REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 10 – JULHO - 2018
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076
CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
EDITORIAL
A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – que por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra
PAXECO:
VIDA
E
OBRA
VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 –
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SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER A GUARDA NEGRA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ZECA FLORIANO E AS ATIVIDADES ESPORTIVAS NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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30 + 70 = 100 ANOS A COMEMORAR... - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ POLITICAS PÚBLICAS DE LAZER E SOCIEDADE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DEPOIMENTO À CANHOTO RIBEIRO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) “RES PRO PERSONA”: MAIS UMA NOTA SOBRE A CAPOEIRA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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Mestre PATURI
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Mestre TIL Mestre ALBERTO EUZAMOR Mestre RUI Mestre SOCÓ Mestre INDIO DO MARANHÃO
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ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES QUEM HABITAVA UÇAGUABA? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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ÉTICA NO FUTEBOL - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO / SÃO LUIS/VINHAIS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM PASSEIO EM RECORTES SOBRE O LIVRO “ESCRITOS EM MIGALHAS” - JOABE ROCHA
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MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.
A GUARDA NEGRA1 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Sócio efetivo do IHGM – Cadeira 40 Mestre em Ciência da Informação Com um misto de alegria e surpresa, li na da Revista História Viva 25 2 um interessante artigo de Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio Gomes – p. 74-79 – sobre “O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista”. Alegria, por contar um pouco mais da história da/dos Capoeiras. Surpresa, por se referir à “Guarda Negra”. Por não ser da área, isto é, capoeira, e não se lhe conhecer a história, nunca ouvira falar da ‘guarda negra’; e mais, como estudioso da história do Maranhão, especialmente do esporte e da educação física, não encontrara nenhuma referência a esse assunto nos mais de 400 livros que tenho em minha biblioteca... Procurei o Prof. Jairo Ives de Oliveira Pontes, meu colega de magistério no Instituto Federal do Maranhão – ex-CEFET-MA -, e organizador de uma “Nova História Do Maranhão” 3, ed. em CD-ROM, e fiz-lhe a pergunta, a queima-roupa: - “Fale-me da guarda negra!”. Espantado, disse nada saber; nem na História do Brasil – da qual é professor -, nem na história do Maranhão, da qual é pesquisador... Mostrei-lhe o artigo em questão. Mostrou-se, qual, surpreso: “Precisamos investigar”. No artigo a que me refiro, da chamada consta “quilombolas, jornalistas e capoeiras foram personagens fundamentais do Rio de Janeiro contrários à escravatura”; e no corpo do artigo, inicia afirmando que “a abolição da escravidão não foi fruto apenas de uma suposta ação exclusiva de enfrentamentos parlamentares. Nas ruas – principalmente nas cidades -, abolicionistas de várias origens sociais, escravos, libertos, operários de fábricas que alvoreciam, capoeiras, jornalistas e pequenos negociantes transformaram a campanha pela liberdade dos cativos numa verdadeira batalha... [e mais adiante...] capoeiras se engalfinhavam com republicados contrários à abolição...”. Isso, em cidades como Rio de Janeiro, Santos, Porto Alegre, Campinas, Salvador e Recife; não foram poucas as refregas nas ruas envolvendo polícia, abolicionistas, capoeiras, escravos e libertos. O dono das ruas, naquele momento em que o grito da abolição cortou os ares, era o capoeira. Para os autores, a participação dos capoeiras nesse memorável momento político da vida carioca ainda é plena de contradições e zonas de sombra, em virtude de as maltas – como eram chamados os grupos de capoeira – não se posicionavam somente de um dos lados da contenda. Estavam nas trincheiras dos que defendiam o fim imediato da escravidão, assim como no lado dos que postulavam uma transição lenta, gradual e segura, sem o grito das ruas. Mas os capoeiras se fizeram presentes, com suas correrias, suas lutas de rua, empastelamento de jornais – de ambos os lados – e os inesquecíveis golpes da capoeira, da rasteira e da navalha... Iniciando em 05 de janeiro de 1885, quando capoeiras de uma malta armada pelos inimigos da causa abolicionista invadiram o prédio da redação do jornal “Gazeta da Tarde”, dirigido por José do Patrocínio. Consta que essa invasão não teve nada relacionada com o movimento abolicionista, conforme a história passou a registrar o empastelamento do jornal, pelos capoeiras. Foi apenas um enfrentamento entre maltas rivais, colocada de um lado, grupo do Campo de Santana (identificada com os abolicionistas) formada por pequenos vendedores de jornais, e do outro lado (dos escravistas), a malta que dominava o Largo de Santa Rita, chefiada por tal de Castro Cotrim, junta com outros chefes de malta da região portuária de Santa Rita como Coruja e Chico Vagabundo. Os pequenos
1 Este artigo foi publicdo no Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edições 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005; 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005; 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 2 Revista História Viva, edição 25, de novembro de 2005 3 PONTES, Jairo Ives de Oliveira (org.) NOVA HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: UEMA, edição eletrônica em CD-R.
vendedores de jornal entraram na redação para fugir de seus perseguidores e foram apoiados pelos funcionários do jornal, que rebateram o ataque. Anos mais tarde, José do Patrocínio cria a “Guarda Negra”, em função da Lei Áurea, que abriu caminho para uma temporária unificação dos grupos em prol da novel agremiação, talvez a face mais conhecida da capoeiragem política dos últimos anos da monarquia. Mais tarde, Patrocínio a iria renegar, após a queda do gabinete João Alfredo, que concretizou o 13 de maio. Patrocínio foi quem introduziu os capoeiras no ninho abolicionista e circulava bem no complexo mundo das maltas de capoeira do Rio - José do Patrocínio era mulato, filho de uma africana e de um poderoso cônego do conservador clero católico, de Campos dos Goitacases -, algo muito raro entre as lideranças abolicionistas – Joaquim Nabuco e André Rebouças, dentre outros ... -, em geral compostas de moradores de classe média que nutriam verdadeira ojeriza à capoeiragem. O porta-voz da Guarda Negra escrevia seus manifestos nas páginas de “A Cidade do Rio”, o novo jornal de Patrocínio; as primeiras reuniões foram realizadas na redação do jornal; a polêmica na imprensa era travada entre o jornal de patrocínio e o “Paíz”, no qual Rui Barbosa vociferava os maiores impropérios contra a Guarda da Redentora. Após o incidente de 14 de julho de 1889 entre os capoeiras da Guarda Negra e militantes republicanos no coração do Rio, Patrocínio gradualmente se afastou da organização... A Guarda entraria em declínio, até ser completamente desbaratada pela repressão de Sampaio Ferraz em 1890. Informam os Autores que houve episódios da Guarda Negra em outras cidades, como Porto Alegre, Salvador e São Luís... São Luís? Daí nosso espanto, de Jairo e eu. Nunca ouvíramos falar... Procurei em Mário Meireles, nosso maior historiador, e não achei nada; em Vieira Filho, em seu “A Polícia Militar do Maranhão”, de 1975, e não consta nada; Navas-Toríbio, em seu “O negro na literatura maranhense”, também não há referência... Resta a Internet! Na Wikipédia, sob o título “Capoeira”, consta que, historicamente, capoeiristas têm sido utilizados em guerra e conflitos como na Guerra do Paraguai e na Revolta dos Mercenários, em 1828, e que em 1888 foi instituída pelo Exército Brasileiro a Guarda Negra, composta praticamente por capoeiristas. Em 1897, o general Couto de Magalhães disse que a capoeira não deveria ser perseguida mais sim dominada e ensinada em escolas militares. Em 1939, Mestre Bimba começa a ensinar a capoeira no quartel do CPOR de Salvador. Não se pode esquecer que como arte de guerra a capoeira foi utilizada contra a opressão da escravidão nos quilombos e posteriormente nas maltas4. Carvalho, em “HISTÓRIA DA CAPOEIRA”5, ao tratar da “repressão da capoeira” refere-se que, quando da chegada da família Real ao Brasil em 1808, começou o processo de repressão à cultura negra e foi intensificada a perseguição policial. Em 1809, foi criada a Guarda Real da Polícia na qual o Major Miguel Nunes Vidigal foi nomeado comandante. Major Vidigal foi o verdadeiro terror dos capoeiristas, perseguia-os, espancava-os e torturava-os na tentativa de exterminá-los. Apesar dos severos castigos, os capoeiras resistiam bravamente e em 1824, a punição tornou-se pior: além das trezentas chibatadas eram enviados por três meses para realizar trabalhos forçados na Ilha das Cobras. A partir da segunda metade do século XIX (1850), começaram a ocorrer sucessivas prisões de capoeiristas, os quais estavam formando maltas que atemorizavam a população e os governantes. Os principais focos da capoeira eram: Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. No entanto, no Rio de Janeiro é que a capoeira era motivo de maior preocupação (mesmo porque o Rio era a capital do país na época), era onde estava a maior concentração das maltas, sendo as mais temíveis os Guaiamuns e os Nagoas. Os Nagoas eram ligados aos monarquistas do Partido Conservador, agiam na periferia, e os Guaiamuns eram ligados aos Republicanos do Partido Liberal, controlavam a região central da cidade. (in Letícia Cardoso de Carvalho6. Maltas adversárias que por décadas se digladiaram pelas ruas da cidade; os Nagoas e Guaiamus sempre aparentavam estar imersos num universo imaginário, fronteira entre a ficção acadêmica e uma nebulosa tradição popular. Nesse processo de divisão da cidade em dois grandes grupos rivais estaria completo, definindo uma linha divisória que mantinha Nagoas e Guaiamus em lados opostos, e em permanente conflito pelo controle de cada área. O conflito político-partidário entre liberais e conservadores acabou se cristalizando como a clivagem mais importante entre as maltas de capoeiras, que assim se ligaram 4
in http://pt.wikipedia.org/wiki/Discuss%C3%A3o:Capoeira. in http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm 6 IN http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm). 5
indelevelmente ao destino dos dois partidos principais do sistema político do Império. O ano de 1888 foi o da Abolição da Escravatura e de grandes mobilizações de capoeiras.7 Apesar da repressão que sofria, quando interessava, a capoeira servia também de instrumento nas mãos dos políticos. Ora para os liberais, ora para os conservadores. Um exemplo é a Guarda Negra, criada em 1888 por José do Patrocínio, composta por negros capoeiristas que tinham o objetivo de defender a monarquia e lutar contra a República (após a libertação dos escravos os capoeiristas ficaram ainda mais a favor da monarquia como agradecimento à Princesa Isabel por ter assinado a Lei Áurea). Logo após a Proclamação da República (1889), a capoeira foi proibida pelo Marechal Deodoro, permanecendo nessa situação até 1937 quando Mestre Bimba a tira do código penal e a leva a esporte nacional.8 A formação da Guarda Negra é precedida por violentos conflitos entre Nagoas e Guaiamus, retratados quase diariamente pela imprensa. Nunca como naquela época a atuação das maltas de capoeiras atingiu um impacto e uma sofisticação como se viu. O termo "fortaleza" para as tavernas deixa entender que aqueles eram locais típicos de reunião e conflito, e mais, pontos nervosos de uma geografia de bairro, constantemente em movimento pelo embate intermitente das maltas.9 Nos últimos dias do Império, os conflitos entre republicanos e monarquistas ocorreram freqüentemente. A fim de proteger a Princesa Isabel, os monarquistas criaram a Guarda Negra (protetor preto), composto dos pretos, mulatos e muitos escravos libertos. Estes homens foram extremamente devotados à Princesa porque tinha assinado a lei que abolia a escravidão. A Guarda Negra combateu os republicanos até que a última faísca da vida do império morreu. Furiosos, os republicanos juraram matar seus membros; se a monarquia não conseguiu extinguir a capoeira, a república recém-estabelecida o faria. O ISABELISMO10 José do Patrocínio foi o mais fervoroso adepto do isabelismo, e procurou aliciar libertos para defender a monarquia ameaçada pela onda republicana que crescera após a Abolição. Não satisfeito em beijar os pés da Redentora, José do Patrocínio inicia a arregimentação de ex-escravos, capoeiras e marginais de um modo geral, para fundar a Guarda Negra. Esse ajuntamento tinha como finalidade impedir a propaganda republicana, inclusive com a tarefa de dissolver comícios pela violência. Essa posição dos elementos aliciados por José do Patrocínio deu muito trabalho às autoridades e impediu, em muitos casos, que os adversários da monarquia se manifestassem. Os seus membros conseguiram dissolver muitos comícios republicanos através da violência. Segundo registra a crônica da época, houve mesmo mortes em comícios republicanos pelas quais a Guarda Negra foi responsabilizada. Osvaldo Orico, biógrafo de José do Patrocínio, assim descreve a situação: “Incompreensível por um lado, mas explicável por outro, essa famigerada Guarda Negra tivera um inspirador. Não fora outro senão José do Patrocínio. O fanatismo abrira-lhe na alma a ilusão desse recurso com que imaginava cercar de garantias o prestígio da Redentora de sua raça. Foi a gratidão que o moveu a provocar e a sugerir um movimento de solidariedade dos libertos para com a padroeira inesquecível. E, ao toque de reunir, acorreram de todo lado os antigos sentenciados do cativeiro, ansiosos de oferecer com a força material do peito aberto a flor do seu reconhecimento heróico. Os acontecimentos registrados na capital e no interior, durante a fase em que se fez sentir a influência da Guarda Negra e se apelou para a sua incontida violência, mostraram como fora infeliz a idéia de arregimentar no antigo holocausto das senzalas a força que deveria guardar o Trono. Inaugurou-se uma época de terror que deu à nação enormes prejuízos em dinheiro e em vidas. Onde quer que brilhasse a centelha 7
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Dos nagoas e guaiamus: a formação das maltas In: A negregada instituição: os capoeiras no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994.). 8 CARVALHO, Letícia Cardoso de. IN http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm). 9 ELIAS, Larissa Cardoso. Capoeira: Revolta e Teatralidade, Uma Perspectiva Artaudiana, disponível em http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/Larissa/Larissawork.htm) 10In http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm
da luz republicana, surgia aí o conflito das raças, desencadeado pela fúria dos libertos em louvor à rainha. E amiudaram-se os atentados e morticínios. Na rua do Passeio; em frente à Secretaria de justiça; em dias de março de 89, durante a agitação popular que a febre amarela e a falta de água provocaram, a Guarda Negra deixou indícios de sua lamentável influência11 Noel Nascimento, em ARCABUZES12, assim relata os acontecimentos daquele dia: “Xandô espantou-se e perguntou: - Que guerra? - Tu não sabes? Essa do fim da monarquia. Não sabes que está pipocando Brasil afora? Donde vens, então? Tem motim em toda parte, no Sul, no Norte. Eu vi brigas de grupos armados. Nas ruas do Ouvidor, do Teatro, de Luís de Camões e na Travessa do Rosário a cavalaria dispersou o povo a pranchadas. Houve mais de duzentos feridos. Não sabes que quase mataram o doutor Silva Jardim à saída da Sociedade Francesa de Ginástica? Ao almoçarem na mesa grande do refeitório, comentavam: - A guarda negra persegue os que mais lutaram contra a escravidão. - Ainda há quem defenda a monarquia por causa da Princesa Isabel. Não viram a multidão que se formou no dia treze de maio? - O pobre quer o direito do eleitor, até o negro deve ter o direito de votar. O funcionário que falou foi interpelado pelo estudante de medicina, o qual procurou esclarecê-lo: - Até os negros por quê? Eles em primeiro lugar, pois construíram o Brasil. Sabes? prosseguiu- os falsos abolicionistas é que, como alguns escritores, julgam o negro inferior. São uns racistas. - Muito bem falado - aplaudiu o português que acabara de consertar uma das poltronas, português abrasileirado e não da casta dos galegos. O mesmo pensionista indagou de Xandô: - Tu não sabias que na Bahia, em Ilhéus, bandidos tomaram a cidade, arrombando casas comerciais, aterrorizando a população? O império está em ruínas - concluiu convicto.”. Ainda segundo Osvaldo Orico13, a Guarda Negra agiu com violência contra os republicanos, nas cidades de Campos e Lage do Murié: “Na primeira localidade em uma reunião republicana que se processava pacificamente, massa enorme de policiais e libertos abertos armados invadiu o edifício em que se realizava um banquete democrático, alarmou as senhoras, desrespeitou com ameaças a intervenção amistosa do pároco, que suplicava das janelas do templo ordem e clemência, disparou tiros, arremessou garrafas, espancou e feriu, tudo isto para levantar entre acompanhamentos bélicos vivas e saudações à rainha. “Na segunda, a polícia, após uma série de distúrbios, prendeu no tronco um honrado cidadão por suspeita de ideais republicanos.” Natal também teve a sua Guarda Negra. Criação do Partido Conservador e instrumento de combate às idéias republicanas. Segundo os conservadores, os negros, por gratidão deveriam defender a monarquia. Em Natal, a Guarda Negra recebeu o nome de Clube da Guarda Negra. O seu presidente foi Malaquias Maciel Pinheiro. Instalada a 10 de fevereiro de 1889, com muita festa, essa organização, na apuração de Câmara Cascudo, nada fez de bom ou mal.14
11 in http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm. 12 In www.astrovates.com.br/tese/arcabuze.htm 13 (in www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm 14 .(in www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_7f.htm)
Em Belém, uma Guarda Negra continuou prestando serviços como capangas a políticos locais. Esses capangas eram, em grande parte, pernambucanos.15 A Guarda Negra era um movimento contraditório e confuso. Apoiava a monarquia porque os escravos conseguiram libertar-se do cativeiro através da magnanimidade da princesa Isabel. Via a Abolição como um ato de munificência social praticado pela regente, sem analisar as estratégias ocultas nessa medida e as conseqüências negativas que a Abolição traria, feita da forma inconclusa como o foi. Por outro lado, deixaram de pressionar os republicanos, especialmente os mais democratas, como Silva Jardim, no sentido de radicalizar o seu programa, exigindo reformas sociais e econômicas estruturais, como a distribuição da terra aos ex-escravos. Foi, portanto, um movimento conjuntural e reacionário, e o próprio José do Patrocínio, ao ver proclamada a República, foi um dos primeiros a aderir ao novo regime. Com isto, a Guarda Negra se desarticulou completamente logo depois da proclamação da República, vindo a desaparecer sem maiores conseqüências. Nesse período de transição, os negros recém-saídos da escravidão passaram a se organizar de várias formas alternativas, especialmente em grupos de lazer, culturais ou esportivos. Por outro lado, levando-se em consideração a forma como a Abolição foi feita, descartando-os da participação naquelas reformas estruturais que as mudanças do momento estavam a exigir, as reminiscências do sistema escravista e da Redentora continuaram existindo como ideologia de apoio psicológico em diversos grupos negros de exescravos. Isto retardou ainda mais o processo, pois a Guarda Negra tinha uma ideologia de retrocesso, de volta ao passado e ao mesmo utópica (monarquia sem escravidão), quando devia exigir medidas de avanço social radicais16. O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém-libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam-se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa... O isabelismo converte a razão apaixonada de José do Patrocínio em paixão irracional... Mas nada impede (nem sequer a Guarda Negra) que em 15 de Novembro de 1889 a República seja implantada no Brasil. Mas, e em São Luís? Dunshee de Abranches17, em suas memórias sobre a escravidão e o movimento abolicionista, em São Luís, se refere à guarda negra, naquele episódio que resultou na queda do gabinete Cotegibe18: “Voltando logo depois ao Rio [de viagem a São Paulo e Santos], assisti à agitação revolucionária que se fez em torno do gabinete organizado pelo Barão de Cotegipe. Participei dos memoráveis comícios em que, ao lado de Patrocínio, a mocidade das escolas civis e militares resistia heroicamente às investidas da guarda negra. E, em uma dessas reuniões subversivas no Largo da Lapa,um dos quartéis generaes da capoeiragem carioca, terminada em tremendo e sangrento conflitcto, sendo talves o vigésimo orador, que alli falava do alto do chafariz...”. (p. 228-229). Ainda nada sobre a guarda negra em São Luís .. 15
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.pdf, informação mandada por Agrupación Española de Capoeira http://aecfica.blogspot.com/ www.capoeira-fica.org Javier RubieraPresidente, Vice -Presidente General de FICA 16 (in http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm). 17 in DUNSHEe DE ABRANCHES. O Captiveiro (memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941 18 João Maurício Wanderley, primeiro e único barão de Cotejipe (Barra, então São Francisco de Chagas da Barra do Rio Grande, 23 de outubro de 1815 — Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1889), foi um magistrado e político brasileiro. Descendente de [2] neerlandeses , era filho de João Maurício Wanderley e de Francisca Antónia do Livramento, tendo desposado Antónia Teresa de Sá Rocha Pita e Argolo. Formado pela Faculdade de Direito de Olinda (1837), foi deputado provincial (1843), deputado geral, presidente da província da Bahia (nomeado por Carta Imperial em 21 de agosto de 1852, presidiu a província de 20 de setembro de 1852 a 1 de maio de 1855), senador do Império do Brasil de 1856 a 1889. A partir de 1865 passou a integrar o ministério, tendo ocupado as pastas da Fazenda (1865), da Marinha (1865 e 1868), dos Estrangeiros (1869, 1875 e 1885) e da Justiça (1887). Como presidente do Conselho de Ministros (1885-1888), fez aprovar a Lei dos Sexagenários (1885), proposta na gestão de José Antônio Saraiva, seu antecessor.(In http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Maur%C3%ADcio_Wanderley)
O FUZILAMENTO DO DIA 17 ”... o Brasil foi o último país a abolir a mão de obra escrava, criou e sustentou uma série de ambigüidades em seu discurso racial, como vemos em relação à chamada Guarda-Negra um símbolo da integração negra ao contexto da luta abolicionista que, ao mesmo tempo, se torna um culto ao imperialismo e se torna uma ameaça ao debate democrático do próprio racismo.”. (Reginaldo da Silveira Costa (Mestre Squisito) 19 Os movimentos pela abolição da escravatura são iniciados a partir de alguns eventos ocorridos: a cessação do tráfico negreiro da África, em 1850; a volta vitoriosa de negros da Guerra do Paraguai, que se estendeu de 1865 a 1870, a promulgação da Lei do Ventre Livre; a criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão (tendo José do Patrocínio e Joaquim Nabuco como fundadores); a Lei Saraiva-Cotegipe (mais popularmente conhecida como a Lei dos Sexagenários). Dois conceitos históricos são entendidos por abolição da escravatura: o conjunto de manobras sociais empreendidas entre o período de 1870 a 1888 em prol da libertação dos escravos, e a própria promulgação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que promove a oficialização da abolição do regime. "As mudanças ocorridas afetavam diretamente a economia de produção neste período do Brasil. Os negros chegaram a participar da luta anti-escravista e muitos deles, perseguidos por seus atos insurrecionais ou mesmo fugindo do jugo escravista, reuniam-se em povoados como os quilombos. Após as medidas oficiais anti-escravistas determinadas pela Lei Áurea, os senhores escravistas, insatisfeitos com a nova realidade, intencionavam exigir indenizações pelos escravos libertos, não obtendo nenhum aval do Império. Desta forma, surgiram os movimentos republicanos, que foram engrossados com a participação dos mesmos senhores que eram antigos detentores da "mercadoria escrava" e que, descontentes com as atitudes do Império, acabaram por defender um novo sistema de governo, decorrendo daí um dos principais motivos da derrocada final do Império. Por outro lado, a mão de obra proveniente das novas correntes imigratórias passa a ser empregada. Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução educacional ou a especialização profissional que passa a ser exigida, decorrendo destes aspectos a permanência dos negros à margem da sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas. A liberdade dada aos negros anteriormente escravizados é relativa: embora não mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão social ou a cidadania dos negros foi oferecida. 20 Nesse contexto, a Guarda Negra foi formada por José do Patrocínio em 28 de setembro de 1888, como um movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exército e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão à família real pela abolição e intimidar republicanos e tumultuar os comícios. A ação da Guarda Negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. Antonio Jardim, advogado abolicionista, chega a realizar suas palestras e comícios em posse de um revolver atento a ação dos capoeiristas da Guarda Negra.21 Muito embora Patrocínio, em virtude da Lei Áurea, seja identificado como monarquista e formado a Guarda Negra para defender a Princesa Izabel, aderiu às idéias republicanas, conforme informa Sergio Cavalcante, em “A Maçonaria e Proclamação da República": "Precisavam de um lugar para essa agitação. Procuraram um vereador para ver se era possível usar a Câmara... Paradoxalmente, procuraram o monarquista negro José do Patrocínio, detestado pelos republicanos, devido a suas ligações com a Guarda Negra. Estranhamente, Patrocínio havia aderido à República naquele dia e, na condição de mais moço vereador (conforme a regra exigia), convocou uma sessão na Câmara.” 22 19
In http://bahia.port5.com/terreiro/racial.html In http://bahia.port5.com/terreiro/racial.html 21 In http://www.algosobre.com.br/ler.asp?conteudo=206 22 http://negro.www.marconegro.blogspot.com/ 20
O jornalista Renato Pompeu, em "Confissões de um trirracial", afirma saber que: "... a República foi proclamada porque o Império, ao proclamar a Abolição, ficou comprometido com o futuro dos negros recém-libertados, como prova o fato de que só guarnições militares compostas de negros, como a Guarda Negra da Princesa Isabel, resistiram ao golpe de Estado de 15 de novembro de 1889. O regime republicano, assim, nasceu, e continua, sem nenhum compromisso maior com as pessoas de pele mais escura."23 O que sabemos até agora?
que capoeiras foram combatidos desde a chegada da família imperial ao Brasil em 1808; que capoeiras sempre foram arregimentados para "lutaram" ao lado de alguma facção política - isso, desde o Império. que negros foram recrutados para lutarem na Guerra do Paraguai, muitos pela sua habilidade de luta corporal - capoeiras. que ao voltarem, muitos como heróis, não tiveram seus esforços reconhecidos e continuaram como cidadãos de segunda classe, ou sem classe alguma - ainda eram a escória do reino. que grupos foram formados - maltas - e que esses grupos se enfrentavam entre si, pela posse de um território na cidade; que essa rixa entre capoeiras foi aproveitada, com a contratação de uma e outra, por partidos políticos, para dar surras nos adversários e impedir realização de comícios. que por ocasião da Abolição, e em gratidão à Princesa imperial, abolicionistas - José do Patrocínio cria um corpo paramilitar, recrutando capoeiras com alguma experiência no Exército, o qual foi denominado de Guarda Negra. a criação dessa Guarda Negra uniu as diversas maltas, que passaram a atacar os republicados e a defender a monarquia - a herdeira do trono brasileiro, Princesa Isabel. por essas ações, cada vez mais violentas, houve perseguição aos negros, em sua maioria capoeiras, e ligados a guarda negra, provocando sua marginalização, quando do advento da República, e a conseqüente criminalização do ato de praticar capoeira... (Logo após a Proclamação da República (1889), a capoeira foi proibida pelo Marechal Deodoro, permanecendo nessa situação até 1937 quando Mestre Bimba a tira do código penal e a leva a esporte nacional).
Em São Luís do Maranhão, encontramos um episódio relacionado com a participação dos negros no processo de combate à República recém proclamada. Foi denominado de "o fuzilamento do dia 17", e ocorreu com uma manifestação de escravos, recém-libertos, contra Paula Duarte, o único republicano no novo governo, conforme informa Mario Meireles, e isso porque se dizia que o novo regime vinha para tornar sem efeito a Lei Áurea. Os manifestantes foram à redação de "O Globo", jornal republicano, e tentaram o empastelar. A polícia interveio, dispersando-os. Na boca do povo, e naquelas circunstâncias, teria ocorrido um massacre - os fuzilamentos do dia 1724. Barbosa de Godois25 assim relata aqueles acontecimentos: "A" surpresa com que no Maranhão foi recebida a noticia da revolução de 15 de Novembro succedeo a adhesão de ambas as parcialidades políticas ao regime que se instituía... Feita abstração d´um grupoi de libertos pela lei de 13 de maio que, imbuídos da idéagrosseira de que a republica viera para reduzil-os novamente ao captiveiro e no dia 17 percorreram desarmados algumas ruas, hasteando a bandeira imperial e dando vivas à princesa Isabel, nenhuma outra manifestação em contrario à nova instituição surgio em toda a província. "Esse grupo, porém, que viera por vezes á frente da officina do jornal "Globo", na Rua 28 de Julho, canto da dos Barqueiros, vociferava ameaças contra o redactor d´esse diário, o 23
http://www.salmo133.org/sal/Htm_Div/HinoProclamacaoRepublica BR_SergioCavalcante.htm http://carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/edicoes_especiais/eleicoes/renato_pompeu.asp 24 (Meireles, Mário. História do Maranhão. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 307). 25 BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. Historia do Maranhão. São Luís: Mar. Typ. De Ramos d´Almeida & C., Suces., 1904, tomo II,
chefe republicado Dr. Francisco de Paula Belfort Duarte,debandou ás primeiras descargas d´um pequeno contingente, postado perto do edifício da mesma officina, para pol-a á salvo de qualquer aggressão...Ainda n´essa data não estava proclamada a adhesão d aprovíncia á forma republicana, o que só se realisou no dia 18 de Novembro." (p. 539-540.) Note-se que a obra de Barbosa de Godois é de 1904. Os acontecimentos ainda eram recentes. E não faz nenhuma referência a uma "guarda negra" formada por libertos, para defender a monarquia... Será que houve, mesmo, guarda negra no Maranhão? Conforme se referem Carlos Eugênio L. Soares e Flávio Gomes? Milson Coutinho26, ao descrever os acontecimentos daquele dia 17 de Novembro - Maranhão, 1889: fuzilamentos e torturas na alvorada da república - afirma que, após ler e reler inúmeros autores que se referiram aos fatos do dia 17 - Jerônimo de Viveiros e Mário Meireles - "provocaram, no autor deste estudo, um grande desejo de examinar, à luz da documentação da época, a origem desses distúrbios, sua ocorrência, amplitude e conseqüências" (p. 16). Para Coutinho, as origens dos distúrbios provocados principalmente por ex-escravos, no Maranhão, com o advento da proclamação do regime republicado, tiveram origem em boatos que circularam por toda a cidade segundo o qual o regime recém-implantado iria revogar a Lei Áurea sancionada pela Princesa Isabel e os pretos teriam que voltar à condição de cativos. Esses boatos partiam dos sebastianistas, isto é, dos saudosos do monarquismo agonizante, e, mentira ou não, calaram fundo no espírito dos negros, que jamais poderiam aceitar a volta ao tronco, ao chicote do feitor, ao trabalho forçado. Não foi possível apurar o cabeça do movimento, informa Coutinho, nem nos livros de história e nem nas pesquisas que empreendeu. Nem mesmo a polícia, naquela época, deslindou a sedição contra o jornalista Paula Duarte, talvez porque, convenientemente elucidado o fato, "esboroassem seus resultados nos costados d´algum ex-barão do Império, já devidamente engastado no novo regime." (p. 17). O estopim, ao que parece, foi uma conferência na Câmara Municipal, que seria proferida por Paula Duarte, em que falaria sobre o novo regime doutrinando sobre matéria republicana. O povo da cidade fora convidado, através de comunicação do dr. Sá Valle. "Grossa multidão formada em sua maioria por pardos e ex-escravos se acercou da redação do jornal de Paula Duarte, em atitude hostil, haja vista a gritaria, algazarra e berreiro próprios a esse tipo de manifestação. "Pessoas gradas intervierem, pedindo aos manifestantes que dissolvessem o aparato popular, enquanto Paula Duarte, acuado no prédio de sua tipografia, dali não pode se retirar, escoando-se, conseqüentemente, a hora marcada para a que pronunciasse a sua conferência. "O grupo, cada vê mais reforçado, e sempre no maior alarido, retirou-se de frente da redação d´O Globo, passando a percorrer as ruas de São Luís dando vivas à Monarquia." (p. 18) Prossegue Coutinho o seu relato, informando que a turba passou em frente à casa do Desembargador Tito de Matos, ainda respondendo pelo Governo da Província: “... estancou a passeata, com a finalidade de cumprimentar o Magistrado, derradeiro lampejo da Monarquia deposta e última esperança da malta enfurecida". (p. 18-19). Malta enfurecida? Coutinho a teria usado em que sentido? De identificar os manifestantes com as maltas de capoeira que agiam no Rio de Janeiro, dando vivas à monarquia e contra o novo regime? No-lo sabemos... Prosseguindo, O Desembargador pediu às massas que aguardassem a ordem, dissolvessem a passeata. Esses acontecimentos se deram pela manhã. Os espíritos serenaram e a tranqüilidade pública volveu à Capital. Mas... “... por volta das 15 horas do dia 17 os ânimos voltaram a se reacender, com novos grupos de anarquistas a percorrer as ruas e praças da capital, estocando todos os segmentos da balbúrdia em frente ao jornal de Paula Duarte, desaguadouro do 26
(COUTINHO, Milson. Subsídios para a História do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1978).
contingente de alucinados que para ali convergiam, provindos de quantos becos se contassem, isto já em profusa massa humana. "O Comandante do 5º. Batalhão de Infantaria destacou, para o local uma força devidamente embalada, tropa essa que se postou em frente à tipografia de Paula Duarte, a partir das 16 horas, a fim de garantir a segurança do jornalista e evitar a depredação do edifício.”. (p. 19, grifos meus). Os revoltosos debandaram, proferindo gestos coléricos e invulgar alacridade, e assim se passou o resto da tarde, sem outras conseqüências que não o clima de total intranqüilidade reinante. "Os relógios assinalavam pouco mais das 19 horas, quando a multidão enfurecida e com muitos de seus componentes já armados voltou à carga para tirar a prova de fogo "Iniciou-se a fuzilaria, de que resultou a morte imediata de três manifestantes, ferimentos em 11 outros, lesões em vários soldados, cabo e sargento do destacamento, vindo a morrer depois, na Santa casa, um dos sediciosos ferido por balaço da tropa." (p. 20). Nenhuma palavra sobre uma Guarda Negra... Nem no relatório do suboficial que ordenou o fogo... Encerro! Obrigado.
ZECA FLORIANO E AS ATIVIDADES ESPORTIVAS NO MARANHÃO27 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão RESUMO Na Revista Recorde: Revista de Historia do Esporte saiu publicado artigo sobre Zeca Floriano, nome que já viramos relaciona do ao inicio das atividades físicas e esportivas em São Luis do Maranhão em princípios dos anos 1900. Resgatamos o inicio das atividades físicas e esportivas na introdução do esporte moderno no Maranhão naquele inicio de século, trazendo a contribuição de Zeca Floriano. Palavra-chave: Maranhão. Atividades físicas e esportivas. História. Zeca Floriano
Dejard MARTINS (1989) 28 registra que o nascimento das atividades esportivas no Maranhão se deu pelas mãos de Nhozinho Santos - Joaquim Moreira Alves dos Santos -, quando foi fundado, em 1907, o Fabril Athletic Club29. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989). No início da década de 1910, desaparece o hábito de repousar nos fins de semana, substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. Essas atividades, divulgadas pelos jornais, começaria a apresentar seus primeiros sinais de mudança ainda nas últimas décadas do século XIX, com o surgimento e fortalecimento gradual dos esportes: "É nessa conjuntura que adquirem um efeito sinergético, que compõem uma rede interativa de experiências centrais no contexto social e cultural, como fonte de uma nova identidade e de um novo estilo de vida "Os 'Clubs' que centralizam essas atividades surgem como modelos da elite no final do século XIX, e já no final da década de 10 e início de 20, estão difundidos pelos bairros, periferia, várzeas e se tornam um desdobramento natural das próprias reuniões sociais". (KOWALSKI, 2000, p. 391) 30. Verificamos a similaridade com outros países latino-americanos - e outras regiões brasileiras -, quando da inauguração do Fabril Athletic Club. O então presidente da Província - Benedito Leite - ante o espetáculo proporcionado lamentou não poder manter nas escolas públicas o ensino regular da ginástica... 27
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. INDICIOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA (“GYMNASTICA”) EM MARANHÃO. (Inédito) 28 MARTINS, Dejard. ESPORTE, um mergulho no tempo. São Luís : SIOGE, 1989 29 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do foot-ball em Maranhão. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Revista Digital, Buenos Aires, ano 5, n. 34, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com 30
KOWALSKI, Marizabel. Estilo de vida e futebol. IN CONGRESSO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. COLETÂNEAS... Porto Alegre: UFRGS, 2.000, p. 390-395
A "gymnástica" era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende desse anúncio, publicado em 1904: "PARA OS ALUMNOS DE AULA PARTICULAR DE GYMNÁSTICA "A Chapellaria Allemã acaba de despachar: "camizas de meia com distinctivos "Distinctivos de metal com fitas de setim e franjas d'ouro "Distinctivos de material dourado para por em chapéus "
Chapellaria Allemã de Bernhard Bluhnn & Comp. 23 - Rua 28 de julho - 23"
(A CAMPANHA, 6ª feira, 8 de janeiro de 1904, p. 5). O sexo feminino também tinha suas aulas de ginástica, pois fazia parte do currículo da Escola Normal, conforme resultado dos exames publicados, como era comum à época: "CURSO ANEXO "Foi este o resultado dos exames de hontem: "GYMNÁSTICA “Núbia Carvalho, Maria Varella, Neusa Lebre, Hilda Pereira, Margarida Pereira, Almerinda Parada, Leonor Rego, Rosilda Ribeiro, Fanny Albuquerque, Agrippina Souza, Cecilia Souza, Roza Martins, Esmeralda Paiva, Neusa Silva, grau 10 "Faltaram 12". (O MARANHÃO, Sexta-feira, 15 de novembro de 1907). Em outro anúncio, publicado em 1908, o "professor de “instrucção physica" avisava que pretendia realizar "os exames de seus alumnos na próxima quinta feira" (em O MARANHÃO, Segunda-feira, 02 de março de 1908, p. 2, n. 257). No dia 26 de dezembro de 1907, é registrada uma partida de futebol entre alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros, como parte de sua preparação física. O futebol, além de outras modalidades e atividades, principiava a se utilizado como prática de educação física nas escolas: "Aprendizes Marinheiros: "Hontem, às 4 horas da tarde, os aprendizes marinheiros, fizeram exercícios de 'foot-ball' na arena do Fabril Athletic Club e um assalto simulado de florete, sob a direção do respectivo instructor da Escola. "Os alumnos revelaram-se disciplinados e agiram com muito garbo e desembaraço. "Domingo próximo, às 5 horas da manhã, haverá novo exercício no mesmo local". (O MARANHÃO, 26/12/1907) Em 1908, o FAC fez as reformas de seus estatutos, para incluir o manejo de armas - prática do tiro - entre suas atividades, com o fim de prestar um serviço à juventude, valendo-se da Lei do Sorteio Militar. Com a ajuda do então tenente Luso Torres foi fundada uma seção de Instrução Militar, a fim de preparar os sócios que nela quisesse tomar parte e gozar dos favores da referida lei.
Talvez para se beneficiar dessa Lei, e livrar os jovens da elite maranhense da instrução militar, em 1909, o Tiro Maranhense informava que já chegava a 120 o número de pessoas inscritas naquela Sociedade. Em 10 de abril é anunciada a posse da diretoria, na Câmara Municipal. (O MARANHÃO, sábbado, 03 de abril de 1909). Embora MARTINS (1989) registre o primeiro jogo entre duas agremiações distintas como ocorrida em janeiro de 1908, entre o FAC - o grêmio fabrilense fora formada com o recrutamento dos melhores atletas que militavam nos quadros internos do 'Black and White' e do "Red and White' - e o MARANHENSE FOOT-BALL CLUB - formado por rapazes empregados no comércio - encontrou-se que a inauguração dessa agremiação ocorreu apenas em 07 de fevereiro de 1909, conforme registrado em O MARANHÃO: "Maranhense Foot-ball Club "Programma da festa inaugural d'este Club, em 7 do corrente, na sede do Fabril Athletic Club: "juiz da partida (fita verde) - José Alves dos Santos - juizes de chegada (fita azul) Edmundo Fernandes, Charles Clissold - Commissão de policiamento (fita branca) Almir Saldanha Silva, Aírton Santos Romeu, Carlos Nunes, Manoel Ribeiro L. da Silva, Antônio Sena "Concurso gaiato (3 1/2 h) "M. F. Club -J. Jones, J. Ferreira, R. Neves "F.A.C. - J. Santos Sobrinho, M. Sardinha Ribeiro "Concurso gaiato a Carnaval (3,45 h) "M.F. Club - J. Santos, A. Figueiredo, A. Casson, A. Gonçalves, R. Nunes "F. A.Club - F. Ribeiro, M. Sardinha, J. Alvim, J. Mário, R. Almeida "Concurso Mathemático (4 h) "M. F. Club - E. P. Souza, J. Ferreira "F.A. Club - J. Alvim, F. Ribeiro "Match de foot-ball entre os dois teams (às 4 1/2 da tarde) "Green and Whyte "goal - B. Queiroz "Full-Backs - G. Bello C. P. Souza "Half Backs - J. Ribeiro, Cunha Júnior, A. Lobão, "Forwards - A. Figueiredo, R. Nunes, J. Gomes, J. Mário, A. Gonçalves "Reserves - J. Torres, J. F. Costa "Captain - J. Gomes "Blue and Whyte "goal - S. Meireles "Full backs - F. Mendes, M. P. Santos "Half-Backs - A. Faria, S. Pinheiro, J. Teixeira "Forwards - A. Santos, J. Santos, J. Ferreira, P. Rodrigues, S. Bello
"Rezervas - A. M. Figueiredo, A. Casson "Captain - J. Ferreira "Refere - Coronel Joaquim M. Alves dos Santos "Os sócios do F. A. Club terão entrada sem ingresso. "A sessão solemne para declarar-se o 'Club' inaugurado propiciará a 2 1/2 hora em ponto". (O MARANHÃO, 05/02/1909) Em 1915, ao mesmo tempo em que era anunciada a criação de um clube para a prática dos esportes, "UM CLUBE ESPORTIVO “Fundado um club esportivo - Club Zinho - com o fim de proporcionar aos seus associados diversão como sejam passeios maritimos, pic-nic, exercícios físicos, ginástica pelos processos mais modernos. "Presidente: Hilton Raul "Vice presidente: Guilherme Matos". 31 proibia-se a brincadeira de empinar papagaios: "PROIBIDO O BRINQUEDO DE PAPAGAIOS "O coronel chefe do executivo municipal determinou o cumprimento do art. 149 do Código de Posturas que proibe a brincadeira de papagaios, no perímetro da cidadde, prejudicando as linhas telegráficas e telefônicas em que danificam os telhados". 32 Para FRYDENBERG (1999) 33, a adoção do esporte estava associada à fundação de clubes. Os jovens sentiam a necessidade de ter um terreno, um espaço próprio, para ser usado como “field”, como campo de futebol. Assim, o processo de popularização do futebol que se iniciou contou com três ingredientes estreitamente unidos: a iniciação na prática do jogo, a fundação de um clube e a busca de uma cancha própria. Em Maranhão, estavam envolvidos os alunos do Liceu Maranhense, do Colégio Marista Maranhense e do Instituto Maranhense: “... promoveram sessões, usando as próprias salas de aula, estimulados pelos mestres. Graças a essas reuniões, surgiram os quadros do Brasil F. Club, do S. Luís F. Club, do Maranhão Esporte Club, e do Aliança F. Club. Essas entidades, aos poucos, foram agrupando-se, tornando-se clubes. A cada dia, os estudantes melhor se integravam, e para exercitar-se utilizavam o velho 'field' da Fabril, que tinha sido desativado pela FAC. Estávamos com o campo da rua Grande muito mal, mato tomando conta de todas as dependências, inclusive das arquibancadas." (MARTINS, 1989, p. 328). O F. A. Club é (re) inaugurado - agora, como Foot-Ball Athletic Club. Foi realizado a tradicional soireé, ao som de polkas e valsas, e antes, aconteceu o jogo (match) de foot-ball. As senhoritas presentes vibravam 31
O JORNAL, 05 de maio de 1915
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O JORNAL, 04 de junho de 1915. FRYDENBERG, Júlio David. Espacio urbano y practica del futebol, Buenos Aires 1900-1915. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 4, n. 13, 1999. Disponível em www.efdeportes.com.
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com as jogadas de seus "sportman" favoritos, destacando-se Guilhon, Gallas, Paiva, Anequim, Ribeiro, Cláudio, e Schleback. Ainda ao "Red" coube a vitória da "luta de tração", tendo vencido o grotesco "maçã em água salgada" o Travassos, e Nava a disputa da "quebra potes cheio d'água, com olhos vendados". Dos chamados "concursos grotescos" - no início das atividades do FAC, em 1907, eram chamados de gaiatos - constava: frutas em água salgada - que deveriam ser tiradas com a boca, ganhando com conseguisse cinco primeiro; boxe com olhos vendados (disputado em um tempo de cinco minutos; quebrar potes cheios de água com os olhos vendados. Constavam ainda provas de Atletismo, o place-kick (chute à bola) e a luta de tração (cabo de guerra) 34. Nas datas importantes, o jogo de futebol aparece como parte das programações, como as comemorações da Batalha do Riachuelo, pela Escola de Aprendizes Marinheiros, quando seriam executadas "Gymnástica Sueca com armas, Gymnástica sueca sem armas, corridas com três pernas, corrida do sacco" e uma partida de futebol, entre os "teams" "Marcílio Dias" e um formado por representantes do F. A. Club. 35 Nhozinho Santos, após um longo período no sul do país, retorna a São Luís e é programada uma recepção digna desse "sportman", introdutor do esporte moderno em nossa cidade. O futebol continuava sendo praticado com entusiasmo e vibração, e outras modalidades esportivas desenvolviam-se: tênis, crocket, basquetebol, jogos olímpicos (atletismo), bilhar, boliche, ping-pong (Tênis de Mesa), e outras mais (MARTINS, 1989). No final de 1916, é anunciada para o dia 3 de dezembro a inauguração do Bragança Sport Club, contando a programação com uma regata entre as equipes 1 e 2, a se realizar no Rio Bacanga, às 7 horas da manhã. Às 15 horas, estavam programados exercícios militares pelos alunos do Instituto Maranhense; às 16 horas, haveria um "Momento Literário", com recitação de poesias e monólogos, pelos sócios, e, às 17 horas, a partida de foot-ball entre os teams 1 e 2. Às 19 horas, a sessão solene de inauguração, seguida de soireé dançante. 36 "Como um novo sol refletindo nas paragens longínguas do azul, appareceu o Club Sportivo 'José Floriano’, fundado por um grupo de rapazes de nossa terra com o fim único de "cultivar o physico e revestir de ganho e belleza todas as linhas plasticas do corpo". (O ESTADO", 15 de fevereiro de 1917).
http://www.8p.com.br/zecafloriano/flog/#a4096731-5063721 Vários atletas do início do séc. XX, na inauguração do Sport Club José Floriano no Rio de Janeiro 34
O ESTADO, 02 de fevereiro de 1916
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O ESTADO, 10 de junho de 1916. O ESTADO, 30 de novembro de 1916.
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Com essas palavras era saudada a fundação de mais um clube esportivo em São Luís. O nome, em homenagem ao maior dos mestres da cultura física do país, "inflamando-se de enthusiasmo e de energia para combater o enfraquecimento de uma geração e dar vida e armonia aos músculos, admirados com embevecimento, nos grandes athletas e nas antigas estátuas de mármore guardadas nos velhos museus de Roma e Grécia" -
dizia F. de Souza Pinto, ressaltando o quanto era importante a boa forma física em Grécia e Roma antigos, nos Estados Unidos e na Alemanha atuais, como exemplo de uma raça: "E o Brasil, a terra verdejante de palmeiras e bosques floridos tem também os seus representantes e mestres de luta e acrobacia em que figura como principal elemento de nossa raça o afamado José Floriano Peixoto, cujo nome cercado de sorrisos e de feitos foi escolhido por patronimico do club, que acaba de apparecer nesta terra tristonha do norte, que há-de um dia figurar nos campeonatos, tendo para saudar as suas victórias a música melodiosa dos cântigos cheios de saudade e poesia dos nossos queridos sabiás". (F. de Souza PINTO, in "O ESTADO", 15 de fevereiro de 1917).
http://www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde/home.a sp
http://www.8p.com.br/zecafloriano/flog/a4096731/#a40967 31-5073620
ZECA FLORIANO José Floriano Peixoto foi um dos primeiros homens do Rio de Janeiro do início do século XX a adotar um modelo de corpo forte e musculoso, o que, a princípio, era motivo de estranhamento em uma sociedade que ainda valorizava os tipos físicos fracos. Luiz Edmundo no seu livro de memórias comenta: "Não se pratica a ginástica do corpo. A do sentimento basta. E nesse particular, ninguém supera o jovem desse tempo. (...) Vive ainda da lírica do poeta Casimiro de Abreu, acha lindo sofrer-do-peito, bebe absinto e, de melenas caídas nas orelhas, ainda insiste em
recitar ao piano. Toda uma plêiade de moços de olheiras profundas, magrinhos, escurinhos, pequeninhos. (...) Tipos como o do atleta José Floriano Peixoto, são olhados, por todos, com espanto”. (p.838) 37
http://www.8p.com.br/zecafloriano/flog/a4096731/5063 674/#a4096731-5063674
http://www.8p.com.br/zecafloriano/flog/a409673 1/#a4096731-5073608
Zeca Peixoto, como era conhecido, destacava-se não só pelo seu corpo forte, como também pelo fato de ser praticante e campeão vitorioso em 18 modalidades esportivas. Ganhou ar de herói quando salvou diversas pessoas em um naufrágio que ocorrera na Bahia, ocasião em que retornava de excursão à Europa.38 Nos primeiros anos da década de 1900, Peixoto já estava envolvido com o grupo de Paul Pons, um francês muito atuante nos primeiros momentos do halterofilismo no Brasil e no mundo. No decorrer da década esteve envolvido com apresentações em teatros, fazendo parte da "Companhia Ginástica e de Variedades" e chegando a ser proprietário de um circo (Circo Floriano), que fez sucesso na cidade. Filho caçula (dos homens) do Mar. Floriano Peixoto e de sua prima Josina, fugiu aos 15 anos de idade do colégio Militar para acompanhar um circo. De acordo com seu perfil na Revista Recorde, Zeca Peixoto tornou-se um dos atletas mais conhecidos e exaltados no país nas duas primeiras décadas do século XX. Não poucas vezes os periódicos a ele se referiram com admiração. A “Revista de Theatro e Sport” (Rio de Janeiro, n.348, p.9, 1921), por exemplo, publica sua foto colorida na capa, afirmando no seu interior que se orgulhava de estampar esse atleta, que sabia aliar a sua “invejável força muscular” às qualidades de “perfeito cavalheiro” e as “reconhecidas energias morais transmitidas pelo varão ilustre que lhe legou o nome”. Afirma ainda que em todo o país e até mesmo no exterior esse conjunto de qualidades se fazia conhecer, tornando-o o “mais querido e respeitado dos atletas brasileiros”. Afirma que é “a maior e legítima glória do nosso atletismo”.39 37
EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. Rio de Janeiro: Conquista, 1957. Recorde: Revista de Historia do Esporte, Rio de Janeiro, vol. 3. n. 1, Junho de 2010, disponível em http://www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde/home.asp, acessado em 10/10/2010 MELO, Victor Andrade de. Mulheres em movimento: a presença feminina nos primórdios do esporte na cidade do Rio de Janeiro (até 1910). Rev. Bras. Hist. vol.27 no. 54 São Paulo Dec. 2007, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010201882007000200008&script=sci_arttext, acessado em 10/10/2010 39 Recorde: Revista de Historia do Esporte, Rio de Janeiro, vol. 3. n. 1, Junho de 2010, disponível em http://www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde/home.asp, acessado em 10/10/2010 38
30 + 70 = 100 ANOS A COMEMORAR... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - Cadeira 40 Academia Ludovicense de Letras – cadeira 21
Muitos podem estranhar o título de 100 anos a comemorar, que se celebram esta noite... Mas é a soma de dois períodos importantes para a vida cultural-esportiva de São Luís... 30 anos da criação da “Escola de Natação ‘Viva Água’”, em 1984... 70 anos da chegada de Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo à São Luís, em 1944... Gosto de ciclos e de gerações, fases decantadas em prosa e verso - nas tradições culturais atenienses... Objeto de análises e de proposições. Lembro aqui trecho de poema de Vinicius de Morais, que me é caro: ‘a vida vem em ondas, como o mar...”, ao celebrar os acontecimentos do ‘sábado’; “e por que hoje é sábado”, vamos celebrar, e comemorar 30 anos da ‘Viva Água”; 70 anos de vida esportiva de Antonio Maria Zacharias... Gostaria de chamar atenção do distinto público ouvinte/leitor para o numeral ‘4’... vai ser uma constate e marco de ciclos que aqui se referem... Creio que esse número, o ‘quatro’, deve ser o numero de sorte dos Bezerra de Araújo... 1984... Nascia a “Escola de Natação Viva Água”, iniciativa dos jovens empresários Denise Martins de Araújo e Osvaldo Telles Neto. Primeira escola dedicada ao ensino da natação em São Luis. Pioneira em oferecer esse tipo de serviço... Iniciativas outras houve, de parte do patriarca dos Araújo... O tal Antonio Maria Zacharias... Mas como empreendimento comercial, com sede própria, e corpo de professores especializados, foi a primeira... 1994... O primeiro grande salto; após dez anos de funcionamento e desenvolvimento de uma metodologia própria, instintiva, baseada na prática de anos e anos de experiências, é dado tratamento científico – busca de uma teoria de ensino – ao método denominado, desde então, de “Método ‘Viva Água’ de Ensino de Natação”. É nesse ano que Steven Langherdorfer, maior autoridade mundial do ensino de natação para bebes/crianças vem ao Maranhão a convite de Denise Martins de Araújo, para expor seus estudos. A “Clinica de Natação para Bebês” patrocinada pela Escola de Natação Viva Água se constituiu marco fundamental dessa modalidade de ensino no Brasil e, a partir daí, para o mundo. Langherdorfer ao conhecer o trabalho que se desenvolvia na ‘Viva Água’ decretou que a maior novidade, a inovação maior, estava na metodologia desenvolvida no Maranhão e que deveria ser exposta ao mundo, o que aconteceu no Congresso de Natação para Bebês, realizado na Austrália (1985)... Denise foi convidada a expor seu método de ensino de atividades aquáticas... É nesse período que começo a trabalhar na ‘Viva Água’, junto com Denise, Osvaldo, e o professor Doutor Laércio Elias Pereira; em virtude do compromisso assumido, precisava-se de uma teoria para aquilo que vinha sendo desenvolvido no ensino da natação. Sistematização dos estudos das várias correntes até então existentes: Russa, Francesa, Australiana, Americana... E havia um trabalho iniciado no Brasil com o Fontenelle... Ai que surge o ‘Método Viva Água’... Hoje consagrado mundialmente. Voltemos a 1984 quando do funcionamento do curso de formação de professores de educação física da então Escola Técnica Federal do Maranhão, onde Osvaldo, Laércio, Lino, e eu, dentre outros, éramos professores. Osvaldo seleciona os melhores alunos de natação e os leva para estagiar na Viva Água... Alguns estão aqui até hoje... É dessa massa critica que se alimenta o ‘Método Viva Água’. 2004... A ‘Viva Água’, além da Natação, passa a oferecer outros serviços, na área da atividade física. Assume a parte da musculação, exigência do mercado, efetivamente. Passa a dividir seus espaços, com serviços de ‘atividades aquáticas – natação, hisdroginástica’, de ‘musculação’, de ‘avaliação físicafuncional’, da ‘capoeira’, do judô’, e mais recentemente, da ‘ginástica artística’.
Exigências do mercado! Ou se adapta, ou perece. O mercado estava se voltando para as atividades físicas, para as ‘academias de ginástica/musculação’; oferecer apenas natação, não estava mais mantendo a lucratividade do empreendimento, e os investimentos na construção do prédio. Contatos com a Escola Academia, do Rio de Janeiro, aliada a sua metodologia com a da Viva Água, possibilitaram a oferta de serviço diferenciado. Essa a base do sucesso, desde a ‘escolinha de natação’ fundada 20 anos antes... Hoje, 2014, o que diferencia a ‘Viva Água’ no mercado, tão competitivo é a dedicação de seus profissionais. Não foi à toa a escolha do termo “Academia” para a mudança do nome. Investindo desde o inicio em pesquisa e desenvolvimento de prática de ensino, associada a denominação primeira à ‘escola’ – scholé, grega, o local onde se ensinava e aprendia – com o nome ‘academia’ também da tradição grega – assim como termos tão nossos familiares no meio esportivo, como ‘gimnasium’, ‘stadium’, ‘academia’ era o local onde se ensina e se aprende; podemos até colocar como evolução da ‘scholé’ – um nível mais elevado do sistema de ensino, da tradição grega – base de nossa civilização ocidental. O estudo sistemático da aprendizagem do movimento no meio aquático, e agora, na conservação da saúde e bem-estar de seus ‘associados’, seus ‘alunos’... 30 anos da “Academia Viva Água”. Parabéns, Denise e Osvaldo... Mas essa é uma parte da Memória das atividades do lúdico e do movimento no Maranhão. Embora se possa considerar uma ‘continuidade’, é uma História independente, com vida própria, de uma personagem icônica, também – uma ‘persona’ que é um duplo – Denise-e-Osvaldo -, mas que poderia ser uma tríade – acrescentando-se o Antonio Maria Zacharias... Indissociáveis, no fazer, mas com suas personalidades próprias, histórias de vidas próprias, contribuições próprias, traduzidas em um nome “Viva Água’, ‘res pro persona’. Vamos à soma... 70 anos da chegada do “Tonho” à Capital... Seu primeiro contato com a ‘educação física formal’, matéria das escolas que veio frequentar quando veio para São Luís: “Em 1939, minha tia Delcina me trouxe para me colocar para estudar. E aí nós morávamos em Coroatá. Morei em Coroatá, em Timbiras e Coelho Neto.” 1944... No nosso tradicional ‘Liceu Maranhense’ Tonho conhece o professor que vai lhe inspirar, pela dedicação, seriedade, e conhecimentos: José Rosa. É em suas aulas de educação física que se encanta e decide – é isso que quero fazer; ser professor, e professor de educação física... Tinha 16 anos de idade... Hoje, aos 86, pode olhar para trás e dizer: Venci!!! Dimas chega a São Luis no feérico ano 40, o da “Geração dos Erres’ da educação física e dos esportes ludovicense/maranhense: Rubem, Rinaldi, Rosa, Ronald... e Rego, Luis Rego na Educação; É essa geração – lembram-se dos versos de Vinícius? ‘a vida vem em ondas, como o mar’?... a geração que forma o gosto pelos esportes e a educação física nas escolas, como seus primeiros professores formados, na então Escola de Educação Física do Exército, e depois na Escola nacional de Educação Física... geração que vai influenciar – e muito – a geração seguinte, a ‘Geração de 53”, onde estavam alguns dos alunos que passaram pelas mãos “do irmão do José Dimas”... Cláudio, Mauro, Miguel, Zé Reinaldo, os Itapary... 1954... O agora sargento da reserva Zacharias retorna de sua formação no Rio de Janeiro – onde concluíra seus estudos, e fizera a Escola de Sargentos do Exército e a Escola de Educação Física do Exército. De volta à sua terra natal, começa seu trabalho como professor de educação física... Casa-se, vai para o Pindaré, constitui família, torna-se industrial, sócio do sogro... Retorno à Capital, para começar tudo de novo... E a vocação volta, torna-se o Professor Dimas; aqueles jovens da “Geração de 53” estão chegando ao poder, e revolucionando os esportes na capital – a figura principal é Cláudio Alemão... Estávamos no início dos anos 60 – 1964, o ano do “Novo Maranhão”... Inicio dos cursos de renovação do sistema de ensino, com o novo governo... E Dimas estava de volta à São Luís... Embora seu curso de educação física fora equiparado ao de licenciatura, resolve retomar os estudos, participando de todos os cursos da área oferecidos...
Inclusive o de suficiência em educação física, o que lhe deu mais respaldos para trabalhar na Educação Física Escolar, que estava se renovando, deixando de ter aquele caráter militar, de ordem unida, da calistenia... Dimas retoma as aulas de natação, que havia iniciado nos anos 50. Sua filha Denise o acompanha, e começa a introjetar os ensinamentos e a forma de trabalho do pai... - Começa a nascer o Método Viva Água, que vai se acentuar na década seguinte, quando já auxilia o professor de natação em suas aulas, cuidado dos alunos menores... -. 1974 inicia a era dos jogos escolares; embora Claudio Alemão já viesse promovendo os Jogos da Juventude – FEJ – desde 1972, com o auxilio de Dimas, é após a volta de um périplo pelo Sul/Sudeste que Dimas trás as novidades, vê a Ginástica Olímpica, o Handebol e se apaixona por essas modalidades: é isso!!!! O que esperava!!!! A adaptação dos Jogos, das diversas competições até então promovidas, por Mary Santos e Carlos Vasconcelos, e a unificação na gestão de Cláudio Vaz, aos regulamentos nacionais e a participação do Maranhão nos JEMs, a vinda das equipes de paulistas, a década de ouro do esporte maranhense, a introdução da educação física e esportiva, das práticas esportivas, a criação de cursos de educação física, uma década produtiva e intensamente vivida... Quem viveu aqueles anos 70/80 sabe do que se está falando... E ele lá, a frente de todos esses movimentos, e passando esses ideais para os filhos e filhas... Enfim, chegamos a 1984... Consolidação do esporte escolar, do curso de educação física, da criação da Viva Água... “A vida vem em ondas, como o mar...” Hoje, somados, 100 anos de História – 30 mais 70... Não vou me alongar mais... Senão vocês terão o conteúdo do livro que conta essa História... Sim estamos falando do Antonio -“Tonho”- Maria Zacharias - “Sargento Zacharias” - Bezerra de Araújo... Nosso “Querido professor Dimas”...
VIII SEMANA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE CEUMA 06 de junho de 2013 – 08:00 - Sessão de Mini-Conferências
POLITICAS PÚBLICAS40 DE LAZER E SOCIEDADE41 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ42 Universidade Estadual do Maranhão Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Obrigado pelo convite. De já agradeço a paciência do Plenário. Começo com as palavras do prof. Dr. Laércio Elias Pereira: sabemos de que estamos tratando? É preciso, antes de tudo, unificar a linguagem. Temos três expressões a serem definidas ou conceituadas: POLÍTICA – ciência dos fenômenos relativos ao Estado. Arte de bem governar os povos. Habilidade no trato das relações humanas (Aurélio, 1977) 43. O Aurélio não nos diz com clareza o que seja ‘política’, apenas que se refere a algo ‘do Estado’. Já em Silveira Bueno44 assim é definida: POLÍTICA – ciência do governo dos povos; arte de dirigir as relações entre os Estados; diplomacia; astúcia; maneira hábil de agir; plano de ação. A resposta que nos interessa está no último item: plano de ação. Por “política” entendemos, assim, um conjunto de princípios e escolhas que definem o que seria desejável, com orientação de seus modos de geração, uso e absorção de informações e tecnologias através de diferentes procedimentos de promoção, regulação, coordenação e articulação, em interação com aquelas condições resultantes das políticas, práticas e contextos (Vaz e outros, 2002) 45. De acordo com Gobert, Muller (1987), “Políticas Públicas“ é entendida como o "Estado em ação"; é o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade (citados por Höfling, 2001) 46. Para Farah47, “Política pública pode ser entendida como um curso de ação do Estado, orientado por determinados objetivos, refletindo ou traduzindo um jogo de interesses. 48 Um programa
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. POLITICAS PÚBLICAS. Aula inaugural do Curso de Especialização em Políticas Públicas. INSTITUTO DANIEL DE LaTOUCHE, São Luís, 2009. 41 Publicado em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/06/07/politicas-publicas-de-lazer-e-sociedade-palestra-na-viii-semana-deeducacao-fisica-da-universidade-ceuma/ http://cev.org.br/biblioteca/politicas-publicas-lazer-sociedade/ 42 Licenciado em Educação Física (UFPr, 1975); Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986); Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). 43 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. MINIDICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 1 ed, 16 reimp. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1977 44 SILVEIRA BUENO, Francisco. MINIDICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. ED. ATUALIZADA. São Paulo:FTD, 1996 45 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e Outros. Proposta de uma política de lazer para o SESI-DR/MA - Serviço Social da Indústria, Diretoria Regional do Maranhão. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 51 - Agosto de 2002, disponible em http://www.efdeportes.com/efd51/lazer.htm 46 HÖFLING, Eloísa de Matos. ESTADO E POLÍTICAS (PÚBLICAS) SOCIAIS. In Cad. CEDES v.21 n.55 Campinas nov. 2001 47 FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e políticas públicas. Rev. Estud. Fem. vol.12 no.1 Florianópolis Jan./Apr. 2004 48 Elisa REIS, 1989; e Robert SALISBURY, 1995. Segundo Salisbury, o conceito de política pública "refere-se à substância do que o governo faz" (SALISBURY, Robert H. "The Analysis of Public Policy: a Search for Theories and Roles". In: CAHN, Matthew A., and THEODOULOU, Stella Z. Public policy: the essential readings. New Jersey: Prentice Hall, Upper Saddle River, 1995, p. 34).
governamental, por sua vez, consiste em uma ação de menor abrangência em que se desdobra uma política pública. 49”. (2003) As políticas públicas devem ser compreendidas como as de responsabilidade do Estado – quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de decisões que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. Neste sentido, políticas públicas não podem ser reduzidas a políticas estatais. (Höfling, 2001). Para essa Autora: ”As políticas (públicas) sociais se situam no interior de um tipo particular de Estado. São formas de interferência do Estado, visando à manutenção das relações sociais de determinada formação social. Portanto, assumem feições diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepções de Estado. É impossível pensar Estado fora de um projeto político e de uma teoria social para a sociedade como um todo.” (Höfling, 2001). Assim, o processo de definição de políticas públicas para uma sociedade reflete os conflitos de interesses, os arranjos feitos nas esferas de poder que perpassam as instituições do Estado e da sociedade como um todo. Höfling (2001) nos ensina que se torna importante ressaltar a diferenciação entre Estado e governo. Estado é o conjunto de instituições permanentes - como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico necessariamente - que possibilitam a ação do governo; e Governo, o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período. (Höfling, 2001). Para melhor esclarecer esse ponto, recomendo a leitura do artigo de Cláudio G. Couto & Rogério B. Arantes: “A constitucionalização das políticas no Brasil: implicações para o processo de governo”. Os autores afirmam que a Constituição brasileira de 1988 incorporou dispositivos que podem antes ser consideradas “políticas públicas” que “ordenamento constitucional”, cerceando o funcionamento posterior dos governos, pois medidas governamentais comuns, normalmente oscilantes em função da alternância eleitoral, são bloqueadas por terem sido constitucionalizadas. Daí a necessidade de quóruns qualificados para sua implementação incrementa os custos da construção de maiorias parlamentares, dificultando a governabilidade e restringindo em demasia a liberdade de governos eleitos. (Abrindo um parêntese, lembro aqui o princípio de São Francisco, cunhado já a algum tempo, de que “é dando que se recebe”, culminando com o escândalo do “mensalão” e dos comensais do PT e seus aliados... fecha parêntese...). Os autores passam a examinar as implicações de três termos – apresentados em inglês -, que melhor traduzem essas ações de governo: “polity”, “politics”, “policy”. Afirmam os autores em nota de rodapé: “Decidimos recorrer a esta terminologia pelo fato de que a utilização de termos em português perderia em clareza e precisão. Não há termo em nossa língua que seja equivalente a ‘polity’. Mesmo a expressão ‘politéia’, roubada ao grego, não é de uso corrente e sequer consta dos principais dicionários. No que diz respeito a ‘politics’ e ‘policy’, a palavra em português é a mesma para ambas: política. Neste caso, precisaríamos falar o tempo todo em “política” como atividade, e em “política pública”, ou “política governamental”, ou ainda em “políticas”. Por uma questão de economia de linguagem e clareza, optamos pelos termos em inglês. A “polity” corresponde à estrutura paramétrica estável da política, que se supõe seja a mais consensual possível entre os atores; a “politics” é o próprio jogo político; a “policy” diz respeito às políticas públicas, ao resultado do jogo disputado de acordo com as regras vigentes. O quadro 1, abaixo, resume a natureza e as características principais destas três dimensões do processo político democrático. 49
DRAIBE, Sonia Miriam. Metodologia de análise comparativa de programas sociais. Campinas, NEPP-UNICAMP, 1991. Trabalho apresentado em Seminário da CEPAL, em Santiago, Chile, 6-8 maio 1991.
Quadro 1 Natureza das dimensões ideais do processo político democrático DIMENSÃO
NATUREZA
Regras Gerais Normatividade do Jogo Político Constitucional (Estrutura) Embates Coalizões Políticas
DENOMINAÇÃ CARACTERÍSTIC O A FORMAL Polity
e
Normatividade Governamental
Jogo Político Resultados do Jogo Político (Conjuntura)
Politics
Policy
CARACTERÍSTIC A SUBSTANTIVA
Pacto entre os diversos atores políticos
Generalidade
Relacionamento dinâmico entre os atores políticos
Conflito e/ou Cooperação
Vitória/Derrota de diferentes atores políticos
Especificidade
Couto & Arantes Temos, assim, as seguintes dimensões: - POLITICS – se refere à dinâmica do processo democrático; - POLITY – à hierarquia normativa que distingue o pacto constitucional; - POLICY – se refere às decisões governamentais. Às “políticas públicas”... Acredito que já deu para esclarecer. Vamos tratar agora dos ‘policymakers’ – ou “formuladores de políticas”... O FORMULADOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS – QUEM É? Bresser-Pereira (2003) 50, em um artigo intitulado “Auto-interesse e incompetência”, afirma que: “Todas as escolas de ciências sociais têm uma hipótese comum: o auto-interesse é a variável central para explicar o comportamento humano em sociedade. Nas sociedades contemporâneas uma segunda variável está tornando-se cada vez mais relevante para explicar os resultados sociais: a incompetência técnica e emocional dos ‘policymakers’51.”. Apresentada dessa forma, até parece um desestimulo para quem está para iniciar um novo curso e, quem sabe, uma nova carreira. O objetivo é justamente o inverso: para que vocês não venham a apresentar essa “incompetência técnica’ ou ‘ emocional” a que se refere o ilustre professor da Fundação Getúlio Vargas, SP. Qual o perfil que deve ter um formulador de políticas públicas competente? Vejamos o que diz BresserPereira:
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Um formulador de políticas competente é um indivíduo eficaz e eficiente, que adota políticas competentes. É o indivíduo que, numa situação de incerteza, escolhe, dentre as alternativas, aquelas que são eficaz e eficientemente consistentes com seus objetivos desejados. A racionalidade instrumental - o uso dos meios mais adequados para alcançar os fins desejados - pressupõe decisões competentes. Em termos práticos, o conceito é sinônimo de eficiência.
O formulador de políticas competente deve conhecer as teorias científicas relevantes e o conhecimento comum sobre o assunto, mas ele se tornará incompetente se utilizar modelos de maneira automática. Cada caso é um caso e requer uma avaliação específica.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Auto-interesse e incompetência. In Rev. Bras. Econ. v.57 n.1 Rio de Janeiro jan./mar. 2003 “formuladores de políticas”
O formulador de políticas é um estrategista jogando um jogo. Assim, ele deve avaliar as possíveis reações dos ''adversários'' ou, de maneira mais geral, dos indivíduos e dos grupos afetados por suas decisões. Uma vez que não dispõe de toda a informação, ele estará frequentemente diante do dilema do prisioneiro, i. e., racionalmente constrangido a escolher uma alternativa sub-ótima. Nesse caso, ele será competente se conseguir ser capaz de aumentar o nível de informação; ou, quando a informação permanece insuficiente, se ele, não obstante, for capaz de combinar prudência com coragem e decidir com base em seu conhecimento e sua experiência adquiridos em situações similares.
O formulador de políticas competente deve combinar prudência com humildade e coragem. Medo, orgulho e arrogância são as piores paixões enfrentadas diariamente por formuladores de políticas.
Os erros de políticas tenderão a serem menos danosos no futuro por duas razões: porque os formuladores de políticas são cada vez mais bem instruídos e porque vivem em países cada vez mais democráticos, nos quais formas de democracia deliberativa começam a aparecer. (Bresser-Pereira, 2003). Um último lembrete, para encerrar: o planejamento em políticas públicas tem de ser visto como um processo, e não como um produto técnico somente. A importância do processo se dá principalmente na implementação, pois esta é que vai levar aos resultados finais das políticas, programas ou projetos: “O planejamento é um processo de decisão político-social que depende de informações precisas, transparência, ética, temperança, aceitação de visões diferentes e vontade de negociar e buscar soluções conjuntas que sejam aceitáveis para toda a sociedade, principalmente para as partes envolvidas, levando continuamente ao aprendizado.”. (Oliveira, 2006) 52 QUEM TEM DIREITO AO LAZER? Para a formulação de Políticas Públicas devemos ver, primeiro, o que nos assegura a Constituição da República53: "São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição." (Art. 6:).
Maheu afirma que "desde a velha Grécia sente-se afinidade entre a cultura e o desporto, duas fontes do mesmo humanismo, pois ambas procedem da mesma origem, o lazer". Lazer é um termo impregnado de sentido sociológico, devido ao papel preponderante que o mesmo desempenha na sociedade. Da mesma forma que o homem tem o direito ao trabalho, faz juz ao lazer. (citado por JORDÃO RAMOS, 1978, p. 21)54
O Direito ao Lazer era reconhecido mesmo aos escravos romanos, consagrado pelos hábitos e costumes, sob sua forma consuetudinária55. Lazer deriva do latim "licere", que significa ser lícito, ser permitido. Marinho (1979)56 analisa as origens jurídicas do lazer quando propõe uma codificação do Direito ao Lazer:
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OLIVEIRA, José Antônio Puppim de. Desafios do planejamento em políticas públicas: diferentes visões e práticas. Rev. Adm. Pública vol.40 no.2 Rio de Janeiro Mar./Apr. 2006 53 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília : Congresso Nacional, 1988 54 Citado por VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O DIREITO AO LAZER (E AOS DEMAIS DIREITOS SOCIAIS) DOS MENINOS E MENINAS DE RUA. Documento apresentado à Comissão Estadual dos Meninos e Meninas de Rua, como subsídio para a elaboração na Nova Constituição Estadual, São Luís, 1990. 55 MARINHO, Inezil Penna. O direito ao lazer. Brasília : (s.e.), 1989.
"Na escravidão primitiva, entre os povos orientais e mesmo entre os gregos, os escravos no tinha horas de folga, trabalhando incessantemente. Os romanos, sobretudo, com a influência do estoicismo grego, ao fim da República, e do Cristianismo, durante o Império, adotaram várias medidas protecionistas, dentre as quais, a mais importante foi a Lei Petôtnica, que proibiu aos senhores destinar seus escravos para as lutas com as feras, nos circos, salvo quando o fizessem como penalidades e com autorização do magistrado. Antônio Pio estabeleceu que o senhor que tirasse a vida do próprio escravo seria considerado homicida; Cláudio retirou ao senhor o direito de propriedade sobre o escravo, que abandonasse velho ou doente; Justiniano conferiu a cidadania ao escravo doente, abandonado por seu senhor. O instituto da manumisco (manumissio) regulamentou o processo de obtenção de liberdade dos escravos. Os romanos racionalizaram o trabalho dos escravos, procurando preservá-los e valorizá-los, facultando-lhes o desenvolvimento das habilidades de que, por ventura, fossem dotados. Para isso, permitiram-lhes que, após suas tarefas habituais ou trabalhos específicos, dispusessem de um tempo livre, para cuidarem de si próprios, para zelarem por suas coisas, para cultivarem suas artes e dons. Estas eram as horas de lazer (de licere), isto é, as horas disponíveis para atividades voluntárias, que nada tinham a ver com a jornada de trabalho a que o escravo estava obrigado ou a atividades que lhe era própria. Este direito ao lazer tornou-se consuetudinário (...)".(p. 17-18).
O Lazer tomou a dimensão atual após a Revolução Industrial, quando então a jornada de trabalho começou a diminuir paulatinamente, muito embora os fundamentos históricos do lazer sejam anteriores à sociedade industrial, porque sempre existiu o trabalho e o não-trabalho em qualquer sociedade 57. A conquista de oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer marcou o início da humanização do trabalho e transformou a recreação e o lazer como um fato social58,59. Para DUMAZEDIER (1980), Lazer "é um conjunto de ocupações as quais os indivíduos podem entregar-se de livre vontade seja para repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda, desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora após livrarse ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais." Temos, pois: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". (art. 205). E mais: "O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional (...)". (Art. 215). E ainda: MARINHO, Inezil Penna. Introdução ao estudo da filosofia da educação física e do desporto.Brasília : Horizonte, 1984. MARINHO, Inezil Penna Raízes etmológicas, históricas e jurídicas do lazer. Brasília : (s.e.), 1979. 57 DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1976 DUMAZEDIER, Joffre. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: SESC, 1980 DUMAZEDIER, Joffre. A teoria sociológica da decisão. São Paulo: SESC, 1980 58 MARINHO, Inezil Penna. O direito ao lazer. Brasília : (s.e.), 1989. 59 DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1976 DUMAZEDIER, Joffre. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: SESC, 1980 56
É dever do estado fomentar a prática desportiva formais e não-formais, como direito de cada um (...)." (art. 217).
A Constituição da República Federativa do Brasil assegura o direito à Educação (art. 6, 205 e 227), o direito à Cultura (art. 215 e 227), o direito ao Desporto (art. 217) e o direito ao Lazer (art. 6, 215, 217, 227). Lembremo-nos das palavras de Renê MAHEU quando afirma que tanto a cultura quanto o desporto procedem da mesma origem, o lazer. Lembremo-nos da origem da palavra escola: "Scholé, traduz o dicionário, significa tempo livre, parada, descanso, ócio, falta de trabalho, pausa, ocupação das horas que se tornam livres do trabalho e dos negócios, estudo, conversação e acaba por significar 'o lugar onde se utiliza o tempo livre' a scholé precisamente, a escola, que hoje se interpreta somente como o lugar na qual o tempo livre é utilizado para ensinar e aprender". (TOTI, 1975, p.9)60.
GESTÃO DE POLÍTICAS DE LAZER Mais que soluções, pretendo deixar, aqui, pontos para reflexões. Afinal, serão vocês os responsáveis pela formulação de politicas de lazer, como futuros profissionais de educação física. E ainda para que possam cobrar das autoridades responsáveis pelo setor e, se possível, incentivar na construção de seus trabalhos de conclusão de curso... Primeiro, para se pensar na qualidade da Gestão do Lazer61 devemos partir da otimização dos diferentes recursos (físicos, materiais, humanos, e financieros) colocados à disposição dos gestores das políticas de ação da área. ( O ultimo Dignóstico 62 foi elabordo em 1978... Quantos de voces já haviam nascido?). Tais politicas devem ser entendidas como o processo de elaboração e de implementação de programas de ação a fim de colaborar com o desenvolvimento de diretrizes públicas com a participação efetiva das pessoas e dos diferentes segmentos da sociedade civil, com base nos anseios e nas necessidades do publico envolvido (YSAYAMA; PINTO; UVINHA; STOPPA, 2011) 63: “[...] na gestão do lazer participação cultural dos vivencia de novos valores sociedade excludente em cotidiano”. (p. 21)
em nossa sociedade destaca-se cada vez mais a importancia da diferentes atores (gestores e público atendido) como canal para a que, de forma educativa, garantam a possibilidade de questtionar a que vivemos, buscando saídas para os problemas enfrentados no
Os principios, diretrizes, e objetivos da Politica Nacional de Esporte (e Lazer) - 2005 64 procurava estabelecer relações intrínsecas entre estrutura, organização, financiamento, gestão, controle social,
60
TOTI, G. Tiempo livre y explotacion capitalista. México: Cultura Popular, 1975 PINTO, Leila Mirtes S. de M. e Outros. Desafios para a gestão das políticas de lazer no Brasil. In YSAYAMA, Helder ferreira; PINTO, Leila Mirtes de M.; UVINHA, Ricardo; STOPPA, Edmur Antonio. Gestão de políticas de esporte e lazer. Belo Horizonte, UFMG, 2011 62 MARANHÃO. Secretaria de Educação. Diagnóstico da Educação Física no Maranhão. São Luis, Coordenação de Educação Física e Desportos, 1978. 63 YSAYAMA, Helder Ferreira; PINTO, Leila Mirtes de M.; UVINHA, Ricardo; STOPPA, Edmur Antonio. Gestão de políticas de esporte e Lazer. Belo Horizonte, UFMG, 2011 64 GOMES, Christiane; PINTO, Leila. O lazer no Brasil: analisando praticas culturais cotidianas, acadêmicas e políticas. In GOMES, Christiane; OSORTO, Esperanza; PINTO, Leila; ELIZALDE, Rodrigo (Org.). Lazer na América Latina/Tiempo libre, ócio y recreacion em Latinoamerica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009 61
formação e recursos humanos em função das atividades a serem desenvolvidas e dos serviços prestados pelas entidades que iriam compor o sistema. Durante o 20º ENAREL, em São Paulo - 200865, foram encaminhadas tres questões: que limite(s) temos vivido quanto ao acesso da população às oportunidades de lazer em nosso meio? Que oportunidade(s) significativa(s) de superação desses limites podemos observar em relação à gestão do lazer nesse realidade? O que mudaríamos nesse história para que os limites identificados fossem superados? Conclusões: - necessidade de se desenvolverem novos processos de planejamento, organização, execução e avaliação das politicas de esporte e lazer, em seus diferentes elementos, relacionados aos recursos humanos, aos espaços e equipamentos, a uma politica de animação sociocultural ou as diferentes barreiras para o lazer encontrtadas em nosso cotidiano (UVINHA, STOPPA, p. 23); - gestão do lazer como um processo evolutivo que tem de estar em sintonia com a evolução das necessidades dos cidadãos e suas organizações, ampliando significados do lazer e da globalização da cultura e novos comportamentos de tempo livre. A gestão de lazer e de decisão politica deve ser ecológica, cultural, economica ou social e deve levar em conta o ambiente (THIBAULT, p. 23); - o lazer e o turismo têm potencial para alterar a propria natureza dos paises, bem como, quando devidamente tratados, a base economica dos paises (CASEY, p. 23);
Chama a atenção o estudo de Mezzadri, Martines, e Starepravo (p. 24) no que se sefere ao dignostico das politicas publicas de esporte e lazer no estado do Paraná. Destacados cinco pontos de discussão: 1. As definições burocráticas e o papel do esporte e lazer no desenvolvimento da sociedadse; 2. A desproporcional quantidade de profissionais e estagiários inseridos nas estruturas estatais municipais do esporte e lazer; 3. A falta de uma definição do plano de governo, da gestão e do financiamento; 4. A relação entre o controle social e a ausencia dos conselhos municipais e das audiencias publicas, prejudicando a participação da população; 5. Os projetos em desenvolvimento nas cidades que estão basicamente direcionados às práticas esportivas com intuito de formar atletas e/ou aperfeiçoá-los. Creio que aqui já dá para voces entenderem as dificuldades que temos, ao implementar politicas publicas. Pegamos apena dois exemplos, para demonstrar que as dificuldades na gestão do lazer não é privilegio do Maranhão... mesmo porque não temos – pelo menos eu não conheço!!! – quais são as politicas, sejam de estado, sejam de governo, existentes no Maranhão, desde as que foram estabelecidas quando da criação da SEDEL... Concluindo, entendemos que, entre as prioridades nas politicas públicas, o lazer se encontra proximo à margem, ocupando um espaço secundário. O lazer não é prioridade, seja na esfera particular ou na coletiva, ocupando lugar marginal nas decisões individuais e politicas. Justificam a baixa participação dos cidadãos nas atividades – e aqui seguimos as conclusões de Lelia Mirtes e Outros 66 - de que os limites pessoais ao acesso ao lazer, fala de segurança, dinheiro, transporte, tempo e as manifestações de preconceito quanto ao tempo livre. Destaca-se ainda a falta de organização dos grupos sociais para a reivindicação e participação nas decisões politicas locais, além da falta de politicas que garantam o direito ao lazer com qualidade. 65
UVINHA, Ricardo Ricci; STOPPA, Edmur Antonio. Gestão so Lazer: competências e atuação multiprofissional. In MARCELLINO, Nelson Carvalho; ISAYAMA, Hélder Ferreira (Org).. ENAREL 21 anos de história. Brasilia: Supernova Grafica, 2011 66 PINTO, Leila Mirtes S. de M. e Outros. Desafios para a gestão das políticas de lazer no Brasil. In YSAYAMA, Helder ferreira; PINTO, Leila Mirtes de M.; UVINHA, Ricardo; STOPPA, Edmur Antonio. Gestão de políticas de esporte e lazer. Belo Horizonte, UFMG, 2011
Outro grande limitador, é o orçamamento disponivel para a gestão desa área, reforçado pela falta ou inadequação de infraestrutura. A oferta suficiente e adequada de espaço e equipamentos para o lazer precisa ser garantida pelo poder publico. A falta de segurança nas áreas de lazer e suas proximidades, a desconsideração dos horários possíveis para a participação de todas as faixas etárias e da oferta diversificada de atividades e de equipe especializada para organizar os espaços mostram uma visão limitada do gestor local em relação às possibilidades de lazer da população. São outros fatores limitantes no acesso ao lazer: o despreparo do gestor, sua falta de formação especifica na área e seu desconhecimento das necessidades do publico em relação às ofertas de lazer nos espaços sob sua responsabilidade. Além disso, a falta de pessoal qualificado para a execução e o desenvolvimento de ações de lazer também é fato considerado na esfera pública, em que dificuldades politicas podem resultar na gestão de quadro de pessoal reduzido e nem sempre qualificado para a área. O mais grave de todos: o fator da descontinuidade de programas publicos quando da mudança de poder e/ou formação de alianças políticas... Para finalmente concluir, permitam-me apresentar uns quadros, preocupantes:
Mercado de Trabalho na área da Educação Física no Maranhão O Estado do Maranhão possui em sua estrutura dois órgãos que tratam da Educação Física e Esportiva, dos Esportes, e do Lazer: a Secretaria de Educação e a Secretaria de Estado do Esporte. A Secretaria de Estado de Educação conta com o seguinte quadro: PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA REDE ESTADUAL – 2011 UNIDADE REGIONAL MUNICÍPIO ACAILANDIA BOM JESUS DAS SELVAS BURITICUPU CIDELANDIA AÇAILÂNDIA ITINGA DO MARANHÃO SÃO FRANCISCO DO BREJÃO S. PEDRO DA AGUA BRANCA VILA NOVA DOS MARTIRIOS TOTAL ALTAMIRA DO MARANHÃO BACABAL BOM LUGAR BREJO DE AREIA CONCEIÇÃO DO LAGO-AÇU LAGO VERDE BACABAL MARAJÁ DO SENA OLHO D´ÁGUA DAS CUNHÃS PAULO RAMOS SÃO LUIS GONZAGA VITORINO FREIRE Total: ALTO PARNAIBA BALSAS CAROLINA FEIRA NOVA DO MARANHÃO FORMOSA DA SERRA NEGRA BALSAS FORTALEZA DOS NOGUEIRAS LORETO NOVA COLINAS RIACHAO SAMBAIBA
FORMADOS 10 0 0 3 0 0 1 1 15 0 14 0 0 0 1 0 0 1 0 0 16 0 4 1 0 0 0 0 0 1 0
LEIGOS 25 3 5 2 2 2 2 2 43 0 56 1 0 0 2 1 3 1 1 11 76 4 23 7 2 5 12 17 2 29 4
TOTAL 35 3 5 5 2 2 3 3 58 0 70 1 0 0 3 1 3 2 1 11 92 4 27 8 2 5 12 17 2 30 4
BARRA DO CORDA
CAXIAS
CHAPADINHA
CODÓ
IMPERATRIZ
ITAPECURU MIRIM
PEDREIRAS
SÃO FELIX DE BALSAS SÃO PEDRO DOS CRENTES S. RAIMUNDO MANGABEIRAS TASSO FRAGOSO Total: ARAME BARRA DO CORDA FERNANDO FALCÃO GRAJAU ITAIPAVA DO GRAJAU JENIPAPO DOS VIEIRAS SITIO NOVO TUNTUM Total: AFONSO CUNHA ALDEIAS ALTAS CAXIAS COELHO NETO DUQUE BACELAR SAO JOAO DO SOTER Total: AGUA DOCE DO MARANHÃO ANAPURUS ARAIOSES BREJO BURITI CHAPADINHA MAGALHAES DE ALMEIDA MATA ROMA MILAGRE DO MARANHÃO PAULINO NEVES SANTA QUITERIA DO MA SANTA DO MARANHÃO SÃO BERNADO TUTOIA Total: ALTO ALEGRE DO MA CODO COROATA PERITORO SAO MATEUS DO MARANHAO TIMBIRAS Total: AMARANTE DO MARANHAO BURITIRAMA CAMPESTRE DO MARANHAO DAVINOPOLIS ESTREITO GOV. EDISON LOBAO IMPERATRIZ JOAO LISBOA LAGEADO NOVO MONTES ALTOS PORTO FRANCO RIBAMAR FIQUENE SAO JOAO DO PARAISO SENADOR LA ROCQUE Total: ANAJATUBA BELAGUA CANTANHEDE ITAPECURU MIRIM MATÕES DO NORTE MIRNDA DO NORTE NINA RODRIGUES PIRAPEMAS PRESIDENTE VARGAS S. BENEDITO DO RIO PRETO URBANO SANTOS VARGEM GRANDE Total: BERNARDO DO MEARIM ESPERANTINOPOLIS IGARAPE GRANDE
0 0 0 2 8 0 4 0 1 1 0 0 1 7 0 3 14 2 1 1 21 0 0 0 0 0 3 1 1 0 0 0 0 0 1 6 1 8 2 2 2 1 16 1 0 2 1 3 2 19 1 0 1 1 0 1 1 33 2 1 0 2 0 0 1 1 0 0 1 1 9 0 1 1
3 2 14 4 128 4 35 4 10 3 1 5 4 75 1 0 23 3 0 0 27 7 11 7 2 9 18 13 6 1 6 11 1 17 6 115 3 5 10 2 7 7 43 3 1 0 0 4 1 34 1 0 0 3 0 0 2 49 6 2 4 31 2 4 13 7 9 4 12 17 111 1 7 7
3 2 14 6 136 4 39 4 11 4 1 5 5 82 1 3 37 5 1 1 48 7 11 7 2 9 21 14 7 1 6 11 1 17 7 121 4 13 12 4 9 8 59 4 1 2 1 7 3 53 2 0 1 4 0 1 3 82 8 3 4 33 2 4 14 8 9 4 13 18 120 1 8 8
PINHEIRO
PRESIDENTE DUTRA
ROSÁRIO
SANTA INÊS
SÃO JOÃO DOS PATOS
LAGO DA PEDRA LAGO DO JUNCO LAGO DOS RODRIGUES LAGOA GRANDE DO MA LIMA CAMPOS PEDREIRAS POCAO DE PEDRAS SÃO RAIMUNDO DO DOCA BEZERRA SÃO ROBERTO TRIZIEDELA DO VALE Total: APICUM-AÇÚ BACURI BEQUIMAO CEDRAL CENTRAL DO MARANHÃO CURURUPU GUIMARÃES MIRINZAL PEDRO DO ROSARIO PERI MIRIM PINHEIRO PORTO RICO DO MARANHÃO PRESIDENTE SARNEY SANTA HELENA SERRANO DO MARANHAO TURIAÇU TURILANDIA Total: CAPINZAL DO NORTE DOM PEDRO FORTUNA GONÇALVES DIAS GOVERNADOR ARCHER GOV. EUGENIO BARROS GOV. LUIS ROCHA GRAÇA ARANHA JOSELANDIA PRESIDENTE DUTRA S. FILOMENA DO MARANHÃO SANTO ANTONIO DOS LOPES S. DOMINGOS DO MA S. JOSÉ DOS BASILIOS SEM. ALEXANDRE COSTA Total: AXIXA BACABEIRA BARREIRINHAS CACHOEIRA GRANDE HUMBERTO DE CAMPOS ICATU MORROS PRESIDENTE JUSCELINO PRIMEIRA CRUZ ROSARIO SANTA RITA S. AMARO DO MA Total: ALTO ALEGRE DO PINDARÉ BELA VISTA DO MARANHAO BOM JARDIM IGARAPÉ DO MEIO MONCAO PINDARE MIRIM PIO XII SANTA INES SANTA LUZIA SÃO JOÃO DO CARU SATUBINHA TUFILANDIA Total: BENEDITO LEITE BURITI BRAVO COLINAS
3 1 0 0 2 0 1 0 0 0 9 0 1 1 0 0 1 0 0 0 2 3 0 0 2 1 0 0 11 1 2 0 0 0 0 0 0 1 3 0 1 0 0 0 8 2 1 3 1 2 2 2 1 0 4 2 0 20 0 1 1 0 1 2 2 4 0 0 0 1 12 1 0 1
13 7 5 0 8 11 4 0 0 2 65 5 5 2 5 0 19 16 14 0 6 22 6 2 9 1 5 5 122 4 15 13 17 8 9 5 2 8 43 3 11 12 0 14 164 1 1 13 3 3 8 9 4 3 23 13 2 83 6 3 7 2 6 21 3 14 26 3 0 5 96 3 11 23
16 8 5 0 10 11 5 0 0 2 74 5 6 3 5 0 20 16 14 0 8 25 6 2 11 2 5 5 133 5 17 13 17 8 9 5 2 9 46 3 12 12 0 14 172 3 2 16 4 6 10 11 5 3 27 15 2 103 6 4 8 2 7 23 5 18 26 3 0 6 108 4 11 24
SÃO LUÍS
TIMON
VIANA
ZÉ DOCA
JATOBA MIRADOR NOVA IORQUE PARAIBANO PASSAGEM FRANCA PASTOS BONS S. DOMINGOS DO AZEITÃO SAO JOAO DOS PATOS SUCUPIRA DO NORTE SUCUPIRA DO RIACHÃO Total: ALCANTARA PACO DO LUMIAR RAPOSA SAO JOSE DE RIBAMAR SAO LUIS Total: BARAO DE GRAJAU LAGOA DO MATO MATOES PARNARAMA S. FRANCISCO DO MA TIMON Total: ARARI BACURITUBA CAJAPIO CAJARI MATINHA OLINDA NOVA DO MA PALMEIRANDIA PENALVA SAO BENTO SÃO JOÃO BATISTA SAO VICENTE FERRER VIANA VITORIA DO MEARIM Total: AMAPA DO MARANHÃO ARAGUANA BOA VISTA DO GURUPUI CANDIDO MENDES CARUTAPERA CENTRO DO GUILHERME CENTRO NOVO DO MA GODOFREDO VIANA GOV. NEWTON BELO GOV. NUNES FREIRE JUNCO DO MARANHÃO LUIS DOMINGUES MARACAÇUME MARANHÃOZINHO NOVA OLINDA DO MA PRESIDENTE MEDICI SANTA LUZIA DO PARUÁ ZE DOCA Total: Total:
0 1 1 0 0 1 0 2 0 0 7 1 13 1 16 156 187 4 1 2 3 1 24 35 2 0 0 0 1 2 0 1 1 0 2 2 3 14 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 3 FORMADOS 437
4 21 1 9 7 12 6 10 8 1 116 1 24 1 18 225 269 4 2 0 0 4 18 28 30 5 4 4 22 0 6 6 15 9 4 27 15 147 3 1 2 8 7 4 11 5 1 9 3 8 5 3 5 5 4 9 93 LEIGOS 1850
4 22 2 9 7 13 6 12 8 1 123 2 37 2 34 381 456 8 3 2 3 5 42 63 32 5 4 4 23 2 6 7 16 9 6 29 18 161 3 1 2 8 7 4 11 6 1 9 3 8 5 3 5 5 4 11 96 TOTAL 2287
Fonte: Censo Escolar SUPLE/SAE/SEDUC Nota : Um professor pode lecionar em mais de uma disciplina.
No sistema estadual de ensino – SEDUC – temos 2.287 professores atuando na área da educação física, sendo 1850 leigos!!! Na Grande São Luis apresenta-se o quadro seguinte: PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA REDE ESTADUAL – 2011 UNIDADE REGIONAL MUNICÍPIO ALCANTARA PACO DO LUMIAR SÃO LUÍS RAPOSA SAO JOSE DE RIBAMAR SAO LUIS
FORMADOS 1 13 1 16 156
LEIGOS 1 24 1 18 225
TOTAL 2 37 2 34 381
Total:
187
269
456
Já a Secretaria de Estado do Esporte – SEDEL - tem como sua área de atuação, o esporte, em suas manifestações de educação, de lazer, e de rendimento como fenômeno social, e como elemento de transformação do Homem no mundo contemporâneo. Apresenta como função básica planejar, coordenar e executar a política estadual de desporto e lazer, bem como a administração e conservação das praças desportivas; promover, assessorar e defender, sob uma ótica educacional e comunitária, formas de produções esportivas de lazer e recreativas, a partir da realidade local, estimulando a incorporação de hábitos na população, visando à promoção da qualidade de acionais e internacionais, para consecução dos seus objetivos. Possuem em seu quadro 309 (trezentos e nove) servidores públicos com o seguinte perfil: SEDEL – QUADRO DE SERVIDORES LOTADOS FUNÇÃO
FORMAÇÃO MÉDIO (2º. Grau) 1 208 209 20 20 40
FUNDAMENTAL (1º. Grau)
DIRIGENTES 1 ADMINISTRATIVOS FUNÇÃO ADMINISTRATIVA TÉCNICO EM ESPORTES TÉCNICO EM LAZER FUNÇÃO TÉCNICA
35 35 0
TOTAL
35
SUPERIOR
TOTAL
3 5 8 17 17
4 248 252 37 20 57
25
309
249
Fonte: Secretaria de Estado de Esporte 2006 1. Servidores, do quadro ou não, que ocupam função de direção, em qualquer nível.
Dos servidores do quadro que ocupam Função de Educação Física/Esportes/Lazer – DIRIGENTES E TÉCNICOS - 19,7% do quadro funcional – temos: PERCENTUAL DE TÉCNICOS QUALIFICADOS Formação Nível Médio Nível Superior Fonte: Secretaria de Estado de Esporte 2006
Em relação ao total de servidores 12,9% 5,6%
Em relação ao quadro técnico 70,1% 29,9%
Somente 29,9% do quadro técnico das SEDEL possui qualificação profissional para o exercício da função. Os demais necessitam de se qualificar, para se adequar a legislação vigente. O setor de Esportes e Lazer dos municípios maranhenses é analisando pelos dados do IBGE, constantes na Pesquisa de Informações Básicas Municipais, do Perfil dos Municípios Brasileiros – Esporte 2003, disponibilizado em 2006. Encontramos que no Maranhão, a maioria dos dirigentes municipais da área do esporte e lazer tem escolaridade até o Ensino Médio (52,53%), enquanto 38,7% possuem nível superior, não se sabendo se na área profissional de educação física; o restante - 8,77% - não informou ou possui outra escolaridade. O que demonstra que a maioria dos dirigentes esportivos e de lazer não possuem qualificação para dirigir a área (TAB. 1): Tabela 1 - Municípios, total e por nível de instrução do titular do órgão gestor do esporte em 31.12, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação – 2003 Municípios Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Total Grandes Regiões e Unidades da Federação Maranhão Fonte: IBGE, 2006
Nível de instrução do titular do órgão gestor do esporte em 31.12 Ensino fundamental completo
Ensino fundamental incompleto
Ensino médio completo
Ensino médio incompleto
Ensino superior completo
Ensino superior incompleto
Especialização e aperfeiçoamento
Pósgraduação
Outra (1)
5 557
134
279
198
1 460
520
1 523
114
473
856
217
7
19
4
84
25
51
1
7
19
Total
Já a TAB.2 se refere ao pessoal ocupado das Prefeituras na área de Esportes e de Lazer. A grande maioria dos municípios maranhenses tem de um a 10 funcionários - 78,34% - lotados no setor. Tabela 2 - Municípios, total e por classes de pessoal ocupado da prefeitura na área de esporte em 31.12, Segundo classes de tamanho da população dos Municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Municípios
Total
Classes de pessoal ocupado da prefeitura na área de esporte em 31.12 De 1 a 10
Total Nordeste
De 11 a 20
De 21 a 30
De 31 a 40
Mais de 40
Não tem
Ignorado (1)
5 557
4 080
520
170
74
206
41
466
1 790
1 350
170
47
18
30
24
151
217
170
19
4
2
4
-
18
Maranhão
Fonte: IBGE, 2006
Dos 1654 servidores da área, 43,34% são estatutários; 23,5% são celestistas 15,4% são comissionados, enquanto 18,26% não têm vínculo empregatício com a Prefeitura (TAB. 3). Tabela 3 - Municípios, total e pessoal ocupado da prefeitura na área de esporte em 31.12, por regime de contratação, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Municípios Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Pessoal ocupado da prefeitura na área de esporte em 31.12 Regime de contratação
Total
Total Maranhão
Ignorado (1)
Total
Estatutário
Somente comissionado
Celetista
Sem vínculo
5 557
466
64 686
35 163
10 833
7 554
11 136
217
18
1 654
717
389
255
293
Fonte: IBGE, 2006
Quanto à qualificação desses Técnicos, apenas 38,12% são Professores e Profissionais graduados em Educação Física, enquanto 5,69% são graduados em outras áreas. O que significa que 61,88% dos servidores atuantes na área não têm habilitação nem qualificação para exercício da função (TAB. 5) Tabela 5 - Municípios, total e número de técnicos ocupados na prefeitura na área de esporte em 31.12, por manifestação do esporte, segundo classes de tamanho da população dos municípios Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Número de técnicos ocupados na prefeitura na área de esporte em 31.12, por manifestação do esporte
Municípios Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Total Total
Ignorado (1)
Total
Professores e profissionais graduados em educação física
Profissionais graduados em outras áreas
Profissionais não-graduados
Estagiários nãograduados
Total
5 557
449
41 394
23 193
2 677
12 880
2 644
Nordeste
1 790
144
8 319
3 278
487
4 350
204
217
16
1 036
395
59
578
4
Maranhão
Fonte: IBGE, 2006
Do total de municípios maranhenses, 96,31% não possui um Conselho Municipal de Esportes e de Lazer, conforme preconiza a Lei (TAB. 6). Tabela 6 - Municípios, total e com existência ou não de Conselho Municipal de Esporte e/ou outro Conselho Municipal que atue na área do esporte, por tipo de Conselho Municipal, segundo classes de tamanho da
população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Municípios Conselho Municipal de Esporte e/ou outro Conselho Municipal que atue na área do esporte Com existência, por tipo Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Direitos
Direitos
Total
da
Total Esporte
Criança e do
Direitos dos
Edu-
Idosos
cação
das Pes-
Assistência Social
Total
Outros Con-
doras de
selhos
exis-tência
Defi-
Adoles-cente
Maranhão
Sem
soas Porta-
ciência
5 557
3 032
658
1 513
409
2 007
1 294
168
460
2 525
217
104
8
62
14
71
48
2
17
113
Fonte: IBGE, 2006
Desses oito municípios, 75% realizam reuniões mensais de seus conselhos, enquanto para 12,5% essas reuniões são bimestrais e os restantes 12,5% são semestrais de acordo com dados do documento do IBGE (2006) (TAB 7). Ainda de acordo com aquele documento, 62,5% desses conselhos são deliberativos, enquanto 25% são fiscalizadores e 12,5 são consultivos; nenhum exerce a função normativa, de assessoramento, executiva, controladora, ou outra função (TAB. 8, IBGE, 2006). Esses Conselhos de Esportes e de Lazer pertencem à própria estrutura de uma Secretaria de Esportes e de Lazer ou outra estrutura gestora do esporte e de lazer (37,5%) ou está ligada ao Conselho da Criança e do Adolescente (37,5%). 25% desses conselhos, não se sabem a que órgão está ligado. (TAB. 9). Outro dado que chama a atenção, é o que se refere à existência de Ligas Esportivas de Lazer, ou outras entidades esportivas e de lazer: apenas 58,5% das Prefeituras têm conhecimento da existência de ligas esportivas regularmente constituídas e 42% tem conhecimento de outras entidades esportivas, com sede no município, e possui cadastro destas entidades, enquanto 7,37% têm conhecimento da existência, mas não às tem cadastrado, enquanto 45,6% não têm conhecimento da existência dessas entidades esportivas de lazer (TAB 10). Tabela 10 - Municípios, total e com conhecimento da prefeitura ou não da existência de ligas esportivas regularmente constituídas e de outras entidades esportivas, com sede no município, e por propriedade regularmente constituídas e de outras entidades esportivas, com sede no município, e por propriedade população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Municípios
Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Maranhão
Conhecimento da prefeitura ou não da existência de ligas e de outras entidades esportivas, com sede no município, e por propriedade do cadastro de outras entidades esportivas (1) Liga esportiva
Outras entidades esportivas
Total Tem conhecimento 217
127
Não tem conhecimento 90
Tem conhecimento e possui cadastro
Tem conhecimento e não possui cadastro
16
11
Tem conhecimento de que não existe sede no município 91
Não tem conhecimento 99
Fonte: IBGE, 2006
Quanto à existência de Lei Orgânica que trate do esporte e do lazer, e de outras leis municipais que regulamentem o esporte de lazer, apenas 37,4% informaram que em sua Lei Orgânica consta dispositivo que trate do esporte e do lazer, sendo que 50% desses municípios (10) possuem projetos esportivos de lazer, 30% possuem Fundo de Apoio ao Esporte e Lazer, 10% concedem alguma subvenção ao esporte de lazer (TAB 11). Tabela 11 - Municípios, total e com existência de Lei Orgânica que trate do esporte e de outras leis municipais que regulamentem o esporte em 31.12, por objeto regulamentado, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Classes de tamanho
Municípios
da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Existência de Lei Orgânica que trate do esporte e de outras leis municipais que regulamentem o esporte em 31.12 Objeto regulamentado Fundo de apoio ao esporte
Maranhão
Subvenções concedidas ao esporte
Bolsa atleta 3
Projetos esportivos
-
1
Outro (s) 5
1
Fonte: IBGE, 2006
Nas escolas municipais do estado do Maranhão, a existência de espaço para a prática de educação física e esportiva deixa muito a desejar, pois existem nestas apenas 10 piscinas, 28 quadras cobertas, 202 quadras descobertas. A piscina, a pista de atletismo, a quadra, coberta ou não, é a sala de aula do professor de educação física. Tabela 29 - Total de municípios, escolas públicas municipais, total e com instalações esportivas, e número de instalações esportivas existentes nas escolas em 31.12, por localização e tipo, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Escolas públicas municipais Número de instalações esportivas existentes nas escolas em 31.12, por localização e tipo
Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação
Urbana Quadra coberta
Piscina Maranhão
9
Rural Quadra nãocoberta
24
Quadra coberta
Piscina
156
1
Quadra nãocoberta 4
46
Fonte: IBGE, 2006
Outro dado importante se refere ao total de equipamento existentes nos diversos municípios segundo o tipo, conforme se observa nas TAB 31, 32, 33 Tabela 31 - Municípios, total e por tipo de equipamentos esportivos existentes em 31.12, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Classes de da população dos Grandes Regiões Unidades da Federação
tamanho municípios, e
Maranhão
Municípios Tipo de equipamentos esportivos existentes em 31.12 Total
Estádio de futebol
Ginásio
217
48
Complexo aquático
41
Complexo esportivo -
Autódromo -
Hipódromo e similar
Kartódromo -
-
-
Fonte: IBGE, 2006
Tabela 32 - Municípios, total e número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento e localização, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação Maranhão
Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12 Total de municípios
Tipo de equipamento e localização Ginásio Total
217
Estádio de futebol
Urbana 58
Rural 56
Total 2
Urbana 41
Rural 41
-
Fonte: IBGE, 2006
Tabela 33 - Municípios, total e número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento e condição de funcionamento, segundo classes de tamanho da população dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2003 Maranhão Fonte: IBGE, 2006
217
55
2
1
40
-
1
Com base nos dados acima descritos, temos que em média 13 pessoas encontravam-se ocupadas na atividade de esporte e de lazer nos municípios brasileiros, número médio que somente foi superado pelas 21 pessoas ocupadas na Região Sudeste. Já as demais regiões apresentavam uma média situada entre 8 e 11 pessoas, o
que demandaria entre 1736 e 2387 pessoas atuando nas prefeituras municipais, independente do tamanho de sua população. Nas condições de funcionamento das estruturas municipais ligadas aos esportes e ao lazer no Maranhão, há um déficit superior a 1000 técnicos, sem considerar se são qualificados ou não para a função de educação física – dados de 2003 consolidados pelo IBGE (2006).
DEPOIMENTO À CANHOTO RIBEIRO PARA SUA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SÃO LUIS-MA, 10 DE MAIO DE 2018 prestado em minha residência à Rua Titânia, 88 – Recanto Vinhais c- São Luis-Ma, através do correio eletrônico, ante a solicitação de depoimento sobre minha atuação na SEDEL, e projetos de que participei: Leopoldo Gil Dulcio Vaz, nascido em Curitiba-Pr, em 23/07/1952, filho de Loir Vaz e Rachel Dulcio Vaz; casado, com Delzuite Dantas Brito Vaz, e duas filhas naturais e uma adotiva, dois netos. Cheguei ao Maranhão em 1976, estabgelecendo-me na cidade de Imperatriz 1976/1979), quando me transferi para São Luis (1979, onde resido até hoje, com um breve intervalo, 1992-93, quando residi em Belo Horizonte, por conta do Mestrado). Licenciado em Educação Física pela então Escola de Educação Física e Desportos do Paraná – EEFDPr -, hoje, curso de educação física da UFPR; com especialização em Metodologia do Ensino, convenio UFPR/UFMA, FEI-Imperatriz, 1978; Especialização em Lazer e Recreação, UFMA, 1986; Mestrado em Ciência da Informação, UFMG, 1992/93; Doutorado, não concluído, com os créditos respectivos, no ISTPCUBA/Convenio CEFET-MA. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, desde 2008, cadeira 40, patroneada pior Dunshee de Abranches; membro fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL, desde 2012, cadeira 21, patroneada por Fran Paxeco -; pesquisador associado do Atlas do Esporte no Brasil (DaCosta, editor, 2005 – www.atlasesportebrasil.org.br); membro da diretoria do sitio Centro Esportivo Virtual – CEV, desde sua fundação, www.cev.org.br, onde administra várias comunidades: Atletismo, Capoeira, História); condutor da Tocha Olímpica em São Luis do Maranhão – indicado também para Imperatriz e Barreirinhas -, Olimpíadas Rio 2016. Foi professor de Educação Física no Campus Avançado da Universidade Federal do Paraná – ProjetoRondon, em Imperatriz, de 1976/1977, exercendo a função de assessor para a área de Educação (PROFIX); professor de educação física da Escola Santa Teresinha, Imperatriz 1976/1979; Professor de Educação Física, da Faculdade de Educação de Imperatriz-MA, Titular, 1977/1979, Cursos de Licenciatura Curta de Estudos Sociais; de Ciências; e de Letras; Professor de Educação Física do CEM Graça Aranha, Imperatriz-MA, 1977-1979; Professor de Educação Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Maranhão – IF-MA, ETFM/CEFET-MA, 1979 até aposentadoria, em 2008, onde exerceu várias funções: Coordenador de Ensino, Coordenador do Art. 7º; Assistente do Diretor de Relações Empresariais; Diretor de Pesquisa e Extensão; Chefe do Departamento de Ensino; Pró-reitor de Ensino; Professor Titular de Educação Física da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, antiga FESM, 1979/1989, Cursos de Engenharia, Medicina Veterinária e Agronomia; Professor Substituto da UEMA, Departamento de Educação Física, 2012/2013; Professor de Educação Física do CEM Liceu Maranhense – 1979/1989, à disposição do Plano de Governo João Castelo – 1979 -, depois Secretaria de Desportos e Lazer – SEDEL – 1979/1982, onde exerceu várias funções. Pesquisador, memorialista, autor de vários livros e capítulos de livros, alguns publicados, outros inéditos – 45 -; e 270 artigos publicados em revistas dedicadas e jornais, no Brasil e exterior; Editor da Revista Nova Atenas de Educação Tecnológica/CEFET-MA; Editor da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – número 27 a 43, formato eletrônico -; Editor da Revista da Academia Ludovicense de Letras, ALL EM REVISTA, eletrônica, desde 2013; Editor da “Revista do Léo”. Inicei minha carreira na área da Educação Física como técnico de Atletismo do Clube Duque de Caxias, em Curitiba-Pr; fiz parte da equipe, capitaneada por Ney Pacheco, que reativou a Federação Desportiva Paranaense, exercendo várias funções de direção, de árbitro, em diversos Departamentos: Atletismo, Ciclismo, Punhobol (Faustebol, hoje). Também atleta federado, de Atletismo e Punhobol. Quando me formei, em dezembro de 1975, recebi convite para participar da Equipe 49, do Projeto Rondon, já como professor, para a coordenação, junto com outros três colegas de turma – Marilena Mazzaro, Eliane Demio, Vera Casagrande, e outros acadêmicos de Educação Física, Medicina, Farmácia e Bioquímica -, para a realização da segunda Colônia de Férias – janeiro de 1979 -; o diretor do Campus Avançado ProjetoRondon era o professor de educação física Alberto Milléo Filho; vinha promovendo a educação física e o esporte escolar, na sua administração. Já havia realizado a I Olimpiada Colegial de Imperatriz – OCOI -, no ano de 1978. Seu mandato, na direção do Campus terminaria no final daquele ano de 1979, quando me convidou para permanecer em Imperatriz, e dar continuidade ao seu trabalho; fui contratado pelo Ministério do Interior, dentro de um programa de fixação de mão-de-obra, para atuar na assessoria de educação, no Projeto Rondon. Contrato de um ano; Retornei à Curitiba, ao termino da Colonia de Férias; pensei na proposta – renunciei à ida para a Alemanha fazer um Mestrado em Educação Física – área de treinamento esportivo – Atletismo -, e aceitei o contrato em Imperatriz. Retornei à cidade em março de 1976... em maio, já contrato assinado, comecei meu trabalho junto ao Campus Avançado, acompanhando, por um ano, todas as equipes, de várias áreas, que ali se apresentaram; paralelamente, trabalhava na implantação da Educação Física. Foi criado uma Divisão de Educação Física, Recreação e Jogos, por onde fui contratado, pela Prefeitura Municipal de Imperatriz, função que exerci até novembro de 1977; contrato como professor de educação física da Escola Santa Teresinha, de maio de 1976 a janeiro de 1979; fui contratado como professor da Faculdade de Educação, e participei do reconhecimento de seus cursos, onde era professor; daí ter feito a Especialização em Metodologia do Ensino Superior, embora já, áquela época, numa primeira fase, já tivera o currículo aprovado pelo MEC para lecionar no ensino superior; mesmo assim, fiz a especialização... No Projeto Rondon e em parceria com a prefeitura Municipal de Imperatriz/SEDUC/CEFIJ promovi a II OCOI – como coordenador, árbitro e técnico das equipes do Santa Teresinha, sagrando-me campeão em todas as modalidades em disputa -, o mesm acontecendo nos anos seguintes. Promovemos um Curso de Formação de Instrutores de Educação Física e Esportes, com 100 (cem) pessoas matriculadas! Com duração de um ano, certificado pelo Projeto Rondon e PMI, e a sua segunda etapa, pela SEDUC-MA/DEFID – 1976/1977; Introduzi várias modalidades esportivas nas escolas – esporte escolar – como Handebol, Basquetebol, Atletismo, Natação, Ciclismo... Quando cheguei à Imperatriz, a Educação Física se resumia a umas poucas escolas, particulares, à escola estadual, e uma ou duas escolas municipais; e se limitava a Futebol de Areia e Futebol de Salão, para os meninos, e Voleibol, para as meninas, e só. Quando profesor da FEI, muitos alunos dos cursos de licenciatura curta de Estudos Sociais, Ciências, e Letras, que haviam participado da OCOI e das Colonias de Férias e se identificavam com a Educação Física, passaram a serem preparados para assumir a disciplina, nas escolas em que já atuavam, e pelo menos uns 10 alunos foram atuar como professores de educação física; a mesma coisa, com alguns alunos de educação física curricular do Graça Aranha, nos dois anos em que atuei naquela escola.
Fui responsável pela implantação da educação física em toda a rede municipal de ensino, de Imperatriz; podemos acrescentar Açailandia, então povoado de Imperatriz, hoje município independente, assim como São Pedro da Agua Branca, Cidelandia; e a cidade de João Lisboa. Em Imperatriz, ainda, elaborei o Projeto de construção do Centro Esportivo Barjona Lobão... No final de 1978, João Castelo já indicado Governador do Maranhão, em substituição de Nunes freire, tomei conhecimento da implantação de uma secretaria dedicada aos desportos e ao lazer – que seria a SEDEL. Sem perspectivas em Imperatriz, pois pretendia continuar os estudos – fazia a Faculdade de Direito em Curitiba -, e minha mulher dar continuidade aos estudos, com a licenciatura plena, resolvemos mudar-nos para São Luis. Consegui, junto com um amigo, Canavieira, que intercedesse junto ao então presidente da CEMAR, Antonio Baima, nossa transferência para a capital. Canaveira havia me falado da criação da SEDEL, e que precisavam de pessoas com experiência, para definir o perfil na nova secretaria. Me interessei e ele, então, providenciou a transferência do Estado, do Graça Aranha para o Liceu Maranhense. Vim para São Luis em meados de janeiro de 1979, sendo levado até o Plano de Governo e apresentado ao industrial Elir de Jesus Gomes, que coordenava o grupo, e futuro secretário de estado; já conhecia Laércio Elias Pereira, e Miranda Gafanhoto, Paulo e Carlos Tinoco, Marcos Gonçalves, e vim conhecer Fátima Frota, Dulce, e outras pessoas, que também atuavam na constituição da SEDEL. Integrei-me à equipe, sendo colocado à disposição, não atuando no Liceu Maranhense. Quero destacar que, quando me apresentei na SEDUC, e fui levado ao Liceu para iniciar minhas atividades, fui apresentado a uma professora, não recordo o nome, de educação física; e fiquei sabendo que, a maioria dos professores que atuavam na área, eram professores de outras disciplinas, que não agüentavam mais a sala de aula e, para não serem dispensados, eram realocados no departamento de educação física; alguns alunos assumiam as aulas de treinamento esportivo, Cito o Luis Rei de França Martins, que dava aulas de Atletismo... aquela professora que me recebeu, era de geografia... imagina minha decepção... Fui à disposição para o Plano de Governo e participei da definição do que seria aquela nova Secretaria de Estado, pioneira do Brasil... Lá permaneci até o final de 1982, quando retornei para a Secretaria de Educação, na assessoria do Secretário – permanecendo até 1985, quando solicitei exoneração... permaneci na UEMA, onde dei aulas por um tempo, de Atletismo, e depois fui também colocado à disposição da SEDEL, até 85, e segui até 1989, como professor titular. Minha História de Vida em Imperatriz está registrada em um livro de Edelvira Marques, Historiadora da cidade, em sua ultima obra; de Edmilson Sanches, na Enciclopedia de Imperatriz, De Charles Ferreira, sobre a educação física e esportes em Imperatriz, além de três ou quatro monografias de graduação em História e, agora, Educação Física, além de minhas memórias e de meus alunos, em sítios na Internet, redes sociais, sempre lembrados... Na SEDEL, comecei como técnico, lotado da Coordenação de Esportes – Mirandão Gafanhoto era o Coordenador; Paulo Tinoco de uma das secções, Carlos de outra; inúmeros ex-atletas estavam ali lotados; Laércio era assessor, junto com outras oito pessoas... Definida a estrutura, Desportos e Lazer – Fátima Frota era a coordenadora de Lazer, com uma equipe nos mesmos moldes -; eu, um dos poucos com curso superior de educação física, participava das reuniões de ambas as coordenações. Claro que quase tudo se voltava, naquela época, para os Jogos Escolares... Instalada a Secretaria no mês de maio de 1979, fomos todos para o Costa Rodrigues... Naquela época, a Federação Maranhense de Desportos – eclética -, estava quase que só voltada para o futebol; poucas iniciativas nas outras modalidades, praticamente só o esporte escolar, pela SEDUC e depois, SEDEL. O quadro de professores de educação física da Secretaria de Educação então foi toda ela transferida para a SEDEL, atuando nas escolas, como técnicos esportivos!!! Visando única e exclusivamente a seleção de alunos-atletas para os jogos escolares. Menos eu! Não aceitei a transferência para a SEDEL, permanecendo à disposição... O Secretário de Esportes era também o responsável pelo CND no estado; a nova legislação do esporte previa a descentralização, isto é, a criação de federações especializadas; meu primeiro projeto – até depois de sair da SEDEL – foi a criação das federações esportivas, ficando a então FMD transformada em FMF; tínhamos apenas as federações de Basquetebol criada – fora criada ainda na década de 1950, por Ronald de Carvalho, e estava há muitos anos na mão de Geografia; a federação de Handebol, fundada pelo Laércio, e a federação
de Volei. Todas irregulares. Minha primeira missão, adaptar seus estatutos e aprova-los junto ao CRD; a seguir, fundar as demais federações: Atletismo, Desportos Aquáticos, Ciclismo, Tênis de Mesa, Judô, Ginástica Olimpica... nem lembro quantas mais... mas foram mais de oito... Acontece que, além de ridigir o estatuto, ainda fazia a convocação para a fundação e eleição; participava de todas, pois tinha procuração do MAC e do TUPAN, e Paulo, Carlos, de outros clubes, como Casino, Jaguarema, Ferroviário... e juntavamo-nos, e fazíamos as atas, muitas das vezes na própria SEDEL (Costa Rodrigues) ou no Liceu Maranhense... se você for verificar, vai me encontrar nessas assembléias de várias federações... sempre como secretário da mesa, e eleitor... Depois, já na Praia Grande, na sede do IPES, e depois na rua de São João, começamos a dar trato à outras atividades, em especial ao Lazer da população. Então passei para a assessorar a Assessoria, junto com a Socorro, no lazer, e passamos ao planejamento de ambas as coordenações. Criamos um projeto “SOL” – Serviço de Orientação para o Lazer, que deveria ocorrer nas praias; fizemos a adaptação de diversas modalidades – Handebol e Basquete, o Volei já era praticado, o Futebol de Praia já existia... e aulas de Ginástica Geral – a aeróbica estava no auge... deveriam ocorrer em três paias – Calhau, Olho d´Água e Araçacy, com o patrrocinio da Coca-Cola, Antarctica e Mirante... fizemos uns dois ou tres eventos, nas férias escolares, e deveria, após o piloto, ocorrer todo final de semana, em acordo com a maré, além de atividades recreativas, voltadas para as crianças... para nossa surpresa, muito corpo mole por parte dos profesosores e técnicos, em participar dos eventos e, de repente, aparece como um projeto da MIRANTE, tendo à frente um dos assessores da SEDEL, que ‘vendera’ o projeto, junto com todos os patrocinadores que havíamos conseguido... privatizou... e esses mesmos professores que não queriam atuar pela SEDEL, posto que funcionários, até trabalhavam de graça para a Mirante... eUma situação, hoje, ridícula: fomos à Difusora, para anúncios do projeto, que iria iniciar, quando fomos surpreendidos pela chamada: “É VENTO E SOL”... quando no realeese que mandamos estava: “Evento: ‘SOL’ – Serviço de orientação para o Lazer”... Creio que esses foram os dois grandes projetos. Dar uma filosofia de atuação, já que além de mim, apenas o Laércio era formado em Educação Física, da equipe que atuava àquela época, e criação de eventos. O esporte escolar, já existia, naqueles moldes que vinham desde os tempos de Cláudio Vaz, o Alemão, e foi apenas aperfeiçoado, expandido, com a atuação das federações que foram criadas. E o ultimo grande projeto, e que me fez sair da SEDEL, por discodar e bater de frente como Coordenador geral, dr. Olimpio Guimarães... o Complexo Social e Esportivo de São Luis, no Barreto... Fui chamado ao gabinete do Secretário, Elir de Jesus Gomes, e disse-me que o acompanhasse, mas o que iria ver era ainda segredo, portanto não deveria comentar com ninguém; tal era a confiança em meu trabalho!!! Fui então levado à SEEBLA, uma firma de engenharia de Minas Gerais, localizada atrás do Casino Maranhense... e lá fui ‘apresentado’ à uma maquete de um Estádio de Futebol!!! E ao engenheiro responsável. Depois das explicações, a missão: arranje onde construir!!! Derrubar o Nhozinho nem pensar, mesmo que não cabe naquele espaço. Localize uma área... então, num dia, no Gabinete, Nan Souza, à época deputado estadual e assessorava no Parlamento a SEDEL, falou de uma área, cedido à Prefeitura Municipal, em comodato, e que não havia sido utilizada e já perdera a validade... então lá fomos nós, o Secretário, o Deputado, e eu, conversar com o Prefeito – Roberto Macieira – ou era o Fecury, já? Muita resistência, Nan correu à Assembléia e cancelou o comodato com a Prefeitura, por não cumprimento do prazo e dispúnhamos daquela área. Com meus alunos de Atletismo – o Parga à frente, e o Zé Maria – fizemos um levantamento planiautimetrico inicial, num domingo. Voltamos à SEEBLA, com esse documento preliminar, e vimos que comportaria. Disse ao Engenheiro da encosta, do buraco, dos barrancos... orçamento preliminar, já disponível, de U$ 2.300 (dois milhões e trezentos mil dólares) para os serviços de terraplanagem de uma área... Sugeri ao Engenheiro ir ao Paraná, no norte do estado, em Paranavai, e ver como utilizavam encostas para a construção de praças esportivas; mostrei a ele dois livros que tinha, o do Lindeberg, sobre construções esportivas, e u m manual alemão, traduzido para o espanhol, também de construções esportivas... Um mês depois, estava de volta, e com a certeza formada de que seria possível construir o estádio, utilizando a encosta, para as arquibancadas e a terra retirada, seria para a terraplanagem... uma economia enorme.
Refez o projeto todo, e viu-se que daria para o construir todo – só o arco da encosta, a parte de concreto do ‘lado de cá’ não seria naquele momento... e ainda haveria uma sobra!!! Dai o Ginásio Coberto, a Piscina... Surgia o Complexo – nome dado por mim!!! – e assim foi feito. O MEC/DEFER/INDESP quis participar, mais dinheiro vindo, para colocar o nome na Placa; ante a idéia e pressão para um Kartódromo, disse que antes uma Pista de Atletismo – ganhei!!! Fiz o Projeto, com o auxilio da então CBAt – Hélio Babo e Osvaldo Gonçalves, e auxilio de Ary façanha de Sá, em Brasília... e voilá... Eu era o fiscal oficial da obra, no que dizia respeito à parte técnica de traçado de instalações esportivas... As vezes recebia ligação do dr. Elir – “Gordinho, dentro de meia hora passo ai; o Governador quer ver a construção da obra...” e lá íamos nós, meia-noite, uma da manhã, verificar a construção, eu ao lado do Secretário, para dar alguma explicação técnica, de porque assim, assado, e não de outro jeito... foram meses nessa faina, semanal, e lá ficava Castelo e toda a sua equipe, por horas, sentados, conversando, vendo os operários trabalharem madrugada à dentro... Até entrar de frente com o dr. Olimpio!!! Então pedi para sair, e ser devolvido para a SEDUC, onde fui para a Assessoria, cuidar dos projetos de educação física e esportiva; apenas dois meses... continuava a elaborar os projetos da SEDEL, para o MEC/INDESP/DED, e agora, os da SEDUC, harmonizando as duas áreas... O Projeto do Parque Esporte para Todos – o do parque do Bom Menino, também foi meu; a concepção foi toda minha; naquela época era conhecido mais como ‘parque de fazer menino’... fui à Brasilia, o dinheiro fora recusado por São Paulo, que o achou pouco, e a Eliana Caran, amiga de Laércio, ofereceu ao Maranhão, que não havia sido contemplado... Fomos ao Palácio, o Governador autorizou, e a Prfeitura, expusemos ao Prefeito, e lá fui eu, com vários papéis timbrados, assinados em branco, pelo Governador e pelo Prefeito... a Eliana Caran ao lado, orientando, e eu, numa máquina eletrônica, escrevendo... precisa de um documento do Estado... eu batia, pois tinha já assinado; precisa de uma declaração de posse do terreno: eu batia, a declaração, assinada previamente... e assim foi, não so no do Parque do Bom Menino, mas das Praças de Esportes, como a do Sá Vale, do Renascença, da Alemanha, do Recanto Vinhais, e outras... Levava e montava os projetos lá... os papeis do estado e município, timbrados, alguns assinados e em branco, para as declarações necessárias, e na volta, devolvia-os para o Chefe da Casa Militar, Cel. Jedeão... de quem os recebia... já bastava ligar a ele, dizer do que se tratava, buscar os papeis, a passagem e ir a Brasilia pela manhã, e retorna à noite... bons tempos... formávamos uma boa equipe; Elir e sua esposa, Zezé, até hoje têm muita consideração para comigo, me tratam e chamam de filho, eu que sou ingrato... Paralelamente à SEDEL, havia o Comitê Maranhão-Pensilvânia ocidental, dos Companheiros das Américas, de que Elir, e depois Zezé, e após Eloi Melônio, a Terezinha Ricarte, e uma médica – não recordo o nome -, e por fim, Jean Camarão, quando foi desativado... Eu secretariei o Comitê por 15 anos... e fui responsável pela Comissão de Esportes, junto com o Luis Alberto Costa Rodrigues; fizemos vários projetos de esportes, Clínicas de Esportes, sempre levando técnicos de futebol para os Estados Unidos, Sandor foi um deles, e alguns atletas de futebol oriundos dos JEMs,, com bolsa de estudo em escolas americanas. Trouxemos uma técnica em Aeróbica, parceira de Jane Fonda à época; creio que foi uma das primeiras clinicas/cursos de aeróbica dado no Maranhão... Ao mesmo tempo, em parceria com a SEDEL, CRD/CND e Prefeituras, o curso de educação física, técnico, da ETFM... e o curso sequencia de educação física, com a UEMA, de autoria do José Nilson, e da qual participei desde a concepção, na elaboração do projeto... Os projetos da ETFM em Itapecuru-Mirim, em Santa Luzia, em Barreirinhas... Leopoldo
ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.
“RES PRO PERSONA” 67: MAIS UMA NOTA SOBRE A CAPOEIRA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Universidade Estadual do Maranhão
O que é ‘capoeira’?68 Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro foi considerada: “Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta”; é: Expressão brasileira surgida nos guetos negros há mais de um século como forma de protesto às injustiças sociais, arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta, a capoeira foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. A decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foi concretizada terça-feira (15) [de julho de 2008] no Palácio Rio Branco, em Salvador (BA).69. Vernaculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu Amaral: ‘‘Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 70 Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968): 67
Por metonímia res pro persona, o nome da coisa passou para a pessoa com ela relacionada. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; LACÉ LOPES, André Luis; RIBEIRO, Milton César. ATLAS DA CAPOEIRA(GEM) NO BRASIL. Pesquisa em construção (Inédito). LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS ÀS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra-Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008 69 Capoeira é registrada como patrimônio imaterial brasileiro - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 70 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 68
“[...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, apud Rego, 1968, citados por Mano Lima – Dicionário de Capoeira; Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79).
DEBRET – 1816/1831 http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=brasil&theRecord=71&recordCount =77 Por Capoeira deve-se entender “indivíduo (s) ou grupos de indivíduos que promoviam acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno”? (p. 65), conforme a conceitua Araújo (1997) 71, ao se perguntar “mas quem são os capoeiras?“; e por “capoeiragem” como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando a Decisão (205) de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores).
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ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias.
Outra questão é: quando surgiu? No entender de muitos capoeiristas, quando o primeiro escravo angolano pisou a Terra de Santa Cruz (hoje, Brasil), já o teria feito no passo da ginga e no ritmo de São Bento Grande: “numa noite escura qualquer, o primeiro negro escapou da senzala, fugiu do engenho, livrou-se da servidão, ganhou a liberdade... escapou o segundo e o terceiro, na tentativa de segui-lo, fracassou. Recapturado, recebeu o castigo dos negros (...) as perseguições não tardaram e o sertão se encheu de capitães-do-mato em busca dos escravos foragidos. Sem armas e sem munições, os negros voltaram a ser guerreiros utilizando aquele esporte nascido nas noites sujas das senzalas, e o esporte que era disfarçado em dança se transformou em luta, a luta dos homens da capoeira. ’A capoeira assim foi criada’. (Jornal da Capoeira, n. 1, 1996)”. (VIEIRA E ASSUNÇÃO, 1998, p. 83)72. Durante as invasões holandesas - SÉCULO XVII, 1640 - surgem as expressões: ‘negros das capoeiras’, ‘negros capoeiras’, e ‘capoeiras’. (Vieira, 2004, 2005) 73. Com o advento das invasões holandesas, na Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640, houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo-se em centenas de quilombos, tendo como consequência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. (Vieira, 2005) 74. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (Vieira, 2005) 75. Segundo Coelho (1997, p. 5)76 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem linguística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5)77. Mas por que essas dúvidas? Marcos Carneiro de Mendonça78, em “A Amazônia na era Pombalina”, traz-nos carta de Mendonça Furtado79 a seu irmão, o Marques de Pombal – datada de 13 de junho de 1757 -, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte 72
VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 73 VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 74 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 75 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 76 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997 77 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997 78 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazonia na era pombalina. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 79 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado
das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: “[...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...]” (p. 300).(grifos do texto). Para Vieira (2004)80: “[...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.”
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VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/.
LIVRO-ÁLBUM
MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO
Mestre PATURI (1962)
ANTONIO ALBERTO CARVALHO 1946 MESTRE ESTILO
DADOS
PATURI CAPOEIRA MISTA Capoeiragem Tradicional Maranhense ANTONIO ALBERTO CARVALHO São Luis – MA, 09 de novembro de 1946 Rua 04 Quadra 08 Casa 08 Av.Contorno Vila Embratel Filho de Antonio Carvalho e Isabel Silva Formação escolar: primário Mestre em 06 de Setembro de 1996 Manuelito Sapo Alô
MESTRE(s)
GRUPO/NÚCLEO Associação Comunitária de Apoio a Capoeira (1979)
HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Comecei no Judo e Luta Livre em 1962 e Logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. Passei um Período treinando com SAPO, no Ginásio Costa Rodrigues, e depois no Alberto Pinheiro . Depois passei a treinar direto com ALÔ na 28, mais precisamente na CASA E BAR DO DEZICO. Meus primeiros alunos foram CURADOR, ADALBERTO, ZÉ RAIMUNDO, Meu Irmão JOÃO BICUDO, BAÉ, RAMOS, CARRAL e ROLA. Dei Aulas na Encruzilhada da UFMA, Bairro de Fátima, Areinha, Centro de Esportes que depois passou a se chamar Vila Embratel, Igreja do Bairro de Fátima, São Bernardo e voltei novamente para Vila Embratel. CRIEI A ASSOCIAÇÃO COMUNITARIA GRUPO DE APOIO A CAPOEIRA Em 1979 Começando o processo de registro so em 1983. Me formei Mestre em 06 de Setembro de 1996 pela FMC- FEDERAÇÃO MARANHENSE DE CAPOEIRA, Mas Tenho como MEUS MESTRES; MANOELITO , SAPO E ALÕ . CAPOEIRÁ É: Para mim CAPOEIRA É DANÇA,JOGO,LUTA E DIVERSÃO .
Mestre TIL (1968)
GENTIL ALVES CARVALHO 1955 MESTRE ESTILO
DADOS PESSOAIS
TIL CAPOEIRA MARANHENSE ENSINADA PELO MESTRE RIBALDO BRANCO
Capoeiragem Tradicional Maranhense GENTIL ALVES CARVALHO Coroatá, 21 de outubro de 1955 Filiação: Jose Alves carvalho e Zilda Tiburcia Carvalho 2º Grau – UNIT – UFMA 2000 – Ribaldo Branco Ribaldo Branco
MESTRE
GRUPO/NUCLEO Associação Maragnon de Capoeira
QUAL O SEU ESTILO?
CAPOEIRA MARANHENSE ENSINADA PELO MESTRE RIBALDO BRANCO ; NÃO SOU ANGOLA E NEM REGIONAL; SOU CAPOEIRA, JOGO EM CIMA E EM BAIXO AO MESMO TEMPO, QUANDO PRECISO, ACOMPANHO A GINGA DO JOGO, DEIXO ME LEVAR, ME TRANSFORMO CHEGANDO A ME EMOCIONAR COM O ESPÍRITO DA COPEIRA COISA MAIS LINDA NÃO HÁ. EU MESTRE TIL APRENDE A CAPOEIRA EM MEADO DOS ANOS DE (1968) C0M MEU IRMÃO RIBALDO BRANCO, HOJE MESTRE RIBALDO, QUE TREINAVA COM MESTRE SAPO. NESSE PERIODO, RIBALDO E HOSEMIR FORAM FAZER INSCRIÇÃO PARA ESCOLINHA DE FUTEBOL NO GINÁSIO COSTA RODRIGUES; ENCONTRARAM E CONHECERAM O MESTRE SAPO FAZENDO UMA DEMOSTRAÇÃO DE CAPOEIRA E TOQUE DE BIRIMBAL, RIBALDO E SEU AMIGO SE ENCANTARAM PELA CAPOEIRA. AO CHEGAR EM CASA, ME DISSE, COM MUITO ENTUSIASMO, QUE TINHA FEITO SUA INSCRIÇÃO NA CAPOEIRA; E IRIA ME ENSINAR TUDO QUE APRENDESSE LÁ; E ASSIM O FEZ, ME PASSANDO TODOS OS CONHECIMENTOS; ERA A FORMA DE TREINAR O QUE APRENDIA E DE ME ENSINAR, ONDE FICAVAMOS ATE A MADRUGADA TREINANDO NA LUZ DA LAMPIÃO E TOMAVAMOS AGUA DE ACÚÇAR PARA REPOR AS ENERGIAS. E ASSIM INICIOU-SE EM NOSSO QUINTAL, AOS DOMINGOS, QUIZENALMENTE, RODA DE CAPOEIRA AO SOM DE LP DO MESTRE PASTINHA. AS RODAS ERAM COMPOSTAS POR: MIM, RIBALDO BRANCO, LUIS, MURILO, ALÔ, RIBALDO PRETO, LEOCÁDIO, GARFO DE PAU, SANSÃO, ZECA DIABO, MARTINS E SEU ALUNO (NÃO LEMBRO O NOME) FOI ASSIM QUE TUDO COMECOU EM MINHA VIDA ATÉ A DATA DE HOJE ONDE CONHECE MUITOS CAPOEIRA . PORÉM ALGUNS QUE FORAM DESTAQUE PRA MIM: MEU IDÓLO MESTRE RIBALDO BRANCO, DINIZ, GOLVEIA, BABALU, JESSER, RAIMUNDÃO, CARA DE ANJO.
O QUE É CAPOEIRA? É UMA LUTA, DANÇA, ESPORTE E LAZER, UM PRENDIZADO DE VIDA,NA QUAL DEVO MUITO ATÉ A PRÓPRIA VIDA. SOU FELIZ EM PRATICÁ-LA, POIS QUANDO ESTOU JOGANDO SINTO-ME REALIZADO E MUITO CHEIO DE EMOÇÕES.
Mestre ALBERTO EUZAMOR (1969)
ALBERTO PEREIRA ABREU 1962-2017
MESTRE ESTILO
DADOS PESSOAIS
ALBERTO EUZAMOR ANGOLA ALBERTO PEREIRA ABREU São Luis – Ma – 15 de janeiro de 1962 (faleceu em 11 julho de 2017 Filiação Euzébio Ramos de Abreu – Maria da Conceição Pereira Abreu 2º. Grau na Escola do Comércio Centro Caixeiral mestreuzamor@yahoo.com
Luciel Rio Branco (falecido em 1984) Mestre Sapo (falecido em 1972) Mestre Rui Pinto MESTRE(S)
NÚCLEO OU GRUPO
Centro de Artes Japiaçú – Associação Cultural de Capoeira Angola Ludovicence – ACCAL
HISTÓRIA DE VIDA Entrevista realizada por José Lindberg A. Melo Funcionário público estadual; Concluiu o 2º. Grau na Escola do Comércio Centro Caixeiral; Alberto – Mestre Euzamor recebeu esse título em função de sua irmã que era conhecida pelo seu segundo mestre Anselmo Barnabé Rodrigues – mestre Sapo (falecido em 1972 (SIC) em envolvimento de acidente automobilístico). Iniciou a capoeira aos 07 (sete) anos de idade na escolinha do Costa Rodrigues, antigo ITA (Instituto Tecnológico de Aprendizagem) depois passando a se chamar Meng, com seu primeiro mestre Luciel Rio Branco (falecido em 1984 vitima de homicídio), depois Mestre Sapo e por último o mestre e irmão Rui Pinto. Mestre Euzamor comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Distingue os tipos de capoeira como: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; Memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogado hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Explica o motivo que levou a esta escolha que foi origem, habitat, vindo do sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência cotidiana “Madre Deus”. Com 35 anos dedicado a capoeira, agora e em primeiro momento foi formado o 1º. Mestrando que será chamado futuramente de mestre Cacá (Cláudio Lúcio), não costuma adotar a regra contra-mestre, e sim mestrando. Além desse, formou quatro discípulos. Fala que não vê a Capoeira como coisa aleatória, mas como um todo. Obtém como fonte inspiradora seus mestres: Luciel e Rui, este último como modelo de transparência, lealdade e responsabilidade e fora da Capoeira seu ídolo é o Steve Segal. É viajado pelo mundo afora, onde esteve duas vezes na Itália e duas na França, pretendendo voltar. Entrevista realizada por Fábio Luiz B. Silva O primeiro momento da existência na capoeira foi aos sete anos de idade com seu primeiro mestre: Luciel Rio Branco Rosa, depois com Mestre Anselmo Barnabé Rodrigues, vulgo Sapo. E, por último com Mestre Rui Pinto. Ensino médio completo, funcionário público estadual; motivo de escolha foi o sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência do dia-a-dia, ou seja “Madre-Deus”; até o momento formou um mestrando chamado Cláudio Lúcio, vulgo “Cacá” , além de quatro discípulos, não relacionados. Experiência de 35 anos dedicados a capoeira; distingue a capoeira em Regional (Mestre Bimba), mistura com outras técnicas de outras lutas; a Regional é mais competitiva, mais para lutar, disputar. Enquanto que a Capoeira Angola (Mestre Pastinha), o objetivo principal é formar cidadãos no todo, melhorar a auto-estima, além de proporcionar resistência muscular, mantendo o corpo com a mesma performance. Ritual da capoeira Angola ou ritmo: Angola (que é aquecer); São Bento Pequeno (que é a fase de intermédio); e São Bento Grande (que é o momento da roda). O objetivo do mestre em capoeira é deixar fluir o que tem dentro do ser, a fim de que possa identificar-se com o que realmente está querendo. A capoeira já lhe levou 2 vezes a Itália e duas a França, pretendendo voltar. Tem maior inspiração pelo seu irmão de afinidade, o mestre Rui Pinto, devido servir-lhe de modelo na transparência e responsabilidade.
Mestre RUI (1970)
RUI PINTO 1960 MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS
RUI CAPOEIRA MARANHENSE Capoeiragem Tradicional Maranhense Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, nos reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão.Filho do mecânico de maquinas pesadas João Batista das Chagas, e a tecelã
Maria de Jesus Vieira Pinto, Residente da Rua Santo Expedito nº 29, Coreia de Cima. Escolaridade: 2º Grau, Curso de Análises Químicas no Liceu Maranhense.
MESTRE
Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues).
GRUPO/NÚCLEO BIOGRAFIA DA MINHA VIDA NA CAPOEIRA Eu, Rui Pinto, nascido em 08 de Janeiro de 1960, São Luis – MA, filho do mecânico de maquinas pesadas João Batista das Chagas, e a tecelã Maria de Jesus Vieira Pinto, residente da Rua Santo Expedito nº 29, Coreia de Cima. Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, nos reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão. Mas esse treinamento durou pouco, pois nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula. No mesmo período já com 15anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados. As competições de capoeira chamadas de “A Grande Roda” só aconteciam em Salvador no mês de Dezembro de cada ano, e por falta de patrocínio poucos éramos os alunos que iam, pois os custos eram altos, a outra forma de ir era por conta própria, o que era muito difícil para alguns. Nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participamos de diversos campeonatos tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na igreja de nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos anos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do exército, grande capoeirista da época. Com a morte de Mestre Sapo em 1982, a capoeira sofreu uma grande perda, causando a dispersão de muitos capoeiristas que o tinham como mestre, enfraquecendo assim a capoeiragem (congregação dos capoeiras),
por um curto período de tempo. Até que movimentos começaram a ser criados renovando e incentivando a manutenção da capoeiragem, que, com esse incentivo fui em busca de mais informações em outros estados, como São Paulo, no DEF (Departamento de Educação Física - em Água Branca), e em União dos Palmares – Serra da Barrica – Alagoas, e dessa forma adquiri mais conhecimento. Hoje componho o Fórum Permanente dos Mestres de Capoeira, e faço parte do Curso de Capacitação de Mestres do Maranhão. Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. Mestre com formação além de Sapo eu não tive, treinávamos separado da academia com alunos normais, do mesmo nível de conhecimento, para quando chegarmos na academia estarmos mais aperfeiçoados. Com a morte de Mestre Sapo, demos continuidade ao trabalho dele; e fomos intitulado pela comunidade do movimento a Mestre. Fui reconhecido mestre por antiguidade, pelos trabalhos realizados como dos mais antigos. Não existiu uma data oficial de um lançamento para essa mestria, no meu caso como mais antigo. Pelos trabalhos realizados nas rodas, como comprometimento, altivez, compromisso, e liderança despertei destaque diante dos outros, que formalmente passaram a me intitular. O que é capoeira? Para mim, a definição mais que pessoal é de um esporte, que pode ser visto como lazer, ou um entretenimento, mas que vai além disso: é uma luta uma alegria um prazer. Minha forma de resistência, e manifestação da minha cultura perante a sociedade. É a exposição da minha raça diante dos povos, é a preservação de ritos antigos e perpetuados, é a graça e beleza dos atletas comprometidos com a única instituição importante para o momento, a cultura do legado.
Mestre SOCÓ (1971)
EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA 1961 MESTRE ESTILO
DADOS PESSOAIS
MESTRE(S) NÚCLEO OU GRUPO
SOCÓ Capoeiragem Capoeiragem Tradicional Maranhense EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA 03 de setembro de 1961 Filiação: Antônio Teixeirae Altamira Brito de Araújo Teixeira casado com Ruthlene Meireles Magalhaes Teixeira Escolaridade: 2º grau completo. Colégio Ateneu Teixeira Mendes Profissão: Mecânico 2000 - Reconhecido como contramestre pelo mestre Miguel Arcangelo em 25 de maio de 2000. 2002 certificado concedido pelo mesmo mestre Miguel Arcangelo Santos Loredo – título de Mestre Mestre Raimundão (Raimundo Aprígio) Mestre Miguel Arcangelo Santos Loredo Arte Fiel Capoeira
HISTÓRIA DE VIDA
Na capoeira sou conhecido como mestre “Socó”. Iniciei na pratica da capoeira em 1971, com mestre Raimundo Aprígio, no bairro Bom Milagre, no qual ele era aluno de mestre Gouvêia, que foi aluno de Roberval Cerejo. Treinávamos aos sábados e domingos. Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem (Angola nem regional), era conhecido com “Capoeiragem” Eram alunos: Miguel, “China”, Zé Mario, “Socó”, Beto, “Cabeca”, “Boi”, “Raspota”, Danclei, Messias, Batata, Nei, Roberval, Riba e muitos outros. Eu participava muito das rodas de capoeiras do mestre Diniz, no qual estavam: “Curador”, “Pelé”, “Didí”, “Cordão de Prata”, “Pesão’’, Miguel, “China”, D´paula, “Mimoso’’, Alberto, Rui, “Jacaré’’, Mariano,”Boi’’, Nei,” Faquinha’’, Ze Melo, ‘’Pato’’, ‘’Aló’’, Sebastião e muitos outros. Fizemos muitas rodas no feriado de 7 de setembro, e nos festejos de Nossa Senhora da Conceição, também no dia do soldado no quartel do 24º BC, na Casas das Mina, Jorge Babalaô no dia 13 de maio, dia dos escravos no bairro da Fé em Deus, assim como nos sábados a tarde tínhamos no João Paulo, na casa do Beto na antiga Estrada de Ferro. No fim dos anos 70 foi feito um bloco carnavalesco por Afonso “Barba Azul”, que era aluno do finado mestre “Sapo”, era na Rua da Saúde, onde se reuniu a grande massa capoeirista, para desfilar no carnaval da João Lisboa. No ano de 1976, no bairro do Diamante centro, no estacionamento do “fomento”, (Ministério da Agricultura), treinávamos capoeira, com os alunos, “Biné”, Celso, Alex, Missinho, Déco, Mauro Jorge, Marcelo, “Uruca”, “Motor”, e muitos outros. Aprendiam a praticar a capoeira com Socó. Nessa época, não era necessário o reconhecimento como mestre para dar aula, bastava saber e conhecer na pratica o “jogo” da capoeira. No ano de 1992, também tive um trabalho de capoeira na sede do PDT, no bairro do Monte Castelo, na rua 24 de outubro, eu Socó, dava aula para os seguintes alunos: João, Batata, “Travolta”, Wadson, “Batam”, Carlos Cesar, Irineu, “Mizinho”. Também frequentado pela grande massa de capoeiristas de São Luis como: Miguel, Ze Mario, “China”, Míro, “Chicao”, “Jacaré”, e outros. Mudei para o bairro do Bequimão no ano de 1999, fiz uma parceria com Curió, que era o fundador do grupo “Arte Negra”, no qual eu e Curió fomos reconhecidos como contramestre pelo mestre Miguel Arcangelo em 25 de maio de 2000. Já em 2002, foi reconhecido através de certificado concedido pelo mesmo mestre Miguel Arcangelo Santos Loredo, e a partir dessa data iniciei minhas atividades ja como mestre “Socó”, continuando o trabalho no grupo Arte Negra que logo depois veio a se tornar ( Arte Fiel Capoeira), com os seguintes mestres: Joao Palhano Janssen (Mestre Curió), Evandro de Araujo Teixeira (Mestre Socó) e Mestre Ball e contramestres:”Português”, Eduardo, “Caco” e Alcimar. E partir de então iniciei também a consagrar outros mestres, sendo o primeiro em 2003, mestre Luiz Generoso e Mestre Valderez, e outro mestres a partir dai, são eles: mestre Wadson, “Bodinho”, “Miro” e” Chicao” e os contras-mestres “Juruna” e” Cobra Negra”. Hoje desenvolvemos um grupo de capoeira no bairro do Rio Anil na escola Maria Helena Duarte, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos atletas que la estão e incentivando no estudo e crescimento como cidadão através da pratica desse esporte. Sobre a capoeira na minha vida. Foi um grande descobrimento para mim, no qual ajudou a melhorar em muitos aspectos, como por exemplo: família, trabalho, amigos e outras. Descobri na pratica da capoeira que poderia também ajudar outras pessoas que precisavam de um incentivo na vida como cidadão. E assim ajudar a tirar crianças e adolescentes da rua e trazer para o esporte, criando um meio de respeito e humildade perante a sociedade e principalmente nas suas casa com suas famílias.
Mestre INDIO DO MARANHÃO (1972)
OSIEL MARTINS FREITAS 1957 MESTRE ESTILO
DADOS PESSOAIS
ÍNDIO DO MARANHÃO Mista Capoeiragem Tradicional Maranhense OSIEL MARTINS FREITAS São Luis, 18 de julho de 1957, no Bairro de Fátima Filiação: Aurino Marques Freitas e Zilda Maria Martins Freitas Fundamental – (4ª. Série) Mestre em 1996, Por Firmino Diniz Diniz (Firmino Diniz)
MESTRE(S)
Associação Cultural de Capoeira São Jorge
NÚCLEO OU GRUPO
Antologia do Mestre Índio Maranhão Eu como todo menino traquino, pulador e saltador, aos meus 9 para 10 anos já apresentava vocação para a luta. Gostava de brigar, “tarracar”, termo usado pelos mais velhos da época, por esta razão era chamado para “garrotiar” com os garotos do meu tope ou até maiores naquela época. Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão. Filho de policial e mãe crente da Assembleia de Deus, eles jamais deixariam eu fazer capoeira, quando falei que queria fazer foi um terror a palavra capoeira para meus pais. Como eu em minha inocência, queria era praticar capoeira, toda tarde subia para o Alto de Fátima e ia correr, pular, saltar, fazer movimentos de minha cabeça, e nisso eu passei um bom tempo, saltando e pulando fazendo movimentos de capoeira, sem saber que todos os movimentos que executava eram de capoeira. Foi quando um companheiro me observando, um bom tempo, chegou pra mim e disse: - Tu quer fazer judô comigo? então lhe respondi: - Não, eu quero é capoeira. Ele então falou, eu faço judô lá no Ginásio Costa Rodrigues com Jorge Saito, um japonês, mas todo dia eu assisto o treino do Mestre Sapo, ai eu venho e te passo os nomes dos movimentos Na semana seguinte ele estava lá e já foi me falando, eu vou dá uma meia lua de frente e você se abaixa, o nome da defesa é cocorinha, eu vou dá um martelo e você faz assim....uma resistência. Essa atenção comigo durou de julho de 1971 a Abril de 1972, ele se chamava José de Ribamar, mas era conhecido como Hipopótamo, apelido que ele não gostava, foi esse rapaz que me iniciou na capoeira com os primeiros passos, porém ele não era capoeira. No dia 22 de junho, ano que eu me intitulo capoeira, foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. Final de julho, começo de agosto, eu brincando de rouba bandeira na Rua Nossa Senhora de Fátima, bem em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fato pode, Nelson galinha, Geraldo cabeça, Manoel pretinho, Cesar dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro.
De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mais sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua, e sobre seu comando. Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio, Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro. Mas o mestre que me deu toda a orientação para eu me tornar um capoeira, foi o Velho Firmino Diniz a quem eu devo Saúde, dinheiro e obrigação, foi quem me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia e da Bahia tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho. Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo, foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em 1987, eu Mestre Índio Maranhão fundei o Grupo de Capoeira Filhos de Ogum, na Casa da Finada Mãe Angela, uma Ialorixá, zeladora de Guias, caboclos e Orixás, na travessa da Fortuna no bairro Monte Castelo e esse meu trabalho iniciou-se no dia 07 de Julho de 1987, com a denominação Filhos de Ogum, em 1998 se chamou Centro Cultural Filhos de Ogum e por motivo religioso de alguns alunos cristãos, quando do seu registro oficial em 2002 se nominou Associação Cultural de Capoeira São Jorge e permanece até os dias atuais. Devoto de São Jorge desde março de 1973, após uma briga na Areinha, que começou com o Gilmar sendo agredido por um rapaz da Liberdade, então começamos uma grande confusão, onde todos entraram em confronto que demorou demais para parar. Foi quando ficamos sendo ameaçados e perseguidos pelos rapazes da Liberdade, foi quando então a mãe do companheiro Wilson Botão nos procurou e nos deu a oração de SÃO JORGE, na qual eu depositei a minha fé há 28 anos e mantenho até os dias de hoje, realizando todos os anos Uma grande Festa em Louvor a São Jorge onde a festa maior é a roda de capoeira. Por Osiel Martins Freitas Mestre Índio Maranhão
Entrevista com Mestre Índio Maranhão Conheça um pouco da história dos 43 anos de capoeira do Mestre Índio Maranhão por suas palavras. Saiba como ele conheceu a capoeira, como a vive e como aprendeu a história da capoeira do Maranhão na qual ele ensina aos seus alunos com alegria e dedicação. http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1 Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau
UMA CONVERSA DESCONTRAÍDA E EMOCIONADA RODA DE CAPOEIRA: Como o senhor conheceu a capoeira? MESTRE ÍNDIO: Minha primeira lembrança com a capoeira vem de 1970, assistindo um programa de televisão da TV Difusora em São Luis do Maranhão, onde um grupo de capoeira de Anselmo Barnabé Rodrigues “Mestre Sapo”, que eu fui conhecer muito tempo depois, quase 2 anos. Vendo todos aqueles movimentos eu me apaixonei, gostei pra caramba e comecei a fazer aqueles movimentos aleatórios, sem nenhuma técnica e sem ninguém para me orientar. Já em meados de 1971, eu conheci um rapaz que me vendo pular, dando flip, mortal, chapéu de couro, fazendo esses movimentos de capoeira que até então eu não tinha certeza de que eram de capoeira. Aí ele começou a me iniciar, esse rapaz não era um capoeira, ele era boxer, ele ia para a academia fazer o treinamento dele de boxe e assistia o Mestre Sapo dando aula de capoeira e ouvia os nomes dos movimentos e golpes que o mestre falava e vinha pra mim e passada assim: Oh, eu vou dar meia lua de frente e você desce na cocorinha, eu vou dar meia lua de costa e você desce na negativa de frente ou negativa de dentro, eu vou dar o martelo e você faz a resistência. E assim eu fui pegando esses movimentos. Então ele me iniciou sem nenhum sentido exato de capoeira, ele falava aquelas coisas e eu acompanhava ele. Até que em junho de 1972, eu assistindo uma roda de capoeira, o grupo estava com dois berimbaus e dois pandeiros, eles se apresentaram para a festa de São João, e após aquela apresentação, vendo os movimentos que os camaradas faziam eu me identifiquei. Aí terminou a roda de capoeira, e eu e um colega meu começamos a brincar e o rapaz que comandava o som, colocou o disco de Osvaldo Muniz, na época muito tocado... “Você me chamou pra jogar, capoeira na beira do mar Tenho fama de bom jogador, esse convite eu não vou rejeitar Não importa que chova ou que faça sol, o que eu faço é fazer tocar berimbau Toque o berimbau, que eu quero jogar...” E eu brincando ali com aquele colega meu e de repente formou aquela multidão, aquele grupo de gente da festa de São João que esperava o Bumba Boi, Quadrilha e Cacuriá, formou aquela roda imensa em volta de mim e o outro companheiro e o rapaz do som voltou a repetir a música que é comprida mais ou menos umas 4 vezes, e daquela data em diante eu me tornei capoeira, 22 de junho de 1972. Passou julho, agosto e em setembro eu conheci outro grupo de capoeira que estavam brincando no meio da rua, e eu fiquei ali quietinho observando, até quando o Babalu, que só depois eu vim saber o nome dele, chegou e disse assim: - Sabe jogar capoeira? Eu respondi: Não. E ele: Quer aprender? E eu: Vontade eu tenho. E ele: Então vem brincar!
E com essa brincadeira, com os movimentos que eu já fazia, o Babalu se surpreendeu e me chamou de malandro, “Tu é malandro heim, que me pegar!” aquela brincadeira de capoeira mesmo. E dali então, ele me colocou o apelido de Índio. “Tu parece um índio rapaz, vou te chamar de índio.” E esse índio está até os dias de hoje, conhecido agora como Mestre Índio Maranhão. Logo em seguida, eu conheci outra roda de capoeira, que tinha como comandante o Firmino Diniz ou “Velho Diniz”, que eram rodas de rua, e ele fazia essa roda em vários bairros e setores lá de São Luis, e eu comecei a acompanhar esse cidadão, que foi aluno de Mestre Catumbi no Rio de Janeiro na década de 50, quando ele serviu na Marinha. E eu o acompanhei, fazendo minha caminhada até 2012 quando ele veio a óbito aos 87 anos de idade, falecendo por doenças múltiplas, pois ele já vinha meio adoentado. Ele foi o homem que me formou a Mestre em 1996. Na minha caminhada muitos já me chamavam de mestre, mas ele foi o homem que deu a minha graduação de mestre. Pausa: “Neste momento Mestre Índio se emociona pela lembrança do velho amigo”. RODA DE CAPOEIRA: Mestre Índio, voltando lá atrás, nessa iniciação de sua caminhada a partir de quando o senhor conheceu o Babalu e o Velho Diniz, quais eram as referências de capoeira conhecidas em São Luis do Maranhão? Teve alguma roda ou um momento que te marcou e deixou saudade? MESTRE ÍNDIO: Neste tempo lá atrás eu não acompanhei muito, mas eu tenho conhecimento da história da capoeira de São Luis do Maranhão, pois o Velho Diniz passava isso para a gente. Ele dizia que a história da capoeira lá no Maranhão, precisamente em São Luis, ela começa em 1885. Ele dizia que os estados mais antigos da capoeira, eram Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Maranhão. A capoeira chega em 1885 no Maranhão, porque os escravos que eram enviados para lá, vinham do Rio de Janeiro, não vinham de outros estados, eram específicos do Rio de Janeiro, enviados para a cidade de Turiaçu, e de Turiaçu para São Luis. Deste período de 1885 a 1959, quando surgiu o primeiro grupo de capoeira, um grupo chamado Grupo Bantu de Capoeira, comandado por Roberval Cereja, que era marinheiro, e foi do Rio de Janeiro para São Luis, e chegando lá montou esse trabalho de capoeira. Lembro muito bem do Velho Diniz contando isso para a gente, eram: Roberval Cereja, Babalu, Jese, Patinho, Bizerra, Manuel Peitudinho, Murilo, Lourinho, Elmo Cascavel e Alô, esse grupo de 10 pessoas. Era um grupo isolado, não saia muito até por causa do preconceito da época e da taxação que aquela rapaziada recebia de vagabundo, arruaceiro e etc, pois capoeira era tudo o que não prestava na boca da sociedade. Então nego se isolava muito, treinavam muito ali e às vezes saiam para as festas, onde aconteciam as brigas, ai eles quebravam a galera e os caras às vezes nem sabiam de quem estavam apanhando, anos depois vieram a saber, que eram da capoeira. Em 1966, um grupo chamado Aberrê, fez sua primeira viagem a São Luis, era comandado pelo Mestre Canjiquinha, acompanhado de Brasília, Vitor Careca e João Pequeno. Dois anos depois eles retornaram, isso em 1968, dessa vez com uma alteração no quarteto, tendo Canjiquinha como mentor, Sapo Cola, Brasília e João Pequeno, o Vitor Careca não foi. Assim eles ficaram como uma referência dos percussores da capoeira, sendo que o Sapo Cola, a convite do governador, permaneceu em São Luis. Dessa forma, até o José Sarney, querendo ou não, tem um dedo dele na capoeira do Maranhão, isso em 1968 quando ele foi governador do nosso estado. A roda de capoeira mesmo que me marcou, foi quando eu comecei a frequentar as rodas do Velho Diniz, que era uma roda lá na Bom Milagre, com vários companheiros que eu lembro até hoje o nome deles, que era o Velho Diniz como chefe da roda, Sargento Gouveia, Babalu, Jese, Elmo Cascavel, Esticado, Raimundão, Alan, Gordo, Volf, Mimi, Ribaldo Branco, Ribaldo Preto, Zeca Diabo, Curador, Cordão de Prata, Sabujá, Patinho e Mareco, tinha mais ou menos uns 30 capoeiras que ele comandava essa galera todinha que comparecia lá nessa roda, e isso marcou a minha iniciação na capoeira, foi a roda da Bom
Milagre, eu estava com uns 15 anos de idade na época, hoje estou com 58, daqui a 2 anos eu completo os 60 anos nesse mundo cão ai da capoeira. Em 1976 eu vim no Rio de Janeiro, e o primeiro capoeira que eu conheci nessa cidade foi o Dentinho, irmão do Mestre Touro, depois eu vim conhecer o Farpa, o Mosquito que dava aula lá na Pompeu Loreiro em Copacabana, e depois eu fui conhecendo mais a galera aí da capoeira. Em 1980 eu conheci o Mestre Zé, Mestre Medeiro, o Canelinha e mais um outro que eu não consigo lembrar o nome dele agora. E essa caminhada já tem aí 43 anos, que eu completei em junho passado. RODA DE CAPOEIRA: Com essa sua caminhada, que como o senhor disse já tem 43 anos iniciado no Maranhão, passando pelo Rio de Janeiro e com certeza muitos outros estados e até outros países, o senhor tem uma história muito grande, muitas vivências. Como o senhor vê a capoeira hoje em dia? Pois naquela época a capoeira era bem recriminada como o senhor já citou, quem praticava era considerado como vadio, arruaceiro, vagabundo e hoje em dia está em um patamar que talvez ainda não seja o ideal, mas teve uma melhora significativa! MESTRE ÍNDIO: Vou falar como vejo lá em São Luis, a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruande, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. Com essas minhas andanças com a capoeira, passei por Rio de Janeiro, Goiania, São Paulo, Fortaleza, Belém e outros estados. Em julho de 1999 tive a felicidade de ir à Espanha através da capoeira, pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua do Rio de Janeiro, por intermédio de um intercâmbio eu passei 35 dias na Catalunha. E dessa época pra cá, eu vejo a capoeira só se fortalecendo, com viagens que outros mestres vem fazendo pelo outro lado do atlântico, como o Nestor Capoeira que é um dos percussores da capoeira para a Europa, e outros tantos mestres para Estados Unidos, Ásia e etc, tendo a capoeira em mais de 160 países. Veja só, não são 60, são 160 países, graças a Deus. E a UNESCO vendo a capoeira em todos esses territórios, veio a agraciar a Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. E temos visto vários projetos sendo feitos no Senado e Câmara dos Deputados beneficiando a capoeira, então isso para nós é de tamanha grandeza, porque lá nos anos 60 e 70 a capoeira era muito mau vista, hoje a capoeira deu um salto muito grande e isso satisfaz muito nós capoeiristas, apesar de ter um grupinho querendo a profissionalização da capoeira, mas a capoeira já é profissão a muito tempo, começando do Bimba que foi o camarada que levou a capoeira pra dentro de recinto fechado, pois a capoeira primitiva era praticada na rua e de repente o Mestre Bimba coloca dentro de recinto fechado, tendo a maioria dos alunos sendo de família nobre, abastada de Salvador que passam a pagar para assistir as aulas. E hoje, querendo ou não a capoeira passou a movimentar dinheiro, não enriqueceu os Mestres como eu e muitos outros que tem por aí, mas a capoeira move bilhões e bilhões no Brasil e no mundo, e isso está crescendo o olho dos camaradas, querendo fazer essa profissionalização. Veja bem, a capoeira já é profissão para muitos desde os anos 30, para outros que só querem vadiar e jogar é esporte. Mas a capoeira como sempre é uma luta de resistência, e vamos resistir a mais isso aí. RODA DE CAPOEIRA: Como o senhor lembrou a UNESCO declarou a Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade. O senhor já viajou para fora do Brasil, indo à Espanha em 1999. Como se diz no futebol, o brasileiro já nasce com um gingado, e vemos hoje muitos estrangeiros se esforçando para aprender a capoeira e a nossa língua. Com essa percepção, como o senhor vê atualmente os estrangeiros na capoeira? MESTRE ÍNDIO: Estava a pouco conversando com outros mestres ali sobre essa situação dos estrangeiros na capoeira. Na década de 80 os Estados Unidos estavam investindo em pesquisas para provar que a capoeira não era genuinamente brasileira. O Mestre Dé que é mais velho do que eu, confirmou essa história.
Vou citar a Europa que tem muito países, onde vemos que os estrangeiros são muito determinados, querendo ou não é a palavra perfeita para isso, e eles também são exigentes e cumpridores de horários, e eles são terríveis neste ponto, pois eles te sugam até a última gota querendo aprender e vemos que cada um é melhor do que o outro. Nos meus encontros, lá em São Luis do Maranhão, eu tenho recebido pessoal da França, da Itália, que vão a eventos de outros capoeiras e acabam indo visitar o nosso evento através de outros mestres, e você vê aqueles camaradas jogando capoeira, até muitas vezes melhor do que nós brasileiros. Eu acho incrível, como aqueles meninos se sobressaem dentro da roda de capoeira. E hoje, tem roda de capoeira em Portugal e na Espanha que brasileiro não joga, é proibido jogar. E o que vai acontecer é que esses caras vão olhar a gente de cima. Esse Campeonato Internacional que eles estão querendo fazer aqui no Brasil tem dinheiro deles aí. A nossa comunidade, os grandes estados da capoeira no Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Bahia não estão muito de acordo. Eu não sei qual é a linguagem deles, mas eles estão aí pra fazer, com financiamento alto. RODA DE CAPOEIRA: Fale um pouco sobre o seu grupo e o seu trabalho? MESTRE ÍNDIO: O meu grupo foi fundado no dia 07 de julho de 1987, inicialmente com o nome de Grupo de Capoeira Filhos de Ogum, no bairro Bom Milagre em São Luis – MA. Em 1992, alterei o nome do grupo para Centro Cultural de Capoeira São Jorge e em 2000, consolidamos o nome como Associação Cultural de Capoeira São Jorge. Atualmente a Associação Cultural de Capoeira São Jorge realiza trabalhos nas cidades do Rio de Janeiro – RJ, São Bento - MA, São Vicente – MA, Palmeirandia - MA e na capital maranhense onde fica a nossa sede. A 8 anos eu venho realizando um evento que eu chamo de encontro, este ano estaremos fazendo nosso 8ª Encontro Nacional de Capoeira no Maranhão, e a realização disso é um trabalho muito grande, eu levo mestres do Rio de janeiro, de São Paulo, de Brasília pra lá aos trancos e barrancos sem um puto de governo nenhum pra ajudar. A capoeira é essa luta o tempo todo. Sabemos que todos os Iphans do Brasil possuem uma verba para investir na cultura, mas quando você chega lá com seu ofício, com sua solicitação, é exigido um monte de documentos que você não tem, te pedem nada costa de INSS, nada consta do Ministério do Trabalho, nada consta da Polícia, nada consta disso e daquilo. É tanta burocracia, e você precisando daquilo para ontem. E você acaba desistindo, e esse dinheiro acaba não sendo usado e volta para os cofres públicos. Em 2012, voltou 300 milhões para o caixa da receita federal do Iphan, porque esse dinheiro não foi usado. Eu tenho um trabalho na periferia, na zona rural, onde temos 60 crianças, e não temos ajuda do governo, seja federal, estadual, municipal, é bancado pelo organizador, que é o Sargento Edson, ele e a esposa, eles são policiais, e são eles que dão o lanche para essas crianças 3 vezes por semana. Eu dou aula nas terças e quintas, e no sábado é o Bombeiro Mirim, isso para ocupar aquela criançada lá, o que deveria ser um trabalho do governo. Sabemos que dinheiro tem, mas nego fica fazendo aquelas enroladas e dinheiro não aparece, mas a gente tá lá, aconselhando, educando e disciplinando essa criançada, ocupando o tempo deles para eles não ficarem lá a toa fazendo bobagens. Para esse evento, sortíamos 10 cordas e 10 camisas para essas crianças que não tem nada, com o dinheiro que conseguimos com as cordas e camisas nos outros núcleos, utilizamos para montar a estrutura do evento e para trazer outros mestres e convidados de fora, pagando passagem de avião, translado, estadia e alimentação. Eu já tive a oportunidade de trazer para evento meu o Mestre Toni Vargas, Mestre Bocka, Mestre Ramos, Mestre Onça, Mestre Deputado sem precisar da ajude de nenhum infeliz. Mas quando é época de eleição, aparece um monte de infeliz oferecendo ajuda, pois sabe que temos uma presença dentro das comunidades com a galera, mas fora disso quando precisamos, se a gente chega lá atrás deles, e eles nunca podem. RODA DE CAPOEIRA: Mestre Índio, para não continuar tomando muito seu tempo, pois estamos aqui num evento, eu gostaria que para encerrarmos esse papo, o senhor deixasse uma mensagem para os jovens que estão iniciando na capoeira? MESTRE ÍNDIO: Bons mestres nós temos em todo lugar, maus mestres também não faltam, isso é claro! Para o aluno, ele tem que procurar uma boa casa, uma boa escola de capoeira. Temos aí vários nomes na capoeira, seja ela capoeira angola, capoeira regional, capoeira contemporânea, capoeira moderna ou capoeira
mista, lá em São Luis nomeamos como capoeira mista, que é a capoeira angola e regional tudo junto. Já diz o Mestre Deputado muito bem, para você dizer que é Angoleiro, você tem que ser de uma Escola de Capoeira Angola, para dizer que é regional, você tem que ser de uma Escola de Capoeira Regional. E nossa rapaziada hoje que tá iniciando, que quer aprender realmente a capoeira, tem que ter determinação, estudar muito, porque num futuro bem próximo, o que está acontecendo hoje, alunos querendo ser mestre a qualquer custo, comprando corda e outros se auto-graduando, acabam que não conhecem sua raiz, não conhecem sua vertente, não conhecem a sua linhagem. Não tem história para contar e assim, o que ele vai ensinar para seus alunos no futuro? Por isso, você tem que se dedicar muito há capoeira, não só na capoeira mais como nos estudos, completar o colégio e se possível chegar a faculdade, podendo fazer a área da Educação Física que vai te ajudar a conhecer toda a anatomia do corpo humano. Na minha época tivemos pouca oportunidade para isso, mas hoje em dia é preto no branco, você não é ninguém se não tiver um bom estudo. O que eu peço hoje para os alunos é que não parem de estudar para um dia chegar a ser um mestre de capoeira. O Mestre Deputado é um grande cirurgião, o Mestre Medicina é outro grande médico nesse Brasil e no mundo, e são meus camaradas, e de uma simplicidade sem igual. E temos outros mestres que são advogados, engenheiros e outras profissões que estão ai no mundo da capoeira, pois se apaixonaram pela arte, se dedicaram e hoje são mestres. A rapaziada de hoje pode ter o mesmo caminho, ter uma boa profissão, ser um doutor, advogado, promotor e até juiz, mas tem que se dedicar e estudar. Isso que eu falo para meus alunos, para que eles possam ter um futuro bem próspero. Eu não sobrevivo 100% da capoeira, pois eu sou funcionário público lá em São Luis do Maranhão, mas é ela que me leva e me trás, e eu só tenho que agradecer a ela por tudo que ela me deu. RODA DE CAPOEIRA: Mestre Índio Maranhão, queremos deixar registrados o nosso agradecimento por aceitar o convite para esse bate-papo, deixando as portas do site abertas, sendo mais uma ferramenta para o senhor e para o seu grupo continuar contribuindo com a capoeira.
ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.
QUEM HABITAVA UÇAGUABA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Um dos núcleos habitacional mais antigo do Maranhão é a hoje Vila Velha de Vinhais, pois os Tupinambás ocupam aquele espaço provavelmente desde 80 anos antes da chegada dos Franceses de La Ravardiére. Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; um possuía três. Eussauap possuía quatro – "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire". Capistrano de Abreu esclarece que: “EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". Os franceses já negociavam, o chamado escambo, com os povos nativos dessa região antes mesmos das primeiras expedições portuguesas. Jacques Riffault, personagem constante em nossa história, desde 1594 se estabelecera em Upaon-açu (Ilha de São Luís) com uma feitoria; vamos encontra-lo na hoje Alcântara, cuja ocupação remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado "Tapuitapera" ("casa dos Tapuias") à época. MAS QUEM ERAM OS PRIMITIVOS HABITANTES? O Maranhão é território de uma rica história de intercâmbio e conflítos entre os povos indígenas nativos e europeus - franceses, holandeses, ingleses e portugueses. No século XVII, a populaçõa indígena do Maranhão era formada por aproximadamente 250.000 pessoas, pertencente a cerca de 30 etnias, a maioria delas, hoje, não existindo mais: “Povos indígenas como os Tupinambá que habitavam a cidade de São Luis, os Barbados, os Amanajós, os Tremembé, os Araioses, os Kapiekrãs, entre outros, foram simplesmente exterminados ou dissolvidos social e culturalmente [...] São notórias as causas do desaparecimento de cerca de 20 povos indígenas no Maranhão: as guerras de expedição para escravizar, as doenças importadas, a miscigenação forçada, a imposição de novos modelos culturais, entre outras” Antes dos Tupinambás, os Tremembé, havendo indícios de ocupação pelo menos de nove mil anos... O que nos leva a essa afirmação são documentos que estão vindos à luz por pesquisas recentes, com base em informações obtidas em diversos arquivos e interpretação e uso de fontes as mais diversas. Não é possível determinar a origem dos primeiros habitantes, havendo várias teorias que supõem o aparecimento do homem. Dentre essas temos: Africana, Monogenismo Americano, Australiana, Atlante, Cartaginesa, Chinesa, Egipcia, Grega, Ibera, Irlandesa, Malaio-Polinesia, a Mista; ainda a Paleo-Asiática, Viking. Para os pesquisadores maranhensee Correia Lima e Aroso as correntes migratórias das Américas são em número de cinco: Australóides, Protossiberianos, Paleo-siberianos, Protomalaios, e Protopolinésios. Os australoides deram descendentes em ambas as Américas, sendo que na do Sul, aparecem os Lácidas, Huarpidas, Patagônicos. Os Lácidas, paleossiberianso, atingem o Brasil e o Maranhão; assim como os nordéstidas e os fueguinos, sendo que os primeiros atingem o Brasil e o Maranhão. Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos que viviam ao longo da costa eram os Tupi. Estes tinham escorraçado os povos de língua e cultura Jê para o interior, vivendo, em geral, na região dos cerrados.
Durante a expansão dos Tupis-Guaranis – descendentes dos protomalaios, e desembarcados nas costas ocidentais do istmo do Panamá, deslocaram-se para o suleste, atravessando os Andes, e atingindo o Amazonas, onde fizeram seu centro de dispersão. Migravam com muita freqüência, surpreendentemente rápidos. Desceram o Rio Amazonas e se embrenharam em seus afluentes: Madeira, Tapajós, Xingu, Tocantins, Araguaia e ainda Gurupi, Mearim, etc. Passaram ao rio Paraguai e seus afluentes do Paraná, chegando ao Atlântico. Marginaram-se em direção ao Norte, parando no Maranhão, para reencontrar seus irmãos amazonenses. Sua migração pela costa nacional é recente e se fazia sempre ás custas dos velhos ocupantes, notadamente os Lácidas, os quais eram empurrados para o interior. Deixaram sempre ocupantes por onde passam, a exemplo dos Tupinambás, na Ilha de São Luis. Dos Tupis, hoje, restam os Guajajara – Tenetehára – com uma história longa e singular de contato, a partir de 1615, nas margens do Rio Pindaré, com uma expedição exploradora francesa. Os Awá-guajá – se autodenominam Awá, também chamados Wazaizara (Tenetehara), Aiayé (Amanayé), Gwazá. O termo Awá significa ‘homem’, pessoa’, ou ‘gente’; sua origem é obscura, acreditando-se originários do baixo Tocantins. Acredita-se que a partir da Cabanagem (1835-1840) tenha inicado a migração rumo ao Maranhão. Já o Ka´apor (Urubu-Kaapor, Kaáporté) surge como povo distinto à cerca de 300 anos, provavelmente na região entre os rios Tocantins e Xingu. Talvez os conflitos com colonizadpores luso-brasileiros e outros povos nativos, iniciaram longa e lenta migração, por volta de 1870, do Pará ao Maranhão, atraves do Gurupi. Foram pacificados em 1911. Os Lácidas foram os primeiros povoadores do Maranhão, como o foram do Brasil. Vieram através de correntes migratórias interioranas e se localizaram de preferencia na parte setentrional e maranhense do Planalto Central do Brasil. Eram representados por um povo, os Tremembé (Tatamembé) que ocuapavam inicialmente a costa maranhense, antes da chegada dos brasílidas. Na época do contato, viviam da fronteira do Pará (Rio Caeté) à do Piauí (Tutóia), sendo sua área preferida o Delta do Parnaíba e a Baia de Turiaçú. Os Nordéstidas chegaram ao Maranhão pela corrente litoranea local, ocupando todo o litoral, sendo os primeiros a usar essa corrente, vindo do Nordeste. Apenas os Muras seguiram para o Amazonas, tornando-se fluviais. Ao se analisar as estearias maranhenses, área ocupada pelos brasilidas, que atingiram também o Maranhão através de duas correntes migratórias, interiorana – Nu-Uraques (Uraques), depois os caraíbas, e finalmente os Tupi-Guaranis - e pela litoranea, e às vesperas e durabnte o contato, chegaram os ultimos Tupis, representados pelos Tupinambás. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Ainda dos Macro-jê temos os Canelas (Rankokamekrá; Apanyekrá); são remanescentes das cinco nações Timbira Oriental, sendo os Rankakomekrás descendentes dos Kapiekran, como eram conhecidos até 1820. Os primeiros contatos, indiretos, se dão por forças militares no fim do século XVII, ocorrendo incursões contra essas populações na ultima decada do seculo XVIII, dizimados por volta de 1814. Os Krikati se localizam ao sul do Maranhão, com os primeiros contatos por volta de 1814. O Gavião (Pukobyê) teve contato a partir do século XVIII, por volta de 1728. Embora os traços mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos. Caçadores australóides do nordeste asiático - Sibéria - ingressaram no Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa-MG há 7.000 (mais ou menos) 120 anos. Registra-se entre 40 e 21 mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras das Américas. Há um consenso quando da "determinação temporal" da chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET); 28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C. De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato Piauí, foram encontrados fosseis com datação de 41.500 anos . Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares,
organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado. Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados [...] gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.". O Timbira é um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê, que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí. Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos: Timbira orientais: Timbira de Araparytiua; Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal; Kr˜eyé de Cajuapára; Kre/púmkateye; Pukópye e Kr˜ikateye; Gaviões; Apányekra (Canellas de Porquinhos); Ramkókamekra (Canellas do Ponto); Krahó; Timbira ocidentais: Apinayé. Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do sul. Hoje, os Tremembé são um grupo étnico indígena que habita os limites do município brasileiro de Itarema, no litoral do estado do Ceará, mais precisamente na Área Indígena Tremembé de Almofala (Itarema), Terras Indígenas São José e Buriti (Itapipoca), Córrego do João Pereira (Itarema e Acaraú) e Tremembé de Queimadas (Acaraú). Originalmente nômades que viviam num território que se estendia nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão), Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia). Foram declarados como não existentes pelo então governador da Província do Ceará (José Bento da Cunha Figueiredo Júnior), após decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os índios perderam o direito da terra pela regulamentação da Lei da Terra. Estes ressurgem no cenário cearense nas décadas de 1980 e 1990, quando são reconhecidos pela FUNAI. Ao descrever-se as migrações dos Tupinambá, Caeté e Potiguar do litoral de Pernambuco e da Bahia para o Maranhão, constata-se que ao fugirem dos portugueses que ocupavam estas regiões, estes grupos se aliaram e no trajeto percorrido a partir de 1570-72, ocuparam diversas áreas do interior e litoral: “A composição dessas migrações é perceptível na distribuição dos emigrantes nas terras do Maranhão e do Pará, conquistadas aos Tapuias, seus antigos senhores. Os Tupinambá abandonaram a zona do Ibiapaba, e localizaram-se na Ilha do Maranhão. Os Potiguar continuaram a viver ali. Em virtude do rompimento dos laços de solidariedade, os dois grupos tribais tornaram-se inimigos designando-se reciprocamente como Tabajara.” Em virtude disso, os grupos que se fixaram na serra da Ibiapaba ficaram conhecidos nos registros históricos como Tabajara. Nesta região, viviam ainda inúmeros grupos tapuias, tais como Tacarijú, Quitaiaiú, Ocongá, Caratiú, Reriiú (Areriú), Acriú, Anacé, Aconguassu (Acoanssu), que eram de certa foram subordinados aos Tabajara.
Curso de Formação de Treinadores de Futebol ÉTICA NO FUTEBOL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras São Luis – Maranhão - 29 e 30 de abril de 2016
ÉTICA
substantivo feminino 1.
parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
2. p.ext. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. "ética profissional"
A palavra "ética" vem do grego ethos e significa aquilo que pertence ao "bom costume", "costume superior", ou "portador de caráter". Princípios universais, ações que acreditamos e não mudam independentemente do lugar onde estamos. Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão. Na filosofia clássica, a ética não se resumia à moral (entendida como "costume", ou "hábito", do latim mos, mores), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na vida privada quanto em público. A ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que não eram abrangidos na física, metafísica, estética, na lógica, na dialética e nem na retórica. Assim, a ética abrangia os campos que atualmente são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, às vezes política, e até mesmo educação física e dietética, em suma, campos direta ou indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão clássica da ética pode ser encontrado na obra Ética, de Spinoza. Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia, particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas“ e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal. A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa freqüência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.
Definição e objeto de estudo O estudo da ética dentro da filosofia, pode-se dividir em sub-ramos, após o advento da filosofia analítica no século XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradição filosófica. Estas subdivisões são: Metaética, sobre a teoria da significação e da referencia dos termos e proposições morais e como seus valores de verdade podem ser determinados Ética normativa, sobre os meios práticos de se determinar as ações morais Ética aplicada, sobre como a moral é aplicada em situações específicas Ética descritiva, também conhecido como ética comparativa, é o estudo das visões, descrições e crenças que se tem acerca da moral Ética Moral, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual. Termo Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos hábitos da espécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Um campo de estudos assim seria obviamente muito vasto para poder ser investigado por qualquer ciência ou filosofia particular. Além disso, porções desse campo já são ocupadas pela história, pela antropologia e por algumas ciências naturais particulares (como, por exemplo, a fisiologia, a anatomia e a biologia), se considerarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos humanos normais e elementos de seu caráter. No entanto, a ética, propriamente dita, restringe-se ao campo particular do caráter e da conduta humana à medida que esses estão relacionados a certos princípios – comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmente caracterizam a própria conduta e a de outras pessoas empregando adjetivos como "bom", "mau", "certo" e "errado". A ética investiga justamente o significado e escopo desses adjetivos tanto em relação à conduta humana como em seu sentido fundamental e absoluto. Outras definições Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisa por várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de "boas" ou "más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E os experimentos em questões morais (sem considerar as consequências práticas inconvenientes que provavelmente propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética, pois a consciência moral seria instantaneamente chamada para a elaboração do experimento e para fornecer o tema de que trata o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência. A filosofia é um processo de reflexão sobre os pressupostos subjacentes ao pensamento irrefletido. Na lógica e na metafísica ela investiga, respectivamente, os próprios processos de raciocínio e as concepções de causa, substância, espaço e tempo que a consciência científica ordinária não tematiza nem critica. No campo da ética, a filosofia investiga a consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos morais sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as instituições e formas de vida social que ela mesma ajudou a criar. "Que ação particular atenderá os critérios de justiça sob tais e tais circunstâncias?" ou "Que grau de ignorância permitirá que esta pessoa particular, nesse caso particular, exima-se de responsabilidade?" A consciência moral tenta obter um conhecimento tão completo quanto possível das circunstâncias em que a ação considerada deverá ser executada, do caráter dos indivíduos que poderão ser afetados, e das consequências (à medida que possam ser previstas) que a ação produzirá, para então, em virtude de sua própria capacidade de discriminação moral, pronunciar um juízo.
O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um problema que recebe uma resposta mais clara e definitiva à medida que os indivíduos se tornam mais aptos a aplicar, no curso de suas experiências morais, aqueles princípios da consciência moral que, desde o princípio, já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há um sentido em que se pode dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades inerentes à natureza da própria moralidade, embora permaneça verdade que as questões que a ética procura responder não são questões com as quais a própria consciência moral jamais tenha se confrontado. O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas morais que pareçam semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas desconsideram, quando agem imoralmente, os preceitos e princípios implícitos da consciência moral produzirão certamente, cedo ou tarde, o desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em dúvida a autoridade da consciência moral e a validade de seus princípios; ou de, por outro lado, justificar juízos morais particulares, seja por uma análise dos princípios morais envolvidos no juízo e por uma demonstração de sua aceitação universal, seja por alguma tentativa de provar que se chega ao juízo moral particular por um processo de inferência a partir de alguma concepção universal do Supremo Bem ou do Fim Último do qual se podem deduzir todos os deveres ou virtudes particulares. Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação contra as instituições morais e os códigos de ética existentes; tal argumentação pode se originar da atividade espontânea da própria consciência moral. Mas quando essa argumentação torna-se uma tentativa de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essa tentativa começa a ser, com efeito, um esforço de tornar a moralidade uma disciplina científica – e especialmente quando a tentativa é vista, tal como deve ser vista afinal, como fadada ao fracasso (dado que a consciência moral supera todos os padrões de moralidade e realiza-se inteiramente nos juízos particulares), pode-se dizer então que tem início a ética como um processo de reflexão sobre a natureza da consciência moral. A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertentente profissional. Existem códigos de ética profissional, que indicam como um indivíduo deve se comportar no âmbito da sua profissão. A ética e a cidadania são dois dos conceitos que constituem a base de uma sociedade próspera.
ÉTICA PROFISSIONAL Definições da Web Deontologia, na filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo a qual as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas. Portanto inclui-se entre as teorias morais que orientam nossas escolhas sobre o que deve ser feito. ... http://pt.wikipedia.org/wiki/Ética_profissional O que é ética profissional? A ética profissional é um conjunto de valores e normas de comportamento e de relacionamento adotados no ambiente de trabalho, no exercício de qualquer atividade. Ter uma conduta ética é saber construir relações de qualidade com colegas, chefes e subordinados, contribuir para bom funcionamento das rotinas de trabalho e para a formação de uma imagem positiva da instituição perante os públicos de interesse, como acionistas, clientes e a sociedade em geral. Líderes de empresas e organizações têm defendido que bons ambientes de trabalho, com relações amigáveis e respeitosas, contribuem para o aumento do nível de confiança e comprometimento entre os funcionários, refletindo no aumento da produção e no desenvolvimento da empresa. E que comportamentos antiéticos prejudicam o clima organizacional, afetando o rendimento das equipes. O Código de Ética Profissional Algumas profissões contam com Conselhos de Representação que têm a responsabilidade de criar Códigos de Ética específicos para cada área de atuação. Você já deve ter ouvido falar no Conselho Federal de
Medicina (CFM), ou no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), dois exemplos bastante conhecidos. No nosso caso, SISTEMA CONFEF/CREF Esses Códigos de Ética criados pelos Conselhos existem para padronizar procedimentos operacionais e condutas de comportamento, garantindo a segurança dos profissionais e dos usuários de cada serviço. Eles estabelecem princípios ético-morais de determinada profissão, e preveem penas disciplinares aos trabalhadores que não obedecerem aos procedimentos e normas de sua área, protegendo a sociedade de injustiças e desrespeito em qualquer esfera. Por isso, cabe ainda aos Conselhos a função de fiscalizar o cumprimento dos Códigos de Ética. Fique atento às normas estabelecidas em sua profissão. Independentemente de ter ou não um Código específico, todas as profissões exigem o cumprimento de valores morais e princípios éticos considerados universais como a honestidade, a competência e a responsabilidade. http://www.guiadacarreira.com.br/carreira/o-que-e-etica-profissional/
CÓDIGO DE ÉTICA - RESOLUÇÃO N°025, DE 2.000 DO CONFEF INDRODUÇÃO I - O código de Ética II - A Deontologia III - Das Responsabilidades, Deveres e Proibições IV - dos Direitos V - dos Benefícios e Honorários Profissionais VI - das Infrações VII - das Penalidades VIII - do Julgamento IX - dos Casos Omissos
Dispõe sobre o Código de Ética dos Profissionais registrados no Sistema CONFEF/CREFs O PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, no uso de suas atribuições estatutárias, conforme dispõe o inciso VII, do art. 37 e: CONSIDERANDO, o disposto no inciso VI, do artigo 6º, do Estatuto do Conselho Federal de Educação Física, instituído pela Lei n.º 9.696, de 01 de setembro de 1998;Saúde em Movimento CONSIDERANDO que o Conselho Federal de Educação Física - CONFEF é formador de opinião e educador da comunidade para compromisso ético e moral na promoção de maior justiça social;Saúde em Movimento CONSIDERANDO que um país mais justo e democrático passa pela adoção da ética na promoção das atividades físicas, desportivas e similares; CONSIDERANDO que a ética tem como objetivo estabelecer um consenso suficientemente capaz de comprometer todos os integrantes de uma categoria profissional a assumir um papel social, fazendo com que, através da intersubjetividade, migre do plano das realizações individuais para o plano da realização social e coletiva; CONSIDERANDO que a Educação Física teve seu conceito renovado no Manifesto Mundial de Educação Física FIEP - 2000 e que este documento preconizou no seu art. 15, que os atuais profissionais de Educação Física precisam readaptar suas atuações e seu processo de aperfeiçoamento em função dos caminhos propostos por este Manifesto; CONSIDERANDO as conclusões do I Simpósio de Ética no Esporte e na Atividade Física, realizado em parceria com a Universidade Castelo Branco e o INDESP, produzidas e apresentadas pela Comissão Especial do Simpósio,composta pelos Profs. João Batista Andreotti Gomes Tojal, Lamartine Pereira da Costa, Heron Beresford e Antonio Roberto da Rocha Santos;
CONSIDERANDO as análises e propostas apresentadas pela Comissão de Ética do CONFEF, integrada pelos Profs. João Batista Andreotti Gomes Tojal, Alberto dos Santos Puga Barbosa e Carlos Alberto Oliveira Garcia; CONSIDERANDO as contribuições recebidas pelo CONFEF, através da página na internet e por mensagem eletrônica; CONSIDERANDO a análise da proposta do Código de Ética apresentada pelo Prof. Jose Maria de Camargo Barros; CONSIDERANDO a Minuta do Código de Ética do profissional de Educação Física produzida pelos Profs. João Batista Andreotti Tojal, Lamartine Pereira da Costa e Heron Beresford, disponibilizada na internet para reflexão e análise; CONSIDERANDO, finalmente, o que decidiu o Plenário do CONFEF em Reunião Ordinária, realizada em 20 de fevereiro de 2000; RESOLVE: Art. 1º - Fica aprovado o Código de Ética Profissional de Educação Física que, com esta, é publicado; A ÉTICA E A DEONTOLOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA INTRODUÇÃO Considerada como um importante fator na vida dos indivíduos, a Educação Física apresenta aspectos que lhe conferem características para a sua profissionalização. Entre eles são destacados dois que são a existência de um conhecimento especializado e técnico e a existência de uma competência especial para a devida aplicabilidade, possibilitando que seus valores e benefícios sejam efetivos à sociedade. Na aplicabilidade, traduzida pela atuação do profissional, deve apresentar uma dimensão política e outra dimensão técnica que, mesmo distintas, podem e devem estar sempre articuladas. Apesar dessa aparente dicotomia, na Educação Física há uma dimensão ética integradora dessas duas dimensões, que define a condição de unicidade e indissociabilidade do conhecimento e habilidades na competência profissional, em qualquer que seja o espaço, situação ou local de atuação. Na Educação Física é reconhecida também, a função fundamental da sua teoria, cujo valor encontra-se nos resultados das investigações, que buscam esclarecer e explicar a realidade, visando a elaboração dos conceitos correspondentes e dando suporte a prática. A filosofia da Educação Física, também reforça a dimensão ética, discute seus valores, significados, leva a busca de um desempenho profissional competente, indicando a necessidade de um saber ou um saber fazer, que venha a efetivar-se como o saber bem ou um saber fazer bem, que torne o ideal sublime dessa profissão prestar sempre o melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas, destacando não só a dimensão técnica, mas também a dimensão política, como é desejável. Assim, a atuação profissional está baseada na ética que parte da existência da história da moral, enquanto conjunto de normas que regulam o comportamento individual e social do homem, tendo como ponto de partida, seus valores, princípios e normas, buscando atender aos anseios da sociedade. Por essa condição, a qualidade e competência da atuação dos profissionais, sustentam-se na ética da Educação Física evitando com isso, sua redução a uma atividade normativa ou pragmática que a transformaria em um objeto do senso comum, isto é, num conjunto de regras ou normas adquiridas informalmente. Sabe-se que, com o desenvolvimento e necessidades de hoje, a sociedade já não aceita mais essa alternativa.
I - O código de Ética A construção do código de Ética para a profissão da Educação Física foi desenvolvida através do estudo da historicidade da sua existência, da experiência de um grupo de profissionais brasileiros da área e da resposta da comunidade específica de profissionais que atuam com esse conhecimento em nosso país. Assim foram estabelecidos os 12 (doze) itens norteadores da aplicação do código Deontológico que fixa a forma pela qual se devem conduzir os profissionais de Educação Física inscritos no CONFEF.
01º - O código de Ética do profissional de Educação Física, formalmente vinculado às Diretrizes Regulamentares do Conselho Federal de Educação Física - CONFEF (Lei Federal n.º 9696 de 01 de Setembro de 1998), define-se como um instrumento legitimador do exercício da profissão, sujeito portanto a um aperfeiçoamento contínuo que lhe permita dar um sentido educacional a partir de nexos de deveres e direitos. 02º - O profissional de Educação Física, inscrito no CONFEF e, conseqüentemente, aderente ao presente Código de Ética, é conceituado como um interventor social, e como tal, deve assumir o compromisso ético com a sociedade colocando-se assim a seu serviço primordialmente, independente de qualquer outro interesse, sobretudo de natureza corporativista. A referência básica deste Código de Ética em termos de operacionalização, é a necessidade em se caracterizar o profissional de Educação Física diante das diretrizes de deveres e direitos estabelecidos regimentalmente pelo CONFEF e seus desdobramentos, isto é, os Conselhos Regionais de Educação Física - CREF`S. Tal sistema deve assegurar, por definição, qualidade, competência e atualização técnica, científica e moral dos profissionais nele incluídos por inscrição e registro legal. 05º - O sistema CONFEF/ CREF deve pautar-se pela transparência em suas operações e decisões, devidamente complementada por acesso de direito e de fato dos beneficiários e destinatários à informação gerada nas relações de mediação e de pleno exercício legal. Considera-se pertinente e fundamental, nestas circunstâncias, a viabilização da transparência e do acesso ao sistema CONFEF/CREF, através dos meios possíveis de informação e de outros instrumentos que favoreçam a exposição pública. 06º - Em termos de fundamentação filosófica, este Código de Ética visa assumir uma postura de referência aos deveres e direitos de modo a assegurar o principio de garantia aos Direitos Universais aos beneficiários e destinatários. Procurando dotá-lo da capacidade de aperfeiçoamento contínuo, este Código de Ética deve adotar um enfoque científico identificando sistematicamente ordens e proibições contidas nos deveres e direitos. Tal processo de atualização progressiva e permanente define-se por proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis. 07º - As perspectivas filosófica, científica e educacional do sistema CONFEF/CREF, tornam-se complementares a este código ao se avaliar fatos na instância do comportamento moral, tendo como referência um princípio ético que possa ser generalizável e universalizado. Em síntese, diante da força de lei ou de mandamento moral (costumes) de beneficiários e destinatários, a mediação do CONFEF/CREF produz-se por posturas éticas (ciência do comportamento moral), símiles à coerência e fundamentação das proposições científicas. 08º - O ponto de partida do processo sistemático de implantação e aperfeiçoamento do Código de Ética do profissional de Educação Física, delimita-se pelas Declarações Universais de Direitos Humanos e da Cultura, como também pela Agenda 21 que situa a proteção do meio ambiente em termos de relações entre os homens e mulheres em sociedade. Estes documentos de aceitação universal elaborados pelas Nações Unidas, juntamente com a legislação pertinente à Educação Física e seus profissionais nas esferas federal, estadual e municipal constituem a base para a aplicação da função mediadora do sistema CONFEF/CREF no que concerne ao Código de Ética. 09º - Além da ordem universalista internacional e da equivalente legal brasileira, o Código de Ética deverá levar em consideração, valores que lhe dão o sentido educacional almejado. Em princípio, tais valores como liberdade, igualdade, fraternidade e sustentabilidade com relação ao meio ambiente são definidos nos documentos já referidos. Em particular, o valor da identidade profissional no campo da atividade física definido historicamente durante 25 séculos - deve estar presente associado aos valores universais de homens e mulheres em suas relações sócio- culturais. 10º - Levando-se em consideração a experiência histórica e internacional, o dever fundamental do profissional de Educação Física é o de preservar a saúde de seus beneficiários nas diferentes intervenções ou abordagens conceituais, ao lidar com questões técnicas, científicas e educacionais, típicas de sua profissão e de seu preparo intelectual. 11º - O dever fundamental da preservação da saúde dos beneficiários implica em responsabilidade social do profissional de Educação Física e como tal não deve e mesmo não pode ser compartilhado com pessoas não credenciadas quer de modo formal, institucional ou legal. Este dever, corresponde ao direito do pleno exercício da profissão de Educação Física, única e tão somente, aos profissionais preparados e formados em cursos de Graduação do ensino superior, legalmente estabelecidos e específicos e
explicitamente incluídos na área de conhecimento da Educação Física, observados seus currículos e programas de formação. 12º - O dever complementar e essencial à preservação da saúde dos beneficiários é o de alcance e manutenção da qualidade, competência e responsabilidade profissional, ora entendido como o mais elevado e atualizado nível de conhecimento que possa legitimar a intervenção e exercício do profissional de Educação Física. II - A Deontologia O CONFEF/CREF, reconhecendo que o profissional de Educação Física, além das designações usuais de Professor de Educação Física, Técnico Desportivo, Treinador Esportivo, Preparador Físico, Personal Trainner, poderá ser designado, de acordo com as características da atividade que desempenha, com as seguintes denominações: Técnico de esportes; Treinador de esportes; Preparador Físico-corporal; Professor de Educação Corporal; Orientador de Exercícios Corporais; Monitor de Atividades Corporais; Motricista; Cinesiólogo, entre outros. Assim, é possível ao sistema CONFEF/CREF estabelecer os princípios fundamentais que balizem o exercício do profissional em Educação Física: Considerando que a profissão de Educação Física é comprometida com o desenvolvimento corporal, intelectual e cultural, bem como com a saúde Global do ser Humano e da comunidade, devendo ser exercida sem discriminação e preconceito de qualquer natureza; Considerando que o profissional de Educação Física deve respeitar a vida, a dignidade, a integridade e os direitos da pessoa Humana, em particular de seus beneficiários; Considerando que o profissional de Educação Física deve procurar no exercício de sua profissão prestar sempre o melhor serviço, a um número cada vez maior de pessoas, com competência, responsabilidade e honestidade; Considerando que o profissional de Educação Física deve atuar dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e desenvolvimento das potencialidades Humanas, daqueles aos quais presta serviços; Considerando que o profissional de Educação Física deve exercer sua profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais e éticos; Considerando as relações do profissional de Educação Física com os demais profissionais com os quais mantenha interfaces de trabalho, relações essas que devem basear-se no respeito, na liberdade e independência profissional de cada um, na busca do interesse e do bem estar dos seus beneficiários. Estabelece o quadro de Responsabilidades e Deveres, Direitos e benefícios. III - Das Responsabilidades, Deveres e Proibições Art. 1º - São deveres e responsabilidades dos profissionais de Educação Física: I - Promover uma Educação Física no sentido de que a mesma constitua-se em meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seus clientes através de uma educação efetiva para promoção da saúde e ocupação saudável do tempo de lazer. II - Assegurar a seus clientes um serviço profissional seguro, competente e atualizado, livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência, utilizando todo seu conhecimento, habilidade e experiência; III - Orientar seu cliente, de preferência por escrito, quanto às atividades ou exercícios recomendados, levando-se em conta suas condições gerais de saúde; IV - Manter o cliente informado sobre eventual circunstância adversa que possa influir no desenvolvimento do trabalho que será prestado; V - Renunciar às suas funções, tão logo se positive falta de confiança por parte do cliente, zelando, contudo, para que os interesses do mesmo não sejam prejudicados, evitando declarações públicas sobre os motivos da renúncia;
VI - Exercer a profissão com zelo, diligência, competência e honestidade, observando a legislação vigente resguardando os interesses de seus clientes ou orientados e a dignidade, prestígio e independência profissionais; VII - Zelar pela sua competência exclusiva na prestação dos serviços a seu encargo; VIII - Manter-se atualizado dos conhecimentos técnicos, científicos e culturais no sentido de prestar o melhor serviço e contribuir para o desenvolvimento da profissão; IX - Avaliar criteriosamente sua competência técnica e legal e somente aceitar encargos quando capaz de desempenho seguro para si e para seus clientes; X - Promover e/ou facilitar o aperfeiçoamento técnico, científico e cultural do pessoal sob sua orientação profissional; XI - Guardar sigilo sobre fato ou informações que souber em razão do exercício profissional; XII - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe; XIII - Manter-se atualizado, cumprindo e fazendo cumprir os preceitos éticos e legais da profissão; XIV - Emitir publicamente parecer técnico sobre questões pertinentes ao campo profissional, respeitando os princípios éticos deste código, os preceitos legais e o interesse público; XV - Comunicar formalmente aos Conselhos de Educação Física fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pelo cumprimento ético e legal da profissão; XVI - Apresentar-se adequadamente trajado para o exercício profissional, considerando os diversos espaços e atividades a serem desempenhadas; XVII - Respeitar e fazer respeitar o ambiente de trabalho, bem como o uso de materiais e equipamentos específicos; XVIII - Conhecer, vivenciar e difundir os princípios do "Espírito Esportivo". I - Contratar, direta ou indiretamente, serviços com prejuízos morais ou desprestigio para a categoria profissional; II - Auferir proventos em função do exercício profissional que não decorra exclusivamente de sua prática correta e honesta; III - Assinar documentos ou relatórios elaborados por outrem, alheio a sua orientação, supervisão ou fiscalização; IV - Exercer a profissão quando impedido, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não habilitados ou impedidos; V - Concorrer para a realização de ato contrário à lei ou destinado a fraudá-la no exercício da profissão; VI - Prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado ao seu patrocínio; VII - Interromper a prestação de serviços, sem justa causa e sem notificação prévia ao cliente; outro(s) não habilitado(s) ou impedido(s); IX - Aproveitar-se das situações decorrentes de seu relacionamento com seus clientes para obter vantagem corporal, emocional, financeira ou qualquer outra. Art. 3º - A conduta do Profissional de Educação Física com relação aos colegas deve ser pautada nos princípios de consideração, apreço e solidariedade em consonância com os postulados de harmonia da categoria profissional. Parágrafo Único - O espírito de solidariedade não induz nem justifica a conivência com o erro ou atos infringentes de normas éticas ou legais que regem a profissão. Art. 4º - O profissional de Educação Física deve, em relação aos colegas, observar as seguintes normas de conduta: Evitar referências prejudiciais ou de qualquer modo desabonadoras; Abster-se da aceitação de encargo profissional em substituição a colega que dele tenha desistido para preservar a dignidade ou interesses da profissão, desde que permaneçam as mesmas condições que ditaram o referido procedimento;
Jamais apropriar-se de trabalhos, iniciativas ou soluções encontradas por colegas, apresentando-os como próprios; Evitar desentendimento com colegas ao qual vier a substituir no exercício profissional. Art. 5º - O profissional de Educação Física deve, com relação à profissão, observar as seguintes normas de conduta: Emprestar seu apoio moral, intelectual e material às entidades de classe; Zelar pelo prestígio da profissão, da dignidade do profissional e do aperfeiçoamento de suas instituições; Aceitar exercer o cargo de dirigente nas entidades de classe, salvo circunstâncias que justifiquem sua recusa, e exercê-lo com interesse e dedicação; Jamais utilizar-se de posição ocupada na direção de entidade de classe em benefício próprio, diretamente ou através de outra pessoa; Acatar as resoluções votadas pelas entidades de classe, inclusive quanto a tabelas de honorários; Auxiliar a fiscalização do exercício profissional e zelar pelo cumprimento deste código, comunicando, com discrição e com embasamento, aos órgãos competentes as irregularidades de que tiver conhecimento; Não formular, junto aos clientes e estranhos, maus juízos das entidades de classe ou profissionais não presentes, nem atribuir erros ou dificuldades que encontrar no exercício da profissão à incompetência e desacertos daqueles; Manter-se em dia com o pagamento da anuidade devida ao Conselho Regional de Educação Física; Apresentar aos órgãos competentes as irregularidades ocorridas na administração das entidades de classe de que tomar conhecimento. IV - dos Direitos – Art. 6º - São direitos dos profissionais de Educação Física; I - Exercer a profissão sem ser discriminado por questões de religião, raça, sexo, idade, opinião política, cor, orientação sexual ou de qualquer outra natureza; II - Recorrer ao Conselho Regional de Educação Física quando impedido de cumprir o presente código e a lei, no exercício profissional; III - Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Educação Física sempre que sentir-se atingido no exercício profissional; IV - Recusar a realização de medidas ou atitudes profissionais que, embora permitidos por lei, sejam contrárias aos ditames de sua consciência ética; V - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional assim como do seu aprimoramento técnico, científico e ético; VI - Apontar falhas nos regulamentos e normas de instituições que oferecem serviços no campo da Educação Física ou de eventos, quando julgar tecnicamente que estes não sejam compatíveis com este código ou prejudiciais aos clientes, devendo dirigir-se por escrito obrigatoriamente ao Conselho Regional de Educação Física; VII - Receber salários ou honorários pelo seu trabalho profissional. V - dos Benefícios e Honorários Profissionais. Art. 7º - O profissional de Educação Física deve fixar previamente o contrato de serviços, de preferência por escrito, em bases justas, considerando os seguintes elementos: A relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade do serviço a ser prestado; O tempo que será consumido na prestação do serviço; A possibilidade de ficar impedido ou proibido de prestar outros serviços paralelamente; O fato de se tratar de cliente eventual, temporário ou permanente; Necessidade de locomoção na própria cidade ou para outras cidades, do Estado ou País; Sua competência, renome profissional e equipamentos e instalações; Maior ou menor oferta de trabalho no mercado onde estiver inserido;
Valores médios praticados pelo mercado em trabalhos semelhantes. Art. 8º - O profissional de Educação Física poderá transferir a prestação dos serviços a seu encargo a outro Profissional de Educação, com a anuência do cliente. Art. 9º - É vedado ao Profissional de Educação Física oferecer ou disputar serviços profissionais mediante aviltamento de honorários ou concorrência desleal. VI - das Infrações Art. 10 - A transgressão dos preceitos deste Código constitui infração disciplinar, sancionada segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades: Advertência escrita reservada com ou sem aplicação de multa; Censura pública, no caso de reincidência específica; Suspensão do exercício da profissão; Cancelamento do registro profissional e divulgação do fato. Art. 11 - O conhecimento efetivo de qualquer infração deste Código por um profissional nele inscrito, sem a correspondente denúncia ao respectivo Conselho Regional, constitui-se em infração ao mesmo.
VII - das Penalidades Art. 12 - Aplicação de penalidades, conforme os preceitos deste código, ocorrerão após o julgamento pelo T.R.E. e no caso de recurso pela sentença do T.S.E. Art. 13 - A penalidade prevista como advertência, consiste numa admoestação ao infrator reservadamente, acompanhada ou não do pagamento de multa que poderá variar entre 1 e 10 vezes o valor da anuidade. Art. 14 - A censura pública consiste numa repreensão que será registrada em sua ficha no CREF na presença de duas testemunhas. Art. 15 - A suspensão do exercício profissional não poderá ultrapassar a 29 dias com prejuízo dos proventos. Art. 16 - O cancelamento do registro profissional de Educação Física, impede o exercício profissional em qualquer circunstância. VIII - do Julgamento Art. 17 - O julgamento das questões relacionadas às transgressões a este Código de Ética caberá, inicialmente, aos Conselhos Regionais de Educação Física, que funcionarão como Tribunais Regionais de Ética. § 1º - O recurso voluntário somente será encaminhado ao Tribunal Superior de Ética Profissional se o Tribunal Regional de Ética Profissional respectivo mantiver a decisão recorrida. § 2º - É facultado recurso de efeito suspensivo, interposto no prazo de 30 dias, para o Conselho Federal de Educação Física em sua condição de Tribunal Superior de Ética Profissional. IX - dos Casos Omissos Art. 18 - As omissões deste Código serão analisadas pelo Conselho Federal de Educação Física.
CÓDIGO DE ÉTICA DA CBF MINUTA EM DISCUSSÃO 2016 C A P Í T U L O I - APRESENTAÇÃO 1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 2. ABRANGÊNCIA E ESCOPO C A P Í T U L O 2 - PRINCIPIOS GERAIS DE ÉTICA RELACIONADAS À GESTÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO 3. CONDUTAS ESPERADAS 4. CONDUTAS GERAIS VEDADAS 5. CONDUTAS VEDADAS RELATIVAS A CLIENTES, FORNECEDORES E PARCEIROS 6. CONDUTAS VEDADAS RELATIVAS A GOVERNOS E AUTORIDADES 7. CONDUTAS VEDADAS RELATIVAS À SOCIEDADE 8. CONDUTAS VEDADAS AOS DIRIGENTES DE ENTIDADES DESPORTIVAS PROFISSIONAIS DE FUTEBOL C A P Í T U L O 3 - PRINCIPIOS GERAIS DE ÉTICA RELACIONADOS A VANTAGENS INDEVIDAS 9. CONFLITO DE INTERESSES 10. SUBORNO E CORRUPÇÃO 11. COMISSÕES 12. INDISCRIMINAÇÃO 13. PROTEÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA E MENTAL 14. INTEGRIDADE DOS JOGOS E COMPETIÇÕES C A P Í T U L O 5 - APLICABILIDADE DO CÓDIGO E MEDIDAS DISCIPLINARES 19. SANÇÕES APLICÁVEIS 20. SUSPENSÃO PARCIAL DA APLICAÇÃO DE SANÇÕES 21. REGRAS GERAIS PARA APLICAÇÃO DE SANÇÕES 22. REINCIDÊNCIA 23. CONCURSO DE INFRAÇÕES 24. PRAZO DE PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO C A P Í T U L O 6 - DISPOSIÇÕES FINAIS 25. APROVAÇÃO E EXECUÇÃO A N E X O I - REGIMENTO DA COMISSÃO DE ÉTICA, DA CAMARA DE INVESTIGAÇÃO E DA CAMARA DE TOMADA DE DECISÃO Representam, para a Confederação Brasileira de Futebol, os seguintes princípios éticos CAPÍTULOI APRESENTAÇÃO - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS a) Atuação segundo padrões que assegurem o respeito à vida, o bem-estar no trabalho, a saúde e a segurança das pessoas e integrantes da entidade; b) b) Estrita observância do conjunto de leis, normas, costumes e regulações e melhores práticas da CBF, as quais regem suas atividades; c) c) Conformidade com os princípios da probidade e da boa-fé; d) d) Observância dos interesses das federações, clubes, patrocinadores e demais entidades com as quais se relaciona;
e) e) Transparência sobre os procedimentos envolvidos em suas atividades; f)
f) Manutenção do estrito sigilo sobre as informações confidenciais que lhes forem confiadas em razão dos relacionamentos estabelecidos com a sociedade;
g) Atuação de forma consciente e responsável perante a sociedade em que se insere, buscando seus objetivos empresariais com responsabilidade social, de modo a também contribuir para o desenvolvimento desta sociedade e para a valorização da cidadania. h) No respeito pelo primado da Ética, isto é, saber distinguir o que é “bem”, do que é “mal”, o treinador desempenha um papel particular. i) Os deveres do treinador não se esgotam no cumprimento estrito e rigoroso das suas tarefas profissionais. j) O treinador interfere directamente na vida daqueles que estão sob a sua orientação desportiva mas, para além dessa superior responsabilidade, ele é um modelo de referência, exactamente pela natureza das suas funções, cujas condutas se estendem aos outros agentes que o rodeiam e à sociedade em geral. Ele é um elemento decisivo na estrutura do futebol e do futsal, pelas implicações da sua acção na direcção do processo desportivo e, nessa qualidade, peça fulcral no seio das organizações desportivas e nas consequentes repercussões em toda a sociedade.
CÓDIGO DE ÉTICA E DE CONDUTAS DO TREINADOR DE FUTEBOL E DE FUTSAL Associação Nacional dos Treinadores de Futebol 1. Preâmbulo Embora não seja usual a definição de conceitos em documentos desta natureza, apresentam-se algumas noções básicas sobre o tema, dado que se pretende, também, que este Código tenha um sentido pedagógico. A ética está ligada à moral e estabelece o que é bom, mau, permitido ou desejado em relação a uma acção ou decisão. Ética pode ser definida como a ciência do comportamento moral, já que estuda e determina como devem agir os membros de uma sociedade. Um código, por sua vez, é uma combinação de sinais que tem um determinado valor dentro de um sistema estabelecido. Na lei, é conhecido como código o conjunto de normas que regem um determinado assunto. Um código de ética, portanto, define regras que regem o comportamento das pessoas dentro de uma empresa ou organização. Embora a ética não seja coercitiva (não impõe penalidades legais), o código de ética supõe uma normativa interna de cumprimento obrigatório. As normas mencionadas nos códigos de ética podem estar vinculadas a normas legais. O principal objectivo destes códigos é manter uma linha de comportamento uniforme entre todos os integrantes de uma organização. 1.1 - A função do treinador na sociedade Numa sociedade em que a prática desportiva assume elevada importância social e cultural, a função do treinador de futebol e de futsal, profissionalmente reconhecida por Lei, assume papel de relevo, não só pelo quadro específico da sua intervenção com praticantes e outros agentes mas pelo que representa de modelo e exemplo em muitos dos seus comportamentos. Neste quadro é decisivo o estabelecimento de um código de ética, vinculado às actuais normas legais que referem que “São objectivos gerais do regime de acesso e exercício da actividade de treinador de desporto:
a) A promoção da ética desportiva e do desenvolvimento do espírito desportivo; b) b) A defesa da saúde e da segurança dos praticantes, bem como a sua valorização a nível desportivo e pessoal.
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Quer quando orientados para a competição desportiva quer quando orientados para a participação nas demais actividades físicas e desportivas.” No respeito pelo primado da Ética, isto é, saber distinguir o que é “bem”, do que é “mal”, o treinador desempenha um papel particular. Os deveres do treinador não se esgotam no cumprimento estrito e rigoroso das suas tarefas profissionais. O treinador interfere directamente na vida daqueles que estão sob a sua orientação desportiva mas, para além dessa superior responsabilidade, ele é um modelo de referência, exactamente pela natureza das suas funções, cujas condutas se estendem aos outros agentes que o rodeiam e à sociedade em geral. Ele é um elemento decisivo na estrutura do futebol e do futsal, pelas implicações da sua acção na direcção do processo desportivo e, nessa qualidade, peça fulcral no seio das organizações desportivas e nas consequentes repercussões em toda a sociedade. Por isso, a função do treinador impõe-lhe uma diversidade de obrigações legais e morais, muitas vezes difíceis de conciliar, perante: A profissão em geral ou qualquer colega em particular;
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O praticante;
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Os outros agentes activos da actividade desportiva;
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O clube e os dirigentes na instituição que o contrata;
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Os membros, dirigentes e outros, de instituições potencialmente contratantes;
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- Os membros, dirigentes e outros, de instituições com quem compete;
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- As instituições que dirigem o desporto, nacional e internacionalmente;
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- Os elementos da comunicação social;
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- Os cidadãos em geral que se relacionam com as actividades desportivas.
1.2 – As ligações ao Código de Ética da FIFA Como foi referido um Código de Ética “está vinculado às actuais normas legais” e também o da FIFA se aplica aos treinadores, num conjunto de orientações, que se transcrevem em bloco, para mais fácil reconhecimento, particularmente as seguintes: 1 - As pessoas singulares Este código aplica-se a todos os oficiais. Oficiais são todos os conselheiros, membros de comités, árbitros e árbitros assistentes, treinadores e outras pessoas responsáveis técnicos, médicos e administrativos na FIFA, numa confederação, associação, liga ou clube. 3 - Normas gerais 1. Dos treinadores espera-se que estejam conscientes da importância da sua função, assim como das suas obrigações e responsabilidades. A sua conduta deve reflectir o facto de que eles suportam e ainda mais os princípios e objectivos da FIFA, … a federação de todas as maneiras e abster-se de qualquer acção que pudesse ser prejudicial a essas metas e objectivos. Devem respeitar o significado de sua fidelidade a FIFA, … federação, clubes, e representá-los honestamente, dignamente, respeitavelmente e com integridade.
2. Os treinadores devem mostrar compromisso com uma atitude ética no exercício das suas funções. Devem comportar-se e agir com total credibilidade e integridade. 3. Os treinadores não podem, de forma alguma, abusar da sua posição como parte de sua função, especialmente para tirar proveito para ganhos ou fins pessoais. 5 – Conflito de interesses No exercício das suas funções os treinadores devem evitar todas as situações que possam dar lugar a conflito de interesses. Há conflito de interesses quando um treinador tem ou parece ter interesses privados ou pessoais susceptíveis de impedir o cumprimento das suas obrigações com integridade, independência e determinação. Por interesse privado ou pessoal entende-se nomeadamente o facto de retirar benefícios para si, parentes, amigos ou conhecidos 7 – Discriminação Os treinadores não podem ofender a dignidade de uma pessoa ou grupo de pessoas através de palavras ou actos de desprezo, discriminatórios ou para denegri-las, relativos à etnia, raça, cor, Cultura, língua, religião ou sexo. 8 – Protecção de direitos pessoais No exercício das suas funções os treinadores devem assegurar que os direitos pessoais das pessoas com quem eles estão em contacto e com quem eles lidam sejam protegidos, respeitados e salvaguardados. 9 – Lealdade e confidencialidade 1. No exercício das suas funções os treinadores devem reconhecer o seu dever fiduciário especialmente para com a FIFA. Federação, Clubes. 2. No exercício das suas funções, os treinadores deverão manter em absoluta confidencialidade toda a informação recebida, de acordo com o princípio da lealdade. A divulgação de informação ou opinião deve efectuarse de acordo com os princípios, directrizes e objectivos da FIFA, federação e clubes 10 – Aceitação ou oferta de prendas e benefícios 1. Aos treinadores não é permitido aceitar prendas ou outros benefícios que excedam o valor médio relativo de costumes culturais locais a partir de quaisquer terceiros. Se houver dúvida, as prendas devem ser declinadas. 2. No exercício das suas funções os treinadores podem dar prendas ou outros benefícios de acordo com o valor médio relativo de costumes culturais locais a quaisquer terceiros, desde que não sejam ganhas vantagens desonestas e não haja conflito de interesses. 12 – Comissões Os treinadores estão proibidos de aceitar comissões ou promessas de entidades para negociar acordos de qualquer tipo no exercício das suas funções, salvo se o órgão que os preside lhes tenha expressamente permitido fazê-lo. Na ausência de tal órgão que preside, o órgão ao qual o treinador pertence, decidirá. 13 – Apostas Os treinadores estão proibidos de participar, directa ou indirectamente, em apostas, jogos, lotarias e eventos similares ou transacções relacionadas com jogos de futebol. Eles são proibidos de ter participações, ativa ou passivamente, em empresas, consórcios, organizações, etc, para promover, exercer como corrector, organizar ou realizar tais eventos ou organizações. 14 – Dever de informação e comunicação 1. Os treinadores devem denunciar qualquer evidência que indique uma violação das regras de conduta ao Secretário Geral da FIFA, que deverá relatá-la ao órgão competente.
2. As pessoas implicadas terão que, se lhes for solicitado, apresentar elementos ao órgão responsável e, em particular, declarar detalhes de seu conhecimento e fornecer as provas solicitadas para inspecção. 1.3 - A natureza das regras profissionais e éticas 1.3 - 1 - As regras profissionais e éticas aplicáveis ao treinador estão adequadas a garantir, através da sua espontânea observância, o exercício correcto de uma função que é reconhecida como de elevada importância em todas as sociedades civilizadas. O incumprimento dessas regras pelo treinador, não sendo susceptível de ser objecto de sanções disciplinares, é, no entanto, indispensável à honorabilidade e reconhecimento da função. 2 - Princípios gerais que a ANTF elege como referências éticas para o treinador 2.1 – A independência, como qualidade de preservação da isenção relativa a qualquer pressão, que o limite no cumprimento dos seus deveres. 2.2 – A competência, como saber integrado, técnica e cientificamente suportado e em permanente reconstrução. 2.3 – A responsabilidade, como atitude firme e disponível, dirigida ao bem do outro, com mobilização pessoal e assertiva. 2.4 – A integridade, como conjunto de qualidades pessoais que se expressam numa conduta honesta, justa, idónea e coerente. 2.5 – O respeito, como exigência subjectiva de reconhecer, defender e promover em todas as dimensões a dignidade humana. 2.6 - As incompatibilidades como exigência ao treinador de exercer a sua função com a independência necessária e em conformidade com o seu dever de pugnar pela obtenção dos objectivos e resultados desportivos legítimos, das instituições em que exerce a profissão. 3 – Relações com a profissão em geral ou qualquer colega em particular 3.1 – O treinador deve pugnar pela sua formação profissional e desportiva com o propósito de valorização o Futebol Português. 3.2 – O treinador deve contribuir com ponderação, para a pacificação do desporto, abstendo-se de, em público ou em privado, comentar acintosamente actuações de outros agentes desportivos. 3.3 – Ao treinador compete desenvolver acções concertadas com colegas de profissão no seio dos organismos da classe, tendo em vista a defesa intransigente dos direitos e obrigações da sua profissão. 3.4 – O treinador deve contribuir para a inovação regulamentadora e legislativa que fomente e defenda a estabilidade laboral, considerando o trabalho como um meio de sua valorização profissional. 3.5 – O Treinador não pode representar ou agir por conta de duas ou mais entidades relativamente ao mesmo objecto desportivo, se existir um conflito ou um risco sério de conflito entre os interesses dessas entidades. 3.6 – O treinador no âmbito da sua função deve abster-se de se ocupar dos assuntos de qualquer entidade que não aquela em que exerce a sua actividade profissional, quando surja um conflito de interesses, quando exista risco de quebra de fidelidade, ou quando a sua independência possa ser comprometida. 3.7 – A solidariedade profissional exige ao treinador evitar litígios inúteis, ou qualquer outro comportamento susceptível de denegrir a reputação da profissão, promovendo uma relação de confiança e de cooperação entre os treinadores. Porém, a solidariedade profissional nunca pode ser invocada para colocar os interesses da profissão contra os interesses das entidades onde exerce a sua função. 3.8 – Os treinadores devem actualizar e melhorar o seu nível de conhecimento e das suas competências profissionais, numa posição de formação profissional contínua, tendo em consideração a dimensão universal da sua profissão. 3.9 – Litígios entre treinadores 3.9 - 1 - Quando um treinador considere que um colega violou uma regra profissional e ética deve chamar a atenção do colega para esse facto. 3.9 - 2 - Sempre que qualquer diferendo pessoal de natureza profissional surja entre treinadores, devem os mesmos, em primeiro lugar, tentar resolver a questão de forma amigável por entendimento directo.
3.9 - 3 - O treinador não deve iniciar um processo contra um colega, relativo a um litígio previsto nos n.os 3.9.1 e 3.9.2, sem previamente informar a associação de classe, por forma a conceder-lhe a oportunidade de mediar a resolução amigável do diferendo. 3.10 – É dever do treinador só exercer funções para as quais está habilitado, de acordo com os regulamentos em vigor. É igualmente dever do treinador o exercício das funções para as quais é efectivamente contratado, não podendo, em qualquer caso, ludibriar ou contornar os regulamentos e instituições para, de qualquer forma e em benefício próprio ou de terceiros, exercer funções diferentes daquelas que estão legitimamente previstas. 4 – Relações com o praticante 4.1 – É dever do treinador pugnar pela valorização desportiva e pessoal de todos os praticantes que estão sob a sua direcção, criando condições de equidade de tratamento e igualdade de oportunidades. O treinador deve obrigar-se a si próprio, a colocar todo o seu conhecimento e toda a sua competência, direccionados para máxima elevação possível das competências desportivas e pessoais, de todos os praticantes que estão no seu âmbito de intervenção. 4.2 – Os/as treinadores/as que interajam com crianças e jovens deverão adoptar um comportamento modelo, integro e respeitador. O contexto desportivo não pode ser usado para lograr as suas expectativas, ou subvalorizar as suas capacidades. Todas as acções dos treinadores de Futebol/Futsal deverão submeter-se às necessidades das crianças, num ambiente seguro, saudável e de bem-estar. Devem adoptar uma atitude positiva durante as sessões de treino, e encorajar tanto o esforço como o resultado e o espírito desportivo. Devem assegurar-se que o seu nível de qualificações é apropriado às necessidades das crianças e aos diferentes níveis da prestação desportiva, reconhecendo as necessidades de desenvolvimento dos/as atletas. Os/as treinadores/as devem dedicar especial atenção à prevenção do assédio e abuso sexual sobre mulheres, jovens e crianças no desporto, respeitando as orientações específicas sobre comportamentos convenientes e inadmissíveis, de acordo com a Resolução do Conselho da Europa, 3/2000. 4.3 – É dever do treinador, particularmente na intervenção com crianças e jovens, promover a vivênvcia e sensibilidade para valores positivos de carácter social e desportivo, tendo em conta que se trata de etapas em que o praticante constroi ou solidifica a sua personalidade. 5 – Relações com os outros agentes activos da actividade desportiva 5.1 - É dever do treinador contribuir para o cumprimento das regras éticas nas relações com os outros agentes desportivos ou com qualquer outra pessoa que exerça funções no domínio desportivo, ainda que a título ocasional. Pela natureza das suas funções, de direcção de parte significativa do processo desportivo, com responsabilidades pedagógicas relevantes, exige-se ao treinador extremo rigor na defesa desses princípios éticos, constituindo-se como um modelo de referência, abstendo-se, por isso, de quaisquer condutas ofensivas ou que possam denegrir premeditadamente a dignidade de outros. 6 – Relações com o clube e os dirigentes na instituição que o contrata 6.1 – O treinador deve, em todas as circunstâncias, observar o princípio da boa fé e da lealdade funcional e o carácter partilhado das suas funções, nos limites estabelecidos legalmente. 6.2 – O treinador deve abster-se de aceitar o exercício de qualquer tarefa profissional fora do âmbito das funções para que foi contratado. 6.3 – O treinador não pode colocar em risco o cumprimento do dever de lealdade profissional relativamente a outras entidades. 6.4 – O treinador pode, no entanto, estabelecer os contactos e compromissos inerentes à defesa dos seus direitos profissionais, com as entidades que entender, no integral respeito pelo que está regulamentado. 7 – Relações com os membros, dirigentes e outros, de instituições potencialmente contratantes 7.1 – O treinador deve abster-se de aceitar o exercício ou compromisso de qualquer tarefa profissional que colida com as funções que esteja a exercer, colocando em causa os deveres de lealdade para com a entidade em que está contratado. 7.2 – Ao treinador é garantido o direito de negociar com as entidades que entender para a garantia e/ou continuidade da sua actividade profissional, cumprindo o que está regulamentado. Não é criticável neste sentido, e na dinâmica contratual actual, que o treinador estude diversas propostas em simultâneo, da mesma forma que as entidades contratantes o fazem com diversos treinadores, desde que impere o princípio da verdade e da assumpção dos compromissos.
8 – Relações com os membros, dirigentes e outros, de instituições com quem compete 8.1 – O treinador deve cumprir e estimular de forma exemplar a aplicação dos princípios do espírito desportivo com as entidades com quem compete, realçando as possibilidades de afirmação dos valores da convivência e da tolerância que o desporto pode promover, contribuindo, com as suas afirmações e actos, para que um clima positivo se verifique, antes, durante e depois da competição propriamente dita. 9 – Relações com as instituições que dirigem o desporto, nacional e internacionalmente 9.1 – O treinador deve adequar as suas condutas aos diferentes contextos nacionais e internacionais em que vive e exerce a profissão, não perdendo a sua identidade e direitos pessoais e profissionais, mas considerando, no entanto, os diferentes hábitos, tradições e culturas, no desenvolvimento da sua função. Terá como referência significativa neste domínio o já apresentado Código de Ética da FIFA. 10 – Relações com os elementos da comunicação social 10.1 – Ao treinador é devido o mesmo sentido de relações positivas com a Comunicação Social, que com todos os outros intervenientes no fenómeno desportivo. Dadas as particularidades destas entidades, é devido o realce de independência a elas relativo, para obviar a quaisquer situações de vantagem ou favoritismo, de que o treinador se deve abster. É desejável o aproveitamento de oportunidades proporcionadas por estas entidades para o exercício do previsto no ponto 8.1. 11 – Relações com os cidadãos em geral que se relacionam com as actividades desportivas. 11.1 - O treinador tem a obrigação profissional, como pedagogo e condutor de outros cidadãos praticantes, de promover os valores éticos do desporto, mantendo o respeito e a disciplina inerentes à relação social de uma comunidade. 11.2 – O treinador deve manter-se fiel à verdade, lutando contra a ignomínia, a calúnia e a manipulação do pensamento e da vontade colectivas
Lei 8650/93 – Treinador de Futebol [TREINADOR DE FUTEBOL] LEI Nº 8.650/1993. Dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 8.650, DE 20 DE ABRIL DE 1993. Dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º A associação desportiva ou clube de futebol é considerado empregador quando, mediante qualquer modalidade de remuneração, utiliza os serviços de Treinador Profissional de Futebol, na forma definida nesta Lei. Art. 2º O Treinador Profissional de Futebol é considerado empregado quando especificamente contratado por clube de futebol ou associação desportiva, com a finalidade de treinar atletas de futebol profissional ou amador, ministrando-lhes técnicas e regras de futebol, com o objetivo de assegurar-lhes conhecimentos táticos e técnicos suficientes para a prática desse esporte. Art. 3º O exercício da profissão de Treinador Profissional de Futebol ficará assegurado preferencialmente: I - aos portadores de diploma expedido por Escolas de Educação Física ou entidades análogas, reconhecidas na forma da Lei; II - aos profissionais que, até a data do início da vigência desta Lei, hajam, comprovadamente, exercido cargos ou funções de treinador de futebol por prazo não inferior a seis meses, como empregado ou autônomo, em clubes ou associações filiadas às Ligas ou Federações, em todo o território nacional.
Art. 4º São direitos do Treinador Profissional de Futebol: I - ampla e total liberdade na orientação técnica e tática da equipe de futebol; II - apoio e assistência moral e material assegurada pelo empregador, para que possa bem desempenhar suas atividades; III - exigir do empregador o cumprimento das determinações dos órgãos desportivos atinentes ao futebol profissional. Art. 5º São deveres do Treinador Profissional de Futebol: I - zelar pela disciplina dos atletas sob sua orientação, acatando e fazendo acatar as determinações dos órgãos técnicos do empregador; II - manter o sigilo profissional. Art. 6º Na anotação do contrato de trabalho na Carteira Profissional deverá, obrigatoriamente, constar: I - o prazo de vigência, em nenhuma hipótese, poderá ser superior a dois anos; II - o salário, as gratificações, os prêmios, as bonificações, o valor das luvas, caso ajustadas, bem como a forma, tempo e lugar de pagamento. Parágrafo único. O contrato de trabalho será registrado, no prazo improrrogável de dez dias, no Conselho Regional de Desportos e na Federação ou Liga à qual o clube ou associação for filiado. Art. 7º Aplicam-se ao Treinador Profissional de Futebol as legislações do trabalho e da previdência social, ressalvadas as incompatibilidades com as disposições desta Lei. Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 9º Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 22 de abril de 1993; 172º da Independência e 105º da República. ITAMAR FRANCO Walter Barelli Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 22.4.1993
CÓDIGO DE ÉTICA - Módulo 6 Prof. Fabio Cunha O Código de Ética dos Treinadores de Futebol segundo a Associação Brasileira de Treinadores de Futebol, diz: “Art. 1o – São deveres dos treinadores, além da defesa, zelar pelo prestígio da classe, da dignidade das Entidades e Associações, do aperfeiçoamento técnico dos atletas em geral. Art. 2o – Deve o Treinador: a) Cumprir com honestidade o contrato que firmam; b) Ser pontual (e assíduo) no cumprimento de seus deveres; c) Providenciar para que as equipes a seu cargo se apresentem nos locais de jogos, dentro do horário oficial, previamente determinado; d) Respeitar as autoridades, assim como as que estiverem em função nos jogos, acatando suas decisões; e) Cumprir e afazer cumprir pelos atletas a seu cargo os deveres para com a disciplina; f) Responsabilizar-se pela atuação de sua equipe; g) Difundir entre seus atletas os conhecimentos relativos às regras e às leis desportivas; g) Não firmar contrato com associação ou entidade, quando estas mantiverem outro treinador, sem a anuência expressa do mesmo treinador; h) Recusar compromisso que considere ilegal ou imoral; Respeitar sua entidade de classe enaltecendo-a sempre que possível.
Art. 3o – Não é permitido ao Treinador: a) Fazer declarações aos órgãos de informações que envolvam matéria de ordem administrativa das entidades e associações; b) Fazer comentários desairosos com referência aos seus colegas; c) Envolver-se em qualquer questão política das associações ou entidades. Art. 4o – Relações com as Diretorias: a) Deverá o treinador tratar os diretores e demais funcionários das associações ou entidades com respeito e independência, não deixando de prescindir de igual tratamento por parte deles, zelando sempre pelas prerrogativas a que tem direito; b) Apresentar-se condignamente trajado no exercício da função; c) Ouvir a associação de classe, antes de tomar qualquer atitude que direta ou indiretamente se relacione com a classe. Art. 5o – Deverá sempre o treinador contratar previamente seus serviços por escrito. a) Neste instrumento de locação de serviços, deverá constar além da parte pecuniária (luvas, se houver, salários, gratificações, prêmios etc.) o que se refere às suas obrigações de trabalho, seus deveres e direitos, ficando sempre assegurada a sua condição de liderança da sua equipe de trabalho; Em caso de desistência ou renúncia do cargo, deverá sempre o treinador notificar a associação ou entidade a que estiver servindo, da sua liberação, evitando sempre causar prejuízo com a sua atitude. Art. 6o – Sempre que tenha conhecimento de transgressão ao presente Código, a Associação chamará a atenção do responsável para o dispositivo violado, sem prejuízo das penalidades que couberem, representando à Comissão Disciplinar sempre que o caso exija. Art. 7o – Fica criada uma Comissão Disciplinar dos Treinadores, a qual será bienalmente constituída de três membros, indicados pela Associação e nomeados pelo seu Presidente. Art. 8o – O presente Código vigorará a partir de 7 de julho de 1976, cabendo à ABTF as providências para sua execução e divulgação. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1976. A DIRETORIA” (LEAL, 2001)
Executivo de Futebol Área de Atuação
Formação sugerida ► Ensino Superior Completo. ► Conhecimento da Legislação Esportiva. ► Conhecimento em registros e Transferências. ► Conhecimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). ► Noções básicas de Informática. ► Conhecimento da língua inglesa. Código de Ética ► Exemplar conduta entre os Executivos (respeito, lealdade, transparência, entre outros). ► Troca constante de informações significativas. Relação com Treinadores ► Construir e estabelecer uma confiança recíproca entre as partes. ► Esclarecer que as diretrizes do trabalho sempre serão definidas pela Instituição. ► Não vincular-se a carreira do treinador. Relação com Atletas ► Implantar Manual de procedimentos, por escrito. ► Promover demonstrações periódicas das normas, através de palestras e/ou reuniões. ► Estabelecer limites de relacionamentos. ► Fazer obedecer a hierarquia do clube. ► Manter contato freqüente, visando identificar possíveis problemas com antecedência prévia.
NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA
II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES Mesa-redonda: Comemorações Históricas: São Luís 400 anos: Ciência, Arte e Humanidades 30/05/2011
A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO / SÃO LUIS/VINHAIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Cadeira 40 – Patroneada por Dunshee de Abranches Agradeço o convite para este Encontro, o segundo do CRISOL - coordenado pelo Professor Alexandre Fernandes Correia, do Departamento de Ciências Sociais da UFMA. Um agradecimento especial ao Rafael. Conheci-o ainda quando estudante do “Liceu Maranhense”, aluno de minha mulher, Delzuite, professora de História. Depois, reencontrei-o, já acadêmico de História nesta Universidade. Quando Rafael fez-me o convite, disse que o evento trataria de uma temática ampla – este II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES entre outras temáticas discutiriam sobre Patrimônios Culturais, Comemorações Históricas, Museologia, Representações e Culturas. Informou, ainda, da participação, como palestrantes dos Senhores Nilton Batista e Abimael Ferracini. A proposta era que falasse, como terceiro componente da mesa, sobre o Projeto do IHGM para os 400 anos de São Luís, ou mesmo minhas pesquisas sobre História do Maranhão. Optei pelo tema “A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO/SÃO LUIS/VINHAIS”. Devo esclarecer que não sou ‘Historiador de carteirinha’; minha formação básica é em Educação Física e Esportes. Tenho me dedicado, desde o início dos anos 80, do século passado, ao resgate da memória dos esportes, da educação física e do lazer no/do Maranhão. Escrevo sobre tema específico, mas para isso, tenho que saber a História deste estado que me acolheu. Vou começar com a cultura, entendida aqui como o conjunto de manifestações que dá singularidade a um determinado grupo social, fruto das relações sociais e da profunda interação dos homens com o meio em que vivem. Constitui-se num patrimônio material e imaterial acumulado e transformado ao longo de gerações. Um legado que não se limita a manifestações artísticas, à língua, à religião, mas se articula nos mais variados domínios da produção humana. A cultura confere uma identidade coletiva a um determinado grupo social, espacialmente definido e historicamente determinado (CASTRO, 2008)81. Para Castro (2008)1, a “memória” consiste na capacidade humana de retenção de acontecimentos, fatos e experiências vividas e na retransmissão deles às novas gerações através de diferentes suportes como a própria voz, a música, a imagem, textos, artesanato, etc. Serve-se de Câmara Cascudo (1971) 82 para definir essa memória, como o alicerce para a identidade regional. Afirma que o conjunto de memórias de uma sociedade tem uma função de convocar tanto o passado quanto o futuro. Tem, portanto, um lado de permanência e outro de produtividade à espera de quem com ela entre em contato. Segundo o autor, “[…] a memória é a imaginação no povo, mantida e comunicável pela tradição, movimentando as culturas convergidas para o uso através do tempo. Essas culturas constituem quase a civilização nos grupos humanos”. Essa memória é que define a origem e identidade do homem, conferindo-lhe também, dignidade. Trata-se de um mecanismo de apoio, que evita que uma localidade fique estagnada no tempo, auxiliando na preservação de fatores como as primeiras regras de vida associativa ou de técnicas de uso cotidiano e de produção 81
CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o turismo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010. 82 CASCUDO, Luis da Câmara. Tradição, ciência do povo. São Paulo: Perspectiva, 1971, p. 9.
tecnológica, lançando-se no mecanismo cumulativo de saber transmitido intra e inter-gerações (BARROS, 2003) 83. Já a identidade, segundo Castro (2008) 1, é um processo em constante movimento e é o que faz com que o indivíduo reconheça a si mesmo, a priori, como parte de uma identidade coletiva, reconhecendo aos outros como iguais, estabelecendo uma relação íntima ou essencial entre ele e seu grupo. Portanto, a identidade se constrói dentro de um mecanismo que engloba a consciência de si mesmo e o reconhecimento do outro (BETTIO, 2000) 84. Assim, a identidade de um povo é o resultado da identidade individual e coletiva estabelecidas pelos membros de uma mesma comunidade. Fábio Lessa (2010) 85, ao fazer uma análise da construção da identidade grega, afirma que “pensar em práticas esportivas e, principalmente, em Olimpíadas nos remete, quase que automaticamente, aos gregos antigos”. Enfatiza esse autor, que o esporte, na Grécia Antiga, se constitui numa prática ritual que atuava na formação do cidadão ideal e na sua demarcação identitária. Cabia às divindades políades a função de regulação social, permitindo a integração dos indivíduos aos grupos sociais. Continuando com Lessa: as pesquisas antropológicas freqüentemente concebem o ritual como elemento de coesão social, servindo ainda para dirimir conflitos ou diminuir rivalidades e ao mesmo tempo para transmitir conhecimento. Roberto DaMatta (1997, p. 29)86, por exemplo, afirma que os ritos servem para promover a identidade social. Marc Auge (1999, p. 44-5) 87, em sentido semelhante, destaca que as atividades rituais têm por objetivo essencial a conjugação e domínio da dupla polaridade: individual/coletivo e si-mesmo/outro A identidade é relacional e depende de algo de fora dela para se constituir, isto é, da outra identidade. Afirma Lessa (2010): “Além de plurais e construídas historicamente, as identidades são constituídas por meio da marcação da diferença, o que significa dizer que a identidade depende da diferença. Afirmar a identidade implica em demarcar fronteiras. Atuam, entre outras coisas, na demarcação dos cidadãos frente aos outros; na explicitação das marcas das diferenças. Podemos mencionar que a questão da identidade, da diferença e do outro é um problema social, porque em um mundo heterogêneo, o encontro com o outro, com o estranho, com o diferente, é inevitável, e ao mesmo tempo, se articula perfeitamente com a dinâmica das práticas rituais. Ao refletir a identidade local, nos sentidos coletivos e individual, a memória local age reforçando a autoestima. Pollak (1989) 88 escreveu: “A referência ao passado serve para manter a coesão dos grupos e instituições que compõe uma sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as oposições irredutíveis”. Pertencer a uma identidade cultural significa descobrir-se, ser diferente dos comportamentos globais. Por isso, patrimônios culturais intangíveis como as formas de manifestações lingüísticas, de relacionamento, de trabalho com a terra e a tipificidade da culinária, o cultivo e o preparo do vinho, os passos das danças tornaram-se patrimônios da cultura e demonstram a riqueza da relação entre identidade e diversidade da cultura brasileira (REIS, 2009) 89. No século XX a sensação da fragmentação da identidade, da perda das referências culturais, despertou no homem o desejo de “retorno a algo perdido”, ou seja, a necessidade de buscar manifestações culturais que pertencem a seu passado vivo, a comportamentos que deixaram de ser comuns, pois o frenesi 83
BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade – Memória hoje. Morpheus – Revista Eletrônica em Ciências Humanas, ano 02, n. 03, 2003. Disponível em <http://www.unirio.br/cead/morpheus/>. 84 BETTIO, Valéria Maria da Silva. Movimento Brasileiro: crítica e nacionalismo no Modernismo. Porto Alegre: PUCRS, 2000. 85 LESSA, Fábio. Práticas Esportivas Na Construção Da Identidade Helênica. In Blog Historia(s) do Sport: http://historiadoesporte.wordpress.com/2010/09/06/praticas-esportivas-na-construcao-da-identidade-helenica/, acessdo em 11/09/2010. 86 DAMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. 87 AUGÉ, M. Por uma antropologia dos mundos contemporâneos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. 88 POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, p. 9, 1989 89 REIS, Fábio José Garcia dos. Patrimônio cultural: revitalização e utilização. In Fonte: http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc, disponível em http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=14218, 6/11/2009, acessado em 03/09/2010.
contemporâneo exige atitudes da sociedade globalizada: “A preservação do patrimônio tem entre suas funções o papel de realizar “a continuidade cultural”, ser o elo entre o passado e o presente e nos permite conhecer a tradição, a cultura, e até mesmo quem somos e de onde viemos. Desperta o sentimento de identidade. Margarita Barreto defende a ‘recriação de espaços revitalizados’, como um dos fatores que podem ‘desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura” (BARRETO, 2000. p.44) 90. Então, ao se buscar a identidade, fatalmente chegar-se-á a quem realmente se é. A essência cultural é o que une os povos, permitindo que se reconheçam como grupo, como coletividade diante de sua diversidade. A identidade irá se concretizar a partir da consciência de que a riqueza das pluralidades culturais, reveladas através da memória coletiva, está inserida no potencial de superação de marcas particulares do indivíduo. Até que ponto é possível conservar essa identidade num mundo marcado pela intensificação de fluxos globais de informação? É possível pensar em mundialização da cultura? Costa (2002) 91 considera haver um “paradoxo das identidades culturais em contexto de globalização”: Porventura, um dos aspectos mais importantes a sublinhar é, justamente, o cruzamento de dinâmicas identitárias que este tipo de contexto urbano cosmopolita proporciona. Cruzamento que se estabeleceu entre cada uma das representações de identidade cultural nacional ali presentes e a representação de uma “síntese global” da multiplicidade cultural planetária; síntese global essa, por sua vez, “localizada” num espaço de representação que se constituiu como referente identitário privilegiado da cidade e da sociedade promotoras. (p. 23) Já Castro (2008) 92 afirma que da globalização cultural emergem novas identidades nacionais, regionais e locais agora com novas abordagens. Vê-se atualmente o ressurgimento das culturas populares com algumas de suas características regionais modificadas para atender um novo mercado de consumo de bens simbólicos em um mundo gerido pelos meios de comunicação, de informação e inclusive, do turismo. Chamo aqui atenção, ao me referir às questões de cultura, memória, identidade regional e local, ao fato de, ano que vem, teremos um grande evento por estes lados: os 400 anos de “Fundação do Maranhão”. Prefiro referir à ‘fundação do Maranhão’ do que à de São Luís. Questões que certamente serão levantadas no decorrer da exposição.
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BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000, citada por REIS, 2009, obra citada, disponível em http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc . 91 COSTA, António Firmino da. Identidades culturais urbanas em época de globalização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17 n. 48, fev. 2002, citado por ALMEIDA, Bárbara Schausteck de; MEZZADRI, Fernando Marinho ; MARCHI JUNIOR, Wanderley. CONSIDERAÇÕES SOCIAIS E SIMBÓLICAS SOBRE SEDES DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS. In Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 178-192 Jun-Dez./2009 92 CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o tursmo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010
A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO 93 Credita-se a Cristóvão Colombo 94 a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492 e a Pedro Álvares Cabral 95 o “achamento” do Brasil em 21 de abril de 1500. Mas há quem prefira outro termo a descobrimento ou achamento, prefere “encontro”...
Cristovão Colombo Mas quem “descobriu” o Maranhão? 96
93 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. VISITAÇÃO A SÃO LUÍS DO MARANHÃO - ROTEIRO HISTÓRICOTURÍSTICO. In MIX CULTURAL, promovido pelo 3º. PERÍODO DO CURSO DE TURISMO UFMA (Profa. MARILENE SABINO), 10 e 11 de Dezembro de 2009; tema: PATRIMONIO HISTÓRICO E CULTURAL LUDOVICENSE. PATRIMONIO HISTÓRICO Para saber mais sobre a História do Maranhão: PONTES, Jairo Ives (org.). NOVA HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luis: UEMA, 2005. Edição em CD-ROM. Disponível em www.cefet-ma.br/revista. (Professor de História do CEFET-MA) BOTELHO, Joan. CONHECENDO E DEBATENDO A HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: Fort Gráfica, 2007 (Professor de História do CEFET-MA) BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988. CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luís: SECMA/SIOGE, 1993 LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO - A COLÔNIA. São Luís: GEIA, 2006. LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís, 1981 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 94 Cristóvão Colombo (Gênova [?][1][2], c. 1437/1448 — Valladolid, 20 de Maio de 1506) foi um navegador e explorador europeu, responsável por liderar a frota que alcançou a América em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha. Empreendeu a sua viagem através do Oceano Atlântico com o objectivo de atingir a Índia, tendo na realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, a costa do Golfo do México na América Central. 95 Pedro Álvares Cabral (Belmonte, 1467 ou 1468 — Santarém, 1520 ou 1526) foi um fidalgo e navegador português, comandante da segunda viagem marítima da Europa à Índia, viagem em que se descobriu o Brasil, a 22 de Abril de 1500. 96 FONSECA, Aldeneiva Celene de Almeida. O descobrimento que não houve. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 16 de fevereiro de 1998, Caderno Opinião, p. 4 MOREIRA, Rafael. Foi o Maranhão descoberto antes do Brasil? In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 15 de fevereiro de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 7 REIS, Flávio. O Maranhão bárbaro e sua miséria historiográfica. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de setembro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SÁ, Décio. Brasil pode ter nascido no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de abril de 2000, sábado, Caderno Cidade, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. História passada a limpo. São Luís, 15 de novembro de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 (continuação) CORREA, Larissa. Maranhão, alvo de disputas. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de abril de 2000, sábado, Caderno Alternativo, p. 4 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. Cronistas do Maranhão colonial. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 03 de novembro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 6 ARAÚJO, Antonio Martins de. O sonho de João de Barros no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de janeiro de 2002, terça-feira, Caderno Alternativo, p. 6
Diogo de Teive, em 1452 97?
Gonçalo Fernandes Távire e João Vogado, em 1453?
João Coelho, se verdadeira sua viagem, em 1493? Com certeza, sabe-se que os ESPANHÓIS chegaram antes que os PORTUGUÊSES, pois
ALONSO DE OJEDA98 com Juan de Las Casas e Américo Vespúcio 1497; ou com
Alonso de Ojeda
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esteve por aqui em
Vincente Yáñez Pinzón
Juan de Vergara e Garcia de Ocampo, em 1499;
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Diogo de Teive foi capitão de caravela e escudeiro da Casa do Infante D. Henrique. Desembarcou na Ilha de Jesus Cristo (Terceira) em 1 de Janeiro de 1451, como ouvidor do Infante D. Henrique. Realizou duas viagens de exploração para Ocidente do Mar dos Açores. Em 1452, no regresso de sua segunda viagem, descobriu as ilhas das Flores e do Corvo. Inicialmente foi considerado um novo arquipélago, e receberam o nome de Ilhas Floreiras. Celebrou um contrato com o Infante D. Henrique, em 5 de Dezembro de 1452, para instalação na Ilha da Madeira de um engenho hidráulico de açúcar. Alguns investigadores sugerem que esteve relacionado com o desaparecimento do nobre flamengo Jácome de Bruges, Capitão donatário da ilha. Diogo de Teive veio viver para a Ribeira Brava, após 1472. Diogo de Teive, e seu filho, João de Teive, detiveram direitos sobre as ilhas até 1474, ano em que D. Fernão Teles de Meneses, casado com D. Maria de Vilhena, comprou os direitos sobre as ilhas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Teive_(navegador).
98 Alonso de Ojeda (Cuenca, 1466 - Santo Domingo, 1516), foi um navegador espanhol. Almirante da marinha espanhola, participou da busca da rica província aurífera de Cibao em cuja expedição teve de socorrer o alcaide da Fortaleza de Santo Tomás, do ataque dos indígenas, liderados pelo cacique Caonabó, onde este acabou sendo preso. Como recompensa recebeu dos reis católicos a concessão de seis léguas de terreno em Maguana. Em pouco tempo partiu para a Espanha, onde, devido à sua estreita relação com o Bispo Fonseca, conseguiu permissão para organizar uma viagem ao Novo Mundo. No mês de maio de 1499, alcançou a foz do rio Orinoco, explorando a costa compreendida entre a ilha Margarita e o cabo de la Vela. Em 1501 foi nomeado governador da ilha de Cuquibacoa, para onde partiu no ano seguinte na companhia de Juan de Vergara e García de Ocampo. Em 1507, recebeu a missão de percorrer a costa da Nova Andaluzia e parte da bacia de Cartagena das Índias próximo à costa. Após uma campanha contra os índios, fundou, em fevereiro de 1510, San Sebastián, o primeiro assentamento europeu no continente sul-americano. Mudou-se para Santo Domingo, onde morreu, pobre e abandonado, em 1516. 99 Américo Vespúcio, em italiano Amerigo Vespucci (Florença, 9 de Março de 1454 — Sevilha, 22 de Fevereiro de 1512), foi um mercador, navegador,geógrafo, cosmógrafo italiano e explorador de oceanos que viajou pelo, então, Novo Mundo, escrevendo sobre estas terras a ocidente da Europa. Como representante de armadores florentinos, o mercador e navegador Vespúcio encarregou-se em Sevilha do aprovisionamento de navios para a segunda e a terceira viagens de Cristóvão Colombo. Supõe-se que tenha participado de incursões pelo Atlântico desde 1497. Em meados de 1499 passou ao largo da costa norte da América do Sul, acima do rio Orinoco, como integrante da expedição espanhola de Alonso de Ojeda, a caminho das Índias Ocidentais.
VICENTE PINZÓN100 visitou o Maranhão em Janeiro de 1500 – e vendo-se aquém da Linha de Tordesilhas, portanto em terras portuguesas, retorna; e DIOGO DE LEPE101 também visita-nos em Março de 1500.
DUARTE PACHECO PEREIRA102 Em qualquer hipótese, o Maranhão já era conhecido antes do pretendido descobrimento casual do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Mas o Maranhão passou todo o século XVI praticamente fora da história política de Portugal. (MEIRELES, 1980) 103.
100
Vincente Yáñez Pinzón (Palos de la Frontera, 1462 — 1514) foi um navegador espanhol. Primo do navegador Diego de Lepe, integrou a primeira Armada de Cristóvão Colombo que descobriu a América em 1492, tendo comandado a caravela Niña, tripulada por vinte e quatro homens, que armou os seus gastos. A sua embarcação foi incumbida de socorrer a nau Santa Maria, que encalhou em 25 de dezembro de 1492, na costa da ilha de São Domingos. De volta à Espanha, em 1495 obteve licença dos soberanos para empreender novas expedições ao novo continente. Quatro anos depois, partiu com uma esquadra de quatro caravelas tendo sido considerado o primeiro navegador europeu a cruzar a linha do Equador na região das Américas, tendo descoberto várias ilhas naquela região. Nessa expedição, alcançou a costa do Brasil, tendo avistado um grande promontório, que chamou de Santa Maria da Consolação (sobre o qual atualmente os autores se dividem, considerando-o ou o cabo de Santo Agostinho (litoral sul de Pernambuco) ou a ponta do Mucuripe, (na cidade de Fortaleza), do qual tomou posse para a Espanha em 26 de janeiro de 1500. Na ocasião, registrou-se um violento combate com os potiguares. Infletindo para o Norte, Pinzón atingiu em fevereiro a foz do rio Amazonas, a qual denominou de "mar Dulce", de onde prosseguiu para as Guianas e daí para o mar do Caribe. Na costa do Brasil, Pinzón teria capturado trinta e seis indígenas. No Caribe, Pinzón aportou às atuais ilhas Bahamas. Em setembro de 1500, retornou ao porto de Palos de la Frontera, na Espanha. O navegador realizaria, em 1508, mais uma viagem à América do Sul. O seu nome batizou primitivamente o rio Oiapoque (durante séculos denominado como "rio de Vicente Pinzón", cujo curso demarca o limite setentrional do litoral brasileiro. Entre 1895 e 1900, pairando a dúvida sobre qual seria exatamente esse "rio de Vicente Pinzón" (se o Oiapoque ou o rio Araguari), registrou-se a Questão do Contestado Franco-Brasileiro (Questão do Amapá), arbitrada pelo Conselho Federal Suíço em favor do Brasil.
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Diego de Lepe (Lepe, Espanha, século XIV - século XV), foi um navegador espanhol. Primo de Vicente Yáñez Pinzón, partiu do porto de Palos de la Frontera, no Sul da Espanha, no início de dezembro de 1499 e alcançou a costa do Brasil, ou na altura do cabo de Santo Agostinho (atual Pernambuco) ou na da do cabo de São Roque (atual Rio Grande do Norte) em fevereiro ou março de 1500. Desse ponto, infletiu para o Norte, tendo passado pela foz do rio Amazonas, em direção às Guianas e ao Caribe, retornado em setembro do mesmo ano à Espanha. Na costa do Brasil teria capturado vinte indígenas.
102 Duarte Pacheco Pereira (Lisboa, ? — 1533) foi um navegador, militar e cosmógrafo português. Em 1455 encontra-se Duarte Pacheco letrado, recebendo uma bolsa de estudos do monarca. Cavaleiro da casa de D. João II (1481-1495), contrariamente à tradição é pouco provável que tenha ido 1482 a São Jorge da Mina, onde Diogo de Azambuja iniciava a construção do Feitoria de São Jorge da Mina. De acordo com a obra Décadas da Ásia, do cronista João de Barros, na viagem de retorno do cabo da Boa Esperança, em 1488, Bartolomeu Dias, encontrou-o gravemente doente na ilha do Príncipe e levou-o para Portugal. Reconhecido geógrafo e cosmógrafo, em 1490 viveu em Lisboa da pensão real a que o seu título lhe dava direito. Em 7 de junho de 1494 assinou, na "qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal", o Tratado de Tordesilhas. 103 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980.
A Ilha do Maranhão – Upaon-Açú – é invadida pelos franceses em 1612 104, que aí tentam fundar uma colônia – La France Equinoxiale. Em 1615, os franceses são expulsos e a região é incorporada aos domínios lusitanos durante a união das Coroas Ibéricas – 1580/1640.
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Para saber mais: D’EVREUX, Ives. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL feita nos anos de 1613 a 1614. 3 ed. Anotadas aos cuidados de Sebastião Moreira Duarte. São Paulo: Siciliano, 2002 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. LIMA, Carlos de. Os Franceses no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial 390 anos, p. 5 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. O Mito da fundação de São Luís. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 02 de março de 2008, domingo, Caderno Alternativo, p. 1, p. 6 MARTINS, José Reinaldo. São Luís de 1612 descoberta. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 19 de julho de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. Palco de disputas por franceses, portugueses e holandeses. São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial, 390 anos, p. 7, FERREIRA, Abrl. Tratado de Tordesilhas a ‘invasão’ francesa do Maranhão. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 05 de outubro de 2003, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SABOIA, Napoleão. Retrato do Brasil francês. Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 06 de janeiro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 1 MEIRELES, Mário. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1982 FORNEROD, Nicolas. SUR LA FRANCE ÉQUINOXIALE – SOBRE A FRANÇA EQUINOCIAL. São Luis: Aliança Francesa do Maranhão/Academia Maranhense de Letras, 2001 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS – os franceses na conquista do Brasil. Brasília: Alhambra; São Luís: Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, 1992 LACROIX, Laria de Lourdes Lauande. A FUNDAÇÃO FRANCESA DE SÃO LUÍS E SEUS MITOS. São Luís: EDUFMA, 2000
Essa reconquista das terras do norte do Brasil é o ponto de partida para o avanço do sistema colonial português. A colonização foi iniciada por ilhéus açorianos chegados em duas levas, nos anos de 1620 e 1621, dando a São Luís uma feição de burgo, transformando o simples posto militar avançado em uma povoação de colonos a que se precisaria dar uma administração civil 105.
→→→ Os portugueses saindo de Recife/PE, expulsaram os franceses de São Luis do Maranhão, em 1615. Ocuparam a foz do rio Amazonas, em 1616. E subiram o rio Amazonas em 1637 estabelecendo os limites Oeste entre as posseções espanholas e portugueses, no rio Nepo. A imensa extensão territorial e o isolamento daquelas áreas levaram a coroa a separá-la da administração central do Brasil – Bahia era a sede do Governo Geral - criando o Estado Colonial do Maranhão, tendo como sede a vila de São Luís, cuja jurisdição estendia-se às terras atualmente ocupadas pelos estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Piauí, Ceará, Mato Grosso e Tocantins. Constituía-se de duas Capitanias Gerais – Maranhão e Grão-Pará -, as quais tinham sob sua tutela onze capitanias subalternas: a Capitania Geral do Maranhão compreendia as capitanias do Ceará, do Itapecurú, do Icatú, do Mearim, todas as quatro da Coroa, e mais as de Tapuitapera, de Caeté e de Vigia, estas três de donatários.
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SILVEIRA, Si mão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976. (Edição facsimilar) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, portuguesa com certeza. In CLIONET, Revista Eletrônica de História, Juiz de Fora, UFJF, 1989 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, francesa ou portuguesa? In Jornal O IMPARCIAL, São Luís, domingo, 11 de julho de 1999, Caderno Impar, p. 8. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Carta Aberta Ao Mestre Jomar Moraes – Sobre ‘Vieira, Novelos E Novelas. In REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, Volume 04, Número 01, jan/jun/2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista
A Capitania Geral do Grão-Pará estendia sua jurisdição às capitanias secundárias do Gurupá (da Coroa) e às de Joanes, de Cametá e do Cabo do Norte, estas de donatários.
Essa divisão administrativa perduraria até 1652, quando pela Carta Régia de 25 de fevereiro de 1652 foi extinto o Estado do Maranhão, agora sob a denominação de Maranhão e Grão-Pará; em 1651 o Pará passou a ser cabeça do Estado, denominando-se do Grão-Pará e Maranhão.
A Carta Régia de seis de agosto de 1653 repartiu-o em quatro capitanias – São José do Piauí; Maranhão; Grão-Pará; e São José do Rio Negro – todas sujeitas a um governador e capitão-general, e tinha como sede a cidade de Belém.
Em 1772, a região recebeu nova organização administrativa, repartindo-se em dois estados: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí. Até 1811, o Piauí ficou subordinado ao Maranhão.
Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, e a conseqüente elevação da colônia lusa da América à condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, em 1815, o Maranhão passou a ser uma Província, subordinada ao Rio de Janeiro. Dessa maneira, alcançaria a Independência. (CAVALCANTI FILHO, 1990) 106.
106
CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990.
ESSE NOME MARANHÃO Mas de onde vem esse nome – Maranhão? – recorramos ao Padre Antônio Vieira107, que em seu sermão da Quinta dominga da quaresma, do ano de 1654, servindo-se de uma fábula, afirma que:
Retrato do Padre António Vieira, de autor desconhecido do início do século XVIII. “... caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. “Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e, sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas 107 António Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades freqüentemente exigem sua leitura. António Vieira chegou à Bahia com seis anos de idade. Fez os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas em Salvador, onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623. Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se sacerdote em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador. Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da Região Nordeste do Brasil.
moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (LISBOA, 1991) 108 Origem e significação do nome dado à terra 109 SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, escrito em 1624, afirma que "... a terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”. (Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois in História do Maranhão, 1904110, e Berredo in Anais Históricos). “Marañon” era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome. Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar? E o outro responde: Non.
Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (despropositadamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás - indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (SILVEIRA, 1976; BERREDO, 1988; MEIRELES, 1980).
108
LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON II – Apontamentos, notícias e observações para servirem à História do Maranhão. São Luís: ALUMAR/AML, 1991 vol. I e vol. II 109 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. Inédito. 110 BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II
Vista do vale do rio Marañón, entre Chachapoyas111
111 O rio Marañón nasce no Peru a uns 5.800 metros sobre o nível do mar, no glaciar do Nevado de Yapura, nos Andes ao leste do país. Depois de percorrer cerca de 1.600 quilômetros, junta-se ao rio Ucayali (Rio Amazonas), que por sua vez flui com o nome de Rio Amazonas até a fronteira com o Brasil onde recebe o nome de rio Solimões.
Os primitivos habitantes112 Os TUPINAMBÁS habitavam a Ilha do Maranhão, quando os primeiros franceses chegaram. Vieram fugidos de Pernambuco, quando aquelas paragens foram ocupadas pelos Portugueses - Perós – tendo chegados à Ilha pelos menos 70/80 anos antes, expulsando os Jês para o interior. A etnia Jê se estabeleceu no Brasil há pelo menos 7.500 anos.
Os Tupinambás que deram à Ilha o nome de UPAON-AÇÚ - Ilha Grande – e ao tempo da chegada dos Franceses seu chefe principal era JUPIAÇÚ. Não sabiam ler nem escrever - eram primitivos – e praticavam a antropofagia. Andavam nus, usando penas de aves nos dias de festas - usavam o urucu e o jenipapo. Viviam em pequenas aldeias, com as casas feitas de palha – pindova - e viviam da caça de
112
Povos nômades, vindos da Ásia, através do Estreito de Bering, em data ainda desconhecida, teriam sido os primeiros a colonizar o vasto território, por volta de 40 mil anos atrás. Um desses povos deu origem atuais tupis-guaranis, uma das sete grandes famílias que constituíam o grupo lingüístico Macro-Tupi. No início da Era Cristã, os tupis-guaranis começaram a migrar através dos vales de alguns afluentes do Rio Amazonas; essa migração – de causa religiosa procurava a terra prometida – deu-se por causa de crescimento demográfico e da desertificação do território tribal. Os tupis chegaram ao litoral do Brasil e dali expulsou os tapuias (“ os outros”, em tupi). Os tupis cultivavam mandioca e milho – símbolos de civilização – e, por isso, eram mais evoluídos que os tapuias, coletores e caçadores que eles consideravam “bárbaros”. Os tapuias (que eram do grupo lingüístico Jê já haviam expulsado da praia seus habitantes originais, os chamados “homens dos sambaquis”. O litoral era rico em peixes, crustáceos e sal. Todos queriam controlar a região, que oferecia vastos e nutritivos recursos alimentares. (BUENO, Eduardo. BRASIL: TERRA À VISTA. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 15-16) Ver também: LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olir Correa Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO – uma tentativa de reconstituição. São Luís: Augusta, 1983 ASSOCIAÇÃO CARLO UBBIALI; INSTITUO EKOS. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís, 2004 PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. ESSA TERRA TINHA DONO. 6 ed, ver, e atual. São Paulo: FTD, 2000 CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. A CRIANÇA E A MULHER TUPINAMBÁ. São Paulo: ScorTecci, 2000
pequenos animais; da coleta de frutos; da pesca; e cultivavam a mandioca, o milho e o algodão. Tinham como armas o arco e a flecha, e a lança, feitos de madeira; machado e martelo, de pedra.
Usavam a cerâmica para seus jarros e panelas; teciam para fazer redes; tinham como instrumentos musicais, o tambor, o maracá e a flauta. Não tinham religião, mas acreditavam em um ser superior – Tupã.
COLONIZAÇÃO DO MARANHÃO Inicia-se com MARTIN AFONSO DE SOUSA113, que mandou um de seus navios descobrirem as terras do Norte. DIOGO LEITE114 saiu de Pernambuco e chegou até o Rio Gurupi.
Martim Afonso de Sousa 113
Martim Afonso de Sousa (Vila Viçosa, c.1490/1500 — Lisboa, 21 de julho de 1571) foi um nobre e militar português. Jaz em São Francisco de Lisboa. Como Tomé de Sousa, descendia por linha bastarda do rei Afonso III de Portugal. Senhor de Prado e de Alcoentre, ainda parente do conde de Castanheira, D. António de Ataíde, tão influente sobre o rei D. João III de Portugal, Martim de Sousa foi Senhor de Prado, e Alcaide-mor de Bragança e mais tarde Governador da Índia e do Estado do Brasil. Serviu algum tempo ao Duque de Bragança D. Teodósio I[1] mas «como era de um espírito elevado e queria esfera onde se dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria mor de Bragança e outras mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe D. João, filho do rei D. Manuel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca; e voltando a Portugal, D. João III, que já então reinava, o recebeu com muita estimação e honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas partes, porque era valeroso, dotado de entendimento e talento grande». Acompanhou a rainha viúva D. Leonor a Castela.
Iniciou sua carreira de homem de mar e guerra ao serviço de Portugal em 1531 na armada que o rei determinou mandar ao Brasil, nomeado desde fins 1530 em razão dos seguintes fatores: por ser primo-irmão de D. Antônio de Ataíde, membro do Conselho Real, e ter forte influência junto ao Rei. Estudou Matemática, Cosmografia e Navegação. Havia vivido quatro anos na Espanha, onde se casou com D.Ana Pimentel dama da Rainha Católica, irmã de D. Bernardino Pimentel, 1º Marquês de Tavara, filhos de D. Pedro Pimentel, senhor de Tavara,comendador de Castro-Torense na Ordem de Santiago, o qual morreu em 6 de fevereiro de 1504, e irmã de D. Rodrigo Afonso Pimentel, 3º conde de Benavente. O casamento foi feito por D.Pedro, que dotou a filha, com assistência do irmão, o conde de Benavente, sendo o contrato de casamento firmado em Tordesilhas. Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, foi procuradora relativamente aos negócios do Brasil, ao partir aquele para a Índia. Natural da Espanha, era dama de companhia da Rainha D.Catarina. Foi ela quem, em 1534, providenciou para que se introduzisse o primeiro “gado vacum” na capitania de São Vicente e quem, em 1544, revogou a ordem do esposo, que proibia a entrada de europeus no campo de Piratininga e, assim, abriu o caminho para o sertão, facilitando a expansão bandeirante. Lutou sob Carlos V contra os franceses. Embora a historiografia tradicional em História do Brasil encare sua expedição como a primeira expedição colonizadora, o Regimento a ele passado permite compreender que o principal objetivo de sua missão era colocar padrões de posse portugueses em toda a área da bacia do Rio da Prata, o que não alcançou em função de ter naufragado na região. Diz-se que sua nomeação como governador compreendia a missão de expulsar franceses, descobrir terras, explorar o rio da Prata e fundar núcleos de povoamento. Fundou em 22 de Janeiro de 1532 a primeira vila do Brasil, batizando-a de Vila de São Vicente, uma homenagem a São Vicente Mártir e reafirmando o nome dado por Gaspar de Lemos, quando este chegou à São Vicente, coincidentemente em 22 de janeiro de 1502. O nome da cidade se deve ao fato de 22 de janeiro ser dia de São Vicente Mártir. Graças a medidas tomadas por Martim Afonso, São Vicente se tornou Cellulla Mater da Nacionalidade (Primeira Cidade do Brasil), Berço da Democracia Americana (pois em 22 de agosto de 1532 foram feitas as primeiras eleições populares das Três Américas, instalando a primeira Câmara dos Vereadores no continente) 114
Diogo Leite foi um navegador português do século XVI. Durante o período compreendido entre os anos de 1526 a 1529, comandou uma caravela da armada de Cristóvão Jacques, que tinha por finalidade impedir o comércio dos franceses, nas costas do Brasil. Entre 1530 e 1532, comandou também uma caravela da armada de Martim Afonso de Sousa com a finalidade de explorar a costa brasileira. Mais tarde teve sob o seu comando duas caravelas que conseguiram chegar ao rio Gurupi, no Maranhão
Com a divisão do Brasil em CAPITANIAS, a do MARANHÃO foi dada a JOÃO DE BARROS115, mas não chegou a ser instalada. Se associando a AIRES DA CUNHA116, naufragou no Boqueirão. Capitania
Limites aproximados
Donatário
Capitania Maranhão secção)
do Extremo leste da Ilha de Marajó (PA) à foz João de Barros e (primeira do rio Gurupi (PA/MA) Aires da Cunha
Capitania Maranhão secção)
do (segunda Foz do rio Gurupi (PA/MA) a Parnaíba (PI)
Fernão Álvares da Cunha
Os sobreviventes teriam fundado a Vila de Nossa Senhora de Nazaré, em 1534. Essa Vila teria sido instalada na Ilha Grande, alguns a dão como na Ilha do Medo e outros, em terras continentais – Alcântara. O certo, é que muitos anos depois se descobriu uma tribo de índios denominada de Barbados Rouxés, que se diziam descendentes dos “perós” – portugueses. Eram de pele clara, olhos pouco amendoados, cabelos claros, e cultivavam barba, como os perós, e cominam pão de milho zaburro, como os perós... Não se davam com as demais, de quem se mantinham permanentemente em guerra, aguardando a volta – socorro? - dos seus pais... Abandonada por João de Barros, a CAPITANIA DO MARANHÃO foi dada a LUÍS DE MELO E SILVA, que organiza duas expedições ao Maranhão, naufragando na segunda, no Boqueirão. Os PORTUGUESES abandonam a idéia de conquista do Maranhão por mar. Tentam chegar, então, por terra: PEDRO COELHO DE SOUSA117 sai da Paraíba e não consegue passar do Ceará, pois os índios 115
MEIRELES, Mário M. O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR OCEANO. São Luis: AML, 1999 MEIRELES, Mário M. JOÃO DE BARROS – PRIMEIRO DONATÁRIO DO MARANHÃO. São Luis: ALUMAR, 1996. 116 Aires da Cunha (Portugal, ? — litoral maranhense, 1536) foi um capitão donatário do Brasil. Tendo recebido de João III de Portugal em 1535 a Capitania do Maranhão, associou-se a Fernando Álvares de Andrade e João de Barros, que organizaram uma expedição para colonizar a região norte do Brasil. Em novembro de 1535 a expedição aportou na Capitania de Pernambuco, onde recebeu auxílio de Duarte da Costa. Rumando para o norte, para a costa do Maranhão, um violento temporal fez naufragar a embarcação, perecendo a maior parte de seus integrantes. 117
Pero Coelho de Sousa foi um explorador português, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar e colonizar a capitania do "Siará Grande". Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os inimigos (franceses e indígenas). Retorna à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa.
não deixam. Os Padres FRANCISCO PINTO e LUÍS FIGUEIRA também não conseguem passar do Ceará.
Franceses no Maranhão118 Os Portugueses abandonam a conquista do Norte, dadas as dificuldades de se entrar no Golfão maranhense - transpor o Boqueirão.
Franceses no Rio de Janeiro
Franceses em Pernambuco
Piratas estrangeiros começam a se estabelecer aqui, vivendo em boa paz com os índios.
118
DAHER, Andréa. O BRASIL FRANCES – as singularidades da França Equinocial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007
Desde 1594 os Franceses organizam expedições com o objetivo de se estabelecerem no Maranhão. JACQUES RIFFAULT estabelece uma Feitoria e ao retornar à França, deixa alguns tripulantes, dentre eles, CHARLES DES VAUX.
Este, após nove anos de espera, consegue retornar a França, relatando as riquezas da terra e, em 1604, conduz DANIEL DE LA TOUCHE119 para fazer um reconhecimento e comprovar a veracidade das informações.
119 Daniel de La Touche, sob o título de Senhor de La Ravardière, foi um experiente capitão da Marinha Francesa do século XVII. Nobre, de religião protestante, liderou a expedição francesa que, em 1612, deu início as pretensões de colonização no Norte do Brasil. Denominada de França Equinocial, teve seu marco na fundação do "Fort Saint Louis" (Forte de São Luís), que atualmente chama-se "Palácio dos Leões" e abriga a sede do governo estadual em São Luís, atual capital do Maranhão. La Touche oriundo de Poitou, na região do Loire, viveu grande parte de sua vida em Cancale com sua esposa, cidade portuária próxima de Saint-Mailo, no Norte da França, na região da Bretanha.
Com a morte do Soberano - HENRIQUE IV - a organização de uma armada de conquista é adiada até 1611, já no reinado de Luís XIII.
Em 1612, DANIEL DE LA TOUCHE, Senhor de La Ravardiére; o BARÃO DE RASSILY e o BARÃO DE SANCY aportam à Ilha Grande, fundando uma colônia, a qual deu o nome de FRANÇA EQUINOCIAL. Organizam a defesa da Ilha, com a construção de um Forte - de SÃO LUÍS - em homenagem a Luís XIII e um ancoradouro - PORTO DE SANTA MARIA -, em homenagem a Rainha-Mãe - Maria de Medicis. A oito de setembro de 1612, tem lugar a implantação da cruz na Ilha do Maranhão.
Fundada a França Equinocial, a oito de setembro de 1612, saíram a visitar a Ilha os lugarestenentes de Daniel de La Touche, De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville120 e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upaon-Açú, de nome David Migan.
D' ABBEVILLE (1975) descreve as aldeias do Maranhão como tendo até quatro cabanas, medindo de 26 a 30 pés de largura por 200 a 500 pés de comprimento, segundo o número de pessoas que nelas habitavam. Algumas aldeias possuíam de 200 a 300 habitantes, outras de 500 a 600, e às vezes mais. As casas eram dispostas em forma de quadrado, havendo uma praça grande e bonita ao centro: "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O Sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas, p. 114). O Padre Claude D’Abbeville foi quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes. Pela sua descrição, observa-se que a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais foi o primeiro núcleo residencial dos brancos que se estabeleceram no Maranhão. No Forte - a hoje cidade de São Luís - ficava apenas uma guarnição de oito soldados, a vigiar. Os demais habitavam as aldeias então existentes. A primeira a ser ocupada foi Eussauap (hoje, Vila Velha de Vinhaes) 121. Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; uma possuía três. Eussauap possuía quatro - "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiaçu e Tapire-Evire". A aldeia principal da ilha contava com cinco principais. A ILHA REBELDE É em Eussauap que os franceses encontram certa resistência, por parte de um velho de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do 120
Claude d'Abbeville ( ? - Rouen, 1632)[1][2] foi um religioso e entomólogo francês. Participou da expedição enviada em 1612 ao Brasil (Maranhão) pelo governo de seu país. Junto de seu amigo Yves d'Évreux, identificou e batizou com nomes indígenas diversos insetos, tais como as grandes borboletas azuis, as mutucas e os mosquitos. É autor da obra Historie de la mission des pères capucins en l'isle de Maragnan et terres circonvoisines (1614), em português: História da missão dos padres capuchinhos na ilha de Maranhão e terras circunvizinhas. 121
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA. Inédito.
que quatro a seis luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí - padres - plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para servi-los. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o Sr. de Sancy e D' Abbeville a sua visitação.
A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO 122
Vencidos os franceses em Guaxenduba123 (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão124. Afirma Bernardo Pereira de BERREDO (1988) 125 - governador da província do Maranhão de 1726 a 1729 -, que Jerônimo de Albuquerque126 funda naquele mesmo lugar uma cidade - São Luís do Maranhão:
122 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, portuguesa com certeza In REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, Volume 04, Número 01, jan/jun/2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. 123 O Forte de Santa Maria de Guaxenduba localizou-se a nordeste da ilha de São Luís, na baía de São José, à margem direita da foz do rio Munim, na vila velha do Icatu, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. 124 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. JERÔNIMO DE ALBUQUER MARANHÃO – guerra e fundação no Brasil colonial. São Luís: UEMA, 2006 MORENO, Diogo de Campos. JORNADA DO MARANHÃO POR ORDEM DE SUA MAJESTADE FEITA O ANO DE 1614. São Paulo: Alhambra; São Luís: ALUMAR/AML, 1984 125 BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988. 126 Jerônimo de Albuquerque Maranhão (Olinda, 1548 — Rio Grande do Norte, 1618) foi um militar e político brasileiro. Filho do português Jerônimo de Albuquerque e da indígena pernambucana M'Uirá Ubi, filha do cacique Uirá Ubi (Arco Verde, em português). Foi o verdadeiro conquistador do Rio Grande do Norte, em 1599, teve papel destacado na expulsão dos franceses
“Logo que o General Alexandre de Moura saiu da baía do Maranhão, aplicou Jerônimo de Albuquerque o principal cuidado à útil fundação de uma cidade naquele mesmo sítio, obra de que também se achava encarregado por disposições da corte de Madri com repetidas honras justissimanente merecidas: e como o seu zelo, e a sua atividade não sofriam demoras na execução de qualquer projeto, depois de bem premeditados os interesses dele, dentro de pouco tempo adiantou tanto a povoação, que reduzida a regular forma de república, debaixo da proteção soberana de Maria Santíssima com o augusto título de Vitória, que já lhe tinha decretado no feliz lugar de Guaxenduba, lhe declarou a invocação de São Luís; ou fosse porque estando tão conhecida já aquela ilha pela natural participação de sua fortaleza, se não atreveu a confundir-lhe o nome com a mudança dele; ou porque quis na conservação desta mesma memória segurar melhor a sua nas recomendações da posteridade; e como deste dia por diante acho sempre a invocação de São Felipe na tal fortaleza, me persuado fundamentalmente a que lhe foi posta em lugar da primeira, dando-se desde logo por transferida, por lisonja sem dúvida à magestade de Felipe III de Castela, a quem então obedecia a monarquia de Portugal”. (Anais históricos do Estado do Maranhão p. 116-117).
na Região Nordeste do Brasil no início do século XVII com auxilio de Alexandre Moura. Ele após ter expulsado os franceses adotou o sobrenome Maranhão, como ficou conhecido. Ver também: LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. JERONIMO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO - Guerra e fundação no Brasil colonial. São Luis: UEMA, 2006.
Para Raimundo José de Sousa GAIOSO (1970) a cidade de São Luís seria fundada em 1616, por Jerônimo de Albuquerque, em torno da fortaleza do mesmo nome, e iniciada sua povoação naquela ocasião: "Livre o Maranhão n'aquelle dia de toda a sugeição franceza [9 de janeiro de 1616, quando Alexandre de Moura se fez a vela para Pernambuco levando consigo o senhor de la Ravardiere], aplicou Jerônimo de Albuquerque todo o seu cuidado na fundação de huma cidade n'aquelle mesmo sitio; dentro de pouco tempo adiantou consideravelmente a povoação, e reduzindo a sua nova fundação á regular forma de republica, debaixo da proteção de Maria Santissima com o augusto titulo de N. Sra da Victoria, em memoria da que tinha alcançado sobre os Francezes, lhe declarou a invocação de S. Luiz, ou porque estando já tão conhecida aquella ilha pela participação da sua fortaleza, ou porque não quiz confundir o nome com a mudança delle, ou finalmente porque se lisongeava na conservação da mesma memoria, segurar melhor as suas recomendaçoens na posteridade. E como destes dias por diante se entrou a intitular a fortaleza com o nome de S. Felipe, he de presumir o fizessem por lizonja á Majestade de Felippe II, a quem então obedecia a monarquia Portugueza.".(Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão, p 73)127. O que é confirmado por D. Felipe Condurú PACHECO (1968), quando afirma que o Forte de São Luís é transformado na cidade de São Luís pois “... Repartidas as terras pelos portuguêses, o Capitão-mór Jeronimo de Albuquerque formou logo o seu Govêrno e mandou que mudassem aqueles tugurios em mais agradáveis edifícios, construindo ‘uma bem regulada cidade’ (Moraes, História da Companhia de Jesus no Maranhão, p. 75)...” (História eclesiástica do Maranhão, p. 10) 128. Na “Crônica da Companhia de Jesus no Maranhão”, Jacinto de Carvalho afirma ser Jerônimo de Albuquerque, “livre a influência de Alexandre de Moura”, o fundador de São Luís: “... deu princípio a uma cidade em o mesmo sítio em que os franceses tinham o seu forte e reparos, por ser sítio muito acomodado, assim para a defesa de inimigos, como por ter bom porto e ancoradouro seguro para navios; fica entre dous rios, dominando a ponta em que está o forte uma espaçosa enseada que faz o mar entre a terra e aponta de Nossa Senhora da Guia e a terra da Ponta da Areia e ilha de São Francisco, a mais abundante de peixes e mariscos que se tem achado em todas a costa do domínio de Portugal”. (p. 90) 129.
127
GAIOSO, Raimundo José de Sousa. COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA DO MARANHÃO.Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970.
128
PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968
129
CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995.
César Augusto MARQUES (1970) 130 informa que a fundação da cidade foi determinação da Corte de Madri, conforme se lê em seu famoso “Dicionário...”: “Jeronimo de Albuquerque inteiramente senhor de suas ações, e livre dos cuidados inerentes à guerra, aplicou-se à fundação da cidade, hoje de São Luís, como lhe fôra recomendado pela Côrte de Madri. “Dentro de pouco tempo por seu zêlo e atividade pôde adiantar tanto a povoação ‘que reduzida a regular forma de república, na frase de Berredo, debaixo da proteção soberana de Maria Santíssima com o augusto título de Vitória, que já lhe tinha decretado no feliz lugar de Guaxinduba, lhe declarou à invocação de São Luís’. “Jerônimo de Albuquerque aconselhou e conseguiu que os moradores ‘mudassem a antiga fábrica dos seus tugúrios em edifícios mais asseados, que na correspondência e boa arrumação das ruas fizessem aquela povoação, senão soberba, ao menos repartida com melhor direção e aparato’. “Deu êle logo começo ao palácio, que depois servia de morada dos governadores. “Todas estas obras eram de taipa e vara, e de ‘taipa de pilão, tão forte, que equivalia à mesma pedra e cal’.”. (Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, p. 445)
Recentemente, a Profa. Lurdinha Lauande – Maria de Lourdes Lauande Lacroix - escreveu um livro – A fundação francesa de São Luís e seus mitos 131– em que discorre como surgiu o mito de que São Luís foi fundado pelos franceses: no século XIX, para buscar uma origem; ao mesmo tempo, surgiu “a Atenas brasileira”. Depois, Jamaica brasileira e, suprema decadência: apenas brasileira, hoje!
130
MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). 131 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS E SEUS Mitos. São Luís: EDUFMA, 2000
OS 400 ANOS DA OCUPAÇÃO DA VILA (VELHA) DE VINHAIS132 Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha.
"(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (D'ABBEVILLE, 1975, p. 114)133. (grifos nossos).
Capistrano de ABREU esclarece que: " EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba,
132 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA. Palestra proferida por ocasião do 391º aniversário da primeira missa rezada na Vila do Vinhais Velho, em 19 de outubro de 2003, aos moradores da Freguesia da Vila do Vinhais – Igreja de São João Batista do Vinhais 133 ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975
participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". ( apud D' ABEVILLE, 1975, p.107)134.
Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro – "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; CoraUaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire".
Junipar, a aldeia principal da ilha, contava com cinco principais. É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho "... de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu ..." e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que 4 a 6 luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí - padres - plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para os servirem. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o sr. de Sancy e D' Abbeville a sua visitação. Cesar MARQUES (1970)135, em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais - freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “... foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. “Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina.
“Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. “Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educálos.
134
ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 135 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).
“Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. “... foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).
Às páginas 633, do Dicionário de César Marques, consta que houve contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente, então, ao Convento de Santo Antônio. Esta vila, situada ao N.E. da Ilha do Maranhão uma légua distante da capital, à margem do ribeiro Vinhais, ora transformada em Vila do Vinhais136 e, para dar fim à qualquer contestação, sobre a quem pertenceria as terras, passou-se a seguinte certidão, que, segundo Cesar Marques, não deixa de ser curiosa:
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Era comum dar-se nomes às vilas e cidades do Maranhão o mesmo nome de vilas e cidades existentes em Portugal:
Vinhais é uma vila portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves . História A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas. Esta antiguidade é reiterada pelo Abade de Miragaia: O chão desta vila e desta paróquia foi ocupado desde tempos remotíssimos, como se infere da lenda ou história da igreja de S. Facundo, que a tradição diz ter sido fundada no tempo dos Godos. (...) Também por aqui se demoraram os Romanos, pois ao norte da vila, no monte da Vidueira, se encontraram em 1872 muitas moedas romanas bem conservadas (...).Perto de Vinhais foi encontrada uma lápide com a seguinte inscrição: JOVI / O.M. / LOVIIS / IAIIX / VOTO / LAP (Lovesia dedicou por voto e com generoso ânimo ao grande Júpiter). Em meados do século XIII surgiu, pela primeira vez, a referência a Vinhais, num documento de doação ao mosteiro leonês de São Martinho da Castanheira: in villa que vocitant Villar de Ossus in territorio Vinales. Nesta época, Vinhais não era um topónimo, mas sim um coronómio, visto que designava uma região, um território e não um lugar determinado. Pensa-se que a primeira povoação de Vinhais foi construída num outeiro, próximo da margem direita do rio Tuela, mais a norte do sítio actual, ou no monte da Vidueira, ou, ainda, no monte Ciradela ou Ciradelha, na Serra da Coroa. Estas suposições justificam-se pelo aparecimento de moedas romanas, vestígios de edificações da antiga cidade romana de Veniatia e da estrada militar romana que ligava Braga a Astorga (Asturica Augusti). Vinhais foi, primitivamente, um castro de povoamento galaico, transformado pelos romanos em castro galaico-romano, com a sua fortaleza (oppidum). Certamente, os suevos ou os visigodos cercaram a localidade de muralhas e, com a expulsão dos muçulmanos, Vinhais ficou arrasada, tendo sido repovoada na época da dominação dos reis de Castela e Leão (D. Sancho II e D. Afonso VI). Este repovoamento foi continuado pelos primeiros reis portugueses, nomeadamente com D. Afonso Henriques, D. Sancho I (O Povoador), D. Afonso II e D. Sancho II. Vinhais recebeu foral de D. Afonso III, no dia 20 de Maio de 1253, o qual foi outorgado pelo monarca D. Manuel I, em 4 de Maio de 1512. Quando D. João I de Castela invadiu Portugal, em 1384, devido à crise de sucessão suscitada pela morte de D. Fernando, o castelo de Vinhais foi um dos muitos que hastearam a bandeira castelhana, recusando, assim, obediência ao Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal. No século XVII, Vinhais sofreu bastante com a Guerra da Restauração, devido à sua localização geográfica, tal como conta Pinho Leal, na célebre obra Portugal Antigo e Moderno: Em 1666, achando-se em Lisboa o III conde de S. João da Pesqueira (futuro 1º Marquês de Távora, criado por D. Pedro II Regente, de 7 de Janeiro de 1670), governador de Entre Douro e Távora (...). entretanto, o general galego D. BALTAZAR PANTOJA, pôs a ferro e fogo a província de Trás-os-Montes. Em 1 de Julho 1666 entrou por Montalegre, no dia 13 de Julho caíu sobre Chaves, no dia 14 de Julho os lugares de Faiões e Santo Estêvão, defendidos pelo sargento-mór ANTÓNIO DE AZEVEDO DA ROCHA, cometendo barbaridades. Recolhendo-se D. BALTAZAR PANTOJA a Monterey, praça galega ao Norte de Verim, e passados poucos dias volveu sobre Portugal, entrando por Monforte, veio pôr cerco a Vinhais, cercando com o seu exército o castelo, que era defendido pelo governador ESTÊVÃO DE MARIS, com os habitantes da vila e mais 50 auxiliares. Este acontecimento ficou eternizado numa inscrição que, ESTÊVÃO DE MARIS, GOVERNADOR DES / TA VILA DE VINHAIS, Fº DE Rº DE MORAIS DE TIO / ZELO, MANDOV FAZER ESTAS CASAS / NA E. DE MDCCVI (?) QUANDO PANTOXA / G L DO EXÉRCITO DE GALIZA COM O / MAIOR Q. SE VIO NESTA PROVÍNCIA / E LHE DEFENDEO A MURALHA CÕ / A GENTE NOBRE DA VILA E POV /
“José Inácio Pereira, escrivão por comissão da Câmara da vila de Vinhais: em cumprimento do despacho retro certifico que revendo o livro de ...... nele à fl. 87 verso achei o translado ..... “Por ser conforme às reais ordens que Sua Majestade foi servido expedir para o estabelecimento deste Estado e conveniente ao bem comum e particular dos moradores dele, que se destinem terrenos competentes, que sirvam de distritos às vilas para as suas respectivas justiças não excederem os seus limites, devo dizer de vossas mercês em observância das mesmas reais ordens, que o distrito dessa vila terá princípio no pôrto do Angelim sobre a foz do rio – Anil -, quer fica pertencente ao distrito desta cidade, e dele partirá em rumo direito para o nascente às terras alagadiças da fazenda que foi de Agostinho da Paz e que hoje é do Rvdo. Cônego Manuel da Graça, fincado pertencendo ao distrito desta mesma vila a estrada pública, que do dito porto do Angelim vai para a fazenda da Anindia e outras, como também a fazenda do defunto José de Araújo, partindo e confrontando da parte do sul com terras do distrito desta cidade e continuando este rumo da partte do nascente da mesma fazenda do dito Cônego Manual da Graça para a parte do norte, correrá em direitura à costa do mar, e por ela descerá à capela de São Marcos de onde continuando da parte do poente pela costa desta baía até a fortaleza da barra desta cidade continuará pelo rio, que divide a cidade das terras sobreditas da costa do mar até finalmente chegar ao dito porto do Angelim, onde fica fechando o rumo do dito distrito, em que se compreedem a dita vila e terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antônio desta cidade como também a Capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia e vários sítios de fezendas e moradores, como são a do sobredito Cônego Manuel da Graça, de Domingos Fernandes e últimamente todos os que dentro dos referidos rumos e distrito se compreenderem sendo este suficinete para essa dita vila, sem prejudicar o da cidade. “Para rendimento das despesas da Câmara lhe não determino por hora terreno, o que farei com a brevidade que me fôr possível para cumprir completamente com a ordem de Sua Majestade, o qual sempre há de ser dentro do distrito dessa vila: o que tudo Vossas Mercês tenham entendido para inviolávelmente obervarem, registrando este no livros da Câmara para a todo o tempo constar até onde entendem os seus limites, de que me mandarão certidão de assim o haverem. – Deus guarde a Vossas Mercês – Maranhão. – Gonçalo Pereira Lobato e Sousa” “Senhore Juízes e oficiais da Câmara da vila do Vinhais.
QVA MAIS DE GRÃ E CÕ PERDER MVTÃ / LEVANTOU O SITIO E QUEIMOU AS / CASAS QUE FICAVÃO FORA DA MVRALHA; http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinhais_(vila)
“Certifico eu escrivão abaixo nomeado em como transladei uma carta do Ilmo. Sr. Governador vinda ao juiz e mais oficiais da Câmara desta vila, o que juro em fé de meu ofício: três de novembro de 1760. – Manuel de Jesus Pereira. “Nada mais que o referido continha o dito translado fielmente aqui copiado do próprio livro, a que me reporto, e é verdade todo o referido em fé do ofício. – Vinhais, 10 de fevereiro de 1806. – José Inácio Pereira”.
Como a vila do Vinhais não apresentou qualquer desenvolvimento, foi extinta pela Lei Provincial no. 7, de 20 de abril de 1835, passando a pertencer a frequesia à comarca da capital, formando o 5º distrito de paz, e tendo uma subdelegacia de Polícia, um delegado da Instrução Pública e uma cadeira pública de ensino primário para o sexo masculino.
A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA DE VINHAES137
Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso "haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado". Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa. Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: "A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58)138.
137
MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 D’ÉVREUX, Yves de. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL –feita nos anos de 1613 a 1614.São Paulo: Siciliano, 2002. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968. MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995. 138 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987.
A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com CAVALCANTI FILHO (1990)139 a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: "... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".(p. 31).
Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula "Super Universas Orbis Ecclesias", muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão: "Na ilha de São Luis. Além da freguesia de N.S. da Vitória que abrangia toda a capital do Estado com suas muitas igrejas, capelas e conventos, havia três outros núcleos com a presença permanente de religiosos e que também naquele ano seriam erigidos em paróquia - Anindiba (Paço do Lumiar), São José dos Poções, antiga aldeia da Doutrina ...". (MEIRELES, 1977, p.127)140. COELHO (1990)141 em seu "Política indigenista no Maranhão Provincial", ao analisar "o lugar do índio na legislação: a questão da terra", afirma que " a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações" e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a " elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes". 139 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990. 140 MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. 141 COELHO, Elizabeth Maria Beserra. A POLÍTICA INDIGENISTA NO MARANHÃO PROVINCIAL. São Luís: SIOGE, 1990
Cita, dentre outros exemplos, que " a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais". D. Felipe CONDURÚ PACHECO (1968)142 informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às numerosas propriedades dos demais religiosos, “... os franciscanos possuíam então no Maranhão apenas o convento de Santo Antonio, com 25 escravos, e a ‘missão’ de S. José dos Poções, em 1757 vila de Vinhais, de onde, com as esmolas dos fiéis, se mantinham com seus alunos de filosofia e de teologia...”. (p. 50).
Ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão, “... no meado do século XVIII, conta de 1758,... distante da cidade ... Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos...”. (p. 61).
142
PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968
De acordo com BARBOSA DE GODOIS (1904)143, o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário. MEIRELES (1964)144, conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida - a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” - costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocá-los, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irriquieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida...
143
BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II 144 MEIRELES, Mário M. São Luís, cidade dos azulejos. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1964
Buscamos uma vez mais em Cesar MARQUES (1970)145 outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais: “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções. ........................... “... [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. ....................... “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633).
Ainda às págiasm 632 do referido Dicionário ..., César Marques informa que no referido têrmo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonálo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juiz-de-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do Grão-Pará em 10 de fevereiro de 1757: “Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendo-se praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”. “O padre provincial do carmo, Frei Pedro da atividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará. “O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeumque não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado nõa havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, fucando assim excluída da ordem de Sua Magestade.
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MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).
“No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade. “Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais. “Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias. “Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633)
Ainda em Cesar Marques, descobrimos que os presbíteros Domingos Pereira da Silva, vigário colado da freguesia de São Bernardo da Parnaíba, e Maurício José Berredo de Lacerda, vigário de São João Batista de Vinhais, apresentaram requerimento colocando sob suspeição a divisão da freguesia da Sé e a criação da de Santana, em 17 de janeiro de 1803 (p. 446). GAIOSO (1970)146, ao identificar as cidades, lugares, villas, freguezias por toda a capitania, afirma que na ilha de São Luís do Maranhão - em 1818 -, tem a cidade deste nome e: "A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes." (p. 110) Sobre a igreja existente em Vinhais, MORAES (1989)147 lembra que a capela de São João dos Vinhais, construída no século XIX (sic), substituiu templo muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757. A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Souza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista do Vinhais, que mandara reedificar: “Se não fôr possível ter o último jazigo nesta Cathedral de Nsa. Sra, da Vitória, junto às cinzas dos meus Predecessores, como sesejava um santo Bispo de Milão, se não 146 GAIOSO, Raimundo José de Sousa. COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA DO MARANHÃO.Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970. 147 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987.
me fôr permitido descançar junto al Altar, em que poe muitas vêzes tenho celebrado os augustos mysterios da Religião Santa, que professo, hé de minha última vontade, que o meu enterramento, se fallecer nesta Cidade, ou suas vizinhanças seja na Matriz de S. João Baptista de Vinhaes, reedificada com algum trabalho meo”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 164)148. No ALMANAK DO MARANHÃO149 para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de Manoel Bernardo Vaz, como vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais. D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o “São Francisco” - “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha: “... Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos. ‘Hospedagem ecellente em casa de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta... “... a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 234-235)150.
À época da nomação do 19o. Bispo do Maranhão, D. Antonio de Alvarenga - 1876 -, era pároco da igreja de São João Batista de Vinhais o Pe. Custodio José da Silva Santos. Catarina Mina – Catharina Rosa Ferreira de Jesus – uma escrava que amealhou grande fortuna com o comércio de seu corpo, e comprou sua alforria – no dizer de Graça Guerreiro, tornara-se uma Xica da Silva do Maranhão – achando-se adoentada – em 19 de fevereiro de 1886 - e sendo solteira e sem herdeiros, abriu mão de seus bens em testamento, deixando-os para seus escravos –sim, os possuía, e muitos ! – além da alforria dos mesmos. Entre as exigências que fez, pediu aos herdeiros que “enquanto lhes permitissem os seus recursos, não deixassem de fazer a festa de São Pedro em Vinhaes, como de costume”. (BARBOSA, 2002; 2002b)151. (Grifos nossos).
148 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 149 REGO, A. ALMANAK DO MARANHÃO COM FOLHINHA PARA O ANNO DE 1849 (2o. anno). São Luís: Typografia Maranhense, 1848. (Edição fac-similar da AML, 1990). 150
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PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968
BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In REVISTA TJ MARANHÃO, São Luís, setembro/outubro 2002. BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In LIMA, Félix Alberto (org.). MARANHÃO REPORTAGEM. São Luís : Clara, 2002, p. 173-181
UM PASSEIO EM RECORTES SOBRE O LIVRO “ESCRITOS EM MIGALHAS” JOABE ROCHA
A mulher, ao longo dos séculos, procurou de todas as formas meios viabilizadores que pudessem servir como emancipação do olhar de inferioridade vinda por parte do sexo masculino. Não por acaso, mulheres maranhenses enxergaram as letras como uma corda viva que poderiam tirá-las desse jugo opressor da masculinidade. O problema era que quanto mais se materializava o sistema literário, mais as narrativas históricas, com um tom agressivo, enalteciam o homem na figura de herói, “excluindo duplamente, quase que por completo, as mulheres enquanto personagens e produtoras da história”, como ressalta Andréa GonçalvesemHistória & Gênero(2006, p. 48), tornando suas obras de realidade em ficção, repúdio, medo e inferioridade. Engrenadas nas sombras do poder institucional, as mulheres trabalhavam nos seus escritos a linguagem como jogo de signos, ou seja, ao invés de atacarem diretamente a política, economia, acultura, a educação com duras palavras, elas trocavam por sinônimos mais brandos ou com discursos poéticos, colocavam personagens nos romances e contos que pudessem representar de alguma maneira a situação dos negros, das crianças, do sexo feminino em relação ao ensino das primeiras letras, casamento, lar e a mulher como sujeito inferior ao homem. Por meio da escrita muitas mulheres excluídas da educação formal e das produções literárias, buscaram romper essa secessão sociocultural que marginalizava o sexo feminino. O livro “ESCRITOS EM MIGALHAS”:O sexo feminino em busca da educação formal e de espaços na literatura no maranhão oitocentista, publicado pela Editora Multifoco, Rio de Janeiro (2017),têm como objetivos analisar a trajetória de algumas escritoras oitocentista, frisando com maior rigor duas escritoras: Laura Rosa e Maria Firmina dos Reis, que serviram como símbolo da valorização do sexo feminino e reconhecimento social. Compreender, também, as formas e métodos de educação para o “bello sexo” no Maranhão oitocentista. Nesse viés, ao fazermos uma radiografia historiográfica notaremos que o lugar social em que as mulheres se encontravam fez com que suas escritas ficassem a margem da valorização intelectual. Como diz Ana Colling em A Construção histórica do feminino e do masculino “A história das mulheres é uma história recente, porque, [...] o seu lugar dependeu das representações dos homens, que foram, por muito tempo, os únicos historiadores” (2004, p. 13). Desde a persistência da antiga tradição intelectual, o sexo masculino é atrelado ao universo da cultura racional, da objetividade e ao público. Enquanto que o feminino relaciona-se à natureza emocional, subjetiva e privada. No capítulo “MARIA FIRMINA DOS REIS: ‘UMA MARANHENSE’ QUE SE TORNOU MULHER ATRAVÉS DA LITERATURA E DA EDUCAÇÃO!”, abrimos espaços para trabalhar a figura de Maria Firmina dos Reis a partir da óptica de como ela enxergava a escravidão do negro e abolição do mesmo, nos quais foram dois elementos cruciais presentes em sua época e retratados de forma bastante incisiva em seu romance Úrsula e no conto AEscrava. Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís no dia11 de outubro de 1825, no bairro São Pantaleão, período efervescente dos jornais e do Primeiro Ciclo literário do Grupo Maranhense, formado apenas por aqueles considerados homens das letras. Prima por parte de mãe do escritor e professor Francisco Sotero dos Reis, morando com a vó, a mãe e algumas de suas primas em São Pantaleão, mudou-se aos cinco anos de idade para Guimarães (Vila de São José de Guimarães, município de Viamão em São Luís), onde começou a despertar o interesse pela leitura e escrita. Como não havia uma escola para o sexo feminino na província, visto que a primeira escola formal só chegou no Maranhão em 1844, criado por Dona Martinha de Abrantes, Firmina dos Reis aprendeu a ler e escrever sozinha, considerada uma autodidata. Seu autodidatismo era tão impressionante que lia e escrevia francês fluentemente. Por conta dessa desenvoltura, passou em primeirolugar no concurso público estadual em 1847, aos 22 anos, para exercer a profissão de professora primária, sendo a primeira mestra régia concursada de Guimarães. É considerada, por muitos, como a primeira escritora e educadora a publicar um romance, genuinamente brasileiro, em 1859, quando tinha 34 anos de idade, chamado o romance Úrsula com o pseudônimo “Uma Maranhense”. A partir do romance Úrsula, sua primeira publicação literária em 1859,
pela imprensa Typographia do Progresso, aos poucos começou a colaborar em jornais da época com textos poéticos em prosas e versos, charadas, enigmas e logogrifos escritos em formas de poesias assinando-as “M. F. DOS REIS” ou somente com as siglas “M. F. R.”. O remédio mais ópio de Firmina dos Reis foi escrever e dar voz a cada escrita sua. É o caso do legado deixado por ela chamado de Álbum também intitulado de Recordações de Minha Vida. É uma das grandes realizações deixada por ela, não se tratando apenas de uma produção literária, mas também de uma autobiografia feito em textos na forma de diário, mesclado entre crônicas e poemas elegíacos de histórias verdadeiras, datados entre 9 de Janeiro de 1853, anos depois de ter ingressada como mestra e 1º de Abril de 1903, aos 78 anos de idade, quando já tinha visto e presenciado muitas coisas ao longo de sua vida. Maria Firmina, sem amparo do Estado, morreu cega e pobre aos 92 anos no ano de 1917, em Guimarães, cidade próxima a São Luís. Assim como foi Maria Firmina dos Reis, o Maranhão, já nos finais do século XIX, pode presenciar o nascimento daquela que iria se transformar numa das grandes educadora e escritora: Laura Rosa. No capítulo““DA FOLHA MAIS FAMOSA DA RAMAGEM, DESCEU NAS ÁGUAS E RESTA DA VIAGEM O LABIRINTO CAPILAR DA TINTA”: LAURA ROSA ENTRE POESIAS E A ARTE DE EDUCAR OS CAXIENSES”, há uma construção biográfica da vida desta educadora e escritora, bem como uma visão da emaranhada formação histórica da educação caxiense entre as primeiras décadas do século XIX para o XX. Mesmo com resquícios do século anterior, criando ainda barreiras para que a educação não se estendesse a todos, a persistência de Laura Rosa foi de suma importância para que as mulheres repensassem seu sexo como sujeito participador da sociedade. Segundo Laura Rosa em As Crianças “é preciso estudar, estudar, investigar, descortinar sempre para que se vão acamando as ideias sobre os alicerces que me foram arraigados no espírito com as primeiras luzes. Por ora, ainda háuma certa confusão” (1909, p. 3). Segundo a mulher que cuidou de Laura Rosa até o dia de sua morte, professora Alzira ou tia Alzira, como é conhecida por todos, bem como na memória do professor Manoel de Páscoa Medeiros Teixeira (Professor Passinho), ressaltaram que Laura Rosa era muito calada e tinha o mundo dentro de si. Pouquíssimas vezes ela falava para alguém sobre fatos de sua vida passada. Nem mesmo a professora Filomena Machado Teixeira, a saudosa professora Filozinha (os mais próximos chamavam-na de “Tia Filó”), a mulher a quem muitos consideram como sua melhor amiga, sabia coisas do passado de Laura Rosa. Nos momentos finais de Laura Rosa, quase sem poder mais andar da sala para a varanda, Laura Rosa aos poucos foi abrindo o seu passado para a professora Alzira. Contou sobre sua mocidade e os obstáculos que enfrentou quando era jovem. Chegou a entregar alguns de seus pertences que ela escondia por muito tempo, como, por exemplo, um diário de anotações de suas aulas, poesias e recortes de textos que falam sobre a educação e comportamento das crianças, escritos literalmente com tinta de pena. Segundo a memória do poeta e escritor Wybson Carvalho em LAURA ROSA, a Violeta do Campo (2014), direcionavam-se todas as tardes jovens estudantes que faziam o ginásio, poetas e escritores caxienses como “Cid Teixeira de Abreu, Déo Silva, João Vicente Leitão, Abreu Sobrinho, Vitor Gonçalves Neto, Jota Cardos”, para discutir sobre as metodologias de ensino-aprendizagens e ouvir seus contos, poesias e sonetos. Também pessoas importantes e autoridades públicas visitavam Laura Rosa, como consta no Jornal Folha de Caxias de 1949, na qual ela se encontra ao lado do Prefeito de Caxias, Marcello Thadeu Assunção, e o jornalista Vitor Gonçalves Neto. Nascida no centro de São Luís, Rua das Crioulas, no dia 1º de Outubro de 1884, final do século XIX, período muito conturbado com a crise do Império, tentativas abolicionistas, criação de uma República, filha de Cecília da Conceição Rosa,mãe brasileira negra e pobre, cujo pai foi um português que desconhece sua existência, Laura Rosa foi educada e criada por seus padrinhos Dr. Antenor Coelho Souza e Dona Lucília Coelho Souza (casal rico da capital da província). Ainda em São Luís, Dr. Antenor pagou por completo o curso de formação em Normalista do Magistério na Escola Normal de São Luís, Liceu Maranhense, em 1905, quando tinha 20 anos de idade, concluindo em 1910 aos 25 anos. O motivo do retardamento de Laura Rosa à educação formal estava atrelado a fatores importantes que não podemos deixar passar despercebidos: primeiro porque muitas normas e costumes permaneceram no Brasil pós século XIX, principalmente, no que se trata da educação ter como base uma formação elitizada e voltada mais para o sexo masculino. Segundo porque as únicas e poucas escolas formais que existiam para
educar moças e rapazes eram em sua maioria particulares, dificultando a vida de muitas pessoas pobres. E por fim, mulheres bastardas, filhas de mães negras, eram mais ainda rotuladas como moças ilegítimas, fracas, sem capacidade intelectual, como aconteceu com Laura Rosa. A causa ou circunstância de sua vinda a Caxias, assim como a data da primeira vez que pisou na terragonçalvina, ainda é algo de questionamentos e de respostas que nos chegam fragmentadas. O que sabemos por certo é que ela chegou por volta de 1919 a 1920 e, na memória da professora Alzira,bem como na memória do professor Passinho, ela veio para Caxias porque as pessoas que cuidavam dela morreram, inclusive seus padrinhos, não restando ninguém que pudesse ficar com ela na capital. Caxias conseguiu avançar na educação na primeira década do século XX criando o Instituto João Lisboa, onde afirma Jacques Medeiros em A história da educação de Caxiasque este Instituto“foi o primeiro a ser fundando [...] criado em 1918 pelo governo do estado” (2006, p. 14). Localizando-se num sobrado perto da Praça Vespasiano Ramos, e com curta duração, fechou por ordem do governo do estado sem explicação, causando revolta aos caxienses que almejavam o conhecimento das letras, “especialmente os estudantes, que, em uma formidável e incontida manifestação de desagrado, invadiram o prédio em que funcionava o aludido Instituto”, explica ainda Jacques Medeiros (2006, p. 14).Foi nesse Grupo Escolar João Lisboa que Laura Rosa consegue seu primeiro emprego no magistério, onde depois de alguns anos de atuação nessa escola, passou a ser a diretora. PublicouAs Crianças, em 1909,pela Imprensa Official do Maranhão, e que nunca mais foi reeditado e lançado a público. Percebemos através da leitura deste livro que Laura Rosa era profundamente conhecedora da Pedagogia, dos conceitos teóricos e das doutrinas educativas dos grandes filósofos como Platão, Socrates, Quintiliano, Rousseu, Seneca, Comenio, Tratzendoff. Ela se debruça na educação da História Antiga, passando pelos costumes, normas e formação da educação e instrução das civilizações do Oriente e ocidente, como da China, Fenícios, Hindus, israelitas, Persa, Esparta, Atenas. Imenso foi seu conhecimento na educação e na literatura que Laura Rosa chegou ao patamar de ser a primeira mulher maranhense a ter acento a uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras (Cadeira de Nº 26), cujo patrono era Antônio Francisco Leal Lobo, conhecido como Antônio Lobo: “[...] eleita a 3.abr.1943; recebida pelo Acadêmico Nascimento Maraes, cujo Discurso de Saudação ainda não foi localizado; sessão no edifício da Assembléia Legislativa do Estado, então sede da Academia, a 17.abr.1943” (REVISTA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS. Nº 80. 1998, p. 11). Laura Rosa recebeu enquanto viva o cognome de “violeta do campo” como mérito e reconhecimento social de seu empenho na educação e pelos seus escritos. Infelizmente, morreu em situação de pobreza aos 92 anos de idade no ano de 1976 – mesma idade e situação de Firmina dos Reis –, deixando como herança apenas sua intelectualidade composta nas poesias, no livro As Crianças e nas escolas por onde atuou. O velório de Laura Rosa foi de grande repercussão. Vieram pessoas de vários lugares, e até alguns intelectuais da capital maranhense. Seu corpo se encontra sepultado no Cemitério de São Benedito em Caxias-MA. As mulheres, através da arte da escrita, expansionaram sua história para além dos muros da subjugação masculina. E quando não puderam mais avançar sobre o fazer cotidiano nos espaços públicos e privados, pré-estabelecido pelo mundo dos homens, buscaram outras ferramentas de poder possíveis como forma de mostrar que o chamado ‘Outro Sexo’ ou também ‘Segundo Sexo’, não podia viver mais excluído das construções sociais. Assistindo os movimentos revolucionários e modernos da sociedade brasileira, no século XIX, foram pouco a pouco aproveitando essas agitações para iniciar na literatura e na imprensa, a luta pelos direitos de sua cidadania social e política, reivindicar a universalidade no mundo público e privado.