REVISTA DO LÉO - Número 14, NOVEMBRO DE 2018

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 14 – NOVEMBRO - 2018


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


REVISTA DO LÉO

NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 - EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 - SETEMBRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018


EDITORIAL

A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – que por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER OS ESCOLARES E OS JOGOS/ESPORTES NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: A HISTÓRIA QUE (AINDA) NÃO FOI CONTADA - (através de depoimentos daqueles que a construíram) – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA CLUBE RECREATIVO TOCANTINS = CENÁRIOS E CENAS DE UMA HISTÓRIA DE 55 ANOS - EDMILSON SANCHES PARAIBANENSE É CAMPEÃO EM SALTO DOS JIF’s ETAPA NORTE NORDESTE – LÉO LASAN AUTOMOBILISMO IMPERATRIZENSE COMPLETA 31 ANOS - Edmilson Sanches CAPOEIRAS PRIMITIVAZ – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) CAPOEIRAS EM ALAGOAS – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA MESTRE NELSON (CNARINHO) CONTRAMESTRE DIACO CONTRAMESTRE REGINALDO CONTRAMESTRE LEITÃO MESTRE MANUEL MESTRE NILTINHO CONTRAMESTRE BOCUDA CONTRAMESTRE MÁRCIO MULATO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES ARTIGOS PUBLICADOS NO JORNAL DO CAPOEIRA PESQUISA: A CAPOEIRA NA ECONOMIA

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ARTUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ COMECEMOS POR HABERMAS E THOMAS KUHN - MANUEL SÉRGIO CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JIU-JITSU, JUJUTSU OU JUDÔ – O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS?

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NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE

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COMMONS – O QUE A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA TEM COM ISSO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ BENVINDOS A MIGANVILLE O PENSAMENTO DO JORGE BENTO CINCO TESES SOBRE A EDUCAÇÃO PRAXES ACADÉMICAS: A FORÇA DA TRADIÇÃO DESAFIO AOS PROFESSORES E ESTUDANTES AOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E SECUNDÁRIO AS PROFISSÕES INFERNAIS – JOSÉ PACHECO PEREIRA COMO EM 13 ANOS D. JOÃO VI REINVENTOU O BRASIL - LEONÍDIO PAULO FERREIRA

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MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


OS ESCOLARES E OS JOGOS/ESPORTES NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Mestre em Ciência da Informação - CEFET-MA DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Especialista em Metodologia do Ensino Superior - CEM “Liceu Maranhense” Resumo Procura resgatar-se o início das atividades esportivas entre escolares e o início dos jogos escolares no Maranhão. Palavras Chaves: Maranhão; História; Jogos Escolares As primeiras referências sobre a prática de atividades lúdicas e de movimento que encontramos em Maranhão data do período Colonial. Informam-nos os cronistas de que já se praticavam algumas formas de atividade física desde 1678. No início do século XIX, foram encontradas outras formas de atividade física, como as caminhadas. Além desses passeios, praticava-se a caça, como o fazia Garcia de Abranches - o Censor. Seu filho, Frederico Magno de Abranches - o Fidalgote – era “... Atirador emético e adestrado nos jogos atléticos, alto, magro e ágil, trepava como um símio até os galhos mais finos das árvores para apanhar uma fruta cobiçada pelas jovens ali presentes. Encantava-as também a precisão dos seus tiros ao alvo. E causava-lhes sustos e gritos quando trepava sem peias por um coqueiro acima ou se balançava no tope de uma jussareira para galgar as ramas de uma outra em um salto mortal, confirmando o título que conquistara entre os da terra de campeão da bilharda.”(DUNSHE DE ABRANCHES, 1970, p. 28). Ainda se referindo ao Fidalgote - Frederico Magno de Abranches -, cabe lembrar que praticava também, o tênis. O primeiro registro encontrado onde aparece a palavra “ginástica” data de 1841, conforme anúncio no “JORNAL MARANHENSE” sob o título de: “THEATRO PUBLICO “Prepara-se para Domingo, 21 do corrente huma representação de Gimnástica que será executada por Mr. Valli Hércules Francez, mestre da mesma arte de escola do Coronel Amoroz em Paris; e primeiro modelo da academia Imperial de Bellas Artes do Rio de Janeiro, que terá a honra de apresentar se pela primeira vez diante d’este Ilustrado público, a quem também dirige agradar como já tem feito nos principais Theatros de Europa , e deste Império.” Ainda nesse mesmo ano, aparecem anúncios de aulas de esgrima. O Prof. Antônio Joaquim Gomes Braga, diretor do Colégio de Nossa Senhora da Conceição, localizado rua do Desterro, ao apresentar o Plano de Estudos para o ano de 1842, informa que as aulas de “Dansa e Muzica para os internos serão pagas à parte”. (in JORNAL MARANHENSE, 1º de outubro de 1841). Em 1843, outro colégio particular anuncia em seus planos de estudos as aulas de dança para seus alunos, aberta à comunidade: “AULA DE DANÇA, começará em Novembro próximo a ter exercícios no Colégio de N. S. dos Remédios na rua do Caju em os dias feriados, isto é, duas vezes por semana das 9 as 11 horas da manhã. Os que já frequentam outras aulas do Colégio são admitidos mediante o premio de 3:000 rs. mensais; porém os que não estão neste caso concorrerá com 4:000 reis.(A REVISTA, n. 207, Quarta-feira 8 de novembro de 1843) Desde 1844, quando foi fundado o primeiro colégio destinado exclusivamente às moças, em São Luís, as atividades físicas faziam parte do currículo:


"...não somente sobre as disciplinas escolares com também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas. Às quintas-feiras, as meninas internas participavam de refeições, como se fossem banquetes de cerimônia, para que se habituassem 'a estar bem á mesa e saber como se deveriam servir as pessoas de distinção'. Uma vez por semana, à noite, havia aula de dança sob a rigorosa etiqueta da época, depois de uma hora de arte, na qual ouviam bôa música e aprendiam a declamar." (ABRANCHES, 1941, p. 113-114). Esse colégio - o "Collegio das Abranches", como era conhecido o Collégio N. S. das Graças -, foi fundado por D. Marta (Martinha) Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches - educadora espanhola nascida nas Astúrias provavelmente por volta de 1800 (JANOTTI, 1996) –, e pela sua filha D. Amância Leonor de Castro Abranches, e tinha, ainda, como professora, D. Emília Pinto Magalhães Branco, mãe dos escritores Aluisio, Artur e Américo de Azevedo. Os banhos de mar também faziam parte dos costumes da época, conforme se depreende deste anúncio: “BANHO Público – na praia do Caju, em que um grande banheiro e seguro, a todas as marés a 40 rs por pessoa trata-se com Jozé Ferreira do Valle no mesmo lugar casa no. 1.” (CORREIO D’ANNUNCIOS, Ano I, n. 3, Segunda-feira, 03 de fevereiro de 1851) Em 1869, é anunciada a criação de um novo colégio - o Collégio da Imaculada Conceição -, sendo seus diretores os Padres Theodoro Antonio Pereira de Castro; Raymundo Alves de France; e Raymundo Purificação dos Santos Lemos. Internato para alunos de menor idade, seria aberto em 07 de janeiro de 1870. Do anúncio constava o programa do colégio, condições de admissão dos alunos, o enxoval necessário, e era apresentado o Plano de Estudos tanto do 1º grau como do 2º grau, da instrução primária; o da instrução secundária; e da instrução religiosa. No que se referia às Bellas Artes – desenho, música vocal e instrumental, gymnástica, etc., mediante ajustes particulares com os senhores encarregados dos alunos. O novo colégio situava-se na Quinta da Olinda, no Caminho Grande, fora do centro da cidade, e possuía água corrente, tanque para banhos, árvores frutíferas, jardim, bosque e lugar de recreação. (A ACTUALIDADE n. 28, 28 de dezembro de 1869). MARTINS (1989) aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão, tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. O público tomou conhecimento de um acontecimento esportivo a 10 de janeiro de 1877, através do Diário do Maranhão: "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179) Embora MARTINS (1989) refira-se que o jogo do bilhar tenha sido introduzido em 1902, por Lino Moreira em seu Bar Richie, Dunshee de ABRANCHES (1941), lembra em suas memórias que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde “se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias...". (p. 157). Para Aluísio Azevedo – ainda estudante do Liceu nos seus 12 anos de idade -, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: "Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (citado por MÉRIEN, 1988: 47).


Esse escritor se bateu pela educação física e pelos esportes, como se observa de sua biografia. Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça o perfil da mulher maranhense, comparando-as à lisboeta desocupada e denunciando o ócio em que viviam. Considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher. O mesmo tema é retomado quando da publicação de "O Mulato" – 1879, em forma de folheto publicado em jornal de São Luis, e em forma de livro, em 1880 -, criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Embora tenhamos chegado ao "novecento", ainda estávamos, nos seus 14 primeiros anos, vivendo o longo século XIX (HOBSBAWM, 2000)... Os "sportsmen" maranhenses tentam implantar mais uma modalidade esportiva - desta vez, voltaram-se para o remo, e a utilização dos rios Anil e Bacanga. Nesse ano, 1900, é criado o "Clube de Regatas Maranhense", instalado na rua do Sol, 36. MANOEL MOREIRA NINA, foi seu primeiro presidente. Na Escola de Aprendizes de Marinheiros o remo também era praticado, dispondo de uma guarnição que treinava diariamente. Contava com os vogas Cantuária e Fulgêncio Pinto; como sota-vogas, com Almeida e Abreu; na proa, Belo e Matos; sota-proas, Zinho e Oliveira e o patrão era Fritz. Para MARTINS (1989), o ano de 1917 enchia-se de esperança para os praticantes dos esportes. No Maranhão, dizia-se, dois esportes marcariam presença definitiva para ficar: o remo e o futebol. Quando Nhozinho Santos, em 1907, funda um “club sportivo” nos terrenos da sua Fábrica Santa Isabel – o Fabril Athetic Club -, introduz várias atividades esportivas. Nos festivais esportivos realizados aos domingos, havia a presença de crianças e jovens estudantes que, do exemplo dos mais velhos, vinham a participar dessas matinées. Assim, no dia 26 de dezembro daquele ano, é registrada uma partida de futebol entre alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros, como parte de sua preparação física. O futebol, além de outras modalidades e atividades, principiava a se utilizado como prática de educação física nas escolas A participação de estudantes - da Escola de Aprendizes Marinheiros - e de crianças - filhos dos sócios -, dos diversos clubes constituídos, não só para a prática do "foot-ball association", caso do Fabril e do Maranhense, e mais tarde, do Onze Maranhense, era comum, nas jornadas que se seguiam. Dentre essas práticas, a esgrima estava sempre presente, com a participação dos Aprendizes Marinheiros Em setembro de 1908, era apresentado o programa de uma "matineé sportiva" que seria realizada no Domingo seguinte, na sede do F.A.C., reunindo os "Team Riachuello" - "Estrella Preta" - e o "Team Humaitá" - "Estrella Branca"-, ambos da Escola de Aprendizes Marinheiros, marcada para as 3:45 horas, seguida de outros jogos, como o Concurso gaiato infantil seria disputado por: Ivar, Luiz, Celso, Bráulio, Soeiro Filho(O MARANHÃO, sabbado, 26 de setembro de 1908). Nesse início da década de 10, desaparece o hábito de repousar nos fins de semana, substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. Essas atividades, divulgadas pelos jornais, começaria a apresentar seus primeiros sinais de mudança ainda nas últimas décadas do século XIX, com o surgimento e fortalecimento gradual dos esportes: Verificamos a similaridade com outros países latino-americanos - e outras regiões brasileiras -, quando da inauguração do Fabril Athletic Club. O então presidente da Província - Bendito Leite - ante o espetáculo proporcionado, lamentou não poder manter nas escolas públicas o ensino regular da ginástica ... A "gymnástica" era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende desse anúncio, publicado em 1904: "PARA OS ALUMNOS DE AULA PARTICULAR DE GYMNÁSTICA "A Chapellaria Allemã acaba de despachar: "camizas de meia com distinctivos "Distinctivos de metal com fitas de setim e franjas d'ouro "Distinctivos de material dourado para por em chapéus (A CAMPANHA, 6ª feira, 8 de janeiro de 1904, p. 5). O sexo feminino também tinha suas aulas de ginástica, pois fazia parte do currículo da Escola Normal, conforme resultado dos exames publicados, como era comum à época: "CURSO ANEXO "Foi este o resultado dos exames de hontem: GYMNÁSTICA - " Núbia Carvalho, Maria Varella, Neusa Lebre, Hilda Pereira, Margarida Pereira, Almerinda Parada,


Leonor Rego, Rosilda Ribeiro, Fanny Albuquerque, Agrippina Souza, Cecilia Souza, Roza Martins, Esmeralda Paiva, Neusa Silva, grau 10. "Faltaram 12". (O MARANHÃO, Sexta-feira, 15 de novembro de 1907). Em um outro anúncio, publicado em 1908, o "professor de instrucção physica" avisava que pretendia realizar "os exames de seus alumnos na próxima quinta feira" (em O MARANHÃO, Segunda-feira, 02 de março de 1908, p. 2, n. 257). Graças ao empenho do cônsul inglês, a partir de 1915, houve um que renascimento dos esportes em Maranhão. Os estudantes movimentam-se para reabilitar o futebol. O primeiro encontro desse abnegados "sportistas" aconteceu logo em seguida. Esses estudantes uniram o agradável - reorganizar os "sports" no Maranhão - ao útil, chamando a atenção da sociedade para o movimento que iniciavam. Juntam-se à Maçonaria, oferecendo-se para realizar uma partida de futebol, em benefício dos flagelados da grande seca de 1914/15, pois as lojas maçônicas desta capital nomearam comissões com o fim de arrecadar fundos para socorrer os flagelados, dentre as atividades programadas - seção de cinema, passeios marítimos - haveria um jogo de futebol, a ser realizado no mês seguinte: Percebe-se que haviam dois grupos, ou mais, grupos envolvidos no soerguimento das atividades esportivas, pois "o grande match de foot-ball" entre os partidos "Francez" e "Allemão", em benefício dos flagelados da seca, era anunciado para o dia 12 de setembro. (O JORNAL, 02 de setembro de 1915). No Sábado anterior, é anunciado novamente a realização do jogo, no campo do Fabril, "com entrada franca a todas as pessoas que se apresentarem decentemente trajadas". O jogo teria início às 16 horas, devendo os jogadores se apresentarem com meia hora de antecedência, "realizando-se antes exercícios de ginástica por uma turma dos Aprendizes Marinheiros". É apresentada novamente a escalação dos dois times, e designados o "referee" - McDowal; os "Line Man"- Clissold e Fellowe; e o enfermeiro - Garrido. Estavam envolvidos os alunos do Liceu Maranhense, do colégio Marista Maranhense e do Instituto Maranhense (este, inaugurado um ano antes). Segundo MARTINS (1989), " ... promoveram sessões, usando as próprias salas de aula, estimulados pelos mestres. Graças a essas reuniões, surgiram os quadros do Brasil F. Club, do S. Luís F. Club, do Maranhão Esporte Club, e do Aliança F. Club. Essas entidades, aos poucos, foram agrupando-se, tornando-se clubes. A cada dia, os estudantes melhor se integravam, e para exercitar-se utilizavam o velho 'field' da Fabril, que tinha sido desativado pela FAC. Estávamos com o campo da rua Grande muito mal, mato tomando conta de todas as dependências, inclusive das arquibancadas." (p. 328). O movimento estudantil havia ganhado as ruas, tudo se fazendo para reanimar o futebol. Gentil Silva tinha retornado do Amazonas - onde havia trabalhado pelo esporte amazonense, ajudando ao Manaus Sporting Club - e integra-se ao movimento estudantil, tendo-o acompanhado nessa jornada um caixeiro viajante conhecido como "Zé Italiano", muito estimado pelos estudantes. Dessa união, foi fundado o "GUARANI ESPORTE CLUBE", que recebeu esse nome do proprietário do "Bar Guarani", sr. Gasparinho. É que as reuniões eram realizadas neste bar, situado na esquina da rua Grande com a Godofredo Viana, em frente ao cine Éden. Formaram-se duas onzenas, denominadas "Alemão" e "Francês", formando-se, também, duas torcidas, uma apoiando os "aliados", e a outra, formada pelos "germanófilos". Essa torcida ainda tinha o incentivo dos tripulantes dos navios alemães, abrigados em nosso porto, devido à Primeira Guerra Mundial. O mundo esportivo maranhense estava em ebulição, havendo grandes movimentações, fundando-se várias agremiações. É nesse período que surge nesse cenário o vice-cônsul inglês no Maranhão, Mr. Charles Clissold, um grande amante dos esportes - em especial, do futebol. Junta-se aos dirigentes do FAC, incentivando a prática de vários esportes. Muitos jovens tinham feitos suas inscrições, com o clube revivendo seus grandes dias e sendo oferecidas várias modalidades, como salto em altura simples, com vara, distância; corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos; lançamento de peso, de disco, do martelo; placekick (pontapé na bola, colocando-a na maior distância); cricket; crockt ; ping-[ong (Tênis de mesa); bilhar; luta de tração, etc. (MARTINS, 1989, p. 334).


OS ANOS 30/40 - PRIMEIRA REFERÊNCIA A JOGOS ESCOLARES Na década de 1930, o voleibol era bastante praticado em São Luís, no meio escolar, como lembra o Sr. Glacymar Ribeiro Marques. Chegado à cidade em 1937, passou a jogar voleibol no Colégio de São Luiz, participando das Olimpíadas Intercolegiais, ao lado de Rubem Goulart (professor de educação física da ETFM, já falecido); Alexandre Costa (senador, já falecido); José Carlos Coutinho (coronel do exército); coronel José Paiva, e Raimundinho Vieira da Silva (ex-deputado, suplente de Senador, presidente do grupo de comunicações Vieira da Silva). Em 1932, é criado o GREMIO “8 DE MAIO”, por estudantes do Liceu Maranhense, liderados por Tarcísio Tupinambá Gomes. Como entidade representativa dos estudantes junto à direção do Liceu, foi um fracasso, por falta de interesse da rapaziada, que só queria se divertir. Mas os outros fundadores, dentre eles Paulino Rodrigues De Carvalho Neto e Dílio Carvalho Lima resolveram levar o Grêmio para o esporte, com o intuito de jogar Voleibol, pois as opções de esportes para os jovens da época eram, além do futebol, o voleibol. O pessoal do “8 de Maio” também se envolvia com o Basquetebol. Em 1937, sua equipe era formada por Zé Rosa, Manolo, Zé Heitor Martins, Reinaldo Nova Costa, Raposo, Rubem Goulart, Paulo Meireles, Zé Carvalho, Zé Meireles. Desses, vamos encontrar Rubem Goulart e Zé Rosa como professores de educação física, formados pela Escola Nacional, nos anos de 1941 e 1942. O grupo representou o Maranhão em um Campeonato Brasileiro de Basquete disputado em Belém do Pará em 1938; viajaram de navio. Paulino largou tudo em 1942, deixando o Grêmio “8 de Maio” para a nova geração, liderada por Rubem Goulart e Zé Rosa... OS JOGOS DAS DÉCADAS DE 1950-60: Carlos Vasconcelos x Mary Santos Lá pelos anos de 1955/56, o Maranhão tinha um Basquete muito bom, com Rubem Goulart, Ronald Carvalho, Fabiano Vieria da Silva, Cláudio Alemão, aquele pessoal do “Oito de Maio”, dos “Milionários”, mas só adulto, a nível de colégio mesmo, não tinha nada, só de adulto, porque vinham terminado o Colégio e continuaram em faculdade, em clubes, em quartéis; muitos serviram o Exército - eram as experiências vindas de fora, não era como hoje que os esportes do Maranhão vem tudo do colégio -, naquela época não, está o inverso hoje. Em meados da década de 1950, o Dr. Carlos Vasconcelos, então delegado do MEC no Maranhão, especializado em Educação Física, começa a promover os “Jogos Intercolegiais” - 1956. Nas lembranças do Prof. Emílio, durante esses jogos, é que o Batista conquistou seu primeiro título - em voleibol -; esses Jogos eram disputado no Cassino Maranhense. O Prof. Emílio lembra de um resultado em Basquete - cujo professor era Rubens Goulart - 1x 0 -, perdido para o Colégio de São Luís. No final dos anos 60, a o setor de educação física está reorganizado organizado; a profa. Mary Santos dirigia o Departamento de Educação Física no Estado, e havia um outro no Município, dirigido pela Profa. Dinorá. Já se cumpria a obrigatoriedade da lei, com as três horas semanais, mínimo de 45 minutos, dentro da legislação vigente. No auge do esporte maranhense, no famoso período de inicio, de inicio dos JEM's ... nessa época, além da Escola Técnica [Federal do Maranhão, hoje, CEFET-MA] - sempre foi um concorrente forte -, nós tínhamos Marista, Batista - o Dom Bosco era apenas forte no voleibol; o próprio Ateneu, e Meng ... Diga-se de passagem, que os primeiros JEM’s terminou empatado entre o Batista e o Marista - foi a época também que no Campeonato Paulista houve empate entre a Ponte Preta e outro time, que não me lembro agora - então adotamos o mesmo critério, de considerar dois campeões; e daí para essa época, nós sempre estivemos fazendo um trabalho todo voltado para os JEM’s; Foi a época da implantação da Educação Física voltada parta o esporte; toda a nossa Educação Física era voltada para esportes; havia ai, como ainda hoje há uns poucos colégios que trabalham, têm um bom trabalho de base.


1971 – INÍCIO DOS JEM”s ? No ano de 1971, o Maranhão já tinha um Basquetebol de nível, na classe juvenil masculina; naquele ano, foi disputado o Campeonato Brasileiro de Juvenil, em Brasília; os jogadores, eram aqueles meninos que jogavam tudo: volei, futebol, basquetebol : Gafanhoto, Paulão, Carlos, Phil, os Ninas. Nessa mesma época, estavam acontecendo os III Jogos Escolares Brasileiros - JEB's - em Belo Horizonte. Dimas, que fora como técnico daquela seleção de Basquete, após a competição, dirige-se a Belo Horizonte para ver o que eram aqueles “JEB’s”, que tanto Mary Santos falava e cobrava a participação do Maranhão. Lá, encontra o maranhense Ari Façanha de Sá, coordenador geral dos Jogos, que lhe dá todo o apoio. Dimas volta entusiasmado com o que vira. O Maranhão precisava participar dos JEB’s ! Cláudio Vaz dos Santos, por essa época, já assumira o cargo de chefe do DEFER, no lugar de Mary Santos. É a ele que Dimas apresenta seu relatório, sobre os JEB's. Cláudio Alemão já tinha idéia de fazer uma espécie de jogos estudantis, então com o relatório de Dimas, fez os FEJ. Naquele mesmo ano aconteceu o I FEJ - Festival Esportivo da Juventude. “Em 71, eu estava só na Coordenação de Esporte na Prefeitura, e nós fizemos o primeiro FEJ; aí teve o segundo FEJ, foi quando o Jaime criou o Departamento de Educação Física e Desportos; Pedro Neiva me nomeou no lugar da Mary Santos; já foi no governo de Pedro Neiva, com Haroldo Tavares; eu entrei primeiro na Prefeitura; então para que eu pudesse assumir o Estado, criaram o Departamento de Educação Física e Deporto do Estado; saiu de Serviço para Departamento; acumulei Coordenador de Esporte da Prefeitura e Diretor do Departamento de Educação Física e Desportos do Estado, ligado à Secretaria de Educação, do professor Luis Rego - era o Secretario na época."Já em 72, fui nomeado Diretor do Departamento, lá no Costa Rodrigues. Transferi a Coordenação, acumulei no Costa Rodrigues, eu levei tudo para lá, ficou a Coordenação... Eu era Coordenador e Diretor do Departamento de Educação Física do Estado, e Presidente do C.R.D. “Eu fiz a minha equipe, aí foi que o Dimas entra com a parte principal, quando nós estávamos para fazer o segundo FEJ em 72, seria em setembro, Dimas foi a Belo Horizonte... ai Dimas trouxe toda a informação, e o Maranhão podia participar dos JEB's em 72; ele trouxe em 71, ele foi no JEB's em julho e trouxe... Dimas me trouxe, eu organizei a primeira equipe com o Dimas, era do Handebol, primeira equipe que nós viajamos para o JEB's; Ginástica Olímpica e Handebol, o Dimas; Coronel Alves, basquete; voleibol, Graça Hiluy; Coronel Alves - antes era Major -, foi isso para dar coletivo; que eu levei foram 52 pessoas; não levamos atletismo, natação, não levamos nada. BIBLIOGRAFIA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX. Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, XX, São Luís, Prefeitura Municipal de São Luís, 1995a. (Ensaio classificado em 2o. lugar no”- Prêmio “Antônio Lopes” de pesquisa histórica). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) em Maranhão. In VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, Ponta Grossa, 17 a 21 de novembro de 2002. COLETÂNEAS ... : UEPG, 2002. Editado em CD-RooM.


HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: A HISTÓRIA QUE (AINDA) NÃO FOI CONTADA (através de depoimentos daqueles que a construíram) Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão; Mestre em Ciência da Informação LAÉRCIO ELIAS PEREIRA Professor de Educação Física da Universidade Católica de Brasília; Doutor em Educação Física ----------------------de: Laércio para: Leopoldo Brasília, 26 de fevereiro de 2001 Opa, Manoleo, Tem uma historia da escola de EF da USP no ultimo numero da revista paulista que é quase um acinte. O diretor dizendo que a escola foi para a USP porque ele era amigo de um político. Foi uma pauleira danada. O Duílio, presidente do CA da época, tem a historia. Escapei de ser preso em Ibiuna porque fui substituído em cima da hora... acho que tudo isso tem que contar. Precisa sistematizar. Com o perdão da preguiça, acho que a turma de historia é muito verborrágica. Precisava sistematizar mais. Juntar depoimentos. Quem sabe a Maria Izabel voltando a campo não da para fazer isso? Vamos continuar na linha. Abração. Laércio

Em Mon, 26 Feb 2001 10:04:12 -0300 "Leopoldo Gil Dulcio Vaz" Escreveu: ManoPereira Todos sabemos da historia recente da EF no BR - Bananão, se preferir - mas nem todos sabem - e a Fernanda não conseguiu captar isso -, da luta que foi o CBCE, especialmente daquele congresso de Pernambuco ... das lutas, no período do Colégio de Aplicação da USP, das fugas... o pessoal militar conseguiu contar a versão deles - e o Lino não fez um bom trabalho, também contou "a sua versão", precisava abrir um pouco mais, além da "docontra" - talvez alguém mais ligado à política, do período da repressão, do MOBRAL, do Mexa-se, do EPT ... falta alguém para realmente historiar esse período ...Victor ? Fernanda ? Lino ? Silvana ? Amarílio? não sei ... Leopoldo from Maranhão


DEPOIMENTO NO. 1

PROF. DR. LAÉRCIO ELIAS PEREIRA http://www.cev.org.br/grcev/laercio : laercio@nib.unicamp.br laercio@ucb.br

Doutor em Educação Física; Professor da Universidade Católica de Brasília, onde dirige o Laboratório de Informação e Multimídia em EF-LIMEFE; Coordenador do Projeto Centro Esportivo Virtual Unicamp/UCB

RETRATO EM 3 X 4 (em tamanho natural, digo ... pelo próprio) (disponível em http://www.cev.org.br/grcev/laercio) -

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Nascido há mais de meio século em São Caetano do Sul - SP, onde se formou e trabalhou como metalúrgico como quase todo mundo lá; veio para a vida a passeio - e não em viagem de negócios. Cursou Educação Física na USP [Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo - FEF/USP], depois de um vestibular em Sociologia. Passou por várias universidades (São Caetano, Maranhão, Paraíba, Mossoró, Minas Gerais) e foi assessor da SEED-MEC. Atualmente é professor da Universidade Católica de Brasília, onde dirige o Laboratório de Informação e Multimídia em EF-LIMEFE, é pesquisador associado da Escola do Futuro - USP, coordena o Centro Esportivo Virtual no NIB-Unicamp e é Coordenador de Projetos Especiais da ESEF de Muzambinho ESEF. Gostou de ter escrito a "Parábola da Aula Final", ter sido secretário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SEC/MA e presidente do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE. Fez doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV) , é membro do Conselho Federal de Educação Física e goleiro de futebol de salão do Antigamente Futebol Clube há 30 anos.

NO TEMPO DA BRILHANTINA Como diria o Jack, vamos por partes ... Você foi metalúrgico, no ABC - (foi colega do Lula ?) - e fez Escola Técnica. Trabalhou como ferramenteiro, onde ? Teve alguma participação, nessa época, no movimento estudantil secundarista? Como veio a se envolver com a educação física/esportes ? é dessa época da ETFSP? ESTUDANTE DA USP NA FEF/USP (período em que esteve lá? ), pertencia ao movimento estudantil?, fez parte do DA, DCE ? Como foi aquele episódio da não-prisão em Ibiuna ? Quem eram os colegas de turma ? Lino já era desta época ? Quais eram as lideranças da Educação Física, em São Paulo, nessa época ? como era a APEF? Qual a participação (ou omissão) nas questões com o regime instalado ? As lideranças na FEF/USP ? como era o relacionamento professor/aluno, e as dificuldades com o regime imposto ?


ESPORTE E EDUCAÇÃO Qual a importância dessa revista, depois editora, para a educação física e os esportes, daquela época ? e a ODEFE?

AUTO-EXÍLIO O que aconteceu na Escola de Aplicação ? Como se deu o "auto-exílio" na França (FHC foi para o Chile...) ? Foi só para assistir as Olimpíadas - e vender Coca-Cola - ou foi em decorrência política de algum patrulhamento ? Quanto tempo permaneceu nas "Oropas", o que fez ? quando retornou e em que condições ?

NO MARANHÃO Como entrou em contato com o Maranhão ? em que circunstâncias veio para cá ? quem foi o responsável ? em que ano ? veio em definitivo, pela primeira vez, ou decidiu ficar após conhecer ? que cargo exercia, quando veio para cá, e qual passou a exercer, quando se fixou ? Tendo voltado da Olimpíada com vários cursos de handebol e sendo treinador de HB da General Motors EC e da Seleção Paulista Feminina e prof. de Handebol na Escola Superior de Educação Física de São Caetano, fui convidado a dar cursos pela Brasil pela ODEFE, onde eu já tinha contato através da Revista Esporte e Educação (escrevia o Rumorismo e dava palpites gerais). Houve um circuito de cursos que incluía Maceió, São Luís e Manaus. Era 1973, e eu treinava a seleção paulista feminina que ia para os JEB's [Jogos Escolares Brasileiros]. Acertei com o namorado de uma das minhas atletas (que ia apitar os JEB's) para cuidar de alguns treinos enquanto eu ia dar os cursos. Só manutenção, para o pessoal não ficar sem treinar. Dei o curso em Maceió e, em São Luis, enquanto dava o curso, ajudava a treinar o time de handebol que ia para os JEB's. Deu problema no curso de Manaus e o Cláudio Vaz [Cláudio Vaz dos Santos, à época, coordenador do antigo DEFER-SEC, hoje, GEDEL] pediu que eu ficasse treinando o time o tempo que estaria em Manaus. Depois pediu para que eu acompanhasse a equipe nos JEB's, em Brasília. Eu disse que não podia porque tinha compromisso com a seleção paulista. Quando voltei para São Paulo, o meu substituto tinha conseguido me substituir totalmente. Liguei para o Cláudio Vaz e acertei a ida para Brasília. Conseguimos classificar o time para as quartas de finais mas, no dia que ia começar essa fase o Basquete levou todos para jogar o campeonato em Fortaleza, e ficamos em oitavo. Daí, conversei bastante com o Dimas [Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo] e Cláudio Vaz [dos Santos] sobre a possibilidade de criar um curso de Educação Física no Maranhão. Em setembro do mesmo ano, fui convidado, junto com o Biguá [Edivaldo Pereira, à época, atleta de Handebol], para apitar os jogos de Handebol dos JEM's. A final foi Maristas e Batista. Duas equipes treinadas pelo Prof. Dimas. Voltei em janeiro de 1974, para morar no Maranhão. Resolvemos, Cláudio e eu, chamar o Prof Domingos Salgado para montar o processo de criação do curso de Educação Física na Federação das Escolas Superiores [do Maranhão - FESM -, hoje, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA], o que aconteceu com o empenho do secretário Magno Bacelar e o Assessor João Carlos, ainda em 1974. Fiquei sem emprego e o Heleno Fonseca de Lima batalhou uma bolsa pelo antigo CND [Conselho Nacional de Desportos]. Fui assessor da Secretaria de Educação e, como estava demorando para andar o curso no Estado, tivemos a iniciativa da Profa Teresinha Rego, do ITA, para montar o curso particular, com os professores que já tínhamos arrastado para o Maranhão. Aqui cabe um estudo mais apurado sobre quem trouxe quem, mas é bom juntar a listagem dos “paulistas”. Biguá, Viché [Vicente Calderoni Neto], Horácio [?], Domingos Fraga Salgado,


Demosthenes [Montovani], Nadia Costa, Jorelza Mantovani, Marcos Gonçalves, Sidney Zimbres, Lino Castellani, José Carlos Conti, Zartu Giglio [Cavalcante], (tem um dessa turma que eu esqueci o nome), o Paschoal Bernardo... Não lembro quem trabalhou no curso do ITA. O Sidney deve ter todos os nomes. Depois teve a entrada e saída da Escola Técnica [Federal do Maranhão - ETFM -, hoje, Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão - CEFET-MA]... Simei Bilio, Rinaldi Maia e Dimas eram da Universidade, depois entrou o Domingos Salgado, que fez o velho trabalho de montagem do curso (tem que perguntar isso para o Dimas). Acho que teve a pressão na inação da Universidade enquanto o FESM e Pituchinha [ITA] já tinham saído na frente em criar o curso de Educação Física. Quando o curso foi criado oficialmente, eu já estava no Mestrado. Fui porque meu filho Fábio ficou doente e esgotamos todos os recursos em São Luis. Boaventura me chamou, passei na seleção e o Lino [Castellani Filho] fez a vaquinha entre os amigos para as passagens. Em São Paulo fui socorrido pelo Victor Matsudo, que providenciou os hospitais e médicos, virando padrinho do Fábio. Com a doença do Fábio no Maranhão tive a solidariedade de muitos amigos. Gafanhoto [José de Ribamar Silva Miranda] foi o sangue que deu certo nas transfusões e foi fundamental para a sobrevivência do Fábio. Qual a sua participação no desenvolvimento da educação física e dos esportes no Maranhão ? quais foram os agentes que trabalharam com você, nesse período ? Fui uma espécie de catalisador, convidado pelo Cláudio Vaz . A principio para o Handebol. Batalhei a vinda de muitos professores com o apoio do Cláudio Vaz (a gente chamava para apitar os JEM's [Jogos Escolares Maranhenses] e, quando o professor chegava, já tinha alguma coisa). Entrei e sai da Escola Técnica [Federal do Maranhão] mais de uma vez, para abrir vagas nesse processo. Na UEMA também. Procurei colocar o Maranhão no Mapa, especialmente com os congressos. Acho que o mais importante, que precisa ser resgatado pelo momento histórico, foi o de Ciências do Esporte [Congresso Norte e Nordeste]. Depois teve o de Esporte para Todos [I Congresso de Esporte para Todos]. Ajudei a fundar a APEFELMA [Associação dos Profissionais de Educação Física, Esportes e Lazer do Maranhão] e forcei, em Brasília, o convênio com a Alemanha, com a ajuda do Manfred Loecken [adido cultural da Embaixada da Alemanha], que não vingou. O que garantiu o apoio - e as refregas que levaram a algum progresso - foi a grande dedicação e o sucesso das equipes de Handebol, com participação decisiva do Viché e Biguá, alem dos “professores” que ajudávamos a treinar: Lister [Carvalho Branco Leão], Álvaro [Perdigão], Mangueirão [?]...

SEDEL Você participou da criação da Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão - SEDEL, hoje, GEDEL, Gerência - em 1979. Como foi ? O que aconteceu naquele primeiro Congresso Brasileiro de EPT, no Maranhão ? como foi a briga com o pessoal da SEED, proibindo a vinda da Maria Izabel, e do "pessoal do contra" - que fazia oposição ao programa do MEC ? Até quando ficou no Maranhão? Como foi a sua partida para "as Gerais?" Como foi a aposentadoria do serviço público ? CBCE Vamos falar sobre o CBCE - Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte -. Como foi a sua criação ? qual foi a tua participação ? quem eram as lideranças da Educação Física e dos Esportes, na época ? pode fazer comentário sobre cada um deles ?


O que aconteceu naquele congresso de Pernambuco, quando o pessoal da Educação Física "tomou" a Presidência dos da área médica ? qual era a tua intenção, ao se lançar candidato a Presidente? Qual a reação do Victor Matsudo, do Osmar de Oliveira, as participações da Celi Zulke Taffarel, do Lino Castellani Filho, do Paulo Rubem Santiago. O Manuel Sérgio Vieira e Cunha, teve alguma participação ? Algum comentário sobre o livro da Fernanda Paiva ? MANUEL SÉRGIO Como foi a vinda do Manuel Sérgio para o Brasil ? em que circunstâncias e qual a contribuição para os embates políticos-filosóficos da época ? SEED-MEC Faça uma análise da "coronelização" da SEED-MEC. Por que, depois de tantas críticas, você passa a assessorar o Rutênio Aguiar e o Péricles Cavalcanti ? "se não pode destruí-los, una-se a eles? " era mais fácil o combate "por dentro/de dentro"? Após combater tanto a militarização da educação física e o uso dos esportes pela política da ditadura, como foi a "aliança" com o Manoel José Gomes Tubino - ex-militar -, com o Lamartine Pereira da Costa - ex-militar -? Não faziam parte do que você denominou de "coronelização" da educação física ? Quais as principais realizações da SEED, da época, e qual foi a tua participação, nesse processo de democratização ? Hoje, nota alguma diferença, daquela época ?

ENTRE O MESTRADO E O(S) DOUTORADO(S) Conte essa história ... Como estava a educação física, naquela época do Mestrado na USP ... o relacionamento com o Lino, a entrada na Unicamp, de vocês dois ... a volta ao Maranhão, o retorno à São Paulo, para o doutorado na ECA/USP, por que não deu certo ... a retomada dos estudos e, finalmente, o doutoramento, na FEF/Unicamp ... SIBRADID Como foi essa batalha ? desde o Congresso de Medellin, na Colômbia e a implantação do SIBRADID, na UFMG ... CEV Vamos começar do princípio ... a documentação esportiva - o congresso da Colômbia, o Índice da RBEFD, o Índice da Stadium, o projeto do doutorado, com o Frederic Litho como orientador, o I Simpósio de Informática em Educação Física, já na Unicamp, o NIB e o relacionamento com o Sabatinni, o LABJOR e o Tojal e, finalmente, a criação do CEV. Foram quantos anos ? começou em 1980, no Maranhão .. CONFEF A última batalha ...(pelo menos, a do momento...): o Conselho Nacional de Educação Física ... essa briga começou, também, em 1980, no Maranhão - com a fundação da Associação dos Profissionais de Educação Física, Esportes e Lazer do Maranhão - APEFEL-MA -; lembro que você, Lino, eu ... naquela época, partimos para a criação de uma associação de profissionais, ao contrário das associações de professores que já existiam ... a realidade do Maranhão era outra e não mudou quase nada, nesses já mais de 20 anos -. E essa luta, você já tinha anteriormente ... já discuti muitas vezes, pela Internet, esse movimento, inclusive com a participação do Lino e a mudança de pensamento dele, não só em relação à profissão de educação física ... e agora, as


discussões estão a toda, no CEV ... é necessário resgatar esse processo histórico, não ficar só nas palavras do Jorge Sthailnber (corrija), e do Lino ...

O "ATLETA" Ainda dá para ser goleiro de futebol de salão - do Antigamente Futebol Clube ? pensei que já tinha mudado para futebol de botão ... mas na mesma posição ... e o "Randevus" ? não existe mais ? A CRISE CONTINUA ? Quem, na tua opinião, tem contribuído pela/para/com a eterna "crise" da educação física brasileira - quem são os atores ? (esta, para homenagear o Lino e o pessoal das esquerdas ...) -------------------------A entrevista abaixo foi extraída da página pessoal de João Batista Freire e está disponível em:

http://www.decorpointeiro.hpg.com.br Entrevistei esta semana (03.03.2001) uma das pessoas mais importantes da história mais recente da Educação Física. Meu amigo e colega de profissão há trinta anos, Laércio Elias Pereira, foi muito gentil quando lhe pedi a entrevista. Aproveitem: P: Quantos anos? R: 52 P: E de Educação Física? R: Desde os meus bons professores de Educação Física do Ginásio e do SENAI, em São Caetano, Santo André e São Paulo (SENAI do Brás). Valderbi Romani foi o primeirão, que deu o exemplo. Miller e Renato no SENAI. P: Fale do tempo em que você foi operário de fábrica. R: Comecei com 13 anos, na General Motors. Parei pro Vestibular. Depois voltei trabalhando à noite na Willys (que virou Ford). Estudava de dia. Sempre como ferramenteiro. P: Por que essa coisa de Educação Física na sua vida? R: Até o vestibular nunca tinha pensado. Tinha passado a vida toda jogando bola e participando de tudo da Educação Física onde estudei. Um dia encontrei uma amiga de uma colega do cursinho pra Sociologia, que estudava Educação Física: Janice. Fiquei surpreso de existir o curso de EF e ser um curso universitário. A inscrição acabava no dia seguinte (na escola que depois, no rolo do movimento estudantil de 68, a gente conseguiu enroscar na USP). Nem fui conferir o resultado do vestibular de sociologia. P: E o Maranhão, como surgiu a idéia de ir para lá? R: Minha geração saiu de mochila por aí. Levantei peso na Olimpíada de Munique (trabalhando como carregador no caminhão da Coca-Cola). Nessa viagem fiz muitos cursos e contatos com o pessoal do Handebol. Como voltei desempregado fui vender livros de EF para a Editora Esporte e Educação, onde eu fazia o Rumorismo (Revista Esporte e Educação). A Editora começou com cursos e eu saí dando cursos de Handebol e enrosquei no Maranhão. Fui pra ficar dois anos e estou até hoje meio intermitente por lá. P: Sobrou coisa boa para o Maranhão da sua passagem por lá? E também do Lino e os outros?


R: No Handebol, com certeza. Na Educação Física, parece que não conseguimos muito. P: Durante a ditadura o inimigo comum da chamada "vanguarda" da EF era a ditadura. Quando ela acabou essa "vanguarda" se dividiu e continuou tendo inimigos entre si. E aí veio aquela briga toda. Você acha que foi só isso ou tem outras explicações? R: Durante a ditadura, como você sabe, tinha o maniqueísmo. A favor do governo ou comunista. A gente aceitava ficar do lado dos comunistas. Até quem não usava barba topava. Com o fim da ditadura apareceram as diferenças, que a gente sempre soube que havia, mas não prestávamos muita atenção porque havia a união contra o inimigo comum. Nesse período avançávamos para a pós-graduação e a vida acadêmica. Um dos requisitos do sucesso na vida é a visibilidade, uma característica muito perigosa, porque fica muito perto da vaidade. Penso que a nossa turma não soube lidar direito com isso. P: E agora, as coisas andam mais calmas? Qual vai ser a nova briga? R: A briga é a sobrevivência da EF. Por egoísmo luto para que os meus netos não tenham que dizer: "Educação Física...parece que era um negócio em que o meu avô trabalhava..." Acho que o Conselho deu uma sobrevida pra EF. P: O CBCE tem cumprido bem seu papel? R: O CBCE virou um aparelho da Educação Física. Ele foi criado - e você está entre os fundadores - como multidisciplinar, nos moldes da SBPC. O pessoal antigo se afastou aborrecido e as turmas das diretorias têm até mudado os nomes. Não escrevem mais Ciências do Esporte. Escrevem EF/Ciências do Esporte. Se vingar essa tradição - e eu acho que não - no futuro, quando a direção for da fisioterapia o aparelho vai chamar fisioterapia/Ciências do Esporte. Tenho uma esperança com a onda da volta dos clássicos, como o Dermeval Saviani vem pregando ao falar do Anísio Teixeira. P: E o Confef, não pode se perder num corporativismo exagerado? R: O CONFEF não surgiu do nada. Temos uma profissão que oficialmente exige o diploma de curso superior há 60 anos. Estamos atrasados. A maioria dos conselhos foi criada a partir de associações atuantes. As APEFs estavam no chão. Daí toda essa confusão e conflito de interesses do começo. Fora isso, alguns acharam que outras bandeiras como o ensino público gratuito estavam muito pesadas e resolveram assumir como "docontra" o Conselho. É uma atitude esperta que dá visibilidade e conta com a adesão dos que querem economizar a anuidade. Mas, acho que o Conselho foi a conquista. Já temos 25 mil inscritos. Temos que trabalhar muito para fazer as coisas que ficaram no caminho desses 60 anos. Certamente qualidade e ética estão nesse caminho.

P: Complete com qualquer coisa que você queira acrescentar. R: Pra mim, a melhor coisa que a Educação Física me deu foi a qualidade dos muitos amigos. São meu maior patrimônio. Você é um deles. Bebemoremos!


Bibliografia do "Véio" - ALGUMAS SUGESTÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ATRAVÉS DE PROCESSOS LÚDICOS. São Paulo: Edições Pesquisa, 1970. - ENDEREÇAMENTO E TIPOS DE ARREMATES UTILIZADOS DURANTE OS JOGOS DE HANDEBOL DOS III JEBS. São Caetano do Sul: Escola Superior de Educação Física, 1973 - Handebol na Olimpíada de Munique. In "REVISTA ESPORTE E EDUCAÇÃO", vol. 27, Mar/73 - HANDEBOL. São Paulo: Editora Esporte e Educação, 1973. - PLANEJAMENTO DE ENSINO EM HANDEBOL. São Paulo: Ed. Esporte e Educação, 1975. Coleção Educação Física Escolar. - 500 EXERCÍCIOS EM HANDEBOL. São Luís: Secretaria de Educação do Maranhão, 1975; - 500 EXERCÍCIOS EM HANDEBOL . Campinas: FEF/UNICAMP, 1986. - ÍNDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Brasília: SEED-MEC, 1983 - ÍNDICE DA REVISTA STADIUM. São Luís: SEDEL, 1985 (Co-Autor) (em microfichas) - CARTA DE BELO HORIZONTE. Belo Horizonte: Federação das APEFs, 1984. (Co-autor, como Membro da Comissão de Redação do Manifesto Brasileiro de Educação Física, oficializado como "Carta de Belo Horizonte") Traduções: - Listello, Auguste. Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer. São Paulo: EPU/EDUSP, 1979. - Wick, Werner. Marcação Individual em Handebol. Esporte e Educação, 29, p. 20-22, 1973. - Prefácio do Livro: Informática y Deporte, de Tulio Guterman, Barcelona: INDE -Publicaciones, 1998.


CLUBE RECREATIVO TOCANTINS = CENÁRIOS E CENAS DE UMA HISTÓRIA DE 55 ANOS EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br

Em 2013, o professor, escritor e acadêmico Arnaldo Monteiro (falecido em 25/01/2018) convidou-me para escrever sobre o Clube Recreativo Tocantins, abordando o contexto geral da época e algumas lembranças que tenho do Clube -- ao qual não pertenço, mas tenho o registro da primeira diretoria. Naquela época do ano de 2013 eu estava há muito tempo em viagem, mas o Clube marcava meio século de existência. Assim, escrevi o artigo em outra cidade. Então, minha tarefa era: primeira diretoria (nomes) e contexto histórico mundial, nacional e local. Outras pessoas escreveram sobre outros aspectos. * Neste 1º de outubro de 2018 o Clube Recreativo Tocantins completa 55 anos de fundação e ação. É um clube de Imperatriz mas sua sede campestre (seu grande trunfo) fica em município vizinho, Governador Edison Lobão. Fui diretor do Juçara Clube, à época o mais sofisticado clube social de Imperatriz e região, transformado em depósito de mercadorias de rede de supermercado. Também fui diretor do Balneário Estância do Recreio. Tempos depois o tempo se encarregou de pôr fim ou dar outro rumo aos grandes clubes sociais imperatrizenses. Mas não o Clube Tocantins, que hoje é um cinquentão rejuvenescido. A convite do professor Arnaldo Monteiro, destacado membro do Clube, escrevi o texto a seguir. *** 1963 foi um ano bom. 1963 foi um ano ruim. Foi especial e foi comum. Em 1963 matam Kennedy (John Fitzgerald) e King (Martin Luther) põe seu sonho em marcha. Em 1963 morreu Lamartine Babo e nasceu Nando Reis. Morreu Édith Piaf e nasceu... Xuxa Meneghel. Na sétima arte, dois filmes e dois trios marcam o cinema mundial: “Cleópatra”, com Elizabeth Taylor, Rock Hudson e Rex Harrison; e “O Leopardo”, com Burt Lancaster, Claudia Cardinale e Alain Delon. Em 1963 Silvio Santos estréia na TV, depois de fazer sucesso nas ruas como camelô. Nesse ano dois papas são notícia: João 23, que morre; e Paulo 6º, que o sucede, vivo. No mundo da fantasia, a personagem brasileiríssima Mônica ganha vida pelas mãos e tinta do brasileiríssimo Maurício de Sousa. Em Imperatriz, 1963 é o ano em que nosso saudoso Raimundo Gomes Batista, o Raimundo da Jerica, cria o conjunto musical Bossa Show. Nesse ano também chegaram a Imperatriz o eletrotécnico Ramos (Francisco Marques Ramos) e o médico Antônio Régis de Albuquerque. O primeiro montou a primeira rádio do município -- clandestina, claro --, e o outro, com sua mulher e também médica Eimar Andrade de Melo, funda o Hospital São Vicente Férrer. Nas “coisas” da fé e do saber, 1963 é o ano do primeiro grupo de estudos espíritas de Imperatriz, presidido por Leôncio Pires Dourado, e é o ano em que, em congresso em Carolina (MA), Imperatriz, com quase dez mil estudantes, torna-se o município com a maior população escolar entre dez municípios da região. Enfim, 1963 foi um ano em que seres humanos fizeram dele, por seus atos de vontade e omissão, um ano como outro -- nascimentos e mortes; obras e destruições; momentos de êxtase e de horror; gestos de admiração e de recriminação; realidades e interpretações delas...


Distante, bem distante do “grand monde” da política e da economia, da religião e das artes e cultura, em Imperatriz, Maranhão, 40 pessoas cuidavam de formalizar uma parte de seus próprios sonhos de mais interação entre gentes que eram tão poucas em um município que era tão tamanho. Com efeito, em 1963 Imperatriz tinha menos de nove mil habitantes na cidade. Trinta mil viviam na zona rural -- era um município que já experimentara a redução de seu anteriormente vasto território de mais de 15 mil quilômetros quadrados, com a autonomização de João Lisboa, e que sentia as primeiras intercorrências do processo migratório que lhe começava ocupar o corpo, a partir da construção e inauguração da rodovia Belém—Brasília. A iniciativa, pois, de fundar uma entidade sociorrecreativa servia tanto como um reforço nas bases da sociedade tradicional quanto um gesto de interação e integração com os novos habitantes e unidades familiares que se dispunham a conviver e a lutar lutas a partir dali em uma região ainda de bravos. Assim, imbuídos de intenções legítimas e ações legais, aquelas quarenta pessoas adentraram as instalações do Cartório do 4º Ofício, cedidas pelo jornalista, comerciante e político Antenor Fontenele Bastos, que ficou conhecido tanto por ter sido prefeito de Imperatriz (1956/1959) quanto, sobretudo, por ter sido o redator de dois dos três primeiros jornais imperatrizenses, nas décadas de 1940 e 1950. Embora o idealismo, Antenor deve de ter trocado a conversa fiada de fazer jornal sério para a matéria paga dos serviços de tabelião de notas. A rua 15 de Novembro (hoje a avenida Frei Manoel Procópio) viu entrarem aquelas dezenas de pessoas no dia 1º de outubro de 1963 e viu saírem sócios entusiasmados pela criação de um espaço de acolhimento, lazer, diversão, “relax”: o Clube Recreativo Tocantins (CRT). A ideia foi tão bem aceita que, junto com os quarenta presentes, mais vinte assinaturas subscreveram as quotas-partes iniciais para alevantamento da obra. Da primeira diretoria -- essencial, como toda primeira diretoria, para não deixar os ânimos desanimarem – fizeram parte José Guimarães Filho, que foi juiz de direito em Imperatriz exatamente naquela década de 1960. O vice-presidente era um dos baluartes das famílias tradicionais e do empreendedorismo inovador, Guilherme Cortez, que pontificou nas décadas de 1930 a 1960 como comerciante, pecuarista, suplente de juiz de Direito e pioneiro da aviação civil no município e região, além de membro pioneiro de entidades como a Associação Comercial e Industrial de Imperatriz, Rotary Club e Sindicato Rural. Rosseny da Costa Marinho, o secretário, era homem de notas -- foi tabelião do Cartório do 1º Ofício, homem de letra firme, legível, caligráfica, inteligência aguda. Estava no lugar certo. (Junto com o Miguel Bandeira e o Antônio Carlos da Mota Bandeira [ --> Carlos Bandeira Bandeira], Rosseny colaborou comigo nas pesquisas e registros para as entidades associativas que fui pensando e criando no município a partir dos anos 1970). O tesoureiro era Milton de Jesus Araújo, que, como gestor do patrimônio, teve de cuidar, junto com seus colegas e associados, da imensa riqueza que lhe fora posta nas mãos, assim, gratuitamente: um terreno de quase catorze hectares de terras com curso d’água atravessando-a, transformado na sede campestre mais aprazível de um clube social. Foi o prefeito João Menezes [--> Valdizar Lima]o autor da doação, antes de ser cassado e preso (injustamente, dizem todos) pelo regime de força da época -- 1964, 1964!... *** O Clube Recreativo Tocantins, onde tantos coirmãos desistiram, ele resistiu. Os que vão nascer saudarão seu centenário. Que venha 2063.


PARAIBANENSE É CAMPEÃO EM SALTO DOS JIF’s ETAPA NORTE NORDESTE 10/09/2018 Leonardo Lasan

Vitor no primeiro lugar no pódio. ETAPA FAZ PARTE DOS JOGOS DOS INSTITUTOS FEDERAIS DO NORTE NORDESTE. VÍTOR FICOU EM PRIMEIRO LUGAR EM SALTO A DISTÂNCIA E SEGUNDO LUGAR EM SALTO TRIPLO.

O jovem paraibanense Vitor Eduardo da Cruz Morais (16 anos), conquistou novamente o primeiro lugar em salto a distância e o segundo lugar no salto triplo, na cidade de Natal – Rio Grande do Norte, durante a etapa regional dos Jogos dos Institutos Federais (JIF’s). A vitória de Vitor nos jogos aconteceu na semana passada dia 6 de setembro no Campus Natal Central do IFRN onde foi sediada a etapa. Vitor representa a equipe do Piauí, onde estuda no IFIPICampus Floriano. Antes de embarcar para a etapa Norte Nordeste em Natal, o atleta disputou a etapa estadual, uma pelo Instituto Federal do Piauí e outra pelos JIPIS (Jogos estudantis piauienses).


Com mais essas vitórias Vítor já ultrapassa mais dez medalhas em menos de um ano quando começou a treinar e competir pelo IFPI – Floriano, onde cursa Meio Ambiente. Em novembro do ano passado (2017) Vítor conquistou duas medalhas (uma de prata e uma de ouro) durante O Troféu Norte-Nordeste Caixa/Centro Elétrico de Atletismo Sub-16 2017, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Vitor tem 16 anos, filho de Simonia Maria da Cruz, professora de história, o garoto se destaca por ser estudioso assim como o irmão Pablo e a irmã Náthalie.

ETAPA NORTE E NORDESTES DOS INSTITUTOS FEDERAIS O evento, em Natal foi realizado entre os dias 3 e 8 de setembro, e reuniu 1.300 alunos-atletas, servidores e chefes de delegações vindos dos nove estados do Nordeste. Foram 11 modalidades disputadas, incluindo atletismo, judô, natação, tênis de mesa, xadrez, além de basquetebol, futebol, futsal, handebol, voleibol e vôlei de areia. Jif’s Os Jogos fazem parte do sistema desportivo da Rede Federal que engloba desde os jogos intercursos no campus até a etapa final nacional, que, neste ano, acontecerá em outubro, em Fortaleza. O objetivo é fomentar a prática de atividade física na vida do estudante como promotora da qualidade de vida e saúde, assim como promover por meio do esporte, o desenvolvimento de diversos atributos afetivos e sociais fundamentais para a vida.


10 de outubro de 1987 ------------------------------

AUTOMOBILISMO IMPERATRIZENSE COMPLETA 31 ANOS Edmilson Sanches "Meninos, eu vi!" A frase famosa é do igualmente famoso poeta Gonçalves Dias, meu conterrâneo de Caxias. Eu estava lá. Era um sábado, 10 de outubro de 1987. Em Imperatriz (MA), a Praça Tiradentes recebia pessoas de todos os bairros, de diversos municípios do estado, e, do mundo do esporte, pilotos, técnicos, administradores e familiares de diversos pontos do país. O jovem desportista e odontólogo Giovanni Ramos Guerra, seu irmão Luciano Guerra, os amigos Wantuil Mendes dos Santos, Marco Antonio Lins (da loja Analustres), Weller Resende e diversos praticantes e amantes do automobilismo / kartismo iniciaram, com pé no acelerador e mãos no volante, a corrida que incluiu Imperatriz no mapa estadual, nacional e internacional do esporte sobre quatro rodas. Nestes 31 anos há muitos nomes pioneiros a destacar. Há vitórias a se comemorar -- vitórias na pista e fora dela, no mundo corporativo do automobilismo. Em Imperatriz realizaram-se provas de nível nacional, com destaque na imprensa especializada de todo o país. Imperatriz tornou-se um raro caso de cidade-sede de uma federação estadual (a FAEM - Federação de Automobilismo do Estado do Maranhão), que, sob a presidência de Giovanni Ramos Guerra, galgou elevados níveis de inserção institucional e de representatividade desportiva, a ponto de o presidente da FAEM ser, há tempo, do comitê internacional da federação mundial de automobilismo, com assento e participação nas reuniões em Paris (França). Pilotos de sobrenome de respeito (os Piquet, por exemplo) são associados à federação maranhense. O próprio campeão da Fórmula 1 Nélson Piquet já esteve em Imperatriz e no kartódromo imperatrizense em 1994 e 1995. São dezenas de grandes nomes do automobilismo que já estiveram em Imperatriz. São muitas as corridas realizadas. Imperatriz, com o automobilismo, agregou muitos pontos positivos à sua imagem. E tudo começou em um dia de hoje, há 31 anos, com jovens com boas ideias na cabeça e excelente técnica nas mãos e nos pés... Fotos: Um flagrante da corrida de 10/10/1987. Na segunda foto, Giovanni Guerra (o terceiro, da esquerda para a direita, de boné amarelo e macacão azul) com outros pilotos. Na terceira foto, o kartódromo.



CAPOEIRAS PRIMITIVAS1 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Muito se discute sobre as origens da capoeira, com as perspectivas do debate atreladas aos diversos discursos que vestem sua imagem moderna, a esportiva: “Parte-se de ideias construídas, e não de práticas sociais espontâneas. Assim, a capoeira carioca está historicamente imbricada às maltas de capoeiras da cidade e à “filosofia da malandragem carioca” dos anos 1800. A baiana, por sua vez, está ligada à cultura negra baiana e especificamente ao candomblé. No Recife, ela se manifesta nas gangues de Rua Brabos e Valentões. (CAVALCANTI, 2008) 2

Esse autor considera que para a análise da essência da capoeira, tem-se que voltar no tempo e considerar o contexto da realidade sociocultural de espaços com registros indenitários e territoriais dela, destacando-se dois loci: Rio de Janeiro e Recife. Estes dois centros urbanos eram, no século XIX, os maiores pontos de comunicação com o resto do mundo, onde mais circulava gente, ideias, comércio. As zonas portuárias permitiam a troca de ideias entre nichos socioculturais semelhantes. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira3, e em Recife, com as gangues de rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)4 em Paris e das maltas de fadistas5 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos: Por outro lado, as perspectivas identitárias e territoriais próprias dão a cada movimento sua sócio-fronteira, com espaços personalizados dos atores em seus próprios contextos sócio-culturais. A capoeira marca sua presença em grupos de sóciofronteiras a partir de meados do século XIX, no Rio de Janeiro com as maltas e no Recife com as gangues. Nessas cidades, os grupos disputavam os espaços demarcados identitariamente e tinham suas próprias manifestações rítmicas. (CAVALCANTI, 2008) 6

Fregolão (2008) 7 considera que toda a pluralidade cultural imbricada na constituição destes elementos pode significar manifestações culturais diferentes, conforme a região em que ocorrem.

Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA

1

http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/20/cronica-da-capeoiragem-capoeiras-primitivas/ Gil Cavalcanti, o Mestre Gil Velho, geógrafo, é coordenador do PROJETO MEMORIAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA, do Programa Capoeira Viva, do Ministério da Cultura, 2008 3 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 2

4

O Savate ou boxe francês, é um desporto de combate, desenvolvido na França na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. Um praticante de savate é chamado savateur e uma praticante de savate é chamada savateuse. http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate

VER: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Chronica da Capoeira (gem): O “Chausson/Savate” influenciou a Capoeira?”.in PAPOÉTICO 29 de setembro de 2011, debate ocorrido no Sebo do Chiquinho, promovido pelo jornalista Paulo Melo. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA (GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?”. REVISTA IHGM 33 – março 2010, p. 22 5

SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses Na capoeira. In ANÁLISE SOCIAL, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 6 CAVALCANTI, Gil. DO LENÇO DE SEDA À CALÇA DE GINÁSTICA. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica 7

FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf


Mestre André Lacé8, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas9.

Fonte: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/grabado-de-capoeira-siglo-xix.html Fuente foto Silat: Martial arts of the world: an encyclopedia, Volume 2 Escrito por Thomas A. Green.

O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira10. Para Lacé Lopes (2006) 11, a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc.12 – sem dúvida, é um bom exemplo.

1820-BAHÍA-Jogo da Capoeira semejante al Moringue malgache, 1834-RUGENDAS -dibuja la Capoeira ó Moringue ?, 1940-ANTROPÓLOGO Herskovits Compara la Capoeira con Moringue disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/1733-carolina-del-sur-boxeador-y.html

O mesmo raciocínio pode ser ajustado ao berimbau africano, instrumento musical que, no Brasil, acabou fortemente associado ao jogo da capoeira. Cada vez menos, mestres de capoeira e pesquisadores tendem a divergir quanto a esses 8

LACÉ LOPES, 2004, obra citada. LACÉ LOPES, 2004, obra citada.. LACÉ LOPES, 2005, obra citada. LACÉ LOPES, 2005, obra citada. LACÉ LOPES, 2007, obra citada. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 9 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 10 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 11

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 12 VAZ, 2010, obra citada, p. 22


aspectos. Da mesma forma que está surgindo um consenso sobre a utilização do nome “capoeira” para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo: berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque), e a utilização do nome “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual, no máximo, batiam-se palmas e cantavam-se versos curtos (samba duro, pernada carioca etc.). Já em Portugal encontrou-se o chamado fado batido, que surgiu no início do século XIX como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e "batiam" o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão13.

1810-RIO -danzas de africanos españoles y portugueses, capangas disponível em http://www.cchla.ufpb.br/pergaminho/1907_capitulos_-_capistrano.pdf

José Ramos Tinhorão (2001), no capítulo "Os negros na origem do fado-canção em Lisboa" revela ter havido rodas de fado que funcionavam como as rodas de pernada dos crioulos do Brasil: era o chamado ‘fado batido’, clara referência à antiga umbigada africana e em que um dançarino ‘batia’ (aplicada a pernada) e o outro ‘aparava’ (procurava neutralizar o golpe para não cair).14 Fregolão (2008) 15 informa que na página 61 dos Códigos de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Desterro [Florianópolis], de 10 de maio de 1845 no artigo 38 há a proibição dos ajuntamentos de escravos ou libertos para formarem batuques, sob pena de castigos conforme a lei para os cativos e para os libertos multa ou cadeia. O código de posturas da cidade de Salvador proibia "os batuques, danças e ajuntamentos em qualquer hora e lugar sob pena de prisão". A expressão "batuque", repleta de significados, podia representar diversas expressões culturais.

BATUQUE - Johann Moritz Rugendas (Augsburg, 29 de março de 1808 — Weilheim, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Date 1822-1825. Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA

13 14

http://www.casadobacalhaupb.com.br/v2/fado.php, referencia de Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA

TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&cad=0#v=onepage&q=&f=false 15 FREGOLÃO, 2009, obra citada. Disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf


Câmara Cascudo registra por "Batuque" a dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro "quando entra gente mais asseada". Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile, conforme descrição de um naturalista alemão, George Wilhelm Freyreiss16 que faleceu no sul da Bahia, em uma viagem que fez a Minas Gerais em 1814 -1815 em companhia do barão de Eschwege 17. Assistiu e registrou um batuque, e ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]: “Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola), move-se o dançador no centro, avança, e bate com a barriga na barriga de outro da roda (do outro sexo). No começo o compasso é lento, depois pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada. Assim passam a noite inteira. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta. Razão pela qual tinha muitos inimigos, principalmente os padres.” 18

De acordo com D´Ávila (2006) 19, no século XVIII, constituído de instrumentos de percussão (membranofones, idiofones), o Batuque surgiu com esta designação, em conseqüência da homologação entre os atos do “bater”, verificados, tanto na forma primitiva do candomblé - o batucajé na Bahia, dança religiosa de negros (onde os atabaques marcam o ritmo para o contato com as divindades), quanto numa modalidade de capoeira, o famoso batuque-boi ou pernada (ou batuque), luta popular de origem africana muito praticada nos municípios de Cachoeira, Santo Amaro e Salvador, acompanhada de pandeiro, ganzá, berimbau (o único cordofone + idiofone, como exceção), e cantigas. É de procedência banta como a capoeira.

Batuque Muila Cuanhamas Éfundula Cuanhamas Éfundula batuque homens dança nocturna http://www.nossoskimbos.net/Etnografia/Povos/index.htm

Segundo João Mina (citado por D´ÁVILA, 2006) 20, grande batuqueiro e capoeirista baiano que se mudou para o Rio de Janeiro: “o Batuque era praticado por negro macumbeiro, bom de santo, bom de garganta e principalmente bom de perna para tirar o outro da roda”. Todos os dias no Morro da Favela (onde nasceu o samba, no Rio) havia Batuque, pernadas, pessoas caídas no chão até que surgisse a polícia. Na chegada dela, o batuque rapidamente virava meio dança lenta, meio ritual. As mulheres dos batuqueiros, para disfarçar, entravam na roda (tal qual a gira dos candomblés) e, num batuque mais lento, mole, com remelexos, trejeitos sensuais e umbigadas (= semba, em Luanda) no sexo oposto, - sendo estas consideradas o ponto culminante da dança -, demonstravam estar se divertindo. Segundo Elias Alexandre da Silva Correia, “o batuque é uma dança indecente que finaliza com umbigadas”. Conforme citação de M. de Araújo (citado por D´ÁVILA, 2006) 21, os fazendeiros que também viam no Batuque uma dança ritual da procriação, “fingiam que não viam, pois tinham grande interesse em aumentar o número de escravos”. Assim nasceu o samba-de-roda na Bahia. Mistura de um batuque com as mulheres das rodas dos candomblés, com outro batuque representado pelos homens das capoeiras. É em virtude desta fusão que, ainda nos dias atuais, verificamos ser o samba-de-roda a única modalidade de samba em que a presença do berimbau se faz notar e é tocado, tradicionalmente, quando há mulheres presentes na roda. Quando a polícia se retirava, recomeçava o batuque bravo 16

FREYREISS. Georg Wilhelm. VIAGEM AO INTERIOR DO BRASIL. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982. Ver também http://openlibrary.org/b/OL16308743M/Reisen_in_Brasilien_von_G._Wilhelm_Freyreiss. 17 PRINZ MAXIMILIAN VON WIED (1782-1867) - VOYAGE AU BRÉSIL, DANS LES ANNÉES 1815, 1816, ET 1817 Paris: A. Bertrand, 1821-1822 (http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/Principal/Obras_raras.htm) 18

D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf Ver também: CÂMARA CASCUDO, Luis da: FOLCLORE DO BRASIL (pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo, Fundo de Cultura, 1967 http://www.historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/ccrdfolclorenobrasil.htm) 19

D´ÁVILA, 2006, obra citada. disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf D´ÁVILA, obra citada 21 D´ÁVILA, obra citada 20


quando caprichavam na capoeiragem, com pernadas violentas, soltando “baús”, “dourado”, “encruzilhada”, “rabode-arraia”, que tiravam os conflitantes da roda. Corte difícil de defender para um batuqueiro era o da “tiririca” com o seguinte canto puxado pelo mestre: “tiririca é faca de cortar / quem não pode não intima /deixa quem pode intimá”. Um pé ficava no chão e o outro com violência, no pé do ouvido do adversário. Em conseqüência da tiririca = faca, surgiu no samba-de-roda o raspado de prato e “faca”, do modo dos reco-recos raspados nas batucadas (D´ÁVILA, 2006) 22. Edison Carneiro23 ao fazer uma espécie de etimologia do batuque, cita que Macedo Soares considerava a palavra produto do verbo bater, mas cita também: “Esta palavra, na sua acepção mais lata no Brasil, aplica-se ao conjunto de sons produzidos por instrumentos de percussão, em especial se considerados desarmônicos ou ensurdecedores. Também em sentido lato, a toda e qualquer dança ao som de atabaques dá-se, depreciativamente, o nome de batuque. Especificamente, batuque designa um jogo de destreza da Bahia, uma dança de umbigada de São Paulo – que se filia ao batuque africano – e dois tipos de cultos de origem africana correntes na região amazônica e do Rio Grande do Sul.”

José Ramos Tinhorão (1988) 24 aponta para o problema do uso genérico do termo batuque: Na verdade, tal como o exame mais atento das raras informações sobre essas ruidosas reuniões de africanos e seus descendentes crioulos deixa anteverem, o que os portugueses chamaram sempre genericamente de batuques não configurava um baile ou um folguedo, em si, mas uma diversidade de práticas religiosas, danças rituais e formas de lazer. Com o nome de "batuque" ou "batuque-boi" há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola.

Encontramos em Angola um estilo musical popular - O Semba25 -, que significa ‘umbigada’ em quimbundo - língua de Angola. Foi também chamado ‘batuque’, ‘dança de roda’, ‘lundu’, ‘chula’, ‘maxixe’, ‘batucada’ e ‘partido alto’, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na ‘massemba’ (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba). Jomo explica que o semba (gênero musical), atual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assente fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas.

22 23

D´ÁVILA, obra citada CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro: O Autor, 1950. Citado por FREGOLÃO, 2008, obra citada..

24

TINHORÃO, José Ramos. OS SONS DOS NEGROS NO BRASIL: CANTOS, DANÇAS, FOLGUEDOS: ORIGENS. São Paulo: Art Editora, 1988.

25

http://forum.angolaxyami.com/musica-de-angola-e-do-mundo/71-historia-do-semba.html. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Semba


El Juego "Sisemba"- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA. Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional

É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos): a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar à posição primitiva.

Augustus Earle “Negroes fighting. Brazils” (Nègres combattant. Brésils) aquarelle sur papier, 16.5x25.1 cm, date approximative 1821...1823

Catunda (1952) 26 ressalta que na capoeira baiana [...] Não é como a capoeira carioca, na qual um dos comparsas se mantém imóvel, em atitude de defesa, enquanto só o outro ataca, dançando em volta do inimigo, assestando-lhe golpe sobre golpe. Em comentário de pé-de-página consta o seguinte: “A descrição da capoeira do Rio relembra a do batuque ou da pernada carioca por Edison Carneiro 1950 27, [...] Edison Carneiro descreveu a capoeira bahiana em Negros Bantus em 1938”.

Câmara Cascudo28 informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas. Em “Dinâmica do Folklore” (1950) Edson Carneiro29 afirma que o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do 26

CATUNDA, Eunice, Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos— REVISTA DE CULTURA MODERNA, nº30, São Paulo, 1952, pp. 16–18.

27

CARNEIRO, 1950, obra citada. CAMARA CASCUDO, 1972, obra citada.

28


Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. Já Corte Real (2006) 30 referindo-se ao batuque afirma que o mesmo foi uma prática competitiva presente nas festas de largo da Bahia. Como a capoeira, teria sido perseguido pela repressão policial decorrente do código penal de 1890. Vieira (1995, p.135) informa mais detalhadamente que: “São raras e geralmente muito vagas as referências a essa instituição na literatura especializada nas tradições nordestinas. Segundo Édison Carneiro (1812: 111- 112), trata-se de um jogo praticado ao som de berimbaus e outros instrumentos, em que o objetivo é derrubar o adversário com o uso de golpes de perna, como rasteiras e joelhadas. Formado um círculo, um dos participantes entra na “roda” e dirige o desafio a outro jogador, enquanto o grupo acompanha o ritmo dos instrumentos com palmas e cânticos. Édison Carneiro afirma, ainda, que o batuque teria sido incorporado à capoeira, inexistindo atualmente como tradição isolada.”

Apesar da referência às fontes esparsas, Reis (1997) 31 informa que: O batuque baiano, segundo Câmara Cascudo (1988), era uma modalidade da capoeira. O acompanhamento musical assemelhava-se ao dela, com utilização de pandeiros, berimbaus e ganzás, além do que se entoavam cantigas. A luta envolvia dois jogadores por vezes, os quais deveriam unir as pernas com firmeza e aplicar rasteiras um no outro. O principal era evitar cair e “por isso mesmo era comum ficarem os batuqueiros de banda solta, isto é, equIlibrado numa única perna, a outra no ar, tentando voltar à posição primitiva (...).”(p.129 – nota de número 12)

O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada - nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... Grande batuqueiro da época foi Tibúrcio José de Santana (década de 50, em Jaguaripe) quando, em entrevista, confirmou o nome de batuqueiros famosos com os quais conviveu e lutou: Lúcio Grande (Nazaré das Farinhas), Pedro Gustavo de Brito, Gregório Tapera, Francisco Chiquetada, Luís Cândido Machado (pai de Bimba), Zeca de Sinhá Purcina, Manoel Afonso (de Aratuípe), Mansú Pereira, Pedro Fortunato, Militão, Antônio Miliano, Eusébio de Tapiquará (escravo da família Abdom em Jaguaripe)32. Segundo Édison Carneiro: “[...] a competição mobilizava um par de jogadores de cada vez. Havia golpes como a encruzilhada em que o atacante atirava as duas pernas contra as pernas do adversário, a coxa lisa, em que o jogador golpeava coxa contra coxa, acrescentando ao golpe uma raspa, o baú, quando as coxas do atacante davam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente.” (citado por D´ÁVILA, 2006)9

Do vocábulo “batuque-boi”, registra: espécie de Pernada. Bahia. A orquestra das rodas de batuque era a mesma das rodas de capoeira - pandeiro, ganzá, berimbau. Pavão (2004) 33 citando Hiram Araújo (2000) apresenta o cenário das chamadas rodas de batuque, populares entre as classes pobres do Rio de Janeiro: “De repente, era uma navalha que brilhava a luz dos lampiões e um batuqueiro que caía ensangüentado, enquanto o coro abafava os gemidos da vítima cantando: ‘pau rolou... caiu! Lá nas matas ninguém viu... ’ (pg.148)”.

Continuando, as rodas de batucada, é divertimento associado à violência. Para Sandroni esta prática: “[...] um jogo de destreza corporal, variante da capoeira, que foi popular no Rio de Janeiro. Pode ser considerada também como uma variante do samba de umbigada definido por Carneiro, pois consistia numa roda, como os usuais cantos responsoriais e palmas dos participantes, onde a umbigada era substituída pela pernada, golpe com a perna visando derrubar o parceiro, o qual, se conseguisse se manter de pé, ganhava o direito de aplicar a próxima pernada no parceiro que escolhesse. A batucada se diferencia dos outros sambas de umbigada por sua componente violenta (2001:103”).

Mais adiante, esses confrontos aparecem, por exemplo, quando analisamos as famosas rodas de batuqueiro, como Candeia Filho (1978) nos mostra:

29 30

31 32

http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 CORTE REAL, Márcio Penna. AS MUSICALIDADES DAS RODAS DE CAPOEIRA(S): DIÁLOGOS INTERCULTURAIS, CAMPO E ATUAÇÃO DE EDUCADORES. Tese de Doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação. Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Matias Fleuri. In [Conexões da Capoeira Regional] batuque, mensagem eletrônica enviada por Javier Rubiera (capoeira.espanha@gmail.com em sábado, 7 de novembro de 2009 16:50:26 Para: leopoldovaz@elo.com.br REIS, Letícia Vidor. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR: A CAPOEIRA NO BRASIL. São Paulo: Publisher, 1997.

D´ÁVILA, 2006, obra citada. disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf 33 PAVÃO, Fábio Oliveira. ENTRE O BATUQUE E A NAVALHA. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas ,Curso de Pós-Graduação em Sociologia Urbana, Junho de 2004, disponível em http://209.85.229.132/search?q=cache:ffz_I28ARUJ:www.academiadosamba.com.br/monografias/fabiopavao-1.pdf+competi%C3%A7oes+de+batuque&cd=12&hl=es&ct=clnk


”O samba duro é um tipo de samba partido alto. Caracteriza-se pela violência em suas apresentações. Formavam-se círculos com o ritmo marcado pela palma da mão. O mais importante não era o samba de partido alto cantado, mas sim, a ginga do malandro, a rasteira ou pernada surgida da brincadeira. O samba duro também chamado de roda de “batuqueiros” existia na Balança (Praça Onze), nas festas da Penha (1978:57)”.

Nas “rodas de batuqueiro”, assim como nas demais manifestações da Praça Onze, o “desafio” se fazia presente como forma de disputa entre amigos, muitas vezes através da violência. O confronto revelava atributos destacados da personalidade, propiciando a valorização de aspectos como valentia, coragem, força e outros valores. Ari Araújo, por sua vez, apresentou um pouco do que acontecia nas antigas disputas entre batuqueiros: “O ponto de honra era não cair. Era tornar-se conhecido como perna santa, ou seja, aquele a quem ninguém consegue derrubar venha como vier: de banda de frente, banda jogada, banda de lado, etc.” (1978:27).

Em conferência intitulada “Batuque, samba e macumba” Cecília Meireles assim se manifesta: “Do batuque derivou-se a roda de 'capoeiragem' que vem a ser uma espécie de 'jiu-jítsu', de efeitos muito mais extraordinários, na opinião dos entendidos”.34 O batuque é a essência da cultura 35. Esta é a definição de batuque que consta de uma placa comemorativa exposta no Parque Memorial Quilombo dos Palmares: “Os sons dos tambores, berimbaus, adufés (pandeiro) e agogôs, levam homens e mulheres a sintonizar profundamente com seus corpos e espíritos, através da ginga da capoeira, da congada, do maracatu e do samba. Os acontecimentos da vida cotidiana, como nascimentos, mortes, plantios, colheitas, vitórias e manifestações da natureza, eram comemorados comunitariamente com danças, músicas e baticuns. Antigamente, os toques eram também um precioso meio de comunicação entre os guerreiros e entre o divino e o profano.”

O batuque (batuku ou batuk em crioulo cabo-verdiano) 36 é um gênero musical e de dança de Cabo Verde. Como dança, o batuque tradicional desenrola-se segundo um ritual preciso. Numa sessão de batuque, um conjunto de intérpretes (quase sempre unicamente mulheres) organiza-se em círculo num cenário chamado terreru. Esse cenário não tem de ser um lugar específico, pode ser um quintal de uma casa ou no exterior, numa praça pública, por exemplo. A peça musical começa com as executantes (que podem ou não ser simultaneamente batukaderas e kantaderas) desempenhando o primeiro movimento, enquanto que uma das executantes dirige-se para o interior do círculo para efetuar a dança. Neste primeiro movimento a dança é feita apenas com o oscilar do corpo, com o movimento alternado das pernas há marcar o tempo forte do ritmo. No segundo movimento, enquanto as executantes interpretam o ritmo e o canto em uníssono, a executante que está a dançar muda a dança. Neste caso, a dança (chamada da ku tornu) é feita com um requebrar das ancas, conseguido através de flexões rápidas dos joelhos, acompanhando o ritmo. Quando a peça musical acaba, a executante que estava a dançar retira-se, outra vem substituí-la, e inicia-se uma nova peça musical. Estas interpretações podem arrastar-se por horas.

34

MEIRELES, Cecília. BATUQUE, SAMBA E MACUMBA. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; INL, 1983, citada por GOUVEIA, Sonia Vilas Boas. CECÍLIA EM PORTUGAL. Rio de Janeiro: Iluminuras, 2001, p. 60-61, disponível em http://books.google.es/books?id=uK9QeChVPFsC&pg=PA62&dq=em+1935+batuque+samba+e+macumba&as_brr=3#v=onepage&q=em%201935%20batuqu e%20samba%20e%20macumba&f=false 35 in http://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(m%C3%BAsica) 36

In http://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(Cabo_Verde))


http://www.reisetraeume.de/kapverden/viadoso/mus1/en00.html#bilder

O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira37·. Letícia Vidor de Souza Reis38, baseada em Câmara Cascudo, afirma que o “batuque baiano” era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana39:

FOTO: Bimba y Cisnando - Nascido Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba (1900-1974) era filho de Luís Cândido de Machado, caboclo de Feira de Santana, e Maria Martinha do Bonfim, negra do Recôncavo. Segundo Héllio Campos, Bimba deu os primeiro passos na capoeira aos 14 anos, com o pai, que foi campeão de batuque, e com Mestre Bentinho, africano que era capitão da Companhia de Navegação Baiana.“ FUENTE: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp020539.pdf 40

Mestre André Lacé lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas41:

37

CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982, p. 109, nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009

38

REIS, 1997, obra citada.. in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf

39 40

LACÉ LOPES, 2004, obra citada. LACÉ LOPES, 2004, obra citada.. LACÉ LOPES, 2005, obra citada. LACÉ LOPES, 2005, obra citada. LACÉ LOPES, 2007, obra citada. LACÉ LOPES, 2006, obra citada.. 41 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz.


http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/03/bimba-cual-es-la-verdadera-historia.html LIBRO: Artes do corpo Escrito por Vagner Gonçalves da Silva

Concordamos com Almeida e Silva (?) 42, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998). Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas43. Castro (2002) 44 nos esclarece esse fato e diz que em todos os casos de fenômenos da cultura corporal existe a tentativa, por parte dos seus atores, de expressar identidade, coesão e estabilidade social em meio a tantas situações de rápida transformação histórica/social, “através do recurso à invenção de cerimônias e símbolos que evocam continuidade com um passado muitas vezes ideal ou mítico” (p.11). Para Soares (2001) 45, há todo um debate envolvendo a origem da capoeira, de onde ela veio etc. Embora a capoeira do Século XIX tenha passado por um período fortemente escravista, com uma população africana muito grande, a origem está no século XVIII, nos primórdios da sociedade urbana. A capoeira é um fenômeno urbano, que anuncia uma leitura de negros africanos e crioulos para o mundo urbano colonial. É a partir do início do século XVIII que se dá a formação de uma sociedade urbana colonial pela primeira vez, em Minas e no Rio de Janeiro – a grande cidade do ciclo do ouro era o Rio de Janeiro -, para onde convergiam todas as remessas de ouro que iam para a corte. A cidade cresceu muito, tanto que virou capital da colônia, havendo ali uma espécie de revolução urbana durante o século 18, que com certeza trouxe os africanos, já que até 1700 a população escrava no Rio era quase toda indígena: “Os africanos vinham de um ponto distante do continente e que não se conheciam originalmente. Eles estavam num ambiente novo, tenso, de concentração, porque a cidade colonial era pequena, mas concentrava uma população densa. Os africanos traziam bagagens culturais diferentes, mas alguns elementos eram mais ou menos articuláveis, a língua, por exemplo. Também a dança foi importante, já que os povos se articularam nesse sentido. A capoeira, então, era uma forma de união desses diversos grupos. O termo capoeira foi dado pela ordem policial. Eles eram identificados assim. Isso cria um problema, já que de certa forma você tem uma identificação grupal que não parte do grupo, mas sim do seu rival. Os termos da documentação são o “jogo do capoeira”. Todos esses povos traziam uma bagagem cultural com diversas danças e artes marciais. Essas danças, por mais diferentes, tinham um ponto comum. Possivelmente essas semelhanças fossem articuladas na América. Capoeira, na hipótese desse autor, nasceu na América.”

Vieira (2004) 46 ensina-nos que, de acordo com os melhores cronistas, a Capoeiragem data de 1770, “[...] quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma 42

ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. e-mail: julazal@yahoo.com.br 43 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. 44 CASTRO, Celso. A INVENÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2002. 45 In http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/out2001/unihoje_ju167pag22.html 46

VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/ .


cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores”2. Este texto de Hermeto Lima se alinha com o de Macedo, que nos afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o pau e ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés.”

Jorge Olimpio Bento, no prefácio do livro de Araújo (1997) 47, afirma que esse autor, ao procurar esclarecer as origens e evoluções daquela luta ao longo de vários séculos, viu-se forçado a proceder a pesquisas documentais sobre todo o contexto social abrangente. Afirma Bento (p. 6): “não admira assim que na história da capoeira surjam indicações referentes”:     

47

Ao tráfico negreiro; Às manifestações culturais de origem africana dos povos traficados para o Brasil; À vida dos negros, quer fossem escravos ou forros, às suas rebeliões e aos seus quilombos; Ao período colonial e imperial do Brasil; Os fatores político-sociais ligados ao fim do império, ao início da república, à era getulista e há tempos mais recente.

ARAÚJO, 1997, obra citada.


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


CAPOEIRAGEM EM ALAGOAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA Na construção do Atlas do Esporte no Brasil48 buscou-se mapear o surgimento das várias modalidades esportivas praticadas, resgatando sua memória. É do Atlas que retiramos as definições aqui utilizadas: Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Sergio Luiz De Souza Vieira In DaCOSTA, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45) Na pesquisa realizada pelo IPHAN49, ela é definida como: [...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal. Comecemos pela definição do termo ‘Capoeira’ 50: vernaculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu Amaral: ‘‘Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado.

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http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf 49 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 50 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; LACÉ LOPES, André Luis; RIBEIRO, Milton César. ATLAS DA CAPOEIRA(GEM) NO BRASIL. Pesquisa em construção (Inédito).


Em todos os jornais pesquisados, na Hemeroteca da Biblioteca Nacional51, quando se busca ‘capoeira’, sempre aparece, primeiro, com essa significação; mato rasteiro... Como também aparece com seu outro significado: espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968) 52: [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. Por metonímia res pro persona, o nome da coisa passou para a pessoa com ela relacionada.

LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 VER AINDA: Pernada de Sorocaba - ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro, em que faz uma análise da relação entre danças-luta (pernada, tiririca etc.) com a Capoeira no interior Paulista. In http://www.capoeira.jex.com.br/ O ensino da capoeiragem no início do século XX, ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro onde comenta a repercussão em jornal de Sorocaba, São Paulo, sobre a abertura de Academia de Capoeira no Rio de Janeiro, em 1920. A matéria trouxe a chamada "Um Desporto Nacional", disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ Capoeira, Pernada e Tiririca in Crônica sobre Capoeira, com algumas informações sobre a Pernada de Sorocaba e a Tiririca da capital paulista, ambas uma espécie de "capoeira primitiva" do Estado de São Paul, por Miltinho Astronauta, in Jornal do Capoeira Edição AUGUSTO MÁRIO FERREIRA - Mestre GUGA (n.49) de 13 a 19 de Novembro de 200, disponível em www.capoeira.jex.com.br Tiririca, Capoeira & Barra funda, por Elaine Muniz Pires, sobre a história dos bairros paulistanos, em especial a Barra Funda, onde acontecia a Tiririca, uma espécie de Capoeira Primitiva, disponível em www.capoeira.jex.com.br Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 51 http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5D117350.8219721.DocLstX&pesq=capoeira 52 Antenor Nascimento, apud Rego, 1968, citados por Mano Lima – Dicionário de Capoeira; Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79).


DEBRET – 1816/1831 http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=brasil&theRecord=71&recordCount=77

Esses cestos eram usados para transporte dos diversos sítios para as cidades, povoados, lugarejos, vilas, aqui no nordeste chamados de cofos, e nas diversas embarcações e tropas de jumento, utilizados, inclusive, estabelecendo-se preços para seu transporte e comercialização. Várias referencias também sobre essa prática, citando-se ‘uma capoeira de galinhas’, ou de outras aves – pato, peru, e até mesmo pássaros... No período de seu aparecimento, desde o final dos 170053, conforme o local, refere-se a “indivíduo (s) ou grupos de indivíduos que promoviam acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno”? Conforme a conceitua Araújo (1997, p. 65) 54, ao se perguntar “mas quem são os capoeiras?“; e por “capoeiragem” como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Ou devemos entendê-la como: “... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira); assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a

[...]um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou 53

“[...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.” in VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. Disponível em http://www.capoeira-fica.org. 54 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias.


gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40). Considera-se como prática do desporto formal da Capoeira sua manifestação cultural sistematizada na relação ensino-aprendizagem, havendo um ou mais docentes e um corpo discente, onde se estabelece um sistema de graduação de alunos e daqueles que ministram o ensino, havendo uma identificação indumentária por uniformes e símbolos visuais, independentemente do recinto onde se encontrarem. Considera-se como pratica desportiva não-formal da Capoeira sua manifestação cultural, sem qualquer uma das configurações estabelecidas pelo Artigo anterior, e que seja praticada em recinto aberto, eminentemente por lazer, o que caracterizará a liberdade lúdica de seus praticantes. Capoeira –

“jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade.” (Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore) 55 “Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)56.

“NAS ALAGOAS” PALMARES - muito embora sem fundamentos, diz-se que nos Palmares já se praticava ‘Capoeira”, como a entendemos hoje; o que não é correto afirmar-se. A expressão ‘negro de capoeira”, esta sim, podemos dizer que vem desta época. 1640 Início das invasões holandesas. Desorganização social no litoral brasileiro. Evasão dos escravos africanos para o interior do Brasil. Aculturação afro-indígena. Organização de dezenas de quilombos. Surgem as expressões: ‘negros das capoeiras’, ‘negros capoeiras’, e ‘capoeiras’. (Vieira, 2004, 2005). Com o advento das invasões holandesas, na Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640, houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo-se em centenas de quilombos, tendo como conseqüência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (Vieira, 2005) 57.

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CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 57 in www.capoeira-fica.org 56


Informa José Antonio Gonsalves de Mello – em “Tempos dos Flamengos” 58 que foi durante o período da dominação holandesa59 que tiveram condição para se desenvolver vários quilombos. Desde 1638 há referência a quilombos que se constituía uma grave ameaça para as populações e os bens dos moradores. Havia, também, pequenos aldeamentos ou bandos de negros que roubavam e matavam pelos caminhos: os boschnegers, contra os quais eram empregado capitães de campo brasileiros, já que os holandeses eram considerados incapazes para tal função. Vários capitães de campo foram empregados a soldo dos holandeses (Dag. Notule de 19 de dezembro de 1637; idem de 30 de dezembro de 1637; de 21 de setembro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 192-193). O “Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645” (in Mello, 2005(?), p. 193), dá-nos informes interessantes a respeito de alguns quilombos. Fica-se sabendo que, nas imediações do quilombo que Jan Blaer destruiu, tinham existido anteriormente mais dois outros. Nas palavras do autor do relatório, houve um “velho Palmares” que os negros tinham abandonado por estar situado em “local muito insalubre” e do qual se passaram para o “outro Palmares” ou “grande Palmares”, destruído por Reolof Baro e seus tapuias. Deste transferiram-se eles para o “novo Palmares”, que Blaer atacou... (p. 193). Outros documentos informam a respeito dos Palmares ... desde 1638, um deles causava sérias apreensões aos moradores de Alagoas, dos quais os quilombolas roubavam escravos e incendiavam as casas. O capitão Lodij foi encarregado de persegui-los, com mosqueteiros holandeses e com índios. Do resultado, nada consta dos documentos (Dag. Notule de 26 de fevereiro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193). Em 1642, preparou-se nova expedição, desta vez chefiada por Manuel de Magalhães, pessoa conhecedora da região e respeitada pelos moradores portugueses, morador nas Alagoas. Concedeu-se-lhe autorização para a expedição, mas sobre o que posteriormente ocorreu, nada informam os documentos (Dag. Notule, de 20 de fevereiro, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193). Dois anos mais tarde, em 1644, Roelof Baro parte em expedição ao interior do país. Levava uma tropa de índios brasilianos (tupis), e os holandeses, inclusive Baro, eram quatro. Os documentos não dão pormenores, mas o caso é que os índios amotinaram-se e Baro desistiu de prosseguir. Reuniu à sua gente uns cem tapuias e resolveu atacar o que ele chamou de “pequeno Palmares”. Ouçamos o escrito de Mello (2005 (?), p. 194, com base no Dag. Notule de 2 de fevereiro de 1644 e Gen. Missive ao Conselho dos XIX, datada de Recife, 5 de abril de 1644) sobre o episódio: A 2 de fevereiro o conde de Nassau recebia notícias de Baro, por carta datada de Porto Calvo de 25 de janeiro de 1644.Contava ele que, pretendendo atacar o ‘pequeno Palmares’, achou-se imprevistamente em frente ao ‘grande Palmares’ que investiu em seguida. A luta pela posse do quilombo foi dura, tendo Baro contado cem negros quilombolas mortos. De seu lado houve um morto e quatro feridos. O sítio foi incendiado, tendo sido feitos ali 31 prisioneiros, entre os quais sete índios tupis (brasilianos) e alguns mulatinhos (mulaetjens). O quilombo estava cercado por duas ordens de estacas, e ‘era tão grande que nele moravam quase 1.000 famílias, além dos negros solteiros’. Em volta da estacada ‘havia muitas plantações de mandioca e um número prodigioso (wonderbaer) de galináceos, embora não possuíssem qualquer outro animal de maior vulto’, sendo que ‘os negros viviam ali do mesmo modo que viviam em Angola’. (p. 194). Estas são as informações que Baro transmitiu ao Conde e que os documentos conservam... Outros quilombos surgiram no período da dominação holandesa, mas são poucas as informações sobre eles. Um estava situado na “Mata do Brasil” e os seus elementos corriam a região, em bandos, roubando e matando. O governo holandês castigava exemplarmente os que conseguia capturar: eram enforcados ou queimados vivos (Carta do Conselho de Justiça do Brasil ao Conselho dos XIX, datada do Recife, 1º. De outubro de 1644 e outras, in Mello, 2005(?), p. 195). Nassau atacou os Palmares!

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MELLO, José Antonio Gonsalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brannad, 2002 59 O domínio holandês no Nordeste brasileiro vai de 1630 a 1654, 24 anos; Nassau “reinou” de 1637 a 1644 - 7 anos.


BATE-COXA - manifestação das Alagoas, uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos”. Acredita Câmara Cascudo60 que o bate-coxa seja mais violento, onde os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam-se, colocando peito a peito, apoiando-se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir-se o “ê boi”, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando-se bruscamente ao ouvir o “ê boi” do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido. Como dissemos, nas Alagoas, o termo capoeira aparece, na imprensa, desde o final de 1870, mas com a conotação, primeiro, de mato rasteiro e depois, de cesto para carregar/transportar galinhas e outras aves, assim como termo pejorativo. Como jogo/luta a primeira referencia data de 1834 – conforme GUSTAVO BEZERRA BARBOSA, em sua Dissertação de Mestrado com o titulo UMA POSSÍVEL “SIMBIOSE”: VADIOS E CAPOEIRAS EM ALAGOAS (1878-1911, ao citar Marques (2013), que faz menção em sua pesquisa a uma documentação recolhida no acervo da Biblioteca Nacional, na qual destaca-se o pedido de “providências a respeito dos [...] pretos e capoeiras que depois do anoitecer forem encontrados com armas ou em desordem” (p. 45)61. O documento citado é datado de 1834 - MARQUES, Danilo Luiz. Sobreviver e resistir: os caminhos para liberdade de africanas livres e escravas em Maceió (1849-1888). Disseratação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013. 1875 – No Jornal do Pilar, edição de 30 de janeiro: Pedimos ao snr. fiscal que por amor a hygiene publica faça desaparecer o tal brinquedo de laranginhas de muito ja caduco nos logares cevilisados e prohibido por uma postura da Camara Municipal, si não nos trahe a memoria. Sobre ser anarchronico semilhante divertimento, é fatalissimo á saude. Olhe, snr. fiscal, de um passeio ao pateo do Rozario, por occazião das novenas, que V. Mª se admirará de ver a aluvião de taboleiros desses incommodos objectos com que se diverte meia duzia de capoeiras [...] (Jornal do Pilar, 30 de janeiro de 1875, p.1). (file:///C:/Users/LEOPOLDO/Downloads/Uma%20possivel%20201csimbiose201d%20vadios%20e% 20capoeiras%20em%20Alagoas%20-1878-1911-%20.pdf 1881 – Em O ORBE62, falando sobre os criados que se contratava para serviços domésticos, há o diálogo entre duas senhoras, em que um serviçal é identificado como praticante de capoeira:

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CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. MARQUES, Danilo Luiz. Sobreviver e resistir: os caminhos para liberdade de africanas livres e escravas em Maceió (18491888). Disseratação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013. (file:///C:/Users/LEOPOLDO/Downloads/Uma%20possivel%20201csimbiose201d%20vadios%20e%20capoeiras%20em%20A lagoas%20-1878-1911-%20.pdf 62 O Orbe (AL) - 1879 a 1900 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=260959&pesq=capoeira 61


1884 – Em O Orbe63, edição de 28 de setembro, um leitor dirige carta à redação, comentando noticia publicada anteriormente, sobre acontecimentos em uma das cidades do interior, em que se envolveu uma alta autoridade, agredindo outra, e diz-se ser, a agressora, a bem de vsardade, um praticante de capoeira:

63 O Orbe (AL) - 1879 a 1900 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=260959&pesq=capoeira


- Em O Orbe, edição de 12 de dezembro, novamente distúrbios públicos, por ocasião de exames escolares, comparados como atos de capoeiras


1885 – Em O Orbe, edição de 28 de janeiro, anuncia-se a partida para a corte dos deputados geraes eleitos, conservadores, em que eram comparados, seus inimigos/adversários, como responsáveis por vários atos desabonadores, como se praticantes de capoeira:


- Em O Orbe, edição de 30 de janeiro, sob o titulo Variedades, e tema Segurança individual, dirigido a Carlos Rodrigues, o autor, Cypriano de Barros, fala de um atentado sofrido, tendo reagido:

- Em O Orbe, de 11 de fevereiro: No domingo ultimo, á tardinha, em plena rua do Conselheiro Sinimbú, fomos testemunha occular de mais um facto que bem denota o progresso que sob os auspicios da policia da actualidade vae se transplantando da Côrte para as ruas da nossa modesta capital. Eis o facto: Dous capoeiras, d’sses que tão bons serviços hão prestado, e talvez á esta hora estejão prestando nos arredores da cadeia velha com selectos auxiliares do


governo das duplicatas na campanha do terceiro escrutinio, esmurravão-se, a bom esmurrar, quando um dos taes heroes, já exausto de forças e vendo gotejar-lhe o sangue de um ferimento que na lucta recebera, dá as de villa diogo, e n’uma carreira precipitada, perseguido pelo victorioso combatente, agarra-se, suplicante, com o senhor alferes pharmaceutico Anisio Gomes, que n’essa occasião passava. Aturdido com o inesperado abraço, ao qual o valiente contendor não queria respeitar, a muito custo poude o digno pharmaceutico militar desvencilhar-se de ambos, e continuar o seu trajecto. E a policia? - Nem por sombra se mostrou! - Dorme, dorme, oh! beatifica policia!... (O Orbe, 11 de fevereiro de 1885, p. 1-2).

file:///C:/Users/LEOPOLDO/Downloads/Uma%20possivel%20201csimbiose201d%20vadios%20e%2 0capoeiras%20em%20Alagoas%20-1878-1911-%20.pdf 1886 – O Orbe, edição de 26 de outubro, sob o titulo Jurisprudência, arroladas as testemunhas, consta a da terceira:

- em O GUTENBERG64, edição de 24 de novembro, acerca de uma briga

64

Gutenberg : Orgão da Associação Typographica Alagoana de Socorros http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809250&pesq=capoeira

Mutuos

(AL)

-

1881

a

1911


1887 – O Gutemberg, edição de 06 de outubro, consta:

1899 – na edição de 14 de novembro de O Gutemberg, acerca de festejos religiosos acontecidos:


1891 – In Jornal do Penedo65, 30 de maio, é publicado o novo Código Penal, de 1890, onde se criminaliza a prática da capoeira:

- No Jornal Cruzeiro do Norte66 também é publicado o Codigo Penal, na parte em que se rfere aos capoeiras como infratores da lei 1892 - No Jornal Cruzeiro do Norte67, edição de 10 de fevereiro, aparece a seguinte quadrinha 65 Jornal de Penedo (AL) - 1875 a 1890 - http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=111589&pesq=capoeira 66 Cruzeiro do Norte : Publica-se ás quartas, sextas e domingos (AL) - 1891 a 1893 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809420&pesq=capoeira


– Apresentados à Policia, presos, diversas pessoas, dentre eles, um capoeira, conforme A PATRIA68, de 23 de abril

1893 – Em O CRUZEIRO DO NORTE, edição de 17 de fevereiro há referencia a um médico, que seria capoeira, pelas atitudes que demonstrava, com acusações de roubos de bens públicos, assim como de insultos às autoridades:

67

Cruzeiro do Norte : Publica-se ás quartas, sextas e domingos (AL) - 1891 a 1893 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809420&pesq=capoeira eader/DocReader.aspx?bib=809420&pesq=capoeira 68 Patria (AL) - 1891 a 1892, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=843806&pesq=capoeira


1896 – Em O TRABALHO69, edição de 06 de junho, jornal de Penedo, destaca discussão de dois membros do Congresso do Estado, num xingamento comum naquelas épocas, quando se queria destratar o adversário, chamando-o de capoeira:

69 O Trabalho (AL) - 1882 a 1898 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809896&pesq=capoeira


1905 – No Gutemberg, edição de 14 de outubro:

- 19 de outubro, em O Gutemberg, noticia de prisão de uma capoeira:

- 24 de novembro:


1909 – Junho, 15 - artigo escrito por Barreto Cardoso, um intelectual, acadêmico, e cronista, que publicara seus textos em uma seção intitulada “Bosquejos”, publicada no jornal Gutenberg. Eis aqui um chronista atrapalhado, leitor, a cata de assumptos para os seus mal acabados escriptos. As ampulhetas da semana deixaram vazar toda a areia dos seus recipientes, sem que algo de novo apparecesse, nem uma nota siquer de sensação, um facto por mais trivial que fosse, mas capaz de deixarse margem á bisbilhotice e á analyse dos chronistas aos de suicidios por amor, esmagamentos, assassinatos, etc, de todos esses factos que, embora por si só nada valham nem sejam considerados novidades, entanto, trabalhados por mãos de jornalistas, com os seus titulos em lettras garrafaes, ainda conseguem mover a piedade nas almas sensiveis. Isto quanto á parte sensacional, apenas, que é, quasi sempre a dos escandalos mundanos, cujos personagens se nos apresentam, ora de saia demitraine e chapéo Dreadnought, ora de pés descalços, brandimdo punhaes e navalhas ou esfolando a cara de algum freguez com um rabo de arraia certeiro (Gutenberg, 15 de junho de 1909, p. 1). file:///C:/Users/LEOPOLDO/Downloads/Uma%20possivel%20201csimbiose201d%20vadios%20e% 20capoeiras%20em%20Alagoas%20-1878-1911-%20.pdf 1917 – Em O DIÁRIO DO POVO70, edição de 02 de março,

70 Diario do Povo : Orgão do Partido Republicano Conservador http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=215414&pesq=capoeira

(AL)

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1916

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1917


1979 – em Penedo, havia um grupo de capoeira liderado pelo Professor Toinho, onde o hoje Mestre Inácio se iniciou DÉCADA DE 1980 - Em União dos Palmares, a capoeira chega na década de 1980, com Lizanel Cândido da Silva, o Mestre Jacaré, alagoano de Palmeira dos Índios, mestre de capoeira residente em Maceió/AL, início o primeiro grupo de capoeira em terras palmarinas, a Associação de Capoeira Palmares, sendo esse o único grupo na cidade durante aproximadamente uma década. Com o passar do tempo, sendo União dos Palmares uma cidade com forte potencial histórico e cultural que desperta o interesse de vários segmentos da cultura, sobretudo a capoeira, outros mestres, contra-mestres e professores de capoeira instalaram aqui seus grupos, e hoje chega a um total de 11 grupos de capoeira, são eles: 1.

Associação de Capoeira Palmares; 2. Grupo Abadá-capoeira 3. Grupo Candeias; 4. Grupo Essência; 5. Grupo Guerreiros do Quilombo; 6. Grupo Legião Brasileira de Capoeira; 7. Grupo Muzenza; 8. Grupo Negaça; 9. Grupo Raízes de Zumbi 10. Grupo Tradição; e 11. Grupo de Capoeira Gameleira https://www.facebook.com/lbcnaterradezumbi/posts/breve-hist%C3%B3ria-da-capoeira-emuni%C3%A3o-dos-palmarespor-roberto-martins-barbosaestag/457892900989483/

1981 – Chegaram em Arapiraca os Mestres Lira e Bahia – formsndos de Mestre Grande, do grupo Dois de Ouro, de São Paulo. Mestre Inácio se matricula nessa associação, formando-se em 1984 1984 – Mestre Inácio, em 5 Junho funda a Academia Dragão de Capoeira; dentre seus alunos Samuel, Nó Cego, Ernandes, Catrepilha e Chapinha, Charuto e Jean Espirro, pegaram a corda de aluno graduado; Jean Espirro e presidente da Associação Arte Capoeira e Charuto e presidente da Associação Arte Brasileira. De Samuel saiu Sapulha hoje mestrando e presidente do Arte Brasil Capoeira e também saiu Hemem hoje mestre e presidente do Grupo Águia Negra e presidente da Federação Alagoana de Capoeira, Gato Preto também foi aluno de Mestre Inácio, dele saiu Jaminho (Vulcão), de Vulcão veio Azulão e ai por diante. 1989 – GRUPO ÁGUIA NEGRA CAPOEIRA - O mestre “Rimem” como é conhecido na capoeira, se trata do nosso colega Aldo, que desde os seus 12 anos vem na prática deste esporte. Aldo nasceu em Taquarana – AL, em 1989 adotou Marechal Deodoro como sua cidade e desenvolveu aqui a Capoeira. Transferiu sua academia de Arapiraca que levava o nome de Associação de Capoeira Pele Negra, para o nosso município. Logo após, mudou para o nome GRUPO ÁGUIA NEGRA CAPOEIRA , como é conhecida ainda hoje, na época era localizado no prédio do antigo Alpendre Bar, passou também pela sede do Grêmio na Rua Dr.Ladislau Neto e chegou até a funcionar no pátio do Museu de Arte Sacra, lá Aldo deu muitas aulas nas práticas de defesa pessoal e assim, foi reconhecido pela sociedade Deodorense. Hoje já tem sua própria sede localizada na Rua Prefeito Júlio Lobo. O mestre “Rimem” Aldo, trouxe muitos capoerista de outras localidades para nosso município e aqui fez muitos eventos, adquirindo ainda mais experiência e conhecimento mais profundo na Capoeira, foi Vice Presidente, e hoje é o atual Presidente da FALC – Federação Alagoana de Capoeira. http://www.marechalnoticias.com.br/colunas/osmar-junior/surgimento-da-capoeira-em-marechaldeodoro/


2000 - Mestre Inácio passa a ser vice presidente da Associação Raízes de Capoeira, sendo graduado mestre. Foi grã mestre do Arte Brasil capoeira onde o presidente e o mestrando Sapulha. 2008 - em homenagem a Mestre Inácio foi fundada a Associação Cultural Inácio Capoeira, na qual é grão mestre e presidente. 2011 – JUNHO, 11 - ASSEMBLEIA GERAL DA FEDERAÇÃO ALAGOANA DE CAPOEIRA, PRESTAÇÃO DE CONTAS DE TUDO QUE FOI REALIZADO PELA FALC DURANTE ESTA GESTÃO, ALEM DA MUDANÇA DE PRESIDENTE. A ASSEMBLEIA FOI MARCADA PALA DESPEDIA DO ATUAL PRESIDENTE (CONTRA MESTRE MARCO BAIANO) QUE FOI TRANSFERIDO PELA EMPRESA EM QUE TRABALHA PARA SÃO PAULO, FATO QUE IMPOSSIBILITOU SUA PERMANENCIA A FRENTE DA FEDERAÇÃO. 2014 - Discutir a promoção e preservação da roda e dos mestres tradicionais de capoeira de Alagoas. Esse é o principal objetivo do Seminário Rota de Capoeira Palmares que levará para Maceió e União dos Palmares/ AL, nos dias 18 e 19 de novembro, importantes representantes dessa expressão que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música. O evento faz parte da programação que a Fundação Cultural Palmares (FCP – MinC) preparou para as comemorações para o 20 de novembro – Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Na noite do dia 18 de novembro o presidente do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho (GCAP), Mestre Moraes, e a representante do grupo Ilé Axé Legioniré Nitó Xoroqué, Mônica Carvalho, participam de um debate sobre as raízes culturais que influenciaram a capoeira, na mesa “Roda de Sotaque Candomblé, Capoeira e Samba: Um giro pela história e cultura negra no Brasil”. 2017 - GUSTAVO BEZERRA BARBOSA defende sua Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pósgraduação em História da Universidade Federal de Alagoas, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História. Orientador (a): Prof. Dra. Irinéia Maria Franco dos Santos com o titulo UMA POSSÍVEL “SIMBIOSE”: VADIOS E CAPOEIRAS EM ALAGOAS (18781911). A pesquisa tem por objetivo investigar vadios e capoeiras em Alagoas, mais particularmente em Maceió, durante o período 1878 a 1911. Para tanto, tem como foco principal os códigos criminal (1830) e penal (1890), as posturas municipais de Maceió de 1878 e 1911, os relatórios dos presidentes da província e as informações presentes nos jornais publicados na capital alagoana nos anos finais do Império até os anos iniciais da República. A pesquisa foi feita a partir de documentação de diversas proveniências e de uma abordagem de análise qualitativa, por entendermos que esta nos permite perceber as diferentes interações sociais presentes nos contextos onde vadios e capoeiras se inserem historicamente. Toma-se como hipótese nesta pesquisa a existência de uma “simbiose” entre vadios e capoeiras, observada na documentação analisada. O caminho para o desenvolvimento e análise desta questão tem como referência o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg. Através desse método efetuou-se um estudo do material documental, possibilitando a aproximação da realidade pertinente à experiência de vadios e capoeiras. Por outro lado, o método também nos ajuda a indagar as estruturas invisíveis dentro das quais, vadios e capoeiras estavam inseridos. file:///C:/Users/LEOPOLDO/Downloads/Uma%20possivel%20201csimbiose201d%20vadios%20e%2 0capoeiras%20em%20Alagoas%20-1878-1911-%20.pdf


LIVRO-ÁLBUM

MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO


Mestre NELSON (Canarinho) (1985)

NELSON DE SOUZA GERALDO 1966 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

NELSON (CANARINHO) MISTA: TRÊS TEMPOS- ANGOLA, SÃO BENTO PEQUENO E SÃO BENTO GRANDE DE ANGOLA Capoeiragem Tradicional Maranhense NELSON DE SOUZA GERALDO SÃO LUIS, 12 D JANEIRO DE 1966 Filho de Raimundo Geraldo e Zulmira Souza Geraldo Fundamental incompleto (7ª série) Contra- Mestre, em 16 de setembro de 1999 - Mestre- Jorge. Mestre, em 09 de novembro de 2013, consagrado pelo Mestre Pirrita Jorge Navalha (JORGE LUIS LIMA DE SOUSA) Pirrita

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes


HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Por volta de 1985, aos 13 anos de idade, Nelson de Souza Geraldo, filho de Raimundo Geraldo e Zulmira Souza Geraldo, iniciou a pratica da capoeira com o professor Jorge (Mestre Jorge – Navalha atualmente) incentivado por amigos chamados: Manel e Roberto. Iniciou o esporte por admiração pelas rodas de rua, estilos de jogo, movimentos e instrumentos, os quais via em grupos : Marabaiano, Aruandê e Filhos de Aruanda... As dificuldades em sua locomoção para o seu aprendizado pela distancia da academia não foram obstáculos e o mesmo conquistou sua 1ª graduação. Por um desentendimento com o seu professor (Jorge) passou a treinar com o professor Pirrita (atualmente Mestre Pirrita), concretizando a sua 2ª e 3ª graduação. Nelson sempre teve apoio familiar em seus eventos e trabalhos com o esporte. Em 28 de outubro de 1996 iniciou um trabalho na Igreja Nossa Senhora Aparecida no Bairro Mauro Fecury II, juntamente com o amigo de esporte Pedro Marcos, formando assim o Grupo de Capoeira “Raízes”. Em 16 de agosto de 1998 foi aprovado nas provas práticas e teóricas com Cordel azul - fez um exame de capoeira pela associação filhos de Aruanda – filiada a Federação Maranhense de Capoeira promovido pelo Mestre- Jorge. Em 11 de setembro de 1999 iniciou um trabalho na Fundação Assistencial da Criança e do Adolescente (FASCA) localizado na rua Hungria nº 22 quadra 2 bairro Anjo da Guarda . Em 16 de setembro de 1999 foi aprovado nas provas práticas e teóricas como Contra- Mestre (trançado azul e amarelo); fez um exame de capoeira pela associação filhos de Aruanda - filiada a Federação Maranhense de Capoeira, promovido pelo Mestre Jorge. Por volta de 2005 participou do: Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) localizado no CLUBE DE MÃES do bairro São Raimundo –Anjo da Guarda, PACRIAMA também do bairro São Raimundo e LIGA DE EDUCADORES DA ÁREA ITAQUI BACANGA (LECAIB) beneficiando varias comunidades com cestas básicas ... EVENTOS - Festival de ladainha do Laborarte (com registro no jornal O Estado do Maranhão por volta de 1900) como compositor e interprete da musica : “E Chorou o Negro” alcançando o mérito de 1º lugar. - 1ª Roda de Capoeira “Vamos Vê” promovido pela associação de Capoeira Angola-Mestre Pesão em 12 e 13 de dezembro de 1992 com medalha de ouro em exibição, saindo entre os dez capoeiristas completos de São Luis –Ma. - 3º festival de ladainha em 1994 ,realizado na sede do Laborarte como compositor e interprete da musica Alforria alcançando o mérito de 1º lugar. - 2º festival Regional de Capoeira de Bacabal promovido pela Associação de Capoeira Zambi - Mestre Pinta, com apoio da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Secretaria do Estado da Cultura (CECMA) e Casa do Artista de Bacabal (CAB) em 24 de setembro de 1995 como compositor e interprete com o mérito de 1º lugar. - Através da LECAIB foi um dos idealizadores da 1ª COPA DE CAPOEIRA VENHA VER TAÇA MESTRE PATO E da 2ª COPA DE CAPOEIRA VENHA VER TAÇA MESTRE JORGE. - Juntamente com Contra mestre – Pedro realizou através da Associação de Capoeira Raízes inúmeros eventos como: 1ª Festival de Cantigas Mestre Ciba no teatro itapicuraíba bairro Anjo da Guarda, 2ª Festival de Cantigas Mestre Pirita ” no Parque Bom Menino bairro Centro, Festival Balneário de Ribamar, 1º Festival de cânticos inéditos de capoeira no teatro Itapicuraíba entre outros. - Atualmente o Mestre Nelson tem um trabalho com o grupo ACIBR (ASSOCIAÇÃO CULTURAL ITAQUI BACANGA RAÍZES) E MINISTROU SEU PRIMEIRO EVENTO : 1º encontro de capoeira Camaradas Velha Guarda COM OS IDEALIZADORES MENSTRE NELSON E MESTRE JORGE. - Em 09 de novembro de 2013 consagrado pelo Mestre Pirrita como Mestre (corda vermelha) juntamente com o MESTRE PEDRO pelos relevantes trabalhos desenvolvidos em prol nosso estado.


- Atualmente tem um trabalho como mestre da Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes e realizou um evento idealizado com Mestre Jorge Navalha dia 08 de julho de 2017 chamado: : I ENCONTRO DE CAPOEIRA“CAMARADAS VELHA GUARDA” - CAPOEIRA DO MARANHÃO ,CAPOEIRA NO MARANHÃO realizado no MARAVISTA (PRAIA DO BONFIM). DECLARAÇÃO PESSOAL: a capoeira me trouxe Benefício em minha saúde, o não envolvimento na marginalidade, onde perdi vários amigos no mundo das drogas, me dando outra visão de vida. Me entristece as dificuldades para realização de eventos sem a colaboração maior do ESTADO do MUNICIPO. OBJETIVO FUTURO: Desenvolvimentos de trabalho com: idosos e portadores deficiências físicas. CAPOEIRÁ É: MINHA FILOSOFIA, HOBE,UMA PAIXÃO E UM COMPLETO DO MEU DIA A DIA E FONTE DE ESPIRAÇÃO ALÉM DE UMA ARTE OU UMA LUTA QUE SE ESCONDE ATRÁS DE UMA GINGA.


Contramestre DIACO (1986)

JOAQ JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ 1963 CONTRAMESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

DIACO Capoeira Angola do estado do Maranhão - capoeira mista. Capoeiragem Tradicional Maranhense JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ Bequimão-MA, 16 de agosto de 1963 Filho de Margarida Borges Nogueira e José Lorenço da Cruz. Residente: R.09, QD 26 ,CS 09 Alto Turu II - São José de Ribamar – MA Ensino Médio

MESTRE

GRUPO/NÚCLEO

PIRRITA Associação Atlética Barcelona, em Matões - Turú

A trajetória na capoeira comecei assim, devido alguns convites do Tupi ou melhor Davi, como era chamado no Grupo de Capoeira Aruandê (hoje, Associação de Capoeira Aruandê), com o mestre Pirrita, Capoeira Angola do estado do Maranhão a capoeira mista. Cursei o ensino médio, eu comecei a ir assistir algumas aulas e fui gostando, me escrevi e comecei a treinar nos dias de terças-feiras, quintas – feiras e sábados, isto


em 8 de abril de mil novecentos e oitenta e seis. Então treinei 6 anos direto, até então, morava no bairro Vila Nova, rua São Mateus, onde já começou o meu primeiro trabalho em 11/06/2003 no grupo comunitário, Unidos Venceremos. Já nesse período o mestre não estava presente, pois tinha viajado à serviço. Eu estava indo nas rodas que Negão quem fazia era Negão aos domingos. Às vezes em um treino além do mais mudei da Vila Nova para Vila Palmeira, aí ficou difícil mais treinar, mas enquanto estava na Vila Nova. Comecei um novo trabalho com a capoeira na associação já a do bairro São Francisco, em 10/06/2004, esse trabalho durou 1 ano e 7 meses , mas tive que mudar de novo para mais distante, onde resido até hoje, no bairro Alto Turú II – São José de Ribamar, onde desenvolvo este trabalho ,comecei a dar aulas em baixo de um pé de manga depois fui para a Associação Atlética Barcelona em Matões Turú.


Contramestre REGINALDO (1986)

REGINALDO FERREIRA DE SOUSA 1975 CONTRAMESTRE REGINALDO Mista ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense REGINALDO FERREIRA DE SOUSA Piripiri-PI, 20 d novembro de 1975 Filiação – Luis Nunes de Sousa e Maria Dilosa Lima de Sousa Fundamental DADOS 2001 -30 de novembro – formado professor de capoeira pelos Mestres Cadico e PESSOAIS Kaká. 2009 - 06/09 - graduado à Contra-Mestre pelo Mestre Jorge. MESTRE GRUPO/NUCLEO

Erasmo Associação Maranhão Capoeira (2013)

Em 1986 comecei a praticar a capoeira na Associação da União da Consciência Negra, no bairro do Sá Viana com 11 anos de idade com o Mestre Erásmo. A associação realizava os treinamentos no clube de mães. De lá pra cá venho praticando capoeira, 30 de novembro de 2001 fui formado a professor de capoeira pelos Mestres Cadico e Kaká. No dia 06/09/2009 fui graduado à Contra-Mestre pelo Mestre Jorge. Em 2013 sair do grupo Amarauê Capoeira e fundei a minha própria Associação Maranhão Capoeira. Aonde já administro um trabalho na área Itaqui Bacanga à 17 anos, aonde tenho um trabalho em Rosário – MA . A capoeira para mim é uma filosofia de trabalho.


Contramestre LEITÃO (1986)

FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO NETO 1967 CONTRAMESTRE LEITÃO Capoeiragem Tradicional Maranhense ESTILO FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO 19 09 1967 -Altos no Piauí, ? filiaçao; Afonso Rodrigues da Silva e Ana Alves da Silva Escolaridade: 2º grau reside em São Luís/MA desde 1972 DADOS 2003 - forma o Professor de Capoeira Leitão – pelo Mestre Índio do PESSOAIS Maranhão - Curso de árbitro de capoeira, Federação Maranhense de Capoeira. 2011 - Graduação de Contramestre – pelo Mestre Jorge, do Grupo Filhos de Aruanda. INDIO DO MARANHÃO JORGE NAVALHADA MESTRE


Grupo Amarauê Capoeira , 08 de setembro de 2001, no bairro do Sá Viana

GRUPO/NÚCLEO

Sua história com a capoeira começou em 1986, no bairro do Sá Viana, na área Itaqui-Bacanga, quando fez parte do Grupo de Capoeira União e Consciência Negra, com Mestre Erasmo, quem o treinou por dois anos. Depois, passou há treinar no grupo Filhos de Aruanda de Mestre Jorge. Foi também com o Grupo de Capoeira filhos de Aruanda que conquistou sua primeira graduação (corda azul), em 31 de dezembro de 1988. Após seis anos junto ao Grupo de Capoeira Filhos de Aruanda, Neto participou do Laborarte, no Centro da cidade de São Luís, onde passou um ano praticando capoeira com o Mestre Patinho. Em seguida, Neto retoma os trabalhos na área Itaqui Bacanga junto aos membros do Grupo Filhos de Ogum a convite do Mestre Índio Maranhão. Esta participação lhe rendeu grandes aprendizados, pois na ausência do Mestre Índio ajudava a coordenar o grupo. Também foi neste período que Neto ganhou seu apelido. Passou a ser conhecido nas rodas de capoeira como "Leitão" - segundo o Mestre Índio, durante as rodas de capoeira, por ser muito branco, a cor de sua pele ficava rosada, parecendo um leitão. Foram cinco anos de história e aprendizados e participação do Grupo Filhos de Ogum, mas suas contribuições junto aos grupos de capoeira em São Luís estavam só no início. Por indicação do Mestre Índio Maranhão começou a colaborar com trabalhos na área do Complexo Cultural GDAM. Desenvolveu trabalhos sociais junto aos Projetos Jatobá e Embratel e comandou por seis anos (1997 a 2003) o Grupo de Capoeira Malungos. Nesse período, Neto se forma e torna-se o Professor de capoeira Leitão. Além disso, em 2003, conclui o curso de árbitro de capoeira, título recebido pela Federação Maranhense de Capoeira. Na área Itaqui Bacanga, onde nunca deixou de desenvolver parcerias e trabalhos sociais envolvendo a capoeira, depois de um ciclo com o Grupo Filhos de Ogum, Professor Leitão inicia um dos passos mais importantes da sua trajetória, a criação do Grupo Amarauê Capoeira. Em 08 de setembro de 2001, no bairro do Sá Viana, nasce o Grupo Amarauê Capoeira, uma parceria entre os professores (1° estágio) Leitão, (2° estágio) Cadico e Cacá. As responsabilidades a frente do Grupo Amarauê fizeram com que o Professor Leitão buscasse cada vez mais seu aperfeiçoamento. Com isso, conquistou em 2011, com o Mestre Jorge, do Grupo Filhos de Aruanda, a graduação de Contramestre. Junto ao Grupo Amarauê Capoeira, Contra Mestre Leitão atua com mais de 100 membros – entre alunos, instrutores, professores, contramestres e mestres. E em 2017 já conta com 6 núcleos para prática de capoeira, sendo um deles fora da área Itaqui Bacanga – localizado no bairro da Vila Palmeira. O Grupo desenvolve projetos sociais junto a comunidade, como por exemplo, a “Caminhada com a Melhoridade” realizada anualmente, no aniversário do Grupo, no bairro do Sá Viana. Entre outros eventos e viagens. Outros trabalhos desenvolvidos: •

Atividades no Clube Recreativo Cassino Maranhense, no Centro.

Na Unidade Integrada Cruzeiro do Sul, no bairro do Anjo da Guarda.

E também, trabalhos no Colégio Universitário (Colun/UFMA), com o projeto Escola Aberta.

Participações em eventos: •

Medalha de Ouro no 1° Torneio Individual de Capoeira de Imperatriz/MA – Evento em homenagem ao Mestre Espiga, comandado pelo Professor Taboca e apoio do Mestre Babalu.


Evento Cultural de Capoeira como instrumento de socialização, realizado pela Associação Cultural de Capoeira Congo Aruandê, em 1997.

1° Festival Maranhense de Capoeira, em 2002 no Ginásio Costa Rodrigues. Entre outros.


Mestre MANOEL (1988)

MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

JOSE MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA. 1975 MANOEL Capoeira do Maranhão jogo Misto Capoeiragem Tradicional Maranhense JOSE MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA Humberto de Campos – MA, 08 de março de 1975 Pai: Jose Manoel Teixeira; Mãe: Julia Rodrigues Teixeira. Escolaridade: superior Completo em Pedagogia. Profissão: Motorista.

MESTRE

Evandro Costa GRUPO/NÚCLEO Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. INICIO À CAPOEIRA: Iniciei a treinar à capoeira em 13/11/1988 no antigo Centro Social Urbano no Habitacional Turu. Hoje sou membro fundador da Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. Escolaridade: superior Completo em Pedagogia. Dou aulas na Academia Parati Fitness no Habitacional Turu, em São Benedito do Rio Preto no Club Cecresbe. Sou discípulo de: Mestre Evandro Costa. Fundador da Associação Mara-Brasil Capoeira de onde são minhas raizes. Sou Capoeira do Maranhão jogo Misto. Capoeira para mim é o meu jeito de ser de inspiração de Deus.


Mestre NILTINHO (1989)

MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

JOSE NILTON PESTANA CARNEIRO 1975 NILTINHO Capoeira Mista Capoeiragem Tradicional Maranhense JOSE NILTON PESTANA CARNEIRO São Luis (?), 02 de setembro de 1975 Filho: Zelino Carneiro e Terezinha de Jesus Pestana Carneiro Escolaridade: Pedagogo 2007 - Mestrando de capoeira em 29 de Julho - Mestre Índio Maranhão 2012 - MESTRE de capoeira em 11 de Novembro - Mestre Índio Maranhão 2010 - eleito Presidente da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA INDIO

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Associação Cultural de Capoeira São Jorge HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei a Capoeira em Janeiro de 1989 com o Índio Maranhão aos 13 anos de Idade, na Associação de Moradores do Bairro Sá Viana. Ao longo de 28 anos de Capoeira venho ativamente contribuindo a capoeira do Estado, bem como os trabalhos da Associação Cultural de Capoeira São Jorge, entidade fundada pelo Mestre Índio, e que hoje tem núcleos em várias bairro de São Luís e em outro estado, como por exemplo, no Rio de Janeiro onde o mestrando Messias toma de conta desse trabalho, Em 2010 fui eleito Presidente da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA, em 2013 Coordenei os Jogos Escolares Maranhense na modalidade CAPOEIRA, em 2014 fui Diretor de Arbitragem dos Jogos Escolares Maranhense na modalidade CAPOEIRA em 2015 novamente Coordenei os Jogos Escolares Maranhense na modalidade CAPOEIRA. PARTICIPAÇÃO EM EVENTO:


Em 27/08/1993 Participei do I FESTIVAL SESC DE CAPOEIRA realizado pelo SESC – Serviço Social do Comercio Em 26/07/1994 Participei do I ENCONTRO DE CAPOEIRA IMPERATRIZENSE realizado pelo Grupo de Capoeira União e Avelar apoiado pelo Mestre Babalu. Em 27/08/1994 Participei do II FESTIVAL SESC DE CAPOEIRA “TROFEU MESTRE SAPO” realizado pelo SESC – Serviço Social do Comercio Em 31/05/1997 Participei do VI FESTIVAL DE CANTICO DE CAPOEIRA realizado pelo LABORARTE Em 29/09/2002 Participei do FESTIVAL MARANHENSE DE CAPOEIRA realizado pelo FECAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão. Em 22/11/2008 Participei do I FESTIVAL DE LADAINHA 10º SEMANA JEJE NAGO realizado pelo Associação de Capoeira JEJE NAGO Em 27/12/2008 Participei do I INTERCAMBIO CULTURAL DE CAPOEIRA –ALTO DO PARNAIBAMA realizado pela Associação Cultural de Capoeira Congo Aruande do Estado do Maranhão Em 01/04/2009 Participei do ENCONTRO DE CAPOEIRA DENDE DE OURO realizado pelo ASCCDOPI – Associação de Capoeira Cordão de Ouro do Piauí Em 30/07/2011 Participei do ENCERRAMENTO OFICIAL DAS ATIVIDADES CULTURAIS DO PONTO DE CULTURADO ANO LETIVO DE 2010 realizado pelo Associação de Capoeira ZAMBI CAPOEIRÁ É: A força de expressão de um povo oprimido em busca de sua liberdade, e que se tornou símbolo de resistência desse povo escravizado, ela é Arte, cultura, destreza corporal, esporte é lazer.


Contramestre BOCUDA (1989)

ANTONIO CARLOS DA SILVA 1973 CONTRAMESTRE BOCUDA) capoeira contemporânea ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense ANTONIO CARLOS DA SILVA São Luis, 16 de agosto de 1973 DADOS Filho de Terezinha Ribeiro Silva e Francisco José da Silva. PESSOAIS 2002 - formado a professor – Mestre Negão 2010 - contra-mestre – Mestre Indio Maranhão Negão (José Tupinambá) Índio do Maranhão

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Nasceu em 16 de agosto de 1973 na cidade de São Luís – MA, Filho de Terezinha Ribeiro Silva e Francisco José da Silva. Iniciou na capoeira aos 16 anos de idade no ano de 1989 com o mestre Jorge Navalha, onde comecei a dar os primeiros passos, mais não dei continuidade com o mesmo. No mesmo ano passei a treinar com José Tupinambá (Mestre Negão), no grupo de capoeira congo aruande onde passei 18 anos no ano de 2002, fui formado a professor. Em 2007 não fazendo mais parte do congo-aruande, comecei a visitar outros grupos, iniciando uma nova caminhada com o mestre Indio Maranhão. Durante 03 anos acompanhando o mestre, o mesmo me deu o título de contra-mestre em 2010.


Hoje sigo a minha própria jornada como (contra-mestre), dedicando-me a ensinar meus filhos, passando obediência e respeito da forma que aprendi durante 28 anos de capoeira. Meu Estilo é a capoeira contemporânea criada na década de 70, os fatores mais importantes da angola e regional com movimentos acrobáticos deu-se o estilo misto, então toda capoeira que não segue angola ou regional, é misto. Capoeira para mim é minha filosofia de vida, é meu aprendizado, é minha história onde expresso minha felicidade.


Contramestre MARCIO MULATO (1994)

MÁRCIO COSTA CORREA 1978 CONTRAMESTRE MÁRCIO MULATO Capoeira mista ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense MÁRCIO COSTA CORREA DADOS São Luis – Ma, 17 de abril de 1978, no Lira Filho de Maria Raimunda Costa Cutrim e Pedro de Jesus Correa Ensino Médio, Técnico em Laboratório curso de arbitragem pela FECAEMA 2001 - graduação de Aluno formado -Mestre Curió 2005 - Instrutor - Mestre Baé (Florisvaldo Santos) 2010 - professor - Mestre Baé 2013 - Contramestre (primeiro estágio) roxo e marron - Mestre Baé (Florisvaldo Santos). Alberto Euzamor MESTRE Curió (João Palhano) Militar (Carlos Adalberto) Baé (Florisvaldo Santos)

GRUPO/NÚCLEO

Projeto Quinto Batalhão de Arte / Turma do Quinto

Márcio Costa Correa (Contra Mestre Marcio- Mulato), nascido no dia 17 de abril de 1978, filho de Maria Raimunda Costa Cutrim e Pedro de Jesus Correa. nascido no bairro do Lira. Estudei nos colégios, Sadock, Instituto São Lazaro, Sousândrade e Gonçalves Dias onde conclui o ensino Médio como Técnico em laboratório.


Fui criado no Bairro do Goiabal, meu pai, sargento da Polícia Militar, me pegou de minha mãe para ser criado por ele, mas como não tinha tempo, pagava uma senhora cujo nome era Maria da Conceição Gomes, conhecida como dona Cocota para cuidar de mim. Mas com a morte do meu pai, fui criado por dona Cocota no bairro do Goiabal. Cresci em meio da cultura popular, em especial no bairro da Madre de Deus no qual obtive meu primeiro contato com a capoeira na antiga FEBEM, onde eu almoçava frequentemente, com outras jovens da minha comunidade. Comecei a praticar capoeira em 1994, no Parque do Bom Menino, com algumas pessoas que ali sempre treinavam tais como Bico, Ney, Dedé, Didi, Fafá, Militar e dentre outros. Fui aluno do Mestre Alberto Euzamor com quem treinei no Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM - ali no parque do Bom Menino, juntamente com Serafim, mas conhecido atualmente como mestre Kaka, bem como outros, como Camelo, Quebra ossos, Camaleão, Teodorinho... Deixei de treinar com o Mestre Euzamor em função da finalização dos trabalhos junto ao Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM. Em 1997, entrei para o grupo “K” de capoeira do Mestre Militar, onde permaneci até o final do ano de 2001, quando fui para o grupo Arte Negra do Mestre Curió (João Palhano), aonde conquiste a graduação de Aluno formado. Em 2002 com a mudança do mestre Curió para o Rio de Janeiro, fui convidado pelo Mestre Baé (Florisvaldo Santos) a fazer parte do grupo de capoeira Candieiro, onde conquistei as seguintes graduações de: Instrutor em 2005, professor em 2010 e de contra-mestre (primeiro estágio) roxo e marron em 2013 e pratico a Capoeira mista. Neste tempo participei de vários eventos no Estado do Maranhão tais como, Jem´s, como arbitro e técnico, Iê Camará, curso de arbitragem pela FECAEMA, batizados e trocas de cordas e festivais. Atualmente, faço parte da primeira turma do Curso de Capacitação de Mestre de Capoeira do Maranhão, realizado pela UFMA, bem como, estou integrado à S.R.C.E.S. Turma do Quinto, o qual inserido como instrutor no Projeto Quinto Batalhão de Arte, assim como dou continuidade ao trabalho do Mestre Baé em suas andanças no mundo da capoeira. A capoeira hoje em minha vida tem uma representação significativa ao longo da minha formação, além do encanto da ginga, da beleza bem como da musicalidade, da coragem do ataque e da astúcia na defesa. Assim, a capoeira me ensinou a agregar valores, a respeitar e a lutar com dignidade e responsabilidade em prol de um mundo melhor, de um Brasil mais digno onde se possa colocar a educação substituindo assim a violência que atualmente assola nossa cidade e que o respeito seja substituído pelo preconceito. A Capoeira é: acima de tudo, um instrumento de educação assim como também de inclusão social onde o rico e o pobre são tratados de maneira homogênea, ou seja, sem separação de classe social sem nenhum tipo de discriminação social. ( Capoeira, mais que Arte, Luta e Cultura é Filosofia de vida.)

Márcio Costa Correa


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.


ARTIGOS PUBLICADOS NO JORNAL DO CAPOEIRA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Alunos do Curso Seqüencial de Educação Física turma C, da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Capoeiragem No Maranhão. Parte I. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão - Parte II - Afinal, O Que É Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Maranhão - Parte IV - Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte V - Capoeira regional". IN In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte VI - A Capoeira "CARIOCA". In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Qual Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Pungada dos Homens & A Capoeiragem no Maranhão - MESTRE BAMBA, do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Capoeira em São Luis do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005. http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005 - EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo. In JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio O que é a Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem e a Guarda Negra :: Parte I. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem, Guarda Negra & ISABELISMO :: Parte II JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem, Guarda Negra & O fuzilamento do dia 17 :: Parte III Jornal do Capoeira - Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/


VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Angoleiros em Barra da Corda (MA) - JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 59 de 05 a 11/Fev de 2006 disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Sobre a matéria "Segredo não é pra qualquer um", Juca Reis & Fernando de Noronha. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Loreta Brito; HOLANDA, Felipe de. Conversando Com Mestre Patinho JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atlas Das Tradições & Capoeira E Capoeiragem No Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006, http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Fernando De Noronha & Atlas Da Capoeira Maranhense. IN JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Os Holandeses e os Palmares - Nassau atacou os Palmares! JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 71 - de 30/Abril a 06/Maio de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Capoeira nos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 73 - de 14 a 20 de Maio de 2006. http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio O Vôo Do Falcão - Mudanças de paradigma no ensino da Capoeira?JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 74 - de 21 a 27 de Maio de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira, Maranhão & Agarre Marajoara - Atlas da Capoeiragem no Brasil Maranhão e o "Agarre Marajoara". In JORNAL DO CAPOEIRA, edição 78, 28 de maio a 03 de junho de 2006, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Loreta Brito; HOLANDA, Felipe de. Pesquisa: A Capoeira na Economia - Estudo de Caso: Qual a participação da Capoeira no PIB de São Luis do Maranhão? http://www.capoeira.jex.com.br/


PESQUISA: A CAPOEIRA NA ECONOMIA Estudo de Caso: Qual a participação da Capoeira no PIB de São Luis do Maranhão?

Leopoldo Gil Dulcio Vaz Mestre em Ciência da Informação São Luis do Maranhão - CEFET-MA "Filha de peixe, peixinho é". Assim diz um adágio popular.

Não sou Mestre de Capoeira. Mas sou Mestre em Ciência da Informação. Não sou capoeirista, mas há bom tempo estou pesquisando a Capoeira no Maranhão à luz da Ciência do Esporte e da Historiografia oficial. Estou realizando um novo trabalho em prol da Capoeira, junto com minha filha - eis o motivo do ditado acima - Loreta Brito Vaz. Loreta está se formando em Economia, na Universidade Federal do Maranho e, talvez por influência minha, ela está fazendo sua Monografia de Conclusão de Curso com o tema: O esporte e as atividades físicas como geradora de renda: A Capoeira de São Luis do Maranhão - Um estudo de caso. O título, por si só, já é uma tese interessante. Quando mais aos resultados que estamos encontrando. Na verdade eu proveito a oportunidade para complementar os levantamentos de que necessito, e Loreta trabalha em sua de graduação em economia, prevista para ser defendida ate dezembro. Vamos utilizar o material do Jornal do Capoeira e o do Livro-Album que estamos elaborando para verificar uma "omissão" - ou falta de dados, um buraco - do Atlas do Esporte no Brasil, lançado no ano passado pelo Ministério dos Esportes, no Rio de Janeiro, e que está percorrendo as principais bibliotecas do Brasil. Este presente estudo fará também parte, é claro, do Atlas da Capoeira no Maranhão. Loreta está - Loreta e eu estamos - trabalhando para verificar o que representa a Capoeira no Produto Interno Bruto (PIB) maranhense. Da introdução do trabalho capturamos: "... o setor (esporte e atividades físicas) movimenta algo entre 2% e 3% do PIB. Esta cifra ao se ampliar pela incorporação das atividades de turismo, lazer e entretenimento define simplesmente o maior setor de economia de qualquer país desenvolvido, como também o de maior geração de emprego (DaCosta, 2005b)[1]. DaCosta (2005)[2], utilizando-se do método de análise de cenários[3], estabeleceu o número de participantes e de empregos gerados pelo esporte e atividades físicas no Brasil: Brasil (Atlas " COMPASS) " Totais de participantes em esporte e atividades físicas (2003) Empregos gerados por grupo de esporte e atividades complementares Estimativas e dados provisórios sujeitos a revisão " Atlas, 1ª ed, 2005 Esportes e atividades selecionadas Atlas/COMPASS Esportes Olímpicos Esportes não Olímpicos Esportes outdoor Atividades complementares Totais de contagem acumulada Totais em contagem múltipla Totais efetivos

Mais ativos

Regulares

395.329 8.212.422 366.239 319.900 28.035 136.288 8.667.894 7.365.504 749.603 10.847.815 Fonte: DaCOSTA, 2005, p. 838

Ocasionais 65.346.542 44.919.000 8.140.120 118.405.162 74.208.125

Empregos 443.000 334.700 46.492 761.222 1.585.414 870.000


Quando se analisa tabela uma outra tabela do Atlas sobre os cenários gerais, em que se apresentam estimativas e dados provisórios -, na modalidade "Capoeira", no que se refere a "atletas registrados" consta (N/d) e "dados complementares de gestão" - (N/d), isto é, não existem dados disponíveis sobre Capoeira...[4], isto, no que se refere à área cultural " Capoeiragem (Lopes, 2005)[5]. Ainda reportando-nos ao Atlas, 2005 - Cenários (DaCosta, 2005; Alves, 2005; e Boschi, 2005) [6] -, existem 1.585.414 (hum milhão, quinhentos e oitenta e cinco mil, quatrocentos e quatorze) empregos ligados direta ou indiretamente ao esporte, o que representa 2,42% da população empregada no Brasil. Tendo em vista que, segundo as mesmas fontes, o esporte movimenta 1,7% do PIB nacional, pode-se então interpretar que esta é uma atividade econômica intensiva em mão-de-obra. Afinal, sua participação no emprego nacional é de 42,4% maior que o correspondente PIB nacional." Mesmo o estudo estando em fase de desenvolvimento, optamos par compartilhar esta análise preliminar com os pesquisadores e interessados no assunto, afim de se ter críticas e sugestões ao trabalho que está em andamento. Leopoldo Vaz

[1]

Da COSTA, Lamartine Pereira. Cenário de tendências gerais do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 825-838 [2] Da COSTA, Lamartine Pereira. Cenário de tendências gerais do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 825-838 [3] O método de análise de cenários é uma descrição de uma situação corrente e de eventos a ela vinculados que podem sugerir uma situação futura, constituindo então um estudo de tendências (presente) e de projeção de situações alternativas (futuro) (DaCosta, p. 825) DaCOSTA, 2005, p. 835 [4] [5] Dados levantados por LOPES, André Lacé. Capoeiragem. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 386-387 [6] Da COSTA, Lamartine Pereira. Cenário de tendências gerais do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 825-838; ALVES, José Antonio Barros. Cenário de tendências econômicas do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 857-858; BOSCHI, Rodrigo Fortini. Cinário de tendências de emprego na área de esporte e atividades físicas. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 859-860;


ARTUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Especial para O Imparcial

NOTA – em crônica publicada pelo Mestre André Lacé em homenagem ao Grande Mestre Artur Emídio de Oliveira, nos é informado que o velho Mestre não anda passando nada bem, em seu quadro precário de saúde, apresenta problemas nos joelhos. Artur Emídio, assim como alguns grandes mestres do passado - Bimba, Pastinha e outros está tendo um fim de vida injusto com seu talento de atleta e de artista, injusto com a sua extraordinária capoeira, uma das melhores que já se viu na capoeiragem. Nada sendo feito, as lideranças não se sensibilizando e objetivando uma efetiva ajuda, teremos mais um grande mestre (Itabuna!) morrendo na miséria. (in JORNAL DO CAPOEIRA, Edição 74 - de 21 a www.capoeira.jex.com.br)

27 de Maio de 2006, disponível em -

Artur Emidio de Oliveira à Bonsucesso faisait sensation les dimanches tous allaient voir le champion dans son académie de capoeira Artur Emidio était génial un maître qu"on ne peut oublier jouant sans style particulier ni angola ni régionale Tous venaient lui demander conseil pour savoir comment s"améliorer mais aujourd"hui ça n"est pas pareil beaucoup préfèrent encore l"ignorer André Luiz Lacé Lopes in Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo; literatura de cordel, Rio de Janeiro, 2005 (trecho tirado da edição em francês, 2006).

Em “CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO”, já publicado em nosso ‘Jornal do Capoeira’, procurei resgatar os primórdios da capoeira praticada em São Luís do Maranhão (Brasil), assim como seu estágio atual, através do resgate da história de vida de seus principais atores – os Mestres de Capoeira. A Capoeira maranhense teve dentre seus precursores, Roberval Serejo. Para o Mestre Mirinho71 – Casimiro José Salgado Corrêa - a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantus”, em época remota (anos 60). Este grupo praticava a capoeira na antiga Guarda Municipal, no Parque Veneza. Outro Mestre, Patinho, relata o aparecimento desse grupo: “... bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci.... Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira (foto) na década de 60; Babalú, um apaixonado pela capoeira; outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu 71

In LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO – em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005.


com o mestre Artur Emídio do Rio , Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.” (Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira) 72.

Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: “Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi”. (MARTINS, 2005, p. 31) 73. GRUPO BANTUS | (Mestre Catumbi) Mestre Firmino Diniz

(Mestre Artur Emídio) Mestre Roberval Serejo

(Mestre Djalma Bandeira) Mestre Jessé Lobão

Babalú

Gouveia

Manuel Peitudinho

Alô

Ubirajara

Patinho

Didi

Elmo Cascavel

Mestre Patinho – o mestre de referencia da capoeira maranhense, hoje -, afirma ter recebido influencia de Artur Emídio: “Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê”. (Mestre Patinho in Entrevistas)74 Roberval Serejo morre em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui; seus alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo, que forma, então, seu grupo e passa a dar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco: “Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passe a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas que não tinha tempo de se 72

Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in “Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira do Maranhão”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 73 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís: UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005. 74 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in “Mestres de Capoeira do Maranhão”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005.


dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira”. (MARTINS, 2005, p. 36).

ABERRÊ | CANJIQUINHA Brasília

SAPO

Vítor Careca

| PATINHO Buscamos na memória dos Mestres mais antigos de São Luís a influência de Artur Emídio na/para a atual Capoeira maranhense...

O Grupo Aberrê, com Mestre Sapo (aos 17 anos) tocando pandeiro; no berimbau, Vítor Careca; jogando capoeira, estão Mestre Canjiquinha (de cabeça para baixo), e Mestre Brasília (Fonte: MARTINS, 2005, p. 33).


CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES75 Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura brasileira, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. A exemplo do que acontece em França, Itália, Espanha e Portugal, propõem-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. História

Introdução: Em 1994, o Ministério da Educação e do Desporto - MEC - constituiu Grupo de Trabalho (MEE/INDESP, 1996) 76 para elaborar a aproximação conceitual de Esporte e Cultura, iniciandose, no Brasil, uma discussão sobre “Esporte de Criação Nacional”. Com a identificação do problema conceitual, se fez necessário desenvolver a dissecação do título. No instante em que se separa a idéia “Esporte” de um lado e “Criação Nacional” de outro, percebe-se a possibilidade de um desdobramento fértil. Enquanto o “esporte” pode ser entendido como um jogo, uma brincadeira, uma dança, um ritual, etc., o atributo de “criação nacional” por sua vez, pode ser entendido como de “Criação Cultural”, ou com “Identidade Cultural” (SANTIN, 1996) 77. Silva (1987) 78, ao levantar a questão da perda dos valores culturais e da identidade cultural, afirma que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística: “Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral. “Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado...”. (p. 20-21)

Considera, ainda, que a perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros, com o que concordam Dieckert; Kurz & Brodtmann (1985) 79 quando afirmam que no Brasil deve haver uma educação física brasileira e critica o modelo 75

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Construção De Uma Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Brasileira: Proposta E Contribuições. IN Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança, VII, Gramado, junho de 2000. Anais... 76 MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO DOS ESPORTES. INDESP. Coletâneas: Desporto Com Identidade Cultural. Brasília, 1996. 77 SANTIN, Silvino. Esporte: identidade cultural. Coletânea Indesp - Desporto Com Identidade Cultural, Brasília, 1996, p. 13-26. 78 SILVA, Maurício Roberto da. Resgate da cultura popular na educação: uma perspectiva educacional libertadora no contexto da educação física escolar. Revista Artus, Rio de Janeiro, n. 20, dezembro de 1987, p. 17-25. 79 DIECKERT, Jürgen; KURZ, Dietmar; BRODTMANN, Dietmar. Elementos e princípios da educação física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.


internacional do esporte corporal do povo brasileiro, que possui a capoeira como uma das maiores riquezas, além de outros jogos, danças e ritmos. Dieckert (1987) 80 destaca ainda o quanto é importante que essas manifestações sejam resgatadas, para não se transformarem em peças de museu. Da mesma forma, Manuel Sérgio Vieira E Cunha (1985)81, ao analisar um tipo de esporte baseado na cultura, enfatiza o significado dos jogos tradicionais das diversas formas de desporto popular e ainda das pequenas agremiações locais, que cedem lugar ao imperialismo do desporto-instituição, reprodutor e multiplicador das “taras do ter”. Para Silva (1987)4, a perda desses valores levou a sociedade a explorar o corpo dos cidadãos como se fosse objeto e não sujeito, imprimindo-lhe gestos e movimentos ginásticodesportivos padronizados, reduzindo o acesso às danças e aos jogos da lúdica popular e resultando na perda da ludicidade, que deve ser compreendida como o estado de espírito que dispõe o homem a ser alegre e brincar livremente. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte e por lazer, dada a abrangência dos termos. Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 198082; SILVA, 19874; SANTIN, 19963; DAMASCENO, 199783). O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos: "Durante a realização dos Jogos, desaguavam em Olímpia tudo o que na Grécia havia de artístico, filosófico e desportivo. Os poetas escancaravam o que lhes medrava na alma, os sofistas dialogavam com auditórios eruditos e os atletas competiam entre sí. Enfim, arte, filosofia e desporto num conúbio que muito enriqueceu a literatura grega. Já Homero poetizara as corridas de carros, mas literatura centrada no desporto... foi Píndaro o primeiro" (VIEIRA E CUNHA &

FEIO, s.d: 9)7.

Depois dele, muitos outros. "E no gaiato tagarelar das ruas de Atenas, o desporto nascia como verdadeiro fenômeno cultural". Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna. Vieira E Cunha & Feio (s.d.)7 justificam a feitura de uma antologia portuguesa de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do sensocomum que se tem dessa manifestação, não se resume a "[...] uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expresso apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura”. (p. 7)7.

Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; um meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um "fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana" (p. 8):

80

DIECKERT, Jürgen. A educação física no Brasil.. A educação física brasileira. (in) ESCOBAR, Micheli & TAFFAREL, Celí N. Z. Metodologia esportiva e psicomotricidade. Recife: Gráfica Recife, 1987, p. 2-19. 81 VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. Homo Ludicus - Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Portuguesa. vol. 1 e 2. Lisboa: Compendium, (s.d.). 82 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O Jogo Como Elemento Da Cultura. 2a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1980. 83 DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in Revista Brasileira De Ciências Do Esporte, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-10


"Ainda integrado na luta pela compreensão do desporto, permitimo-nos recordar que a Cultura Física é uma Ciência do Homem e como tal deve ser analisada, estudada, praticada, difundida e... defendida! Daí que, ao nível da interdisciplinaridade com outros ramos do saber, não seja demasiado encarecer quanto à educação física e os desportos dialecticamente se relacionam, quer com as outras Ciências do Homem, quer com as Ciências da Natureza e as Ciências Lógico-Dedutivas..." (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.: 8) 7.

Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática desportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (FAVERO, 1994) 84 . Busca-se identificar dentre autores maranhenses aqueles que se tornaram ‘sportman’ ou que escreveram sobre atividades esportivas e/ou de lazer praticadas em São Luís do Maranhão, resgatando-se a memória dessas atividades. A Atenas brasileira Na literatura dos viajantes, Abbeville (1975:236) 85 foi quem primeiro registrou, no Maranhão, as atividades dos primitivos habitantes da terra. Para esse autor é por não terem ambições materiais que os índios da Ilha do Maranhão têm na dança o primeiro e principal exercício; além da dança, têm como exercício a caça e a pesca. Já Spix e Martius afirmam serem os Jês hábeis nadadores, havendo o registro de serem também grandes corredores: "... timbiras de canela fina (corumecrãs)... famosos pela velocidade na corrida, esses índios enrolavam suas pernas com fios de algodão que acreditavam afinar-lhes as pernas e proporcionar-lhes leveza para correr..." (citados por CALDEIRA, 1991:77-78) 86. A literatura maranhense tem início com o surgimento da imprensa. Ramos (1986) 87, escrevendo sobre o seu aparecimento no Maranhão registra, no período colonial, que "... jornalista era o magnífico João Tavares com sua 'Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão'...” 88. No período imperial registra-se o aparecimento de inúmeros jornais políticos e literários, coletâneas de poesia e de peças teatrais, sendo publicados entre 1821 e 1860, 183 jornais (RAMOS, 198613, 199289), a grande maioria de caráter político. Os jornais com objetivo de recrear - de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo - foram: a "Folha Medicinal", de 1822; o "Minerva", de 1827; "A Bandarra", 1828. Apenas esses dois últimos, dos 21 jornais do período de 1821 a 1830 dedicaram-se a divulgar literatura. Alguns periódicos tiveram contribuições de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa. 84

FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque, O espaço PROEDES: memória, pesquisa, documentação. IN GOLDFABER, José Luiz (org.). Anais Do Iv Seminário Nacional De História Da Ciência E Da Tecnologia. Belo Horizonte: FAPEMIG; São Paulo: Anna Blaume: Nova Stella, 1994. P. 100-103 85 ABBEVILLE, Claude d'. História Da Missão Dos Padres Capuchinhos Na Ilha Do Maranhão E Terras Circunvizinhas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 86 CALDEIRA, José de Ribamar C. O Maranhão Na Literatura Dos Viajantes Do Século XIX. São Luís: AML/SIOGE, 1991. 87 RAMOS, Clóvis. Os Primeiros Jornais Do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1986. 88

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Ver adiante “Breve descrição das grandes recreações do rio Muni do Maranhão, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”, p.

RAMOS, Clóvis. Opinião Pública Maranhense: Jornais Antigos Do Maranhão (1831 a 1861). São Luís: SIOGE, 1992


Ramos (1992)15 ainda registra o aparecimento em 1831, do "Atalaia dos Caiporas"; em 1839, do "O Recreio dos Maranhenses”; 1840, de "A Revista"; "O Jornal Maranhense" aparece em 1841. Periódico oficial trazia como epígrafe uma frase de Tímon: "a verdadeira educação de um Povo livre faz-se nos jornais". De 1842, são o "Museu Maranhense", " O Publicador Maranhense"; de 1845, o "Jornal de Instrução e Recreio",. "O Almazém"; de 1846, "O Arquivo Maranhense", contando com Gonçalves Dias, ainda jovem e interessado em teatro, dentre seus colaboradores. Escreveu em seu primeiro número: "Fiéis ao nosso programa, o nosso fim continua a ser - a Instrução e o Recreio -..." (RAMOS, 1992: 121)15. De 1849, a "Revista Universal Maranhense”. O "Jornal de Tímon", publicado em fascículos de 1852 a 1854, foi, no dizer de Viveiros de Castro (citado por RAMOS, 1992)15, "revista literária, de publicação mensal, na qual João Francisco Lisboa conquistou muito justamente a nomeada de um dos primeiros prosadores da língua portuguesa" (p. 189). Ainda desse ano de 1852, "A Marmotinha". Nos anos seguintes aparece "A Violeta" (1853); "O Botão de Ouro" e "A Sentinela" (1854); de 1855 é o "Diário do Maranhão"; em sua edição de 23.10.1855, número 41, é informado que "tivemos a satisfação de ler um novo jornal recreativo intitulado ‘A Saudade’, dedicado ao belo sexo maranhense". (RAMOS, 1991: 213)15. De 1857 é "A Estrela da Tarde"; de 1858, o "Jornal do Comércio. O "Verdadeiro Marmota", jornal literário, foi saudado, em 1860, nestes termos elogiosos: "reaparece este interessante jornal, depois de ter por algum tempo, pela indolência e lassidão, que geralmente ataca os jornais recreativos nesta província..." (citado por RAMOS, 1992:237)15. Em 1860, contando com uma população de 35 mil pessoas, São Luís tinha matriculado em suas escolas primárias dois mil rapazes e 400 moças e no secundário, 180. Esses poucos números mostram que era muito reduzido o número de pessoas que acediam à leitura. O ensino primário havia se desenvolvido desde a independência. Em 1838 é inaugurado o "Liceu Maranhense", dirigido pelo famoso gramático Francisco Sotero dos Reis. O Liceu passou a substituir os preceptores dos filhos da burguesia comercial e da oligarquia rural (MÉRIAN, 1988)90. No entender de Dunshee de Abranches91, a fundação desse colégio, logo seguido do colégio das Abranches, do Colégio do Dr. Perdigão e de tantos outros, contribuiu para com o progresso da educação mental da juventude, levando o Maranhão tornar-se, de fato e de direito, a Atenas brasileira. Conclusão A literatura ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos cerca, quando descreve a sociedade em que a história se passa. Pode ser usada como fonte de pesquisa, ao se identificar, na narrativa, as manifestações de caráter esportivo, recreativo e de lazer. Buscou-se em dois autores maranhenses92 - Aluízio Azevedo e Dunshee de Abranches trechos em que se referem à cultura corporal no Maranhão, no século XIX, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos.

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MÉRIAN, Jean Yves. Aluísio Azevedo Vida E Obra (1857-1913) - O Verdadeiro Brasil Do Século XIX. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Banco Sudameris Brasil; Brasília: INL, 1988. 91 ABRANCHES, Dunshe de A Setembrada - A Revolução Liberal De 1831 Em Maranhão - Romance Histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970; ABRANCHES, Dunshee de. O Captiveiro (Memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941; ABRANCHES, Dunshee de. A Esfinge Do Grajaú (Memórias). São Luís: ALUMAR, 1993; ver, a seguir, “Dunshee de Abranches – discurso de posse...” 92

No artigo original, a partir deste ponto apresentam-se dois autores maranhenses: Aluisio Azevedo e Dunshee de Abranches. Para este Capítulo, apresento não somente esses dois autores, com um texto ampliado, a seguir, como outros maranhenses que se dedicaram a descrever as manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão.


DUNSHEE DE ABRANCHES93 Senhora Presidente, demais Sócios Efetivos deste Instituto, Profa. Dilercy, Padre Meireles, meus agradecimentos por me receberem nesta Casa. Quando aqui estive conversando com a Profa. Eneida e fazendo a entrega de meu currículo, me foi dada a oportunidade de escolher a cadeira que poderia vir a ocupar, caso aceito pelo nobre Colegiado. Dentre aquelas então vagas, estava a cadeira de número 40 que tem como Patrono JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA – Dunshee de Abranches -; e identificados seus ocupantes: JOSÉ DE RIBAMAR PEREIRA, JOSÉ DE RIBAMAR DA SILVA FERREIRA, e PEDRO RATIS DE SANTANA. O que chama atenção, é que todos os ocupantes se destacaram, dentre outras atividades, como Professores. Porque a escolha por essa Cadeira? Quando iniciei minhas pesquisas sobre a memória/história do Maranhão, um dos primeiros autores estudados foi justamente Dunshee de Abranches. Tenho me dedicado ao resgate da Memória do Lazer, dos Esportes e da Educação Física no/do Maranhão. Ao ler “O Captiveiro” 94 – segundo volume da trilogia das memórias de Dunshe de Abranches 95 - deparei-me com o seguinte trecho: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos ..”. (p. 187-188 (Grifos meus).

Ora, por essa época – inicio dos anos 1980 – a então Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje, CEFET-MA -, implantava seu Curso de Formação de Professores de Educação Física; uma das disciplinas, História da Educação Física, ficou sob minha responsabilidade. O programa dessa disciplina, em todos os cursos de educação física, trata dos períodos clássicos da História – Antiguidade, muita coisa sobre Grécia e Roma, Idade Média, Renascimento... – e pouca coisa sobre seu surgimento no Brasil. Tínhamos, à época, poucos autores. Destacando-se dois: Inezil Penna Marinho, e Jair Jordão Ramos. E o que dizer do Maranhão? Nada! Dediquei-me, então, a resgatar essa história. E o primeiro achado foi Aluísio de Azevedo, seguido de Dunshee de Abranches... JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA nasceu à Rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Seus pais foram o negociante Antonio da Silva Moura - nascido em Portugal e educado desde os cinco até os 21 anos no Havre e em Paris -, e Dona Raimunda Emília de Abranches Moura - filha de Garcia de Abranches, o Censor. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar, internacionalista... Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelos “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993) 96. 93

Discurso de posse de Leopoldo Gil Dulcio Vaz no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira de no. 40 - Patrono: João Dunshee de Abranches Moura; ocupantes: José de Ribamar Pereira; José de Ribamar da Silva Ferreira; e Pedro Ratis de Santana, ocorrida em 03 de setembro de 2008.

94

DUNSHE DE ABRANCHES MOURA, João. O Captiveiro (Memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. As outras duas obras são: “A Setembrada” e “A Esfinge do Grajaú”.

95

96

GASPAR, Carlos. Dunshee De Abranches. São Luís: (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92).


Em “A Setembrada” 97, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô, e Frederico Magno de Abranches, seu tio. Referindo-se ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno, seu sobrinho relembra que: “... Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão” (DUNSHE DE ABRANCHES, 1970:31) (Grifos

meus) Em “O Captiveiro”20, escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, é dominado por figuras femininas e pela denúncia da escravidão, com relatos e documentos significativos sobre a sociedade maranhense do século XIX. Baseou-se em apontamentos de sua adolescência, registrados por volta de 1880, quando consultou pela primeira vez a correspondência de sua avó materna - Marta Alonso Alvarez de Castro Abranches (espanhola, 18001855) 98 - e entrevistou com impressionante acuidade, numa antevisão dos procedimentos da história oral, Emília Pinto Magalhães Branco (natural de Lisboa - 1818-1888), mãe dos escritores Aluízio, Artur e Américo de Azevedo 99.

Numa das passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcádia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174) 20,100. O ‘Clube dos Mortos’ reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios. 97

ABRANCHES, Dunshee de A Setembrada - A Revolução Liberal De 1831 Em Maranhão - Romance Histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970

98

O autor não esconde a grande admiração nutrida por sua avó, celebrada educadora de São Luís. Em 1844, fundou o colégio Nossa Senhora da Glória, popularmente denominado colégio dos Abranches, primeira escola feminina de São Luís. D. Martinha está a merecer um estudo acurado sobre sua vida e contribuição à educação maranhense...

99

JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Balaiada: construção da memória histórica. In História, São Paulo, v.24, N.1, P.41-76, 2005;

100

Citado em: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas Para O Ar Que Ninguém É De Ferro: As Recreações Na São Luís Do, Século XIX. Concurso Literário E Artístico ‘Cidade De São Luís’, Prêmio ‘Antonio Lopes’ de Pesquisa Histórica, segundo colocado, São Luís, PMSL, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito In Jornada De Iniciação Científica Da Educação Física Da UFMA, III, São Luís, dezembro de 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. In Congresso Brasileiro De Ciências Do Esporte, X, Goiânia, 1997; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito Aluísio Azevedo E A Educação (Física) Feminina. In Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança, VII, Gramado, junho de 2000; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Construção De Uma Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Brasileira: Proposta E Contribuições. IN Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança, VII, Gramado, junho de 2000; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O “Sportman” Aluisio Azevedo. In Congresso Brasileiro De História Da Educação Física, Esportes, Lazer E Dança VIII, Ponta Grossa, novembro de 2002


Nessa mesma obra, Dunshee de Abranches (1941)20 lembra que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde "[...] ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias [...]". (p. 157).

Ainda em “O Captiveiro”, às páginas 39, refere-se ao negro africano Adão, seu “mestre de remo e de caça”. Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993) 101, deparamonos com uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993)22. Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: "[...] Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio [...] Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne [...] o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais [...]". (p. 16-

17). Dunshee de Abranches também se referiu à Capoeira. Mais especificamente, à atuação da Guarda Negra 102. Em artigo de Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio Gomes sobre “O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista” 103, os autores se referem à existência de uma Guarda Negra em São Luís. Como desconhecia o assunto, procurei me informar. Não achei nada! Mandei mensagem eletrônica ao Prof. Líbano, da U.F. Bahia, perguntando de onde obtivera essa informação. Disse-me que consta de “O Negro na Bahia”, de Luis Vianna Filho, obra da década de 40 104. E que este se refere à Dunshee de Abranches... Realmente, Dunshee de Abranches, em suas memórias sobre a escravidão e o movimento abolicionista, se refere à Guarda Negra, naquele episódio que resultou na queda do gabinete Cotegibe: “Voltando logo depois ao Rio [de viagem a São Paulo e Santos], assisti à agitação revolucionária que se fez em torno do gabinete organizado pelo Barão de Cotegipe. Participei dos memoráveis comícios em que, ao lado de Patrocínio, a mocidade das escolas civis e militares resistia heroicamente às investidas da 101

102

ABRANCHES, Dunshee de. A Esfinge Do Grajaú. São Luís: ALUMAR, 1993.

A Guarda Negra foi formada por José do Patrocínio em 28 de setembro de 1888, como um movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exército e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão à família real pela abolição e intimidar republicanos e tumultuar os comícios. A ação da Guarda Negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. In http://negro.www.marconegro.blogspot.com/ 103 SOARES, Carlos Eugênio Líbano; GOMES, Flávio. O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista. In Revista História Viva, São Paulo, edição 25, de novembro de 2005, p. 74-79. 104 VIANA FILHO, Luiz. O Negro Na Bahia. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1946.


guarda negra. E, em uma dessas reuniões subversivas no Largo da Lapa, um dos quartéis generaes da capoeiragem carioca, terminada em tremendo e sangrento conflitcto, sendo talves o vigésimo orador, que alli falava do alto do chafariz...”. (in

DUNSHEE DE ABRANCHES. O Captiveiro (memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941, p. 228-229)20. Os acontecimentos a que se refere Dunshee de Abranches aconteceram no Rio de Janeiro, não em São Luís do Maranhão! Aqui, nada encontrei sobre a existência da Guarda Negra 105; encontrei, sim, um episódio relacionado com a participação dos negros no processo de combate à República recém proclamada, denominado de "o fuzilamento do dia 17", e ocorreu como uma manifestação de escravos, recém-libertos, contra Paula Duarte e o empastelamento de seu jornal “O Globo”, conforme informam Mario Meireles, Barbosa de Godois e Milson Coutinho 106. Ainda se referindo aos Capoeiras, em Nota do “Actas e Actos do Governo Provisório”, trabalho organizado por Dunshee de Abranches e publicado em 1907, onde fica evidente o medo que cercava a realização de quaisquer festividades, patrióticas ou religiosas, nos conturbados tempos pós-República, sobretudo à noite - quando a multidão de apinhava pelas ruas e praças de que não ocorressem cenas sangrentas e aviltantes de confronto entre policiais e capoeiristas...107 Como se vê, Dunshee de Abranches relata-nos em sua obra – em especial em sua trilogia - os costumes das diversas épocas da História maranhense. E dentre estes, a prática de atividades físicas e esportivas: caminhadas pela cidade e pelos campos, a pé e a cavalo, prática do remo e da caça, prática de jogos esportivos – como o ‘Jogo da Pela’, atual Tênis, do Bilhar Francês – e podemos considerar, ainda, a existência de uma primeira academia de ginástica (musculação) de São Luís... DUNSHEE DE ABRANCHES - (JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA) nasceu em São Luis, Maranhão, em 02 de setembro de 1867 – daí ter escolhido o dia de hoje, dois de setembro, para minha posse -. Após os estudos primários em sua terra natal – primeiro, estudando com sua mãe e tias, no famoso ‘Colégio das Abranches’108, onde também deve ter feito os preparatórios para o Liceu Maranhense. Um dos famosos “meninos do Liceu” no dizer de Gonçalves Dias, aos 16 anos de idade, ao concluir seu Curso de Humanidades, foi plenamente aprovado em severos exames de Gramática Portuguesa, Latim, Francês, Alemão, Inglês, Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Geografia, História, Filosofia e Retórica. Há esse tempo, precoce, já estudara Desenho com Horácio Tribuzi, Harmonia com Leocádio Rayol, Piano com sua mãe, d. Emília, e Violino com Pedro Ziegler.109 Tornou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Antes, porém, foi aluno da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas não concluiu o curso, cursando-o até o quinto ano110. 105

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra. In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra II – O Isabelismo. In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra III – O Fuzilamento do dia 17. In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005; adiante 106 MEIRELES, Mário. História Do Maranhão. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 307; ver também: BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. Historia Do Maranhão. São Luís: Mar. Typ. De Ramos d´Almeida & C., Suces., 1904, tomo II, p. 539-540; COUTINHO, Milson. Subsídios Para A História Do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1978. 107 108

LINS E SILVA, Marieta Borges. Capoeiras e Capoeiristas. . In Jornal Do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br

“Preliminarmente teve como professoras, além de sua mãe e das tias Amância e Martinha – estas três, fundadoras do Colégio Nossa Senhora da Glória-, também suas irmãs, Emília, Amélia e Helena. Completamente alfabetizado aos 4 anos de idade, aos seis já traduzia francês e aos sete principiava as lições de inglês e espanhol. “ (GASPAR, Carlos. Dunshee De Abranches. São Luís: (s.e.), 1993, p. 22. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 109 MORAES, Jomar. Ainda o humanista Dunshee de Abranches. In O Estado Do Maranhão, São Luís, 21 de maio de 2008, quarta-feira, p. 6, Caderno Alternativo. Hoje é dia de Jomar Moraes. 110 Informa GASPAR (1993) que não concluiu o curso “em fase de lamentável incidente com um de seus professores, por ocasião de uma das provas do currículo, quando acalorada discussão entre o aluno e o mestre culminou com uma cena de pugilato”. (p. 22).


No ano de 1889, aos seis de janeiro, casa em cerimônia celebrada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nesta cidade, com a Senhorita Maurina da Silva Porto, de cujo consórcio teve filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini 111. Em 1890, estava na Bahia, retomando os estudos de Medicina, porém ‘tirando a carta’ de Farmacêutico; prossegue os estudos de Medicina e inicia o de Direito (1891). (GASPAR, 1993)22. De volta ao Maranhão, foi enviado pelo Governador da Província, o pernambucano José Moreira Alves da Silva, como Promotor Público, para averiguar os acontecimentos e decifrar o mistério d’ “A Esfinge de Grajaú”27. Decifrar o enigma não era outra coisa, senão uma explicação racional para as tantas brigas sangrentas existentes em Grajaú. (GASPAR, 1993) 22. Nos anos seguintes, o advogado Dunshee tornou-se Deputado Estadual no Maranhão (1904-1909), e integraria depois a bancada de sua Província natal na Câmara Baixa do País, tendo sido eleito mais de uma vez (1909-1917) 112. Viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se torna adepto do Positivismo. Foi professor de Ciências Física e Naturais, de Anatomia e Fisiologia, de Direito Público e agraciado com o título de Professor Honorário da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde recebeu a mais alta condecoração da Cruz Vermelha Alemã. Em setembro de 1929, chefiou a delegação brasileira à solenidade de lançamento da pedra fundamental da Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Lisieux, França. Na ocasião, falaram apenas três oradores: o Cardeal Charost, representante do Papa Pio XI, George Goyau, da Academia Francesa, e Dunshee de Abranches113. 111

Dunshee de Abranches casou-se com D. Maurina Porto Dunshee de Abranches, filha do filantropo José Maria da Silva Porto; tiveram seis filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini (in ABRANCHES, Dunshee. Garcia De Abranches, O Censor (O Maranhão em 1822) – Memória histórica. São Paulo: Typographia Brasil Rothschild, 1922, p. 157158). 112 Na primeira década do século XX, dentre os vultos notáveis do Congresso Legislativo do Estado, consta o nome de Dunshee de Abranches – descendente do grande João Antonio Garcia de Abranches, cognominado ‘O Censor’, o sangue jornalístico do velho Garcia se transmudou para o neto ilustre. Uma extraordinária cultura, dono de uma das mais vastas Bibliografias de que se tem notícia, só rivalizando com ele o não menos extraordinário Coelho Neto. Iniciou sua carreira política no Partido Republicano de Benedito Leite, elegendo-se deputado estadual em 1904. Espírito irrequieto, polemista notável, foi a maior figura da legislatura que integrou no Congresso Maranhense. Para aquela 5ª. Legislatura do Congresso maranhense - 1904/1906 – elegeram-se todos os candidatos de Benedito Leite, não tendo a casa nenhum representante oposicionista. As eleições realizaram-se a 06 de dezembro de 1904, com a recondução de muitos parlamentares pelas suas sólidas bases eleitorais garantidas por um sistema de governo que reagia mecanicamente ao comando do Senador Benedito Leite. Todavia, novos nomes iriam figurar naquela casa, dentre esses se destacaria o afamado polígrafo João Dunshee de Abrantes Moura. Dunshe de Abranches teve 14.807 votos, elegendo-se com a 21ª. Votação. Não participou dos trabalhos daquele ano, mas em 1905 foi o Deputado que praticamente tomou as atenções da Casa, quer por seus trabalhos nas Comissões, quer pelos projetos e discursos proferidos, quer pelos fulminantes apartes dados em seus colegas, chegando a participar da mesa diretora, como terceiro suplente. Numa de suas intervenções, afirma existindo na casa algumas duplicatas de eleições para as Câmaras Municipais, solicitando nomeação de Comissão – a quem coube a relatoria – para apresentar parecer sobre aquelas duplicatas. De seu Relatório, foram anuladas as eleições de Cajapió, Balsas e São João dos Patos. Nessa legislatura, sem dúvida a questão dos limites entre os municípios de Alto Itapecurú e Barra do Corda demandou um amplo estudo, apresentando projeto de lei onde ficaram delimitados os marcos e as linhas a serem fixadas pelo Governo, pondo fim aquela querela que vinha de longo tempo. De seus inúmeros pronunciamentos, o tema que mais debateu refere-se à situação da Instrução Pública, assunto de sua permanente preocupação. Na legislatura seguinte – 1906 – não mais fazia parte da Mesa Diretora, requerendo licença para se ausentar da Capital. Da sexta legislatura, destacaram-se os Deputados Dunshee de Abranches, José Barreto e Clodomir Cardoso; é a partir de 1907 que as Oposições maranhenses tomam posição de combate ao regime de Benedito Leite, há 14 anos governando, ora por prepostos, ora diretamente. Em 09 de dezembro de 1906, novas eleições para a renovação do Congresso Legislativo do Estado e Dunshee de Abranches se reelege no grupo situacionista com a 15ª. Votação, com 10.523 votos. A Oposição elegeu seis deputados, dos 30. Dunshee de Abranches, quando da eleição da Mesa, informa à Presidência da Casa de que não poderia se fazer presente por motivo de moléstia, o que foi lamentado pelo jovem Deputado Clodomir Cardoso (então com 28 anos), que iria desforrar suas mágoas sobre seu colega Dunshee de Abranches, acerca de pronunciamento que fizera ser o Pará, melhor que o Maranhão. Em 1909, ocorreram as eleições para Deputados Federais, e na fórmula ainda traçada pelo falecido Governador Benedito Leite, elegeramse: para o Senado, o Dr. José Eusébio de Carvalho Oliveira. Para Deputados Federais, Francisco da Cunha Machado e Dunshee de Abranches. Apresentou relatório, nessa legislatura, enviando projeto de lei que fixava a Força Pública para o ano seguinte. In COUTINHO, Milson. O Poder Legislativo Do Maranhão – 1830/1930. São Luís: Assembléia Legislativa do Maranhão, 1981, p. 247-294. 113 Dunshee de Abranches proclamava-se ateu em sua juventude, convertendo-se ao catolicismo na maturidade. Contradição que, segundo Moraes (em O humanista Dunshee de Abranches, in O Estado Do Maranhão, 21 de maio de 2008, p. 6, Caderno


Escritor, Jornalista, Político Maranhense. Ensaísta, Pesquisador, Memorialista. Intelectual, Ativista, Produtor Cultural. Idealista. Visionário. Dunshee de Abranches foi sócio de diversas instituições sociais, culturais e de classe de seu tempo, dentre outras, Ordem dos Advogados do Brasil, de que foi membro do Conselho Federal e do Instituto dos Advogados. Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI 114. Patrono da Cadeira 40, da Academia Maranhense de Letras. Não deve ser confundido com outros “Dunshee” ilustres. Faleceu em Petrópolis, em 11 de março de 1941, com 74 anos de idade. Escreveu dezenas de obras 115 entre as quais, “A Setembrada”, “Garcia de Abranches - O Censor”. Alternativo) qualificava-o para representar o Brasil, já católico fervoroso, à solenidade de lançamento da pedra fundamental e pronunciar o seguinte discurso: Oração Estas palavras deveriam ser pronunciadas de joelhos! Não é somente um humilde cristão, que se vem postar diante da grande Santinha, cuja intercessão fez em sua família uma cura maravilhosa e uma verdadeira ressurreição, verificados por dois médicos celebres nada crentes, e atestadas por um apóstolo ilustre da Igreja, o Padre Rubilon, evangelista dedicado da sublime doutrina da terna Flor do Carmelo em meu país. É o Brasil católico, posso dizer, o Brasil inteiro, que eu represento neste instante, porque todos os brasileiros são servos fiéis de Deus; é a minha Pátria, ela mesma que junta a sua voz a este concerto magnífico de preces que, de todos os cantos do Universo, convergem para a França, a terra predestinada dos Santos, para exaltar as graças na pequenina, mas, sem dúvida, a mais brilhante das estrelas do firmamento da Igreja. Santa Teresa de Lisieux, dizem na minha terra, é a Santa dos Brasileiros. Ela é também a padroeira bem-aventurada de toda a America do Sul. No Brasil, sobre um vasto território, quinze vezes maior que a França, não há um só lugar, onde, pelas cidades e pelas aldeias, através das florestas virgens, a influencia de nossa Santinha não se tenha feito sentir por favores extraordinários. Um dia, de sua diocese, situada bem longe dos centos civilizados, D. Alberto, o bispo-missionário, pediu-me uma estátua da celeste Carmelita para a sua Catedral. No dia seguinte ao da chegada de seu destino, todos os alunos de uma escola protestante abandonaram o professor para se dirigir ao Catecismo. Desde este momento, a chuva de rosas não cessou de cair sobre essas longínquas regiões. A inauguração do altar da Santa foi celebrada por mais de 17.000 comunhões! No Rio de Janeiro, já possuímos a soberba Basílica de Santa Teresa do Menino Jesus, benta, o ano passado, por D. Sebastião Leme, mui justamente cognominado pelo povo – o Arcebispo da Eucaristia. Em São Paulo, outro templo monumental se levanta. E, por todos os Estados Brasileiros, vê-se sempre nas igrejas, nas capelas e nos lares dos ricos e dos pobres, ao lado do Sagrado Coração de Jesus, a imagem sorridente de sua pequenina esposa do Carmelo. Esta basílica, cuja primeira pedra hoje colocamos, será sem dúvida a cidadela invencível de todos os missionários do mundo. De suas muralhas inexpugnáveis, brancas e imaculadas como a Hóstia, partirão bem depressa, em massa, os pregadores predestinados, os novos evangelistas do Amor de Jesus! Senhores, basta de ilusões inúteis! Basta de vaidades efêmeras! Somente o Amor de Jesus, só ele, poderá realizar o supremo ideal dos povos contemporâneos - A PAZ UNIVERSAL! Santa Teresa do Menino Jesus! O Brasil, a terra de Santa Cruz, está a vossos pés! Salve! (Tradução portuguesa da oração que foi proferida em francês). In MEIRELES, Mário Martins; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; VIEIRA FILHO, Domingos (org.). Antologia Da Academia Maranhense De Letras – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 124-125. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia). 114 Ao assumir a presidência da Associação, gozava de boa fama como jornalista, advogado e político (deputado federal à sombra do Barão do Rio Branco). Admirador do modesto confrade Gustavo, foi ele quem lhe trouxe, de uma viagem à França, os dados essenciais para o estabelecimento da Associação (leis e regulamentos de entidades semelhantes e sindicais). João Dunshee de Abranches Moura foi empossado na Presidência da ABI em 13 de maio de 1910, com o apoio integral do grupo que controlava a Associação e prometendo defender a liberdade de pensamento a qualquer custo. Em 1911, foi reeleito para mais dois anos de mandato. Durante sua administração, várias providências foram tomadas, como a reforma estatutária, a mudança de nome para Associação de Imprensa dos Estados Unidos do Brasil, a criação da biblioteca e do cargo de bibliotecário, de congressos de jornalistas, e de um Tribunal de Imprensa, destinado a julgar conflitos da categoria. No mesmo período, foi instituída a carteira de jornalista, como instrumento de identidade e do exercício efetivo da profissão; o distintivo de sócio, e um fundo de auxílio funeral. A Associação ganhou uma sede modesta no primeiro andar de um prédio da Avenida Central (atual Rio Branco), na esquina com a Rua da Assembléia. Devem-se a Dunshee os primeiros projetos da Escola de Jornalismo, reivindicação dos fundadores da ABI. Também lhe ficamos obrigados pela mudança do Estatuto corporativo. Ocupado com afazeres oficiais e particulares, Dunshee renunciou ao cargo. Fora abolicionista, estudava História e Ciência Política e dedicava-se à música. Escreveu dezenas de livros. Dele é o pensamento: "Os jornais, de fato e de direito, constituem uma força preciosa, necessária e bem organizada para encaminhamento e solução dos mais sérios e importantes problemas sociais" (1911). A diretoraproprietária do Jornal do Brasil e antiga associada, Condessa Maurina Pereira Carneiro, era filha de Dunshee de Abranches. In ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Disponível em http://www.abi.org.br/; SIGISMUNDO, Fernando. Os 95 anos da ABI. In Observatório Da Imprensa. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/. 115 Bibliografia de Dunshee de Abranches Moura: 01. ‘Sou a Revolução’, discurso: São Luís, 1883. 02. ‘Selva’, poesias. Tipografia Frias: São Luis, 1885. 03. ‘Transformações do Trabalho’, memória. São Luís: Tip. Pacotilha, 1888.


04. ‘Pela Paz’, poemas. Rio [de Janeiro]: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 05. ‘Cartas de um Sebastianista, sátiras em verso. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 06. ‘Memórias de um Histórico’, 2 vols. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 07. ‘Crítica de Arte’ – o Salão de 1896’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 08. ‘Como se faz o Jornal do Brasil’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 09. ‘Papá Basílio’, romance sob o pseudônimo de Ferreira de Andrade. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1898. 10. ‘O ano negro da República’, retrospecto político. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1889. 11. ‘O 10 de abril’, narrativa histórica. Rio de Janeiro: Of. de ‘O Dia’, 1901. 12. ‘Institutos equiparados’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 13. ‘Exames Gerais de Preparatórios’, inquérito. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 14. ‘Ensino Superior e Faculdades Livres’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905 15. ‘O Tratado de Bogotá’, memória histórica. Rio de janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 16. ‘Atos e Atos do Governo Provisório’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 17. ‘Reforma da Justiça Militar’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 18. ‘Tratados do Comércio e navegação do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909. 19. ‘Necrológio Político do Dr. Benedito Leite’. São Luís: Tip. Frias, 1909. 20. ‘A Lagoa Mirim e o Barão do Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 21. ‘Limites com o Peru’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 22. ‘Associação de Imprensa’, relatório. Rio de janeiro: Tip. Do Jornal do Comércio, 1911. 23. ‘Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1911. 24. ‘O Brasil e o Arbitramento’. Rio de Janeiro: Tip. Leusinger, 1911. 25. ‘O maior dos Brasileiros’, defesa póstuma de Rio Branco. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1912. 26. ‘Pela Itália’, impressões de viagem. Barceloa, Imprenta Viúva de Luis Tasso, 1913. 27. ‘Lourdes’, conferencia. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1914. 28. ‘A Conflagração Européia e suas causas’. Rio de Janeiro: Tip. Jornal do Comércio, 1914. 29. ‘Em torno de um discurso’, entrevista. Rio de janeiro: Tip. Almjeida Marques, 1914. 30. ‘A administração da República e a obra financeira do Dr. Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 31. ‘O A.B.C. e a Política Americana’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 32. ‘Expansão Econômica e Comércio Exterior do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 33. ‘Brazil and a Monroe Doutrine’, memória. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 34. ‘A Inglaterra e a Soberania do Brasil’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1915. 35. ‘A cultura do arroz e o protecionismo político’, memória. São Paulo: 1916. 36. ‘Código Penal Militar’, projeto de lei. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 37. ‘A Black-list e o Projeto Dunshee’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 38. ‘Ainda a Black-list’, carta ao Presidente da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 39. ‘A Alemanha e a Paz’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques & Cia, 1917. 40. ‘Contra a Guerra’. Rio de Janeiro: Tip. da Rev. dos Tribunais, 1917. 41. ‘A Ilusão brasileira’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917. 42. “Candidaturas Presidenciais – Rui e Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Tip. Da Revista dos Tribunais, 1917. 43. ‘Governos e Congressos da República – 1899-1917’. São Paulo: Tipografia Brasil, 1918. 44. ‘Garcia de Abranches, o Censor – O Maranhão de 1822’. São Paulo: Tip. Rotschild & Cia, 1922. 45. ‘Companhia Brasileira Comercial e Industrial’, relatórios. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1923-1927. 46. ‘O Tratado de Versailles e os alemães no Brasil’. Rio de Janeiro: Casa Vallele, 1924. 47. ‘Minha Santa Teresinha’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 48. ‘Dois sorrisos de Maria’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 49. ‘A Setembrada’, romance histórico. Rio de janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1933. 50. ‘Rio Branco e a Política exterior do Brasil’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Of. Gráfica do Jornal do Brasil, 1945. 51. ‘O Golpe de Estado – Atas e atos do Governo Lucena’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica do Jornal do Brasil, 1954. Dunshee de Abranches deixou ainda, muitas obras inéditas, algumas publicadas em jornais e revistas; traduziu ‘o Crime do Congo’, original de Conan Doyle, e o seu ‘O maior dos Brasileiros’ foi traduzido para o castelhano por Melo Carvalho (El mas distinguido de los brasileños – Imprensa Nacional, Rio, 1913); vários de seus trabalhos foram objeto de mais de uma edição. Sob o pseudônimo de Eurico, o Cirineu, escreveu, ainda, ‘A Ilusão Brasileira’ em séries denominadas de ‘o Livro Negro’, ‘O Livro Verde’ e ‘O Livro Branco’. in MEIRELES, Mário Martins; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; VIEIRA FILHO, Domingos (org.). Antologia Da Academia Maranhense De Letras – 1908/1958. São Luís: Academia Maranhense de Letras, 1958, p. 122123. (Publicação comemorativa do cinqüentenário da fundação da Academia). GASPAR (1993) refere-se a 165 obras. Ainda, que sua produção jornalística, pode-se constatar ser ela a maior de todas as que nos legou, haja vista que somente trilhando esse caminho, conforme de refere Gaspar (1993), encontraria espaço para difundir e polemizar suas convicções políticas, voltadas marcadamente para as lutas abolicionistas e republicadas. Colaborou com diversos periódicos de São Luís, e pelo Brasil afora, sempre fiel a seus princípios morais e doutrinários. Foi colaborador, dentre outros, do Federação de Porto Alegre, a República do Pará, A Federação de Manaus, Jornal do Brasil, A Notícia, Jornal do Comércio e O País, do Rio de Janeiro. Muitas das vezes, usava pseudônimos.


Encontra-se na “Estante do Escritor Tocantinense”, da Biblioteca Pública, do Espaço Cultural de Palmas.116. Dunshee de Abranches fez poesia117, ensinou Direito na Alemanha, escreveu romances, militou na imprensa, exerceu mandatos políticos e foi, acima de tudo, memorialista de um longo período da vida maranhense e brasileira118. Dentro da tradição desta Casa, de se apresentar este elogio do Patrono da cadeira que se assume, procurei destacar alguns eventos pouco explorados na biografia desse ilustre maranhense: o de ‘sportman’. Ainda dentro da tradição, reportar-me-ei, em breves palavras, aos ocupantes anteriores desta Cadeira 40, que ora assumo: JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA RIBAMAR PEREIRA119 – nascido em São Luís em 17 de setembro de 1897, filho do Dr. Alcides Jansen Serra Lima Pereira (advogado) e da poetisa Cristina dos Santos Pereira. Jornalista, poeta, teatrólogo. Fez seus estudos primários no Instituto Nina Rodrigues, passando depois para o Instituto Maranhense, dirigido pelo Professor Oscar de Barros e, em seguida para o Colégio dos Maristas, realizando exames de preparatórios no Colégio Pedro II da Bahia de Salvador. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará em 1925, tendo sido orador de sua escola em todas as solenidades, inclusive nas comemorações do 11 de Agosto (instituição dos Cursos Jurídicos no Brasil). Como orador da Liga Nacionalista falava todos os domingos em praça pública. Em maio de 1920, como sorteado, serviu no 26º. Batalhão de Caçadores, acantonado em Belém, passando a trabalhar na Escola Regimental, que organizou e dirigiu. Fez, na terra guajarina, sua formação espiritual, colaborando intensamente na ‘Folha do Norte’, com Paulo Maranhão; no ‘Estado do Pará’, com Santana Marques e Arnaldo Lobo; no ‘Imparcial’ com Djard de Mendonça e Adamastor Lopes; na “Evolução” com o senador Fulgêncio Simões; e na Revista ‘Guajarina’. Regressando a São Luís, passou a advogar com seu pai, sendo sucessivamente nomeado Colaborador, Praticante e Terceiro Escriturário do Congresso do Estado; Assistente Judiciário ao Proletariado; 2º. Promotor Público da Comarca da Capital. Por treze anos foi consultor jurídico da Caixa de Aposentadoria e Pensões de Serviços Públicos dos estados do Maranhão e Piauí; exerceu o cargo de 1º. Promotor Público da Comarca de São Luís. Em 1924, quando acadêmico, exerceu o cargo de professor de Geografia e História do Brasil, do Curso Ginasial do Liceu Maranhense e, em 1926, de abril a outubro, o cargo de professor de Literatura Brasileira do mesmo estabelecimento. Já formado, lecionou História do Brasil no Ateneu Teixeira Mendes, no Colégio São Luís de Gonzaga, na Academia de Comércio do Maranhão e na Escola de Agronomia, tendo sido um dos fundadores destes dois últimos estabelecimentos. Foi redator da ‘Folha do Norte’ e colaborou em ‘O Dia’, “Correio da Tarde’, ‘Tribuna’, e ‘Revista do Norte’, assim como no ‘Jornal Pequeno’, de Recife, ‘A Tarde’, da Bahia, e ‘Tribuna’, de Santos. 116 117

MARTINS, Mário Ribeiro. Dicionário Biobibliográfico Do Tocantins. Rio de Janeiro: MASTER, 2001.

“Polígrafo, e como todo intelectual da época, poeta, interessado pelas coisas da Ciência e do espírito... No começo do século, já tendo escrito os poemas Selva, Cartas de um Sebastianista e Pela Paz, embora fora do Maranhão, toma conhecimento da existência, na província, da sociedade literária Oficina dos Novos e da Renascença Maranhense... Também de importância histórica... a presença de Dunshee de Abranches é forte o suficiente para que o poeta não fique no ouvido e seja também lembrado pelos historiadores, críticos literários e poetas que tiverem interesse pela ‘legião dos atenienses’...” in ASSIS BRASIL (org.). A Poesia Maranhense No Século XX (Antologia). Rio de Janeiro: Imago; São Luís: SIOGE, 1994, p. 49-51. 118 FREITAS, Joseth Coutinho Martins de. Cadeira De No. 40 – Patrono: João Dunshee De Abrantes Moura. IN CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. Patronos & Ocupantes De Cadeira. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 185-188. 119 IHGM – livro de anotações de Sócios Efetivos, p. 39-39v, (s.d). COUTINHO, Milson. Memoria Da Advocacia Do Maranhão. São Luis: Clara, 2007.


Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, OAB-MA, e Associação Maranhense de Imprensa. Publicou: Discursos Acadêmicos (Faculdade de Direito do Pará); Os dez mandamentos do Operário; Duas Teses (concorrendo a cadeira de literatura do Liceu Maranhense); Alma - livro de versos, com a qual entrou para a Casa de Antonio Lobo. Autor de 214 produções musicais escreveu o Hino a Bandeira Maranhense. Foi presidente de honra da União Artística Operária Caxiense. Morreu em 1948. JOSÉ DE RIBAMAR DA SILVA FERREIRA 120 SILVA FERREIRA nasceu em 03 de janeiro de 1910, nesta cidade de São Luís. Filho de José Vicente Ferreira e Delfina Maria da Silva Ferreira. Casado com Eulina Gomes Duarte Ferreira deixou três filhos: José de Ribamar da Silva Ferreira (médico), Fernando José Duarte Ferreira e Antonio José Duarte Ferreira (ambos, advogados). Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito de São Luís, especializando-se em Direito do Trabalho. Foi funcionário do Ministério da Agricultura; exerceu a advocacia defendendo diversos sindicatos classistas, patronais e de empregados, além de representar inúmeras firmas Varig, Singer, Lojas Brasileiras, Abraão Skeff, J. Aquino Alencar, e outras. Exerceu a função de jornalista. Foi também Juiz do Tribunal Eleitoral e professor universitário. Faleceu a 25 de julho de 1985. PEDRO RATIS DE SANTANA121 Nascido em São Luís em 26 de abril de 1906. Foi membro da Polícia Militar, galgando os postos de Cabo até Capitão, patente em que se reformou. Fundou o Clube de Sargentos da Polícia Militar. Deve-se destacar que foi o primeiro Oficial da corporação a ter nível superior. Bacharelou-se em Geografia e em História, pela Faculdade de Filosofia de São Luís. Exerceu diversos cargos: Diretor do Liceu Maranhense, do Colégio Municipal Luis Viana, do Ensino Médico do Município (sic), e membro da Comissão Executiva da ADESG – Delegacia do Maranhão. Como Professor, exerceu o magistério nos colégios Batista, Cardoso de Amorim, São Francisco de Assis. Pesquisador publicou inúmeros trabalhos em jornais e revistas, colaborador ativo da Revista do IHGM. Jornalista manteve no Jornal Pequeno uma coluna – Gotas de Luz -, mesmo nome de programa que mantinha na Rádio Timbira. Palestrante se manifestava quando das comemorações de nossas datas históricas. Homem de Fé desenvolveu verdadeira ação religiosa e social na Penitenciaria de Pedrinhas - foi uma das maiores autoridades presbiterianas em São Luís, um dos fundadores da Igreja Presbiteriana do Vinhais. Escritor deixou publicado o livro “Problemas Sexuais à luz da Bíblia e da Ciência” e inédito “ Estudos sócio-políticos e geográficos do Maranhão”. Faleceu em 16 de janeiro de 1990, nesta cidade. Obrigado, Senhores membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, pela convocação para essa missão que almejo cumprir com amor e dedicação. Obrigado, caros confrades, por me acolherem para prosseguirmos, juntos, na grande obra iniciada por Antonio Lopes. Obrigado, Senhoras e Senhores, pela muita paciência para ouvir-me... Obrigado...

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CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. Patronos & Ocupantes De Cadeira. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 187 CANEDO, Eneida Vieira da Silva Ostria de & Outros. Patronos & Ocupantes De Cadeira. São Luís: Fortgraf, 2005, p. 187188 121


O "SPORTMAN" ALUÍSIO AZEVEDO122 Durante o último Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança123, realizado em Gramado-RS, discutiu-se as influências britânica e norte-americana na implantação do esporte moderno na América Latina. Considerou-se necessária uma revisão objetiva e mudança no foco dominante no processo de construção da identidade cultural onde essas influências anglo-saxônicas teriam atuado mais como ponto de partida ao qual se seguiram apropriações e autodesenvolvimento por parte das iniciativas locais (DaCOSTA, 2.000)124. Embora Dejard Martins (1989) 125 registre que o nascimento das atividades esportivas em Maranhão se deu pelas mãos de JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS - Nhozinho Santos - e do clube esportivo e social fundado na Fábrica "Santa Izabel", em 27 de outubro de 1907 - o FABRIL ATHLETIC CLUB - para a prática do "foot-ball association", do Tênis, do Cricket, do Crockt, do Tiro, e do Atletismo, VAZ (1991126, 1999127, 2000a128) e VAZ e VAZ (2000c129, 2000 d130) trazem que manifestações do lúdico e do movimento aparecem em Maranhão desde o período colonial e que já eram praticadas atividades físicas desde a fundação das primeiras escolas, nos anos 1830-1840. Com a movimentação esportiva que se tinha nessa primeira década do século XX, Martins (1989:281)51 afirma que "estávamos começando a experimentar uma época em que a nossa mocidade principiava a entender o quanto era importante praticar esporte e desenvolver a formação física" 131. Observa-se, com certa facilidade, que existe na trajetória histórica do futebol brasileiro determinantes comuns, nas equipes que foram criadas no início deste século (FREITAS JÚNIOR, 1998132, 2000133), em que uma das matrizes propostas por esse autor repete-se em São Luís do Maranhão, quando da fundação do Fabril Athletic Clube: 122

Este artigo tem a co-autoria da Profa. Delzuite Dantas Brito Vaz, do "Liceu Maranhense". Uma primeira versão foi publicada em "O Imparcial", São Luís, Domingo, 16 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 5; outra versão, em Lecturas: Educación Física Y Deportes, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com; e outra, na Revista Nova Atenas De Educação Tecnológica, São Luis, v.3, n.2, julho a dezembro de 2000 , disponível em www.cefet-ma.br. 123 Coletâneas do VII Congresso Brasileiro de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, Gramado-RS, 28 de maio a 1º de junho de 2.000. Porto Alegre: UFRGS 124

DaCOSTA, Lamartine Pereira. Emergência e difusão do desporto moderno na América Latina - influências britânicas e norte-ameicana: uma revisão crítica. Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2. 000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000, p. 97-102. 125 MARTINS, Dejard Ramos. Esporte - um mergulho no tempo. São Luís: SIOGE, 1989. 126 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do Atletismo no Maranhão. In "O Imparcial", São Luís, 27 de maio de 1991, Segunda-feira, p. 9. Caderno de Esporte Amador. 127 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atividades físicas feminina no Maranhão Imperial (1823-1889). In Lecturas: Educacion Fisica y Deportes, Revista Digital, año 4, no. 14, Buenos Aires, junio 1999, disponível em www.sportquest.com/revista. 128 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O esporte no Maranhão. In "O Estado do Maranhão", São Luís, 16 de maio de 2000a, Terça-feira, p. 4. Caderno Opinião. 129 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do "foot-ball" em Maranhão. In Lecturas : Educación Física y Deportes, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000b, disponível em www.efdeportes.com. 130 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Aluízio Azevedo e a Educação (Física) Feminina. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, Gramado-RS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000c, p. 250-255. 131 "Hontem, às 4 horas da tarde, os aprendizes marinheiros, fizeram exercícios de 'foot-ball' na arena do Fabril Athletic Club e um assalto simulado de florete, sob a direção do respectivo instructor da Escola. Os alumnos revelaram-se disciplinados e agiram com muito garbo e desembaraço. Domingo próximo, às 5 horas da manhã, haverá novo exercício no mesmo local". (O Maranhão, 26/12/1907). 132 FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. Origens do futebol paranaense: a história do Operário Ferroviário Esporte Clube. In Congresso de história do Esporte, Lazer e Educação Física, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. Coletâneas... Rio de Janeiro: UGF, 1988, p. 406-414.


"... a convivência de estudantes brasileiros em escolas européias, nos quais a prática do futebol era bastante difundida. Quando retornam ao Brasil, estes estudantes apresentam este jogo para os seus amigos, e mesmo tendo certas dificuldades face às práticas esportivas dominantes na época, o futebol acabou sendo incorporado". (FREITAS JÚNIOR, 2000, p. 237)59.

Nhozinho Santos, ao regressar da Inglaterra em 1905 - onde fora estudar para técnico em indústria têxtil, na cidade de Liverpool -, tornara-se um ardoso praticante do "foot ball", e não se esquece de trazer em sua bagagem os apetrechos necessários à prática desse esporte: chuteiras, apitos, bolas, etc., como também para outras atividades esportivas, como o "croket", "crickt", tênis (VAZ, 2000b)55. Assim, naquele final de ano de 1905, reuniram-se na residência dos Santos, na Rua Grande, 1018 (Instituto Zoé Cerveira) além de Nhozinho, seus irmãos Totó e Maneco, alguns amigos e convidados para tratar da implantação do "foot ball association" no Maranhão. Além dos irmãos Santos, estiveram presentes: John Shipton, John Moon, Ernest Dobler, ingleses empregados na Boot Stearship Co. Ld. - Mala Real Inglesa -, Botho & Co. Ld., e os maranhenses Izidoro Aguiar, Edmundo Fernandes, Afonso Gandra, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Carlos Neves, Antero Serejo, e outros mais (MARTINS, 1989: 284)51. Ficou estabelecido que na vasta área da Fábrica seria construído um campo para a prática do futebol. Foram sacrificadas algumas árvores, para que tivesse as dimensões necessárias para a pratica do esporte. A princípio houve alguma dificuldade para se arranjar os onze jogadores para se formarem os times. Os treinamentos eram realizados com dois quadros de oito jogadores, cada. As competições no campo do FAC começaram a despertar a curiosidade dos transeuntes, que assistiam às partidas através de aberturas no cercado da Fabril. Ninguém entendia do que se tratava, ao observarem os rapazes correndo atrás da bola, pois havia muita disputa e muita algazarra. (MARTINS, 1989) 51. As equipes eram formadas pelos times do "Black and White": João Mário; A. Vieira e G. Costa Rodrigues; E. Simas, Moraes Rego e Joaquim Ferreira Belchior; F. Machado, John Shipton, John Moon, M. Lopes e C. Gandra.

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FREITAS JÚNIOR, Miguel A de. O futebol profissional e suas conseqüências: estudo de caso de uma equipe do interior do Estado do Paraná. In Congresso de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, VII, GramadoRS, 29/05-01/06/2.000. Coletâneas... Porto Alegre: UFRGS, 2.000, p. 236-240.


COMECEMOS POR HABERMAS E THOMAS KUHN MANUEL SÉRGIO Professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto ESPAÇO UNIVERSIDADE 20-07-2018 14:23 - https://www.abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/741192 Para enunciar as lições que o Mundial de Futebol, que há pouco findou, me trouxe, começo por Habermas, tentando, com ele, criticar o positivismo que, num facto ou num acontecimento, não descobre valores; criticar o conhecimento científico que se julga “politicamente neutro”; criticar, por fim, as ciências que nos dizem, com vocação contemplativa, que refletem fielmente a realidade. No celebérrimo A Estrutura das Revoluções Científicas, Thomas Kuhn sublinha que “uma revolução científica leva inevitavelmente ao deslocamento dos principais problemas que se colocam à investigação científica” e que os especialistas detestam mudar de paradigma, chegando mesmo a ser intolerantes e grosseiros, em relação àqueles que inventam novos paradigmas. Deste breve (brevíssimo) enunciar de tópicos do pensamento de Habermas e Thomas Kuhn, permito-me eu deduzir que o futebol não pode pôr-se à margem do contexto sócio-político, de que é simultaneamente criador e produto. Nem desconhecer o paradigma que explica as metodologias que se utilizam nos treinos e nas competições. Foi de todas as equipas a que mais me aproximava do sentimento estético. É verdade: o “onze”, onde jogavam o Alisson, o Fagner, o Thiago Silva, o Miranda e o Marcelo; o Paulinho, o Renato Augusto e o Fernandinho; o Roberto Firmino, o Coutinho e o Neymar (e outros mais ainda) – aquela seleção nacional brasileira, com o maravilhoso esplendor do seu futebol, surgia-me, filha de Apolo e Diónisos, como uma autêntica expressão da “beleza clássica”, como um modelo de sublimidade estética. Só que o futebol de alta competição não é circo e jogar num Mundial de Futebol, como se joga na praia de Copacabana, é sinal certo de derrota e de sussurro incessante de tristeza da “torcida”. Escreveu o Rogério Azevedo, n’A Bola (2018/7/7): “O futebolzinho de pé para pé caiu aos pés da objetividade”. Eu sei que poucas vezes assisti a uma exibição tão perfeita de um guarda-redes, como a do Thibaut Courtois, da seleção nacional belga. Tive, por vezes, a sensação, por uma infantil e estranha ilusão. que ele, ele só, impedira o Brasil de chegar à vitória. Mas há mais do que beleza nas grandes equipas do futebol hodierno. Não esqueço o que aprendi com o filósofo brasileiro José Arthur Giannotti quando ambos, em 1987, em Florianópolis, fomos os conferencistas de um colóquio, aberto ao público universitário da cidade: “entre os séculos XV e XIX, entre o Renascimento e o Impressionismo, altera-se a ideia de um objeto sempre igual a si mesmo (…). Surge em seu lugar a ideia de um objeto que se modifica diante do nosso olhar, que se revela a gestalts, a apreensões diferentes: cada golpe de perceção faz aparecer uma coisa diferente. Compare-se a ideia de representação, presente em obras cubistas de Picasso (1881-1973), com a ideia de representação, presente nas pinturas renascentistas, por exemplo Michelangelo (1475-1564) ou Leonardo Da Vinci (14521519” (José Auri Cunha, Iniciação à Investigação Filosófica, Alínea Editora, Campinas, 2000, pp. 400/401). Tudo é História, tudo é processo, por outras palavras: tudo se transforma, designadamente pela práxis humana. Por isso, o futebol (e o mundo onde desse futebol nasceu) de Ladislao Kubala, Di Stéfano, José Travassos, Pedroto, Matateu, Puskas, Eusébio, Coluna era percecionado e praticado de modo bem diverso do futebol, hoje percecionado e praticado. pelo Ronaldo, ou o Messi, ou o Neymar, ou o Mbappé, ou o De Bruyne. A transferência do Cristiano Ronaldo, por 117 milhões de euros, num contrato que prevê um ordenado, para este jogador, de 30 milhões anuais, ou seja, por cada hora vai auferir 3425 euros – a transferência de Cristiano Ronaldo era impensável, há 50 e 60 anos! O futebol era outro? Sem dúvida! Mas outros eram também a Europa e o Mundo. Hoje, a um jogo de futebol presidem as categorias típicas do mais férreo economicismo, ou seja, as finanças comandam a economia, sem um leve pendor que seja de crítica social. As invenções tecnológicas são muitas e muito eficientes. Mas o crescimento exponencial da ânsia do Lucro e da Corrupção é muito maior ainda… O meu “herói” deste Mundial-2018? Fecho os olhos, para pensar e reabro-os para afirmar: Kylian Mbappé, um produto da “banlieu” de Paris. Nasceu, em 1998, em Bondy, uma cidade de 52000 habitantes, distante 12 quilómetros do centro de Paris. E onde muita coisa indispensável falta. Só o futebol (a mais importante das coisas pouco importantes) não falta. Nos vastos “cafés populares”, os pais, a suar tristeza, não ocultam a


ideia de que está no futebol (e não na escola republicana) a réstia de esperança de os seus filhos poderem ser “alguém” e ajudarem a família a sair de uma vida próxima da angústia, próxima da revolta… perante a serena indiferença de alguns políticos, defensores da “democracia”, ou seja, de um regime político formal e não mais do que formal. Os melhores jogadores de futebol provêm, normalmente, de famílias, alienadas pelo populismo, pela demagogia, pelo descalabro das democracias políticas que o capitalismo perverteu, quero eu dizer: famílias pobres, no corpo e na alma. Na Europa, o “fenómeno” repete-se. “A recente vitória do europeísta Macron contra a populista Marine Le Pen, por bem-vinda que seja, não vai resolver a crise política da Europa, se bem que, para muitos, ele represente ou encarne mesmo, um novo ânimo da utopia europeia. O populismo que avança manifesta, precisamente, as falhas e lacunas dessa utopia, desenhando em negativo o seu avesso distópico, ao propor, perversamente, uma outra cena idílica, da Pátria reencontrada, da identidade recuperada, da Ordem restaurada – a partir do ódio e da destruição do inimigo” (José Gil, “Europa: utopia ou distopia?”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Lisboa, 4 a 17 de Julho de 2018). Mundo em crise: futebol em crise, inevitavelmente. Quando eu venho dizendo, há alguns anos já, que o desporto mais publicitado e propagandeado reproduz e multiplica as taras do capitalismo que nos governa, quero dizer isto mesmo. Não digo que não se consiga lobrigar, no futebol, minúsculos oásis, intocados pela erosão dos mais altos valores humanos e desportivos e sem as tempestades do facciosismo clubístico. Não digo que, no meio das serpentes fosfóreas de luzes dos grandes espetáculos desportivos, não se movimentem pessoas de sinceridade irrepreensível, no acatamento de uma ética que não se confunde com a razão eurocêntrica, machista, politicamente dominadora, culturalmente manipuladora e religiosamente fetichista. Mas são raros, tão raros que só podem contemplar-se com as mais expressivas e carinhosas manifestações de espanto. “Mbappé, afirma o El País, de 2018/7/2, nasce de uma família bem estruturada. Será o herdeiro natural de Cristiano e de Messi, já que o Neymar tem um modo diferente de ver a vida e de comportar-se, como pessoa”. E continua o mesmo conceituado analista do futebol internacional: “Kylian é um jovem que, num ano só, de preparação mais intensa, foi imediatamente convidado a ingressar na elite do futebol. Fez depois a pré-temporada, com a primeira equipa do Mónaco e realizou-a com um arrojo e competência tais que o consideraram, em poucos dias, imprescindível”. Agora, no PSG, já tem lugar assegurado, na primeira equipa. Griezmann, seu colega na equipa nacional gaulesa, não esconde vibrantes palavras de louvor à velocidade de Mbappé e à sua conduta ética: “Tem a maturidade, a precocidade e a humildade de Pelé”. No que à velocidade diz respeito, a sua potência física permite-lhe correr a 37,4 km./h. Salah, avançado do Liverpoool, que se julgava o mais rápido jogador da UEFA, não ultrapassa os 33,8 km. por hora!... Entretanto, o nosso Cristiano Ronaldo, num estado de inquietação permanente, de contínua ebulição, não cessa de proclamar urbi et orbi: “eu sou diferente de todos os outros”. E é – é ainda o melhor jogador de futebol do mundo. “Ainda” disse eu. Ou seja: um dia, deixará de ser! É conhecido o texto do poeta inglês, Alexander Pope (1688-1744): “A noite encobria a natureza e as suas leis. Então, Deus disse: Faça-se Newton! E a luz voltou a nascer!”. Tudo é tempo e, como tempo, somos todos iguais.


CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE134 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Resumo: Existe uma Capoeira genuinamente maranhense? Ante esta pergunta a resposta é: sim! Baseado em pesquisas que resgatam a memória da capoeiragem desenvolvida no Maranhão, e em depoimentos dos Mestres Capoeiras maranhenses que atuam no Estado, com a construção do Álbum dos Mestres Capoeiras, durante o desenvolvimento do Curso de Formação de Mestres Capoeiras, ministrado pela Universidade Federal do Maranhão no ano de 2017, e a disciplina História da Capoeira, foi possível estabelecer a singularidade da capoeiragem praticada no Maranhão – existente desde a década de 1820, conforme registros, e consolidada após a chegada de Mestre Sapo, e seus discípulos, dentre os quais Mestre Patinho, e o movimento de renovação ocorrido após a morte de Sapo, nos anos 1980. Com base nos registros históricos e na memória oral e história de vida dos mestres atuantes, foi possível estabelecer a existência de uma capoeira singular, única, praticada no estado do Maranhão, que se convencionou de denominar Capoeiragem Tradicional Maranhense. Palavras-chave: CAPOEIRA; MEMÓRIA/HISTÓRIA

CAPOEIRAGEM

TRADICIONAL

MARANHENSE.

Licenciado em Educação Física, Especialista em Lazer e Recreação; Mestre em Ciência da Informação; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sócio efetivo; Academia Ludovicense de Letras, sócio fundador; vazleopoldo@hotmail.com

Existe uma Capoeiragem (Tradicional) Maranhense/Ludovicense!!! A capoeira do Maranhão, genuína, singular, com uma prática quase bicentenária - tal qual nos outros locais onde surgiu, como o Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Temos indícios de sua prática em São Luis do Maranhão a partir da segunda década dos 1800, embora menções de que de há muito ocorriam essas práticas da lúdica e do movimento dos negros aqui encontrados ocorriam na zona rural ou semi-urbanas.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu


Abrindo parente: uso o termo “negros’, e não ao politicamente correto ‘afro-descendentes’, haja vista que para cá vieram não só africanos escravizados, mas também negros oriundos de outras províncias, traficados, a partir de algumas das revoltas e fugas em massa ocorridas no Brasil – e digo Brasil, pois por muito tempo tivemos dois estados coloniais – o Maranhão e o Brasil, até a chegada da família real, no 1808 e a anexação do Maranhão ao Império Brasileiro, em 1823... fecha o parente... Concordamos com Kafure (2012) 135, quando trata do processo de “desconstrução da capoeira maranhense”, de que no início tudo – aqui - era uma coisa só: capoeira, batuque, punga, tambor de crioula, tambor de mina, bumba-meu-boi – e frevo, samba, cangapé, etc. alhures... Por desconstrução, entenda-se que [...] o tipo de transformação [...da] capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Esse autor se propõe: [...] em nível do Maranhão analisar a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (KAFURE, 2012).

Esse autor reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”, pois [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato. Outro estudioso, Greciano Merino (2015) 136, refere-se a uma característica, singular, de ‘maranhensidade137, que a mesma teria, em relação às Capoeiras Regional e Angola. Em sua hipótese de pesquisa considera ser a capoeira um jogo popular de interação comunicativa e caráter cultural que veicula um modelo de cidadania e expressa esteticamente como as relações entre o indivíduo, seu grupo e a comunidade na que se inserem podem gestar conhecimento social e sabedoria individual. Ao apresentar suas hipóteses, afirma que uma aproximação antropológica da visualidade na capoeira ‘maranhense’ permite delimitar aquelas dinâmicas sensitivas e sensoriais que, gestadas no devir das ecologias tecno-culturais, configuram um complexo imaginário social cuja fenomenologia é uma das mais influentes de nossa cultura. Esse autor caracteriza a capoeira maranhense como sendo aquela capoeira que se realiza na cidade de São Luis, capital do estado do Maranhão, em torno da comunidade representativa que se forma ao redor de Mestre Patinho – herdeiro de Sapo – e a metodologia de estudo desenvolvida por ele. Os Mestres Capoeira participantes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, organizado pela UFMA/DEF 2017, concordam com a existência de uma Capoeira genuinamente maranhense/ludovicense. E que esta se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Punga138. É o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes, jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau139. Esse jogo é executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo140. Portanto, concordam com a existência de uma Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense se diferencia da Angola, Regional, e/ou Contemporânea porque é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições das

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ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015.

BARROS. Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 2, n. 3, jan./jun. 2005 138 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: ANTONIO ALBERTO CARVALHO (PATURI); JOÃO PALHANO JANSEN (CURIÓ); FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA (BAÉ); JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES (TUTUCA); e ROBERTO JAMES SILVA SOARES (ROBERTO). 139 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA (MILITAR); JOSÉ TUPINAMBÁ DAVID BORGES (NEGÃO); MÁRCIO COSTA CORTEZ (CM MÁRCIO); LUIS AUGUSTO LIMA (SENZALA); AMARO ANTONIO DOS SANTOS (MARINHO). 140 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO (MIZINHO); EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ (CM DIACO); ANTONIO CARLOS DA SILVA (CM BUCUDA); JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO (NILTINHO).


mesmas141, pois é jogada nos três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região 142. Cinco, dos seis grupos formados, responderam que existe uma Capoeira Maranhense. Um dos grupos concorda com a existência de uma Capoeira Ludovicense: [...] praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formações de bateria eram usados toques da capoeira Angola, São Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola, e samba de roda.143 Mestre Baé (2017) 144, em correspondência pessoal, informou-me de que, em reunião, a maioria dos Mestres Capoeira, sobretudo os que se declaram como estilo praticado a capoeira/capoeiragem mista, que de ora em diante passarão a adotar “Capoeiragem Tradicional Maranhense”... Estudos demonstram que a Capoeira – no Brasil - tenha surgido – como a entendemos -, e com esse nome, lá pelo final dos 1700, quando aparece o nome do Tenente Amotinado - João Moreira 145, e de um negro chamado Adão, pardo, escravo, preso por ser “capoeira”, em 12 de abril de 1789 146, embora desde o ano anterior - 1788 - as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice-reis 147. Cabe, neste momento, definir o que se entende por Capoeira: a) “Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada”. Federação Internacional de Capoeira – FICA148 b) ) “um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (VIEIRA, 2005)149.

A “regulamentação” da Capoeira como atividade física dá-se nas primeiras décadas do século passado – os 1900. Segundo Reis (2005) 150, e Vidor e Reis (2013) 151 foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva, destacando-se dois mestres baianos - negros e originários das camadas pobres da cidade -, Bimba 141

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: VICENTE BRAGA BRASIL ( PIRRITA); RUI PINTO CHAGAS (RUI); GENTIL ALVES CARVALHO (TIL); EVANDO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); LUIS GENEROSO DE ABREU NETO (GENEROSO).

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O Grupo 6 é formado pelos Mestres: JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA (MANOEL); FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO (LEITÃO); HÉLIO DE SÁ ALMEIDA (GAVIÃO); SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE FERREIRA CRUZ (CM FORMIGA ATÔMICA). 143 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE LUIS LIMA DE SOUSA (JORGE NAVALHA); CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES (CACÁ); PEDRO MARCOS SOARES (PEDRO); NELSON DE SOUSA GERALDO (CANARINHO); REGINALDO PEREIRA DE SOUSA (REGINALDO). 144 BAÉ, Mestre – in Correspondência eletrônica pessoal, para Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 26 de setembro de 2017 145 LIMA, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. DA CAPOEIRA: COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 146 In CAVALCANTI, Nireu. O Capoeira, JORNAL DO BRASIL, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor) 147 CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977 148 Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 149 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 150 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 151 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. CAPOEIRA – HERENÇA CULTRAL AFRO-BRASILEIRA. São Paulo: Selo Negro, 2013


- criador da Capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiu-jítsu e luta greco-romana -, e Pastinha - contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da Capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. Para Reis (2005) 152, e Vidor e Reis (2013) 153, Bimba e Pastinha elaboraram, através da Capoeira, estratégias simbólicas e políticas diferenciadas que visavam em última instância, ampliar o espaço político dos negros na sociedade brasileira e propõem dois caminhos possíveis para a inserção social dos negros naquele momento histórico.: Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro154 foi considerada: Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta. Sendo definida como uma arte multidimensional, um fenômeno multifacetado - ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música - que tem na roda o ritual criado pelos capoeiristas para desenvolver esses vários aspectos155. Compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança156. O que é ‘capoeira’? Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 157. Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“? conforme a conceitua Araújo (1997) 158 ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem como: [...] a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado? (p. 69); e capoeirista, como sendo: os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva? (p. 70). Ou devemos entendê-la como: [...] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira) 159; assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a [...] um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, 152

REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 153 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa, 2013, obra citada 154 CAPOEIRA É REGISTRADA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 155 CORTE REAL, Márcio Penna. A CAPOEIRA NA PERSPECTIVA INTERCULTURAL: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 156 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 157 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 158 ARAUJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPÓLIGAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA – de uma actividade guerreira para uma actividade lúdica. (S.L.): PUBLISMAI – Departamento de Publicações do Instituto Superior Maia (Porto), 1997. 159 Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001.


esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e recoreco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40) 160. “Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)161. “Carioca” uma briga de rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX. 162 Para a Capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais. Mestre Euzamor (2006) 163 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Mário Martins Meireles (2012) 164 traz – embora se questione o uso da palavra capoeira em seu texto – que, por volta de 1702, [...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.[...] (p. 98), referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas. Segundo Coelho (1997, p. 5) 165 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem lingüística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 166, em correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça167 em “A Amazônia na era Pombalina”, traz-nos carta de Mendonça Furtado168 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola.

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PEREIRA DA COSTA, Lamartine. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Belo Horizonte: SHAPE, 2005, VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa Capoeira - http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/escolher_linguagem.php; 161 LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 162 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (préprint). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC 163 MESTRE EUZAMOR in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC (anexo II) 164 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99. 165 ARAÚJO, 1997, obra citada. 166 ARAÚJO, 1997, obra citada, 167 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 168 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado


Mundinha Araújo169 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira: no Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 170.

Encontrei, ainda que, em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus).

Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas. De acordo com Mestre Bamba do Maranhão, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-de-Crioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga171: Para Ferreti (2006) 172, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula173. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres.

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Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 170 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 171 http://www.jornalexpress.com.br/ 172 FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf 173

O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".


Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. Mestre André Lacé 174 lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas175, 176. Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’. Mas, já por essa época, a Capoeira recebi um tratamento como “esporte”, como se vê de notícias de jornais, assim como consta de livro sobre a História do Esporte no Maranhão, do grande jornalista esportivo Dejarde Martins: 1877 MARTINS (1989). In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO177. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA - Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (179).

Ou anúncio, de 1884, em que havia um desafio entre um “Sansão do século XX; cabe ressaltar que era comum, desde a fundação de nosso teatro, a apresentação de espetáculos de força nos palcos, com ‘artistas’ se apresentando, identificando-se como discípulos de Amoros NASCIMENTO DE MORAES178, em uma crônica que retrata os costume e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utilizam o termo capoeiragem (in MARTINS, 2005) 179.

A segunda fase – que identificamos – é a dos anos 30/40, indo até meados dos anos 50. Não existem evidencias de que fosse ainda praticada, a não ser algumas que dizem ser os estivadores da Rampa Campos Melo praticantes da “carioca”, assim como lembranças de que em Codó – sem precisar-se o período, também era praticada com esse nome; Cururupu também é mencionada, como cidade onde se praticava “a carioca”, nas palavras de um senhor, negro, à época da declaração, com mais de 80 anos: praticava na juventude, mas não era conhecida, aquela manifestação do movimento, como capoeira... Mestre Diniz diz que via os carregadores, no porto, praticando ‘capoeira’, quando vinha à cidade, junto com seu pai para fazerem compras; ficava na canoa, o aguardando; tinha, conforme dizia, entre 7 e 9 anos; como nascido em 1929, deveria ser lá pelo final dos anos 30: 1936/1938. Mestre Firmino Diniz teve os primeiros contatos com a capoeiragem lá pelos seus 7-9 anos de idade, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista daquela época: Caranguejo; 174

LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 175 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 176 SILVA, Vagner Gonçalves da (org.), ARTES DO CORPO 0 MEMÓRIA AFRO BRASILEIRA. São Paulo, Selo Negro Edições, 2004. 177 MARTINS, Dejarde Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís, s/e, 1989(?) 178 NASCIMENTO DE MORAES. VENCIDOS E DEGENERADOS. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000. 179 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís: UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005


depois, Mestre Diniz vem a ter lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís, lá pelos anos 1950. Greciano Merino (2015)180, referindo-se às perseguições que a Capoeira recebera do período da Proclamação da República até mesmo o Estado Novo, não obstante a sua ‘legalização’ através das atitudes de Getúlio Vargas, afirma que no Maranhão esta hostilização foi além do período do Estado Novo (19371945), mantendo a Capoeira no ostracismo até entrando nos anos 60. Como podemos observar, há uma ‘primeira fase’ da Capoeiragem praticada no Maranhão, de seu aparecimento, no inicio dos anos 1800, e que vai até os anos 30/40, quando aparece no relato de alguns dos, hoje reconhecidos, Mestres mais antigo, em especial verificado pela ‘história de vida’ de Mestre Diniz, que se refere aos seus tios, e a outros capoeiras que vira ‘jogar’ em sua infância. Parte dos Mestres participes do Curso da UFMA/DEF 2017 desconhece, ou têm pouca informação, sobre a capoeiragem praticada antes de chegada de Serejo, do Grupo Aberrê, e logo em seguida, Sapo. A maioria tem algum conhecimento, embora restrito, e na maioria das vezes, se limita ao ‘ouvir dizer’, de antes das Rodas de Rua organizadas pelo Velho Diniz, ou mesmo Caranguejo. Kafure (2017) 181 não sabe dizer quem eram os líderes daquelas rodas de rua, mas sabe “[...] que existiam as práticas do Tarracá182 e da Pernada ou Punga dos Homens183”. Podemos estabelecer que, naquele final dos anos 50, quando da chegada de Roberval Serejo de volta à cidade, que o Velho Diniz já mantinha suas ‘rodas’ em alguns lugares da cidade. Para Boás (2011) 184, a capoeira começou realmente a dar as caras na década de 1960, aparecendo vários praticantes que ficaram conhecidos: Nessa época começou a circular pela cidade o nome de Roberval Serejo, que estava de volta a São Luís, pois estava servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e lá aprendeu capoeira com o mestre baiano Arthur Emídio. Com o tempo, Serejo foi reunindo amigos e admiradores e formou um pequeno grupo de capoeira, que fazia seus treinamentos nos quintais de suas casas e na rua mesmo. O grupo foi crescendo e, em 1968, criou-se a primeira academia de capoeira de São Luís, chamada Bantu. Esse grupo contava com Roberval Serejo, o Capitão Gouveia (sargento da polícia militar), Babalu, Bezerra, Ubirajara, Jessé Lobão, Patinho, dentre outros. A primeira sede do grupo foi o Sítio Veneza, onde hoje funciona a Guarda Municipal, no bairro da Alemanha. Depois se mudou para a casa de Babalu, na Rua da Cotovia, próximo a Igreja de São Pantaleão. Roberval Serejo era escafandrista e morreu em 1971, quando trabalhava mergulhando, durante as obras do Porto do Itaqui. Com a sua morte, muitos de seus alunos deixaram de treinar, mas outros continuaram e o que mais se destacou e continuou a dar aulas foi o Sargento Gouveia. 180

GRECIANO MERINO, 2015, obra ciatada. ROCHA, Gabriel Kafure da. DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz através de mensagem eletrônica, datada de 25 de agosto de 2017. 182 Ver: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – O TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. REI ZULU E SEU ESTILO DE MMA – O “TARRACÁ” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. . SAPO x ZULU. DEU ZULU... 183 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “PUNGA DOS HOMENS” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE A “PUNGA” – VISITAÇÃO A CÂMARA CASCUDO VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO(A) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM) REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 Disponível também em http://www.capoeiravadiacao.org/index.php?option=com_content&view=article&catid=10%3Abiblioteca&id=46%3Apunga-dos-homenstambor-de-criouloa-qpunga-dos-homensq&Itemid=38 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens+-+capoeiragem+no+maranhao 184 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 181


Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 185. Greciano Merino (2015)186 ao discorrer da (re)introdução da capoeira no Maranhão faz referencia às mudanças conjunturais sócio-politicas que acometiam o Maranhão naquele período, com a substituição das oligarquias dominantes – Vitorinismo187 e depois, pelo Sarneysmo188 – e a ‘formação de um Maranhão Novo”: [...] En esa coyuntura socio-política la capoeira, desde el campo de las representaciones y del imaginario, encuentra su espacio dentro de las dinámicas, conflictos e interacciones de los procesos que modelan, adaptan y transforman la identidad maranhense. Souza (2002)189, Martins (2005)190, Vaz (2005)191 y Pereira (2009)192, destacan la figura de tres capoeiras como los principales responsables por esa reconstitución: Roberval Serejo, Firmino Diniz (Mestre Diniz) y Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo).

Mais adiante, sobre os pioneiros dessa tradição da implantação da capoeira nos anos 60, coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio193 durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ 194. A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015)

Esse pesquisador caracteriza a capoeira praticada nessa época, que não possuía ‘organização’, apesar de ser definada a Bantu como ‘academia’, pois esta não tinha uma estrutura formal, como as atuais escolas/academias e/ou grupos/núcleos de Capoeira:

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MARTINS, 2005, obra citada. GRECIANO MERINO, 2015, obra citada 187 VITORINISMO - Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1945 a 1965, que teve no senador Vitorino Freire a sua figura de realce. BUZAR, Benedito. EU E O VITORINISMO, domingo, 23 de novembro de 2014. In Blog do Buzar, https://www.blogsoestado.com/buzar/2014/11/23/eu-e-o-vitorinismo/ Para CALDEIRA (1978, p, 60) “o vitorinismo, com efeito, foi um coronelismo. Das suas formas de ação excluiu-se a propensão para a dominação econômica. Nesse caso (ao nível de Estado), essa dominação se processava de forma indireta, ou seja, por meio do apoio que dispensava às suas bases de sustentação, através da concessão de garantias específicas. No plano político propriamente dito – esfera exclusiva do interesse do vitorinismo – a sua ação se centrava em torno do controle dos partidos políticos e das sub-lideranças políticas com ele identificadas que, juntamente com os coronéis do estado davam a configuração real do vitorinismo”. CALDEIRA, José de Ribamar. Estabilidade social e crise política: o caso do Maranhão. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 46, p. 55-101, 1978. 188 SARNEISMO Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1965 até os dias atuais, que teve no Presidente José Sarney Costa a sua figura de realce. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sarney http://atlas.fgv.br/verbete/4909 A era Vitorinista perdurou até 1965, quando entra em voga o nosso próximo monarca: Sarney, que toma posse em 1966 no Governo do Estado. A era Sarney iniciou-se em 1965, no entanto, o crescimento do seu nome começou na eleição de 1960 com a ascensão de Newton de Barros Belo, eleito governador pelo PSD-PTB-UDN. Nesta época, Vitorino começa a perder prestígio junto ao governo de Jânio Quadros e cresce o de José Sarney. Assim, Sarney passa a ser o principal interlocutor entre Newton Belo e o Palácio do Planalto. http://blogdocontrolesocial.blogspot.com.br/2012/06/um-breve-relato-da-historia-oligarquica.html 189 SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. 190 MARTINS, 2005, obra citada. 191 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf 192 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009. 193 599 Capoeira de Itabuna, al sur del Estado de Bahía, que se trasladó a Rio de Janeiro a principio de los años cincuenta donde desarrollaría un importante liderazgo en el desarrollo de la capoeira de vertiente mas deportiva. (GRECIANO MERINO, 2015) 186

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Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. Véase: Pereira, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. (GRECIANO MERINO, 2015)


La capoeira era practicada de una forma empírica sin metodologías definidas ni lugares preparados, surgía en los patios de las casas, en la sala de estar de algún iniciado o iniciante y en espacios de la calle apartados de lugares muy transitados. (GRECIANO MERINO, 2015).

A Capoeira, por essa época, era marginalizada, conforme já dito em diversos depoimentos. Afirma Greciano Merino (2015): No debemos olvidar que la capoeira estaba todavía bastante discriminada y existía un amplio prejuicio a su alrededor. En este sentido el Maestro Til (Gentil Alves) afirma que “(...) en aquella época entrenábamos casi escondidos, porque a la policía no le gustaba, decían que era cosa de delincuentes”195; o como afirma el Maestro Indio: “Cuando comencé en 1972 y hasta 1984, la capoeira era marginalizada dentro de São Luís, todo capoeira era considerado vagabundo, marginal, ‘porrero’, alborotador”196. La capoeira, como se percibe a través de estos testimonios, no despertaba el interés de una población aprensiva y estaba lejos de cualquier reconocimiento por parte de los poderes estatales y de las autoridades. Por eso, la intención de Serejo al formar este grupo sería realizar exhibiciones públicas “con pantalón, camiseta y calzado (conga) de la misma forma que había aprendido con el maestro Artur Emídio en Rio de Janeiro”197. (GRECIANO MERINO, 2015).

O desconhecimento de uma história da capoeira no Maranhão, antes da chegada de Roberval Serejo – final dos anos 50 – vem de criar o ‘mito’ de que esse “Renascimento” da capoeira em São Luís se dá justamente com a sua chegada e, logo após, a criação do Grupo “Bantus“ (PEREIRA, 2010; KAFURE, 2012, GRECIANO MERINO, 2015) 198, do qual participava além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio, os Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].199 Mestre PATURI, em depoimento relata que: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e Logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. (ANTONIO ALBERTO CARVALHO , 2017, Depoimentos) 200. Firmino Diniz, conhecido também como Mestre Diniz ou Velho Diniz também serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu Mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo e posteriormente com Gouveia passaram a frequentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o Mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento

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Véase: Pereira, Roberto Augusto A. O mestre Sapo, a passagem do quarteto Aberrê por São luís e a (des)construção do “mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. Recorde: Revista de História do Esporte, Vol. 3, número 1, junio de 2010, p. 6. (GRECIANO MERINO, 2015)

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Véase: Sousa, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. p. 50. 197 Pereira, Roberto Augusto A. Op. Cit., 2009, p. 6. 198

PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: RECORDE: REVISTA DE HISTÓRIA DO ESPORTE. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010.

ROCHA, 2012, obra citada GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 199

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: edição do autor, 2013; 2015 (2ª Ed. Revista e atualizada), disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao ; issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 200 MESTRE PATURI – ALNTONIO ALBERTO CARVALHO. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, UFMA/DEF 2017.


nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 201 . Augusto Pereira (2010) 202 destaca, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de Mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital.203 Graciano Merino identifica os frequentadores dessas rodas promovidas pelo Velho Diniz, segundo depoimentos que colheu: Sargento Gouveia, Babalu, Alô, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Ribinha, Sururu, Alan, Gordo, Theudas, Mimi, Raimundão, Sansão, Pavão, Naasson (‘cara de anjo’), Faquinha, Valdeci, Curador, Paturi, Rui Pinto, Alberto Euzamor, Elmo Cascavel, Patinho, Bambolê, Manoel Peitudinho, Cural, De Paula, Didi, Miguel, Joãozinho (Wolf), Cordão de Prata, Esticado, La Ravar... entre otros. (GRECIANO MERINO, 2015). Sem dúvidas, que Diniz foi figura fundamental porque conseguiu inserir a capoeira no sistema de pensamento da cidade. Em 1966, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões – sede do governo estadual. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues – Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira:204 Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, ‘a época, menores de idade: - Locais das exibições de Canjiquinha fora da Bahia, dentre elas: “1966 – Maranhão – Bacabal, no teatro de Arena Municipal; São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da Capital; Ginásio Rodrigues Costa”. (Rego, 1968, p. 277 citado por MARTINS, 2005) 205.

Em 1966, Mestre Sapo, incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e, em 1967 Mestre Sapo retorna a São Luis para trabalhar na construção civil, e posteriormente na Secretaria de Agricultura. Em 1972, começou a dar aulas de capoeira, no ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Sapo morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis, vítima de atropelamento.206 De acordo com Kafure, a história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha era composta por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer agora no final de 2011. Considerando então uma capoeira

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PEREIRA, 2009, obra citada. PEREIRA, 2010, obra citada 203 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 204 In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes 205 REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968) 206 http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html 202


desconstruída, a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem". (KAFURE, 2012) 207 Patinho, em depoimento a Martins (2005) 208, diz que conheceu Sapo através do Professor Dimas, quem o recrutou para a Ginástica Olímpica, procurando pessoas para essa modalidade entre alguns capoeira que a praticavam no Parque do Bom Menino – Raimundão estava entre eles... -; acontece que Dimas só vem a implantar a Ginástica Olímpica em 1972/73209... O Grupo de Mestres (seis, conforme divisão para os depoimentos, em comum), assim se manifesta sobre esse período de transição, dos anos 60 – chegada de Serejo e Sapo – até o meado dos anos 80, já com a morte de ambos: Quanto à definição: Era Capoeira de Rua (fundo de quintal) 210; Capoeira de Rua211; Nesse período definimos como ‘capoeiragem’, com as características de realizações de rodas de rua, praças e praias e logradouros212. Quanto às características: o jogo era feito ao som do disco vinil na porta de casa213; se caracterizava como capoeira objetiva (luta) 214; Como a capoeira maranhense ficou a característica de Angola e da Capoeiragem215; Como uma capoeira educativa, sua característica: a inclusão de floreios acrobáticos, uma formação de bateria e seus cânticos216. Quanto às principais lideranças: a partir da Escolinha do Mestre Sapo217; Praticada por Serejo e seu Grupo Bantu218; os principais líderes: Sapo, Serejo, e Diniz219; tendo como principal liderança o Mestre Sapo220. Podemos falar, a partir daí, de uma Capoeira do Maranhão – ou Maranhense e/ou Ludovicense -? Não221. sim, com certeza: a partir dessa época temos dados que comprovam a organização e formação da Capoeira do Maranhão222. Sim, podemos dizer que a partir daí surge uma capoeira ludovicense223 Kafure (2017) 224, em correspondência pessoal, confirma a existência de uma capoeiragem maranhense, mas que não se trata de uma modalidade (estilo?) mas sim, uma identidade; afirma: Pelo o que eu entendo existe a capoeiragem maranhense, que não é uma modalidade da capoeira, mas sim uma identidade. Nesse sentido, a capoeiragem maranhense é como se fosse uma camada da realidade da capoeira no Maranhão, é como se ela sempre existiu e continua existindo, mas fica por trás das segmentações de angola, regional ou contemporânea. Ou seja, ela existe na maneira do capoeirista lidar com o outro e expressar o seu próprio amor pela cultura capoeirística. Prossegue: Eu acredito que existam três ou quatro períodos, basicamente o antes de Sapo, o de Sapo, o de Patinho e o de depois de Patinho. Por essa via, não sei dizer como está atualmente, mas a atividade da capoeira, pelo menos no centro de São Luís, esteve muito ligada ao Tambor de Crioula e a boêmia que envolvia esse círculo de pessoas (KAFURE, 2017) 225 As rodas de rua de São Luís continuaram acontecendo durante boa parte da década de 70, lideradas pelo Mestre Diniz e frequentada pelos capoeiras remanescentes da Bantu e pelos alunos mais velhos e experientes do Mestre Sapo, como: Jessé, Alô, Loirinho e Manuel Peitudinho. Segundo Mestre Pato, “Mestre Sapo proibia seus alunos mais jovens de participarem das rodas de rua, pois os que a frequentavam eram os que já tinham mais autonomia”. Mestre Rui lembra de que nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participavam de diversos campeonatos, tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador 207

ROCHA, 2012, obra citada MARTINS, 2005, obra citada 209 VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 210 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 211 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 212 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 213 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 214 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 215 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 216 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 217 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 218 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 219 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 220 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 221 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 222 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 223 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 224 ROCHA, 2017, obra citada. 225 ROCHA, 2017, obra citada. 208


e outros, [...] onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na Casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda.Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos anos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do Exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do Exército, grande capoeirista da época226. A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Kafure (2017) 227 acredita que Sapo – da linhagem de Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de reeducação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’: Eu já ouvi os mais velhos falarem, de como Sapo veio da linhagem de Canjiquinha e que consequentemente acabou escolhendo se estabelecer no Maranhão, onde desenvolveu um importante trabalho de uma reeducação das lutas e ritos primitivos dos valentões da ilha, por assim dizer. Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos228, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira229, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores. Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê.Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Segundo Mestre Índio (Oziel Martins Freitas), ele utilizava exercícios como corrida, polichinelo e flexões para essa preparação. Mestre Sapo se ele se definia como angoleiro ou regional, encontramos o seguinte: 9 alunos responderam angoleiro e os outros 6 responderam que ele não se definia unicamente como angola ou regional, pois ensinava as duas vertentes. De acordo com Antônio Alberto de Carvalho (Mestre Paturi), ele falava em capoeira de angola, mas ensinava misto, ou seja, angola e regional. Segundo o Mestre Pato, ele se definia somente como capoeira e que ensinava “as três alturas, as três distâncias e os três ritmos”. Nestes aspectos, ele se referia ao jogo alto, baixo e médio; ao longe, perto e o médio; e aos toques de angola (lento), São Bento pequeno (médio) e São Bento grande (acelerado). Acreditamos que esses fundamentos em capoeira que Mestre Sapo praticava são heranças de seu Mestre (Canjiquinha) que também os usava, de acordo com a confirmação de Mestre Pato. Além dessas influências, Mestre Sapo utilizava alguns movimentos da Capoeira Regional que ganhou muito mais projeção na década de 70 do que a de angola. (MARTINS, 2005) 230 Mestre Rui Pinto lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, freqüentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol. Mestre Gavião231 lembra dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: [...] ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo 226

RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 227 ROCHA, 2017, obra citada. 228 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito) 229 VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 230

MARTINS, 2005, obra citada. MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.

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ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade.Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. No ano de 1978, Mestre Sapo, juntamente com o seu discípulo Pato, participaram do primeiro Troféu Brasil, o que seria o primeiro campeonato brasileiro de capoeira, promovido pela Confederação Brasileira de Boxe (CBB). Ambos foram vice-campeões em suas respectivas categorias, sendo que o resultado do Mestre Sapo foi muito contestado pelo público e pelos Mestres presentes, fazendo com que a organização do evento lhe homenageasse com uma medalha de ouro. Segundo Mestre Pato232: Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. Ainda nesse ano de 1978 que Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente.

Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão. Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação. É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: [...] padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação233 [...] contudo houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições234. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Retorna com uma padronização de uniformes, instrumentação e disciplina. Implantação do sistema de graduação pelo Mestre Pezão, na década de (19)90235. [...] os capoeiristas buscam uma nova organização, criando grupos, academia e começam a divulgar a capoeira mais freqüente236. Após a morte de Sapo, começou o movimento de surgimento de 232

MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVROÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006. 233 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 234 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 235 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 236 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO.


grupos de capoeira, sim, a capoeira saiu das ruas, começou a se organizar, passando a ser desenvolvida em espaços fechados, como escolas, academias e clubes. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão237. A partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão238. De acordo com Greciano Merino (2015)239, Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária:

[...] que sintonizaba con las formas que la dictadura militar proyectaba en el seno de la sociedad240. La rigidez de ese método, según explican sus alumnos 241, se aplicaba a través de una fuerte preparación física242622 y de la incesante repetición de secuencias de movimientos. El alumno para demostrar que había asimilado el fundamento de esos movimientos debía aplicarlos correctamente en la roda, y si no era capaz de cumplir con las exigencias de su grado la respuesta inmediata era un golpe correctivo que le alertase de que debía depurar aún más su jogo. Debido a la dureza de los entrenamientos mucha gente abandonaba las aulas, lo que propiciaba una amplia rotatividad de alumnos en la escuela y que ésta estuviese separada en dos grupos diferenciados: los iniciantes y los veteranos. Esa división propiciaba, a través de un estímulo competitivo, que los primeros se esforzasen por conquistar un lugar en el grupo de los avanzados y que éstos mantuviesen una gran tensión para mantenerse como los referentes del grupo.

O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR, 1969, CUNHA, 2014) 243. [...] ‘Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer’, de 1979, foi escrita originalmente em francês por Listello e traduzida pelo então professor da USP Antonio Boaventura da Silva e colaboradores. Esta obra parece ter sido uma adaptação do MDG para a realidade brasileira, pois foi publicada após quase duas décadas de contato com o Brasil e em parceria com uma universidade brasileira. (CUNHA, 2014?)244.

A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira245, que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a 237 238 239 240

O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA.

Debemos destacar que durante el período dictatorial brasileño se refuerza ese proceso que impulsó la capoeira en los años 30, o sea, el gobierno pasa a estrechar los lazos con los practicantes de la capoeira. Así, en 1972, la capoeira es reconocida oficialmente como deporte por el Ministerio de Educación y Cultura, incluyéndose en un proceso de institucionalización y burocratización que busca promover la homogeneización de esta práctica a nivel nacional. Dos años después se crea en São Paulo la primera federación de capoeira de Brasil, procurando difundir la capoeira como arte marcial brasileña. Este hecho es cuestionado por algunos segmentos que entendían que ese proceso de “marcialización” de la capoeira infringía principios básicos de esta práctica. En 1975, se realiza, en São Paulo, el primer torneo nacional de capoeira, para su realización se construye un reglamento técnico [...] (GRECIANO MERINO, 2015) 241 Informaciones extraídas deI “Encuentro de Mestres”, evento organizado por la Associação Centro Cultural de Capoeiragem Matroa, el día 1/04/2013. Con la participación de Antonio José da Conceição Ramos “mestre Patinho”, Jose Ribamar Gomes da Silva “mestre Neguinho”, João José Mendes da Silva “Mestre Açougueiro”, Nasson de Souza “Cara de Anjo”. (GRECIANO MERINO, 2015) 242 Que Sapo definía como Educación Física Generalizada, en la que integraba aparatos de gimnasia como el plinto y las colchonetas. (GRECIANO MERINO, 2015). 243 FARIA JR. Alfredo Gomes de. INTRODUÇÃO À DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 244 CUNHA, 2014, obra citada 245 LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão.


responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de professores de Educação Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem numa ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 246 Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações: (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias [...]247; Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 248. Para Kafure (2017)249, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessas ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes250, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE251, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016. 247 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 248 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 249 ROCHA, 2017, obra citada. 250

MESTRE MORAES - PEDRO MORAES TRINDADE é um notório mestre e difusor da Capoeira Angola pós-Pastinha. Seu pai também era capoeirista praticante de Capoeira Angola. Começou a treinar por volta dos oito anos na academia de Mestre Pastinha que já cego e sem dar aula, passou o controle da academia para seus alunos. Moraes foi aluno de Mestre João Grande, que junto de João Pequeno eram grandes discípulos de Pastinha. Por volta dos anos 80, na intenção de preservar e transmitir os ensinamentos de seus mestres, fundou o GCAP - Grupo de Capoeira Angola Pelourinho - na tentativa de resgatar a filosofia da capoeira em suas raízes africanas, que havia perdido seu valor para o lado comercial das artes-marciais. Atualmente vive em Salvador, Bahia e divide seu tempo entre lecionar Inglês e Português numa escola pública, e presidir os projetos culturais da GCAP. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes

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O LABORARTE é um grupo artístico independente, com 35 anos de trabalhos culturais desenvolvidos no Maranhão, produzindo nas áreas de teatro, dança, música, capoeira, artes plásticas, fotografia e literatura. O grupo está sediado num casarão colonial no centro de São Luís e desenvolve atividades culturais permanentes: oficina de cacuriá, oficina de teatro, oficina de ritmos populares do Maranhão, além de manter uma escola de capoeira angola. Anualmente realiza o "Iê! Camará- Encontro de Capoeira Angola". http://www.iteia.org.br/laborarte


trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 252.

Kafure considera que o modelo de capoeira baiano foi talvez a condição de sobrevivência da prática da ética da malandragem: [...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é super importante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade. Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) 253.

A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo”: [...] a escola funciona no Laborarte, nós temos nove pontos, pra você entender melhor nós temos aqui a nossa árvore genealógica (...) olha, aqui está a minha trajetória, a raiz vem ser onde eu comecei, quem foram meus netos e tal... e aqui nos temos aqui a Escola de Capoeira do Laborarte e hoje eu estou aqui no Centro Cultural Mestre Patinho, então quem são as pessoas que estudam no centro cultural, quem está dando aula, quem são os alunos formados, que aqui é sobre a minha trajetória. É a árvore genealógica dos nossos trabalhos, hoje aqui nós somos sabe quantas escolas no Maranhão? somos nove escolas no Maranhão regidas pela escola do Laborarte... 254 [...] Aí você vai ver aqui Mandingueiros do Amanhã; quem é, Escola do Laborarte quem é? Nelsinho, e todos eles vão passando, Escola Criação quem é o cara? Mestre Serginho; Aí aqui, Centro Matroá? Marco Aurélio e contra-mestre Júnior, então assim tu vai vendo aonde agente ‘tá’ aqui no Maranhão, e lá fora uma mestra Elma que trabalha em Brasília, Florianópolis e Rio Grande do Sul, e também a galera nossa que está dando aula lá fora como o Bruno Barata que está no Rio de Janeiro, que está trabalhando com a capoeira, aí tem uma galera da gente que ‘tá’ trabalhando aí, e a gente que mora em São Luís, que vai nos Estados Unidos e volta, em Portugal e volta, mas não fazemos questão de estarmos lá, porque o importante é que a gente estude a capoeira no Brasil ‘pra’ entender o que é jogar capoeira,’ pra’ depois ir lá fora fazer uma oficina porque vai ser difícil ‘pra’ ver o que vai ser mal empregado lá fora 255 .

Mestre Alberto Euzamor256 fala que se desconhecia a existência de estilos de capoeira. Explica que: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; Memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogado hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Mestre Rui257 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e 252

BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 253 ROCHA, 2017, obra citada. 254 In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 255 In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 256 MESTRE ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, quando da construção do Livro-Álbum Mestres de Capoeira de São Luis, 2006 257 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. O mesmo diz Mestre Socó258, pois para ele desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima – embaixo”, um jogo no qual não era nem Angola nem regional, era conhecido como “Capoeiragem. Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto259, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas. Para Mestre Índio, [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 260 Por não ter um estilo definido, ou não se filiar aos estilos hoje reconhecidos: Angola, Regional e/ou Contemporânea, foi perguntado aos Mestres como eles chamariam, ou definiriam a capoeira praticada, hoje, no Maranhão e o que é “jogar nos três tempos”, e se essa era a principal característica da Capoeira do Maranhão: - a denominaria “Capoeira Tradicional Maranhense”, com seu: “jogo baixo, intermediário e em cima”, as três alturas ou as três distancias, considerando ser essa a sua principal característica. “É definida em grupos, associações, Federações, sendo que cada um tem seu estilo de jogo e sistema de graduação”. a denominam como “capoeira mista”, ou seja, incutir o novo no velho sem molestar as raízes: “Jogar em um determinado toque as três alturas - Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande”. Como a Capoeira Maranhense se joga nos três tempos e joga no toque de Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande de Angola - jogo em baixo, no meio, e em cima -, essa é a característica maranhense. ’Capoeira mista’, jogada nos três tempos, que significa os três toques do berimbau, Angola, S.B. P. de Angola, e S.B.G de Angola” . [...] uma capoeira mista, por assim ser jogada em três tempos: jogo de chão, malícia: 2º no São Bento pequeno, que um jogo de muita acrobacia e destreza e, 3º o São Bento Grande, que é um jogo em cima rápido e de combate. Patinho261 sintetiza a Capoeira do Maranhão: [...] buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas.

258

MESTRE SOCÓ – EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 259 MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 260 ENTREVISTA COM MESTRE ÍNDIO MARANHÃO, disponível em http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-IndioMaranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau 261

MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVROÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006.


Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar.

Segundo Greciano Merino (2015) 262, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folclóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)263, expresaba que: “El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”264. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”265. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural.

262

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada.

263

Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014.

264

265

Haikel, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014.


Prossegue: En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 266 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor267. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito268. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás.

Kafure (2017) considera que essa característica de jogar nos três tempos é gananciosa, mas não deixa de ser o ideal de um "super capoeirista": [...] e isso para mim é impossível. Justamente porque a vida tem três tempos, a infância, a maturidade e a velhice e o ritmo de cada um desses tempos é diferente. Então assim, eu acho que o tempo da capoeiragem maranhense é o tempo médio, pois nem é devagar demais nem rápida demais, como se encontra em alguns grupos na Bahia (lá existem bem visível os extremos). Eu acho que uma das grandes belezas e riquezas da capoeiragem maranhense é a multiplicidade de grupos e rodas em um território pequeno. Pelo menos quando eu morava em São Luís, quase todo dia era dia de roda, pelo o que eu me lembro, de quarta à sábado (curioso que no domingo quase nunca tinha). Enfim, geralmente nas capitais do Brasil, roda de capoeira é de sexta à domingo. Então acho que essa pluralidade de rodas, mesmo com os zumzumzum entre grupos e mestres, ainda assim dava uma perspectiva muito boa de aprendizado para alguém que realmente queira aprender a ser um bom capoeira.

Sapo não definia sua metodologia nem como Angola nem como Regional; de sua perspectiva de ensino, a capoeira estava formada por uma serie de fundamentos de jogo que se aplicavam em função das circunstancias que a roda requeria 269. Su capoeira se enfoca hacia un aspecto más deportivo, pasando a examinar a sus alumnos a través de series de movimientos secuenciados que se correspondían con una escala de cuerdas de colores, como ocurre en las artes marciales. Participó en eventos, simposios y torneos nacionales en diversos Estados e incentivó a sus alumnos para que completasen su formación participando de los cursos de arbitraje y viajasen a Rio de Janeiro para estudiar con Inezil Penna Marinho270. Asimismo, batalló mucho para conseguir que la capoeira formase parte de los Jogos Escolares Maranhenses (JEM’s) como un deporte de competición. Todo eso sin dejar de explorar ese lado folclórico de la capoeira que le había llevado hasta São Luís271. Por tanto, su profunda dedicación al estudio del arte de la capoeira272627 le llevan a 266

VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 267 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 268

Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 269 El Maestro Sapo seguía una especie de mezcla de las dos vertientes, sus enseñanzas consistían en una práctica que estuviese de acuerdo con el ritmo que dictaba el toque de berimbau: Angola (jogo lento y rastrero), São Bento Pequeno (jogo que mezclaba movimientos altos con rastreros en una cadencia intermedia) y São Bento Grande (jogo practicado encima y en una cadencia acelerada). Los 3 berimbaus tocaban la misma célula. (GRECIANO MERINO, 2015). 270 Inezil Penna Marinho publica en 1945 el libro “Subsídios para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem”, esta obra fue explícitamente inspirada en la “Ginastica nacional (capoeiragem) metodizada e regrada” de Aníbal Burlamaqui. (GRECIANO MERINO, 2015). 271 Entre los años 1977-1979 Sapo formó un cuadro folclórico de exhibición con juego de luces que presentaba principalmente en el recinto ferial (EXPOEMA), durante los festejos juninos, y en algunos terreiros durante determinadas fiestas de santo. Entre las actividades que se


convertirse en un profesional de reconocido prestigio por la sociedad. Ese reconocimiento unánime motivó que asumiese el papel de celador de la capoeira en São Luís, mostrando su intolerancia hacia las rodas de calle (que no fuesen las suyas o las del maestro Diniz) y hacia la abertura de grupos que no fuesen suyos. (GRECIANO MERINO, 2015)

Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, O movimento ‘prócapoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis273. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990 274. Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança275. As lideranças: Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão276; Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita277; Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira278. ONDE ACONTECEU? QUAIS OS RESULTADOS? Sá Viana, Bairro de Fátima, Anjo da Guarda, Coroadinho, Liberdade, etc.; foi positivo no sentido de fortalecer a interação entre os grupos279; [...] na área Itaqui-Bacanga, no Teatro Itaqui-Cucuiba, e teve como resultado o fortalecimento da Capoeira; a partir daí, outros grupos da cidade passaram a realizar outros eventos, em prol da Capoeira280;. Foi feito o Pré-capoeira no Bairro do Anjo da Guarda, no Teatro Itapicuraíba281. O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área ItaquiBacanga [...] com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis282. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; [...] com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990283. Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à

presentaban destacan el samba de roda y el maculele que se entrenaba con palos de escobas y después se ejecutaba con machetes. . (GRECIANO MERINO, 2015). 272 Cabe destacar que en una época que las informaciones eran escasas debido a los limitados y precarios medios de comunicación, el maestro Sapo poseía un importante acervo de libros discos y recortes de prensa con informaciones de lo que acontecía en varios Estados. . (GRECIANO MERINO, 2015). 273

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 275 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 276 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 277 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 278 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 279 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 280 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 281 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 282 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 283 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 274


criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua, com a formalidade É ainda em 2001 que se dá a realização do 1º CONGRESSO TÉCNICO DA FACAEMA, na Academia de Mestre Edmundo. Neste congresso que se tomou a decisão de caracterizar, através da formação da orquestra, a Capoeira do Maranhão/Ludovicense: No ano de 2001, reuniu-se na Academia de Mestre Edmundo representantes da Capoeira de vários segmentos, para a padronização de uma bateria, que seria única, nos grupos filiados à FECAEMA. Estavam presentes, da Capoeira Angola: Marco Aurélio, Abelha, Piauí; de outros segmentos: Índio, Baé, Mizinho, Paturi, Ciba, Edmundo. Decidimos cantar no Gunga e no Médio284.

Fonte: Greciano Merino, 2015

Ainda temos a registrar a atuação do “Forum Permanente da Capoeira do Maranhão”. Concordamos com Almeida e Silva (2012) 285, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 286. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas287. Mestre Gavião já viajou por muitos estados brasileiros a procura de capoeira, e sempre buscou manter suas raízes, só absorvendo o que achava interessante para enriquecer sua capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, o viu jogando e perguntou: “Oh Mestre, essa sua capoeira é africana?” Poderia – ou deveria! – ter respondido: “Não, é Capoeira do Maranhão, de São Luis, ludovicense!!!” É a “Capoeiragem Tradicional Maranhense” 288...

284

MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO. ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 286 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFROASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 287 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 288 Assim a denominaram os Mestres Capoeiras partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiuras mdo Maranhão, adeptos da denominada ‘capoeira mista’, após os estudos realizados, passando de ora em diante a assim denominar seu estilo de luta, conforme correspondência pessoal, via Facebook, de Mestre Baé, em 28 de setembro de 2017. 285


JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ289

Se procura estabelecer quando teve inicio a prática do Judô em São Luís do Maranhão, pois é tida a década de 1960, introduzido família Leite, como o inicio dessa modalidade no Maranhão. Encontramos indícios de que desde o inicio dos anos 1900 já era praticado. O nome jiu-jitsu aparece em inúmeras reportagens publicadas, a partir do ano de 1908, provavelmente introduzida por Aluísio de Azevedo no âmbito do Fabril Atletic Club, fundado em 1907, assim como em outros clubes esportivos fundados por essa época. A questão que se apresenta é: o que foi introduzido? jiu-jitsu? jujutsu? Ou judô kodokan? O Konde Koma passa por São Luís em 1915, fazendo inúmeras apresentações, por cerca de três meses, antes de seguir e se estabelecer em Belém; era praticante do judo kodokan... Durval Paraíso, o mais antigo judoca maranhense, o pratica desde a década de 1930, participando de vários combates de 'luta livre'; encontramos referencias à prática do judô na década de 1940, assim como inúmeras competições nos anos 1950, inclusive como disciplina em Curso Livre de Educação Física.

289

Professor de Educação Física (aposentado) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (aposentado); Mestre em Ciência da Informação; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; membro fundador da Academia

Ludovicense de Letras. vazleopoldo@hotmail.com


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


COMMONS – O QUE A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA TEM COM ISSO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40, patroneada por Dunshee de Abranches

Dois artigos me chamaram atenção, em revista desta semana que passou. Um cientista político, Fernando Figueira, da UFMG, conduziu uma pesquisa do Instituto Vox Populi que mediu a percepção sobre a corrupção no Brasil. O brasileiro associa a corrupção à política, principalmente nas câmaras legislativas, das três instancias. Está-se criminalizando a política e os políticos! Sabe-se que essa, a corrupção, se estende a todas as esferas da vida do brasileiro. Somos corruptos por natureza. Aceitamos o famoso 'jeitinho brasileiro' em tudo. Impera a 'Lei de Gérson", em que devemos e gostamos de levar vantagem em tudo. Onde há Governo, há corrupção. E sempre que há corrupção, existem dois agentes: o corruptor e o corrompido! A outra matéria refere-se aos ganhadores do Premio Nobel de Economia deste ano, em que se ressalta o laurel a uma mulher - a primeira a ganhar um Nobel de Economia... Explicam ambos, como as pessoas se organizam - tanto para salvar o meio ambiente como para formar empresas. Os estudos de Elinor Ostrom chama-me a atenção, pois se refere à participação da comunidade - cidadãos comuns - na preservação do patrimônio comum. A questão que deu origem ao trabalho de 40 anos dessa cientista política: como preservar o patrimônio que pertence a uma sociedade ou grupo e garantir que ele continue beneficiando a todos, sem se esgotar? Marcos Coronato, autor da matéria, refere-se que bens desse tipo são chamados de 'cestas de recursos comuns' ou simplesmente “commons". A dificuldade de protegê-los é evidente em áreas desmatadas e praças públicas vandalizadas. O uso irresponsável de parte de alguns acaba com benefício que iria para todos. A solução final é propor a privatização ou o controle governamental. Elinor mostrou que há um terceiro caminho, independente. Em alguns casos, os grupos de indivíduos interessados no patrimônio comum conseguem se organizar melhor para protegê-lo. Foi o que aconteceu com a Igrejinha do Vinhais. Tombada como patrimônio histórico pelo Decreto estadual 9.652, de 06 de setembro de 1984 (Inscrição 28, do Livro de Tombos, fl. 6), estava em ruínas, quando a comunidade residente em seu entorno resolveu tomar uma providência: recuperá-la... Física e enquanto instituição de apoio espiritual. Como se observa na imagem abaixo, foto tirada em 1973, que consta do livro “Arquitetura luso-brasileira no Maranhão”, de Olavo Pereira da Silva Filho, segunda edição, 1998 - Projeto Documenta Maranhão 97, convenio MinC, Maranhão, UNESCO, p. 158. Observa-se seu abandono e já sem o telhado...


No livro “Monumentos Históricos do Maranhão”, São Luis: SIOGE, 1979, p. 144 consta a Igrejinha – com o telhado – conforme foto tirada por Murilo Santos e Andrés Felipe, naquele ano. Conforme informou o próprio cineasta Murilo, quando da feitura do Documentário:

No livro “Arquitetura e arte religiosa no Maranhão”, de Kátia Santos Bogea, Emanuela Sousa Ribeiro e Stella Regina Soares de Brito, São Luis IPHAN, 2008 já consta a gravura da Igreja recuperada, pg. 143:


O que quero dizer é que desde 1985 – um ano após o tombamento pela Secretaria de Cultura como Patrimônio Histórico estadual – a igrejinha estava em ruínas! Desde então um grupo de moradores de seu entorno – Vila Velha de Vinhais e Recanto de Vinhais – uniram-se para recuperá-la. Sem interferências dos poderes públicos! Diga-se a bem da verdade. O que chama a atenção, é que em 1995 – dez anos após o início das intervenções, sempre sobre consulta ao IPHAN – registrou-se que foram destinados – e gastos! – R$ 8.000,00 na recuperação da Igreja. O que não é, nem nunca foi verdade! A população – que contribui participando dos festejos, assinado livros de ouro e destinando doações, cobrou dos poderes constituídos – Estado e Federal – uma explicação, via Cúria Metropolitana, que tem responsabilidade pela igreja. Nesses 14 anos, ficamos sem respostas. No lançamento do livro das Sras. Kátia Bogéa, Emanuela e Stella de Brito o ex-pároco de Vinhais, Padre Dr. Raimundo Meireles cobrou publicamente das autoras a inserção dessa informação errônea – portanto falsa – em sua obra; p. 145 – 1995 – restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histórico e Paisagístico. Repetem o que está no documento de 1995, inclusive a foto, de que o Governo do Maranhão fez o restauro daquele templo. Abaixo, as feições atuais da Igreja de São João Batista de Vinhais, após a intervenção da comunidade, nesses últimos 24 anos – desde 1985, quando foi constituída a “Comissão (Informal) de recuperação da Igrejinha de Vinhais”. Continuamos a trabalhar...


Quando das comemorações dos 397 anos da primeira missa rezada naquela localidade, perguntaram-me qual a participação dos poderes públicos naquela preservação. Disse que não só não houve – as fotos provam o descaso... – como não é desejável... E nem necessária. Bastava que não atrapalhassem... Pois bem, a maior autoridade no Estado, ligado à preservação do patrimônio histórico, recebeu comissão para convidar, a autoridade – aos festejos e assistir o Documentário “A Igreja de São João Batista e a Vila Velha de Vinhais”, mandado fazer pela própria comunidade, contratado o cineasta Murilo Santos para tal. Preservar o patrimônio – memória – da Igreja e da Vila, e de seus moradores... Sabe o que disse a autoridade? Que não viria! Porque ‘aquele padre’ (referia-se ao Padre Meireles, Chanceler da Cúria Metropolitana) ousara apontar erro em seu livro recém-lançado... Pois é, há um terceiro caminho! A dos cidadãos comuns que não agem como vândalos...


BENVINDOS A MIGANVILLE Palestra ministrada dia 12/10/2018 na igreja de São João Batista de Vinhais Velho, para a Associação Maranhense de Veículos Antigos – AMAVA –

Ação social do Dia das Crianças no Vinhais Velho, promovida pela Associação Maranhense de Veículos Antigos - AMAVA, no Vinhais Velho, com momento cultural, lanche e distribuição de brinquedos, com a participação da ALL, com a palestra ‘BEM VINDOS A MIGANVILLE’, por Leopoldo G. D. Vaz e Antonio Noberto

PRESIDENTE DA AMAVA e PADRE JADSON, ANUNCIADO A INSTALAÇÃO DA SEDE DA ENTIDADE NO VINHAIS VELHO E A PROPOSTA DE PARCERIA DE ATIVIDADES CULTURAIS E EDUCACIONAIS COM A PARÓQUIA DE SÃO JOÃO BATISTA E A ALL

A FALA DE NOBERTO


ARqUEóLOgO ARkLEy BAnDEIRA fALAnDO SOBRE A PRé-hISTóRIA DO VInhAIS VELhO

LEOPOLDO E RAMSÉS...


BENVINDOS A MIGANVILLE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – Mestre em Ciência da Informação Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras


De algum tempo tenho defendido a ideia de que o Maranhão e a sua cidade, São Luís, foram obra de conquista e ocupação – e fundação – de dois aventureiros franceses: Jacques Riffault e Charles de Vaux, pois ambos antecederam à expedição de instalação da França Equinocial, comandada por LaTouche e Razzily. A partir da França Equinocial, o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco das Tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois,


quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará.

Neste 20 de outubro comemoramos, na Vila Velha de Vinhais – ou Vinhais Velho, como carinhosamente é chamado pelos seus moradores, 406 anos do dia em que foi rezada a primeira missa na capelinha, de pau e palha, erguida pelos primitivos habitantes – os Tupinambá – junto com os franceses de Monsieur De Pézieux que aqui se estabeleceram, quando da instalação da França Equinocial. O Vinhais Velho de hoje já recebeu diversas denominações: Uçaguaba, MiganVille, Sítio de “Monsier Pineau”; Aldeia da Doutrina, Vila Nova de Vinhais; já foi habitada por índios e por europeus; e sua História tem já mais de 418 anos: sua ocupação por europeus precede à fundação de São Luís. ESTA TERRA TInhA DOnO: OS POVOS DOS SAMBAqUIS; OS TUPIS (3.600 AnOS) ; OS TAPUIOS (TREMEMBé ?); E DEPOIS OS TUPInAMBÁ – OS PRIMITIVOS hABITAnTES Bandeira (2013) traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76). [...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76).


[...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76). BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013. Quando os franceses foram lançados do Rio de Janeiro (1567) passaram para Cabo Frio e daí para o Rio Real, entre Bahia e Sergipe. Escorraçados dessas paragens, procuraram se estabelecer nas costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a também perseguir os franceses do território do Maranhão. Jacques Riffault negociava madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica. Levava madeiras do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro. Na hoje Natal, a boa amizade com que Riffault tratava os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território. Expulsos da Paraíba e do Rio Grande foram mais para o Norte.


Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas. É de Jacques Riffault a primeira ideia de ocupação do Maranhão, tendo passado por aqui em 1590, Para Bueno (2012), Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des Vaux partiram para o Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84). Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses dos três que formavam a frota de Jacques Riffault ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Usirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas”. Riffault, Des Vaux, e Davi Migan “fundam” Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão. Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para governá-los e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França. Beatriz Perrone-Moisés (2013) retoma a trajetória de Charles des Vaux, jovem nobre responsável pela ideia da fundação da França Equinocial no século XVII, assim como a história de David Migan, jovem intérprete francês que viveu entre os índios tupi. O centro do argumento de Beatriz Perrone-Moisés é que "Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter". Ao colocar o que chama de "intérpretes-embaixadores" como protagonistas da história da França Equinocial, a antropóloga lança luz sobre estratégias fundamentais de contato e de conquista ainda pouco visíveis para a historiografia oficial. Mas para os planos de Riffault e Des Vaux, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão, estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard.


Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil (PROVENÇAL, 2012). Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Em 1604, Pero Coelho de Souza, passou rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contas o franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barreto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92). BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958 Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia) (NOBERTO DA SILVA, 2012). Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 veem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard (BITTENCOURT, 2008). Essa autora informa que Jacei, filha do cacique Japiaçu era casada com Guérard, e que a outra filha, Aracei, casada com o interprete Sebastien. Des Vaux era casado com “Lua Cheia”, também filha de Jupiaçu. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os comerciantes de Dieppe encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos. É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.


fORTE DO SARDInhA, qUE PROTEgIA MIgAnVILLE

VISITA AO TERRENO ONDE SERÁ EDIFICDA A SEDE DA AMAVA


O PEnSAMEnTO DO JORgE BEnTO Esta é uma Revista aberta às contribuições... Tomo a liberdade – devidamente autorizado – de replicar aqui o Pensamento do Jorge Bento... O conheci, pessoalmente, em 1992, numa palestra na UFMG. O nosso GuruGeek Laércio o trouxe para falar sobre Lazer... eu estava fazendo meu Mestrado em Ciência da Informação; minha ultima especialização fora em Lazer e Recreação, daí meu interesse, ainda maior, pois se tratava de Jorge Bento!!! Já o conheci, de alguns escritos e livros. Creio que - não sei quem é o maior, mas vamos colocalos na mesma posição, de fora de concurso, pois – se Jorge, Manuel Sérgio ou Silvino Santi os maiores e melhores filósofos da nossa tão combalida Educação Física – prefiro a tradição da denominação, mas aceito a Motricidade Humana e as Ciências dos Esportes... Jorge falou sobre Gilberto Freire... uma palestra em que até hohe recordo algumas das bombásticas expressões usadas, em especial na comparação entre os nossos povos – que ele considera um só, e adota a cidadania luso-brasileira, pois... O português é aquele pçovo trágico, que venera o Cristo crucificado, dolorido, sofrido, sentindo-se abandonado, mas mesmo assim, disposto a todos os sacrifícios, como decorrência de sua sorte e vivência, dai vestirem-se as mulheres sempre de preto, com lenço à cabeça, andar curvado, como se carregassem todos os pecados do mundo, um peso insuportável... já o brasileiro, venera o Cristo menino, a criança brincalhona, e por isso, um povo alegre, vivaz, colorido... isso na interpretação de um artigo escrito por Gilberto Freire, em 193... (2, 9u 9?) e publicado em inglês, numa palestra na Inglaterra, inédito em português, ou no Brasil... gostaria de te-lo reproduzido nestas páginas... Desde então o acompanho mais de perto, trocando correspondência, agora em tempos de redes sociais, e palavras quase diárias. Semprer replico e comportilho suas colocações, em especial quando se referem à Educação e à Educação Física/Motricidade Humana... Aproveitem!!!!


CINCO TESES SOBRE A EDUCAÇÃO 1. A atual narrativa da sociedade, da democracia, da política e do modo de vida está esgotada. A da educação também. E doente. 2. A visão empresarial e fabril e a novilíngua do individualismo e do sucesso, do produtivismo e dos ‘rankings’ invadiram até a escola! 3. Às crianças e adolescentes estão sendo roubadas possibilidades de o ser. São encarados como adultos acabados e máquinas producentes. 4. Urge abrir uma estrada nova do Ser, valorativa da Alteridade, espiritualidade, consciência, natureza, convivialidade e corporalidade. 5. A Educação deve contrair casamento com a ‘arte’ (a 'arété' da Paideia Grega). As artes performativas do corpo e da alma, das emoções e expressões são trave-mestra de tal renovação.

PRAXES ACADÉMICAS: A FORÇA DA TRADIÇÃO Leio, nestes dias, uma profusão de análises e opiniões condenatórias de cenas grotescas, autointituladas ‘praxes académicas’. As avaliações suscitam a minha concordância; mas nenhuma me satisfaz. Parece contraditória a apreciação; todavia não é. O sub-humano e o animalesco são indefiníveis e, por isso, indescritíveis. Logo, por mais que tentem, os autores dos textos ficam aquém da sua intenção; a realização do empreendimento é impossível, porque, tal como as praxes, subtrai-se às possibilidades da razão. Ah, como é difícil enfrentar a força da tradição! Na família dos hominídeos a bestialidade e a imbecilidade constituem uma herança recebida da origem; estão vivas e têm futuro.

DESAFIO AOS PROFESSORES E ESTUDANTES Transcrevo este excerto da carta que um sobrevivente de um campo de concentração nazi enviou ao seu antigo professor: “Os meus olhos viram (...) câmaras de gás construídas por engenheiros doutores; adolescentes envenenados por físicos eruditos; crianças assassinadas por enfermeiros diplomados; mulheres e bebés queimados por bacharéis e licenciados (...) Por isso desconfio da educação ministrada. Eis o meu apelo: ajudem os vossos alunos a ser humanos.” Há ou não hoje assuntos da Humanidade e Sociedade merecedores da tomada de posição dos professores e dos estudantes? Porque se mantêm calados e fazem de conta que não se passa nada à sua volta? Mais ainda, porque é que alguns assumem atitudes protofascistas e apoiam figurões do mesmo teor?

AOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E SECUNDÁRIO Subscrevo inteiramente as posições expressas no artigo de José Pacheco Pereira. Fui professor no ensino fundamental, secundário e superior. Portanto estou autorizado a comparar e valorar. O último foi o mais fácil, agradável e aliciante; sempre o entendi e vivi como uma configuração da utopia do 'ócio criativo', advogado por Aristóteles e Domenico de Masi como paradigma da realização máxima da civilização. A não poucos colegas universitários, que cultivavam desdém e animosidade em relação aos docentes dos graus de ensino precedentes, disse isso repetidas vezes. Eles não tinham noção da graça e leveza do ofício que lhes tocou por sorte; e já não se lembravam das agruras dos seus professores de antanho. Os professores, que tive desde a escola primária, fazem parte da lista dos meus heróis. São imorredoiros na minha admiração e gratidão.


AS PROFISSÕES INFERNAIS JOSÉ PACHECO PEREIRA A escola perdeu a sua função e, no meio de tudo, estão professores sitiados no meio de um inferno cheio de hormonas sem regras. 6 de Outubro de 2018, 6:48 PUB Para além de outros disparates e fake news, a minha “biografia” na Wikipédiacomeça com a seguinte frase: “É professor do ensino secundário.” Como se sabe, a Wikipédia é um lugar de muita vingança e má-fé e quem a escreveu usa a expressão “professor do ensino secundário” como um mecanismo de desvalorização, porque sabe muito bem de que grau de ensino fui professor, até porque acrescenta mais abaixo “também leccionou no ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e em instituições de ensino particular; nomeadamente na Universidade Autónoma de Lisboa”. Ou seja, trata-se de um “professor de ensino secundário” que leccionou na universidade, certamente por grande favor. Como eu não quero saber da minha página da Wikipédia para coisa nenhuma, nunca corrigi nada. Corrijo mais facilmente quando me tratam por professor doutor, que não sou, para não correr o risco de ser incluído na escola Sócrates-Relvas de abuso de classificações académicas. Se a intenção é usar a expressão “professor do ensino secundário” como classificação pejorativa, estão bem enganados. Fui de facto professor do ensino secundário com muita honra e fiz a diáspora habitual dos professores, dei aulas em Vila Nova de Gaia, Coimbra, Espinho, Boticas e no Porto e aprendi muito mais nesse deambular do que na universidade. Por uma razão muito simples: é que já era então muito mais difícil ser professor do ensino secundário do que universitário. E a realidade é que, quer num quer noutro grau de ensino, as coisas pioraram muito desde esses anos. Por isso escrevo hoje sobre os professores do ensino secundário, e por extensão sobre todos os professores. Não é pela sua luta sindical, nem por causa das manifestações, nem por nada dessas coisas, embora também seja. É pelo vilipêndio demasiado comum da condição de professor, de ser professor, como se fosse um lugar de comodismo, salários altos, trabalho confortável e nada desgastante. Não estou a falar das escolas e colégios privados que podem escolher quais são os seus estudantes, à força de dinheiro e da facilidade de afastarem quem não querem, estou a falar da escola pública, um pouco por todo o país, mas com maior relevo nos locais mais pobres, onde as famílias estão desestruturadas, onde a violência é endémica, onde há gangues e bullying como regra, onde tudo é precoce e nada é maduro. É que o problema não é o dos adolescentes de hoje, é também o dos pais dos adolescentes de hoje, parte deles também professores, normalmente os mais hostis aos seus colegas. O problema é uma sociedade que deixou todos os problemas, de raça, de exclusão, de pobreza, de marginalidade, de droga para a escola e na escola para os professores. As famílias demitem-se e acham que é a escola que lhes deve socializar os filhos com um mínimo de “educação” e, como isso, não acontece atiram-se contra os professores. Não é preciso ir mais longe do que a absurda prática de deixar levar telemóveis para as aulas, sabendo-se como se sabe que não há qualquer utilidade no seu uso, e que servem apenas para uma nova forma de se estar “agarrado”. A completa falta de qualquer autoridade nas escolas torna-as um falanstério de ruídos, perda de atenção, violação da privacidade e crime, em que o comodismo dos pais, e a sua idêntica falta de autoridade, isola a função de ensinar de qualquer utilidade social. A escola perdeu a sua função e, no meio de tudo, estão professores sitiados no meio de um inferno cheio de hormonas sem regras. Não admira que seja das profissões que mais frequentam psiquiatras e psicólogos e que ardem mais depressa do que o pavio de uma vela curta. Venham pois hipocritamente atacar os professores, esses preguiçosos privilegiados. Uma questão interessante de discutir em democracia é a de saber que critérios devem existir para pagar salários mais elevados e se um dos fundamentais não é a dificuldade no exercício da profissão. Se um homem do lixo, que faz um trabalho que ninguém quer, se um mineiro, que tem um trabalho duríssimo, não deveriam ganhar muito mais do que um burocrata ou mesmo um trabalhador qualificado ou um gerente bancário ou um técnico de informática? E carregar sacos e caixas de cerveja, ou passar o dia a abrir valas


debaixo de um sol impiedoso nas ruas da cidade? A resposta habitual é que as qualificações significam “valor” e produtividade, e é verdade. Mas devem esses serem os critérios principais na atribuição de um “valor” no salário? O “valor” económico deve sobrepor-se à “justiça” social? Não é uma questão fácil de responder, mas merece ser discutida. E é por isso que eu nunca alinho nessa lenda de que os professores são uns privilegiados e que não merecem o parco salário que ganham. Experimentem ir para Almada ou para Campanhã ou para o Seixal ou para Sacavém ou para Setúbal dar aulas a alunos e alunas de 13, 14, 15, 16, 17, 18 anos...


COMO EM 13 ANOS D. JOÃO VI REINVENTOU O BRASIL Nunca antes um monarca tinha atravessado o Atlântico, nunca antes um império europeu tivera uma capital fora da Europa, nunca antes um rei fora coroado nas Américas. Tantos "nunca antes" devem-se sobretudo a D. João VI. Entre 1808 e 1821 viveu no Rio de Janeiro e nada ficou igual. [https://static.globalnoticias.pt/dn/image.aspx?brand=DN&type=generate&guid=5c7121b8-558b-4ac1-ba4702726216857e&w=800&h=450&t=20181003182913] LEONÍDIO PAULO FERREIRA 03 Outubro 2018 — 18:29 É tentador imaginar Napoleão na ilha-prisão de Santa Helena a olhar frustrado para o navio que navegava ao largo levando de regresso a Portugal D. João VI, aquele de quem dissera ter sido "o único que me enganou". Mas se é verdade que o monarca deixou o Rio de Janeiro em finais de abril de 1821, após 13 anos de vida nos trópicos, não só a rota para Lisboa passava muito a noroeste de Santa Helena, ilha mais próxima de África do que do Brasil, como o deposto imperador francês estava já demasiado doente para alimentar rancores, a ponto de morrer a 5 de maio. Até hoje se especula se o corso foi sendo envenenado pelos carcereiros britânicos, que em 1815 o tinham derrotado em Waterloo. Napoleão é aqui, porém, uma personagem secundária, mesmo havendo quem o considere o maior génio militar da história. Sem dúvida, estava fora dos seus planos que ao invadir Portugal em 1807 desencadeasse a transferência da corte para o Rio. Mas aconteceu. E o Brasil nunca mais foi o mesmo. Há quem diga que, com as tropas francesas prestes a entrar em Lisboa, o embarque no Tejo teve tudo de fuga desesperada. E que foi D. Maria I, a rainha louca, que num lampejo de lucidez e dignidade pediu que não se fosse demasiado depressa, "não vão pensar que fugimos". É menosprezar a intuição de D. João, então príncipe regente, e também os velhíssimos planos de fazer do Brasil a nova metrópole. Fraco na Europa, forte nas Américas Viúva, desconsolada também pela perda do primogénito e aterrorizada ainda pelas notícias da decapitação de Luís XVI, D. Maria I tinha de facto enlouquecido aos poucos. E coubera a D. João, que não fora educado para reinar, assumir o governo numa das épocas mais atribuladas da história europeia. Ficou com fama de indeciso, como se a Portugal, pressionado pelo tradicional aliado britânico e pela superpotência revolucionária francesa, restasse outra estratégia que não fosse ganhar tempo. Mas aquilo que os historiadores anglo-saxónicos fazem mal em ignorar é que o monarca que insistem em chamar de cobarde teve a ousadia de cruzar o Atlântico e assim evitou o destino de Fernando VII, preso por Napoleão e forçado a ceder o trono espanhol a José Bonaparte, irmão do imperador. Com D. João, viajaram dez mil a 15 mil cortesãos, parte gente improdutiva, outra parte elite do reino. Também a mãe, também Carlota Joaquina, a sua rainha espanhola, e claro os filhos e filhas, entre os quais Pedro e Miguel, futuros rivais numa outra história que para aqui não é chamada (as guerras liberais em Portugal). Foi em Salvador que D. João primeiro desembarcou em janeiro de 1808, logo começando a mudar o Brasil. Os portos passaram a estar abertos às nações amigas, gentileza com os britânicos que tinham escoltado a frota portuguesa, mas igualmente decisão vital para fazer a economia brasileira prosperar. Criou ainda ali a primeira Faculdade de Medicina na colónia, rompendo com a prática de obrigar as elites brasileiras a estudar em Coimbra, que já veremos adiante como foi decisiva para o futuro do país. Seguiu depois o chefe da Casa de Bragança para o Rio, com tristeza dos baianos, que já se imaginavam a partilhar a cidade com reis. Bom augúrio para o príncipe regente o carinho da população de Salvador, pelo menos da branca, da mulata e da negra livre, já que à maioria constituída por escravos ninguém pedia a opinião. No Rio, o palácio dos vice-reis foi preparado na medida do possível para ser paço real. Ainda hoje lá está, junto da Praça XV, e


percebe-se a comodidade de estar a poucos metros da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que os Bragança frequentaram, antes e depois da independência em 1822. Ali se batizou uma futura rainha, a nossa D. Maria II, carioca de nascimento. Ali também se batizou D. Pedro II, que viria a ser o segundo e último imperador do Brasil. Mas a Quinta da Boa Vista (de magnífica perspetiva da baía de Guanabara), oferecida a D. João por um comerciante enriquecido pelo tráfico negreiro, acabaria por atrair o governante, apesar da distância do centro. Com muitas obras de melhoria, ali surgiu o Palácio de São Cristóvão, que depois da implantação da república foi transformado em museu e ardeu há semanas. Nem covarde nem fujão Faço aqui um parêntesis mais pessoal. A investigação para uma tese de doutoramento em História obrigoume nos últimos quatro anos a ler muito sobre D. João VI, mesmo que a investigação se centre na forma como os Estados Unidos reconheceram logo em 1824 o império do Brasil. Foram mesmo pioneiros nesse reconhecimento, formalizado na receção que o presidente James Monroe fez ao primeiro embaixador brasileiro, de seu nome José Silvestre Rebelo, um português. Li várias biografias do monarca, em regra críticas. Das obras mais gerais, editadas em inglês ou francês, sobre Portugal no contexto das Guerras Napoleónicas, então quase só se sente desprezo. Os epítetos vão, como diriam os brasileiros, de "covarde" a "fujão". Há exceções, claro, como os recentes biógrafos Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa. E mesmo o brasileiro Laurentino Gomes, que não resistiu a pôr no seu 1808 o pós-título "como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil", acaba por fazer justiça quando esclarece que foi um rei que "foi o único soberano que enganou Napoleão Bonaparte, o maior génio militar de todos os tempos. Preservou a coroa e a independência de Portugal e transformou o Brasil, de uma colónia atrasada e proibida, em um país independente". Da indignação passei pois à admiração por este nosso rei que, sim, gostava muito de franguinhos, tanto que trazia uns assados nos bolsos da casaca, mas mostrou no seu período brasileiro ser um grande estadista: conquistou a Guiana aos franceses e o Uruguai aos espanhóis, centralizou o país e esqueceu a lógica das capitanias, criou um filho que não só sempre mostrou respeito e amor ao pai como percebeu que a dinastia só manteria o Brasil se percebesse o sentido da história. Antes de partir, D. João VI, que foi aclamado no Rio depois da morte de D. Maria I, disse algo a D. Pedro do género "Antes para ti, que me respeitas, do que para os bandidos". Os "bandidos" eram Simón Bolívar e os republicanos em geral, que no Brasil tinham desafiado o rei em 1817 pegando em armas no Pernambuco. De D. João VI ficou boa memória no Brasil. Assim me disse o historiador Ronaldo Vainfas, autor de um Dicionário do Brasil Joanino, assim me testemunhou a placa no Jardim Botânico do Rio, que relembra o rei, que ali plantou a primeira palmeira. Também os livros que vi à venda, de biografias romanceadas até trabalhos académicos, me garantiram que a epopeia dos Bragança gera cada vez mais interesse, e até uma telenovela contava a história da corte nos trópicos, embora com os amores entre D. Pedro I (nosso IV) com a paulista Domitila, traindo a austríaca Leopoldina, a serem o maior atrativo. Um rei de boa memória Foram anos felizes os de D. João no Brasil. D. Miguel não lhe dava ainda problemas e Carlota Joaquina, conspiradora e adúltera, deixara de ser uma preocupação para um homem que, no fundo, o que mais gostava era de ouvir música sacra, como a composta pelo lisboeta Marcos Portugal e pelo padre José Manuel Nunes Garcia, um mulato. Anos tão felizes, que adiou sempre o regresso à Europa e acabou por desfazer o estatuto de colónia criando o Reino Unido de Portugal e do Brasil, em 1815. Não fosse a Revolução Liberal e as exigências das Cortes e tenho dúvidas sobre se alguma vez regressaria. Foi D. Pedro I quem proclamou a independência, gesto simbólico mas sem glamour, como conta Laurentino Gomes em 1822, outro livro. Ao contrário do alazão que aparece nas pinturas alusivas ao 7 de Setembro de 1822, o futuro imperador montava uma mula. Mas foi D. João VI que reinventou o Brasil na década que lá esteve. Claro, os Bragança montaram um aparelho de Estado forte que evitou a fragmentação do país como aconteceu na América Espanhola, e tiveram na elite formada em Coimbra uma grande aliada.


Na América espanhola, desde o século XVI havia universidades, em muitas grandes cidades, como Bogotá ou Lima, e que no século XIX foram embriões de nacionalismos vários, desfazendo o sonho de unidade de Bolívar. Ora, no Brasil só havia bacharéis de Coimbra, que se conheciam, estivesse um no Rio Grande do Sul e o outro na Amazónia. José Murilo de Carvalho descobriu isso e contou-o quando foi feito doutor honoris causa por Coimbra. E foi José Bonifácio, antigo professor em Coimbra, quem, juntamente com Leopoldina, aconselhou D. Pedro a dar o Grito do Ipiranga. E D. João VI, em 1825, reconheceu o Brasil. Um ano antes de morrer. Espécie de tributo.


DA INVOLUÇÃO DA DEMOCRACIA NA EUROPA E NO BRASIL Os analistas políticos europeus estão cegos ou então fazem de conta que não veem: o que se passa na Europa e no Brasil é deveras semelhante. Na Europa os partidos do arco do poder (social-democratas e trabalhistas, mais os do centro-direita) abjuraram os seus princípios, tornaram-se neoliberais, atolaram-se na promiscuidade com as negociatas, a banca e a corrupção, voltaram as costas aos anseios das populações. O resultado está à vista: os partidos da social-democracia e de matriz liberal e cristã, salvo raras exceções, vão desaparecendo do mapa. O vazio deixado é preenchido pela onda nacionalista e xenófoba. No Brasil sucede o mesmo. O PSDB, o PMDB e o PT faltaram às responsabilidades. Os dois primeiros faleceram; os seus líderes têm opções ultraliberais. O PT, que é um partido social-democrata e fez obra internacionalmente enaltecida, deixou-se enlear pelo corrupto sistema político brasileiro, defraudando a sua história e a esperança de regeneração nele depositada. Congrega grupos com posições difíceis de sustentar (p. ex., a ‘ideologia do género’), mas é o único partido de relevo que resiste às forças do obscurantismo; para voltar a desempenhar o papel que já teve, precisa de convincente autocrítica e profunda reconversão. A alma fascista nunca morre, disse Mussolini; aproveita-se da cegueira, que a todos nos atinge, para sair do armário e revestir novas formas de engano dos desencantados. São estes as primeiras vítimas, mais cedo do que tarde, tal como a história ensina. O fascismo não constitui alternativa à corrupção e à desagregação; traz sempre consigo destruição, guerra, perseguição, morte, miséria, exploração e opressão, predação e usurpação dos bens e serviços públicos, para benefício dos oligarcas e do capital financeiro.



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