ALL EM REVISTA - Vol. 6, Num. 2, ABRIL a JUNHO DE 2019.

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

2019 – ANO DE MARANHÃO SOBRINHO

Volume 6, Numero 2 – ABRIL-JUNHO - 2019 SÃO LUIS – MARANHÃO


2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS

2016 – ANO DE COELHO NETO

2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES

2017 - ANO DE JOSUÉ MONTELO

2018 – ANO DE GRAÇA ARANHA


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA CONSELHO EDITORIAL SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER

EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

OSSA CAPA: Escudo da ALL

Retrato de MARANHÃO SOBRINHO

Maranhão Sobrinho Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Maranh%C3%A3o_Sobrinho

Maranhão Sobrinho


ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981

2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4

2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com


V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4

2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1

V.4, n.2, 2017 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_2

V.4,n.3,2017 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v._3__julho-setem V.4,N4, 2017 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.4__v.4__outubro-deze

2018 V.5, n. 1, 2018 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.1__janeiro-mar_ V.5, n. 2, 2018 (abril a junho) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.2__abril-junho_ V.5, n. 3, 2018 (julho a setembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.3__julho-setemb V.5, n. 4, 2018 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/revista_all__n.5__v.4__outubro-deze

2019 V.6, n. 1, 2019 (janeiro a março) https://issuu.com/…/docs/revista_all__n.6__v1__janeiro-mar_o V.6, n. 2, 2019 (abril a junho)

V.6, n. 3, 2019 (julho a setembro)

V.6, n. 4, 2019 (outubro a desembro)


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33

CHAPA 1 “MARIA FIRMINA” – BIÊNIO 2018 – 2019 MEMBROS DA DIRETORIA: ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA – Presidente; ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – Vice-Presidente; CLORES HOLANDA SILVA – Secretária-Geral DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA – Primeiro Secretário; CERES COSTA FERNANDES – Segundo Secretário; OSMAR GOMES DOS SANTOS – Primeiro Tesoureiro; e, RAIMUNDO GOMES MEIRELES – Segundo Tesoureiro. CONSELHO FISCAL: ÁLVARO URUBATAN MELO; ARQUIMEDES VIEGAS VALE; e, SANATIEL DE JESUS PEREIRA. CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES E EVENTO

SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER CLORES HOLANDA

CONSELHO EDITORIAL

SANATIEL PEREIRA (PRESIDENTE) ANTONIO AÍLTON DILERCY ADLER

EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536


AGENDA DO PRESIDENTE ANTONIO NOBERTO Entrevista no Repórter Difusora, com Robson Junior (Rádio Difusora FM) Participantes: Antonio Noberto, Diogo Gualhardo e Ramssés Souza. Data: 10 de maio de 2019, das 08h30 às 9h. *História do Maranhão em pauta* Assunto do dia: rios, estradas e ferrovias do Maranhão. Obs. O assunto continua na próxima sexta-feira (17), das 8h30 às 9h. Assuntos abordados anteriormente:

✔ O início da ocupação do Maranhão; ✔ Do Vinhais Velho à Ponta da Areia um reduto que deu origem a São Luís; ✔ o ensino no Maranhão ✔ o cinema no Maranhão ✔ fábricas E amanhã de manhã (sábado, 11 de maio), a partir das 8h30, tem participação minha no programa de comemoração dos 20 anos do Reporter Mirante.


JP 19/05/2019 – COLUNA VIP

Entrevista na Radio Difusora FM, programa do Róbson Júnior.


Palestras sobre história do Maranhão durante a Semana de Museus, neste mês de maio. No local onde existiu o Forte Sardinha, Forte Santo Antônio e


Casa de Cultura Huguenote Daniel de la Touche.


Palestras no Centro Cultural e Administrativo do MinistĂŠrio PĂşblico estadual, na rua Osvaldo Cruz.


Evento do ExĂŠrcito, de homenagem Ă infantaria,


EVENTO DA ACADEMIA DE LETRAS DE PAร O DO LUMIAR Me diplomaram sรณcio-correspondente. Grato ao presidente Ferreira





Lendas do Maranhão - parte I Antonio Noberto sendo entrevistado pelo radialista Robson Junior. Difusora FM. Dia 31 de maio de 2019. https://www.facebook.com/anoberto/videos/10216229762511582/ SOLENIDADE DE POSSE DE PADRE RAIMUNDO GOMES MEIRELES COMO NOVO MEMBRO DA ACADEMIA MARANHENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES MILITARES, ASSUMINDO A CADEIRA PATRONEADA POR JOSUÉ MONTELLO.


AMIGO DA BIBLIOTECA em comemoração aos 188 anos desse Templo do Saber, que faz parte das minhas mais queridas memórias de adolescência e juventude, onde reafirmei meu amor à Literatura

Palestra de Antônio Noberto para alunos do IEMA Campus Marista, sobre a exposição França Equinocial para sempre;


Representando a ALL na inauguração do Museu da Gastronomia, em São Luís;


Recebendo um exemplar no relançamento do livro Os Tambores de São Luís, de Josué Montelo.


Lançamento dos livros Lérias e No Phanteon, da escritora Maria Teresa Azevedo Neves

Minha posse na Luminescence Academie Française tornou a minha noite do dia 21 de junho de 2019 especial. Obrigado Nico Bezerra por me indicar para a Academia. Charles Simões também faz parte da Casa. Tomou posse em Natal uma semana antes. E a Isabelle Valadares, presidente da Literarte, que conduz tão bem esta bela e destacada instituição cultural brasileira.





Lançamento do livro "Meio ambiente e práticas sustentáveis", do engenheiro José Carlos Arouche Filho, no sábado a noite (22/06/19), na livraria e espaço cultural AMEI.



Atividades culturais da semana: palestras, lançamentos de livros, entrevista para TV francesa e rádio espanhola, levando além mares este grande tesouro, que é a história do Maranhão.

Teve também visita com a Joana Bittencourt a zona rural de São Luís planejando levar teatro e a Cia de bonecos às comunidades. Tudo projeto voluntário, do nosso bolso.


Tem visita ao museu da Gastronomia com a equipe francesa, encadernação de uma cópia de um capítulo sobre a família de François de Razilly, que pôs nome no Forte São Luís, no dia 08 de setembro de 1612. Este material me foi ofertado assinado por um descendente de François, o também francês Roland de Razilly em setembro de 2012, em um evento no Palácio dos Leões.


Uma das palestras na AMEI foi ministrada pelo acadêmico da AMCLAM, Clésio Muniz, que ministrou sobre a história do inolvidável cantor Papete.


Na quinta-feira (27), também na AMEI, a Fundação Sousândrade e a UFMA lançaram uma maravilhosa obra póstuma do filósofo e ex-reitor da UFMA, José Maria Ramos Martins. O livro Retalhos de uma vida tem o prefácio da confreira vice-presidente Luiza Almeida Ferro. O prestigiado evento contou com a presença da reitora da UFMA, Dra Nair Portela, presidente da ALL, Antonio Noberto, o presidente da AML, Benedito Buzar, e de várias outras autoridades do mundo acadêmico e político. Enfim, mais uma semana muito produtiva.


COM A PALAVRA, O PRESIDENTE... QUENTE COMO A FOGUEIRA DE SÃO JOÃO A revista da Academia Ludovicense de Letras deste segundo trimestre vem no ritmo das festas, cores, sabores, sotaques e danças de São João. Nosso incansável redator, Leopoldo Vaz, virou noites para disponibilizar este incrível material com textos, artigos, palestras, poesias e eventos da Academia e dos seus membros. No mês de maio, antes do acendimento do fogo junino, a ALL iluminou o rosto de dois artistas de mérito, lançando o projeto Luzes da Ribalta, iniciativa que valoriza escritores e artistas que prestam relevantes contribuições para o estado do Maranhão, e que ainda não tiveram o devido reconhecimento do seu trabalho. Uma parte do conteúdo desta edição foi publicada em jornais, revistas e em periódicos no Maranhão, no Brasil e no exterior. Alguns membros foram destaque em eventos internacionais, especialmente na Europa, onde tiveram oportunidade de apresentar um pouco do seu trabalho. Na Upaon Açu, enquanto as cores das bandeirinhas e as apresentações culturais no Centro Histórico, nos bairros e nas comunidades fervilhavam e animavam os brincantes, a confraria da ALL, com a caneta sobre o papel, acendia a fogueira da criatividade e do conhecimento, garantindo este valioso material agora disponibilizado, revelador da temperatura e da efervescência literárias que o Maranhão e a sua capital revivem. Uma salva aos acadêmicos e aos seus textos! E viva o São João! Antonio Noberto


SUMÁRIO 3

Expediente AGENDA DO PRESIDENTE ANTONIO NOBERTO

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Com a palavra, o presidente...

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QUENTE COMO A FOGUEIRA DE SÃO JOÃO

Sumário agenda

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AGO DE ABRIL AGO EXTRAORDINÁRIA - 11 DE ABRIL - POSSE DE ROBERTO FRANKLIN AGO DE MAIO AGO DE JUNHO VISITA À CERES Lançamento do Manual de Cerimonial da UFMA SOLENIDADE DE COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, DIA DA MULHER MARANHENSE, ANIVERSÁRIO DE MARIA FIRMINA DOS REIS E DIA DAS MÃES. EVENTO PROMOVIDO PELA @ALLSLZLETRAS DILERCY ARAGÃO ADLER DIA DA MULHER MARANHENSE: aniversário de nascimento de Maria Firmina dos Reis - Patrona da Academia Ludovicense de Letras LUIS AUGUSTO CASSAS = LANÇAMENTO TRÊS LIVROS DE POEMAS = & SARAU COM CONVIDADOS - Celebração de Maio de 2019 FALMA CONVIDA – Aniversário da AMEI CENTÉSIMO SEXAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE ÚRSULA: DILERCY ADLER CENTÉSIMO SEXAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE ÚRSULA: romance de Maria Firmina dos Reis - primeira romancista brasileira DE PONTA DE JOÃO DIAS A PONTA D'AREIA. LUIS AUGISTO CASSAS CONVIDA ANTONIO NOBERTO HOMENAGEM AOS 93 ANOS DO JORNAL O IMPARCIAL FALMA - CONTATOS DAS ACADEMIAS IHGA - CONVITE LANÇAMENTO DO PROJETO LUZES DA RIBALTA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS HOMENAGEARÁ PERSONALIDADES COM A MEDALHA MARIA FIRMINA DOS REIS QUE SE ACENDAM AS LUZES DA RIBALTA Antonio Noberto JUCEY SANTANA LUIZ DE MELO: quase quatro décadas de pesquisas históricas Luzes da Ribalta - Antonio Noberto apresenta o pesquisador e ator francês Jean Marie Collin I Encontro Estadual das Academias de Letras EVENTO LITERÁRIO DA ACADEMIA VARGEM-GRANDENSE NA AMEI IHGA Lançamento dos livros Lérias e No Phanteon, da escritora Maria Teresa Azevedo Neves

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INDICAÇÃO DE LEITURA ALEXANDRE MAIA LAGO

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O DOCE INFERNO DO PADRE VIEIRA – Sermão XIV de N. Sra. do Rosário BOCA DO INFERNO e A TESTEMUNHA SILENCIOSA– Otto Lara Resende CAMÕES: paixão, desencanto e gênio

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EFEMÉRIDES 2019 – ANO DE MARANHÃO SOBRINHO

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AML PERFIL DE MARANHÃO SOBRINHO MARANHÃO SOBRINHO PAPÉIS VELHOS

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ROMILDO AZEVEDO MARANHÃO SOBRINHO - Um Simbolista Sonhador Blog ALMA ACREANA POEMAS DE MARANHÃO SOBRINHO KISSYAN CASTRO O POETA MARANHÃO SOBRINHO BRUNO TOMÉ ASTOLFO SERRA: O GUIA SENTIMENTAL HEITOR PIEDADE JÚNIOR ASTOLFO SERRA MICHEL HERBERTH FLORENCIO JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL

NA BERLINDA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REVISTA DO LÉO 19 – ABRIL 2019 REVISTA DO LÉO 20 – MAIO 2019 REVISTA DO LÉO 20.1 – MAIO 2019 – ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE REVISTA DO LÉO 21 – JUNHO 2019 NO QUARTEL DA PMMA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ROBERTO FRANKLIN

Posse do escritor Roberto Franklin DISCURSO DO ACADÊMICO ANTONIO NOBERTO EM RECEPÇÃO AO ESCRITOR ROBERTO FRANKLIN FALCÃO DA COSTA, PRIMEIRO OCUPANTE DA CADEIRA Nº 40, PATRONEADA POR JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS ROBERTO FRANKLIN DISCURSO DE POSSE – ELOGIO AO PATRONO SANATIEL DE JESUS PEREIRA DILERCY ARAGÃO ADLER

Café com Elda Borges: entrevista com a professora Dilercy Aragão Adler

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II FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DO XINGU - FLIX: OUTRAS MARGENS. O ENSINO DA LITERATURA NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DO LEITOR: outras margens BRUNO TOMÉ CLORES HOLANDA ANTONIO AILTON LANÇAMENTO DE CERZIR KRISHNAMURTI GÓES DOS ANJOS EM “CERZIR” UMA VERTIGINOSA APREENSÃO DA LINGUAGEM ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA ENTRE O SÍMBOLO E O REAL NO LIVRO CERZIR, DE ANTONIO AÍLTON IRANDI MARQUES LEITE LANÇAMENTO: AS CASRTAS QUE NÃO ESCREVI DANIEL BLUME ALDY MELLO RAIMUNDO GOMES MEIRELES

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ARTIGOS, & CRÔNICAS & CONTOS & OPINIÕES

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THAISA LIMA Resenha: CONTRA TODO ALEGADO ENDURECIMENTO DO CORAÇÃO DE FERNANDO ABREU LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ i OS PRIMEIROS ESPORTES: O FUTEBOL DE SALÃO – CONTROVÉRSIAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SERIA FRAN PAXECO CARBONÁRIO? AYMORÉ ALVIM, O DOMINGO DE PÁSCOA. MICHEL HERBERT ALVES FLORENCIO ELOGIO AO PATRONO - JOSÉ DE ARCANJO DE DEUS E SILVA - ACADEMIA ZEDOQUENSE DE LETRAS

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JOÃOZINHO RIBEIRO FILARMÔNICA PARA FONES DE OUVIDO DILERCY ADLER MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE CLORES HOLANDA O SEGREDO VAZIO DA SAUDADE CLORES HOLANDA MEMÓRIAS DE UMA BILHEIRA DILERCY ARAGÃO ADLER UM CONTO DE TEMPO E PESSOAS EDMILSON SANCHES PANTEÃO DOS INCOMUNS PAULO RODRIGUES PARALELO 17: TRANSCENDÊNCIA E INDIGNAÇÃO NA POÉTICA DE LUÍS AUGUSTO CASSAS

AS CRÔNICAS DE CERES HERÓIS NACIONAIS TEMPOS DE ATA E PEQUENOS PRESENTES DE MINORIAS, DIREITOS E DEVERES PONTOS DE FUGA ATÉ QUE O CELULAR OS REÚNA O MÊS MAIS BONITO

O PENSAMENTO DE BRANDÃO SENTINDO NA PRÓPRIA PELE CONSIDERAÇÕES SOBRE A ‘NOVA’ MACROECONOMIA A CATEDRAL DE NOTRE-DAME TIA SANTA DIA DE ANIVERSÁRIO: UMA MULHER DE VALOR COMUNICADO DE MIGRAÇÃO PARA A CATEGORIA DE SÓCIO HOINORÁRIO SOBRE FRANCISCO SOTERO DOS REIS TRADIÇÃO ENVELHECER RUMO A PLAGAS DISTANTES QUANDO O ‘PÉ É MAIOR DO QUE O SAPATO’ OUTRAS ‘MORADAS’ DA MINHA VIDA

OSMAR GOMES DOS SANTOS GESTOR PÚBLICO APRENDENDO A LIDAR COM A OPINIÃO PÚBLICA ÁGUAS QUE VÊM E QUE VÃO CORTIÇO NOSSO DE CADA DIA SÓ A EDUCAÇÃO TRANSFORMA O VALOROSO LÁPIS DESAFIOS PARA A ESCALADA DA CRIMINALIDADE NÃO TOQUE NA MINHA HONRA UBUNTU CONCIDADÃOS BRASILEIROS EXIGÊNCIA DO NOSSO PLANETA UMA REDE CHEIA DE VAZIOS DESAFIOS EDUCACIONAIS NO CENÁRIO DO EMPODERAMENTO

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ASSIM FALOU ALDY MARCAS DO SÉCULO XXI E ANO NOVO A REPÚBLICA DE RUI ATÉ ONDE VAI A LIBERDADE? MARANHÃO: PASSADO E PRESENTE A NAVEGABILIDADE DO GOVERNO SER CONTEMPORÂNEO

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UNIVERSIDADE CASTIGADA O SENTIDO DA UNIVERSIDADE EM NOSSA VIDA

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AS CONVERSAS VADIAS DE FERNANDO BRAGA SAUDADES DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO ‘A DANÇA DAS LETRAS’ O ACUADO DO VALE DE GATOS GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA VESPASIANO RAMOS: ‘COISA ALGUMA & MAIS ALGUMA COISA O GÊNIO FLORESTAL A MORTE DO JORNALISTA E ESCRITOR JOSÉ ERASMO O COMPASSO POÉTICO DE JOSÉ CHAGAS EM ‘OS TELHADOS’

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POESIAS & POETAS JOÃO BATISTA DO LAGO CONVOCATÓRIA ARTRÓPODES PRESENCIALIDADE LOGOS & LAGOS A IDEIA AYMORÉ ALVIM A ADÚLTERA. DILERCY ADLER QUASIDOMO ESCRIBA TERESINKA PEREIRA NOTRE DAME

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ROBERTO FRANLIN A MENINA DO SONHO A VOLTA MEU CORPO MINHA SÃO LUÍS MEUS POEMAS TEU DESEJO MEUS NETOS O GRITO AS ASAS DE ULISSES MICHEL HERBERT FLORENCIO ELE VIVE!

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4 POEMAS DE FRANCISCO TRIBUZI ANA LUIZA ALMEID FERRO MULHER BIOQUE MESITO COISAS QUE VOCE NÃO SABIA SOBRE O PARAÍSO JOSÉ NUNES COMO ESCREVE BIOQUE MESITO

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AGENDA


AGO DE ABRIL


AG EXTRAORDINÁRIA - 11 DE ABRIL POSSE DE ROBERTO FRANKLIN


AGO DE MAIO


AGO DE JUNHO


23/04/2019 – VISITA À CONFREIRA CERES

Lançamento do Manual de Cerimonial da UFMA.


SOLENIDADE DE COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, DIA DA MULHER MARANHENSE, ANIVERSÁRIO DE MARIA FIRMINA DOS REIS E DIA DAS MÃES. EVENTO PROMOVIDO PELA @ALLSLZLETRAS

DIA DA MULHER MARANHENSE: aniversário de nascimento de Maria Firmina dos Reis - Patrona da Academia Ludovicense de Letras Dilercy Adler É uma honra para os membros da Academia Ludovicense de Letras - ALL terem a sua Patrona, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira, como símbolo da mulher Maranhense. O dia 11 de março, aniversário de nascimento dessa ilustre escritora maranhense, é instituído por Lei como o “Dia da Mulher Maranhense": A Lei nº 3.754, de 27 de maio de 1976. O Projeto de Lei é de autoria do Deputado Celso Coutinho, elaborado em 1975 e a Lei foi sancionada pelo Governador Nunes Freire, em 27 de maio de 1976 (era do conhecimento público que o nascimento de Maria Firmina era 11 de outubro de 1825). No entanto, por meio de pesquisas recentes (ADLER, 2017) foi confirmada a data de nascimento de Maria Firmina como sendo, de fato, 11 de março de 1822. A Presidente da Academia, à época, a Profa. Dra. Dilercy Adler, pesquisadora da vida e obra de Maria Firmina dos Reis buscou atualizar a data e, para tal, solicitou ao Deputado Eduardo Braide, que gentilmente atendeu ao pleito e, por meio da Lei nº 10.763, de 29 de dezembro de 2017 sancionada pelo Governador Flavio Dino foi alterado o art. 1º que trata da atualização da data para 11 de março. Assim, em 2017 foi a última comemoração do aniversário de Marias Firmina no dia 11 de outubro e o ano de 2018 se firmou como importante marco, no sentido do estabelecimento da nova data, 11 de março, para a comemoração do aniversário de nascimento de Maria Firmina e o Dia da Mulher Maranhense.

CONTEXTO DA CRIAÇÃO DA LEI 1975 - ANO ROSA- DE- JERICÓ DE MARIA FIRMINA DOS REIS: ano de verdejar O ano de 1975, foi o ano de verdejar para Maria Firmina, o marco que eu intitulei (ADLER, 2017) de o seu “ano Rosa- de- Jericó”. Essa rosa é também chamada de Flor da Ressurreição por sua impressionante capacidade de voltar à vida. As Rosas de Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo e, ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar! Vejo muita semelhança entre Maria Firmina e a Rosa-de-Jericó, senão vejamos: a Rosa de Jericó, tem aparência frágil, mas, concomitantemente, demonstra consistente defesa diante da situação adversa, neste caso, ausência total de chuvas. Nesse período, as suas folhas caem, seus ramos se contraem e se curvam para


o centro, adquirindo uma forma esférica, capaz de abrigar as sementes e protegê-las da aridez dos desertos. Mesmo frágil e ressequida, ela continua como “peregrina”, devido à quase inexistência das suas raízes, o que facilita o seu deslocamento, e, como “viajante incansável”, deixa-se levar pelo vento do deserto, que tem a força de arrancá-la do solo e arrastá-la por áreas distantes. Também nesse período, ela permanece seca e fechada, aparentando estar totalmente sem vida por alguns meses. No entanto, basta algum contato com a umidade para a Rosa-de-Jericó estender suas folhas, espalhar suas sementes e retornar à vida, mostrando a sua beleza. Ainda no tocante às gotas d’água que deram a umidade necessária para Maria Firmina retornar ao cenário literário mostrando a sua beleza, Arlete Nogueira da Cruz, no seu livro Sal e Sol (2006) apud ADLER (2014), fundamentando-se no trabalho intelectual de Janilto Andrade, A Nação das Dobras da Ficção, explicita: [...]. Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio de Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265). No limbo.... Sob o tapete... Expressões que retratam não apenas rejeição, mas desprezo, o que não deixa de retratar a alienação e falta de humanidade no trato com as pessoas e suas obras por aqueles que se julgam donos do saber e da verdade ADLER (2014, p.6). Mas, antagonistamente, outros maranhenses, a exemplo de Josué Montello, reconhecem a importância de Maria Firmina. Montello escreve por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis um artigo intitulado A primeira Romancista Brasileira, que publicou no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1975 e na Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de Brasil, 1976, jun., n. 41, p. 111-114. Confesso que não resisti ao desejo de transcrever, nesta comunicação pequeno trecho da sua primorosa referência à Maria Firmina e a Nascimento de Morais Filho. No referido texto, Josué Montello nomeia outro maranhense, Antônio de Oliveira, juntamente com Nascimento de Morais Filho, como responsáveis pela ressurreição de Maria Firmina, e, desse modo, a eles se refere: [...] o primeiro falando em voz baixa como é do seu gosto e feitio e o segundo, falando alto ruidosamente, com uma garganta privilegiada, graças à qual, sem esforço, pode fazer-se ouvir no Largo do Carmo, em São Luís, à hora em que se cruzam os automóveis, misturando a estridência das suas buzinas e de seus canos de descarga ao sussurro do vento nas árvores da praça. Desta vez, ao que parece, Nascimento Morais Filho ergueu tão alto a voz retumbante que o país inteiro o escutou, na sua pregação em favor de Maria Firmina dos Reis. Há quase dois anos, ao encontrar-me com ele na calçada do velho prédio da Faculdade de Direito, na Capital maranhense, vi-o às voltas com originais da escritora. Andava a recomporlhe o destino recatado, revolvendo manuscritos, consultando jornais antigos, esmiuçando almanaques e catálogos como a querer imitar Ulisses, que reanimava as sombras com uma gota de sangue. E a verdade é que, no dia de hoje Maria Firmina dos Reis de pretexto a estudos e discursos, e conquista, seu pequeno espaço na história do romance brasileiro – com um nome, uma obra, e a glória de ter sido pioneira. Assim, Nascimento de Morais Filho, como um Sankofa, pássaro africano de duas cabeças, uma cabeça voltada para o passado e outra para o futuro, que, segundo a filosofia africana, significa a volta ao passado para ressignificar o presente, dedicou-se, incansavelmente, para dar novo significado à Maria Firmina dos


Reis como mulher, como professora e como escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira. E ainda seguindo a máxima de Morais Filho, mais pessoas, instituições, cidades e estados brasileiros têm se dedicado a estudos e homenagens a Maria Firmina dos Reis. É constatado que o trabalho de pesquisa e resgate de Maria Firmina por Morais Filho, de fato resultou em muitos outros trabalhos acadêmicos. Renan Nascimento dá destaque para a tese sobre a romancista, defendida por Charles Martin na Universidade de Nova York. Eu cataloguei várias Monografias de Graduação, Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado no Brasil e no estrangeiro sobre algum aspecto de sua vida e obras. O romance Úrsula encontra-se entre os objetos de estudo mais analisados. Assim, em 1975, ano do sesquicentenário de Maria Firmina, em São Luís, foi publicada a edição fac-similar do seu romance Úrsula; lançado o livro de Morais Filho: Maria Firmina Fragmentos de uma vida; inaugurado o busto da escritora na Praça do Pantheon, em São Luís; foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, com um detalhe digno de realce na parte inferior, representado por um grilhão de ferro rompido, como marca significativa da Campanha Abolicionista que Maria Firmina empreendeu durante toda a sua vida por meio, principalmente, da literatura, mas também por intermédio de outras vertentes da arte, como a música, pois compôs o Hino da Libertação dos escravos, além de toda a sua postura e ideologia pautar-se em ideias de uma sociedade mais justa; na Assembleia Legislativa do Estado foi instituído o dia 11 de outubro, como Dia da Mulher Maranhense. Também foi criada em sua homenagem a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís. Em Guimarães, também o ano de 1975 foi o marco do início de maiores homenagens a ela dedicada. Além do desfile em sua homenagem naquele ano, o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, desde o ano de 2007, passou a promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis. Também o dia do seu aniversário foi instituído feriado Municipal e comemorado o Dia da Mulher Vimarense. Em 2017, foi inaugurada, pelo Governo do Estado do Maranhão e Prefeitura de São Luís, uma praça com o seu nome e ela foi escolhida para Patronear a Feira do Livro de São Luís- FeliS, deste ano, em sua 11ª edição, de 10 a 19 de novembro, que resultou numa grande repercussão local, nacional e internacional. A Academia Ludovicense de Letras-ALL desde 2013, ano de sua fundação, incorporou-se a esse projeto de consolidar a ressignificação dessa incontestável precursora da cultura e educação maranhense/brasileira, colocando-a como Patrona da Academia, tendo consciência também de que há muito ainda por fazer e para conhecer Maria Firmina dos Reis, fortalecendo esse trabalho que denomino de Missão de amor. Em 2015, em comemoração ao seu aniversário de 190 anos, foram organizadas, por Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz duas antologias em sua homenagem: Cento e Noventa Poemas para Maria Firmina dos Reis e Sobre Maria Firmina dos Reis. A ALL busca ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais, objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, também levando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014. _____________. MARIA FIRMINA DOS REIS, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017. ADLER, Dilercy Aragão. A MULHER MARIA FIRMINA DOS REIS: uma maranhense, São Luís: Mimeo, 2017. ADLER, Dilercy Aragão e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores). CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015. CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006.


GOMES, Antônio Agenor. Depoimento de Antônio Agenor Gomes para Dilercy Adler sobre o culto à memória de Maria Firmina dos Reis em Guimarães, São Luís :Mimeo, 2017. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, Josué Montrello. 1975, 11 de novembro. LOBO, Luiza Leite Bruno. CRÍTICA sem JUÍZO. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. MORAIS, José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de Brasil, Josué Montello 1976, jun., n. 41, p. 111-114. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e ADLER, Dilercy Aragão (Organizadores). SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015.


LUIS AUGUSTO CASSAS = LANÇAMENTO TRÊS LIVROS DE POEMAS = & SARAU COM CONVIDADOS - Celebração de Maio de 2019 O poeta e amigo Antônio Ailton, Doutor em Teoria da Literatura, por quem tenho grande afeto e admiração por sua caminhada, estará conosco expandindo a claridade da celebração de Maio. Também vai ler poemas na sessão-dupla Noite de Autógrafos/ Sarau, de nossos livros Paralelo 17, A Pequena Voz Interior & Outros Comícios do Vento e Maria: A Fortaleza Sutil que Vence toda Força. Agende-se. 4 de maio, início às 17 horas,. Livraria Amei, Shopping São Luis.


A Academia Ludovicense de Letras – ALL - e a Associação Maranhense de Escritores independentes têm a honra de convidar para a palestra: Centésimo sexagésimo Aniversário de Úrsula: romance de Maria Firmina dos Reis, primeira romancista brasileira Data: 20 de abril de 2019 Hora: às 19h Local: Livraria e Espaço Cultural AMEI, no São Luís Shopping


CENTÉSIMO SEXAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE ÚRSULA: romance de Maria Firmina dos Reis - primeira romancista brasileira Dilercy Adler1 [...] compreendo tua amargura, e amaldiçoo em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu semelhante. (REIS,1988, p. 28).

INTRODUÇÃO Neste ano de 2019, o primeiro romance brasileiro de uma mulher, mulher de ascendência africana e mulher maranhense, completa 160 anos que veio a lume. Por essa razão, temos que homenagear a obra e a sua autora: Úrsula e Maria Firmina dos Reis respectivamente. O objetivo maior desta minha apresentação é, exatamente, suscitar o desejo, a motivação para a leitura do romance Úrsula; é seduzir o leitor para que busque beber da fonte dessa história tão rica, que tem como protagonistas a própria Úrsula, Túlio, Tancredo, Suzana, Fernando, Adelaide, Antero, Luísa e Paulo; mas, ainda, concomitantemente, mostrar a importância de toda a obra firminiana e, hoje, em especial, a do Romance Úrsula. PUBLICAÇÃO DO ROMANCE ÚRSULA Segundo Lobo (2007), a obscuridade de Maria Firmina foi resgatada pelos pesquisadores José Nascimento Morais Filho (maranhense) e Horácio de Almeida (paraibano). Este comprou um lote de livros usados em 1962 e, dentre eles, o único exemplar que se conhecia de Úrsula: romance original brasileiro, de 1859, com o pseudônimo POR UMA MARANHENSE. Horácio de Almeida identificou esse criptônimo, como sendo de Maria Firmina dos Reis, no Índice do Dicionário Bibliográfico do dr. Augusto Vitorino Alves do Sacramento Blake por ordem alfabética dos sobrenomes e por Estados da Federação, com anexos dos estrangeiros que viveram no Brasil, de Otávio Torres - Cidade do Salvador – Bahia, e nos Anais do Cenáculo.

Designa Maria Firmina como a primeira escritora brasileira, uma vez que Nízia Floresta (1810-1885) publicou uma tradução em 1859, e obra ensaística em 1860 e que Aventuras de Diófanes, 1752, é de Teresa Margarida da Silva e Orta, nascida em São Paulo (1711-1793), de pais portugueses, porém mudou-se para Portugal aos cinco anos de idade de onde não mais retornou ao Brasil, não podendo, assim, ser considerada autora brasileira. Nas buscas sobre esta autora só encontrei: Orta, é considerada a primeira mulher romancista em língua portuguesa. 1

Psicóloga, Doutora em Ciência Pedagógica. Escritora. Membro do IHGM, Presidente da SCLB. Membro fundador e Expresidente da ALL (2016-2017), ocupando a Cadeira nº 8, patroneada por Maria Firmina dos Reis.


Por outro lado, José Nascimento Morais Filho afirma ter descoberto Maria Firmina, casualmente, nos porões da Biblioteca Pública Benedito Leite, ao compulsar velhos jornais em 1973, procurando textos natalinos de autores maranhenses para a obra Esperando a missa do Galo. Antes de assinar o seu próprio nome em suas obras, Maria Firmina dos Reis utilizou dois criptônimos: Por uma Maranhense (1859) e M.F.R. (1860). O romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, foi publicado em 1859, como já foi referido, com o criptônimo POR UMA MARANHENSE, e era flagrante, segundo Charles Martin (1988), o contraste com outros romances mais famosos que defendiam a causa abolicionista ou simpatizavam com a raça negra até cerca de 1890, os quais apresentam os personagens negros mais como um tópico exótico. Ainda afirmava que é quase certo que o livro teve pouca influência sobre outras obras e escritores, sem dúvida, por ter sido publicado no Maranhão, longe dos centros comerciais brasileiros mais importantes, dentre os quais, a corte do Rio de Janeiro. Mesmo assim, nos tempos atuais, segundo Rafael Balseiro Zin, entre 1859 e 2018, foram publicadas 18 edições do romance Úrsula, em formato de livro e mais 3 versões avulsas, disponibilizadas em arquivos eletrônicos, sem edição. As edições publicadas em São Luís, são três: 1- REIS, Maria Firmina dos. ÚRSULA, ROMANCE ORIGINAL BRASILEIRO, POR UMA MARANHENSE. São Luís: Tipografia do Progresso, 1859. Essa primeira edição, de 1859; o original está desaparecido. 2- REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Edição fac-similar, organizada por José Nascimento Morais Filho. Prefácio de Horácio de Almeida. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora; São Luís: Governo do Estado do Maranhão, 1975. 3- REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. edição maranhense, evocativa do centenário de morte da autora. São Luís: Edições da Academia Maranhense de Letras, 2017. Autoapresenta - se como 2ª edição maranhense, evocativa do centenário de morte da autora". Em 1988, a pesquisadora Luiza Lobo incluiu na Coleção Resgate, da Editora Presença, o romance Úrsula. Essa edição conta com a organização, atualização e notas de Luiza Lobo e introdução de Charles Martin. É registrada como a 3ª Edição e conta com o apoio técnico e financeiro do MinC/PRÓ-MEMÓRIA (a 1ª Fundação Nacional Pró-Memória, órgão público criado em 1979 e extinto em 1999). (REIS, 1988, p. 6).

DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE O ROMANCE ÚRSULA Teses de Doutorado no estrangeiro: Total 02- Portugal e França. Teses de Doutorado no Brasil: Total 03 - Santa Catarina, Maranhão e Bahia. Dissertação de Mestrado: Total 15 - Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Piauí (2), Paraná (2), São Paulo (2), Ceará, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Paraíba, Goiás, Maranhão (2).


*. Fonte: https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/view/10835. Levantamento realizado e mantido pelo pesquisador Rafael Balseiro Zin. O levantamento tem como base de consulta, majoritariamente, o Banco de Teses e Dissertações da CAPES. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/ ESTRUTURA DO LIVRO ORIGINAL: Prólogo Capítulo 1- Duas almas generosas Capítulo 2 - O delírio Capítulo 3 - A declaração de amor Capítulo 4 - A primeira impressão Capítulo 5 - A entrevista Capítulo 6 - A despedida Capítulo 7 - Adelaide Capítulo 8 - Luiza B Capítulo 9 - A preta Suzana Capítulo 10 - A mata Capítulo 11- O derradeiro adeus! Capítulo 12 - Foge! Capítulo 13 - O cemitério de Santa Cruz Capítulo 14 - O regresso Capítulo 15 - O convento de*** Capítulo 16 - O comendador Fernando P... Capítulo 17 - Túlio Capítulo 18 - A dedicação Capítulo 19 - O despertar Capítulo 20 - A louca EPÍLOGO SOBRE A HISTÓRIA Oh! A mente! isso sim ninguém a pode escravizar. (REIS,1988, p. 35). Talvez seja essa uma das afirmativas constantes no romance que jamais deva ser esquecida. Isso porque a evolução da história humana não é linear e, muitas vezes, se revive o passado com nuances novas revestindo o antigo, o já vivido, que em algum momento foi amargo e injusto para alguns, mas que volta a imperar. Esta não é a história de apenas 8 ou 9 personagens, é a história de milhões que protagonizaram e protagonizam ainda hoje muitas outras histórias e vidas que, concomitantemente, apresentam semelhanças e distinções que dão um formato próprio a cada uma dessas vidas. Não é apenas um doloroso drama de amores mal vividos, amores proibidos, interrompidos, de dominação e exploração extremas e patológicas, difíceis de imaginar por uma ótica da sanidade mental/emocional. É, sim, uma história de amor, em suas variadas formas e manifestações: amor filial, amor de amigos, amor romântico, amor obsessivo-compulsivo. História belíssima, mas ambivalentemente com máculas, nódoas que desonram a história da nossa frágil humanidade, por serem marcadas a ferro e fogo, nos corpos, nas


relações/tratamentos entre semelhantes, e na brutal descompaixão. Mas, apesar de tudo isso, ou talvez por tudo isso, uma bem engendrada história. É uma história que nos remete ao drama e à felicidade que reproduz o inconsciente coletivo, inclusive o da própria autora, Maria Firmina dos Reis. Maria Firmina, no seu Úrsula, reproduz e compartilha a dor, a felicidade, o amor vivido em uma época histórica com determinada moral vigente que expressa relações filiais, amorosas e relações político-sociais predominantemente injustas e de agudizada crueldade. Expõe, nesse contexto, a escravidão existente na época, fundamentada por leis vigentes e a serviço do capital, no tocante à utilização de mão de obra sem custos de salários e baixos custos de manutenção, considerando as condições sub-humanas a que a maioria dos escravos eram submetidos. Essas leis protegiam os exploradores e condenavam os contrários a elas, que eram considerados subversivos e causavam estranheza aos demais. Um exemplo disso está no seu Capítulo 1- Duas almas generosas, que se referem a um branco (Tancredo) e a um negro escravo (Túlio). Como almas generosas podiam se reportar, com esse teor de igualdade, a esses dois personagens, numa sociedade com preconceitos exacerbados como a escravocrata? Com isso Maria Firmina expõe o seu traço de coragem e ousadia quando afirma a igualdade entre os seres humanos, em uma época de naturalização da dominação, exploração e depreciação dos africanos, que eram arrancados da sua terra para serem tratados de forma degradante: desde o brutal sequestro do seio da família e terra, do traslado sofrido em porões fétidos e do tratamento como coisa, que pode ser avaliada e vendida em mercado, como instrumento de trabalho ou como animal. Maria Firmina dos Reis não esqueceu de louvar a beleza da natureza em todas as passagens do seu livro, o que deve suscitar no leitor o amor pelo ambiente natural, e o desejo de contemplação e de preservação. Esse louvor à beleza do ambiente natural também é transmutada da Mãe Pátria, a África, de Túlio, Suzana e Antero, assim como a beleza e especificidade dos seus costumes na vida coletiva do lugar onde nasceram. Ela trata com maestria do parto cruel e sangrento, de um segundo nascimento impingido aos seus personagens africanos, no porão de um navio negreiro. Um parto ao contrário, doloroso sim, mas que não leva à vida, mas à degradação humana. Martin (1988) realça a descrição que, Maria Firmina, em Úrsula, faz ao se reportar à vida anterior dos escravos, na África. Resgata o que Franz Fanon reclamava na descrição do negro: a inexistência de uma Cultura, uma civilização, um passado histórico para além da tristeza causada pela escravidão. Nesse contexto é mostrada a realidade dos negros duplamente como prisioneiros: enquanto escravizados pelos brancos e enquanto escravos em terra estrangeira. Úrsula é o único romance do seu tempo que busca apresentar o negro com identidade definida/particular, com terra, cultura e humanidade próprias. Chama a atenção de que uma simples recordação de uma época feliz na terra natal ameniza o sofrimento extremo, mas resignado, no tempo presente no qual se desenrola a história dos protagonistas africanos do romance. O que seria do ser humano se não fosse a capacidade de sonhar? O que seria do ser humano se não fosse a capacidade de, por alguns momentos, se desligar da realidade crua e aterrissar em uma outra revestida de saudade, por ter sido muito ditosa? Apesar da dor exposta cruamente, não deixa de ser uma apologia à busca da felicidade possível nesta terra, a felicidade nos poucos anos de vida que cada um de nós tem. Por mais que vivamos, são poucos os dias que cabe a cada um e cada dia presente é um presente que deveríamos comemorar e compartilhar de forma lúcida, coerente, justa, amiga e amorosa para a felicidade, não só de quem está perto de nós, mas para a felicidade coletiva, para felicidade do mundo inteiro, um mundo sem fronteiras, um mundo sem injustiça, um mundo sem discriminação de espécie alguma. Um outro viés importante no romance é o forte traço de ousadia, no que diz respeito também à denúncia referente ao papel da mulher na sociedade do tempo histórico-social de Úrsula, que, de algum modo, se coaduna com a afirmação a seguir, de Nísia Floresta (1989), quando enfatiza o valor da atividade feminina circunscrita à criação e ao cuidado dos filhos. Em relação a essa condição castradora, escreve em tom desafiador: Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, que não somos


próprias senão para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens (grifo meu). Dessa forma, a mulher apresentava comportamento de obediência aos imperativos do pai e do marido, desenvolvia um forte traço de submissão, a exemplo do pai de Tancredo, do Comendador Fernando, Paulo B. Este último cobriu de desgosto a esposa Luísa B. Também apresenta concomitantemente ao perfil do homem despótico o seu contrário, a exemplo de Tancredo; do mesmo modo, ao da mulher virtuosa, a exemplo da pérfida, a Adelaide. Outro viés também importante refere-se ao papel da Igreja que comungava com as normas esdrúxulas da sociedade escravocrata e patriarcal, mas paradoxalmente, também acolhia em seus mosteiros aqueles que os procuravam. Como afirmei no início desta apresentação, não vou contar a história. Desejo que estudantes e professores adotem o romance Úrsula, neste ano do seu aniversário, não como leitura obrigatória, mas prazerosa, e com o objetivo de construir conhecimentos em várias áreas do saber: história, sociologia, psicologia, entre outras. E ainda ver a literatura também como instrumento de construção do conhecimento, e por isso consolidar o hábito da leitura e, por meio dela, valorizar os nomes importantes da nossa historiografia cultural. Contudo, a seguir vou citar algumas passagens que intitulei de âncoras para subsidiar o desejo da reflexão. ALGUMAS PASSAGENS/ÂNCORAS PARA REFLEXÃO [...] a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros com a sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso (REIS,1988, p.25). Nesta parte do estudo, quero iniciar com dois conceitos que, apesar de distintos, encontram-se imbricados em grande parte das situações e que na minha compreensão se constituem subsídios para as interpretações do vivido pelos personagens e dos cenários onde a trama se desenrola: - Escravidão: concretiza-se na prática social quando um ser humano adquire direitos de propriedade sobre outro denominado escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força material, física e ideológica. - Misoginia (do grego μισέω, transl. miseó, "ódio"; e γυνὴ, gyné, "mulher") que se materializa pelo ódio, desprezo ou preconceito manifestados contra mulheres ou meninas. A misoginia pode se expressar de várias formas: a exclusão social, a discriminação sexual, a hostilidade, o androcentrismo, o patriarcado, as ideias de privilégio masculino, a depreciação das mulheres, a violência contra as mulheres e a objetificação sexual. Em continuidade, enunciarei as passagens/âncoras, eleitas por mim, identificando capítulo e página onde estão expressadas. 1- Prólogo do romance Úrsula: Maria Firmina o inicia declarando: [...] mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS,1988, p.10) (grifos meus). Capítulo 1- Duas almas generosas Sobre a natureza:


São vastos e belos os nossos campos; porque inundados pelas torrentes do inverno semelham o oceano em bonançosa calma-branco lençol de espuma, que não ergue marulhadas ondas, nem brame irado ameaçando insano quebrar os limites que lhe marcou a onipotente mão do rei da criação (REIS,1988, p.21) (grifo meu). E altivas erguem-se milhares de carnaubeiras, que balançadas pelos soprar do vento recurvam seus leques em brandas ondulações. Expande-se-nos do coração quando calcamos sob os pés a erva reverdecida, onde gota a gota o orvalho chora no correr da noite esse choro algente, que se pendura da folhinha trêmula, como a lágrima de uma virgem sedutora, e que, arrancada do coração pelo primeiro gemer da saudade se balança nos longos cílios. Depois vem a ardentia dia do sol, e bebe o pranto noturno, e murcha a flor, que enfeitiçava a relva, porque o astro, que rege o dia, reassumiu toda a sua soberania; mas ainda assim os campos são belos e majestosos! (REIS,1988, p.22) (grifos meus). Sobre Túlio, o escravo negro: [...] O sangue africano refervia-lhe nas veias; o mísero ligava--se à odiosa cadeia da escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam resfriar, embalde - dissemos- se revoltava; porque se lhe erguia como barreira - o poder do forte contra o fraco! (REIS,1988, p.25) (grifos meus). Senhor Deus! quando calará no peito do homem a tua sublime máxima - ama a teu próximo como a ti mesmo - e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante!... a aquele que também era livre no seu país ... aquele que é seu irmão?! E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros com a sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista (REIS,1988, p.25) (grifos meus). [...]As almas generosas são sempre irmãs (REIS,1988, p.27) (grifo meu). [...] dia virá em que os homens reconheçam que são todos irmãos. Túlio, meu amigo, eu avalio a grandeza de dores sem lenitivo, que te borbulha na alma, compreendo tua amargura, e amaldiçoo em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu semelhante. Sim, prosseguiu - tens razão; o branco desdenhou a generosidade do negro, e cuspiu sobre a pureza dos seus sentimentos! Sim, acerbo deve ser o seu sofrer, e eles que o não compreendem! (REIS,1988, p.28). (grifos meus). Capítulo 2 - O delírio [...] Por que o que é senhor, o que é livre, tem segura em suas mãos ambas a cadeia, que lhe oprime os pulsos. Cadeia infame e rigorosa, a quem chamam: - escravidão?!... E, entretanto, este também era livre, livre como o pássaro, como o ar; porque no seu país não se é escravo. Ele escuta a nênia plangente do seu pai, escuta a canção sentida que cai dos lábios de sua mãe, e sente como eles, que é livre, porque a razão lho diz, e a alma o compreende. Oh! a mente! isso sim ninguém a pode escravizar! Nas asas do pensamento o homem remonta-se aos ardentes sertões da África, vê os areais sem fim da pátria e procura abrigar-se debaixo daquelas árvores sombrias do oásis, quando o sol requeima e o vento sopra quente e abrasador: vê a tamareira benéfica junto à fonte, que lhe amacia a garganta ressequida: vê a cabana onde nascera, e onde livre vivera! Desperta, porém, em breve essa doce ilusão, ou antes sonho em que se engolfara, e a realidade opressora lhe aparece - é escravo e escravo em terra estranha! Fogem-lhe os areais ardentes, as sombras projetadas pelas árvores, o oásis no deserto, a fonte e a tamareira - foge a tranquilidade da choupana, foge a doce ilusão de um momento, como ilha movediça, porque a alma está encerrada nas prisões do corpo! Ela chama-o para a realidade, chorando, e o seu choro, só Deus compreende! Ela não se pode dobrar, nem lhe pesam as cadeias da escravidão; porque é sempre livre, mas o corpo geme, e ela sofre e chora; porque está ligada a ele na vida por laços estreitos e misteriosos (REIS,1988, pp.3536). (grifos meus).


Capítulo 3 - A declaração de amor Sobre Túlio, o escravo negro: [...] Tinha - se alforriado. O generoso mancebo assim que entrou em convalescença dera-lhe dinheiro correspondente ao seu valor como gênero, dizendo-lhe: - Recebe, meu amigo, este pequeno presente que te faço, e compra com ele a tua liberdade. Túlio obteve por dinheiro aquilo que Deus lhe dera, como a todos os viventes - Era livre como ar, como haviam sido seus pais, lá nesses adustos sertões da África; e como se fora sombra do seu jovem protetor, estava disposto a segui-lo por toda a parte. (REIS,1988, p. 37). (grifos meus). A declaração de Tancredo para Úrsula: - Amais-me Úrsula?!... Um súbito rubor, melhor que a rosa, tingiu as faces da delicada virgem, e ela baixando os olhos disse-lhe: - Talvez!... - A voz era tão débil que semelhou o doce murmúrio de queixoso ribeiro. Mas enquanto os lábios diziam simplesmente talvez, o coração desfeito em transporte de inefáveis doçuras sonhava aventuras do paraíso. [...] – Úrsula confessou a si mesmo que aquilo que sentira era o verdadeiro e ardente amor (REIS,1988, p. 42). (grifos meus). Capítulo 4 - A primeira impressão Não sei por quê, mas nunca pude dedicar a meu pai amor filial que rivalizasse com aquelo que sentia por minha mãe, e sabeis por quê? É que entre ele e sua esposa estava colocado o mais despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava em silêncio, e resignava-se com sublime brandura. Meu pai era para com ela um homem desapiedado e orgulhoso - minha mãe era uma santa e humilde mulher (REIS,1988, p.49). (grifos meus). -Tancredo, não chames sobre ti a cólera de teu pai. Oh! Deus não protege a quem se opõe à vontade paterna! Baixei os olhos confuso e magoado, e quando os ergui duas lágrimas lhe sulcavam rosto. Oh! minha pobre mãe - exclamei reconhecido - perdoai-me! Então ela sorriu-se, porém, seu sorriso era amargo e terno a um tempo! Ah! ela temia seu esposo, respeitava-lhe a vontade férrea, mas com uma abnegação sublime quis sacrificar-se por seu filho. - Irei eu - disse-me e saiu (REIS,1988, p.51) (grifos meus). Capítulo 9 - A preta Suzana Tinha chegado o tempo da colheita e o milho e o inhame e o mendubim eram em abundância em nossas roças. Era um desses dias em que a natureza parece entregar-se toda a brandos folgares, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha sorria-se para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim! Deixei - a nos braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. Ah! nunca mais devia eu vê-la.........................


Ainda não tinha vencido cem braças de caminho, quando um assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar acerca do perigo iminente, que aí me aguardava. E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira - era uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome da minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi possível... a sorte me reservava ainda longos combates. Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava - pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade! meu Deus! o que se passou no fundo da minha alma só vós o pudestes avaliar!... Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos! (REIS,1988, pp. 82-83). (grifos meus). Capítulo 18 - A dedicação - Antero explica a Túlio, do ponto de vista da cultura africana, o seu hábito de beber [...] na minha terra há um dia e cada semana que se dedica à festa do fetiche, e nesse dia. como não se trabalha, a gente diverte-se, brinca e bebe. Oh! lá então é vinho de palmeira mil vezes melhor que cachaça e ainda que tiquira (REIS,1988, p. 143). CONSIDERAÇÕES FINAIS É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos! (REIS,1988, p. 83). Isso posto, reafirmo que é horrível lembrar e viver ainda hoje situações de exploração, dominação, depreciação, sejam elas quais forem, desde que resultem na morte da alma ou do corpo de um semelhante! Mas é necessário o conhecimento da história por meio da ciência e/ou da literatura para não repetirmos os erros do passado. Espero que as pontuações levadas a termo tenham conseguido atingir o objetivo de suscitar o desejo pela leitura da história, a qual, por sua vez, vai proporcionar reflexões acerca dos valores vigentes na sociedade do século XVIII à atual, que passam por questões econômico-sociais e da afetividade e determinam, em última instância, a sanidade de cada pessoa e de um coletivo e o seu contrário. Maria Firmina, ao publicar o romance Úrsula, materializou um ato extremo de coragem e ousadia por efetivá-lo vinte e nove (29) anos antes da libertação dos escravos (1859 – 1888), ou seja, a Lei Áurea, oficialmente Lei Imperial n.º 3.353, foi sancionada em 13 de maio de 1888, e se firma como o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil. Outro dado digno de realce é que, dos 95 anos que Maria Firmina viveu neste plano físico, conviveu 66 anos com a escravidão. Outro dado também de suma importância, nesse contexto, segundo Adler (2017), é que a sua mãe, Leonor Felippa doz Reiz, foi escrava do Comendador Caetano José Teixeira, tendo sido posteriormente alforriada, conforme Certidão de Batismo, do Fundo Arquidiocese Livro 116-FL 182, hoje integrando o acervo do Arquivo Público do Estado do Maranhão.


Para finalizar estas minhas argumentações, nada mais conveniente do que apresentar a seguir o Hino, letra e música, de autoria de Maria Firmina dos Reis, em louvor ao término da escravidão, pelo menos em termos legais: HINO À LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS Maria Firmina dos Reis Salve Pátria do Progresso! Salve! Salve Deus a Igualdade! Salve! Salve o Sol que raiou hoje, Difundindo a Liberdade! Quebrou-se enfim a cadeia Da nefanda Escravidão! Aqueles que antes oprimias, Hoje terás como irmão! (1888) E que não faltem almas generosas neste mundo! REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor, São Luís: ALL, 2017. CAPES. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/ FLORESTA, Nísia. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. São Paulo: Editora Cortez, 1989. FLORESTA, Nísia. Opúsculo Humanitário. São Paulo: Editora Cortez, 1989. LOBO, Luiza Leite Bruno. CRÍTICA sem JUÍZO. Rio de Janeiro: Garamond (2007, p.363). MORAIS, José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. REIS, Maria Firmina dos. ÚRSULA. Organização e notas de Lobo; Introdução de Charles Martin. - 3ª ed. Rio de Janeiro: Presença Edições: Brasília INL, Coleção Resgate/INL, 1988. ZIN, Rafael Balseiro. https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/view/10835. ANEXO TESES COM TEMÁTICA ESCRAVAGISTA COM BASE NAS PUBLICAÇÕES DE MARIA FIRMINA DOS REIS TESES: ESTRANGEIRO ABREU, José António Carvalho Dias de. Os abolicionismos na prosa brasileira: de Maria Firmina dos Reis a Machado de Assis. 472 f. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras. Universidade de Coimbra.

ANO/PAÍS

FRANCISCO, Carla Cristine. Mãe Susana, Mãe África - a ‘invenção’ da diáspora negra em Úrsula (1859) de Maria Firmina dos Reis. (Dissertação Mestrado em Aire culturelle romaine). Université de Provence Aix Marseille I, Aix-Marceille I.

2010/ FR

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ANO/ESTADO

BATIGUIANI, Rosangeli de Fatima. Caminhos entrecruzados: história, escravidão e literatura em Úrsula (1859) E As Vítimas Algozes: Quadros Da Escravidão (1869). 130 f. Mestrado em HISTÓRIA/Programa de Pos-Graduação em História da Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes.

2016/MG

CARVALHO, Jéssica Catharine Barbosa de. Literatura e atitudes políticas: olhares sobre o feminino e antiescravismo na obra de Maria Firmina dos Reis. 128 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Piauí. Disponível em: https://drive.google.com/drive/folders/12dtFCFkzJsfjKUAhBh_VviO7iFym8tyl. Acesso em maio de 2018.

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CARVALHO, Virginia Silva de. A efígie escrava: a construção de identidades negras no romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Dissertação (Mestrado em Letras), Fundação Universidade Estadual Do Piauí – FUESPI CORREIA, Janaína dos Santos. O uso de fontes em sala de aula: a obra de Maria Firmina dos Reis (1859) como mediadora no estudo da escravidão negra no Brasil.166 f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Centro de Letras e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Londrina.Disponível em: http://www.uel.br/pos/mesthis/JanainaSCorreia.pdf. Acesso em maio de 2018.

2013/PI

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2015/MA


DE PONTA DE JOÃO DIAS A PONTA D'AREIA.



HOMENAGEM AOS 93 ANOS DO JORNAL O IMPARCIAL Antonio Noberto O Jornal O Imparcial faz parte do patrimônio histórico do Maranhão, sendo o diário mais antigo em atividade no estado. Sua primeira edição ocorreu no dia 1º de maio de 1926, data comemorativa do Dia do trabalhador. Sua importância para os maranhenses se equipara a dos primeiros jornais brasileiros, a exemplo da Gazeta do Rio de Janeiro, de 1808, quando a família real portuguesa, buscando resgatar um pouco do conforto e das comodidades da Europa, mandou funcionar os dois prelos trazidos de Lisboa; ou d’ O Conciliador, primeiro jornal do Maranhão, publicado em abril de 1821 em uma tentativa de unir brasileiros e portugueses, divididos quanto a independência do Brasil. Alicerçado na história, O Imparcial, nas últimas décadas, vem se atualizando e abrindo espaço para um jornalismo diferenciado, onde a crítica, o espaço do leitor, a generosa seção dispensada aos acadêmicos, o desenho, as imagens, a valorização da economia, da cultura e do conhecimento, o espaço cibernético, revelam o olhar lá adiante em um mundo tomado pelas transformações. A história d’O Imparcial se harmoniza perfeitamente com as tecnologias e o que há de mais moderno, sendo esse equilíbrio entre passado e futuro a coluna que o mantem de pé, firme e pactuado com a permanência, tudo sustentado pelo profissionalismo de diretores, redatores, repórteres, fotógrafos, técnicos, motoristas, jornaleiros e de muitos outros que fazem diuturnamente d’O Imparcial um dos jornais mais lidos do Maranhão e do Norte – Nordeste brasileiro e um orgulho dos maranhenses. Parabéns ao Jornal O Imparcial pelos seus 93 anos bem vividos de contribuição para a vida de ludovicenses e maranhenses!

*Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM Assessor de comunicação da PRF no Maranhão



CONTATOS DAS ACADEMIAS 1 – Academia Anajatubense de Letras, Ciências e Artes; Cecília Dutra professoraceciliadutra@hotmail.com - 98 - 98882 8820 Ivone Mendonça

98 99601 4411

Adriano - 98 98485 95 80 (presidente). 2 – Academia Arariense de Letras Artes e Ciências Presidente: José Ribamar Carneiro Sobrinho – 98 9 8853 3748. 3 - Academia Arariense/Vitoriense de Letras Presidente: José Antônio Nunes Aguiar - 98 98483 4016. 4 – Academia Bacabalense e Letras Zezinho Casanova casanova475@gmail.com 99 98179 8292 Antônio Ailton

98 98430 5655.

5– Academia Barracordense de Letras; Kissyan Castro – kissyancastro@hotmail.com - 99 98100 3917 Marinete - 99 98187 0101 Tamara Pinto – 99 98141 3651 98 988063356. 6 – Academia Barreirinhense de Letras Baial Ramos - 98 98126 9125 Ronildo de Sousa Calisto 98 – 98222 3060 ronildo.calisto@hotmail.com 7 - Academia Bernardense de Letras Antônio de Pádua Silva Sousa - 98 9 9971 2018. 8– Academia Brejense de Letras Presidente: Roque Pires Macatrão - 98 - 3235 5010 / 3227 2669. 9 – Academia Caxiense de Letras Wibson Carvalho poetacxcarvalho@gmail.com 99 98154 5372 Raimundo Medeiros - 99 991147595 (presidente) Carvalho Junior - 99 98268 2642 Antônio Brandão - antonioaugustobrandao@gmail.com


10 – Academia Codoense de Letras Jeferson A. Sousa jefferssoncodo@hotmail.com 99 98112 3034; 11 – Academia Esperantinopense de Letras; Graça Lima - graçamusica@hotmail.com 99 9952 3052 – Ana Neri - Ananeresplg@hotmail.com - 99 99651 5152; 12 - Academia Grajauense de Letras Presidente: Rosa Soraia Nava Arruda 99 9 218 2828 Antônio Guará Sobrinho 98 9 8304 0309 Sálvio Dino 99 9 99217 2022. 13 - Instituto Histórico e Geográfico de Arari Presidente: João Francisco Batalha batalha@elointernet.com.br 98 - 9 8883 0744 Rua Zuleide Bogéa nº 128 – CEP 65.480-000 Arari – Maranhão. Instituto Histórico e Geográfico de Codó José Ribamar Amorim – 98 - 98100 6798 14 - Academia Icatuense de Letras, Ciências e Artes; Cláudia Rocha 98 98888 1217 claudia.icatu@hotmail.com Paulo Matos 98 8857 5115 paulomatos23@hotmail.com José Almeida 98 98841 7869; 15 - Academia Imperatrizense de Letras Presidente: Trajano Neto - 99 98242 8571 imperador-25@hotmail.com Zeca Tocantins - zecaticantins@hotmail.com Luis Carlos Porto -

99 – 3524 0843

16 – Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes Jucey Santana jusantaana@hotmail.com 98 – 99994 3777 Inaldo Lisboa 98 99992 1741. 17 - Academia Joao-lisboense de Letras Jose R. Júnior 99 9 8135 9369. 18 – Academia de Lago da Pedra João Filho – 98 99827 1748. 19 – Academia Ludovicense de Letras Presidente: Antônio Noberto de Sousa antonionoberto@hotmail.com 98 9 9974 7585. 20 – Academia Luminense de Letras (Paço do Lumiar) Presidente: Prof. Ferreira da Silva – 9 8874 97 43 sem Zap Antônio Melo

amello55@hotmail.com 98 9982 5617.


21 – Academia Matinhense de Ciências, Letras e Artes; César Brito cbesar_cb@yayoo.com.br - 98 9 8824 3665 João Carlos – 98 99968 4088. 22 - Academia de Pastos Bons. 23 – Academia Pedreirense de Letras Samuel Barreto - samuelbarreto13@hotmail.com 99 98154 5372 Edvaldo Santos edvaldosantos2005@hotmail.com – 99 98119 3821 Itamar Lima 98 986169 4594 Kleber Lago 98 98816 5691. 24 – Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense Presidente: Ana Creusa anacreusamartins@hotmail.com 98 9 8429 4227 atanieta123martins@gmail.com Francisco Viegas 98 9 8125 1335. 25 – Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências Joana Bitencourt – 98 – 99215 7465 betobonequeiro@yahoo.com Agnaldo Mota agnaldomota@elo.com.internet.com.br 98 99976 7777. 26 – Academia Sambentuense de Letras Presidente: Maria Luiza Aragão Mendonça luizapsicop@hotmail.com 98 9 81269648 Álvaro Urubatan Melo (Vavá Melo) alvarourubatam@gmail.com

98 - 99606 0960.

27 –Academia Vargem-grandense de Letras e Artes Jucey Santos de Santana 98 9 9994 3777 juceysantana@gmail.com 28 – Academia Vianense de Letras - AVL Presidente: Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro frtravassos@gmail.com 98 98426 3235 Secretária: Maria da Graça Mendonça Cutrim – 98 - 98819 9643 29 – Academia Maçônica Maranhense de Letras Presidente: Adelson Lopes da Silva lopesaranha@hotmail.com 98328 0424. 30 - Academia Atheniense de Letras e Artes João Melo Bentivi jmelobentivi@gmail.com 98819 1530 / 99601 3918 / 3227 6257 31 - Academia de Letras, Artes Cênicas e Agremiação de Saberes Culturais da Área Itaqui Bacanga – ALEART. Raimundo Diniz Pinheiro - rdinizpinheiro@hotmail.com 98 98751 7325. 32 – Academia de Ciências, Letras e Artes Militares – AMCLAM Presidente: Cel. Carlos Augusto Furtado Moreira 98 9 9192 6747 academiaamclam@gmail.com.


33 - Academia Vimarense de Letras (Guimarães-Ma) Duzinha - 98 98124 3397. 34 - Academia Zedoquense de Letras Ezequias de S. Silva ezequiassilva@gmail.com 98 9 8227 8548 Michel Herbert Alves Florencio mh.florencio@uol.com.br 98 9 9105 3637.

Convite O Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Arari (IHGA), João Francisco Batalha, tem a honra de convidar V. Sª. para a Sessão Solene de Instalação do Sodalício e Posse de sua Diretoria. Data: Dia 01 junho de 2019 (sábado) Horário: 19 hs Local: Colégio Arariense – Arari – Maranhão. . Comunicação: E-mail batalha@elointernt.com.br WhatsApp 98 9 8883 0744


LANÇAMENTO DO PROJETO LUZES DA RIBALTA Homenagem com entrega de medalhas. Dia 15 de maio de 2019, às 19h, na sede da Academia Maranhense de Letras.

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS HOMENAGEARÁ PERSONALIDADES COM A MEDALHA MARIA FIRMINA DOS REIS https://www.abimaelcosta.com.br/2019/05/academia-ludovicense-deletras.html?m=1&fbclid=IwAR0XLBk7C0i87fEyE3CvOOPcuxpp0Zdoro-BcZzbl-fLY6VwtcDdT8Hsq5c


O evento marcará o início do projeto “Luzes da Ribalta”, que objetiva valorizar escritores e artistas que deram importante contribuição à literatura do estado do Maranhão, e que ainda não alcançaram o devido reconhecimento do seu trabalho cultural A Academia Ludovicense de Letras (ALL), realizará a partir das 19h do próximo dia 15 de maio, o lançamento do projeto Luzes da Ribalta, que homenageará escritores, mecenas e artistas que prestaram relevante contribuição à literatura e a cultura do Maranhão. Os dois primeiros homenageados do projeto serão o escritor Luís de Mello, autor de importantes obras literárias, a exemplo de “Cronologia das artes no Maranhão”; e a outra comenda será outorgada ao pesquisador e ator francês Jean-Marie Collin, patrocinador de obras e eventos da cultura maranhense na Europa, a exemplo do livro “Daniel de la Touche, grande navegador, sua história”, de autoria da historiadora Claudine Doreau. O evento acontecerá no auditório da Academia Maranhense de Letras (AML), na rua da Paz, Centro. Luzes da Ribalta são os refletores colocados no nível do palco com o objetivo de iluminar o rosto dos atores, sendo este o propósito da Academia Ludovicense de Letras, lançar luz sobre os artífices da cultura do estado e deixar em evidência aqueles (as) que, apesar do empenho e contribuição, ainda não foram devidamente reconhecidos pelo público em geral. Flores em vida para todos aqueles que desenvolvem trabalhos valiosos difundindo as letras e as artes do Maranhão, no Brasil ou no exterior. Quadro resumo O que: Academia Ludovicense de Letras lançará projeto Luzes da Ribalta e fará entrega de medalhas Onde: auditório da Academia Maranhense de Letras (AML), na Rua da Paz, Centro, São Luís/MA Quando: às 19h de quarta-feira, dia 15 de maio de 2019 Traje: passeio completo com uso de capelo e colar pelos membros da ALL




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Projeto ‘Luzes da Ribalta’ homenageia escritores e artistas da cultura maranhense 3 minExibição em 16 mai 2019

Na noite de quarta-feira (15) foram homenageados com a medalha, Maria Firmina dos Reis, o escritor francês Jean Marie Collin e o pesquisador e escritor Luís de Mello. https://globoplay.globo.com/v/7620408/?utm_source=facebook&utm_medium=share-playerdesktop&fbclid=IwAR1ZUAceHVrNPIJEzfJyslT5GVfJHG4iwGXSVRXntqsgd_GgAN8P6Skd9yw


QUE SE ACENDAM AS LUZES DA RIBALTA *Por Antonio Noberto Que se abram as cortinas e que se acendam as luzes da ribalta, pois é chegado o grande momento... da consagração, tão ansiada por todos aqueles que se dedicam ao metier das letras. É chegado o tempo de premiar aqueles que passaram horas e horas debruçados sobre livros, documentos e realizando os vários tipos de pesquisa. É chegado o momento de ouro daqueles que investiram do próprio bolso e se privaram de consumo e outros confortos que o vil metal pode oferecer. Foram muitas as renúncias para levar uma mensagem, uma ideia ou uma informação ao seu público. Enfim, é chegado o momento daqueles que iluminam serem iluminados. A ribalta é o conjunto de luzes ou refletores na parte dianteira do palco, que ilumina o rosto do ator (es). É este o propósito da confraria da Academia Ludovicense de Letras (ALL) com relação aos homenageados, escolhidos a partir de critério técnico, sendo levado em conta a obra e a contribuição de cada um. Em um país de tanta desigualdade, a ALL optou por agraciar e lançar luz NÃO sobre aqueles já reconhecidos, os grandes, os monstros consagrados da literatura, os hors-concours. Não. A Academia deliberou por aqueles sonhadores, carentes de reconhecimento e do afago da coletividade. Com a chegada das luzes da ribalta no rosto destes valorosos atores, passa a valer com mais força o adágio e a sabedoria dos nossos avós, de que “A esperança é a última que morre” e que todo o esforço e dedicação, valeram a pena. Nosso primeiro homenageado, o escritor Luiz de Mello, tem obras graúdas, a exemplo da “Cronologia das artes no Maranhão” e “Pintores maranhenses do século XIX”. Ele é imenso, porém, ainda não reconhecido. Como saberíamos sobre os pintores de origem estrangeira, a exemplo de Riguine, Desiré Trubert, Domingos Tribuzzi, Horácio Tribuzzi, que morreu jovem pintando a capela do Santa Teresa. Como contemplaríamos São Luís antes da fotografia sem esses iluminados? Pois foi Luiz de Mello quem os escancarou aos maranhenses. O bretão Jean Marrie Collin é uma espécie de cônsul dos maranhenses na França. Entre as suas contribuições, a grande e demorada pesquisa sobre Daniel de la Touche nas várias comunas, departamentos e regiões na França. Ele também é um mecenas, pois publicou livro sobre o Maranhão no território gaulês e pagou a tradução do livro “Daniel de La Touche de La Ravardière, grande navegador, sua história”, trabalho que aguarda o melhor momento para ser publicado. Estes dois artistas homenageados fizeram bonito ao valorizar a literatura e o caráter internacional da nossa cultura. O Brasil estrangeiro foi o Brasil grande, de valor, da riqueza, pois acompanhado do conhecimento e da ética, as maiores ativos de uma nação. Algo tão em falta em tempos de pobreza e precarização. Com este singelo, porém, nobre e generoso gesto, a Academia Ludovicense de Letras vem a público dizer que, apesar da depreciação das últimas quatro décadas, ainda vale a pena escrever, ainda vale a pena ser professor e ainda vale a pena ser intelectual no Brasil. São Luís já foi a quarta cidade brasileira, a Atenas, a capital da França Equinocial, que teve uma fundação letrada, nas palavras da historiadora e escritora Andrea Daher. Por isso a nossa responsabilidade de sermos reserva literária e de visão, sem contemplar apenas o nosso quadrado ou mundinho acadêmico. Precisamos ser responsáveis pela divulgação e multiplicação do conhecimento e o momento urge. Saímos recente dos 400 anos de São Luís e agora entramos nas comemorações dos 400 anos da Câmara Municipal da nossa cidade. São eventos que para muitos não tem significância, mas para nós intelectuais são oportunidades de promovermos avanços coletivos, pois a Academia é da cidade e dos seus moradores. A intelectualidade ajuda em grande medida a fazer uma cidade próspera e bem melhor para todos. Por isso sejamos sol, luz e conhecimento para esta e as futuras as gerações. Sejam todos bem-vindos à abertura do projeto Luzes da Ribalta! *Presidente da Academia Ludovicense de Letras


LUIZ DE MELO: quase quatro décadas de pesquisas históricas

JUCEY SANTANA Em 15 de maio corrente a Academia Ludovicense de Letras, fez a abertura do projeto “Luzes da Ribalta”, na Academia Maranhense de Letra, com homenagens aos pesquisadores Luiz de Melo e Jean Marie Collin. O projeto tem por objetivo reverenciar pesquisadores, escritores e artistas que prestaram relevante contribuição à cultura maranhense, com a outorga da maior honraria da instituição, a Medalha Maria Firmina dos Reis. À signatária, coube discorrer sobre a vida e obra de Luiz de Melo: LUIZ FRANCO DE OLIVEIRA MELO, nosso querido Luiz de Melo, pesquisador e contista maranhense, nasceu em 6 de maio de 1944. Muito cedo enveredou pelo campo da literatura. Ao se tornar funcionário público, intensificou seu trabalho na literatura depois abraçou a pesquisa histórica como forma de sobrevivencia financeira. Hoje aos 75 anos, o persistente Luiz de Mello parece carregar um fardo pesado demais diante de sua saúde precária. Ainda assim, ele não tem repouso e movimenta-se por acervos de bibliotecas da Capital, pesquisando e mantendo, além da obstinação, uma luta constante para que os seus trabalhos sejam publicados. A partir de 1961 iniciou sua trajetória literária, ainda adolescente, começou a escrever contos e romances. Na ocasião mostrou seus escritos a duas escritoras: Arlete Nogueira e Helena Barros Huley. De ambas recebeu incentivo para continuar escrevendo. Em 1963, publicou seu primeiro conto no jornal do Itapecuruense Zuzu Nahuz, Correio do Nordeste. Através deste jornal que ele conheceu a poetisa Venúsia Neiva, os jornalistas Zuzú e Alfredo Galvão, os poetas José Chagas, Bandeira Tribuzi, Nauro Machado, José Maria Nascimento e outros. Em 1964, já estava bem ambientado nos meios literários. Lembra Luiz Melo que na época os contistas mais conhecidos eram: Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Fernando Moreira, Reginaldo Teles, Jorge Nascimento e Erasmo Dias, que passaram a demostrar interesse e admiração ao jovem escritor . Até 1965 Luiz de Melo já havia escrito oito romances, duas peças teatrais e dezenas de contos. Sem condições financeiras para publicar seus escritos ia armazenando. Chegou a mostrar a alguns escritores e amigos mas estes nada puderam fazer para ajuda-lo. Infelizmente, em 1966, durante uma crise de alcoolismo, tocou fogo em quase tudo, romances e peças teatrais viraram cinzas, o que lamenta até hoje. Foi colaborador de vários jornais nos anos 60 e 70, como o Correio do Nordeste, Jornal do Dia e o semanário Jornal do Maranhão.


A sua primeira pesquisa data de 1965, sobre a obra do comediógrafo Américo Azevedo, irmão de Aluísio e Artur Azevedo. Infelizmente depois de exaustiva pesquisa as comédias caíram no esquecimento, nada foi publicado. Uma pena! Depois de um período desempregado, em 1985, foi contratado pela Secretaria da Fazenda do Estado, por intermédio de Nascimento Moraes Filho, para realizar uma longa pesquisa do período de 1835 a 1981 da História do Tesouro Público Provincial. O trabalho durou dois anos e meio, foi gratificante! Posteriormente surgiram convites de mais duas Secretarias de Estado e de alguns escritores. E assim ele foi sobrevivendo, pesquisando sem parar. Foram tantas as pesquisas que ele não consegue relembrar, apesar da sua prodigiosa memória. Como não tinha emprego, era um pesquisador autônomo, como meio de vida. Suas pesquisas giram em torno 70% de questões históricos e 30% de literários. Pesquisou sobre comércio, indústria, navegação fluvial, estabelecimentos bancários, cinemas, fábricas de tecidos, terrenos e seus primitivos proprietários, inúmeras sesmarias, ruas e outros logradouros públicos, atividades de fotógrafos, pintores, escultores, desenhistas, e localizou obras como romances, contos, crônicas e poesias de vários autores, dos séculos XIX e XX, enfim, trata-se de uma extensa lista de textos pesquisados em mais de cinco décadas. Sobre os autores maranhenses Luiz de Melo questão de destacar os seguintes com quem teve sempre muito contato e admiração: Nauro Machado, Bandeira Tribuzi, José Chagas, Mário Meireles, Jomar Moraes, Arlete Nogueira da Cruz, Ubiratan Teixeira, Bernardo Almeida, Fernando Braga, Francisco Tribuzi, Josué Montello, José Louzeiro, Carlos Cunha, José Maria Nascimento, Ferreira Gullar, Lucas Baldez, Fernando Moreira, Ceres Costa Fernandes, Domingos Vieira Filho, Nascimento Moraes, Clóvis Ramos, José Fernandes, Lenita de Sá, Manoel Caetano Bandeira de Mello, Wilson Martins, Alberico Carneiro, Joaquim Haickel, José Sarney, Lucy Teixeira, Laura Amélia Damous, Carlos Gaspar, Alex Brasil, Ivan Sarney, Joaquim Itapary, Cunha Santos Filho, Lourival Serejo, Waldemiro Viana, Américo Azevedo Neto, Benedito Buzar, Álvaro (Vavá) Melo, Lino Moreira, Cursino Raposo, José Ribamar Caldeira, Wanda Cristina, João Mohana, Herbert de Jesus Santos, Dagmar Destêrro, etc, etc. Durante sua trajetória literária acompanhou com interesse a produção literária do Maranhão, afirmando que sempre esteve aquém do esperado, apesar de grandes talentos, excetuando os autores que possuíam recursos próprios, a política editorial do estado era muito emperrada, porém, com o advento da AMEI, abraçando a causa do escritor o marasmo no cenário literário aos poucos está aos pouco se dissipando. Só relembrando: a única Antologia de Contos Maranhenses, coordenada por Arlete Nogueira da Cruz, em 1972, nunca foi reeditada. Isso é lamentável. Vale registrar que o casal Nauro Machado e Arlete sempre foram seus maiores amigos e incentivadores, o tratando por Melão. Luiz de Mello é autor dos seguintes livros: 1 - Os Pintores Domingos e Horácio Tribuzi (pesquisa histórica) 1989; 2 - Meridiano Oposto (contos) 1990. 3 - Os terroristas e os outros (conto). (1993). 4 - Os segredos de Guímel (contos) 1996; 5- Primórdios da telefonia em São Luís e Belém (pesquisa) 1999, integrando a série Documentos Maranhenses; 6 - Pintores Maranhenses do Século XIX (pesquisa). (2002); 7 - Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão (1842–1930), 2004. Organização de textos: 1 - O Maranhão Histórico (ensaio), de José Ribeiro do Amaral. 2003. Coleção GEIA de Temas Maranhenses.Vol.1. 2 - Informação sobre a Capitania do Maranhão dada em 1813, de Bernardo José da Gama (Visconde de Goiana) 2013.


3 - Dois Estudos Históricos de Jerônimo de Viveiros – Escorço da História do Açúcar no Maranhão/No tempo das eleições a cacetes. 2016. 4 - Quadros da Vida Maranhense, de Jerônimo de Viveiros (inédito). 5 – Variedades Históricas Maranhenses (2019). 6 - Páginas de Saudade, crônicas de Crysosthomo de Souza (inédito). 7 - Coisas do Nosso Folclore, artigos de Nonnato Masson (inédito).


Luzes da Ribalta ANTONIO NOBERTO APRESENTA O PESQUISADOR E ATOR FRANCÊS JEAN MARIE COLLIN Quem é este ator e pesquisador que a Academia Ludovicense de Letras saúda, homenageia e agracia nesta noite? De onde vem este homem alvo, alto, emplumado em suas vestes artísticas e fazendo apresentações da obra de Jean de la Fontaine e de outros escritores franceses? Este breve texto irá responder a estes questionamentos. Nosso homenageado, desconhecido da imensa maioria dos maranhenses, é uma pessoa, simples “de la France profonde”, do interior da França, no bom português. E não é por acaso que a ALL está projetando as luzes da ribalta sobre este nosso homenageado. Jean Marie Collin tem o seu nome no rol dos divulgadores do Maranhão na França, a exemplo de Lucien Provençal, na Riviera, e Jean Yves Loude, em Lyon e Beaujolais. Ele resgata, projeta e divulga a nossa história de uma forma contagiante, como os franceses o fizeram com Gonçalves Dias, no século XIX. Não fossem os holofotes da terra de Pierre-Auguste Renoir, o nosso maior poeta não teria divulgação tão forte. Encontramos tal informação na obra Cronologia das artes no Maranhão, do nosso outro homenageado, Luíz de Mello. Jean Marie nasceu no dia 09 de dezembro de 1954, na Bretanha, noroeste da França. Ele é ator e pesquisador, foi editor de uma revista sobre navegação e mora atualmente na pequenina Cahaix, cidade onde este que vos fala já teve o privilégio de se hospedar. Nosso amigo regionalista bretão, mecenas e ator francês está sendo homenageado nesta noite pela Academia Ludovicense de Letras pelo seu interesse e generosidade com respeito a São Luís, ao estado do Maranhão e sobretudo aos maranhenses. Jean Marie nos abriu portas na Europa, primeiro quando passou a viajar por diversas cidades, comunas, departamentos e regiões francesas em busca de algo perdido, que é a nossa história primeira, colocada em segundo plano nestas plagas tupiniquins por conta de querelas políticoacadêmicas. Ele semeou em meio aos espinhos, viajou milhares de quilômetros, realizou entrevistas, visitou museus, arquivos, igrejas e levantou documentos. Todo o esforço para recuperar a bela história de Daniel de la Touche de La Ravardière, o descobridor das Guianas e fundador da capital maranhense, o homem obstinado que criou a França Equinocial no torrão abandonado do Brasil setentrional quando os donatários régios ibéricos incorriam em penas de comisso pelo abandono secular desta região. A ligação de Jean Marie com Daniel de la Touche foi amor a primeira vista, quando se olharam na praça Pedro II em 2005, por ocasião do Ano do Brasil na França. Durante aquela fortuita troca de olhares aconteceu o que havia profetizado o nosso cantor Fábio Júnior “... quando cruzam o olhar não há força que os separe". Nesse momento, ele prometeu à estátua do fundador que se dedicaria a historia deste primeiro governador do Maranhão. A partir daí começou a pesquisa sobre tudo que tinha direito sobre La Ravardière: onde nasceu, onde viveu, onde morou, quando começou o gosto dele por São Luís, etc. Jean Marie é um dos descobridores do brasão de Daniel de la Touche, encontrado há uns 16 anos esculpido em uma igreja na cidade natal de la Touche, Berthegon, na região do Poitou-Charante. Ele também cumpriu o papel de mecenas ao publicar a obra “Daniel de La Touche de La Ravardière, grand navigateur, son histoire” (Daniel de la Touche de La Ravardière, grande navegador, sua história), na França e aqui no Maranhão. Obra de uma historiadora francesa. Ele também pagou do próprio bolso a tradução deste livro, trabalho realizado por Eva Chatel, professora de francês e nossa amiga, conhecida de muitos aqui. O livro ainda não foi publicado em português, pois espera o momento oportuno para ter a recepção que merece. Jean já fez festa maranhense para amigos e autoridades francesas na Bretanha, com direito a índias, batucadas e muito samba. Em 2006, nosso homenageado mandou preparar uma réplica do brasão de La Touche e a entregou ao então governador José Reinaldo Tavares. O mimo não foi algo dos mais baratos, mas a vontade de servir e trazer à baila tal bela história era o que o movia. No ano de 2012, por ocasião dos 400 anos de São Luís, lá estava o nosso “Obelix” viajando pela França e fazendo vez de guia de turismo para a equipe da TV Mirante, sempre visitando locais que dizem respeito a nossa história. A ligação dele com a nossa terra não para por aí. Ele está no segundo relacionamento com mulher


maranhense. E apesar de passar a maior parte do tempo na Bretanha tem residência própria em São Luís, sendo que aqui é o lugar onde ele pretende morar e ficar até o fim da vida. Hoje, mais de 150 anos depois da morte do nosso maior poeta, são os maranhenses que lançam os holofotes e as luzes da ribalta sobre um filho da França, neste grande palco que é a Academia Maranhense de Letras (AML). Jean Marie Collin, vous etes um grand rechercheur, um grand acter et grand ami. Félicitations! Antonio Noberto Cadeira nº 01, patroneada por Claude Abbeville COLUNA DO BUZAR – O ESTADO MA – 25/26/05/2019


I Encontro Estadual das Academias de Letras

Reunião da FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE LETRAS DO ESTADO DO MARANHÃO (FALMA) e ACADEMIA LUDOVICENCE DE LETRAS (ALL) na SEDUC, para tratar, entre outros assuntos, a realização do I Encontro Estadual das Academias de Letras, que será realizado na cidade de Caxias, no mês de setembro. Contamos com a presença dos confrades Salvio Dino, João Francisco Batalha Batalha, Antonio Noberto, Álvaro Urubatan, Adelson Lopes, Dilercy Aragão Adler e Nico Bezerra. Representando o Secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão, a Secretária Adjunta de Ensino Nádya Dutra e as técnicas Francisca Passos e Ana Neres. A comissão para a elaboração do pré-projeto a ser apresentado à SEDUC para análise e definição do Projeto Final é composta por João Francisco Batalha Jucey Santana Dilercy Adler, Ceres Costa Fernandes, Nico Bezerra e Álvaro Melo.


EVENTO LITERÁRIO DA ACADEMIA VARGEM-GRANDENSE NA AMEI

Jucey Santana Em 18 de maio correntes os membros da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, promoveram o seu primeiro evento público, as 19 horas na Associação de Escritores Independentes (AMEI), no Shopping São Luis. O evento foi marcado pelo relançamento do livro Arquivo de Lembranças, obra memorialista da vargem-grandense Odarci Mesquita e complementada por um animado sarau poético e musical com a participação descontraída dos presentes, que deram um show à parte.


O alegre encontro foi criteriosamente coordenado pela escritora Cristiana Mesquita tendo a participação de membros da Academia Itapecuruense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras. Os membros da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes – AVLA, em adiantados trabalhos para a sua fundação e instalação, com data marcada para 14 de julho, data comemorativa dos 174 anos da transferência da Vila de Olho D’água para Vargem Grande.

Vale destacar que Vargem Grande e toda região como Nina Rodrigues, Presidente Vargas e Itapecuru Mirim se constitui um celeiro de talentos literário e artístico dispersos e uma relevante história inserida no contexto nacional como Guerra da Balaiada e a Adesão do Maranhão à Independência necessitando do seu resgate.

A futura Academia Literária e Artística, já com mais de 20 integrantes inscritos, como membros fundadores, será a ferramenta necessária para abrigar e incentivar os intelectuais da região, para imortalizar a sua rica história.


INSTALAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ARARI EM 01-06-2019.+




Lançamento dos livros LÊrias e No Phanteon, da escritora Maria Teresa Azevedo Neves. Evento realizado na sexta-feira, 14 de junho de 2019, em parceria com a Academia Ludovicense de Letras (ALL). Um lindo e prestigiado evento. ParabÊns a confreira Maria Teresa Neves, a ALL e a todos os que abrilhantaram o evento.








INDICAÇÕES DE LEITURA

O Colunista me pede uma indicação de suas críticas para seu novo livro!!! Me apresenta duas delas, para que faça a opção de qual deva ser incluindo, ‘com minha recomendação de leitura”, daquelas de que mais gostei... pois bem: faço-a!! mas para saber, só lendo olivro...


O DOCE INFERNO DO PADRE VIEIRA – Sermão XIV de N. Sra. do Rosário Deslocada daquele contexto e trazida para a nossa época, ganha ares de número teatral de um roteirista irreverente fazendo pilhéria com a Igreja ou, quem sabe, até dissimulando um racismo inconfesso. Mas era um sermão do Padre Vieira na capela de um engenho incerto, na Bahia, em 1633. De forma habilidosa, Vieira se dirige aos escravos anunciando não uma, mas duas formidáveis notícias: são todos eles, os escravos, filhos de Maria Santíssima e, tem mais, foram escolhidos para nascerem uma segunda vez, depois dessa vida terrena. Essa conclusão, ele explica, tem base nas Escrituras e é reforçada pela douta interpretação de Santo Agostinho. “Nasceram de mãe do Altíssimo não só os de sua nação, e naturais de Jerusalém [...] senão também os estranhos e os gentios. E quem são estes?” O Altíssimo, por meio do Rei Profeta, já dissera que, “entre os que me conhecem, farei menção a Raabe e de Babilônia; eis que da Filisteia e de Tiro, e da Etiópia, se dirá: Este é nascido ali”. Ora, de Raabe, são os brancos cananeus; os babilônios igualmente brancos; os de Tiro, mais brancos ainda; “e sobre todos, e em maior número que todos, o povo dos etíopes”, negros, portanto. As escrituras davam aos escravos garantias de sua maternidade divina. Mas, apesar disso, senhores e feitores pareciam fazer pouco caso da distinta filiação... A outra Boa Nova é que eles já se encontravam até “inscritos e matriculados nos livros de Deus e nas Sagradas Escrituras”. Imagino que, depois dessa notícia, desejar uma carta de alforria seria até ingratidão... A partir daí, Vieira pede “mais particular atenção” para lhes falar das obrigações que advêm “do vosso novo estado e tão alto nascimento”. A primeira delas era dar “infinitas graças” a Deus por vos ter dado ciência “das coisas da religião”. E, por “vos ter tirado de terras, onde vossos pais e avós vivíeis como gentios; e vos ter trazido a esta terra, onde, instruídos na Fé, viveis como cristãos, e vos salveis”. E garantia que aquilo que “pode parecer desterro, cativeiro e desgraça” é senão “milagre, e grande milagre”. Vieira poderia ter até acrescentado um “Aleluia!” diante de tanta fortuna. Pelo visto, uma promessa já se cumpria com as bênçãos da extremosa Mãe do Rosário, pois os navios negreiros singravam os mares sem parar. E, se vinham abarrotados, é por querê-los em grande número a fim de libertá-los da idolatria e da perdição, tarefa não se sabe por qual mistério, só poderia ser cumprida na América... Quanto ao duro labor diário, Vieira, em performance de palestrante motivacional, adverte não ser motivo para negligenciar a reza do Rosário, lembrando que “nem o grande rei Davi, monarca de maiores obrigações, esqueceu-se de criar salmos próprios para serem recitados durante o trabalho”. Que se pusessem, então, a esta produtiva maneira de adorar e trabalhar. Vieira reconhece o calvário como coisa terrível, porém passageira e edificante, “pois não o viveu também o Salvador do mundo?” Isso não os colocava, escravos e o Senhor Jesus, em pé de igualdade para a salvação? “Bem-aventurados vós se soubésseis conhecer a fortuna de vosso estado” e, por essa divina semelhança com o Filho de Deus, aproveitassem para “santificar o trabalho”. As semelhanças com o Messias não ficam por aí. A cruz do martírio “foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três”, diz ele, referindo-se à porteira de entrada das fazendas. De fato, uma vantagem e tanto... “Imitadores de Cristo, portanto!”, brada o jesuíta. Para Vieira, o aspecto dos engenhos, com os trabalhos exaustivos sol a sol, a fumaça, a fervura das caldeiras de cana, o suor, os ruídos de rodas, uma Babilônia, enfim, muito se assemelha à vida no outro inferno, aquele debaixo da terra. Mas isso tem solução fácil, pois, em meio a tudo, se durante as orações, eles ouvirem a voz do Rosário, “todo esse inferno se converterá em Paraíso; o ruído em harmonia celestial; e os homens”, apesar de sua condição de escravos em “anjos”. E o jesuíta arremata garantindo que “mais inveja devem ter vossos senhores às vossas penas, do que vós aos seus gostos, a que servis com tanto trabalho”. Invejosos, certamente, e só uma extrema timidez explica não terem requerido essa privilegiada posição ocupada pelos escravos. Misturando pomposa teologia à mais rasteira catequese, Vieira, em seu estilo alto e claro, como deveriam ser as palavras, exercita a retórica para provar aos cativos que viver sob aquela condição nos canaviais era antes sorte boa que infortúnio. Imagina-se a desolação dos senhores de engenho diante de tão reveladora pregação, tomando ciência de que não lhes cabe, mas sim, aos seus escravos a inefável recompensa, que só tem lugar no vasto céu...


BOCA DO INFERNO e A TESTEMUNHA SILENCIOSA

– Otto Lara Resende Eis dois surpreendentes livros, não só pelos temas tratados mas também pela ousadia ao tratá-los em uma época em que não havia nada igual na literatura nacional. Neles, sempre há uma criança participando de um enredo cruel, triste ou aterrorizante. Mesmo quando se trata de um protagonista adulto, sua infância é pincelada com terríveis passagens. São crianças sofredoras, quase todas castigadas sem moderação, escravizadas, espancadas e exploradas nas mãos de seus “cuidadores”, parentes e conhecidos responsáveis por sua tutela. Em Boca do Inferno, todos os sete contos tratam dessas crianças. Há padrinho psicopata que, a pretexto de “criar” afilhado órfão, acaba torturando-o. Há, também, afilhado irredento que espera o adequado momento para matar o padrinho. Existem as pressões psicológicas, familiares e religiosas. O irmão preferido, correto, elogiado… e o irmão sempre irresponsável, não por sê-lo, mas porque a família já tinha o escolhido. E, sobre o preterido, é que recaem todas as culpas. Mesmo depois de morto o irmão eleito, é a ele que se reportam como modelo. A essas pressões familiares, somam-se as dos padres em seus confessionários, levando o jovem desprezado a um ato extremo para “livrar-se do pecado”. Neste rol diabólico, há, ainda, gente do naipe do garoto Floriano, possuidor de uma predileção por matar animais sem cerimônia e, preferencialmente, com crueldade. Até que um dia, em uma brincadeira no porão debaixo do assoalho de sua casa, resolve, a golpes de canivete, estender ao colega Rudá o mesmo tratamento que dispensa aos bichos. Depois, com naturalidade, vai saborear o lanche que sua mãe havia preparado. Os meninos de Otto Lara são assim. Insensíveis e, às vezes, sensíveis demais, perturbados e ligeiramente pervertidos sexualmente. Esse realismo cru causou certo desconforto nos meios literários. A Testemunha Silenciosa apresenta um conto cujo título dá nome ao livro. Essa história se passa na conservadora cidade fictícia de Lagedo, cujas características remetem, sem disfarces, ao interior de Minas Gerais, onde a Revolução de 30 traz reflexos sobre a vida política e social de uma cidade e, também, em uma família. Pelos olhos de um garoto, estas alterações vão sendo observadas com surpresa. Pessoas a quem ele julgava tão poderosas, agora são vistas com um ar fraco, de derrota… Além disso, havia algo de tenso naquela família, algo guardado no passado, até uma surpreendente revelação de paternidade desvelar um segredo. É a história de uma degradação familiar gradual e sufocante. História forte, das boas. O outro conto deste livro é A Cilada, que trata da clássica figura do avarento. E este vive no sertão mineiro. Uma infância difícil e uma juventude de trabalho duro são recompensadas pela prosperidade financeira. Todavia, fazendo jus à própria natureza, o personagem não aprecia o conforto nem divertimentos. Ele nem sequer se casa nem tem filhos por receios puramente patrimoniais. Inflexível e seco com os seus devedores, um dia, o destino lhe prega uma peça enquanto ele admira sua fortuna escondida no sótão de uma de suas propriedades. O fim trágico e a fácil dedução de que seus bens agora passariam, sem qualquer esforço, às mãos alheias é bela metáfora do resultado da avareza… OTTO E OS CRÍTICOS Lara Resende foi massacrado pelos críticos ao lançar Boca do Inferno, tendo sua capacidade de ficcionista sido tratada com menosprezo, sugerindo que aquilo sequer se tratava de literatura. Roberto Simões disse que “não podemos conceber a prostituição infantil” voluntária; outros atacaram a frieza do autor ao descrever o comportamento daquelas crianças. Wilson Martins, grande crítico, também espicaçou. “Histórias grotescas” resumiria a opinião da crítica. O tempo mostrou que não o haviam compreendido. Ou por compreenderem muito bem, convenientemente o desprezaram. Muitos críticos literários optam por agir assim e, em vez de exaltar a boa literatura, voltam-se para herméticas discussões em igrejinhas acadêmicas. Afinal, encher trezentas páginas a respeito das “vertentes da prosopopeia no barroco tardio” ou sobre “a falta do EU no contexto do OUTRO na obra de Yuri


Tynianov” permite melhor posar de erudito em qualquer mesa-redonda. Com a comodidade de ninguém se arriscar a questioná-lo do que afinal se trata. Às escondidas, porém, esses críticos injustos podem, tal qual o Salieri ficcional em relação a Mozart, admirar o talento inato de seu criticado.


CAMÕES: paixão, desencanto e gênio Jornal Pequeno 19/05/2019 Apenas sete documentos de indiscutível autenticidade dão conta de sua vida real. Tudo o mais é mera idealização, ora se atendo aos relatos de contemporâneos do poeta, ora se buscando, nas entrelinhas de sua obra, dados para melhor identificá-lo. Os vácuos, sobre a vida do escritor, têm sido preenchidos por biógrafos apaixonados acrescentando coisas tão simpáticas quanto inverossímeis. Daí, sobre ele, quase tudo assentar-se na sombra das incertezas. Teria nascido em Lisboa e vivido agradável juventude em Coimbra, refletida nos poemas nostálgicos indicando feliz época às margens do Mondego, rio que banha a cidade. Não há qualquer registro de haver passado pela universidade, e mesmo a escola frequentada é só conjectura. Onde quer que tenha sido sua formação, esta foi clássica e erudita, permeando toda sua obra. Já adulto, vivendo em Lisboa, ficou registro de uma vida indisciplinada, alternando estudos, boemia e algumas escaramuças de rua, mais como maneira de afirmação da mocidade de seu tempo que por temperamento violento. Pois, em verdade, possuía espírito contemplativo, hábitos austeros e era dedicado ao saber. Mas no mundo dos anos 1500, que havia desvendado o planeta, as prosperidades exigiam sacrifícios por terras alheias. Então, as circunstâncias impõem sua ida como soldado à África, mas nunca se descurando da verdadeira vocação: “Numa mão sempre a pena e noutra a espada”. Lá no Marrocos, perdeu o olho direito, tudo indica, num acidente ao manipular uma arma durante batalha, e não atingido pelo inimigo, como a tradição buscou exaltar. De volta para casa, permanece no cotidiano desregrado até, num solene dia de Corpus Christi, envolver-se em insensato entrevero, ferindo um funcionário real e, por isso, passar meses no cárcere. Recebe o perdão, uma multa e, para redimir-se, oferece-se como servidor na Índia, uma vez mais sem convicção, mas como salvação, inclusive financeira. Assim, começará uma célebre história... Sua ida como escudeiro, na rota um dia feita por Vasco da Gama, foi o experimentar de mil vivências, um conhecer de gentes e lugares exóticos durante o tempo em que morou em Macau e em Goa, acumulando histórias de amores, batalhas, prisões, acusações e, até, um naufrágio do qual sobreviveu a nado. Durante esse período, dedica-se a escrever um poema destinado a se tornar histórico, narrando a saga dos grandes feitos lusitanos além-mar. Audaz, fazia-o em língua portuguesa, num tempo em que a respeitabilidade das obras literárias passava pela condição de serem escritas em latim. Essa reverência à língua pátria iria popularizar o poema e sacralizá-lo como um orgulho nacional. A dissintonia entre os direitos do gênio e as mesquinhas obrigações dos comuns, a rigor, incompatíveis, leva-o a contrair dívidas, administrar mal sua função posterior de provedor-mor de defuntos e ausentes, ter conflitos com superiores e, por isso, perder o cargo e ser preso em diversas ocasiões. Para ele nenhum progresso ocorria no Oriente distante. Vida instável, essa: “... Vi que todo o bem passado Não é gosto, mas é mágoa E vi que todos os danos Se causaram das mudanças E as mudanças dos anos! Onde vi quantos enganos Faz o tempo às esperanças...” Trabalhava o célebre poema, mas também se dedicava a outros textos líricos expressando suas saudades, paixões, momentos de paz e de infortúnios. Convencido estava, a essa altura, não ser homem de sorte: “Verdade, Amor, Razão, Merecimento, Qualquer alma farão segura e forte; Porém, Fortuna, Acaso, Tempo e Sorte Têm do confuso mundo o regimento”.


Era hora de voltar. Mas, em Moçambique, fica impossibilitado de seguir viagem por não conseguir saldar certas dívidas. Passando a aproveitar o tempo para finalizar a sua obra grandiosa, menor, porém, que a penúria financeira em que se encontrava. A ponto de deixar assombrados velhos amigos que, de passagem por lá, o reencontraram e possibilitaram a ele vestir-se e alimentar-se com dignidade. Enfim, após 17 anos, regressava a Lisboa e, ao contrário de tantos patrícios, chegava tão pobre quanto partiu. Trazia, contudo, um tesouro para a posteridade: “Os Lusíadas”, que se ocuparia da extraordinária epopeia, sem rival no mundo, do imensamente bravo povo do pequeno Portugal. Também nos legou, o poeta, imensa e sólida poesia lírica, cuja elegância e beleza permitiriam causar a mesma emoção pelos séculos seguintes. Viveria ainda, mais de uma década, recebendo pelos serviços reais na Índia uma tença, considerada pelos historiadores, de valor indigno, se comparada com outras recebidas por seus contemporâneos em razão de coisas quase irrelevantes. No fim da vida, casado mesmo à pobreza, apoiado numa muleta, teria assistido aulas de Teologia Moral no Convento de São Domingos, juntamente a jovens, de igual para igual. Em 10 de junho de 1580, o mundo perdia Luís Vaz de Camões, um gênio universal, e da língua portuguesa, pra nosso orgulho. Com outros segredos indecifráveis, levou a identidade de suas musas Dinamene e Natércia, celebradas em poemas, e, dentre as várias Catarinas, qual a sua... O extraordinário não é esse homem ter composto monumental obra em meio a tantas turbulências, mas ter a elas sobrevivido. O destino e a incontornável predestinação calando, uma vez mais, a fria e pobre razão. A vida se foi, “... porque, enfim, tudo passa; Não sabe o tempo ter firmeza em nada; E a nossa vida escassa Foge tão apressada, Que quando se começa, é acabada”.


EFEMÉRIDES 2019: Ano de MARANHÃO SOBRINHO

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ABRIL 1967 – FALECIMENTO DE MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO – VIRIATO CORRÊA – PATRONO DA CASDEIRA 24 1984 - NASCIMENTO DE ANDRÉ GONZALEZ CRUZ – FUNDADOR DA CADEIRA 11 1904 – FALECIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – PTRONO DA CADEIRA 23 1940 - NASCIMENTO DE ÁLVRO URUBATAN MELO – FUNDADOR DA CADEIRA 23 1857 – NASCIMENTO DE ALUISIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONO DA ADEIRA 14 1902 – FALECIMENTO DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE – SOUSANDRADE – PATRONO DA CADEIRA 10 1808 – NASCIMENTO DE FRANCISCO SOTERO DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 4 1900 – NASCIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA – PATRONO DA CADEIRA 28 2000 – FALECIMENTO DE MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER – DILÚ MELO – PATRONA DA CADEIRA 29 1863 – FALECIMENTO DE JOÃO FRANCISCO LISBOA – PATRONO DA CADEIRA 5 1927 – FALECIMENTO DE JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL – PATRONO DA CADEIRA 12 MAIO 1853 – NASCIMENTO DE JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL – PATRONO DA CADEIRA 12 1859 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA – RAIMUNDO CORREIA – PATRONO DA CADEIRA 15 1960 - NASCIMENTO DE PAULO ROBERTO MELO SOUSA – FUNDADOR DA CADEIRA 33 2011 – FALECIMENTO DE CARLOS DE LIMA – PATRONO DA CADEIRA 33 1940 – FALECIMENTO DE CATULO DA PAIXÃO CEASRENSE – PATRONO DA CADEIRA 17 1940 - NASCIMENTO DE AYMORÉ DE CASTRO ALVIM – FUNDADOR DA CADEIRA 16 1900 – NASCIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA PATRONO DA CADEIRA 28 1966 - NASCIMENTO DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – FUNDADORA DA CADEIRA 31 1885 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO – PATRONO DA CADEIRA 26 JUNHO 1879 – FALECIMENTO DE CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHAES – CELSO MAGALHAES – PATRONO DA CADEIRA 11 1925 – NASCIMENTO DE JOÃO MIGUEL MOHANA – PATRONO DA CADEIRA 36 1868 – NASCIMENTO DE JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20


http://www.academiamaranhense.org.br/maranhao-sobrinho-2/ José Américo Augusto Olímpio Cavalcanti dos Albuquerques Maranhão Sobrinho (Barra do Corda, 25 de dezembro de 1879 — Manaus, 25 de dezembro de 1915) foi um escritor e jornalista brasileiro, fundador da Academia Maranhense de Letras. Boêmio notório e de vida inteiramente desregrada, Maranhão Sobrinho “foi o mais considerável poeta do seu tempo, no extremo Norte, e o simbolista ortodoxo, o satanista por excelência do movimento naquela região”, segundo o crítico Andrade Murici. Criado em Barra do Corda, no interior do Maranhão, conta-se que quando criança era irrequieto, brincalhão e levado mesmo da breca, no dizer dos seus contemporâneos. Frequentou irregularmente os primeiros estudos no conceituado colégio do Dr. Isaac Martins, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista. Em 15 de agosto de 1899, com o auxílio paterno, embarcou para São Luís, onde no ano seguinte funda a “Oficina dos Novos” e matricula-se com o nome de José Maranhão Sobrinho na antiga Escola Normal, em 1901, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominada pensão. Por motivo de se haver indisposto com alguns professores, em seguida abandonava o curso normal e, sem emprego, aos poucos entregou-se à vida boêmia. Em 1903, impressionados com a vida boêmia que levava em São Luís, alguns amigos mais dedicados o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali mudasse de procedimento, trabalhasse e arranjasse meios de publicar seus livros. Na capital paraense, colocou-se no jornal Notícias e passou a colaborar na tradicional Folha do Norte. Bem depressa, tornou-se popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Colaborou também em jornais e outras publicações de São Luís e de vários Estados, incluindo-se entre estas a Revista do Norte, de Antônio Lôbo e Alfredo Teixeira. Em 1908 funda Academia Maranhense de Letras, unido à plêiade de escritores e poetas locais. Nisso transfere-se para a Amazônia onde, residindo em Manaus, passa a colaborar com a imprensa local e torna-se membro fundador da Academia Amazonense de Letras. Sua vida sempre foi boêmia e desregrada, escrevendo seus versos em bares, mesas de botequim ou qualquer amibiente em que predominasse álcool, papél e tinta. Despreocupado pela sorte dos seus poemas, publicou seus livros em péssimas edições sem capricho ou conservação, aos cuidados de amigos e admiradores, deixando esparsa grande parte do que escreveu em jornais, revistas e folhas de cadernos de venda. Novamente muda-se mas para Belém, onde conhece o poeta Carlos D. Fernandes, que havia sido amigo de Cruz e Sousa e pertencera ao grupo da revista Rosa-Cruz. Dois anos depois, de retorno a Manaus, lá fixa-se como funcionário público do Estado, onde vem a falecer no dia do seu aniversário em plena noite de natal, no dia 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade. Em Barra da Corda, o seu nome é lembrado oficialmente em uma única praça e pela Academia BarraCordense de Letras.


MARANHÃO SOBRINHO: PAPÉIS VELHOS http://culturafm.cmais.com.br/radiometropolis/lavra/maranhao-sobrinho-papeis-velhos O poeta simbolista Américo Augusto Olímpio Cavalcanti de Albuquerque Maranhão Sobrinho, mais conhecido como Maranhão Sobrinho, viveu exatamente 36 anos: nasceu e morreu num dia 25 de dezembro. Neste intervalo iniciou-se muito moço na literatura, perdeu-se irremediavelmente na boemia – a princípio em São Luiz, depois em Manaus e Belém – e antes da morte precoce que sua vida desregrada lhe assegurou, publicou, em inícios do Século XX, numa edição descuidada, o que pensava ser o melhor de sua poesia. Esta é a origem do livro Papéis Velhos...Roídos pela Traça do Símbolo, de 1908. Leremos a seguir o poema que dá título ao livro, onde fica bem patente o amargo pessimismo que o conduziu à autodestruição.

Maranhão Sobrinho Papéis Velhos Velhos papéis... de versos. São pedaços da minh’alma, batidos pelo vento, como folhas de outomno...Guardam traços de um tempo, que passou, sem pensamento... Preso nalgema dos teus alvos braços teci-os; cada um lembra um momento do nosso amor que, por eternos laços. Outrora, nos unia a um firmamento... Se alguma gloria têm, formosa, é esta; Todos o teu celeste amor perfuma, em todos há tua’lma em riso e festa! Velhos papéis, meu ultimo conforto! sois uma nódoa ephémera de espuma perdida à face azul dum lago morto.


MARANHÃO SOBRINHO - Um Simbolista Sonhador ROMILDO AZEVEDO https://www.recantodasletras.com.br/biografias/872951

O universo da lieratura é repleto de sonhos e de sonhadores que, vivendo aquém e além do tempo e do espaço, projetam e constroem um mundo orientado pela Ética e pela Estética. Trilham o caminho do certo e do belo para realizar o Amor. Amor Universal. Só assim os sonhadores conseguem, mesmo contingenciado por adversidades tidas por muitos como insuperáveis, singrar por revoltos mares. E ao navegar, às vezes sem norte, sem vento ou contra o vento, alcançam paragens onde reina a emoção mais pura e bela. Maranhão Sobrinho é o paradigma de vate que marcou o caminho do Simbolismo de forma indelével. A beleza de seus versos é realmente inquestionável e reconhecida pelos estudiosos da literatura pátria. A propósito, Raimundo de Menezes, membro da Academia Maranhense de Letras, em seu rico Dicionário Literário Brasileiro, segunda edição, LTC, Rio de Janeiro, página 406, dedica ao poeta barra-cordense verbete que merece transcrição na íntegra: "Maranhão Sobrinho (José Augusto Américo dos Albuquerque) - N, em Barra do Corda (MA), a 25 de dezembro de 1879, filho de modesto lavrador. Ao lado de Xavier de Carvalho, Antônio Lobo, Astolfo Marques Correia de Araújo, fundou, em 1900, a Oficina dos Novos; em 1908, a Academia Maranhense de Letras. Com Artur Lemos, diretor de A Província do Pará, participa de movimento literário na capital do Estado. Na ocasião, entrou em contato com Carlos D. Fernandes. Boêmio, escrevia "em qualquer parte em que houvesse álcool, papel e tinta". Seus versos tiveram grande popularidade no Norte. No dizer de Antônio Reis Carvalho, se simbolismo "é menos extravagante, mais sensato, menos bizarro, e mais enigmático e mais sentimental: lembra a musa de Verlaine, talvez o mais poeta dos poetas malditos. Mas se nele a idéia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma parnasiana". Publicou parte de sua obra literária, bastante volumosa, apesar de desigual. O resto permanece esparso nos jornais e revistas. F. em Manaus (AM), no dia do aniversário, 25 de dezembro de 1915. Bibliografia: Papéis velhos ...roídos pela traça do símbolo, Maranhão, 1908. Estatuetas, Maranhão, 1909. Vitórias-régias, Maranhão, 1911. Fontes: Andrade Murici, Pan. do mov. simb. brás., vol. II, p.323. Fernando Góes, "O Simbolismo", in Pan. da poesia bras., p. 281. Múcio Leão, Autores e livros, nº 19 (21.12.1941), 1º vol., pp. 420 e segs. Péricles Eugênio da Silva Ramos, Poesia simbolista (antol.), pp.382-85. José dos Santos Lins, Seleta lit. do Amazonas, pp 79-83."

Por sua vez, Jomar Moraes, da Academia Maranhense de Letras, em seu excelente livro Apontamentos da Literatura Maranhense, fonte de consulta obrigatória para os amantes das letras, registra: "José Américo Olimpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho nasceu em Barra do Corda (MA), a 20 de dezembro de 1915. Fundou, na Academia Maranhense de Letras, a cadeira 19, de que é patrono Teófilo Dias. Após sua morte, foi escolhido patrono da cadeira 21." Barra do Corda se tornou pequena diante da genialidade e do espírito irrequieto de Maranhão Sobrinho. A falta de opção em sua terra o levou a buscar novos rumos. Corria o ano de 1900. Jovem, aos 21 anos, o aedo muda-se para São Luís, em procura de condições mais favoráveis a seu crescimento cultural. De São Luís parte para Santa Maria de Belém do Bom Pará, onde participa do movimento literário sob a liderança de Artur Lemos. Na época publicou poesias no jornal A Província do Pará. Ficou pouco tempo em Belém. Levantou vôo rumo a Manaus. Em 1911, Manaus vivia uma quadra de intensa atividade econômica e cultural. Foi quando Maranhão Sobrinho publicou seu último livro, Vitória-Régia. Foi mais um sonho realizado pelo poeta de estro marcado pelo uso intenso de substantivos e adjetivos.


Em brilhante artigo publicado no jornal O Imparcial, em 01.01.1937, o renomado escritor Josué Montello, literato de inexcedível saber, afirma sobre Maranhão Sobrinho:

"Não era, 'como toda gente, um bacharel formado.' Estudou para o magistério primário, diplomando-se pela Escola Normal de São Luís, mas o que ele verdadeiramente ensinou foi a arte de fazer belos versos, desses que, na declaração original de Anatole France, lembram dedos delicadíssimos ternamente tangendo a harpa de nossa emotividade." E prossegue dizendo que o que distingue Maranhão Sobrinho é a clareza simbólica, para depois, em conclusão, registrar: "Escreveu muito, em Manaus, e eu mesmo li, na coleção de um amigo, uns versos inéditos do grande aedo, por sinal que escritos num caderno ordinário de compras de balcão." Como se vê, Maranhão Sobrinho, mesmo tendo partido para o Oriento Eterno com apenas 36 anos, nos legou uma obra poética que merece um lugar de destaque no cenáriodas letras. Cabe, portanto, aos operadores da cultura divulgar os sonhos do grande ícone do Simbolismo no Brasil.


domingo, 12 de junho de 2016 https://almaacreana.blogspot.com/2016/06/poemas-de-maranhao-sobrinho.html

POEMAS DE MARANHÃO SOBRINHO

José Américo Augusto Olimpio Cavalcanti dos Albuquerques MARANHÃO SOBRINHO nasceu em Barra do Corda, interior do Maranhão, em 25 de dezembro de 1879, e morreu em 1915, no mesmo dia em que completava 36 anos, em Manaus-AM. Publicou apenas três livros: Estatuetas (1909); Papéis velhos... roídos pela traça do Símbolo (1908) e Vitórias-régias (1911). “É Reis Carvalho, com acerto, quem aponta para o hibridismo do poeta e de sua geração, nascido na confluência dos séculos e no remoer repetitivo da transição literária: “Mas se em Maranhão Sobrinho a ideia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma, parnasiana”. Um dos fundadores da Oficina dos Novos e da Academia Maranhense de Letras, seus sonetos tiveram por momentos grande popularidade no Maranhão.”, assinalou o crítico Assis Brasil sobre o poeta. SOROR TERESA ... E um dia as monjas foram dar com ela morta, da cor de um sonho de noivado, silêncio cristão da estreita cela, lábios nos lábios de um Crucificado... somente a luz de uma piedosa vela ungia, como um óleo derramado, o aposento tristíssimo de aquela que morrera num sonho, sem pecado... Todo o mosteiro encheu-se de tristeza, e ninguém soube de que dor escrava morrera a divinal soror Teresa... Não creio que, de amor, a morte venha, mas, sei que a vida da soror boiava dentro dos olhos do Senhor da Penha...


OLHOS DE AMOR Volve-me os olhos límpidos! que um raio, vindo do sol dos teus olhares, canta nos meus sonhos assim, como a garganta de uma ave dentro do calor de Maio! Há dos teus olhos sob os cílios, quanta luz há nos céus em que te vendo, caio... Vives em mim num límpido desmaio, santa nos beijos e nos olhos santas! Trazes no olhar, em milagrosos traços, o rimance irial do meu passado feito de beijos, lágrimas e abraços... Volve-me os olhos de saudade cheios! Brilha o meu sonho, em sonho, alcandorado nas torres de marfim dos teus dois seios!

SARAH Quando os seus olhos, flébeis de meiguice, fecharam-se e a mudez beijou-lhe a face, não houve um ramo só que o não sentisse nem um ninho, um sequer, que não chorasse... Diria que a uma súbita velhice voara minhalma em glacial trespasse, naquele dia, quem meus olhos visse e os meus cílios, de perto, contemplasse! Fora melhor, melhor a toda a prova, se, com o corpo de Sarah, descambasse o corpo meu também na mesma cova! Se com a sua a minhalma se esvaísse, não havia um ninho só que não cantasse, nem uma rosa, nos rosais, que não sorrisse!


TURRIS EBÚRNEA Quando meus olhos se cerrarem, quando a mágoa me cerrar os olhos, certo, irei aos céus, em lágrimas, sonhando ver-te e beijar-te, em lágrimas, de perto... Oh! mas a morte já me está tardando! no entanto sinto-a no meu passo incerto... E eu quero entrar no teu amor chorando, no teu amor aos mártires aberto! Quero, deixando os pélagos e abismos do mundo, ver-te, lá nos céus, sagrada na grande Páscoa azul dos Misticismos! Dos beijos teus tenho saudade e fome... Minhalma vive, em dor, crucificada nas cinco luas cheias do teu nome!

VÊNUS Quando o seu corpo à flor das ondas veio, guirlandado de espumas e sargaços, de seduções a vaga encheu-lhe o seio e, de traições, a sirte encheu-lhe os braços... Por todo o mar houve um supremo anseio, quase humano de beijos e abraços... O sol, de luz e de calor mais cheio, vibrou mais alto, nos azuis espaços! Algas e espumas, sem querer, tecerem, juntas, um berço de ideal cambraia e o seu corpo de aurora receberam! ... Nunca o mar vira tão celeste flor... Quando o seu corpo foi beijar a praia a própria rocha estremeceu de amor!


NO VALE AMAZÔNICO Sobre o ocaso de bronze os altos castanheiros perfilam-se, espanando o céu com as frondes; brilha um segmento de sol, ao cocar dos guerreiros comparável, de um rubro atroz, que maravilha... Espirando, grimpa, em abraços feiticeiros, os troncos jaldes, verde, em haustos, a baunilha cheirosa; os barcos vão, de asas pardas, veleiros, sobre as águas a voar, como uma flecha à quilha... Ilhas de mururés, flutuantes, povoadas de ninhos e canções descem do rio a esteira pela corrente azul, de opala em flor, levadas! Surdem da canarana ariscas embiaras enquanto, da corrente em sol, fulgindo, à beira se banham, de olhar verde, as flácidas niaras...

SOBRINHO, Maranhão. Papéis velhos... roídos pela traça do Símbolo. Manaus: Editora Valer, 1999. p.43, 59, 85, 88, 107 e 130


O POETA MARANHÃO SOBRINHO

KISSYAN CASTRO2 “A minha admiração, ou melhor, o meu fanatismo pela obra poética de Maranhão Sobrinho é tão grande que já tive a coragem, numa conferência, há oito ou dez anos atrás, de dizer, alto e a bom som, que Maranhão Sobrinho é o maior poeta nacional de todos os tempos.”

Assis Garrido

Da mesma opinião é Antonio Lobo, que, a despeito de lhe ter negando a “supremacia entre os poetas do seu tempo”, confessou: “Mesmo entre os grandes consagrados da poesia brasileira atual, raros serão os que o excedam na fecundidade pasmosa da produção e na perfeição artística da forma”. “Ainda hoje seus versos são lidos e recitados com volúpia pela beleza emocionante das estrofes e o apuro artístico da forma e da límpida inspiração”, disseram dele os organizadores da Antologia da Academia Maranhense de Letras, Mário Meireles, Arnaldo de Jesus Ferreira e Domingos Vieira Filho. Afirma Clovis Ramos que Maranhão Sobrinho, “na sua fase inicial”, fora parnasiano, o que contraria as marcantes efusões sentimentais presentes em seus primeiros trabalhos, que, para Fabrício Diniz (1902), eram dignos de “figurar ao lado de qualquer produto do mavioso poeta das Espumas Flutuantes”. No que Josué Montello vai concordar ao dizer que “suas primeiras composições qualificaram-no de condoreiro”. E completa o escritor e crítico o seu raciocínio: “Mas o que ele realmente viria a ser era simbolista, talvez o maior da língua, o mais delicado, o mais terno, o mais rico, esquecendo mesmo o negro rouxinol de garganta de prata, esse João da Cruz e Souza”. Nasceu José Américo Augusto Olímpio Cavalcante de Albuquerque Maranhão Sobrinho no dia 20 de dezembro de 1879, em Barra do Corda, onde também começou a sua vida poética e jornalística, militando, ainda adolescente, no “Campeão”, “O Norte”, “O Guarany” e “O Porvir”, do qual foi redator-chefe, além de primar nas “efêmeras associações literárias de que abundava a Barra do Corda daqueles tempos”. Seu mais célebre soneto, “Soror Teresa”, ele o compôs, segundo o conterrâneo Isaac Ferreira, ainda em Barra do Corda. Mas é em São Luís, para onde seguiu em 1900, que o poeta, após ler, no original, os versos de Mallarmé, Baudelaire e Verlaine, vai aderir à escola simbolista, tornando-se do “divino Estefânio” o mais legítimo êmulo. Esta escolha, porém, fê-lo amargar constantes dissabores, do que é prova o fracasso do 2 Nasceu em Barra do Corda, Maranhão, em 1979. Poeta e escritor. Atualmente assina uma coluna às quintas-feiras no jornal virtual www.turmadabarra.com.. Publicou em poesia: “Vau do Jaboque” (2005)e “Bodas de Pedra” (2012). Tem inéditos os livros: “Rio Conjugal” e “Farelos”


“Apostolado Cruz e Souza”, agremiação por ele fundada e que, por falta de adesões e pelas mordazes críticas, não logrou êxito. A rejeição ao decadentismo sobrinhiano deveu-se, mais que ao isolamento cultural da província de então, ao prestígio que por muito tempo conseguiram conservar certas maneiras parnasianas, e à formação e temperamentos tradicionalistas, receosos da aventura estética, de grande parte de seus próceres. É bom lembrar, no entanto, que o romantismo-parnasianismo em Maranhão Sobrinho opera a nível inconsciente, como uma “influência” da qual procurava escapar, enquanto que o simbolismo, por outro lado, pelo fluxo consciente, como uma “preferência” (o que é facilmente percebido quando comparamos as “emendas” de alguns poemas antes e depois do prelo), o que acabou por caracterizar somente uma parcela ínfima no todo de sua obra. Enquanto “simbolista ortodoxo”, como muito bem observou Andrade Muricy, Maranhão Sobrinho não cantou uma Barra do Corda à descoberto, em linguagem direta, mas difícil é não vê-la a bailar flagrantemente “insinuada” em muitas de suas composições, de que são exemplos os sonetos “Evocações”, “Doce Visão”, “A Ermida” e “Sertões”. Na tentativa de o situar esteticamente, Assis Brasil, em “A Poesia Maranhense do Século XX” (SIOGE/Imago, Rio de Janeiro: 1994), recorre a Reis Carvalho, que afirmou que “em Maranhão Sobrinho a ideia é simbolista, o sentimento é romântico e a forma, parnasiana”. “Ele parece que amalgamou, como alguns outros poetas da época, as três últimas tendências estéticas”, escreveu. Um dos fundadores da Oficina dos Novos e da Academia Maranhense de Letras, na qual ocupou a cadeira 19, patrocinada por Teófilo Dias, Maranhão Sobrinho traduziu obras importantes da literatura universal, como as “Fábulas” de La Fontaine e as “Poesias” de Lessing. Publicado “Papéis Velhos”, livro de poemas predominantemente “roídos pela traça do Símbolo”, e “Estatuetas”, em que sobressai o descritivismo e a “preocupação joalheiresca do camafeu”, Maranhão Sobrinho abandona o discipulado mallarmaico e seu tão reiterado sonho de publicar sua obra “definitiva” pela Garnier ou Laemmert, viaja para Manaus e volta a conceber poemas de cunho romântico, de que é exemplo “Vitórias-Régias”, seu último trabalho antes de morrer, em 25 de dezembro de 1915. Maranhão Sobrinho, cuja obra poética inscreve-se ao nível do que melhor se tem produzido na literatura maranhense, tendo sido também um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras, é homenageado postumamente como patrono da Cadeira nº 7 daquela entidade; é também patrono da Cadeira nº 21, da Academia Maranhense de Letras, e da de nº 19, da Academia Barra-Cordense de Letras, também chamada “Casa de Maranhão Sobrinho”, o silogeu barra-cordense. Quando Josué Montello sugeriu a Manuel Bandeira alguns nomes de poetas maranhenses para compor sua antologia simbolista3, de seleção muito mais rigorosa que a de Andrade Muricy, limitou-se a dizer-lhe: “Com o mestre dos Papéis Velhos, o Maranhão está muito bem representado”4.

3

Antologia dos poetas brasileiros: poesia da fase simbolista, Rio de Janeiro,Tecnoprint Gráfica, 1967. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23.abr.1991, p. 11.

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ASTOLFO SERRA: O GUIA SENTIMENTAL

BRUNO TOMÉ Astolfo Henrique de Barros Serra completaria no próximo dia 22 de maio 119 anos do seu nascimento. A sua mente inquieta não fugiu dos desafios e das convulsões sociais do seu tempo. Tanto que a sua Vila de Matinha natal, atual Viana, não continha espaço físico para detê-lo. Andante, Astolfo cumpriu o seu périplo por São Luís, Teresina, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Não se tratou de um errante dos ventos, porém. Havia nele uma polivalência assombrosa que permitiu o desempenho de inúmeras funções, desde Inspetor do Liceu Maranhense, atingindo o seu zênite como Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, passando pela função de Interventor Federal neste Estado. O exercício de tantas atribuições não foi suficiente para que fosse esquecida a sua fase de pregador sacro e profano nos púlpitos das suas paróquias. A lírica de Astolfo foi capaz suavizar eventuais rigores verbais, como se percebe na sua prosa e estilo, marcados em títulos como “A Vida de um Professor Simples de Aldeia”, “A Vida Vale um Sorriso” e “A Balaiada.” Além, é claro, de outros títulos que sulcaram na mente dos leitores a sua marca de artista. E que também legaram o seu assento firme no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e na Academia Maranhense de Letras. Orgulho-me, aliás, de ocupar na Academia Ludovicense de Letras a Cadeira que Astolfo Serra é Patrono. Como filho de São Luís, também não posso deixar de fazer um especial destaque a outro livro seu, intitulado “Guia Histórico e Sentimental de São Luís do Maranhão”. Nessa última obra, a nossa tão maltratada capital foi apresentada por Astolfo de modo garboso: a cidade gloriosa do Senhor de La Ravadière. Porém, a intenção do escritor não era escondê-la entre escuderias e fortalezas. Astolfo Serra apresenta uma São Luís sem cerimônias, sem recatos, sem nada a esconder, sorrindo, insinuante, dos seus mirantes para os navios margeados ou fundeados. A sem cerimoniosa São Luís é exibida como a Ilha dos quatro sentidos: o do olfato, cheirando a camarão e farinha dágua na Rua Portugal; o do paladar, ressaltado pelo arroz de cuxá que fumegava das baixelas de prata dos ricos e das cuias de barro dos pobres; o da audição, com os sinos afinados ou desafinados em vários tons, conforme a localização de cada igreja na nossa cidade; e o do tato, que vem da maciez molhada da água que escorre pelas bocas dos netunos de gesso da Fonte do Ribeirão. Astolfo Serra bocejava versos sobre a São Luís do sono da noite, da sesta do meio do dia, a contemplar corpos amolecidos de cansaço e de preguiça no fundo de uma rede. Diante do tamanho caos e alerta do Brasil de hoje, pergunto: que sesta? Que sono? Que rede? O “Guia Histórico e Sentimental de São Luís do Maranhão” retrata uma São Luís que merece ser rememorada. Celebrada. E resgatada. Trata-se um livro curto, simples e belo, que poderia muito bem ser


relançado como edição de bolso. Primeiro para que seja conhecido por todos nós, ilhéus. E quem sabe, dentro de um milagroso círculo virtuoso, sejamos capazes de legá-lo aos nossos filhos e netos. E também apresentá-lo dentro dos muros das escolas públicas e privadas municipais. Sim, existe um aperitivo do nosso passado, cheirando a camarão, farinha e cuxá. Astolfo Serra cuida de servi-lo em forma de livro, com uma simplicidade afetiva e saborosa.


ASTOLFO SERRA HEITOR PIEDADE JÚNIOR http://avlma.com.br/site/astolfo-serra/ Publicado em 2 jul 2013

Da estirpe de Joaquim Ignácio Serra e Judith Barros Serra, em 22 de maio de 1900, no então povoado de Matinha, município de Viana, Maranhão, a 14 quilômetros de verdes selvas e do azul celeste do Lago do Aquiri, um dos inúmeros lagos da região, nasce, para a glória da fé cristã, da política do bem servir e do mundo jurídico, Astolfo de Barros Serra, o menino pobre, o seminarista, o sacerdote, o poeta, o escritor, o jornalista, o político, o revolucionário advogado, o orador sacro e profano, o inconformado com as injustiças sociais, o amigo de todas as horas, o profundo conhecedor da alma humana, o Ministro Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, o imortal em meio a tantos mortais. Como todo menino pobre, notadamente do interior nordestino, seu destino seria o analfabetismo e a desnutrição, não fora ter sido filho de um modesto professor, que fazia de seu magistério a vocação do exercício da dedicação a todos os meninos pobres da pequena vila. Assim estudou com o pai as primeiras letras numa escola coberta de palha de babaçu e tapada de barro, tendo como piso o chão batido de soquete, mas nos sonhos, um ideal definido quer na vila de Matinha, onde ficaria até os onze anos de idade, quer na cidade de Viana, onde completaria seu curso primário. A exemplo de seu pai, a vida o encaminhou para o velho e tradicional Seminário de Santo Antônio, em São Luís, onde o jovem Astolfo pôde moldar seu coração e sua inteligência até a ordenação sacerdotal, em 25 de março de 1925, juntamente com outro ilustre vianense, o Padre Constantino Vieira. Ainda com o perfume dos óleos sagrados nas mãos e na fronte, por determinação do austero Dom Octaviano Pereira de Albuquerque, bispo do Maranhão, foi enviado para assumir a paróquia de Mirador, tornando-se vítima de seu primeiro “choque cultural”, entre as regras rígidas de um internato claustral e a ingrata realidade social do isolamento de um mundo cá de fora. O sacerdote – Experimentou o jovem padre, na própria carne, as injustiças sociais que abalavam e ainda abalam o pais, seu estado e o pequeno rebanho paroquial. Em razão disso, despertou para a política ao engajar-se no apoio aos revoltosos da famosa Coluna Prestes, a qual invadia o sertão maranhense, travando lutas contra o arbítrio dos governantes. Seu púlpito paroquial era a tribuna da defesa dos oprimidos, entendendo que o Cristo, há quase 2000 anos antes, não teria vindo ao mundo para salvar a alma do homem, mas para resgatar este homem integralmente, em toda sua dimensão pessoal e social. Por explicitar tal testemunho (como acontece ainda em nossos dias) foi transferido para a cidade de Flores, hoje Timon, às margens do Rio Parnaíba, em 1927, estendendo sua atuação social e política até o Piauí, cuja capital limitava com sua paróquia. Na florescente Teresina, além da missão pastoral, dedicou-se ao jornalismo combativo, enfileirando-se à Aliança Liberal, movimento político nacional, nascido dois anos depois, em simpatia à candidatura de Getúlio Vargas, que fazia oposição à chapa Júlio Prestes, apoiada pelo presidente em exercício, Washington Luiz. E mais uma vez, por causa dessa ativa participação na política local, Dom Octaviano o transfere temporariamente para a cidade de São Paulo. O político – Devido à história revolucionária de sua vida pública e por sua liderança política, finda a interventoria de Reis Perdigão no Estado,o nome de Astolfo Serra era o mais cotado para assumir o governo do Maranhão. A muito custo, Dom Octaviano cedeu aos apelos do próprio presidente Vargas, o que aconteceu no dia 8 de janeiro de 1931. 0 povo maranhense respirou aliviado diante da indicação de um interventor à altura de solucionar os diversos problemas que afligiam e envergonhavam a vida pública de seu Estado. Medidas de saneamento das finanças e grande investimento na educação, notadamente no interior,


foram duas dentre as mais urgentes do projeto de governo que seu espírito de homem repleto de idealismo ético e de amor pela pátria lhe. impunham. Transformou-se num verdadeiro estadista, devolvendo ao Estado, em poucos dias, um clima geral de paz, confiança, justiça, trabalho e progresso. Todavia não demorou para que a inveja medrasse em todos os terrenos, iniciando-se assim por parte dos inimigos políticos, uma série de difamações à vida do padre-interventor, atingindo-o até mesmo na vida privada. A situação tornaria-se tão desagradável, que o próprio Astolfo Serra, não acostumado a esse clima de deslealdade, tomasse a iniciativa de pedir ao governo federal sua exoneração, em beneficio da paz social e da tranquilidade de sua vida pessoal. Dessa maneira, no dia 18 de agosto do mesmo ano, passava o governo do Estado para o Comandante do 24° BC, o Tenente Coronel Joaquim Guardie de Aquino Correia. Inconformado, o povo tentou rebelar-se, mas encontrou no ex-interventor a liderança da paz. Ainda assim, o povo da “Ilha Rebelde”, em sinal de protesto e ao mesmo tempo de solidariedade, saiu em passeata, levando nos braços o Padre Astolfo, o qual encerrou a manifestação com um inflamado discurso, reafirmando sua vocação de líder e portador de nobres ideais. Vítima da sanção canônica de suspensão das ordens sacras, imposta por Dom Octaviano, Astolfo Serra dedicou-se, em São Luís, ao jornalismo combativo em favor da cultura, da educação e contra os privilégios das classes dominantes, sendo nomeado depois fiscal do ensino secundário do tradicional Liceu Maranhense. Mas a tranquilidade não lhe seria fiel companheira: por simpatizar com a Aliança Nacional Libertadora, durante a Intentona Comunista, em novembro de 1935, teve sua casa arbitrariamente invadida pela polícia local e foi preso, sob a acusação de subversão à ordem pública O jurista – Com o advento do Estado Novo, transferiu-se para o Rio de Janeiro no final da década de 30, quando afastou-se do clero, sem romper com a Igreja e com sua fé, mas para melhor poder dialogar com sua coerência. No Rio, logo foi nomeado diretor do Departamento de Turismo e Publicidade da Estrada de Ferro Central do Brasil. Retornando o país ao estado democrático de direito, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, ocupando importante cargos públicos, dentre eles o de Diretor do Departamento Nacional do Trabalho, Presidente da Comissão Técnica de Orientação Sindical, Membro da Comissão Permanente de Direito Sindical, Presidente da Comissão de Imposto Sindical, Presidente de Enquadramento Sindical, Corregedor Geral do Trabalho e, por fim, nomeado, em 1949, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, tornando-se presidente deste mesmo Tribunal em 1964. O escritor – A obra literária deste brilhante intelectual vianense é de uma riqueza inigualável, bastando lembrar os seguintes trabalhos publicados (sem contar os que ficaram inéditos). Depoimentos para a História Política do Maranhão e Vértice, Gleba que Canta, Profeta de Fogo, Terra Enfeitada e Rica, Caxias e seu Governo Civil na Província do Maranhão, Noventa Dias de Governo, Argila Iluminada, A Vida Vale um Sorriso, Guia Histórico e Sentimental de São Luís do Maranhão, Manipueira, Caricatura de um Campanha Política, A Balaiada, A Vida de um Professor Simples de Aldeia, dentre outras. Astolfo Serra foi membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Seu falecimento ocorreu distante de sua terra natal, no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de I978, depois de “combater o bom combate”, na forte expressão paulina, que tantas vezes na vida anunciou. O Maranhão prestou significativa homenagem a este ilustre filho, emprestando ao Tribunal Regional do Trabalho, em São Luís, o seu nome, para honra de todos os maranhenses. Por


JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL

MICHEL HERBERTH FLORENCIO JOSE RIBEIRO DO AMARAL José Ribeiro do Amaral nasceu em 3 de maio de 1853 e faleceu no dia 30 de abril de 1927 às 13 horas da tarde aos 74 anos de idade em sua residência.O Jornal Imparcial de 01 de maio de 1927,descreve assim os fatos: “Faleceu ontem nesta capital as 13h, o venerado historiógrafo maranhense Jose Ribeiro do Amaral na avançada idade de 74 anos, em sua residência na rua Osvaldo Cruz n.49. funcionário competente e zeloso, pai de família modelar pelo carinho e previdência com que se ocupava e devotadamente dos seus, educador operoso, pesquisador emérito da história e escritor incansável, cumpriu com esforço digno de seu dever de homem público e particular e, ainda mais deixou uma obra considerável constante de muitos volumes, onde sua erudição se patenteou recomendando o seu nome ao público” . Teve sua formação educacional no Colégio Nossa Senhora da Glória, também chamado colégio dos Abranches. Catedrático de história e geografia do colégio Liceu maranhense o qual foi também diretor. Foi ainda diretor da Biblioteca Pública do Estado no período de 19 de agosto de 1910 a junho de 1913; Encarregou-se da sua reorganização, bem como da mudança da Biblioteca da rua Formosa para a rua da Paz. Membro fundador da Academia Maranhense de Letras e seu primeiro Presidente, sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (LUZ, 1954). Patrono da Cadeira nº 28 da Academia Maranhense de Ciências l, pai de Dr Juvencio Matos e avô de Dr.Odorico Amaral de Matos. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Maranhense de Letras em 10 de agosto de 1908 e também fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Foi contemporâneo na AML de Domingos, Barbosa, Alfredo de Assis, Godofredo Viana, Fran Pacheco, Justo Jansen, Barbosa de Godois, Inácio Xavier de Carvalho e Almeida Nunes. Homens que em muito contribuíram para a história literária do nosso estado.


NA BERLINDA


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 19 – ABRIL – 2019 SEDEL – 40 ANOS SUMÁRIO EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER SEDEL – 40 ANOS NATUREZA BASE LEGAL DE CRIAÇÃO FUNÇÃO LEI DE CRIAÇÃO Estrutura Organizacional atual LEI Nº 8.707 DE 16 DE NOVEMBRO DE 2007 - Cria o Conselho Estadual de Esportes e dá outras providências. DECRETO Nº 23.815 DE 20 DE FEVEREIRO DE 2008 - Regulamenta a Lei nº 8.707, de 16/11/ 2007, que criou o Conselho Estadual de Esportes - CONESP. LEI Nº 9.878, DE 18 DE JULHO DE 2013 - Dispõe sobre o Conselho Estadual de Esporte e Lazer do Maranhão e dá outras providências, com base nas diretrizes e orientações da II Conferência Nacional de Esporte e Lazer. SECRETÁRIOS JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS - TEREMOS A “MESMA” SEDEL? GINÁSIO CASTELINHO DESABA EM SÃO LUIS JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS - O CASTELINHO TREMEU!... E AGORA CAIU! JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS - UM MENINO E UMA BOLA COMO TUDO COMEÇOU - DESPORTOS & LAZER, 1.1. dez. 1980 DEPOIMENTOS & ENTREVISTAS ELIR JESUS GOMES ELIR JESUS GOMES – ENTREVISTA – Revista Desportos & Lazer, ano I, Número I, dezembro de 1980 DEMONSTRATIVO DE ATIVIDADES – LAZER E ESPORTES 1981 ELIR JESUS GOMES – GESTÃO 1979 – 1982 – PRESTAÇÃO DE CONTAS LOUIS PHILIP MOSES CAMARÃO -ENTREVISTA JOAQUIM HAICKEL - DEPOIMENTO MATEUS ANTONIO SILVA NETO LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - DEPOIMENTO LINO CASTELLANI FILHO - ENTREVISTA SIDNEY FORGHIERI ZIMBRES - ENTREVISTA JOSÉ MARANHÃO PENHA - ENTREVISTA CLAÚDIO ANTÔNIO VAZ DOS SANTOS - ENTREVISTA

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MARCOS ANTÔNIO DA SILVA GONÇALVES - ENTREVISTA EMÍLIO MARIZ - ENTREVISTA RAIMUNDO APRÍGIO MENDES - ENTREVISTA IVONE REIS NUNES = ENTREVISTA JOSÉ GERALDO MENEZES DE MENDONÇA - ENTREVISTA RAIMUNDO NONATO IRINEU MESQUITA - DEPOIMENTO QUERIDO PROFESSOR DIMAS – CAPÍTULO DO LIVRO: SOBRE A SEDEL... MINHAS MEMÓRIAS/LEMBRAÇAS CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO ESPORTIVO E SOCIAL DE SÃO LUIS – MINHAS MEMÓRIAS... SOBRE O CONVÊNIO COM A ALEMANHA – ALGUMAS INFORMAÇÕES/LEMBRANÇAS O QUE ERA O CEDEFEL-MA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL AO TEMPO DA CRIAÇÃO DA SEDEL-MA A PÓS GRADUAÇÃO AS CONSTRUÇÕES DAS PRAÇAS ESPORTIVAS PROGRAMAS CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE REGIÃO NORTE-NORDESTE De 10-09-1980 até 13-09-1980 - Brasil. São Luís -MA Iº CONGRESSO NORTE/NORDESTE DE ESPORTE PARA TODOS De 24-08-1982 até 28-08-1982 - Brasil. São Luis -MA A CRIANÇA NO MARANHÃO De 13-05-1983 até 14-05-1983 - Brasil. São Luis -MA REVISTA DESPORTOS & LAZER NÚMERO 1 – 1980 – SUMÁRIO / EDITORIAL ETHEL BAUZER DE MEDEIROS – SERVIÇO PÚBLICO DE LAZER: SUA PROMOÇÃO NUM MERCADO DISPUTADISSIMO NÚMERO 3 – ABRIL/JUNHO 1981 – EDITORIAL – SUMÁRIO LAMARTINE PEREIRA DA COSTA - “A GRANDE RECEITA DO SUCESSO É TRABALHO, TRABALHO, TRABALHO” NUMERO 4 – SETEMBRO/OUTUBRO 1981 – EDITORIAL - SUMÁRIO RENATO REQUIXA - “O CONCEITO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE ENCONTRA NO LAZER UMA ESTRATÉGIA DE GRANDE EFICÁCIA” NUMERO V – NOV-DEZ/ 1981 – EDITORIAL – SUMÁRIO0 RUBEM DINARDI DE ARAUJO - A OLIMPIADA DE OSCOU MOSTRARÁ GRANDES REVELAÇÕES BRASILEIRAS NUMERO VI – JAN. FEV. MAR. ABR. 1982 – EDITORIAL - SUMÁRIO VICTOR MATSUDO - “ANTES DE ESTUDAR FIBRA MUSCULAR É PRECUSO SABER QUANTO PODE PULAR UM BRASLEIRO DE 10 E 15 ANOS” NÚMERO VIII – DEZEMBRO DE 1982 INEZIL PENA MARIUNHO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NUMERO 9 – JAN/FEV/MAR 1983 JOSÉ GUIOMAR MARIZ DE OLIVEIRA, PhD - ENTREVISTA DESPORTOS & LAZER, 3.9, JAN/FEV/MAR 1983 – ENTREVISTA AOS PEDAÇOS ALGUMAS BIOGRAFIAS ANTÔNIO MARIA ZACHARIAS BEZERRA DE ARAÚJO ARY FAÇANHA DE SÁ CARLOS ALBERTO BARATEIRO DA COSTA - BEBETO CARLOS ALBERTO FERREIRA ALVES CARLOS DE SOUZA VASCONCELOS CARLOS GUTERRES MOREIRA CARLOS ROBERTO TINOCO DA SILVA CLÁUDIO ANTÔNIO VAZ DOS SANTOS, o Cláudio "Alemão" DEMOSTHENES MONTOVANI DENISE MARTINS DE ARAÚJO DOMINGOS FRAGA SALGADO EDIVALDO PEREIRA – BIGUÁ EMÍLIO BILÓ MURAD EMÍLIO FEITOSA MARIZ IVONE REIS NUNES FATIMA ANDRADE JOÃO MIGUEL MOHANA JOAQUIM NAGIB HAICKEL JOSÉ DE RIBAMAR MIRANDA JOSÉ MARANHÃO PENHA

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JOSÉ PINHEIRO DA SILVA - Pinheiro LAÉRCIO ELIAS PEREIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LINO CASTELLANI FILHO LOUIS PHILIP MOSES CAMARÃO - PHIL CAMARÃO MANOEL TRAJANO DANTAS NETO MARCOS ANTONIO DA SILVA GONÇALVES MARY SANTOS MATEUS ANTONIO DA SILVA NETO MAURO DE ALENCAR FECURY NÁDIA COSTA NAN SOUSA OLIMPIO DE SOUSA GUIMARÃES RAIMUNDO APRÍGIO MENDES RINALDI LASSALVIA LAULETA MAIA. ROSA MOCHEL MARTINS SIDNEY FORGHIERI ZIMBRES VANILDE MARIA CARVALHO LEÃO VICENTE CALDERONI NETO – VICHÉ ZARTU GIGLIO CAVALCANTE LUSOFONIA MANUEL SÉRGIO VIEIRA E CUNHA. - PARA UM DESPORTO NOVO... O PENSAMENTO DE JORGE BENTO PRECISAMOS DE AMIZADE E COMPANHEIRISMO! ELOGIO DA LENTIDÃO IDENTIDADE SOCIOPROFISSIONAL ‘FAKE NEWS’: AMORALIDADE E MALDADE OVELHA NEGRA

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SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 20 – MAIO – 2019 AINDA OS 40 ANOS DA SEDEL... SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER Na REVISTA DESPORTOS & LAZER COMO TUDO COMEÇOU JOSÉ DE OLIVEIURA RAMOS UM SECRETÁRIO TÉCNICO PARA O ESPORTE PHIL CAMARÃO – ATLETA, M´DICO E GESTOR PÚBLICO: REVERÊNCIA À QUALIDADE

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Felipe camarão J. ALVES - UMA DÉCADA DE BASQUETEBOL SANDOVAL LUIS DA SILVA - O JOGO DE DAMAS NO MARANHÃO A VEZ DO TÊNIS HANDEBOL O MARANHÃO CONQUISTA O TÍTULO DUAS VEZES CAPOEIRA – DE SARNEY A JOÃO CASTELO O JUDÔ NO MARANHÃO OS VELHOS TEMPOS DO BASQUETEBOL A EVOLUÇÃO DA GINÁSTICA OLIMPICA NO MARANHÃO Caruso lembrado na festa do curió A CAPOEIRA DO MARANHÃO EM BRASÍLIA BASQUETE REEAFIRMA PRESTÍGIO NACIONAL FUTEBOL DE SALÃO – SEGUNDO ESPORTE MAIS POPULAR DO PAÍS ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES RODOLFO DE ARAÚJO - A VIOLÊNCIA NO ESPORTE HERMAN HEMERS YEVENES - RUA ESCOLA CELINA BITTENCOURT MENDONÇA CAMPOS - OS BRINQUEDOS DA CRIANÇA ORLANDO FARRACIOLLI FILHO - LAZER SINCLAIR DE OLIVEIRA LEMOS - NATAÇÃO INFANTO JUVENIL ETHEL BAUZER DE MEDEIROS - PIRAÍ – UM PARAISO NA TERRA PAULO ROBERTO TINOCO SILVA - A DEFESA DE UMA EQUIPE DE BOLA AO CESTO LINO CASTELLANI FILHO - ENSAIO: A MULHER BRASILEIRA FACE À LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO DESPORTO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - O PROJETO CLUBE ESCOLAR NO MARANHÃO MARIA IZABEL DE SOUSA LOPES - O ESPORTE NA SOCIEDADE MODERNA – UMA ABORDAGEM SOCIOLÓGICA MOACIR DE MORAES SILVA - VELA NO MARANHÃO EVENTOS EXPOSIÇÃO DE PÁSSAROS / FESTIVAL DO CURIÓ AEROMODELISMO DOMINGO EM FAMÍLIA PROJETO “SOL” COLONIA DE FÉRIAS PROCÓPIO FERREIRA FEIRA DE PLANTAS SALA (CINEMA) RUAS DE LAZER SEMANA DA CRIANÇA ARTESANATO GINCANA CICLÍSTICA FUTEBOL - ESCOLINHAS FESTEJOS PROJETO ELO VELA NO MARANHÃO ACAMPAMENTO DE FÉRIAS INFRAESTRUTURA LUSOFONIA JOSÉ NETO - CÁTEDRA PROFESSOR MANUEL SÉRGIO NA UNIVERSIDADE CATÓLICA MANUEL SÉRGIO VIEIRA E CUNHA.- UMA CÁTEDRA COM O MEU NOME O PENSAMENTO DE JORGE BENTO ENSINAR É CUIDAR EDUCAR: COLORIR EMOCIONALMENTE BURROS TRÁGICOS PORQUE ESCREVO NO FACEBOOK DO ‘CONVERSAR’

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 20.1 – MAIO – 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: FRAN PAXECO E ‘A QUESTÃO DO ACRE’ SUMÁRIO EXPEDIENTE

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EDITORIAL

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SUMÁRIO

7 ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES FRAN PAXECO E “A QUESTÃO DO ACRE” – RECORTES & MEMÓRIAS

INTRODUÇÃO MANUEL FRANCISCO PACHECO 1906 – NO ACRE 1907 – MESES DE PRISÃO O RETORNO A SÃO LUIS

REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO - NUMERO 21 – JUNHO – 2019

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SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO MIGUEL HOERHANN LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: A HISTÓRIA QUE (AINDA) NÃO FOI CONTADA (através de depoimentos daqueles que a construíram) DEPOIMENTO: LAÉRCIO ELIAS PEREIRA ANTONIO MUSSINO DIAGNÓSTICO NACIONAL DO ESPORTE - A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO “ESPORTE” E OS SEUS VARIOS MODELOS ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO FESTIVAL ESPORTIVO DA JUVENTUDE – ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO MARANHÃO ARTIGOS PUBLICADOS REVISTA ‘NOVA ATENAS’ DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA. ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MANIFESTAÇÕES DO LÚDICO E DO MOVIMENTO NO MARANHÃO AZIZ JUNIOR SOBRE A CAPOEIRA E A ESCRAVIDÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (Capítulo de livro: Cláudio Vaz, o Alemão – e o legado da geração de 53): ii OS PRIMEIROS ESPORTES: O FUTEBOL DE SALÃO – CONTROVÉRSIAS LUSOFONIA MANUEL SÉRGIO QUE ESPÉCIE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DESEJAMOS? QUE ESPÉCIE DE EDUCAÇÃO FÍSICA QUER O POVO BRASILEIRO? MANUEL SÉRGIO OS INSUBMISSOS: O MOTOR DO PROGRESSO O PENSAMENTO DE JORGE BENTO DA FINALIDADE DA FILOSOFIA

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COMPARECIMENTO À SOLENIDADE DE ENTREGA DE BOINA AOS NOVOS ALUNOS DO COLÉGIO MILITAR TIRADENTES I, APADRINHANDO UM NOVO ALUNO, MARIA CLARA



ANA LUIZA ALMEIDA FERRO




É com prazer que anuncio que fui convidada a integrar a Academia Brasileira de Direito (ABD). Agradecimentos à Diretoria pelo convite, particularmente ao Presidente Dr. Roberto Victor Pereira Ribeiro (CE) e à Dra. Carmela Grüne (RS), sinto-me muito honrada. A ABD possui 40 cadeiras, reunindo alguns dos maiores juristas brasileiros e tendo como patronos ilustres personalidades do mundo jurídico. Estão confirmados na Academia juristas como Lênio Streck,


Eduardo Arruda Alvim, Maria Berenice Dias, Freddie Didier Júnior, Eugênio Pacelli, Ives Gandra da Silva Martins, Joaquim Falcão, os ministros Luís Roberto Barroso (STF), Humberto Martins, Marcelo Ribeiro Dantas e muitos outros. Dentre os patronos, figuram Clóvis Beviláqua, Miguel Reale, Pontes de Miranda, Sobral Pinto, Tobias Barreto, Cândido Mendes e Ruy Barbosa, apenas para citar alguns luminares do Direito. A posse coletiva será dia 31 de maio, em Fortaleza-CE. Terei o privilégio de ocupar a Cadeira 16, patroneada por Cândido Mendes.


Uma noite inesquecível no Hotel Sonata de Iracema, em Fortaleza-CE. Tomei posse na Cadeira 16, patroneada por Cândido Mendes, da Academia Brasileira de Direito (ABD). Na foto, aparecem, mais próximos, o Presidente Roberto Victor e os também confrades Min. Ribeiro Dantas (STJ), Joaquim Falcão (Academia Brasileira de Letras) e Min. Humberto Martins (STJ). Muito honrada.


ROBERTO FRANKLIN É hoje, quinta-feira (11). *Posse na Academia Ludovicense de Letras movimenta mundo acadêmico da capital nesta quinta-feira A Academia Ludovicense de Letras (ALL) realizará a partir das 19h desta quinta-feira, 11 de abril de 2019, no auditório do Palácio Cristo Rei, na Praça Gonçalves Dias, em São Luís-MA, o evento de posse do escritor Roberto Franklin na Academia. O novo acadêmico é ludovicense, odontólogo e poeta. Ele concorreu a uma cadeira na Academia de São Luís no segundo semestre do ano passado, quando obteve a maioria dos votos dos membros da Casa. A saudação e recepção ao poeta Franklin será feita pelo acadêmico Antonio Noberto, ocupante da cadeira número 01 e atual presidente da Academia. Roberto Franklin será o primeiro ocupante da cadeira de número 40, patroneada pelo escritor José Ribamar Souza dos Reis, o criador da expressão "maranhensidade". Reis foi um dos maiores conhecedores de cultura popular do Maranhão, com mais de sessenta livros e publicações sobre o tema. A Academia Ludovicense de Letras deverá fazer uma segunda posse ainda este ano, quando o escritor Jadir Lessa também assumirá uma cadeira na Academia, pois eleito no ano passado para ocupar a cadeira de número 37, patroneada por Conceição Aboud.



CONVITE O presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA -, João Francisco Batalha, tem a honra de convidar todos os confrades e confreiras das Academias filiadas à FALMA, para a Sessão de Posse do escritor Roberto Franklin Falcão Costa, na Academia Ludovicense de Letras, com recepção no Palácio Cristo Rei, da UFMA, Praça Gonçalves Dias, Centro, às 19hs do dia 11 de abril de 2019.



MARIA FIRMINA DOS REIS, NETA DO PROF. REIS, AGRADECENDO A HOMENAGEM AO SEU AVÔ





DISCURSO DO ACADÊMICO ANTONIO NOBERTO EM RECEPÇÃO AO ESCRITOR ROBERTO FRANKLIN FALCÃO DA COSTA, PRIMEIRO OCUPANTE DA CADEIRA Nº 40, PATRONEADA POR JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS Cara Vice-presidente da ALL, confreira Ana Luíza Almeida Ferro, Senhor Presidente da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares, Cel Carlos Augusto Furtado Moreira, Caro empossando Roberto Franklin, Confreira Secretária Geral, Clores Holanda Silva, Confrades e confreiras da ALL e de outras academias Autoridades presentes, Familiares de Roberto Franklin e de José Ribamar Sousa dos Reis. Demais convidados, amigos da imprensa, os que prestam serviço neste local, senhoras e senhores, BOA NOITE! (Convido-os a embarcar em um gostoso) Tour por São Luís com Roberto Franklin Falar de pessoas maduras, vividas, que nasceram décadas antes de nós, às vezes não é tarefa das mais fáceis. Trazer à baila a flor da infância, os momentos de diversão com os familiares, amigos, o recreio na escola, a bola de papel sendo chutada em meio às caneladas, a chateação da professora com as regras, os conselhos sensatos e a disciplina das outras gerações, o primeiro amor da adolescência, quando as pupilas dilatavam ao ver a garota dos sonhos se aproximando. Aaaah, nem me fale disto, porque é emoção demais. Pois é esta a missão a mim confiada nesta noite, confrades e confreiras, senhoras e senhores, familiares e amigos do nosso novo confrade. Nosso noviço acadêmico Roberto Franklin Falcão da Costa nasceu no dia 16 de janeiro de 1955, em São Luís, meses depois de um dos acontecimentos mais marcantes da história da capital maranhense, a explosão e o naufrágio do navio Maria Celeste, evento ocorrido relativamente próximo à terra firme, em frente a nossa cidade, quando muitos assistiram a triste sina a partir da Beira-mar, do São Francisco, Ilhinha, Ponta da Areia e de outros lugares. E observando o jeito ativo, inquieto e elétrico de Roberto Franklin parece


que ele veio ao mundo junto com um dos barris de combustível que foram para os ares naquele inesquecível e explosivo dia. Na infância Roberto morou na rua 7 de setembro, no Centro, esquina com a Rua Grande, em um momento diferente, quando a cidade era pequena e estava mais na parte central, margeada pelos rios Anil e Bacanga. Mas existia o Caminho Grande, que começa na Rua Grande, que sediava as tentações do comércio do conforto inglês e do luxo francês no século XIX, onde era possível adquirir máquinas, pianos, fraques, roupas de luxo, um belo guarda-chuvas, perfumes, louças finas, livros e tantas outras coisas que garantiam uma vida confortável neste recanto do Brasil. Ali bem pertinho, no Largo do Carmo, comprava-se quase tudo, no Barateiro José Gonçalves da Silva, um dos homens mais ricos e poderosos do Maranhão naquela primeira metade dos mil e oitocentos. Neste logradouro, a partir do final daquele século do luxo, da Belle époque - período situado entre os 1875 até 1915, já era possível andar de bonde puxado por animais. Ali perto tinha o teatro São Luíz, mais tarde Arthur Azevedo, e no canto da rua do Egito com a rua de Nazaré foi ali que o meu “quase parente” Jesus Norberto Gomes, por volta de 1927, criou a fórmula do famoso e muito consumido Guaraná Jesus, orgulho dos maranhenses. Ali perto, em frente à Igreja do Carmo, o nosso grande José do Nascimento Morais, autor da obra “Vencidos e degenerados” entrava no bar com seu guarda-chuva pendurado no braço e pedia uma pinga. E quem não lembra do famoso Motobar. Mas voltemos para o Caminho Grande. Seguindo no sentido crescente, passava-se por ao menos duas casas da poderosa Ana jansen, a Rainha do Maranhão, uma no início, onde existia uma Casas Pernanbucanas e outra, mais no meio da Rua, onde até recente morava a Dona Terezinha Jansen, que não se encontra mais entre nós. Ali bem próximo da casa de Roberto Franklin existia o cine Éden, fundado em 1919. Ahhh o Cine Éden, um lugar mágico com uma sala de mil e tantas cadeiras, que apresentava filmes emocionantes para a época, a exemplo de Sansão e Dalila, Os Dez mandamentos e também tinham os filmes românticos, que faziam o nosso agora homenageado se emocionar. Seguindo mais um pouco na Rua Grande, ou Rua Oswaldo cruz, mais adiante avista-se o Palacete Gentil Braga, onde existia um cemitério criado em 1801. É verdade, ali era um cemitério! E bem ao lado, no outro canto, o Cine Passeio, que recebeu o nome da rua lateral do cinema. Muitos não sabem que o nome Rua do Passeio faz referência ao último passeio que a pessoa dá, no “paletó de madeira”, antes de ir para os sete palmos. Também na rua Grande, passava-se pela Quinta do Barão de Bagé, que era genro do Barateiro, onde depois foi construído o Colégio Marista, lugar de boas memórias de Roberto. Era esse um dos trajetos que o nosso novo confrade fazia quase que diariamente. O Caminho Grande continuava, mais lá na frente, à direita, passava-se pela esquina dos Saulnier de Pierrelevée, no canto com a Alexandre de Moura. À esquerda ficava o colégio MENG. Um pouco abaixo estava a igreja Presbiteriana, que é do início do século passado, até a famosa sorveteria Elefantinho e o Canto da Fabril, de onde se via o Cemitério dos Passos, primeiro lugar de sepultamento de Ana Jansen, e onde hoje existe o estádio Nhozinho Santos. Mais adiante o bairro do Areal, atual Monte Castelo, lugar dos sítios das elites de antigamente. O Caminho se prolongava, passando pelo Outeiro da Cruz, lugar da batalha contra os holandeses, no ano de 1644, passava pelo Cutim, onde existiu uma grande aldeia indígena e chegava até o Anil, onde terminava o trilho do bonde. Era dali ou da Estiva, vindo da Estrada Real, que vinha o gado tocado pelos vaqueiros até o abate. No Canto da Fabril a manada quebrava a esquerda e seguia pelo Caminho da Boiada, passava pela rua do passeio até chegar no Matadouro, onde hoje está o hospital Geral. Agora vocês sabem o porquê do nome “Caminho da boiada”. Essa era a São Luís e o cenário da infância e juventude de Roberto, quando no início não existiam as avenidas largas que vemos hoje: avenida dos franceses, dos Portugueses, dos Africanos, Holandeses; e nem as pontes que abriram São Luís para uma cidade ampliada, que cresceu para o lado do Renascença, Calhau e Olho D'água, região apelidada de São Luís planejada. Ou para o Itaqui-Bacanga e regiões mais distantes, a cidade crescida, tudo a partir da década de sessenta e setenta. A capital crescia e se ampliava. Vivia-se um ambiente multi, plural, de diversidade. As pessoas não eram apequenadas. Ao contrário, pensavam grande, pois o espírito que os guiava ainda era aquele das luzes, da Bela época, da Atenas Equinocial. As pessoas tinham a nobreza na pupila dos olhos e na alma o pacto com a permanência. Vivia-se a alegria, a fartura, a generosidade e a abastança. Roberto Franklin estudou no Jardim de infância Alberto Pinheiro. Depois se tornou estudante do Marista, colégio que ajudou na formação de muita gente graúda do nosso estado. Tempos depois foi estudar no Dom Bosco. Terminadas as aulas, todos corriam para a Meca da diversão, o lugar de encontro da juventude escolar, que afluía para os encontros, onde a molecada do Ateneu, do Liceu, do Rosa Castro, do Marista e de tantos outros estabelecimentos de ensino se encontravam nos bancos da Praça Deodoro para o


bate papo, que resultavam em namoros e até casamentos. Tudo testemunhado pelos olhos dos bustos do Panteon e pelo altar formado pelas escadarias, pelo frontão e pelas colunas greco-romanas da Biblioteca Benedito Leite. Ali também aconteciam os ensaios e as agitações do carnaval, que animavam a cidade. Era da Deodoro que os blocos ganhavam a Rua do Passeio arrastando multidão. E Roberto, evidentemente, não perdia por nada, pois ali residia a vaidade e a felicidade, colunas que ajudam a manter o ser humano em pé, pronto para lutar. Roberto Franklin fumava cigarros, mas o fazia escondido do pai, por isso escovava bastante os dentes para não ser descoberto. Naquela época fumar era bonito e fazer outras coisas era feio. Fez muitos amigos na época escolar, pessoas que cultiva até hoje. Ele mesmo, talvez por humildade ou muita sinceridade, ou os dois, nunca se considerou um estudante assíduo, pois gostava muito de se divertir e aproveitar a vida em boas companhias e fazendo o que gosta. Ele, na condição de bom boêmio, não relaxava a 28 de julho, o point da ZBM no século passado. No início sonhava em fazer agronomia, mas não deu certo. Em meados da década de setenta ele encarou o curso de Odontologia na UFMA formando-se em 1977. O pai do nosso homenageado, Franklin Camões da Costa, era dentista e trabalhava na Rua Grande, onde possuía um consultório. Depois foi laborar na Rua de Santana. Faleceu em 2010, com mais de 80 anos. Era um homem brincalhão e alegre. Torcedor do América do Rio, “talvez fosse o único torcedor do América em São Luís”, brinca Roberto. A mãe era dura, mas tal qual o pai, não batia nos filhos. Nosso empossando tinha 6 irmãos, 4 homens e 2 mulheres: Tomaz, Socorro, Lena, Franklin, ele e Ribamar, Morreram dois. O falecimento do irmão Franklin, um dos mais estimados por Roberto, é algo que o emociona até hoje. Na verdade, vale dizer que Roberto Franklin é chorão. Tudo ele se emociona. E falando em emoção, uma das maiores emoções da vida dele aconteceu em 1977, e não foi a sua formatura em Odontologia. Sua imensa alegria foi quando conheceu e casou-se com Luciane Araújo Duailibe, lá no colégio José Maria do Amaral, na rua dos Afogados, relação feliz e exemplar que dura até hoje. Luciane nasceu em Urbano Santos, mas nunca pisou lá. Se formou em medicina e é pediatra. Concluiu o curso de medicina em 1980. Da feliz relação nasceram os quatro filhos: Roberto - 40 anos, formado em Administração; Henry 38 anos, mora em Dallas e trabalha em Atlanta nos EUA, onde é um dos diretores da Porshe; André - 36 anos, é empresário e engenheiro civil e Roberta - 32 anos, Odontóloga. Ele começou como poeta já na época de Dom Bosco. Lia Vinicius de Moraes, escrevia poemas e mandava para o irmão o trabalho escrito, que gostava do que o nosso futuro confrade escrevia. O escritor Fernando Braga também o incentivava a trilhar na o caminho da literatura. E para os que pensam que Roberto não tem raiz ou pedigree acadêmico, pois saiba que ele é primo de segundo grau do escritor e jornalista Franklin de Oliveira, da Academia Brasileira de Letras. E é sobrinho-neto do consagrado escritor e poeta caxiense Vespasiano Ramos. Roberto é saudosista, gosta de comidas, cheiros e músicas que o façam reviver o passado. Um nostálgico. E uma das coisas que ele mais gosta é da sexta-feira dos netos, dia em que ele e a Luciane, semanalmente, saem com os netos para almoçar e passear juntos. Seus queridinhos são: a Lara, a Sophia, a Laís, a Julia, o Theo e o Nicholas. E para que todos saibam, pois sou acadêmico, e não baú: Roberto Franklin é um “avô babão”. São tantas coisas sobre o nosso empossando que passaríamos o dia inteiro neste recinto, mas para não sermos cansativos vamos ficando por aqui. Caro Roberto, a confraria da Academia Ludovicense de Letras te saúda. Seja bem-vindo à ALL. Você já é de Casa. Muito obrigado!


ROBERTO FRANKLIN ELOGIO AO PATRONO Senhor Presidente, da Academia Ludovicense de Letras, Antonio José Norberto, Senhores membros da diretoria, senhores confrades e senhoras confreiras. Meus familiares, amigos, ilustres autoridades aqui presentes. Esta é uma noite que com certeza guardarei para sempre, um sonho realizado, uma meta atingida, aos sessenta e quatro anos ainda lembro da minha adolescência, em cujas noites deixava meus pensamentos guiarem-me ao futuro, desde aquela época tendo como companhia poemas de Vinicius de Moraes, de JG de Araújo Jorge, Florbela Espanca, e muitos outros autores líricos, sonhava um dia ter a honra de publicar um poema que falasse de sentimentos, de paixão, de amor. Pois bem, senhoras e senhores, aqui estou diante dos que fazem a ALL, diante dos meus familiares, dos meus amigos e autoridades, para sonhar em conjunto e tornar esse sonho realidade, como partícipe dessa academia, ao assumir a cadeira de número quarenta, patroneada por José de Ribamar Sousa dos Reis. Antes de falar desse ilustre maranhense, gostaria de agradecer aos confrades e confreiras que me honraram com os seus votos para juntos, engrandecer ainda mais a Casa de Maria Firmina dos Reis. Devo dizer que chego à ALL com o propósito de colaborar com meus pares, pois venho com toda a disposição para agregar forças, somar esforços, afim de continuarmos transformando esta academia em uma casa de amizade e de cultura. Devo acrescentar, todavia, que não faz muito tempo, ingressei no mundo da poesia através do incentivo de duas pessoas muito importantes e queridas, as quais não poderia jamais deixar de lembrar nesta noite iluminada. Primeiramente, meus eternos agradecimentos (in memoriam) a você, meu irmão, que muito me incentivou e impulsionou com suas palavras. Lembro-me das manhãs, quando abria a caixa de mensagem, e lá estava você a pedir-me os poemas que a noite escrevera. Estou falando do meu amado irmão Tomaz de Aquino Falcão Braga, de quem sinto muito a falta. Outro ilustre maranhense, a quem jamais poderia deixar de agradecer, é o poeta Fernando Braga (primo do meu irmão), que me adotou no início como meu tutor, falando-me, corrigindo-me, acrescentandome sobreo que deveria escrever ou não escrever. Obrigado, meu primo por afinidade! Tenho a formação na área médica e, neste sentido, devo reconhecer certas dificuldades em relação às questões e valores literários, mas sabemos que a vida é um eterno aprendizado. Escrevo meus sentimentos, escrevo o amor que adquiri por toda a minha vida, desde a infância, através dos meus amados pais e irmãos; escrevo poemas inspirados na minha maior musa, dona do amor que há


quarenta e dois anos de casados rege minha vida, minha esposa Luciane Costa. E não poderia também, nesta noite, deixar de consagrar-lhe esse pequeno poema: Ensina-me Ensina-me, com teu amor, a viver, Com tua doce presença, a caminhar, Com teus carinhos, a me acalmar, Com tua voz, o doce canto da paz, Com teus abraços, a dormir no amor. Ensina-me a querer sempre estar aqui, À tua espera para que, com esse amor, Possa viver, caminhar, acalmar-me, escutar, E depender dele para sempre. Escrevo o amor pelos meus filhos, netos e netas, noras e genro; escrevo a saudade de momentos vividos,sobre o desejo, sobre as perdas e ganhos, sempre dando ouvidos ao coração, talvez inspirado pelos versos de amor que meu tio avô Vespasiano Ramosescreveu em seus poemas apaixonados, busco também inspiração no que representou para o Brasil o jornalista e critico literário Franklin de Oliveira, primo em segundo grau. Nessa trilha de sonho, luta e escrita, no dia 14 de dezembro de 2018 tive a honra de ser eleito para ocupar a cadeira de número 40, patroneada por José Ribamar Sousa dos Reis, maranhense, nascido em 22 de março de 1947, filho de Antonio Sebastião dos Reis e de Rosy Sousa dos Reis, e é sobre esse homem de alto valor para a construção da cultura maranhense e brasileira que passo a tratar a partir de agora. José Ribamar Sousa dos Reis começou seus estudos em Codó, fazendo seu curso primário no Colégio João Ribeiro, pois seus pais residiam naquela cidade. Em São Luís, estudou nos colégios Maristas e Liceu Maranhense, e formou-se em Ciências Econômicas na Universidade Federal do Maranhão, em 1973. Na época, a profissão era incipiente no Maranhão, sendo o setor público o natural campo de trabalho. Logo no governo de Nunes Freire, José Ribamar Sousa dos Reis foi indicado para a presidência do IPEI, órgão integrante do Sistema Estadual de Planejamento, formado por uma equipe interdisciplinar de técnicos da área de ciências sociais e ligado à Secretaria Estadual de Planejamento, e que tinha como missão produzir as estatísticas e informações voltadas à elaboração dos planos, programas e projetos governamentais. Mais tarde, Reis voltou seu interesse às pesquisas sobre nosso folclore, constituindo-se em seu maior incentivador e pesquisador. Morou em Recife e, como coordenador regional da Fundação Joaquim Nabuco, do Ministério da Educação e cultura, adquiriu uma infinidade de recursos literários para produzir suas importantes obras no ramo socioeconômico, em particular a respeito da cultura maranhense. Observando nossas peculiaridades, ensejando apontar saberes e fazeres próprios de nossa identidade, e mostrando-se preocupado com o nosso engrandecimento, José Ribamar Sousa dos Reis, idealizou a tão aclamada "MARANHENSIDADE", a qual consistia em caracterizar um modo de ser, de viver e de fazer que constitui a cultura dos maranhenses, e que, segundo ele, seria sempre a defesa das nossas coisas e nossa gente. “Entendemos que MARANHENSIDADE é uma simbologia, característica intrínseca, um dever de todo o cidadão natural do Estado do Maranhão deve ter, ou seja, é acima de tudo a valorização, preservação, divulgação das coisas e da gente maranhense. É um louvor a nossa cultura de raiz! Não deixa de ser um fortíssimo desdobramento da brasileidade para o Brasil-Maranhão dentre os demais 'brasis'”, dizia ele. Diga-se, de passagem, que esse termo, MARANHENSIDADE, chegou a ser utilizado como bandeira da própria Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, anos depois. Em meados de 1999, Reis escreveu uma coluna no Jornal Pequeno intitulada A TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE, através da qual promove nosso folclore, festas e a nossa tão rica culinária. Reis sempre foi um amante da nossa cultura, à qual associou a nossa identidade e a nossa história. Em 2001,


escreveu "São José de Ribamar: a cidade, o santo e sua gente", um livro sobre a história de São José de Ribamar, a cidade seu povo e o Santo padroeiro do Maranhão. Nesse livro ele tenta afirmar que a cidade é o santo e o Santo é a cidade, por conseguinte, a cidade não viveria sem o Santo e o Santo não viveria sem a cidade Dentre as inúmeras crônicas escritas na coluna A Trincheira da Maranhensidade, podemos destacar a coluna publicada em 13 de outubro de 2009, na qual Reis destaca o Título recebido por São Luis como CAPITAL BRASILEIRA DA CULTURA. Conforme já anunciei, José de Ribamar Sousa dos Reis ocupou diversos cargos públicos, de relevância para a gestão publica e para a cultura do estado, sendo os principais: - Coordenador Geral e Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Maranhão – IPES; - Representante no Maranhão e Coordenador Regional do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais do Recife; - Secretário Executivo Adjunto da Fundação Cultural do Maranhão; Por outro lado, esse distinguido patrono foi historiador, pesquisador, escritor, jornalista, descendente de nomes ilustres das letras maranhenses como Sotero dos Reis, Trajano e Maria Firmina, a primeira romancista maranhense e patrona da nossa Academia. Reis deixou uma vasta obra na literatura e economia. Escreveu várias obras em exaltação à cidade na qual passou sua infância. Escreveu a novela inédita: Terreiro do Riacho “Água Fria”, e a obra Sertão de Minha Terra – a saga das quebradeiras de coco de Codó, além de obras como Newton Pavão, mestre das artes. Sempre preocupado com o que poderia acontecer com nossa cultura, escreveu a série Memória da Cidade, na qual podemos destacaras seguintes obras: - João Chiador, 50 anos de Glória, meio século de cantoria –este livro foi elaborado a pedido do João Chiador por ocasião dos seus cinquenta anos de carreira –, João Chiador, herdeiro do maracá de ouro do Mestre Luís Dá Na Vó. - Praia Grande, Cenários: históricos, turísticos e sentimentais. Neste, Reis descreve a beleza da Praia Grande como sendo o maior museu a céu aberto das Américas. Descreve suas ruas, praças, becos, casarios, o aspecto da azulejaria, assim como seus atrativos na culináriae no artesanato maranhense. - ZBM: O reino encantado da boêmia, no qual José de Ribamar Sousa dos Reis fala da ascensão e queda de um bairro símbolo da diversão de uma geração; fala de suas casas e boates, das meninas que vinham para São Luis e naquele bairro, encontravam a maneira de viver. Fala de seus ilustres frequentadores e das donas dos cabarés ali existentes. - São João em São Luís, o maior atrativo turístico-cultural do Maranhão: faz um passeio pela maior manifestação popular do nosso folclore, disserta a respeito dos nossos santos no mês de junho, de nossa culinária, nossas brincadeiras, nossos principais arraiais e, principalmente, faz um passeio a respeito do nosso amado bumba-meu-boi e nossas quadrilhas. Todos estes livros foram publicados e tiveram a tiragem esgotada. Além deles existem outros concluídos e ainda não publicados, a exemplo de outro, tais como: - Da Casa das Tulhas à Feira da Praia Grande, - A Verdadeira História de Catarina Mina, - Madre Deus; São Pantaleão, e outros. Membro do Instituto Histórico e geográfico do Maranhão ocupou a cadeira de número 56, patroneada por Jerônimo José Viveiros, sendo indicado pelos confrades: Maria da Conceição Ferreira; Pedro Rates de Santana; Edson Garcia Ferreira; Eloy Coelho Neto e Raimundo Nonato Travassos Furtado. Aprovado em Sessão do dia 25 de fevereiro de 1981. Foi comunicado em 09 de março, através do ofício de número 07/81, e tomou posse como Membro Efetivo em 29 de abril. Através de seus pares, não envidou esforços juntos criar o Instituto Histórico e Geográfico de Codó.


Em correspondência endereçada ao nosso patrono José Ribamar Sousa dos Reis, o escritor e acadêmico membro da Academia Maranhense de Letras, Manoel Lopes, fala o seguinte: “Acredito, meu caro Ribamar Reis, no seu valor crescente como escritor, na medida em que identifico no seu trabalho sensibilidade e amor ao homem, compromisso com a verdade, e denúncia que retrata a clama por justiça social”. José Ribamar Sousa dos Reis deixou também uma vasta obra na poesia e na prosa. Na poesia, destacamos o livro Marcas, Verdade e Esperança, Lance de Rumo, Recital Poético e Flor Mulher, obra principal no seguimento da poesia. Neste livro, “Flor Mulher”, encontramos uma dedicatória que resume todo o amor que o autor sentia, quando dizia: “Às poucas e grandes mulheres da minha vida (as minhas Marias); revelar seus nomes seria trair os segredos do amor; cada uma que sinta no coração as suas próprias e verdadeiras rimas”. Destacamos também o poema FLOR MULHER que da o titulo ao livro. Flor Mulher Estes versos são rimas de Bem-me-Quer. Neste poema afirmo o que não te disse E que tanto queria e deveria dizer. Teu lindo e meigo olhar São fortes luzes a me chamar. Reflito e fico sem destino. Existe um canteiro no meu jardim, Sem rosas, com cravos e espinhos. Necessito de uma flor. Flor rara, flor bela, uma FLOR MULHER Em sua poesia, o poeta nos traz um mundo refinado, como digno representante do nosso modernismo, mas de feição humana, sensível aos problemas do homem. Como jornalista, tem centenas de artigos e crônicas publicadas nos jornais do Maranhão. No Jornal Pequeno, assinava uma coluna no Caderno JP – Turismo, como já falamos, intitulada Trincheira da MARANHENSIDADE. Foi também colaboradordiário no Jornal O Estado do Maranhão, falando de economia por um ano. Reis participou também de inúmeras palestras, debates, seminários e simpósios no Maranhão em outros estados e até em outros países. José Ribamar Sousa dos Reis escrevia também a respeito de economia, mas o amor pelo seu Maranhão, o amor pelas tradições folclóricas era tanto que deixou uma vasta obra neste tema. O folclore era para ele uma necessidade, escreveu em 1984 o livro Folclore Maranhense – Informes, no qual manifestava sua preocupação com as mudanças que ocorreram no Maranhão principalmente na sua amada São Luís. Esse livro, de caráter exclusivamente informativo, descreve o nosso tão rico folclore aos que visitam São Luís, assim também para futuras gerações de maranhenses. Quer o autor que este livro a respeito da cultura popular maranhense seja ponto de partida para debates e pesquisas para outros, pois assim vem suprir uma carência de informações a respeito desse assunto. Encoraja-nos, já naquela época, que nós maranhense façamos uma corrente de união para preservar nosso folclore tão rico e tão esquecido. E como defensor da Maranhensidade, esta simbologia maior de autoestima dos Maranhenses, deixou um legado para a cultura popular do Maranhão, e defendendo implacavelmente a cultura da nossa amada São Luis. Em 08 de Dezembro de 2010, às 16 horas, São Luis, sua literatura, sua arte e seu folclore perdiam um dos seus maiores incentivadores, perdiam um verdadeiro tutor. À tarde do dia 08 de dezembro de 2010, os tambores, os folguedos, os blocos, e todas as manifestações da cultura popular calaram-se para, em silêncio, lavar com suas lágrimas este torrão tão amado, São Luis. Depois de uma luta incessante, como era característico de José Ribamar Sousa dos Reis, esse patrono ilustre nos deixou, para, lá em cima, mesmo ausente de sua amada cidade, interceder pelo seu maior amor, que é São Luis, sua gente e o seu folclore.


José Ribamar Sousa dos Reis confidenciava aos seus filhos que, se algum dia quisessem lembrar dele, que o fizessem ouvindo a música “Meu Velho”, de Altemar Dutra, por achar que seria lembrado logo no início através do verso “É um bom tipo meu velho”. Devo afirmar que jamais esquecerei a noite de hoje, quando lembro, como já antes afirmei, que, lá na minha adolescência, noites de sonhos traziam-me um futuro ainda incerto, este presente que agora concretizo. Tenho a certeza que hoje chego ao lugar que assumo nesta noite graças à vontade de amar e de oferecer a todos os presentes um pouco desse sentimento que guardei. Afirmo que, ao pesquisar a obra e a vida de José Ribamar Sousa dos Reis, surgiu uma grande afinidade entre mim e o meu patrono, ao perceber também esse amor deixado por Reis, por São Luis e sua gente, pela cidade e seu folclore, suas ruas, casarões e sobrados, sentimentos que são iguais aos que sempre senti, e pelos quais sempre lutei nesta vida. Assim, com meus mais sinceros agradecimentos, congratulo-me com todos e abraço meus confrades e confreiras, meus amigos aqui presentes, meus familiares e autoridades, neste abraço da comunhão, que é o aprendizado e o amor maior. A todos o meu fraterno abraço de boa noite. Roberto Franklin


SANATIEL DE JESUS PEREIRA


DILERCY ARAGÃO ADLER Dilercy Aragão Adler compartilhou um link. 22 de abril às 22:03 · YouTube ·

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Café com Elda Borges: entrevista com a professora Dilercy Aragão Adler Em pauta, a programação alusiva ao Dia da Mulher Maranhense, celebrado em 11 de março. 

Dilercy Aragão Adler A entrevista mais longa e descontraída que eu já dei sobre Maria Firmina dos Reis e fico muito grata a Elda Borges pelo convite e pelo tom, como disse anteriormente: leve e descontraído. Estou muito grata e feliz!!!!

25 de maio de 2019.Noite de Sarau de Athenas, posse de mais um membro da ACADEMIA ATHENIENSE DE LETRAS E ARTES Eloy Melônio, encontro de artistas. Participacao de Dilercy Aragão Adler, Rita Bruzaca Caldas e muita interpretação regada ao som do trompete de João Bentivi. Espaço Cultural AMEI.


AMIGO DA BIBLIOTECA em comemoração aos 188 anos desse Templo do Saber, que faz parte das minhas mais queridas memórias de adolescência e juventude, onde reafirmei meu amor à Literatura


II FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DO XINGU

APRESENTAÇÃO No período de 12 a 15 de junho de 2019, a cidade de Altamira no Pará sediou a II Festa Literária Internacional do Xingu - FLIX: Outras margens. A primeira FLIX foi um marco histórico na cidade de Altamira, dando visibilidade à produção artística literária do território da Transamazônica e Xingu. Tendo como realizadores a Universidade Federal do Pará Campus Altamira; a PróReitoria de Extensão; o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura- SECULT; a


Prefeitura Municipal de Altamira; a Associação de Prefeitos do Consórcio Belo MonteACBM e Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu-PDRSX (projeto 154/2013), a segunda edição da FLIX se redimensionou para uma ampla Festa Literária, Artística e Cultural contando com a efetiva participação dos povos indígenas do território Transxingu, da comunidade acadêmica, da sociedade civil, das instituições de ensino públicas e privadas, dos órgãos governamentais e não governamentais, com destaque para nomes memoráveis da literatura regional, nacional e internacional, tendo como foco o público leitor infanto-juvenil. Trazendo como homenagear o escritor paraense Walcyr Monteiro, a programação que envolveu diversas atividades acadêmico-culturais em diálogo com as narrativas amazônicas, expressões étnico-raciais socioculturais brasileiras estrangeiras, se desdobraram em três locais da cidade: Centro de Eventos, Casa de Memória e campus universitário da UFPA. UM COMENTÁRIO MEU:

Festa Literária Internacional do Xingu MARAVILHOSA! Festa SUPER DEMOCRÁTICA, com temáticas super pertinentes, valorizando o público infanto-juvenil, as nações indígenas e questões da Transamazônica Paraense, entre tantas outras do Brasil como um todo. Muito grata pelo convite a mim dirigido pela organização da Festa e ficou a promessa de, na próxima edição da festa literária Internacional do Xingu, a terceira, Maria Firmina integrar a programação, com uma Mesa dedicada a ela. E eu, muito feliz!!!!! Parabéns à Profa. Ivonete Coutinho, e à toda Comissão Organizadora que, a despeito de todas as adversidades, mantiveram a produção desta segunda edição da FLIX!!!



O ENSINO DA LITERATURA NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DO LEITOR: outras margens A leitura implica uma habilidade que deve ser desenvolvida para a consolidação da competência de leitores críticos, pautada em valores éticos e humanizados, considerando que o ato de ler é um ato político. Dilercy Adler 1 INTRODUÇÃO Inicialmente quero agradecer o amável convite para participar desta II FLIX que se configura como uma ampla festa literária, artística e cultural, também parabenizar os promotores desta grande festa e aplaudir o escritor paraense homenageado, Professor Walcyr Monteiro, in memoriam. Peço permissão para me apropriar do subtítulo do tema desta Festa Literária Internacional, por entender que margem, por ser um termo utilizado em diferentes contextos, me permite adotá-lo como aquele definido pela Geografia que o designa como o local onde a água se encontra com a terra, tornando-se assim um limite lateral das águas de um rio. Mas, ao mesmo tempo, quando o colocamos no plural: margens, significa mais rios, outros rios, mais espaços e isso traduz, simbolicamente, a riqueza de possibilidades de infinitos encontros da água com a terra, que neste contexto concebo como o encontro do leitor com o texto. Esta mesa, O Ensino da Literatura na Formação do Leitor, trata de um tema muito importante, essencial para a construção da soberania de uma nação, e o subtítulo, do qual me apropriei, me induziu ir além do objeto descrito no tema. Assim, escolhi falar sobre a Formação de Leitores, no contexto do ensino da Literatura, mas para além do espaço da escola. Esse tema implica uma questão anterior e paralela, qual seja: antes de trabalharmos a formação de leitores, temos que ter cidadãos alfabetizados e continuar a consolidação da alfabetização por meio das ações de Formação de Leitores, também porque, para gostar de ler, é preciso ler bem. Para isso, temos que ter a clareza das condições de alfabetização e concomitantemente avaliar como andam os leitores do nosso país. Essa análise nos remete à organização da sociedade, no nosso caso, a capitalista, que se configura como estratificada, a partir da divisão social do trabalho, que gera em alguns casos, como na sociedade brasileira, extremas desigualdades. Toda e qualquer sociedade se apresenta com duas instâncias principais: a estrutura/infraestrutura- a instância econômica, o modo de produção e a superestrutura - conjunto de Leis, Ideias e Valores. A partir da estrutura/infraestrutura se firma a organização das políticas econômicas e, a partir delas, as políticas sociais, dentre as quais as políticas educacionais que passam pela/o: - infraestrutura física das escolas e dos recursos materiais disponibilizados; - organização didático - pedagógica; - corpo docente: . valorização financeira e . capacitação. Essas, por sua vez, vão delinear as condições e os formatos dos Projetos de Alfabetização e dos Projetos de Formação de Leitores que estão na base das suas operacionalizações. Alguns desses projetos: No tocante à Alfabetização: - Projetos escolares. - Projetos institucionais e outros, dentre os quais: . Fóruns, Redes sociais (ou similares nos bairros) e Redes e Plataformas on-line sobre projetos de Alfabetização. No tocante à Formação de Leitores: - Projetos escolares. - Projetos institucionais e outros, dentre os quais:


. Fóruns e Redes sociais (ou similares nos bairros) e Redes e Plataformas on-line de projetos de Formação de Leitores e - Projetos, com frequência regular, nos canais de TVs abertas/comerciais. Convém enfocar neste estudo a referência, mesmo que sucinta, ao Índice de Desenvolvimento Humano IDH, que pode ser entendido como uma medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores para os diversos países do mundo. O ranking 2018 do Índice de Desenvolvimento Humano, compilado pela Organização das Nações Unidas (ONU), apresenta o Brasil estagnado na 79ª posição - Brasil - 0.759. O IDH no seu demonstrativo considera quatro categorias de desenvolvimento humano: Muito alto, Alto, Médio, Baixo e Muito baixo. Embora o Brasil se enquadre na categoria de países considerados de alto desenvolvimento humano o primeiro desse grupo é: Posição / País 60ª Irã - 0.798 e 60) Palau - 0.798 62 ª Seychelles - 0.797 63 ª Costa Rica - 0.794 64 ª Turquia - 0.791 65 ª Ilhas Maurício - 0.790 66 ª Panamá - 0.789 67 ª Sérvia - 0.787 68 ª Albânia - 0.795 69 ª Trindade e Tobago - 0.784 70 ª Antígua e Barbuda - 0.780 e 70) Geórgia - 0.780 72 ª São Cristóvão e Neves - 0.778 73 ª Cuba - 0.777 74 ª México - 0.774 75 ª Granada - 0.772 76 ª Sri Lanka - 0.770 77 ª Bósnia e Herzegovina - 0.768 78 ª Venezuela - 0.761 79 ª Brasil - 0.759 Fonte: (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/09/14/idh-2018-brasil-ocupa-a-79posicao-veja-a-lista-completa.htm). É importante considerar nesta análise a dimensão territorial do Brasil, um país considerado continental, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de extensão, sendo o quinto maior país do mundo. A grande extensão territorial do Brasil termina por dotá-lo de pródiga diversidade de paisagens, climas, topografia, fauna e flora e grande riqueza em recursos naturais. No entanto, fica numa posição aquém daquela de países menores territorialmente e insulares. No tocante ao Maranhão, conforme dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, da Organização das Nações Unidas -ONU- , para o ano de 2010, de acordo com a lista, dos 217 municípios desse estado, nenhum deles apresenta IDH muito alto (igual ou superior a 0,800); 4 apresentam IDH alto (entre 0,700 e 0,799), 55 médio (entre 0,600 e 0,699), 154 baixo (entre 0,500 e 0,599) e 4 apresentam IDH muito baixo (inferior a 0,500). O IDH do estado do Maranhão é de 0,678 (considerado médio) e é o segundo mais baixo do Brasil. Isso posto, fica claro o quanto há por fazer pela educação do Brasil, embora reconheça que muito tem sido feito, contudo não o suficiente para termos um país alfabetizado e leitor, como será demonstrado a seguir. 2 ALFABETIZAÇÃO E FORMAÇÃO DE LEITORES


Inicialmente trago algumas premissas já apontadas em quantitativo razoável de estudos: algumas pesquisas apontam que cerca de 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. E entre as principais razões apresentadas para a ausência da prática da leitura de livros estão o cansaço, a falta de tempo e a própria falta de prazer na leitura, sendo esta, no pouco tempo livre do trabalhador preterida por outras formas de lazer, inclusive pela conhecida dupla sofá e televisão. Nesse contexto não devemos desconsiderar as condições objetivas da sociedade que se originam na base econômica e se estendem e modelam as demais instâncias do tecido social. Por sua vez, as condições econômico-sociais desfavoráveis, caracterizadas por alta concentração de renda, levam um contingente considerável de trabalhadores à luta pela sobrevivência, com intensa jornada de trabalho, incluindo o longo e cansativo deslocamento até o local de trabalho. Pais sem trabalho, ou com trabalho com baixo salário, deixam os seus filhos/alunos em condição de vulnerabilidade social. Assentada nessas condições é que se estabelecem as situações colocadas inicialmente, as quais suscitam os seguintes questionamentos: - Como gostar de ler, sem as condições materiais e sem as condições facilitadoras para o desenvolvimento do hábito e do prazer na e pela leitura, realizando, assim, a máxima de um artigo de minha autoria intitulado: Ler e produzir obras literárias: prazeres vitais para o mundo humano? (ADLER, 2015). - Quanto tempo livre fica para os adultos, os jovens e as crianças lerem? - Como está o investimento na formação dos professores e ainda a formação na perspectiva de formar alunos leitores? - Como competir com a indústria dos recursos midiáticos, que concorrem de forma intensa e diversificada com outras finalidades, e usá-los como instrumentos facilitadores para a aprendizagem e para a formação de leitores? Os quadros a seguir demonstram a condição de Alfabetizados/não Alfabetizados e o atendimento pelas diversas Redes de Ensino na cidade de São Luís - MA. QUADRO 1: POPULAÇÃO EM IDADE ESCOLAR POR CONDIÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO: ALFABETIZADOS/NÃO ALFABETIZADOS INDICADOR Taxa de analfabetismo (%) Taxa de analfabetismo (%) Taxa de analfabetismo (%) Taxa de analfabetismo (%) Taxa de analfabetismo (%) População (mil pessoas) População (mil pessoas) População (mil pessoas) População (mil pessoas) População (mil pessoas) População (mil pessoas)

FAIXA ETÁRIA 15 anos ou mais 18 anos ou mais 25 anos ou mais 40 anos ou mais 60 anos ou mais 15 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos ou mais

2017 3,9 4,2 5,1 8,1 18,0 61 141 97 178 265 124

Fonte: IBGE/PNAD 2017. Nas diversas faixas etárias consideradas, no ano de 2017, 39,3% da população não era alfabetizada, do total de 866. 000 pessoas, o que configura uma situação preocupante. QUADRO 2: QUANTITATIVO DE ALUNOS ATENDIDOS PELAS DIVERSAS REDES DE ENSINO NA CIDADE DE SÃO LUÍS - MA ETAPA/ MODALIDADE DE ENSINO EDUCAÇÃO INFANTIL – CRECHE EDUCAÇÃO INFANTIL –

REDE DE ENSINO

MATRÍCULAS

TOTAL

PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA CONVENIADA NÃO CONVENIADA PÚBLICA MUNICIPAL

3.841 7.391 6.186 9.397

17.418

28.126


PRÉ-ESCOLA

PRIVADA

ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS

PÚBLICA

PRIVADA ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS

PÚBLICA

PRIVADA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – ANOS INICIAIS

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – ANOS FINAIS

PÚBLICA

PRIVADA PÚBLICA

PRIVADA

CONVENIADA NÃO CONVENIADA MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL CONVENIADA NÃO CONVENIADA MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL CONVENIADA NÃO CONVENIADA MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL

9.316 9.413 39.672 8.150 138 8.929 25.648 25.823 27.665 293 1.520 15.136 1.352 553 0 100 3.670 1.422 0 591

82.537

70.437

2.005

5.683

Fonte: MEC/Inep/Censo Escolar 2018. Chama a atenção o quantitativo de matrículas na etapa Educação Infantil - Creche de 17.418, do qual apenas 3.841 matrículas estão na Rede de Ensino Pública Municipal, enquanto 7.391 e 6.186 na Rede de Ensino Privada Conveniada e Não conveniada, respectivamente. Apenas na Etapa Ensino Fundamental - Anos Iniciais a Rede de Ensino Pública Municipal apresenta um quantitativo de matrículas superior ao das demais Redes escolares. Convém trazer para este estudo panorâmico o Programa Escola Digna da Secretaria de Estado do Maranhão, instituído por meio do Decreto nº 30.620, de 02 de janeiro de 2015, que tem dentre os seus objetivos a construção de unidades escolares adequadas necessárias à substituição das escolas de taipa, palha, galpões e/ou outros espaços devidamente certificados como inadequados, hoje em funcionamento na Educação Pública do Estado do Maranhão. Com esta ação o Governo do Estado objetiva apoiar a execução de projetos voltados ao fortalecimento da infraestrutura da rede pública de ensino nos municípios do estado do Maranhão, por meio da substituição de Escolas precárias nas Unidades Municipais de Ensino no Eixo de Colaboração da Secretaria de Estado de Educação do Maranhão – SEDUC/MA e Secretarias Municipais de Educação – SEMEDs. Embora a escola seja o espaço, por excelência, para a alfabetização e a formação de leitores/autores, não podemos esquecer que, além do seu importante trabalho existem outros espaços coadjuvantes que concorrem para esses objetivos comuns e que, por sua natureza, objetivos e abrangências distintos devem ser considerados e utilizados de forma mais consistente e habitual. Mas, antes, quero me reportar a algumas questões específicas da escola, segundo Denise Guilherme, formadora do programa Ler e Escrever da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo e idealizadora e Diretora da Plataforma Taba: Nos últimos anos parece haver consenso entre os professores do Ensino Fundamental sobre a necessidade de trabalhar com textos literários nas aulas de Língua Portuguesa. Talvez por isso, muitos educadores tenham dedicado parte significativa do tempo didático às atividades de leitura em voz alta, empréstimo de livros na biblioteca, contações de histórias, rodas de leitura entre outras estratégias para garantir que todos os alunos tenham contato com a literatura e, consequentemente, possam desenvolver o hábito de ler. É interessante a constatação da necessidade de trabalharmos com textos literários nas aulas de Língua Portuguesa, e neste breve estudo levantei uma pequena amostra no Maranhão dos projetos existentes para além da escola. Encontrei, de fato, muitos projetos escolares interessantes, bem idealizados, incluindo a família e ainda projetos desenvolvidos por bibliotecas, associações, academias de letras e artes, instituições


beneficentes e muitas outras instituições que lidam com o saber, com a construção do conhecimento e têm, inclusive, o propósito de operacionalizar projetos nesse sentido. Também cataloguei plataformas on-line que agregam pessoas em suas cidades. Dos projetos arrolados não foi levado em conta o tempo de existência. Alguns, inclusive, foram substituídos por outros, ou mesmo encontram-se desativados. Nas Escolas Públicas Estaduais: Escola Poética, no Centro de Ensino José Furtado Bezerra – CEJOB, em Miranda do Norte; Poeta na Escola e Leitura na Praça, em Santa Luzia; Semana Literária Maria Firmina dos Reis, em Guimarães; Clube de Leitura, Biblioteca vai à rua, Clubinho de Leitura, Belágua; e Poesia na Escola na Escola Wolney Milhomem – CAIC em parceria com a Academia Barra-Cordense de Letras. Nas Escolas Públicas Municipais: Projeto Curso de capacitação para professores Contadores de História, o Projeto Biblioteca Móvel e o Projeto Carro Biblioteca desenvolvidos nas escolas da Rede. Nas Escolas Comunitárias: Escola Paroquial Frei Alberto: Projeto Literatura Infantil: Ler para conhecer; Projeto de Leitura: Ler para desenvolver o prazer da leitura e da escrita; Projeto de Leitura, pesquisa e incentivo à formação de leitores; Formação de Leitores: o livro é importante para o meu crescimento, para sempre ser sábio, crítico e inteligente e Ler para conhecer o mundo: janelas abertas para o aprender. Nas Bibliotecas Públicas Estaduais: Biblioteca Pública Benedito Leite: Criança Lendo, Maranhão Vivendo, Lendo as Férias na Biblioteca, Lendo a Literatura Infantil, Lendo o São João, Lendo o Natal, Na Roda Com..., Cinema na Biblioteca, Lançamento Coletivo de Obras Maranhenses, Caravana na Leitura, entre outros; Programa Livro Aberto implantado em 2006, que tinha como filosofia transformar o Brasil em um país leitor; Faróis da Educação: uma alternativa para as Bibliotecas escolares. Foram implantados no estado do Maranhão no ano de 1997, inspirados no modelo do Projeto das minibibliotecas de bairro, construídas em forma de farol denominados de Farol do Saber, que foi implantado pela Prefeitura Municipal de Curitiba - PR, através da Secretaria Municipal de Educação, em 1994. Academias de Letras: da Academia Barra-Cordense de Letras em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão: Projeto Literatura Cinzenta – voltado para os escritores in memoriam da terra, que estão caindo no esquecimento, os desconhecidos. Instituições da Sociedade Civil: O Instituto de Desenvolvimento do Estado do Maranhão - IDEMA foi criado em 2010. É uma instituição sem fins lucrativos, e entre os parceiros encontram-se o Governo do Estado e a Universidade Federal do Maranhão. No tocante à formação de leitores, o IDEMA criou a Giroteca, uma biblioteca móvel que dispensa veículo automotor ou quaisquer outros suportes para o seu deslocamento. Permite a circulação em qualquer ambiente, como: salas de aula, corredores, pátios de escolas, de associações comunitárias, clubes de jovens, entre outros. Disponibiliza um kit de energia solar, para locais que não dispõem de energia elétrica. Centro Beneficente Nossa Senhora da Glória – CEBENSG: Lendo histórias do mundo de fantasias... Escrevendo a sua história de cidadania. Esse projeto, com múltiplas atividades, todas voltadas para a otimização da leitura, tem como público-alvo alunos da Unidade de Educação Básica (UEB) Luís Viana, do Bairro da Alemanha, que são atendidas no contraturno. O Centro e a escola estão situados no mesmo bairro. Espaço Cultural AMEI- A AMEI é uma associação em cujo espaço se encontram livros de vários escritores do estado do Maranhão. Promove diversas programações culturais, como: Saraus, Palestras, Contação de Histórias, Rodas de conversa, Música ao vivo, entre outras. Criou o Clube de Leitura AMEI LER que tem como proposta incentivar a leitura dos autores do Maranhão e promover um debate saudável sobre obras da literatura maranhense do passado e do presente. Jornais e Informativos Culturais: O Jornal Imparcial desenvolve o Projeto Leitor do Futuro, que tem como objetivo fomentar a leitura entre os alunos do ensino fundamental das escolas de São Luís. Centro de Ensino Prof. Ignácio Rangel, no bairro Maiobinha, região metropolitana de São Luís, em parceria com o Leitor do Futuro, do Jornal O Imparcial, lança o Projeto Tecendo o Saber. Informativo Praia Grande da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão (impresso). Publicação de setembro de 1988 a janeiro de 2005. Publicação bimestral configurando-se como espaço destinado à Literatura, às artes plásticas, à filosofia, à sociologia, à educação, ao cinema, à crítica, à análise


crítica, à análise... com o fito de agregar e abordar temas latinos com a máxima sensibilidade e honestidade, especialmente perante as diversidades culturais. Ilha Virtual Pontocom, Informativo on-line sobre as Letras e a Cultura do Maranhão. Começou como parte de um projeto de pesquisa, mas depois que o grupo se desfez, continuou sem vínculo institucional. O primeiro número é de abril de 2011 e conta com 31 números e mais um especial de junho de 2011. Clube do Livro Maranhão - O Clube do Livro Maranhão é um coletivo cultural certificado pelo Ministério da Cultura. Atua na ilha, cidade de São Luís, desde 2010 e encontra-se sempre aberto a mais e mais clubistas. Promove eventos e encontros literários mensalmente, propõe leituras e debates, incentiva o conhecimento sobre o universo dos livros e divulga informações que abrangem o mundo da leitura. Clube de Leitura Penguin é um coletivo cultural de encontros regulares, todos realizados na capital, em um espaço especial no interior da Livraria Leitura do São Luís Shopping. O Projeto Pequenos Leitores - Pequenos Leitores foi criado com o objetivo de contribuir para a melhoria da prática de leitura literária nas escolas públicas de educação infantil e com a qualificação profissional dos professores deste segmento. É pertinente louvar tudo o que vem sendo feito, apesar das adversidades. No entanto, fica claro que todas essas iniciativas ainda não atendem à totalidade da necessidade para atingirmos o título de um país leitor. De modo geral, todos os projetos em execução procuram desenvolver atividades e esperam que as de mediação da leitura literária na formação de leitores, assim como as atividades culturais permitam às crianças, aos jovens e às comunidades a possibilidade de encontros pessoais ou coletivos com o patrimônio cultural existente nos livros e ainda fortaleçam valores sociais éticos e humanizados para um exercício de cidadania, o mais pleno possível. 3 OUTRAS MARGENS PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES A implantação de projetos sociais que valorizem a importância da leitura é necessária e urgente para democratizar a igualdade social que passa pela inserção das camadas populares na construção do seu meio social, que incentivem crianças, jovens e adultos ainda excluídos a se tornarem cidadãos protagonistas. Sem dúvida, essa é uma ferramenta fundamental na transformação de vida de muitos brasileiros, pois, além de promover a formação dos indivíduos, possibilita também o resgate da autoestima, a possibilidade de integração social atrelada à construção de um olhar crítico e do exercício de plena cidadania. Por isso, todos os espaços possíveis que contribuam para formação de leitores devem ser usados de forma consistente e planejada. Diante desses cenários, considero necessária a inclusão de projetos educacionais/culturais mais regulares e cotidianos nas emissoras de TV e Rádios, a exemplo, dos programas esportivos, principalmente os relativos ao futebol, que são regiamente exibidos. É pertinente o engajamento planejado de programas, com vocação mais cultural, para além dos canais televisivos de emissoras educativas como a TV Escola, TVE, TV Cultura, TV SESC, Futura e até as redes de televisão dedicadas ao mundo da política como a TV Senado e TV Câmara, o que, sem sombra de dúvida, contribuirá para suscitar maior acesso. As TVs abertas/comerciais apresentam número inexpressivo de produções do gênero, o que é evidente em todas as emissoras, mesmo nos canais por assinatura. Os poucos que vão ao ar pelas TVs abertas/comerciais são apresentados em horário pouco propício à audiência do grande público. Segundo a Constituição (BRASIL, 1988): Art. 221- A produção e a programação de emissoras de rádio e TV devem atender aos seguintes princípios: I – Preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II – Promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III – Regionalização da produção cultural artística e jornalista, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV – Respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família (grifos meus).


Um exemplo recente e interessante é sobre a grande e intensa divulgação da Copa Feminina de Futebol de 2019, precedida de intensas notícias, dentre as quais: A Copa dá visibilidade para o futebol feminino. Como parte da divulgação veio a público a informação da proibição no Brasil da participação feminina no futebol, ou seja, proibição do Futebol feminino, instituída pelo governo de Getúlio Vargas, com vigência de 1941 a 1979. Por meio do Decreto-Lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941, o então Presidente Getúlio Vargas proibiu a prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina, entre eles o futebol. A sua revogação deu-se em 1979. Mas, pergunto: O público em geral sabe da proibição, pelo Estatuto da Academia Brasileira de Letras-ABL, da entrada de mulheres nesta Academia? ADLER (texto mimeogr., 2018), em Mulheres na Literatura Maranhense: o eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano, apresentado na I Festa Literária de Itapecuru Mirim/Maranhão, realizada no período de 19 a 21 de outubro 2018, explicita: A Academia Brasileira de Letras-ABL foi fundada no estado do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, por iniciativa de Machado de Assis, seu primeiro presidente, com o objetivo de preservar a língua e a literatura nacionais. No seu Estatuto constam as assinaturas de: Machado de Assis, Presidente; Joaquim Nabuco, Secretário-Geral; Rodrigo Octavio, PrimeiroSecretário; Silva Ramos, Segundo-Secretário e Inglês de Sousa, Tesoureiro. [...] E, no seu artigo 2º, preconiza: Art. 2º - Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. As mesmas condições, menos a de nacionalidade, exigem-se para os membros correspondentes. Ainda no início dos anos 50, o Regimento Interno da ABL ratifica a impossibilidade de elegibilidade feminina e altera o artigo: os membros efetivos serão eleitos, dentre os brasileiros, do sexo masculino, deixando mais claro ainda a prerrogativa excludente do gênero feminino. [...] A primeira candidatura feminina, Amélia Beviláqua, em 1930, foi rejeitada, sob a justificativa de que o vocábulo “brasileiros” restringia suas vagas apenas ao sexo masculino; ficou claro que a Academia relacionava valor literário a gênero. A segunda mulher a tentar participar do círculo de literatos imortais foi Dinah Silveira Queiroz, cuja candidatura também foi rejeitada. Apenas em 1977 a instituição discutiu novamente a questão da mulher na Academia, para dar parecer favorável a Rachel de Queiroz (Cadeira 5).Assim, durante as primeiras oito décadas de existência da Academia Brasileira de Letras, nenhuma mulher fez parte da instituição [...] outro fato digno de nota é que nenhuma mulher patroneia nenhuma Cadeira na ABL (grifos meus). Convém salientar, nesta linha de raciocínio, a contundente diferença entre os recursos financeiros que perpassam pelas atividades esportivas, em especial pelo futebol, em contraposição àqueles destinados à educação e à cultura. Do exposto, podemos depreender a importância das várias margens no projeto maior de um Brasil Leitor. 4 CONSIDERÇÕES FINAIS O objetivo maior deste trabalho é ratificar que o ensino da literatura na escola e a formação do leitor se configuram um importante viés da construção de um país leitor, mas não o único, e muito menos o único responsável para otimização desse indicador. Paralelamente à formação do leitor, temos como pré-condição a alfabetização. Um indivíduo plenamente alfabetizado é também um leitor competente que compreende e interpreta textos em diferentes situações, estabelece relações entre suas partes, compara e analisa informações, distingue o


fato da opinião, é capaz de fazer inferências e sínteses. Só é possível adquirir todas essas competências, tendo acesso à palavra escrita e a experiências educativas. Segundo Ivan Maia, o quantitativo de analfabetos no Brasil equivale, aproximadamente, à população do Uruguai, da Nova Zelândia e da Irlanda juntos. No total são 50.000.000 de brasileiros analfabetos ou semiletrados. Se essas pessoas estivessem em um único país, este estaria no 28º lugar no ranking mundial de população. Aí está o desafio: colocar no mesmo grau de importância e preocupação todas as margens delineadas pela escola e pelas demais instâncias do tecido social para, por meio de um país leitor, um leitor com todas as competências necessárias, materializar a máxima do Conceito de Causalidade Circular de Gramsci, que significa uma via de mão dupla entre a estrutura e a superestrutura da sociedade, na qual o modo de produção (estrutura da sociedade) e a instância ideológica, conjunto de Leis, Ideias e Valores (superestrutura da sociedade) encontram-se interdependentes e, por isso, de igual importância (ADLER,1988). Ainda convém lembrar que a escola e as demais instituições sociais se localizam na superestrutura e é nessa instância que incide o trabalho do professor e dos demais canais disseminadores de cultura. Finalizo esta fala com a minha afirmação inicial: A leitura implica uma habilidade que deve ser desenvolvida para a consolidação da competência de leitores críticos, pautada em valores éticos e humanizados, considerando que o ato de ler é um ato político. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Alfabetização e Pobreza: a escola comunitária e suas implicações. São Luís: Estação Produções Ltda, 2002. ADLER, Dilercy Aragão. Mulheres na Literatura Maranhense: o eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano, São Luís: Mimeogr., 2018. ADLER, Dilercy Aragão. Ler e produzir obras literárias: prazeres vitais para o mundo humano. São Luís: Mimeogr., 2015. ADLER, Dilercy Aragão (Org.). Enfoques teóricos em Sociologia: estudos de sala de aula. Caderno de Educação. Vol. I Nº1, São Luís: CEUMA, 1988. BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação: interação emissão/receptor. Revista dos gestores de processos educacionais – Comunicação e Educação, ano VIII, nº 32, jan –abr./2002. São Paulo. BRASIL. CONSTITUIÇÃO. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2018. KELLNER, D. Lendo imagens criticamente: em direção a uma pedagogia pós-moderna. In: SILVA, T.T. (org) Alienígenas em sala de aula. Uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, Ed. Vozes,1995, p. 104-131. MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação pessoal. 2a ed. São Paulo: Paulinas, 2000. MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 7ª ed., Campinas: Papirus, 2003. SITES CONSULTADOS https://novaescola.org.br/conteudo/573/desafios-da-formacao-de-leitores-na-escola http://plataforma.prolivro.org.br/ https://ataba.com.br/quem-somos/ https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/09/14/idh-2018-brasil-ocupa-a-79-posicao-veja-a-listacompleta.htm http://www.educacao.ma.gov.br/files/2017/02/COMUNICADO-ESCOLA-DIGNA.pdf http://www.idema.org.br/projeto-giroteca https://www.clubedolivroma.com/p/blog-page_9.html https://www.facebook.com/ClubeDeLeituraPenguinCompanhia/ https://www.instagram.com/clubeameiler/ https://oimparcial.com.br/noticias/2016/12/leitor-do-futuro-premia-melhores-em-redacao/ https://oimparcial.com.br/noticias/2017/06/projeto-tecendo-o-saber-e-lancado-em-parceria-com-o-leitor-do-futuro/ https://cultura.estadao.com.br/blogs/babel/44-da-populacao-brasileira-nao-le-e-30-nunca-comprou-um-livro-aponta-pesquisaretratos-da-leitura/ https://medium.com/@dulcelino/por-que-o-brasileiro-n%C3%A3o-l%C3%AA-e-um-pouco-mais-al%C3%A9m-disso-c1f1d229acf8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Futebol_feminino https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/06/proibido-no-brasil-futebol-feminino-ja-foi-ate-atracao-de-circo.shtml


BRUNO TOMÉ


O ESTADO MA 11/05/2019

Bruno TomÊ Fonseca 20 h ¡ A convite do amigo Jhonatan Almada, Reitor do Instituto de Ensino, Ciencia e Tecnologia do Maranhao - IEMA, estive com os alunos batendo um papo com o Rei Zulu sobre a sua biografia, lancada ano passado.



CLORES HOLANDA Recebendo a medalha da Sociedade de Cultura Latina do Brasil pela sua Presidente, a “imortal” Dilercy Aragão Adler. Muito honrada e grata pelo reconhecimento.


ANTONIO AÍLTON Lançamento do CERZIR [livro dos 50] – espaço da Sala SESC de Exposição, SESC/FECOMÉRCIO DIA: 07/06/2019 HORA: 19 às 21h


EM “CERZIR” UMA VERTIGINOSA APREENSÃO DA LINGUAGEM KRISHNAMURTI GÓES DOS ANJOS Livro: “Cerzir – Livro dos 50”, poesias de Antonio Aílton, - Editora Penalux, Gruaratinguetá – SP, 2019, 156 ISBN: 978-85-5833-482-2 O escritor e filósofo do Direito Rossini Correa escreve em Prefácio à obra “Cerzir- Livro dos 50” do poeta Antonio Aílton: “A textura da vida do mundo é o corpo&alma da arte poética de Antonio Aílton, com o descerrado compasso para o mistério da infinita e complexa inquietude das coisas, só na superfície, simples. Sob o sol do amanhecer, como se saído da caverna de Platão, o poeta maranhense recupera a humanidade profunda do cego olhar, para empreender a aventura da descoberta do Uno e do Verso, disposto a não contemplar da janela a paisagem – ou a Esfinge – que o circunda, perscruta e desafia: decifra-me ou te devoro Eis a existência experimentada enquanto travessia, de quem, sob o cerco da Sombra, aspira à música da Luz: respirar o silêncio, o solfejo, o solo, a sonata, enfim, o concerto da sinfonia cósmica do Ser. A obra de todo poeta culto – a exemplo de Antonio Aílton – é uma dialogia de signos. De fato, e sente-se ainda na poética do autor, aquilo que dele escreveu José Neres: um “intelectual inquieto que está sempre em busca de novos aprendizados”, um poeta capaz de transformar gestos insólitos em poemas de alta densidade. Aílton tem percorrido caminhada literária de fôlego, com dois prêmios Cidade de São Luís e um Prêmio Cidade do Recife. Além de Doutor em Teoria da Literatura, participou de diversas antologias e assina 6 livros que transitam da poesia ao ensaio. Vejamos dois poemas: Poema “A passageira”. “Bela jovem inclina a cabeça / para ser beijada, / como se / como há 58 anos / olho para suas mãos e detecto / o resquício de colágeno / é como que um resquício de profundo desejo / ainda em vida / segurando a pele tratada / sob as janelas do mundo , que ficam // Dentro de sua cabeça deve haver um campo / de beija-flores / ausente nos passageiros em redor / um campo não suficiente para nos proteger // eu desço, para o inexorável / ela vai morrer com / ou sem mim”. Poema “Peixe seco” “meu pai me ensinou a arte de escapar do anzol / mas a humanidade é mais forte que os peixes / a humanidade é mais forte que os ursos / a humanidade é mais forte que as moscas / em toda parte, há sempre um homem para / te ferrar / e te estender como uma platibanda / ou anódina flor para o sol / [um homem qualquer, mais forte que meu pai / mais forte que a humanidade * borboletas estão / a meio caminho do doce / quando pousam por engano / em mim * para olhos impuros, só há corpo e excremento”. O jornalista Daniel Zanella aponta temáticas da obra “uma certa pedagogia das belezas possíveis. São os meninos jogando bola, as ondas do mar, os garis debaixo das árvores, o banho matutino no filho, as melhores canções de amor, a ‘lição do vento que o arrasta ao fim do verão’. Ao cabo dessa instigante obra de Aílton, lemos um longo poema em prosa que faz referências ao poeta francês Francis Ponge (1899-1988) localizando-o em uma região muito conhecida de São Luis no Maranhão, a Praia Grande. Em “Imagine se Ponge vem beber na Praia Grande”, e a título de alargamento da percepção do leitor, acrescentamos que Ponge lutou para tornar a linguagem sua principal preocupação literária. Trabalhou para refutar a efusão lírica e a subjetividade descrevendo os objetos cotidianos em uma linguagem aparentemente objetiva e científica. Para ele a realidade da língua dignifica e humaniza todo ser humano. E em prosas poéticas com pitadas de humor, empregou neologismos criados a partir da etimologia das palavras. Verdadeiramente uma apreensão do mundo através de vertiginosa profundidade de linguagem


que combina atividades criativas e críticas. E observe-se a extrema habilidade do autor maranhense ao situar Ponge em uma região como a da Feira da Praia Grande, onde historicamente nasceram desde os tempos do Império do Brasil, (em suas ruas, becos travessas e escadarias) imponentes sobrados e belas casas com fachadas em azulejos, que hoje estão misturados ao descalabro do mundo pós-moderno tanto na arquitetura quanto na população que por ali transita. Veja-se um pequeno trecho e se entenderá bem do que falamos: “Nunca andamos de camelo e certamente também você não conhece os desertos de Nabak ou Chatira. Mas quem já galgou o áspero animal, arremedo de jangada e escada de Jacó ao mesmo tempo, não estranharia a mesma sensação no subir e no descer do pescoço destas ruas.” E o poeta segue enredando inapelavelmente o leitor que se interessa pela batida de uma prosa cheia de significados e intenções subjacentes: Veja-se esse trecho adorável: “Mas não se engane. Se em algum momento esse espaço manteve-se como um inconsciente austero, sagrado, ideal à metafísica e à ponte entre o minério e os homens, também esta sensação logo se perturbará imperceptivelmente. Beba de um gole seu crepúsculo, encha o pote. Num abrir e fechar de olhos, acorrerá para essas parcas ruas, uma precipitação massiva e recrudescente dos mais diversos e imprevistos seres, movidos pelo sentimento lúbrico da contemplação e do extravasamento. São corpos! Olhados de longe, essa leva de passantes, sócios boas-praças, cadeiras-cativas, sabichões, intelectuais, pés-no-saco, doidivanas, malucos, pés-inchados, porras-loucas, cínicos, turistas, prostitutinhas, frangotas, boçais, macacas-velhas neo-hippies, narigudos, farsantes, apastelados e mambembes mais parecem uma trempe de caricaturas, humanóides e estrovengas tirados da insanidade bélica de George Lucas. Sabe-se porém que, no fundo, obedecem a impulso – como o seu – muito anterior à sua própria corporificação afetada e excedente: atiçados pelo instinto e pelo vigor, pelas instâncias da fecundidade, do gozo e da fatalidade erótica, eles querem dar continuidade a esta pulsão febril e grandiosa chamada vida. Não se espante de que toda esta celeuma se constitua em terreno propício para as fabulosas garras do capital. Aí ele estende seus tentáculos para cima e para baixo, bifurca-se, aproveita-se tanto da sensibilidade quanto da desgraça, e é isso que dá a certeza de que tudo que lhe pareceu “alheio” é igual em qualquer parte do mundo: agências de turismo, butiques, lojinhas de artesanato, souvenires e burundangas que se multiplicam como praga, e cujos objetos lá estão mais como Conceito, afastando-se por pausterização, dia após dia, da própria realidade que é preciso cada vez mais macaquear, e que é preciso fazer existir ao menos como Venda. E há então, o fosso, a mais profunda revelação dessa tira em preto e branco, os pedintes, dezenas deles, pequenos, médios, grandes: centenas, dezenas de milhares! Chegam de supetão: seriam anjos? Demoninhos? Mortos-vivos esmolambados? Escravos do passado reencarnados na pele de vendedores do ovos de codorna, amendoim e lambugens? São perebas.” E é exatamente em um meio assim, que nós nos “empedramos” e acabamos perdendo [de] há muito, a ideia [inicial] do camelo”. Esse texto ou prosa poética, como queiram, é antológico, vale a pena, e muito, conferir seu desfecho Finalmente, é muito, muito interessante repetir para os que já sabem, e para os que nem desconfiam de sua existência em nosso meio tão pouco informado de suas preciosidades, daquelas que brilham fora dos ‘centros luminosos’, que Antonio Aílton, é poeta e dos bons. Nasceu “nos ermos” de Bacabal – no Maranhão, (sabem lá em que Brasil fica Bacabal? – pois, 240 km da capital São Luís). É nesse desconhecimento de nós mesmos e de tudo e tanto que se produz no país atualmente (e de qualidade), que o leitor terá ainda o grato prazer de encontrar ao cabo da edição, nada menos do que 5 pequenos textos críticos assinados por gente profundamente ligada à Literatura, sobre a obra do autor, e que não se constitui (como ocorre em certos casos), em mero exercício de unanimidade burra. Cada um dos textos evoca um aspecto da poética de Aílton nesses seus cinquenta anos de vida. Ricardo Nonato observa que o poeta “ao ler o mundo que o cerca, percebe, também, nele mesmo, a mudança, o movimento que rege a vida no seu alinhavo cotidiano, evocado esteticamente por uma consciência plena do seu labor.” E ainda que, este novo livro de Aílton “pode ser lido como uma espécie de síntese e constante aperfeiçoamento da forma, adensada pela complexidade do artista que acompanha o movimento do mundo em constante mudança, com suas virtualidades.” E tudo isso acrescentamos em concordância com o Ricardo Nonato, a propósito (também) de descortinar caminhos possíveis.


ENTRE O SÍMBOLO E O REAL NO LIVRO CERZIR, DE ANTONIO AÍLTON ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA Escritora e Doutora em Literatura Comparada (UERJ) https://entrementes.com.br/2019/04/entre-o-simbolo-e-o-real-no-livro-cerzir-de-antonio-ailton/?fbclid=IwAR0jT3dcD9NMbOSLT6IZYW0MivVtD3RkgFrrrEic_xBUrQHTVgSGl-ORGQ

O livro de poemas Cerzir, de Antonio Aílton (Penalux, 2019) é dividido em seis partes: Desdobras, Bestiário da terra e do céu, Memória Mínima, A incursão fortuita de Ouroboros, A hora do poema do sol e Imagine se Ponge vem beber na Praia Grande. Nestas seis seções se nota o trabalho de reunir num único respiro uma variedade de formas e de vozes pela unidade da tessitura textual. Num dos significados de “cerzir”, no Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, se diz: “juntar (algo) sob núcleo comum, reunir, combinar, incorporar”. Só que esta reunião é feita da mistura de várias expressões artísticas que se distinguem por sua máxima originalidade e inventividade. Neste intercalar de elementos vários, encontramos a dupla via do literário: uma linguagem mais simbólica e sugestiva mesclada com uma expressão mais realista e objetiva, fazendo deste hibridismo inaugural uma ponte para uma literatura de qualidade, diversificada e camaleônica, escondendo entre suas dobras os mistérios da engrenagem literária. O grande poeta Stéphane Mallarmé nos revelou a seguinte definição sobre a fruição da poesia: “Nomear um objeto equivale a suprimir os três quartos do prazer da poesia, que é feito de adivinhar pouco a pouco: sugeri-lo, eis o sonho”. Antonio Aílton, a partir de suas metáforas inusitadas e sugestões, potencializa a força da criação poética com a chama do verbo. A delimitação e definição dos objetos, com suas explicações seria a morte da poesia, vista por este ângulo. Vejamos: “A estria advém da pele e da lisura da presença do vazio/que o ronda/no cós do antes”. Numa maximização poética, a poesia de Antonio Aílton nos traz a semântica do vazio, que é trazer para a profusão de imagens a busca do silêncio e do espanto frente às realidades enigmáticas. Este poeta revelador do fogo criador trabalha com os espaços brancos e vazios das páginas prestes a gerar os sentidos mais plurais. Reúne numa mesma página dois ou três poemas, coloca alguns títulos de poemas com números e outros com nomes, alternando a gênese geométrica do infinito ao sustentar o caos com as mãos libertas da razão ocidental. Numa complexidade de opostos simétricos, sua poesia calcula os sentidos com a máquina da urdidura dos versos, sempre plenos e grávidos da chama solar. Utiliza números aleatórios como num jogo de dados mallarmaico em que não sabemos o resultado. Cabe ao leitor especular sobre os vários caminhos abertos pelas vias dos múltiplos sentidos que acordam o verbo para o êxtase da celebração do tempo e do que vai além de cronologias insuspeitas. Antonio Aílton trabalha, assim, com a paginação, com as folhas e os tecidos do texto, cerzindo auroras e crepúsculos com a linha múltipla do literário. Nisto, reside a solidão e a companhia das palavras, o uno e o múltiplo.


Em [1 x 1], temos: “A partilha do tempo também é a partilha da língua/O tempo começa antes da língua mas só nela sobrevivemos”. Como se fosse possível palmilhar o simbolismo da língua, encontramo-nos com “o antesmente verbal”, de que tanto falava Manoel de Barros, uma linguagem primeva anterior a tudo que conhecemos, anterior ao próprio tempo que nos mergulha numa prisão domesticável pelos pontos do relógio a fabricar os sonhos da morte. Aqui, o poema numerado, juntamente com outros poemas intitulados com palavras, forma uma constelação de sentidos vários, diversificando suas formas poéticas num labirinto de vozes textuais. É como se ele buscasse a voz dos componentes do real, antes que a língua a entreteça com os fios significativos do texto interno, fechado nas folhas de papel, uma babel que obscurece a chama da vida: “O que aprendi da pedra aprendi do pântano/Com um pouco mais ou menos de meditação/Os ventos falam pouco, mas assoviam”. Antonio Aílton quer reinventar a vida além de toda a violência que nos acomete no real. Ele quer recriar o real pela força imagética dos versos, mas não deixando de enaltecer os poderes da natura que subvertem a agressividade do mundo em beleza silenciosa: “Reinventar a vida é redimi-la de toda a sua crueza”. Além da potência da linguagem literária, Antonio Aílton não deixa de questionar e refletir sobre a nossa sociedade, com uma poesia mais engajada e politizada que busca a partir do realismo, a sua outra face poética, descosturar os véus para que alcancemos a tão sonhada liberdade. Uma parte do livro é dedicada ao poeta Francis Ponge, a última parte da sua obra poética. Pedro Maciel, num trecho de um ensaio para o caderno “Verso e Prosa”, do jornal O Globo, assim disse: “Francis Ponge é, por excelência, o poeta das coisas que exigem definições, das coisas partidas, das coisas naturais, das coisas inanimadas e animadas. Ele descreve o universo, os meteoros, a chuva, o fogo. Encanta-se com os moluscos, as ostras, caracóis. Busca a todo momento dar voz à coisas silenciosas. Traz à luz o mundo mágico da natureza”. É muito recorrente na poesia de Aílton a presença de autores estrangeiros, como Ponge, Rimbaud, William Carlos Williams entre outros. Isso não quer dizer que ele esqueça a presença de autores nacionais, que também comparecem em sua poética. Na sexta parte do livro, “Imagine se Ponge vem beber na Praia Grande”, podemos perceber a utilização do poema em prosa, reunindo duas formas de expressão literária em jogos inusitados. Temos aqui, o universo do áspero, da náusea, com imagens impactantes da imundície com seu asco. Aqui, vemos a mistura admirável e sedutora entre as linguagens científica e simbólica: “Para ali afluem e ali se encontram as mais variadas espécies e formúnculas: de bichos de crista a bichos de estopa; de áscaro-lumbricóides a pavôneo-ciliares”. Além das constantes enumerações neste poema em prosa, com características numeradas numa fórmula em ordenação hierárquica, temos o estilo prosaico de Ponge. O poema aqui extenso é bastante adjetivado com seu apelo ao descritivo e à objetividade que flerta com o caleidoscópio dos símbolos. Mas não temos apenas as descrições, pois Antonio Aílton alcança um grande viés filosófico a partir das definições e explicações. Há reflexões iluminadoras que cobrem com seu olhar de sol as coisas descritas. A ambientação é iluminada pelo olhar ambíguo da razão e do onírico. O tom antigo da descrição se molda aos elementos contemporâneos. Temos a enumeração dos seres, seus tipos e caricaturas com pitadas de tom grotesco. Aqui, encontramos uma reflexão crítica sobre a realidade das várias camadas da sociedade que são simbolicamente representadas pela metonímia da Praia Grande. Além deste longo poema em prosa, podemos vislumbrar outros textos de Antonio Aílton que misturam as duas formas discursivas em matizes diferentes e inusitados. Suzanne Bernard, em Le poème em prose. De Baudelaire jusqu’à nos jours, 1959, assim se expressou: “ao mesmo tempo no poema em prosa uma força anárquica, destruidora, que conduz à negação das formas existentes, e uma força organizadora, que tende a construir um ‘todo’ poético: e a própria expressão poema em prosa sublinha essa duplicidade…” Nesse sentido, os poemas em prosa de Antonio Aílton conjugam forças opostas e complementares, formando uma unidade paradoxal que tende a enriquecer o olhar poético sobre as coisas, que são feitas de ordem e desordem, cosmos e caos. Em sua poesia, encontramos os elementos mais diversos, o concretismo, o poema em prosa, os poemas numerados ou nomeados, a presença marcante do francês, a cultura japonesa, entre outras, num processo de “globalização poética”, que recoloca o que vem de fora num novo olhar dentro de sua terra, de sua gente, abrasileirando o internacional com suas peles de criatividade, postura crítica e questionadora. Num de seus poemas em prosa, “Poema par C Tarkos”, temos a imagem perfeita para essa exploração ambígua do literário. A cor cinza como símbolo que une pares opostos, o branco e o negro: “Volto ao Sena [se você quiser], caminharei de noite sobre a ponte, a ponte é cinza (se você quiser) o signo é cinza”. Ao longo do vasto poema, cita Artaud e sua “nuit gris.” Além destes elementos, não poderia faltar os familiares em sua poesia, como um bom Manuel Bandeira que evocou seus parentes. Neste livro de Aílton, na parte ”Memória mínima”, encontramos suas evocações à lembrança de tempos idos, falando sobre seus pais, a sua terra e


outros parentes. A força telúrica nestes versos representa o sangue linguístico que corre em suas veias e que amanhece dias passados. As belezas e intempéries encantadoras do lugar são indomesticáveis. Antonio Aílton não segura as rédeas da sua imaginação, deixando o canto do passado como um canto de louvor à memória e ao tempo, a correrem soltos pela vastidão do universo poético. A língua cospe fogo de outros tempos que são soltos como uma tempestade noturna. Em “A incursão fortuita de Ouroboros”, temos uma tacada genial de sua veste artística. Aqui, percebemos o movimento circular de uma serpente mordendo a própria cauda, na distribuição em circularidade de seus versos. Assim, podemos ver o “eterno retorno” dos símbolos e imagens. Vislumbramos o começo e o fim de uma mesma camada semântica a percorrer com seu fogo serpentino as peles das palavras de Antonio Aílton. Portanto, neste excepcional poeta, podemos nos maravilhar com uma poesia ambivalente que flerta com os símbolos, mas que não deixa de “escreviver” sobre as realidades plenas da existência. Unindo uma linguagem complexa e metafórica ás referências do mundo contemporâneo, sua poesia se ergue no seu poder de imaginação a partir do onírico e da sua aderência ao real imediato. A mediação entre dois polos opostos é possível, fazendo de sua poesia um rico panorama das vivências múltiplas e conjugadas da realidade e do texto como criação literária, cuja referência une o inacabado e o completo, cerzindo com fios de ouro sua poesia de grande relevo para a humanidade presente e futura. A resenhista – Alexandra Vieira de Almeida é poeta, contista, cronista, resenhista e ensaísta. Tem Doutorado em Literatura Comparada (UERJ). Atualmente é professora da Secretaria de Estado de Educação (RJ) e tutora de ensino superior a distância (UFF). Tem cinco livros de poesia, sendo o mais recente “A serenidade do zero” (Penalux, 2017). Tem poemas traduzidos para vários idiomas. O autor: Antonio Aílton nasceu nos ermos de Bacabal-MA, em família sem letra, em 1968. Formação primeira: a literatura de cordel, que lia em noites de lamparinas para os ouvintes simples que chegavam. Depois das primeiras professoras, outros espaços, outros HQs, outras literaturas. Festivais poéticos da UFMA, recitais, e a vibração total da poesia dos telhados de São Luís do Maranhão. Curso de Letras. O fundamental grupo Curare de poesia, nas discussões, buscas literárias. Dois prêmios Cidade de São Luís e o Prêmio Cidade do Recife – Eugênio Coimbra Júnior, 2006. Em Recife-PE, também cursou o Doutorado em Teoria da Literatura, de 2013 a 2017. É membro da ALL – Academia Ludovicense de Letras e da AMEI – Associação Maranhense de Escritores Independentes. Além de participação em diversas antologias, é autor dos livros As Habitações do Minotauro (poesia, FUNC-MA, 2001), Humanologia do Eterno Empenho (ensaio, FUNC, 2003), Os dias perambulados e outros tOrtos girassóis (poesia, Fundação de Cultura do Recife, 2008), Compulsão Agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015), Martelo & flor: horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea (Teseensaio, EDUFMA, 2018). Link para compra do livro: https://www.editorapenalux.com.br/loja/cerzir?search=Cerzir


João Nepomuceno Nepó Colaborador 17 h Meus amigos!!!!!

A edição do nosso conceituado/líder de audiência JP Turismo de hoje botou pra quebrar... literalmente. Tem de Tudo do Bom e do Melhor em conteúdo. Destaque para a inauguração da coluna "Literatura Contemporânea" editada pelo colega jornalista/professor Alberico Carneiro, com estreia alusiva ao livro "Martelo & Flor", do consagrado escritor Antônio Ailton, no centro desse meu registro produzido na Feira do Livro SLB.


É HOJE, Lançamento do Cerzir!! Passando para lembrar-lhes do lançamento hoje, às 19h no SescMA, na Av. Holandeses, ali próximo à AABB. Venham unir-se nessa festa gostosa da poesia, algo que nos alimenta e certamente nos sensibiliza, estende nossa visão de mundo. Embora não tenha enviado convite individualmente, gostaria que assim se sentissem nessa unidade, porque estamos juntos aqui na mesma voz. A intenção maior é estarmos juntos, tecer a poesia, bater um bom papo, confraternizarmo-nos. Vamos ter uma performance com Uimar Júnior, conhecer uma nova banda, a Artesanal Music Band, sob direção do cantor Marcos Boa Fé, que estão também fazendo sua história de vida, canção e poesia. Não falte! Local: Sesc-MA Endeço: Sala Sesc de Exposições Condomínio Fecomércio/Sesc/Senac Av. dos Holandeses, sn, Q. 24 - Jardim Renascença II, São Luís. HORÁRIO: 19h - 21h



Muita poesia & afeto no II Encontro Literรกrio da APA dos Morros Garapenses.


IRANDI MARQUES LEITE

Lançamento do livro Engenharia da Palavra, autor: Irandi Marques Leite. Livraria da ABES. 30º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Promoção : Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental ABES. Dia 19 junho, 15h.Natal - RN


DANIEL BLUME DE ALMEIDA Lançamento no CFOAB de “Aspectos Polêmicos do Direito Constitucional Luso-Brasileiro”. Obrigado pelo carinho!



ALDY MELlO Mais uma obra de autoria de Aldy Mello de Araújo que será apresentada ao meio intelectual maranhense no mês de Junho...

Lançamento do livro “Homens e gênios” de meu pai Aldy Mello de Araujo. Obrigado prof. Sergio Victor Tamer e Silvânia Tamer pelo grande evento, que marcou o início de uma nova turma do Mestrado em Direito Cecgp/SVT/Portucalense




RAIMUNDO GOMES MEIRELES solenidade de posse do Padre Raimundo Gomes Meireles como novo membro da Academia Maranhense de CiĂŞncias, Letras e Artes Militares, assumindo a cadeira patroneada por JosuĂŠ Montello.



ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!


Resenha: CONTRA TODO ALEGADO ENDURECIMENTO DO CORAÇÃO DE FERNANDO ABREU  

THAISA LIMA http://minhacontracapa.com.br/

Poesia. De forma surpreendente o autor consegue transformar algo do cotidiano em uma linda poesia.

Em meio a referências orientais, prosaísmos preciosos e metalinguagem lúdica, a poesia deste Contra todo alegado endurecimento do coração se firma. O autor cultiva o tempo próprio do poeta, e o resultado se vê neste livro – verdadeiro ímã poético. Resenha “você diz que um dia ele vai cansar de chegar em casa e endireitar a caixa do correio que o cachorro entortou o mesmo que ele leva para passear todas as noites depois do jantar e o mesmo que um dia triturou seu caderno de poemas de forma mais precisa que uma máquina fazendo-o odiá-lo por algumas horas” (Trecho do poema: Para Jim Jamursch) Escrever resenhas de livros de poesia é sempre muito difícil. Poesia não deve ser explicada, ela precisa ser sentida e saboreada. Lendo os poemas de Fernando Abreu consegui sentir a profundidade de coisas simples, de coisas que passam desapercebido por nós no nosso dia a dia e ao mesmo tempo consegui sentir o peso das críticas sociais, feitas de maneira sutil mas com uma carga densa de emoção.


Esse livro é um misto de sentimentos, onde o autor brinca com as palavras e leva o leitor a percorrer uma estrada incerta. Hora segura, hora cheia de curvas… Ele leva o leitor a se questionar (junto com ele), o que devemos fazer com os poemas depois de escritos e como viver da mesma forma depois de ter escrito e vivenciado as emoções que aquele texto despertou. É um jogo bem interessante. De forma leve e profunda, descontraída e séria, Fernando nos leva a percorrer esse caminho do cotidiano, da vida de um poeta e do que a poesia representa com todas as suas nuances na vida do autor e do leitor. É possível ser simples e complexo, banal e profundo, corriqueiro e sério, usando papel e caneta como um instrumento para tocar os corações. Livro mais do que recomendado


OS PRIMEIROS ESPORTES: O FUTEBOL DE SALÃO – CONTROVÉRSIAS5 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Para Cláudio Vaz, o Cláudio Alemão, foi no final da década de 40 (sic) que João Rosaiii cria a “Liga de Futsal” – à época, Futebol de Salão6, mesmo! Sobre seu início diz-nos: Futebol de Salão foi a Liga Maranhense de Futebol de Salão, comandada por Zé Rosa (sic). Foi o grande incentivador do futebol de salão do Maranhão. Falecidos, todos os dois falecidos. Zé Rosa que morava na Rua dos Afogados e a sede era na casa dele, então ali que começou o futebol de salão... (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

O “Zé Rosa” a que Cláudio se refere não foi o professor de Educação Física, do Liceu, da Escola Técnica (hoje IF-MA). Esse é outro “Zé Rosa” – talvez João Rosa -, um desportista que comandou a Liga - “ele foi presidente da Liga” - e foi onde começaram a praticar Futebol de Salão, na quadra do Casino Maranhense; informa Cláudio que na quadra descoberta7: [..., pois lá haviam duas quadras, depois fizeram a outra do lado da casa do Pedro Neiva; essa quadra era ao lado da quadra de tênis dos Ingleses que praticavam Tênis, e ao lado fizeram Futebol de Salão, isso em 1976 (sic) em diante o futebol de salão veio a surgir.(VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

Raul Guterres, nascido em 1926, iniciou-se no esporte com 15 anos de idade, jogando futebol. Em 1942, foi campeão estudantil, pelo Ateneu, jogando no gol. Em 1943, ingressou no FAC e com a extinção deste, passou para o MAC (1943), quando foi campeão. Em sua biografia, publicada pelos Biguás – Tânia e Edivaldo – conta que: “Como estava na casa de João Rosa para fundar o Futsal, terminou sendo goleiro da bola pesada, saindo-se campeão pelo Santelmo, nos anos de 48/49/50 (sic)”. 8

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Capítulo do livro (inédito) CLAUDIO VAZ, O ALEMÃO - E O LEGADO DA GERAÇÃO DE 53, DE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O FUTSAL NO MARANHÃO - ÍCONES E LEMBRANÇAS. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 197 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 7 Uma confusão constante em vários depoimentos sobre “João Rosa” – esportista, e o Professor “José Rosa”. Sobre JOSÉ ROSA pouco se sabe, a não ser que foi um dos pioneiros do esporte e aparece em todos os depoimentos, seja como jogador, professor e incentivador, sobretudo do basquete, ao lado de Rubem e Ronald. 8 BRANDÃO, Frederico. UM MARANHENSE CHAMADO RAUL GUTERRES. São Luis: UNICEUMA, 2005. 6


Raul, além do futebol, do futebol de salão, jogava basquete, vôlei, e praticava atletismo. Pertencia à “Geração dos Erres”... Já o Coronel Eurípedes Bezerra diz ser o introdutor do Futebol de Salão em São Luís e que Dimas continuou o seu trabalho, quando retornou do Rio de Janeiro (1954). Naturalmente que o Prof. Eurípedes cometeu um engano, pois Dimas só se envolve com o Futsal quando de sua volta do Pindaré, em 1969, e começa a trabalhar no SESC, em substituição ao próprio Cel. Eurípedes. Dimas informa que, nessa época, os esportes, em São Luís, limitavam-se, nas escolas, apenas ao Futebol de Salão – Futsal -, e Futebol. Outra versão, ainda da década de 1950, diz que a Liga Maranhense de Futebol de Salão foi fundada por Jaffé Mendes Nunes, Coronel Vieira (Vieirão) e João Rosa Filho – filho de João Rosa. Jaffé Mendes Nunes foi o grande incentivador do Futebol de Salão na segunda metade dos anos 50 em diante. Locutor esportivo e professor da modalidade na então Escola Técnica Federal do Maranhão – ETFM, hoje, IF-MA. O trabalho de Jaffé na rádio contribuiu para a massificação do esporte, especialmente no meio estudantil. Porém, para Januário Goulart9 - que jogou pelo Saturno, equipe fundada pelo Coronel Goulart, Nagib Haikel 10 e Samuel Gobel – quem introduziu o Futebol de Salão em São Luís foi um professor de Física do Liceu Maranhense, Pedro Lopes dos Santos, quando fundou – em 1955 - a equipe do Próton, primeira equipe de Futsal de São Luís formada por alunos daquele estabelecimento de ensino – e também a do Elétron, (segunda equipe?): Foi o Prof. Pedro quem trouxe para São Luís a primeira bola e as regras da modalidade. Jogava no Próton, além de Januário, como atacante, Rogério Baima, Chico Tetê, Rui, Nonato Cassas, Ernani Cantanhede. No primeiro jogo interestadual - disputado na quadra do Liceu -, contra o América, de Fortaleza (CE), houve empate de 2 x 2

Nilson Ferreira Santiago11 nasceu em 1940, e era filho de Nerval Lebre Santiago, secretário do Liceu por 42 anos, e um dos fundadores do “Sparta”, time que marcou época. Nilson pertencia àquele grupo que estudava no Liceu, e viu nascer o futebol – confirmando que foi trazido pelo professor de Física, Pedro Lopes dos Santos (1955); fundou o Próton, formado inicialmente por Chico Tetê, Ernani Coutinho, Nonato Cassas, e Rogério Baima. 9

BIGUÁ, Edivaldo Pereira; Biguá, Tânia. Onde anda você? Januário de Sillos Oliveira Goulart. O ESTADO DO MARANHÃO, São ª Luís, 09 de agosto de 1999, 2 feira, p. 4. Caderno de Esporte. 10 NAGIB HAICKEL - nasceu em Pindaré-Mirim a 19 de dezembro de 1933; filho de Elias e Maria Haickel. DÉCADA DE 1950 Incentivador do futebol de salão, no final da década participou da direção de vários times, como Drible, Saturno e Cometas, juntamente com o amigo Samuel Gobel. DÉCADA DE 1960 Elegeu-se deputado estadual em meados dos anos 60 DÉCADA DE 1970 Presidente do Moto Clube de São Luis em 1973, quando este obteve a classificação para disputar a primeira divisão do futebol nacional, tendo sido o primeiro time maranhense a conseguir essa façanha. 1992 Presidente da Assembleia Legislativa do Estado Maranhão, cargo que ocupou até o dia de sua morte em 7 de setembro de 1992, meses antes de completar 60 anos. 11 BIGUÁ, Edivaldo Pereira; BIGUÁ, Tânia. Onde anda você? Nilson Ferreira Santiago. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de ª dezembro de 2000, 2 feira, p. 4. Caderno Esporte. NILSON FERREIRA SANTIAGO - 1940 - nasceu em 1940, e era filho de Nerval Lebre Santiago, secretário do Liceu por 42 anos. Foi incentivado pelo pai a praticar futebol e acabou no futebol de salão - futsal. Um dos fundadores do Sparta, time que marcou época. Jogava futebol - de rua – quando fundou, junto com o Irmão Nerval Filho, Bogéa, Caracol, Monteiro, Zé Diniz, Daniel, Índio, Quebrado e outros, a Sociedade Esportiva União. Jogou também Basquete, pelo Cisne Branco, de José Gonçalves da Silva, o Zéquinha, treinador do MAC e árbitro; após a desativação do time, ainda jogou pelo Moto Clube. 1955 - O grupo que estudava no Liceu viu nascer o futsal, trazido pelo professor de Física, Pedro Lopes dos Santos, que fundou o Próton, formado inicialmente por Chico Tetê, Ernani Coutinho, Nonato Cassas, e Rogério Baima. Nessa época, aqueles que se descobriam que não podiam jogar futebol de campo, iam para a quadra, jogar salão. Logo, surgiram outras equipes. Os irmãos Ferdinand (Ferdic) Carvalho e Constâncio Carvalho Neto fundaram a Sociedade Esportiva Sparta; além dos dois, jogavam ainda Nilson, os irmãos Bira e Juca Abreu, Airton, Paulinho, Nervalzinho, Paru (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio e Roberto Babão. Mais grupos foram surgindo, como o Saturno (de Samuel Goberl, Zequinha Goulart, e Heitor Heluy), e Nilson passou a jogar nele, ao lado de César Bragança, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, tendo como técnico o Capitão Medeiros. 1962 - com 22 anos vai para o interior, mas continua a jogar pelas cidades por onde passou, nas AABBs – passou para o Banco do Brasil -, abandonando o esporte aos 27 anos – por contusão no joelho. VAZ, 2013, FUTSAL, obra citada.


Nessa época – meado dos anos 1950 -, aqueles que se descobria que não podiam jogar futebol de campo, iam para a quadra, jogar salão. Logo, surgiram outras equipes. Os irmãos Ferdinand (Ferdic) Carvalho e Constâncio Carvalho Neto12 fundaram a “Sociedade Esportiva Sparta”; além dos dois, jogavam ainda Nilson, os irmãos Bira e Juca Abreu, Airton, Paulinho, Nervalzinho, Paru (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio e Roberto Babão. Mais grupos foram surgindo, como o “Saturno” (de Samuel Gobel, Zequinha Goulart, e Heitor Heluy), e Nilson passou a jogar nele, ao lado de César Bragança, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, tendo como técnico o Capitão Medeiros.

SAMUEL GOBEL 12

CONSTÂNCIO CARVALHO NETO 1939 – nasce em 03 de maio; - JOSÉ FERDINAND CHAVES CARVALHO – FERDIC - 1940 – nasce em 08 de abril- 1955 – os irmãos Carvalho fundam a Sociedade Esportiva Sparta, ao lado de Nilson Santiago e Juca Abreu como toda equipe daquela geração de esportistas da década de 1950,começaram jogando futebol de meia na rua, ou nos pátios dos colégios (estudavam no Liceu Maranhense), quando surgiu o Futebol de Salão (1955), trazido pelo prof. Pedro Santos; dentre os gazeteiros doidos por bola, destacavam-se, além dos irmãos Constantino e Ferdic, os irmãos Nilson e Nervalzinho Santiago (filhos do secretário do Liceu, Nerval Lebre Santiago), Juca Abreu, Januário, José Reinaldo Tavares, Xuxuca, Negão, César Bragança, malheiros,macieira, Canhotinho, etc. Passaram pelo Sparta: Parú, Milson Cordeiro, Enésio, AntonioCoxinho, Nonato Santos, Bira, Roberto babão, Guilherme Saldanha, Paulista, 1959 – o Sparta encerra suas atividades. VAZ, 2013, FUTSAL, obra citada.


Outro craque dessa mesma época foi João Pinheiro Cunha13 - o “Manga” -, nascido no ano de 1941, no dia 12 de julho. Quando entrou para o Liceu Maranhense teve contato com o pessoal das peladas, jogadas na hora do recreio e após as aulas (1954): Vilenô, Nonato e Elias Cassas, Nonato Sabock, Guilherme Saldanha, Mota, Januário Goulart, Silvinho Goulart, José Reinado Tavares, César Bragança, Nerval e Nilson Santiago, Milson Cordeiro, e outros. Também confirma que o prof. Pedro Lopes dos Santos, de Física, em uma de suas viagens ao sul do país, acabou se apaixonando pela modalidade e trouxe para São Luís uma bola e um livro de regras. Em 1955, selecionou uma equipe dentre os peladeiros da escola e fundou o Próton. Daquele grupo que jogava futebol, o único selecionado foi Nonato Cassas. Desse primeiro grupo, a primeira formação do Próton, além de Cassas, figurava Rogério Bayma (goleiro), Chico Tetê, Ruy Roxo, Ernani Catinga. Outro que escreveu o nome nos anais do Futsal Maranhense foi Joacy Fonseca Gomes14, nascido em Cururupu em 12 de junho de 1938. Em 1953, então com 15 anos, veio para São Luís, onde fez o ginásio e o científico no Liceu Maranhense, destacando-se no futebol, indo jogar no Flamengo do Monte Castelo. Em 1958, estava disputando o campeonato de Futebol de Salão, em uma competição organizada pela Liga que havia sido fundada por João Rosa Filho e o jornalista Jaffé Mendes Nunes; jogava pelo T8 (Tê Oito). Os clubes de futsal que se destacam eram: Spartakus (Nilson Santiago, Ribarco e Paru); Graça Aranha (Albino Travincas, Canhoteiro, Wallace e Jafer); Santelmo (Cleon Furtado, Poé, Mozart, Biné, Murilo Gago); Rio Negro; Vitex (Enemêr, Luís Portela, Walber, e Vavá); Drible (dos irmãos Saldanha, Zé Augusto Lamar, Manteiga, Mota); SAELTIPA (a companhia de água); e América; depois, veio Próton, Saturno, Cometas, Flamengo do Monte Castelo. Os jogos eram disputados nas quadras do Lítero e do Casino. Havia uma rivalidade muito grande entre as equipes de Futebol de Salão do Liceu (Marinaldo, 13

JOÃO PINHEIRO CUNHA - nascido no ano de 1941, no dia 12 de julho, e como todo garoto de seu tempo, jogava futebol na rua – a famosa Liga dos Pés Descalços do início do futebol no Maranhão; em 1954 - Sonhava em entrar para o Liceu Maranhense; lá, teve contato com o pessoal da pelada, jogada na hora do recreio e após as aulas: Vilenô, Nonato e Elias Cassas, Nonato Sabock, Guilherme Saldanha, Mota, Januário Goulart, Silvinho Goulart, José Reinado Tavares, César Bragança, Nerval e Nilson Santiago, Milson Cordeiro, e outros. Viram nascer o primeiro time de futebol de salão do estado. 1955 - O prof. Pedro Lopes dos Santos, de Física, em uma de suas viagens ao sul do país, acabou se apaixonando pela modalidade [Futebol de Salão – Futsal] e trouxe para São Luís uma bola e um livro de regras; selecionou uma equipe dentre os peladeiros da escola e fundou o Próton. Daquele grupo que jogava futebol, o único selecionado foi Nonato Cassas. Desse primeiro grupo, a primeira formação do Próton, além de Cassas, figuravam Rogério Bayma (goleiro), Chico Tetê, Ruy Poxo, Ernani Catinga João Cunha, como calouro, não tinha escolha – ia para o gol – e acabou gostando da posição, passando a disputar as Olimpíadas Intercolegiais pelo Liceu, como goleiro da equipe de Futsal. Nessa época, os goleiros tinham seus apelidos – Jesus Itapary (do Saturno e Cometas) era o Diabo Loiro; José Augusto Lamar (Drible), era o Pangaré; Dilson (do Próton, depois Saturno e Cometas), Guabirú; João Cunha ficou sendo o João Boi e, depois, Manga. Biné Moraes – outro monstro sagrado do Futsal de antanho – o levou para o Saturno. 1960 - o grupo era formado por, além de Manga e Biné, Benito Neiva, os irmãos Nonato e Elias Cassas, Cláudio Alemão, Poé, Tenente Vieira, Samuel Gobel, Jesus Itapary. No ano seguinte, o Saturno foi vicecampeão, perdendo a final - por 2 x 1 - para o Athenas, de Ribarco, Cauby, Gracco Bolivar, Jaiminho e Silvinho Tavares; o jogo aconteceu no Casino Maranhense e foi o último da existência do Saturno. 1962 - o grupo que defendia o Saturno reapareceu no recém-criado Cometas. BIGUÁ, Edivaldo Pereira; BIGUÁ, Tânia. Onde anda você ? Goleiro João “Manga” Cunha. O ª ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de fevereiro de 2000, 2 feira, p. 4. Caderno Esporte.

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JOACY FONSECA GOMES - nascido em Cururupu em 12 de junho de 1938. Em 1953, então com 15 anos, veio para São Luís, onde fez o ginásio e o científico no Liceu Maranhense, destacando-se no futebol, indo jogar no Flamengo do Monte Castelo. 1958 - estava disputando o campeonato de Futebol de Salão, em uma competição organizada pela Liga que havia sido fundada por João Rosa Filho e o jornalista Jaffé Mendes Nunes; jogava pelo T8 (Tê Oito). Os clubes de futsal que se destacam eram: Spartakus (Nilson Santiago, Ribarco e Paru); Graça Aranha (Albino Travincas, Canhoteiro, Wallace e Jafer); Santelmo (Cleon Furtado, Poé, Mozart, Biné, Murilo Gago); Rio Negro; Vitex (Enemêr, Luis Portela, Walber, e Vavá); Drible (dos irmãos Saldanha, Zé Augusto Lamar, Manteiga, Mota); SAELTIPA (a companhia de água); e América; depois, vieram Próton, Saturno, Cometas, Flamengo do Monte Castelo. Os jogos eram disputados nas quadras do Lítero e do Casino. Jogando pelo Liceu, Manga foi campeão nas Olimpíadas Estudantis. Havia uma rivalidade muito grande entre as equipes de futebol de campo do Liceu (Joacy, Nilson, Carlos Alberto, Itamar, Guilherme Saldanha, Paciência, Alexandre) e a Escola Técnica (Gogoba, Alípio, Alencar, Chamorro, Canhoteiro); no Salão, o duelo ficava por conta do Liceu (Marinaldo, Guilherme Saldanha, Josenil Souza, e Jacy) e Atheneu (Mota e companheiros); havia o grupo do Colégio São Luís (Biné, Chedão, Jaime Tavares) e dos Maristas (Garrincha, e os irmãos Nonato e Cury Baldez). BIGUA, Edivaldo Pereira; BIGUÁ, Tânia. Onde anda você ? Joacy Fonseca ª Gama. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 10 de abril de 2000, 2 feira, p. 4. Caderno Esporte.


Guilherme Saldanha, Josenil Souza, e Jacy) e Atheneu (Mota e companheiros); havia o grupo do Colégio São Luís (Biné, Chedão, Jaime Tavares) e dos Maristas (Garrincha, e os irmãos Nonato e Cury Baldez).


SERIA FRAN PAXECO CARBONÁRIO?

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

De acordo com Aldemir Leonidio (2005, 2008) 15, a carbonária foi uma associação secreta de vocação conspirativa. Em Portugal16 ela enraizou-se nos setores de classe média mais politizados, bem como entre os militares de baixa patente, mas admitindo indivíduos de todas as classes sociais. Nos anos noventa ela começou por ter grande força na cidade de Coimbra, sob a tutela da loja maçônica Perseverança. Em Lisboa tudo parece ter resultado da confluência de dois núcleos secretos: um de origem “anarco-republicano”, outro de base “maçônica acadêmica”. De acordo com o anarquista José Maria Nunes, ele próprio, juntamente com José do Vale e Heliodoro Salgado, fundaram a Liga do Progresso e Liberdade, agrupamento que esteve na base da constituição da Carbonária Portuguesa17

Os Carbonari (Carbonária) foi fundada em Portugal em 1822, mas foi logo desfeita. Uma nova organização de mesmo nome e reivindicando ser sua continuação foi fundada em 1896 por Artur Augusto Duarte da Luz de Almeida18. Esta organização era ativa nos esforços para educar as pessoas e esteve envolvida em diversas conspirações antimonarquistas. Mais notavelmente, os membros da Carbonária foram ativos no assassinato do Rei Carlos I de Portugal e seu herdeiro, o Príncipe Luís Filipe, Duque de Bragança em 1908. Os membros Carbonários também 15

LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf LEONIDIO, Aldemir. CARBONÁRIOS, MAÇONS, POSITIVISTAS E A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL NA VIRADA DO SÉCULO XIX. IN Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Julho/ Agosto/ Setembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 3 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf; http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 16 Carbonária Portuguesa foi estabelecida por volta de 1822. Nas suas primeiras décadas, teve um âmbito restrito e, sobretudo, localizado: surgiram várias associações independentes, sem ligação orgânica entre si e com pouca capacidade de intervenção social, atraindo sempre os elementos mais violentos, radicais e marginalizados da sociedade. De uma maneira geral, estas associações não duraram muito tempo nem tiveram importância histórica. A Carbonária que teve alguma importância na vida política nacional portuguesa foi fundada em 1896 por Luz de Almeida. Desenvolveu alguma atividade no domínio da educação popular e esteve envolvida em diversas conspirações antimonárquicas. Merece destaque óbvio a sua participação no assassinato do rei D. Carlos I de Portugal e do príncipe herdeiro Luís Filipe, e no golpe de 5 de outubro de 1910, em que esteve associada ao Partido Republicano. Um longo recesso de trabalhos da carbonária se iniciaria a partir de 1926. Os anos que Salazar esteve no poder foram anos de complicações para todas as sociedades secretas em Portugal, e a carbonária, se viu obrigada a voltar para a clandestinidade. https://pt.wikipedia.org/wiki/Carbon%C3%A1ria 17 CATROGA, Fernando. O republicanismo em Portugal. Coimbra: FLUC, 1991. p. 107-154, citado por LEONIDIO, 2008, obra citadaDisponível em: www.revistafenix.pro.br. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 18 Artur Augusto Duarte da Luz de Almeida, conhecido na época e historicamente como Luz de Almeida (Alenquer, 25 de Março de 1867 - Lisboa, 4 de Março de 1939) foi um bibliotecário, arquivista, panfletista, francomação, carbonário e político português. Foi o fundador, principal dirigente e dinamizador das organizações secretas e clandestinas Maçonaria Académica e da Carbonária Portuguesa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Luz_de_Almeida


desempenharam um papel na revolução republicana de 05 de outubro de 191019. Um ponto comum entre eles era a sua hostilidade contra a Igreja e eles contribuíram para o anticlericalismo da república.20 Por volta de 1899 surgia o jornal O Libertarista21, do Rio de Janeiro, dirigido por Magnus Sondahl e Espiridião de Medicis Dilotti. Em epígrafe vinha a famosa frase de Comte, ligeiramente modificada: “conhecer, para prever, a fim de melhorar”. Isto leva a crer que a intenção do inventor da “ortologia” era fazer dela uma espécie de substituto ou concorrente do positivismo, já que afirma ser aquela um “novo sistema lógico”. No lugar do Apostolado ele colocava a “União Sociocrática”, que, segundo informa, tinha núcleos em várias partes do mundo: Estados Unidos, GrãBretanha, Islândia, Dinamarca, Suécia, França, Grécia e “outras partes da Europa”; além de Brasil, Argentina e “outros centros populosos da América do Sul”.

Magnús Sondahl22 foi um emigrante islandês de primeira geração que chegou ao Brasil aos sete anos de idade, estabelecendo-se no Paraná. Formou-se em Engenharia. Foi objeto de dois contos do escritor carioca João do Rio. Os contos fazem parte do livro As Religiões do Brasil23: Os Fisiólatras Quando resolvi interrogar o hierofante Magnus Sondhal, sabia da fisiolatria o que os prosélitos deixavam entrever em artigos de jornal c hei os de nomes arreves a dos e nos comunicados, nos copiosos comunicados trazidos aos diários por homens apressados e radiantes. Pelos artigos ficara imagiando a fisiolatria um conjunto de positivismo, ocultismo e socialismo; pelos comunicados vira que os fisiólatras, quase todos doutores, criavam cooperativas e academias. Entretanto o Sr Magnus Sondhal certa vez à porta de um café definira para meu espanto a sua religião. —A fisiolatria não é um culto no sentido vulgar da palavra, mas uma verdadeira cultura mental. É, antes, a sistematização raci onal do processo espontâneo da educação dos seres vivos, donde resultaram todas as aptidões, mesmo físicas e fisiológica s, respectivamente adquiridas. Pus as mãos na cabeça assombrado. Magnus tossiu, revirou os olhos azuis. — A fisiolatria baseia-se, como toda a reforma sociocrático-libertária, na sistematização da lógica universal ou natural que o hierofonte + SUN intitula ortologia — Ortologia? fiz sem compreender. — Do grego orthos, logos – reta razão. Esteve ligado, também, à fundação da Sociedade Rosa Cruz: 19

A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de outubro e vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910, que destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal. https://pt.wikipedia.org/wiki/Implanta%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_Portuguesa 20 BIRMINGHAM, David, História Concisa de Portugal, P. , Editora da Universidade de Cambridge. 2003. In Carbonária, a Maçonaria Guerreira. http://en.wikipedia.org/wiki/Carbonari Tradução José Antonio de Souza Filardo https://bibliot3ca.com/carbonaria-a-maconaria-levada-as-suas-ultimas-consequencias/ 21

O LIBERTARISTA, Rio de Janeiro, n. 3, 24 de dez. de 1899 (o jornal adota o calendário positivista, sendo a data constante no jornal a seguinte: 24 dias do 12° mês de 111). In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf http://www.revistaideias.com.br/2016/09/05/os-vikings-no-parana/ 23 JOÃO DO RIO. AS RELIGIÕES DO BRASIL. Disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/47390372/as-religioes-no-riojoao-do-rio


Antes de 1930, a Fraternidade Rosa-Cruz do Brasil, que segue o “Rito Templário”, funcionava secretamente sob a direção dos Veneráveis Grão-Mestres Múcio Teixeira (Barão Ergonte) e Magnus Söndahl (Hierofante Rosa-Cruz).24 ................. A Fraternidade Rosa-Cruz do Brasil, instituída oficialmente ao público em outubro de 1930 pelo Prof. Júlio Guajará Rodrigues Ferreira, é uma ramificação da Ordem dos Rosacruzes, de Mistérios Menores, com o objetivo de desenvolver a regeneração dos costumes a toda e qualquer pessoa livre, sem especificação de cor, raça, nacionalidade, posição social ou credo filosófico. Antes da sua instituição ela funcionava apenas secretamente, sob a orientação do 1º Grão-Mestre, Múcio Teixeira ou Barão Ergonte, agregada à Ordem Maçônica. Mais tarde, o Dr. Magnus Sondahl, 2º Grão-Mestre e Hierofante Rosa-Cruz, criava a Maçonaria Católica, e as bases da atual Fraternidade Rosa-Cruz, que somente veio a ser instituída, após a sua transubstanciação, pelo 3º Grão-Mestre, Prof. Júlio Guajará Rodrigues Ferreira. 25 As informações sobre a “ortologia”26, esta “nova religião de caráter sociocrático”, segundo seu inventor, são ainda muito escassas27. Para Leonidio (2005)28 a “maçonaria católica” seria uma tendência da maçonaria, que manteve certa relação com os princípios religiosos do positivismo de Augusto Comte, difundidos no Brasil durante a Primeira República pelos fiéis da Igreja Positivista, cujos mentores eram Miguel Lemos29 e Teixeira Mendes30. Informa Leonidio (2008) que em 15 de março de 1903, Lima Barreto, após ter lido o Catecismo ortológico, enviou a Magnus Sondahl uma carta, pedindo mais informações sobre o assunto. Pedia-lhe a remessa de “algumas mais 24

https://ocultismopel.wordpress.com/2014/10/07/a-fraternidade-rosa-cruz-do-brasil/ . Ver também https://www.google.com.br/search?biw=1920&bih=937&ei=aHvqXMb1AcSw5OUP0OGEqAk&q=sociedade+rosa+cruz+%2B+m agnus+sondahl&oq=sociedade+rosa+cruz+%2B+magnus+sondhal&gs_l=psyab.1.0.33i160l2.4431.14163..18719...0.0..0.492.5731.2-5j9j3......0....1..gwswiz.......0j0i22i30j38j0i22i10i30j33i22i29i30j33i21.iyZju1GcFzs 25 https://www.localprayers.com/BR/Rio-de-Janeiro/227600963967705/Fraternidade-Rosa-Cruz-do-Brasil 26 http://memoria.bn.br/pdf/765996/per765996_1910_00002.pdf 27 Sociocracia é um método de governança de organizações que produz maior comprometimento, níveis mais altos de criatividade, liderança distribuída, harmonia mais profunda e uma aumento dramático da produtividade. Os princípios e práticas, baseados nos valores de equivalência, eficácia e transparência, são desenhados para fomentar tanto a união quanto o respeito pelo indivíduo https://sociocracia.vpeventos.com/materia/10-por-que-sociocracia#/ 28 LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 29

Miguel Lemos - (Niterói, 1854 — Petrópolis, 10 de agosto de 1917) foi um filósofo brasileiro, de orientação positivista. https://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Lemos

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Raimundo Teixeira Mendes (Caxias, 5 de janeiro de 1855 — Rio de Janeiro, 28 de junho de 1927) foi um filósofo e matemático brasileiro, autor da bandeira nacional republicana. A importância de Teixeira Mendes reside na sua vigorosa e contínua atuação política, filosófica, social e religiosa, baseada nos princípios propostos pelo filósofo francês Augusto Comte, isto é, no Positivismo, em sua versão religiosa (a Religião da Humanidade). Assim como o companheiro, amigo e, a partir de certa altura, cunhado Miguel Lemos, Teixeira Mendes inicialmente aderiu à obra estritamente filosófica de Comte, ou seja, ao "Sistema de Filosofia Positiva", recusando o "Sistema de Política Positiva". Todavia, a partir de uma viagem de estudos que Miguel Lemos empreendeu a Paris, em que se converteu à Religião da Humanidade, Teixeira Mendes foi convencido pelo amigo da correção da obra religiosa de Comte e a partir daí iniciou uma longa e importante carreira apostólica e política, influenciando os eventos sociais no Brasil, a partir de sua atuação na Igreja Positivista do Brasil, sediada no Rio de Janeiro (então capital do Império e, depois, da República). Enquanto Miguel Lemos era o Diretor da Igreja, Teixeira Mendes tornou-se seu vice-Diretor. Ao longo da década de 1880 Miguel Lemos e Teixeira Mendes empreenderam uma atividade de propaganda do Positivismo e de interpretação da realidade sócio-político-econômica brasileira à luz da doutrina comtiana, o que, em termos práticos, significou, naquele momento, na defesa da abolição da escravatura, da proclamação da república, na separação entre a Igreja e o Estado e na instituição geral de reformas que permitissem a "incorporação do proletariado à sociedade" (ou seja, a inclusão social, no jargão comtiano). https://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Teixeira_Mendes


publicações” que lhe esclarecessem o espírito e contribuíssem para a sua “completa iniciação”.31 Dois dias depois, Sondahl responde-lhe, desculpando-se por não poder enviar as publicações do Areópago32 referentes ao tema, por estarem elas esgotadas. Além disso, informa que grande parte do conhecimento relativo à ortologia, sobretudo a sua parte “esotérica”, “a mais importante da propaganda”, só era comunicada “em lojas, aos iniciados, conforme o seu grau”.33. Aquilo que não era restrito aos iniciados podia ser estudado em seus livros ou através de lições oferecidas na Universidade Sociocrática, por ele fundada.(Grifos nossos).

Ainda seguindo Leonidio (2006), Magnus Sondahl tinha uma obra relativamente vasta, podendo-se destacar as seguintes: Descrição resumida de um núcleo sociocrático durante a fase transitória da plutometria. Rio de Janeiro: s.c.e., 1900; Preleções ortológicas realizadas na Biblioteca Pública de Curitiba. Curitiba: Correia, 1901; Ensino racional de leituras em quatro lições sistemáticas. Rio de Janeiro: J. S. Cunha, 1908; Relatório apresentado pelo inspetor agrícola do quinto distrito. Bahia: Offic. dos Dois Mundos, 1911; Da magia natural – revelação do grande arcano. 200° tratado da grande enciclopédia ortológica. Bahia: Offic. Xylo.-Typ., ano 15, 1912; Sociocráticos – a maior revolução do mundo. Apelo ao público pelo fundador da União Sociocrática. Rio de Janeiro: Typ. Guttemberg, s.d. A Universidade Sociocrática ou Universidade Popular de Ensino Livre foi criada, ao que tudo indica, no início do século XX, embora não se tenha informações detalhadas sobre seu funcionamento. Não se sabe ao certo também se se trata da mesma Universidade Popular fundada por Fábio Luz34 ou, se não, da sua relação com esta. As aulas tinham um duplo fim: “tornar o estudioso apto para providenciar sua subsistência material e capaz de embelezar seu interior espiritual”, pois que se partia da máxima comtiana segundo a qual, para haver “harmonia na vida”, era “indispensável conciliar as necessidades biológicas ou físicas com as necessidades subjetivas”, criando assim um homem perfeito, completo. Os planos de Sondahl eram ambiciosos, como mostra a citação a seguir: A Universidade Popular de Ensino Livre tomará a si a instrução pública, primeiro no Brasil, depois em todos os outros países do mundo. Ela representa um plano de transição entre a instrução geral de hoje e a instrução mais positiva do porvir. Faz parte da propaganda da União Universal Sociocrática e conduz o homúnculo de nossos dias, através dos altos mistérios da Maçonaria Católica, transformado em homem, 31

Documento da seção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 32 Conselho especial da maçonaria que reúne os maçons de grau 30. In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 33 Segundo Sondahl a parte da maçonaria responsável por este ensino era a “Maçonaria Católica” ou Sociedade Iniciática dos Construtores do Templo da Razão e dos Homens Universais, o que leva a crer que se tratava de um desdobramento da maçonaria, com forte influência do Apostolado Positivista. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 34 [1] [2][3] A Universidade Popular de Ensino Livre , ou somente Universidade Popular de Ensino, ou UPEL , foi [4] [5] [6] [7][8] uma universidade nômade do Rio de Janeiro fundada em março de 1904 pelos médicos Fábio Luz e Martins Fontes, [9] juntamente com o historiador Rocha Pombo, se não com outros também. Supõe-se que Pedro Couto, Manuel Bonfim e Sílvio [10] Romero tenham participado. Foi a primeira do tipo na América Latina. Foi uma iniciativa das mais audaciosas [6] [6] dos anarquistas. Seu ideal seria se tornar um centro de lazer e cultura, além da ministragem de ensino superior. Não pôde [5] [6] continuar suas atividades por ação das autoridades do Estado, sendo fechada por estes em outubro do mesmo ano. Diferente dos Centros de Estudos, não foi criada exclusivamente pelos grupos operários: participaram militantes socialistas e literatos e intelectuais libertários. https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Popular_de_Ensino_(Livre) Ver também

https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1488563234_ARQUIVO_LamelaAnpuh2017.pdf


até o pórtico majestoso do futuro Templo da razão, onde, por fim, imperará a ortologia, ou a lógica universal.35 Ressalte-se que o termo sociocracia é outro neologismo de Magnus Sondahl, designando um governo da sociedade por ela mesma, daí a simpatia pela ortologia por parte dos anarquistas. É importante destacar que na historiografia brasileira, o termo sempre foi referido como uma invenção de Comte, o que não é certo, pois que não se encontra em nenhum escrito do positivista francês. Além disso, é o próprio Sondahl quem reivindica para si o termo. Para Leonídio (2008), a “nova religião” intentada por Magnus Sondahl foi uma tentativa de dar nova feição à maçonaria tradicional, a partir da grande influência sofrida pela doutrina do Apostolado Positivista, mas também uma tentativa de substituir ou de concorrer com a doutrina de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A adoção da chamada “via iniciática” e sua busca obsessiva pela verdade absoluta – daí, talvez, o uso do termo ortologia, como sinônimo de maçonaria católica – pode ter contribuído, neste caso, para uma maior aproximação com o ideário positivista. Quando a “maçonaria católica” começa a aparecer, no início dos anos noventa, o positivismo também já não dispunha da mesma gravitação de antes, embora se mantivesse o mesmo estado de espírito e o clima de opinião que, a partir dele, passou a contaminar vastas camadas da sociedade brasileira. Neste sentido, pode-se concluir que a “nova religião” intentada por Magnus Sondahl foi uma tentativa de dar nova feição à maçonaria tradicional, a partir da grande influência sofrida pela doutrina do Apostolado Positivista, mas também uma tentativa de substituir ou de concorrer com a doutrina de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A adoção da chamada “via iniciática” e sua busca obsessiva pela verdade absoluta – daí, talvez, o uso do termo “ortologia”, como sinônimo de maçonaria católica – pode ter contribuído, neste caso, para uma maior aproximação com ideário positivista. Por outro lado, o uso do termo “católica” demonstra por si o quanto a oposição Igreja/Ilustração26 está longe de ser o cerne das posições da maçonaria no Brasil. Esta utilização talvez denuncie já a importância da idéia de Religião da Humanidade, uma vez que o próprio Comte nunca escondeu a sua admiração pela instituição católica36 Segundo o Paiz (16/03/1904)37, jornal do Rio de Janeiro, havia sido fundada uma Universidade Sociocratica, sendo diretor Magnus Soldal, e Fran Paxeco membro da mesma:

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GAZETA OPERÁRIA, Rio de Janeiro, n. 7, 9 de nov. de 1902. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 36 LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 37 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. FRAN PAXECO – VIDA E OBRA. Palestra proferida na ALL, dia 19/05/2018, disponível em REVISTA DO LÉO VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra


Já na sua juventude Fran Paxeco tivera contato com membros da Maçonaria. Quando passou à Reserva, em 1894, foi domiciliar-se na freguesia de S. José, de Lisboa, 2º Bairro. Desejava consagrar-se, de corpo e alma, livre das gargalheiras duma disciplina anacrônica, embora necessária, às ideias republicanas. Entrara no primeiro vinteno de existência.

FRAN PAXECO AOS VINTE ANOS

Nesse mesmo ano, em abril, assume um dos postos na redação política de "A Vanguarda” 38, o mais independente e inflamado jornal da época, dirigida por Narciso Rebelo Alves Correa. Teve como camaradas, aí, os drs. José Benevides e Fernando Martins de Carvalho, Faustino da Fonseca, Sousa Vieira, Carlos Calisto, França Borges, etc. ANTÓNIO NARCISO REBELO DA SILVA ALVES CORREIA - Nasceu em Vila Real em 25 de Maio de 1860. Inicialmente desempenhou a profissão de farmacêutico, mas porque mostrou aptidões para a escrita, começa a colaborar nos jornais. Adota então a profissão de jornalista e colaborou em inúmeras publicações periódicas, especialmente ligadas ao Partido Republicano. Destaca-se a sua colaboração na Folha do Povo, no Trinta, no Século, Os Debates, A Vanguarda e, finalmente, O País. Neste último jornal, foi o fundador em 1895 e dirigiu-o até à sua morte, provocada pela tuberculose, em 5 de Janeiro de 1900. Segundo o professor Oliveira Marques (1986) 39, foi iniciado na Maçonaria em 1882, na Loja Cavaleiros de Nemesis, em Lisboa, adotando o nome simbólico de João Huss. Ao indagar a alguns memorialistas sobre essa pertença de Fran Paxeco à ordem maçônica, recebi de Antônio Bento40, de Setúbal, via correio eletrônico, o seguinte recorte, publicado no Diário de São Luis, em 23 setembro de 1922, confirmando que pertencera à Loja do Pará, onde fora iniciado: 38

A Vanguarda / dir. Alves Corrêa. - A. 1, nº 1 (9 mar. 1891) - a. 21, nº 7627 (22 out. 1911). - Lisboa :EllydioAnalide da Costa, 1891-1911. - 52 cm. Biblioteca Nacional Digital – Portugal, disponível em http://purl.pt/14330 39 . A. H. Oliveira Marques, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. I, Editorial Delta, Lisboa, 1986, col. 413. Citado em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. FRAN PAXECO – VIDA E OBRA. Palestra proferida na ALL, dia 19/05/2018, disponível em REVISTA DO LÉO VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra 40 BENTO, Antônio. Mensagem ao Autor, via correio eletrônico, em 26 de maio de 2019 Meu Caro Leopoldo Gil Dulcio Vaz, A única informação que encontrei sobre a ligação de Fran Paxeco à maçonaria foi esta notícia cuja digitalização envio. Não sei se a Drª Rosa Machado terá mais alguma informação. Cumprimentos, António Cunha Bento


A nota, completa, identifica outros maçons maranhenses, e as diversas Lojas jå existentes, certamente frequentadas por Fran Paxeco, haja vista muitos deles serem seus colegas dos diversos entes culturais e educacionais de seu círculo::





Antônio Guimarães de Oliveira41, pesquisador maranhense, membro da Maçonaria, escrevendo uma “história da Maçonaria no Maranhão”, informa, também, por mensagem eletrônica que: Fran Paxeco foi iniciado no Pará. [...] No Maranhão, tivemos somente uma carbonária. Todos os fundadores da Academia Maranhense eram maçons e grande parte também dos do IHGM. Por isso, não encontrávamos sua iniciação no Maranhão, porém tem registro dele entrando na loja do sogro Fernandes, pai da esposa. Era loja Firmeza e União42. 41

GUIMARÃES DE OLIVEIRA, Antonio. Correspondência eletrônica, via Messenger, com o Autor, em resposta em 27 de maio de 2019. 42 A Loja Firmeza e União 2 foi instalada no Maranhão em 20 de julho de 1854. https://produto.mercadolivre.com.br/MLB938786931-annaes-1871-a-1873-loja-maconica-firmeza-e-unio-2-maconaria-_JM


O DOMINGO DE PÁSCOA. Aymoré Alvim, AMM, ALL, APLAC. Neste domingo, 21 de abril, é comemorado neste ano, com as grandes solenidades, o grande dia da festa de Páscoa. Ë o evento central do ano eclesiástico que marca toda a trajetória da missão redentora do Cristo. A Igreja, através das gerações, relembra aos fiéis, nesse dia e ao longo de todo o Tempo Pascal que se estende até ao sábado depois de Pentecostes, o resgate da liberdade da comunidade cristã, a vitória da vida sobre a morte, consubstanciados no mistério da Ressurreição. Guarda, portanto, esta festa litúrgica, no seu simbolismo, uma relação histórica com a Páscoa judaica. Tal fato, bastante significativo, se justifica pela condição étnica do próprio Cristo e dos seus apóstolos que constituíram o núcleo primordial da sua Igreja. Como judeus, professavam a doutrina que lhes fora legada por inspiração divina através de Moisés. Páscoa, pela própria etimologia da palavra, significa passagem. Ë, em princípio, a festa na qual os judeus comemoram a liberdade do seu povo após os 430 anos de cativeiro, no Egito, e sua conseqüente passagem através do mar Vermelho em direção à terra prometida sob a liderança de Moisés. Estes fatos, também conhecidos por Êxodo ou saída, segundo os relatos bíblicos e históricos, ocorreram, possivelmente, por volta do Século XIII a.C., durante o governo do faraó Menéfta que reinou de 1225 a 1215 a C. após suceder a Ramsés III, o opressor. A passagem do povo escolhido, através das águas do mar Vermelho, renovado e livre dos grilhões da escravidão, corresponde para a Igreja Cristã, na sua simbologia, ao resgate dos eleitos, libertos e renovados pela água do Batismo, pela missão redentora de Jesus cujo marco principal está na sua Ressurreição. Desta forma, nada parece mais justo do que buscar, entre os dois eventos, uma coincidência pelo menos da época da ocorrência dos mesmos, não obstante as dificuldades interpostas pelo longo tempo que os separa, como ainda, pelos diferentes tipos de calendários que propiciaram os seus registros. A Igreja, em diferentes Concílios como o de Nicéia (325 d C.), de Constança (1414) e de Trento, em 1563, buscou uma coincidência entre os períodos da ocorrência desses fatos de modo que a Páscoa cristã correspondesse com o período da Páscoa judaica de vez que nesta se desenrolou todo o processo da paixão, a morte e a Ressurreição do Cristo. Mas para conseguir tal intento era necessário ajustar o calendário juliano, usado àquela época, ao judeu. Das decisões conciliares partiram as recomendações para a correção das distorções existentes, resultando, assim, na publicação pelo papa Gregório XIII do calendário gregoriano, em sua homenagem, hoje, praticamente, aceito em todos os países. Resolvida a diferença de onze dias entre os dois calendários e a correção da data do equinócio da primavera que foi fixado, em 21 de março, pôde a Igreja estabelecer a celebração da Páscoa a partir do décimo quarto dia seguido da lua de março, sempre que a lua cheia ocorrer a partir do dia 21 desse mesmo mês. Assim, a data do Domingo de Páscoa oscila sempre entre 21 de março a 25 de abril. Neste ano de 2019, foi fixada em 21 de abril. Neste período, não deixo de recordar as festas de Páscoa, quando ainda criança lá em Pinheiro, e, principalmente, no período que passei no Seminário de Santo Antônio. A missa solene de Páscoa, sempre às 10 da manhã, na Catedral da Sé, era celebrada por D. José de Medeiros Delgado, Arcebispo Metropolitano, à época, de São Luís, concelebrada por cônegos e padres da Arquidiocese e cantada, em latim, por nós seminaristas. Mas os tempos passaram, também mudaram. São outros. Saudosismo? Nem tanto, mas que as solenidades litúrgicas eram mais bonitas ninguém dessa época pode negar. Mas partir do Vaticano II foi abolido o latim dos ofícios religiosos e reduzidas as pompas das solenidades da Igreja com o objetivo de propiciar uma maior participação dos fiéis, o que introduziu profundas alterações, nos ritos das festas do ano eclesiástico da Igreja.


ACADEMIA ZEDOQUENSE DE LETRAS ACADÊMICO- MICHEL HERBERT ALVES FLORENCIO Cadeira 5

ELOGIO AO PATRONO JOSÉ DE ARCANJO DE DEUS E SILVA Boa noite a todos Saudações Exmo. Presidente da Academia Zedoquense de Letras Ezequias Sousa da Silva; Saúdo confrade acadêmico Joaquim Rodrigues Amorim; Senhores acadêmicos e senhoras acadêmicas; Estimados colegas familiares e convidados Boa noite; Agradeço de coração a presença de todos; A Academia de Letras, destes tempos imemoriais exaltam os valores imateriais dos seus patronos, ao todo classicamente são quarenta membros, “os imortais” desde os primeiros moldes da Academia Francesa, fundada em 1635 por Richelie, bem como Academia Brasileira de Letras, fundada na cidade do Rio de Janeiro em 20 de Julho de 1897 pelos escritores Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, Afonso Celso, Graça Aranha, dentre outros: Medeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco,Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Ruy Barbosa. Já em nosso Estado, no âmbito regional, segue o mesmo padrão a Academia Maranhense de Letras, fundada por Antonio Lobo em 10 de agosto de 1908, e seus fundadores: Alfredo Assis Castro, Astolfo Marques, Barbosa de Godói, Correa de Araujo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva. Também fazendo parte de vinte e oito instituições acadêmicas de letras do Maranhão nasce em 16 de Julho de 2018, a Academia Zedoquense de Letras, casa de José Gonçalves, nosso patrono maior, que foi apresentada à sociedade em noite memorável de 02 de fevereiro de 2019, seguindo os mesmos padrões e rituais das academias anteriores. Podemos afirmar que na contramão da fama negativa e dos maus históricos que norteiam a história da jovem cidade de Zé Doca, surgiu a Academia zedoquenses de Letras, de um sonho que hibernava no coração de alguns de seus fundadores, e assim de modo surpreendente irrompemos do anonimato das nossas reuniões literárias para a sociedade local, para o nosso Estado e quiçá para o Brasil e o Mundo. Graças ao espírito, talento e coesão dos confrades capitaneada pelo jovem Ezequias Sousa da Silva, nosso presidente, e todos os fundadores a saber: Michel Herbert Alves Florêncio, Antonio Raimundo Sousa, Luciênio Lindoso Azevedo, Mailson Martins, Nelci Costa Moraes, Celeste Brandão, Raimunda Maria de Lima Rocha Dabia, Raimundo Cassiano Silva¸ Valéria Carvalho do Maranhão Falcão, Webert Chimendes Nunes, Nazira Reis Cutrim, Maria Celeste Brandão, Graciane Soares e Soares, Iraciel Fernandes Macedo, Kennedy de Oliveira Varão. Foram estes inicialmente os fundadores. Somaram-se a estes, os confrades: Francisco Barros Lima e Joaquim Amorim. Se os ocupantes das cadeiras das academias no mundo todo divergem em seus Currículum Vitae, não podemos dizer o mesmo sobre as virtudes dos patronos: a honra, reverência, o decoro, a probidade, o pudor, o civismo, o exemplo de vida a ser seguido, o respeito e a honestidade, a intelectualidade, acompanham todos os patronos das academias formando virtudes comuns que devem ser copiadas, lembradas e cultuadas. Na exaltação dos seus patronos, por seus empossando e na defesa de uma cadeira acadêmica relembramos para nossa douta academia, para cidade através da nossa sociedade, que tais vultos com suas virtudes fulguram como exemplo a ser seguido por todos, acadêmicos ou não, jovens ou não, estudantes ou não, influenciando deste modo, para o bem, os valores louváveis.


Neste contexto a AZL eclode com voz e vez, e com fôlego uníssono. Irrompemos do silêncio mórbido, do descalabro das coisas fúteis, dos maus exemplos, das desvirtudes, da criminalidade desumana, da desonra e do desamor... Com coragem e vigor, esta academia surge neste cenário, para fazer a diferença positiva e prolífera não apenas com boas palavras, belos discursos, mas, sobretudo como exemplo para nossos jovens e estudantes. Lembremos e consideremos as palavras do ilustre jurista Rui Barbosa (1849-1923) em seu discurso ao Senado da República, em 1914. “De tanto ver triunfar a nulidade; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver se agigantarem os poderes nas mãos dos maus; o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Peremptoriamente as instituições acadêmicas, incluo aqui a jovem AZL (Academia zedoquense de Letras) não se coaduna com as práticas maquiavélicas, própria dos pobres de espíritos que galgam o poder pelo poder, político ou não, na filosofia de que os fins justificam os meios, não se associa com a injustiça, não se abraça com a inveja, nem com arrogância ou vaidade. Pelo contrário cultua os bens, e a ética que forja o homem que contribui para a formação familiar e da sociedade de uma nação. Neste cenário de esperança por tempos melhores, de inspirações e esperanças, lançamos os pilares desta nossa Academia, nos valores imateriais dos nossos antepassados, a começar pelo patrono da Academia José Gonçalves, e neste momento relembro a trajetória do pastor José Arcanjo de Deus e Silva, patrono da Cad. 5 do Acadêmico Michel Herbert Alves Florencio. Médico poeta, escritor e apaixonado por esta cidade de Zé Doca. BIOGRAFIA DE JOSÉ ARCANJO DE DEUS E SILVA ( 1914-2000) Nascido em 12 de outubro de 1914. Filho do casal, Manoel Arcanjo de Deus e Silva e Joana Francisca Paz, natural de Altos João de Paiva-PI onde cresceu e estudou. Aos 18 anos de idade, em 1932 é incorporado ao serviço militar obrigatório, na capital Teresina-PI, nesta época estava ocorrendo um movimento no Estado de São Paulo, a Revolução Constitucionalista de nove de julho de 1932, ou Guerra Paulista, foi um movimento armado ocorrido no estado de São Paulo, entre julho e outubro de 1932, portanto noventa dias, que tinha por objetivo derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e a convocação de uma assembléia Nacional Constituinte. O jovem recém alistado parte de trem de Teresina para São Luís, e de transporte marítimo se desloca para Recife e Santos -SP, e de lá para Pindamonhangaba. -SP aonde participou do combate na retaguarda como “enfermeiro”. Era uma luta de brasileiros contra brasileiros e que morreram aproximadamente 830 (oitocentos e trinta) homens. Após o término desta traumática experiência de guerra, não demorou muito para dar baixa no serviço militar, já como Cabo das Forças Armadas do Exército Brasileiro. Foi nesta fase de vida que conheceu a primeira esposa, a moça Sinobilina. Desta união teve os filhos Gideão, Zedequias, e Maria dos Anjos (filha adotiva), e foi durante o trabalho de parto do terceiro filho, Sinobilino, que sua esposa chegou a falecer. Trabalhou como pedreiro e padeiro, foi proprieario de Farmácia, foi político Vereador presidente de Câmara Municipal em Águas Boas, foi ainda Juiz de paz, delegado interino por ter servido às Forças Armadas. Em 1945, aos trinta e um anos de idade José Arcanjo de Deus e Silva converteu ao evangelho. Catorze anos após sua conversão, em 14 de agosto de 1959 é consagrado Ministro do Evangelho pela convenção das Assembléias de Deus do Estado do Maranhão, nesta nova fase deixa a vida política. No ano de 1953 veio transferido para o Maranhão, como auxiliar no ministério pastoral, dando início ao profícuo ministério evangelístico. Em 1954 deu-se o seu segundo casamento com dona Maria Vitoriana da Fonseca e Silva com quem teve oito filhos Edma, José Arcanjo Filho, Esdras, Elma, Edna, Elves e Manoel Arcanjo Neto e Moisés de Deus e Silva. Morou nas cidades de Penalva de 1954-1955, Águas Boas entre 1955 e 1962, neste período visitava as cidades de Monção, Pedro do Rosário, Vitória do Mearim, em trabalhos evangelísticos. Transferido para Bom Jardim, permaneceu de 62- 69 , com ele dezenas de famílias acompanharam este jovem líder. Durante


a década de sessenta foi pioneiro em trabalho missionário, percorrendo em lombo de animal, indo de casa em casa, reunindo em pequenos grupos, sendo a casa de Sr Silvestre Rocha o embrião da futura congregação da Assembléia de Deus no povoado de Zé Doca, que na época tinha apenas oito casas. Este grande líder desbravou todos os interiores do Alto Turí em um trabalho apostólico ímpar de expansão do Cristianismo, muitas vezes em companhia do amigo, o Frei Luis d’Andréia em seu Jippe, ou mesmo sozinho em lombo de animal. Construiu a igreja Assembléia de Deus Central e, anexo um colégio para Educação Infantil. Após trinta e cinco anos de intenso trabalho ministerial em 1995, foi jubilado como Pastor. Após este período, em 24 de junho de 2000 chegou a falecer, em Brasília-DF após uma complicação de uma cirurgia de próstata. Deixou um legado de liderança genuína, ética e moral cristã, e mais de 2000 almas conversas, e diversas igrejas (missões), em varias regiões do Maranhão do Alto Turi. Reza o manual do obreiro cristão, que sua conduta dever primar pela ética ilibada, conduta moral para que com o exemplo possa pregar sem palavras, sem sermões. Líderes em seus misteres devem ser eternos vigilantes de si mesmo, para com autoridade de vida, possa cobrar dos seus liderados a mesma conduta moral. Ao mesmo tempo em que sua vida deixa o rastro do bom exemplo, exerce influências que vão além da fé, pois influência pensamentos e o comportamento de outras pessoas. Não há duvida do efeito ressonante da virtude, seja boa ou má, na vida daqueles que nos cercam. Diz a palavra de Deus, que: “a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus, Romanos 8:19 . José Arcanjo de Deus e Silva, não se ocultou, nunca negou sua fé, nunca ninguém o viu envolto em escândalos, por esta razão, e por suas virtudes, não resta dúvida que seu nome como patrono nos inspira e nos enche de orgulho, nossa academia, a cidade que o acolheu, e em especial seus familiares. Meu muito obrigado. Michel Herbert Alves Forêncio

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” Apóstolo Paulo, Cartas II Timóteo 4:8


FILARMÔNICA PARA FONES DE OUVIDO

JOÃOZINHO RIBEIRO Poeta e compositor https://oredemoinho.blogspot.com/2019/04/filarmonica-para-fones-deouvido.html?spref=fb&fbclid=IwAR106IojDxkpqWghDPTmn0l8Qydm4CzELnzQ3yCyJMS0QKwo4Uan2AomAJs

Na antessala do dentista ou do urologista todo poeta sempre treme, ou se prepara pra ser um fingidor posteriormente, como profetizava o Pessoa. Estava numa destas situações, numa tarde do fevereiro último, levando comigo um exemplar do “Filarmônica para fones de ouvido”, que havia recebido de presente das mãos do próprio autor pela manhã, com direito a autógrafo e um pouco de cumplicidade compartilhada com o ineditismo da obra. Com a mente impregnada de uma música do parceiro Zeca Baleiro, intitulada “Muzak”, preenchia o tempo de espera na antessala com a leitura dos versos cometidos pelo poeta Félix Alberto Lima. Àquelas alturas, tentava entender a sutileza de “estou aqui em Arari em Nova Iorque...”, da música. Não consegui me descolar da leitura, materializada numa espécie de decálogo, que o poeta arquitetou como divisão, para conduzir os leitores incautos, ou nem tanto, para um território em que a palavra sempre tem razão – o da linguagem dos sentidos. Iniciando com DA LUZ NEGRA até o encerramento, com DO LINHO QUE HÁ NA PALAVRA. Entre o ponto de partida e aquele que deveria ser o de chegada não há tréguas poéticas, o que há são açoites, como na provocação inicial de AMOR DE NUNCA MAIS: “O que vai durar não é o capricho/mas a pirotecnia/da paixão destrambelhada/um beijo da boca pra fora/sem gozo ou estardalhaço” Açoites que não chegam a ferir, mas que parecem lamber algumas cicatrizes da existência comum, assim como um cimento a colar os caquinhos das paixões ensandecidas de outrora; substituídas, hoje, pela mansidão manifesta na contemplação de um cais, acariciado pela sinfonia das vagas errantes. A palavra que nos apedreja também comete inusitados afagos na poética de Félix, e distribui afetos, a barganhar alguma peraltice de meninos marotos, cantarolando CANTIGA DE RODA e de rodar as águas da memória: “Ovo não tem pelo/alma não tem pena/aqui nesse pé de página/o macaco pula/e a pomba gira/é a ciranda do poema” É da memória, talvez de uma gaveta entreaberta, esquecida no tempo, com cheiro das águas de infância e saudades, que o poeta resgata e costura uma das paisagens mais bonitas em MEMÓRIA AO REDOR DA CASA..


“Há um velho/na cadeira de balanço,/uma coleção de relógios/tristes sobre a mesa da sala/e o tempo fustigando/samambaias/suspensas nos cobogós” O elemento vazado, pra efeito de decoração e carinho das samambaias, parece costurar também na tarde que frequento, na antessala do consultório médico, todas as possibilidades que a poesia ainda é capaz de introduzir em nossas almas céticas e desencantadas. Assim como atesta a existência de “...um ponto cego entre um ouvido e outro”, extraído DO OCO DO MUNDO. De Arari a Nova Iorque, o Muzak da antessala agora se traduz em outras geografias e distâncias poéticas, percorridas pelo autor; de Barra do Corda a São Luís; de São Luís para o mundo, levando consigo toda a infinitude das estrofes, e a finitude da passagem por esta breve estação terrena. Na conversa DE ÁGUA E SAL tenta fixar uma espécie de pacto com os elementos, e se aventura nos desenhos, por ONDE CAMINHA O SOL À TARDE... “abre uma página em branco na areia/percebe a imensidão de lamento no longo apito das/embarcações” Do ofício de viver e dos seus diversificados vícios, difícil encontrar exatidão geométrica nas escolas literárias para enquadrar estilo ou métrica das construções concentradas no canteiro desta obra inacabada denominada “Filarmônica para fones de ouvido”. Em alguns momentos nos insere em sonetos, como em TUDO ERA QUIMERA.. “essa canção que toca no rádio agora/bem que poderia falar do nosso amor/do primeiro bilhete deixado no guardanapo/molhado pela chuva de tanto desejo” Tarefa ingrata essa reservada a um poeta, falar da poesia e de uma determinada obra de um outro poeta, desafiando os mistérios e os limites, dos quais Goethe já nos alertava, ao descrever sua relação com a sua própria elaboração criativa: “O início e o fim de toda atividade literária é a reprodução do mundo que me cerca por meio do mundo que está dentro de mim.” A tarde vai trucidando as horas, e eu vou mergulhando num Rio Corda imaginário, na inútil tentativa de decifrar este mundo reproduzido pelos versos do poeta Félix Alberto Lima, provocando as nascentes que estão dentro de mim e dele, como O TEMPO DEPOIS DO ALUVIÃO... “a vida era quase um bolero/nos arrebóis dos olhos do menino/que via estrelas correrem sem pressa/no céu do seu primeiro ano ginasial” No livro que está exposto à minha frente, diante dos meus olhos de poeta, os versos irrompem como as águas de uma barragem recém rompida e preenche todos os espaços da antessala, fazendo com que fiquem despercebidos todos os objetos e pessoas que estão compartilhando o lugar comigo. A chuva castiga lá fora, inundando as ruas, as pedras e as ladeiras da cidade, anunciando os rigores de um inverno, tempo propício para a embriaguez de versos, tal como avisa o poema RIBAMARES... “chove a essa hora da manhã/na rua duvivier/chove em volta do apartamento/chove dentro da sala/no vão de uma calçada qualquer/em são Luís” Estamos no ano de 2019, que carrega consigo signos indecifráveis e sombrios, a poesia se faz mais do que necessária para expurgar milhões de demônios que regateiam as almas dos poetas. Com todo o afeto das canções, que por vezes nos separam e mais generosamente nos unem, o poeta se revela em MEU LADO ALADO, com a precisão de um menino, armado de baladeira pra não deixar de ser de aqui e de agora, e de todos os tempos repassados da memória... “sou mais passarinho/que cometa/vivo entre coisas/e isso me basta/sou da terra e me alimento das águas/e do mato/rasgo o céu e me farto/na imensidão” Com certeza, nem moderno nem eterno, apesar de o terem declarado imortal, o poeta seguirá combinando essas pequenas diabruras poéticas, do seu quintal ludovicense para as avenidas do universo, sem direito a um último BACKUP... “não sou de vergar./se for preciso/eu ponho/o meu poema/na nuvem,/engulo teu sorriso/de mil likes/encomendados/e sumo por aí.../pode apostar./e aí eu quero ver:/sofrer/será teu próximo post”.


MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE

DILERCY ADLER

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https://juceysantana.blogspot.com/2019/04/mulheres-na-literaturamaranhense.html?spref=fb&fbclid=IwAR2AXnca6NGD0iHagzL0GkfO74IudQTywzXjmcCK2RmIttmFtkBZCo4qchw

O eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano *Dilercy Adler MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE é o tema maior da minha fala adotando, assim, o da própria Mesa. O eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano, elegi como um subtema que se firma como um esclarecimento a mais acerca da linha argumentativa que defini para esta manhã, neste belíssimo e marcante evento, nesta bela aniversariante cidade de ItapecuruMirim, na sua Primeira Feira de Livros, por isso um grande marco na história da cidade: a I FLIM!!! Além dos meus Parabéns a esta cidade, quero expressar o meu desejo de que a esta I FLIM, se sucedam infinitas feiras de livros nesta pródiga cidade. Quero iniciar esta minha breve análise com palavras positivas e verdadeiras ,para dar alento ao coração das mulheres e aos homens de boa vontade, as quais se referem à quebra de paradigmas relativa a essa temática, afirmando que essa quebra está sendo feita há algum tempo, lentamente, mas quebrando sempre...numa viagem sem volta, e observa-se também uma quebra mais lenta inicialmente, mas com visíveis avanços que se fortalecem a cada dia. Também com palavras de agradecimento a todas as mulheres, [...] deusas e humanas que ousaram quebrar os paradigmas opressores do seu tempo e, destemidamente, fizeram da fragilidade feminina a sua força, o seu escudo, a sua lança nos embates indispensáveis da vida, sem esquecer o amor e o erotismo, forças geratrizes de vida e criação (ADLER, 2001, p. 02). Nesse sentido, temos coletado em diversas fontes que, historicamente, com raríssimas exceções, o homem tem marcado a sua existência por meio da sua supremacia sobre a mulher, em decorrência de que O universo masculino é caracterizado por mais plasticidade e acesso a um quantitativo e maior intensidade de estímulos para o desenvolvimento das suas potencialidades do que o feminino. 43

*Psicóloga, Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação, Especializada em Sociologia e em Metodologia da Pesquisas em Psicologia. 12 livros publicados, organizou 12 antologias e integra mais de cem entre nacionais e internacionais.Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL (biênio 2016-2017), Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Delegada no Maranhão do Liceo Poético de Benidorm/Espanha, entre outras entidades Lítero- Culturais, e agraciada com várias premiações literárias.


Assim é que, também a arte, a exemplo da ciência, tem demonstrado um quantitativo maior de expressões, de obras masculinas do que de femininas. Ou seja, em todas as áreas do conhecimento, o pensamento adotado e divulgado socialmente é aquele que tem na sua base o modelo eurocêntrico, masculino, caucasiano e aristocrático (ADLER, 2016, p.230). Ao se ter acesso a qualquer manual de História da Literatura, nota-se a débil presença ou completa ausência de mulheres escritoras. A lacuna no que diz respeito às mulheres, como sujeitos na História, é vasta. Nesse contexto, cabe à crítica literária feminina pesquisas e estudos, darem visibilidade às mulheres, tornando também audíveis suas vozes e discutindo o real lugar da autoria feminina no cânone literário, desconstruindo a visão predominante eurocêntrica, masculina, caucasiana e aristocrática, referida anteriormente. E esta mesa traduz e concretiza essa preocupação. De forma prática traremos alguns nomes e situações de mulheres na literatura maranhense, tomando por fio condutor a inserção dessas mulheres em três Academias de Letras do Maranhão, mas tomando por base, inicialmente, a Academia Brasileira de Letras, de modo sucinto. A Academia Brasileira de Letras-ABL foi fundada no Estado do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, por iniciativa de Machado de Assis, seu primeiro presidente, com o objetivo de preservar a língua e a literatura nacionais. A sessão inaugural foi realizada numa sala do Museu Pedagogium, na Rua do Passeio, com a presença de dezesseis acadêmicos.

Em pé [da esquerda para a direita]: Rodolfo Amoedo, Artur Azevedo, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, José Veríssimo, Sousa Bandeira, Filinto de Almeida, Guimarães Passos, Valentim Magalhães, Rodolfo Bernadelli, Rodrigo Octavio e Heitor Peixoto. Sentados [também da esquerda para a direita]: João Ribeiro, Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e Silva Ramos.

Anteriormente, no dia 28 de janeiro de 1897, fora realizada a sétima e última sessão preparatória da fundação. Na ocasião foi apresentado o seu Estatutocom as assinaturas de: Machado de Assis, Presidente; Joaquim Nabuco, Secretário-Geral; Rodrigo Octavio, Primeiro-Secretário; Silva Ramos, Segundo-Secretário e Inglês de Sousa, Tesoureiro. E, no seu artigo 2º, preconiza: Art. 2º - Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. As mesmas condições, menos a de nacionalidade, exigem-se para os membros correspondentes. Ainda no início dos anos 50, o Regimento Interno da ABL ratifica a impossibilidade de elegibilidade feminina e altera o artigo: os membros efetivos serão eleitos, dentre os brasileiros, do sexo masculino, deixando mais claro ainda a prerrogativa excludente do gênero feminino.


A primeira candidatura feminina, Amélia Beviláqua, em 1930, foi rejeitada, sob a justificativa de que o vocábulo “brasileiros” restringia suas vagas apenas ao sexo masculino; ficou claro que a Academia relacionava valor literário a gênero. A segunda mulher a tentar participar do círculo de literatos imortais foi Dinah Silveira Queiroz, cuja candidatura também foi rejeitada. Apenas em 1977 a instituição discutiu novamente a questão da mulher na Academia, para dar parecer favorável a Rachel de Queiroz (Cadeira 5). Assim, durante as primeiras oito décadas de existência da Academia Brasileira de Letras, nenhuma mulher fez parte da instituição (grifo meu). Só a partir dos anos setenta as mulheres ocuparam cadeiras na ABL. Em 1980, foi a vez de Dinah Silveira de Queiroz (Cadeira 7), que já tinha sido candidata anteriormente. A terceira mulher a ser membro foi a escritora Lygia Fagundes Telles, em 1985 (Cadeira 16); em seguida, Nélida Piñon (Cadeira 30), em 1989; Zélia Gattai, em 2001 (Cadeira 23); Ana Maria Machado (Cadeira 1), em 2003; Cleonice Berardinelli, em 2009 (Cadeira nº 8); e por fim, Rosiska Darcy (Cadeira 10), em 2013. Mas outro fato digno de nota é que nenhuma mulher patroneia nenhuma Cadeira na ABL. Outro fato digno de nota : A história da maior ausência dos 121 anos da ABL foi descoberta, por acaso, durante uma pesquisa em 2005. Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), foi o primeiro e mais emblemático vazio institucional produzido pela barreira de gênero", diz Michele Fanini. No livro de Michele Asmar Fanini A (in)visibilidade de um legado – Seleta de textos dramatúrgicos inéditos de Júlia Lopes de Almeida, lançado em março de 2017, pela Editora Intermeios e coedição da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ela demonstra a importância da escritora e a redime de uma sociedade machista, cujas barreiras de gênero a relegaram ao ostracismo institucional. Júlia era um caso raro: uma escritora que vivia com o dinheiro da própria escrita. Mãe de família, casada com o poeta português Filinto de Almeida, foi uma das primeiras romancistas do Brasil, metade do século 19. No papel de intelectual, que defendia o abolicionismo, assumia posições feministas e era sucesso de vendas, ajudou a criar a Academia Brasileira de Letras (ABL). Tudo para ver seu nome rejeitado a uma Cadeira dentro da instituição por ser mulher. No Maranhão, vou me reportar à Academia Maranhense de Letras-AML, à Academia Ludovicense de Letras-ALL e à Academia anfitriã: a Academia de Ciências, Letras e Artes de Itapecuru Mirim- AICLA. A Academia Maranhense de Letras, fundada em 10 de agosto de 1908, por Antônio Lobo, Alfredo de Assis Castro, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I. Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva, considerada de utilidade pública pelo Dec. Nº 92, de 19.novembro de 1918, do governador Urbano Santos da Costa Araújo. No seu quadro, 40 cadeiras patroneadas exclusivamente por intelectuais do sexo masculino. Nela existem três categorias de membros Fundadores: Fundadores pioneiros, num total de 12; Fundadores complementares, num total de 08 e Fundadores de Cadeiras, num total de 20. Nesta terceira categoria encontramos duas mulheres: Laura Rosa (Cadeira. 26) e Mariana Luz (Cadeira. 32). Nos seus quadros de membros, na qualidade de antecessores, apresenta três nomes femininos: Lucy Teixeira (Cadeira 7); Dagmar Desterro (Cadeira 24) e Conceição Neves Aboud (Cadeira 20), cuja sucessora e ocupante atual é Sônia Almeida. No quadro atual de ocupantes de cadeiras, existem mais três mulheres, além de Sônia Almeida: Laura Amélia Damous(Cadeira 6(Cadeira); Ana Luiza Almeida Ferro (Cadeira 12) e Ceres Costa Fernandes (Cadeira 39). A Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis foi fundada em 10 de agosto de 2013. Sabe-se que a Academia de Letras de São Luís, apesar de ter sido pensada por muitos intelectuais da cidade, só se concretizou no bojo de um Projeto proposto pela ocupante da Cadeira nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, Dilercy Aragão Adler, intitulado “Mil Poemas para Gonçalves Dias. Tendo sido aprovado o Projeto, a proponente convidou o Confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, ocupante da Cadeira nº 40 do IHGM, para assumir conjuntamente a implementação do referido Projeto. A ideia da elaboração do Projeto veio do Chile, o primeiro dessa modalidade, “Mil Poemas para Pablo Neruda” que contou com a participação da poeta Dilercy Adler tanto com poemas como do lançamento no Chile. No


projeto local a ideia proposta foi ampliada, e, além de poesias, uma segunda Antologia intitulada “ Sobre Gonçalves Dias”, constituída de artigos e pesquisas sobre a vida de Gonçalves Dias e ainda foram envolvidas três cidades: São Luís, Caxias (onde Gonçalves Dias nasceu) e Guimarães (onde faleceu em um naufrágio na Costa dos Atins. Cada cidade tinha a sua programação e São Luís incluiu nas suas atividades a fundação da Academia de Letras da cidade: A Academia ludovicense de Letras- ALL. Vinte e cinco pessoas assinaram o livro ata da Fundação, juntamente com outras pessoas, como testemunhas, pertencentes a diversas instituições, nacionais e de outros países, presentes ao ato. Dentre esse total de assinantes tinha apenas 3 mulheres: Dilercy Aragão Adler, Ana Luiza Almeida Ferro e Clores Holanda Silva. Depois, o ingresso na Academia deu-se por indicação de nomes pelos membros fundadores e as demais cadeiras foram ocupadas por meio de eleições, de modo que as mulheres estão assim distribuídas dentre as categoria: Membros efetivos fundadores: Dilercy Aragão Adler (Cadeira 8), Clores Holanda Silva (Cadeira 30) e Ana Luiza Almeida Ferro (Cadeira 31). Dos Membros efetivos indicados por Membros Fundadores: Ceres Costa Fernandes (Cadeira 34) e Maria Thereza de Azevedo Neves (Cadeira 13). Membros efetivos eleitos, sendo o 1ª. Ocupante da Cadeira: Miriam Leocádia Pinheiro Angelim (Cadeira 24) e Jucey Santos de Santana (Cadeira 35). Um dado interessante é que das 40 Cadeiras, seis são patroneadas por mulheres, além do que a Patrona da Casa é uma mulher, negra, filha de uma mulata forra e pai negro. Patronas das cadeiras: Maria Firmina dos Reis (Cadeira 8), Laura Rosa (Cadeira 25), Maria de Lourdes Argollo Mello (Dilú Mello - Cadeira 29),Lucy de Jesus Teixeira (Cadeira 34), Maria da Conceição Neves Aboud, (Cadeira37) e Dagmar Destêrro e Silva (Cadeira 38). A ALL em 3 gestões já teve uma Presidente do sexo feminino: a Psicóloga, Escritora e Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler (2016-2017. No livro Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, lançado em 2017, na página 76, Dilercy Adler expõe a seguinte inquietação: [...] Embora a ALL tenha sido fundada 401 anos após a fundação da cidade de São Luís, talvez essa demora fosse em função da espera do tempo/destino do momento adequado para que Maria Firmina tivesse nela lugar de destaque. Às vezes me pergunto: Se tivesse sido fundada antes, seria ela a Patrona? Acredito que dificilmente. A Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes-AICLA foi fundada em 9 de dezembro de 2011, por 34 Membros Fundadores. O seu quadro de Patronas apresenta 5 mulheres: Mariana Luz (Cadeira1); Maria das Dores Cardoso (Cadeira 7); Graciete de Jesus Cassas e Silva (Cadeira 8); Maria José Lopes Martins (Cadeira 23) e Lili Bandeira (Cadeira 24). As ocupantes de cadeiras da AICLA são 5: Maria da Assenção Lopes Pessoa (Cadeira13), Jucey Santos de Santana (Cadeira 17), Maria das Mercedes Sampaio de Menezes (Cadeira 33), Benedita Silva de Azevedo (Cadeira 34) e Terezinha Maria Muniz Cruz Lopes (Cadeira 36). Membros Correspondentes. De um quadro de 24 cadeiras, duas são patroneadas por mulheres:Blandina Santos (Cadeira 2), Teresinha Bandeira de Melo (Cadeira 15). Ocupantes Dilercy Aragão Adler (Cadeira 2), Mirella Cezar Freitas (Cadeira 5), Antonia Silva Mota (Cadeira 7), Maria de Fátima C. Travassos (Cadeira 14) e Maria Cecília Cantanhede Dutra (Cadeira 15). Dentre os dois Presidentes na recente história da AICLA, nota-se com satisfação, a presença de uma mulher: a Escritora Jucey Santos de Santana, atual Presidente. Uma homenagem especial a uma mulher maranhense que traduz apalavra nos embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano: Através da medicina, Maria Aragão entregou-se às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária. Foi uma eterna defensora das bandeiras libertárias e continua a


ser referência para a luta popular do Maranhão. A médica foi também Diretora do Jornal Tribuna do Povo e lutou contra a ditadura militar. Os dados apresentados ratificam as ideias iniciais, tanto de exclusão das mulheres como da quebra de paradigmas quanto à inserção da palavra feminina no mundo humano, e já se percebe o eco da palavra lírica e da palavra dos embates femininos de inserção em todas as áreas de saber, como também nos campos profissionais. Assim, nas academias de letras mais novas, já fundadas neste novo milênio, se observa na amostra pesquisada que, das quatro academias citadas, as duas centenárias ( ABL, 1897 e a AML, 1908) têm patronos, na sua totalidade, escritores do sexo masculino, enquanto as duas academias criadas neste novo milênio (ALL, 2013 e a AICLA, 2011) têm patronas e ocupantes de cadeira do sexo feminino, embora não seja ainda expressiva essa presença. Por isso, reafirmo que essa quebra está sendo feita, lentamente, mas quebrando, sim, paradigmas, superando exclusão... numa viagem sem volta.Percebe-se ainda, claramente, um movimento mais lento inicialmente, mas com visíveis avanços que se fortalecem a cada dia. Evoé! Nota: Do latim evoe : Grito de evocação proferido pelas sacerdotisas que cultuavam Baco, pelas bacantes. Por Extensão Grito de felicidade, de alegria; expressão de entusiasmo e exaltação. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Poesia feminina: estranha arte de parir palavras. São Luís: Estação Gráfica.2011. ADLER, Dilercy Aragão. Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor. São Luís: ALL, 2017. ADLER, Dilercy Aragão. Poesia Polarizada a partir do gênero: Condição real ou engendrada. Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-AJEB: Palavras 2016. Porto Alegre: Evangraf, 2016. SANTANA, Jucey Santos de. Mariana Luz: vida e obra. Itapecuru Mirim: editora, 2014.


O SEGREDO VAZIO DA SAUDADE

CLORES HOLANDA

O vazio da saudade descobriu a chave de um segredo entre papeis, objetos e frascos de perfumes abertos à procura de um tempo passado. A porta abriu. Vejo caixas e adereços deixados guardados como se ali estivessem protegidos do meliante. Viajo na materialização de um espírito que se libertou nas asas da imaginação como se fosse um beija-flor buscando extrair o néctar da flor. Não sinto mais o cheiro. O prazo se esgotou. As lembranças guardadas quase nada restou. O prazo de validade acabou. Na tentativa de conseguir entre giros e combinação de números a porta se escancara. Tenho a sensação saudosa como se ali fosse encontrar memórias de Zazá. Fico no vácuo, a cartada acabou. Restou o amor. Tudo se transformou. A esperança reluz e se torna luz. Trancafiada no escuro da expectativa vou ao encontro da liberdade como um pássaro sem asas. Quero voar, voar e dançar no ritmo do bambolê. Sonhar e acordar, acordar e sonhar. Viver sem sentir o vazio da saudade. Não quero guardar segredos. Vivo a liberdade. São Luís, 24 de abril de 2019.


MEMÓRIAS DE UMA BILHEIRA

CLORES HOLANDA

Nos meados dos anos 60 e 70, principalmente no nordeste brasileiro, a Bilheira, para quem não teve a oportunidade de conhecer é uma mobília de madeira utilizada para colocar potes e filtros de barro. Estes funcionavam como reservatórios de água para saciar a nossa sede. Digamos que seja a geladeira do tempo moderno. Lembro-me muito bem como se fosse hoje da Bilheira da casa de meus pais, em Presidente Dutra, localizada à Rua Magalhães de Almeida, sempre se destacava entre as mobílias da Copa. Nela se arrumavam em suas prateleiras os copos com “asa” (cada um tinha o nome gravado de meus irmãos e pais) e a caneca com alça comprida (usada para pegar a água do pote e colocar no copo, como forma de higienização), fabricadas em alumínio. Todos os dias, após o almoço eram bem areados. Dava gosto de se ver. Brilhavam tanto! Suas prateleiras eram enfeitadas de guardanapos bordados em “ponto rechilieu” pela minha saudosa mãe. A cada semana eram trocados. Cada um mais lindo que o outro. Os potes tanto eram cobertos com tampas de alumínio como por panos bordados com elástico para segurar na “boca do pote”. Para manter esses vasilhames cheios existia uma rotina. Todos os dias, pontualmente às 17 horas aguardávamos ansiosos a chegava em nossa casa do saudoso Zé Tapuaia, conhecido como o “Puxador de Água”, profissão comum nessa época. Era um homem de estatura baixa, moreno e franzino mas possuía uma força muito grande. Para conseguir a água ele se dirigia ao poço que ficava no fundo de nosso quintal, levando duas latas de tamanho grande consigo, reutilizadas depois que acabava o querosene e também eram de alumínio. Como consumíamos muito querosene para servir de combustível para acender nossas lamparinas, aladins e candeeiros, não faltavam esses depósitos, reutilizados ainda como reservatórios de leite, banha de porco entre outros. Nas latas de querosene se pregavam bem no meio suportes de madeira, necessários para amarrá-las na corda da gangorra e ir até o fundo do poço, até enchê-las de água. Depois, em movimentos de muita força ele puxava a lata com água até à beira do poço e ia enchendo as latas. Sobre seu ombro colocava-as uma do lado da outra e carregava até à Copa e derramava a água nos reservatórios. Para coar a água eram colocados panos brancos bem limpinhos na “boca do pote”. Quantos resíduos ficavam no fundo do pano como resto de areia, pedrinhas e “cabeças de prego” (inseto comum às larvas, ataca especialmente árvores frutíferas e as pupas aquáticas de mosquitos). Ficava abismada em ver a quantidade de “cabeças de prego” se mexendo no pano. No outro dia a água estava bem geladinha pronta para saciar a nossa sede durante o dia.


Como vivi boa parte de minha infância e pré-adolescência nesse tempo pude perceber, inconscientemente da consciência ecológica de cada um com atos tão simples através da reciclagem e reutilização de objetos, evitando dessa forma o acúmulo de lixo, destruidor da natureza. São Luís, 30 de abril de 2019.


UM CONTO DE TEMPO E PESSOAS DILERCY ARAGÃO ADLER* À vovó Duca Este é um conto para adultos, para idosos e para crianças... Esta história tem como protagonista a Vovó Duca, que assim era chamada carinhosamente por nós. Não me lembro do seu nome, nem era a nossa avó (biológica), de fato. Mas a chamávamos de avó, eu e os meus irmãos. Eu não conheci as minhas avós. Só um avô, o pai da minha mãe. Vovô Nhozinho. Um homem alto, de olhos azuis, forte muito forte ainda no auge dos seus 80 anos. A vovó Duca era bonita, cheirosa. Naqueles tempos as mulheres costumavam usar talco após o banho. Eles eram passados pelo corpo com plumas lindas, de várias cores que ficavam na parte de cima de púcaros coloridos que ornamentavam as penteadeiras usadas na época. Vovó Duca morava num quarto alugado, no casarão em que morávamos. A família da sua filha morava em um bangalô, numa rua próxima à nossa casa. Eles tinham uma situação econômica boa. A família da filha parecia ter certo prestígio. Não sei por que ela não morava com a família da filha. Hoje fico pensando em algumas possibilidades. Talvez não se desse bem com a filha, esta pouco a visitava. Ou talvez quisesse ter a sua independência, ter o seu próprio espaço, que, apesar de ser pequeno, se pensarmos no quarto, tornava-se grande, quando pensamos no espaço todo do casarão e no acolhimento que tinha de todos da nossa família. Todas as manhãs Vovó Duca depois de tomar café, já arrumada e com sinais claros do talco usado, pelo perfume e pelos vestígios brancos, mas bem discretos, no seu pescoço, saía para ir à casa da filha ou à Rua Grande, a rua principal de comércio na época, ou a outro lugar qualquer. O fato é que ela saía sempre, todas as manhãs. Hoje fico pensando... acho que ela buscava ocupar o seu tempo com coisas que lhe agradavam para esquecer o peso de ser só... o peso da suposta e imposta “inutilidade” do idoso na nossa sociedade... o peso dos anos que terminam por tirar da pessoa o reconhecimento da beleza depois de muitos anos vividos, considerando que na sociedade ocidental atual, a única beleza possível é a dos jovens. Mas, eu a achava bonita. Ela não deixava de usar sapato de salto. Claro que era um salto não muito alto, nem muito fino. Mas lá ia Vovó Duca toda empertigada para o seu passeio matinal... Imagino quantas coisas não devem passar pela cabeça de alguém que viveu toda uma vida de sonhos que foram se realizando um a um ou mesmo sendo desconstruídos pela decepção, pela realidade antagônica da idealização... e depois se vê sem muitas pessoas que amou, porque já morreram e constata que a qualquer momento pode ser a própria vez de partir para sempre e não ver mais o sol nascer ou se pôr, as ondas banhando as areias, as pessoas queridas crescerem e envelhecerem... Um dia vovó Duca não se levantou para o seu banho e para o seu café e passeio matinal; ela simplesmente não acordou... morreu dormindo... morreu em paz! Hoje, a menina que fui já vai distante, estou chegando aos 62 anos. Vividos com muitas histórias de lutas, algumas decepções, mas, alegrias, realizações de sonhos e poesias ornamentando as minhas impressões do mundo, os meus sentimentos e emoções. Como dizem as poesias: Saudade no tempo da minha varanda, ou ainda Sentença, entre outras.


SAUDADE NO TEMPO DA MINHA VARANDA O rio a rua... a relva... a rede balança sozinha na saudade da minha varanda... o tempo... o vento balança a rede onde há pouco eu estava deitada sozinha... o balanço da rede traz lembranças e lembranças embaladas... em invólucro de mel alfazemado... o vento... uma tampa batendo soando suavemente graves ruídos no tímpano já cansado de tanto ficar sozinho de palavras de amor de burburinhos do rio de barulhos da rua do farfalhar das folhas na relva sem os suspiros inspirados na lua... resta a solidão... a solidão de dias cansados cansados de tanta espera das estradas distantes no tempo e principalmente da tua estrada que quero minha!... In: Desabafos... Flores de plástico... Libidos e Licores Liquidificados, 2008, pág. 97.

SENTENÇA O desejo não envelhece os sonhos se renovam sempre a cada inverno curtido a cada sentença cumprida as sensações desejadas pululam pelas artérias o comprimento da vida... sempre tão curto no seu decurso prega-nos peças prognosticadas... entre desejos e sonhos o corpo não obedece os sentidos pouco aguçados desperdiçam todo o néctar e a abelha deixa o mel es cor rer


pelo canto da boca sorvendo sofregamente a porção que ainda lhe cabe! In: Desabafos... Flores de plástico... Libidos e Licores Liquidificados, 2008, pág. 99.


PANTEÃO DOS INCOMUNS EDMILSON SANCHES

Um grupo de WhatsApp que reúne a chamada “Velha Guarda” caxiense tornou-se uma verdadeira “Arca de Noé” de nomes de pessoas, de fatos a elas relacionados, de coisas e loisas da vida de cada um ou da vida de cada um e seus conhecidos e da vida de cada um, de seus conhecidos e suas interações com a vida da cidade, da nossa Caxias. Para mim, então, com olhar de caxiense apaixonado e de jornalista e pesquisador que tanto já descobriu e escreveu sobre pessoas, causas e “coisas” caxienses, aquele grupo (e outros também) é uma mina!... No dia 15/04/2019, um dos membros da Velha Guarda, o Arnaldo, inicia um assunto que eu já havia debatido na página “Caxienses Mundo Afora”, no Facebook, em 15 de dezembro do ano passado: os loucos de nossa cidade. Talvez dizer “louco” ou “doido” ou “maluco” já seja, a esta altura dos tempos, “politicamente incorreto”... Até porque, como alguns caxienses se apressaram em desfazer, diversas das figuras que foram citadas não seriam propriamente “loucas”; no máximo, apenas inveterados bebedores de cachaça. Não teriam um parafuso a menos; no máximo, uma porca estaria desatarraxada -- ou uma rosca desenroscada, uma junta desjuntada, um pino empenado, um rebite arrebitado... A Ludce Machado, da direção da Associação da Velha Guarda Caxiense, ao ver tantos nomes de pessoas “incomuns”, gravou, com bom humor, áudio dizendo que ela teria nascido em Caxias, e não no Meduna. Para quem não se lembra, o Sanatório Meduna foi um dos primeiros hospitais psiquiátricos particulares do Brasil. Funcionava em Teresina (PI), acolhia até 200 pacientes e fechou em maio de 2010, após quase 60 anos de existência -- sua construção iniciou-se em 1943, mas a inauguração só ocorreu em 1954. (O nome “Meduna” é o sobrenome do psiquiatra Ladislau Meduna, nascido na Hungria e refugiado nos Estados Unidos, onde, na época da 1ª Guerra Mundial, se naturalizou). Os registros escritos e em áudio do grupo da Velha Guarda Caxiense no WhatsApp sugerem mais de 40 pessoas “incomuns”, quatro dezenas de “loucos”. Antes de nominá-los, expliquemos o título deste texto (“Panteão dos Incomuns”): --- como se vê em definição no monumental “Dicionário Houaiss”, “panteão”, além de templo dos deuses, significa também o conjunto de figuras públicas, célebres em determinado lugar e que perduram na memória individual ou coletiva (e todos nós temos ou tivemos nossos “doidos” na infância e/ou adolescência, que ainda residem em nossas lembranças); --- “incomuns” são as pessoas que, por qualquer razão ou motivação, causa ou etiologia (psicológica, social etc.) desenvolvem ou adotam comportamentos que não são comuns em relação ao usual das demais pessoas ou conjuntos de pessoas de uma dada sociedade. De qualquer modo, temos de lembrar que ser diferente é da natureza de todos e de cada um de nós. Dos 41 nomes listados na conversa do dia 15/04/2019, pelo menos cerca de 15% receberam ressalvas de que não seriam propriamente “loucos”, entre eles: Carlos Bombeiro, Juca Pau de Lata, Maria Poquinho, Miguel Fala Fina (Miguel Arcanjo Rocha), Paulo Bigode no Cu (Paulo Augusto Queiroz Baima Pereira; estudamos juntos o Ensino Médio no Colégio São José e sempre o vi igual a todos os demais colegas de turma). Da minha infância e adolescência lembro-me de que conheci razoavelmente o Feijão, o Frota, a Maria Poquinho, o Miguel Fala Fina, o Pedro e o Zé Merda e tenho algumas recordações da Boi Te Come, do Juca Pau de Lata e do Sertão. Não sou candidato a santo, mas a nenhum desses eu “entiquei”, provoquei, aborreci. Não os detratava e saía correndo. Ao contrário: por exemplo, com o Feijão (cujo nome era Antônio) eu e o Walburg Ribeiro Gonçalves Filho conversávamos, perguntávamos como estava a situação, arriscávamo-nos a dar alguma orientação e, às vezes, dávamos algum dinheiro. Quando a conversa incluía o Walburg (subgerente do


Banco do Brasil, meados da década de 1970), ela se dava ali no Senadinho, “point” localizado ali na pracinha onde está o icônico prédio do BB em Caxias. Eis, em ordem alfabética, do “A” da Arroz Não Deu ao “Z” do Zé Arigó / Zé Dadá / Zé Merda, a lista com o nome pelo qual era conhecido cada um desses personagens incomuns de Caxias: -- Arroz Não Deu, Bianô, Boi Te Come, Bola Sete (B7), Caburé, Cagão, Carlos Barbeiro, Catumbi/Catimbó, Django, Feijão (Antônio Feijão), Freguim, Frota, Gavião, Goiaba, Gobilão, Gogó da Ema, Jabota, João Doido, João Golinha, Juca Pau de Lata, Manga Rosa, Maria Fulô, Maria Poquinho, Maxixe, Mel Com Água, Miguel Fala Fina, Pachola, Paulo Bigode no Cu, Pedro, Porco-Espinho, Raimunda Grude, Rosa Doida, Sertão, Tá Na Hora, Tenente, Tomé, Velha Debaixo da Cama, Volnei Cabeça de FNM, Zé Arigó, Zé Dadá, Zé Merda. * Precisamos recuperar e (re)escrever a história dessas pessoas excepcionais (sem trocadilho). Fizeram/fazem parte da realidade e da história de Caxias e, como se lê, ainda hoje fazem parte do imaginário de nós caxienses. De minha parte, lembro-me do Frota, com seus bregueços. Conversava com o Antônio Feijão; sendo bem tratado, ele não machucava ninguém, mas se o chamassem de "Ladrão da Romcy", podia sair da frente e correr -- era banda de tijolo e pedrada para todo lado. (A Romcy era a maior rede de lojas do Ceará. Começou a vender carnês de um tal "Plano Romcy da Sorte"... e aceitaram o Antônio Feijão como vendedor... O Feijão talvez gastasse o dinheiro e aí deve ter sido dispensado e passaram a apelidá-lo de "Ladrão da Romcy". Era tiro e queda; ele passava da calma à fúria em milésimos de segundo). Como morador, inicialmente, da Palmeirinha e da Galiana, conheci o Pedro, que desenhava bem, ali pelas bandas da Estação Ferroviária (hoje o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, de que sou membro e diretor). Pedro era calado, quieto, e quando ganhava um dinheirinho pelos desenhos que fazia no chão, ia ao mercado comprar comida. Com sua voz mansa pedia: "Concita, cem de pegado com osso!"). Lembro-me de que, eu criança, pedia ao Pedro para desenhar o mapa do Continente Americano impresso nas antigas embalagens (“carteira”) dos cigarros "Continental". Conheci bem a Maria Poquinho (ou Poquinha ou Poquim). Minha mãe -- uma dessas “almas boas” que Deus colocou na terra -- cuidou do filho dela, o Antônio Poquim, que teria morrido de hanseníase. Na foto do velório dele, em 21 de dezembro de 1967, que aqui se vê, está presente minha mãe, Dona Carlinda (primeira à esquerda, mãozinha no queixo, pensativa). Também, a menininha Fátima, sua irmã Santa (com a mãe, Maria Poquinho, recostada ai ombro) e a menina Mariman -- três filhas e a mãe, todas olhando o filho e irmão. Ainda na foto meu tio Raimundo João Gama Soares (o J. Gama) e o amigo Cacá, morador da Palmeirinha, ambos no final da foto, à direita. Quem tiver ressalvas, consertos, alterações, sugestões ou mais depoimentos e documentos sobre nossos “loucos”, aceitaria que me enviassem. Pretendo elaborar uma matéria jornalística sobre esses personagens transcendentais que, de algum modo, deixaram marcas eternas em nossas lembranças. Uma cidade é também seus loucos e nossas loucuras... Todas as guerras genocidas e os mais monstruosos crimes e os mais nazistas dos preconceitos foram ou são cometidos por "não loucos", os humanos classificados como "normais"... Quem disse que somos mais sãos que nossos “loucos”?


PARALELO 17: TRANSCENDÊNCIA E INDIGNAÇÃO NA POÉTICA DE LUÍS AUGUSTO CASSAS

PAULO RODRIGUES – Professor de literatura, poeta, escritor e autor de O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018) e membro da Academia Poética Brasileira

“não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade, e verdade”. (Tolstói) Transcender é um verbo que joga a palavra para o céu. Busca a asa do colibri e sustenta-se no alto, com um bater quase mágico, ou melhor, divino. Tão rápido que nos cega. Perito na arte como um monge budista, sabe elevar-se. Retrata muito bem o último livro lançado por Luís Augusto Cassas, pela Editora Penalux, em 2018. Recebi a obra completa do Cassas pelo SEDEX. Fiquei entusiasmado com a qualidade deste consagrado poeta contemporâneo, dono de uma vasta produção. Premiado e detentor de uma fortuna crítica musculosa, capaz de apontar caminhos seguros para a literatura brasileira. Não resisti. Comecei a lê-lo pelo Paralelo 17. Coletânea dividida em seções didaticamente pensadas: os meridianos de fogo, o caminho das pedras azuis, a face cinza da aurora, onde o vento faz a curva, viagem ao DNA ancestral, nuvens & pétalas e o vale da lua crescente. Todos os pontos importantes da poesia deste “poeta inédito” estão espalhados aí, numa cama de plumas. Álvaro Alves de Faria afirma na segunda página da apresentação: “o poeta está do lado dos que são honestos com a poesia, com o poema, consigo mesmo. Um poeta que simplesmente é poeta”. Estas conclusões ampliam o estudo do (círculo 17). Em AS PURIFICAÇÕES, o eu lírico experimenta a levitação pela palavra: só existe uma curva verdadeira: a palavra. o resto: purificações. (CASSAS, 2018, p.73)


Há uma fuga da imanência, provocada pela voz poética, com o jogo de alteração real da vida, feito pelo elástico da metáfora. “A palavra é a única curva verdadeira”. Uma afirmação com a carnadura de premissa filosófica que nos ajuda a penetrar nas belezas transcendentes do Cassas. Por outro lado, a purgação, o desfazer-se das impurezas proposto já no título do poema, elevam a construção espiritual do poema. É um autor, portanto, desenhado na espiritualidade universal. Nesta mesma perspectiva, o texto A NECESSIDADE É A MÃE DA LIBERDADE inaugura um olhar humano para o injustiçado no sistema capitalista, que representa uma parcela enorme do desejo de “apenas almoçar: casaco cinza surrado sobre camiseta branca barbante nas calças o mendigo-iogue em greve de fome sentado em padmásana à porta do metrô latinha vazia ao lado c/ a inscrição: ‘preciso almoçar, obrigado. (CASSAS, 2018, P.83) A constatação da inscrição é escatológica. Cassas leva a dureza da vida para a cena do poema, de maneira que, nos toca profundamente e nos sacode. Precisamos ferir os olhos. Eles precisam enxergar e transcender para um outro humano, mais coletivo/solidário. Em seguida, ele forma uma imagem coetânea. Há uma nítida inversão de valores em A ESTRANHA ARTE DO CUIDADO: os bichos os bichos estão bem cuidados os homens os homens é que comem lixo. (CASSAS, 2018, P.91) A palavra de Luís Augusto Cassas acende o fogo, nos sentidos de quem não sentia mais. Posso inclusive, apontar o diálogo entre o poema acima e O Bicho de Manuel Bandeira. Ambos são cartazes de denúncias. Não suportam mais a coisificação do homem. Há um sentimento de revolta na repetição de “os homens os homens”. Uma repulsa do quadro social injusto. Toda obra poética que mergulha profundamente na realidade cósmica primordial, torna-se rival do pragmatismo neoliberal, por isso faz denúncias mesmo sem percebê-las, em muitos casos. Na imaginação de Cassas é possível inverter a lógica da exploração como observamos nos versos de AVENIDA PAULISTA (A PROFECIA), página 95: quando se cumprir


a profecia de Isaias. e os lobos confraternizarem com os cordeiros. serão os mendigos servidos pelos banqueiros. e soarão trombetas de júbilo no universo inteiro. O sonho, a esperança, a harmonia convivem com o poeta. Cassas alimenta o mistério da profecia como um cristão, apesar de ser estudioso Taoísta. A criatividade dele nos mostra um mundo novo e idealizado como o de Platão. A realidade cruel, talvez não atenda aos oráculos do poeta, no entanto, sua escrita é reflexiva, consciente, ao ponto de transcender. Finalizo com uma citação de Sophia de Mello Breyner Andresen, que parece ler os versos do Cassas: “a fidelidade à transcendência está ligada à imanência. A essência da palavra de Cristo está no Evangelho, na revelação. Mas essa revelação só pode ser entendida se o homem quiser ver bem o mundo à sua volta”.

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AS CRONICAS DE CERES As crônicas de Ceres Costa Fernandes são publicadas no Jornal O Estado do Maranhão


HERÓIS NACIONAIS Ceres Costa Fernandes Muitos países costumam cultuar com grande zelo seus heróis nacionais, os pais da pátria. No Brasil, no curto espaço de duas gerações, na onda do revisionismo histórico, os heróis nacionais fundadores e, também, as grandes datas e acontecimentos históricos, trocaram, em alta rotatividade, pé com cabeça. Quem foi Pedro Álvares Cabral? A data de 22 de abril não é mais comemorada nas escolas. Há controvérsias sobre o Descobrimento. O 13 de Maio passa em brancas nuvens e a Princesa Isabel é menos conhecida da criançada do que a Princesa Aurora, da Bela Adormecida. Cadê o Dia do Soldado? Era feriado na minha infância. Os feitos do Duque de Caxias ainda entusiasmam algum menino? D. Pedro I passou de libertador a libertino - graças às séries de TV - e o Grito do Ipiranga, celebrado em nosso hino, virou um gemido ocasionado, dizem, por uma homérica indigestão. Ruy Barbosa, o Águia de Haia, foi também revisionado. Que é da fama do grande estadista? E o seu juízo nunca foi tão atual: “De tanto agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Ninguém duvida que a reavaliação da nossa história seja boa para refletirmos sobre nosso passado, com vistas à construção de um futuro. Mas será que desmontar as figuras tidas como fundadoras, sem cuidar de substituí-las, seja o caminho? Zumbi dos Palmares no lugar da Princesa Isabel não preenche todas as lacunas, e os abolicionistas José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, por exemplo, onde estão? Quem os representa na mente jovem? “Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo”, são palavras clarividentes do cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues. É certo que um país precisa de mitos, heróis e líderes. Com o Congresso Federal composto, em grande parte, de aproveitadores, quadrilheiros e corruptos, que líderes e heróis podem sair dali? E a corrupção que grassa no executivo e no judiciário? Ah, mas há o futebol! Em época de Copa do Mundo, aflora nosso patriotismo. É “a pátria de chuteiras” – Nelson novamente. De quatro em quatro anos, nos orgulhamos de ser brasileiros: vestimos verde e amarelo, a bandeira pátria tremula; gritamos, entusiasmados, Brasil! Brasil! Somos todos patriotas. Mas os ídolos futebolísticos são de barro, efêmeros, à exceção de Pelé, ou de alguns outros mais antigos, daqueles que não trocavam de time ou de país por dinheiro. Com a miséria e o enfraquecimento da nossa cidadania, bandidos e “artistas” fabricados ganham espaço na mídia empobrecedora dos valores morais da juventude. A indústria dos CDs e vídeos louva o crime e empolga jovens, que outrora cultuavam os heróis “do bem”, a substituí-los por traficantes e criminosos, tipo Escadinha, Fernandinho Beira-Mar e o onipotente Marcola. Tentar desmontar esses falsos super-heróis, redistribuindo os traficantes para novos presídios de segurança máxima, com bloqueadores de celular, controle de visitas, foi um passo a frente. Nada de ordens vindas dos presídios? Se os corruptos forem punidos, professorinhas que enfrentam incendiários de escolas com a própria vida subirem ao patamar da fama, ainda haverá chance de nossa juventude retomar seus valores. Não mais precisaremos ter vergonha de ser honestos." (Ceres Costa Fernandes)


TEMPOS DE ATA E PEQUENOS PRESENTES Ceres Costa Fernandes Com as chuvas intensificadas, talvez em abril, chegam as atas. Não cuido do tempo de calendário, sei, de ouvir dizer, que setembro pode ser tempo de caju e novembro o das mangas, ambos decorrentes de chuvisqueiros peneirados. Mas na minha antiga casa, as árvores eram meio rebeldes e davam fruta quando bem queriam. Mas davam. Eram mangas, pitangas e, durante certa época, juçara. Essa, a gente nem aproveitava, os bem-te-vis engoliam os caroços maduros e faziam cocô roxo nos muros brancos, criando estranhos e lúgubres painéis até que, um dia, as juçareiras, frutas de outubro e palmeiras de baixios alagados, cansadas de estar teimando em terreno pedregoso, feneceram. Em compensação, os coqueiros, como os de Ari Barroso, davam coco o ano todo. Tempo de ata, fruta de conde, pinha, era sempre tempo de Tio Janu. Surgiam as primeiras atas, e lá vinha ele com um pacotinho nas mãos. Sempre gostei de ata e ele nunca esqueceu disso. Abro-as ao meio, como os baguinhos de colherinha, raspando o néctar da casca. Celestial. Vai daí, não consigo pegar em uma ata, sem lembrar do meu tio. Figura ímpar, conhecia a arte de presentear como ninguém. Descobria os gostos e preferências das pessoas e as surpreendia com pequenos mimos, sem dia certo, nem ocasião, Vi por aí e me lembrei de ti... O dom inato de agradar de Tio Janu fazia-o autor de ações rocambolescas para que certos presentes não se assemelhassem a esmolas. À casa de uma amiga cheia de filhos que ele sabia passar dificuldades, chegava sempre com o disfarce de um desejo guloso, Comadre, me deu vontade de comer esta galinha gorda com pirão, daquele jeito que só você sabe fazer, mais tarde passo aqui pra almoçar. E assim era, com os bagrinhos para a caldeirada, com a pescada para rechear no forno, com o belo lombo de porco. E sentava-se à mesa com a família, sem precisar humilhar ninguém. Deve ser dito que ele tinha cozinheira antiga e boa. Não tão perto de sua casa havia uma feira; morando sozinho e consumindo pouco, ia às compras em táxi de um amigo, que por acaso lhe cobrava mais caro – Ele tem uma filha na universidade, coitado. Para aproveitar a viagem, trazia a mala do carro cheia. O excesso de frutas e legumes era repartido porque a geladeira “não tinha espaço suficiente”. Tive também um amigo, do tempo de colégio, presenteador, que trazia aos colegas do nosso grupo, aleatoriamente, um embrulhinho para um, um para o outro, eu perguntava, Qual o motivo de eu ganhar isto hoje? Ele respondia, candidamente, Ah, por nada, só assim... Vem chegando o dia das mães, dia da família ao redor da genitora, muito festejo e carinho, e também dia de filho que passa o ano sem sequer visitar a mãe levar um presente de obrigação. Vão cair em cima de mim, Ela está criticando o dia da sacrossanta mãezinha. Não são todos, uns amam mesmo as mãezinhas, mas presente com dia marcado é constrangedor. O dia das mães não serão os 365 do ano? O Natal leva a palma do consumismo desenfreado e dos presentes sem alma e é seguido do dia das mães, Páscoa, dia dos pais, namorados etc. Desses, acho que só no dia dos namorados os mimos são mais sinceros. Deus me perdoe se blasfemo. E vivam os presentes à Tio Janu, simplesinhos, dados de coração, aqueles de dia incerto, os “Vi por aí e me lembrei de ti” ou “Só assim...” ceresfernandes@superig.com.br


DE MINORIAS, DIREITOS E DEVERES Ceres Costa Fernandes Direitos humanos são tanto mais desrespeitados, quanto mais invocados nestes tempos pré-apocalípticos em que se misturam direitos e deveres, estes quase nunca lembrados. Sem medo de incorrer em mau juízo, para a maioria dos jovens o mundo é composto só de direitos. Direitos que vão até o de matar pai e mãe, caso essas crianças mimadas tenham seus “direitos” devidamente contrariados pelos progenitores modernos, vacilantes e cheios de culpa. Não é esse certamente o caso das chamadas minorias, com destaque para os homossexuais. Contra esses não há apenas o desrespeito aos seus direitos e preferências sexuais, que só a eles próprios dizem respeito, como há também uma verdadeira caça às bruxas perpetrada pelos radicais do preconceito. Mas, esperem aí, eu falei minoria? Tenho cá minhas dúvidas, depois do que vi na telinha, nas manifestações do Dia do Orgulho Gay e outras que tais, homos de todas as tendências, aos milhares, desfilando nas grandes cidades do mundo inteiro. E isso diz respeito apenas aos que já saíram do armário! Explicam os entendidos (sem duplo sentido) que há trinta e seis gradações entre o heterossexual e o homossexual. Quer dizer, é a tal variação “lado homem/mulher” de cada um. Não me perguntem onde li isso. Não lembro mais. Imersa nessas ponderações científicas, quase não ouço tocar o telefone. É Açucena, uma tímida e doce amiga –teve apenas um longo e mal resolvido casamento encerrado há menos de um ano. Passado o choque, eis que Açucena, refeita, tenta reingressar no mercado das mulheres casadoiras. E a partir de então, a pobrezinha anda muito queixosa quanto aos insucessos que lhe ocorrem. Já adivinho o assunto da conversa: queixas. Confirmo. É isso mesmo, a pobre amiga quer um ombro pra chorar e queixar-se da falta de sorte no enfrentamento de um mercado desigual: muita mulher pra pouco homem. Queixa-se também da concorrência que ela reputa desleal, a das mocinhas mais bem equipadas fisicamente e mais ousadas que ela, manceba criada e vivida antes do advento do famoso e enigmático “ficar”. Ah, amiga, choraminga ela, homem está vasqueiro, não há mais homens com H disponíveis. Na minha faixa de idade, os que não são gays, são neuróticos, estão casados ou, se separados, correndo atrás de menininhas. Minto, o desequilíbrio da balança é tal que as menininhas é que estão correndo atrás deles. Dou algumas sugestões: na Austrália, li em algum lugar – diabos dei de me esquecer onde leio as coisas! -, mas se não li, acabo de inventar a verdade e o fato: o desequilíbrio da balança pende para os homens. Também nas regiões de fronteira e nos garimpos, ou quem sabe no Pólo Sul, naqueles acampamentos... Você está me gozando, amiga! Não, juro, foi de boa intenção. E dou mais um conselho, não se pode desprezar o grande contingente de jovenzinhos que preferem as mulheres maduras, aí estão as artistas da Globo que não me deixam mentir... Não há consolo. Açucena, decididamente não tem queda por efebos, nem sequer por modelos iniciantes, classe devidamente assanhada pela mesma emissora de TV para a perspectiva que se abre no mundo das dondocas. É acho que logo, logo pode estar se formando uma nova categoria de excluídos a demandar direitos humanos: a das mulheres-casadoiras-maduras-que-não-aprenderam- a ficar. E não sei, também, se serão minoria.


PONTOS DE FUGA Ceres Costa Fernandes Caminhos são coisas misteriosas de ver-se, por vezes, corcoveiam em sinuosas curvas e, afinando-se, perdem-se no horizonte; por vezes metem-se por cerrados matagais, fugindo breve à nossa vista. Aonde vão? Chegam ao seu final ou imbricam-se com outros caminhos numa rede interminável, dando voltas ao mundo? Curioso, estão sempre partindo. Não sei o porquê. Só sei que são caminhos de ida, nunca de retorno. Ah, o mistério e o fascínio dos caminhos. Quando menina, não resistia a um quadro, figura ou sugestão que representasse algo semelhante. Desejava pular a barreira da dimensão e mergulhar neles, como uma Mary Poppins, e no seu interior, explorar um mundo paralelo, onde as coisas tornassem aos significados dos sonhos. A essa busca, à curiosidade do desconhecido, à exploração, misturava-se o desejo de fuga, que creio inerente a todos que sonham. Outro símbolo de liberdade são navios ancorados ao largo. Sugerem as viagens e aventuras pelos caminhos de água. Essa busca de rotas para lugares desconhecidos, ampliando o mundo e revelando mistérios começou com o desejo de superação do ser humano, alimentou as conversas ao redor do fogo e gerou as grandes epopeias marítimas, Odisseia, Eneida, Os Lusíadas. Quem viaja tem muito que contar, diz-se. Aqui, na Ilha de Upaon-Açu, temos vasto material para o imaginário, navios em quantidade ponteiam nosso mar interior, a Baía de São Marcos. Atire a primeira pedra aquele que, ao passar pela orla, não tem o impulso de contar os navios ancorados. Confesso que já estacionei, mais de uma vez, na Litorânea, só para conferir apropriadamente o número deles. Conto e reconto. É quase uma manifestação de tok. E fico satisfeita quando são muitos. Se sei que um número crescente de naves no porto não significa aumento de riqueza para nosso Estado, progresso, etc. etc? Sei, sim. Pegamos carona na diminuição do volume de produção das usinas mineiras, após a tragédia das barragens de Brumadinho, Mariana e coirmãs. Os navios ficam enfileirados porque não há berços suficientes para recebê-los. Mas impressiona a quantidade, são graneleiros imensos, petroleiros, cargueiros de ferro negros de barra vermelha, guindastes,.. À noite, suas luzes destacam-se no negrume do mar. Há vida lá fora. Dia desses, a quantidade era tal que semelhava uma invasão, Juro que pensei no Dia D, na Normandia. Haja imaginação! Ao largo da orla, negrejando de pontos sombrios o mare nostrum, estão navios de muita labuta, tripulações rudes de homens calejados, cuja aventura muitas vezes não se alonga além dos arredores dos portos das cidades em que chegam.. Os cargueiros não têm a companhia dos alvos e aerodinâmicos navios de passageiros, de muitos andares, feéricas luzes, Titanics modernos a levar pessoas para o mundo da fantasia. Esses passam, raros, lá no Grande Porto. Mesmo assim, o cenário mexe com o imaginário de muitos. Tem a ver com as nossas raízes e a sedução do desconhecido, o sedentarismo que acomoda e o desejo de aventura, a província e a metrópole. Um ponto de fuga que outros realizam por nós. Caminhos de terra e de água, quem nunca quis sumir por um deles? Desde criança, como afirmei, alimento esse desejo curioso. È certo que nunca sumi. Mas, de repente – quem sabe? – pode aparecer uma manchete: “anciã desaparece misteriosamente, consta que fugiu de casa”.


ATÉ QUE O CELULAR OS REÚNA Ceres Costa Fernandes Um trem partindo da estação, o comboio coleando e emitindo um nostálgico apito, alguém que chega atrasado para um encontro ou mesmo uma viagem a dois, cena icônica presente nos filmes ou nos romances de amor, marca das coisas perdidas ou inalcançáveis. Aí, dava-se o desencontro, o desenlace, a separação. Às vezes, anos mais tarde, o reencontro, já com as vidas refeitas, outros companheiros, filhos e compromissos a impedirem, novamente, a concretização da grande paixão. A partir desses desencontros, construíram-se grandes filmes, tocantes poemas e famosos romances de amor. No filme “Tarde Demais para Esquecer”, estrelado por Deborah Kerr e Gary Grant, os protagonistas, ambos comprometidos, vivem um cálido affair em um cruzeiro marítimo e combinam encontrar-se, dentro de seis meses, após resolverem seus impedimentos, no topo do Empire State. O encontro não se realiza, a mocinha sofre um acidente. Gary a espera no terraço do edifício até anoitecer e se convence de que ela não o ama mais. Ela fica paraplégica e não quer a sua piedade. Delicioso dramalhão. Leva vários anos até o final feliz. Um celular daria conta disso e economizaria lágrimas e desencontros. Tudo muito prático e rápido. E adeus um filme, um conto, um romance. Falar dos mistérios do amor é algo passadista. As relações começam no que antes seria o final feliz. No primeiro encontro, os casais já “ficam”, vão pra cama e começa a morrer o desejo. O desejo prolongado que mantinha as paixões acesas das relações que começavam com uma prolongada troca de olhares, depois um toque tímido de mãos e muito depois um beijo, uma carícia mais ousada. A paixão durava e durava. O amor platônico de Dante e Petrarca por damas impossíveis, que nunca chegaram sequer a tocar, gerou alguns dos mais belos textos da literatura universal. Beatriz brilha no Paraíso da Divina Comédia e Madona Laura, apenas contemplada, é musa de belos e perfeitos sonetos renascentistas, inspiradores de gerações. Existiriam essas obras-primas com as quais tem se gasto rios de tinta e toneladas de papel só ao estudá-las? Um toque de celular para Beatriz ou Laura, marcando encontro em horas mortas em alguma igreja sombria, aonde elas iriam acompanhadas de uma aia ou parenta cúmplice, dando inicio a um namoro vulgar que logo secaria as fontes cristalinas da paixão, colocaria aí um ponto final? Vai que Beatriz, tão lindo rosto, tivesse uma voz irritante ou Madona Laura fosse de insuportável beatice.... Uma mensagem do celular de Frei Lourenço, avisando Romeu que a morte de Julieta era fake, em vez da carta que se perdeu, evitaria o suicídio verdadeiro de Romeu e, em seguida, o de Julieta, que se matou, desta vez de verdade, ao deparar com Romeu morto aos seus pés. E seriam felizes para sempre. A peça de Shakespeare seria mais um drama romântico, sem a força trágica que a caracterizou. Está difícil para o escritor contemporâneo criar tramas e desencontros amorosos verossímeis. Os celulares rastreadores desmascaram adultérios, os chips guardam declarações inapagáveis, somos fotografados em lugares onde cremos estar incógnitos, dentro de elevadores, não podemos tirar ouro do nariz nem cometer crimes. Talvez a volta do realismo fantástico ou apelar para o sobrenatural, vampiros, zumbis, extraterrestres seja a solução. Eu, de minha parte, continuo apostando no nonsense. ceresfernandes@superig.com.br.


O MÊS MAIS BONITO Ceres Costa Fernandes Diz Aluísio Azevedo, em O Mulato, que junho é o mês mais bonito de São Luís. Concordo ao pensar no alvoroço dos arraiais, no som dos tambores que se ouve ao longe, reproduzindo-se como cantos de galos em gigantescos e longínquos quintais, anunciando as brincadeiras de bumba-meu-boi em toda a Ilha. Nesses dias, paira um frisson contagiante entre os jovens e entre os mais velhos que conservam na memória dos corpos os meneios das danças e as batidas dos pandeirões e das matracas. Ao chamado das toadas, reúnem forças esquecidas e mergulham o corpo e a alma nas brincadeiras. Mas a beleza de junho referida por Aluísio não é a da festa popular, e sim a do clima, diz ele: “Aparecem os primeiros ventos gerais, doidamente, que nem um bando solto de demônios travessos e brincalhões que vão em troça percorrer a cidade, assoviando a quem passa, atirando ao ar o chapéu dos transeuntes, virando-lhes do avesso os guarda-sóis abertos, levantando as saias das mulheres e mostrando-lhes brejeiramente as pernas. Manhãs alegres! O céu varre-se nesse dia como para uma festa, fica limpo, todo azul, sem uma nuvem. A natureza prepara-se, enfeita-se; as árvores penteiam-se, os ventos gerais catam-lhe as folhas secas e sacodem-lhe a frondosa cabeleira verdejante...” O trecho é ufanista, eufórico, contrastante com o olhar pesado de crítica e ironia com que o jovem Aluísio vê sua terra natal (não tão diverso do de Eça de Queirós quanto à sua Lisboa). Não esqueçamos que Aluísio seguia fielmente a estética do naturalismo, avessa a “patrioteiras” e bairrismos. O tom negativo do romance deve-se, também, às rusgas e arranca-rabos em que o autor se meteu com os clérigos e representantes da sociedade local. É nesse descrever o clima da Ilha que Aluísio me confunde. Desde muito, ouço falar: abril, chuvas mil; maio, chuva e raio; junho, chuva em punho. E as chuvas, o tempo carregado de nuvens, pouco vento e muito calor, estão aí para desmentir o autor de O Mulato. Junho, em São Luís, ainda é mês de chuva e calor. Lembro-me de domingos desiludidos, em plenas férias de julho, com chuvas, ainda que fracas e esparsas, quando meu pai declarava que não iríamos à praia: o tempo não estava bom. Esse veredito assemelhava-se a um anúncio do fim do mundo. Agosto sim, e aí vou discordar de Aluísio, é o mês mais bonito. É o mês das serenatas, dos ventos, dos redemoinhos, da temperatura amena, dos luares enormes, marés altas e pores do sol inigualáveis. Em dias mais calmos vividos em nossa cidade, era possível chegar do trabalho, pegar os filhos em casa, atravessar a única ponte e, em minutos, já na ponta semideserta, estacionar onde se encontra, hoje, o Iate Clube, assistir de camarote ao pôr do sol e esperar para ver as luzes da cidade acenderem-se. Crivada de luzinhas, São Luís colonial das casas construídas em diferentes planos de terreno que se superpõem, vista á distância, assemelha-se a um presépio. No alto, na ponta que, altaneira mira o mar, destaca-se a alva imponência do Palácio dos Leões. Um deleite para o olhar! Ver as luzes da cidade se acenderem! Parece coisa de matuto. Até pode ser, mas de uma matuta com desejos de incentivar nas crianças a apreensão do belo. Não fui agraciada com algum filho artista, vai ver que o DNA não ajudou, mas espero que as luzinhas desses momentos, meia volta, ainda se acendam lá dentro deles. Fica a dúvida: junho já foi mesmo agosto em São Luís? Segundo Aluísio, sim. Em 1881, pelo menos. Daqui a 138 anos, que mês será agosto, por aqui?


O PENSAMENTO DE BRANDÃO Os artigos de Antonio augusto Brandão são publicadas nos Jornais O estado do Maranhão e O Imparcial


SENTINDO NA PRÓPRIA PELE *Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Da primeira vez foi o encanto pelo futebol, pelo time do Fluminense, amor perdido; agora foi o Rio, amor quase perdido pela cidade onde trabalhei, estudei e vivi por mais de dez anos, e revisitei por vezes incontáveis. Esse amor era tanto que, quando lá estava, não percebia a insegurança vivida por todos. Sentia-me imune ao clima de tensão permanente, de arrastões, de balas perdidas e de pequenos assaltos. O fato é que precisava sentir na pele o perigo agravado que, de uns tempos para cá, mora ao lado de qualquer mortal. E senti sofrendo situações traumáticas. Em 2010, eu e minha esposa Conceição fomos ao Rio, mais uma vez. Hospedamo-nos num hotel em Copacabana, por indicação de amigos. Dos andares mais altos, a visão dos telhados escurecidos pelo tempo e das antenas de televisão atestando o refúgio dos melancólicos, dos reféns da violência das ruas. Nossa missão era bem definida. Entre tarefas específicas, íamos aproveitar o final de semana e visitar parentes, rezar nas igrejas, passear nos shoppings; e, no OUTBACK do Leblon, comemorar minha formatura em economia, há mais de 50 anos. Quando ando de táxi gosto de conversar com o motorista, geralmente uma pessoa bem informada sobre os acontecimentos que envolvem a cidade e com algum juízo de valor a seu respeito. Um deles confirmou a onda de insegurança ainda pairando no ar, mas que os pequenos assaltos, à luz do dia e em locais de grande movimentação, estavam sob controle. Acreditei. Então, pensei: as autoridades constituídas estavam atuantes e obtendo resultados Nas ruas do Rio as pessoas se vestem com sobriedade, principalmente as mulheres; nada de joias, relógios e outros adereços. Nada que possa despertar a atenção. No metrô ninguém arrisca olhar para ninguém; é aquele silêncio apenas quebrado pelo barulho do trem. Quando cada um chega ao seu destino suspira aliviado. Nesse clima de baixo astral explícito tinha que acontecer conosco. Foi numa sexta-feira, entre 10 e 11 horas da manhã, em plena avenida Rio Branco, no calçadão da Biblioteca Nacional, defronte à Cinelândia. Fotografei a Conceição. Quando ela tentou fazer o mesmo comigo surgiu, como um raio vindo não sei de onde, um sujeito que arrancou-lhe a máquina das mãos e, no meio daquele trânsito maluco, atravessou a avenida e fugiu em desabalada carreira observado por aqueles que passavam pelo local, sem poderem esboçar qualquer reação. Tento compreender que são problemas decorrentes da desigualdade social. O capital, quanto mais cresce o PIB, mais é concentrado e os ricos ficam ainda mais ricos, como acontece no Brasil. E isto não se resolve com programas assistenciais, filantrópicos, mas com geração de emprego e renda, e de forma sustentável. Perder um pequeno objeto não significa nada; o trauma vem da forma como o perdemos. Aconteceu conosco, mas por que não? Depois ficamos sabendo que não se deve ir a alguns locais da cidade, pois é muito perigoso, isto sem falar em pontos eternamente críticos da Zona Norte, que “abraçam” as famosas Linhas Vermelha e Amarela, para quem vai ou vem ao (do) aeroporto Tom Jobim. Continuamos gostando do Rio, mas perdemos a confiança que nos permitia um estar tranquilo, sem receios. *Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL.


CONSIDERAÇÕES SOBRE A ‘NOVA’ MACROECONOMIA *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Tudo começou com o prenúncio de crise na economia americana, tornado evidente com o estouro da ‘bolha’ imobiliária, a partir de 2008. Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve – FED e grande estudioso do que havia ocorrido com o ‘crash’ de 1929, resolveu proceder baseado nas ideias de John Maynard Keynes, que indicava política monetária expansionista em tempos de recessão. Volto ao assunto da chamada ‘Teoria monetária moderna’ – TMM registrando novas abordagens: de James K. Galbraith, professor da Universidade do Texas; Edmar Bacha, economista; e Sérgio Ribeiro da Costa Werlang, ex-diretor do Banco Central, textos publicados no jornal ‘Valor Econômico’, dias 22 e 25/03, e na revista ‘Eu & Fim de Semana’, encarte do referido jornal, edição do dia 29 do mesmo mês. Kenneth Rogoff, de Harvard, mencionado por J.K. Galbraith, considera “uma ameaça a todo o sistema financeiro mundial” (...) e revela o “temor de que os adeptos da teoria poderão subir ao poder nos Estados Unidos nas eleições de 2020”, para “usar o balanço do Federal Reserve”, o banco central dos EUA, como uma máquina de fazer dinheiro a fim de financiar novos programas sociais abrangentes.” Rogoff condena o afrouxamento monetário feito pelo FED -, que injetou trilhões de dólares na aquisição de títulos da dívida pública, também das empresas; ele “reconhece que não funcionou, não foi desestabilizador nem causou inflação.” Mas houve efeitos colaterais, digo eu: cresceu o endividamento geral, público e privado, e os balanços dos bancos centrais ficaram recheados desses papéis, que foram sendo ‘rolados’; agora, o FED e o Banco Central Europeu – BCE, e outros congêneres, querem promover o seu resgate, o enxugamento de suas carteiras, porém estão encontrando dificuldades. Em artigos anteriores expliquei o porquê desse resultado sem grandes impactos na economia, embora o ‘quantitative easing’ – QE tenha ferido princípios da Teoria Quantitativa da Moeda e da Base Monetária: como a demanda pelos recursos por parte da economia real foi fraca, aconteceu que diminuiu a velocidade de circulação da moeda. Keynes enquadraria essa conjuntura como prova da sua ‘armadilha da liquidez’, quando, por menor que seja a taxa de juros, a economia não reage, justificando assim as práticas heterodoxas utilizadas pelo FED. Os comentários de Edmar Bacha são mais severos a respeito da TMM: “que essa teoria era visível apenas para quem descesse por assim dizer ao andar de baixo da academia americana”; que o prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, “comparou a TMM ao Calvinhol, um jogo maluco inventado pelos personagens da deliciosa história de quadrinhos”; que Larry Summers, presidente emérito da Universidade de Harvard e ex-secretário do Tesouro norte-americano, “chamou a TMM de a nova feitiçaria econômica”. Já Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco Central do Brasil, é mais compreensivo com a macroeconomia, que “lida com entidades abstratas como PIB, inflação, poupança, investimento, estoque de capital, consumo, desemprego, moeda e seu papel na economia como um todo, juros”, e que, portanto, precisa ser olhada de modo agregado para que consigamos ter uma ideia geral do que está acontecendo.” Werlang pensa como Bacha: a TMM, entre outras coisas, “prega que não importa a dívida pública bastando que a taxa de juros seja fixada abaixo do crescimento da economia”, prática que não se aplica ao que acontece no Brasil, por exemplo, cuja taxa de juros está acima do crescimento do PIB. E finaliza: “num pais que deixou de lado as lições macroeconômicas tradicionais (,,,), a TMM é apenas mais uma de tantas teorias, infelizmente, muito erradas e com efeitos potenciais catastróficos.” André Lara Resende - ALR continua defendendo seus pontos de vista em torno da TMM: que “o Banco Central deveria fixar a taxa de juros abaixo do crescimento da economia e que um governo que emite sua moeda não deveria enfrentar restrições”, novamente o inverso do que acontece no Brasil; que “a função da moeda fiduciária é a de unidade de conta”, desprezando as funções de intermediária de trocas e de reserva de valor; admite, entretanto, que “o governo não pode gastar mal, para não provocar desequilíbrios nem pressões inflacionárias.” ALR cita o ‘quantitative easing’ como prova de que “a expansão de moeda não causa inflação” e que o FED “multiplicou a base monetária por 15, e a inflação nem se mexeu.” O porquê disso não ter acontecido já


expliquei anteriormente: diminuiu a velocidade de circulação da moeda, por ausência de demanda pela economia real. Enquanto isso, a TMM continua sendo discutida na Academia, no Brasil, na ‘Casa das Garças’, antes que possa ser, se for o caso, levada aos mercados e por eles sancionada ou não. *Economista. Membro da ACL, do IWA e do ELOS Literários. Fundador da ALL.


A CATEDRAL DE NOTRE-DAME Trecho da crônica "A primeira vez que vi Paris - III, constante do meu livro "Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans", quando Conceição e eu visitamos a Catedral de Notre-Dame, em Paris. A Catedral de Notre-Dame é um exemplo excepcional da arquitetura gótica e começou a ser construída em 1163, e levou duzentos anos para ser terminada. Suas torres chegam a 69 metros. A Galeria dos Reis tem 28 imagens de pedra dos reis de Judá. Os santos e os reis que cercam o Portal da Virgem representam uma linda composição do século dezoito. Desenhado por Viollet-le-Duc, o Pináculo tem 90 metros de altura. As Pinturas de Maio, de Charles Lê Brum e Lê Sauer, entre outras, “eram presenteadas pelas guildas de Paris todo dia 1º de maio”, entre 1630 a 1707. A visão do interior da igreja, a partir da porta principal, abrange a nave central, o coro e o altar-mor. O Transepto foi construído no reinado de Felipe Augusto. Arcobotantes espetaculares, de Jean Ravy, no extremo leste da catedral, têm um vão de 15 metros. Foi nossa tarde de sorte. Neste dia é celebrada a cerimônia denominada “Vénération des Reliques de la Passion”, que se traduz na adoração de uma belíssima coroa dourada simbolizando a paixão de Cristo. Altos dignitários da igreja presidem essa celebração revezando-se no ato de expor a relíquia, para que os fiéis a reverenciem. Todos rezam e cantam “Par ta Croix, Sei-gneur, tu nous rends l avie”.


TIA SANTA “A utilidade de viver não está no espaço e no tempo, mas no uso.” Michel de Montaigne (1533-1592), político, filósofo e escritor francês. Esta é uma homenagem pelo centenário de Maria José Ribeiro Serra, minha querida tia ‘Santa’, completados, hoje, dia 17 de abril de 2019.

Santinha para os íntimos, tia caçula e única remanescente de uma prole de quatro mulheres: Lilita, minha sempre lembrada mãe, tias Neném, Doninha e Santa, filhas de Augusto do Espírito Santo Ribeiro, maranhense, e de Maria Laura da Silva Ribeiro, portuguesa da região de Trás-os-Montes, vinda ainda bem criança para o Brasil. Da feliz convivência com todos, inclusive das tias das tias Babá e Xixi, menos com minha avó, que não cheguei a conhecer, tive uma infância feliz pautada pelos fortes laços da família. Tia Santa, por ser a mais nova de todas, aproximava-se mais da realidade que encontrei ao nascer quinze anos depois, sempre, diz: “quando tu nascestes em tinha quinze anos”; assim, não esquecemos nossas idades e permanecemos vivendo como jovens há mais tempo. Quando a encontro, em conversas quase intermináveis, é como se voltássemos àqueles velhos tempos de chegada e espera na estação do trem, em São Luís; das “voltas” de bonde e esticadas na Beira-Mar; das visitas aos sítios da Jordoa e do Turu; do farto café com leite e do “pão com manteiga cortado rock, rock” ... Lembro-me muito bem do dia do seu casamento. Na casinha porta-e-janela da rua do Pespontão, defronte à da família Goiabeira, num fim de tarde ao esconder do sol, os decoradores da época davam os retoques finais de azul no altar armado na sala, para o enlace com o Ézer Serra, uma pessoa da qual guardo as maiores saudades e boas impressões, pois visitava a nossa casa frequentemente, tinha enorme consideração por mamãe e papai, e preocupava-se muito conosco, crianças levadas na rua das Hortas e redondezas. Tia Santa e o Ézer foram felizes enquanto ele viveu; tiveram, também, uma prole de quatro mulheres, minhas queridíssimas primas carinhosamente chamadas Remedinho, Teresa (in memoriam), Gracinha e Bibi. Em São Luís, tia Santa foi funcionária assídua e pontual dos Correios e morava, de novo, numa porta-ejanela, na rua de Santana, por trás do cinema Éden, com as filhas; quando vim estudar, aqui, estive com elas por pouco tempo, mas o suficiente para experimentar o aconchego dispensado. Tempos depois, ela preferiu deixar São Luís e levou a família para o Rio de Janeiro; quando fui, também, para lá, foram as primeiras a quem visitei, em Lins de Vasconcelos; daí em diante convivemos de perto por longos anos, quando eu era ainda solteiro e mesmo depois de casado, no apartamento em uma rua do Jardim Botânico. Tia Santa sabe muitas histórias da numerosa família Ribeiro, certamente quem mais sabe. Através dela fiquei conhecendo a personalidade da minha avó Maria Laura, que era alegre, gostava de jóias e de dançar; da minha bisavó Maria Rosa, que se casou com o português Bernardino Ferreira da Silva, pai da minha avó; do primo Francisco de Assis Garrido, poeta e escritor, da Academia Maranhense de Letras. Esta crônica é em sua homenagem, querida tia Santa, que hoje atinge o centenário. A senhora é a tia mais nova, remanescente, e eu, o sobrinho mais velho; é por isso que é menor a diferença de idade que nos separa, para permitir essa identidade de propósitos, identificação de sentimentos e amizade duradoura. Neste ano de 2019, neste dezessete de abril, vamos contar essa diferença de idade num patamar já bastante elevado dessa vida que temos tido e aproveitado, de muitas alegrias e de algumas tristezas.


Fico pensando na sua trajetória, dos bons e maus momentos no seio da família Ribeiro; das suas lutas desde jovem e depois que ficou viúva, e preferiu guardar as gratas lembranças do seu Ézer, não mais se unindo a ninguém em definitivo; dos esforços para criar e educar suas quatro filhas, minhas primas. Sabe Deus o que isso lhe custou; merece, portanto, todo meu respeito e admiração. Dizem que a velhice nos dá sabedoria. É mesmo: uma coisa é teorizar, outra falar da experiência vivida. Passei quase trinta anos tentando ensinar e educar universitários, assim como procurei fazer com meus filhos e, agora, com meus netos; não tenho nenhuma dúvida de que minhas tias concorreram à formação da minha personalidade, como a senhora. Queria Tia, prezo-a de coração pelas afinidades e afeição que sempre tivemos um pelo outro, pela amizade entre os nossos familiares, pela convivência sadia mesmo de longe. Desejo-lhe saúde e paz. Sua benção.


DIA DE ANIVERSÁRIO: UMA MULHER DE VALOR Minha mãe Nadir (1910-2001), Lilita para os mais íntimos, era a filha primogênita de uma família de quatro mulheres. Mamãe ensinou a todos nós, cada um no seu devido tempo, as rezas que sabia rezar; os valores a serem respeitados no seio da família e da sociedade; a dedicação aos estudos em busca de um futuro promissor; o gosto pela leitura e pela escrita. Num claro e alegre dia de abril ela nasceu em São Luís; também em São Luís, num cinza e triste dia de novembro, morreu aos 91 anos. Filha de Augusto do Espírito Santo Ribeiro, maranhense, e de Maria Laura da Silva, portuguesa, da região de Trás-os-Montes; casou com Antônio Brandão, maranhense de Picos, em 1933, e dele ficou viúva, em 1980. As lembranças de minha mãe remontam às cartas trocadas com o então namorado, verdadeiras relíquias que ela guardava “a sete chaves”. Algum tempo antes de morrer ela expressou os sentimentos de então: escrevia essas cartas ao namorado, que a consolava com suas esperançosas respostas. E quando já casada dizia: “tive um aconchegante lar e um belo jardim, que perfumava meu ambiente de paz e de felicidade”; melancólica pela falta do marido recordava, a todo o momento, sempre com ternura e saudade, a falta do companheiro, que a cumulou de desvelos e atenções. Como parte de uma prole de dez filhos, nascidos entre 1934 e 1947, tive a ventura de privar dos seus primeiros carinhos de mãe. Nossa convivência durou 67 anos entremeados com algumas ausências minhas, para estudar e trabalhar fora; assim pude presenciar sua dedicação ao lar, ao marido e aos filhos, aos parentes e amigos, e os poucos auxiliares que a ajudavam na condução dos afazeres domésticos. Ela gostava de cuidar da casa e de ouvir as novelas; ia ao cinema, visitava os amigos mais chegados, ia à Missa, confessava e comungava nas datas festivas da Igreja; tivera boa formação ao estudar no tradicional Colégio Santa Tereza, em São Luís, naquele tempo um templo sagrado das mulheres. Tinha intimidade com as palavras e, se tivesse insistido, poderia ter escrito romances, mas contentou-se em biografar os filhos. Descreveu a ansiedade com que esperou a chegada de cada um; a infância cheia dos seus cuidados; as virtudes e defeitos a conservar e a corrigir, e louvou a amizade plantada entre eles. Minha mãe experimentou os altos e baixos da vida do meu pai, com alegria e resignação, e sempre procurou manter a família coesa. Nossas casas na rua das Hortas, em São Luís, e rua do Cisco, em Caxias, refletiram bem esses tempos. Ela sofreu muito quando meu pai se foi. Como chorou! Suportou a partida dele com Fé em Deus e na ressurreição dos mortos. Numa das suas internações em hospital -e já próxima do fim- passamos uma noite juntos. Estava enfraquecida e queria voltar para casa. Sofri muito, porque não pude atendê-la; permanecemos despertos por longo tempo, ela insistindo e eu procurando confortá-la. Agora, decorridos dezessete anos de sua despedida definitiva, quase dezoito, seus filhos Antônio Augusto, Frederico, Rosa, José, Ângela, João, Cenira e Antônio (Luís, o caçula, e Laura, foram juntar-se a ela), mais netos e bisnetos, genros e noras, continuam sentindo sua falta enquanto expressam carinhos através desta singela homenagem.


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COMUNICO A TODOS QUE, POR VONTADE PRÓPRIA E SEGUINDO REGULAMENTAÇÃO A RESPEITO, DEVIDAMENTE RATIFICADA EM ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA, MIGREI À CATEGORIA DE MEMBRO HONORÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL, DA QUAL SOU UM DOS FUNDADORES. COMO DECORRÊNCIA, NO SEU DEVIDO TEMPO, UMA VAGA SERÁ ABERTA, PARA RENOVAÇÃO DOS QUADROS. A seguir, uma homenagem ao meu Patrono, cujo aniversário é comemorado no dia 22 de abril: FRANCISCO SOTERO DOS REIS As Academias necessitam de tempo à sua afirmação, assim entendia Joaquim Nabuco. Na verdade, porém, é um processo de acumulação através dos tempos; as academias que nascem, como a nossa Academia Ludovicense de Letras - ALL, apropriam-se dessa cultura e, por obrigação, devem agregar-lhe valor. É do meu primeiro livro “Fortes Laços” a crônica intitulada “Academia em dia de festa”: foi o filósofo Platão quem fundou em 387 a.C., próxima a Atenas, uma escola dedicada às musas, onde se professava um ensino informal através de lições e diálogos entre os mestres e discípulos”; uma residência, uma biblioteca e um jardim formavam a escola, tendo esse jardim pertencido a Academus, herói da guerra de Tróia, inspirador do termo academia. As Academias revestem-se de procedimentos que nos foram legados pela tradição francesa: 40 cadeiras patroneadas por personalidades ligadas às letras e sua difusão, ocupadas por cidadãos no pleno gozo dos seus direitos e que se disponham a seguir essa tradição. A Academia Francesa foi fundada em 1635, por iniciativa de Armand Jean Du Plessis de Richelieu, o cardeal Richelieu, e serviu de modelo à sua similar brasileira. A Academia Brasileira de Letras foi criada na segunda metade do século XIX, no dia 15 de dezembro de 1896, no Rio de Janeiro. Os intelectuais Rodrigo Otávio, Graça Aranha, Raul Pompéia e Machado de Assis, entre outros, participavam dessas reuniões, “que culminaram com o surgimento de uma sociedade civil de direito privado, ou como se chamaria hoje, como uma organização não-governamental”. Machado de Assis foi aclamado seu primeiro presidente e fundador da cadeira nº 23. A Academia Brasileira de Letras, “que peregrinou pelo centro velho do Rio de Janeiro”, recebeu em doação do governo francês uma réplica do palácio “Petit Trianon de Versalhes”, sua sede definitiva. Na década de 40 do século passado, o Maranhão viveu a fase dos Centros Culturais, que, em muitos casos, conviveram harmoniosamente com as Academias já então existentes, como aconteceu com o Centro Cultural Gonçalves Dias, em São Luís; em Caxias, na mesma época, floresceu o Centro Cultural Coelho Neto, fruto da iniciativa de homens e mulheres militantes culturais, que se reuniam sempre aos domingos, depois da missa na Matriz de N.S. de Conceição e São José, na sala de projeção do Cine Rex, num palco de frente à tela. Poetas declamavam, um conjunto executava músicas de sucessos, moças representavam e cantavam. Era um momento democrático de verdadeira confraternização; depois, em frente ao cinema, todos vestindo terno branco devidamente engravatados e enfaixados, deixavam-se fotografar à posteridade. Ao ter escolhido Francisco Sotero dos Reis, Patrono da Cadeira nº 04 da ALL, presto uma homenagem póstuma ao meu pai, Antônio Brandão, que o teve também nesta condição, no Centro Cultural Coelho Neto. Em meados do século XX, ocorreu, no Maranhão, “o fenômeno raro do aparecimento de verdadeiros mestres de Língua Portuguesa Clássica”. Esses mestres estavam seduzidos pela sabedoria gramatical, vinda do século XIX, passada às gerações futuras. Francisco Sotero dos Reis nasceu em São Luís, em 22 de abril de 1800, e morreu, também em São Luís, em 10 de março de 1871; “um fato significativo realçando inteligência, capacidade de iniciativa e dedicação aos


diversos campos do conhecimento nos quais atuou, a par da história construída à qual agregou imenso valor”. Foi jornalista, poeta e escritor, e produziu uma obra estritamente vinculada a assuntos filológicos; “suas incursões temáticas sobre a realidade regional também decorreram num contexto de lutas políticas acirradas e instituintes do jovem Estado Nacional e de uma província inicialmente refratária às proposições separatistas do Brasil”. Suas principais obras foram: Postilas de gramática geral aplicada à língua portuguesa pela análise dos clássicos (1862); Tradução de comentários sobre a Guerra Gálica de Júlio César (1863); Gramática portuguesa (1866); e Curso de literatura portuguesa e brasileira (1866-1868), “mencionando e consagrando as traduções das obras de Virgílio, realizadas por Odorico Mendes, então mais divulgadas no Rio de Janeiro”. As restrições que Sotero dos Reis fazia ao barroco “era a forma como ele enxergava a sociedade em que ele vivia: escravos vendidos em mercados, o Maranhão agonizando pela queda nos preços internacionais do algodão, fazendo com que os antigos casarões, símbolos da opulência, com suas fachadas ornadas com azulejaria portuguesa de influência árabe, passassem a dividir espaço com uma relva que subia dos telhados com seus mirantes, como uma espécie de jardins suspensos, avistando somente o horizonte ausente de velas ao vento dos barcos que outrora atracavam no porto”. Salve Francisco Sotero dos Reis, salve!


TRADIÇÃO *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Na vida de todo jovem da minha época e concluído o Ginásio, em Caxias, chegava o tempo certo de decidir qual a profissão a ser seguida: se fosse Direito deveria cursar o clássico e se Farmácia ou Odontologia, por exemplo, o científico. Quem desejasse ser advogado, e tinha posses, ia para Recife e para Salvador, quem quisesse ser médico. No meu caso não foi uma coisa nem outra, pois pensava em seguir ajudando meu pai na gestão da sua loja de tecidos, estivas, ferragens e miudezas em geral, a “Casa Brandão”; optei por fazer o curso de Contabilidade, em nível médio, em São Luís, na Escola Técnica de Comércio do Centro Caixeiral, tradicional estabelecimento de ensino. Os primeiros amores ficaram para trás Corria o ano de 1950. Nos primeiros meses fiquei com minhas tias Doninha, na casa da rua da Inveja, e Santa, na rua de Santana; na metade do ano fui para o Hotel Caxias, na rua Cândido Ribeiro, onde fiz grandes amizades durante os mais de dois anos que estive por lá entre conterrâneos e estudantes de outros municípios do Maranhão. Lembro-me da proprietária, dona Lourdes Vale, uma pessoa cordial e compreensiva aos nossos pequenos deslizes; também eram hóspedes permanentes, mensalistas como nós, alguns mais idosos como os senhores José Assub, Sales, Milhomen, Milton, Wulmar, Padi, além dos estudantes Antônio Augusto, Flávio, Osmar, Rodrigo, Cleber, José Eugênio, José Ernesto, Adalgiza, Wilma, Denise. São muitas as histórias a contar. As aulas no Centro Caixeiral eram pela manhã, no casarão colonial da praça Benedito Leite, sendo professores, entre outros: Luís Cortez Vieira da Silva, Waldemar Carvalho, Acrísio Rebelo, Hernildo Almeida, Sá Vale, Palmira, Álvaro Rocha; colegas, também entre outros, Yara, Ivete, Benedita, Teresinha, Boanerges, Agnaldo, Djenane. A formatura, ao final de 1952, foi solene, unidas as turmas matutina e noturna, no salão nobre da Escola, os homens de terno branco e gravata borboleta e as mulheres, de vestidos longos. Foi minha madrinha a professora Haydée Chaves, amiga da nossa família de longas datas. Outros amores ficaram novamente para trás. Retornei a Caxias disposto a exercer a profissão ajudando o contador José Fernandes de Souza a escriturar os Livros da Loja do meu pai, procurando demonstrar o que havia aprendido. Corria o ano de 1953 e chegava a obrigação do alistamento militar. Esse ano foi todo dedicado ao exército brasileiro, no Tiro de Guerra 194, sob o comando do sargento Zerlino Prado de Sousa e direção do tenente Aluísio de Abreu Lobo. Já escrevi várias crônicas falando dessa verdadeira odisseia: durante dez longos meses exercícios, marchas, instruções, exames, competições esportivas, participação em datas festivas, marcaram a vida dos Atiradores. Tenho saudades desse tempo e dos novos amores. Meu pai viajava quase todos os anos, principalmente a São Paulo, para efetuar compra de mercadorias, a fim de reabastecer sua Loja; em uma dessas viagens ele trouxe um folheto da Fundação Álvares Penteado, que falava sobre o curso de Ciências Econômicas. Meu interesse foi imediato e, a partir de então, passei a desejar ser economista, profissão reconhecida em 1951. Em fins de dezembro de 1954, com saudades deixei mãe, irmãos, irmãs, amigos e a Conceição, minha namorada definitiva; meu pai embarcou-me, no aeroporto de Caxias, para Teresina, pela necessidade de providenciar minha Carteira Profissional. No dia seguinte, bem cedo, embarquei para o Rio de Janeiro, em um famoso Douglas DC-3, com escalas em Teófilo Otoni, Minas Gerais, e Bom Jesus da Lapa, Bahia, chegando ao Rio depois das 18 horas, no aeroporto Santos Dumont. Esperava-me o parente José Duarte Brandão, comerciante bem-sucedido e há muito residente na então Capital da República; fui conhecer minha nova residência, uma casa de dois pavimentos, de estilo colonial, onde já residiam outros estudantes maranhenses, na rua Washington Luís, mas que já não existe mais. Lá fiquei até a metade do ano seguinte.


De lá o meu anfitrião levou-me até sua residência, em Laranjeiras, para conhecer os parentes e jantar. No percurso ele foi ensinando como proceder, no dia seguinte, para tomar o café em sua casa: quais as ruas a percorrer, onde saltar, qual o meio de transporte a utilizar. Como voltei de táxi depois do jantar, no dia seguinte não consegui lembrar dos ensinamentos: saltando na praça Tiradentes deveria tomar o ônibus 115, na avenida Passos, mas entrei pela rua da Carioca, atravessei a avenida Rio Branco e, percorrendo toda a rua da Assembleia, fui parar na praça XV de Novembro, avistando o mar! De qualquer forma, era um prenúncio de que eu estudaria por lá! Tive de gastar meus primeiros e parcos recursos em uma corrida de táxi.


ENVELHECER *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Artigo escrito pela economista e escritora Eliana Cardoso publicado na revista “Eu & Fim de Semana”, encarte do jornal “Valor”, edição do dia 10 de maio, inspirou este texto. Fiquei sabendo, por exemplo, que o conceito de velhice depende do sentido conferido à vida; que já superei os anos estimados a viver, hoje, em torno de 82 em países da Europa; que o passar do tempo modifica a relação do indivíduo com a sociedade na qual está inserido. Quando eu nasci, primogênito entre dez irmãos, a expectativa de vida era bem menor dadas principalmente as condições de saúde, pois a medicina ainda não havia sequer descoberto a penicilina; as famílias, como a minha, protegiam suas crianças na base de remédios caseiros e fortificantes existentes nas farmácias e drogarias, inclusive com séries anuais de injeções de cálcio e vitaminas. Foi assim que eu, desafiando a lógica, fui vencendo as crises de asma acometidas desde a infância, passando pela adolescência e, por incrível que possa parecer, menos agora, na velhice; lembro dos tratamentos evoluindo ao longo do tempo e da superação dos riscos enfrentados em certas oportunidades, pois podia ter morrido! Eliana Cardoso cita alguns autores famosos no trato da questão do envelhecimento e de como as lembranças do passado podem definir comportamentos: casais idosos solitários que imaginam um tempo que não volta mais (Eugène Ionesco, 1909-1994), mas a minha solidão é de viúvo; evocando amores passados (Samuel Beckett, 1906-1989); uma visão mais otimista de Cícero (106 43 a.C), dirigida aos senadores de Roma, que a idade, diferente de desequilibrar, aumenta suas capacidades, com o que concordo plenamente. Ela cita também o filósofo Ralph Waldo Emerson (1803-1882), que o crítico Harold Bloom incluiu em seu livro “O Cânone americano”, gabando os méritos e a serenidade da última idade; ele diz que “o velho é feliz primeiro porque escapou de perigos múltiplos e já não tem o que temer, e com a vida atrás de si, ela lhe pertence e ninguém pode roubá-la”. Comigo é pura verdade, mesmo porque acho que casamento é só por uma vez. Penso que é isso mesmo: plantei várias árvores, escrevi três Livros, casei com a Conceição, sou pai de quatro filhos e avô de cinco netos; trabalhei – ainda continuo trabalhando - estudei e passei boa parte da vida ensinando o que aprendi. Foi fácil? Não, contudo continua valendo a pena, mesmo depois que a minha esposa se foi, há seis anos. Sabe-se sobre o escritor que mais exaltou a velhice, Victor Hugo (1802-1885), recentemente relembrado pelo incêndio da Notre-Dame de Paris, que ressaltava “o contraste romântico entre um corpo enfraquecido e um coração indomável”; Michel de Montaigne (1533-1592), “recusa tanto a zombaria da velhice quanto sua exaltação, que para aqueles que empregam bem o tempo, a experiência e a ciência crescem com a vida, mas a vivacidade, a prontidão, a firmeza e outras características essenciais se enfraquecem ou desaparecem”. Corpo enfraquecido, é verdade, bem como “outras características essenciais”, todavia a experiência cresce à medida em que se envelhece. Dou meu próprio testemunho sobre essas verdades e me considero um privilegiado. Há exemplos brasileiros exaltados por Clarice Lispector (1920-1977); Simone de Beauvoir (1908-1986) diz que “mais vale viver uma velhice ativa, mas que essa possibilidade, contudo, pertence aos privilegiados”, como eu. Agora, um pouco sobre a motivação maior do artigo de Eliana Cardoso, “a vida no longo prazo” face à Reforma da Previdência, ora em discussão na Câmara dos Deputados. Ela diz: a fonte mais importante de rendimentos dos idosos são as aposentadorias e pensões; que a renda média dos idosos economicamente ativos é mais do dobro da renda média da população economicamente ativa entre 14 e 64 anos; entretanto, apenas uma parcela pequena da população acima de 65 anos (tenho 84) se mantém ativa. E mais: “Os idosos ativos com mais de 65 anos representam apenas 15% dessa faixa da população, e entre as pessoas acima de 75 anos, somente 5,5%; (...) apenas uma minoria privilegiada consegue se manter ativa e independente na velhice”. Por todas essas verdades, dou graças a Deus!


RUMO A PLAGAS DISTANTES *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Até então ficara por perto, em São Luís, com a vantagem de poder voltar, pelo menos nas férias dos estudos, à casa do pai, mãe e irmãos, rever os amigos, a namorada; agora, ia ser diferente, porque a viagem era para mais longe, sem essa possibilidade frequente de retorno. Eu estava de bem com a vida: tinha um diploma de nível médio, havia cumprido com a obrigação do serviço militar, estava com saúde e disposição ao enfrentamento de novos desafios. Havia completado vinte anos. Meu pai nunca me disse, mas estou certo de que alimentava a expectativa de sucede-lo nos negócios da loja, a “Casa Brandão”; entretanto, apoiou minha decisão de procurar oportunidades de trabalho e de estudo, em plagas distantes. Foi assim que, no dia 26 de dezembro de 1954, no campo-de-aviação de Caxias, embarquei em um Douglas DC-3, da Real-Aerovias, acho, para Teresina, com o objetivo de obter a Carteira Profissional de Trabalho. No dia seguinte, por volta das sete da manhã, no mesmo tipo de avião, segui para o Rio de Janeiro, com escalas em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, e Teófilo Otoni, em Minas Gerais, chegando ao aeroporto Santos Dumont, no Rio, por volta das dezenove horas. Praticamente doze horas de viagem! Esperava-me o amigo da nossa família, José Duarte Brandão, há muito radicado na ‘cidade maravilhosa” e empresário bem-sucedido, que muito ajudou nos meus primeiros dias de adaptação. Naqueles tempos o país vivia novas esperanças ao seu desenvolvimento e as oportunidades de trabalho eram oferecidas por agências especializadas, bastando que o candidato preenchesse os requisitos exigidos. Foi assim que consegui meu primeiro emprego. Rua Haddock Lobo, 30, Tijuca: lá funcionava a empresa Rinder Indústria e Comércio, fabricante do VicVaporUb e do xarope VIC, que tantas vezes a mãe e as tias usaram para aliviar o chiado no peito. O salário era bom e, de tão suficiente às minhas despesas mensais, o pai não precisou mais se preocupar em mandar a mesada. Naquele emprego conheci e convivi com tipos esquisitos: o chefão era um homem alto, gordo e falava alto ao cumprimentar seus empregados; um colega trabalhava as fichas de contabilidade batucando na máquina; outro, um libanês, só bebia vinho e torcia pelo América, um time de camisa vermelha e de poucos simpatizantes. Quando o time dele foi campeão carioca, em 1960, eu não estava mais por lá, porém ele deve ter vibrado muito. Maurício, David, Olga, Severino, Alim e muitos outros, onde estariam agora? Soube, outro dia, pesquisando na Internet, do velório de Maurício Rinder, um dos dono da empresa, pediam: “não levem flores”! Lembrando dos outros, que fim levaram aqueles nossos almoços comunitários nas pensões do famoso Largo do Estácio. Minha primeira morada foi em uma “vaga” de uma casa, estilo colonial, na rua Washington Luís, 88 – Centro, que não existe mais demolida para abrigar expansão do Hospital da Cruz Vermelha, próximo. Lá já moravam outros estudantes egressos do Maranhão, o que facilitava a convivência; ainda não havia a insegurança dos dias atuais, razão pela qual os proprietários alugavam esses espaços. Aos sábados, na rua, o barulho começava de madrugada ao dar lugar a uma Feira; às vezes faltava água e o banho de chuveiro era de água morna no verão e gelada, no inverno. Fiquei na Rinder, de janeiro a outubro daquele ano de 1955: havia muitos empregos, mas a rotatividade era intensa! Logo consegui outro em uma firma de importação e exportação, uma sala do 9º andar da avenida presidente Vargas, 417-A, defronte ao antigo Hotel Guanabara. A contabilidade da empresa, como acontecia, estava atrasada e os donos eram metidos a “gente bem”; um deles, de origem portuguesa, tinha o nome comprido e o outro, nascido em berço-de-ouro, frequentava o “high-society” carioca.


Vestiam-se bem e caprichavam nas camisas sociais, todas feitas sob medida; nós, seus empregados, ficávamos sabendo das badalações de ambos nas casas noturnas, principalmente na boate Sacha’s, em Copacabana, uma das mais famosas da época; Eram citados nas crônicas sociais dos melhores jornais e viviam a vida daquele samba cantado pelo saudoso Jorge Veiga: “doutor de anedota e de champanhota, estou acontecendo no café-societay, só digo enchanté, muito merci, all right, troquei a luz do dia pela luz da Light”. Onde estariam Hildegardo, Henrique Sérgio, Antonio José, Cláudio, Sílvio, Heloisa, Venina? Corria o ano de 1957 quando voltei a Caxias, em férias, depois de fins de 1954.


QUANDO O ‘PÉ É MAIOR DO QUE O SAPATO’ *Antônio Augusto Ribeiro Brandão Nos humanos esse quadro traz desconforto e dor, mas fácil de resolver; no setor público, entretanto, traz inchaço e desequilíbrio financeiro, situação mais traumática e de difícil solução. É o que está acontecendo, mais aqui menos ali, com os Estados e Municípios brasileiros. Sabemos bem quais são as causas principais desse desconforto: eleições não coincidentes para os cargos de governador e prefeito, permitindo que os deputados, sejam, estaduais e federais, e os vereadores, mantenham interesse nesse desencontro. A questão dos mandatos não coincidentes poderia ser resolvida, reafirmo, com a prorrogação dos atuais mandatos e, ao cabo, realização de eleições gerais para todos os cargos do executivo e do legislativo, por um período de seis anos, proibida a reeleição. Os partidos seriam fortificados e surgiriam novas lideranças. A outra grande limitação diz respeito à capacidade arrecadadora desses entes federados dependentes que são das transferências federais, uma vez que suas receitas próprias, principalmente o ICMS dos estados e o ISS, dos municípios, não são suficientes ao menos – o que seria desejável – à cobertura das suas despesas obrigatórias correntes, pessoal e encargos, além de outros custeios. É por isso que não sobra nada aos investimentos. Uma reforma tributária que restabelecesse a capacidade arrecadadora dos estados e municípios, que unificasse tributos e regulamentasse a política de incentivos fiscais, em muito ajudaria. A curto prazo, entretanto, um ajuste fiscal em que as despesas primárias pudessem ser contidas e quando muito crescessem em menor proporção do que as receitas primárias, seria o ideal a um Resultado primário positivo’ A propósito dessas considerações, o jornal ‘Valor’, edição de final de semana (15, 16 e 17/06), em toda página A12, destacou em duas manchetes: “Investimento das capitais cai pela metade em 4 anos” e “Renegociar dívidas custou R$400 bi em duas décadas”. Comparando o primeiro quadrimestre dos anos de 2015, 2018 e 2019 - neste houve discreta recuperação ressalta a queda dos investimentos, em cada capital brasileira; mesmo São Paulo, o nosso maior estado, experimentou essa queda. É o que pode explicar a falta de novos investimentos, de ao menos manter e conservar as obras já realizadas. O jornal diz que “dentro de um quatriênio de mandato, o terceiro ano costuma ser o período em que os prefeitos começam a alavancar os investimentos, já se programando para as eleições do ano seguinte”. Faz sentido essa afirmação, porque a Lei eleitoral, coadjuvada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelece restrições ao executivo municipal, no seu último ano de governo. Sobre a outra manchete do jornal ‘Valor’: a reforma da previdência, até o presente momento, deixou estados e municípios de fora, deixando de viabilizar uma economia de quase R$400 bilhões para esses entes federados ao longo dos próximos dez anos. Se vierem a ser incluídos, contudo, um amplo ‘programa de equilíbrio fiscal’ de lhes será submetido exigindo corte nas despesas; em troca, a possível renegociação de suas dívidas. Essas despesas são maiores na relação de pessoal e encargos com a receita corrente líquida, incluindo ativos, inativos e pensionistas. Vamos, para ilustrar, lembrar que a Grécia, como reflexo da crise das subprimes, nos Estados Unidos, começou atrasando e depois deixou de pagar essas despesas, submetendo-se, como consequência, a fortes ajustes determinados pelo Banco Central Europeu. O jornal traz uma tabela explicando o custo efetivo das renegociações das dívidas dos estados e municípios, entre 1997 e 2018; a evolução crescente das despesas de pessoal dos governos estaduais, de 2006 a 2018, bem como o sobe-e-desce dos seus investimentos, de 2002 a 2017.


OUTRAS ‘MORADAS’ DA MINHA VIDA *Antônio Augusto Ribeiro Brandão As casas onde morei na infância e na adolescência, junto aos meus pais e irmãos, trazem as lembranças de sempre e muitas saudades. Falei sobre isto na crônica às páginas 67/70 do meu primeiro livro “Fortes Laços”, lançado em 2007, na primeira Feira do Livro de São Luís. Minha estada no Rio de Janeiro, entre fins de 1954 e 1960, foi abrigada por outras moradas que não eram minhas nem de meus pais, mas de terceiros que cediam, por mensalidades e para completar suas próprias rendas, partes dos seus imóveis chamadas “vagas”: assim peregrinei pelo Centro, Laranjeiras, Flamengo, Catete e Largo do Machado. Existem muitas histórias dessas minhas andanças umas boas e outras, nem tanto. Naquele tempo não havia a violência e insegurança de hoje, daí as famílias permitirem esse compartilhamento da sua intimidade; porém havia regras a essa convivência e ou falar um pouco do que me lembro de cada uma dessas moradas. Ano passado, estando no Rio, quis rever a primeira casa onde morei, estilo colonial de dois andares, escadaria de ferro e janelões; todavia não estava mais lá, somente tapumes, abatida que fora pelo progresso ao ceder lugar à ampliação de um hospital. Ali desfrutei de certas comodidades: já residiam vários maranhenses companheiros de “exílio” voluntário e em busca de trabalho e de saber. Como trabalhava pelos lados da Tijuca, na rua Haddock Lobo, saía bem cedo, tomava o café por perto e descia até a Campo de Santana, para ir de bonde até o Largo do Estácio, nas proximidades do emprego; almoçava em diversas pensões nas proximidades e às vezes, na marmita, no própria empresa, para, na volta do trabalho, à noite, jantar na pensão de uma família de origem portuguesa, que também ajudava com as roupas, lavando e passando. Fiquei lá, na rua Washington Luís, por uns seis meses e mudei para Laranjeiras, na rua Pereira da Silva, onde também já estavam outros maranhenses de Caxias. Era um edifício de dois andares, construção de estilo, onde as vantagens e restrições não diferiam muito do endereço anterior, contudo aos domingos podíamos partilhar da mesa dos proprietários. A essa altura já estava trabalhando em firma situada na avenida Presidente Vargas e me tornei passageiro diário do famoso ônibus 115, que fazia o trajeto do meu interesse. Uma das grandes vantagens da nova morada era que ficava bem perto do estádio do Fluminense, na rua Pinheiro Machado, permitindo que fossemos a pé aos jogos e inclusive aos treinos; para a esquerda, era próxima à Igreja da Glória, ao cinema São Luís, ao Lamas, ao Bob’s e, para a direita, um pouco mais distante, à Igreja de São Judas Tadeu. Peregrino, depois fui viver na rua Marquês de Abrantes, em outra “vaga” que parecia ter sido a casa do porteiro, porque ficava nos fundos do edifício e com espaços reduzidos. Só cabia o cama e poucos pertences; o banheiro ficava distante. Fiquei pouco tempo por lá e logo fui morar na rua paralela, a Senador Vergueiro, já bem próximo à enseada de Botafogo. Na nova “vaga” tive como companheiro um senhor de meia idade, que roncava demais; o banho quente somente era permitido mediante licença prévia da proprietária. Também não demorei muito por lá e fui embora. Essas duas “moradas” talvez tenham sido as mais difíceis que enfrentei. Corria o ano de 1958, não aguentei e fui então parar em outra “vaga”, na rua Silveira Martins, aquela que desemboca em frente ao Palácio do Catete. Àquela altura já tinha passado por trabalhos com endereços na avenida Rio Branco, Franklin Roosevelt e estava, onde fiquei por mais tempo, na avenida Erasmo Braga. Era um edifício pequeno e o apartamento, no primeiro andar; quase em frente tinha um “boteco” que servia um generoso filé com fritas e, em determinado dia da semana, o veterano cantor Ciro Monteiro, que morava perto, dava sua “canja” aos amigos e frequentadores. Houve dissabores, contudo: uma noite um novo companheiro de quarto aparentando muita solicitude deu-me o desprazer de, furtivamente, ao amanhecer, roubar dinheiro e pertences valiosos, como meu anel de grau de contabilista. Nunca mais tive uma joia igual.


Não lembro bem se, em 1959, quando conclui o curso de Economia, ainda estava lá ou já havia mudado para o Largo do Machado, minha última “vaga”, no Rio de Janeiro, dos tempos de solteiro, mas já noivo da Conceição, que inclusive compareceu à solenidade de minha formatura, na Maison de France. Talvez essa tenha sido a estada mais agradável de todas, pois tranquila e próxima de tudo. Estava terminada a minha vilegiatura pelos bairros e ruas do Rio, seus edifícios e “vagas”; graças a Deus, apesar dos pesares, havia alcançado meu objetivo de trabalhar e me formar.


OSMAR GOMES DOS SANTOS Os artigos de Osmar Gomes dos Sanbtos sĂŁo publicados nos Jornais O Imparcial e Jornal Pequeno


GESTOR PÚBLICO Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

Nos meus 30 anos de vida pública – desde a Secretaria Geral e a Procuradoria da Câmara Municipal de São Luís, passando pelos quadros da Polícia Civil, até chegar ao tão almejado cargo de Juiz de Direito – pude acumular experiências para entender o verdadeiro sentido do termo gestor público. Aprendi que tal missão vai muito mais do que alcançar uma cadeira, seja pelo concurso, pela confiança ou mesmo pelo sufrágio. Aliás, a cadeira, por assim dizer o cargo, é a constatação primeira de que dali em diante assume-se o compromisso de trabalhar para a sociedade. As prerrogativas do cargo investido não devem ser vista ou confundidas com privilégios pessoais, mas tão somente como meios para assegurar o pleno exercício de atribuições decorrentes daquela ocupação, de forma a garantir a devida prestação dos serviços públicos. Não há outro caminho – seja na execução dos serviços burocráticos, seja arregaçando as mangas –, o gestor precisa se imbuir do espírito de servir ao próximo, compreendendo a nobre missão que o cargo lhe reserva. Neste ponto, interessante visão repassada por um badalado livro sobre liderança, lançado há alguns anos, que afirma: o verdadeiro líder é aquele que sabe servir. Na acepção da palavra, gestor é aquele que administra, planeja, organiza. É o responsável pelo gerenciamento de projetos, processos, pessoas, recursos tangíveis e intangíveis. Para além dos conceitos etimológicos, o gestor, seja na iniciativa privada ou no setor público, deve sempre estar em consonância com a realidade e as transformações sociais e tecnológicas que se processam a sua volta. Especialmente no âmbito da administração pública, o gestor precisa estar ainda mais atento às diversas variantes que interferem em suas decisões. O pré-requisito essencial – primeiro referencial de conduta que ele precisa ter – é vocação para lidar com aquilo que é público e que, no Brasil, infelizmente, se construiu como uma cultura de que não é de ninguém. Vocação, no meu entendimento, deve vir, inclusive, antes do próprio interesse público, pois só poderá agir em prol deste último aquele que detiver a aptidão necessária e estiver disposto a trabalhar para mudar a concepção de que o que é público é de todos e interessa ao bem estar da sociedade. Daí advém o interesse público, que diz respeito ao conjunto de ações positivas que afetam a coletividade. Todas as ações canalizadas pela administração pública devem ter como finalidade direta o benefício da população, que é sua mantenedora. Atuar com estrita obediência ao interesse público e às normas legais é a primeira, e talvez a principal, premissa a ser seguida por aquele investido em cargo público. Posso apontar que após a premissa do interesse público, o gestor precisa ter sensibilidade. É uma característica fundamental, uma vez que ela permite um olhar brando e equilibrado sob as circunstâncias complexas vividas cotidianamente. A sensibilidade possibilita um olhar mais humano e garante a tomada de decisões mais acertadas. Decisões como a de saber montar uma boa equipe, do primeiro ao terceiro escalão. Cercar-se de pessoas boas, idôneas, capacitadas e igualmente sensíveis é, certamente, outro fator de sucesso. E assim precisa ser. O gestor é como um maestro que rege uma afinada orquestra, sendo dele a responsabilidade pela harmonia e pela boa “música”, que, neste caso, ecoa como serviços públicos executados com eficiência e qualidade. Uma boa equipe deve estar imbuída dos mesmos propósitos do comandante, contribuir, cada um em sua seara de competência, para elevação do bem estar social. O lucro financeiro está para a iniciativa privada da mesma forma como o bem estar e a qualidade de vida da população estão para o setor público como índices de sucesso de uma gestão. Nada obstante a essas características, a capacitação técnica é um incremento para o qual o gestor também deve se atentar. Ele precisa estar preparado e o aperfeiçoamento constante deve ser o combustível que


possibilita a realização das tarefas de forma mais racional, com base em conhecimento. Isso permitirá maior índice de acertos na execução das atribuições atinentes à sua ocupação. Das minhas experiências não posso deixar de imprimir, aqui, mais uma marca daquele que se pretende gestor público: a disposição para trabalhar. Aceitar essa missão é assinar o compromisso de que deverá literalmente “manchar” a camisa com o suor derramado em prol da sociedade. Arregaçar as mangas, ir ao encontro do povo, ouvir seus clamores e trabalhar para atender seus anseios. Um trabalho ininterrupto que exige transpiração constante. Ele precisa estar nas ruas, dialogar com entidades da sociedade civil organizada, articular politicamente em prol de projetos que refletirão em ganhos sociais. Natural que existam tantas outras características que o gestor público necessita ter e executar para bem exercer sua função. Sem a pretensão de exaurir todas elas, deixo apenas uma contribuição daquilo que entendo – como gestor que também sou – ser a essência da sua atuação, da qual dependerão todos os demais predicados que possam pretender mencionar.


APRENDENDO A LIDAR COM A OPINIÃO PÚBLICA Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Opinião pública se tornou uma expressão clichê quando se pretende avaliar personalidades, governos, empresas, enfim, tudo aquilo que de alguma forma está ao alcance da análise do cidadão. Seja positiva ou negativamente, costuma-se dizer que a opinião pública é impactada pelas ações dos agentes públicos, ou, no sentido inverso, em torno deles emoldura uma conduta. Isso porque a opinião pública nada mais é do que a representação da vontade popular, hoje muito mais difundida em razão dos avanços tecnológicos. Essa vontade está nas ruas, nos meios de comunicação, nas caras pintadas, na forma de se vestir, na forma de se expressar. Está em todo lugar e em todos os momentos, presente nas mais diversas formas de se comunicar, seja sob gritos, seja sob o silêncio. A opinião púbica na essência remonta o efervescente cenário entre os séculos XVII e XVIII, do desenvolvimento do comércio, de toda lucidez sobre as questões sociais que o iluminismo jogou na sociedade da época. Ela nasceu da burguesia, classe que tratava dos negócios, condutora do renascimento, mas que estava ausente da política. Naturalmente que opinião pública de hoje não é a mesma daquela restrita a alguns cafés e a poucos círculos sociais. Como disse acima, ela está por toda parte, influenciando e sendo influenciada dentro de um dinâmico jogo de poder que se processa nos espaços de representações, que por sua vez podem ser classificados como campos sociais, tais como o da política, o da saúde, o da educação. Recentemente trouxe uma abordagem sobre as virtudes e posturas que o gestor público precisa possuir. Resgato uma das qualidades ali abordadas para ressaltar que a sensibilidade neste ponto é fundamental. Ouvir o clamor que vem das ruas – os anseios sociais – e traduzir isso em forma de acertadas políticas públicas contribui para o sucesso ou o fracasso do gestor. Sem sair do campo político, mas apenas estendendo a um espaço mais amplo, que é o da própria esfera pública, conquistar uma opinião pública positiva é um dos fatores de sucesso de uma organização, pública ou privada, tal como do agente social, esteja ele ou não investido em uma função pública. Nesse jogo de embates representativos, por deveras ideológicos, exerce um papel fundamental devido o seu poder de reverberar os acontecimentos a um sem número de pessoas mundo afora. A propósito, quem nos dias atuais não ouve frequentemente a expressão “viralizou” como forma de dizer que um fato alcançou milhões de compartilhamentos e publicações pelo mundo? Esse é um fenômeno dessa nova esfera pública, que constitui uma opinião pública ainda mais incontrolável, mas que ao mesmo tempo possui ou parece ter um autocontrole sobre aquilo que merece ou não ganhar atenção nos mais diversos canais midiáticos. Não é objetivo, aqui, adentrar nos estudos sobre a opinião pública e todos os demais temas que a cercam, isso certamente já é muito bem feito pelos estudiosos, em especial os teóricos do campo da comunicação. Não obstante, a proposta visa tão somente chamar atenção para esse fenômeno social carregado de complexidades, visto que é produto da natureza humana. Notadamente que ela pode ser mais ou menos qualificada, inclusive no que depender do grau de instrução de seus participantes, como se pode verificar em temas que surgem de campos sociais específicos. Mas, independentemente da qualificação de seus componentes, ela jamais deixará de ter imensa participação dos mesmos no debate proposto diariamente. Essa reflexão é importante, notadamente, para aqueles que ocupam postos públicos, sejam eles eletivos ou não. A atuação dos gestores é atualmente um dos temas mais discutidos e que sofrem maior pressão da opinião pública, que tem o poder de amoldar, melhorar, reformular e até mesmo banir, ações ou pretensões de políticas governamentais.


Na pauta política atual estão dezenas de assuntos que são acompanhados pelos cidadãos, que por sua vez se manifestam acerca dos temas em debate. Criminalidade, corrupção, reformas, economia, empregos, são alguns desses assuntos que rendem toneladas de kilobytes de informação que podem afetar as tomadas de decisões e os rumos da cidade, estado ou nação. Atenção especial deve ser dada ao chamado campo da comunicação. É nele que se processa grande parte das informações que estão no cerne do debate que resulta na opinião pública. E não se pode querer controlar esse processo, uma vez que na República Federativa do Brasil é livre o exercício profissional, o anonimato da fonte, a liberdade de expressão e de pensamento. A opinião pública é indomável. Não se pode querer dominá-la, no máximo compreendê-la e aprender a lidar, se possível a seu favor, com um fenômeno mutável, devido as variantes diversas que podem interferir naquilo, estará ou não na agenda diária dos debates.


ÁGUAS QUE VÊM E QUE VÃO Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Água está na essência da vida. Ela é a base de tudo, uma espécie de matéria mãe, da qual todas as outras espécies precisam para sobreviver. Desde os primórdios a água estava lá, presente, composto líquido no qual acredita-se terem se originado as primeiras espécies. E tanto pelo ponto de vista biológico quanto fisiológico necessitamos dela para manutenção do nosso corpo e ecossistema em equilíbrio. No entanto, as águas de março que fecham o verão parecem teimar em ficar para abril, maio... O Brasil possui dimensões continentais, expressão que virou lugar comum. Justamente por isso têm também características climáticas extremamente diferentes de uma região para outra, notadamente no que diz respeito às estações do ano e a sazonalidade das chuvas e das estiagens. De norte a sul, leste a oeste, temos acompanhado verdadeiras tragédias e transtornos diários na vida de muitas cidades brasileiras em razão das fortes chuvas. Em nossa capital, particularmente, chuvas fortes e perenes começaram a cair desde novembro, algo incomum e muito distante daquelas noites de Natal ou mesmo de Réveillon, quando presenciávamos uma leve garoa. Chuva de verdade? Ah, estas só molhavam de verdade de fevereiro em diante, seguindo um curso de normalidade até junho. Como no jargão popular, estas chuvas apanharam a todos de calças curtas – sociedade e poder público –, na capital e no interior. Isso porque, como seres humanos, aprendemos a conviver com a natureza e reagimos a ela conforme as intempéries que se apresentam. Deveria ser uma simbiose perfeita, se para ela devolvêssemos, na mesma proporção, os benefícios que nos concede tão generosamente. Ao cabo de toda reflexão sobre esses desastres, a culpa parece se voltar sempre para um único ser, o humano. Seja pela ação predatória frente à natureza, o que especialistas garantem estar causando desequilíbrio e resultando em eventos naturais cada vez mais drásticos, seja pela falta de planejamento adequado frente a possíveis tragédias, muitas delas aparentemente anunciadas e evitáveis. Embora em estágio avançado, ainda podemos reverter esse quadro, nas duas frentes: prevenção e reação às ocorrências. No primeiro caso, importante invocar a necessária mudança de comportamento frente ao consumismo desenfreado, em especial os recursos naturais disponíveis. Metas como a diminuição do aquecimento global, do desmatamento e poluição dos recursos hídricos precisam estar na pauta de toda a sociedade e não apenas dos governantes. Não se pode negar que, via de regra, a grande parte da responsabilidade recai sobre os ombros da própria sociedade. É ela que elege seus representantes, que por sua vez devem agir em benefício da coletividade também no tocante à questão ambiental. Governantes, seja na esfera federal ou mesmo municipal, passam então a ter papel decisivo nas duas frentes apontadas. O governo precisa assumir o papel de protagonista, mobilizando a sociedade na busca e na implantação de soluções efetivamente transformadoras. Não se pode mais dissociar as ações de governo dos impactos ambientais que as mesmas podem acarretar ao meio ambiente. Reduzir impactos, aumentar ações de recuperação e ampliar as de preservação são caminhos para que se estabilize e posteriormente se reverta o avançado processo de degradação ambiental. O “x” da questão é que agora essas ações precisam ser realizadas conjuntamente, em paralelo, como diz a velha e boa expressão: pegar o bonde andando. Ao mesmo tempo em que se planeja o futuro, é preciso adotar medidas urgentes para amenizar os estragos trazidos pela natureza, na estiagem ou na cheia. Enquanto o futuro não chega, que pelo menos o dever de casa seja feito. Municípios precisam ter plano de ação para atender prontamente sua população. Vejo com tristeza, por exemplo, nossa região da baixada maranhense castigada pelo atual período de chuva, em particular minha terra Cajari. É triste ter que presenciar gente do meu chão abandonando suas casas em razão das cheias e não


ter o amparo necessário do poder público. Baixada tão rica e ao mesmo tempo tão castigada por gestões que não colocam as pessoas em primeiro lugar. Por outro lado, com apoio dos estados e do governo federal, os municípios precisam ser bem aparelhados. Bombeiros precisam estar distribuídos estrategicamente e a defesa civil atenta aos acontecimentos, se possível agindo preventivamente nas áreas de risco. Boa parte da população, maranhense e brasileira, agoniza frente às intempéries vividas nos últimos meses. Uma secessão de tragédias de grandes proporções tem deixado cidades inteiras órfãs em todo o país, com destaque para a do Rio de Janeiro, mais recentemente. Lá, pessoas morreram afogadas e soterradas. Como um castelo de areia, a cidade maravilhosa ruiu e mostrou sua face mais frágil nos últimos dois meses. Mas a vida precisa seguir. Frente às incertezas que se sucedem – sobre ter sido apenas um evento raro ou se passaremos a enfrentar cada vez mais turbulências como as vistas recentemente – precisamos, todos, levantar nossas cabeças e continuar em frente. As cartas da nossa sobrevivência estão sobre a mesa e as soluções esperando para serem adotadas. Trilhar novos rumos não é mais uma questão de opção, mas uma obrigação que agora envolve todos nós, governo e sociedade.


CORTIÇO NOSSO DE CADA DIA Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

Abril é mês de nascimento de Aluísio Azevedo, escritor maranhense dos mais destacados na literatura brasileira. Por essa razão, guardei um punhado de palavras e uma folha em branco para rememorar um pouco de uma de suas mais importantes obras: O Cortiço. O cenário é o Rio de Janeiro, tendo como pano de fundo um cortiço – tipo de moradia de precárias condições estruturais. O ano, 1890, marca o fim da submissão do Brasil a Portugal e início do modelo republicano de governo. O fim da escravidão gera enorme demanda de mão-de-obra para o novo modelo de produção capitalista. Neste novo contexto, ou se tinha algum tipo de ofício especializado – algo raro para a época –, ou se submetia ao trabalho exaustivo em troca de alguns poucos réis. A segunda alternativa era a mais comum para a massa de pessoas desocupadas, que agora precisam trabalhar para se sustentar. Menos qualificação era sinônimo de salário menor, o que mal dava para manter as necessidades básicas. Moradia era artigo de luxo e felizardos eram aqueles que ainda conseguiam um canto em algum cortiço para uma noite de descanso. As instalações precárias eram o único espaço de morada voltado para aqueles com parcos recursos. Neste mosaico social se passa uma das mais importantes obras do movimento naturalista. Uma vida marginal, cheia de malandragem, vícios, traições, ganância, cheia de perspectivas prostituídas pela falta de oportunidades e vazia de esperanças por uma sobrevivência digna. As duas figuras centrais na trama, além do próprio cortiço, são o comendador Miranda e João Romão. Este último, um pequeno comerciante que a duras penas – e uma boa dose de ganância e desonestidade – cresce na vida. O primeiro, um afortunado, homem de posses, embora as mesmas tenham sido conquistadas junto com o matrimônio. Romão possuía uma pedreira, uma quitanda e um cortiço. Fixou-se na ideia de enriquecer e para isso trabalhava duro. Movimentava parte de sua riqueza a partir do trabalho que oferecia – uma parcela de seus empregados eram também clientes da quitanda e inquilinos do cortiço. Já Miranda, além do dinheiro, possuía um sobrado, frequentado por pessoas letradas e de nível cultural mais elevado. Havia uma rivalidade entre ambos, que só acabara após uma trama bem articulada de Romão para se casar com a filha do comendador, Zulmira. Romão ascende socialmente, torna-se barão, seu cortiço passa por um processo de modernização e se transforma em Edifício São Romão, habitado por pessoas de melhores condições financeiras. Outros, porém, seguindo seu carma social, vão para outro cortiço, chamado de Cabeça de Gato. Lá insistem em reproduzir todas as desventuras e devaneios de uma vida desregrada. Em síntese é esse o desenrolar da história. No entanto, nas entrelinhas é que está a essência da obra. O Cortiço mostra o abismo social que existe entre dois mundos de uma mesma sociedade, o que por si só se torna atualíssimo para nossos dias. A casa grande e a senzala, o cortiço e o sobrado, o morro e o asfalto, a comunidade e os bairros nobres. A dicotomia social ao mesmo tempo encravada e escancarada em nossa história. A cruel realidade retratada nos aglomerados urbanos do fim do século XIX, notadamente na Cidade Maravilhosa, está presente hoje, se não em todas, pelo menos na maioria das cidades e metrópoles brasileiras. Não se pretende desmerecer quem ocupa essas áreas menos abastadas, mas apenas alertar para o fato de que em um país gerador de tantas riquezas, a classe pobre foi relegada à própria sorte. Alguns ascenderam


socialmente, como João Romão, outros milhões continuam a reproduzir a luta diária pela sobrevivência e outra parcela significativa está às margens da lei e da ordem. Assim, a vida no cortiço segue, dia após dia. Alegrias, tristezas, negociatas, paixões, traições, malandragem, prostituição, gente decente, outras nem tanto. Um mundo paralelo, no qual ainda predomina a lei do mais forte. Para sobreviver, é preciso matar um leão por dia. O cortiço é de uma fase mais séria de Aluísio Azevedo, cunhado em uma crítica social onde mostra a essência humana em suas vicissitudes, escancarando seus medos, fragilidades, instintos, vícios, defeitos. Passa a ideia de que sempre existirá o abismo da desigualdade entre ricos e pobres, como um ciclo vicioso que não tem fim. Azevedo segue a tese naturalista e tenta confirmar que o homem é resultado do meio social, da hereditariedade e do contexto histórico. Reforça ideias deterministas que predominam na época, configurado na ordem e progresso de nosso maior símbolo nacional. É uma obra mais que atual e merece toda nossa atenção. Por mais que se tente combater algumas dessas ideias, ao estabelecer paralelos entre a realidade de outrora e a nossa pode ajudar a compreender o funcionamento de nosso amálgama social.


SÓ A EDUCAÇÃO TRANSFORMA Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Em qualquer parte sobre o globo, qualquer que seja a nação, a educação é tema recorrente e, sem dúvidas, o mais essencial para um povo. Desde que o mundo é mundo e o homem compreende seu espaço no meio em que habita, o processo de conhecimento passou a ter importância. Hoje, é lugar comum dizer que só a educação é capaz de transformar, de fazer prosperar uma nação. Um dos mais influentes líderes políticos do século XX, Nelson Mandela, afirmou que a educação é a arma mais poderosa que se pode dispor para mudar o mundo. O ídolo do nosso esporte, Ayrton Senna – cuja morte completa 25 anos – disse que se alguém pretende mudar alguma coisa na sociedade deve começar pela educação. Obvio, não? Sim e não ao mesmo tempo. Seja na política, no esporte ou em qualquer outra área em nossa sociedade, a educação é uma sinfonia de uma nota só. O problema é que os componentes dessa orquestra parecem estar ainda muito desafinados – fora de sintonia – e longe de apresentar um grande espetáculo ao cidadão. Comemoramos, no último dia 28, o Dia Mundial da Educação. Bom, na verdade não há tantos motivos assim a se comemorar, a não ser o fato de a data servir como reflexão para o extenso caminho que ainda temos a percorrer. A data é celebrada desde 2000, quando da realização do Fórum Mundial da Educação que reuniu 164 líderes mundiais, no Senegal. Naquela ocasião, houve um pacto firmado para que as nações não poupem esforços a fim de que a educação chegue para todos, em quantidade e qualidade. No entanto, quase 20 anos após a conferência, estudos apontam que professores brasileiros recebem salários menores do que a média em países desenvolvidos, crianças ainda estão fora da escola, a merenda é de péssima qualidade e o transporte escolar, além de insuficiente é, em grande parte, precário e inadequado. Exsurge aqui uma peculiar reflexão, que me faz questionar o que nos difere tanto desses ditos países? Será que somos inferiores na escala evolutiva? O rótulo do subdesenvolvimento está impresso no gene de cada brasileiro? Não. O fato de estarmos tão atrasados do ponto de vista do progresso é o fato de que lá, os “gringos” levam a sério questões que aqui são relegadas a segundo, terceiro, quarto plano, a exemplo da educação. Nosso sistema é pesado. Isso inviabiliza reformas estruturantes, tal como a da educação. Burocracia e até disputas políticas impedem que avanços significativos ocorram, tal como na educação. A falta de qualificação e investimento permanente em infraestrutura interfere na melhoria dos processos, tal como na educação. A corrupção corrói a infraestrutura, a qualificação, os salários, tal como na educação. Roubam-se a dignidade e a esperança de um povo. A educação pública brasileira, com raros esforços, está na berlinda. Faltam condições mínimas dentro e fora das salas de aula. Falta merenda, faltam carteiras, falta qualificação e melhor salário para os professores, assim como a adequada divisão por classes, uma vez que ainda é realidade em centenas de municípios brasileiros as salas multisseriadas no ensino fundamental. Ainda temos municípios, aqui mesmo em nosso Estado, não tão diatante da capital, em que as escolas estão desabando, quase que caindo sobre as cabeças das crianças, outras estão desativadas e as ceianças estudando em locais inadequados e tomando água diretamente da torneira armazenada em balde de zinco, calamidade total, desrespeito e vergonha. Nas grandes cidades, outro problema vem tirando o sono de coordenadores, professores, alunos e suas famílias: as drogas. Falta segurança para docentes e discentes, que estão se tornando reféns dos criminosos até mesmo dentro das unidades de educação. A consequência disso se reflete no episódio ocorrido na última semana, quando um adolescente de 17 anos invadiu uma escola em Goiás, sacou a arma e tirou a vida de um educador.


Tudo isso aponta para a falta de interesse em lecionar e de reproduzir educadores Brasil afora. A pesquisa Todos Pela Educação, divulgada recentemente, comprova que 49% dos professores não indicam a docência aos seus alunos. Esse paradoxo é o retrato que se tem de uma educação que está na UTI, cujos professores desvalorizados e desmotivados apenas conseguem manter vivo um paciente que agoniza. Se há desinteresse na motivação para a docência, há manifesta renúncia à ideia de se tornar educador. O já trágico quadro termina por receber uma macabra moldura do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que afirma que nos últimos anos caiu de 7,5% para 2,5% o percentual de jovens que pretendem se tornar professores no país. Já na antiguidade Aristóteles afirmava que a Educação é a mola propulsora da sociedade, uma vez que ela desenvolve outras áreas essenciais ao povo. A cidade perfeita e o cidadão feliz, fim que deveria buscar o governante, só seria alcançada com Educação. Paulo Freire era defensor da pedagogia crítica, voltada para problemáticas da atualidade, por meio da qual o cidadão constrói sua consciência critica de forma autônoma. O Brasil precisa sair dessa paralisia. Não há sucesso na vida – pelas vias legais e morais – se esse caminho não for sedimentado pela educação. O educador é o profissional mais importante em uma sociedade e um dos que deveriam ser mais valorizados, pois são eles que têm a missão de formar todos os demais profissionais. O futuro da nação passa pelas mãos dos professores. Da Grécia antiga aos tempos atuais, o certo é que é necessário abandonar o discurso polido, repleto de retórica vazia, e partir para ações concretas em uma grande frente pela educação. Defendo um pacto republicano pela educação, envolvendo municípios, estados e união trabalhando juntos em uma só direção. O jovem não é o futuro, mas o presente, aqui e agora, para quem a atenção primordial deverá estar voltada.


O VALOROSO LÁPIS Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Estou em todo lugar. Basta a vontade irrefreável de trazer para o mundo concreto aqueles mais íntimos pensamentos, que lá me manifesto. Dou vida a ideias, retrato características por vezes abstratas de um real quase imaginário. Minha composição é por deveras simples – está na essência de quase tudo que existe – mas meu ofício é dos mais árduos. Passo de mão em mão, empresta aqui, dá acolá. Como uma das mais belas metáforas, preciso sofrer na ponta de uma lâmina fria e afiada para oferecer o melhor de mim, ao mesmo tempo em que me consumo e me desfaço. Volto às minhas origens, como carbono que sou, na certeza de aqui regressar. Sou instrumento de trabalho do poeta, escritor, de profissionais de várias áreas. Estou nos mais diversos ofícios e, certamente, estive presente na tenra idade, nas primeiras palavras rabiscadas por aquele que agora lê estes rascunhos deixados nesta página em branco, com quem funciono desde sempre em perfeita harmonia. Traduzo o sorriso da criança no parque, tal como denuncio a tristeza no olhar do pequenino que vende balas entre um vermelho e outro de um semáforo qualquer. Critico com veemência as mazelas de uma sociedade por deveres carregada de hipocrisia, mas ao mesmo tempo repleta de solidariedade e compaixão. Não tenho medo de retaliações e jogo pesado com aqueles representantes públicos cuja encenação não passa de uma mera tragédia da vida cotidiana, que em nada representam os interesses coletivos. Da mesma maneira, presto reverência àqueles que ousam fazer diferente e dignificam a confiança recebida de um povo. Vivo um eterno paradoxo entre o belo e o feio, o sim e o não, o pode e o não pode, o certo e o errado. Afinal, qual é mesmo o lado certo da moeda, se não aquele que interessa a quem convém? Sou apenas um instrumento que traduz um copo que pode estar meio cheio ou meio vazio. Assim, muitas vezes deslizo na conveniência daquele que me conduz. Trago notícias boas, de conquistas, de superação, de cura. Mas teimo em fazer lágrimas correr de rostos, por vezes ingênuos, tamanha a emoção da tristeza, das tragédias, que não posso fugir à missão de retratar. Como diz o dito popular: são ossos do ofício. Sigo falando das nuances da vida, dos carmas, das infâncias abandonadas a uma árdua vida de duro trabalho. Aqui ou acolá, transcrevo em detalhes sórdidos as vidas ceifadas, as famílias que ficbam órfãs. Já me reinventaram por diversas vezes. Formatos, aromas, tamanhos, cores. Mas minha essência permanece a mesma, e receio que assim se perpetuará. Decerto que nem sempre será possível deixar minha marca, eis que surge uma rebelde borracha, que adora pregar peças, e se posta a desfazer, bem-feito, aquilo nem sempre tenho zelo e esmero. Apenas a borracha – e não é qualquer uma – é capaz de limitar minhas inquietações. Desfaz-se a linha mal traçada, meio fora de prumo, que reproduziu pensamentos que agora não passam de arrependimentos, de desilusão, daquilo que já não é mais. Com ela vivo uma relação paradoxal, em alguns momentos de amor e ódio, já que ela insiste em apagar os traços que vou deixando pelo caminho. Por isso, preciso estar sempre seguro, convicto de minhas posições. Se errado, ela, a borracha, reaparece para me mostrar que nem sempre sou dono da razão. Com humildade, reconheço minhas falhas e me refaço, tornando a deixar gravadas as minhas marcas. A bem da verdade, quisera eu que apenas as marcas boas ficassem para posteridade, que apenas as mágoas, tristezas, tragédias e tantas outras impressões ruins fossem simplesmente apagadas. Como seria bom! Há casos em que, por força de norma, sou relegado e não posso me fazer presente. Ah, mas considerando a máxima de ser permitido o que não está proibido, aproveito para me deleitar em doces e ingênuas mãos,


ainda que me afague de forma desajeitada e sem a coordenação apropriada. Que bom seria ser sempre levado por essa indolência pueril. Mas reforço ser apenas um instrumento, cujo resultado de todo esforço também é o que chamamos de “mundo real”, das dores e sofrimentos cotidianos. Seguindo a régua e o compasso, ou mesmo descompassado, teimo eu em meus rabiscos, meus traços, traduzidos em música, poesia, notícias, desenhos. Aguço os mais diferentes sentidos na tentativa de, por vezes sem sucesso, causar uma impressão, deixar minha marca. Sou um lápis, feito essencialmente de carbono. Minha principal característica é a persistência em transcrever, em alvas folhas de papel, aquilo que é captado com a alma. Faço, me desfaço e me refaço numa interessante trama dramatúrgica, que persiste em dialogar entre o real e o imaginário, dando vida e sentido a um cotidiano em preto e branco.


DESAFIOS PARA A ESCALADA DA CRIMINALIDADE Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. O Brasil do século XXI é uma nação com aproximadamente 210 milhões de habitantes, que vive inúmeros paradoxos e dá sinais de ter estagnado em uma encruzilhada cujo nó parece não desatar. O novo milênio só chegou para o Brasil em termos de passagem temporal. O país do futuro apresenta um cenário atrasado que insiste em demonstrar que muito pouco evoluímos daquele desejo de 70 anos atrás. É fácil constatar que não avançamos como deveríamos em saúde, educação, tecnologia e infraestrutura, por exemplo. Mais triste ainda é confirmar que no tocante à segurança andamos para trás. A violência tomou conta do Brasil! Dados de qualquer instituto comprovam facilmente que o índice de criminalidade cresceu assustadoramente nas duas últimas décadas, com destaque para capitais do norte e do nordeste e até para pequenas cidades de interior, que passaram a figurar na macha da violência. Decerto que a violência deve ser analisada como um fenômeno social, afinal exsurge das relações que estabelecemos uns com os outros. Mas a sua gestação perpassa diversos fatores acerca dos quais teimo em pincelar um olhar crítico sobre alguns deles. Debates carregados de ideologia sobre vitimização do criminoso ou da sua culpa exclusiva não contribuem para uma saída razoável do problema. Não invoco o determinismo para marcar minhas posições, mas não consigo meditar sobre a criminalidade dissociada de seu contexto social. Os ensinamentos rousseaunianos de que o homem nasce bom e o meio o corrompe, precisam ser considerados ao se buscar as causas da violência fora de controle. Atrevo-me a dizer que uma das causas principais da alta taxa de violência está associada à pobreza. Não digo com isso que ser pobre é um problema; longe de mim, um ex-flanelinha morador de palafita. Ocorre que a pobreza traz consigo muitas privações, obrigando pais e mães de famílias passarem o dia longe dos filhos, que por sua vez crescem sem as principais referências familiares. A desigualdade na distribuição das riquezas é a principal causa de inúmeros problemas sociais, inclusive a pobreza. Dar a “volta por cima” não é uma tarefa fácil e alguns terminam apanhados pelas desventuras de uma vida sofrida. A pobreza se reproduz nos guetos, nas palafitas, nas comunidades. Embora lugares de gente digna e honrada, por vezes são esquecidos pelo poder público. O filme Cidade de Deus retrata de forma categórica como se processa o surgimento e o aumento da criminalidade nessas regiões. A violência nas comunidades, sejam daqui ou da Cidade Maravilhosa, não surge da noite para o dia. Essas regiões mais pobres são marcadas por um histórico, antes de tudo, de violência social. Muitos ali estão refugiados das secas ou das cheias constantes de um campo que já quase nada produz. O êxodo rural é um dos principais fatores de inchaço populacional das grandes cidades e que fez aumentar sobremaneira os aglomerados de moradias irregulares e até em áreas de risco. Tudo isso com a conivência do poder público. A lacuna deixada ao longo de décadas pelo Estado tornou as pessoas que moram nessas regiões cidadãos esquecidos, anônimos. Geralmente é desse espaço que grupos criminosos precisam para se instalar, se consolidar e passar a ditar as normas dentro desta ou daquela comunidade como um poder paralelo, com leis e regras próprias. Nesse particular, as drogas se apresentam como o carro chefe, o bem mais precioso, fazendo com que a vida da comunidade passe a orbitar em torno delas. A chegada das drogas abre uma vida de infinitas possibilidades àqueles menores que estão desassistidos pelos pais que possuem uma longa jornada de trabalho. Faz crescer na região os crimes contra o patrimônio, as disputas por espaços, os crimes contra a vida.


Não por acaso, pode-se inferir, seguramente, que pelo menos 80% dos crimes contra o patrimônio e contra a vida estão, de alguma forma, relacionados com as drogas, que por sua vez faz movimentar a cadeia da violência em todo país. Obviamente que a violência está também nas classes média e alta. Mas posso assegurar que são as camadas mais frágeis que sofrem com seus efeitos mais nefastos e onde precisa maior intervenção por parte do poder público que, por anos, relegou essas áreas à própria sorte. Quanto a isso, não existe exemplo melhor do que as UPPs, no Rio de Janeiro, embora a corrupção tenha corroído tão importante projeto social. Inúmeras comunidades cariocas passaram a respirar outros ares com a chegada dessas unidades de polícia e de outras benfeitorias. Negócios foram abertos, a economia local foi movimentada, projetos sociais ganharam força, a qualidade de vida respirou nas favelas cariocas, mesmo que por um curto espaço de tempo. Aquela experiência comprovou que é possível mudar. O Estado precisa voltar a ocupar o papel de protagonista na sociedade, promovendo políticas públicas capazes de acabar com a pobreza e de devolver a dignidade aos cidadãos. As comunidades precisam estar melhor estruturadas e o aparelhamento público condizente com a sua realidade. Os núcleos familiares e comunitários devem ser resgatados, ao mesmo tempo em que se garante o acesso a serviços de saúde de forma plena e ao ensino de qualidade e integral, pois só a educação pode fazer a transformação maior da qual necessitamos. Portanto, a violência não existe por si só. Ela não é causa, mas consequência de um círculo vicioso cujo necessário rompimento já extrapola o badalar das horas. É chegado o momento de acabar com a pobreza, não apenas no que diz respeito ao aspecto financeiro, mas a pobreza de espírito, de valores, que corroem os sonhos de uma nação.


NÃO TOQUE NA MINHA HONRA Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

Em tempos de redes sociais – espaço onde as informações circulam com maior liberdade – um tema ganha cada vez mais atenção nos embates no mundo jurídico: a ofensa da honra por aquilo que é dito por profissionais da imprensa. Vive-se uma dicotomia entre a garantia constitucional da liberdade de expressão, o livre exercício da atividade profissional, a garantia do sigilo da fonte frente à mera subjetividade da honra do que alega ofensa a sua pessoa. "Data máxima vênia", repercutiu mal a atitude recente do ministro Dias Toffoli de determinar abertura de inquérito para apurar notícias jornalísticas e supostos ataques à honra de ministros da suprema corte. Além de extrapolar suas prerrogativas funcionais, haja vista competência da Procuradoria Geral da República, a medida gerou uma avalanche de críticas de vários setores da sociedade, inclusive dentro do próprio STF. No mundo concreto, o que já se verifica é que milhares de ações começam a ocupar espaços do Judiciário para discutir se a divulgação de notícias ofende ou não a honra de terceiros. De forma particular, vejo com certa reserva quando esse alguém é servidor público, investido na função de conduzir a coisa pública e, portanto, tem sua conduta sujeita a cobranças, opiniões e críticas. O agente público não está acima da lei e jamais deve atuar de forma a atentar contra a liberdade de imprensa, não importa a posição que ele ocupe no âmbito dos poderes constituídos. Incomoda constatar a forma como alguns servidores vêm lidando com esses profissionais, abrindo fogo em ações judiciais em razão das publicações nos mais diversos veículos de comunicação. Como afirmar que a honra pessoal, privada, de pessoa pública está sendo atacada quando o que se noticia é algo relacionado à sua função como gestor? Ali, ele se investe na qualidade de representante de um segmento da sociedade? Posição esta, diga-se, que deve guardar integral compatibilidade com os princípios constitucionais, a ética e a moral que a nação anseia. A atuação do agente na qualidade de representante público diz respeito diretamente à coletividade. A medida do ministro e tantas outras vistas recentemente seriam prenúncio de que tempos sombrios estão aportando novamente no país? Retorno da censura prévia? Bom, defendo que não há espaço para tais práticas em nossa democracia. Creio que passamos por um momento de ajustamento no comportamento social, face intensas mudanças tecnológicas que impactam as relações cotidianas. A liberdade de expressão tem sido reiteradamente confirmada em encontros internacionais, fazendo nascer tratados, atas, cartas, a exemplo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, Convenção Interamericana de Direitos Humanos, Declaração de Chapultepec, Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão, dentre outros. As normativas contidas nesses escritos encontram integral guarida em nossa Constituição. “A censura prévia, a interferência ou pressão direta ou indireta sobre qualquer expressão, opinião ou informação por meio de qualquer meio de comunicação oral, escrita, artística, visual ou eletrônica, deve ser proibida por lei. As restrições à livre circulação de ideias e opiniões, assim como a imposição arbitrária de informação e a criação de obstáculos ao livre fluxo de informação, violam o direito à liberdade de expressão”, diz trecho da Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão. Decerto que se deve separar o joio do trigo, como ocorre em toda profissão. Mas entendo que cada mercado constitui elementos suficientes para uma espécie de triagem, algo como seleção natural, onde somente aqueles probos, corretos e competentes perduram e constroem uma carreira. Não é assim em toda atividade profissional?


O que não parece razoável é exercer uma espécie de controle externo sobre uma atividade lícita, resguardada constitucionalmente. Não obstante, a Carta Magna vai no sentido oposto, ao destinar à imprensa a “vigilância” sobre o Estado e a própria sociedade. A imprensa é a garantia da transparência, pilar de moralidade encravado no seio da administração pública. Não creio que profissionais de imprensa, que passaram anos pelo crivo de uma faculdade, tal como outros profissionais – médicos, advogados, magistrados, engenheiros, professores, enfermeiros – se sujeitem a redigir um texto com finalidade espúria de atacar e prejudicar alguém. Se o único fim fosse este, entendo que há mecanismos diante das novas tecnologias para que esse mal profissional o fizesse sem, digamos, “dar sua cara a tapas”. Ademais, ressalto que erros podem ser cometidos, como em qualquer outra atividade, oportunidade em que tais profissionais podem responder pelos seus desvios. Em regra, a imprensa busca ouvir a outra parte. Ainda que em algumas vezes isso não ocorra, cabe destacar o espaço assegurado ao ofendido para que se manifeste e esclareça o que fora divulgado. Pode-se buscar a verdade dos fatos mediante uma simples interpelação judicial, fase pré-processual que oportuniza ao ofendido fazer questionamentos a serem esclarecidos pelo profissional da imprensa. Em regra, esse era o ponto máximo que se chegava. Quando muito, abrindo-se o processo judicial propriamente dito, verificava-se de pronto a celebração de um acordo entre as partes. Em tempos que se propaga – de norte a sul do país – o discurso da conciliação, levar adiante ações contra profissionais da imprensa é demonstrar total dissonância com a realidade e com os preceitos constitucionais, principalmente se essas ações partem de agentes públicos. Essa conduta só afasta a sociedade das instituições públicas, criando um abismo cujo resultado pode ser catastrófico para o exercício da cidadania e para a democracia. Cabe ressaltar entendimento do ministro Barroso em manifestações recentes no STF sobre a liberdade de expressão, segundo o qual esse direito ganha posição de destaque em nosso ordenamento e nos documentos internacionais. Para Barroso, a liberdade de expressão tem função essencial para a democracia, ao passo que garante o livre fluxo de informações e a manutenção de um debate público irrestrito. Outro ponto é que esse direito está intimamente ligado à busca da verdade, algo indissociável do exercício da vida pública. Não se pode admitir, sob qualquer argumento a volta da censura prévia, ataques às liberdades de expressão e de imprensa. O poder público nos últimos anos se viu envolto a quase total desmoralização devido práticas espúrias de alguns de seus agentes. Nós, servidores públicos, devemos fazer "mea-culpa" sim e entender, definitivamente a nossa vocação e, principalmente, nossa função social de promover o bem estar. As instituições devem velar pela prevalência do Estado democrático de Direito, assegurando as liberdades fundamentais, não o contrário. A liberdade de expressão é um direito fundamental, alicerce da dignidade humana e encarnado em nossa Constituição Federal.


UBUNTU CONCIDADÃOS BRASILEIROS Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Saravá! Por aqui aportei há pouco mais de quatrocentos anos, quase que por acaso, já que no início foi tudo a contragosto. Capturado em minhas próprias terras, expropriado das minhas vontades, na maior parte das vezes sob a cumplicidade de meus contemporâneos. Fui jogado nos sujos porões de grandes navios que, por dias a fio, cruzaram os mais bravos oceanos rumo a estas terras tupiniquins. Por estas bandas, sem saber qualquer coordenada pela qual pudesse regressar, compeliram-me a uma jornada extenuante de forçados trabalhos. No início, confesso, não entendia bulhufas dos motivos que me colocavam de joelhos diante dessa situação. Astuto que sou, confesso logo estava tudo devidamente às claras que o escuro da minha pele era o motivo para todo aquele fuzuê. Fui aqui jogado quando ainda nem era um país e ajudei a fazer desta a mais rica e destacada colônia portuguesa. Por séculos carreguei este país nas costas – literalmente sobre os ombros – como ainda o ajudo fazer. Desbravei matas, plantei, cultivei, colhi, produzi, extraí os recursos naturais e minerais, com nada fiquei. Nem um vintém de toda a riqueza que fiz com as mãos calejadas e com o suor que corria sob a escaldante jornada de um sol tropical. Da força de trabalho do meu povo vi monumentos serem erguidos, estradas serem abertas, cidades serem edificadas, a aristocracia consolidar os sobrenomes de suas briosas famílias na história do Brasil, mesmo sem nunca terem pego no cabo de uma enxada. Nossos monumentos ainda resistem de pé, adornando centenas de cidades que estão no mapa do turismo histórico. Mas as obras nas quais se vê beleza, abrigam também muito sofrimento. Não bastasse o banzo – que no fundo da alma ardia – convivíamos com a dor dos calabouços, das masmorras, dos mercados de escravos, das senzalas, dos açoites no tronco seguidos do banho em salmoura. Do pesado fardo que era o cepo carregado na cabeça, do viramundo e da máscara imposta àqueles que furtavam cana ou rapadura para sustento próprio. O castigo era acompanhado da humilhação pública. Servia de exemplo! Ainda assim permaneci forte e me fiz presente. Aqui tive filhos, deixei herdeiros, até cheguei a ocupar posição de destaque em pleno período escravocrata. Mesmo que insistam em me esquecer, de fingirem que sou invisível, de me subjugar à posição secundária na teledramaturgia e no cinema – espaço em que raramente passo do papel de doméstica, porteiro, motorista ou bandido – quero dizer que resisto. Sou forte e estou mais presente do que nunca. Após quase quinhentos anos de exploração, imprimi a minha marca nesta nação que hoje também é minha pátria. Estou vivo na culinária de pratos simples e sofisticados, na cachaça e no samba que marca a identidade nacional, enraizado na língua que particulariza a identidade dos brasileiros. Minha marca está impressa na forma de vestir, no gingado da capoeira, no molejo dos mais variados batuques. Estou na música, no jeito simples de morar, na solidariedade com o próximo, na religiosidade, na arte, na cultura, na irreverência de viver uma vida simples e de superação, mas com a esperança e a alegria sempre estampada em um sorriso marcante e verdadeiro. Ah, também estou na pele branca, parda, preta; no cabelo liso, crespo ou pixaim. Marco expressões nos rostos de olhos grandes, pequenos, puxados que combinam ou não com narizes redondos, afilados, grandes ou pequenos emoldurados por seja lá qual formato de cabeça for.


Axé! Sou do tambor de mina, do terecô, da umbanda e do candomblé. Faço parte do catolicismo, do protestantismo sou gente de fé. Frente aos desafios que a vida me impôs, minhas armas sempre foram a alegria, a fé e o berimbau, companhia que sempre me fazia viajar nas rodas de uma boa capoeira a esquecer a dor e o tormento da desventura cotidianeira. Sou negro! Este sou eu e continuo sendo após mais de quatro séculos de expropriação da liberdade, mas jamais da minha honra e dignidade. Sou rocha, sou resistência, somos um só. Meu DNA está por deveras impregnado no seio desta nação que hoje se chama Brasil. Ubuntu! Sempre foi assim. Essa é uma expressão que para cá trouxe na bagagem. Com ela quero afirmar que eu só existo porque nós existimos, que precisamos um do outro para a vida em sociedade – não o preto, o branco, o índio ou o pardo, mas todos nós enquanto nação. Hoje, mais do que nunca essa expressão ecoa com um enorme sentido para todo povo brasileiro, cuja raça é apenas uma: a humana. Sua essência está no altruísmo como um modo de viver que devemos adotar cotidianamente quase que como um guia de comportamento social. Que os tempos de dor fiquem para trás, sem jamais serem esquecidos, e que possamos juntos e de mãos dadas continuar carregando com braços fortes a nossa nação.


EXIGÊNCIA DO NOSSO PLANETA Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. A cada dia vemos divulgação de pesquisas e estudos acerca do clima em nosso planeta e a cada novo enunciado a certeza de que chegamos ao limite está cada vez mais presente. Aprendemos há muito tempo extrair da natureza recursos para nossa sobrevivência, o que foi potencializado a partir da revolução industrial. No século passado e início deste, estamos confirmando ao universo que não queremos apenas o sustento, mas também nosso luxo, conforto, vaidade às custas do meio ambiente. Todos sabemos o quão necessário é para a sobrevivência da humanidade que os recursos naturais se apresentem em condições ideais, tais como clima, temperatura, índice de poluição do ar e das águas. A combinação desses e outros fatores é que possibilitam o equilíbrio ideal, a perfeita harmonia que garante o nível dos oceanos, a colheita das lavouras, a pesca em abundância, a diminuição de catástrofes naturais. Mesmo com todo conhecimento que temos, continuamos a agredir o meio ambiente de forma sistemática. Na semana que passou a Organização das Nações Unidas lançou como tema a poluição do ar para ser tratada e debatida na Semana Mundial do Meio Ambiente com diversas organizações governamentais e não governamentais por todo o globo. Embora os problemas ambientais sejam muitos, o tema é por demais pertinente, uma vez que abarca várias causas e consequências dentro do seu escopo. O ar está em toda parte do globo, sob a camada de ozônio. A diferença está na qualidade do ar que respiramos aqui e acolá, no interior ou na zona urbana, nas pequenas cidades ou nas grandes metrópoles altamente industrializadas. Certamente nas áreas ditas urbanizadas, onde se concentram carros, fábricas e outras atividades tipicamente urbanas, a quantidade de partículas no ar que afetam a saúde tende a ser maior. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 90% das pessoas estão expostas a altos níveis de poluição do ar. Isso representa nove em cada dez pessoas no mundo. As causas nós também já conhecemos bem, com destaque para aquela que vem da agricultura, da indústria, do transporte, do lixo e a doméstica. Apenas a agricultura colabora negativamente com cerca de 24% das emissões de gases, resultantes das atividades agrícolas e pecuárias. As consequências nefastas da poluição do ar estão presente em nosso cotidiano, a exemplo do aquecimento global, problemas de saúde e as perdas econômicas que podem chegar a 5 trilhões de dólares anuais, segundo estimativa da ONU. Ainda segundo a organização, no tocante à saúde, esse tipo de poluição é responsável pela morte anual de pelo menos 7 milhões de pessoas no mundo. Além dos efeitos diretos, há aqueles que continuam a se reproduzir em cadeia, como a elevação do nível dos oceanos e a desertificação de áreas antes ocupadas por vegetação, resultado direto da elevação da temperatura no globo. Parece estarmos dentro de um grande forno micro-ondas com o controle remoto nas mãos, completamente alheios a uma temperatura que só aumenta, mas somos incapazes de acionar o único comando capaz de cessar o problema e nos salvar. Fechamo-nos em nossas bolhas, nossos carros, nossas casas climatizadas, no conforto de nossa ignorância e vaidade, mas somos incapazes de perceber, de uma vez por todas, que fazemos parte de um sistema degradado a cada dia por nós mesmos e do qual todos dependemos. Como sempre faço questão de enfatizar, a solução não é simples, mas possível e está ao alcance de governos e sociedade. A ONU elenca algumas mudanças de atitudes a fim de frear o avanço da poluição do ar resultante das cinco causas principais. Melhor manejo na atividade agropecuária, maior consumo de vegetais e diminuição das perdas; adoção de combustíveis limpos e fogões mais eficientes para cozimento de alimentos e uso na iluminação; instituição de políticas públicas de incentivo para melhoria da eficiência energética, bem como uso de fontes renováveis de energia, na indústria e no transporte. É importante acrescentar a esse rol de ações a melhor forma de lidar com resíduos produzidos em nossos domicílios. O descarte inapropriado em via pública, a queima a céu aberto de dejetos, o acúmulo em lixões ou em aterros, contribuem para emissão de gases que impactam na poluição atmosférica. Podemos ajudar na


separação e destinação correta dos resíduos recicláveis, por exemplo; da mesma forma como é possível reutilizar como adubo e bioenergia o lixo orgânico. Percebe-se que há uma série de medidas a serem colocadas em prática, muitas das quais dependem quase exclusivamente dos governos. Outras, porém, estão ao alcance de nossas mãos e entendo que podemos fazer isso de duas formas. A primeira é justamente atuar ativamente junto aos órgãos governamentais para que façam sua parte; a segunda diz respeito diretamente às nossas atitudes, razão pela qual chamo atenção para adoção do comportamento sustentável. Adotar o consumo consciente em nossas práticas diárias de relação com o mundo torna-se imperativo para estabilizarmos os efeitos da degradação ao meio ambiente. Essa nova forma de consumir não trata apenas do que fazer com o produto a ser adquirido, mas também com o seu resíduo, como embalagem, peças eletrônicas, peças radioativas, restos orgânicos. Um bom caminho já seria evitar a troca anual de celular a cada novo lançamento, por exemplo. E por aí vai. Nossa casa, o planeta terra, agoniza. Sofre cada dia mais com os efeitos ocasionados das ações daqueles que deveriam cuidar e protegê-lo. Mas ainda há esperança. Não me rendo ao discurso derrotista de que tudo está perdido. Pelo contrário, já comecei a adotar práticas sustentáveis e fazer minha parte, sendo o beija-flor do mundo que quero para mim e para as gerações futuras.


UMA REDE CHEIA DE VAZIOS Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras. Em meados do século passado Marshal McLuhan previu um mundo tecnológico sem fronteiras, cujas ferramentas permitiriam encurtar distâncias e as pessoas estariam conectadas instantaneamente, independente de sua posição geográfica. Essa realidade chegou, talvez muito além daquela prevista pelo filósofo canadense, e com ela inúmeros desafios a serem enfrentados nos mais diversos campos sociais frente às novas tecnologias. Convém destacar um aspecto importante que é a influência das tecnologias na sociabilidade, que implica no comportamento adotado pelos membros de uma coletividade nas relações entre si. Isso porque temos um contexto social heterogêneo, formado por indivíduos que não sabem conviver com essas ferramentas, enquanto outros não sabem lidar com suas próprias frustrações que a vida no plano concreto traz. Desse composto de cidadãos, analiso particularmente o comportamento de duas gerações, Y e Z, ao lidar com novas tecnologias chamadas de redes sociais. Destaco essas duas parcelas etárias da sociedade devido suas condutas serem diretamente influenciadas pela forma como lidam com as redes cotidianamente. A geração Y tem por característica um amplo conhecimento das tecnologias, buscando projetar nos espaços virtuais aquilo que é ou gostaria de ser no plano real. Cresceu junto com a popularização de inúmeras tecnologias e a "glamorização" da vida trazida pelas mesmas, o que passou a despertar desejos, vontade de ser, de ter, de se destacar. Por outro lado, a geração Z – mais notadamente aqueles que vieram no novo século – aprenderam a “ler” o mundo por meio das tecnologias e se acostumou às facilidades e benevolências de uma existência praticamente sem limites, nas quais os relacionamentos são estabelecidos apenas para proveito de suas necessidades particulares. Está caracterizado naqueles jovens que não sabem ouvir “não”, querem ver supridos os seus anseios. No tocante à parcela Y, são pessoas, outrora anônimas, que ganharam o seu próprio “veículo de comunicação” para divulgação da sua rotina, suas opiniões, sua vida. Terminam por buscar nas redes sociais aquilo que não encontram fora dela: reconhecimento, destaque, fama. Lançam-se nas redes buscando saciar um desejo não suprido no mundo real. Em relação à camada Z, pode-se afirmar que há uma espécie de simbiose entre as práticas do real e do virtual. No entanto, a criação de um mundo com raízes virtuais e muitas vezes sem o acompanhamento devido dos pais, edificou muros em torno de comportamentos individualistas e até antissociais, com dificuldades para lidar com situações em equipe ou sociedade. Não é estranha a associação que alguns estudiosos fazem com o famoso cãozinho de Pavlov. Ivan Pavlov foi um médico russo que realizou experiências que consistiam em tocar um sino antes de alimentar os cães. Com o passar do tempo, ele passou a apenas tocar o sino e não mais dispor do alimento. Consequentemente os cães ficavam ansiosos e salivavam por um prato de comida que não vinha. Esses estudos foram levados para o comportamento humano e técnicas foram aplicadas em diversas áreas, com destaque para as ciências da comunicação. Na essência quer dizer que o comportamento é condicionado por determinadas ações cotidianas, cujas ações do indivíduo geram uma expectativa de retorno, uma espécie de recompensa. Trazendo esse exemplo para a análise em questão, ressalto que o perigo está justamente na forma como as pessoas estão lidando com as tecnologias das redes sociais em um espaço em que querem ter reconhecimento a partir de suas ações. Neste cenário virtual em que parece só se estampar felicidade, as pessoas estão ficando cada vez mais condicionadas, viciadas, no uso das ferramentas de relacionamento e isso tem trazido efeitos nefastos para o cotidiano real.


Pessoas, com destaque para as gerações citadas, gastam horas, até mais de dez por dia, conectadas nas redes. Trabalham, praticam esportes, se alimentam e realizam as mais diversas atividades mantendo-se online. Daí as postagens e compartilhamentos, com a esperança do dito reconhecimento que não vêm. O paradoxo está em ter milhares de "amigos”, mas sentir-se preenchido de um profundo vazio existencial. A dependência da internet, já considerada uma doença, tem levado a uma serie de outras novas doenças relacionadas principalmente ao comportamento. Efeito google, que é a falta de capacidade de assimilar informações e conteúdo, uma vez que tudo está a um clique; hipocondria digital que consiste em se sentir doente apenas por ler algo na internet. Mas, sem dúvidas, o stress e a depressão são aquelas que trazem maior preocupação. Pessoas que vivem online sofrem mais com os likes e comentários que não vêm. Já é comum vermos pessoas que publicam, curtem, comentam e até compartilham suas próprias postagens devido a ansiedade gerada mas não correspondida. Essas condutas são perigosas e exigem atenção de pais, profissionais e todos aqueles que puderem ajudar. O estresse e a ansiedade podem caminhar para uma profunda depressão em razão da percepção de que existe uma falta de aceitação dos outros para com aquele dependente de internet. Toda essa cadeia depressiva costuma culminar em suicídio, fator que preocupa por ser o Brasil o país a ocupar a oitava posição mundial nesse tipo de ocorrência. Uma nova geração, chamada de alpha, está em curso e talvez possa ser a oportunidade de corrigirmos alguns caminhos para lidar melhor com as tecnologias. Impor limites aos filhos, fazendo-os compreender que as relações não podem ser líquidas e sem profundidade, tal como o mundo virtual não substitui o abraço, o papo à mesa de bar ou na calçada com os amigos, o chá da tarde ou o encontro de família. A tecnologia, como tudo na vida, precisa ser utilizada com bom senso e equilíbrio. Já diz o ditado que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, se maior ou menor. Portanto, ainda há tempo de estabelecer a dose certa de tecnologia em nossas vidas.


DESAFIOS EDUCACIONAIS NO CENÁRIO DO EMPODERAMENTO Osmar Gomes dos Santos Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras . Educação é um tema sobre o qual sempre gosto de refletir e entendo que todos deveriam se interessar. Ela está na base, na formação de qualquer ser humano, seja aquela vista pelo viés escolar ou a aprendida em casa, por meio de valores transpassados de geração para geração. Sobre esta última debruço a presente análise. Verificando atentamente as gerações mais jovens, notadamente aquelas denominadas de Z e Alpha, causame preocupação - e até certo espanto - a forma como a educação repassada aos mais jovens é conduzida. Não nego que sou um tanto conservador, razão pela qual carrego uma boa dose de saudosismo ao reverenciar a educação dada a mim e aos meus irmãos. Nesse ponto, compreendi e aprendi que é preciso ser duro, incisivo, austero, mas sem ser rígido. Os pais precisam ser modelo para os filhos ao transmitir princípios e valores na relação com o próximo. Impor limites é o primeiro caminho para uma boa educação, visto que durante a vida, por diversas vezes, estes limites irão se manifestar nas mais diferentes áreas. Os desafios são inúmeros e gigantescos, visto que os jovens de hoje já nascem e crescem em pleno contato com as novas tecnologias e estabelecem uma relação simbiótica com todo esse aparato. É uma geração para a qual o virtual se torna parte do real, e vice-versa. O perigo reside justamente nesse ponto, uma vez que relegamos aos meios tecnológicos ou a escolas a formação de nossos filhos e nos afastamos do dever educacional sob nosso teto. Não raro vermos jovens, na ausência dos pais, passarem horas preenchendo o vazio em sites, aplicativos e jogos. É uma forma de compensação pela ausência, que se completa com a célebre expressão “sim”. Dizer sim para tudo, em qualquer situação, virou uma estratégica tentativa de conquista por parte dos pais. Assim, esperam ser amados pelos filhos a partir de sua benevolência. Dessa forma, jovens parecem estar crescendo sem qualquer referencial daquilo que é certo ou errado do ponto de vista do convívio social. Vale apenas aquilo que ele, do ápice de sua breve e inexperiente existência, entende necessário para satisfazer as suas vontades. Telefones de última geração, voltinha no shopping, vídeo game da moda, viagens, festas, rolê com os amigos. Sem horários, sem limites para viver um mundo perigoso e traiçoeiro. Um mundo no qual as relações têm sido marcadas pela efemeridade e sem qualquer profundidade, rasas como diz o jargão musical do momento: shallow now. Essa superficialidade é constatada também na relação do próprio jovem com a vida adulta, estudos, trabalho, compromissos e responsabilidades. Praticamente toda uma geração que ainda não definiu seus rumos. O impacto não é visto apenas na já conhecida parcela dessa geração denominada "nem, nem", mas também entre aqueles que até buscam alguma ocupação. O problema deste último é que ela é temporária. Poucos jovens dessa parcela querem compromisso mais duradouro com o trabalho e privilegiam a ausência de rotina e do cumprimento de horários. Não querem criar raízes, seja laboral ou mesmo familiares. Aquela efemeridade juvenil, na qual se via uma inocente "despreocupação" deu lugar a um aparente desprendimento. Esse é um fenómeno social verificado nestas novas gerações e que desperta atenção, notadamente de estudiosos do comportamento e de educadores. Dentre as suspeitas, o excesso de autonomia e empoderamento das crianças desde as primeiras fases da vida. Decerto que criamos filhos para o mundo. Daí porque precisamos atentar para uma conjuntura social mais complexa, paradoxalmente com maior possibilidade de se estabelecer relacionamentos, mas que estes carregam a característica peculiar de serem mais frágeis.


Empoderar não é nenhum problema. O ponto fulcral diz respeito aos limites que são impostos e a orientação para lidar com tal poder. A independência exige responsabilidade para lidar com as próprias escolhas diante dos macrodesafios políticos, econômicos, ambientais, de afirmação de minorias e até antropológicos. Retomemos as rédeas de nossa juventude para que o comportamento pueril, carregado de ingenuidades e incertezas, não passe de poeira que se esvai com a brisa de um ou dois verões. Mantenhamos a base da educação que garante não apenas a sobrevivência da humanidade, mas a manutenção da vida em perfeito equilíbrio.


ASSIM FALOU ALDY Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL


MARCAS DO SÉCULO XXI E ANO NOVO Aldy Mello O século XX representou uma alvorada para a humanidade. Dizem que na Europa as monarquias deixaram de ser absolutas, e na África, cada vez mais diminuía o número de soberanos. Era desejo comum que o poder e a riqueza fossem compartilhados com todos. É como dizem os autores que tratam da importância do século XX: Foi uma tempestade de mudanças, não obstante duas grandes guerras mundiais, ambas decorrentes da exagerada ganância de países europeus pelo poder, mesmo que ele fosse apenas territorial. Das cinzas das guerras, surge o século XXI, a era da inteligência social porque mudaram os métodos de relacionamento e a capacidade para entender melhor as pessoas e seus sentimentos, segundo afirmativa dos cientistas. Ele prossegue com seus vários desafios, como a produção de alimentos para 9 bilhões de pessoas, que habitarão o planeta até 2050, as tecnologias revolucionárias ocorrem, a economia mundial será baseada numa nova ordem econômica internacional do pós-guerra, o Big Data que em português assumiu a propriedade de 3 Vs (volume, velocidade e variedade) é uma ferramenta que vem revolucionando a civilização. Apesar de todo esse progresso, o mundo continua com seus ganhadores e perdedores; seja entre os continentes, entre os países e até entre as pessoas, com a dicotomia de ricos e pobres, como foi nos séculos anteriores. Por outro lado, nenhuma fase da história conseguiu desmentir o que afirmara Mao Tsé-Tung, quando disse que o poder político nasce de um cano de espingarda. Também ninguém foi capaz de desmistificar os dizeres de Otto Bismarck ao afirmar que quem toma conta da carteira tem o poder. Em síntese, o conhecimento foi a peça propulsora do progresso humano. Entre fracassos e conquistas a raça humana descobriu novos caminhos e rumos, baseados no conhecimento que tinha de si mesmo, do mundo e das coisas. Nesse sentido, os mundos clássicos grego e romano tiveram um primordial papel para o descobrimento do nosso mundo. Foram os conflitos entre família, tribos e aldeias que fizeram surgir os antigos imperadores e reinados, em busca do aumento do poder. Das lições do passado, aprendemos dos egípcios que entre mudar do certo para o incerto não é estratégico nem um ato de inteligência. Foram os indianos que nos ensinaram a conviver com um sistema de casta, donde nasceu a desigualdade social. Dos chineses aprendemos novas formas de se configurar a desigualdade econômica e social, contradizendo a sabedoria indiana de que o nascimento por si só já qualifica tal diferença. Confúcio traz-nos o conhecimento do mérito, baseado na capacidade e na excelência moral e não no mero nascimento, contrariando, assim, o sistema feudal da cultura indiana. Buda ensina à humanidade a buscar o caminho do meio entre a indulgência e a mortificação, encontrando o Nirvana. Mostra-nos um dos sistemas de pensamento ético que mais tem crescido no mundo asiático. Para a fé cristã, Jesus centraliza-se essencialmente como Filho de Deus e Salvador da humanidade, morrendo pelos pecados do mundo. Sobre o século XXI, temos várias e uma multiplicidade de opiniões, entretanto, uma coisa é certa: vivemos melhores dias. O mundo melhorou, as relações humanas e sociais e o entrosamento entre as nações mudaram, o progresso da humanidade avançou e o conhecimento passou a ter maior importância dando um novo colorido à vida. Nesse âmbito, não tem prevalecido a tese do filósofo e matemático francês Blaise Pascal de que o universo envelheceu. O homem é novo, o tempo é outro, portanto, surge um novo universo. A humanidade busca e encontrará sua excelência. Tudo isso esperamos encontrar no Ano Novo- 2019.


A REPÚBLICA DE RUI Aldy Mello Rui Barbosa legou-nos um pensamento político brasileiro? Essa é uma questão discutida por muitos estudiosos com respostas positivas ou negativas. Em nosso entendimento, um dos autores que mais se debruçou sobre esta questão foi Raymundo Faoro em seu livro Existe um pensamento político brasileiro? Para Faoro (Raymundo Faoro, 1994) um pensamento político deve conter três pilares que são: filosofia, ciência e ideologia. Deve cobrir o campo das ideias, conter uma filosofia e ter passado pelas ideologias. O pensamento político é a própria política, como aconteceu com John Locke, na Inglaterra, e Thomas Jefferson, nos Estados Unidos. No final do século XIX, o Brasil foi marcado por duas perspectivas: abolição da escravatura e a emergência da República. São os anos da agonia final do Império, o que para muitos foi a crise do regime, período em que mais se aproximaram as relações entre Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, ambos lutavam nas duas perspectivas e queriam que viesse logo a redenção, ou seja, o modelo republicano. Havia, sem dúvida alguma, as ideias liberalistas que dominavam na formação social brasileira, cultivando-se a criação da nova Constituição brasileira que levaria o país ao idealismo constitucional. Rui Barbosa, como político liberal, defendia não a presença de qualquer Estado, mas de um Estado federalista. Defendia o princípio federalista e o idealismo liberal os quais seriam necessários para a formação de novo Estado brasileiro e seu pensamento ganharia impulso com o compromisso de redigir a Carta Constituinte de 1891. A abolição da escravatura deu-se em 1888, logo depois a Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil. Entre escolher a fórmula da monarquia inglesa e a república americana, Rui optou pela inspiração norte-americana. Seu papel foi fundamental (João Mangabeira, 1960) e sua influência foi enorme na construção do sistema político-jurista do Estado, a nova República. O pensamento político de Rui Barbosa foi desenvolvido em plena ação do jurista na vida pública, desde sua atuação no Segundo Império estendendo-se até à Primeira República. Para uns ele era liberal, para outros não, mas o que importa é a dinâmica de seu pensamento político buscando apoio no liberalismo e com ele alterando os contextos políticos da época. Rui Barbosa é considerado um dos mais eminentes juristas e políticos que o Brasil já teve. Sua história começa no Império e vai até a Velha República. Foi um dos articuladores do golpe de 15 de novembro de 1889 que derrubou a Coroa Portuguesa e proclamou a República, tendo sido assim um dos fundadores do sistema republicano. Seu prestígio era tão grande que chegou a ser convidado para o Baile da Ilha Fiscal, a última festa da Monarquia no Brasil. Proclamada a República, chamada também de Golpe Republicano de 1889, os militares fiéis à Monarquia foram logo executados, enquanto outros pertencentes à Armada Imperial Brasileira queriam lutar pela Monarquia, muitos sob o comando do Almirante Tamandaré. Entretanto, D. Pedro II, que já estava aprisionado no Paço Imperial, não permitiu qualquer ação contra a Revolução Federalista. Rui Barbosa não foi apenas um homem de ação, foi também um homem de combate. A sua prometida república é aquela que manteria relações entre ela própria e as virtudes do ser humano. Esse tipo de contrato não ocorreu. Faltou à nova Republica o chamado “ser republicano” que, por certo, defenderia os princípios da coisa pública.


ATÉ ONDE VAI A LIBERDADE? Aldy Mello * Liberdade é por excelência a ausência de submissão. É fruto de uma conquista e, através dela, o homem demonstra sua inteligência, fazendo-se conhecer como um ser cultural. O homem nasceu para ser livre, vencendo as forças que ameaçam sua liberdade. Toda liberdade significa o direito de agir, em conformidade com o livre arbítrio. Cada pessoa tem suas ideias, sua forma de proceder e ver o mundo, pois a liberdade é sentida e posta em prática como quer a Filosofia. Todo homem é interpretação reflexiva do comportamento humano e das regras que o comandam. Assim, a moral sempre foi e será o centro de convergência da Filosofia. Santo Agostinho, em sua obra De Libero Arbítrio, diz que a liberdade existe quando se faz uso do livre arbítrio. Na liberdade entra o elemento fundamental que é a verdade, o que no livre arbítrio é, antes de tudo, uma faculdade. Existe uma íntima relação entre liberdade e cidadania. Enquanto a liberdade demonstra uma ausência de submissão, a cidadania designa os membros de uma sociedade e influencia o destino do Estado, quando o cidadão é chamado a participar do poder. Cidadania, portanto, é uma liberdade política. Liberdade é, sobremaneira, comunicar o pensamento sobre as diversas formas da vida: intelectual, moral e social. Um homem com liberdade é aquele que luta contra as degradantes violências e outras tantas arbitrariedades, até o abuso de poder. É aquele que age sem temor. Cada cidadão tem o direito de expressar seu pensamento, assim como a imprensa tem a missão de informar. Não haverá democracia sem liberdade. Para ser livre é necessário ter pleno acesso às informações, só assim, pode o cidadão expressar livremente seu pensamento. A imprensa é a vista da nação. O sonho de liberdade prosseguiu e trouxe para o seio da sociedade a questão da liberdade e da justiça. Foi Rui Barbosa quem primeiro abordou o direito dos miseráveis, dos mendigos, dos escravos e dos criminosos. Dizia que o direito é um só: dos ricos e dos pobres. A justiça dever ser mais atenta com os miseráveis e os pobres. Em Haia, Rui Barbosa fez prevalecer o sentimento de liberdade, quando defendeu a igualdade jurídica dos Estados. Não importa que sejam ricos ou pobres, pequenos ou grandes. Prevalece a igualdade jurídica e a soberania de cada um. O ideal de Rui era o da implantação da justiça, a predominância da lei e o fortalecimento das instituições livres. Não existe liberdade sem ideal, que significa amor, abnegação, fé cristã e sacrifício pelos interesses superiores da humanidade e a compreensão da vida. Com o princípio de que a União é o agregado orgânico que não pode viver sem os órgãos, assim como os órgãos não podem viver sem a União, a República será fortalecido pelo poder central do sistema federativo e diminuirão os excessos do separatismo dos estados. Se buscarmos o conceito de liberdade, podemos dizer que ela significa o direito de agir segundo o livre arbítrio. No exercício da liberdade está o próprio exercício da vontade, o sentimento da sensação de estar livre, de não depender de ninguém ou de nada. Não existe liberdade de fato sem a construção dos ideais liberais e o exercício dos direitos de cada pessoa. A pátria é constituída por elementos como a honra, a liberdade, a disciplina e o sacrifício. A pátria somos todos nós. Não é um sistema, uma forma de governo, nem tão pouco uma seita. A pátria é a comunhão da lei, de uma língua, da liberdade, de um povo e suas tradições.

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Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Fundador da ALL e membro efetivo do IHGM.


MARANHÃO: PASSADO E PRESENTE

A história do Maranhão, contada pelos economistas, oscila entre os ciclos de sua reconhecida produção nos séculos passados e a sua abertura para o novo progresso, a partir do século XIX. Para os amantes da literatura e da poesia, o Maranhão foi um celeiro de grandes vultos que tiveram participação na literatura e na poesia nacionais, através de notáveis nomes como Aluízio Azevedo, João Lisboa, Gonçalves Dias, Sousândrade, Antônio Lobo, Gomes de Sousa, Coelho Neto, Humberto de Campos, Sotero dos Reis, Belarmino de Matos, Josué Montello Ferreira Gullar e outros, contando atualmente com José Sarney, expressivos nomes da maranhencidade. A participação do Maranhão nos movimentos pró-independência foi notória e destacada. A formação de seus líderes, à época, vinha de Coimbra, centro da cultura lusitana, o que fez do Maranhão o último estado brasileiro a aderir à independência nacional. Os intelectuais maranhenses da época viviam o impetuoso fulgor da erudição portuguesa e acompanhavam a evolução da nação brasileira como a cultura portuguesa impunha, constituindo-se numa das mais notáveis molduras nacionais, seja pela repercussão sócio-cultural dos fatos que ocorriam no país, seja ainda pela marcante presença das ideias de Coimbra. O Maranhão tem como capital a cidade de São Luis, com cerca de hum milhão de habitantes. São Luis foi fundada pelos franceses, em 1612, recebendo o nome de França Equinocial. A colonização francesa aconteceu tardiamente, quando as nações ibéricas já tinham avançado bastante. O processo de colonização francês começou efetivamente no reinado de Francisco I, pela ocupação de áreas na América do Norte, sem, no entanto, ter tido sucesso. Eles começaram suas aventuras em 1563 pela Flórida, lá deixando a cidade de Jacksonville; depois foram para a Nova Escócia, em território canadense, sem muito sucesso também, só voltando mais tarde para fundar Quebec, com o nome de Nova França. Trataram de ir ao território brasileiro fundar a França Antártica, no Rio de Janeiro, mas foram expulsos por Mem de Sá, terceiro governadorgeral do Brasil, em 1558. No século XVII tentaram novamente fundar uma nova colônia, desta vez no Maranhão, onde fundaram a cidade de São Luis, e a chamaram de França Equinocial. A hoje quatrocentona cidade de São Luís que foi, assim, fundada pelos franceses, invadida pelos holandeses e construída pelos portugueses é, hoje, uma cidade que traz vários epítetos nominais, obedecendo a trajetória de sua história, de suas lendas e dos seus mistérios, como diz seu próprio hino oficial. A que antes fora Atenas Brasileira é hoje a Ilha do Amor, a Cidade dos Azulejos e até a Jamaica Brasileira. São Luis com seu calor natural e humano, sua beleza singular, suas ladeiras, ruas e becos, suas sacadas de azulejos, seus mirantes e portais do século XIX encanta os ludovicenses e conquista os visitantes. A cidade de 406 anos tem sua graça e seus encantos, deixando em cada pessoa que a conhece uma saudade enorme de memoráveis momentos nela vividos. A cidade dos poetas ostenta um monumento a Gonçalves Dias invocando os sabiás e as palmeiras, e canta seus vários e inúmeros poetas da terra. Assim é sempre e será São Luís: suas histórias, seus casarões e sobrados, seus azulejos, suas ilustres moradias, suas construções seculares, seus sabores variados, sua rica cultura, tudo acrescido ao maior título que a terra tem – o de patrimônio cultural da humanidade. Mas o Maranhão vive as transformações no seu parque industrial, onde bilhões de reais representam os investimentos públicos e privados. A indústria maranhense que teve seu início no século XIX, com o mercado algodoeiro e a produção de arroz, alcançou o novo ciclo econômico com a produção de açúcar e as indústrias têxteis. Foi a partir do século XX que São Luís atingiu seu moderno desenvolvimento com os projetos de exploração de riquezas minerais, como o ferro de Carajás escoado através de uma moderna ferrovia e do Porto do Itaqui e da Ponta da Madeira. Em 1984, foi instalado o Consórcio de Alumínio do


Maranhão com as empresas Alcoa, Alcan e Bhpbilliton, para a produção de alumínio, considerada a maior do mundo, chegando a movimentar US$ 430 milhões. Os grandes projetos levaram ao surgimento de várias unidades industriais, implantadas em São Luis e no interior do estado. Com isso, a cidade de São Luís fez renascer um novo desenvolvimento que, como se costuma dizer, chegou pelos portos. São Luís adaptou-se aos ares modernos, construindo não apenas seu complexo portuário, mais largas avenidas e modernizando suas praias. Surgiram espaços de lazer, cadeia de edifícios e equipamentos sociais, tudo em direção a sua nova caminhada para o futuro, mas sem abandonar sua tradição e sua história de glórias.


A NAVEGABILIDADE DO GOVERNO Aldy Mello Navegabilidade nacional é um sistema que permite à nação construir seu próprio projeto de crescimento, com a participação de sua população e a absorção de suas expectativas. A navegabilidade do governo brasileiro tem sido baseada no equilíbrio das contas públicas com o menor custo social, no entanto ela deve ir muito além disso. Não basta o ajuste fiscal pretendido. São necessárias abertura econômica, a realização de reformas estruturais como a política e a fiscal, bem como outras medidas de estímulo à exportação e ao crescimento do país. Não haverá navegabilidade nacional se não houver planejamento, que muito tem a ver com gestão estratégica, em que o processo de transformação motive todos que diretamente possam contribuir para o total crescimento da nação. Um projeto de navegabilidade nacional precisa ter objetivos definidos politicamente, métodos claros e adequação no tempo e no espaço. A navegabilidade só será facilitada quando os governantes compreenderem verdadeiramente os anseios do povo. Outro importante fator para a navegabilidade é a capacidade de os governantes estarem abertos para novas informações, a partir de uma compreensão global do mundo. É fundamental, também, a busca por um modelo holístico de governabilidade em que todos os nacionais possam se realizar como cidadãos. A história nos mostra as diversas transformações pelas quais passou a sociedade. Um exemplo foi a criação da Paidéia, da antiga Grécia, que significou um conjunto de medidas voltadas à educação, em que estavam os ideais educativos e as medidas a serem por todos observadas, contribuindo para a construção do conceito de moral política, fundamental na época para a organização da coisa pública, banindo os erros e as incertezas. O planejamento terá que ser estratégico para que estratégica, também, seja a gestão. Para isso, pergunta-se: Qual é a visão dos dirigentes do governo? Que objetivos têm em mente? São a partir dessas respostas que se pode estabelecer caminhos para o desenvolvimento de ações governamentais de âmbito nacional. Os negócios nacionais estão a exigir de seus líderes sólida formação político-gerencial, um conjunto de habilidades projetivas e atitudes éticas. É importante conhecer o mundo, ver o que está a sua volta, ter humildade de aprender e buscar soluções para os problemas que afligem a nação. A navegabilidade brasileira precisa ser planejada de modo a conduzir a nação a buscar novas metas, comprometidas com a solução dos problemas nacionais e que expressem credibilidade, motivação, racionalidade e otimização nos processos operacionais, competência e sinergia na convivência entre governo e povo. Dos agentes podemos exigir formação humanística, cultural e ética, capazes de conduzir a navegabilidade nacional e alcançar a inovação. Inovando-se, não se pretende reduzir ou minimizar a capacidade de sonhar, mas sim conjugar esta capacidade com a vontade de transformar os sonhos em realidade, mesmo que para isso se tenha que reinventar uma nova instituição ou novas vontades. Os governos precisam ser mais comprometidos com a ciência, com a filosofia e com as artes. O Brasil precisa de um novo modelo de desenvolvimento, em que possamos melhor conhecer os problemas do Estado e lutar pela redução da pobreza brasileira.


Da nossa casa até os recônditos do governo, onde estão os poderes da República, muito deverá ser mudado, pois é nosso desejo, em que passam a ser fundamentais o comportamento e as atitudes dos homens responsáveis de organizar a coisa pública. Pois a pátria é constituída por elementos orgânicos como honra, liberdade, disciplina e o sacrifício. A pátria é a comunhão da lei, de uma língua, da liberdade, de um povo e suas tradições.


SER CONTEMPORÂNEO Aldy Mello Vivemos a era dos excessos impostos pela chamada pós-modernidade. Na vida moderna tudo é efêmero, somos dominados pela cultura do vazio, o que nos leva a buscar as coisas do poder e do prazer. O mundo do contexto dos mercados nos traz profundas mudanças estruturais em que se busca eficiência e lucro. A pós-modernidade, com seus novos valores e estilos de vida, conduz o homem ao individualismo, um dos seus principais desafios. Como um momento histórico, a pós-modernidade se caracteriza pela derrubada de convenções, pela queda de costumes ditos arcaicos e também pelas crenças antigas quando se confronta o moderno com o tradicional. Com a pós-modernidade, o capitalismo só teve a se expandir como sistema econômico no mundo inteiro e disso decorreu o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, enquanto criava-se um novo estilo nas organizações sociais e na vida dos homens. A pós-modernidade avançou através de um conjunto de processos cumulativos e foi necessária a formação de capital e mobilização de homens. De um lado, ocorreu o desenvolvimento das forças produtivas, de outro, a produtividade do trabalho acompanhada por diferentes políticas de governo. Modernidade não é uma simples rejeição à tradição, é um ideário em que se tem uma visão de mundo diferente, como teve Descartes, onde tudo é submetido ao exame crítico da razão. A sociedade deverá responder às exigências de uma nova era, a do saber mundial, onde cada vez mais se constata o avanço maior do conhecimento. As últimas civilizações foram marcadas por importantes mudanças na trajetória dessa sociedade, quando fatores contribuíram muito, como a expansão do conhecimento, as ousadas decisões tomadas pelos inventores e a acentuada carência de instrumentos capazes de oferecer uma vida humana de qualidade. Para que a sociedade continue perseguindo seus horizontes é preciso que as mudanças continuem a ser feitas, cunhadas em hábitos saudáveis, comportamentos menos difusos, atitudes mais claras e ideias compartilhadas. Precisamos inovar mais, renovar a sociedade, fazer nascer e florescer ambientes propícios à mudança. Cada instituição deverá dispor de um sistema bastante desenvolvido, capaz de fomentar a inovação, mesmo em meio à profusão de planos e programas. Quando se inova, não se reduz a capacidade de sonhar, mas se junta essa capacidade à vontade de transformar esse sonho em realidade. Tal atitude pode conduzir à inovação da própria sociedade e fazer surgir novas vontades. As instituições devem ser mais comprometidas com a ciência, os postulados filosóficos e a ética. Elas precisam centralizar-se na atual civilização, buscando soluções para os problemas do estado, reduzindo a pobreza no mundo. Para a lógica europeia, a Idade Moderna não expressa exatamente o termo pós-modernidade que usamos para caracterizar a contemporaneidade e os tempos atuais. Hoje podemos chamar de contemporaneidade e pelo menos dois fatores têm sido importantes: o avanço da tecnologia e a globalização. Sonhar é saber tirar da raiva mais capacidade parar lutar, das indignações novas ideias, é gerenciar seus próprios pensamentos, libertar a criatividade, transformar os sofrimentos em sonhos, assim dizem os poeta da vida.. Procurar ser feliz é saber extrair a sabedoria dos erros, extrair alegria das dores, buscar força nas decepções. Os seres humanos que assim procedem são os sábios da vida, porque têm coragem de identificar suas loucuras e procuram superá-las, assim também dizem os psicólogos.


UNIVERSIDADE CASTIGADA Aldy Mello

Não existe mais a Academia de Platão nem o Liceu de Aristóteles. Existe a universidade que é uma casa de educação superior, uma organização viva e dinâmica na sociedade, plural e plugada com o mundo, competente e criativa, produtiva e útil. Esses requisitos devem estar incluídos nos seus documentos constitucionais, garantindo-lhe o status de maioridade, portanto, não ser esquecida nem tão pouco castigada. Na história da Universidade Pública Brasileira, percebe-se a convivência entre o seu papel de formadora de profissionais e sua vocação política. A ação científica persegue trajetórias, onde seus instrumentos próprios e condicionamentos delimitam os caminhos a percorrer, sem a velocidade de pressões do processo político. A ação política é caracterizada pela velocidade e o imediatismo, onde não há tempo para esperar nem para pensar, enquanto a ação científica se contrapõe a essa velocidade. Não obstante existir uma diferença de temporalidade entre o tempo da Ciência e o tempo da Política, esses tempos distintos aproximam-se e podem se intercomplementar, cada um na sua própria especificidade. . As 63 universidades federais têm passado por um processo de esvaziamento lento e gradual, cada vez mais se expandindo o temor com a perspectiva de que os Governos lhes transfira os encargos financeiros, levando-as ao estrangulamento. Existe, na verdade, um quadro favorável às condições políticas internas do país, tendo como pano de fundo a crise estrutural do capitalismo internacional. Dizia-se muito, em épocas passadas, que a universidade perdia sua qualidade e, por isso, estava em crise, tanto no âmbito interno quanto em nível da própria sociedade, chegando a constituir objeto de campanha encetada pela própria imprensa. Comentava-se que a Universidade Brasileira teria perdido o seu espírito crítico e não vinha cumprindo o seu papel de centro do pensamento crítico permanente. Entretanto, sabíamos que a universidade naquela época já deixava de ser uma instituição voltada para a educação das elites, para defrontar-se com o moderno papel de atender às massas. Uma universidade não pode esquecer que é, por excelência, um locus privilegiado para a educação superior. A experiência universitária é expressiva diante das práticas de investigação. É a partir de suas inquietações que os homens buscam novos conhecimentos, procurando sempre descobrir as novas verdades as quais se tornaram desafios e incertezas do seu tempo. A pesquisa é um elemento de construção do conhecimento. A pesquisa científica nos leva a um processo investigatório através da utilização de procedimentos científicos. O mapa do mundo deixou de ser desenhado pelos cartógrafos e passou a ser reconhecido pela globalização, pela geração dos chips. Assim é o novo espelho do tempo, onde num ritmo veloz se reproduzem às mudanças contando com o esforço dos pesquisadores. A universidade é o ambiente por excelência para pesquisar os saberes culturais. Ela é um lugar distinto de produção do conhecimento. . No ranking das publicações científicas, o Brasil ocupa o 13º lugar entre 190 universidades. Na conversão de descobertas em patentes, estamos na 64ª posição entre 126 nações. Os Prêmios Nobel representam as maiores expressões do conhecimento no mundo. Os Estados Unidos ganham a corrida deles, já tendo 242 prêmios. O Brasil é inexpressivo em todas as categorias, tendo ganhado uma vez, em 1901, com Peter Brian Medawar, apenas nascido no Rio de Janeiro, mas educado e residente na Grã-Bretanha. Como pode a universidade brasileira ser o lugar específico onde se cultiva a reflexão crítica sobre a realidade, se é tão esquecida e tão castigada? Uma universidade não pode ser nem de esquerda nem de direita. Ela é uma casa de educação.


O SENTIDO DA UNIVERSIDADE EM NOSSA VIDA ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Fundador da ALL e Membro efetivo do IHGM.

A vida é um espaço entre o nascimento e a morte de um ser vivo. Este espaço recebe o nome de tempo, que passa e não vem mais. Diz-se que vida não tem repley. Por isso a história humana, através dos séculos, passa por mudanças profundas de ordem e de rumos, deixando o seu alcance e suas consequências imprevisíveis.Sêneca já dizia que a vida se divide em três períodos: o passado, onde estão nossas recordações; o presente, onde estão nossos deveres e o futuro onde estão nossas esperanças sonhos. Mesmo com as mudanças seculares o homem prossegue no seu crescimento porque ele adquire o conhecimento, uma espécie de apropriação do mundo objetivo por parte do sujeito cognoscente. Esse conhecimento pode ser sensorial quando é comum aos homens e aos irracionais (exemplos: as cores, os movimentos, o clima etc.) Se ele não se restringe a uma simples captação de imagem sensorial é, então, intelectual. Os exemplos mais comuns são as ideias, o pensamento e o saber adquirido. Mas o conhecimento pode ser, também, científico, quando usa o método científico e as técnicas próprias para entender, explicar e comprovar os fenômenos. Os conhecimentos científicos formam um sistema que abrange verdades gerais devidamente comprovadas a aglutinados na ciência que envolve vários campos como as ciências da saúde, as ciências naturais, as ciências sociais, as ciências holísticas, as ciências interdisciplinares, as ciências aplicadas e as ciências ambientais.. É com base nas ciências que a universidade realiza sua missão de educar, ministrando uma educação chamada superior. Saímos de um saber enciclopédico, quase divino e fragmentado para entrar na era da interdisciplinaridade e a contextualização. A educação é um patrimônio comum da humanidade, sem o que não se pode consolidar a democracia e nem a cidadania. O desenvolvimento sócio-econômico dos paises está atrelado ao seu sistema educacional, sob pena de não chegarmos a lugar nenhum . Hoje, um dos maiores desafios do mundo contemporâneo é o de transformação do conhecimento em riqueza. Esse desafio está bem presente nas tendências governamentais que têm levado os governantes a pensar que na educação a questão maior é saber transformar o conhecimento em valor econômico e social. É preciso que toda a sociedade tenha plena consciência dos desafios do mundo atual a partir de sua complexidade nas estruturas e nas relações sociais. Vivemos a difusão cada vez maior e a multiplicação de novas tecnologias nas diversas áreas e temos dificuldades de acompanhar essa evolução que põe em nossas mãos terminais eletrônicos, senhas e códigos secretos, novíssimos multimeios e os direitos e deveres são cada vez mais difusos. A ciência não tem limites e o conhecimento muda com uma velocidade meteórica. Vivemos um ambiente de inovação permanente, onde só o ensino universitário é capaz de acompanhar. A universidade busca um aluno-cidadão em vez de um aluno mero-receptor, a quem cabe nortear todo o processo educativo, reduzindo o culto exacerbado da razão e aumentando a reflexão e a compreensão acerca do mundo, incentivando a sua sensibilidade para enfrentar e resolver problemas. A universidade deve se fortalecer em sua própria vocação para o pensar crítico da ciência, do debate, da inteligência, da busca da verdade. Deve seguir os caminhos da pesquisa e capacitar para o exercício do empreendimento. Deve estimular a liderança e fortalecer a lógica. Deve fomentar a liderança e ajudar os alunos a tornar os sonhos em realidade. Enfim, deve ser uma universidade pioneira na abertura de novos caminhos.


AS CONVERSAS VADIAS DE FERNANDO BRAGA Fernando Braga tem publicdo suas crônicas nas redes sociais


SAUDADES DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO... Fernando Braga, in “Poemas do tempo comum”, 2009

Era 19 de abril de 1970, um dia como o dia hoje, dedicado ao guerreiro armênio Santo Expedido. Chovia forte naquela manhã em São Luis... E eram tempos de revolução... Eu embarcava no "Electra II da Varig" rumo a Brasília, a despedir-me dos meus amados e saudosos pais, no aeroporto do Tirirical, e do meu amigo e também saudoso Carlos Prestes Furtado, o sempiterno "Carroca" que fez questão de ir abraçar-me; era ele um dos meus mais "chegados"... Brasília, assustada com o Consulado Militar, esperava-me com a ternura de uma mãe para continuar a dar-me carinho e força nos meus quefazeres de trabalhos e estudos, pois ainda era bem moço... Hoje, no albor de minha velhice, revigorado pelo leite e pelo mel prometidos por dom Bosco, lembro-me desse fato como se fora um menino a lembrar-se de um brinquedo esquecido na hora da mudança... Lá se vão quarenta e seis anos... Esperava-me, subjetivamente, uma menina que ao crescer veio a ser minha mulher e mãe de meus filhos, os quais me esperavam, também, naquele instante, apenas a brincarem na minha corrente sanguínea... Mas essa saudade de São Luis não passa e não passará nunca mais, como nunca mais há de cicatrizar-se... Como dói! Poema Insulano Vejo agora vejo e não estou sonhando que Dom João, o Rei 4º, e bem-andante, Não terá o encoberto de Dom Fernando/que tem ferro e ferrão sem ser infante. Não é aqui definitivamente/ o Quinto Império/ da prédica do Bandarra, sapateiro profeta e profano, / nem tampouco é aqui a Corte de Queluz que submergiu nos encantos.../ porque a amplidão dos Lençóis é maior que os campos de Alcácer- Quibir. Não há mais na Ilha vinho para os vivos e flores para os mortos, / e nem canoas para as travessias. Somente o Sol liberta-se de seu claustro / a cair vermelho por detrás da tarde, ante meus olhos desarmados/ e atracados nos cais de minh'alma. O promontório não cresce mais no verão/ e apodrece num montão de pedras a beijar entulhos e mirantes,/ e telhados verdes de chuvas./ Homens e paralelepípedos despencam dos becos e vielas/ por cumeeiras sem escápulas, territórios de artistase pensadores que secam as vísceras ao sol do meio-dia./ Todos são poetas até prova em contrário, e nada mais existe / escrito a carvão, ou a caco de telhas, nos muros e nos planos das calçadas./ As janelas desconjuntaram-se e as rótulas vazias ficaram nos peitoris sem olhos e cotovelos./ As bilhas secaram como os peitos das mães de África,/ e os quintais despomatizaram-se,/ mas as marrecas continuam em seus baixos vôos.../ As portas e as janelas, sem mais postigos,/ foram literalmente fechadas e presa para sempre, lá no fundo do corredor,/ por um aleijão na argamassa, uma réstia de luz vinda do poste da praça,/ antes de tudo ser, como realmente o foi, e para sempre.../ Em antigas casas, de gestos portugueses, plantaram-se às portas e às janelas, não alecrins, e jarros com flores,/ mas bugigangas do charco, e chinesices, que nada dizem à memória dos ilustres mortos;/


nas igrejas não têm mais missas e réquiens cantados, / nem mais as homilias de Padre Mohana nas manhãs de domingo, e nem os cânticos de Te Deum,/ e nem mais rezas à noite, e ladainhas... Os velhos sobrados, depois de tombados,/ de tantos desamores e maus-tratos, começaram literalmente a cair,/ por não poder esperar a briga dos herdeiros pelo inventário; / são esses mesmos sobrados, esburacados e enfeados, cujos motivos lusônios, foram todos furtados,/ a trocarem os adereços de endereços, além de serem invadidos por devassas trepadeiras,/ que se acoitam pelas paredes e sacadas de ferro./ Que belíssimos jardins de inverno! Os palacetes da média burguesia, com jardins, e terraços, e gradis bordados,/ viraram espaços de defuntos, e dores, e, ao invés dos rasos risos do passado, vivem hoje dos choros das carpideiras, e do treme luzir dos círios acesos,/ e do cheiro adocicado/ de cravos e de coroas de flores./ A Ilha que um dia foi rebelde,/ de alma pura e corpo sujo,/ hoje mais se parece uma fotografia esquecida numa mesa de redação,/ como se fosse um grande abrigo com pátio e poço a desmanchar-se em caliça,/ onde vivem indigentes, e mais os jubilados da sorte,/ e vencidos e degenerados,/ personagens de histórias de ficção e de tratados de sociologia/ que resolveram sair das páginas em que viviam, para expulsar seus autores/ e levá-los ao exílio e à morte, / e se aboletarem na podre carcaça da Ilha, / como almas calcinada;/ pobres personagens sem pessoas, aos poucos defluem como resíduos/ para os muitos portos, ao redor da Ilha,/ para serem diluídos no sal/ e expostos ao Sol e ao céu!.../ Não há mais pregões nas ruas, nem cofos, e paus-de-carga,/nem mais comícios políticos no velho Largo do Carmo,/ e algarvias de estudantes./ Nunca mais aquelas brigas panfletárias de morfologia e sintaxe,/ e nem aqueles filólogos a discutirem/ se o nome da Cidade,/ provindo da variação latina de Ludovico,/ seria mesmo com s, ou z./ Nunca mais bondes, vitrinas, saraus e retretas... e pronomes bem-colocados,/ e verbos conjugados certos,/ no tempo da carne e no modo do vinho./ Mas sempre na Ilha há de existir a crueza da língua viperina,/ em punir com sentenças extramuros,/ inocentes, principalmente,/ com injúrias, calúnias, infâmias e difamações,/ como se o abecedário predicado por Vieira/ continuasse a explodir no tempo,/ dando ênfase à letra "M"./ Diz o hino libertário que “... caiu do invasor a audácia estranha, e surgiu do direito a luz dourada...” / E a Ilha ficou sem mais ser! E a história se fez escrita, e ficou na cidade,/ na cidade que tem nome de santo, e de rei, e de menino./ E o passado se fez de rima na poesia encardida/ nos azulejos, e na saudade de tudo quanto à vista alcança,/ e na lembrança do que ainda se desdobra, na inteligência de crânios polidos/ que rolam à-toa ao rés-do-chão. Morreram todos, dizem os cadeados nas cancelas!


‘A DANÇA DAS LETRAS’

Para Cláudia Galiza Franklin da Costa Este livro de José Ribamar de Oliveira Franklin da Costa, ou simplesmente Franklin de Oliveira [São Luís, 12 de março de 1916 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000] de há muito o tenho. Foi uma lembrança do meu velho e querido amigo, escritor e jornalista Milton Coura, que mo deu num certa tarde em seu gabinete de trabalho no Ministério da Educação, em Brasília, já que alguns exemplares desta obra, patrocinada pela Biblioteca Nacional, em coedição com Universidade de Mogi das Cruzes, no Estado de São Paulo, encontravam-se ali destinados à doação. ‘A dança das letras’, na verdade, passou a ser meu livro de cabeceira pela importância filosófica e literária que ele encerra, um fascinante laboratório de arte exposto às consultas, já que em suas páginas convivemos com Thomas Mann, Hermann Hesse, Hermann Brock, Proust, Gorki, Van Gogh, Eça, Graça Aranha, Guimarães Rosa, Byron, Rilke, Drummond, Gullar... É preciso mais? Ora, além desse mais, ainda tem ‘O universo verbal de Os Sertões’ e, para tirar o fôlego, ‘A morte da memória nacional’, um dos melhores e mais completos ensaios que conheço sobre a vida, a arte e o sofrimento de António Francisco Lisboa, o ‘Aleijadinho’, a quem Franklin o chama carinhosamente de ‘O terceiro Profeta’. À guisa de ilustração informativa, o escritor e jurista Rossini Corrêa, na contracapa de ‘Clarindo Santiago – o poeta maranhense desaparecido no rio Tocantins’ livro do jornalista Sálvio Dino, é textual em dizer que “Clarindo Santiago, poeta, jornalista e ensaísta, muito influenciou a juventude maranhense: foi quem aconselhou Franklin de Oliveira a ler tudo, até mesmo anúncio de jornal.” Talvez por essa e por outras, o autor de ‘A dança das letras’ tem um domínio incrível sobre os clássicos ocidentais, tanto os de origem grega como os latinos, com um foco muito forte dirigido para a literatura alemã, como para as do Leste Europeu, sobretudo a húngara e a checa, a alargar essa cosmovisão às estepes invernais, para encontrar-se com a magia delirante da Rússia, sobretudo com as sombras vagueantes e dostoieveskianas da velha e romântica São Petersburgo. Creio que esse intimismo de Franklin de Oliveira com a literatura universal, não foi somente adquirida nas redações de jornais e revistas, oficinas onde o ilustre maranhense aprendeu desde os treze anos a trabalhar e a exercitar o pensamento, mas, com certeza, por conhecer a linguagem musical, vez que era um exímio violinista, por hereditariedade de uma família de músicos, o que deve tê-lo impelido, com força e clareza, a incursionar não só na essência da palavra, mas no ritmo de todo o contexto que tinha sob sua análise, a dissecá-lo com a maestria de uma incrível precisão cirúrgica. Nauro Machado, grande poeta brasileiro, meu querido amigo e conterrâneo de São Luís, como Franklin o era, a participar de um evento de intelectuais no Rio de Janeiro, onde estavam, dentre outros, Ferreira Gullar, Ivan Junqueira e José Guilherme Merquior, ouvira deste a confissão de que “Octávio Paz e Franklin de


Oliveira eram sem dúvida nenhuma os dois maiores críticos mundiais de arte”. Sabemos nós que José Guilherme Merquior tinha cabedal para dizer isso. O autor desta ‘Dança das letras’, trabalhou em quase todos os jornais do Rio de Janeiro, a deixar por onde passou sua marca de gênio na análise crítica, nos editoriais políticos e nos comentários literários... Esteve na revista ‘O Cruzeiro’, onde ocupou por longo tempo a página de crítica ‘Sete dias’ com raro brilhantismo, tendo sido demitido porque foi ferrenhamente contrário à candidatura de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, a uma cadeira no Senado Federal, pelo Maranhão, depois de ser preparado para renunciar seu titular, por simples capricho do velho coronel e senador Vitorino Freire, que assim queria agradar o velho cacique paraibano, dono da maior rede de comunicações, ao tempo, da América Latina. Assis Chateaubriand ou ‘Chatô’, era um jornalista, empresário, mecenas e político a destacar-se como um dos homens públicos mais influentes do Brasil nas décadas de 1940 a 1960, proprietário dos ‘Diários Associados’, de cujo grupo empresarial, a revista ‘O Cruzeiro’ pertencia. E assim foi. A pirraça do caudilho maranhense prevaleceu e Franklin perdeu o emprego... Sua bibliografia é esta: ‘Ad Imortalitatem’ (1935); Sete dias (1948); A fantasia ata (1959); Rio Grande do Sul, um novo Nordeste (1962);Revolução e contrarrevolução no Brasil (1963); Viola d’amore (1965); Morte da memória nacional (1967); A tragédia da renovação brasileira (1971); Literatura e civilização (1978);Euclides: a espada e a letra (1983); A dança das letras (antologia crítica, 1991);A Semana da Arte Moderna na contramão da história e outros ensaios (1993). Para Franklin de Oliveira a crítica é a estética da literatura cuja visão destrói o mito do leitor comum, “pois quem se debruça sobre um livro também o está escrevendo, embora sob perspectiva diferente da que assumiu o autor”. Defendia Franklin que, “se o crítico não for um escritor, isto é, se não possuir o domínio da arte da linguagem, não terá condições de penetrar o tecido mais íntimo da literatura, que é a suprema criação do dizer humano”. Por fim, ‘A dança das letras’ não é apenas uma antologia de ensaios, é antes de tudo a própria súmula do pensamento crítico e estético de Franklin de Oliveira.


O ACUADO DO VALE DE GATOS * [Crônicas maranhenses] Na quinta do Vale de lobos, na Póvoa de Santarém, em Portugal, vivia arredio Alexandre Herculano por questões de intrigas e pirraças com alguns dos seus companheiros da Torre do Tombo. Nos Apicuns, na antiga quinta dos Frias, que prefiro chamar de Vale de gatos, em São Luís do Maranhão, vivia acuado, junto de ‘krupskaia’ sua gata de estimação, José Erasmo Dias, a figura mais extraordinária que conheci na comédia humana, nesse todo de que nos recorda Balzac, apesar de sua figura representar, irremediavelmente, um protagonista das histórias de Dostoievski e das de Edgard Allan Poe, como se ele mesmo fosse ‘O Corvo’, ou mais alguém envolvido nos mistérios de ‘Crime e Castigo‘ ou naqueles contos tétricos da ‘Rua Morgue’. Era ao mesmo tempo este Erasmo autor e personagem. Tinha muito também do seu alterego, o de Roterdã, como se fosse uma sombra que monologava no ‘Elogio da Loucura’ contra deuses e demônios. Nasceu José, este Erasmo, em São Luís, no dia 2 de junho de 1916, e parido no ventre da geração de 30 do Maranhão. E se fez jornalista, contista, polígrafo e panfletário, abandonando o curso de direito no terceiro ano; exercia influência literária, por ser um homem de cultura feita, aos que lhe solicitavam ajuda artística. É este o olhar que tenho e recordo de José Erasmo Dias, a ratificar, sem mudar uma vírgula, o que escreveu Graça Aranha, n’O Meu Próprio Romance’, sobre a figura de Tobias Barreto, quando o conheceu na Congregação da Faculdade de Direito do Recife: “O mulato feio, desgracioso, transformava-se na arguição e nos debates; os seus olhos flamejavam; da sua boca escancarada, roxa, móvel, saía uma voz maravilhosa, de múltiplos timbres, a sua gesticulação transbordante, porém sempre expressiva e completando o pensamento. O que ele dizia era novo, profundo, sugestivo”. Erasmo Dias foi um homem honesto e honrado; viveu e sofreu numa pobreza franciscana. Foi Diretor do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, Deputado Estadual e Prefeito interino de São Luís. Era aposentado pela Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, no cargo de Diretor de Debates. A grandeza de Erasmo, como político, como homem de cultura e, sobretudo, como uma figura marcante e marcada que lhe emolduraram a personalidade, quer emblemática, ou estigmatizada, ficou em todos nós ao longo de uma sofrida vida que ele fingia alegre, mas que no íntimo, interpretou-a e se autodirigiu, inegavelmente sem nenhum retoque, mas com a legitimação, por exemplo, estampada no seu à Pirandello, ‘O Roubo dos Personagens’, que em síntese é ele, por ele mesmo. Sobre essa figura singular, atentemos para o que escreveu a pena abalizada de Lago Burnett: “Erasmo Dias era contagiante. Intimava, empolgava, comprometia. Era difícil ouvi-lo sem um arrebatamento. Suas atividades convergiam para um só mecanismo propulsor e detonador de eventos. Erasmo, o escritor engajado, o polemista, era o elemento catalisador que impulsionava toda uma geração e fazia crescer o fermento do seu entusiasmo pelos grandes temas contemporâneos. Jornalista foi no panfleto, na folha vibrante e desaforada dos grandes duelos políticos, que encontrou as melhores oportunidades para realizarse, dizendo com bravura e malícia o que a patuleia perplexa mal conseguia traduzir em sentimentos, quanto mais em palavras.”. Nessa esteira de análise, Carlos Cunha, no seu livro de memórias ‘Caçador da Estrela Verde’, disse sentimentalmente: “Não era do hábito de Erasmo Dias sentar-se à mesa para ensinar os iniciantes da arte. A conversa, com ele, ajudava-nos a aprender as coisas, ver uma luz no fundo do túnel. [...] Como político, alçou voo alto, tão brilhante quanto o intelectual e boêmio. Na tribuna da Assembleia Legislativa, Erasmo Dias fazia discursos brilhantes e eloquentes, arrebatando aplausos, fazendo as galerias delirarem. Com o seu dom para a ironia, conseguia, com rara sensibilidade, levar os interlocutores, deputados, ao ridículo. Sua passagem na política foi como a trajetória de um cometa, perdendo-se na vastidão de sua inteligência. Defendia as causas dos humildes e dos desvalidos. Era político oposicionista de autenticidade. Admirado pelos adversários”. Confesso que em minhas incursões pela casa de Erasmo, direcionado sempre ao foco de curiosidades, que era uma velha cômoda de jacarandá, estilo Luís XVI, achei, certa vez, um bilhete de cunho histórico e sentimental que o ilustre médico e escritor Clarindo Santiago o presenteara pelo seu cunho jocoso e lírico. Pois bem, esse bilhete fora escrito pelo intelectual Luso Torres que era General do Exército e também tinha


sido Interventor do Maranhão em tempos difíceis, e que, numa noite, acometido de uma crise de hemoptise precisou do socorro profissional de Clarindo Santiago... Eis o bilhete: “Compadre Clarindo, estou a precisar com urgência dos teus cuidados. Vem depressa aqui em casa, pois estou botando todinho em um penico o sangue que um dia jurei derramar pela Pátria. Do teu de sempre, Luso Torres.” Quis surrupiar esse pedacinho histórico de papel. Ele me flagrou e arrebatou-me das mãos. O desmazelo, sem dúvida, deve tê-lo destruído. Que pena! Eu, modéstia à parte, teria dado melhor destino àquela lembrança... Ali, naquela cômoda, ele dizia guardar também, envolto em pano de linho cru, os originais de ‘O Gasômetro’, um seu romance inacabado, uma sua visão íntima de São Luís, a pedir-me que, se por ventura o olhasse com olhos de malsinar, não o tocasse; mas só achei alguns papéis anotados com tais referências; o que achei mesmo, e de arrepiar a emoção, foi ‘A Rapsódia das muitas Teresas’, anotações dispersas dum conto, quase novela, que acredito ter sido um dos maiores que já se escrevera pelos nossos Maranhões, tendo ficado, pela incúria e desmazelo do próprio autor, na vala do ineditismo e se perdido na inexorabilidade do tempo. Era simplesmente um monólogo, onde um feto a se contorcer, narrava, dentro do tempo devido, sua infeliz fecundação, a lembrar-nos lances de ‘Coração revelador’, de Edgar Allan Poe, cujas miragens de alucinação e efeitos de terror, pareciam ter transpostos uma arte diferente, em meio àquelas lâminas agitadas, a erguer-se serena e calma, numa figura de melancolia, numa atitude acabrunhada e triste. Para minha alegria, assisti-o, na varanda de sua casa, escrever a lápis, em folhas de papel soltas e sem pautas, com sua letra firme e bem talhada, a novela ‘Maria Arcângela’, pausando de vez em quando para a natural e devida leitura e para um gole reparador de aguardente. ‘Maria Arcângela’ é uma das maiores novelas já escritas para o cancioneiro maranhense, onde se encontra, pela grandeza do estilo, ressonâncias de ‘A Peste’, de Albert Camus, vez que ‘Maria Arcângela’ fora escrita para um cenário da epidêmica varíola que um dia assolou São Luís. O texto é digno de estar enfeixado em antologias dos melhores contos ou novelas brasileiros. Charles Baudelaire, o tradutor em francês do poeta Edgard Allan Poe, nos diz em um belo ensaio sobre o autor de ‘O Corvo’ “... Que as notas, os costumes, os hábitos, o físico dos artistas e dos escritores sempre suscitou uma curiosidade bem legitima”, e era essa, bem se sabe, a intenção do poeta e médico Fernando Viana em fazer a caricatura em versos do nosso Erasmo, a qual foi publicada no Jornal ‘A Tarde’, de Salvador, depois publicado no seu ‘Passarela e outros perfis’: “Este, em São Luís, é o que se ufana / com seu timbre de voz desconcertante, / de em casa possuir toda uma estante/ sobre literatura americana. / Na Imprensa Oficial, onde é mandante, / percebe, mensalmente, gorda grana, / e, ali, como num plácido nirvana, / vai meditando e lendo para diante. / Desengonçado, anêmico, disforme, / no contraste do corpo, a cara enorme/ dá-lhe a ambígua aparência de boi manso... / Tem talento e cultura. É inteligente/ e escreve muito bem – principalmente / quando na vida alheia dá balanço...”. Erasmo, não o de Roterdã, mas o dos Apicuns, era um homem de apurado senso estético, orientador literário de quem o procurava nesse espinhento caminho; orador de peças memoráveis, panfletário e editorialista de artigos imorredouros, como ‘Boi Marrequeiro’, ‘Algodão de capoeira’, ‘Areias de aluvião’ e outros muitos; como escritor deixou legado à história literária do Maranhão, ‘Páginas de crítica’, um livro de ensaios, onde comenta com vigor e técnica extraordinários, os estilos e características de James Joyce, Romain Rolland, Ernest Hemingway, Hermann Hesse, Thomas Mann e outros gênios da Literatura Universal. Foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, ao suceder o professor Silvestre Fernandes na Cadeira nº 15, patroneada pelo humanista Manuel Odorico Mendes, em cujo discurso de posse transcendeu à eloquência ao falar do tradutor de Virgílio Morreu José Erasmo [de Fontoura e Esteves] Dias, em São Luís, no dia 14 de maio de 1981, por ironia, numa segunda-feira, à luz do sol das onze horas, sem conseguir serenar-se com a madrugada, como gostaria; morreu sem aquele grito de ‘Qincas Berro d’água’, mas serenamente; seu corpo foi sepultado no velho cemitério do Gavião, debaixo de um cajueiro em flor, sem a cruz, como símbolo do cristianismo, mas com a Estrela de Davi, ou Signo de Salomão, já que se dizia judeu, a luzir à cabeceira de sua consciência, agora verdadeiramente imortal... __________


GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA * [Documentos Maranhenses] José Pereira da Graça Aranha foi um dos escritores brasileiros mais importantes da ficção pré-modernista. E é ele quem diz no livro ‘O meu próprio romance’, onde narra genialmente sua vida, tendo este trabalho, infelizmente, ficado inacabado, mas mesmo assim editado em 1931, extraído de manuscritos do autor: “O meu difícil nascimento parece marcar o signo da força, que me prendia ao inconsciente. Foi pela ciência de um médico inglês, que vivi na tarde do domingo de 21 de junho de 1868, na cidade de São Luís do Maranhão, quando eu estava condenado à morte para salvar minha mãe. A ciência arrancou-me do inconsciente. Realizou-me em mim a fórmula do meu pensamento psicológico. Aboli em mim o terror inicial. Desde então a minha vida foi uma aspiração de conhecimento e por este conhecimento tomei posse do universo. Liberto-me do preconceito político e, o que é mais difícil, do preconceito estético”. Aos treze anos ele concluía o curso de humanidades e aos dezoito, o de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, onde se fez o aluno mais querido de Tobias Barreto que, ao longo da vida, viria a influenciá-lo. Foi advogado e professor de Direito, exercendo no Espírito Santo o cargo de juiz. Viveu muitos anos na Europa no desempenho de funções diplomáticas. Voltando ao Brasil, tornou-se figura de vanguarda no movimento modernista, pronunciando na Academia Brasileira de Letras, de onde foi sócio fundador em que “concitava a renovar-se, pela aceitação das novas tendências estéticas “Se a Academia não se renova – gritou – “então morra a Academia”. O grito ali não fora ouvido naquele momento, e Graça Aranha rompeu com a instituição de Machado de Assis, onde ocupava a cadeira de Tobias Barreto. Seu nome, ao lado de Gonçalves Dias, de Odorico Mendes, de Sousândrade, de João Lisboa, de Sotero dos Reis, de Gomes de Sousa, de Nina Rodrigues, dos irmãos Azevedo [Artur e Aluízio], de Coelho Netto, de Humberto de Campos, de Apolônia Pinto, só para falar de alguns, constitui a plêiade de maranhenses ilustres que maior influência exerceu na história da literatura, da ciência e das artes brasileiras. Da velha Europa, trouxe consigo o modelo que o fez um arauto do espírito moderno, consagrando-o assim, até o fim da vida, a teorização de uma estética que codificasse padrões novos na estrutura literária àquela época já em crise. Nas mesmas condições, a Graça Aranha se juntava, também chegados da Europa, Oswald de Andrade que tivera convivido com o poeta Paul Fort, coroado príncipe dos poetas franceses; Manuel Bandeira que voltava da Suíça, onde estivera internado por causa da tuberculose, mantendo uma grande amizade com o poeta Paul Eluard, enquanto o Brasil era povoado de notícias que chegavam da revista portuguesa ‘Orfeu’, centro irradiador das poesias de Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro, as quais se corporificavam aos métodos pretendidos por Graça Aranha. E a ‘Semana de Arte Moderna’ explodiu com a exposição, em São Paulo, da pintora Anitta Malfatti que trazia novidades e novos elementos nas artes plásticas pós-impressionistas [cubistas e expressionistas], revelados em seus estudos, principalmente na Alemanha, sendo criticada por uns e defendida por outros, entre estes, Mário de Andrade, já imortalizado com ‘Pauliceia Desvairada’ e ‘Macunaíma’. Continuemos ouvindo o espírito de negação de Graça Aranha, escritos para ‘O meu próprio romance’: “Nada poderia contribuir para o meu incessante progresso intelectual, como o espírito de negação. Aos doze anos neguei Deus, aos quatorze neguei o Direito Natural, aos quinze neguei o princípio monárquico e o direito à escravidão”. Sobre o livro ‘Canaã’, José Veríssimo, crítico dos mais afiados ao tempo, disse: “Estreia, como não me lembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. E por falar em Veríssimo, este era contra a entrada de Graça na Academia, apesar de nunca ter sabido o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco. Graça Aranha publicou estes trabalhos: Canaã, 1902; Estética da Vida, 1920; Malazarte, 1922; Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923; O Espírito Moderno, 1925; A Viagem Maravilhosa, 1930.


As obras completas de Graça Aranha (1939-1941) estão distribuídas em 8 volumes: Vol. I Canaã; vol. II: Malazarte; vol. III: Estética da vida; vol. IV: Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco; vol. V: O espírito moderno; vol. VI: A viagem maravilhosa; vol. VII: O meu próprio romance; vol. VIII: Diversos. ‘O meu próprio romance’ é um dos livros mais perfeitos que conheço. Li-o ainda na juventude e sua leitura me invadiu para sempre os sentidos. Parece que fui moleque junto com Graça Aranha pela velha Rampa do Cais de São Luís. Hoje tão distante daquele nosso cenário, da estamparia da nossa cidade, uma saudade de doer ensombrou-me de emoção, quando reli, como se alguma coisa indizível me dissesse que a única coisa sublime que temos é a memória. E é o velho Graça quem diz: “Dos quadros da minha infância, nenhum exerceu no meu espírito magnetismo igual ao da casa em que vivi, quatorze anos, no Largo do Palácio. Nasci na Rua da Estrela, número 2, na primeira casa à direita, na grande ladeira que desce para a Praia Grande, cento do comércio que as águas da baia não banham [...] quando a deixamos, eu não tinha dois anos. Mais tarde, eu a contemplava e imaginava o seu silêncio interior naqueles três andares elevados, e esse silêncio imaginativo tinha a força de me entristecer.” Talvez havendo, como informa Alfredo Bosi, professor de Literatura da USP, “duas faces a considerar no caso Graça Aranha: o romancista de ‘Canaã’ e de ‘A Viagem Maravilhosa’ e o doutrinador de ‘A Estética da Vida’ e de ‘Espírito Moderno’, faz-se às vezes distante no tempo, mas ligadas por mais de um caráter comum, exteriorizar em ‘A Estética da Vida’ este sentido de forma e liberdade espiritual ou ainda de terror cósmico: aquele que compreende o universo com uma dualidade de alma e corpo, de espírito e matéria, de criador e criatura, vive na perpétua dor. Aquele que pelas sensações vagas da forma, da cor e do som, se transporta ao sentimento universal e se funde no todo infinito, vive na perpétua alegria”. Falar-se de Arte Moderna, caberia num livro de ensaios como muitos já foram escritos. Os acontecimentos e os personagens foram muitos para poucos dias, e Graça Aranha, o qual faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, tornou-se, no Movimento, um acontecimento imorredouro, porque trouxe à luz da publicidade o seu ‘Canaã’ e foi personagem, porque, acima de tudo, e pela vida inteira, foi sempre um reformador de métodos e um esteta intemporal.


A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA * [Documentos Maranhenses] Prisioneiro voluntário em uma oficina de criações e emoções diversas, Nascimento Moraes Filho, mergulhou algum tempo atrás em uma gloriosa pesquisa nas salas grandes da Biblioteca Pública do Estado, em São Luís, como se fosse conduzido pela determinação daquele verso de Whitman: “o que não está numa parte está noutra”, usando apenas a vontade como poder. Deste trabalho, sentiu há poucos dias [lê-se o ano de 1975], o resultado dos seus propósitos, quando fez a entrega ao Maranhão, em praça pública, do romance ‘Úrsula’, reeditado em fac-símile, justamente nos 150 anos da escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís a 11 de outubro de 1825 e falecida na cidade de Guimarães [interior do Estado] a 11 de novembro de 1917. A este lançamento, do qual guardo com carinho, em meus alfarrábios, os jornais da época, participaram vários intelectuais maranhenses, integrantes da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Era governador o Dr. Oswaldo Nunes Freire, presente, e lá, ao centro das comemorações, o busto da ludovicense ilustre rodeado por Nascimento Moraes Filho, Maurice Druon, o francês autor de ‘O Menino do dedo verde’ e do ‘Hino da Resistência Francesa’, bisneto do humanista maranhense Odorico Mendes, tradutor de ‘Virgílio’; e ainda, também, o querido maranhense e grande etnólogo brasileiro Nunes Pereira, que ao chegar a Brasília no dia seguinte pela manhã, me levava de presente uma bela edição fac-similada de ‘Úrsula’, romance de Maria Firmina dos Reis, o qual foi publicado pela primeira vez em 1859, pela ‘Tipografia do Progresso’ [São Luís], razão pela qual, se prendeu Nascimento Moraes Filho, provando com a justeza de sua coerência intelectual, ser ela a primeira romancista brasileira. Esquecida entre jornais empoeirados e entre históricos documentos amarelados pelo tempo, Maria Firmina dos Reis, até então, tinha o nome apenas gravado na ‘água’, como no epitáfio famoso escrito na pedra que silencia o sono eterno de Keats. A ninguém coube o fôlego da intencionalidade em fazer conhecida esta grande mulher, neste nosso século e, [lê-se sec. XX] se porventura, soubessem da sua existência, diriam displicentemente como foram ditas sobre as mágicas e proféticas ‘Runas’, na lenda nórdica: “que Wattan sem as Valkirias a tenha!” Talvez levado pelo descaso consciente de não estar prestando um grande serviço às letras do país, ou pelo medo na incursão de tão cansativo e torturante trabalho. E Nascimento Mores Filho, hoje já com Deus, e quanta falta faz às nossas letras, dela lembrou-se, com a perspectiva vocacional, colhendo do desconhecido subsídios valiosos para a dignidade do conhecer, sabendo que a arte é a sensibilidade humana e neta de Deus através dos homens. E daí o inesperado, a surpresa, legitimando a romancista Maria Firmina dos Reis na escala dos valores merecidos, até então desprezada no bastardismo do esquecimento. A Nascimento Moras Filho coube a petulante coragem, mostrando que nada mundifica tanto a alma dum homem como a criação da beleza e da verdade. E ele não se acobardou diante das seríssimas dificuldades existentes, sem nada que lhe norteasse uma pesquisa de grande valia e sem nenhum instrumento de metodologia cientifica. Como poeta, transcendeu sensivelmente ao apuro da sua criação de artista, norteando-se apenas a sonhos azuis e longínquos e, como folclorista, homem de cultura feita, maturado por vivências às vezes cruéis e também fantasistas, teve ao seu lado a suprema ousadia da intenção acidental ou não, mas feliz de certo, que é o destino em estado de rigidez, crendo mais na extensão que propôs realizar do que mesmo no pão em substituição terrível ao suor, admitindo, como Spengler, a possibilidade de transpor o presente como limite de investigação. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, já conhecida no Maranhão, devendo, de agora em diante, por processos lentos, ser conhecida em todo país, pela supremacia de ser a primeira romancista brasileira, carente da necessidade crítica que há de vir por certo. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, em busto na Praça do Panteão, em São Luís, e com placa comemorativa num velho casarão da Rua de Santana, onde funcionava, na época, a ‘Tipografia Progresso’ que teve a felicidade de editá-la pela primeira vez.


E agora aí está Maria Firmina dos Reis, com nome de Rua em um dos bairros da Ilha, onde o poeta Gonçalves Dias cantou em versos, rogando a Deus não o deixar morrer sem avistar pela derradeira vez as palmeiras que ornamentam o Largo dos Amores, a triste e melancólica Praça de seu nome... Parabenizo Nascimento Moraes Filho por ter sabido que a compreensão é mais que a conquista e que o conhecer é mais que o possuir... O “ego habeo fatum” estender-se-á sempre às suas motivações... Por fim, parabenizo o Maranhão, que também agora acolhe feliz Maria Firmina dos Reis entre seus filhos ilustres, no ‘logos’ dos seus imortais, louvando aos filhos de nossos filhos, ‘por nume nossos avos’. P.S Parabenizo também a escritora Dilercy Aragão Adler, cofundadora e primeira presidente da Academia Ludovicense de Letras, por ser autora da monção que consagrou o epíteto de ‘Casa de Maria Firmina dos Reis ao sodalício, e a patronear a cadeira que ocupa com o nome de Maria Firmina, vez que é hoje, Dilercy, no Brasil, a mais destacada estudiosa da vida e obra da nossa ilustre conterrânea; --------------------------*Fernando Braga, Especial para o 'Jornal de Brasília’, em 16 de novembro de 1975.


VESPASIANO RAMOS: ‘COISA ALGUMA & MAIS ALGUMA COISA [Documentos Maranhenses] Fernando Braga, in ‘Estante de Cultura- Caderno B’ – ‘Jornal Alto Madeira’, Porto Velho, Rondônia, 18 de agosto de 1984.

Créditos da Foto - “Intelectuais caxienses, em foto sem data, porém sabidamente de início do século XX da esq. para a direita, em pé: Hegesippo Franklin da Costa [avô do poeta Roberto Franklin da Costa, da ALL], Francisco Nunes de Almeida, Vespasiano Ramos, Wladimir Franklin da Costa [pai do escritor Franklin de Oliveira], Joaquim Franklin da Costa. Sentados, na mesma ordem: Alfredo Guedes de Azeredo, Leôncio de Souza Machado [pai do escritor Walfredo Machado] e João Lemos”.

Deus escolhe um tempo para nos presentear com alguma coisa...E justo naquele 1984 fui, por determinação de meus quefazeres profissionais em Brasília, convocado para o honroso e temporário mister de trabalhar na institucionalização do Tribunal Regional Eleitoral, do recém-criado Estado de Rondônia. Cheguei a Porto Velho na noite de Natal de 83, chão em que o poeta Vespasiano Ramos deu o último suspiro de vida aos 32 anos de idade. Agradeço ao nexo causal do Universo por me ter propiciado essa dádiva, de encontrá-lo no Cemitério dos Inocentes, naquelas terras amazônicas do antigo Guaporé, hoje Rondônia, a repousar em louça e lousa, os louros de sua lira, o que me permitiu escrever depois alguma coisa ao poeta de ‘Coisa Alguma’, tempo em que assistia emocionado as comemorações de seu centenário, na companhia de mais três maranhenses ilustres que lá se encontravam: o Juiz de Direito [da judicatura local], João Batista dos Santos, depois Desembargador; e os caxienses, professor Raymundo Nonato Castro, Vice-Reitor da Universidade de Rondônia e o jornalista e advogado Edison de Carvalho Vidigal, já indicado Ministro do STJ, que lá tinha ido rapidamente para realizar uma audiência jurídica.. Joaquim, Vespasiano Ramos, nasceu na cidade maranhense de Caxias, a 13 de agosto de 1884 e faleceu em Porto Velho, a 26 de dezembro de 1916, aonde tinha chegado no início do mês, a bordo do vapor ‘Andersen’, não como muita gente pensa, impelido pela ‘borracha’, como meio de um melhor aconchego físico-social, mas, para recolher-se no seringal de Aureliano do Carmo, e dar início à escrita de um seu poema amazônico, cantando as belezas do Grande Vale, como fizeram no passado, o paraense José


Verissimo, autor de ‘A História da Literatura Brasileira’ e o português Ferreira de Castro, autor de ‘A Selva’, dentre alguns. A malária foi tirana e arrancou do poeta, a castiga-lo com febres ácidas, associada a uma doença pulmonar, o sonho de escrever o canto amazônico, que talvez tivesse sido a nossa maior epopeia lírica. Pertencente à segunda geração estoica de românticos, quanto ao seu, ‘modus vivendi’, o poeta, apesar de ter alcançado a efervescência dos movimentos parnasiano e simbolista, a nenhum pertencera, observando-se, no entanto, estilos dos dois em suas produções, mas sem qualquer filiação estilística ou formal em ambos, porque Vespasiano fora um poeta desgarrado de movimentos, apesar de visceralmente romântico. Espírito irrequieto e boêmio por natureza e convicção, Vespasiano Ramos já aos dezesseis anos publicava seus versos nos jornais de sua província e logo passou a integrar o grupo de sua geração que, em Caxias, despontava com muita força, oportunidade em que fundaram o jornal ‘A Mocidade’. [Vide foto abaixo]. Com dezoito anos completos, o poeta transfere-se para São Luís, com o intuito de ampliar seus conhecimentos de humanidades e na esperança de melhores dias. O seu brilhante talento abriu-lhe os caminhos da imprensa, onde escreveu poemas e crônicas. São Luís, palco de tantas e iluminadas histórias, como as de Aluízio Azevedo e Humberto de Campos., este último, seu contemporâneo. Assim, transfere-se em seguida para Manaus onde demorou muito pouco, sendo arrastado pelo fascínio que lhe devotava o irmão Heráclito Ramos, que o fez viajar para o Rio de Janeiro sob a promessa de publicar lhe ‘Coisa Alguma’, seu livro de versos. Esse sonho não aconteceu, em princípio, por graças do irmão, em virtude de o poeta continuar mergulhado em festas e saraus madrugueiros. Entretanto, levado pela grande admiração, Heráclito, entrega os originais de Vespasiano ao editor Jacinto Ribeiro dos Santos, de cujas mãos saiu uma edição de dois mil exemplares em maio de 1916, sete meses, portanto, antes do poeta falecer. Josué Montello escreveu: “De Vespasiano Ramos se pode dizer que está para as letras maranhenses, na espontaneidade de seu lirismo, como Casemiro de Abreu está para as letras brasileiras; é o poeta do amor e da saudade”. O ilustre mestre Antônio Lopes, ensaísta iluminado e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sentenciou: “Vê-se bem qual seja a inspiração que fazia de Vespasiano Ramos, entre os poetas novos do Maranhão, o poeta preexcelente do amor. O amor para ele é o... eterno e grande sentimento. Havia para o poeta, nesse velho tema, um filão inesgotável pra a explorar. E, por isso, o amor era o assunto favorito dos seus versos.” Já o jovem professor e também poeta Carvalho Júnior, conterrâneo de Vespasiano, da bela e aristocrata Caxias, homenageou o autor de ‘Coisa Alguma’, publicando nas redes sociais em 14 de agosto de 2018 ‘4 Poemas de Vespasiano Ramos’ para a sua série ‘Quatetê’. O escritor Jomar Moraes, orientou a pesquisa, a fixação textual e a revisão do fantástico trabalho ‘Cousa Alguma...&+ Alguma Coisa de/sobre Vespasiano Ramos”, uma bela edição da Universidade Estadual do Maranhão UEMA, como instrumental de estudos e pesquisas sobre o vate caxiense. Ouçamos o Vespa no soneto ‘Samaritana’, antológico, porque belo; bíblico, porque humano: “Piedosa gentil Samaritana/: venho, de longe, trêmulo, bater/à vossa humilde e plácida cabana,/pedindo alívio para o meu viver!/ Sou perseguido pela sede insana/do amor que anima e que nos faz sofrer:/ tenho sede demais, Samaritana/tenho sede demais: quero beber!/ Fugis, então, ao mísero que implora/ o saciar da sede que o consome,/o saciar da sede que o devora?/ Pecais, assim, Samaritana! Vede:/ — Filhos, dai de comer a quem tem fome, / Filhos, dai de beber a quem tem sede”. Sintamos o estro do poeta, neste soneto ‘Cruel’, de fino manejo rítmico e de perfeita elaboração estilística: “Ah, se as dores que eu sinto, ela sentisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse;/ talvez nunca um momento me negasse/tudo que eu desejasse e lhe pedisse! /Talvez a todo instante consentisse/ minha boca beijar a sua face,/ se o caminho que eu tomo ela tomasse,/ se o calvário que eu subo ela subisse!/ Se o desejo que eu tenho ela tivesse,/ se os meus sonhos de amor ela sonhasse,/ aos meus rogos talvez não se opusesse!/ Talvez nunca negasse o que eu pedisse,/se as lágrimas que eu choro ela chorasse/e se as dores que eu sinto, ela sentisse!” . . . Contemporâneo de Augusto dos Anjos e de tantos outros nomes consagrados da literatura brasileira, e fundador da cadeira nº 32 da Academia Maranhense de Letras, o poeta morreu aos trinta e dois anos de idade, a irradiar uma semelhança de vida, conta um seu biógrafo, com o poeta americano Edgar Alan Poe, o poeta que cantou a maldição d‘O Corvo’, naqueles versos geniais do “Nunca mais...!”


O GÊNIO FLORESTAL * [Documentos Maranhenses] Quem alcunhou Manuel Nunes Pereira, um dos maiores etnólogos brasileiros, maranhense em particular, de ‘gênio floresta’, foi um homem que tem a poesia na alma e um decassílabo no nome: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Nunes Pereira foi uma das pessoas mais extraordinárias, generosas e cultas que tive a felicidade de conhecer. Ele nasceu na velha ‘Casa das Minas’, de origem daomeana, com traços da religião ou mitologia jêge-nagô, com culto Vodu, na Rua de São Pantaleão, em São Luís do Maranhão, em 26 de junho de 1893; era filho de Mãe Almerinda e afilhado da velha Nochê, Mãe Andreza Maria... E morreu no Rio de Janeiro noventa e dois anos depois, parnasianamente “numa noite assim, de um céu assim...” Foi muito cedo para Belém do Pará e depois para Niterói e Rio de janeiro, onde abandonou o curso de direito para estudar veterinária, biologia e botânica, sob a direção de Paulo Parreiras Horta, microbiologista de renome, auxiliado por um grupo de colegas, do valor de Arthur Moses, Herbert Pereira, Aleixos de Vasconcelos e Charles Conreur, especializando-se em etnografia e etnologia, cujas ciências dedicou sua vida inteira até aposentar-se pelo Ministério da Agricultura, possuindo nesse campo cientifico, um dos maiores acervos do país, em livros, documentos, anotações, fitas, filmes e registros das mais variadas espécies. Era um etnólogo do porte de Roger Bastide, de Arthur Ramos e de Levi Strauss. Falava correntemente inglês, francês, espanhol, italiano e o alemão, este, aprendeu sozinho, em virtude das traduções que tinha de fazer, à época, dos livros científicos que estudava... Era “um homem de ciência agudamente provido de sensibilidade e visão humanística, eis o que é o caboclo maranhense Nunes Pereira”, na visão sensível, mas objetiva de Carlos Drummond de Andrade. Era membro da Academia Maranhense de Letras e um dos fundadores da Amazonense de Letras, oportunidade que teve, de ali, conhecer e ser amigo de Maranhão Sobrinho, um dos maiores poetas simbolistas do Brasil, e depois, de se fazer fraterno companheiro de Thiago de Mello, o belo poeta de ‘Faz escuro mas eu canto... a cantiga do amor armado!...’ Como prova de sua grandeza e ‘sacanagens’ em direção do bem, chamo a este dedo de prosa o nosso escritor Jorge Amado que assim escreve, em ‘Literatura Comentada’, edições Abril [1981-2]: “... Antes de decretarem o Estado Novo cheguei a Manaus e fui preso... Fui colocado numa cela com o Nunes Pereira, o etnólogo, um homem encantador. Eu e o Nunes Pereira passávamos o dia inteiro debaixo do chuveiro porque fazia um calor infernal, e os integralistas desfilavam na frente ameaçando a gente de morte” ... Não irei aqui me alongar sobre a obra de Nunes Pereira, porque sua especialidade é meramente cientifica, apesar de também ter sido poeta, e sua bibliografia é muito extensa, mas às suas histórias que são, tanto quanto, muito aprazíveis e pitorescas. Certa vez, no Rio de Janeiro, contou-me Nunes Pereira, procurou o escritor Coelho Neto, nosso conterrâneo ilustre para lhe pedir, dado o seu prestígio, uma colocação em qualquer abrigo desde que o remunerasse, para que ele, o jovem maranhense, pudesse custear os estudos e pagar em dia a francesa dona da pensão, a qual fazia uma algaravia infernal quando recebia a mensalidade fora do prazo combinado. Numa noite qualquer, em casa de Coelho Neto, o jovem disse ao mestre o prazer que tinha em cumprimentálo e o motivo da visita. Depois de ouvi-lo, o ‘Príncipe da Prosa Brasileira’ levantou-se e se dirigiu à sua escrivaninha. Lá, de pé, como dizem que escrevia costumeiramente, o autor de ‘Rei Morto’ parou e escreveu num papel timbrado com seu nome, um bilhete endereçado a um tal Prestes, Diretor das Docas do Rio de janeiro, que dizia textualmente isto, que me foi ditado pelo velho etnólogo: “Prestes amigo, O portador, Manuel Nunes Pereira é do Maranhão como eu; e em sendo de tal terra é natural que faça versos, pois é filho da ‘Oliveira e da Cigarra’. Ele está precisando de uma colocação aí nas docas do Rio de Janeiro, de cujo parasitário és defensor perpétuo e escarchas contrabandistas. Se deferires este meu requerimento, saberei cantar-te agradecido em rimas d’oiro. Um abraço. Do teu, Coelho Neto”. Essa empreitada da colocação foi frustrada. O diretor das docas do Rio de Janeiro não atendeu ao pedido do ‘Príncipe da Prosa Brasileira’, resultando apenas dessa ilustre pedintaria, os arremedos desse bilhete pelo próprio Nunes Pereira a ficar na historiografia literária.


Um dia qualquer, Nunes Pereira desembarca em Brasília para receber o ‘Prêmio do Mérito Indigenista’ que seria outorgado pelo Ministério do Interior, pela publicação de sua obra em dois volumes ‘Morunguetá - Um Decameron Indígena’, a qual o contemplara com o prêmio ‘Roquete Pinto’, da Academia Brasileira de Letras; e como de costume, e para minha honra, levei-o para o meu apartamento como sempre o fazia. Quando de sua chegada, naquela mesma noite, bebemos uns goles de pinga que ele trouxera de Ji-Paraná, cidade de Rondônia, de onde era egresso naquela noite e já onde se encontrava por algum tempo a pesquisar indígenas daquela região, tempo em que, também, providenciávamos o preparo de um ‘tambaqui’ que também trouxera carinhosamente consigo... No dia seguinte, fomos em uma livraria que distribuía os livros da editora São José, para comprar os dois volumes de ‘Morunguetá, Um Decameron Indígena’, obra que consumira quarenta anos de sua vida para escrevê-la, inclusive a passar longos períodos longe da família, de tudo e de todos; teria ainda de comprar os dois volumes da coleção para presenteá-los ao Ministro do Interior, ao tempo, o Cel. Costa Cavalcanti, na certeza apenas de que dá um livro a alguém não é uma gentileza, e sim, um elogio, como diz Pitigrilli... Quando ele presenteou os livros ao ministro, já devidamente oferecidos, este foi contundente em dizer-lhe: “Já li alguns livros seus...” Nunes Pereira esboçou um riso de hiena e devolveu-lhe a assertiva: “Já se vê, ministro, que o senhor anda a ler alguma coisa...” Chegado o dia de sua volta, fui levá-lo ao aeroporto e, num desses voos que aparecem não se sabe de onde, eis que surge o Fernando Lobo, jornalista, poeta, compositor e, orgulhosamente, como ele mesmo dizia, pai do Edu Lobo. Ao ver o velho Nunes dirigiu-se a ele com carinho e pilhérias bem à moda dos dois, sendo de logo a mim apresentado; no restaurante do aeroporto, tempo em que nos amesendamos para bebermos alguma coisa, entre reminiscências e piadas. Lá pelas páginas tantas, depois de ter perdido uns três aviões da ponte-aérea, o velho Nunes perguntou-me se eu não queria ir com eles para o Rio de Janeiro... E ao tirar do bolso do paletó um ‘calhamaço’ de bilhetes sugeriu que eu fosse ao balcão da companhia marcar uma ida, sendo que a volta seria para o dia seguinte à tardinha. E assim foi! A ponte-aérea tem certas surpresas desagradáveis, às vezes se faz rápida para, por fim, em momentos que não lhe competem... Chegamos inteiros ao Santo Dumont no Rio de Janeiro; despedimo-nos do Fernando Lobo, uma pessoa que jamais esqueci pela inteligência e simpatia irradiadas, e rumamos, em seguida para a Avenida Almirante Alexandrino, em Santa Teresa, nobre endereço que escondia o velho cientista, momentaneamente vazio, vez que seus familiares se encontravam de veraneio em Nova Friburgo, no Estado do Rio. No dia seguinte, o velho, irresponsavelmente, pegou o telefone da casa e vendeu para o português dono de um bar no ‘Largo dos Guimarães’, ali perto, para fazer dinheiro, vez que só tinha no bolso passagens, lhes dadas por Universidades para as viagens de suas pesquisas; estabelecido o ‘negócio da China’, pegamos o ‘bondinho de Santa Teresa’ e descemos para a cidade, onde comemos alguma coisa e bebemos outras; e ele, então, conforme o combinado embarcou-me de volta para Brasília. Voltando o fio à meada: quis os desígnios de Deus que eu estivesse em Porto Velho, no Estado de Rondônia, antigo ‘Território do Guaporé’, a realizar um trabalho temporário que fui designado a fazê-lo; lugar em que também, por períodos temporais, era núcleo natural de estudos antropológicos do velho Nunes Pereira, para aonde os ventos da vida nos uniria pela derradeira vez... Pois bem, certa manhã chuvosa, para ser mais triste que de costume, ao atravessar uma praça da cidade, um jornaleiro passou a apregoar o ‘Alto Madeira’, o maior jornal da região, com uma voz de lamento a gritar: “Atenção! Morreu no Rio de Janeiro, o Doutor Nunes Pereira!” Atenção! Morreu, no Rio de Janeiro, o Doutor Nunes Pereira!”. Comprei um exemplar do jornal, encostei-me a mureta da Praça e ali mesmo, antes de ler a notícia, rezei como o salmista na caverna, e “olhei para minha direita e vi; mas não havia quem me conhecesse; refúgio me faltou; ninguém cuidou de minha alma”; e ali mesmo chorei... chorei muito...!


A MORTE DO JORNALISTA E ESCRITOR JOSÉ ERASMO* Era São Luís e chovia... Meu querido amigo Murilo Ferreira, egresso do Instituto Rio Branco e posto em disponibilidade por ter lançado um livro intitulado ‘O pusilânime’, a mexer com as susceptibilidades de certos figurões pátrios, deu-me a sorte de encontra-lo à porta do ‘Atenas Bar’. Era maio de 1969, depois dos cumprimentos iniciais, clareou sê-me uma ideia kafkiana: “Murilo, vamos fazer alguma coisa para intensificar mais São Luís àqueles ares europeus do início do século XIX, como nos conta o professor Nascimento Moraes no seu ‘Vencidos e degenerados’?” Vamos, disse-me ele sorrindo, a perguntar-me: o quê, por exemplo?” “A morte de Erasmo”, disse-lhe, “ele já morreu umas dez vezes, mesmo!...” Ele respondeu-me sem titubear: “Vamos! Pelo menos se faz alguma coisa para sacudir as velhas muralhas desta nossa São Luís, hoje mais pachorrenta que nunca.” E a notícia, corporificada à boca miúda, transpôs de logo os gradis do continente e correu...Chegou até Sarney que, como governador, suspendeu em palácio um almoço com cinco almirantes... Antes de ser, vale como ‘Post scriptum’: José Erasmo Dias, era jornalista, escritor, uma eminência parda [“éminence grise”]’ de vários governos, que depois desta, uma das suas muitas mortes, esbarrou na pena brilhante do jornalista e poeta José Chagas, que nos conta como foi esta história: José Chagas *: A Morte de Erasmo, ‘Jornal do Dia’, São Luís, 5 de maio de 1969. “A morte do jornalista Erasmo Dias, anteontem, constituiu o mais psicodélico dos acontecimentos, nos últimos dias, em São Luís. A notícia espalhou-se pela cidade e, entre dúvidas e certezas, muitos de seus amigos viveram momentos de angústia, alguns procurando afogar essa angústia no “Atenas Bar”, o que era ao mesmo tempo um consolo e uma homenagem ao recém-desaparecido. Murilo Ferreira vira quando o Erasmo, alta madrugada, depois de um colapso em plena rua, fora levado para o Centro Médico. E como testemunha de vista afirmava que o Erasmo já chegara ali morto, afirmação essa que no bar contrariava a opinião de outros que teimavam em dizer que o jornalista só falecera momentos depois de chegar ao Centro Médico. O poeta Fernando Braga contava detalhadamente como o corpo do já prateado jornalista fora levado para a residência nos Apicuns e falava da dificuldade imensa que tiveram para encontrar dentro da casa o terno preto com que vestissem o morto, de modo que ele se apresentasse dignamente, em sua postura cadavérica. Enquanto isso, o Murilo, entre prantos e cervejas, ia explicando aos que entravam no bar outro grande problema surgido com a morte do Erasmo. Era que seu corpo estava sendo disputado pela Assembleia Legislativa, pela Academia de Letras e pela Prefeitura Municipal. A Assembleia argumentava que o jornalista havia sido deputado, era funcionário daquela casa e, portanto, o Legislativo tinha direito sobre o seu cadáver. A Academia de Letras, considerando que Erasmo havia sido um dos mais inteligentes escritores e uma figura das mais evidentes em nossos meios literários, queria que o corpo fosse levado para lá, tentando talvez academizá-lo postumamente, o que muitos achavam ser uma traição ao jornalista. Já o Cafeteira alegava que Erasmo fora prefeito em certa época e por isso desejava que o corpo fosse levado para o recinto da Câmara Municipal. Houve quem também dissesse ali no bar que as últimas palavras de Erasmo fora: “Água! Água!” Mas ninguém acreditou. Não era possível que na hora respeitável da morte o Erasmo fosse faltar com sua coerência tão bem demonstrada em vida. E o poeta Fernando Braga lembrava outro detalhe: “O Erasmo sempre me dizia que no dia de sua morte só queria de mim isto: “que eu colocasse quinze rosas em seu túmulo e bebesse uma cachaça no Bar da Saudade”. O poeta já havia comprado as rosas e mais algumas margaridas. Queria em enterro “hippy”. Amigos e mais amigos chegavam e ficavam consternados. Se alguns duvidavam, Murilo mandava ouvir o rádio, através do qual o locutor Fernando Sousa dizia: “Estamos sabendo que o jornalista Erasmo Dias acaba de falecer. Notícia não confirmada, mas enquanto isso é com grande pesar que comunicamos o doloroso fato”: Era o que o Presidente Michel chamou depois de “morte condicionada”. Muitas pessoas tomaram automóveis e foram até a casa do jornalista morto, certas de que o rádio estava dizendo a verdade.


E eis que de repente o Erasmo, de paletó e gravata, entra no bar, exclamando: “Essa, não! Nunca morrer assim, num dia assim, de grogue assim...” Sentou-se e pediu uma cachaça, sob a admiração de muitos que o viam como um ressuscitado. E duas coisas dolorosas foram então lembradas: a frustração do jornalista Paulo Moraes, que já estava com o discurso pronto para a beira do túmulo, e a raiva do jornalista Amaral Raposo, que entrou no bar e disse, danado da vida: “Peguei um automóvel, gastei dois mil cruzeiros para ir à casa do Erasmo e esse idiota nem morreu nem nada. Nunca mais vou cair no conto da morte dele!” A essa altura, Erasmo sorria feliz, pedia outra dose e dizia ao dono do bar: “Defunto não paga grogue”, sem saber que o dono do bar tinha vivido momentos aflitivos, chorando com um vale preso na mão e a que o Murilo Ferreira chamara de “verdadeiro vale de lágrimas”.


O COMPASSO POÉTICO DE JOSÉ CHAGAS EM ‘OS TELHADOS’ Fernando Braga in Jornal ‘O Estado do Maranhão’ [Caderno Editorial], São Luís, quarta-feira, 25 de julho de 1973. [Antologia de textos do autor]. [Documentos Maranhenses] Tenho profunda admiração e querer bem pelo poeta e jornalista José Chagas [Piancó, PB 29 de outubro de 1927 – São Luís, 13 de maio de 2007], no mesmo passo em que não me canso de ver e sentir os telhados de São Luís, na imobilização do barro, estendido em altas cumeeiras, estático, ante os preceitos do sujo e do limo, “onde um gato conclui seu abandono”...e onde José Chagas canta assim: “no alto dos mirantes me fiz e me desfiz... soprai-me brisas errantes sobre toda São Luís.” O poeta sofre uma derrocada absurda de espera, quando embarca nessa verdadeira via-crúcis, viajando em redor de si mesmo, até o tempo sumir numa última biqueira vazia; às 13 horas, ele mergulha em plena luz de sua claridade verbal, para nos dizer de seu amor a esta São Luís, que já o adotou como filho querido, quando diz que a “cidade esvaída no longe de sempre, cúbica aurora te limita”; às 13:30 horas “mais do que o mar, circunda-nos o aço de velha guerra, exposto em sua têmpera, mais do que o mar, o brilho sem cansaço dos gênios do ontem, de amanhã sempre”. “Os Telhados é um poema sobre São Luís”, conta-nos Nauro Machado, “que ficará sendo poema de São Luís, por ter sabido José Chagas, como nenhum outro, elevar a atmosfera espiritual de nossa história à altura de canto prenhe de universalidade. Cronista há vários anos do nosso cotidiano, José Chagas soube igualmente sê-lo do nosso transcendental.” Pelas 13:45 horas, o poeta continua com a mesma viva-força a se embalar no paisagismo real que vislumbra, a divagar que “trezentos anos provocam abalos na raiz de infância perdida em chão de homem, me exigem nascer do parto essencial me revertem para a devida origem...” Às 14 horas, Chagas preconiza, dando-nos uma ideia de ouvir o silêncio, como o entendia o gênio de Ibsen ao ponderar que “os caminhos do tempo aqui se anulam. Os dias se curvam. E o que é dia é noite que não tarda. E o que é noite desliza fácil numa aurora em lâmina. Cai aurora em lâmina. Cai. Sua queda é folha fruto voo sonora vida morta é só o homem...” Às 14:20 horas, o autor, agora também de ‘Maré-Memória’, vai mais adiante para nos dizer que “aqui está a paz e os homens não a sustentaram nos ombros”. E perdido com o açoite dos ventos das 15:00 horas, afirma como operário insatisfeito: “cantarei no silêncio de caliça e chão todo canto é imenso e o nosso ouvido é vão, [desço da palavra para sabê-la alta, sabê-la em fogo na mudez incauta...” E antes que se perca impuro no doloroso roteiro de tempo-espaço, aproveita-se do cinzento ambiental das 15:40 horas, para afirmar “agora o espaço se fecha em lei de solidão. Tarde limita o mundo, mas sua carga de luz me sugere em anseio largo, como o que sugere a fome para quem come, como o que sugere a tinta, para quem pinta, como o que sugere a fala, para quem cala, como o que sugere a cama, pra quem ama, e todo tempo que no cigarro arde, colho a cinza como se fosse minha...” E volta-se para às 16:30 horas, antes que lhe roube o escuro que recém chega, com a marca fria da sua angústia para cantar “duro é o trabalho de estar só, sujeitar o corpo ao fermento das horas, viajar em torno de si mesmo a caminhos dos próprios ossos, duro e vazio sentado à janela escapando o nada do choro configurado na ausência diária como um pranto de pó aberto ao vento...” Às 17:15 horas, Chagas sustenta-se de tempos derradeiros e deixa-se solitário para um voo profundo em volta das coisas que o afligem, para cantar “se a janela me inclina de suicida desço até ao relógio para salvar-me. Ensinaram-me o tempo, a sua força e o sol que infunde a têmpora das horas. E de tempo e de sol construo caminhos, me esclareço na rosa, não dos ventos [ninguém aprecia o encanto das flores com os olhos embaciados de lágrimas] mas na rosa, que aprendo a ver no estéril, ou descubro na ardósia destes planos inclinados o sopro que os sustém sobre novos dias, que antes eram consórcios de palavras, de domínios criando luz e históricas lendas ensinamentos, força e canto”.


José Chagas é um poeta de profundo alcance formal, de perfeito censo estético e de rica reserva simbólica, dono de artifícios magistrais no que diz respeito ao encaixe preciso da linguagem, é também um dos mais legítimos poetas brasileiros da geração de 45. José Chagas, o cronista do dia-a-dia da nossa cidade, não trava uma rivalidade ou luta contra o José Chagas poeta. É Álvaro Lins quem duvida da justiça de dizer-se por aí que o jornalista sempre sufoca o escritor. E de estar-se com o grande crítico. Aqui no caso, existe no jornalista a força suficiente para comentar um fato e exteriorizar uma ideia; e no poeta, há sensibilidade de sobra para dar corpo ao verso e vesti-lo de sentimentos individualistas. Há entre os dois, um perfeito entendimento e uma beleza de diferença. O poeta adentra-se anoitado em ritmos e formas: “aqui se gasta uma lua de amada, lua gestante de outrora, incabível palor sofrendo febre em desuso. Velho clarão se restringe para o alto gozo da beleza e finge o anúncio luminoso e a noite assume o cristal dessa lua que se quebra no cume uma a torre nua [a noite de outrora parada no ar onde se elabora o vencido luar] de quantas luas cheias agora vazias, tu ainda te incendeias, ó noite de outros dias?” Machado de Assis escreveu certa vez em carta a José Veríssimo, o que agora me alentaria escrever para José Chagas, “[...] onde é que você acha tanta força para acudir a tanta coisa?” -------------------------------------


POESIAS & POETAS


JOÃO BATISTA DO LAGO

CONVOCATÓRIA Você aí parado, vem logo! Vem que o tempo é agora; Vamos plantar esperança. A vida é sempre criança, No corpo da Liberdade, Onde a Virtude vai vingar No coração de cada ser. Vem comigo, vem viver Sagrada e santa Justiça (que) Há de florescer em vida, Que será do povo a guarida Luz que se fará parida Em terras de Santa Cruz Onde o ser é sol que reluz. Vem, ó povo! Vem agora. Dá-me tuas mãos por ora (e) Guia minh’asas da liberdade; Deixa nascer em campos livres, Do condor, o vôo magestoso Domando a insensata gera Que o ser desgraça… vitupera! Vem, pois, ó irmão meu, Eis, de Prometeu, o fogo Ardente: vívida chama! Espada que ora e clama Toda liberdade santa; Toda luta qu’inda emana Virtude e democracia.


João Batista Gomes do Lago |24 de junho de 1950, Itapecuru-Mirim/MA|. Jornalista, ator, escritor, teatrólogo, contista, ensaísta, pesquisador e poeta brasileiro. Membro da Academia Poética Brasileira. É o autor de Eu Pescador de Ilusões, Cânticos Visceraise Áporo. Possui trabalhos inéditos a serem oportunamente publicados. Vive em Curitiba/PR. |joaopoetadobrasil.wordpress.com|

ARTRÓPODES Com a noite vem-me o corvo – Amigo das minhas noites insones! – Pousar sobre os meus umbrais… E conversamos sobre todos nossos cânones Varamos a noite sem a preocupação da luz Apenas a arquitetura de nossas almas São aventadas no ventre que nos produz E que nos faz sujeitos de águas calmas E juntos por toda noite densa Compomos a sinfonia de dionisíacas esferas Embalados pela mundidade que nos condensa Em mundos onde todas as paixões são efêmeras: Corpos, almas e carnes são nossa arquitetura E assim somos artrópodes inquietados No átimo dos segundos de noites de ternuras Nos tornamos flores e rosas no jardim dos amargurados

PRESENCIALIDADE Sou do meu eu a substância única Princípio do todo ser existencial Único ser capaz do meu contrário Primeiro a me reconhecer substancial Somente eu consigo a contradição divina De ser-me o princípio de todos os princípios Enclausurado na minha dicotomia que desatina Verbo no tempo e no espaço de sagrados ímpios Sou-me a casa prima de todos desconhecimentos Ancião congênito de prostitutas igrejas Imolado na pedra fria de todos altares Ofertado como hóstia substancial a toda contradição Causa primeira do ser primordial na emanação da vida Sou-me numinosa existência da ideia prima nascida


LOGOS & LAGOS Desejam-me igual no mundo da diaridade Inferno cosmológico onde desde sempre me estou internado Sou Logos Sou Lagos O sal do vinho restado no interior da minh’alma Caranguejo de mangues assaltado Sou imagem Sou pensamento Sou verbo Possibilidade de não ser ontem… de ser apenas hoje… de não me saber amanhã Lago com enchentes e vazantes várias Onde mergulho para me nascer diverso Não sou o espelho do meu próprio lago Nele as águas não são claras Daí o reflexo de todas as diversidades profanas Resultando de cada mergulho o outro que em mim vaga São tão diferentes os meus eus Não sou qualquer demônio nem mesmo qualquer deus Jamais idênticos a mim mesmo Não tenho inspirações quaisquer no trajeto dos meus dias Sou trindade: corpo com alma e espírito Racionalidade de átomos que me produzem vidas Diáspora da racional ciência que me cobre de carne a ossatura Produtor de imagens Capitalista de pensamentos Libertário uníssono de verbos malditos

A IDEIA Um homem é um hominis que é um homo nada mais que homem: Andrógino. Um homem é um devir que poderá ser hominis nada mais será que homo: Homem. Um homem é um sentido que é um homem nada mais do que é, nada mais do que será: Homem – apenas uma ideia. *FONTES CONSULTADAS : Rede social do poeta |facebook.com/joaobatista.gomesdolago.9| e página |http://www.escritas.org|.


AYMORÉ ALVIM

A ADÚLTERA. Por que choras, mulher, O que fizeste? Tu bem sabes, Senhor, Do meu pecado. Das razões que me levaram A este estado De ser julgada como vês Por adultério. - Que crime contra vós Foi praticado, Bando de víboras, Fariseus hipócritas? - Cumprimos de Moisés A santa Lei. Que manda apedrejá-la Ate à morte. - Foi o vosso coração Duro qual pedra. Impregnado de impurezas e paixões. Incapaz de sentir misericórdia Por um tropeço, na vida do irmão. Quem dentre vós a julgará primeiro Se carregais iniquidade, em vossas mãos? Como vês, mulher, Ninguém te condenou. Nem eu tampouco te condenarei. Vá e sê feliz como mereces E não esqueças: Não peques outra vez. Não te iludas com o fascínio deste mundo. Que corrompe, degrada e aniquila. Mantém teu coração fiel e puro E viverás feliz por toda a vida.


DILERCY ADLER

QUASIDOMO Dilercy Adler Quasidomo chora a catedral arde... as chama devoram sem dó o legado de fé e de dor! Queima a arte... os lamentos de antes se vão as chamas só deixam o pó cinzas levando o amor.... o povo deplora Quasidomo chora protege a igreja que ama e eu choro também! viva a Notre Dame! que Notre Dame viva! Amém! Sao Luís,16 de abril de 2019

ESCRIBA Dilercy Adler

Leio nas linhas do tempo tudo que escrevi nas noites de solidão nos domingos de praia e sol na festa embalada por uma canção na voz de uma criança que eu vi acompanhada de um único violão... escrevo ainda hoje continuo a escrever ininterruptamente


não posso parar e intempestivamente escrevo nas linhas tortas retas e curvas à minha frente ... escrevo algo novo - inéditoàs vezes repito o velho do espelho que me mostra as rugas do dia que se despediu inerte! às vezes escrevo sobre restos do que me sobrou do dia esquálido do ano que se foi em vão daquela noite especial de natal ou dos dias e dias de um folião bailando sozinho no salão daquele triste carnaval!...

Aí paro numa quarta-feira de cinzas qualquer e olho ao redor de lado a lado procuro na esquina perscruto o prescrito e não encontro nada não encontro ninguém não me encontro mais também... continuo procurando continuo querendo ver não importa muito o quê só para continuar a sina a sina solitária - mas cortês de escrever!...


TERESINKA PEREIRA

NOTRE DAME O fogo não perdoa! Dizem que o mundo já se acabou com água a primeira vez... Dizem que terminará em fogo a segunda! Quem vai se salvar? A catedral mais famosa do mundo, depois de 800 anos de virtude e temor a Deus, foi castigada pelo fogo! Será isto o princípio do final???

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ROBERTO FRANKLIN

Roberto Franklin é poeta brasileiro, autor de trinta livros recheados de pensamentos frutos do silêncio de sua meditação, da saudade, de suas dores, de perdas e de muitas emoções. É movido pelo amor, nas mais diversas formas, pela sua família, amigos e lembranças, os quais são fontes de inspiração para seus poemas. Vive o presente intensamente, sem esquecer jamais do passado. Acredita que a beleza da vida está nos pequenos detalhes: o sol que nasce a cada dia, a companhia da família e amigos, o amor sentido em um abraço, um beijo ou um simples olhar. Crê no ser humano, no amor e acredita que Deus é fonte de vida e reabilitação de qualquer ser. Roberto Franklin Falcão da Costa, ou RobertoFranklin, como gosta de ser chamado, nasceu em 16 de Janeiro de 1955, em São Luís do Maranhão. É odontólogo de profissão, formado pela Universidade Federal do Maranhão. Apaixonado por sua esposa Luciane Duailibe da Costa, foi abençoado pela graça de ser pai de quatro filhos e é avô “coruja” declarado de Lara, Sophia, Laís, Júlia, Theo e Nicholas. É filho do Dr. Franklin Camões da Costa de quem herdou o amor, a bondade e a tolerância, mas também é sobrinho-neto do grande poeta Vespasiano Ramos, cujo centenário de morte aconteceu em Porto Velho, Rondônia, onde o poeta morrera quase esquecido; é Roberto primo de segundo grau de Franklin de Oliveira, um dos maiores críticos literários do Brasil de todos os tempos. Incentivado pelo seu irmão mais velho, Tomaz de Aquino Falcão Braga, escreveu seu primeiro poema “Retorno”, publicado em seu primeiro livro lançado em 2015 com o título de Todos os Sonhos. Nesse poema, Roberto Franklin se refere ao passado, aos amores e sonhos ali deixados. “Retornarei, um dia, ao passado distante, num lugar onde deixei amor, sonhos, pecados e súplicas.” Transformou em realidade a sua antiga vocação poética com o primeiro livro editado e publicado: “Todos os Sonhos” – poesias, 2015. Fez sucesso, o que o animou a publicar outros livros recheados de lirismo amoroso e familiar, que é a marca registrada da sua pena poética. Além de “Todos os Sonhos”, de sua paixão pela poesia surgiram as seguintes publicações: Além da Esperança – poesias, 2016; Tuas Mãos – poesias, 2016; Tempo de Amar – poesias, 2016; Amor Sempre em 2017 Para fins de 2018 sera lançado o livro Amor sem Limites já em processo de acabamento na editora PENALUX.; além de participar de diversas Antologias: Platinum e Douce Poésie, poesias & textos, 2016 da Editora Bookess. Participou também de diversas Antologias a seguir:


- Sarau Brasil 2018. - I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. - Antologia da AMCL comemorativa ao primeiro ano de fundação. - Antologia Terra de Poetas, Portugal Como experiência internacional, participa também do Grupo Souespoeta em Portugal, sendo coautor de três antologias: - Nau da Lusofonia, lançado em Março 2017; - Terra de Poeta, lançado em Julho 2017; - A raiz da Poesia, será lançado em Setembro de 2017; Atualmente ocupa: - Academia Mundial de Literatura e Cultura ocupando a cadeira de número 91, tendo como patrono o conterrâneo Odylo - Membro correspondente da Academia de Letras de Teofilo Otoni - Membro da Academia Ludovicense de Letras ocupando a cadeira 40 patroneada por José Ribamar Sousa dos Reis. https://quatete.wordpress.com/2018/05/16/4-poemas-de-roberto-franklin/

A MENINA DO SONHO (trecho) E acordei chorando, desse sonho Que me revelou Que a minha família antiga Houvera mudado de endereço: Ela saiu da rua dos nossos eternos domingos Para morar no país da minha eterna saudade!… A VOLTA No meu caminho de volta, Encontrei minha ira. Por que me chamaste agora Se a hora não era finda? MEU CORPO Visto um corpo, sem pecado, Sem maldade e vingança. Visto um corpo que não é só meu, Mas um corpo de vários outros sentimentos. Visto um corpo que tem A alma de um forte, As palavras de um fraco, E as ideias de quem amou E continua amando.


Visto um corpo emprestado Sem vícios, somente um corpo Talhado para o amor. MINHA SÃO LUÍS Ladeiras, que me viram nascer, Sobrados, que me fizeram crescer, Pedra de cantarias, porta e janela, Meia mora e morada inteira, Minha amada São Luís. Me viste nascer, nas tuas entranhas, Me fiz crescer nas tuas ruas brinquei, Rolimã, futebol, bicicleta, Papagaio, foste testemunha de minha vida, Futebol na ladeira , Maria chiquinhas, Cuidado! joga a bola no telhado. Tudo passou e quando te vejo Assim parada deserta, me entristece, Penso na vida de quem viveu, Penso nos teus filhos que te amaram, Penso nos teus que não te ligaram. Minha cidade, minha pérola, Meu prazer, minha vida.

ii

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O FUTSAL NO MARANHÃO - ÍCONES E LEMBRANÇAS. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 197 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012

MEUS POEMAS Um poema não se faz com palavras frias. Um poema faz-se com palavras que brotam De sentimentos, momentos, situações Que passam pelo coração e fluem. Um poema não tem cor, nem sexo. Um poema tem sim sentimentos E assim ele se revela de dentro para fora E ajé de fora para dentro. Um poema tem dose maciça de um amor Perdido ou vivido.

TEU DESEJO As vezes transporto-me para teus braços, Sinto o perfume do teu desejo E a quentura dos teus lábios A envolver-me em deliciosos beijos. As vezes mesmo distante


Transporto-me para teus braços E sinto que teu olhar ainda pede Meu carinho, ainda pede meu amor. As vezes sinto teu clímax Me desejando e me consumindo todo. MEUS NETOS Sem perceber chegaram. Sem perceber entraram em minha vida. E sem pedir permissão se apoderaram de tudo que havia em mim. Nada falaram... Nada pediram... Simplesmente entraram E de mim tomaram conta. Eu... sentindo a doçura de suas vozes e dos seus carinhos. Fui cedendo aos seus pedidos. Deixando-me levar por todos eles E em suas mãos entreguei-me por inteiro E por vocês vivo e por vocês eu sonho. Como amo vocês meus queridos netos!

O GRITO Não, não seria o Grito de Edvard Munch, E sim o grito do desespero, que representa Aquilo que o homem irresponsável fez Colocando o economicamente maior À frente de vidas. Colocando sempre o lucro maior à frente de vidas. Muitos dos que estão sob toneladas de Descasos Jamais terão cerimônia fúnebre dos seus familiares. Não, não seria o tão famoso Grito que observamos Sempre com admiração e que deu início ao impressionismo. Seria o Impressionante grito de Brumadinho, Que nós jamais deveríamos observar com admiração E sim com indignação.

AS ASAS DE ULISSES O que te arrasta sobre as ondas A força que te leva a um porto O sonho que te transporta Traz e leva tua esperança O vento que te empurra Sobre ondas de um oceano De sonhos é o mesmo que Te arremessa de encontro Às pedras destruindo-te.


O vento será sempre tua decisão.

MICHEL HERBERT FLORENCIO

ELE VIVE! Ate tentaram deter o mestre... Por três dias esteve o corpo de Cristo Inerte naquela rocha escavada. Até tentaram deter o mestre... Uma grande pedra puseram na entrada Lacrada e fortemente guardada. Até tentaram deter o mestre. Mas o que temiam aconteceu A morte o amor venceu. Os guardas subornados a mentir até tentaram impedir Mas a verdade prevaleceu E esta é a Boa Nova da páscoa: Cristo VIVE. Michel Herbert


4 POEMAS DE FRANCISCO TRIBUZI Publicado em junho 20, 2018 por Carvalho Junior https://quatete.wordpress.com/2018/06/20/4-poemas-de-francisco-tribuzi/?fbclid=IwAR00LeUiu9A_kO9NCcBhkV8if4m0aOz6m8aQYplQn11sAJfgPYJCEPOaWY

(São Luís/MA, 24 de janeiro de 1953). Poeta brasileiro. Autor do livro Verbo Verde (1978), também dos inéditos: Azulejado (poesia), Tempoema (poesia) e Sob a ponte (contos). Possui publicações em jornais, revistas e antologias, como Hora de Guarnicê, Poetas da Ponte, A Poesia Maranhense no Século XX (org. Assis Brasil) e Atual Poesia do Maranhão (org. Arlete Nogueira Machado). A produção literária de F.T. foi destacada em As Lâmpadas do Sol (ensaio de Carlos Cunha) e Um degrau (revista literária da UFMA). Filho do poeta Bandeira Tribuzi. Prepara uma publicação que reúne seus trabalhos inéditos. Domingo Existe um perfume de tristeza nas tardes de domingo. Um ar mórbido, Um silêncio de finados, O badalar dos sinos da igreja da São Pantaleão, acordando o segredo das coisas. Uma sensação de angústia, Um medo repentino, Como se a qualquer hora, por cima dos telhados, banhados pela chuva-lágrima(s) do tempo Uma rasga mortalha desaparecesse o dia. Ausência Por esconderes tua boca Nos grilhões da noite, Quebrei meu beijo no mural de vidro E derramei paixão nas sarjetas do silêncio. Tu te mudaste ontem e já se vão mil luas… Que os lugares comuns parecem ruínas. Por esconderes tua boca Nos grilhões de vidro,


Quebrei meu beijo no mural da noite. o museu e a ponte Lá dentro guardam-se histórias… Aqui fora a ponte guarda em segredo os vultos que adentraram as glórias e as memórias dos gestos sem medo. De cada ângulo vista como que a jorrar passado a ponte em si despista o conteúdo sonhado. E o que ela inspira: estética e formosura traduz o belo que delira em gesto e arquitetura. Poema limitado para o poeta infinito (p/ Nauro Machado) A metamorfose da Praia-Grande transformada no que já era dilacera o cego vaga-lume luzindo a inexistente primavera Só ele vaga, soturno decifrando ruas, azulejos deglutindo indormidos desejos do delírio noturno Esta cidade que ele navega porto-verso-embriaguez malditamente o nega embora esteja no que o fez Parido poeta que rume auroras nascidas do vão poeta-profeta-perfume da flor solidão Amamos teu silêncio soluçante, digno: teu grito mudo teu verbo raro, brilhante teu poema é tudo o que nos resta de concreto

para a festa do absoluto.


Ana Luiza Ferro

Ana Luiza Almeida Ferro Promotora de Justiça., professora, escritora, poeta, conferencista internacional, doutora e mestra em Ciências Penais, membro efetivo e correspondente de várias associações culturais e academias letras dentre as quais a Academia Maranhense de Letras, a Academia Ludovicense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Autora de vários livros de Direito, História e Poesia. Participou da coletânea literária Púcaro II, Itapecuru Mirim, 200 anos(2018) com o poema Itapecuru, organizada por Jucey Santana e Joao Carlos Pimentel Cantanhede. https://juceysantana.blogspot.com/2019/06/mulher.html?spref=fb&fbclid=IwAR0dx8CJowZs5Yex0VG ff81Ic86wNZ8LNS6EWV9wFqQBuNp6YdKC9yoJ1SI

MULHER um rosto vários corpos um sobrenome vários nomes. Mulher Amélia Mulher de verdade Na fantasia do homem. Mulher Catarina Mais loba que ovelha Mais sabre que bainha. Mulher Chiquinha Faz da vida um abre-alas Faz do tempo uma obra. Mulher Diana é caça e caçadora Plebeia, princesa e cinderela. Mulher Domingas Lata d’agua na cabeça Sem pão na mesa.


Mulher Helena Brilha tanto quanto o sol Não quer saber de Menelau. Mulher Isabel Já assinou sua Lei Áurea Já rompeu os seus grilhões. Mulher Maria Nossa Senhora Senhora e mãe. Mulher Maria Bonita Paraíba, mulher macho Luta mais que Lampião Mulher Maria Machadão é de todos é de ninguém. Amélia Catarina Chiquinha Diana Domingas Helena Isabel Maria Bonita ou não Maria Machadão uma tela vários pinceis uma cor vários tons uma só assinatura. MULHER de vermelho ou rosa choque cada uma MULHER de escrita grossa ou fina uma em todas MULHER de traço certo ou incerto não importa MULHER.


BIOQUE MESITO


COMO ESCREVE BIOQUE MESITO 17 de junho de 2019 by JOSÉ NUNES https://comoeuescrevo.com/bioque-mesito/?fbclid=IwAR2meR3Wh4QpHn66uYkbfdppMWVmczgCRoa9R81YvprAiDcDSrlmGGr8is

Bioque Mesito é escritor.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal? A minha rotina é comum. Abro a cortina da janela do meu apartamento, olho a vista do condomínio. Ligo a televisão, escovo os dentes. Tomo um café. Lá pelas 10h30, quando não saio para trabalhar, tento rememorar alguns poemas que estão ainda incompletos. Aí passo o dia entre filmes, computador e textos. Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Não tem um horário. Conversando certa vez com um poeta-amigo, Luís Augusto Cassas, me revelou que tem toda uma rotina. Pensei nisso, mas não consigo ter essa mesma disciplina. Acho que a poesia quando vem é jogada na nossa cabeça de repente. Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária? Tenho imensos hiatos. Tenho 3 livros publicados de poesia (A inconstante órbita dos extremos, Editora Cone Sul-SP, 2001; A anticópia dos placebos existenciais, EdFunc-MA, 2008 e A desordem das coisas naturais, Penalux-SP, 2018) e é uma dificuldade para mim escrever. Talvez seja pelo lado de ter uma crítica sobre o que vou publicar ou talvez seja chatice mesmo. Mas em alguns períodos tenho momentos de escrita semanal, mas é muito raro isso acontecer. Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita? Como disse anteriormente, não tenho um processo criativo constante, mas momentos que sento para escrever e escrevo. Não tenho dificuldades para escrever, mas tenho muita noção crítica do que publicar. A poesia, de acordo com o que entendo e processo, não preciso de pesquisa, mas de vivência. Preciso viver e conviver para escrever. Só escrevo coisas que vivencio ou que acredito, enfeitar palavras sem nexo não é meu estilo. Por isso, tenho um processo criativo demorado.


Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos? Não tenho esse medo, pois não escrevo com o propósito da emergência. Agora, o escritor, o poeta (como é o meu caso) deve ter essa responsabilidade com sua obra. A obra deve ser respeitada. Um escritor não deve quer ser ou aparecer mais do que sua obra, senão estará em um caminho contrário ao verdadeiro sabor da arte. É interessante que saibamos conviver com as nossas poesias, com a vida. Só assim, essa ansiedade não faz morada e sai o texto, a poesia nossa de cada dia. Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los? Olha, a questão de revisão, ela deve existir. Tenho uns amigos (Antonio Aílton e Hagamenon de Jesus), poetas muito bons e que tenho a maior estima que fazem as leituras quase sempre dos meus livros antes de irem para a editora. Outros também sempre mostro, devemos caminhar com bons escritores ao nosso lado, pois, só assim, poderemos escrever boas obras. Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador? O mundo tecnológico é um avanço. Comecei a escrever meus poemas em papel e depois os transportava para máquinas de datilografar, era um suplício quando eu errava alguma coisa. Mas era um tempo muito interessante. Hoje, é mais rápido. Escrevo quase diretamente em computador. Mas tem poemas que surgem no celular, em guardanapos de fast-foods, enfim… A poesia assim como a natureza nasce em qualquer lugar. De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo? Não sei dizer. Ideias são ideias e pronto. Digo no meu novo livro que: poesia é uma insatisfação […] fogo controlado em minhas mãos. Então, não há um manual, mas sim a vivência ou mesmo a partilha com os amigos de trechos de poemas, isso ajuda muito para se manter criativo. O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos? A gente muda. Comecei a escrever na adolescência. Hoje tenho 47 anos, 4 filhos, 2 casamentos… números. Risos… Então, o Bioque Mesito do primeiro livro ao do último lançado são pessoas criativas diferentes, com vivências diferenciadas. Gosto de todos os meus livros, não tenho nada a reclamar porque foram projetos pensados com muito cuidado. Mas o que posso dizer é que cada vez mais me aprofundo no mundo que eu sempre quis: a poesia. Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe? Eu não tenho muito de pensar no que vou fazer em termos literários. Mas sempre há alguma coisa que a gente deixa para trás. No momento, estou pensando em fazer uma coletânea com a obra completa de uma amiga poeta que faleceu (Rosemary Rego), e que nos deixou muito cedo, pois tinha muito que falar poeticamente. Quanto aos livros, já li muita coisa e pretendo ainda ler muito outros, porém não tenho nada em especial.


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