ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
2019 – ANO DE MARANHÃO SOBRINHO
V. 6, N. 1, JANEIRO A MARÇO - 2019 SÃO LUIS – MARANHÃO
2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS
2016 – ANO DE COELHO NETO
2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES
2017 - ANO DE JOSUÉ MONTELO
2018 – ANO DE GRAÇA ARANHA
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA CONSELHO EDITORIAL SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER
EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981
2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4
2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com
V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4
2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1
V.4, n.2, 2017 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_2
V.4,n.3,2017 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v._3__julho-setem V.4,N4, 2017 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v.4__outubro-deze
2018 V.5, n. 1, 2018 (janeiro a marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.1__janeiro-mar_ V.5, n. 2, 2018 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.2__abril-junho_ V.5, n. 3, 2018 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.3__julho-setemb V.5, n. 4, 2018 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.4__outubro-deze
2019 V.6, n. 1, 2019 (janeiro a marรงo)
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 CHAPA 1 “MARIA FIRMINA” – BIÊNIO 2018 – 2019 MEMBROS DA DIRETORIA: ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – Presidente; ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – Vice-Presidente; CLORES HOLANDA SILVA – Secretária-Geral DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA – Primeiro Secretário; CERES COSTA FERNANDES – Segundo Secretário; OSMAR GOMES DOS SANTOS – Primeiro Tesoureiro; e, RAIMUNDO GOMES MEIRELES – Segundo Tesoureiro. CONSELHO FISCAL: ÁLVARO URUBATAN MELO; ARQUIMEDES VIEGAS VALE; e, SANATIEL DE JESUS PEREIRA. CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938
COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES E EVENTO
SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA
CONSELHO EDITORIAL
SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536
NOSSA CAPA: Escudo da ALL
Retrato de MARANHÃO SOBRINHO
Maranhão Sobrinho Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Maranh%C3%A3o_Sobrinho
Maranhão Sobrinho
Maranhão Sobrinho
Nascimento
20 de dezembro de 1879 Barra do Corda, MA
Morte
25 de dezembro de 1915 (103 anos) Manaus, AM
Nacionalidade Ocupação
brasileira escritor, jornalista e funcionário público
José Américo Augusto Olímpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho (Barra do Corda, 20 de
dezembro de 1879 — Manaus, 25 de dezembro de 1915) foi um escritor e jornalista brasileiro, fundador da Academia Maranhense de Letras[1]. Boêmio notório e de vida inteiramente desregrada, Maranhão Sobrinho "foi o mais considerável poeta do seu tempo, no extremo Norte, e o simbolista ortodoxo, o satanista por excelência do movimento naquela região", segundo o crítico Andrade Murici. Criado em Barra do Corda, no interior do Maranhão, conta-se que quando criança era irrequieto, brincalhão e levado mesmo da breca, no dizer dos seus contemporâneos. Frequentou irregularmente os primeiros estudos no conceituado colégio do Dr. Isaac Martins, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista. Em 15 de agosto de 1899, com o auxílio paterno, embarcou para São Luís, onde no ano seguinte funda a "Oficina dos Novos" e matricula-se com o nome de José Maranhão Sobrinho na antiga Escola Normal, em 1901, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominada pensão. Por motivo de se haver indisposto com alguns professores, em seguida abandonava o curso normal e, sem emprego, aos poucos entregou-se à vida boêmia. Em 1903, impressionados com a vida boêmia que levava em São Luís, alguns amigos mais dedicados o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali mudasse de procedimento, trabalhasse e arranjasse meios de publicar seus livros.
Na capital paraense, colocou-se no jornal Notícias e passou a colaborar na tradicional Folha do Norte. Bem depressa, tornou-se popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Colaborou também em jornais e outras publicações de São Luís e de vários Estados, incluindo-se entre estas a Revista do Norte, de Antônio Lôbo e Alfredo Teixeira. Em 1908 funda Academia Maranhense de Letras, unido à plêiade de escritores e poetas locais. Nisso transfere-se para a Amazônia onde, residindo em Manaus, passa a colaborar com a imprensa local e torna-se membro fundador da Academia Amazonense de Letras. Sua vida sempre foi boêmia e desregrada, escrevendo seus versos em bares, mesas de botequim ou qualquer ambiente em que predominasse álcool, papel e tinta. Despreocupado pela sorte dos seus poemas, publicou seus livros em péssimas edições sem capricho ou conservação, aos cuidados de amigos e admiradores, deixando esparsa grande parte do que escreveu em jornais, revistas e folhas de cadernos de venda. Novamente muda-se mas para Belém, onde conhece o poeta Carlos D. Fernandes, que havia sido amigo de Cruz e Sousa e pertencera ao grupo da revista Rosa-Cruz. Dois anos depois, de retorno a Manaus, lá fixase como funcionário público do Estado, onde vem a falecer em plena noite de natal, no dia 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade. Em Barra da Corda, o seu nome é lembrado oficialmente em uma única praça e pela Academia BarraCordense de Letras. A poesia de Maranhão Sobrinho é de fato colorida e fantasiosa, por vezes cheia de um resplendor de pedrarias, quando muito se revela satânica e, em alguns momentos, penetrada do amargor de Cruz e Sousa. "… É o representante mais completo da escola simbolistano Maranhão", diz Antônio Reis Carvalho, e de fato, segundo os críticos literários, é notória a influência dos poetas franceses Mallarmé, Verlaine e Baudelaire. Na poesia de Maranhão Sobrinho a ideia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma é parnasiana, afirma o literato Reis Carvalho. Literariamente batizado na escola simbolista, Maranhão Sobrinho é conhecido pelos críticos e estudiosos de literatura como um dos três melhores poetas simbolistas brasileiros, ao lado de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães. Obras Poesia
1908 - Papéis Velhos… Roídos pela Traça do Símbolo 1909 - Estatuetas 1911 - Vitórias-Régias
Ligações externas
Biografia na City Brazil: Maranhão Sobrinho; Jornal Guesa Errante: 30 de novembro de 2005. Artes & Literatura: Análise Literária.
SUMÁRIO 3
Expediente NOSSA CAPA – MARANHÃO SOBRINHO Sumário
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Com a palavra, o presidente...
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agenda
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MARIA FIRMINA DOS REIS INSPIRA SOCORRO LIRA SÉRGIO BARCELLOS XIMENES 8. O RETRATO FALSO DE MARIA FIRMINA DOS REIS DILERCY ARAGÃO ADLER ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: o dia em homenagem à mulher maranhense INSTALAÇÃO DA ACADEMIA ZEDOQUENSE DE LETRAS E POSSE DA DIRETORIA. MUNICÍPIO DE ZÉ DOCA. MARANHÃO JUCEY SANTANA 10 ANOS DE FALMA - A Federação da Academia de Letras do Maranhão comemora seus dez anos de fundação, em grande estilo. ESSAS MULHERES MARAVILHOSAS - DIRETORIA DA AJEB (ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORAS E JORNALISTAS DO BRASIL), DIA DA MULHER MARANHENSE LANÇAMENTO DE JUOSÉ FERNANDES FERNANDO BRAGA A LINGUAGEM DE JOSÉ MARIA NASCIMENTO NO LÉXICO DE RILKE
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EFEMÉRIDES
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VIRIATO CORRÊA: LITERATO E POLÍTICO IMORTAL - FELIPE CAMARÃO MANUEL ODORICO MENDES, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM GIGANTESCO TALENTO MARANHENSE NASCEU HOJE - EDMILSON SANCHES JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI) - 2 de fevereiro de 1927 , por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS 22 de março de 1947, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MÁRIO MARTINS MEIRELES - 8 de março de 1915, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA -14 de março de 1920, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ COELHO NETO – 155 ANOS – EDMILSON SANCHES ACREDITEM! - NASCIMENTO DE MORAES FILHO ESTÁ VIVO! - JOÃO BATISTA DO LAGO
NA BERLINDA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REVISTA DO LÉO 16, JANEIRO, 2019 REVISTA DO LÉO 16.1, JANEIRO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO REVISTA DO LEO 17, FEVEREIRO DE 2019 REVISTA DO LEO 18, MARÇO DE 2019 DO VINHAIS VELHO À PONTA DA AREIA – UM REDUTO QUE DEU INICIO A SÃO LUIS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; ANTONIO NOBERTO – Palestra no IHGM 31/01/2019 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Palestra – 125 anos do Colégio Santa Teresa BRUNO TOMÉ NOS JORNAIS DILERCY ARAGÃO ADLER LANÇAMENTO DE LIVRO DOIS POEMAS INÉDITOS DA POETA DILERCY ADLER (1950) - A MUSA DAS ESTRELAS MARANHENSE ANTONIO NOBERTO PROGRAMA MUNDO PASSAPORTE DANIEL BLUME POSSE FORMAL COMO CONSELHEIRO FEDERAL DA OAB. IRANDI LEITE ANTONIO AILTON JOÃO BATISTA ERICEIRA
15 50 54 57 59 60 61 63 67 69 72 73 81 86 91 97 98 100 101
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2019 – ANO DE MARANHÃO SOBRINHO CELSO BORGES POETA KISSYAN CASTRO LANÇA LIVRO EM HOMENAGEM A MARANHÃO SOBRINHO, NO DIA 30/12 NA ACADEMIA BARRA-CORDENSE DE LETRAS ANTONIO MIRANDA MARANHÃO SOBRINHO (1879-1915)
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ARTIGOS, & CRÔNICAS & CONTOS & OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA MARANHENSE: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES RAIMUNDO GOMES MEIRELES O PADRE NA ACADEMIA DE LETRAS JOÃO FRANCISCO BATALHA A FEDERAÇÃO E A FESTA DAS LETRAS JOÃO BATISTA DO LAGO O GUESA DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE - SOUSANDRADE EDMILSON SANCHES HÁ 150 ANOS, UM POEMA ANÔNIMO PARA GONÇALVES DIAS EDMILSON SANCHES UM TRIBUTO A CESAR MARQUES JOÃO BATISTA DO LAGO POR QUÊ AS ELITES E A NEOBURGUESIA BRASILEIRAS SE OURIÇAM QUANDO SE FALA EM GUERRA CIVIL? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EM GUIMARÃES ALDY MELLO BARRAGEM DE BRUMADINHO: SOLIDARIEDADE E GOVERNABILIDADE. JOÃO BATISTA LAGO A POESIA ENTRE A REALIDADE E O REAL EDMILSON SANCHES O SERTÃOM DE CARLOTA CARVALHO
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O PENSAMENTO DE BRANDÃO
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UM ELEITOR E SUAS LEMBRANÇAS EM HOMENAGEM A SÃO SEBASTIÃO:- TIRO DE GUERRA 194 TEORIA E PRÁTICA RUA DAS HORTAS RETORNO ÀS ORIGENS EM DEFESA DO NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO: EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
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AS CRÔNICAS DE CERES
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O RANKING DOS 36 MODOS SEXUAIS DE SER DE CULTURA E RESPEITO UM MOTE PARA AS RESOLUÇÕES 2019 GRANDES MEDOS REFLEXÕES À SOMBRA LAS BODEGUITAS EM DEFESA DA ”HONRA”
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DUAS MULHERES
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AS CONVERSAS VADIAS DE FERNANDO BRAGA SALOMÃO ROVEDO ADEUS AOS LIVROS Antologia: ‘Impressões sobre Nauro Machado “SOMOS TODOS DA GERAÇÃO DE 45” PÁGINAS DE CRÍTICA O MASSACRE DE ALTO ALEGRE
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POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)
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GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA - - 25 de Março de 1835, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JUSTO JANSEN FERREIRA 16 de março de 1864 , por Joseth Coutinho Martins de Freitas. RAUL DE AZEVEDO 3 de fevereiro de 1875, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ DE RIBAMAR NUNES FERNANDO EUGENIO DOS REIS PERDIGÃO 05 de janeiro de 1908 , por LIMA, Euges Silva. JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA - FRANKLIN DE OLIVEIRA 12 de março de 1916, por MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO RAIMUNDO NONATO DA SILVA SANTOS - NONNATO MASSON São Luis / 28 de fevereiro de 1924 , por MORAES, Jomar FRANCISCO SOTERO DOS REIS JUNIOR 1º de fevereiro de 1833, por RAMOS, Clovis CARLOS ALBERTO DA COSTA NUNES EUCLIDES FARIAS - EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA - 23 de março de 1846, por MORAES, Jomar JORGE NASCIMENTO 8 de janeiro de 1931 , por BRASIL, Assis FRANCISCO TRIBUZI Francisco José Santos Pinheiro Gomes São Luís do Maranhão / 24 de janeiro de 1953, por CUNHA, Wanda LUÍS AUGUSTO CASSAS 2 de Março de 1953, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ VIRIATO SANTOS GASPAR 7 de março de 1952, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO JORGE LEÃO São Luis, 27 de março de 1975 CARLOS ALBERTO MADEIRA 16 de março de 1920, po MORAES, Jomar. GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA - BRAGA ou Flávio Reimar 25 de Março de 1835, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ NASCIMENTO MORAES São Luis / 19 de março de 1882, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ RIBAMAR PINHEIRO 13 de junho de 1900, por MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO JUSTO JANSEN FERREIRA 16 DE MARÇO DE 1864, POR Joseth Coutinho Martins de Freitas RICARDO LEÃO - RICARDO ANDRÉ FERREIRA MARTINS. 2 de março de 1971, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LUCAS BALDEZ – ARLETE NOGUEIRA MACHADO
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POESIAS & POETAS
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DILERCY ADLER ESPAÇO FEMININO FRAGMENTOS DE MULHER CORPO E PRISÃO EXPIAÇÃO REPÚDIO AO ESTUPRO A ESSÊNCIA INVISÍVEL DO “ELA” ABELHA MULHER EU - POETA LOCALHOJE TEM PAPAGAIO NO CÉU DO DESTERRO ANTES QUE SEJA TARDE JOÃO BATISTA DO LAGO NÚMENO
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SAMUEL MARINHO OS SUICIDAS NÃO LEEM SUAS TIMELINES NO DIA SEGUINTE TEMPOS PÓS-MODERNOS MATCH REPLY DO DIABO NO TWITTER DE DEUS
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SONIA ALMEIDA INTIMIDADE ASSOMBRO RODA, MOINHO! QUINTAL JUCEY SANTANA VOU EMBORA PRA ITAPECURU CLORES HOLANDA POEMA AZUL.
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AYMORÉ ALVIM ESPIRITUALIDADE QUANTA PRETENSÃO!
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DIREITO & LITERATURA
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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO FRENTE À LEGISLAÇÃO DE ENSINO – 1918/1941 OSMAR GOMES DOS SANTOS UM POUCO MAIS DE TOLERÂNCIA OSMAR GOMES DOS SANTOS BEM VINDO AOS 18 ANOS OSMAR GOMES DOS SANTOS CUIDAR DO MEIO AMBIENTE É GARANTIR O FUTURO DA HUMANIDADE. OSMAR GOMES DOS SANTOS QUANTO VALE O PROGRESSO? OSMAR GOMES DOS SANTOS MAIS DIGNIDADE OSMAR GOMES DOS SANTOS A POLÍCIA QUE QUEREMOS E AJUDAMOS A CONSTRUIR ALDY MELLO ATÉ ONDE VAI A LIBERDADE? OSMAR GOMES DOS SANTOS A VIDA PEDE PASSAGEM ALDY MELLO O CARNAVAL E SUAS VÁRIAS FACES OSMAR GOMES DOS SANTOS ABRE ALAS PARA A ALEGRIA ALDY MELLO A LIÇÃO DO CARNAVAL OSMAR GOMES DOS SANTOS UMA FOLHA DE PAPEL OSMAR GOMES DOS SANTOS UE RUMO ESTAMOS TOMANDO OSMAR GOMES DOS SANTOS O STJ E A CRIOGENIA
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COM A PALAVRA, O PRESIDENTE... Muita cultura e conhecimento nesta primeira revista do ano A presente revista eletrônica da Academia Ludovicense de Letras (ALL) é a primeira do ano de 2019, sendo uma publicação com um cabedal de dar inveja a qualquer outra grande academia, plena de diversidade com origem na generosidade dos membros da casa de Maria Firmina dos Reis, oferecendo diversos textos aos leitores e cedendo espaço para outros tantos escritores alinhados aos propósitos de multiplicar o conhecimento a ludovicenses e maranhenses. A revista é um espaço democrático, onde cada um expõe as suas ideias e pensamentos objetivando contribuir através das letras. Neste ajuntamento de bons propósitos não há espaço para o famigerado “dividir para governar”, que vem assolando o nosso país e dividindo a sociedade brasileira trazendo prejuízos de toda ordem, que resultam no empobrecimento do debate e, consequentemente, na desvalorização do próprio brasileiro, que poderia estar mais ocupado com coisas importantes, a exemplo de literatura, ciência e cultura, pilares de qualquer sociedade próspera e civilizada. A revista apresenta grande elenco de escritores, que abordam temáticas que vão desde a instalação da academia Zedoquense de Letras, passando pelo aniversário da romancista Maria Firmina, palestras ministradas pelos acadêmicos, crônicas, poemas, artigos sobre o carnaval, até abarcar um pouco da obra do escritor José Ribamar Sousa dos Reis, patrono da cadeira número 40 da ALL, a ser preenchida no próximo dia 11 de abril em mais uma grande cerimônia que acontecerá no Palácio Cristo Rei, em São Luís/MA. Aproveitamos o espaço para agradecer e parabenizar a todos os confrades, confreiras e demais escritores pelos textos aqui publicados. E convidamos a você leitor a apreciar e multiplicar o conhecimento dando eco aos tesouros presentes nesta rica edição. Boa leitura.
AGENDA
O ESTADO MA, CADERNO ALTERNATIVO, 08/01/2019.
Maria do Socorro Pereira (Brejo do Cruz, 1974) é uma cantora, produtora cultural, violonista e compositora de música popular brasileira. Nasceu na zona rural de Brejo do Cruz, sertão da Paraíba, Nordeste, Brasil, em 30 de Janeiro de 1974. Filha de Benedita Pereira e José Cassimiro Neto (Zé Lira). É poeta, compositora, intérprete, instrumentista e produtora cultural. Formada em Psicologia Social pela Universidade Estadual da Paraíba. Inicia-se ao violão como autodidata, vindo a estudar técnica violonística e introdução ao violão clássico no Departamento de Artes da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande https://pt.wikipedia.org/wiki/Socorro_Lira ) Livros Da perspectiva das Orquídeas (poesia, 2018 ; A língua que a gente fala (conto infantil, 2018); A Pena Secreta da Asa (poesia, 2015); Aquarelar (poesia, 2007)
O RETRATO FALSO DE MARIA FIRMINA DOS REIS Sérgio Barcellos Ximenes Publicado em 02/12/2017por sbximenes
O RETRATO FALSO DE MARIA FIRMINA DOS REIS Apresentação Esta série de posts sobre Maria Firmina dos Reis, iniciada hoje, visa suprir uma lacuna no conhecimento da vida e da obra dessa autora maranhense. Recentemente (em 11/11/2017), o centenário do falecimento de Maria Firmina passou quase despercebido do chamado “grande público”, devido ao proverbial descaso da mídia com a cultura do nosso país. A única homenagem significativa foi prestada pela Feira do Livro de São Luís (a Felis, 10/11 a 19/11/2017), que teve como tema “Maria Firmina dos Reis e a literatura feminina”.
Mesmo esta iniciativa, entretanto, não sensibilizou a mídia de outros estados, que pouco ou nada divulgaram do evento. Somente cinco livros sobre Maria Firmina foram lançados este ano, todos em comemoração ao centenário de falecimento. Três deles, na Feira do Livro de São Luís: “Maria Firmina em Cordel”, de Raimunda Pinheiro de Souza Frazão; “Cantos à Beira Mar / Gupeva”, de Dilercy Adler e Osvaldo Gomes; “Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor”, de Dilercy Adler. Na mesma Feira, Eduardo Assis Duarte divulgou “Úrsula – 6º edição”, livro lançado alguns dias antes.
E o primeiro volume de “Memorial de Maria Firmina dos Reis – Prosa Completa & Poesia”, da Editoria Uirapuru, já está disponível em pré-venda (não há informação sobre o número de volumes nem sobre o conteúdo de cada um deles).
https://www.lojaeditorauirapuru.com.br/livros/literatura-adulta1/memorial-de-maria-firmina-dos-reis-prevenda/ Pela primeira vez, os brasileiros têm acesso à maior parte da obra e do conjunto de informações de Maria Firmina ― ainda assim, não a toda a obra e a todo o conjunto, como provaremos aqui. O mais importante: os dois únicos livros lançados pela autora (“Úrsula” e “Cantos à Beira-Mar”) estão acessíveis, com facilidade, aos leitores, simultaneamente e pela primeira vez desde o lançamento de “Cantos à Beira-Mar” em 1871 (ano em que a primeira edição de “Úrsula” já não se encontrava à venda). Ambos os livros foram relançados em 1974 (“Úrsula”) e 1975 (“Cantos à Beira-Mar”), por iniciativa do escritor e pesquisador José Nascimento Morais Filho, mas se esgotaram rapidamente. “Úrsula” teve quatro reedições, de 1975 a 2009, mas só um exemplar do romance era encontrado em meados de 2017 no site Estante Virtual, por R$230,00.
Ou seja, éramos o único país em que a sua primeira romancista não tinha os livros disponíveis à venda ― e são apenas dois livros. Não houvesse a passagem do centenário de falecimento de Maria Firmina dos Reis, a virtual proibição do acesso às suas obras permaneceria por muitos anos. E aqui entra outra consideração importante, esta, politicamente incorreta. “O livro impresso preserva a cultura” é um meme intelectual (no sentido antigo). Preserva, sim, mas somente em certas condições. De outro modo, todos estaríamos falando, por exemplo, de “O Chamisco” e “Entra, Sinhór”, de Lima Barreto, obras impressas que parecem ter sumido para sempre, assim como teríamos acesso a dezenas de histórias de autores brasileiros de ficção no século XIX, todas indisponíveis. Quantos livros de referência fundamentais editados pela Editora Mulheres, de lançamento recente, não são encontrados sequer na Estante Virtual, o principal sebo online brasileiro? Quando a obra literária não encontra muita demanda, é própria de um nicho limitado do mercado e não passa da primeira edição, seu destino quase certo é uma sobrevida de cinco ou dez anos no mercado. Depois disso, entra no buraco negro das obras não reeditadas para, muitas vezes, jamais sair dele. O livro impresso foi o principal divulgador da cultura e dos conhecimentos na história da humanidade, mas não é tão “perfeito” quanto gostaríamos que fosse. Há conteúdos que têm como meio ideal a internet ou a forma literária eletrônica. E, já que estamos tratando de verdades politicamente incorretas, nesse sentido a
pirataria cumpre função cultural importante, não deixando que conteúdos relevantes se tornem inacessíveis aos leitores e aos estudiosos. Os universitários de Letras sabem do que estou falando. Daí a decisão de priorizar a internet, em relação ao livro (digital), na divulgação desses textos, dessas imagens e dessas informações sobre Maria Firmina dos Reis. Sabemos que atualmente o Google é a primeira fonte de consulta da maioria dos internautas, afirmação válida para interessados, leitores potenciais e estudiosos. Que eles possam encontrar, portanto, o conteúdo desejado sobre a nossa primeira romancista, com facilidade e sem custos, e que esse material esteja sempre disponível a todos, é o sentido dessa iniciativa. ________________________ A origem do retrato cuja figura é atribuída a Maria Firmina dos Reis Não se conhece na literatura brasileira outro caso tão flagrante de equívoco na representação da aparência física de um autor, como o que envolve a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis e a escritora gaúcha Maria Benedita Câmara Bormann. Em 1899, Inês Sabino lançou o livro biográfico Mulheres Ilustres do Brasil (1899). Na página 193 da obra, um retrato de Maria Benedita Câmara Bormann trazia, logo abaixo, o nome “Délia”, pseudônimo pelo qual se tornou conhecida durante toda a carreira.
https://books.google.com.br/books?id=fHJmAAAAMAAJ&hl=pt-PT&pg=PA193#v=onepage&q&f=false
http://www.elfikurten.com.br/2015/06/ignez-sabino-pinho-maia.html
Esse retrato, em que uma jovem Délia, com feições suaves, usando um colar e um camafeu, olha para o seu lado direito, está atualmente associado à escritora Maria Firmina dos Reis em dezenas de páginas da Web, em livros e até mesmo em cartazes de encontros acadêmicos, como se pode ver no exemplo abaixo, datado de novembro de 2017.
http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2017/11/07/literatura-afro-brasileira-pela-obra-de-firmina-dos-reis-e-tema-de-evento/
Não se sabe quem cometeu esse erro pela primeira vez e quando ele começou a se disseminar na Web e nas redes sociais. O importante, mais do que apontar o dedo para o estimulador inicial do erro, é corrigi-lo. ________________________ Diferenças marcantes entre as duas autoras . Maria Benedita Câmara Bormann, a Délia, era branca. Maria Firmina era filha de negros, sendo descrita como “parda” por quem conviveu com a escritora. Atualmente, portanto, seria considerada negra. . Délia nasceu em família rica. Casou-se com um engenheiro que viria a ser Ministro da Guerra e teve uma vida tranquila do ponto de vista financeiro. Maria Firmina nasceu e viveu no limite da pobreza. Foi professora primária contratada pelo estado do Maranhão e não consta que tenha ganhado qualquer valor significativo em sua atividade como escritora. . Délia conseguiu destacar-se com sua literatura, a ponto de ter presença marcante na mídia de um grande centro (o Rio de Janeiro), ocupando o lugar de folhetinista oficial de um de seus principais jornais (“O País”). Maria Firmina só conseguiu alguma repercussão na mídia do Maranhão ao tempo do lançamento de “Úrsula” (1860), vindo depois a colaborar esporadicamente para alguns periódicos daquele estado. . Délia centrou sua ficção nas questões afetivas e eróticas femininas. Tornou-se famosa pelo romance “Lésbia”, que abordava questões polêmicas para a época. Maria Firmina teve como principal foco de sua ficção a opressão em suas variadas formas: do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, do branco sobre o negro e do colonizador sobre o indígena. . Atualmente, a obra de Délia recebe pouca atenção do público, devido à falta de reedições, e da academia. A obra de Maria Firmina dos Reis já conta com dezenas de estudos acadêmicos, e o relançamento recente de seus dois livros possibilitou, pela primeira vez, o pleno acesso do público a essas obras. ________________________ A representação mais fiel da autora maranhense, até o momento Não há nenhuma fotografia, nenhuma pintura e nenhum desenho do rosto ou do corpo de Maria Firmina dos Reis, originário de sua época. A única descrição da autora maranhense se encontra na página 238 (aproximadamente) do livro Maria Firmina – Fragmentos de uma vida (São Luís, 1975), de autoria do escritor e pesquisador maranhense José
Nascimento Morais Filho. Eis a descrição, baseada em relatos de contemporâneos e referente ao aspecto físico de Maria Firmina quando ela estava com cerca de 85 anos de idade: “Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanhoescuros; nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos); morena.”
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10155365582232380&type=3 . Com base nessas informações, o escultor Flory Gama esculpiu um busto de bronze da autora, em 1975, o qual se encontra exposto, atualmente, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão.
http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,no-centenario-de-morte-primeira-autora-negra-do-brasil-ganhareedicao,70001909178 Mesmo essa representação de Maria Firmina, certamente mais aproximada ao original, não conta com boa aceitação entre os estudiosos da obra da autora, porque os traços faciais se assemelham ao de uma pessoa branca e os cabelos são lisos. Em 9 de março de 2014, Leopoldo Gil Dulcio Vaz, membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL, São Luís, MA) e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, publicou um post em seu blog no site do periódico O Estado do Maranhão, alertando para a confusão de imagens. A coluna de Leopoldo foi descontinuada em 2017 e a página já não se encontra disponível na Web, mas o conteúdo é o mesmo desta página: Link original: http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2014/03/09/nao-e-de-maria-firmina-o-retrato/ Link válido: https://www.revistapoeticabrasileira.com.br/maria-firmina No dia 14 de março do mesmo ano, Nonato Brito, do blog Vimarense (“vimarense” significa “natural da cidade maranhense de Guimarães”), também publicou um post sobre esse equívoco, motivado pelo desenho a bico de pena que representava Maria Firmina na exposição “Mulher em Destaque”, realizada em São Luís. http://vimarense.zip.net/arch2014-03-01_2014-03-31.html#2014_03-14_20_41_07-8718514-0 O alerta de Leopoldo Vaz serviu de base a outro post, este da escritora Jarid Arraes, em 12 de maio de 2017. http://jaridarraes.com/2017/05/12/o-verdadeiro-rosto-de-maria-firmina-dos-reis/ Uma representação possivelmente mais fiel é esta, presente no artigo supracitado de Leopoldo Vaz.
Esse curioso caso de confusão de imagem resultou em um trabalho universitário: “A dissonante representação pictórica de escritoras negras no Brasil: o caso de Maria Firmina dos Reis (1825-1917)”, do sociólogo Rafael Balseiro Zin (2016): https://www.sescsp.org.br/files/artigo/5da7c907-491e-4935-91de-8b223e3ef1e5.pdf ________________________ A importância de informar corretamente os internautas e os apreciadores da escritora Caso você tenha confundido seus usuários, inadvertidamente, fazendo a imagem de Délia passar pela de Maria Firmina dos Reis, considere a conveniência de substituir o retrato falso da autora maranhense (talvez pela imagem acima), como uma forma de bem informar sobre a escritora que serviu de tema ao seu post. ________________________ Páginas da Web que associam o nome de Maria Firmina dos Reis ao retratoda também escritora Maria Benedita Câmara Bormann A seguir, mais de 70 páginas da Web que veiculam essa informação errônea, com exemplos que vão de alguns anos atrás até novembro de 2017 (os últimos da lista inicial). Outros serão incluídos à medida que forem encontrados na Web. 1 Resultado da pesquisa “Maria Firmina dos Reis” no Google.
*** 2 Pesquisa no Google Images. Resultado da busca por “Maria Firmina dos Reis�
*** 3 Pensamento Social Brasileiro e Adm
https://admbrasileira.wordpress.com/2016/06/07/maria-firmina-dos-reis-vida-e-obra/ ***
4 Mulheres IncrĂveis
http://mulheres-incriveis.blogspot.com.br/2012/07/maria-firmina-dos-reis-uma-maranhense.html *** 5 Literatura.UOL
http://literatura.uol.com.br/nossa-primeira-escritora/ *** 6 O Imparcial (MA)
https://oimparcial.com.br/noticias/cultura/2016/10/evento-homenageia-escritora-maria-firmina-dos-reis/
*** 7 Homo Literatus
http://homoliteratus.com/conheca-primeira-romancista-brasileira/ *** 8 Grupo Violes
http://grupovioles.blogspot.com.br/2017/05/mulheres-que-fizeram-historia-maria.html *** 9 Vereda Literรกria
http://www.veredaliteraria.com/2015/11/maria-firmina-dos-reis-5-poemas.html ***
10 Mensagens com amor
https://www.mensagenscomamor.com/mensagem/297097 *** 11 Contemporânea Brasil
http://contemporaneabrasil.com.br/primeira-romancista-brasileira-maria-firmina-dos-reis/ *** 12 Tribuna da RegiĂŁo (PR)
http://tribunadaregiao.com.br/colunas/maria-firmina-dos-reis-e-o-pioneirismo-do-romance-de-autoriafeminina-e-do-antiescravismo-na-literatura-brasileira
*** 13 Leitor Cabuloso
http://leitorcabuloso.com.br/2013/12/maria-maria-e-um-dom-uma-certa-magia-uma-forca-que-nos-alerta/ *** 14 Rede sem Fronteiras
http://www.redesemfronteiras.com.br/noticia_ver.php?id=255 *** 15 Aun USP
http://200.144.182.150/aun/exibir?id=7461 *** 16 Primeiros negros
http://primeirosnegros.blogspot.com.br/2015/06/maria-firmina-dos-reis-pioneira-na.html *** 17 Negros Geniais
http://negrosgeniais.blogspot.com.br/2014/04/maria-firmina-dos-reis-poetisa.html *** 18 Textos Encantadores
http://textosencantadores.blogspot.com.br/2010/05/seu-nome-maria-firmina-dos-reis.html
*** 19 Revista Raça
https://revistaraca.com.br/escritoras-negras-do-brasil/ *** 20 Cinderela Descaída
http://cindereladescaida.blogspot.com.br/2016/03/a-literatura-feminina-libertadora-e.html *** 21 Faroeste Literário
http://www.faroesteliterario.com.br/2016/08/biografias-reais-historia-de-maria.html
*** 22 Nem um Pouco Épico
http://www.nemumpoucoepico.com/2016/04/primeiras-mulheres-da-literatura/ *** 23 M de Mulher
http://mdemulher.abril.com.br/cultura/escritoras-negras-brasileiras-que-voce-vai-adorar-conhecer/# *** 24 Black Women of Brazil
https://blackwomenofbrazil.co/2015/08/01/25208/ ***
25 IMirante
http://imirante.com/namira/maranhao/noticias/2014/03/08/exposicao-mulher-em-destaque-homenageia-13maranhenses.shtml *** 26 Aprendendo LĂngua Portuguesa
http://www.aprendendolinguaportuguesa.com.br/OUTROSAUTORES1.htm *** 27 Aurora Mulheres
http://www.aurorasmulheres.com.br/single-post/2016/03/23/MARIA-FIRMINA
*** 28 O Explorador
http://www.oexplorador.com.br/considerada-a-primeira-romancista-brasileira/ *** 29 Luli Coutinho
http://www.lulicoutinho.com/atividades_culturais_2011/mulheres_e_homens_em_foco/mulheres_em_foco/maria_firmina/maria_f irmina_dos_reis.htm
*** 30 Brasileiros
http://brasileiros.com.br/2017/03/uma-segunda-libertacao/
*** 31 Alchetron
https://alchetron.com/Maria-Firmina-dos-Reis-1151007-W *** 32 Mujeres que Hacen la Historia
http://mujeresquehacenlahistoria.blogspot.com.br/2015/05/siglo-xix-maria-firmina-dos-reis.html *** 33 G1 Globo (MA)
http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2014/03/exposicao-homenageia-mulheres-ilustres-da-historiamaranhense.html *** 34 Mรกrcia Peltier
http://www.marciapeltier.com.br/fantasticas-mulheres-negras-que-a-historia-nao-destaca/ *** 35 Escritora(e)s e Ilustradora(e)s (Pinterest)
https://br.pinterest.com/maraevaristo7/escritoraes-e-ilustradoraes/ *** 36 Beleza Black Power
https://belezablackpower.com.br/2016/11/15/leia-autores-negros-consciencia-negra-maria-firmina-dos-reis/ *** 37 ComplexĂssima
https://sarinhaf.wordpress.com/2009/05/19/maria-firmina-dos-reis-a-maranhense/ ***
38 Oceano das Letras
https://nuhtaradahab.wordpress.com/2012/02/01/maria-firmina-dos-reis-1825-1917/
*** 39 Fundação Cultural Palmares
http://www.palmares.gov.br/?p=34293 *** 40 Primeiros Negros
http://primeirosnegros.blogspot.com.br/2009/10/maria-firmina-autora-do-primeiro.html *** 41 Jetss
http://sitesbr.jetss.com/literatura/2017/06/maria-firmina-dos-reis-a-precursora/ *** 42 Phipp 3
http://phipp3.blogspot.com.br/2011/06/maria-firmina-dos-reis.html
*** 43 Mozaico Negro
https://mozaiconegro.wordpress.com/2013/08/03/maria-firmina-dos-reis/ *** 44 Projeto Afrobetização
http://projetoafrobetizacao.blogspot.com.br/2015/10/literatura-negra-maria-firmina-dos-reis.html *** 45 O Estado do Maranhão (Acesso bloqueado por paywall)
http://imirante.com/oestadoma/noticias/2015/10/11/evento-para-exaltar-uma-guerreira.shtml *** 46 Grafias Negras
http://grafiasnegras.blogspot.com.br/2015/04/personalidade-negra-maria-firmina-dos.html *** 47 Cemnsa
http://cemnsa.blogspot.com.br/2009/11/semana-literaria-maria-firmina-dos-reis.html *** 48 Blogueiras Feministas
http://blogueirasfeministas.com/2012/11/vozes-mulheres-de-escritoras-e-intelectuais-negras/ *** 49
Capixabas na Rota
https://elegbaraguine.wordpress.com/herois-africanos-e-afro-brasileiros/ *** 50 Livro “Romantismo Brasileiro: Amor e Morte�
https://www.saraiva.com.br/romantismo-brasileiro-amor-e-morte-194332.html *** 51 Coletivo Firminas
https://coletivafirminas.wordpress.com/tag/maria-firmina-dos-reis/ *** 52 MatĂŠria da Rede TVT em 2015
https://www.youtube.com/watch?v=a0t0zc_wb5c *** 53 Ecos das Lutas
https://ecosdaslutas.blogspot.com.br/2012/03/com-bertoldo-brech-as-mulheres-que.html?m=1 *** 54 Persona Mulher
http://www.personamulher.com/2017/08/01/firmina-dos-reis/ *** 55 Maria Firmina dos Reis Apresentação no site Prezi
https://prezi.com/vg7s1iu2irh4/maria-firmina-do-reis/ *** 56 Apresentação no site Prezi
https://prezi.com/kpcwjwaqm4sb/universidade-da-integracao-internacional-da-lusofonia-afro-b/ *** 57 Página do Facebook Por Que Se Eu Não Escrevesse Por Certo Morreria
https://pt-pt.facebook.com/PorQueSeEuNaoEscrevessePorCertoMorreria/ *** 58 Maranhão Maravilha
http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2016/10/maria-firmina-dos-reis-maranhense.html *** 59
Ilha Virtual Ponto Com Edição de janeiro de 2012
http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/3520652.pdf *** 60 A Jurubeba Cultural
https://estenioelbainy.blogspot.com.br/search?q=maria+firmina *** 61 Apropriarte
https://apropriarte.com.br/2017/08/18/ix-sarau-da-poesia-preta-de-la-e-de-ca/ *** 62 Metrópoles
https://www.metropoles.com/colunas-blogs/tipo-assim/o-centenario-silenciado-de-firmina-reis-primeiraromancista-do-brasil *** 63 PublishNews
http://www.publishnews.com.br/materias/2017/11/08/sesc-homenageia-maria-firmina-dos-reis *** 64 Leituras Pretas
http://leituraspretas.blogspot.com.br/2014/07/maria-firmina-dos-reis-guerreira.html *** 65
Universidade Federal de Pelotas
http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2017/11/07/literatura-afro-brasileira-pela-obra-de-firmina-dos-reis-e-tema-de-evento/ https://pt-br.facebook.com/ufpel/photos/a.186058864773936.42296.100814163298407/1586083971438078/?type=3
*** 66 Blog do Bรณis
http://hbois.blogspot.com.br/2017_11_04_archive.html *** 67 Repรณrter Brasil
https://www.facebook.com/reporterbrasilnarede/photos/a.188132081314803.42585.165031220291556/1436840333110632/?type =3
*** 68
Valkirias
http://valkirias.com.br/escritoras-negras/ *** 69 Polêmica Paraíba
http://www.polemicaparaiba.com.br/entretenimento/coisa-de-preto-virara-livro-veja-autores-negros-queservem-de-inspiracao/ *** 70 Bibliotecas do Maranhão
http://bibliotecasma.org/
*** 71
Estante Virtual
http://blog.estantevirtual.com.br/2017/11/21/maria-firmina-dos-reis-a-primeira-escritora-negra-brasileira/ https://pt-br.facebook.com/estantevirtual/posts/10154872326516691 *** 72 Editora Fino Traço
http://blogfinotracoeditora.com.br/?p=615 *** 73 Blog do Adilson Carlos
http://blogdoadilsoncarlos.blogspot.com.br/2017/11/maria-firmina-deve-estar-morta-de.html *** 74 Blog ExpressĂŁo Mulher
http://expressaomulher-em.blogspot.com.br/2014/05/dia-internacional-da-mulher-2014.html *** 75 Tamires de Carvalho
http://www.tamiresdecarvalho.com/letras-ursula-de-maria-firmina-dos-reis/ *** 76 Estante da Mi
http://www.estantedami.com/2018/01/mulheres-na-literatura-nova.html *** 77 Edith’s Portrait
http://edith-lagraziana.blogspot.com.br/2014/11/maria-firmina-dos-reis.html *** 78 Primeiras imagens do Bing (buscador da Microsoft) Resultado da busca por “Maria Firmina dos Reis�
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ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: o dia em homenagem à mulher maranhense DILERCY ARAGÃO ADLER Sabe-se que atribuir uma data comemorativa a alguém ou a algum fato de reconhecida importância, é uma grande deferência. Desse modo, torna-se premente o conhecimento, a divulgação e a comemoração dessa data e as circunstâncias da indicação da homenagem. É este o maior objetivo deste texto: dar lume ao dia da mulher maranhense. Antes, no entanto, se fazem necessários alguns esclarecimentos acerca do contexto e das variáveis que motivaram tal agraciamento à Maria Firmina dos Reis para a maior compreensão do leitor. Destarte, iniciamos pelo redescobrimento dessa grande mulher, entre tantos títulos, o de primeira romancista brasileira, primeira romancista abolicionista e a única romancista do século XIX. As pesquisas que resultaram nesse importante achado, segundo registros, foram iniciadas na década de 60, e ainda, segundo Lobo (2007, pp. 343-344), A biografia da autora é aos poucos arrancada da obscuridade pelos pesquisadores José Nascimento Moraes Filho e Horácio de Almeida. Em 1962, este último comprou um lote de livros usados, entre os quais estava Úrsula: romance original brasileiro, por “Uma maranhense”. [...] O historiador José Nascimento Moraes Filho descobriu referências à obra de Maria Firmina dos Reis em 1973, nos porões da Biblioteca Pública Benedito Leite, em São Luís do Maranhão, ao compulsar velhos jornais. A esse respeito, Arlete Nogueira da Cruz, em seu livro Sal e Sol (2006), explicita: [...]. Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265). Segundo Nascimento de Morais Filho, aos 80 anos, Maria Firmina retratava o quadro da velhinha negra de cabelos grisalhos, amarrados atrás da nuca, vestida de roupas escuras e sandálias, tendo falecido pobre e cega, no dia 11 de novembro de 1917, aos 92 anos. Imagino a cena... E vejo-a com o peso dos anos somado à dor de um tempo cruel, a exemplo de outros tantos, que rouba partículas essenciais de vida, sugando de forma perversa e incessante o que de mais belo um ser humano pode ter (ADLER, 2014, p.18). Maria Firmina, segundo Agenor Gomes, sete anos antes da sua morte, foi visitada pelo então governador Luís Antônio Domingues da Silva, quando este esteve na Vila de Guimarães para inaugurar o Telégrafo, em 1910. Na ocasião, a professora, já idosa, com 88 anos, residia em uma casa de taipa, coberta de palhas, de propriedade de um filho de criação – Leudes Guimarães, na Rua Firmiano de Barros, onde foi morar em 1861, deixando a residência da Praça da Independência (hoje, Luís Domingues). O governador, ao presenciar o seu estado de saúde, decidiu contratar, às expensas do Estado, uma pessoa da vila para cuidar dela, a Dona Bárbara (Babu), moradora da Rua Riachuelo (hoje, Filomena Archer da Silva). Mas, em 1975, ano do seu sesquicentenário de nascimento, muitas homenagens foram a ela prestadas. Assim, como já me referi em outros trabalhos, gostaria de eleger esse ano como um marco na vida da autora, intitulando-o de o seu “ano Rosa de Jericó”. Essa rosa é também chamada de flor-da-ressurreição por sua impressionante capacidade de "voltar à vida". É então nesse ano, 1975, que em São Luís e em Guimarães várias homenagens deram lugar de destaque a essa escritora maranhense que passou considerável tempo em completa deslembrança, que vai dos últimos
anos de sua existência a um século depois do lançamento das suas obras, momento em que foram marcadas pelo reconhecimento da crítica da época. Em relação às homenagens prestadas a ela em São Luís, destaco: Foi lançado o livro de Morais Filho: Maria Firmina Fragmentos de uma vida; foi criado também um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos com um detalhe digno de realce na parte inferior, representado por um grilhão de ferro rompido, como marca significativa da Campanha Abolicionista que Maria Firmina empreendeu durante toda a sua vida por meio, principalmente, da literatura, mas também por intermédio de outras vertentes da arte, como a música, pois compôs o Hino da Libertação dos escravos, além de toda a sua postura e ideologia pautar-se em ideias de uma sociedade mais justa; foi também confeccionado um busto com o empenho do Deputado Estadual, à época, Celso Coutinho, vimarense, e do Presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Colares Moreira, tendo o governador do Estado, Osvaldo da Costa Nunes Freire, inaugurado o busto da escritora na Praça do Panteon, em São Luís, e promovido a publicação da edição fac-similar do romance Úrsula, da autora. Foi criada, em sua homenagem, a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís, e ainda o Deputado Estadual, Celso Coutinho, propôs em 1975 o Projeto de Lei instituindo o dia 11 de outubro - dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis - como Dia da Mulher Maranhense na Assembleia Legislativa, o qual foi aprovado em 1976. No entanto, não tenho conhecimento de nenhuma alusão à comemoração desse dia por nenhuma instância governamental ou qualquer outra. Vale ressaltar, porém, que pesquisas recentes demonstraram novos dados acerca da escritora e foram anunciadas por mim, em ocasiões diversas, como trabalhos, jornais e canais de televisão da capital maranhense, entre elas que o aniversário de Maria Firmina dos Reis é dia 11 de março. As divulgações referidas também apresentaram circunstâncias específicas de acesso a esses novos dados, os quais transcrevo a seguir: Recentemente encontrei-me com a Profa. Mundinha Araújo, Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Maranhão, escritora, pesquisadora e militante do Movimento Negro, entre outros trabalhos de destaque. Na ocasião me mostrou anotações, conforme documentos coletados na APEM, que versavam sobre etnia, estrato socioeconômico e data de nascimento da escritora. Dirigi-me ao Arquivo Público para ter acesso aos documentos originais e coletar mais dados e, dentre os documentos pesquisados, selecionei os seguintes: Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847 (Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 -Documento-autos nº 4.171); Certidão de Justificação de Batismo (Fundo Arquidiocese - Certidão de Justificação de Maria Firmina dos Reis - Livro 298 – fl. 44v), Livro de Baptismo (Fundo Arquidiocese Batismo de Maria Firmina dos Reis, Livro 116- fl. 182) e Portaria de Nomeação (Fundo Secretaria do Governo, Série: Portarias de Nomeação, Licença e Demissões: (1839-1914), Livro 1.561 (1.844-1.851- fls. 55 e 55V), no qual constava a da professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimarães, Maria Firmina dos Reis. O primeiro documento, Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847, Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 -Documento-autos nº 4.171, ano 1847 (12 fls. Frente e Verso), assim se inicia: Diz Maria Firmina dos Reis, filha natural de Leonor Filippa dos Reis, que ela quer justificar por este Juiso que nasceo no dia 11 de Março do anno de 1822, e que só teve lugar o seu baptismo no dia 21 de Desembro de 1825 (grifo meu). O processo inclui vários documentos. A petição de Justificação do dia de nascimento foi deferida no dia 14 de julho de 1847, sendo aceita então a data de nascimento requerida, a de 11 de março de 1822 (grifo meu). Assim, neste ano de 2017, a Academia Ludovicense de Letras comemorou pela última vez o aniversário de Maria Firmina no dia 11 de outubro e foi anunciado nos jornais de São Luís, em anexo, e na própria comemoração, a mudança, tanto do dia do aniversário de Maria Firmina dos Reis, como do Dia da Mulher Maranhense, para 11 de março, a partir de 2018. Para tal, a Presidente da ALL entrou em contato com a Assembleia Legislativa, por intermédio da advogada e escritora Fernanda Melo Matos Martins, Assessora do Deputado Eduardo Braide, para iniciar os procedimentos legais necessários à atualização da data. A solicitação da mudança, pela Presidente da ALL, foi iniciada por meio do OFÍCIO ALL Nº 021, datado de 16 de outubro de 2017, cujo teor diz respeito à
fundamentação do pleito, com documentos comprobatórios anexados. Como não foi encontrado de imediato nos arquivos da Assembleia o Projeto de Lei e a própria Lei, foi necessária a colaboração de outras pessoas e setores para essa empreitada, como a do Diretor Geral da Mesa da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, Bráulio Nunes Martins e da Coordenadora da Documentação e Registro - Diretora do Núcleo de Arquivo da Assembleia, Maria da Luz Ribeiro. Por fim, foi localizado no Diário Oficial do dia 14 de junho de 1976, com a publicação da Lei Nº 3.754, de 27 de maio de 1976. Esse Ato do Poder Executivo assim determina: ANO LXIX NUM. 112 Lei Nº 3754 de 27 de maio de 1976 Institui o Dia da Mulher Maranhense e dá outras providências. O Governados do Estado do Maranhão. Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica instituído o dia 11 (onze) de outubro como o dia da Mulher Maranhense. Art. 2º - Esta Lei entrará em vigor, na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e a execução da presente Lei pertencerem que a cumpram e a façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Exmo. Senhor Chefe do Gabinete Civil do Governador,a faça publicar, imprimir e correr. Palácio do Governo do Estado do Maranhão, em São Luís, 27 de maio de 1976, 154º da Independência e 37ºda República. OSVALDO DA COSTA NUNES FREIRE AURÍLIO Vieira de Andrade José Pires de Sabóia Filho Prot. 3009 (grifo meu). Dando continuidade ao processo de mudança da data de aniversário de Maria Firmina e, por extensão, do dia da Mulher Maranhense, novas etapas deveriam ser cumpridas, a saber: no dia 23 de outubro do ano em curso, foi enviada eletronicamente, por meio do Sistema de Apoio ao Processo Legislativo-SAPL, a proposição de alteração do art. 1º da Lei nº 3.754/1976, que institui o Dia da Mulher Maranhense, assinada pelo Deputado Eduardo Bride. No dia seguinte, 24 de outubro, foi publicado no Diário da Assembleia o Projeto de Lei n. 281/2017 que reza: Altera o art. 1º Lei nº 3.754 de 27 de maio de 1976, que institui o Dia da Mulher Maranhense, e dá outras providências. A seguir o Projeto passou por quatro sessões plenárias nos dias 24, 25, 26 e 30. Depois da quarta sessão, o processo foi para a Comissão de Constituição e Justiça- CCJ, e de lá para o Plenário, com mais duas sessões, e só então encaminhado ao Governador do Estado para ser sancionado por ele. Assim, finalmente, foi sancionada, pelo Governador do Maranhão Flavio Dino, a Lei nº 10.763 de 29 de dezembro de 2017, com a alteração do art. 1º, que trata da atualização do Dia da Mulher Maranhense para o dia 11 de março. Por fim, neste ano de 2019 o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM celebrou por meio de uma Sessão Comemorativa o Dia da Mulher Maranhense. Convidou a Biblioteca Pública Benedito Leite para prestar o apoio cultural ao evento, com base em duas motivações principais: pela importância própria da Biblioteca Pública Benedito Leite no cenário cultural brasileiro, por ser a segunda Biblioteca do Brasil, inaugurada em 3 de maio de 1831, contendo 1448 volumes, e por estar localizada no Complexo Deodoro e Pantheon Maranhense que expõe 18 bustos de intelectuais maranhenses e entre eles, o de Maria Firmina dos Reis, o único busto de mulher; e, também, porque foi nos “porões” da Biblioteca, hoje o subsolo, que Nascimento Morais Filho descobriu a rica produção de Maria Firmina dos Reis. Diante disso, esperamos que a partir dessa iniciativa do IHGM outras comemorações a possam seguir. Que o dia da Mulher Maranhense possa ser convenientemente festejado no Estado do Maranhão, no dia 11 de março, aniversário de nascimento da Primeira Escritora Brasileira e grande Mestra Régia das Primeiras Letras da cidade de Guimarães.
Cabe ainda reafirmar que esse deve ser motivo de orgulho para todos os maranhenses e, em especial, para as mulheres e que seja do conhecimento geral que existe um Dia dedicado à Mulher Maranhense e que este foi instituído em homenagem a Maria Firmina dos Reis! REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014. ADLER, Dilercy Aragão. A MULHER MARIA FIRMINA DOS REIS: uma maranhense, São Luís: Mimeo, 2017. CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006. GOMES, Antônio Agenor. Depoimento de Antônio Agenor Gomes para Dilercy Adler sobre o culto à memória de Maria Firmina dos Reis em Guimarães, São Luís :Mimeo, 2017. LOBO, Luiza Leite Bruno. CRÍTICA sem JUÍZO. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. MORAIS, José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975.
INSTALAÇÃO DA ACADEMIA ZEDOQUENSE DE LETRAS E POSSE DA DIRETORIA. MUNICÍPIO DE ZÉ DOCA. MARANHÃO
Academia Ludovicense de Letras leva comitiva para instalação da Academia Zedoquense de Letras. O evento aconteceu no sábado (02.02.2019) em Zé Doca, no noroeste maranhense. Foi um belo evento. Parabéns ao presidente Ezequias S da Silva, ao vice-presidente Michel Herbert Florencio, aos membros da AZL e a sociedade Zedoquense, que passa a contar com uma importante casa de Cultura e de valorização da memória.
10 ANOS DE FALMA A Federação da Academia de Letras do Maranhão comemora seus dez anos de fundação, em grande estilo. JUCEY SANTANA Fundada em 28 de novembro de 2008, tendo por primeiro Presidente, Álvaro Urubatan Melo, a Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA, completou dez anos de sua fundação. A data foi marcada com um grande evento comemorativo, recheado de homenagens, com entrega de Comendas aos beneméritos fundadores, Certificados de Méritos às academias afiliadas e filiações das novas instituições literárias do Estado, sob os auspícios da Associação Maranhense dos Escritores Independentes – AMEI. No evento o imortal da Academia Maranhense de Letras, Sálvio Dino, um dos pilares da fundação da FALMA, proferiu uma importante palestra discorrendo sobre a trajetória, os objetivos e as conquistas da Federação durante os dez anos de atuação. Os objetivos da FALMA Entidade de direito privado, sem fins lucrativos, compõe-se das Academias de Letras, Artes e Afins, sediadas em cidades do Estado do Maranhão, tem como objetivo social: I. Promover a cooperação e o intercâmbio para a execução de programas para o incentivo e difusão da cultura literária e artística em todo o Estado do Maranhão, através de suas afiliadas, espalhadas em várias cidades. II. Participar de projetos e programas de outras entidades, públicas ou privadas, que tenham por objetivo o desenvolvimento e o aprimoramento cultural da sociedade maranhense; III. Assistir as entidades afiliadas na elaboração de projetos que objetivem a obtenção de recursos para o cumprimento de suas finalidades culturais. Atuação da FALMA no campo literário. Nos anos 2013 e 2014 foram realizadas no Odílo Costa, filho, Mostras Literárias das Academias do Estado tendo a frente a escritora Ceres Fernandes. A FALMA conseguiu na época, agregar ao evento 22 Academias de Letras com muita repercussão entre os membros das diversas instituições literárias. Atualmente se registra no Estado, grande efervescência literária, impulsionada pela AMEI (Associação Maranhense dos Escritores Independentes) que realizou em 2016 e 2017 a FLAEMA (Feira Literária e Artística Maranhense), e divulga e incentiva os autores maranhenses em parceria com a FALMA. Em outubro do corrente ano a Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes, em comemoração aos 200 anos de sua emancipação política, realizou a I FLIM (Festa Literária de Itapecuru Mirim), que durante os três dias (19, 20 e 21), reuniu membros das Academias de Letras do Maranhão, que participaram de oficinas, palestras, peças teatrais conferencias e bate papos poéticos/literários com a culminância de um lançamento coletivo que reuniu 40 autores das diversas Academias. Foi um mega evento literário. A FALMA ainda teve dois importantes encontros das suas afiliadas durante a XII FELIS, com membros de todas as Academias, para discussão de questões relacionadas a produção literária de seus membros, dificuldades enfrentadas, datas comemorativas, informações de calendário de eventos dos sodalícios, em um boletim informativo e ajuda mútua. Diretoria do Biênio 2018/2020 Presidente – João Francisco Batalha (Arari); Vice-Presidente – Clores Silva Holanda (São Luis); 1º Secretária –Jucey Santos de Santana (Itapecuru Mirim); 2º Secretário – Adelson de Sousa Lopes (São Luis); Tesoureiro - Carlos César Silva Brito (Matinha); Conselho Fiscal
Efetivos - Alvaro Urubatan Melo (Sâo Bento), Ceres Costa Fernandes (São Luis), Dilercy Aragão Adler (São Luis); Suplentes - João Melo Bentivi (Pedreiras), Roque Pires Macatrão (Brejo), Nicodemos Bezerra (Miranda). Academias Afiliadas 1 – Academia Maranhense de Letras; 2 – Academia Imperatrizense de Letras; 3 – Academia Arariense/Vitoriense de Letras; 4 – Academia Barracordense de Letras; 5 – Academia Barreirinhense de Letras; 6 – Academia Brejense de Letras; 7 – Academia Caxiense de Letras; 8 – Academia Grajauense de Letras; 9 – Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências; 10 – Academia Sambentuense de Letras; 11 – Academia Vianense de Letras; 12 – Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes; 13 – Academia de Pastos Bons; 14 – Academia Maçônica Maranhense de Letras; 15 – Academia Zedoquense de Letras; 16 – Academia Anajatubense de Letras, Ciências e Artes; 17 – Academia Matinhense de Ciências, Letras e Artes; 18 – Academia Ludovicense de Letras; 19 – Academia Bacabalense e Letras; 20 – Academia Atheniense de Letras e Artes; 21 - Academia Icatuense de Letras, Ciências e Artes; 22 – Academia Bacabalense de Letras; 23 – Academia Luminense de Letras (Paço do Lumiar); 24 - Academia Bernardense de Letras; 25 – Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense; 26 – Academia Esperantinopense de Letras; 27 – Academia Arariense de Letras Artes e Ciências; 28 – Academia Joao Lisboensense de Letras. Obs: Outras instituições afiliadas estão em fase de reestruturação, no caso: Santa Inês, Chapadinha e São José de Ribamar e Vargem Grande. . Primeira Diretoria 28.11.2008: ÁLVARO URUBATAN MELO, JOÃO FRANCISCO BATALHA, ADERSON LOPES, ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO ROQUE MACATRÃO. (não sei bem a ordem, Vavá era o presidente) Segunda Diretoria: ELEIÇÃO EM 24.11.2012 PRESIDENTE - ROQUE PIRES MACATRÃO - BREJO VICE-PRESIDENTE - ÁLVARO URUBATAN MELO – SÃO BENTO 1º SECRETÁRIO - FRANCISCO BRITO DE CARVALHO - B. D CORDA 2º SECRETÁRIO – ANTÔNIO A. RIBEIRO BRANDÃO - CAXIAS TESOUREIRA - JUCEY SANTOS DE SANTANA ITAPECURU MIRIM Terceira Diretoria do Biênio Eleição em 8.2. 2018 PRESIDENTE – JOÃO FRANCISCO BATALHA (ARARI);
VICE-PRESIDENTE – CLORES SILVA HOLANDA (SÃO LUIS); 1º SECRETÁRIA –JUCEY SANTOS DE SANTANA (ITAPECURU MIRIM); 2º SECRETÁRIO – ADELSON DE SOUSA LOPES (SÃO LUIS); TESOUREIRO - CARLOS CÉSAR SILVA BRITO (MATINHA);
ESSAS MULHERES MARAVILHOSAS A cerimônia de posse da diretoria da AJEB (Associação de Escritoras e Jornalistas do Brasil), coordenação Maranhão, aconteceu, sexta-feira, 15, em São Luís. O evento empossou os membros da diretoria da entidade na coordenação estadual. A entidade tem a liderança das escritoras Geane Lima Fiddan, Anna Liz Ribeiro, Sharlene Serra e Heloisa Sousa. A Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - AJEB é uma instituição de quase 50 anos, atua desde 1970 e tem como principal objetivo estimular a união das associadas, fomentar a harmonia nacional e internacional, promover o intercâmbio de conhecimentos, ideias, experiências, amizade e respeito entre as associadas e com associações congêneres; incentivar o aperfeiçoamento profissional de suas associadas, por meio da participação em cursos, seminários e encontros culturais. Foram empossadas as escritoras: Presidente - Ana Elizandra Ribeiro (1ª coordenadora); Sharlene Serra (2ª Coordenadora); Heloisa Sousa (1ª Secretária); Adriana Bezerra da Silva (2ª Secretária); Ivanilde Conceição Ferreira (1ª Diretora de finanças); Luiza Luiza Cantanhêde (2º Diretora de finanças); Geane Lima Fiddan (1° Diretora cultural); e Dilercy Aragão Adler(2° Diretora cultural). Na foto 1 - Minhas confreiras Sharlena Serra e Aadriana Bezerra da Silva, com a escritora e poeta Anna Liz Ribeiro. Parabéns a todas. Informações: Bookeiro Publish
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A Academia Ludovicense de Letras convida para o Lançamento do livro Veredas eternas, do confrade José Fernandes. Noite de sabado, 15 de marco de 2919, na Livraria AMEI, no Sao Luis Shopping. Evento aberto ao público
A LINGUAGEM DE JOSÉ MARIA NASCIMENTO NO LÉXICO DE RILKE FERNANDO BRAGA, IN ’TODA PROSA’ ANTOLOGIA DE TEXTOS DE AUTOR. ILUSTRAÇÃO: CAPA DO LIVRO DE JOSÉ MARIA NASCIMENTO, ‘SARAU NO OLHO DA RUA’, A SER LANÇADO HOJE EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO. VÁ LÁ!!! [Uma adaptação para este seu lançamento de hoje 'Sarau no olho da rua - confissões, poemas & boemia'] “Preferir a pantera ao anjo, / Condensar o vago em preciso...” Rilke nos Novos Poemas in (Museu de tudo, 1975). Rainer Maria Rilke um dos escritores mais lidos de língua alemã foi vastamente traduzido no Brasil, tanto em verso como em prosa, nesta, encontra-se Cartas a um jovem poeta, endereçadas ao jovem Franz Kappus – aprendiz de poeta -, (a correspondência com a intelectual Lou Andreas-Salomé, um dos seus grandes amores, responsável pela mudança de seu nome de René para Rainer, como as Cartas sobre Cézanne, trocadas com a artista plástica Clara Rilke, sua terna esposa). E mais, dentre estas, ainda, Manuel Bandeira como na versão Torso arcaico de Apolo, ou de Cecília Meireles, para A Canção de amor e de morte – estandarte Cristóvão Rilke, ou várias versões feitas por Augusto de Campos, como por exemplo, a Coletânea de Vinte poemas de Rilke, agora em versos. Apesar dos caminhos tomados por Rainer Maria Rilke, como “o poeta do inefável”, das “legiões dos anjos” para quem se dirige em Elegias de Duíno, ou com a pressão do olhar em que descreve a pantera ou a dançarina espanhola em Novos Poemas, que tanto encantou João Cabral de Melo Neto... Teve grande penetração no Brasil, chegando a formar uma espécie de rilkeanismo na geração brasileira de 45; no Maranhão, em particular, a geração de 60 embebida pelos métodos teóricos e artísticos da de 30, foi, em José Maria Nascimento, que essa adjetivação atingiu em cheio, com a temática de Oferenda aos lares, frontalmente no contexto de seu livro Silêncio em Família: “O não ter Natal / e do Natal a alegria tão-somente / de saber-se hoje uma criança, / assim sentada, / a conferir estrelas entre um templo e um sobrado”. Aqui se vê claramente “o aspecto metafísico elaborado com uma visão pessoal da religião nas histórias do Bom Deus; a valorização do aprendizado do olhar sobre a superfície das coisas, teorizada também em Rodin, livro que reúne dois ensaios sobre o escultor francês de quem o autor chegou ser secretário em Paris e a casar-se depois com uma aluna do grande mestre (Clara que lhe deu mais tarde uma única filha, Ruth). Em “O Livro da Peregrinação”, “segunda parte de 'O Livro das Horas', que assim como o 'Livro da Vida Monástica', é denominado pelo pressentimento de um Deus ainda por vir, enfeixa versos de um teor lírico muito grande, e talvez, por isso, inconscientemente, leva o poeta José Maria Nascimento a apegar-se a uma espécie de judaísmo, talvez levado pela influência onírica do judeu dos Apicuns, que, assim como 'O Livro da Vida Monástica', é denominado pelo pressentimento de um Deus ainda por vir, enfeixa versos de um teor lírico muito grande, o qual oferece ao imortal autor de 'Páginas de Crítica': “Noturnos doloridos finos sons / no ar carregado em verde cruz / Vibram melancólicos pistons / à rósea penumbra da meia-luz...” Ou ainda: “Agora o corpo assim frio exposto / (herança de um sonho estagnado) / pouco reflete da beleza no rosto / terno e triste como a canção ao lado...” Diz Franklin de Oliveira, um dos maiores críticos brasileiros de todos os tempo, que a altíssima poesia de Rilke, uma das mais gloriosas do nosso século, se lhe serviu de instrumento de fixação da hora perplexa na
face dos homens; também ele a usou como veículo de penetração no núcleo mais recôndito de tudo que está aquém e além do homem... E José Maria Nascimento começa por saudar o poeta em sua elegia, enfeixada em sua belíssima “Antologia Poética” a merecer lugar de destaque no Cancioneiro Brasileiro, não por ser um livro bonito, mas por conter a beleza da alma do poeta maranhense! “Como se de tudo só a dor lhe resguardasse, / e a solidão costumeira fosse a sua graça;/ e todo o coração nas trevas se iluminasse / ao impacto da luz do sol contra a vidraça.” Sabe-se, contudo que Rilke, nascido em Praga, a eslava cidade barroca dos mergulhadores do obscuro, dentre eles Franz Kafka, de lá observou a matéria-prima de sua criação lírica, tendo, a meu ver, em Nascimento, um dos seus grandes seguidores, entre nós, em língua portuguesa, vez que o poeta maranhense é um lírico inato até pela sua personalíssima condição de garimpeiro da linguística, a fazer dançar a bateia para apurar os rubis que se liquefazem no vinho e na fermentação de sua própria vida. E continua... “Como se naquela tarde alguma outra lembrança / flutuasse por sobre os móveis encardidos; / e algo retornasse junto aos dias de criança, / despertando alegrias e tormentos dormidos...” Ao exercitar a poesia, não apenas com angústia e enigmas oníricos, sem o ar de pesadelo que se expande em tudo, mas com um manejo conceitual de originalidade a duelar nas fronteiras da expressão, como prefere Oswaldino Marques, José Maria Nascimento sabe que a poesia não se prende apenas ao pensamento ou às preces de litania, e prossegue a cantar sua elegia ao poeta de “Eu tenho mortos”: “Como se um amigo estivesse sempre ao seu lado, / testemunha das cismas que a madrugada oferta; / e, de súbito o alvorecer ficasse imobilizado / em homenagem à penúltima e sagrada hora incerta” Depois do Impressionismo alemão nenhum outro movimento teve tão grande relevância de consequências estéticas como o Simbolismo, e Rener Maria Rilke só se individualiza com essa nova estética, quando então aparece “O livro das imagens...” E Nascimento conclui: “Como se na intimidade de um longo sonho falho, / o corpo revelasse a sua história num momento; / e na aridez dessa existência houvesse orvalho, / cobrindo as folhas e os frutos do pensamento”. Já que, se Rilke se dizia uma ilha... Nascimento em “Naufrágio da Ilha” completa: “O rio Ingaúra está seco, / morreram as lavadeiras”. Em Visões, o lirismo de José Maria Nascimento – o poeta do Ribeirão -, chega ao cume de um soluço que adormece: “Da juventude aquele olhar ficou, / novas paixões edificando sonhos, / tantas moedas se partiram ao meio, / sobraram pedras sobre mágoas cruas”. Por fim, o poeta de “Harmonia do Conflito” se confessa arrependido, já que não bebe mais nem cachaça de Oratório: “... lançou-me contra as ruínas / das mais tristes boêmias; / foi a dose dupla de minha queda /... contida na bilha da vergonha”. Não tenhas vergonha, poeta, do vinho virgem bebido, porque voltando um pouco no tempo, o inconvencional Rimbaud “n’Uma Temporada no Inferno”, confessa “sonhos e terras distantes, desejo de solidão e sede e conhecimento, o passado ancestral e a busca pelo desconhecido (...) Dele emerge o homem rebelde e aventureiro, vivendo – como dizia Verlaine “a própria vida inimitável”: ”Jadis, si me souviens biens, ma vie était um festin oú s’ouvraiient tous lês coeurs, ou tous les vins coulaient”. (Antes, se lembro bem, minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, todos os vinhos corriam). O epitáfio de Rilke, escrito por ele mesmo, diz: “Rosa, ó pura contradição, alegria, alegria / de ser o sonho de ninguém sob tantas pálpebras”. O do poeta José Maria Nascimento, a cantar o verso, esse seu estranho amigo, bem que poderia ser este, de aqui a mil anos como diria Baudelaire: “Tigre faminto de termos originais / pantera da minha jovialidade; / ele o solitário verso / banhou-se nas minhas lágrimas / comeu todo o sal do meu batismo”.
Todas as grandes vozes poéticas do nosso tempo, desde T.S.Eliot a Fernando Pessoa tiveram seus ecos apocalípticos em “Terra Devastada”. Uma espécie de código, de estrondo! Mas o grito de José Maria Nascimento transcende como se este fosse: “Quem, se eu gritasse, entre os anjos me ouviria?” José Maria Nascimento é, diante de minha compreensão estética, de também 'rabiscador' de versos, ou simplesmente de apenas leitor, o mais legítimo, o mais lírico e o mais autêntico poeta vivo do Maranhão.
EFEMÉRIDES ? ? 20 21 23 24 26 30 02 06 19 21 03 08 09 10 11 11 14 15 22 25
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- NASCIMENTO DE CLAUDE D´ABEVILLE – PATRONO DA CADEIRA 1 - FALECIMENTO DE CLAUDE D´ABEVILLE – PATRONO DA CADEIRA 1 JANEIRO 2014 - FALECIMENTO DE WILSON PIRES FERRO – FUNDADOR DA CADEIRA 07 1913 – FALECIMENTO DE ALUISIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONO DA CADEIRA 14 1884 – NASCIMENTO DE MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO – VIRIATO CORRÊA – PATRONO DA CADEIRA 24 1799 – NASCIMENTO DE MANOEL ODORICO MENDES – PATRONO DA CADEIRA 3 1931 – FALECIMENTO DE JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20 1938 - NASCIMENTO DE JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES – FUNDADOR DA CADEIRA 27 FEVEREIRO 1927 – NASCIMENTO DE JOSÉ TRIBUZZI PINHEIRO GOMES – BANDEIRA TRIBUZI – PATRONO DA CADEIRA 39 1608 – NASCIMENTO DE ANTONIO VIEIRA - PATRONO DA CADEIRA 2 1978 – FALECIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA PATRONO DA CADEIRA 28 1864 – NASCIMENTO DE HENRIQUE MAXIMINIANO COELHO NETO – PATRONO DA CADEIRA 18 MARÇO 1881 – FALECIMENTO DEE CANDIDO MENDES DE ALMEIDA – PATRONO DA CADEIRA 6 1947 – NASCIMENTO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 40 1915 – NASCIMENTO DE MARIO MARTINS MEIRELES – PATRONO DA CADEIRA 31 1874 - NASCIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO, PATRONO DA CADEIRA 21 1871 – FALECIMENTO DE FRANCISCO SOTERO DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 4 1822 – NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS 1960 - NASCIMENTO DE CLORES HOLANDA SILVA – FUNDADORA DA CADEIRA 30 1941 – FALECIMENTO DE JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES DE MOURA – DUNSHEE DE ABRANCHES – PATRONO DA CADEIRA 19 1920 – NASCIMENTO DE CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA – CARLOS DE LIMA – PATRONO DA CADEEIRA 33 2006 – FALECIMENTO DE JOSUÉ MONTELLO – PATRONO DA CADEIRA 32 1812 – NASCIMENTO DE JOÃO FRANCISCO LISBOA – PATRONO DA CADEIRA 5 1962 - NASCIMENTO DE OSMAR GOMES DOS SANTOS – FUNDADOR DA CADEIRA 14
VIRIATO CORRÊA: LITERATO E POLÍTICO IMORTAL FELIPE CAMARÃO Orgulho-me por ser, desde abril de 2017, o primeiro ocupante da cadeira de nº 24 da Academia Ludovicense de Letras (ALL), que tem como Patrono Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho ou simplesmente Viriato Corrêa. Grande intelectual maranhense Viriato Corrêa, que, além de escritor, foi jornalista, dramaturgo e político, nasceu em Pirapemas, na época, povoado de Itapecuru Mirim, no ano de 1884, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1967. Filho de Manuel Viriato Correia Baima e de Raimunda Silva Baima, ainda criança deixou a cidade natal para fazer os cursos primário e secundário em São Luís do Maranhão. Começou a escrever aos 16 anos os seus primeiros contos e poesias. Concluídos os estudos básicos, mudou-se para Recife, cuja Faculdade de Direito frequentou por três anos. Seus planos incluíam, porém, morar no Rio de Janeiro, e sob o pretexto de terminar o curso jurídico na então capital federal foi juntar-se à geração boêmia que marcou a intelectualidade brasileira no começo daquele século. Em 1903 saiu no Maranhão o seu primeiro livro de contos, “Minaretes”, marcando o aparecimento de Viriato Corrêa como escritor. O livro, no entanto, não agradou muito a crítica literária da época. Com ajuda de Medeiros e Albuquerque, de quem se tornou amigo, Viriato Corrêa trabalhou na “Gazeta de Notícias”, iniciando carreira jornalística que se estenderia por longos anos e no exercício da qual seria colunista do “Correio da Manhã”, do “Jornal do Brasil” e da “Folha do Dia”, além de fundador do “Fafazinho” e de “A Rua”. Colaborou também em “Careta”, “Ilustração Brasileira”, “Cosmos”, “A Noite Ilustrada”, “Para Todos”, “O Malho” e “Tico-Tico”, entre outros. Boa parte de seus escritos consagrados em livro foram divulgados pela primeira vez em páginas de periódicos. Assim ocorreu com os “Contos do sertão”, que foram publicadas primeiramente na “Gazeta de Notícias” e depois reunidos em volume e publicados em 1912, redimindo Viriato Corrêa do insucesso de Minaretes. Outros livros de ficção viriam depois confirmar o sucesso do contista maranhense que se inspirava no cotidiano burguês ou campestre em cenários exclusivamente brasileiros. Obteve significativa notoriedade no campo da narrativa histórica, ao lado de Paulo Setúbal, que também se dedicou ao gênero. Enquanto o escritor paulista deu preferência ao romance, Viriato Corrêa optou pelas historietas e crônicas, com o claro objetivo de alcançar o leitor comum. Escreveu no gênero mais de uma dezena de títulos, entre os quais se destacam “Histórias da nossa História” (1921), “Brasil dos meus avós” (1927) e “Alcovas da História” (1934). Com o intuito de levar a História também ao público infantil, recorreu à figura do afável ancião que reunia a garotada em sua chácara para a fixação de ensinamentos escolares. As sugestivas “lições do vovô” encontram-se em livros como “História do Brasil para crianças” (1934) e “As belas histórias da História do Brasil” (1948). Viriato deixou ainda muitas obras de ficção infantil, entre elas o famoso e célebre romance “Cazuza” (1938), um dos clássicos da nossa literatura infantil, em que descreve cenas de sua meninice. Viriato Corrêa foi ainda um fecundo e festejado autor teatral. Escreveu perto de trinta peças, entre dramas e comédias, que tratavam sobre ambientes sertanejos e urbanos, vinculando-o à tradição do teatro de costumes que vêm de Martins Pena e França Júnior. Viriato Corrêa foi deputado estadual no Maranhão, eleito em 1911, e deputado federal pelo nosso estado em 1927 e 1930. Por sua significativa contribuição cultural para o país, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1938.
Conseguiu conciliar, dessa forma, o lado político com o de literato, enveredando pelo conto, crônica, romance e literatura infantil, além do teatro, no qual se destacou de forma singular. Viriato Corrêa é um exemplo de que é possível conciliar política e cultura, e é um imenso orgulho ser o ocupante numero 1 da cadeira patroneada por ele. Como mencionei antes, um dos livros mais famosos do meu patrono na Academia Ludovicense de Letras, Viriato Corrêa, foi um chamado “Cazuza”. Houve um artista na década em que nasci que teve esse apelido, não sei se foi inspirado nas histórias de Viriato. Mas o Cazuza da década de 1980 criou uma célebre frase em uma de suas mais famosas canções: “o tempo não para”. Na mesma canção, o artista disse que via “o futuro repetir o passado” e via “um museu de grandes novidades”. Várias interpretações podem ser feitas dessas sentenças. A que faço é a melhor possível: é preciso saber preservar o passado; saber de onde viemos; valorizar as tradições; a cultura; a arte; e a história. Dessa maneira, poderemos garantir que no futuro os mesmos erros não sejam repetidos, não sejam esquecidos ou apagados. Poderemos garantir que as coisas boas sejam aprimoradas e que o progresso cultural, científico, histórico e até político da nossa gente seja feito com base naquilo que foi vivenciado por nós verdadeiramente. Do livro Do livro Púcaro Literário II – Itapecuru Mirim, 200 anos (2018) pag. 123. Organizado por Jucey Santana e João Carlos Pimentel Cantanhede.
Felipe Costa Camarão, advogado, cronista e contista é Membro Efetivo da Academia Ludovicense de Letras - ALL, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGMA e Sócio Correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA.
MANUEL ODORICO MENDES1 - PATRONO
24 de janeiro de 1799 / 17 de Agosto de 1864 Nasceu em São Luis do Maranhão em 24 de janeiro de 1799, onde residiu até aos dezessete anos de idade. Descende de família tradicional. Desde muito cedo toma contacto com a poesia dos clássicos gregos e latinos, interessando-se pelo seu estudo. Com o objetivo de fazê-lo cursar medicina, o pai envia-o em 1816 para Coimbra, onde, depois de cursar os estudos preparatórios, ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Completou o curso de Filosofia Natural, após ter cursado Filosofia Racional e Moral e a cadeira de Língua Grega. Em Coimbra, Odorico Mendes viveu intensamente o conturbado momento político que Portugal atravessou depois da Revolução do Porto. A influência das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, do vintismo, a independência do Brasil e a intensa atividade acadêmica e política que então vivia em Coimbra, marcaram a sua formação cívica, levando-o à leitura de Rousseau e Voltaire e ao convívio com alguns dos futuros vultos do movimento liberal em Portugal. Os anos em Coimbra foram decisivos e tiveram influência direta em toda a sua atividade política e literária futura. É neste contexto que trava amizade com Almeida Garrett e escreve os seus primeiros versos: ‘’Hino à tarde’’, onde canta a saudade da pátria e infância. O falecimento do pai, ocorrido em 1824, e a escassez de dinheiro forçam-no a regressar ao Maranhão sem terminar a sua formatura em medicina. O objetivo seria regressar e terminar os estudos, mas a complexa situação política que encontra na sua cidade natal acaba por prolongar a sua presença, fazendo gorar em definitivo os seus projetos acadêmicos. Odorico Mendes chega ao Maranhão quando a instabilidade resultante da independência brasileira, ocorrida dois anos antes, leva ao agudizar de tensões internas no Brasil e ao aparecimento da Confederação do Equador, proclamada no Pernambuco e em outras províncias setentrionais, num movimento republicano que é dura e cruelmente subjugado pelas armas imperiais, levando ao fuzilamento e enforcamento público dos contrários, cujos episódios finais então se viviam. Mesmo sem ter participado diretamente na Confederação do Equador, o Maranhão foi duramente atingido pela guerra civil, e, a quando da volta de Odorico Mendes, os ânimos ainda não haviam arrefecido. Incitado por amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir um jornal, o Argos da Lei, que faz oposição ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e redigidos por portugueses: o Amigo do Homem e Censor Maranhense, este último editado por João António Garcia de Abranches. Trava com este fortes polemicas que se prolongarão até ao encerramento do Censor Maranhense em Maio de 1830 e à expulsão do seu redator para Portugal. A influência do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos meses após fundação do jornal, seja eleito como deputado à primeira Assembleia Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como cultor das belas letras, político e jornalista. Integra a Falange Liberal, e dá início a uma vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução 1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Odorico_Mendes LEAL, Antônio Henriques. PANTHEON MARANHENSE: ensaios biográficos dos maranhenses já falecidos. 2ª. Edição, Tomo I. Rio de Janeiro: Editorial Alhambra, 1987 JORGE, Sebastião. POLÍTICA MOVIDA A PAIXÃO – O JORNALISMO POLÊMICO DE ODORICO MENDES. São Luís: Departamento de Comunicação Social/UFMA, 2000. JORGE, Sebastião. OS PRIMEIROS PASSOS DA IMPRENSA NO MARANHÃO. São Luís, PPPG/EDUFMA, 1987. JORGE, Sebastião A LINGUAGEM DOS PASQUINS. São Luís: Lithograf, 1998. http://www.guesaerrante.com.br/2008/3/12/Pagina977.htm
que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação como deputado e como polemista ativo na Câmara e na imprensa. Com a abdicação de D. Pedro, a 7 de Abril 1831, Odorico Mendes exerce influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da manutenção da monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade das instituições para permitir a implantação imediata da república, até porque o recente exemplo do que aconteceu em Portugal após do período revolucionário de 18201822 recomendava cautela. De fato, a antiga metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo, caíra nas mãos reacionárias do rei absolutista D. Miguel. Nesse período escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Maranhão, sendo reeleito com ampla margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do Maranhão. Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a revolução, quando apoiou a anistia dos apoiantes do regime deposto e a manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante. Embora a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão. Contudo, no ano seguinte foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um deputado que fora nomeado senador, regressando assim à Câmara. Terminado o mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira devotada ao jornalismo e à literatura. Depois de um longo hiato na atividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, é novamente eleito, agora pela província de Minas Gerais. Exerce o mandato sem o arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo tempo e pela evolução política. Finda a legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã Mitilina, muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária, abandonando em definitivo a atividade política. Depois de uma vida dedicada à política e à literatura, faleceu subitamente em Londres, a 17 de Agosto de 1864. Foi o primeiro tradutor da Ilíada para português, considerado por muitos como o mais acabado humanista lusófono. Atividade literária - Com exceção da sua obra como publicista e jornalista, as produções literárias desta fase da vida de Odorico Mendes na sua grande maioria perderam-se, sem que ele se tenha esforçado na sua recuperação e arquivo. Um projeto que Odorico Mendes há muito acalentava era verter ao português as obras primas dos clássicos gregos e latinos, recriando na língua portuguesa a sua poesia. Como posteriormente declarou no prólogo da sua Eneida,... Não possuindo o engenho indispensável para empreender uma obra original, ao menos de segunda ordem, persuadi-me, todavia, de que o estudo da língua e a frequente lição da poesia me habilitavam para verter em português a epopeia mais do meu gosto... Para além do seu interesse pelos clássicos, interessou-se pela literatura francesa, publicando em verso português a tradução das obras Mérope (1831) e Tancredo (1839), ambas de Voltaire. A partir de 1847, instalado em França e desligado da atividade política, dedica-se a transcriar em português os clássicos, começando por Virgílio. Em resultado desse labor, publica no ano de 1854, na Tipografia de Rignoux, em Paris, a Eneida em português, numa edição que se esgotaria em quinze dias. Quatro anos depois, em 1858, edita a obra completa do poeta latino, concentrando a Eneida, as Bucólicas e as Geórgicas, com as respectivas notas, numa cuidada edição de oitocentas páginas sob o título de Virgílio Brasileiro. Em 1860 publica em Lisboa um ensaio sobre a novela medieval O Palmeirim de Inglaterra2, de Francisco de Morais, onde lhe prova a autoria portuguesa. Odorico era leitor de Morais desde a adolescência. Afora a produção jornalística, este ensaio, além das notas que escreveu às suas traduções, é a única publicação em prosa de Odorico Mendes. Tendo já traduzido a obra completa conhecida de Virgílio, inicia a tradução em verso dos épicos de Homero, mas falece em Londres, a 17 de Agosto de 1864, quando já tinha completada e aperfeiçoada e pronta para edição, a tradução da Ilíada3 e da Odisseia4. A Ilíada teve sua primeira edição em 1874, editada pelo maranhense Henrique Alves de Carvalho, e a Odisseia apenas veio a público em 1928. 2 3
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/palmeirimodorico.html http://iliadadeodorico.wordpress.com/
ILÍADA5 Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos, Verdes no Orco lançou mil fortes almas, Corpos de heróis a cães e abutres pasto: Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem O de homens chefe e o Mirmidon divino. Nume há que os malquistasse? o que o Supremo Teve em Latona. Infenso um letal morbo No campo ateia; o povo perecia, Só porque o rei desacatara a Crises. Com ricos dons remir viera a filha Aos alados baixéis, nas mãos o cetro E a do certeiro Apolo ínfula sacra. Ora e aos irmãos potentes mais se humilha: “Atridas, vós aqueus de fina greva, Raso o muro Priâmeo, assim regresso Vos dêem feliz do Olimpo os moradores! Peço a minha Criseida, eis seu resgate; Reverentes à prole do Tonante, Ao Longe-vibrador, soltai-me a filha
LUIZ NAPOLEÃO6 Medroso ante a misérrima Veneza, Depois que em Solferino triunfante, A Itália, que acendeste, abandonaste ; Infâmia eterna, pérfida baixeza ! A teu carro a Sardenha atada e presa, Com todo o continente a malquistaste, Áustria iludiste, Roma atraiçoaste, E tens a Europa toda na incerteza. Mentes ao Papa, mentes à Inglaterra Que já nos paroxismos da amizade, As queixas guarda e se aparelha à guerra. Desprezas, Bonaparte, a humanidade, Volves do Inferno, Luiz Onze, à terra... Oh ! poço de falácia e de maldade !
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http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/odisseiap.html http://www.letras.ufmg.br/nuntius/data1/arquivos/007.2.01-Jose_Quintao7-21.pdf 6 Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Colletanea organisada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cie., 1913, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/manuel_odorico_mendes.html 5
UM GIGANTESCO TALENTO MARANHENSE NASCEU HOJE EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br No dia 24 de janeiro, em 1799, nascia em São Luís (MA) Manuel Odorico Mendes, que morreria aos 65 anos em Londres, em 17 de agosto de 1864. Odorico Mendes foi escritor, poeta, político, mas ficou conhecido na Inteligência brasileira como tradutor das obras do grego Homero (autor de "Ilíada" e "Odisseia"), do romano Virgílio (autor de "Eneida", "Geórgicas" e "Éclogas") e do francês Voltaire (autor de "Mérope", "Tancredo" e "Cândido", entre muitas outras obras).. O mundo intelectual brasileiro o classifica como o precursor da moderna tradução criativa. (Tradução criativa -- também chamada "transcriação" -- é aquela em que são "traduzidas" as ideias, e não necessariamente as palavras estrangeiras que as representam no texto original. Como já disse o tradutor e escritor Haroldo de Campos, a tradução criativa é o "avesso da chamada tradução literal" -- que é quando os termos de uma língua estrangeira são traduzidos para outro idioma um por por um. Odorico Mendes também é considerado como "o mais acabado humanista lusófono", ou seja, o melhor nos.estudos clássicos, literários e filosóficos em Língua Portuguesa. Tão grande é o valor de Odorico Mendes que uma das melhores universidades brasileiras, a UNICAMP (Universidade de Campinas), de São Paulo, por intermédio de seu Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), criou o projeto "Odorico Mendes" tem por meta principal a divulgação da obra do maranhense Manuel Odorico Mendes (1799-1864), sobretudo de suas traduções dos clássicos gregos e latinos, além de franceses. Veja um trecho do que escreveu Machado de Assis, em crônica de 26/09/1864, ao saber da morte de Odorico Mendes: "[...] Odorico Mendes é uma das figuras mais imponentes de nossa literatura. Tinha o culto da antiguidade, de que era, aos olhos modernos, um intérprete perfeito. Naturalizara Virgílio na língua de Camões; tratava de fazer o mesmo ao divino Homero. De sua própria inspiração deixou formosos versos, conhecidos de todos os que prezam as letras pátrias. E não foi só como escritor e poeta que deixou um nome; antes de fazer a sua segunda 'Odisseia', escrita em grego por Homero, teve outra, que foi a das nossas lutas políticas, onde ele representou um papel e deixou um exemplo" E Machado de Assis destaca ainda, sobre o fato de Odorico ser maranhense: "Era filho do Maranhão, terra fecunda de tantas glórias pátrias, e tão desventurada a esta hora, que as vê fugir, uma a uma, para a terra da eternidade." Com uma dimensão intelectual como essa, Odorico Mendes não parece sobreviver em sua terra, afora em restritíssimos círculos, mesmo às vésperas de seus 220 anos de nascimento, a completar-se no próximo ano. O Maranhão continua abandonando seu maior patrimônios: os grandes, enormes, gigantescos talentos que nossa terra viu nascer.
JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI) PATRONO
2 de fevereiro de 1927 / 8 de setembro de 1977 Bandeira Tribuzi7 nasceu em São Luís do Maranhão em 2 de fevereiro de 1927 e faleceu a 8 de setembro de 1977. Filho de Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes, comerciante português, e Amélia Tribuzi Pinheiro Gomes, brasileira descendente de italianos. Aos cinco anos de idade seguiu com os pais para Portugal. Pela vontade paterna seria um frade franciscano e para satisfazê-lo, apesar de não ter vocação sacerdotal, permaneceu nos educandários religiosos até a conclusão do Seminário Maior. Estudou nas cidades de Porto, Aveiro e Coimbra. Nessa última, em sua famosa Universidade, dedicou-se às Ciências Econômicas e Filosóficas. Até 1946 viveu em Portugal, quando retornou a São Luís, passando a exercer intensa atividade intelectual, sendo considerado por muitos o divulgador do modernismo no Maranhão. Trouxera da Europa um acentuado sotaque português e a leitura de Fernando Pessoa, José Régio, Mário de Sá Carneiro, García Lorca... A admiração pelo poeta Manuel Bandeira o levou a antepor o “Bandeira” ao sobrenome Tribuzi para formar o pseudônimo. A publicação e o lançamento de sua obra poética Rosa da Esperança, em 1948, foi um acontecimento marcante: Rosa da Esperança estava permeada de livre-metrismo, ausência de pontuação e rimas, explosão da sintaxe tradicional, violação dos cânones e códigos do soneto clássico-neoclássico-parnasiano, subversão estrófica, métrica e rímica, supressão de letras maiúsculas, privilegiação da metonímia, em oposição à metáfora, o que bem expressa o caráter da modernidade da linguagem transracional.8
Bandeira Tribuzi instaura, então, uma nova dicção poética em São Luís, entre poetas mais jovens, que logo aderiram aos recursos técnicos e imagéticos, que só trariam, como resultado, um salto qualitativo estético altamente promissor9. Se, de um lado, enfureceu a ala conservadora, por outro, agradou deveras os poetas jovens, como Ferreira Gullar e Lago Burnett, dentre outros. O poeta Ferreira Gullar10 reconhece que foi Tribuzi o primeiro a mostrar aos maranhenses versos do Modernismo. Até 1946, data na qual Tribuzi regressou de Portugal e 24 anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922, os autores locais ainda escreviam com rimas e simetria de versos. 7
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_Tribuzi http://www.panoramadapalavra.com.br/poesia_maior65.asp http://www.portalveras.com/2013/02/bandeira-tribuzi-um-caso-de-amor-com.html http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm http://joseneres.blogspot.com.br/2011/04/bandeira-tribuzi.html http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2013/02/06/pagina239345.asp http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html http://pt.cyclopaedia.net/wiki/Jose-Tribuzi-Pinheiro-Gomes http://www.blogdomarcial.com/2013/02/bandeira-tribuzi-um-caso-de-amor-com.html http://oredemoinho.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html 8 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 9 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 10 http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2012/02/maranhenses-ilustres-bandeira-tribuzi.html
Outro dado novo que Bandeira Tribuzi trouxe para o texto literário maranhense foi uma poesia voltada para o cotidiano, com o privilégio de mostrar a importância dos fatos aparentemente banais e corriqueiros, apresentando o poema como denúncia, irônico e satírico, de cunho, às vezes, paródico.11
Tribuzi agremiará ao redor de si (mesmo involuntariamente) um grupo de jovens entusiastas que mudarão a nossa Literatura. Ao lado do ex-presidente José Sarney, Luci Teixeira, José Bento, e outros escritores, fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores: [...] a revista literária A Ilha, sendo que desta vez Tribuzi dividirá as responsabilidades (e críticas) com José Sarney (que bancará as edições), Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho, Belo Praga e Lucy Teixeira. Lentamente, outros periódicos surgirão e o modernismo com suas idéias de liberdade de criação se instalará até mesmo entre aqueles que criticavam tal atitude artística. No mesmo ano, casa-se com Maria dos Santos Pinheiro, (seu único e real “porto seguro”) e publicará seu segundo livro de poesia Rosa da Esperança, dedicado “aquela moça falante que discutia filosofia (era formada na área), poesia e política com a mesma desenvoltura”. (MENEZES, 2008) 12
Foi também junto com o ex-presidente o fundador do jornal O Estado do Maranhão. A canção "Louvação a São Luís", de Bandeira Tribuzi tornou-se o hino oficial da cidade Em 1949, juntamente com Corrêa da Silva, J. Figueiredo, Lucy Teixeira, José Brasil e outros criará o pequeno jornal sobre literatura; “Malazarte” (nome da incompreendida peça teatral do maranhense Graça Aranha). Segundo alguns autores, será apenas nesse pequeno periódico que serão publicados os primeiros poemas de Drummond e dos Andrades na “Terra das Palmeiras” (MENEZES, 2008) 13. É concluída também neste ano a peça RosaMonde (o touro da morte) que só será publicado em 1985 e que infelizmente não se tem registro de uma adaptação em nossos palcos, talvez por sua proposta inovadora de combinar tragédia grega com o folclore maranhense. Foi poeta, novelista, romancista, dramaturgo, compositor (com 93 composições musicadas, incluindo o hino oficial da cidade de São Luís), ensaísta, crítico literário, historiador e professor. Trabalhou como jornalista em diversos órgãos de imprensa, criou a revista Ilha e dirigiu vários jornais, como o Jornal do Povo e O Estado do Maranhão. Foi funcionário público, na condição de economista e Chefe de Relações Públicas do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, e também Diretor do Banco do Estado do Maranhão. Tornou-se uma das figuras mais destacadas do planejamento econômico estadual, redigindo planos de governo e assessorando governadores. Representou o Maranhão no V Encontro Nacional de Secretários de Planejamento, em Porto Alegre, em 1973. Sua estréia em livro foi em 1947 com a coletânea de poemas Alguma existência, edição do Autor, seguindose Rosa da esperança, Guerra e paz, Safra, Sonetos, Pele & osso, Breve memorial do longo tempo e, em edições póstumas, Poesias completas, de 1979, incluindo vários inéditos, Tropicália consumo & dor, de 1985 e Obra poética, de 2002. Em maio de 1977, foi-lhe prestada, em comemoração ao seu cinqüentenário, uma homenagem da intelectualidade brasileira, em São Luís, da qual participaram figuras proeminentes da literatura, da sociedade e da política, em que se destacavam Ferreira Gullar, Odylo Costa, filho, Jorge Amado, Josué Montello e José Sarney, entre outros. Bandeira Tribuzi morreu poucos meses depois, em São Luís, a 8 de setembro de 1977. "Ao mesmo tempo que soube ser o intérprete das grandes angústias humanas no ritmo de seus poemas, Tribuzi foi a voz de seu povo e de sua província, com um modo de ser genuinamente maranhense. Já acentuei que não devemos confundir, nos escritores da província, os provincianos e os provinciais. Os primeiros só existem em função da província, ao passo que os segundos têm a dimensão universal 11
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm MENEZES, Flaviano. Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi. In MARANHARTE, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html, sábado, 6 de setembro de 2008, ACESSADO EM 28 DE MARÇO DE 2014. 13 MENEZES, Flaviano. Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi. In MARANHARTE, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html, sábado, 6 de setembro de 2008, ACESSADO EM 28 DE MARÇO DE 2014. 12
embora vivam na Província, e a cantem, e a celebrem, e nela reconheçam o recanto do mundo que não trocariam por nenhum outro. Tribuzi é bem o poeta provincial por excelência, como Gonçalves Dias na Canção do exílio. Sua obra é uma convergência de problemas e sentimentos universais, a que o poeta empresta a beleza do seu canto. Creio que, sob esse aspecto, ninguém mais representativo do que ele, no quadro geral da poesia maranhense contemporânea." (Josué Montello, 1979)14
Dono de uma obra multiforme, rica, versátil e definitiva, entre os 1915 e os 50 anos, Bandeira Tribuzi tem, em sua poesia, aquela carnalidade, aquele fogo, aquela singularidade do espírito do homem da América Latina. Em sua obra literária da última fase, principalmente a de Consumo&Dor há a comunhão, também, com a poesia metafísico-social dos Quatro Quartetos, de T. S. Eliot.16 Em outras palavras, em 1948, Bandeira Tribuzi representou, para a Literatura Maranhense, o que Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade representaram para a Literatura Brasileira, entre 1922 e 1933, ou seja, como pioneiro introduziu no panorama da cultura literária maranhense as melhores conquistas do Modernismo. 17 Obras do autor18 Alguma existência (1948) Rosa da Esperança (1950) Safra (1960) Sonetos (1962) Pele & Osso (1970) Poesias Completas (1979) Poesia Reunida Antologia poética póstuma] São Luis: SECMA; Rio de Janeiro: Alhambra,1986 ITINERÁRIO DO CORPO19 A Afonso Felix de Sousa I O pequeno lugar predestinado: cama – lençóis, colchão e travesseiro: objetos banais pousados sobre a armação de madeira para dois. Pequeno apartamento de cidade! Pequenos corpos e cansados despem-se, despem roupas, sapatos, conveniências à pequenina luz que afaga as coisas. Estão nus, lado a lado, sobre o leito e se entrelaçam para desafogo de raivas, lutas, ilusões, sentidos. Talvez não saibam por que assim se prendem, Já cantam sino pelo novo filho! 14
MONTELLO, Josué. “O LEGADO LITERÁRIO DE BANDEIRA TRIBUZI”. In: Tribuzi, Bandeira.Poesias Completas. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1979.) 15 Aos 21 anos de idade, Bandeira Tribuzi estava afinadíssimo com a revolução estética que acontecera na Rússia, na Inglaterra, na França, na Alemanha e, particularmente, em Portugal. http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 16 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 17 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 18 http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_Tribuzi http://bandeiratribuzi.blogspot.com.br/ 19 http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html
II Entre o campo de neve a vida fende-se barbaramente, para dar passagem à colheita que vem sem estações: bicho da terra que se chama homem. Nove meses guardado e construído com silêncio, carne, sangue e esperança, ei-lo que rasga o ovo e se apresenta disforme, placentário, precioso. Ela está como o campo após a ceifa. De seus peitos já mana o claro líquido onde a vida se côa como um filtro. Olha o pequeno corpo que se deita a seu lado, entre o sonho e a realidade, e, brandamente, diz apenas: - Filho! III Infância triste, tempo de castigos e doces ilusões mas sem brinquedo que teus olhos encontram nas vitrines e tua débil mão jamais alcança. Porém o corpo vai rompendo elástico pesar do tempo amargo em que floriste. Teus olhos já se pousam sobre a vida embora ignorando-lhe a inocência. Assim, surgindo vens dos alimentos, cuidados e remédios e o alicerce da sapiência que são letra e número. Assim te formas resumido corpo que será de homem e continuará brincando em nova trágica maneira. IV Resides entre o sonho e coisas ásperas, a confusão do trágico e a rosa, a escola, o emprego, o livro clandestino, a refeição modesta, o sono limitado. Teu corpo é apenas máquina de sexo e coração: toda a razão de ser está na amada, amada inconsistente: olhos, cabelos, seios, agressivos somente, mas tu a colocas lá bem no centro do mundo e lhe declamas baladas, vossos corpos se aproximam. Entre comícios, agressões, revoltas, pressa, atenção, estudo, devaneio, estás defronte ao mundo e interrogas. V A resposta és tu mesmo: corpo de homem,
o sentimento e pensamento de homem, passo seguro de homem, ombros de homem, boca, face, palavra e gestos de homem. O que sabes do mundo! Gestos mágicos te multiplicam ao calor dos corpos. Uma coragem funda, o olhar sábio, avanças com o tempo e o constróis. A noite existe – não a das carícias, de sono leve, corpos repousando – noite pesando sobre cada coisa. Avanças bloqueado pela Noite (há muitos, muitos corpos avançando) e teus passos vão dar na madrugada. VI És fogo que se apaga lentamente. Folhas que vão tombando despem a árvore. Árvore a quem a seiva foi faltando, tua missão se acaba e envelheces. Teus olhos já cansados de aprender formas, gestos e a grande cor do mundo. Tua boca já cansada de alimentos, de beijos, de palavras, de protesto. Outros vêm substituir tua coragem com novos braços para a mesma luta, e passos fortes para o mesmo fim. Tua hora vem chegando necessária. O corpo se dissipa. Tua passagem não terá vermes para devorá-la. CONCLUSÃO PARA CONSOLO20 Bicho da terra estás apenas morto. Já a terra de que és bicho te recobre e uma pequena flor acena, leve, um pequenino adeus sobre teu túmulo. Tua mulher jamais esquecerá tua sólida figura. Nem teus filhos que em si a reproduzem e prosseguem tua presença em gestos e palavras. O tempo que rompeu teu rude corpo como inverno passando sobre o campo, não cortou a semente indispensável. Ele mesmo será propício à nova árvore forte que sustém o mundo e reverdece o chão da vida mágica.
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Lamentação do quase ex-príncipe Menino sou do tempo que se acaba e, consequentemente, sou aquele para quem tudo que de novo venha recorda o anterior que mais amava. Sou filho do ruído das palavras de que abusava para, sem sentido, me ver de cores vivas revestido. Não ter lugar real facilitava o meu estar entre diversas forças, neutro. Menos a idéia que o proveito exerci. Filho do tempo e inculpável, sempre exaltei gratuitas circunstâncias. Não sei se me defendo, se me odeio, se iludo o meu saber-me e odiar-me. PAISAGEM21 Eis aqui um cão e defronte um homem: ambos o pão da fome comem. Olha o cão a vida triste das pedras (coitado do cão que não pasta ervas) e por fim já morde o osso das trevas. Olha a vida o homem com saudade amarga. Os olhos do homem já não olham nada. Só, em seus ouvidos de carne fanada, teimam os latidos da morte e do nada. SAFRA22 poemas MCMLXI (...) Viaja a roda do tempo na cadeia ininterrupta, de milhões de dentes. Ondeia o verde trigo e o pão ondeia e ondeia o segredo das sementes. A pouco e pouco na ampulheta descem finos, inesgotáveis grãos d e areia. Quando a mão colhe o trigo que semeia já um novo trigal novas mãos tecem. E a onda vem e volta e vai voltando, viva maré da vida flutuando — asa de pássaro entre a morte e o ovo. 21
http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html De Bandeira Tribuzi – SAFRA: poemas MCMLXI. São Luis: Departamento Estadual de Cultura, 1961 http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html 22
Ter sido já vai sendo o que será. A cada morte um ventre se inchará e o sangue que morreu nasce de novo. (...) Por ela quebro a rota do silêncio e canto este meu canto duro e amargo: rapsódio rude de sombrio tempo, sonora lástima do corpo sob o látego. Pela manhã que vem nas águas puras do rio cujas lágrimas são ondas e por ti, natureza, pelo som das sinfonias da semente em fúria. Contempla, companheiro, esta macia e viva cor da vida nestes dias quando se rompe o ventre dos trabalhos na maré viva de pomo, vinho e pão e o vento, pelas árvores, violão longo e lento, se perde em seus atalhos. Os dias acontecem sobre a carne do tempo objetivo e singular. Ao poeta, além da vida que lhe cabe, cabe também o ofício de cantar. E é tão maduro o tempo e incisivas são de tal modo as circunstâncias de que se vê rodeado o poeta que cantando, canta apenas coisas vivas. Para que sonha se o luar adulto já é um sonho positivo e claro: objeto sem forma, apenas vulto macio e real. Que sonho raro será mais puro e belo e mais profundo do que esta viva máquina do mundo? (...) CARTA (IMAGINÁRIA) A SÃO LUÍS 23 Ponta d’Areia, 8 de setembro de 2012
Exausto da solidão ilhéu, já não trago a rebeldia dos cabelos e a carnação azul da barba séria. Já não trago mais. O tempo me consumiu pulmão e coração e mais ainda consome em velocidade a cidade velha. Não sobraram versos, nem a sandália tem sobrado. Daqui os olhos saltam o mar e encontram as paredes puídas e o vestido roto da tua meia morada. Sobre a paz de tua imagem flutuando no Atlântico flui a música do tempo e cresce o musgo dos telhados. Os meus oitenta e cinco anos não são os teus quatrocentos anos, a minha história 23
LIMA, Feliz Alberto. In REDEMOINHO. Disponível em http://oredemoinho.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html ; texto baseado livremente em fragmentos de poemas de Tribuzi. Acessado em 28 de março de 2014.
é bem menor que a tua. Mas nos encontramos pelo menos uma vez por ano na finitude desse chão batido de setembro, aterrado, banhado de sal e sol. Fui a tua última ponte, o teu anel, mandei o teu parnaso ao beleléu e me entreguei ao ludo real da poesia menina, aveira, sem formulário. Hoje, jubilado sob o cimento sem cor ou vida, entre o céu e o mar estou como um barco vivendo as marés, e a espuma vem dar em meus peitos em dias de ressaca. O arco do sol me refaz esperando o torvelinho dos teus dias. Morro onde o vento se revolta e faz a curva. No teu novo ano, não venho com um canto de louvação ou um breve memorial pra despistar a minha fadiga. Deixo o louvor aceso no castiçal das igrejas e me visto de padre ou economista para compreender as tuas novas castas. Deixo no primeiro ano do teu quinto centenário o meu marco regulatório, tão em voga nos dias de hoje! De queixa e assombro, afinal sou filho do ruído das palavras. Em verdade, vai-se acabando o tempo da homenagem, o tempo do reconhecimento. O que permanece é esse sempiterno musgo nos beirais da memória. Se ainda não chegou o final dos tempos em 2012, então chegou o dia do triunfo da folhagem. É esse o marco regulatório que prenuncio. Sem soberba alguma, o memorial que tu me deste era pouco e se acabou. Nada contra o cheiro forte do capim que me cobre a face, mas me sinto vegetal e terra a consubstanciar-se com meus ossos. Vizinho está o mar com sua espuma, com sua raiva e sua ânsia, misturando sua maresia com o acre cheiro do mato. Do memorial me pego a ver os navios se afastando e uma saudade que não é de amigos nem de parentes subindo aos olhos. É a saudade do futuro que me aflige. Pelos próximos quatrocentos anos deverei ainda dormir à sombra de grandes árvores em noites de espanto, próximas do medo, do frio silêncio, da paz intangível, para depois despertar com o mundo vegetal e as aves roçando meus ombros materiais, sentindo-me pedra. Sim, sinto-me pedra com o barulho das pedras do reggae que ao lado sacodem a minha estrutura de concreto. Acordo um trapo, um trapiche. Desculpe-me se no século passado não tive traquejo para o teu chamego parnasiano. E me perdoe se não levo jeito agora para a tua ginga jamaicana. Não, não te escrevo para lamuriar. Por todos os caminhos do mundo por onde fui ou ouvi falar, a erva cresce daninha, entre as ruínas de um homem qualquer destroçado. Onde havia poesia, há paredes carcomidas nas quais bichos espreitam sobejos de alguma estrofe. Diga a Maria que ainda habito um outono enorme. Que um dia quando pó forem meus nervos e minha carne, quando já nada reste dos meus erros, possa ao menos alguém lembrar ao ler o mais triste dos poemas e, lembrando, ouça a música incontida da palavra comigo sepultada: doce, nítida, pura, azul e alada. Ao povo diga que jamais haverá quem corte o laço que a ti me prende, anel unindo o amante à sua amada, no fatal abraço em que se funde a vida coruscante. E antes que a morte me proíba de renascer as manhãs, deixame contemplar mais uma vez essa nesga do teu céu. Ainda velarei o azul dos teus dias com o que me sobra de esperança. Ainda hei de aprender a tua poesia. Felicidade. Bandeira Tribuzi
JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS24 - PATRONO
22 de março de 1947 / 07 de dezembro de 2010 Nasceu em 22 de março de 1947, em São Luis do Maranhão; filho de Antônio Sebastião dos Reis e Rosy Sousa dos Reis; casado com Maria Osmina Sousa dos Reis, com quem teve seis filhos: José Ricardo Santos dos Reis; José Ribamar Sousa dos Reis Júnior; Rosy Maria Santos dos Reis; Maria Firmina Costa dos Reis; Antônio Sebastião dos Reis Neto e Francisco Amaral Sousa dos Reis. Somados a sete netos. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Maranhão em 1973; com Curso de Ciências Jurídicas incompleto; no seu currículo constam os mais diversos cursos de especialização em pré-planejamento; sua área de estudos era pesquisa socioeconômica. Faleceu em São Luís na tarde de 07 de dezembro de 2010. Ocupou diversos Cargos e Funções Públicas, como Coordenador Geral e Diretor Presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Maranhão – IPES; Assessor Técnico da Secretaria de Administração do Estado do Maranhão; Assessor Técnico da Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado do Maranhão – SEPLAN; Assessor Técnico do Escritório Técnico de Administração Municipal – ETAM; Assessor Técnico Instalador da Loteria Estadual do Maranhão – LOTEMA; representante no Estado do Maranhão e Coordenador Regional do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais do Recife; Coordenador Regional da Fundação Joaquim Nabuco do Ministério de Educação e Cultura; Secretário Executivo Adjunto da Fundação Cultural do Maranhão; Membro do Grupo de Coordenação do Projeto Praia Grande; Presidente do Conselho Regional de Economia 15 a. Região; Coordenador de Marketing do Banco de Desenvolvimento do Maranhão S.A.; Assessor da Superintendência de Planejamento do Banco do Estado do Maranhão S.A.; Chefe do Departamento de Estatística do Bando do Estado do Maranhão S.A.; Grande Secretário de Cultura e Orientação do Grande Oriente do Maranhão, tendo ainda exercido outros relevantes cargos e funções nas áreas de pesquisas sócio-econômicas, planejamento e financeira do Estado. Historiador, pesquisador, escritor e poeta com diversos livros publicados dos quais se destacam, Poesias: Marcas; Verdade e Esperança; Lance de Rumo; Flor Mulher e Recital Poético (CD). Ensaios: Bumba-meu-Boi, O Maior Espetáculo Popular do Maranhão – Três edições esgotadas; Bumba-Boi – Alegria do Povo; Folclore Maranhense – quatro edições esgotadas; Feira da Praia Grande – duas edições esgotadas, Raposa: Seu Presente, Sua Gente, Seu Futuro (Perfil Psicossocial dos Municípios Maranhenses – Projeto Piloto); Newton Pavão – Mestre das Artes; Contos da Ilha; São José de Ribamar: A Cidade, O Santo e sua Gente; João Chiador, 50 Anos de Glória, Meio Século de Cantoria; Praia Grande, Cenários: Históricos, Turísticos e Sentimentais; ZBM: O Reino Encantado da Boêmia, São João em São Luís: O Maior Atrativo Turístico-Cultural do Maranhão; Sertão da Minha Terra, A Saga das Quebradeiras de Coco (contos); O ABC do Bumba-Boi do Maranhão, duas edições esgotadas; Amostra do Populário Maranhense; Terreiro do Riacho “Água Fria” (novela); Carimã (contos); Folguedos e Danças Juninas do Maranhão; Mãe Tomázia (contos). Inéditos: Ilha de São Luís: Processo de Metropolização; São Pantaleão / Madre Deus: O maior Pólo da Cultura Popular São-luisense; Os Fuzileiros da Fuzarca: Relíquias da Batucada Maranhense; As Maiobas: A 24
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – em memória. Revista do IHGM n. 35, dezembro 2010, Edição Eletrônica http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1212201008.htm by ESTÊVÃO BERTONI http://jornalpequeno.com.br/edicao/2010/12/08/morre-em-sao-luis-o-escritor-e-economista-jose-ribamar-reis/ http://jornalpequeno.com.br/edicao/2007/03/23/ribamar-reis-60-anos-de-maranhensidade/ http://avozdaraposa.blogspot.com.br/2011/06/180-dias-sem-ribamar-reis.html http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2371780 http://diretodaaldeia.blogspot.com.br/2010/12/morre-jose-ribamar-reis-autor-da.html http://antonio.noberto.zip.net/arch2011-11-27_2011-12-03.html
Capital do Bumba-Boi da Ilha; De Pericumã a Cumã (contos-ficção/realidade); O Pajé Curador de Canelatiua (contos-ficção/realidade); Da Casa das Tulhas a Feira da Praia Grande; Brincadeiras Populares do Maranhão; Baixada Maranhense em Prosas e Versos; Mapeamento das Manifestações Culturais do Estado do Maranhão; Dicionário da Maranhensidade (Lingüística Histórica); A Saga de Seu Bento: O Retirante (novela) e Trincheira da Maranhensidade em Artigos e Crônicas. Sua colaboração jornalística é marcante com milhares de artigos e crônicas publicadas nos principais jornais maranhenses. Atualmente, mantinha sua colaboração, semanalmente, às sextas-feiras no Suplemento Cultural JP-Turismo do Jornal Pequeno, onde é titular da Coluna Trincheira da Maranhensidade. Colaborou, diariamente, com o Jornal O Estado do Maranhão, com uma página econômica pelo período de um ano e meio, além de inúmeras participações em palestras, debates, seminários e simpósios locais, regionais, nacionais e internacionais. Freqüentemente era convidado para participação de eventos dessa natureza, com destaque maior para os que tratam do tema sobre a Cultura Popular Maranhense. Autor da Simbologia de Auto-Estima dos Maranhenses: a Maranhensidade, cria deste historiador, membro efetivo do IHGM, entre controvérsias e aplausos é a fase modal da Cultura Maranhense, principalmente a área da Cultura Popular, o que não deixa de ser mais uma prova do eficiente e diuturno labor deste abnegado defensor das coisas e da gente deste torrão. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM DISCURSO DE JOSE DE RIBAMAR SOUSA DOS REIS, POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO LIVRO DE SUA AUTORIA “RAPOSA: PRESENTE, SUA GENTE, SEU FUTURO’, NO IHGM EM 27.5.1998 No. 21, 1998 48-52 DA CASA DAS TULHAS A FEIRA DA PRAIA GRANDE: A NECESSIDADE DE CONHECER PARA PRESERVAR! N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 92- 94 HOJE É DIA DO LIVRO FOLCLORE MARANHENSE N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 110-111 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: A CASA DE ANTÔNIO LOPES. 84 ANOS DE HISTÓRIA FAZENDO HISTÓRIA N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 178-180 MÃE TOMÁZIA: MAIS UM PRESENTE PARA NOSSA CODÓ REVISTA IHGM 32 - MARÇO 2010, p. 90 FALTA DE RESPEITO AOS RESTOS MORTAIS DE MARIA FIRMINA DOS REIS REVISTA IHGM 32 MARÇO 2010, p. 92 TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE: DISCURSO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS AO RECEBER O TÍTULO DE CIDADÃO RAPOENSE. REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 113 AS NOSSAS FESTAS JUNINAS & O MERCADO DA GLOBALIZAÇÃO CULTURAL! REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 115 DISCURSO PROFERIDO NO PLENÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, EM REUNIÃO ORDINÁRIA, DIA 25 DE SETEMBRO DE 2002. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 108-112 4º CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 150
400 ANOS DO MARANHÃO/SÃO LUÍS/VILA DE VINHAIS
4º CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO Postado em: 03/09/2010 14:45:42 Precisa ser Priorizado pela Imprensa Local! Como bons brasileiros; nós maranhenses não seriamos o contrário! As coisas mais urgentes e necessárias sempre continuam ficando para as últimas horas. Ai é um corre-corre dos maiores e haja improvisos repletos de imperfeições e muitas das vezes grandes injustiças e sérias inversões de valores que acabam sendo o pior! A data
oficial de criação da Musa Maior dos Poetas Atenienses: São Luís do Maranhão é 08 de setembro de 1612; desta maneira, no próximo 08 de setembro de 2012, a bela e romântica capital maranhense ostentando, mesmo ainda muito maltratada, cenários incríveis de uma beleza onde a natureza se mescla com os dotes imensuráveis da cultura desta urbe dupla: a velha e histórica São Luís e a moderna, metrópole Grande São Luís, repleta de aranhas-céu, túneis e elevados, que a cada minuto nos enche de orgulho e vaidade de sermos ludovicense. Na Capital Ludovicense Patrimônio da Humanidade suas veias poéticas explodem pelos cantos e encantos de suas ruas estreitas, decoradas com pedras de cantaria, que mostram seus casarios com os ricos e deslumbrantes beirais. Nos belos telhados os vegetais parecem desafiar os conceitos científicos e proliferam formando verdadeiros jardins suspensos, mesmo maltratos e muito pouco valorizados! O Centro Histórico são-luisense não se pode deixar de conceituá-lo como o Maior Museu A Céu Aberto das Américas é imensurável o acervo de lindas peças, cujo conjunto é um dos maiores atrativos turístico-culturais dos nossos “brasis”. Com destaque maior para o bairro da Praia Grande, um Monumento Colossal! Se todos esses encantos e belezas nos deixam extasiados de contentamentos e nos inspiram poeticamente; a outra vertente moderna de São Luís nos deixa deveras preocupados com o sério conjunto de problemas oriundos da grande explosão populacional quer por isso ou aquilo a Grande São Luís vive atualmente um de seus maiores êxodos rurais já acontecido, somado a uma forte demanda de espaço físico pelo constante fluxo de migrantes que buscam em terras de Bandeira Tribuzi melhores dias! Desta maneira, se avolumam situações negativas na infra-estrutura geral da cidade, no saneamento básico; surgem constantemente problemas ambientais; a segurança por mais esforços que as autoridades priorizem, ainda fica a mercê de melhoras; agravam-se a falta de atendimentos na saúde e a educação não é mais a da velha e inesquecível, São Luís do Liceu Maranhense, da Escola Normal, da Escola Modelo, dos Maristas, do Colégio São Luís, do Ateneu Teixeira Mendes e tantas outras escolas, colégios que muito contribuíram para o resplandecer de uma cultura reconhecida internacionalmente, com as mais diversas participações que galgaram ressonâncias nacionais. Nos reportamos a fase áurea de São Luís Atenas Brasileira; claro que a nossa cultura continua vibrante e forte. Mas, a cidade se agigantou deixando de ser aquela acolhedora tapinha para ser hoje a São Luís de quatro séculos! Mas, a bem da verdade os quatrocentos anos estão bem ai e nada oficialmente foi feito e/ou programado por qualquer segmento da sociedade; alguns rápidos comentários já chegaram ao nosso conhecimento: da Universidade Federal; do Instituto Histórico e Geográfico e alguns outros. Na verdade o que está faltando é o despertar da Maranhensidade, o interesse, o orgulho de descobrir a identidade cultural e principalmente a auto-estima do ludovicense com sua cidade-luz. O saudoso Mestre Nascimento Moraes Filho preconizava uma afirmativa das mais sérias e corretas: “O Maranhense não conhece o Maranhão!” Eis uma oportunidade de unidos sem baixarias de politicagens ou tendências de grupinhos em nome da Cultura e muito principalmente em consideração e respeito a São Luís façamos das comemorações destes quatrocentos anos uma grande mostra do que fomos e do que somos; despertando em cada cidadão são-luisense amor pela sua rua, bairro. A cidade é de todos nós! Necessitamos conhecer para amá-la! É preciso que cada cidadão conheça seus direitos e deveres para também funcionar como agente de preservação tanto do patrimônio arquitetônico, quanto histórico-cultural. Para que esta idéia se realize, supomos que somente através da união e a intervenção maciça da Imprensa Maranhense, quando poderemos formar um grande mutirão sem cores de times ou partidos políticos com a finalidade de montarmos um grupo polivalente e específico que trate das comemorações do IV Centenário da nossa São Luís do Maranhão. As ações produzidas separadamente por este e aqueles segmentos sociais não terão o impacto dessas mesmas ações deflagradas em conjunto e com o apoio das áreas mais representativas da sociedade local. São Luís merece uma grande festa nos seus 400 anos, afinal são quatro séculos não são quatro dias ou semanas. Na verdade são 146.000 dias de lutas, vitórias e glórias! Sonhamos com uma programação extensa, que seja executada o ano inteiro, com a participação prioritária dos jovens estudantes; dos colégios; das Universidades; dos Produtores Culturais em Geral; todos os órgãos governamentais, não governamentais sem distinção de níveis municipal, estadual ou federal; associações; Classe Empresarial, enfim todos segmentos representativos da sociedade são-luisense sem qualquer exclusão e claro principalmente a mídia e seus Sistemas de Comunicações. Devemos colocar a disposição do grande público, que com certeza buscará conhecer ou visitar a quatrocentona cidade, informações, livros, brochuras, exposições, peças teatrais, guias e tudo mais para que esses demandantes tenham satisfeito suas necessidades de ser bem informado sobre a cidade que visitarão no seu 4º Centenário. Dando prioridade também a concursos estudantis locais, nos mais diversos níveis, sobre a temática. Para iniciarmos a montagem deste Mutirão sugere-se que os órgãos representativos da Imprensa Maranhense e seus Sistemas Midiáticos produzam um Seminário ou Mesa Redonda com seus associados, profissionais e convidados especiais para tratarem especificamente de estratégicas de como proceder para que os objetivos da idéia sejam alcançados o mais rapidamente. Bom, que se repita um artigo aqui, outro acolá não irá ter a repercussão de uma ação conjunta, a qual é necessária e da maior urgência. Partamos de que a idéia é de todos nós militantes diretos ou
indiretamente da imprensa local! Vamos ao Mutirão da Imprensa em prol do 4º Centenário da Cidade de São Luís do Maranhão! FALTA DE RESPEITO AOS RESTOS MORTAIS DE MARIA FIRMINA DOS REIS25 José Ribamar Sousa dos Reis Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nossa Trincheira hoje é de protesto indignação e séria perplexidade, jamais nos passou pela mente que pesquisando sobre a Região Baixada Maranhense, principalmente sobre a cidade de Guimarães iríamos receber um choque ao nos deparamos com uma notícia em um dos blogs viamarenses, mais precisamente o http://vimarense.zip.net – um recanto para matar as saudades de Guimarães sobre o saqueamento, desprezo, desrespeito para com os restos mortais de uma das mais ilustres mulheres maranhenses de todos os tempos. Exatamente a primeira romancista brasileira; autora do hino da abolição da escravatura no Brasil, a digna representante da Maranhensidade pela sua etnia; cultura e coragem de defender as coisas e a gente deste torrão. Poetisa que assim cantou e decantou a cidade de Guimarães: “Tomei a lira mimosa / De festões a engrinaldei / E pus-lhe cordas de ouro / teus encantos cantei!” Eis a resposta: o sepulcro da Mestra, poetisa, abolicionista e folclorista Maria Firmina dos Reis, a sua última morada escolhida pela própria em terras viamarenses, não era para ser tratado de uma maneira rude e vulgar. Chegando a ponto de estar arrombado, totalmente danificado, pela foto o leitor observa que não se pode afirmar se, os restos mortais da insigne autora de Úrsula (1859), obra que corre ainda o mundo, estejam sem ter sido molestados ou até mesmo roubados, a exemplo do que aconteceu também aos restos mortais de Francisco Sotero dos Reis, que se encontravam em baixo do seu medalhão na Praça Pedro II, esculpido por Newton de Sá e por ocasião de uma reforma foram levados pelo vento ou piratas de sepulturas. Basta de ingratidões; de falta de reconhecimento; de inversões de valores a Vates que deram a vida em defesa de nossas coisas e nossa gente e agora olhem o reconhecimento! Em contrapartida, outros tantos e tantos calhordas, que fizeram e fazem o contrário do que a criadora da primeira escola mista em terras maranhenses e onde foi? No solo de Guimarães, enquanto os verdadeiros valores são desprezados; os picaretas culturais aumentam e são até condecorados. Já a Mestra Régia que deu seu sangue e grande parte de sua existência na alfabetização de tantas e tantas gerações viamarenses seus restos mortais vagueiam, necessitando que saiamos de pires na mão para o reparo de seu sepulcro. Reflitamos sobre tal cenário! Foi a poetisa a Dama da Abolição da Escravatura Brasileira. Antes de qualquer coisa os feitos de Maria Firmina dos Reis foram e representaram para a eternidade grandes participações nacionais de uma legítima maranhense, cujas ações nos enche de jubilo e orgulho. Deste modo, o caos que se encontra sua sepultura não merece tão somente, a solicitação mesmo que tarde do vereador vimarense Osvaldo Gomes, a qual como já falamos mesmo tardias foram válidas tais intervenções do referido edil, inclusive aprovada em 7 de novembro de 2009 pela Câmara Municipal de Guimarães. Abrindo aqui um parêntese, solicitamos a quem interessar possa, que resida na cidade de Guimarães, que nos informe sobre o estado que se encontra a referida sepultura, hoje, para que possamos tomar as devidas providências. Aproveitamos para lembrar as autoridades maranhenses de que estes descasos imorais, que estão acontecendo com o sepulcro desta Emérita Poetisa não são de culpas individuais de quem quer seja. Mas, sim de todos nós maranhenses. Desta maneira, esperamos que providências urgentes e cabíveis sejam tomadas por quem de direito no sentido de que seja construído condignamente um túmulo para Maria Firmina dos Reis, cujo sepulcro, na afirmação do Mestre Turismólogo e Escritor Antônio Norberto, deve se tornar uma das maiores atrações turísticas para a cidade de Guimarães. Vamos recordar aos esquecidos, um pouco quem foi esta guerreira maranhense. Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão em 11 de outubro de 1825, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, teve por pais João Esteves (ele negro) e Leonor Felipa dos Reis (ela portuguesa) e viveu por algum tempo no bairro de São Pantaleão. Mas embora tenha nascido em São Luís, Maria Firmina passou a maior parte de sua vida na cidade de Guimarães. Foi autodidata, principalmente por ter aprendido francês sozinha. Professora primária por quase toda a vida, profissão esta, que teve início quando fora aprovada em primeiro lugar em um concurso público estadual no ano de 1847 para mestra régia – isto é, professora concursada, e não leiga -, aposentou-se em 1881, porém, um ano antes da 25
Blog do Leopoldo Vaz disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2010/01/20/maria-firmina-dos-reis/
sua aposentadoria fundou a primeira escola mista no Maranhão. Faleceu em 11 de novembro de 1917 aos 92 anos; cega e pobre. Iniciou sua carreira literária com a publicação do romance Úrsula (publicada sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”) em 1859. Posteriormente começou a colaborar com o jornal A Imprensa (1860), principalmente com poesias e em 1861 começa a publicar Gupeva no jornal Jardim das Maranhenses. Entre 1863 e 1865, republica Gupeva nos jornais Porto Livre e Eco da Juventude, somados a tantos outros escritos, bem como, colaborou com os mais diversos jornais maranhenses. Outra faceta da primeira romancista brasileira é a de ser também compositora musical, tanto de músicas clássicas, somadas a lindas toadas do bumba-meu-boi maranhense. Seu grande biógrafo; o saudoso escritor, pesquisador José Nascimento Moraes Filho, lhe atribui na sua obra meritória: Maria Firmina dos Reis, Fragmento de uma Vida, a precedência feminina na cultura maranhense, no jornalismo, na poesia, no romance, no conto e até na música popular e erudita Eclética é a obra de Firmina.
MÁRIO MARTINS MEIRELES26 - PATRONO
8 de março de 1915 / 10 de maio de 2003 Nasceu em São Luís, Maranhão, em 8 de março de 1915, filho de Vertiniano Parga Leite Meireles e Maria Martins Meireles. Iniciou seus estudos primários em Santos-SP, em 1920, deu-lhes continuidade em Manaus-AM e no Rio de Janeiro-RJ, e os terminou em São Luís-MA, em 1926, na Escola Modelo Benedito Leite. Fez o curso secundário em São Luís, concluindo-o em 1931, no Instituto Viveiros. Em sequência, principiou o Curso de Direito na Faculdade do Maranhão, porém o interrompeu, em 1934, na da Bahia. Em 1966 fez o Ciclo de Estudos da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, em São Luís. De 1933 a 1965 foi funcionário do Ministério da Fazenda, lotado na então Divisão do Imposto de Renda, tendo servido nos estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e no Distrito Federal e exercido as funções de Chefe da Seção da Tributação e Fiscalização da Delegacia Regional em Minas Gerais, Inspetor e Delegado Seccional em Juiz de Fora (MG) e Delegado Regional do Maranhão. Após aposentar-se no cargo de Agente Fiscal de Tributos Federais em 1965, foi Diretor-Secretário do hoje extinto Banco do Maranhão e Secretário-Chefe do Gabinete Civil do Governo do Estado do Maranhão, durante a administração de Pedro Neiva de Santana (1972-75). Lançou-se no magistério secundário em 1939, como professor de História Universal e do Brasil no Colégio Cysne, da capital maranhense, e, em 1953, foi catedrático-fundador da cadeira de História da América, no Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia de São Luís do Maranhão, incorporada em 1966 à atual Universidade Federal do Maranhão, de que foi Professor Titular, depois aposentado, e na qual foi Chefe do Departamento de História, criador e Coordenador do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Geográfica, Presidente da Comissão Editorial, Chefe de Gabinete da Reitoria, Vice-Reitor Administrativo e membro do Conselho Universitário. Foi membro titular do Conselho Diretor da Instituição, Consultor-Técnico do Diretório Regional de Geografia (MA), Diretor do Departamento de Licenciatura da Sociedade de Cultura Artística do Maranhão – SCAM e membro da Subcomissão Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC-MA), do Conselho Municipal de Cultura (São Luís) e do Conselho Estadual de Cultura (MA). Foi sócio efetivo e presidente da Academia Maranhense de Letras e sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Associação Comercial do Maranhão e da Sociedade dos Amigos da Marinha (MA); sócio correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos Brasileiro (RJ), Paraibano (João Pessoa) e de Santos (SP) e das Academias de Letras Paulista (SP), Carioca (RJ), Paraense (Belém), Santista (SP) e do Triângulo Mineiro (Uberaba). Na Academia Maranhense de Letras, ocupou a Cadeira nº 9, patroneada por Antônio Gonçalves Dias e fundada por Inácio Xavier de Carvalho. Teve como antecessor Catulo da Paixão Cearense. Recebeu várias condecorações. Foi comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal), Cavaleiro da Ordem das Palmes Académiques (França) e Oficial da Ordem do Rio Branco (Brasil). Possuiu, dentre outras medalhas, a do Mérito Timbira, a do Tricentenário da Fundação de São Luís, a do Sesquicentenário da Adesão do Maranhão à Independência, a João Lisboa, a de La Ravardière, a Sousândrade do Mérito Universitário e a Simão Estácio da Silveira (Maranhão). Tornou-se Cidadão Honorário de Caxias (MA) e membro honorário da Tripulação do Contratorpedeiro Maranhão, da Marinha de Guerra do Brasil, e do Corpo de Bombeiros do Maranhão. 26
http://www.jornalpequeno.com.br/2007/8/28/Pagina62830.htm http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/25/mario-meireles-e-a-historia-do-maranhao-1385.htm
Faleceu em São Luís a 10 de maio de 2003, vítima de uma dengue. Teve sua obra História de São Luís (São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012), organizada por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente. É autor de numerosos livros, sendo um dos maiores historiadores maranhenses, indubitavelmente “a maior figura da historiografia maranhense dos séculos XX e XXI”, na expressão de Milson Coutinho. Possui diversos trabalhos inéditos. Esta é a sua extensa bibliografia: 1) O imortal Marabá (São Luís, 1949, em coautoria com Achilles Lisboa); 2) Gonçalves Dias e Ana Amélia (São Luís, 1949); 3) José do Patrocínio (São Luís, 1954); 4) Panorama da literatura maranhense (São Luís: Sioge, 1955); 5) Veritas liberabit nos (São Luís, 1957, em coautoria com José Maria Ramos Martins); 6) Antologia da Academia Maranhense de Letras (Rio, 1958, em coautoria com Arnaldo Ferreira e Domingos Vieira Filho); 7) Pequena história do Maranhão (Rio: Senac, 1959); 8) O 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão (São Luís: Federação do Comércio do Maranhão, 1960); 9) História do Maranhão (Rio: DASP, 1960; 2. ed., São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980); 10) França Equinocial (São Luís: Departamento Universitário de Rádio, Imprensa e Livro, 1962; 2. ed., São Luís, 1982); 11) Guia turístico – São Luís do Maranhão (Rio: Bloch, 1962); 12) Glorificação de Gonçalves Dias (São Luís: Departamento de Cultura do Estado, 1962, em coautoria); 13) Catulo, seresteiro e poeta (São Luís: Tip. São José, 1963); 14) São Luís, Cidade dos Azulejos (Rio: Gráfica Tupy, 1964); 15) História da Independência no Maranhão (Rio: Artenova, 1972); 16) Símbolos nacionais do Brasil e estaduais do Maranhão (São Luís/Rio: FUNC/CEA, 1972); 17) Santos Dumont e a conquista dos céus (São Luís: Sioge, 1976); 18) Melo e Póvoas – governador e capitão-general do Maranhão (São Luís: Sioge, 1974); 19) Discursos na Academia (São Luís: Sioge, 1976; em coautoria com Dagmar Destêrro); 20) História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão (São Luís: UFMA/Sioge, 1977); 21) Dom Diogo de Sousa, Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí (1778-1804) (São Luís: UFMA, 1981); 22) O ensino superior no Maranhão (São Luís: UFMA, 1981); 23) Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão (São Luís: UFMA/Capes, 1982); 24) Os negros no Maranhão (São Luís: UFMA, 1983); 25) O brasão d’armas de São Luís do Maranhão (São Luís: Ed. Alcântara/Prefeitura de São Luís, 1983); 26) São Luís com S (São Luís: AML/UFMA, 1984, em coautoria com Manuel Lopes e José Chagas); 27) O Maranhão e a República (São Luís: Sioge, 1990); 28) Holandeses no Maranhão: 1641-1644 (São Luís: UFMA, 1991); 29) História do comércio do Maranhão, v. 4 (São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992; continuação da obra homônima de Jerônimo de Viveiros); 30) Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão (São Luís: Sioge, 1993); 31) Rosário do Itapecuru-Grande (São Luís: Sioge, 1994); 32) Dez estudos históricos (São Luís: Alumar, 1994); 33) Junta Comercial do Estado do Maranhão (São Luís: Jucema, 1995); 34) João de Barros, primeiro donatário do Maranhão (São Luís: Alumar, 1996); 35) O Brasil e a partição do mar-oceano (São Luís: Edições AML, 1999); CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM GENERAL CESÁRIO MARIANO DE ALBUQUERQUE CAVALCANTI Ano IV, n. 4, junho de 1952 54-56 OS PRIMEIROS MÉDICOS DO BRASIL E DO MARANHÃO No. 20, 1998 31-38
POESIA: MEU ESPELHO De meu espelho a lâmina barata, numa manhã de inverno, escura e fria, mostrou-me, na mudez de uma ironia, meu primeiro fio cor de prata. Olhei-me bem, na face lisa e chata que meu rosto surpreso refletia e quanto mais olhava mais o via... Era um cabelo branco, cor de nata... E eu murmurei, atônito, pensando: – não pode ser..., não pode..., não, não deve... Ou vejo mal, ou luz está faltando... Anuviou-se o espelho então de leve e eu vi meu rosto aos poucos se enrugando e meus cabelos todos cor de neve!... (Soneto inédito, sem data definida) “QUE ME PERDOE O POETA” 27, 28 Que me perdoe o poeta De quem os versos roubei, Pois que estes versos, bem sei, Outra paixão já cantaram... Mas, certo estou do perdão, Pois que ele, vate imortal, Não negaria a um mortal As glórias que lhe sobraram! O IMORTAL MARABÁ29, 30 I Ó guerreiros da raça tapuia! Ó guerreiros da raça tupi! Vossos deuses inspiraram meus cantos... Ó timbiras, meus cantos ouvi! Esta noite era a lua tão linda, Entre nuvens, serena, a vagar, E eu olhava as estrelas brilhantes, No futuro, tristonho, a pensar. Relembrava o mau sonho que tive, A visão da desgraça por vir; Nossos filhos perdidos nas matas, Da deshonra e da morte a fugir... Nossas tabas, sem gente, sem vida... Nossa gente, se glporia, a morrer... Nossa raça, sem força e vencida, 27
MEIRELES, Mário Martins. O IMORTAL MARABÁ. Discurso de posse na AML. São Luis: Tip. M. Silva, 1948 Poesia escrita em 1935; “E quando pensaria eu em 1935, ao escrever essa poesia, que hoje – treze anos após! – estaria me empossando nesta poltrona acadêmica sob o patrocínio daquele cujos versos eu roubara para melhor cantar os meus amores da mocidade?” p. 20. 29 MEIRELES, Mário Martins. O IMORTAL MARABÁ. Discurso de posse na AML. São Luis: Tip. M. Silva, 1948, p. 37-39, 30 Poema de Mário Meireles, decalcado da Canção do Piaga, de Gonçalves Dias, e inspirado no quadro da morte do Poeta, da autoria do pintor maranhense Eduardo de Sá, existente no salao nobre do Palácio do Governo do Maranhão. 28
Seu passado de gloria a esquecer! De vergonha, eu chorava sosinho, Implorando o favor de Tupá, E pedia que a morte chegasse. Mesmo vindas das mãos de Anhangá Eis no céu se me mostra outro quadro Diferente daqueles que vi! Vossos deuses inspiram meus cantos! Ó timbiras! Meus canros ouci! II Entre os restos de igara gigante, Sobre as ondas bravias do mar, Vi um branco de pálido rosto Sobre as águas, sem vida, a boiar. Brancas folhas, que eu nunca antes vira, Apertava-as, bem vi, nesta mão; Descansava-lhe a outra no peito, Bem aqui..., sobre seu coração. O fantasma de um índio timbira - que surgiu ou do céu ou do mar – Recurvando-se sobre o cadáver, A cabeça lhe vi coroar! E o oceano, bramindo, rocando, Vi-o grande, terrível, se erguer, E o cadáver, no seio das águas, Para sempre, e de vez, se perder! Em seguida, falou-me o fantasma - o fantasma de um índio bem vi – E eu repito o que disse o guerreiro... Ó timbira, meus cantos ouvi! III “Tu bem viste, ó piaga divino!, Este branco que eu vim coroar, Cujo corpo sagrado tu viste O oceano zeloso guardar. E não sabes, piaga, quem seja? Não t´o disse o cruel Anhangá?! Não é branco, ó piaga!, é dos nossos... Será nosso – será marabá... Entre os brancos será nossa gloria, Pois que gloria dos brancos será; Dos timbiras a fama guerreira Nos seus cantos o Mundo ouvirá! E o poeta será como nunca Entre os brancos se viu ou verá, Pois seus cantos serão inspirados Quais se fossem do próprio Rudá! O seu nome será venerado, Pois o quer, por vingança, Tupá:
O maior dos poetas brancos Será nosso – há de ser marabá! Bem aí, onde estás tu sentado, Entre as palmas, olhando este mar, Hão de os brancos, em pedra esculpida, Sua estatua do chão elevar. E os seus filhos virão no seu dia - que ele um dia na História terá! – Cultuar o Cantor dos Timbiras, O sublime e imortal marabá! Ele é filho de deuses, te digo, E por isso, no fundo do mar, O seu corpo, entre flores e cantos, Hão de iaras ciumentas guardar... Os guerreiros convoca, ó piaga!, Faze ouvir teu fiel maracá... Manitós já fugiram da taba... A vingança há de vir, ó Tupá1”
TEXTO HISTORIOGRÁFICO: XI – A França Equinocial em três séculos e meio [...] Nascida de amor proibido, que seu pai herege e estrangeiro, um pai, diziam-no seus avós tupinambás, foi criada pela mãe-pátria na tradição de sua cultura, na observância de seus costumes e no culto de seus antepassados e, na primeira infância, no ódio ou na indiferença à origem paterna, pois que o progenitor um corsário, ou mesmo um pirata, um roulier de la mer; e sobretudo um herege que fora batido, expulso e aprisionado pelos guardiães da donzela que ele seduzira e conquistara. Vis Jus Prœponderat, inscreveram-lhe no brasão nobiliárquico de origem para que nunca esquecesse a superioridade dos que diziam ser somente seus ancestrais sobre aqueles outros, gauleses e batavos, que haviam sido vencidos e escorraçados, uns após outros. Crescida e maior, porém, e muito embora orgulhosa sempre de sua naturalidade lusitana, daquela estirpe de barões assinalados, pois que neta também de um Albuquerque terrível, zelosa de sua educação coimbrã que lhe concedeu a graça de falar melhor e mais bonito a língua de Camões além-mar, veio a saber, por fim, a verdade sobre sua história. E de então, mais envaidecida mostrou-se entre suas irmãs porque ela não era só diferente; era filha de um [...] [fidalgo] francês que sabe hoje, ao contrário do que lhe ensinaram, que não repudiara aquele amor de que ela nascera, não olvidara a terra virgem em que fora concebida, antes, saudoso e enamorado, tentara voltar a ela, mesmo a serviço dos que o tinham aprisionado por tê-la conquistado. Os fados no entanto não lho permitiram e La Ravardière morreu dando a impressão de que a esquecera e de que aquele amor não fora mais que uma aventura fugaz. E por isso, porque a História lhe ensinou depois a verdade, São Luís, no mais recôndito de seu coração, tem um quê de filial carinho pelo infeliz fidalgo que a fez nascer, aquele Daniel de la Touche cujo sonho de uma França Equinocial desfez-se no enredo das intrigas matrimoniais de seu Rei com uma infanta espanhola. Por isso, chama-se a si própria, numa afetividade muito íntima, de Cidade de La Ravardière; e guarda dele um retrato ideal, em bronze, ali mesmo onde ele, há trezentos e cinqüenta anos, colocou-lhe o berço, dentro de uma moldura agreste de palmeiras, guaiacos e murtas. E deu-lhe o nome a uma de suas modernas artérias e a outra, avenidas ambas, disse-a dos franceses e ao Rei e Santo, seu patrono, entronizou-o em uma de suas praças e pô-lo também à entrada do Museu em que conserva suas relíquias. Ali o tem, o seu La Ravardière, no lugar mesmo do berço que ele lhe dera e cultua-lhe a memória, dele, dos que com ele vieram e de seu Rei, com carinhoso desvelo..., embora a pátria de seu progenitor nem se lembre de que neste pedaço do Novo-Mundo, que é o Brasil, exista uma São Luís que é em verdade uma Saint-Louis, em homenagem a um seu rei – Luís XIII, de França e Navarra, neto distante de São Luís, Luís IX [...].
CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA - PATRONO
14 de março de 1920 / 09 abril de 2011 Carlos de Lima31 nasceu em São Luís, a 14 de março de 1920. Técnico em contabilidade fez os cursos de Crítica Cinematográfica; História Cultural e Social de São Luís; Cenotécnica; Interpretação Teatral; Folclore; Museologia; Arte Moderna; Iniciação às Artes Plásticas; Museografia; Metodologia do Uso de Fontes Orais. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, historiador, folclorista, escritor, ator e poeta. É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Comissão Maranhense de Folclore. Colabora na imprensa de São Luís, no jornal O Estado do Maranhão, na coluna Quinquilharias. Carlos de Lima foi ator de teatro. Atuou nas peças encenadas pelo grupo Teatro Experimental do Maranhão (Tema), sob a direção de Reinaldo Faray: “A ratoeira”, de Agatha Christie; “Gimba presidente dos valentes”, de Gian Francesco Guarniere; “O processo de Jesus”, de Henri Ghéon; “A revolução dos beatos”, de Dias Gomes; “Por causa de Inês”, de João Mohana. No cinema atuou em “A faca e o rio”, dirigido por Sloizer; “Uirá, um índio à procura de Deus”, dirigido por Gustavo Dahl; “Carlota Joaquina”, dirigido por Carla Camurati. Como escritor, publicou: (Fonte: Site AML) a) folclore: Bumba-meu-boi, 1968 (2ª ed. 1973, 3ª ed. 1982); Bumba-meu-boi do Maranhão, 1969 (coletânea de toadas); A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara, 1972 (2a ed. 1988); Lendas do Maranhão. São Luís: [s.n.], 2006. b) história: História do Maranhão, 1981; Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos, 2002; Breve história da Igreja dos Remédios de São Luís do Maranhão, 2004; História do Maranhão: a colônia. São Luís: Instituto Geia, 2007. c) cordel: Carta ao compadre Triburtino, 1995; ABC do SEBRAE, 1995; Lendas do Maranhão, 1996. Publicou ainda: “As minhas e as dos outros: estórias maranhenses”, 1988, livro de crônicas e contos; “Uma elegia, Réquiem para um menino”, 1982; com Mário Meireles e Kátia Bogea, “Palácio Arquepiscopal: 100 anos de história”, 2002. DO IHGB – Pesquisadores: LIMA, Carlos Orlando Rodrigues de, 1920São Luis, MA Bancário aposentado Áreas de pesquisa: História regional Obras: História do Maranhão (2006), Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara (....) e Caminhos de São Luís (....) Dos: IHGMA 31
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. EM MEMÓRIA. CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA. Rev. Revista do IHGM, n. 37, junho de 2011. http://www.ihgb.org.br/ihgb62.php?l=l http://www.jornalpequeno.com.br/2011/5/9/governadora-lamenta-falecimento-do-pesquisador-carlos-de-lima-155058.htm
“Com profunda tristeza, a governadora Roseana Sarney recebeu a notícia do falecimento do pesquisador Carlos Orlando Rodrigues de Lima, aos 91 anos, na madrugada desta segunda-feira (9), vítima de leucemia. Membro da Academia Maranhense de Letras, o escritor que dedicou sua vida à investigação minuciosa da história do estado e de São Luís, publicando livros como “Lendas do Maranhão”, “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”, deixa um legado de humildade, sabedoria e trabalho. Reconhecendo o talento e a competência de um dos pesquisadores mais dedicados ao estado, a governadora se solidariza com a mulher dele, a pesquisadora Zelinda Lima, os familiares e amigos. “A obra e a admiração dos maranhenses pelo trabalho de Carlos de Lima eternizarão o pesquisador e manterão para sempre viva sua lembrança”, ressaltou a governadora.”
DIÁRIO DO ANDRÉ relatos da rotina, jornalismo cultural e mais.32 Internado desde terça-feira por problemas cardíacos, no UDI Hospital, o escritor Carlos de Lima, um dos maiores pesquisadores de cultura e história maranhenses, morreu aos 91 anos às 0h40. Combatia desde o ano passado uma leucemia. Entre as suas principais obras, estão os livros “Lendas do Maranhão”, a trilogia “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”. Carlos de Lima era membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Era casado há 64 anos com a folclorista e pesquisadora Zelinda Lima, depois de namorar por sete anos, um total de 71 anos de relacionamento. Sempre bem humorado e vivaz Carlos de Lima, que enfrentava uma leucemia desde 2010, mantinha no jornal O Estado do Maranhão a coluna dominical “Bisbilhotices”, na qual retratava diversas histórias burlescas, nas quais misturava bom humor, pesquisa histórica e o melhor que o ludovicense sabe fazer – como ele mesmo dizia - fuxico. Em diversos textos, o escritor sempre atribuiu o seu prazer pela pesquisa aos diversos bons professores que teve em vida, como Mário Meirelles e outros. Além de um competente e incansável pesquisador, Carlos de Lima era uma figura engraçada, educada e espirituoso, que fará falta à cultura e intelectualidade do estado. Nesta manhã, o escritor e jornalista Ubiratan Teixeira lamentou por telefone a perda do amigo.
CARLOS DE LIMA33- MEMÓRIAS. São Luís, 1996 “O LICEU “Ingressei no Liceu Maranhense em 1933, após ter levado uma surra de mamãe por ter tirado a nota sete em Matemática, nas provas de exame de admissão. Hoje, num ‘jogo de azar’... com 3, entra-se na Universidade. “O velho colégio funcionava na Rua Direita, no prédio ainda existente, que ia da Rua da Estrela à Rua do Giz, atualmente dividido para abrigar a Secretaria de Administração e uma repartição da Agricultura. “Relembrando-o agora, vejo-me galgando os degraus de cantaria da entrada, ao lado de Mário de Moraes Rego, nós ambos protegendo as cabeças com os braços, sob as biscas e os cascudos dos alunos veteranos. “De seus Diretores, lembro-me de Mata Roma, Helvídio Martins, Dr. Cordeiro (Dr. Bundinha). “Mata Roma chamou-me, um dia, e me disse: ‘- Vamos receber a visita de uma delegação do Liceu de Teresina. Vais fazer o discurso de saudação’. Comecei a pensar no assunto, a coordenar idéias, a alinhavar frases. Mas nada escrevi. 32
http://diariodoandre.com/2011/05/09/morre-o-escritor-maranhense-carlos-de-lima/
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Inédito, manuscrito enviado aos autores: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito.“LICEU MARANHENSE – MEMÓRIA, PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO”. Inédito. Este trecho das “Memórias” de Carlos de Lima foi encaminhado aos autores quando estavam elaborando trabalho de resgate da história do “Liceu Maranhense – memória, pesquisa, documentação”, ainda inédito. O Prof. Carlos foi convidado a falar aos alunos do Liceu, em evento comemorativo a mais um ano de sua fundação, naquele ano de 1996. Estava escrevendo suas memórias...
“No dia da tal visita, ao cruzar comigo no corredor, interpelou-me : ‘Está pronto?’ Fiz um gesto afirmativo com a cabeça. ‘ - Traga-o ao meu gabinete, quero lê-lo.’ Criando coragem, respondi ’- Não o tenho escrito, está na minha cabeça.’ - Pois, então, não vais falar nada! “Fiquei triste. Os colegas solidarizaram-se comigo e me incentivaram à desobediência. “Na hora da recepção, não esperei mais e... mandei brasa. Não me lembro do que disse, sei que fui muito aplaudido, principalmente pelos colegas revoltados. Decerto minhas palavras não mereciam tão vibrantes palmas, mas foi a expressão da uma rebeldia e eu, o seu porta-voz. O professor visitante veio cumprimentar-me, Mata Roma falou depois, saudando o professor chefe da embaixada. “Quando os visitantes se retiraram, Mata Roma veio ao meu encontro, abraçou-me e disse: ‘- Um belo discurso, parabéns. Estás suspenso por dois dias! “(Cabe uma explicação do porque da minha escolha para orador oficial daquela solenidade): “As provas de Português constavam de duas partes: dissertação, valendo 70 pontos, e gramática, os 30 restantes. Na prova caiu como tema de dissertação, o Forte da Ponta d’Areia. Fiquei frio. A parte de Gramática eu não sabia. (Nunca soube) e o forte eu só conhecia de longe, da amurada da Avenida Beira-mar. Nunca havia ido à Ponta d’Areia que só se atingia, naquele tempo, de barco, ou na lancha do ‘Chocolate’, um mulato gordo e bundudo, cujo defeito nas pernas obrigava-no a andar desengonçado como um boneco de mola. “E agora, José? Olhei em volta e não achei quem me socorresse na gramática. A dissertação... como ‘soprar’ uma página inteira, pelo menos? Durante muito tempo fiquei olhando para o teto, com o lápis na boca, à espera de um milagre. E ele aconteceu. De-repente, chegou-me a inspiração e comecei”’- Oh! velho epônimo dos campos, por que permaneces de pé quando os teus coévos já tombaram?!’ E por aí fui, arrimado na citação de Afonso Arinos, numa embromação de grande estilo que me valeu os 70 pontos inteiros! “Numa visita que nos fez outro professor do Pedro II, do Rio de janeiro, Mata Roma, após ler-lhe essa minha composição, mandou que eu ficasse de pé, e apresentou-me com estas palavras: ‘- Este é o autor, Carlos de Lima. Inteligente, mas vagabuuuuuundo! e encompridava o adjetivo para dar mais ênfase à esculhambação. “Não se deduza daqui que o Mata Roma fosse mau. Ao contrário, tinha um grande coração, nós o adorávamos e ele gostava de nós. Em três ou quatro domingos reuniu-nos no quintal da casa do Sr. Bandeira, na rua dos Afogados, com a rua das Flores (atual Sindicato dos Bancários) para, de picaretas e enxadas nas mãos, construirmos uma quadra de vôlei e basquetebol, com o material que ele conseguiu pedindo aos seus amigos comerciantes. E todos trabalhavam alegres e felizes para alegra o mestre! “Ali jogaram os times ‘Oito de Maio’, ‘Vera Cruz’, drible’ e outros mais, cujos nomes agora me escapam. Eu era muito ruim atleta e sempre mofava no banco de reservas, pois o técnico não tinha coragem de me escalar. Um dia, porém,. por premente necessidade, visto como os ‘cobras’ tinham sido eliminados por falhas, e como não havia mais ninguém, foi obrigado a me por na quadra. Por favor, acreditem, eu juro de pés juntos: perdíamos por um ponto, faltava pouco para acabar o jogo; no último minuto passaram-me a bola; lancei a ‘pedrada’ e ... fiz a cesta da vitória do ‘8 de maio’! “Eram craques desse tempo: Rubem Goulart, Paulino e José Carvalho, Gontran, Eurípedes Chaves, José Dourado e muitos outros. “No mirante dessa casa da rua dos Afogados deu-se um fato doloroso: um filho do Dr. Fontenele, Chefe de Polícia, matou, acidentalmente, com um tiro, o colega do Liceu, filho do Sr. bandeira; examinava o revólver, ou brincava com ele, quando a arma disparou mortalmente o amigo. “Foram meus colegas de Liceu, entre outros, José Chagas (não confundir com o poeta), Bernardino..., Celso Figueiredo (Banco do Brasil), Tácito Barreiros Martins (Banco do Brasil), Tasso Vieira, João Duailibe (engenheiro), Lisle Novais, Listênia Taboada, Celeste Vieira, Danúzio e Franklin da Costa, Colbert..., José Borgnhet (Nada a ver com o político), Ivar Madureira (médico), Elci Freitas, Paulo Castelo Branco, Alexandre Costa (senador), José Figueira (Não é o desembargador), por apelido ‘Carioca’, Pedro Ferreira, Jomar Roland Braga, Agderson Carvalho, Jorge Mota, Mário Rego, etc., etc. “José Chagas era um preto alto, sempre risonho, irmão do motorista de praça muito popular chamado ‘Vareta’. Nossa professora de Geografia era D. Zoé Cerveira, uma mulata enorme e meio estrábica. Severíssima. Nesse tempo faziam-se duas provas parciais por ano e algumas argüições para notas mensais. Essas provas mensais eram sempre corrigidas em aula. Numa dessas correções, D. Zoé mostrou uma prova, pedindo que se identificasse o autor. Como mostrasse uma fisionomia alegre e acolhedora, o que era raro nela, o Zé Chagas, esperançoso de uma boa nota, apresentou-se. E D. Zoé, dirigindo-se à turma: ‘- Vejam o que esse imbecil escreveu: Os relevos da Europa como vêm no capítulo anterior... ’ Tudo copiado timtim por timtim do livro de Aroldo de Azevedo!
“Mata Roma ensinava Português. Certo dia, discorria sobre as vantagens de recente reforma da língua, elogiando as novas regras que permitiam acentuar qualquer palavra, mesmo sem saber o significado dela. Lá atrás, o Adgerson Carvalho, péssimo aluno, rei da molecagem, ergueu a mão: ‘- Fale, disse o mestre.’. E ele, muito sério: ‘- Professor, por obséquio, acentue esta palavra: bolololocofto.’. ‘- Acentuo já, meu besta,’ e , abrindo a caderneta, pespegou-lhe um redondo zero e expulsou-o da sala. “De todos os companheiros ao que mais me ligava era o Danúzio Franklin de Oliveira Costa, o ‘Fenômeno’, irmão do grande ensaísta Franklin de Oliveira. De estatura meã, forte e feio, a cabeçorra valeu-lhe o apelido. Era calado, arredio, triste, e não sei se foi isso que nos aproximou. Gostávamos muito um do outro, eu lhe frequentava a casa, um sobrado, na ladeira da rua das Barrocas (Isaac Martins). Todas as vezes que nos encontrava, sempre juntos, sentenciava Mata Roma: ‘- Assinus assinum fricat, e traduzia: um burro coça o outro! “Uma única vez, em toda a minha vida, fui reprovado: no 4o. ano do ginásio e em Latim. Fui estudar nas férias com minha prima Marília, aluna distinta do “Santa Teresa’, para prestar exame de segunda época com o mesmo professor Arimatéa Cisne. “Por falar nele, vale a pena descrever-lhe a figura e o caráter: era alto, vermelho, gordo, o bigode cobrindo-lhe inteiramente a boca, a roupa sempre amarrotada, os bolsos cheios sei de quê, as pontas dos dedos escuras de nicotina, pois, além de fumar exageradamente, acendendo um cigarro no outro, chupava a bagana até não, poder segurá-la sem se queimar. Fora padre, tinha um simplicidade, uma candura, que beiravam a puerilidade, destes tipos desligados para quem tudo está bem. Não tolerava burrice. Contou-me o ‘Zé Careca’ (José Araújo, conselheiro do TCE) que, numa argüição de Matemática, o velho Arimatéa apertava-o, passando no quadro negro carroções, equações, que ele não conseguia resolver. Perguntou-lhe o professor, afinal, o que sabia? Respondeu o José: ‘- Eu só sei cousas difíceis, logaritmos, cálculo integral, etc.’ O velho mandou chamar a mulher: ‘- Iaiá, manda para cá todos os alunos que estiveram na casa (‘Colégio Cisne’, na rua de São João (13 de maio). Com a presença de todos, declarou: ‘Vocês estão diante de um gênio (e apontava o Zé Araújo), este homem sabe tudo, sabe mais do que eu, do que todo mundo! Não pode permanecer nesta escola. Dá baixa nele agora.’ Disse-me o Zé que só consentiu na sua permanência no Colégio Cisne por intervenção de uma pessoa muito importante, muito amiga de seu pai e do velho Arimatéa. “Aula de Latim: ‘- Seu Paulo (Paulo Castelo Branco, ou Paulo Pupupu, porque era gago), decline Ora orae. Paulo dizia apenas o começo das palavras deixando incompreensíveis as terminações, pois a verdade é que não sabia a declinação. Arimatéa não gostou daquela burla, mandou que repetisse. Ele gaguejou e repetiu sem melhor resultado. Arimatéa: ‘- Diga de novo’, ordenou, com a mão em concha no ouvido. ‘- Qui, qui, qui eu já disse e não di, di, digo mais! “De outra feita, ensinava Português, voz passiva e voz ativa. ‘- Eu comi a galinha. Passe para a voz ativa, seu Paulo. ‘- A ga, ga, galinha me, me, comeu!’ ‘- Meu filho, tu não lascas, tu não lascas mesmo nada!, respondeu o Arimatéa, esfregando a palma da mão direita no dorso da esquerda. “Ainda a propósito, certa vez fui companheiro do velho mestre numa viagem a Ribamar [São José de Ribamar], no tempo das ‘lotações’, pequenas e muito desconfortáveis caminhonetes, que antecederam os ônibus. Viagem enjoada, demorada, com muitos ‘pregos’. Os radiadores antigos eram expostos e o do nosso carro tinha como rolha um pedaço de buriti mal talhada, que deixava escapar, a cada solavanco, na estrada esburacada, uma porção de água quente que vinha sobre nós pela abertura larga, outrora, houvera um pára-brisa. O chofer era um velho mal vestido, com uns óculos remendados com papel e barbante, um pobre coitado que tirava o sustento da família a ir e vir, todos os dias, naquele calhambeque. As reclamações eram muito grosseiras, a que ele, pacientemente, fazia ouvidos de mercador. O professor Arimatéa permanecia silencioso, alheio a todos aqueles percalços, chupando pachorrentamente, seu cigarrinho. À chegada, depois de horas e horas de percurso, todos os passageiros profundamente irritados, intimamente só desejavam bater no velho. O Arimatéa foi o primeiro a descer. Apertou a mão do motorista, abraçou-o carinhosamente e disse: ‘- Meu amigo, muito obrigado. Foi uma viagem excelente, muito obrigado !’. Depois disto ninguém teve coragem de dizer alguma coisa. “Outros professores do Liceu eram Milton Paraíso (Física), Jerônimo Viveiros (que me ensinou a gostar de História), Mário Soares (responsável por eu detestar Matemática até hoje) Flor de Lis Vieira Nina (História), Amaral de Matos (irmão do médico), professor de Matemática, Nascimento de Moraes (Geografia). Cometa compareceu uma única vez no semestre, para fazer prova. Chegou e perguntou: ‘- Qual é a matéria dada? ’. ‘-Professor, informamos, esta é a primeira aula! ’. ’- Então escrevam: dissertação: Fascismo e comunismo.’. A prova era de Geografia! O professor Braga ensinava inglês (Diziam os entendidos que não sabia inglês), mademoiselle Mariah, francês, Vicente maia (inglês), Escrevia nos jornais muitos versos nesta língua), Maria Mendes (francês), Luís Gonzaga dos Reis (química). “Contava-se deste mestre a seguinte anedota: Gordo, corado e calvo (muito parecido com o comentarista esportivo Luis Mendes), sempre de terno branco, tinha um estranho sestro em três tempos: 1o.) um aperto com os cotovelos nas ilhargas, os braços dobrados como quem vai fazer cooper; 2o.) sungava, então, as calças com o auxílio da parte
interna dos pulsos, à altura da cintura; 3o.) finalmente empalmava a genitália e dava-lhe um súbito puxão para cima. Uma vez, descrevendo a alambique, disse que se compunha de corcúbita, e comprimia a costelas, capitel (deu um aperto na cintura) e serpentina, no momento exato em que repuxava os ovos. “Foi no Liceu que conheci José Erasmo Dias, mais adiantado do que eu, inteligência brilhante, para quem todo mundo previa um futuro extraordinário. Infelizmente deixou-se vencer pela bebida... Fez muito, escreveu, discursou, foi deputado estadual; poderia, porém, chegar às culminâncias e não chegou. “O recreio fazia-se no pátio interno, onde briguei pela primeira vez. Conto: Nesse pátio jogava-se futebol com bolas de papel, pedras, apagadores de lousa, pedaços de pau, o que fosse. Os jogadores, em grande número, chocavam-se uns com os outros, chutava-se a esmo, para qualquer lado, apenas para gastar energias. Num desses lances, o pedaço de pau que chutei subiu demais e acertou a boca do Bernardino, um caboclo do interior, forte e zangado, que partiu para agredir-me. Instintivamente, em puro reflexo, dei-lhe um soco em cada olho, antes que pudesse atingir-me. Surpreso com a reação daquele fedelho magro, ele ficou por instantes meio atordoado, esfregando os olhos, enquanto os colegas entreviam e cobriam minha retirada para a sala de aula. Ele, porém, jurou-me, desafiou-me durante toda a semana, chamando-me covarde. Por mais que lhe pedisse desculpas, com este meu espírito cordato, explicando-lhe que tudo não passara de um acidente, que minha raiva momentânea se desfizera e não havia motivo para levar o desentendimento adiante, ele queria brigar. Afinal, convenceu-se e ficamos amigos e a última vez que o vi, já maduro, nos abraçamos, mas sem lembrar o ocorrido. “Lembro-me com saudade de muitos companheiros, como João Duailibe, hoje engenheiro, em São Paulo (irmão de Alfredo, Antonio e Alberto) cantando óperas, a plenos pulmões, em dueto com Tasso Vieira, este como soprano, aquele fazendo de tenor. “Os bedéis do Liceu eram Nerval Lebre Santiago, o Cunha e o Euclides, por apelido ‘Bentivi’, autor dos seguintes versos, estampados na porta do sanitário: “Jesus, Maria, José,/ santo Deus, quem nos acode?/ Helvídio Maia Martins/ a paciência nos fode/ é pior do que alastrim ceifando culhão de bode’, alusão à naturalidade piauiense do Diretor. Todos sabíamos de quem era a autoria, mas ninguém abriu o bico para denunciar o poeta. “Estes eram o Liceu e os colegas de meu tempo. Belo colégio, bons amigos, por onde andarão? Muitos, decerto, já se foram; de outros perdi o contato ... assim é a vida. Há anos, encontrei, casualmente, o Ivar Madureira, velho, grande cirurgião, no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de janeiro. Alexandre Costa é senador da República e vem se recuperando de uma trombose. “Outro episódio ressurge do passado. No largo do Carmo, na esquina da Rua do Egito, havia o bar ‘Excelsior’, dos irmãos Lobão, dois velhos gordos e sanguíneos, um dos quais tinha um belo calombo sobre a têmpora direita, do tamanho de um limão grande. Era um estabelecimento chique, amplo, com três portas para a praça e outras tantas laterais. A rua do Egito era estreita e para alargá-la demoliram o bar e a ‘Farmácia Jesus’ e ergueram, na metade do espaço, o prédio modernoso da Caixa Econômica. Nós, eu e o inseparável Danízuo, costumávamos gritar: ‘- Bicho Feio’ para o motorneiro do bonde ‘Gonçalves Dias’, quando ele fazia parada defronte do bar. Gritávamos e saíamos correndo, escapulindo pela porta lateral, perseguidos pelo ofendido, que, no entanto, era obrigado a voltar ao seu posto, frustrado. Certo dia, lanchávamos, despreocupadamente, caldo de cana e ‘engasga-gato’ (um bolo, espécie de manuê), quando vimos, aterrados, o ‘Bicho Feio’ interditando a única porta da garapeira, que ficava na rua de Nazaré, ao lado da ‘Casa Ribamar’, especialista em instrumentos musicais e de propriedade do Sr. Almeida, pai do radialista Marcos Vinicius, espaço hoje ocupado pelo Banco Nacional. Gelamos, os dois e, sem qualquer combinação prévia, pusemos os copos sobre o balcão e desabamos para a rua, conforme nos permitia o corredor estreito entre o balcão e a parede. Ele não conseguiu agarrar-nos, mas, na passagem, deu violentos murros em nossas cabeças e costas. “De outra vez, participei de nova molecagem, no largo dos Remédios. Festa de Nossa Senhora dos Remédios, no mês de outubro, que João Lisboa imortalizou e eu ainda alcancei bela e animada, com muitas barracas de comes-e-bebes, de sortes, de leilões, multidão de povo passeando, após a reza, enquanto muitos ficavam apenas apreciando o movimento, sentados nas cadeiras que o pai de Jaime Souza, o velho ‘Cu Suado’ colocava na calçada, desde a casa das Arches da Silva até a porta da igreja. Eram duas filas longas, as cadeiras amarradas umas às outras. Nessa noite, sobraram alguns metros de corda, que ficaram emboladas, no chão. No prédio junto à Escola Normal (atual sede da Reitora da UFMA), morava o português Joaquim Braga, cuja filha era noiva do Dr. Antônio Pires ferreira, médico maranhense, recém-chegado à cidade. Todas as noites ele visitava a noiva e deixava a ‘baratinha’branca, conversível, cujo pneu socorro ficava exposto na tampa da mala, estacionada à porta. Não sei de quem foi a idéia, se do Adgerson, do Franklin (‘Mata Virgem’), do Danúzio, do Mário Rego (‘Carrapatinho’), do Jorge Mota (‘Cara Cagada’). O certo é que eu fazia parte do grupo que formou uma parede junto ao automóvel para esconder o incumbido de amarrar a ponta da corda no estepe da ‘barata’. Aí fomos para a praça defronte para esperar o resultado. Quando o Pires Ferreira despediu-se da noiva e deu partida, as cadeiras saíram arrastadas pela rua, uma fila após a outra, enquanto o Souza corria atrás, desesperado, a barriga volumosa atrapelando as pernas curtinhas,
as abas do paletó aberta ao vento, gritando-lhe que parasse. Foi um Deus nos acuda, alguns pouco que ainda estavam sentados foram ao chão, felizmente sem maiores consequências, dado o adiantado da hora, de reduzida frequência. “E foi nesse meu tempo de Liceu que conheci uma menina, aluna do Colégio Santa Teresa, que seria, pouco depois, a grande paixão de minha adolescência. O engraçado é que comecei a namorar uma sua amiga, a Naná (Natália), bonita, comunicativa, e que viria a casar-se com o jornalista e político Neiva Moreira, e acabei enfeitiçado por Benzinho Mota. Mas esta já é outra estória.”.
COELHO NETTO, 155 ANOS EDMILSON SANCHES Neste 21 de fevereiro de 2019 completam-se 155 anos de nascimento do escritor e jornalista Coelho Netto, filho ilustre de Caxias (MA). Henrique Maximiano Coelho Netto, por eleição popular, é considerado o "Príncipe dos Prosadores Brasileiros". Segundo pesquisas que fiz, deve-se s Coelho Netto a introdução do cinema seriado no Brasil -- o caxiense foi não só roteirista como, também, diretor de cinema. Coelho Netto foi quem elevou a Capoeira à dignidade artístico-cultural-desportiva no Brasil. O grande caxiense, pela quantidade, qualidade e, à época, sucesso de suas obras, foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel de Literatura. Coelho Netto, entre outras realizações e distinções, foi o responsável pela popularização do título "Cidade Maravilhosa" ao Rio de Janeiro. Escreveu livro e crônica com esse título, que foi lida em rádio.
ACREDITEM! - NASCIMENTO DE MORAES FILHO ESTÁ VIVO! JOÃO BATISTA DO LAGO
(dedico este postagem, in memoria, ao poeta José Nascimento de Moraes Filho, falecido em 21/02/2009) Transcorria o ano de 1922! O país comomorava o centenário da Proclamação da Independência do Brasil, ocorrida no dia 7 de setembro de 1822; e também, a aclamação de D. Pedro I como Imperador, a 12 de outubro. O Estado do Maranhão em 1922, (e consequentemente na década de 20), portanto 100 anos após a Independência do Brasil, fora governado pelo então presidente Urbano Santos da Costa Araújo (conhecido no Maranhão e no Brasil como Urbano Santos); houvera um estádio de ebulição em todos os campos das atividades: na política respingara no território maranhense a fundação e criação do Partido Comunista; repercute os fuzilamentos de quatro lavradores, assim como as ações político-sociais do agricultor e espírita Manoel Bernardino de Oliveira, apelidado pelos jornais de então de Lenine maranhense; não menos importante reverbera a Coluna Prestes; também a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana respingara no Maranhão. Pois bem, é no meio desse contexto historiográfico que nascera José Nascimento de Moraes Filho, que, diga-se desde sempre, viera ao mundo com o gene paterno do poeta, romancista, cronista e jornalista José Nascimento de Moraes (pai), que também fora presidente da Academia Maranhnense de Letras e professor do Liceu Maranhense, onde lecionara para alunos como o jornalista, escritor e poeta José Sarney, assim como também para o escritor, ensaista e poeta Ferreira Gullar. Nascimento de Moraes (pai), fora casado com Ana Augusta Mendes Moraes. O casal tivera sete filhos: Nadir, Raimundo, João José, Ápio Cláudio, Talita, Paulo e (o nosso) José Nascimento de Moraes Filho. Para entender melhor (o nosso) José Nascimento de Moraes Filho, aos meus olhos, torna-se indispensável traçar um panorama da sua ascendência paterna. “Trata-se, então, de dispor os leitores a conhecer (…) um professor negro (…) que marcou espaço na imprensa maranhense (…) manifestando-se por meio de contos, poesias, crônicas, além de, por muitas vezes, ter-se envolvido em polêmicas literárias e raciais. Era um defensor da promoção, pelos poderes públicos, da escolarização para os pobres, e constantemente debatia os problemas políticos, sociais e educacionais maranhenses. Foi considerado, durante o Estado Novo, o inspirador da criação de um tipo escolar exclusivo para as crianças pobres, denominado “escola dos pés descalsos” (...)” - (Mariléia dos Santos Cruz – Imperatriz – MA). NASCIMENTO DE MORAES E EU Minha amizade com Nascimento de Moraes dá-se a partir do ano de 1978, quando retornara de São Paulo para São Luis, para integrar a equipe de jornalistas da Secretaria de Comunicação Social - SECOM, no Governo João Castelo. Ele me fora apresentado pelo então deputado estadual e líder do governo, José Bento Nogueira Neves (itapecuruense de boa cêpa), que fora o grande responsável pelo meu retorno (naquele período) ao Maranhão. E, de pronto, durante a apresentação, Nascimento de Moraes, com aquele vozeirão metálico que só ele tinha na ilha, tascou: “- Bento, este é o teu mais novo pupilo comunista?”. Bento Neves soltou uma gargalhada e entrou no prédio da Assembleia Legislativa (ainda na rua do Egito), deixando-me a sós com o “velho professor”. Ora, em 1978, ainda vivíamos o princípio do ocaso da Ditadura Militar brasileira, que dera um golpe de estado e se locupletara das instituições governamentais e se instalara no governo central da nação. Neste período, João Castelo Ribeiro Gonçalves, que se tornara governador do estado, pela “porta da exclusão” (muito embora muitos afirmem que ele seria uma indicação de Sarney, o que Castelo negava enfaticamente) -, pois, o então senador José Sarney estaria às turras com o governo ditatorial militar central e, portanto, impedido de fazer quaisquer indicações, fizera a Secom divulgar, com estardalhaço, a instalação da Alcoa (1980).
Aos poucos fora me acostumando à verve indomável do “velho” professor Nascimento de Moraes. Mas não somente isso. Em verdade eu fora sendo encantado, cada dia mais, e assim me tornando um discípulo do mestre, a quem admirava com paixão, a quem procura ouvir diariamente, ao meio dia, na entrada da praça Benedito Leite ou nos finais de tarde, na praça João Lisboa, entre um cafezinho e outro... E muito do que sei, hoje, resulta daquelas conversas sem quaisquer parâmetros de superioridade sobre nós que o ouvíamos ou sobre qualquer pessoa que dele se aproximasse.
NA BERLINDA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 16 – JANEIRO - 2019
https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER MEMÓRIA DO ESPORTE NO MARANHÃO ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO - GINÁSTICA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ QUERIDO PROFESSOR DIMAS: RECORDAR É VIVER – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DENISE MARTINS DE ARAUJO ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA GENEALOGIA DE MESTRE DINIZ MESTRE ABELHA MESTRE FRED MESTRE MIRINHO MESTRE MARCO AURÉLIO MESTRE DOMINGOS DE DEUS MESTRE NELSINHO MESTRE PUDIAPEM ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA Curso de Formação de Treinadores de Futebol - ÉTICA NO FUTEBOL - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM CAPOEIRA PIAUIENSE DELEGADO DE POLICIA NA CÔRTE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O FIM DO MINISTÉRIO DO ESPORTE: BOA OU MÁ NOTÍCIA? - CLEBER DIAS REFLEXÕES DE MESTE ANDRÉ LACÉ – ANDRÉ LACE LOPES “NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE” - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA - A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL:
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EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL – alguns apontamentos para sua História - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ TEMPO AO TEMPO - RICARDO RICCI UVINHA - Entrevista concedida à Revista E do Sesc sobre a importância do lazer como um direito social e seu papel na atenção à saúde e qualidade de vida. LUSOFONIA MONGE DA SILVA E O TREINO DESPORTIVO - Por MANUEL SÉRGIO O PENSAMENTO DO JORGE BENTO EXERCÍCIO DA EMPATIA: PARA O SENTIDO DA VIDA O MEU LADO PUNIÇÕES POR PLÁGIO E FRAUDE O QUE SE APRENDE NO DESPORTO? PROMETEU CRUCIFICADO FOME DE LUZ
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NÚMERO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 16.1 – JANEIRO - 2019
https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO CENTRO DE REFERENCIA DE NAVEGAÇÃO - “Caderno de Encargos” APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DAS ARTES NAVAIS NO MARANHÃO APONTAMENTOS PARA A MEMORIA DO NÚCLEO DE PESQUISA APLICADA EM AQUICULTURA E PESCA NORDESTE 4 – MARANHÃO E PIAUÍ O SETOR PESQUEIRO NO MARANHÃO CURSOS DE EXTENSÃO - FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE TRABALHADORES ÁREA: PROEJA: RECURSOS PESQUEIROS PROPOSTA DE CONSTITUIÇÃO DO NUCLEO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA APLICADA EM PESCA E AQUICULTURA
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SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 17 – FEVEREIRO – 2019
https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER REI ZULU – A MAGESTADE NEGRA Por BRUNO TOMÉ FONSECA “WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – O TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O SERVIÇO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ESTADO APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DOS ESPORTES, DO LAZER E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO/DO MARANHÃO: CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES FREI EPIFÂNIO DA BADIA, O FREI BOM DE BOLA - EDMILSON SANCHES 100 ANOS DA “INAUGURAÇÃO DO ‘FOOT-BALL ASSOCIATION’ NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CAPOEIRA: DESENVOLVIMENTO E ASPECTOS HISTÓRICOS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANOS 70 NO MARANHÃO - "IMPORTAÇÃO" DE PROFESSORES, TÉCNICOS E ATLETAS – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) NATAÇÃO NO MARANHÃO HISTÓRICO VIVA AGUA LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA EXPOSIÇÕES DAS BIOGRAFIAS DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO ESTADO DO MARANHÃO Abertura da Semana da Capoeira realizada pela Federação Maranhense de Capoeira FMC MESTRE SR. MIYAGE MESTRE ANTONIO BEZERRA DOS SANTOS MESTRE EVANDRO MESTRE CADICO MESTRE JUVENAL MESTRE PALHANO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES EM DEFESA DO CEFET-MA NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE CLAUDIO VAZ, O ALEMÃO - E O LEGADO DA GERAÇÃO DE 53 CAPÍTULO DO LIVRO INÉDITO – OS ANOS 30 E 40 QUERIDO PROFESSOR DIMAS CAPÍTULO DO LIVRO - FESTIVAL ESPORTIVO DA JUVENTUDE - FEJ -, Precursor dos JEM's A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO FRENTE À LEGISLAÇÃO DE ENSINO – 1918/1941 LUSOFONIA JOSE MANUEL CONSTANTINO REINCIDIR NO ERRO O PENSAMENTO DO JORGE BENTO PERPLEXIDADE... DA COR DA ROUPA: AZUL OU ROSA? DA FUNÇÃO DAS PALAVRAS ACADEMIA BRASILEIORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOTAS
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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 18 – MARÇO – 2019
https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO – E O LEGADO DA GERAÇÃO DE 53 – capítulo(s) de livro 1. Prefácio 2. Cláudio Vaz QUERIDO PROFESSOR FIMAS – capítulo(s) de livro 1. Apresentação 2. Recordar é viver EDMILSON SANCHES. ESTÁDIO MUNICIPAL, 53 ANOS ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO GUIMARÃES BASQUETEBOL MASTER LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA EXPOSIÇÕES DAS BIOGRAFIAS DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO ESTADO DO MARANHÃO Abertura da Semana da Capoeira realizada pela Federação Maranhense de Capoeira FMC MESTRE ARY MESTRE UBIRACI MESTRE JORDILAN MESTRE GUDA MESTRE MÃO DE ONÇA MESTRE BETINHO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES LE LUDIQUE ET LE MOUVEMENT AU MARANHÃO/ - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O QUE ESTÁ HAVENDO COM A “IMPRENSA”? - JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS A PROFISSÃO “EDUCAÇÃO FÍSICA” – INCLUI O CAPOEIRA NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE HISTÓRIAS DE SÃO LUÍS - O FILIPINHO E AS MUDANÇAS SOCIAIS - HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO LUSOFONIA CONHEÇA A OFERTA FORMATIVA DO COP O PENSAMENTO DO JORGE BENTO O MEU BRASIL PRESTAÇÃO DE CONTAS MANOEL JOSÉ GOMES TUBINO: ‘PONTÍFICE’ DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL POETANDO CÍVICA E DESPORTIVAMENTE… TENTATIVA DE AGRADECIMENTO DA MINHA ORIGEM E IDENTIDADE EDUCAÇÃO E DEFORMAÇÃO PRO OU POR VOCAÇÃO EDUCAÇÃO MORIBUNDA DO IMAGINÁRIO BRASILEIRO NOTAS
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PALESTRA "DO VINHAIS VELHO À PONTA D’AREIA" ABRE ANO CULTURAL DO IHGM DO VINHAIS VELHO À PONTA D’AREIA: um reduto que deu início a São Luís é o título da palestra a ser ministrada por Antônio Noberto da Silva e Leopoldo Gil Dúlcio Vaz, na Abertura do Ano Cultural do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM. A solenidade, marcada para o dia 31 de janeiro, às 17h, no auditório da instituição, localizada na Rua de Santa Rita, esquina com a Rua Grande, será responsabilidade do presidente do IHGM, Professor José Augusto Silva Oliveira. A propósito da palestra, entre os séculos XVI e XVII, existia na área de São Luís um reduto francês, cujos integrantes lançaram as bases do que seria a capital da França Equinocial, localizadas entre o Vinhais Velho e a Ponta D’Areia, eixo protegido pelo Forte Sardinha, rebatizado por Alexandre de Moura de Forte de São Francisco. Segundo um dos palestrantes, Antônio Noberto, sócio efetivo do IHGM e, também, da Academia Ludovicense de Letras, da qual é Presidente, “[...] a palestra de Abertura do Ano Cultural, será, na verdade, uma viagem no tempo e no espaço. RevelaM-se, nela, as razões do projeto França Equinocial sendo a cidade de São Luís o legado mais significativo desse empreendimento colonial francês. Os palestrantes, Antônio Noberto e Lepoldo Vaz, este também membro do IHGM, sustentam o discurso deles, no evento, nos mais respeitados estudiosos da História e da Cultura brasileiras. Entre as vozes ouvidas, destacam-se Rubem Almeida, Eduardo Bueno, Ribeiro do Amaral e Alderico Leandro. Para o Presidente do IHGM, Professor José Augusto Silva Oliveira, “[...] iniciar o Ano Cultural tendo palestra cujo objeto é a cidade de São Luís, evidencia o interesse da instituição que dirige no que diz respeito à socialização das informações sobre a capital maranhense. São Luís é uma cidade universal. As pessoas, notadamente as que aqui moram, não podem, então, ignorar a história dela”, concluiu José Augusto Oliveira.
DO VINHAIS VELHO À PONTA DA AREIA – UM REDUTO QUE DEU INICIO A SÃO LUIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANTONIO NOBERTO Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras
"Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter". (PERRONEMOISÉS, 2013) 34. De algum tempo tenho defendido a ideia de que o Maranhão e a sua cidade, São Luís, foram obra de conquista e ocupação – se não fundação, pelo menos pré-fundação – de dois aventureiros franceses: Jacques Riffault e Charles de Vaux, pois ambos antecederam à expedição de instalação da França Equinocial, comandada por LaTouche e Razzily35. A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada à região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 36. Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 37 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi. Depois, chegando em 1590, e se estabelecendo em 1594, Riffault, Des Vaux, e Davi Migan... E fundam Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão. Comecemos por Des Vaux: Encontramos em “A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927, de Fulgêncio Pinto o que segue38 - Um conto de Natal: 34
PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São Paulo: Edusp, 2013. FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. ESTUD. AV. [online]. 2013, vol.27, n.79 [cited 2015-08-24], pp. 277-280 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300020&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000300020. 35 http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/o-potengi-o-rifoles-e-a-ocupacao-do-maranhao-1/ file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/PAPERS/PAPER%20235%20%20O%20POTENGI,%20O%20RIFOLES%20E%20A%20OCUPAÇÃO%20DO%20MARANHÃOb.pdf http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/riffault-o-corsa-rio-franca-s/377604 36 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 37 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 38 PINTO, Fulgêncio. Um conto de Natal. In A PACOTILHA, São Luis, 27 de novembro de 1927
Era o ano de 1609, em Saint Malo, ilha de França, cidade dos corsários. Numa taberna reuniam-se muitos homens a gritar, a falar alto. [...] De repente surge um cavalheiro de olhos azues, porte esbelto e fidalgo, vestindo um gibão escarlate, trazendo sob a cinta de couro de serpente, um punhal de cabo de prata. Ele chegava de longe, de outras terras, de lugares desconhecidos. - De onde vem? - Quem será ele? - Para onde irá? - Parece-me que o conheço!... - Creio que fazia parte da tripulação de Jacques Riffault. - Não estás enganado? - Por Deus, que não. Não me são estranhos, este roto e esta voz. Eram estes os commentarios em torno d figura simpatica daquele homem que ali entrara, pedira um copo de cidra, e o esquecera em cima da mesa, entretendo-se a examinar um velho mapa. Ele havia chegado em companhia de alguns indios, dois dias antes numa das naus que ali estavam ancoradas no porto. Ali viam-e homens de todos os aspectos, de todas as raças, de todas as nacionalidades, de todas as cores, desde os mais ferozes até os mais pacíficos. Misturavam-se as línguas; ora ouviam dialetos sonoros, ora idiomas duros e quasi imperceptíveis. A fumaça dos cigarros diluindo-se no éter deitava uma iaca enjoativa, acre, misturando-se com o cheiro de alcatrão e da maresia. Aquela velha casa onde se reunia tanta gente, era a taberna cuja porta encimava garbosamente este letreiro’Au rendez vous dês corsaires’ sobre uma grossa chapa de ferro. Em frente desdobrava-se uma paizagem marítima, banhada pela margem do oceano aformoseando o horizonte, quer nas manhãs magníficas quer nas tardes silenciosas, quando o sol com seus aparatos de riquezas sumiam-se no mundo do sonho e do nada. Quatro mesas enormes estavam cercadas de bancos de carvalho. Apesar da grita o homem que entrara ha pouco, esquecia-se da cidra e continuava a estudar o mapa com muita atenção. - Diabo! Quem será aquele cavalheiro? Gritou um corsário. - Não o incomodeis berrou Tricon, pronto para fazer calar com um murro, o curioso. A’ porta da taberna assomaram mais dois cavalheiros. Um era François Dupré, filho único de um rico armador de Saint Malo, que havia conquistado nome e fortuna no Corso; o outro Raul Renaud, antigo professor em Paris, na Universidade de Sorbona, conhecido como sábio em sciencias naturaes. Entram e sem dirigir palavras aos demais que ali se embebedavam, tomam assento justamente, diante do desconhecido que lia o mapa. - Carlos Des Vaux!... Vós aqui! Já vos tínhamos como morto!... gritou admirado Dupré. O homem, espantadoouvia-lo o seu nome levantou a vista, e reconhecendo no jovem, o pequeno Dupré, o garoto que deixara ainda imberbe quanto partira para as suas correrias pelo oceano, poz-se de pé e estendeu-lhe as mãos entusiastamente. - Bravo Dupré! Estaes um perfeito homem. - Onde andaveis vós?
- Cruzando os mares – responde o pirata. - O que tanto vos prende a esse papel - Um sonho, pequeno. - De amor? - Não, de conquista. - Que papel é esse Des Vaux?, Um mapa? - Sim, um mapa. - E que sonho de conquista será esse? Dupré apresentou-lhe o seu velho amigo e mestre Raul Renaud. -Ouçam-me o grande sonho – pediu Des Vaux. Contentes achegaram os bancos de carvalho, e debruçados da mesa, quedaram-se sobre o mapa que Carlos Des Vaux tinha entre as mãos, apontando-lhes ali, num belo discurso, os encantos de uma terra prodigiosa e moça, para la do oceano, em que ele havia havia habitado por muito tempo entre os índios. Quinze anos eram decorridos, desde o naufrágio de Jacques Riffault num dos baixios ao norte do Brasil, nas proximidades da costa do Maranhão. Quinze anos aquele homem de olhos azues, cor bronzeada, pele queimada pelo sol caustigante dos trópicos, que ali estava a conversar animadamente, errara pelas matas da formosa terra moça pelos litoraes, pelos ínvios sertões, e depois de haver alcançado Victoria brilhantes ao lado dos índios nos conflitos de Hibiapaba, resolvera fixar residência no ponto mais pitoresco numa ilha arborizada, seguro da amizade dos Tupinambás, tornando-se o homem de confiança de toda a tribo, que lhe admirava a bravura e a bondade do coração. Era ali a formosa ilha dos Tupinambás, ilha d sol, vivendo na exuberância da sua luz, tecendo magníficos cortinados nas franças dos arvoredos selvagens, cheia de mistérios e explendores, flora maravilhosa, vales rumorosos, que ao revelhar-lhes os encantos, o pirata, sentia uma certa transfiguração de espirito, e o cérebro embriagava-se de sonhos magníficos. Era ali que Japiassú grande amigo e aliado de Des Vaux, era chefe, principal, irradiando o seu alto poder, de Juniparan, a aldeia mais notal de quantas existiam na ilha. Terminada a narração ele o pirata explicou aos amigos que voltava à pátria afim de oferecer à sua magestade cristianíssima Henrique IV, rei de França e senhor de Navarra, não só a posse do território fertilíssimo como também a amizade e obediência dos Tupinambas. Os três homens esquecidos do tudo quanto os cercava, confabularam em armar uma expedição, em demanda da terra previlegiada, expedição que mais tarde foi levada a efeito auxiliada pelo conde de Sulley, então governador da Bastilha, conselheiro de sua magestade Henrique IV, sob o comando do senhor de La Ravardiere, que foi ali fundar uma cidade em honra a Luis XIII, na regência de Maria d Medicis. [...] onde fica essa formosa terra tão linda, tão moça de Carlos dês Vaux. [...] essa formosa terra moça e previlegiada é S. Luis é o Maranhão [...] - É Maranhão!... - E quem era Carlos Des Vaux? Era um Frances, amigo do Maranhão que sacrificara tudo, para fundar aqui a França Equinocial!
Beatriz Perrone-Moisés (2013, citada por Faleiros, 2013, em "Franceses no Maranhão: história de intérpretes”) 39, retoma a trajetória de Charles des Vaux, jovem nobre responsável pela ideia da fundação da França Equinocial no século XVII, assim como a história de David Migan, jovem intérprete francês que viveu entre os índios tupi. O centro do argumento de Beatriz Perrone-Moisés é que "Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter".
Ao colocar o que chama de "intérpretes-embaixadores" como protagonistas da história da França Equinocial, a antropóloga lança luz sobre estratégias fundamentais de contato e de conquista ainda pouco visíveis para a historiografia oficial: Depois de serem expulsos pelos portugueses da Guanabara e da costa nordeste do Brasil, os franceses se voltaram para a região do Maranhão. Embora não atingida pela colonização portuguesa, ela já havia sido brevemente explorada por Aires da Cunha, Diego Nunes e Luís de Mello, a serviço do rei de Portugal. (FALEIROS, 2013).
Des Vaux é quem negocia o local onde seria instalado o forte e o convento dos religiosos, nas colinas desocupadas, onde não se encontravam instalados os primitivos habitantes: [...] O padre Abbeville enumera no seu livro 27 aldeias dos Tupinambás, explica a situação geográfica de todas elas, dá todos os nomes, conta o número de habitantes de cada uma; mas o livro não contem qualquer noticia a respeito da situação da cidade de S. Luis. Em vão procuramos alguma indicação a respeito das colinas onde foi construído o forte e onde estavam as habitações dos antigos moradores. Ele narra que, na sua chegada, o francês Dês Vaux tratou longamente com o “príncipe” da ilha e com os outros principais, para lhe cederem eles um pequeno terreno, onde pudessem fazer o forte, e entregassem a metade da colina de Santo Antonio, para nela fundar um estabelecimento religioso. Os chefes dos índios cederam esses dois pontos, que não estavam ocupados. Mas isso quer dizer, que as outras partes do território, onde está hoje S. Luis, eram ocupadas pelos antigos habitantes. (PINTO, 1927) 40. Ludwig Schwennhagen (1924) 41 estranha a ‘censura’ ao livro do primeiro cronista do Maranhão, com a supressão de três capítulos, justamente os que falam da ‘cidade’ de São Luis, já que aquele sacerdote descreve todas as aldeias instaladas na Ilha e adjacências. Relata D’ Abeville que saíram a visitar a Ilha: De Rasilly42, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris, acompanhados de um antigo morador de Upaon-Açú, de nome David Migan: 39
PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São Paulo: Edusp, 2013. FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. ESTUD. AV. [online]. 2013, vol.27, n.79 [cited 2015-08-24], pp. 277-280 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300020&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000300020. 40 PINTO, Fulgêncio. Um conto de natal. In A PACOTILHA”, de 25 de novembro de 1927 41 SCHWENNHAGEN, Ludwig. São Luis na antiguidade. A PACOTILHA, São Luis, 7 de outubro de 1924. 42 42 42 Ferro (2012, 2014) ; e Ferro e Ferro (2012) afirmam que La Ravardière não fundou sozinho São Luís: O cofundador da cidade, a quem esta, na verdade, deve o nome, foi o Senhor de Razilly, de Oiseaumelle e de Vaux-en-Cuon, nascido em 1578, originário da região de Touraine. Já na cerimônia de 1º de novembro de 1612 – de afirmação da autoridade da Coroa francesa e cunho especificamente político e complementar àquela de 8 de setembro –, em que os indígenas chantaram o estandarte real, contendo as armas da França, junto da cruz anteriormente cravada no solo da Ilha do Maranhão, o mesmo personagem e seu sócio La Touche decretaram as importantíssimas Leis Fundamentais da França Equinocial, marco legal pioneiro de manifestação de natureza constituinte elaborada nas Américas. Foi ainda o almirante Razilly quem, de volta à França, salvou da destruição um ou mais exemplares, não obstante o desaparecimento de algumas partes, da obra Seguimento da História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614, de Yves d’Évreux, cuja publicação fora autorizada em 1615 para, logo em seguida, ser abortada. E, todavia, François de Razilly é o fundador esquecido de São Luís.
"levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meiodia. O Sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho" (D’ABEVILLE, 1975)43. A hoje Vila Velha de Vinhais – a Uçaguaba dos Tupinambá - é ocupada desde tempos imemoriais; primeiro, pelos povos dos sambaquis; depois pelos Tremembés, e por ultimo, pelos Tupinambá (BANDEIRA, 2013) 44 . A ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76).
[...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). 43
D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 44 BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO – Arqueologia, História e Memória. São Luis: Ed. Foto Edgar Rocha, 2013.
A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).
A partir do meado dos anos 1500, o Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Espanha, não era respeitado pela França, que contestara de maneira mais veemente a divisão do mundo. Em termos de expansão marítima, os franceses, mesmo perdendo a corrida, buscaram terras sem colonização para poder explorar. Corsários recebiam apoio do governo francês, com financiamento, para explorar as riquezas das Américas, fazendo contrabando, principalmente de pau-brasil e muitas outras madeiras, além de pássaros silvestres, macacos, e de até mesmo de tabaco. A presença de traficantes de pau-brasil no litoral brasileiro, remonta ao ano de 1503 e é aceito como o do início das incursões francesas na costa norte-rio-grandense e 1516 como o momento em que traficantes e corsários vindos da França agiam na Costa dos Potiguares, como era então conhecido o território habitado por aqueles silvícolas, dele fazendo parte o atual Rio Grande do Norte.
Portugal reagia como podia às investidas francesas, financiando “varreduras costeiras” entre Pernambuco e o rio da Prata, de 1516 a 1519 e de 1526 a 1528, ambas realizadas por Cristóvão Jacques, pois os franceses costumavam visitar a costa brasileira entre o cabo de São Roque e a Angra dos Reis, mais fácil e acessível. Em 1524 vamos encontrar Guérard e Roussel, corsários de Dieppe, visitando o Maranhão45. Todo o Brasil setentrional estava completamente abandonado pelo colonizador luso e, portanto, nas mãos de comerciantes de outras nações, aí também incluídos ingleses, holandeses, espanhóis, escoceses, dentre outros. Vale lembrar que, nesta época, o último reduto português era a fortaleza do Natal, edificada em 1599 por Mascarenhas Homem com a participação de Jerônimo de Albuquerque. Este abandono fez o historiador maranhense João Lisboa declarar no livro Jornal do Tímon 46que os franceses não invadiram o Maranhão. Eles ocuparam uma terra vaga, desabitada, e que os donatários régios de Portugal e Espanha estavam sujeitos às penas de comisso, pois já se passara mais de um século sem as terras terem sido ocupadas. Conquistado o Rio Grande, os franceses perderam magnífico ponto de apoio na costa brasílica. O comércio corsário atingia, porém, o seu ponto máximo. Não podiam voltar atrás. Expulsos da Paraíba e do Rio Grande foram mais para o Norte47: Em princípio do século XVII estabeleceram-se no Maranhão Jacques Riffault e Charles des Vaux, que haviam desembarcado em 1594, na aldêa de! São Luis, onde, obtendo a amisade do gentio, fundaram uma colonia. De regresso á França, expoz Charles des Vaux ao rei Henrique IV seu plano de ali fundar uma grande colonia francesa, já que se haviam frustrado as tentativas anteriores, desde as de Villegagnon. 45
MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982; LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO - A COLÔNIA. São Luís: GEIA, 2006, p. 172-173 46 LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON – apontamentos, noticias e observações para servirem à História do Maranhão. 2 volumes. Brasilia: Alhambra, s/d. 47 http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgDqMAG/historia-rio-grande-norte?part=6
Mandou então Henrique IV ao Maranhão Daniel de Ia Touche, senhor de La Ravardíere, que voltando á França, opinou pela execução do plano, cujas possibilidades estudou no proprio local.48(Grifo nosso).
A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada à região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 49. Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 50 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi. Depois, chegando em 1590, e se estabelecendo em 1594, Riffault, Des Vaux, e Davi Migan... E fundam Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão. Quando os franceses foram lançados do Rio de Janeiro (1567) passaram para Cabo Frio e daí para o Rio Real, entre Bahia e Sergipe. Escorraçados dessas paragens, procuraram se estabelecer nas costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a também perseguir os franceses do território do Maranhão51,52, 53,54, 55. Os franceses demoraram a serem expulsos do Rio Grande do Norte por três motivos: porque Portugal tinha uma população diminuta e grande parte dela estava envolvida “em manter conquistas ultramarinas desde o Marrocos à China”, pela importância do comércio de especiarias orientais e pela tibieza do Estado português em se fazer respeitar pela coroa francesa. Outro fator era que aliança com os índios potiguares garantia uma boa retaguarda para os franceses. Como se vê, os corsários franceses deste período não descansavam. Entre Pernambuco e a Amazônia estendia-se uma área que ainda não se encontrava, propriamente, integrada na unidade da Colônia. A presença dos povoadores não se fazia, então, nessa parte do litoral. Era preciso partir para a conquista, batendo-se com invasores e índios, seus aliados56. Jacques Riffault negociava madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica. Levava madeiras do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro. Na hoje Natal, a boa amizade com que Riffault tratava os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território.
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FLEIUSS, Max. OS FRANCESES NO MARANHÃO, SUA RECONQUISTA PELOS PORTUGUESES. SARNEY, José; COSTA, Pedro. AMAPÁ: A TERRA ONDE O BRASIL COMEÇA. Brasilia: Senado Federal, 1999 49 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 50 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 51 Alderico Leandro, in http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html, acessado em 25]/07/2015 52 SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Edição revista por Capistrano de Abreu. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010. 53 http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_do_Rio_Grande 54 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DE CAMOCIM – CEARÁ. 55 http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil 56 http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia
Essa estância pertenceu a Jacques Riffault mais conhecido por Refoles. Foi o mesmo Refoles quem negociou antes da descoberta do Brasil (sic) com os índios potiguares espelhos, tintas e outros objetos em troca de paubrasil, de modo especial as existentes na margem direita do rio Potengí. Essa foto mostra o local onde ficava o corsário francês a negociar com os silvícolas. Longe da colonização de Natal, Jacques Riffault negociou toda sorte 57 de suprimentos e até as mulheres índias que partiram para a França
Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas58. A expulsão dos franceses do litoral do Rio Grande, logo depois de sua expulsão da Paraíba, tornou-se a pedra-angular da colonização, pois só assim estaria confirmada a conquista da região pelos portugueses, porque era o Rio Grande que eles procuravam de preferência, pela sua proximidade dos estabelecimentos e portos paraibanos e pela cordialidade de relações com os potiguares, cujo apoio e auxílio lhes eram valiosos. É de Jacques Riffault a primeira ideia de ocupação do Maranhão. Em 1594, animado pelas boas relações que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, se associou a outros aventureiros, e, com meios suficientes, recrutou e veio para o Brasil em três navios, aportando no Maranhão, longe do local do objetivo inicial, mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao longo do litoral brasileiro59. Sua estada na região do Maranhão tinha começado por um acidente: já fazia viagens regulares à região havia alguns anos, e perdera ali um de seus navios e fora obrigado a deixar parte de sua tripulação. De acordo com 57
CAMARA CASCUDO, Luis da. REFOLES http://www.flickr.com/photos/alderico/7159126836/FERREIRA, Laélio. DE RIFFAULT AO REFOLES OS FRANCESES . Postado por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto http://nataldeontem.blogspot.com.br/2010/11/de-riffault-ao-refoles-os-franceses.html http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a_Equinocial http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/outra-tentativa 58 BONICHON, Philippe; e GUEDES, Max Justo. “A França Equinocial”. In. HISTÓRIA NAVAL BRASILEIRA, primeiro volume, tomo I. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975 BITTENCOURT, Armando de Senna; LOUREIRO, Marcello José Gomes; RESTIER JUNIOR, Renato Jorge Paranhos. Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão. NAVIGATOR 13, P. 76-84 59 INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E MARANHÃO http://www.ahimtb.org.br/confliext2.htm DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII. HORIZ. ANTROPOL. [online]. 2004, vol.10, n.22, p. 67-92. ISSN 0104-7183. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832004000200004&script=sci_arttext SILVA, Paulo Napoleão Nogueira da. A FRANÇA NO BRASIL.
o sitio “NAUFRÁGIOS NO BRASIL/MARANHÃO” consta que o naufrágio da nau de Jacques Riffault se deu em 159060. Para Bueno (2012) 61, Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des Vaux partiram para o Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84). O dia era 26 de julho, o ano 1594, o local, a Ilha de Sant’ Ana: Sr. Redactor, amigo. – Começo esta n´um dia memorável para a província: o em que Jacques Rifault e Charles dês Vaux, primeiros franceses vindos ao Maranhão, chegaram à nossa ilha de Sant’ –Anna, nome que lhe pozerão, com seus quatro capuchinos, no dia desta santa.62 Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Usirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança63. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas” 64. Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para governá-los e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França.65 A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594. Depois de naufragar na costa maranhense, os aventureiros Jacques Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região. Diante do lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo francês para a criação de uma colônia, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarca no Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.66 Os companheiros de Riffault, que ficam em terra tornam-se os “truchements“ - “tradutores” - quando da chegada dos capuchinhos: Os tradutores são geralmente franceses que viveram muito tempo no Brasil, onde praticavam o comércio do pau-brasil e que se associaram à aventura colonial da França equinocial. Dois desses tradutores aparecem nos textos e são citados como sendo os interlocutores aos quais os índios se dirigiam, trata-se de Sieur des Vaux,67 francês de Touraine que se tornou líder de guerra no Brasil sob o apelido de Itajiba (Arm Wrestling) e de Migan, que chegou ainda criança ao Brasil e aí cresceu. Para os líderes indígenas, esses tradutores são, por sua vez, homens brancos, mas também homens que falam sua língua, que compartilham de seus costumes e que estreitaram alianças com eles (CASTELNAU-L’ESTOILE, 2013).68 Os tradutores, os “truchements“, podiam ser em número suficiente para contatos de comércio, porém, para a fundação de uma colônia duradoura, os franceses levaram ao Brasil crianças que deveriam aprender a língua indígena nas aldeias: 60
“NAUFRÁGIOS do BRASIL/MARANHÃO” http://www.naufragiosdobrasil.com.br/maranhao.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o 61 BUENO, Eduardo. BRASIL, uma História. 2ª reimpressão. Rio de Janeiro: Leya, 2012 62 DIÁRIO DO MARANHÃO, 7 de agosto de 1881. Secção Geral – Victória. Mearim, 26 de julho de 1881 63 http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html 64 http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 65 http://planeta-brasil-turismo.blogspot.com.br/2010/05/maranhao-historia.html 66 A invasão francesa no Maranhão. http://deywison3d.blogspot.com.br/2009/04/invasao-francesa-no-maranhao.html 67 (10) Des Vaux, natural de Sainte Maure de Touraine, companheiro de Jacques Riffault, passou muitos anos no Brasil, ele guerreou com os Índios sob o nome de Itajiba, braço de ferro. Partiu à França a pedido de seus companheiros para pedir ao Rei da França a incorporação do Maranhão à coroa. 68 CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. Interações missionárias e matrimônios de índios em zonas de fronteiras (Maranhão, início do século XVII). REVISTA TEMPO, vol. 19 n. 35, Jul. – Dez. 2013: 65-82
O melhor “truchement“ da colônia foi David Migan de Dieppe (para o prenome ver Abbeville Historia, 32 r.), um marinheiro que vivia no Brasil desde o tempo da sua juventude (“qui dés son enfance avoit tousiours demeuré dans ce païs” Claude, Histoire,153 v.). Migan foi o seu nome verdadeiro, talvez um pouco alterado para se pronunciar como “mingau“, produto conhecido na colônia (“bouillie de farine”, ver Yves d’Évreux Suitte, 4 r./Denis 12). Ele foi chamado nos momentos de conflitos entre índios e europeus (Suitte 150 v./Denis 151 r. seguintes) e pôde restabelecer a autoridade dos franceses. Voltou com o Padre Claude à França, sendo provavelmente quem, com os índios, apresentou uma dança para Marguerite de Valois. Malherbe fala dessa dança em uma carta de 15.04.1613, citada em Leite de Faria (1961, p. 192-193). Essa dança é também ilustrada numa folha volante de que falaremos depois. Sabemos que Migan morreu na batalha entre portugueses e franceses, em 1615. O segundo tipo social do “truchement” é representado por Charles des Vaux, que esteve no Brasil em 1594, com uma expedição do capitão Riffault, no Maranhão, da qual fala Abbeville no início do seu livro. Ele ficou ali e vivia como os índios, segundo os seus costumes “se façonnant tousiours aux moeurs e coustumes du païs” (Abbeville, Histoire, 13 r.) Voltou à França para convencer a corte de fundar uma colônia na região. De volta ao Brasil, foi capturado nas guerras com os portugueses e morreu na cadeia em Portugal. Foi um outro tipo de “truchement“: pode ter sido o segundo filho de uma família nobre sem esperança de herdar o domínio e queria fazer fortuna na América. (OBERMEIER , 2005) 69. Des Vaux é aprisionado por Feliciano Coelho, capitão mor da Paraíba – junto com 13 companheiros aqui deixados por Riffaul em 1594, quando do naufrágio na Ilha de Sant´Ana: Ganhando a liberdade e retornando à França, tudo fez des Vaux para divulgar as riquezas da região e incentivar sua colonização pelos franceses. Em 1604, Daniel de la Touche, senhor de La Ravardiere, partiu da França para o Maranhão a mando de Henrique IV, levando à bordo des Vaux. Sua expedição durou seis meses. (AVILA-PIRES, 1989) 70. Para Rubem Almeida (1923) 71, esta se constitui a terceira etapa da conquista do Maranhão: a segunda foi a das tentativas malogradas, ocorridas entre 1539 e 1594: Mais afortunado, porém, foi o Frances Riffault, a quem as próprias tespestades (sic)– diz-se – aos portugueses tão inimigas, vieram atirar ao littoral onde dominava a forte nação dos Tupinambás, iniciando assim, a terceira etapa – a do Maranhão preza que franceses, holandezes e verdadeiros donos vão disputar... É dai, parece-nos razoável affirmar, que verdadeiramente começamos a ter historia. A colonização é obra, ora de leigos, fidalgos alguns como Ravaediére, pirats outros, como de Vaux, ora de missionários que se entregam à catechese. As "vantagens" de colonização do Maranhão eram propagadas desde 1594, quando alguns náufragos franceses liderados por Jacques Riffault se estabeleceram na região. Charles des Vaux, aprisionado no Ceará, regressou à França e difundiu a ideia de que se criasse uma colônia francesa no litoral. 72 69
OBERMEIER, Franz. Documentos inéditos para a história do Maranhão e do Nordeste na obra do capuchinho francês Yves d’Évreux Suitte de l’histoire (1615). BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI, sér. Ciências Humanas, Belém, v. 1, n. 1, p. 195-251, janabr. 2005. 70 AVILA-PIRES, Fernando Dias de. Mamíferos da França Equinocial (Maranhão, Brasil). REV. BRAS. ZOOL. [online]. 1989, vol.6, n.3, pp. 423-442. ISSN 0101-8175. 71 ALMEIDA, Rubem. No decorrer de 424 anos – ligeira synthese histórica do Maranhão. IN DIÁRIO DE SÃO LUIS, 28 de julho de 1923. 72 http://www.infoescola.com/historia/franca-equinocial/ https://books.google.com.br/books?id=vZ1DayOctt4C&pg=RA1-PA30&lpg=RA1PA30&dq=jacques+riffault+%2B+maranh%C3%A3o&source=bl&ots=ewVavOAMv&sig=E9q4gaga6KTIoI7i1pdioEAUyGo&hl=ptBR&sa=X&ved=0CCEQ6AEwATgKahUKEwiT3Pv85bfHAhUBEpAKHbfxA1U#v=onepage&q=jacques%20riffault%20%2B%20mar anh%C3%A3o&f=false
Mas para os seus planos de Riffault e Des Vaux, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial.73 Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) 74 -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas75. No mês de agosto de 1597, uma esquadra francesa composta por treze naus zarpou do rio Potengi para atacar a fortaleza de Cabedelo, em Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa; sabe-se que a alma da ofensiva é Riffault, que frei Vicente do Salvador chama Rifot e os portugueses Rifoles e Refoles76. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil (PROVENÇAL, 2012) 77. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". 78 Em 1604, Pero Coelho de Souza, passou rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contas os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim) 79. Barreto (1958) 80 informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92). O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras, no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu. Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês81. Barreto (2006; 2012) 82, ao narrar a história de Viçosa do Ceará, diz que, por 73
HISTÓRIA DO MARANHÃO http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o FRANÇA EQUINOCIAL http://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/franca-equinocial BANDECCHI, Brasil OCUPAÇÃO DO LITORAL. A CONQUISTA DO NORTE E A PENETRAÇÃO DA AMAZÔNIA. http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 74 Não seria POTE 75 PROVENÇAL, Lucien. LES FRANÇAIS AU BRÉSIL, LA RAVARDIÈRE ET LA FRANCE ÉQUINOXIALE (1612 -1615) par Conférence du mardi 20 mars 2012. Texte intégral et illustration du conférencier mis en page par Christian Lambinet. SOCIÉTÉ HYÉROISE D'HISTOIRE ET D'ARCHÉOLOGIE 76 http://www.natalpress.com.br/cultura.php?id=8067 http://tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_2b.htm 77 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 78 BARRETO, Aníbal (Cel.). FORTIFICAÇÕES NO BRASIL (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 79 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortifica%C3%A7%C3%B5es_do_Camocim 80 BARRETO, Aníbal (Cel.). FORTIFICAÇÕES NO BRASIL (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958 81 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ – História, fatos e fotos. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2006 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ sob um olhar histórico. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012. 82 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ – História, fatos e fotos. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2006 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ sob um olhar histórico. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012.
volta de 1590, franceses provenientes do Maranhão estabeleceram-se na Grande Serra, firmando suas bases junto às principais lideranças Tabajaras. Esses franceses, em número de 16 milicianos, tinham no comando o seu compatriota de nome Adolf Montbille (Adolphe de Montville). Lideravam os nativos o índio Jurupariaçu e o irmão de nome Irapuã, também conhecido por Mel Redondo, se bem que o primeiro tivesse suas possessões no reduto de Biapina ou Ibiapina (p. 12). Atraídos por notícias de existência de ouro, o reduto transformou-se em verdadeira cidade, com cerca de 12 mil indivíduos, incluindo rabinos, calvinistas e católicos se confundindo em suas batalhas de pregação (p. 14). Por 14 anos os franceses estiveram ali, quando chega Pero Coelho, em janeiro de 1604, acompanhado de cerca de cinco mil indivíduos, entre militares, índios validos, velhos, mulheres e crianças. Ao cabo de seis meses os lusos triunfam; os franceses, aprisionados e algemados, são conduzidos a Pernambuco. Em 1607, chega ao local a Companhia de Jesus, chefiados por Francisco Pinto e Luís Figueira. Em 1608, a 11 de janeiro, os índios tucurijus atacam a pequena aldeia; Luiz Figueira sobrevive... (p. 16). Em sua Relação do Maranhão (de 1608) confirma a presença de franceses: Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá. Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia) (NOBERTO DA SILVA, 2012) 83. Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 veem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard (BITTENCOURT, 2008)84. Bittencourt (2008, p. 64) informa que Jacei, filha do cacique Japiaçu era casada com Guérard, e que a outra filha, Aracei, casada com o interpetre Sebastien. Des Vaux era casado com “Lua Cheia”, também filha de Jupiaçu. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos. É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. 83
NOBERTO DA SILVA, Antonio (Organizador). FRANÇA EQUINOCIAL – uma história de 400 anos em textos, imagens, transcrições e comentários. São Luis, 2012. 84 BITTENCOURT, Joana. ITAGIBA o braço de pedra da França Equinocial. São Luis: Grafic Aquarela, 2008
FORTE DO SARDINHA, QUE PROTEGIA MIGANVILLE Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011).
Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34
O Padre Claude D'Abbeville, quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes afirma que a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais Velho foi o primeiro núcleo residencial dos brancos, que se estabeleceram no Maranhão. A primeira a ser ocupada, foi Eussauap85. Segundo Capistrano de ABREU, “EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP86. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais 87, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”. 85
D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 86 IN nota de pé de página em D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975.
Continuemos com Noberto Silva (2011) 88: [...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.
FORTE DO SARDINHA
Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua. 87
MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ Rio de Janeiro : Alhambra, 1987. 88 http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/
A falta de notícias de Riffault fez com que Charles fosse ter com Henrique IV, que então reinava na França, e lhe expusesse o desejo que tinham, não de manter um estabelecimento, mas de fundar uma verdadeira colônia francesa no Brasil. A exposição interessou ao Rei que determinou a Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, oficial da Marinha, viesse para constatar as possibilidades da realização dos planos que acabavam de lhe ser expostos. La Touche, aqui chegando, entusiasmou-se com a empresa e com ele Des Vaux, retornou à França para obter o apoio oficial e decisivo. Henrique IV havia falecido e, como seu sucessor Luís XIII era menor, governava, como Regente, Maria de Médici, que logo apoiou a idéia e sob sua proteção determinou que se tomassem as iniciativas para concretizar os planos de uma posse definitiva e sólida no Maranhão. Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, associa-se a outros comerciantes abastados, como Nicolas de Harlay e François de Razily. A concessão dada pela Rainha-mãe o fora pela promessa de catequizarem o gentio, trazendo em, 1612, quatro frades capuchinhos (Yves DÈvreux, Claude dÀbbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens) e de anexarem à França o território conquistado, com a ajuda dos tupinambás, sob a denominação de França Equinocial. No entanto, encontramos em Evaristo Eduardo de Miranda (2007, p. 162) 89 que essa concessão fora dada pela Regente Maria de Medicis, com o apoio do Conde de Danville, almirante de França e Bretanha, a 1º de outubro de 1610 a Charles dês Vaux, para o estabelecimento de uma colônia ao sul do Equador, com a extensão de 50 léguas para cada lado do forte que ai erigisse. É Charles dês Vaux, segundo esse autor, quem se associa a Nicolas de Harlay e ao almirante Razilly... De acordo com Beatriz Perrone-Moisés (2009, 2013) 90, para os tupis da costa, se havia invasores, não eram os franceses, que sempre lhes pediram licença. Em meados do século XVI, já havia dezenas de pontos no litoral brasileiro nos quais súditos do rei da França tinham instalado bases de apoio para um comércio altamente rentável de pau-brasil e de outras madeiras, especiarias, papagaios e micos: No final do século XVI, uma dessas viagens de navios mercantes daria origem à segunda colônia francesa em território hoje brasileiro: a França Equinocial. Em 1596, um nobre francês de nome Charles des Vaux, depois de ter passado dois anos na costa norte da América do Sul, voltou à França para promover a ideia de estabelecer ali uma colônia. [...] A região estava “vazia” – como diziam – de ocupação europeia. Os franceses contavam com a aliança dos nativos, que já haviam declarado a des Vaux sua disposição de receber mais deles em suas terras. Além disso, o lugar proposto, bem próximo da linha equinocial, ou Equador, tinha um clima abençoado, de temperaturas constantemente amenas, com muito sol e fartas riquezas, além de muitas terras férteis, regularmente regadas por chuvas e cortadas por grandes rios de água límpida. Uma colônia ali tinha tudo para prosperar e só poderia contribuir para a grandeza do reino de França. Henrique IV convocou outro fidalgo, Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, e ordenou-lhe que fosse com des Vaux para a região. Partiram em 1607, e La Ravardière pôde comprovar os relatos de des Vaux [...]. Em busca de parceiros, [La Ravardière] encontrou dois outros nobres interessados em investir tempo e recursos numa nova colônia: François de Rasilly e Nicolas Harlay de Sancy. Em 1611, a rainha regente nomeou-os “lugares-tenentes generais nas Índias Ocidentais e terras do Brasil”. Comprometiam-se a fundar no Maranhão uma colônia, para “o engrandecimento da França e a expansão da fé”. O monopólio do comércio na região, concedido pela Coroa, viabilizaria o projeto. (PERRONE-MOISÉS, 2009). 89
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO – uma história desconhcida da Amazônia. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2007 90 PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Outra tentativa. REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/outra-tentativa, 2/10/2009, PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São Paulo: Edusp, 2013.
Interessante, que a escolha para edificar o forte, segundo Meireles (2012, p. 21)91: [...]seria escolhida justamente a Ilha da Trindade92, também então conhecida como das Vacas. Das Vacas, possivelmente, pela tradução deturpada e literal do gentílico pessoal de Charles dês Vaux; mas Varnhagen diz que a das Vacas não era a Upaon-açú, e sim a Upaon-Mirim, a de Sant’ Ana.
Gaspar e Licar (2012, p. 24) 93 esclarecem: A ilha, hoje de São Luis, ou do Maranhão, como também é chamada, e que os indígenas diziam UpaonAçú, ilha grande, além dos nomes Trindade e das Vacas, teve os de Ilha do Ferro e de Todos-os-Santos, como pretendeu batizá-la Alexandre de Moura. Carlota Carvalho, em seu ‘O Sertão’ (200094), diz que, quando a ela chegou Jacques Riffault, em 1594, ela era conhecida como de Jeviré95.
Em 1614, na célebre batalha de Guaxenduba, os franceses comandados por De Pizieuz foram fragorosamente derrotados, apesar da superioridade numérica (quase 500 homens) e bélica, sendo mortos 115 franceses e aprisionados nove. Seguindo projeto feito pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita iniciou-se a construção de um povoado, próximo ao forte deixado pelos franceses, sendo a primeira povoação no Brasil a ter a sua planta previamente traçada em uma malha urbana octogonal, posicionada no sentido dos quatro pontos cardeais. Corroboram a afirmativa da existencia de outros fundadores – além de LaTouche e Razzily (FERRO, 2014) – as discussões em torno de comemorações do aniversário de São Luís, ocorrida no inicio do século passado, conforme publicação dos jornais “Diário de São Luís”, e “A Pacotilha”, de 26 de agosto de 1922. A proposta - feita pelos Professores Raimundo Lopes, Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva - de um marco comemorativo – projeto de Paula Barros - em que deveriam constar o nome dos fundadores; incluo Migan; no Diário de São Luis, sob o titulo O Centenário: O município escolheu o dia 8 de setembro para a sua parte nas festas do centenário, por ser esse o dia da fundação da cidade de São Luiz em 1612, pelos franceses comandados por La Raverdiére. Entre outras homenagens à data, o Sr. Coronel prefeito municipal, depois de se entender com os Srs. Dr. Antonio Lopes, professor Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva, resolveu inaugurar na Avenida Maranhense, em frente à CSA do Município, um marco comemorativo da fundação da cidade, que perpetue o acontecimento e lembre os nomes dos fundadores. O projeto, elaborado pelo Sr. Paula Barros de acordo com as indicações dos professores acima, comporta um obelisco de mármore em assente num plinto do mesmo material. Numa das faces do plinto será gravada a flor de lis simbólica da França ao tempo da fundação. Na parte oposta, o escudo do Estado. Nas duas outras faces inscripções, sendo uma alusva a inauguração com a data – 8 de setembro de 1922 – e a outra com os nomes de Charles dês Vaux, Ives d´Evreux e Claude d´Abeville, os funddores de São Luis, e a da – 8 de setembro 1612. O marco terá ao todo 5m, 24 de altura.
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E na Pacotilha, sob o titulo A festa do Centenário: 91
MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS. (Org. GASPAR, Carlos ; LICAR, Caroline Castro. São Luis : Faculdade Santa Fé, 2012. 92 Gaspar e Licar, em nota 7, do livro de Meireles (2012) informam que o nome de Trindade, dado à ilha de São Luis, vem de 1513, desde a discutida viagem de Diogo Ribeiro a região. Ribeiro do Amaral (Diário Official, 27 out. 1911, O Maranhão Histórico) admite que o tenha sido pelos fundadores de Nazaré, em 1535, em homenagem aos três associados - João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha. (p. 23). 93 GASPAR, Carlos ; LICAR, Caroline Castro (Organizadores). Em nota 24 em MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS. (Org. GASPAR, Carlos ; LICAR, Caroline Castro. São Luis : Faculdade Santa Fé, 2012. 94 CARVALHO, Carlota. O SERTÃO. Imperatriz: Ética, 2000 95 Nazaré? Os fundadores de Nazaré, em 1535, eram, os três associados, João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha (Ribeiro do Amaral (Diário Official, 27 out. 1911, O Maranhão Histórico). 96 O CENTENÁRIO. DIÁRIO DE SÃO LUÍS”, de 26 de agosto de 1922.
Tendo o municipio escolhido o dia 8 de setembro para as suas homenagens ao centenário da independencia nacional esta sendo elaborado um programa para esse dia, do qual sabemos constar a inauguração do marco comemorativo da fundação da cidade de S. Luis, ocorrida no dia 8 de setembro de 1612. É uma ideia feliz. Não há na cidade uma lembrança do feito inicial da vida do Maranhão, essa aventura da França Equinocial que tanto se individua como episódio à parte da história do Brasil. Sabe-se o dia em que se fudou São Luis, sabe-se que o ato solene da fundação teve lugar na esplanada hoje correpondente á Avenida Maranhense, e não há nada na cidade que rememore o seu começo. O marco que isso lemmbre será um momento indispensável. O marco comemorativo da fundação da cidade foi enomendado hoje. Executa-lo-a, sob projeto do sr. Paula Barros, e dentro da brevidade do prazo daqui até 7 de setembro, o marmortista sr. A. F. Brandão. O projeto consta de um obelisco de marmore que assentará sobre um plinto em cujas faces se lerão uma inscrição alusiva a inauguração, com a data de 8 de setembro de 1922 e outra com os nomes de La Raverdiere, Charles des Vaux, Claude d´Abbeville e Ives d´Evreux. Nas duas outras faces, a flor de lis simbolo da França e o escudo do Maranhão. O monumento terá, ao todo 5,m24. Para comemorar a tomada de São Luis pelos portugueses, ergue-se, remodelada, com a estatua de N. S. da Vitória, a nossa Catedral. 97 Ou conforme consta no Diário de São Luis, de 20 de junho de 1946: MARCO COMEMORATIVO DA FUNDAÇÃO DA CIDADE Na avenida Pedro II, praça do tempo da Missão Francesa, foi levantado o “Marco Comemorativo da Fundação da Cidade de S. Luiz”, erigido pelo município, no centenário da independência nacional, a 8 de setembro de 1612. Sobre uma base toc de pedras do Estado foi assentado um prisma retangular revestido de mármore, ao cimo do qual descansa uma pirâmide de granito maranhense, levantada por garras da mesma pedra. Numa face do pedestal foram gravados os nomes das proeminentes figuras da missão: Charles dês Vaux, Rasilly, La Ravardiére, Ives d´Evreux, Claude d´Abeville – 8 de setembro de 1612.98 A partir da França Equinocial o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco das Tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará. Tal divisão era praticamente igual aos limites extra-oficiais do empreendimento conquistado por Riffault, Des Vaux, e Davi Migan, e depois capitaneado por La Ravardière... Miganville era sua capital... 97 98
A FESTA DO CENTENÁRIO. A PACOTILHA”, de 26 de agosto de 1922. HISTÓRIA DOS NOSSOS MONUMENTOS. DIÁRIO DE SÃO LUIS, de 20 de junho de 1946
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Palestra “Do Vinhais Velho à Ponta D’Areia: um reduto que deu início a São Luís, ministrada pelos confrades Antônio Noberto e Leopoldo Vaz em celebração ao Ano Cultural do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Uma das instituições mais tradicionais e queridas do Maranhão se prepara para celebrar os seus 125 anos de relevantes e dedicados serviços à causa da educação e da formação de tantas gerações. Será com prazer que voltarei ao meu Colégio Santa Teresa para uma palestra durante o Seminário Educação Doroteana às 18h do dia 03 (quinta-feira).
O ESTADO MA, ED. 05/06/01/2019 â&#x20AC;&#x201C; PH REVISTA
O STADO MA, COLUNA PH, 12/12/01/2019
De partida para Portugal para ministrar uma palestra no I CONGRESSO GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS, em Lamego, o qual promete ser um evento jurídico internacional do mais alto nível...
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher...
Artigo antigo publicado em O Estado do Maranhão. Em breve tem que ser atualizado com a presença da ilustre Ana Luiza Almeida Ferro
BRUNO TOMÉ O ESTADO MA, ED. 05/06/0 1/2019 – PH REVISTA
O ESTADO MA. COLUNA TAPETE VERMELHO, EVANDRO JUNIOR, 12/13/01/2019
O ESTADO MA 20/01/2019
DILERCY ARAGÃO ADLER
Lançamento do Livro Maria Firmina dos Reis. Faces de Uma Precursora. Maria Firmina nasceu em São Luís do Maranhão. É a primeira romancista negra do Brasil. Associação Maranhense de Escritores Independentes AMEI. Academia Ludovicense de Letras. Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
GUIMARÃES, FALANDO EM NOME DA AMEI E DO IHGM
Foto da primeira reunião presencial onde foram tratados assuntos pertinentes aos preparativos para o "II Encontro Nacional de Pesquisador@s sobre Maria Firmina dos Reis", que acontecerá, em outubro desse ano, na Universidade Federal do Maranhão, em parceria com a Feira do Livro de São Luís, a FeLiS. Parabéns a todos. Especialmente a Dilercy Aragão Adler, minha confreira amiga. DEZ!
Rafael Balseiro Zin está com Dilercy Aragão Adler e outras 3 pessoas em Biblioteca Mário de Andrade. 13 de fevereiro às 19:03 · São Paulo E, assim, terminamos a nossa primeira reunião presencial para tratarmos dos preparativos para o II Encontro Nacional de Pesquisador@s sobre Maria Firmina dos Reis, que acontecerá, em outubro desse ano, na Universidade Federal do Maranhão, em parceria com a Feira do Livro de São Luís, a FeLiS.
Carvalho JuniorCurtiu 4h· ANTOLOGIA POETAS LOCAIS INTEGRANTES DA NOITE UNIVERSAL. Org. Carvalho Junior & Ricardo Leão. Disponível para download na página da QUATETÊ. https://wordpress.com/post/quatete.wordpress.com/664 Autores presentes na antologia: ANTONIO AÍLTON/ BIOQUE MESITO/ CARVALHO JUNIOR/ DILERCY ADLER/ FRANCK SANTOS/ HELOÍSA SOUSA/ JOSÉ NERES/ LINDEVANIA MARTINS/ LUIZA CANTANHÊDE/ NEURIVAN SOUSA/ PAULO RODRIGUES/ RAFAEL J. OLIVEIRA/ RICARDO LEÃO/ ROBERTO FRANKLIN/ SALGADO MARANHÃO/ SAMARA VOLPONY/ SAMUEL MARINHO/ SANDRO FORTES/ SILVANA MENESES/ TARCÍSIO SILVA/ WYBSON CARVALHO.
DOIS POEMAS INÉDITOS DA POETA DILERCY ADLER (1950) - A MUSA DAS ESTRELAS MARANHENSE [1]
Dilercy Aragão Adler é uma poeta contemporânea das mais combativa e empática, no que toca a busca do empoderamento do ser humano, através do conhecimento profícuo em Educação, em Psicologia , em Literatura e nas Artes, de um modo geral. A poeta, escritora e conferencista nasceu em São Vicente Férrer, Maranhão, em 1950. É Psicóloga. Doutora em Ciências Pedagógicas - Cuba (revalidação na UnB-Brasilia); Mestre em Educação pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA; Especialização em Metodologia da Pesquisa em Psicologia e Especialização em Sociologia pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA. É aposentada pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA. É membro do Banco de Avaliadores do Sinaes - BASIS/INEP/MEC. DAS OBRAS DILERCYANA:
A poética Dilercyana tem a marca da sensibilidade que se esgarça em ondas furtivas quando sutilmente se espraia na areia dourada das águas do seu mar em Calhau, entretanto, às vezes, parece arrebentação em rochedos em uma tarde de pôr de sol. Delicie-se, ó leitor (a) perspicaz, com esses dois inéditos dessa esplendorosa poeta e pesquisadora brasileira, cuja voz se eleva ao mundo para do amor incondicional cantar, como tão bem insinua a sua lírica- um opus: AFOGADA Choro derramando lágrimas rosto baixo ou engasgando pranto na garganta... a boca sem som -amordaçada pela dor ou pelas mãos ... ... me afoga! dói o peito... lancinante dor rasgando tudo e muito sem antecedentes nem depois ... só somente dor! afoga a dor afoga a chama!... aquele nó na garganta se avoluma ferindo a alma... a angústia e a ruga na testa o tremor nas mãos a insônia o pesadelo me acordam convulsivamente e vomito ruidosamente toda a dor sentida negada agora devolvida disformemente exatamente para não me afogar quando o que eu preciso é só somente só de afago! Dilercy Adler 24/2/2019 “Afogada” é uma metáfora que o sujeito poético recorre para nos despertar para a importância das relações interpessoais e/ou amorosas em nossas vidas, porque é necessário a pessoa humana à percepção de que esse ‘nó na garganta’ e ‘vômito’ são os sintomas de um ‘mal-estar’ social marcado pela indiferença diante da ‘dor’ do Outro
Em “ Antes que Seja Tarde”, Dilercy Adler através de sua lírica feminina engajada, consciente e determinada, denuncia a apatia de um coletivo já no tédio de uma vida insípida, posto que a ‘cegueira’ diante do que está posto no presente e no país:
Acorda e vê! Abre os olhos e vê! Não apenas o que desejas mas - de fato o que existe mesmo que te desagrade mesmo que seja triste! acorda e vê! Abre os olhos e vê! A perfídia o egoísmo a inveja e a ambição mesmo quando o que desejas seja a igualdade a felicidade e a união... acorda e vê! Abre os olhos e vê! Quem diz amar seu país quando de fato – não amar, quer só poder - o infeliz – e o povo fica a sofrer acredita no que ele diz obedece aplaude defende e esquece o que não devia esquecer a panela vazia a fome corrosiva a doença sem remédio a morte antecipada sem assistência... sofrida a casa que desaba dia a dia e soterra corpos sonhos enterra a alma na lama que o dinheiro vendeu. Acorda e vê! Abre os olhos e vê! Quem a guerra incentiva para usar foguetes ogivas e grandes lucros obter... abre!
- abre mesmo logo os olhos vê quem só ama a sua vida e para a vida dos outros não liga pode ser aniquilada pode acabar na rua e morrer! Morrer de fome morrer de tédio morrer do ódio que vitimiza! acorda e vê! Abre os olhos e vê! A bala direcionada ao coração de quem se ama e quer muito muito viver mas termina morrendo envenenado por agrotóxicos vorazes morre à míngua afogado em mentiras sem conhecimento algum... a vida morre acaba na rua sem paz sem lua sem poesia alguma! São Luis do Maranhão - Brasil A repetição da palavra ‘acordar’, no sentido de ‘tomar consciência’, engajar-se em um projeto de vida, consigo mesmo e com o outro. No sentido de ver, ‘enxergar’ e/ou ‘compreender’ que a realidade é a sociedade já em completa ‘aporia’, na opção já não dissimulada, factual, do Brasil como um campeão mundial em uso de agrotóxicos. Na repetição também da deterioração do meio ambiente e da biodiversidade por parte das mineradoras e das barragens com seus ‘crimes ambientais’, que por eufemismo encobrem a violência urbana, a violência da bancada ruralista no Congresso Um triste retrocesso em saber e sabor, uma escolha por caminhos sem volta, se pensarmos que, escreve Paulo Petersen- “Um Grito Contra o Silêncio”, seu prefácio para o “Dossiê ABRASCO- Um Alerta Sobre os Impactos dos Agrotóxicos na Saúde”, já em 1962, Rachel Carson ( bióloga norteamericana), com a publicação de ‘Primavera Silenciosa – um marco no despertar do ecologismo político, denunciando ‘os efeitos nocivos de uma tecnologia transplantada da indústria bélica para a agricultura e que se disseminou globalmente após a Segunda Guerra Mundial, com o projeto político-ideológico da Revolução Verde. Não sem razão, Carson questionou o sentido de uma civilização que optou por travar uma guerra contra a vida’ (2015:27). “Antes que Seja Tarde” nos alerta no tempo ‘kairós, tempo do presente, tempo do instante preciso, na quarta estrofe do poema o eu-poético diz: ‘acorda e vê!/Abre os olhos e vê!/ A bala direcionada/ ao coração de quem se ama/ e quer muito viver/mas/ termina morrendo envenenado/ por agrotóxicos vorazes/morre à míngua/ afogado em mentiras/sem conhecimento algum...” Sabe-se que ‘agrotóxicos vorazes’ faz referência, principalmente ao ‘Voraz’, um inseticida sistêmico com ação de contato e ingestão, tão violento quanto a voracidade da bancada ruralista no Congresso sem limites, transformando a atual Lei de Agrotóxicos a seu bel-prazer, alterarando-a para pior, mascarando a
nocividade: ‘defensivo fitossanitário’. Violentando os alimentos, adulterando a vida, desviando os sonhos, minando a esperança de povo e nação democrática. Um artigo publicado em ‘Moncabay.com”, mas também no ‘Carta Capital’, alerta: O poder das empresas Os dez maiores fabricantes faturaram 7,9 bilhões de dólares, muitas delas corporações transnacionais que legalmente fabricam agrotóxicos em países desenvolvidos onde os produtos químicos tóxicos são proibidos para uso e os exportam para países em desenvolvimento, onde o uso é legalizado. Syngenta, Bayer e Basf são três exemplos. A Syngenta produz atrazina e paraquat, ambos proibidos pela EU e comercializados no Brasil. Embora a Anvisa considere que o paraquat representa ‘riscos inaceitáveis à saúde e o proibirá no Brasil a partir de 2020’, a Syngenta defende a manutenção da oferta do produto. Procurada pela reportagem, a Bayer admitiu que vende carbendazim. Já a Basf esclareceu que ‘no Brasil não produz atrazina, paraquat, acefato ou carbendazim, mas não confirmou se produz ou não essas substâncias na EU ou em outro lugar e depois as vende no Brasil. A ameaça à saúde e ao meio ambiente que essas substâncias representam não estão restritos ao Brasil. Os alimentos que recebem os defensivos são exportados para o mundo todo. A soja brasileira, cítricos, uva e café são consumidos em grande escala na EU e nos Estados Unidos, enquanto que a soja brasileira alimenta a pecuária e a avicultura no Brasil e em diversos países. Por esse motivo, os resultados da Anvisa em relação aos resíduos em alimentos levantam sérias preocupações com relação aos produtos brasileiros vendidos consumidos no exterior. Essa é uma questão em particular que a China talvez queira questionar, já que avalia mudar suas principais compras de soja e carne bovina dos EUA para o Brasil devido à guerra comercial entre os países. No ano passado, o Comitê de Especialistas do Reino Unido sobre Resíduos de Pesticidas em Alimentos (Prif, na sigla em inglês), um órgão independente que presta assessoria ao governo, encontrou carbofuran acima do limite legal em limões importados do Brasil.O relatório da Prif indicou que, se todo o fruto contaminado fosse consumido, “as pessoas poderiam apresentar sinais transitórios de toxicidade colinérgica, como dor de cabeça, distúrbios do estômago, salivação e resposta reduzida da pupila”. O carbofuran é proibido no Reino Unido desde 2001 e banido nos EUA há quase uma década por apresentar “um risco alimentar inaceitável, especialmente para as crianças, de consumir uma combinação de alimentos e água com resíduos”. Ele só foi proibido no Brasil no segundo semestre do ano passado, daí sua recente aparição nos limões no Reino Unido. “É um duplo padrão que a União Europeia está satisfeita em importar produtos que são cultivados com pesticidas que foram considerados inseguros para uso na EU, como resultado de preocupações com a saúde humana ou danos ambientais”, afirma Nick Mole, diretor de política da Pesticide Action Network do Reino Unido. ( Carta Capital, 29 de agosto de 2018) Tanto “Afogada” quanto “Antes que Seja Tarde”, de Dilercy Adler explicita a ideia de que os efeitos da ‘felicidade ético-política’ serão sentido quando se ultrapassar a prática do individualismo e do corporativismo para abrir-se à humanidade. Para tanto é necessário que a poesia consciente se arvore tanto no público quanto no privado em uma política-pedagógica voltada para ‘educação e saúde’, porque caso contrário ‘a vida morre /acaba na rua/ sem paz/ sem lua/ sem poesia alguma!’(na últimos versos do segundo poema) e para que nada disso aconteça é preciso também o despertar para o conhecimento essencial em que a vida esteja no centro do pensar humanizado, ‘para não me afogar/ quando o que eu mais preciso/ é só/ somente só/ de afago!”
Os poemas inéditos da poeta maranhense intertextualiza com a informação jornalística da ‘Carta Capital’, que transcrevemos: Antônio Luís trabalhava em uma fazenda de soja no Maranhão onde preparava a mistura de substâncias para aplicação na lavoura. Em 2009, quando sua máscara de proteção parou de funcionar, ele alertou a chefia, mas foi instruído a voltar ao trabalho e parar de reclamar. Três dias depois, desmaiou. Um ano mais tarde, teve um derrame. O médico confirmou: Luís havia sofrido intoxicação por agrotóxicos. A receita preparada todas as manhãs era um composto de Zap, 2,4-D e Cobra. Em abri, Franciana Rodrigues, então estava grávida de 5 meses, saiu de casa na motocicleta do irmão. Enquanto se afastava de sua comunidade, cercada por duas grandes fazendas de soja, um avião pulverizou uma substância que a atingiu. No mesmo instante, suas pernas começaram a doer e vieram enjoo e tontura. Franciana foi levada para um hospital local e exames de sangue revelaram o envenenamento por agrotóxicos. Transferida às pressas para um segundo hospital, a 5 horas de distância de Araguaína (TO), onde vive, ficou sete dias internada. “Eu não conseguia respirar, quase morri”, recorda. Na época, o médico advertiu que ela tinha pressão alta, sofria de infecção nos rins e que o parto precisaria ser por cesariana devido à falta de ar de Franciana, “ Se eu não estivesse usando um capacete, teria sido meu fim”. O proprietário da terra em que os pesticidas foram pulverizados visitou Franciana logo depois que ela chegou do hospital e se ofereceu para pagar as despesas médicas e custos com alimentação durante os meses que antecederam o nascimento do bebê. Em troca, pediu silêncio. (...) ‘Zap’ (glifosato, ingrediente ativo do Roundup da Monsanto), ‘Cobra’ é uma marca registrada de Lactofen, substância proibida na União Europeia e usada legalmente no Brasil. O perigo não coloca em risco apenas trabalhadores agrícolas e populações que vivem nas regiões pulverizadas: muitos agrotóxicos permanecem no meio ambiente e nos alimentos consumidos. Existem hoje 150 substâncias autorizadas para uso no Brasil apenas na cultura da soja, 35 deles proibidos na Europa, segundo a professora da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Bombardi. Entre os considerados mais perigosos e amplamente utilizados nas fazendas brasileiras estão acefato, atrazina, carbendazim e lactofentodos proibidos na Europas. ( Carta Capital, 29 de agosto de 2018 Assim caro (a) leitor(a), você saberia quais os alimentos com mais veneno que são vendidos no Brasil? Segundo a Anvisa, é o pimentão (seja ele verde, vermelho ou amarelo). Seguido por uva, pepino, morango, abacaxi, couve, mamão, alface, tomate e beterraba. Poeticamente colocamos a contribuição de pesquisas:
ANTONIO NOBERTO Mundo passaporte: Um pouco sobre a história do Complexo Deodoro e dos bustos da Praça Panteon com os acadêmicos Antônio Noberto e Antonio Guimarães. https://youtu.be/LHZYi3Efzok https://youtu.be/-uUqwWH_nj4
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CULTURA E HISTÓRIA NO COMPLEXO DA PRAÇA DEODORO EM SÃO LUIS - MA. PARTE 01 CULTURA E HISTÓRIA NO COMPLEXO DA…
PALESTRA "DO VINHAIS VELHO À PONTA D’AREIA" ABRE ANO CULTURAL DO IHGM
DO VINHAIS VELHO À PONTA D’AREIA: um reduto que deu início a São Luís é o título da palestra a ser ministrada por Antônio Noberto da Silva e Leopoldo Gil Dúlcio Vaz, na Abertura do Ano Cultural do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM. A solenidade, marcada para o dia 31 de janeiro, às
17h, no auditório da instituição, localizada na Rua de Santa Rita, esquina com a Rua Grande, será responsabilidade do presidente do IHGM, Professor José Augusto Silva Oliveira. A propósito da palestra, entre os séculos XVI e XVII, existia na área de São Luís um reduto francês, cujos integrantes lançaram as bases do que seria a capital da França Equinocial, localizadas entre o Vinhais Velho e a Ponta D’Areia, eixo protegido pelo Forte Sardinha, rebatizado por Alexandre de Moura de Forte de São Francisco. Segundo um dos palestrantes, Antônio Noberto, sócio efetivo do IHGM e, também, da Academia Ludovicense de Letras, da qual é Presidente, “[...] a palestra de Abertura do Ano Cultural, será, na verdade, uma viagem no tempo e no espaço. RevelaM-se, nela, as razões do projeto França Equinocial sendo a cidade de São Luís o legado mais significativo desse empreendimento colonial francês. Os palestrantes, Antônio Noberto e Lepoldo Vaz, este também membro do IHGM, sustentam o discurso deles, no evento, nos mais respeitados estudiosos da História e da Cultura brasileiras. Entre as vozes ouvidas, destacam-se Rubem Almeida, Eduardo Bueno, Ribeiro do Amaral e Alderico Leandro. Para o Presidente do IHGM, Professor José Augusto Silva Oliveira, “[...] iniciar o Ano Cultural tendo palestra cujo objeto é a cidade de São Luís, evidencia o interesse da instituição que dirige no que diz respeito à socialização das informações sobre a capital maranhense. São Luís é uma cidade universal. As pessoas, notadamente as que aqui moram, não podem, então, ignorar a história dela”, concluiu José Augusto Oliveira.
Palestra no dia 31 será o coroamento desta entrevista no Café com a Elda Borges. Avante Vinhais Velho.
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Inspetor da PRF fala sobre literatura Antônio Norberto foi recebido no Café com Elda Borges
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CULTURA E HISTÓRIA NO COMPLEXO DA PRAÇA DEODORO EM SÃO LUIS - MA. PARTE 01 CULTURA E HISTÓRIA NO COMPLEXO DA…
Divulgar a história do Maranhão é a minha maior alegria. Nosso estado é disparado quem tem a história mais rica, porém, atualmente, somos um estado pobre. Isso precisa mudar. Nossas cabeças, mentes e almas precisam voltar a ser grandes e abertas como o foi no passado, quando São Luís era a quarta cidade do Brasil. Precisamos voltar a ser a "Capital da França Equinocial, a Atenas Brasileira e "la Petite ville aux palais de porcelaine" (A cidadezinha dos palácios de porcelana). Nas imagens abaixo o grande radialista e amigo Robson Junior e em uma gostosa entrevista para o programa Mirante Repórter, realizado pela repórter e amiga Regina Souza.
http://g1.globo.com/…/reporter-mirante-relembra-vi…/7386855/ Mirante Repórter com a minha participação... falando sobre as igrejas de São Luís
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Repórter Mirante relembra visita a igrejas de São Luís - G1 Maranhão - Vídeos - Catálogo de Vídeos Catálogo de Vídeos
Repórter Mirante sobre o Complexo Deodoro. Programa exibido no dia 16 de março de 2019. As três partes: http://redeglobo.globo.com/…/espaco-revitalizado-e…/7460589/ http://redeglobo.globo.com/…/turistas-e-moradores-…/7460608/ http://redeglobo.globo.com/…/complexo-deodoro-reun…/7460640/
DANIEL BLUME POSSE FORMAL COMO CONSELHEIRO FEDERAL DA OAB.
lançamento europeu do livro “ASPECTOS POLÊMICOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL LUSO-BRASILEIRO”, pela Legit Edições, dedicado ao Prof. Doutor Pedro Trovão do Rosário, dia 14.02.2019, 18:30h, no Auditório 01 da Universidade Autônoma de Lisboa - UAL, Palácio dos Condes do Redondo, Rua Santa Marta, n. 56, Lisboa, Portugal. Cordialmente, Daniel Blume (coorganizador/co-autor).
Avocat, le poète Daniel Blume, en allusion à la formalité du complet comme habit que la profession exige, donne, avec sa sensibilité forte et concise, des réponses à des multiples expériences, postures et circonstances, propres à son temps, sa profession et des exigences imposées par la société dans laquelle il vit et travaille. Transfigurées, mises en papier, moulées en lettres et en mots, les "réponses" révélées dans un langage poétique, remplissent leur objectif qui est de provoquer des émotions.
Avvocato, il poeta Daniel Blume, in allusione alla formalità del completo come vestiario usuale che la professione richiede, dà, con la sua forte e concisa sensibilità, risposte a multiple esperienze, atteggiamenti, appelli e circostanze propri del suo tempo, della sua professione e delle esigenze imposte dalla società in cui vive e lavora. Trasfigurate, collocate su carta, fuse in lettere e
parole, le "risposte" rivelate in linguaggio poetico, soddisfano il loro scopo, ovvero quello di provocare emozione.
IRANDI MARQUES LEITE Lançamento do livro Baile a Meia Luz. Homenagem ao cantor Walber Carvalho e a seresta do Maranhão Atlético Clube. Autores do livro: Maria Nilza Lima Medeiros, Raimundo Nonato Medeiros da Silva e Irandi Marques Leite. Local: Livraria e Espaço Cultural AMEI Shopping São Luís, São Luis do Maranhão.
ANTONIO AÍLTON
ANTOLOGIA POETAS LOCAIS INTEGRANTES DA NOITE UNIVERSAL. Org. Carvalho Junior & Ricardo Leão. Disponível para download na página da QUATETÊ. https://wordpress.com/post/quatete.wordpress.com/664 Autores presentes na antologia: ANTONIO AÍLTON/ BIOQUE MESITO/ CARVALHO JUNIOR/ DILERCY ADLER/ FRANCK SANTOS/ HELOÍSA SOUSA/ JOSÉ NERES/ LINDEVANIA MARTINS/ LUIZA CANTANHÊDE/ NEURIVAN SOUSA/ PAULO RODRIGUES/ RAFAEL J. OLIVEIRA/ RICARDO LEÃO/ ROBERTO FRANKLIN/ SALGADO MARANHÃO/ SAMARA VOLPONY/ SAMUEL MARINHO/ SANDRO FORTES/ SILVANA MENESES/ TARCÍSIO SILVA/ WYBSON CARVALHO.
JOÃO BATISTA ERICERIA Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher...
2019: Ano de MARANHÃO SOBRINHO
Poeta Kissyan Castro Lança Livro Em Homenagem A Maranhão Sobrinho, No Dia 30/12 Na Academia BarraCordense De Letras No Centenário de morte de Maranhão Sobrinho, o poeta Kissyan Castro, conterrâneo do autor de Papéis velhos, Estatuetas e Vitórias Régias, fará lançamento do livro Maranhão Sobrinho – Poesia Esparsa, o evento vai acontecer na Academia Barra-cordense de Letras no dia 30/12 as 19hs
. Por Celso Borges Especial para o Estado do Maranhão http://www.barradocorda.com/destaques/barra-cordense-lanca-livro-em-homenagem-ao-centenario-demaranhao-sobrinho/ O poeta Maranhão Sobrinho morreu há exatos 100 anos, no natal de 1915, em Manaus, de cirrose hepática, cinco dias antes de completar 36 anos de idade, longe de sua Barra do Corda (MA), onde nasceu em 1879. De lá pra cá sua obra viveu quase na sombra. A grandeza de sua poesia não merecia tanto descaso. Pra começar a virar a página desse esquecimento, o poeta Kissyan Castro, conterrâneo do autor de Papéis velhos, Estatuetas e Vitórias Régias, está lançando o livro Maranhão Sobrinho – Poesia Esparsa, que reúne 105 poemas inéditos, coletados de sua vasta produção dispersa em publicações da imprensa. 1- Que outro conteúdo o trabalho traz além dos poemas inéditos? O livro é uma edição alusiva ao Centenário da Morte de Maranhão Sobrinho. Assim, pensei incluir também um apêndice que contivesse informações pertinentes ao evento, como por exemplo: Que repercussão teve sua morte? Houve de fato algum projeto que concedeu perpetuidade à sua sepultura? E por que, então, essa lei foi violada? Maranhão Sobrinho deixou algum trabalho inédito? Onde se encontra hoje o seu espólio
literário? O que dele disseram os amigos de convívio e a crítica nacional? O trabalho é complementado por uma extensa biografia do poeta, a que preferi chamar de “Itinerário Biográfico”, tanto pelo duplo circuito São Luís-Belém-Manaus, como pelo caráter dinâmico das raras “paradas” de Maranhão Sobrinho. 2- O livro revela alguma grande descoberta biográfica? Ao organizar a parte biográfica, procurei incluir o máximo de elementos novos e, entre esses, algumas grandes descobertas. Por exemplo, quando ele deixa Barra do Corda, sua intenção era seguir para o Rio de Janeiro, onde pretendia cursar engenharia na Escola Militar, mas acaba mudando de ideia. Fica um tempo em São Luís e depois vai para Belém. Ali, num primeiro momento, envolve-se no jornalismo engajado, político, militante, em protesto às injustiças sociais. Acreditava-se que a vida inteira de Maranhão Sobrinho girava em torno do sonho jamais realizado de transferir-se para a capital do país e publicar ali sua “obra prima”. No entanto, quando a tão esperada oportunidade lhe é oferecida pelo governador Luís Domingues, amigo de Urbano Santos, então vice-presidente da República, rejeita e prefere seguir para Manaus. Até então acreditávamos que a atuação poética de Maranhão Sobrinho limitava-se ao seu estado natal, Pará e Amazonas, mas acabei encontrando poemas e artigos de jornais e revistas também no Ceará, Pernambuco, Alagoas, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, dentre outros, onde já usufruía, mesmo em vida, do respeito e reconhecimento do seu gênio poético. 3- Por que a obra de Maranhão Sobrinho é tão importante? Qual o seu diferencial como poeta simbolista? O escritor Josué Montello disse certa vez que “o que distingue Maranhão Sobrinho é a clareza simbólica”. O verbo “sugerir”, caro à estética simbolista, é raramente encontrado em sua obra. Esforça-se antes por desvelar sua tragédia interior. “Do modo que ele recebe a impressão das coisas, assim a transmite; do modo que lhe vem a comoção assim a exterioriza”, disse dele Nascimento Moraes. Além disso, não devemos esquecer que Maranhão Sobrinho transitou pelo Romantismo, Parnasianismo e Simbolismo com maestria, sem dever a nenhum daqueles que se bitolaram a apenas uma dessas escolas. Extraiu o que de melhor havia em cada uma dessas vertentes para inaugurar o seu apostolado estético. Cabe ao poeta recuperar o sentido primeiro das palavras. Eis o débito que a Língua Portuguesa (em particular) tem para com o poeta: ele não deixa a Língua morrer. Nesse sentido, vale a pena ler Maranhão Sobrinho, esse recuperador de mitos, esse celebrador de antigos episódios, guardião da caixa de absurdos e tensões, pois, além disso, em sua obra encontramos várias expressões que são únicas na Língua. Não encontraremos seus neologismos em nenhum dicionário convencional. 4- Ele é um poeta pouco reeditado. Há alguma justificativa para esse silêncio? Creio que o fato de Maranhão Sobrinho estar longe dos grandes centros favoreceu, de certa forma, esse silêncio em torno de sua obra. O próprio poeta acreditava que transferindo-se para a capital e publicando seu livro de estreia pela editora Garnier ou Laement, segundo nos informa Antonio Lobo, lhe daria a projeção almejada. No entanto, no início de 1910, ele desiste do sonho de reconhecimento nacional, abandona completamente as propostas estéticas que vinha cultivando e que lhe permitiria um voo mais alto, refugia-se no Amazonas e volta a escrever poemas de cunho romântico. Mas já era tarde. 5- Há alguma diferença de estilo entre esses poemas inéditos e os que conhecemos dos três livros publicados do poeta? Há mais diferenças que semelhanças, assim como acontece entre os três livros que publicou em vida, e por que não dizer dentro de uma própria obra, como é o caso do bloco de poemas intitulado “Cromos”, pastoris, que destoam dos demais, de predominância simbolista, no livro Papéis Velhos. Como deixo claro numa nota introdutória, meu livro não constitui uma seleção oficial de Maranhão Sobrinho, nem possui caráter antológico, no sentido de extrair o “suprassumo” da sua obra, mas mostrar sua trajetória poética desde a fase temporã de suas lucubrações estéticas, fase tida como condoreira, a partir de 1896, até o salto soberbo na produção de sonetos magistrais que lhe renderam a fama de “o mais completo sonetista da língua”, como nos informa o Jornal do Brasil, de 10 de janeiro de 1939. 6- Há ecos da poesia de MS em algum poeta contemporâneo? Existe um fio condutor que percorre toda a obra de Maranhão Sobrinho, a que costumo chamar de “Itinerário do Voo”, indo desde a ânsia do voo em Papéis Velhos, à execução e frustração em Estatuetas, e,
por fim, o término do voo, com a deposição das asas, em Vitórias-Régias. Há, nos dois primeiros livros, um visível desencanto com o mundo, sem qualquer interesse de interferência no sentido de modificá-lo. Por outro lado, não se desengana, nem perde a esperança; pelo contrário, torna-se o fundador de outra pátria, dessa vez celestial, sem qualquer relação com o Céu cristão, já que neste seu “chalé de luz e flores” só há lugar para ele e sua amada, com quem trava discurso em quase todos os poemas que compôs. Daí a recorrência de expressões como: asas, voo, ninho e azul, símbolos de todo esse processo. É em VitóriasRégias, entretanto, que notamos o desencanto por ambos os mundos, constituindo-se, assim, num livro nostálgico, derradeiro. Olhando por essa ótica, não encontrei, até o momento, nenhuma ressonância em qualquer poeta contemporâneo. Celso Borges é jornalista e poeta. Segue abaixo um poema feito pelo poeta Kissyan Castro.
ALBA Vens da glória das nuvens luminosas Do céu, em sonhos límpidos, voando, Entre aromas de mirtos e de rosas, Das estrelas do azul no etéreo bando… Trazes nas asas céleres, radiosas, Misticismos em lágrimas brilhando… Beijos frios de mortas nebulosas, Sob um luar, como as plumagens, brando… E ao ver-te, de asas pelas nuvens, calma, Resvalando nos céus, amplos, risonhos, Fecho-me dentro da corola d’alma… E há dentro em mim mistérios e vertigens… Vejo passar, entre o tropel dos sonhos, Corpos hirtos e nus de mortas virgens… SONETO III Virgílio, às vezes, me convida: “Vamos Nós dois beber bucólicas nas matas!” E, nas verdes florestas, penetramos, Como num templo, em místicas oblatas… Vendo as asas beijarem-se nos ramos E ouvindo as harpas de ouro das cascatas, Os nossos pensamentos permutamos, Longe do mundo das paixões ingratas… – Mestre! Eu exclamo, em tudo há luz e festa! Tudo parece amar! O amor palpita Em tudo! A tudo o amor sua luz empresta? Virgílio, então, me diz: “Deus grande e mudo É o amor! Deus é o amor, e em tudo habita; Logo o sereno amor habita em tudo!”
MARANHÃO SOBRINHO (1879-1915)
ANTONIO MIRANDA http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/maranhao_sobrinho.html Fundador com Antonio Lobo, I. Xavier de Carvalho e Corrêa de Araújo, entre outros, do movimento de renovação literária denominado Os Novos Atenienses, que em fins do século XIX e início do século XX sacudiu o meio intelectual de São Luís com idéias e conceitos vanguardistas, Maranhão Sobrinho foi o mais singular poeta de sua geração. Boêmio, por vezes até mesmo desbragadamente ébrio, José Américo Augusto Olimpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho* nasceu em Barra do Corda, interior do Estado, em 25 de dezembro de 1879, e morreu ainda jovem, em Manaus, no mesmo dia em que completava 36 anos. Nesse breve espaço de tempo, encarnou como poucos a figura trágica do poeta dominado por suas angústias existenciais - viveu rápido e intensamente: suas dores, reais ou imaginadas, lançaram-no na sôfrega busca pelo prazer e no caminho da autodestruição. Mas se ele era essa espécie de romântico trágico na vida pessoal, sua poesia está em outro patamar. Simbolista ortodoxo, foi um visionário capaz de construir imagens perturbadoras em versos admiravelmente bem urdidos, sensualmente mórbidos, onde por trás de cada palavra flutua, não muito distante, a imensa sombra de um amargo pessimismo com o mundo e com as pessoas. Sem dispor de recursos financeiros, publicou seus trabalhos com grande dificuldade. Foram ao todo três livros editados de modo bastante precário, com circulação restrita à província. Além disso, apenas colaborações esparsas, ainda que numerosas, em revistas e jornais de São Luís. Muito embora sua obra ainda não tenha sido objeto de um estudo mais aprofundado, a crítica nela destaca uma bem assimilada influência de Baudelaire e Verlaine, considerando-o ao mesmo tempo um dos luminares do movimento simbolista no Brasil - quase no mesmo nível ocupado por Cruz e Souza e Alfonsus Guimaraes, expoentes máximos da escola. De qualquer sorte, coube a Maranhão Sobrinho ser um poeta representativo do período de transição da literatura maranhense - teve o talento amplamente reconhecido, tanto pelo público quanto por seus pares, foi um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, mas sofreu estilisticamente na difícil tarefa de buscar uma síntese convincente entre o Romantismo ainda em voga, o Parnasianismo e o Simbolismo. Reflexos dessa luta estéril são visíveis em seus poemas. Houvesse vivido mais alguns anos, talvez sua obra conseguisse escapar dessa armadilha literária, atingindo novas e inesperadas dimensões. Ainda assim, figura em destaque no Panteon dos poetas maranhenses de todos os tempos. Obra poética: Papéis Velhos... Roídos pela Traça do Símbolo (1908);Estatuetas (1909); VitóriasRégias (1911).
SOROR TERESA ... E um dia as monjas foram dar com ela morta, da cor de um sonho de noivado, no silêncio cristão da estreita cela, lábios nos lábios de um Crucificado... somente a luz de uma piedosa vela ungia, como um óleo derramado, o aposento tristíssimo de aquela que morrera num sonho, sem pecado... Todo o mosteiro encheu-se de tristeza, e ninguém soube de que dor escrava morrera a divinal soror Teresa... Não creio que, de amor, a morte venha, mas, sei que a vida da soror boiava dentro dos olhos do Senhor da Penha... Papéis Velhos... Roídos pela Traça do Símbolo, 1908
TELA DO NORTE No estirão, percutindo os chifres, a boiada monótona desliza; ondulando, a poeira, em fulvas espirais, cobre toda a chapada em cujos poentes o sol põe uns tons de fogueira. Baba de sede e muge a leva; triturada sob as patas dos bois a relva toda cheira! Boiando, corta o ar a mórbida toada do guia que, de pé, palmilha à cabeceira... Nos flancos da boiada, aos recurvos galões as éguas, vão tocando a reses fugitivas o vaqueiros, com o sol nas pontas dos ferrões... E, do gado o tropel, com as asas derreadas quase riscando o chão, que o sol calcina, esquivas, arrancam coleando as emas assustadas... Estatuetas, 1909
MÁRTIR Das cinco chagas de pesar, que exangue, Trago no triste coração magoado,
Descem rosários de rubi de sangue Como do corpo do Crucificado... Pende-me a fronte sobre o peito, langue, De infinitas Traições alanceado... E, na noite da Mágoa, expiro exangue Na Cruz de Pedra da Paixão pregado... Subi, de joelhos, expirando, o adusto Desfiladeiro enorme do Calvário... Sob o madeiro da Saudade, a custo! Sem consumar meus sonhos adorados, Oiço, no meio do Martírio vário, O chocalhar sacrílego dos Dados...
INTERLUNAR Entre nuvens cruéis de púrpura e gerânio, rubro como, de sangue, um hoplita messênio o sol, vencido, desce o planalto de urânio do ocaso, na mudez de um recolhido essênio... Veloz como um corcel, voando num mito hircânio, tremente, esvai-se a luz no leve oxigênio da tarde, que me evoca os olhos de Estefânio Mallarmé, sob a unção da tristeza e do gênio! O ônix das sombras cresce ao trágico declínio do dia que, a lembrar piratas do mar Jônio, põe, no ocaso, clarões vermelhos de assassínio... Vem a noite e, lembrando os Montes do Infortúnio, vara o estranho solar da Morte e do Demônio Com as torres medievais as sombra do Interlúnio...
ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!
CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA MARANHENSE: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES99 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura brasileira, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. A exemplo do que acontece em França, Itália, Espanha e Portugal, propõem-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. História
Introdução: Em 1994, o Ministério da Educação e do Desporto - MEC - constituiu Grupo de Trabalho (MEE/INDESP, 1996) 100 para elaborar a aproximação conceitual de Esporte e Cultura, iniciando-se, no Brasil, uma discussão sobre “Esporte de Criação Nacional”. Com a identificação do problema conceitual, se fez necessário desenvolver a dissecação do título. No instante em que se separa a idéia “Esporte” de um lado e “Criação Nacional” de outro, percebe-se a possibilidade de um desdobramento fértil. Enquanto o “esporte” pode ser entendido como um jogo, uma brincadeira, uma dança, um ritual, etc., o atributo de “criação nacional” por sua vez, pode ser entendido como de “Criação Cultural”, ou com “Identidade Cultural” (SANTIN, 1996) 101. Silva (1987) 102, ao levantar a questão da perda dos valores culturais e da identidade cultural, afirma que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística: “Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral. “Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado...”. (p. 20-21)
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Construção De Uma Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Maranhense: Proposta E Contribuições. IN Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança, VII, Gramado, junho de 2000. Anais... 100 MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO DOS ESPORTES. INDESP. Coletâneas: Desporto Com Identidade Cultural. Brasília, 1996. 101 SANTIN, Silvino. Esporte: identidade cultural. Coletânea Indesp - Desporto Com Identidade Cultural, Brasília, 1996, p. 13-26. 102 SILVA, Maurício Roberto da. Resgate da cultura popular na educação: uma perspectiva educacional libertadora no contexto da educação física escolar. Revista Artus, Rio de Janeiro, n. 20, dezembro de 1987, p. 17-25.
Considera, ainda, que a perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros, com o que concordam Dieckert; Kurz & Brodtmann (1985) 103 quando afirmam que no Brasil deve haver uma educação física brasileira e critica o modelo internacional do esporte corporal do povo brasileiro, que possui a capoeira como uma das maiores riquezas, além de outros jogos, danças e ritmos. Dieckert (1987) 104 destaca ainda o quanto é importante que essas manifestações sejam resgatadas, para não se transformarem em peças de museu. Da mesma forma, Manuel Sérgio Vieira E Cunha (1985)105, ao analisar um tipo de esporte baseado na cultura, enfatiza o significado dos jogos tradicionais das diversas formas de desporto popular e ainda das pequenas agremiações locais, que cedem lugar ao imperialismo do desporto-instituição, reprodutor e multiplicador das “taras do ter”. Para Silva (1987)4, a perda desses valores levou a sociedade a explorar o corpo dos cidadãos como se fosse objeto e não sujeito, imprimindo-lhe gestos e movimentos ginástico-desportivos padronizados, reduzindo o acesso às danças e aos jogos da lúdica popular e resultando na perda da ludicidade, que deve ser compreendida como o estado de espírito que dispõe o homem a ser alegre e brincar livremente. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte e por lazer, dada a abrangência dos termos. Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980106; SILVA, 19874; SANTIN, 19963; DAMASCENO, 1997107). O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos: "Durante a realização dos Jogos, desaguavam em Olímpia tudo o que na Grécia havia de artístico, filosófico e desportivo. Os poetas escancaravam o que lhes medrava na alma, os sofistas dialogavam com auditórios eruditos e os atletas competiam entre sí. Enfim, arte, filosofia e desporto num conúbio que muito enriqueceu a literatura grega. Já Homero poetizara as corridas de carros, mas literatura centrada no desporto... foi Píndaro o primeiro" (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d: 9)7. Depois dele, muitos outros. "E no gaiato tagarelar das ruas de Atenas, o desporto nascia como verdadeiro fenômeno cultural". Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna. Vieira E Cunha & Feio (s.d.)7 justificam a feitura de uma antologia portuguesa de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do senso-comum que se tem dessa manifestação, não se resume a "[...] uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expresso apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura”. (p. 7)7.
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DIECKERT, Jürgen; KURZ, Dietmar; BRODTMANN, Dietmar. Elementos e princípios da educação física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985. 104 DIECKERT, Jürgen. A educação física no Brasil.. A educação física brasileira. (in) ESCOBAR, Micheli & TAFFAREL, Celí N. Z. Metodologia esportiva e psicomotricidade. Recife: Gráfica Recife, 1987, p. 2-19. 105 VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. Homo Ludicus - Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Portuguesa. vol. 1 e 2. Lisboa: Compendium, (s.d.). 106 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O Jogo Como Elemento Da Cultura. 2a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1980. 107 DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in Revista Brasileira De Ciências Do Esporte, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-10
Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; um meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um "fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana" (p. 8): "Ainda integrado na luta pela compreensão do desporto, permitimo-nos recordar que a Cultura Física é uma Ciência do Homem e como tal deve ser analisada, estudada, praticada, difundida e... defendida! Daí que, ao nível da interdisciplinaridade com outros ramos do saber, não seja demasiado encarecer quanto à educação física e os desportos dialecticamente se relacionam, quer com as outras Ciências do Homem, quer com as Ciências da Natureza e as Ciências Lógico-Dedutivas..." (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.: 8) 7. Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática desportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (FAVERO, 1994) 108. Busca-se identificar dentre autores maranhenses aqueles que se tornaram ‘sportman’ ou que escreveram sobre atividades esportivas e/ou de lazer praticadas em São Luís do Maranhão, resgatando-se a memória dessas atividades. A Atenas brasileira Na literatura dos viajantes, Abbeville (1975:236) 109 foi quem primeiro registrou, no Maranhão, as atividades dos primitivos habitantes da terra. Para esse autor é por não terem ambições materiais que os índios da Ilha do Maranhão têm na dança o primeiro e principal exercício; além da dança, têm como exercício a caça e a pesca. Já Spix e Martius afirmam serem os Jês hábeis nadadores, havendo o registro de serem também grandes corredores: "... timbiras de canela fina (corumecrãs)... famosos pela velocidade na corrida, esses índios enrolavam suas pernas com fios de algodão que acreditavam afinar-lhes as pernas e proporcionar-lhes leveza para correr..." (citados por CALDEIRA, 1991:77-78) 110. A literatura maranhense tem início com o surgimento da imprensa. Ramos (1986) 111, escrevendo sobre o seu aparecimento no Maranhão registra, no período colonial, que "... jornalista era o magnífico João Tavares com sua 'Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão'...” 112. No período imperial registra-se o aparecimento de inúmeros jornais políticos e literários, coletâneas de poesia e de peças teatrais, sendo publicados entre 1821 e 1860, 183 jornais (RAMOS, 198613, 1992113), a grande maioria de caráter político. Os jornais com objetivo de recrear - de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo - foram: a "Folha Medicinal", de 1822; o "Minerva", de 1827; "A Bandarra", 1828. Apenas esses dois últimos, dos 21 108
FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque, O espaço PROEDES: memória, pesquisa, documentação. IN GOLDFABER, José Luiz (org.). Anais Do Iv Seminário Nacional De História Da Ciência E Da Tecnologia. Belo Horizonte: FAPEMIG; São Paulo: Anna Blaume: Nova Stella, 1994. P. 100-103 109 ABBEVILLE, Claude d'. História Da Missão Dos Padres Capuchinhos Na Ilha Do Maranhão E Terras Circunvizinhas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 110 CALDEIRA, José de Ribamar C. O Maranhão Na Literatura Dos Viajantes Do Século XIX. São Luís: AML/SIOGE, 1991. 111 RAMOS, Clóvis. Os Primeiros Jornais Do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1986. 112 Ver adiante “Breve descrição das grandes recreações do rio Muni do Maranhão, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”, p. 113 RAMOS, Clóvis. Opinião Pública Maranhense: Jornais Antigos Do Maranhão (1831 a 1861). São Luís: SIOGE, 1992
jornais do período de 1821 a 1830 dedicaram-se a divulgar literatura. Alguns periódicos tiveram contribuições de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa. Ramos (1992)15 ainda registra o aparecimento em 1831, do "Atalaia dos Caiporas"; em 1839, do "O Recreio dos Maranhenses”; 1840, de "A Revista"; "O Jornal Maranhense" aparece em 1841. Periódico oficial trazia como epígrafe uma frase de Tímon: "a verdadeira educação de um Povo livre faz-se nos jornais". De 1842, são o "Museu Maranhense", " O Publicador Maranhense"; de 1845, o "Jornal de Instrução e Recreio",. "O Almazém"; de 1846, "O Arquivo Maranhense", contando com Gonçalves Dias, ainda jovem e interessado em teatro, dentre seus colaboradores. Escreveu em seu primeiro número: "Fiéis ao nosso programa, o nosso fim continua a ser - a Instrução e o Recreio -..." (RAMOS, 1992: 121)15. De 1849, a "Revista Universal Maranhense”. O "Jornal de Tímon", publicado em fascículos de 1852 a 1854, foi, no dizer de Viveiros de Castro (citado por RAMOS, 1992)15, "revista literária, de publicação mensal, na qual João Francisco Lisboa conquistou muito justamente a nomeada de um dos primeiros prosadores da língua portuguesa" (p. 189). Ainda desse ano de 1852, "A Marmotinha". Nos anos seguintes aparece "A Violeta" (1853); "O Botão de Ouro" e "A Sentinela" (1854); de 1855 é o "Diário do Maranhão"; em sua edição de 23.10.1855, número 41, é informado que "tivemos a satisfação de ler um novo jornal recreativo intitulado ‘A Saudade’, dedicado ao belo sexo maranhense". (RAMOS, 1991: 213)15. De 1857 é "A Estrela da Tarde"; de 1858, o "Jornal do Comércio. O "Verdadeiro Marmota", jornal literário, foi saudado, em 1860, nestes termos elogiosos: "reaparece este interessante jornal, depois de ter por algum tempo, pela indolência e lassidão, que geralmente ataca os jornais recreativos nesta província..." (citado por RAMOS, 1992:237)15. Em 1860, contando com uma população de 35 mil pessoas, São Luís tinha matriculado em suas escolas primárias dois mil rapazes e 400 moças e no secundário, 180. Esses poucos números mostram que era muito reduzido o número de pessoas que acediam à leitura. O ensino primário havia se desenvolvido desde a independência. Em 1838 é inaugurado o "Liceu Maranhense", dirigido pelo famoso gramático Francisco Sotero dos Reis. O Liceu passou a substituir os preceptores dos filhos da burguesia comercial e da oligarquia rural (MÉRIAN, 1988)114. No entender de Dunshee de Abranches115, a fundação desse colégio, logo seguido do colégio das Abranches, do Colégio do Dr. Perdigão e de tantos outros, contribuiu para com o progresso da educação mental da juventude, levando o Maranhão tornar-se, de fato e de direito, a Atenas brasileira. Conclusão A literatura ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos cerca, quando descreve a sociedade em que a história se passa. Pode ser usada como fonte de pesquisa, ao se identificar, na narrativa, as manifestações de caráter esportivo, recreativo e de lazer. Buscou-se em dois autores maranhenses116 - Aluízio Azevedo e Dunshee de Abranches - trechos em que se referem à cultura corporal no Maranhão, no século XIX, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos.
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MÉRIAN, Jean Yves. Aluísio Azevedo Vida E Obra (1857-1913) - O Verdadeiro Brasil Do Século XIX. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Banco Sudameris Brasil; Brasília: INL, 1988. 115 ABRANCHES, Dunshe de A Setembrada - A Revolução Liberal De 1831 Em Maranhão - Romance Histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970; ABRANCHES, Dunshee de. O Captiveiro (Memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941; ABRANCHES, Dunshee de. A Esfinge Do Grajaú (Memórias). São Luís: ALUMAR, 1993; ver, a seguir, “Dunshee de Abranches – discurso de posse...” 116 No artigo original, a partir deste ponto apresentam-se dois autores maranhenses: Aluisio Azevedo e Dunshee de Abranches. Para este Capítulo, apresento não somente esses dois autores, com um texto ampliado, a seguir, como outros maranhenses que se dedicaram a descrever as manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão.
DUNSHEE DE ABRANCHES117 Senhora Presidente, demais Sócios Efetivos deste Instituto, Profa. Dilercy, Padre Meireles, meus agradecimentos por me receberem nesta Casa. Quando aqui estive conversando com a Profa. Eneida e fazendo a entrega de meu currículo, me foi dada a oportunidade de escolher a cadeira que poderia vir a ocupar, caso aceito pelo nobre Colegiado. Dentre aquelas então vagas, estava a cadeira de número 40 que tem como Patrono JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA – Dunshee de Abranches -; e identificados seus ocupantes: JOSÉ DE RIBAMAR PEREIRA, JOSÉ DE RIBAMAR DA SILVA FERREIRA, e PEDRO RATIS DE SANTANA. O que chama atenção, é que todos os ocupantes se destacaram, dentre outras atividades, como Professores. Porque a escolha por essa Cadeira? Quando iniciei minhas pesquisas sobre a memória/história do Maranhão, um dos primeiros autores estudados foi justamente Dunshee de Abranches. Tenho me dedicado ao resgate da Memória do Lazer, dos Esportes e da Educação Física no/do Maranhão. Ao ler “O Captiveiro” 118 – segundo volume da trilogia das memórias de Dunshe de Abranches 119 - depareime com o seguinte trecho: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos ..”. (p. 187-188 (Grifos meus). Ora, por essa época – inicio dos anos 1980 – a então Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje, CEFETMA -, implantava seu Curso de Formação de Professores de Educação Física; uma das disciplinas, História da Educação Física, ficou sob minha responsabilidade. O programa dessa disciplina, em todos os cursos de educação física, trata dos períodos clássicos da História – Antiguidade, muita coisa sobre Grécia e Roma, Idade Média, Renascimento... – e pouca coisa sobre seu surgimento no Brasil. Tínhamos, à época, poucos autores. Destacando-se dois: Inezil Penna Marinho, e Jair Jordão Ramos. E o que dizer do Maranhão? Nada! Dediquei-me, então, a resgatar essa história. E o primeiro achado foi Aluísio de Azevedo, seguido de Dunshee de Abranches... JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA nasceu à Rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Seus pais foram o negociante Antonio da Silva Moura - nascido em Portugal e educado desde os cinco até os 21 anos no Havre e em Paris -, e Dona Raimunda Emília de Abranches Moura - filha de Garcia de Abranches, o Censor. Advogado, polemista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar, internacionalista... Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelos “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993) 120. 117
Discurso de posse de Leopoldo Gil Dulcio Vaz no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira de no. 40 - Patrono: João Dunshee de Abranches Moura; ocupantes: José de Ribamar Pereira; José de Ribamar da Silva Ferreira; e Pedro Ratis de Santana, ocorrida em 03 de setembro de 2008. 118 DUNSHE DE ABRANCHES MOURA, João. O Captiveiro (Memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. 119 As outras duas obras são: “A Setembrada” e “A Esfinge do Grajaú”. 120 GASPAR, Carlos. Dunshee De Abranches. São Luís: (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92).
Em “A Setembrada” 121, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô, e Frederico Magno de Abranches, seu tio. Referindo-se ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno, seu sobrinho relembra que: “... Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão” (DUNSHE DE ABRANCHES, 1970:31) (Grifos meus) Em “O Captiveiro”20, escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, é dominado por figuras femininas e pela denúncia da escravidão, com relatos e documentos significativos sobre a sociedade maranhense do século XIX. Baseou-se em apontamentos de sua adolescência, registrados por volta de 1880, quando consultou pela primeira vez a correspondência de sua avó materna - Marta Alonso Alvarez de Castro Abranches (espanhola, 1800-1855) 122 - e entrevistou com impressionante acuidade, numa antevisão dos procedimentos da história oral, Emília Pinto Magalhães Branco (natural de Lisboa - 1818-1888), mãe dos escritores Aluízio, Artur e Américo de Azevedo 123. Numa das passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcádia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174) 20,124. O ‘Clube dos Mortos’ reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios. Nessa mesma obra, Dunshee de Abranches (1941)20 lembra que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde "[...] ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos 121
ABRANCHES, Dunshee de A Setembrada - A Revolução Liberal De 1831 Em Maranhão - Romance Histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970 122 O autor não esconde a grande admiração nutrida por sua avó, celebrada educadora de São Luís. Em 1844, fundou o colégio Nossa Senhora da Glória, popularmente denominado colégio dos Abranches, primeira escola feminina de São Luís. D. Martinha está a merecer um estudo acurado sobre sua vida e contribuição à educação maranhense... 123 JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Balaiada: construção da memória histórica. In História, São Paulo, v.24, N.1, P.41-76, 2005; 124 Citado em: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas Para O Ar Que Ninguém É De Ferro: As Recreações Na São Luís Do, Século XIX. Concurso Literário E Artístico ‘Cidade De São Luís’, Prêmio ‘Antonio Lopes’ de Pesquisa Histórica, segundo colocado, São Luís, PMSL, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito In Jornada De Iniciação Científica Da Educação Física Da UFMA, III, São Luís, dezembro de 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. In Congresso Brasileiro De Ciências Do Esporte, X, Goiânia, 1997; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito Aluísio Azevedo E A Educação (Física) Feminina. In Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança, VII, Gramado, junho de 2000; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Construção De Uma Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Brasileira: Proposta E Contribuições. IN Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança, VII, Gramado, junho de 2000; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O “Sportman” Aluisio Azevedo. In Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança VIII, Ponta Grossa, novembro de 2002
presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias [...]". (p. 157). Ainda em “O Captiveiro”, às páginas 39, refere-se ao negro africano Adão, seu “mestre de remo e de caça”. Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993) 125, deparamo-nos com uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993)22. Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: "[...] Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio [...] Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne [...] o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais [...]". (p. 16-17). Dunshee de Abranches também se referiu à Capoeira. Mais especificamente, à atuação da Guarda Negra 126. Em artigo de Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio Gomes sobre “O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista” 127, os autores se referem à existência de uma Guarda Negra em São Luís. Como desconhecia o assunto, procurei me informar. Não achei nada! Mandei mensagem eletrônica ao Prof. Líbano, da U.F. Bahia, perguntando de onde obtivera essa informação. Disse-me que consta de “O Negro na Bahia”, de Luis Vianna Filho, obra da década de 40 128. E que este se refere à Dunshee de Abranches... Realmente, Dunshee de Abranches, em suas memórias sobre a escravidão e o movimento abolicionista, se refere à Guarda Negra, naquele episódio que resultou na queda do gabinete Cotegibe: “Voltando logo depois ao Rio [de viagem a São Paulo e Santos], assisti à agitação revolucionária que se fez em torno do gabinete organizado pelo Barão de Cotegipe. Participei dos memoráveis comícios em que, ao lado de Patrocínio, a mocidade das escolas civis e militares resistia heroicamente às investidas da guarda negra. E, em uma dessas reuniões subversivas no Largo da Lapa, um dos quartéis generaes da capoeiragem carioca, terminada em tremendo e sangrento conflitcto, sendo talves o vigésimo orador, que alli falava do alto do chafariz...”. (in DUNSHEE DE ABRANCHES. O Captiveiro (memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941, p. 228-229)20. Os acontecimentos a que se refere Dunshee de Abranches aconteceram no Rio de Janeiro, não em São Luís do Maranhão! Aqui, nada encontrei sobre a existência da Guarda Negra 129; encontrei, sim, um episódio 125
ABRANCHES, Dunshee de. A Esfinge Do Grajaú. São Luís: ALUMAR, 1993. A Guarda Negra foi formada por José do Patrocínio em 28 de setembro de 1888, como um movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exército e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão à família real pela abolição e intimidar republicanos e tumultuar os comícios. A ação da Guarda Negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. In http://negro.www.marconegro.blogspot.com/ 127 SOARES, Carlos Eugênio Líbano; GOMES, Flávio. O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista. In Revista História Viva, São Paulo, edição 25, de novembro de 2005, p. 74-79. 128 VIANA FILHO, Luiz. O Negro Na Bahia. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1946. 129 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra. In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra II – O Isabelismo. In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 53 126
relacionado com a participação dos negros no processo de combate à República recém proclamada, denominado de "o fuzilamento do dia 17", e ocorreu como uma manifestação de escravos, recém-libertos, contra Paula Duarte e o empastelamento de seu jornal “O Globo”, conforme informam Mario Meireles, Barbosa de Godois e Milson Coutinho 130. Ainda se referindo aos Capoeiras, em Nota do “Actas e Actos do Governo Provisório”, trabalho organizado por Dunshee de Abranches e publicado em 1907, onde fica evidente o medo que cercava a realização de quaisquer festividades, patrióticas ou religiosas, nos conturbados tempos pós-República, sobretudo à noite quando a multidão de apinhava pelas ruas e praças - de que não ocorressem cenas sangrentas e aviltantes de confronto entre policiais e capoeiristas...131 Como se vê, Dunshee de Abranches relata-nos em sua obra – em especial em sua trilogia - os costumes das diversas épocas da História maranhense. E dentre estes, a prática de atividades físicas e esportivas: caminhadas pela cidade e pelos campos, a pé e a cavalo, prática do remo e da caça, prática de jogos esportivos – como o ‘Jogo da Pela’, atual Tênis, do Bilhar Francês – e podemos considerar, ainda, a existência de uma primeira academia de ginástica (musculação) de São Luís... DUNSHEE DE ABRANCHES - (JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA) nasceu em São Luis, Maranhão, em 02 de setembro de 1867 – daí ter escolhido o dia de hoje, dois de setembro, para minha posse Após os estudos primários em sua terra natal – primeiro, estudando com sua mãe e tias, no famoso ‘Colégio das Abranches’132, onde também deve ter feito os preparatórios para o Liceu Maranhense. Um dos famosos “meninos do Liceu” no dizer de Gonçalves Dias, aos 16 anos de idade, ao concluir seu Curso de Humanidades, foi plenamente aprovado em severos exames de Gramática Portuguesa, Latim, Francês, Alemão, Inglês, Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Geografia, História, Filosofia e Retórica. Há esse tempo, precoce, já estudara Desenho com Horácio Tribuzi, Harmonia com Leocádio Rayol, Piano com sua mãe, d. Emília, e Violino com Pedro Ziegler.133 Tornou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Antes, porém, foi aluno da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas não concluiu o curso, cursando-o até o quinto ano134. No ano de 1889, aos seis de janeiro, casa em cerimônia celebrada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nesta cidade, com a Senhorita Maurina da Silva Porto, de cujo consórcio teve filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini 135. Em 1890, estava na Bahia, retomando os estudos de Medicina, porém ‘tirando a carta’ de Farmacêutico; prossegue os estudos de Medicina e inicia o de Direito (1891). (GASPAR, 1993)22. De volta ao Maranhão, foi enviado pelo Governador da Província, o pernambucano José Moreira Alves da Silva, como Promotor Público, para averiguar os acontecimentos e decifrar o mistério d’ “A Esfinge de Grajaú”27. Decifrar o enigma não era outra coisa, senão uma explicação racional para as tantas brigas sangrentas existentes em Grajaú. (GASPAR, 1993) 22. de 11/dez a 17/dez de 2005; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra III – O Fuzilamento do dia 17. In Jornal Do Capoeira www.capoeira.jex.com.br Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005; adiante 130 MEIRELES, Mário. História Do Maranhão. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 307; ver também: BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. Historia Do Maranhão. São Luís: Mar. Typ. De Ramos d´Almeida & C., Suces., 1904, tomo II, p. 539-540; COUTINHO, Milson. Subsídios Para A História Do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1978. 131 LINS E SILVA, Marieta Borges. Capoeiras e Capoeiristas. . In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br 132 “Preliminarmente teve como professoras, além de sua mãe e das tias Amância e Martinha – estas três, fundadoras do Colégio Nossa Senhora da Glória-, também suas irmãs, Emília, Amélia e Helena. Completamente alfabetizado aos 4 anos de idade, aos seis já traduzia francês e aos sete principiava as lições de inglês e espanhol. “ (GASPAR, Carlos. Dunshee De Abranches. São Luís: (s.e.), 1993, p. 22. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 133 MORAES, Jomar. Ainda o humanista Dunshee de Abranches. In O Estado Do Maranhão, São Luís, 21 de maio de 2008, quartafeira, p. 6, Caderno Alternativo. Hoje é dia de Jomar Moraes. 134 Informa GASPAR (1993) que não concluiu o curso “em fase de lamentável incidente com um de seus professores, por ocasião de uma das provas do currículo, quando acalorada discussão entre o aluno e o mestre culminou com uma cena de pugilato”. (p. 22). 135 Dunshee de Abranches casou-se com D. Maurina Porto Dunshee de Abranches, filha do filantropo José Maria da Silva Porto; tiveram seis filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini (in ABRANCHES, Dunshee. Garcia De Abranches, O Censor (O Maranhão em 1822) – Memória histórica. São Paulo: Typographia Brasil Rothschild, 1922, p. 157-158).
Nos anos seguintes, o advogado Dunshee tornou-se Deputado Estadual no Maranhão (1904-1909), e integraria depois a bancada de sua Província natal na Câmara Baixa do País, tendo sido eleito mais de uma vez (1909-1917) 136. Viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se torna adepto do Positivismo. Foi professor de Ciências Física e Naturais, de Anatomia e Fisiologia, de Direito Público e agraciado com o título de Professor Honorário da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde recebeu a mais alta condecoração da Cruz Vermelha Alemã. Em setembro de 1929, chefiou a delegação brasileira à solenidade de lançamento da pedra fundamental da Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Lisieux, França. Na ocasião, falaram apenas três oradores: o Cardeal Charost, representante do Papa Pio XI, George Goyau, da Academia Francesa, e Dunshee de Abranches137. 136
Na primeira década do século XX, dentre os vultos notáveis do Congresso Legislativo do Estado, consta o nome de Dunshee de Abranches – descendente do grande João Antonio Garcia de Abranches, cognominado ‘O Censor’, o sangue jornalístico do velho Garcia se transmudou para o neto ilustre. Uma extraordinária cultura, dono de uma das mais vastas Bibliografias de que se tem notícia, só rivalizando com ele o não menos extraordinário Coelho Neto. Iniciou sua carreira política no Partido Republicano de Benedito Leite, elegendo-se deputado estadual em 1904. Espírito irrequieto, polemista notável, foi a maior figura da legislatura que integrou no Congresso Maranhense. Para aquela 5ª. Legislatura do Congresso maranhense - 1904/1906 – elegeram-se todos os candidatos de Benedito Leite, não tendo a casa nenhum representante oposicionista. As eleições realizaram-se a 06 de dezembro de 1904, com a recondução de muitos parlamentares pelas suas sólidas bases eleitorais garantidas por um sistema de governo que reagia mecanicamente ao comando do Senador Benedito Leite. Todavia, novos nomes iriam figurar naquela casa, dentre esses se destacaria o afamado polígrafo João Dunshee de Abrantes Moura. Dunshe de Abranches teve 14.807 votos, elegendo-se com a 21ª. Votação. Não participou dos trabalhos daquele ano, mas em 1905 foi o Deputado que praticamente tomou as atenções da Casa, quer por seus trabalhos nas Comissões, quer pelos projetos e discursos proferidos, quer pelos fulminantes apartes dados em seus colegas, chegando a participar da mesa diretora, como terceiro suplente. Numa de suas intervenções, afirma existindo na casa algumas duplicatas de eleições para as Câmaras Municipais, solicitando nomeação de Comissão – a quem coube a relatoria – para apresentar parecer sobre aquelas duplicatas. De seu Relatório, foram anuladas as eleições de Cajapió, Balsas e São João dos Patos. Nessa legislatura, sem dúvida a questão dos limites entre os municípios de Alto Itapecurú e Barra do Corda demandou um amplo estudo, apresentando projeto de lei onde ficaram delimitados os marcos e as linhas a serem fixadas pelo Governo, pondo fim aquela querela que vinha de longo tempo. De seus inúmeros pronunciamentos, o tema que mais debateu refere-se à situação da Instrução Pública, assunto de sua permanente preocupação. Na legislatura seguinte – 1906 – não mais fazia parte da Mesa Diretora, requerendo licença para se ausentar da Capital. Da sexta legislatura, destacaram-se os Deputados Dunshee de Abranches, José Barreto e Clodomir Cardoso; é a partir de 1907 que as Oposições maranhenses tomam posição de combate ao regime de Benedito Leite, há 14 anos governando, ora por prepostos, ora diretamente. Em 09 de dezembro de 1906, novas eleições para a renovação do Congresso Legislativo do Estado e Dunshee de Abranches se reelege no grupo situacionista com a 15ª. Votação, com 10.523 votos. A Oposição elegeu seis deputados, dos 30. Dunshee de Abranches, quando da eleição da Mesa, informa à Presidência da Casa de que não poderia se fazer presente por motivo de moléstia, o que foi lamentado pelo jovem Deputado Clodomir Cardoso (então com 28 anos), que iria desforrar suas mágoas sobre seu colega Dunshee de Abranches, acerca de pronunciamento que fizera ser o Pará, melhor que o Maranhão. Em 1909, ocorreram as eleições para Deputados Federais, e na fórmula ainda traçada pelo falecido Governador Benedito Leite, elegeram-se: para o Senado, o Dr. José Eusébio de Carvalho Oliveira. Para Deputados Federais, Francisco da Cunha Machado e Dunshee de Abranches. Apresentou relatório, nessa legislatura, enviando projeto de lei que fixava a Força Pública para o ano seguinte. In COUTINHO, Milson. O Poder Legislativo Do Maranhão – 1830/1930. São Luís: Assembléia Legislativa do Maranhão, 1981, p. 247-294. 137 Dunshee de Abranches proclamava-se ateu em sua juventude, convertendo-se ao catolicismo na maturidade. Contradição que, segundo Moraes (em O humanista Dunshee de Abranches, in O Estado Do Maranhão, 21 de maio de 2008, p. 6, Caderno Alternativo) qualificava-o para representar o Brasil, já católico fervoroso, à solenidade de lançamento da pedra fundamental e pronunciar o seguinte discurso: Oração Estas palavras deveriam ser pronunciadas de joelhos! Não é somente um humilde cristão, que se vem postar diante da grande Santinha, cuja intercessão fez em sua família uma cura maravilhosa e uma verdadeira ressurreição, verificados por dois médicos celebres nada crentes, e atestadas por um apóstolo ilustre da Igreja, o Padre Rubilon, evangelista dedicado da sublime doutrina da terna Flor do Carmelo em meu país. É o Brasil católico, posso dizer, o Brasil inteiro, que eu represento neste instante, porque todos os brasileiros são servos fiéis de Deus; é a minha Pátria, ela mesma que junta a sua voz a este concerto magnífico de preces que, de todos os cantos do Universo, convergem para a França, a terra predestinada dos Santos, para exaltar as graças na pequenina, mas, sem dúvida, a mais brilhante das estrelas do firmamento da Igreja. Santa Teresa de Lisieux, dizem na minha terra, é a Santa dos Brasileiros. Ela é também a padroeira bem-aventurada de toda a America do Sul. No Brasil, sobre um vasto território, quinze vezes maior que a França, não há um só lugar, onde, pelas cidades
Escritor, Jornalista, Político Maranhense. Ensaísta, Pesquisador, Memorialista. Intelectual, Ativista, Produtor Cultural. Idealista. Visionário. Dunshee de Abranches foi sócio de diversas instituições sociais, culturais e de classe de seu tempo, dentre outras, Ordem dos Advogados do Brasil, de que foi membro do Conselho Federal e do Instituto dos Advogados. Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI 138. Patrono da Cadeira 40, da Academia Maranhense de Letras. Não deve ser confundido com outros “Dunshee” ilustres. Faleceu em Petrópolis, em 11 de março de 1941, com 74 anos de idade. Escreveu dezenas de obras 139 entre as quais, “A Setembrada”, “Garcia de Abranches - O Censor”. Encontra-se na “Estante do Escritor Tocantinense”, da Biblioteca Pública, do Espaço Cultural de Palmas.140. e pelas aldeias, através das florestas virgens, a influencia de nossa Santinha não se tenha feito sentir por favores extraordinários. Um dia, de sua diocese, situada bem longe dos centos civilizados, D. Alberto, o bispo-missionário, pediu-me uma estátua da celeste Carmelita para a sua Catedral. No dia seguinte ao da chegada de seu destino, todos os alunos de uma escola protestante abandonaram o professor para se dirigir ao Catecismo. Desde este momento, a chuva de rosas não cesso u de cair sobre essas longínquas regiões. A inauguração do altar da Santa foi celebrada por mais de 17.000 comunhões! No Rio de Janeiro, já possuímos a soberba Basílica de Santa Teresa do Menino Jesus, benta, o ano passado, por D. Sebastião Leme, mui justamente cognominado pelo povo – o Arcebispo da Eucaristia. Em São Paulo, outro templo monumental se levanta. E, por todos os Estados Brasileiros, vê-se sempre nas igrejas, nas capelas e nos lares dos ricos e dos pobres, ao lado do Sagrado Coração de Jesus, a imagem sorridente de sua pequenina esposa do Carmelo. Esta basílica, cuja primeira pedra hoje colocamos, será sem dúvida a cidadela invencível de todos os missionários do mundo. De suas muralhas inexpugnáveis, brancas e imaculadas como a Hóstia, partirão bem depressa, em massa, os pregadores predestinados, os novos evangelistas do Amor de Jesus! Senhores, basta de ilusões inúteis! Basta de vaidades efêmeras! Somente o Amor de Jesus, só ele, poderá realizar o supremo ideal dos povos contemporâneos - A PAZ UNIVERSAL! Santa Teresa do Menino Jesus! O Brasil, a terra de Santa Cruz, está a vossos pés! Salve! (Tradução portuguesa da oração que foi proferida em francês). In MEIRELES, Mário Martins; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; VIEIRA FILHO, Domingos (org.). Antologia Da Academia Maranhense De Letras – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 124-125. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia). 138 Ao assumir a presidência da Associação, gozava de boa fama como jornalista, advogado e político (deputado federal à sombra do Barão do Rio Branco). Admirador do modesto confrade Gustavo, foi ele quem lhe trouxe, de uma viagem à França, os dados essenciais para o estabelecimento da Associação (leis e regulamentos de entidades semelhantes e sindicais). João Dunshee de Abranches Moura foi empossado na Presidência da ABI em 13 de maio de 1910, com o apoio integral do grupo que controlava a Associação e prometendo defender a liberdade de pensamento a qualquer custo. Em 1911, foi reeleito para mais dois anos de mandato. Durante sua administração, várias providências foram tomadas, como a reforma estatutária, a mudança de nome para Associação de Imprensa dos Estados Unidos do Brasil, a criação da biblioteca e do cargo de bibliotecário, de congressos de jornalistas, e de um Tribunal de Imprensa, destinado a julgar conflitos da categoria. No mesmo período, foi instituída a carteira de jornalista, como instrumento de identidade e do exercício efetivo da profissão; o distintivo de sócio, e um fundo de auxílio funeral. A Associação ganhou uma sede modesta no primeiro andar de um prédio da Avenida Central (atual Rio Branco), na esquina com a Rua da Assembléia. Devem-se a Dunshee os primeiros projetos da Escola de Jornalismo, reivindicação dos fundadores da ABI. Também lhe ficamos obrigados pela mudança do Estatuto corporativo. Ocupado com afazeres oficiais e particulares, Dunshee renunciou ao cargo. Fora abolicionista, estudava História e Ciência Política e dedicava-se à música. Escreveu dezenas de livros. Dele é o pensamento: "Os jornais, de fato e de direito, constituem uma força preciosa, necessária e bem organizada para encaminhamento e solução dos mais sérios e importantes problemas sociais" (1911). A diretora-proprietária do Jornal do Brasil e antiga associada, Condessa Maurina Pereira Carneiro, era filha de Dunshee de Abranches. In ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Disponível em http://www.abi.org.br/; SIGISMUNDO, Fernando. Os 95 anos da ABI. In Observatório Da Imprensa. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/. 139 Bibliografia de Dunshee de Abranches Moura: 01. ‘Sou a Revolução’, discurso: São Luís, 1883. 02. ‘Selva’, poesias. Tipografia Frias: São Luis, 1885. 03. ‘Transformações do Trabalho’, memória. São Luís: Tip. Pacotilha, 1888. 04. ‘Pela Paz’, poemas. Rio [de Janeiro]: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 05. ‘Cartas de um Sebastianista, sátiras em verso. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 06. ‘Memórias de um Histórico’, 2 vols. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 07. ‘Crítica de Arte’ – o Salão de 1896’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 08. ‘Como se faz o Jornal do Brasil’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 09. ‘Papá Basílio’, romance sob o pseudônimo de Ferreira de Andrade. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1898. 10. ‘O ano negro da República’, retrospecto político. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1889. 11. ‘O 10 de abril’, narrativa histórica. Rio de Janeiro: Of. de ‘O Dia’, 1901.
Dunshee de Abranches fez poesia141, ensinou Direito na Alemanha, escreveu romances, militou na imprensa, exerceu mandatos políticos e foi, acima de tudo, memorialista de um longo período da vida maranhense e brasileira142. 12. ‘Institutos equiparados’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 13. ‘Exames Gerais de Preparatórios’, inquérito. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 14. ‘Ensino Superior e Faculdades Livres’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905 15. ‘O Tratado de Bogotá’, memória histórica. Rio de janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 16. ‘Atos e Atos do Governo Provisório’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 17. ‘Reforma da Justiça Militar’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 18. ‘Tratados do Comércio e navegação do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909. 19. ‘Necrológio Político do Dr. Benedito Leite’. São Luís: Tip. Frias, 1909. 20. ‘A Lagoa Mirim e o Barão do Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 21. ‘Limites com o Peru’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 22. ‘Associação de Imprensa’, relatório. Rio de janeiro: Tip. Do Jornal do Comércio, 1911. 23. ‘Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1911. 24. ‘O Brasil e o Arbitramento’. Rio de Janeiro: Tip. Leusinger, 1911. 25. ‘O maior dos Brasileiros’, defesa póstuma de Rio Branco. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1912. 26. ‘Pela Itália’, impressões de viagem. Barceloa, Imprenta Viúva de Luis Tasso, 1913. 27. ‘Lourdes’, conferencia. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1914. 28. ‘A Conflagração Européia e suas causas’. Rio de Janeiro: Tip. Jornal do Comércio, 1914. 29. ‘Em torno de um discurso’, entrevista. Rio de janeiro: Tip. Almjeida Marques, 1914. 30. ‘A administração da República e a obra financeira do Dr. Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 31. ‘O A.B.C. e a Política Americana’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 32. ‘Expansão Econômica e Comércio Exterior do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 33. ‘Brazil and a Monroe Doutrine’, memória. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 34. ‘A Inglaterra e a Soberania do Brasil’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1915. 35. ‘A cultura do arroz e o protecionismo político’, memória. São Paulo: 1916. 36. ‘Código Penal Militar’, projeto de lei. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 37. ‘A Black-list e o Projeto Dunshee’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 38. ‘Ainda a Black-list’, carta ao Presidente da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 39. ‘A Alemanha e a Paz’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques & Cia, 1917. 40. ‘Contra a Guerra’. Rio de Janeiro: Tip. da Rev. dos Tribunais, 1917. 41. ‘A Ilusão brasileira’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917. 42. “Candidaturas Presidenciais – Rui e Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Tip. Da Revista dos Tribunais, 1917. 43. ‘Governos e Congressos da República – 1899-1917’. São Paulo: Tipografia Brasil, 1918. 44. ‘Garcia de Abranches, o Censor – O Maranhão de 1822’. São Paulo: Tip. Rotschild & Cia, 1922. 45. ‘Companhia Brasileira Comercial e Industrial’, relatórios. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1923-1927. 46. ‘O Tratado de Versailles e os alemães no Brasil’. Rio de Janeiro: Casa Vallele, 1924. 47. ‘Minha Santa Teresinha’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 48. ‘Dois sorrisos de Maria’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 49. ‘A Setembrada’, romance histórico. Rio de janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1933. 50. ‘Rio Branco e a Política exterior do Brasil’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Of. Gráfica do Jornal do Brasil, 1945. 51. ‘O Golpe de Estado – Atas e atos do Governo Lucena’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica do Jornal do Brasil, 1954. Dunshee de Abranches deixou ainda, muitas obras inéditas, algumas publicadas em jornais e revistas; traduziu ‘o Crime do Congo’, original de Conan Doyle, e o seu ‘O maior dos Brasileiros’ foi traduzido para o castelhano por Melo Carvalho (El mas distinguido de los brasileños – Imprensa Nacional, Rio, 1913); vários de seus trabalhos foram objeto de mais de uma edição. Sob o pseudônimo de Eurico, o Cirineu, escreveu, ainda, ‘A Ilusão Brasileira’ em séries denominadas de ‘o Livro Negro’, ‘O Livro Verde’ e ‘O Livro Branco’. in MEIRELES, Mário Martins; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; VIEIRA FILHO, Domingos (org.). Antologia Da Academia Maranhense De Letras – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 122123. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia). GASPAR (1993) refere-se a 165 obras. Ainda, que sua produção jornalística, pode-se constatar ser ela a maior de todas as que nos legou, haja vista que somente trilhando esse caminho, conforme de refere Gaspar (1993), encontraria espaço para difundir e polemizar suas convicções políticas, voltadas marcadamente para as lutas abolicionistas e republicadas. Colaborou com diversos periódicos de São Luís, e pelo Brasil afora, sempre fiel a seus princípios morais e doutrinários. Foi colaborador, dentre outros, do Federação de Porto Alegre, a República do Pará, A Federação de Manaus, Jornal do Brasil, A Notícia, Jornal do Comércio e O País, do Rio de Janeiro. Muitas das vezes, usava pseudônimos. 140 MARTINS, Mário Ribeiro. Dicionário Biobibliográfico Do Tocantins. Rio de Janeiro: MASTER, 2001. 141 “Polígrafo, e como todo intelectual da época, poeta, interessado pelas coisas da Ciência e do espírito... No começo do século, já tendo escrito os poemas Selva, Cartas de um Sebastianista e Pela Paz, embora fora do Maranhão, toma conhecimento da
Dentro da tradição desta Casa, de se apresentar este elogio do Patrono da cadeira que se assume, procurei destacar alguns eventos pouco explorados na biografia desse ilustre maranhense: o de ‘sportman’. Ainda dentro da tradição, reportar-me-ei, em breves palavras, aos ocupantes anteriores desta Cadeira 40, que ora assumo: JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA RIBAMAR PEREIRA143 – nascido em São Luís em 17 de setembro de 1897, filho do Dr. Alcides Jansen Serra Lima Pereira (advogado) e da poetisa Cristina dos Santos Pereira. Jornalista, poeta, teatrólogo. Fez seus estudos primários no Instituto Nina Rodrigues, passando depois para o Instituto Maranhense, dirigido pelo Professor Oscar de Barros e, em seguida para o Colégio dos Maristas, realizando exames de preparatórios no Colégio Pedro II da Bahia de Salvador. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará em 1925, tendo sido orador de sua escola em todas as solenidades, inclusive nas comemorações do 11 de Agosto (instituição dos Cursos Jurídicos no Brasil). Como orador da Liga Nacionalista falava todos os domingos em praça pública. Em maio de 1920, como sorteado, serviu no 26º. Batalhão de Caçadores, acantonado em Belém, passando a trabalhar na Escola Regimental, que organizou e dirigiu. Fez, na terra guajarina, sua formação espiritual, colaborando intensamente na ‘Folha do Norte’, com Paulo Maranhão; no ‘Estado do Pará’, com Santana Marques e Arnaldo Lobo; no ‘Imparcial’ com Djard de Mendonça e Adamastor Lopes; na “Evolução” com o senador Fulgêncio Simões; e na Revista ‘Guajarina’. Regressando a São Luís, passou a advogar com seu pai, sendo sucessivamente nomeado Colaborador, Praticante e Terceiro Escriturário do Congresso do Estado; Assistente Judiciário ao Proletariado; 2º. Promotor Público da Comarca da Capital. Por treze anos foi consultor jurídico da Caixa de Aposentadoria e Pensões de Serviços Públicos dos estados do Maranhão e Piauí; exerceu o cargo de 1º. Promotor Público da Comarca de São Luís. Em 1924, quando acadêmico, exerceu o cargo de professor de Geografia e História do Brasil, do Curso Ginasial do Liceu Maranhense e, em 1926, de abril a outubro, o cargo de professor de Literatura Brasileira do mesmo estabelecimento. Já formado, lecionou História do Brasil no Ateneu Teixeira Mendes, no Colégio São Luís de Gonzaga, na Academia de Comércio do Maranhão e na Escola de Agronomia, tendo sido um dos fundadores destes dois últimos estabelecimentos. Foi redator da ‘Folha do Norte’ e colaborou em ‘O Dia’, “Correio da Tarde’, ‘Tribuna’, e ‘Revista do Norte’, assim como no ‘Jornal Pequeno’, de Recife, ‘A Tarde’, da Bahia, e ‘Tribuna’, de Santos. Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, OAB-MA, e Associação Maranhense de Imprensa. Publicou: Discursos Acadêmicos (Faculdade de Direito do Pará); Os dez mandamentos do Operário; Duas Teses (concorrendo a cadeira de literatura do Liceu Maranhense); Alma - livro de versos, com a qual entrou para a Casa de Antonio Lobo. Autor de 214 produções musicais escreveu o Hino a Bandeira Maranhense. Foi presidente de honra da União Artística Operária Caxiense. Morreu em 1948. JOSÉ DE RIBAMAR DA SILVA FERREIRA 144 SILVA FERREIRA nasceu em 03 de janeiro de 1910, nesta cidade de São Luís. Filho de José Vicente Ferreira e Delfina Maria da Silva Ferreira. Casado com Eulina Gomes Duarte Ferreira deixou três filhos: existência, na província, da sociedade literária Oficina dos Novos e da Renascença Maranhense... Também de importância histórica... a presença de Dunshee de Abranches é forte o suficiente para que o poeta não fique no ouvido e seja também lembrado pelos historiadores, críticos literários e poetas que tiverem interesse pela ‘legião dos atenienses’...” in ASSIS BRASIL (org.). A Poesia Maranhense No Século XX (Antologia). Rio de Janeiro: Imago; São Luís: SIOGE, 1994, p. 49-51. 142 FREITAS, Joseth Coutinho Martins de. Cadeira De No. 40 – Patrono: João Dunshee De Abrantes Moura. IN CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. Patronos & Ocupantes De Cadeira. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 185-188. 143 IHGM – livro de anotações de Sócios Efetivos, p. 39-39v, (s.d). COUTINHO, Milson. Memoria Da Advocacia Do Maranhão. São Luis: Clara, 2007. 144 CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. Patronos & Ocupantes De Cadeira. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 187
José de Ribamar da Silva Ferreira (médico), Fernando José Duarte Ferreira e Antonio José Duarte Ferreira (ambos, advogados). Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito de São Luís, especializando-se em Direito do Trabalho. Foi funcionário do Ministério da Agricultura; exerceu a advocacia defendendo diversos sindicatos classistas, patronais e de empregados, além de representar inúmeras firmas - Varig, Singer, Lojas Brasileiras, Abraão Skeff, J. Aquino Alencar, e outras. Exerceu a função de jornalista. Foi também Juiz do Tribunal Eleitoral e professor universitário. Faleceu a 25 de julho de 1985. PEDRO RATIS DE SANTANA145 Nascido em São Luís em 26 de abril de 1906. Foi membro da Polícia Militar, galgando os postos de Cabo até Capitão, patente em que se reformou. Fundou o Clube de Sargentos da Polícia Militar. Deve-se destacar que foi o primeiro Oficial da corporação a ter nível superior. Bacharelou-se em Geografia e em História, pela Faculdade de Filosofia de São Luís. Exerceu diversos cargos: Diretor do Liceu Maranhense, do Colégio Municipal Luis Viana, do Ensino Médico do Município (sic), e membro da Comissão Executiva da ADESG – Delegacia do Maranhão. Como Professor, exerceu o magistério nos colégios Batista, Cardoso de Amorim, São Francisco de Assis. Pesquisador publicou inúmeros trabalhos em jornais e revistas, colaborador ativo da Revista do IHGM. Jornalista manteve no Jornal Pequeno uma coluna – Gotas de Luz -, mesmo nome de programa que mantinha na Rádio Timbira. Palestrante se manifestava quando das comemorações de nossas datas históricas. Homem de Fé desenvolveu verdadeira ação religiosa e social na Penitenciaria de Pedrinhas - foi uma das maiores autoridades presbiterianas em São Luís, um dos fundadores da Igreja Presbiteriana do Vinhais. Escritor deixou publicado o livro “Problemas Sexuais à luz da Bíblia e da Ciência” e inédito “ Estudos sócio-políticos e geográficos do Maranhão”. Faleceu em 16 de janeiro de 1990, nesta cidade. Obrigado, Senhores membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, pela convocação para essa missão que almejo cumprir com amor e dedicação. Obrigado, caros confrades, por me acolherem para prosseguirmos, juntos, na grande obra iniciada por Antonio Lopes. Obrigado, Senhoras e Senhores, pela muita paciência para ouvir-me... Obrigado...
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CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. Patronos & Ocupantes De Cadeira. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 187-188
O "SPORTMAN" ALUÍSIO AZEVEDO146 Durante o último Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança 147, realizado em Gramado-RS, discutiu-se as influências britânica e norte-americana na implantação do esporte moderno na América Latina. Considerou-se necessária uma revisão objetiva e mudança no foco dominante no processo de construção da identidade cultural onde essas influências anglo-saxônicas teriam atuado mais como ponto de partida ao qual se seguiram apropriações e autodesenvolvimento por parte das iniciativas locais (DaCOSTA, 2.000)148. Embora Dejard Martins (1989) 149 registre que o nascimento das atividades esportivas em Maranhão se deu pelas mãos de JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS - Nhozinho Santos - e do clube esportivo e social fundado na Fábrica "Santa Izabel", em 27 de outubro de 1907 - o FABRIL ATHLETIC CLUB - para a prática do "foot-ball association", do Tênis, do Cricket, do Crockt, do Tiro, e do Atletismo, VAZ (1991150, 1999151, 2000a152) e VAZ e VAZ (2000c153, 2000 d154) trazem que manifestações do lúdico e do movimento aparecem em Maranhão desde o período colonial e que já eram praticadas atividades físicas desde a fundação das primeiras escolas, nos anos 1830-1840. Com a movimentação esportiva que se tinha nessa primeira década do século XX, Martins (1989:281)51 afirma que "estávamos começando a experimentar uma época em que a nossa mocidade principiava a entender o quanto era importante praticar esporte e desenvolver a formação física" 155. Observa-se, com certa facilidade, que existe na trajetória histórica do futebol brasileiro determinantes comuns, nas equipes que foram criadas no início deste século (FREITAS JÚNIOR, 1998 156, 2000157), em que uma das matrizes propostas por esse autor repete-se em São Luís do Maranhão, quando da fundação do Fabril Athletic Clube:
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Este artigo tem a co-autoria da Profa. Delzuite Dantas Brito Vaz, do "Liceu Maranhense". Uma primeira versão foi publicada em "O Imparcial", São Luís, Domingo, 16 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 5; outra versão, em Lecturas: Educación Física Y Deportes, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com; e outra, na Revista Nova Atenas De Educação Tecnológica, São Luis, v.3, n.2, julho a dezembro de 2000 , disponível em www.cefet-ma.br. 147 Coletâneas do VII Congresso Brasileiro de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, Gramado-RS, 28 de maio a 1º de junho de 2.000. Porto Alegre: UFRGS 148 DaCOSTA, Lamartine Pereira. Emergência e difusão do desporto moderno na América Latina - influências britânicas e norteameicana: uma revisão crítica. Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/0501/06/2. 000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000, p. 97-102. 149 MARTINS, Dejard Ramos. Esporte - um mergulho no tempo. São Luís: SIOGE, 1989. 150 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do Atletismo no Maranhão. In "O Imparcial", São Luís, 27 de maio de 1991, Segunda-feira, p. 9. Caderno de Esporte Amador. 151 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atividades físicas feminina no Maranhão Imperial (1823-1889). In Lecturas: Educacion Fisica y Deportes, Revista Digital, año 4, no. 14, Buenos Aires, junio 1999, disponível em www.sportquest.com/revista. 152 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O esporte no Maranhão. In "O Estado do Maranhão", São Luís, 16 de maio de 2000a, Terça-feira, p. 4. Caderno Opinião. 153 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do "foot-ball" em Maranhão. In Lecturas : Educación Física y Deportes, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000b, disponível em www.efdeportes.com. 154 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Aluízio Azevedo e a Educação (Física) Feminina. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000c, p. 250-255. 155 "Hontem, às 4 horas da tarde, os aprendizes marinheiros, fizeram exercícios de 'foot-ball' na arena do Fabril Athletic Club e um assalto simulado de florete, sob a direção do respectivo instructor da Escola. Os alumnos revelaram-se disciplinados e agiram com muito garbo e desembaraço. Domingo próximo, às 5 horas da manhã, haverá novo exercício no mesmo local". (O Maranhão, 26/12/1907). 156 FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. Origens do futebol paranaense: a história do Operário Ferroviário Esporte Clube. In Congresso de história do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas... Rio de Janeiro: UGF, 1988, p. 406-414. 157 FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. O futebol profissional e suas conseqüências: estudo de caso de uma equipe do interior do Estado do Paraná. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000, p. 236-240.
"... a convivência de estudantes brasileiros em escolas européias, nos quais a prática do futebol era bastante difundida. Quando retornam ao Brasil, estes estudantes apresentam este jogo para os seus amigos, e mesmo tendo certas dificuldades face às práticas esportivas dominantes na época, o futebol acabou sendo incorporado". (FREITAS JÚNIOR, 2000, p. 237)59. Nhozinho Santos, ao regressar da Inglaterra em 1905 - onde fora estudar para técnico em indústria têxtil, na cidade de Liverpool -, tornara-se um ardoso praticante do "foot ball", e não se esquece de trazer em sua bagagem os apetrechos necessários à prática desse esporte: chuteiras, apitos, bolas, etc., como também para outras atividades esportivas, como o "croket", "crickt", tênis (VAZ, 2000b)55. Assim, naquele final de ano de 1905, reuniram-se na residência dos Santos, na Rua Grande, 1018 (Instituto Zoé Cerveira) além de Nhozinho, seus irmãos Totó e Maneco, alguns amigos e convidados para tratar da implantação do "foot ball association" no Maranhão. Além dos irmãos Santos, estiveram presentes: John Shipton, John Moon, Ernest Dobler, ingleses empregados na Boot Stearship Co. Ld. - Mala Real Inglesa -, Botho & Co. Ld., e os maranhenses Izidoro Aguiar, Edmundo Fernandes, Afonso Gandra, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Carlos Neves, Antero Serejo, e outros mais (MARTINS, 1989: 284)51. Ficou estabelecido que na vasta área da Fábrica seria construído um campo para a prática do futebol. Foram sacrificadas algumas árvores, para que tivesse as dimensões necessárias para a pratica do esporte. A princípio houve alguma dificuldade para se arranjar os onze jogadores para se formarem os times. Os treinamentos eram realizados com dois quadros de oito jogadores, cada. As competições no campo do FAC começaram a despertar a curiosidade dos transeuntes, que assistiam às partidas através de aberturas no cercado da Fabril. Ninguém entendia do que se tratava, ao observarem os rapazes correndo atrás da bola, pois havia muita disputa e muita algazarra. (MARTINS, 1989) 51. As equipes eram formadas pelos times do "Black and White": João Mário; A. Vieira e G. Costa Rodrigues; E. Simas, Moraes Rego e Joaquim Ferreira Belchior; F. Machado, John Shipton, John Moon, M. Lopes e C. Gandra. O do "Red and White" era formado por: João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar e Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, Aluísio Azevedo e José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo. ALUÍSIO AZEVEDO E A EDUCAÇÃO FÍSICA53, 56,158 Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor. Publica em 1879, “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulato”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda: Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1890); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996) 159. Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça o perfil da mulher maranhense, comparando-as à lisboeta desocupada e denunciando o ócio em que viviam. Considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher:
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Aluízio Azevedo e a Educação (Física) Feminina. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000c, p. 250-255. 159 AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 29 ed. São Paulo: Ática, 1996.
"Do procedimento da mulher [...] depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade [...] Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar... “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166, 167)160. O mesmo tema é retomado quando da publicação de "O Mulato", criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo - Antonieta (carta a Julia, "Diário do Maranhão", São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, "Pacotilha", São Luís, 9.6.1881), respectivamente - falando “de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara" (MÉRIEN, 1988:291)62. Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, "lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio" (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, "a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses" (p. 290). A preocupação social é um traço marcante na obra de Aluízio, que buscava, com aguda capacidade de observação, compreender cientificamente os elementos determinantes da realidade do Brasil. Em "O Mulato", faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance: "As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel." (p. 9)62. O "SPORTISTA" Aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para Aluísio de Azevedo: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: "Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (citado por MÉRIEN, 1988: 47) 62. Aluísio Azevedo, aos 38 anos de idade, submete-se a concurso para a carreira diplomática e torna-se cônsul (1895), abandonando a carreira de escritor. Exerce suas atividades em Vigo, um porto europeu - março 1896 a julho de 1897; em Yokohama (setembro 1897 a 1899); em La Plata, de janeiro de 1900 a março de 1903; Salto Oriental, no período de junho de 1903 a janeiro de 1904; em Cardiff, permaneceu por quase três anos, de abril de 1904 a fevereiro de 1907; de lá, foi para Nápoles, assumindo em março de 1907 e permanecendo até outubro de 1910. Após algum tempo no Rio de Janeiro, assumiu o consulado de Assunção em janeiro de 160
MÉRIEN, Jean-Yves. Aluísio Azevedo Vida e Obra (1857-1913) - O verdadeiro Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Banco Sudameris; Brasília: INL, 1988.
1911, permanecendo naquela cidade até outubro, indo para Buenos Aires em novembro, ai ficando até sua morte, em 21 de janeiro de 1913. Apesar de suas andanças pelo mundo, vamos encontrá-lo, em 1907, na sua querida São Luís, participando do grupo de Nhosinho Santos, quando da inauguração do Fabril Athletic Clube. Pertencia ao team "Red and White", formado por João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar, Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo (MARTINS, 1989: 285)51. Aluísio não praticava só o "foot-ball association", certamente aprendido durante sua estada na Inglaterra, onde permaneceu de 1904 a março de 1907. Nesse mesmo mês, estava em São Luís, e o encontramos participando de uma partida de "law-tennes", defendendo as cores do "Red & White". Muito embora seu biógrafo o dê como tendo assumido seu posto em Nápoles no mês de março de 1907 (MÉRIAN, 1988: 618), vamos encontrá-lo participando da partida inaugural do futebol no Maranhão, em 27 de outubro de 1907. Seu "team", o "Red & White", ganhou por 2 x 0, do "Black & White", ambos, equipes internas do Fabril Athletic Club (MARTINS, 1989) 51. Em setembro de 1908, durante as festas do primeiro aniversário dessa agremiação, lá estava novamente, desta feita defendo as cores do F.A.C, contra o Maranhense Futebol Club. A formação foi: João Alves dos Santos; Aluísio Azevedo e José Ramos Bastos; M. Matias, Afonso Gandra e Manoel Alves dos Santos; A. Vieira, Carlos Nina, Antero Novaes e Joaquim Ferreira Belchior. Aluísio jogava como "full back". Como o jogo terminou empatado em 0 a 0, isso exigia uma nova contenda. A 15 de novembro de 1908, as duas equipes voltaram ao campo da Rua Grande para o desempate. O FAC, com: João Alves dos Santos; Manoel Alves dos Santos e Waldemir Araújo; J. Bastos, J. Mário e Aluísio Azevedo; A. Vieira, J. Santos Sobrinho, Antero Novaes, Carlos Neves e A. Gandra. Aluísio jogou como "Half back". Em dezembro de 1908, o Fabril elegia nova diretoria, e Aluísio é eleito como suplente. No dia 31 de janeiro de 1909 ocorre um encontro entre o Maranhão Foot-Ball Club e o F.A.C., como partida preparatória para o festival de inauguração daquele club: "Fabril Athletic Club "Match de Foot-ball em 31 de janeiro de 1909 "Team do 'Fabril Athletic Club - Goal - J. Santos / Full backs - A. Azevedo, E. Simas / Half backs - A. Vieira, A Soeiro, J. Alvim/ Forwards - A. Neves, Ary Faro, T. R. Dowey, João Baptista, J. Santos, J. Santos Sobrinho /Reserve - R. Martins, F. Ribeiro, M. Neves / "Team do Maranhense Foot-ball Club - Goal - J. Mário / Full backs - J. Torres, J. Ferreira / Half backs - J. Santos, B. Queiroz, D. Rodrigues / Forwards - A. Lobão, R. Nunes, J. Gomes, S. Bello, A. Santos / Reserve - A. Figueiredo, A. Gonçalves... “(O Maranhão, 30/01/1909, grifos nossos) No período carnavalesco, as partidas eram interrompidas, voltando somente após a quaresma, conforme chamada de maio de 1908, conclamando os sócios a comparecerem ao clube, para reiniciarem-se as atividades: "Fabril Athletic Clube "Depois de uma pequena interrupção, haverá uma partida de Foot-ball, para isso estão inscritos os seguintes sócios: "Moraes Rego Júnior - W. Reis - J. Moon - J. Shipton - A. Vieira - J. Prado Costa - A. José Rego Serra - J. Mário - C. Guilhon - Raul S. Martins - Aluízio Azevedo - Antero Novaes - José A. Santos - Alcindo Oliveira - M. Neves - A. Gandra "Começará às 4 1/2 hora da tarde". (O Maranhão, 23 de maio de 1908, grifo nosso).
Essas jornadas esportivas não se limitavam à prática do "foot-ball association", apenas: "Fabril Club "Esteve brilhante a partida realizada hontem. Além de inúmeras famílias e cavalheiros, compareceram à festa a Escola de Aprendizes Marinheiros, que sob o comando de seu hábil instructor Sr. David Santos realisou exercícios de fogo e esgrima de baioneta. "Foi este o esplendido programa cumprido à risca: "Os jogos realisados foram os seguintes: "1.- Corrida com ovos em colheres pelos sócios J. Mário, J. Moon, A. Vieira, J. Shipton, sendo vencedor A. Vieira. "2.- Corrida para enfiar agulhas executadas por C. Neves, J. Mário, A. Santos e A. Azevedo, sendo vencedor C. Neves e seguido por J. Mário. "3.- Exercício de fogo, bayoneta e esgrima pela Escola de Aprendizes Marinheiros. "4.- Crors Cutrey (cross-country) - corrida pedestre com obstáculos por J. Mário, J. Moon, C. Neves, A. Vieira, A. Novaes, J. Shipton, J. Bastos, M. Neves, sendo vencedor J. Mário, seguido muito de perto J. Moon em terceiro logar A. Novaes, C. Neves. "5.- Match de Foot-Ball infantil havendo resultado negativo, por se acharem organizados os teams com força igual. Tomaram parte as seguintes creanças: team Bladi & Whate: Fausto Seabra, José Seabra, Frederico Perdigão, José Lopes, Celso C. Rodrigues, Sylvio Rego, Ruy C. Rodrigues, Antônio Rego, Antônio Santos, José M. Lobo, Lúcio Bauerfeldt. "Team Red & White: João Peixoto, Bráulio Seabra, Luiz Santos, Pedro Paulo R. Araújo, Ivar C. Rodrigues, Acyr Marques, Carlos Perdigão, Gastão Vieira, Justo M. Pereira, Celso Pereira, José Vieira. Servio de Refere M. Shipton". (O Maranhão, Segunda-feira, 08 de junho de 1908, grifos nossos). Em setembro de 1908, era apresentado o programa de uma "matineé sportiva" que seria realizada no Domingo seguinte, na sede do F.A.C., reunindo os "Team Riachuello" - "Estrella Preta" - e o "Team Humaitá" - "Estrella Branca"-, ambos da Escola de Aprendizes Marinheiros, marcada para as 3:45 horas, seguida de outros jogos, como o Concurso gaiato, marcado para as 4:20 horas, sendo concorrentes: A. Novaes, J. Santos Sobrinho, A. Azevedo, A. Vieira; já o Concurso gaiato infantil seria disputado por: Ivar, Luiz, Celso, Bráulio, Soeiro Filho; para a quarta prova do programa, Concurso de Agilidade, estavam inscritos: Franklin, Zuza, Maneco Neves, Gui e Aluísio. Para o "match foot-ball", entre o FAC e o Maranhense, estava inscritos: F. A. Club J. A. Santos A. Azevedo - J. Bastos J. Santos - M. Mathias - A. Gandra M. Santos A. Vieira C. Neves - A. Novaes J. Mário - J. Belchior - R. Serra Martins Captain - C. Neves Referee - J. M. A. Santos
M. Foot-ball Club A. Santos J. Torres - J. Ferreira E. Souza - R. Nunes - B. Queiroz A. Lobão - A. Guterrez A. Silva - J. Gomes - I. Meireles - J. Santos - M. Amorim Captain - A. Silva
após a partida de futebol, seria realizada a "Tug of War" (cabo de guerra), inscritos: Fausto - Antoninho Ruy - Zeca - Carlos Alberto - Soeiro Filho - Gastão - Yoyô - Lady - Lúcio - José - Adolpho Salles (O Maranhão, sabbado, 26 de setembro de 1908).
Na edição da Segunda-feira seguinte - 28 de setembro de 1908 - esse jornal apresenta o resultado dos "matchs" ocorridos: o jogo entre as duas equipes da Escola de Aprendizes Marinheiros terminou empatado em 1 x 1. Ficamos sabendo o que eram aqueles "concursos gaiatos", em que participaram os "sportemen" ludovicences, a elite econômica e intelectual da Atenas brasileira, Aluísio Azevedo, dentre eles: o primeiro deles - para adultos - foi vestir bonecas, saindo vencedor Anthero Novaes e J. Santos Sobrinho; o concurso infantil - enfiar agulha - foi vencido pelo menino Soeiro Filho, enquanto o concurso de agilidade consistiu de abrir garrafas de cola e beber o conteúdo, obtendo o primeiro lugar Manuel Neves. O jogo de futebol entre os dois clubes também terminou empatado, enquanto no Cabo de Guerra - "Tug of War" - o vencedor foi o lado encarnado. O ano de 1908 é encerrado com um jogo entre o F.A.C. e o Maranhense, em comemoração à proclamação da República, terminando em 2 x 0 para a representação fabrilense. Aluísio Azevedo não participa desse jogo, sendo substituído por J. Alvim. Certamente ainda de luto por seu irmão, Arthur Azevedo, ocorrido trinta dias antes, no Rio de Janeiro. DaCosta (2.000)50 considera que o estudo da influência inglesa ou norte-americana no esporte da América Latina passa pelo risco de simplesmente repetir a interpretação da submissão, imitação ou da dependência cultural ao não se distinguir a atividade esportiva de outros fatos culturais, e que essa tão decantada influência inglesa fixou-se no clube de elite encontrado em quase toda a América Latina. Nhosinho Santos, ao regressar da Inglaterra após seus estudos, "inaugura" o esporte moderno na sua São Luís, criando - nos terrenos da Fábrica Santa Izabel, de propriedade de sua família - um "club social e sportivo" nos moldes ingleses, para a prática não só do "foot-ball association" e de outros esportes "croket", "crickt", "law-tennis" - já praticados pelos súditos ingleses que exerciam suas atividades no Maranhão. Aluísio Azevedo, moço pobre, que teve que exercer a função de caixeiro para poder sobreviver; depois, caricaturista em jornais do Rio de Janeiro - para onde fora levado por seu irmão, Arthur -, é obrigado a retornar ao Maranhão, com a morte de seu pai, passando a exercer a profissão de escritor. Por ser solteiro, consegue sobreviver de seus escritos. Cansado de viver sempre em estado de miséria, procura no serviço burocrático emprego, submetendo-se a concurso para a carreira diplomática - seu pai, comerciante, fora também vice-cônsul de Portugal no Maranhão. Abandona então a carreira de escritor... Certamente, por ter exercido suas funções de cônsul em Europa e Japão e convivido com o corpo diplomático, absorveu certos hábitos, como a prática de esportes, que já lhe era familiar, dada à educação que recebera. Encontra, em uma de suas passagens por São Luís, um ambiente requintado, em que as elites se entretinham em práticas esportivas, sendo o "foot-ball association" a coqueluche da época. Aos 50 anos de idade, vamos encontrá-lo jogando futebol, na posição de "full-back", outras vezes como "half-back", ou praticando o "law-tennis", ou participando de concursos "gaiatos", nas reuniões esportivas e sociais daquele início de século, constituindo-se em um verdadeiro "sportman".
O “SPORTMAN” ANTONIO LOPES DA CUNHA O REMO E AS REGATAS NO MARANHÃO O remo foi implantado no ano de 1900, pelos "sportsmen" maranhenses utilizando-se dos rios Anil e Bacanga. É desse ano a criação do "Clube de Regatas Maranhense", instalado na Rua do Sol, 36: "CLUB DE REGATAS MARANHENSE - Director Presidente - Manoel G. Moreira Nina; Vice Director Presidente - Jorge Brown; Director Secretário - José Carneiro Freitas; Director Thesoureiro - Benedicto J. Sena Lima Pereira; Director Gerente - Alexandre C. Moreira Nina; Supplentes: 1º - Manoel A. Barros; 2º Othon Chateau; 3º José F. Moreira de Souza; 4º - Antônio José Silva; 5º - Almir Pinheiro Neves; Commissão d'Estatutos: Dr. Alcides Pereira; Eduardo de A. Mello; Manoel Azevedo; Arthur Barboza Pinto; João Pedro Cruz Ribeiro".161 Essa iniciativa foi efêmera. Os primeiros passos foram dados, para colocar as coisas no rumo certo, mas faltaram recursos para aquisição das embarcações. Encontramos, nos anos seguintes, algumas iniciativas de se manter essa prática esportiva, sendo realizados alguns eventos nos anos de 1908 (a 13 de setembro voltou-se a falar na implantação do remo, chegando a ser organizada uma competição, envolvendo duas equipes que guarneciam os escaleres "Pery" e "Continental"); em 1909, nas comemorações do 28 de julho162 houve outra prova, tomando parte da mesma militares do 24º BC e da Marinha, sendo utilizado barco a dois remos. A elite maranhense fez-se presente tomando parte ativa. Lembramos que em 1907, Nhozinho Santos funda o Fabril Athletic Clube – FAC -, nas dependências da Santa Isabel, implantando várias modalidades esportivas, como o futebol, o atletismo, o tênis, o cricket, o crocket. Outras agremiações surgem, ao lado de algumas já existentes e que iniciam, também, a prática de vários esportes163. De 1910 a 1915, houve uma grande crise do esporte maranhense, com a implantação, o ressurgimento e a extinção de várias equipes, clubes, esportes... Mesmo com esses contratempos, foram promovidas algumas competições, sempre no rio Anil. A partir de 1915 houve um que renascimento dos esportes, graças à iniciativa de Mr. Clissot, cônsul inglês na cidade. O remo e o futebol estavam entre os esportes de preferência da juventude.164 Nos anos seguintes, e até o final dos anos 20, promoveram-se alguns festivais, no rio Anil, sempre com receios de ataques de tubarões, que subiam para desfrutar dos dejetos despejados pelo Matadouro Modelo. Em 1916 houve uma competição que tinha como objetivo implantar, definitivamente, o remo, inclusive com a criação de uma "Liga do Remo". (MARTINS, 1989, p. 217).165. ANTÔNIO LOPES Antônio Lopes da Cunha nasceu na cidade de Viana – Maranhão -, em dia 25 de maio de 1889 e faleceu em São Luís aos 29 de novembro de 1950. Filho do desembargador (e futuro governador do Estado) Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha. 161
REGENERAÇÃO, 21 de fevereiro de 1900. in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Remo no Maranhão – 1900-1929. In DaCOSTA, Lamartine Pereira (Org). Atlas Do Esporte No Brasil. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 3-2. 29. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/textos/193.pdf 162 Em 28 de julho é comemorada a data da adesão do Maranhão à Independência do Brasil. É também a data comemorativa máxima do IHGM. 163 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Introdução do Esporte (moderno) em Maranhão. VIII Congresso De História Da Educação Física, Esporte, Lazer E Dança. Ponta Grossa, 2002. 164 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cluster esportivo de São Luís do Maranhão, 1860 - 1910. In DaCOSTA, Lamartine Pereira (Org). Atlas do esporte no Brasil. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 2.7 Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/textos/10.pdf 165 MARTINS, Djard Ramos. Esporte: Um Mergulho No Tempo. São Luís: 1989
Fez os preparatórios em São Luís. Em 1911, concluído seu curso de ciências jurídicas, na cidade de Recife. Foi durante os seus estudos em Recife que Antônio Lopes deu os seus passos iniciais na atividade literária, ao lançar Litania da Morte166, a primeira obra de sua produção, diversificada em múltiplas facetas, todas de extrema importância. Antes ele já havia fundado, em sua terra, a Revista Vianense, ao lado de Mariano Couto e José Belo Carvalho, “manuscrita, em folhas de papel azul de embrulhar rebuçado”. 167 Retornando à província natal, exerceu o magistério – era professor de Literatura Brasileira no Liceu Maranhense e de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito do Maranhão, marcando sua atuação com uma vasta erudição Jornalista, redigia “A Pacotilha” e “O Imparcial”. Em 1938, fundou com Mauricio Jansen e Urbano Pinheiro o “Diário do Norte”, folha que exerceu grande influencia na mocidade intelectual de São Luís, pois acolhia generosamente aos jovens poetas e escritores. Antonio Lopes da Cunha introduziu o Escotismo no Maranhão, apenas dez anos depois de surgir na Inglaterra; o Grupo Escoteiro 18tão, antiga Associação Maranhense de Escoteiros foi instituída em 20 de maio de 1917. 168 Foi um dos fundadores da Faculdade de Dire Busca-se identificar entre os diversos autores maranhenses aqueles que se tornaram ‘sportman’ ou que escreveram sobre atividades esportivas e/ou de lazer praticadas em São Luís do Maranhão, resgatando-se a memória dessas atividades. ito de São Luís (1918), ao lado de Fran Paxeco, Henrique Couto, Domingos Perdigão e outros. A elite intelectual maranhense sempre esteve envolvida com as coisas do esporte. Antonio Lopes não poderia ser diferente... NO ESPORTE CLUBE LUSO-BRASILEIRO Vamos encontrá-lo em 8 de junho de 1919, sendo aclamado o novo Presidente do Esporte Clube LusoBrasileiro, quando de sua reestruturação169. Fizeram parte da nova diretoria, Edgard Figueira, como Presidente de Honra; o Dr. Tarquínio Lopes Filho, na vice-presidência; José Carneiro Dias Vieira, como Diretor de Esportes. 166
Bibliografia de Antônio Lopes: - O Feio – conferencia pronunciada no Clube Euterpe, em 1908; - Apreciação crítica – in Padrões, livro de versos de Sales e Silva, publicado em 1911; - Celso Magalhães – estudo crítico e biográfico, in Pacotilha, edição de 10.11.1917; - Celso Magalhães – resposta a um artigo de José Ribeiro de Oliveira in Pacotilha Ed. De 19.11.1917; - As caixas escolares, O ensino da Geografia nas escolas primárias, Relatório sobre a Educação Intelectual, - - Noções sobre: ensino obrigatório, a Instrução Escolar, Os Compêndios, A Instrução Publica Municipal de São Luis em 1919 – trabalhos apresentados no Congresso Pedagógico reunudoi em São Luis, em 1920; - Marília e Dirceu – crítica literária in “Geofgrafia e História no. 1, 1926; - O Dicionário Histórico e Geográfico do Maranhão – idem; - Armorial maranhense – idem; - Comendador João Gualberto da Costa – esboço bibliográfico, 1944; - Topônimos Tupi s no Maranhão – estudo sobre a toponímia tupi do Estado, publicado na Revista de Geografia e História no. 2, junho de 1947; - Topônimos Tupis no Maranhão – idem, no. 3, fevereiro de 1950; - Raimundo Lopes – bibliografia, in Revista de Geografia e Historia, no. 2, 1947; - Para a História do Maranhão – idem, 1947; - A História de São Luis – in Geografia e História, Revista do IHGM no. 1, novembro de 1949; - Uma grande data – idem; - A Capitania de Cumâ – Anais do IV Congresso de História Nacional. 4º. Volume, IHGB, 1950; - Alcântara – Rio 1957; - A Imprensa no Maranhão, Rio, 1957; - Presença do Romanceiro, Rio, 1967; Deixou em jornais e revistas do Maranhão um bom numero de artigos sobre o Folclore no Maranhão, sendo de notar um estudo sobre Santo Antonio e o Folclore. (in LOPES, Antonio. Estudos Diversos. São Luís, Sioge, 1973 – notas na orelha do livro) 167 In GASPAR, Carlos. Antonio Lopes Da Cunha – Um Notável Homem Das Letras. www.vianacidadedoslagos.com.br 168 In http://www.18tao.org.br/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=2 169 O Luso Brasileiro fundado em 24 de fevereiro de 1917
A nova sede do clube localizava-se no tradicional Largo do Carmo, 16 (numeração antiga). Era dotada de extenso salão nobre belamente ornamentado, sala de jogos, salão de bilhar. Destacou-se o discurso, de improviso empolgando a todos, do Dr. Antonio Lopes, fazendo uma homenagem ao ex-sócio João Rego, falecido recentemente, deixando enlutado o mundo esportivo maranhense. O novo Presidente entendeu ser necessária uma melhor organização na formação de novos valores esportivos, especialmente para o futebol, evitando-se a importação de ‘cracks’. Entendia a importância da formação de equipes infantis. Na sua organização foram adotadas algumas providenciam consideradas fundamentais: os sócios-meninos só eram admitidos a partir dos 12 anos completos, com autorização dos pais ou responsáveis. Designou atletas da equipe principal – Lauro Lima e Napoleão – como instrutores responsáveis pela preparação física e ‘foot-ball’. Fixou em 50 o número desses associados. Os treinamentos davam-se as quintas-feiras, de maneira que a garotada não fosse prejudicada nos estudos, pois naquele dia era ‘feriado’ nas escolas. Não eram admitidos, para sócios, meninos analfabetos. Todo sócio-mirim, que no fim do mês não apresentasse caderneta da escola donde concluísse sua freqüência normal e a maioria das notas boas, estava passível de sua participação nos treinamentos e jogos, sustada e a continuação dessa irregularidade determinaria mesmo a sua eliminação (MARTINS, 1989, p. 470-473)67. Foi, também, o fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão: “Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha idéia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à idéia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a idéia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto.(p. 110) “A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutidos e votados os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembléia geral. (p. 111)170. “A 2 de dezembro, no Salão da Câmara Municipal, inaugurava-se em sessão magna, em homenagem à memória de D. Pedro II, o Instituto de História e Geografia do Maranhão.” (LOPES, 1973, p. 111) 57 Encontramos, na imprensa local, que em 28 de julho de 1928 promoveu-se uma regata, em homenagem ao comandante Magalhães de Almeida, tendo a frente, dentre outros, o "sportman” Antônio Lopes da Cunha171. 170
LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Remo no Maranhão – 1900-1929. in DaCOSTA, Lamartine Pereira (Org). Atlas Do Esporte No Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 3-2. 29. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/textos/193.pdf
171
OUTROS AUTORES MARANHENSES E A CAPOEIRA DOMINGOS VIEIRA FILHO172 ao traçar a história da Rua dos Apicuns dá-nos notícias de ser local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" 173 contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever... ' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís).". O famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Vieira Filho (1971) afirma que ali alguns domingos antes do carnaval costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. JOSUÉ MONTELLO174 em seu romance “Os Degraus do Paraíso”, em que trata da vida social e dos costumes de São Luiz do Maranhão, na passagem do século XIX para o século XX, conforme relato de Mestre Eli Pimenta: “[...] encontrei uma passagem interessante que fala da Capoeira naquela cidade e naquela época. O autor fala da inauguração da iluminação pública de São Luiz com lampiões de gás, ocorrida em 1863, e comenta as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: ‘Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas." (grifos meus) Eli Pimenta175 comenta que essa alusão à Capoeira encontrada em “Os degraus do Paraíso” nos passa a idéia de que capoeiristas perambulavam pelas ruas de São Luiz na primeira metade do século XIX, e não deixa de ser uma pista promissora de pesquisa para aqueles que querem descobrir a origem da Capoeira no Brasil. DEJARD RAMOS MARTINS176 aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. Considera que tenha sido praticada antes, trazida pelos escravos bandu-angoleses. Fugitivos, os negros a utilizavam como meio de defesa, exercitando-se na prática da capoeira para apurarem a forma física, ganhando agilidade.
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VIEIRA FILHO, Domingos. Breve História Das Ruas E Praças De São Luís. 2a. ed. rev. E aum. São Luís : (s.e.), 1971. ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836. 174 MONTELO, Josué. Os Degraus Do Paraíso. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1965. 175 PIMENTA, Eli. Capoeira em São Luiz do Maranhão. In Jornal Do Capoeira, acessado em 26 de abril de 2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/) 176 MARTINS, Dejard. Esportes: Um Mergulho No Tempo. São Luís: (s.n.), 1989. 173
JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da Rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179) NASCIMENTO DE MORAES177 em uma crônica que retrata os costume e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: “A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (2000, p. 95) Em outro trecho da obra de Nascimento de Moraes, é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”.
COELHO NETO Henrique Maximiano COELHO NETTO - nasceu em Caxias, Maranhão no dia 20 de fevereiro de 1864 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de novembro de 1934. Foi para o Rio de Janeiro com dois anos de idade; estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum dos cursos. Em 1885 relacionou-se com José do Patrocínio, que o introduziu na relação da Gazeta da Tarde; nesse jornal deu início à sua Lista Abolicionista e Republicana. Em 1891, foi publicada sua primeira obra "Rapsódias", um livro de contos. Dedicou-se a literatura com entusiasmo, publicando obras atrás de obras. Escreveu algumas peças teatrais, mais de cem livros e cerca de 650 contos. Foi também um orador de grandes recursos; em 1909 foi catedrático da mesma matéria. Foi deputado na Legislatura de 1909 a 1911; esteve em Buenos Aires como Ministro Plenipotenciário, em Missão Especial. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em 1928, foi consagrado como "Príncipe dos Prosadores Brasileiros". De sua extensa obra literária, destacam-se: "A Capital Federal", "Fruto Proibido", "O Rei Fantasma", "Contos Pátrios", "O Paraíso", "Mano", "As Estações", "Sertão", "Mistério do Natal", "Fogo Fátuo" e "A Cidade Maravilhosa". Também 177
NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed.São Luís: Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000
poeta, escreveu um soneto que se tornaria famoso: "Ser Mãe"; Coelho Neto é o exemplo de fidelidade e dedicação às letras. Henrique Coelho Netto178, um dos mais destacados intelectuais brasileiros do período, ficou indelevelmente associado ao Fluminense Football Club, do qual foi o grande orador e chegou mesmo a compor seu primeiro hino. Seu fervor de torcedor pode ser comprovado em diversos momentos de sua vida, mas um fato pitoresco, em especial, é bastante elucidativo de seu envolvimento emocional com o (futuro) clube do pó-dearroz e com o próprio futebol: o então deputado federal foi protagonista, bengala à mão, da primeira invasão de campo que se tem notícia por conta de um pênalti marcado em prol do Flamengo quando placar já era desfavorável em 3X2 ao Fluminense. Acompanhou Coelho Netto, o delegado Ataliba Dutra e boa parte da torcida forçando, dessa forma, a anulação do jogo179. Recurso extremo, cuja utilização só é considerada por aqueles que não admitiam, em hipótese alguma, que sua agremiação fosse injustamente penalizada por árbitros de má fé. E estes já não eram poucos.180 Para Normando (2003)72 apesar de, inicialmente, o literato ter percebido o esporte bretão, como era conhecido o jogo, tão somente como um passatempo dos imigrantes ricos, assumiu-se, alguns anos depois, como um verdadeiro sportsman, um amante dos esportes, um propagador das benesses físicas e morais que estes trariam aos seus praticantes. E mesmo em que pesasse sua paixão clubística exacerbada, Coelho Netto teceu uma série de argumentos para enaltecer o futebol enquanto prática de aprimoramento físico e instrumento de otimização social. Assim, seu papel era: “[...] criar no país uma “nova raça” que deixasse definitivamente para trás a sua malfadada herança cultural. O modo pelo qual isto poderia ser conseguido fica (...) bastante claro: abrindo mão dos interesses pessoais, todos deveriam trabalhar por uma mesma causa, por um mesmo ideal, como o de “pátria” - não por acaso uma das preocupações básicas dos defensores da melhoria da raça brasileira, que faziam da “propaganda cívica uma das estratégias básicas de sua atuação”.181 A percepção era de que uma melhoria de corpos e mentes seria um resultado da prática esportiva e, em especial, futebolística, visto seu senso de coletividade. Segundo esse discurso eugênico, o espraiamento do futebol facilitaria a intervenção no cotidiano de diversos grupos de trabalhadores, propagandeando os “sentimentos nobres” atribuídos as “raças superiores”, como o senso de disciplina, a harmonia social e o amor à pátria. O escritor explicitou esse pensamento em trechos da letra do primeiro hino do Fluminense, em 1915: [...] Lutando em justos de alegria O nosso esforço se congraça 178
Filho de um comerciante português e uma índia, Coelho Netto nasceu em Caxias (MA) em 21/02/1864 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 28/11/1934. Fundador da cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras, constituiu-se numa destacada figura do cenário literário brasileiro do início do século, exercendo diversos papéis: professor, político, abolicionista, romancista, contista, crítico, teatrólogo. Prolífico, desde sua estréia (Rapsódias, contos de 1891), publicou mais de 25 obras entre contos, romances, crônicas e peças teatrais, entremeadas pelos períodos em que exerceu cargos públicos, inclusive o de deputado federal pelo Maranhão nas legislaturas de 1909 e 1917. 179 PEREIRA, L. A. de M. “O jogo dos sentidos: Os literatos e a popularização do futebol no Rio de Janeiro” In: CHALHOUB, S. & PEREIRA, L.A. de M. (org.) A história contada - Capítulos de história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 200. 180 NORMANDO, Tarcisio Serpa. O Futebol como Objeto de Investigação Acadêmica. In Lecturas: Educacion Física Y Deportes, Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 58 - Marzo de 2003, disponível em http://www.efdeportes.com/. 181 PEREIRA, L. A. de M. “O jogo dos sentidos: Os literatos e a popularização do futebol no Rio de Janeiro” In: CHALHOUB, S. & PEREIRA, L.A. de M. (org.) A história contada - Capítulos de história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 201.
Em torno do ideal viril De avigorar a nova raça do Brasil [...]182 Tão certo estava Coelho Netto de que as práticas esportivas eram excelentes formadoras do caráter individual que educou seus filhos dentro do ambiente esportivo do clube do coração, o Fluminense. Fez deles exemplos de sportsmen. O filho Preguinho talvez tenha sido seu maior orgulho, além da melhor personificação de seu pensamento esportivo. Preguinho ou João Coelho Netto nasceu em 1905. Aos oito anos de idade, numa brincadeira com companheiros, foi jogado num rio e, nervoso por não saber nadar direito, atrapalhou-se e afundou como um prego. A anedota que esteve muito próxima de transformar-se em tragédia, além de legar ao garoto o indefectível apelido, colaborou para que o pai lhe possibilitasse uma educação esportiva variada. O jovem assumiu de tal maneira essa educação esportiva que seu desempenho em múltiplas modalidades foi deveras respeitável e, aquela altura, o pior castigo que o pai poderia lhe impor era afastá-lo das atividades clubísticas183. Preguinho foi campeão de basquete nos anos de 1924, 1925, 1926, 1927 e 1931; foi campeão de atletismo em 1931; praticou com destaque o pólo-aquático, o vôlei, a natação e o hóquei sobre patins. Contudo, suas maiores glórias vieram dos gramados: foi campeão carioca em 1933, 1937 e 1938 pelo clube tricolor que defendia desde 1925. Como atacante marcou 184 gols pela agremiação e teve atuações memoráveis que o levaram a seleção brasileira e o convocaram para primeira Copa do Mundo, a do Uruguai em 1930, na qual conseguiu o feito de marcar o primeiro gol brasileiro nessa competição mundial. Seu preparo técnico e físico fez dele nas décadas de 20 e 30 presença obrigatória em seleções cariocas e brasileiras 184. Em que pese todo o sucesso, jogou a vida inteira como amador: em 1933 durante o período mais intenso de profissionalização de atletas no Rio de Janeiro, recusou-se a receber dinheiro para defender o clube185. O NOSSO JOGO186 Coelho Netto, “O BAZAR” 1922 "Transcrevendo-o do Correio do Povo, de Porto Alegre, publicou O Paiz em seu número de 22 do corrente, um artigo com o título: ‘Cultivemos o jogo de capoeira e tenhamos asco pelo do Box’, firmado pelo correspondente do jornal gaúcho nesta cidade, Dr. Gomes Carmo. Concordamos in limini com o que diz o articulista, valho-me da oportunidade que me abre tal escrito para tornar a um assunto sobre o qual já me manifestei e que também já teve por ele a pena diamantina de Luiz Murat. A capoeiragem devia ser ensinada em todos os colégios, quartéis e navios, não só porque é excelente ginástica, na qual se desenvolve, harmoniosamente, todo o corpo e ainda se apuram os sentidos, como também porque constitui um meio de defesa pessoal superior a todos 182
Coelho Netto apud MATTOS,C. Cem anos de paixão: Uma mitologia carioca no futebol. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 54. Cf. MATTOS, Op. cit., Pp. 52-53. A autora relembra que em 1920, quando da visita do rei da Bélgica, Alberto I, um incidente diplomático envolveu Coelho Netto e Preguinho: ao tentar matar uns passarinhos próximo do Palácio Guanabara, um disparo do jovem Preguinho atingiu a sacada sobre a qual debruçava-se a rainha. Apesar do acionamento da polícia carioca, o episódio foi minimizado pela presença do eminente escritor e pelo desejo do rei em conhecer o garoto que, no dia anterior, cobriu-se de medalhas em provas realizadas em homenagem a Sua Alteza no Estádio das Laranjeiras, de propriedade do time tricolor. Evidentemente seu castigo foi a proibição de freqüentar o Fluminense por um mês. 184 Cf. site oficial da Confederação Brasileira de Futebol (C.B.F.), http://www.brasilfutebol.com/ 185 Esta atitude é, ainda hoje, motivo de orgulho para ala mais tradicional do Fluminense, que o considera “o maior tricolor dos tricolores” e “glória do clube”. Cf. site oficial do fluminense, http://www.flu.com.br/. 186 http://www.capoeira.jex.com.br/ 183
quantos são preconizados pelo estrangeiro e que nós, por tal motivo apenas, não nos envergonhamos de praticar. (negrito do Editor) Todos os povos orgulham-se dos seus esportes nacionais, procurando, cada qual dar primazia ao que cultiva. O francês tem a savate, tem o inglês o boxe; o português desafia valentes com o sarilho do varapau; o espanhol maneja com orgulho a navalha catalã, também usada pelo "fadista" português; o japonês julga-se invencível com o seu jiu-jitsu e não falo de outros esportes clássicos em que se treinam, indistintamente, todos os povos, como a luta, o pugilato a mão livre, a funda e os jogos d`armas. Nós, que possuímos os segredos de um dos exercícios mais ágeis e elegantes, vexamonos de o exibir e, o que mais é, deixamo-nos esmurraçar em ringues por machacazes balordos que, com uma quebra de corpo e um passe baixo, de um "ciscador" dos nossos, iriam mais longe das cordas do que foi Dempsey à repulsa do punho de Firpo. O que matou a capoeiragem entre nós foi...a navalha. Essa arma, entretanto, sutil e covarde, raramente aparecia na mão de um chefe de malta, de um verdadeiro capoeira, que se teria por desonrado se, para derrotar um adversário, se houvesse de servir do ferro. Os grandes condutores de malta " guaymús e nagôs, orgulhavam-se dos seus golpes rápidos e decisivos e eram eles, na gíria do tempo: a cocada, que desmandibulava o camarada ou, quando atirada ao estomago, o deixava em síncope, estabelecido no meio da rua, de boca aberta e olhos em alvo; o grampeamento, lanço de mão aos olhos, com o indicador e o anular em forquilha, que fazia o mano ver estrelas; o cotovelo em ariete ao peito ou ao flanco; a joelhada; o rabo de raia, risco com que Cyriaco derrotou em dois tempos, deixando-o sem sentidos, ao famoso campeão japonês de jiu-jitsu; e eram as rasteiras, desde a de arranque, ou tesoura, até a baixa, ou bahiana; as caneladas, e os pontapés em que alguns eram tão ágeis que chegavam com o bico quadrado das botinas ao queixo do antagonista; e, ainda, as bolachas, desde o tapa-olho, que fulminava, até a de beiço arriba, que esborcinava a boca ao puaia. E os ademanes de engano, os refugos de corpo, as negaças, os saltos de banda, à maneira felina, toda uma ginástica em que o atleta parecia elástico, fugindo ao contrário como a evitá-lo para, a súbitas, cair-lhe em cima, desarmando-o fazendo-o mergulhar num "banho de fumaça". Era tal a valentia desses homens que, se fechava o tempo, como então se dizia, e no tumulto alguém bradava um nome conhecido como:Boca-queimada, Manduca da Praia, Trincaespinha ou Trindade, a debandada começava por parte da polícia e viam-se urbanos e permanentes valendo-se das pernas para não entregarem o chanfalho e os queixos aos famanazes que andavam com eles sempre de candeias às avessas "Dessa geração celebérrima fizeram parte vultos eminentes na política, no professorado, no exército, na marinha como " Duque Estrada Teixeira, cabeça cutuba tanto na tribuna da oposição como no mastigante de algum paróla que se atrevesse a enfrentá-lo à beira da urna: capitão Ataliba Nogueira; os tenentes Lapa e Leite Ribeiro, dois barras; Antonico Sampaio, então aspirante da marinha e por que não citar também Juca Paranhos, que engrandeceu o título de Rio Branco na grande obra patriótica realizada no Itamaraty, que, na mocidade, foi bonzão e disso se orgulhava nas palestras íntimas em que era tão pitoresco. A tais heróis sucederam outros: Augusto Mello, o cabeça de ferro; Zé Caetano, Braga Doutor, Caixeirinho, Ali Babá e, sobre todos o mais valente, Plácido de Abreu, poeta comediógrafo e jornalista, amigo de Lopes Trovão, companheiro de Pardal Mallet e Bilac no O COMBATE, que morreu, com heroicidade de amouco, fuzilado no túnel de Copacabana, e só não dispersou a treda escolta, apesar de enfraquecido, como se achava , com os longos tratos na prisão, porque recebeu a descarga pelas costas quando caminhava na treva, fiado na palavra de um oficial de nome romano. Caindo de encontro às arestas da parede áspera ainda soergue-se, rilhando os dentes, para despedir-se com uma vilta dos que o haviam covardemente atraiçoado. Eram assim os capoeiras de então.
Como os leões são sempre acompanhados de chacais, nas maltas de tais valentes imiscuíam-se assassinos cujo prazer sanguinário consistia em experimentar sardinhas em barrigas do próximo, deventrando-as. O capoeira digno não usava navalha: timbrava em mostrar as mãos limpas quando saia de um turumbamba. Generoso, se trambolhava o adversário, esperava que ele se levantasse para continuar a luta porque: "Não batia em homem deitado"; outros diziam com mais desprezo: "em defunto". Nos terríveis recontros de guaiamus e nagôs, se os chefes decidiam que uma questão fosse resolvida em combate singular, enquanto os dois representantes da cores vermelha e branca se batiam as duas maltas conservam-se à distância e, fosse qual fosse o resultado do duelo, de ambos os lados rompiam aclamações ao triunfador. Dado, porém, que, em tais momentos, estrilassem apitos e surgissem policiais, as duas maltas confraternizavam solidárias na defesa da classe e era uma vez a Força Pública, que deixava em campo, além do prestigio, bonés em banda e chanfalhos à ufa. O capoeira que se prezava tinha oficio ou emprego, vestia com apuro e. se defendia uma causa, como aconteceu com do abolicionismo, não o fazia como mercenário. O capanga, em geral, era um perrengue, nem carrapeta, ao menos , porque os carrapetas, que formavam a linha avançada, com função de escoteiros, eram rapazolas de coragem e destreza provadas e sempre da confiança dos chefes. Nos morros do Vintém e do Néco reuniam-se, às vezes, conselhos nos quais eram severamente julgados crimes e culpas imputados a algum dos das farandulas. Ladrões confessos eram logo excluídos e assassinos que não justificassem com a legitima defesa o crime de que fossem denunciados eram expulsos e às vezes, até, entregues a policias pelos seus próprios chefes. Havia disciplina em tais pandilhas. Quanto às provas de superioridade da capoeiragem sobre os demais esportes de agilidade e força são tantas que seria prolixa a enumeração. Além dos feitos dos contemporâneos de Boca queimada e Manduca da Praia, heróis do período áureo do nosso desestimado esporte, citarei, entre outros, a derrota de famosos jogador de pau, guapo rapagão minhoto, que Augusto Mello duas vezes atirou de catrambias no pomar da sua chacarinha em Vila Isabel onde, depois da luta e dos abraços de cordialidade, foi servida vasta feijoada. Outro: a tunda infligida um grupo de marinheiros franceses de uma corveta Pallas, por Zé Caetano e dois cabras destorcidos. A maruja não esteve com muita delonga e, vendo que a coisa não lhe cheirava bem em terra, atirou-se ao mar salvando-se, a nado, da agilidade dos três turunas, que a não deixavam tomar pé. A última demonstração da superioridade da capoeiragem sobre um dos mais celebrados jogos de destreza deu-nos o negro Cyriaco no antigo Pavilhão Paschoal Segreto fazendo afocinhar, com toda a sua ciência, o jactancioso japonês, campeão do jiu-jitsu. Em 1910, Germano Haslocjer, Luiz Murat e quem escreve estas linhas pensaram em mandar um projeto a Mesa da Câmara dos Deputados tornando obrigatório o ensino da capoeiragem nos institutos oficias e nos quartéis. Desistiram, porém, da idéia porque houve quem a achasse ridícula, simplesmente, por tal jogo era... Brasileiro. Viesse-nos ele com rótulo estrangeiro e tê-lo-íamos aqui, impando importância em todos os clubes esportivos, ensinado por mestres de fama mundial que, talvez, não valessem um dos nossos pés rapados de outrora que, em dois tempos, mandariam um Firpo ou um Dempsey ver vovó, com alguns dentes a menos algumas bossas de mais. Enfim...Vamos aprender a dar murros " é esporte elegante, porque a gente o pratica de luvas, rende dólares e chama-se Box, nome inglês. Capoeira é coisa de galinha, que o digam os que dele saem com galos empoleirados no alto da sinagoga.
É pena que não haja um brasileiro patriota que leva a capoeiragem a Paris, batisandoa, com outro nome, nas águas do Sena, como fez o Duque com o Maxixe. Estou certo de que, se o nosso patriotismo lograsse tal vitória até as senhoras haviam de querer fazer letras, E que linda seriam as escritas! Mas, se tal acontecesse, sei lá! Muitas cabeçadas dariam os homens ao verem o jogo gracioso das mulheres".
NUNES PEREIRA Manuel Nunes Pereira - Nunes Pereira - (1892 — 1985), nascido no Estado do Maranhão, foi um antropólogo e ictiólogo que viveu grande parte de sua vida em Manaus, e, posteriormente, na cidade do Rio de Janeiro187. Coelho Netto – transformado em uma, nem sempre bem sucedida, agencia de empregos, solicitou a um amigo uma colocação a Nunes Pereira: “Prestes amigo, O portador, Manuel Nunes Pereira, é poeta e do Maranhão, já se vê, filho da oliveira e da cigarra. Dá-lhe tu que o tens, um lugarzinho no posto que és defensor perpétuo e escracha contrabandistas. Se deferires este meu pedido, saberei cantar-te o favor em rimas de ouro, as quais já levam o selo e o coração do teu, Coelho Netto”.188 Nunes Pereira foi veterinário do Ministério da Agricultura até a sua aposentadoria e teve alguns de seus opúsculos científicos editados pela Div. de Caça e Pesca do M.A. (O pirarucu, A tartaruga verdadeira do Amazonas e O peixe-boi da Amazônia, tendo sido este último artigo científico publicado, em 1944, no Boletim do Ministério da Agricultura). Escreveu diversos livros189, sendo a sua obra mais conhecida Moronguetá - um decameron indígena, conjunto monumental de pesquisas, apresentado por Thiago de Mello (dois tomos), onde constam reproduções de páginas de cartas a Nunes Pereira emanadas de cientistas sociais como Roger Bastide e 187
In http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Nunes_Pereira CORRÊA, Rossini. Atenas Brasileira – a cultura maranhense na civilização nacional. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001, p. 149-150 189 Obras de Manuel Nunes Pereira Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos voduns, do panteão Daomeano, no Estado do Maranhão. Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947 (2.ed Petrópolis: Vozes, Rio de Janeiro, 1979) Moronguetá - Um Decameron Indígena. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. 2 vols. (Coleção Retratos do Brasil, nº 50) Panorama da alimentação indígena: comidas, bebidas e tóxicos na Amazônia Brasileira. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1974 Os índios maués. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954 Curt Nimuendaju, síntese de uma vida e obra, 1946 O sahiré e o marabaixo: tradições da Amazônia. 2ª ed. Recife: Fundação Joaquim Nabuco / Ed. Massangana, 1989 (Série Estudos e Pesquisa, nº 64). Apresentação de Savério Roppa A Ilha de Marajó: estudo econômico-social. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1956 (Série Estudos Brasileiros, n. 8) Barbosa Rodrigues: um naturalista brasileiro na Amazônia O pirarucu. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Divisão de Caça e Pesca (Opúsculo) A tartaruga verdadeira do Amazonas (resumo informativo). Reedição. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Divisão de Caça e Pesca, 1954 (Opúsculo) ["Este livreto [A tartaruga verdadeira do Amazonas] de 17 páginas foi elaborado pelo veterinário Nunes Pereira e trata-se uma obra bastante interessante e extremamente difícil de ser encontrada nas bibliotecas e acervos públicos", http://www.omelhordaweb.com.br/imprime_coluna.php?cdColuna=32] O peixe-boi da Amazônia (1944). Boletim do Ministério da Agricultura, Rio de Janeiro, 33(5):21-95 188
Claude Lévi-Strauss. Com esses estudiosos o antropólogo maranhense-amazonense travou contato pessoal, quando da passagem deles pelo Brasil. Carlos Drummond de Andrade escreveu, no Jornal do Brasil, uma crônica sobre o autor de Os índios maués, um dos primeiros pesquisadores mestiços brasileiros - era cafuzo, descendente de índios, negros e brancos - a obter reconhecimento científico internacional89. Informa Côrrea90 ser o “Prestes amigo” burocrata aduaneiro, que despachou o jovem Nunes Pereira, sem dar-lhe o emprego. Não atendido em sua pretensão, Nunes Pereira pediu o bilhete de Coelho Netto de volta. O “Prestes amigo” mandou-o bater em retirada, afirmando que jamais devolveria um bilhete de Coelho Netto! Desafiado o poeta, havendo perdido o emprego e a oportunidade de ficar no Rio de Janeiro – sonho multicor dos maranhenses no passado – decide que, sem o bilhete, jamais ficaria! E o toma de assalto; o “Prestes amigo” fica atonito, em face da força titanica e herculea do poeta na vida prática... Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, Nunes Pereira era um Atlas a arremessar o seu DISCÓBOLO:” 190 Lembra Antnoud, perante os meus olhos de artista, Na graça e robustez da plástica espartana, Se, ao sol, que adusta a gleba e os píncaros conquista, Pisa o fulgido pó do estádio que se aplana. Vai, de um lado – e o outro lado, ao término da pista, A ovação que de um coro uníssono espadana, Lança o disco primeiro... e ei-lo, trepido, à vista, Fulge, dentro da luz como uma oblata humana. Arremessa outro disco... e mais outro... e outros muitos, Numa hercúlea impulsão de braços de granito, Sobem, no ar descrevendo intérminos circuitos. E a alma sonha, a seguir de áureos discos os rastros, Um Titan, que atirasse à mudez do Infinito. Os discos de crystal polychrono doa astros 190
In TAVOLA DO BOM HUMOR. Sonetos maranhenses. São Luís: Imprensa Oficial, 1923, p. 125.
O PADRE NA ACADEMIA DE LETRAS RAUMUNDO GOMES MEIRELES Joaquim de Jesus Dourado, Ribamar Carvalho, João Miguel Mohana e tantos outros formam um contingente que marcou a história da Igreja Católica no Maranhão e a própria história das Academias de Letras, tanto maranhense quanto de outros Estados. Destacaremos no momento, o célebre Pe. Dr. Antonio William Fontoura Chaves, um tempo presbítero, jurista, poeta, músico, escritor, tribuno, professor de latim e português. Autor de “Cantos e encantos”, “(Re)cantos do sabiá” e “Nas dobras do tempo”. Exímio intelectual maranhense que há dois anos, tomou posse na Academia Carioca de Letras. O fato aconteceu no dia 11 de dezembro de 2001, na Assembléia Legislativa daquele Estado. Fontoura Chaves, assumiu a cadeira nº 11, patronímica do poeta Francisco Otaviano, na vaga da poetisa Nísia Nóbrega. Na verdade, o primeiro titular dessa Cadeira, foi o poeta e desembargador Alfredo Cumplido de Sant’Anna. Como propagou Tobias Pinheiro, no dia da posse do ilustre acadêmico: “aprendemos sob o mesmo teto, que a Consciência tem sido a voz de Deus no coração do homem”. E ainda, hoje “há mais academias da terra, do que astros no firmamento”. A ênfase desta verdade, talvez seja para que nós possamos meditar que, as academias devem servir para multiplicar as letras, os homens, as verdades. Padre Fontoura Chaves, filho do Sr. Joaquim e da Srª. Carmem, nasceu em Axixá, cidade localizada à margem direita do rio Munim, aos 12 de julho de 1927. Concluiu o curso primário no Colégio Joaquim Santos, em Rosário. O padre Joaquim de Jesus Dourado, da Academia Maranhense de Letras, exerceu influência insigne em sua vida literária. O referido acadêmico herdou também um patrimônio do arquétipo universal da literatura, advinda quem sabe? Do seu tio-avô, que viveu no século XIX, o poeta e jornalista Adelino da Fontoura Chaves, nascido em 1855, na mesma cidade de Axixá, patrono da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras e da Cátedra nº 38 como academicista maranhense. Na década de quarenta, pe. Chaves, concluiu o curso de Humanidade e Filosofia em São Luís, no Seminário Santo Antônio. Logo após, transferiu-se para São Paulo, onde cursou Teologia no Pontifício Seminário Central do Ipiranga. Quando ainda seminarista, triunfou num concurso de poesia na grande São Paulo. O cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota em 1951, conferiu-lhe a ordem do Diaconato temporário e, um ano após, o ordenou presbítero. Em São Luís, desenvolveu muitos trabalhos: capelão do colégio Santa Teresa, pároco da Igreja do Rosário, dirigiu um programa na rádio Ribamar e Vigário-Cooperador de Pedreiras (Paróquia administrada por mons. Gerson Nunes Freire, irmão do ex-governador do Maranhão, Osvaldo da Costa Nunes Freire). O arcebispo metropolitano designou o padre Chaves para São Paulo, em vista da realização em regime interno um curso de Organização de Comunidade, na Escola Técnica de Agricultura, em Pirassununga, em convênio entre o Ministério da Educação e a Arquidiocese de São Luís do Maranhão, sob a chancela da Presidência da República. As cidades contempladas foram os municípios de Pedreiras e Coroatá, para a aplicação das novas técnicas aos homens do campo. Em 1961, o atual metropolita nomeia pe. Fontoura Chaves para a paróquia de Monte Castelo, que, contemporaneamente, lecionou no Seminário Menor, português, literatura brasileira e portuguesa. No Seminário Maior: Literatura estrangeira (no curso de Filosofia). Sobrando-lhe tempo assumiu a paróquia da Matriz de São Vicente de Paulo, assumindo a responsabilidade de construção de duas novas sedes paroquiais: Nossa Senhora de Fátima e São Vicente de Paulo. Contudo, o grande sonho do prof. Chaves era estudar Direito. E assim aconteceu, sem que ninguém percebesse, tomou a resolução de viajar para o Rio de Janeiro, onde ensinou no Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, ao lado de antigos mestres da literatura e do direito. Com um êxito extraordinário, pe. Fontoura Chaves ingressou na Faculdade de Direito do Estado da Guanabara, concluiu o curso e, 1966 e destacou-se como orador da turma. O mestre Roberto Lyra foi um dos seus grandes inspiradores, após o bacharelado, doutorou-se na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Analogicamente ao Padre Antonio Vieira, sua projeção nos sermões teve destaque na oratória forense.
No trigésimo aniversário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Seção Regional da OAB, o advogado conquistou o primeiro lugar, com destaque para sua tese sobre a reforma agrária, quando ainda entre nós este assunto era tratado de forma sonhadora. Padre Fontoura Chaves é o terceiro maranhense a entrar para a Academia Carioca de Letras.Na verdade, era conhecido como Padre Fontoura Chaves foi jurista, poeta, músico, escritor e professor brasileiro. Pe. Fontoura Chaves trabalhou na próspera banca de advocacia, com tempo reservado para Literatura e Música, interpretando compositores com seu saxofone, instrumento de longas datas. O literário Tobias Pinheiro, no dia da posse do nosso academicista, parafraseando Confúcio, declara: o sábio não se aflige por não ser conhecido dos homens; ele se aflige por não conhecê-los. Do livro Do livro Púcaro Literário II – Itapecuru Mirim, 200 anos (2018) pag. 191. Organizado por Jucey Santana e João Carlos Pimentel Cantanhede.
Raimundo Gomes Meireles clérigo, itapecuruense, professor, graduado em filosofia pela Ufma e em Direito pelo CEUMA. Mestre e doutor em Direito Canônico e Pós-graduado em Direito Internacional, Chanceler da Cúria Metropolitana, membro da Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes, da Academia Ludovicense Maranhense, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e capelão da Polícia Militar do Maranhão.
A FEDERAÇÃO E A FESTA DAS LETRAS JOÃO FRANCISCO BATALHA O PhD, economista e ex presidente da Academia Maranhense de Letras, Lino Raposo Moreira, em sua coluna do jornal O ESTADO DO MARANHÃO, de 2 de dezembro, se manifesta sobre a solenidade comemorativa da fundação da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA. Na edição do dia 16, foi a vez de Luís Augusto Guterres, Conselheiro Federal da OAB, comentar a produção maranhense no ramo da literatura, citando a FALMA e suas afiliadas Itapecuruense, Brejense e Ludovicense. Não menciona outras, como as de São Bento, Viana, Arari e Anajatuba, que também se destacaram no cenário da cultura maranhense no decorrer de 2018, através de atividades e programações culturais, com destaque para os eventos comemorativos dos seus municípios e valorização da literatura, ciências, artes e letras E, ainda, mediante publicações literárias ou de lançamentos coletivos na AMEI, em São Luís. Cumprindo os seus objetivos, a FALMA tem promovido o intercâmbio e congraçamento destas Academias de Letras e, também, prestigiado suas ações, às quais se faz representar em suas atividades mais marcantes. Em meio às festividades de celebração do seu 10º aniversário, ocorrido dia 28 de novembro, foram instaladas no hinterland maranhense três Academias com a presença de representantes da FALMA: Academia Bernardense de Letras e Artes de São Bernardo do Maranhão, dia 17 de novembro; Academia Joãolisboense de Letras, de João Lisboa, dia 26 do mesmo mês; e Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense, dia 15 de dezembro corrente. Agendada, para o dia 2 de fevereiro, a instalação da Academia Zedoquense de Letras. As Academias de Letras que proliferam além da Ilha de São Luís não são compostas, estritamente, por pessoas de reconhecidas genialidades literárias, mas, formadas por criaturas humanas influentes na sociedade local pelos bons serviços prestados no campo das artes, das ciências ou das letras, mesmo de forma modesta. Figuras talentosas, cordatas, aglutinadoras e vetoras dos bons costumes. Pesquisadores que contribuem para a preservação da história e da memória dos seus municípios. Notabilizam-se pelo trabalho de integração social na esfera regional de suas agremiações. O sodalício entra como expressão de engrandecimento cultural dos seus munícipes, aumentando os laços de amizade, respeito e solidariedade, cortesia, amabilidade, gentileza, educação e cordialidade. Juntos, visam, universalizar as amizades, coadjuvando na obstrução da ignorância e do bairrismo. Criada em 28 de novembro de 2008, com o objetivo de promover a cooperação e o intercâmbio para a difusão da Cultura no âmbito estadual e incentivar a promoção de eventos nas academias afiliadas, a FALMA tem participado ativamente das atividades de suas associadas além do Estreito dos Mosquitos. Não devemos ignorar, porém, a grande contribuição dada no mesmo sentido pela professora Ceres Costa Fernandes. Quando no exercício de diretora do Centro de Atividade Odylo Costa, filho, promoveu a I e II Mostra Estadual de Literatura do Maranhão, onde se fizeram representar diversas instituições literárias, com destaque para as Academias de Letras de Caxias, Imperatriz, Barra do Corda, Viana, São Bento, Brejo, Pinheiro, Lago da Pedra, Pedreiras, Bacabal, Barreirinhas, Esperantinópolis, Ribamar, Paço do Lumiar, Itapecuru, Anajatuba, Ludovicense e Arariense-Vitoriense de Letras. A FALMA, por sua vez, e por diversas ocasiões, partiu da Ilha de Upaon-Açú, transpôs as pontes Marcelino Machado ou da EFC e alcançou o Continente; ou, de Ferry Boat, atravessou a Baía de São Marcos e embrenhou-se na Baixada Maranhense, percorreu rodovias, ferrovias estradas e caminhos e compareceu, prestigiando eventos de Academias de Letras nos mais distantes rincões do nosso Estado nas cidades de Grajaú, Viana, Brejo, Matinha, São Bernardo, Arari, Perimirim, Barra do Corda, Pinheiro, Itapecurú-Mirim, Icatu, Paço do Lumiar, Lago da Pedra, Caxias e Bacabal, dentre outras. (*) Presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão.
"O GUESA" DE JOAQUIM DE SOUZA ANDRADE – SOUZANDRADE JOÃO BATISTA DO LAGO EXCERTO PRINCIPIAL DE "O GUESA" DE JOAQUIM DE SOUZA ANDRADE SOUZANDRADE - PUBLICADO EM 1858. SOUZÂNDRADE É UM DOS MEUS POETAS PREFERIDO (DE QUEM RECEBO - AQUI E ACOLÁ! ALGUMA INFLUÊNCIA) ******************** Sousândrade (1833-1902) foi um escritor e professor brasileiro pertencente à terceira geração do romantismo, também chamada de geração condoreira. Destacou-se pela ousadia e originalidade seja pela escolha de temas sociais, nacionalistas e nostálgicos, bem como pelo uso de palavras estrangeiras (em inglês e indígenas) e de neologismos. Embora sua obra apresente traços da segunda e da terceira geração romântica, estudiosos afirmam que há presença de elementos modernos. Isso por causa da construção poética com experimentações vanguardistas e ainda, pelos temas explorados por ele. A obra de Sousândrade, após anos no esquecimento, passou a ser analisada a partir dos anos 50. Os estudos foram retomados pelos poetas e irmãos Augusto e Haroldo de Campos que publicam “Revisão de Sousândrade” nos anos 1960. Nas palavras de Augusto de Campos: “(...) no quadro do Romantismo brasileiro, mais ou menos à altura da denominada 2ª geração romântica (conceito cronológico), passou clandestino um terremoto. Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade, como o poeta preferia que o chamassem, agitando assim, já na bizarria do nome, aglutinado e acentuado na esdrúxula, uma bandeira de guerra.” ******************** CANTO PRIMEIRO. 1858. Eia, imaginação divina! Os Andes Volcanicos elevam cumes calvos, Circumdados de gelos, mudos, alvos, Nuvens fluctuando — que espectac᾽los grandes! Lá, onde o poncto do kondor negreja, Scintillando no espaço como brilhos D'olhos, e cae a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde lampeja Da tempestade o raio; onde deserto, O azul sertão formoso e deslumbrante, Arde do sol o incêndio, delirante Coração vivo em céu profundo aberto! "Nos áureos tempos, nos jardins da America Infante adoração dobrando a crença Ante o bello signal, nuvem ibérica Em sua noite a involveu ruidosa e densa. “Cândidos Incas! Quando já campeiam
Os heroes vencedores do innocente Índio nú; quando os templos s'incendeiam, Já sem virgens, sem oiro reluzente, “Sem as sombras dos réis filhos de Manko, Viu-se... (que tinham feito? E pouco havia A fazer-se...) n'um leito puro e branco A corrupção, que os braços estendia! "E da existência meiga, afortunada, O roseo fio n'esse albor ameno Foi destruido. Como ensangüentada A terra fez sorrir ao céu sereno!. "Foi tal a maldicção dos que caídos Morderam d'essa mãe querida o seio, A contrahir-se aos beijos, denegridos, O desespêro se imprimil-os veiu,—"Que resentiu-se, verdejante e válido, O floripondio em flor; e quando o vento Mugindo estorce-o doloroso, pallido, Gemidos se ouvem no amplo firmamento!
HÁ 150 ANOS, UM POEMA ANÔNIMO PARA GONÇALVES DIAS EDMILSON SANCHES esanches@jupiter.com.br
Não tenho notícias de que o autor foi revelado ou que alguém tenha assumido a autoria da composição; mas há 150 anos guarda-se anônimo, em três páginas de uma rara obra, um poema de oito estrofes e 72 versos heptassílabos (sete sílabas) dedicado ao poeta maranhense -- de Caxias -- Antônio Gonçalves Dias. Como título, o poema tem apenas o nome “Gonçalves Dias”. A rara obra que o publicou é o “Almanach de Lembranças Brazileiras”, de 1868, de autoria de outro caxiense de grande valor, César Augusto Marques. César Marques foi médico, professor, tradutor, escritor e historiador dos mais citados, nascido em Caxias, em 12 de dezembro de 1826, falecido no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1900. Aquele 1868 foi o terceiro ano que circulou o referido “Almanach”, cuja publicação regular se iniciou em 1861, continuou em 1862 e, depois de uma ausência de sete anos, apresentou sua terceira -- e, pelo que se sabe, última -- edição em 1868. O "Almanach" tem 381 páginas e o poema deducado a Gonçalves Dias ocupa as páginas 304,305 e 306. Na página 303, i caxiense César Marques escreveu o seguinte texto (transcrito abaixo com atualização ortográfica), cercado por moldura e encimado pela figura de uma cruz: “NOVEMBRO 3 – 1864 “Neste dia o Brasil sentiu irreparável perda com o falecimento do exímio poeta Caxiense “DR. ANTÔNIO GONÇALVES DIAS. “Vinha do Havre a bordo da barca ‘Ville de Boulogne’, a qual batendo nos baixios dos Atins, nas costas de Guimarães, próximos ao Farol do Itacolumi, aí perdeu-se inteiramente, e com ela a vida e até o corpo do grande poeta, apesar dos esforços do governo e dos seus amigos, a cuja frente sempre esteve o meu talentoso e ilustrado colega Doutor Antônio Henriques Leal, digno de todo o elogio pelos seus esforços, muita dedicação, excessivo zelo e verdadeira amizade para com o ilustre naufragado”. * Ao final do poema, além do local em que indica onde foi feito (no caso, o estado: “Maranhão”), César Augusto Marques colocou asterisco logo ao final do último verso e, em remissão, deu as seguintes explicações acerca do anonimato: “Sentimos não poder declinar o nome do mavioso poeta, autor destes lindos versos, que ainda há pouco esteve altamente colocado entre nós. “Se, porém, a sua excessiva modéstia não permitiu que seu nome abrilhantasse, conjuntamente com outros, esta obra, os seus harmoniosos versos, patenteando ainda uma vez o seu vigoroso talento e a sua esclarecida inteligência, descobrirão facilmente o seu autor.” * Pelo visto, seja por desconhecimento da obra ou não interesse em pesquisar o assunto, até agora não se sabe -- ou pelo menos EU não sei... entre tantas e infinitas coisas que desconheço – quem é o autor do poema. Quem souber, quem tiver uma pista, cartas para a redação. Um exemplar do "Almanach" de 1868 pode ser visto na biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.
Enquanto isso, vamos ler o poema (em cuja transcrição, neste caso, achei por bem preservar a ortografia da época sesquicentenária): GONÇALVES DIAS (autoria desconhecida) No mar, bem perto da plaga a que saudoso corrias, a luz do sol de teus dias da morte sopro se apaga. Aquelle infinito imperio, do naufragio no mysterio, servio-te de cemiterio, de sepultura – uma vaga. Não ha jamais divisa-la; na azul extensão equorea cruz, nem cypestre a assignala, e nem lapide marmorea. Teu corpo a insondável valla sumio, mas ficou-te a gloria. Que gloria a tua, poeta! Foste o louco que interpreta da lyra aos meigos tangeres, ao queimar da inspiração, á doçura dos prazeres, as lagrymas da tristeza; as voses da natureza; os sonhos do coração. Oh que gloria! – Tu roubaste ás estrelas os seus lumes; ás flores os seus perfumes os mais embriagadores; ao arco-iris tomaste as suas mais lindas côres; do oceano copiaste a sombria magestade; as iras da tempestade e da bonança os encantos; e do accôrdo ou do contrate de prodígios taes e tantos, tu, poeta, derivaste a riqueza de teus cantos. Teus cantos, d’alma entornados, são doces como os gabados favos de nossas colmeias; são puros como o arminho, que foge do tremedal; são ternos como os trinados que fora do molle ninho tu, sabiá, garganteias nos leques do jussaral.
Ama-os a virgem pudica, que a scismar n’elles reflecte e que extasiada fica, se a seu piano os repete. Ama-os o pobre operario, livre do frio desgôsto, se o trabalho – no regaço lança-lhe o pão necessário: tal os versos de Ariosto ama o vivo gondoleiro, ou as estancias de Tasso napolitano barqueiro. Tua musa, bella e jovem, antes parece uma fada em nuvens de oiro embalada ou nos aromas que chovem as flores da madrugada. Descuidosa ella revela muita coisa sancta e bela a quem fundo sente e pensa: a luz nascendo da estrela; do amor nascendo a ventura; da fé a esperança pura; da virtude a recompensa. Cantaste pátria e amores, do mundo inteiro os primores, ó poeta peregrino, dos poetas corypheu. Completou-se o teu destino, e o teu mais formoso hymno, aos pés do throno divino, foste entoar lá no ceu! Maranhão.
UM TRIBUTO A CESAR MARQUES EDMILSON SANCHES Neste 2019 completam-se três datas relativas a um dos mais gigantescos esforços editoriais da História e Cultura maranhenses, o “Dicionário Histórico-geográfico da Província do Maranhão”, do médico, pesquisador, historiador e tradutor caxiense César Augusto Marques. São datas simples, mas são de reconhecimento, inclusive de “mea culpa”, ante tantas incompreensões de que foi alvo o esforço do ilustre maranhense. Duas das datas referem-se ao sesquicentenário (150 anos) da recomendação de impressão da obra pela Assembleia maranhense e o reconhecimento do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico do Brasil), também em 1869, por meio de parecer em que destacava o valor da augusta obra. E ainda, neste 2019 completa-se meio século (1969) de aprovação de custeio de nova edição do “Dicionário” cesariano pelo Governo estadual, que, no mesmo documento, reconheceu o erro histórico do Poder Legislativo maranhense de 1869, que negara a impressão da obra -- e o ponto simbolicamente mais negativo dessa negação foi o voto de um parlamentar caxiense, que, para dizer o mínimo, não deve ter compreendido o alcance do mastodôntico trabalho de seu conterrâneo da “Princesa do Sertão”. *** Em agosto de 1999 escrevi o texto abaixo para ser publicado em minha coluna semanal no jornal “O Estado do Maranhão”, de São Luís. A matéria saiu na edição de 16 de agosto de 1999 daquele jornal. Nela eu concitava e incitava autoridades públicas e organizações privadas a patrocinarem a reedição de uma obra de referência das mais referenciadas e reverenciadas do universo histórico e bibliográfico maranhense. Eu nem intuía que, menos de dez anos depois daquela véspera de fim de século e de milênio, o esforçado, operoso e produtivo escritor, pesquisador e editor Jomar Moraes realizaria – talvez sem saber disso -- as secretamente explícitas vontades do artigo que escrevi. Em 2008 saiu, sensivelmente enriquecida, monumentalmente trabalhada, a terceira edição do grande “Dicionário” do meu conterrâneo caxiense o médico, pesquisador, escritor, professor e tradutor César Augusto Marques. Para minha surpresa, a edição de esforço igualmente hercúleo do Jomar traz meu nome nos acréscimos feitos pelo editor, em razão da obra que escrevi -- “Enciclopédia de Imperatriz” --, igualmente citada. Eis o artigo de 1999, há vinte anos: UM TRIBUTO A CÉSAR MARQUES No dia 5 de outubro de 2000 completar-se-ão cem anos da morte de César Augusto Marques, o médico e historiador caxiense autor do “Dicionário Histórico-geográfico da Província do Maranhão”. César Marques nasceu em 12 de dezembro de 1826 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1900. É o caso de sugerir aos Poderes e às Representações da Cultura caxiense e maranhense a reedição da obra maior de César Marques, revista, anotada e, sobretudo, enriquecida em aspectos que não puderam ser incorporados à edição de 1970, ano em que a obra completou seu centenário. (Lembre-se que, em 1864, saíram em volume os “Apontamentos para o Dicionário Geográfico, Histórico, Topográfico e Estatístico da Província do Maranhão”, espécie de “amostra”, em 376 páginas, do “Dicionário” que circularia seis anos mais tarde). César Marques afadigou-se muitíssimo para compor sua obra-prima. Sofreu injustiças e teve muitas contrariedades em seu próprio Estado, embora, em igual momento histórico, naquela segunda metade do século 19, tenha tido também muitos reconhecimentos, especialmente de outras partes do País. Algumas dessas incompreensões e posições absurdas estão gravadas pelo buril da História. Entre essas obtusidades, a negativa do então presidente da província do Maranhão, José da Silva Maia, que, em 30 de junho de 1870, deu seu parecer contrário à impressão da obra, recomendada em proposta (projeto-de-lei) da Assembleia em 14 de junho de 1869.
O que disse o governante: “Nego sanção ao presente projeto-de-lei por julgá-lo inconveniente aos interesses da Província (...)”. Em outra parte, continua: “(...) não é possível a concessão de favor tão elevado (...)”. Segundo César Marques, o “tão elevado” valor (4 contos de réis) mal dava para pagar o papel. Registre-se, com pesar, que o ilustre caxiense Dias Carneiro foi um dos 13 que se aliaram ao governo provincial e votaram contra (foram sete votos a favor). Cem anos depois, em 14 de novembro de 1969, em despacho onde aprovava o custeio, pelo Estado, de uma nova edição do “Dicionário”, o governador José Sarney assume o erro histórico de um daqueles 13 que votaram contra, seu bisavô Luís Guilherme (César Marques grafa “Guilherme Luís” em texto onde narra a “história” de seu livro-mor). Anotou Sarney: “Aprovo com o maior orgulho. Estou redimindo o meu bisavô, Luís Guilherme, que na Câmara Estadual negou a verba para a edição primitiva”. Em 1870, já com o reconhecimento do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (que, em 22 de novembro de 1869, emitira parecer destacando o valor da obra), César Marques assumiu ônus financeiro pesadíssimo e publicou o primeiro volume (da letra “A” à “F”) do seu “Dicionário”. Agora, quando, no dizer do próprio César Marques, “o frio da lousa do sepulcro tiver gelado todas as paixões que hoje nos inflamam e nos arredam uns dos outros”, poderia a comunidade política, empresarial e cultural caxiense iniciar ações conjuntas para um tributo à altura do tamanho intelectual e do esforço pessoal que nosso conterrâneo colocou a serviço não somente do “Dicionário Histórico-geográfico” mas do próprio Brasil. Se Caxias ou o Maranhão acham que devem essa “gentileza” ao passado, ao presente e ao futuro, têm de começar logo. Há muitos filhos de Caxias espalhados Brasil e mundo afora, que poderiam se sensibilizar e contribuir, de alguma forma, para a execução de um projeto assim, que só nos orgulha de nossa condição de caxienses e maranhenses. Há material bibliográfico importantíssimo para ser agregado ao trabalho de César Marques, corrigindo-o, atualizando-o, contextualizando-o e dotando-o de recursos editoriais (como índices, por exemplo), que facilitariam sobremaneira sua leitura e pesquisa. Como anota copiosamente Raimundo Nonato Cardoso, em texto introdutório à edição de 1970 (“bancada” pela extinta Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão), há material de valor imensurável elaborado por estudiosos da estirpe, por exemplo, de Antônio Lopes e Domingos Vieira Filho. Devemos aprender com os erros da História, não repeti-los. Entre tantas e tantas demonstrações de desprezo e desamor à própria memória, não devemos assumir mais essa. Em um aviso “aos Srs. Assinantes”, César Marques lamentava: “Muito pequeno foi o número dos que nos ajudaram nesta impressão, e infelizmente não chega o importe (valor total) de suas assinaturas para saldar metade do débito que contraímos a fim de dar à luz esta obra”. A seguir, nosso historiador maior confirmava: “Não admira porém este fato, porque além de andar muito descuidado entre nós o estudo da História e da Geografia, especialmente a brasileira e particularmente a maranhense, a obra foi impressa no Maranhão, é escrita por maranhense e, portanto, são estes acidentes motivos poderosos e convincentes para não ser a obra lida, quanto mais procurada (...)”. Adiante, César Marques constata/denuncia, em contraponto, o valor e os salamaleques com que favorecemos e recebemos os que vêm de fora, numa espécie de “síndrome de colonizados”. Acreditava nosso médico historiador, não sem razão até hoje, que, se o “Dicionário” “viesse do estrangeiro ou fosse escrito por qualquer ‘turista’”, seu autor não teria qualquer problema financeiro, receberia apoio, mesmo que posteriormente nos ridicularizasse e nos insultasse em função de nossa cultura, de nossos usos e costumes. Reeditar, enriquecidamente, o “Dicionário” de César Marques, quando se completa um século da morte do autor em outubro de 2000 e 130 anos do lançamento de sua maior obra, poderá ser um dos grandes momentos histórico-culturais do ano que marcará o fim do milênio. Demonstrará, sobretudo, que não queremos nos esquecer de nós mesmos. Até porque o passado de Caxias e do Maranhão ainda é a maior, a mais resistente e a mais reconhecida e respeitada referência de que dispomos e de que nos gloriamos, ainda não superada pelo momento presente nem possível de ser descartada como base para o futuro --- qualquer que seja ele
POR QUÊ AS ELITES E A NEOBURGUESIA BRASILEIRAS SE OURIÇAM QUANDO SE FALA EM GUERRA CIVIL? Por JOÃO BATISTA DO LAGO[1] Esta questão ocorreu-me após uma entrevista que dei ao jornalista Mhário Lincoln, editor do portal MHARIO LINCOLN DO BRASIL[2], no domingo de carnaval, mas veiculada somente na quarta-feira de cinzas, onde, muito ligeiramente falei sobre essa questão. Para meu espanto, minhas palavras imediatamente à veiculação causaram uma tipologia de “ouriçamento” na audiência do site: 1) visível, e 2) invisível. E isso, para mim, foi uma excelente descoberta (e creio, a será para o jornalista Mhário Lincoln), ou seja, a home tem uma audiência que mostra a cara, que não tem medo de interagir, que não se esconde; e outra: que não se expõe, que se esconde, que é covarde, e que ainda por cima, quando seu nome é exposto na penumbra pede para não ser identificada. Deste fato ocorre-me a seguinte conclusão: a) a existência de uma elite e uma burguesia saudável e b) a existência de uma elite e uma burguesia arrogante, prepotente, discriminatória e preponderantemente ditatorial, e o pior de tudo, insensível às questões nacionais, isto é, preocupadas pura e tão-somente com o enchimento de suas burrinhas e o “brutal” enriquecimento, em contraste com 90% de um povo-nação de miseráveis e pobres. Com aquela (a) pode-se concatenar conversação, debate, discussão, e até justapor ou contrapor ideias no sentido de uma saída para nossas agruras como violência, crime, miséria, pobreza, educação, saúde, favelização… Com esta (b) é impossível quaisquer concatenações, pois, seu método é o já conhecido anonimato e suas práticas ameaçadoras. A esta (b) este meu aviso em forma de poesia, minha arma letal, que jamais se apagará, “apesar de você”: Negação Não aceitarei jamais A decisão faceira De me enquadrares Dentro do quadrado Mágico da ordem Bem-estabelecida. Essa tua guarida É pura morte Morte da palavra Que se calada Fica de toda ferida Nos currais da ordem. Tirai o tapete estendido Dele não me utilizarei Minha passagem será livre Será escarlate – bem sei Portanto não te ofereças tanto A quem amor não te tem. Quanto ao teu corrupto vintém Assegura-o em tua desgraça Ele não se fará mordaça Da livre palavra que graça Em toda praça com raça Deste povo que não é chalaça. =*=(In EU, PESCADOR DE ILUSÕES, LAGO, João Batista do – Ed. Mhario Lincoln do Brasil, 2006 – 1ª Edição – E – Book Grátis)[3]
Feitas estas considerações vamos ao que interessa, ou seja, tentar responder a questão que intitula este artigo: Por que as elites e a neoburguesia brasileiras se ouriçam quando se fala em Guerra Civil? Antes de tudo, porém, vale dizer que minhas palavras (como bem foi observado por alguns dos interragentes da entrevista) não contêm em si nada de novo. Isto é fato. Antes de dizê-las muitos já manifestaram o mesmo pensamento. Portanto, nada há de novo naquilo que disse ao jornalista Mhário Lincoln. E reflete pura e tão-somente uma manifestação pessoal, melhor dizendo, uma representação da minha mente que teima em não ficar adormecida pelo ópio do Poder, da Dominação, da Burguesia e das Elites que não têm o Brasil como referência, mas seus intestinos. E que, por isso mesmo, pouco se lhes dá em discutir o Brasil real, posto que, o que se lhes interessa é o brasil (com “b” minúsculo) do carnaval, da mulata, do samba, do futebol – manifestações culturais que já nem mais são do povo-massa ou do povo-nação – como “sujeitos operadores” de uma país de alienados. Eis, aqui, a metáfora implícita na “guerra civil” por mim ditada. E neste sentido não tiro uma palavra, uma vírgula sequer, do que declarei. E repito: este país precisa da sua guerra civil para constituir-se como nação, para criar sua identidade e sua cultura próprias. E isto significa dizer, noutras palavras: as elites brasileiras, com o beneplácito das burguesias nacionais, sobretudo essa elite que não mostra a cara, que está escondida nos porões do capitalismo nacional, nos palácios, nos governos, nas instituições, falharam. E falharam feio. Tome-se como exemplo as palavras de um dos maiores intelectuais que esta nação já produziu, o antropólogo Darcy Ribeiro; brasileiro consciente como poucos ou como nenhum outro: “O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmente alto em lutas das mais cruentas de que se tem registro na história, sem conseguir sair através delas, da situação de dependência e opressão em que vive e peleja. Nessas lutas índios foram dizimados e negros foram chacinados aos milhões, sempre vencidos e integrados nos plantéis de escravos. O povo inteiro, de vastas regiões, às centenas de milhares, foi também sangrado em contra-revoluções sem conseguir jamais, senão episodicamente, conquistar o comando de seu destino para reorientar o curso da história”. E diz mais adiante o professor Darcy Ribeiro: “Ao contrário do que alega a historiografia oficial, nunca faltou aqui, até excedeu, o apelo à violência pela classe dominante como arma fundamental da história. O que faltou, sempre, foi espaço para movimentos sociais capazes de promover sua reversão. Faltou sempre, e falta ainda, clamorosamente, uma clara compreensão da história vivida, como necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e um claro projeto alternativo de ordenação social, lucidamente formulado, que seja apoiado e adotado como seu pelas grandes maiorias”. E enfatiza o professor Darcy Ribeiro: “Não é impensável que a reordenação social se faça sem convulsão social, por via de um reformismo democrático. Mas ela é muitíssimo improvável neste país em que uns poucos milhares de grandes proprietários podem açambarcar a maior parte de seu território, compelindo milhões de trabalhadores a se urbanizarem para viver a vida famélica das favelas, por força da manutenção de umas velhas leis. Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para a revisão da institucionalidade, as classes dominantes apelam para a repressão e a força”. Tão claras são as palavras do professor Darcy Ribeiro que dispensam comentários, mas servem para serem introjetadas e pensadas por todos que não se encontram adormecidos pelas benesses dessa “classe dominante”, mas que prefiro continuar chamando de elites brasileiras. Por outro lado, e por fim, quero encerrar este artigo dizendo o seguinte: minha gênese é o barro do debate, da discussão, e em razão disso aceito, muito embora não concorde ou discorde veementemente dos seus enunciados ou conteúdos discursivos ou ideologias, que sejam postas à mesa, mas ao mesmo tempo sou radicalmente contrário às manifestações academistas ou academicistas, com ar de uma tipologia de professorado, como aquelas que desejam esconder a verdade mais-que-real dentro do campo de um pretenso saber conceitualístico, oriundo de reservas compilatórias de bibliotecas virtuais; assim como não aceito, sob hipótese quaisquer, o encavernamento – por intermédio de um escapismo barato – do núcleo do debate, como aquele que se diz simplesmente que tudo não passa de mero sensacionalismo. Aos defensores desta arte retórica resta-me assinalar o seu grau de aculturação sócio-político, e bem dizê-los promissores defensores da “classe dominante”.
DE GUIMARÃES... OS ATLETAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Recentemente, foi lançado mais um livro sobre a História de Guimarães – além dos de Paulo de Oliveira, já em número de quatro... – temos outros dois, recém chegados às livrarias... Também recentemente, em um evento na AMEI, e conversando com duas personalidades vimarenses – vimarense é o gentílico de quem nasce em Guimarães... - referi-me aos livros disponíveis e estranhava que não falam de alguns ilustres filhos da cidade/município... E citei Ary Façanha de Sá... Quem? Não sabiam quem é... Falei de J. Alves... Quem? Também não sabiam... Tomo a liberdade de falar de quatro, dos vimarenses ilustres, que se destacaram no campo dos esportes: Guimarães deu-nos ARY FAÇANHA DE SÁ, nascido em 1º de abril de 1928.
Foi atleta da Seleção Brasileira de Atletismo - e do Fluminense, do Rio de Janeiro, recordista sul-americano do salto em distância, participou de duas Olimpíadas, de 1952 e 1956191: Ary Façanha de Sá (born April 1, 1928) is a former Brazilian long jumper. At the 1952 Summer Olympics he finished fourth in the long jump. He also competed at the 1956 Summer Olympics. He became South American long jump champion in 1952, won silver medals in 1956 and 1958 and a bronze medal in 1954. He also won a bronze medal at the 1955 Pan American Games and a gold medal at the 1955 World Student Games. https://en.wikipedia.org/wiki/Ary_de_S%C3%A1 191
Ary de Sá's profile at Sports Reference.com 1. ^ Athletics - men's long jump 1948-1964 - Full Olympians 2. ^ South American Championships (Men) - GBR Athletics 3. ^ Pan American Games - GBR Athletics 4. ^ World Student Games (Pre-Universiade) - GBR Athletics
Professor de Educação Física, formado pela Escola Nacional, introdutor do Interval-training192 no Brasil, assim como um dos idealizadores dos Jogos Escolares Brasileiros.193 Ainda nos anos 40, em São Luís, cursou o ginasial no Colégio de São Luiz, do prof. Luiz Rego - criador dos Jogos Intercolegias -, por onde disputava as provas de 100 e 200 metros, além do salto em distância; consegue a espantosa marca de 5,00 metros. Em 1949 foi para o Rio de Janeiro estudar - levado pelo irmão, ingressa no Fluminense Futebol Clube, como atleta. Em 1950, ingressou na Escola Nacional de Educação Física. E em 1952 tornou-se recordista sul-americano de salto em distância, com 7,57 m, o que lhe valeu a convocação para a Olimpíada de Helsinque194, tendo conquistado o 4º lugar no salto em distância.
Em 1955, bateu o recorde pan-americano, com a marca de 7,84 metros, a quarta marca do mundo. 192
-O treinamento intervalado é um tipo de treinamento que envolve uma série de exercícios de baixa a alta intensidade intercalados com períodos de descanso ou alívio. Wikipedia (inglês) 193 Os Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) foram a primeira competição de cunho escolar de abrangência nacional. Criada em 1969 pela antiga divisão de Educação Física e Desporto do Ministério da Educação e Cultura (DEF/MEC), a edição de estreia foi realizada na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Em 1976, esses jogos sofreram a primeira mudança de nome, para que estivessem em consonância com a Lei nº 6.251 de 1975 e com o Decreto 80.228 de 1977, que dividia o esporte estudantil em esporte escolar e esporte universitário. Os jogos então passaram a ser chamados de Jogos Escolares Brasileiros (JEB´s). Numa tentativa de tornar os jogos mais econômicos, em 1978, 1980 e 1982 aconteceram os Campeonatos Brasileiros Escolares, divididos por modalidades e classificatórios para o JEB´s dos anos seguintes. http://esporte.gov.br/index.php/institucional/oministerio/162-ministerio-do-esporte/jogos-escolares-brasileiros 194
http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_06&pagfis=67164&url=http://memoria.bn.br/docrea der# https://imirante.com/olimpiadas/2016/maranhao-nas-olimpiadas-na-historia/ https://www.les-sports.info/ary-facanha-de-sa-athletisme-spf35201.html
Em 1959, inicia sua carreira como treinador de atletismo, transferindo-se para o Vasco da Gama:
No Atlas do Esporte no Brasil195, consta: Atletismo no Maranhão: biografias de líderes e atletas pioneiros LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ [30/09/2005] Ary Façanha de Sá Atleta e dirigente de atletismo, nasceu em 1º de abril de 1928, no município de Guimarães-MA. Em São Luís, cursou o ginasial no Colégio de São Luiz, do prof. Luiz Rego criador dos Jogos Intercolegiais – pelo qual disputou as provas de 100 e 200 metros. Além do salto em distância, conseguiu a destacada marca de 5,00 metros. Em 1949, foi para o Rio de Janeiro-RJ estudar - levado pelo irmão, ingressou no Fluminense Futebol Clube como atleta. Em 1950, ingressou na Escola Nacional de Educação Física e Desporto-ENEFD (hoje parte da UFRJ como Escola de Educação Física e Desporto). Em 1952, foi recordista sul-americano de salto em distância, com 7,57 m, o que lhe valeu a convocação para a Olimpíada de Helsinque daquele ano, tendo conquistado o 4º lugar no salto em distância. Em 1955, bateu o recorde panamericano, com a marca de 7,84 metros, a quarta marca do mundo. Foi atleta da Seleção Brasileira de Atletismo - e do Fluminense-RJ - e recordista sul-americano do salto em distância, participou de duas Olimpíadas, de 1952 e 1956. Professor de Educação Física, formado pela Escola Nacional, foi um dos introdutores do Intervaltraining no Brasil, assim como um dos idealizadores dos Jogos Escolares Brasileiros-JEBs. No livro ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS, de Kátia Rubio196 (São Paulo, SESI-SP, 2015, 648 p.), obra que traz o reconhecimento e exalta o esforço daqueles que dedicaram toda uma vida ao esporte e 195 196
file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/ALL/ALL%20EM%20REVISTA/176.pdf Kátia Rubio é professora associada da Escola de Educação Física e Esportes da USP. Bacharel em jornalismo e psicóloga. Mestre em Educação Física (USP) e Doutora em Educação (também USP). Pós-doutorado em Psicologia Social (Universidade
conseguiram participar de uma Olimpíada. O que faz um indivíduo desejar tanto o êxito olímpico? Abrir mão dos melhores anos da juventude? Para Kátia, psicóloga, esse desejo nasce frequentemente, a partir da inspiração das conquistas alcançadas por outros atletas que configuram um modelo de identidade e consagração a ser atingido. Trata-se de um querer muito forte. Seu livro apresenta-nos o desenrolar dos Jogos Olímpicos da Era Moderna (primeira parte); e na segunda, apresenta-nos a figura do atleta e o estudo da história de vida e trajetória dos atletas olímpicos brasileiros, reportadas 1.796 histórias, apresentadas na forma de verbetes biográficos. Do Maranhão, dentre esses 1.796 heróis nacionais, tivemos:
ATLETISMO ARY FAÇANHA Ary Façanha de Sá nasceu no dia 1º de abril de 1928, em Guimarães (MA). Filho de um Juiz de Direito. Descobriu o que era o atletismo em 1949, no Colégio São Luís, onde estudou; depois muda para o Rio de Janeiro. Corria, saltava, mas gostava mesmo era de futebol, chegado a jogar pelo Moto Clube, porém a atividade era proibida pela sua mãe, receosa que ele se machucasse. Começou a treinar atletismo no Fluminense, com o técnico Frederico. Logo no primeiro treino saltou 6 metros e passou a se dedicar a essa prova. Em seu primeiro campeonato, obteve o 2º lugar. No ano seguinte, venceu o campeonato de juniores e também o campeonato brasileiro. Foi preterido na primeira edição dos Jogos Pan-Americanos realizados em Buenos Aires, em 1951, mesmo tendo o melhor índice. Isso o fez se dedicar ainda mais aos treinos, para não mais ser esquecido ou superado. Foi, então, ao Jogo Olímpicos de Helsinque, em 1952. Estava em 3º lugar na prova de salto, quando uma chuva torrencial interrompeu a competição. Ao saltar, seu sapato de couro encharcou, impedindo-o de fazer um salto melhor. Terminou a prova em 4º lugar. Foi recordista brasileiro de salto em distancia. Em 1955, foi campeão universitário na Espanha. Foi também aos Jogos Olímpicos de Melbourne, na Austrália, em 1956. Desiludido com a prova de salto, passou a correr os 110 e os 400 metros com barreiras. Formado em Educação Física, atuou como técnico no Vasco da Gama. Em 1965, mudou-se para Brasília, onde passou a trabalhar como Professor de Educação Física e, depois, Diretor de Escola. Em 1968, foi para a Secretaria de Esporte do Ministério de Educação e Cultura (MEC), e, nessa Secretaria, criou os Jogos Estudantis Brasileiros (JEB’s) e os Jogos Universitários Brasileiros (JUB’s). (RUBIO, 2015, p. 64) [3]. O jornalista José Cruz publicou em sua coluna uma homenagem ao Mestre Ary197: Numa sexta-feira de novembro de 2003 fui escalado para fazer uma reportagem sobre a 25ª edição dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs). Eu trabalhava no Correio Braziliense e, como repórter, frequentava pistas de atletismo, beira de piscinas, quadras de tênis, enfim. Conheci atletas, técnicos e, claro, gente que construiu a história esportiva em centenas de escolas, Brasil afora. Nesse ambiente, não estranhei quando vi na abertura dos Jogos de 2003, em Brasília, um maranhense de 72 anos, formado em Educação Física, no Rio de Janeiro, conduzindo a tocha na solenidade de abertura do evento. Era Ary Façanha de Sá, que hoje merece ser homenageado, sem qualquer favor, como um ícone do Desporto Escolar no Brasil. Ary não foi gestor-idealizador por acaso. Foi, antes, atleta exemplar. Como campeão brasileiro dos “saltos em extensão” – hoje salto em distância –, ele foi aos Jogos Olímpicos de Helsinque, 1952. A medalha de bronze lhe escapou por escassos sete centímetros. Num dos encontros que tive com esse personagem, ele me contou: Autônoma de Barcelona). Tem 22 livros publicados[2] na área da psicologia do esporte e estudo olímpicos. Membro da Academia Olímpica Brasileira. 197 http://cev.org.br/biblioteca/dia-do-profissional-de-educacao-fisica-homegame-a-ary-facanha-de-sa/
“Depois do terceiro salto, naquela Olimpíada, a minha melhor marca era 7,23m, o que me garantiria o terceiro lugar. Mas... o húngaro Odon Foldessy partiu para a última tentativa e cravou 7,30m, frustrando o meu sonho de pódio”. Sem lamentos, porque ainda hoje Ary Façanha de Sá está no pódio das homenagens que merece, pelo o que representou para esporte educacional brasileiro. Na história, Ary é reconhecido por ter sido o idealizador da modernização dos Jogos Escolares, hoje Jogos da Juventude. Isso foi em 1970, quando ele era assessor de Desportos Estudantis, do Ministério da Educação. Até então, os Jogos eram mais para congraçamento, mas com a mudança tornou-se evento riquíssimo para a identificação de talentos. Ary faz parte de uma geração que praticava educação física na escola, o que lhe incentivou a se formar em Educação Física. A cultura acadêmica ele juntou ao seu idealismo e levou tudo isso para aplicações práticas no MEC. No Ministério, ele discutia com uma “equipe de elite” os rumos de cada modalidade nos Jogos e, aos poucos, foi formatando as mudanças que tornaram os JEBs marca registrada do desporto escolar. “Nunca fiz nada sozinho”, me disse Ary Façanha, certa vez. Seus amigos me garantem que ele valorizava o trabalho de equipe e que foi, sim, o grande “pensador” e “idealizador” da nova roupagem dos Jogos. “Naqueles tempos”, não faltava dinheiro. Ensino e esporte avançavam juntos, e os Jogos tinham modalidade que hoje passam longe do programa: vela, ciclismo, esgrima, além das tradicionais provas de atletismo, natação etc. A nova roupagem dos Jogos era tão ousada que técnicos alemães que aqui vieram ficaram encantados com a estrutura e dimensões dos JEBs. De tal forma, que essa organização contribuiu para que fosse assinado um convênio do governo brasileiro, permitindo o estágio de técnicos do esporte na Alemanha. Mas, o tempo passou... Assim, nesta data em que se presta justa homenagem aos profissionais de Educação Física, sinto-me orgulhoso, como jornalista das antigas, de prestar esta homenagem a esses profissionais e, em especial, ao Ary Façanha de Sá. Homenagem que não é minha, exclusiva, mas de teus amigos, Brasil afora. E sabes, Ary, que são muitos. Sou o portador, Mestre Ary, do abraço de todos os teus colegas de ontem, parceiros entusiasmados de então, velhos seguidores, ainda hoje, dos teus exemplos, de teu entusiasmo e idealismo. São manifestações daqueles que te ajudaram na construção desse espetacular patrimônio esportivo, os JEBs. Eles também não te esquecem e te são muito agradecidos. Assim como foram gratos – me permita essa homenagem – ao nosso querido amigo Mário Cantarino, também idealista e idealizador, teu parceiro de tantas jornadas, e que nos deixou com saudade enorme. Parabéns pelo teu legado, Ary Façanha de Sá. Parabéns por tua valiosa contribuição na obra do nosso patrimônio esportivo voltado, antes, para a educação escolar. Parabéns pelos exemplos, pela grandeza de tua humildade que ainda hoje te acompanha. E, é tudo isso, Ary, que te coloca no pódio do nosso eterno e agradecido reconhecimento. Grande abraço, Mestre.
Também de Guimarães é JOSÉ FAUSTINO DOS SANTOS ALVES, mais conhecido como J. Alves, nascido no ano de 1944, em Águas Belas, povoado de Guimarães, hoje, Cedral, em 15 do fevereiro. Na década de 60 inicia sua carreira na Rádio Timbira, redação comercial; e em 1962, entra na Rádio Difusora, e aí sim começa a desempenhar a função de repórter; no jornalismo esportivo, que começou na mesma época. J. Alves se refere aos esportes na década de 60, onde já havia “Olimpíada Estudantil”, promovidas por Carlos Vasconcelos e Mary Santos:
Inclusive, com o Carlos Vasconcelos, dirigindo essa competição, nós tivemos a honra de ser vice-campeão olímpico, pelo Liceu, na modalidade de Futebol, disputando como sempre com a Escola Técnica Federal; hoje CEFET... a competição para sua época era, o que é a competição que hoje se realiza, que são os Jogos Escolares Maranhenses, ela tinha a mesma importância que o JEM’s tem agora, agora o número de participantes era muito menor, também não poderia deixar de ser, não poderia ser diferente, é hoje a coisa cresceu se modificou, principalmente quando o Cláudio Vaz assumiu a Coordenadoria de Esporte de Prefeitura, foi que começou a mudar, porque ele tirou essa história de olimpíadas e colocou Jogos Esportivos da Juventude, realizou dois e a partir do segundo apareceu, um moço chamado professor Dimas, que já vivia no meio a muito tempo e graças a uma viagem que ele fez a Belo Horizonte se não me falha a memória, para assistir aos Jogos Brasileiros foi, viu, trouxe a informação possível dessa competição Nacional, que era promovida pelo Ministério da Educação e a partir da sua volta no ano seguinte, já foram realizados não os terceiros jogos esportivos da juventude, mas sim os primeiros Jogos Escolares Maranhenses, em cima da sigla da competição Nacional que é JEB’s, então eles só tiraram o B de Brasil e botaram M de Maranhão, nos Jogos Escolares Maranhenses, aliás Jogos Estudantis Maranhenses, que era Jogos Estudantis Brasileiros, depois Jogos Escolares Brasileiros (risos) passou para Jogos Esportivos da Juventude e hoje já tem um monte de confusão, cada ano eles mudam. Hoje tem Olimpíada, tem jogos da Juventude, tem mais não sei o que.
Outro atleta, pertencente à Geração de 53, nascido em Guimarães, é PALMÉRIO CESAR MACIEL DE CAMPOS198 – POÉ. Nasceu em 1938, e em 1954, aos 16 anos, a família transferiu-se para São Luís, onde fez contato com o esporte. Jogou Futebol de Campo, Futebol de Praia, depois Futsal e Basquete, sempre se destacando como craque de bola. No ano de 1957 passa a jogar futsal pelo Santelmo – recém-criado -, convidado por Cleon Furtado e João Rosa e que contava, ainda, com Raul Guterrez, Murilo Gago, Biné (Benedito Moraes Ribeiro), Mouzart (de Sá Tavares), Ivaldo. Com esse time, foram campeões de 1958 e 1959. A final do campeonato desse ano foi entre o Santelmo e o Próton, decidida em melhor de cinco pontos; a primeira partida, disputada no Casino, o Próton venceu por 5 x 2; o segundo jogo, na AABB (sede da Rua Grande, depois vendida aos Maristas), o Santelmo saiu vencedor, por 3 x 0; e a terceira partida, também no Casino, empate em 2 x 2; e a Quarta e última, disputada no Lítero, 5 x 1, para o Santelmo. Em 1960 estava no Próton, convidado pelo Prof. Pedro Santos, jogando ao lado dos irmãos Cassas, Coronel Vieira, Cadico, Canhotinho, César Bragança. O Santelmo conquistou o tetracampeonato – 58, 59, 60, e 61. Em 1962 o Santelmo e o Próton foram extintos, fundando-se o Cometas, formando uma verdadeira seleção: Poé, Lobão, Enemê (goleiro) Dunga, Nonato e Elias Cassas, Coronel Márcio (Matos Viana Pereira), Luisinho, Canhotinho, César Bragança, Murilo Matos, e Vavá. Essa formação jogou de 62 a 66 sem conquistar nenhum título... No final de 66, deixa de jogar futsal. Os times da época eram bons demais: Graça Aranha, Atenas, Drible, Sampaio. Segundo Poé, o futsal viveu duas fases; a primeira foi da espontaneidade, onde tudo era nativo, não existindo tática, só técnica; a segunda iniciou depois que um time cearense, dirigido por Francisco Lerda, passou por aqui e ensinou tática. Juntaram técnica e tática.
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Palmério César Maciel de Campos. Corregedor Regional Eleitoral do Maranhão no período de 30/03/1960 a 22/01/1961. Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão nos períodos de 04/10/1950 a 01/10/1954 e 11/05/1960 a 30/01/1963. http://www.tremg.jus.br/imagens/fotos/tre-ma-galeria-de-corregedores-foto-02-palmerio-cesar-maciel-de-campos
Basquete da FAME em 1954. Em pé: Raul, Hugo, Bittencourt, Daniel, Rubem Goulart e Almeida e Silva; Agachados: Teopblister, Arruda, Bragança, Ronald Carvalho e Flávio Teixeira Outro nome a se destacar é o de RUBEM TEIXEIRA GOULART199, também nascido em Guimarães, em 1920. Um dos pioneiros da Educação Física, chegou a São Luís em 1935, iniciando sua carreira esportiva no Colégio de São Luiz, do professor Luís Rego. Em 1942, ingressou na Escola Nacional de Educação Física, junto com José Rosa, Rinaldi Maia e Valdir Alves. Na Escola Nacional de Educação Física conquistou títulos retumbantes, participando de todos os esportes ali praticados, tendo o seu lugar efetivo nas equipes de volley-ball, basket-ball e atletismo. Foi campeão interno de volley nas competições efetuadas na ENEF; vice-campeão de Halterofilismo, peso médio, além de ter participado das Olimpíadas Universitárias de 1942, nas representações de volley, basket, futebol e atletismo. Alcançou os seguintes lugares nas provas de Atletismo: -
2º lugar nos 100 metros rasos, com a marca de 11,2s; 2º em salto em distância num espaço de 6,25 metros; 2º no salto em altura com 1,70 m (igualou também o record); obteve lugar em arremesso do peso com 12 metros; sagrando-se ainda campeão por equipe no revezamento 4 x 100 metros.
Em 1943, durante as Olimpíadas Universitárias e diversas competições atléticas no Rio, defendendo as cores do Fluminense, saindo-se vice-campeão do decatlo, com 5.007 pontos: 100 metros rasos Salto em distância Arremesso do peso Salto em altura 400 metros rasos 110 m. s/ barreiras Lançamento do disco Salto com vara Lançamento do dardo 1.500 metros rasos Total
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11,0s 6,19m 10,23m 1,70m 54,1s 19,5s 30,16 m 2,70 m 29,25 m 5m29,0s
827 pts. 620 pts. 463 pts. 661 pts. 665 pts. 422 pts. 404 pts. 397 pts. 278 pts. 270 pts. 5.007 pts
http://cev.org.br/biblioteca/atletismo-os-grandes-nomes-esporte-vimarense/ http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/176.pdf http://cev.org.br/biblioteca/a-introducao-esporte-moderno-maranhao-outras-modalidades-esportivas/
Patrono da Cadeira nº 38 do IHGG200 - Rubem Teixeira Goulart - nasceu em Guimarães em 1920. Formado em Ciências e Letras é um dos pioneiros da Educação Física na Escola Nacional de Educação Física (ENEF) no Rio de Janeiro. Vice-campeão de halterofilismo, peso médio e jogador de vôlei, basquete, futebol e atletismo, vice-campeão do declatlo pelo Fluminense. Inspetor de Educação Física no SEFE (1944-1945) de onde se transfere para a Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje CEFET. Em sua homenagem o ginásio esportivo do bairro Monte Castelo, em São Luís, leva o seu nome, assim também como Ginásio Poliesportivo na cidade de Guimarães, na Rua Emílio Habibe. O Futebol aparece lá pelos anos 1950, organizado por Felinto Goulart de Araújo e outros articuladores. Foram formadas duas equipes: o América Futebol Clube, formado por atletas negros e o Guarapiranga, formado por brancos, elementos da elite vimarense; havia muita rivalidade entre as duas equipes. O primeiro estádio de futebol recebeu o nome de Felinto, e atualmente está extinto e o espaço físico foi cedido a construção do prédio Paulo Freire. Em 1956 Guimarães torna-se campeão do Torneio Intermunicipal, vencendo a seleção de Bacabal; os jogadores foram: Enéas, Hélio, Curuçá, Celso Coutinho, Orlando, Arnaldinho, Juquinha Goulart, Leudes Campos, Lourival, Mário Veloso, autor dos gols que levaram a vitória; o goleiro era Camundá; e em 1957 sagra-se vice-campeão do Torneio Intermunicipal, jogando contra São Vicente de Ferrer. Dizem que na partida final, o árbitro, Antonio Bento, não encerrava a partida mesmo o tempo ter-se esgotado, só o fazendo com o empate de São Vicente; na disputa por pênaltis, vence a partida, e Guimarães fica em segundo.
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https://www.vimarense.com.br/single-post/2018/07/24/Concei%C3%A7%C3%A3o-Braga-Cuba-toma-posse-na-Cadeiran%C2%BA-38-do-Instituto-Hist%C3%B3rico-e-Geogr%C3%A1fico-de-Guimar%C3%A3es-2
BARRAGEM DE BRUMADINHO: SOLIDARIEDADE E GOVERNABILIDADE. ALDY MELLO* O mundo assistiu estarrecido a descida da lama devastadora do Complexo de Feijão, em Brumadinho. M. Gerais. Muito se viu de solidariedade e pouco de governabilidade depois do acidente da Mineradora Samarco, em Mariana. Restou apenas a lembrança dos dias felizes que pessoas passaram lá. O resto foi o vale que deixou de existir, nivelado pelos rejeitos de ferro da Vale. A solidariedade é um sentimento presente nos tempos atuais, ultrapassando até as fronteiras nacionais. É um terreno que em Sociologia já assumiu forma e presença na vida moderna, como é o caso da solidariedade social tão comum. A solidariedade vem sempre carregada de padecimento com o sofrimento dos outros, seja moralmente falando, através da assistência moral, ou materialmente, como ocorre nas grandes tragédias. Numa ação solidária existe mutualidade de interesses e objetivos e ligações recíprocas. Nesse tipo de ação, instalam-se compromissos e uma rede de relações fica estabelecida, garantindo e assegurando a coesão social. A solidariedade humana promove os direitos humanos e ajuda a vencer a pobreza daqueles que não têm ou tudo que tinham perderam. Ela é uma resposta às necessidades humanas, aos sonhos perdidos, enfim, refaz a aventura do ser humano em buscar incessantemente a felicidade. Para Albert Camus, escritor, romancista dramaturgo e filósofo francês do século XIX, ou somos solidários ou somos solitários. Quando somos solidários, pensamos nos outros, ajudamos as pessoas a superar suas dificuldades. Estamos vinculados ao social, e nosso olhar sobre o mundo é outro. Ao contrário, se optamos pela solidão, por conseguinte, somos solitários, afastamo-nos dos compromissos sociais e distanciamo-nos da comunhão de esperanças que circula no mundo. A nossa capacidade de troca diminui e evapora-se, desaparece a nossa relação como contribuinte para solução dos problemas que afligem o planeta terra. Navegabilidade nacional é um sistema que permite à nação construir seu próprio projeto de crescimento. Um projeto de navegabilidade nacional precisa ter objetivos definidos politicamente, métodos claros e adequação no tempo e no espaço. A navegabilidade só será facilitada quando os governantes compreenderem verdadeiramente os anseios da população. Outro importante fator para a navegabilidade é a capacidade de os governantes estarem abertos para novas informações, a partir de uma compreensão global do mundo. É fundamental, também, a busca por um modelo holístico de governabilidade em que todos os nacionais possam se realizar como cidadãos. A navegabilidade do governo brasileiro tem sido baseada no equilíbrio das contas públicas com o menor custo social, no entanto ela vai muito além disso. Não basta o ajuste fiscal pretendido. São necessárias abertura econômica, a realização de reformas estruturais como a política e a fiscal, bem como outras medidas de estímulo à exportação e ao crescimento do país. Não haverá navegabilidade nacional se não houver, ainda, planejamento, que muito tem a ver com gestão estratégica, em que o processo de transformação motive todos que diretamente possam contribuir com o crescimento da nação. Inovando-se, não se pretende reduzir ou minimizar a capacidade de sonhar, mas sim conjugar esta capacidade com a vontade de transformar os sonhos em realidade, mesmo que para isso se tenha que reinventar uma nova instituição ou novas vontades. Os governos precisam ser mais comprometidos com a segurança da população. Que a tragédia de Mariana e de Brumadinho não se repitam. O Brasil precisa de um novo modelo de desenvolvimento, em que possamos melhor conhecer os problemas do Estado e lutar pela redução da pobreza brasileira. *
Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro fundador da ALL e membro efetivo do IHGM.
A POESIA ENTRE A REALIDADE E O REAL JOÃO BATISTA LAGO Talvez a questão mais complicada para a maioria dos ‘atores’ da Poesia esteja na complicada equação filosófica de realidade e real. Mesmo aqueles a quem se podem considerar os mais evoluídos são, quando em vez, traídos por essa matemática do pensamento universal. O Poeta, como um pensador do (seu) mundo, isto é, fundamentado nas suas percepções oníricas, intuitivas e sensitivas, não foge a essa regra calculatória. Ele é resultado dessa imbricação fenomênico-escatológica, ou seja, o poeta sempre está a pensar entre dois campos imanentes e latentes na poesia: a Filosofia e a Teologia. Mas isso, contudo, é muitíssimo pouco – ou quase nada mesmo! – compreendido entre os principais ‘agentes’ da Poética: poetas, escritores e críticos. Aliás, pode-se mesmo inferir, que são raríssimos os que teriam essa compreendidade. Muitos entendem que, são poetas, somente pelo fato de saberem, habilidosamente, concatenar frases e rimas. Que se me perdoem os puristas cheios de pruridos de literatura áulica. E que são muitos espalhados por aí afora! Mas o que se vê, e lê, por aí são, para dizer o máximo, uma certa tipologia de prosa poética ou historietas contadas em formas vérsicas. Mas saímos dizendo por aí que esses escritos são Poesias (!), posto que, a sonoridade, a métrica e a rima, ou mesmo nenhuma destas – muitas vezes -, nos agradam e nos elevam a alma e o espírito. É exatamente neste ponto que erramos, ou seja, quando nos deixamos levar e enlevar pelo simplesmente belo ou pela simplória estética musicálica que balança no campo da nossa imaginação, palavras, frases e versos condicionados e condicionantes de efeito factível. E quando nos perdemos nessa ‘imaginação criadora’, inerente em cada ser humano, por mais humilde que o seja, perdemos a capacidade consciente e ciente de analisar, compreender, sentir, e de, sobretudo, “pensar” a Poesia como uma fonte de águas mais claras que a Filosofia ou a Teologia. O que ouso, neste ponto, é salientar um posicionamento político, ou seja, dizer com todas as letras que o conjunto de conceitos e práticas que orientam a Poesia não se reduz, nem se traduz, tampouco (re-)traduz, pura e simplesmente, ao estádio cognoscitivo do pensamento do poeta. Tudo isto não passaria de um paradigma metodológico, isto é, tudo isto não é mais que um obstáculo para o processo consciente e ciente da construção da Poesia. O que afirmo é que, aos meus olhos, a Poesia não pode e não deve ser condicionada somente ao campo da realidade secular, mas deve, sobremodo, ser criada, ou ser industrializada, a partir do campo do real. Realidade é Filosofia; é Teologia. Real é o “e-xistente”; a práxis do ente no existir do ser, ou seja, é o real do sujeito na sua infraestrutura. O que afirmo é que, o poeta e o seu poema, assim como a sua poesia, são o resultado do pensamento da intuição do seu instante. Ele abstrai duma realidade (Natureza) qualquer a fazedura do seu real: eis aqui o resultado da equação.
"O SERTÃO", DE CARLOTA CARVALHO, 2ª EDIÇÃO EDMILSON SANCHES (esanches@jupiter.com.br) ---------------------------------------------------------UM ÍNDICE, UM LIVRO, MUITAS VONTADES Por essas razões que nossa razão desconhece mas que a Internet delas sabe muito bem, um escrito póstextual meu, integrante da 2ª edição do livro "O Sertão" (ano 2000), de Carlota Carvalho, foi parar em um desses "sites" de "resumos" de obras -- o Netsaber. Eis o "link" de meu texto: http://resumos.netsaber.com.br/resumo-77961/o-sertao Trata-se, o texto, de uma sugestão que eu fizera ao amigo editor Adalberto Franklin, de Imperatriz (MA). O Adalberto, juntamente com o outro amigo comum, o professor doutor João Renôr Ferreira de Carvalho, estavam realizando um grande feito editorial: a 2ª edição da raríssima obra "O Sertão", de 1924. A nova edição, em grande formato (18 cm X 25,5 cm), além de atualização ortográfica, traz uma alentada "Apresentação" de 37 páginas, escritas por esse grande professor, pesquisador e historiador maranhense João Renôr, falecido em 20 de março de 2016, em São Luís (MA). A 2ª edição também foi enriquecida com apêndices e anexos e um rápido posfácio do Renôr relatando "a 'via crucis' para se reeditar 'O Sertão'". Ante tamanhos cuidados com a reedição daquela obra, sugeri ao editor que se incluísse um índice onomástico, o que enriqueceria a edição e facilitaria o trabalho de consulentes e outros pesquisadores e estudiosos. O Adalberto Franklin topou... desde que eu elaborasse o índice. Foi um trabalhão, às vésperas de lançar-se a segunda edição. Não haveria tempo para uma referenciação completa dos termos, mas todos os termos que eu julgasse verbetar estariam no índice. Ou seja: o índice onomástico indicaria só a página da primeira menção; as demais referências a um mesmo nome não seriam creditadas, posto que o trabalho -manual -- levaria mais tempo. Recordo-me de que o lançamento da grande obra foi em uma noite, no auditório da Associação Médica de Imperatriz. Em seu pronunciamento, o Adalberto Franklin destacou: " -- Trabalho mesmo, quem teve, foi o Edmilson Sanches, que organizou sozinho, manualmente e em tempo recorde, o índice onomástico do livro". Foi realmente algo insano, mas o índice está ali, ao final do livro, com mais de 2.000 entradas (verbetes), em duas colunas, ocupando 22 páginas, além de outras duas com o texto explicativo abaixo. Atualmente, "O Sertão" tem pelo menos três edições após a publicação original de 1924. Duas dessas edições vieram pioneiramente pela Ética Editora, do Adalberto Franklin (que faleceu em 02 de março de 2017). A outra edição integra a "Coleção Nordestina", da editora da Universidade Federal do Piauí, onde o doutor João Renôr era professor. Acerca da autoria da obra (Carlota Carvalho seria um alônimo de seu irmão, João Parsondas de Carvalho), escrevi um pequeno trabalho -- "O Sertão é Nosso" --, que trata do assunto e traz informações inéditas. (EDMILSON SANCHES) *** UM ÍNDICE, UM LIVRO, MUITAS VONTADES Este índice onomástico se apresenta em situação semelhante à do livro que o contém: carregado daquelas imperfeições que não comprometem estruturalmente o corpo da obra, mas deixam intranquila a alma do autor. Por uma série de razões, sobretudo em função do custo (temporal e editorial), não pude fazer a re-visão das mais de 2.000 entradas (nomes) que compõem o Índice. A intenção era/é a de, ao lado do que está registrado no livro, fixar a grafia de cada nome próprio, com um esforço adicional: agregar a cada verbete informações que, instantaneamente, pudessem/possam “situar” o leitor, ou seja, os verbetes seriam pequenas unidades informativas autônomas, uma superconcisa enciclopédia do universo onomástico de “O Sertão”. Quase todos os objetos de interesse da Onomástica ou Onomatologia está contemplado na obra de Carlota Carvalho e transcritos no Índice. São antropônimos (nomes de pessoas – prenomes, sobrenomes, cognomes, alcunhas, hipocorísticos, patronímicos, antonomásicos, pseudônimos);...
...hierônimos e hagiônimos (nomes sagrados e de santos);... ...mitônimos (deuses, semideuses, mitos, lendas);... ...topônimos em geral, como os corônimos (nomes de países, continentes, regiões), nesônimos (ilhas), orônimos (serras, montes, cordilheiras), politônimos (cidades), talassônimos (oceanos, mares), potamônimos (rios, riachos), limnônimos (lagos), topônimos urbanos (rua, avenida, praça);... ...e intitulativos (instituições de ensino, de pesquisa e de serviços oficiais, estabelecimentos comerciais, periódicos, livros, poemas, contos, crônicas, artigos etc.). ** O que o leitor tem nas páginas seguintes está longe do que pretendia/pretende o autor do Índice. Tenho consciência das muitas e variadas inconsistências de ordem técnica, de forma e conteúdo. Mas esse é o Índice que foi possível ter nesta edição. Entretanto, mania de perfeição à parte, os mais de 2.000 nomes listados são uma demonstração do repertório de referências desta edição de “O Sertão” e, sobretudo, do cardápio de conhecimentos de que se servia a autora do livro, professora Carlota Carvalho. Algumas informações sobre o Índice: 1) o número em algarismos arábicos (59, 173, 250 etc.) é o da página onde está o primeiro registro do nome indexado (a inclusão dos outros números de páginas onde aparece registrado o mesmo nome é tarefa para futura reedição deste livro); 2) variantes gráficas de um mesmo nome, existentes no livro, ainda que estranhas ou erradas, foram registradas, com a indicação da página em que primeiramente aparecem; 3) a numeração em algarismos romanos (XI, XII, XV, XX, XLVI etc.) refere-se às páginas editoriais e às 38 páginas da “Introdução à 2ª Edição”, do professor João Renôr; 4) a numeração seguida de letras entre parênteses refere-se: ---- “(LM)” – ao texto intitulado “Juízo Crítico”, de Luiz Murat (páginas 49 a 52); ---- “(MN)” – ao texto “Duas Palavras”, de Manoel Nogueira da Silva (página 53); ---- “(CC)” – ao texto “Ao Leitor”, de Carlota Carvalho (páginas 55 a 58). Portanto, todos os nomes seguidos apenas de números em algarismos arábicos referem-se ao conteúdo propriamente dito do livro. ** O texto de “O Sertão” está a merecer uma edição crítica a partir do exemplar-fonte com anotações da autora. A leitura mais cuidadosa detecta variantes desnecessárias, falhas, omissões, erros tipográficos e "lapsus calami" e, também, contradições e incoerências: o professor Braga que é incendiado na fogueira da página 88 é o mesmo que não é alcançado e foge na página 187. Uma determinada localidade ora é taba, ora vila, ora cidade, ora município. Os diversos registros históricos sobre a era colonial dos Estados Unidos (páginas 76, 246, 247, 286, 287) estão a merecer uma revisão em regra (nomes, datas, fatos etc.). A autora ora utiliza “John” Mandeville (p. 72), ora “João” Mandeville (144), “Rasilly” (245) e “Rasili” (248), “Nova Iorque” (178) e “New York” (247), “Quindagus” (89) e “Quindangues” (148), “Guilherme” Lund (59) e “William” Lund (72), “os Maelstrons” (masculino, com “e”) e “a Malstron” (feminino, sem o “e”), “Maryland” (247) e “Marylanda” (246) etc. Em uma mesma página (75), “Francisco de Mello Manoel da Câmara” vira “Franco de Mello Manoel Câmara”. Ao trazer/traduzir para o português nomes ingleses, a autora nos surpreende com grafias do tipo “Carlos Town” (Charlestown, nome de cidade dos Estados Unidos). “Não há livro sem erro”, asseguram os especialistas. Mas, é claro, não há livro que não possa ser editorialmente melhorado. Como já o foi “O Sertão”, com esta edição: além da rica “Introdução”, também se lhe agregaram as retificações e adendos da própria autora, mais o esforço de atualização ortográfica e de apresentação gráfica do editor Adalberto Franklin e esta tábua de nomes.
Tenho certeza, livro e índice continuarão sendo trabalhados, com o pensamento voltado para o que é melhor para a curiosidade do leitor e a leitura do curioso, para a pesquisa do estudante e os estudos do pesquisador. Fotos: As edições de 2000 (Ética Editora, Imperatriz - MA), 1924 (Editora de Obras Científicas e Literárias, Rio de Janeiro - RJ)e 2012 (Edufpi, Teresina - PI) do livro "O Sertão". Exemplares das quatro edições integram o acervo da biblioteca de Edmilson Sanches.
O PENSAMENTO DE BRANDÃO
UM ELEITOR E SUAS LEMBRANÇAS Antônio Augusto Ribeiro Brandão *Economista. Membro da ACL, do IWA e do MNELOSL.; Fundador da ALL. PUBLICADO EM O IMPARCIAL Quando eu era ainda muito pequeno, na segunda metade da década de 30 do século passado, Getúlio Vargas governava o Brasil depois de vencer a Revolução e ter dado o golpe que o perpetuou no poder até 1945. Era sobre isso que eu ouvia falar. Em 1939, eclodiu a Segunda Guerra Mundial e em meio a intensas descargas do rádio “rabo-quente”, ouvia as notícias vindas de Londres e de Paris; aliás, tenho uma crônica intitulada “Memórias da Guerra”, que relembra esses temerosos tempos. Ainda como uma sequência do seu governo, Getúlio foi sucedido pelo general Eurico Dutra, que fez o SALTE, “nome de um plano econômico elaborado pelo governo brasileiro, que tinha como objetivo estimular o desenvolvimento de setores como saúde, alimentação, transporte e energia.” Dutra realizou um governo discreto, mas pacífico, para, nas eleições seguintes, devolvê-lo a Getúlio, desta vez eleito por voto direto. Na eleição presidencial de 1950 grandes comícios foram realizados em São Luís, na atual Praça do Panteon (ou na Deodoro); lembro-me de que vieram em campanha Cristiano Machado e Getúlio, que pretendia retornar ao Palácio do Catete, pelo voto. Ouvi o que eles disseram mais pelos autofalantes, porque estava meio distante e ainda não votava. Votei, pela primeira vez, em 1953, em Caxias, não recordo em quem; daí em diante nunca faltei a uma eleição, porém desde essa época jamais fui filiado a nenhum partido político. A Cidade havia sido governada pelo empresário da indústria Eugênio Barros, eleito governador do Estado, em 1950, e empossado após intensas refregas com as oposições coligadas. Depois Eugênio foi senador e ficou, para sempre, residindo no Rio, até falecer próximo aos cem anos. Na então “Cidade maravilhosa”, chegado em fins de 1954, meses depois do suicídio de Vargas, somente a partir de 1956, quando iniciei meu curso de Economia, desenvolvi alguma atividade política em termos amadores. Na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, na velha Praça XV, atual integrante da Universidade Cândido Mendes, fiz parte do Diretório Acadêmico Barão de Mauá na qualidade de diretor editorial do jornal “Estilo”; publiquei algumas matérias mais ou menos polêmicas e estive envolvido em algumas discussões acadêmicas. O diretor da Faculdade era o Conde Cândido Mendes de Almeida Junior, de valiosa estirpe e descendente de família tradicional do Maranhão; ele era um liberal e exercia sua liderança de forma exemplar para todos nós. Os alunos de Economia e de Direito, durante aqueles quatro anos, entre 1956 e 1959, juntos fizeram excursões a Vitória, Belo Horizonte, São Paulo, para intercâmbio com colegas dessas áreas afins, certamente também abordando assuntos políticos. A visita mais significativa fizemos à Ilha Grande, no litoral de Mangaratiba, onde pernoitamos, fomos homenageados e conversamos muito com alguns detentos, que estavam interessados no andamento dos seus processos criminais. À essa altura já existia o Centro de Estudantes Maranhenses, com sede no Largo do Machado, onde nossas reuniões eram recheadas desses assuntos, pois chegamos a pensar em influir, de alguma forma, nas eleições próximas, em Caxias; aos sábados, contudo, no Amarelinho, na Cinelândia, as conversas eram mais amenas. Na campanha eleitoral de 1955 que elegeu Juscelino Kubistchek à presidência do Brasil, em quem votei, o fiz também em Sérgio Magalhães, para deputado federal. O governo de Juscelino e seu famoso Plano de Metas trouxe aos brasileiros novas esperanças principalmente a nós, futuros economistas. Além de estudar e trabalhar, credenciado pela Associação Comercial de Caxias,
frequentava as sessões da Associação Comercial do Rio de Janeiro, que tinha como presidente Rui Gomes de Almeida. Por conta dessa minha aproximação com as classes produtoras do Rio de Janeiro, com as quais muito aprendi, representando Caxias, fiz parte da comitiva que, em Porto Alegre, homenageou o presidente eleito, com um banquete realizado no Palácio Piratini. Meu pai, Antônio Brandão, visitando o Rio em anos seguintes, convidou-me para assistir a um comício do candidato Plínio Salgado às próximas eleições, em 1960; fomos ao Teatro João Caetano, gostei e ele exclamou: “continua um grande orador!” Na sucessão de Juscelino votei no marechal Henrique Lott, que havia defendido a posse de Juscelino, mas o vencedor foi Jânio Quadros, que acabou renunciando seis meses depois de empossado. O vice-presidente era João Goulart, que teve de assumir o governo após idas e vindas, porque enfrentava resistências por parte dos militares, resistências que culminaram com a Revolução de 64, no dia 31 de março daquele ano.
EM HOMENAGEM A SÃO SEBASTIÃO: TIRO DE GUERRA 194 Corria o ano de 1953. Naquele tempo, conciliar a obrigação de prestar o serviço militar com a oportunidade de fazer o Vestibular era um dilema muito sério. Todos pensavam em “perder” dez meses, no mínimo, no cumprimento da obrigação com o Exército e, por consequência, adiar o ingresso na Faculdade; restava a esperança de ser dispensado, conforme a sorte de cada um. Acontece que o nosso querido Doutor Marcelo Tadeu de Assunção - que já havia sido meu professor de Latim, nos idos de 1946/48, no Ginásio Caxiense -, então médico responsável pelos exames de aptidão física, não brincava em serviço. E aí só restava encarar o Sargento Instrutor, rezar para que ele não fosse durão e para que o tempo passasse depressa. Tudo começou no mês de março daquele ano, no Tiro de Guerra 194. O Instrutor era o Sargento Zerlino Prado de Sousa (ou Souza), paraibano, então em plagas caxienses, por conta da movimentação dos militares. Um grande pessoa: ao mesmo tempo rígido e disciplinador quando a situação assim o exigia, mas terno e compreensivo ao reconhecer os esforços que desenvolvíamos. Havia, também, o Tenente Aluízio de Abreu Lobo, Diretor do TG, muito mais rígido e menos terno, mais linha dura quando substituía o Sargento Zerlino, nas suas ausências e impedimentos, isto é, quando viajava a Fortaleza, para buscar o fardamento ou quando adoecia, coisa rara. A jornada de dez meses incluía as instruções normais do dia-a-dia: ordem-unida, exercícios na pista de obstáculos no antigo Campo da Liga, marchas (Atiradores equipados ou não), exercícios de tiro ao alvo, no “stand” do Ponte, participações em desfiles, principalmente dos dias 25 de agosto e 7 de setembro; havia também atividades recreativas, ainda no Campo da Liga os jogos de futebol-americano, com aquela bola bicuda. Ao final desses dez meses, se vencêssemos a lida diária e o concurso de tiro (oito ou nove posições diferentes, com fuzil Mauser-FM), éramos submetidos a exame teórico-prático junto a uma Banca Examinadora, composta do Sargento Instrutor e de um Oficial do 24 BC. A maioria era aprovada (penso que fui o 2º colocado e o Ezíquio Barros, o 1º). O Chico “bidunga”, por exemplo, não conseguia ser aprovado no tiro-ao-alvo; muito tempo depois é que foram descobrir que sofria da vista. O Carlos Bastos era o comandante do nosso Pelotão; eu, Atirador nº 15, o Josimar Moreira Ramos e o Ezíquio Barros (isto mesmo, o ex-Prefeito) comandávamos os três grupos de uns dez Atiradores cada. Situações dignas de registro ocorriam: o Tenente Aluízio, aproveitando a ausência ou impedimento do Sargento Zerlino, “judiava” da gente: nus da cintura p’ra cima, depois de enlameados na pista de obstáculos, seguíamos em marcha até o centro da Cidade, passando pela Praça Gonçalves Dias (então ponto de convergência dos rapazes e moças, a “rodar” em sentido contrário, razão de muitos “flertes” que acabaram em casamento). É que as namoradas, ansiosas pelas nossas presenças, na Praça, tinham que se contentar em ver-nos naquele estado. E quando íamos buscar o mastro que todos os anos é erguido em homenagem a São Sebastião, no mês de janeiro? Tudo acontecia muito além do Ponte, numa mata que tivesse árvores muitos altas e retas; tinha que ser madeira capaz de ser galgada, depois de ensebada e ficar no sereno muitos dias e muitas noites, na sede do TG (ficava no próprio Largo). No dia da Festa, de tão liso que ficava o mastro, ninguém conseguia subir e “pegar” o prêmio no seu topo. Difícil era trazer o tronco, nas costas, um Grupo de cada vez. A cronometragem do tempo tinha em vista evitar que sofrêssemos o vexame de passar pela Praça. Para que isso não acontecesse, ora andávamos mais devagar, ora corríamos no afã de transferir aos ombros de outro grupo. Penso que o nosso livrou-se do tronco no final da antiga Ponte Zé Fernandes, no começo da rua do Porto Grande, e comemoramos a conquista naquele dia memorável
Quantas lembranças! Minha mulher há mais de cinqüenta e dois anos, Conceição, caxiense como eu, dizia que não era bom viver no passado, que isto não deixava a pessoa ir em frente. Eu retrucava que era exatamente o passado que me ajudava a ir em frente, recordando com gratidão, conforme palavras do nosso querido Papa João Paulo II. Pois bem: lembro-me do “Todo-Ruim”, apelido que o Sargento Zerlino deu a um dos Atiradores que não conseguia acertar o passo, dar aquele pulinho corretivo; lembro-me do José Armando Costa, meu vizinho e companheiro de farda, da sua “farofa” de sardinha da Mercearia do Maestro Josino Frazão, comerciante nas horas vagas. Havia muitos Atiradores da Trizidela e do Ponte, o Getúlio Galvão Carvalho, o Antônio Bezerra, e muitos outros. Às vezes, em algum lugar da Cidade, ouço alguém chamar: Atirador nº 15! Nesses momentos volto a ser soldado. O Exército é isto: uma grande Escola de civismo, ordem, disciplina, respeito à hierarquia, vivência de valores e crenças que devem nortear cada cidadão, além de proporcionar, de forma democrática, laços de amizade independentes de cor, raça, classe social. Esta crônica é uma homenagem aos nomes aqui citados, também a todos os demais Atiradores que serviram comigo, no TG 194, no Ano da Graça de 1953, em Caxias. É também extensivo àqueles que, na atualidade, estão à frente dos destinos daquela Instituição Militar. Meus respeitos a todos os Infantes, saldados que, numa guerra, estarão, sempre, na linha de frente.
TEORIA E PRÁTICA *Antônio Augusto Ribeiro Brandão No meu longo tempo de professor universitário, entre 1968 e 1997, ensinei sobre Teoria Econômica, Mercado de Capitais e Política Monetária. Ao conhecimento teórico aliei a prática. Como economista estive ligado a empresas voltadas para resultados e ao serviço público federal, estadual e municipal, com participação em processos de reforma administrativa, institucionalização de órgãos, gestão fiscal, orçamentária e educacional; tive também longa experiência militando no sistema financeiro estadual. Em 1980, integrando um grupo de executivos do mercado financeiro brasileiro, participei de um Seminário, na Universidade de Nova York, tendo visitado bancos de investimento, corretoras, as Bolsas de valores NYSE e de mercadorias, em Wall Street; naquela oportunidade, perguntei a um dos expositores, na NYSE, se achava que o “crash” de 1929 poderia repetir-se. Ele respondeu: “sim, mas haveria salvaguardas. A resposta daquele expositor ficou na minha cabeça. Afinal, quando do “crash” de 29, o banco central americano – o Federal Reserve-FED - já existia e não interferiu em nada inclusive com o beneplácito do governo federal; houve uma “quebradeira” geral, permitindo que sobrevivessem somente aqueles melhor preparados. Quando estourou a crise da “bolha’, em 2008, ameaçando ser uma repetição do “crash” de 29, lembrei-me do que tinha ouvido daquele expositor, na NYSE, e fiquei na expectativa do que faria, desta vez, o FED. Quem estuda os fundamentos teóricos da política monetária, que estão nos melhores livros-texto sobre o assunto, fica sabendo que existem alguns pressupostos básicos relacionados à Teoria Quantitativa da Moeda - TQM e sua velocidade de circulação, à Base Monetária e seu multiplicador. A equação representativa da TQM, (MV = PT), fala de uma proporcionalidade e significa que a moeda (M) multiplicada pela sua velocidade de circulação (V) deve ser igual ao nível de preços (P) multiplicado pelo volume de transações (T). A Base Monetária (B = E + RD) é a soma da moeda emitida (E) mais as reservas bancárias depositadas nas autoridades monetárias (RD); o multiplicador da Base diz que uma unidade monetária colocada em circulação produzirá um efeito “n” vezes maior. Mesmo assim, alegando prenúncios de uma grave recessão, o FED foi de encontro a essa teoria e, ao contrário de 1929, promoveu um amplo programa de auxílio à liquidez, o chamado “quantitative easing”, práticas heterodoxas de política monetária, lançando trilhões de dólares no mercado e seguido pelo Banco Central Europeu -BCE, da China e do Japão. Essa política de afrouxamento monetário teria evitado a repetição de um novo “crash”, mas está tendo um custo muito alto para muito países que tiveram seu endividamento grandemente aumentado, pois principalmente governos emitiram títulos e bônus em troca, além de submeterem-se a ajustes fiscais rigorosos. E mais: os caixas dos bancos ficaram aumentados tendo em vista que a demanda pelos recursos foi relativamente baixa. Uma política monetária dessa natureza, por contrariar seus pressupostos teóricos básicos, deveria ter, no mínimo, provocado inflação; não provocou porque a velocidade de circulação da moeda (V) diminuiu, porque ouve baixa demanda pelos recursos, além de que o FED administrou uma taxa de juros intencionalmente muito baixa. Hoje, sabe-se que o “quantitative easing” evitou um novo “crash”, mas, como o mercado acostumou-se com esse excesso de liquidez, os bancos centrais estão encontrando dificuldades para uma “porta-de-saída”, ou seja acabar, ainda que paulatinamente, com o afrouxamento monetário. Mário Draghi, presidente do BCE, disse “que o Banco vai manter seus planos de encerrar o programa de estímulos econômicos de 2,6 trilhões de euros, em dezembro, afirmando que a inflação deverá aumentar, apesar de os indicadores econômicos recentes serem desapontadores.” O FED já vem fazendo, há algum tempo, uma redução gradual em dólares.
Foi por causa disso tudo que, entre 2008 e 2015, escrevi meu terceiro livro bilíngue “Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory”, composto por quarenta artigos selecionados sobre vários temas e acrescidos dos fundamentos da história econômica, com vários cenários traçados. Esse Livro levanta a seguinte questão: estariam os atuais modelos econométricos sendo mal utilizados ou a teoria econômica necessitando de novas formulações teóricas? A tese levantada pelo livro pretende ser discutida nos meios acadêmicos, inclusive no exterior, e ser objeto de pesquisa acadêmica. Os jornais especializados continuam ocupados do “quantitative easing”, suas consequências e de como os bancos centrais pretendem encontrar uma saída a esses incentivos face a conjuntura recessiva que se aproxima. Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, em 2008, em longa entrevista publicada na revista Veja, edição do dia 28/11/2018, cuja leitura recomendo, revela-se favorável às práticas heterodoxas de política monetária quando adotadas em períodos adequados, referindo-se ao que foi feito no Brasil recente, e diz “(...) momentos de recessão pedem um maior gasto governamental.”; esse seu artigo, segundo a Revista, foi mal recebido por economistas brasileiros. Países com orçamentos superavitários e grandes reservas cambiais até poderiam praticar esses estímulos monetários, como no caso do “quantitative easing” do FED americano, apesar dos efeitos colaterais maléficos advindos aos tomadores desses recursos; contudo essa prática não seria recomendada.
RUA DAS HORTAS *Antônio Augusto Ribeiro Brandão A casa da minha infância, das lembranças do meu avô materno e das tias irmãs da minha mãe, ainda existe e fica na rua do Pespontão. Sempre que subo a Jansen Muller tenho vontade de dobrar à direita, como fazia o comandante Augusto Ribeiro quando retornava de suas viagens. A família Brandão, vinda de Picos para São Luís, foi morar no número 322 da rua das Hortas. A casa, uma meia-morada revestida de azulejos portugueses e sacada-a-ferro, ainda existe, mas grandemente deteriorada. Recordações dos idos de 1941: nossa nova morada ficava em frente à casa dos avós e pais do Gabriel Cunha, de frente para a rua do Coqueiro, e os colegas de brincadeira estavam por perto, na rua da Alegria e Canto da Viração – onde morava o casal tia Santa e Ézer -, para muitas traquinagens principalmente em banhos de maré e algumas brigas. Lembro do Tabajara e dos filhos do Moreira. O Gabriel Cunha estudava medicina nos Estados Unidos, mas vinha passar as férias em São Luís. Gostava de empinar suas coloridas Jamantas, cuja linha transitava um pouco acima do nosso quintal. Quando ela foi o médico que velava por nossa saúde, na antiga CPM, ficamos amigos e só então pude confessar-lhe nossas traquinagens, e ele riu muito e exclamou: eram vocês?! O Moreira tinha um carro-de-praça, também o Dadeco e o Sebastião, que uma vez veio buscar meu pai à uma festa em Palácio. O Waldemar, outro famoso, dirigia o Packard da família que morava naquele casarão da Praça Odorico Mendes. Nessa época estudei particular com a Lize, filha de dona Ziloca e o tio-avô Paulo Ribeiro; ela era irmã de José Carlos Ribeiro, depois médico de grande conceito na cidade, casada com o português Alcindo, alegre e muito educado. Moravam na rua Rio Branco, esquina com Afogados. Tinham uma governanta chamada Maria, de voz doce e atenciosa, que foi fiel e viveu com eles por muito tempo. Na rua das Hortas, houve época em que um sobrinho dela, cujo nome não lembro mais, vinha de Rosário, para brincar conosco: ele tinha uma tipo de pedra que lançava ao alto e, ao cair, explodia! Estudei particular também com dona Dilú Garrido, na rua dos Afogados, próximo à Fonte do Ribeirão; ela pertencia a uma tradicional família de intelectuais da qual destaco Assis Garrido, que foi membro da AML, e Edson Garrido, médico. Na casa, ainda viviam, já idosos, Dedé e Flor, tios das minhas tias, primos que se casaram e viveram felizes para sempre, e Dagmar, uma morena bonita e cheia de vida. Aos domingos, bem cedinho, antes da missa na Igreja dos Remédios, catávamos caranguejos onde ficava a rotatória do trem e de lá também víamos o hidroavião da Condor decolar rumo a plagas distantes. Também havia os banhos de maré pulando de uma carcaça de um velho navio encalhado em frente de onde é, hoje, a praça Maria Aragão. Quando chovia a gente buscava proteção debaixo dos bancos da praça Gonçalves Dias. Uma vez, nessas brincadeiras, o Frederico, meu irmão, perdeu-se de mim. Cheguei em casa muito aflito e preocupado. O Ézer, esposo de tia Santa, que estava em visita, comprometeu-se a procura-lo lá pelas bandas da Praça. Como era dia de Procissão, que normalmente subia a nossa rua, estávamos à janela esperançosos de vê-los entre os passantes; sem ser encontrado pelo Ézer, contudo, o Frederico integrou-se à multidão, porque, segundo disse, sabia que passaria em frente à nossa casa. Foi um alívio. Em São Luís, meu pai tinha muitos amigos dentre os quais lembro do José Alexandre de Oliveira, Pedro José de Oliveira, Abílio Lima, Avelino Farias e Cláudio Brandt; deste herdamos o guarda-casaca e seu grande espelho de cristal, que atualmente está comigo. Nele muito nos miramos: meus pais e irmãos, e eu quando, em 1961, fui casar com a Conceição, na Igreja da Matriz, em Caxias. Era o tempo da segunda Grande Guerra, do ditador Getúlio Vargas na sua caça aos antes aliados integralistas. Na minha crônica “Lembranças da Guerra”, no livro “Fortes Laços”, falo dos dissabores enfrentados por nossa família, das dificuldades enfrentadas, mas superadas pela ajuda dos amigos referidos, compreensão, paciência e resignação.
Depois dessas alegrias e aflições, com a família acrescida de mais três irmãos – Ângela, João e Cenira -, voltamos a residir em Caxias, para vivermos os melhores anos de nossas vidas.
RETORNO ÀS ORIGENS *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Sou do tempo em que a viagem à casa do meu avô, Augusto Ribeiro, era feita em dois tempos: de Caxias a Coroatá, onde pernoitávamos, e daí a São Luís, no outro dia, chegando já noite adentro; na velha estação estavam, sempre, minhas tias Santa e Neném, à espera nessas muitas idas, entre 1937/1939, na companhia da outra tia em férias, Doninha. Desta vez, entretanto, tudo era bem diferente na volta a Caxias, naquele longínquo 1944, depois de uma temporada de altos e baixos da nossa família doravante acrescida de mais três membros, oito ao todo: Antônio Augusto, Frederico, Rosa, Laura, José, Ângela, João e Cenira, estes gêmeos não univitelinos, único parto que minha mãe, Nadir, fez em Hospital. Abaixo de Deus, foi o doutor Alarico Pacheco quem a assistiu. Meu pai, Antônio Brandão, voltava à “Princesa do Sertão”, para estabelecer-se no ramo de fazendas, ferragens, estivas e miudezas em geral, desta vez em firma individual, a famosa “Casa Brandão”, situada em ponto privilegiado da cidade, na Praça Gonçalves Dias. Por uns tempos ficamos hospedados na casa de dona Neli e do José Leite, ele comerciante de secos e molhados, na rua do Porto Grande, em frente à casa de Antônio Francisco de Sousa, que fora sócio do meu pai na primeira firma Brandão & Sousa. O Elman, já mais crescido e um dos filhos do “seu” Nanito, gostava de “passarinhar” e engolia o coração dos bichinhos caçados, para ter pontaria certeira! Ficamos pouco tempo por lá e logo voltamos a residir na rua Gustavo Colaço, em uma morada-inteira com porta no meio e duas janelas de cada lado, vizinha à casa dos Tadeu e defronte à dos Costa Sobrinho; havia também a residência da dona Dorinha, irmã do padre Fernando, que era cordial e andava como se estivesse, sempre, com pressa. Nossa casa era enorme: sala e quarto de cada lado, ampla varanda, copa, cozinha e um enorme quintal cheio de árvores frutíferas e frondosas Foi lá que construímos um campinho de futebol, para jogarmos entre as mangueiras, aos times de 6 jogadores (goleiro, dois zagueiros, centromédio e dois atacantes); vinha gente do Ponte, do Cangalheiro e do Pau D’água, para as disputas domingueiras, com direito a lanche e banho de tanque independente de quem ganhasse ou perdesse. Foi nesse cenário que a família Brandão deixou-se fotografar pela primeira vez, pai, mãe e oito filhos sendo eu, o primogênito, aos dez anos, mangueiras ao fundo e um pé-de-limão mais próximo. Sempre que vou a Caxias procuro reviver essas lembranças, como daquela vez que adentrei à grande morada, circulei nos seus compartimentos e, naquele quintal do futebol reduzido de outrora, parei ante uma das velhas mangueiras e, como lembrança, retirei um punhado de sua casca ressequida pelo tempo.
EM DEFESA DO NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO: EM ALGUM LUGAR DO PASSADO Antônio Augusto Ribeiro Brandão Certo dia li que às vezes é preferível ter apenas na lembrança tudo que já vivemos, sem tentar ver como essas vivências estão ou são no presente; a razão é que a realidade pode decepcionar e destruir essas lembranças. Sempre tive por Caxias, onde nasci há mais de 79 anos, o maior carinho. Sou testemunha ocular da sua história. Foi lá que cresci e alcancei a adolescência numa época em que a cidade experimentava o seu apogeu industrial, comercial e educacional, e os homens governavam ajudados pelos industriais, comerciantes e educadores, que tinham e faziam história. Tenho muito orgulho e saudades dessa época. Em várias oportunidades procurei demonstrar esse carinho em busca de uma alternativa econômica para a cidade, que já possuiu várias fábricas de tecidos e que em apenas uma delas empregava mais de 300 pessoas. E, agora, essa cidade não consegue despertar o interesse que merece das autoridades constituídas, nem de políticos que lhes são mais ligados. A tradição cultural de Caxias é inegável. Entre 1947 e 1948, o Centro Cultural Coelho Neto movimentou a cidade com suas sessões matinais. A Academia Caxiense de Letras, sua legítima sucessora, tem feito o possível para resgatar essas tradições e influenciar no encaminhamento e solução dos problemas da cidade. O patrimônio histórico de Caxias já foi muito significativo; hoje, quase nada mais existe e o que sobrou encontra-se desfigurado. Foi o que aconteceu, entre outros, como o antigo prédio onde funcionou o Cassino Caxiense, na Praça Gonçalves Dias, razão das minhas lembranças destruídas. Pertencente a particulares, o Município não teve condições de evitar a destruição interna desse prédio, sobrando apenas a fachada mal cuidada. Jamais deveria ter desejado voltar àquele prédio. Pensei que ainda fosse encontrar sua escadaria de madeira de lei, seus dois salões assoalhados com taboas de cores diferentes, seu coreto central onde o maestro Josino Frazão e sua orquestra fizeram dançar tantos jovens de então, como eu. Doce ilusão, nada mais existe. Tudo destruído. A escadaria de cimento e o piso dos seus salões dividido em verdadeiros cubículos. De quem é a culpa? As autoridades constituídas e todos aqueles que deixaram de exercer sua cidadania e não reclamaram, não se insurgiram contra o que se configurava errado e estiveram descompromissados com a cidade, deles é a culpa.
AS CRONICAS DE CERES
O RANKING DOS 36 MODOS SEXUAIS DE SER O mundo parecia bem menos complexo, quando os sexos eram apenas dois. A gente aprendia no colégio de freiras: “E Deus os criou homem e mulher”. Nada de questionamentos. De alguns rapazes mais delicados, dizia-se que tinham sido criados por avó. E era só. As meninas pré-adolescentes do colégio, educadas pelas freiras, só não achavam que as crianças eram trazidas pela cegonha, porque havia os filmes americanos. Neles, o mocinho beijava a mocinha, a cena se apagava e, meses mais tarde, ela aparecia grávida ou com um bebê nos braços. Somente alguma mais avançadinha sabia que beijar na boca não engravidava. Depois, já razoavelmente informada pela vida, mas ainda confusa com a percepção de que nada era como parecia, tive uma revelação que pôs certa ordem na minha cabeça: li, não sei onde, um artigo escrito não me lembro por quem – que querem, este não é um artigo científico – que entre o macho total e a fêmea mais feminina existem 36 gradações de características sexuais! Quer dizer, da posição nº 1, a do homem que masca palito, coça as partes, arrota em público e acha que profissão de mulher é pilotar fogão, até a de nª 36, que descreve a mais frágil e fresca representante do gênero feminino, aquela que se assusta com borboleta, fica ruborizada, desmaia com uns graus a mais de calor e tem taquicardia toda vez que é contrariada, existem muitos modos diferentes de ser mais ou menos homem ou mulher. Faz pouco tempo que os homens “de verdade” começaram a admitir que têm “uma porção mulher”. E essa porção pode ser mais ou menos aumentada até chegar às mulheres que nasceram em um corpo de homem, em contraponto aos homens que nasceram presos em um corpo de mulher. Sempre há, nas revistas de fofocas, revelações de pessoas que fazem essas tocantes confissões. Esses são os transexuais. Dizem que os homens com um tanto de porção mulher são mais compreensivos e podem ser excelentes companheiros. Às vezes, dessa porção resultam os chamados metrossexuais, excessivamente preocupados com a aparência física. Alertam as revistas especializadas que o relacionamento com eles pode ser insatisfatório, porque esse time é narcisista e costuma amar apenas a si mesmo. No entanto, aconselham, podem dar certo, dependendo do signo, com mulheres de baixa autoestima. Com a moda da musculação feminina estamos desenvolvendo uma raça andrógina. Vê-se alguém na rua de camisa regata, short e tênis, e bate a dúvida, é homem ou mulher? Acho que os andrógenos devem ser o ponto de encontro das 36 gradações sexuais existentes. Deve ser a posição 18 do ranking. Quem sabe o estigmatizado 24 represente uma posição importante, a da virada. À época, fiz o teste para saber que lugar ocupo nessa escala. Esqueci a minha classificação, mas certamente, não estou na ponta mais feminina, aquela do desmaio. O tal do desmaio era incentivado pelos romances corde-rosa de M. Delly, em que as mocinhas desmaiavam a três por quatro, era chique desmaiar. As heroínas desses romances só sabiam que estavam grávidas quando sofriam um lânguido desmaio. Mas nada disso importa mais, ninguém mais liga se você fala grosso ou fino, se lhe chamam bofe, metrossexual, criado por avó, bissexual, total-flex, biba, traveca, bicha, drag queen, transexual, lady, fanchona, sapata, cross dresser, e muitos outros que não lembro nem desconfio. No relacionamento amoroso, pouco importa se uma 36 une-se a uma 28 ou se um número 5 simpatiza com um 16. Não sou contra nem a favor, muito pelo contrário. Desde que não tentem impor a ninguém suas preferências. Sexo, religião e time de futebol cada um tem o direito de ter os seu(a). Com o casamento gay, adoção de crianças por casal homossexual, barriga de aluguel, inseminação artificial, em que, às vezes, o pai é o próprio médico, mãe gerando filho de filha, criança nascida de sêmen congelado, anos após a morte do pai biológico, criança nascida de “produção independente”, em que o pai é propositalmente desconhecido, criança nascida de célula tronco da própria mãe e, futuramente, a advinda de clonagem, tudo é válido. O que está em frangalhos é a legislação dos direitos da família. Mais confusa que cabeça de pré-adolescente da minha geração deve estar a dos juízes das varas de família. Do modo como as coisas caminham, dentro em pouco, o filho de um casal hétero, que mantêm um único casamento, em que a mulher tenha sido fecundada pelo método tradicional, pode vir a sofrer bullying: o fato de ser filho de um homem com uma mulher que se relacionaram carnalmente poderá marcá-lo como ser exótico e exógeno nessa sociedade da diversidade. Ei! Esqueci os assexuados (estão na moda), acho que não estão relacionados no ranking. Agora complicou mais...
DE CULTURA E RESPEITO Ceres Costa Fernandes A identidade criada pelo apego ao falar de cada torrão torna-se um liame entre os seus concidadãos, assim como se fossem todos membros de uma confraria. São os códigos familiares que os identificam onde quer que estejam. Atire a primeira pedra o maranhense que, fora do nosso Estado, ao encontrar outro conterrâneo, resistiu à tentação de chamá-lo, em voz alta: Ei! Qualira! Aliás, a palavra qualira – ou qualhira - é quase uma senha de identificação entre nós, um xibolete do maranhense. Conheço um grupo de amigos maranhenses exilados em São Paulo cujo maior prazer, reunidos, é passar o tempo todo a chamarem-se mutuamente de qualhiras. Sem esquecer que, nesses encontros, também brilha o lorel e as exclamações hélas, éguas e marrapá, ditas por tudo e por nada, com grande entusiasmo. Freud diria que é a tal necessidade de raízes e/ou reconhecimento. Mas confesso a vocês, que, mesmo sem nunca ter me mudado daqui, padeço da saudade de certas palavras saborosas que corriam à solta entre nós há alguns anos. Precisamente, antes da chamada globalização. No caso, não uma, mas as duas: a de Mac Luhan, o da aldeia global, e a do padrão globo de qualidade promotoras da estandardização da nossa cultura. Sinto falta de conversas recheadas de licutes; de coisas que dão gastura; de uma alpercata bem rudela para usar em casa; de dizer à minha sobrinha que menininha comportada não anda sem sunga; de chamar ao telefone um carro-de-praça ou de ir a uma simples mercearia ou quitanda, sem precisar falar supermercado. Ainda bem que os estrangeiros que, cada dia mais, aportam à nossa Ilha - sejam bem-vindos - não conseguiram mudar o nome do nosso pão massa grossa para pão francês. Nem o de massa fina para pão careca. Bem que algumas padarias metidas a chique tentaram. O povo resistiu. E elas, sabiamente, deixaram de remar contra a cultura local e voltaram às antigas denominações. Por falar em respeito à nossa cultura, um grupo alienígena - vocês sabem qual - montou umas quitandinhas por aí e, talvez pensando fossem remanescentes da Companhia das Índias, quis nos fazer de bobos: suprimiu os empacotadores, deixou de vender vinagreira, jongome, farinha seca quebradinha, pescadinha da boca mole, manteiga Real e coisa e tal. Desprezou os nossos fornecedores, conhecedores do gosto maranhense, e nos tratou com pouco caso. Coisa de gente do Sul Maravilha lidando com nordestinos subdesenvolvidos. O resultado não tardou: lojas vazias, pouca venda. A coisa parece que não deu certo. Confundiram nordestino com zé-mané. Felizmente, há alguns anos, arribaram do nosso porto. Que isso sirva de lição a outros alienígenas que aqui chegarem buscando abrigo e modo de enricar. E mais, não gostei da invasão dessas barraquinhas de juçara que se autodenominam açaí. Na terra da Juçara? E as lojinhas que vendem tapioca, quando, na verdade, vendem beiju? Ora, pra nós, tapioca é só o pó, o ingrediente. E não fazemos nada? Estamos sendo aculturados por Belém e estados vizinhos do Nordeste. Um conselho para os que chegam : há que se respeitar a cultura de quem nos acolhe. Ou dito de modo mais saboroso e firme: em terra de sapo, de cócoras com ele.
UM MOTE PARA AS RESOLUÇÕES 2019 26 de janeiro de 2019 Entrei em 2019 desapercebida. 2018 foi tão rápido que, mal saído dos festejos juninos e ainda não esgotadas todas as confraternizações natalinas, eis que lá estavam todos aqueles fogos, luzes e rituais emblemáticos do Ano Novo. E se tanto não bastasse, as manchetes dos jornais do day after já saudavam os primeiros tambores do Carnaval. Fico a pensar: será que foi sempre assim ou a Terra está girando mais rapidamente sobre seu velho eixo? A rapidez me deixou despreparada para a bem-intencionada e sempre desrespeitada lista de resoluções de cada início de ano. Para seguir a nova ordem, decidi tomar apenas uma abrangente resolução como baliza de atitudes, em 2019. Esboço uma proposição inspirada num velho desejo de ser cigarra: a escolha recai na máxima light contida no título daquela “Tô nem aí”. Essa relaxante e relaxada filosofia, vai ser ótima para a minha saúde mental e física, acho. O problema será apenas lutar contra a minha natureza, tão diversa. Fácil? Não. Mas, se assim não fosse, que valor teriam as resoluções de Ano Novo? Ser light é estar na onda. Nada de preocupações estressantes, aquelas decorrentes de valores antigos e permanentes. Aliás, tenho um amigo codoense, o Jô Over Sea, (nome adotado depois de uma viagem aos States), ex-José Ribamar, que afirma: valor rima com bolor, e permanente, o único ainda aceito nos tempos pós-modernos é aquele aplicado nos cabelos. Jô diz, com seriedade, que ele e sua tribo, “Os Descartáveis”, têm como norma a máxima de Lavoisier “Tudo se transforma”. “Daí, tudo é descartável, nada é permanente neste mundo, irmãzinha. É utilizar e descartar”. Atrevo-me a acrescentar que a famosa frase sobre a lei da conservação da massa do químico francês, usada popularmente até como sinônimo de aproveitamento de sobra de comida, dizia também que nada se perde, e, acho, não era bem essa a proposta do pai da química. Vocês já sentiram a inutilidade da ponderação ante alguém com tantas convicções e certezas. Deixo Over Sea impando de orgulho com a discussão ganha, e volto a pensar com o meu ri-ri. Tem certa coerência o meu amigo – isolando, é claro, a imputação a Lavoisier. Vivemos num mundinho descartável. Descartáveis são as embalagens. Descartáveis são nossas roupas, que, se não se destroem após algumas lavagens, ficam fora de moda. Descartáveis são os eletrodomésticos, tão frágeis e tão caros os consertos – mais barato comprar um novo. Descartáveis são os veículos, cujos novos modelos desbancam os do ano anterior – não mais símbolos de status e de riqueza. O mesmo podemos dizer de relógios, telefones, e de tudo o mais que a mídia nos leva a consumir. Esse desapego contamina também as relações humanas. Não se namora mais, fica-se. Os casamentos são rápidos, na primeira desavença, descarta-se o cônjuge. Filhos são mandados para creches ou para colônias de férias, e nos intervalos há a babá ou a TV. Para os velhos há os asilos ou o isolamento dentro da própria casa. Amigos, só os úteis aos interesses do momento. Velhos amigos podem lembrar épocas duras que é preciso esquecer, além disso, podem pedir dinheiro ou favores, sabe-se lá. Ë melhor descartá-los. De reflexão em reflexão, lá se foi a brava resolução de ano novo. Descobri que não dou para esse negócio de ser light. Prefiro envolver-me com os problemas ancestrais de toda a nossa imperfeita humanidade. Quero viver me importando, mesmo que me ache uma masoquista idiota. Participarei ao Jô Over Sea que não farei parte de “Os Descartáveis”, em respeito a Lavoisier e à sopa do mesmo nome. Vou continuar perseguindo um mote para a minha resolução de ano novo, que, felizmente, ainda é janeiro.
GRANDES MEDOS Ceres Costa Fernandes O primeiro grande medo, identificado por volta dos quatro anos, foi o de ser sequestrada por índios. Não, não morei no velho Oeste americano, mas meu pai foi juiz de direito de Barra do Corda, cidade em que era grande o vai-e-vem de índios o tempo inteiro. Não os índios de hoje de calção adidas e havaianas, que sentam às portas dos botequins, bebendo cachaça e jogando dominó, confundidos com os caboclos subnutridos da região, cara de um focinho do outro, mas os orgulhosos, imponentes, emplumados e pintados, ou até alguns, entre os aculturados mais importantes, de terno de riscado e pés descalços. Visitavam meu pai, vestidos(?) a caráter, e eu me escondia. Olhava arregalado e pensava, se eles sequestraram a “infeliz Perpetinha”, por que não a mim? De volta a São Luís, livre dos índios (ufa!) enfrentei o segundo medo. Esse foi terrífico! O medo do Diabo. Aquele de rabo e chifre, pés-de-cabra, peludo e soltando fogo pela boca, medieval, como as freiras que inseriram o terror na minha alminha de seis anos. E este rendeu muito tempo. Até por volta dos dez anos, tinha certeza da sua aparição, a qualquer momento: daria então uma grande risada que racharia a parede do meu quarto de menina má que esquecia a genuflexão diante do Santíssimo – talvez porque passasse correndo pela nave principal da igreja do colégio. Comecei cedo a ler a Bíblia. As freiras mandavam e eu tomei gosto. Achava e acho, sem desrespeito, que ler a Bíblia é fruir o legítimo prazer do texto. E a minha predileção eram as partes catastróficas do Velho Testamento. O dilúvio, O Êxodo, Sodoma e Gomorra e as proibidas pelas religiosas, tipo Cântico dos Cânticos. Depois, o Novo Testamento com o Apocalipse. Por volta dos oito anos, sonhava com os rios tornados em sangue, as estrelas caindo nos mares e os Quatro Cavaleiros, voando montados em seus cavalos magros pelos ares em fogo. Acordava suada e corria para o quarto dos meus pais. Aos onze, doze eram os vampiros. Dormia com o pescoço coberto por um lenço e havia sempre uma cabeça de alho à cabeceira, pequenas cruzes também. Nessa época a minha leitura preferida eram as histórias de terror e os romances policiais, ao lado de Eça e Herculano. Muitas vezes me peguei observando se as minhas amigas tinham a sua imagem refletida nos espelhos. Após isso, veio uma breve época dos maremotos (que hoje chamam tsunamis). Depois da morte de meu pai, aos meus dezessete anos, nada mais me atemorizou, a não ser o medo de perder entes queridos, o que me aperta o peito cada vez mais. Destemida que fiquei, enfrentei procelas, dragões e serpentes insidiosas que passaram pela minha vida, sem esmorecer. Agora, na feliz melhor idade (quem terá sido o humorista que inventou isso?) parece que volto à minha infância. Reinventei os meus medos, não mais do diabo e fim do mundo, apesar das surpresas que a Terra nos tem dado, mas troquei-os por coisas corriqueiras. Vejam só, hoje tenho medo de ficar à porta da minha casa, de fazer e receber visitas depois das sete da noite; do carteiro; do homem que entrega flores; dos que dizem que vêm fazer inspeção contra mosquitos da dengue; dos adolescentes nos sinais; das crianças desconhecidas que se aproximam de mim nas ruas; dos mendigos; da mulher bem vestida que me pergunta as horas; de sair bem vestida, aparentando sinais de riqueza que estou longe de possuir; de pedir que alguém afaste um pouco seu carro para que eu possa tirar o meu; das motos com duas pessoas; das motos com uma pessoa; de abrir minha bolsa para dar esmolas; de ter bolsa; de entrar em um banco; de sair de um banco, com ou sem dinheiro; das pessoas maledicentes; de ir a igrejas, restaurantes e festas, de entrar e sair de casa; de ficar dentro de casa. A lista é longa, não a finalizaria neste espaço. Mas creio que os dias que mais me dão medo são os feriados que celebram amor, gratidão e costumes afetivos e religiosos universais. Aqueles em que a humanidade eleva os sentimentos para homenagear seus ícones mais caros: o Natal, o Ano Novo, o Dia das Mães, o dos Pais, o das Crianças e sei mais lá o quê. Nesses dias sei que sairão dos presídios magotes de cavalheiros que tiveram nota dez em bom comportamento, para encher as ruas e fortalecer as gangues. Dentre esses, estarão
os mais bem avaliados e, que obviamente, não precisam mais ser ressocializados, por isso não voltarão, uns por estarem bem mortos, outros por terem muito o que fazer aqui fora... O medo dos medos: temo por meus filhos e netos, que não estão ainda em tempo de recolhimento e sentem com mais urgência e intensidade a vontade de participar das coisas boas que a cidade ainda tem para oferecer. Carnaval está chegando, os que partiram em revoada, voltaram para passar as férias. A alegria esperada está pari passu com o medo. Esta não é uma cidade para adolescentes se divertirem. Quem os protegerá, se a própria polícia não consegue proteger a si mesma? Oh, seria preferível o Diabo medieval, que os modernos os temos aí; o Apocalipse e seus quatro cavaleiros foram devidamente substituídos pelo aquecimento global; os índios – ah, esses estão assombrando os trens da Vale; vampiros, não contam mais, viraram símbolo sexual. Quero os meus velhos medos de volta.
REFLEXÕES À SOMBRA Ceres Costa Fernandes
Desgraças em série, às vezes simultâneas; o mal repetido, vindo de enfiada, espanta e atordoa. Nem bem esgotado o saco de maldades dos traficantes no Ceará, em meio a mais um incêndio de ônibus, dá-se à luz um Frankenstein, a tragédia de Brumadinho, fenômeno compósito mais letal que o vulcão, a lava que queima e soterra e o tsunami, a onda que tudo cerca e invade – fenômenos naturais, aquelas misérias das quais Deus nos quis poupar. O vulcão, antes de eclodir, passa dias, meses emitindo sinais, gemidos vêm do interior da terra, fumaça, cinzas, pedras são expelidas; dando oportunidade de as pessoas prepararem suas fugas; o tsunami mata, destrói, mas a terra que ele inunda volta a reverdecer tão logo as águas baixem; mares e rios ao seu redor não serão poluídos.. A terra que alui pela undécima vez, a apavorante lama tóxica a avançar qual um monstro de filme de terror engolindo tudo, Brumadinho já vista e revista de todos os ângulos, não há mais corpos inteiros a serem retirados; os repórteres abandonam a tragédia ambiental, a lama, a destruição e partem para as entrevistas com sobreviventes, no intuito de mostrar a desgraça humana da catástrofe - é preciso entreter o telespectador. Chegamos ao limite do nojo e da revolta? Mas não, um dilúvio abre as comportas do céu e despeja as cataratas do abismo sobre o Rio de Janeiro. Dezenas de deslizamentos de casas e barreiras, sete mortos, automóveis nadando, na Zona Oeste. O inusitado: o dilúvio atinge a Zona Sul, aí é intolerável, na Zona Sul, não! Vira tragédia. A chuva abranda, estado de alerta. E o Capeta vai descansar? Não. Dez crianças, escolhidas a dedo, dentre centenas, em vários estados brasileiros, talvez futuros ídolos do futebol, esperança de suas famílias, morrem de forma terrível: queimados dentro de contenairs, envenenados com o revestimento tóxico das armadilhas de lata onde os puseram para dormir, desavisados, seguros, sonhando com o futuro radiante. Quando quiseram fugir, além da fumaça e fogo, não há saída de emergência, janelas pequenas e travadas não ajudam na escuridão e fumaça. Repete-se em menor escala a boate Kiss. Tanto para as características da tragédia como para a imputação da culpa a um mero acidente. Recomeça a ciranda dos repórteres, fotos do sinistro, entrevista com sobreviventes, depoimento dos pais, sepultamentos. Comoção pública. As causas foram o curto-circuito dos aparelhos de ar, o sono dos meninos, o revestimento inflamável, para maior conforto deles. Em Brumadinho, engenheiros elaboraram os projetos das barragens de modo perfeito, atestaram o bom funcionamento dos poços de resíduos e o planejamento das rotas de fuga. Azar de quem estava no caminho da lava tóxica. As encostas, há anos, esperam contenções, o povo joga lixo nos esgotos, as obras de drenagem não são feitas. As licenças de segurança não são pedidas e aparelhos elétricos são ligados por meio de gambiarras, instalações não são vistoriadas, coisas corriqueiras. Desastres ambientais, tragédias inusitadas, coincidências fatais. Mentira! Crimes ambientais, tragédias anunciadas, irresponsabilidade, descaso criminoso, isso sim. Foram presos engenheiros, e os chefões da Vale? Alguém do Mais Querido está na cadeia? Quem gastou a verba da contenção das encostas já foi preso? Ah! Estão providenciando indenizações... Vidas são indenizáveis? Lares e construção de toda uma vida são indenizáveis? Sonhos são indenizáveis? Como esses figurões dormem? Rivotril com champanhe ou nada disso lhes tira o sono?
LAS BODEGUITAS Ceres Costa Fernandes Quem, amante da folia, não recorda prazerosamente as brincadeiras do Carnaval de Rua genuinamente maranhenses? Neles me incluo, Desloco minha lembrança para Rosário, quando, aos seis anos, já compunha um pequeno bloco de sujos de coleguinhas próximos à minha idade. Usando aquelas máscaras de papelão grosso, vendidas nas quitandas, saíamos pelas ruas chocalhando latas de leite condensado cheias de pedrinhas, batendo em outras latas e pedindo moedinhas de porta em porta. A inspiração do peditório, mal comparando, pode ter vindo dos grupos que vinham às casas ”tirar esmola para o santo”, acompanhados da pomba do Divino. Só sei que a folia me valeu umas seguras chineladas. Não adiantou argumentar com meu pai – a cidade, à época, um ovo –, que ninguém reconhecera a filha do juiz pedindo esmola. Uma injustiça. Festas de salão? Depois que axé, funk e sertanejo invadirem as festas, descurti. Enlouqueço com decibéis e falsetes. Sou das marchinhas e sambas do Lítero e do Jaguarema. Tempos outros, em que os bailes eram animados com orquestras e não com trios escudados em “paredões” de caixas de som que adentram o peito e fazem o coração bater no pescoço. Estamos em 2002, o Carnaval da Tradição fora retomado, por alguns anos e explodiu. O circuito Deodoro/Rua do Passeio/Praça da Saudade/ Madre Deus restaurado no seu melhor. Tudo em meio a muita segurança. Desfilavam inúmeros blocos na rua, as nossas manifestações folclóricas, tambor de crioula, casinha da roça, fofões, Bloco do Bicho. Era o meu circuito, com ele voltava à infância e encarava até banho de maisena. O Carnaval é um poderoso afasta-depressão, uma folia aberta a pobres e ricos, uma atração turística e alavanca nas vendas de produtos e serviços. Na festa, as vendas de comércio informal atingem todos: costureiros, artistas plásticos em geral, iluminadores, cantores, músicos, eletricistas, carpinteiros, taxistas. De lojistas aos vendedores de batata frita e churrasquinho de gato.. De 2002 a 2009, instalou-se, à Rua do Passeio, o grande baile de rua Las Bodeguitas. É mister explicar, para quem não participou dessa época, o que significava Las Bodeguitas: em princípio, uma porta e janela com a fachada decorada, um equipamento poderoso de som na janela, um DJ por detrás, interior acolhedor com petiscos e bebidas, banheiro, pessoal de apoio e segurança. Casais animados e muitas crianças pelo meio. A ideia partiu das amigas Fernanda Mendonça, Ana Belfort e Déa Vazques. Criaram um grupo que dividia as despesas, levava os petiscos, e decidia até a arte das camisas – diferentes a cada ano – passaporte para esse camarote privilegiado no âmago da folia. Dizer apenas isso de Las Bodeguitas é muito pouco. As músicas, que enchiam o espaço em frente à pequena casa, iam desde a Jardineira, Bandeira Branca aos sucessos do Bloco do Bicho, tornaram-na palco de um imenso salão de dança, a céu aberto, parada obrigatória para os brincantes do carnaval de rua que sabiam encontrar ali animação e bom gosto musical. O som era desligado apenas quando vinha um bloco ou cordão com música própria. Muitos aderiam ao som de Las Bodeguitas, todos prestavam homenagens à casinha festeira. E assim, ela pontificou de 2000 a 2009. Acabou junto com o carnaval da tradição de São Luís, que, desde 2007, vinha se arrastando: circuito quase deserto, sem atrações, povo disperso sem saber para onde ir. Quando o Carnaval retornou, em 2010, a casinha tinha fechado as portas. Ergo um brinde a Las Bodeguitas , aos gloriosos dias de sua existência e ao valoroso grupo de mulheres que a idealizou.
EM DEFESA DA ”HONRA” Ceres Costa Fernandes A honra é pessoal e intransferível. Uma obviedade. Sim. Mas, na segunda década do Século XXI, temos notícia que um homem, movido pela sagrada fúria da “legítima defesa da honra”, espancou, torturou, ou pior, matou a companheira que lhe faltou com uma suposta fidelidade. Estes energúmenos, se levados a tribunal. Ainda contam com a simpatia do público (a mulher fez por onde...) e - pasmem! - até a dos componentes femininos do júri. Mesmo entre os mais informados e intelectualizados reina o preconceito contra os maridos traídos, os chamados “cornos”, vítimas de críticas e gozações. O epíteto, curiosamente, não se aplica à mulher. O inverso acontece com o adjetivo adúltera, com a acepção de traição. Certamente, um vocábulo feminino. Li, em algum lugar, que: “adúltera é a mulher que trai o marido e adúltero é o leiteiro que põe água no leite”. Explicando, na relação amorosa entre os dois sexos, não há culpa no homem infiel, nem desonra na mulher traída; mas desonra no homem traído e culpa na mulher infiel. Essa pseudo transferência de “honra” entre os dois sexos, incentiva a violência contra a mulher e a valida. Outro motivo da violência contra a mulher é o acirrado sentimento de posse que domina a maioria dos homens. Lembremos a anedota árabe da mulher que se queixa ao pai de ter sido espancada pelo marido, ao que ele, indignado, em resposta, dá-lhe uma bofetada, dizendo: “volta e diz a teu marido que se ele bateu na minha filha, eu, em troca, bati na mulher dele”. Se eu tenho a posse de algo, posso dispor dele como quiser, inclusive destruí-lo. Esse raciocínio advém do uso da força física masculina na sobrevivência humana ao longo da História. No princípio, esse tipo de força era a garantia do alimento e da segurança; mais tarde, foi indispensável para adquirir e manter propriedades. O avanço tecnológico, dispensando a força para realização das tarefas nobres, decretou a sua falência. A superioridade física é cada vez mais desnecessária na Era da Informática, em que as guerras são resolvidas no apertar de botões e as maiores remunerações são ganhas, não pelos carregadores de sacas, mas por aqueles que desenvolvem o trabalho intelectual, Logo cedo, os homens pressentiram que a mulher podia competir intelectualmente com eles e desafiá-los nesse campo, colocando em perigo a sua (deles) hegemonia. Assim, a primeira providência tomada foi alijála do acesso à cultura. Desde a descoberta da palavra escrita, ler e escrever constituíram privilégios do sexo masculino. Na Antiguidade, permitia-se a cultura apenas às mulheres públicas; na Idade Média estudavam enclausuradas nos conventos, único lugar onde isso lhes era permitido; no Romantismo, escreviam romances e poesias sob pseudônimos masculinos. À falência da supremacia física, juntou-se a falência da dominação econômica. Hoje, cada vez menos, elas dependem economicamente do parceiro. Não são mais sua propriedade. É duro aceitar a nova ordem. Talvez, aí, esteja a causa maior dos homicídios de mulheres. São os casos daquelas que abandonam o parceiro e são mortas. As agressões à mulher são mais numerosas nas classes sociais mais baixas, em que a falta de educação masculina se junta à necessidade feminina, perpetuando a figura do macho provedor “quem dá o pão, dá o ensino”, diz o ditado. Às dependentes, algumas bordoadas, à guisa de ensino; às rebeldes, metidas a independentes, a morte. Onde está a saída? Como sempre, na educação. Educar as novas gerações, para entender e absorver o impacto do crescimento feminino. Talvez assim os homens consigam assimilar a mudança sexual, intelectual e econômica da mulher, sem se sentirem tão ameaçados, entendendo que ela é, antes de tudo, uma parceira. Nem melhor, nem pior que eles, apenas diferente, com individualidade própria, e não um mero objeto de posse. A saída, onde está a saída? Como sempre, está na educação. Educar as novas gerações, para entender e absorver o impacto do crescimento feminino. Talvez assim os homens consigam assimilar a mudança sexual, intelectual e econômica da mulher, sem se sentirem tão ameaçados, entendendo que ela é, antes de
tudo, uma parceira. Nem melhor, nem pior que eles, apenas diferente, com individualidade prĂłpria, e nĂŁo um mero objeto de posse.
DUAS MULHERES Ceres Costa Fernandes Quando os soldados da Aliança do Norte tomaram Cabul, no Afeganistão, e expulsaram os partidários do Taliban, o mundo ocidental viu pela telinha a patuléia masculina afegã dançando nas ruas ao som das músicas dantes proibidas, raspando as suarentas barbas e fazendo fila para comprar fotos das atrizes egípcias (não entendi bem porque só das egípcias), assistidos ao longe por embuçadas mulheres. Uma que outra ousava dar demonstrações de alegria, mas a maioria resistia até mesmo à retirada da burca. Especularam-se as razões, que podiam ir do desconfiado temor do retorno do opressor ao puro e simples apego ao hábito. Pergunta-se como pode alguém acostumar-se ao martírio? Aí está. Lembro do caso de uma menina encontrada em cativeiro doméstico, aqui mesmo na Ilha, que era acorrentada pela própria mãe a um botijão de gás quando da saída desta para o trabalho. Denunciado pelos vizinhos, o cativeiro foi invadido pela polícia e a menina libertada. Solta das amarras, retirada da posição degradante, a pobre de Deus teve, pela primeira vez, escolha de onde estar assente. E nesse primeiro momento livre, que faz a criança? Pula, corre, vai ao quintal, à porta da rua? Não. Ela volta a ajoelhar-se junto ao botijão, olha para seus libertadores e docilmente estende os pulsos para receber novamente a corrente. Será a liberdade apenas um hábito? Remexo esses acontecidos enquanto caminho pelas calçadas do Reviver nesta noite fresca de fim de novembro. Vou a dois lançamentos de livros. Livros escritos por mulheres. Coincidentemente, ambos sendo lançados neste Dia Nacional de Resistência à Violência Contra a Mulher. São duas as escritoras. Uma é feminista e ativista, pesquisadora das questões de gênero; outra é poeta, perscrutadora das razões do sentimento. Ambas pertencem àquela categoria de mulheres apaixonadas que abrem caminhos com a delicadeza forte que não recua com o ferir da própria carne. As mulheres: Mary Ferreira e Laura Amélia Damous. Os livros Os poderes e os saberes das mulheres: a construção do gênero e Cimitarra. As burcas, Laura, Mary, poemas de amor, questões de gênero, os Talibans, eu, andando sozinha em meio a barzinhos em plena noite de segunda-feira. Tudo são flashes que espoucam, acendem e apagam, transportando-me para a São Luís dos anos 60. A máquina do tempo sobrepaira as ruas da cidade que não é mais. Num átimo, reconheço templos, clubes, praças, cinemas desse passado tão recente. A visão - claro - é em cinemascope. Sou onisciente e onipresente como o triangular olho de Deus pintado nas igrejas. Observo as mulheres. Aquelas ali vestem saias midi, anáguas, cintura apertada, pouca ou nenhuma maquiagem, olhos baixos, estão acompanhadas, parece que da sogra, da cunhada ou de uma tia mais velha. Aquelas outras, curiosamente, vêm em bandos, risonhas, de calças compridas, olhos pintados, falando alto. Súbito, acordo para a diferença: as primeiras são senhoras casadas e as outras moças solteiras. Uma invisível burca cobria as casadas desta Ilha. Sim senhores, o Afeganistão já foi aqui. No começo da década da revolução sexual as mulheres casadas de São Luís não podiam cursar faculdades, dirigir automóveis, sair sozinhas, usar calças compridas, ter um emprego público (a exceção de ser de professora, se já exercesse o magistério antes do casamento), rir e conversar com homens sem a presença do marido. Paro aqui, a lista seria longa e enfadonha para quem não a viveu. Hippies parados no tempo abordam-me, tirando-me do devaneio na tentativa de vender-me bugigangas. Será que não retornei? A calçada iluminada do complexo cultural Odylo Costa, filho desfaz-me as dúvidas. Cumprimento amigos com um largo sorriso. Como é bom sorrir. Nos locais dos eventos encontro várias amigas (bem) casadas, acompanhadas ou não dos maridos, curtindo papos literários com homens e mulheres. Conversam descontraídas, riem, que a noite é de alegria. O carro desliza suavemente na estrada de volta a casa. Abro a janela para sentir o ar da noite no meu rosto. Penso em Laura Amélia, Laurinha, quando a conheci nos seus dezessete anos. Laura poeta. Laura apaixonada. Laura arrostando preconceitos. Laura, sempre em busca do verbo, seguindo seu caminho iluminado de luas por vezes transmudadas em "cimitarras afiadas a decepar a noite". Laura menina que inda hoje diz: '"Não importa que esse boi se canse/ Ficará brincando nos meus olhos/ Sempre...
E penso novamente em Mary, de alcunha Mary Mulher, feminista de primeira água, panfletária sem medo da pecha, trabalhando também o achamento da palavra, que empresta a outras mulheres; nessa lida, penetra em quilombos, campos e cocais espalhando consciência e recolhendo palavras de quem, com as feministas, aprendeu a falar. Como a trabalhadora rural Joana, poeta e analfabeta. Ouçam-na: "Mas eu num tinha coragem de falar. Depois da luta é que comecei a fazer poesia. No tempo d´eu jovem nunca experimentei." Ergo o queixo, a cara limpa e o véu levantado, em saudação a Mary e Laura e a outras mulheres assim . As mãos em cruz a oferecerem-se às correntes? Nunca mais!
AS CONVERSAS VADIAS DE FERNANDO BRAGA
Conversas Vadias
ADEUS AOS LIVROS201 SALOMÃO ROVEDO
Entrando na reta final da jornada íntima que mantive durante toda a vida com os livros, por força da perda de força ou de poder, o tempo pede que a caminhada chegue ao fim ou pelo menos esmoreça em plena decadência e senectude. Mexo na estante para deixá-la vazia e leve como eu mesmo gostaria de ser, vazio e leve, na caixa que me levará ao crematório. Sim, terei um último prazer, a alegria final, se conseguir me portar vaporoso, breve, de pouco peso, corpo delicado e portátil, a caminho da luz que me arrebate e desprenda. Antes que este indivíduo se desvaneça, antes que se disperse a cinza breve e se a espalhe ao vento para sumir de vez a carcaça, ex-corpo de água, músculo e carne, é preciso deixar esvaecer-se os livros, coisa material, um corpo imenso que se exaure e purificar de vez o espaço que ocupou na estante, que só então estará livre ao pó. Ninguém senão este futuro cadáver saberá as intimidades e vícios que gozei folheando milhares e milhares de páginas, deslindando tramoias e labirintos elaborados por textos não meus e quanto esse coquetel foi ópio, maconha, álcool, boceta – vida enfim. Como poderão saber, se tudo é a jornada personalíssima da alma? Agora não importa mais, estou com o espírito impregnado desse rito de transição fractal que permitirá o escoamento sem dores e me livrará da servidão a esse objeto material. A conjuntura é propícia, persegui a trilha, alcancei a porta que me deu acesso a Deus. Trata-se agora de mero episódio, o lance forçoso: se despedir dos livros. O imperativo e protocolar ritual que cometi ao guardar na gaveta do esquecimento centenas de amigos e parentes, que trilharam as mesmas veredas do conhecimento, cada qual a seu modo, cumprindo uma religiosidade de ralar os joelhos. Meus ex-votos serão livros de cera... Reencontrei muitos amigos íntimos remexendo nos livros. Por isso exijo esse modo de sagração para me desfazer deles e assim também me despedir do quanto de mim dentro deles consenti, algumas lágrimas, digitais cravadas, sorrisos breves, alegria, incompreensão, dor, alívio, pedaços de unhas, pétalas, um trevo de quatro folhas. Agora mesmo caiu-me na vista o livro “Indo com o fluxo” de Elena Stowell, e me ponho a relembrar a convivência especial que tive com esse texto, que me chegou às mãos, desconjuntado por uma tradução mecânica e como tive que traduzir a tradução sem ter nas mãos o texto original em inglês. Se bem lembro foram catorze releituras em dez dias, para chegar a um texto ainda imperfeito, quando a saturação me impregnou. Só posso acreditar que tive a ajuda ‘espiritual’ da autora Elena Stowell para que tudo saísse bem, mas não 100%. Ficou apenas aceitável – não à toa se diz que a pressa é inimiga da perfeição. Mas os fragmentos póstraumáticos, as revelações nada literárias, de virtual humanidade, ficaram de modo que a BQB Publishing recebesse prêmio de melhor lançamento latino-americano. A singular e extraordinária história de Carly que Elena Stowell conseguiu transmitir, não sem sofrer algumas muitas fraturas físicas e emocionais, também me cativou de modo que me fez sonhar e ter pesadelos, porque dormiu comigo vários dias. Os desatinos que Elena cometeu agora eram os mesmos desatinos trazidos pela dramática, bonita e tocante narrativa. De repente a obrigação de entender o texto e entender as razões da autora, as razões da maternidade, tudo me introduziu no mesmo turbilhão que envolveu Elena e muita gente a seu redor. E agora todo esse mar de 201
Este artigo do escritor e jornalista Salomão Rovedo que vive no “dulce far niente” do Rio de Janeiro, nasceu, creio, de uma pergunta que lhe fiz sobre o transporte [talvez para a Pasárgada] de minha biblioteca. A resposta veio breve através deste texto, o qual pedi permissão para publicá-lo por achá-lo simplesmente fantástico.
coisas, com a bela dedicatória de Elena, irá enfeitar outras estantes e iluminar outros leitores. Acredito que esse é o destino mais precioso dos livros... Junto com a desmazelada coleção de meus ex-livros – em minha existência tive mais de dez pequenas bibliotecas – irão os textos que ousei escrever. Aliás, essa é uma exigência que os livros fazem aos leitores contumazes: escrever. Se não o fizerem estarão condenados ao fogo da loucura causada pela excesso de conhecimento acumulado. Além do que, a cada leitura se forma um pensamento sobre o texto absorvido: em cada cabeça uma sentença – lembram-se: E esse colegiado de saberes se obriga a sair da cabeça, senão apodrece. Um dia a cigana leu minha mão. Foi na Praça XV, estávamos um grupo de rapazes vindos da farra na noite do Centro do Rio. Rodávamos o circuito da noite: Lapa, Café Nice, Novo México e mais dezenas de boates e inferninhos que ponteavam no Centro do Rio, entre a Praça Mauá e a Lapa. Quando chegávamos à Praça XV era pra dar uma rebatida com o angu do Gomes e enganar as ciganas. Um dos chavões é que iria “ter suicídio na família”. Pra todos ela repetia essa 'mala dicha' entremeada com outras 'buenas dichas' beneficentes, grandes amores, fortuna, sorte, riqueza. Nenhuma dessas graças alcancei por total, alguns fragmentos apenas, farelos disso e daquilo. Suicídio nunca teve, até agora: ao me libertar dos livros acabo por me suicidar. Como sempre, a cigana tinha razão... No metrô leio num anúncio a conhecida frase: “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”. Acho isso tremenda injustiça para milhares de analfabetos. Lógico que não é assim o que diz a propaganda dos livreiros, que não pagam imposto, mas os escritores aplaudem. Imagino o analfabeto com um livro à frente. É certo que tudo será labirinto para seus olhos, letras que só reconhece uma e outra. Mas tudo o de mais é bazófia, ele tem seu próprio código, vê bem, ouve bem, fala bem. Ou não sobreviria. Para ele o papel tem outras utilidades: embrulhar coisas, traçar mapas, limpar a bunda, desenhar figuras. Um dia pensei que os livros iriam ser a minha herança. Comentei isso com meus filhos. Pois cada reunião que fazia, cada minibiblioteca que eu erigia, tudo se desmanchava no tempo seguinte, fluía no espaço, seguia o fluxo. Agora a minha herança será imaterial: o que pensarem de mim será o espólio, minha deixa será meu legado, minha imortalidade. ___________________________
ANTOLOGIA: ‘IMPRESSÕES SOBRE NAURO MACHADO Acabo de receber da minha querida amiga, escritora Arlete Nogueira da Cruz, viúva do poeta, ensaísta e crítico de arte Nauro Machado, a antologia ‘Impressões sobre Nauro Machado’, elaborada pela ‘Halley S.A. – Gráfica e Editores’, São Luís, Ma., 2018, com 626 páginas, a reunir a fortuna crítica do poeta. Dentre uma gama enorme de impressões, apurei este excerto de uma de Jorge Nascimento, intitulada ‘Perfil de um poeta às vésperas de um julgamento’, publicada no ‘Jornal do Povo’, de São Luís, em 1956, que tão bem sintetiza a sinceridade de Nauro Machado sobre a arte poética: “[...] Em matéria de arte Nauro é de uma sinceridade brutal, sem peias, não temendo desagradar com a sua opinião coisas adocicadas que lhe recitam com o rótulo de poesia...” Grandemente honrado em ver-me dentre tantos luminares que escreveram sobre o poeta ao longo de sua história literária, e assomado por essa alegria, trago aqui este pequeno trecho do meu artigo ‘Nauro no reino do verbo’, publicado no ‘Jornal Pequeno’, de São Luís, em 29.12.07: “[...] Nada de falar-se que Nauro ou Sousândrade escrevem adiante de seus tempos. O que existe é o tratamento da poesia como um ente divino, além-consciência, a elaboração da palavra mergulhada nas anunciações oraculares. Nauro Machado carrega consigo uma dimensão bíblica, não só em sua aparência física, mas no sapiencial de sua alma, o que levou José Guilherme Merquior, uma das melhores e mais brilhantes cabeças brasileiras nestes últimos trinta anos, a dizer sobre o nosso poeta que “no sombrio expressionismo de Nauro, que lembra (menos o léxico cientificista e a estridência fônica) o de Augusto dos Anjos, a imagística se põe a serviço – para além da moldura espiritualista – de toda uma somatização da angústia”. E Nauro canta por derradeiro à procura do essencial que é o veio do poema, o dorso da emoção estruturada que ele sabe, com a precisão de um cirurgião, bem dissecar: “[...] e como um fruto cresce para a fruta, esse silêncio fala a quem escuta o verdadeiro verbo da palavra”. É realmente a palavra a chave do reino ou o guião mestre onde Nauro Machado convive com o verbo”.
“SOMOS TODOS DA GERAÇÃO DE 45” * *José Carlos Lago Burnett, mais conhecido como Lago Burnett, nasceu em São Luís do Maranhão, em 14 de agosto de 1929 e faleceu no Rio de Janeiro em 2 de janeiro de 1995. Foi um jornalista e escritor brasileiro. Em São Luís, atuou intensamente na imprensa local e em veículos de cultura juntamente com Bandeira Tribuzi, José Sarney, Ferreira Gullar e outros, onde fundaram o grupo ‘Ilha’. Considerado um dos expoentes da Geração de 45, passou a exercer atividade jornalística no Rio de Janeiro, principalmente no Jornal do Brasil, onde foi por longo tempo Secretário de redação e um dos editores do ‘Caderno B’. Dentre suas obras, destacam-se ‘Estrela do Céu Perdido’, 1949; ‘O Ballet das Palavras’, 1955; ‘50 Poemas’, 1959 e ‘A Língua Envergonhada’, 1976. Foi membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 5, patroneada por Fran Paxeco, sendo sucedido por Clovis Sena, outro maranhense brilhante, também do Jornal do Brasil e também da Geração de 45. *** Feita as devidas apresentações para os que não conheceram, ou não mais se lembram de Burnett, começo por dizer que nesse domingo passado, pachorrento e chuvoso, já sem a contagem temporal e farsante do ‘horário de verão’, fui à minha modesta biblioteca e retirei da estante o livro ‘De jornal em jornal’, desse meu querido amigo e conterrâneo Lago Burnett, o qual, a folheá-lo, deparei com a providencial crônica ‘Somos todos de 45’, publicada na edição de 9 de maio de 1967, do ‘Jornal do Brasil’. Relendo-a, lembrei-me de que, há dias, ao publicar aqui um artigo sobre ‘Fernando Ferreira de Loanda: um poeta esquecido’, suscitou comentários em alguns estudiosos sobre aqueles ‘jovens intelectuais da geração de 45’: para muitos, esquecidos uns; para outros, desaparecidos alguns. Pois bem, sobre o assunto, transcrevo aqui esta crônica de Lago Burnett, justamente sobre aquela fantástica rapaziada de 45, da qual ele foi um dos grandes nomes. Vamos à matéria: “Onde começa e onde termina a Geração de 45 é um enigma tão ou mais complexo do que o do ovo e da galinha, cuja prioridade até hoje ainda se discute. Fernando Ferreira de Loanda, por exemplo pensa que a Geração de 45 é o Grupo Orfeu – ele, Bueno de Rivera, Ledo Ivo, Domingos Carvalho da Silva, Darci Damasceno, Fred Pinheiro, Bandeira Tribuzi, Mauro Mota, Afonso Félix de Sousa e outros menos voados. Já José Condé, partindo da premissa de que Mauro Mota foi contemporâneo de Álvaro Lins no ginásio, chega à dedução de que a Geração de 45, se analisada em profundidade, revela raízes muito mais remotas do que sonha a nossa vã filosofia. É possível que ela remonte às priscas eras de Olegário Mariano. Historiógrafos efeitos às generalizações drásticas creem que, tirante Catulo da Paixão Cearense, todo mundo pertence à Geração de 45. Menos, é óbvio, Austregésilo de Ataíde, que deve ser da época de Heródoto ou Hesíodo. Quando cometi meu primeiro livro, a Geração de 45 estava no apogeu. Era um grupo tão atuante como a Frente Paramentar Nacionalista no Governo João Goulart. E, como a Frente acabou derrubando João Goulart, a Geração de 45, acabou dando margem à instalação da ditadura concretista, de saudosa memória. Naquela época, eu morava muito longe e me considerava, com base na certidão do Registro Civil, documento de que disponho ainda hoje, muito mais moço do que todos aqueles senhores, inclusive Wilson de Figueiredo, já consagrado no estágio antológico. Por isso, exclui-me da catalogação que tanta controvérsia tem causado. Com a sua ‘Antologia Poética da Geração de 45’, cuja primeira série acaba de ser editada pelo Clube de Poesia de São Paulo, Milton de Godoi Campos pretende acabar de vez com essa controvérsia. Ele enquadra na Geração de 45 todos os poetas que publicaram livros a partir de 1940, identificando-os qualitativamente, pela insubmissão ao espírito de 22 e pela busca de uma expressão nova na lírica brasileira. Assim, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, os dois que obtiveram maior êxito na elaboração de sua obra, são arrolados na mesma geração de Geir Campos, um neoparnsiano confesso, Carlos Pena Filho, descendente espiritual de Jorge de Lima com Ledo Ivo, Nilo Aparecido Pinto, parnasiano mesmo, Tiago de Melo, um schmidtiano menos contido, e Stella Leonardos, uma réplica carioca, em encadernação feminina, ao feminil artesanato de Guilherme de Almeida.
Será válida essa classificação de artistas tão antagônicos em seus rumos, na sua técnica e na sua temática? Terá o Sr. Milton de Godói Campos conseguido realmente somar quantidades heterogêneas? Poderão figurar em aparente afinidade vozes isoladas que jamais fariam coro em uníssono, por divergências estéticas e ideológicas tão evidentes? E esse Milton de Godói Campos, não será ele, por acaso, o próprio Milton Campos, o mais antigo representante da Geração de 45 da política brasileira? Temo que esse critério acabe por transformar a Geração de 45 em sucata da literatura brasileira. Eu, por exemplo, até há poucos anos, era incluído em antologias de poetas novíssimos. Parei um pouco de fazer versos mas continuei fazendo anos. Agora, “de repente, não mais que de repente” (Vinicius de Morais não será nosso colega também?), vejo-me entre os de 45. Por quê? André Carneio tenta uma explicação: “Nilo Aparecido ponto publicou cinco livros, de 1940 a 1949, mas aos objetivos desta Antologia só interessam os que pulicou a partir de 1952.” Os objetivos – deixa entrever Carneiro – são os de identificar, nos autores que estrearam no período assinalado, uma contribuição, mínima que tenha sido, para a renovação da poesia brasileira. São honestos os objetivos mas talvez falte ainda perspectiva histórica para estabelecer quais os esforços individuais que terão sido realmente válidos. Quem nos dirá se amanhã, numa dimensão temporal mais ampla, a Geração de 45 não venha a ser absorvida pela própria Geração de 22, já que todos nós, mais jovens ou menos velhos, somos beneficiários da Semana da Ate Moderna de São Paulo? Assim, numa confraternização mais democrática, seremos todos coleguinhas – Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Cassiano Ricardo, Dona Amélia Carneiro de Mendonça, Graça Aranha e o próprio Marinetti. E por que não Bilac? Cruz e Sousa? Castro Alves? Gonçalves Dias? Tomás Antônio Gonzaga? O padre Antônio Tomás? Bento Teixeira Pinto? B. Lopes? O padre Anchieta? É muito temerário antecipa julgamentos para isolar uma corrente artística quando não existe propriamente a corrente. No caso do concretismo e, atualmente, de práxis, é fácil: o episódico supera sempre o mérito individual de participação. De uma só ensaboada, pode-se dar nome aos bois. Mas, quando na boiada se infiltram representantes de outras espécies da fauna literária, não é mole, não. A iniciativa do Clube de Poesia de São Paulo valerá como informação aos estudiosos do fenômeno poético no Brasil. Os subsídios fornecidos à crítica são realmente importantes. Há alguns lapsos, como no meu caso, no registro biobibliográfico feito por esse poeta tão gentil que é Domingos Carvalho da Silva. Entre outras coisas, eu poderia chamar-me Luís Calos, mas meu prenome é José Carlos. Como, entretanto, não tenho a mínima pretensão de subsistir literariamente, podem chamar-me como quiserem. Afinal, somos todos da Geração de 45, estejam à vontade”.
PÁGINAS DE CRÍTICA* *FERNANDO BRAGA, IN JORNAL ‘ O imparcial’, 11 de setembro de 1969, enfeixado em ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor. Ilustração: Foto do jornalista e escritor José Erasmo Dias, na noite de sua posse na Cadeira nº 15, da Academia Maranhense de Letras, patroneada pelo Humanista Odorico Mendes. Quando toda uma geração se arregimentava ante os horrores da guerra que desacomodava a paz do mundo pelos idos de 1939, um moço desengonçado e sem maiores ambições, recolhia-se nas redações do ‘Diário do Norte’, trincheira de seu velho e querido mestre Antônio Lopes, e em ‘O imparcial’, de lápis à destra, afogado em papéis desarrumados, e a escrever as últimas notícias chegadas pela madrugada das agências noticiosas, sobre os flagelos da guerra; escrevia ainda o editorial de primeira página, ou quando não, críticas literárias sobre escritores em evidência na época. Foi assim que José Erasmo Dias, o moço desengonçado, comentou o livro de Ernest Hemingway, quando do aparecimento de ‘Adeus às Armas’ [A Firewall to Arms], a contar a história do herói que após se haver alistado no exército italiano para fugir à vida, na guerra, deserta para escapar da morte, e que por merecimento inconteste, recebeu todas as classificações literárias possíveis à edição de uma obra. Sobre ‘Death in the afternoon’, ‘Winner take notning’ [‘Morte à tarde, o vencedor não recebe nada’] e ‘Green Hills of Africa’ [‘Colinas Verdes da África’] cujos climas não se podem comparar aos primeiros livros, diz José Erasmo com senso crítico bem lúcido: “Estava liquidado!” Outros como Maurice Coindren, foram mais longe, ao tentarem explicar o que eles chamaram de a tragédia final do escritor”. ‘For Who the toll’, [‘Para quem o pedágio’] continua José Erasmo, “é o maior documento e a mais perfeita obra de arte que se poderia levantar dos escombros de uma democracia, cujo solo foi regado com o sangue dos seus filhos honestos, derramado na fúria assassina de um ignominioso assalto do fascismo internacional”. Quando acabara realmente de ler o livro no original, depois de interpretar que Hemingway ‘malgré la critique’- de gabinete, era um dos maiores vultos da literatura contemporânea, a comentar o amor de Jordan com Maria, quando esta afagava os cabelos tonsurados, macios como os pelos das martas, na tarefa que lhe confiara a República: “Ama-me, ama-me muito, coelhinha!” Poesia. Poesia pura. Grande poesia! E agradecia a Ernest Hemingway: Essa é a poesia que nós queremos. Esses os poemas que a humanidade quer. Deixe para os outros as rimas e o estilo terso”. 1. Em ‘Jean Christophe’, [tradução brasileira Editora Globo, 1941], José Erasmo deixou marcado para o chão de tantas gerações “como o herói cristão, esse artista puro, esse novo Parcifal, que atravessou também o rio da vida conduzindo nos seus ombros robustos uma criança, carga preciosa que, a mais e mais, se avolumava em peso. Vencendo todos nos obstáculos, concentrando todas suas energias, Christophe levou-se, porém, à outra margem, sem poder, contudo, na travessia, examiná-la detidamente. Ali chegando com a consciência de dever cumprido, o herói descobre então que a criança que carregara, é o símbolo do dia que vai despontar... E Rolland erguendo, então bem alto a sua flama, conclamava: “Homens de hoje, jovens, a vez é vossa! De nossos corpos fazei degraus e caminhai para frente, e sede maiores e mais felizes que nós. Eu mesmo digo adeus à minha alma passada: jogo-a para trás de mim como envelope vasto. A vida é uma freqüência de mortos e de ressurreição. Morramos Christophe para renascer!” Aqui está, portanto, a grandeza em pequenos pedaços, de um José Erasmo crítico, cônscio de suas afirmações e reto em suas análises. Jornalista, orador, contista, ensaísta e, sobretudo, ficcionista, José Erasmo Dias apegou-se ao azul de suas emoções e o fez despertar em seu estilo culto, coisas maravilhosas que sua imaginação pariu e que todos nós, das gerações anteriores à sua, as de 45 e 60 a viver em uma ‘Belle Époque’ que respirava a cidade de São Luís, aprendemos a respeitá-lo e a querê-lo muito bem, como um homem de cultura feita ‘Páginas de Crítica’ enfeixa essa maravilhosa coletânea que conseguiu merecidamente os maiores comentários da crítica brasileira, e que me dá, particularmente, uma satisfação muito grande por ter
conhecido tais ensaios em papéis amarelecidos pelo tempo, ainda não publicados em livro, apenas em jornais, guardados numa velha cômoda de jacarandá, estilo Luís XIV, em minhas andanças, quando na juventude, pela ‘Quinta de val de gatos’, nos Apicuns, em São Luís . José Erasmo, que não é o de Roterdã, escreve hoje [lê-se até sua morte na década de 80], para desafogar o que lhe resta preso ainda pelo talento e pela e pelo senso estético, sem mais nada amealhado durante o tempo, sem que pudesse encher-lhe de expectativas a alma, a não serem suas constantes travessias à boêmia poética de São Luís, onde os botecos cheiravam a ‘bistrô’ como os de Montmartre. Assim foi José Erasmo Dias, aluno dos mestres Antônio Lopes, Nascimento Moraes e Alfredo de Assis Castro, dentre outros luminares do Liceu Maranhense, a assentar-se ao lado de Franklin de Oliveira, Josué Montello, Oswaldino Marques, Manoel Caetano Bandeira de Mello e outros tantos moços, que como ele deram nome à geração de 30 a enobrecer, encaminhar e a influenciar diretamente à nossa geração de 60, sem a participação da de 45, fenômeno esse já comentado anteriormente por alguns críticos. Erasmo Dias, o autor de ‘Páginas de Crítica’ que pelo espírito de sua presença que se imortalizou entre nós, a divagar nas sombras das artes, fez resplandecer com sua passagem intelectual, a emblemática glória maranhense por “Nume nossos avos”. ----------------------------
O MASSACRE DE ALTO ALEGRE FERNANDO BRAGA In “Toda prosa”, antologia de textos do autor. Ilustração: Referida no corpo do artigo.
Na contracapa deste depoimento lê-se que “na manhã de 13 de março de 1901, centenas de índios guajajaras atacaram a Colônia de São José da Providência, implantada cinco anos antes pelos religiosos capuchinhos italianos no povoado Alto Alegre, no sertão do Maranhão”, tragediando os municípios de Barra do Corda e Grajaú, abalando São Luis e repercutindo na sensibilidade do Papa Leão XIII que interpretou o doloroso acontecimento como “as primícias do século XX. Por uma feliz coincidência, um exemplar dessa preciosidade me foi presenteado pelo escritor e jornalista Antonio Carlos Lima, na quietude aconchegante da Biblioteca Luis Viana Filho, do Senado Federal, justamente no último dia 13 deste março corrente, dia em que esse massacre de Alto Alegre aconteceu há cento e dezesseis anos. Este livro teve a chancela do Conselho Editorial do Senado Federal e do filólogo Joaquim Campelo Marques, vice Presidente do Conselho, tendo sido escrito originalmente em italiano pelo Frei Bartolomeu da Monza, cuja capa que se vê nessa nova edição, é uma reprodução em óleo do original, de grande dimensões em que as vitimas da barbárie flutuam num céu de nuvens, com a assinatura artística de Frei Dâmaso, em memória dos religiosos sacrificados, e hoje reproduzidos em medalhões do puro mármore de Carrara, na Igreja de Barra do Corda, construída em 1951, onde tem um dos mais bonitos carrilhões que já ouvi na vida... O projeto de editoração dessa dolorosa história, cheia de símbolos e magia, infelizmente ainda não adaptada para o cinema, nasceu quando o escritor e jornalista Antonio Carlos Lima em viagem profissional a Milão, na Itália, encontrou, com seu faro de repórter, numa alfarrabia [sebo] um exemplar de “Massacro di Alto Alegre” – Note Storioche, Tipografia Fratelli Lanzari – Milano, 1909, o qual, por poucos euros o comprou. Ao voltar ao Brasil, entregou à tradução ao seu confrade da Academia Maranhense de Letras, professor Sebastião Duarte que o traduziu para ser entregue, a seguir, à publicação já referida. O jornalista Antônio Carlos Lima, nesse meio tempo, a pedido de Joaquim Campelo, escreveu uma introdução, narrando a história à luz das mais legitimas informações, o “como e o porquê” da ocorrência daquele terrível episódio. A minha intimidade com essa história vem de minha infância, pois a ouvi várias vezes contada pela minha mãe, nascida em Barra do Corda, a dar ênfase ao emblemático episódio do rapto da “infeliz Perpetinha” o que me deixava sensibilizado e perplexo, até que lá pelos idos da década de 80 tive a honra de prefaciar “Cauiré Imana” esse mesmo acontecimento, escrito pelo meu também querido e saudoso poeta e etnólogo Olimpio Cruz, o qual, também, naquela oportunidade, o fiz conduzir para o interesse dalgum roteirista cinematográfico... 'Cauiré Imana' ou “João Caburé” como era conhecido, o comandante em chefe dessa chacina, era cacique da aldeia guajajara do Coco e tinha sido criado em meio das famílias de Barra do Corda, onde aprendeu a ler e a escrever, aculturando-se, tanto que casou sob as bênçãos da Igreja Católica, o bastante para que depois de uma “escapulida” fosse levado à tipificação diabólica do adultério, meio que a Igreja, a usar a força sobre o Estado, aproveitou para fazê-lo réu e prisioneiro na cadeia pública, apesar de há vinte anos antes ter sido editado um decreto a separar o Estado da Igreja, e tendo o Maranhão, um ano antes desse dispositivo, se antecipado ao Estado laico, oportunidade em que “o governador Pedro Augusto Tavares Júnior decretou a liberdade de culto no Estado e proibiu toda e qualquer subversão do Estado à Igreja católica”. Essas medidas geraram de imediato a renúncia do governador, o que se analisa hoje, levado pelo “politicamente correto” o que pode ter havido de pressão: Estado, Governo, República e Positivismo... Sabe-se, contudo, de que toda história que pode ter causado essa revolta como maus tratos de crianças indígenas por parte dos religiosos não passaram de desculpas esfarrapadas... de contos de fadas... nada disso houve...
“João Caburé” apenas vingou-se, aliado com outros índios que também tinham sofrido algumas sanções por parte dos religiosos que os mandaram à prisão, justamente por causa da vida eirada que levavam... A história apesar de trágica e cruel teve lá suas intempestividades penitenciais... Que me perdoe Pitigrilli à troca dos pronomes: mas Assim é, se me parece!
POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador)
GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA 25 de Março de 1835 / 25 de Julho de 1876 GENTIL BRAGA ou Flávio Reimar (pseudônimo) nasceu em São Luis, (1834202 ou 1835, conforme a fonte)203 - nasceu a 25 de Março de 1835 e faleceu a 25 de Julho de 1876204. Formou-se em direito na Faculdade de Recife. Foi advogado, lente de retórica e filosofia e deputado provincial de geral. Promotor Público (entre 1855 e 1858) de Codó, Caxias e Alto Mearim (São Luís Gonzaga) 205. Trabalhou com folhetins o que o tornou bastante popular. Entre suas obras literárias destacam-se o “`Parnaso Maranhense”, “Três Liras” e “Entre o Céu e a Terra”, o poema conhecido como Clara Verbana. Em sua residência, Gentil Braga movimentava a sociedade da época com o talento de artistas, poetas e intelectuais da época. É um dos patronos da Academia Maranhense de Letras. OBRAS Sonidos - livro de poemas. Entre o Céu e a Terra - folhetim. A Casca da Caneleira: (steeplechase) romance por uma boa dúzia de Esperanças2 . O ORVALHO206 Nas flores mimosas, nas folhas virentes Da planta, do arbusto, que surge do chão, Reúnem-se as gotas do orvalho nitentes, Tombadas à noite da aérea solidão. . Provindas dos ares, dos astros caídas Em globos argentos de um puro brilhar, Descansam nas flores, às folhas dão vida, Remontam-se aos astros, erguendo-se ao ar. . A luz das estrelas, do vidro mais fino O trêmulo, incerto, brilhante luzir, Não tem maior beleza, fulgor mais divino, Nem pode mais claro, mais belo fulgir. . E o sol, que rutila no manto dourado, Feitura sublime das nuvens do céu, Beijando estas gotas com um beijo inflamado, Desfaz tais prodígios nos beijos que deu. . Quem foi que as vertera, quem foi que as chorara, Quem, límpido orvalho, do céu vos lançou? Quem pôs sobre a terra beleza tão rara? Quem foi que nos ares o orvalho formou? . Dos anjos, que outrora baixaram da esfera, Morada longínqua dos anjos de Deus, São prantos o orvalho, que amor os vertera, Depois que perdidos volveram-se aos céus. . Baixados à terra, sedentos de amores, 202
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentil_Homem_de_Almeida_Braga http://www.cultura.ufma.br/paginas.php?cod=5 204 http://expressoespoeticasuniversais.blogspot.com.br/2013/07/o-orvalho-por-gentil-homem-de-almeida.html http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=12593 205 http://www2.mp.ma.gov.br/memorial/indememorialgaleriapromotpublicoimperio_gentil.asp 206 http://www.jornaldepoesia.jor.br/gbraga01.html http://www.escritas.org/pt/poemas/gentil-braga 203
Gozaram delícias de um breve durar. Depois em lembrança dos tempos melhores Os anjos à noite costumam chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val. . E os anjos sozinhos vagueiam no espaço, Buscando as imagens, que o céu lhes roubou, Seguidos das nuvens, do lúcido traço, Que o brilho das asas trás eles deixou. . E a voz que dos lábios lhes sai suspirante Semelha um queixume pungente de dor. E o ar, que circula girando incessante, Repete os suspiros só filhos do amor. . Em vão tai suspiros, tão tristes endeixas, Pesares tão fundos são todos em vão. Ninguém os escuta; carpidos ou queixas Vai tudo sumido na etérea solidão. . E os anjos, que outrora viveram de amores, Gozaram delícias de extremos sem par, Saudosos relembram seus tempos melhores E tem por consolo seu triste chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val.
JUSTO JANSEN FERREIRA
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16 de março de 1864 / 8 de novembro de 1930 Nasceu em São Luis em 16 de março de 1864. Filho de tradicional familia maranhense, sendo seu pai o médico José Jansen ferreira: residia na Rua Rio BGranco. Formou-se em Medicina na Bahia, onde foi contemporâneo de Nina Rodrigues. Geógrafo, publicista, professor catedrático de Geografia Geral e Corografia do Brasil do Liceu Maranhense e de Física e Química, e Mineralogia da Escola Normal do Maranhão. Lecionou também no Instituto de Humanidades. Fundador da cadeira n. 4 da AML, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, e da Sociedade de Medicina do Paraná. Doutor em Medicina, era socio correspondente de varias sociedades cientificas estrangeiras, como a Sociedade Astronomica de Paris e de Geogrfia de Lisboa. Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e seu primeiro presidente (129261927. Teve assento na cadeira 19 por ele fundada. Com o aumento das casdeiras deste Sodalicio, foi escolhido patrono da cadeuira 30. Na âmbito da geografia, implantou o ensino intuitivo de Geografia Física, administrativa e econômica através de conhecimentos diretos de determinada região habitada pelos alunos, o que orientaria na compreensão geral da geografia. Elaborou Carta Geográfica do Maranhão, Planta geográfica da Ilha de São Luis e Planta da Cidade de São Luis, todas publicadas em Paris em 1903, e nesta caputal em 1912. No governo de Luis Domingues adaptou-as ao ensino do Liceu Maranhense. Foi o sistematizador da cartografia maranhense. Foi um dos fundadores da Escola Onze de Agosto – Socioedade Promotora da Instrução Pública. Com o livro ‘A barra de Tutoia”, estabaleceu os fundamentos teóricos que puseram fim as duvidas sobre os limites a leste entre o Maranhão e o Piaui. Publicou artigos em revistas especalizadas sobre o ensino da Geografia, e a Barra de Tutoia em revista do Norte, de 1901 a 1903. Faleceu em 8 de novembro de 1930, nesta Capital. Bibiografia208 Fragmentos para a Corografia do Maranhão (1901); A Tuberculose (in Revista do Norte, 1902); O ensino da geografia (in Revista do Norte, 1903); a barra da Tutóia (in Revista do Norte, 1903); a proposito da carta geogr´sfica do Maranhão (1904); Breve noticias sobre o ensino da Física, Química e Mineralogia no Maranhão (1907); a viação ferrea no Maranhão (1927); A mulher e o ensino primário (1910); Discurso à professora normalista 207
Por Joseth Coutinho Martins de Freitas. IN OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 208
http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://books.google.com.br/books/about/A_barra_da_Tutoya.html?id=L7oEAAAAYAAJ&redir_esc=y
(1910); Pelo Maranhão (1916); Discurso proferido na sessão inaugural da Academia Maranhense de Letras (1917); A divisória pelo Parnaiba (1921). CANDIDO MENDES209 Para patentear o apanágio de Candido Mendes na política, vou relatar um significativo e nobre gesto, em que, conjuntamente, se lhe delineou a feição moral, austera e até sublime! Discutindo-se, em 1880, no Senado, a cessão que o Piauí fizera ao ceará de dois municípios, em troca do território da amarração, e vindo a ponto a barra da Tutóia, Candido Mendes, baseado a história, no direito e na confiança da da inteireza de caráter e do espírito de justiça do leal adversário, respondendo ao aprte, asseverou que não vacilaria, se surgisse tal pleito em escolher pelo arbítrio o venerando Marques de Paranaguá, eminente estadista do segundo império, à data Senador pelo Piauí. A este eloquente passo, honroso tanto ao nosso representante quanto ao do Piauí, perfeitamente se ajusta a judiciosa observação do notável professor de direito, da faculdade Livre do Rio, o Dr. Lacerda de Almeida, contida nestas palavras: “Candido Mendes foi uma das mais fulgentes glórias do Império, pelo saber, pelo caráter, que era então menos raro do que o saber”. Nesse inolvidável dia, em que, no prélio, se empenharam luminares do senado, ouvido com a costumada atenção, elustrou Candido Mendes o assunto, revelando uma vasta e profunda sabedoria. [...]. 209
Discurso proferido na sessão inaugural da Academia Maranhense de Letras. Imp. Oficial - Maranhão, 1917, 29 p.
RAUL DE AZEVEDO210 3 de fevereiro de 1875 / 27 de abril de 1957 Nasceu a 3 de fevereiro de 1875, na cidade de S. Luiz do Maranhão, falecendo a 27 de abril de 1957, no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista. Foram seus pais Belmiro Paes de Azevedo e Francisca Rosa de Brito. Fez seus estudos na cidade natal, não chegando, porém, a realizar nenhum curso de ensino superior. Sua aguda inteligência e contÍnua leitura, baseada em ótima inclinação filosófica, lhe deram uma cultura bem larga e profunda, nos objetivos de sua vida burocrática e literária. Viu, no Amazonas, a estrela polar do seu destino de homem de Sociedade. Para lá se dirigiu, na qualidade de jornalista, procurando um lugar ao sol. Foi festivamente recebido e, logo, é convidado pelo governo do Capitão Fileto Pires Ferreira para exercer a alta função de Secretário Geral do Estado, cargo esse que lhe permitiu ficar em contacto com o mundo oficial e com a elite da população. Foi o seu ponto de partida numa estrada que teria de per lustrar por mais de 65 anos, ora transitando por cima de flores, ora de espinhos. Uma das características da compleição moral de Raul de Aze vedo, foi a lealdade posta a prova de fogo nos entrechoques do partidarismo, quando os cameleões da política aproveitam a oportunidade para mudar de cor, procurando saber para onde se inclina o fiel da balança. Convém realçar esse procedimento das almas nobres, hoje raro, reportando-nos a um episódio de antanho com o qual se concretizou a renúncia de Fileto Pires Ferreira, alijando-o do governo para o qual fora eleito. Fileto que se achava fora do Estado, uma vez em Belém, sabedor do que se passava em Manaus freta um navio para imediatamente regressar. No meio da viagem é cientificado de que Manaus estava em pé de guerra e ali não desembarcaria. O cabo telegráfico sub-fluvial estava interrompido, no momento. Sabe-se naquela que o navio em que viajava S. Excia. partira para aportar em dia certo, pela manhã. Com receio da aventura, volta a Belém, enquanto que na outra capital, de nada se informa. Raul de Azevedo, RedatorChefe do “Rio Negro”, órgão do seu Partido e do governo alijado, prepara um número especial para a recepção em “hora-certa”. Nesse número, havia um noticiário bombástico em que se avisava haver S. Excia. chegado e que girândolas de foguetes estrugiram nos ares, o povo se apinhava no litoral dando vivas a S. Excia. e que o Sr. Dr. F. proferiu um empolgante e comovido discurso de agradecimento, bem assim que o Coronel Ramalho Júnior ainda no Poder fugiu com seus amigos. O “Rio Negro” já havia sido distribuído pela madrugada e pela manhã do “dia certo”. Corre o dia todo e nada de S. Excia. Somente à noite é que realmente Manaus foi informada, pela chegada de outra embarcação, do que acontecera. A antecipação do noticiário do órgão oficioso foi um grande “tableau”; gargalhadas se davam na cidade. E Raul de Azevedo, vexadíssimo, teria de conjecturar uma explicação. E achou-a, dizendo, no dia seguinte, em outro jornal, que tudo resultou de um erro dos revisores (como esses auxiliares da imprensa têm as costas largas...); que todos os verbos do noticiário estavam no futuro e que eles, por um descuido, passaram-no para o pretérito perfeito... Esse “dia certo” foi fatídico por ser o último para aquele jornal e para o Partido de Raul. Foi o “canto de cisne” de uma situação do “consumatum est”, da qual Campos Salles, então Presidente da República não quiz tomar conhecimento. Esta explicação de um fato escandaloso e deprimente para o Amazonas parece uma pertinência pueril, no meio de uma biografia. Passou para a História e da geração atual, pouca gente a conhece. Raul de Azevedo caíra de pé. Aparentemente derrotado, para quem o jornalismo não era apenas um ofício, mas um sacerdócio, não ficou desempregado pois sua lealdade ao amigo, foi-lhe uma recomendação. Entrado na política e no apreço dos homens, fez-se Deputado à Assembléia Legislativa por várias vezes como em cargos de importância e de confiança dos altos Poderes do Estado. Serviu de Chefe de Gabinete de vários governadores, destacadamente de Silvério Nery e Antônio Bittencourt. Foi Cônsul do Chile por muitos anos e exerceu o desempenho de Comissões importantes do Estado e Federal. Fundou vários jornais. Concorreu para criar algumas associações culturais e científicas, entre outras a Academia Amazonense de 210
Agnello Bittencourt. Dicionário amazonense de biografias. Rio de Janeiro, Ed. Conquista, 1973. pp.421-423). In Blog do Rogel Samuel, publicado em 16 de fevereiro de 2008, disponível em http://literaturarogelsamuel.blogspot.com.br/2008/02/raul-deazevedo.html, http://www.portalentretextos.com.br/colunas/cronica-de-sempre/raul-de-azevedo,189,396.html
Letras e o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Sua função permanente foi a de Diretor do Departamento dos Correios e Telégrafos no Amazonas, em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro, servindo de Diretor Geral por algumas vezes. Não conheci melhor burocrata, sob o ponto de vista de dinamismo e probidade. Com ele, tudo andava na linha. Os seus Relatórios constituem atestados de quanto pode um homem na direção de um serviço imenso, complexo e de enorme pessoal. Raul de Azevedo aposentou-se nesse Departamento do Serviço Público Federal. Aproveitava suas férias em viagens pela Europa. Era um grande admirador de Paris, onde esteve creio que por três vezes. Como jornalista e publicista foi dos mais ativos. Sua bibliografia conta cerca de 30 obras, fora os folhetos e numerosos artigos de jornais. Vejamos, dentre outros livros, os seguintes: “Doutor Renato”, “Tríplice Aliança”, “Amores de Gente Nova”, “Onde está a felicidade?” “Roseiral”, “Aquela Mulher”, “Amigos e Amigas”, “Senhores e Senhoritas”, “Homens e Livros”, “Alma inquieta das mulheres”, “Aspectos e Sensações”, “Louras do Sul, Morenas do Norte”, “Meu livro de Saudades”. Os livros do escritor, com exceção de dois, pararam na primeira edição. A Raul de Azevedo não faltavam qualidades para realizar sempre e sempre um bom livro. Não seja por isso que devamos menosprezar um homem que teve, na sua psiquê, a mania absurda, em plena velhice, amor às jovens, ainda que em retrato desnudo, diante de sua banca de trabalho, para achar inspiração para novos romances. Raul de Azevedo foi casado, por duas vezes. No primeiro casamento com a Sta. Julieta Lessa, de cujo enlace nasceram o Dr. Herbert Lessa de Azevedo, assassinado tragicamente em Coari e a Sta. Marilda Lessa de Azevedo, alta funcionária do Ministério da Fazenda. E no segundo matrimônio com a Sta. Camélia Cruz, com quem teve duas filhas. Devo reafirmar que o Coronel Raul de Azevedo — assim o chamavam — honesto, culto, trabalhador, morreu pobre, jamais possuindo uma casa própria. Também não foi um perdulário. Amou as jovens, louras e morenas, como amou as flores, os perfumes, o teatro, a música. E partiu para o Oriente Eterno, com saudade desta vida, como se estivesse nos seus vinte anos. Bibliografia211 Artigos e crônicas. 1896; Ternuras. 1896 (contos); Na rua. 1902 (crôn.); A esmo. 1903 (crôn.); Doutor Renato. 1903 (rom.); Homens e livros. 1903 (crít.); Tríplice aliança. 1907 (rom.); Aspectos e sensações. 1909 (crôn.); Terra a terra. 1909 (crôn.); D’além mar. 1913 (viag.); Vida elegante. 1913 (contos); Amores de gente nova. 1916 (rom.); Confabulações. 1919 (ens.); Onde está a felicidade. 1919 (rom.); Amigos e amigos. 1920 (misc.); A alma inquieta das mulheres. 1924 (confer.); Senhoras e senhorinhas. 1924 (contos); Roseiral. 1932 (rom.); Hora de sol. 1933 (misc.); Aquela mulher 1934 (rom.); Bazar de livros. 1934 (crít.); Meu livro de saudades. 1938 (crôn.); Vida dos outros. 1938; Vida e morte de Stefan Zweig. 1942 (biogr.); Louras do sul, morenas do norte. 1947 (rom.); Terras e homens. 1948 (ens.); Brancos e pretos. 1955 (rom.); Elisabete. 1955 (contos e teatro); Dona Beija. 1957 (ens.). Fundou e dirigiu a rev. Aspectos, Rio de Janeiro. Colab. em periódicos de Manaus, AM, Fortaleza, CE, e Rio de Janeiro. REF.: Albuquerque, Medeiros e. Páginas de crítica. 1920. p. 169-76; Blake Dic., VII, 101; Coutinho Brasil, 1, 118; Ferreira, Carlos. Feituras e feições. 1905. p. 260-3; Inocêncio Dic. XVIII, 341; Lima Estudos, 1, 292; Meneses Dic. , 78; Ribeiro Crítica, III, 289-91; Souza Teatro, II, 93. ICON.: Confabulações. 1919 (do autor); Ilust. Bras., maio/jun. 1957. AZEVEDO, Raul de (São Luís MA, 3 fev. 1875 — Rio de Janeiro, RJ, 29 abr. 1957), romancista, contista, teatrólogo, crítico, ensaísta, conferencista, político, da Acad. Amaz. Letr., Acad. Maranh. Letr., Acad. Cear. Letr., Mina Literária (Belém, PA, 1895- 1899). Pseud.: Iberê, Raulim. BRANCOS E PRETOS Aquela mulher loura e alta, muita clara, a pele duma limpeza integral, apaixonara-se pelo homm forte, másculo, inteligente, culto – negro. Já o leitor ou a leitora, nste momento, sente uma vaga repulsa pelos dois... Haverá decerto raras exceções. Mas serão exceções. Ela – chamava-se Clara Maria dos Santos Guedes e ele Lauro Gomes da Silva. Clara era de família distinta, cheia de tradições. 211
ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA (A.COUTINHO & J.GALANTE DE SOUSA):
Quando os pais, irmãos e irmãs, noataram a preferência de Clara Maria, chamaram a sua atenção, recriminando-a. Não podia ser, não consentiriam. - Mas, respondia a moça, ele é um medico distinto, um cientista, cirurgião notável, bem educado, honesto, de maneiras distintas, rico. - Sim, mas é preto... Clara sentia-se revoltada com aquele preconceito racial. Ela pensava – o amor não tem cor; este não é preto nem branco, quando muito poderá ser azul, na imaginação dos poetas líricos. Lauro vestia-se muito bem, e discretamente. Era um encanto a sua conversa, pontilhada de graça e de anedotas leves, que faziam sorrir. Tinha trinta e oito oun quarenta anos. Uma boa clinica geral dava-lhe conforto. Viajara, fizera um curso em Paris. Mas no intimo, sentia que os brancos, inclusive diversos de seus colegas, faziam-lhe restrições. Consultavam-no, ,chamavam-no para conferencias medicas. E a sua opinião era geralmente a vencedora. Mas, quando davam recepções, em suas casas, com suas famílias, ele não era convidado... O doutor Lauro Gomes da Silva não podeia compreender aquelas restrições. O Brasil, há quase quinhentos anos, vinha gritando que não tinha problema racial. Mas o certo é que ele, e os outrtos, há séculos, sofriam moral e materialmente as consequências desse pigmento luzidio. Passava vezames. Torturava-se. Era vitima de afrontas. Na classe popular, sentia-se bem, não o desconsideravam. Mas na media, ou na sociedade chamada alta, não podia penetrar – era sumariamente alijado. A ultima humilhação que sofrera em publico deixara-o indignado. Os seus colegas de turma festejavam o décimo aniversario de formatura. \convidaram-no, para o jantar num hotel em Copacabana. Concorrera com sua quota. E na noite marcada comparecera à hora determinada, de smoking, como os outros. Quando penetrava no salão, observatram-lhe que não podia entrar, nem sentar-se à mesa. Diversos de seus colegas se revoltaram, e reagiram. Ele observou: - Não. Fiquem todos. Agradeço a distinção de vocês. E ao champanha lembrem-se do colega que não tem a culpa de ter nascido preto... Ele retirou-se. O jantar não foi alegre. Pairava no ar aquele mal-estar de alma que não passa nem com a musica, nem com as danças, nem com os vinhos...., Havia uma tristeza em tudo.
JOSÉ DE ALMEIDA NUNES212 São Luis / 20 de feverieo de 1882 # Rio de Janeiro / 27 de agosto de 1940 Nasceu em São Luis aos 20 de fevereiro de 1882. Fez o curso de humanidades no antigo Liceu Maranhense, destacando-se como um dos alunos mais aplicados. Formou-se em Medicina pela faculdade de Medicina do Rio de janeiro. Foi secretário particular do dr. Luis Domingues quando este eminente maranhense governou o Estado. Médico culto, Almeida Nunes não se estritou nas especialidades de sua ciência. Teve a alma sempre escancarada para as solicitações estéticas e soube cimentar variada ilustração literária. Na Academia Maranhense de Letras fundou a cadeira 13, patrocinada por José Candidos de Morais e Silva. Faleceu no Rio em 27 de de agosto de 1940. Bibliografia: A cesariana conservadora (s.d.); A moléstia de Haine-Medin (s.d.); A alimentalçao infantil (s.d.); José Candido de Morais e Silva (1919 – discurso de posse na AML); escreveu estudos críticos sobre Luis Domingues, Odorico Mendes, e Francisco de Castro. JOSÉ CANDIDO MORAIS E SILVA [...] Mas, de qualquer modo, eis em São Luis o mais vibrante jornalista que ainda possuímos e o mais correto; o tribuno mais eletrizante que nunca tivemos, assim pela sinceridade e correção da sua palavra como pelo poder maghnetico de sua pessoa; o patriota mais insigne, mais intrépido, mais audaz que suscitou, entre nós a independencia. Bem poucos havia do seu tope, por então, no país todo, onde eram uma legião.
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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 171-172
FERNANDO EUGENIO DOS REIS PERDIGÃO
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05 de janeiro de 1908 # 1990 Nasceu em São Luís, em 1908 e faleceu no Rio de janeiro, em 1990. Sucedeu seu pai no IHGM, Domingos de Castro Perdigão. Estudou Primário e Secundário no Liceu Maranhense, formando-se na Faculdade de Direito do Maranhão, onde depois se tornou Catedrático de sua sucessora, a Faculdade de Direito de São Luís. Participou ativamente dos movimentos revolucionários de 1922,1924 e 1930. Como jornalista teve atuação destacada escrevendo editoriais para O Imparcial. Em 1951, aprovado no concurso para ministrar a disciplina Economia Politica vincula-se ao quadro de docentes da Faculdade de Direito da Fundação Paulo Ramos e no mesmo ano é nomeado por decreto do presidente Getúlio Vargas. Exerceu vários cargos públicos durante sua vida, tanto em São Luís, como no Rio de Janeiro, onde foi diretor jurídico dos Diários Associados. Foi também jornalista e escreveu em vários jornais de São Luís, inclusive o Imparcial. Escreveu o livro “Contribuição do Maranhão à Cultura Jurídica Brasileira” e pertenceu a Academia Maranhense de Letras. Em São Luís, há uma escola publica estadual de ensino médio, localizada à Avenida Castelo Branco no bairro do Monte Castelo batizada com seu nome. CEMITÉRIO DO GAVIÃO214 Os meus olhos pasmados de menino tímido abriam-se, curiosos e inquietos, para aquele mundo triste, de que eu tinha vaga e aterrorizada noção. Levantavam-se para a ramagem entrelaçada das altas árvores e perdiam-se na brancura dos mármores, na sucessão infindável das cruzes, que apontavam, piedosas, para o céu. Era a minha primeira visita à casa dos mortos. Ali stavam, bem perto de mim, as casuarinas, que só de longe até então eu vira, acinzentando o horizonte para os lados de São Pantaleão. Naqueles túmulos, cuja alvura espalhava, por todo o ambiente, o tom pálido e baço das coisas sem vida, moravam os defuntos temerosos. Dali é que saiam, à meia-noite, as almas do outro mundo... Quartel general de duendes!... Reduto da assombração!... [...]
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LIMA, Euges Silva. DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA DE N.º 22, COMO SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO; Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 94 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 239-240
JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA FRANKLIN DE OLIVEIRA215, 216 12 de março de 1916 # Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000 Figura das de maior realce em sua geração, poeta, crítico, jornalista e sobretudo, elegante cronista, cedo fixou residência no Distrito Federal, em cuja imprensa milita com brilho, depois de te-lo feito na sua terra natal. Pertenceu, em São Luis, ao Cenáculo Graça Aranha e ocupou na Academia Maranhense de Letras, a cadeira 38, patroneada por Adelino Fontoura. Começou a carreira de jornalista aos 16 anos, no Diário da Tarde, e em 1938 já estava no diário A Notícia, do Rio de Janeiro. Na década de 1930 trabalhou na revista Pif-Paf e, em 1944, foi para O Cruzeiro, onde tornou célebre sua coluna "Sete Dias", que escreveu por 12 anos. Em 1956, tornou-se editorialista e crítico do Correio da Manhã. Quatro anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde, no governo de Leonel Brizola, foi secretário-geral do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul e delegado desse estado no Banco de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul. Exerceu cargos importantes na Petrobrás até que o governo militar instalado em 1964 cassou seus direitos políticos com base no AI-1. De volta ao jornalismo, foi redator n'O Globo e, na década de 1970, passou a colaborar com a Folha de S.Paulo, assinando artigos políticos. Em 1983, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, quatro anos depois de conquistar o prêmio Golfinho de Ouro de Literatura do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Bibliografia – Ad Imortalitatem (1935), Sete dias (1948), A fantasia exata (1959), Rio Grande do Sul, um novo Nordeste (1962), Revolução e contra-revolução no Brasil (1963), Viola d’amore (1965), Morte da memória nacional (1967), A tragédia da renovação brasileira (1971), Literatura e civilização (1978), Euclides: a espada e a letra (1983), A dança das letras (antologia crítica, 1991), A Semana da Arte Moderna na contramão da história e outros ensaios (1993). Buzar (2013)217 escreve em seu Blog, sob o titulo Franklin de Oliveira - um Nome Nacional, traçando a trajetória desse que foi um dos maiores cronistas do país: No dia 31 de março de 1938, o Franklin de Oliveira, com 22 anos, decidiu mudar de residência. Trocou São Luis pelo Rio de Janeiro, a então capital da República. Nessa época, o Brasil vivia sob o domínio da ditadura de Getúlio Vargas, mas o jovem jornalista já estava com a cabeça politicamente organizada pelo convívio com militantes políticos e revolucionários, que atuavam na imprensa maranhense, a exemplo de José Maria dos Reis Perdigão. Com este trabalhou nos jornais A Pacotilha e Diário da Tarde e participou de embates ideológicos em favor dos trabalhadores. Seu primeiro emprego no Rio de Janeiro foi no jornal A Notícia, na função de redator. Com o decorrer dos anos, passou a desenvolver intensa atividade política e literária, colaborando em diversos jornais e revistas de circulação nacional, ressaltando-se a revista O Cruzeiro, onde ele criou a coluna Sete Dias, uma página de lirismo e voltada para assuntos do cotidiano. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial e do Estado Novo, restabeleceu-se no país o regime democrático, que trouxe no seu bojo as eleições diretas, para os cargos majoritários e proporcionais. Franklin de Oliveira, pelo seu destacado desempenho na imprensa carioca, recebeu convite dos partidos de esquerda para ser candidato a deputado federal. Desejava atuar na cena política, mas não mostrou interesse em disputar cargo eletivo no Rio de Janeiro. O seu objetivo era participar da vida pública do seu estado de origem. Por isso, quando os partidos e os políticos 215
MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245 http://pt.wikipedia.org/wiki/Franklin_de_Oliveira http://www.academia.org.br/abl/media/Texto%20sobre%20Franklin%20de%20Oliveira.pdf http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/aluisio-azevedo--franklin-de-oliveira-5455.htm 217 BUZAR, Benedito. Blog do Buzar. FRANKLIN DE OLIVEIRA: UM NOME NACIONAL, 8 de abril de 2013, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2013/04/08/franklin-de-oliveira-um-nome-nacional/, acessado em 02/05/2014 216
começaram a desenvolver ações com vistas às eleições de 1950, Franklin de Oliveira veio a São Luís conversar com as lideranças partidárias e sondar o quadro político maranhense. Em vez de procurar os partidos oposicionistas, o jornalista de O Cruzeiro bateu nas portas do Palácio dos Leões, onde teve uma conversa amistosa com o senador Vitorino Freire, do qual recebeu convite para filiar-se ao Partido Social Trabalhista. Pela legenda que Vitorino criara – o PST, Franklin de Oliveira concorreu às eleições de 1950, para conquistar uma cadeira no Congresso Nacional. Como estava distanciado do Maranhão há bom tempo, ele tomou algumas iniciativas para tornar-se conhecido e conquistar o eleitorado maranhense. Duas merecem destaque. Primeira, convocou os novos intelectuais para se integrarem à sua campanha eleitoral. O estudante José Sarney Costa foi um dos que participou ativamente do processo eleitoral, na capital e no interior do Estado. Segunda, trouxe do Rio de Janeiro para o Maranhão uma gigantesca estrutura publicitária e um grupo de marqueteiros políticos, deixando os concorrentes perplexos e intimidados. Com recursos abundantes, instalou em São Luis e nas principais cidades, onde pontuava o eleitorado mais esclarecido, poderosos comitês políticos, dotados de modernos equipamentos de comunicação social, através dos quais os marqueteiros produziam e veiculavam peças publicitárias de bom gosto e de forte apelo popular. Nenhum candidato a qualquer cargo eletivo no Maranhão, até então, tivera a competência, a ousadia e o dinheiro para se apresentar ao eleitorado como o fizera Franklin de Oliveira. Cartazes de todos os tipos e tamanhos, coloridos ou em preto e branco, foram usados em profusão em jornais e colocados em pontos estratégicos da cidade. O que mais chamou a atenção do eleitorado foram os discos em vinil, com a música que funcionava como carro-chefe de sua campanha política. Como não havia ainda legislação restritiva à propaganda eleitoral, nada impedia o candidato de usar e abusar dos meios de comunicação. Em São Luis, ao longo do dia, só se ouvia o disco de Franklin de Oliveira, que tocava insistentemente em emissoras de rádio, serviços de alto-falantes e carros de som, novidades tecnológicas, que percorriam as ruas e os bairros, divulgando o nome do candidato e conclamando o povo a votar. A música, aliás, de boa qualidade, caiu de tal modo no gosto do povo, que passou a ser cantada por todos, fossem ou não seus eleitores. Quem lembrar a música, que solte a voz: “Eis aí um nome nacional Sempre a serviço do Maranhão Franklin de Oliveira cristaliza um ideal De manter viva essa terra-tradição Jornalista e escritor, homem capaz, trabalhador Indicado pela cidade de Caxias Faz jus à glória de Gonçalves Dias Nós e também você Votaremos no PST Para eleger Franklin de Oliveira Que tudo fará pela Atenas brasileira Como deputado federal ”. Mesmo com todo o aparato publicitário, de fazer inveja a qualquer candidato, Franklin de Oliveira não se deu bem nas eleições de outubro de l950. O seu marketing político, ainda que inovador, não funcionou. Resultado: sofreu impiedosa derrota, que pode ser atribuída a três fatores. 1) recebeu intensa e aguerrida campanha dos oposicionistas, que não o perdoaram pelo fato de, como escritor de esquerda, aderir ao grupo vitorinista, pelo qual sua candidatura foi homologada. 2) seu nome não foi priorizado e nem assimilado pelo esquema palaciano para ser um dos eleitos. Dos noves candidatos eleitos para a Câmara dos Deputados, cinco formavam no time dos governistas e quatro pertenciam aos quadros das Oposições Coligadas. Ele ficou numa suplência e sem nenhuma chance de ser convocado para assumir o mandato. 3) as eleições de 1950, tanto para os cargos majoritários como para os proporcionais, foram realizadas sob o beneplácito de escandalosa fraude eleitoral. O escritor maranhense não se beneficiou dos votos fraudulentos e muito menos dos votos válidos. Um final melancólico para quem lutou bravamente e empenhou-se, física e financeiramente, para ser um dos representantes do povo maranhense no Congresso Nacional. Se, por um lado, a música que Franklin de Oliveira usou na campanha eleitoral virou um tremendo sucesso popular, pois até hoje é lembrada e cantada por gerações que viveram aqueles tempos, por outro lado, proporcionou ao candidato do PST uma terrível herança política: o apelido de “Nome Nacional”, epíteto que virou galhofa popular e chegou até mesmo a irritá-lo. Nem depois de morto, conseguiu livrar-se dessa alcunha.
MISTERIOSA É A VIDA DOS LIVROS218 Misteriosa é a vida dos livros. Seu tempo não é o dos relógios e das folhinhas. Há romances que envelhecem em 24 horas e, depois, se tornam inúteis como um jornal atrasado. E não deixa de ser mágica, poética, essa faculdade de envelhecer em horas. Outros livros, porém, nasceram com a vocação da eternidade. Transmitem sempre a impressão, a surpresa, o frêmito inefável de uma primeira leitura. Nós já os conhecemos e, no entanto, eles parecem novos; cada pagina dá a sensação de um descobrimento. Assim o “Amanuense Belmiro”, de Ciro dos Anjos. Tem seus dez anos de vida bem vivida. Mas resiste heroicamente a essa experiência dramática no destino de um livro, que é a releitura. Bom livro é o livro que a gente relê dez, vinte, trinta vezes, e com que atento e apaixonado interesse. O livro é como sempre o foi. O autor não lhe alterou uma virgula, não lhe acrescentou uma frase. Mas sentimos, desde o primeiro período, que a obra-prima não será jamais a mesma. Algo se renova nas suas profundezas. O “Amanuense Belmiro” sugere essa impressão de coisas infinitamente mutável. Por quê sempre o lemos como se o fizéssemos póla primeira vez? Não há nessa obra uma página velha. Irei mais longe: não há uma frase que tenha apodrecido. Pois sabemos que, mesmo nas melhores criações, há valores que se desgastam, que se decompõem e que se tornam fétidos. O mistério do “Amanuense Belmiro”, da sua fascinação incessante, está, segundo me parece, na sua alta qualidade estilistica. A chamada língua “inculta e bela”, de soneto preconceituoso, se culturaliza. A grande lição liter´ria do “Amanuense Belmiro” pode ser resumida assim: os defeitos não são do idioma mas de nós mesmos, de nossa impotência verbal. Livros assim, deviam ser distribuídos, não às crianças de escolas, mas aos escritores que tornam inculta a nossa língua. (in SETE DIAS).
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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245
RAIMUNDO NONATO DA SILVA SANTOS219 NONNATO MASSON São Luis / 28 de fevereiro de 1924220 # São Luis 08 de março de 1998 No Perfis Academicos, Jomar Moraes o dá como nascido em São Luis, a 28 de fevereiro de 1924, tendo militado na imprensa de São Luis até 1950, transferindo-se para o Rio de Janeiro, neste ano, onde permaneceu até 1980, quando se aposentou. Mas Buzar (2014)221 publica em seu Blog o seguinte: Nesta sexta-feira, 28 de fevereiro de 1924, há noventa anos, nascia na praia da Mamuna, no município de Icatu, uma criança que recebeu o nome de Raimundo Nonnato, o qual, tempos depois, o Maranhão e o Brasil passariam a conhecer por Nonnato Masson, sobrenome de origem controversa. Alguns dizem ser homenagem ao repórterfotográfico da revista O Cruzeiro, Jean Mazon; outros atribuem à simpatia pela maçonaria. Os dois ss eram usados para disfarçar. Criado pelos avós, que lhe deram boa formação moral e educacional, fez o primário no colégio Sotero dos Reis, onde a professora Zila Paes descobriu a sua vocação para a escrita. Seus textos eram aproveitados no jornalzinho e no teatrinho da escola. O ginásio cursou no Liceu Maranhense. Quando não estava em sala de aula, aprendeu a tocar violino, telegrafia e tipografia. O primeiro emprego foi na Tipografia Teixeira, depois no cinema Eden, como operador. Para ganhar uma profissão definida, matriculou-se na Escola de Aprendizes Artífices, depois transformada em Escola Técnica Federal do Maranhão. Nessa época, o cine Rex, no bairro do João Paulo, oferecia o seu palco para quem gostava da arte cênica. Ali se apresentou como ator e autor de pequenas peças e constitui um grupo teatral que fez sucesso nos bairros da cidade. Como o teatro não lhe dava nenhum rendimento, procurou emprego em jornal. Foi parar no Correio da Tarde, onde o poeta Fernando Viana, dono da situação, aprovou um texto de sua lavra e lhe garantiu um lugar na redação. Depois foi levado pelo próprio Fernando Viana para o jornal O Combate. Deste, transferiu-se para A Pacotilha, dirigido por Miécio Jorge, graças a um concurso de reportagem em que tirou o primeiro lugar com a matéria “Fila para os mortos”. As excelentes reportagens publicadas em A Pacotilha chamaram a atenção do jornalista Pires de Saboia, vindo do Ceará para pilotar O Imparcial, que o convocou para com ele trabalhar. Com a instalação, em 1950, do Jornal do Povo em São Luis, montado pelo governador Ademar Barros para instrumentalizar o Partido Social Progressista, Nonnato recebeu convite de Neiva Moreira para fazer parte da equipe redacional. No Jornal do Povo não se deu bem e retornou aos quadros dos Diários Associados, onde chefiou a redação de A Pacotilha, mas sem deixar de produzir reportagens e textos teatrais, veiculadas pelas emissoras Timbira e Ribamar. Em 1956, São Luís recebe a visita da condessa Pereira Carneiro, proprietária do Jornal do Brasil. Masson entrevista-a e ela encanta-se com a sua matéria. Ela convida-o a trabalhar no matutino carioca. Topou a parada e no JB atuou como repórter, pauteiro, editor do Caderno B e correspondente em Brasília até a sua inauguração. Como repórter, fez parte da equipe que cobriu a participação do Brasil na Copa do Mundo, em que se sagrou como campeão na Suécia, bi-campeão no Chile e tri-campeão no México. Também prestou serviços na revista Fatos e Fotos, onde publicou a reportagem “Aventura Sangrenta do Cangaço”, que lhe valeu o Prêmio Esso de Reportagem, em 1961. Em maio de 1976 casou com a maranhense, de Anajatuba, Maria Elenir, com quem teve cinco filhos. Como desejava que os filhos nascessem em São Luis, retornou às origens, depois de uma bem-sucedida trajetória na imprensa carioca, época em que por ela passaram os maiores ícones do jornalismo brasileiro. Na volta às plagas maranhenses, em 1977, como o correspondente do Jornal do Brasil em São Luis, o conheci pessoalmente. À época, eu escrevia a coluna política Roda Viva, em O Imparcial. Procurou-me para saber sobre uma crise política deflagrada no governo de João Castelo. Depois dessa conversa, os nossos encontros passaram a ser 219
MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. MASSON, Nonnato. DEPOIMENTO, enviado ao autor via correio eletrônico em 05/05/2014, acerca das duvidas do local de nascimento de seu pai, o jornalista Nonnato Masson, confirma que ele – Nonnato pai, nasceu na praia da Mamuna, no município de Icatu, em 29.02.1924, falecendo em São Luis em 08.03.1998; morou no RJ trabalhando no Jornal do Brasil de 1957a1977; publicou livros de cronicas ines e morta e corpo de moça. 221 BUZAR, Benedito. NONNATO MASSON: UM JORNALISTA INESQUECÍVEL. BLOG DO BUZAR, domingo, 14 de fevereiro de 2014, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2014/02/23/nonnato-masson-um-jornalistainesquecivel/, acessado em 04/05/2014. 220
rotineiros e a amizade entre nós consolidou-se de modo firme e irreversível. Ao aposentar-se do Jornal do Brasil, mostrava-se disposto a abandonar definitivamente a imprensa. Aos poucos, consegui demovê-lo desse propósito e voltou a escrever crônicas no Caderno PH e, a convite de Antônio Carlos Lima, no “Hoje é Dia de”, em o Estado do Maranhão. Com a morte do médico e membro da Academia Maranhense de Letras, Salomão Fiquene, com o aval de Jomar Moraes, eu, PH e Antônio Carlos Lima fizemos um movimento para levá-lo à Casa de Antônio Lobo. Quebramos a sua resistência e a 24 de janeiro de 1986 ele tomou posse. Seu ingresso na vida acadêmica resultou na preparação de dois livros de crônicas – Inês é morta e Corpo de moça, publicados pelo Sioge. Por nunca haver exercido atividade na vida pública, recebeu convite de Joaquim Itapary para dirigir o Museu de Artes Gráficas da Secretaria da Cultura. No governo de João Alberto, eu, no exercício do cargo de Secretário da Cultura, o indiquei para integrar o Conselho de Cultura do Estado do Maranhão. Mas o coroamento da vida profissional de Masson deu-se quando José Sarney, na Presidência da República, o nomeou chefe da sucursal da Empresa Brasileira de Notícias. Com a extinção da EBN, seus problemas de saúde, sobretudo o diabetes, começaram a perturbá-lo, fazendo-o afastar-se de tudo e de todos. A perda parcial da visão e uma fratura do fêmur o impediram de movimentar-se e de ler e escrever. Para tentar recuperar a sua saúde, eu e Jomar conseguimos, pela ação de José Sarney, interná-lo no Hospital Sara, mas como tinha fobia a hospital, abandonou o tratamento e dali fugiu. Na noite de um sábado, 7 de março de 1998, o filho Elenato telefona-me para avisar que o pai fora internado no Socorrão. No dia seguinte, enquanto eu e Jomar tentávamos transferi-lo para o Hospital Universitário, somos informados de que ele não resistira à gravidade de uma implacável insuficiência respiratória. Naquele domingo, aos 74 anos, Nonnato Masson cumpria o que havia solenemente proclamado no dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras: “Vim para São Luis para morar, viver e até morrer”. O PÃO ROUBADO222 (Jornal Pequeno, 11/08/1957) Toma-se o pulso do mundo e sente-se, apesar de não sermos médico, que ele está a precisar de coramina, tal qual o governador do Estado receitou ao Maranhão, após fazer-lhe um diagnóstico de aniversário de um aninho de mando. Agente que trabalha em jornal quase não percebe, de chofre, que Washington Luís morreu no sanatório, depois de ter sido presidente da República, depois de ter sido exilado, depois de ter tido a rara vergonha do nosso século de não se meter mais em política, refugiando-se em si mesmo e renunciando, em testamento, toda e qualquer honraria que lhe devesse o Estado. Estado, aliás, que, quando vivo era o “de cujos”, nada mais fez do que humilhá-lo e espezinhá-lo. Quase não se nota que Oliver Hardy, aquele fabuloso cômico (“o Gordo”), que vivia em constantes encrencas com Stan Laurel (“o Magro”), dos filmes mudos que nos alegraram a infância, faleceu vítima de paralisia. Assim como chega à redação do jornal, nos pontos e traços nervosos da telegrafia sem fio, desaparece dos nossos pensamentos a notícia de que foi assassinado o presidente da Guatemala e o seu matador suicidou-se após o magnicídio. Quase não se tem tempo para sentir a morte desse poeta brejeiro que foi Bastos Tigre e que nos acostumamos a ler as suas trovas no Almanaque de Bristol. Sabe-se que Zé Lins do Rêgo, de tantos romances que nos plasmaram a formação literária, está entre a vida e a morte, o pensamento não demora (é justo confessar) no seu drama agônico. Tem-se a certeza de que a gripe asiática paira, ameaçadora, sobre a cabeça do mundo, como se fora uma nova espada de Dámocles, e o fato não nos faz sair da rotina. Acontece, porém, que a gente sabe que uma menina de 11 anos tenta o suicídio e o episódio nos assalta o sentimento e nos surpreende em todos os sentidos. Amenina se chama Sônia. Sônia é nome de fada, está nos contos da caronchinha e com essa criança, que dorme em cada um de nós, configura-se o nosso desejo de saber de maiores detalhes acerca do caso de Sônia, pois Sônia poderia ser a nossa irmã caçula, os quindins da mamãe, a alegria da casa, de perninhas grossas, vestidinho curto, fazendo beicinho de malcriação, tão cheia de encanto e malcriação, e despertava depois os risos escondidos dos mais velhos. 222
JORNALISTAS MARANHENSES NONNATO MASSON. Disponível http://sobrinhoeducacaotecnologia.blogspot.com.br/2012/04/jornalistas-maranhenses-nonnato-masson.html
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Procurando saber, descobrimos que Sônia (Soninha), tendo a mãe viúva e irmãzinha passando fome, num subúrbio do Rio de Janeiro (na faixa da capital da República dos Estados Unidos do Brasil), entrou em uma venda e pediu um pão fiado. O pão com a graça de Deus mataria a fome de sua mãe e de sua irmãzinha. Não sendo atendida, Sônia, réplica menina de Jean VaIjean, que Vitor Hugo fixou nas páginas de Os Miseráveis, roubou o pão. Foi descoberta e a sua situação tornou-se mais terrível do que a do menino Humberto de Campos quando roubou um brinquedo. No Brasil, um pão roubado é coisa mais séria do que um brinquedo roubado. E a dona da venda prendeu Sônia. Envergonhada (e foi isso que nos comoveu, pois Sônia com 11 anos teve vergonha e muita gente barbada não tem nestes brasis imensos), como íamos dizendo, envergonhada Sônia (Soninha) atirou-se da janela do cômodo. Atirou-se à rua, no gesto desesperado, para morrer, para evitar o escândalo, pois ela teve vergonha de ser presa, como ladra, pela Rádio Patrulha, que a vendeira já havia chamado pelo telefone, Depois de tudo isso, depois desse tremendo drama, o “fantasma voador”, que gere o nosso destino republicano, com uma bateria de fotógrafos, apresenta-se no seu terno mais impecável, com a barriga cheia, os bolsos transbordando, em casa da pobre viúva e da menininha, cuja miséria impulsionara Soninha ao duplo gesto do crime e da morte voluntária, com a promessa de ajudar aquelas criaturas a ter uma vida menos desgraçada. Étarde! Tarde demais, presidente. Devera Vossa Excelência ter compreendido antes que muito mais importante do que Brasília é o destino dessa multidão de Sônias que existem do Oiapoque ao Chuí, se nos permitem o lugar comum. Depois do caldo derramado, nada mais adianta. E a vida de Sônia, símbolo da desamparada infância brasileira, está marcada por estigmas indeléveis que toda vossa ajuda não conseguirá remediar. E é pena. sabe?
FRANCISCO SOTERO DOS REIS JUNIOR223 1º de fevereiro de 1833 # Poeta, jornalista, político. Um dos festejados poetas do romantismo no Maranhão. Figurou com a ‘A virgem do meu amor’, no Parnaso maranhense. Seus versos cantantes, repassados de ternura, falam de ‘tranças caídas, bem meigas tristeza trazendo ns faces’, num ritmo que denota influencia de Gonçalves Dias. Safir viu-o como autor de versos ligeiros. Colaborou no Semanário Maranhense e atestam seu valor ‘estar no ceu’ e ‘Deus’. Mário Meirelres diz que trocou ‘poesia a pelo magistério’. ESTAR NO CÉU Qaudno vejo, alegre e lindo, Sem rigort, o rosto teu, Não sei o que sinto n´alma, E sonho que estou no céu! Se acaso, ó bela piedosa, Teu olhar cruzas com o meu, Todo em gozo me desfaço, E sonho que estou no céu! Se mais terna ainda te mostras, E dás-me um sorriso teu, Desmaio de amor, deliro, E sonho que estou no céu! Mas, quando na face ardente Recebes um beijo meu, Olha, meu bem, tu me matas; E sonho que estou no céu! 223
RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.
EUCLIDES FARIAS EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA 23 de março de 1846224 # Belém, 11 de outubro de 1911 ou 26 de março de 1837225 # Belém, 19 de outubro de 1911 Poeta, sobretudo humorista. Colaborador do Jrnal Civilização, onde manteve a seção “Secas e Mecas”, sob o psudonimo de Joaquim de Albuquerque. Famosa a polemica que sustentou com Aluisio Azevedo, sobre O Mulato. Obras: Diversos (1875); Arabescos (1875). Cartas ao comprade Tiburcio (1880); Miscelanea (1882); CVartas a Pai Tobias (1883); Retratos a giz (1866); Brisas da Amazonia (1897); O tacacá (1908). O JABUTI O jabuti mais velho e já caduco, Que não pode mexer-se de canseira, É mais veloz ainda na carreira, Que o paquete chamado Pernambuco. Quem viaja uma vrz nesta maluco Promete não cair mais noutra asneira, A fim de não levar a vida inteira Como siri pra trás, sobre o tijuco. Como se fosse invaliudo perneta, Nunca pode fazer jornada franca, Pela carga, que leva, da muleta. Quem faz uma viagem nesta tranca, Quando msai do Pará com barba preta, Chega ao Maranhgão com a barba branca! 224
MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976. RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.
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CARLOS ALBERTO DA COSTA NUNES226 19 de janeiro de 1897 # Sorocaba, 9 de outubro de 1990 Filho de José Tito da Costa Nunes e Cândida Amélia da Costa Moura, fez os seus estudos primário e secundário em São Luís do Maranhão. Em 1920, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia. Exerceu clinica no Acre, ainda em tempos da ferrovia Madeira-Mamoré. Passou a residir no Estado de São Paulo, onde exerceu medicina no vilarejo de Bom Sucesso (hoje cidade de Paranapanema), em Angatuba, Tatuí, Santa Cruz do Rio Pardo, Fartura e Guaratinguetá, para, depois, definitivamente estabelecer-se na capital paulista, onde trabalhou até a aposentadoria no Instituto Médico Legal. Esse cargo de médico legista, obteve por concurso. Quando de sua passagem por Angatuba, Carlos Alberto Nunes conheceu a jovem e viúva professora Filomena Turelli (1897-1983), filha de um paciente, o italiano Francesco Turelli. Como ele, o pai de sua futura esposa apreciava o estudo de história e literatura clássica. Após namoro, uniram-se Carlos e Filomena definitivamente em casamento realizado na cidade de Tatuí. Segundo depoimento de seu cunhado Ulisses: "Dr. Carlos era vindo de família de inteligentíssimos, porém todos padecentes de tuberculose. Naqueles tempos (início do século XX), quem morava em São Luís preferia ir fazer compras em Portugal do que vir até ao Rio de Janeiro, isso facilitado pela rota ser mais curta. Assim, numa dessas viagens feitas de navio ao velho continente, quando do percurso de retorno ao Brasil, seu pai já estava muito debilitado, veio falecer dessa doença. O funeral ocorreu em alto mar". Filomena teria sido a maior incentivadora em suas primeiras tentativas como tradutor. O casal era bem considerado nos meios literários de São Paulo e, ao final de suas vidas, doaram uma rica obra homeriana à Academia Paulista de Letras. Ele também pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Carlos Alberto Nunes veio a falecer em Sorocaba no dia 9 de outubro de 1990. Seus restos mortais foram levados ao local onde estão os de sua esposa, no cemitério municipal de Angatuba. No túmulo consta a frase: "UIXERUNTQUE MIRA CONCORDIA PERMUTUAM CARITATEM ET IN UIGEM SE ANTEPONENDO". Não deixou filhos. Obra Em 1938 publicou pela editora Elvino Pocai o poema épico nacional "Os Brasileidas". Graças ao poema foi convidado a preencher a vaga na cadeira número cinco da Academia Paulista de Letras e isso se concretizou no dia 8 de março de 1956. Ali ele também viria trabalhar no quadro adminstrativo. Júlio Dantas comentou certa vez: "O poeta é simplesmente extraordinário. Que dignidade de expressão, que nobreza de imagens, que alto sentido do estilo épico, que vigor e que movimento nas narrativas, que conhecimento substancial da língua, que domínio absoluto do verso branco, quase sempre escultural". Um dos maiores legados deixados pelo escritor foi o trabalho como tradutor de idiomas. Traduziu do alemão Clavigo e Stella de Goethe (1949), Judith de Christian Friedrich Hebbel (1969), do inglês o teatro completo de Shakespeare (1955), do latim a Eneida de Virgílio (1975) e do grego antigo a Ilíada e a Odisseia (1962), bem como as obras de Platão[7] . Trata-se de enorme patrimônio deixado à cultura nacional brasileira. Redigiu também os dramas Estácio (1971) e Moema (1950), além da obra Os Brasileidas. Corpus Platonicum - A sua tradução do grego do Corpus Platonicum (1973-1980) para a língua portuguesa é obra de referência nas universidades brasileiras. Na edição utilizou os textos em grego de Burnett (Platonis Opera, Oxford, 1892-1906), Friderici Hermann (Opera, Firmin Didot, 1891), Hirschigii (Platonis Opera, Firmin Didot, 1891) e da Société de Belles Lettres (Paris, 1920). Ademais, empregou a paginação de Stephanus/Burnet ao texto, o que explicitou à época o maior rigor de sua tradução. A tradução dos diálogos platônicos, editada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), tinha 14 volumes. O primeiro volume era introdutório, chamava-se Marginália Platônica. Entre 1986-1988 houve uma reedição 226
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_da_Costa_Nunes
de três desses volumes. Entre 2000 e 2007, houve uma reedição de outros sete volumes da Obra, coordenada pelo sobrinho do tradutor, o filósofo Benedito Nunes. Atualmente, a editora da UFPA resolveu re-editar em 18 volumes, numa edição bilíngue (grego-português), os diálogos completos de Platão traduzidos por Carlos Alberto Nunes. Os primeiros 3 volumes são: O Banquete, Fédon (ou "Fedão") e Fedro. Ilíada e Odisseia - No caso da tradução da Ilíada e da Odisseia de Homero, Nunes conseguiu estabelecer uma rima inédita, feita diretamente a partir do grego antigo. Suas traduções de Homero são consideradas um paradigma tanto por filólogos quanto por helenistas no Brasil. No prefácio da edição da Ilíada, Nunes lembra da famosa questão homérica, comenta a posição de autores como Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff, Christian Gottlob Heyne e Heinrich Pestalozzi (no livro: "Die Achilleis als Quelle der Ilias") e, por fim, rejeita a unidade "intransigente" dos poemas (Ilíada e Odisseia), defendendo a Escola Analítica e o seu método. Ali ele explica: “O método analítico, fazendo ressaltar os temas e aprofundando os motivos poéticos, permite-nos surpreender o poeta, ou os poetas, no próprio ato de sua criação”. Teatro Completo de Shakespeare - Em 1954 Nunes termina a tradução da obra de Shakespeare, originalmente publicada pela editora "Melhoramentos". O tradutor certamente não é o primeiro a traduzir Shakespeare, mas é o primeiro a traduzir a obra completa em português. Para tanto, utilizou na tradução da prosa e de versos decassílabos heróicos. Em 2008, a editora Agir publica, agora em três volumes reunidos, o Teatro Completo de Shakespeare, totalizando 1.912 páginas. Obras Os Brasileidas (1938 - Editora Elvino Pokai e após, pela Melhoramentos) Beckmann (edição particular) Estácio (edição particular) Adamastor ou O Naufrágio de Sepúlveda (edição particular) Clávigo (traduzido de Goethe) Ifigênia em Tauride (ano 1964 Goethe-Instituto Hans Staden) Tragédias (traduzido de Friedrich Hebbel - Editora Melhoramentos) Shakespeare (tradução da obra completa - Editora Melhoramentos) Ilíada (traduzido do grego antigo - Editora Melhoramentos) Odisseia (traduzido do grego antigo - Editora Melhoramentos) Diálogos de Platão (tradução em 14 volumes, Editora da Universidade do Pará - Universidade Federal do Pará): Marginália Platônica: volume introdutório à edição completa dos diálogos Volume 1-2: Apologia de Sócrates - Critão - Menão - Hípias Maior Volume 3-4: Protágoras - Górgias - O Banquete - Fedão (2a. Ed. Belém: EDUFPA, 2002 - ISBN 85-2470216-8) Volume 5: Fedro - Cartas - o Primeiro Alcibíades Volume 6-7: A República (3a. edição, Belém: EDUFPA, 2000 Volume 8: Parmênides - Filebo Volume 9: Teeteto - Crátilo (3a. edição, Belém: EDUFPA, 2001 Volume 10: Sofista - Político - Apócrifos duvidosos Volume 11: Timeu - Crítias - O segundo Alcibíades - Hípias Menor Volume 12-13: Leis e Epínomis Virgílio (tradução) História da Academia Paulista de Letras.
JORGE NASCIMENTO227 8 de janeiro de 1931 Fez o primário na Escola Modelo Benedito Leite e o Secundário no Ateneu Teixeira Mendes. Em Belém do Pará, trabalhou dois anos no Conselho Nacional de Petróleo, de 50 a 52. Trabalhou em São Luis no Jornal do Povo, como revisor e repórter, 1956/58; após ser classificado em segundo lugar num concurso para revisor do Jornal do Brasil, trabalhou nesse periódico entre 1957/1959. Colaborava na revista Legenda, na década de 60. Andarilho, aprendiz de jornalista, poeta aprendiz... É em Recife que apura a linguagem e cria os primeiros poemas – Ausencia restituida é de 1972, muito elogiado pela critica. Lá foi revisor tipográfico, respectivamente, do Jornal do Comércio, 1974; do Diário de Pernambuco 1975 e Diário da Tarde, também em 75. De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou no Ministério da Educação e Cultura, como revisor de textos, indicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. De volta ao Maranhão, se reintegra à vida jornalistica e cultural do Estado,; Na Rádio Educadora, 64/66; no Jornal Pequeno, 75/79; no O Estado do Maranhão, 80/92, como repórter e copidesque; Secretário da Fundação Joaquim Nabuco, entre 1981/1982. Membro da do Centro Cultural Gonçalves Dias; funcionário da Secretaria de Cultura do Maranhão, e depois no SIOGE. De 1987 é Os mortos não leem os epitáfios das manhãs Auto-retrato Cresce dentro de mim, doloroso, humilde pranto; Alma surda e esquizofrênica, inútil de tristezas, Desertei da vida pela aspiração do amargo canto E mesmo assim ainda tive que banhar-me de torpezas; Quem agora irá prover a insanidade do meu sonho, Eu, que sempre tive o bem ajustado e negro desvario De nunca permanecer nas proporções onde me ponho, Errante e só, comandado pela minha bússola de desvio Sempre a refulgir, nos oceanos de uma sinistra paz; Meu reino imbecil, descoberto por defeituoso impostor, Repetente de todas as classes da infâmia sempre audaz; Minha terra sombria de obscenidade, na voz de um homem A quem determinaram inteira sujeição ao destino opressor, Abençoado, enquanto vida tiver, as horas que me consomem! De “AUSÉNCIA RESTITUÍDA, Poesia”, edição do Departamento de Cultura do Maranhão, Secretaria de Educação e Cultura, 1972. O livro está dividido em duas partes: “Átila” e “Nódoas de Carvão”, das quais foram selecionados os sonetos:
ÁTILA: Antes da Batalha Se, de repente, a presença da morte fosse mais além do pensamento, Numa definição de eternidade julgada para o obstáculo do castigo, O que seria de mim, sem filosofia para escapar deste vil tormento 227
BRASIL, Assis. JORGE NASCIMENTO - Uma Biografia de Jorge Nascimento. In GUESA ERRANTE, 20 de janeiro de 2006 , disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina651.htm, acessado em 11/05/2014 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/jorge_nacimento.html , dezembro de 2008
De dúvidas flagrantes para destruir o alvo do meu coração inimigo ? E padeço despido de metafísica ouvindo o lento suor cu.e vai crescer Dentro de minha rebelião pornográfica, contra este espírito de calma, Assassino mercenário, vindo do exterior doido para matar o meu prazer, Inútil e degenerada fortaleza da cristandade, jagunço dos céus da alma, Imaterialissimamente abstraio, caindo aos pedaços para vir saudar-me A mim, seu dono e senhor nas solidões onde o pântano nunca se atreve Com a megalomania dos seus bruxedos universais na tome de retalhar-me, Igual a tantos outros viajantes reverenciosos nas enfermarias esganados, Como as vacas esquartejadas no matadouro fulminante desta hora breve, Deslizando no corredor vermelho sem os gritos dos infortúnios lancetados !
O Arconte Executado A boca dos mortos é igual a um escorpião corrupto sem perspectiva, Observada apenas pelo verdugo quando vai se ajoelhar com o destino, Depois que os sentidos caíram com o olhar da fronte real e fugitiva, Longe do estrado, além. da crina verde do fantástico cavalo assassino, Amaldiçoando as pastagens toscas com os resíduos da geada indiferente, Doendo a imaginação com a infinidade dos longos amores já corrompidos, Antes de receber na masmorra o candelabro para iluminar o inconsciente E devolvê-lo aos mendigos farsantes e cruéis, na pocilga dos grunhidos, Reacendendo a vergonha da nudez que recorda o Santo da montanha homicida Para destruir o ilusionismo da sobrevivência, com o logro da eternidade, Quando tudo está consumado, até mesmo a última parcela da Ceia dolorida, Repercutindo nas trevas anónimas o grito selvagem do Inquisidor no cansaço, Onde a luz do jazigo será insculpida para a nascente origem da deslealdade, Com a epiderme da Face cravando-se nos antropofágicos filamentos do espaço!
NÓDOAS DO CARVÃO: Desencontro Sol é coletivo de relâmpagos, quando chovem estacas do pensamento, Descendo em verticalidade dolorida ao remontar o passado no desejo Pavoneando-se de lascívia, ao ver o negro antes do seu linchamento: Comovente macho africano, subjugado na raiva inflamada de um beijo Lambendo o corpo todo, contra a maciez dos seios nos olhos impuros Desta branca tão bela quanto o transatlântico voando pêlos espaços O peso de suas ancas para ferir anaconda enroscada acima dos muros De vegetais sanguíneos, defendidos por quatro serpentes: os braços, Mordendo-se desesperados na forragem dos cavalos, perto da vacaria, Agora em silêncio furioso rolando pela grama que logo se desprende No combate dos centauros de duas cabeças beijando o chão da agonia, Sem perceber o latido dos cães rastejadores atrás da honra perdida, Trazendo à frente o caçador de adúlteros num espanto que ofende: Olhando o negro agressivo espojado em bestialidade no animal da vida!
FRANCISCO TRIBUZI228 Francisco José Santos Pinheiro Gomes São Luís do Maranhão / 24 de janeiro de 1953 Filho do saudoso escritor José Tribuzi Pinheiro Gomes e da Sra. Maria dos Santos Pinheiro Gomes. Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil, em 24 de janeiro de 1953. Fez o curso primário no Instituto Lourenço de Moraes e no Colégio Zoé Cerveira. O segundo grau, no Colégio Nina Rodrigues. No Colégio de São Luís, o Curso Técnico em Contabilidade. Formou-se em Química pela Universidade Federal do Maranhão,UFMA. Profissionalmente, exerceu o magistério, nos colégios Nina Rodrigues, Almirante Tamandaré e Unidade Integrada Bandeira Tribuzi. Foi chefe de gabinete do Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente, no Governo João Castelo. É funcionário da Companhia Energética do Maranhão, onde trabalha, há 16 anos, como assessor de Comunicação Empresarial. Do primeiro matrimônio com Izaíde de Araújo Rodrigues, nasceram Clarice Rodrigues, poeta, e Vinicius Tribuzi Pinheiro Gomes. Do segundo matrimônio, com Maria das Dores, nasceram Artur e Raul Tribuzi. A priori, optou pela pintura, seguindo a trilha do italiano Domingos Tribuzi, tio-avô do seu pai. Expôs seus trabalhos em várias mostras, nas quais logrou prêmios. No final da década de 70, ele entremisturou-se de pintura e literatura: “achava, a princípio, que a pintura era a minha arte. Ela não deixou de ser a minha arte, mas foi suplantada por uma arte maior, que é a poesia”, observa. Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”. É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís. A antologia virou movimento", afirma. Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em Porto Alegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera. Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por Herberth de Jesus Santos e “Tempoema”, ambos de poesias. O terceiro, intitulado “Sob a ponte”, reúne contos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal. Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”. Seu pai, Bandeira Tribuzi, num plano espiritual superior, certamente retribui o orgulho que o filho sente do pai. E em nome do pai, do filho e da poesia, Francisco Tribuzi encontrou sua própria identidade: “Por mais 228
CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem). In RECANTO DAS LETRAS, Disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2394790, acessado em 24/04/2014. 50 ANOS DE FRANCISCO TRIBUZI. In Suplemento Cultural e Literário JP GUESA ERRANTE, publicado em 29 de novembro de 2005. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina224.htm, acessado em 24/04/2014
que eu não quisesse, todos os dias eu amanheceria com a poesia norteando todo os meus caminhos. Por mais que eu quisesse fugir da poesia, ela continuaria me perseguindo e eu me sinto feliz, por ser um eterno aprendiz dela.” Francisco Tribuzi é da geração de Rossini Corrêa e Cunha Santos Filho. De livro, publicou apenas Verbo Verde, poesia, composto e impresso pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís, MA, julho, 1978. No entanto, participou de várias antologias, entre outras, A Atual Poesia do Maranhão, organizada por Arlete Nogueira Machado; As Lâmpadas do Sol, organizada por Carlos Cunha, e em outras antologias como Hora de Guarnicê I e II, Poetas da Ponte; Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil. Também participou da revista literária Um Degrau. Tem premiação em vários concursos: Menção Honrosa Especial do 5º Concurso Nacional de Poesia, organizado pelo Instituto de Poesia Internacional, Porto Alegre-RS, dezembro, 1972; 1º lugar no Concurso de Poesia Dia de Luz, da Companhia Energética do Maranhão – CEMAR, em 1995, com o poema Delirium Tremens, Medalha de Ouro no 18º Concurso Nacional de Poesia, promovido pela revista Brasília, 1996. É membro fundador da Associação Maranhense de Escritores (AME). Tem alguns livros inéditos: Azulejado e Tempoema, poesia, e Sob a Ponte, conto. Ode Ao Jornalista Acorda que a cidade dorme e o silêncio perpetua a imensidão das coisas. Acorda que a madrugada é fria e principia a manhã sonhada. Acorda que logo mais o jornaleiro estará nas ruas e as notícias cruas desvendará: o que aconteceu, a vida que morreu nessa noite a mais. Noite em que o jornalista não dormiu e a tudo assistiu madrugada afora, e colheu a notícia na hora e aproveitou a essência da rosa recém-nascida para colocar em manchete no jornal de seus olhos onde não dormem nunca o Segredo e a Madrugada. (Poema do livro Verbo Verde) Delirium229 Vomitando nuvens no dia de chuva atropelo sonhos dos jardins de ócio no fel da fantasia falsa da uva criatura expulsa, réu do mau negócio Arrepios dissonantes de tantas noites vãs tecendo as trevas do abandono apagando os sóis telúricos das manhãs incendiando a noite irreal, no sono tanto mar defronte e tanta brisa eu turvando a vida do lado de dentro com a alma solta o corpo agoniza distorcendo o mundo no perdido centro Ó pesado álcool que me aprisiona ao submundo mudo dos precipícios na cadeia escura e cruel da zona 229
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onde bebo e como todos os hospícios Onde Deus que me levantasse desse chão de cuspe medo e solidão e me arrependesse e me atirasse desse mundo alheio para outro chão Onde sonhos sóbrios me arrematassem das trevas trêmulas da desilusão e num rio límpido me lavassem e me devolvessem pleno, salvo e são para o raiar de um novo dia feito do pão puro da poesia! (Do livro inédito Tempoema)
LUÍS AUGUSTO CASSAS230 2 de Março de 1953 Luís Augusto Cassas (2 de Março de 1953, em São Luis do Maranhão) nasceu longe, como as utopias, desenvolvendo a vocação para o horizonte. Trilha o caminho do meio, mas há risco de abocanhar o inteiro. Após ciclo de mortes e transformações, novo nascimento entre duas palavras. Tendência à profundidade, por estar sempre em queda. Teórico do mais. Hoje, discípulo do menos. Poeta do alto e do baixo, do externo e de dentro; às vezes é fogo; às vezes, vento. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo. Gosta de contemplar a unidade, dispersa na criação: "Embora o olho não perceba, sabe-o o coração'. A serviço da luz, do belo e do verso. Para ele, o mundo é pura poesia. Não é à toa que se chama universo231. No final de 2012, a Imago Editora, do Rio de Janeiro, fez o lançamento de A Poesia Sou Eu 232, em 2 volumes encadernados, com quase 1400 páginas, apresentando toda a sua jornada poético- existencial reunindo 16 livros publicados e 4 inéditos, além de alentada fortuna crítica. As partes e o todo finalmente se encontraram. A visão de conjunto infunde novo sopro vital e propicia novas leituras e interpretações. É um grande painel lírico, uma multiinstalação? Também. Além de uma visão panorâmica, permite a avaliação da jornada mental de um poeta frente à vida e ás questões do seu tempo. E a confirmação de que mesmo morando distante dos grandes centros de irradiação cultural, não se deixou abater nem quando teve de renunciar ao mundo, transformando chumbo em ouro, permanecendo fiel à sua interioridade e sem fazer concessões ao gosto pasteurizado da época. Com 696 páginas, o Volume 1 encerra, além do livro de estréia, República dos Becos, os títulos A Paixão segundo Alcântara (na versão recente acrescida de novos poemas), Rosebud, O Retorno da Aura, Liturgia da Paixão, Ópera Barroca, O Shopping de Deus & A Alma do Negócio, Titanic – Boulogne: A Canção de Ana e Antônio e Bhagavad-Brita: A Canção do Beco. O Volume 2 agrupa em suas 672 páginas os livros Deus Mix: Salmos energéticos de açaí c/ guaraná e cassis, O Vampiro da Praia Grande, Em Nome do Filho: Advento de Aquário, Tao à Milanesa, (inédito) Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário, Poemas para iluminar o Trópico de Câncer (inédito), A mulher que matou Ana Paula Usher: História de uma paixão, O Filho Pródigo: Um poema de luz e sombra, Bacuri-sushi: A estética do calor (inédito), A Ceia Sagrada de Miriam e O Livro, inédito que se desdobra dois: Livro I (O sentido – relatos da fumaça do incenso) e Livro II (O Paraíso Reencontrado). A Poesia Sou Eu, é um intenso e iluminado diálogo com o Verbo, um coro de muitas vivências interiores e um inusitado jogo verbal com o Eu Sou, matriz e self da Palavra
EPIGRAMA PARA UMA MANHÃ DE VERÃO Se por amor ou justiça, um dia eu brilhar, Na constelação a que me endereçaste, que eu não reluza como o sol do meio-dia, que embora forte, ofusca e a muitos faz cegar, mas resplandeça qual a luz de um sol de aurora, 230
http://www.youtube.com/watch?v=OZIJgeIciEI http://www.youtube.com/watch?v=L6Jz1qWnVC0 LUIS AUGUSTO CASSAS: UMA LEITURA ALQUÍMICA DA INFÂNCIA DO FILHO EM SÃO LUÍS. In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina285.htm http://hbois.blogspot.com.br/2012/03/poesia-luis-augusto-cassas.html http://www.mallarmargens.com/2013/12/14-coqueteis-liricos-de-luis-augusto.html http://severino-neto.blogspot.com.br/2014/04/a-poesia-segundo-luis-augusto-cassas.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/luac1.html http://www.sobresites.com/poesia/poeta/cassas.htm 231 http://luisaugustocassas.blogspot.com.br/ 232 http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/luis-augusto-cassas-entrevista-no-498/
fogo fátuo que a tudo e a todos propicia, e em cuja luz, tênue e clara, dela ninguém foge, a não ser a inútil sombra da poeira das estrelas. Liturgia da Paixão (Opus da Compaixão), 1997 HOMEM SENTADO NA PRAÇA JOÃO LISBOA233 Homem sentado na praça na solidão do domingo; na solidão desta tarde newyorquina, londrina, ipanemense, ludovicense. Homem sentado na praça entre rosas, estátua, namorados, — o olhar sociológico perscrutando a multidão: — homem universalmente sozinho como se estivesse sentado na tarde de Londres, New York, Paris, São Paulo, Buenos Aires, Rio, no Central ou no Hide Park na Praça de La Concorde da Sé ou 9 de Julho (o sol reclina-se nos bancos) o olhar baço-sol apagando — fitando perto, nenhum lugar; o pensamento solto — como pássaro — cria projetos de paz e igualdade que as nuvens desfazem. Ah entardecer! Já pensou em soluções coletivas para a cidade e a humanidade (agora idealiza pombos na mão como se estivesse em Veneza). Homem sentado na tarde absorto, triste, indiferente, ruminando a solidão do domingo: e nem percebe quando as andorinhas — como uma rajada de metralhadora — batem asas contra a Igreja do Carmo avisando que a missa das seis já encerrou e a voz do padre e a tarde se extinguiram. (CASSAS, Luís Augusto. República dos Becos. Rio de Janeiro - RJ: Editora Civilização Brasileira S.A., 1981, p. 86 - 87)
TRATAMENTO DE CHOQUE 233
http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/25/homem-sentado-na-praca-joao-lisboa-1403.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_augusto_cassas.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/Lu-s-Augusto-Cassas-animal-po-tico/
Os verdadeiros loucos vestem uniformes brancos e dirigem os hospitais psiquiátricos amarrados em camisas-de-força. À noite, uivam como coiotes desterrados e tentam o suicídio com seringas hipodérmicas conversando com Stalin, Hitler e Mata Hari. Mas eu advogo que estão lúcidos pelo olhar furioso que destilam. Segundo um relatório assinado pêlos poetas Artaud, Ginsberg e Salomon, nunca terão alta. (CASSAS, Luis Augusto. Rosebud. Poemas. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1990;103 p. Ilus. da capa Edgar Rocha. Diagramação e produção: Shirley Stefanowski. formato 21x21 cm. autografado. Col. A.M. (EA))
VIRIATO SANTOS GASPAR
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7 de março de 1952 / Nome literário de Viriato Santos Gaspar, que nasceu em São Luís, no dia 7 de março de 1952. Filho de Clóvis Roxo Gaspar e Sebastiana Santos Gaspar. Fez seus estudos no Liceu Maranhense. Participou do Movimento Antroponáutica. Foi classificado em vários concursos literários, entre eles conquistou prêmios de concursos da Academia Maranhense de Letras, da Prefeitura de São Luís e da Sociedade de Cultura Artística do Maranhão. Em 1970, foi Menção Honrosa no Concurso Antonio Lobo, da Academia Maranhense de Letras com o livro Portos sem Rumos. No mesmo ano, venceu o prêmio Sousândrade, do Concurso Cidade de São Luís, instituído pela Prefeitura Municipal desta cidade, com o livro Teodisséia. Em 1971, novamente ganhou o mesmo prêmio com 50 Sonetos. Colaborou em vários jornais de São Luís. No final da década de 70, viaja para o Rio de Janeiro e, posteriormente, estabelece-se definitivamente em Brasília, onde vive atualmente. Em livro, estreou em 1984 com a obra Manhã Portátil, a que se seguiram Onipresença, 1986, Lamina do Grito , 1988, e Sáfara Safra, 1994, obra premiada pelo Plano Editorial do SIOGE. Vários críticos se pronunciaram sobre o poeta. Oswaldino Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “ mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “ ... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “ Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.” Percorrendo o caminho vertiginoso por onde Viriato Gaspar manipula a linguagem no texto poético de Sáfara Safra, desaguadouro singular de inúmeras conquistas modernas a que teve acesso, percebe-se que ele tem o descortínio da estrada por onde os bons poetas começam e seguem, ao criar poemas que são paradigmaticamente, pela concisão e maturidade, exemplares. Se atentarmos para o que disseram Todorov, Pound, T. S. Eliot, na esfera internacional e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, aqui no Brasil, o aspecto paródico ou a recriação é que constitui a grande literatura, ou seja, encontrar uma nova maneira de dizer a mesma coisa já dita de infinitas maneiras. O próprio texto bíblico nos diz que “Não há nada de novo sob a face do Sol.” E Lavoisier, “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” É só aplicar o princípio científico a qualquer forma de arte e, então, chega-se à conclusão de que o que há, em verdade, são geniais arranjos. No caso Viriato Gaspar, as pegadas e rastros vão-se configurando e redesenhando através das dedicatórias dos poemas. Os nomes escolhidos soam como legítimas epígrafes: O Rastelo (a Ezra Pound); O Zôo (a Paul Éluard); O Selo (a José Saramago); O Escuro (a Mário de Sá-Carneiro); Os Restos Vitais (a Paul Valéry); Postal Vadio (a Jean-Arthur Rimbaud); A Logopéia (a Jules Laforgue); Fremilúnio (a Paul Verlaine); Boca da Noite (a Mário Faustino); O Anjo (a Garcia Lorca); A Porta (a Fernando Pessoa); A Gaze (a Gertrude Stein); O Salto Mortal (a Rainer Maria Rilke); O Carrapato (a John Donne); O Aluno (a Joaquim de Sousândrade); O (S)oco (a T. S. Eliot); O Brasão (a José Paulo Paes); As Tatuagens (a Stéphane Mallarmé); O Em Canto (a Carlos Drummond de Andrade); Hacéldama (a Anderson Braga Horta); Haiku (a Matsuo Bashô); A Gangorra (a Benjamin Moloise); O Pugilato (a Florbela Espanca); A Úlcera do Azul (a José Chagas); A Fomem (a Nauro Machado); A Clave (a Jorge de Lima); A Tempestade (a Cecília Meireles); A Engenharia (a João Cabral de Melo Neto); O Armazém (a Cesário Verde); O Prisma e o Arco-Íris (a Oswaldino Marques); O Trampolim (a Vladimir Maiakóvski); A Pirraça (a Manuel Bandeira); A Ponte (a Rainer Maria Rilke); Matinal (a Lago Burnett) e O Vôo (a Haroldo de Campos). Sáfara Safra é uma abundante colheita, uma viagem por alguns dos melhores caminhos poéticos da poesia neo-simbolista e moderna universal. A seleção de homenageados é um pretexto para que o poeta possa proceder a uma viagem lúdica por vários laboratórios poéticos. 234
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Referência, reverência via releitura, humildade necessária para, descobrindo a verdadeira tradição poética não acadêmica, saber, a partir de um paideuma (ordenação do conhecimento poético) cada poeta encontrarse na soma de poetas que leu e assimilou. A poética de Viriato Gaspar tem esse viés. Postal Vadio (A Jean-Arthur Rimbaud) eu quero escancarar as minhas portas para que entrem nuvens de mendigos e arrastem pelas minhas veias tortas os ferros velhos dos verões antigos eu quero escancarar a minha aorta para que sangre o vento pelas ruas e biquem em minha boca as aves mortas os crespos corpos das mulheres nuas eu quero arregaçar a minha alma, deixá-la calcinada na calçada, até que as minhas mãos saltem das palmas e mordam o mundo em mar e madrugada, e jorrem pelos poros dos meus dentes os rios que bebi nas mãos alheias e nos meus olhos sujos luas cheias da mesma insônia antiga dos doentes eu quero escancarar os meus sapatos, rasgar meu coração em postas turvas, deixar entrar em mim todos os gatos para lamberem o hálito da chuva. (p.46) Hacéldama (a Anderson Braga Horta) ó árduo território, onde Te lavro, semente de clarão, luar de fogo, e onde me jogo todo e turvo o roubo da noite-escuridão, oh descalabro da carne a descascar-me em sangue e lava: o coração é um sapo, em cujo aboio a alma se perde, dona, mãe, escrava, cheirando a trigo e recendendo a joio. ó árduo território do plausível, noturna obsessão de luas calvas, aqui Te lavro, Verbo, oh impossível jaula de vento, canavial das almas. aqui Te planto, Verbo, neste chão, agreste como as solas dos sapatos, para que roas o anzol do coração, para que cortes com teus dentes gastos a palma de meus dedos retorcidos, as lâminas das minhas clarabóias, e planes pelo mar dos meus sentidos teu brilho de punhal, sangrentas bóias, e mordas com teus olhos fulmegantes, com a luz de tuas trevas pelos flancos, não só as minhas mãos, mas meus instantes, e invadas toda a vida, como um cancro. II ó carne, lua magra a se espichar por entre os ossos podres na gamela
do tempo (porto ou pedra?) pó & mar, vitral de vícios, vulvas amarelas, raiz de solidão, jaula de vidro, que a vida é pouca (a vida é sempre pouca) e só nos restam as mãos, nossos sentidos, para inventar o sol da nossa boca, para rachar ao meio o que mais seja, e o que vier que venha (e sempre mais), que a vida é curta e a morte brotoeja por trás de cada instante, cada cais, a tocaiar-nos solta nas esquinas, a nos chamar do fundo do salão, cegueira escancarada nas retinas, punhal atravessando o coração.
JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO JORGE LEÃO Nasceu em São Luis, 27 de março de 1975, na Rua do Alecrim, em casa de seu avô. Na universidade, como estudante de filosofia, junto com um grupo de amigos, formou o grupo Evoé! de poesia. Atualmente, trabalha como professor de Filosofia do IFMA, Campus Monte Castelo, e participa em um projeto no bairro da Divineia, pelo Movimento Familiar Cristão, com um grupo de crianças e adolescentes, chamado Semeando a Vida. SONETO 1235 Aquele que cultiva a terra repõe o jardim no sertão da mata que gera, em guerra, as aves partindo da mão. Seu vôo, contínuo, refaz o chão pisado por pés rachados, como barco sem cais, sem norte, na vida dos Zés... Tudo, porém, é distante. Nada, contudo, é ausente da terra que volta ao presente. Como nos tempos marcados do santo naquela estante, dos grãos na terra pisados. SONETO 2236 Vejo e tudo o que vejo e revejo é desejo de volta ao arado parado em terra preta. Quando anoitece, mais difícil é pensar em pedras opacas, pois no céu o relampejo reacende a ternura da água, feito trombeta a soar nos ouvidos de quem vive a chorar... Contudo, a chegada da chuva fecunda a tristeza, logo em seguida as crianças acordam, saindo das casas, vencendo a dureza do chão, com úmidos sorrisos, saúdam a tempestade da vida ao som da beleza terrena, a lavar os sonhos que mudam: agora o que vejo é o pasto habitado pelo frescor do arado, agora movido, molhado... SONETO 3237 Eis que chega o que adormece, no encanto cristalino das rosas plantadas no segredo que cresce em silêncio, na espera das prosas ao redor da fogueira, com os olhos contando as lembranças do distante passado voltando. É sentida a hora da dura partida ao além, de inteiro e freqüente plantar na aridez da terra da alma a tortura do calor na ferida. É quente o vestígio na palma da mão, que se entrega a lavrar a semente da aurora no doce momento 235
O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 237 O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 236
dos sapos cantando ao canto do vento. ENTRE AS RUÍNAS DA ANGÚSTIA EM NAURO MACHADO238 O encontro do poeta com as ruínas da cidade, vendo-se enquanto visceral angústia de ser o pó que a cada dia perpassa a decrepitude do tempo. Eis o percurso inglório da poética naurina, em vigoroso processo de afirmação de um eu lírico perpassado pela angústia de fazer da poesia sua jornada humana por excelência. Como exemplo disso, é possível observar, em Pátria do Exílio (2006), que Nauro Machado lança-se a si mesmo e sua cidade natal, São Luís do Maranhão239, como horizonte poético de sua própria busca, mais uma vez vitalizando em sua poesia a “exploração aguda de todos os estados mais angustiantes da consciência humana” (LEÃO, 2001, p. 97). É neste cenário que a alma do poeta torna-se desse modo abrigo de um inquieto semblante fecundo, a narrar o percurso de suas periclitantes agonias diante das ruínas do tempo. Assim, diz o poeta: Sou a pátria do exílio agora, nela andando em minha essência. (MACHADO, 2007, p. 23) Ao tematizar sobre o drama de sua exploração mundana, no ser que caminha na fugacidade da existência, os versos de Nauro Machado nos apresentam uma cidade calcada pela dor de saber-se única em sua contínua asfixia. Este tema acompanha a obra poética do autor, como um traço manifesto de seu olhar sobre sua cidade natal. É, com efeito, a imagem de um corpo em decomposição, que aproxima o poeta de seu espaço em torno da miséria e do tempo em ruínas, tornando-se fecundo narrador de sua peregrina passagem pelas ruas de seu tempo existencial. Vejamos o soneto 10, de sua obra A Rosa Blindada (1990): Cantar-te-ei, cidade, qual se amada fosses até o final dos que têm ossos, para, no amor, cantar-te desamada a destroçar-me ao chão dos meus destroços. Cantar-te-ei, cidade, em todo e em cada imundo beco ou rua aos passos nossos, e em moribunda noite à madrugada trazendo o chumbo dos soluços grossos. Cantar-te-ei, cidade, o início e o fim com todo o corpo. E até no podre rim carregado por crápulas fiéis, cantar-te-ei, de imunda, o Senhor Morto me conduzindo ao cais do último porto onde dormirei eterno sob teus pés. (MACHADO, 1991, p. s/n) A cidade constitui, com isso, o encontro do poeta com a sua angústia cotidiana, sobretudo quando a vê em ruínas, abandonada pela vulgar passagem de quem apenas reflete sobre ela o traço dominante da atroz perda de memória com o seu útero. Por isso, a poesia de Nauro Machado reveste-se de imagens viscerais para dar ao corpo, que é também ruína, o espaço real de sua peregrinação. De modo a proclamar em Lamparina da Aurora (1998): Minha ofensa tomba Aos teus pés, cidade. (Inatingido alto do meu chão corpóreo.) (MACHADO, 1998, p. 333) A fugacidade da existência, que todo momento se volta como ponto reflexivo em sua obra, nos conduz à problemática visceral do corpo, e, desse modo, o poeta sente-se em estado de vigília sobre o encontrar-se no tempo238
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Referências LEÃO, Ricardo. Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 2001. MACHADO, Nauro. A vigésima jaula. Rio de Janeiro: Olímpica Editora, 1974. ______. A Rosa Blindada. Brasília: Editora Alhambra, 1990. ______. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Imago Editora; Fundação Biblioteca Nacional Universidade de Mogi das Cruzes, 1998. ______. Pátria do Exílio. (Terceiro e último canto do poema Trindade Dantesca). São Luís, Lithograf, 2007.
Onde nasce no dia 2 de agosto de 1935.
espaço permanente de seu ethos240 natal, como um peregrino lutando por dar à sua lida diária o olhar de quem resgata do abandono e da miséria o pensamento situado como espaço a ser habitado pela poesia. Isto reflete a própria angústia do humano, como essencial peregrinação do ser diante da finitude. Contudo, será por meio de um verbo inaudito e avassalador que o traço poético do autor encontrar-se-á diante das contraditórias artimanhas de um tempo fatalmente arruinado pela busca do valor infértil das coisas produzidas em seu lócus citadino. Este conflito traz à angústia de sua peregrina memória poética o espaço propício capaz de desconstruir com o fim meramente utilitário das coisas e de seu pretenso domínio fugaz, enquanto redução do humano a uma inautêntica existência. Será, pois, com a palavra que se reconhece, no poeta, a remissão do humano, pois somente nela é possível a liberdade criadora da própria existência. Assim nos diz o autor de A vigésima jaula (1974): Pois sem palavra não pesa um corpo morto, e sem ela, a palavra, é morta a vida, só a palavra diz do peso, inda que a sustente o etéreo. (MACHADO, 1974, p. 7). Palavra que assume o compromisso de fazer-se presença daquilo de que se ocupa o poeta: a angústia do ser humano diante de sua finitude. Por isso, ainda nos afirma Nauro, em O cavalo de Tróia (1998): Não entra no poema o exterior a ele: o sossego infinito do universo. (MACHADO, 1998, p. 239) E não seria outro o ofício deste peregrino do ser, uma vez que é no interior do poema que se encontra a fecundidade da existência. Por isso, o poeta adoece com a realidade. O seu pathos, ou seja, sua capacidade de estar ligado poeticamente ao mundo, é de onde se vê inaugurado o desassossego do humano. A realidade é tomada pela angústia do poeta, ao lançar-se como tecelão da existência. Ele vai tecendo a existência, enquanto traça em versos os incansáveis gritos de sua agonia telúrica. Na mesma obra, ainda nos apresenta o autor a seguinte afirmação sobre a angústia: Não me aposentarei jamais da angústia (meu simples deglutir digere a angústia) a perseguir-me neste único emprego sem paga e valia, exceto a de ser-me. (Idem, p. 238). O poeta é, desse modo, penetrado existencialmente por saber-se como um contínuo processo de fazer-se como poeta no mundo. Assim, ele se faz no mundo como prisioneiro consciente de sua tarefa ocupacional, que reverbera em si o passar do tempo como momento oportuno, afirmando-se pela fecundidade da palavra. Por duas mil angústias, ó poeta, as coisas todas, que falam a sós, falarão por ti a voz plural. Completa. (MACHADO, 1990, p. s/n). Como Prometeu acorrentado à pedra do destino inexorável, o poeta existe na experiência cotidiana de sua arte, como devorado pela águia de um deus inclemente, ao visitá-lo pelo acordar a cada dia sedento por um novo parto da palavra. Neste espaço situado, ele se descobre alguém que fala da angústia humana, pois a traz consigo visceralmente. Como Ariadne, ele lança seu fio existencial no labirinto do tempo. Contudo, não espera ser libertado por Teseu deste seu habitat visceral. Por debaixo dos espinhos das linhas em branco do papel à sua frente, o poeta aprende, assim, a cada hora sofrida, a deitar-se ao lado de seu destino humano, e de sua ocupação originária, fecundada pela angústia de ser poeta por toda a existência. E em sua cidade este drama renasce a cada dia. Será neste cenário, escavado pela solidão do fazer-se duramente poeta, que a palavra ressoa nas ruas, ruínas e becos da vetusta cidade. Enquanto corpo, pelo cotidiano de seus passos, o olhar arguto do poeta refaz a trajetória de uma história fadada à decrepitude no tempo do seu findarse. 240
Palavra grega para designar “morada”, “habitação”, “cuidado”.
Não obstante este drama fatídico, o poeta descobre-se, pelo encantamento de sua fecunda imaginação, refazendo-se em busca de um ser mais pleno de poesia. Ainda que seja desesperador viver diante do perceber-se faminto de vida, tendo à frente a sua terra natal abandonada pelas pedras de uma visão turva e envelhecida, o poeta lança sua sina como um chão a ser pisado pelas torturantes feituras de seu próprio fenecer. Ó terra do meu medonho Despertar horizontal, No imaginário que ponho Aberto para o real, Querendo sonhar meu sonho Antes do sono final! (MACHADO, 2007, p. 77). Na solidão de seus estreitos espaços, a cidade fecunda a imaginação do poeta, enquanto observador da morte em vida, vendo com isso o drama de sua existência enquanto fertilidade do ser, transmutado pela dor em seu abandono temporal. Ó São Luís, chão que é mais Do que tudo o que me fez: Se é Natal, e tudo é paz, Sem Maria alguma em prenhez, Eu sou quem morto em mim jaz, Vivendo a morte outra vez. (Idem, p. 72). Encontramos, portanto, uma leitura da angústia indissociável do ser que se situa no espaço-tempo de sua cidade. Aqui reside uma das mais percucientes abordagens existenciais da poesia naurina. Por lançar-se como cenário cotidiano de si mesmo, o poeta, e com ele a cidade, encontram-se em constante processo de interlocução, no chão árido de suas vicissitudes. E pela terra interposta Entre mim e a sua medida, Esse sonho é como a aposta Que fiz entre mim e a vida: Eu, a carregá-la na costa, Ela, a olhar-me em despedida (Idem, p. 78). Como palavra situada no pesadume de sua finitude, o poeta invoca a dor de uma existência que se doa no espaço de uma vida dedicada diuturnamente ao drama inquebrantável de sua peregrinação mundana. Assim, vê-se na poesia de Nauro Machado um trajeto onde o ser do poeta está entranhado com o ser de sua cidade, pois nela se faz e refaz a angústia de tornar-se o que é, ou seja, poeta, que se vê na dureza de seu ofício a fecundar a palavra com o ser de sua alma em angústia.
Fechado o cico da independĂŞncia serenaram os arrufos pouco a pouco, e dentro de alguns anos eram todos filhos da mesma pĂĄtria, na glorios tarefa d faze-la grande e propera.
CARLOS ALBERTO MADEIRA241 16 de março de 1920 # São Paulo, 4 de junho de 1998) Filho de José Francisco Madeira e de D. Juliana da Conceição Madeira. Era casado com a Sra. Maria da Paz Domingues Abreu Madeira. Fez o curso primário no Grupo Escolar Antonio Lobo, curso secundário no Liceu Maranhense, curso de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Centro Caixeiral, concluído em 1950, todos em sua cidade natal. Ingressou posteriormente na Faculdade de Direito de São Luís, conquistando o título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais no ano de 1956. Desde muito jovem, aos 14 anos, começou a trabalhar como funcionário (telegrafista) da Estrada de Ferro São Luis Teresina (de 1935 a 1943) e depois no Departamento de Correios e Telégrafos, a partir de 15 de dezembro de 1943, permanecendo durante um ano. A seguir, em 15 de dezembro de 1944, ingressou na Panair do Brasil, onde desenvolveu suas atividades até 15 de fevereiro de 1965. Durante o período de abril de 1961 a abril de 1963, integrou o Conselho Consultivo da Fábrica Nacional de Motores. Exerceu a advocacia no Rio de Janeiro, de 1957 a 1965, quando retornou ao Maranhão para assumir o cargo de Assessor Jurídico do Governador, em 1966. Ainda em 1966 ingressou na Magistratura, como Juiz Auditor da Justiça Militar do Estado do Maranhão, sendo, no ano seguinte, nomeado Juiz Federal da Seção Judiciária do Maranhão, da qual foi Juiz Fundador, permanecendo no cargo até 1977. No período compreendido entre abril de 1967 e junho de 1972, atuou como Membro do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Em 1967 foi Membro da Comissão Redatora e Relator do Anteprojeto da Constituição Estadual do Maranhão e da Lei Orgânica dos Municípios, sendo Relator do Anteprojeto da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, do Estado do Maranhão. Foi Professor Fundador e Titular da Cadeira de Direito Administrativo da Escola de Administração do Estado do Maranhão, Professor Emérito da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo e Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Maranhão. Como Professor convidado, ministrou aulas de Direito Administrativo, em 1982, na Escola Superior de Administração Fazendária, participando do Curso de Especialização em Direito Civil, para o corpo docente do Ceub, igualmente em Brasília. Por decreto de 6 de dezembro de 1977, foi nomeado para o cargo de Ministro do Tribunal Federal de Recursos, sendo empossado aos 19 dias desse mesmo mês e ano. Escolhido pelo Tribunal Federal de Recursos, participou como Juiz Substituto do Tribunal Superior Eleitoral, a partir de outubro de 1979, passando a Efetivo no biênio 1981-1983. Foi Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral, em exercício, de 25 de setembro de 1981 a 17 de dezembro do mesmo ano, e, como titular, de 18 de dezembro de 1981 a 25 de agosto de 1982. Presidiu a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos, de junho de 1980 a junho de 1985, sendo eleito Vice-Presidente da Corte em junho de 1985, função que desempenhou até setembro do mesmo ano. Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por decreto de 4 de setembro de 1985, do Presidente José Sarney, na vaga decorrente da aposentadoria do Ministro Décio Miranda, tomou posse em 19 do mesmo mês. A partir de 1991, passou a desempenhar as funções de Consultor Jurídico do Banco do Estado do Maranhão. Realizou conferências abordando os seguintes temas: “O Supremo Tribunal Federal”, na Universidade Federal do Maranhão (setembro de 1978); “Aspectos da Lei de Execuções Fiscais”, na Associação dos Juízes Federais, em São Paulo (dezembro de 1980), “Direito Civil e Direito Público”, no Centro de Ensino Unificado de Brasília — CEUB (1982) e “Problemas do Mandado de Segurança”, na Associação dos Magistrados do Maranhão (1983). Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 34. Faleceu em São Paulo, em 4 de junho de 1998. Publicou os seguintes trabalhos jurídicos: Conversão dos Atos Jurídicos (1963), Efeitos da Falência nos Contratos de Trabalho (1965) e A Cláusula Escalar e a Segurança dos Contratos. 241
MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Madeira http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=24
GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA 25 de Março de 1835 / 25 de Julho de 1876 GENTIL BRAGA ou Flávio Reimar (pseudônimo) nasceu em São Luis, (1834242 ou 1835, conforme a fonte)243 nasceu a 25 de Março de 1835 e faleceu a 25 de Julho de 1876244. Formou-se em direito na Faculdade de Recife. Foi advogado, lente de retórica e filosofia e deputado provincial de geral. Promotor Público (entre 1855 e 1858) de Codó, Caxias e Alto Mearim (São Luís Gonzaga)245. Trabalhou com folhetins o que o tornou bastante popular. Entre suas obras literárias destacam-se o “`Parnaso Maranhense”, “Três Liras” e “Entre o Céu e a Terra”, o poema conhecido como Clara Verbana. Em sua residência, Gentil Braga movimentava a sociedade da época com o talento de artistas, poetas e intelectuais da época. É um dos patronos da Academia Maranhense de Letras. OBRAS Sonidos - livro de poemas. Entre o Céu e a Terra - folhetim. A Casca da Caneleira: (steeplechase) romance por uma boa dúzia de Esperanças2 . O ORVALHO246 Nas flores mimosas, nas folhas virentes Da planta, do arbusto, que surge do chão, Reúnem-se as gotas do orvalho nitentes, Tombadas à noite da aérea solidão. . Provindas dos ares, dos astros caídas Em globos argentos de um puro brilhar, Descansam nas flores, às folhas dão vida, Remontam-se aos astros, erguendo-se ao ar. . A luz das estrelas, do vidro mais fino O trêmulo, incerto, brilhante luzir, Não tem maior beleza, fulgor mais divino, Nem pode mais claro, mais belo fulgir. . E o sol, que rutila no manto dourado, Feitura sublime das nuvens do céu, Beijando estas gotas com um beijo inflamado, Desfaz tais prodígios nos beijos que deu. . Quem foi que as vertera, quem foi que as chorara, Quem, límpido orvalho, do céu vos lançou? Quem pôs sobre a terra beleza tão rara? Quem foi que nos ares o orvalho formou? . Dos anjos, que outrora baixaram da esfera, Morada longínqua dos anjos de Deus, São prantos o orvalho, que amor os vertera, Depois que perdidos volveram-se aos céus. . Baixados à terra, sedentos de amores, Gozaram delícias de um breve durar. Depois em lembrança dos tempos melhores Os anjos à noite costumam chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val. . E os anjos sozinhos vagueiam no espaço, 242
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentil_Homem_de_Almeida_Braga http://www.cultura.ufma.br/paginas.php?cod=5 244 http://expressoespoeticasuniversais.blogspot.com.br/2013/07/o-orvalho-por-gentil-homem-de-almeida.html http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=12593 245 http://www2.mp.ma.gov.br/memorial/indememorialgaleriapromotpublicoimperio_gentil.asp 246 http://www.jornaldepoesia.jor.br/gbraga01.html http://www.escritas.org/pt/poemas/gentil-braga 243
Buscando as imagens, que o céu lhes roubou, Seguidos das nuvens, do lúcido traço, Que o brilho das asas trás eles deixou. . E a voz que dos lábios lhes sai suspirante Semelha um queixume pungente de dor. E o ar, que circula girando incessante, Repete os suspiros só filhos do amor. . Em vão tai suspiros, tão tristes endeixas, Pesares tão fundos são todos em vão. Ninguém os escuta; carpidos ou queixas Vai tudo sumido na etérea solidão. . E os anjos, que outrora viveram de amores, Gozaram delícias de extremos sem par, Saudosos relembram seus tempos melhores E tem por consolo seu triste chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val.
JOSÉ NASCIMENTO MORAES
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São Luis / 19 de março de 1882 # 22 de fevereiro de 1958 José do Nascimento Moraes nasceu em São Luis do Maranhão, no dia 19 de março de 1882 e faleceu em 22 de fevereiro de 1958, aos 76 anos. Foi poeta, romancista, cronista, ensaísta e jornalista. Além disso, alcançou os cargos de presidente da Academia Maranhense de Letras e professor do tradicional Liceu Maranhense. Descendente de escravos, Nascimento Moraes lutou, por meio de artigos jornalísticos, muitas vezes publicados sob pseudônimo, contra o mesmo preconceito de cor que precisou superar para obter o reconhecimento profissional e literário. Também em sua literatura, o escritor abordou de maneira crítica a temática do preconceito racial, sendo que seu livro de maior destaque, Vencidos e degenerados, primeiramente publicado no Maranhão em 1915, discute as consequências do 13 de Maio de 1888. Sobre a obra, afirma Manoel de Jesus Barros Martins: O cotidiano de São Luis, subsequente à abolição da escravatura, foi por ele mapeado anatomicamente, analisado sociologicamente e narrado com sagacidade e rigor dialético. Isso permitiu-lhe a montagem de um retrato multifacetado da vida ludovicense, no qual foram gravados com tinta naturalista (...) suas tensões sócio-culturais subjacentes, nuances da atmosfera abafadiça da decadência, reveladoras do desequilíbrio vigente em todo o corpo social tomado como objeto da narrativa. (MARTINS: 2002, 36).
José do Nascimento Moraes casou-se com Ana Augusta Mendes Moraes, com quem teve sete filhos: Nadir, Raimundo, João José, Ápio Cláudio, Talita, Paulo e José Os dois últimos, Paulo Nascimento Moraes e José do Nascimento Moraes Filho, obtiveram reconhecimento como importantes poetas e jornalistas. José do Nascimento Moraes Filho foi, inclusive, responsável pela descoberta e publicação de Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, provavelmente o primeiro romance escrito por uma afrodescendente no Brasil. O autor foi uma grande figura do cenário maranhense do início do século XX, destacando-se por suas obras jornalísticas e literárias, que focavam, sobretudo, a contraposição das questões elitistas e abolicionistas. Lutou contra os conceitos racistas da época, atraindo aliados e inimigos à sua causa. NASCIMENTO DE MORAES em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem248: “A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (2000, p. 95); em outro trecho da obra de Nascimento de Moraes, em que é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Nascimento_Moraes http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/109/dados.pdf 248 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO.
JOSÉ RIBAMAR PINHEIRO249 13 de junho de 1900 # 12 de setembro de 1947 Nasceu em São Luis a 13 de junho de 1900 e faleceu na mesma cidade em 12 de setembro de 1947; Jornalista e poeta, foi figura das mais expressivas de sua geração no meio intelectual provinciano, tanto que ao desaparecer ocupava a presidência da Academia Maranhense de Letras, em que fundara a cadeira 22, patroneada por Humberto de Campos. Foi diretor do Departamento Estadual de Imprensa e propaganda e Secretário Geral do Estado do Maranhão, e primeiro diretor artístico da Rádio Ribamar, de São Luis. Bibliografia - Catecismo Civico (19?); Discursos e conferencias (19?); Luar na estrada longa (1946); deixou inéditos: As mentiras da Felicidade; e em colaboração com Guimarães Martins, Verdi de Carvalho – o Franz Lehar brasileiro. GEMENDO E SONHANDO Embora viva o sofrimento afeito, Tenho, entanto, apesar da vida incalma, Orquestrações estéticas no peito E belezas latentes dentro dalma. Seja o mal, do meu corpo, sem remédio, Tragando fel, comendo amargo pão, Como Verlaine, inspiro-me no Tédio, Em remigios, buscnado a Perfeição. E esta ânsia, que me impele para Cima, Na tortura da intérmina escalada, Faz-me, ainda, mais, ao lavorar a Rima, A sensibilidade requintada. Mas, bendigo essa Dor, se o sofrimento Constela de Emoções a Estrofe clara E esmalta de harmonia o Sentimento Para Firmar uma Estesia rara. E gemo. E sonho. E é assim o meu viver. Mas, por Deus, abençoo este Penar Que me dá, entre a mágua de Gemer, A sensação divina de Sonhar. (in Luar da estrada longa...)
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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 226-227
JUSTO JANSEN FERREIRA
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16 DE MARÇO DE 1864 / 8 DE NOVEMBRO DE 1930 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
NASCEU EM SÃO LUIS EM 16 DE MARÇO DE 1864. FILHO DE TRADICIONAL FAMILIA MARANHENSE, SENDO SEU PAI O MÉDICO JOSÉ JANSEN FERREIRA: RESIDIA NA RUA RIO BRANCO. Formou-se em Medicina na Bahia, onde foi contemporâneo de Nina Rodrigues. Geógrafo, publicista, professor catedrático de Geografia Geral e Corografia do Brasil do Liceu Maranhense e de Física e Química, e Mineralogia da Escola Normal do Maranhão. Lecionou também no Instituto de Humanidades. Fundador da cadeira n. 4 da AML, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, e da Sociedade de Medicina do Paraná. Doutor em Medicina, era socio correspondente de varias sociedades cientificas estrangeiras, como a Sociedade Astronomica de Paris e de Geogrfia de Lisboa. Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e seu primeiro presidente (12926-1927. Teve assento na cadeira 19 por ele fundada. Com o aumento das casdeiras deste Sodalicio, foi escolhido patrono da cadeuira 30. Na âmbito da geografia, implantou o ensino intuitivo de Geografia Física, administrativa e econômica através de conhecimentos diretos de determinada região habitada pelos alunos, o que orientaria na compreensão geral da geografia. Elaborou Carta Geográfica do Maranhão, Planta geográfica da Ilha de São Luis e Planta da Cidade de São Luis, todas publicadas em Paris em 1903, e nesta caputal em 1912. No governo de Luis Domingues adaptou-as ao ensino do Liceu Maranhense. Foi o sistematizador da cartografia maranhense. Foi um dos fundadores da Escola Onze de Agosto – Socioedade Promotora da Instrução Pública. Com o livro ‘A barra de Tutoia”, estabaleceu os fundamentos teóricos que puseram fim as duvidas sobre os limites a leste entre o Maranhão e o Piaui. Publicou artigos em revistas especalizadas sobre o ensino da Geografia, e a Barra de Tutoia em revista do Norte, de 1901 a 1903. Faleceu em 8 de novembro de 1930, nesta Capital. Bibiografia251 Fragmentos para a Corografia do Maranhão (1901); A Tuberculose (in Revista do Norte, 1902); O ensino da geografia (in Revista do Norte, 1903); a barra da Tutóia (in Revista do Norte, 1903); a proposito da carta geogr´sfica do Maranhão (1904); Breve noticias sobre o ensino da Física, Química e Mineralogia no Maranhão (1907); a viação ferrea no Maranhão (1927); A mulher e o ensino primário (1910); Discurso à professora normalista (1910); Pelo Maranhão (1916); Discurso proferido na sessão inaugural da Academia Maranhense de Letras (1917); A divisória pelo Parnaiba (1921). CANDIDO MENDES 250
Por Joseth Coutinho Martins de Freitas. IN OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 251
http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://books.google.com.br/books/about/A_barra_da_Tutoya.html?id=L7oEAAAAYAAJ&redir_esc=y
Para patentear o apanágio de Candido Mendes na política, vou relatar um significativo e nobre gesto, em que, conjuntamente, se lhe delineou a feição moral, austera e até sublime! Discutindo-se, em 1880, no Senado, a cessão que o Piauí fizera ao ceará de dois municípios, em troca do território da amarração, e vindo a ponto a barra da Tutóia, Candido Mendes, baseado a história, no direito e na confiança da da inteireza de caráter e do espírito de justiça do leal adversário, respondendo ao aprte, asseverou que não vacilaria, se surgisse tal pleito em escolher pelo arbítrio o venerando Marques de Paranaguá, eminente estadista do segundo império, à data Senador pelo Piauí. A este eloquente passo, honroso tanto ao nosso representante quanto ao do Piauí, perfeitamente se ajusta a judiciosa observação do notável professor de direito, da faculdade Livre do Rio, o Dr. Lacerda de Almeida, contida nestas palavras: “Candido Mendes foi uma das mais fulgentes glórias do Império, pelo saber, pelo caráter, que era então menos raro do que o saber”. Nesse inolvidável dia, em que, no prélio, se empenharam luminares do senado, ouvido com a costumada atenção, elustrou Candido Mendes o assunto, revelando uma vasta e profunda sabedoria. [...].
EUCLIDES FARIAS EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA 23 de março de 1846252 # Belém, 11 de outubro de 1911 ou 26 de março de 1837253 # Belém, 19 de outubro de 1911 Poeta, sobretudo humorista. Colaborador do Jrnal Civilização, onde manteve a seção “Secas e Mecas”, sob o psudonimo de Joaquim de Albuquerque. Famosa a polemica que sustentou com Aluisio Azevedo, sobre O Mulato. Obras: Diversos (1875); Arabescos (1875). Cartas ao comprade Tiburcio (1880); Miscelanea (1882); CVartas a Pai Tobias (1883); Retratos a giz (1866); Brisas da Amazonia (1897); O tacacá (1908). O JABUTI O jabuti mais velho e já caduco, Que não pode mexer-se de canseira, É mais veloz ainda na carreira, Que o paquete chamado Pernambuco. Quem viaja uma vrz nesta maluco Promete não cair mais noutra asneira, A fim de não levar a vida inteira Como siri pra trás, sobre o tijuco. Como se fosse invaliudo perneta, Nunca pode fazer jornada franca, Pela carga, que leva, da muleta. Quem faz uma viagem nesta tranca, Quando msai do Pará com barba preta, Chega ao Maranhgão com a barba branca!
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MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976. RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.
RICARDO LEÃO254 RICARDO ANDRÉ FERREIRA MARTINS. 2 de março de 1971 Radicado em São Paulo desde 1998, com um intervalo de 2 anos (2001-2003) no Paraná, em Cascavel e Ponta Grossa. Reside atualmente em Rio Claro, interior paulista. Detém alguns prêmios literários, com destaque para o III Festival Universitário de Literatura e o Festival Maranhense de Poesia Falada — premiação em livro e menção honrosa, respectivamente, em 1997 e 1999. Já apareceu em algumas antologias e revistas. Esteve ligado aos grupos literários maranhenses Curare, Carranca e às leituras de poesia organizadas pelo sebo Poeme-se. Edita atualmente, com amigos, o jornal literário O Beta, em Rio Claro. Tem dois livros inéditos: Primeira lição de física (poesia) e Os dentes alvos de Radamés (narrativa). É licenciado em Letras (UFMA, 1997), Mestre em Letras (UNESP, 2000) e doutor em Teoria e História Literária (UNICAMP, 2009). Desenvolve seu Pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/CNPq). Atualmente, é Professor Adjunto da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus de Irati, Paraná. Publicou os livros: Simetria do parto (2000, poesia), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002, ensaio), Primeira lição de física (2009, poesia), Os dentes alvos de Radamés (2009, ficção) e Os atenienses: a invenção do cânone nacional (2011, ensaio), com o qual, em 2012, ganhou o Prêmio de Ensaio e Crítica Literária da Academia Brasileira de Letras. Ricardo esteve ligado a alguns movimentos culturais de cunho literário em São Luís, dentre os quais os Grupo Poemese, Curare e Carranca. Trata-se de um dos escritores mais profícuos da geração 90 no Maranhão. METAPOEMA Não quero o poema (ou a poesia) especulando acerca do que não sabe, ou se sabe, não revela: não o quero metendo o bedelho onde não for chamado, e nem diga (entre risos e versos) coisas fúteis como amor e nem se perca conjeturando o salário (de fome) do vizinho. Quero antes o poema (não a poesia) nas ruas, nos bares, nas esquinas (fatigado da existência) como um fuzil apontado para o balão de todas as ideologias. Quero o poema cruel terrível corrosivo lisérgico sangrento amargo mas antes de tudo solidário (que nestes tempos de crise toda ternura é pouca). 254
HTTP://WWW.GERMINALITERATURA.COM.BR/RICARDO_LEAO.HTM HTTP://JOSENERES.WORDPRESS.COM/2010/02/01/RICARDO-LEAO/ ESCRITOR MARANHENSE RICARDO LEÃO LANÇA LIVRO DE POESIAS NA GALERIA TRAPICHE. In O IMPARCIAL, São Luis, 25 de março de 2013, Caderno Impar, disponível em http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2013/03/25/interna_impar,132094/escritor-maranhense-ricardo-leao-lancalivro-de-poesias-na-galeria-trapiche.shtml , acessado em 28/05/2014 CAIRO, Luiz Roberto Velloso. RICARDO MARTINS [RICARDO LEÃO] - E a contribuição maranhense para a construção da nacionalidade. In GUESA ERRANTE, 14 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/ricardo-martins-ricardo-leao---e-a-contribuicao-maranhensepara-a-construcao-da-1290.htm , acessado em 28/05/2014. HARDMAN, Francisco Foot. UMA PESQUISA DE FÔLEGO. In GUESA ERRANTE, 14 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/uma-pesquisa-de-folego-1291.htm , acessado em 28/05/2014. ENTREVISTA DE RICARDO LEÃO a PESSOA, Ivan, in GUESA ERRANTE, edição de 7 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/entrevista-de-ricardo-leao-1292.htm , acessado em 28/05/2014
Não quero o poema (via aberta para o infinito) detrás dos guichês, nos out-doors, quero o poema livre como um pássaro que voasse (certeiro) à eternidade. Por esse motivo nada digo no poema que ele já não conheça: — além, é claro de dúvida, incerteza, solidão. REVELAÇÃO DE SÍSIFO A poesia, Fábio, roubou-me tudo. Mas deu-me, como prêmio, esta solidão. Dias e dias acumulados atrás de páginas, ainda virgens e inexploradas; o silêncio rouco das madrugadas; palavras sem sentido, fúteis tentativas de erguer uma parede ao redor do nada; milhares de poemas ainda não escritos; mulheres que não amam (e que não amarei nunca); muralhas de angústia, vozes sufocadas, hecatombes de palavras mutiladas; versos por fazer, que não dizem nada. A poesia, Fábio, não deu-me nada! (À parte disso, nenhum outro sentimento). Engano-me: — A poesia, Fábio, deu-me esta revolta! [De Simetria do parto] II O CORPO FOI QUANDO, na manhã seguinte, o círculo do céu fechou-se como um sinal, uma concha lúcida, escura e indevassável, de modo que não pude mais saber se o fim ainda principiava pelas frestas do silêncio. Aproximei-me e vi que o dia era belo e azul como uma pomba branca, exangue. Então, ordenei: "Haja Luz!". E houve luz. E vi que a luz era boa, e vi que o dia era bom. Mas não sabia mais porque tudo aquilo ainda me enfarava, ou porque o dia cheirava mal, entre corredores repletos de vermes e vômito, enquanto o cadáver, com um riso fácil, escarnecia de minha raiva indômita, sem motivo aparente. Neste momento, detiveme um pouco mais para observá-lo, aquele corpo ancestral que jazia há séculos ali, entre as flores, enquanto seu odor fétido se espalhava pelos quatro cantos do dia morto, sufocando a vizinhança com um hálito deletério e irrespirável. Nada em suas feições me pareceu reconhecível, de modo que seus traços fugidios em vão tentavam me comunicar algo que não conseguia mais lembrar, embora a minha memória me pregasse peças a todo o momento, sobretudo quando me deparava com a sua face bela e risonha desdenhando de meu esforço. Todavia, o fardo de sua presença já estava se tornando insuportável demais para carregar durante o tempo que ainda faltava para concluir a minha missão, o que me fez desejar a sua desaparição completa. Isto começou, a bem da verdade, a ser uma hipótese bastante aprazível, conquanto o dispêndio fosse bastante elevado até mesmo para mim. Eu estava certo disto, principalmente quando fui ao escritório fazer o levantamento por meio de planilhas que havia elaborado com todo o cuidado, atentando para todas as estatísticas, porém sempre obtendo, ao final, o mesmo irrisório resultado. Não havia, portanto, o que fazer, pois eu já não conseguia ocultar a sua podridão, apesar dos esforços ridículos que empreendi naquela tarde recompondo a duras penas o tecido gasto de sua pele, plantando hortênsias e murtas ao redor de minha residência a fim de estancar o mau cheiro que manava de maneira evidente e insofismável de meu porão. De qualquer modo, aquele cadáver estava consumindo quase todos os meus recursos, enquanto a minha criatividade, por igual, começava a escassear diante da ausência de expedientes que certamente poderia usar para o meu ambicioso projeto. Achei, por um momento, que já era tarde demais e que tudo estaria, de modo irremediável, perdido; o seu tecido já estava rígido, apesar do viço púbere que ainda havia em sua carne fresca e macia, enquanto as flores o recobriam, em vão. Só mais tarde percebi que o meu esforço era completamente inútil, como qualquer coisa que fizesse para compensar todo o investimento que fiz naquele rito que meus ancestrais me deixaram como
legado. Eu, por meu turno, não poderia continuar por mais tempo naquela tarefa improfícua, uma vez que o corpo recusava-se aos ofícios que havia celebrado em sua memória. Não poderia, sobretudo, prosseguir calmo e indiferente àquela situação extravagante, posto que o meu desejo me consumisse em febres e delírios atrozes, que me esgotavam por completo, deixando em mim uma compleição débil demais para sair às ruas sem que fosse notado pelos meus verdugos. Aliás, há tempos que os pressinto em meus domínios, em momentos de silêncio e solidão, com a clara impressão que espreitam-me para além das fronteiras de minha propriedade. Não posso avaliar quem o seja, mas decerto não são os que vejo todos os dias, uma vez que percebo, com toda clareza, quem me hostiliza, apenas pelo olhar. Contudo, não sucedeu nada ao longo daquelas semanas de espera, pois ninguém, entre os que freqüentavam as cercanias de meu território, pareceu-me suspeito de alguma atividade que me fizesse temer pelo futuro. Entretanto, fiquei tão ocupado com o corpo, todos os dias, que às vezes esqueciame como meus inimigos costumam estar munidos dos mais variados e inteligentes ardis, embora com certeza pudesse me antecipar a todos os seus movimentos, bastando para isto que se colocassem em ação à luz do dia ou da noite. Enquanto isto, podia de forma tranqüila dedicar-me à leitura de meus antigos escritos, sentado solenemente à varanda, ouvindo os ruídos de galhos quebrando-se entre os arbustos da floresta e os uivos dos lobos para a lua cheia. Deste modo, os cuidados com o corpo não ocupariam o meu tempo em período integral, como vinha acontecendo durante as últimas semanas; isto me assegurava disponibilidade e ensejo para o exercício de outras tarefas que requerem a minha diligência, além de desviar a atenção de meus algozes para outra direção até que, exaustos e sem recursos, teriam que interromper a campana. O corpo, a esta altura, não teria mais qualquer importância para eles, pois a ausência de pistas os conduziria certamente a lugar nenhum, sendo obrigados, portanto, a abandonar o meu caso. Depois de algum tempo, o assunto não importaria nem mesmo a mim. O corpo, entretanto, ainda provocava em mim alguns arrepios e embaraços irremediáveis, o que tentei remediar mantendo-o afastado de toda exposição indesejável, sobretudo para o caso de algum incauto, porventura, invadir a minha residência com o propósito de denunciar-me, hipótese, aliás, pouco provável e, em definitivo, remota. Mas a presença do corpo continuava tenaz em minhas lembranças, pois era de uma mulher, linda como a morte, enquanto o tempo lá fora declinava sem que nada pudesse ser feito para evitá-lo. Como, portanto, eu poderia prosseguir em meu delito com total quietude e desprendimento? Eu havia feito uma compra de vulto em todos os supermercados e mercearias das redondezas, de modo que a casa estava lotada de víveres e ferramentas necessárias até o fim de meu empreendimento. Contudo, a algazarra das crianças que vinham brincar à porta de minha casa me incomodava de maneira contumaz, a ponto de desejar cometer uma infâmia, algo impensável, pois atrairia todo o ódio da vizinhança sobre mim, mas foi suficiente apenas espantálas com alguns expedientes que havia reservado para situações como estas. Depois disso, nunca mais as vi, então pude retomar o meu trabalho, embora toda aquela irritante distração por alguns instantes desviasse o rumo de minha concentração, exatamente como quando recebo visitas inoportunas, obrigando-me a refazer parte do percurso e tomar certos cuidados extraordinários com o cadáver, que não cessava de apodrecer às minhas costas. Quando isto acontece, às vezes sinto um bafejo, como uma golfada de vento ou o hálito quente de um animal, soprando a minha nuca por detrás. Sou obrigado então a cessar as picaretadas por alguns instantes e sair para ver o que acontece lá fora, em meu jardim. Por um momento, penso que as crianças estão de volta para infernizar-me com suas travessuras diabólicas, mas percebo que os ruídos são surdos e os movimentos da criatura ágeis e rápidos demais. Então sinto que a vida se desprende do calendário, olho para a minha varanda quieta, onde algumas pegadas de água e um odor de pétalas fazem-me esperar, sôfrego e atônito, a fim de ver o vulto que se movimenta habilmente entre as sombras de minha propriedade. Então, como se uma fera saltasse do meio da escuridão indiscernível, tomo um susto e vejo aquele corpo putrefato correndo e dançando, nu e selvagem, em meio às plantas, gerânios, bromélias, buganvílias e jardins esquecidos, sob os telhados, mirantes, sobrados e mais além, onde a vista do mar alcançava-me invariavelmente entre sorrisos e sargaços. Neste dia, senti um grande ódio apossar-se, espasmódico, de mim, e quis mastigar a flora com os próprios dentes, enquanto um calor intenso consumiu-me por dentro como um sol que ardesse impiedosamente sobre a cidade. Quis romper o assoalho do alpendre com as mãos, saltar entre os arbustos com a velocidade de um guepardo faminto e assaltar, de modo violento e contundente, a carne majestosa daquele corpo de formas espetaculares, branco e pálido, como uma página virgem. Foi neste momento, fulgurante e repleto de êxtase, que me arrastei em silêncio entre cadeiras e mesas, quando fui ter em um amplo espaço onde a ausência relinchava, fundindo-se ao nada e ao tédio. Era uma biblioteca, com uma variedade incontável de tomos e volumes, o que me despertou a curiosidade; tomei um dos livros à mão, comecei a folheá-lo de maneira distraída, quando descobri que aquele corpo possuía uma genealogia antiqüíssima e imortal. Percorrendo as páginas aleatoriamente, reconheci o seu rosto em uma das múmias da tumba de Ramsés; percebi-o entre uma das aias de Cleópatra e Marco Antonio e também o vi nos rituais dos templos de Elêusis; um afresco trazia uma perfeita descrição de seus traços mais peculiares, mas surpreendi-me de fato ao vê-lo em algumas tapeçarias persas e peças de porcelana do império de Alexandre, o Grande. Olhei com mais percuciência, e vi, por igual, Iracema, a virgem dos grandes lábios de mel. De qualquer modo, tudo aquilo fez sentido e começou a parecer-me extremamente inútil e sem importância. Levantei-me, fui até a janela, exausto e quase sem fôlego. Na desesperada tentativa de respirar, olhei a luz, a rua vazia, a porta aberta, meu corpo esquálido e nu, sob um céu palpitante de estrelas, quando olhei novamente para trás. Lá estava ele, o corpo, sorridente, de pernas abertas, como se me convidasse a penetrá-lo com fúria e asco. Fui. Contudo, o quarto estava escuro como a morte. Sangrei enquanto rolava até o canteiro com o corpo repleto de espinhos e garras que penetravam a carne dolorosamente. A noite era bela e turva. De repente, desatei a chorar. No meio das açucenas, angélicas, orquídeas, alecrins, comecei a chorar. Logo percebi que o cadáver ainda dava sinais de vida, então me aproximei de sua boca cheia de vespas e dentes que, no entanto, respirava, lenta e imperceptivelmente, de uma forma que quase não se ouvia. Ela gemia em meus ouvidos. Olhei para os seus seios que tremiam e intumesciam e tive vontade de mordê-los. Olhei para as suas pernas que se abriam e coravam e, em um derradeiro esforço, penetrei o seu sexo, com um desejo fremente e furioso. A garganta ardia, mas estava lúcido e senti que ela gozava com frêmito em minhas mãos. Pouco acima de suas sobrancelhas, jazia o orifício de uma bala, por onde escorria um líquido escarlate e vívido. Mas pouca atenção dei a este detalhe sórdido e insignificante, de modo que prossegui em minha leviandade noite adentro, sentindo o meu falo aquecido dentro de seu sexo cálido e macio com tal excitação que desejei permanecer naquela posição para sempre. Porém, o dia ameaçara transmontar, pois os primeiros raios de sol rompiam o horizonte; senti mais uma vez asco pelo que fazia e, sem júbilo algum, apartei-me daquele corpo que se decompunha e morria em meus braços; vi que era inútil trazê-lo de volta à vida, visto que o dia era escasso. Deixei-o ali, apodrecendo entre as folhagens, e fui dormir. No dia seguinte, não o
encontrei mais. Então percebi que não me recordava mais do rosto do morto. Fui novamente à biblioteca, mas todos os livros haviam desaparecido, como em Alexandria, sem que tivesse sobrado a sombra do pó. Na dolorosa tentativa de reconstituir a voz do morto, o sorriso do morto, os olhos do morto, o aroma do morto, quase morri. Levantei-me e olhei para o relógio mais uma vez. Era exatamente meio dia e alguma coisa pela metade. Olhei para a janela. Olhei para o teto. Por último, olhei para o meu sexo ainda duro como uma vara inflexível e cheia de sangue. Olhei ainda para o piano à minha esquerda e logo avistei a porta. Ganhei a rua. A cidade reluzia luminosa e frenética, enquanto a multidão, sem pressa, passeava pelas avenidas. Prossegui até à praça. Ela não estava ali. Fui até a escadaria. Ela não estava ali. E porque ninguém mais estava ali, onde antes o corpo estava, onde antes ela estava, suja e ordinária, uma prostituta que se vende a qualquer preço. Esta cadela insone, que se abre como uma devassa, de uma forma que somente os deuses podem compreender e aceitar. Era tudo. Todos os objetos estavam jogados na rua, espalhados pelo quintal dos fundos, de forma que a vizinhança toda acendeu as luzes, a luz do sol; esta mesma luz inóspita que nos queima, o sol, o sal, a sala, o pálio aberto, não decerto nesta ordem, mas um delito qualquer, entre as flores pueris de maio, onde o cadáver é somente mais um, como qualquer outro, ordinário e sujo, com o mesmo sorriso de que rimos há séculos de nossa própria precariedade e imundície. E é por isto que ainda resisti contra todos, que inventei o cadáver, o sol, este artefato limpo, de aço puro, a insígnia de um corpo que matamos, entre orgias e orgasmos. O cadáver, no entanto, ainda fedia de uma forma repugnante, mas tinha o hálito de uma fêmea que arreganhava as pernas em flor, rindo entre crisântemos e obscenidades, rolando fulminante em êxtase pela garganta do vale, entre lírios conjugados. De repente, caí no jardim, solitário, alegre e contrafeito. Nem percebi quando o meu membro rompeu o hímen silencioso do corpo, de uma forma sublime como a última ruína de um templo grego. Falo endurecido sobre o dorso incendiado de Apolo, o fogo ardia incessantemente pelo chão ainda úmido e escorregadio. O cadáver sorria, em meio às hortênsias, onde escrevi o meu nome, assinatura do diabo entre suas coxas. Depois, não o vi mais. Lembro-me perfeitamente do dia de sua partida. Uma chuva torrencial caía lá fora, enquanto a mobília mofava. O dia havia se partido, no meio do caos. Vi apenas duas colunas rachadas, sobre o solo recoberto de pegadas de animais estranhos, que a custo reconheci em meio ao inventário de pistas inúteis, por mim catalogadas em um dos tomos que salvei da biblioteca. Não havia mais nada o que fazer. O corpo, mais uma vez, enganara-me. [De Os dentes alvos de Radamés] A BATALHA 1. a espera O poema aguarda: aguarda, tranqüilo, o tranqüilo reinício da calma batalha na vasta planície de toda palavra, onde o nada é água que logo evapora; na vasta planície onde o verso arde, sob o sol quente, à procura de oásis; com líquida sede de brancos papéis e castas palavras; o poema, no deserto de toda linguagem, dir-se-á eterno, como se buscasse ao instante seguinte morder a longa língua, a cauda do nada, o núcleo do silêncio.
2. a trincheira Cavo este solo: chão pulverizado de áridas palavras, entanto cálidas; esta minha mão (de poucos dedos, fundos estigmas), todavia, escreve
(já sem esperança) sobre o solo áspero onde ainda brotam úmidas palavras; de onde brotam rosas pútridas, que nutrem a fome de podres sílabas; que nutrem, ácidas, o silêncio amargo de coisas sonoras presas à boca; esta rósea boca que não pronuncia certas palavras, invisíveis ainda.
3. o desafio De tua língua, poema, tu não me guardas; a palavra maldizente, invisível vocábulo; tua metáfora inviável; de ti, poema, lúcido, eu nunca me guardo; nesta manhã ácida, fruto do desamparo, a morte está longe (embora ao nosso lado), quase como um pássaro.
4. o anúncio O poema marcha quase sem fala; flores solitárias crescem do nada; logo surgem nuvens no céu aberto; a espera de um dia, assim, plantada, parece uma pedra no meio da sala; uma flor que brota da áspera poesia de uma palavra; uma palavra única, que dá o calmo início de uma batalha.
5. o combate De ti, poema,
não me guardo; teu belo rosto, esfinge do ocaso; tua tenra boca onde palavras brotam, insontes; o árduo combate de mudas sílabas; tua pele macia de carícias intata; tua mitologia de castos lábios; entanto, eterno, o sono prossegue durante a manhã repleta de tédio; cadela mordida por alvos dentes de alvar poesia, enquanto o poema (surdo vocábulo de força bruta), brota do nada.
6. o clímax O poema atravessa, como lâmina afiada, o silêncio pesado que cresce da fala; o trabalho da manhã, ainda não concluído, desta muda linguagem de sons e fonemas; roídos mecanismos, engrenagens da língua, do sigilo quase mudo em nossas bocas cheias de pútridas palavras; palavra, enigma do som, ainda não pronunciado, cuja sintaxe ainda jorra, como jorra a clara água da seca fonte; fonte que não sacia a sede, e jamais extingue a fome de outras palavras; vazias, em seu magro conteúdo, contudo quase tão belas como um homem morto em pé; palavras ainda livres de qualquer sentido, mas que jorram frescas da fonte, da fonte que nunca seca; as mesmas palavras que, belas, nascem de qualquer fonte; fonte de coisas puras, ainda sem nome; fonte igual a qualquer fonte; fonte de sons, de coisas ácidas, alucinadas; som que nos impele à fala; a mesma fala, soturna, que nasce de qualquer língua; do fácil silêncio
de qualquer palavra; deste combate diário entre o sono e a alegria, enquanto o poema cava o árido chão da poesia; palavra, difícil palavra, no verso ainda mínima que nasce, rosa tranqüila, em meio a um deserto de úmidas hortaliças. O poema jamais cessa seu trabalho inútil, ainda não concluído, pela extinta manhã. Enquanto surge o dia o poema atravessa, lâmina em brasa, a pele do silêncio: o núcleo do nada.
7. a trégua De ti, poema, louco, eu não me guardo; entre o nada e o silêncio, lavras o impossível; entanto, acima do espaço urbanizado do papel, tua bandeira tremula como símbolo de guerra.
LUCAS BALDEZ
POESIAS & POETAS
DILERCY ARAGÃO ADLER O meu primeiro Livro de Poemas, publicado em 1991.
Eu tinha 4 projetos de livros e esse foi o escolhido para iniciar a minha história de publicação, pela relevância do tema e entre eles estão: ESPAÇO FEMININO Dilercy Adler Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço... inusitado das normas do corpo do sexo do leite materno que eterno sangra do peito a jorrar a boca a dentro do homem! In: ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos -Gris, 1991p. 11 FRAGMENTOS DE MULHER Dilercy Adler Ser mulher é antes de tudo ser gente!
não é ser apenas mãe abnegada doce e sem defeitos imagem imaculada não é ser apenas mártir aquela que sofre no paraíso do lar doce lar entregando-se sem qualquer retribuição não é ser apenas a pecadora aquela que tentou Adão com o fruto proibido e assumindo toda culpa não é ser apenas o braço direito do homem sendo nada mais que um membro a mais do macho não é ser apenas a santa copiada da figura de Maria a pureza personificada assexuada não é ficar apenas atrás do homem sendo sua sombra que o empurra para a ascensão ou ainda para a falência... ser mulher é antes de tudo ser gente! um indivíduo completo com mil desejos e aspirações de toda ordem com conflitos defeitos virtudes e anseios com força e fraqueza concomitantes com sexualidade e candura... gente enfim não restos de ser humano ou um ser inacabado ou ainda mutilado mas um ser completo perfeito e plenamente potente! In: ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos -Gris, 1991p. 125
CORPO E PRISÃO Dilercy Adler Sinto-me presa em um corpo que impõe limites intransponíveis que me impõe papéis delineados que inspira amores que nem sempre quero e me tira a possibilidade de outros que eu queria tanto! sinto-me presa neste corpo que nem sou capaz de ver sob todos os ângulos! sinto-me numa prisão neste corpo nunca perfeito e mortal quando o mais desejo é transcendência total! n: ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos -Gris, 1991p. 103
EXPIAÇÃO Dilercy Adler Preciso "descer o Gólgota" sair do meu calvário deixar a minha cruz ... basta de sacrifícios!... necessário é descaracterizar-me do papel de vítima urge aniquilar minha porção mulher condicionada para sobreviver antes que morra de verdade minha porção gente indelevelmente... inata! In: ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos -Gris, 1991, p. 52
REPÚDIO AO ESTUPRO Dilercy Adler Estupro violência maior pra com a mulher violência maior pra com o sexual violência maior pra com o bom do amor! estupro aberração maior do desejo menor encarnação do desamor do ódio em lampejos de sadismo e de horror! estupro a negação do afetivo na carne a negação da sedução no desejo a negação do sublime no sexo a negação do homem e da mulher seja ele concreto seja ele simbólico ...o meu repúdio! In: Crônicas e Poemas Róseos-Gris. São Luís: Estação Produções, p. 84, 1991.
A ESSÊNCIA INVISÍVEL DO “ELA” Dilercy Adler Mesmo quando aparentemente ela é boba e superficial alienada e frívola existe dentro dela uma mulher incrível inesperada forte soberba linda e muito gente que precisa apenas ser buscada descoberta e livre
para sobrepujar o que fizeram dela ... o que a forçaram a ser e que ela infelizmente muitas vezes nem se dá conta!... In: ADLER, Dilercy Aragão. Crõnicas e Poemas Róseos -Gris, 1991p. 41 ABELHA MULHER Dilercy Adler Eu fui sempre tal qual abelha operária que trabalha trabalha trabalha... não ama não faz outra coisa só trabalha! vive no trabalho vive pelo trabalho que nem sempre ama que nem sempre quer! ó abelha rainha tão escondida tão encolhida tão espremida tão reprimida em mim te faz presente em minha vida! In: ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos -Gris, 1991p. 41
EU - POETA LOCALDilercy Adler Meu local teu local meu? teu? ateia eu sou apátrida apartada de rótulos de vínculos esdrúxulos desnecessários... poesia local? amo o mundo! nele estou dele sou do mundo inteiro... poeta local? sou! não só deste mundo de toda a galáxia axiológica onde impera o sol!
HOJE TEM PAPAGAIO NO CÉU DO DESTERRO Hoje tem papagaio no céu do Desterro tem papagaio tem céu tem Desterro!
mistura perfeita para a minha imperfeita humanidade - que femininasó podia testemunhar admirar o céu invejar os meninos a correr a gritar a verborrear impropérios impróprios para a provável pureza da menina.
imaginar... o voo do papagaio no céu tremulando ao vento do Desterro
impulsionado por minhas pequenas mãos de menina que mesmo sem estar no Desterro desterrada estava de minhas pulsões de minhas paixões infantis lá naquele tempo...
eu não podia empinar o papagaio... só olhava! admirava a sua sinuosidade sensual ao sabor vento!
Mas hoje teve papagaio no céu do Desterro!
ANTES QUE SEJA TARDE Dilercy Adler Acorda e vê! abre os olhos e vê! não apenas o que desejas mas - de fato o que existemesmo que te desagrade mesmo que seja triste! acorda e vê! abre os olhos e vê! a perfídia o egoísmo a inveja e a ambição mesmo quando o que desejas seja a igualdade a felicidade e a união... acorda e vê! abre os olhos e vê! quem diz amar seu país quando de fato - não ama quer só poder - o infelize o povo fica a sofrer acredita no que ele diz obedece aplaude defende e esquece o que não devia esquecer a panela vazia
a fome corrosiva a doença sem remédio a morte antecipada sem assistência... sofrida a casa que desaba dia a dia e soterra corpos sonhos enterra a alma na lama que o dinheiro vendeu. acorda e vê! abre os olhos e vê! quem a guerra incentiva para usar foguetes ogivas e grandes lucros obter .. abre! - abre mesmo logo os olhosvê quem só ama a sua vida e para vida dos outros não liga pode ser aniquilada pode acabar na rua e morrer! morrer de fome morrer de tédio morrer do ódio que vitimiza! acorda e vê! abre os olhos e vê! a bala direcionada ao coração de quem se ama e quer muito muito viver mas termina morrendo envenenado por agrotóxicos vorazes morre à míngua afogado em mentiras sem conhecimento algum... a vida morre acaba na rua sem paz sem lua sem poesia alguma!
JOÃO BATISTA DO LAGO NÚMENO De O que hei de ser depois daqui depois deste porto (in)seguro de miragens dúbias na selva de carcaças que proliferam corpos ausentes e de já milenares inconscientes? O que hei de ser depois daqui carregando este feixe de átomos juntamente com a constelação de corpos que me habitam desde o nada na incúria procura do sagrado negligenciado pelo desconhecimento? O que hei de ser depois daqui: um retorno infinito um cálice dos tempos sem fins que me fazem eterno no grande oráculo descortinado pelo transparente véu onde todo númeno me faz corporal
4 POEMAS DE SAMUEL MARINHO Publicado em janeiro 11, 2019 por Carvalho Junior https://quatete.wordpress.com/2019/01/11/4-poemas-de-samuel-marinho/?fbclid=IwAR0JZIAF6wxu51pumqMzWbw0pYQiTffvmBXCP7QchR8QF5cqXpLZZLMsns
Samuel Marinho |São Luís/MA|. Contador público e poeta brasileiro. Autor de Pequenos Poemas sobre Grandes Amores (e-book, 2002) e de Poemas In Outdoors (Editora Penalux, 2018). |facebook.com/samuel.marinho.566|
OS SUICIDAS NÃO LEEM SUAS TIMELINES NO DIA SEGUINTE eu não quero ser alguém na vida quero ser na vida alguém que não sabe o que quer quero ser homem quero ser trans quero ser mulher ser o pronome que nunca se definiu desfilar em poesia o meu ser vil desdenhar do anel de ouro que não me serviu riscar do mapa o caminho do tesouro ir pro matadouro com a consciência tranquila de que errado é o caminho dos que quase acertaram o alvo que nunca existiu eu não quero vencer na vida quero vencer em vida esse meu ser de guesa errante matar o desastre da sorte de ser aplaudido alguém triunfante depois da minha morte TEMPOS PÓS-MODERNOS não é o tempo que voa amor a gente é que não tem asas MATCH no doce balanço a caminho do mar as silhuetas denunciam a eternidade do gozo (quando os corpos se encontram os nudes agradecem) REPLY DO DIABO NO TWITTER DE DEUS escrevo certo por linhas portas se abrem
Sonia Almeida https://quatete.wordpress.com/2019/01/19/4-poemas-de-soniaalmeida/?fbclid=IwAR1X4x0uywBIaZVmeibfdoxbvbOC6ueitdVUuhzbKUhRXY2ZHfegNpIKZIU
Sonia Almeida |São Luís/MA, 29/03/1956|. Professora e poeta brasileira, membro da Academia Maranhense de Letras . É a autora dos livros de poemas Alegorias (1992), Penumbra (1998), Palavra cadente (2001) e Há fogo no jogo (2003). Os poemas aqui compartilhados foram extraídos do livro Alegorias, obra em que diz: Nua de mim mesma, desapareço para me encontrar.
INTIMIDADE Percorro meu corpo e, aos poucos, vou percebendo-me cruz de mim mesma. Pesa-me esse pensamento que não para e essa visão de mundo sem cortina. Pesa-me a espera, o desejo, a certeza da mudança diante da rotina e, em mim, essa tonelada de verdades que ainda não sei. Mas quero o comum inevitável de minha intimidade, onde espero sempre a ilusão de tantas novidades. Tiro a roupa de estreia e visto-me do lençol de tantas vezes: a mesma árvore, a mesma flor e o mesmo beija-flor que me confunde. Visto-me do lençol que me veste e me despe. Tiro meu cheiro e viro frasco de minhas essências. Escondo-me na mesma intimidade em que me mostro.
ASSOMBRO Acendo, então, uma vela, para ver se estou vendo direito… Forço a visão para ver refazendo-se a impressão de estar enganada. Enfim, acredito. Leio por uma fresta, pela qual espio e vou espiando sem abrir totalmente a janela, porque guardei as tintas: restam-me fantasmas, não fantasias. Assombro-me e busco ver na sombra de tudo o que olho uma cor de eterno — mas a tinta está na parede. Assombro-me e busco escutar agora o som do eterno: mas passou. É o eco que ainda vem chegando. A sombra me busca, mas a parede, de novo, não me contém. Sombrio… Luz quase apagada, sinto saudade dos fantasmas, fantasiados de felicidade passada. Vivo: por isso aprendo que fazer felicidade é olhar para trás ou para frente, sem se dar garantia, nem tanto: no passado (todos são outros); no presente (nada é bem assim); no futuro (tudo é perfeito). RODA, MOINHO!
Roda, moinho, nesse redemoinho de mim, que rola sempre indo em correnteza secreta. Discreta, calo em mim muito do que sinto. Insisto no que quero e espero o que chega, enquanto vou, em voos terrestres, presa em correntes que me amarram, mas que me deixa ir. Eu vou nesse destino que me empurra para o acaso. Deslizo e volto. Sem querer, desejo confiar. Sem pretender, amo. Sem esperar me surpreendo. Sempre.
QUINTAL A cor que escolho agora para vestir é o vermelho — gosto azedo de pitanga que me faz piscar pra mim mesma, trazendo viva aquela que miro e que então vira de qualquer jeito minha. Há uma bem verdinha, outro meio laranja, madurinha, pronta pra comer. Não importa: é aquela sem sono de infância e jeito de confusão. Bem pequena, um pouco pimenta, guarda sonho — conquista de espaço de vizinho — que seja: prenúncio de desejo forte de adulto com jeito de eterna criança. Quintal — pitangueira de uma só teimosia de roupa vermelha que hoje visto… Mágica — a cadela parida não reage. Provoco. O vizinho dorme, enquanto a pitanga me chama. No futuro, irei, nem que vestida de vermelho.
JUCEY SANTANA VOU EMBORA PRA ITAPECURU Lá sou amiga dos reis Inaldo, Buzar, Tarcísio Pimentel, Meireles e Tiago Willame, Josemar e Gonçalo Sem esquecer as rainhas Assenção, Mirella e as Teresas Maria Sampaio, outras Marias Vou embora pra Itapecuru. Vou-me embora pra Itapecuru, Terra amada onde nasci Lá tenho muitos parentes Amores que nunca esqueci Mariana, Gomes de Souza e Zuzu E tantos outros expoentes Vou-me embora, vou sem medo Vou pra Itapecuru É lá que é meu lugar Lá estão minhas lembranças Da época da minha infância Dos banhos no Luís Antonio Dos folguedos na poeira Nas noites de lua cheia Acenderei a fogueira Na noite de São João Para fazer simpatias E o futuro adivinhar. É lá... que eu quero ficar. Com amor puro e fecundo Nas festas da padroeira O padre Albino, um pai. Irei à missa aos domingos Cedinho a serenar Pra cumprir a obrigação E receber o perdão Das peraltices do mundo. Vou pra Itapecuru Lá terei a Ana Júlia Pronta para me salvar Da tirana correnteza Pularei cercas pra colher frutas Assarei castanha de caju Debaixo daquela mangueira
Banharei na grota fria Sonharei que sou mãe d’água Para proteger a nascente Ouvirei histórias de fantasmas E grandes sucurijus Pra embalar os meus sonhos Vou embora pra minha terra Vou para Itapecuru Em Itapecuru terei Muito arroz do Tingidor Farinha do Morro do Burro Macaxeira do roçado Visagens lá no Cigano O cemitério assombrado Meu querido Paulo Mina Contenda e Quebra Coco Cova e a Vaca Branca Vinagre e Buragi O histórico Kelru E a sua antiga fábrica De quebrar o babaçu Lá não terei tristeza Vou embora, vou embora Pra minha Itapecuru Muitas pedras no caminho Não atrasam meu andar Vou saltando uma a uma Para poder lá chegar Elas cobrirão o meu púcaro Onde dormirei, enfim Quero ir logo, minha gente
PRA ITAPECURU MIRIM. Do livro Sinopse da História de ITAPECURU MIRIM (2018), pag. 15, de autoria de Jucey Santana.
CLORES HOLANDA Poema Azul. Visto-me de azul e miro o firmamento. Vejo nuvens mergulhando no céu. O sol reflete raios no oceano celestial. Mergulho nas profundezas do meu ser. O meu corpo fica envolto de borbulhas de amor. Quero me enxugar com um manto azul. Voar, voar e me equilibrar secando meu corpo no ar. Pousar num colchão feito um pássaro azul. Seguindo a direção do canto do sabiá.
AYMORÉ ALVIM ESPIRITUALIDADE. Quem é Deus? Talvez uma utopia. Disse-me um dia um amigo meu. Então lhe perguntei: E tu quem és? Pra ti falar a verdade, nem mesmo eu sei. Sozinho andas vagando, neste mundo. Errando como a terra sem destino. Por entre as nebulosas deste céu infindo, Sem encontrar resposta ao que perguntas. Olha dentro de ti, mergulha fundo. E, então, penetrarás em outro mundo. Onde, talvez, encontrarás o que tu buscas. La há amor, compaixão, fraternidade Que te abrirão o caminho à espiritualidade Que te conduzirá a Deus, a Quem procuras.
QUANTA PRETENSÃO! Aymoré Alvim, AMM, APLAC, ALL. Essa gentinha! Gentinha? Sim, gentinha. Ate quando essa gentinha na verdade, Acha pode perturbar nosso sossego, Enchendo-nos de raiva e muito medo, E o bem estar da nossa sociedade? Quanta pretensão, meu Deus, Ainda existe, Por que tanto preconceito Inda persiste
Entre Teus filhos Que iguais criaste. É a idolatria ao dinheiro, E a soberba da hipocrisia, É a opção por essa vida fútil, Numa luta desigual, do dia a dia. Por que? Para que? Tudo é muito triste. Quando daqui partires, Nada levarás contigo. E como todos os que desprezaste Reverterás ao pó donde saíste. Só não voltarás nu Como chegaste Pela misericórdia daqueles Que aqui deixaste. Quem é maior, Senhor, Diante de Ti? Quais dos Teus filhos Abraçarás primeiro? Com certeza, Serão os derradeiros Que disputaram migalhas com os cães.
DIREITO & LITERATURA
A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO FRENTE À LEGISLAÇÃO DE ENSINO – 1918/1941 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras
Em 2018 comemora-se o centenário da criação da “Faculdade de Direito do Maranhão”, fato ocorrido a 28 de abril de 1918. Depois de 23 anos de funcionamento, vem notícia de seu descredenciamento, causado por irregularidades, segundo as autoridades de ensino da época, porém nunca explicitadas, causando o encerramento de suas atividades. Dino (1996; 2014)255, comenta que teve inicio já em 1939 um processo de destruição lenta e gradual da velha Faculdade. Pergunta: quando precisamente? Donde começou? Quem assumiu a responsabilidade do processo de cassação da Faculdade de Direito do Maranhão? Para ele, não se sabe... Ninguém quis ou quer assumir oficialmente tal responsabilidade... Esse processo vem de antes de 1939, creio eu. A análise dos fatos dá como causa principal as mudanças políticas em decorrência da instalação do Estado Novo256, e, principalmente as irregularidades que vinham acometendo a administração. Seu inicio, pois, está em 1930, quando o Governo Provisório do Norte decretou o encerramento das aulas; também, como causas, os concursos para professores catedráticos, iniciados naquele ano, que se apresentaram, no decorrer do período, eivado de vícios. Como contribuiu as constantes mudanças na legislação de ensino, principalmente no que se refere ao ingresso de novos acadêmicos, com ginasianos fazendo curso de habilitação complementar ao concluir a quinta série, e após realização de dois anos de Cursos Complementares. Motivo de avisos de irregularidades na sua execução, além do não cumprimento dos prazos, de ingresso, de matriculas, de realização de provas, e de encerramento do ano letivo, constantemente descumpridos, o que era motivo de avisos por parte da Divisão de Ensino Superior. A Reforma “Francisco Campos”257 previa o fechamento dos institutos superiores que não implantassem os Cursos Complementares, para ingresso nos mesmos. Essa reforma, de 1931, [...] foi marcada pela articulação junto aos ideários do governo autoritário de Getúlio Vargas e seu projeto político ideológico, implantado sob a ditadura conhecida como “Estado Novo”. Dentre algumas medidas da Reforma Francisco Campos, estava a criação do Conselho Nacional de Educação e organização do ensino secundário e comercial. Este último foi destinado à 255
DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luis: EDUFMA, 1996; 2ª edição 2014. Ao se voltar o olhar para a conjuntura da década de 1930, Costa (2017) afirma que esse período inaugura outra etapa do ensino superior no país e, consequentemente, no Maranhão, decorrente das profundas mudanças no cenário político e educacional, resultante do governo Vargas (1930-1945). Surge, então, um aparelho de Estado centralizador no intento de estabelecer seu projeto nacionalista. COSTA, Marcia Cordeiro. A GÊNESE DA EDUCAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR NO ESTADO DO MARANHÃO E POLÍTICA EDUCACIONAL: os embates travados pela sua efetivação e consolidação. VIII JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. São Luis, 22 a 25 de agosto de 2017, UFMA/Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas Para Cunha (2017), o período de 1937 a 1945 assinalou a nova fase política e educacional do país, caracterizadas por um conjunto de reformas educativas, que ficaram conhecidas como Leis Orgânicas de Ensino ou Reforma Capanema (MARTINS, 2002). CUNHA, L. A. A UNIVERSIDADE TEMPORÃ: O ENSINO SUPERIOR DA COLÔNIA À ERA DE VARGAS. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980; MARTINS, A. C. P. Ensino superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais. ACTA CIRÚRGICA BRASILEIRA, v. 17, São Paulo, 2002. 257 Nome da primeira reforma educacional de caráter nacional, realizada no início da Era Vargas (1930-1945), sob o comando do ministro da educação e saúde Francisco Campos. 256
“formação do homem para todos os grandes setores da atividade nacional”, construindo no seu espírito todo um “sistema de hábitos, atitudes e comportamentos.” Dessa forma, Francisco Campos havia dividido o curso secundário em dois ciclos de cinco e dois anos, respectivamente, o primeiro fundamental, e o segundo complementar, orientado para as diferentes opções de carreira universitária. A lei de 1931 previa, ainda, a criação de um sistema nacional de inspeção do ensino secundário, a ser feito por uma rede de inspetores regionais. (MENEZES, SANTOS, 2001) 258
Somente em 1936 os Cursos Complementares foram criados no âmbito da Faculdade de Direito, embora fosse obrigação do Estado a sua implementação. Houve intensa troca de correspondência entre a Diretoria da Faculdade de Direito do Maranhão e os representantes estaduais na Câmara dos Deputados, solicitando interferência na regularização da Faculdade, haja vista terem implantado o Curso Complementar. Em 1938, em discurso o Sr. Ministro da Educação, referindo-se aos cursos superiores, anunciava que haveria intensa fiscalização nos institutos, em especial os particulares, para sanar as irregularidades constatadas através das inspeções escolares, inclusive, se necessário, com o fechamento dos mesmos.
O CASO DA FACULDADE DE DIREITO Rio (19). Voltou a ser discutido, na ultima reunião do Conselho Nacional de Educação o parecer n. 200, da comissão de ensino superior, referente à cassação das regalias que gosa a Faculdade de Direito do Maranhão. Esse parecer conclue pella aplicação da penalidade. [...](O IMPARCIAL, 20/09).
Após interferência do Interventor Federal, a pedido da diretoria da Faculdade de Direito, e de telegramas mandados pelo Diretório Acadêmico a diversas autoridades federais – Ministro da Educação, Presidente da República, e bancada maranhense, Paulo Ramos recebeu o seguinte telegrama:
RIO, 3 – Off. Interventor Paulo Ramos. Recebi e li com apreço seu telegramma no. 214 sobre situação Faculdade de Direito do Maranhão. Creio que resolução final votada pelo Conselho Nacional de Educação e por mim homologada permitte encaminhamento satisfactorio assumpto, pois manda submeter Faculdade a fiscalização por funcionário idôneo, designado pelo Departamento Nacional Educação. Resultado dessa investigação manifestara governo a resolver em definitivo. [...]
Note-se, no telegrama, “submeter à fiscalização por funcionário idôneo”, designado pelo Departamento Nacional de Educação. Estava-se colocando sob suspeita o relatório do Fiscal Federal, dr. Soares de Quadros? Aquele que fora nomeado a pedido do próprio Interventor Federal? E que solicitara sua demissão, da função, poucos meses depois de nomeado, quando ‘estourou’ o descredenciamento da Faculdade, por irregularidades? Na nomeação do Sr. Soares de Quadros o próprio Interventor Federal descumpriu a legislação em que se instituía a função de Inspetor Federal, e suas atribuições259·... 258
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Reforma Francisco Campos. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/reforma-francisco-campos/>. Acesso em: 26 de dez. 2017. 259 O Decreto nº 11.530, de 18 de Março de 1915, que reorganizou o ensino secundário e o superior na Republica, em seu artigo 13 estabelece a figura do Inspetor de Ensino, com as seguintes atribuições:
Há questionamentos quanto a tal versão, atribuindo essa ação a motivações políticas e não a problemas de caráter eminentemente técnico-administrativo. Dino (1996, p. 76-77)260 relata:
A chamada História Oficial conta que as razões cassatórias foram de caráter eminentemente técnico-administrativo. [...] Uma outra corrente de pensamento sustenta não se poder buscar as primas causas da cassação da velha Faculdade de Direito sem a análise histórica da presença ostensiva do Estado Novo nos setores cultural, econômico e educacional em terras maranhenses.
A LEGISLAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR E OS CURSOS JURÍDICOS Em Maranhão, já se tentara a implantação de uma Universidade – a Nova Atenas, antes denominada Atlântida -, sonho de Sousândrade, já constante da Constituição de 1890, em seu artigo 84. Depois, não aprovada na nova carta estadual, em 1894 novas tentativas. Dentre os cursos propostos, o de Direito. Certamente Sousândrade estava atento ao disposto no DECRETO N. 1232 H - DE 2 DE JANEIRO DE 1891 - Approva o regulamento das Instituições de Ensino Jurídico, dependentes do Ministério da Instrucção Publica261:
O Generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisorio da Republica dos Estados Unidos do Brazil, constituído pelo Exercito e Armada, em nome da Nação, resolve approvar, para as Instituições de Ensino Jurídico, dependentes do Ministerio da Instrucção Publica, o regulamento que a este acompanha, assignado pelo General de brigada Benjamin Art. 14. O inspector inquirirá, por todos os meios ao seu alcance, inclusive o exame de toda a escripta do instituto: a) se este funcciona regularmente ha mais de cinco annos; b) se ha moralidade nas distribuições de notas de exames; c) se os professores manteem cursos particulares frequentados pelos alumnos da academia; d) se as materias constantes dos programmas são suficientes para os cursos de Engenharia, Direito, Medicina ou Pharmacia; e) se, pelo menos, tres quartas partes do programma de cada materia são effectivamente explicadas pelo respectivo professor; f) se ha exame vestibular e se é este rigoroso; g) se a academia possue os laboratorios indispensaveis e se estes são utilizados convenientemente; h) se o corpo docente é escolhido pelo processo de concurso de provas estabelecido na presente lei; i) se as rendas da academia são sufficientes para o custeio de um ensino integral, das materias do curso, ministrado por professores sufficientemente remunerados; j) se a quota de fiscalização é depositada na época legal Art. 15. O inspector apresentará relatorio circumstanciado sobre o que houver visto e colligido a respeito do instituto e, na falta de qualquer dos requisitos enumerados no artigo antecedente, concluirá por aconselhar que se não conceda a pretendida equiparação ás academias mantidas pelo Governo Federal. Art. 16. Não será inspector pessoa ligada por affinidade de qualquer natureza aos directores ou professores da academia, e, quando possivel, não residirá siquer no Estado em que o instituto funccionar. Art. 17. Considera-se terminada a inspecção com o julgamento do relatorio pelo Conselho Superior do Ensino. [...] Art. 19. A nomeação de inspector será annual, embora possa o Conselho designar o mesmo cidadão duas e mais vezes, para inspeccionar varios institutos. Neste ultimo caso receberá tantas quotas quantos forem os institutos inspeccionados. [...] Art. 22. Quando o relatorio do inspector condemnar um instituto, será cassado o direito á equiparação já concedida, não podendo ser de novo requerida dentro de seis annos, embora a academia mude de nome conservando mais de metade do antigo corpo docente. Art. 23. Quando a academia representar contra o inspector ao Conselho Superior e a este parecer que o relatorio foi injusto ou apaixonado, poderá aguardar nova inspecção para aconselhar ao Ministro a applicação da pena comminada pelo artigo antecedente. 260 DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luis: EDUFMA, 1996; 2ª edição 2014. 261 DECRETO N. 1232 H - DE 2 DE JANEIRO DE 1891 - Approva o regulamento das Instituições de Ensino Juridico, dependentes do Ministerio da Instrucção Publica
Constant Botelho de Magalhães, Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Instrucção Publica, Correios e Telegraphos, que assim o faça executar.
REGULAMENTO PARA AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO JURIDICO DEPENDENTES DO MINISTERIO DA INSTRUCÇÃO PUBLICA Art. 1º Para diffusão do ensino juridico manterá o Governo Federal as actuaes Faculdades de Direito e poderá fundar ou subvencionar outras que julgue necessarias.
Em seu Art. 2º, diz que, em cada uma das Faculdades de Direito, poderia haver três cursos: “[...] o de sciencias juridicas, o de sciencias sociaes, o de notariado”: Art. 3º O curso de sciencias juridicas comprehenderá o ensino das seguintes matérias: Philosophia e historia do direito; Direito publico e constitucional; Direito romano; Direito criminal, incluindo o direito militar; Direito civil; Direito commercial, incluindo o direito marítimo; Medicina legal; Processo criminal, civil e commercial; Pratica forense; Historia do direito nacional; Noções de economia política e direito administrativo.
Pelo Decreto nº 11.530, de 18 de Março de 1915, é reorganizado o ensino secundário e o superior na Republica: Art. 1º O Governo Federal continuará a manter os seis institutos de instrucção secundaria e superior subordinados ao Ministerio da Justiça e Negocios Interiores, dando-Ihes autonomia didactica e administrativa de accôrdo com as disposições deste decreto.
[...] Art. 5º O Governo manterá uma faculdade official de Medicina no Estado da Bahia e outra no Districto Federal; uma faculdade de Direito em S. Paulo e outra em Pernambuco; uma Escola Polytechnica e um instituto de instrucção secundaria, com a denominação de Collegio Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro. Art. 6º O Governo Federal, quando achar opportuno, reunirá em Universidade as Escolas Polytechnica e de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando a ellas uma das Faculdades Livres de Direito dispensando-a da taxa de fiscalização e dando-Ihe gratuitamente edificio para funccionar. [...] Art. 26. Não podem ser equiparadas ás officiaes mais de duas academias de Direito, Engenharia ou Medicina em cada Estado, nem no Districto Federal; e, onde haja uma official, só uma particular póde ser a Ella equiparada
A constituição do corpo docente obedecerá ao disposto no Decreto de 1915262, que reorganizou o ensino superior: “ CORPO DOCENTE - Art. 36. O corpo docente dos institutos compõe-se de professores cathedraticos, professores substitutos, professores honorarios, professores, simplesmente, e livres docentes. Quando da instituição da Faculdade de Direito do Maranhão a grade curricular ficou assim constituída, relacionando-se os respectivos professores, cuja indicação fora feita pela Associação mantenedora, e aceita pelos lentes catedráticos263: Fica, pois, assim constituída a Grade Curricular, com os respectivos professores:
1º ano Filosofia do Direito – Lopes da Cunha Direito Público e Constitucional – Godofredo Mendes Viana Direito Romano – Raul da Cunha Machado 2º ano Direito Internacional Público – Carlos Humberto Reis Economia Política e Ciência das Finanças – Raimundo Leôncio Rodrigues 2º, 3º e 4º anos Direito Civil – I Cadeira – João Vieira de Souza, filho Direito Civil – II Cadeira – Clodomir Cardoso Direito Civil – III Cadeira – Carlos Augusto de Araujo Costa 3º e 4º anos Direito Comercial – I Cadeira – Luis Carvalho Direito Comercial – II Cadeira – Manoel Jansen Ferreira 3º e 4º anos Direito penal – I Cadeira – Henrique José Couto Direito penal – II Cadeira – Alfredo de Assis Castro 4º ano Teoria do Processo Civil e Comercial – Artur Bezerra de Menezes 5º ano Prática de Processo Civil e Comercial – Aarão A. do Rego Brito Teoria e Prática do Processo Criminal – Alcides Jansen S. L. Pereira Direito Administrativo – João de Lemos Viana Direito Internacional Privado – Antonio Bona De acordo com o Art. 37. “Compete ao professor cathedratico”:
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Decreto nº 11.530, de 18 de Março de 1915, Reorganiza o ensino secundário e o superior na Republica De acordo com o DECRETO N. 1232 H - DE 2 DE JANEIRO DE 1891, os lentes (professores), eram dividios em :Art. 46. Os lentes distinguemse em cathedraticos e substitutos e serão distribuidos por secções; Art. 47. Os cathedraticos são obrigados a reger unicamente as cadeiras para que forem nomeados; Art. 48. Aos substitutos cabem as obrigações mencionadas nos arts. 11, 12 e 13. Art. 49. Os lentes cathedraticos e substitutos são tambem obrigados a tomar parte nos outros actos das respectivas Faculdades; conforme dispõe este regulamento. Os artigos mencionados se referem: Art. 11. Na falta ou impedimento do substituto de alguma secção, o director convidará para reger a cadeira um dos cathedraticos; si nenhum destes annuir ao convite, chamará um dos substitutos, e por ultimo um dos doutores ou bachareis que tiverem cursos particulares ou forem professores de Faculdades livres. Essa regencia interina dará direito a uma gratificação igual a dous terços dos vencimentos do cathedratico substituido. Quer na classe dos cathedraticos, quer na dos substitutos, deverão ser preferidos os lentes da secção em que se der o impedimento. Nenhum substituto será obrigado a reger mais de uma cadeira. Pela regencia da que lhe competir perceberá uma gratificação igual á do substituído; Art. 12. Os substitutos, além da regencia das cadeiras a que são obrigados, no caso de falta ou impedimento dos lentes, farão cursos complementares sobre as materias que o director designar, ouvido o lente respectivo. Os lentes substitutos não deixarão de fazer taes cursos, ainda quando estejam na regencia de cadeira. Art. 13. Haverá um laboratorio para os exercicios praticos de medicina legal e hygiene publica. 263
a) a regencia effectiva da cadeira para a qual foi nomeado; b) a elaboração do programma do seu curso, afim de ser approvado pela Congregação 30 dias antes da abertura das aulas; c) fazer parte das mesas examinadoras, desde que não haja incompatibilidade legal; d) indicar os seus assistentes, preparadores e demais auxiliares; e) submetter a provas oraes ou escriptas os seus alumnos, na primeira quinzena de junho e na segunda de agosto, e conferir-lhes uma nota quando chamados aos trabalhos praticos, afim de deduzir a média annual, que influirá para a nota do exame final, conforme for determinado pelo Regimento Interno; f) ensinar toda a materia constante do programma por elle organizado.
Quanto aos lentes substitutos, que se refere a legislação, são nomeados: 1ª. Sessão – (Filosofia do Direito e Direito Romano) – João da Costa Gomes 2ª. Sessão – (Direito Público e Constitucional, Direito Internacional Público e Privado) – Raul Soares Pereira 3ª. Sessão – (Direito Civil) – Antonio José Pereira, Junior 4ª. Sessão – (Direito Penal, Teoria e prática do Processo Criminal) – Fabiano Vieira da Silva 5ª. Sessão – (Economia Política, Ciência da Finança, e Direito Administrativo) – Inácio Xavier de Carvalho 6ª. Sessão – (Direito Comercial) – Joaquim Pinto Franco de Sá 7ª. Sessão – (Teoria do Processo Civil e Comercial, Prática do Processo Civil e Comercial) – Raimundo Alexandre Vinhais 8ª. Sessão – (Medicina Pública) – Tarquínio Lopes Filho.
Art. 38. Compete ao professor substituto: a) substituir, nos impedimentos temporarios, quaIquer dos cathedraticos da sua secção; b) reger os cursos que lhe forem designados pela Congregação, esgotando os programmas approvados; c) auxiliar, quando necessario, os cathedraticos durante as provas de junho e agosto.
Distribuídas as cadeiras e nomeados os professores, inclusive os substitutos, elegeu-se Diretor da Faculdade o dr. José Viana Vaz, juiz federal; vice-diretor Henrique Couto, Secretário de Interior e Instrução; Secretário, o Sr. Domingos Perdigão, Diretor da Biblioteca Pública. Para a indicação e nomeação dos lentes, é a seguinte a legislação estabelecida: DOS LENTES CATEDRATICOS Art. 87. As cadeiras serão divididas em secções, na fórma do art. 9º 264 264
Art. 9º As cadeiras dos differentes cursos serão distribuidas pelas secções seguintes, cada uma das quaes terá um substituto: 1ª SECÇÃO Philosophia e historia do direito; Direito publico e constitucional; Direito das gentes, diplomacia e historia dos tratados; Explicação succinta do direito patrio constitucional e administrativo. 2ª SECÇÃO Direito civil, duas cadeiras; Direito commercial, duas cadeiras; Explicação succinta do direito patrio civil, commercial e criminal. 3ª SECÇÃO Direito romano; Historia do direito nacional; Direito criminal; Noções de legislação omparada sobre o direito privado. 4ª SECÇÃO Economia politica; Sciencia das finanças e contabilidade do Estado; Sciencia da
Art. 88. Vagando alguma cadeira, será para ella nomeado o substituto da respectiva secção. Art. 89. Vagando uma cadeira em alguma secção, onde se ache tambem vago o logar de substituto e não se tenha ainda aberto o respectivo concurso, poderá o Governo, depois de ouvir a congregação, prover directamente a referida cadeira, nomeando ou contractando, sem concurso, pessoa que reuna os seguintes requisitos: 1º, haver se distinguido nos cursos da Faculdade que frequentou; 2º, ter exercido, com distincção e por mais de tres annos, o magisterio superior, ou ter feito sobre as materias da secção a que pertence a cadeira vaga, publicações importantes, ou ser indicado por dous terços dos membros da congregação; 3º, possuir as habilitações mencionadas nos arts. 96 e 97265. SECÇÃO 2ª - DOS LENTES SUBSTITUTOS Art. 90. As nomeações dos lentes substitutos se farão por meio de concurso. Art. 91. Poderá o Governo, independente de concurso, mas ouvindo a congregação, nomear ou contractar para os logares de substitutos pessoas que reunam os requisitos mencionados nos ns. 1, 2 e 3 do art. 89266.
A Faculdade de Direito do Maranhão foi uma iniciativa particular, acalentado de há muito: desde os princípios do Brasil como Reino Unido à Portugal e Algarves, pois com a presença da família Real no Rio de Janeiro, o Príncipe Regente D. João VI tomou uma série de medidas visando melhorar a situação do ensino no país, inclusive o ensino superior. O regente chegou a prometer uma faculdade ao Maranhão, pela carta régia de 29/12/1815 e “que lamentavelmente não chegaria a se fazer realidade” (MEIRELES, 1995)267. Informa-nos Rossini Corrêa (2017, p. 148) 268: [...] quando da inauguração do ensino superior brasileiro, proibido pelo colonialismo português, e conquistado com a autonomia administrativa, o Maranhão procurou, com obstinação, ser o vencedor da carreira, abrigando, em São Luis, a primeira Faculdade de Direito do Brasil. Para o Autor, foi uma batalha perdida...
DOS CURSOS E ESTABELECIMENTOS PARTICULARES Art. 419. E' permittido a qualquer individuo ou associação de particulares a fundação de cursos ou estabelecimentos, onde se ensinem as materias que constituem o programma de qualquer curso ou Faculdade federal, salva a inspecção necessaria para garantir as condições de moralidade e hygiene.
A Faculdade de Direito do Maranhão foi assim constituída, como Faculdade Livre de Direito, conforme o artigo seguinte: administração e direito administrativo; Noções de economia politica e direito administrativo. 5ª SECÇÃO Processo criminal, civil e commercial; Pratica forense; Explicação succinta do direito patrio processual. 6ª SECÇÃO Medicina legal; Hygiene publica. 265 Art. 96. Poderão ser admittidos a concurso os brazileiros que estiverem no gozo dos direitos civis e politicos e possuirem o gráo de doutor ou bacharel em sciencias sociaes e juridicas pelas Faculdades federaes ou a estas equiparadas; ou que, tendo esses gráos por academias estrangeiras, se houverem habilitado perante alguma daquellas Faculdades. Art. 97. Poderão tambem inscrever-se os estrangeiros que, possuindo alguns daquelles gráos, fallarem correctamente portuguez. No caso de serem graduados por academias estrangeiras ficam, porém, sujeitos á habilitação prévia, salvo si tiverem sido professores de Faculdades estrangeiras reconhecidas pelos respectivos Governos. 266 Art. 89. Vagando uma cadeira [...]1º, haver se distinguido nos cursos da Faculdade que frequentou; 2º, ter exercido, com distincção e por mais de tres annos, o magisterio superior, ou ter feito sobre as materias da secção a que pertence a cadeira vaga, publicações importantes, 266 ou ser indicado por dous terços dos membros da congregação; 3º, possuir as habilitações mencionadas nos arts. 96 e 97 . 267 MEIRELES, Mário. O ensino superior no Maranhão: esboço histórico. In ____. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: ALUMAR, 1995, P. 45-94 268 CORRÊA, José Rossini Campos do Couto. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO – o presente de uma arqueologia. 2 ed. São Luis: Engenho, 2017. Biblioteca Básica Maranhense – volume II.
FACULDADES LIVRES Art. 420. Aos estabelecimentos particulares que funccionarem regularmente poderá o Governo, com audiencia do Conselho de Instrucção Superior, conceder o titulo de Faculdade livre, com todos os privilegios e garantias de que gozarem as Faculdades federaes. As Faculdades livres terão o direito de conferir aos seus alumnos os gráos academicos que concedem as Faculdades federaes, uma vez que elles tenham obtido as approvações exigidas pelos estatutos destas para a collação dos mesmos gráos. Art. 421. Os exames das Faculdades livres serão feitos de conformidade com as leis, decretos e instrucções que regularem os das Faculdades federaes e valerão para a matricula nos cursos destes. O Conselho de Instrucção Superior nomeará annualmente commissarios que assistam a esses exames e informem sobre a sua regularidade. Art. 422. Em cada Faculdade livre ensinar-se-hão pelo menos todas as materias que constituirem o programma da Faculdade federal. Art. 423. Cada Faculdade livre terá a sua congregação de lentes com as attribuições que lhe forem dadas pelo respectivo regimento. Art. 424. A infracção das disposições contidas neste titulo sujeita a congregação a uma censura particular ou publica do Governo, o qual, em caso de reincidencia, multará a associação em 500$ a 1:000$ e por ultimo poderá suspender a Faculdaade por tempo não execedente de dous annos, devendo sempre ouvir o Conselho de Instrucção Superior. Emquanto durar a suspensão, não poderá a Faculdade conferir gráos academicos, sob pena de nullidade dos mesmos. Art. 425. Constando a pratica de abusos nas Faculdades livres quanto á identidade dos individuos nos exames e na collação dos gráos, cabe ao Governo, ouvindo o Conselho de Instrucção Superior, o direito de mandar proceder a rigoroso inquerito para averiguação da verdade, e, si delle resultar a prova dos abusos arguidos, deverá immediatamente cassar á instituição o titulo Faculdade livre, com todas as prerogativas ao mesmo inherentes. Art. 426. A Faculdade livre que houver sido privada deste titulo não poderá recuperal-o sem provar que reconstituiu-se de maneira a offerecer inteira garantia de que os abusos commettidos não se reproduzirão.
A reforma de 1931269 estabelece a instituição de universidade, no Brasil, mas mantém as escolas isoladas: Art. 6º As universidades brasileiras poderão ser creadas e mantidas pela União, pelos Estados ou, sob a fórma de fundações ou de associações, por particulares, constituindo universidades federaes estaduaes e livres. Paragrapho unico. Os governos estaduaes poderão dotar as universidades por elles organizadas com patrimônio proprio, mas continuarão obrigados a fornecer-lhes os recursos financeiros que se tornarem necessarios a seu regular funccionamento. Art. 7º A organização administrativa e didactica de qualquer universidade será instituida em estatutos, approvados pelo Ministro da Educação e Saude Publica, e que só poderão ser modificados por proposta do Conselho Universitário ao mesmo ministro, devendo ser ouvido o Conselho Nacional de Educação. ( DECRETO Nº 19.851, DE 11 DE ABRIL DE 1931). 269
DECRETO Nº 19.851, DE 11 DE ABRIL DE 1931 - Dispõe que o ensino superior no Brasil obedecerá, de preferencia, ao systema universitario, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organização technica e administrativa das universidades é instituida no presente Decreto, regendo-se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras.
O Decreto 1915 estabelece o regime escolar: REGIMEN ESCOLAR - EXAMES Art. 73. O anno escolar começará a 1 de abril e terminará a 15 de novembro, comprehendendo cada curso 80 lições. Art. 74. Haverá duas épocas de exames, começando a primeira no dia 1 de dezembro e a segunda a 1 de março. Paragrapho unico. Em caso de grande affuencia de candidatos a Congregação, mediante proposta do director, permittirá que a 20 de novembro comecem os exames da primeira época. Art. 75. A matricula terá logar nos 15 dias que antecedem á abertura, dos cursos, e a inscripção para exames, 10 dias antes daquelle em que devem começar. Paragrapho unico. A data fixada para inicio dos exames, bem como a da abertura dos cursos, não póde ser transferida para mais tarde, senão em caso de calamidade publica reconhecida pela Congregação. Art. 76. Inscrever-se-ão para os exames da segunda época os candidatos que não forem alumnos da academia, os alumnos que não se apresentaram na primeira época por motivo de força maior devidamente comprovada, e os que tiverem sido reprovados ou deixado de ser examinados em uma só materia, na primeira época. Art. 77. Para requerer matricula nos institutos de ensino superior os candidatos deverão provar: a) edade minima de 16 annos; b) idoneidade moral; c) approvação no exame vestibular. Paragrapho unico. Em caso de exame vestibular verdadeiramente brilhante poderá a Congregação permittir a matricula de candidatos que não hajam attingido a edade legal. Art. 78. O candidato a exame vestibular deve exhibir: a) certificado de approvação em todas as materias que constituem o curso gymnasial do Collegio Pedro II, conferido pelo mesmo collegio ou pelos institutos a elle equiparados, mantidos pelos governos dos Estados e inspeccionados pelo Conselho Superior do Ensino; b) recibo da taxa estipulada no Regimento Interno. Paragrapho unico. Nos Estados onde não houver gynmasio mantido pelo Governo, as Congregações dos institutos superiores equiparados aos officiaes podem organizar commissões de examinadores do curso gyinnasial, presidida por um professor da faculdade. Estes exames são validos sómente perante a academia que os instituiu. Art. 79. O candidato que tiver certificado de curso completo de gymnasio estrangeiro, authenticado pela mais alta autoridade consular brazileira da cidade onde o instituto funcciona., e acompanhado da prova official de que o titulo exhibido era acceito pelas academias do paiz, póde inscrever-se para o exame vestibular. Art. 80. O exame vestibular comprehenderá prova escripta e oral. A primeira consistirá na traducção de um trecho facil de um livro de litteratura franceza e de outro de autor classico allemão ou ingIez, sem auxilio de diccionario. Paragrapho unico. E' prohibida a inclusão do titulo dos livros que servirão para exame, no Regimento Interno ou nos programmas dos cursos. Art. 81. A prova oraI do exame vestibular versará sobre Elementos de Physica e Chimica e de Historia Natural, nas Escolas de Medicina; sobre Mathematica Elementar, na Escola Polytechnica, e sobre Historia Universal, Elementos de Psychologia e de Logica e Historia da Philosophia por meio da exposição das doutrinas das principaes escolas philosophicas, nas Faculdades de Direito.
Art. 82. O exame vestibular será julgado por uma commissão de professores do Collegio Pedro II ou de instituto estadoal a elle equiparado ou de professores de incontestavel competencia, sob a presidencia de um professor da academia. Art. 83. O exame vestibular terá logar em janeiro.
Logo, em 1926, começam a se alterar a situação dos alunos matriculados: DECRETO Nº 5.121, DE 29 DE DEZEMBRO DE 1926, Antecipa a 1ª época de exames para os alunos das Escolas Jurídicas do Brasil que devam terminar o curso em 1927:
Art. 1º Fica antecipada para a segunda quinzena de julho de 1927, a primeira época de exames para os alumnos das Escolas juridicas do Brasil que terminarem o curso naquelle anno, devendo a collação de gráo realizar-se solemnemente, em 11 de agosto. § 1º O inicio do anno lectivo para os mencionados alumnos será igualmente antecipado para 1 de janeiro de 1927. § 2º Os alumnos que prestarem, em segunda época, os exames do 4º anno actual, de accôrdo com as leis em vigor, poderão matricular-se, condicionalmente, no periodo da antecipação, que estabelece o § 1º, na classe immediatamente superior. Art. 2º Os estudantes que pretenderem seguir os cursos de ensino superior e que terminaram o curso gymnasial ou de preparatorios até o anno de 1925, poderão prestar exame vestibular na segunda quinzena de janeiro de 1927 para fazerem exame do primeiro anno, em segunda época, perante as Faculdades cuja lotação de alumnos não estiver completa. Paragrapho unico. A inscripção para exame vestibular será na primeira quinzena do referido mez de janeiro de 1927. Art. 3º As pessoas que exhibirem diploma conferido por faculdade estrangeira, authenticado pelo consul do Brasil e valido para o exercicio da profissão, si quizerem obter a revalidação do diploma estrangeiro por academia, faculdade ou escola brasileira, deverão apresentar theses sobre tres das cadeiras de qualquer dos annos do curso correspondente, sustentando-as oralmente, além de um exame pratico, sempre que fôr possivel. Paragrapho unico. A revalidação do diploma de que trata este artigo, não terá logar si o candidato não lograr approvação na defesa das theses e na prova pratica quando exigida.
Conforme “A Pacotilha” de 03 de janeiro de 1927, o dr. Furtado da Silva, inspetor federal junto à Faculdade de Direito do Maranhão, recebera do Departamento Nacional de Ensino cabograma para ‘cuja leitura chama a atenção dos bacharelandos’:
Inspector da Faculdade de Direito do Maranhão, RIO, 31 (Via Western) – Recomendo-vos providencieis no sentido de serem cumpridas as disposições contidas nos artigos 1º e 2º decreto legislativo numero 5.121, de 29 de dezembro do corrente anno, assim redigidos: artigo primeiro, fica antecipada para segunda quinzena de julho de 1927 a primeira época de exames para os alumnos das escolas jurídicas do Brasil que terminarem o curso naquelle anno, devendo a collação de grau realizer-se solenemente, a 11 de agosto. Paragrapho primeiro, o
inicio do anno letivo para os mencionados alumnos será igualmente antecipado para primeiro de janeiro de 1927. Paragrapho segundo,os alumnos que prestarem na segunda época os exames do quarto anno actual, de acordo com as leis em vigor, poderão matricular-se condicionalmente, no período de antecipação que estabelece o paragrapho primeiro, na classe imediatamente superior. Artigo segundo, os estudantes que pretenderem seguir os cursos do ensino superior e que terminaram o curso gymnasial ou preparatórios até o anno de 1925, poderão prestar exame vestibular na segunda quinzena de 1927, para fazerem exame de primeiro anno em segunda época, perante as faculdades cuja lotação de alumnos não esteja completa. Paragrapho único, a inscrição de exame vestibular será na primeira quinzena do referido mez de janeiro de 1927. Saudações, Dr. Rocha Vaz.
“O Combate” de 25 de outubro de 1930 publica nota, informando sobre o encerramento das aulas da Faculdade de Direito, por determinação do Governo Provisório do Norte do Brasil 270:
Logo em seguida, saí Decreto271 em que os alunos são ‘aprovados’, melhor, ‘promovidos”: Art. 1º Ficam promovidos, independentemente de exames, á serie ou ano superior imediato, na presente época do atual ano letivo, os alunos matriculados nos cursos superiores oficiais, oficializados e equiparados, bem como nos institutos de ensino artístico superior subordinados ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, desde que comprovem haver frequentado mais de metade das aulas dadas em cada cadeira. § 1º Para comprovar a frequência a aluno apresentará, conforme o regime escolar a que esteja sujeito, informação da Secretaria do respectivo instituto ou atestado firmado pelo professor ou docente que houver lecionado. 270
O Norte e o Governo Provisório: Juarez Távora e os revolucionários nortistas: Durante a campanha presidencial de 1929-1930, a Aliança Liberal recebe rápidas adesões no Norte, ao assumir como uma de suas bandeiras a luta contra a submissão política dos governos estaduais frente ao governo central. Os aliancistas conseguem unir, desta forma, setores sociais de interesses bem diversos e até mesmo contraditórios. É essa situação específica que dá ao movimento de 30 no Norte um caráter bastante amplo e popular, encontrando poucas resistências [...]PANDOLFI, Dulce. A trajetória do Norte: uma tentativa de ascensão político. In: GOMES, Angela de Castro (org.). Regionalismo e Centralização política: partidos e Constituinte nos anos 30. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980, p. 342. Para Lopes (2011), com esse pequeno parágrafo, Dulce Pandolfi consegue resumir bem o que significou o movimento de outubro de 30 na região Norte do Brasil: um movimento amplo, marcado pelo apoio da população, onde os “revolucionários” quase não encontraram resistência por parte dos governistas. A vitória veio através de uma campanha militar que tomou as guarnições militares da região, com alguma participação de voluntários civis. [...] Entendo como Norte a área político-geográfica formada pelos estados que abrangem as atuais regiões Norte e Nordeste, além do Espírito Santo. O Norte, nesse sentido, era compreendido pelo território federal do Acre e por doze estados: Amazonas, Pará, Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Espírito Santo. In LOPES, Raimundo Helio. A Delegacia Militar do Norte e o Governo Provisório: disputas políticas e a nomeação dos interventores nortistas. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011
271
Decreto nº 19.404, de 14 de Novembro de 1930, Dispõe sobre a promoção escolar nos institutos de ensino subordinados ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
§ 2º Serão considerados habilitados, para os efeitos da conclusão do curso, os alunos matriculados no último ano de cada instituto, que satisfizerem a condição de frequência exigida neste artigo. Art. 2º Ficam igualmente promovidos ao ano superior imediato os alunos matriculados no Colégio Pedro II, nos institutos a ele equiparados ou em inspeção preliminar, e os alunos do curso seriado ou de preparatórios dos institutos particulares de ensino secundário, que já tenham requerido nomeação de juntas examinadoras, desde que reunam as seguintes condições: 1º, haver frequentado mais de metade das aulas dadas em cada matéria; 2º, haver obtido no mínimo a média anual de 3,50. § 1º No Colégio Pedro II a comprovação da frequência e da média exigidas será feita mediante informação da Secretaria ao diretor. § 2º Nos institutos equiparados ao Colégio Pedro II e nos em inspeção preliminar a comprovação será feita por informação escrita e motivada do diretor ao inspetor do instituto. § 3º Nos institutos particulares que já requereram juntas examinadoras para os seus alunos tanto do curso seriado, como de preparatórios e de admissão, a comprovação será feita por informação escrita e motivada do diretor ao inspetor, especialmente designado para esse fim. § 4º O inspetor designado na forma do parágrafo antecedente verificará nos livros do instituto a exatidão das informações prestadas pelo diretor com referência á frequência e média dos alunos, bem como da regularidade das respectivas matrículas, enviando ao Departamento Nacional do Ensino uma ata autentica, tambem assinada pelo diretor, que servirá de base para expedição, no Departamento, dos respectivos certificados de promoção e habilitação, § 5º As disposições do presente decreto relativas aos institutos particulares de ensino secundário que já tenham requerido juntas examinadoras só serão aplicaveis aos alunos cujos nomes constem das relações existentes e registadas no Departamento Nacional do Ensino. Art. 3º Para os efeitos de promoção e habilitação no último ano do curso das quais trata o presente decreto, os alunos requererão ao diretor do instituto a respectiva inscrição, mediante o pagamento das taxas legais de exame, revertendo essas taxas aos institutos de ensino superior integralmente para o respectivo patrimônio. Art. 4º No período de 3 de outubro a 14 de novembro serão, respectivamente, atribuidas a cada aluno a melhor média mensal e frequência integral.
Em conseqüência, o diretor da Faculdade baixa o seguinte aviso:
O Sr. Dr. Director da Faculdade de Direito do Maranhão recebeu do Departamento Nacional de Ensino os seguintes telegramas: RIO, 20 – Communico-vos para os devidos fins que o governo expediu, a 14 do corrente mez, o decreto 19.404, regulando a promoção escolar nos institutos de ensino. De accordo com os parágrafos 1 e 2 do art. 1º desse decreto, são promovidos, independentemente de exame, á série ou anno superior immediatos, na presente época do actual anno lectivo, os alumnos matriculados que comprovem haver freqüentado mais da metade das aulas dadas em cada cadeira. Para comprovar a freqüência, o alumno apresentará, conforme o regimen escolar a que esteja sujeito, informação da Secretaria do respectivo instituto, ou attestado firmado pelo professor ou docente que houver leccionado. Serão considerados habilitados, para os effeitos da conclusão do curso, os alumnos matriculados no ultimo anno de cada instituto, que satisfizerem as condições de freqüência já especificada. No período de 3 de outubro a 14 de novembro será respectivamente attribuida a cada alumno a freqüência integral.
Os alumnos requererão ao director do instituto a respectiva inscripção, mediante o pagamento das taxas legaes de exames, revertendo estas, integralmente, ao patrimônio do respectivo instituto. Saudações. (a) Aloysio de Castro. RIO, 18 – Comunico-vos para os devidos fins que, segundo aviso expedido a 14 do corrente, pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, ficam sem effeito os actos referentes ás inscripções para concurso de livres docentes e professores cathedraticos dos institutos de ensino superior e secundário da República. Saudações. (a) Aloysio de Castro. Secretário Geral. Para deliberar sobre os assumptos de que tratam os telegrammas acima terá logar, ás 9 horas do dia 24 do corrente, uma reunião da congregação dos professores da nossa Faculdade de Direito.
A nova legislação, aprovada em 1931272, previa, para admissão nos cursos universitários
Art. 81. A admissão inicial nos cursos universitarios obedecerá as condições geraes abaixo instituidas, além de outras que constituirão dispositivos regulamentares de cada um dos institutos universitarios; I - certificado do curso secundario fundamental de cinco annos e de um curso gymnasial superior, com a adaptação didactica, neste ultimo, aos cursos consecutivos; II - idade mínima de 17 annos; III - prova de identidade; IV - prova de sanidade; V - prova de idoneidade moral; VI - pagamento das taxas exigidas. Paragrapho unico. Ao alumno matriculado em qualquer dos institutos universitarios será fornecido um cartão de matricula devidamente authenticado, que provará a sua identidade, e uma caderneta individual na qual será registado o seu curriculum vitae de estudante, tudo de accôrdo com dispositivos de cada instituto universitario. Art. 82. Não será permitida a matricula semultanea do estudante em mais de um curso seriado, sendo, porém, permittido aos matriculados em qualquer curso seriado a frequencia de cursos avulsos, ou de aperfeiçoamento e especialização.
Já para a aprovação dos acadêmicos, são as seguintes as condições gerais: Art. 83. A verificação de habilitação nos cursos universitarios, seja para a expedição de certificados e diplomas, seja para a promoção aos períodos lectivos seguintes, será feita pelas provas de exame abaixo enumeradas e cujos processos de realização serão discriminados nos regulamentos dos institutos universitarios. a) provas parciaes; b)
provas finaes;
c)
médias de trabalhos praticos de quaesquer outros exercicios escolares.
Art. 84. As provas de exame referidas no artigo anterior serão julgadas por commissões examinadoras, das quaes farão parte, obrigatoriamente, os professores e docentes livres que houverem realizado os respectivos cursos. 272
DECRETO Nº 19.851, DE 11 DE ABRIL DE 1931 - Dispõe que o ensino superior no Brasil obedecerá, de preferencia, ao systema universitario, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organização technica e administrativa das universidades é instituida no presente Decreto, regendo-se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras.
Art. 85. As taxas de exame serão fixadas em tabellas annexas aos regulamentos dos institutos universitarios, que ainda deverão discriminar a gratificação a ser concedida aos membros das commissões examinadoras. Art. 86. Os regulamentos de cada um dos institutos universitarios fixarão a época em que deverão ser prestadas as provas exigidas para expedição de diplomas, ou para a promoção dos estudantes.
Mas estas não foram as únicas intervenções; novas notas davam conta de alterações e instruções seguidas, na promoção de alunos, naquele ano atípico, de 1931, como se vê dessa nota de 3 de dezembro, do Inspetor Federal:
Nova nota, recebida pelo Inspetor Federal, de que havia sido deliberado pelo Sr. Ministro, que a freqüência para a remoção nos termos do decreto 20.735 de 30 de novembro ultimo273, ou para inscrição em exames, seria computada em metade, no mínimo, do numero de aulas efetivamente realizadas. Foi permitida ainda a inscrição em exames de segunda época, aos alunos que não tenham freqüência. Em 1936, nova alteração no sistema de ingresso, conforme nota publicada na imprensa local: O dr. Alcides Pereira, director da Faculdade de Direito, recebeu do Sr. Dr. Director Geral de Educação o seguinte telegrama: Somente poderão requerer inscripção para o exame vestibular em 1936 os alumnos que concluíram a 5ª série em 1934, na 1ª ou 2ª época, ou em annos anteriores, os alumnos que tenham completado preparatório em annos anteriores e aquelles que estão fazendo o curso secundário de acordo com o artigo 100 do decreto 21.241, de abril de 1932274 e concluíram a 5ª serie na segunda 273
Decreto 20.735, de 28 de Novembro de 1931 — Regula a dispensa de exame final ou prova oral, no corrente ano letivo, nos institutos de ensino superior.
274
DECRETO Nº 21.241, DE 4 DE ABRIL DE 1932 - Consolida as disposições sobre a organização do ensino secundário e dá outras providências:
Art. 100. Enquanto não forem em número suficiente os cursos noturnos de ensino secundário sob o regime de inspeção, será facultado requerer e prestar exames de habilitação na 3ª série e, em épocas posteriores, sucesivamente, os de habilitação na 4ª e na 5ª séries do curso fundamental ao candidato que apresentar os seguintes documentos: I. Certidão, provando a idade mínima de 18 anos, para a inscrição nos exames da 3ª série.
quinzena de janeiro de 1936. Também lembro que deixou de vigorar no anno lectivo de 1936 a disposição que permettia aos estudantes que tivessem seis ou mais preparatórios prestar os restantes nas escolas superiores. Saudações. – Paulo de Assis Ribeiro, Director Geral Interino.
Os secundaristas e ginasianos são convocados a comparecer na Faculdade, para tomarem conhecimento das novas normas de ingresso:
FACULDADE DE DIREITO / CURSO COMPLEMENTAR / SECÇÃO JURÍDICA Os professores encarregados de organizar, pela Congregação da Faculdde de Direito do Estado, a Secção Jurídica do Curso Complementar, creado pelo decreto no. 21.241, de 4 de novembro de 1932275, convidam os alumnos que terminaram, em 1935, a 5ª. Série do curso gynasial, a comparecer á sede da mesma Faculdade, ás 10 horas da próxima segunda-feira, 11 do corrente. RUBEN ALMEIDA / ANTONIO LOPES / GUSMÃO FILHO (PACOTILHA, 09 de maio de 1936)
Já começavam as tratativas para anulação da cassação do credenciamento da Faculdade pelo não cumprimento da Lei, que estabelecia o Curso Jurídico Complementar: II. Recibo de pagamento das taxas de exame. III. E, para a inscrição nos exames da 4ª ou da 5ª séries, certificado de habilitação na série procedente, obtido nos termos deste artigo e de seus parágrafos. § 1º Os exames de que trata este artigo deverão ser requeridos na segunda quinzena de janeiro e serão prestados, em fevereiro, no Colégio edro II e em estabelecimentos de nsino secundário equiparados. § 2º Os exames versarão sobre toda a matéria constante dos programas expedidos para o ensino secundário e relativos às tres primeiras séries, para a habilitação na 3ª série, e às duas últimas, respectivamente, para a habilitação na 4ª série e na 5ª série do curso fundamental. § 3º Os exames constarão para cada disciplina, de prova escrita e prova oral ou prático-oral, conforme a natureza da disciplina, salvo o de Desenho, que constará de uma prova gráfica. § 4º Serão nulos os exames prestados pelo mesmo candidato, na mesma época, em mais de um estabelecimento de ensino, ficando ainda o infrator deste dispositivo sujeito à penalidade de não poder increverse em exames na época imediata. § 5º A constituição das bancas examinadoras, o arrolamento das provas escritas, o seu julgamento e o das provas orais ou prático-orais obedecerão, no que lhes for aplicavel, ao disposto nos artigos 38, 39 e 40 deste decreto. § 6º Na constituição das bancas examinadoras não poderão figurara professores que mantenham cursos ou estabelecimentos de ensino, lecionem particularmente ou exerçam atividade didática em estabelecimento de ensino não oficiais, sendo nulos em qualquer tempo os exames prestados com infração deste dispositivo. § 7º Será considerado aprovado o candidato que obtiver, alem da nota trinta, no mínimo, na prova gráfica de Desenho e como média aritmética das notas da prova escrita e da prova oral, ou prático-oral, em cada uma das demais disciplinas, média aritmética igual ou superior a cinquenta no conjunto das disciplinas. § 8º Ao candidato inhabilitado nos exames de qualquer série será permitido, na época seguinte, renovar mais uma vez incrição nos exames da série em que não lograra aprovação. § 9º Os candidatos aprovados na 5ª série, para a matrícula nos institutos de ensino superior, ficarão obrigados à frequência e às demais exigências estabelecidas para o curso complementar respectivo. Art. 101. Será, igualmente facultado requerer e prestar exames de habilitação, nos termos do artigo anterior e seus parágrafos, excluida, entretanto, a exigência da idade mínima, ao candidato que apresentar os seguintes documentos: I Certificado de conclusão do Curso Fundamental de Instituto ou Conservatório de Música, oficial ou oficialmente reconhecido, para a inscrição nos exames da 3ª série, ou certificado de habilitação na série anterior, obtido nos termos deste artigo, para a inscrição nos exames da 4ª ou da 5ª série. II. Recibo de pagamento das taxas de exames. 275
DECRETO Nº 21.241, DE 4 DE ABRIL DE 1932. Consolida as disposições sobre a organização do ensino secundário e dá outras providências
Em nota de José Virgilio Rocha, publicada em “O Imparcial” (06/10), este protestava pela nãorealização da segunda prova parcial que, por Lei, deveriam se realizar no mês de setembro, e conforme constava no regimento interno. Não havia justificativa para tal. A ausência do inspetor federal não era motivo para adiamento das mesmas, conforme o autor da nota. Diz ele que o Departamento de Ensino deveria ter nomeado fiscal substituto, ou mesmo, um representante ‘ad-doc’; o que não podia, por essa falha, serem os alunos prejudicados. A 07 de novembro, em “A Pacotilha”, sai a seguinte noticia, sobre a federalização da Faculdade de Direito do Maranhão:
A FEDERALIZAÇÃO DA NOSSA FACULDDE DE DIREITO Tendo o exmo. Sr. Dr. Governador conhecimento do projecto que corre no Senado, em favor da Federalização das Faculdades de Direito dos Estados do Paraná e Pará, dirigiu-se s. Exc. aos senadores Clodomir Cardoso e Genésio Rego, no sentido de apresentarem uma emenda ao dito projecto, pleiteando a concessão de idêntica vantagem á nossa escola superior de Direito.[...]
Nota publicada em “O Imparcial”, de 04/11, informando que os dirigentes da Faculdade de Direito haviam encaminhado correspondência aos nossos representantes na Câmara Federal pedindo apoio para a oficialização da mesma, haja vista que se tornara indispensável para a formação técnico-profissional dos jovens pobres do Estado. Em resposta, o dep. Magalhães de Almeida respondeu que tudo fariam para que se com seguisse a autorização de funcionamento de nossa Faculdade de Direito. Logo no inicio de 1937, chegam comunicados de que havia nova alteração nas normas para ingresso nos cursos superiores; publicadas tanto n “O Imparcial” de 30 de janeiro, como na “A Pacotilha” de 1º de fevereiro, com o título de ‘ensino superior’, o Inspetor Federal junto à Faculdade de Direito do Maranhão,
dr. Manoel Francisco da Cunha Junior, informa ter recebido da Diretoria do Ensino telegrama que dava publicidade:
Conforme o despacho minesterial de 15 do corrente (janeiro/37), relativo à decisão do Conselho Nacional de Educação sobre os alumnos cujo curso secundário se fez de acordo com o art. 100 do dec. 21.241, de abril de 1932, communico aos taes alumnos que poderão inscrever-se em exames vestibulares caso concluam a quinta série até fevereiro de 1937, inclusive. As suas inscripções poderão ser acceitas condicionalmente devendos elles apresentar o seu certificado de conclusão da quinta série até a véspera do encerramento das matriculas. Nas mesmas condições poderão ser aceitas as inscrições de candidatos dependentes da apreentação de segunda via de conclusão de curso ou de aprovação em qualquer exame.
Em julho, publicada novas regras para ingresso nos cursos superiores; em aviso do Fiscal Federal junto à Faculdade de Direito do Maranhão, era informado, através do telegrama n. 614.100 que estava à disposição dos interessados o Diário Oficial de 07 de junho, onde estava publicada a Circular 1.200, de 1º de junho, referente ao concurso de habilitação que substituiu o exame vestibular, para a matricula do ano de 1938. A 28 de janeiro, a “Pacotilha” publica discurso do Ministro da Educação, Gustavo Capanema, durante o Centenário do Colégio Pedro II, apresentando um relatório das ações do Governo federal. Sobre o ensino superior:
O Ministro da Educação endereça telegrama ao Interventor Federal, dr. Paulo Ramos, de que fora nomeado, por indicação deste, o Sr. João Soares de Quadros para Inspetor da Faculdade de Direito do Maranhão. A 20/01 o novo Inspetor assume suas funções. (“O Imparcial” de 08/01/1939).
Em março, (Pacotilha de 21/03) é publicado telegramas recebidos pelo Inspetor Federal junto à Faculdade de Direito:
[...] Rio, 25 de fevereiro... Comunico-vos que a portaria 139, de 1 de dezembro de 1938, do Diretor Geral deste Departamento estabeleceu o seguinte: Os concursos de habilitação aos cursos superiores reger-se-ão no próximo anno, pelo disposto no artigo 47 do decreto 21.241, sem alterações provenientes da lei 9-A, prevalescendo, no entanto, para as inscripções, a media de 40 de conjunto nas disciplinas de 2ª serie Complementar,. Estatuída naquela lei. Assim sendo, só serão aprovados no referido concurso de habilitação alumnos que tenham média 30 cada disciplina e 50 conjunto.
Rio, 3 março... n. 341 – Comunico-vos Ministro da Educação acaba de homologar o parecer do Conselho Nacional de Educação permitindo no presente anno sejam approvados no concurso de habilitação os alumnos que obtiverem 30 em cada disciplina e 40 em conjuncto, ficando assim sem efeito as circualres e actos anteriores fixando em 50 a referida media em conjucto.
Rio, 14. N. 418 – Resposta vosso telegrama, communico-vos ser impossível iniciar o anno lectivo antes da terminação do concurso de habilitação conforme a circular 1200. Solicito tomeis urgentes providencias junto diretoria afim de ser terminado o referido concurso cuja approvação obedece a telegramma-circular 341 do corrente mês. Ruy Lima Silva – Director. J. SOARES DE QUADROS – Inspector.
Telegrama publicado a 12 de setembro de 1939 comunicava que a Faculdade de Direito do Maranhão fora desiquiparada pelo Conselho Superior de Ensino. O corpo docente nomeou comissão composta dos catedráticos Luiz Carvalho, Tarquinio Lopes Filho e Oliveira Roma para procurar o Chefe do Governo maranhense, a fim de que sua excelência defendesse junto às altas autoridades do País a causa da Faculdade. O corpo discente, por intermédio do Diretório Acadêmico, resolveu telegrafar ao Diretor do Departamento de Ensino, ao Ministro da Educação e ao Chefe da Nação, pleiteado que seja mantida a equiparação da Faculdade.
O CASO DA FACULDADE DE DIREITO Rio (19). Voltou a ser discutido, na ultima reunião do Conselho Nacional de Educação o parecer n. 200, da comissão de ensino superior, referente à cassação das regalias que gosa a Faculdade de Direito do Maranhão. Esse parecer conclue pella aplicação da penalidade. O Conselheiro José da Fonseca apresentou uma emenda que foi aprovada contra os votos dos conselheiros srs. Reynaldo Rocha, Cesario Andrade e Parreiras Horta, para que fique adiada a applicação da cassação de reconhecimento, até o fim do corrente anno, procedendo-se, então, a uma verificação, cujo resultado será enviado ao Conselho, para deliberação definitiva.
Publicada a agenda do Interventor Federal, acusando o recebimento do seguinte telegrama, de parte do Ministro de Educação, Gustavo Capanema:
Faculdade de Direito do Maranhão – em resposta de seu telegramma intercendo em favor de nossa Faculdade de Direito, o exmo. Sr. Interventor Federal recebeu o seguinte despacho telegraphico de sua ex. o Ministro da Educação e Saúde: RIO, 3 – Off. Interventor Paulo Ramos. Recebi e li com apreço seu telegramma no. 214 sobre situação Faculdade de Direito do Maranhão. Creio que resolução final votada pelo Conselho Nacional de Educação e por mim homologada permitte encaminhamento satisfactorio assumpto, pois manda submeter Faculdade a fiscalização por funcionário idôneo, designado pelo Departamento Nacional Educação. Resultado dessa investigação manifestara governo a resolver em definitivo. [...]
De acordo com Costa (2017) 276, em 1939, a Faculdade de Direito do Maranhão e a Faculdade de Farmácia e Odontologia foram levadas a encerrar suas atividades. As razões atribuídas pelo Departamento Nacional de Ensino para o fechamento de ambas foram as irregularidades administrativas. Entretanto, há questionamentos quanto a tal versão, atribuindo essa ação a motivações políticas e não a problemas de caráter eminentemente técnico-administrativo. Dino (1996, p. 76-77)277 relata:
A chamada História Oficial conta que as razões cassatórias foram de caráter eminentemente técnico-administrativo. [...] No tocante ao arquivo da vetusta Escola Jurídica, ao que se sabe por informações oficiosas, o Dr. Soares de Quadros, então fiscal do ensino federal, quando do seu fechamento, houve por bem de empacotar toda a papelada burocrática e a remeter de navio para o Ministério da Educação no Rio de Janeiro. Na mudança do MEC para Brasília os pacotes e mais pacotes referentes à vida da velha Salamanca foram extraviados ou incinerados. O certo é que, no MEC, já em Brasília, apesar de incessantes tentativas, jamais conseguimos obter qualquer informação satisfatória a respeito. Uma outra corrente de pensamento sustenta não se poder buscar as primas causas da cassação da velha Faculdade de Direito sem a análise histórica da presença ostensiva do Estado Novo nos setores cultural, econômico e educacional em terras maranhenses.
Ao se voltar o olhar para a conjuntura da década de 1930, Costa (2017)278 afirma que esse período inaugura outra etapa do ensino superior no país e, consequentemente, no Maranhão, decorrente das profundas mudanças no cenário político e educacional, resultante do governo Vargas (1930-1945). Surge, então, um aparelho de Estado centralizador no intento de estabelecer seu projeto nacionalista:
[...] no Maranhão, [...] a presença de interventores é reflexo do centralismo adotado no governo Vargas que contribuiu imensamente para aguçar os conflitos e consequentemente a instabilidade política no estado. Só entre 1930 a 1937, governaram o Maranhão, sete interventores, cujos mandatos em geral, foram marcados por conflitos e instabilidades.” (BOTELHO, 2007, p. 178 279).
276
COSTA, Marcia Cordeiro. A GÊNESE DA EDUCAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR NO ESTADO DO MARANHÃO E POLÍTICA EDUCACIONAL: os embates travados pela sua efetivação e consolidação. VIII JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. São Luis, 22 a 25 de agosto de 2017, UFMA/Programa de Pósgraduação em Políticas Públicas
277 278
DINO, Sálvio. A FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO (1918-1941). São Luis: EDUFMA, 1996; 2ª edição 2014.
COSTA, 2017, obra citada 279 BOTELHO, Joan. CONHECENDO E DEBATENDO A HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: Fort, 2007
Para Cunha (2017), o período de 1937 a 1945 assinalou a nova fase política e educacional do país, caracterizadas por um conjunto de reformas educativas, que ficaram conhecidas como Leis Orgânicas de Ensino ou Reforma Capanema (MARTINS, 2002)280:
Em nome do princípio da autoridade e da disciplina, decisões são tomadas e a autonomia universitária é negada. Entre os objetivos explicitados por esta nova ordenação jurídica e administrativa (Estado Novo), “[...] estavam as perspectivas de ordenamento da educação; a definição de competências entre os diferentes estratos de governo (municípios, estados e união); articulação entre os diferentes ramos de ensino e a implantação de uma rede de ensino profissionalizante”. (CUNHA, 1980, p. 14)281.
Manchete em “O Imparcial” de 22 de agosto de 1941:
NÃO SERÁ FECHADA A FACULDADE DE DIREITO RIO (21) Serviço especial.- o Dr. Oliveira Roma falando ao representante de O IMPARCIAL, declarou que a Faculdade de Direito do Maranhão não será fechada. Essa decisão foi garantida pelo Sr. Abguar Ransut, Diretor do Departamento Nacional de Educação. O dr. Oliveira Roma declarou, igualmente, que foram regularizados os casos dos cursos secundários superiores, do Maranhão, considerados defeituosos.
A 03/10, em nota, “O Imparcial” se referia a insistentes noticias que chegavam, de que saira parecer opinando pelo fechamento da Faculdade de Direito. Até àquela hora, 6 da tarde, não havia sido confirmada a noticia que circulava pela cidade. Então, adveio o Decreto n. 8.085 de 21 de outubro de 1941, que cassou o reconhecimento da Faculdade de Direito. Em conseqüência, foi forçada a fechar definitivamente suas portas, [...] “sendo seus arquivos recolhidos também ao Ministério e garantido, igualmente a seus alunos que se transferissem por escolas similares em outros estados.” (MEIRELLES, 1995, p. 67)282. 280
MARTINS, A. C. P. Ensino superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais. ACTA CIRÚRGICA BRASILEIRA, v. 17, São Paulo, 2002. Suplemento 3, citado por Cunha, 2017, obra citada 281 CUNHA, L. A. A UNIVERSIDADE TEMPORÃ: O ENSINO SUPERIOR DA COLÔNIA À ERA DE VARGAS. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. citado por Cunha, 2017, obra citada. 282 MEIRELLES, Mario M. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: Alumar, 1995.
UM POUCO MAIS DE TOLERÂNCIA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Muito tenho refletido nesta passagem para um novo ano. Vejo nesta transição de anos um pouco da sabedoria com a qual nos brindou Fernando Pessoa no poema Travessial. Assim como naqueles breves rabiscos, a vida em algum momento nos exige que abandonemos nossa fatídica rotina e ousemos trilhar novos caminhos. Nas entrelinhas está dito, de forma clara e objetiva, que na vida é preciso suplantar etapas, despir-se de vaidades, abrir mão de um estilo de vida muitas vezes pré-moldado pela sociedade. Obedecermos padrões e rótulos impostos, que acabamos por aceitar e carregar sem qualquer questionamento. Após esse momento de introspecção reflexiva, cheguei a conclusão de que realmente é necessário um reexame de consciência não apenas individual, mas coletivo. Mudar é um ato particular, mas que deve guardar estreita consonância com aquilo que se espera produzir enquanto efeito coletivo no tecido social. Ouso propor como fruto das minhas inquietações que o mundo precisa de mais tolerância. E creio que não se pode falar de tolerância sem que falemos em respeito ao próximo, ao ser humano. Nunca é demais tratar esse tema tão presente em nosso cotidiano e que nos últimos anos vem levantando grandes discussões mundo afora. Todos os dias – nas rodas de conversas com amigos, no transporte público, no noticiário – nos deparamos com casos de intolerância. Os tipos de intolerância são os mais diversos, contemplando aspectos sociais, religiosos, políticos e tantos outros disseminados. Penso que essa intolerância nada mais é do que o reflexo de uma sociedade cada vez mais individualista, estruturada em guetos, cuja autoreferência apenas permite a aceitação daquilo que é tido como certo a partir de uma forma particular de ver o mundo. Tudo que é produto do mundo exterior não é conveniente e, portanto, deve ser abominado. O perigo reside na forma como cada qual reage diante daquilo que crê inaceitável. Algumas pessoas criticam, outras comentam, algumas ignoram e se fecham em seu mundo particular. No entanto, há aquelas que buscam meios cruéis para lidar com o antagonismo, terminando por gerar episódios de violência como o ocorrido recentemente que vitimou o cabeleireiro Plínio Henrique. A barbárie aconteceu em plena Avenida Paulista, coração financeiro do Brasil e um dos mais importantes centros financeiros da América Latina e do mundo. O caso mantém aceso o debate sobre a prática da violência gratuita contra pessoas indefesas apenas pelo fato de ter escolhido ser alguém fora do perfil convencional que grande parte da sociedade passou a adotar, como se isso fosse uma sentença de morte. Os motivos para a morte do jovem Plínio são muitos – segundo aqueles que praticam, devidamente fundamentados –, mas me arrisco a citar alguns: futilidade, banalidade, ignorância, estupidez, arrogância, sentimento de supremacia, homofobia, machismo, intolerância! Sim, a sempre presente intolerância. Aquela vista em regimes totalitarios e fundamentalistas, especialmente no mundo árabe, e criticada por tantos é a mesma praticada aqui no Brasil. Essa forma mais latente da intolerância, cujo resultado leva à morte, costuma camuflar comportamentos também extremistas praticadas no dia a dia nas relações mais simples. Pessoas adotam posturas de distanciamento diante do negro, do homossexual, do gordo, do magro, do religioso, do pedinte, do menino de rua, da mulher. Nas mais diversas situações, como trânsito, supermercado, padaria, porta da escola, trabalho. Ao passo que segregam, essas pessoas também são segregadas, pois colocam a si mesmas dentro de um grupo que levanta muros sociais frente aqueles cujo perfil não lhe agrada. Dessa forma, caminhamos
construindo uma sociedade de guetos e nos esquecemos que diariamente nossa vida orbita em torno do próximo e o próximo a nossa volta. Ninguém é um ser em si mesmo, ninguém é autosuficiente. Todos nós dependemos desde a nossa concepção do próximo para ser, para existir. Fomos concebidos no ventre pela união de duas pessoas. Viemos ao mundo pelas mãos de estranhos, recebemos um nome dado por terceiros, fomos criados e doutrinados pelos pais e familiares. Não importa o quão rico o ser humano possa ser, ele só o é porque outros possibilitam essa condição. Dependo do que outros plantam, quando doente é o outro que cuida de mim. Como posso me fechar em um calabouço cuja visão torpe de mundo não me permita olhar um palmo adiante de meus olhos? A contradição é algo extremamente salutar e aguça o questionamento e novas descobertas. A humanidade somente avançou quando passou a questionar seus próprios limites e os dogmas estabelecidos. Tecnologias outrora inimagináveis hoje estão ao alcance das mãos porque alguém ousou quebrar paradigmas e acreditar que era possível. É esse o fruto que a contradição deve gerar para nós. Vivemos um momento de importante reflexão quanto ao que buscamos neste mundo. Nossa passagem sobre este chão, embora não pareça, é curto e cheio de armadilhas. O 1º de janeiro é tido como o Dia da Fraternidade Universal e fraternidade nada mais é do que o convívio em harmonia entre os comuns, pessoas capazes de se ajudar mutuamente na consecução de um ideal coletivo. É preciso cultivar a paciência e o respeito. Ser tolerante inclusive com a intolerância, aconteça onde acontecer, nas circunstâncias que ocorrer. Lembro de uma importante campanha do Ministério Público que dizia “conte até 10: a raiva passa, a vida fica”. O momento, portanto, é mais que oportuno para exame profundo de consciência. Uma sociedade mais fraterna, justa, igualitária e tolerante é reflexo das atitudes praticadas cotidianamente pelos seus membros. As diferenças devem nos aproximar, jamais afastar. Que em 2019 a tolerância possa ser a palavra mais praticada por todos nós.
BEM VINDO AOS 18 ANOS OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Há um bom tempo a questão da maioridade penal vem sendo debatida no Brasil. Alguns especialistas defendem a manutenção, enquanto outros veem o rebaixamento para 15 ou 16 anos como um caminho para a diminuição da impunidade no país. Enquanto cidadão, aproveito este espaço para me inserir no debate e marcar posição sobre tema tão polêmico e delicado. Chegar aos 18 anos já foi e, de certa forma, ainda é uma transição entre a incapacidade e a capacidade civil, sob a ótica da nossa legislação, com raras exceções a essa regra. Já foi sinônimo de orgulho, de vaidade, de empoderamento, quando ouvíamos os colegas dizer: “quando eu fizer 18 anos”. Presumia-se que seria a idade do pode tudo, sair de casa, ter independência, ser dono do próprio nariz. As páginas da vida, no entanto, vão sendo escritas de forma diferente para cada caso particular e a assunção dos 18 anos não parece se concretizar como marco na autonomia outrora almejada. Importante considerar que grande parte dos jovens brasileiros com essa idade sequer já concluiu o ensino médio, além do triste índice daqueles que já abandonaram os estudos. No atual cenário sociopolítico a discussão que se dá em torno da maioridade diz respeito a sua redução para os 16 anos. Pretextos não faltam para justificar essa redução, mas, na prática, os efeitos que a medida poderia trazer são inócuos a médio e longo prazo e em nada contribuiria para solucionar a grave crise de segurança vivida no país. E não se pode querer comparar o Brasil com outras nações, nossa realidade tem suas particularidades. O único efeito imediato que a medida poderia trazer seria o incremento nas cadeias de alguns milhares de novos apenados. Para um sistema carcerário que em muitos estados já beira o colapso, seria a gota d’água que falta para o completo caos. A impunidade em si não é argumento que balize uma discussão razoável, pois ela não é a causa, mas efeito da falência das políticas públicas de segurança. As pessoas, em regra, cometem crime não porque há impunidade, mas a responsabilização pelo crime não ocorre em muitos casos pelo fato do Estado brasileiro não ter capacidade de edificar uma política criminal eficaz, tanto para o adolescente infrator, como para aquele plenamente capaz, segundo a lei. Quanto à impunidade, faço, ainda, uma importante ressalva à incapacidade das forças policiais de conseguirem elucidar uma grande quantidade de crimes, haja vista a falta de estrutura material e humana para dar conta da enorme demanda. O resultado disso é que no Brasil, por exemplo, a resolução dos casos de homicídio não chega a 10%, com índices que variam entre 5 e 8% a depender da fonte. Em regra, inquéritos são arquivados sem que haja qualquer avanço nas investigações. Uma adequada política de segurança não pode visar apenas os efeitos, mas as causas que levaram a sociedade brasileira ao quadro atual. Caso contrário, a solução seria construir presídios, diminuir a maioridade penal, aumentar infinitamente as estruturas punitivas e o quadro de pessoal para dar conta de índices cada vez maiores de problemas relacionados à violência. Não é esse o caminho! A grande lacuna social, sedimentada ao longo do século passado, entre a periferia e as áreas urbanas mais abastadas de atenção do poder público, possibilitou a consolidação de um sistema de sociabilidade paralelo ao que propõe o estado positivado. Sem acesso a bens e serviços, muitas pessoas às margens da sociedade buscaram mecanismos próprios de sobrevivência, algumas vezes indo contra as normas estabelecidas para balizar um convívio harmonioso. Ao passo que as políticas de assistência no campo falhavam, mais e mais pessoas engrossavam os índices do êxodo rural rumo a um centro urbano, incapaz de oferecer espaço e oportunidade para todos. Um sem numero de pessoas deslocadas para áreas urbanas, sem acesso a empregos, bens e serviços, resultou na
criação e consolidação de bolsões e cinturões de pobreza nos aglomerados urbanos. A ausência do Estado nessas áreas abriu espaço para uma forte atuação do crime organizado, configurando o cenário estabelecido atualmente. Já nos acostumamos a ouvir que na periferia o “bicho pega”, uma alusão ao estado de violência instalado em grande parte dessas áreas. Crianças não têm acesso a escolas de qualidade, tratamento de saúde, saneamento básico e faltam espaços para a cultura, o lazer e o esporte. É nessa ausência do Estado que o criminoso passa a agir, recrutando crianças e adolescentes para atuar nas carreiras do crime desde muito cedo. Muitos jovens que hoje estão envolvidos com a criminalidade não conheceram outro caminho se não aquele que os levou a um mundo sombrio. A maioria cresceu dentro e para o tráfico, sendo esta a porta de oportunidades que lhe abria para fugir da escassez de bens materiais e até mesmo itens básicos à sobrevivência desde a tenra idade. Nessa minha curta carreira de magistrado já vi muitas histórias com enredos iguais, mudando apenas os personagens de uma narrativa social trágica. Defendo que alterações na maioridade penal não trarão benefícios à sociedade, no máximo poderão mascarar temporariamente uma realidade que está encravada nos bolsões de pobreza. O desenvolvimento sustentável de uma nação deve ter um caráter sistêmico, considerando que ações de uma área específica interferem em outros segmentos sociais. Assim, faz-se necessário quebrar o ciclo de pobreza que insiste em ser reproduzido nos bairros periféricos. E o ponto final a todas as mazelas é uma forte intervenção estatal no sentido de oportunizar novos horizontes para crianças e jovens, principalmente na oferta de uma educação integral, plena e de qualidade. Precisamos retirar nossas crianças e jovens das ruas, espaço onde a iniquidade se reproduz. O país do futuro se constrói com pessoas e livros. Chegou a hora de pensar o Brasil um pouco mais adiante do que está apenas ao alcance dos nossos olhos. Precisamos dotar nossas crianças e adolescentes de plena capacidade intelectual e somente assim poderemos lhes dizer: bem vindo aos 18 anos. Neste caso, com uma perspectiva de ir muito além.
CUIDAR DO MEIO AMBIENTE É GARANTIR O FUTURO DA HUMANIDADE. OSMAR GOMES DOS SANTOS, Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Acalorados debates vêm ocupando as agendas das nações mundo afora com um assunto que não pode mais ser menosprezado: Meio ambiente. Cuidar das nossas riquezas naturais é, sem dúvida, garantir a perpetuação da espécie humana, uma afirmação que já virou lugar comum; o caminho inverso, no entanto, é a certeza de que nossa estadia neste planeta estará com os dias contados. Não obstante previsões apocalípticas, do polo norte ao polo sul vemos as geleiras se desmanchando a cada ano, impactando na elevação do nível dos oceanos. Catástrofes ligadas diretamente às mudanças climáticas são vistas em várias partes do mundo, tais como furacões, tempestades, inundações, deslizamentos de terra, entre outras. O planeta terra dá claros sinais de que já não suporta ser um depositário de todo descarte da espécie humana. A produção de resíduos cresce de forma acelerada em todo mundo e tem relação direta com o aumento populacional. Em dados mais atualizado, apresentados pelo Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, já são mais de 2 bilhões de toneladas anuais de lixo em todo o planeta e, apesar de oficial, esse número pode ser ainda maior. Seguramente algo em torno de 90% desses resíduos vão parar na natureza. O planeta é sistêmico. Os problemas dos resíduos não se resumem aos impactos diretos na natureza, a exemplo da contaminação de lençóis freáticos, surgimento de pragas e proliferação de doenças; a ameaça invisível é, também, uma das mais nocivas. Gases tóxicos, gerados por lixões e esgotos sem tratamentos somados àqueles produzidos pela queima de combustíveis fósseis, são liberados na atmosfera e ao longo dos anos vêm contribuindo para degradação da camada de ozônio. Segundo especialistas, esse despejo realizado de forma irregular e desenfreada tem sido responsável pelas grandes variações climáticas vistas nas duas últimas décadas e possui relação direta com a grande parte dos desastres naturais. Além disso, há o investimento cada vez mais elevado em saúde pública e programas sociais voltados para o setor sanitário. Como no resto do mundo, os aumentos da população e do poder de consumo dos brasileiros também vêm refletindo em maior descarte de lixo, que termina por receber destinação incorreta devida a falta de espaços adequados. Não é raro ver praias e vias públicas tomadas por todo tipo de material inservível dispensado pelos próprios cidadãos. Mudanças severas de direção são obrigatórias e urgentes, mas por onde começar? O que os governos podem efetivamente fazer? E qual o nosso papel enquanto cidadão? Já resta provado que no cenário atual as políticas públicas precisam ser desenvolvidas com as comunidades, que por sua vez precisam sim assumir o papel de protagonistas das transformações necessárias. Tomando para análise a nossa realidade, verifica-se que o Maranhão ainda carece de uma política mais arrojada de tratamento de resíduos, avanços que constatamos apenas na capital São Luís. Nos últimos anos a gestão municipal vem implementando ações que visam dar destinação correta a esses resíduos sólidos, seja nos aterros sanitários ou por meio do programa de reciclagem instituído pelos chamados ecopontos. Aqui vale aplaudir, ação que deve ser continuada e exemplo que deve ser seguido. É preciso destacar, que a contribuição da população deve ser a mais efetiva possível, evitando jogar lixos nas esquinas ou em terrenos baldios. Por mais que o poder público venha tentando fazer a sua parte, a população ainda continua jogando lixo em espaços inadequados, mesmo naqueles bairros onde existe um ecoponto como política de reaproveitamento e de preservação do meio ambiente. Interessante notar que esses espaços recebem todo tipo de resíduo sólido, como papel, vidro, plástico, metal, entulho, entre outros.
Cuidar da cidade não é apenas preservar o patrimônio, mas contribuir para que os espaços públicos, portanto, de todos, sejam espaços para o livre trânsito, para o convívio entre os concidadãos, para o livre fluxo das águas pluviais, que infelizmente continuam a encontrar galerias entupidas pelo lixo, por exemplo. Chegamos numa grande encruzilhada, na qual queremos ter cada vez mais acesso a bens de consumo para nosso conforto e comodidade e, ao mesmo tempo, precisamos implementar ações de preservação dos recursos naturais disponíveis. Desenvolvimento sustentável, portanto, é o tema de maior peso e inaugura uma nova ordem mundial, na qual precisamos, todos, ser responsáveis pelos impactos ao meio ambiente trazidos por nossas ações. E essa responsabilidade começa no simples ato de consumir. A ideia do consumo sustentável não se insere somente no campo econômico, onde fortalecemos a prática de apenas consumir a um menor custo e de forma que possamos pagar. Consumir de maneira responsável abre uma visão mais ampla sobre a origem dos produtos que compramos e a consciência do impacto no meio ambiente para a produção dos mesmos. Essa nova forma de se relacionar com a natureza possibilita que obtenhamos apenas o necessário para o consumo cotidiano, evitando os excessos e desperdícios. Com base nessa concepção inicial, passamos a desenvolver a cultura do reaproveitamento e da reciclagem, oportunidade em que deve entrar o poder público com uma forte política de destinação correta dos resíduos sólidos produzidos em uma sociedade. A preservação, portanto, está ao alcance de todos e é possível por meio de ações simples colocadas em prática diariamente. Defendo que para isso é preciso existir um permanente diálogo entre governo e sociedade, cujo resultado seja a definição de políticas públicas para a preservação do meio ambiente com a efetiva participação popular.
QUANTO VALE O PROGRESSO? OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Há uma semana ocupei este espaço para falar sobre meio ambiente. Paralelamente mais um desastre de proporções ainda incalculáveis acontecia em Minas Gerais. O Brasil mais uma vez sucumbiu diante de uma tragédia e ainda chora, com Brumadinho, a perda impagável de centenas de vítimas da atividade mineradora, considerada como um forte pilar na economia da nação, mas que tem seus percalços. Sobre o episódio, Haroldo Matos de Lemos – coordenador de cursos na área de gestão ambiental e sustentabilidade da FGV – afirmou, esta semana, em cadeia nacional, que algumas das consequências do aquecimento global são fortes estiagens em algumas áreas e chuvas intensas em outras regiões. Segundo o especialista, a tendência é que a população do planeta passe a conviver com maior quantidade de tragédias naturais, em razão de fatores climáticos. Não posso negar que me sinto inclinado a corroborar as palavras do nobre especialista, exceto por uma questão: tragédias naturais também podem ser previstas pelo homem, mais notadamente quando a sua interferência impacta diretamente no ecossistema de um determinado local. O caso de Brumadinho, tal como o de Mariana, não pode ser considerado um fenômeno da natureza de uma forma isolada. Não está no centro da questão um rio que transbordou por excesso de chuvas, de raios ou vendavais que devastaram uma cidade, da fúria de um vulcão, maremoto, tsunami. Estes, sim, são eventos naturais que podem ter relação com o aquecimento global. No caso das barragens rompidas Brasil afora, há uma direta intervenção do homem na natureza, que modifica o seu estado natural para a construção de reservatórios de rejeitos. Suspeita-se que o excesso de chuva possa ter impactado no aumento da capacidade da barragem, o que somado à terra encharcada poderia ter contribuído para o rompimento. É uma linha provável de investigação, mas isso não poderia ter sido previsto? Por que os cálculos frios da engenharia não permitem considerar o “e se”, aqueles eventos que podem acontecer, embora não seja o esperado? Certamente esses cálculos estão mais alinhados com o saldo positivo das cifras que a atividade é capaz de gerar. Inquieta-me saber que na rota de uma possível tragédia sentavam-se, todos os dias, pessoas à sombra das arvores, outras pescavam, algumas se deleitavam nas pousadas da região, outrem labutavam nas lavouras e na criação de animais, enquanto muitas outras compartilhavam tranquilamente as dependências da empresa mineradora. Sob os pés do “vulcão adormecido”, sentavam-se à mesa do refeitório, faziam reuniões, debatiam projetos, discutiam a produção, tratavam do progresso do país, trabalhavam. Como a falta de planejamento ao longo dos anos permitiu que bairros inteiros fossem consolidados naquela área? O “e se” poderia ter sido invocado, mas a lucidez dos números não se confunde com as “remotas” probabilidades da vida como ela é, do pragmatismo, com certa dose de empirismo. As lições do passado não encontram espaço nas frias equações matemáticas. Porque não houve atuação para prevenir danos maiores e resguardar vidas? Cadê as sondas, alarmes, sirenes, planejamento das construções dispostas no campo de trabalho? Todo esse planejamento é indispensável diante de uma modelo de estocagem ultrapassado e já até proibido no vizinho Chile. Ah, sobre a razão de ainda termos tal tipo de barragem? Ele custa três vezes menos que outro modelo mais seguro. Quanto Vale o progresso? Neste cenário tenebroso, o que é ruim costuma prenunciar algo ainda pior. Processos são finalizados em tempo recorde, sem parecer atender critérios básicos de segurança. Tudo isso é feito a toque de caixa, sob a ganância das cifras que o negócio pode gerar. Prova disso é que a empresa em questão teve autorização, ainda em 2018, para retomar as atividades naquela barragem, o que impactaria em ainda mais rejeitos em um espaço que agora se percebe saturado.
Em Brumadinho os Governos Federal e Estadual agiram rápido. Bloqueios de verbas da Vale foram realizados e já somam mais de R$ 12bi. Bombeiros de vários estados, e até militares de Israel, se juntaram a dezenas de voluntários – pessoas comuns – que dedicaram seu tempo ao próximo, exemplos que merecem o aplauso da sociedade. Esforços para encontrar vidas foram envidados, resta agora, pelo menos, encontrar os corpos e dar às famílias a dignidade de enterrar seus entes, receio que algumas não consigam. Em todo esse contexto dramático, outro fato que também me chama atenção é a pesada máquina pública, que apesar dos aumentos de arrecadação ainda não conseguiu devolver aos cidadãos um serviço de fato eficiente e de excelência. São 24 mil barragens, 790 destinadas a rejeitos de mineração, apenas 36 técnicos trabalham para desarmar centenas de bombas-relógio em todo o país. Temos uma política de fiscalização frágil, que não atende à política nacional de mineração. Muitas vezes a inspeção ocorre sob a responsabilidade e expensas das próprias mineradoras, que contratam empresas especializadas para emitirem laudos sobre a sua atividade. Que confiança se pode ter nesses certificados? Uma coisa é certa, dinheiro não faltou à Vale para prevenir essa catástrofe. A empresa era uma das mais rentáveis no segmento e obtinha lucros exorbitantes com a comercialização de minérios mundo afora. Portanto, no caixa da empresa havia dinheiro para fazer os investimentos necessários para evitar uma tragédia dessa magnitude. Não se pode, então, chamar o evento apenas de caso fortuito, força maior, desastre natural. Sob escombros e uma densa camada de lama o Brasil perdeu histórias, sonhos, vidas. Juntamente são enterrados valores, costumes, tradições daquele povo que ali vivia. Embora todo esforço despendido, é fato que a responsabilização daqueles que erraram precisa ser feita, inclusive a própria Organização das Nações Unidas emitiu comunicado ao governo brasileiro para que faça uma profunda apuração nesse sentido. Medidas começam a ser tomadas. Intensificação de todas as barragens de alto risco, a vale anuncia pagamentos para que as famílias atingidas possam organizar suas vidas, o presidente da Vale afirma que dará um fim a barragens como a de Brumadinho, o governo federal promete rever a política nacional de barragens. Que essas medidas não sejam apenas palavras ao vento, pois a lentidão diante do caos de Mariana custou caro. Existem no Brasil cerca de 24 mil barragens, das quais 40% não têm outorga alguma para funcionamento e centenas delas são destinadas a rejeitos de mineração. Essa realidade ratifica a força e a necessidade que temos da atividade mineradora, mas é fundamental que essa expropriação da natureza alinhe o progresso à manutenção do meio ambiente e das vidas, em detrimento do lucro pelo lucro. Quanto Vale o progresso? Vivemos no Brasil sob o efeito do medo. Medo do próximo assalto, do próximo assassinato, da próxima tragédia. O país parece ter se transformado em uma grande roleta russa, da qual podemos, sob o “azar” do destino, ser a bola da vez. Embora pareça tarde, é importante que as medidas sejam efetivamente adotadas. Ainda temos muitas vidas na rota de muitos “vulcões” apenas adormecidos, mas prestes a mostrar toda a força devastadora que possui. E combustível para isso parece não faltar: a ganância e a indolência humana. Ao cabo de tudo, uma pergunta não pode calar: quantas vidas, afinal, Vale o progresso?
MAIS DIGNIDADE OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
O ano era 1970. Em uma pequena embarcação, na companhia de minha mãe, deixei minha amada Enseada Grande, povoado de Cajari, rumo a Cidade de Penalva. Lá chegando, rumamos, agora já na Lancha Ribamar, para a capital em busca de uma vida melhor. Foram dois dias e uma noite navegando águas nem sempre calmas, mas a todo instante transbordando de incertezas sobre o que viria dali por diante. Na travessia faltava de tudo, mal tínhamos o básico para suportar aquela viagem e até as roupas eram escassas. Meus pés descalços tocaram o chão frio desta cidade em uma noite de chuva e fortes ventos que faziam meu franzino corpo tremer. A cada rajada o arrepio tomava conta de mim e uma sensação de mil facas atravessando-me a carne me fazia chorar. Mas chegamos. Cá na capital estávamos. Ao aportar, meus irmãos, que aqui já residiam, nos aguardavam na rampa Campos Melo, na Avenida Beira Mar. Além de comida, obviamente, eu desejava avidamente uma roupa seca e uma cama quente para me aquecer. Partimos rumo a nosso destino, mas ao chegar a esperança deu lugar a uma espécie de desilusão, deveras passageira. O nosso cartão de visita denotava que nossa trajetória não seria das mais fáceis na nova terra. Um abrigo de restos reaproveitados de madeira, “estaqueadas” sobre a maré, na parte baixa do Bairro São Francisco, passou a ser o nosso novo lar. De engraçada nada tinha. Nem teto, nem chão, nem nada. Dormir na rede nem pensar, pois as paredes não iriam aguentar. Mas ali tinha esmero... Ah sim! O esmero afetuoso da minha mãe e a união entre os irmãos nos garantia a vaga esperança de dias melhores. Ali compartilhamos bons momentos em família, a exemplo daquela primeira refeição, um mexido de ovos de galinha caipira com farinha d’água, o pouco alimento trazido na viagem. Mas também muitas desventuras, que temíamos resultar em um acontecimento mais grave. A conhecida maré de lua, de tão alta, era um dos nossos maiores pesadelos. Nessa mesma região, às margens da atualmente Avenida Ferreira Gullar, cresci e tomei consciência do empoderamento que o conhecimento nos possibilita. Decidi que tínhamos que nos unir para reivindicar melhorias, momento em que conseguimos fundar, ali, a associação dos palafitados, da qual fui seu primeiro presidente com apenas 16 anos de idade. Nossa luta deu frutos e as palafitas deram lugar a casas de tijolos e telhas, ruas urbanizadas e ao hoje denominado Residencial Ana Jansen, localizado por trás do campo de futebol “Beira Rio”, do São Francisco. Lembro do sorriso no rosto de cada vizinho, da alegria no olhar de cada colega ao poder adentrar em uma casa de alvenaria, uma cobertura de telhas, do pisar em uma rua asfaltada. Abrir uma torneira e dela jorrar água potável para uso diário, o banho que já não era de cuia, mas de um bom chuveiro em um banheiro decente, cujas necessidades já não eram mais feitas por um pequeno buraco sobre a maré. Mas, ao longo das últimas duas décadas, o que verificamos foi que aquele tipo de ocupação irregular voltou a crescer naquela região do São Francisco. Por anos transitei pela Avenida Beira Mar e cruzei a Ponte José Sarney tendo minhas memórias resgatadas por um cenário que nem de longe representava nossos belos cartões postais. Mais uma vez lá estavam, encravadas sobre a maré, dezenas de palafitas. Dezenas de famílias, centenas de vidas que só esperavam por um pouco de dignidade. Não tinha como não rememorar aqueles tempos difíceis de criança e adolescente. As lembranças insistiam em me transportar para uma infância onde faltava todo tipo de serviço básico, tal como lazer, educação, saúde, esporte, cultura, saneamento. Vivia-se para o trabalho e para o estudo, certamente nessa ordem.
Assim como naquela década de 1980, a esperança para essa região mais uma vez vem do poder público. Muito já foi feito nas duas últimas décadas, e mais recentemente, escolas foram reformadas, Academias e praças de esporte ao ar livre, estádio de futebol, eco ponto, etc., foram construídos, e bem recente foi dada a largada para o grande trabalho de reurbanização na região com o chamado PAC Ponta do São Francisco, com investimentos de quase R$ 8.000.000,00( oito milhões de reais), além de um condomínio residencial prestes a ser entregue. Ao voltar meu olhar para toda essa parte baixa do São Francisco a emoção transborda o coração. Viajo no tempo em que as mesmas melhorias me fizeram chorar, quando pela primeira vez tivemos uma casa de tijolo e cimento, coberta com telhas. Sou uma pessoa que guarda e valoriza as origens, razão pela qual sempre mantive contato com amigos e familiares que ainda residem no Bairro São Francisco. Após a assinatura da execução das obras, em momento de grande festividade para milhares de pessoas beneficiadas, aquela mesma esperança e alegria voltaram a habitar o olhar e o sorriso de centenas de cidadãos contemplados pelas benfeitorias que virão. Não estou aqui a levantar bandeira política e jamais o farei como magistrado. Mas como cidadão que traz na pele a marca de anos a fio de sofrimento, sei como é importante a intervenção do poder público na vida das pessoas. Diferentemente do que muitos pensam, as comunidades só querem e precisam de duas coisas: dignidade e aoportunidade. Ainda na qualidade de cidadão, coloco-me a criticar e cobrar quando necessário. Da mesma forma, cabe uma postura de reconhecimento a tão importante investida que conta com uma importante parceria entre governos federal, estadual e municipal. Mais que trazer benfeitorias, percebo que essa obra, antes mesmo de ser concluída, já atingiu o coração das pessoas que ali residem. Cuidar das pessoas, olhar para elas e reconhecer o valor que têm é a melhor obra, o maior legado, que o poder público pode deixar para sua população. Muitos terão água encanada pela primeira vez, outros saberão o que é compartilhar da vida em comunidade nos espaços comuns, como praças, quadras poliesportivas e o renovado campo de futebol, áreas onde centenas de jovens ocuparão seu tempo praticando esporte. É esse o papel do homem público: garantir o empoderamento dos cidadãos, com ações que devolvam a eles a dignidade, contribuindo para a elevação da autoestima. Esse cidadão precisa de confiança no futuro, o que o faz elevar suas potencialidades e a capacidade de realização. Com essa reflexão reforço que uma cidade melhor para se viver é possível a partir de cada um de nós. O poder público funcionando e fazendo sua parte; o cidadão se apropriando das oportunidades e contribuindo para o progresso da comunidade onde reside. Dignidade para todos e viva a nossa querida São Luís.
A POLÍCIA QUE QUEREMOS E AJUDAMOS A CONSTRUIR OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Muito se vem discutindo acerca do papel da polícia na sociedade atual. Posições a favor e contra são defendidas, até com certa efusividade, diariamente, seja no bar da esquina ou em uma sala cheia de especialistas. Decerto que a polícia é uma força extremamente necessária à manutenção da ordem e da segurança, mas o exercício da função deve gozar das prerrogativas sem extrapolar os limites legais e constitucionais. Todos os dias ouvimos no noticiário acontecimentos envolvendo profissionais das forças de segurança. A tônica levada para a sociedade, via de regra, por meio da imprensa, tem sido a atuação de uma polícia truculenta, violenta, a que mais mata no mundo. Agentes envolvidos com práticas criminosas já são lugar comum nas páginas policiais, onde, por vezes, o mocinho troca de lugar com o bandido. É inegável que existam aqueles policiais que exercem sua função às margens da lei, usurpando funções que lhes compete ou mesmo adotando condutas reprováveis ao se associarem a práticas ilícitas. O que explica o fato de profissionais que deveriam proteger o cidadão simplesmente trocarem de lado e escolherem um caminho que nada honra a sua farda? Permito-me a inferir que o problema não está na atividade policial, mas sim no desvio de caráter que pode atingir qualquer ser humano, de qualquer classe social, em qualquer função, pública ou privada, na qual esteja investido. A farda nada mais faz do que dar uma falsa sensação de poder àquele cujo caráter é desvirtuado, enrustido de vaidade, arrogância e prepotência. Ressalta-se, vemos isso diariamente nas mais diversas áreas. Tive o privilégio de compor o quadro da Polícia Judiciária deste Estado e o prazer de atuar junto a tão esmerados policiais civis e militares, cujo exercício engrandece suas instituições. Uma minoria, infelizmente, e isso ainda hoje ocorre, ainda extrapola os limites de sua atuação, esquecendo-se do papel social que lhe cabe junto à sociedade. Vimos caso recente em episódios que sucederam o assalto ao Banco do Brasil de Bacabal. Embora na posição de magistrado, onde busco cumprir com zelo e dedicação a função a mim atribuída, considero-me um homem comum, motivo pelo qual mantenho permanente contato com aquelas pessoas também ditas comuns. Por essa razão, sempre há espaço para uma prosa sobre essa pauta, algo que considero importante e que merece atenção e um debate sério. Não raro ouço depoimentos de pessoas de farda que cometem extravios de função, seja da baixa ou da alta patente. Arrogância, prepotência e até ameaças em torno de situações cotidianas, nas quais deveria imperar o diálogo, são assuntos relatados por aqueles com quem mantenho permanente relação, aqui ou no interior do Estado, onde ainda preservo boas amizades, a exemplo da minha Cajari, na Baixada Maranhense. São posturas que não se coadunam com a posição de qualquer servidor público, não compactuando com a atuação policial, notadamente aqueles de alta patente, a quem cabe servir de bom exemplo para sua companhia. Recentemente “viralizou” nas redes sociais um vídeo de policiais da patrulha motorizada que pararam em um bairro de uma determinada região, aparentemente pobre, para “brincar” de bete com a criançada. É um jogo comum nos bairros mais carentes, no qual uma dupla defende sua posição tentando rebater uma bola similar à de tênis lançada por outra dupla, que por sua vez tenta derrubar uma lata colocada dentro de um círculo que é defendido pela primeira dupla. Regras do jogo à parte, fato é que ali eles não estavam brincando, fugindo à sua missão, muito pelo contrário. Aqueles dois policiais deram uma lição de civilidade ao dizer para aquela comunidade que ela
pode contar com o auxílio da polícia e que esta estará ao lado dos cidadãos para o que der e vier. Estabeleceu-se uma conexão positiva, um elo de confiança e de credibilidade. Isso porque o policial, antes de tudo, é um servidor público e, como tal, precisa servir a sociedade com zelo e esmero. O trabalho de relacionamento, por meio do qual se conquista a amizade, ajuda na prevenção à criminalidade e certamente contribui para a elucidação de eventuais práticas delituosas. É de policiais como esses que precisamos. Na verdade, precisamos de servidores públicos assim em todas as áreas, atuando com primor e que olhem para os cidadãos como maiores beneficiários dos seus atos. E temos esses profissionais da segurança no quadro, importante ressaltar. Digo sem medo algum de errar que a soberba e a prepotência ficaram para alguns poucos. O respeito, a humanidade e a humildade certamente imperam nos quadros das forças policiais. Em sua maioria são agentes que atuam com zelo e amor à função que lhes é assegurada, que é guardar e proteger a sociedade. Abaixo a ditadura da soberba e da prepotência escondida por trás de uma farda. Exaltemos aqueles que, verdadeiramente, carregam a polícia no coração, na sua alma. Essa é a polícia que queremos e, como cidadãos, temos o dever de ajudar a construir.
ATÉ ONDE VAI A LIBERDADE? ALDY MELLO * Liberdade é por excelência a ausência de submissão. É fruto de uma conquista e, através dela, o homem demonstra sua inteligência, fazendo-se conhecer como um ser cultural. O homem nasceu para ser livre, vencendo as forças que ameaçam sua liberdade. Toda liberdade significa o direito de agir, em conformidade com o livre arbítrio. Cada pessoa tem suas ideias, sua forma de proceder e ver o mundo, pois a liberdade é sentida e posta em prática como quer a Filosofia. Todo homem é interpretação reflexiva do comportamento humano e das regras que o comandam. Assim, a moral sempre foi e será o centro de convergência da Filosofia. Santo Agostinho, em sua obra De Libero Arbítrio, diz que a liberdade existe quando se faz uso do livre arbítrio. Na liberdade entra o elemento fundamental que é a verdade, o que no livre arbítrio é, antes de tudo, uma faculdade. Existe uma íntima relação entre liberdade e cidadania. Enquanto a liberdade demonstra uma ausência de submissão, a cidadania designa os membros de uma sociedade e influencia o destino do Estado, quando o cidadão é chamado a participar do poder. Cidadania, portanto, é uma liberdade política. Liberdade é, sobremaneira, comunicar o pensamento sobre as diversas formas da vida: intelectual, moral e social. Um homem com liberdade é aquele que luta contra as degradantes violências e outras tantas arbitrariedades, até o abuso de poder. É aquele que age sem temor. Cada cidadão tem o direito de expressar seu pensamento, assim como a imprensa tem a missão de informar. Não haverá democracia sem liberdade. Para ser livre é necessário ter pleno acesso às informações, só assim, pode o cidadão expressar livremente seu pensamento. A imprensa é a vista da nação. O sonho de liberdade prosseguiu e trouxe para o seio da sociedade a questão da liberdade e da justiça. Foi Rui Barbosa quem primeiro abordou o direito dos miseráveis, dos mendigos, dos escravos e dos criminosos. Dizia que o direito é um só: dos ricos e dos pobres. A justiça dever ser mais atenta com os miseráveis e os pobres. Em Haia, Rui Barbosa fez prevalecer o sentimento de liberdade, quando defendeu a igualdade jurídica dos Estados. Não importa que sejam ricos ou pobres, pequenos ou grandes. Prevalece a igualdade jurídica e a soberania de cada um. O ideal de Rui era o da implantação da justiça, a predominância da lei e o fortalecimento das instituições livres. Não existe liberdade sem ideal, que significa amor, abnegação, fé cristã e sacrifício pelos interesses superiores da humanidade e a compreensão da vida. Com o princípio de que a União é o agregado orgânico que não pode viver sem os órgãos, assim como os órgãos não podem viver sem a União, a República será fortalecido pelo poder central do sistema federativo e diminuirão os excessos do separatismo dos estados. Se buscarmos o conceito de liberdade, podemos dizer que ela significa o direito de agir segundo o livre arbítrio. No exercício da liberdade está o próprio exercício da vontade, o sentimento da sensação de estar livre, de não depender de ninguém ou de nada. Não existe liberdade de fato sem a construção dos ideais liberais e o exercício dos direitos de cada pessoa. A pátria é constituída por elementos como a honra, a liberdade, a disciplina e o sacrifício. A pátria somos todos nós. Não é um sistema, uma forma de governo, nem tão pouco uma seita. A pátria é a comunhão da lei, de uma língua, da liberdade, de um povo e suas tradições. *
Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Fundador da ALL e membro efetivo do IHGM.
A VIDA PEDE PASSAGEM OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Transitar pelas ruas e avenidas da nossa querida São Luís tem sido uma tarefa cada vez mais difícil para os pedestres, em razão do aumento do número de carros nas duas últimas décadas. Por mais que planejamentos sejam feitos e projetos sejam executados pelo poder público, o cidadão ainda encara a mobilidade urbana como um grande desafio. Seja com o objetivo de se locomover até o trabalho, resolver assuntos particulares, ir para escola ou mesmo a lazer, o cidadão ludovicense precisa encarar o fato de que está em uma cidade grande e que a mesma sofre os impactos de uma metrópole. Esteja em veículo próprio, a pé ou no transporte público, o cidadão certamente vai se defrontar com os gargalos no trânsito e os efeitos negativos trazidos à sua vida. A quantidade de veículos em São Luís, segundo o Detran, é de 400 mil veículos, incluindo motos, carros, camionetas, caminhões e ônibus. Mas a frota diária em circulação pode facilmente superar os 460 mil veículos, se forem consideradas as frotas de todos os municípios da ilha somados. Isso porque o deslocamento intermunicipal é diário e permanente, sendo um fator a considerar quando se fala de mobilidade na capital maranhense. Nesse emaranhado de máquinas de aço que se movem por todas as direções, o pedestre continua sendo a parte mais frágil frente aos meios de transporte. Refletindo sobre o tema, cheguei a conclusão de que, enquanto os veículos voadores ainda não saíram da ficção para o real, há pelo menos uma opção viável que certamente trará benefícios, tanto para pedestres, quanto para motoristas: a boa e velha passarela. Antes que os mais céticos digam que é inócuo pensar essa alternativa para nossa capital, visto que uma antiga experiência não dera certo, peço a devida vênia para abordar o assunto sob a ótica de uma cidade que cresceu em população e número de veículos. Diferentemente da São Luís da década de 1990, quando uma passarela colocada em frente ao Terminal Rodoviário não era atrativo para os pedestres, que insistiam em se arriscar em uma travessia ainda pouco arriscada, a cidade de hoje apresenta perigos comuns a qualquer cidade grande. Como disse acima, o número de carros cresceu assustadoramente nessas duas últimas décadas e o resultado disso foi a elevação dos índices de congestionamentos, acidentes e atropelamentos. Apenas para exemplificar, na capital, quase 50% das mortes no trânsito em 2018 foram de pedestres, 32 vidas só no ano passado. Na região metropolitana esse número chegou a 78 óbitos em 2016. Chama atenção, também, as centenas de acidentes que não resultam em óbitos, mas deixam sequelas físicas e psicológicas por toda uma vida. No uso dessa travessia, a segurança das pessoas é o maior benefício, uma vez que os atropelamentos não ocorrem. Naturalmente não se pode encher a cidade de passarelas, mas tão somente naquelas vias onde, em regra, a velocidade costuma ser mais elevada e onde há maior incidência de atropelamentos, a exemplo das principais avenidas que cruzam extensas áreas da capital ou mesmo daquelas que ligam a outros municípios da Grande Ilha. Daí porque entendo que uma política que vise dar ainda mais segurança às pessoas que se locomovem pela cidade é necessária, razão pela qual defendo o uso das passarelas. As últimas intervenções recentes no
trânsito de São Luís foram bem-vindas e melhoraram o fluxo em alguns pontos. O uso da passarela pode ajudar ainda mais nesse ganho de tempo, que hoje é desperdiçado nas ruas e avenidas. Esse tipo de passagem, tecnicamente chamada de travessia em desnível, pode contribuir para a melhoria do fluxo nas principais vias da cidade. Com a instalação das passarelas em locais de grande travessia de pedestres – como hospitais, shoppings, escolas, faculdades e áreas comerciais – haverá a consequente eliminação de inúmeros semáforos ao longo das avenidas, permitindo maior fluidez ao trânsito. O tempo que uma pessoa gasta no deslocamento de um bairro mais afastado até a região central pode chegar a uma hora e meia. Com a eliminação de um sem número de semáforos e a instalação de passarelas esse tempo poderia, em tese, ser reduzido para até uma hora e o pedestre não gastaria mais de um minuto para atravessar uma simples passarela para chegar ao seu destino com segurança. Ao se eliminar os semáforos, também se diminui os gastos com manutenção preventiva e corretiva desses equipamentos, além dos transtornos ocasionados por eventual funcionamento inadequado. Por fim, ressalto que não basta o poder público fazer a sua parte. O cidadão precisa se inserir na política de mobilidade urbana e incorporar a medidas que vêm para seu benefício. É necessário que a sociedade estabeleça uma espécie de pacto urbano, no qual cada cidadão passa a ser não apenas um beneficiário, mas um agente promotor das boas iniciativas. Já que estamos em ritmo de carnaval, vamos colocar o bloco nas ruas e abrir alas para a vida, para a paz e a segurança no trânsito. A vida pede passagem e uma passagem segura. Podemos todos fazer juntos.
O CARNAVAL E SUAS VÁRIAS FACES ALDY MELLO
O Carnaval, além de tudo, é o grande momento do ano em que se pratica a ideologia da liberdade. Bailes, desfiles carnavalescos com trajes e personalidades que são diferentes do habitual. O Carnaval é uma parte importante da cultura brasileira, o que para os brasileiros o desfile das escolas de samba da Marquês de Sapucaí é o maior espetáculo na Terra. O Carnaval do Rio de Janeiro é o maior do mundo, segundo o Guiness Book. Em Recife, o Galo da Madrugada, considerado o maior bloco de Carnaval do mundo, comanda o prazer de milhares de pessoas e, em Olinda, os Bonecos Gigantes desfilam pelas ladeiras da cidade. O frevo expressa um estilo de dança e ritmo musical típico do Carnaval pernambucano. Em Salvador, uma multidão vai às ruas e às praias ao som dos trios elétricos. . É uma festa pública onde há muita semelhança com as atividades circenses. Pobres e ricos, mendigos de rua, crianças e todas as classes sociais brincam e se divertem na Festa de Momo. A nossa alegria de brincar vem alcançando espaço cada vez maior, carregada que é de emoções, seja nos grupos de samba, nas escolas e nos blocos de rua. Em fevereiro, queremos sorrir, pular e dançar, repartindo a nossa alegria, vivendo, portanto, o ritmo da folia e do folguedo. O Brasil é tão carnavalesco que já inscreveu em seu calendário o período précarnavalesco e o Carnaval fora de época. O Carnaval, como acontece com o Natal, tem sua magia com seus símbolos e representações. Haverá sempre uma máscara que nos dá a sensação de sermos outro, uma fantasia que nos leva aos sonhos e buscas, os carros alegóricos, um forte som para pular e remexer, um festival de folguedos que nos leva a outros tempos e até à infância. Quem, em boa memória, não se lembra dos Carnavais do Jaguarema, do Lítero e do Cassino? Da Casinha da Roça? Dos bailes do Municipal no Rio? Dos concursos de fantasias? Em fim, dos outros carnavais. Toda a liturgia do Carnaval nos faz lembrar os amigos, as luzes e as músicas carnavalescas que mexem com os nossos sentimentos. Tudo isso faz parte da magia do Carnaval, hoje consagrada pela exagerada sociedade de consumo e exposta nas lojas e nos shopping centers. É a grande festa da emoção que parte do planeta ostenta. Cada país tem sua maneira de celebrar o Carnaval. Depois do Brasil, que representa um sentimento nacional, os carnavais mais importantes são o de Nova Orleans, nos Estados Unidos, de Nice, na França, de Colônia, na Alemanha, e Toronto, no Canadá. Os bailes de máscaras foram criados na França, no século XVII, mas foi no Renascimento que eles tiveram maior sucesso com a participação de Veneza. O Carnaval tem um poder de mexer com as cabeças e os corações dos brasileiros. Não há dúvidas de que é a maior festa do povo brasileiro, embora tenha suas várias faces, o Carnaval do descanso, da fuga, da reflexão, mas o Carnaval tem sua cor, seu encanto e sua magia. Parece mentira, mas o Carnaval é um festival do cristianismo ocidental e tem lugar no período anterior à Quaresma, antes da festa da Páscoa. O termo Carnaval vem do latim carne vale que quer dizer adeus à carne, pois a quaresma é tempo de jejum e abstinência. Anteriormente existiu o entrudo, que era um tipo de celebração, substituído pelo atual Carnaval. O Carnaval tem as suas características: consumo excessivo de álcool, libertinagem, fantasias, sátiras sociais e políticas, suspensão das normas sociais com o estado de permissão generalizado. Tem também sua
industrialização na produção de fantasias, adereços e carros alegóricos. Movimenta milhões de reais e emprega muita gente. O Carnaval representa, no Brasil, um grande complemento turístico, onde se destaca a 3ª feira gorda que os franceses chamam Mardi Gras.
ABRE ALAS PARA A ALEGRIA OSMAR GOMES DOS SANTOS, Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Termina mais um ciclo carnavalesco. De norte a sul do país, foliões vestiram a fantasia para pular de alegria nessa festança religiosa, que reúne um misto de sagrado e profano e, ao mesmo tempo, deixa extravasar as mais diversas manifestações de nossa cultura. Longe do apego e das paixões religiosas, ouso dizer que o carnaval é a festa de todos, que marca nossa identidade. Considerada a festa mais democrática do país, literalmente é o período em que as pessoas perdem a vergonha e a única regra que parece valer é não dar espaço para a tristeza. O sorriso é a arma do folião. Em regra, o termômetro de cada brincante é o seu estado de humor, que dá o tom do ritmo no corredor da folia. Tem o folião família, tem aquele que prefere os amigos, há o que está em busca de um amor de verão, ou aquele que apenas quer se divertir. Alguns se vestem a caráter, outros desfilam seminus e também tem os conservadores. Existem até aqueles brincantes que saem do armário, no sentido figurado, e vestem roupas do sexo oposto para pular em blocos mais irreverentes. Isso é Carnaval. Ouvi muitas críticas sobre a violência, assaltos e outros crimes. Em conversa particular, um amigo dizia não sair por causa da violência. Embora eu o respeite, tenho que dizer, como bom folião que sou, que essa não faz parte do reinado de Momo. A violência está em toda parte e infelizmente, hoje, é uma conduta intrínseca a alguns seres humanos. Nada tem de Carnaval, que em regra deve ser apenas alegria. A violência pode se manifestar no mercado, na porta do bar, no trânsito, dentro de casa. Decerto que o convívio no mundo atual nos implica alguns cuidados, no entanto não excluo a oportunidade de sorrir, de brincar e me confraternizar. Não me furto à tradicional “guerra” de maisena, só possível na folia carnavalesca. Minha alegria supera meu medo. Isso é Carnaval. Embora o réveillon seja a festa da confraternização universal, em nenhuma outra manifestação cultural é possível ver tanta gente fazendo planos, viajando, brincando e se divertindo. Lá em casa, por exemplo, os carnavais são sagrados. A cada ano que se inicia não vemos a hora de pegar a estrada e rumar para a minha amada Cajari. É Carnaval, momento de voltar às raízes, reencontrar amigos de infância e abraçar os familiares. Sem cerimônia é hora de colocar o pé na folia, de acordar no sábado e só pensar em dormir na quarta-feira de cinzas. Quiçá pensando na festa de lava-pratos. A meu sentir, o único momento festivo que pode ser comparado ao Carnaval é a Copa do Mundo, duas paixões nacionais. O Carnaval que faz a alegria também daqueles que dependem da economia gerada pelo reinado de momo. Em 2019, milhares de empregos temporários foram gerados, o turismo se aqueceu, diversos segmentos da economia tiveram impacto positivo durante os cinco dias de festa, inclusive aqueles que foram na chamada "contramão" da folia. A estimativa era da injeção de mais de R$ 6 bilhões na economia, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Mas, pelo que foi visto, os números oficiais, após confirmados, devem superar essa expectativa. Somente o fluxo de turistas, mais de 10 milhões, impulsionou outros setores, como o hoteleiro e a cadeia de bares e restaurantes. As festas consideradas fechadas, nas quais os brincantes precisam pagar o acesso, tiveram recorde de público em um Carnaval que também ficou marcado pela crítica política e social. Temas como corrupção, intolerância e discriminação estavam presentes em letras de samba, nos cantos dos blocos, nas alegorias, nas vestimentas. Marielle estava presente, tal como tantas outras vidas ceifadas. Foi assim na Mancha Verde, escola de samba do crescente carnaval paulista, que levou o seu primeiro título este ano; passando pela Mangueira, escola de samba campeã do Carnaval Carioca; e até a Favela do Samba,
que homenageou o designer Jesiel Pontes, vítima de latrocínio em 2018. O discurso de basta também ecoou em todos os blocos e trios nos quatros cantos desse imenso Brasil. Essas manifestações demonstram que o brasileiro, mesmo na folia, está vigilante, atento aos males que o aflige. Os gritos ecoaram contra a opressão, tal como nas senzalas de nossos antepassados. Agora os gritos não são mais pela dor do açoite, mas pela autoafirmação, pelo empoderamento, pela igualdade, pelo respeito. Foi uma festa bonita de ser ver, mais do que nunca de todas as tribos, digna de nota 10 em todos os quesitos, da alegria a critica social. Assim é o Carnaval deste Brasil, que mal cabe na criatividade, no orgulho e no amor de sua gente. Salve o Carnaval, o Brasil e povo brasileiro.
A LIÇÃO DO CARNAVAL
ALDY MELLO * Do carnaval, interessou-me a criatividade demonstrada pelas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, de onde venho descobrindo que o homem é cada vez mais universal, criador e inovador, quando faz do carnaval algo mais que uma simples oportunidade de dançar e pular ao som de trios elétricos. A progressão e a evolução da arte foram importantes para o desenvolvimento do conhecimento. Todas as formas de arte humana contam com o talento do ser humano e evidenciaram sua grande imaginação. A arte enriquece, espiritualmente, seja qual for sua forma, é a representação do belo, atingindo a alma e faz nascer segredos mais íntimos nas pessoas. A arte é algo que sempre existiu no tempo e no espaço, desde a pré-história quando se destacou a arte rupestre que era o conjunto de desenhos, pinturas no interior das cavernas. A arte antiga conta com a colaboração das diversas civilizações onde o povo era marcado por profunda realidade mística como a religiosidade dos egípcios e a busca de perfeição dos gregos. Vale destacar que a história da arte numera as artes tendo como base seu elemento básico, como por exemplos: música (som), pintura (cor), escultura (coluna), arquitetura (espaço), artes cênicas - teatro e dança (movimento), literatura (palavra), cinema (áudio-visual). É pela arte que o homem desenvolve seu lado criativo e imaginativo. O papel da arte no desenvolvimento da humanidade foi decisivo para o homem refletir e raciocinar, melhor entendendo a si próprio e o mundo. A arte representa uma civilização por ser a expressão da vida e do tempo em que ela é produzida. Através da arte o homem descobre a mundo onde vive, os costumes e os valores da sociedade. A arte, além de ser um instrumento de conscientização, é um meio de informação sobre a ação humana. Ela é uma produção do artista, aquele que percebe o mundo de forma estética e cria novas realidades. É pela arte que o homem desenvolve seu lado criativo e imaginativo. A arte, por ser uma atividade humana ligada às manifestações de ordem estética e comunicativa, exige técnica e habilidade. Qualquer que seja sua forma, é um processo criativo que tem início na percepção, passa pela emoção e realiza uma ideia. Na arte, a beleza é o resultado de uma materialização da ideia, por isso sua progressão e desenvolvimento significam a progressão e o desenvolvimento do conhecimento. Como diz Pablo Picasso: “A arte varre da alma o pó do quotidiano”. A progressão e a evolução da arte foram importantes para o desenvolvimento do conhecimento. As sete artes, consideradas pelos historiadores, música, dança, pintura, escultura, literatura, teatro e cinema muitos contribuíram para a evolução da cultura humana. Todas as formas de arte humana contam com o talento do ser humano e evidenciaram sua grande imaginação. A arte enriquece espiritualmente, seja qual for sua forma, é a representação do belo, atingindo a alma e faz nascer segredos mais íntimos nas pessoas. A arte, por ser uma atividade humana ligada às manifestações de ordem estética e comunicativa exige técnica e habilidade. Qualquer que seja sua forma, é um processo criativo que tem início na percepção, passa pela emoção e realiza uma ideia. Na arte, a beleza é o resultado de uma materialização da ideia, por isso sua progressão e desenvolvimento significa a progressão e o desenvolvimento do conhecimento. Como diz Pablo Picasso: “A arte varre da alma o pó do quotidiano”. *
Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Sócio fundador da ALL e membro efetivo do IHGMA.
UMA FOLHA DE PAPEL OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Nada mais necessito. Alimento-me da palavra, das ideias, das ilusões fugazes de um mundo que vai do real ao abstrato no simples limiar do pensamento. Sou poeta, escritor, literato, ensaísta ou apenas um entusiasta das palavras. Uma folha de papel e um lápis são as ferramentas que me bastam. Sentado na calçada, sob uma marquise; ou à sombra de uma árvore, no banco de uma praça; nada mais preciso. Apenas os meus instrumentos são suficientes. Uma folha em branco que logo pode se transformar em uma macabra história, de narrativa sombria, digna de ocupar as mais lidas páginas policiais. Nela transcrevo o real, a vida nua a crua, a história da vida como ela é. Uma vida sem dó nem piedade, que castiga e oprime. Que segrega, que mata, seja por causa da atuação, da cor, do sexo, das opções sexuais. Por ela mostro a realidade, a escassez, a aridez do sertão, os pés descalços e rachados que marcam a falta de oportunidades nas mãos calejadas do sertanejo. Na folha de papel coloco as dores do povo baixadeiro, que conhece cada palmo dos segredos da sua peculiar natureza. Das secas aos alagamentos, do vai e vem nos campos, a pé ou de canoa, em busca do alimento diário. Escrevo o voo sorrateiro da jaçanã, a escapada da piranha que não se deixa alcançar pela malha da tarrafa. Escrevo a infância. Uma infância sofrida, que levanta cedo, que trabalha na lavoura, que edifica a casa, que se aventura na pesca. Mas que também é criança, do sorriso maroto, da alegria escancarada, a ingenuidade peculiar que corre de pés descalços para driblar as adversidades da vida com uma velha bola de meia improvisada. Na folha de papel escrevo a vida. Uma linda e bela mensagem daquelas que falam de quem faz o bem sem ver a quem. Ou mesmo deixar marcada, para que não se apague, a chama ardente de uma linda e platônica história de amor que faria qualquer Shakespeare suspirar e, tal como ele, se eternizar na literatura romântica ao longo dos séculos. Papel. Nele, até a mais ácida crítica é rabiscada em rebuscados versos, cujo simples inverso encontra mais significado do que a mais explicita literalidade. Nada mais preciso, além das apreensões imprecisas represadas pelo olhar já quase cansado de uma vida que desfila carregada de narrativas que só querem ser dissertadas. Uma folha de papel, um lápis. E aquele momento desapercebido, que não mais existe, passa a existir para posteridade. Escrevo, logo existe. Pode ser branca, amarelada, amassada, rasgada ou aquele velho e cinzento papel de pão. Nas mãos do poeta, a mágica ganha vida para que o bailar das letras transforme em colorido aquilo que é captado em preto e branco do antagônico cotidiano. É a folha que nos acompanha ao longo de toda a vida. Nela é impressa nossa primeira marca, nosso nome. Acumulamos papeladas para tudo que fazemos em nossas relações sociais, aqueles que nos impõem deveres, bem como os que nos asseguram direitos. Assim como aquele que encerra nossa breve passagem sobre este chão. É o papel do jornal matinal que nos informa, do livro que transporta conhecimento aos quatro cantos. Que permitiu a criação do mundo virtual, paralelo, que também tem os seus “papeis”, ainda que não tangíveis. O mundo só é mundo, real ou virtual, porque alguém ousou rabiscar as primeiras doses de conhecimento, permitindo a evolução da sociedade. Apenas papel? Depende. Em branco, apenas papel. Mas certamente um convite para que uma imensidão de ideias pensamentos possam ser ali concretizados. Como cantou o poeta, numa folha qualquer se desenha um
sol amarelo, uma luva, um castelo ou um guarda-chuva. A folha de papel é o quintal da imaginação, com um fim que ninguém sabe onde vai dar, se não tentar. Não deixe a vida passar em preto e branco. Sempre haverá tempo de colorir o próprio arco-íris, de contornar as próprias nuvens, carregadas de angústias, de alegrias, de aspirações, de conquistas. Aqui, mais um papel, uma simples folha de papel que, só de birra, teimei em não deixar em branco.
QUE RUMO ESTAMOS TOMANDO OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Gostaria de poder neste espaço em branco rabiscar apenas belos poemas e retrato de um mundo idílico no qual tudo é possível. Mas infelizmente os fatos da vida real que se sucedem me impõem a busca da reflexão e a ampliação do diálogo. Há algumas semanas venho analisando alguns acontecimentos e, inquieto, pergunto-me de forma insistente: para onde estamos caminhando? Que rumo adotamos a partir de atos tão bárbaros cometidos gratuitamente? Não falo de forma particular, razão pela qual não pretendo me ater a um caso em especial. Convido o leitor que me acompanha semanalmente para que possa, também, fazer um autoexame de consciência acerca do cotidiano para que esse diálogo possa ter ressonância. Neta articula o assassinato da avó, saca dinheiro da pensão e faz uma festa; rapaz flagra a namorada dormindo ao lado do cunhado após festa e, tomado pela fúria, mata os dois; mulher é assassinada porque denunciou agressão do marido; jovens planejam e executam um bárbaro plano para matar alunos de uma escola; o assaltante que não satisfeito em levar os pertences, dispara a queima-roupa contra a indefesa vítima; jovem em depressão passa uma corda no pescoço e põe fim à própria vida. Em comum? A crueldade na sua essência mais pura. Acontecimentos dessa estirpe têm me tirado o sono ultimamente, muito mais do que o trabalho é capaz de me consumir. Não posso conceber, por exemplo, um pai enterrar um filho, uma filha. Não é a ordem natural das coisas. Naturalmente que a violência não é de agora, está no cerne da nossa evolução. Na antiguidade, povos brigavam entre si pela disputa de terras; estados se digladiavam por riquezas além-mar; nações mediam forças por disputas de mercado e poder frente a um modelo global. Condutas estas que, apesar de reprováveis, tinham um pano de fundo, que, em alguns casos, remetia à própria sobrevivência dos povos. Em contrapartida, o que se assiste nos dias atuais é uma violência desenfreada, sem limites, e totalmente gratuita. Não têm justificativas. Somos os únicos seres dotados de racionalidade e, paradoxalmente, os únicos dispostos a matar o próximo por motivos fúteis e com altas doses de crueldade. Mesmo estando a anos-luz daquela época em que nos digladiávamos, parece estarmos ainda afundados em nossa barbárie existencial. Daí que penso como tema central dessa minha reflexão a forma como os pais vêm educando os filhos. Chego a uma infeliz conclusão de que estamos falhando nessa missão. Na vã tentativa de sermos melhores que nossos pais e avós, caímos no engano de querer satisfazer todas as necessidades de nossa prole com bens materiais que a nós não estavam acessíveis. Há também aqueles pais que trabalham muito e simplesmente não encontram tempo para nada, embora sempre haja espaço para as postagens das redes sociais. Eximem-se da culpa de sua ausência em razão da puxada rotina e buscam suprir tal lacuna com quinquilharias materiais que não conquistam nem confiança nem o amor. Antes de apontar para as tragédias da vida privada, mas que a todos já interessam, devíamos parar e analisar quais caminhos estamos sedimentando para nossos filhos. Debater com os vizinhos, com a escola, com a família é uma forma de traçar uma caminhada segura e equilibrada. Para o bem social, não podemos permitir que toda uma geração cresça cheia de um vazio existencial que a direciona para a tomada de atitudes extremistas. E não falo permitir sob a ótica da imposição, mas da educação, embora não seja eu um pedagogo. No entanto, não consigo internalizar a ideia de educar sem dar limites, sem dizer não. Crianças e adolescentes
precisam de regras para crescerem em comunhão com a sociedade que os cerca. Há um mundo fora dos computadores e tablets que merece ser explorado. A escola tem seu papel, é fato. O corpo diretivo deve atuar para inibir práticas como bullying, racismo e preconceito, atuando na promoção do conhecimento e maior integração. Mas a escola somente não é capaz de formar o cidadão. Incutir nos jovens que eles são detentores de direitos, mas que os deveres não podem e não devem ser negligenciados na relação com o próximo é papel de todos e, fundamentalmente, das famílias. Mais do que qualquer outra instituição é dos pais, da família, o compromisso de estar sempre presente, compartilhar do dia-a-dia, acompanhar o desenvolvimento na escola, praticar atividades esportivas, assistir bons filmes juntos. Está aí um atalho para conquistar a confiança que se precisa. Daí por diante é repassar ensinamentos de que o mundo funciona de forma sistêmica, onde nossos atos implicam em consequências. Criar, desde cedo, senso de responsabilidade é tarefa árdua, mas necessária. Ensinar a amar, ter compaixão, ser generoso e colaborativo ajuda a derrubar os muros que aprisionam os jovens em calabouços sombrios. Os jovens estarão mais propensos a reproduzir na fase adulta aquilo que absorveu da sua família quando criança. Não se pode esperar uma pessoa afetuosa, honesta, gentil, respeitadora e que zela pelo bem comum, se esses valores morais e éticos não estiveram presentes em sua formação. Nesse ponto, ouso dizer que, com raras exceções, a matemática social é exata e traz um ingrediente rousseauniano. Assim, a violência vista aos quatro cantos do país também está na conta de cada um de nós. Naturalmente, não se exclui a responsabilidade do Estado, que é vital na manutenção da paz social, mas a segurança, tal como dito em nossa Carta Magna, é dever de todos. Portanto, cabe a todos repassar às gerações futuras os valores capazes de reedificar uma sociedade justa e igualitária. Longe das ficções – onde brigamos contra alienígenas, máquinas e até dinossauros pela nossa sobrevivência –, na vida real o único que pode pôr em risco a espécie humana está diante do próprio espelho. Não sei por onde nos perdemos nesse tortuoso desafio, mas é preciso que encontremos urgentemente um atalho que nos leve de volta ao caminho da paz.
O STJ E A CRIOGENIA OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Na busca por uma vida mais longa ou mesmo para a imortalidade, o ser humano parece não encontrar limites. Como se trata de mais um sonho a ser alcançado pela humanidade, ao que tudo indica há pessoas levando muito a sério o assunto, abrindo espaço para um novo e milionário nicho de mercado. Naturalmente das relações sociais que envolvem o tema, decorrem conflitos que terminam por chegar na Justiça. Um caso julgado na última semana chamou a atenção do meio jurídico devido o ineditismo e a complexidade da matéria. O Superior Tribunal de Justiça – STJ, julgou um processo que garantiu a vontade, em vida, de um brasileiro de ter seu corpo congelado após a morte, com base na técnica da criogenia, que, em suma, consiste na preservação do corpo post mortem em solução de nitrogênio líquido, que pode chegar a -196 °C. A depender do avanço da ciência, quiçá um dia ele poderá ser trazido à vida novamente. A filha do segundo casamento, que morava com o engenheiro falecido, tomou a decisão do congelamento Instituto de Criogenia de Michigan, nos Estados Unidos, em razão do pedido do pai. Mas outras duas filhas do primeiro casamento, entendiam que o corpo deveria ser enterrado no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul. Restou à terceira Turma do STJ entender, por unanimidade, que o corpo deve permanecer nos EUA, obedecendo à vontade do brasileiro. Tecnicamente não foram analisados ou discutidos os efeitos da criogenia e da sua possibilidade em um futuro próximo, mas tão somente se essa vontade do falecido em ser mantido congelado afrontaria alguma norma brasileira. Como foi verificado não haver previsão legal, a fundamentação se deu com base no que rege o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Prevaleceu o entendimento de que a legislação brasileira resguarda a vontade particular de cada nacional e isso abarca a questão da destinação do corpo humano após a morte. Um exemplo que não está longe do nosso cotidiano são os transplantes de órgãos, que pode se dar por vontade manifesta do morto quando em vida, ou mesmo a própria família decidir, após a morte, sobre a doação. Embora a decisão não verse sobre a prática da criogenia no Brasil, ela abre caminho para um amplo debate que extrapola a seara do direito e avança sobre o tecido social. Isso porque não se trata do avanço da medicina no sentido primário de zelar pela saúde e bem estar humano, mas sim de experimentos que vão além, possibilitando ao homem interferir na “hora de partida”. Técnica já aceita e permitida em outros países, naturalmente em fase experimental, a sua essência consiste na incessante busca por pesquisadores de um caminho para ressuscitar os mortos e, em momento posterior, consolidar a “cura para a morte natural”, ou seja, assegurar a vida eterna ou pelo menos o prolongamento dela. A prática reacende um eterno conflito da dicotomia ciência versus religião. Pesquisadores parecem não ter limites para brincar de Deus, como ocorreu no caso da ovelha Dolly, que veio ao mundo após procedimento científico de clonagem de ser vivo, ou o já habitual uso de embriões congelados para fins de inseminação artificial, sem a natural concepção entre homem e mulher. Pelo lado da ética religiosa, a vida deve seguir seu curso normal dado pelo Criador, sem interferências e poder de decisão nos quesitos dar ou tirar a vida. A própria eutanásia é prática sistematicamente atacada pelas mais diversas religiões, com destaque para o cristianismo. Não cabe ao homem decidir sobre dar ou trazer a morte, mas apenas atuar nesse limiar para que a vida tenha a qualidade e o conforto que a medicina pode oferecer. Enquanto isso a criogenia avança, ainda que a passos lentos. Pelo menos 200 corpos já se encontram congelados nos Estados Unidos, na vã esperança de, digamos, daqui a estimados 400 anos, voltarem à vida. O primeiro corpo congelado que se tem conhecimento é o professor James Bedford, em 1967. Sua câmara permanece em pleno funcionamento até os dias atuais.
Nas telas do cinema, essa realidade já foi retratada algumas vezes, a exemplo do filme O Demolidor, 1993. Nele, Sylvester Stallone é um agente policial que após culpado pela morte de inocentes, é congelado e só retorna à vida no ano de 2032 com a missão de capturar o psicopata representado por Wesley Snipes, que fora congelado com ele no ano de 1996. Ficção à parte, a decisão do STJ promete render bons estudos e artigos jurídicos Brasil afora sobre a criogenia e todos os demais temas a ela ligados. Ao que tudo indica, seguirá a ciência buscando seus avanços, a religião pela manutenção de suas crenças e dogmas e à Justiça caberá ponderar os limites necessários a realização de cada nova prática científica.