REVISTA DO LEO 11 - AGOSTO 2018

Page 1

REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 11 – AGOSTO - 2018


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


EDITORIAL

A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – que por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra

PAXECO:

VIDA

E

OBRA

VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018

MAIO

2018

-


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL 5SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER ECOS MARANHENSES DO “SPORT” - Uma apresentação para Leopoldo Vaz - por Victor Melo QUEM FOI O PIONEIRO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O LAZER DO TRABALHADOR NA INDÚSTRIA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO MEMÓRIA ORAL DOS ESPORTES, EDUCAÇÃO FÍSICA E LAZER MARANHENSE – 1930/1990 O LÚDICO E O MOVIMENTO NO MARANHÃO KARTÓDROMO DE IMPERATRIZ, 27 ANOS - EDMILSON SANCHES

ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR)

2 3 5 6 7 9 11 24 28 39 41

100 ANOS DE "FOOT-BALL" NO MARANHÃO

42

FERNANDO DE NORONHA & ATLAS DA CAPOEIRA MARANHENSE

45

ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO SOBRE A MATÉRIA "SEGREDO NÃO É PRA QUALQUER UM", JUCA REIS & FERNANDO DE NORONHA

49

LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA

51 52

MESTRE PIRRITA MESTRE JORGE NAVALHA MESTRE CURIÓ MESTRE BAÉ MESTRE GAVIÃO

53 58 63 67

ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES É ESSA A EDUCAÇÃO FÍSICA/ESPORTIVA QUE TEMOS? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

72 73

NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE

82

69

SÍTIO DO FÍSICO: PRIMEIRA ESCOLA TÉCNICA DO MARANHÃO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A FUNDAÇÃO DOS CLUBES ESPORTIVOS EM SÃO LUÍS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO, A FACULDADE DE DIREITO E A FUNDAÇÃO DO IHGM... - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A CONQUISTA DO MARANHÃO – FUNDAÇÃO DE MIGANVILLE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SOBRE TUPIS E TAPUIAS - - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

83 91 94 101 117


MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


ECOS MARANHENSES DO “SPORT” Uma apresentação para Leopoldo Vaz por Victor Melo1

Houve tempos, no Brasil, que pouco se sabia ou se falava sobre a trajetória da prática esportiva, mesmo que essa já tenha se imposto ao gosto dos brasileiros, logo se configurando como uma das mais apreciadas e populares manifestações culturais. Ainda que os primeiros estudos de memória tenham surgido já nos anos finais do século XIX, as iniciativas de preservação/informação eram esparsas, mais pautadas em esforços individuais de fãs e jornalistas e pouco acadêmicas. Na verdade, percebia-se mesmo um velado (por vezes explícito) preconceito: o esporte não era considerado objeto “nobre”, digno de receber a devida atenção dos “doutores”, que tinham “coisa mais séria” para se preocupar. Nas últimas décadas, para bem, muita coisa mudou: não nos cabe nesse exíguo espaço da apresentação importunar o leitor com explicações sobre o porquê (um processo que tem raízes nacionais, mas também dialoga com mudanças no cenário acadêmico internacional), mas tão somente informar que cada vez mais o esporte e as práticas corporais institucionalizadas como um todo são consideradas como um objeto de investigação não só “digno e respeitável”, como também como um dos grandes laboratórios humanos, objeto adequado para entender as mais distintas tensões e ambigüidades que cercam os homens e mulheres em suas experiências em sociedade. Nesse âmbito, uma das ”sub-disciplinas” que deu passos mais concretos de organização foi exatamente aquela relacionada aos estudos históricos, cujos estudos e pesquisadores hoje se espalham por várias áreas acadêmicas (Educação Física, História, mas também outras relacionadas às ciências humanas e sociais), em eventos, grupos, coletivos em associações científicas. Destaca-se o sensível crescimento de produção bibliográfica ligada ao tema, algo que tem relação com o notável aumento do número de investigações. A despeito desses avanços, algumas lacunas persistem. Entre as mais notáveis, podemos situar o fato de que majoritariamente esses estudos referem-se a ocorrências, pessoas, instituições das regiões Sul e Sudeste do país. É certo que esses são contributos fundamentais, mas seria possível compreender esse país continental sem um olhar mais cuidado para outras regiões? Essas outras experiências não teriam algo de enorme relevância a nos informar, notadamente àqueles que se preocupam com a fragmentação dos estudos históricos, àqueles que não desistiram da busca de sínteses mais amplas? Pois bem, aí se encontram os estudos de Leopoldo, entre os quais esse volume que tenho a honra de apresentar. Com seu olhar cuidado e carinhoso (no sentido de quem olha com cuidado e rigor), ele, membro do Instituto Histórico-Geográfico do Maranhão, nos faz ver que a experiência esportiva foi multifacetada: se carrega algo de universal, dialoga notavelmente com o local (e talvez aí se encontre uma chave para entender o sucesso de sua difusão e sua popularidade por todo o planeta). Tais esforços vão bem ao encontro da importância da referida instituição da qual é sócio: mapear o Brasil para que melhor o possamos compreender. Por essa obra, desfilam nomes, pessoas, gente de carne e osso que entabulou em sua vida experiências concretas. Ao conceder sentido e significado a essas ocorrências, Leopoldo o faz sem maculálos e sem obliterar também o intuito de homenageá-los, algo que não macula seu rigor de pesquisador. 1

VICTOR ANDRADE DE MELO é carioca de Bangu. Professor da Escola de Educação Física e Desportos e do Programa de PósGraduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua também no Programa de Pós-Graduação em Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais. É coordenador do Grupo de Pesquisa “Anima”: Lazer, Animação Cultural e Estudos Culturais e do Espaço Virtual de História do Esporte, sendo ainda membro pesquisador do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ e do Laboratório de Estudos de Tempo Presente/UFRJ. É autor de livros, capítulos e artigos publicados em periódicos, no Brasil e no exterior, bem como possui uma bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Pesquisa.


Trata-se de um livro que ficará como referência para todos aqueles que, esperamos, desejem esmiuçar e fazer desdobrar os entendimentos sobre o que ocorrera no Maranhão. Que venham os ecos “sportivos” maranhenses! E que todos nós, historiadores do esporte, possamos com acuidade ouvi-los com a disposição de quem deseja compreender que esse país-nação precisa de esforços dessa monta para que possa dar sequencia a seu esforço de autoentendimento. Estou certo de que o leitor se deliciará com as histórias do Fabril Athletic Club, se verá mergulhando na piscina do Genipapeiro, imaginar-se-á remando nas regatas provavelmente promovidas pelo Tiradentes, sonhara, enfim, com um Maranhão que não mais existe, a não ser nos desejos do historiador de recriar um tempo de outrora, para melhor entender os dias de hoje.


QUEM FOI O PIONEIRO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 2 O Jornal “O Estado do Maranhão”, em seu Caderno de Esportes, editado às segundas-feiras, vem contribuindo para o resgate da história do esporte, do lazer e da educação física no Maranhão. Seus editores, sem as técnicas de pesquisa sofisticada, presentes na moderna historiografia, têm dado verdadeira aula sobre como se resgata a memória oral de uma comunidade. Os trabalhos, em sua maioria, resgatam a história pessoal daqueles que permanecem nas lembranças “dos velhos”, dos tempos em quem o Maranhão era um celeiro de craques, não necessitando de importar times inteiros para o representar. As memórias levantadas, em sua maioria, até agora, foram dos ídolos do futebol, que também se aventuraram por outros esportes. Certamente nos próximos números serão lembrados outros heróis da história do esporte, do lazer e da educação física no Maranhão. Talvez a pergunta "quem foi o pioneiro" na introdução do esporte e da educação física seja respondida. Uma primeira pista foi dada em reportagem publicada no suplemento GALERA, d’O ESTADO DO MARANHÃO, sobre o pioneirismo do fisiculturismo no Maranhão. O professor Edilson Penha Alves, professor de Educação Física da UEMA e proprietário de uma academia de ginástica, em entrevista publicada naquele suplemento, considera-se "O pioneiro do fisiculturismo" no Maranhão - (esse o título da matéria): "O pioneirismo nasceu das mãos do pequeno Edilson Penha Alves, em 1944, aos 12 anos de idade. 'Fazia exercício com pesos improvisados de cimento e pedrinhas nos fundos da minha casa', explica. Depois de passar oito anos na maromba rústica, Edilson partiu para o Rio de Janeiro à procura de novos horizontes. Lá, encontrou o professor Nisio Dourado, da Academia Apolo, onde passou a treinar."(O ESTADO DO MARANHÃO, ed. de 2 de dezembro de 1995, p. 7 - Suplemento GALERA). O autor da matéria - não assinada - afirma, categórico, que: "... malhar com pesos faz bem, isso todo mundo já sabe. É indicado para preparar atletas de competição de todas as modalidades, na restauração de músculos, tendões e fortalecimento de áreas do corpo humano menos favorecidos pelo esforço físico, além de delinear e melhorar o tônus muscular. "Mas, o que poucos sabem, é quem foi o introdutor dessa prática em São Luís. Será que nasceu da "explosão" dos filmes norte-americanos ou de um pate-papo de "magrelos"que almejavam a perfeita forma física ?" (O ESTADO DO MARANHÃO, ed. de 2 de dezembro de 1995, p. 7, Suplemento GALERA). E deixa, o autor da matéria, a pergunta: "quem foi o introdutor dessa prática em São Luís?” E responde que o pioneirismo coube ao "pequeno Edilson Penha Alves, em 1944, aos 12 anos de idade". Considerando-se sob o aspecto de quem começou a praticar exercícios com pesos, podemos afirmar que o pioneiro foi JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, ainda no século passado. O autor de "O Captiveiro", de "A esfinge do Grajaú", "A setembrada" , "nasceu na estreita rua do Sol, 141, situado entre a Rua do Ribeirão e o Beco do Teatro, a 2 de setembro de 1867" (GASPAR, 1993, p.12). Nos livros de memórias desse festejado historiador, advogado, polemista, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista maranhense, relata-nos que o "Club dos Mortos" - proposto por Raymundo Frazão Cantanhende -, reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios:

2 Professor de Educação Física do CEFET-MA; Mestre em Ciência da Informação


"E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos" (ABRANCHES, 1941, p. 187). Relata, ainda, que os membros desse clube abolicionista, juntando o útil ao agradável: "... não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos...". (ABRANCHES, 1941, p. 188). Nem o pioneirismo de indicar práticas de exercícios físicos às mulheres, como é dado a entender no artigo em questão, é do proprietário da Academia Apolo. Já em 1844, no Colégio N. S. da Glória, também conhecido como "Collégio das Abranches", em seus primitivos estatutos, dispunha:"...não sómente sobre as disciplinas escolares como também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas." (ABRANCHES, 1941, P. 113-114). Anos mais tarde, Aluísio Azevedo, tanto em "O Mulato" - publicado em 1880 -, como em uma crônica publicada em 10.12.1880, propõe uma educação positivista para as mulheres maranhenses: "... é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista ... é preciso educá-la física e moralmente ... dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente ..." (MÉRIEN, 1988, p. 166-167). Djard MARTINS (1989), registra que o nascimento das atividades esportivas no Maranhão se deu pelas mãos de Nhozinho Santos - Joaquim Moreira Alves dos Santos -, quando foi fundado, em 1907, o Fabril Athletic Club. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física.: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989). Pergunta-se: que foi o pioneiro? Parece-nos que foi DUNSHEE DE ABRANCHES. BIBLIOGREFIA: ABRANCHES, Dunshhe de. O Captiveiro. Rio de Janeiro (s.e.), 1941. ABRANCHES, Dunshee de. A esfinge do Grajaú. São Luís : ALUMAR, 1993. AZEVEDO, Aluísio. O Mulato. Rio de Janeiro : Tecnoprint, (s.d.). CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís : SIOGE, 1993. GASPAR, Carlos. Dunshee de Abranches. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). São Luís : (s.e.), 1993. MARTINS, Djard. Esporte: um mergulho no tempo. São Luís : SIOGE, 1989. MÉRIEN, Jean-Yves. Aluísio Azevedo Vida e Obra (1857-1913) - o verdadeiro Brasil do século XIX. Rio de Janeiro : Espaço e Tempo : Banco Susameris; Brasília : INL, 1988. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. "Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX". São Luís : FUNC, 1995. (Segundo lugar no "XXI Concurso Literário e Artístico "Cidade de São Luís", Prêmio "Antônio Lopes", de pesquisa histórica, 8 de setrembro de 1995; Tema-livre apresentado no VII Encontro Nacional de Recreação e Lazer, Recife-PE, 09 a 12 de novembro de 1995.). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do atletismo maranhense. O IMPARCIAL, São Luís, 27 de maio de 1991, segunda-feira, p. 9, Caderno de Esportes.


O LAZER DO TRABALHADOR NA INDÚSTRIA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO

O FATOR “E” “E” de entretenimento – é o fator que está invadindo todas as relações sociais, seja na religião, na política, no ambiente escolar, ou mesmo no ambiente de trabalho. De acordo com WOLFF (citado por BRAMANTE, 2002), já estamos vivendo uma "economia do entretenimento", onde só nos Estados Unidos da América, em 1998, foram gastos US$ 480 bilhões para atender a demanda dessa dimensão da vida humana, sem contar as despesas com a aquisição de eletro-eletrônicos, grande parte destinados para essa finalidade. Em 1993, essa "economia do entretenimento" já movimentara US$ 341 bilhões: ECONOMIA DO ENTRETENIMENTO - 1993 Modalidade Brinquedos e equipamentos esportivos VCRs, TVs e outros equipamentos eletrônicos Livros, revistas e jornais Jogos de azar TV a cabo Parques de diversões Cinemas e aluguel de fitas e vídeos Computadores pessoais para uso doméstico Barcos e aeronaves particulares de lazer Entretenimento ao ar livre, exceto esportes Esportes (espectadores) Outras atividades recreacionais TOTAL

US$ bilhões 65 58 47 28 19 14 13 8 7 6 6 70 341

Fonte: International Business Week, citado por TRIGO, 1995, p. 72 Há uma profusão de números nos últimos dez anos que comprovam o evidente vigor da denominada “indústria do entretenimento”, já considerada a número um tanto na produção de riqueza como na abertura de novos postos de trabalho no cenário mundial. Ela engloba a mídia, os ramos de hotelaria e turismo, além de empreendimentos de recreação e animação sociocultural (BRAMANTE, 2002). Em razão disso, na última década, o conceito de lazer vem sofrendo modificações significativa, dada a leitura que a sociedade faz desse fenômeno de maneira, via de regra, funcionalista, em contrapartida aos esforços da comunidade acadêmica (MARCELINO, 1987). Ainda de acordo com BRAMANTE (2002), parece que se descobriu uma panacéia – remédio que cura todos os males da sociedade: é bom para tirar crianças da rua; fundamental para a mulher na sua luta pela igualdade de seus direitos; essencial para os portadores de necessidades especiais, enfatizando-se o seu exercício pleno de cidadania; “santo remédio” para a terceira idade, que vê aumentar seu tempo livre e até mesmo para o executivo moderno, estressado por natureza, quando, no lazer, poderá “recarregar a bateria” para uma nova jornada de trabalho. Essa visão do lazer, além de ser reducionista, é equivocada! Muitas vezes associado à cultura, esporte, turismo, meio ambiente, entre outros órgãos, o lazer vem se posicionando como um serviço essencial para a comunidade oferecido não só pelo poder público. No Brasil, duas entidades "sui-generis" e pioneiras, o Serviço Social da Indústria – SESI – e o Serviço Social do Comércio – SESC - há mais de 50 anos têm no lazer um de seus campos prioritários de atuação, atendendo em suas instalações milhares de trabalhadores da indústria e do comércio, bem como seus dependentes, com uma crescente ampliação de oferta de serviços para a comunidade (SESI 2001):


ESTRUTURA DO SESI PARA O LAZER DO TRABALHADOR E DE SEUS FAMILIARES • Colônias de Férias • Estádios • Clubes do Trabalhador • Auditórios /Cinemas/Teatros • Ginásios de Esportes • Campos de Futebol • Alojamentos • Piscinas • Quadras Esportivas

12 17 144 177 220 217 358 419 724

Fonte: SESI. BALANÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA 2000

Os estudiosos do fenômeno do lazer têm verificado que este tem evoluído para duas concepções que se complementam (STEBBINS, 1999, citado por BRAMANTE, 2002): a) o “lazer fortuito” (casual leisure) – o lazer é identificado numa perspectiva de entretenimento, ou seja, atividade que proporcionam recompensas intrínsecas imediatas, caracterizadas pelo prazer de rápida duração, exigindo pouco ou nenhum conhecimento prévio ou habilidade em particular para desfrutá-las. b) o “lazer levado a sério” (serius leisure) – pautado pela perseverança, senso de “carreira” (isto é, o desejo de desenvolver-se como ser humano dentro de um contexto marcado pela ludicidade), exige dedicação e esforço pessoal, traz benefícios duradouros e promovem a identidade pessoal e social. O “lazer levado a sério” só pode ser vivenciado por três categorias de participantes: 1) aqueles que se dedicam a algum tipo de trabalho voluntário na comunidade que fazem parte; 2) aqueles que cultivam, verdadeiramente, algum “hobby”, ou ainda, 3) o “amador”, ou seja, “aquele que ama o que faz”, no qual prevalece a percepção de liberdade e a motivação intrínseca. Para BRAMANTE (2002), o lazer, em nossos dias, tem uma forte tendência a se mercantilizar na medida em que “invisto” o meu tempo muito mais em “ter objetos e fazer atividades” do que conquistar um tempo/espaço/atitude para “ser”, em experiência significativas que contribuam para o meu desenvolvimento pessoal e das minhas relações sociais, tendo a ludicidade (entrega gratuita ou jogo) como eixo principal de ação. Esse autor considera, ainda, outra característica das chamadas sociedades pós-industrial, que é a reaproximação de duas dimensões de vida humana que sofreram rupturas por ocasião do aumento do processo de industrialização e da crescente urbanização: o campo das obrigações (notadamente o trabalho profissional) com o campo das não obrigações (o que denomina de lazer). DE MASI (2000) reafirma a aproximação do trabalho e do lazer ao indicar que o futuro pertence a quem souber libertar-se da idéia tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o jogo. Enfim, o futuro é de quem exercitará “o ócio criativo”. O entendimento do lazer por aquelas pessoas que o usufruem (demanda), como o gerenciamento dessa experiência por organizações que prestam serviços nesse campo (oferta), tem sido objeto de estudos e pesquisas em todo mundo.


OBJETIVOS Público-alvo: empresas – -

identificar os benefícios sociais concedidos aos funcionários das indústrias formais da cidade de São Luís – Maranhão, bem como a receptividade da empresa para o desenvolvimento e adesão a novos serviços de lazer;

Público-alvo: empregados – -

conhecer os hábitos e necessidades de lazer do trabalhador na indústria formal da cidade de São Luís – Maranhão, bem como a utilização de serviços de lazer oferecidos ou não pela empresa.

Objetivo específico: -

Identificar os hábitos e necessidades de lazer do trabalhador na indústria formal da cidade de São Luís do Maranhão.

TRABALHO, TEMPO LIVRE E LAZER FIORE (1983) ao discutir “algumas reflexões sobre a questão do ‘tempo livre’”, considera ser incorreto afirmar que ao aumento da produtividade corresponde necessariamente o aumento do tempo liberado, beneficiando por igual todos os setores da população; como é incorreto afirmar-se que esse tempo livre transformar-se-á necessariamente em lazer; ou reduzi-lo a uma totalidade absoluta que dilui as distinções entre a natureza e as determinações particulares das diversas políticas sociais aí desenvolvidas. A abordagem teórica da questão da duração do tempo de trabalho – e, por oposição, do tempo do nãotrabalho – exige outro tratamento –: “...é que a extensão real da jornada do trabalho não depende fundamentalmente dos índices de produtividade do trabalho permitidos pelo grau de desenvolvimento tecnológico de uma dada sociedade”. (p. 7). Mais adiante - e considerando o jogo dos múltiplos e contrários interesses dos diferentes segmentos da sociedade (e considera a relação entre os interesses de acumulação de capital e a ação prática das camadas assalariadas em defesa de melhores condições de vida), essa autora considera que: “Orientados por interesses sociais mais amplos – e pelos formas econômicas, políticas e culturais de que se revestem as suas relações -, uma série de variáveis (e, entre elas, aqui sim, os índices de produtividade) interfere, a cada conjuntura, para a duração real da jornada de trabalho e, por decorrência, do ‘tempo livre’, podendo este crescer ou decrescer e não sendo igualmente distribuído, variando por setores produtivos, ramos de atividade e categorias profissionais”. (p. 7). A definição das variáveis que influem diretamente nas oscilações conjunturais e setoriais dos limites da jornada de trabalho dependerá da análise concreta de cada situação específica (FIORE, 1983), como o nível de organização das camadas populares em sua luta pela melhoria da qualidade de vida e nas formas de emprego do “tempo livre” 3 (p. 13). 3

São considerados, como tempo livre, as 24 horas, menos o tempo de trabalho, o tempo de dormir, o tempo de asseio pessoal. O tempo livre engloba o tempo de lazer, os tempos dedicados às atividades familiares, políticas, sociais e religiosas. (PEREIRA, Jesus Vazquez. Perspectivas do tempo livre para o lazer no Brasil. In BOLETIM DE INTERCÂMBIO, Rio de janeiro, SESC, v.4, n. 15, jul./set. 1983, p. 22-38.


DUMAZEDIER (1979), ao analisar as relações entre trabalho e lazer, considera que, antes de qualquer coisa, deve-se observar de que modo se reparte o interesse pelo trabalhado na população ativa de uma cidade. O trabalho deve ser analisado por meio de um conjunto de indicadores - objetivos (situacionais) e subjetivos (reacionais) e de decompor o lazer em vários gêneros. São indicadores objetivos, as durações do trabalho, para se verificar se a duração do trabalho é um fator importante na escolha dos lazeres; o gênero de fadiga: para verificar o peso da fadiga e a incidência do gênero de fadiga sobre a escolha das atividades de lazer; o gênero de trabalho procura verificar o efeito dos diferentes gêneros de trabalho sobre a escolha do lazer e seu nível, distinguindo-se primeiramente os trabalhadores da indústria e a construção civil (p. 132134). Dos indicadores reacionais (subjetivos), Dumazedier propõe verificar-se a satisfação máxima experimentada no: interesse pelo trabalho, destacando-se nesse item, o trabalho bem feito, técnica, organização, relação com os colegas, relação com os chefes; outro indicador é a preocupação dominante experimentada pela profissão; e a participação sindical. Para esse autor, a noção de lazer por parte dos trabalhadores, corresponde igualmente a componentes variados que importa distinguir: se há ligação entre atividades de lazer e de trabalho, ela pode depender da escolha que tenha sido feita entre os diversos componentes do lazer: lazeres físicos, práticos, intelectuais, artísticos, e sociais. Foi observado que as duas primeiras categorias: interesses físicos (esportes, passeios) e interesses práticos (bricolagem, jardinagem, criação de pequenos animais) variam muito menos segundo as classes sociais e as gerações, do que as três últimas categorias: interesses artísticos, intelectuais e sociais. É particularmente importante saber como estes três últimos setores do lazer estão ligados aos diferentes aspectos da vida do trabalhador (p. 137). TRIGO (1999), ao tratar da educação em lazer, pergunta: o que as pessoas querem? De que elas precisam? A resposta a essas perguntas insere-se no contexto da discussão sobre o futuro do trabalho e das organizações sociais em pauta nas agendas sociológicas, econômicas e políticas. O que as pessoas querem? - se divertir... POLÍTICA DE LAZER DO SESI-DR/MA 4 Uma política de lazer designa um conjunto de princípios e escolhas que definem o que seria desejável, com orientação de seus modos de geração, uso e absorção de informações e tecnologias através de diferentes procedimentos de promoção, regulação, coordenação e articulação, em interação com aquelas condições resultantes das políticas, práticas e contextos. Aqui, são aqueles expressos no Planejamento Estratégico do SESI5. O Núcleo de Lazer do SESI-DR/MA - diante da nova realidade político-institucional -, ao se adequar às novas diretrizes emanadas naquele documento para o período de 2000-2004, quando é estabelecido como prioridade o foco na empresa industrial como cliente estratégico; atenção às suas necessidades; e a busca de parcerias, para ampliação de receitas e a recuperação de custos na prestação de serviços, tendo em vista a sustentação de suas atividades e empreendimentos. A filosofia de trabalho6 “conjuga o fortalecimento da industria com o crescimento das condições de vida de seus funcionários, reafirmando o princípio de que empresas saudáveis e produtivas pressupõem funcionários saudáveis e felizes”. Objetivo: "ampliar e dinamizar substancialmente as ações de lazer na empresa ou para a empresa, criando mecanismos inovadores para o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador" (Plano Estratégico 2000-2004, p. 43).

4

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e Outros. Proposta de uma Política de Lazer para o SESI-DR/MA. São Luís : SESI-DR/MA, 2002. SESI.DIRETORIA NACIONAL. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 2000-2004 6 NASCIMENTO, Rui Lima de. in PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 2000-2004, p. 6-7

5


Concepção de Lazer: Direito de Cidadania Princípios norteadores:

livre escolha; participação espontânea; incentivo à criatividade; ocupação prazerosa do Tempo Livre.

Prioridades na área de negócio Lazer para o SESI-DR-MA 7:  PROGRAMA GINÁSTICA NA EMPRESA - Orientação Estratégica: ampliar oferta destes serviços com foco na empresa industrial; implementar estratégias de sensibilização junto aos empresários; implantar plano de marketing;  PROGRAMAS COMPLEMENTARES - LAZER FÍSICO-ESPORTIVO; LAZER SOCIAL; AÇÕES CULTURAIS - Orientação Estratégica: otimizar o uso de capacidade instalada; Firmar parcerias com ONG's, Governo Federal e empresas; Fortalecer canal de comunicação/divulgação nas empresas; Consolidar a auto sustentabilidade. Missão do SESI: “prestar, de forma integrada, serviços de educação, saúde e lazer para o trabalho, com vistas à melhoria da qualidade de vida do trabalhador, promovendo o crescimento da indústria do estado do maranhão, o exercício de sua responsabilidade social e desenvolvimento sustentável”. (SESI-DR/MA. Produtos e Serviços 2002). Visão de Futuro: "Até 2004, o SESI será reconhecido como líder nacional na gestão e prestação de serviços sociais, com sustentabilidade política e financeira." Vetor de negócios: Concentração da parcela mais expressiva dos esforços e recursos na oferta de serviços integrados de Saúde Ocupacional e Lazer na Empresa, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida para o trabalho e as necessidades da empresa. 8 A atuação do Serviço Social da Indústria (SESI) junto ao trabalhador da indústria e de sua família está voltada para áreas em que sempre foi insuficiente a oferta de serviços: educação básica, alimentação, saúde e lazer. O trabalhador, selecionado para enfrentar o desafio de aumentar a competitividade da indústria nacional, precisa de boa formação escolar, boa alimentação, saúde e treinamento. Ao assumir responsabilidades com o desenvolvimento social, o SESI estimula a prática da participação, a construção do conhecimento coletivo e o exercício da cidadania. A preocupação com as desigualdades sociais do País leva o SESI a garantir o acesso dos segmentos mais carentes da população a bens e serviços e a trabalhar em conjunto com diversas instituições privadas e públicas, nacionais e internacionais (OIT e Serviço Social Internacional), para promover a interação do trinômio Educação, Tecnologia e Trabalho.

7

SESI-DR/MA. Planejamento estratégico do SESI-DR/MA para 2002, p. 10 Não está excluída a possibilidade de desenvolvimento de outros negócios ou a prestação de outros serviços, desde que se revelem auto-sustentáveis. 8


DIRETORIA REGIONAL DO MARANHÃO Em sua estrutura organizacional, a área de Lazer e Cultura tem como objetivos9: -

Oferecer alternativas de lazer aos clientes, preferencialmente em seu local de trabalho, visando à superação do desgaste físico e mental e ao aumento da produtividade;

-

Oferecer atividades de formação físico-esportiva, visando ao alcance do condicionamento físico do trabalhador e seus dependentes, de forma adequada e permanente;

-

Desenvolver ações para a preservação e divulgação de valores culturais, estimulando a participação ativa do trabalhador no lazer cultural;

-

Promover ações de educação para o lazer que estimulem a ampla participação da clientela;

-

Buscar a utilização de formas alternativas de lazer que venham ao encontro das necessidades da clientela, tanto na empresa quanto nos locais onde haja grande concentração de trabalhadores da indústria.

Com esses objetivos, busca-se como resultados: 

trabalhadores com preparo físico e equilíbrio mental;

redução dos índices de stress e de acidentes no trabalho, e

conseqüente aumento da produtividade;

crianças e jovens motivados, capacitados e treinados para o esporte.

Quanto aos produtos e serviços oferecidos: 

cursos e atividades de formação físico-esportiva;

atividades e eventos culturais;

atividades de lazer social;

projetos para grupos da terceira idade;

projeto Ginástica nas Empresas; e

assessoria técnica de lazer às empresas.

O Núcleo de Lazer do SESI-DR/MA está subordinado à Coordenadoria de Desenvolvimento Sócio-Cultural, e tem como finalidade "gerir e disponibilizar os conhecimentos relativos às áreas esportiva e de lazer, necessários ao desenvolvimento dos projetos e processos", e como atribuições:

9

Assegurar a qualidade do conhecimento fornecido aos processos e projetos.

Orientar a capacitação dos recursos humanos necessários ao desenvolvimento dos processos e projetos, em assuntos relacionados com a área da cultura, do esporte e do lazer.

Prover a alocação de recursos humanos necessários ao desenvolvimento dos processos e projetos da área de atuação.

Acompanhar e avaliar tendências quanto à atualização tecnológica para atendimento aos clientes e associados em estreita articulação com as Unidades Operacionais nos campos cultural e esportivo

Prestar assessoria em assuntos relacionados com a área cultural, esportiva e do lazer no desenvolvimento de projetos pelas empresas e associados.

Colaborar com a coordenação das ações de desenvolvimento e preparação de pessoas para atuarem na área de lazer do Sistema FIEMA, das empresas contribuintes, dos clientes e associados. º

Portaria 019/2002, de 1 de fevereiro de 2002


Administrar o acervo em seus diferentes suportes, centralizando sua aquisição.

O SESICLUBE ARAÇAGY, dentro na nova estrutura, possui os Núcleos de Apoio Administrativo, contando com um quadro de 13 (treze) funcionários; e o Núcleo Operacional, onde estão lotados os Profissionais de Educação Física, Esportes e Lazer. Já o SESICLUBE ARAÇACY conta com uma estrutura moderna e ampla, composta por: -

uma piscina semi-olímpica, com cinco raias;

-

uma piscina de aprendizagem, medindo 8 x 3,50m;

-

dois campos de futebol - tamanho oficial;

-

duas quadra de basquetebol, descoberta, piso em cimento;

-

uma quadra de voleibol, descoberta, piso em cimento;

-

um salão de jogos de salão, com equipamento para bilhar (duas mesas) e tênis de mesa (duas mesas);

-

um Ginásio Poliesportivo, marcado para a prática de Futsal e Voleibol, mas com espaço para Handebol (20 x 40) e Basquetebol; com Vestiários (dois), com sauna; banheiro (dois); arquibancada com três lances, nos dois lados da quadra; dois salões, para alojamento, com capacidade para 20/30 pessoas cada; palco, com coxia.

-

uma Área livre, gramada, por detrás do Ginásio;

-

uma Área livre, lateral ao Ginásio, com piso de blocrete,

-

duas Áreas de estacionamento

-

uma área situada entre a Rodovia que vai para o Araçagy/Raposa, e o muro da sede, em que está localizado um dos campos de futebol.

CONCEPÇÃO 10 Os produtos e serviços do SESI na área social têm por finalidade, preponderantemente, a elevação da qualidade de vida do trabalhador brasileiro, com a empresa industrial se constituindo no locus privilegiado de realização dessas ações. A preocupação predominante é ampliar a presença do SESI junto aos seus clientes e garantir que as ações envolvam os trabalhadores na sua relação profissional, gerando ganhos de produtividade, de qualidade e de melhoria da competitividade da indústria nacional. Os programas na área da educação de jovens e adultos, visando à elevação do seu perfil de escolaridade; os programas de saúde, na sua concepção preventiva, contribuindo para a redução dos acidentes no trabalho e de doenças profissionais; a ênfase na redução do estresse por meio de programas de lazer, em todas as suas manifestações, no esporte, na convivência social, na cultura, nas artes, esses são os focos da Instituição, contribuindo para consolidar uma indústria mais saudável, na mais ampla acepção do termo. Cidadania se constrói com educação, alimentação, saúde, moradia, trabalho, direitos e deveres. O bem-estar de uma pessoa envolve, é claro, todos esses itens. Mas o lazer também é fundamental para que os trabalhadores possam recuperar as energias despendidas no cotidiano profissional. Lazer, esporte, saúde e integração social são ações que se complementam. Os benefícios são percebidos pelas empresas e valorizados pela sociedade: melhoria da saúde, diminuição do estresse, do absenteísmo, dos acidentes no trabalho, mais disposição e integração entre os trabalhadores, além do resgate de valores e enriquecimento cultural.

10 SESI. BALANÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA 2000


No ambiente de trabalho, esses benefícios se transformam em produtividade e competitividade, bem como produzem trabalhadores mais felizes, participativos, cooperativos e com capacidade de respeitar as diversidades – habilidades cada vez mais valorizadas pelas organizações modernas. Propor qualidade de vida por meio de ações de lazer significa dar oportunidade à riqueza do relacionamento humano vivenciado e fortalecer vínculos, despertando sentimentos de colaboração, de participação e de solidariedade. O SESI oferece seus serviços tanto no ambiente de trabalho quanto na sua rede de unidades – a maior da América Latina para atividades esportivas e culturais. Objetivo Estratégico - Ampliar e dinamizar substancialmente as ações de lazer na empresa ou para a empresa, criando mecanismos inovadores para o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador A área de Esporte e Lazer desenvolve projetos que abrangem desde a prevenção contra fatores de risco até a elevação da qualidade de vida dos trabalhadores e da comunidade. Estar bem em todos os momentos. É assim que o SESI-DR/MA quer ver as pessoas. Por isso, propõem-se:  criar e operacionalizar projetos que propiciam o desenvolvimento, divertimento e descanso do trabalhador e sua família.  Oferecer produtos e serviços na área de Lazer - socioculturais e esportivos.

PROPOSTAS O modelo organizacional proposto é o que se denomina de PAIE (11), letras que representam as inicias de quatro termos distintos: Permanência, Apoio, Impacto, e Especial, considerando-se as seguintes variáveis (12): Periodicidade da ação Porte do projeto/abrangência dos interesses culturais do lazer Utilização de recursos humanos especializados Grau de dependência administrativa As ações de permanência são aquelas que ocorrem no dia-a-dia através de projetos simples de execução, normalmente com predominância clara em um dos interesses do lazer, e realizado segundo as características do contexto sociocultural local. As ações de apoio, como o próprio nome diz, devem dar sustentação à motivação da programação permanente, fazendo uma ponte entre essa e os eventos de impacto. As ações de impacto ocorrem a duas vezes ao ano, com grande conotação de festa, abrangendo de maneira temática os mais diversos interesses do lazer, com equipe multi-profissional e gerenciamento centralizado dada a complexidade das providências exigidas para sua execução. Nos casos dos eventos especiais, os mesmos possuem características semelhantes aos eventos de impacto, ressalvando-se a sua periodicidade esporádica, de acordo com algum grande acontecimento. O macroplanejamento (políticas, grandes metas) necessita estar em plena harmonia com o microplanejamento (projetos, atividades, eventos, etc.). 11 12

MEC/SEED/SUEPT. PRINCÍPIOS BÁSICOS. Rio de Janeiro : Rede Nacional de Esportes para Todos, 1983. BRAMANTE, 1997.


Dentro de uma política de lazer, a elaboração de projetos é a menor célula que compõe um programa; portanto, criar uma cultura de elaboração de projetos, visando alcançar metas e objetivos elencados no corpo de uma política de ação mais ampla, é condição básica para uma administração de sucesso. Escrever um projeto é uma forma organizada de desenhar com antecipação o cenário que se deseja (planejamento), levando-se em conta algumas perguntas básicas: porque fazer ? o que fazer ? como fazer ?. Às perguntas porque fazer e o que fazer, já existem algumas respostas, determinadas pela Política de Lazer emanada pelo SESI Nacional, que estabeleceu alguns programas, que devem ser seguidos pelos SESI Regionais: SESI Ginástica na Empresa Preocupado com o bem-estar do colaborador no ambiente de trabalho, o SESI desenvolve o SESI Ginástica na Empresa - SGE. Trata-se de uma atividade física que se adapta às condições do local de trabalho, visando a melhoria do ambiente, estimulando a prática esportiva, integrando os funcionários e diminuindo os acidentes e as doenças profissionais. A combinação de espaços de trabalho com as atividades de lazer é a meta das empresas modernas que buscam melhorar o rendimento e estimular a integração dos seus funcionários. O programa SESI Ginástica na Empresa mexe com a qualidade de vida, bom relacionamento entre as pessoas, controle do estresse, diminuição de acidentes de trabalho e aumento de rendimento em milhares de empresas brasileiras. Bastam 8 a 12 minutos de atividades físicas no próprio local de trabalho, sem necessidade de roupas especiais ou aparelhos de ginástica para garantir uma vida mais saudável. Esses resultados vêm sendo comprovados pelas empresas que já implantaram o Programa. Para a implantação desse programa, deve-se seguir as seguintes etapas: - Entrar em contato com a Unidade Lazer. - Agendar a visita técnica para apresentação do programa e demonstração da ginástica. Duração da visita: 30 a 40 minutos. - A empresa mostrando interesse em implantar o programa, é realizado um diagnóstico observando: riscos ambientais e ergonômicos, condições laborais, instalações, equipamentos e relações interpessoais. É repassada para a direção da empresa a ficha do perfil do facilitador, que deve ser preenchida pelo funcionário que atenda às exigências solicitadas (liderança positiva no grupo, habilidade para atividades físicas, facilidade de comunicação, etc.) - Ginástica - Treinamento dos facilitadores. - Início da ginástica com a supervisão constante da coordenadora. SESI Lazer na Empresa Outro programa que pode ser implantado é o SESI Lazer na Empresa, que tem como objetivo: contribuir para o aprimoramento das relações de trabalho. Este programa leva à empresa almoços musicais, sorteios, campeonatos, ruas de lazer, sessões de vídeo e atividades que ajudam a desenvolver a criatividade e a proporcionar um clima cooperativo entre os trabalhadores. SESIESPORTE Iniciação Esportiva Atletas do Futuro: uma alternativa de vida para crianças e jovens carentes Incentivar em diferentes modalidades esportivas, com ênfase no desenvolvimento de habilidades e no desenvolvimento pessoal e social da criança/adolescente, sem enfoque na preparação para competição. O pré-requisito para participar do programa Atletas do Futuro é a freqüência escolar.


Este programa poderá estar integrado com o Sesi Esporte Solidário, resultado da parceria do SESI com a Secretaria Nacional de Esporte do Ministério do Esporte e Turismo. Este programa vai além de atividades esportivas e recreativas. Seu forte impacto social é garantido por ações complementares de educação para a saúde, orientação social e alimentação, permitindo o cuidado integral da criança e do adolescente. Outro programa que pode estar associado ao Atletas do Futuro é o Largada 2000, programa que dá sua contribuição para a construção das políticas de juventude no Brasil e para a inclusão do jovem na agenda nacional. Resultado da aliança social estratégica celebrada entre o SESI e o Instituto Ayrton Senna, o programa oferece oportunidades para que os jovens invistam nos seus relacionamentos e no seu tempo livre de maneira construtiva. Torneio e Campeonatos Atividades desenvolvidas no SESICLUBE ARAÇAGY e nas Empresas, com caráter recreativo, permitindo a integração dos trabalhadores, tendo flexibilidade nas ações, proporcionando divertimento e prazer aos participantes. Esse o objetivo do Programa SESIEsporte: transformar o operário em trabalhador-atleta. É assim que este programa proposto ao SESICLUBE ARAÇAGY deve atuar. No Brasil, são mais de 500 mil esportistas participando de campeonatos nacionais e internacionais promovidos pelo SESI com o apoio de diversas empresas e entidades ligadas à área esportiva. As competições fazem parte do calendário das Confederações das quais o SESI faz parte: a Confederação Esportiva Internacional do Trabalho (CSIT) e a Confederação Pan-Americana de Desporto do Trabalhador (Copadet). O retorno do programa pode ser traduzido na melhoria da qualidade e estilo de vida do trabalhador, resultando no aumento da produtividade industrial e na satisfação pessoal. Jogos dos Industriários Com o intuito de incentivar o esporte na empresa como forma de atividade física, entretenimento e integração entre trabalhadores, serão desenvolvidos os JOGOS SESI DO MARANHÃO. Estes acontecerão anualmente e levarão para a etapa regional os vencedores de cada modalidade para representarem suas empresas e o SESI/MA. Os campeões desta etapa classificam-se para os JOGOS NACIONAIS DO SESI: MODALIDADES: Atletismo Feminino/Masculino Futebol de Campo Futebol Sete Master Futsal Adulto Natação Feminino/Masculino Tênis de Mesa Volei de Praia Feminino/Masculino Voleibol Xadrez Colônia de Férias Conjunto de atividades recreativas e de iniciação esportiva envolvidas de modo informal durante algumas horas do dia nos períodos de férias escolares; é, também, uma maneira de orientar os alunos em férias para as necessidades educacionais, culturais e esportivas com um mínimo de gasto e o máximo de alegria, sendo também em alguns casos, complementação ideal para a Merenda de Férias. O objetivo é oferecer à Criança oportunidade de: - desenvolver-se social, cultural, cívica e fisicamente, através da prática de atividades recreativas;


- estimular o gosto pelas atividades físicas e o reconhecimento de seu valor para a saúde física e mental; - desenvolver o espírito de grupos e a manifestação de liderança, preparando-as para a vida; - expressar-se e comunicar-se; - fazer jogos esportivos simplificados quando a idade assim o permitir; - dar expansão às suas energias em atividades físicas, culturais e artísticas programadas. Terceira Idade, Melhor Idade Programa voltado para os industriários aposentados, se constituindo uma preocupação do SESI, voltado para atendimento de idosos. As atividades devem incluir esporte, lazer, educação e saúde. Portadores de Necessidades Especiais Programa voltado para o Industriário portador de deficiência física, ou afastado do trabalho em função de acidente que o mutilou. As atividades devem incluir além da reeducação motora através de atividades físicas, esportivas e de lazer, a sua reinserção social (adaptação à sua nova condição de vida). Ações Sócio-Culturais & Artísticas SESIFOLIA - (Carnaval do SESI) ARRAIAL DO SESI - Festejos Juninos – 23 a 29 de junho HOJE É DIA DE .... - Datas comemorativas Cursos de Atualização, Qualificação e Requalificação Profissional Esses cursos se destinam a profissionais que atuam na área de administração esportiva, coordenadores de entidades esportivas e administradores de empreendimentos do esporte; a profissionais de esportes e educação física, responsáveis pelo desenvolvimento de atividades físicas e esportivas, com o objetivo de fornecer aos participantes uma perspectiva atual dos componentes organizacionais, econômicos, técnicos, sociais e políticos do esporte, do lazer, das atividades físicas e da educação física. SESI CLUBE ARAÇAGY A prática regular de atividades de lazer constitui um dos fatores indispensáveis para o indivíduo conservar corpo e mente saudáveis, elevar a qualidade de vida e o potencial criativo e produtivo. No trabalho, o reflexo dessa prática é observado no aumento da produtividade da empresa e na redução dos índice de falta de trabalho. No SESI-DR/MA, o NEGÓCIO LAZER, desenvolvido diretamente no SESICLUBE ARAÇAGY - ou no próprio local de trabalho, poderá oferecer as condições necessárias para que o trabalhador da indústria e sua família possam participar de atividades formativas, esportivas-competitivas, artísticas e sociais, utilizando de forma inteligente o tempo livre. Para isso, o SESI-DR/MA deverá dispor de professores bem treinados e uma infra-estrutura física invejável no SESICLUBE ARAÇAGY. Quando o trabalhador descansa e tem atividades fora da empresa, cresce como pessoa e ganha em qualidade de vida. Isso se reflete em um trabalho mais alegre e na satisfação de estar bem consigo mesmo. Vendo seus familiares contentes também, pode render ainda mais.


O SESICLUBE poderá atender aos industriários, dependentes e à comunidade geral, com serviços de: NATAÇÃO; HIDROGINÁSTICA; MUSCULAÇÃO; GINÁSTICA; ATLETISMO; BASQUETEBOL; FUTEBOL; FUTSAL; HANDEBOL; VOLEIBOL; OBJETIVO GERAL - Ampliar a oferta de serviços nas áreas esportivas, social e artística tendo como foco a qualidade dos serviços, a satisfação da clientela bem como sua auto-sustentação. OBJETIVOS ESPECÍFICOS -

Transformar o Centro de Atividade em SESI-CLUBE, tornando-o Centro de Excelência do Lazer.

-

Otimizar a utilização da infra-estrutura existente.

-

Resgatar a participação dos industriários e seus dependentes.

-

Capacitar os técnicos envolvidos na área.

-

Criar mecanismos para a captação de receita para auto-sustentação.

METAS - Proporcionar o desenvolvimento de programas de lazer esportivo e social visando a melhoria da qualidade de vida e o bem estar do trabalhador e seus dependentes. 

Lazer Físico Esportivo: 2.500 Trabalhadores

Lazer Formativo: 600 Alunos (natação)

Programa de Condicionamento Físico: 400 Matrículas

Programa SESI Ginástica na Empresa: 07 Empresas – 2.300 Trabalhadores

Lazer Social: 13.700 Participantes

BIBLIOGRAFIA BRAMANTE, Antônio Carlos. A experiência do lazer na iniciativa privada: da gerência à vivência. (Projeto de Pesquisa). (e.mail recebido por Leopoldo Gil Dulcio Vaz leopoldovaz@elo.com.br, em 27/01/2002, de bramante@uol.com.br. CAMARGO, Luís Otávio L. O que é lazer. São Paulo : Brasiliense, 1986. DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Rio de janeiro : Sextante, 2000 DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo : Perspectiva, 1979. FIORE, Maria Heloisa Mendes de Araújo. Algumas reflexões sobre a questão do "tempo livre". Boletim de intercâmbio, Rio de Janeiro, SESC, v. 4, n. 15, jul./set. 1983, p. 5-15. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e educação. Campinas : Papirus, 1987. MARCELLINO, Nelson Carvalho (org.). Lazer: Formação e Atuação Profissional. Campinas : Papirus, 1995. MARCELLINO, Nelson Carvalho. (org.). Lazer e empresa. Campinas : Papirus, 1999, p. 45-65. MEC/SEED/SUEPT. Princípios Básicos. Rio de Janeiro : Rede Nacional de Esportes para Todos, 1983. NASCIMENTO, Rui Lima de. in Planejamento Estratégico 2000-2004 PEREIRA, Jesus Vasquez. Perspectivas do tempo livre para o lazer no Brasil. Boletim de intercâmbio, Rio de Janeiro, SESC, v. 4, n. 15, jul./set. 1983, p. 22-38. SESI. DIRETORIA NACIONAL. Balanço Social da Indústria 2000. Rio de Janeiro : DN, 2001. SESI.DIRETORIA NACIONAL. Planejamento Estratégico 2000-2004 SESI-DR/MA. Planejamento estratégico do SESI-DR/MA para 2002 SESI-DR/MA. Portaria 019/2002, de 1º de fevereiro de 2002 STEBBINS, Robert. Educating for serius leisure: leisure educations in theory and practice. In Word Leisure and Recreation, vol. 41, n. 4, 1999. (citado por BRAMANTE, Antônio Carlos. A experiência do lazer


na iniciativa privada: da gerência à vivência. (Projeto de Pesquisa). (e.mail recebido por Leopoldo Gil Dulcio Vaz em 27/01/2002). TRIGO, Luiz Gonzaga Godói. Os setores público e privado no lazer e no turismo. (in) MARCELLINO, Nelson Carvalho (org). LAZER: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL. Campinas : Papirus, 1995, p. 71- 85. TRIGO, Luiz Gonzaga Godói. A educação em lazer, turismo e hotelaria nas sociedades atuais. In MARCELLINO, Nelson Carvalho. (org). Lazer e empresa. Campinas : Papirus, 1999, p. 45-65. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e Outros. Proposta de uma Política de Lazer para o SESI-DR/MA. São Luís : SESI-DR/MA, 2002. WOLF, Michel. The entertainment economy. New York : Times Book, 1999. (citado por BRAMANTE, Antônio Carlos. A experiência do lazer na iniciativa privada: da gerência à vivência. (Projeto de Pesquisa). (e.mail recebido por Leopoldo Gil Dulcio Vaz em 27/01/2002)


MEMÓRIA ORAL DOS ESPORTES, EDUCAÇÃO FÍSICA E LAZER MARANHENSE – 1930/1990 INTRODUÇÃO Em uma das minhas inúmeras visitas à Escola de Natação "Viva Água", em conversas com a sua diretora pedagógica, Profa. Denise Martins de Araújo, esta me demonstrou sua preocupação com seu pai, o Professor DIMAS13 - como é mais conhecido Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo -, que vinha apresentando alguns problemas de saúde e já estava com 72 anos de idade. Estávamos já no ultimo ano do século XX... Esses comentários surgiram devido a dois acontecimentos - falecimento do Prof. Ronald da Silva Carvalho (06 de novembro de 2000) 14 e do jornalista Dejard Ramos Martins (07 de novembro de 2000) 15, e a perda que representavam para a memória da educação física e dos esportes maranhenses - assim como a morte de Mary Santos16, de Rinaldi Maia17, de Cecília Moreira18, de Rubem Teixeira Goulart19... -, sem que fossem ouvidos sobre o período de implantação da Educação Física, dos Esportes e do Lazer no Maranhão. 13

Ver VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Querido professor Dimas. In Lecturas: Educacio Física Y Deportes, Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 - Mayo de 2002, disponible en http://www.efdeportes.com/ 14 RONALD DA SILVA CARVALHO nasceu em 15 de dezembro de 1915. Advogado, educador, dirigiu a então Escola Técnica Federal do Maranhão (hoje, CEFET-MA), por mais de 20 anos, tendo trabalhado na mesma por mais de 44 anos. Um dos grandes nomes da Educação Física e do Esporte maranhenses, foi um exímio jogador de Basquete - esporte que praticava desde 1939, quando abandonou o futebol, por - em uma partida, no Liceu - chocar-se com seu amigo Dejard Martins e lhe quebrar um braço; alguns anos depois, ainda traumatizado, iniciou-se no Basquete; dirigente esportivo, sempre teve seu nome ligado ao Sampaio Corrêa Futebol Clube; fundou a Associação Atlética do curso de Direito (1951), base para a Federação Atlética Maranhense de Esportes - FAME -; foi membro do CRD e do TJD-FMF; em 1958, foi um dos fundadores da Federação Maranhense de Basquetebol. (in BIGUÁ, Tânia e BIGUÁ, Edivaldo Pereira. Onde anda você? Professor Ronald Carvalho. O Estado Do Maranhão, São Luís, 24 de novembro de 1997, Segunda-feira, p. 4. Caderno de Esportes; 15 DEJARD RAMOS MARTINS nasceu em 14 de julho de 1923, na cidade de Manaus; filho de Joaquim de Souza Martins e de Analide Ramos Martins (esta, maranhense). Em 1935, a família está de volta ao Maranhão, estabelecendo-se na cidade de Tutóia; o jovem Dejard já estava ligado ao esporte, por influência do pai. Em 1940, foi diretor de futebol do Sampaio Corrêa; em 1944, devido aos seus conhecimentos sobre esportes, inicia a carreira como locutor esportivo, na rádio Timbira, de onde foi diretor; fundador da Associação dos Cronistas Esportivos e Locutores do Maranhão - ACLEM -. No período de 1951 a 1960, promoveu as eliminatórias da Corrida Internacional de São Silvestre, como correspondente do jornal "A Gazeta Esportiva". Foi prefeito de São Luís. É autor de "Esporte - um mergulho no tempo". De acordo com BUZAR (2000), o jornalista Dejard Martins foi nomeado pelo governador Newton Bello para o lugar de Costa Rodrigues; Dejard que exercia o cargo de secretário municipal da Administração. Quando assumiu o cargo, a 2 de julho de 1965, supunha-se encerrado o ciclo dos prefeitos nomeados pelos governadores, o que vinha acontecendo desde 1922. Permaneceu no cargo até 16 de outubro do mesmo ano, quando assumiu Epitácio Cafeteira, eleito em pleito direto conforme emenda constitucional de sua própria autoria. (in BIGUÁ, Tânia, BIGUÁ, Edivaldo Pereira. Onde anda você? O eterno Dejard Martins. O Estado Do Maranhão, São Luís, Segunda-feira, 2 de fevereiro de 1998, p. 3, Caderno de Esportes; MORRE O JORNALISTA DEJARD MARTINS. O Estado Do Maranhão, São Luís, 8 de novembro de 2000, Quarta-feira, p. 2. Caderno Cidade. º BUZAR, Benedito. Os prefeitos de São Luís no século XX. O Estado Do Maranhão, 1 de outubro de 2000, p. 12. Caderno Especial.) 16 MARY SANTOS - professora de Educação Física, graduada pela Escola Nacional de Educação Física, hoje, EEF/UFRJ, da então Universidade do Brasil, hoje, UFRJ, no início da década de '40. Já falecida. Conforme consta em EDUCAÇÃO (CRÔNICAS), de sua autoria, "... Lecionou várias disciplinas, em diversos colégios do Estado. Foi Deputada Estadual. Diretora do Serviço de Educação Física, Recreação e Esportes do Estado, hoje SEDEL, durante o Governo José Sarney. Foi brilhante organizadora, durante 4 anos consecutivos, dos desfiles escolares e dos jogos Inter-colegias, atualmente, Jogos Estudantis Maranhenses, É jornalista filiada à ABI e ao Sindicato dos Jornalistas profissionais de São Luís, tendo sido agraciada com diversas comendas º estaduais e municipais. Representante do Maranhão, junto ao 6 Congresso Nacional de Educação..." (in SANTOS, Mary. Educação (Crônicas). 2 ed. São Luís : Grafite, 1988. p. 8. ) 17 RINALDI LASSALVIA LAULETA MAIA - professor de Educação Física, da Universidade Federal do Maranhão; graduado pela Escola Nacional de Educação Física, da turma de maranhenses mandada no início dos anos '40. Já falecido. 18 CECÍLIA MOREIRA, professora de Educação Física, da Universidade Federal do Maranhão; foi coordenadora do Curso de Educação Física; e Chefe do Departamento de Educação Física; foi Secretária de Desportos e Lazer; já falecida. 19 RUBEM TEIXEIRA GOULART nasceu em Guimarães, no ano de 1920. Foi considerado um dos melhores jogadores de Basquetebol do Maranhão; praticava também o Voleibol, o Atletismo, o Pugilismo. Um dos pioneiros da Educação Física, ingressou na Escola Nacional de Educação Física no início dos anos '40, junto com José Rosa, Rinaldi Maia e Valdir Alves. Ao


Lamentávamos que professores e alunos dos diversos Cursos de Educação Física existentes no Maranhão20 ainda não se tenham percebido da importância em resgatar essas Histórias e estávamos perdendo nossa memória viva... Surgiu, então, a idéia de ouvir o Professor Dimas - sua história de vida - ao mesmo tempo em que resgatávamos esse período da História o Esporte, da Educação Física, e do Lazer no Maranhão. O método de trabalho utilizado foi o da História Oral, que vem sendo muito utilizada para a reconstrução da História do Esporte, da Educação Física, do Lazer e da Dança 21. História Oral é a designação que se dá "ao conjunto de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária" (BROWNW e PIAZZA, citados por CORRÊA, 1978, p. 13) 22. Já na definição de Camargo (citado por ALBERTI, 1990) 23, é o "conjunto sistemático, diversificado e articulado de depoimentos gravados em torno de um tema", ou como ensino a própria Alberti (1990), é o "método de pesquisa... que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunham, acontecimentos...". A História Oral é legítima como fonte porque não induz a mais erros do que outras fontes documentais e históricas: "... o Programa de História Oral, indissociável da pesquisa documental e arquivística, apostaram na estruturalidade da História e na dimensão social dos eventos, da vida e do desempenho de seus protagonistas, tanto quanto no caráter voluntarista e transformador da ação política em sua busca de mudar e atualizar as estruturas..." (CAMARGO, citado por ALBERTI, 1990, p VIII)13. Alberti (1990)13 chama-nos atenção da responsabilidade do entrevistador enquanto co-agente na criação do documento da História Oral, já que sua biografia e sua memória são outras, e não estão em questão - é a dupla pertinência cultural (Max CAISSON, citado por ASSUNÇÃO, 1988) 24. A esse respeito, Montenegro e Morais (1979, citados por ASSUNÇÃO, 1988)14 advertem que uma primeira precaução ao candidato a leitor da cultural oral é: "nunca perder de vista a distância que separa a sua individualidade dos limites desta floresta imensa e ancestral que é a cultural oral". A dupla autoria – dupla pertinência cultural - é intencional, pois depoente e pesquisador completam-se e mesmo se opõem, pois "... neste processo existem dois discursos paralelos: um expressando a investigação

regressar ao Maranhão, foi contratado como professor da Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje, CEFET-MA. Além de Educação Física, foi um dos pioneiros do ensino da natação, dando aulas no Clube Jaguarema, Grêmio Lítero-Recreativo Português, Casino Maranhense. Em 1953, submeteu-se ao vestibular para o curso de Direito, participando do esporte universitário nas modalidades de Basquetebol, Voleibol e Atletismo, representando o Maranhão nos Jogos Universitários Brasileiros - JUB's. Foi professor do Colégio Batista Daniel de LaTouche; administrador do Ginásio Charles Moritz, do SESC; e diretor do Departamento de Educação Física do Município de São Luís. (in BIGUÁ, Tânia. Onde anda você? Rubem Goulart em memória. O Estado Do Maranhão, São Luís, 10 de novembro de 1997, Segunda-feira, p. 4. Caderno de Esportes. 20 À época, os da UFMA, e UEMA; hoje já temos UniCEUMA, UnDB, Faculdade São Luís, Faculdade Pitágoras e os de Imperatriz, Caxias, e outras cidades. Informamos que Alunos do Curso Seqüencial de Educação Física da UEMA participaram de diversas pesquisas, buscando resgatar essas memórias. Seus trabalhos estão publicados, em parte, em www.atlasesportebrasil.org.br 21 MELLO, Victor Andrade de. História Oral e História da Educação Física no Brasil - uma possibilidade necessária. In Encontro Nacional De História Do Esporte, Lazer E Educação Física, II, Ponta Grossa, 1994. COLETÂNEAS..., p. 271-284; OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. Fontes e métodos: memória e história - a independência em questão. In Encontro Nacional De História Do Esporte, Lazer E Educação Física, III, Curitiba, 1995. COLETÂNEAS..., p. 7-14; SILVA, Dirce Maria Corrêa. Alguns tópicos para a discussão acerca da história oral e seu uso na história da educação física. In Encontro Nacional De História Do Esporte, Lazer E Educação Física, III, Curitiba, 1995. COLETÂNEAS..., p. 211-217; PEREIRA, Lígia Maria Leite. História oral: desafios e potencial na produção do conhecimento histórico, in Encontro Nacional De História Do Esporte, Lazer E Educação Física, IV, Belo Horizonte, 1996. COLETÂNEAS..., p. 62-70; PAULA, Heber Eustáquio de. História oral e pesquisa em educação física e esportes: naunces de uma experiência concreta. In Encontro Nacional De História Do Esporte, Lazer E Educação Física, V, Maceió, 1997. COLETÂNEAS..., p. 242-252; MELLO, Victor Andrade de. Alberto Latorre de Faria: a biografia como possibilidade de pesquisa para a história e do esporte no Brasil. Congresso Nrasileiro De História Do Esporte, Lazer E Educação Física, VI, Rio de Janeiro, 1998. COLETÂNEAS..., p. 541-547 22 CORRÊA, Carlos Humberto P. História Oral - Teoria E Prática. Florianópolis: UFSC, 1978 23 ALBERTI, Verena. História Oral - a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: FGV/CPDOC, 1990 24 ASSUNÇÃO, Mathias Rohrig. A Guerra Dos Bem-Te-Vis: a Balaiada na memória oral. São Luís : SIOGE, 1988


científica, o outro, à narrativa da história de uma vida" (JANOTTI, 1988) 25. Além dessas observações está o intrincado universo das rememorações provocadas. Como diz Phellippe Joutard (citado por JANOTTI, 1988, p. 33), "a memória não institucional... não é forçosamente mais verdadeira que a oficial: ela também possui seus estereótipos e seus preconceitos". Em qualquer pesquisa parte-se da questão de que há algo a investigar. Ao decidir-se pelo emprego da técnica da história oral, como sendo o mais apropriado, estabeleceram-se também os tipos de fonte de dados, tendo em vista que a história oral vale-se de outras fontes, além das entrevistas (SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989) 26. Foram utilizados dois tipos de fontes de dados: 1. Reportagens de jornais, crônicas, relatos e literatura acadêmica, que nos permite o estudo do processo de implantação da educação física escolar e o desenvolvimento do esporte moderno em Maranhão; 2. Entrevistas com pessoas que viveram esses processos e tiveram um relacionamento com o Professor Dimas, no período de 1939 - data em que tomou o primeiro contato com um esporte - até os dias atuais. Para esse item, deve-se verificar se, no universo de estudo, há entrevistados em potencial, se é possível entrevistá-los e se estão em condições físicas e mentais de empreender a tarefa que lhes é solicitada. Estabelecidos os métodos e as entrevistados, restou definir as entrevistas. Foram estabelecidas algumas categorias simples, que foram surgindo empiricamente, a partir das primeiras, utilizadas como pretexto para o entrevistado se lançar no esforço de rememoração. São perguntas de ordem genealógica, história pessoal, sobre educação, educação física, esportes, pessoas conhecidas, lembranças "daqueles bons tempos". Janotti (1988)15 identifica dois tipos de memória no cultivo de reminiscências sobre o passado recente, e sobre os antepassados. Produzem-se histórias que podem tanto pertencer às memórias individuais como às coletivas. O indivíduo participa desses tipos de memória e, conforme sua participação, ou do seu conhecimento dos fatos. Poderá adotar duas atitudes diferentes e mesmo contraditórias. Já Assunção (1988)14 identifica três tipos de memórias: "No primeiro nível, uma memória oral individual, quando o informante nos dá notícias biográficas de sua família. Essa memória permanece em virtude de seu interesse que as pessoas mostram pela vida e façanhas dos antepassados. Às vezes, pode ser também contada pode ser contada por uma pessoa que não pertence à família, mas conheceu-a; no segundo nível, a memória oral de uma comunidade: a história de sua origem... Essa memória que é uma propriedade coletiva... é preservada em virtude de sua função dentro da comunidade...; no terceiro nível, uma memória oral mais geral: é o que poderia chamar de memória regional". (p. 215) Os depoimentos do primeiro tipo, evidentemente, são os mais subjetivos, os menos suscetíveis de controle pelo pesquisador. O episódio contado não pode, em geral, ser verificado por outras fontes. A sua verificação se dá pela coerência interna e pela confrontação com episódios semelhantes. Já os depoimentos do segundo e, sobretudo do terceiro tipo, constituem já um documento mais "objetivo". Referem-se à existência de um fundo comum na memória oral (ASSUNÇÃO, 198814; VAZ, D., 199027). O trabalho que se pretendeu foi o de integrar a uma estrutura social elementos e fatos isolados, procurando uma explicação causal, sem esquecer a descrição história (CARDOSO, 1988 28). Para Berkoffer Jr. (citado 25

JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. O desafio da história oral. In Negros Brasileiros. Revista Ciência Hoje, v.8, n. 48, suplemento especial, p. 31-35, nov. 1988 (encarte especial). 26 SILVA, M. Alice Setúbal: GARCIA, M. Alice Lima: FERRARI, Sônia C. Miguel. Memórias E Brincadeiras Na Cidade De São Paulo Nas Primeiras Décadas Do Século XX. São Paulo: Cortez, 1980 27 VAZ, Delzuite Dantas Brito. Paraibano Na Memória Oral - da chegada de Antônio Paraibano à região do Brejo - Município de Pastos Bons - à fundação da cidade de Paraibano-Ma. São Luís: UFMA, 1990. (Monografia de graduação em História). (Mimeog.) 28 CARDOSO, Ciro Flamarion. Uma Introdução À História. 7 ed. São Paulo : Brasiliense, 1988.


por CARDOSO, 1988, p. 77), "... a História (entendida como explicativa, respondendo aos porquês?) não pode explicar totalmente à 'crônica' (que responde a perguntas do tipo 'o que', 'quem', 'quando', 'onde', 'como'?)".


O LÚDICO E O MOVIMENTO NO MARANHÃO 29 Desde o período colonial já se praticavam algumas formas de atividades físicas em Maranhão.30 Em 1678, quando da chegada do primeiro bispo ao Maranhão, houve cavalhadas. Essas atividades - desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas, touradas - eram produtos do feudalismo e da cavalaria - do tardio medievo português, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas (GRIFI, 1989) 31. Essas manifestações do entusiasmo popular talvez tenham nascido com as atividades recreativas que pipocaram em certos centros, conforme as feições econômicas das regiões. As cavalhadas, as vaquejadas, e até mesmo as touradas, assim como os sinais do reacritivismo admissível, tiveram arenas de atração transitória (LYRA FILHO, 1974) 32. Já no século XIX foram encontradas outras formas de atividades físicas praticadas naquele início de século, como as caminhadas pelos aprazíveis sítios espalhados pela Ilha: “... as moças e rapazes formavam bandos gárrulos e irrequietos que, desde a madrugada até o cair da tarde, saíam em excursões pela floresta e pelos sítios vizinhos, voltando carregados de

29

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O Lúdico e o Movimento em Maranhão. In LECTURAS: EDUCACION FÍSICA Y DEPORTES, Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 37 - Junio de 2001, disponible en http://www.efdeportes.com. VER Volume I e II desta Coleção. 30 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CULTURA DO LÚDICO E DO MOVIMENTO DOS RAMKOKAMEKRA DE ESCALVADO. São Luís, 1989 (Inédito); VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS... São Caetano do Sul: CELAFISCS: UNIFEC, 1992, p 27; in CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS... . Belém: UFPA, 1993, p 137; in COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília, 1996a, p. 95-105; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atividades de lazer no Maranhão - século XVII. ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER, VII, 1995a, Olinda-Pe, ANAIS; in JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, III, São Luís, 1995. ANAIS..., São Luís: UFMA: NEPAS, 1995b, p. 54; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX. CONCURSO LITERÁRIO E ARTÍSTICO “CIDADE DE SÃO LUÍS”, XX, São Luís, Prefeitura Municipal de São Luís, 1995 a. (Ensaio classificado em 2o. lugar no “- Prêmio “Antônio Lopes” de pesquisa histórica); In ENCONTRO NACIONAL DA HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, III, 1995, Curitiba - Pr. COLETÂNEA... Curitiba: DEF/UFPR; Campinas: Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física/FEF/UNICAMP, 1995b, p. 458-474; in CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, X, Goiânia – GO, outubro de 1997. ANAIS...,.Goiânia : CBCE : UFGO, 1997, p. 1005-1017; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas - contribuição à história da educação física maranhense. in JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, III, 1995. São Luís, UFMA, ANAIS... São Luís : UFMA : NEPAS, 1995c, p. 55; in COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília, 1996b, p. 106-115; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Carta ao Rubem Goulart, Filho - novas contribuições à história da educação física maranhense. in JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, III, 1995. São Luís, UFMA, ANAIS..., São Luís : UFMA : NEPAS, 1995d, p. 56; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Contribuições à história do atletismo maranhense. in JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, III, 1995. São Luís, UFMA, ANAIS..., São Luís : UFMA : NEPAS, 1995e, p. 57; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O esporte, o lazer e a educação física como objeto de estudo da história. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, n. 14, junho de 1999, disponível em www.efdeportes.com ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do "foot-ball" em Maranhão. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O "sportman" Aluísio Azevedo. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 25, setembro de 2000, disponível em www.efdeportes.com 31 GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto, 1989. 32 LYRA FILHO, João. INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA DOS DESPORTOS. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1974.


cófos com frutas, cachos de jussaras e de buritis, flores silvestres, emfim, tudo que apanhavam pelos caminhos e atalhos.” (DUNSHE DE ABRANCHES, 1970, p. 28) 33. Além desses passeios, praticava-se a caça, como o fazia Garcia de Abranches - o Censor34 -, que tinha paixão por esse esporte: "e , quando imaginava dar uma batida às pacas, pouco se importava do sol e da chuva: não regressava a casa antes de trazer as vítimas visadas". Seu filho, Frederico Magno de Abranches o Fidalgote35 - era “... Atirador emético e adestrado nos jogos atléticos, alto, magro e ágil, trepava como um símio até os galhos mais finos das árvores para apanhar uma fruta cobiçada pelas jovens ali presentes. Encantava-as também a precisão dos seus tiros ao alvo. E causava-lhes sustos e gritos quando trepava sem peias por um coqueiro acima ou se balançava no tope de uma jussareira para galgar as ramas de uma outra em um salto mortal, confirmando o título que conquistara entre os da terra de campeão da bilharda.”(DUNSHE DE ABRANCHES, 1970, p. 28)23. Vaz e Vaz (2000) 36 relatam que desde 1844 - quando foi fundado o primeiro colégio destinado exclusivamente às moças, em São Luís -, as atividades físicas faziam parte do currículo: “... não somente sobre as disciplinas escolares com também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas. Às quintas-feiras, as meninas internas participavam de refeições, como se fossem banquetes de cerimônia, para que se habituassem 'a estar bem á mesa e saber como se deveriam servir as pessoas de distinção'. Uma vez por semana, à noite, havia aula de dança sob a rigorosa etiqueta da época, depois de uma hora de arte, na qual ouviam bôa música e aprendiam a declamar." (ABRANCHES, 1941:113-114) 37. Esse colégio - o "Collegio das Abranches", como era conhecido o Collégio N. S. da Glória -, fora fundado pelas tias de Dunshee de Abranches, D. Marta (Martinha) Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches (mulher de Garcia de Abranches, o Censor), educadora espanhola nascida nas Astúrias provavelmente por volta de 1800 (JANOTTI, 1996)15 – e pela sua filha, D. Amância Leonor de Castro Abranches, e tinha, ainda, como professora, D. Emília Pinto Magalhães Branco, mãe dos escritores Aluízio, Artur e Américo de Azevedo. É neste colégio que Aluízio de Azevedo faz seus preparatórios para o Liceu Maranhense. Embora escola feminina, aceitava meninos para os preparatórios26. 33

ABRANCHES, Dunshe de A SETEMBRADA - A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO - romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970 34 JOÃO ANTÔNIO GARCIA DE ABRANCHES - Garcia de Abranches, o Censor - nasceu em 31 de janeiro de 1769, em Macieira, freguesia de Sant'Iago, junto à vila de Cêa, bispado de Coimbra, em Portugal. É filho do Capitão José Garcia de Abranches e de D. Maria dos Reys. Seu apelido - Censor - deve-se ao jornal que escrevia, o Censor, no período de 1825 a 1830, em defesa das liberdades, da Independência e do Imperador, fazendo oposição ao jornal de Odorico Mendes; e ao Lord Cochrane, o que lhe valeu o exílio para Portugal, onde se bateu pela restauração de D. Pedro ao trono português. Garcia de Abranches aportou a São Luís do Maranhão em 1789, construindo fama e fortuna, embora procedesse de uma das maiores famílias portuguesas. De seu casamento com D. Anna Victorina Ottoni, falecida em 1806, nasceram-lhe três filhos: Frederico Magno de Abranches ; João e Antônio, estes dois, falecidos antes de 1812. O primeiro, conhecido como 'O Fidalgote', teve vida longa, representando papel importante na política e no jornalismo. Garcia de Abranches, aos 52 anos, casa-se com a fidalga espanhola D. Martinha Alvarez de Castro, com 17 anos à época. Foi a fundadora do primeiro colégio destinado ao sexo feminino em Maranhão - o Colégio Nossa Senhora das Graças, mais conhecido como o Colégio das Abranches - junto com suas filhas, Amância Leonor, Martinha Maria da Glória e Raymunda Emília, em 1844. Foi - ela, ou uma das filhas, ou todas - a primeira professora de educação física do Brasil. (in ABRANCHES, Dunshe. GARCIA DE ABRANCHES, O CENSOR (O MARANHÃO EM 18220 - MEMÓRIA HISTÓRICA. São Paulo : Typographya Brazil de Rothschild & Co., 1922). 35 FREDERICO MAGNO DE ABRANCHES, o Fidalgote, nasceu em São Luís do Maranhão em 1804; professor de Phylophofia Racional; Secretário da província do Maranhão; deputado geral de 1835 a 1838; Cônsul geral em Cayenna, aonde veio a falecer em 1880. 36 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Aluísio Azevedo e a educação (física) feminina. In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, VII, 2000, Gramado/RS. COLETÂNEA ... Porto Alegre: UFRGS, 2000, p. 250-255. 37 ABRANCHES, Dunshee de. O CAPTIVEIRO (MEMÓRIAS). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941, (Edição fac-similar).


Os longos passeios pelos arrabaldes permitiam o contato com o ar livre e com a natureza, e se constituíam forma de divertimento salutar, pois reúnem harmoniosamente a solução quanto ao medo de doenças que impedia a vida laboriosa, por um lado, e o medo da crítica que a rígida moral implicava, por outro. Às mulheres recomendavam-se, sobretudo os exercícios do corpo que obrigavam a andar ao ar livre, como os passeios a pé ou a cavalo. Ainda se referindo ao Fidalgote - Frederico Magno de Abranches -, cabe lembrar que praticava também, tênis: “... Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla38 de que o Fidalgote era perfeito campeão...” (DUNSHE DE ABRANCHES, 1970, p. 31)23. Cabe lembrar que Antônio Francisco Gomes, em 1852, propunha além da ginástica, os exercícios de natação, esgrima, dança, jogo de malha e jogo da pella para ambos os sexos. Outro escritor maranhense - Aluísio Azevedo39 -, ao traçar o perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata, pregava mudanças em sua educação, sendo necessário dar-lhe uma educação sólida e moderna, uma: “... educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar... “.40 Ainda Dunshee de Abranches41 (1941)27, em suas memórias, ao falar do Clube dos Mortos, informa que este se reunia no porão da casa dos seus pais e como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, "os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos" (p. 187).

38

O jogo da péla - jeu de paume - consiste em bater a bola com a mão e substituiu os "ludus pilae cum palma" romano. Na França, a bola, nascido no tardo-medievo como instrumento de contenda incruenta, torna-se momento lúdico e agonístico, aberto a todos Em Portugal, no início do século XVIII, foi introduzido o uso francês de jogar com raqueta. Conhecido já no século XII foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis. (in GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto, 1989) 39 ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor. Publica em 1879 “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulato”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1990); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata. (in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Construção de uma Antologia de textos desportivos da cultura brasileira: Proposta e contribuições. In . In VII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, Gramado/RS, 29 de maio a 1 de junho de 2000. ANAIS... p. 603608; VAZ Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O "sporteman" Aluísio Azevedo. LECTURAS: EDUCACION FISICA y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 25, setembro de 2000, disponível em www.efdeportes.com. 40 Aluísio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880. 41 JOÃO DUNSHE DE ABRANCHES MOURA nasceu em 02 de setembro de 1867, à rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista. Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelo “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú”. Em “A Setembrada”, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô e Frederico Magno de Abranches, seu tio. (VER Volume IV desta Coleção: Discurso de Posse; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. Construção De Uma Antologia De Textos Desportivos Da Cultura Brasileira: Proposta E Contribuições. In


Antes de iniciado o futebol, o tênis, o atletismo, o crickt, na primeira década do século XX, outras atividades faziam parte do divertimento da mocidade, sendo difundida a capoeira, o hipodrismo, a esgrimagem, o bilhar e houve algumas tentativas para a implantação das regatas42. Dejard Martins (1989) 43 considera a capoeira como o primeiro esporte praticado em Maranhão, tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877, quando o público tomou conhecimento de um acontecimento esportivo realizado a 10 de janeiro, através do Diário do Maranhão: “JOGO DA CAPOEIRA- "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da Rua das Hortas sair para o largo da cadeira, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". 33 Esse autor considera que tenha sido praticado antes, trazida pelos escravos bandu-angoleses, o que é confirmado por Domingos Vieira Filho (1971) 44, que, ao traçar a história da Rua dos Apicuns, dá-nos notícias de ser local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever... ' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." (VIEIRA FILHO, 1971, p. 36)34. No famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, também era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Vieira Filho (1971)34 afirma que ali, alguns domingos antes do carnaval costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de em 1863 um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. A capoeira foi duramente reprimida quando da Proclamação da República, pois no Código Penal Brasileiro Decreto no. 487, de 11 de outubro de 1890, em seu capítulo XII, artigo 402, eram tratados da ação dos 'vadios' e 'capoeiras45. Já a burguesia, praticava a ginástica sueca46 para manter-se em forma. Já o "hipodrismo"47 é identificado por Dejard Martins33 como um esporte praticado em recinto fechado, apropriado para corridas a cavalo, conduzidos ou de carros puxados por esse animais. O hipodrismo - turfe começou em São Luís por iniciativa do inglês Septimus Summer, contando com a adesão de várias figuras representativas da cidade: Franklin Antônio de Abreu, Raimundo Coelho da Cunha Mateus, Joaquim . In VII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, Gramado/RS, 29 de maio a 1 de junho de 2000. ANAIS... p. 603-608. 42 VER Volumes I e II, desta Coleção 43 MARTINS, Dejard. ESPORTE - UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: SIOGE, 1989. 44 VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUÍS. 2a. ed. rev. E aum. São Luís : (s.e.), 1971. 45 Ver Volume I, desta Coleção. 46 GINÁSTICA SUECA - idealizada por Per Henrik Ling, sueco nascido em 15 de novembro de 1776, está dividida em quatro partes, de acordo com os diferentes fins: (a) ginástica pedagógica ou educativa - aplicável às pessoas com o objetivo de assegurar a saúde, evitar a instalação de vícios e defeitos posturais e enfermidades, desenvolvimento normal do indivíduo; (b) ginástica militar - baseada na parte pedagógica, à qual se acrescentam os exercícios caracteristicamente militares, como tiro e esgrima, objetiva preparar o guerreiro para colocar fora de combate o adversário; (c) ginástica médica e ortopédica - ainda baseada na primeira, visa, por intermédio de certos movimentos especiais para cada caso, eliminar vícios ou defeitos posturais e curar certas enfermidades; (d) ginástica estética - também aproveitando os movimentos da ginástica pedagógica, procura desenvolver harmonicamente o organismo, completada por atividades que emprestam graça e beleza ao corpo, como dança e ª certos movimentos suaves. (in MARINHO, Inezil Penna. SISTEMAS E MÉTODOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. 5 ed. Ver. E atual. Rio de Janeiro: Cia Brasil Editora (s.d.). p, 180-195 47 Ver Volume I, desta Coleção


Ribeiro, Manoel Jansen Pereira, Adriano Archer da Silva, e Cândido César da Silva Rios, que resolveram criar um hipódromo, fundando o "Horses Race's Club" - Clube dos Cavalos de Raça -, advindo daí o "Racing Club Maranhense". Localizado no antigo Campo do Ourique, o terreno era espaçoso e apropriado, com o Quartel do 5º Batalhão de Infantaria à sua frente. Foi fundado em quatro de setembro de 1881, com grandes festividades. Na passagem do século XIX para o século XX, os jovens portadores de "idéias novas", gente vinda do meio metropolitano, inquieta e formada nele (KOWALSKI, 2000) 48. Em Maranhão, encontramos Nhosinho Santos - que estudara na Inglaterra; Aluísio Azevedo - cônsul brasileiro em Europa, Japão, e o cônsul inglês Charles Clissold - que introduzem o esporte moderno em São Luís, com a fundação de clubes esportivos. Em 1900, os "sportmen" maranhenses tentam implantar mais uma modalidade esportiva - remo -, utilizandose dos rios Anil e Bacanga. Alexandre Collares Moreira Nina funda o "Clube de Regatas Maranhense", instalado na Rua do Sol, 36. Manoel Moreira Nina foi seu primeiro presidente. Essa iniciativa também foi efêmera. Os primeiros passos foram dados, para colocar as coisas no rumo certo, mas faltaram recursos para aquisição das embarcações apropriadas e também faltou apoio do comércio e das autoridades constituídas. A 13 de setembro de 1908 - oito anos mais tarde - voltou-se a falar na implantação do remo, chegando a ser organizada uma competição, envolvendo duas equipes que guarneciam os escaleres "Pery" e "Continental". Essas atividades, realizadas no rio Anil, começam a se tornar hábito das manhãs de Domingo e feriados, contando com uma boa afluência de público. Ainda nesse ano de 1900, outra modalidade começa a ganhar força em Maranhão: a 02 de setembro, eram iniciadas as atividades da "União Velocipédica Maranhense", com seu velódromo instalado no Tívoli Bairro dos Remédios, no local onde era o Colégio de São Luís, até pouco tempo -. O ciclismo, que se iniciava em São Luís era além de lazer:

“... um esplêndido exercício na educação dos músculos; a ginástica e a esgrimagem, um meio excepcional para desenvolver todo o corpo de forma racional e completa. Tudo isso era muito importante, e até era um princípio filosófico, porque ensejaria a formação do um corpo bem desenvolvido, proporcional e harmonioso. "Para isso, antes de dedicar-se a qualquer gênero de esporte, dever-se-ia procurar educar e desenvolver, por meio de um método de ginástica racional, de um prepara preliminar metódico, os músculos, de cuja rapidez, pujança, resistência e rigidez, um bom atleta não podia prescindir...". (MARTINS, 1989, p. 229-30)33. 48

KOWALSKI, Marizabel. Estilo de vida e futebol. IN CONGRESSO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, VII, Gramado-RS, 29 de maio a 01 de junho de 2.000. COLETÂNEAS... Porto Alegre: UFRGS, 2.000, p. 390-395


Passada essa primeira fase e o apego à difusão do “esporte do pedal”, a bicicleta, deixou de ser utilizada para a competição, tornando-se uma forma de lazer, pois possuir uma “máquina” era tarefa afeita às pessoas de boa situação econômica. Em 1929, eclodiu novo movimento renovador de uso da bicicleta em competição, sob a responsabilidade dos esportistas Zairi Moreira, Carlos Cunha e Menandro Gonçalves, com a criação do "Velo Club". Chegaram a promover alguns treinamentos, inscreveram associados, e promoveram algumas provas isoladas, como a corrida de 07 de setembro de 1929, como parte das comemorações da Independência. De acordo com Martins (1989)33, só se voltou a tomar conhecimento do uso da bicicleta como esporte de competição, com o Ciclo Moto Clube de São Luís. Embora este autor se refira que o jogo do bilhar tenha sido introduzido em 1902, por Lino Moreira em seu Bar Richie, Dunshee de Abranches (1941)27, lembra em suas memórias que o Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís, mantinha em sua barbearia - a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde se reuniam os "meninos do Liceu" depois das aulas. Antes disso, e desde 1836, na botica do padre Tezinho, no largo do Carmo, já havia um bilhar francês (VIEIRA FILHO, 1971)34. A botica do padre Tezinho de há muito funcionava em São Luís. Garcia de Abranches (1980)49 anunciava, em 1826, que os números anteriores de "O Censor" poderiam ser adquiridos naquele estabelecimento. Dunshee de Abranches (1970)23 em seu festejado “A Setembrada” refere-se à Botica desse Padre, relatando as reuniões que ocorriam - como era de hábito - à porta dessa botica, como a ocorrido na noite de seis de setembro de 1822. É o Censor 50 - Garcia de Abranches - que relata a existência de outro bilhar, quando de um passeio por São Luís do Maranhão, ao retornar do exílio a que fora submetido: “Depois de examinar outros edifícios novos e bem formados, também de puças, que aquella praça goarnecem; voltei pela praia grande, e quaze o fundo da calçada divizei noutra rua sobre o lado esquerdo huma formoza caza de cantaria fina com uma larga baranda na frente em mea lua ao gosto da Corte, que me dissero ser de Faustino Antônio da Rocha, e que havia ganhado o jogo aquelle chão a hum herdeiro lá das Perguiças, o que eu não pude crer; e que ainda conservava hum bilhar e hum botequim de que elle se não desprezava, por não ser tolo, e que também era puça, e que não uzava de vara e covado por pertencer á classe de liquidos...”.51 Em dezembro de 1904, era fundado, em São Luís, o Clube Euterpe Maranhense, funcionando, a princípio no Palacete que pertenceu ao comendador Leite - pai de Benedito Leite -, na Rua Formosa - onde por muitos anos funcionou a redação de "O Imparcial". Idealizado por um grupo de jovens de nossa melhor sociedade, tinha como dirigente máximo Paulino Lopes de Sousa, contando, ainda, com a participação de Altino Quarto de Mourão Rego (sic), Orfila Machado Cavalcanti, Pedro Leão Viana e Joaquim Alves Júnior. Como esporte, jogava-se o bilhar, pois o clube dispunha de um magnífico salão de recreação, com os apetrechos adquiridos na França. Realizavam-se torneios, que monopolizavam a juventude, destacando-se os irmãos Artur e Adolfo Paraíso, João Neves. O "Café Richie" se constituiu em outro centro de difusão do bilhar, o que justifica a existência de "bons de taco" nos clubes depois fundados. Localizado no Largo do Carmo esquina com o Beco da Pacotilha, Lino Moreira, seu proprietário - cunhado do governador Newton de Barros Belo - promovia reuniões de caráter esportivo, sempre com início às 18 horas, estendendo-se até as 22. Nesse início da década de 10, desaparece o hábito de repousar nos fins de semana, substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. Essas

49

O CENSOR MARANHENSE, no. 10, sábbado, 25 de fevereiro de 1826. 50 ABRANCHES, Garcia de. O CENSOR MARANHENSE 1825-1830. (Edição fac-similar). São Luís: SIOGE, 1980. (Periódico redigido em São Luís de 1825 a 1830, por João Antônio Garcia de Abranches, cognominado "O Censor"; reedição promovida por iniciativa de Jomar Moraes). 51 O CENSOR MARANHENSE, no. 2, sábbado, 5 de fevereiro de 1825, p. 29.


atividades, divulgadas pelos jornais, começaria a apresentar seus primeiros sinais de mudança ainda nas últimas décadas do século XIX, com o surgimento e fortalecimento gradual dos esportes: "É nessa conjuntura que adquirem um efeito sinergético, que compõem uma rede interativa de experiências centrais no contexto social e cultural, como fonte de uma nova identidade e de um novo estilo de vida "Os 'Clubs' que centralizam essas atividades surgem como modelos da elite no final do século XIX, e já no final da década de 10 e início de 20, estão difundidos pelos bairros, periferia, várzeas e se tornam um desdobramento natural das próprias reuniões sociais". (KOWALSKI, 2000, p. 391)38. Em 1907, JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS - Nhozinho Santos - introduz o futebol no Maranhão 52 juntamente com outras modalidades esportivas. A primeira partida é "oficialmente" disputada no dia 27 de outubro de 1907, quando da fundação do FABRIL ATHLETIC CLUB53.

Nhozinho Santos, quando de seu regresso da Inglaterra, em 1905 trouxe em sua bagagem apetrechos para a prática de várias modalidades esportivas, por ele implantada em Maranhão, destacando-se o "foot-ball association", o "cricket", o "crockt", o atletismo, o tênis54... 52

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do "foot-ball" em Maranhão. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com 53 "INAUGURAÇÃO DO FOOT BALL - "Realizou-se hontem a grande partida inaugural do Fabril Athletic Club, a qual revestiu-se de maior importancia. No concurso do encilhamento foi vencedor o Sr. Serejo, na corrida em Tandem venceram os srs. Joachim Belchior e Manoel Lopes, no Place Kick [chute à bola] foram: em primeiro logar mister Dolber e em segundo mister J. Moon; no concurso de peso mister Moon. Na partida de Foot Ball, foi vencedor o partido encarnado. Como não estivessem devidamente preparados na Tug of War [cabo de guerra] os do partido preto, foi vencedor o encarnado. Houve um segundo desafio, que ficou indeciso. A residência do Club está muito bem preparada e a assistência do acto compareceram muitas famílias e cavalheiros da boa sociedade. Serviram de juizes da senha o sr. Edmundo Fernandes pelo Theam Black and Whate e Henoch Lima pelo Red & Whate. É, incontestavelmente, o Foot Ball a melhor diversão que existe no Maranhão. Damos parabéns aos diretores de tão importante club, pelo esforço verdadeiramente louvável que têm empregado em prol de uma instituição tão útil à saúde e à mocidade maranhense. A solenidade compareceram três bandas de música, as quaes executaram bellos trechos".(in O MARANHÃO, 28 de outubro de 1907).


O "cricket" era um esporte muito popular na Inglaterra, e já era conhecido no Brasil, promovido que era pelo Rio Cricket Club. No Maranhão, quando da fundação do Fabril Athletic Club, foi construído um campo, sendo praticado por Nhozinho e seus amigos da colônia britânica, aqui domiciliados. Ao que consta, sua prática não ultrapassou as cercas do FAC. Como aconteceu com as outras modalidades implantadas no Fabril, haviam duas equipes constituídas, a "Black and White" e a "Red and White", observando-se que além dos ingleses residentes na Ilha, a jovem elite maranhense - muitos deles educados na Europa, Inglaterra em particular -, também aderiam a essa prática esportiva. Verificamos a similaridade com outros países latino-americanos - e outras regiões brasileiras -, quando da inauguração do Fabril Athletic Club. O então presidente da Província - Bendito Leite - ante o espetáculo proporcionado lamentou não poder manter nas escolas públicas o ensino regular da ginástica... A "gymnástica" era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende de anúncios publicados nos jornais55. O sexo feminino também tinha suas aulas de ginástica, pois fazia parte do currículo da Escola Normal, conforme resultado dos exames publicados, como era comum à época56. Em outro anúncio, publicado em 1908, o "professor de instrucção physica" avisava que pretendia realizar "os exames de seus alumnos na próxima quinta feira" 57. No dia 26 de dezembro de 1907, é registrada uma partida de futebol entre alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros, como parte de sua preparação física. O futebol, além de outras modalidades e atividades, principiava a se utilizado como prática de educação física nas escolas58. O Euterpe também passou a difundir outras atividades esportivas, como o "tiro ao alvo", tênis, o tênis de mesa (ping-pong), etc. Em 31 de dezembro de 1910, o Euterpe fechou as portas, com seus antigos associados fundando, em seguida - 1911 - o Casino Maranhense, que continuou com a promoção de festas dançantes, palestras e as competições de bilhar e do tênis de mesa (ping-pong). Em uma das reformas dos estatutos do FAC, é incluído o manejo de armas - prática do tiro - entre suas atividades, com o fim de prestar um serviço à juventude, valendo-se da Lei do Sorteio Militar. Com a ajuda do então tenente Luso Torres, foi fundada uma seção de Instrução Militar, a fim de preparar os sócios que nela quisesse tomar parte e gozar dos favores da referida lei. Talvez para se beneficiar dessa Lei, e livrar os jovens da elite maranhense da instrução militar, o Tiro Maranhense informava que já chegava a 120 o número de pessoas inscritas naquela Sociedade. Nhozinho Santos consegue a inscrição de "seu" clube na Confederação Brasileira de Tiro, ao mesmo tempo em que implanta o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos. As jornadas esportivas promovidas pelas diversas agremiações já então existentes não se limitavam à prática do "foot-ball association", apenas 59. A participação de estudantes - da Escola de Aprendizes Marinheiros - e de crianças - filhos dos sócios -, dos diversos clubes constituídos, não só para a prática do "foot-ball association", caso do Fabril e do Maranhense, e mais tarde, do Onze Maranhense, era comum, nas jornadas que se seguiam. Em um programa de uma "matineé sportiva", na sede do F.A.C., reunindo os "Team Riachuello" - "Estrella Preta" - e o "Team Humaitá" - "Estrella Branca"-, ambos da Escola de Aprendizes Marinheiros, seguida de outros jogos, como o Concurso gaiato, sendo concorrentes: A. Novaes, J. Santos Sobrinho, A. Azevedo, A. Vieira; já o Concurso gaiato infantil seria disputado por: Ivar, Luiz, Celso, Bráulio, Soeiro Filho; para a quarta prova do programa, Concurso de Agilidade, estavam inscritos: Franklin, Zuza, Maneco Neves, Gui e Aluísio. Após a

54

VER Volume II, desta Coleção. “PARA OS ALUMNOS DE AULA PARTICULAR DE GYMNÁSTICA - A Chapellaria Allemã acaba de despachar: "camizas de meia com distinctivos. Distinctivos de metal com fitas de setim e franjas d'ouro; Distinctivos de material dourado para por em chapéus. Chapellaria Allemã de Bernhard Bluhnn & Comp. 23 - Rua 28 de julho - 23" in A CAMPANHA, 6ª feira, 8 de janeiro de 1904, p. 5. 56 "CURSO ANEXO - Foi este o resultado dos exames de hontem:GYMNÁSTICA - Núbia Carvalho, Maria Varella, Neusa Lebre, Hilda Pereira, Margarida Pereira, Almerinda Parada, Leonor Rego, Rosilda Ribeiro, Fanny Albuquerque, Agrippina Souza, Cecilia Souza, Roza Martins, Esmeralda Paiva, Neusa Silva, grau 10. Faltaram 12" in O MARANHÃO, Sexta-feira, 15 de novembro de 1907. 57 O MARANHÃO, Segunda-feira, 02 de março de 1908, p. 2, n. 257 58 O MARANHÃO, 26 de dezembro de 1907 59 O MARANHÃO, Segunda-feira, 08 de junho de 1908 55


partida de futebol, seria realizada a "Tug of War" (cabo de guerra), inscritos: Fausto - Antoninho - Ruy Zeca - Carlos Alberto - Soeiro Filho - Gastão - Yoyô - Lady - Lúcio - José - Adolpho Salles60. Aqueles "concursos gaiatos", em que participaram os "sportemen" ludovicenses, a elite econômica e intelectual da Atenas brasileira, se constituíam: vestir bonecas - para adultos -, saindo vencedor Anthero Novaes e J. Santos Sobrinho; o concurso infantil - enfiar agulha - foi vencido pelo menino Soeiro Filho, enquanto o concurso de agilidade consistiu de abrir garrafas de cola e beber o conteúdo, obtendo o primeiro lugar Manuel Neves. Parte da imprensa continuava a criticar a prática do futebol pela juventude maranhense, chegando a anunciar que o futebol seria proibido nos Estados Unidos: "A equipe de 'foot-ball' do 'Harward" registrou trinta e cinco casos cirúrgicos sobre sessenta e cinco jogadores. Razão por que se pensa, na América, em proibir" (MARTINS, 1989, p. 313-315)33. Nhozinho Santos já vinha rebatendo essas notícias, afirmando que se estava confundindo o "foot-ball association" com o "foot-ball americano". Em 1910, Miguel Hoerhan começa a prestar à mocidade ludovicense seus serviços como professor de Educação Física da Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, em diversas escolas estaduais e municipais. Funda o “Club Ginástico Maranhense”. Também em 1910, é inaugurada a Escola de Aprendizes Artífices - CEFET-MA, hoje -, instalada na Praça da República (prédio ocupado, hoje, pelo Ministério da Agricultura). Escola profissional tinha como mestres: Almir Augusto Valente, Vicente Ferreira Maia, Hermelina de Souza Martins, Cesário dos Santos Véras, Alberto Estavam dos Reis, Alexandre Gonçalves Véras, Eduardo Souza Marques e Nestor do Espírito Santo. Como não poderia deixar de ser, entre seus alunos havia grande interesse pelas práticas esportivas, e dentre, elas, pelo futebol. É ainda nesse ano de 1910 que o esporte em Maranhão experimenta mais uma de suas inúmeras crises, surgidas com o descontentamento de alguns associados do FAC, que experimenta uma dessas crises - e não seria a primeira - por causa de problemas financeiros - não só da Fábrica Santa Isabel, mas por falta de pagamento de mensalidades por parte da maioria dos associados. Desses desentendimentos, surgiam novas agremiações, formadas pelos dissidentes É nesse período que surge nesse cenário o vice-cônsul inglês no Maranhão, Mr. Charles Clissold, um grande amante dos esportes. Se junta aos dirigentes do FAC, incentivando a prática de vários esportes. Muitos jovens tinham feitos suas inscrições, com o clube revivendo seus grandes dias e sendo oferecidas várias modalidades, como salto em altura simples, com vara, distância; corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos; lançamento de peso, de disco, do martelo; placekick (pontapé na bola, colocando-a na maior distância); cricket; crockt ; ping-pong (Tênis de mesa); bilhar; luta de tração, etc. Mas esse clube estava aberto apenas para os filhos da aristocracia maranhense. A população, de um modo geral, não participava dessas atividades. Gentil Braga não concordava com a elitização dos clubes e sai do FAC, junto com um grupo de outros onze dissidentes, que comungavam do mesmo pensamento: "foi, sem qualquer sombra de dúvida, Gentil Silva o responsável pela popularização do futebol em terra maranhense, no momento que, deixando as hostes do FAC, achou oportuno desenvolver a prática do apreciado esporte aos olhos do povo, num campo que, de princípio não possuía cercas". (MARTINS, 1989, p. 332)33. Funda-se o ONZE MARANHENSE que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (Tênis de Mesa) e o xadrez. Segundo Dejard Martins, a efetiva existência do "Onze Maranhense Foot-ball Club" serviu para despertar o nosso futebol, porque firmar-se-ia a rivalidade entre os dois clubes. Nova dissidência entre o FAC e o próprio Maranhense viria mais tarde formar o "ESPORTE CLUBE LUSO-BRASILEIRO". Em 1915, ao mesmo tempo em que era anunciada a criação de um clube para a prática dos esportes, "UM CLUBE ESPORTIVO 60

O MARANHÃO, sabbado, 26 de setembro de 1908


“Fundado um club esportivo - Club Zinho - com o fim de proporcionar aos seus associados diversão como sejam passeios maritimos, pic-nic, exercícios físicos, ginástica pelos processos mais modernos. "Presidente: Hilton Raul "Vice presidente: Guilherme Matos" 61. proibia-se a brincadeira de empinar papagaios: "PROIBIDO O BRINQUEDO DE PAPAGAIOS "O coronel chefe do executivo municipal determinou o cumprimento do art. 149 do Código de Posturas que proibe a brincadeira de papagaios, no perímetro da cidadde, prejudicando as linhas telegráficas e telefônicas em que danificam os telhados". 62. Para Frydenberg (1999) 63, a adoção do esporte estava associada à fundação de clubes. Os jovens sentiam a necessidade de ter um terreno, um espaço próprio, para ser usado como “field”, como campo de futebol. Assim, o processo de popularização do futebol que se iniciou contou com três ingredientes estreitamente unidos: a iniciação na prática do jogo, a fundação de um clube e a busca de uma cancha própria.

Em Maranhão, estavam envolvidos os alunos do Liceu Maranhense, do Colégio Marista Maranhense e do Instituto Maranhense: “... promoveram sessões, usando as próprias salas de aula, estimulados pelos mestres. Graças a essas reuniões, surgiram os quadros do Brasil F. Club, do S. Luís F. Club, do Maranhão Esporte Club, e do Aliança F. Club. Essas entidades, aos poucos, foram agrupando-se, tornando-se clubes. A cada dia, os estudantes melhor se integravam, e para exercitar-se utilizavam o velho 'field' da Fabril, que tinha sido desativado pela FAC. Estávamos com o 61

O JORNAL, 05 de maio de 1915 O JORNAL, 04 de junho de 1915. 63 FRYDENBERG, Júlio David. Espacio urbano y practica del futebol, Buenos Aires 1900-1915. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 4, n. 13, 1999. Disponível em www.efdeportes.com. 62


campo da rua Grande muito mal, mato tomando conta de todas as dependências, inclusive das arquibancadas." (MARTINS, 1989, p. 328)33. O F. A. Club é (re) inaugurado - agora, como Foot-Ball Athletic Club. Foi realizado a tradicional “soirée”, ao som de polkas e valsas, e antes, aconteceu o jogo (match) de foot-ball. As senhoritas presentes vibravam com as jogadas de seus "sportman" favoritos, destacando-se Guilhon, Gallas, Paiva, Anequim, Ribeiro, Cláudio, e Schleback. Ainda ao "Red" coube a vitória da "luta de tração", tendo vencido o grotesco "maçã em água salgada" o Travassos, e Nava a disputa da "quebra potes cheio d'água, com olhos vendados". Dos chamados "concursos grotescos" - no início das atividades do FAC, em 1907, eram chamados de gaiatos - constava: frutas em água salgada - que deveriam ser tiradas com a boca, ganhando com conseguisse cinco primeiro -; boxe com olhos vendados (disputado em um tempo de cinco minutos; quebrar potes cheios de água com os olhos vendados. Constavam ainda provas de Atletismo, o place-kick (chute à bola) e a luta de tração (cabo de guerra) 64. Nas datas importantes, o jogo de futebol aparece como parte das programações, como as comemorações da Batalha do Riachuelo, pela Escola de Aprendizes Marinheiros, quando seriam executadas "Gymnástica Sueca com armas, Gymnástica sueca sem armas, corridas com três pernas, corrida do sacco" e uma partida de futebol, entre os "teams" "Marcílio Dias" e um formado por representantes do F. A. Club. 65 Nhozinho Santos, após um longo período no sul do país, retorna a São Luís e é programada uma recepção digna desse "sportman", introdutor do esporte moderno em nossa cidade. O futebol continuava sendo praticado com entusiasmo e vibração, e outras modalidades esportivas desenvolviam-se: tênis, crocket, basquetebol, jogos olímpicos (atletismo), bilhar, boliche, ping-pong (Tênis de Mesa), e outras mais (MARTINS, 1989)33. Começa a aparecer na imprensa artigos técnicos sobre futebol. É publicada uma matéria destina "AOS FOOT-BALLERS MARANHENSES" 66, em que E. Peake, do Liverpool & W. Z. dão lições sobre o jogo de foot-ball: "quando e como se deve passar". Com a frase "não há interesse para o jogo saber quem fez o 'goal', o essencial é que elle seja feito", em artigo de página inteira, sob a forma de entrevista, são feitos comentários sobre como jogar o futebol, dando ênfase ao sistema tático do jogo, em que o passe de bola é essencial. O entrevistado refere-se à aparente falta de combinação entre os jogadores, pois os passes são feitos sem qualquer objetivo. O tema do artigo é - como e quando passar. O Sr. Peake dá lições a quem queira jogar, bem, o futebol, discorrendo sobre a função de cada jogador e como aproveitar melhor os passes, com objetivo do gol. No bairro do Anil, o UBIRAJARA SPORT CLUB, realiza sua festa esportiva de encerramento do ano 67, para seus associados. Foram disputadas: É noticiada a breve fundação, em nossa capital, do "CLUBE SPORTIVO J. P. MULLER" 68, por um grupo de rapazes, "... adeptos do desenvolvimento physico, uma sociedade para exercícios sportivos que observará rigorosamente as regras do compêndio 'O meu systema" do grande hygienista dinamarquez J. P. Müller". O esporte em Maranhão se consolida. Além do surgimento de inúmeras outras associações esportivas e de clubes de futebol, inicia-se o intercâmbio com os dois estados vizinhos. Começam as "importações" de jogadores...

64

O ESTADO, 02 de fevereiro de 1916 O ESTADO, 10 de junho de 1916. 66 O ESTADO, 28 de novembro de 1916 67 O ESTADO, 28 de dezembro de 1916 68 O ESTADO, 06 de julho de 1917 65


KARTÓDROMO DE IMPERATRIZ, 27 ANOS EDMILSON SANCHES O PILOTO NÉLSON PIQUET CONTRIBUIU PARA O RECONHECIMENTO E CRESCIMENTO DO KARTÓDROMO. ESPORTE COLOCOU O NOME DE IMPERATRIZ NO BRASIL E NO MUNDO COMO REFERÊNCIA POSITIVA NACIONAL E NO EXTERIOR Um sonho de um desportista e seus amigos, o Kartódromo de Imperatriz completa 27 anos de inauguração neste 07/07/2018. O odontólogo e automobilista Giovanni Ramos Guerra, liderando o que parecia apenas um desejo de meninos bem nascidos, construiu em regime de mutirão uma das principais pistas de kart do Norte-Nordeste e do País.

A construção envolveu doações e o empenho de empresários, políticos e do governo estadual. Além de autoridades políticas, à inauguração compareceram o presidente da Confederação Nacional de Kartismo, Pedro Bereno, e 43 pilotos dos estados do Maranhão, Goiás, Tocantins, Piauí e Pará, que participaram da prova inaugural. A prova foi de caráter festivo e vencida pelo amigo Marco Antônio Lins, jovem empresário imperatrizense, fã e praticante do esporte, hoje morando em São Luís. Giovanni Guerra, em trabalho quase solitário e silencioso, tem viajado pelo Brasil e pelo mundo, levando e elevando o esporte e a imagem de Imperatriz, tanto como iniciador do kart no município quanto como presidente da FAEM – Federação de Automobilismo do Estado do Maranhão, uma das raras entidades superiores esportivas com sede em cidade fora da capital do estado. Giovanni Guerra é também, desde 2016, membro da Comission Internationale de Karting (CIK), da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), sediada em Paris. Sua atuação no mundo do automobilismo levou Giovanni Guerra a ser reconhecido no Brasil e no exterior. Ele mantém sólidos laços de amizade com a família Piquet -- o tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet e seus filhos, os pilotos Nelson Angelo Piquet e Pedro Piquet (Pedro Estácio Leão Piquet Souto Maior, nascido em Brasília em 3 de julho de 1998). Pedro Piquet correu na Fórmula 3 brasileira, ganhou tudo e foi para a GP3, categoria européia. Giovanni Guerra reitera a importância de Nélson Piquet, que, três anos após a inauguração do kartódromo de Imperatriz, correu em Imperatriz na Prova da Amizade. Um valor regional do automobilismo foi levado por Giovanni Guerra para outros patamares. Trata-se de João Vieira, piloto nascido no Tocantins e filiado à Federação maranhense, que atualmente corre na Fórmula 4 italiana aos cuidados da família Minardi. João Vieira foi apresentado por Giovanni ao automobilismo europeu quando da homenagem a Ayrton Senna em 2014, em Imola, na Itália, e desde então o automobilista da Federação maranhense se tornou piloto profissional e segue uma carreira (sem trocadilho...) que está surpreendendo positivamente. A credibilidade construída no esporte levou o imperatrizense Giovanni Guerra ao pódio, como "Embaixador" da Confederação Brasileira de Automobilismo e convidado especial para fazer entregas de


troféus a pilotos vencedores, como já aconteceu na Espanha e ocorreu em 12 de julho de 2015, quando Giovanni entregou troféu na 2ª etapa do Academy Trophy, realizada em Genk, Bélgica. Em reconhecimento ao trabalho de qualidade do imperatrizense, pilotos de kart de outros estados brasileiros solicitaram inscrição na Federação maranhense e disputam corridas e campeonatos pelo Maranhão. É o caso, por exemplo, dos irmãos Raucci -- Raphael, Giuliano e Leonnardo --, da família proprietária das indústrias dos refrigerantes Dolly, empresa brasileira que lançou o primeiro refrigerante "diet" do Brasil. " Imperatriz e o Maranhão têm se beneficiado da ação do desportista Giovanni Guerra: há 18 anos o estado -por meio de Imperatriz e, depois, São Luís -- é o único do País a realizar a Seletiva Petrobras de Kart, revezando o local (ora Imperatriz, ora a capital). Para Giovanni, a luta, o apoio, o envolvimento, a participação de muitos imperatrizenses nesses 27 anos foi fundamental para o nascimento, crescimento e fortalecimento do esporte em Imperatriz e no Maranhão, com positivas repercussões em todo o país e no mundo. A Federação maranhense é homologada junto à Confederação brasileira desde 10 de abril de 2001. A notável e ao mesmo tempo discreta ascensão de Giovanni Guerra no mundo do automobilismo tornou-o conhecido dos grandes nomes do esporte, quer sejam pilotos, quer sejam gestores. Diz Giovanni: "Conheço eles e eles me conhecem". Na administração da FAEM – Federação de Automobilismo do Estado do Maranhão, Giovanni faz questão de destacar correção na condução da entidade: "É uma instituição organizada, com tudo em dia. Não há nenhuma mancha em seu CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o registro federal que, no Brasil, identifica as pessoas jurídicas -- empresas e entidades]". O kartódromo de Imperatriz, as provas e campeonatos nele realizados, a constância na realização da Seletiva Petrobras ao longo de quase duas décadas, a criação e homologação da Federação estadual de automobilismo junto à CBA e a presença e participação de nomes ilustres e confiáveis do esporte nos quadros da Federação maranhense e/ou nas provas realizadas em Imperatriz e em São Luís trouxeram e têm trazido para a cidade e para o estado um grande número de automobilistas, mecânicos e outros técnicos, empresários, autoridades e jornalistas de renome, que contribuíram para colocar em destaque e em letra de fôrma o nome de Imperatriz e do Maranhão. Em velocidade igual ou superior à das provas automobilísticas. *** Como em muitos eventos e ações positivas em favor de Imperatriz, estive presente nos momentos iniciais do automobilismo imperatrizense, desde a criação da AKART, depois CKART. Fiz os primeiros registros e matérias na Imprensa. Fui ao kartódromo nas corridas e antes ou depois delas, conversei com autoridades nacionais do esporte e para algumas as presenteei com a "Enciclopédia de Imperatriz", onde, aliás, o esporte no município está muito bem contado e contemplado, em destaque, pois o automobilismo deu a Imperatriz o título de Capital Norte-Nordeste do Kart. Fotos: O kartódromo de Imperatriz (dia e noite) e o desportista Giovanni Ramos Guerra.


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


100 ANOS DE "FOOT-BALL" NO MARANHÃO por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA. Mestre em Ciência da Informação Futebol; História, Maranhão RESUMO

Levantamentos históricos recentes dão conta de que o futebol, no Brasil, não foi introduzido por Charles Miller - brasileiro, filho de ingleses - em fins do século XIX, como comumente se afirma, e sim, que o esporte bretão foi implantado por práticas e clubes elitizados ao estilo pressuposto de sua pátria original. O futebol introduzido por ordens religiosas - jesuítas, por exemplo - que teriam se antecipado a Miller em duas décadas. Nosso Dejard MARTINS, em suas memórias sobre o esporte em Maranhão - Esporte, um mergulho no tempo - afirma que a escalada do "foot-ball association" no Brasil se dá pelas primeiras "peladas" disputadas nas praias do Rio de Janeiro e de Santos, por marujos ingleses - algumas com a participação de funcionários de firmas inglesas -, já por volta de 1864, e que, em 1874, um grupo de marujos exibiu-se na praia da Glória. No Colégio de São Luís, da cidade de Itu-SP, por volta de 1872 já se praticava um futebol, à moda da Universidade de Eton. Do que se tem conhecimento na formação da história do 'foot-ball' na Inglaterra, é que a Eton tinha deixado, há muito, a prática de um 'jogo de bola', mais particularmente o 'rugby' para associar-se a outras Universidades, que tinham feito opção pela prática do 'foot-ball association'. Demais, os padres Jesuítas foram adeptos dessa prática e não de uma outra modalidade de 'jogo de bola' no Brasil. Os padres recreavam-se com bola. O relacionamento dos Jesuítas com a prática do "foot-ball association" e outras modalidades esportivas decorreu de uma necessidade recreativa. A partir de 1858, a Inglaterra, emérita praticante do "foot-ball" propagou-o pela Europa, sendo muito bem aceito, na Itália, pelos padres Jesuítas, sendo praticado no Colégio Pio-Americano de Roma. Os Jesuítas sentiram que essa modalidade esportiva atendia aos princípios pedagógicos na formação dos catecúmenos". Uma obra escrita pelo padre J. M. Madureira, intitulada 'A Companhia de Jesus: sua pedagogia e seus resultados', conta-nos a atividade dos religiosos no Brasil. Coincidência ou não, entre os padres que vieram ter em nosso País, dois eram ingleses: os irmãos Robert e William Godding. Coube-lhes desenvolver no Colégio São Luís de Itú o 'foot-nall association', em 1880, adoção que obedeceu aos mesmos princípios prevalecentes no Colégio Pio Latino-Americano de Roma. Dejard Martins afirma ainda que, "... para nós, que pesquisamos o assunto, a convicção é de que o "foot-ball association" foi introduzido no Brasil como coisa nossa, em 1880, no Colégio de São Luís de Itu, por inspiração dos irmãos ingleses Robert e Willame Godding. Eles antecederam em 15 anos, a Charles Willame Müller, que no nosso entendimento, foi responsável, isso sim, pela popularização do esporte bretão no Brasil, quando de sua chegada em 1895... seria uma injustiça relegar a um plano secundário esse trabalho dos padres jesuítas... e vamos mais longe. Sem dúvida, essa atividade recreativa deve ter-se espalhado por outros educandários dirigidos por essa Ordem religiosa". Corroborando a tese da transferência do futebol inglês para o Brasil via educandários religiosos, há informações de que se praticava o futebol no Instituto Granbery, de Juiz de Fora/MG, pelo menos, a partir de 1893. Fala-se, também, que empregados de empresas inglesas de navegação, de bancos e outros teriam, no Rio de Janeiro, em 1875, de maneira informal, praticado o "foot-ball association", como forma de encher o tempo, recreando-se. Em São Paulo, Mr. Hugh, um inglês "bem situado na São Paulo Railway", teria difundido o futebol em Jundiaí/SP, formando equipes mescladas com ingleses e brasileiros, em 1882. Também tem-se notícias de um tal de Mr. John - que mais tarde dirigiria tecnicamente o Clube Atletico Paulistano - reunindo


empregados de empresas britânicas: Serviços das Docas, Cabo Submarino, City e Leopoldina Railway, para praticar o futebol. Os agentes ingleses se manifestam tanto de forma anônima, na exibição de 'peladas' nas zonas portuárias, quanto individualemente através de firmas e instituições, como técnicos e professores em companhias inglesas, fábrica e colégios. Atribuir a origem do futebol no Brasil a Charles Müller é reduzir a experiência histórica brasileira a uma única fonte: a documentação oficial de um grande clube paulista. Essa visão do "estudante que vem do exterior" e "introduz o futebol", tornou-se de tal modo um estereótipo que é quase cena comum localizar-se a reprodução do personagem - com algumas variáveis - em algumas regiões brasileiras: entre outros, no Rio, Oscar Cox, no Paraná, Charles Wright. A tendência positivista de se localizar o 'lugar da origem' - que geralmente ocupa um espaço privilegiado de poder - gera a necessidade de se criar 'heróis fundadores', perdendo-se de vista, muitas vezes, a percepção do processo em que a 'fundação' não tem própriamente um lugar único. Certamente iremos encontrar de norte a sul do Brasil, diversos Charles Müller 'fundando' o futebol. O FABRIL ATHLETIC CLUB "A direção do Fabril Athletic Club avisa aos seus sócios que ainda não tiraram convite, que os procurem hoje, até 10 horas da noite, na sede do mesmo club". (O MARANHÃO, Quinta feira, 24 de outubro de 1907) Djard MARTINS (1989) em seu "Esporte - um mergulho no tempo" registra que o nascimento das atividades esportivas em Maranhão se dá pelas mãos de JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS Nhozinho Santos - e do clube esportivo e social fundado na Fábrica "Santa Izabel", o FABRIL ATHLETIC CLUB - FAC - para a prática do "foot-ball association". Também foram praticados o Tênis, o Cricket, o Crockt, o Tiro, e o Atletismo: "INAUGURAÇÃO DO FOOT BALL - "Realizou-se hontem a grande partida inaugural do Fabril Athletic Club, a qual revestiu-se de maior importancia. No concurso do encilhamento foi vencedor o Sr. Serejo, na corrida em Tandem venceram os srs. Joachim Belchior e Manoel Lopes, no Place Kick [chute à bola] foram: em primeiro logar mister Dolber e em segundo mister J. Moon; no concurso de peso mister Moon. Na partida de Foot Ball, foi vencedor o partido encarnado. Como não estivessem devidamente preparados na Tug of War [cabo de guerra] os do partido preto, foi vencedor o encarnado. Houve um segundo desafio, que ficou indeciso. A residência do Club está muito bem preparada e a assistência do acto compareceram muitas famílias e cavalheiros da boa sociedade. Serviram de juizes da senha o sr. Edmundo Fernandes pelo Theam Black and Whate e Henoch Lima pelo Red & Whate. É, incontestavelmente, o Foot Ball a melhor diversão que existe no Maranhão. Damos parabéns aos diretores de tão importante club, pelo esforço verdadeiramente louvavel que têm empregado em prol de uma instituição tão útil à saúde e à mocidade maranhense. A solenidade compareceram três bandas de música, as quaes executaram bellos trechos". (O MARANHÃO, 28 de outubro de 1907) A primeira partida de futebol no Maranhão, oficialmente, foi disputada no dia 27 de outubro de 1907: "... ficou definitivamente estabelecido que a data de 27 de outubro de 1907 era a data de fundação oficial da associação fabrilense. O clube, para festejar o evento, promoveu grande festa na sede social, à Rua Grande, 220 ... Várias atrações foram organizada: concurso de encilhamento, que foi ganho por Serejo. Na corrida, sairam vencedores Joaquim Belchior e M. Lopes. No 'place-kick' E. Dolber tirou o primeiro lugar, ficando Jasper [Moon] em segundo. No concurso de peso, vitória de Jasper [Moon], que lançou o peso à distância de 9 1/2 jardas. Depois, aconteceu o ponto alto das festividades, o jogo de futebol, reunindo as equipes internas do F.A.C.: 'Black and White' 'e 'Red and White', culminando com o triunfo dos 'vermelhos', por 2 a 0". A segunda partida ocorreu em 24 de novembro de 1907, conforme noticiado em "O Maranhão": "FABRIL ATHLETIC CLUB - Com extraordinário concorrencia de famílias e cavalheiros, realisou hontem essa sympathica sociedade sportiva a sua segunda partida de foot ball. Coube ao partido preto os louros da


victoria de hontem, por haver ganho dois goals contra um. A função começou a 3 1/2 da tarde. Pelo presidente do club foi offerecido, depois da partida, um volioso brinde ao capitão do partido vencedor. A festa, que correu com muita animação, durou até 8 horas da noite, terminando por um soiree, a piano, entre os socios do club e suas familias. Ao Fabril Athletic Club felicitamos pelo explendor da função de hontem." (O MARANHÃO, 25 de novembro de 1907). Com a movimentação esportiva que se tinha nessa primeira década do século XX, "estávamos começando a experimentar uma época em que a nossa mocidade principiava a entender o quanto era importante praticar esporte e desenvolver a formação física" (MARTINS, 1989 : 261). Para esse autor, o esporte já não era novidade. Já se tinha conhecimento da prática do "foot ball association" no Rio de Janeiro - Fluminense Futebol Clube, orientado por Oscar Cox - e em São Paulo - Clube Athletic paulistano, dirigido por John Hamilton. Nhozinho Santos, ao regressar da Inglaterra em 1905 - onde fora estudar para técnico em indústria textil, na cidade de Liverpool -, tornara-se um ardoso praticante do "foot ball", e não se esquece de trazer em sua bagagem os apetrechos necessários à prática desse esporte: chuteiras, apitos, bolas, etc., como também para outras atividades esportivas, como o "croket", "crickt", tênis. Assim, naquele final de ano de 1905, reuniram-se na residência dos Santos, na rua Grande, 1018 (Instituto Zoé Cerveira) além de Nhozinho, seus irmãos Totó e Maneco, alguns amigos e convidados para tratar da implantação do "foot ball association" no Maranhão. Além dos irmão Santos, estiveram presentes: John Shipton, John Moon, Ernest Dobler, ingleses empregados na Boot Stearship Co. Ld. - Mala Real Inglesa -, Botho & Co. Ld., e os maranhenses Izidoro Aguiar, Edmundo Fernandes, Afonso Gandra, José Ramos Bastos, Antero Novaes, Carlos Neves, Antero Serejo, e outros mais. Ficou estabelecido que na vasta área da Fábrica seria construido um campo para a prática do futebol. Foram sacrificadas algumas árvores, para que tivesse as dimensões necessárias para a pratica do esporte. A princípio houve alguma dificuldade para se arranjar os onze jogadores para se formarem os times. Os treinamentos eram realizados com dois quadros de oito jogadores, cada. As competições no campo do FAC começaram a despertar a curiosidade dos transeuntes, que assistiam as partidas através de aberturas no cercado da Fabril. Ninguém entendia do que se tratava, ao observarem os rapazes correndo atras da bola, pois havia muita disputa e muita algazarra: "Sucederam-se os treinamentos com os 'sportmen' apurando a forma técnica, entendo melhor as regras ... não havia treinamentos físicos. A resistência vinha em decorrência do maior tempo dos coleticos que, às vezes, processavam-se até não ser mais enxergada a bola. Assim, decorreu o ano de 1906, uma ou outra disputa entre as duas formações, usando camisas e chuteiras e as bolas importadas". Com a instituição do Fabril Athletic Club e a constituição das duas equipes, e por força das sucessivas disputas, criou-se uma rivalidade importante para despertar o maior entusiasmo pela conquista de belos feitos: "O primeiro embate oficializado pelo F.A.C. aconteceu a 28 de maio de 1907. No final, ocorreu a igualdade (2 a 2). Naquele tempo, um jogo empate reclamava logo a realização de outro para conhecer-se o vencedor. Isso ocorreu a 16 de junho de 1907, dessa feita com a vitória do 'Black and White' (1 a 0)". (MARTINS, 1989 : 285). As equipe eram formadas pelos times do "Black and White": João Mário; A. Vieira e G. Costa Rodrigues; E. Simas, Moraes Rego e Joaquim Ferreira Belchior; F. Machado, John Shipton, John Moon, M. Lopes e C. Gandra. O do "Red and White" era formado por: João Alves dos Santos; Izidoro Aguiar e Alcindo Oliveira; Afonso Guilhon, Aluízio Azevedo e José Ramos Bastos, Antero Novaes, Ernesto Dobler, Carlos Neves, Manoel Alves dos Santos e Antero Serejo. Embora Martins registre a data de 28 de maio de 1907 como sendo da primeira partida oficializada, ocorreu uma antes, a 12 de abril daquele ano, entre as equipes internas dos "Pretos" (Black and White) e a dos "Encarnados" (Red and White), com a duração de 50 minutos, com dois tempos de 25, com a vitória dos "pretos", por 1 x 0. O jogo teve prosseguimento, por mais 15 minutos, permanecendo o resultado. Essas equipes disputaram outras partidas: 26.05.1907 - Black and White 2 x Red and White 2 16.06.1907 - Black and White 1 x Red and White 0


25.06.1907 - Black and White 2 x Red and White 2 23.06.1907 - Black and White 1 x Red and White 1 26.06.1907 - Black and White 1 x Red and White 3 07.07.1907 - Black and White 0 x Red and White 2 14.07.1907 - Black and White 0 x Red and White 1 Podemos observar com certa facilidade que existe na trajetória histórica do futebol brasileiro determinantes que são comuns nas equipes que foram criadas até o iníco deste século (FREITAS FILHO, 1998, 2000). Uma das matrizes propostas por esse autor repete-se em São Luís do Maranhão: "... a convivência de estudantes brasileiros em escolas européias, nos quais a prática do futebol era bastante difundida. Quando retornam ao Brasil, estes estudantes apresentam este jogo para os seus amigos, e mesmo tendo certas dificuldades face às práticas esportivas dominantes na época, o futebol acabou sendo incorporado". (p. 237). Servimo-nos, uma vez mais, de Dejard Martins: "Houve muita semelhança no procedimento de Charles Müller e Nhozinho Santos. O paulista educou-se em Southampton e o maranhense, em Liverpool, ambas cidades inglesas. Até na idade ambos estavam certos, 21 anos. A diferença estava apenas na facilidade encontrada por Charles Müller para introduzir o futebol, porque já encontrou os ingleses do São Paulo Railway, um clube em franca atividade esportiva. Já Nhozinho, com a ajuda dos parentes, de amigos e de ingleses, aqui residentes, teve que fundar uma associação - o Fabril Atheltic Club - FAC, recrutar os poucos rapazes estrangeiros que trabalhavam em São Luís, no London Bank, Both Line Co., Westers, e que não eram muito amantes do 'foot-ball association'. Charles Müller era 'center-forward' e Nhozinho, 'goalkeeper'.". (p. 143). Concordamos que a herança inglesa e norte-americana encontrada no esporte latino-americano não é somente paradoxal, como definiu Arbena, mas sobretudo pouco relevante pois foi apenas um ponto de partida. Mas não se praticava só o "foot ball". Também jogava-se o tênis, todos os dias, depois das quatro da tarde, sendo construida uma quadra regulamentar e "lá os amantes dessa prática deleitavam-se nesse elegante esporte". As festas dançantes, realizadas em seus salões, eram as mais requintadas, assim como se realizavam conferências e representações teatrais. Mas estas, já são outras histórias...


FERNANDO DE NORONHA & ATLAS DA CAPOEIRA MARANHENSE Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/

Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - Abril de 2006 No início de março segui de São Luis direto para Fortaleza, e depois para Fernando de Noronha. O que era para ser uma simples viagem de passeio com a família acabou resultando em uma viagem arqueológico-capoeirística. Explico. É que durante aquela viagem consegui recuperar algumas informações sobre a capoeiragem que acontecia naquela Ilha-Presídio, quando os capoeiras do Rio de Janeiro, então capital federal, eram deportados - alguns com nomes trocado - para lá. Mas a grande "descoberta" mesmo foi o contato com a professora Marieta Borges, pessoa que é ao mesmo tempo "amante" e "protetora" da Ilha. Nos últimos anos Marieta tem se dedicado incansavelmente à preservação e resgate da Memória da Ilha. Dela recebi diversos artigos sobre capoeira, sendo um deles de sua autoria. Recebi também um facsimili de um livro de Amorim Netto, publicado na década de 1930 e que se refere à capoeiragem carioca em Fernando de Noronha, no final do século XIX e início de século XX. Professora Marieta, que conheci durante a travessia Ilha-Continente já foi escalada para compor o "time" deste Jornal do Capoeira, e assim que nosso Editor regressar de Curitiba, teremos o prazer de compartilhar com os amigos leitores as contribuições da capoeira "noronhense", sejam as informações históricas, sejam sobre a capoeiragem atual.

Fonte: http://www.noronha.pe.gov.br/ - Foto por Michele Roth Voltando ao momento antes da viagem (Maranhão!), na edição 65 do Jornal do Capoeira publicamos a primeira parte do artigo ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO . Trazemos aos senhores leitores mais uma "peça" da histórica da capoeira em solo


maranhense. Pouco a pouco vamos reconstituindo e democratizando informações que, por um motivo ou outro, são pouco conhecidas da maioria dos praticantes de nossa arte. Vamos, pois, às informações cronológicas:

1877 -

MARTINS (1989, in MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís : (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro "esporte" praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179) 1915 - NASCIMENTO DE MORAES, em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: "A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve". (NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000, p. 95). Em outro trecho é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: "Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um "lenço" roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no "lenço" as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor". (in MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005 ANOS 30/40 -Mestre Firmino Diniz - nascido em 1929 - que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com "Catumbi", um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. ANOS 50 - por ora, não há registros. ANOS 60 - "Renascimento" da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO no início dos anos 60. Criação do Grupo "Bantus", do qual participavam, além de Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. 1965 Mestre Paturi (Antonio Alberto Carvalho, nascido em 1946, o Mestre mais velho em atuação, hoje), inicia-se na Capoeira com os Mestres Manoelito e Leocádio, e após a chegada de Mestre Sapo, passa a treinar com este. Foi o primeiro a registrar uma Associação de Capoeira (?). 1966 - Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (in REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: ensaio sócioetnográfico. Salvador :Itapuã, 1968). Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, na época, menores de idade.


1968 -

Mestre Sapo retorna ao Maranhão, para ensinar capoeira. Vai se tornar a maior referência da capoeira do Maranhão, formando inúmeros alunos e graduando vários mestres, até sua morte, em 1982. ANOS 1970 - A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Em uma de suas viagens, no final dos anos 70, Mestre Sapo, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília. Foi quem o graduou Mestre. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. Mas quem o iniciou na capoeira foi Mestre Pelé de Salvador [Natalício Neves da Silva, nascido em 1934]


ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO

Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - Março de 2006 Na edição 63 do Jornal do Capoeira publicamos matéria sobre uma entrevista com Mestre Patinho. Além da entrevista em si, publicamos também seu PERFIL DE MESTRE, que é resultado de um estudo que tenho feito com meus alunos da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Pouco a pouco estaremos também publicando os perfis de vida dos demais mestres da capoeira maranhense. Nas próximas três edições do Jornal do Capoeira estarei apresentando algumas informações históricas sobre Capoeira em solo maranhense. Este breve histórico é fruto de pesquisas e entrevistas que tenho feito nos tempos recentes sobre a capoeira, capoeiragem ou carioca, e que acho oportuno compartilhar com nossa comunidade. A finalidade principal é a de se encontrar mais subsídios para concretizar nosso sonho: O ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO ESTADO DO MARANHÃO. Sabemos que outros estados já estão também se organizando neste sentido, e nossa terra não poderia deixar de fazer sua parte. Vamos aos fatos. Por Capoeira deve-se entender "... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada" (Regulamento Internacional da Capoeira). Assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a "...um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica". (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40). Para Mestre André Lace, "Capoeiragem é uma luta dramática" (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388). Já por "CARIOCA" entende-se por uma briga-de-rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes), sendo que "carioca" é outra denominação que se deu "a capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX". Vamos à algumas informações históricas:. - 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei - de no. 1.341, de 17 de maio - em que constava: "Artigo 42 - é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 50 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão". (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124) - 2003 - Mestre Mizinho, natural de Cururupu, informa que naquela cidade também se praticava uma luta, semelhante a Capoeira, a que denominavam "carioca": - 2005 - Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira informa que seu avô, falecido aos 92 anos, estivador do Porto de São Luís - Cais da Sagração, Portinho, Rampa Campos Melo - sempre se referia á "capoeira" como "carioca", luta praticada em sua juventude.


- 2005 - em recente temporada - outubro -, em Codó, recebi a informação de que alguns capoeiristas da velha geração da cidade tratam a capoeira ainda como "carioca". - Mestre Diniz, nascido em 1929, lembra que "na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira". - 1820 - registra-se, nesta data, referência a "punga dos homens", jogo que utiliza movimentos semelhantes à capoeira. - 1829 - registram-se certas atividades lúdicas dos negros. Nesse ano é publicado no jornal "A Estrela do Norte" a seguinte reclamação de um morador da cidade: "Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d"elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém ? "(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite) - 1835 - na Rua dos Apicuns, local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: - "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte´ contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." - (ECCHO DO NORTE - jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). 1863 - Josué Montello, em seu romance "Os degraus do Paraíso", em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863 quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com a ruas mais claras durante a noite: "Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas." O que é confirmado por VIEIRA FILHO (1971) quando relata que no famoso CantoPequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunir em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato.


SOBRE A MATÉRIA "SEGREDO NÃO É PRA QUALQUER UM", JUCA REIS & FERNANDO DE NORONHA Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - Março de 2006 No Domingo de Carnaval, 26 de fevereiro, estive conversando com Mestre Patinho sobre diversos assuntos. Ao chegar no Jornal deparo-me com a matéria do Luiz Cabeleira, de São Paulo (Segredo não é pra qualquer um). Curiosamente Mestre Patinho falou-me a mesma coisa, ou seja, sobre a dificuldade que os capoeiristas tem em entender as letras de capoeira. Apenas a repetem, sem saber, muitas das vezes, o significado do que estão cantando. E não compreendem o "texto", por falta de leitura! Nossos alunos, da escola tradicional - não os da de capoeira, a formal - também tem essas dificuldades de leitura, de compreensão. Luiz Cabeleira acerto "na mosca", ou melhor, aplicou a rasteira dentro do fundamento. Aliás, rasteira... onde andará... Estou com viagem marcada para Fortaleza, onde passarei uma semana em AquaVille, um pequeno "resort" ao lado de Beach Park, e depois sigo para Fernando de Noronha, onde ficarei até dia 19 de Março. Antes de partir, gostaria de informar os amigos da capoeira maranhense, ou que por aqui estarão de passagem ou estadia, que no dia 9 haverá um seminário sobre Capoeira. Em se tratando de Fernando de Noronha, mesmo "de férias", encontrarei algum tempo para pesquisar um pouco sobre os capoeiras deportados do Rio de Janeiro (1890/1891) para lá. Quem sabe meus encontro algo sobre a deportação do "moço rico" Juca Reis, que sabemos quase causou uma crise ministerial durante a transição Monarquia/República. Assim refere-se Inezil Pena Marinho (1945) sobre o fato: "No dia 12 de abril deste ano, todo ministério reunido, o Ministro de Relações Exteriores, Quintino Bocaiúva pede a palavra: ou o famoso capoeira Juca Reis, filho do Conde de Matosinho, seria solto ou ele pediria exoneração. Todos os demais ministros intervêm, especialmente Rui Barbosa, tentando uma solução conciliatória. Episódio que está nos Anais da História da República do Brasil." (Fonte: Marinho, 1945, p. 27) Mestre André Lacé também andou trazendo "novidades" sobre Juca Reis (Jornal do Capoeira, Edição 58), tendose como base um jornal datado de 1890. Parte da crônica de André Lacé está compilada abaixo. A Matéria na íntegra pode ser encontrada sob o título Juca Reis mulherengo e a Mulher Africana, No próprio Jornal: "Partiu hontem para Fernando de Noronha, a bordo do paquete Arlindo, da empresa Norte-Sul, José Elysio dos Reis, que se achava preso por ordem do dr. Sampaio Ferraz, chefe de polícia da Capital Federal. Às duas horas da madrugada de hontem, compareceu na casa de detenção o sr. Tenente Pereira e Souza, do corpo militar de polícia, ajudante de ordens do sr. Dr. Sampaio Ferraz, e declarou que estava encarregado de acompanhar o preso durante a viagem. A ordem para embarcar não foi uma surpresa para Juca Reis, que estava preparado pra a viagem. Achava-se muito abatido; emagreceu bastante nestes últimos dias; tinha a barba e o cabelo crescidos, e uma pallidez marmórea. Trajava um terno de casemira escura e chapéo preto. Um bello typo romântico, que parecia evadido de uma página sombria de Montepin. Exhibido o competente documento oficial, Juca Reis foi entregue ao sr. Tenente Pereira e Souza, que lhe ofereceu logar n`uma carruagem da Companhia Fluminense, parada à porta da Detenção. A carruagem seguiu immediatamente para o caes Pharoux...."


LIVRO-ÁLBUM

MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO


Mestre PIRRITA (1972/73)

1955

Mestre ESTILO DADOS PESSOAIS

MESTRE

PIRRITA Capoeira Mista, Angola do Maranhão. Capoeiragem Tradicional Maranhense VICENTE BRAGA BRASIL São Luís - Maranhão, 11 de abril de 1955. Rua São Sebastião, nº 08 – Anjo da Guarda - Escolaridade: Ensino Médio Completo Mestre pela Associação de Capoeira Angola, Mestre Pezão ( José de Ribamar Teixeira Silva) Pezão

GRUPO/NUCLEO ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA ARUANDÊ


Vida na Capoeira: Reconhecido mestre pela Associação de Capoeira Angola, a qual tem como mestre dirigente, José de Ribamar Teixeira Silva, o mestre Pezão, Campeão e Vice-Campeão Brasileiro de Capoeira. Começou a simpatizar pela capoeira em 1972, quando pela primeira vez teve a oportunidade de assistir uma exibição na Praça Deodoro, onde estavam presentes, Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, Velho Diniz, Babalu, Manoel Peitudinho, Cara de Anjo, Sargento Gouveia, Antonio José (Mestre Pato) e outros. Com a euforia daquele jogo de pernas, movimentos rápidos que se entrelaçavam e com o encanto produzido pelos sons dos berimbaus, começou a dizer para si, que um dia aprenderia aquela luta, que nem mesmo sabia o nome, desse dia em diante começou a se informar sobre a capoeira. Foi quando em 1973 ficou sabendo que Anselmo Barnabé (mestre Sapo), estava dando aula de capoeira no ginásio Costa Rodrigues, indo a procura do mestre Sapo para efetuar a sua inscrição e passou a treinar a capoeira pela primeira vez, mas na época trabalhava como ferreiro armador, tendo de viajar para o interior do estado do Maranhão pela empresa que era empregado, parando assim os treinamentos. Quando voltou a São Luís, sua irmã um ano mais nova do que ele, estava treinando um pessoal da MARATUR, a dança do Caboclo de Pena, para uma peça teatral baseada no Bumba Meu Boi do Maranhão, onde Babalu fazia parte desse elenco. Através de sua irmã foi apresentada a Babalu; sabendo que Pirrita gostava de capoeira e não tinha quem o ensinasse, convida-o para treinar com ele, nessa época o Babalu dava aula na praça Gonçalves Dias, não chegando a treinar dois meses, pois Pirrita se sentiu rejeitado pelos outros alunos, por serem de classe econômica mais alta, e tinham mania de grandeza, quando terminavam as aulas, saiam de carros ou motos, e o Pirrita voltava andando para sua residência no Bom Milagre, se sentindo mal, com complexo tolo de inferioridade, parou de treinar com Babalu, com isso passou a frequentar as rodas de capoeira, ficava a observar com cuidado os movimentos, chegava em casa treinava sozinho, sem ter ninguém para treinar ou orientá-lo. No final de1973, descobriu que próximo a sua residência, havia um pessoal treinando capoeira, um cidadão chamado Suruba, o mesmo treinava com Ribinha de Tapuia, juntou-se a eles e passou a desenvolver mais os treinamentos. Em 1974, quando se casou, foi morar na residência da sogra e começou a incentivar o seu Cunhado Jorge (Mestre Jorge) a praticar capoeira, juntos começaram a desenvolver os movimentos que já conhecia, mas com a vida de casado as coisas começaram a ficar difíceis, mesmo assim, continuou firme treinando a arte que escolhera para se dedicar. Em 1979 Pirrita se mudou para o bairro Anjo da Guarda, junto com Jorge começou a treinar capoeira com mais dedicação, nessa época já tinha mais entrosamento com outros capoeiristas de São Luís, passando a participar de rodas que a aconteciam na Praça Deodoro e na Praia do Olho D’água, organizadas por Pezão, chegando a marcar presença em outras rodas de capoeira que aconteciam na ilha. No mesmo ano de 1979, Pirrita começou a ensinar o que já sabia a alguns jovens, que o procurava para aprender capoeira, entre eles se destacou o Zezão, já falecido, foi aí que surgiu a ideia de formar um grupo. Com o fruto dessa ideia, surgiu o Grupo de Capoeira Aruandê, formado por Pirrita dirigente, Jorge, Sabujá, Zezão, Cícero, Roquinho, João Bicudo, Bigu e mais alguns alunos, tendo durado pouco tempo, por razão de alguns participantes não quererem seguir as normas, colocadas por Pirrita. Em 1980 Pirrita começou a treinar alguns alunos que mostraram interessados em manter o grupo com suas atividades, mas uma vez observou que os alunos não queriam saber de compromisso. O Pirrita procurou alguns capoeiristas experientes para fazerem exibições de capoeira nos festejos juninos, permanecendo ainda o nome de grupo Aruandê, dentre eles o Jorge, Índio, Zé da Madeira, Curió, China, Baiano, Zezão, Roquinho, Cícero e seu irmão Brasil, que na época já praticava capoeira, quando terminaram os festejos juninos, o grupo novamente se dispersou, por incompreensão dos participantes. Nessa mesma década de 80, a capoeira do nosso estado passou no anonimato, apóia rodas de capoeira já não se olhava, as pessoas que praticavam tinham se acomodado, não se olhava mais as rodas na Deodoro, Casas das Minas e Praia do Olho D’água. Nesse período Mestre Pirrita e o Mestre Jorge tiveram a ideia mais uma vez de reunir os capoeiristas que frequentavam seu centro de treinamento, entre eles estavam Sabujá, João Bicudo, Urucunga, Cícero, Ribaldo Preto e outros, e aproveitando a época do carnaval começaram a reativar as rodas


de capoeira na praça Deodoro, despertando nos capoeiristas a vontade de voltarem a jogar capoeira em nossa praça. Mestre Pirrita deu um grande passo, pois os capoeiristas veteranos voltaram a se encontrar na praça Deodoro para a pratica da capoeira. Entre eles Ruy Pinto, Euzamor, Candinho, Curador, Pelé, Patinho, Madeira, De Paula, Banana, Miguel, China e Outros. Neste período a área Itaqui – Bacanga passa a ser uma grande referência da capoeira do nosso estado, pois reunia-se capoeira de todos os bairros para a pratica da capoeira no Anjo da Guarda, a mesma sob a liderança do mestre Pirrita e do mestre Jorge, pois os dois começaram a realizar grandes eventos da época, como: I - Torneio Classe Estreante, II, III e IV Movimento Pró-Capoeira, I Festival Capoeira nos Bairros, nessa época já existiam na área Itaqui-Bacanga, vários grupos organizados como: Aruandê (Mestre Pirrita), Filho de Aruanda ( Mestre Jorge), Filhos de Ogum (Mestre Índio) e Marabaiano (Mestre Jair). Apesar dos eventos realizados, os mesmos realizavam batizados, e haviam rodas em vários locais como a Praça do Anjo, Teatro Itapicuraíba, Barrigudeira, Mercado do Anjo da Guarda e União de Moradores do Sá Viana, e aos sábados o Mestre Pirrita recebia grande número de capoeirista em sua academia. Centro de Treinamento Aruandê, com a ideia de manter o grupo com alunos formados por ele, tendo como objetivo, divulgar e valorizar a nossa capoeira. Em janeiro de 1982, pais de alguns jovens, da rua em que mora, para participarem de uma reunião, onde procurou mostrar para eles o plano de trabalho, fazendo entender que ali a capoeira, iria ser ensinada de modo educativo, como esporte, cultura e defesa pessoal, de maneira que o trabalho seria em prol da capoeira, como alguns amigos já vinham desenvolvendo em outros bairros. Com essa reunião, surgiram os primeiros alunos do Centro de treinamento Aruandê, com ideias voltadas em benefícios dos alunos, desenvolveu um método de treinamento, muito simples, transmitindo o que já sabia, dando os mais importantes exemplos da capoeira, o método baseado em sequências, combinações e transformações, que segundo o seu ver, é o meio mais simples de se aprender capoeira para as pessoas que se dedicarem as suas normas. Através do centro de treinamento, o Grupo de Capoeira Aruandê, vem fazendo história em nosso estado, com a missão de engrandecer cada vez mais essa arte genuinamente brasileira, participando de outros encontros, movimentos, e outros eventos relacionados a capoeira. Em 1985 o grupo Aruandê juntamente com o grupo Filhos de Aruanda, promoveram o Primeiro Movimento Pró- Capoeira do Maranhão, que tinha por objetivo, reunir todos os capoeiristas do nosso estado para o engrandecimento da capoeira. Em agosto do ano em curso, o grupo Aruandê, participou do Primeiro Encontro de Capoeira do Maranhão, e de várias reuniões onde estavam presentes vários capoeiristas do Maranhão. Em 1986, o grupo Aruandê se destacou entres outros grupos de nosso estado, junto ao grupo Filhos de Aruanda com apoio do CCN-MA - Centro de Cultura Negra do Maranhão, realizaram o Segundo Movimento Pró-Capoeira do Maranhão e o Primeiro Torneio de Classe Estreante, com objetivo de chamar atenção da classe capoeirística para a necessidade de melhor organização da capoeira em nosso estado, no torneio de classe estreante, o grupo Aruandê ficou em segundo lugar por equipe, receberam o troféu destaque os alunos Brasil, Zeca e Magno, recebendo medalhas de ouro, prata e bronze. No período de 31 de janeiro a dois de fevereiro de 1986 o professor Pirrita participou em Vitoria-ES, do segundo congresso nacional da UJS, representando seu grupo e estado, tendo como pauta do congresso, voto aos 16 anos, luta contra o racismo, defesa da liberdade, direito a prática esportiva e culturais. Aconteceram torneios esportivos, maratonas, apresentações folclóricas, culturais, debates e exibição de capoeira. Na delegação que estava representando o estado do Maranhão, teve como destaque o professor Pirrita recebendo medalha de honra ao mérito por se destacar individualmente na apresentação de capoeira. O Grupo de Capoeira Aruandê participou da festa em comemoração ao dia do trabalhador, primeiro de maio, promovida pela FETIEMA, tendo por objetivo, levar ao conhecimento da sociedade a importância de resgatar a capoeira do Maranhão, para engrandecer mais esse dia, teve a presença de capoeiristas veteranos, entre eles Baiano, Ruy e Euzamor. Ainda nesse mês, o grupo Aruandê marcou presença no Programa Nacional de Capoeira - PNC, onde as reuniões aconteceram no Centro de Cultura Popular, contando com a presença de vário capoeiristas de São Luís, o subsecretário de educação física da SEED, Professor Person Cândido Matias, explicou a importância do PNC em nosso estado. Na candidatura do deputado Luis Pedro, o grupo Aruandê foi convidado para marcar presença na câmara dos deputados, dando naquele local uma verdadeira exibição de capoeira, aproveitando a oportunidade, o Professor Pirrita, levou ao conhecimento de todos a falta de apoio a capoeira em nosso estado.


Em agosto de 1986 alguns participantes do grupo Aruandê, Cascavel e Raízes de Palmares, fizeram juntos várias apresentações de capoeira na ESPOABA em Bacabal-MA, com objetivo de difundir naquela comunidade a capoeira arte, cultura e esporte, praticada por todas as camadas sociais, tendo êxito no objetivo. O CCN-MA, realizou nesse mês a segunda noite do som afro e o grupo Aruandê foi convidado para fazer uma exibição, nessa oportunidade o grupo fez uma grande apresentação de maculelê. No dia 20 de novembro de 1986, o CCN-MA comemorou o Dia Nacional da Consciência Negra, tendo como objetivo o resgate da memória nacional do grande herói, Zumbi, que morreu na luta pela liberdade de seu povo e o grupo Aruandê, marcou presença em mais um importante evento relacionado a nossa cultura. No dia 30 de novembro do ano em curso, aconteceu em Brasília-DF, o Primeiro Festival Praia Verde SESC-DF de Capoeira, o Maranhão foi representado por uma delegação composta pelo professor Pirrita e o seu aluno Negão do grupo Aruandê, pelos professores Neguinho do grupo Argolonã, Evandro do grupo Raízes de Palmares, Vânio do grupo Cascavel, professor Jorge do Filhos de Aruanda e o professor Tita do grupo Unidos de Angola, mais uma vez o Maranhão esteve presente evento, procurando engrandecer cada vez mais a capoeira arte marcial brasileira. No dia 03 de março de 1987, o CCN-MA promoveu uma festa em comemoração ao primeiro aniversário do grupo Raízes de Palmares, tendo a participação de vários grupos de capoeira, que organizaram uma grande roda, mais uma vez o grupo Aruandê se fez presente em um grande evento. Com o objetivo de levar a capoeira aos colégios, não como jogo de competição, e sim como educação física, reunira-se no dia 13 de março de 1987, no ginásio do SESC, para criação desse projeto, o professor de educação física da UFMA, Denosthenes Montanane, o professor de educação física do SESC, Carlos Alberto, o professor do Grupo Aruandê, Pirrita e seus alunos Brasil e Ciane, o professor do grupo Cascavel, Vânio, o professor do grupo Raízes de Palmares, Evandro e o professor do grupo de Apoio a Capoeira, Betinho. Organizador da reunião o CCN-MA, no dia 24 de abril 1987, todos os grupos de capoeira de São Luís, foram convocados para uma reunião na sede do Bumba Meu Boi da Floresta, tendo como objetivo a melhor organização da capoeira e que os capoeiristas veteranos dessem oportunidades para os novatos participarem de rodas abertas, que sempre aconteciam em nossa cidade, Niltinho representante do CCN, explica aos demais que a capoeira não deve ser mostrada com violência, e sim com toda a sua beleza, entre os participantes veteranos destacaram-se Pirrita, Neguinho, Pelé, Ruy, Candinho e outros. No dia 01 de maio de 1987, aconteceu uma grande manifestação da comunidade do bairro Anjo da Guarda e comunidades adjacentes, na luta pela legalização dos terrenos da área Itaqui-Bacanga, fazendo-se presente nessa manifestação, líderes políticos e comunitários, nessa oportunidade muitos poderam acompanhar uma exibição de capoeira arte marcial brasileira do grupo Aruandê. no dia 30 de maio do decorrente ano, o CCN, promoveu NO GINÁSIO Costa Rodrigues, a primeira mostra de capoeira do Maranhão, tendo por objetivos, mostrar para a sociedade a importância dessa cultura que educa, mente, corpo e espírito, e conscientizar os órgãos competentes em relação a capoeira, houveram competições entre os grupos presentes, ficando o grupo Aruandê em segundo lugar no Estilo Regional e segundo lugar no Estilo Angola, e o professor Pirrita foi condecorado com duas medalhas de honra ao mérito. No dia 29 de agosto o grupo Aruandê, se juntou ao grupo Filhos de Aruanda, e promoveram o Terceiro Movimento Pró- Capoeira do Maranhão. Neste evento juntaram-se no ginásio do SESC, vários capoeiristas e simpatizantes da arte para prestigiarem as exibições dos grupos participantes, tendo o apoio da federação e do CCN-MA, sendo condecorado com medalha de honra Pirrita e outros professores. O grupo de capoeira Aruandê e o professor Pirrita parabeniza CCN-MA por estar sempre presente na luta pelo engrandecimento da capoeira do Maranhão, promovendo e apoiando todos os eventos de capoeira em nosso estado. Parabeniza todos os capoeiras que tem lutado lado a lado, pela melhor imagem da nossa capoeira, pois unidos mais nossa cultura genuinamente brasileira, a Capoeira. Parabeniza aqueles que já se foram, mas deixaram grande contribuição para a capoeira, queremos expressar os nossos mais elevados sentimentos, e dizer que enquanto existir a capoeira, suas memórias serão sempre lembradas.


Mais uma vez, no intuito de melhorar a organização da capoeira do Estado do Maranhão, reuniram-se os representantes dos grupos de capoeira, Pirrita, Jorge, Roberval Sena, Vânio, Evandro e Índio. Objetivo desta reunião, formar associações de capoeira, para a criação da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão, na ocasião foram registradas as Associações de Capoeira Aruandê, Filhos de Aruanda e Cativos já existentes. Houveram várias reuniões sempre presentes os representantes de associações e grupos, as quais foram registradas em atas. Houve eleição dos membros da federação, tendo Sena sido eleito presidente e Jorge vice, Pirrita secretário. Logo após a eleição Sena relatou que todas as associações teriam que seguir o sistema de graduação da federação, contradizendo o que o mesmo tinha falado antes da eleição, que as associações teriam apenas que se filiarem. Com a nova ideia, o mestre Pirrita deixou o cargo e se ausentou das reuniões, pois tinha se decepcionado e não concordava com as normas impostas pela federação. Na década de 90 Pirrita com o objetivo de melhorar seu conhecimento, começou uma jornada de várias viagens a outros estados, entre eles o Distrito Federal, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Ceará, Piauí e outros. Já com os conhecimentos mais apurados começou uma turnê pela por cidades do Maranhão, podendo citar Coelho Neto, São Vicente de Ferrer, colinas, Buriti Bravo e Presidente Dutra. Da década de 2000 a 2017, o mestre Pirrita formou vários mestres, contramestres, professores e instrutores, dando continuidade aos seus ensinamentos, podemos mencionar entre eles os Mestres Pinta (Bacabal), Negão, Pedro, e Nelson (São Luís) e Rico (Valparaiso – GO), os contramestres De Aço (São Luís) e Ruston (Bacabal), os professores Leonardo e Tucano (São Luís) e Barra (Bacabal) e o instrutor Borracha (São Luís). O mestre Pirrita continua firme com o seu objetivo, realizando eventos, cursos, palestras e oficinas, tanto no Maranhão, quanto em outros estados, levando ao pódio mais alto, esta arte genuinamente brasileira a “Capoeira”.


Mestre JORGE NAVALHA (1974)

JORGE LUIS LIMA DE SOUSA 1963

MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

JORGE NAVALHA Mista Capoeiragem Tradicional Maranhense JORGE LUIS LIMA DE SOUSA São Luis, 08 de abril de 1963 Filiação: Antonio Pereira de Sousa e Dulcelina Lima Sousa Escolaridade: 2º Grau incompleto 1995 – Curso de Árbitro, pela FMC 1994 – Mestre pela FMC Pato

MESTRE GRUPO/NÚCLEO Associação de Capoeira Filho de Aruanda






Mestre CURIÓ (1975)

JOÃO PALHANO JANSEN 1956

MESTRE

CURIÓ Capoeira mista. ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense JOÃO PALHANO JANSEN Comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, 15 de fevereiro de 1956 Filiação: Domingos Palhano Jansen e Antônia Palhano Jansen DADOS Não tendo formação escolar PESSOAIS 2000 – 25 de maio - Certificado de Contramestre dado pelo mestre Miguel pelo Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo 2003 – reconhecido Mestre, pela FECAEMA RAIMUNDÃO MESTRE GRUPO/NÚCLEO Associação de Capoeira Arte Fiel.


BIOGRAFIA DO MESTRE CURIÓ João Palhano Jansen, o Mestre Curió, casado com dona Joana Santos Reis Jansen, da qual teve quatro filhos, nasceu em 15 de fevereiro de 1956 na comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, no interior do Estado do Maranhão. Seus pais se chamavam Domingos Palhano Jansen e Antônia Palhano Jansen. Aos oito anos de idade foi para Santana, uma cidadezinha da região. Aos 10 anos de idade, sem saber, foi vendido para trabalhar em regime de escravidão numa fazendo do interior do Estado, mas sendo observador das coisas ao seu redor, percebeu que havia algo de errado e fugiu. Com 12 anos se mudou para a cidade de Coroatá. Aos 16 anos veio para São Luís, capital do Estado. Recebeu o apelido de “Curió” ainda criança, pois gostava muito de criar esse pássaro. Vivendo em um contexto de trabalho rural, não pôde estudar quando criança, mas na cidade aprendeu a profissão de pedreiro. Já adulto e com família para sustentar, cada vez que se matriculava em uma escola sempre surgia algum serviço fora da cidade em que precisasse viajar e com isso nunca conseguia conciliar estudo e trabalho, não concluindo as séries iniciais. Não tendo formação escolar, entretanto formou-se na escola da vida. Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionoua com a Punga dos Homens, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. No mesmo ano, em 1975, aos 19 anos de idade, já fazia alguns movimentos e golpes da capoeira, sem no entanto saber direito o que fazia. Passou a assistir as apresentações de capoeira na antiga Estrada de Ferro, na casa de um amigo conhecido como Beto do Cavaco. Começou a se motivar. Os dois ainda iniciantes, brincavam juntos tentando aprender alguma coisa. Por meio desse amigo entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”. Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar em casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Beto do Cavaco o levou para treinar com Raimundão. Treinou apenas dois meses, pois Raimundão precisou viajar para o Rio de Janeiro. Ali conheceu alguns capoeiras que também estavam aprendendo, Miguel, Tancrei, Boi, Caninana, Socó, dentre outros. Sem seu mestre, passou a treinar sozinho novamente, fazendo o que já sabia e esporadicamente pegando dicas com um e com outro, aprendendo a capoeira “no tempo”. Autodidata também não teve mestre de berimbau, aprendeu olhando e imitando. Quando ele conheceu a capoeira ainda morava na Jordoa, no João Paulo, e já com família, mulher e filhos, prosseguiu treinando. Em 1979 mudou-se para o bairro do Coroado, alguns meses depois para o bairro do Sacavém, e em 1980 já estava morando no bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. Na época em que Mestre Sapo ensinava nas escolas da cidade, Curió aprendia a arte da capoeira nos quintais e nas rodas de rua. Não conheceu pessoalmente o Sapo, só ouvia falar. Entretanto, conheceu personalidades da capoeira que não foram alunos de Sapo, mas de capoeiristas anteriores a ele. Boêmio, era frequentador das danceterias e dos clubes de reggae espalhados pela ilha, o Pop Som da Jordoa, o Espaço Aberto do São Francisco, na praia da Ponta da Areia, etc., entre o reggae e as rodas de rua, sua capoeira foi vivenciada num ambiente de periferia e de muita marginalização. Aproximadamente, dez anos depois, quando já se sentia suficientemente preparado para entrar na roda, jogou novamente com Curador e retribuiu a “lição”, caiu dentro dele atropelando seus martelos e meia-luas, jogando-o no chão. Caído, Curador exclamou: “Mestre! Mestre!”, ao que respondeu Curió: “Tu que é meu mestre!”. Desde então, o Mestre Curió sempre diz de forma irônica que seu mestre foi Curador, pois despertou nele o que precisava em sua aprendizagem.


No afã de sua própria aprendizagem começaram a se reunir a ele amigos e vizinhos no seu quintal para aprenderem um pouco do que ele já sabia, isso por volta dos anos 80 no bairro do Rio Anil. Numa época em que ainda era incerta a definição de “mestre” no universo capoeirando ludovicense, sua aprendizagem se confundia com o ensinamento propriamente dito, “amigo” e “discípulo” não eram categorias muito diferenciadas, o que de fato existia era uma relação de troca de conhecimentos e experiências em diversos espaços da cidade (ruas, praças e quintais). Entretanto, por meio de sua ética e humildade, conquistou o respeito e admiração das pessoas, de maneira que o título de “mestre”, dado a ele, foi obra da experiência do tempo. Foi aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, que o Mestre Curió desenvolveu no bairro uma trajetória de 40 anos de capoeira. Na década de 90 criou o Grupo de Capoeira Arte Negra. Em 25 de maio de 2000 o mestre Curió juntamente com o mestre Socó recebeu um certificado de contra-mestre dado pelo mestre Miguel pelo Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo. Mais tarde também foi reconhecido formalmente pela Federação Maranhense de Capoeira. Depois em 2004 o Mestre Curió viajou para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições financeiras. O grupo ficou sob a direção de Bal (na época ainda era Contra-mestre) e de Português (na época professor). Durante este tempo, longe de São Luís, se tornou evangélico, primeiramente frequentando a Igreja Assembleia de Deus, depois a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Nesse período se afastou completamente da capoeira, mas esta permaneceu no sangue. Ao som do berimbau seu corpo estremecia. Com o passar do tempo a saudade da arte superou o preconceito. Em 2014, de volta a São Luís, por incentivo dos amigos e discípulos, revitalizou o grupo de capoeira mudando o nome para Arte Fiel, em alusão ao seu ideal evangélico. Em 2015, em parceria com seu filho Roberto, fundou o Instituto Funcional Viva Rio Anil, uma entidade sem fins lucrativos que engloba várias atividades esportivas e culturais. Hoje, aos 61 anos de idade, o Mestre Curió ainda desenvolve um excelente trabalho de capoeira com crianças, adolescentes, jovens e adultos no bairro. Dono de uma natural sensibilidade ética, gosta de sintetizar sua filosofia de vida na frase: “Respeito não se compra, se conquista!”. Falando sobre a capoeira ele diz: “Eu não vejo capoeira como agressão […] o capoeirista não é para agredir as pessoas, o capoeirista é pra educar, apenas descobrir o talento de cada aluno, aperfeiçoar o aluno, por que o aluno já tem o talento, vai só aperfeiçoar o aluno. Cada dia ele vai passando e vai mostrando o que ele é capaz de fazer assim como o mestre passou pra ele. Então ele não é pra atacar ninguém [...] o mestre [...] quanto mais tu ensina mais tu aprende, quanto mais tu ensina, mais tu recebe, por que tu tá dando não é de graça? Daí de graça e recebei de graça, por que tu faz aquilo por amor [...] minha experiência é de mim mesmo. Eu não tive mestre, meu mestre me ensinou dois meses, entendeu? E os alunos que eu tinha em qualquer lugar que ele chega ele joga capoeira. Cada um tem sua capoeira. Vanio tem a capoeira dele, eu tenho a minha, Alberto a dele, mas cada um tem sua capoeira. O teu estilo é tu que faz. Tu tem um aluno, mas ele joga num estilo diferente de tu. Tu vai só [...] não é obrigado tu ser mestre dele e ele jogar do teu jeito. Não. Tu vai descobrindo ele, ele pode criar o jeito dele diferente. Não é obrigado tu jogar a capoeira do meu jeito. Mas eu que te dei o incentivo pra tu treinar. O mestre é isso aí. Só que eu dó um soco e tu dá três ao mesmo tempo [...] ‘Ah o mestre é o melhor’, não. Ele treina o aluno pra ficar melhor. Ele é criativo, o mestre é mais criativo. Ele tem coisa pra criar mais passando mais, mais, mais, entendeu? O mestre nunca tá perfeito, sempre tá aprendendo mais... Nós como mestre de capoeira, por que o Mestre Verdadeiro [Jesus Cristo] é perfeito. Ele veio como filho [...] tudo que ele fazia ele dizia, não sou eu quem faço, mas o pai faz em mim [...]” O mestre Curió não vê a capoeira somente como uma luta corporal, mas como uma luta espiritual. Segundo ele a luta do capoeirista é consigo mesmo, a capoeira é uma luta para a educação do próprio capoeirista. O mestre descobre o aluno e busca encontrar nele suas maiores qualidades. O mestre nunca está perfeito, os alunos ensinam o mestre, eles estimulam o mestre a buscar conhecimentos para passar pra eles. O mestre não deve atacar o aluno, o mestre é pra ser atacado e mostrar equilíbrio e paciência. O herói não é aquele que briga com dez, mas é aquele que diante dos agressores sabe se comportar de maneira que não ataque ninguém. O mestre aprende com os alunos e para os alunos. Quanto mais tu ensinas mais tu recebe. O mestre é criativo e tem sempre coisa pra passar e pra aprender. O mestre é um educador, deve trabalhar com as pessoas mais difíceis, deve conquistar as pessoas com paciência e carinho.


O QUE É CAPOEIRA: O mestre Curió não vê a capoeira somente como uma luta corporal, mas como uma luta espiritual. Segundo ele a luta do capoeirista é consigo mesmo, a capoeira é uma luta para a educação do próprio capoeirista. O mestre descobre o aluno e busca encontrar nele suas maiores qualidades. O mestre nunca está perfeito, os alunos ensinam o mestre, eles estimulam o mestre a buscar conhecimentos para passar pra eles. O mestre não deve atacar o aluno, o mestre é pra ser atacado e mostrar equilíbrio e paciência. O herói não é aquele que briga com dez, mas é aquele que diante dos agressores sabe se comportar de maneira que não ataque ninguém. O mestre aprende com os alunos e para os alunos. Quanto mais tu ensinas mais tu recebe. O mestre é criativo e tem sempre coisa pra passar e pra aprender. O mestre é um educador, deve trabalhar com as pessoas mais difíceis, deve conquistar as pessoas com paciência e carinho. Mas resumindo, ele vê a capoeira não apenas como uma luta corporal, mas principalmente uma luta espiritual, onde em sua prática ele elabora um sentido ético-moral e trata ela (a capoeira) como um instrumento educacional. Entretanto ele fala essas coisas com palavras muito simples, mas poderosas. Ele sempre repete: "Essa luta é com nós mesmos."


Mestre BAÉ (1976)

FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA

1960 (1966?) MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

BAÉ CAPOEIRA MISTA/REGIONAL Capoeiragem Tradicional Maranhense FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA Penalva – MA, 01 de novembro de 1960 (identidade de 1966) Rua de Santa Rosa n.82 Bairro Forquilha Filho de Florizaldo dos Reis Costa e Inez das Graças Mendonça Formação escolar: Ensino Médio formado a Mestre em 15 de Janeiro de 2008 pelo Mestre Edybaiano PATURI (ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO) EDY BAIANO (EDMUNDO DA CONCEIÇÃO) BAMBA (Salvador) (RUBENS COSTA SILVA)

MESTRE(s)

GRUPO/NÚCLEO

Associação de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira (17 DE Fevereiro de 1999)


HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Em 1974 conheci O SR. ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO (MESTRE PATURI) na Avenida Kennedi em frente da Paulo Frontim pois foi o primeiro local onde fui morar e logo depois me mudei para o bairro de Fátima; morava ao lado do bar da ZILOCA, que era um local muito freqüentado pelos amigos capoeiristas do Mestre Paturi, mas foi só em 1976 através de ALÔ que comecei a freqüentar os treinos do Mestre Paturi, na época não tinha academia para a gente treinar pois a gente treinava era nos locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. No começo de 80 ainda treinei um período com o Mestre Jacaré e Depois por motivo de local de trabalho e estudo, ainda passei um período com o Mestre Pato, na época meus parceiros de treinos com Pato eram; Marcos Aurélio, Fred, Telmo, Riba e Iram. Ainda na década de 80, comecinho de 88, passei a treinar com EDMUNDO DA CONCEIÇÃO (MESTRE EDYBAIANO) ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA REGIONAL DO MESTRE EDY BAIANO E SEUS ALUNOS, onde me encontro até os dias de hoje. Mas a partir de 1993, o Mestre Edy Baiano me passou para também treinar em Salvador na ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA MESTRE BIMBA Com o SR, RUBENS COSTA SILVA (MESTRE BAMBA), Onde todo ano tenho que visitar e participar das suas atividades. Fui formado a Mestre em 15 de Janeiro de 2008 pelo Mestre Edybaiano. Mas eu já havia criado o GRUPO CANDIEIRO DESDE 17 DE Fevereiro de 1999. Trabalho este que hoje vem Supervisionando outros Grupos criados por alunos meus em outras Cidades com a minha Autorização dando liberdade para que cada um possa colocar em pratica seus desejos de como trabalhar a CAPOEIRA. CAPOEIRÁ É: Acima de qualquer conceito para mim a Capoeira é uma filosofia de vida.


Mestre GAVIÃO (1977)

HELIO DE SÁ ALMEIDA 1967

MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

GAVIÃO capoeira angola e regional Capoeiragem Tradicional Maranhense HELIO DE SÁ ALMEIDA São Luis, 05 de novembro de 1967 Filho de Alcino Almeida e Francisca das Chagas Almeida 1992 - Formado Professor (Mestre Madeira) e Mestre reconhecido pela comunidade capoeirista e formalizado com o mestre Pirrita através de um certificado. Madeira Pirrita

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Grupo Tombo da Ladeira (Desterro, fundado em 1992)


BIOGRAFIA Eu, Helio de Sa Almeida, filho de Alcino Almeida e Francisca das Chagas Almeida, nascido no dia 05 de novembro de 1967, em São Luís –MA, no bairro do Desterro, onde tive meu primeiro contato com a capoeira em 1977. Numa época, quando tudo se focava no Centro Histórico: comércio, malandragem, etc. entre o Desterro e a Praia Grande, veio para o bairro um trabalho social liderado por Tácito Borralho que oferecia: teatro, música e capoeira. Tentavam contar a história da igreja do Desterro aos turistas que vinham visitar a área. Nessa feita conheci Raimundinho, o responsável pelas aulas de capoeira através do projeto. Ele era conhecido na capoeira como: “Raio”. Foi ele quem me deu os primeiros passos na capoeira, considerando que eu já gostava de arte marcial, mesmo antes começar a capoeira. As aulas eram realizadas na Igreja do Desterro e como criança se desenvolve rápido, começamos a fazer as rodas de capoeira, onde recebíamos diversos visitantes, dentre eles o Mestre Sapo, Pato, Louro, Baiano, Sócrates (irmão de Didi), Curador e outros capoeiristas da época. Meu primeiro parceiro na capoeira foi Bigu. Passamos 3 anos treinando juntos no projeto, quando nosso professor Raimundinho teve que ir embora para São Paulo e o projeto social acabou. Nós continuamos treinando, sem professor e ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara, sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. Nesse dia voltamos pra casa muito tristes. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Meu pai não via com bons olhos a capoeira. Para ele era coisa de marginal, mas minha vó-mãe liberou pra que eu pudesse treinar. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois mudamos para Rua da Alegria e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram 3 anos de treinos e depois a academia acabou. Fiquei treinando sozinho numa fábrica; por volta dos meus 17 anos fui treinar Karatê na academia Real. Quando cheguei lá, eram aulas de capoeira com Mestre Madeira. Cheguei numa quinta-feira e passei pelo primeiro teste: uma “bênção” e um” galopante” no ouvido. No outro dia ele falou que era apenas um teste pra saber se queríamos mesmo treinar capoeira. E isso eu pagando a mensalidade que na época custava R$ 5 cruzeiros! Começou a me levar para as rodas. Fomos a roda da 13 de Maio, na casa de Jorge Babalao, e nas rodas da Deodoro, foi onde eu conheci meu segundo parceiro na capoeira: Fabio Arara. Pagamos um preço alto para treinarmos capoeira, até fome passamos. O mestre era muito rigoroso na sua aula. Treinamos durante 15 anos juntos, quando comecei a dar aulas no bairro do Desterro, na sede da Flor do Samba, em 1992. Infelizmente tive que romper com meu mestre devido a sua ignorância. Ele nos visitou na sede com alunos mais velhos e começou a machucar meus alunos que eram praticamente crianças. Eu nunca havia enfrentado meu mestre, sempre lhe fui muito obediente, mas precisei tomar uma postura frente a essa situação grotesca. Eu, sozinho, chamei para mim a responsabilidade, e joguei com todos. Foi um dia difícil, mas não poderia deixar meus alunos apanharem violentamente. A partir daí criei meu próprio grupo o Tombo da Ladeira, que já tem seus 26 anos de existência e resistência na capoeira. Já viajei por muitos estados brasileiros a procura de capoeira, e sempre busquei manter minhas raízes e só absorvendo o que achava interessante para enriquecer minha capoeira.


Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, me viu jogando e me perguntou: “Oh Mestre essa sua capoeira é africana” Hoje já tenho meus 40 anos de capoeira, onde já tenho uma certa vivência e posso afirmar que, se não fosse a capoeira, provavelmente não estaria vivo agora. Para mim capoeira é: arte, esporte, lazer, luta e cultura. A capoeira maranhense é mista: joga em cima e joga em baixo.


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.


É ESSA A EDUCAÇÃO FÍSICA/ESPORTIVA QUE TEMOS? “... necessário que a Educação Física seja compulsória na Escola, devendo ser diária até os 11 ou 12 anos de idade e pelo menos três horas por semana para as crianças e adolescentes acima desta idade; a Educação Física como parte integrante do currículo escolar, estabeleceu como parâmetros de qualidade: (a) manter ou incluir a Educação Física como matéria curricular no período de educação obrigatória; (b) reconhecer que a formação em Educação Física está no nível de estudos superiores; (c) garantir o suficiente peso curricular para a Educação Física Escolar; (d) a Educação Física devera ter pelo menos uma hora diária na educação primária; (e) garantir três horas semanais de Educação Física para o ensino secundário; (f) que os professores sejam altamente qualificados, como é o caso das outras disciplinas; (g) deve-se promover estudos acadêmicos sobre Educação Física, de acordo com a crescente importância da disciplina; (h) desenvolver um intercâmbio de informações sobre Educação Física na Europa, como meio de estabelecer critérios comuns que possam contribuir para a geração de idéias que possam ser assumidas pelos governos, autoridades e organizações européias...” Declaração de Madrid (EUPEA, 1991).

INTRODUÇÃO Nos últimos anos, abriu-se, novamente, uma discussão sobre o papel da Educação Física no Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão – CEFET-MA -. Tal qual ocorrido em 1984, quando Sr. Chefe do Departamento de Ensino questionou a pertinência da disciplina no currículo do ensino profissionalizante e qual o conteúdo a ser ministrado; novamente, essa questão é levantada... Quando da Nova LDB, e seus desdobramentos posteriores, com a edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s); e a divisão dos Sistemas de Ensino, recriando-se o sistema profissionalizante à parte da educação básica, decidiu-se (sem que os Professores de Educação Física fossem ouvidos) por algumas modificações na oferta da Disciplina “Educação Física” na grade curricular do CEFET-MA. Essas modificações: diminuição das cargas horárias, pois havia três grades curriculares em vigência naquele momento; e ofertas atendendo necessidades puramente administrativas, de ajuste do currículo ao número de aulas e disciplinas ofertadas. Daí, não ser oferecida aos alunos dos cursos profissionalizantes – alegando-se que, agora, estes são pós-médio e que o aluno já cumpriu a carga horária. Mas qual é a carga horária? Da mesma forma, para os ajustes de currículo e carga horária total do Ensino Médio, diminuiu-se a jornada de duas para três aulas semanais, e de 90 (noventa) para 70 (horas) anuais. Com base em quê? Foram realizados estudos, ou consultas, sobre a pertinência dessas decisões? Alega a CAP – Coordenação de Apoio Pedagógico – que sim, mas nenhum dos Professores de Educação Física participou de qualquer das reuniões alegadas que aconteceram, para discussões... Naturalmente que os Especialistas em Educação – CAP – não se deram ao trabalho de verificar que a Educação Física, na Nova LDB, mudou de “status” de “matéria” para “disciplina” e se constitui componente curricular obrigatório da educação básica, reiterada, já, por duas vezes, através de legislação pertinente e complementar à Nova LDB – ambas as mudanças ocorridas em Dezembro de 2002 e 2003. Assim como se desconfia que não tenha conhecimento dos diversos documentos internacionais que tratam da Educação Física, dos Esportes e do Lazer na escola, da saúde de crianças e jovens... Acompanhando a LDB/1996, os Professores e Profissionais de Educação Física do CEFET-MA – sim, aqueles profissionais da educação que fizeram licenciatura em educação física, e alguns poucos remanescentes do quadro, sem a necessária qualificação exigida pela atual legislação, e que atuam como profissionais embora não regularizados perante o Conselho Federal... - apresentaram sua “Proposta


Curricular para a Educação Física do CEFET-MA”, documento encaminhado à Diretoria de Ensino e à CAP ainda em 1998 e, durante a Semana de Planejamento de 2001, verificou-se que as doutas supervisoras pedagógicas ainda não a haviam lido. Como era desconhecida, a proposta apresentada, pela Coordenação de Apoio Pedagógico... Daí terem tomado - quem sabe? – a decisão de modificar a carga horária da disciplina, contrariando todas as recomendações que tratam da educação física e dos esportes na escola, quer como atividade física, de saúde e/ou de ocupação do tempo livre... Mais: questionam se a Educação Física tem um conteúdo a ser ministrado... Certamente desconhecendo também o disposto nos PCN’s referente a esta disciplina, assim como os Planejamentos realizados nos últimos quatro anos... MAS, O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA, AFINAL? A Fédération Internationale d’Education Physique – FIEP -, fundada em 1923, é o mais antigo organismo internacional que trata da Educação Física, e tem sido o palco principal do debate sobre a Educação Física no mundo, desde sua fundação. A própria evolução da discussão internacional sobre Educação Física fez com que a FIEP muitas vezes mudasse seus caminhos. A importância da FIEP no cenário internacional estimulou-a a elaborar no final da década de 1960 o Manifesto Mundial da Educação Física (1970). Aquele Manifesto praticamente conceituou a Educação Física e norteou seus caminhos mundialmente, após a tradução em todos os idiomas existentes. Em 2000, novo Manifesto é divulgado... A Educação Física foi definida como “O elemento de Educação que utiliza, sistematicamente, as atividades físicas e a influência dos agentes naturais: ar, sol, água etc. como meios específicos”, onde: a atividade física é considerada um meio educativo privilegiado, porque abrange o ser na sua totalidade; o exercício físico foi identificado com o meio específico da Educação Física, cujos objetivos principais foram: (a) corpo são e equilibrado; (b) aptidão para a ação; (c) valores morais (1970/FIEP Manifesto da Educação Física). Inúmeros outros documentos, cartas, declarações dos diversos organismos internacionais que tratam da Educação Física, além das conclusões e recomendações de todos os congressos realizados anteciparam-se ou seguiram-se àquele documento pioneiro. Em 1978, a UNESCO divulga sua Carta Internacional da Educação Física e do Esporte, em que no seu artigo 1º estabelece que “A prática da Educação Física e do Esporte é um direito fundamental de todos”, e que o exercício deste direito: (a) é indispensável à expansão das personalidades das pessoas; (b) propicia meios para desenvolver nos praticantes aptidões físicas e esportivas nos sistemas educativos e na vida social; (c) possibilita adequações às tradições esportivas dos países, aprimoramento das condições físicas das pessoas e ainda pode levá-las a alcançar níveis de performances correspondentes aos talentos pessoais; (d) deve ser oferecido, através de condições particulares adaptadas às necessidades específicas, aos jovens, até mesmo às crianças de idade pré-escolar, às pessoas idosas e aos deficientes, permitindo o desenvolvimento integral de suas personalidades; já em seu art. 2º, reconhece que “a Educação Física e o Esporte constituem elementos essenciais da Educação Permanente no sistema global de Educação e, que como dimensões fundamentais da Educação e da Cultura, desenvolvem as aptidões, a vontade e o auto-domínio de qualquer ser humano, favorecendo a sua integração na sociedade, contribuindo para a preservação e melhoria da saúde e uma saudável ocupação do tempo livre, reforçando as resistências aos inconvenientes da vida moderna, enriquecendo no nível comunitário as relações sociais através de práticas físicas e esportivas. Estabeleceu, ainda, o direito de todos às práticas esportivas e às atividades físicas. E com esta premissa, permitiu a compreensão do Esporte através de perspectivas educacionais (Esporte-Educação), do lazer e participação (Esporte-Lazer) e da performance (Esporte de Rendimento) e que nesta abrangência social, o


Esporte-Lazer ou de participação é aquele das pessoas adultas e comuns que democraticamente, e sempre com prazer, conseguem um acesso fácil a essas práticas; e que “A Educação Física e os programas de Esporte devem adaptar-se às necessidades individuais e sociais (art. 3º); ainda, que "instalações e equipamentos adequados são elementos imprescindíveis para a Educação Física e Esporte" (artigo 5º); No artigo 7º, estabelece que “na Educação Física e no Esporte não se pode perder de vista a defesa dos valores morais e culturais”. Dez anos depois, quando da realização da II Conferência Internacional dos Ministros e Altos Funcionários Responsáveis pela Educação Física e o Esporte foi ressaltado o reforço ao papel da Educação Física Escolar e do Esporte Educacional e universitário nos quadros dos sistemas educativos, integrando-os nos processos de educação permanente, e ainda as suas valorizações, pela disponibilização dos equipamentos e de materiais adaptados, devido o caráter interdisciplinar que os seus conteúdos devem apresentar. Em sua Declaração final, pela Recomendação nº 7, reconhece a importância da Ciência do Esporte e o apoio à mesma, estimulando os governantes para que prestem maior apoio à investigação científica na esfera da Educação Física e do Esporte e ainda alerta que as instituições especializadas em Educação Física e Esporte devem intensificar os esforços para garantir a aplicação dos resultados das pesquisas (1988/MOSCOU MINEPS II) Em 1991, a Associação Européia de Educação Física defendeu que não há Educação sem Educação Física, e estabeleceu a necessidade de que a Educação Física seja compulsória na Escola, devendo ser diária até os 11 ou 12 anos de idade e pelo menos três horas por semana para as crianças e adolescentes acima desta idade. Estabeleceu como parâmetro de qualidade para a Educação Física como parte integrante do currículo escolar: (a) manter ou incluir a Educação Física como matéria curricular no período de educação obrigatória; (b) reconhecer que a formação em Educação Física está no nível de estudos superiores; (c) garantir o suficiente peso curricular para a Educação Física Escolar; (d) a Educação Física devera ter pelo menos uma hora diária na educação primária; (e) garantir três horas semanais de Educação Física para o ensino secundário; (f) que os professores sejam altamente qualificados, como é o caso das outras disciplinas; (g) deve-se promover estudos acadêmicos sobre Educação Física, de acordo com a crescente importância da disciplina; (h) desenvolver um intercâmbio de informações sobre Educação Física na Europa, como meio de estabelecer critérios comuns que possam contribuir para a geração de idéias que possam ser assumidas pelos governos, autoridades e organizações européias; (Declaração de Madrid,1991- EUPEA). (Grifos meus) Essa mesma associação, durante o Congresso Mundial de Yokohama (1993/ICHPERD), assegura que: (a) A Educação Física significa uma contribuição singular para a educação dos estudantes; (b) A Educação Física é um processo de aprendizagem e consiste essencialmente no meio de usar a atividade física para contribuir na experiência profissional das pessoas; (c) A Educação Física, como parte do processo educativo, desenvolve possibilidades de movimento e educa para o entendimento por quê ela é relevante e como e onde deve ser utilizada devendo ser considerada como experiência única por tratar de um dos mais preciosos recursos humanos, que é o corpo. Novamente, em 1997, a EUPEA se manifestou - na Reunião de seu Comitê Diretor realizada em Ghent -, na busca de uma identidade da Educação Física na Europa, reconheceu:


(a) A Educação Física é a única possibilidade de contribuição para todos os alunos, não existindo Educação na Escola sem Educação Física; (b) A Educação Física objetiva o desenvolvimento de uma aprendizagem e saúde, e é essencialmente um meio de ensino da atividade física como uma parte da experiência educacional dos alunos; (c) Cada país tem sua própria identidade cultural, onde em geral, cada aluno, independente da habilidade, sexo, etnia ou base cultural, tem o direito de experimentar um programa de Educação Física que promova: -

uma sólida base de competência física e conhecimento das atividades físicas;

-

crescimento e desenvolvimento; um entendimento da importância de um estilo de vida saudável;

-

uma auto-estima positiva no contexto da Educação Física;

-

habilidades que possam ajudar a resolver problemas e cooperações com outros nos contextos do esporte e da atividade física;

-

um interesse ao longo da vida para um engajamento e afinidade para atividades físicas.

Durante o Fórum Mundial sobre Atividade Física e Esporte (1995) foi divulgado o Documento “Uma Visão Global para a Educação Física na Escola”, preparado conjuntamente pelo Fórum do Comitê Regional Norte- Americano (NARFC), Associação Canadense para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança (CAHPERD) em que se mostrou que a Educação Física tem um papel vital em prover uma qualidade e educação equilibrada para todos os estudantes do mundo, independentemente dos aspectos, gênero, cultura, raça, habilidade etc., registrando-se, ainda, que uma Educação Física de Qualidade tem um impacto positivo no pensamento, conhecimento e ação, nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor na vida de crianças e jovens e que as crianças e jovens fisicamente educados vão para uma vida ativa, saudável e produtiva; mostrou, ainda, que os professores responsáveis pelo ensino da Educação Física precisam ser profissionalmente preparados como educadores físicos com sólidos conhecimentos para que possam contribuir para a educação integral, principalmente das crianças e jovens, e que as direções das escolas tem a responsabilidade de promover um apoio aos programas e para o desempenho dos professores de Educação Física com instalações, recursos e equipamentos adequados ((NARFC/CAHPERD/AAHPERD). Em julho de 2002, em Portaria conjunta dos Ministérios da Educação e dos Esportes brasileiros, é defino que parte do tempo letivo da Educação Física Escolar deverá ser dedicada à prática de um esporte. Essa decisão tem por base diversos documentos internacionais, que tratam do esporte na escola, a saber, 10°. Congresso Internacional do Panathlon - Carta dos Direitos da Criança no Esporte, baseada nas Ciências do Esporte, principalmente na Medicina do Esporte, Psicologia do Esporte e na Pedagogia do Esporte, e na qual foram estabelecidos para as crianças: -

O direito de praticar esporte;

-

O direito de divertir e jogar;

-

O direito de usufruir de um ambiente saudável;

-

O direito de ser tratada com dignidade;

-

O direito de ser rodeada e treinada por pessoas competentes;

-

O direito de seguir treinamentos apropriados aos ritmos individuais;

-

O direito de competir com jovens que possuem as mesmas possibilidades de Sucesso;

-

O direito de participar de competições apropriadas;

-

O direito de praticar esporte com absoluta segurança;

-

O direito de não ser campeão (1995/Avignone)


Da mesma forma, a Educação Física tem sido associada com a promoção da Saúde, como ocorreu durante a 8ª Conferência de Ministros Europeus Responsáveis pelo Esporte, em sua Declaração sobre a Significância do Esporte para a Sociedade: Saúde, Socialização, Economia, reconheceu a Saúde como um dos princípios citados. O que é reiterado pela III Conferência Internacional sobre Nutrição e Aptidão Física - Declaração de Olímpia sobre Nutrição e Aptidão Física (1996), quando é confirmado, no art. 2o. que “todas as crianças e adultos necessitam de alimentos e atividades físicas para expressar seus potenciais genéticos de crescimento, desenvolvimento e saúde”. Já no I Congresso Mundial de Educação Olímpica e para o Esporte chegou-se à conclusão que numa Educação para o Esporte e Educação Olímpica deve ser prioritária, devido a mensagem de Olimpismo, o espirito esportivo, o respeito aos direitos humanos, a solidariedade e a tolerância como valores universais (1997/Kalavitra), o que é confirmado pelo 11°. Congresso Internacional do Panathlon - Declaração de Viena – em que o Esporte foi reconhecido não apenas como fator importante para a saúde psico-física da juventude, mas também como um modo de integração social e ainda se constitui meio de prevenção contra certas influências nocivas da vida moderna, como sedentarismo, o abuso de drogas, o alcoolismo e a violência (1997/Viena). A Organização Mundial de Saúde, em seu programa Vida Ativa, em reunião realizada em 1998, reconheceu a importância da atividade física para a saúde das pessoas, estabelecendo como prioridade que o mesmo atinja principalmente crianças e jovens; que estudos científicos mostram que uma atividade física regular é essencial para um melhor cuidado na maturação de crianças e adolescentes. Já a Associação Internacional das Escolas de Educação Física, através de seu documento “A Indispensabilidade da Educação Física”, esclareceu que as pesquisas mostram que a atividade física pode: (a) ser um meio de prevenção contra doenças físicas (cardiovasculares, diabetes, câncer no cólon, obesidade e osteoporose) e mentais (depressões e estresses); (b) exercer um papel de enriquecimento da vida social e de desenvolvimento das habilidades de interação social; (1999/AIESEP). O mesmo é reforçado pelo “Manifesto de São Paulo para a Promoção da Atividade Física nas Américas”, endossado pelo Conselho Internacional de Ciência do Esporte e Educação Física (ICSSPE) e pela Organização Mundial de Saúde (WHO), e Centro de Estudos do Laboratório da Aptidão Física de São Caetano (CELAFISCS/ Brasil) partindo dos pressupostos que: (a) o comportamento sedentário na vida moderna, em escala global, exige uma re-significação nas relações da pessoa consigo mesma, com o outro e o meio ambiente, prejudicando a saúde das pessoas e podendo interferir negativamente no desenvolvimento de suas relações sócio- culturais e ecológicas; (b) a atividade física é definida como qualquer movimento corporal decorrente de contração muscular, como dispêndio energético acima do repouso e constitui-se como um comportamento humano complexo, voluntário e autônomo, com componentes e determinantes de ordem biológica e psico-sóciocultural e que pode ser exemplificada pelas práticas do esporte, exercícios físicos, danças e determinadas experiências de lazer e atividades utilitárias; (c) em termos epidemiológicos, as evidências científicas confirmam o papel decisivo da prática da atividade física regular na prevenção e controle de diversas doenças e na promoção da saúde e qualidade de vida em todos os grupos; recomenda aumentar as oportunidades para a iniciação e manutenção de comportamentos ativos, ao longo do ciclo vital, na perspectiva de auto- realização e modo de vida saudável e alegre, tendo como referência básica de intervenção, a prática de atividades físicas moderadas, preferencialmente todos os dias da semana, em uma única sessão diária de 30 minutos ou acumulando duas ou três sessões de 10-15 minutos. (1999/ICSSPE/WHO/CELAFISCS). Além dessas vinculações da educação física com o esporte, a saúde, há também um forte apelo com o uso do tempo livre, através de atividades de lazer e/ou de recreação, como se depreende das recomendações da III Reunião de Educação Física e Esporte dos Países de Língua Portuguesa - Carta do Esporte dos Países


de Língua Portuguesa (1993), em que houve o entendimento do Esporte como todas as formas de atividade física, jogos, esportes, e competição nos diferentes níveis, atividades ao ar livre, expressão corporal, jogos tradicionais e atividades de manutenção e melhoria da condição física, reconheceu que: -

o esporte melhora a qualidade de vida, ao desenvolver as qualidades físicas, intelectuais e morais, e que por esta razão a sua prática deve ser acessível às populações, assegurando a possibilidade de melhorar o potencial de desenvolvimento das pessoas;

-

que o Esporte-Lazer ou do Tempo Livre é entendido como o Esporte voluntário praticado por prazer, onde as modalidades esportivas escolhidas têm a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na vida social e na promoção da saúde, além de provocar um entretenimento saudável;

-

que o movimento “Esporte para Todos”, reconhecido como um meio de Democratização das práticas esportivas, pela sua natureza e processo histórico, compreende todas as formas de práticas esportivas, tornando-se muito importante para todas as sociedades e também um meio para o desenvolvimento cultural;

-

que o “Esporte para Todos” praticado voluntariamente na perspectiva do lazer, é um meio de iniciação esportiva, de promoção da saúde física e mental, de uso saudável do tempo livre, de fortalecimento da família, de desenvolvimento das relações comunitárias, de integração nacional e internacional, de revalorização das pessoas e melhoria da qualidade de vida;

-

que o associacionismo e o Fair Play integrados às práticas esportivas em geral, são fatores ponderáveis de melhoria das relações humanas, e que também são objetos da Educação Física.

Assim como fica estabelecido - em Seminário Internacional sobre Educação do Lazer, realizado em Jerusalém no ano de 1993, através da Carta Internacional para a Educação de Lazer – no seu item dois que o lazer “é uma área específica de experiência humana com seus próprios benefícios, incluindo liberdade de escolher, criatividade, satisfação, alegria e incrementar prazer e felicidade, envolvendo formas de expressão ou atividade” e que a Educação Física para o Lazer encontra no jogo e na dança os seus principais conteúdos e que toda Educação Física para o Lazer levará seus praticantes também à promoção da saúde; ainda, que a prática do Esporte- Lazer é uma manifestação resultante de uma Educação Física relacionada à iniciação esportiva e que uma Educação Física para o Lazer deve desenvolver nas pessoas hábitos de práticas voluntárias de atividades físicas no tempo livre conquistado além de que o Lazer se relaciona invariavelmente a situações de prazer para as pessoas (1994/WLRA). E mais, no 5º Congresso Mundial de Recreação e Lazer - Declaração de São Paulo - ficou estabelecido que o lazer (inclusive o jogo) é o tempo que temos autonomia e limites para buscarmos experiências significativas sem ferir as normas e valores da sociedade, que valorizem o desenvolvimento social e individual (1998/WLRA/SESC/São Paulo/ALATIR). Da mesma forma o XV Congresso Panamericano de Educação Física, nas suas conclusões, sugeriu que sejam resgatados e preservados os valores culturais e as tradições dos povos, através da Educação Física e Recreação; Que nas suas conclusões, defendeu a necessidade de implementação de programas de Educação Física, Esporte e Recreação em instituições que recuperam pessoas com dependência de drogas e fármacos em geral (1995/LIMA). Mas para que todas essa resoluções e recomendações sejam colocadas em prática, há a necessidade de um profissional competente, com formação superior, como enfatizado nos documentos preparatórios para a III Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários Responsáveis pela Educação Física e o Esporte em que -

é importante que os professores de Educação Física tenham estatuto comparável ao professor e profissionais de outras áreas, para que suas missões sejam revalorizadas;

-

que há um consenso internacional que o progresso de qualquer área de atuação na sociedade dependerá sempre do nível dos profissionais que nela atuam;

-

que no caso específico da Educação Física, passando por uma revisão conceitual, a reformulação da formação, preparação e a atualização dos profissionais de Educação Física torna-se imprescindível.


No documento final dessa Conferência - Declaração de Punta del Este – em seu artigo 2º. reitera a importância da Educação Física e do Esporte no processo de Educação Permanente e desenvolvimento humano e social, contribuindo ainda para a coesão social, a tolerância mútua e para a integração de memórias étnicas e culturais, numa época em que as migrações chegam a todos os continentes; e no artigo 4º evidencia uma profunda preocupação com a redução dos programas de Educação Física, o que pode estar contribuindo para o aumento da delinqüência juvenil e da violência, assim como um incremento nos gastos médicos e sociais, mostrando que para cada dólar investido em atividades físicas corresponde a uma diminuição de 3,8 dólares em despesas médica. Reforça a importância da Educação Física e do Esporte como direito das crianças e jovens do mundo e suas funções levando as pessoas a se manterem ativas e com sua saúde ao longo de sua vida e ainda reconhecendo-os como meios essenciais para a melhoria da qualidade de vida, a saúde e o bem estar de todas as pessoas, independentemente de fatores como capacidades ou incapacidades, sexo, idade, origem cultural, racional ou etnia, religião ou posição social; defendendo, ainda - artigo 8º -, o apoio a uma política de conservação e valorização dos esportes e jogos tradicionais que formam o patrimônio cultural das regiões e dos países (1999/PUNTA DEL ESTE/MINEPS III). O que é reiterado pelo Conselho Internacional de Ciência do Esporte e Educação Física - World Summit on Physical Education - ao reforçar a importância da Educação Física como um processo ao longo da vida e particularmente para todas as crianças, reiterando que uma Educação Física de qualidade: (a)

é o mais efetivo meio de prover nas crianças, seja qualquer capacidade/incapacidade, sexo, idade, cultura, raça, etnia, religião ou nível social, com habilidades, atitudes, valores e conhecimentos, o entendimento para uma participação em atividades físicas e esportivas ao longo da vida;

(b)

que ajuda as crianças chegarem a uma integração segura e adequado desenvolvimento da mente, corpo e espírito;

(c)

que é a única alternativa escolar cujo foco principal é sobre o corpo, atividade física, desenvolvimento físico e saúde;

(d)

que ajuda as crianças a desenvolver padrões de interesse em atividade física, os quais são essenciais para o desenvolvimento desejável e constróem os fundamentos para um estilo de vida saudável na idade adulta;

(e)

que ajuda as crianças a desenvolver respeito pelo seu corpo e dos outros;

(f)

que desenvolve na criança o entendimento do papel da atividade física promovendo saúde;

(g)

que contribui para a confiança e auto-estima das crianças;

(h)

que realça o desenvolvimento social, preparando as crianças para enfrentar competições, vencendo e perdendo, cooperando e colaborando.

Ainda, levantou na literatura que: (a) uma vida ativa na infância afeta diretamente e de modo positivo a saúde na idade adulta; (b) devido as circunstâncias da vida moderna (televisão, computador, automóvel, elevadores etc.), a atividade física se reduziu em crianças e adultos; (c) vários estudos confirmam que a manutenção da forma física através de uma prática moderada de atividades físicas aumenta a longevidade, reduzindo o risco de hipertensão coronária, enfermidades do coração, câncer de cólon e depressão psíquicas; (d) a redução da atividade física pode aumentar o aparecimento de enfermidades crônicas, seja indiretamente pelo aumento de peso ou diretamente como fator de risco independente; (e) o fortalecimento dos músculos, dos ossos e da flexibilidade das articulações são muito importantes para a coordenação motriz, o equilíbrio e as mobilidades necessárias para as tarefas do cotidiano, que


diminuem com o aumento da idade, em parte pela diminuição gradual da atividade física (Fórum Mundial de Quebec /1995); (f) a atividade física ao desempenhar o papel relevante na prevenção de enfermidades físicas (enfermidades nos vasos coronários, diabetes, câncer de cólon, obesidade e osteoporose) e enfermidades mentais (depressões e stress), pode enriquecer consideravelmente a vida social e o desenvolvimento de capacidades sociais, além de favorecer a auto-estima das pessoas (Fórum de Quebec/ 1995); ao reforçar a importância da Educação Física, reconheceu que a área de atuação do profissional de Educação Física em escola, atividade física, recreação, e lazer, é uma área de crescimento no mercado de trabalho (1999/ICSSPE/Berlim). Foi observada que a Educação Física deveria estar reconhecida como base fundamental para o desenvolvimento de atividades esportivas ao longo da vida, e que na escola deveria ser considerada como o fator mais importante para o fomento do Esporte, pois as crianças estão mais predispostas a participar de atividades esportivas extra-escolares depois de sair das classes (Conselho Superior do Esporte na África, 1999). Já no XVIII Congresso Panamericano de Educação Física (1999/Panamá) -, nas suas resoluções e considerações, defendeu-se a criação de bases de dados que facilitem o trabalho e investigação de profissionais de área de Educação Física, e que os países das Américas devem estabelecer seus modelos conceituais resultantes das pesquisas e das avaliações, pois as mudanças aceleradas por que passa a Humanidade estão exigindo de todos uma busca constante do conhecimento que se renova em todas as áreas de ação humana e que todas as áreas de atuação e conhecimento, inclusive a Educação Física, necessitam de estudos científicos que permitam avanços e aperfeiçoamentos a cada momento dos seus processos históricos, uma vez que a aceleração tecnológica no aperfeiçoamento dos meios de comunicação já permite a democratização do acesso de todos às informações técnicas e científicas, com velocidade e pontualidade e que os organismos internacionais ligados à Educação Física como a FIEP, ICSSPE, AIESEP, ICHPERD, HISPA, IAPESGW, ISCPES e outros têm promovido sistematicamente importantes eventos científicos, os quais têm contribuído para a evolução do conhecimento na área de Educação Física já que a Educação Física, pelas suas conexões com outras áreas, pode ser entendida como um campo de saber interdisciplinar, o que de fato aumenta muito suas possibilidades de ser influenciada pelo avanço do conhecimento em outras áreas. Após essas digressões, podemos responder: NÃO, não é essa a educação física/esportes que temos... Mas não por culpa dos professores que atuam no CEFET-MA, pois algumas outras questões terão que ser respondidas pela CAP: -

como fica “... o direito de todos às práticas esportivas e às atividades físicas...” os alunos dos cursos técnicos, a quem esse direito não é estendido ?

-

como fica a oferta de uma educação física de qualidade, se a premissa de "... instalações e equipamentos adequados são elementos imprescindíveis para a Educação Física e Esporte..." sem instalações conservadas e em condições mínimas de uso ? e equipamentos em número mínimo necessário para atender à demanda, sem que os professores precisem adquirir os equipamentos, utilizando-se de seu já minguado salário para dar uma aula, com as mínimas exigências da tão propalada qualidade de ensino dos CEFET’s ? ou ao mesmo em igualdade de condições das outras disciplinas do currículo ?

-

quanto a “... Educação Física e no Esporte não se pode perder de vista a defesa dos valores morais e culturais”, como defendê-los, se a própria história da disciplina enquanto componente curricular sempre a colocou como “disciplina de segunda classe” e esse “sentimento” é perpassado ao alunado pelos próprios supervisores e coordenadores de curso?


-

como defender que “não há Educação sem Educação Física”, e que há necessidade de ser diária até os 11 ou 12 anos de idade e pelo menos três horas por semana de Educação Física para o ensino secundário - parâmetro de qualidade - como parte integrante do currículo escolar; garantindo o suficiente peso curricular pois a Educação Física é um processo de aprendizagem e consiste essencialmente no meio de usar a atividade física para contribuir na experiência profissional das pessoas, e, como parte do processo educativo, desenvolve possibilidades de movimento e educa para o entendimento por quê ela é relevante e como e onde deve ser utilizada devendo ser considerada como experiência única por tratar de um dos mais preciosos recursos humanos, que é o corpo ?

-

assim como é importante compreender que os professores de Educação Física tenham estatuto comparável ao professor e profissionais de outras áreas, para que suas missões sejam revalorizadas e que há um consenso internacional que o progresso de qualquer área de atuação na sociedade dependerá sempre do nível dos profissionais que nela atuam e que, no caso específico da Educação Física, haja uma revisão conceitual quanto à reformulação da formação, preparação e atualização dos profissionais de Educação Física ? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Licenciado em Educação Física Especialista em Metodologia do Ensino Especialista em Lazer e Recreação Mestre em Ciência da Informação Socio efetivo do IHGM


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


SÍTIO DO FÍSICO: PRIMEIRA ESCOLA TÉCNICA DO MARANHÃO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INTRODUÇÃO: Na apresentação de sua "História da técnica e da tecnologia", Ruy GAMA (1985) - ao analisar a obra de Johan Beckmann - pergunta: "o que há de comum entre o pensamento de José de Bonifácio, cientista que estudou na Alemanha na segunda metade do século XVIII, e os de Manuel Jacintho, 'filósofo' às voltas com inventos destinados ao aperfeiçoamento dos engenhos de açúcar, do físico (médico) português Antônio José da Silva Pereira (que sob suspeitas e pressões montou um curtume no começo do século XIX, em S. Luís do Maranhão), de Benjamin Franklin, Jacob Bigelow e de tantos outros americanos ? ". (p. 11). É o próprio GAMA (1985), ao discutir a natureza política do problema tecnologia, que nos dá uma primeira resposta ao questionamento levantando, quando refere-se aos "segredos de ofício" - onde passar do conhecimento do "know-how" para o do "know-why" exige o enfrentamento de corporações mais poderosas do que as antigas corporações de ofício : "... Voltam à memória as palavras de Beckmann sobre a união de 'sábios' e 'fabricantes', as de José Bonifácio sobre as relações entre a 'Theorica e a prática', o discurso de Manuel Jacintho sobre a ciência e as obras práticas, e o lema do MIT Mens et Manus ...". (p. 12). Johan Beckmann foi professor de ciências econômicas em Göttinguen. Para ele - e para seus seguidores -, a questão básica estava na união dos sábios e fabricantes. Considera que a tecnologia estava intimamente ligada à escola, tendo adotado como lema "a escolarização ajudará a incrementar os negócios" (GAMA, 1985, p. 8). Foi o iniciador das disciplinas de comércio e tecnologia - termo esse forjado por ele para designar a disciplina que descreve e ordena os ofícios e as indústrias existentes. Para Benjamin Franklin, a questão da independência americana passa também pela separação entre o saber metropolitano e o fazer colonial, sentido que pode ser identificado em seus esforços para instituir o ensino técnico na Pensilvânia, já em 1749. Franklin afirmou, já no fim de sua vida, que a "Ciência, no século vindouro serviria às artes como uma criada" (GAMA, 1985, p. 10). Algumas décadas depois, o médico Jacob Bigelow reintroduz nos Estados Unidos a palavra "technology", numa série de aulas que deu em Harvard: "... Em 1861 foi fundado o MIT - Massachusetes Institute of Technology, o que contou com a participação de J. Bigelow, a quem se deve a presença da palavra 'technology' no nome da instituição, indicando que, ao invés de orientar-se para o conhecimento 'puro', deveria voltar-se para finalidades práticas: Mens et Manus foi o lema adotado pelo Instituto, bastante revelador na pretensão de unir a teoria à prática". (p. 10-11). José Bonifácio de Andrade e Silva, em relatório apresentado no ano de 1793 à Academia de Ciências de Lisboa - da qual era secretário, refere-se à tecnologia, voltando a empregá-la na Memória sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal, onde enfatizava a necessidade de se eliminar a oposição entre teoria e prática. Manuel Jacintho de Sampaio e Melo, senhor de engenho, também escreve com veemência sobre o uso da ciência para finalidades práticas, ainda no alvor do século XIX. O médico Antonio José da Silva Pereira tentou construir às margens do Bacanga, no Sítio Santo Antonio da Alegria, um avantajado complexo industrial, cujas ruínas atestam a grandiosidade de seu sonho:


" As sólidas paredes e muralhas do Sítio - esta é a única certeza - não foram construidas a toa. O intrincado da imensa construção deveria obedecer a um plano muito bem estudado. O Físico fez construir, alí, além de uma casa grande, uma fábrica de pólvora, dezenas de poços para preparação de couros, tanques e fornos para fabricação de velas, uma usina para beneficiamento de arroz, uma oficina mecânica, outra de cerâmica, celas para presos, tudo com originalidade arquitetônica. Afora isso, há outros conjuntos, tudo extremamente bem sólidos. Há paredes com quase dois metros de largura. Em pedra e cal. E a funcionalidade deixa embasbacado muito técnico de agora. "Não há, no Sítio do Físico, apenas pedras, muralhas, construções super-sólidas. Há mecânica. Muita mecânica também. E tudo avançado. Por exemplo, a usina de beneficiamento de arroz. Para que uma usina tão grande? As peças de ferro e bronze vão surgindo. Cinco pedras-mós já foram encontradas, e tão pesadas, tão pesadas, que nem dez homens conseguem ergê-las ... no topo das paredes, cachas (sic). Para abastecimento dágua. W (sic) no interior das calhas furos regulares para descompressão do ar ... E a gente, deste século XX a pensar que o tijolo furadinho é inveção do homem moderno ... "O sistema de esgotos é tão avançado como o de abastecimento dágua. E o despejo no Igarapé não é coisa comum. Nada disto. é feito de tal, com tal técnica e ciência que funciona até hoje, melhor, talvez do que muita obra moderninha. "Sobre tudo paira o ar de mistério." (VALDIRA, 1972, p. 2). Ao tempo da chegada do Físico-Mor - junho de 1799 - , São Luís era a cabeça da Capitania-Geral do Maranhão, governada por Dom Diogo de Souza, Governador e Capitão-Geral no período de 1798 a 1804. Contava com "vinte e duas mil almas debaixo da direção de um só Pároco" ( MEIRELES, 1977, p. 180). A adminstração da cidade tinha como principais órgãos: o Senado da Câmara - composto do juiz de fora, como presidente nato, três vereadores e um escrivão; a Junta da Fazenda Real; a Junta de Justiça; a Junta da Coroa; a Provedoria dos Defundos e Ausentes; e a Intendência da Marinha, esta criada em 1797, cujo primeiro titular foi o Capitão de Mar-e-Guerra Pio Antônio dos Santos, chegado a São Luís em 24.12.1798, um ano antes, portanto, do desembarque do Físico-Mor. Pouco depois, a 8 de julho, desembarca o 11o. titular da Diocese do Maranão, D. Joaquim Ferreira de Carvalho, assumindo solenemnete o cargo no dia 27. Seria essa a primeira solenidade ocorrida em S. Luís desde a recente chegada de Silva Pereira, em princípios do mês anterior", informa MORAES (1980, p. 17). Já a 27 de novembro de 1799, D. Joaquim envia relatório ao Ministro do Reino, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, informando-o da situação dos negócios eclisiásticos do Maranhão, os quais não eram dos melhores. Afirma que não encontrara aqui "... nem letras, nem Religião, nem costumes..." (MEIRLES, 1977). Lamentava-se, em seu relatório, da "... inexistência de estabelecimentos educacionais ...": " ... falta de uma 'casa de educação onde se possa formar bons Ministros para a Igreja e bons cidadãos para o Estado'. Tal fato significava o completo desmoronamento de todo um sistema educacional que, a cargo dos jesuítas e outros religiosos desde os primeiros tempos da vida colonial, atingira seu apogeu na primeira metade do século XVIII. É oportuno lembrar que pelo Breve 'Expondi Nobis', de 25 de junho de 1727, o Papa Benedito XIII concedia ao Vicariato de Carmo a faculdade de conferir o grau de doutor em Teologia aos concludentes desse curso no Convento de São Luís.... por essa época, estudantes transferidos da Universidade de Coimbra para São Luís podiam concluir seus estudos de Filosofia e Teologia..." (MORAES, 1980, p. 19). O FÍSICO-MOR DO MARANHÃO: Segundo MORAES (1980), até hoje não exite um corpus de dados informativos que permita levantar o perfil biográfico de Antônio José da Silva Pereira. Afirma haver, sobre o Físico-mor, uma curiosíssima e intrigante "... conspiração de silêncio" que " ... envolveu na mais incompreensível indiferença a figura desse capitão de indústria cujo pioneirismo e arrojo empresarial não se admite tenha parecido desimportante aos olhos de seus


contemporâneos, fosse eles residentes no Maranhão ou viajantes que aqui passassem em missão de estudo ou simplesmente fazendo turismo". (p. 39). Antonio José da Silva Pereira foi o primeiro Físico-mor do Maranhão, da parte da Real Junta do ProtoMedicato. Formado por Coimbra no ano de 1796, seria nomeado para a função por Carta Régia de 5 de dezembro de 1798: "... Dito ao Escrivão da fazenda sobre ter S. Majestade nomeado para Físico-Mor desta Capitania a Antônio José Pereira da Silva (sic) / Pela carta Régia da cópia n0 1 foi Sua Majestade servida nomear a Antônio José Pereira da Silva (sic) para Físico-Mor desta Capitania vencendo quatrocentes mil réis por ano, pagos da fazenda Real. (...) Deus guarde a V.M. - Palácio de São Luís do Maranhão, 15 de julho de 1799. - D. Diogo de Sousa - Sr. Elias Aniceto Martins Vidigal." ( Ofício s/n, registrado sob número 219, das fls. 41-v, transcrito do códice "Objetos Diversos - 1798-1800", do Arquivo Público do Maranhão, citado por MORAES, 1980, p. 29). Este autor chama atenção para o fato de que, das duas vêzes em que é referido no ofício, o Físico-mor teve seu apelido de família trocado de Silva Pereira para Pereira da Silva, quando de sua apresentação. MEIRLES (1993; 1995a; 1995b; 1995c), ao traçar as histórias da medicina e da farmácia no Maranhão, esclarece que a profissão de médico, no período colonial, tinha dupla especialidade - físicos e cirurgiões - e só seria regulamentada, em Portugal, pelos regimentos de 25/2/1571, dado ao Físico-Mor do Reino, e de 12/12/1617, dado ao Cirurgião-Mor do Reino. A essas autoridades sanitárias maiores, sediadas na Corte, cabia conhecer de todos os fatos ou delitos ocorridos no domínio da saúde pública e decidir a respeito, sem apelação ou agravo: "A estas autoridades máximas no campo da saúde, é que competia nomear, dentre os diplomados por aqueles cursos, os físicos e cirurgiões-mores que seriam seus delegados comissionários nas províncias e nas capitanias ... a Coroa nomeava os físicos e cirurgiões que, sem aos mesmos estarem sujeitos, serviriam nas tropas e hospitais militares. (MEIRELES, 1993, p. 18; 1995a, p. 206). Nas Notas, MEIRELES esclarece que foi só a partir de 1425, na Universidade de Paris - fundada em 1150 que se fizeram distintos, com currículos própios, os cursos de médico (físico ou clínico), de cirurgião e de boticário: "... o studium generale, fundado em Lisboa no ano de 1290 e depois em 1537, transformado na Universidade de Coimbra, já mantinha um curso de medicina, ao qual se seguiriam os da Escola Médico-Cirúrgica e do Real Hospital de São José, ambos na Corte.". (1993, p. 17; 1995a, p. 205). Os cirurgiões eram tidos em menor conta que os físicos, que exerciciam a clínica geral; daí possivelmente, porque só obtiveram seu Regimento, em Portugal, cerca de cem anos depois de que baixado para aqueles outros. Esse autor esclarece que: "Ao tempo (da fundação de São Luís - 1612), e aliás desde a velha Grécia de Antes de Cristo, já se distinguiam, entre os que se dedicavam à arte de curar, e mesmo antes que existissem escolas regulares de medicina, os Klinikos e os cheirurgikos; no Império dos Césares, embora a profissão não fosse considerada digna de um cidadão romano e deixada para os escravos, e por excelência os gregos, já se distinguiam não só clinici e os chirugli como os occulari." (MEIRELES, 1993, p. 23; 1995, p. 203). ... "E foi então com o Renascimento, que marca no tempo o início da Idade Moderna, que os discípulos de Hipócrates, de Galeno e de Avicena passaram à designação com que viriam, para


o Brasil, a partir do século XVI, os primeiros médicos portugueses - os físicos (physicós), os que haviam estudado as coisas da Natureza, apelido que ainda sobrevive nos physicians ingleses ..." ( MEIRELES, 1995b, p. 166). No reino de D. Maria I (1777/1816), os regimentos de 1521 e de 1617 foram alterados para que, com a extinção dos cargos de Físico-mor do Reino e de Cirurgião-mor do Reino, suas atribuições passassem, na metrópole, para um colegiado, integrado por sete deputados graduados em medicina: "... foi a Real Junta de Proto-Medicato, a qual estaria representada, nas províncias e colônias, por delegados-comissários que continuariam sendo o Físico-mor e o Cirurgião-mor de cada unidade" (MEIRELES, 1993, p. 40; 1995a, p. 220). Para MEIRELLES, o Físico-mor foi um "Homem de idéias avançadas e tido como suspeito de simpatizante de Napoleão Bonaparte que então pretendia impor a toda a Europa, pela força das armas, os ideais igualitários da Revolução Francesa e que acabaria por mandar invadir Portugal (1808), seu corpo apareceu boiando nas águas da Praia das Mercês (15/11/1818), sem que jamais se tenha apurado se fora assassinado ou se teria se suicidado." (1993, p. 40; 1995a, p. 220). Sobre o Físico, existem nuitas hipóteses. Uma delas refere-se aos interesse de Napoleão Bonaparte. Outras dizem respeito à correspondência que manteria com generais de Napoleão, com a rainha Carlota Joaquina e mesmo com San Martin, o Libertador - "... Há indícios muito concludentes de que San Martin veio a São Luís, especialmente para um encontro com o Físico. Mas para quê ?" (VALDIRA, 1972, p. 2) - Prossegue, indagando: "O que veio ele fazer no Maranhão ? Até hoje é mistério. Ninguém conseguirá saber. Nem os de sua época. Nem os historiadores. Possuiu 600 escravos, e os usou como mão de obra para erguer aquilo que a todos dá a impressão de um império logístico. Ficava ao lado da capital, mas com o crescimento da cidade, está hoje bem no perímetro urbano. "Qual o objetivo da construção ? Ninguém soube. O que há, hipóteses ..." (p. 2) . Pergunta, ainda, se o Físico foi um revolucionário ou traidor ? "Em 1818 o Físico se suicidou. Por que ? Só hipóteses, não obstante as pesquisas de vários historiadores. Entre outras destaca-se uma que o considera colaboracionista de Napoleão. Teria participado com sua técnia e sabedoria nas campanhas de Napoleão na Espanha, Holanda, Rússia." (p. 2). Em conversa com o então proprietário do "Sítio do Físico", VALDIRA (1972) informa que "Seu" Joaquim Cavalcanti Silva sempre pesquisou sobre o antigo proprietário - o Físico - e faz também suas indagações: "Por que um catedrático de Universidade de Coimbra, que era também médico particular da Rainha de Portugal, sairia de Portugal ? Só mesmo em missão oficial..." (p. 2). Clóvis MORAIS, em seu "Terra timbira", refere-se ao "O SÍTIO DO FÍSICO", revelando ter sido sua morte por enforcamento, temeroso das consequências de suas opiniões políticas: "Com a prisão e exílio de Napoleão, em 1816, e a aclamação de Dom João VI, como Rei de Portugal, houve radical mudança política entre o Reino Unido Portugal-Brasil, e o fracasso dos planos da Rainha Carlota Joaquina, o Físico-Mor ficou tomado de pavor. Prevendo a sua condenação, suicidou-se, por enforcamento, no dia 14 de novembro de 1818." (p. 38-39). MORAES (1980) informa ser 15 de novembro de 1817 a data de sua morte:


"Sistematicamente os que se têm referido ao Físico-Mor dão-no como falecido em 1818. O erro certamente provém de César Marques, que em seu Dicionário (p. 459) assim afirma. Mas todos os documentos oficiais até hoje consultados registram 1817 e assim o diz a certidão de óbito lavrada às fls. 242 do Livro de Óbitos da Sé, n0 7, correspondente ao período de 1807 a 1819..." (p. 56). LIMA (1981), em seu "História do Maranhão", afirma serem as ligações do Físico-mor com a então Princesa Carlota Joaquina e com o "Cabrinha", como era alcunhado o então governador da Província, a causa de seu suicídio: "O tal 'Cabrinha' [Francisco de Melo Manuel da Câmara, governador do Maranhão no período de 1806 a 1809] tantas fez que, temeroso decerto do julgamento da posteridade, carregou consigo toda a correspondência oficial, ao deixar o cargo. Dele, porém, ainda se sabem muitas cousas, que foi briguento, infamante e vingativo, além de ter-se comprometido, quando da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, com declarada simpatia aos franceses, de quem ocultava as derrotas, publicando sofregadamente seus triunfos, e blasonando que 'se estivesse em Lisboa nada sofreria, porque seu sogro era amigo de Junot, o qual talvez, longe de perseguílo, bem poderia fazê-lo muito feliz e engrossar-lhe os bens'. Entretinha amizade íntima com o físico-mor Antônio José da Silva Pereira, partidista da causa francesa sem o menor rebuço. Êste médico, 'homem ativo, laborioso e empreendedor', e que aqui chegou quando os corsários franceses fizeram muitas depredações nas águas da capitania, ergueu à margem direita do rio Bacanga, no Sítio Santo Antônio da Alegria, com área superior a 100 hectares e, que depois passou a ser conhecido como 'Sítio do Físico', um complexo industrial que compreendia um cortume, indústria de beneficiamento de arroz, f'ábrica de cal, cera, pólvora, etc., abrangendo edifícios com paredes de 8m de altura, espessas de l,50m, inúmeros tanques de curtir couro, duas mós enormes, senzala, 12 casas pequenas, 18 prisões de escravos, igreja, praça, rede de esgotos, fornos, escadaria e rampa do porto, casa-grande alpendrada com 30 compartimentos e duas dezenas de padrões de azulejos, tudo calçado em cantaria e pedra preta lavrada e cujas ruínas ainda são admiradas, e isto, note-se, ao tempo em que a cidade não possuía engenheiro, 'ficando as obras de edificação a cargo de curiosos, sem planos assentados e direção fixa', segundo César Marques. Personagem misterioso, lendário, teria sido médico do estado-maior de Napoleão, e também de D. Maria I, a louca, mãe de D. João VI. Por isso travara amizade com D. Carlota Joaquina, suposto elemento de ligação entre o físico e seus partidários (notadamente o governador) e o estado-maior francês, com vistas a um hipotético apoio à França. Nada se pode afirmar, mas certas atitudes do governador tornaram-se suspeitas, e D. Carlota, que já se envolvera em várias revoluções, contra seu próprio marido, bem que era capaz... "Causa espécie que esse empreendimento de tal envergadura e tamanha importância econômica e social haja permanecido sistematicamente ignorado de autores locais e visitantes que se ocuparam, até minuciosamente, às vezes, da história e da vida da cidade, e nem os contemporâneos do físico-mor, nem os seus pósteros, o comentaram ou, apenas citam, porquanto esse relevante parque industrial ainda está aí, suas ruínas testemunham seu significado e grandeza. Não fôra César Marques que, em uns poucos verbetes de seu 'Dicionário', lhe dedica algumas linhas, tratando mais do homem e do médico, do que de sua extraordinária obra, e estaria ele irremediávelmente sepultado no mais absoluto silêncio, a que o conduziria sua misteriosa morte, sem sacramento, devida, segundo o mestre César Marques, ao suicídio por 'desgostos profundos e loucura'. "(p. 109-110). Busquemos em Cesar Augusto MARQUES -" Dicionário histórico-geográfico da província do Marannhão", de 1870 - , mais algumas referências ao Físico-Mor: " ATANADOS (SOLA OU COURO PREPARADO) - Houve antigamente grandes fábricas para êste gênero de indústria. Lembramo-nos de uma montada em grande escala na Praça do Mercado, onde esteve o teatro público, a qual pertencia a Lourenço Belfort, e no sítio do Físico,


geralmente à margem direito do Bacanga, ainda se vêem os restos de outra, também espaçosa ... Tudo isto desapareceu...". (p. 99). Prossegue, mais adiante, ao referirir-se sobre a adminstração do Governador e Capitão-General D. Francisco de Melo Manuel da Câmara: "Entre seus adversários veio surpreendê-lo a notícia da invasão de Portugal pelas tropas sob o mando do General Junot em 18 de novembro de 1807, e da partida do Príncipe Regente e da Família Real no dia 29 do mesmo mês em busca das terras do Império de Santa Cruz. "Falando destas ocorrências, na ausência habitual de critérios, disse por vêzes que se estivesse em Lisboa nada sofreria dos invasores, porque seu sogro o General João Forbes era amigo de Junot, e portanto êste longe de o perseguir, talvez até o fizesse muito feliz, engrossando mais os seus bens. "Em suas conversações fazendo o paralelo da educação da França com a de Portugal, avaliando os recursos de uma e de outra nação, dava sempre preferência à França, e não poucas vêzes falava em desabono de sua terra natal. "Estas práticas imprudentes, auteradas e aumentadas por vozes apaixonadas, o fizeram passar por amigo da causa invasora, havendo para isto tais fundamentos e bem fortes, e entre êstes cita-se o ter êle ocultadoà chegada de vários navios a êste porto as derrotas, que sofriam os franceses, e publicado sofregamente os seus triunfos. "Entretinha êle amizade íntima com Dionísio Rodrigues Franco, professor de filosofia, e com o Físico-Mor Antônio José da Silva Pereira, ambos partidistas da causa francesa, porém aquêle com reserva e êste sem o menor rebuço. "Esta intimidade dá motivos para crer-se nesses boatos de então". (p. 349-350). Sobre um atrito ocorrido em 1808 entre o Juiz de Fora Luís de Oliveira Figuiredo Almeida e os vereadores da Câmara de São Luís, MORAES (1980), citando César Marques, comenta: "Para rebater uma representação que o magistrado enviara ao Príncipe Regente, o Governador convocou uma reunião que é assim registrada: Imediatamente, à noite no palácio do Governador, reuniram-se com o fim de estudar os meios de nulificá-la Sebastião Gomes, Joaquim Velho, Castelin e Basson, o Capitão Café, o Físico-Mor, o Filosofia, (...) e outros." (p. 48; MARQUES, 1870, p. 353). Cesar Marques ainda registra, sob os verbetes "Higiene Pública", "Hospital Militar", Administração da Real Fazenda", "Médicos e Cirurgiões" e "Quina", o que segue:

"Junta da

"... Deste físicos-mores aqui houve dois, sendo um o Dr. Antônio José da Silva Pereira, nomeado por Decreto de 5 de dezembro de 1798 ...". (p. 371) ... " ... O Capitão-Geral Paulo José da Silva Gama em seu ofício n0 1, de 2 de janeiro de 1812, disse ao Conde de Aguiar que no ano antecedente a Junta da Real Fazenda, de livre e espontâneo arbítrio e sem ouvir o parecer e exame do físico-mor e mais professores, mudou o Hospital Real de um lugar, onde se achava establecido a 51 anos para outro, em que são frequentes e constantes os males, que resultam prejudiciais às curas dos doentes." (p 379). ... " ... Contra o parecer e exame do físico-mor e mais cirurgiões, e sem prévia licença mudou o Hospital ...". (p. 422). ...


"Médicos e Cirurgiões. - São os seguintes por ordem cronógica, quando for possível, os médicos e cirurgiões que aqui exerceram sua profissão: .... "Antônio José da Silva Pereira. - Por Decreto de 5 de dezembro de 1798 o Dr. Antônio José da Silva Pereira, da Universidade de Coimbra, foi nomeado físico-mor, e para aqui veio exercer êsse cargo. "Foi o criador do sítio conhecido à margem do Bacanga pelo nome de Físico. Homem ativo, laborioso e empreendedor aí levantou grandes muros, edificou muitas casas e fundou fábricas para curtir couros, dscascar arroz, fabricar cêra, cal, etc. "Infelizmente desgostos profundos ou atos de loucura o levaram a suicidar-se, e na manhã de 15 de novembro de 1818 o mar atirou seu corpo às praias das Mercês." (p. 458-459). ... " [Em 6 de abril de 1803 disse o governador D. Diogo de Sousa]... ser antiguíssimo o uso que se fazia no sertão da casca da árvore chamada quinaquina, e que o Dr. Antônio José da Silva Pereira principiou a aplicá-la com bom sucesso nas febres intermitentes com o título de cascas amargosas de Pernambuco". (p. 548). ================= VER EM MEIRELES, 1995, P. 220; 1993 P. 41 SOBRE ATÉ QUANDO FOI FISICO-MOR ================= MORAES (1980) informa que o Físico-mor nasceu por volta do ano de 1767 "... partindo da informação que contava 29 anos ao concluir o curso de Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1796." (p. 65): "Sabendo-se que levou 9 anos para fazer seu curso superior, teria ingressado na Universidade aos 20 anos, hipótese bem mais aceitável que a decorrente de sua qualificação como testemunha arrolada em sindicância realizada em 1814, para apurar responsabilidades do ex-Governador e Capitão-General do Maranhão, Francisco de Melo Manuel da Câmara. Naquela peça processual, segundo extratos publicados na imprensa maranhense por João da Mata Moraes Rego, teria o Físico, em 1814, apenas 40 anos de idade, o que avança a data de seu nascimento para cerca de 1774 e fá-lo matricular-se na Universidade de Coimbra com apenas 13 anos." (p 65). Pergunta-se MORAES (1980): "Teria o Físico diminuído sua idade no depoimento?" (p. 65). Diz a mencionada qualificação: "15a - Antônio José da Silva Pereira, natural Sanhoane [Sanhoão - Santo Antonio da Madeira de Sanhoão], comarca de Vila Real, Físico-Mor da Capitania, 40 anos.". (p. 66). Recorre-se ao assentamento de óbito do Físico para resgatar mais alguns dados biográficos: "Aos dezessis dias do mês de novembro do ano de mil, oitocentos e dezessete, nesta Cidade do Maranhão, Freguesia de Nossa Senhora da Vitória da Catedral faleceu sem sacramento o Doutor Físico-Mor deste Estado do Maranhão (,) Antônio José da Silva Pereira, natural da freguesia de Santo André da Madeira de Sanhoão, Bispado do Porto, filho legítimo de Custódio José da Silva e de Teresa Maria de Jesus Pereira, era casado nesta Cidade com D. Rosa Tavares da Silva Pereira, de cujo matrinômio não houveram filhos, não fez testamento, foi achado morto na beira de uma praia, e dizem ter se afogado, foi envolto em hábito de N. Sra. do Carmo e sepultado na Igreja do Convento de Nossa Sra. das Mercês. Para constar se fez este assentamento em que me assino. José Joaquim Lisboa." (Livros de Óbitos da Sé, no. 7 - 1807-


1819, fls. 242. Curia Metropolitana da Arquidiocese de São Luís, citado por MORAES, 1980, P. 66). Silva Pereira colou grau em Medicina pela Universidade de Coimbra, "... de onde não sairia como aluno destacado, hava vista que além da reprovação sofrida no ano letivo de 1789, foi 'aprovado simpliciter em sua formatura (1796), e de seus quatro examinadores obteve os seguintes conceitos: bom por um, suficiente por um, medíogre por dois'."(MORAES, 1980, p. 68). O SÍTIO SANTO ANTONIO DA ALEGRIA: Situado à margem direita do Rio Bacanga, no município de São Luís, o Sítio Santo Antonio da Alegria pertenceu ao Físico-Mor do Maranhão. De acordo com MORAES (1980), "ainda não dispomos de fontes fidedignas que possibilitem precisar como e quando entrou Silva Pereira na posse do Sítio Santo Antônio da Alegria, popularmente conhecido como Sítio do Físico ..."(p. 31). Maria VALDIRA, em artigo sobre o Sítio do Físico publicado em 1972, pergunta: "... qual o objetivo da construção ? Ninguém soube, O que há, hipóteses. ... "... o Físico que dera nome ao Sítio era tudo, menos Físico... Era Químico, Médico, Engenheiro, Político.Português de nascimento, desembarcou no Maranhão em 1798. Chamava-se José da Silva Pereira, e tinha o título de Físico-Mor da Corte Portuguesa." (p. 2). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia. São Paulo : T.A. Queiroz : Ed. da Paulo, 1985.

Universidade de São

LIMA, Carlos de. História do Maranhão. (s.l., s.e.), 1981 MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico-geográfico da províncai do Tip. do Frias, 1870. (reimpressão de 1970) .

Maranhão. Maranhão :

MEIRELES, Mário M. História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão. São Luís : 1977. MEIRLES, Mário M. Apontamentos para a história da medicina no Maranhão. São

UFMA/SIOGE, Luís : SIOGE, 1993.

MEIRELES, Mário M. Apontamentos para a história da medicina no Maranhão. IN estudos históricos. São Luís : ALUMAR, 1995, p. 197-256.

_______. Dez

MEIRELES, Mário M. Apontamentos para a história da farmácia no Maranhão. IN estudos históricos. São Luís : ALUMAR, 1995, p. 161- 193.

_______. Dez

MEIRELES, Mário M. Dez estudos históricos. São Luís : ALUMAR, 1995. MORAES, Jomar. O Físico e o sítio (tentativa de reconstituiçõao histórica). São Luís :

SIOGE, 1980.

MORAIS, Clóvis. Terra timbira. Brasília : (s.e.), 1980. VALDIRA, Maria. História feita de pedra. São Luís : (s.e.), 1972, p. 2. (Recorte de

jornal).


A FUNDAÇÃO DOS CLUBES ESPORTIVOS EM SÃO LUÍS

A fundação dos primeiros clubes para a prática esportiva data de 1881, quando é fundado o Horses Racing Club – depois Racing Clube Maranhense -, pelo irlandês Septimus Summer, situando-se no antigo Campo do Ourique (hoje, Praça Deodoro) – para a prática do turfe, ou hipodrismo, segundo Martins (1989) , subsistindo até o final daquele primeiro ano de funcionamento; ainda em 1881, Alexandre Rayol, Saturnino Bello, Campêlo França, e Raimundo Veiga estão à frente de um clube recreativo, cujo objetivo principal era realizar passeios, pic-nics, e banhos de mar. No ano de 1893, é fundado o Prado Maranhense, por Virgílio Cantanhede e localizava-se no João Paulo, também para a prática de corridas a cavalo. Em 1900, são fundados diversos clubes esportivos, como o Clube de Regatas Maranhense, por Manoel Moreira Nina; a União Velocipédica Maranhense, situada no Tívoli (Remédios), para a prática do ciclismo... Esses clubes, como tantos outros, tiveram vida efêmera, mesmo movimento que vai se suceder nas décadas seguintes, surgindo novas agremiações para logo em seguida, encerrar suas atividades. Como aconteceu com o turfe, que após esses primeiros anos só é retomado na década de 50, por Amélio Smith, no Gangan; ou o ciclismo, que retorna em 1929, quando Zairi Moreira, Carlos Cunha e Mendonça Gonçalves fundam o Velo Clube, para logo a seguir, surgir o Ciclo Moto Clube de São Luís, incluindo-se as corridas de motocicletas, em seus programas esportivos. Em dezembro de 1904, surge o Clube Euterpe Maranhense, a princípio um clube social e literário, para, em 1907, com a fundação do Fabril Athetic Club – clube esportivo e social – passar também à prática esportiva. O Euterpe tinha sua sede na rua 7 de Setembro, onde era a casa do Comendador Leite (pai de Benedito Leite, mais tarde sede de O Imparcial, hoje abandonado e em ruínas ...). Além de passeios embarcados, havia o jogo de bilhar e danças em sua sede, quando em 1907, adquirem um terreno no Parque 15 de Novembro, esquina com a Travessa Independência, para as práticas esportivas, dentre elas, o Tênis e o Tiro ao Alvo. Ao encerrar suas atividades em 31 de dezembro de 1910, seus sócios fundam o Casino Maranhense (1911). Em 1905, Nhozinho Santos retorna da Europa, e, acostumado à prática de esportes, traz em sua bagagem diversos apetrechos, e reúne os jovens da elite maranhense, comerciantes ingleses, alguns empregados do comércio, também ingleses, para dar início à prática de diversas modalidades esportivas, terminando por fundar o seu clube, nas dependências da Fábrica Santa Isabel, na Quinta do Lapemberg, (hoje, o espaço compreendido no prédio do antigo SESI (Procuradoria Pública) e o Canto da Fabril). Assim, em 27 de outubro de 1907, o clube é inaugurado. Daí, surgem outros clubes, como o Maranhense Foot-Ball Club, fundado em novembro de 1908, por rapazes empregados do comércio, com sede na rua São João, 60. Em 1910, o esporte em Maranhão – diga-se, o FAC (Fabril Athetic Club) - experimenta uma de suas inúmeras crises, surgidas com o descontentamento de alguns associados por causa de problemas financeiros, não só da Fábrica Santa Isabel - de propriedade da família de Nhozinho Santos -, mas por falta de pagamento de mensalidades por parte dos associados - da maioria, segundo MARTINS (1989). Das propostas apresentadas, 13 associados não concordaram, pedindo sua eliminação. Pensavam na formação de uma outra agremiação, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o ONZE MARANHENSE, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins. É ainda em 1910, que Miguel Hoerhan começa a prestar à mocidade ludovicence seus serviços como professor de Educação Física da Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, e em diversas escolas estaduais e municipais. Funda o Club Ginástico Maranhense. É nesse período que surge nesse cenário o vice-cônsul inglês no Maranhão, Mr. Charles Clissold, um grande amante dos esportes. Junta-se aos dirigentes do FAC, incentivando a prática de vários esportes. Muitos jovens tinham feitos suas inscrições, com o clube revivendo seus grandes dias e sendo oferecidas várias modalidades, como salto em altura simples, com vara, distância; corridas de velocidade, de


resistência, com obstáculos; lançamento de peso, de disco, do martelo; placekick (pontapé na bola, colocando-a na maior distância); cricket; crockt ; ping-pong (Tênis de mesa); bilhar; luta de tração, etc. Mas esse clube estava aberto apenas para os filhos da aristocracia maranhense. A população, de um modo geral, não participava dessas atividades. Gentil Silva não concordava com a elitização do clube e sai do FAC, junto com um grupo de outros dissidentes, que comungavam do mesmo pensamento: "foi, sem qualquer sombra de dúvida, Gentil Silva o responsável pela popularização do futebol em terra maranhense, no momento que, deixando as hostes do FAC, achou oportuno desenvolver a prática do apreciado esporte aos olhos do povo, num campo que, de princípio não possuía cercas". (MARTINS, 1989, p. 332) Nhozinho Santos consegue a inscrição de "seu" clube na Confederação Brasileira de Tiro (1908), ao mesmo tempo que implanta o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos. Ao que parece, essa modalidade foi introduzida por Aluísio Azevedo, pois fora cônsul no Japão por quase três anos e deve Ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar tênis e futebol, quando de sua estadia na Inglaterra. Nova crise, desta vez em 1915, pelos mesmos motivos, atingindo não só o FAC, como o Onze Maranhense. O futebol – introduzido oficialmente em 1907, mas praticado desde 1905 – está em crise. Nesse, há uma tentativa de reabilitação por parte de jovens estudantes, alunos do Liceu Maranhense, dos Maristas e do Instituto Maranhense. São criados vários clubes, como o Brasil Futebol Clube, São Luís Futebol Clube, Maranhão Esporte Clube (1916), Aliança Futebol Clube, e Gentil Silva fundada um novo clube, o Guarani Esporte Clube. O FAC é reativado, mas com o nome de Foot-ball Athetic Club, para manter a sigla – anos mais tarde, outro clube se utilizará dessa sigla, o Ferroviário Atlético Clube -. Gentil Silva reativa o seu Onze Maranhense, no Parque 15 de Novembro, na Av. Beira Mar, próximo do Beco do Silva (hoje, Casino Maranhense). O Brasil F. Clube tem sua sede junto ao Gasômetro (Mercado Central); surgem o Vasco da Gama E. Clube, o Santiago E. Clube, o Fênix F. Clube. De uma dissidência do FAC e do Maranhense Futebol Clube, surge o Esporte Clube Luso Brasileiro, nesse ano de 1915. No ano seguinte – 1916 – em 16 de maio, é fundada a Liga Esportiva Maranhense, para disciplinar a transferências de jogadores de futebol, editando-se o Código de Transferência de Jogadores. É fundado o São Cristóvão Futebol clube, por Carlos Mendes; o FAC amplia a oferta de esportes, introduzindo o Basquetebol, o Boliche e continua a prática do futebol, do tênis, do tênis de mesa, do crockt, do críckt, do bilhar e dos atletismo (jogos olímpicos). A 21 de março, os Professores Atimathea Cisne e Oscar Barroso fundam o Maranhão Esporte Clube e, em 23 de setembro desse ano, o FAC enfrenta os tripulantes do navio “Benjamin Constant” em um jogo de futebol. No Anil, surgem o Timbira e o Ubirajara. Após sofrer algumas derrotas frente ao Clube do Remo, o FAC começa a importação de jogadores (1917), contratando o goleiro Corinto. Em 10 de abril, é criada a Liga Maranhense de Futebol, sendo sua diretoria composta pelo Capitão-Tenente Artur Rego Meireles (Presidente), tendo como seu Vice Joaquim Moreira Alves dos Santos (Nhozinho Santos) e Secretários, Gentil Silva e João Belfort, e como Tesoureiro Jonas Hersen. Surgem o Clube do Muque, para a prática do remo, e o Tiro Maranhense, além do Centro de Cultura Física Maranhense, com sede na Rua Grande, 132. No Anil, é fundado o Anilense Futebol Clube. No ano de 1918, vamos encontrar a prática do bilhar no Bar Carioca, destacando-se no taco Sarmento e Paraíso. Esses esportistas, para melhorar suas performances, praticavam halteres, remo, e ginástica. No FAC, as mulheres principiam a praticar esportes, participando de jogos de Tênis e Crockt. As quadras de tênis, os campos de cricket e crickt e de boliche recebem iluminação elétrica, passando-se a realizar jogos à noite. É introduzido o Ciclismo e as corridas rústicas. No Luso, pratica-se ginástica e é criada uma escola de aviação. Em 1919, no dia 25 de agosto, os diversos representantes dos clubes entram em um acordo, unindo as diretorias das duas ligas – a de Esportes e a de Futebol, criando-se a Confederação Maranhense de Desportos:


CLUBES Atenas Colombo FAC Nacional Baluarte Marcílio Dias Hércules Espartano Mignon São Cristovão América Barroso União

REPRESENTANTES Benedito Ciríaco Pedro Mendes Alcindo Oliveira João Krubusly Francisco Furiato Tent. Dias Vieira Humberto Fonseca Tancredo Matos Eliude de Sousa Marques Almir valente Herman Belo Nilton Aranha Antenor Rodrigues da Mota


FRAN PAXECO, A FACULDADE DE DIREITO E A FUNDAÇÃO DO IHGM... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física; Mestre em Ciência da Informação Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - Cadeira 40 Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21

Está-se a comemorar, neste ano de 2018, o Centenário da Fundação da Faculdade de Direito do Maranhão. Domingos Perdigão e Fran Paxeco se constituem os dois nomes responsáveis por essa fundação. Na área cultural, surgiu em 1908 um movimento literário liderado pelos intelectuais: Antonio Lobo, Fran Paxeco e Domingos de Castro Perdigão que, na tentativa de manter a tradição de "Atenas do Brasil" para o Maranhão, criou a Academia Maranhense de Letras e, posteriormente, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (1926). Desta elite intelectual partiu a iniciativa de criação e implantação das primeiras instituições de ensino superior no Maranhão (BUZAR, 1982) 69. As primeiras tentativas de instalação de cursos superiores no Maranhão surgiram pouco a pouco, a partir da adesão formal à República (18/11/1889), através de unidades isoladas, todas elas, de princípio, particulares, depois de desfazer-se o sonho prematuro do poeta Sousândrade 70. Joaquim Vieira da Luz (1957) 71, em seu monumental “Fran Paxeco e outras figuras maranhenses”, ao traçar a biografia de Domingos de Castro Perdigão também se refere ao fato de ele acalentar por muito tempo a idéia de criar uma Faculdade de Direito no Maranhão (VIEIRA DA LUZ, 1957, p.. 42-43). A primeira escola superior isolada foi, de fato, a Faculdade de Direito do Maranhão, que desde 1908 trabalhava nesse sentido Domingos de Castro Perdigão (MEIRELES, 1981) 72. Ambos – Domingos Perdigão e Fran Paxeco - estão naquele grupo, capitaneado por Antonio Lopes da Cunha, que fundou o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (CUNHA, 1926) 73. Na Revista “HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão”, anno I - 1926 – num. 1, julho a setembro, encontramos a primeira diretoria, assim formada:

Dr. Justo Jansen Ferreira – presidente; Dr. José Domingues da Silva – vice-presidente; Dr. Antonio Lopes da Cunha – secretário-geral; Wilson da Silva Soares – tesoureiro; Ainda foram criadas as seguintes Comissões: de Geografia – José Domingues, Abranches de Moura, Justo Jansen; de História: Ribeiro do Amaral, B. Vasconcelos, Ferreira Gomes; de Bibliografia: Domingos Perdigão, Arias Cruz, José Pedro. 69

BUZAR, Solange Silva. OS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Tese submetida como requisito parcial para obtenção do de Mestre em Educação. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS grau INSTITUTO DE " ESTUDOS AVANÇADOS EM EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS Rio de Janeiro 1982. Disponível em https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9338/000049166.pd 70 MEIRELES, Mário. O ensino superior do Maranhão; esboço histórico. In DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luis: ALUMAR, 1995, p.. 45-94 71 VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E AS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal; Edições dois Mundos, 1957. 72 MEIRELES, Mário. O ENSINO SUPERIOR NO MARANHÃO. São Luis: UFMA, 1981 (Comemorativa do 15º aniversário de fundação da Universidade Federal do Maranhão). 73 LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973.


Não foram preenchidas 13 vagas de sócio e de 13 de correspondentes. Como se observa, foram criadas 30 cadeiras de sócios efetivos e 30 de correspondentes. Após a nominação de cada sócio efetivo, há uma pequena biografia de cada um com sua produção científico-literária. Dos sócios correspondentes, a indicação do estado onde residem e indicação daqueles que são maranhenses. 74 IHGM TERIA SIDO FUNDADO JÁ EM 1918?75, 76 O Sr. Simões da Silva – conforma noticia A PACOTILHA edição de 4 de abril de 1917, fora designado pelo IHGB a percorrer diversos estados para preparar o congresso americanista, providenciando a organização de comissões locais:

A ideia de fundar-se um Instituto Histórico parte de Fran Paxeco, em reunião da Academia Maranhense de Letras, conforme consta de nota publicada em 12 de agosto de 1918, em O Jornal:

74

(in HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, p. 55 a 59; Ver. Geo. E Hist., ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 148) 75 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. QUANTOS ANOS, MESMO, DO IHGM? REVISTA IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 81 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 76

in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920.


Também em “A Pacotilha”, edição de 13 de agosto daquele ano de 1918 refere-e a pronunciamentos na Academia Maranhense de Letras sobre a necessidade de ter-se instalado um Instituto Histórico:

Em 1919, o Instituto indicou seus representantes para o Congresso de Geografia:


O Jornal, 23 de agosto de 1919

Chamo atenção para a data de publicação: 21 de dezembro de 1920. Vamos ao outro texto, publicado no dia seguinte – 21 de dezembro de 1920 – no mesmo A PACOTILHA77:

77

in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920)


Em “O Diário de São Luis”, edição de 23 de dezembro de 1920, há o seguinte comentário: [...] Fran Paxeco, secretário geral do Instituto Histórico aqui fundado pelo dr. Simões da Silva [...]:


Em 1921, o Instituto estava em pleno funcionamento, com o Sr. Viana Vaz na sua Presidência, conforme consta de nota de 6 de julho de 1921, em “O Jornal”:

A posse da nova diretoria, com o Dr. Viana Vaz à frente, se dera em 25 de janeiro de 1921, conforme noticia o “Diário de São Luiz”:

Logo a seguir, reuniram-se os seus membros para tratar da conferencia americanista (O Diário, 21 de fevereiro de 1921):


E em 1925, novamente o IHGM é fundado:

Nos jornais da época, como no caso do Jornal do Povo, edição de 17 de dezembro de 1926 há uma referencia às descobertas de galerias subterrâneas, encontradas nas escavações que se faziam nos terrenos da Prefeitura. Encontradas várias galerias, que apontavam a várias direções, e algumas ossadas e objetos feitos de osso. Pede-se a manifestação do Instituto Histórico... 1926, Antonio Lopes já havia fundado um novo IHGM... O Instituto fundado pelo Dr. Simões em 1918 ainda funcionava em 1921; quatro anos após, ocorre uma nova fundação, do Instituto de História e Geografia... o que aconteceu?


O POVO, 30 de novembro de 1925 A FACULDADE DE DIREITO Em A Pacotilha (07/05/1918) são apresentados os 18 (dezoito) professores efetivos da Faculdade de Direito “indigitados pela associação incorporadora e pela comissão organizadora” segundo a ordem pedagógica: ANTONIO LOPES DA CUNHA GODOFREDO MENDES VIANA RAUL DA CUNHA MACHADO CARLOS HUMBERTO REIS RAIMUNDO LEÔNCIO RODRIGUES JOÃO VIEIRA DE SOUZA, FILHO CLODOMIR CARDOSO CARLOS AUGUSTO DE ARAUJO COSTA LUÍS CARVALHO MANOEL JANSEN FERREIRA HENRIQUE JOSÉ COUTO ALFREDO DE ASSIS CASTRO ARTUR BEZERRA DE MENESES ARÃO ARARUAMA DO REGO BRITO ALCIDES JANSEN SERRA LIMA PEREIRA JOSÉ DE ALMEIDA NUNES JOÃO DE LEMOS VIANA ANTONIO BONA Substitutos: JOÃO DA COSTA GOMES RAUL SOARES PEREIRA ANTONIO JOSÉ PEREIRA, JUNIOR FABIANO VIEIRA DA SILVA INACIO XAVIER DE CARVALHO JOAQUIM PINTO FRANCO DE SÁ RAIMUNDO ALEXANDRE VINHAIS


TARQUINIO LOPES, FILHO. Ao se cotejarem os nomes de ambas instituições, verifica-se que muitos são comuns, seja em que fase forem comparados: na fundação de 1918 ou na de 1925...


A CONQUISTA DO MARANHÃO – FUNDAÇÃO DE MIGANVILLE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras A partir do meado dos anos 1500, o Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Espanha, não era respeitado pela França, que contestara de maneira mais veemente a divisão do mundo. Em termos de expansão marítima, os franceses, mesmo perdendo a corrida, buscaram terras sem colonização para poder explorar. Corsários recebiam apoio do governo francês, com financiamento, para explorar as riquezas das Américas, fazendo contrabando, principalmente de pau-brasil e muitas outras madeiras, além de pássaros silvestres, macacos, e de até mesmo de tabaco. A presença de traficantes de pau-brasil no litoral brasileiro, remonta ao ano de 1503 e é aceito como o do início das incursões francesas na costa norte-rio-grandense e 1516 como o momento em que traficantes e corsários vindos da França agiam na Costa dos Potiguares, como era então conhecido o território habitado por aqueles silvícolas, dele fazendo parte o atual Rio Grande do Norte. Portugal reagia como podia às investidas francesas, financiando “varreduras costeiras” entre Pernambuco e o rio da Prata, de 1516 a 1519 e de 1526 a 1528, ambas realizadas por Cristóvão Jacques78, pois os franceses costumavam visitar a costa brasileira entre o cabo de São Roque e a Angra dos Reis, mais fácil e acessível. Em 1524 vamos encontrar Guérard e Roussel, corsários de Dieppe, visitando o Maranhão79.

78

CRISTOVÃO JACQUES (1480-1530) foi navegador português. Participou da frota do explorador Gonçalo Coelho, que em 1503 reconheceu o litoral brasileiro. Em 1516 foi enviado pelo rei e Portugal, D. Manuel, para expulsar os franceses que se instalaram da costa do Brasil. Recebeu o título de Fidalgo da Casa Real. Em 1526, fundou a feitoria de Itamaracá, no Canal de Santa Cruz, que serviu de apoio a Duarte Coelho, quando este se instalou na capitania de Pernambuco. Cristovão Jacques nasceu em Algarve, Portugal. Em 1503 participou da frota do explorador Gonçalo Coelho, destinada a reconhecer o litoral brasileiro. Em 1516 foi enviado ao Brasil, a serviço do rei de Portugal, D. Manuel, Para policiar a costa, combater os franceses que haviam se estabelecido no litoral brasileiro, e principalmente iniciar o comércio com os índios, adquirindo os produtos locais, especialmente o pau-brasil, que tinha grande demanda na Europa. Ao desembarcar na costa brasileira, Cristovão Jacques declarou guerra aos piratas e corsários franceses, destruindo feitorias e embarcações e confiscando suas cargas. Conhecido por sua violência, ou mandava os prisioneiros para Portugal ou os executava. Permaneceu na região até 1519. Em 1526, Cristovão Jacques realiza sua segunda expedição ao Brasil. É designado por D. João III, para substituir Pero Capico, Governador das Partes do Brasil, responsável pelas várias povoações que se instalaram no litoral brasileiro. Veio com uma nau e seis caravelas. Fundou uma feitoria na Ilha de Itamaracá, na margem direita do Canal de Santa Cruz. Uma fortaleza rústica para proteção dos portugueses ali instalados. A feitoria serviu de apoio ao donatário Duarte Coelho, quando em 1535 se instalou na capitania de Pernambuco. Na região da feitoria já estavam instalados vários portugueses, que vieram para o Brasil, em 1516. Cristovão Jacques morreu em Portugal, no ano de 1530. https://www.ebiografia.com/cristovao_jacques/ 79 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982; LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO - A COLÔNIA. São Luís: GEIA, 2006, p. 172-173


Carte nautique de l'océan Atlantique - Portugal, 1550. Avec double échelle des latitudes. Une carte, mss enlum. sur vélin, 63 x 88 cm bord ouest, 73 x 88 cm bord est- CPL GE B-1148 (RES) - http://expositions.bnf.fr/marine/gallica/atlantique.htm

Num mapa francês datado de 1579 se identifica as terras do hoje Rio Grande do Norte, com os acidentes geográficos, das tribos e de produtos econômicos, ficando evidenciado que os franceses tinham maiores conhecimentos dessa terra que os próprios portugueses80.

Carte de la côte du Brésil - Dieppe, 1579, par Jacques de Vau de Claye. En français. Une carte, manuscrit enluminé sur vélin. http://expositions.bnf.fr/marine/gallica/atlantique.htm

Em 1583, dois capitães franceses disseram a sir Walter Raleigh81 conhecer o Maranhão, mas nunca se saberá se se tratava do Maranhão ilha ou do Maranhão rio. Sir Walter Raleigh, em 1595, e Sir Robert 80

Alderico Leandro Jacques Riffault - Refoles, disponível em http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009_02_01_archive.html http://historiarn.blogspot.com.br/2011/05/os-franceses-no-litoral-sul-do-rn.html https://it.wikipedia.org/wiki/Scuola_cartografica_di_Dieppe 81 Sir Walter Raleigh (Hayes Barton,[1] Devonshire, 1552 ou 1554 — Londres, 29 de outubro de 1618) foi um explorador, corsário, espião, escritor e poeta britânico. Entre 1584 e 1585 fundou, na ilha de Roanoke, o primeiro núcleo de colonização inglesa na América do Norte. Esse núcleo de povoamento, entretanto, desapareceu, possivelmente destruído pelos indígenas. Posteriormente Raleigh foi aprisionado por Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra, vindo a ser decapitado. Raleigh esteve na costa do Brasil quando comandava uma companhia de comércio de escravos e especiarias, além de produtos coletados da floresta amazônica. Em seus relatos, menciona a existência de animais mitológicos nas terras amazônicas. Acreditava ter encontrado o tão buscado El Dorado, na região do delta do rio Orinoco, na Venezuela. Consta] ainda, que Raleigh seduziu o duque


Dudley82, em 1594-1595 visitam o Orinoco, mas não chegam ao futuro Amapá. Em 1596, Lawrence Keymis,83 enviado por Ralegh, explora o estuário do Amazonas, e do Araguari ao Cabo do Norte, depois a costa da Guiana até o Orinoco. É Keymis quem faz conhecer o rio de Vicente Pinzón como Oiapoque, seu nome indígena. Ao futuro cabo Orange dá o nome de cap Cecyll.

https://en.wikipedia.org/wiki/Lawrence_Kemys Ainda por conta de Raleigh, Leonard Berrie explora em 1597 do Cabo Norte ao Orinoco. Charles Leigh chega em 22 de maio de 1604 à margem esquerda do Oiapoque, toma posse em nome do rei da Inglaterra, James I. Funda então a colônia de Principium no monte Caribote (Lucas) que existe até 1606. Como Nazaré, ela desaparece. Diferenciando ocupação de incursão, as primeiras tentativas de ocupação de sítios na área tenham ocorrido depois do fracasso da França Antártica - empurrados do sul os franceses se fixaram no litoral norterio-grandense, especialmente no estuário do Potengi. Quando os franceses foram lançados do Rio de Janeiro (1567) passou-se para Cabo Frio e daí para o Rio Real, entre Bahia e Sergipe84. Escorraçados dessas paragens, procuraram estabelecer-se nas costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. de Buckingham a fazer a viagem pelo local, para ver El Dorado. A frota do duque naufragou na foz do rio, exatamente nas costas do Amapá, e ele foi salvo e auxiliado pelos palikur, que comercializavam com franceses e portugueses na região, sendo essa uma etnia de poliglotas, pois falavam as duas línguas, entre outras. https://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Raleigh 82 Roberto Dudley, - 4 de setembro de 1588, conde de Leicester, era filho de John Dudley, conde de Warwick e duque de Northumberland e sua esposa, Jane Guilford. Ficou conhecido por ser o favorito da rainha Isabel I no seu primeiro ano de reinado. Wikipédia 83 Lawrence Kemys or Keymis (died 1618) was a seaman and companion of Sir Walter Raleigh in his expeditions to Guiana in 1595 and 1617-18. https://en.wikipedia.org/wiki/Lawrence_Kemys 84 O Rio Real foi nos dois primeiros séculos da formação do Brasil um lugar ímpar. Sua descoberta ocorreu entre os dias 15 e 20 de outubro de 1501 pelo navegador Américo Vespúcio a serviço de Portugal; e que também assim lhe denominou, tomando posse, pois, em nome do Rei. Durante mais de um século pensou-se que fosse um rio caudaloso como o São Francisco levando alguns cartógrafos da época a "chutar" ser o dito rio um braço do Rio São Francisco. Esse erro foi também causa do nascimento de Sergipe, como também de seu encolhimento, assim que ficou provado que o dito rio era bem pequeno, nascendo a apenas 130 quilômetros (linha reta) de sua foz. De fato, foi ele confundido pelos primeiros exploradores dos sertões com o Rio Itapicuru nos seus cursos médio e superior, bem mais longo, apesar de também seco; e que nasce nas serras da Jacobina. Tão logo Fernando de Noronha chegou à Europa com os primeiros carregamentos de pau-brasil, provenientes da costa pernambucana e piratas franceses descobriram o manancial de pau-brasil na matas da Boca do Rio Real onde hoje se situam Estância, Santa Luzia do Itanhy, Indiaroba e Abadia, ex-sede municipal do outro lado, na Bahia. Sua conquista foi dura e só terminou em 1590 numa batalha mais ou menos longe dali, na Serra do Pico, em Itabaiana, quando Cristóvão de Barros bateu o último exército indígena, acabando de vez com o contato dos franceses em Sergipe. Foram quase noventa nos de exploração maciça da madeira produtora de corante


Foi identificada numa área rural, distante cerca de 2 km da foz do rio Pirangi, os restos de uma casaforte que fora utilizada pelos franceses, como sugere Jerônimo de Barros em documento enviado ao rei de Portugal, e semelhante a uma por eles deixadas em Cabo Frio depois da malfadada experiência da França Antártica. Corsários franceses firmavam acordos com os índios, recebendo em troca presentes como: espelhos, tintas além de outros objetos sem valor. Para os indígenas, aqueles "presentes" eram coisa de suma importância. Para os franceses, não valia nada. De acordo com Frei Vicente do Salvador85, no Rio Grande os [...]franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios para que as comessem [...].

A Capitania do Rio Grande constituiu o segundo lote doado a João de Barros e a Aires da Cunha, da foz do rio Jaguaribe a norte, até à Baía da Traição, a sul. Tendo o empreendimento de ambos sido direcionado ao primeiro lote (a Capitania do Maranhão), devido às dificuldades ali encontradas em 1535, este segundo lote permaneceu abandonado86. O principal porto frequentado pelos franceses na Capitania do Rio Grande era o rio Potengi, onde também se detinham navios ingleses. Naquele ancoradouro se procediam aos reparos necessários nas embarcações e obtinham-se provisões frescas ("refrescos")87.

nobre que dizimou sua existência na localidade. Terminada a conquista de Sergipe e o fim do domínio da pirataria francesa, eis que aparece outro tipo de pirata: o de mercadorias em geral e de metais preciosos. Com uma foz repleta de meandros, facilitando a camuflagem das embarcações da época em seu interior, as caravelas inglesas entravam pela barra e se escondiam dias e até semanas das patrulhas portuguesas -- isso quando Portugal ainda não estava sob comando da mesma Inglaterra. Em 1704 foi aprisionada uma caravela inglesa na região da atual Indiaroba. Menos de um mês depois um comandante de uma corveta real carregada de fumo e de ouro jogou seu navio sobre as areis do Vaza-Barris forçando um naufrágio. Em tempo, Portugal já havia apreendido os piratas, o que rendeu muitas honrarias para as autoridades de Abadia. E o comandante foi acusado e condenado por estar mancomunado com os piratas. Durante o século XVIII a região foi palco de forte produção de mantimentos, especialmente de farinha de mandioca, tendo sustentado a capital colonial, Salvador, e até a então nova cidade do Sacramento na Banda Oriental, hoje Uruguai. A extrema dependência financeira dos senhores farinheiros e criadores da região em relação à Bahia, e a Independência de Sergipe em 1820 fez cair a importância da região cuja riqueza toda mudou para o próspero povoado da Estância, às margens do rio Piauitinga, que também forma a grande foz. Há a suspeita de tráfico ilegal de escravos, a partir das proibições causadas pelos tratados, aproveitando-se, pois, das características geográficas da foz. Todavia a documentação apenas insinua sem nenhuma conclusão positiva neste quesito. Foram-se os piratas; a riqueza que por algum tempo foi ali produzida, mas a natureza preservou o principal: sua beleza paradisíaca. A região compreende três praias principais: Pontal e Saco do lado sergipano; e Mangue Seco, cenário de novela, no lado baiano. Ainda tem vários povoados gostosos de ver como Terra Caída e Crasto, respectivamente em Indiaroba e Santa Luzia. https://www.youtube.com/watch?v=FoDBKf8X1S0 85 SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Edição revista por Capistrano de Abreu. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010. 86 http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_do_Rio_Grande 87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DE CAMOCIM – CEARÁ.


Essa estância pertenceu a Jacques Riffault mais conhecido por Refoles. Foi o mesmo Refoles quem negociou antes da descoberta do Brasil (sic) com os índios potiguares espelhos, tintas e outros objetos em troca de pau-brasil, de modo especial as existentes na margem direita do rio Potengí. Essa foto mostra o local onde ficava o corsário francês a negociar com os silvícolas. Longe da colonização de Natal, Jacques Riffault negociou toda sorte de 88 suprimentos e até as mulheres índias que partiram para a França

Dentre os corsários que estiveram por esses lados, estava Jacques Riffault que, com o passar do tempo, o local onde ancorava a sua nau, no Potengi, passou a ser chamado de Refoles ou mesmo Rifoles89. Jacques Riffault negociou madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica. Levaram madeiras do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro. Na hoje Natal, a boa amizade com que Riffault tratava os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território. Só no final do século XVI os portugueses se armaram e expulsaram os franceses de Natal - que nem tinha ainda esse nome. A conquista do Norte foi uma operação de limpeza contra franceses que queriam fixar-se nestas partes da América. Entre Pernambuco e a Amazônia estendia-se uma área que ainda não se encontrava, propriamente, integrada na unidade da Colônia. A presença dos povoadores não se fazia, então, nessa parte do litoral. Era preciso partir para a conquista, batendo-se com invasores e índios, seus aliados. Gabriel Soares de Sousa90 reforça que a conquista da Paraíba (a qual acrescento a do Rio Grande) deveria ser um posto avançado que desse proteção à lavoura canavieira de Itamaracá e Pernambuco, freqüentemente atacada pelo índios potiguares. 88

CAMARA CASCUDO, Luis da. REFOLES http://www.flickr.com/photos/alderico/7159126836/ FERREIRA, Laélio. DE RIFFAULT AO REFOLES - OS FRANCESES . Postado por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto http://nataldeontem.blogspot.com.br/2010/11/de-riffault-ao-refoles-os-franceses.html http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a_Equinocial http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/outra-tentativa 89 http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil 90

Gabriel Soares de Sousa Portugal, década de 1540 — Bahia, 1591) um agricultor e empresário português, e um estudioso e historiador do Brasil. Foi para o Brasil entre os anos de 1565 e 1569. Na Bahia estabeleceu-se como colono agrícola. Ali casou e prosperou a ponto de nos 17 anos de estada se fazer senhor de um engenho de açúcar, e abastado, como do seu testamento se depreende. Ganhando com a fortuna posição, foi dos homens bons da terra e vereador da Câmara de Salvador. Um irmão seu que, parece, o precedera, havia feito explorações no sertão do rio São Francisco, onde presumira haver descoberto minas preciosas. Falecido ele, quis Gabriel Soares prosseguir as suas explorações e descobrimentos. Com este propósito passou à


A expulsão dos franceses do litoral do Rio Grande, logo depois de sua expulsão da Paraíba, tornou-se a pedra-angular da colonização, pois só assim estaria confirmada a conquista da região pelos portugueses, porque era o Rio Grande que eles procuravam, de preferência, pela sua proximidade dos estabelecimentos e portos paraibanos e pela cordialidade de relações com os potiguares, cujo apoio e auxílio lhes eram valiosos. Aliás, essa cordialidade de relações dava-se com quase todas as tribos, não porque os franceses fossem mais hábeis do que os portugueses, mas porque, sem outro intuito que não fosse encontrar facilidade no contrabando, se abstinham de empregar a violência, de usar a força. Da Paraíba – reconquistada em 1575 – os portugueses passaram para o Rio Grande do Norte, onde os franceses se haviam alojado sempre apoiados nos potiguares. Em 1596, dez anos decorridos da sua expulsão da Paraíba, Manuel Mascarenhas Homem foi nomeado capitão das forças que deviam expulsar os intrusos do Rio Grande e submeter os potiguares91. O Governador Geral Francisco de Sousa (1591-1602)92 pôs em marcha os planos para expulsar os franceses e apaziguar os índios. Para consolidar a conquista, deveria ser construída uma fortaleza. Para Europa em 1584, a fim de solicitar da Corte de Madri autorização e favores para o seu empreendimento de procura e exploração de tais minas. Por justificar seus projetos e requerimentos, e angariar-se a boa vontade dos que podiam fazer-lhe as graças pedidas, nomeadamente do Ministro D. Cristóvão de Moura, redigiu nos quatro anos de 1584 a 1587 o longo memorial, como ele próprio lhe chamou, que conservado inédito até o século XIX, foi nele publicado sob títulos diferentes, o qual constitui uma verdadeira enciclopédiado Brasil à data da sua composição. Soares, sujeito de bom nascimento se não fidalgo de linhagem, suficientemente instruído, sobreinteligente, era curioso de observar e saber, e excelente observador como revela o livro. Embora determinado por uma necessidade de momento, não foi este composto de improviso e de memória. Para o redigir serviu-se, como declara, das “muitas lembranças por escrito” que nos 17 anos da sua residência no Brasil fez do que lhe pareceu digno de nota. Obtidas as concessões e favores requeridos, nomeado capitão-mor e governador da conquista que fizesse e das minas que descobrisse, voltou ao Brasil em 1591, com uma expedição de 360 colonos e quatro frades. Malogrou-se-lhe completamente a empresa, pois não só naufragou nas costas de Sergipe mas depois veio, com o resto da expedição que conseguira salvar do naufrágio e reconstituíra na Bahia, a perecer nos sertões pelos quais se internara. Faleceu no final de 1591, perto das cabeceiras do rio Paraguaçu. Seus ossos foram sepultados na capela-mor da igreja do mosteiro de São Bento, tendo sobre a lápide que os recobre o epitáfio: “Aqui jaz um pecador” segundo o disposto no testamento. Deste documento induz-se que era homem abastado, devoto, nimiamente cuidadoso da salvação da sua alma, mediante esmolas, obras pias, missas e quejandos recursos que aos católicos se deparam para o conseguir. Não é propriamente a obra literária de Gabriel Soares, nem pela inspiração, nem pelo propósito, nem pelo estilo. Só o é no sentido, por assim dizer material, da palavra literatura. O estilo é, como pertinentemente mostrou Francisco Adolfo de Varnhagen, aliás achando-lhe encanto que lhe não conseguimos descobrir rude, primitivo e pouco castigado, mas em suma menos viciado dos defeitos dos somenos escritores contemporâneos, mais desartificioso do que o começavam a usar os seus coevos, como de homem que não fazia literatura e não cuidava de imitar os que a faziam. É grande, porém, o mérito especial dessa obra. "Notícia do Brasil" ou "Tratado descritivo do Brasil" em 1587, é seu título. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Soares_de_Sousa 91

Manuel Mascarenhas Homem foi um administrador colonial português. Foi capitão-mor da Capitania de Pernambuco. Filho de Vasco Fernandes Homem, fidalgo agraciado com a comenda da Ordem de São Bento de Avis. Foi nomeado capitãomor da Capitania de Pernambuco, a qual governou de 1596 a 1603. Em 1597, chegou ao Rio Grande para construir um forte (Forte dos Reis Magos) e uma cidade (Natal) e assegurar a posse de Portugal, afastando os franceses que comerciavam com os indígenas (os índios potiguaras). Para tanto, fez marchar contra os franceses um grupo de colonos de Pernambuco, por ordem do governador-geral do estado, D. Francisco de Sousa, em 1597. Voltou a Portugal, onde exerceu diversas funções públicas. Recebeu os títulos de Conselheiro Real e de comendador da Ordem de Cristo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Mascarenhas_Homem_(capit%C3%A3o-mor_de_Pernambuco) 92

Francisco de Sousa (ca. 1540 — 1611) foi um fidalgo português, sétimo governador do Brasil. É considerado o primeiro marquês das Minas, título que foi efetivamente usado por seu neto, de mesmo nome, Francisco de Sousa. Governou por dois períodos, no segundo tinha a promessa do título de Marquês das Minas que se haviam descoberto na capitania de São Vicente. Filho de D. Pedro de Sousa, conde do Prado e Beringel, alcaide-mor de Beja, e de Violante Henriques, filha de Simão Freire de Andrade, senhor de Bobadela. Disse-se de sua pessoa: "Como o efeito não correspondeu à esperança, não teve o título e morreu muito pobre na capitania. Era cavaleiro de muitas prendas, grande soldado, grandmente liberal e cortesão. Foi almirante da armada que levou à Africa o rei D. Sebastião, de que era general seu tio Dom Diogo de Sousa." D. Francisco chegou à Bahia em 9 de junho de 1591. Enviou ao interior Bento Maciel Parente, Diogo Martins Cão, e não obtendo resultado, decidiu organizar três grandes entradas em 1596. Cão partiu da serra dos Aimorés, Martim Correia de Sá partiu das costas de Parati e da vila de São Paulo partiu João Pereira de Sousa Botafogo capitão-mor da Capitania de São Vicente desde 14 de março de 1595, que não a realizou por ter sido preso por ordem real no meio da bandeira. Domingos Rodrigues, fundidor de ferro trazido por D. Francisco do Reino, chefiou então parte dela, que se dirigiu para a bacia do rio São Francisco, em terra atualmente goiana, detendo-se nas regiões de Paraupava). Trouxe com ele Diogo Quadros, reinol que teria grande papel em São Paulo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Sousa


cumprir a missão foram escolhidos, por Carta Régia de 15 de março de 1597, o fidalgo português Manuel de Mascarenhas Homem, Capitão-mor de Pernambuco, e Feliciano Coelho, Capitão-mor da Paraíba93, auxiliados pelos irmãos João e Jerônimo de Albuquerque, sobrinhos de Duarte Coelho, primeiro donatário da capitania de Pernambuco. No mês de agosto de 1597, uma esquadra francesa composta por treze naus zarpou do rio Potengi para atacar a fortaleza de Cabedelo, em Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa. Outras sete embarcações (ou vinte, dependendo da fonte) ficaram estacionadas, “esperando ordens” para reforçar a investida. Trezentos e cinqüenta arcabuzeiros desembarcaram. Entre os dias 15 e 18, ocorreu, por terra e mar, o ataque, prontamente rechaçado pelos colonos da Paraíba, o que obrigou os atacantes a retrocederem para o Rio Grande. O comandante de um dos navios foi feito prisioneiro. Segundo o seu depoimento, uma numerosa esquadra francesa estava sendo equipada e, no ano seguinte, estaria pronta para assaltar o litoral brasileiro. O capitão mor da Paraíba, Feliciano Coelho, responsável por conduzir o interrogatório ficou extremamente agitado e informou às autoridades superiores. O Governador-Geral do Brasil, Francisco de Souza, apressou as providências necessárias e cumpriu as determinações da Carta Régia de Felipe I, Rei da Espanha e de Portugal, que exigia a ocupação da capitania do Rio Grande. Mascarenhas Homem organizou uma expedição marítima, formada por 12 navios (sete navios e cinco caravelões), comandada por Francisco de Barros Rego, e uma terrestre, composta por companhias de infantaria e cavalaria, sob o comando de Feliciano Coelho. O encontro das forças portuguesas aconteceu na foz do rio Potengi. Participando da expedição terrestre estavam jesuítas e franciscanos – dentre os quais havia aqueles que conheciam a língua tupi – e centenas de indígenas, originários da Paraíba e Pernambuco, pertencentes a tribos Tupi já controladas pelos colonizadores. Vários negros da Guiné acompanhavam a expedição como burros de carga, conduzindo mantimentos e petrechos de guerra. Organizada a primeira expedição, com o apoio dos capitães de Itamaracá e Paraíba, a ação não foi rápida - como queriam os portugueses -, pois a guarnição mais poderosa, sob o comando de Feliciano Coelho foi acometida de bexigas, tendo que regressar à Paraíba. Manuel Mascarenhas Homem entrou na barra do Rio Grande e ali se fortificou, superado o mal que impedira o prosseguimento da viagem de Feliciano Coelho; este, passado meses, se apresta e vai juntar-se com sua gente a Manuel Mascarenhas, que passa a dar combate aos silvícolas, derrotando-os e acabando com a esperança gaulesa de ali ficar. Era o dia de Natal. O nome de Natal só veio com a sua "descoberta", naquele 25 de dezembro de 1599. Dai por diante, os portugueses iniciaram a construção do Forte que levou o nome dos Três Reis Magos. Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a também perseguir os franceses do território do Maranhão94. Os franceses demoraram a serem expulsos do Rio Grande do Norte por três motivos: porque Portugal tinha uma população diminuta e grande parte dela estava envolvida “em manter conquistas ultramarinas desde o Marrocos à China”, pela importância do comércio de especiarias orientais e pela tibieza do Estado português em se fazer respeitar pela coroa francesa. Outro fator era que aliança com os índios potiguares garantia uma boa retaguarda para os franceses. O escambo praticado entre franceses e índios foi uma solução economicamente viável para ambos, pois permitiam aos franceses explorar o pau-brasil com total apoio e trabalho dos Potiguara, e estes conseguiam utensílios, armas e prestígio social por estarem aliados aos estrangeiros. Ademais, ambos viam93

Feliciano Coelho de Carvalho foi um administrador colonial português, quarto governador da capitania da Paraíba, a qual [2] governou de 1595 a 1599. Capitão-mor, encontrou a capitania em grande aperto em virtude dos contínuos assaltos praticados pelos potiguaras em suas roças e arredores. Após a primeira investida contra os selvagens — logo após a sua chegada à capital da capitania —, suas tropas obtiveram uma significativa vitória, o que levou o governador a promover varias incursões ao Sertão de Copoaba, numa das quais ficou definitivamente aleijado de uma perna. No ano de 1594 organizou um forte contingente e atacou uma aldeia potiguara onde estavam recolhidos cerca de três mil e quinhentos índios e cinqüenta franceses, os quais ofereceram tenaz resistência, da qual Feliciano foi obrigado a recuar com grandes perdas de seus homens. Quando de uma de suas viagens pela Copaoba, em dezembro de 1598, Feliciano de Carvalho encontrou pinturas rupestres às margens do Araçagi, às quais, pela estranheza, Ambrósio Fernandes Brandão narrou detalhadamente no seu livro Diálogos das grandezas do Brasil, de 1610. https://pt.wikipedia.org/wiki/Feliciano_Coelho_de_Carvalho 94

Alderico Leandro, in http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html, acessado em 25]/07/2015


se como aliados na guerra que moviam contra os portugueses, e o apoio recíproco era imprescindível, seja pelo conhecimento da terra e número de guerreiros disponíveis dos Potiguara, seja no municiamento e conhecimento das táticas européias dos franceses. De todos os franceses que estiveram por essas bandas, Charles de Vaux - Charles D’Estenou - Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine-, e Jacques Riffault foram os mais constantes, sendo que este último, traficante, aventureiro comerciante de Diepe, fundeava suas naus um pouco mais ao sul da curva do Rio Potengi, resguardando-as de possíveis eventualidades.95 Os índios potiguares viviam em contato próximo e intenso com a natureza bonita e hostil. Não tinham uma agricultura desenvolvida, e plantavam ruas roças de mandioca, batata-doce, jerimum e outras, após derrubarem e queimarem os troncos e galhos de árvores. Grande parte de seus mantimentos vinham da caça e pesca. Os franceses utilizavam a mão-de-obra indígena na extração do pau-brasil. A aliança era tão próxima que alguns franceses chegaram a casar com índias, estabelecendo a primeira miscigenação na capitania, atestam historiadores como Rocha Pombo, Frei Vicente Salvador, Sérgio Buarque de Holanda e outros. As relações amistosas e comerciais vêm desde os tempos em que os filhos de João de Barros96 empreenderam as suas tentativas de colonização. E a empatia entre franceses e potiguares ultrapassava as relações comerciais. Frei Vicente do Salvador diz que os franceses andavam em chamego com as cunhãs potiguares, e Capistrano de Abreu sugere que a miscigenação proveniente das relações entre franceses e índias (fora) bem maior que a dos flamengos. Diz ainda Capistrano de Abreu: Muitos franceses mestiçaram com as mulheres indígenas no Rio Grande do Norte, muitos filhos de cunhãs se encontravam já de cabelo louro: ainda hoje resta um vestígio da ascendência e da persistência dos antigos rivais dos portugueses na cabeleira da gente encontrada naquela e nos vizinhos sertões de Paraíba e do Ceará. As relações eram ainda mais facilitadas porque os franceses não tinham nenhuma exigência moral para o indígena nem pretendiam fundar cidade, impor costumes, obrigar disciplina, enquanto os portugueses, ao se depararem com os nativos tentavam logo moldá-los, tentando catequizá-los e ensinar-lhes algumas normas de conduta. Os franceses só queriam fazer comércio e, talvez por isso, respeitavam a vida selvagem, protegendo-a, tornando-se familiar, amigo, indispensável, obtendo mais baixo preço nos rolos de ibirapitanga, o pau-brasil vendido em ducados de ouro na Europa, ávida de cores vibrantes para os tecidos em voga. O português vinha para ficar, criando ambiente, à sua imagem e semelhança, construindo fortes, plantando cidade, falando em leis, dogmas, ordenações e alvarás. Os deuses vagos e sonoros de teogonia tupi estariam ameaçados de morte pelo avanço dos missionários, os “abaúnas”, vestidos de negro, ascéticos, frugais, armados de pequeninas cruzes, entrando pelas matas, cantando ladainhas. Os corsários franceses deste período não descansavam. Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan - natural de Vienne, no Delfinado, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas. Era tão forte a presença francesa que muitos recantos de nossa costa foram batizados com nomes como porto Velho dos Franceses e porto Novo dos Franceses (ambos no Rio Grande do Norte), rio dos Franceses (na Paraíba), baía dos Franceses (em Pernambuco), boqueirão dos Franceses (em Porto Seguro), ou praia do Francês (próximo à atual Maceió, em Alagoas). Outro ponto no qual os navios normandos ancoravam com muita freqüência era a praia de Búzios, no Rio Grande do Norte, a cerca de 25 km ao sul de Natal. Ao porto localizado na praia de Búzios podiam “surgir navios de 200 toneladas”. Os franceses usavam o porto da desembocadura do rio Pirangi (aproximadamente 25 km de Natal) para o “resgate do pau” como os portugueses se referiam aos locais de corte e estocagem de pau- brasil. Todo o Brasil setentrional estava completamente abandonado pelo colonizador luso e, portanto, nas mãos de comerciantes de outras nações, aí também incluídos ingleses, holandeses, espanhóis, escoceses, 95

Um topônimo gravou o local e fixou o fato inconteste: diz-se Nau dos Refoles, ou simplesmente Refoles, até hoje, a parte do bairro do Alecrim (Natal) onde se ergue a Base Naval. 96 A descoberta do território hoje conhecido por Maranhão é devida ao espanhol Vicente Pinzon. Em 1534, deu o governo português a João de Barros e Fernando Alvares e Andrade toda a costa e as regiões do interior, que hoje compreendem os estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, para serem administradas como duas capitanias. http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g49.htm


dentre outros. Vale lembrar que, nesta época, o último reduto português era a fortaleza do Natal, edificada em 1599 por Mascarenhas Homem com a participação de Jerônimo de Albuquerque. Este abandono fez o historiador maranhense João Lisboa declarar no livro Jornal do Tímon que os franceses não invadiram o Maranhão. Eles ocuparam uma terra vaga, desabitada, e que os donatários régios de Portugal e Espanha estavam sujeitos às penas de comisso, pois já se passara mais de um século sem as terras terem sido ocupadas. Conquistado o Rio Grande, os franceses perderam magnífico ponto de apoio na costa brasílica. O comércio corsário atingia, porém, o seu ponto máximo. Não podiam voltar atrás. Expulsos da Paraíba e do Rio Grande foram mais para o Norte97. Antes mesmo da fundação da França Equinocial os colonos luso-brasileiros se haviam lançado à conquista do Ceará, etapa da conquista do Maranhão, quartel-general dos franceses. Os portugueses (e espanhóis) resolveram atacá-los. De passagem, porém, deveriam conquistar o Ceará. Caso contrário, ficariam dominados, de Sul a Norte, até Rio Grande. Um vazio depois, em que os selvagens poderiam armar-se e lutar. O Maranhão ficaria isolado. A unidade estaria quebrada. Principiou-se a conquista do Ceará em 1603, com Pêro Coelho de Sousa, cunhado de Frutuoso Barbosa, que ali realizou duas investidas infrutíferas. Entre os seus companheiros sobressai Martim Soares Moreno, uma das figuras mais extraordinárias da época. Era Governador-Geral do Brasil, por essa ocasião, Diogo Botelho, enérgico disciplinador.

Mapa do costa do Ceará em 1629

A missão jesuítica, em 1607, chefiada pelos padres Luís Figueira e Francisco Pinto foi aniquilada pelos índios. Francisco Pinto foi assassinado e Luís Figueira conseguiu fugir ao trucidamento. Sua missão era de paz, em campo de guerra. O Padre Luis Figueira, em sua Relação do Maranhão (de 1608) confirma a presença de franceses: "Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão". A conquista do Ceará se deu efetivamente com a fundação, ali, da primeira feitoria e de um forte, por Martim Soares Moreno, que também ergueu ermida sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo, hoje a capital cearense, Fortaleza. 97

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgDqMAG/historia-rio-grande-norte?part=6


Já em 1594, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luis, no Maranhão. Junto com Charles des Vaux aporta na Ilha Grande, atual Ilha de São Luis, no Maranhão98. O navio de Jacques Riffault naufraga nos baixios da ilha, mais tarde denominada Sant´Ana. Riffault e Des Vaux, naufragados no Maranhão, aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas". Mas para os seus planos, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial. Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 vêem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos. Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia). É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.

Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34 98

http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html


Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011).

Continuemos com Noberto Silva (2011): [...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.

Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.


Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) 99 -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil100. O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras, no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu. Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá.

FORTE DO SARDINHA

Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan. Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza101 recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". 99

Não seria POTE MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 101 Pero Coelho de Sousa foi um explorador português, oriundo dos Açores, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que a anos atuavam na capitania do "Siará Grande". Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os franceses e indígenas. Depois dessa vitória ele tentou entrar mais na região na direção do Maranhão, mas devido à rebelião de seus homens, retornou à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho_de_Souza 100


Integravam a expedição Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda, à frente de oitenta e seis europeus e duzentos indígenas. Em obediência ao Regimento, iniciou, na foz do rio Jaguaripe, uma fortificação em 10 de agosto de 1603, antes de prosseguir para combater os franceses de Jacques Riffault na Ibiapaba (BARRETTO, 1958, p.82-83). 102 Em 1604, Pero Coelho de Souza, passou rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contas o franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú103, atual Barreiras (município de Camocim)104. Barreto (1958)105 informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92). A falta de notícias de Riffault fez com que Charles fosse ter com Henrique IV, que então reinava na França, e lhe expusesse o desejo que tinham, não de manter um estabelecimento, mas de fundar uma verdadeira colônia francesa no Brasil. A exposição interessou ao Rei que determinou a Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, oficial da Marinha, viesse para constatar as possibilidades da realização dos planos que acabavam de lhe ser expostos. La Touche, aqui chegando, entusiasmou-se com a empresa e com ele Des Vaux, retornou à França para obter o apoio oficial e decisivo. Henrique IV havia falecido e, como seu sucessor Luís XIII era menor, governava, como Regente, Maria de Médici, que logo apoiou a idéia e sob sua proteção determinou que se tomassem as iniciativas para concretizar os planos de uma posse definitiva e sólida no Maranhão. Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, associa-se a outros comerciantes abastados, como Nicolas de Harlay e François de Razily. A concessão dada pela Rainha-mãe o fora pela promessa de catequizarem o gentio, trazendo em, 1612, quatro frades capuchinhos (Yves DÈvreux, Claude dÀbbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens) e de anexarem à França o território conquistado, com a ajuda dos tupinambás, sob a denominação de França Equinocial. Em 1614, na célebre batalha de Guaxenduba, os franceses comandados por De Pizieuz foram fragorosamente derrotados, apesar da superioridade numérica (quase 500 homens) e bélica, sendo mortos 115 franceses e aprisionados nove. Após a trégua foram enviados emissários às duas Cortes, a fim de tratarem da paz definitiva. Foi no documento que determinou esse armistício que Jerônimo assinou pela primeira vez - Jerônimo de Albuquerque Maranhão. Seguindo projeto feito pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita iniciou-se a construção de um povoado, próximo ao forte deixado pelos franceses, sendo a primeira povoação no Brasil a ter a sua planta previamente traçada em uma malha urbana octogonal, posicionada no sentido dos quatro pontos cardeais. Com a construção da igreja de N. Sra. da Vitória em pagamento à promessa feita por Diogo da Costa Machado durante uma epidemia de varíola que matou parte da população, o então povoado foi elevado à Vila em 1620 e finalmente à cidade em 1667, por força da Bula Papal Super Universas Orbis Ecclesias de Inocêncio XI que criou a Diocese de São Luís em 30 de Agosto daquele ano. A partir da França Equinocial o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco das Tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará. 102

BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. O Rio Coreaú é um rio brasileiro que banha o estado do Ceará. Primitivamente Curuayú, de curiá (ave aquática de pequeno porte) + iú (do verbo beber), donde se forma bebedouro dos curiás. Fica situado no Vale Coreaú nos municípios de Ibiapina, onde fica sua nascente, Frecheirinha, Mucambo, Ubajara, Coreaú, Moraújo, Uruoca, Granja e Camocim, onde deságua no Oceano Atlântico. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Corea%C3%BA 104 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortifica%C3%A7%C3%B5es_do_Camocim 105 BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958 103


Tal divisão era praticamente igual aos limites extra-oficiais do empreendimento capitaneado por La Ravardière, conquistado por Riffault, Des Vaux, e Davi Migan...


SOBRE TUPIS E TAPUIAS106 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 107.

Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 108 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi. Em A Pacotilha (30 de maio de 1925), de autoria de Ludovico Schwennhagen é publicado artigo com o seguinte título: MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios: As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara ao Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes eram tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925).

Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis – fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú: OS FENICIOS E OS TUPIS Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Ásia. Os fenícios, os carios e muito outros povo da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano. Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Tróia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram TuTroia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis).

(SCHWENNHAGEN, 1925).

106

Publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, em 12 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/12/sobre-tupis-etapuias/ 107 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 108 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004


Antes, em 1924, a 4 de setembro, também em A Pacotilha e sob o titulo “São Luis na Antiguidade” afirma que a Ilha do Maranhão tem um grande passado histórico. Que “Pinson, o companheiros de Colombo, tinha noticias duma grande ilha, que era o centro da nação dos Tupinambás, um trato de terra muito rico e populado”. Chegando às Antilhas, desligou-se de seu companheiro para procurar o continente, situado ao Sul, “onde a Ilha do Maranhão devia ser, conforme as antigas histórias que viviam ainda na memória dos índios, a cabeça de ponte para entrar no continente”. Não sabemos se Pinson realmente esteve nesta ilha, “mas fora de duvidas que a procurou”. Outros tentaram chegar a Ilha do Maranhão, informa, dentre eles Luis de Melo, Aires da Cunha e João de Barros; “a idéia sempre ficou”. Surgiu ainda em projetos a partir de Pernambuco, para descobrir a falada ilha do Maranhão: Pedro Coelho de Sousa e Martins Soares Moreno; as expedições terrestres de Francisco Pinto e Luis Figueira: [...] Entretanto, o instituto marítimo de Dieppe, o centro intelectual da Normandia, tinha por sua vez estudado a questão da ilha afamada do Maranhão, e os veleiros dos normandos franceses procuraram, já desde decênios, esse ponto milagroso da antiga civilização dos povos Tupis, dos filhos e Tupan, do grande Deus. Quando os normando entraram, em 1612, na ilha, estava ela já, desde muitos séculos, em decadência, mas sempre superava de muito todos os outros pontos marítimos dos Tupis, entre Pernambuco e a foz do Amazonas. Os primeiros viajantes europeus que andaram por terra, perto do litoral, de Recife à Ilha do Maranhão, encontraram nessa grande distancia somente 8 aldeias de índios, em quanto esta ilha tinha 27 aldeias bem organizadas, com seus chefes, com casas comuns para suas reuniões, com comerciantes e operários, e com cemitérios.[...]

O Padre Abbeville contou em algumas aldeias até mil habitantes, o que nos leva a pelo menos 27 a 30.000 habitantes; mantinha um grande comercio com o interior, de couros, mantimentos e pedras preciosas, etc. Não só Abbeville, mas ao padres português que sucederam aos capuchinhos franceses, contaram: [...] que os índios da ilha mostravam um alto grau de inteligência e usavam na sua língua as formas duma educação relativamente altiva. Não só com os estrangeiros, também entre eles mesmos usavam sempre palavras cerimoniosas e de respeito. Eles davam a impressão de fidalgos pobres, que tivessem conservado os costumes de sua antiga nobreza.

Para Schwennhagen (1924) todos os momentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha do Maranhão: [...] constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 a 1000 anos antes da era christã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que se completou o desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do mar Mediterrâneo. Sabemos que as frotas dos Fenícios navegavam desde 3500 a.C. entre a Europa, a África e a América, e sabemos que também os povos do México e do Norte do Brasil tinham uma extensa navegação. Os mapas marítimos, encravados em grandes placas de pedra calcareas, os quais existem hoje ainda em Paraíba e Amazonas, são documentos inegáveis.

Prossegue: A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As ultimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cutivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus.

Para esse professor do Liceo de Parnaíba, onde está hoje São Luis, ‘devia estar 3000 anos antes a Acrópole da ilha do Maranhão’. Pode ser que navegadores estrangeiros, ‘talvez Fenícios, lhe dessem o impulso inicial para fazer daqui um empório comercial’


Por volta do ano 1.000, os territórios amazônicos haviam sido conquistados pelos movimentos de expansão dos povos tupi-guaranis, aruaques e caribes, principalmente. É por essa época que a Amazônia provavelmente atingiu uma das maiores densidades demográfica. (MIRANDA, 2007, p. 15) 109. O termo "tupis" possui dois sentidos: um genérico e outro específico. O sentido genérico do termo remete aos índios que habitavam a costa brasileira no século 16 e que falavam a língua tupi antiga110. Considera-se como Civilização Tupi-guarani todo elemento cultural que esteja de alguma forma relacionado com os idiomas do tronco linguístico tupi111. Tronco tupi é um tronco lingüístico que abrange diversas línguas das populações indígenas sul-americanas112. O tupi ou tupi antigo era a língua falada pelos povos tupis que habitavam o litoral do Brasil no século XVI (tupinambás, tupiniquins, caetés, tamoios, Tapuia é um termo que foi utilizado, ao longo dos séculos, no Brasil, para designar os índios que não falavam a língua tupi. Há diversos entendimentos das origens do termo, mas, em geral, observa-se que seria de procedência tupi e que teria significado semelhante a "forasteiro", "bárbaro", "aquele que não fala nossa língua", "inimigo"113: O termo "Tapuio" não é expressão designativa de uma etnia. É tão somente "Um vocábulo de origem tupi, corruptela de tapuy-ú – o gênio bárbaro come, onde vive o gentio. [...] É um dos termos de significação mais vária [diversificada] no Brasil. No Brasil pré-cabraliano, assim chamavam os tupis aos gentios inimigos, que, em geral, viviam no interior, na Tapuirama ou Tapuiretama – a região dos bárbaros ou dos tapuias". Tomislav R. Femenick, 2007114 [...] Tapuia significa "bárbaro, inimigo". De taba – aldeia e puir – fugir: os fugidos da aldeia. de Alencar, Iracema, 1865115

José

No período colonial, dividiam-se os índios brasileiros em dois grandes grupos: os tupis (tupinambás), que habitavam principalmente o litoral e os tapuias, que habitavam as regiões mais interiores e que falavam, principalmente, línguas do tronco macro-jê116. O tronco macro-jê é um tronco linguístico cuja constituição ainda permanece consideravelmente hipotética. Teoricamente, estendem-se por regiões não litorâneas e mais centrais do Brasil 117. Também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande do Norte, divididos em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó), e eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas, e entre os mais destacados eram os reis Janduí e Caracar, cujo poder real não era hereditário. Os Tapuias eram fortes, possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eles eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal, eram endocanibalistas, isto é, devoravam até mesmo os de sua tribo quando da sua morte. Os Tapuias eram nômades. Eles paravam onde havia abundância de alimentos e gostavam de viver ao ar livre. Não construíam casa (por isso as suas habitações eram toscas e feias).118 Para Fernandes (2012)119, a origem dos índios brasileiros é controversa e o que é mais aceito, hoje em

dia, é o modelo de origem baseado nas quatro migrações: # a primeira foi uma migração africana/aborígine, como atesta o crânio da Luzia com seus traços negróides, de 11.000 anos atrás, # as três últimas migrações foram mongólicas vindas pelo estreito de Behring, também a partir de 11.000 anos, que dá o DNA dos nossos índios atuais,

109

MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO. 2 Ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

110 111 112

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupis https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_Tupi-Guarani/Introdu%C3%A7%C3%A3o

https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-tupi

113

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias http://www.tomislav.com.br/artigos_imp.php?detalhe=&id=280 115 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar 116 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias 117 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-j%C3%AA 114

118

Os Tapuias - Dialetico.com WWW.DIALETICO.COM/HISTORIA_1/TAPUIAS.PDF FERNANDES, Anibal de Almeida. ESCRAVIDÃO de ÍNDIOS e NEGROS no SÉCULO XVI no BRASIL. www.genealogiahistoria.com.br, Disponível em http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=50

119


# porém a maior das dúvidas/controvérsias retroage há 48.000 anos atrás com as fogueiras da Toca do Boqueirão no Piauí, até hoje não explicadas convincentemente. Pesquisa da revista científica Nature": cientistas analisaram quase 400 mil variantes de uma única "letra" química do DNA, a partir de amostras do genoma de 52 povos nativos, entre eles caingangues e suruís do Brasil, por exemplo. A comparação dessas variantes nos indígenas com as versões de outros povos do mundo permitiu mostrar que, conforme o esperado, a maior parte do genoma dos nativos das Américas foi legado por imigrantes vindos da Sibéria, há pelo menos 15 mil anos. No entanto, os esquimós e outros povos do Ártico parecem ter herdado cerca de 50% de seu DNA de outra onda, mais recente, vinda da Ásia. E um povo canadense, os chipewyan, derivam 10% de seu genoma de uma terceira onda, estimam os cientistas. (FSP: 12/7/12).

Existiam também povos Tapuias em alguns pontos da Região Nordeste do Brasil. Viviam na Amazônia, antes dos Tupis e dos Nuaruaques, provavelmente desalojados por esses grupos, passaram a ocupar o Xingu (região a partir da qual emigraram, atingindo vários Estados brasileiros, como Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e outros) 120. Os estudos indicam que as diversas migrações tenham ocorrido há pelo menos 40.000 anos. Ou mais... Nativos americanos pré-históricos tardios, como os índios, apresentam uma morfologia craniana semelhante à dos homens norte asiáticos modernos; já os crânios sul-americanos mais antigos tendem a ser mais semelhantes aos australianos, melanésios e africanos subsaarianos atuais (morfologia paleoamericana) (MIRANDA, 207, p. 39-40). Povos mongolóides vindos da America do Norte chegaram à America do Sul através do Istmo do Panamá, começando a colonização da Amazônia por norte-americanos de origem, encontrando-se sítios com cerca de 15 mil anos (Venezuela), 11.800 anos (Peru), 11.300 o sitio de Pedra Pintada no Pará. (MIRANDA, 207, p. 39-40). Teoria mais recente levante a hipótese de ter ocorrido também uma migração anterior de povos aparentados com os africanos e aborígenes australianos. De lá, eles provavelmente desceram ao longo do continente americano até atingir o extremo sul da América do Sul. Um desses povos diferenciou-se dos demais e desenvolveu uma língua proto-tupi, no sul da Amazônia, por volta do século V a.C. (provavelmente na região do atual estado brasileiro de Rondônia. Embora uma hipótese alternativa aponte a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão tupi-guarani121. Outros estudos demonstram que os tupis teriam habitado originalmente os vales dos rios Madeira e Xingu, que são afluentes da margem meridional do rio Amazonas. Estas tribos, que sempre foram nômades, teriam iniciado uma migração em direção à foz do rio Amazonas e, de lá, pelo litoral para o sul. Supõe-se que esta migração, que teria também ocorrido pelo continente adentro no sentido norte-sul, tenha principiado no início da era cristã. Numa hipótese alternativa, o folclorista Luís da Câmara Cascudo aponta a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão dos tupis-guaranis (incluindo os povos guaranis junto com os tupis122. Alguns autores suspeitam que, nesta trajetória, os tupis tenham enfrentado os tupinambás, que já habitariam o litoral; outros sustentam que apenas se tratava de levas sucessivas do mesmo povo, os posteriores encontrando os anteriores já estabelecidos. Certo é que, nesse processo, as tribos tupis derrotaram as tribos tapuias que já habitavam o litoral brasileiro, expulsando-as, então, para o interior do continente, por volta do ano 1000123. De lá, ele se expandiu no início da era cristã pelo leste da América do Sul, dividindo-se em várias tribos falantes de línguas derivadas desse idioma proto-tupi e que constituiriam o tronco linguístico tupi: tupinambás, potiguares, tabajaras, temiminós, tupiniquins, caetés, carijós, guaranis, chiriguanos etc.124. Outra proposta 125 considera que a migração no sentido sul dos povos que formariam os guaranis e os tupinambás teria ocorrido em duas levas em separado: 120 121

124

https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080910142552AAXkxKq

CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA 122

TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS

123

TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS

CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA


[...] a de povos protoguaranis e a de povos prototupinambás. A primeira, dos protoguaranis, teria se dividido algumas vezes. Um ramo entrou na Bolívia. Outro seguiu para o sul até a bacia dos rios Paraná e Uruguai. Deste segundo ramo, alguns grupos acompanharam os rios Paranapanema e Uruguai para o leste, chegando enfim ao litoral. Já os prototupinambás teriam descido o rio Paraguai, mas rumaram para o leste, um pouco mais ao norte do que os guaranis. Eles teriam seguido os rios Grande e Tietê, alcançando o litoral onde hoje é São Paulo, e depois ocupado a costa do sul para o norte. Por essa versão, os povos tupis-guaranis que não saíram da Amazônia migraram para o leste, mas não pelos grandes rios, e sim por seus afluentes (que muitas vezes quase se emendam), chegando ao Maranhão e ao Centro-Oeste (KNEIP, MELLO, 2013).

Ainda seguindo esses autores 126, estudos arqueológicos, por sua vez, apontam para outra direção: A partir da análise de cerâmicas, indicam como centro de origem da família tupi-guarani a região de confluência do rio Madeira com o Amazonas, ainda dentro dos limites daquele que hoje reconhecemos como o estado do Amazonas. A partir desse local, uma cisão teria resultado, grosso modo, em duas rotas de expansão. Um grupo origina os tupinambás. Eles migram em direção ao leste, pela boca do Amazonas, até encontrar o oceano. De lá, descem pela costa até o litoral de São Paulo, ou seja, do norte para o sul. Outro grupo, que daria origem aos guaranis, teria de início subido o rio Madeira para o interior da Amazônia e, então, descido pelo rio da Prata, até chegar ao litoral sul do Brasil. (KNEIP, MELLO, 2013).

Apresentam, então, uma terceira visão, lingüística: Apesar de Rondônia ter a maior diversidade linguística do tronco tupi, há apenas um subconjunto tupiguarani, e com línguas bastante semelhantes. A maior diversidade linguística da família tupi-guarani está mais para o leste amazônico, portanto, seguindo esse raciocínio, teria partido de lá a dispersão. A migração de tupinambás deve ter se dado no sentido norte-sul, novamente, por povoações não muito afastadas umas das outras, formando uma área contínua, em conjunto com outros grupos tupis-guaranis localizados no leste amazônico e no meio-norte. De fato, quando os europeus começaram a povoar a América do Sul, os tupinambás ocupavam cerca de três quartos do litoral que hoje corresponde ao Brasil: do Maranhão até São Paulo. As diferenças lingüísticas entre o norte e o sul eram mínimas, o que sugere uma rápida dispersão. (KNEIP, MELLO, 2013).

Estudo de 2008 aponta que a saída de índios tupis-guaranis da Amazônia remonta há 2.920 anos127: A saída de índios tupis-guaranis da Amazônia não é um evento tão recente como se imaginava. Um novo estudo encontrou evidências do povo na região onde hoje está o município de Araruama, no Rio de Janeiro, há 2.920 anos – mais de mil anos antes do que as evidências indicavam até então. Os resultados do trabalho foram publicados nos Anais da Academia Brasileira de Ciências. De acordo com a primeira autora, Rita Scheel-Ybert, [...] o aparecimento de datas cada vez mais antigas no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, nos últimos anos, tem mudado o paradigma a respeito da ocupação. Segundo ela, a hipótese mais aceita até o momento, baseada em dados lingüísticos, considerava que a saída dos tupis-guaranis da Amazônia não poderia ter ocorrido antes de cerca de 2.500 anos atrás. “A datação anterior existente para o sítio Aldeia Morro Grande, em Araruama, de 1.740 anos, já era considerada bastante recuada, sendo inclusive a mais antiga para o Estado do Rio de Janeiro. As novas datas, de cerca de 2.900 e 2.600 anos, seriam, por essa razão, completamente inesperadas”, disse à Agência FAPESP. 125

KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babelindigena, 1º DE ABRIL DE 2013 126

KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babelindigena, 1º DE ABRIL DE 2013 127

ALCANTARA, Alex Sander. MIGRAÇÃO (BEM) ANTERIOR. HTTP://WWW.GENTEDEOPINIAO.COM.BR/LERCONTEUDO.PHP?NEWS=39964

IN

GENTE

DE

OPINIÃO,

30/12/2008,

DISPONÍVEL

EM


[...] As novas datas, acredita ela, não questionam a origem amazônica dos tupis-guaranis, pois, para isso, seria necessário um número maior de evidências. Nossa hipótese é que a multiplicação dos estudos e um maior investimento em datações, tanto na Amazônia como no resto do Brasil, tenderão a revelar outras datações tão ou mais antigas como essas e permitirão uma melhor compreensão dos processos de ocupação do nosso território”, disse, salientando que outros autores já haviam sugerido que a expansão tupi-guarani a partir da Amazônia possa ter começado há bem mais de 2.000 anos.

Para Neves e Outros (2011) 128 pode-se dizer que a ideia de que esses povos, que ocuparam grande parte do território brasileiro e parte da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina, tiveram sua etnogênese na Amazônia e dali partiram para o leste e para o sul, por volta de 2.500 anos antes do presente, é bastante aceita entre os especialistas, embora uma dispersão no sentido oposto, isto é, do sul para o norte, com origem na bacia do Tietê-Paraná, não seja completamente descartada. Entre os arqueólogos que consideram a Amazônia como berço desses povos, alguns acreditam que esse surgimento se deu na Amazônia central. Outros acreditam que a etnogênese Tupiguarani ocorreu no sudoeste da Amazônia, onde hoje se concentra a maior diversidade linguística do tronco Tupi. (NEVES, e Outros, 2011). De acordo com Feitosa (1983)129, não é possível determinar a origem dos primeiros habitantes, havendo várias teorias que supõem o aparecimento do homem com duas hipóteses explicativas: a monogenica (o homem descendente de um único casal original) e a poligenica. Dentre as diversas teorias, temos: Africana, Monogenismo Americano, Australiana, Atlante, Cartaginesa, Chinesa, Egipcia, Grega, Ibera, Irlandesa, Malaio-Polinesia, e por fim a Mista. Ainda a Paleo-Asiática, Viking...130 Correia Lima e Aroso (1989) 131 apresenta as correntes migratórias das Américas, segundo CanalsPompeu Sobrinho, em número de cinco: Australóides, Protossiberianos, Paleo-siberianos, Protomalaios, e 128

NEVES, Walter Alves; Bernardo, Danilo Vicensotto; OKUMURAI, Mercedes; ALMEIDA, Tatiana Ferreira de; STRAUSS, André Menezes. Origem e dispersão dos Tupiguarani: o que diz a morfologia craniana? BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI. Cienc. Hum., Belém, v. 6, n. 1, p. 95-122, jan.- abr. 2011 129 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luis: Augusta, 1983. 130 DOMINGUES, Virgilio. O TURIAÇU. São Luis: SIOGE, 1953 LOPES, Raimundo. A civilização lacustre do Brasil. In COSTA, Cássio Reis. A BAIXADA MARANHENSE, no plano do Governo João Castelo. São Luis: SIOGE, 1982. LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de janeiro: Cia Ed. Brasileira; Fon-Fon, 1970. LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. BANDEIRA, Arkley Marques. Os registros rupestres no Estado do Maranhão, Brasil, uma abordagem bibliográfica. In http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/arkley_marques_bandeira.htm ver também: http://www.naya.org.ar/ - NAYA.ORG.AR - Noticias de Antropología y Arqueología LIMA, Olavo Correia (1985). Província Espeleológica do Maranhão. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ano LIX n 10, São LuísMA, p. 62-70. LIMA, Olavo Correia (1986). Cultura Rupestre Maranhense. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ano LX, n. 11-São Luís –MA, p. 712. LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olair Correia Lima (1989). PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. SIOGE São Luís-MA. CARVALHO, J. B. de. Nota sobre a arqueologia da Ilha de São Luís. REVISTA DO IHGM, Ano VII, n. 6, dezembro de 1956 LOPES, Raimundo. O TORRÃO MARANHENSE. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do Commercio, 1916 LOPES, Raimundo. ANTROPOGEOGRAFIA. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1956. (Edição fac-similar comemorativa ao centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras, São Luis: AML, 2007). SAMPAIO, Alberto José de. Biogeografia Dinâmica - a natureza e o homem no Brasil. Coleção Brasiliana, vol. 53, 1935 SAMPAIO, Alberto José de. Fitogeografia do Brasil Coleção Brasiliana, vol. 35, 1935 AVELINO, Paulo. ”Resenha de livro raro: Uma Região Tropical, de Raimundo Lopes”, disponível em http://www.fla.matrix.com.br/pavelino/lopes.htmlfala LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-fon e Seleta, 1970. 197p. Coleção São Luís, volume 2. CORREA, Alexandre Fernandes. A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA in http://teatrodasmemorias.blogspot.com/2009/12/antropogeografia-de-raimundo-lopes-sob.html CORREA, Alexandre Fernandes. AS RELAÇÕES ENTRE A ETNOLOGIA E A GEOGRAFIA HUMANA EM RAIMUNDO LOPES. CAD. PESQ .. São Luís. v. 14. n. 1. p.88-1 03. jan.!jun. 2003disponivel em http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesquisa/uploads/files/Artigo%206(16).pdf MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. IN REVISTA SEXTO SENTIDO, postado em 2010-06-11 13:25, no sitio http://www.revistasextosentido.net/, disponível em http://www.revistasextosentido.net/news/%20as%20cidades%20perdidas%20do%20maranh%C3%A3o/ EVREUX, Ives d´. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL FEITAS NOS ANOS DE 1613 A 1614. São Paulo: Siciliano, 2002. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O BRASIL HOLANDÊS (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010. PAULA RIBEIRO, Francisco de. MEMÓRIAS DOS SERTÕES MARANHENSES. São Paulo: Siciliano, 2002 PROJETO JOGOS INDÍGENAS DO BRASIL. in http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/campo.asp#canela PUXADA DO MASTRO AGITA OLIVENÇA. In CIA DA NOTÍCIA, disponível em http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/, 08/01/2011, acessado em 23/01/2011 131 CORREIA LIMA, Olavo; AROSO, Olir Corria Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luis: Gráfica Escolar, 1989. CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Ameríndios maranhenses. REVISTA IHGM, Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54 CORREIA LIMA, O. Homo Sapiens stearensis – Antropologia Maranhense REVISTA IHGM Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43 CORREIA LIMA, O. Província espeleológica do Maranhão REVISTA IHGM Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70


Protopolinésios. Os australoides deram descendentes em ambas as Américas, sendo que na do Sul, aparecem os Lácidas, Huarpidas, Patagônicos. Os Lácidas, paleossiberianso, atingem o Brasil e o Maranhão; assim como os nordéstidas e os fueguinos, sendo que os primeiros atingem o Brasil e o Maranhão. Durante a expansão dos Tupis-Guaranis – descendentes dos protomalaios, e desembarcados nas costas ocidentais do istmo do Panamá, deslocaram-se para o suleste, atravessando os Andes, e atingindo o Amazonas, onde fizeram seu centro de dispersão. Migravam com muita freqüência, surpreendentemente rápidos. Desceram o Rio Amazonas e se embrenharam em seus afluentes: Madeira, Tapajós, Xingu, Tocantins, Araguaia e ainda Gurupi, Mearim, etc. Passaram ao rio Paraguai e seus afluentes do Paraná, chegando ao Atlântico. Marginaram-se em direção ao Norte, parando no Maranhão, para reencontrar seus irmãos amazonenses. Sua migração pela costa nacional é recente e se fazia sempre ás custas dos velhos ocupantes, notadamente os Lácidas. Os quais eram empurrados para o interior. Deixaram sempre ocupantes por onde passam, a exemplo dos Tupinambás, na Ilha de São Luis. Dos Tupis, hoje, restam os Guajajara – Tenetehára – com uma história longa e suingular de contato, a partir de 1615, nas margens do Rio Pindaré, com uma expedição exploradora francesa. Os Awá-guajá – se autodenominam Awá, também chamados Wazaizara (Tenetehara), Aiayé (Amanayé), Gwazá. O termo Awá significa ‘homem’, pessoa’, ou ‘gente’; sua origem é obscura, acreditando-se originários do baixo Tocantins. Acredita-se que a partir da Cabanagem (1835-1840) tenha inicado a migração rumo ao Maranhão. Já os Ka´apor (Urubu-Kaapor, Kaáporté) surge como povo distinto à cerca de 300 anos, provasvelmente na região entre os rios Tocantins e Xingu. Talvez os conflitos com colonizadpores luso-brasileiros e outros povos nativos, iniciaram longa e lenta migração, por volta de 1870, do Pará ao Maranhão, atraves do Gurupi. Foram pacificados em 1911. 132 Correia Lima e Aroso (1989) 133 traz que a ocupação do território maranhense se deu através de três correntes migratórias - Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Embora os traços mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos. Esses autores, ao adotarem a sistemática de Canals (1950) Pompeu Sobrinho (1955), afirmam que caçadores australóides do nordeste asiático - Sibéria, de acordo com Aquino, Lemos & Lopes (1990, p.19) 134 - ingressaram no Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa há 7.000 +/- 120 anos (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 135. Sander-Marino (1970, citados por Correia Lima & Aroso, 1989, p. 19) registram entre 40 e 21 mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras das Américas. Para Feitosa (1983, p. 70) 136 há um consenso quando da "determinação temporal" da chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET); 28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C. (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 137.

CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Cultura rupestre maranhense – arqueologia, antropologia REVISTA IHGM Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12 CORREIA LIMA, O. Parque Nacional de Guaxenduba REVISTA IHGM ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36 CORRÊA LIMA, O. No país dos Timbiras REVISTA IHGM Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91 CORREIA LIMA, O. Mário Simões e a arqueologia maranhense REVISTA IHGM Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31 132 Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 133 CORREIA LIMA, Olavo & AROSO, Olir Correia Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. 134 AQUINO, Rubim S.L; LEMOS, Nivaldo J. F. de & LOPES, Oscar G.P. C. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES AMERICANAS. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990. 135 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios Canelas. In Painel apresentado na III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo Fernandes de (org.). ESPORTE COM IDENTIDADE CULTURAL: COLETÂNEAS. Brasília: INDESP, 1996, p. 106-111. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 128. Revisto e ampliado para apresentação no IHGM em 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. In XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and; XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport, Rio de Janeiro, 136 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luís: Augusta, 1983. 137 VAZ, obras citadas.


De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato - Piauí, foram encontrados fosseis com datação de 41.500 anos (FRANÇA & GARCIA, 1989)138. Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989, 1989b, 1994) 139. Para Miranda (2007)140: A partir da chegada dos humanos, cuja data os arqueólogos tendem a multiplicar em diversos eventos, origens e a recuar no tempo, progressivamente o espaço natural da Amazônia passa a ser objeto de uso, controle, acesso, exploração, mudanças, disputa, transferência e até transmissão entre grupos humanos cada vez mais numerosos e organizados, com diferentes histórias e patrimônios culturais.

Uma coisa é certa: a mais antiga e permanente presença humana no Brasil está na Amazônia: Há cerca de 400 gerações, e segundo autores controversos, há mais de 2.000 anos, diversos grupos humanos ocupam, disputam, exploram e transformam os territórios e seus recursos alimentares.(

MIRANDA, 2007, p. 41) Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos que viviam ao longo da costa eram os Tupi. Estes tinham escorraçado os povos de língua e cultura Jê para o interior, vivendo, em geral, na região dos cerrados. Teixeira e Papavero (2009) 141, ao narrarem a “Viagem do Capitão de Gonneville” – viagem de Binot de Paumier ao Brasil (1504) traz um passo curioso, de porque foram os brancos bem recebidos em certas tribos do litoral: [...] Durante os reparos da nau souberam os visitantes que se formara uma espécie de confederação das tribos daquele setor do litoral contra as tribos do sertão que as hostilizavam. Os amigos dos normandos pertenciam, assim como os vizinhos imediatos, ao ramo Tupi, que do Paraguai, segundo dizem especialistas, subiram a costa até além de Pernambuco, e, com interrupções, atingiram a região da marcha do silvícolas do sul para o norte, em que deslocavam outros indígenas e provocavam lutas contínuas [...]. (p. 152).

Correia Lima e Aroso (1989) trazem que os Lácidas foram os primeiros povoadores do Maranhão, como o foram do Brasil. Vieram através de correntes migratórias interioranas e se localizaram de preferencia na parte setentrional e maranhense do Planalto Central do Brasil. Eram representados por um povo, os Tremembé (Tatamembé, Trememmbé) que ocuapava inicialmente a costa maranhense, antes da chegada dos brasílidas. Na época do contato, viviam da fronteira do Pará (Rio Caeté) à do Piauí (Tutóia), sendo sua área preferida o Delta do Parnaíba e a Baia de Turiaçú. Os Nordéstidas chegaram ao Maranhão pela corrente litoranea local, ocupando todo o litoral, sendo os primeiros a usar essa corrente, vindo do Nordeste. Apenas os Muras seguiram para o Amazonas, tornando-se fluviais.

138

FRANÇA, Martha San Juan & GARCIA, Roberto. Os primeiros brasileiros. SUPERINTERESSANTE v. 3, n. 4, p. 30-36, abril de 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). ZEITGSCHIFT MUNCHER BELTRDZUR VULKERKUNDE, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE v.15 - n.2 - 1994 140 MIRANDA, 2007, obra citada, p. 40-41. 141 TEIXEIRA, Dante M.; PAPAVERO, Nelson. A viagem do Capitão de Gonneville.In OS PRIMEIROS DOCUMENTOS SOBRE A HISTÓRIA NATURAL DO BRASIL (1500-1511) – viagens de Pinzón, Cabral, Vespucci, Albuquerque, do Capitão de Gonneville e da Nau Bretoa. 2 ed. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009, p. 151-153. 139


Correia Lima e Aroso (1989) ao analisarem as estearias maranhenses, área ocupada pelos brasilidas, que atingiram também o Maranhão através de duas correntes migratórias, interiorana – Nu-Uraques (Uraques), depois os caraíbas, e finalmente os Tupi-Guaranis - e pela litoranea, e às vesperas e durante o contato, chegaram os ultimos Tupis, representados pelos Tupinambás. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Ainda dos Macro-jê temos os Canelas (Rankokamekrá; Apanyekrá); são remanescentes das cinco nações Timbira Oriental, sendo os Rankakomekrás descendentes dos Kapiekran, como eram conhecidos até 1820. Os primeiros contatos, indiretos, se dão por forças militares no fim do século XVII, ocorrendo incursões contra essas populações na ultima decada do seculo XVIII, dizimados por volta de 1814. Os Krikati se localizam ao sul do Maranhão, com os primeiros contatos por volta de 1814. O Gavião (Pukobyê) teve contato a partir do século XVIII, por volta de 1728. 142 Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados", conforme afirma Teodoro Sampaio (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando Spix e Martius (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, "... gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.". Os Timbira são um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê, que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí. Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos (NIMUENDAJÚ, 2001) 143: Timbira orientais: Timbira de Araparytiua Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal Kr˜eyé de Cajuapára Kre/púmkateye Pukópye e Kr˜ikateye Gaviões Apányekra (Canellas de Porquinhos) Ramkókamekra (Canellas do Ponto) Krahó Timbira ocidentais: Apinayé Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do sul. Hoje, os Tremembé são um grupo étnico indígena que habita os limites do município brasileiro de Itarema, no litoral do estado do Ceará, mais precisamente na Área Indígena Tremembé de Almofala (Itarema), Terras Indígenas São José e Buriti (Itapipoca), Córrego do João Pereira (Itarema e Acaraú) e Tremembé de Queimadas (Acaraú). Originalmente nômades que viviam num território que estendia-se nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão) 144, Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia). Foram declarados como não existentes pelo então governador da Província do Ceará (José Bento da Cunha Figueiredo Júnior), após decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os índios perderam o direito da terra pela regulamentação da Lei da Terra. Estes ressurgem no cenário cearense nas décadas de 1980 e 1990, quando são reconhecidos pela FUNAI. 145 Retornamos com Schwennhagen146

142

Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. ESTA TERRA TINHA DONO. 6 ed. Revs. E atual. São Paulo: FTD, 2000 143 NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. MANA v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 2001 144

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, Pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. REVISTA DO IHGM, No. 37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 176-186 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011 145 http://pt.wikipedia.org/wiki/Trememb%C3%A9s 146 SCHWENNHAGEN, Ludovico, MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. IN A PACOTILHA, São Luis, 30 de maio de 1925


O MARANHÃO. REPUBLICA DOS TUPINAMBAS Mas o Maranhão existia como a republica dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. O sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) era a capital federal, isto é, o lugar, onde se reuniam todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925). O CONGRESSO DO MULUNDÚS Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús. Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegados de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro d grande reunião do povo. Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás. Ludovico Schwennhagen

Bandeira (2013) 147 traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76). [...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

147

BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.