram, pude apreciarlhe a cordialidade e o bom humor. Conforme o costume das pequenas cidades, as visitas aconteciam do lado de fora das casas. Cadeiras de lona eram postas na calçada, de modo a aproveitar a fresca da noite. Ficavam os adultos sentados, a prosear. Meninos e meninas desandavam a correr pela rua mal iluminada: era um pegador, uma “boca de forno”, ou até uma comportada brincadeira de roda. Quando era nossa vez de ir visitá-los, havia o indefectível gamão, jogado por meu pai e seu Alim – tabuleiro nos joelhos –, e o café da Dona Lia. Determinada hora, ela pedia licença e, acompanhada de minha mãe, adentrava a casa. Era a hora de passar o café. Não sei se se podia chamar aquela complexa e demorada operação de simplesmente ”passar café”. Era algo feito um ritual: Dona Lia apanhava alguns grãos de café e os punha a torrar na chapa (a chapa era em cima das brasas de um fogareiro); depois de bem torrados os grãos, ela os colocava em um pequeno moinho e, só então, punha colherinhas do pó obtido nas xícaras e, sobre elas, água fervente. Meu pai que adorava esse café, forte e cheiroso. O verdadeiro café árabe. Cresci em meio a sírio-libaneses. Meu pai gostava de ter amigos de origem árabe (nomenclatura que era, e ainda é, usada no Maranhão para englobar turcos, sírio-libaneses e árabes propriamente ditos). Alegava a maior das suas razões: é um povo inteligente. E eu acrescento outras: de mesa farta, culinária fantástica e convívio ameno. Assim, aprendi muito cedo a apreciar as delícias dos quitutes da cozinha árabe (ou sírio-libanesa?). Cresci em meio a quibes, esfihas, tabule, charutos, kaftas, halewas e belewas. Meu aprendizado começou com Dona Lia e se aprimorou com Dona Odete Heluy, nossa vizinha e amiga, na Rua de Santana, onde moramos ao chegar a São Luís. Dona Odete cozinhava com indizível prazer, uma artista do forno e do fogão. E, como toda artista, mantinha uma empatia com os apreciadores de sua arte. Assim estabeleceu-se entre ela e eu, com apenas seis anos, uma simbiose perfeita. Generosa e farta, raro era o dia em que não chegava a nossa casa alguma bandeja das suas delícias. À noite, enquanto as crianças brincavam na calçada, não mais na rua. O papo dos adultos, acomodados no terraço das casas, era acompanhado de doces e licores, recheado das histórias de Seu Elias sobre califas e vizires. Muitas vezes eu fugia das brincadeiras para ouvi-las. Tempo de simplicidade e amizades desinteressadas. Não há mais Dona Lia e seu café, Seu Alim e sua gentileza, nem os quitutes de Dona Odete e os califas e vizires de Seu Elias. Nem as visitas de meu pai. Antes que digam que é saudosismo, digo eu: é memória. Não há volta desses tempos porque não há mais lugar para eles. Os fatos e as pessoas cumpriram seus ciclos. Escrevo para que esses fragmentos do texto da minha história não se apaguem, e possam ser também dos que têm lembranças e dos mais novos que nunca viram o ritual do café árabe e não sabem que houve uma época em que crianças corriam pelas ruas e brincavam de roda, boca-de-forno e de pegador. Uma época tão espantosa que as pessoas podiam sobreviver sem TV, internet, IPAD, IPOD, MPs, apenas com um bom papo e histórias de califas e vizires. Época em que se faziam visitas e se tomava licor de jenipapo com doces folhados de amêndoas e mel. .
A INIMIGA FIEL Ceres Costa Fernandes Nascemos para morrer. Desde que o mundo é mundo, não temos notícia de alguém que nunca morreu. É duro aceitar a morte quando a sentimos perto de nós, atingindo amigos e, dor maior, nossa família. As incursões dessa figura em círculos afetivos tornam-se cada vez mais frequentes, como que se acercando. Amigos e parentes aos poucos se vão, após longas doenças ou de súbito, reiterando a fragilidade do fio que nos liga à vida. A morte, o enigma terminal, fascina a todos, porque escapa à nossa compreensão. A literatura está repleta de obras em que a magra é a principal personagem. José Saramago a tem como o grande mote dos seus romances: em As intermitências da morte, ele nos mostra o horror da vida na ausência da morte; em O ano da morte Ricardo Reis, os vivos contracenam com os mortos e estes são sempre os mais sábios; em Levantado do chão, a morte assinala os bons – os maus nunca morrem; em Memorial do convento, a heroína, Blimunda, capaz de ver o interior das pessoas, recolhe o espírito dos mortos, que irão alçar a Passarola aos céus. Nas obras de Saramago, a morte é personagem do “bem”. Do bem para uns, elemento de terror para outros, de sedução, sempre. O deslumbre aumenta, quando a tragédia se abate sobre agrupamentos humanos, em meio a situações de glamour ou de suposta segurança, em que a surpresa é a substância principal. São as tragédias para sempre lembradas: Pompéia, invadida por gases venenosos, cinzas e lava que levaram à morte moradores, surpreendidos em meio a atividades rotineiras; o naufrágio do Titanic, campeoníssimo do gênero – luxo, beleza, arrogância -, acontece após o jantar em que ricaços se divertiam no navio mais seguro do mundo. É fácil avaliar o fascínio dessa catástrofe: faz mais de cem anos que o ex-maior transatlântico do mundo naufragou e a tragédia ainda rende livros e filmes. Outra catástrofe, o voo 1907 da GOL, sinistro de grandes proporções a povoar nosso imaginário. Esse voo, reuniu todos os ingredientes das grandes tragédias: um avião de novíssima geração, seguro, em uma das primeiras viagens, repleto de pessoas de classe média e alta, sobrevoando a impenetrável selva amazônica, cai e fragmenta-se em mil pedaços. O acidente, provocado por uma tola falha humana, ilustra a fragilidade dos sistemas de segurança em que acreditamos e reforça o que os gregos antigos sempre souberam: quando chega a Hora, de nada adianta nossa hybris. A mídia especula os últimos momentos dos que participaram do vôo fatídico. A sorte do que deixou de viajar; o rapaz que viajou para pedir a namorada em casamento; a moça que vinha de férias fazer surpresa à mãe. Na caixa preta, os pilotos conversam antes da hora fatal. A vida acontecendo, enquanto a morte espreita e prepara a sua cilada. A mata, sepultura implacável, recobre os destroços da aeronave e o que resta das pessoas e seus pertences, assim como o fizeram as cinzas e a lava em Pompéia e o mar profundo do Pacifico. A vida apaga os sinais da morte. Aviões levantam voo e navios singram os mares todos os dias, pessoas constroem novas cidades ao pé das encostas de vulcões. Voltamos ao eterno e sempre novo jogo com o imponderável.
A MAGIA DO PLÁSTICO Ceres Costa Fernandes
Era em Rosário, quando fui apresentada ao plástico. Recebi de meu pai, trazida de São Luís, uma grande caixa colorida que continha um serviço de chá cor-de-rosa de um material liso e brilhante chamado galalite. Minha reação foi de surpresa e deslumbramento: era certamente a coisa mais bela que eu já havia visto. Embora meu pai fosse assalariado, e nossa vida modesta, eu era, então, filha única. Dito isso, sabe-se que eu possuía muitos brinquedos. Havia pratinhos e xícaras de alumínio pintado, mobília de madeira e bonecas de massa com olhos de vidro e cabelo implantado, bonecas de pano, bonecas de tamboeira de milho e pássaros de madeira que batiam as asas, mas nada que chegasse aos pés daquela maravilha. Em poucas semanas enjoei da maravilha e voltei à minha distração favorita que era armar casas de papelão feitas com caixas de compras vazias e guarnecê-las com os brinquedos de barro cozido feitos nas olarias de Rosário: fogareiros, panelinhas, bilhas, potes, xícaras, pratos, travessas, terrinas. Uma galanteza, como diria Monteiro Lobato. Papai foi transferido. Voltei a Rosário, repetidas vezes; algumas a passeio e outras a serviço, nunca mais encontrei os brinquedos de barro da minha infância. Comprei umas poucas peças, na beira da estrada São Luís-Rosário, e mais nada. Talvez não haja mais demanda. Acho que as crianças de hoje curtem mais os brinquedos de plástico, mais vistosos e mais baratos, graças ao trabalho de chineses e aparentados. Voltemos ao plástico. Belo, leve, durável, barato, logo conquistou a todos. É a maior invenção de todos os tempos, diziam! Invadiu todos os espaços desde a indústria aeronáutica ao vestuário; dos medicamentos aos cosméticos. Modernamente, nada se produz sem a concorrência da matéria plástica e seus derivados. A quase totalidade das nossas peças de vestuário é de material sintético e as que têm uns míseros % de algodão ou linho estampam a raridade nas etiquetas, em grandes letras, para não haver dúvidas. Usamos roupas que não amassam e não nos permitem transpirar. Temos também os chamados “tecidos inteligentes” - burros somos nós. Um lençol de algodão egípcio (não me perguntem por que tem que ser egípcio) 100% algodão custa o mesmo que uma pequena jóia. E pensar que o Maranhão já exportou tanto algodão! De maior invenção do mundo passou a praga. Imperecível, assustadoramente eterno, polui cada vez mais rios, mares, aterros “sanitários”. Entope esgotos, provocando alagamentos de ruas; assoreia rios; envenena peixes e outros animais marinhos. Na primeira vez que estive nos EUA, em 1992, espantou-me a quantidade do lixo familiar. Foi uma observação empírica, a partir da rotina de meu filho e nora que moravam lá. A alimentação consumida pelos americanos é semipronta e vem acondicionada em enormes embalagens de isopor. Garrafas plásticas de três litros de leite (não há menor) e assim por diante. Um desperdício gritante. Ainda bem que no Brasil é diferente, pensei. Ledo engano, foi apenas uma questão de tempo e aumento de consumo. Se guardássemos todas as embalagens de isopor que já protegeram nossos eletrodomésticos, faríamos uma casa de vários cômodos com elas. Estamos afogados no lixo. Com um sério agravante para nós brasileiros: lá a coleta do lixo é seletiva e a reciclagem funciona. Que fazer? Usar apenas roupas de tecidos naturais? Quem aguenta o preço? Acabar com as garrafas pet? Voltar a armazenar em casas e apartamentos minúsculos as velhas grades de garrafas de vidro de refrigerante e cerveja? Voltar aos sacos e sacolas de papel para as compras? Acondicionar os eletrodomésticos nos engradados de madeira recheados de maravalha? E aí? Como fica o aumento do abate de árvores? Em alguns países, estão levando para as compras sacolas reutilizáveis. Quantas dessas sacolas deveríamos levar para uma compra? Tenho notícia de uma sacola experimental feita de amido, solúvel em água. Seria ótimo, mas com a fome que ronda muitos lares, receio que a usem para fazer mingaus e chibés.
AS LENTES MÁGICAS Ceres Costa Fernandes É bom que os desinformados saibam: muitas mulheres podem ser amigas dedicadas, dispostas a tudo umas pelas outras, mas fraquejam na hora em que entra em cena o elemento masculino. Conheço uma amiga bonitona que, no seu tempo de solteira, não convidava para acompanhante de festas, ou para qualquer outro evento com presença masculina interessante, mulher alguma que lhe fizesse sombra. Fora isso, era um doce de amiga. Os homens não estão isentos disso, apenas as suas fraquezas são outras. Sabem aqueles que não conseguem se separar do seu dinheirinho? São os chamados espertos, geralmente encantadores, de ótima convivência e solidários, em tudo que não se refira a dinheiro, é claro. Um conselho, não faça negócios com eles e a amizade nunca será estremecida. Homens e mulheres, mentimos sobre bens, sobre conquistas, performances sexuais e bravatas. Mentiras azuis, nada que prejudique ninguém. Uma megalomania inocente. A lista dos defeitos veniais é longa. E, mea culpa, quais os nossos? Quantos serão eles, percebidos apenas pelos outros? Sobre defeitos, há anos, li um conto do qual não lembro o nome nem o autor – perdoem-me a má memória – mas a história gravou-se-me vivamente. O tema central da narrativa era o poder de uns óculos mágicos pertencentes a um certo Tio. Ao serem postos, revelavam, não o aspecto externo das pessoas, mas o seu caráter. O resultado nem sempre era agradável, no lugar de uma bela e frágil mocinha via-se uma serpente, e deparando um rapagão, eis que surge um assustado coelho de nariz fremente, e assim por diante. O Tio, ao morrer, lega os óculos a um sobrinho com a recomendação de usá-los moderadamente. Não entendendo bem a recomendação, o herdeiro se entusiasma e usa-os sem parar, até compreender que o uso dos óculos só lhe trouxe amargura e decepções. Então, aposenta-os. Os jovens creem possuir esses óculos e abusam do seu uso tal como o sobrinho da história, tentando radiografar as pessoas à procura de amigos e amantes perfeitos. Para não fugir à regra, em minha juventude, usei e abusei das lentes que me foram dadas e, durante anos, passei a ver ( ou pensei ver) no íntimo das pessoas animais em penca: raposas de focinho fino passando a perna em todos, cobras sinuosas de fala melíflua espalhando venenos, fuinhas enterrando tostões, ratazanas gordas de olhos miúdos, coelhos assustados, pombas sem fel, cachorrões fiéis e tranqüilos, pavões empavonados, todo um zoológico. Sem falar nos bichos mutantes: ora coelho ora leão; ora pavão ora pomba. Ora, pombas, uma confusão. Com o tempo, cansamos de perseguir a perfeição e vamos nos acomodando aos defeitos de cada um. E aí recorremos à lei do custo-benefício: trata-se, a priori, de escolher o bicho que nos incomoda menos, ou que nos dá mais vantagens, de acordo com os valores individuais. Por isso, há mulheres que suportam bem um marido-galinha , desde que ele não seja fuinha e lhes proporcione uma vida regalada . Preferem-no a um marido-cachorro, mas sem vintém. Outros preferem mais conviver com pavões que com raposas espertas. Os primeiros são mais fáceis de conduzir ( bastam alguns elogios bem colocados). Mas, cuidado! Excetuem-se dessa lei as serpentes, que com elas não há benefício. O difícil é reconhecê-las: disfarçam-se em vários outros animais; a sua conversa é melíflua, encantatória (não foi por outra que Adão e Eva foram seduzidos); são tão eficientes e prestativas que abandonamos nossos negócios (e às vezes, corações) em suas mãos e consideramos inúteis o uso dos óculos em sua presença. Até a hora do bote. É paradoxal, à medida que precisamos de óculos para enxergar melhor o exterior das pessoas, abandonamos as lentes mágicas que nos divisam o seu íntimo. Não só o tempo diminui essa ânsia do olhar interior, mas também o amor. Hesitamos em dirigir o foco do conhecimento para os entes amados, assim como evitamos olhar os espelhos quando portamos o olhar conhecedor. Tememos a revelação clara do bicho que veríamos ao “olhar” o objeto do nosso afeto e do bicho que somos refletido. Sobreviveríamos à decepção?
NATAL SEM BEIJO Ceres Costa Fernandes Final dos anos 40. Ele deve viajar para o sanatório de Correias, lugar de clima frio e seco, referência no tratamento do mal de Koch. Nome científico da doença cujo verdadeiro nome – tuberculose - era apenas cochichado para não envergonhar as famílias. Assim como se dá, hoje, com a AIDS. A decisão pesa sobre seus magros ombros. Conhecidos e amigos tomaram esse rumo e não retornaram Aconteciam curas, mas a herança maldita do século XIX, quando o chamado “mal do século” não poupava ninguém, alimentava ainda o preconceito. Tuberculoso. Isso é o que ele era. A identificação do mal era uma sentença de exclusão: o medo do contágio afastava amigos e parentes. Por isso é que o compadre ficara feliz ao constatar que a mancha no Raio X não era tuberculose, e sim câncer. Morrera um ano e meio depois. Nem bomba de cobalto dera jeito. Morreu cercado da família, que, no câncer, não há contágio. Compreendia o compadre. A escolha dele fora a fuga das xícaras e copos, pratos e talheres escaldados e separados e dos apertos de mão constrangidos e rápidos. Esboça um riso triste ao lembrar: ao menor sinal de tosse, pessoas se afastavam receosas. Os contatos físicos cada vez mais esquivos e contrafeitos. O sanatório seria a melhor solução. Sua doença não era das mais graves. Poderia curar-se logo, não fossem outros males a afligi-lo: as complicações digestivas, refratárias a remédios e a determinados alimentos e o coração fraco. Anos de sanatório. Uma prisão com conforto e convivência amena com os outros enclausurados. A mulher vinha, do Pará, visitá-lo. A alta, cada vez mais distante, fê-la vir, trazendo o filho do casal, menino de dez anos. O sanatório tinha pontos comuns com as prisões, embora não fosse uma. Havia ali ocasiões e lugares para visitas íntimas. E de uma dessas visitas resultou uma linda menininha, de cabelos negros encaracolados. A mulher passa a levar a bebê para que o pai a veja. De prudente distância, sempre. As grades, ali, eram invisíveis. Próximo ao Natal, uma notícia que lhes enche o coração de esperança: ele não está contaminando mais. Pode ir para casa. A casa, o lar, apenas um quarto e sala alugado, torna-se menor. Mesmo assim, a mulher arma um simulacro de árvore com presentes, tentando dar ao recinto um ar natalino. Ele chega. Olha triste para o ambiente modesto, que finge apreciar. Ali há menos conforto que no sanatório. E começa a difícil tarefa de reaprender a família. O menino, por temperamento e falta de convivência, anda ressabiado pelos cantos, estranhando aquele homem soturno, magro e precocemente envelhecido. Algo lhe diz que ele é bom e isso lhe inspira sentimentos que não consegue entender nem expressar. Calam-se pai e filho. Véspera de Natal, pela manhã. O homem, sentado junto à janela, observa a rua. Calado, introspectivo. A menina brinca à distância. De repente, assim do nada, ela se ergue e ensaia seus primeiros passos. É chegado o grande momento da conquista do espaço. E ela vai, bracinhos abertos, equilibrando-se, na direção daquele homem, que escolheu para acolhê-la. Ele a observa encantado. Por excesso de escrúpulos, nunca tomou a filha nos braços. O desejo de abraçá-la, apertá-la bem, beijar aquelas bochechas, é enorme. Fita seus olhos negros e brilhantes, sua boca sorrindo para ele, e pensa, por que não? O doutor disse que não estou contaminando mais... Estende os braços para acolhê-la. Anos de privação de contatos e o medo de contaminar são mais fortes. Fala, quase gritando, Mulher, tira essa menina daqui! Afastada a criança, ele se volta para a rua, olhando o vazio.
QUEM ROUBOU O MEU SONHO? Ceres Costa Fernandes Muitas vezes, sonhei abrigar minha maturidade e velhice em uma cidade pequena. O sonho de voltar a viver coisas que fizeram parte da minha infância, nas cidades de interior por onde andei ou, até mesmo, na antiga São Luís dos anos sessenta. Conviver com as pessoas não apenas em eventos, mas em encontros casuais de porta da rua - sempre aberta - em esquinas e pracinhas, com tempo bastante para prosear sem olhar o relógio; sentar à noite em cadeiras de lona, na calçada, esperando chegar os vizinhos com as notícias fresquinhas do dia, fossem elas de interesse mundial ou sobre o mais recente corno da cidade; observar as crianças brincando soltas, sem a preocupação de agressões, raptos ou seduções; ir a pé à quitanda da esquina para comprar algo sem muita importância e voltar devagar; fazer visitas a pessoas do nosso bem-querer, sem nada mais que um “oi de casa”. E tudo isso, é claro, sem abrir mão da comunicação com o mundo, via TV e Internet. Faz algum tempo que aborreço a mim e à minha família com esses planos não concretizados. Os ataques de nostalgia recrudescem toda a vez que me pego engarrafada no trânsito caótico de São Luís e dá aquela vontade insana de largar o carro no meio da rua e sair andando a pé, sem direção; ou quando chego à porta da minha casa, à noite, e me obrigo a olhar em volta, assustada, sem saber em que sombra estaria oculto o bandido que escolhera a mim como a vítima da vez; ou quando tenho o carro estrompado em mais uma cratera lunar das nossas ruas e avenidas. Manter uma Pasárgada de reserva, a possibilidade de abandonar tudo e, algum dia, me refugiar no lugar do meu sonho é algo consolador. Talvez essa mudança jamais se realizasse: meu espírito citadino é muito arraigado, e sofrimento acaba por calejar e acostuma. Mas sonhos e desejos, ainda que distantes, não devem ser abandonados. As pessoas necessitam cuidar bem deles, alimentá-los, acalentá-los como bebês, para que sobrevivam. Não importa que eles sejam sempre adiados para um amanhã, para um depois de amanhã, para um futuro distante que nunca chega. Eles são, por assim dizer, os antioxidantes de nossa saúde mental. Cada vez mais, me convenço da impossibilidade de manter intactos os meus despretensiosos e desimportantes sonhos. Confesso não ser boa nessa questão de sonhos, sou modesta no desejar e sempre faço um abatimento nos meus parcos desejos. Talvez por medo dos anjinhos da boca mole. Vejam só: tenho uma amiga que, doente e impossibilitada de andar, só pensa em morar em Paris; eu me contentaria com uma cidadezinha pacata. Penso que se tivesse a oportunidade de ter um gênio à mão, iria fazer que nem o homem do conto famoso que, em situação análoga, pediu apenas um chouriço. Apesar destes atenuantes, não fui poupada. Comunico a todos: estão destruindo um dos meus mais caros sonhos, o sonho de morar em uma cidade pequena. Todos os dias a mídia noticia fatos que vão solapando um pouquinho mais dessa fantasia. Sei de bancos assaltados (às vezes apenas postos, em cidades que só têm dois cabos e um sargento), por bandos vindos de outros estados, altamente sofisticados, armados de potentes AR-15, em busca do pagamento dos benefícios rurais dos velhinhos. Sei de mulheres e meninas que vão buscar água ao poço ou atravessam campos rumo à escola, e são encontradas atiradas em matagais, violentadas e mortas. Sei de balas perdidas que, bem longe dos grandes centros de onde partiram, acertam jovens na força da idade. Sei de filhos queridos gerados com amor que matam os pais, a machadadas, enlouquecidos com a droga que vem da cidade grande. Não mais cadeiras nas calçadas, não mais portas abertas, não mais o “oi de casa”. Apenas o medo. Parodiando Drummond, digo, quero ir para a cidade pequena do meu sonho, mas cidade pequena não há mais. Que pena seria grande o bastante para punir aqueles que roubam sonhos?
AS CONVERSAS VADIAS DE FERNANDO BRAGA
Conversas Vadias ARTUR AZEVEDO [Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, poeta, contista, jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís, MA, em 7 de julho de 1855, e faleceu no Rio de Janeiro, em 22 de outubro de 1908. Figurou ao lado do irmão Aluísio Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a cadeira nº 29, que tem como patrono Martins Pena]. O ARROZ DE CUXÁ * [Vide a receita no pé-de-página] Carta a Jovino Ayres Como o nosso Manoel Cotta Mandou pelo Mário Macieira Um molho de vinagreira** Lá de Jacarepaguá Num delicado bilhete Me perguntas, caro amigo Se quero amanhã contigo Comer arroz de cuxá. Que pergunta! pois ignoras Que sou, por este petisco Homem de andar ao lambisco Ora aqui, ora acolá? Pois não sabes tu que, apenas Eu me apanhei desmamado Me atirei como um danado Ao belo arroz de cuxá? Gosto do peru de forno Gosto de bifes de grelha E tenho uma paixão velha Por torradinhas com chá Mas nos pitéus e pitanças Que custam tanto e mais quanto Nunca achei o mesmo encanto Que achei no arroz de cuxá! Visitei o velho mundo E, nos restaurantes caros Os acepipes mais raros Comi que nem um pachá Mas quer creias, quer não creias Nenhum achei mais gostoso Mais fino, mais saboroso Que o nosso arroz de cuxá! A tua ‘Mulata velha’ É com razão orgulhosa Da muqueca apetitosa Do doirado vatapá Mas, baiano, tem paciência Forçoso é que te executes! Nada valem tais quitutes Ao pé do arroz de cuxá.
Eu tenho muitas saudades Da minha terra querida... Onde atravessei da vida O melhor tempo foi lá Choro os folguedos da infância E os sonhos da adolescência Mas... choro com mais freqüência O meu arroz de cuxá. Porque deixa que t'o diga Esse prato maranhense Ao Maranhão só pertence E noutra parte o não há Aqui o fazem bem feito (Negá-lo não há quem ouze) Mas... falta-lhe ‘quelque chose’: Não é o arroz de cuxá. Pois aqui há bom quiabo E bem bom camarão-seco Há vinagreira sem pêco Bom gergelim também há! E o prato aqui preparado Do nosso mal se aproxima! Acaso também o clima Influe no arroz de cuxá? Ora! qual clima! qual nada! É o mesmo quitute, creio Falta-lhe apenas o meio Nos seus domínios não está Naturalmente acontece Que sendo o mesmo, parece Ser outro arroz de cuxá. Eu, quando o como, revejo Entre a cheirosa fumaça Passado que outra vez passa Com que eu não contava já Portanto, não me perguntes... Não me perguntes, amigo, Se eu quero amanhã, contigo, Comer arroz de cuxá. Pergunta se quer o espaço... O passarinho que adeja Pergunta se a flor deseja O sol que a vida lhe dá Pergunta aos lábios se um beijo Aceitam quente e sincero Mas não perguntes se eu quero Comer arroz de cuxá.. . Como a criança quer leite Jóias a dona faceira
Fitas a velha gaiteira E um maridinho a sinhá Como o defunto quer cova Quer o macaco pacova Eu quero o arroz de cuxá! Febricitante, impaciente Cá fico as horas contando! Do bolso de vez em quando O meu relógio sairá E amanhã, às seis em ponto Irei, com toda a presteza À tua pródiga mesa Comer arroz de cuxá. -------------------------------------------Arroz de Cuxá * Ingredientes: Vinagreira ** [vide abaixo] 1 tomate picado 1 cebola picada 1 pimentão picado Pimentinha de cheiro a gosto 150 g de camarão seco Gergelim a gosto 1/2 kg de arroz branco cozido Azeite a gosto. Preparo 1. Coloque a vinagreira para cozinhar. Assim que murchar, tire do fogo, escorra e ‘bata’ as folhas com as costas da faca – use o lado oposto ao da lâmina. 2. Refogue todos os temperos e as pimentas em azeite. Acrescente o camarão seco e a vinagreira, mexendo sempre para que todos os elementos se incorporem bem ao refogado. 3. Acrescente aos poucos o arroz já cozido (ou, se preferir, cozinhe o camarão com o arroz). Mexa bem. Sirva com peixe ou camarão puxado no alho e azeite. Em tempo: A vinagreira** [Hibiscus sabdariffa] é a protagonista de um dos grandes pratos nacionais, o arroz de cuxá, joia da cozinha maranhense, também conhecida como agrião-de-guiné, azedinha, cururu-daguiné, graxa-de-estudante, groselheira, hibisco ou papoula, muito utilizada para tratar a febre e espasmos.
A POEMÁTICA DE DANIEL BLUME I – Penal. Num espaço de poucos dias me chegaram às mãos ‘Penal’ e ‘Reposta ao terno’, dois livros de Daniel Blume, vindos de São Luís do Maranhão, minha terra e dele, aonde o poeta é procurador do Estado, de cujo labor jurídico remanejou para seu intimismo poético, as nuances práticas e imagísticas, a nos revelar, como se num tríptico, a misteriosa ciência plena e pânica do conde de Beccaria. Há de entender-se que “seca até a pena, /os olhos não./ Molhados percebem / que pena apenas pune”. O poeta, em seus quefazeres trabalha com o uso da pena, como um amplo substantivo, a usá-la, ainda, na mesma classe gramatical como sinônimo de castigo, comiseração, condenação, lástima, etc., e até às vezes, como advérbio, se é que a pena vale a pena; já no direito, Blume se vê às voltas com o ‘Penal’, que tanto pode ser instrumentos substantivo ou adjetivo, a depender da sua finalidade, se reguladora ou se aplicativa da pena... E por aí o poeta segue a penar, apenando uns e apiedando-se d’outros. Os poemas deste livro são curtos, como se fossem ‘hai-kais’, mas extensos pelo foco semântico que irradiam, a guardarem em seus núcleos uma força explosiva muito forte como esse “que se viva /sem mera união /em consciente unidade”, ou ainda “que se abra / no tórax / a porta do criador”. Há quem diga lá pelas páginas tantas, que “Daniel é poeta que provoca o sossego das palavras e sai com elas com o olhar alimentado pelo espaço em que transita [...] como desassossegar palavras é dado a quem vive a espreitar o mundo tendo como lente a poesia, Daniel provoca aqui o signo ’Penal’ ao mesmo tempo em que é provocado por ele...” E quem assim o diz, com todos os símbolos eugênicos que dispõe, nada mais é que Sônia Almeida, poetisa, escritora, professora da Universidade Federal do Maranhão, membro da Academia Maranhense de Letras ... e mãe do poeta! Enquanto isso, Blume transmuda-se para a ‘Infância’ e “de lá, o menino partiu, partiu-se. / De onde, a cada dia, afasta-se./ Cada dor, luta transpor. / Mas Ônix é uma pedra na gaveta”. E o poeta como se visse o rosto em frente a um espelho trincado por uma bordoada ocasional, na carroceria daquele caminhão de mudança, do qual dos fala André Breton, em que transportavam em certa madrugada anônimos rostos que em coros cantavam e sofriam a poesia, abstrai-nos em dizendo que “Ágora agora, diz e esconde, revela e cala. / Frio divã coletivo da diva. / A vida via internet: / a proximidade distante./ Da curiosidade instigada / à palavra corrida, / intriga-se com a própria língua”. E o mais prudente, como paráfrase e sugestão, é de que o poeta desfaça-se do nó da gravata mais uma vez, na incessante busca de soltar também o da garganta, através da poesia... II – ‘Resposta ao terno’ “[...] O advogado veste-se de um terno olhar sobre a vida, suas memórias e as pessoas que fazem parte delas”, e passa a responder ao terno [não ao terno da ternura aos verdes campos, mas ao terno em si, como conjunto de calças, colete e paletó]. Na profissão, Blume tem procuração de ofício do Estado para exercê-la, mas como poeta “o procurador [aquele que procura alguma coisa] de terno [aqui o facto feito de lustro] é este poeta que vive a dor de procurar o terno [o aprazível].” Bem haja, diriam meus amigos de Portugal, a saber, que o poeta está lá a cumprir atividades como aluno ‘bolseiro’ de mestrado em Direito, na Universidade Autônoma de Lisboa, e com esses méritos, pois, seria de bom siso imprimir a esse seu questionamento com o terno [lê-se fatiota], a evocar aqui excertos de um poema antigo, mas de um recorte extremamente moderno, chamado ‘Algibebe’ [o que significa vendedor de roupas de tecido barato], do poeta português [de Ílhavo], romancista, médico e gravador Celestino Gomes, como se dissesse a Daniel Blume:
“[...] pobre terno sem pessoa, / o que ele queria / era braços / a encher-lhe as mangas vazias/ armadas só a enchumaços / que mo vestissem de gente, / de espasmos e de agonias / ser eu apenas diferente / de mim de todos os dias...” para concluir, em seguida “mas veio o minuto exato, / e o facto feito de luto, / gasto a lustro e desbarato, / cansou-se de devoluto, / cabido de guarda-fato... / Afagos que afogam sangas, / quantos abraços perdidos, / por braços que eram só mangas, / meus braços, cinco sentidos!” Alvíssaras são de que a ‘Poesia’ de Daniel Blume produzida entre 2014 e 2018, receberá o ‘Prêmio Talentos Helvéticos’, no dia 30 de abril de 2019, em Genebra, na Suíça, oportunidade em que será lançado o seu ‘Resposta ao Terno’ em italiano e francês, cujos eventos, o poeta, num gesto de gratidão dedicou-os à sua mãe, professora Sonia Almeida. Se Deus agraciar-me de estar em Portugal nessa data, irei abraçá-lo nalgum ‘bistrot’ de Genebra. Diante disso, só me resta clamar loas a esse belo poeta, a essa notável figura humana, autor ainda do livro de poemas ‘Inicial’ e de ‘Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas’, membro da Academia Ludovicense de Letras, onde ocupa a cadeira nº 15 patroneada pelo iluminado Raimundo Corrêa, de quem, talvez, tenha herdado, por atavismo anímico, o condão mágico de tão bem trabalhar as letras jurídicas e literárias. É este o poeta Daniel Blume que com terno ou sem terno, com nó na gravata ou sem nó na garganta, é sempre terno... -------------------------*Fernando Braga, in ’Toda prosa’, antologia de textos do autor. Ilustração: capas dos livros comentados.
LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO Laura Bocayuva Leite Filho [São Luis, 19.12.1937 – São Luis, 8.10.2016] Fernando Braga, in Jornal O Estado do Maranhão, 23 de agosto, de 1973. Os dois últimos parágrafos, naturalmente, foram escritos no fecho desta publicação. Ilustração: O livro’ Moacyr e Ambrósio’, São Luis, Gráfica e Editora Jornal do Dia, 1970.
Soltando um rolo de fumo inglês do cachimbo, o professor Bacelar Portela, meu querido amigo e orientador de como pesquisar e traçar as linhas para a composição de um texto a ensaiar, apressou-se em dizer-me, na Praça Bendito Leite, numa ensolarada manhã de um dia qualquer, que Lauro Leite tinha sido o grande vencedor do concurso literário ‘Antônio Lôbo’, promovido pela Academia Maranhense de Letras, cabendo a Nauro Machado e a mim, o segundo e o terceiro lugares respectivamente... Ao cumprimentá-lo, disse-lhe: “ao vencedor as batatas”, lógica machadiana que reconhece o vitorioso por justas merecidas... E o velho mestre sorrindo, sentenciou: “a poesia de Lauro Filho merece estudos mais profundos”. Domingos Vieira Filho, foi mais longe na apresentação do livro premiado, em dizendo que Lauro Leite “desta vez está mais maturado, tem uma vivência poética mais intensa, se apossou de melhor intensilhagem estética para expressar às notas contrastantes do seu mundo interior, trabalhando pela descrença, mas sem se envolver no amargor insólito das formas shopnhaurianas.” Afinado, mas sorrateiro aos contrapontos do pensador da realidade exterior e da consciência humana, Lauro [filho de Lauro Leite, um dos maiores violinistas do Maranhão], quando toda a Faculdade de Direito o esperava de braços abertos para recebê-lo como o representante intelectual dos fracos e oprimidos, foi a de Odontologia que teve essa honra e alegria; apesar de ele exercitar-se no dia a dia como jornalista e locutor, a expor seu grito social através das rádios Difusora e Educadora, onde todos dispunham de sua inteligência, através de sua voz e do seu talento a serviços da noticia e do entretenimento. Ele foi um dos maiores participantes intelectuais entre as gerações de 45 e 60, porque ele permeava as duas, [juntamente com Nauro Machado, Carlos Cunha e Deo Silva] a se afirmar pela forma marcante do seu talento, dando força exuberante à sua poesia de “pés no chão”: “São pobres – eu vejo – que tão pobres são que vejo a pobreza na dor e no ar - que enche seus peitos sofridos – sentidos – irmão e irmão” E luta desesperadamente por expressar aflições: “Pequenos ainda – passados – levados - irmão e irmão”, Como se verifica sua temática é arraigada na problemática atual. E Lauro não se preocupa com vocábulos de difícil penetração nem com embaralhamentos de formas zigzagueantes, porque o universo lexical em que navega é seu intimo e artesanado por ele mesmo: “O dois – de mãos dadas – correndo no lixo - que o mundo lhes deu – é lama – malvada - que seja seus pés – doridos – feridos – irmão e irmão;” A arte deve ser intrinsecamente social e Lauro Filho luta por essa posição em suas conquista; ”Tudo que é poético é verdadeiro”. E continua em sua estesia gritando:
“Comida – pedida – negadas também – pelos poderosos – os donos – de tudo – de escravos - de Terras – paradas e virgens – que nunca correram ou estagnaram – na solidão – deixando só dome – irmão e irmão!” Essa é a luta ferrenha contra “a fome que não é a causa de revoluções e de profundos sofrimentos humanos de todos injustos. A fome torna impossível a bondade”, afirma ‘Macbeth’, na ópera Shekespeareana: ‘Primeiro a pança, depois, a moral’. Daí a empatia poética de Lauro Leite e Nascimento Moraes Filho, vez que, pra ambos, toda doutrina de bem-estar é contrária e estranha à essência do seu próprio intimo, num extravasamento alheio, ‘douleur de vivre’: “E dinheiro – que podem? – eu bem que recordo que irmão e irmão – recebem - felizes – saem correndo – e compram – o pão – irmão e irmão.” Não pertence, Laurinho Leite, por temperamento e até por questões de limpeza mental, a nenhuma escola literária, porque ‘um bom verso não tem escola’, sentenciou Moras Filho, ao lembrar-se de Flaubert, ao escrever, como sempre fora de seu gosto e de todos, considerações sobre o lado humano e intelectual do premiado. Lauro Leite Filho é o herdeiro legítimo da poesia social de Nascimento Moraes Filho, ‘Moacyr Ambrósio, pés no chão’, respira pelo mesmo cordão umbilical de ‘ O Clamor da Hora Presente’, este o maior grito de dor até hoje dado no Maranhão contra o julgo e a prepotência e ecoado em loas pela pena brilhante e pelo senso crítico de Oto Maria Carpeaux. Há entre os dois uma empatia estética e emocional mais que harmônicas a estreitar-se no plano social... Lauro Leite Filho sente no seu indiferentismo, a revolta contra tudo que lhe parece pérfido, mal e descabido. “Triste o dia em que vim à terra para endireitá-la”, diria o poeta se por ventura fosse o Príncipe Hamlet. Ontem, há tempos, o mestre Bacelar Portela me dava noticias da premiação de Lauro Leite; hoje, ainda há pouco [lê-se 8 de outubro de 2016], o também médico e escritor Mário Luna Filho me dizia do falecimento do autor de ‘Moacyr e Ambrósio’, depois de alguns anos de sofrimentos, estigmas que marcam poetas mártires e santos. E São Luis, assim, fica mais vazia daqueles que como Lauro e tantos, cheios de abnegação e talento, povoaram-na com a luminosidade de seu tempo, a estampar-lhe, quando a cidade ainda vivia, o timbre de uma outra ‘bélle époque’, já distante, mas autêntica, legitima e verdadeira...
DOS CÁRCERES DA ALMA * Fernando Braga, in ‘Caderno Alternativo’, Jornal O Estado do Maranhão, 4 de maio de 2011. [Sobre O Cirurgião de Lázaro, de Nauro Machado]. Nauro [Diniz] Machado - São Luís, 2 de agosto de 1935 - 28 de novembro de 2015. A poesia como expressão verbal glorifica-se por sua extensão a explorar alogicamente os símbolos e signos representativos da linguagem humana, utilizada em fins estéticos, a procurar amparo e densidade, harmonia e sutileza em suas diversas peculiaridades conotativas, a distanciarem-se quando possível, e a cada vez mais, da elocução comum. Com esse pensamento conceitual, a poesia na concepção de Nicolas Boileau, ditador racionalista da poesia de Paris e vulgarizador de uma natureza intelectualizada, diz ser a arte poética nada mais que uma construção lógica, pausada e trabalhada a frio. Por ser esse conceito do preceptor, poeta e satírico francês o mais próximo da linha que me propus aqui a textualizar, começo a dizer que é mais ou menos nesse atelier de ideias, palavras e ritmos que o poeta Nauro Machado esgota-se a laborar seu eu-artístico, a conceber sua arte, não a frio, mas a barro e ferro e a lapidá-la numa harmonia personalíssima, diria mesmo, provinda de suas entranhas viscerais, jamais vista em outros poetas; ele redesenha em cada produção um hermetismo diferente, porque, paradoxalmente revelador, envolto numa magia lexical, em movimento, como se um inventário do seu código poético que a todos embriaga de perplexidade, vez que é montada em uma sintaxe preponderantemente intimista e ao mesmo tempo mundana, divina e profana, a transcender os limites de todos os sentidos incomuns; sua poesia é cada vez mais intermitente no curso de uma metalinguagem que chega a transfigurar-se em transes santificados e em surtos demoníacos. ‘O Cirurgião de Lázaro’ se posta em minha mesa de trabalhos, e o vejo já depois de lido como uma preciosidade universal, vez que Nauro plantado por raízes profundas em nossa Província, a querida São Luís do Maranhão, nosso chão de risos e lágrimas, de alegrias e sofrimentos, continua como um velho combatente, como se num campo-espaço espectral, onde seu vulto de artista pode ser visto engajado em uma luta que escolheu para defender até o fim, sem condecorações, outorgas e medalhas, galardões indiferentes a seu estar e ser, mas sem funções sociológicas que o fariam, não distingui-lo, porque é ele mesmo quem diz, não mais pertencer “a um tempo que já morre / neste presente que comigo rui,/ entre o futuro que sem fim decorre / e o passado que para sempre eu fui... ”/, mas exaltá-lo, pelo menos, no meio em que vive, já que ele tem pagado com métrica o que deve em ouro! “Desperto as nuvens desse céu liberto / da natureza que me fez de um parto. / e se desprezo o céu que é assim do aberto, / desprezo quem comigo em sonho encerro,/ abrindo as portas que vão dar no quarto / de uma morada eterna em barro e ferro”. ‘O Cirurgião de Lázaro’... escorreu por mim, e o fiz pausadamente, não com a pressa de uma leitura na diagonal, mas com reflexões que me permitissem com mais familiaridade adentrá-lo, sempre querendo ir mais longe do que já guarda sobre ele meu hipocampo sentimental, o que me fez, desta vez, sentir um Nauro com alguma coisa diferente, um Nauro a navegar no mesmo leito de antes, de águas turvas e profundas a debater-se com a mesmo virilidade de sempre; mas agora o vi diante de um existencialismo que não mais aquele em contraponto com delírios e angústias ambulatoriais, diante daquela fragilidade que o fazia ainda um ser indefeso e intrauterino; mas um Nauro um tanto quanto 'Sartreano' tendo como pano de fundo o indivíduo [o homem que é ele mesmo], a liberdade, a história [talvez de um mundo mais que real, onírico e lúdico, que sejam], e a política, não na acepção da ciência, mas da arte alegórica, para onde ela mais declina, a rejeitá-lo com o húmus de sua unção e a cognição de seu credo, como um ser plenamente sociável... E incisivo e direto Nauro aqui revela esse animal humano: “Auxiliar de Serviços Gerais, / nesta cidade ou terra gonçalvina, / meu contracheque – dizem – é demais / para um trabalho que lhes contamina, / o ser feliz a abrir-se pelos ais / que eles despejam quando na latrina. / - o que de mim ainda querem mais, / com meu pescoço já na guilhotina? / - Dinheiro é tudo, dizem em cio farto, / dinheiro é mais que o verbo ou o próprio parto / feito no ventre das mães de Maria. / Nesta São Luís, príapo de um sapo, / limpando o verbo em sujo guardanapo, / não terei a sorte de Gonçalves Dias”.
E se volta ao passado, à meninice no velho sobrado do Largo do Carmo, onde funcionava o clã dos Machado, quartel general das Oposições Coligadas do Maranhão e da redação de ‘O Combate’, indo a uma livraria próxima, ainda de pijamas, para comprar revistas e figurinhas, em suas horas de infância e travessuras: “Que Lig-lig-lé me ligue à luz que segue / me atando àquela criança que não cegue / na escuridão de um sol suor dos bípedes, / bêbeda boca eu sou, mamando ao peito / a me ofertar, sem paz em nosso leito, / a eterna infância morta em velocípedes”. Ou ainda: “Tudo me fala pela infância morta, / com sua eterna e inconfundível voz”. Neste livro ‘O Cirurgião de Lázaro’, Nauro “faz continuar a numeração sequenciada da antologia, acreditando que seu somatório sonetístico resulta de vocação cumprida dia a dia com pertinácia e imperiosa necessidade humana”. Era preciso que aqui se repetisse isso que vem na contracapa do livro para se justificar que os sonetos não têm títulos, mas números, pelas razões que se observam, além de ter os belos desenhos do artista Lucas Sargentelli, em carvão, pastel, giz e borracha o que dá ao livro uma identidade magistral entre a palavra e a imagem. Luís Eduardo Meira de Vasconcelos, na segunda orelha ou aba diz com muita propriedade que existe em Nauro “a recorrência de uma das formas poéticas consagradas, trata-se aqui, portanto, da lenta e inabalável lapidação do que, ante os mistérios da existência, só se realiza como resíduo, a um tempo resto e âmago”. Observa-se nesse livro, nitidamente, sua luta frontal com a morte. Vejamo-lo nesse soneto, a usar a técnica do 'enjambement', a me parecer rara no curso de sua obra: “Túmulo da alma para os pés sem meia, / abro o grito do chão para um enredo / a se fazer na boca com teia / de aranha a enredar-se em seu segredo.” Continuando: “Querendo ouvir o nada onde me sumo, / tento escutar o ser que em mim chafurda, / sabendo estar até de mim expulso, / pela surdez gritando: Eu não sou surda! Adiante: “A morte espera pelo tempo vindo / da eternidade feita de um segundo, / como relógio mudo que é enfim findo / no aberto pulso de negro osso imundo”. (...) “Falando eterna em verbo apodrecido, / ela vindo a se fazer no ouvido / pelo atropelo feito em tanto saque, / para chegar ao fim do que acumulo / sem saldo algum, como um ladrão em seu pulo, / nesse Banco a falir com um só saque”. E crístico: “Amputar Teus pés nas minhas pernas, / amputar Tuas mãos nos meus braços, / é conhecer a falta com que infernas / minha existência a ser de outros espaços. / Nesse caminho em que com dor me hibernas / num chão infernal de dor e de cansaços, / como abraçar-Te os pés nesses vis laços? / Onde andarão Teus pés querendo as mãos / para calçá-los pelos que a sós só vão / com os dedos falhos indo a um Ser avaro? / para chegar a quem é mais sozinho / no meu percurso a estar noutro caminho, / nas Tuas mãos meus pés têm o Seu amparo”. E profano: “Satã tetânico dos vícios de hoje / reduplicado ventre que desventuro / para deitar-me em ti no imundo coche, / entrando todo com meus porcos dentro, / e a me fazer com dois, que eu não me enoje / (...) Satã de adâmica carne tetânica, / de anágua provinciana a ser satânica / nudez despida e além-multiplicada: / tu viverás em nós eternamente,/ como quem real faz-se em nossa mente, / como uma ideia conosco em nosso nada”. Encontrei um Nauro ainda bíblico e marcadamente, como já dissera antes, levítico, a purgar na homogenia de sua carne e espírito, luzes de uma sublimação que é sua, muito sua, de uma impossibilidade quase descritiva, talvez pelo embargo em mais dizer, deste velho amigo que não é crítico, mas que tem a emoção diante da admiração e do bem querer que lho devota, não apenas pelo homem em grandeza que ele o é, mas por sê-lo, também, um dos maiores poetas brasileiros de seu tempo. Nauro, lá pelas páginas tantas de seu livro, que o vou abrindo aleatoriamente enquanto escrevo, usa a técnica das rimas fragmentadas como Verlaine as usou, e outros tantos poetas, principalmente italianos, [e os latinos como Ariosto, Dante, Monti, e muitos outros], obtendo-as não apenas pela separação de elementos justapostos ou já aglutinados, como também de sílabas e até de letras: Aqui, comparamo-lo apenas com o poeta francês: “Mai que moi que ne suis rien, plus rien que leur hygiène a ces tiens (miens?) charmes bieaimés... “ E Nauro:
“Setenta anos se fazem tão distantes de mim agora, como se em Babilônias mortas e feitas só de instantes para uma vida que só morte cabe”. E Verlaine: “Voyez Banville, et voyez Leconte de Lisle, et tôt pratiquons leur conduite et soyons... “ E Nauro “Se alguém me vê real, ninguém é Capaz de saber-me a rua ou o endereço...” Assim, com o interesse de sempre, li 'O Cirurgião de Lázaro' do meu velho e querido companheiro de andanças Nauro Machado. Senti-o sob o olhar de um também poeta, não um esteta com as luzes que o iluminam, mas como ele, também, um homem de cultura feita. -------------------------
MANOEL DA CRUZ EVANGELISTA E SUAS HISTÓRIAS EM PROSA E VERSO Recebi de uma vez só, via Sedex, um presentão neste Natal [Lê-se Natal de 2017] que ainda vai perto... ‘Minha antologia diferente’, ‘Estrelas do meu caminho’ e ‘Sol de outono’ por generosidade do poeta, cronista e contista Manoel da Cruz Evangelista, esse velho e querido amigo, em que algum tempo agudei-lhe a memória para que se lembrasse de mim, como personagem, consigo, e outros, em uma reunião de aniversário, num sobrado da Rua de Santana, em São Luís, onde morava Demerval, irmão de Francisco de Assis Carvalho, o ‘Six’, ambos seus colegas do Banco do Brasil. Comecei a gostar do ‘Vanjico’ desde aí, um empatia espiritual, uma bem querença como se já nos conhecêssemos há mil anos como naqueles versos de Baudelaire... Uma inteligência viva, a irradiar harmonia e bom humor, um espírito superior e boêmio, daqueles que fazem parte da família das boas-gentes. Demerval nunca mais o vi, e ‘Six’ encontrei-o em Brasília, nos anos 70, no ‘Clube do choro’, onde era uma das estrelas a tocar cavaquinho juntamente com outro maranhense de saudosa memória, o nosso Tasso Vieira que no conjunto, ‘baculejava’ com muito ritmo uma sonora cabaça. Tasso era irmão de Dominguinhos Vieira Filho, e os dois, meus queridos e saudosos amigos. Tive de fazer esse preâmbulo para clarear a lembrança desse querido poeta que também atende pelo nome afetivo de ‘Seu Cruz’. Mas nessa busca do tempo perdido, volto a clarear, neste dedo de prosa, a memória do poeta Manoel Evangelista, como se fosse Proust a passear com ele pelos caminhos de ‘Swann’... Numa noite qualquer de um ano longínquo, ele, o ‘Vanjico’, atravessou de canoa com o mesmo Demerval, irmão do “Six”, com o sempiterno Pandiá Calojeras de Sousa, com o professor Araújo, que era do BEM, depois foi para o Banco do Brasil, e depois ingressou na Magistratura; com Américo Azevedo Neto e comigo, para a ‘Ponta de São Francisco’ [lê-se aqui o acidente geográfico]. A ponte de ligação estava em construção, tempo em que José Chagas publicou, em versos, uma ‘plaquette’ sobre sua construção. Interessa-nos agora é o destino da canoa que nos levava para a Ponta de São Francisco, onde nada existia a não ser um barracão de palha chamado ‘Base do Calango’ que servia um delicioso mocotó e cervejas geladas. O ‘Calango’ era um guarda-civil [de Trânsito] que tinha esse apelido e lá morava num espaço contíguo ao barracão que servia de boteco que já prenunciava o que seria aquelas paragens tempos depois... E lá montávamos nossa serenata particular entre cantigas, poemas e violão, e boa conversa até quase à alva, quando então aportávamos novamente, quase sempre na mesma canoa, no velho Cais da Sagração... Lembra-te Evangelista? Ou não? Eu tenho uma memória de anjo!... Os livros do poeta Cruz têm o batismo editorial e consequentemente o bom gosto gráfico do professor Antônio Maria Cabral [também ex-servidor do Banco do Brasil e do Banco do Estado] que com competência os edita e os apresenta lá de sua oficina de trabalho ‘Cantinho das letras’ que também é página de facebook. Mas vamos ao poeta que se diz velho – Velho uma ova! Cora Coralina começou a publicar seus versos aos oitenta, Leon Tostoi, o gênio russo de ‘Guerra e Paz’ aos oitenta fugiu de casa, como nos diz esses fragmentos do ‘Poema da gare de Astapovo’, de Mario Quintana: “O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos./ Com certeza sentou-se a um velho banco, / um desses velhos bancos lustrosos pelo uso / que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo contra uma parede nua… [...] Ele fugiu de casa…/ Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…/ Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!” A seu modo, Manoel da Cruz Evangelista em literatura, é um ator multifacetado, por encarnar em muitos poemas o poeta Emilio de Meneses, refiro-me aos repantes de ‘O Dom Quixote gordo da sátira’; em outros muitos, Boileau [ditador racionalista da poesia de Paris e vulgarizador de uma natureza intelectualizada]; e em outros tantos, Aretino [famoso satírico e panfletário italiano]. E o faz naturalmente e sem sabê-lo, no alto de sua Lira dos Oitent’anos, sem nada dirigido, de maneira espontânea, simples e por vezes ingênua. Cito três arranques geniais do poeta: na pág. 53 de ‘Minha Antologia diferente’, o nosso ‘Vanjico’, na prosa ‘Gosto de ler’, solta essa sacanagem preciosa: “Quando jovem, lia tudo, desde poesia de Cordel até a ‘Divina Comédia’, com tradução de Odorico Mendes. Não entendi nada, e creio que o Odorico Mendes, muito menos ainda...” É mole ou queres mais?
Em ‘Solo de outono’, à pág. 101, no poema ‘Os poetas’, o velho Cruz disfarça: “É por isso que não sou poeta./ Poeta tem que falar asneira,/ ser um Manuel Bandeira ou um Ferreira Gullar./ Acordar, de madrugada no quarto da empregada...” No livro ‘Estrela do meu caminho’, Manoel da Cruz Evangelista diz contrito, a desabafar sua formação religiosa construída em meio aos diocesanos: “ Fé – Crença – convicção íntima. Crer – dar como verdadeiro. Certeza – Conhecimento exato”. Para concluir ou arrematar-se: “Sumid quod sum” – Eu sou o que sou! E é mesmo!
SILÊNCIO EM FAMÍLIA* Silêncio em família é o segundo livro que rebenta do estado d’alma de José Maria Nascimento, publicado recentemente [lê-se: no longínquo 1968], depois de ter ganhado, em concurso literário, o Prêmio Gonçalves Dias. É um livro humano, identificado com o poeta sensível e sofrido acima de tudo: “Basta-me a chuva dos olhos dos que na chuva adormecem”. E parte delirante formalizando seus íntimos pedaços de angustias: “Na mesa, os pratos e a inocência do passado./Um olhar de mãe que já se cala/ quando o vinho do copo é derramado./ A lenha, no fogão, ainda estala./ A mãe, exausta se levanta e o filho embriagado canta”. A poesia de Nascimento é viva, atuante, dolorida, terrivelmente lírica e às vezes misteriosa, tem muito da cadência angustiante de Paul Verlaine: “Sur votre jeune, sein laissez rouler ma tetê, et que jê dorme um puisque vous reposez”. Sentimos os soluços do poeta quando lemos: “Os pés estão suspensos como plumas sobre o vidro,/ leve e ainda mais breve que um grito já partido./ Porquanto aqui retorne à tragédia/ me acostumo, ante o corpo em vertical/ como que medido a prumo./ Somente a cabeça pende para o esquerdo do seu recurso./Cabe inteiro o corpo numa hóstia,/ como a bênção na ternura dum soluço”. A pureza da ausência é associada a um silêncio que o poeta determina em seu núcleo mais íntimo, de família, uma necessidade de habitar as mãos com algo palpável e muito sentido: “Senhor já não estaremos aqui quando do Teu retorno à face do abismo/ onde trinta e três anos habitaste./ Já não estaremos aqui e em parte alguma da morte,/ porque já não estaremos tranquilos por não saber onde estamos,/ por não saber o que fomos nem porque [sufocados por luz] nos suicidamos.” Adiante o poeta se contenta com a morte clínica do seu corpo cansado de lavras noturnas: “Perdemos a alma e o céu, mas o inferno ainda existe:/ perdemos os olhos e a paisagem e as trevas que o eterno embalsamava:/ perdemos os campos e as mãos que a terra áspera lavraram:/ perdemos os pés e os caminhos, os lares e as águas:/ perdemos Deus e Cristo na memória/ e por fim nos perdemos como agora,/ finalmente e eternamente seremos nós”. Perplexo ante uma progressiva embotada der charco e de abjetas consequências, José Maria Nascimento elabora um trabalho valiosos por que “ele sabia de estar sozinho quando a vida lhe assaltava/ e era sempre sobre a sua sombra que as suas ruínas declinavam./ Pouco sabia de si que era velho e o chão de fadigas lavrara:/ madrugueiro, cedo da manhã se estendias/ e lentamente a terra elaborava./Foi-se o tempo e com ele os pássaros,/ seu funeral de noturno cantavam:/ e era dia, mas de trevas tantas que quem chegava não sentia escuro.” Por fim, o poeta se naufraga nas palavras, justificando a tragédia ocasional dos seus gritos, justificando ou tentando justificar-se da peste que lhe fere a alma, ou autoanalisando-se, cremos melhor: “Poema não é suave solidão, a rede vazia, um livro aberto, os olhos alvos, as mãos em trevas./ Poema não é o choro oculto, o liquido mármore azul, as letras escorrendo ao fundo./Poema não é o cintilar de peixes, o arpão no ar ferindo pássaros, o lar antigo, na memória vivo./ Poema não é breve infância, a velhice contemplando auroras, as frias tardes soluçando cores. / Poema não é a plumagem dos pássaros, o acenar de mãos em solitário cais, o longo parto extinto, de suas dores./ Poema não é a ceia de Natal, as árvores de vidro uma sala alva, e breve carta de
quem está ausente./ Poema não é a glória dos vencidos, a mesa posta para as fomes virgens, o sonoro despertar de um fruto suspensos./ Poema não é o arco-íris na madrugada, a choupana solitária em vale oculto, a insônia dos cavalos em verdes bosques./ Poema não é a vela que apaga, o sol que se espera para os olhos cegos, a boca que se abre para o alimento./ Poema não é odor de éter em hospitais, e bisturi quebrado em finos ossos, o voo noturno de morcegos alvos./ Poema não é a áspera planície dos mortos, o vazio túmulo de verde-azul colorido, as portas abertas para a infalível eternidade./ Poema não é a amizade mais nova, o cruel abandono de um final de missa, o esperado sobre estreita ponte./ Poema por poema é acharmos palavras fartas como um cadáver é de escuro, simples como a pedra é de silêncio.” É ele, sim, José Maria Nascimento, o poema... Aí está o poeta que medrou as ladeiras nos pés e escreveu depois sobre a infância das águas...Expoente literário de primeira grandeza dentre os de nossa geração... __________________________ *Fernando Braga, in Jornal ‘O Estado do Maranhão’, 27 de julho de 1973. Ilustração: Foto de agora do poeta José Maria Nascimento na Praça João Lisboa, em São Luís do Maranhão.
POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)
ARNALDO DE JESUS FERREIRA 117 6 de outubro de 1904 # 13 de outubro de 1958 Nasceu em São Luis a 6 de outubro de 1904. Fez seus estudos nessa cidade e ao mesmo tempo começou a trabalhar no comércio, na firma de seu pai. Ao lado das atividades comerciais não descuidava da literatura, sua princxipal fonte de leitura, o que o fez até os 54 anos, quando faleceu. Possuiu a maior biblioteca particular de São Luis. Exerceu a presidência da ACM em varuios mandatos, e ocupou divrsas diretorias. Concluiu ocurso de Contador e passou a sócio-proprietário de uma nova empresa de seu pai. Escreveu obras sobre economia política, publicadas em São Luis e em Paris, e sob o psudonimo de João Maranhense, militou na imprensa nos jornais O Imparcial, O Combare, Diário do Norte, Diário de São Luis, A Pátria, O Globo, Tribuna, Jornal do Povo e em revidstas, como a da AML e do IHGM, com temas literários, históricos, econômicos, geográficos e artistiscos; participou de entidades acadêmicas, artísticas, jornalísticas, e educacionais. Ocupou a cadeira 27 da AML; membro da Sociedade de Cultura Artistica do Maranhão – SCAM; e consultor tecnico do Diretorio Regional de Geografia. Na historiografuia maranhense deixou trabalhos de valor como: Jesuitas no Maranhão e Grão-Pará; Noticiais sobre frei Custodio de Lisboa; Os problemas maranhenses; Alcantarenses do século XVII na Companhia de Jesus; Dias Carneiro e Sousa Bispo; Atualidade de Vieira; Ravardiere e outros. Foi o primeiro presidente da Federasção do Comercio do Maranhão, criou o Conselho de Contribuintes do Estado; foi Secretário de Fazenda e Produção; Presidente do Banco do Estado em vários governos; participou da administração da Junta Comercial do Maranhão; da Legião Brasileira de Assistencia; da Justiça do Trabalho, do Centro Caixeiral, do Sindicato do Comercio Atacadista de Generos Alimenticios de São Luis, da Associação dos Empregados do Comercio de São Luis, do Asilo de Mendicidade, dos Conselhos Deliberativos do SESC e do SENAC, onde foi preasidente regional. Faleceu em 13 de outubro de 1958. Contribuição na Revista do IHGM: FERREIRA, A. NOTÍCIA SOBRE FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA Ano IV, n. 4, junho de 1952 67-75 DIAS CARNEIRO118 Fazendo parte de um parlamento em que a oratória era dom dos mais apreciados, Dias carneiro não tinha, no entanto, aquela retumbancia de frases tão ao sabor da época. Era, porém, sincero e seguro no falar e possuía bastante clareza na exposição do seu raciocínio. Seus dircursos visavam sempe assuntos práticos ou econômicos e servem, ainda hoje de subsidio aos estudos de historia pátria pelos ensinamntos que deles se podem tirar. Utilizando a tribuna, abordou”a tendência do governo para se tornar grande industrial e pleiteou a conservação do histórico quartel do Alecrim”, em Caxias. Ventilou outras questões de importância e, em 1887, tratou dos melhoramentos dos portos d São Luis, Caxias, e Codó e da desobstrução e navegabilidade dos rios do Maranhão. [...] Em Caxias, organizou e fundou a “Companhia Prosperidade Caxiense”, com o captal de 80 contos, para construção da ponte de madeira sobre o Itapecuru, no mPorto Grande, ligando os três distritos da cidadse, obra que ainda chegou aos nossos dias. Incorporou a “Compoanhia Industrial Caxiense”, primeira fabrica de tecidos construída na província, com capital de 400 contos, trabalhando, inicialment, com 50 e, mais tarde, aumentada para 125 tearres, a fim de atender às encomendas de outras províncias. E inaugurou a “Companhia União caxiense, outta fábrica de tecelagem, com capital de 850 contos. Foi, desse modo, o pioneiro da industria têxtil no Maranhão. (Dias Carneiro e Sousa Bispo) 117
OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 118 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 229-231
LUIS DE MORAIS REGO 119 28 de outubro de 1906 # 09 de janeiro de 1987 Nasceu em 28 de outubro de 1906 em São Luis, filho de João Maria Moraes Negro e Custodia Veloso de Moares Negro. Fez o primário na Escola Modelo Benedito Leite; ingressou depois no Colégio Rosa Castro onde formou-se professor normalista. Diplomou-se Farmaceutico Quimico na Escola de Farmácia do Maranhão (1926), logo se iniciando no Magistério. Em 1933 foi aprovado em concurso federal para Inspetor Fiscal (Belém), e logo depois no concurso de catedrático de Ciências Físicas e Naturais do Liceu Maranhense. Em 1934, junto com o Dr. Luis Viana fundou o Colegio São Luis, por onde passaram várias gerações de maranhenses. Além de professor do Liceu e do São Luis, lecionou nos Colégios Rosa Castro, Santa Teresa, Centro Caixeiral, Cysne, Gilberto Costa, Academia do Comercio do Maranhão, deste foi um dos fundadores; Escola Tecnica Federal do Maranhão (hoje, Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia do Maranhão – IF-MA), de onde foi professor e técnico em Assuntos Educacionais, da Escola de Farmácia do Maranhão, da Faculdade de Agronomia do Maranhão, e da faculdade de Filosofia de São Luis, onde contribui para sua fundação em 1952. Ocupou muitos cargos públicos e desempenhou funções de relevo na área da educação; foi Inspetotr Regional do Ensino Comercial nos estados do Maranhão e Piauí; Diretor geral de Instrução Pública; Secretário de Educação e Culturam do Estado; Presidente da Fundação Paulo Ramos; Diretor da Escola Normal do Estado, onde empreendeu verdadeira revolução pedgógica. Foi membro fundador do Conselho Estadual de Educação, de sindicatos e associações de profissionais do ensino, do Conselho Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, e outros. Sócio da Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira no. 4; do IHGM, tendo presidido por muito tempo ambas instituições. Publicou: Meu desejo de ser útil; Questões de Educação; e Nossa sociedade e a nossa Educação; Nova Escola; Nova Educação; educação e Ensino; Cultura e Educação; Um estudo sobre classificação. Escreveu muitos artigos publicados na imprensa local e em revistas educacionais. Faleceu em São Luis em 09 de janeiro de 1987. Vaz (2009) divulgda:
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publicou em seu Blog a passagem do prof. Luis Rego pelo futebol, fase pouco
Futebol para Luiz Rego começou muito cedo; ele fazia parte das peladas da Praça Antônio Lobo, em companhia de Antônio Frazão, José Ramos, Júlio Pinto, Marcelino Conceição, Totó Passos, Fernando Viana, e outros. Jogava na ponta canhota e muitos candieiros de gás andou quebrando com seus violentos petardos. Luiz Rego nunca se esqueceu daqueles tempos de peladas, lembrando que os treinos aconteciam no corredor de um sobradão da Rua da Cruz, entre a rua do Alecrim e Santo Antônio, sob a luz de uma lamparina, às 4 horas da madrugada. Nessa época, tinha 14 anos de idade. Na Escola Normal, jogava no Espartaco, um clube formado exclusivamente por alunos daquele estabelecimento de ensino; seus colegas eram Oldir, Valdir Vinhaes, Carlos Costa, José Costa, José Ribamar Castro, Jaime Guterres, Peri Costa, e outros. E como adversário do Espartaco apareceu logo depois o “João Rego”, clube formado por Antônio Lopes, que contava com Frazão, Penaforte, Aragão, Clodomir Oliveira e Luiz Aranha. Quando passou para a Escola de Farmácia, mudou para o time dessa escola, formando com Milton Paraíso, Chareta e Frazão. 119
OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 120 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. RECORDAR É VIVER – LUIS DE MORAES REGO. In Blog do Leopoldo Vaz, quinta-feira, 05 de novembro de 2009, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/11/05/recordar-e-viver-luis-demoraes-rego/
Em 1927, quando terminou a Escola de Farmácia, o endiabrado crack passou a ser o respeitado Professor Luiz Rego. Foi diretor da Escola Normal entre 1932 e 1936, tendo sido dono da parte da educação no Governo Paulo Ramos (Diretor de Instrução Pública). A fundação de seu colégio data de 1935. No Colégio de São Luiz sempre cuidou do esporte. Incentivava a prática de jogos, organizava clubes e embaixadas esportivas, que muitas das vezes saiam de São Luís a fim de fazer grandes apresentações em outras plagas vizinhas. Graças à disposição do Professor Luiz Rego, o Colégio de São Luiz formou destacados valores do nosso esporte, dentre os quais podem ser citados Rubem Goulart, José Rosa, José Gonçalves da Silva, Luiz Gonzaga Braga, Valber Pinho, Celso Cantanhede, Americano, Sales, David, Ataliba, Tent. Paiva, Rui Moreira Lima, e muitos outros. Inclusive Dimas, que foi aluno, e depois, professor do Colégio de São Luiz … O PROFESSOR QUE A ESCOLA EXIGE PARA FORMAR INDIVIDUOS UTEIS121 Mas a escola falhará nos seus elevados desígnios e bons propósitos se não apresentar o professor com a capacidade precisa à função de ‘agente da sociedade’. A responsabilidade do feliz resultado da educação da criança cabe ao educador. [...]Precisamos na verdade de professores. Não de professores empregados públicos, mas de indivíduos identificados com a profissão, que a exerçam com dedicação e honestidade. E não sejamos insinceros fingindo ser o que não representamos. Não necessita o Maranhão, o Brasil, de professores sábios, mas que saibam ensinar. “O bom cidadão não é o que mais sabe; é o que sabendo melhor, melhor age”. [...] O profesor não deve ser talhado sob um padrão, estandardizado, quando a escola, respeitando a personalidade da criança, respeita também a do mestre. [...] 121
MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 236-238
CLODOMIR SERRA SERRÃO CARDOSO 29 de dezembro de 1879 /31 de julho de 1953122 Nasceu em São Luis em 29 de dezembro de 1879; faleceu no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1953); foi um jurista, político e escritor. Filho de José Pereira Serrão Cardoso e de Maria Benjamim Serra Cardoso. Estudou no Liceu Maranhense e na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou com distinção em 1904. Depois de formado retornou à terra natal, onde se estabeleceu como advogado e passou a atuar como jornalista, havendo, nesse período, atuado como promotor público na comarca de Maracanã, no Pará, Ingressa na política no grupo liderado pelo senador Manuel da Costa Rodrigues, que fazia oposição ao governador do Maranhão, Benedito Leite. Em 1908 foi eleito deputado estadual e, depois, foi secretário estadual de fazenda. Em 1917 foi eleito prefeito de São Luís, tendo sido sua maior realização a substituição dos lampiões de gás por iluminação elétrica. Este fato está registrado no romance Degraus do Paraíso, de Josué Montello. Em Coroa de Areia, romance de Josué Montello, Clodomir Cardoso aparece como personagem da história, quando recebe, no Senado, Aglaia, personagem de ficcção, que vai pedir a intercesseção do Senador pela soltura de seu marido, que estava preso como participante dos movimentos políticos da década de 30. Nesta parte do livro, o romancista transfere para sua personagem a descrição física do Senador, baseada na imagem que o autor guardava de Clodomir Cardoso caminhando pelas ruas de São Luis, capital do Maranhão. Foi membro fundador da Academia Maranhense de Letras, tendo ocupado a cadeira que tem Joaquim Serra como patrono. Seu sucessor foi o poeta Odilo Costa Filho. Foi professor fundador da Faculdade de Direito do Maranhão. Participou como redator e diretor do jornal A Pacotilha, sob a liderança de Fran Paxeco. Em 1925 foi eleito deputado federal pelo Maranhão, e como deputado participa dos debates sobre o mandado de segurança e apresentou projeto de lei sobre o assunto, após a reforma constitucional de 1926, que pôs fim à doutrina do habeas corpus, que consistia na ampliação do habeas corpus para amparar direitos que não o de ir e vir. O mandado de segurança foi incorporado à Constituição de 1934. Apresentou projeto de lei sobre sociedades anônimas, que foi aproveitado pelo jurista que mais tarde redigiu o texto, que foi outorgado como decreto-lei. Em 1936, foi eleito senador, havendo sido, nessa ocasião, vicepresidente do Senado Federal. Governou o Maranhão em 1945, como interventor federal, e em 1946 foi eleito senador, quando participou ativamente dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição de 1946. No Senado pronunciou muitos discursos, entre os quais o discurso de orador oficial no centenário de Rui Barbosa e o discurso que fez contra a cassação dos mandatos dos deputados e do senador comunista em 1947. Escreveu numerosos trabalhos jurídicos e literários, dos quais destaca-se o ensaio que publicou em 1926 sobre Rui Barbosa. Casou-se em 1908 com Cecília Ribeiro, filha do industrial Cândido Ribeiro, e com quem teve cinco filhos. Faleceu no Rio de Janeiro e foi sepultado no Cemitério São João Batista, naquela cidade. Bibliografia Repertório Biográfico dos Senadores (1828-1988), Senado Federal (4 volumes); Dicionário HistóricoBiográfico da Fundação Getúlio Vargas; Jornal do Comércio, Rio de Janeiro 1º de agosto 1953; O Globo, Rio de Janeiro, 1º de agosto de 1953 Trabalhos Publicados Antônio Lobo. In pacotilha. 04/07/1916. São luiz. A municipalidade de São Luiz. Tip. Teixeira, MA, 1916. A debênture num concurso de credores. J. Pires, 1917. 122
http://pt.wikipedia.org/wiki/Clodomir_Cardoso
Jubileu de r. Barbosa. Tip. Teixeira, MA, 1918. A defesa de um casamento arguido de inexistente. J. Pires, MA, 1919. Liberdade e profissão. J. Pires, MA, 1920. Dois discursos. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1922. O dr. Pedro lessa. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1922. A condição política da mulher em face constituição. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1925. Habeas corpus. Tip. Do \'Jornal do Commércio\', RJ, 1925. Os amores de Gonçalves Dias. Correio da manhã, RJ, 27/05/1927. Joaquim serra. Correio da manhã, RJ, 27/05/1938. Ao Maranhão (O São Luiz). São Luiz, 4/12/1945. RUI BARBOSA Rui Barbosa falava em nome de leis inelutáveis, pelas quais se rege o destino das instituições. Mas, ao passo que o país acolhia e conservava, na atmosfera dos ideais coletivos, a palavra quente de animação do propagandista imcomparável, o governo, estranho a esses ideais, insulado no seu egoísmo, irritava-se com o ardor das advertências que lhe chegavam e, mal as acabava de ouvir, já delas se deslembrava. No seio de certos governos, a verdade tem a sorte dos raios do sol na aridez da superfície lunar, onde a atmosfera que a envolve, se é que existe ali alguma atmosfera, não tem a virtude de os temperar, no rigor da sua atuação, e de obstar, na sua ausência, pela retenção do calor absorvido, à dureza de um contrate entre duas temperaturas extremas. A fatalidade da sua situação afundava o governo imperial nesse erro selenocentrico, de que todos os governos acabam por ser vitimas, imaginando-se capazes de levar os povos a gravitarem em torno do seu poder. E a federação veio contra a coroa e sem ela...
LUIS CARLOS BELLO PARGA123 BELLO PARGA 20 de dezembro de 1928 # 13 de maio de 2008 Filho de Lauro Nina Parga e de Gilda Belo Parga, formou-se contabilista pela Escola Técnica Federal de São Luís em 1946 e ingressou no Banco do Brasil em 1951. Membro do Conselho de Cultura do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras, foi jornalista e diretor de O Estado do Maranhão, jornal pertencente à família Sarney. Em 1948 filiou-se à UDN e lá permaneceu até a outorga do bipartidarismo em 1965 pelos militares quando optou pela ARENA. Em Brasília foi assistente do secretário particular da presidência no governo Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) até retornar ao Maranhão para assumir a presidência do banco do estado por nomeação do governador José Sarney. Ainda em seu estado presidiu a Companhia de Desenvolvimento Mineral e depois foi diretor do Banco do Nordeste do Brasil e superintendente regional do Banco do Brasil. Eleito segundo suplente na chapa de José Sarney em 1978, optou pelo PDS no retorno ao pluripartidarismo e integrou o diretório estadual da legenda. Presidente do Conselho de Ética e Disciplina Partidária, apoiou a chapa Tancredo-Sarney na sucessão de Figueiredo. Com a renúncia de José Sarney para assumir o Palácio do Planalto e a de Américo de Souza para ocupar uma cadeira no Tribunal Superior do Trabalho, foi efetivado.[1] Filiado ao PFL foi eleito suplente de Alexandre Costa em 1986 e 1994, exercendo o mandato quando o titular foi Ministro da Integração Regional no governo Itamar Franco e quando o mesmo se afastou para tratamento de saúde. Após a morte de Costa foi efetivado em 1998 abandonando a política ao final do mandato. Neto de Herculano Parga, governador do Maranhão (1914-1917). Poeta de cunho modernista124, fez parte do Grupo Ilha, de São Luis, liderado por José Sarney e Bandeiras Tribuzzi. Integrou o conselho editorial da revista Ilha, porta-voz do grupo, que pregava as ideias pósmodernistas da geração de 1945. Suas poesias esparsas foram publicadas em jornais e revistas literárias de São Luis e Fortaleza. Dedica-se atualmente (1993) a verter para o português líricas da língua inglesa. Tem inédito o livro de poesia Lira destemperada e Auto dos pastores de Belém (teatro); e em preparo, Lira alheia, traduções. Sobre a fundação de São Luís125: "Pode-se chegar a ela por qualquer uma das pontas da estrela cardeal. Basta atravessar a água. Não é preciso bússola...". 123
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bello_Parga MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 125 Os nativos tupinambás chamavam-na Ipaun-acu. Sobre a Ilha de São Luís, capital maranhense, o poeta Bello Parga declarou: "Pode-se chegar a ela por qualquer uma das pontas da estrela cardeal. Basta atravessar a água. Não é preciso bússola...". Fonte consultada: Almanaque Abril 2001 Brasil. São Paulo, Abril, 2001. http://www.aticaeducacional.com.br/htdocs/secoes/datas_hist.aspx?cod=537 124
UBIRATAN PEREIRA TEIXEIRA
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14 de outubro de 1931. Professor, crítico de arte, jornalista, ficcionista, diretor e autor de textos teatrais. Integrante de importantes movimentos culturais de São Luís, nas décadas de 1950/60 participou da SCAM – Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, do Centro Cultural Graça Aranha, fundou grupos de teatro e ministrou cursos de corpo, voz e história do teatro. Trabalhou em diversos jornais de São Luís, entre os quais, Pacotilha/O Globo, Diário do Norte, Jornal do Dia, Jornal de Bolso. Atualmente trabalha em O Estado do Maranhão, onde publica uma crônica semanal. Foi por muitos anos funcionário da Televisão Educativa onde exerceu várias funções entre as quais produtor de programas culturais, professor de TV e diretor de programas. Na infância assiste a espetáculos de circo e operatas levado pelo pai de criação. Na adolescência descobre que seu pai biologico Ubiratan Filho dirigia um grupo de teatro na cidade, e incentivado pelo tio Floriano Teixeira passa a paricipar do grupo de teatro do pintor J. Figueiredo, chamado Teatrinho dos Novos onde ficou durante três anos, quando o grupo se desfez. No Teatrinho dos Novos, estréiou no espetáculo No Reino das Sombras de Kleber Fernandes, interpretando um velho ancião. Com o fim do Teatrinho dos Novos, o velho Bira, passa por vários grupos teatrais da cidade como ator, contrarregra, ponto, entre outras atividades até ser convidado pelo médico e escritor João Mohana para participar do Teatro de Ação Católica da Arquidiocese de São Luís, onde assume a função de diretor da peça A Comédia do Coração do pernambucano E. de Paula Gonçalves, cuja qualidade técnica leva o ministro Paschoal Carlos Magno doar para Ubiratan uma bolsa de estudo em direção teatral na Itália, em 1954, onde estuda com Frederico Fellini no Instituto de Arte Dramática Pro Dei, em Roma, e, com Sílvio D’ Amico no Piccolo Teatro di Millano, em Milão. Na sua estad em Milão participa da montagem da peça Nostro Milano, dirigida por Giorgio Streller. De volta à São Luís retoma seus trabalhos Teatro de Ação Católica onde encena: - O Processo de Jesus de Diego Fabri; - A Via Sacra de Henri Ghéon; - Sibita e o Dragão de Lúcia Benedetti; - Os Inimigos não Mandam Flores de Pedro Bloch; - A Revolta dos Brinquedos de Pernambuco de Oliveira. Ao sair do Teatro de Ação Católica para continuar seus estudos de educação formal funda grupos pelos cursos onde passa e dar aulas de História do Teatro e de Interpretação no Teatro Experimental do Maranhão. Em 1995, após aposentadoria da TVE, junto com amigos funda a Associação Cultural e Beneficiente do Teatro Popular do Brasil que viabilizaria o grupo Ensaio Geral, produzindo as seguintes peças teatrais: 1995 – Natal na Praça de Henri Ghéon; 1997 – O Mistério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de Michel Ghelderode; 1998 – Lisístrata de Aristófanes; 126
MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 https://www.skoob.com.br/autor/1135-ubiratan-teixeira UBIRATAN TEIXEIRA - A poesia do cotidiano e a verve irônica de um cronista genial. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina635.htm, acessado9 em 08/05/2014 O ABANDONO DA VIDA BOÊMIA E UM CASAMENTO QUE JÁ DURA 100 ANOS. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina636.htm, acessado9 em 08/05/2014 Ubiratan Teixeira (II) - Um Mestre do Conto Moderno. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina634.htm, acessado9 em 08/05/2014 HTTP://JOSENERES.BLOGSPOT.COM.BR/2011/10/UBIRATAN-TEIXEIRA.HTML HTTP://HISTORIADOTEATROMARANHENSE.BLOGSPOT.COM.BR/2011/10/UBIRATAN-TEIXEIRA.HTML HTTP://MARANHARTE.BLOGSPOT.COM.BR/2011/10/PEDRA-PRECIOSA-UBIRATAN-TEIXEIRA.HTML
1999 – A Capital Federal de Arthur Azevedo; 2003 – Natal na Praça Henri Ghéon (com atores da cidade de Colinas). O grupo realizou ainda cursos e oficinas de corpo, voz e história do teatro e a leitura pública do texto de Oswald de Andrade “O Rei da Vela”. A novela Vela ao Crucificado em escrita em 1979, de sua autoria foi adaptada e encenada pelo escritor e diretor de teatro Wilson Martins com os grupos: Teatro Popular do Maranhão (1980) e Teatro Operário do Maranhão (1985). A novela também, foi adaptada para o cinema pelo cineasta Frederico Machado em 2009. Atualmente, além, de escrever diariamente no jornal O Estado do Maranhão é sempre convidado para participar de comissões de júri de festivais de teatro e cinema, seleção de obras e artistas em salões, mostras e encontros de arte e seleção de obras literárias em São Luís e no estado do Maranhão. O velho Bira não para, entre os seus projetos está uma coletânea sobre a obra do dramaturgo, novelista e romancista Fernando Moreira e duas coletâneas sobre suas crônicas em jornais uma sobre teatro e a outra sobre a vida cultural e política do estado. Obras sobre teatro publicadas: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1980 – Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. Tem a seguinte obra inédita em teatro: O Bequimão Prêmios: 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. Um dos principais ficcionistas maranhenses da atualidade, Ubiratan Teixeira é autor de obra contística que inclui algumas das melhores realizações desse gênero entre nós. Bibliografia: a) contos: Sol dos navegantes. São Luís: Func, 1975; Histórias de amar e morrer. São Luís: Sioge, 1978 (Prêmio Domingos Barbosa, da AML); Vela ao crucificado. São Luís: Sioge, 1979,Pessoas.Prêmio Cidade de São Luís, FUNC, 1998. b) novelas: O banquete. São Luís: Sioge [1986]; A ilha. São Luís: Func, 1998 (Prêmio Graça Aranha, do XXIII Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 1997). c) outros: Pequeno dicionário de teatro. São Luís: Dep. de Cultura do Estado, 1970 – ampliado e reeditado pelo Instituto GEIA em 2005 ; Educação artística para o 1º grau. São Luís: Secretaria de Educação, 1975; Caminho sem tempo (farsa tragédia musical). São Luís: Secma/Sioge, 1980 (Prêmio Artur Azevedo, do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís-1979); Bento e o boi (teatro). São Luís: Sioge, 1987; O teatro que fiz; o espetáculo que vi (depoimento). São Luís: Edições AML, 1989; Búli-búli (história infantil). São Luís: Edições AML, 1992. Obras Publicadas127: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1975 – Sol dos Navegantes (contos). São Luís: FUNC. 1978 – Histórias de Amar e Morrer (contos). São Luís: SIOGE. 1979 – Vela ao Crucificado (novela). São Luís: SIOGE. 1980–Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Banquete (novela). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 1998 – Pessoas (conto). São Luís: FUNC. 127
http://maranharte.blogspot.com.br/2011/10/pedra-preciosa-ubiratan-teixeira.html
1998 – A Ilha (novela). São Luís: FUNC. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. 2009 – Labirinto (romance). São Luís: Editorial SECMA. 2010 – Vela ao Crucificado (reedição acrescida de roteiro para teatro de Wilson Martins e para cinema de Frederico Machado. São Luís: SECMA. 2010 – Diário de Campo (crônicas). São Luís: Ética Editora. Tem as seguintes obras inéditas: O Bequimão (teatro), O Alçapão da Ilha (romance) e O Sônio (novela). Ao longo da sua carreira recebeu os prêmios: 1976 – Prêmio Academia Maranhense de Letras pela novela O Sônho. 1978 – Prêmio Domingos Barbosa da Academia Maranhense de Letras pelos contos Histórias de Amar e de Morrer. 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. 1997 – Prêmio Graça Aranha do XXIII Concurso Literário e
VIDA LONGA AO "CURTA" - TEXTO DE UBIRATAN TEIXEIRA 128 "Passei o fin da ùltima semana respirando o ar menos contaminado dos Lençóis Maranhenses, no portal da região que é Barreirinhas - indo daqui pra là, bando de quizilhentos. Não fui mergulhar nas lagoas naturais nem me lambrecar de areia ou cavalgar de "toyota" pelas dunas (prática de outros lençóis de areia neste não permitida), mas participar do primeiro "Curta Lençóis", criação desse lírico desvairado que é Euclides Moreira Neto, Diretor do Departarnento de Assuntos Culturais - DAC - da Universidade Federal do Maranhão. Um rendez vous despido das tradicionais lantejoulas de brilho efêmero, aquele que faz o prato cheio dos paparazis da vida; neste presente, a fonte de luz brotava mesmo era da cabeça de cada participante que ancorou no encontro esbanjando idéias malinas de hlcidas linguagens, trazendo para 0 grupo ali reunido um Brasil que nao lula. Nomes inteiramente desconhecidos para a imprensa do descartavel, personalidades que fazem a diferença e conferem sentido e dignidade à linguagem cinematogrâfica, criadores de fomo e fogao coma Marcio Cavalcante, May Waddington, Aurora Miranda, Euzébio Zloccowck, Mârcia Paraiso, Carlos Normando, Ana Paula, os mais diferentes e autênticos sotaques deste pais continental, dos pampas aos carrascais nordestino, responsáveis por esse magnífico encontro de pequenas obras-primas que nem o mais isento e frio analista pode deixar de vibrar e aplaudir, como o caso do delicado trisquinho de bom gosto que foi o A última gota, um minimal de um minuto e cinco segundos de duração sintetizando o que será a angùstia de todo um planeta quando o último pingo d'água se evaporar da face da terra. Por que instalar um evento dessa dimensão num sítio tão distante da última sala de projeção do planeta, onde a comunidade nunca viu um cinema, onde os jomais diários impressos nunca chegarn, afastada milhares de léguas da última banca de revistas, com apenas dois canais de televisão com imagem xué, devem questionar os ansiosos. É que Barreirinhas existe - e como! É como deve ter pensado corn lucidez o fofo diretor do DAC da Universidade Federal. E em termos universais tem o mesmo peso ecológico dos Alpes Suiços e das cataratas do Niágara ou dos Parques Temáticos do Kenya. Levando este lúcido grupo de realizadores até essa banda do litoral maranhense (hoje acuada por investidores sedentos de euros e dóIares), Euclides Moreira Neto tenta reunir preciosas parcerias que possarn discutir (de forma politicamente isenta e lúcida a região que já começou a ser violentada de diferentes maneiras; quer saber como e sentir uma beiradinha insignificante? Pela manhã não se toma mais café corn beiju, mas corn tapioca, a galinha caipira desapareceu das mesas de refeição, a "cozinha" vai se sulificando (se tem maranhensidade por que não haver sulificação?) 0 sorvete que se consome é da "Quibon", pouca gente sabe o que sarrabulho, rebuçado não existe mais, a linguagem perdendo o vocabulário nativo e até mesmo nosso bom sotaque - na terra onde o buriti abunda, você não encontra um doce de buriti decente e se quiser se deliciar corn um autêntico, legítimo e saboroso picolé de juçara, tem que vir na minha casa. Com tanta e poderosa manifestação nativa que certamente ainda persiste na comunidade e vizinha ao boi de Morros e ao de Axixá, o que foi trazido por um estabelecimento de ensino local para encerrarnento festivo do evento? 128
Ubiratan Teixeira - O Estado do Maranhéao , página 6 do caderno Alternativo do dia 20 de junho de 2008. Disponível em http://delirioplaneta.blogspot.com.br/2008/06/vida-loga-ao-curta-ubiratan-teixeira.html
Uma roda de capoeira. Instalando-se em Barreirinhas e enfocando questôes ambientais como as discutidas por Mârcio Sérgio no seu bem produzido Entre os lençois, Marilia de Laroche com um lùcido 0 Mundo em maus Lençóis, Weber Santana mostrando até onde vai nossa irracionalidade corn Rio ltapecuru, Aurora Miranda confirmando-se em Coraçâo Raiz, é possivel que o sistema ainda possa pora a mão na consciência (se é que exista algum político comprometido corn causas justas e tenham consciência racional) e repensar alguns dos prograrnas de palanque traçados à revelia do bom senso. Não estou entrando no mérito da discussão dos ecologistas que questionarn, com ira justa, a construçao da MA 402, talvez a rodovia mais confortável e mais bem conservada de toda a malha viária maranhense - mas o leitor já tentou enfiar um piercing infeccionado no lugar errado do seu corpo? Nem quero questionar o Ibama, impotente e acovardado diante da multidão de carteiradas de que deve ser vítima (ou mesmo pegando por baixo dos panos a sua "parte"), que se faz de cego e mouco diante das mansões que vão sendo construidas de forma inadequada às margens do rio Preguiças, as "avoadeiras" vomitando óleo desvairadamente na via fluvial (já não se consome o bom e saudável peixe da região, morto ou enxotado pela intervenção estranha), nem a inevitável instalação da plataforma de exploração de petróleo que a Petrobrâs fará dentro de mais algumas semanas para aproveitar a fartura do produto entranhado nas falésias por baixo da bacia sedimentar da região (eu trabalhava na Petrobrás nos anos 60 do século passado, e num certo fim de tarde, batendo corn os nós dos dedos sobre um mapa do litoral maranhense, mister Bus, chefe da Schluinberger no Maranhão me falava de modo profético: "Jomalista; dentro de poucos anos, quando o petróleo de em cima estiver se esgotando, os conterrâneos vão mudar a paisagem de vocês igualzinho como fizeram com a Venezuela." – Não é agora que estão sacando que a bacia de Barreirinhas está afogada no ouro negro: Tio Sam já sabia, a empresa francesa de prospecção sísnica já sabia, os grandes cartéis sempre souberam. Donde devemos curtir Lençóis enquanto estiver curtível: inclusive corn o "Curta Lençóis", esta boa e saudável iniciativa desse brilhante produtor cultural que é Euclides Moreira Neto".
Invocando o poeta129 Poeta e parceiro da Academia de Letras, José Sarney: quem vos fala não é o eleitor eternamente de plantão nem o operário de longas datas deste ofício sem relógio de ponto de sua empresa jornalística. Mas aquele parceiro de fins de tarde da Movelaria Guanabara onde nos encontrávamos para discutir arte em todos os gêneros e bulinar as operárias de Pedro Paiva; de onde saíamos nas badaladas das seis dos sinos da Sé e do Carmo, uns para os bares e outros para o aconchego da família, onde você era um destes. É o velho índio turrão, que de joelhos vem te implorar uma graça. Durante a celebração dos meus oitenta anos de vida, no aconchego daquela capela a cavaleiro no morro da Alemanha, abraçado pela família, mulher, filhos, netos, bisnetos e alguns dos vizinhos mais íntimos, no balanço do que fui e fiz concluí que não sou esse vencedor que muitos insistem propalar; escrevi alguns livros que não vendi, montei alguns espetáculos que raros viram, fui corpo, alma e engrenagem de um dos projetos de educação mais lúcido já montados neste país, que prometia colocar o Maranhão na vanguarda dos povos civilizados do planeta, mas isso incomodou os poderosos e mandaram a Televisão Educativa e de cambulhada o Centro Educacional do Maranhão, CEMA, para a lixeira mais infecta do planeta, considerando-se que hoje ninguém nem se lembra mais desse momento histórico de nossa cultura humanística. Sou um despido racional que ousa. Mesmo porque as pessoas estão me perguntando com muita insistência o que acho sobre o desmoronamento do nosso patrimônio arquitetônico. Não tem a lenda daquela criança que evitou a destruição da Holanda enfiando seu dedinho no buraco do dique? Pois é. É verdade que o outro, o bíblico, codinome David, tinha a benção de Deus quando enfrentou a arrogância belicosa de Golias, empunhando apenas uma frágil funda. Minha visão humanitária não chega nem na sola do chulé daquela criança holandesa e minha relação com o Criador está distante anos/luz da de Davi & o Senhor do Universo. Por isso, ouso pedir ao poeta; não ao Senador da República ou ao ex-presidente ou ex-governador ou ao arquiteto político todo poderoso deste país, mas ao homem de letras, ao poeta de rara sensibilidade, apreciador esmerado da boa arte: não permita, bom homem, que nossa cidade se dissolva, que sua rica arquitetura se transforme num monte de escombros, que sua memória cultural venha abaixo. Não importa a nós, pessoas comuns, mas de sensibilidade, que amamos apaixonadamente esta São Luís de históricos 129
Fonte: Jornal: O Estado do Maranhão (21 de Outubro de 201) Hoje é dia de…Ubiratan Teixeira.
momentos, que os casarões do Centro Histórico e a riqueza cultural que eles encerram vire um documento cibernético, se transforme numa “semente digital” como está anunciando o Centro de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Que essa preciosa ideia de nossa universidade Federal seja o instrumento que vá nos tornar ainda mais vivos em todos os recantos do planeta, e fora dele. Mas precisamos mesmo é que nosso Centro Histórico permaneça de pé em pedra e cal, com seus cheiros característicos, com o reflexo do por do sol e das noites de lua sobre os azulejos e nos beirais dos sobrados, as fachadas quatrocentonas deslumbrando os visitantes, nossas lendas descendo becos e subindo mirantes. Todos nós sabemos, do mais humilde gari ao empresário mais bem sucedido, que socorrer um desses tesouros arquitetônicos não é para qualquer conta bancária de mediano porte; mas, por outro lado, sabe-se por portas e travessas que existe uma ONG européia interessada em recuperar essas ruínas em troca de apenas três sobradões a escolha deles: o que querem fazer desse patrimônio? Só o tinhoso sabe. Mas penso que os três sobradões, no caso, terão o mesmo peso que os bois de piranha; três vacas magras em troca da manada inteira. Por outro lado, meu poeta, foi você mesmo que nos revelou, no seu artigo de domingo passado, 16, em “Crise, Brasil e Maranhão” que “no Maranhão, no balanço da economia dos estados, estamos numa fase extraordinária de crescimento e progresso”. E depois, sabemos que o agronegócio avança no Maranhão e que é público e notório que estamos caminhando muito bem para superar nossas dificuldades econômicas. Ou é treta a instalação dos grandes projetos industriais em nosso Estado e o novo berço que a Petrobras abre no Itaqui é para ninar recursos? E depois, poeta, já pensou no tipo de julgamento que a história fará sobre nós? Que se essa derrocada acontecer justamente num período de tempo em que fomos reconhecidos pela UNESCO e que nosso bumba meu boi virou código de barra internacional? E no momento em que a obra de arte de Cosme Martins, Cordeiro e um punhados de outros excelentes artistas plásticos está sendo disputada pelo consumidor europeu e norte americano e outros dos nossos talentosos conterrâneos estão começando a integrar hora o coro de filarmônicas famosas na Polônia hora o elenco da maior companhia de dança do Ocidente, que é o Bolshoi de Moscou, ninguém nos perdoará. Ajude a nós em desespero poeta! Precisava estar presente à última reunião de nossa Academia de Letras para ter visto a cara desanimada e triste de seus confrades diante desse mural cruel que se desenha diante de todos nós. Sabemos que o que está acontecendo tem muito que ver com a maldição lançada por Vieira quando deixava o Maranhão em 1661 sob a pressão dos senhores de engenho: “Nessa terra que amaldiçoou não ficará pedra sobre pedra” – bradou o clérigo cuspindo fagulhas e segurando seu rosário de cima do batel que o conduziria de retorno a Portugal. Mas a estas alturas lembro ao poeta que esta cidade nunca se esquece de uma outra situação bem semelhante, quando um jovem governador, reuniu no Itaquí a nata dos Pais e Mães de Santo do Estado, nos anos 60 do século passado para negociar com Mãe Ina permissão para continuar a construção do porto; cujas estacas estariam prejudicando o teto do palácio da Entidade em razão do que ela estava sequestrando a alma dos mergulhadores. E que depois daquela desobriga magnífica os trabalhos seguiram com normalidade. Até hoje. Que a maldição de Vieira, meu poeta, não se concretize. As palavras do padre/profeta não devem ser mais poderosas que a ira da Entidade do mar; que você venceu. Reúna novamente seus orixás e solte sua palavra: que é poderosa. Mas não permita que o anunciado aconteça. O Poeta tem o poder.
FRANCISCO GAUDENCIO SABBAS DA COSTA130 05 de dezembro de 1829 # outubro de 1874 Jornalista, poeta, romancista, teatrólogo. Uma das glorias do Maranhão, que tanto se elevou nomteatro, antes de Artur Azevedo.nUm dos fundadores do Semamnário Maranhense, em 1867, jornal onde publicou novelas apreciadas, folhetins e a história do Teatro são Luis. Colaborou no romance Casca d caneleira com o psudonimo de Galondom de Bivar. Seu drama o anjo do Mal foi elogiado por Joaquim Serra, que o considerou “uma boa nova para a literatura dramática brasileira, com diálogos bem traçados, muita imaginação e finura”. Em sua casa se realizavam saraus litero-musicais que marcaram época. O escritor não teve vida longa, tendo perecido ainda jovem, aos 45 anos. Sobre a sua genealogia e biografia pessoal apresento (PALHANO, 2012)131 um rápido perfil, começando pelo fato conhecido de ter desposado a soprano italiana Margarida Pinelli Sachero, prima-donna da Companhia Lírica Marinangelli, da Itália. Nessa época, meados do século XIX, vinham da Europa para São Luís muitas companhias líricas, óperas, entre outras, com seus sopranos, prima-donnas e barítonos. Margarida era casada com Melchior Sachero, tenor italiano que faleceu em Belém, vítima de febre amarela, após temporada em São Luís, cidade onde Margarida conhecera Sabbas e fizera amizades, vindo então ali se radicar em decorrência do matrimônio com o teatrólogo maranhense. Sabe-se pouco sobre a trajetória profissional de Sabbas da Costa, além de suas atividades artísticas nas áreas da literatura e do jornalismo. Outro fato conhecido é que foi conferente nas Alfândegas de São Luís e Belém e que pertencera ao tronco familiar do português João Gualberto da Costa, conforme César Marques Outra atividade de Sabbas da Costa, no campo empresarial, refere-se à sua participação em Exposições mercantis. É conhecido o fato de o Maranhão ter se destacado na realização de Exposições. As primeiras Exposições Universais foram as de Londres(1851 e 1862) e Paris(1855 e 1867). A Exposição do Maranhão realizou-se em 1871, denominada Festa Popular do Trabalho. O Patrono figura como um dos promotores da Exposição maranhense. A primeira Exposição Nacional só viria a acontecer em 1896. Sabbas integrou o primeiro Grupo Maranhense, cujo recorte temporal correspondeu ao período de 1832-1868, tendo o Romantismo como princípio estético. Dele fizeram parte os principais ícones da nova elite cultural local: Gonçalves Dias, Odorico Mendes, João Lisboa, Sotero dos Reis, Trajano Galvão, Belarmino de Matos, Sousândrade, Gentil Braga, Gomes de Sousa, Henriques Leal, César Marques, Candido Mendes, entre outros. Levantamentos, ainda incompletos, sobre a produção intelectual de Sabbas da Costa revelam as seguintes obras, tidas como as principais de sua lavra: (1)Francisco II ou a Liberdade na Itália, drama em 5 atos, 1861(1881); (2)Pedro V ou o Moço Velho, drama em 5 atos, 1862; (3)A Buena-Dicha, comédia em 2 atos, prólogo e epílogo, 1862; (4)O Escritor Público, comédia em 1 ato, 1862; (5)Garibaldi ou o seu Primeiro Amor(6)O Barão de Oyapock, drama em 3 atos e prólogo, 1863; (7)Beckman, drama histórico em 7 atos, 1866; (8)Anjo do Mal, drama, 1867; (9)Os Bacharéis, comédia em 3 atos, 1870; (10)O Amor Fatal, (11)Rosina, romance; (12)Revolta, romance histórico; (13)Os Amigos, romance, em 25 capítulos; (14)Jovita, novela, em 3 capítulos; (15)Jacy A Lenda Maranhense, esboço de romance, em 14 capítulos. Outras obras publicadas em jornais da época também podem ser destacadas: (a)O Encontro; (b)Teatro de São Luís; (c)Como Nasce o Amor; (d)Simão Oceano; (e)A Madrugada; (f)Maria do Coração de Jesus; (g)O Baile; (h)O Dote; (i)O Adeus; (j)Não Brinques; (k)Sinfrônio; (l)O Homem do Mal; e (m)Encontro de Ronda com a Justiça; entre as que foram possível mapear. A produção literária de sua autoria mais conhecida destaca as obras Jacy, a respeito do extermínio de índios e suas lutas contra os opressores, principalmente os proprietários rurais; o romance Jovita, sobre uma jovem cearense que se inscreve no antigo Batalhão dos Voluntários do Piauí; o romance Os Amigos, que 130
RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001. 131 PALHANO, Raimundo. ELOGIO AO PATRONO – SABBAS DA COSTA E AS CIRCUNSTÂNCIAS DA HISTÓRIA SOCIAL DO MARANHÃO, Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 25, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012. DISCURSO DE POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO.
alguns também classificam como crônicas, nas quais aborda a situação do comércio, das casas de alimentação, suas leituras preferidas e aspectos da vida cultural maranhense. Foi colaborador em A Casca da Caneleira, figurando, sob o pseudônimo de Golodron de Bivac, como um dos onze autores da obra, em 13 capítulos, todos os autores vinculados à escola Romântica, que também recorreram a pseudônimos. Trata-se de uma novela coletiva maranhense, ou, para os autores, uma escrita para puro divertimento, um passatempo literário. Joaquim Serra e Gentil Braga, figuras respeitadas como folhetinistas, escreveram sob os pseudônimos de Pietro de Castellamares e Flávio Reimar, respectivamente. Boa parte da obra do Patrono foi publicada pelo Semanário Maranhense, periódico que, nos seus 54 números, divulgou a cultura maranhense, tendo como colaboradores quadros como Antonio Henriques Leal, Celso Magalhães, César Marques, Gentil Homem Almeida Braga, Joaquim Sousândrade, Joaquim Serra, Pedro Nunes Leal, Teófilo Dias, e outros tantos, todos notabilizados pela contribuição literária e cultural deixada para a posteridade. Para parte da crítica Sabbas foi um dos primeiros a introduzir o interesse pela literatura folhetinesca, como vinha acontecendo no Rio de Janeiro. Por isso, alguns epígonos o classificam como o fundador da novelística na Província, pois os outros prosadores de ficção virão somente após ele, sendo Gonçalves Dias a única exceção, posto que desde 1842 trabalhava na produção da sua Memórias de Agapito. Não há, todavia consenso sobre isso. Críticos há que não enxergam em Sabbas tal pioneirismo, pois consideram menor o valor de sua obra literária no aludido gênero. O romance Os Amigos, com 25 capítulos e a novela Jovita, com apenas 3 capítulos, são as obras que levaram Sabbas à condição de fundador da novelística e do folhetim na Província. Publicou novelas, folhetins e história do Teatro São Luís, mesmo dividindo opiniões entre os que apreciavam a sua arte e os que não o faziam. O drama de sua autoria Anjo do Mal foi elogiado por Joaquim Serra. Quem escrevia peças então eram Joaquim Serra, Gentil Homem, Celso Magalhães, Euclides Faria, Artur e Aluísio Azevedo, João Afonso Nascimento. Isto em meados do século XIX. Deve-se destacar, por oportuno, que Sabbas da Costa era também um dos que escreviam no Jornal de Timon (1852-1855), de João Francisco Lisboa, publicado pela Tipografia de Belarmino de Matos. A marca destacada de sua biografia intelectual liga-se ao teatro. Foi um dos precursores do teatro maranhense, antes de Artur Azevedo. Sua obra, no campo da dramaturgia, é das mais copiosas, incluindo-se aqui o seu trabalho de crítico teatral e animador cultural. JACY132 O Brasil é grande, é rico, imenso! Encerra verdadeiras maravilhas em sua vastidão ainda inabitada; como incalculável riquezas no seu abundante solo! Tem o belo e o sublimeentretecido com o prodigioso dessa poesia virgem, santa, imaculada como sebe ser a da natiureza em geral. Aprimavera aqui é eterna! O sol surge e oculta-se, raras vezes sendo embaciado do seu brilho; tm luz radiante e clara; livre de nuvens pejadas de tempestade e nevoeiros da terra! O céu é límpido.; o azul é claro de um actinado diáfano, encantador.Não há céu mais belo, nem amis cheio de fulgores. [...]
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Semanário Maranhense, Ed. De 1º de setembro de 1867 – Lenda maranhense – esboço de um romance, apresentação.
LAURO BOCAYUVA LEITE FILHO133 19 de dezembro de 1937 Estudou no Colegio São Luis Dedicou-se desde cedo ao jornalismo, tendo trabalhado ainda em Teresina, atuando como radialista. Em 1967, publicou Letra Fria / Sentir, livro de poesia, integrando a geração 60, posterior à de Nauro Machado e contemporânea de Déo Silva e de José Maria Nascimento. Em 1987, ao completar 50 anos de idade, publicou Os Filhos de Dom Quixote, e um texto dramatúrgico, Maslenitsa, instituído nesse ano pela Secretaria de Cultura do Maranhão. Trabalhou como Assessor de Comunicação da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão e recebeu premiação, em 1970, em concurso realizado pela Academia Maranhense de Letras. Mora em São Luís. Os tempos134 Tinha uma porção de anjos segurando o algodão daquela nuvem branca; e o que pintou de azul o fundo, manchou de cinza o fim dos nossos olhos e nos beijamos. Tinha um lago calmo e o vento sussurrava malícias, o peixe prata luar de agosto saltou e nos amamos. Tinha o fogo dos infernos, um Lucifer danado e homens se matando; eu tinha lágrimas nos olhos e tu também choravas quando nos deixamos. Ironia Lúcida Agora é tempo de sorrir e ser de novo o garoto das compras e dos recados Agora é tempo de fingir que nada valem os eternos fundilhos remendados. Agora é tempo de esquecer as lágrimas - engoli-las de uma vez! – e voltar à surdez da ignorância, pois já me afogo em tanta ironia, pois não suporto ter-me em consciência e já não quero amar-me em lucidez. (Os Filhos de Dom Quixote/1987) 133
SOUSA, Paulo Melo. In ALÇA DE MIRA, ,11 de julho de 2008, Suplemento JP Turismo, disponível em http://jornalpequeno.com.br/edicao/2008/07/11/alca-de-mira-150/ , acessado em 13/05/2014. BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 134 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lauro_leite.html
BENEDITO JOSÉ MARTINS COSTA FERREIRA135 27 de novembro de 1950 (em registro) / data correta é 27 de novembro de 1949. Sou Ludovicence (nascido na ilha de São Luis Capital do Estado do Maranhão) e aqui continuo a residir. Em realidade não resolvi (ser escritor), apenas aconteceu. Sempre gostei de leituras diversas, escrever, tendo começado a leitura com romances e lia muito Machado de Assis, José de Alencar, Augusto dos Anjos e quando comecei a achar que o que lia não estava mais a interessar, (vejam só), parei e passei já em tenra idade a escrever o que achava que deveria ser escrito pelo que vivia isto já com mais ou menos 08(oito) anos. Chamava de “rabiscos” e depois que lia achava sempre que eram bobagens. Parecia-me muito “meloso”, ou seja, palavras muito carinhosas e entendia que as pessoas não gostariam e sempre guardava os escritos pensando que um dia ainda faria meu livro. Estou com o meu primeiro livro pronto, escrito em duas mãos, pois foi surpresa descobrir que minha filha mais nova também tem o dom da escrita e do romantismo.O título do meu primeiro livro chama-se PEDAÇOS DE VIDA.... MEUS,TEUS. Estou a fazer leitura com calma, as correções e antes do final deste ano com toda a certeza farei o lançamento. É uma satisfação pessoal. Enquanto não chega o viver pela arte, que é do que escrevo, continuo como cooperativista, a fazer parte do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Maranhão, representando o cooperativismo maranhense junto à JUCEMA(Junta Comercial do Estado do Maranhão),como Conselheiro Vogal, palestrante e consultor cooperativista, Empresário do ramo de prestação de serviços, Contador. Recanto(www.recantodasletras.com.br/autores/bjferrado. Não, ainda não (tem livro publicado, o meu primeiro será ainda este ano e o título PEDAÇOS DE VIDA.....MEUS, TEUS. 135
AUER, Eliane Queiroz. ENTREVISTA -Poeta ludovicense -Benedito C.Ferreira. quarta-feira, 16 de janeiro de 2013. Entrevista cedida à Diretora de Divulgação da Academia Mateense de Letras -AMALETRAS- São Mateus –ES, Eliane Queiroz Auer, disponível em http://amaletrasm.blogspot.com.br/2013/01/entrevista-poeta-ludovicense-benedito.html, acessado em 16/05/2014.
OSWALDINO RIBEIRO MARQUES136 17 de outubro de 1916 # Brasilia, 13 de maio de 2003 Em sua terra natal, Oswaldino Marques escreveu seu primeiro artigo para a imprensa (sobre futebol) e fundou o Cenáculo Graça Aranha, onde eram discutidas as idéias modernistas. Em 1936, mudou-se para o Distrito Federal. Um dos fundadores da UNE, trabalhou como bibliotecário e tradutor, tendo sido um dos responsáveis pela divulgação da poesia moderna estadunidense no Brasil. Em 1965, mudou-se para Brasília onde assumiu a cátedra de Teoria da Literatura na Universidade de Brasília (UnB). Todavia, com o agravamento da ditadura militar no Brasil, pediu demissão do cargo. Durante um período de cinco anos, chegou a dar aulas em Madson, Wisconsin, EUA. Reintegrado à UnB em 1991 pelo reitor Cristovam Buarque, Marques viveu os últimos anos praticamente isolado em seu apartamento em Brasília, onde dedicava seus dias à leitura e a audição de discos de música clássica. Em 1999, numa entrevista ao Correio Braziliense, afirmou que desconhecia "a Internet e essas coisas todas". Ateu, deixou registrado em cartório que não desejava qualquer tipo de cerimônia religiosa quando de seu sepultamento, o que foi seguido à risca por seus filhos..[1] 136
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswaldino_Ribeiro_Marques CARNEIRO, Alberico. O POETA OSWALDINO MARQUES FUNDADOR DO MODERNISMO MARANHENSE. In GUESSA ERRANTE, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/o-poeta-oswaldino-marques-fundador-domodernismo-maranhense-5453.htm http://severino-neto.blogspot.com.br/2012/03/poesia-segundo-oswaldino-marques.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/1omarques01c.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/O-sonho-ressonhado-na-poesia-de-Oswaldino-Marques/
Para Assis Brasil (1994)137, na decada de 1930, através do Cenáculo Graça Aranha:
[...] tentava infundir na provincia as novas ideias esteticas do Modernismo de 1922. Estreando com Poemas quase dissolutos, os críticos literários vão situá-lo na Geração de 45, que corresponderia, no Maranhão, em comparação ligeira., à Geração de 50, a que de fato estabeleceu uma dimensão nova para a poesia.
Obras: Poemas Quase Dissolutos, 1946; Cantos de Walt Whitman, 1946; A dançarina e o horizonte (1977). LIED Perdido em devaneios no extenso litoral, Só e timido sob a ampla e concava tarde, Plena do grave coral das vagas estuantes E do ritmo violento das avidas gaivotas, Voltei meus olhos espantados para ti, ó sol, E me deixei banhar nas tuas cascatas cintilantes. Lá poderia ter-me envolvido na sobra violácea das montanhas E à hora do poente cingir-me com uma coroa de estrelas. Lá poderia ter-me dissipado na bruma da ressaca, Ou insensivelmente aceitar dos rochedos o doce convite à inconciencia. Ou fragmentar-me em limpidas conchas e refletir teus raios criadores. Tive forças, porém, para te abandonar. Parti – sobre a areia deixei apenas o nome de alguém escrito. (Poemas quase dissolutos/1946) POEMA OSCILANTE COM DELÍRIO No volátil abril Labaredas e espelho Oscilo no gume de lúcida viagem. Aderno, de chofre, Ao refugir-me o passo Ao fluido cardume De vôos altos pássaros Frechados para o azul Aos gritos sobre a espuma De uma mar paralisado Que se recrispa e espluma. É o doido tonteio Do sonho ressonhado Em pleno meio-fio Sob o céu rasgado 137
BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; são Luis: SIOGE, 1994, p. 111-113 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/oswadino_marques.html
De onde jorra o êxtase Labareda e espelho Sobre o homem que sangra No abril delirante. Soneto Branco
SONETO BRANCO Esse rugir do mar não te transporta Para antes dos anjos, dos mitos ofuscados? Não te remete a paragens anteriores Nos rios de cinza, às chuvas de granizo? Esse longo rolar de vozes graves Não te despoja d’ódio convulsivo? Não te faz esquecer o desenlace Das fontes, da brancura das origens? Pois a mim me faz recuar a auroras De êxtases, cantigas e presságios Com violinos comovendo feras, E cruzeiros de aves, as redes se abrindo No alto, ameaçando peixes e estrelas, — Oh, penedos! Oh, ventos! Oh, nostalgia!
REGINALDO TELLES DE SOUSA 15 de novembro de 1925 Estudou o Primário em Fortaleza e o Secundário no Liceu Maranhense, em São Luís, diplomou-se em Direito na capital do Maranhão em 1952. Foi vereador da Câmara Municipal de São Luís e chefe de assessoria jurídica da prefeitura da referida cidade (FARIA, 2005)138 Em 2013, Reginaldo Telles lançou um livro de poesias – Encontro necessário (Legenda), organizado por mim, e depois entregue a Jomar Moraes para editar. De sua apresentação escrevi139: UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA A Professora Denise Martins de Araújo chamou-me à sua sala, na Academia Viva Água: Leopoldo preciso que edite um livro de poesias. De meu sogro Reginaldo Telles. Você o conhece? - Sim, o pai do Osvaldo e da Regina; - Sim, o político, ligado ao Dr. Jackson e ao Neiva Moreira; já fomos apresentados, quando da ida do Dr. Jackson ao bairro onde moro, levados pelo Julião Amim, há muitos anos... - Sim, o jornalista brilhante, de uma geração em que se fazia um jornalismo sério, sem paixão – sem a paixão político-partidária, a soldo de quem paga mais para ‘criar’ verdades e macular biografias... - Não. Não conheço o poeta! Mas sei que todo maranhense nasce poeta. Que todo poeta busca no jornalismo um meio de sobrevivência, para poder poetar... Existem meios, hoje, fugindo às ‘panelinhas’ e ‘q-i´s” tão imperiosos de nossas letras e órgãos culturais, de que só os amigos (dos poderosos de plantão) têm acesso ao ‘jabá’ de publicar... Podemos buscar uma dessas editoras alternativas, e mediante alguns reais, publicar uma edição comemorativa, de apresentação, do novo poeta do Maranhão. Conhecendo a história de vida do novel menestrel, preferiria essa alternativa, a que se submeter aos perigos do ‘compadrio político’. Seus filhos bancariam, fraternalmente, a edição... Uma justa homenagem a quem lhes deu a vida, um nome honrado, um orgulho... Fui apresentado, novamente, ao Reginaldo Telles. Conversamos um pouco. Ele me confiou uma pasta, amarela, com seus poemas... Alguns, em papel já amarelados pelo tempo de vida, manuscritos; outros, datilografados; e outros ainda, já digitados... Numerados, em dada ordem... Perguntando sobre quando os fez, disse-me que desde os tempos de adolescência que canta suas musas. Dos tempos do velho Liceu Maranhense, e o surgimento dos primeiros jornais estudantis, em que ousou dar a público suas primeiras poesias. Os poemas aqui listados foram cantos às musas, ao longo de toda uma vida. Os havia dos tempos de estudante, como dos tempos de jornalista militante, dos tempos de advogado atuante, dos tempos atuais... Alguns, do tempo de solteiro, em que a pena buscava descrever os amores juvenis. Muitos não correspondidos. Outros, corridos... Mas a maioria, feitos depois do namoro, noivado, casamento com a mãe de seus filhos – a derradeira e verdadeira musa, que ao poeta encanta e a quem o poeta canta... Leu-me alguns. Emocionado. Aos do tempo da juventude, com lágrimas a rolar as faces marcadas pelo tempo. Mas as lembranças permanecem vivas, como se tivessem acontecendo naquele momento, o encantamento... Pergunto: - “quem foi Elis?” sorri, disfarça, olha para a nora e o neto... os olhos marejam... E em resposta diz: “como sabes de Elis?” Respondo: “já li seus poemas...” e fiquei intrigado: “quem foi Elis?” retomo... sorri, pega o calhamaço de poesias, e seleciona uma: fala de Elis; outra, que também fala de Elis... Mas não responde: “quem foi Elis?” ou “o que foi Elis...” Não precisa responder. Basta sentir a emoção em declamar “Agora, é a frustração [...] agora, é o fracasso [...] agora, é a sensação de viuvez [...] agora, é o sino sem som [...] agora, é a solidão...” ou ‘está dando cupim dentro de mim [...] é assim na “ausência de Elis...” Mar, sol, sal, solidão... Uma constante. 138
FARIA, Regina Helena Martins de; BUZAR, Benedito Bogéa. Apêndice C: Índice de verbetes de pessoas citadas nas entrevistas. In.: FARIA, Regina Helena M. de; MONTENEGRO, Antonio Torres (Orgs.). Memória de professores: histórias da UFMA e outras histórias. São Luís: UFMA; Dep. de História; Brasília: CNPq, 2005.p. 559-611. 139 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA. In TELLES, Reginaldo. ENCONTRO NECESSÁRIO. São Luis: Legenda, 2013, p. 11-14.
Enquanto lê mais alguns, seu neto Vitor pega do celular, coloca no modo ‘gravar’ e o dispõe sobre a mesa... Quer guardar esse momento, do encontro do Neto com o (passado do) Avô, sabendo, agora, que além de tudo que construiu na vida, ainda é Poeta... Gostou do que ouviu - e disse ao Avô. Ambos se olharam, emocionados, com os olhos cheios d´água... Quebro esse clima de confraternização, e de cumplicidade: Vitor também queria saber quem era Elis... Faço algumas perguntas. Se não poderia colocá-los em ordem cronológica... Fala dos tempos do Liceu... Pergunto sobre Sarney e sua militância estudantil, os jornais; disfarça, muda de assunto. Fala de poesia. Percebo que o político e o jornalista ficam para outro momento. Este é o do Poeta.
“Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! / Alça teu vôo pelo espaço e nas alturas, / Recorda o teu passado e, em teu presente, vence, / Batendo o ostracismo e as sombras mais escuras [...] Acorda Mocidade! Acorda Maranhão! / E mostra que depois de sonhos, despertado / Sorrís, como um Gigante, um Gigante ateniense / Que vem haurir num templo imenso edificado”. (SOUSA, 1945)140 VOCAÇÃO141 O poder de amar na mulher É muito maior do que em geral Se imagina Através dos seios ela se dá À espécie e ao mundo, E acolhe a mensagem da vida Na vagina. A RETA A reta é linha monótona Fria, deserta, isenta de dons Nada impede que se acabe, E desabe no infinito sem fim Não te oásis, nem miragem, nem tempestade de areia a reta é negra seta, direta coisa incompleta, desumana Areta sem coração, não pulsa, não sente É invenção do homem triste, Inexistente, é coisa estática Abstração matemática. CARTA AO TEMPO Saudade Dos tempos de Tupinambá: Minhas raízes São Luis 1612 Que nostalgia incontida Que vontade de viver 200 anos até E de te ter também aos noventa 140
BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais. v.2 n.3 jan/jul, São Luis/MA, 2005, disponível em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_content&view=article&id=172&catid=54&Itemid=114, acessado em 08/05/2014. 141 TELLES, Reginaldo. ENCONTRO NECESSÁRIO. São Luis: Legenda, 2013
Amamentando um filho meu: Rebento de amor Nas horas de relógio Sem ponteiros Que não marcam o tempo Nem limitam o desejo de te amar. Comer juntos muitos quilos de peixe moqueado Raízes cruas Montes de ostras, sarnambis e sururus Mel de abelhas Frutas e frutos silvestres Almoço nos ninhos das emas E sobremesa de ovos De pássaros E te ver Minha cunha Tomando 12 banhos por dia Nos riachos de água fria Ou comigo fazendo amor Nas espumas das praias Doces ou salgadas Do Muni Do Olho d´Água ou Araçagi Ai1 que saudades Dos tempos de Tupinambá São Luís, paraíso 1612 SOLIDÃO Agora, é a frustração do rio insatisfeito Que se infiltra e se acaba Nas areias do seu próprio leito E se esgota em si mesmo, vazio. Agora, é o fracasso da torrente, É o ímpeto que se ressente, Sem caudal, sem afluente Não tem força De chegar ao mar. Agora, é a sensação de viuvez, No estar sozinho É a dor da morte De quem enterra a própria sorte Afinal, sem vez. Agora, é o sino sem som, Torre sem campanário, Contida a vocação, Praia deserta, Rio sem estuário, Águas insossas E o verão sem fim. Agora, é a solidão Deixa-me ultrapassar Estes limites
Dá-me tua mão, Elis, Vamos para o mar. AUSÊNCIA DE ELIS Está dando cupim Dentro de mim. Que dor aguda Esses minúsculos monstrinhos Causam aqui No coração, Roendo roendo Com suas trombas de aço Agudas, afiadas Incandescentes. É assim, Na ausência de Elis. Em vão busquei matar Esses bichinhos Em impulsos dispersivos Nos braços de mulheres indistintas Nas camas sem lençóis De sucessivos motéis Nos ais de gozo industrial Da insaciável carne Em momentos estéreis e incapazes de ajudar É assim Na ausência de Elis Estou cheio de cupim
PAULO AUGUSTO DO NASCIMENTO MORAES142 PAULO MORAES 23 de novembro de 1912 # 11 de setembro de 1991 Filho de José Nascimento Moraes e Ana Augusta Mendes Moraes, Paulo Moraes foi um dos mais importantes e contundentes intelectuais de São Luís. Mas não somente a Ilha presenciou o trabalho deste integrante da família Nascimento Moraes. A cidade do Rio de Janeiro também o acolheu e presenciou o crescimento e desenvolvimento de Paulo Augusto. Na Cidade Maravilhosa, o maranhense conviveu com os mais ilustres jornalistas da época, como Assis Chateaubriand, Samuel Walner e Jurandir Pires Ferreira. Em 1971, Paulo Augusto foi homenageado pela Embaixada de Israel por ter realizado a cobertura da guerra no Oriente Médio. Tanto que o jornalista maranhense teve seus artigos traduzidos para uma publicação internacional. No ano seguinte, ele lançou seu único livro: "Aquarelas de Luz". Após anos se dedicando ao jornalismo, Paulo Augusto Nascimento Moraes conquista o direito de se tornar um imortal. Em 1982, ele assume a cadeira de nº 16 - fundador é Raimundo Corrêa de Araújo - da Academia Maranhense de Letras (AML); após a morte de Domingos Vieira Filho. Salgado (2012) 143, em sua posse na AML, faz o elogio a Paulo Moraes, com estas palavras: Indízivel reencontro na esfera da imortalidade, eles que tantas vezes trabalharam juntos na redação do jornal Pacotilha; conviveram no sobrado da rua de Santana, onde a família de Paulo generosamente acolheu Neiva Moreira por um período; e ainda nas ruas do Rio de Janeiro, quando Neiva acedeu ao conselho do amigo para marcar para sempre seu nome no jornalismo nacional. Paulo Augusto do Nascimento Moraes, filho de Nascimento Moraes – este, alcunhado por Neiva Moreira como pontífice supremo do jornalismo –, marcou toda uma geração de jornalistas neste estado, abraçando o ofício de informar como sagrado sacerdócio. Carregava no sangue a paixão pelas palavras e fazia delas o seu instrumento de trabalho. Esgotadas as possibilidades de continuar no Maranhão, devido aos parcos recursos que atormentavam o funcionamento do jornal Pacotilha, seguiu o jornalista para o Rio de Janeiro onde, nas palavras de José Chagas, “viu o que o Rio tinha de manso e violento. A Lapa era o laboratório onde o jornalista, o boêmio e o poeta pesquisaram a vida em todos os sentidos”. Lá, nos informa o poeta, trabalhou com Assis Chateaubriand em O Jornal; com Jurandir Pires Ferreira, em A Força da Razão e com Samuel Wainer, em Diretrizes. Companheiro de Neiva Moreira na profissão e no amor pelo jornalismo, recebeu deste a seguinte apreciação: “A marca poética de Paulo Moraes, sem que ele mesmo tivesse dado conta, é o grande humanismo que conseguia produzir em torno de tudo o que fazia: humanismo e forte lirismo, transcendendo os limites do romantismo e formando quase que um realismo mágico e lírico”. Poeta diletante, um curioso pelas aventuras da vida, não teve a preocupação de deixar registros, distraído na boemia e dedicado ao culto às amizades. Ao retornar do Rio de Janeiro para São Luís, retomou o ofício de reportar os acontecimentos. Graças ao esforço de seu irmão, o também acadêmico Nascimento Morais Filho, parte das poesias de Paulo foi reunida no livro Aquarelas de Luz, um misto de alumbramento filosófico e elogio às figuras femininas. Peço a devida permissão para citar um trecho do soneto que intitula aquela obra: 142
Fonte: O Estado do Maranhão 23/11/2012 , disponível em http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Paulo+Augusto+Nascimento+Moraes&ltr=p&id _perso=5034 143 SALGADO, Natalino. DISCURSO DE POSSE – AML. IN Palabvra do Reitor, publicado em 14 de dezembro de 2012, disponível em http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/palavra_reitor.jsf?id=47, acessado em 10/05/2014.
“Caminhemos então!...Tudo é sombra, querida!... As cigarras cantando!...As cigarras cantando Afugentam de nós as tristezas da vida! Esta tarde morreu!...Tu mo afirmas, num beijo! Eu te digo que não, entre prantos, chorando, Tu me dizes que sim, sepultando um desejo”. Paulo não se formou em Direito, sonho de seu velho pai. Mas nem por isso o amor que os unia arrefeceu, assim demonstrado na carta que o filho, reverente, escreve ao genitor:“Sou seu amigo. Admiro-o muito. Devo-lhe o que sou”. Cada um a seu tempo e modo, os jornalistas Neiva Moreira e Paulo Nascimento Moraes desempenharam a missão de honrar a herança deixada nesta Casa pelo folclorista e estudioso das coisas maranhenses que foi Domingos Vieira Filho. Tal como Jasão, que liderou os argonautas em busca do velocino de ouro, Domingos Vieira Filho empreendeu a busca por palavras e ditados maranhenses, ávido por revelálos e cristalizá-los na memória de sua gente. Escreveu as importantes obras Folclore brasileiro: Maranhão (1977), A linguagem popular do Maranhão (1979),Breve história das ruas e praças de São Luís (1971) e outros interessantes estudos maranhenses, a maioria dos quais usava não assinar.
DEVOÇÃO144 Penso em ti, minha mãe, com a ternura dos beijos Os teus beijos de amor, de bondade e carinhos. Penso em ti, minha mãe, sem pensar nos desejos Das mulheres que amei às margens do caminho. Penso em ti, minha ma~e, com os mesmos ensejos. Com que sempre te amei, com a pureza dos ninhos. Penso em ti, minha ma~e, sem aflição e sem pejos, Mas trazendo na fronte a Coria de espinhos. Penso em ti, minha ma~e, tua benção pedindo... És a sobra do bem afastando os escolhos Que, por vezes, mamãe, vão meu corpo ferindo. Mal tu sabes, porém, que na luta prossigo, Relembrando esse amor que reluz nos teus olhos, Que me avisa do mal, alertando o perigo!
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BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994, p. 98
JOÃO ALEXANDRE VIEGAS COSTA JUNIOR JOÃO ALEXANDRE JUNIOR
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12 de dezembro de 1948 Fez seus primeiros estudos em Sergipe. De volta ao Maranhão, veio a colaborar na imprensa, publicando crônicas e peomas. Forma-se em Direito e Administração, pela UFMA. Tendo participado de vários movimentos literários, seus poemas ainda aprecem nas antologias Esperando a missa do galo, de Nascimento Moraes Filho e Poesia maranhense hoje ou 50 anos de poesia de Carlos Cunha. Incluído na antologia Hora de Guarnicê, em 1975, em breve viria a lume a edição de seu primeiro livro de poemas, Em Te Brigar Te Amando, título que já bem expressa a vocação do poeta para a ambigüidade e o paradoxo, elementos essenciais da poética da modernidade. Editado em 1979, Em Te Brigar Te Amando mereceu o prêmio do Concurso Literário “Bandeira Tribuzi”, em 1978 e foi publicado em co-edição SURCAP/SIOGE. Pulmões do Azul Tuberculou-se o firmamento Golfada a cambraia pálida Da camisa do dia - hemorrágica! Lento! No seu próprio debruo Até que arfante a cálida Gota engolfada na pia Do mundo, em si se parte O sol quebrando a louça do jantar Vaza a cada dia o pulso do diário: A tarde em seu indeclinável suicídio Golfa sangue no Bonfim Umedecendo o chagar notívago Da boêmia incontrolada no boteco É a noite que se estatela na baía... Se abre a palma no olor Do seu lancáster E a Estrela resplandece Em ruge e pó-de-arroz Nostálgicas herdeiras Legatárias do pecado-à-mostra Da cidade (do livro Em Te brigar Te Amando) 145
Brasil, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. O ADEUS DO POETA JOÃO ALEXANDRE JÚNIOR. In GUESSA ERRANTE, 1 de dezembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina421.htm, acessado em 13/05/2014
LUÍS INÁCIO ARAÚJO146 LUIS INÁCIO OLIVEIRA COSTA Dezembro de 1968 Nasceu em São Luis, onde sempre morou. Formando em Direito pela UFMA, dedicando-se mais tarde ao professorado, leciona Filosofia do Direito na mesma UFMA. Preocupado com a literatura, escreveu alguns ensaios ao lado da pr´tica da poesia. Escreve desde a adolescência. Seu primeiro livro, Vôo ávido é de 1991 As Indefinidas Palavras Qualquer palavra que eu te diga ou te silencie é tão sem sentido — para o meu poema que é só bruma voz muda esferográfica: e o que sobre é esse silêncio pesando sobre os corpos, esse chumbo, o exaurir do carbono, o vão dos corpos. Agora quero inventar um poema com isso que em mim é aresta, arpão, fratura exposta, berro içado sobre setembro, estilhaço, beijo esgarçado, grifar minha mudez sem fundo afundada de tantas palavras. Solto o poema como uma vertigem, desse perigo não há fuga: a nona sinfonia arrebenta num revés de crepúsculo. Inverter o caos da tarde em melodia ou aceitar o que um poema fabrica de naufrágio? pela página? Num lapso: me escapam o salto e o grito irisado, e daqui fotografo o abismo em cores kodak. Palavras desabam numa catástrofe: quero agora o vazio das margens, a intransferível brecha, o vão da palavra impronunciável. Em que poema jogar fora as palavras onde sempre esbarro? — Vida & Morte Deus & Sexo — Escrever é o que se arquiteta do deserto de uma falta, infância e cio, o turvo de alguém, antro de uma boca. Mas o que escrevo é noite cava, emparedamento, poço e não cabe no estreito de nenhum poema. É só por afronta e voracidade que escrevo escavo: indefinidamente até preencher com o poema a branca ausência: impreenchível. 146
BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, ,1994 http://www.escritas.org/pt/biografia/luis-inacio-araujo
Luís Moraes Agreste147 Não mais recuo: o que escrevo é escassez e fendas, é contra esse modo reto e seguro de escrever que escrevo - em desaprumo. Bebo o gosto travado desse poema numa cobiça de ser dito: um laivo de sangue escorre de minha boca. o processo vital subsiste ainda na artéria, a manhã poluída prossegue sua lenta engrenagem, seu incêndio diário, sua as simetria - apesar do azinhavre no garfo do pêndulo, do cotidiano cigarro igual ao trabalho noturno da morte num corpo. Mas pra nomear o que respira secretamente por trás dessa vida de veias nervos assombros penhoras e sofre desfiladeiros poços terrenos baldios, a mais inexplicável vertigem — nenhuma palavra é possível: nenhum selo.
A paIo seco Meu poema armado com lacônicas palavras (contundente arpejo) canta-se assim torto como não convém e maneja facas lâminas secas pra te dizer certas coisas que te fariam sangrar: profundamente.
Arquitetura Procura a ordem desse silêncio que imóvel fala: silêncio puro. João Cabral de Meio Neto
Um dia escreverei um poema que não precise dizer nada um poema: apesar das palavras arpejo relógio ou pedra silêncio que ninguém suporte lâmina dentro da goela 147
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_inacio_araujo.html
de João Cabral de MeIo Neto voz e fino topázio a linguagem apenas tece a trama de nenhuma sintaxe um dia escreverei um poema no azul vazio da lousa em ecos um silêncio adormece (Vôo Ávido/ 1991)
ROBERTO KENARD148 Roberto Kenard Fernandes Rios São Luís / 18 de outubro de 1958. Jornalista, é autor de penetrantes textos ensaísticos publicados na imprensa. Distinguido com diversos prêmios conferidos por concurso literários promovidos em São Luís e em outras capitais brasileiras. Além de figurar em antologias poéticas, publicou os livros de poemas No meio da vida, Do lado esquerdo do corpo e O camaleão no espelho. Câmera indiscreta O poeta lírico - barbado babuja no bar seus poemas boa tarde elegante bardo cuidado com o vento suas folhas íntimas não resistem ao menor sopro o coração sobre a mesa breve o garçom virá removê-lo um barco atraca no cais lugar de coração é no peito teimoso bardo curió exposto aos turistas a mulher burguesa batom e ruge ergue o braço garça o garçom passa o poeta velho brada: liturgia do inútil tudo desaba asa do vento navalhada na tarde provinciana e cinza. ( O camaleão no espelho/1990) A FAMÍLIA Tem alguém no telhado Talvez a avó louca Embriagada de tiquira Tem alguém no telhado Possível o neto Esperando a lua Tem alguém no telhado Provável o gato Com medo dessa família No meio da vida, 1980
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http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm
DANIEL VICTOR ADLER NORMANDO ROMANHOLO . São Luís-MA – 23/10/1998. Mora em São Carlos-São Paulo e cursa o 9º ano no Colégio Interativo. Tem participação em “ASAS DE UM SONHO por um mundo melhor”, obra coletiva dos alunos da EMEB Angelina D. de Melo e EMEB Ermantina C. Tarpani, São Carlos-SP, 2008. É co-autor (juntamente com João Marcelo Adler Normando Costa e Dilercy Aragão Adler), do livro Infantil, “Uma história de Céu e Estrelas, São Luís-MA, 2011.
A ANTÔNIO GONÇALVES DIAS Chorou de tristeza Ao perder a filha querida Ao ausentar-se da terra natal Ao perder o amor da sua vida!!! Com tanta criatividade, deixou muitas saudades... nunca iríamos esperar sua ida. Pois é: Choramos hoje a sua partida Mas nos alegramos por tê-lo tido entre nós!!! Obrigado Gonçalves Por ter deixado milhares de emoções Com seus poemas e Canções...
JOAQUIM HAICKEL 149 JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL 13 de dezembro de 1959 Academia Maranhense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel; pai de Laila Farias Haickel, marido de Jacira. Membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, contista, poeta, cronistas e cineasta. Estudou no Pituchinha, e depois do Batista e Dom Bosco; destacando-se como jogador de basquete. Ingressou na Universidade Federal do Maranhão, onde se bacharelou em Direito. Por mais de 30 anos, militou na política, como deputado estadual, deputado federal e constituinte, hoje Secretario de Estado de Esporte. Inicia a trabalhar 1978, como assessor na Assembléia Legislativa. Em 1979, está em Brasília, trabalhando ao lado de Nagib, seu pai, então deputado federal; de volta a São Luis, passa a atuar como oficial de gabinete do então Governador João Castelo, indo trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnet. Elegeu-se deputado estadual em 1982; federal em 86, sendo um dos Constituintes. Secretário de Assuntos Políticos (Governo Lobão); Secretário de Educação (Governo Fiquene). De 94 a 98, dedicou-se as empresas da família, retornando em 1998 à Assembléia, lá permanecendo até a última legislatura. Como escritor, publicou em 1980 Confissões de uma Caneta, contos premiados no concurso cidade de São Luis. Em 81 lançou O Quinto Cavaleiro, poemas. Em 82, após ser premiado no concurso SECMA/SIOGE /Civilização Brasileira, lançou o livro de contos Garrafa de ilusões. Manuscritos. Em 83, começou a editar a Revista Guarnicê, semanário artístico e cultural que publicou até 86. Ainda em 84 lançou a Antologia Poética Guarnicê. Em 85 foi a vez da Antologia Erótica Guarnicê e em 86 o livro de contos Clara Cor de Rosa. Depois de uma pausa editorial, em 89, lançou o livro de poemas Saltério de Três Cordas. Em 1990, segundo o próprio Haickel, foi quando amadureceu o seu “primeiro livro, os outros foram apenas ensaios do que viria”. Livro de contos lançado pela Editora Global, A Ponte, que foi aplaudidíssimo por José Louzeiro, Artur da Távola e Nelson Werneck Sodré entre outros. Também no setor artístico, Joaquim ainda produziu o filme “The Best Friend”, O Amigão, que conquistou os prêmios de melhor filme do júri popular e melhor filme de cineasta maranhense do júri oficial, no festival Guarnicê de cinema e vídeo realizado pela UFMA em 1984. Em 2003, na comemoração aos vinte anos da revista Guarnicê, a Clara Editora e as Edições Guarnicê, produziram e publicaram o Almanaque Guarnicê, uma espécie de ensaio-entrevista-reportagem dirigida Felix Alberto Lima, onde narra a trajetória do semanário e de seus idealizadores. Também em parceria com a Clara Editora, Joaquim lançou uma coletânea de seus melhores artigos publicados no site Clara on line. Joaquim é também desportista e grande incentivador dos esportes como forma de inserção social e de combate ao uso de drogas. Foi Presidente da Federação Maranhense e Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Tênis e da Associação Desportiva Mirante, além de ter, ele mesmo, conquistado diversos títulos em várias modalidades como Tênis, Vôlei e Basquete. Em 2006 Joaquim candidatou-se a uma vaga na Academia Imperatrizense de Letras para onde foi eleito para a cadeira nº 9. Em 2007 preparou-se para mudar definitivamente a sua vida e assumir sua vocação de escritor e cineasta. Em 2008, Joaquim Haickel realiza um antigo sonho. Roteirizar, produzir e dirigir um filme baseado em um conto que escrevera nos anos 80. Trata-se de Pelo Ouvido. Inquieto e indisciplinado, Joaquim não se conteve e antes de realizar esse filme, com ajuda de vários amigos faz em Paço do Lumiar o curta-metragem de 59 segundos, Padre Nosso. 149
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO DE JOAQUIM HAICKEL AO IHGM. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39__setembro_2011/65 http://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/ http://www.revistacarasenomes.com.br/haickel-toma-posse-no-ihgm-e-resgata-a-historia-dos-%E2%80%9Catenienses%E2%80%9D/ http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2010/eliana%20tavares%20dos%20reis.pdf LIMA, Félix Alberto. Almanque Guarnicê 20 anos. São Luís : Clara Editors e Edições Guarnicê, 2003.
Pelo Ouvido foi selecionado para quase duas centenas de festivais de cinema no Brasil e no exterior onde ganhou dezenove prêmios. Em 2009 candidatou-se a uma vaga na Academia Maranhense de Letras, para onde foi eleito com uma das maiores votações já conseguidas por um candidato. Ocupa a cadeira de numero 37 daquela instituição. Em 2011 foi eleito para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, onde ocupa a cadeira 47. Em 2012 lançou dois filmes de animação tendo como tema a cidade de São Luis que completava 400 anos: A Ponte e Upaon-Açu, Saint Louis, São Luís... Ele também lançou naquele ano o livro Contos, Crônicas, Poemas... & Outras Palavras com o qual comemora 32 anos de literatura. Em 2013 lançou 24 documentários sobre alguns dos mais importantes membros da Academia Maranhense de Letras. Em 2014 lançará dois documentários em longa metragem A Pedra e a Palavra onde retrata a vida e a obra do Padre António Vieira e Velho Moleque onde apresenta a vida do músico e compositor maranhense, Mestre Vieira. Para 2015 estão previstos os lançamentos duas mini series documentais de 8 e 4 capítulos respectivamente sobre o empresário e deputado Nagib Haickel, seu pai, e sobre o ex-prefeito de São Luís, Haroldo Tavares, além de seis médias metragens sobre importantes personagens de nossa história recente. Joaquim Haickel é também Secretario de Estado do Esporte e Lazer do Maranhão e continua produzindo arte. Há muito tempo trabalha em um livro cujo sugestivo título diz muito sobre uma de suas grandes paixões: 365 Filmes Para Não Precisar de Psicanálise. CONTRIBUIÇÕES NA REVISTA DO IHGM DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 47, PATRONEADA POR JOAQUIM SERRA; No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 50 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 EM BUSCA DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 232 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 DÉCIO SÁ. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p.176 Edição Eletrônica. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41__junho__2012 ÀS VEZES O BOM NASCE DO RUIM. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 187 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 MESMO DESTINATÁRIO, OUTRO REMETENTE. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 207 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 CAFÉ COM MEMÓRIA. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p.213 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 CONTOS, CRÔNICAS, POEMAS & OUTRAS PALAVRAS; Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 104; http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA DO MARANHÃO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 93. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 MEIA NOITE EM SÃO LUÍS. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 133. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 MEU AMIGO ROBERTO DUAILIBE CASSAS GOMES. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 135. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 SAUDADE DE ANTONIO LOBO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 157. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 QUARENTA ANOS DE JEMS. Revista IHGM, No. 43, DEZEMBRO de 2012, p. 223. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012
O CADARÇO 1 O amor aparece na sua vida quando você menos espera, e nem sempre ele se apresenta de uma forma que você o reconheça ou compreenda. *
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A primeira vez que seus olhos se cruzaram foi por puro acaso. Ela não conseguiu impedir que caísse no chão uma bolsa imensa, Louis Vuitton, que tentava equilibrar sobre uma mala, e ele, que ia passando, gentilmente, juntou-a e entregou a ela olhando-a firmemente nos olhos. Ela sorriu suave, timidamente agradecida.
Puxava numa das mãos a elegante mala de viagem e com a outra segurava carinhosamente uma pequena réplica de si mesma. Atencioso, passou a mão carinhosamente na cabeça da garotinha e cumprimentou a mãe com um aceno de cabeça. Ela fez um movimento idêntico e disse-lhe thankyou, com uma voz grave que combinava com seu tipo nórdico. Grande como Greta Garbo, elegante como Ingrid Bergman e linda como Cláudia Schiffer. Mais atrás vinha um homem trazendo uma mala igual à dela e uma outra criança, cópia fiel da primeira, só que um menino. 2 O saguão de um aeroporto é um microcosmo admirável. Lá podemos ter, de graça, magníficas aulas de antropologia, de sociologia, de psicanálise, e até mesmo um rápido curso de sedução no mais perfeito estilo pirandelliano. *
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Ele foi pro seu lado e ela para o dela. Iam para lados diferentes, em voos diferentes. Distintos, diferentes. Ao chegar ao balcão de atendimento, ele notou que havia uma senhora muito nervosa. É que ela iria viajar de avião pela primeira vez. Ele se pôs a conversar com ela em seu rudimentar italiano, aprendido primeiro com Giuliano Gemma e depois, já mais refinado, com Marcelo Mastroianni. Depois de uns vinte minutos, ele conseguiu tranquilizar a nonna. Com isso, ganhou a gratidão da moça da companhia aérea que lhe deu um upgrade para a classe executiva, o que lhe renderia mais do que o simples conforto. Na verdade, lhe deu a possibilidade de vê-la mais uma vez, mas isso ele ainda não sabia. 3 Ao contrário dos saguões, toda sala vip é igual. Num ambiente mais restrito, as pessoas não se põem tão à vontade, não são tão naturais. Com a maioria das pessoas é assim. *
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Quando ele chegou lá, ela já estava. Ela o olhou primeiro e não parou de olhá-lo. Olhou-o dos pés à cabeça. Observou seus sapatos, o jeito dele falar ao celular, como colocava o braço apoiado no balcão da lanchonete. Observou o seu sorriso, ora discreto, ora incontido. Só então ele a viu. Viu e olhou. Olhou e viu que ela o via e não lhe tirava os olhos. O acompanhava para onde fosse. Ele notou que ela observava particularmente os seus pés, seus sapatos. Lembrou-se de seu primo Luís, que tinha uma estranha fascinação por pés femininos. “Será que as mulheres também têm esses fetiches?” – interrogou-se. 4 Os olhos são sempre o começo e o final de tudo. Sem eles a vida não é completa. Falta algo, falta alma, falta uma janela pra se debruçar. A palavra também é muito importante. A língua, a linguagem... Uma porta para se sair ou entrar. *
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Constantemente seus olhos se cruzavam. Ele começou a jogar. Ia para um lado e via se ela o acompanhava com os olhos. E ela acompanhava. Resolveu então ir ao banheiro. “Será que ela vai me acompanhar?” Para sua tristeza, só os olhos dela o acompanharam. Ao voltar, viu que ela falava ao telefone. O idioma, a princípio quase inaudível, lhe parecia familiar. Aos poucos foi notando que as palavras eram mastigadas, mordidas, mesmo que no caso dela isso fosse feito com certa doçura. Depois teve certeza que aquela era a língua de Goethe, de Schopenhauer e de Nietzsche. 5 As atitudes fazem a diferença entre os homens. O difícil é saber quando e como devemos tomá-las. Há quem deixe que as coisas aconteçam naturalmente, e elas até acontecem satisfatoriamente.Esses são uns poucos afortunados. Tem os que se deixam direcionar pelos acontecimentos e quebram a cara. Estes são a grande maioria. Uma quarta parte é formada pelos que controlam os acontecimentos e invariavelmente também quebram a cara. Há, no entanto, os que tentam controlar as coisas e conseguem. Estes são poucos, pouquíssimos. *
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Ele criou coragem para tomar uma atitude. Foi novamente à lanchonete e pediu uma coca. De repente sentiu um aroma conhecido e, ao virar-se, viu que ela estava bem ao seu lado. Seu perfume a denunciou. Ele o sentira desde seu primeiro encontro, no saguão. – J’adore!– disse ele, como quem nada quisesse. – Pardon...– ela respondeu em um perfumado francês. –Your smell...Your perfume... Is...J’adore! – Are you a perfumist?
– No.I’m a writer. Ela fez um ar de genuína admiração e disse que era um prazer conhecê-lo. Ele agradeceu e retribuiu a gentileza. Ela pagou os dois sucos de laranja que pedira para seus filhos e foi-se, não sem antes cumprimentá-lo com um sorriso um tanto insinuante, ao que ele retribuiu da mesma forma. Mesmo que sempre odiasse atrasos aéreos, ele daria qualquer coisa para que o tempo mudasse e todos os voos daquela noite fossem atrasados em pelo menos duas horas. 6 O final é sempre reservado ao que há de melhor, mesmo que o melhor não seja aquilo que nós quiséssemos. *
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Os olhares deles continuaram a se cruzar por mais uns trinta rápidos, mas intermináveis minutos, até que ela pegou suas coisas e o filhinho pela mão e dirigiu-se para a saída. Mais na frente ia o cavalheiro com a menininha. Ao passar por ele, que estava sentado, de pernas cruzadas, observando tudo, disse-lhe em um inglês germânico: – Tome cuidado... Seus olhos são muito perigosos... Acabam não deixando nenhuma saída para uma mulher curiosa como eu... – Ah! Seus sapatos são muito bonitos... Mas cuidado, não vá cair... Seu cadarço está desamarrado... E ela se foi, com um olhar meigo e um sorriso maroto.
MEU RETRATO DE QUIRON Quiron era o maior centauro do Olimpo. Arqueiro, médico e filósofo, foi também preceptor de Apolo, de Aquiles e de Jasão, a quem ensinou, além da arte da guerra, a música e até mesmo a medicina. Esse meu amigo é o tipo de sujeito que chega em casa com duas sacolas na mão. Uma, trazida do supermercado, e a outra, do videoclube. Chega disposto a tomar um demorado banho, depois prepara uma massinha com atum e tomates frescos e come com pão e vinho, revendo um daqueles maravilhosos filmes épicos: Ben-Hur, Agonia e êxtase ou Lawrence da Arábia... Isso, se ele não trouxe, no meio desses, algum filme sobre a aplicação da justiça: Doze homens e uma sentença, O vento será tua herança ou O sol é para todos. Para Quiron, que é a personificação do sagitariano, os princípios são inegociáveis. Ele ainda acredita que a justiça, além de cega, é certeira. Dê para um sagitariano uma causa, seja política, cultural, científica ou social. Se ele a aceitar como própria, vai disparar feito uma seta em defesa dela, com uma empolgação só equiparável à sua proverbial falta de tato ou seu senso extremado de honra. Gozador, certa vez, numa reunião de condomínio, alguém protestou porque sua empregada subia pelo elevador social, e ele, que adorava escandalizar a todos, emudeceu os condôminos declarando que eles haviam se enganado:“Ela, na verdade, é minha namorada”. Franco e avesso a todo tipo de subterfúgio, ele sempre faz e diz o que pensa, e na maioria das vezes o faz e diz sem pensar. É aí que ele normalmente leva grandes tombos, despencando direto, do Olimpo de seus nobres ideais, para uma realidade menos acolhedora. É quando descobre, por exemplo, que alguém a quem ele defendera fervorosamente, na verdade é culpado. Com o mesmo empenho que defendera aquele amigo, agora se obriga a assumir suas responsabilidades. Por andar sempre hipnotizado por metas longínquas, às vezes os centauros tropeçam em seus próprios pés. Nada grave: ele continuará otimista, porque nasceu sob o signo de Júpiter, o mais mão-aberta dos deuses. E sua sorte, mesmo que tarde, jamais lhe faltará. Os mais frequentes distúrbios de um sagitariano são o otimismo incurável, a ansiedade crônica e o tédio mortal. O primeiro pode ser suavizado, embora, graças a Zeus, nunca completamente sanado. A ansiedade crônica pode ser tratada à base de meditação e Maracujina. Quanto ao tedium vitae, a mais grave das afecções que um sagitariano pode contrair, o remédio é fácil: basta ele inventar uma nova meta, qualquer uma, aprender a pilotar um Boeing ou a falar chinês clássico. Ele pode vir a desistir do brevê de piloto no dia do exame, e não passar das primeiras três aulas de mandarim, mas nesse percurso, estará curado. Quem tentar enquadrá-lo, sugerindo que ele consulte um profissional, perderá tempo. Ele não para quieto em casa, menos ainda no divã. A concepção sagitariana de romance é muito esportiva, mas eles são honestamente devotados a todos os seus amores. Por isso, para ele, contar a sua nova namorada que ela é a trigésima quarta em sua vida é o fato mais natural do mundo, e ele ainda acrescenta, sinceramente, que ela é a mais incrível de todas as mulheres que já passaram pela vida dele. E se esta quiser ser a definitiva, é necessário adotar uma estratégia de displicente autocontrole: nunca perguntar ao seu centauro com quem ele almoçou, nunca lhe dar ultimatos e jamais partir para cenas melosas.
Ele na verdade não passa de um menino, um moleque que tem a boca maior que o estômago. Ah! Não leve tão a sério os exageros do centauro, e você conviverá com um campeão em cumplicidade, solidariedade e amizade. E olha, um amigo, para ele, vale mais que cem amantes. Quiron tem pavio curto e memória mais curta ainda. Se inflama por qualquer motivo. Diz e faz os outros dizerem barbaridades, e depois esquece, mas é incapaz de guardar qualquer ressentimento. Eu poderia falar mais sobre esse amigo, mas preciso pensar no que fazer pra comer. Vêm uns amigos pra cá, hoje eu trouxe uns filmes de Capra:Do mundo nada se leva, A mulher faz o homem, A felicidade não se compra...
Águas de Junho150 Por Joaquim Haickel • domingo, 08 de junho de 2014 às 04:41 Faz uns dois pares de anos que não falo com o jornalista Roberto Kenard, meu amigo de muito tempo, companheiro das lides poéticas e de ações culturais importantes, como um programa de rádio, um semanário, uma revista mensal e a editoração e publicação de vários livros. Todas essas ações levaram o sobrenome Guarnicê, e aconteceram nos saudosos e eternos anos 80. Eu e Kenard somos bem diferentes. Diferentes em nossos posicionamentos ideológicos, em nossos estilos e gêneros literários, em nossa forma de encarar a vida e dentro dela a política, os negócios… Mesmo assim, de longe, nunca deixei de acompanhar sua trajetória de poeta e jornalista. Estive sempre por perto, pois em mim, a discordância pontual ou o desentendimento momentâneo, não geram ódio, rancor ou nenhum outro sentimento negativo. Policio-me constantemente para que nada gere em mim sentimentos negativos, mesmo que em relação a um ou outro “imbecil” isso seja um pouco difícil, mas acabo conseguindo. Desfrutamos, eu e RK, juntamente com Celso Borges, Paulinho Coelho, Érico Junqueira Aires, Cordeiro Filho, Ronaldo Braga, Ivan Sarney, meu irmão Nagib, entre outros, a experiência juvenil e utópica de tentar mudar o mundo através da música, da poesia, da literatura, do cinema e das artes de um modo geral. Convivemos de adolescentes a adultos, e até mesmo algumas vezes, adúlteros, em nossas jovens e temerárias experiências de poesia, álcool, Guaraná Jesus e outras “cositas mas”, quando nos permitíamos esquecer as nossas namoradas em casa e saíamos pelos bares e praias da Ilha, no velho Bugre vermelho que nos servia de Rocinante, apaixonando e nos apaixonando por Dulcineas, Carmens, Julietas, Amélias, Teresas, Capitus, Ursulas, Mollys, Marias “… De todas as raças, de todas as cores…” Naquele tempo nos permitíamos subverter as regras vigentes para transformá-las em algo mais parecido conosco, com aquilo que queríamos da vida. Buscávamos naquele tempo, assim como hoje, mais ou menos a mesma coisa. A tal da felicidade e da extensão dela para o maior número de pessoas possíveis. Isso não mudou em nada. Só que agora são mais visíveis as diferenças. Uns querem alcançar isso de uma forma e outros de outra, uns com um estilo e outros com outro, mas no fundo continuamos querendo a mesma coisa. A forma de fazer isso que já era diferente antes, na juventude, em alguns casos tende a se aproximar e em outros a se distanciar, na maturidade. Não acredito que nenhum de nós estejamos tão distantes a ponto de que não saibamos disso. Falo hoje de Kenard por dois motivos, primeiro porque comentei com um nosso conhecido comum que desde a morte do jornalista Walter Rodrigues, que acreditávamos que ele, Kenard, passaria a ser o melhor articulista político do Maranhão. Kenard não tem e acredito não terá jamais a teia de contatos que tinha Walter, até porque este fazia de sua teia, seu habitat, sua forma de viver. Em suma, ele não vivia a sua vida, ele vivia o jornalismo, a política. Já Kenard vive o jornalismo, a política, sua família, sua mulher, seus filhos, sua Barreirinhas, seus estudos, sua literatura, sua poesia. Tem coisas que Walter jamais teve e nunca teria. Sem medo de ferir nenhum ego, nem magoar ou melindrar nenhum amigo jornalista, acredito ser Roberto Kenard, o sucessor de Walter Rodrigues e parece que quanto a isso não estou sozinho. Ele não carrega a mão no sarcasmo nem na ironia debochada como fazia Walter, mas, como ele, apresenta os fatos de forma clara, permitindo com que se possa ter uma visão perfeita dos fatos, isso sem contar com seu estilo literário, enxuto, simples, direto e elegante. A outra coisa que me fez lembrar Kenard, foi o fato de que o falecimento do grande poeta José Chagas, abre vaga na Academia Maranhense de Letras, instituição que na juventude abominávamos como símbolo do imobilismo e da inação. Lembro que Kenard fez uma matéria mordaz sobre a AML e nós publicamos na Guarnicê. Teve grande repercussão. Para efeito de preenchimento de vagas na AML tenho um critério muito pessoal que acredito hoje ser o da maioria dos acadêmicos praticantes e assíduos às reuniões. Devemos eleger alguém que participe da vida da instituição, alguém que exerça uma função criativa e produtiva, alguém que possa conviver bem com seus confrades e confreiras (expressão horrível), alguém que ajude a AML a não ser uma casa de simples mortais, mas que sejamos imortais em nossa luta pela arte e pela cultura maranhense. 150
http://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/2014/06/08/aguas-de-junho/
Nesse desiderato (expressão também horrível), minhas preferências recairiam em primeiro lugar em Gullar, Nauro, Arlete, Zelinda e Turíbio, como expoentes máximos de nossa cultura ainda fora da Academia; em Jesus, Cassas, Ariel, Salgado e Kenard, por suas obras; E em Felix, Neres, Zé Jorge, Aldo e Alan, pelo muito que podem contribuir para o aumento e melhoria das ações artísticas, literárias, culturais e midiáticas da AML. Ainda poderíamos relacionar os nomes de Celso, Sinhô, Mundinha, Lourdes e Paulão, entre os de outros, que também poderiam ser cogitados para fazer parte do sodalício (outra palavrinha difícil). - É uma lista grande! Diriam uns. – Haja passamento! Diriam outros. Mas a vida segue, diria eu. Mas voltando ao Kenard, devo de dizer que assino embaixo de alguns de seus últimos textos publicados em seu Blog, mas isso já seria assunto para uma outra conversa.
REFAZENDO AQUELE SONHO151 De mim só me lembro estar elegante. Terno escuro, camisa clara, gravata de seda… Dela, não esquecerei de nada, jamais… Era um sonho… Seu vestido longo de cetim, seus olhos cor de mel, sua boca carnuda. Um aroma de sedução no ar… Vinho, conversa ao pé do ouvido, música, coisas pra beliscar, inclusive seu braço pela fresta da cadeira. Dança… Seu corpo juntinho ao meu encaixados como perola e ostra ondulavam. Seu olhar era denunciador, seu rosto e seu corpo falavam por ela… Tudo que aconteceu naquela noite depois da hora em que a vi… preferi esquecer… Agora, distante em tempo e espaço me imagino, me quero em seu colo. Mergulho em seu decote, nele descortino o mundo e desço… Encontro montes, uma vasta pradaria, vales, um rio feito de suor… Precipício… Mergulho nele. Quando emergir quero estar de novo nas costas dela, imprensando-a contra a parede, mordendo sua nuca, lambendo seu pescoço, e aos seus ouvidos quero fechar a cortina de outra noite e ver outro dia nascer. Mais tarde, depois do café, ler pra ela esse poema e fazê-la sentir ciúme imaginando que refiz meu sonho com outra mulher. 151
http://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/category/poemas/
VÊNUS Para abrir teu coração e tua mente não uso chave. Sirvo-me de algo melhor: a boca ardente. Com a boca lábios, língua, palavras e dentes abro muita coisa: teu coração, tua mente, teu cofre tua caixinha de joias. Coloco tua gaiola no parapeito da janela e te assalto. Roubo-te. Abro-te .
JOÃO ALMIRO LOPES NETO CONCURSOS É de São Luis. 17 de dezembro de 1960. Poeta. ref.: Laureado no concurso de Poemas Cirandinha, 1983152. DISCURSO PARA UMA CIDADE AMEAÇADA Poucos souberam ver em declive a tua solidão, Cardápio da tua fome em mim vravada, São Luís, namorada, amante, arte! E eu não te abraço mais que por querer-te, Pela necessidade de louvar-te. Sobre templos e sobrados, Nos teus contornos de ilha Ardem sóis e, por encanto, Tua estrela é em mim que briha. Meus olhos cheios de sonhos Mal sabem quantos segredos, Nesta penúltima queda, No duro deste poema, moram nas tuas paredes, me queimam a boca e os dedos. Por sobre águas diviso Barcos de sopradas velas Pondo sol no meu sorriso, Compondo tons de aquarelas. Nas cinzas de tuas pedras Um poeta morre de amor, E apodrece em teu solencio Pra que em verbo reverdeças, na flor do chão em que estou. De tanto te acompanhar, Já me tenho mais que ausente, Anulei-me no meu corpo Pra que te faças presente E exibas teu rosto gasto No tempo que nos consome. Oh! Apodrecemos teu corpo Com as garras de nossa fome De progresso iconoclasta, Até que a ira se anule E o bom senso diga basta! Mas enquanto posso ter-te, Te sentir como é devido, Te caminho, gozo, te ano Puro, inteiro ou dividido. Lavo-me nas tuas fontes, Sou peixe em tua baia, 152
http://baudenomes.blogspot.com.br/p/i-iacyr-anderson-freitas-poeta.html
Me perco em tuas esteiras, Passeio minha revolta Nos teus becos, Me debruço No corrimão de tuas pontes, No canso em tuas ladeiras. Me escondo nos teus mirantes, Nas tuas praças me exponho, Deploro teu abandono, Me afundo na tua calma, Antes que a mão do progresso Fira fundo a tua alma. Comparo teu corpo antigo, Tua fontes, tua paz amiga, Teus farópis, tua magia Com o novo que te rodeia, E temo por teu destino De azulejo e cantaria. Sei que é preciso salvar-te, Noiva, esposa, amiga, irmã! Aqui, um pouco do que somos reverdece, mas tu ameaças ruir amanhã.
NILSON CAMPOS NATANILSON PEREIRA CAMPOS Nasceu em São Luis no dia 21 de dezembro de 1971. Cursou letras na UFMA. Membro da Associação Maranhense de Escritores (AME). UM AVISO POSTUMO Quando a noite do meu corpo cair definiva como o sol de ontem (como a dos meus E a dos seus Que se foram e já não vêm) Nesse leito que preparo Para o meu sono ultimo (que há muito vem se condensando E pensando em meus olhos), Deixem que eu durma em paz. Não me reclamem agora Por esas noites insones que passo Nem por meus dias de guerra (nessas ruas há trincheiras) (ou são sepulturas?) Tenho toda uma eternidade Para descansar. Por isso, Quando, Definitiva, A noite cair em mim, E talvez eu chore (por vocês) Ou sorria Não me chamem. Já não vai adiantar abrir as janelas, Ligar o radio, por café na mesa, Fazer cócegas, Dizer que o amor bate à porta, disparar o despertador (o sono do meu corpo será eterno). Não me chamem (como não quis que me chamassem Nas manhãs de sábado saturadas Do cansaço semanal), Me deixem dormir Em paz z z Z Z
LENITA ESTRELA DE SÁ Por Dinacy Corrêa153 Maranhense/ludovicense (15.12.1961). Poetisa, ensaísta e teatróloga, além de roteirista. Membro da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), do SERJ (Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e da Ube (União Brasileira de Escritores). Formada em Letras e em Direito. No universo das Letras, aos 15 anos, como cronista dos Diários Associados (Jornal O Imparcial). Aos 17, publica Reflexos, seu primeiro livro de Poesia. Sua segunda produção vem a ser Ana do Maranhão, peça teatral que mereceu o Prêmio Arthur Azevedo (1980), num concurso literário promovido pela UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e o Prêmio Brasília de Teatro (1981), concedido pelo INL (Instituto Nacional do Livro), Fundação Cultural e Governo do Distrito Federal. Segue-se No Palco a Paixão-Cecílio Sá (pesquisa-1988). É partícipe de Antologias Poéticas, como Guarnicê (1994), Novos Poetas do Maranhão (1988), As aves que aqui gorjeiam (1993). Sua bibliografia ainda é enriquecida pelas obras: Catharina Mina (teatro) – Prêmio Viriato Corrêa 1972; Tchbum na Bolsa de Mamãe (teatro infantil); Cabo das Maresias (teatro infanto-juvenil); Sabor de Cravo-da-Índia (poesia); O Acordo (teatro); Baraço (teatro); A filha de Pai Francisco (teatro infantil); Teimosia e Sangue (poesia); A lagartinha crisencrise (teatro infantil); Pinceladas de Dali e outros poetas (poesia) – Prêmio Cidade de São Luís 2010. Recentemente (05.03.2015), lançou, (no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), A Filha de Pai Francisco – bum meu boi para crianças (Prefácio de Américo Azevedo, ilustrações de Salomão Jr.), já numa terceira versão, adaptada ao gênero conto infantil. Incursionando, em seus escritos, também, por temáticas como escravidão, folclore, entre outros, Lenita de Sá é uma grande figura literária, que vem enriquecendo o universo das Letras Maranhenses, “com uma obra que testemunha a grandiosidade e beleza do seu talento, sua criatividade na arte da palavra, expressando-se numa linguagem simples, mas capaz de traduzir as emoções que elevam, enlevam e levam o leitor ao transporte poético”. (COSTA LEITE, 1999, p. 47). Apreciemo-la, no seu poetar: METABÓLICO Me recuso a deglutir aquela mágoa se me apaixono pela ideia do texto. Prefiro sair por aí mirar brincos africanos nas vitrines marcar o chope, planger bandolins: "descobrir que as coisas mudam e que tudo é pequeno nas asa da Pan-Air" ou ler escritos da poeta urbana feroz, finesse e fissura a cabeça no punho da rede e além da calçada Só não quero desaprender a espera de uma alegria capaz de me prostar.
(SEM TÍTULO) E se ouço umas notas e se a saudade apertar e se o vazio aumenta pego o fósforo risco um palito acendo um cigarro escuto qualquer voz. 153
CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
Para com isso faz mal mas não, não e não paro. Tiro outro trago deixo a fumaça escapar ai que delícia E você Não chamem de estranho Afinal Sou ou não sou da raça do homem...
MICHELLE ADLER NORMANDO DE CARVALHO São Luis – MA - 14 de novembro de 1979. É Psicóloga. Especialização em Psicologia Hospitalar pela FAMA (2005), Especialização em Psicopedagogia pela UNDB (2008) e mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão (2010). É Professora universitária da Faculdade Pitágoras - São Luís e da Faculdade do Maranhão- FACAM. Faz parte do Banco de dados de avaliadores de cursos de graduação do INEP/MEC. O HOMEM GONÇALVES DIAS Indianista humanista tuas palavras traduzem lutas traduzem amor traduzem vida Gonçalves Dias!!! No romantismo estás também... encontraste o amor que tanto querias e te encurralaram num beco sem saída entre o amor de Ana Amélia e a amizade da sua família abdicaste a ela ficando com a tua alma marcada em fogo eternamente ferida... No mar encontraste paz entraste para a eternidade por fim a gloria... por fim guarida!!!
JOSÉ RICARDO COSTA MIRANDA FILHO nasceu no dia 31 de janeiro de 1990, em São Luís, no Maranhão. Frequentou os colégios Materdei e Dom Bosco, onde concluiu o Ensino Médio. Em 2015, formou-se em Letras (Bacharelado em Produção Textual) pela PUC/RIO. Iniciou um apaixonado envolvimento com a poesia desde os 15 anos de idade, já tendo participando de vários concursos literários. Nada suporta O mundo acabou-se... estático Parou num estranho momento de amargura Enquanto, da sua essência, fugiu a candura... O encanto, que pouco tinha, ficou apático. Perdeu-se dentro da inutilidade E ganhou um espaço sem compaixão, Porque a ternura sumiu na eternidade E resultou-se numa aura sem atração. E aquele amor que nos mantinha Perdurou até o momento sem liberdade, Já que nada mais nos convinha. E ao fim de sentir essa realidade Permaneci sem a força que vinha Daquela esquecida saudade. Ricardo Miranda Filho
RAFAELA ROCHA Rafaela Rocha – pseudônimo RCTR (Escritora, poeta, compositora, professora, estudante de jornalismo e palestrante na área da Literatura). Natural de São Luís do Maranhão, nascida a 6 de março de 1983. Filha de Maria Raimunda Rocha e Ibraim José Ribeiro. Autodidata, entendeu-se como escritora e poeta desde os dez anos de idade. Aos 12, cria seu pseudônimo “RCTR” e passa a escrever letras de música (tornando-se uma exímia compositora, também). Estudante oriunda do Colégio Dom Bosco do Maranhão (Centro), foi lá que descobriu que tinha o dom e o talento para a escrita com a professora de Literatura/ Redação Tânia Sardinha. Aos 22 anos de idade, decidiu cursar a Faculdade de Letras na Faculdade Fama, onde conheceu um de seus mentores na escrita: o professor, escritor e membro da Academia Maranhense de Letras, José Neres que lhe convidava sempre a participar de eventos poéticos na Faculdade. Decidida então, a incursionar pelo meio literário, conhece seus outros dois mentores: os poetas Paulo Melo Sousa e Luís Augusto Cassas. Motivada e incentivada por uma amiga da Faculdade, a também escritora e poeta Paula Nicolino de Freitas (Paula Nicor) cria o Blog “caseiro”: As Poetizas brincando com as Palavras, onde postava diariamente suas poesias e composições musicais, o que lhe rendeu maior visibilidade no cenário poético maranhense. Então, ao participar de um encontro chamado “Papoético”, promovido pelo poeta, jornalista e pesquisador Paulo Melo Sousa, a poeta iniciante encontrou-se com a cantora, produtora cultural e poeta Ângela Gullar que a convidou para participar do seu projeto “Muitas Vozes”. Foi a primeira vez então que a escritora declamou seus poemas ao vivo ao público maranhense. Logo em seguida, foi convidada a participar do “Sarau Poético e musical em comemoração ao 400 anos de São Luís”, que reuniu cerca de 40 artistas no Centro Odylo Costa Filho. Em 2013, o renomado Professor e escritor José Neres publica em seu Folhetim, um periódico chamado “ILHA VIRTUAL,” um dos poemas mais importantes da escritora, intitulado A São Luís de Hoje... E ainda em 2013, decidida a aprender e a reter mais conhecimento para melhorar sua escrita, aos 29 anos de idade, a poeta volta a estudar agora o curso de Jornalismo na Faculdade Estácio de São Luís. Em 2014, conhecendo na rua, o escritor e poeta Marcelino Freire do Recife, na época da Feira do Livro (8 Felis) e mesmo sem ter nenhum livro publicado, o mesmo a convida a participar do seu projeto “Quebras”, ao lado de renomados escritores maranhenses como: “Bruno Azevedo e Laisa Couto”. Passando também pela primeira vez pela experiência de conversar e bater um papo com adolescentes de uma escola estadual do Maranhão. Ainda em 2014, a escritora intercambiou a vinda da escritora, poeta e professora carioca Cristina Biscaia, sua amiga e mestra na 8 Feira do Livro de São Luís (8 Felis 2014). Em 2015, foi convidada a participar da recepção de calouros promovida pela Faculdade Estácio de São Luís, onde recitou e declamou a poesia: O Que é um Sonho para Você? Em 2016, foi convidada pelo WTV Canal, um programa criado por estudantes de jornalismo da Faculdade Estácio de São Luís, cuja correspondente internacional é a cantora maranhense Anna Torres a dar sua primeira entrevista falando do seu ofício como escritora e poeta maranhense e falando dos futuros planos de publicação de seus dois livros: um de poemas/poesias intitulado Visão de Mundo (poemas, crônicas, contos e letras de música sobre o cotidiano) e o seu primeiro romance alinear, memorialista e psicologizante baseado em diálogos de um casal chamado Rafael e Marina: Amor Eterno, ao qual ela sempre posta alguns capítulos para degustação do público infanto – juvenil em sua página pessoal do Facebook. Ainda em 2016, teve a honra e a oportunidade de participar como palestrante na X Feira do Livro de São Luís através da AMEI (Associação maranhense de Escritores Independentes), da qual faz parte. Escritores Independentes), da qual faz parte.
POESIA: Mesmo jogada às traças, Mesmo perdida no mapa,
Mesmo tentado crescer, Eu não quero nem saber... São Luís, tu és para mim, Poesia e rima. Eu te vejo, com vida, Enalteço tua cultura, meu arrepio ao ver Tua linda arquitetura.
Eu penso em ti, todos os dias. Eu caminho em tuas ruas, todos os dias. Que eu ajude a zelar e a cuidar do teu rico patrimônio, que se dane o demônio, que quer ti destruir, mas a agente não afunda fácil assim. São Luís, tua História não tem fim. Graças a Deus, eu faço para ti
KEILA TAVARES Keila Rackel Tavares, formada em Letras-Inglês com especialização em Gestão Educacional e Didática Universitária. Escrevo desde os 10 anos. Tudo começou quando ganhou um diário e nele escrevia seus pensamentos e revoltas, só bem mais tarde começou a perceber que muitos dos meus escritos eram poesia. hoje dedica´se q saraus poéticos declamando seus autorais.
:Bate, bate coração Na vibração da bateria, sinto toda a energia que percorre suas mãos e é repassada aos corações é nesse momento que nos deixamos levar no sentimento que a banda passa na canção . Então, perdemos o tino, pulamos, saltamos e gritamos como meninos, pois no bate cabeça do rock e do pop o baterista e a banda são os amigos mais nobres, pois trás a felicidade ao rico e ao pobre.
LÍSSIA MARIA COSTA GOMES PROTÁZIO Estudante do Curso de Letras/Francês da UFMA; membro do Grupo de Pesquisa GEPELL (com enfoque em Língua Portuguesa como língua de herança); Servidora Pública (IFMA) e apaixonada pela vida traduzida em palavras debruçadas na arte da poesia e do poema.
POESIA: Menino de rua Sou um menino de pés descalços Ando pelas ruas e pelos becos Olho para cima e vejo Pássaros voando desnudos Profícuo cortejo Volto para baixo e vejo Sou um menino pobre Cheio de receio Ávido coração Levado ao vento como o pássaro Que voa,voa,voa Para morrer nos braços Daquela que me quer Como o céu quer o pássaro Sou um menino fraco Vivo para um abraço Morto de cansaço No seio da inanição Aguerrida na seca Não há quem me veja No meio da multidão Esvaziado de mim Sou mais um ladrão Sou quem ele quer Sou um menino no frio Voando eu vou Vou sem ninho No descanso mais torpe E ínfimo da dor Para o eterno vazio Fruto da estupidez Que brota a quem do amor A vida me deixou O legado mais lacônico Eu sou... Eu fui... Eu vou...
UM BREVE PASSEIO PELA ÉPICA DE SOUSÂNDRADE 154 JOSÉ NERES
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(Academia Maranhense de Letras)
Figura 1 - Composição da mesa-redonda sobre a obra de Sousândrade: José Neres, Luíza Lobo e o mediador Paulo Melo Sousa
Aristóteles, um dos maiores pensadores de todos os tempos, ao voltar-se para os estudos da literatura, em sua Poética, diz que a imitação é “algo natural ao homem desde a infância” e que todas as pessoas acabam tendo prazer em imitar. Dessa forma, as manifestações artísticas estudadas pelo filósofo grego acabam sendo vistas como um reflexo direto desse desejo humano de imitar tanto os elementos da natureza quanto as ações humanas, podendo o tipo de imitação diferir quanto o objeto, o meio ou a maneira, mas sendo sempre um reflexo de algo visto ou pelo menos imaginado. Ao comentar os aspectos dos poemas épicos, Aristóteles lembra que, na obra de Homero, os interesses do autor de A Ilíada e da Odisseia recaem na representação de “ações nobres e as de pessoas nobres” (ARISTÓTELES, 1996, p. 34). Partindo-se dos princípios clássicos, em termos gerais e para fins didáticos, é possível considerar a ideia de que “a poesia épica é aquela que narra ações humanas ou divinas, fabulosas ou lendárias, de modo mais ou menos extenso” (MOISÉS, 2008, p. 147). Nas letras universais, alguns poemas épicos acabaram tornando-se bastante conhecidos, lidos, admirados, revisitados e constantemente revistos, como é o caso de A Ilíada e a Odisseia (de Homero), A Eneida (de Virgílio), A Divina Comédia (de Dante Alighieri), Orlando Furioso (de Ariosto) A Canção de Rolando e El Cantar de Mío Cid (ambos de autoria desconhecida), entre outras epopeias. Porém o contato com essas obras acaba vindo mais por outras vias (cinema, televisão, adaptações, quadrinhos, etc.) do que propriamente pela leitura do texto integral. Mas mesmo assim não deixaram de influenciar gerações ao longo dos séculos. Nas letras brasileiras, os poemas épicos tiveram seu espaço mais nas páginas da historiografia literária nacional que na preferência dos leitores. Poemas como Prosopopeia, de Bento Teixeira; Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão; O Uraguai, de Basílio da Gama; A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, e A Invenção de Orpheu, de Jorge de Lima, são muito mais lembrados nas páginas de livros sobre literatura do que efetivamente lidos e comentados. A essa lista podemos acrescentar O Guesa, de Joaquim de Sousa Andrade, o nosso Sousândrade. 154
Palestra proferida no dia 19 de julho de 2018 na abertura do IV Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina no Brasil, no Convento das Mercês, em São Luís do Maranhão. * JOSÉ NERES é membro efetivo da Academia Maranhense de Letras, membro-convidado da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames), Sócio-correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (AICLA). Professor, escritor e autor de diversas obras sobre educação e literatura, com ênfase na literatura maranhense.
Um dos primeiros desafios que todo estudioso da obra soudrandina encontra é o de onde e como situar esse poeta maranhense na cronologia literária brasileira. Já que, para muitas pessoas, tudo e todos devem ser classificados e colocados em escaninhos compartimentados a fim de depois serem expostos em vitrines. Porém, Sousândrade e muitos outros autores nem sempre aceitam essas imposições. Um homem que tinha a consciência de haver escrito sua obra cinquenta anos antes de seu tempo, que escreveu, corrigiu e reescreveu seu principal poema ao longo de cinco década, em busca das melhores soluções possíveis para transformar a imaginação em palavras e que alterava constantemente até a própria assinatura realmente não pode ter seu trabalho facilmente classificado. Situar a produção poética de Sousândrade dentro de uma linha estético-cronológica das letras brasileiras, conforme foi dito antes, não é uma tarefa fácil nem mesmo para os mais experientes estudiosos do assunto. O professor Rubens Pereira dos Santos, ao tentar organizar os textos do poeta vimarense na cronologia tradicional do romantismo brasileiro, admitiu que: Assim com Machado de Assis, cuja classificação se tornou muito difícil, dada a diversidade de suas obras e a arguta observação psicológica, Sousândrade pertence cronologicamente à 2ª geração romântica, porém sua obra poética está inserida dentro das características do Ultra-Romantismo. Pode-se considerá-lo da 3ª geração porque o poeta preocupou-se bastante com os problemas sociais. Desde os seus primeiros escritos pregou a necessidade de o Brasil ser uma República. A escravidão também foi alvo de suas críticas. (SANTOS, 1993, p. 62) Essa mesma opinião é compartilhada pelo professor, historiador e crítico literário Massaud Moisés, para quem “Sousândrade se aproxima antes da terceira que da segunda geração. Não obstante, sua poesia transpira, na altura das Harpas Selvagens, o contágio, ainda que precário, das vertentes do tédio e da desesperação” (MOISÉS, 1989, p. 241). Sousândrade passou muito tempo perdido no limbo do esquecimento ao qual tantos importantes intelectuais de nossa pátria ainda estão renegados. Teve momentos de prosperidade, viajou por diversos países, enfrentou dramas familiares, passou por períodos de dificuldades financeiras, teve de metaforicamente alimentar-se das pedras do próprio muro, escreveu muito, defendeu a fundação de uma universidade no Maranhão, fundou jornais, travou polêmicas, exerceu atividades públicas, idealizou a bandeira do Maranhão, lutou pelo voto das mulheres, foi muitas vezes exaltado como gênio e outras vezes tratado como um lunático que andava mal trajado por nossas ruas e becos apontando para os céus, recitando seus versos e tentando dar o melhor acabamento para sua obra maior. Em 1902, quando as letras brasileiras recebiam alguns sopros de renovação e quando eram publicados importantes livros, como Os Sertões, de Euclides da Cunha e Canaã, de Graça Aranha, dando origem ao que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, o poeta calou sua voz, quedou seus passos e passou a fazer parte da eternidade. Mas tal e qual havia previsto, seus escritos só viriam a ser reconhecidos muitos anos após sua morte. Logo após a Semana de Arte Moderna, o poeta Oswald de Andrade reconheceu o pioneirismo do vate maranhense. Anos depois, já na segunda metade da década de 1950, os professores, poetas e pesquisadores Haroldo e Augusto de Campos trazem à luz a famosa Re-Visão de Sousândrade, uma alentada pesquisa que despertou o interesse de muitos outros pesquisadores pela vida e pela obra do poeta maranhense. Anos depois desse resgate feito pelos irmãos Campos, o professor e crítico literário Frederick G. Williams, no início da década de 1970, concentrado em seus estudos doutorais, atentou para a importância de Sousândrade para a formação canônica da literatura latino-americana e, em busca de mais dados para suas pesquisas, chegou à terra do autor de O Guesa e travou contato com Jomar Morais e dessa parceria surgiram muitos estudos sobre a vida e a obra de Sousândrade e, mais recentemente, em 2002, essa mesma dupla trouxe à luz, em luxuosa edição fac-similar, o livro Poesia e Prosa Reunida de Sousândrade. Nas últimas cinco décadas, a fortuna crítica a respeito desse genial poeta vem crescendo e ganhando dimensões antes inimagináveis. No final da década de 1970, a professora Luiza Lobo publicou seu livro Tradição e Ruptura: O Guesa de Sousândrade, jogando novas luzes sobre a obra-prima do poeta maranhense. Em diversos momentos de sua carreira, essa professora e crítica literária se debruçou sobre os versos de Sousândrade, lendo-os com grande acuidade e desenvoltura, tanto que em 1986 trouxe a público A
Épica Moderna de Sousândrade e mais adiante, tanto em seu livro Crítica sem Juízo (de 1993), quanto em outros trabalhos sempre retorna à leitura sobre nosso importante escritor. Outro estudioso que se dedicou e se dedica a elucidar as entranhas da poesia soudrandina é o professor Sebastião Moreira Duarte, que decidiu, em sua tese de doutorado, fazer uma comparação entre O Guesa e O Canto Geral, de Pablo Neruda, além de publicar pelo menos dois outros trabalhos com estudos sobre obra do autor de Harpa de Ouro, publicando, em 1990 o livro O Périplo e o Porto, cujo estudo foi retomado em 2002 no volume A Épica e a Época de Sousândrade, livros essenciais para quem começa a estudar a obra de Sousândrade O poeta e crítico literário maranhense Clóvis Ramos também deixou sua contribuição ao publicar um ensaio seguido de uma breve antologia no qual os principais pontos da obra e do estilo sousandrino são esmiuçados. Importante e elucidativo também é o breve discurso proferido pelo professor Ángel Núñez e que foi transformado em livro pela Universidade Federal do Maranhão em 1982, sob o título de O Guesa de Souzândrade, poema épico latino-americano. Nesse livro-discurso, o leitor tem, de modo sintético, porém profundo toda uma visão sobre a bases estrutural de O Guesa. Sousândrade também foi um dos escritores homenageados pela Editora Agir, que, durante anos publicou a coleção Nossos Clássicos, que constava de dados biobibliográficos, de um estudo crítico e de uma bem selecionada antologia com os mais significativos textos dos principais escritores da língua portuguesa. O número 85 da referida coleção foi dedicado ao ilustre poeta maranhense e contou com a organização, seleção de textos, cronologia e estudo introdutório assinados pelos poetas e professores Haroldo e Augusto de campos. Mais recentemente, a professora Ana Santana Sousa publicou o livro A Nação Guesa de Sousândrade: uma narrativa de Viagem, oriunda de sua tese de doutorado e que traz uma leitura singular do livro que deu origem ao trabalho. Como O Guesa é uma obra que permite leituras sob diversos prismas e ângulos, o professor e poeta Josoaldo Lima Rêgo escreveu e publicou um interessante ensaio Cosmovisão e Modernidade: Sousândrade e a formação do campo visual em O Guesa, no qual parte dos conhecimentos das mitologias, da historiografia e da geografia humana para demonstrar com o espaço físico e as diversas paisagens latino-americanas ganham importância na leitura crítica do poema e revelam o olhar do poeta sobre as Américas e outras partes do mundo. Claro que há inúmeros outros trabalhos sobre o poeta e que seria impossível citá-los aqui. Cabendo a quem se interessar sobre o assunto buscar outras fontes e outros estudos. E o que dizer sobre O Guesa? O professor Ángel Núnez considera esse poema “um texto surpreendente e inovador, sem dúvida verdadeiramente revolucionário para a época” (NÚÑEZ, 1982, p. 07). A professora Luiza Lobo acrescenta que “a metáfora inicia é, no Guesa, como em Homero, o périplo, mas ele se desloca da América do Sul para a do Norte, e dos índios à democracia norte-americana, numa temática cada vez mais ligada à política da história moderna, sempre acompanhando a autobiografia do autor (LOBO, 2007, 236). Sobre esse pacto autobiográfico, como diria Phillipe Lejeune, existente nos versos do poema, o crítico Sebastião Moreira Duarte comenta que após entrar em contato com o mito/lenda, e “tendo encontrado essa estrutura arquetípica nas bases antropológicas mais antigas da América pré-colombiana” o poeta maranhense logo percebeu que o mito “carecia de história”, então Sousândrade “emprestou-lhe ele mesmo as vicissitudes de sua Biografia” (DUARTE, 1990, p 17; DUARTE, 2002, p. 25). Os irmãos Haroldo e Augusto de Campos (1995, p. 21) comentam que se trata “de uma narrativa que não tem desenvolvimento lógico-linear, mas que evolui, por assim dizer, no plano da memória, tendo como esquema geral a lenda indígena do ‘Guesa Errante’”. Jomar Moraes e Frederick G. Williams (2003) consideram O Guesa como sendo o mais ambicioso e o mais caro projeto literário desenvolvido por Sousândrade em sua vida. Em verdade ele investiu cerca de meio século na elaboração dos treze cantos do poema, e mesmo assim deixou três deles incompletos (o sétimo, o décimo segundo e o décimo terceiro). De modo geral, O Guesa pode ser sintetizado como sendo “um poema épico com uma visão transamericana atípica: o personagem principal, o "guesa" - sem-lar ou errante -, extraído da mitologia dos antigos muíscas, índios colombianos, era um menino sacrificado em homenagem a Bochica, o deus do Sol”, conforme declarou Augusto de Campos em entrevista concedida ao Jornal o Estado de São Paulo, em 2009. Porém essa narrativa épica vai muito além das aparentes facilidades de uma síntese do enredo, pois, conforme escreveu a professora Luiza Lobo (2012, p. 19), “O Guesa inscreve-se no projeto de uma nova épica, cristã e romântica, que queria ser universal, interlinguística e intertextual”, “a figura do
Guesa é a de um anti-herói brasileiro e hispano-americano, sincretizado como o modelo do anti-herói romântico que, como eterno exilado, viaja pelo mundo, num incessante périplo em busca de sua identidade” (LOBO, 2012, p. 20). Como se trata aqui de um breve passeio pela épica de Sousândrade, encerramos aqui com as estrofes iniciais do poema, esperando que elas sirvam como passaporte para que cada um de vocês possam fazer a própria viagem, encontrar-se ou perder-se na companhia do Guesa. “Eia, imaginação divina! Os Andes Vulcânicos elevam cumes calvos, Circundados de gelos, mudos, alvos, Nuvens flutuando – que espetac’los grandes! Lá onde o ponto do condor negreja, Cintilando no espaço como brilhos D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde deserto, O azul sertão, formoso e deslumbrante, Arde do sol o incêndio, delirante Coração vivo em céu profundo aberto! (SOUSÂNDRADE, 2012, p. 51) Com esses versos iniciais do grande poema, encerro minha fala, agradeço à presença de todos e espero que essas palavras sirvam de estímulo para novos estudos sobre nosso iluminado poeta. Muito Obrigado!
REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores) CAMPOS, Augusto; CAMPOS, Haroldo (orgs.) Sousândrade. 3 ed. rev. Rio de Janeiro: Agir, 1985. DUARTE, Sebastião Moreira. A épica e a época de Sousândrade. São Luís: AML, 2002. DUARTE, Sebastião Moreira. O périplo e o porto. São Luís: EdUfma, 1990. LOBO, Luíza. Crítica sem juízo. 2 ed. rev. Rio de Janeiro: Garamond. 2007. MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira – Romantismo. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1989. MOISÉS, Massaud (org.) Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira. 7 ed. atual. São Paulo: Cultrix, 2008. NÚÑEZ, Ángel. O Guesa de Sousândrade, poema épico latino-americano. São Luís: Edições Ufma, 2002. RAMOS, Clóvis. O poeta Sousândrade: Cristal dos Andes, o gênio Imorredouro do Guesa. São Luís: Fundação Sousândrade, s/d. RÊGO, Josoaldo Lima. Cosmovisão e modernidade: Sousândrade e a formação do campo visual em O Guesa. São Luís: EdFunc, 2008. SANTOS, Rubens Pereira dos. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993 SOUSANDRADE, Joaquim de. O Guesa. Rio de Janeiro/São Luís: Ponteio/AML, 2012. SOUZA, Ana Santana. A Nação Guesa: uma narrativa em viagem. São Luís: AML/EdUema/Fsadu, 2008. WILLIAMS, Frederick G.; MORAES, Jomar (Orgs.) Poesia e prosa reunidas de Sousândrade. São Luís: AML, 2003.
OS ANOS 1970/80 NO MARANHÃO: SURGE UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras / Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Licenciado em Educação Física Podemos considerar que o “Antroponáutica” foi um movimento literário? Ou deu inicio a um novo movimento, integrado pelo pessoal do Guarnicê? “Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê 155, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 156. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponáutica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponáutica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.
Naquele final de 69, inicio dos anos 70, no Liceu Maranhense, cinco jovens poetas maranhenses resolveram propor uma ruptura com a tradição poético/literária do estado. Estava-se na segunda metade do século XX e ainda eram perceptíveis os traços do simbolismo e parnasianismo nas obras de poesias que eram lançadas: Os cinco propunham uma renovação urgente no fazer poético no Maranhão. Eram eles Viriato Gaspar157, Raimundo Fontenele158, Chagas Val159, Valdelino Cécio160 e Luis Augusto Cassas161, 155
O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos 155 de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero . E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília. BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.; LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 156 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 157 VIRIATO GASPAR (São Luís/MA). Poeta e jornalista brasileiro, radicado em Brasília-DF desde agosto de 1978. Funcionário de carreira do Superior Tribunal de Justiça. Possui participações em relevantes antologias poéticas nacionais. Vencedor de muitos prêmios literários com uma bibliografia do mais alto nível. Ao lado de outros poetas como Luís Augusto Cassas, Chagas Val e Raimundo Fontenele, fundou e integrou o Antroponáutica, movimento literário do Maranhão de grande destaque na década de 70. É o autor de Manhã Portátil (1984), Onipresença (versão incompleta, 1986), A Lâmina do Grito (1988), e Sáfara Safra (1996) entre vários outros títulos inéditos. Os poemas desta seleção foram extraídos do caderno/antologia Quibano, organizado por Carvalho Junior e Antonio Aílton. https://quatete.wordpress.com/2018/05/17/4-poemas-de-viriato-gaspar/ 158 R A I M U N D O F O N T E N E L E - Nasceu em Pedreiras, MA. Tem uma dúzia de livros de poesia publicados. Hippie nos anos 60, militante de esquerda nos anos 70, é um dos fundadores do Movimento Antroponáutica, renovador da poesia maranhense. Em Curitiba, foi também um dos fundadores e editores da revista de literatura e arte Outas Palavras. De 1980 a 1996 residiu em Porto Alegre , RS, onde exerceu intensa atividade literária, ganhando prêmios, publicando crítica e artigos em revistas e jornais. De volta ao Maranhão, reside em São Domingos , MA, onde exercia as funções de Diretor do Departamento do Cultura. A colheira do mundo e Venenos estão entre seus títulos de livros recentes. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/raimundo_fontelele.html 159 CHAGAS VAL - Nasceu no Estreito, Buriti dos Lopes - Piauí, a 23 de julho de 1943. Até os vinte anos residiu no Piauí onde fez o curso primário no estreito e em Buriti dos Lopes no grupo escolar Leônidas Melo, o ginasial em Parnaíba no ginásio São Luís Gonzaga e até o 2° ano científico também em Parnaíba, no colégio Lima Rebelo, quando, então, se transferiu para São Luís,
todos poetas genuínos que tinham como interesse maior renovar a poesia no Estado do Maranhão, rompendo com as antigas escolas literárias do Século XIX que tanto influenciaram as gerações passadas. Deles somente Raimundo Fontenele possuía um livro lançado. O nome do movimento é uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzzi, Antroponáutica é o nome de um poema de sua autoria. O poeta inclusive era junto do grande Nauro Machado e José Chagas, os únicos da geração anterior que os Antroponautas enalteciam e citavam como influência. (CASTRO, 2016) 162 Um ponto comum, os encontros começam num bar, no caso no Canto da Viração, com as reuniões regadas a cerveja e muita discussão em torno dos caminhos futuros da poesia maranhense: A principio, o primeiro passo era chamar a atenção da elite literária da capital, com a chegada dessa nova leva de jovens poetas, que buscavam mudanças no meio literário do Maranhão. Logo saiu a famosa Antologia Poética do Movimento Antroponáutica, e convidados a integrar um projeto da Fundação Cultural que publicou os cinco juntamente com outros novos poetas na Antologia Hora do Guarnicê. Lima (2003) 163 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros. Teixeira164 diz que a fundação do ‘Laborarte” - fundado oficialmente em 11 de outubro de 1972 –, teve sua criação de ideia l de formar um coletivo de arte integrada, reunindo teatro, música, dança, artes plásticas, fotografia etc, do Movimento Antroponáutica (1969-1972), até então estruturado em cima da poesia. Quase não havia espaço para publicação de seus artigos e poemas; e com muita luta começaram a publicar no Jornal do Dia (jornal comprado pelo Sarney que veio a se tornar o Estado do Maranhão), o Jornal do Maranhão (da Arquidiocese), que tinha um critico de cinema, José Frazão, que acolheu muito bem as novas ideias do pessoal. Silva (2013) 165 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)166, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e em 1963, terminando o científico no colégio de São Luís. Professor em vários colégios da Capital maranhense (Rosa Castro, Luís Viana, ginásio SENAC, escola Normal do Estado), somente em 1974 licenciou-se em Letras pela UFMA, quando já iniciara a sua carreira poética com a publicação, em 1973 de Chão e Pedra. E vieram depois, Chão Eterno e Mundo Menino (1979), Teoria do Naufrágio (1987), Floração das Águas (1992), Estado Provisório da Água (1993) e Anatomia do Escasso Cotidiano (1998). Fonte da biografia e da foto: www.redutoliterario.hpg.ig.com.br , disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/chagas_val.html 160 JOSÉ VALDELINO CÉCIO SOARES DIAS nasceu no estado do Pará, mas tornou-se o mais maranhense da sua geração. http://severino-neto.blogspot.com/2015/07/a-poesia-segundo-valdelino-cecio.html 161 LUÍS AUGUSTO CASSAS - Nasceu e mora em São Luis do Maranhão desde 2 de março de 1953. Publicou muitos livros de poesia, sempre bem recebidos pela crítica. Cheguei a ter um contato com o Luis Augusto por correio, mas aí ele sumiu de vez... Só o encontro nas livrarias, para matar a saudade de seus versos... Já tenho quase uma dúxia de livros dele na estante! Estou agaurdando os outros... A.M. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_augusto_cassas.html 162 CASTRO, Natan. Movimento Antroponáutica - Atitude e Ousadia Poética No Maranhão em Meio ao Regime Militar. In Literatura Limite, disponível em http://literaturalimite.blogspot.com/2016/02/movimento-antroponautica-atitude-e.html 163
LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003
164
165
TEIXEIRA, Cesar. Laborarte: raízes de um ideal. In Blogue de Zema Ribeiro, disponível em https://zemaribeiro.com.br/tag/antroponautica/ CARLOS CESAR TEIXEIRA SOUSA - 15/04/53, São Luís-Maranhão. Ingressa no Liceu Maranhense (1966). Participa do Teatro de Férias do Maranhão-TEFEMA, cujos ensaios eram realizados no Teatro São Pantaleão (1968-1971). Vence o I e o II Salão Intercolegial de Pintura, promovidos pelo Governo do Estado (1969 e 1970). Integra o Coral Liceísta do Maranhão (19691971). Participa do Movimento Antroponáutica, do qual fez parte como compositor e artista plástico (1970-1972). Classificase em 3º lugar no III Festival da Música Popular Maranhense, com a música "Salmo 70", em parceria com o poeta Viriato Gaspar (1972). Participa da fundação do Laboratório de Expressões Artísticas - LABORARTE (1972). Lança o folhetim poético “Os Ossos do Hospício” no Laborarte (1972). Lança a antologia poética em folhetim “Sem Pé nem Cabeça”, junto com vários autores (1975)
SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014
de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas: [...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. O primeiro passo havia sido alcançado, os Antroponautas haviam sido reconhecidos também por João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira, Jomar Moraes e Nauro Machado, que perceberam a chegada dessa nova leva de jovens poetas. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirma que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”... Já Mário Luna Filho diz que foi ativo no movimento, quando aluno do Liceu... Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 167, assim se coloca: [...] Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Continua: A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’. Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010) 168, os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 169. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968). 166
REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 167 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 168
CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf
169
ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994
A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz (2003)170, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração anterior 171·, aponta, em seu Nomes e Nuvens outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica. (In GUERRA ERRANTE, 2012) 172. Tanto Assis Brasil (1994) 173, quanto Dinacy Corrêa (2010) 174 afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 175, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrê – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Buscamos com Corrêa (2014) 176, a explicação necessária sobre esse “movimento”: Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado 170 171
CRUZ, Arlete Nogueira da. NOMES E NUVENS. São Luis, UNIGRAF, 2003
[Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 172 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 173
BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 175 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 174
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CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.
de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão.
Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas. Segundo Lima (2003) 177, os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo Neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)178; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro. Bioque Mesito179 respira fundo e desabafa: Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura. Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio das ALUMAR. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno 177
LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 179 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 178
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e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão. Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 180 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o antiacademiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem181. Para Mesito182: É bem verdade que desse grupo [Akademia dos Párias] apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas três poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de dois livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura. A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995. Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 183. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos: Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamonos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou”… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. 180
LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. LIMA e Outros, 2003, obra citada.. 182 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 181
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LIMA e Outros, 2003, obra citada..
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Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu? “Até 1980, eu costumava frequentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela ideia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEMESE ”184 O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! Zeca Baleiro, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 185. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha. E esta outra geração (1990/2000...): que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)186 184
CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 185 LIMA e Outros, 2003, obra citada. 186 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm
SHARLENE SERRA MHARIO LINCOLN Mais uma vitória suada. Mas merecida. DEZ. Será lançado neste sábado (13) em São Luís/MA o livro infantil “Interagindo Com Lucas” da escritora maranhense Sharlene Serra. A obra aborda o TEA - Transtorno do Espectro Autista, e faz parte da Coleção Incluir, que já possui quatro títulos iniciais publicados. O novo trabalho da autora narra a chegada do menino Lucas em uma escola inclusiva, que já tem a preocupação do respeito às diferenças. Lá ele é recebido com carinho e atenção, e conhece Pedro, que inicia a busca de informações para entender sobre o autismo. O lançamento do livro será no São Luís Shopping (Praça de Alimentação - Piso 2) a partir das 16 horas. Viajar pelo mundo literário inclusivo é como abrir uma janela e contemplar novos horizontes, é enxergar o mundo de forma mais concreta e humanizada, é observar o outro como um ser de direitos e deveres e amá-lo com suas diferenças. A Coleção Incluir promove o encontro de crianças com e sem deficiência e apresenta a todas, que o mundo só é fantástico por existir nele a multiplicidade, a diversidade, aprendemos com as diferenças existentes em cada um de nós e este aprendizado, propicia aos alunos uma educação humanizadora e certamente planta a semente, para construção de uma sociedade mais igualitária e fraterna. Os outros livros que compõe a Coleção Incluir são: “Olhando Com Ritinha”, “Ouvindo Com Vitória”, “Caminhando Com Paulo” e “Aprendendo Com Biel”. No primeiro livro, a autora fala sobre a aprendizagem da pessoa com deficiência visual e apresenta as combinações do braile. No segundo, ela nos faz aprender que mesmo em silêncio, podemos nos comunicar e assim ouvir o som da inclusão. O terceiro da coleção, conta a história de um garoto cadeirante que faz uma mobilização para tornar a cidade mais acessível e mostra as dificuldades de acessibilidade enfrentadas, enquanto o quarto livro aborda sobre a Síndrome de Down, mostrando a escola como espaço ideal para o resgate de aceitação e eliminação de preconceitos. Todos os livros da coleção tem como objetivo a educação inclusiva, onde através da leitura as crianças sem deficiência aprendem sobre as diferenças, estimulando, principalmente sobre a importância da acessibilidade atitudinal. Sharlene Serra é maranhense e reside na capital São Luís. É Especialista em Educação Inclusiva pela Faculdade Santa Fé e graduada em Pedagogia e em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Maranhão. Formadora Educacional e possui experiência há mais de 10 anos na área de Educação Inclusiva. Membro da Academia Poética Brasileira e da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. Além dos livros da Coleção Incluir, a autora possui publicado ainda o livro “Diário Mágico: Um Segredo Para Contar”, que aborda sobre abuso infantil. Além da participação na antologia “Setembro Poético”, lançada em 2017. Os seus livros podem ser adquiridos sob contato pelo WhatsApp +5598988888557 e pelo e-mail escritorasserra@gmail.com.
MANOELSERRAO https://www.escritas.org/pt/n/t/45004/o-india-sao-luis-afro-lusa-franco-brasileira-manoelserrao?fbclid=IwAR1YemrD9TKdtGXoglLe-aYrknek6lMPxxEiqay4zlMsxLdC8ffghuCo32s
Nasceu a 19 Abril 1960 - (São Luis - Maranhão) Manoel Serrão da Silveira Lacerda. Nasceu em São Luís [Atenas Brasileira] capital do Estado do Maranhão, na Santa Casa de Misericórdia, em 19 de abril de 1960. Filho de Agamenon Lucas de Lacerda e de Oglady da Silveira Lacerda. Neto paterno de Manuel Lucas de Lacerda e Maria Antônia Lucas de Lacerda; neto materno de Hidalgo Martins da Silveira e Maria José Serra da Silveira. Ascendência geral de espanhóis e portugueses judeus. Advogado e Professor de Direito, formado pela Faculdade de Direito do Recife - UFPE, Ó ÍNDIA SÃO LUIS AFRO-LUSA-FRANCO BRASILEIRA [MANOEL SERRÃO] Ó minha bela Odara Deusa de Ébano, ó minha “Índia” das matas bravas onde o Deus Tupã reinara. Ó minha dama Lusa, gloria ‘splendorosa dos navegadores do passado, ó triunfal és tu imorredoura Atenas. Ó majestático verve, idílio universal, orlada de luz e louvada de odes do encantar o orbe. Ó minha pequenina joia, presépio de fascinar a íris, aquarela de cores vivas e praias mais belas. Ó c’roa altiva airosa franco séc’lar, ó minh’ alma ondara dos mourejares que se aformoseia ao pé do mar. És tu, formosa Régia, o elo da tríade, a pétala livre da rosa, a exora étnica unitiva mais viva das raças... Ó vós que deixais de encanto a quem contemplas, e de encantados por Amor à Ilha ao Rei D. Sebastião encantou. És tu, índia guerreira, pele vermelha das ocas, eco das tabas, - sangue Tupi – upaon-açú -, antropofágica dos Tupinambás. És tu, índia guerreira, herdeira tribal – linhagem terral – nação das flechas e dos arcos nas mãos – upaonaçú - ancestral dos Maranhanguaras. És tu, que deu-te Deus, ó formoso Lusa - por sábia Atena portuguesa com certeza -, a’ voz do verso e da prosa de sustê-la na poesia o verbo amar. És tu, que fê-la Deus, ó altiva Lusa - oste em vós cativa da sorte -, a coroar-te em pedra e cal quão o sábio de sublimá-la liberta em arte. És tu, que deu-te Deus, ó afro Mina - bendita África dos filhos bantos da raça – Ó que mais vós sabeis presa liberta da cafua escrava: se é-lhe como o fora sagrada a Casa de Mina consagrada. És tu, que deu-te Deus, ó afro Bissau, e assim, fora no casto escuro imundo das senzalas a voz do berro o clamor sem doma e no quilombo fora o levante do negro valente por liberdade.
Ó minha Ilha lá fora deserta quase vazia vê-se enamorada chegar nos áditos a bela brumosa alvorada. Ó minha veste de folhas novas e maresia cheirosa, orlada dos ventos e zéfiros em odes alegres, ó semente nova do equinócio, lá fora desperta quase vazia ouve-se o chilrear matinal dos pássaros povoando o silêncio da vida com uma lúdica cantoria. Ó minha Ilha celeiro da poesia que todo dia renasce para a grande festa da Vida. Lá fora desperta quase sozinha ao levantar-se o olhar a fitar as árvores e as gotas de orvalho que escorre dos galhos, eis que contemplam-se para os lados do mar, um sossego raro, e a viração entre ladeiras e becos, na Sagração, o composto mar no Bacanga que atravessa pela Barragem. Ó minha Ilha lá fora vê-se um largo chão de água mansa onde apetece o Atlântico levitar, arremetendo mar adentra até os olhos se virarem e contemplarem a cidadela que desce a pé até o manguezal se abraçar. Ó minha Ilha lá fora na Praia Grande os olhos contemplam o majestoso alcantilado dos casarios adormecidos na penumbra da madrugada que se despedem das luzes e dos carros os faróis que não deixam esquecer que tu, ó Velha São Luís, da 28 de julho e das meretrizes és afilha do Desterro dessa casta. O corpo, por mais que a imaginação o importune, não desliga. As levitações propícias são um ardil. Lá fora a minha bela Ilha na alvorada das sombras desvela-se uma cidade desconhecida. O apogeu do dia. Tão cheio de magia que as escassas pessoas no meio da manhã úmida e fresca falam-se como se conhecessem desde a antiguidade do tempo e da meninice. Imersos em tamanha cumplicidade que até os estranhos se encenam gente conhecida de há muito. Os segredos, ah, os segredos, estão nos interstícios das sombras. Lá, no meio das páginas amarelecidas, onde os passos descobrem os segredos escondidos entre becos, mirantes, praças e escadarias teimosamente univitelinas, coladas e abraçadas, o manancial da existência do porvir. És uma só quermesse de luz que o sol aquece, folgança que abraça-nos e requebra que nos aquece, escondido no ocidente, que espalha-te romântica sobre os telhados, colorindo-os quão Dali que os pincéis molhasses nas cores do arco-íris de uma São Luis surreal. Ó eternal Ilha guardiã, tu és: dos rios; dos mangues; da fauna; das fontes; das matas; do manto cerúleo céu; e, do berço aninho, quão guardiã, tu és: dos abraços incontido das raças, pois somente à vos cabeis a posse definitiva dos pores-do-sol da nova França. Ó imortal Ilha meu viver será hoste, sempre assim ser-te amigo. Repousar no teu colo, ó São Luís q’inda me sejas abrigo.
POESIA, TRANSCENDÊNCIA ANTONIO AÍLTON
Este livro, embora à primeira vista não pareça, é uma experiência radical. Em pleno vigor, hoje, de uma poesia da experiência urbana e urbanoide, da fragmentação e dos discursos informais, o que faz um poeta como Natan Campos, que nasceu, como poeta, com experimentações concretistas, publicar um livro de sonetos? O que possibilita essa coragem é, muito provavelmente, em primeiro lugar, a feição da própria contemporaneidade, que tudo permite enquanto diferença e liberdade de voz, inclusive do soneto. Podemos estar aqui diante de um pontapé na "sonetofobia"!
Em segundo lugar, parte de uma posição muito própria desse poeta que tantas vezes prefere viver a poesia a publicá-la: a de que ele não está nem aí se vai agradar ou não aos modistas de plantão. O universo poético de Natan Campos é aquele da Literatura com letra maiúscula, toda a Literatura, de Homero, a Dante, a Goethe, a Nauro, até agora. Ele concebe os radicalismos, mas prefere a qualidade substancial, a profundidade e os abismos que a literatura traz independentemente do tempo, o que é eterno. Nesse caso, esse poeta está cumprindo seu papel mesmo de poeta contemporâneo, nas palavras do filósofo Giorgio Agamben, para quem o poeta é aquele que está no seu tempo, mas dele pode tomar distância, tornarse nele um assombramento. Muito do imaginário soturno e desconcertante, duplamente desconcertante, já que por vezes encontramos aqui algo de um desconcerto do mundo – como em: "A essas alturas já nem disfarço/que a mão se agarra ao verbo insegura./Que os versos se façam enquanto eu passo." – é surpreendente, se pensarmos na juventude e na compleição física desse poeta. É um poeta nostálgico da cidade antiga, em seus momentos de homenagem a São Luís, da cidade que "foi e já não é", que é atravessada por outra cidade, mas que o poeta carrega no corpo, a lembrar um sujeito gullariano: "a tornar meu passeio mais difícil/ por avenidas e entre os edifícios/ de outra cidade erguida em São Luís". É um poeta que traz a imagem do boi e do matadouro, a ruminação bovina, a canga mundanal. Podemos entender aí a assunção de um sujeito lírico que recorre à sua experiência existencial entrelaçada à experiência do tempo para além de si, e, evidentemente, à evocação das vozes que permeiam o imaginário dos espaços que carrega, e suas leituras. Que a poesia de Natan Campos, em sua absoluta coragem e transcendência, fale mais alto. Antonio Aílton Poeta, pesquisador da literatura contemporânea [Membro da ALL] Para Jorge Luís Borges Bem antes de virar realidade todo poema já estava pronto em estado de possibilidade, assim como os romances e os contos, nos labirintos de uma cidade em que os poetas caminham tontos, catando grãos de musicalidade, juntando reticências, letras, pontos. Os poemas, os contos e os romances, com todas as suas formas e nuances, esperam nas prateleiras de um limbo. E na biblioteca de Babel, munidos de caneta e de papel, os poetas tão só os passam a limpo.
LXIII Para Antonio Aílton Ainda que o meu nome fosse cristo e um pai me desse a morrer numa cruz pra só depois das trevas ter a luz e um corpo celeste depois do cisto, é nesta carne inglória que existo, feita de esperma, sangue, riso e pus, que o tempo a quase sombra já reduz e que carrega um gene de um mefisto. Mas mesmo sendo o inocente bode que expia de outro a culpa e nada pode além de ofertar-lhe um grosso escarro, que ao menos este sangue seja o vinho que encontre em minhas veias o caminho das mãos que me refaçam de outro barro.
‘Sabolim’, de Fernando Braga ORLANDA LUÍZA
Estas são a capa e a contracapa de ‘Sabolim’, de Fernando Braga, uma intertextualização poética de 'Tropas e Boiadas', de Hugo de Carvalho Ramos. Aguardem. Breve! "Fernando Braga, a pura sensibilidade e profundeza de sentimento. Acabo de ler as maravilhosas XXXV estrofes de Sabolim. Vivi no meio das Tropas e Boiadas. Uma goianeira, literalmente. Dos ermos e gerais. Das pousadas dos peões. Dos caburés gritantes e agourentos. Da mãe de ouro descendo em luz para mostrar onde estava o tesouro enterrado. Assombrações e benzedeiras. Goyania, assim, e Goyaz e tropeiros e animália. É Minas e Goiás e tudo Gerais. Fumo de corda, cortado em finas rodelas, esfrangalhadas entre os dedos e acomodadas com esmero na palha. O pito na orelha, o café cheiroso do fogão a lenha, improvisado, uma trempe. O amor extremado do pai por seu Sabolim. A rede para lhe trazer o eterno dormir, sem sequer usar um cipó lá da casa paterna, cipó que não lhe apertaria tanto a garganta... Por quê? Tantos poemas e tantas outras Tropas e Boiadas poderia trazer ao mundo literário, ao universo de cada ser anímico. Atravessar com a gente o Rio Vermelho [de chorar sua partida em tragédia], o Rio Verde de esperanças, o Rio Paranaíba, divisor de águas, histórias e Estados, antes de seguir para o mar e virar oceano... E Sabolim... Não vê mais os capinzais, as veredas verdejantes a sugerir o volteio de namorados... As flores e frutinhas campestres, murici, guariroba, pequi, costela de vaca, mandioca e quiabo, todos os Frutos da Terra... A fauna, a cobra sucuri enroladinha, como se sentisse muito frio. A boiada a descansar, para seguir a estrada. O acordar dos tropeiros com uma chicotada na parede, de madrugada... E quebra o simbolismo e rasga e derruba florestas e gera o regionalismo... que somos nós. Cada um com seu linguajar, a retratar a terra que é sua, seu viver. E tudo se eterniza. Sabolim é vivo, com ressuscitamento em suas Letras. O mal do século o levou! O jornal trouxe uma nota simples sobre um jovem que morava numa pensão no Rio de Janeiro. E a pergunta é a mesma do Poeta: E por que, Sabolim? Se Deus é tudo e Senhor do Tempo e da Vida? Por quê? Com as próprias mãos?!"
POESIAS & POETAS
DILERCY ADLER ALMA DE POETA I Dilercy Adler Que alma é essa que habita o meu corpo irrequieta aventureira ...como contê-la? que alma é essa estranha ao meu corpo que se entranha insinuante inconformada com toda essa realidade reprimidamente "bem comportada"? que alma é essa tão infatigável apaixonadamente volúvel que habita um corpo de poeta - o meu corpo de vida tão curta tão previsível tão limitada! ALMA DE POETA II Dilercy Adler Alma poeta lapida espinhos lustra cascalhos esgrima lagrimas -tão sentidas quanto humanase chora poemas em temas e temas e teimas incontidas do mais puro amor! In: Cinquenta vezes dois mil: humanas idades, 2000 PALAVRAS INSONES-I Dilercy Adler A pena inquieta desliza apenas se deita
se deixa... ...agoniza mas goza o júbilo dos justos justeza apertada sofrida! A pena inquieta procura por sobre o papel se debruça insinua palavras insones que querem dormir o teu sonho mas que só me deixam acordada! PALAVRAS INSONES-II Dilercy Adler Dorme poeta te aquieta quem sabe amanhã tu consigas falar tuas melhores palavras jogar toda essa mágoa pra fora gozar o teu mais longo gemido dorme poeta tranquila dorme poeta dorme o teu sono nenhum sonho ruim terás com certeza sonha poeta o teu sonho de um mundo melhor nesta terra! deita poeta repousa e deixa as palavras quietas deita poeta não ouses mais do que já ousaste hoje! In: Gênesis: IV Livro, 2000 Ontem foi o dia do poeta. Ofereço aos poetas amigos esses poemas que dizem um pouco de nós!!!!
ESCUTA Dilercy Adler ESCUTA Nada foi ou será em vão aquieta tua alma aquieta teu coração!... palavras engasgadas dor rasgando o peito acontecem como acontecem!... o dia acaba a noite embala sonhos pesadelos mas outra vez amanhece!... aquieta tua alma aquieta teu coração!... aquele voo razante aquela inversão ... invadindo a contramão esquece!.. outros dias virão! aquieta teu coração não deixes que se sinta indignado afetos arranhados choros convulsivos lágrimas silentes não ficam estagnados se diluem na via lactea! vês aquela estrela sozinha no céu? sou eu és tu um dia vai ser diferente... não estaremos sós nada é em vão aquieta tua alma aqueita teu coração... nunca estarás só nada foi ou será em vão!
João Batista do Lago ABOIO De João Batista do Lago Senhores calhordas! Que transgridem e vilipendiam A consciência da nação e do seu povo, Quanta covardia ainda vão açular Com os seus discursos vagabundos? O aboio que todos fazem Dirigidos aos currais da nação São cantos monótonos encantantes Dirigidos à boiada de errantes Na vaquejada de inconscientes. Se essa manada pensasse por si Não seria guiada por vaqueiros assassinos Prestes a empurrar o punhal - Sem pena e sem piedade No manso coração do boi ajoelhado
AYMORÉ ALVIM MEMENTO HOMO! Aymoré Alvim. AMM, ALL, APLAC. Lembra-te, homem, Que tu és pó, Porque do pó vieste. E nada poderás fazer para impedi-lo, De vez que ao pó retornarás um dia. Não sei por que tanta obsessão em acumular bens e poder? Nada levarás daqui quando partires, Pois nada tu trouxeste, Quando aqui chegaste. Nada. Absolutamente, Nada levarás contigo Quando baixares hirto à terra fria, Teu eterno berço donde tu um dia Saíste crente em dominar a terra. Só vaidade, pura vaidade Esse foi o teu erro, na origem, A alimentar a tua fantasia Em querer ser Deus. Quanta ousadia! Pensaste ser melhor que todos E não eras. A eles te nivelarás, Naquele dia, Quando repousarás com tua utopia No seio da terra Que te servirá de abrigo, Durante a eternidade calma e sombria E, então, teus sonhos dormirão contigo.
O HOMEM E A PAZ. Aymoré Alvim, APLAC, ALL, AMM. No princípio era o nada Porque tudo estava em Deus Ele encheu de tudo o nada E assim apareceu Tudo o que hoje se vê Sem nada poder faltar. Criou o céu e a terra E tudo o que neles há O dia, a noite, as estrelas, Lagos, rios e o mar. Só faltou criar a paz Para o homem então criar. Não só criar, mas manter Para tudo funcionar Senão tudo volta ao nada E aí, o que será? O céu, a terra, as estrelas E tudo o que neles há Se não for criada a paz Tudo ao nada voltará. É o fracasso do homem Perante o seu Criador Que criou tudo pra ele E que nada lhe faltou Só faltou criar a paz Mas o homem não criou.
MARIO LUNA FILHO
IRANDI MARQUES LEITE O Natal milenar navega na engenharia da palavra I Vetores humanos E cartas sobre a mesa Um calendário milenar Aponta a dimensão do tempo Natal antes do galo cantar II E no embalo de uma catenária Entre constantes e variáveis Mergulhemos na magia do Natal Quando corações contraidos Ficarão expandidos Num simbolismo de estrutura espacial III O vetor do pensamento Busca balanças abstratas Para pesar almas Que ficarão leves para abraçar os irmãos do mundo. IV Arranhei o espelho da magia Embaçado da vida Para limpá-lo E ver revelada a noite de Natal. V A carga Magnética da vida Provoca plasticidade nos corpos humanos VI As bênçãos do Pai Criador Moldarâo os seres humanos Com maior coeficiente de elasticidade e plasticidade Com adaptação das curvas centrípetas e centrífugas Em direção ao infinito, No túnel do tempo E na velocidade da luz Para que amemos pessoas de todos espaços do Universo. AMÉM.
INDICAÇÕES DE LEITURA
SURREALISMO & LOUCURA – Ceres Costa Fernandes Jornal Pequeno 30/09/2018
A arte e a loucura nem sempre foram bem-comportadas diante de suas fronteiras imaginárias, aliás, quase sempre desconsideraram tais limites. Freud acreditava que o homem enérgico, ao obter sucesso na transformação das suas fantasias do desejo em realidade, evitava que ele se desviasse do real. Se fracassasse em razão de circunstâncias externas, ele daria passos para o universo mais feliz de seu sonho. Em caso de doença, o conteúdo desses sonhos se torna sintomas. Mas, se ele possui o dom artístico, “psicologicamente tão misterioso”, ele pode transformar os sonhos em criação artística. Sendo, então, a manifestação artística uma forma de exorcizar a própria insanidade, preenchendo esse vazio com alguma criação, a autora observa que nenhum movimento artístico se presta mais ao estudo dessa interação “inconsciente/loucura/arte” do que o movimento surrealista. E o lugar da loucura no Surrealismo é o objeto do ensaio que dá título ao livro. Um apanhado sobre a loucura no decorrer da história e considerações de Faulcaut, de Durkhein e, naturalmente, de Freud sobre aspectos do comportamento também engrandecem o ensaio. O livro traz, ainda, outros ensaios: analisa as distintas visões sobre a vida rural na poesia de Cesário Verde e na prosa de Eça de Queirós; um estudo psicológico sobre o tema da morte e do amor em “Os Maias” de Eça; e acerca do romance “João Rama e suas andanças nas maldições do encantado”, de Ronaldo Costa Fernandes à luz da “teoria da carnavalização” assentadas sobre os estudos de Bakhtin, Ceres Costa Fernandes, professora universitária, mestra e integrante da Academia Maranhense de Letras (AML), usa uma linguagem coloquial, sem pretensões acadêmicas, concedendo-nos, portanto, uma simpática e agradável leitura. São quatro ensaios deveras enriquecedores para os interessados em uma boa literatura. Há uma falsa atribuição, no senso comum, de que os intelectuais, sobretudo os do mundo literário, não seriam bons nas coisas de Estado que necessitasse de praticidade administrativa. Poderia escrever cinquenta páginas desmentindo isso. Na falta de tempo dou, como exemplo, a autora desse livro. Quando assumiu a gestão do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, deu uma revitalizada cultural que marcou época em nossa cidade. De imediato, observou o grande cenário à disposição para grandes eventos literários. Um achado, diante da escassez de espaços para essa finalidade. Criou, então, o Café Literário. Evento mensal que reunia escritores, leitores ou, mesmo, curiosos da literatura. Durante 4 anos, movimentou a vida cultural maranhense, realizando palestras com nomes consagrados de nosso meio literário e artístico. Aberto ao público interessado no tema, devolvia a São Luís o espírito que causou tanto orgulho um dia. Essa bela história está muito bem registrada no livro “Café Literário – Memória”, organizado pela autora. Essas são as nossas duas sugestões literárias da semana.
O OFÍCIO DE MATAR SUICIDAS – José Ewerton Neto Jornal Pequeno 28/10/2018 Na página de classificados de um jornal, um prosaico anúncio com telefone de contato oferecia ajuda aos suicidas sem coragem... A ideia de abraçar esse original negócio surgiu, como na maiorias das novas ideias, pela necessidade. Afinal, o dono do botequim onde almoçava fiado já não o acolhia com a mesma simpatia, subentendendo que tolerância não é coisa ilimitada. A logística era modesta mas imaginativa: Ele mesmo atendia o telefone só pra dar outro número, realçando assim, a própria importância. Uma conhecida sua viabiliza água pra banhar, celular, crédito telefônico e outras coisas básicas. Pronto, empresário e empresa estavam dignos desses nomes. Todo negócio demanda problemas, e esse teve os seus quando, por exemplo, confundir um sujeito com um cliente, o equívoco é interpretado como uma cantada amorosa e acaba em pancadaria. Ou na ocasião em que por pouco não morre junto com o suicida. E, ainda, quando ao errar o alvo matou um cachorro e foi preso. Tropeços à parte, a carreira deslancha, os assassinatos aumentam, é um sucesso. Às vezes, é acometido de angústias e sente-se observado, mas logo, a perspectiva de novos clientes concilia a consciência com os ossos do ofício. Afinal, além de pagarem bem, e – por motivos óbvios –adiantado, todos morriam satisfeitos. Apesar da relevante folha de serviços prestados e da relativa fortuna acumulada, ressentia-se de permanecer insignificante, visto pelos outros com irrelevância. Talvez, por que os clientes nunca pudessem fazer a propaganda de sua eficiência... Ao vê-lo, os clientes sempre se mostravam surpresos pela aparência quase inofensiva, não tinha um tipo que assustasse. “É minúsculo e triste, sequer é feio e engraçado, nem para palhaço serviria”, escreveu sobre ele num diário uma de suas vítimas. Podia até dar-se ao luxo de largar a profissão, mas não havia mais volta. Em sua carteira de clientes surgiram desde atriz decadente, atleta, senadores da República e até um charlatão líder de seita religiosa. E, em todos os casos, muito imbróglio e surpresa. Uma delas será a tentativa de suicídio do próprio matador. Essa, sem bom êxito, no entanto. Haverá arrependimento e abandono do ofício, não sem um “servicinho” final. Esse, o único que não foi a pedido... Penso que o livro do romancista, contista, poeta e cronista José Ewerton Neto daria uma boa e bem humorada adaptação para o teatro. Coisa que sentimos falta em nossa terra. Essa é a nossa sugestão literária da semana.
O LABIRINTO – Adonay Moreira “Quando, certa manhã, Gustavo acordou, algo de extraordinário havia acontecido”. Inicialmente, leve surpresa, e logo, espanto. Uma sensação de outro mundo haver se instalado naquele quarto, apesar da ordem dos móveis e objetos. A fim de superar a incômoda situação, levanta-se e sai do quarto, então, depara-se não com o corredor de sempre, mas vários corredores que conduziam a outros tantos e iguais. Também constatou que durante certos intervalos “encontravam-se escadas que tinham o formato de espiral, ou pelo menos, ele assim as percebeu”. Uma brincadeira, por certo, foi o que pensou para enganar-se. Sem saber do que se tratava, voltou para o quarto, sentou-se para melhor refletir, olhou pela janela constatando que o mundo exterior lá embaixo continuava igual. Atribuiu tudo ao cansaço. Pensou em ligar para Laura, mas ponderou que um pedido de socorro desse pudesse arruinar um investimento... Optou pelos amigos, mas descobriu serem as ligações telefônicas impossíveis. Estava só. O tempo passa, ele tenta encontrar o melhor caminho, percorre corredores, abre portas que levam a lugares sempre parecidos, e, de inopino, julga estar de volta a esses mesmos lugares. Ora largos e espaçosos, ora diminutos e estreitos, e nunca levando à saída. Definhava, mas não sentia fome nem sede. Era tudo estranho. Até isso. Tentou fazer mapas e usou estratégias que se mostraram inúteis, pois além de mudarem de formato a cada dia, a falta de ornamentos nas paredes dos corredores dificultavam-lhe a empresa. “O labirinto se tornava não só de difícil acesso, mas demasiado confuso”. Ao final de cada tentativa voltava ao único caminho certo: o quarto. As noites caem e nada de novo. Ele apenas contempla pela janela a vida lá fora. Pensou no fato de que se morresse ninguém comentaria a respeito. Ao folhear papéis na gaveta, encontra uma agenda e nela, a anotação de que Laura viria na data de hoje. Esperança. Mas, não veio. Não veio ninguém. Um dia, enfim, ao encontrar a saída, desiste dela, preferindo outra, menos fácil, mas definitiva e extrema. O livro do jovem e talentoso Adonay Moreira, nos remete a uma angústia kafkaniana, embora o próprio labirinto e um episódio com espelhos denunciem uma influência borgiana. É a impressão que dá. Recebeu o Prêmio Graça Aranha na categoria novela em uma edição do concurso literário Cidade de São Luís. E, nesse caso, merecido. Essa é a nossa sugestão literária da semana.
O DOCE INFERNO DO PADRE VIEIRA – Sermão XIV de N. Sra. do Rosário Deslocada daquele contexto e trazida para a nossa época, ganha ares de número teatral de um roteirista irreverente fazendo pilhéria com a Igreja ou, quem sabe, até dissimulando um racismo inconfesso. Mas era um sermão do Padre Vieira na capela de um engenho incerto, na Bahia, em 1633. De forma habilidosa, Vieira se dirige aos escravos anunciando não uma, mas duas formidáveis notícias: são todos eles, os escravos, filhos de Maria Santíssima e, tem mais, foram escolhidos para nascerem uma segunda vez, depois dessa vida terrena. Essa conclusão, ele explica, tem base nas Escrituras e é reforçada pela douta interpretação de Santo Agostinho. “Nasceram de mãe do Altíssimo não só os de sua nação, e naturais de Jerusalém [...] senão também os estranhos e os gentios. E quem são estes?” O Altíssimo, por meio do Rei Profeta, já dissera que, “entre os que me conhecem, farei menção a Raabe e de Babilônia; eis que da Filisteia e de Tiro, e da Etiópia, se dirá: Este é nascido ali”. Ora, de Raabe, são os brancos cananeus; os babilônios igualmente brancos; os de Tiro, mais brancos ainda; “e sobre todos, e em maior número que todos, o povo dos etíopes”, negros, portanto. As escrituras davam aos escravos garantias de sua maternidade divina. Mas, apesar disso, senhores e feitores pareciam fazer pouco caso da distinta filiação... A outra Boa Nova é que eles já se encontravam até “inscritos e matriculados nos livros de Deus e nas Sagradas Escrituras”. Imagino que, depois dessa notícia, desejar uma carta de alforria seria até ingratidão... A partir daí, Vieira pede “mais particular atenção” para lhes falar das obrigações que advêm “do vosso novo estado e tão alto nascimento”. A primeira delas era dar “infinitas graças” a Deus por vos ter dado ciência “das coisas da religião”. E, por “vos ter tirado de terras, onde vossos pais e avós vivíeis como gentios; e vos ter trazido a esta terra, onde, instruídos na Fé, viveis como cristãos, e vos salveis”. E garantia que aquilo que “pode parecer desterro, cativeiro e desgraça” é senão “milagre, e grande milagre”. Vieira poderia ter até acrescentado um “Aleluia!” diante de tanta fortuna. Pelo visto, uma promessa já se cumpria com as bênçãos da extremosa Mãe do Rosário, pois os navios negreiros singravam os mares sem parar. E, se vinham abarrotados, é por querê-los em grande número a fim de libertá-los da idolatria e da perdição, tarefa não se sabe por qual mistério, só poderia ser cumprida na América... Quanto ao duro labor diário, Vieira, em performance de palestrante motivacional, adverte não ser motivo para negligenciar a reza do Rosário, lembrando que “nem o grande rei Davi, monarca de maiores obrigações, esqueceu-se de criar salmos próprios para serem recitados durante o trabalho”. Que se pusessem, então, a esta produtiva maneira de adorar e trabalhar. Vieira reconhece o calvário como coisa terrível, porém passageira e edificante, “pois não o viveu também o Salvador do mundo?” Isso não os colocava, escravos e o Senhor Jesus, em pé de igualdade para a salvação? “Bem-aventurados vós se soubésseis conhecer a fortuna de vosso estado” e, por essa divina semelhança com o Filho de Deus, aproveitassem para “santificar o trabalho”. As semelhanças com o Messias não ficam por aí. A cruz do martírio “foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três”, diz ele, referindo-se à porteira de entrada das fazendas. De fato, uma vantagem e tanto... “Imitadores de Cristo, portanto!”, brada o jesuíta. Para Vieira, o aspecto dos engenhos, com os trabalhos exaustivos sol a sol, a fumaça, a fervura das caldeiras de cana, o suor, os ruídos de rodas, uma Babilônia, enfim, muito se assemelha à vida no outro inferno, aquele debaixo da terra. Mas isso tem solução fácil, pois, em meio a tudo, se durante as orações, eles ouvirem a voz do Rosário, “todo esse inferno se converterá em Paraíso; o ruído em harmonia celestial; e os homens”, apesar de sua condição de escravos em “anjos”. E o jesuíta arremata garantindo que “mais inveja devem ter vossos senhores às vossas penas, do que vós aos seus gostos, a que servis com tanto trabalho”. Invejosos, certamente, e só uma extrema timidez explica não terem requerido essa privilegiada posição ocupada pelos escravos. Misturando pomposa teologia à mais rasteira catequese, Vieira, em seu estilo alto e claro, como deveriam ser as palavras, exercita a retórica para provar aos cativos que viver sob aquela condição nos canaviais era antes sorte boa que infortúnio. Imagina-se a desolação dos senhores de engenho diante de tão reveladora pregação, tomando ciência de que não lhes cabe, mas sim, aos seus escravos a inefável recompensa, que só tem lugar no vasto céu...
DIREITO & LITERATURA
O PÓS (19)41 – A FACULDADE DE DIREITO DE SÃO LUIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Ao se comemorar o Centenário de Fundação da Faculdade de Direito no/do Maranhão, muitas dúvidas ainda persistem sobre o seu descredenciamento em 1941, por irregularidades, relatadas pelo Inspetor Federal, embora haja quem afirme que tal ato foi puramente político187. Muito embora os avisos de irregularidades – logo sanadas – no cumprimento das leis, decretos e normas – mudadas constantemente, em especial pós 1930 -, ao que parece não eram apenas de parte da Faculdade do Maranhão, pois em 1938 o Ministro da Educação, Gustavo Capanema, ao apresentar relatório das ações do Governo Federal, assim se manifesta sobre o “Ensino Superior: Finalmente, com relação aos estabelecimentos de ensino superior mantidos por particulares e pelos poderes públicos locais, o Governo Federal adotará o seguinte programa: exigência de requisitos regorosos para o reconhecimento, fiscalização assídua e com finalidade orientadora, e concessão de recursos financeiros, na medida do possível.
Os problemas, aqui, começam a tomar forma efetivamente com a nomeação, em janeiro de 1939, do Sr. João Soares de Quadros como Inspetor Federal da Faculdade de Direito do Maranhão. Por indicação do Interventor Federal... Em sua agenda, o Interventor Federal dava conta de reunião – já no mês de abril -, com o Diretor do Ensino Superior sobre a situação da Faculdade de Direito do Maranhão, ameaçada de ter suspensa a sua equiparação. Em maio, novamente no Rio de Janeiro, e em conferencia com o Sr. Ministro da Educação, e, logo depois, com o Diretor da Divisão de Ensino Superior, para tratar da situação da Faculdade de Direito do Maranhão. O parecer de cassação deixou de ser discutido naquela reunião, a fim de se aguardar o relatório do fiscal da Faculdade pertinente ao ano de 1938. Em agosto, o Inspetor Federal junto à Faculdade de Direito, Soares de Quadros, demissão ao Ministro de Educação.
solicita sua
De acordo com Costa (2017) 188, em 1939, a Faculdade de Direito do Maranhão e a Faculdade de Farmácia e Odontologia foram levadas a encerrar suas atividades. As razões atribuídas pelo Departamento Nacional de Ensino para o fechamento de ambas foram irregularidades administrativas (Dino, 1996) 189. Para Dino (1996; 2014), teve inicio naquele ano de 1939 processo de destruição lenta e gradual da velha Faculdade; pergunta-se: quando precisamente? Donde começou? Quem assumiu a responsabilidade do processo de cassação da Faculdade de Direito do Maranhão? Para ele, não se sabe... Ninguém quis ou quer assumir oficialmente tal responsabilidade... Mas esse processo, como já se disse, vinha se arrastando desde 1930, quando o Governo Provisório do Norte decretou o encerramento das aulas. Mas não foi só da do Maranhão, diga-se... Outras causas apontadas, e que deve ter aparecido no Relatório do Inspetor Federal, foram os concursos para professores catedráticos, que se apresentavam eivado de vícios. Chamo atenção para o de Direito Civil, no qual Soares Quadros tentou inscrição e fora rejeitada. Também contribuiu as constantes mudanças na legislação de ensino, em especial a instituição dos Cursos Complementares, pré-jurídico, previsto com a reforma de 1931 e só iniciando seu funcionamento, no Maranhão, em 1936 – esta a principal irregularidade, ao que parece, apontada por Soares Quadros, pois a 187
DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luis: EDUFMA, 1996; 2ª edição 2014. COSTA, Marcia Cordeiro. A GÊNESE DA EDUCAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR NO ESTADO DO MARANHÃO E POLÍTICA EDUCACIONAL: os embates travados pela sua efetivação e consolidação. VIII JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. São Luis, 22 a 25 de agosto de 2017, UFMA/Programa de Pósgraduação em Políticas Públicas
188
189
DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luis: EDUFMA, 1996; 2ª edição 2014.
Reforma “Francisco Campos”190 previa o fechamento dos institutos superiores que não implantassem esses Cursos Complementares 191. Outro fator, a fragmentação do pensamento pedagógico representado pela dualidade de correntes e depois numa pluralidade e confusão de doutrinas, que se encobriam sob a denominação de “educação nova” ou de “escola nova” susceptível de acepções muito diversas (Buzar, 1982, citando Azevedo, 1958)192. Houve intensa troca de correspondência entre a Diretoria da Faculdade de Direito do Maranhão e os representantes estaduais na Câmara dos Deputados solicitando interferência na regularização da Faculdade, haja vista terem implantado o Curso Complementar, o que motivara, por parte da Divisão de Ensino Superior, o fechamento da Faculdade. Assumindo a direção da Faculdade, Oliveira Roma - junto com o Interventor Federal - se dirige ao Rio de Janeiro para tentar sanar as irregularidades apontadas. O Inspetor, então, renuncia à sua função. Mas os estragos já estavam feitos. O ato de descredenciamento já havia sido votado, e aprovado... Telegrama publicado a 12 de setembro de 1939 comunicava que a Faculdade de Direito do Maranhão fora desiquiparada pelo Conselho Superior de Ensino. Mas, por interferência do Interventor Federal, e a pedido da diretoria da Faculdade de Direito e de telegramas mandados pelo Diretório Acadêmico a diversas autoridades federais – Ministro da Educação, Presidente da República, e bancada maranhense -, o encerramento das atividades é adiada, pois [...] que resolução final votada pelo Conselho Nacional de Educação e por mim homologada permitte encaminhamento satisfactorio assumpto, pois manda submeter Faculdade a fiscalização por funcionário idôneo, designado pelo Departamento Nacional Educação. Resultado dessa investigação manifestara governo a resolver em definitivo. [...]
Note-se, no telegrama, “submeter à fiscalização por funcionário idôneo”, designado pelo Departamento Nacional de Educação. Estava se colocando sob suspeita o relatório do Fiscal Federal, dr. Soares de Quadros? Aquele que fora nomeado a pedido do próprio Interventor Federal? E que solicitara sua demissão da função poucos meses depois de nomeado, quando ‘estourou’ o descredenciamento da Faculdade, por irregularidades? Não só a Faculdade de Direito; de acordo com Costa (2017)193, a Faculdade de Farmácia e Odontologia também foi levada a encerrar suas atividades. As razões atribuídas pelo Departamento Nacional de Ensino para o fechamento de ambas foram irregularidades administrativas 194. Buzar (1982)195 afirma que o Departamento Nacional de Ensino, em fiscalização, constatou que estas faculdades além de não apresentarem condições para funcionamento, no que se referiam as suas instalações, não cumpriam com alguns preceitos legais com relação aos requisitos mínimos que os deveriam apresentar quando do exame vestibular. Ao se voltar o olhar para a conjuntura da década de 1930, Costa (2017)196 afirma que esse período inaugura outra etapa do ensino superior no País e, conseqüentemente, no Maranhão, decorrente das profundas mudanças no cenário político e educacional, resultante do governo Vargas (1930-1945). Surge, então, um aparelho de Estado centralizador no intento de estabelecer seu projeto nacionalista. Para Cunha (2017), o período de 1937 a 1945 assinalou a nova fase política e educacional do país, caracterizadas por um 190
Nome da primeira reforma educacional de caráter nacional, realizada no início da Era Vargas (1930-1945), sob o comando do ministro da educação e saúde Francisco Campos. 191 MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Reforma Francisco Campos. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/reforma-francisco-campos/>. Acesso em: 26 de dez. 2017. 192 BUZAR, Solange Silva. OS ESTÃGIOS SUPERVISIONADOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1982. AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 3. são Paulo, Melhoramentos, 1958. p. 179 193 COSTA, Marcia Cordeiro. A GÊNESE DA EDUCAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR NO ESTADO DO MARANHÃO E POLÍTICA EDUCACIONAL: os embates travados pela sua efetivação e consolidação. VIII JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. São Luis, 22 a 25 de agosto de 2017, UFMA/Programa de Pósgraduação em Políticas Públicas 194 DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luis: EDUFMA, 1996; 2ª edição 2014. 195 BUZAR, Solange Silva. OS ESTÃGIOS SUPERVISIONADOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1982. 196 COSTA, 2017, obra citada
conjunto de reformas educativas, que ficaram conhecidas como Leis Orgânicas de Ensino ou Reforma Capanema (MARTINS, 2002)197. Até meados de agosto de 1941, tudo parecia estar ocorrendo conforme os acordos políticos e a intervenção do Interventor Federal: [...] a Faculdade de Direito do Maranhão não será fechada. Essa decisão foi garantida pelo Sr. Abguar Ransut, Diretor do Departamento Nacional de Educação. O dr. Oliveira Roma declarou, igualmente, que foram regularizados os casos dos cursos secundários superiores, do Maranhão, considerados defeituosos.(O IMPARCIAL, 20/08/1941)
Então, adveio o Decreto n. 8.085 de 21 de outubro de 1941, que cassou o reconhecimento da Faculdade de Direito... Em conseqüência, foi forçada a fechar definitivamente suas portas, [...] “sendo seus arquivos recolhidos também ao Ministério e garantido, igualmente a seus alunos que se transferissem por escolas similares em outros estados.” (MEIRELLES, 1995, p. 67)198. O Imparcial de 23 de outubro de 1941, sobre o descredenciamento da Faculdade de Direito do Maranhão revela: Noticia-se, com agrado, que o governo do Estado em face do fechamento de nossa Faculdade de Direito,, cujo ato já foi assinado, segundo se anuncia, resolveu, num gesto digno de apoio, tomar a si a solução do problema do Ensino Superior de Direito em terra, deliberando fundar uma Faculdade de Direito sob o controle do Estado. [...] Foi designada pelo Chefe do Estado uma comissão composta pelos drs. Luis Carvalho, João Matos e Oliveira Roma para organizarem o plano necessário para a fundação da nova Faculdade de Direito, que se espera funcione logo em 1942. Quanto a situação dos acadêmicos atuais, ao que n os informaram, será resolvida, sendo-lhes permitido prestarem ainda este ano as suas provas.
Voltemos a Salvio Dino (1996; 2014): [...] por que tanta ‘ingenuidade’? Será que nossos os nossos doutos catedráticos nem ao menos desconfiavam de alguma trama contra o funcionamento da velha Academia? Não tinham um diálogo aberto, franco, sincero com o inspetor federal Soares Quadros, que fora nomeado por expressa recomendação do interventor Paulo Martins de Sousa Ramos? Não sentiram o menor cheiro de maquiavelismo na história da repentina cassação do reconhecimento da nossa Salamanca? (2014, p. 110).
Dino (1996; 2014) refere-se à entrevista que fez com Fernando Perdigão, que confirmou que a Faculdade teve o seu reconhecimento cassado em virtude de irregularidades administrativas detectadas pelo Ministério da Educação (p. 111). A segunda consubstancia-se na conjunta do Estado-Novo e sua presença ostensiva nos setores cultural, econômico e educacional em terras maranhenses (p. 113). Dino baseia-se no entendimento da profa. Maria Regina Nina Rodrigues (1993)199, que afirma: [...] Vargas afirmava, num dos seus discursos, que o Estado deveria assumir a suprema direção da educação nacional, fixando os seus principais fundamentos e controlando a sua execução, de modo que todas as atividades educacionais do país, de caráter federal, estadual, municipal ou privado, fossem dirigidas pela mesma disciplina. No Código da Educação Nacional seriam estabelecidos os princípios gerais da organização e fundamento de todo o aparelho educativo do país. O centralismo e o autoritarismo expressos nessa fala do presidente já constara na própria Constituição de 1937, na qual dedicou um capitulo especifico sobre as questões da Educação. (p. 146, Dino, p. 113).
Dino (1996; 2014), considera: 197
MARTINS, A. C. P. Ensino superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais. ACTA CIRÚRGICA BRASILEIRA, v. 17, São Paulo, 2002. Suplemento 3, citado por Cunha, 2017, obra citada 198 MEIRELLES, Mario M. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: Alumar, 1995. 199
RODRIGUES, Maria Regina Nina. MARANHÃO: DO EUROPEÍSMO AO NACIONALISMO: POLÍTICA E EDUCAÇÃO. São Luis: Plano Editorial SECMA, 1993.
[...] por demais natural que o interventor procurasse um meio adequado a fim de fechar um estabelecimento de ensino que não possuía a menor afinidade ideológica com os princípios norteadores do chamado Estado Nacional. [...] considerava o comunismo maldito e sinistro, não haveria melhor caminho para a cassação da Faculdade de Direito do que se alegar, embora de maneira sub-reptícia, o envolvimento da ‘1doutrina satânica’ na vida da velha escola da Rua do Sol. (2014, p. 120).
Para Dino (1996; 2014), a vertente política consubstancia-se em depoimento que colheu de Ignácio de Mourão Rangel; quando, ainda jovem revolucionário, foi preso e encaminhado para as masmorras da ditadura Vargas, ao lado de Joaquim Mochel, Fernando Perdigão, Antonio Bona e Clarindo Santiago: “a Faculdade de Direito fechou porque eu voltei para estudar direito, tinha preparado meu segundo, terceiro quarto ano...” (p. 122-121, 2014). Quanto à questão financeira, de há muito vinham os cortes – desde meados da década de 1920 – da subvenção à que a Faculdade fazia jus, seja federal, seja estadual ou municipal; mas sempre, ao final do ano, alguma verba era-lhe destinada, e em nenhum tempo de sua existência deixou-se de pagar o salário dos professores e funcionários, assim como às suas dívidas. Praticamente vivia das doações, em especial do comércio, e da contribuição mensal de seus alunos – mensalidades -, e, muitas das vezes, diante dos apertos financeiros, os professores renunciavam aos seus salários, em benefício do funcionamento regular do instituto superior. Concordo com Dino de que esse não foi o motivo... Quanto às irregularidades, no tocante ao ingresso de professores, tenho minhas dúvidas, haja vista as constantes denúncias, e exames que se arrastavam por anos, como o foram os de Direito Civil, e Direito Romano... o ‘convite’ através de contrato, para cumprir o ano letivo, e muitas das vezes recusado pelo convidado, e a disciplina então distribuída para professor da casa, para não prejudicar os alunos, também não pode ser considerada motivo, mesmo com o relatório de Soares Quadros, parte interessada... No ingresso de alunos ao primeiro ano, também se coloca dúvida ser este o motivo. Principalmente porque as normas de ingresso mudavam, até mesmo dentro do ano letivo por mais de uma vez, e, em virtude, os prazos nem sempre eram cumpridos, mas as normas diziam que poderiam ser as matriculas provisórias, comprovando-se sua regularidade após o inicio do ano letivo... Todas essas alegações eram falsas!? No corpo do decreto não se encontram especificados quais os itens que foram violados pela tradicional Faculdade de Direito do Maranhão. Para Dino (1996; 2014) não houve violação de preceito legal. “Houve, sim, uma manifesta vontade política de cassar a Salamanca maranhense” (p. 143, 2014).
1944 – FUNDAÇÃO PAULO RAMOS Paulo Ramos em 1944 estava no Rio de Janeiro, e concede entrevista, reproduzida aqui pelo O Imparcial de 3 de março, em que afirma que o fechamento da Faculdade de Direito se deu pelas irregularidades constatadas e por falta de recursos. Mas que estava tomando as providencias necessárias para fundar uma fundação com um patrimônio de pelo menos cinco milhões de cruzeiros. Essa fundação manteria desde logo uma Faculdade de Direito. Já havia cedido dois milhões de cruzeiros em bônus de guerra para a Fundação, além dos prédios que serviram de sede para a antiga faculdade e da Escola de Agronomia. A Prefeitura Municipal também destinou recursos e a doação de um grande terreno para a construção da sede da Faculdade. Assim, em 3 de julho o Interventor Federal aprovava o projeto de lei criando uma Fundação que seria a mantenedora da Faculdade de Direito de São Luiz, além de outros estabelecimentos de ensino superior. Marcelo Lima Costa (2016) 200 considera que a indicação de Paulo Martins de Sousa Ramos para o governo do estado do Maranhão, em 1936, representou uma virada na política estadual. Antes de sua chegada, as facções políticas estaduais se confrontavam visando as eleições indiretas de 1934, para o cargo máximo no estado. O grupo que tinha a maioria no Legislativo estadual indicou o 200
COSTA, Marcelo Lima. O projeto de modernização de São Luís nos anos Paulo Ramos (1936-1945). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, como requisito para obtenção do título de Mestre em História Social. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. São Luís, MA. 2016
médico Aquiles Lisboa para o cargo de governador. Contudo, os desentendimentos entre o Executivo e o Legislativo ocasionavam a diminuição do apoio parlamentar ao governante recém-eleito. Em dado momento, a oposição ansiava destituir Lisboa do cargo, mas este se mantinha respaldado por decisões judiciais. A gravidade da crise ocasionou a intervenção federal, apresentada como uma solução temporária. Paulo Martins de Souza Ramos é indicado pelo presidente Getúlio Vargas para pacificar os ânimos. A intenção do governo central era estabelecer, no Maranhão, um clima favorável às reformas institucionais que o país estava passando. A indicação de Paulo Ramos foi um ato simbólico contra a “politicagem fratricida”, como Flávio Reis201 denominou o clima político estadual e representou, também, um importante passo para o desenvolvimento do projeto de modernização pensado pelos intelectuais do governo Vargas para o país. Nas palavras de cronistas da época, mencionados por Benedito Buzar202, a politicagem estaria levando o estado à ruína moral e econômica.
Com o fechamento das duas únicas faculdades existentes na capital, os jovens maranhenses mais carentes, não tendo condições de iniciarem e/ou prosseguirem seus estudos superiores fora do Maranhão, ficaram marginalizados do ensino durante o período de 1941 a 1944, quando o então Interventor Federal, Dr. Paulo Martins de Sousa Ramos, reconhecendo que esse fato estava contribuindo para o atraso cultural e intelectual dessa juventude, criou, em 19 de julho de 1944, a "Fundação Paulo Ramos", com o fim estatutário de manter o ensino superior no Estado.
1945 – A FACULDADE DE DIREITO DE SÃO LUIZ - Decreto 17.558/45 Assim, foram instituídas as Faculdades de Direito e de Farmácia e Odontologia de São Luís, e autorizadas a funcionar pelos Decretos nos. 17.558/45 e 17.553/45, respectivamente. O “Diário de São Luis” do dia 1º de maio de 1945, em editorial intitulado “O Caso do Sr. Paulo Ramos” assim se manifesta, reproduzindo publicações de “A Folha do Norte”: No governo do sr. Paulo Ramos mais subia quem nais moralmente descia. O critério para a escolha dos auxiliares obedecia às normas usuais daquele governo, isto é, que o candidato á investidura fosse bajulador e não tivesse vontade própria. Assim se procedeu com raras, é verdade, honrosas exceções. No Maranhão o governo do Sr. Paulo Ramos chegou a tal grau de acanalhamento que até a tradicional Faculdade de Direito passou a denominar-se “Fundação Paulo Ramos!”
Nova publicação, no “Diário de São Luis”, do dia 09 de maio de 1945, com o título “A cegueira pauloramista” afirmava que fora o responsável pelo fechamento da Faculdade de Direito: [...] provocu o fechamento da nossa tradicional Faculdade de Direito, para depois, com o prestígio do cargo que entupia, conseguir a reabertura da mesma e organizar, então, a fundação Paulo Ramos [...]
Costa Lima, do Recife, em artigo especial para o “Diário de São Luis”, publicado em 22 de maio de 1945 assim se manifesta, sob o titulo “Revidando”, sob ataques que sofrera, estranhando que no Maranhão aja alguém que exalte as realizações de Paulo Ramos. Assinala que, tendo vivo por três anos na Atenas brasileira, como acadêmico de direito de nossa Faculdade aprendera a amar e a respeitar as tradições daqui: Tendo cursado durante três anos a tradicional Faculdade de Direito do Maranhão, onde a fina flor da cultura jurídica do Estado, com sacrifícios de toda espécie mantinha o fogo sagrado do amor aos supremos ideaes da humanidade, consubstanciados no respeito á lei, á liberdade dos cidadãos, no culto supremo aos princípios de uma sã democracia, convicendo com a elite cultural de São Luiz, onde cintilavam, então, as mais formosas inteligências e os espíritos mais vivazes, Antonio Bona e Luiz carvalho, Oliveira Roma e Raul Pereira, Alfredo de Assis e Raul Castelo Branco, João Vieira e Eleazar Campos e tantos e tantos outros, tendo a Faculdade a direção daquele velhinho que respeito com amor quase paternal, Alcides Pereira, eu não poderia nunca bater palmas a um chefe de executivo que, em pleno regimen democrático, em fins de 1937, antes do 10 de novembro, cometia toda a sorte de 201
REIS, Flávio M. Grupos políticos e estruturas oligárquicas no Maranhão (1850-1936). Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas. São Paulo, 1982. 202 BUZAR, Benedito. O vitorinismo: lutas políticas no Maranhão de 1945 a 1965. São Luís: Lithograf, 1998. BUZAR, Benedito. Vitorinistas e Oposicionistas (Biografias). São Luís: Edição do Autor, 2001.
inomináveis violências, de que as prisões violentas de Jerônimo Viveiros e Hilton Rayol revoltaram todos os homens de bem do Maranhão. Sob o regimen de 10 de novembro, com plenos poderes em suas mãos de déspota, sem jamais olhar a diretriz traçada na direção suprema do Pais o vulto respeitável , cuja atuação pacifica, digna e clarividente guiava o Brasil para os mais altos desígnios, o barbado ex-ditador maranhense comete contra os homens de bem do Estado toda sorte de agruras, bem próprias da sua alma pérfida de homem sem alma e coração. As humiulhações impostas ao decano dos advogados maranhenses, Alcides Pereira, extinguindo a Faculdade de Direito por mero capricho de sóba, não respeitando sequer a tradição cultural daquele educandário, com o fito doentio e único de arrancar daquelas mãos honradas a direção da Faculdade, que durante anos a fio emprestava a segurança e honrades da capacidade, diz mais do que tudo o que se possa escrever sobre a tétrica figura do ex-ditador. A prisão de Ribamar Pereira, advogado culto, que é levado pelas ruas da cidade de pé, acompanhado por policiais armados, como acionte AP Dr. Alcides Pereira, progenitor daquele, que segue o filho querido também de pé, não exige comentários. A memória dos maranhenses ainda tem bem nítida aquelas cenas de despotismo sem par, para acreditar na pseuda conversão democrática do Hitler maranhense.
Para Carlos de Lima (2006)203: Ele [Paulo Ramos] angariava a antipatia geral da população. Com os poderes discricionários de então pôde fazer bom governo. Todavia, autoritário e rancoroso, adorando os bajuladores, que encontrou fácil e em grande número, complexado, vivia, desconfiado, a vislumbrar desrespeitosas alusões à sua pessoa, o que num estado policial propiciava toda sorte de vexames e prisões públicas e espetaculosas, para gáudio de seu Chefe de Polícia Flávio Bezerra, célebre por explorar às escâncaras o lenocínio e sempre pronto a aproveitar as oportunidades para demonstrar sua subserviência e capachismo (sic)(citado por COSTA, 2016)204
O Diretório Acadêmico da Faculdade de São Luis se manifesta em relação à homenagem que, supostamente, prestara à Vitorino Freire. Saira convite, em nome do Diretório, para as homenagens que se lhe seriam prestadas, havendo nota de que não fora convocada pelo mesmo Diretório, nem se sabia por quem assinada a convocação, haja vista não ter havido reunião que autorizara tal ato. Os membros do diretório se manifestaram e, logo a seguir, é publicada a seguinte nota oficial, no DIARIO DE SÃO LUIS, edição de 19 de junho de 1945: DIRETORIO ACADEMICO DA FACULDADE DE DIREITO DE SÃO LUIZ NOTA OFICIAL O Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de São Luiz, como órgão oficial representativo do corpo discente da mesma Faculdade, e tendo em vista os últimos acontecimentos havidos na imprensa desta capital, relativamente á classe acadêmica, cuja finalidade tem sido promover dissidência no seio da referida classe, com o intuito de satisfazer paixões políticas de terceiros, resolve: a) – levar ao conhecimento publico que só um objetivo tem preocupado este órgão de classe: trabalhar para sua unificação e por um Brasil melhor; b) Proibir terminantemente a qualquer de seus membros o uso do nome da classe em manifestações políticas a que compareçam; c) Vedar a quem quer que seja a redação de “notas” tomadas em caráter oficial, sem que, para isso, tenha sido autorizado em sessão convocada pelo Diretório. Sala das Sessões do Diretório da Faculdade de Direito de São Luiz, 18 de junho de 1945. Deomar Desterro e Silva, Presidente José Maria Ramos Martins, Secretário João batista Lemos, tesoureiro Durval Paraiso, Orador Oficial Lister da Silveira Caldas, Pres. da Com. Social Kleber Moreira de Souza, Pres. Da Com. Beneficiencia 203
LIMA, Carlos de. Historia do Maranhão: a Republica. São Luís: Instituto Geia, 2006. COSTA, Marcelo Lima. O projeto de modernização de São Luís nos anos Paulo Ramos (1936-1945). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, como requisito para obtenção do título de Mestre em História Social. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. São Luís, MA. 2016
204
João Ramalho Burnett da Silva, Bibliotecário Wady Sauáia, Pres. Da Comissão Científica.
O Combate de 29 de agosto de 1945 traz a seguinte nota, sobre a participação de dois moços da Faculdade de Direito, tumultuando comício realizado na Praça João Lisboa: BARCOS DE PAPEL EM ÁGUAS DE ENXURRADA... Entre osirresponsáveis reduzidos que o “queremismo” gorou em S. Luiz, na personalidade tacanha e déspota de alguns indivíduos que maculam a classe operária brasileira, dezendo-se operários, viamn-se, ante-ontem, na Praça João Lisboa, quando se realizava, ali, o gtrande espetáculo de recepção ao nosso valoroso líder democrático Lino Machado, as figuras simpáticas de dois jovens estudantes que, cursam em S. Luiz, a nossa principal Casa de Ensino: a faculdade de Direito do Maranhão. Um deles, o mais modesto, é uma revelação autentica do quanto ainda é estudiosa e culta a mocidade da nossa Atenas. É um jovem estudante que, como todos os rebentos intelectuais da terra de Odorico, é sempre a continuação feliz de nossa tradição gloriosa. É uma interessante expressão da nossa inteligência que integra, em todos os sectores do raciocínio, - a ordem, o respeito, - a cerimônia... Esse joven estuda. Lê. Sabe. Tem compreensão magnífica do quanto se faz preciso para o asseguramento mfirme de mum moral sadio. O outro, não. É tolo. Pouco sabe. Nada lê. Mas tem o convivio fértil dos seus colegas de academia. Tem noção apreciável do que pode conduzir ao grande e ao Baixo, ao Feio e ao Belo, ao Sublime e ao Rioiculo... Enquanto, porém, aquele é um devotado, e, consequentemente, um extremado, este é um inconseqüente, um bobo e, sobretudo um oportunista. Enquanto, principalmente, aquele é um rapazola novo, que apenas desperta para os sérios interesses políticos, no acompanhamento dedicado das cousas da Pátria, este é um velho, um decrepto moral e, sobretudo um “broco” intelectual... Se um tem fibra oratória, expressões felizes, decisão, coragem, mas que, por contar com muita cousa justa, facilmente perturba-se como qualquer erro humanamente mpossivel, e lança-se a abismos temerosos cuja conseqüência não se confundiria jamais com patriotismo, porque a anarquia tem o seu nível destacado, - o outro é pateta, quase imbecil, covarde e, sobretudo, não é idealista... É uma conseqüência triste do governo passado... Suas mãos pedintes, hirtas de necessidade e frágeis para reprimirem, em si próprias, a decepção dolorosa de uma recusa drástica; essas mãos que se agitam, nervosas, em praça pública, pervertindo ânimos e insuflando consciências desorganizadas, foram vistas até ás vésperas do colapso total do governo ramista, pedindo emprego ao Sr. Paulo Ramos!... E só fizeram continência ao Sr. Vitorino freire quando o seu pensador viu, por terra, ruírem todos os seus castelos. E só deixaram de bajular, de endeusar com mímicas exaltadas o apogeu mercante do governo passado, quando, desesperado, o seu pensador obedeceu ao instinto de gana que é o de morrer a mão aqueles que têm ouvidos mas não ouvem... Se, portanto, um é o jovem de quem, entre outros, a Pátria poderá contar com a maior soma cívica dos seus esforços de homem que estuda, que é inteligente, que sabe, e, consequentemente, poderá um dia, ter a compreensãosensata do que é ordem, do que é respeito, - do que é Democracia, o outro é um nulo, porque não é idealista. E um nulo porque a Pátria não xpoderá confiar em homem sem ideal, em meros oportunistas!. Foram esses moços, essas duas expressões da nossa sociedade acdemica que, num gesto que brada contra todos os ditames da ordem, do Direito e, sobretudo, da Democracia, tentaram perturbar, sábado, o grande comício da praça João Lisboa. Foram a esses moços que, pelo que viu, o Sr. Interventor deu ordens de comando! Foram a esses rapazes que, pelo que se verificou, os asseclas da ditadura, no Maranhão, como Clodomir Cardoso, Genesio Rego e Colares Moreira, deram o seu bilhete de apresentação! Foram a eles, ainda, que a policia do mestado emprestava o seu apoio insuflando-os, animando-os, encorajando-os, como bem o dava a entender a maneira santarrona, fria e malevolamente despreocupada com o quem o beático Sr. Colares Moreira se houve á retaguarda de um grupelho irresponsável, na atitude serna de quem apascenta ovelhas... Foi, enfim, a esses jovens academicos do Maranhão que o Palácio dos leões incumbiu de representar, no comício de sábado, os farrapos de uma ditadura malsã. Era um espetáculo assim, como um rio quem corre e leva, na sua impetuosidade, os detritos que se lhe atiram e os próprios galhos desfolhados de suas margens, mas que, por fatalidade, leva, ás vezes, na correnteza, um galho de pau-darco, ainda apinhado de flor... Era uma cousa assim, como barcos de papel em águas de enchurrada...
1946 – OS ACADEMICOS E OS ESPORTES Em 1946, novamente os acadêmicos de direito de nossa Faculdade de São Luis estavam envolvidos com o esporte:
Em edital publicado no Diário de São Luis de 05 de novembro de 1946, aviso de que estavam abertas as inscrições para os exames:
1947 – ELEIÇÕES NO DIRETÓRIO – COMUNISTAS x NACIONALISTAS; E O RECONHECIMENTO Em 22 de junho de 1947, marcaoa novo prazo para os concursos:
Noticia publicada pelo Diário de São Luis a 1º abril 1947 sobre entrevero entre estudantes da Faculdade de Direito, em violenta discussão. Depois, fica-se sabendo que o motivo da discórdia eram as eleições do Diretório Acadêmico, onde as duas chapas concorrentes se colocavam em lados opostos – Comunistas e Nacionalistas: O FANATISMO DOS COMUNISTAS
Há dias, pela manhã, houve uma aglomeração em frente á nossa Faculdade de Direito, o que chamou a atenção dos que por ali, transitavam. Eram alunos daque estabelecimento que travavam calorosa discussão sobre o comunismo, que, infelizmente, foi abraçado por alguns moços, aliás, talentosos, que se deixaram tomar prelas idéias dissolventes que ele propaga. Vários curiosos acercaram-se do grupo e seguiram, com atenção, a discussão que atingiu extremos de vibração. Uma parte numerosa dos disputantes atacava, fortemente o comunismo, mostrando os males que ele está causando ao país. Dois dos rapazes, adeptos do Komintern e que obedecem, cegamente, as ordens de Carlos Prestes, exaltavam a Russia e depreciavam o Brasil e seus homens públicos. Certo acadêmico dirigiu a um daqueles moços a seguinte pergunta: - No caso de uma guerra, entre a Russia e o Brasil, você ficaria com quem? Respondeu o outro, em tom abrupto e decisivo: - Com a Russia e contra o Brasil! Ouviram-se brados de revolta e protestos que foram coroados por estrepitosa vaia, ajudada pelos curiosos que se tinham acercado, para ouvir os debates. Assim pensam os comunistas do Maranhão, fazendo coro com seus comparsas espalhados pelo Brasil como autênticos quitacolunistas, a serviço do fascismo russo, envenenados pela malsã literatura da propaganda eslava.
Em nota assinada, publicada nesse mesmo jornal a 4 de abril, Orlando Leite assim se manifesta, sobre a discussão havida: DISSE MESMO... Alastrou-se, ontem, o trêfego acadêmico Cid Carvalhopelas colunas do “O Combate” numa tirada declaratória a propósito de um incidente por ele provocado na Faculdade de Direito. Pondo de lado a demagogia comunista, em que apesar de manifestantemente capaz de fazê-lo, não consegue o irriquieto jovem apresentar qualquer originalidade, e sem reparar nas assacadalhas que me faz e que não me atingem, tenho de chamar-lhe a atenção para o fato, muito para lamentar, de que o seu desassombro, deveras edificante, não haja, contudo, chegado para fazê-lo reproduzir, nua e cruamente, o que, na verdade, se passou naquela casa de ensino. A tanto me obriga a citação pessoal que me fez. Pois não fora isso e estou a jurar-lhe que, quando muito, avançaria, como já fizera, um comentário, entre amigos e colegas, sobre a sua estranha maneira de ser patriota. Afinal de contas, livres estamos do nazismo e, enquanto não experimentamos as “delicias” do paraíso paraíso soviético, temos liberdade de exprimir o que pensamos. Acha o jovem comunista que pegar em armas contra o Governo Nacional, na eventualidade de uma guerra contra a Russia, é obra de puro e sadio patriotismo. Pois que o mproclame e tanto melhor se o fizer sem subterfúgios, fora do abrigo dos eufemismos e da excusa terminologia partidária a que tanto se aferra. Não corra, porém, a agredir e a chamar de integralista a todo aquele que, não sendo comunista, temm o direito de dissentir da “linha’ de seu partido e de achar que o seu patriotismo outra coisa não é senão aquilo que se convencionou chamar de “quitacolunismo”. A verdade é que lhe formulei uma pergunta insofismavel, clara demais, para prestar-se a nmistificações. Figurei a hipótese de um conflito armado entre o Brasil, como nação americana indissoluvelmente ligada aos Estados Unidos da America do Norte, e a União Soviética. A resposta veio prontamente, ainda que embaraçada na terminologia propria do Partido Comunista: “Pegarei em armas, no caso de uma guerra “imperialista” contra a Russia, para derrubar o governo nacional e transformar ao lado do povo, tal guerra numa guerra de “libertação”. Disse ou não disse?
Disse, sim. Já o confirmou. E para que a duvida não pairasse sobre o sentido de tal dosposição de animo, ilustrou a sua declaração com uma direta alusão á revolução russa de 1917. É claro como água. Se o Brasil vier a ser parte em uma guerra contra a Russia, o homem estará ao lado desta potencia e... patrioticamente... E ainda procura sofismar. E pior: ainda se agasta com quem apenas se limitou a veicular a afirmativa, que fez e que não nega, e de que até se ufana... Por que? ORLANDO LEITE Academico de Direito
Como resultado, a Oposição vence o pleito, derrotando os ‘comunistas”, fato exaltado pelo jornal em sua edição de 12 julho 1947:
Em nota publicada em Diário de São Luis, de 11 de julho de 1947, informava-se que a Congregação da Fundação Paulo Ramos, presidida por Costa Rodrigues, Secretário de Educação e Saúde, fora tratado sobre o reconhecimento da Faculdade de Direito e da de Farmácia e Odontologia: ENSINO SUPERIOR Reuniu, onte, as 20 hjoras, na sede da Faculdade de Direito, a Congregação da Fundação Paulo Ramos. Presidiu a reunião o dr. Costa Rodrigues, Secretário de Educação e Saúde, sendo tratados diversos assuntos, inclusive as providencias tomadas para o reconhecimento das faculdades de Direito e de Farmácia e Odontologia [...].
Edital publicado em 13 de julho de 1947, tendo em vista que a Congregação não aprovara o concurso para provimento de vagas de lentes – aquela de Direito Civil, e a de Direito Judiciário Civil – tornando sem efeito os editais anteriores:
Em 8 de agosto de (19)47, conforme o Diário de São Luis, a Congregação vota moção de louvor e agradecimento ao Governador, pelo reconhecimento próximo da Faculdade de Direito de São Luis: Reuniu-se no dia 5 do corrente a Congregação da Faculdade de Direito de São Luíz as 16 horas, estando presentes os professores catedráticos Correia Lima, Albuquerque Alencar, Pires Sexto, Traiaú Moreira, Acrisio Rabelo, Fernando Perdigão, Antonio Cordeiro, Clodoaldo Cardoso, João Matos, Teixeira Junior, Publio de Mello e Joaquim Santos. Nessa sessão tratou-se de assuntos relevantes, entre estes, o reconhecimento da Faculdade pelo Exmo. Snr. Presidente da República, o que é seguramente esperado pelo Diretor, que disse os motivos de sua convicção ao expor as démarches realizadas neste sentido desde o ano passado. O Diretor aproveitou a oportunidade para salientar os inestimáveis serviços prestados pelo Exmo. Snr. Governador do Estado, pelo edeputado Elizabeto Carvalho e pelo Senador Vitorino Freire, principalmente por este último, que tem empenhado o seu reconhecido prestigio, para o reconhecikmento da Faculdade de Direito. [...]
Notas publicadas no mês de outubro davam conta – Vitorino Freire205 e Renato Archer 206– de que estavam atentos ao processo de reconhecimento, e que já entrara em pauta, devendo haver boas noticias em breve. 205
FREIRE, VITORINO *rev. 1930; const. 1946; dep. fed. MA 1946-1947; sen. MA 1947-1971. Vitorino de Brito Freire nasceu na fazenda Laje da Raposa, em Pedra (PE), no dia 28 de novembro de 1908, filho de Vitorino José Freire, proprietário rural e pecuarista, e de Ana de Brito Freire. Seus pais descendiam de tradicionais famílias rivais que disputavam o comando político no interior do estado. Após fazer o curso primário do Colégio Gastão Resende, em Arcoverde (PE), interessando-se em seguir a carreira militar, mudou-se em 1919 para o Rio de Janeiro, onde foi morar com um parente, o general Antônio Inácio de Albuquerque Xavier, que assumiu os custos de sua educação. Como não havia vaga no Colégio Militar, matriculou-se no Colégio Santo Alberto e, no fim do mesmo ano, no Colégio Pedro II. Ainda estudante, trabalhou no escritório do engenheiro João Proença. Nessa época, tornou-se amigo da família do então coronel Eurico Dutra, amizade que se consolidou ao longo dos anos. Conheceu também oficiais que viriam a ocupar cargos de grande importância, como Alfredo Ribeiro da Costa, Augusto Tasso Fragoso, Hastínfilo de Moura, Antenor Santa Cruz, além do ex-ministro da Guerra (1914-1918) José Caetano de Faria. Antes de terminar o ginásio, Vitorino Freire voltou a Pernambuco, matriculando-se inicialmente no Internato Rio Branco e em seguida no Ginásio Pernambucano, em
Recife. Ingressou em 1928 na Faculdade de Direito de Recife sendo nomeado no mesmo ano, por solicitação do presidente estadual Estácio Coimbra (1926-1930), oficial-de-gabinete do secretário de Agricultura Samuel Hardmann. A REVOLUÇÃO E O PÓS-1930 Aderindo ao movimento que resultou na Revolução de 1930, Vitorino Freire não pôde concluir o curso superior. Embora sem atuar junto aos irmãos Carlos e Caio de Lima Cavalcanti, chefes civis do movimento em Pernambuco, integrou o grupo de 17 homens que, tendo à frente o capitão Antônio Muniz de Faria, ocupou em 4 de outubro de 1930 o quartel da Soledade, depósito de armas e munições da 7ª Região Militar. A ação foi decisiva para a vitória da revolução em Pernambuco, pois possibilitou aos rebeldes a distribuição de armamentos aos voluntários civis e militares identificados com sua causa. Vitorioso o movimento, Vitorino foi comissionado no posto de primeiro-tenente, seguindo para o Rio de Janeiro, onde integrou o gabinete do ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida. Em 1932, Vitorino Freire passou a servir na Diretoria de Meteorologia do Ministério da Agricultura, cujo titular era Juarez Távora. Ao eclodir em São Paulo a Revolução Constitucionalista, em julho de 1932, lutou ao lado das forças legalistas sob o comando do general Valdomiro Lima até a rendição dos revoltosos em 2 de outubro. Em 1934, quando Gustavo Capanema assumiu a pasta da Educação e Saúde, foi nomeado segundo-oficial do Departamento Nacional de Saúde Pública. Vitorino Freire exercia esse cargo quando, em 18 de julho de 1934, foi nomeado secretário do interventor federal no Maranhão, o capitão Antônio Martins de Almeida, que havia conhecido durante a Revolução Constitucionalista. Durante a gestão desse interventor (29/3/1933 a 22/7/1935) ocorreram várias violências policiais em São Luís contra seus adversários políticos. A Associação Comercial da cidade chegou a decretar uma greve do comércio em represália à prisão de seus diretores no quartel da Força Pública. Segundo seus adversários, Vitorino passou nesse momento a comandar um bando denominado “Papai Noel”, especializado em surrar os opositores do governo. Vinculando-se ao Partido Social Democrático (PSD), do Maranhão, na época uma agremiação de âmbito estadual, Vitorino foi incumbido de organizá-lo para as eleições estaduais de 1935. Em julho desse ano, a Assembléia Constituinte maranhense elegeu para o governo do estado Aquiles de Faria Lisboa, candidato das Oposições Coligadas — formadas pelo Partido Republicano (PR) e a União Republicana Maranhense (URM) — que derrotou o candidato pessedista Tasso de Miranda. Vitorino seguiu então para o Rio, reintegrando-se ao Ministério da Educação e Cultura. Regressaria porém ao Maranhão no ano seguinte para apoiar o movimento desencadeado pela URM, a qual, rompendo a aliança com o PR, aliou-se ao PSD e à Liga Eleitoral Católica e conseguiu que a Assembléia estadual promovesse a deposição de Aquiles Lisboa e solicitasse a intervenção federal no estado. Em 14 de junho de 1936, o major Roberto Carneiro de Mendonça foi nomeado interventor no Maranhão. Por indicação de Getúlio Vargas, no dia 18 de julho a Assembléia elegeu Paulo Ramos, que, com a implantação do Estado Novo (10/11/1937), seria nomeado interventor federal. Durante sua permanência à frente do governo do Maranhão, Paulo Ramos obteve de Getúlio a garantia de que Vitorino não interferiria na política do estado, o que de fato aconteceu. Em dezembro de 1936, Vitorino Freire passou a exercer, no Rio, o cargo de oficial-de-gabinete do presidente da Câmara dos Deputados, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Em abril de 1937, casou-se com a maranhense Maria Helena de Oliveira, com quem teve um filho, Luís Fernando Freire. Integrou, a partir de 1939, o gabinete do ministro da Viação e Obras Públicas, João de Mendonça Lima. O PSD E O VITORINISMO No início de 1945, com o enfraquecimento do Estado Novo, os partidos políticos se reorganizaram em termos nacionais com vistas às próximas eleições para a presidência da República e para a Assembléia Nacional Constituinte. Seguindo para o Maranhão, Vitorino foi um dos organizadores do novo PSD naquele estado. Passou em seguida a promover a candidatura oficial de Eurico Dutra à presidência da República e a liderar a oposição a Paulo Ramos, contrário a esse candidato. Diante da violenta oposição desencadeada contra seu governo, Paulo Ramos exonerou-se do cargo de interventor, sendo substituído no mês de março por Clodomir Cardoso. Candidato à Constituinte na legenda do PSD, Vitorino foi eleito em dezembro de 1945, no mesmo pleito em que Dutra foi escolhido presidente da República. Por indicação de Vitorino, em seguida à sua posse Dutra nomeou Saturnino Belo interventor no Maranhão. Antes de assumir seu mandato, Vitorino foi oficial administrativo do gabinete do ministro da Educação e Saúde Clemente Mariani. Durante os trabalhos da Assembléia Constituinte, Vitorino empenhou-se na aprovação de uma emenda de autoria do deputado udenista Manuel Novais propondo que fosse prevista na Constituição a defesa e o desenvolvimento do vale do rio São Francisco. Aprovada a emenda foi constituída a Comissão do Vale do São Francisco, que tempos depois seria responsável pela construção da usina hidrelétrica de Paulo Afonso. Com a promulgação da Carta de 18 de setembro de 1946 e a transformação da Constituinte em Congresso ordinário, Vitorino Freire continuou a exercer seu mandato de deputado federal. Durante a campanha para as eleições suplementares de 1947, renunciou ao mandato para concorrer ao Senado. Essa campanha foi marcada por grave divergência entre os pessedistas maranhenses, surgida quando o diretório do partido indicou Genésio Rego como candidato a governador do estado. Vitorino, Saturnino Belo e Sebastião Archer não aceitaram essa indicação e afastaram-se do PSD, propondo a candidatura de Sebastião Archer. Vitorino organizou então a seção maranhense do partido Proletário do Brasil (PPB), que acolheu um grupo considerável de dissidentes do PSD e, em 19 de janeiro de 1947, elegeu Sebastião Archer governador e Vitorino Freire senador. Passadas as eleições, o PPB se reorganizou, dando origem ao Partido Social Trabalhista (PST). Desinteressando-se da nova agremiação, Vitorino reaproximou-se do diretório regional do PSD. Segundo José Ribamar Caldeiras, esses fatos mostram que nesse momento Vitorino Freire conquistou o poder político no Maranhão, “iniciando então uma política de características mandonistas — que denominou vitorinismo —, que cobriu todo o período 1947-1964, grosso modo”. Significativamente, todos os governadores eleitos nesse período seriam correligionários de Vitorino indicados por ele. Iniciando seu mandato no Senado em abril de 1947, Vitorino aí participou da Comissão Especial das Leis Complementares da Constituição, da Comissão de Finanças e da Comissão Especial de Inquérito para a Indústria Têxtil. Durante a campanha para as eleições de outubro de 1950, o PSD lançou as candidaturas de Cristiano Machado à presidência da República e do paulista Altino Arantes à vice-presidência. Contrário a esta última indicação, Vitorino decidiu, em setembro, apresentar sua própria candidatura a vicepresidente, mas esbarrou em outro obstáculo: o diretório do PSD maranhense tinha na liderança seu inimigo político Genésio Rego. Diante disso, Vitorino lançou-se como candidato avulso pelo PST. No pleito foram eleitos Getúlio Vargas para presidente e Café Filho, com 2.520.790 votos, para vice-presidente. Vitorino foi o último colocado, obtendo 524.079 votos. Em 1953, Vitorino voltou a pertencer ao PSD de cujo diretório nacional mais tarde chegaria a fazer parte, alijando definitivamente Genésio Rego da liderança do diretório estadual. Nas eleições de outubro de 1954, reelegeu-se senador na legenda de seu partido, exercendo novo mandato a partir de 19 de fevereiro de 1955. Ainda em 1954, participou da Conferência da Organização Internacional do Trabalho, exercendo a mesma missão em 1957. Nesse ano, participou da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), à qual voltaria a comparecer em 1960. A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, provocou no país uma crise político-militar em face do veto dos ministros militares à posse de seu substituto legal, o vice-presidente João Goulart. Auro de Moura Andrade, então presidente do Senado, e outros senadores, entre os quais Vitorino Freire, condenaram inúmeras vezes a atitude dos ministros militares. A crise foi contornada com a adoção do parlamentarismo, aprovado pelo Congresso em 2 de setembro do mesmo ano, e a posse de Goulart cinco dias depois. Nas eleições de outubro de 1962, Vitorino reelegeu-se senador pelo Maranhão na legenda do PSD, passando a exercer a liderança desse partido no Senado. Em 1963 e 1964, foi vice-líder da maioria e em 1965 exerceria de novo a liderança do PSD. Vitorino Freire apoiou o movimento político-militar que depôs João Goulart em 31 de março de 1964, estreitando relações com os chefes militares, entre os quais o general Humberto Castelo Branco e o general Ernesto Geisel. Durante
No dia 11 de agosto realizou-se a tradicional comemoração do estabelecimento dos cursos jurídicos no Brasil
as negociações para a escolha do presidente da República, Vitorino, com o apoio de uma facção do PSD, indicou o marechal Dutra, o qual foi preterido pelas demais lideranças civis e militares em favor de Castelo Branco, que assumiu a presidência em 15 de abril de 1964. No Maranhão, além de iniciar a modernização da infra-estrutura econômica e social, o governo militar realizou, em 1965, uma revisão eleitoral, visando extinguir a corrupção nas eleições e renovar a elite dirigente. Nas eleições para o governo do estado em outubro de 1965, José Sarney, candidato de oposição ao vitorinismo, indicado e apoiado por Castelo Branco, venceu por larga margem de votos. Essa eleição registrou a primeira derrota política de Vitorino no estado: seu candidato Renato Archer foi o menos votado. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, Vitorino filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido do governo. Vitorino Freire exerceu seu mandato de senador até o final da legislatura, em janeiro de 1971. Embora não tenha obtido da Arena uma legenda para disputar no Senado as eleições de novembro de 1974, conseguiu eleger seu filho Luís Fernando Freire suplente do senador Henrique de La Roque. Além disso, por sua influência e indicação, no mesmo ano Osvaldo da Costa Nunes Freire e José Duailibi Murad foram eleitos indiretamente governador e vice-governador do Maranhão, o que caracterizaria seu retorno à cena política do estado. A partir de 1975, Vitorino passou a integrar o diretório nacional da Arena. Em 1980, com a nomeação de Henrique de La Roque para o Tribunal de Contas da União, Luís Fernando Freire assumiu sua cadeira no Senado. Além dos cargos públicos que ocupou, Vitorino foi também diretor do Diário de São Luís e A Tarde,jornais editados na capital maranhense. Vitorino Freire faleceu no Rio de Janeiro no dia 27 de agosto de 1977. Deixou suas memórias registradas no livro A laje da raposa (1978). http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/vitorinode-brito-freire 206
RENATO BAYMA ARCHER DA SILVA, mais conhecido como Renato Archer (São Luís, 10 de julho de 1922 — São Paulo, 20 de junho de 1996), foi um militar, cientista, diplomata e político brasileiro. Ocupou o terceiro mais alto cargo na hierarquia (subsecretário) do [1][2] Ministério das Relações Exteriores do Brasil , foi Ministro da Previdência Social e foi o primeiro Ministro da Ciência e Tecnologia da história do Brasil. Filho de Sebastião Archer da Silva e de Maria José Bayma Archer da Silva, ingressou na Marinha em 1941 e lá permaneceu por vinte anos até ser transferido para a reserva no posto de capitão-de-fragata. Paralelamente à carreira militar, enveredou também pela política, estreando na vida pública como oficial de gabinete de seu pai, em 1947, quando este governava o estado do Maranhão, permanecendo Renato Archer nessa condição até o ano seguinte. Eleito vice-governador do estado do Maranhão pelo PSD em 1950, como companheiro de chapa de Eugênio de Barros, e deputado federal em 1954, 1958 e 1962, foi Ministro interino das Relações Exteriores durante o gabinete parlamentarista de Tancredo Neves. Vitoriosos os militares na deposição de João Goulart em 1964, Archer disputou o governo do Maranhão pelo PTB em 1965, e ficou em terceiro lugar num pleito vencido por José Sarney, da UDN. Extintos os partidos políticos ingressou no MDB e presidiu o diretório regional num trabalho que o reelegeu deputado federal em 1966, dividindo sua ação parlamentar com o cargo de secretário-geral da Frente Ampla, coalizão política que visava congregar todas as figuras de oposição ao governo militar. Tal fato resultou na cassação de seus direitos políticos em 30 de dezembro de 1968, com base nos dispositivos do AI-5. Finda a punição, Renato Archer fundou o PMDB e foi candidato a governador de seu estado pela segunda vez, em 1982, colhendo nova derrota ante a esmagadora votação conferida ao candidato do PDS, Luís Rocha. Partidário da candidatura presidencial de Tancredo Neves durante a sucessão de João Figueiredo, Archer se aproximou de José Sarney, seu rival histórico, então candidato a vice-presidente. Indicado ministro da Ciência e Tecnologia pelo político mineiro, foi mantido no cargo após a efetivação de Sarney, permanecendo no cargo de 15 de março de 1985 a 22 de outubro de 1987, quando foi substituído pelo catarinense Luiz Henrique da Silveira. No governo Itamar Franco coube a Renato Archer a presidência da Embratel. Em Campinas está sediado o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), que foi batizado em sua homenagem. https://pt.wikipedia.org/wiki/Renato_Archer
Em Setembro de 1947 publicado edital para preenchimento de vaga de lente para a cadeira de Direito Civil
A 15 de novembro de 1947, em nota, o “Diário de São Luis” prestava homenagem ao Diretor da Faculdade de São Luis, pelo transcurso de seu aniversário:
Fonte: http://www.tjma.jus.br/cgj/visualiza/publicacao/100119
Na edição de 19 de novembro, ao comentar a festa de aniversário do Diretor da Faculdade de Direito de São Luis, informa-se de telegrama enviado pelos representantes maranhenses de que: O representante do Sr. Governador, dr. Newton Belo, consultor jurídico do Estado, leu um telegrama do senador Virotino Freire e deputado Elisabeto Carvalho comunicando ao desembargador Corrêa Lima que os pareceres aprovando o reconhecimento da nossa Faculdade de Direito e o Regimento Interno tinham sibido, ontem, para despacho do presidente da república, acompanhados do respectivo decreto. O texto deste telegrama está transcrito em outro local desta edição.
RECONHECIDA A NOSSA FACULDADE DE DIREITO REALIZADA ESSA GRANDE ASPIRAÇÃO DO MARANHÃO A mocidade estudiosa maranhense viveu, ontem, um de seus grandes e inesquecíveis dias, com o recebimento da grata nova de que o Ministério da Educação, pelo seu órgão responsável, O Conselho Nacional de Educação havia reconhecido o prestigioso estabelecimento de ensino superior da rua Nuna Rodrigues. O senador Vitorino freire e o deputado Elisabeto Carvalho não se pouparam nas medidas e providencias junto aos altos poderes da nação, afim de obter, em como obtiveram, o reconhecimento da Faculdade, fato assinalável de que dá notícia este telegrama: De Rio c- Western – Urgente. – Desembargador Correia Lima – Grata emoção comunicar presado amigo que no Conselho Educação sessão, hoje, foram lidos, discutidos e aprovados pareceres favoráveis ao reconhecimento do curso de bacharelato de Direito essa faculdade, bem assim, aprovado o respectivo regimento Interno, com elogio. Está sendo preparado, desde logo, o expediente relativo ao Decreto a ser submetido á assinatura do Sr. Presidente da república. Devo salientar que todo o esforço e empenho de amisades pessoais foram empregados para atender esta árdua mas benemérita batalha, prosseguiremos na outra, que é o reconhecimento da Faculdade de Farmácia, em fase final. Abraços – ELISABETO – VITORINO. - A notícia foi recebida com grande entusiasmo pela Congregação e pelos alunos, que promoram ao desembargador Correia Lima vibrante manifestação de apreço, aclamando-se os nomes aqueles operosos parlamentares.
Vimos que pelo Decreto n. 8.085 de 21 de outubro de 1941, que cassou o reconhecimento da Faculdade de Direito do Maranhão 207, estabelecia que: Art. 425. Constando a pratica de abusos nas Faculdades livres quanto á identidade dos individuos nos exames e na collação dos gráos, cabe ao Governo, ouvindo o Conselho de Instrucção Superior, o direito de mandar proceder a rigoroso inquerito para averiguação da verdade, e, si delle resultar a prova dos abusos arguidos, deverá immediatamente cassar á instituição o titulo Faculdade livre, com todas as prerogativas ao mesmo inherentes. Art. 426. A Faculdade livre que houver sido privada deste titulo não poderá recuperal-o sem provar que reconstituiu-se de maneira a offerecer inteira garantia de que os abusos commettidos não se reproduzirão.
O prazo para reabertura, de pelo menos dois anos, para sanar as irregularidades, mesmo que mudado o nome – agora, era Faculdade de Direito de São Luiz -, ou a mantenedora – agora era a Fundação Paulo Ramos – e mantidos pelo menos 50% dos lentes, só poderia voltar a ser reconhecida cinco anos após mo seu fechamento. Assim, a 28 de novembro de 1947 é assinado o reconhecimento da Faculdade de Direito de São Luiz, e equiparada pelo Ministério da Educação e Cultura, através dos Decretos nos. 24.134/47 (Faculdade de Direito), e pelo de no. 24.135/47 a Faculdade de Farmácia e Odontologia.
207
DECRETO N. 1232 H - DE 2 DE JANEIRO DE 1891 - Approva o regulamento das Instituições de Ensino Jurídico, dependentes do Ministério da Instrucção Publica
Em reconhecimento é dado ao Presidente Dutra o título de “honoris-causa”:
Diário de São Luiz, 13 de dezembro de 1947 O Senador Vitorino Freire também recebeu diversas homenagens, quando de seu retorno à São Luis, logo após a assinatura do Decreto de reconhecimento. Desde sua chegada, ao aeroporto, recepcionado por comissão de professores e alunos, até atos oficiais. Interessante, que no final daquele ano de 1947, eram parabenizadas diversas pessoas por conclusão de estudos, desde o primário até o ginasial. Dentre os homenageados, estava o seguinte:
Com o reconhecimento da Faculdade de Direito de São Luiz, tendo como sua mantenedora a Fundação Paulo Ramos, seus alunos puderam, enfim, colar grau. São os seguintes os novos Bacharéis, concludentes dos anos de 1945, 46 e 47:
Turma de 1945: DURVAL PARAÍSO Turma de 1946: DEOMAR DESTERRO E SILVA JOSÉ MARIA RAMOS MARTINS Turma de 1947: RACHEL LÊDA MECENAS
1948 – Curso de Legislação Social A 15 de janeiro de 1948 é publicado o seguinte edital:
E a 14 de fevereiro, aberto concurso para provimento de vaga para professor da cadeira de Direito Comercial, conforme edital:
A 02 de março, anunciado regresso do Rio de Janeiro de funcionária da Assembléia Legislativa, que fora tratar de assuntos pertinentes ao corpo docente da Faculdade de Direito de São Luis: Sta. MIRIAM LEITE – Do Rio de Janeiro, aonde fora tratar de interesses ligados ao corpo docente da nossa Faculdade de Direito, regressou, ontem a esta capital, pelo avião da NAB, a distinta Srta. Miriam da Silveira Leite, funcionária da Secretaria da Assembléia Legislativa, concludente daquele estabelecimento de ensino superior.
No dia seguinte, convocação de todos os docentes de nossas Faculdades, para reunião a fim de tratar de assuntos de interesse, em caráter de urgência:
Os professores e alunos da Faculdade de Direito de São Luiz estiveram em todas as solenidades, prestando suas homenagens ao Presidentre Dutra, quando de sua passagem pelo Maranhão, mandando publicar, inclusive, notas nos Jornais da capital, hipotecando-lhe solidariedade e gratidão, pelo reconhecimento da Faculdade. Após seu regresso ao Rio de janeiro, o Presidente envia telegrama à direção da Faculdade e aos alunos, agradecendo a acolhida. O Diário de São Luis publica na integra o discurso feito pelo Diretor da Faculdade, ressaltando as suas realizações até então.
A 24 de marรงo de 1948, publicado no Diรกrio de Sรฃo Luis, memorial contra o aumento das taxas cobradas:
Em 29 de março é instalado um Curso de Legislação Social, promovido pelo Ministério do Trabalho, tendo à frente de sua implantação nas diversas faculdades de direito do país, o Ministro Astolfo Serra:
A 30 de março, publicado edital informando do horário das provas de 2ª época, e as respectivas bancas. Note-se que já aparece o reconhecimento da Faculdade:
No dia seguinte, 31/03, edital de abertura de concurso pĂşblico para provimento da vaga de professor de catedrĂĄtico de Direito PĂşblico Internacional:
Abertas as matrículas para o Curso de Legislação Social, conforme aviso publicdo em 03 de abril de 1948:
A 14 de maio, Edital da Fundação Paulo Ramos, em convocação extra-ordinaria, aos membros da Assembléia Geral, para tratar da situação financeira da Fundação Paulo Ramos:
A 25 de maio, anuncio da Fundação Paulo Ramos, de aluguel de um depósito de sua propriedade:
Em setembro, Josué Montello faz palestra na Faculdade de Direito
Em nota publicada pelo “Diário de São Luis”, toma-se conhecimento da banca indicada para o concurso para catedrático:
A 13 de novembro debatia-se na Assembléia Legislativa a situação dos alunos da Faculdade de Direito
O Diário de São Luis, edição de 30 de novembro de 1948, referendo-se à visita do Senador Vitorino Freire à cidade, e sobre sua atuação parlamentar na capital federal, informa sobre o auxilio a Faculdade de Direito:
Nota social, de 18 de dezembro, sobre a formatura de mais uma mulher pela Faculdade de Direito:
Continuam as notícias – Diário de São Luis, 05/01/1949 - sobre a formatura da turma de 1948 da Faculdade de Direito de São Luis:
1949 – HAVERÁ A FEDERALIZAÇÃO? A 06/01 sai edital para o vestibular
Edital de 03/02, sobre as matrĂculas:
Nova embaixada de acadêmicos de Direito passam por São Luis, desta vez, do Pará EMBAIXADA ACADEMICA PARAENSE Transitou por São Luiz luzido grupo de acadêmicos de Direito do vizinho Estado – Hóspedes do prefeito da capital – Alvo de atenções e gentilezas dos governos do estado e do Municipio Viajando a bordo do “Rodrugues Alves”, transitou, ante-ontem, por S. Luiz, um grupo de distintos alunos da Faculdade de Direito do Pará, os quais, em missão cultural, se dirigem ao sul do paiz, devendo chegar até o Rio Grande do Sul.
A 05/03 noticia-se que fora apresentado projeto para a federalização das faculdades do Maranhão: PROJÉTO SÔBRE A FEDERALIZAÇÃO DAS NOSSAS FACULDADES Rio, 4 (Do Correspondente) – Logo que tenha inicio a sessão ordinária do Congresso, será apresentado um projeto, pela bancada do PST, sobrte a federalização da Faculdade de Direito e da faculdade de Farmácia e Odontologia de São Luiz.
A 08/03, o Diário de São Luiz noticia a aprovação no recente vestibular da Faculdade de Direito dos novos acadêmicos:
Em março, anunciado a publicação, em breve, do segundo numero do Jornal da Faculdade de Direito de são Luis: Aparecerá, dentro de breves dias, o segundo número de “Marco”, jornal de ciência, política e letras, da faculdade de Direito de São Luiz. Espera-se êxito igual ao obtido pelo primeiro número.
A 29 de maio, comentário sobre as eleições do Diretório Acadêmico
A edição de 7 de junho de 1949 do Diário de São Luis traz a seguinte notícia:
Nota publicada no Diário de São Luis de 23 de julho de 1949, de que o Inspetor Federal junto à Faculdade de Direito de São Luis, dr. Urbano Pinheiro, havia solicitado sua exoneração, por problemas de saúde: EXONEREOU-SE O DR. URBANO PINHEIRO O der. Pinheiro que, desde maio do ano passado, vinha exercendo por designação, o cargo de inspetor federal junto à Faculdade de Direito de São Luiz, acaba de solicirar ao diretor do ensino superior dispensa de suas funções, devido ao seu estado de saúde não permitir excesso de trabalho. Lamentamos que a faculdade de Direito de São Luiz fique pricado do conviviuo do dr. Urbano Pinheiro que, ali, era bastante estimado.
Em agosto de 1949, constituída banca para o concurso para a cátedra de Direto Publico Internacional:
A 15 de setembro de 1949, em sessão da Assembleia Legislativa, aprovado o projeto que concedia auxilio à Faculdade para subsidiar as taxas dos acadêmicos: [...] Pela ordem, o mlider oposicionista falou sobre o projeto de lei que concede auxílio á Faculdade de Direito de São Luiz, para o fium de redução das taxas cobradas dos alunos do referido estabelecimento de ensino superior, pedindo urgência pela sua votação, devez que o ano já vai avsançando e as provas da turma de bacharelandos serão realizadas no próximo mês de outubro. A votos, o requerimento mereceu aprovação unânime [...] [...] O Sr. Governador do Estado enviou á Assembléia, acompanhado de Mnesagem, um projeto de lei, que recebeu o no. 631, autorizando a abertura de crédito especial Cr$ 94.400,00, para atender ás despesas com 50% das taxas cobradas dos alunos da Faculdade de Direito de São Luiz e da Faculdade de Farmácia e Odontologia.
O Diário de São Luis fala sobre a formatura dos 24 bacharelandos deste ano de 1949: MOVIMENTAN-SE OS BACHARELANDOS DE 1949 Conforme apurou nossa reportagem, os bacharelandos da nossa Faculdade de Direito já iniciaram os preparativos para sua festa de colação de grau, a realizar-se no imortal Ruy Barbosa. A turma de bacharelandos deste ano é composta de vinte e quatro jovens dos mais destacados no meio social e intelectuial e S. Luiz, constituindo, portanto, a solenidade uma festa enedita nos anais de nossa faculdade, que nunca diplomara turma de igual numero. A respeito do assunto, os bacharelandos Raimundo Bogéa da Cruz e José Vera Cruz Santana publicaram, ontem, uma nota, convocando os seus colegas para uma reunião ´pas 9m horas da manhã de sexta feira, para o fim de, conjuntamente, traçarem o programa da referida solenidade, que se pronuncia, assim, brilhantíssima.
“O Maranhão”, jornal da juventude católica, em novembro de 1949 assinala a formatura de militantes:
BACHARELANDOS DE 1949 ANTONIO PACHECO GUERREIRO BENEDITO GUARDIÃO CRUZ CLEOMAR DESTERRO E SILVA CONSUELO WANICK RIBEIRO EMESIO DARIO DE ARAUJO HERSCHEL ANTONIO ARAUJO CARVALHO JOSÉ HENRIQUE CAMPOS JOSÉ DE OLIVEIRA PANTOJA JOSÉ DE RIBAMAR OLIVEIRA JOSÉ RAMALHO BURNETT DA SILVA JOSÉ RIBAMAR TEIXEIRA DE ARAUJO JOSÉ VERA CRUZ SANTANA (orador) JOMAR ROLAND BRAGA JOÃSO LIMA SOBRINHO MARCELO RIBEIRO VAZ SARDINHA MURILO AUGUSTO DE OLIVEIRA MIGUEL WADY ZAFAR SAFADY ORLANDO DA SILVEIRA LEITE PAULO PRADO CASTELO BRANCO RAIMUNDO BOGÉA NOGUEIRA DA CRUZ OLIVAR DA SILVEIRA LEITE WADY SAUAIA WALDIR SILVA GUIMARÃES YEDA DE MEDEIROS CRUZ
1950 – A FEDERALIZAÇÃO Em 1950, as Faculdades de Direito e de Farmácia e Odontologia de São Luís deixaram de serem escolas superiores de natureza particular, apenas reconhecidas e equiparadas, para serem federalizadas pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, pela Lei Federal no. 1254/50208. Art. 1º O sistema federal de ensino superior supletivo dos sistemas estaduais, será integrado por estabelecimentos mantidos pela União e por estabelecimentos mantidos pelos poderes públicos locais, ou por entidades de caráter privado, com economia própria, subvencionados pelo Govêrno Federal, sem prejuízo de outros auxílios que lhes sejam concedidos pelos poderes públicos. Art. 2º Os estabelecimentos subvencionados, na forma desta Lei, pelo Govêrno Federal poderão ser, por lei, mediante mensagens do Poder Executivo, ouvido o Conselho Nacional de Educação, incluídos gradativamente na categoria de estabelecimentos mantidos pela União, atendendo-se à eficiência do seu funcionamento por prazo não menor de 20 (vinte) anos, ao número avultado de seus alunos e à sua projeção nos meios culturais, como centros unificadores do pensamento científico brasileiro. Art. 3º A categoria de estabelecimentos diretamente mantidos pela União compreende: II - A Faculdade de Direito do Amazonas, a Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, a Faculdade de Direito do Pará, a Faculdade de Farmácia de Belém do Pará, a Faculdade de Direito de São Luís do Maranhão, a Faculdade de Farmácia e Odontologia de São Luís do Maranhão, a Faculdade de Direito do Piauí, a Faculdade de Direito do Ceará, a Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, a Faculdade de Direito de Alagoas, a Faculdade de Direito do Espírito Santo, a Faculdade Fluminense de Medicina, os cursos de Pintura, Escultura e Música do Instituto de Belas Artes de Pôrto Alegre, a Faculdade de Direito de Goiás, a Escola de Farmácia de Ouro Preto, o Conservatório Mineiro de Música de Belo Horizonte e a Universidade Rural de Minas Gerais, em Viçosa.(GRIFOS NOSSOS)
O corpo docente e administrativo destas duas faculdades foi integrado aos quadros de pessoal do funcionalismo público civil da União e seus diretores passaram a ser nomeados, em comissão, pelo Presidente da República. O primeiro diretor da Faculdade de Direito de São Luís, foi o Dr. Luis de Carvalho, e da Faculdade de Farmácia, o Dr. Salomão Fiquene. Para Solange Buzar (1982) 209, com a federa1ização das Faculdades de Direito e de Farmácia e Odontologia, a Fundação Paulo Ramos que tinha a responsabilidade de mantê-las, perdia seu próprio objetivo estatutário, iniciando-se assim o processo de seu desaparecimento, uma vez que era obrigada a restituir o seu patrimônio ao Estado, o que dependeria apenas do ato legislativo para formalizar a sua extinção. Segundo Meireles (1995)210, [...] a administração estadual deixou-se despercebida dessa circunstância e disso se aproveitaram os próprios professores das duas Escolas, que como membros natos da Fundação, começaram a pensar na utilização do patrimônio remanescente em uma nova unidade de ensino superior ( •.. ) essa idéia passou a ser objeto de discussões nas sessões ordinárias da Academia Maranhense de Letras, de vez que muitos daqueles professores eram acadêmicos ( ... ) duas correntes de opinião se constituiram - a dos que queriam uma escola de agronomia - idéia logo eliminada, na medida em que suas instalações exigiam muitos recursos -, e a dos que se inclinavam a uma de Filosofia, que pudesse imediatamente concorrer pra o aprimoramento da qualidade do magistério secundário, haja vista a decadência progressiva e alarmante desse nivel de ensino que se demonstrava e confirmava nos exames vestibulares.
O jornal Pacotilha/O Globo, em sua edição de 1º de junho de 1950, publicava o resultado das eleições para o Diretório Academico da Faculdade de Direito de São Luis, concorrendo duas chapas e a acachapante vitória da chapa Des. Correia Lima, por 64 votos a 1:
208
LEI No 1.254, DE 4 DE DEZEMBRO DE 1950. Dispõe sôbre o sistema federal de ensino superior. (Vide Lei nº 2.337, de 1954) BUZAR, Solange Silva. OS ESTÃGIOS SUPERVISIONADOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1982. 210 MEIRELES, Mario M. O Ensino superior no Maranhão. In DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS São Luis: ALUMAR, 1995, P. 45-94 209
VITORIOSA NA FACULDADE DE DIREITO A CHAPA ‘CORRÊA LIMA” Maioria esmagadora de 64 votos contra 1, em branco – Posse da nova diretoria na segunda-feira [...] os alunos eleitos são os seguintes: José Sarney Costa, Eurico Bartolomeu Ribeiro, José bento Nogueira Neves, Valdemar Pinto Lima, José Ricardo Aroso Mendes, Rosa Aroso, Francisco Chaves de Sousa, Dalton Cordeiro Lima, Célio Lobão Ferreira, Paulo da Silveira Leite, e José Segundo Borges.
O SALVADOR DA PÁTRIA JOÃO BATISTA ERICEIRA
Decididamente, o Brasil não precisa de salvadores da pátria, venham de onde vierem, surjam de onde surgirem. O verdadeiro herói é o cidadão brasileiro, que com o seu suor, constrói o país em todos os rincões do território nacional. Aproxima-se o dia das eleições para a renovação de mandatos aos cargos do Executivo e do Legislativo, criados pela Carta Magna, completando 30 anos de vigência no próximo dia 5. O pais passara pelo jejum de mais de vinte anos de eleições diretas. Havia demanda reprimida de direitos políticos, sociais, negados à população, que seriam contemplados pelo legislador de 88. Como antídoto ao autoritarismo, a Constituição estabeleceu o presidencialismo congressual, fazendo o Presidente da República depender de maioria parlamentar para a execução dos atos do governo. A consequência: nenhum presidente, governador ou prefeito poderá governar sem dispor de maioria nas casas legislativas. Logo, qualquer candidato que assuma compromissos sem levar em conta essa exigência político-jurídica, estará cometendo uma bravata e enganando o eleitorado. O diálogo com o Congresso e suas lideranças é essencial a governabilidade. Nos trabalhos da Constituinte, e após a promulgação da Constituição, dirigentes da maior responsabilidade, dentre eles, o Presidente da República, asseguraram que com ela o país seria ingovernável. A previsão não se confirmou. Enfrentou o impedimento de dois presidentes da República, sem a apelação para as intervenções castrenses, como era o costume anterior. Planos econômicos exitosos e fracassados foram executados em sua vigência, sem recorrência a medidas extremas. Exercitou-se a democracia direta em consultas para confirmar a forma de Estado e de governo. Incorporouse direitos novos ao ordenamento jurídico. Na área social, na proteção do meio ambiente, do consumidor, das crianças e adolescentes, dos idosos, das mulheres, das minorias étnicas e sexuais. A Constituição afina-se com as mais modernas do mundo e as declarações universais de Direitos aprovadas pela maioria dos estados com assento na Organização das Nações Unidas-ONU. Um dos aspectos peculiares de sua estruturação é a enumeração dos Direitos antes da estruturação dos órgãos do Estado e de suas funções. Quis o legislador com isso dizer que os Direitos são anteriores ao Estado, e devem ser por ele ser respeitados, sob pena de incidência em flagrante ilegalidade. A norma é exigível de parte dos agentes públicos, os principais descumpridores. Não obstante a sua modernidade, a forma de fazer política permanece arcaica, calcada no personalismo clientelista. A principal falha do legislador de 88 foi não fazer a Reforma Política desejada pelo povo desde os anos sessenta do século passado, quando em sinal de protesto elegiam-se animais do Jardim Zoológico, como o hipopótamo Cacareco, eleito vereador à Câmara Municipal, em São Paulo. Mais recentemente passou-se do Zoológico para o Circo com a eleição de palhaços. Os partidos políticos não se consolidaram. A democracia partidária é uma ficção, gravitando a política em torno de nomes que controlam as máquinas partidárias. A organização partidária precisa refazer-se, considerando os novos meios de participação oferecidos pelas redes sociais. Elas que estão desempenhando papel fundamental nas eleições deste ano, e não as redes de televisão, como se supunha. A fonte originária do poder político na Constituição de 88 é o cidadão, na formulação inicial vinda da Revolução Francesa de 1789, ampliada pelas declarações internacionais de Direito que o emanam do ser humano como realidade histórica e social. Daí dizer-se que a Constituição de 1988 é dos advogados, mas não só deles, dos juízes, dos membros do ministério público, de todos os que propugnam pela sua materialização nas instâncias do Estado. A Constituição é perfeita? Não. Nenhuma delas atinge a perfeição. Disso sabia e tratava o sábio Aristóteles ao estudar mais de cem constituições da Grécia antiga, para concluir pela imperfeição de todas elas.
Tanto é verdade a assertiva que ela própria admite emendas e revisões do seu texto. Com a dependência do Presidente da República em relação ao Congresso, penso que as eleições parlamentares deveriam ser vinculadas, matéria para a imprescindível e inadiável Reforma Política. Em relação ao pleito presidencial do dia 7, estimo que sem a presença onipotente dos marqueteiros, e do volume de dinheiro gasto anteriormente, e ainda a decisiva influência das redes sociais, é preciso ter cautela para com as pesquisas divulgadas. A vontade do eleitor poderá ser manifestada nas últimas horas anteriores as eleições. E salvador da pátria, só o Sassá Mutema, personagem da novela da Globo. Como dizia Brecht, infeliz a nação que precisa de heróis.
SAUDADES DO FUTURO OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Tenho saudade do futuro que vi quando criança. Não um futuro meu, mas um amanhã que extrapolava minha pretérita visão egocêntrica, quando minhas particulares aspirações de superação mal cabiam na pequena casa de porta e janela no Povoado Enseada Grande. Ou mesmo na pequena palafita de um cômodo, já na capital, construída sobre a maré, que guardava a mim, minha mãe e os cinco irmãos. Falo de um futuro sobre o qual cresci ouvindo dizer. Um lugar diferente, no qual as pessoas teriam prosperidade, seriam independentes, viveriam de seu próprio suor e teriam acesso às mesmas oportunidades, tudo de forma igualitária. Este lugar prometido não fica em outro continente, ou planeta. Não cresci ouvindo fábulas ou contos acerca dos quais me apeguei de forma utópica e apaixonada. O lugar do qual falo é o Brasil, solo no qual pisamos todos os dias, cujo tal futuro parece não ter chegado. “O Brasil é o país do futuro”. Era, de fato, uma promissora nação; ou será que fui iludido com um bem forjado Jargão publicitário? Ou mesmo não tenha visto, ou não quis ver, o que estava diante dos meus olhos, tamanha obviedade hoje narrada no transcurso da história. Do ufanismo que empolgou uma geração, parecem ter ficado como símbolos apenas a bola e o pandeiro, cujos valores culturais são importantes, é bom que se diga. Mas receio daquele outro futuro que não chegou. Sinto falta daquela “terra” prometida que ficara apenas nos folhetins, rabiscada em rebuscados discursos, com conteúdo carregado de altas doses de emoções e cheios de esperanças, mas que transbordava de um vazio infinito de ações concretas e estruturantes. Um futuro que, ao que parece, fora apenas sonhado, idealizado, jamais planejado. Olhando no fundo do meu “eu”, deparo-me com uma criança ainda sentada na porta de casa esperando alguma encomenda que nunca chegou. A corrente de mãos dadas fora desfeita e cada um parece ter seguido a própria trajetória, um destino que fora reservado a cada cidadão brasileiro longe de qualquer pensamento coletivo. Os 90 milhões “em ação” se multiplicou e hoje somos mais de 200 milhões, já não mais com a mesma empolgação e longe de parecer fazer parte de um mesmo elo. Muitos dos quais estão presos em seus mundos, suas convicções, suas vaidades, longe de qualquer pensamento comum. A diferença entre o ontem e o hoje é que naquela época havia uma perspectiva, vislumbrávamos o ideal de país onde o único obstáculo entre o sonhar e o concretizar parecia ser o tempo: a certeza de dar certo era algo que abraçávamos, carregávamos avidamente. Hoje, como cidadão brasileiro, mesmo com forças para contribuir, sinto-me órfão daquele futuro traçado para as gerações posteriores. Não pretendo, aqui, fazer o papel do pessimista, cujo discurso pronto apresenta jargões e lugares comuns com uma pitada de retórica intelectualizada. Mas afloro o sentimento daquele pequeno jovem de pés descalços que abandonou sua terra natal rumo à capital em busca de uma vaga esperança que não veio. Exato, não veio. Embora galgado alguns degraus, este artigo não fora escrito de cabeça baixa, de tal forma que a visão fosse capaz de alcançar apenas meu próprio umbigo. Digo que esse futuro não veio quando ainda vejo pessoas sem um lar, sem acesso à educação, à saúde e outros serviços públicos básicos e essenciais. A esperança se esvai quando percebo existirem tantos concidadãos sem emprego, condição mínima para assegurar a qualquer um uma vida com dignidade e cidadania. Em que ponto da história falhamos? Deixamos o Império, adentramos a República, vivemos as reviravoltas dos mandos e desmandos até aportar na redemocratização. Quais lições tiramos de tudo isso? Como aceitar os altos índices de criminalidade, de desemprego e de concentração de renda, contexto que deixa o povo cada vez mais desacreditado em dias melhores. Como aquela mente limitada e de pés no chão poderia conceber que naquele sonhado futuro, hoje, portanto, teríamos instituições públicas acuadas em um
labirinto que parece não ter fim, tamanha é a corrupção que parece ter se tornado fisiológica e que corrói os pilares da nação. Ah, é claro que avançamos e isso é importante reconhecer e destacar. Mas não como o esperado. Nossos filhos, que hoje deveriam estar colhendo os frutos do futuro, voltam a nutrir os mesmos sonhos outrora sonhados por nós, nossos pais e avós. O futuro que afirmo não ter chegado – e que talvez eu não o veja – é aquele no qual todos nós, irmanados com os mesmo propósitos pudéssemos ser capazes de edificar um país dito de primeiro mundo. Condições para isso não faltaram ao longo da história e não faltam hoje. É possível afirmar que o Brasil tem condições que se combinam em perfeita harmonia, mas faltam as ferramentas essenciais para lapidar a pedra bruta do próprio destino. Esbarramos na incapacidade de transformar nossas riquezas naturais em prosperidade para todos, de forma a garantir autonomia a cada cidadão para que possa, enfim, ser protagonista de sua própria história e não apenas uma vítima dos acontecimentos. Gostaria de poder escrever este artigo sobre outro ângulo de visão. Harmonizar palavras, imbricar frases de efeito com entonação empolgante e concatenar rimas, quase que com a perfeição de um belo soneto. Mais, infelizmente, a vida se faz com um pouco mais do que apenas papel, lápis e algumas ideias. Ainda resta tempo – inclusive para aqueles da minha geração – de iniciar um movimento que coloque nos trilhos a locomotiva chamada Brasil. Um novo elo precisa ser feito, uma nova corrente que amarre os rumos da nação rumo ao desenvolvimento do qual poderão gozar das benesses nossos filhos, netos e bisnetos. Entre um jogo de passado e presente, no qual o futuro não tem espaço, regresso no meu íntimo para a porta daquela humilde casa de chão batido e empoeirado. As certezas que ali ouvi, hoje nada mais parecem do que uma narrativa carregada de pretéritos perfeitos – simples ou compostos. Narrativa esta que coube, perfeitamente, em um enredo cheio de imperfeições
A JUSTIÇA QUE SE FAZ À HISTÓRIA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. O termo justiça é antigo e sua concepção já passou por diversas interpretações ao longo dos séculos desde a Grécia Antiga, mas sempre mantendo o núcleo principal em seu conceito. É algo abstrato, que concebemos com base em um conjunto de valores e regras indispensáveis a manutenção do equilíbrio social. Está presente no direito, na ética, na religião, na filosofia e, portanto, é indissociável da vida em sociedade. Especialmente no campo do direito, a justiça busca exprimir valores ligados ao que é certo ou errado. O conceito é estudado e oferecido a este campo social como algo sobre o qual se possa, tecnicamente, tomar posições e julgar um direito em questão, com isenção e imparcialidade, entregando-o a quem o pertença. Garantir a efetiva justiça não é fácil, mas é preciso perseverar, ainda que para isso se tenha que passar as angústias e martírios do ofício de ser julgador. Algumas vezes a justiça vem para dirimir interesses particulares, noutras ocasiões imperam os direitos coletivos. Como cátedra, não posso me abster de homenagear uma em especial que pela sua importância deveria entrar para os anais do Judiciário, ou mesmo de nossa sociedade. Ela veio para resgatar e preservar o pouco que ainda resta da memória de nosso ilustre escritor Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, um dos maiores intelectuais que este país já testemunhou. Muito embora o seu legado seja mantido para a posteridade, o mesmo não se pode afirmar dos bens materiais que ainda resistem à ação do tempo e do homem. Nesse ponto, um dos mais importantes símbolos ainda resiste de pé, graças a uma determinação judicial, datada de 2014. Assinada pelo juiz Clésio Coelho Cunha, homem de grande inteligência e sensibilidade, a decisão garantiu que aquela que fora a morada de um dos mestres de nossa literatura pudesse permanecer de pé. Justiça, sob a ótica do direito, precisa vir na hora certa e na dose certa. Para isso, é preciso ter coragem de decidir, não apenas se atendo à letra fria da lei, mas com certa dose de sensibilidade diante da realidade, devendo estar intrínseca a dimensão social. As medidas garantiram a interrupção do estado de depredação e a adoção de medidas que permitiram a recuperação do casarão, que, naquela oportunidade, já não demonstrava a mesma imponência do século XIX. Situado na Rua do Sol, 567, centro de São Luís, o imóvel estava abandonado à ação do tempo e do homem. Mais se parecia com a “A Casa”, de Vinícius de Moraes, e única intervenção, além do furto dos azulejos históricos, era a derrubada de suas paredes para a construção do que seria um estacionamento. Pouco da estrutura física que abrigou o ilustre imortal estava mantida. Uma página da história a um passo de virar escombros. Com a intervenção do Ministério Público e a pronta atuação do Judiciário, a decisão alcançou sua eficácia, sendo posteriormente confirmada. Hoje, quem passa pela mesma Rua do Sol tem a oportunidade de ver o casarão revitalizado, com fachada que ganhou novo brilho após a restauração. Mas a principal obra ainda precisa ser feita: uma grande revitalização cultural, transformando o espaço em uma espécie de museu que guarde as memórias de Azevedo e de escritores naturalistas, corrente que ele inaugurou, no Brasil, com O Mulato. A justiça que se fez por meio dessa decisão é tão grande quanto a que fazia Azevedo em seus escritos, ao descrever com fidedignidade suas obras e dar contornos realísticos ao cotidiano da sociedade rabiscada pela ponta de sua caneta. Ele se dirigia aos locais que seriam palcos de seus escritos, misturava-se às pessoas, tomava notas, tornava-se parte daquela realidade. Tudo isso compunha o conjunto de elementos para suas obras. Não há, aí, certa dose de justiça para com a realidade retratada? Ah, assim como o Casarão do Mulato, tantos outros precisam ter a mesma atenção dos órgãos competentes para que nosso rico e peculiar conjunto arquitetônico continue sendo uma referência mundial e uma mola para impulsionar o nosso turismo. Um espaço onde só cabe história e conhecimento não podia ficar
paralisado no tempo, servindo de estacionamento às nossas vaidades em detrimento da rica herança cultural que guarda traços de nossa peculiar identidade. A decisão garantiu que parte da memória de Aluísio Azevedo possa transcender gerações. Torna ainda mais digna de reconhecimento essa árdua missão de julgar, mas que traz gratificantes recompensas para o ego e a alma ao se fazer aquilo que se tem convicção em julgar como certo. Sobretudo, quando se tem a certeza de que cada decisão proferida pela ponta de sua caneta está carregada do livre convencimento e da consciência tranquila em promover o melhor para o bem estar social. Destaco esta decisão, em especial, para homenagear um sem número de tantas outras que diariamente garantem a saúde, a pensão, a proteção, o abrigo e, acima de tudo, o direito e a dignidade que compete a cada um cidadão, sem qualquer distinção. A magistratura maranhense hoje figura entre as mais produtivas do país, levando o Judiciário maranhense a conquistar respeito nacionalmente pela alta produtividade. Mas como dizia um velho professor e amigo, a missão de ser juiz não pode ser quantificada apenas pelos números, mas pela qualidade e dimensão social que cada decisão alcança. Vejo essas palavras se encaixarem perfeitamente à decisão ora comentada, pois ela extrapola a frieza dos números e dos códigos, ao permitir o necessário diálogo com história e a memória viva da nossa formação social. Essa é a magistratura maranhense. Essa é a magistratura do futuro, que já se destaca no presente.
SER POETA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Ocupo este espaço em branco para nele rabiscar alguns verbetes sobre a essência de ser poeta. Rendo-me a homenagear e enaltecer figura de enorme notoriedade e importância na cultura de uma sociedade. É composto de matéria – que vem do pó e a ele voltará, sem tirar nem pôr –, mas que pelas letras se faz imortal, deixando para posteridade o seu legado. Por definição, dada pelos nossos dicionários, é a pessoa que tem inspiração poética, idealista e vive às sombras de seus devaneios. É o sujeito que costuma falar de forma loquaz, ou simplesmente é aquele que compõe versos. Ele se alimenta da palavra, dela se apropria e a transforma continuamente em um processo metamórfico. Poeta é substantivo masculino, cuja derivação de gênero convencionou-se chamar de poetisa, mas que algumas preferem sua forma original, servindo a eles e a elas. Assim, no masculino, Cecília Meireles cantou, nem alegre, nem triste, em um instante em que a vida se completa, apenas poeta. Poeta é aquele que sonha e viaja nas asas da imaginação. É como se ele fosse uma pipa nas mãos de uma jovem criança, que ao descarregar o carretel de linha tem a sensação de alcançar o infinito. Talvez ele sinta levitar e voar, tal como a linda gaivota que voa e contorna a imensa curva na qual, com cinco ou seis retas, se faz um castelo. Ser poeta é poetizar. É brincar com as palavras. É fazer do alfabeto uma linda viola e por ela dedilhar versos que ora sonorizam harmonicamente um doce e belo soneto, ora contrariam a perfeição em favor de uma lógica inversa e descompromissada, mas igualmente poética. É ter o olhar da esperança subjetiva, típico dos românticos e surrealistas, mas mantendo os pés encravados no chão ao invocar a mais pura crítica realista. É um ser por vezes incompreensível, mesmo diante da aparente obviedade de suas palavras, que às vezes parece dizer sem dizer o que precisa ser dito. Passa a pérfida sensação de que nada mais são que verbetes jogados ao vento que ruma sem direção. Mas esse abandono não perturba aquele que é poeta, pois este sabe que é preciso manter a doçura de uma criança, fazendo das letras um quebra-cabeça que a cada dia possibilita novas descobertas e combinações. Porque mesmo aquelas palavras que rumam sem destino encontram terra fértil capaz de germinar e produzir frutos do conhecimento. Ser poeta é navegar. É ter fome e sede de novas descobertas e desbravar mares revoltos e de aguas turvas, ou simplesmente passear por águas calmas e límpidas. Tranquilidade ou tormenta nada mais é do reflexo de seu estado de espírito, suas inquietações e conflitos internos com o mundo exterior. Do eufemismo faz instrumento para manter a doçura da vida quando sobre ela precisa narrar os mais sórdidos acontecimentos. Conserva a essência do existir e faz das paixões da alma um combustível permanente na viagem ao desconhecido. Ele parafraseia o mundo como ele se apresenta, apropriando-se das mais diversas interpretações dos seus mistérios. O poeta perde-se nos profundos devaneios do seu âmago, muitas vezes cheios de um vazio que parece não ter fim e que mal cabe em si. Sem qualquer lógica ou explicação, esse vácuo aflora como uma fonte de vida em abundância, podendo ser sintetizada na experiência humana mais simplória. “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, eternizou Carlos Drummond. Suas palavras revelam que para ser poeta é preciso não caber em si mesmo. Extrapola-se os limites existenciais, transcende-se a razão e chega-se a beira do irracional para encontrar o que nem sempre parece ser traduzido com certo grau de coerência.
Às vezes é preciso fingir, como dizia Fernando Pessoa, outrora a verdade nua e crua da vida como ela é se faz necessária, como ensinou Nelson Rodrigues. Para o poeta o amanhã não se apresenta como concreto, tangível. Ele pinta cada dia conforme as cores que jorram – ora alegre, ora triste, mas sempre pujante – de sua fonte criadora e inesgotável de sabedoria. Compreender um poeta não é tarefa fácil, posto que muitas vezes aparenta um ser incompreensível por ele próprio, mas tarefa impossível não é. É uma empreitada que requer uma completa entrega, livre de pressupostos arraigados em preconceitos do senso comum com todas as arestas em seu devido lugar. É preciso pensar fora da caixa. O poeta é um eterno agricultor, que capina, ara, prepara, planta e colhe. Tal como iniciei, termino estes rascunhos já preparando outro pedaço de papel, onde vou buscar as melhores sementes em meu vazio ardente e transbordante de vida para semear e colorir outros espaços em branco. Parto para uma nova jornada, não sei se apenas para acalentar meu pranto, que afoga as paixões de minha alma, ainda repleta de marcas a serem traduzidas em doces poemas romanceados com os mais belos vocábulos. Ou se me apoio na viola para sobre ela dedilhar espantos de uma vida que é combate. O certo é que, para o poeta, o fim é o início do nada que se busca materializar
MINHA TERRA NATAL - CAJARI-MA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Quando se trata da terra natal, todos falam com entusiasmo e sentimento que saltam aos olhos, comum àqueles que guardam boas e saudosas lembranças dos tempos de outrora. Nesta data, em que comemora mais um ano de fundação, falar de ti, Cajari, é um motivo a mais para meu peito transbordar de emoção. Ao comemorar 70 anos, no próximo 15 de novembro, este pedaço do Maranhão me faz voltar para dentro do meu eu e me deparar com tantas recordações boas. Da época de menino magrelo, dos pés no chão, das brincadeiras peão, das peladas do futebol. Ou mesmo do despertar cedo para a labuta diária – na roça ou no campo. Como foi bom ter vivido ali. Hoje, te olho majestosa, do alto de seus quase 19 mil habitantes, censo de 2010, encravada no coração da nossa rica Baixada Ocidental Maranhense. Ah, Cajari, como queria ser compositor para rabiscar algumas melodiosas letras que falam de ti. Mas pensando melhor, sou péssimo intérprete e cego de um saudável ciúme. Concluo que elas não poderiam ser cantadas por ninguém, se não por mim. Como esse papel já não cabe a mim, deixo quietas as poucas folhas de papel que ainda me restam. Aproprio-me apenas desta para deixar gravada a minha homenagem. Singela, claro, mas profunda como deve ser. O saudosismo é uma marca indelével que carrego no peito e na memória, que a mim serve como combustível de uma chama inapagável. Sua grandeza não se traduz apenas em números. Situada às margens do rio Maracú, é uma terra de lendas, causos e muitas histórias, tais como aquelas que mexem não só com o imaginário dos jovens, mas até dos mais vividos. Cajari é, por assim dizer, um lugar que ainda guarda mistérios não desvendados, a exemplo dos sinais de uma antiga civilização que teria vivido no leito do lago que leva o nome da cidade, muito antes da chegada dos portugueses por aquelas bandas. Foi porto da tradicional Fazenda Cadoz e tinha algumas propriedades dos então coronéis, cujas autoridades não eram questionadas. Porém, não imperavam absolutas, posto que os valentes índios por muito tempo marcaram posição e deixaram um grande arsenal de conhecimentos que transcenderam gerações. Valentia, hoje, reservada a sua gente que dá a volta por cima depois de sacudir a poeira. Regressar a Cajari é poder me deparar com figuras ilustres, amigos de infância, um povo simples e acolhedor. Pessoas de sorriso fácil, mesmo daquelas faces cujos olhares revelam o pesado fardo que a vida lhes impôs. Adentro mais ainda, chego em Enseada Grande, povoado onde nasci, Tá tudo bem, sim sinhor”, e a vida segue com um feixe de lenha na cabeça e os pés ainda descalços, paradoxalmente simples e rica. Na minha terra ainda tem palmeiras e também babaçuais, mas jaçanãs e japeçocas eu nem sei mais. O avanço desenfreado e predatório do homem sobre a natureza para satisfazer de forma voraz seus anseios tem feito diminuir a incidência dessas espécies em toda a região. O meio ambiente sobrevive, embora embriagado na agonia das incertezas. Mesmo diante das dificuldades, é necessário encontrar motivos para comemorar. Recordo das palavras de meu pai, quando eu ainda era pequenino: “não se pode esmorecer diante das dificuldades da vida”. Palavras que dão força e alimentam a esperança de um dia não muito distante, ver minha bela Cajari retomar o caminho do progresso, da manutenção do seu ecossistema, do cuidado e do respeito com a sua gente. Espero um dia, minha bela Cajari, poder voltar para ti. E assim como uma despreocupada criança me deleitar em suas águas, colher o coco em seus babaçuais, correr em seus verdes campos alagados sob o sol escaldante. Quero poder deitar sob o céu de estrelas, do límpido clarão do luar, longe das luzes artificiais que delineiam uma realidade tal como ela não é.
Mas hoje, perdido nos devaneios da vida urbana, restando-me matar a saudade nas rápidas viagens de “batevolta”, só posso desejar a ti, terra amada, os mais sinceros e profundos parabéns pela sua antiga e imponente história. Sob sua juvenil certidão de nascimento, repousa um passado de glórias, bravura e mistérios ainda dados ao descobrimento. Parabéns, Cajari, pelos seus 70 anos de criação e pelo seu infinito passado de boas e eternas memórias.
BODAS DE PÉROLA PARA A CONSTITUIÇÃO OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
“A nação quer mudar, a nação deve mudar, a nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra e a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja nosso grito. Mudar para vencer. Muda Brasil!” O artigo desta semana é aberto com a frase que encerra o célebre discurso de Ulysses Guimarães, quando da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil. Era 05 de outubro de 1988, data que sacramentou um período de vinte longos meses de intensos trabalhos, que foram iniciados quando da instituição da Assembleia Nacional Constituinte, instalada em 1º de fevereiro de 1987, por determinação do então presidente José Sarney. Muitas foram as mãos – entre senadores e deputados – que trabalharam diretamente na elaboração do projeto do diploma que sepultou as duas décadas do regime militar. A participação popular foi intensa, formulários foram distribuídos nas agências dos Correios e quase 73 mil sugestões foram feitas pelos cidadãos e outras 12 mil de entidades representativas. Os trabalhos agitaram aquela tarde de 05 de outubro, culminando com a promulgação da Constituição Federal. Discursos efusivos, eloquentes, cheios de retórica e emoção marcaram o momento de transição. Passava das 17h quando ocorreu a consumação de uma árdua jornada, inaugurando no país um novo período de liberdades e respeito às individualidades. Uma tarde cheia de simbolismos, tal como a revista da tropa pelos representantes dos poderes e a assinatura dos exemplares originais da nossa Carta por Ulysses Guimarães, que, para a oportunidade, usou a caneta que havia ganhado de funcionários da Câmara no ano anterior. Ulysses se levanta e ergue firme o diploma assinado. Congressistas fazem seus juramentos, tal como o presidente José Sarney, este com as mãos trêmulas, devido à emoção do momento. A plateia assistia ansiosa, com olhos de esperança, com o sorriso estampado no rosto. O que se via aos quatro cantos do país não era diferente. O documento da liberdade trouxe alento para os cerca de 140milhões de brasileiros daquela época e a certeza de novos horizontes para as futuras gerações. Direitos fundamentais vieram à tona, como os que garantem saúde, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS); educação, que ganhou ênfase como dever do Estado e com a inclusão de crianças deficientes e o povo indígena; fomento à cultura, inclusive pela liberdade às manifestações afins; a prevalência dos direitos do consumidor, com a criação do CDC; o meio ambiente, que ganhou espaço cativo na Carta; e maior espaço para a participação popular no processo legislativo. Nasceram mecanismos para coibir abusos de poder do Estado, a censura à imprensa e às artes foi abolida, prevalecendo novamente a liberdade de expressão. O Judiciário resgatou seu importante papel e, ainda no âmbito jurídico, vimos nascer o direito ao habeas corpus, o mandato de segurança, mandado de injunção e as ações populares. Com tantos avanços, o Diploma Maior é atualmente visto por todos como um marco do processo de redemocratização, ao mesmo tempo em que é moderno e capaz de garantir a paz e o progresso. Nesse sentido, é um regramento que representa o avanço rumo ao exercício da cidadania, com direitos e deveres, condição primeira para a democracia se estabelecer.
Desde aquela tarde a sociedade evoluiu. A Constituição sofreu mais de uma centena de emendas, acompanhando o progresso social, e fez surgir milhares de leis Brasil afora que visam à garantia dos mais diversos direitos e deveres aos cidadãos. Mas a Carta Magna não alcança um fim de forma isolada. Não basta apenas a assunção de normas expressas no diploma, mas o efetivo cumprimento desses dispositivos. O cumprimento das determinações emanadas de nossa Constituição deve ser um exercício diário, um norte balizador de nossas condutas, seja como agente público ou político, a quem cabe responsabilidade maior; seja como cidadãos, que também precisam exercer o seu papel efetivo para a consolidação de toda concepção constitucional. A jornada foi longa e tortuosa até a instituição de um diploma que atendesse aos anseios sociais de uma nação inteira. Ao completar 30 anos, nossa Constituição merece ser comemorada, debatida, refletida, comentada. Embora ainda existam percalços para o cumprimento de sua missão, não restam dúvidas quanto aos avanços que ela possibilitou à nação. Exaltemos as Bodas de Pérola da Constituição da República Federativa do Brasil, que chega aos seus 30 anos denotando o perfeito casamento do Estado brasileiro com a democracia. Ao mesmo tempo, convém invocar o compromisso de todos para que possamos, com nossas práticas, cumpri-la e respeita-la, tornando-a efetivamente cidadã. Qualquer que seja o governo ou o governante, o grito de hoje será sempre o de respeito e cumprimento da ordem constitucional brasileira.
CONSCIÊNCIA HUMANA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Mais amor e respeito ao próximo Amar, amar e amar! É tudo que o ser humano precisa, merece e deve fazer pelo próximo, pelo mundo. Amar sobre todas as coisas e sob todos os pretextos. Amar acordado, dormir amando, acordar com amor. Amor é tudo! A vida perpassa o sentido formal da palavra amor. Fora de qualquer razão, transcende o real e o figurado, toma conta do “eu” e liberta para o amor. O amor aos familiares, aos amigos. Amor a todas aquelas pessoas com quem convivemos, ou com quem acabamos de conhecer, amor até mesmo ao desconhecido. O corredor da alma é um caminho cheio de vida e mistérios. Ele leva a uma janela que ao nos debruçarmos chegamos a um lugar jamais pensado: o da consciência, da real posição do ser humano frente ao ser humano. Sem sobrepujar, sem importar a cor da pele, o formato dos olhos, a bolsa que carrega, a roupa que veste, o carro que dirige, o lugar onde mora. A consciência nos iguala. E por falar em consciência, no último dia 20 de novembro foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Tal fato fez indagar-me: o que é mesmo consciência negra? De que ela se difere das consciências branca, parda, mameluca? Não sabia se comemorava por ser descendente de negro com branco – e com isso me considerar e ser um negro – ou se aprofundava minha reflexão sobre o mote desse projeto de lei que instituiu o aludido feriado. O Maranhão foi um dos estados que adotou o aludido dia 20 como feriado. Embora muito debate surja em torno do assunto, acredito ser válido que o dia seja guardado como um marco para a promoção da igualdade, independente da cor que se carrega na pele. Não se pode negar a dívida que o Brasil carrega com sua população negra. Embora não exista uma segregação institucionalizada, como ocorrera em outros países, ainda persiste uma segregação que se dá pela conduta e comportamento para com aqueles que possuem o tom da pele mais escuro. Convém lembrar que pós escravidão os negros foram largados à própria sorte, sem emprego, sem moradia, sem dignidade. Daí porque é importante o enfrentamento dessa questão, mas tomando-se os mesmos cuidados de não promover um efeito reverso, no qual se valoriza o negro em detrimento do branco, do pardo, do ruivo. Não somos diferentes, repito. Somos humanos, um igual ao outro, em toda nossa constituição. Rememoro os discursos de Nelson Mandela, que sofreu e lutou contra o regime do apartheid, na África do Sul, para marcar minha posição Mandela, um dos maiores líderes que o mundo já viu, ao tratar da política dos povos afirmou: "Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Porque eu promovi o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver mas, se necessário for, é um ideal para o qual estou preparado para morrer". No dizer de Mandela, nem consciência negra nem consciência branca, mas consciência sob todos os aspectos: a consciência verdadeiramente humana. Ao receber o Prêmio Nobel da Paz, compartilhado com o presidente sul-africano F.W. de Klerk, em 1993, Nelson Mandela, em seu discurso afirmou para todos os que os assistiam: "O valor da nossa recompensa compartilhada deve ser medida e a paz triunfará. Porque a humanidade que une negros e brancos em uma só raça dirá a cada um de nós que devemos viver como filhos do paraíso”. Mandela continua: “Mas ainda há gente em nosso país que erroneamente acredita que se contribui para a Justiça e à paz aderindo a esses dogmas que só trouxeram desastre. Esperamos que eles possam ser abençoados com o raciocínio, o suficiente para perceber que a história não pode ser negada e que uma nova sociedade não pode ser criada a partir da reprodução de um passado desagradável, por mais que se tente disfarçá-lo ou reconstruí-lo". A história a que Mandela se refere é a da humanidade, a minha, a sua. É o legado de todas as cores, porque todas são uma só: a raça humana. Quem foi o primeiro a insinuar que temos distinções? Pois este
estava coberto de enganos. Sobretudo, nas relações sociais, deve prevalecer o respeito e os direitos a oportunidades iguais, tal como diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, de forma particular no Brasil, a nossa Carta Constitucional. Essa construção da consciência universal, indubitavelmente, passa pela educação. Como melhorar os índices de escolaridade, qualificação e requalificação de todos? Penso que essa tarefa perpassa pelos entes federativos (União, Estados e Municípios), que devem criar mecanismos que fomentem escolas e universidades públicas de qualidade, em detrimento das facilidades para se abrir uma instituição de ensino privada. Isso remete, naturalmente, a melhores condições de trabalho para os professores e servidores desse setor, contemplando ações de valorização pessoal e oferta de estrutura condizente com os objetivos educacionais, que por sua vez devem refletir os objetivos da nação que almeja o progresso. É preciso mais que uma Lei de Diretrizes e Bases. A educação de qualidade requer atenção máxima, acompanhamento, desde os anos mais básicos até a educação especializada. Condições adequadas para as séries iniciais, onde se trabalha aspectos indispensáveis ao desenvolvimento cognitivo do aluno. A pluralidade educacional iniciada na fase ginasial, onde cultura e esporte são inseridos com mais veemência. Um ensino médio que faça jus ao seu propósito de preparar para a vida acadêmica e profissional, aportando, por fim, em um ensino superior digno de capacitar nossos cérebros para os desafios mundiais que se agigantam. Vejam que durante toda essa trajetória educacional não há espaço para discernimento deste ou daquela em razão de sua cor. E esse desafio é possível ser alcançado. A Coreia do Sul aniquilou o analfabetismo em quase meio século e desponta como um dos países mais desenvolvidos do mundo. A China tem em curso um dos maiores programas educacionais do planeta, cujos resultados já refletem em inúmeras melhorias e coloca o país como único capaz de ameaçar a hegemonia norte-americana. Isso demonstra que os caminhos não precisam necessariamente ser iguais para todos, pois cada qual carrega uma história que lhe é particular. Mas as oportunidades sim, estas devem alcançar todos – em todos os rincões de nosso Brasil –, levando as condições necessárias à promoção social da nação. Igualdade para todos, de todas as cores, raças, crenças e religiões. O mundo precisa de mais amor e este começa com o respeito. Que as pessoas possam ser amadas, reconhecidas e valorizadas pelo conjunto de valores que carregam consigo e que prevaleça o respeito a uma só raça: a humana.
FAMÍLIA: A BASE DE TUDO OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Família. Palavra que pode englobar outros conceitos, relativos não a seres humanos, mas coisas, animais, etc. Apanhando as definições vocabulares encontra-se que família é conjunto de pessoas, em regra, ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto. Ascendentes, descendentes, colaterais e afins de uma linhagem. Do mesmo sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação ou adoção. Seguindo o conceito mais estrito, permito-me discorrer sobre a importância da família para a sociedade. O sucesso de um “homem” está diretamente relacionado com os laços de parentesco que este constrói em sua trajetória. Não falo do sucesso enquanto posse de bens ou status social. Vejo que o sucesso está intimamente ligado ao conceito de felicidade, estado de espírito e congraçamento, coisas que não possuem relação direta com posses materiais. Crescer em uma família harmoniosa, sob a batuta dos bons valores e costumes é condição primeira para se alcançar essa tal felicidade. Nesse quesito, afirmo que fui um felizardo ao ter como referências pai – ainda que por pouco tempo de vida –, mãe e meus irmãos mais velhos que souberam conduzir os rumos dessa instituição social. Sob um permanente e árduo regime de trabalho, estudos e manutenção de valores, construímos uma família sólida. Sempre havia tempo para as conversas e, hoje, não falta uma mão estendida para aquele que precisa. Solidariedade e amor ao próximo é algo que praticamos desde a tenra idade. Por essa razão afirmo que a família é base para uma sociedade melhor. Trago este contexto familiar – embora sempre reservado quanto a essa exposição – devido à importância do tema para o momento que vivemos. Uma era de relações frágeis e voláteis, muitas delas construídas sem o alicerce que deve manter de pé a família, que por sua vez é o núcleo mais importante para uma sociedade em equilíbrio. Atualmente é comum constatar a “terceirização” da educação dos nossos filhos para as escolas, para as televisões, para os desenhos, para as redes sociais e, na pior das hipóteses, abandonamos à própria sorte sob as regras das ruas. O ensinamento pode ser para o bem ou para o mal, a depender do contexto em que as lições são repassadas e aprendidas. Discussões acerca da pureza do coração humano se arrastam até nossos dias tendo como debate central a questão se o homem é bom ou mau por natureza. Prefiro a linha que defende o homem como um ser bom, moldado conforme o contexto social no qual ele cresce. Nesse sentido é que destaco o papel da família na educação dos filhos e no fortalecimento dos laços de parentesco. Educar não significa ser benevolente em tudo, mas ter um propósito em todos os atos. Este propósito deve estar intimamente ligado ao desejo de querer o melhor para nossos filhos e, assim, educá-los com amor para uma vida honrada e de respeito ao próximo. Infelizmente, sem pretender generalizações, o que se vê é o contrário disso. Por um lado há escassez de tudo, de bens materiais a amor; enquanto noutros lares há todos os aparatos tecnológicos de última geração, mas também falta o amor. Em ambos os casos observo concessões de forma ilimitada ao se dar tudo que os filhos querem, não se diz não, não se impõe limites, apenas deixa-se fazer o que cada um bem entende. Parece ser mais cômodo.
Não pretendo ser determinista, mas o resultado de uma geração criada sem limites prenuncia uma atmosfera social em perfeita desarmonia. Isso porque vivemos em um país sob a égide da democracia, que por sua vez pressupõe o gozo dos direitos e o cumprimento dos deveres. Estes últimos não se sobrepõem, convivem de forma harmônica, cada um no seu momento. Embora avancemos tecnologicamente, a ponto de querer lograr a denominação de país desenvolvido, receio que este ainda é um ideal minimamente longe de ser alcançado. Como se pode querer que uma nação seja desenvolvida quando vemos irmãos se voltarem contra irmãos, filhos contra pais, parentes contra parentes. Núcleos familiares dilacerados. Retomo meu raciocínio inicial para estabelecer o paralelo pretendido. Só será possível construir uma sociedade melhor a partir da edificação familiar, sendo esta capaz de promover valores para uma nação justa, fraterna e igualitária. O respeito ao próximo, ao meio ambiente, às regras de convivência são pressupostos. Limites são necessários para formar uma geração que não se deixará frustrar diante dos obstáculos, mas os enfrentará com a cabeça erguida. Assim como permitirá o resgate de valores éticos e morais que possibilitem o respeito àqueles ditos familiares, da mesma forma que garantirá o respeito ao próximo indistintamente. Aprendi um lição sempre dita por minha mãe: educação vem de berço! Frase que certamente todos já ouviram ou vão ouvir em algum momento de suas vidas. E esse berço nada mais é do que a família. Aquela que nos abraça desde o primeiro sopro divino e nos guia para a vida. De fato, dificilmente se alcançará uma sociedade perfeita, talvez nem o mais utópico dos filósofos tenha acreditado que isso seria possível. Também não creio que sejamos “lobos dos homens”, como pensava o filósofo mais cético. Mas é possível, a partir do seio familiar, repensarmos o Brasil que queremos para nosso futuro. Incorporei desde cedo que aquilo que se aprende no núcleo familiar não se perde com o tempo, tende a se fortalecer. A medida que praticamos o bem, a comunhão, a irmandade, tornamos a nossa casa melhor e, consequentemente, podemos contagiar a rua, o bairro, a cidade, o país. O ambiente familiar com fortes laços tende a ser mais feliz e a felicidade é contagiante e faz bem a quem transmite e a quem recebe. São valores que contribuem para o bem estar social.
O DIA DA JUSTIÇA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Justiça plena para todos Neste 08 de dezembro comemoramos o Dia da Justiça, data na qual se fazem acaloradas alusão e reconhecimento ao Poder Judiciário, àqueles que constituem este poder e aos operadores do Direito que de alguma forma mantêm permanente relação com essa instituição em função de suas atividades laborativas. Por meio do Decreto Lei 1.408/51 o dia foi considerado feriado nacional, oportunidade em que não há expediente nas repartições do Poder Judiciário e nem daqueles órgãos que atuam diretamente ligados à Justiça. É um dia para homenagear a Justiça, sem dúvidas, sobretudo quem a faz no Estado: desembargadores, juízes, advogados, promotores, defensores, procuradores, servidores, bem como órgãos e membros que de alguma forma compõem o sistema jurídico, caso da Polícia Judiciária. A data não poderia ser mais oportuna, mês de dezembro, razão pela qual também se comemora mais um ano de hercúleo trabalho. Um momento para congratular operadores do Direito que se debruçam sobre leis, jurisprudências e teses na busca de elucidar os mais diferentes litígios que batem às portas da Justiça. Trabalho esse que tem rendido frutos positivos e que alçou o Judiciário maranhense a um dos melhores do país no quesito produtividade, confirmado com o Selo Ouro, conferido pelo Conselho Nacional de Justiça na última semana. Trabalho que tem a marca da advocacia, pela sua luta incessante por melhorias que cabem ao Judiciário, contribuindo assim com a modernização da estrutura e de procedimentos deste último. Tal como carrega a chancela do Ministério Público, que labora de forma permanente ao lado do Judiciário na busca da verdade real dos fatos a serem elucidados, exercendo também de forma irretocável o papel de fiscal da lei. Verifica-se, hoje, que os órgãos do Sistema de Justiça estão muito mais abertos, transparentes e acessíveis aos cidadãos. As melhorias vêm ocorrendo no sentido de ampliar e melhorar o relacionamento com a sociedade. É possível assistir a instituição das mais diversas políticas públicas judiciárias voltadas aos mais diferentes tipos de atendimento, algo que impacta diretamente na construção da cidadania e fortalecimento da democracia. Embora avanços ainda sejam necessários, o dia 08 de dezembro deve ser exaltado. Mais do que isso, dentro do senso de justiça social que devemos construir e praticar, é necessário estender a responsabilidade à população. Assim, o dia da Justiça deve ser celebrado por todos como um marco na garantia dos direitos e, sobretudo, no cumprimento de deveres diluídos na sociedade, devendo alcançar a todos indistintamente. Por oportuno, a data também abre importante viés para a reflexão sobre valores hoje sobrepujados ou esquecidos em nossas atitudes cotidianas. Ética, moral, cidadania, respeito ao próximo, tolerância, dentre outros, devem estar na pauta diária não apenas do Judiciário e órgãos afins. É preciso que faça parte do dia a dia de cada um como um exercício permanente. Em que pese o simbolismo e mesmo a efetividade das decisões judiciais, a justiça não se faz apenas com as ditas “canetadas”, diferentemente do que alguns podem acreditar. Uma sociedade que se pretende justa e fraterna também necessita que cada cidadão seja protagonista da justiça e da paz social. Falo, pois, da justiça nas relações cotidianas, do respeito ao próximo, de praticar o que é correto do ponto de vista ético e moral. Decerto que assumimos muitos papéis em um único dia, de acordo com o espaço social que frequentamos. E precisamos – no plural mesmo, porque me incluo nessa missão coletiva – refletir justamente sobre nossa conduta diária e como praticamos o senso de justiça nesses diversos contextos sociais. Muitas vezes criticamos condutas alheias, mas paramos na vaga reservada de estacionamento porque “é rapidinho”.
É comum querermos levar vantagem sobre o outro, parar em fila dupla, retornar em local proibido, furar a fila do banco ou mesmo colocar familiares para ocupar várias filas em um supermercado e vamos todos para aquela que andar mais rápido, por exemplo. Há momentos que agimos como se nosso tempo fosse mais precioso do que o do próximo, razão pela qual vamos cometendo as injustiças nossas de cada dia. Mas no meu particular entendimento, praticamos injustiça quando não enxergamos além de nosso umbigo. Somos injustos quando deixamos de fazer o bem ou mesmo ficamos indiferentes às iniquidades do cotidiano. Resistir ao aparente eterno "jeitinho brasileiro", ajudar o próximo, fazer caridade, ser voluntarioso e colaborativo são formas de exercer a justiça que estão ao alcance de todos, independentemente da condição social. Muito além do que entregar um direito, o conceito de justiça, no qual acredito, está também em fazermos nossa parte no cumprimento de nossos deveres, sejam aqueles legais, ou aqueles que temos obrigação de pôr em prática pelo fato de sermos humanos dentro do lema “fazer o bem sem ver a quem”, fazer o que é certo, como o simples fato de devolver um bem encontrado perdido, independente do valor e da precisão daquele que o encontrou. Pela própria definição vocabular de que justiça também é a qualidade daquilo que é justo, correto, ratifico que o senso de justiça deve estar em todos, ser absorvido definitivamente pela nossa cultura, colocado em prática diariamente e repassado às gerações futuras. Assim, exaltemos o Judiciário por esta data, fato! Tal como parabenizamos o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Ordem dos Advogados e a Polícia Judiciária, consagradas instituições cujos valorosos esforços para uma nação mais justa e igualitária precisam ser enaltecidos. Por outro lado, lembremos de invocar, enquanto cidadãos que somos todos, nosso dever cívico como exercício diário de respeito às normas e nosso compromisso maior na construção de uma nação plenamente justa. Parabéns a todos que compõem a Justiça e parabéns a todos que fazem, com justiça, uma sociedade melhor para ser vivida.
ENTÃO É NATAL
OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Eis que é chegado mais um fim de dezembro, período em que estamos com o coração mais leve, a emoção salta aos olhos, os desejos mais sinceros são ditos aos quatro cantos em que nos fazemos presentes. Ouvimos aquelas mesmas canções natalinas – que já se tornaram clássicas e fazem parte deste instante de congratulações – e somos postos a refletir sobre mais uma página da vida que está prestes a ser virada. Tempo de ver as ruas iluminadas, as pessoas sorridentes, as lojas cheias, a esperança que se renova com o acender das luzes do natal e toma conta dos nossos corações a cada ato de bondade e caridade feito ao próximo. É tempo de dar e receber presentes, mantendo aquela velha magia de deixá-los em baixo da árvore, como se o próprio Noel os tivesse deixado. É a data de maior expressão para o comércio, importante segmento que faz a roda da economia girar, tendo forte impacto, também, na movimentação do segmento do turismo e de serviços. Empregos são gerados, a autoestima possibilita abertura de novos negócios, esforços são envidados para concretização de sonhos que foram alimentados ao longo do ano. Período de compartilhar uma mesa com as guloseimas que já são tradição, muitas delas, para mim, remontam aquele efêmero gostinho doce dos amargos tempos da sofrida infância. Tempo dos amigos secretos, das receitas da vovó, da família e dos amigos reunidos em torno da ceia para celebrar esta data de renovação. O Natal me traz a nostalgia daquele tempo de menino franzino, que da pequena palafita sobre a maré avistava as luzes da cidade a cintilar. De pés no chão, saía às ruas para ver a beleza dos brilhos, dos enfeites, da magia que tomava conta daquele momento único. Posso dizer que sou agraciado pelo fato de ainda poder guardar aquela doçura nas minhas íntimas lembranças dos tempos de pequenino. Por falar em pequenino, creio que é neste ponto que reside o espírito do Natal. Todos nós certamente temos guardado no íntimo de nossas memórias a ingenuidade, a sutileza, a esperança e a fé. Esses são sentimentos sinceros que podem ser renovados a cada fim de ano e que somente o Natal pode proporcionar. Embora tenhamos a capacidade de guardar tão nobres sentimentos, não devemos nos esquecer de praticá-los. O Natal é isso, tudo faz parte. Valores materiais e imateriais fazem parte deste tempo que é místico, desde que não nos esqueçamos do verdadeiro sentido do Natal. A data simboliza nascimento, em especial daquele que os cristãos creem como seu salvador, Jesus Cristo. É, dessa forma, também um renascimento, oportunidade de renovação de nossas condutas em diversas áreas de nossas vidas, seja na política ou nos âmbitos profissional, familiar e espiritual. Em tempo, é preciso voltar a ser criança, ou pelo menos deixar que se acenda aquela fagulha que todos nós ainda carregamos dos tempos das boas traquinagens. Não há espaço para a tristeza, o rancor, a raiva ou o ódio. É hora de deixar o sentimento aflorar, travestir-se da avidez e sensibilidade do poeta para deixar que eloquentes palavras transbordem do coração e saltem pela boca, ainda que pareça uma estranha naturalidade. Com a alma leve, é hora de reencontro, com nosso “eu”, com nossas raízes, com nossa história, com nossa caminhada. Olhar para trás e agradecer pela trajetória que nos foi possível trilhar e pedir forças para seguir aquela que ora se apresenta como novo desafio. Essa reflexão é quase uma exigência deste período, um exame de consciência que fazemos todos, com mais ou menos profundidade, mas que é necessária. É um ciclo que não se encerra, apenas se renova. Em breve, teremos novas oportunidades de fazermos diferente daquilo que já passou. Teremos a chance de sermos mais intensos, mais corajosos, mais
aguerridos, mais alegres, mais amáveis, mais amigos, mais humanos, de sermos simplesmente melhores do que fomos até então. Momento de rememorar nossos atos e renovar atitudes. Que a generosidade, a humildade, a compaixão e o amor possam visitar cada lar – dos mais simples aos mais afortunados, daqueles que acreditam ou não no verdadeiro espírito natalino – e anunciar que podemos todos reviver em plenitude a magia do Natal no ano novo que se anuncia. Parafraseando a letra da canção, é de todos o Natal, do enfermo e do são, do pobre e do rico, num só coração.
TODOS PELA EDUCAÇÃO OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Em 2019, o Brasil tem a oportunidade de se reencontrar com um dos principais objetivos traçados há décadas, quando ousamos nos intitular “país do futuro”. No ano que ora se inicia, teremos profundas mudanças em nossa política, renovação dos quadros e a consolidação do que se convencionou chamar de combate à corrupção. Mais do que nunca, um ano para recolocar o país na roda do desenvolvimento capitaneado pela educação. O tema é mais do que oportuno para iniciar o ano em um momento tão conturbado, marcado por uma crise ética e moral sem precedentes, cuja perda de valores gerou um contexto social em que o brasileiro quase desacreditou do futuro. E trato, aqui, não da educação como ensinamentos passados de pai para filho, mas daquela repassada na sala de aula, dentro do nosso sistema educacional. A educação, ao longo de grande parte da nossa juvenil história, foi vista como uma ferramenta apenas para poucos e sem qualquer importância para os demais, que apenas exerciam atividades braçais. A concepção de educação como direito de todos somente surgiu na Constituição de 1934, que estabeleceu o dever dos poderes públicos e reservou especial papel da família no ensino, estendido a brasileiros e estrangeiros aqui domiciliados. Na Constituição de 1946, a educação reaparece como direito de todos, mantendo-se o entendimento de ser disciplinada no lar e na escola. Já em 1969 essa universalização esteve expressa como princípio de unidade nacional, alinhada ao discurso do regime vigente à época, fundando-se, ainda, nos ideais de liberdade e solidariedade humana. O dever do Estado permanecia, mantendo-se, também, a responsabilidade da família com o ensino no lar. Com o advento da Constituição Cidadã, de 1988, foi mantido o princípio de universalização da educação, ficando esta a cargo do Estado e da família, que, embora corresponsável, passa a atuar apenas na colaboração e não mais na função de doutrinar. A responsabilidade da família, na figura dos pais ou responsáveis, passa a ser complementar. Podemos dizer, portanto, que foi somente a partir de 1934 que começou a existir a preocupação com a educação como ferramenta indispensável ao desenvolvimento da nação. Essa preocupação em muito se funda nos reflexos que a sociedade escravocrata deixou, mas que naquele momento era preciso a formação de mão-de-obra qualificada para as atividades que nasciam, em especial a industrial. Na concepção do “direito de todos”, a educação passou a ser vista como um direito social, devendo ser resguardada pelo Estado como mantenedor do sistema de ensino. A responsabilidade solidária da família, como incentivadora e promotora de condições que permitam o acesso da criança e do jovem na escola, pode ser vista em outros normativos, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente. O cenário pós 1988 nos remete à compreensão de que a educação, embora dever legal do Estado na elaboração das diretrizes e organização do sistema, é responsabilidade de todos. Não poderia ser diferente, haja vista o impacto da educação em todas as áreas da vida e sua importância para o desenvolvimento e progresso da nação. Daí decorre um avanço importante no dever de universalizar o ensino com a participação ativa de instituições da sociedade civil organizada, a exemplo de associações e entidades religiosas, na formação educacional equivalente à ofertada pelo Estado. Com educação é possível combater a pobreza, melhorar as condições de saúde, garantir a sustentabilidade ambiental e promover a paz social. A educação dá autonomia e empoderamento, garantindo o acesso a direitos e tornando cada um consciente de seus deveres, fazendo com que nossa democracia seja consolidada e fortalecida.
Progredimos, pelo menos em tese, na universalização da educação. Mas ainda restam avanços significativos na prática para garantirmos que todos, indistintamente tenham, de fato, acesso à educação e o mais importante: que seja uma educação de qualidade, transformadora. Educação se constitui como direito fundamental e essencial ao ser humano, conforme preconizado na Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional e na própria Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por isso, não é digno querer fazer crer que avançamos no campo educacional apenas porque regras foram alteradas e pessoas que apenas desenham seus nomes foram excluídas dos dados do analfabetismo. A questão é bem mais complexa, pois o analfabetismo funcional mascara um problema ainda mais grave, ao não possibilitar a ampla visão da realidade. É fato que saber é poder e a educação é o pré-requisito elementar para o desenvolvimento político e econômico, para a democracia e para a igualdade social que tanto almejamos. Além do analfabetismo funcional, ainda temos milhões de crianças em idade escolar fora das instituições de ensino e uma geração de jovens, conhecida como “nem-nem”, que se encontra sem rumos, nem trabalha e nem estuda. Aí repousa outro grande desafio: o de aumentar o percentual de jovens de 18 a 24 anos no ensino superior, meta que segundo o Plano Nacional de Educação deverá ser dobrada até 2025, chegando a 34%. É unanimidade entre especialistas que a educação está intimamente vinculada ao progresso da nação. Os chamados países de primeiro mundo já o fazem há séculos, enquanto outras nações que recentemente apostaram nessa receita começam a colher importantes frutos rumo ao desenvolvimento econômico e social, como é o caso da Coreia do Sul e mais recentemente a China, país com dimensões continentais e populacionais superiores às nossas, comprovando que é possível fazer. O Brasil necessita retomar seu rumo estabelecendo um pacto federativo com o apoio da sociedade. União, Estados e Municípios, em todas as instâncias dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário devem desempenhar um esforço ainda maior para dar efetividade às normas estabelecidas no sentido de zelar pelo pleno direito à educação de qualidade. Importante destacar neste rol as responsabilidades da Defensoria Pública, do Ministério Público, dos Conselhos Tutelares e Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente. Ainda no bojo do desenvolvimento educacional, é preciso entender que a universalização deve garantir a inclusão de todos: preto, branco, pobre, rico, índio, deficiente. E deve possibilitar a formação de cidadãos não apenas técnicos, mas humanos no sentido pleno da garantia e respeito aos direitos das chamadas minorias ou dos menos favorecidos. Somente com uma educação transformadora, promotora de valores sociais baseados no respeito ao próximo, sairemos do estado de letargia social e avançaremos rumo ao tão sonhado futuro.