MARANHAY - Revista Lazerenta, n. 28, Janeiro 2010

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MARANHHAY REVISTA LAZERENTA (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

NUMERO 28 – JANEIRO 2020 SÃO LUIS – MARANHÃO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 320 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Sócio-correspondwntw da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

ANO I - OUTUBRO 2017 – SETEMBRO 2018 VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017

2018 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018


ANO II = OUTUBRO 2018 – SETEMBRO 2019 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018

https://issuu.com/…/docs/4ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201

2019 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_-


VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec


ANO III – OUTUBRO 2019 – SETEMBRO 2020

VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 –DEZEMBRO DE 2019 –

https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 –DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM

https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019

MARANHAY – REVISTA LAZERENTA – 2020 VOLUME 28 – JANEIRO 2020


SUMÁRIO EXPEDIENTE SUMÁRIO EDITORIAL NAVEGANDO COM O JORGE OLIMPIO BENTO EXTRAINDO HISTÓRIAS COM O FARAÓ MÃE CALU ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA RAIMUNDO NONATO IRINEU MESQUITA CARTA AO MEU AMIGO MANOEL TRAJANO, NA DIMENÇÃO EM QUE SE ENCONTRE LAZERICES/LAZERENTOS ANTONIO CARLOS BRAMANTE (ENTREVISTA) QUEM ‘FAZ’ LAZER, HOJE? HISTÓRIA(s) DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CONTRIBUIÇÃO DOS AÇORIANOS PARA A CULTURA MARANHENSE: O CASO DO “TARRACÁ” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ “... SÓ SÃO MACAIO NÃO...” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ “OS NÁUFRAGOS DO SÃO MACAIO”: PRESENÇA AÇOREANA NA CONQUISTA DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A HIFENIZAÇÃO DA BASE CULTURAL: A BUSCA PELOS ‘MANÉZINHO’ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Entrevista com Judith Bogéa Bittencourt RESGATE DE UMA MEMÓRIA DE FAMÍLIA JUDITH BOGÉA BITTENCOURT A ARTE COMO EXPRESSÃO DA VIDA ATRAVÉS DO TEATRO E DA MÚSICA. JUDITH BOGÉA BITENCOURT ORIGEM DOS BITTENCOURT LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ “NOS BAIXOS DO MARANHÃO”: PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO – SÉCULOS XIX-XX (RECORTES & MEMÓRIAS) SANTIAGO DO CACÉM LEMBRA O SEU “FILHO” QUE FUNDOU O CEARÁ ALÍRIO CARDOSO A REVOLTA DE CUMÃ (1617-1621). LEOPLDO GIL DULCIO VAZ CONTINUANDO A BUSCA PELOS “MANEZINHOS” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ E CUMPRE-SE A PROFECIA: ALGUMAS NOTAS SOBRE A COLONIZAÇÃO AÇORIANA NO NORTE DO BRASIL – MARANHÃO E GRÃO-PARÁ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ HERANÇA GASTRONÔMICA PORTUGUESA/ AÇORIANA NO MARANHÃO

2-6 7 8-12 13-16 17 18 19 20-21 22 23-23 25 26-44 45-47 48-65 66-85 86-88 89-91 92-104 105-164 165 164-166 167-187 188-194 195-200


EDITORIAL A “MARANHAY – REVISTA LAZERENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher. Fui, por um bom tempo, editor de algumas publicações nesse formato, como a REVISTA ‘NOVA ATENAS’ DE EDUCAÇÃO TÉCNOLOGICA, do Departamento de Educação9 Física e Biologia da então Escola Técnica Federal do Maranhão – ETFM –, depois Centro Federal de Educação Tecnólogica do Maranhão (CEFET-MA), hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IF-MA). Ao ingressar no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM – em 2008, fiquei responsável pela editoração de sua Revista, do números 27 ao 43, com periodicidade trimestral, também apresentado no formato eletrônico. Na Academia Ludovicense de Letras – ALL – por seis anos respondi pela editoração de sua revista oficiosa, eletrônica, com periodicidade trimestral, por três gestões. Nesta última, por problemas administrativos, ocorridas divergências com a Diretoria, passei a editar minha própria revista – a REVISTA DO LEO, eletrônica, com 27 volumes publicados, periodicidade mensal, e com alguns suplementos, com temas específicos. Continuei a editar a ALL EM REVISTA, a pedido da atual gestão, que ora se encerra. Uma nova administração assume a ALL, neste mês de janeiro, com um novo Conselho Editorial. Afasto-me da editoração de sua Revista, haja vista divergência de pensamento quanto ao seu conteúdo, com membro desse Conselho. Não vale a pena a briga. Como a ALL EM REVISTA era dedicada à literatura ludovicense – e maranhense -, para dissiminação da produção literária de seus membros, e deve mudar essa orientação, resolvi manter o conteúdo que ali vinha divulgando através de uma nova publicação. Assim, resolvi ampliar a REVISTA DO LÉO, dar-lhe um novo título, e manter essa divulgação, junto com o resgate da memória do esporte, lazer, e educação física maranhense, como vinha me dedicando. Nominei-a “MARANHAY, revista lazerenta”. Explico: na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (desproposidatamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás - indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda


Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (SILVEIRA1, 1976; BERREDO2, 1988; MEIRELES, 19803). Para Tavares (1724) 4: “Terá Vossa Reverendíssima reparado na ortografia com que escrevo a palavra – Maranhay – contra o comum. Foi de industrias por dar gosto a V.R. que como tão perito na língua Brasílica folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por bocas e por escritos antigos, e sobre nunca assentarem em nada, de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender; Vejam-se os antigos manuscritos da missão. O Padre Bartolomeu Leão da Província do Brasil, reformador do Catecismo da língua Brasílica me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o Padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma Brasílico, soubesse dele o que sentia neste ponto; ambos morreram ignorantes de que aqui quero dizer, e nunca o disseram ser ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhãy: Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-me-ão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe. 5 “De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve, se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay. 6 “Dizem os cronistas que há aqui um Rio que se chama Maranhon, do qual tomam a denominação todo o Estado é para mim consideração para que ele fizeram. E se não digam-me onde está este Rio ? 7 “Já que entretive a Relação com estas curiosidades mais próprias para Crônica, quero dizer o que entendo da fundada da pororoca ou causa dela. É de saber que como estas terras são tão rasas visivelmente se se vê a terra abaixando do sertão para o mar, isto se vê sem embaraço de duvidas no Rio Itapecurú pelo qual quem vai navegando vê ao longe terra alta de uma a outra parte. Chega ao lugar em que mascara a terra alta e a vê a rasas como a de donde marcar a tem alta. (TAVARES, 1724) 1

SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/SIOGE, 1979 BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988. 3 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 4 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724 5 Comparar este trecho com a descrição em RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001 6 Comparar este trecho com a descrição em RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001 7 Comparar este trecho com a descrição em MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA ª DO MARANHÃO. 3 ed. São Luís : (s.e.), 1970.. 2


.“Revista lazerenta” porque alguns autores que vêm se dedicando aos estudos do lazer na sociedade atual passaram a usar esse termo – lazerenta”8... A cultura e o desporto provêm da mesma raiz grega - Lazer... Daí, Lazerento, termo supostamente cunhado por Antonio Carlos Bramante9 nos anos 1990 para se referir a pessoas ou práticas do lazer, ambiguamente lúdicas. Jocosamente brinca com o vocábulo lazarento (Pimentel, 2019)10. Adoto-o, pois. Aristóteles afirmava que "el tiempo libre no es el final del trabajo; és el trabajo el que limita el tiempo libre. Este debe consagra-se al arte, a la ciência y, preferentemente, a la filosofia" (apud TOTI, 1975)11. O problema da relação entre trabalho e lazer é questão que vem suscitando paixões, sejam em relação à

sociologia do trabalho, seja em relação à sociologia do lazer (DUMAZEDIER, 1979)12. A palavra grega para indicar o tempo livre é significativa: "... e perturba a relação que nos é familiar entre o termo e o sentido que se lhe atribui correntemente. Scholé - traduz o dicionário - significa tempo livre, parada, descanso, ócio, falta de trabalho, pausa, ocupação das horas que se tornam livres do trabalho e dos negócios, estudo, conversação e acaba por significar 'o lugar onde se utiliza este tempo livre', a scholé precisamente, a escola, que hoje se interpreta somente como o lugar na qual o tempo livre é utilizado para ensinar e aprender" (TOTI, 1975, p. 9)13.

É Jordão Ramos (1978)14 quem afirma que "Desde a velha Grécia, sente-se enorme afinidade entre cultura e desporto, duas fontes do mesmo humanismo, na apreciação feliz de René Maheu. Ambas procedem da mesma origem, o lazer ..." (p. 21.). A concepção grega do lazer baseava-se numa associação à aprendizagem ou cultivo do eu (PARKER, 1978)15, pois nos tempos antigos o homem livre, fora da guerra, não tinha mais do que lazeres. DeGrazia (apud PARKER, 1978) diz que isso significa que o lazer é uma condição ou um estado - o estado de estar livre da necessidade do trabalho. Deve-se destacar que os gregos empregava a mesma palavra para designar o ócio, a escola e a educação: 88

Em especial, Antonio Carlos Bramante (criador do termo...), Giuliano Pimentel, da Universidade Estadual de Maringá, e o pessoal da UFMG, da UFRJ.. 9 http://cev.org.br/qq/bramante/ 10 PIMENTEL, Giuliano – correspondência pessoal. In https://www.facebook.com/giuliano.pimentel?epa=SEARCH_BOX . https://cev.org.br/qq/giuliano-pimentel 11 TOTI, Gianni. Tiempo libre y explotacion capitalista. Méxixo : Cultura Popular, 1975. 12 DUMAZEDIER, Jofre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo : Perspectiva, 1979. 13 TOTI, citado 14 JORDÃO RAMOS, Jair. Os exercícios físicos no tempo e no espaço. Boletim da Federação Internacional de Educação Física, Belo Horizonte, v. , n. 2, 1973, p. 13-26. 15 PARKER, Stanley. A sociologia do lazer. Rio de Janeiro : Zahar, 1978.


"A palavra 'escola' tem por trás dela uma história curiosa. Originalmente significava 'ócio', adquirindo depois o sentido exatamente oposto de trabalho preparação sistemática, à medida que a civilização foi restringindo cada vez mais a liberdade que os jovens tinham de dispor de seu tempo, e levando estratos cada vez mais amplos de jovens para uma vida cotidiana de vigorosa aplicação da infância em diante". (HUIZINGA, 1971, p. 165) 16.

A este respeito, Aristóteles já questionava se a ginástica não contribuiria para a recreação mental e para a aquisição de conhecimentos: "a diversão parece um descanso, já que os homens, não podendo trabalhar continuamente, têm necessidade de descansar" (in COMES, 1970, p. 43)17. Afirma Huizinga (1980) 18 que para Aristóteles, a preguiça e o ócio são princípio do universo. Amadou (1979)19 afirma que:

"Houve um tempo em que Esparta enfatizava a aptidão física de seus cidadãos, enquanto Atenas se vangloriava mais da capacidade intelectual dos seus. Um longo período da história da humanidade foi colocado sob o signo dessa dicotomia, que determinava para os indivíduos uma função específica, privilegiando ora o corpo, ora o espírito - mas, raramente, honrava os dois ao mesmo tempo." (p. 54).

Tolkmitt (1985)20 considera que as dificuldades decorrentes da industrialização e da formação de concentrações urbanas, além do esvaziamento das zona rural, gerando imensos problemas, servem de incentivo para a formação de grupos, que se preocupam com o aproveitamento adequado das horas livres para a atividade de lazer. Afirmas ainda que "a orientação das atividades nas horas livres tem por objetivo alterar (ou compensar) asa condições de vida ... (física, psíquica e emocional) advindas das facilidades e dificuldades com que o indivíduo se ocupa durante as horas de trabalho (p. 4). Na abertura do Congresso Internacional de Educação Física, realizado no Canadá, Amadou (1979) 21 falando sobre a educação física e o esporte para todos, tece considerações sobre o mundo de hoje, onde se impõe uma educação coextensiva à vida e que envolva ao mesmo tempo o conjunto das necessidades e faculdades do homem. As mudanças ocorridas na sociedade atual, a massa de novos conhecimentos que se acumulam cada dia, as modificações mais freqüentes que afetam o processo de produção e a organização do trabalho exigem, com efeito, uma educação que não se limite às primeiras fases da vida, nem ao período escolar e universitário: "Estamos na era da educação permanente", diz ele.

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HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo Perspectiva, 1971. GOMES, Salvatore. Tiempo libre, tiempo liberado. Madri : Unión, 1970. 18 HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo Perspectiva, 1971. 19 AMADOU, Mahtar M'Bow. Discurso proferido na abertura do Congresso Internacional de Educação Física, Trés-Riviére, 26 de junho de 1979. Boletim da Federação Internacional de Educação Física, Belo Horizonte, v. 49, n. 3, 1979, p. 51-55. 20 TOLKMITT, Horst Carlos. Sugestões de uma alternativa para a filosofia do EPT no Brasil. Comunidade Esportiva, Rio de Janeiro, no. 35, nov.-dez., 1985, p. 2-8. 21 AMADOU, citado 17


Chamo atenção para outra corruptela: Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha: Pelo que digo [João Tavares] que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-me-ão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe. 22 “De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve, se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay. 23

Nasci no Paraná... Considero-me maranhense, que por um descuido geográfico nasceu lá...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR

22

Comparar este trecho com a descrição em RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001 23 Comparar este trecho com a descrição em RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001


NAVEGANDO COM O JORGE OLIMPIO BENTO


DA POESIA Os livros de poesia são pequenos, frágeis e singelos, do tamanho e da forma da beleza. Cabem no bolso, na alma e no coração. Dá muito trabalho elaborar poemas e versos depurados das gorduras do supérfluo, despidos e nus de máscaras e mentiras, limpos e leves como pássaros feitos de palavras-asas, que voam no céu e namoram as estrelas, tocam o intangível, exprimem o inexprimível e arrebatam para o cume da sensibilidade. As suas páginas são lágrimas e mágoas contidas. Por isso têm espessura e densidade. Extensos e volumosos são os livros com receitas da culinária do sucesso. Porque há muitos modos de explorar os ingénuos e enganar os incautos. São compostos de ardis e superficialidade.

EM CASA Para chegar aqui, a jornada foi árdua e longa. Foi preciso começar do nada, andar muito chão, superar barreiras, dar asas à esperança e à ousadia, procurar a luz da altura, vencer a desconfiança e encurtar a lonjura. Mas o prémio é imenso: os abraços, os gestos, as palavras e os sorrisos de afeto não têm preço. É impagável o sentimento de estar em casa. A amizade, a fraternidade e a partilha são milagrosas e salvíficas. O privilégio de proferir hoje a conferência de abertura adoçou a boca e o coração. Como uma generosa fatia de queijo, coberta com mel de engenho e regada com vinho do Porto. BALANÇO DE UM SEMINÁRIO Durante dois dias o Grupo de Estudos Olímpicos da USP, liderado pela Professora Katia Rubio, celebrou a ‘dimensão imaginária do desporto’. Foi um evento de dissidência, contra a corrente do descarte das pessoas. Uma reação de inconformismo face ao retrocesso cultural, moral e social. Este desacredita e envergonha quem o promove, mas igualmente apouca, avilta e perverte quem o consente, cala e verga perante o monturo de indecência que se vai acumulando ao nosso redor. Sim, também no desporto se trava o árduo combate de preservação de uma civilização baseada no reconhecimento e respeito do trato humano do Outro, da sua inestimável valia e imprescindibilidade. Miguel Torga (1907-1995), com a escarmentada sabedoria e a desabrida verberação dos duros e terrosos


transmontanos, proclamou sem contemplações: “Malditos sejam os que se negam aos seus nas horas apertadas!” Nesta hora urge estar atento e ser firme. Não trair a verdade e a decência, honrá-las com atitudes e palavras de oração e veneração. Para termos algo para contar, cantar e encantar. Como diz a letra de uma canção de Caetano Veloso, a “gente é para brilhar, não pra morrer de fome”, para viver, não pra se arrastar, para florir e frutificar, não pra definhar. Foi este ideário que procuramos acordar e renovar.

EDUCAÇÃO MORIBUNDA A mais longa e simbólica viagem da Humanidade, de descoberta de si mesma, é a de Ulisses a caminho de Ítaca. O herói enfrenta perigos, dúvidas e agruras, resiste a ciladas e tentações, tem dificuldade em encontrar o rumo, familiariza-se com o desconhecido, recebe auxílio e hospitalidade do estrangeiro, e atinge o destino sonhado. Odisseu é o Homem ‘versátil’, de inteligência ampliada e experimentada, vocacionado para o infinito sofrimento, aventureiro e sensual, lavado em lágrimas e atormentado pela nostalgia; vagueia e corta as ondas do mar marulhante. No final da sua errância, tem muito para contar e encantar, pode dormir em paz, esquecido de quanto sofrera, e continuar a avançar com leveza no coração. A educação, assente no livro, na estranheza, copresença e convivência, no contacto e diálogo de pessoas tão distintas, professores e alunos, inspira-se na ficção de Homero e perfaz uma romagem semelhante à de Ulisses, visando chegar a idêntico final. O abuso de tecnologias audiovisuais está a perverter lentamente o processo e resultado da empreitada educativa. Pouco a pouco, vai despontando uma criatura conforme aos criadores. As máquinas são repletas de conhecimento e informação, porém áridas e desidratadas de sensibilidade e afeto; não possuem saber, nem sabor. Parece-vos bem isto?! DA NECESSIDADE DA BELEZA E DE ESPAÇOS BELOS Aviso já: este texto é longo, não possuo domínio do assunto para o tornar curto. O engano e o equívoco são hoje manifestos: em nome da funcionalidade constroem-se edifícios e espaços que atentam contra a beleza, como se esta fosse ‘persona non grata’, não relevante e qualificadora da função. Ora, sem beleza, a vida descamba para a futilidade, a efemeridade, a superficialidade e a vacuidade. Comparados com as grandes superfícies da Antiguidade e da Idade Média (a Ágora e as catedrais góticas, por exemplo), muitos equipamentos são concebidos segundo a lógica do ‘funcionar’, ignorando a dimensão superior da função: o ‘encantar’. Fernando Pessoa apontou o caminho: “A finalidade da arte não é agradar. O prazer é aqui um meio; não é neste caso um fim. A finalidade da arte é elevar.” Ora é o apelo à elevação que vem sendo calado. A cedência ao ‘kitsch’ está gerando a ‘crise da beleza’ e olvidando que ‘o mais belo funciona melhor’, é mais eficaz, encantatório, estimulante e apelativo do aprimoramento cívico, ético, estético, gestual, verbal, emocional e moral. Os lugares belos convidam o cidadão para atitudes do mesmo jaez, avessas à sujeira, à agressividade, à baixaria, à frivolidade, etc. Isso é bem visível em qualquer edifício ou local. Ou seja, a forma não deve ser sujeita à mera funcionalidade, mas pensada para propiciar a qualificação da função. Ambas têm que ser valorizadas e conjugadas. Com a forma esteticamente apurada, a funcionalidade fica beneficiada, resulta melhor. Não esqueçamos o veredicto de Goethe (1749-1832): “A coisa mais digna, de que se ocupa o Homem, é a forma humana”. Acrescentemos a pergunta e resposta de Wilhelm Humboldt (1767-1835), o criador da ideia e missão da universidade moderna: “Qual é o destino do Homem? Formar-se!” É alcançar uma forma


condizente com o ideal da Humanidade. Eis o nosso destino e obrigação: Buscar a ‘Formação’ (‘Bildung’), ser Homo Performator, sublimador e transcendente da bestialidade e violência, mediante a beleza do estado de forma, requerente de melhoria e renovação contínuas. Sejamos explícitos: Para atingir a condição humana não basta a espontaneidade natural; exige-se a deliberação artificial, é preciso sempre a intervenção da arte em tudo quanto nos perfaz, por dentro e por fora, nas intenções e expressões. A beleza tem, pois, que estar em todo o lado, acrescentando vivências de agradabilidade e felicidade: nas ruas e praças das cidades, nos aeroportos, nos estádios desportivos, nos parques de recreação e lazer, nas estradas, nos caminhos, nos centros comerciais, nos bairros sociais, nos objetos do quotidiano, nas escolas e universidades, nas palavras e gestos das figuras públicas, enfim, em todos os espaços físicos e virtuais. Será isto difícil de conseguir? Sim, mas mais custosas e gravosas são as consequências da fealdade.


Extraindo histรณrias com o faraรณ

RAMSSES DE SOUSA SILVA


MÃE CALU

Figura lendária de Alcântara-MA, Calu foi escravizada e, após alforria, foi ama da família Guimarães. Cuidou como mãe do Sr. Heidimar Guimarães Marques, último membro da aristocracia alcantarense, morto há alguns anos. Segundo o próprio Heidimar, em "Memória de Velhos", Calu o levava escondido debaixo de sua longa saia para brincar na rua com as crianças pobres, algo terminantemente proibido pelos seus pais, descendentes da nobreza da cidade. Foi com a ajuda de Mãe Calu que Antônio Lopes, então membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, descobriu a exata localização do Pelourinho de Alcântara, quebrado e enterrado quando da abolição da escravatura. O marco foi, então, reformado por José Alexandre Rodrigues, e recolocado em posição. Antônio Lopes conseguiria, naquele ano, o tombamento federal do patrimônio arquitetônico da cidade pelo IPHAN. Mãe Calu, símbolo terno de nossas velhas mães pretas, um dos ícones daquela velha cidade, aqui é mostrada em raríssimo registro, aos incríveis 117 anos, num momento de descontração, contanto histórias fantásticas de uma Alcântara gloriosa que ficou no passado. Texto: Ramssés Silva Fonte: "A Cidade Morta", Revista Cruzeiro, 17 de abril de 1948.


ESPORTE & EDUCAÇÃO FÍSICA


CARTA AO MEU AMIGO MANOEL TRAJANO, NA DIMENÇÃO EM QUE SE ENCONTRE São Luis, Ma 06/Nov/2019 Meu amigo, minhas calorosas saudações, Não sei se na dimensão onde estais, pode acompanhar o que se desenrola aqui neste plano, bem o que eu tenho certeza é que a coisa não esta boa. Politicamente o Brasil atravessa um momento igual àquele que você viveu muito bem, e combateu, quando a serviço do Exercito Brasileiro combatias os guerrilheiros comunistas no interior de São Paulo. Bem meu amigo, hoje o Brasil todo acordou com a noticia de que logo, logo o Lula e a maioria da sua trupe estarão em liberdade e viajando o país na tentativa da esquerda em voltar ao poder e continuar a desmoralizar esta terra de raríssimo esplendor. Confirma-me! Deus é brasileiro? Pergunto-te, porque acredito que sim, porem tu está em um plano mais próximo e pode me dar a certeza. Sendo verdadeiro, eles, os esquerdistas não conseguirão seu intento e o Brasil, o povo e seus atuais dirigentes poderão continuar a busca da tão sonhada liberdade e do desenvolvimento desta grande nação. “Manel”, deixando um pouco o Brasil e seus problemas, vamos falar da nossa querida SEDEL. Meu amigo, quando tu falavas que se “estava ruim podia piorar” eu não acreditava. Hoje eu te afirmo! Tu tinhas razão; ultimamente a cada um que aporta nestas paragens do esporte, eu relembro o que dizias! Aquela luta que tínhamos de tornar os JEMs acessível a todos os municípios do estado e, portanto, a todos os estudantes foi por água abaixo, basta ver que retiraram da competição cerca de 9 modalidades ficando apenas aquelas que são disputadas nos JEJ Jogos escolares da Juventude, daí perdemos o posto de maior jogos escolares do Brasil, em termos de numero de modalidades disputadas, o que é uma pena, pois acredito que com as 21 modalidades o evento fica mais bonito e mais disputado. O nosso atual secretario é o senhor Rogerio Cafeiteira, ex Deputado Estadual, ha quase um ano à frente da SEDEL, não se preocupou em reunir com os servidores da casa para apresentar sua equipe de trabalho e, orientado por alguém sem noção implantou 2 expedientes!? Todos nós sabemos que dois expedientes só aumentam as despesas e em nada contribuem para uma melhor prestação de serviço, haja vista que a comunidade já está acostumada a um expediente; fora que para o servidor é uma despesa a mais, com transporte e alimentação. Agora vou tocar em um assunto que sempre incomoda os funcionários efetivos de todas as Secretarias de estado, em especial a SEDEL: O desrespeito do secretario que assume, com os servidores efetivos das secretarias; eles chegam trazendo um grande numero de pessoas que às vezes passam uma temporada e são dispensados, só que no período em que ficam à frente do órgão, simplesmente inventam inúmeras alterações e esquecem que, o que antes foi planejado e está em execução é uma reivindicação da comunidade envolvida e/ou atendida por aquele órgão, quebrando assim uma seqüência importante para o desenvolvimento daquele seguimento. É triste mais é a verdade! E isto é uma característica das ultimas administrações, que passaram nesta SEDEL. Nosso complexo esportivo segue se desmanchando, o ginásio Georgiana Pfluguer, caiu o telhado, a Pista de atletismo esta afundando e continua alagando quando chove, onde era a sede da FAMA, construída com muito esforço e trabalho, foi abandonada, a documentação e troféus conquistados, ninguém sabe onde estão; o parque aquático, abandonado e totalmente destruído, os outros ginásios, inclusive o que te homenageia, serve de abrigo aos pombos. Pelo menos isso! Não sabemos e nada é dito, à comunidade esportiva a respeito da reconstrução de todo o complexo esportivo de São Luis. Sabemos também que esta é uma pratica de todos os governos, em todos os níveis, constroem, mas esquecem da manutenção e conservação dos espaços construídos. E o nosso atletismo?! Os últimos dirigentes conseguiram o seu intento; acabou a FAMA e apequenaram o nosso esporte base, que hoje vive de saudosismo do tempo em que lotávamos a pista do complexo esportivo, acredito que em teus bate-papos ai com o prof. Furtado e os nossos amigos Mendes, J Alves, Tainha e Pinheiro, a conversa gira em torno deste assunto e acredito que sem magoas, pois ai neste plano o perdão é a


palavra mais forte e pra sorte dos culpados vocês já os perdoaram pelo mal que fizeram ao nosso esporte. Eu acredito que sim. Camarada! O nosso amigo Warlindo, assumiu os destinos do atletismo Brasileiro, que bom! E está fazendo um excelente trabalho! Que o Pai todo poderoso continue lhe dando sabedoria para bem conduzir o nosso esporte base e que em Tóquio possamos conquistar algumas medalhinhas para abrilhantar nossa galeria. Esta, eu acredito, seja a única boa noticia, pois nos demais assuntos apresentados a situação é caótica, a insatisfação é geral e ninguém vê uma luz ao fim do túnel, parece que a tua máxima de “pior do que está, pode ficar” vai continuar. Quanto a nós continuamos aqui, seguindo o nosso tratamento e nos mantendo vivo e atuante, se nos chamam nos apresentamos e damos a conhecer nossas propostas, se não, calamos e cumprimos o nosso dever de comparecer ao serviço, cumprir o expediente e depois nos recolhemos à nossa casa. Sem mais para o momento apresento meus cumprimentos e mando um forte abraço a você e aos nossos amigos que ai, contigo, estão. Atenciosamente, Raimundo Nonato Irineu Mesquita


LAZERICES & LAZERENTOS


QUEM FAZ ‘LAZER’ HOJE? ANTONIO CARLOS BRAMANTE Como estão os estudos de lazer, hoje, no Brasil? Continua avançando, mas de forma pouco articulada, dentro de uma visão de "oferta" e não de "demanda", ou seja, cada qual, cada grupo de estudos, cada instituição, buscando o seu espaço individualmente, sem uma articulação coletiva que possa, de fato, gerar um impacto no conhecimento e intervenção da/na área.

Quais grupos estão ativos? e quem são os principais dirigentes? Inúmeros! Basta acessar a base de grupos de pesquisa do CNPq e jogar a palavra LAZER. Aparecerão mais de 200! No entanto, quando você começa a identificar, verdadeiramente, os grupos atuantes, eu ficaria com dois grupos: o da USP-Leste, liderado pelo Uvinha (e outros) e o da UFMG, liderado pela Christianne Gomes (e outros)

Qual a influencia do lazer, hoje, no cotidiano de vida dos brasileiros? Em minha opinião, crescente. Os interesses culturais virtuais deverão crescer ainda mais, sem que os demais deixem ter a sua expansão cada vez maior. Setor público, "semi-público" (Sistema "S"), "semi-privado" (Clubes sociais-recreativos) e a iniciitiva privada, especialmente este último, crescem a cada dia. Se há mercado, é porque há demanda, certo? Há uma pesquisa interessante do Uvinha sobre o "Lazer do Brasileiro", que saiu em livro, que vale a pena conhecer.

Quem são os principais 'cabeça', hoje, e qual a teoria que defendem? Tem muitos! Mas eu diria que tem uns 10 que realmente estudam o lazer, tanto nos seu aspecto conceitual como na sua aplicação. Ainda acho que os professores daquelas duas instituições já citadas se destacam. Infelizmente, nossas universidades continuam muito mais (pre)ocupadas com os aspectos conceituais e menos com as questões gerenciais. As duas dimensões deveriam andar de mãos dadas, vc não acha?

O que significa os 30 anos do ENAREL? Acho que você está perguntando para a pessoa errada Leopoldo! Afinal, como vc bem sabe, fui um dos seus criadores e até hoje (provavelmente esse será o último...) estou profundamente envolvido. ENAREL foi fruto de um "Plano de Cinco Anos" que apresentei na Unicamp quando lá entrei (1988/9) e que foi, certamente, enriquecido por outras pessoas, especialmente Marcellino. Desse plano constava a intenção de criar um evento nacional da área, baseado em experiências anteriores junto aos EPT (enquanto diretor da Faculdade de Educação Física de Sorocaba, realizamos dois encontros nacionais de professores de recreação). Portanto, 30 anos de ENAREL, além do aspecto afetivo, representa MUITA coisa para a construção do conhecimento na área e, mais do que isso, para o aperfeiçoamento dos profissionais que já se encontram em


campo. Esse sempre foi o seu DNA. Esta será a primeira versão depois que se tornou bianual. Ao que parece, está sendo muito bem organizado pelo pessoal de Curitiba.

A outra questão: há possibilidade de colaboração com a revista lazerenta? pretendo continuar com a periodicidade mensal, pois envolverei não só os esporte, lazer e educação física, como a literatura local... Meu caro Leopoldo, ando cada vez mais "preguiçoso" com compromissos dessa natureza. Cada vez que penso nisso, me lembro do nosso grande amigo Laércio...rs. Ele sempre me estimulou a escrever para o CEV e eu pouco correspondi. Portanto, veja a sua expectativa, me fale e verei se consigo dar conta, certo? UFA!!! Desculpa de falei muito...rs Forte abraço, Bramante


HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO


CONTRIBUIÇÃO DOS AÇORIANOS PARA A CULTURA MARANHENSE: O CASO DO “TARRACÁ”24 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – cadeira 40 Academia Ludovicense de Letras – cadeira 21 Professor de Educação Física, Mestre em Ciência da Informação.

Segundo o Prof. Dr. Jorge Olímpio Bento (2019) 25, Trás-os-Montes tem algo no Maranhão, levado pelos açorianos. Informa que a maior parte das ilhas dos Açores26 foi povoada basicamente por gente originária de Trás-os-Montes, excetuando Santa Maria e São Miguel: Estava agora tentando enviar-lhe uma canção tradicional açoriana - São Macaio27 - que fala no Maranhão: S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos da urzelina28 Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só morreu uma menina S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa lá na ponta dos mosteiros Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só morreu dois passageiros S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nas pedras da fajazinha29 Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só morreu uma galinha S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos do Maranhão30 24 Palestra apresentada no CONGRESSO INTERNACIONAL PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO, São Luis, 23 a 25 de outubro de 2019, promovidapela Casa dos Açores do Maranhão. 25 BENTO, Jorge Olimpio. In CORRESPONDENCIA PESSOAL enviada ao Autor, via facebook, em 24 de junho de 2019, ao informalo sobre o “Açores 400”. 26 Os Açores, oficialmente Região Autónoma dos Açores, são um arquipélago transcontinental e um território autónomo da República Portuguesa, situado no Atlântico nordeste, dotado de autonomia política e administrativa, consubstanciada no Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores. Os Açores integram a União Europeia com o estatuto de região ultraperiférica do território da União, conforme estabelecido nos artigos 349.º e 355.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. https://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7ores 27 In https://setcine.wixsite.com/cancoesdealemmar/so-macaio Ver também https://cancioneiropopularmar.wordpress.com/2013/01/23/s-macaio/ Macário do Egito (ca. 300 - 391) foi um monge cristão egípcio e um eremita. Ele também é conhecido como Macário, o Velho, Macário, o Grande e Luz do Deserto. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Mac%C3%A1rio_do_Egito https://www.youtube.com/watch?v=_MHm2gLzbeY 28 urzelina = [Açores] terreno semeado de urzela (líquen de que se extrai uma tinta de cor violeta) in http://folclore.pt/jogopopular-jogos-tradicionais/ 29 fajazinha = [Açores] terreno plano, cultivável, de pequena extensão, situado à beira-mar, formado de materiais desprendidos da encosta in http://folclore.pt/jogo-popular-jogos-tradicionais/ 30 maranhão = grande mentira; peta grossa; palão / na música faz referência a um lugar da ilha do Corvo in http://folclore.pt/jogo-popular-jogos-tradicionais/


Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o S. Macaio não. “SÃO MACAIO” é uma canção dançada nos Açores. Foi, sobretudo na ilha Terceira onde se generalizou a sua tradição. Tudo leva a crer que o seu nome original seja São Macário e que o nome com que ficou conhecido seja já uma degeneração do primeiro. Acredita-se que São Macário, seria um navio que andava entre as ilhas e o Brasil e que teria naufragado numa das suas viagens. Pois como diz a canção: “São Macaio, deu à costa... toda a gente se salvou...(...) só o São Macaio é que não”. Em nota-de-pé de página do sitio sobre folclore português, consta: maranhão = grande mentira; peta grossa; palão / na música faz referência a um lugar da ilha do Corvo. ... E ESSE NOME MARANHÃO31 Mas de onde vem esse nome “Maranhão”? Recorramos ao Padre Antônio Vieira, que em seu sermão da Quinta dominga da Quaresma, do ano de 1654; servindo-se de uma fábula, afirma que: [...] caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (Lisboa, 1991) Já Simão Estácio da Silveira, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, escrito em 1624, afirma que a "... terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”. (Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois in História do Maranhão (1904) e Berredo in Anais Históricos) 32. “Marañon” era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome. Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão - dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar? e o outro responde: Non. 31

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ROTEIRO HISTÓRICO-TURÍSTICO PARA OS ALUNOS DE ATLETISMO DO CEFET-MA. São Luís : CEFETMA/DCS, 2002. (disponível em www.cefet-ma.br/revista, n. 9, v.5, n.2 – jul-dez 2002, disponibilizado em setembro de 2004) 32 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976 BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro : Tipografia Ideal, 1988. BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís : Ramos d’Almeida, 1904, vol. 1 e 2


Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (desproposidatamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás - indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (Tavares, 1727; Silveira, 1976; Berredo, 1988; Meireles, 1980). A RELAÇÃO DO MARANHÃO COM OS AÇORES É ANTIGA... Carlos Gomes 33 afirma que, há quinhentos anos ou, para ser mais preciso, um século antes, os portugueses iniciaram a sua epopeia marítima, estavam ainda longe de pensar que os povos com quem iriam contatar viriam um dia a exprimir no seu folclore indígena inúmeras manifestações do nosso folclore. Tal foi o que sucedeu a título de exemplo na Malásia e em África, na Índia, no Brasil e nas ilhas que atualmente integram a Indonésia: É que, durante tão prolongadas viagens e permanência em todas essas paragens pelo mundo fora, os nossos marinheiros que seguiram nas caravelas não tinham nos momentos de ócio outra forma de divertimento para além da que efectivamente conheciam ou seja, cantar e dançar como sabiam e era costume nas suas terras de origem, os jogos que praticavam, as festas que realizavam e que lhes deixava saudades, esse sentimento bem português que também os fazia em noites de luar soltar gemidos pungentes das guitarras que consigo levavam, entoando versos que mais não eram do que lamentos à sorte do destino e ao fado da sua vida. [...] E, sempre que entraram em contato com os povos nativos, transmitiram-lhes o que sabiam e aprenderam tudo o que lhes mostraram e lhes aguçava a curiosidade, misturando culturas como miscigenaram raças. E eis que da combinação da alimentação ocidental que não dispensa a carne de porco com as especiarias indianas inventaram o sarapatel goês, um paladar que diz bem da forma peculiar da colonização portuguesa. E surgiu ainda o crioulo e a cachopa, as mornas e o lundum, o patoá e a mulata que representa a beleza e alegria do Carnaval brasileiro. [...] No Brasil dança-se o “bumba meu boi“, as “quadrilhas” e celebram-se as “juninas” e as “reisadas“[...], [...] Importa, pois, encararmos o folclore como uma realidade dinâmica que influência e é influenciado pela comunicação entre os povos, o contacto das suas experiências e realidades, a partilha de conhecimentos e saberes. E, tendo em vista o percurso histórico dos portugueses e a sua proverbial tolerância, o nosso folclore registou naturalmente maior nível de interpenetração noutras culturas dos povos com quem contactámos ao longo da história do que o folclore de qualquer outro povo europeu. Buscando a “Ilha Encantada” 34, desde 1325 circulavam em Portugal lendas e mapas sobre uma terra assinalada como Hy-Brazil situada além-mar. Aparece num mapa da Catalunha de 1325-1330, no mapa de Dulcert de 1339, no mapa dos irmãos Pizagani de 1375-1378, no mapa do cartógrafo veneziano Andrea Bianco de 1436 (onde já se menciona explicitamente o Mar dos Sargaços).

33 GOMES, Carlos. O Folclore nas Descobertas . 6 de etembro de 2019, Blog FOLCLORE EM PORTUGAL, http://folclore.pt/ofolclore-nas-descobertas/ 34 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_do_Brasil MEIRELES, Mário Martins. O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR-OCEANO. São Luis: AML, 1999; LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO - A COLÔNIA. São Luís: GEIA, 2006.)


Esta ilha surge no mapa atlântico do cartógrafo veneziano Zuane Pizzigano35 e no mapa anônimo chamado de Weimar, ambos de 1424, com o arquipélago dos Açores, e as ilhas Antília, Satanazes, Saya e Ymana. O historiador português Armando Cortesão36 sugere uma hipotética eventualidade do conhecimento tardomedieval dos Açores, do Atlântico Central, dos arquipélagos das Caraíbas ou Antilhas, bem como do continente americano, pelos portugueses.

Tais ilhas aparecem de forma idêntica na carta do cartógrafo genovês Battista Beccario, de 1435 (onde as ilhas lendárias são clara e implicitamente identificadas com os Açores reais na expressão adjunta figurante "ilhas nova ou recentemente descobertas") bem como nas de Bartolomeu Pareto, de 1455, e Gracioso Benincasa, de 1470 e 1482.

35

http://pt.wikipedia.org/wiki/Zuane_Pizzigano 36 CARTOGRAFIA E CARTÓGRAFOS PORTUGUESES DOS SÉCULOS XV E XVI, Seara Nova, 1935 THE SUMA ORIENTAL OF TOMÉ PIRES: AN ACCOUNT OF THE EAST, FROM THE RED SEA TO JAPAN, WRITTEN IN MALACCA AND INDIA IN 1512–1515/The Book of Francisco Rodrigues rutter of a voyage in the Red Sea, nautical rules, almanack and maps, written and drawn in the east before 1515, The Hakluyt Society, 1944 Portugaliæ Monumenta Cartographica (em co-autoria com o Comandante Teixeira da Mota), Comissão para as Comemorações do V Centenário da Morte do infante D. Henrique, 1960–1962 O MISTÉRIO DE VASCO DA GAMA, Junta de Investigações do Ultramar, 1973. HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA PORTUGUESA (em co-autoria com Luís de Albuquerque), Junta de Investigações do Ultramar, 1969–1970 ESPARSOS (3 vols.), Universidade de Coimbra, 1974–1975.


A Ilha do Brasil, ou mais comumente a Ilha do Brazil; Ilha de São Brandão37; Brasil de São Brandão38 ou Hy Brazil é uma das ilhas míticas do Oceano Atlântico ligada à tradição de São Brandão das terras afortunadas sitas a oeste do continente europeu. A presença desta ilha mítica na cartografia fixa o topônimo em data muito anterior a 1500, a data da descoberta "oficial" das Terras de Santa Cruz, o atual Brasil, e invalida de todo a teoria de que o nome estaria ligado ao vermelho do pau-brasil. A procura da Ilha do Brasil foi uma constante nas navegações renascentistas do Atlântico até 1624. Desde o oeste da Irlanda, seu lugar inicial, a posição da suposta ilha migrou para oeste, primeira para os Açores, onde a atual ilha Terceira aparece por vezes com esta designação e onde, muito antes de 1500, já a península fronteira à cidade de Angra ostentava o nome de Monte Brasil, que ainda hoje mantém. Dos Açores deslocou-se para sudoeste, primeiro para as Caraíbas, para depois se fixar no litoral do atual Brasil39. A conquista de Ceuta40, em 1415, é geralmente referida como o início dos "descobrimentos Portugueses” 41. Ainda no reinado de D. João I, e sob comando do Infante D. Henrique dá-se o redescobrimento da ilha de Porto Santo (1418) por João Gonçalves Zarco e mais tarde da ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira42. Trata-se de um redescobrimento, pois já havia conhecimento da existência das ilhas da Madeira no século XIV, segundo revela a cartografia da mesma época, principalmente em mapas italianos e catalães. Tratavase de ilhas desabitadas que, pelo seu clima, ofereciam possibilidades de povoamento aos Portugueses e reuniam condições para a exploração agrícola. Os arquipélagos da Madeira e das Canárias despertaram,

37 São Brandão, o Navegador, ou Brandão de Ardfert e Clonfert (c. 484 - c. 577), também escrito Barandão ou Borondão, foi um monge irlandês. Nascido em Ciarraighe Luachra, próximo da atual cidade de Tralee, condado de Kerry, Irlanda (a data de 486 também é apontada), foi batizado em Tubrid (Ardferd) e educado pelo célebre bispo Erc de Kerry e por Santa Ita (a Brígida de Munster, que o criou durante cinco anos). Abraçou a vida monacal e tornou-se abade. Terá sido ordenado pelo bispo Erc, em 512. Após a ordenação, iniciou um percurso que faria dele um dos mais conhecidos santos da Ordem Irlandesa. Faleceu no ano de 577 em Annaghdown (então Eunachdunne), condado de Galway, Irlanda, e foi enterrado na abadia de Clonfert, no mesmo condado. A sua celebridade foi tal que diversos pontos da costa ocidental irlandesa receberam topónimos em sua honra (Brandon Point, Brandon Bay e Brandon Head, entre outros). https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Brand%C3%A3o 38 A ilha descrita nas Navigatio Sancti Brendani ficou conhecida por Ilha de São Brandão (e por vezes por Ilhas Afortunadas ou mesmo Ilha do Brasil), vindo juntar-se ao numeroso grupo de terras que se dizia existiam no Atlântico. A existência destas terras, por vezes referidas por terras brendanianas, foi no advento da Renascença uma importante motivação no movimento dos descobrimentos europeus. A ilha de São Brandão aparece em quase todos os mapas medievais, ocupando no Atlântico Norte posições que vão desde o oeste da Irlanda à Terra Nova, aos Açores, às Antilhas e às Canárias. A configuração da ilha varia desde uma pequena ilha circular até uma enorme ilha alongada. Fernão de Noronha identificou o Brasil como sendo as Ilhas Afortunadas ou mesmo a Ilha do Brasil da lenda criada a partir das navegaçoes de São Brandão no seculo VI. Entre as ilhas que durante mais tempo foram identificadas com as ilhas brendanianas está o arquipélago dos Açores, em particular a ilha do Faial. Dentro da tradição brendaniana, o nome de ilha de São Brandão foi levado às sete partidas do mundo. Talvez a sua sobrevivência mais remota seja a ilha de Saint-Brandon, nome oficial porque é conhecido o atol de Cargados Carajos, sito no arquipélago das Mascarenhas, em pleno Oceano Índico (16º 58’ S; 59º 60’ E), 430 km a nor-nordeste da Maurícia, de que depende administrativamente. https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Brand%C3%A3o 39 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_do_Brasil 40 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ceuta; http://pt.wikipedia.org/wiki/Conquista_de_Ceuta 41 http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos ver também http://movv.org/2007/03/29/cronica-de-dom-joao-i-de-fernao-lopes-resumo-do-conteudo-dos-capitulosreferentes-a-tomada-de-ceuta/ 42 http://pt.wikipedia.org/wiki/Trist%C3%A3o_Vaz_Teixeira


desde cedo, o interesse tanto dos Portugueses como dos Castelhanos; por serem vizinhos da costa africana, representavam fortes potencialidades económicas e estratégicas.43 Os primeiros contactos com o arquipélago dos Açores por Diogo de Silves44 ocorrem em 1427. Ainda nesse ano é descoberto o grupo oriental dos Açores, São Miguel e Santa Maria. Segue-se o descobrimento do grupo central - Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. O grupo ocidental (Flores e Corvo) é descoberto por Diogo de Teive45, em 1452. Desde 1442 o Infante D. Henrique conseguira do Papa, pela Bula “Etsi suscepti” a posse e administração das “ilhas do mar Oceano”, ferindo os interesses dos reinos espanhóis de Castela-Aragão. A busca pela Ilha Encantada possibilitou a descoberta dos Açores, Madeira, Brasil, e claro, Maranhão... Durante os 1500 as viagens e descobertas passavam pelos Açores e vinha descambar no Maranhão – costa Norte do hoje Brasil. Mas o que nos interessa aqui, é a ocupação do Maranhão, a partir da retomada do território, 1615, por migrantes açorianos. Ao se proceder qualquer levantamento acerca dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil naquela época, facilmente se chega à constatação que uma das mais importantes participações foi a dos que procederam do Arquipélago dos Açores, pois foram eles que desbravaram as regiões mais remotas, caracterizadas por apresentarem condições tanto de clima quanto de solos e localização geográfica completamente diferentes das predominantes nas áreas até então habitadas da Colônia, e a despeito disso conseguiram se estabelecer e até mesmo fundar ou ajudar a fundar vilas e cidades nesses rincões mais longínquos (PEREIRA, 2002)46. Para esse autor: A história da colonização açoriana no Brasil, portanto, pode ser dividida em duas etapas, na medida em que ela teve o seu início no Norte, ainda no século XVII, e prosseguiu no outro extremo da Colônia um século depois. No primeiro caso, a bibliografia que trata do assunto ainda é relativamente escassa e não constam nos dias atuais marcas claramente associadas à presença dos referidos imigrantes na Região, diferentemente do Sul do País, onde não somente a literatura a respeito é mais farta como permanecem vivos alguns traços culturais herdados dos ilhéus. Não obstante esta constatação convém destacar um aspecto ao menos curioso, qual seja a semelhança arquitetônica existente entre o casario do século XVIII do Centro Histórico de São Luís do Maranhão e o da cidade de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, o que permitiu a ambas o reconhecimento pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. Nas principais obras concernentes à História do Maranhão e do Pará encontram-se alguns registros da presença dos açorianos nos séculos XVII e XVIII na Região. Todavia, além de raras, são informações que tratam muito superficialmente do assunto. De acordo com Pereira (2002) 47, naquela época as ilhas dos Açores se encontravam entre as regiões portuguesas que forneciam o maior contingente de emigrantes que se dirigiam para o ultramar. Segundo Boxer (1981)48 e Duncan (1972)49, isso acontecia porque o Arquipélago já se achava densamente povoado, predominando ali, inclusive, o regime de pequenas propriedades rurais e famílias numerosas. Ou seja, sua população atingiu o ponto de saturação num espaço de tempo muito curto (de aproximadamente duzentos anos), haja vista que a primeira ilha descoberta nos Açores foi a de São Miguel, no ano de 1432. Dessa situação, portanto, surgiu a necessidade da Coroa de Portugal concitar à emigração, processo, aliás, que foi implementado pensando-se principalmente no recrutamento dos jovens açorianos considerados válidos, mas 43

http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Silves 45 http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Teive_(navegador) 46 PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 47 PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 48 BOXER, C. R. O império colonial português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 1981, citado por PEREIRA, 2002 49 DUNCAN, T. B. - Atlantic islands: Madeira, the Azores and the Cape Verdes in seventeenth-century commerce and navigation. Chicago: University of Chicago Press, 1972, citado por PEREIRA, 2002. 44


que terminou se estendendo também à populosa cidade de Lisboa, às Províncias do Minho e do Douro e ao Arquipélago da Madeira. A imigração açoriana para o Maranhão e o Grão-Pará se efetivou mediante três correntes, tendo lugar as duas primeiras ainda durante o século XVII e a terceira no século XVIII: A primeira corrente imigratória se deu entre os anos de 1619 e 1632. 1615 – Jorge Lemos de Bettencourt inicia o primeiro projeto de imigração O capitão-mor Jorge de Lemos Bettencourt (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109.)50 1616 – Edificação do Forte do Presépio – foz do Amazonas, núcleo inicial de Belém 1618 – 200 casais (mais de mil indivíduos – chegam 95 casais ou 561 indivíduos De acordo com Jerônimo José de Viveiros, "a chegada daquele piloto à frente de cerca de 400 pessoas transformou a vida de São Luís, que deixou de ser um simples quartel de tropa, defensor do domínio de uma nação, para tornar-se uma povoação de colonos, cuja vida civil e econômica precisava ser organizada" (Viveiros, 1992)51. 1621 – Antonio Lemos de Bittencourt – 40 casais ou 148 indivíduos No ano de 1621, teria chegado um segundo grupo de açorianos, agora composto por 40 casais, trazidos por Antônio Ferreira Bettencourt (Lisboa, 1858; 186652; Marques, 197053; Berredo, 198854 e Viveiros, 199255). Outro colonizador, dos pioneiros, foi Simão Estácio da Silveira. Era de origem açoriana. Foi juiz da primeira Câmara de São Luís, procurador da conquista do Maranhão. Escreveu a obra "Relação Sumária das Cousas do Maranhão" (1619), publicada em 1624 em Lisboa, com o propósito de atrair colonos portugueses para a região. Simão Estácio da Silveira é o patrono da Câmara Municipal de São Luís, havendo em sua

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In CORRÊA, Helidacy Maria Muniz. COMUNICAÇÃO POLÍTICA, PODERES LOCAIS E VÍNCULOS: A Câmara de São Luís do Maranhão e a política luso-imperial de conquista do espaço, Outros Tempos, vol. 09, n.14, 2012. p.121-135. ISSN:1808-8031. https://www.google.com/search?q=Jorge+Lemos+de+Bettencourt&ei=62MTXaLCB5Wy5OUP7d2wuAY&start=10&sa=N&ved =0ahUKEwji44n7kYfjAhUVGbkGHe0uDGcQ8tMDCIQB&biw=1920&bih=937 51 VIVEIROS, J. de. - História do comércio do Maranhão (1612-1895). Edição fac-similar. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. v.1. 52 LISBOA, J. F. Jornal de Tímom. Lisboa: [s. n.], 1858. t. 2. LISBOA, J. F. - Obras de João Francisco Lisboa. São Luís do Maranhão: Typ. de B. de Mattos, 1866. v. 3 53 MARQUES, C. A. - Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão. 3.ed. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 54 BERREDO, B. P. de. Anais históricos do Estado do Maranhão. 4. ed. São Luís: ALUMAR/Billiton/ALCOA, 1988. 390p. 55 VIVEIROS, J. de. - História do comércio do Maranhão (1612-1895). Edição fac-similar. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. v.1.


homenagem medalha de mérito municipal do mesmo nome. Comandou a chegada, em 1619, de trezentos casais dos Açores, tendo sido eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de São Luís.56 "Quando fui a esta Conquista no ano de 1618, se abalaram muitas pessoas das Ilhas a meu exemplo, parecendo-lhes que pois eu sem obrigações, ir buscar remédio deixava o regalo de Lisboa, e me ia ao Maranhão não seria sem algum fundamento. Na nau de que fui por Capitão se embarcaram perto de trezentas pessoas, algumas com muitas filhas donzelas, que logo em chegando casaram todas, e tiveram vida, que cá lhes estava mui impossibilitada, e se lhes deram duas léguas de terra..." 57 Em 1625, mediante contrato celebrado com o governo português, o novo capitão-mor do Maranhão, Francisco Coelho de Carvalho, trouxe mais algumas dezenas de açorianos. "Traslado de um alvará porque S. M. fez mercê ao Dr. Antônio Coelho de Carvalho [irmão do capitão-mor do Maranhão], de seu Conselho, dar licença para conduzir gente das ilhas de Santa Maria e São Miguel em uma nau inglesa. Segue o traslado da fiança e carta de fretamento do navio inglês" (Marques, 197058). Em 1632, encerrando essa primeira corrente, chegariam mais outras dezenas. A segunda corrente de açorianos teria ocorrido nos anos de 1675 e 1676 e o motivo principal se deveu à erupção de um vulcão na Ilha do Faial, o que deixou um grande contingente de ilhéus em sérias dificuldades (Lisboa, 1866; Wiederspahn,197959 e Berredo, 1988). Essa catástrofe ocorreu em abril de 1672, quando o vulcão, então considerado extinto, surpreendeu os ilhéus e entrou em erupção (Duncan, 1972) 60. Com isso, o rei de Portugal determinou ao governador do Faial, Jorge Goulart Pimentel, que providenciasse o envio de 100 casais de "homens dos mais idôneos para o trabalho e mulheres mais capazes de propagação" para povoarem o Maranhão. 1648 – 52 casais ou 365 individuos 1666 – 80 casais ou 250 individuos 1674 – 100 casais ou 500 individuos 1675 – 50 casais ou 234 individuos – 50 casais, 100 individuos 1677 – 50 homens, 47 mulheres e 126 pessoas de família 1750 – 96 casais ou 486 individuos 1752 – 430 individuos 1753 – 900 soldados Uma terceira leva de açorianos destinados à Região Norte do Brasil ocorreu no período entre 1752 e 1756, quando o todo poderoso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de Pombal - procurou

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In https://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%A3o_Est%C3%A1cio_da_Silveira ; ver também https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 57 IN 57 PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 58 MARQUES, C. A. - Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão. 3.ed. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 59 WIEDERSPAHN, H. O. - A colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ /Instituto Cultural Português, 1979. 60 DUNCAN, T. B. - Atlantic islands: Madeira, the Azores and the Cape Verdes in seventeenth-century commerce and navigation. Chicago: University of Chicago Press, 1972, citado por PEREIRA, 2002.


empreender uma corrente migratória para o Grão-Pará e o Maranhão, tomando como ponto de partida, mais uma vez, o Arquipélago dos Açores. Sabe-se que a Coroa de Portugal assinou em abril de 1751, com Joseph Álvares [ou Alves] Torres, um contrato para o transporte de mil famílias das ilhas dos Açores para o Estado do Grão-Pará. Viveiros (1992) desconhece se esses açorianos algum dia chegaram ao Maranhão ou ao Pará, mas há uma afirmação de Laytano (1987)61, com base numa monografia escrita por Arthur César Ferreira Reis, segundo a qual, em 1752, somente numa embarcação, vieram 430 ilhéus para a Amazônia e "logo no começo de 1766 chegaram casais de ilhéus, em número de 50, com duzentas e trinta e quatro pessoas" para Belém do Pará. A partir daí, as migrações concentraram-se nos atuai Pará e Amapá... Num período de 135 anos, chegaram 6.254 indivíduos (MARQUES, 2005)62: Emblemática, é a história da família Garret na Amazônia, descrita por Gairo Garreto em “Garrett, traficante de escravos” 63. Originários da Espanha, três jovens irmãos, duas moças e um rapaz, chegam à década de 1730 à vila de Horta, Ilha do Faial. Antonio Bernardo Garret, quase aos 70 anos de idade, deixa suas propriedades nas ilhas do Pico e Faial sob a responsabilidade de um procurador, e dirige-se para São Luis; em 1787 já residida aqui, pois, ao que parece, chegara no ano anterior, e aparece como negociando uma sumaca, visto ser capitão de navio. No inicio de 1787 encontra-se registro mostrando-o como traficante de escravos... Mas esta é outra história... No século XIX continuou a chegada de portugueses – em especial, açorianos – ao Maranhão... Para Maria Eduarda Fagundes, em OS ESCRAVOS BRANCOS AÇORIANOS (2010)64: Desde o nascimento como povo, os açorianos conheceram a escravidão. À principio como vitimas e presas de piratas nas lutas religiosas entre cristãos e muçulmanos e mais tarde como mão-de-obra barata e escrava em terras de novo mundo. Com a proibição do tráfico de escravos no século XIX, os grandes plantadores brasileiros viram-se na condição premente de arranjar gente para trabalhar a terra. Foi na imigração que a politica tentou resolver o problema. Formaram-se grupos legais para contratos de trabalho no exterior, amparados pelos governos. Os portugueses e italianos mais pobres e necessitados eram os mais encontrados para fazerem esse tipo de transação. Assim, toda a região amazônica, do Maranhão ao Pará, do Amazonas ao Amapá foi constituída por esse lastro político açoriano que forjou os costumes, a cultura, as festas, o modo de ser e de estar açoriano, os bailados, as lendas, os mitos e as superstições, o jeito de falar e a alma alegre que se incorporou ao saber local, tornando-se aspectos comuns às duas culturas desde então, resultado da intensidade religiosa milenar e devocional, a moralidade única da palavra dada, o sentido de insularidade e a cultura folclórica que sustentam, ao longo dos séculos, o imaginário popular (MARQUES, 2005). Passados quatro séculos desde a primeira leva de imigrantes, ainda é possível observar vestígios dessa presença em todos os cantos do Maranhão. Vamos ver o caso do “tarracá”65...

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LAYTANO, D. de. - Arquipélago dos Açores. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana, 1987. MARQUES, Francisca Ester. IMIGRAÇÃO AÇORIANA NO MARANHÃO E FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS: PRESENÇA AÇORIANA NO NORTE E NORDESTE. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, n. 28, São Luis 2005, p. 45-60. 63 GARRETO, Gairo. GARRETT – Traficante de escravos: a história esquecida da família Garrett na Amazonia. Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2018 64 Em correspondência eletrônica de 11 de julho de 2019, postada por Miguel Magalhaes Ferreira , disponível em https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/449373.html 65 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. 62


Como “São Macaio”, uma corruptela de “São Macário”, “Tarracá” também é uma corruptela, de “atarracar, atarracado”, expressão que identifica uma forma de luta corporal, pertencente aos Jogos Tradicionais, praticada no Maranhão. Os Jogos Tradicionais podem proporcionar estudos diversificados no âmbito da História, da Historiografia, da Psicologia, da Sociologia, da Pedagogia, da Etnografia e da Linguística, entre outros. Este tipo de jogos varia de região para região e possui um significado de natureza mágico-religiosa. É normalmente praticado em épocas bem determinadas do ano ou em intervalos do trabalho agrícola, contribuindo de modo saudável para a ocupação das horas livres. Em conclusão, pode-se dizer, que os jogos tradicionais são criados pelos seus praticantes a partir do reportório dos mais velhos e adaptados às características do local. A denominação de cada um deles evoca por si mesmas as suas características e regras principais 66. Jogo Popular. O homem que lança fora do campo onde trabalha a pedra que o estorva, pode converter o lançamento num fim em si mesmo e assim nasce o jogo do malhão. Isso quer já dizer que os Jogos Populares se ligam ao trabalho, à experiência rural: são vivência e prazer. http://folclore.pt/jogo-popularjogos-tradicionais/ Tubino (2010, p. 20) 67 ao tratar da ‘origem do esporte’, refere-se aos estudos de Diem (1966) 68 para quem a história do esporte é íntima da cultura humana. Ela vem da natureza e da cultura humana (EPPENSTEINER, 1973) 69: “[...] a natureza e a cultura coexistem ao criar um ‘instinto esportivo’, que para ela é a resultante da combinação do lúdico, do movimento e da luta.” As antigas civilizações já tinham atividades físicas/pré-esportivas em suas culturas, a maioria com características utilitárias, que desapareceram com o tempo; outras se transformaram em esportes autóctones, esportes considerados “puros”, que continuaram a ser praticados ao longo do tempo sem sofrer influência de outras culturas. Quando essas práticas permanecem, mas sofrem modificações de outras culturas, geralmente de nações colonizadoras, passam a ser chamados de Esportes ou Jogos Tradicionais. (TUBINO, 2010) Dentre as correntes esportivas contemporâneas, encontramos, dentre outros, os Esportes Tradicionais, esportes consolidados pela prática durante muito tempo - os Esportes das Artes Marciais – provenientes da Ásia, inicialmente praticadas militarmente pelos guerreiros feudais, e hoje práticas esportivas: jiu-jitsu, judô. Karatê, taekwondo; os Esportes de Identidade Cultural, que são aqueles com vinculação cultural: no Brasil, a Capoeira principalmente; são identificadas outras modalidades esportivas de criação nacional, de prática localizada nos seus ”lócus”, inclusive as indígenas: Uka-uka, Corrida de Toras, etc., sem preocupações de práticas por manifestação. (TUBINO, 2010)70. As it happens with natural opponents, luta livre absorbed elements from jiu-jitsu as well, just as jiu-jitsu absorbed elements from luta livre in the process of becoming "BJJ". Many jiu-jitsu experts fought professionally in the pro-wrestling context. Among some of the fighting cultures present in the Brazilian context having some impact upon Brazilian luta livre, we may consider huka-huka wrestling (from the Amazonian indigenous people), marajoara wrestling (practiced on the sands of the Marajó Island), tarracá (practiced at Maranhão) and capoeiragem (especially from the tradition practiced in Rio de Janeiro). As some early experts came from the "Graeco-Roman" wrestling context, luta livre also received some of its influence. (Notes on the History of Brazilian Luta Livre)71 (grifos nossos). “Como acontece com os adversários naturais, Luta Livre elementos absorvidos do jiu-jitsu, assim, como jiu-jitsu elementos absorvidos luta livre no processo de tornar-se "Bjj". Muitos especialistas do jiu-jitsu lutaram profissionalmente no contexto pro-wrestling. Entre algumas das culturas de luta presentes no contexto brasileiro, tendo algum impacto sobre a luta livre brasileira, podemos considerar wrestling huka huka (dos povos indígenas amazônicos), marajoara wrestling (praticado nas areias da Ilha do Marajó), tarracá (praticado no 66 como Graça Guedes (1989), in http://folclore.pt/jogo-popular-jogos-tradicionais/ 67 TUBINO, Manoel José Gomes. ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE – ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010 68 DIEM, Carl. História de los deportes. Barcelona: Corali, 1966 69 EPPENSTEINER, F. El origen Del deporte. In CITIUS, ALTIUS e FORTIUS. Madri, XV, p. 259-272, 1973 70 TUBINO, Manoel José Gomes. ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE – ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010 71 in http://www.facebook.com/topic.php?uid=136381899755284&topic=70


Maranhão) e capoeiragem (especialmente a partir da tradição praticada no Rio de Janeiro). Enquanto alguns especialistas mais antigos vieram do "greco-romano" wrestling contexto, a luta livre também recebeu algumas de suas influências” Recorramos à Wikipédia72: “Wrestling” (lit. luta) é uma arte marcial que utiliza técnicas de agarramento como a luta em “clinch”, arremessos e derrubadas, chaves, pinos e outros golpes do “grappling”. Uma luta de “wrestling” é uma competição física entre dois (às vezes mais) competidores ou parceiros de “sparring”, que tentam ganhar e manter uma posição superior. Há uma grande variedade de estilos, com diferentes regras tanto nos estilos tradicionais históricos, quanto nos estilos modernos: Técnicas de wrestling foram incorporadas por outras artes marciais, bem como por sistemas militares de combate corpo-a-corpo. Como esporte, com exceção do atletismo, o wrestling é o esporte mais antigo de que se tem conhecimento, e que se pratica ininterruptamente ao longo dos séculos de maneira competitiva. “Grappling” é o nome que se dá a uma técnica de imobilização, ou uma manobra evasiva, a qual se dá por meio do domínio do oponente. Forma de combate muito utilizada em táticas policiais e esportes de contato, como o “wrestling”. Federação Universal de Wrestling (Universal Wrestling Federation) – O movimento da UWF foi liderado pelos lutadores de ‘catch wrestling’ e originou o “boom” da MMA (artes marciais mistas) no Japão. O “catch wrestling” forma a base dos estilos de “wrestling” japonês como o “shoot wrestling” (que incorpora movimentos realistas, como pegadas de submissão, chutes de “kickboxing”, entre outros). O catch wrestling é um estilo tradicional de wrestling que tem várias origens, os mais famosos são os estilos tradicionais da Europa como “collar-and-elbow“, wrestling de Lancashire ou “catch-as-catch-can”, submission wrestling, entre outros, além dos estilos asiáticos pehlwani e jujutsu. “Wrestling” tradicional (em inglês: folk wrestling; lit. luta tradicional) é denominação geral de várias disciplinas de “wrestling” ligadas a um povo ou a uma cultura, que podem ou não ser codificados como um esporte moderno. A maioria das culturas humanas desenvolveu seu próprio tipo de estilo de “grappling”, único se comparado a outros estilos praticados. Enquanto diversos estilos na cultura ocidental podem ter suas raízes na Grécia Antiga, outros estilos, particularmente os da Ásia, foram desenvolvidos de forma independente. SENHORAS E SENHORES PERMITAM-ME APRESENTAR-LHE… TARRACÁ. […] ladies and gentlemen, let me introduce you to…Tarracá. It was used by a Vale Tudo fighter who called himself “Rei Zulu” in the early 80´s here in Brazil; he kicked (better yet, throwed around) quite a few asses before getting tapped out by Rickson in 1984 (Senhoras e senhores, permitam-me apresentar-lhe… Tarracá. Ela foi usada por um lutador Vale Tudo que se autodenominava “Rei Zulu” no início dos anos 80 aqui no Brasil, ele chutou (melhor ainda, jogou ) um grande número de bundas poucos antes de ser derrotado por Rickson em 1984.) in http://www.bullshido.net/forums/archive/index.php/t-51830.html Algum tempo atrás, recebi um pedido de ajuda de um aluno de educação física de nossa UFMA, para apresentação de projeto de mestrado. Agradeço ao Mayrhon José Abrantes Farias do GEPPEF-UFMAGrupo de Estudos e Pesquisas Pedagógicas em Educação Física - a “dica”:

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Wrestling http://pt.wikipedia.org/wiki/Grappling http://pt.wikipedia.org/wiki/Wrestling#Catch_wrestling


“Caro Professor Leopoldo, [...] Sou recém formado em Educação Física pela UFMA, sou aluno do professor Emilio [Moreira] no Judô a longas datas, e batendo um papo recentemente com ele e através de recomendações de professor Paulinho da Trindade e professor Laercio [Elias Pereira] cheguei até o senhor. Já fiz algumas leituras de textos seus referentes à Capoeira no Maranhão e outros na disciplina de História da Educação Física. Com certeza o senhor pode me ajudar. Durante algum tempo venho interessado em estudar e investigar sobre o TARRACÁ, aparentemente uma luta praticada na baixada que foi “popularizada” pelo Rei Zulú. O Sr. já ouviu falar a respeito? Em um módulo de lutas com o professor James Adler recordo que ele abordou algo superficial sobre essa luta. Em uma de minhas espiadas on-line fiz a busca do termo e sempre é direcionado ao Rei Zulú. Fala-se que é uma luta indígena praticada em comunidades ribeirinhas. Amigos meus de Pinheiro já confirmaram a existência do tarracá enquanto uma manifestação lúdica, uma brincadeira comum entre pescadores da região. Estou louco para ir até lá e investigar e tentar a posteriori compor um projeto de mestrado referente à temática. Venho através deste e-mail solicitar ajuda ou dar um grito de SOCORRO para iniciar minhas empreitadas em campo. Algumas leituras com a antropologia e a etnografia se façam necessárias. O senhor tem conhecimento de algo a respeito de produções ou pistas para se investigar o tarracá? Caso tenha ficarei grato pela ajuda. Um forte abraço e desde já agradeço. “ O que é o TARRACÁ? Não sei! Nunca ouvira falar, até agora! Mas remeti a questão a alguns Mestres Capoeiras - Mestre Marco Aurélio Haickel, Baé, Mizinho - que certamente darão alguma notícia. Marco Aurélio certamente vai investigar, também, junto ao Mestre Patinho, Mestre Nelsinho, Mestre Índio do Maranhão – apenas citando alguns – que poderão dar notícias do Tarracá. O que se sabe? Apenas aquilo que o Prof. Mayrhon coloca, em sua mensagem: 1. uma luta indígena praticada em comunidades ribeirinhas. 2. uma manifestação lúdica, uma brincadeira comum entre pescadores da região (Baixada) 3. luta praticada na Baixada que foi “popularizada” pelo Rei Zulú. Temos um ponto de partida! Mestre Baé – da Federação de Capoeira73 – responde e informa sobre o “ATARRACAR” em correspondência eletrônica, Recebi seu Email, Com relação ao tema ATARRACAR; posso lhe adiantar o seguinte: desde criança tenho ouvido falar, assim como quase todos que também como eu sou da Baixada maranhense, grande parte da minha família é de Viana, Penalva, e Municípios vizinhos. Minha família sempre foi voltada para criação de gado e pescaria no interior, quando éramos crianças sempre a gente se atarracava um com o outro na beira do curral ou do rio e até no campo para ver quem era melhor de queda e isso porque a gente via os mais velhos fazerem também ,meus avós e tios/avós falavam que isso sempre existiu o nome ATARRACAR e conhecido em vários interiores do Maranhão mas nunca ouvir dizer que era uma LUTA ou eu tenho lido algo afirmando ser luta, sempre foi o nome dado a forma de nos pegarmos para dar uma queda no outro em um corpo a corpo mais nunca foi denominado como luta até porque era baseada mais na força física e jeito de cada um pegar e arremessar o outro no chão através de 73 Mestre Baé - FECAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão. Mestre/Presidente do Grupo Candieiro de Capoeira Ver Orkut;Mestre Baé ou baecapoeira@hotmail.com


uma queda. Luta pelo que eu tenho conhecimento possui técnica, bases, nomenclatura de movimentos, regras e etc.. Então, é uma tradição na Baixada, uma forma de movimento agonístico, em forma de luta, conforme Baé guarda em suas memórias. Este Mestre Capoeira não considera aquela brincadeira como luta, dado seu conhecimento da Capoeira, e sua sistematização. Em outra correspondência, recebida de Mestre Marco Aurélio, em que indaguei sobre a busca da origem do “TARRACÁ”, estilo de luta livre (hoje seria MMA) adotado pelo lutador maranhense Zuluzinho, que aprendera com seu pai, o Rei Zulú; Zulu, criado em Pontal, no interior do Maranhão, onde aprendera uma luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região: o Tarracá74: Quanto ao Atarracado, desconheço sua presença no centro-sul do Maranhão, apesar de poder haver, mas é uma prática muito comum no centro-norte, pelo menos na região do Pindaré e na Baixada, nesta última, pelo que já ouvi de alguns capoeiras originários daquela região das águas falarem-me a respeito. No que diz respeito à sua presença na região do Pindaré é fato, pois eu mesmo a praticava bastante, tendo sido ao longo do tempo, na qualidade de menino, e aí vai até meus doze (12) anos, a base de tudo o que sabia nas minhas ”brigas de rua”. Apesar de ter nascido em São Luís, me criei, desde bebê, até os sete (07) anos de idade, na cidade de Pindaré-Mirim, outrora, Engenho Central, e em sua origem, Vila São Pedro. Como toda criança ribeirinha, as brincadeiras eram em torno do rio, dos lagos e igarapés, ou então nas várzeas, e aí, não faltavam os embates. Lembro-me que a minha afinidade com a prática era bastante estreita, talvez, por desde pequenino ter sido corpulento, de maneira que não era muito afeito à briga “corpo fora”, como se dizia, mas, mais no “atarracado“, ou “corpo dentro”, o que se dava a partir de uma cabeçada. A ponto de quando ousava me aventurar pelo “corpo fora”, na maioria das vezes saía perdendo… Foi na Capoeira, que fui aprender o embate, digamos, “corpo fora”, a partir da ginga, de peneirar… – por favor, deixo claro que “corpo fora” e “corpo dentro”, não é nem um tipo de modaliade de luta, mas somente para fins, talvez, de didática, consoante dizíamos no interior. Quanto à origem do Atarracado – Tarracá -, Mestre Marco Aurélio diz: [...] não sei afirmar, se indígena ou africano, quiçá, até mesmo européia, nesta senda, somente pesquisando-se para buscar referências. Posso afirmar, no entanto, o que não quer dizer que a priori seja africana, é que tive oportunidade de ver, em um evento internacional de lutas de origem africana, em Salvador/BA, em 2005, quando levamos daqui, a “Punga dos Homens” 75, uma prática que existe rasteiras e desequilibrantes, no tambor de crioula, um pessoal de Angola/África, apresentar a Bassúla, uma luta, a despeito de alguns golpes diferentes, muito semelhante ao Atarracado, pois imediatamente, quando vi os angolanos praticando-a, eu achei bastante parecida com o Atarracado, impressão esta, também denunciada pelo Mestre Alberto Eusamor, que lá estava comigo, assim como tantos outros, representando o Maranhão. No que diz respeito a uma influência indígena direta, e que é uma brincadeira da região do Pindaré e, acho, da região Norte como um todo, é o “Cangapé”, uma espécie de rabo de arraia e outros molejos que se pratica lançando-se para cima do contrário, na água. 74

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In Blog do Leopoldo Vaz, disponível em: http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/22/em-busca-do-elo-perdido-historiamemoria-da-educacao-fisicanodo-maranhao/ 75 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PUNGA DOS HOMENS – ALGUMAS (NOVAS) CONSIDERAÇÕES -REV DO LÉO, 15, DEZEMBRO 2018, p. 78 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20


Em outra mensagem eletrônica, Mestre Marco Aurélio acrescenta: Falei de como o atarracado tem semelhança com a Bassúla, luta de um país africano (Angola) e, no entanto, não me lembrei, na oportunidade, de falar de uma luta de origem indígena, o que se faz necessário, para ponderarmos, trata-se do Uka-Uka, um embate indígena, que consiste em fazer com que o contrário ponha um dos ombros no chão, hoje, ocorrente durante o “Quarup” um grande evento-cerimonial existente entre os povos do Alto-Xingú. Mas poderiam perguntar o que uma prática existente entre povos indígenas do Alto-Xingú tem a ver com uma prática ocorrente no Maranhão? Segundo Roberto da Mata, desculpem-me não dispor da referência bibliográfica, os povos Krahô e Xavante saíram em uma corrente migratória, a partir do Maranhão, para onde se encontram hoje, respectivamente, Tocantins e Alto-Xingú. Daí há de notar-se que o Maranhão em razão de ser banhado por inúmeras e grandes bacias hidrográficas era e é um celeiro de alimentos, o que deve ter sido berço de inúmeros povos indígenas, entre atuais, extintos e migrantes. Talvez, esse berçário, para os que possuem uma visão míope, e consideram que o maranhense tenha uma cultura ”preguiçosa” é por desconhecerem exatamente esse manancial de alimentos que é e, que outrora, tenha sido ainda mais. Em resposta ao Mestre Marco Aurélio, coloquei que o Xavante é originário do Maranhão, forçado a migrar, indo para os lados do Tocantins, subiu o Araguaia, se estabelecendo na Ilha do Bananal, forçado pelas ‘guerras justas’ do período colonial. As frentes de penetração, mais modernas, têm forçado essas migrações. É um fato histórico. Sobre o Uka-uka, andando por esses interiores, fui encontrar em Carutapera o estilo ‘onça pintada’, introduzido na região por um mestre paraense – Mestre Zeca – baseado em luta de antiga tradição marajoara – o agarre marajoara – conforme Campos, Pinheiro, Gouveia, luta marajoara (2019) 76; lembrando que muitas das nações indígenas que se estabeleceram na Ilha do Marajó foram ‘desterradas’ do Maranhão durante o período colonial; inclusive, há certa semelhança entre as cacarias encontradas nas estearias do lago Cajari com motivos marajoaras: Já retornei de Caratupera, região do Alto Turi, fronteira com o Pará… conversei com alguns capoeiras da área – Caratupera e Maracassumé – que estão ligados ao Pará, através do Mestre Zeca… não consegui informações, ainda, sobre a “capoeira carioca”, pois muitos jovens não conhecem a história da região. Turiaçu fica bem próximo de Carutapera, na mesma região do Turi. O grupo de Carutapera denomina-se ACANP – Associação Capoeira Arte Nossa Popular – fundada por Mestre Zeca, de Belém do Pará – Jose Maria de Matos Moraes (33 anos). A ACANP é filiado da Federação Paraense de Capoeira; o estilo praticado é o “Angola com Regional”, estando desenvolvendo, em Maracassumé, e introduzindo em Caratupera, o estilo desenvolvido pelo Mestre Zeca, que denominam de “Onça Pintada” – que seria uma fusão da Regional com o Agarre Marajoara. De acordo com Álvaro Adolpho, de Belém do Pará, ex-diretor do Departamento de Educação Física do Pará, o “Agarre Marajoara” é uma luta desenvolvida pelos índios da Ilha do Marajó – que guarda uma certa semelhança com o Uka-uka - havendo registro de sua pratica ha mais de 300 anos. De acordo com o Prof. Álvaro, talvez seja a primeira luta-esporte com registro de sua pratica no Brasil. 77 Wing Chun Lawyer 78 se posiciona, em sítio dedicado ao MMA:

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CAMPOS ISL, PINHEIRO CJB, GOUVEIA A. Modelagem do comportamento técnico da Luta Marajoara: do desempenho ao educacional. R. bras. Ci. e Mov 2019;27(2):209-217.https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/9421/pdf 77 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notícias do Maranhão in JORNAL DO CAPOEIRA – 05/06/2005 – disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/capoeira+maranhao+agarre+marajoara 78 In (http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 (grifos nossos)


I am afraid I have no more hard data on Zulu. He fought basically relying on his impressive strength, and I was told he managed to throw Rickson out of the ring a couple of times before being submitted.[…] Mainly what I find online are posts on messageboards with no more useful or reliable information, either in english or in portuguese. I thought this was an interesting subject because, well, it DOES seem like Tarracá was created from scratch – Rei Zulu´s boxing skills are really weird, his moves are strange, and it does look rough - although some of his throws would make many a judoka envious. […] I only know he claims to have created Tarracá from scratch because I found a very short interview on a blogspot, apparently he still fights and runs a gym where he teaches Tarracá. Eu tenho medo que não tenha dados mais concretos sobre Zulu. Ele lutava dependente basicamente de sua força impressionante, e foi-me dito que ele conseguiu lançar Rickson fora do ringue um par de vezes antes de serem apresentados. Principalmente o que eu encontrar online são posts no fórum com informações úteis ou não mais confiáveis, em inglês ou em português. Eu pensei que era um assunto interessante porque, bem, parece que Tarracá foi criado do zero – as habilidades de boxe de Rei Zulu realmente estranhas, seus movimentos são estranhos, e olhar áspero - embora alguns dos seus lances faria muita inveja a um judoca. Só sei ele afirma ter criado Tarracá do zero porque eu achei uma entrevista muito curta sobre um blogspot, aparentemente ainda luta e executa um ginásio onde ele ensina Tarracá. Rei Zulu ficou famoso por desafiar lutadores do Brasil e de outras partes do mundo. Após 17 anos de competição estava invicto após 150 lutas (década de 1980). Rei Zulu lançou um desafio à família Gracie para ver quem era o melhor lutador de Vale Tudo de toda a nação. Em entrevista - antes da primeira luta contra Rickson Gracie (1980) -, disse que “seria mais um freguês de pancada e que não se preocupava com a alimentação antes da luta, pois “comia até ferro derretido”. Rei Zulu é considerado por Rickson Gracie o mais difícil oponente com quem já lutou: [...] nos anos 80, Rickson travou cerca de 231 combates (nacionais e internacionais), e afirma ter sagrado-se vencedor em todos por finalização. No Brasil, a rivalidade entre o Jiu-Jitsu e a Luta Livre era tamanha, que houve a necessidade de se provar ao público, qual arte marcial e lutador era superior, assim, foi organizada uma luta entre Rickson e o temido Rei Zulu, com isso, após Rickson Gracie vencer por duas vezes o grande Rei Zulu (que estava no auge e há 150 lutas invicto), nunca mais teve desafiantes a altura enquanto lutou.( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rickson_Gracie) Rei Zulú é a maior referencia do “Vale Tudo” no/do Maranhão. Nascido Casimiro de Nascimento Martins, em 09 de junho de 1947 é um lutador de Vale-Tudo: “criado em Pontal, no interior do Maranhão. Lá, aprendeu a Tarracá, luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região. Como seus 17 irmãos, nunca frequentaram a escola. Cresceu forte e brincalhão. Aos 14 anos, mudou-se com a família para a Vila Ilusão (sic), na Ilha de São Luís.” (LAROCHE, 2010) 79 (grifos nossos). O Rei Zulu80 tornou-se famoso também pelas caretas que faz enquanto luta. Ele diz que as caretas são para mostrar que está feliz por estar ali. Nunca frequentou academias de musculação, mas desenvolveu um estilo de luta próprio, e realiza seu treinamento físico diariamente com pedras pesadas, pneus, marreta e diz não gostar de frequentar academia, por isso treina no quintal de casa: empurrar paredes, lançar pedras com mais de 5 Kg a grandes distâncias, correr entre arbustos, levantar carroças com pedras e andar com uma corda no

79 LAROCHE, Marília de. “Conheça Rei Zulu e Zuluzinho, os lutadores do Maranhão, disponível em http://www.divirtase.uai.com.br/html/sessao_13/2010/11/15/ficha_ragga_noticia/id_sessao=13&id_noticia=30972/ficha_ragga_noticia.shtml e em http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140 80 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rei_Zulu


pescoço puxando dois pneus eram instrumentos utilizados em seu arcaico treinamento. Possuía uma força naturalmente descomunal.

http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140 É pai do também lutador Zuluzinho81. Em entrevista (Budo International, Blackbelt) Zuluzinho enumera seu jiu-jítsu (faixa-roxa) e Vale Tudo, afirma ter aprendido Tarracá com seu pai, responsável pelo método de treinamento utilizado pelo lutador em todos esses anos.

Rei Zulu e seu filho Zuluzinho Rei Zulu nunca praticou artes marciais, desenvolveu seu estilo próprio que se aproxima de brigas de ruas: Eu só sei que ele afirma ter criado Tarracá a partir do zero, porque eu encontrei uma entrevista muito curto em um blogspot, aparentemente, ele ainda luta e corre uma academia onde ensina Tarracá. (WingChun Lawyer)82 Mauricio Kubrusly, em “Me leva Brasil” 83 entrevistou Rei Zulu em São Luis do Maranhão, onde reside:

81 Algumas lutas de Zuluzinho: http://www.youtube.com/watch?v=2RZtRfylWqA; http://www.youtube.com/watch?v=twbmb_i5YNk 82 http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 83 Kubrusly, Mauricio in


- Quem primeiro me treinou foi meu pai. E tem a prática com zorras, os pneus… é que no interior chama zorras. E ele conhecia também o tarracá, a luta dos índios.

Marc Magapi84, em outra reportagem, descreve o ritual do Rei Zulú em suas lutas, como também informa ser seu pai o criador do estilo que “desenvolveu”: Rei Zulú (Eu como até ferro derretido) – Nascido em São Luiz, Maranhão, este folclórico lutador, é protagonista de inúmeras histórias por conta das décadas em que praticou o vale tudo (um cartel com mais de 250 lutas). Zulú entrava no ginásio, seguindo um ritual, que tinha início com uma volta olímpica, na qual saudava o público presente, sempre com o braço esquerdo estendido. Ao subir no ringue, o maranhense jogava-se no chão, rolava para o lado, dava cambalhotas, movimentava os ombros para frente e para trás e fazia inúmeras caretas. Zulú tinha a característica de zombar de seus adversários, acreditando sempre em sua força descomunal para vencê-los no momento que bem quisesse. Um autodidata do mundo das lutas, que sempre se disse representante do “Tarracá”; estilo criado por seu pai, que consistia basicamente em se “atracar” com o adversário, nunca teve aulas de jiu-jitsu, capoeira ou luta livre em uma academia. Esse mesmo autor informa ter havido em São Luís do Maranhão uma “arena de lutas”, denominada de “Terreiro Tarracá”, no Bairro do João Paulo, onde era disputado um campeonato semanal de Vale Tudo, conforme se vê em “O encontro de Magapi com Rei Zulú” 85: 1997 São Luis - MA - tem uma faixa lá no João Paulo (bairro) chamando as pessoas para assistir o (pásmem!!!) semanal campeonato de vale tudo do Tarracá e dizendo que o Rei Zulú vai lutar movimentadas com uma média de 3 minutos para cada uma [...] nesse local tinha luta todo final de semana mesmo [...] Era um sábado, o local era escuro, a entrada era R$5,00 e no programa estavam confirmadas 6 lutas. O nome do local é Arena do Tarracá ou Baixada do Tarracá. Além da correspondência do Marco Aurélio, recebo de Javier Cuervo, lá das Astúrias (Espanha) um comentário, de que no Calahari sub-sahariano, entre os bosquímanos, luta semelhante àquele apresentada pelo Rei Zulu; mandou-me vídeo via iutube, demonstrando as semelhanças, comparando-se com o da luta de Rei Zulu e Rickson Gracie , nos anos 80…, disponível em vídeo do link anexo: E “Batuque duro” do Kalahari -1930. http://salavideofica.blogspot.com/2010/11/1930-c-ernest-cadlewild-men-of-kalahari.html Encontrei, ainda, descrição de luta-jogo semelhante, trazida por vaqueiros portugueses - de origem açoriana - durante o período colonial, a Galhofa - o “wrestling tradicional transmontano” - que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha.

http://fantastico.globo.com/platb/melevabrasil/2008/04/08/zuluzinho-x-zuluzao/ 84 MAGAPI, Marc. “Esses loucos lutadores e suas estranhas manias”disponível http://www.fisiculturismo.com.br/forum2/viewtopic.php?t=27186 85MAGAPI, Marc “O encontro de Magapi com Rei Zulú” disponível em http://magatown.br.tripod.com/antigas.htm; Ver também http://www.sherdog.net/forums/f2/closed-door-underground-fights-389143/

em


Em depoimento de Álvaro (Vavá) Melo, de Osvaldo Pereira Rocha, e de Edomir Martins, jovens nos seus mais de 80 anos, que quando crianças e adolescentes, costumavam praticar o ‘atarracado’ e o ‘atarracar’, na região da baixada, onde morava; Osvaldo Rocha, ilustre pesquisador e historiador, disse-me que, embora franzino, costumava ganhar algumas das ‘brincadeiras’, pois o segredo era a agilidade em agarrar a perna do adversário e levá-lo ao chão; tão logo autorizado o combate, a rapidez com que se lançava ao adversário era fundamental. Já Álvaro Mello, Vavá, presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, cronista do Arari e de São Bento, deu seu depoimento, ressaltando que os embates se davam na beira do rio, e os combatentes saiam cobertos de lama; O mesmo disse Aymoré Alvim – ilustre pesquisador hoje aposentado, da nossa UFMA/Medicina. Até brinquei, propondo então aos campeões do ‘TARRACÁ’ um embate, envolvendo o Rei Zulu… um desafio às memórias de infância no ‘interland’ maranhense… Osvaldo até disse que, em seu próximo livro, escreveria sobre as lutas que travou, utilizando o tarracá, já que o tema está provocando muita curiosidade no mundo do MMA e da UFC… De Barreirinhas, em conversa com alguns professores de educação física de algumas comunidades do interior daquele município, falaram-me haver por ali, ainda, um jogo/luta semelhante ao descrito, mas que ali, denominavam de ‘queda’. Coincidentemente, no mesmo dia em que retornei daquela cidade recebi do Javier o material abaixo:

86

UMA CONCLUSÃO POSSÍVEL

86 O distrito da Guarda é um distrito de Portugal pertencente à província tradicional da Beira Alta. Limita a norte com o distrito de Bragança, a leste com Espanha, a sul com o distrito de Castelo Branco e a oeste com o distrito de Coimbra e com o distrito de Viseu. Tem uma área de 5 518 km² (7.º maior distrito português) e uma população residente de 168 898 habitantes (2009).[2] A sede do distrito é a cidade com o mesmo nome. https://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_da_Guarda


Rei Zulú, que praticava o que denominou de “tarracá” em sua infância, como atividade corriqueira, jogo/luta de sua infância, e dada suas características físicas, em um dado momento, ainda no quartel, vale-se de ambas – a forma de ‘luta’ e a força – para conquistar um espaço, que vem a se tornar uma profissão. Para justificar seu estilo peculiar – força bruta – e por não ‘pertencer’ a uma escola do então Vale Tudo, ‘inventa’ a tradição de luta aprendida dos índios, TARRACÁ – atarracar, segundo Baé, ou atarracado, segundo Marco Aurélio – que vai se constituir em um estilo - maranhense – disseminado tanto por Zulu, em suas investidas no mundo da luta livre pelo mundo afora, como por seu filho Zuluzinho, quando coloca que seu estilo fora criado por seu pai – quem o treinava - e se chamaria ‘Tarracá’, de tradição indígena e negra, maranhense… Encontrado que em diversas regiões do Maranhão, ainda hoje, se pratica uma luta, que recebe diversas denominações – tarracá, atarracado, atarracar, queda – de origem possível portuguesa, trazida por vaqueiros açorianos -, tradicional hoje nas brincadeiras de crianças.


“... SÓ SÃO MACAIO NÃO...”

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIUA LUDOVICENSE DE LETRAS Licenciado em Educação Física – Mestre em Ciência da Informação “SÃO MACAIO” é uma canção dançada nos Açores. Foi sobretudo na ilha Terceira onde se generalizou a sua tradição. Tudo leva a crer que o seu nome original seja São Macário e que o nome com que ficou conhecido seja já uma degeneração do primeiro. Acredita-se que São Macário, seria um navio que andava entre as ilhas e o Brasil e que teria naufragado numa das suas viagens. Pois como diz a canção: “São Macaio, deu à costa... toda a gente se salvou...(...) só o São Macaio é que não”: ... S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos do Maranhão Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o S. Macaio não. Ao se referir ao “Maranhão”, fica a dúvida: seria o estado do Maranhão (colonial), ou uma localidade da Ilha do Corvo?, pois “maranhão = grande mentira; peta grossa; palão / na música faz referência a um lugar da ilha do Corvo (in http://folclore.pt/jogo-popular-jogos-tradicionais/). A dúvida fica por conta de que não encontrei referencia sobre esse naufrágio, buscando em documentos via ferramentas de busca pela Internet, tanto na história do Maranhão, quanto na dos Açores – Flores e Corvo -, embora haja a informação de que tal naufrágio ocorrera em 174787. Marques (2008)88, na relação das ocorrências das migrações açoriana não trata de chegada nessa data. Ao se proceder qualquer levantamento acerca dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil naquela época, facilmente se chega à constatação que uma das mais importantes participações foi a dos que procederam do Arquipélago dos Açores, pois foram eles que desbravaram as regiões mais remotas, caracterizadas por apresentarem condições tanto de clima quanto de solos e localização geográfica completamente diferentes das predominantes nas áreas até então habitadas da Colônia, e a despeito disso conseguiram se estabelecer e até mesmo fundar ou ajudar a fundar vilas e cidades nesses rincões mais longínquos (PEREIRA, 2002)89. Nas principais obras concernentes à História do Maranhão e do Pará encontram-se alguns registros da presença dos açorianos nos séculos XVII e XVIII na Região. Todavia, além de raras, são informações que tratam muito superficialmente do assunto. A imigração açoriana para o Maranhão e o Grão-Pará se efetivou mediante três correntes, tendo lugar as duas primeiras ainda durante o século XVII e a terceira no século XVIII: A primeira corrente imigratória se deu entre os anos de 1619 e 1632. A segunda corrente de açorianos teria ocorrido nos anos de 1675 e 1676 e o motivo principal se deveu à erupção de um vulcão na Ilha do Faial, o que deixou um grande contingente de ilhéus em sérias dificuldades (Lisboa, 186690; Wiederspahn,197991 e Berredo, 198892). Uma terceira

87 In Comunicação durante o CONGRESSO INTERNACIONAL DOS 400 ANOS DA PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO: HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADEE, São luis, 23 a 25 de outubro de 2019, Casa dos Açores do Maranhão/Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. 88 MARQUES, Francisca Ester. Imigração açoriana no Maranhão e a fundação de São Luis: presença açoriana no Norte e Nordeste. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁSFICO DO MARANHÃO, São Luis, n. 28, 2008, p. 45-60. 89 PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 90 LISBOA, J. F. - Jornal de Tímom. Lisboa: [s. n.], 1858. t. 2; LISBOA, J. F. - Obras de João Francisco Lisboa. São Luís do Maranhão: Typ. de B. de Mattos, 1866. v. 3


leva de açorianos destinados à Região Norte do Brasil ocorreu no período entre 1752 e 1756, quando o todo poderoso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de Pombal - procurou empreender uma corrente migratória para o Grão-Pará e o Maranhão, tomando como ponto de partida, mais uma vez, o Arquipélago dos Açores. Sabe-se que a Coroa de Portugal assinou em abril de 1751, com Joseph Álvares [ou Alves] Torres, um contrato para o transporte de mil famílias das ilhas dos Açores para o Estado do Grão-Pará. Viveiros (1992)93 desconhece se esses açorianos algum dia chegaram ao Maranhão ou ao Pará, mas há uma afirmação de Laytano (1987)94, com base numa monografia escrita por Arthur César Ferreira Reis, segundo a qual, em 1752, somente numa embarcação, vieram 430 ilhéus para a Amazônia e "logo no começo de 1766 chegaram casais de ilhéus, em número de 50, com duzentas e trinta e quatro pessoas" para Belém do Pará. A partir daí, as migrações concentraram-se nos atuais Pará e Amapá... Segundo Marques (2008): 1648 – 52 casais ou 365 individuos 1666 – 80 casais ou 250 individuos 1674 – 100 casais ou 500 individuos 1675 – 50 casais ou 234 individuos – 50 casais, 100 individuos 1677 – 50 homens, 47 mulheres e 126 pessoas de família 1750 – 96 casais ou 486 individuos 1752 – 430 individuos 1753 – 900 soldados Continuemos as buscas... O certo, que a presença açoriana, hoje, se manifesta com as festas do Espírito Santo, e com o “Tarracá”, luta/jogo que se aparece na baixada maranhense – atarracar, atarracado – e na região dos Preguiças, com o nome de “queda”, único ‘wrestling” de origem portuguesa, e trazido por vaqueiros açorianos para o Maranhão (VAZ, 2019)95. Das experiências e pesquisa apresentadas, e depoimentos dos participantes, em especial dos representantes das demais Casas dos Açores – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, e mesmo os representantes e pesquisadores açorianos aqui presentes – destaca-se o sentimento de “pertencimento” àquelas Ilhas. Somos todos ‘Ilhéus”... A busca de identidade – açoreinidade, tal como a maranhencidade, tão cara à todos nós -, de busca das raízes, se faz tão presente e cheia de orgulho, pelos ‘manezinhos’. É o que busca a Casa dos Açores do Maranhão, oficialmente fundada durante este Congresso Internacional. Somente hoje entendi o que Vitorino de Brito Freire falou-nos, em 1976, durante uma visita à Imperatriz, ao Campus Avançado da UFPR/Projeto Rondon, de que o ‘maranhense é um eterno exilado”. As primeiras correntes migratórias, de ocupação e povoamento da terra, provem dos Açores... Vinham ‘fazer a vida’, e quem sabe, um dia voltar... Da recuperação da memória/origem dos maranhenses, temos a pesquisa de Judith Bogéa Bittencourt sobre sua família – os Bittencourt -, em andamento, e o de Guido Garreto: “Garret – Traficante de escravos: a história esquecida da famílias Garret na Amazônia (Jaguatirica, 2018). Lamentável, mesmo, é a ausência de nossos pesquisadores, em especial da UFMA e UEMA, num evento tão importante. Da UEMA, Franz Gasterlinck; tivemos alguns pesquisadores que se comprometeram com a 91 WIEDERSPAHN, H. O. - A colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ /Instituto Cultural Português, 1979. 92 BERREDO, B. P. de. Anais históricos do Estado do Maranhão. 4. ed. São Luís: ALUMAR/Billiton/ALCOA, 1988. 390p. 93 VIVEIROS, J. de. - História do comércio do Maranhão (1612-1895). Edição fac-similar. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. v.1. 94 LAYTANO, D. de. - Arquipélago dos Açores. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana, 1987. 95 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÃO DOS AÇORIANOS PARA A CULTURA MARANHENSE: O CASO DO “TARRACÁ”. In Comunicação durante o CONGRESSO INTERNACIONAL DOS 400 ANOS DA PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO: HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADEE, São luis, 23 a 25 de outubro de 2019, Casa dos Açores do Maranhão/Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.


organização do evento, em ministrar palestras, mas simplesmente, não compareceram... Se não vieram, é porque não têm importância, se não têm importância, não é necessários dar-se lhes os nomes...


“OS NÁUFRAGOS DO SÃO MACAIO”: PRESENÇA AÇOREANA NA CONQUISTA DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ96 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA – MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

... S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos do Maranhão Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o S. Macaio não. “SÃO MACAIO” é uma canção dançada nos Açores. Foi, sobretudo, na ilha Terceira onde se generalizou a sua tradição. Tudo leva a crer que o seu nome original seja São Macário e que o nome com que ficou conhecido seja já uma degeneração do primeiro. Acredita-se que São Macário, seria um navio que andava entre as ilhas e o Brasil e que teria naufragado numa das suas viagens. Pois como diz a canção: “São Macaio, deu à costa nos baixios do Maranhão... toda a gente se salvou...(...) só o São Macaio é que não”. Muito embora haja informação que esse naufrágio se deu nos meados dos 1700, a presença açoriana no Maranhão é bem anterior - mais de 150 anos -, e as comemorações dos 400 anos da migração para estas bandas também não contempla as primeiras presenças, que vem desde 1603... O Estado do Maranhão e Grão-Pará, ou simplesmente Estado do Maranhão, era um enorme território que hoje em dia corresponderia aos atuais estados da Amazônia Brasileira (principalmente Amazonas, Amapá, Pará e Tocantins), mais Maranhão, Ceará e Piauí (VAZ e VAZ, 2011) 97. Para Cardoso (2012) 98, nas crônicas da época de Filipe II, esse território era quase sempre identificado como uma zona de transição. Nem era propriamente “Brasil”, nem chegava a ser Índias de Castela. Em dias de hoje, o que esses cronistas chamavam de “Maranhão” seria um território excepcionalmente grande, e corresponderia (mais ou menos) aos atuais Estados brasileiros de Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Tocantins, Piauí, Maranhão e uma parte do Mato Grosso (ao Norte do paralelo 16º).6 A Ilha do Maranhão – Upaon-Açú – é ocupada por franceses já na década de 1590 – 1594, com feitoria: Miganville99, construção de fortes: os fortes do Sardinha, Caur, e Araçacy -, e em 1612, aí tentam fundar uma colônia – La France Equinoxiale 100. Em 1615, os franceses são expulsos e a região é incorporada aos domínios lusitanos durante a união das Coroas Ibéricas – 1580/1640. 96 Escrevo para aprender. Os dados e informações aqui apresentados são fruto de trabalhos acadêmicos e institucionais, portanto não são inéditos; original é a apresentação. 97 VAZ Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “A CIDADE DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS” – DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE OCUPAÇÃO ATÉ A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA DA TERRA – CRONOLOGIA . Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 237, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 98 CARDOSO, Alírio. MARANHÃO NA MONARQUIA HISPÂNICA: intercâmbios, guerra e navegação nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655). Tesis Doctoral presentada en la Facultad de Geografía e Historia. Departamento de Historia Medieval, Moderna, Contemporánea y de América. 99 VAZ. Leopoldo Gil Dulcio; SILVA, Antonio Noberto da Silva. DO VINHAIS VELHO À PONTA DA AREIA – UM REDUTO que DEU INICIO A SÃO LUIS. Palestra no IHGM, em 31/01/2019. Publicada na ALL EM REVISTA, São Luís, Volume 6, número 1, janeiro a março de 2019, disponível em https://issuu.com/…/docs/revista_all__n.6__v1__janeiro-mar_o; e na REVISTA DO LEO 18, MARÇO DE 2019, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 100 MEIRELES, Mário. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1982


FONTE: SILVA, 2019; VAZ e SIVA, 2019101 Essa reconquista das terras do norte do Brasil é o ponto de partida para o avanço do sistema colonial português. A colonização foi iniciada por ilhéus açorianos chegados em duas levas, nos anos de 1619 e

D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. D’EVREUX, Ives. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL feita nos anos de 1613 a 1614. 3 ed. Anotadas aos cuidados de Sebastião Moreira Duarte. São Paulo: Siciliano, 2002 FORNEROD, Nicolas. SUR LA FRANCE ÉQUINOXIALE – SOBRE A FRANÇA EQUINOCIAL. São Luis: Aliança Francesa do Maranhão/Academia Maranhense de Letras, 2001 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS – os franceses na conquista do Brasil. Brasília: Alhambra; São Luís: Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, 1992 LIMA, Carlos de. Os Franceses no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial 390 anos, p. 5 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. O Mito da fundação de São Luís. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 02 de março de 2008, domingo, Caderno Alternativo, p. 1, p. 6 MARTINS, José Reinaldo. São Luís de 1612 descoberta. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 19 de julho de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. Palco de disputas por franceses, portugueses e holandeses. São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial, 390 anos, p. 7, FERREIRA, Abrl. Tratado de Tordesilhas a ‘invasão’ francesa do Maranhão. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 05 de outubro de 2003, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SABOIA, Napoleão. Retrato do Brasil francês. Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 06 de janeiro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 1 LACROIX, Laria de Lourdes Lauande. A FUNDAÇÃO FRANCESA DE SÃO LUÍS E SEUS MITOS. São Luís: EDUFMA, 2000 101 VAZ e SILVA, 2019, obra citada


1621, dando a São Luís uma feição de burgo, transformando o simples posto militar avançado em uma povoação de colonos a que se precisaria dar uma administração civil 102. A partir de 1621, a América portuguesa encontra-se então dividida em duas grandes unidades administrativas, o Estado do Maranhão, ao norte, cuja capital era a cidade de São Luís, e o Estado do Brasil, ao sul, cuja capital era a cidade de Salvador. Estas duas unidades políticas eram independentes entre si. O Estado do Maranhão também estava dividido em duas capitanias reais, Capitania do Maranhão e Capitania do Grão-Pará, conquistadas por ordem direta de Filipe III. Existiam outras capitanias particulares, criadas por mercê real e cujas mais importantes eram: Tapuitapera, Cametá, Caeté, Ilha de Joanes e o Cabo do Norte (este último, mais ou menos equivalente ao atual Estado do Amapá).

→→→ Os portugueses saindo de Recife/PE, expulsaram os franceses de São Luis do Maranhão, em 1615. Ocuparam a foz do rio Amazonas, em 1616. E subiram o rio Amazonas em 1637 estabelecendo os limites Oeste entre as posseções espanholas e portugueses, no rio Nepo. Fonte: VAZ e VAZ 2011, obra citada, VAZ, 2011103

102 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976. (Edição facsimilar) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, portuguesa com certeza. In CLIONET, Revista Eletrônica de História, Juiz de Fora, UFJF, 1989 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, francesa ou portuguesa? In Jornal O IMPARCIAL, São Luís, domingo, 11 de julho de 1999, Caderno Impar, p. 8. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Carta Aberta Ao Mestre Jomar Moraes – Sobre ‘Vieira, Novelos E Novelas. In REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, Volume 04, Número 01, jan/jun/2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista 103 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Fundação Do Maranhão São Luis/Vinhais. In II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES Mesa-redonda: Comemorações Históricas: São Luís 400 anos: Ciência, Arte e Humanidades 30/05/2011


Fonte: VAZ e VAZ 2011; vaz 2011, obras citadas A Carta Régia de seis de agosto de 1653 repartiu-o em quatro capitanias – São José do Piauí; Maranhão; Grão-Pará; e São José do Rio Negro – todas sujeitas a um governador e capitão-general, e tinha como sede a cidade de Belém.


Em 1772, a região recebeu nova organização administrativa, repartindo-se em dois estados: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí. Até 1811, o Piauí ficou subordinado ao Maranhão. A primeira tentativa para expulsar os franceses do Maranhão foi a do açoriano Pêro Coelho de Sousa que chegou de Pernambuco em 1603 e desembarcou no Ceará com 65 soldados e mais de 200 índios. Já Barretto (1958) 104 diz que integravam a expedição 86 europeus e 200 indígenas, e à frente, Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda, Jacques Riffault105 percorria o litoral do Ceará entre 1603-1604, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: [...] “descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem”. Em obediência ao Regimento, iniciou, na foz do rio Jaguaripe, uma fortificação em 10 de agosto de 1603, antes de prosseguir para combater os franceses de Jacques Riffault na Ibiapaba. (82-83). Jacques Riffault Comerciante y aventurero de origen normando. Fue el primero en formular un proyecto para la ocupación francesa del norte de Brasil. El 14 de mayo de 1594 partió al mando de tres naves con el objetivo de efectuar las primeras conquistas de dicha ocupación. Consiguió llegar a Maranhão, pero "dois dos seus navios se perderam nos baixios de Upaon-Mirim (ilha de Santa Ana)". Debido al contratiempo, el capitán regresó a Francia, manteniendo su proyecto todavía pero sin llegar a culminarlo, pues murió poco tiempo después. Sin embargo, los supervivientes de las dos naves naufragadas fueron acogidos por los tupinambás: participaron junto a ellos en la guerra contra los tabajaras, aliados de los portugueses. Entre los náufragos se encontraba Charles de Vaux, quien volvió a Francia y se convirtió en "um grande propagandista das potencialidades da região maranhenses, que possuía algodão e pimenta, bem como condições para o cultivo da cana-de-açúcar, além de contar com a predisposição dos tupinambás". (COUTO, 1997: 188)106 Em 1604, Pero Coelho de Souza passou rumo a Ibiapaba107, e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contra os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barretto (1958) 108 informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92).

104 BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 105 VAZ. Leopoldo Gil Dulcio; SILVA, Antonio Noberto da Silva. DO VINHAIS VELHO À PONTA DA AREIA – UM REDUTO que DEU INICIO A SÃO LUIS. Palestra no IHGM, em 31/01/2019. Publicada na ALL EM REVISTA, São Luís, Volume 6, número 1, janeiro a março de 2019, disponível em https://issuu.com/…/docs/revista_all__n.6__v1__janeiro-mar_o; e na REVISTA DO LEO 18, MARÇO DE 2019, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019. VER TAMBÉM VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O Potengi, o Rifoles, e a ocupação do Maranhão, in CEV/EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/o-potengi-o-rifoles-e-a-ocupacao-do-maranhao-1/ 106 Couto, Jorge, "As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão e o projecto da França equinocial" en Ventura, Maria da Graça Mateus (coord.), A União Ibérica e o Mundo Atlântico. Lisboa: Edições Colibri, 1997, pp. 171-194. 107 A Serra da Ibiapaba, também conhecida como Serra Grande, Chapada da Ibiabapa e Cuesta da Ibiapaba, é uma região montanhosa que se localiza no Estado do Ceará. Uma região atraente em riquezas naturais que já era habitada por diversas etnias indígenas. Os povos que viviam já negociavam diversos produtos naturais com povos europeus, tais como os franceses, antes mesmos da chegadas dos portugueses. Habitada inicialmente por índios tabajaras e tapuias, como a índia Iracema que se banhava na bica do ipu foi bastante retratada no livro Iracema de José de Alencar. A cidade mais antiga da serra é Viçosa do Ceará, que foi colonizada pelos jesuítas da Companhia de Jesus a partir do século XVI. Também encontramse as cidades do Tianguá, Ubajara - onde existe a Gruta de Ubajara e o bondinho do Parque Nacional de Ubajara - São Benedito, Ibiapina, Croatá, Guaraciaba do Norte, - neste município encontra-se a cidade de pedras, Carnaubal e Ipu que tem sua famosa bica(cachoeira) com 135m de altura que fica no sopé da serra da ibiapaba que e bastante visitada o parque da bica de ipu. https://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_da_Ibiapaba 108 BARRETO, 1958, obra citada.


Pero Coelho de Souza (Ilha de São Miguel, fins do século XVI — Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores. Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII. Concunhado de Frutuoso Barbosa, exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590 Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governadorgeral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que há anos atuavam na capitania do «Siará Grande». Esse fidalgo da casa do rei e militar experiente, partiu da Paraíba para a conquista as terras cearenses. Partiu da Paraíba com destino ao Rio Jaguaribe para dali seguir até a Serra da Ibiapaba. Entretanto, em 1604, quando se encontrava nos arredores da Serra Grande (Ibiapaba), encontrou forte resistência dos nativos da região auxiliados por alguns franceses. Após uma série de lutas, conquista a região de Ibiapaba, vencendo os franceses e indígenas locais. Depois dessa vitória, ele tenta entrar mais na região na direção do Piauí, mas devido à rebelião de seus homens, retorna à barra do rio Ceará, onde ergue o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa. Após tal construção, deixa seus homens no então erguido forte e retorna à capitania da Paraíba para angariar mais recursos e trazer sua família. Nessa ida às terras paraibanas ele leva consigo diversos indígenas escravos para a venda. Dezoito meses depois da sua ida à Paraíba, Pero Coelho retorna ao Ceará, juntamente com a Srª Maria Tomásia Cardiga, sua esposa, e seus filhos. Contudo, devido à seca que então assolava as terras cearenses na época, assim como os desânimos de seus homens, os ataques dos índios e a não chegada dos recursos prometido por Diogo de Campos Moreno, Pero Coelho abandona o Fortim de São Tiago e ruma de volta à Paraíba. Nessa jornada ele ainda ergue um forte à margem esquerda do rio Jaguaribe, o Fortim de São Lourenço, mas em razão dos mesmos motivos que o fizeram partir da Barra do Ceará, ele abandona definitivamente essa capitania. Ainda nessa jornada de abandono, Coelho perde o filho mais velho. Segundo o sargento-mor Diogo de Campos Moreno, ainda em 1614, Pero Coelho de Souza foi o primeiro europeu a ter seu nome ligado à escravidão das populações indígenas no Brasil, tornando primeiro os índios da Ibiapaba e do rio Jaguaribe cativos. Tal relato do sargento-mor mostra que Pero Coelho de Souza, homem nobre do Brasil colônia, arregimentou soldados e índios para ir conquistar o História do Maranhão num trajeto passando por mar até o Ceará e, dali, indo por terra, passa pela Serra de Ibiapaba, não indo além, tendo em vista os confrontos violentos com os autóctones tabajaras da serra, liderados pelo morubixaba (cacique) Irapuã. Nesse confronto armados saíram vencidos os tabajaras, os quais foram levados como escravos e vendidos nos engenhos do litoral.Aproximadamente oitocentos índios que acompanhavam e ajudavam a Pero Coelho de Souza na condição de aliados também foram posteriormente escravizados. Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, a paga dos seus serviços.109 Pero Coelho de Souza - Capitão mor que participa na conquista do Ceará e foi um dos moradores influentes da cidade de Filipéia, Paraíba (1599). Também aparece na documentação como Pedro. "Na fase inicial da actividade de Diogo Botelho (1602-1607), o açoriano Pero Coelho de Sousa, radicado na Paraíba, propôs ao novo governador-geral, com o apoio do influente cunhado, Frutuoso Barbosa, a organização de uma expedição destinada a prosseguir a conquista da costa do Brasil a partir do Rio Grande do Norte [...] A expedição tinha como missões essenciais assegurar, por todos os meios possíveis, a paz com os índios; reconhecer o litoral com o objectivo de detectar pontos estratégicos e assinalá-los com vista a futuras ocupações; capturar todos os estrangeiros que fossem encontrados e enviá-los para Pernambuco, abatendo aqueles que oferecessem resistência; procurar informações junto dos 109 FONTE:https://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho_de_Sousa


indígenas sobre a possível existência de minas de ouro e prata, bem como de jazidas de pedras preciosas e, finalmente, fundar fortes e povoações nos lugares mais adequados, procurando sempre conservar a amizade dos ameríndios". (COUTO, 1997:187) 110. Logo após essa tentativa de se chegar ao Maranhão, houve, em 1607, outra, com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado.

Francisco da Costa Pinto, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba. Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão. No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró, juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território. Em 2 de fevereiro do 1607, celebraram a primeira missa no território do atual Estado do Ceará, na foz do Rio Jaguaribe. Durante a viagem, esteve em um aldeamento denominado como Paupina, que corresponde atualmente ao centro de Messejana. Os dois avançaram até a Chapada de Ibiapaba, chegando a habitar com os índios Tabajara. Em 11 de janeiro de 1608, foi assassinado pelos índios Tocarijus, instigados pelos franceses que mantinham contatos na região por meio da Feitoria da Ibiapaba. O martírio ocorreu, provavelmente, onde, atualmente, está localizado o Município de Carnaubal, sendo enterrado no sopé da Serra Grande.

110 AGS, Archivo General Simancas, Secretarías Provinciales, 1515, f. 43v. ANTT. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte I, Maço 112, Doc. 57. Salvador, Frei Vicente do, História do Brasil Couto, Jorge, "As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão e o projecto da França equinocial" Anônimo, Livro do Tombo do Mosteyro de Sam Bento da Parahyba. Numero III ILHA, fr. Manuel da, Narrativa da custódia de Santo Antônio do Brasil, 1584-1621 http://brasilhis.usal.es/pt-br/personaje/pero-coelho-de-souza-sousa


“..] investindo com furor e crueldade diabólica contra o servo de Deus, lhe deram repetidos golpes com suas "ybirassangas", que são uns paus duros, largos e compridos, na cabeça, até que lha amassaram toda e lhe deram uma morte muito cruel, aos onze de janeiro de 1608” Depois da sua morte e sepultamento recebeu o alcunha de Amanaiara (o senhor da chuva) em Tupi, entre a etnias indígenas, transformando-se assim numa entidade espiritual. Os seus restos mortais viraram amuletos para o combate à seca, sendo estes trasladados até a Parangaba pelos índios Potiguara. Em janeiro de 2016, foi celebrada uma missa em Tianguá, para celebrar o início de seu processo de canonização.111

Por Cornelius Hazart - Biblioteca Nacional, Domínio público112 A conquista efetiva do Maranhão foi planejada na administração do conde de Ericeira, d. Diogo de Menezes (1608-1612), e concluída por d. Gaspar de Sousa (1612-1617), ambos governadores do Estado do Brasil: Felipe III esperava que o próprio Gaspar de Sousa viajasse ao Maranhão para, assim, dirigir as ações militares pessoalmente. Algumas Cartas Régias de Felipe III são bastante elucidativas sobre o projeto 111 FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Pinto_(padre) 112 FONTE: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=17315678


hispano-luso de conquista dessa região, revelando certas expectativas sobre como deveria ser feita a tomada do novo território. Em outubro de 1612, o soberano passa instruções para que a conquista seja feita por mar, e que seria conveniente irem mais de seiscentos soldados arcabuzeiros, acompanhados de mil índios flecheiros de Pernambuco. Também deveriam ir, segundo Felipe III, oficiais mecânicos de ‘todos os ofícios’, e até ‘homens nobres’ e de ‘cabedal’ que pudessem fabricar engenhos e iniciar comércio nas novas terras. (CARDOSO, 2011) 113 Para esse autor, a ocupação do Maranhão faz parte da política de construção de uma linha de defesa no litoral norte do Estado do Brasil. Sobre o tema, três questões estão sempre presentes nas fontes disponíveis: 1) A expulsão imediata dos franceses; 2) As providências para travar o avanço de ingleses e holandeses pelo litoral; 3) A possibilidade de integração comercial entre o Maranhão e as Índias de Castela, sobretudo com o Vice-Reino do Peru. Alírio Cardoso (2011) 114 apresenta, em um quadro, a origem de alguns oficiais que participaram da Conquista do Maranhão e Grão-Pará (1615-1616, baseado em Berredo (1988) 115. São eles: NOME Manuel de Sousa de Eça Diogo de Campos Moreno Bartolomeu Ramires Domingos Correia

POSTO Capitão-Mor/ Capitão de Infantaria Sargento-Mor Incerto Maestro de Caravela

ORIGEM Ilhas dos Açores Tanger ou Ilha Terceira Ilhas dos Açores Ilha Graciosa (Açores)

FONTE: CARDOSO (2011), de acordo com BERREDO, Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780.

Manuel de Sousa d'Eça (? - ?)116 foi um administrador colonial que governou o Grão-Pará de 06 de outubro de 1626 a outubro de 1627. Embarcou de Portugal para o Brasil em 25 de março de 1624 e em 19 de junho de 1641 ajudou a repelir um ataque da nau francesa Régente a um forte em Jericoacoara. MANUEL DE SOUSA (DE SOUZA) DE EÇA (DEÇA) (DE SÁ) (E SÁ) 117. Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Capitão-môr do Pará que participa en la conquista de Maranhão. Fue enviado, con el rango de capitão-môr o de capitão de Infantaria, como parte de la flota de socorro integrada por siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses (CARDOSO, 2011, p. 331, CARDOSO, 2012, p. 164). En julio de ese mismo año envió un informe al Consejo de Indias, el "Roteiro do Rio das Amazonas, dado pelo capitão Manuel de Souza Dessa al S.or Vizorrey", en el cual "resume as três questões mais emblemáticas sobre a geopolítica lusomaranhense": que la ruta maranhaense ya era transitada por varias naciones enemigas de la Monarquía Hispánica (franceses, holandeses e ingleses), que estas naciones explotaban económicamente el territorio de Maranhão, y sobre el enorme valor estratégico del río Amazonas para asegurar la integración de los territorios de la Monarquía Hispánica en América. (CARDOSO, 2012, pp. 68-69, 202, 209, 213) 113 CARDOSO, Alírio. A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica (1596-1626). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 31, nº 61, p. 317-338 – 2011, disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbh/v31n61/a16v31n61.pdf 114 CARDOSO, 2011, obra citada 115 Berredo, Bernardo Pereira de. Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780. 116 Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Sousa_d%27E%C3%A7a Cardoso, Alírio, "The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union (1596-1626)" Cardoso, Alírio, Maranhão na Monarquia Hispânica: Intercâmbios, guerra e navegação nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655). Disponível em http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1638 117 http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1631


Tras la conquista de Maranhão, acompañó en 1615 al capitão Frias de Mesquita en su viaje a Sevilla para presentar los planos para el fuerte de São Felipe. (CARDOSO, 2012, p. 167) Recebe alvará de provedor da fazenda do Rio das Amazonas a 22 de dezembro de 1616 e no ano seguinte recebe alvará de capitão de viagem do Pará. Estaba en Pernambuco en 1624 para unirse a la expedición de Francisco de Moura contra los holandeses que estaban en Salvador de Bahía. 118 DIOGO DE CAMPOS MORENO (Tânger, 1566 – 1617) 119 foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. Diogo de Campos Moreno 120 Nacido en Tanger o en la Ilha Terceira, participó como alférez en la Guerra de Flandes, en los ejércitos de Alejandro Farnesio. Nombrado Sargento mor do 118 ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1613-Março-26-Lisboa.Carta de provedor da fazenda da Paraíba a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L.32, fl. 66v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1613-Março-28-Lisboa. Carta de provedor dos defuntos de Pernambuco a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L.29, fl. 208. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1616-Dezembro-22, Lisboa. Alvará de provedor da Fazenda Real do rio das Amazonas a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 35, fl. 148v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1617-Janeiro-14, Lisboa. Alvará de capitão de viagem do Pará a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 35, fl. 151. AHU, Arquivo Histórico Ultramarino, AHU_CU_014, Cx. 1, D. 14. Cardoso, Alírio, "The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union (1596-1626)" Salvador, Frei Vicente do, História do Brasil Chambouleyron, Rafael, "Conquista y colonización de la Amazonia portuguesa" Santos Pérez, José Manuel, "La conquista y colonización de Maranhão-Grão Pará: el gran proyecto de la Monarquía Hispánica para la Amazonia brasileña (1580-1640)" 119 https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno 120 http://brasilhis.usal.es/en/node/32 AGS, Archivo General Simancas, Secretarías Provinciales, 1506, fol. 19, Sobre o ordenado que ha de haver Diogo de Campos Moreno que se envia a Conquista de Maranhao. AGS, Archivo General Simancas, Secretarías provinciales, 1506, fol. 31v. sobre la confirmación de Diogo Campos Moreno como Sargento mor del Estado do Brasil ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, PT/TT/MR/1/68. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Dezembro 19. 1613, Alvará de Sargento-mor do Maranhão a Diogo de Campos Moreno. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L.32, fl. 169v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Janeiro-25, 1602, Alvará de Capitão e Sargento-Mor, a Diogo de Campos Moreno. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 6, fl. 280 v. Anónimo (Atribuido a Diogo de Campos Moreno por Varnhagen y Hélio Vianna), Report on the State of Brazil-1612 (Livro da Razão do Estado do Brasil, edición de Engel Sluiter). Rodrigues, José Honório , História da História do Brasil: historiografia colonial Moreno, Diogo de Campos, Livro que da Razão do Estado do Brasil- 1612 (edição crítica com introdução e notas de Hélio Vianna) Moreno, Diogo de Campos, Relação das praças fortes do Brasil (1609). Edição de José Antonio Gonsalves de Mello. Salvador, Frei Vicente do, História do Brasil Cardoso, Alírio, "The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union (1596-1626)" Cardoso, Alírio, Maranhão na Monarquia Hispânica: Intercâmbios, guerra e navegação nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655) Moreno, Diogo de Campos, Jornada do Maranhão


Brasil en 1602 cuando va a Brasil con el gobernador Diogo Botelho (Alvará de 25 de enero de 1602). A su vuelta a Europa en 1613 el rey Felipe III extinguió el cargo, pero lo volvió a nombrar para el mismo en 1613 cuando lo mandó a la conquista de Maranhão (Alvará de 19 de diciembre de 1613). Participó en las campañas para la conquista de Maranhão de 1614 y 1615. Según Cardoso (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164) fue enviado como sargento-mor en la flota de socorro, integrada por siete navíos y seiscientos hombres, que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. Figura en un documento del AHU de Lisboa según el cual se ordena: 'Pagareis ao Sargento-môr do Estado Diogo de Campos Moreno, 209.600rs que tantos tem em cada hum ano por proviçoes e Regimento de S. Mgde a saber, 80.000rs de sargento mor deste estado, e trinta e tres mil e seiscentos rs para hum atambor que su Mgde lhe concede en seu Regimento, e 96.00 rs para ajuda de custo que tudo monta os 209.600rs. AHU, Bahia, LF, Cx. 1, Doc 9.Autor de la "Relação das Praças fortes, ..." de 1609. Probable autor del "Livro da Razao do Estado do Brasil" de 1612. Autor de la "Jornada do Maranhão por ordem de Sua Magestade feita no ano de 1614". BARTOLOMEU RAMIRES121. Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Enviado con cargo desconocido o "Incerto" en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 con el fin de arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). DOMINGOS CORREIA122 - Lugar de nacimiento: Ilha Graciosa. Mestre de caravela. Enviado en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Recebeu em julho de 1635 Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil. 1Recebeu em junho de 1635 Carta de Provedor do Rio de Janeiro. Segundo Cardoso (2011) 123, a conquista do Maranhão também chamou a atenção de outros covassalos de Felipe III. Gaspar de Sousa, por exemplo, escreve ao rei comunicando que um oficial do Reino de Nápoles chamado Constantino Paolo Garrafa, ‘bem nascido’, e que já tinha servido ao soberano na Guerra de Flandres, pedia para ir ao Maranhão como Capitão de Artilharia. De fato, [...] o ‘chamado real’ para o serviço nas novas terras teve rapidamente resposta. Muitos portugueses que já haviam circulado por outras partes do império começam a pedir cargos para ir à conquista do Maranhão. Há vários exemplos a respeito. Simão Carvalho (da cidade do Porto) pede o cargo de Alferes no Maranhão, por ter participado da expulsão dos franceses, e da proteção da terra contra os holandeses. Agostinho Ferreira (natural de Lisboa), que já havia servido a Felipe II na Bretanha, pede o cargo de Sargento-Mor para servir no Maranhão. Outro português, Andre Soares, que servia em Sevilha, diz que foi ‘voluntariamente’ à conquista do Maranhão com mulher, filhos e ‘escravos’, e que lá ‘vive a lei da nobreza’, pede a Felipe IV o Corrêa, Helidacy Maria Muniz, A conquista do Maranhão e Grão-Pará na política ibérica Moura, Alexandre de, "Documentos para a História da conquista e colonização da costa leste-oeste do Brasil" Santos Pérez, José Manuel, "La conquista y colonización de Maranhão-Grão Pará: el gran proyecto de la Monarquía Hispánica para la Amazonia brasileña (1580-1640)" Moreno, Diogo de Campos, Livro que da razao do Estado do Brasil. Ilustrado por João Teixeira Albernaz. Moreno, Diogo de Campos, Jornada do Maranhão por ordem de Sua Majestade feita no ano de 1614 121 http://brasilhis.usal.es/en/node/1638 122 http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1639 ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1635-Julho-27-Lisboa. Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil, a Domingos Correia. Chancelaria de D. Filipe III, Doações, L. 32, fl. 259 v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1635-Junho-29-Lisboa. Carta de Provedor do Rio de Janeiro, a Domingos Correia. Chancelaria de D. Filipe III, Doações, L. 29, fl. 293. 123 CARDOSO, 2011, obra citada


cargo de Escrivão da Câmara de São Luís. De fato, umas das questões mais emblemáticas sobre a conquista do Maranhão é a adesão voluntária à fórmula de covassalagem oferecida pela União Dinástica. Depois da ocupação do importante ponto estratégico da ilha do Maranhão, em 1615, Jerónimo de Albuquerque ficou ao comando das forças lusas na cidade de São Luís, fundada, em 1612, pela força expedicionária gaulesa derrotada (ALMEIDA, 2012) 124; diz-nos esta autora: “que nesta altura estava a ser dada prioridade à ocupação efectiva e controlo desta região por parte dos governantes”: Em 1615 Jorge de Lemos Bettencourt propôs-se a encaminhar dos Açores para o Pará mil pessoas de forma a constituir-se um núcleo populacional, mas na prática só conseguiu transportar cerca de metade dos efectivos. Quando esses colonos chegaram ao Maranhão, em 1618, souberam através da população local das condições inóspitas e das dificuldades que iriam encontrar no estabelecimento na região do Pará. A própria região do Maranhão carecia de gente para a constituição de povoados, pelo que se dava prioridade ao expediente de povoar essa zona comparativamente ao restante conjunto brasílico. O próprio governador do novo Estado do Maranhão tardou a ocupar o seu posto. [...]. O capitão-mor Jorge de Lemos Bettencourt (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109, IN . CORRÊA, 2012) 125. Jorge de Lemos de Bettencourt, nascido em 1540, era filho de Jorge de Lemos, o velho, filho de João Dias de Lemos (1480), nasceu em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e de Maria Gonçalves De Ávila, nascida em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e tinha duas irmãs,. Francisca de Lemos, e Ignez Gomes de Ávila, 1560, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal.126 Casado com Joana Bettencourt de Vasconcelos, pais de Pedro de Lemos Betancur, nascido em 1580, na Terceira; Francisco de Lemos Bettencourt; Jorge de Lemos Bettencourt, (II); Pedro de Lemos Betancur e Ignes Betancurt.127 Marques (2005) 128 coloca que, já em 1615, o governo português apela para a Igreja através dos Jesuítas e para os Açores, através de decreto real, requisitando casais para virem conquistar a região amazônica, prometendo-lhes em troca uma nova vida num novo mundo. Nesta altura, a intenção da coroa portuguesa é, ao mesmo tempo, controlar a densidade populacional do arquipélago açoriano, mas também dar aos habitantes das nove ilhas melhores condições de sobrevivência no Novo Mundo, já que as ilhas eram constantemente assoladas por terramotos e erupções vulcânicas; saqueadas por piratas e corsários de todos os lados e por pragas que arrasavam as suas lavouras, causando mutações na economia local e transtornos às famílias. Mas, por outro lado, também queria garantir na região Amazônica a consolidação do domínio português e a fixação das fronteiras geográficas, quer assegurando a defesa do litoral quer organizando núcleos de colonização no Pará e no Maranhão; prossegue Marques (2005):

124 ALMEIDA, Fernando Cabral Martins de. O controlo e a ocupação da região do Amazonas pelos Portugueses no século XVII. . Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades. http://cvc.institutocamoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/fernando_almeida.pdf 125 CORRÊA, 2012, obra citada 126 http://heuser.pro.br/getperson.php?personID=I3198&tree=heusers 127 https://www.geni.com/people/Jorge-Lemos-o-Velho/6000000009601887306 128 MARQUES, Francisca Ester. IMIGRAÇÃO AÇORIANA NO MARANHÃO E FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS: PRESENÇA AÇORIANA NO NORTE E NORDESTE. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, n. 28, São Luis 2005, p. 45-60.


Mas, o decreto real que requisitava os casais era selectivo e não aceitava qualquer cidadão que desejasse se alistar. A preferência era para os casais com filhos jovens ou em fase de procriação e para as mulheres donzelas, jovens e solteiras que desejasse constituir família. Era desta forma que a coroa portuguesa pretendia garantir um povoamento de qualidade na região, já que a intenção da coroa era a de que essa primeira corrente migratória fosse definitiva e pudesse iniciar um processo de miscigenação em cada parte do novo território. Assim, o alistamento dos casais imigrantes consistia em anotar, além do nome, a naturalidade, a residência, a idade, a profissão, a estatura, a cor dos cabelos, da pele e dos olhos, o formato do rosto, a forma do nariz, da boca e da barba, o estado civil e, se casado, o nome da mulher, a filiação desta, a sua naturalidade e idade, e, caso tivessem filhos, o nome e as respectivas idades. Mas, para além destes, a Coroa Portuguesa enviou também muitos degredados do Reino, assim como uma grande quantidade de homens de pequenos ofícios tais como pedreiros, oleiros, serralheiros, mercadores, mecânicos e ferreiros para a fixação definitiva dos casais. Daí que, os primeiros imigrantes açoreanos que aportaram no Maranhão em 11 de abril de 1619 vieram às custas do contratador Jorgede Lemos de Bettencourt que conseguiu, através da carta régia de 12 de abril de 1617, autorização para transportar 300 casais ao Pará, num total de mil pessoas, ao final do qual receberia o valor de 400 mil réis e a capitania de Pernambuco. Em 1618, os imigrantes partem dos Açores, sob o comando do Capitão Simão Estácio da Silveira, em três navios, mas parte deles morre na viagem chegando ao Maranhão apenas 95 casais ou 561 almas, segundo Frei Vicente do Salvador: «Na nau de que fui por capitão se embarcaram perto de trezentas pessoas, alguns com muitas filhas donzelas, que, logo chegando, casaram todas e tiveram vida que cá lhes estava mui impossibilitada, e se lhes deram suas légias de terra.» (Silveira 2001129, citado por MARQUES, 2005) Simão Estácio da Silveira foi um dos pioneiros da colonização portuguesa no Maranhão. Era de origem açoriana. Foi juiz da primeira Câmara de São Luís, procurador da conquista do Maranhão. Escreveu a obra "Relação Sumária das Cousas do Maranhão" (1619), publicada em 1624 em Lisboa, com o propósito de atrair colonos portugueses para a região. Simão Estácio da Silveira é o patrono da Câmara Municipal de São Luís, havendo em sua homenagem medalha de mérito municipal do mesmo nome. Comandou a chegada, em 1619, de trezentos casais dos Açores, tendo sido eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de São Luís. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%A3o_Est%C3%A1cio_da_Silveira O capitão Jorge de Lemos de Bettencourt, na carta encaminhada ao rei Filipe III, de Espanha, de 6 de maio de 1619, em que prestava contas de sua chegada ao Maranhão, asseverou: “tudo sai por este teor; com a povoação que fiz ordenamos Câmara e deixo tudo reduzido à razão para que torne a terra a cobrar fama que parece que escandaliza escrever-se isto duma terra que tudo produz excelentemente” (STUDART, p. 210, citado por CORRÊA, 2012) 130. Rodrigues e Madeira (2003)131 afirmam que, estes primeiros imigrantes, logo que chegam: 129 SILVEIRA, Simão Estácio da. Relação Sumária das Cousas do Maranhão: dirigida aos pobres deste Reino de Portugal, (8ª ed). São Paulo: ed. Siciliano, 2001, citado por MARQUES, 2005, obra citada 130 Carta de Jorge de Lemos de Betancor dando conta de como chegou ao Maranhão e do estado do logar. 6 de maio de 1619. In: STUDART, Guilherme. Documentos para a história do Brasil e especialmente do Ceará. Fortaleza: Typ. Studart, 1904, 1º v. in STUDART, Guilherme. Documentos para a história do Brasil e especialmente do Ceará. Fortaleza: Typ. Studart, 1904, 1º v., citado por CORRÊA, Helidacy Maria Muniz. COMUNICAÇÃO POLÍTICA, PODERES LOCAIS E VÍNCULOS: A Câmara de São Luís do Maranhão e a política luso-imperial de conquista do espaço. Outros Tempos, vol. 09, n.14, 2012. p.121-135. ISSN:1808-8031. file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/IHGM/A%C3%87ORES%202019/13-39-2-PB.pdf 131 RODRIGUES, José Damião & MADEIRA, Artur Boavida. "Rivalidades Imperiais e Imigração: Os açorianos no Maranhão e no Pará nos séculos XVII e XVIII", in Anais de História de Além-Mar, Lisboa, vol. IV,2003, citados por . MARQUES, 2005, obra citada


[...] também rebelam-se contra as precárias condições que tiveram que suportar desde o início da viagem; condições semelhantes as que eram infringidas aos escravos africanos e que iam desde a má alimentação até a superlotação das embarcações, já que estas viagens eram sempre financiadas por particulares em troca de favores da Coroa Portuguesa. Por exemplo, a viagem que deveria ser efetuada pelo contratador João Pereira Seixas custaria: «os casais (marido e mulher) em idade útil e com filhos, num total de 400 praças, implicariam num investimento de 1.600 mil réis, ou seja, 4 mil réis por casal; a roupa, 400 mil réis; as ferramentas e as armas, outros 400 mil réis, e o fretamento do navio, 600 mil réis. Prosseguem: assim que chegam ao Maranhão, os colonos recusam-se a seguir para o Pará: “Em terras amazônicas, o conflito estalou entre Jorge de Lemos de Bettencourt e os colonos, que, ao invés de seguirem para o Pará, ficaram no Maranhão, situação que levou o rei a ordenar que se determinassem os motivos por que tal acontecera.” (Rodrigues e Madeira, 2003)132. Marques (2005) 133 coloca que este primeiro conflito denota desde logo uma situação que se tornaria comum nas expedições posteriores: a falta de uma política real para a vinda dos colonos que, sem garantias de qualquer ordem, acabavam por se envolver em conflitos com os contratadores num primeiro momento e, com os residentes locais num segundo momento: De fato, já nesta primeira viagem, os colonos açorianos, com receio de serem mortos ou de passarem fome do Pará, exigem do rei que garanta a permanência de 333 pessoas no Maranhão ou a terça parte dos mil indivíduos envolvidos que Jorge Lemos de Bittencourt se obrigara a transportar. O contratador, no entanto, insistia que a sua missão tinha sido cumprida a serviço do rei e que os colonos eram apenas súditos, sem vontade. «esta jente são suditos (sic) e não tem vontade (....) toda esta gente veo por sua vontade para o para como he notorio não tem de que se queixar.» (Rodrigues e Madeira, 2003)134. Para tentar resolver os impasses gerados por essas revoltas, o Senado da Câmara que havia sido criado provisoriamente em 1615 é finalmente instituído em 1619 com o objetivo de organizar a vida civil e econômica da ilha, ficando o Capitão Simão Estácio da Silveira como juiz e Presidente; Antonio Simões como Procurador; os Sargentos-mor Antonio Vaz Borba e Álvaro Barbosa como Vereadores e Jorge da Costa Machado como Juiz. “Dentre as medidas mais importantes, cite-se a instalação da Câmara, de que Estácio da Silveira foi feito juiz. Já em dezembro do mesmo ano de 1619, regressava ele a Lisboa, credenciado pela Câmara como procurador da conquista do Maranhão, cujos interesses se propunha defender.” (DUARTE. 2001)135. Jerônimo de Viveiros (1084) 136 nos traz quem foram os concorrentes dessa eleição: Reunindo o povo, por um bando, e feita a votação, saíram por eleitores Rui de Sousa, capitão Pedro da Cunha, sargento mor Afonso Gonçalves Ferreira, Álvaro Barbosa Mendonça e capitão Bento Maciel Parente. Formou-se assim o corpo de Eleitores, cinco, que elegeu os capitães Simão Estácio da Silveira e Jorge da Costa Machado para juízes, o sargento mor Antônio Vaz Borba e Álvaro Barbosa para vereadores e Antônio Simões para procurador. Estes escolheram Estácio da Silveira para presidente. Foi esta a primeira Vereação da nossa cidade. Perdeu-se a data de sua instalação, mas sabe-se que em 09 de dezembro de 1619 ela já

132 RODRIGUES, MADEIRA, 2003, obra citada. 133 MARQUES, 2005, obra citada. 134 RODRIGUES, MADEIRA, 2003, obra citada. 135 DUARTE, Sebastião Moreira. "Introdução", in. Relação Sumária das cousas do Maranhão: dirigida aos pobres deste reino de Portugal. São Paulo: ed. Siciliano, 2001. 136 VIVEIROS, Jerônimo de. Historia do Comércio do Maranhão (1612-1695). 1984, v.01,.


escreveria ao Rei, comunicando a sua instalação e os seus primeiros serviços à coletividade, e que foi portador desta carta o seu próprio presidente A 12 de julho de 1619, Antônio Ferreira de Bittencourt, natural da ilha de São Miguel, conseguiu uma autorização da Fazenda Real dos Açores para transportar, no período de três anos, cerca de 50 casais para o Maranhão, tudo à custa da sua fazenda. De fato, o navio São Francisco chega ao Maranhão no dia 29 de outubro de 1621 com 40 casais, totalizando 148 pessoas, conforme consta a certidão datada de 24 de novembro de 1622, apresentada pelo provedor da Fazenda Real dos Açores . “Estavam esses colonos contemplados no plano de governo metropolitano de instalar a indústria de açúcar incluindo dois engenhos de moer cana-de-açúcar, o primeiro sendo instalado na terra firme à margem do rio Itapecuru.” (MARIN, 2002, citado por MARQUES, 2005))137. Em 1620 Manoel Correa de Melo conseguiu transportar 200 casais, oferecendo em troca 400 mil réis para Jorge de Lemos Bittencourt. Lima (2002)138 informa: No governo de Diogo da Costa Machado (1619-1622), chegaram a São Luís, em duas levas, algumas famílias açorianas; a primeira, em 1620, trazida por Manuel Correa de Melo e por conta de Jorge de Lemos Bittencourt, sob promessa de uma recompensa de 400 mil réis pela introdução de 200 casais; a segunda, no ano seguinte, de responsabilidade de Antônio Ferreira Bittencourt, providências oficiais destinadas a instalar, na capitania, dois engenhos de açúcar. A sorte destes imigrantes permanece ignorada. Sequer conhecemos aqui as chaminés de mãos postas características das casas dos Açores. Será que ainda é possível rastrear sinais da presença dessa gente? Pereira (2002)139 nos dá uma noção de quanto era diminuta a população que habitava o Maranhão àquela época, segundo Viveiros (1992), citando a "Informação de Bernardo Pereira de Berredo a D. João V", decorridos 100 anos da chegada dos primeiros açorianos a São Luís, a capital maranhense contava apenas com 854 moradores; a Vila de Santo Antônio de Alcântara, com 332; a Vila de Santa Maria do Icatu, com 54; Mearim, com 64 e Itapecuru, com 74. De uma maneira geral, nenhuma dessas localidades prosperava, pois "da capital, ninguém saía com medo dos tapuyas; dos engenhos de Alcântara só um não estava de fogo morto; o gentio do Icatu impedia a extração do azeite de andiroba; as cachoeiras do Itapecuru dificultavam a navegação; a criação de gado do Mearim estacionava por causa da indiada e, entretanto, era lá que se abastecia de carne o Maranhão". Para Marques (2005), os primeiros imigrantes açorianos foram responsáveis pelo estabelecimento de uma base demográfica mais estável para a ocupação e exploração dos solos, incluindo aí também os responsáveis pela viagem como aconteceu com o Capitão-mor Simão Estácio da Silveira140: Os colonos recebiam na sua chegada, mantimentos fornecidos ou pelos contratadores ou pelo governo local; terras para fazerem casa de moradia e para o aproveitamento agrícola dos solos com as culturas de pimenta, tabaco canela e também de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e aguardente. 137 MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. "Açorianos nas terras conquistadas pelos portugueses no vale do Amazonas" Açorianos no Cabo Norte "Século XVII", in BARROSO, Vera Lúcia Maciel. Açorianos no Brasil. Porto Alegre: Ed. Est, 2002. 138 LIMA, Carlos.. Reportagem-viagem ao Divino Espírito Santo dos Açores. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, 24, 2002, p. 14-16 139 PEREIRA, José Almeida. CONTRIBUIÇÃO DOS AÇORES À COLONIZAÇÃO DO BRASIL NOS SÉCULOS XVII E XVIII. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, 2002, https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 140 Recebeu em 30 de julho de 1619 duas léguas de terras e, uma outra por carta no dia 6 de agosto do mesmo, confirmadas de acordo com a Ordenação de Felipe III em 27 de julho de 1622, conforme registro das Chancelarias Régias de Felipe III.


Segundo Duarte (2001) 141, Simão Estácio da Silveira tudo fez para desenvolver a nova terra: “Nesse sentido, de Lisboa e de Madri dirigiu petições ao Rei, ora propondo novo itinerário para a prata extraída do Perú, ora buscando arrendar a exploração de pau-brasil, pelo que oferecia pagamento em dinheiro e se comprometia a fundar povoações, desde que lhe fosse permitido introduzir colonos e gado nas novas terras. Do muito que pleiteou, nada obteve.” Não conformado e ainda no governo do Capitão-mor Diogo da Costa Machado, Simão Estácio da Silveira escreve a obra Relação Sumária das cousas do Maranhão: dirigida aos pobres deste Reino de Portugal, onde relata com entusiasmo as riquezas e a exuberância da nova terra.

Da Edição fac-similar, da Biblioteca Nacional, de minha coleção. Ele começa por reforçar as fronteiras que nesta época estavam a ser confirmadas pelo Tratado de Tordesilhas: “O Maranhão é uma conquista muito grandiosa e dilatada, cuja governação Sua Magestade tem demarcado desde o Ceará (que está em três graus e um terço da parte do Sul) até o último marco do Brasil, que está em dois graus da banda do Norte, em que há de costa perto de 141 DUARTE, 2001, obra citada.


quatrocentas léguas até o rio de Vicente Yánez Pinzón, onde dizem estar um padrão de mármore com as armas de Portugal desta parte, e as de Castela da outra, mandado ali fixar pela cesárea magestade do Imperador Carlos V. Corre dele a costa a leste quarta a sueste. Tomou este nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Perú, e para o sul tem mais de quinhentes léguas pelo sertão.”(SILVEIRA, 2001) 142. Para este açoriano, o Maranhão era a melhor terra do planeta pela riqueza, abundância e tranquilidade tal como diz no final da sua Relação :

“Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correrem os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor [...].” (SILVEIRA, 2001) 143. Em 1624, quando estas palavras são escritas o Maranhão contava já com 300 habitantes, divididos nas fortalezas de São Felipe e São Francisco em São Luís; São José, no povoado de Itapari e a de Nossa Senhora da Conceição na região de Itapecuru. Além dessas, contava com duas estâncias onde moravam alguns franceses que ficaram na ilha, depois de casados com índias, mestiços e portugueses, assim como nove aldeias espalhadas nas circunvizinhanças, cujos índios serviam aos colonos. (MARQUES, 2005) 144. A partir de 1633, novas levas de imigrantes estimulados pelas palavras de Simão Estácio da Silveira chegaram no Maranhão em dois períodos distintos, já depois de Portugal ter reconquistado a sua independência em 1640. O primeiro foi em 1648-1649 quando um decreto real, expedido em 19 de setembro de 1648, quis recrutar 100 casais na ilha de Santa Maria, ou mais ou menos entre 500 a 600 pessoas, tarefa que foi concedido por ordem do Conselho Ultramarino de 6 de abril de 1649 ao mercado alemão Martin Filter. Deste modo, além dos 52 casais que foram de Santa Maria, outras 365 pessoas da ilha de São Miguel chegaram ao Maranhão em agosto do ano seguinte, conforme relata Manuel de Sousa Menezes num artigo de 1952145 (citado por MARQUES, 2005) 146.

142 SILVEIRA, 2001, obra citada. 143 SILVEIRA, 2001, obra citada. 144 MARQUES, 2005, obra citada. 145 MENESES, Manuel de Sousa. "Os casais açorianos no povoamento de Santa Catarina". Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. IX, 1952. 146 MARQUES, 2005, obra citada.


Outra leva de imigrantes ocorre entre 1666-1667 quando outros 50 casais da ilha do Faial chegam ao Maranhão e ao Pará, a pedido do governador Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho que precisava de mão-de-obra para continuar o processo de colonização da nova terra. Além do governador, o representante dos colonos, Paulo da Silva Nunes também escreve ao Rei de Portugal dizendo que a solução estaria em povoar o Maranhão com casais da Madeira, fato que levou a Coroa Portuguesa, através de decreto, a requisitar anualmente 50 casais das ilhas. A partir dai, dirigiram-se para o Pará... Nesta altura, existiam somente 200 casais em toda a região. Em 1674, o capitão-mor da ilha do Faial, Jorge Goulart Pimental, embarcou 50 casais ou 234 pessoas provenientes da comunidade de Feiteira que havia sido devastada por uma erupção vulcânica em 1672. Assim, em 18 de agosto de 1675, a fragata Nossa Senhora da Palma e São Rafael parte da ilha do Faial chegando a Belém no ano seguinte para trabalhar na agricultura.. em 1677, mais 50 homens, 47 mulheres e 126 pessoas de família partiram da ilha Terceira com direção ao Pará, na charrua Nossa Senhora da Penha de França e São Francisco, para consolidar a fixação da Nova Terra. Seria somente durante o consulado pombalino e na sequência do Tratado dos Limites m 1750, que novos contingentes de Açorianos chegariam ao litoral amazônico (...) Desse modo, desde o início de 1750 que assistimos à execução por parte da Coroa Portuguesa, de uma política de incentivos ao transporte de colonos para o então Estado do Grão-Pará e Maranhão. (Rodrigues e Madeira, 2003)147. Para Marques (2005), é somente com a intervenção pombalina em 1750 que os colonos passaram a ser denominados de açorianos e a ter um tratamento diferenciado porque tinham que cumprir dois objetivos claros: o de miscigenação e o de urbanização. Para tanto, os colonos passaram a ser pequenos proprietários de terras que antes pertenciam a donatários, foram incentivados a produzir com financiamentos públicos-, maior diversidade de produtos, entre os quais legumes e mandioca para o abastecimento da região e até poderiam receber honras e títulos pelo trabalho desenvolvido. Encerra Marques (2005): Passados quatro séculos desde a primeira leva de imigrantes, ainda é possível observar vestígios desta presença em todos os cantos do Maranhão. Da festa do Divino do Espírito Santo ao baile de São Gonçalo, das festas juninas ao carnaval passando pela culinária, pela decoração e cores das casas, pelos nomes das famílias e pelos traços fisionômicos ...

147 RODRIGUES, MADEIRA, 2003, obra citada.


A HIFENIZAÇÃO DA BASE CULTURAL: A BUSCA PELOS ‘MANÉZINHO’ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Licenciado em Educação Física – Mestre em Ciência da Informação

Sérgio Luiz Ferreira (2016) 148 esclarece que, assim como se inventou o afro-descendente – e o politicamente correto: antes “o preto” (referindo à cor), depois “o negro” (à raça) -, inventou-se o “açoriano-descendente”. Antes, o “luso-descendente” – não mais o português “da padaria da esquina”. Consideravam-se termos pejorativos, que levavam à inferioridade, frente a outros migrantes de nações europeias, e mesmo asiáticas. Refere-se a uma categoria denominada de ‘hifenizada’ – cultura hifenizada – utilizada por Ella Shohat (2002) 149: [...] ao se designar alguém de afro-amricano, hispano-americano, ou asiático-americano se está condenando diversas culturas num rótulo homogeinizador que apaga suas diferenças e complexidades. Dessa forma, praticamente ninguém se encaixa perfeitamente nos compartimentos hifenizados. Cada cadeia de hifens comporta uma complicada história de identidades aglomeradas e pertencimentos fragmentados e deslocados. O fundamental é perceber que a constituição desses rótulos hifenizados faz com que ‘aqui’ estes sejam considerados de ‘lá’, embora mesmo ‘lá’ eles não sejam reconhecidos como daquele lugar [...] Refere-se, o autor, aos migrantes americanos, taxados de hispânicos, asiáticos, árabes, caribenhos. No Brasil, o que se fez foi utilizar a mesma nomenclatura para pessoas cujos antepassados vieram de determinadas regiões, criando-se identidades hifenizadas: teuto-brasileiros, ítalo-brasileiros ou lusobrasileiros (FERREIRA, 2016) 150. Prossegue: [...] dessa forma, a identidade hifenizada não é a identidade de alguém de “lá” que está “cá”, tampouco a junção de alguém que tem um pouco de ”lá” e um pouco de “cá”, é uma outra coisa. Ferreira (2016) 151 pergunta, então, como se sentiam esses homens e mulheres que partiram dos Açores no Século XVIII rumo ao litoral de Santa Catarina? – e, no nosso caso, século XVII, rumo ao Maranhão e Grão-Pará? -; Lembra-o, então, que provavelmente não se sentiam migrantes, pois: [...] não estavam deixando sua pátria para irem para outro país com outra língua, outra cultura. Eles estavam se deslocando dentro do mesmo Reino, do vasto império marítimo português, saindo mdo Atlântico norte para o Atlântico sul. Sentiam-se açorianos essas pessoas? É escusado dizer que o sentimento de açorianidade é invenção do século XX. "Açorianidade" é expressão cunhada pelo poeta açoriano Vitorino Nemésio152: O conceito de "açorianidade"153 foi definido por Nemésio em 1932 e, desde então, foi amplamente divulgado em

148 FERREIRA, Sérgio Luiz. A Construção da açorianidade em Santa cataria, 1948-2015: IHGSC, Cascaes e o NEA. In ALVES, Joi Cletison (Organizador). COLÓQUIO NEA – 30 ANOS DE HISTÓRIA: preservando a herança açoriana em Santa Catarina. Florianopolis: UFSC, 2016, p. 131-154. 149 SHOHAT, Ella. A vinda para a América: reflexões sobre a perda de cabelos e de memórias. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 99-117, jun. 2001, citada por FERREIRA, 2016, obra citada. 150 FERREIRA, 2016, p. 131-154, obra citada. 151 FERREIRA, 2016, p. 131-154, obra citada. 152 Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (Praia da Vitória, 19 de dezembro de 1901 — Lisboa, 20 de fevereiro de 1978) foi um poeta, romancista, cronista, académico e intelectual açoriano que se destacou como autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 153 https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio


contextos bem diferenciados, desde estudos de âmbito literário a intervenções de ordem política. Naquele ano, por ocasião do V Centenário do Descobrimento dos Açores, afirmou: "(...) Quisera poder enfeixar nesta página emotiva o essencial da minha consciência de ilhéu. Em primeiro lugar o apego à terra, este amor elementar que não conhece razões, mas impulsos; e logo o sentimento de uma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar. Um espírito nada tradicionalista, mas humaníssimo nas suas contradições, com um temperamento e uma forma literária cépticos, - o basco Baroja, - escreveu um livro chamado Juventud, Egolatria 'O ter nascido junto do mar agrada-me, parece-me como um augúrio de liberdade e de câmbio'. Escreveu a verdade. E muito mais quando se nasce mais do que junto do mar, no próprio seio e infinitude do mar, como as medusas e os peixes (...) Uma espécie de embriaguez do isolamento impregna a alma e os actos de todo o ilhéu, estrutura-lhe o espírito e procura uma fórmula quási religiosa de convívio com quem não teve a fortuna de nascer, como o logos, na água (...) (...) Meio milénio de existência sobre tufos vulcânicos, por baixo de nuvens que são asas e bicharocos que são nuvens, é já uma carga respeitável de tempo - e o tempo é espírito em fieri (...) Como homens, estamos soldados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra. A geografia, para nós, vale outro tanto como a história, e não é debalde que as nossas recordações escritas inserem uns cinquenta por cento de relatos de sismos e enchentes. Como as sereias temos uma dupla natureza: somos de carne e pedra. Os nossos ossos mergulham no mar. Um dia, se me puder fechar nas minhas quatro paredes da Terceira, sem obrigações para com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba."154 Posteriormente, em 1975, em quatro novos textos155 publicados no Diário Insular, o mesmo foi retomado e aprofundado. É o próprio Nemésio que recorda: "Outro sintoma linguístico da impulsividade afirmativa dos Açores como etnia ou espaço geográfico originais está no emprego da palavra 'açorianidade'. Quem escreve estas linhas passa por inventor desse vocábulo, há bons quarenta anos. Luís Ribeiro, o insigne etnógrafo e jurisconsulto açoriano de 'Os Açores de Portugal' - opúsculo de grande valia, pela posição de contraste, para o emancipalismo de hoje - foi um dos que generosamente me 'patentearam' por tão pobre criação vocabular. Porque lia então muitos ensaístas espanhóis, incluindo o clássico Pi y Margall de 'Las nacionalidades', decalquei sobre 'hispanidade e argentinidade' (Unamuno) o meu 'açorianidade' ".156 A preocupação com a identificação dos açorianos-descendentes – expressão cunhada por Eugênio Pascale Lacerda157 - acontece quase que concomitante com a construção da identidade do açoriano no arquipélago dos Açores 158, que vai acontecer após a chamada Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), iniciando154 NEMÉSIO, Vitorino. "Açorianidade". in: Insula, Número Especial Comemorativo do V Centenário do Descobrimento dos Açores, nº 7-8 (Julho-Agosto), Ponta Delgada, 1932. p. 59. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio 155 Dois deles publicados inicialmente pelo Jornal Novo. Recorde-se que o momento à época, em Portugal e nas ilhas era conturbado, nomeadamente no que concerne às ideias de processo revolucionário e de autonomia regional. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio 156 NEMÉSIO, Vitorino. Açores: De onde sopram os ventos. in: Diário Insular, nº 8815, 5 Out. 1975. p. 1 e 3. apud: Revista DI, nº 257, 9 Mar. 2008. p. 4-11. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio 157 LACERDA, Eugenio Pascale. O Atlântico açoriano: uma antropologia dos contextos globais e locais na açorianidade. Florianópolis, 2003. Tese doutorado - Departamento de Antropologia da UFSC, 2003 citado por FERREIRA, 2016, obra citada 158 MENDES, José Manoel de Oliveira. Do ressentimento ao reconhecimento: vozes, identidades, e processos políticos nos Açores (1974-1996). Coimbra. Tese de Doutorado – Faculdade de Econokia da Universidade de Coimbra, citado por FERREIRA, 2016, obra citada


se o processo de implantação da Região Autônoma dos Açores, e contribuindo para a tentativa de construção de uma identidade regional por diferenciação do espaço nacional (FERREIRA, 2016) 159, e, num segundo momento, os esforços foram concentrados na construção de uma identidade açoriana transnacional O discurso da açorianidade traduz-se como: [...] processo continuo de apropriação, difusão e circulação de símbolos, ideias e emblemas capazes de fazer operar centenas de organizações em torno de uma ‘comunidade de sentimentos’ que tem os Açores como raiz e centro simbólico e suas terminações localizadas nas expressões populares locais, quer das ilhas, quer das comunidades da diáspora”(LACERDA, 2003) 160. Ao se proceder qualquer levantamento acerca dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil naquela época, facilmente se chega à constatação que uma das mais importantes participações foi a dos que procederam do Arquipélago dos Açores, pois foram eles que desbravaram as regiões mais remotas, caracterizadas por apresentarem condições tanto de clima quanto de solos e localização geográfica completamente diferentes das predominantes nas áreas até então habitadas da Colônia, e a despeito disso conseguiram se estabelecer e até mesmo fundar ou ajudar a fundar vilas e cidades nesses rincões mais longínquos (PEREIRA, 2002)161. De acordo com Pereira (2002) 162, naquela época as ilhas dos Açores se encontravam entre as regiões portuguesas que forneciam o maior contingente de emigrantes que se dirigiam para o ultramar. Segundo Boxer (1981)163 e Duncan (1972)164, isso acontecia porque o Arquipélago já se achava densamente povoado, predominando ali, inclusive, o regime de pequenas propriedades rurais e famílias numerosas. Nas principais obras concernentes à História do Maranhão e do Pará encontram-se alguns registros da presença dos açorianos nos séculos XVII e XVIII na Região. Todavia, além de raras, são informações que tratam muito superficialmente do assunto. A imigração açoriana para o Maranhão e o Grão-Pará se efetivou mediante três correntes, tendo lugar as duas primeiras ainda durante o século XVII e a terceira no século XVIII. A primeira corrente imigratória se deu entre os anos de 1619 e 1632. De acordo com Jerônimo José de Viveiros, "a chegada daquele piloto à frente de cerca de 400 pessoas transformou a vida de São Luís, que deixou de ser um simples quartel de tropa, defensor do domínio de uma nação, para tornar-se uma povoação de colonos, cuja vida civil e econômica precisava ser organizada" (Viveiros, 1992) 165. Trata-se de Jorge de Lemos Bettencourt (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109.)166 159 FERREIRA, 2016, p. 131-154, obra citada. 160 LACERDA, 2003, obra citada 161 PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 162 PEREIRA, Disponível https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74

em

163 BOXER, C. R. O império colonial português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 1981, citado por PEREIRA, 2002 164 DUNCAN, T. B. - Atlantic islands: Madeira, the Azores and the Cape Verdes in seventeenth-century commerce and navigation. Chicago: University of Chicago Press, 1972, citado por PEREIRA, 2002. 165 VIVEIROS, J. de. - História do comércio do Maranhão (1612-1895). Edição fac-similar. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. v.1. 166 In CORRÊA, Helidacy Maria Muniz. COMUNICAÇÃO POLÍTICA, PODERES LOCAIS E VÍNCULOS: A Câmara de São Luís do Maranhão e a política luso-imperial de conquista do espaço, Outros Tempos, vol. 09, n.14, 2012. p.121-135. ISSN:1808-8031.


No ano de 1621, teria chegado um segundo grupo de açorianos, agora composto por 40 casais, trazidos por Antônio Ferreira Bettencourt (Lisboa, 1858; 1866167; Marques, 1970168; Berredo, 1988169 e Viveiros, 1992170). Em 1625, mediante contrato celebrado com o governo português, o novo capitão-mor do Maranhão, Francisco Coelho de Carvalho, trouxe mais algumas dezenas de açorianos. Em 1632, encerrando essa primeira corrente, chegariam mais outras dezenas. A segunda corrente de açorianos teria ocorrido nos anos de 1675 e 1676 e o motivo principal se deveu à erupção de um vulcão na Ilha do Faial, o que deixou um grande contingente de ilhéus em sérias dificuldades (Lisboa, 1866; Wiederspahn,1979171 e Berredo, 1988). O rei de Portugal determinou ao governador do Faial, Jorge Goulart Pimentel, que providenciasse o envio de 100 casais de "homens dos mais idôneos para o trabalho e mulheres mais capazes de propagação" para povoarem o Maranhão. Uma terceira leva de açorianos destinados à Região Norte do Brasil ocorreu no período entre 1752 e 1756, quando o todo poderoso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de Pombal - procurou empreender uma corrente migratória para o Grão-Pará e o Maranhão, tomando como ponto de partida, mais uma vez, o Arquipélago dos Açores. A partir daí, as migrações concentraram-se nos atuai Pará e Amapá... Num período de 135 anos, chegaram 6.254 indivíduos (MARQUES, 2005) 172: No século XIX continuou a chegada de portugueses – em especial, açorianos – ao Maranhão... Assim, toda a região amazônica, do Maranhão ao Pará, do Amazonas ao Amapá foi constituída por esse lastro político açoriano que forjou os costumes, a cultura, as festas, o modo de ser e de estar açoriano, os bailados, as lendas, os mitos e as superstições, o jeito de falar e a alma alegre que se incorporou ao saber local, tornando-se aspectos comuns às duas culturas desde então, resultado da intensidade religiosa milenar e devocional, a moralidade única da palavra dada, o sentido de insularidade e a cultura folclórica que sustentam, ao longo dos séculos, o imaginário popular (MARQUES, 2005) 173. Passados quatro séculos desde a primeira leva de imigrantes, ainda é possível observar vestígios dessa presença em todos os cantos do Maranhão. A BUSCA: FESTA DO DIVINO Leal (2016) 174, afirma que, no Maranhão – outro estado brasileiro de colonização açoriana – o trânsito entre Portugal e Brasil foi menos intenso, mas foi importante para a adoção recente de uma narrativa de origem das festas do Divino que as faz remontar à colonização açoriana do estado:

https://www.google.com/search?q=Jorge+Lemos+de+Bettencourt&ei=62MTXaLCB5Wy5OUP7d2wuAY&start=10&sa=N&ved =0ahUKEwji44n7kYfjAhUVGbkGHe0uDGcQ8tMDCIQB&biw=1920&bih=937 167

LISBOA, J. F. Jornal de Tímom. Lisboa: [s. n.], LISBOA, J. F. - Obras de João Francisco Lisboa. São Luís do Maranhão: Typ. de B. de Mattos, 1866. v. 3

1858.

t.

2.

168 MARQUES, C. A. - Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão. 3.ed. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 169 BERREDO, B. P. de. Anais históricos do Estado do Maranhão. 4. ed. São Luís: ALUMAR/Billiton/ALCOA, 1988. 390p. 170 VIVEIROS, J. de, 1992. v.1, ora citada. 171 WIEDERSPAHN, H. O. - A colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ /Instituto Cultural Português, 1979. 172 MARQUES, Francisca Ester. IMIGRAÇÃO AÇORIANA NO MARANHÃO E FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS: PRESENÇA AÇORIANA NO NORTE E NORDESTE. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, n. 28, São Luis 2005, p. 45-60. 173 MARQUES 2005, obra citada 174 LEAL, João. A antropologia em Portugal e o englobamento da cultura popular. In Sociol. Antropol., Rio de janeiro, v. 6. 2, 292-319, agosto de 2016


Na sedimentação dessa narrativa foi decisiva a viagem que o folclorista Carlos de Lima fez aos Açores, a partir da qual escreveu um artigo no Boletim da Comissão Maranhense de Folclore (Lima, 2002)175. Mas antes das viagens açorianas de Carlos de Lima o trânsito entre Portugal e o Brasil já tinha conhecido um outro episódio, relacionado com a pesquisa do linguista e etnógrafo português Edmundo Correia Lopes sobre o Tambor de Mina. Correia Lopes iniciou as suas pesquisas etnográficas estudando o cancioneiro popular de uma região do Norte de Portugal, foi para o Brasil onde escreveu sobre religiões afro-brasileiras, foi autor de uma das primeiras histórias portuguesas da escravatura (Correia Lopes, 1944) e morreu nos anos 1940 na atual Guiné-Bissau, onde realizava pesquisa etnográfica. No quadro desse percurso escreveu alguns artigos pioneiros sobre o Tambor de Mina – em particular sobre a Casa das Minas (Correia Lopes, 1939, 1942, 1945, 1947) – marcados pelo diálogo com escritos de Arthur Ramos, Nunes Pereira e Edison Carneiro. Naquela reportagem, Lima (2002, obra citada)176 informa: No governo de Diogo da Costa Machado (1619-1622), chegaram a São Luís, em duas levas, algumas famílias açorianas; a primeira, em 1620, trazida por Manuel Correa de Melo e por conta de Jorge de Lemos Bittencourt, sob promessa de uma recompensa de 400 mil réis pela introdução de 200 casais; a segunda, no ano seguinte, de responsabilidade de Antônio Ferreira Bittencourt, providências oficiais destinadas a instalar, na capitania, dois engenhos de açúcar. A sorte destes imigrantes permanece ignorada. Sequer conhecemos aqui as chaminés de mãos postas características das casas dos Açores. Será que ainda é possível rastrear sinais da presença dessa gente? [...] O certo, porém, é que eles, ou outros que os sucederam, nos deixaram o culto ao Divino Espírito Santo até hoje venerado em quase todo o Estado. Carlos de Lima serve-se de Roberto Da Matta para fazer a distinção dos rituais nacionais brasileiros como formais e informais, situando no primeiro pólo as solenidades e no segundo, as festas. Ora, no caso do Divino Espírito Santo há, concomitantemente, a solenidade e a festa. E aí residem as principais diferenças entre os Açores e o Maranhão: o aspecto formal lá é mais acentuado; o festeiro aqui tem maior significado. A seguir aponta algumas das principais diferenças que observou entre os festejos no Maranhão e nos Açores: Coroa e pomba. Enquanto lá o destaque é para a coroa - símbolo de dignidade e poder, e em forma de domo uma soberania absoluta, para nós é a pomba – emblema de candura, de amor e de paz, ou seja, de convivência harmoniosa e fraterna entre os homens, o que, no entanto, não dispensa as honrarias à coroa, principalmente nos cantos enaltecedores da “santa c’roa”. No episódio de Pentecostes, diz a Bíblia que, estando os apóstolos reunidos, de repente veio do céu um som como um vento impetuoso e encheu a casa e viram todos “línguas repartidas como de fogo e pousaram sobre cada um deles.” (Atos dos Apóstolos, 2.3) Nem coroa nem pomba. Na passagem do batismo de Jesus (Mateus, 3.16) “eis que lhe abriu os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele.”. Há evidente superposição dos dois episódios e a consequente e natural confusão que faz o povo. Quanto à coroa, surge da profunda religiosidade de reis e nobres que permitiu fazer uma réplica da coroa portuguesa – a Coroa Real do Espírito Santo, como ensina Cascudo. “A coroa do Imperador do Divino – diz – tão divulgada nos domínios insulares portugueses e de onde veio para o Brasil com aparato cortejador e impositivo da “autoridade” divina simbólica é a velocidade inicial que irá influir em todos os folguedos brasileiros onde existir personagem coroado. Todo o ciclo de Reisados, Congos, Congadas e Congados, coroação do Rei dos Congos, o mirabolante Maracatu, receberam a poderosa influência do Divino nos planos da indumentária e, notadamente, no uso da suprema insígnia real.” O que observou Cascudo há de se ter processado em sentido inverso no ritual do Divino por influência dessa cultura negra no Maranhão, haja vista a substituição 175 Lima, Carlos. (2002). Reportagem-viagem ao Divino Espírito Santo dos Açores. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, 24, p. 14-16 176 Lima, 2002, obra citada


dos antigos foliões açorianos pelas nossas caixeiras, com todas as implicações decorrentes, inclusive o “catimbó das caixeiras”, que encerra os festejos na Casa das Minas. Nos Açores reserva-se toda uma sala para a armação do altar onde se exibem as coroas e até o chão é forrado de seda limitando o acesso. A contemplação e o culto se fazem a certa distância, como vimos em Rabo de Peixe. Nas casas maranhenses pombas e coroas mostram-se no altar, é verdade, mas nas salas também se instalam os tronos em que se assentam o Imperador (ou Imperatriz) e os Mordomos (Régio e Baixos). Nos Açores não existem os tronos e Imperador e Mordomos não gozam destes destaques especiais, inclusive porque vestidos à paisana, de palitó e gravata comuns. E não há Imperatriz entre eles. Nosso Imperador, além de coroa e cetro, ostenta regularmente farda e espada, faixa e manto o que lhe confere foros de real autoridade. A corte, por sua vez, traja condizentemente com a etiqueta do paço. Aqui também os Mordomos não conduzem varas, insígnias de juízes e vereadores camaristas e membros das irmandades religiosas. Porque nos Açores as festividades do Divino estão a cargo das Irmandades e das Paróquias enquanto aqui é de iniciativa de particulares ou das casas de culto afro-brasileiras, como a Casa das Minas e a Casa Nagô. O mastro festivo goza de significado preciso, ornamentado de frutos e flores, símbolo milenar de fertilidade e abundância, alvo de honraria especial (alvoradas) e lá se resume em singela bandeira hasteada sem qualquer cerimônia à porta de cada festeiro No Brasil o Divino tornou-se tão popular que, segundo consta, o título de Imperador (e não de Rei) dado a D. Pedro I o foi para separar no espírito do povo o Rei de Portugal do Imperador do Brasil Carlos de Lima (2004), ao assistir à uma apresentação dos “Foliões da Divindade”, vindos de Caxias, constata prova viva da perenidade das tradições populares, marca indelével no consciente coletivo; afirma, surpreso: [...]os dois homens que se punham diante de nós, cantando loas ao Divino, representavam os remanescentes dos Foliões dos antigos festejos ao Divino, nos Açores, lá já desaparecidos, e dos quais apenas vimos os trajes e os tambores rufantes. Pois aqui os Foliões reapareciam, na figura de dois sertanejos, para repetir gestos e vozes anciãs, sepultadas no tempo e nas lonjuras. Homens comuns (homens como nos Açores e não mulheres) enchapelados, tocando idênticas caixas e cantando, senão com as mesmas palavras, mas, decerto, com a mesma emoção, louvores ao Divino Espírito Santo, e diferentes de todas as caixeiras que temos visto, inclusive no estilo do toque. Alternando a participação na cantoria, ora um, ora outro, à moda de um desafio. O mais velho da dupla, de 78 anos de idade, disse-nos que desde que se entendeu encontrou essa forma de reverência ao Divino, acrescentando que, na sua localidade, enquanto eles tiram os versos, 6 ou 8 mocinhas fazem coro. Instantaneamente nos transportamos às ilhas de São Miguel e Trindade, onde nos disseram da existência, antigamente, dos Foliões, e dos quais, hoje desaparecidos, nos mostraram as roupas e as caixas (semelhantes às nossas) em exposição, penduradas na parede da “despensa”, ou seja, dois homens que na porta da igreja entoavam loas 177enquanto, dentro, o padre coroava o Imperador. Esses personagens usavam calções lisos e blusões de chitão ramalhudo, com gola branca e boina, como aparecem no vídeo que adquirimos, de fato cantando à porta da igreja à chegada do cortejo festivo do Império, e em várias fotografias antigas de cantores e caixeiros. De tudo que já vimos de outros estados, de tudo o que assistimos e do quanto temos pesquisado, só uma cousa encontramos talvez com alguma semelhança: uma pintura de Debret sobre a Folia do Divino, no Rio de Janeiro, os personagens todos masculinos, caixeiro, violeiros etc. Nas nossas festas, ao invés de pães (massa sovada), distribuem-se doces-de-espécie e licores de variado sabor, característicos das festas do Divino em Alcântara.

177 LIMA, Carlos de . O Divino Espírito Santo. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore - nº 28 JUNHO, p. 3 ( 2004 ISSN 1516-1781), disponível em http://www.cmfolclore.ufma.br/arquivos/87c0f6bfb6446ce3cac55752471ec038.pdf


Jean-Baptiste Debret descreveu a tradição em suas anotações no livro “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”: “Chama-se, no Rio de Janeiro, Folia do Imperador do Espírito Santo uma tropa de jovens meninos, tocadores de violão, de tambor, de pandeiros, de triângulo, precedidos de um tambor. O grupo alegre acompanha um porta-bandeira, cujo chapéu, ricamente enfeitado de penas e de fitas, lembra os da tropa de músicos, também com fitas, embora mais simples”.178

Quete nommée la folie de l´Empereur du St. Esprit / Drapeau et pavillon bresiliens A origem da Festa do Divino se encontra em Portugal do século 14, com uma celebração estabelecida pela rainha Isabel (1271-1336) por ocasião da construção da igreja do Espírito Santo, na cidade de Alenquer. A devoção se difundiu rapidamente e tornou-se uma das mais intensas e populares em Portugal.179 A devoção ao Divino encontrou um solo fértil para florescer nos territórios portugueses, especialmente no arquipélago dos Açores. De lá, espalhou-se para outras áreas colonizadas por açorianos, como a Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América, e diversas partes do Brasil.180 A Festa do Divino Espírito Santo no Maranhão é um dos muitos festejos que fazem parte da cultura popular, destacando-se como um dos mais importantes, por sua ampla difusão e pelo impacto que tem sobre a população. Provavelmente teve início com os colonos açorianos e seus descendentes, que desde o início do século XVII começaram a habitar a região. Em meados do século XIX, a tradição da festa do Divino estava firmemente enraizada entre a população da cidade de Alcântara, de onde teria se espalhado para o resto do Maranhão, tornando-se muito popular entre as diversas camadas da sociedade, especialmente as mais pobres. Essa popularidade entre os setores mais humildes da população maranhense, inclusive os escravos,

178 https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/20192/a-festa-do-divino-espirito-santo http://www.campoecidade.com.br/mapa-caipira/02-b3-folia-do-divino-debret/ 179 https://www.google.com/search?q=DEBET+%2B+FESTA+DO+DIVINO&oq=DEBET+%2B+FESTA+DO+DIVINO&aqs=chrome..69i 57.12327j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8 180 https://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_do_Divino_Esp%C3%ADrito_Santo


talvez possa ser explicada pela ênfase não só na fartura, mas também na fraternidade e na igualdade, que o culto ao Divino costuma apresentar181. Hoje, existem dezenas de festas do Divino espalhadas por todo o Estado, levando adiante uma tradição viva e dinâmica, em que se destaca a beleza do repertório musical. É realizada no mês de maio ou junho, terminando no Domingo de Pentecostes, sendo que desde o Sábado de Aleluia, os festeiros começam a se preparar para o grande dia em que o imperador recepciona seus convidados com um almoço e farta mesa de doce182. Além de ser um rito importante para os cristãos, a festividade faz parte do calendário religioso afrobrasileiro. Foi assim que Bartira, formada na Casa Fanti-Ashanti – ligada ao tambor de mina e ao candomblé –, aprendeu todos os fundamentos e particularidades da celebração e se tornou uma das mulheres caixeiras, personagens estruturais na Festa do Divino. São elas que conhecem todo o ritual, os toques e os cânticos. “São responsáveis pelas partes mais importantes da festa, como costumamos cantar: ‘Deixe-me cantar bem alto para chamar as companheiras. Sem elas não se faz festa, quem toca caixa é caixeira’”, diz a diretora.183 Em Alcântara, no Maranhão, a tradição do Divino é revivida com a presença de cerca de 100 mil pessoas. Além da corte imperial, os participantes representam personagens do Brasil colonial. Pela tradição, o imperador prende alguém antes da festa, acusando-o de provocar desordem. Durante os festejos, ocorrem o levantamento de mastro, missas e cortejo184.

De várias gerações, as mulheres Caixeiras têm papel estrutural no festejo do Maranhão. . 181 São Luís.». turismosaoluis.com.br PACHECO, Gustavo, GOUVEIA, Cláudia, e ABREU, Maria Clara. Caixeiras do Espírito Santo de São Luís do Maranhão. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2005. 182 https://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_do_Divino_Esp%C3%ADrito_Santo 183 https://www.itaucultural.org.br/rumos-2015-2016-registro-da-tradicao-festas-do-divino-espirito-santo-pelo-brasil 184 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/festa-do-divino-comemoracao-tem-sete-seculos-deexistencia.htm


O CASO DO “TARRACÁ”185 Trata-se de uma luta/jogo encontrada que em diversas regiões do Maranhão ainda hoje, que recebe diversas denominações – tarracá, atarracado, atarracar, queda – de origem possível portuguesa, trazida por vaqueiros açorianos -, tradicional hoje nas brincadeiras de crianças, hoje. O estilo de luta conhecido como “tarracá” dentro das Artes Marciais Mistas –MMA, no âmbito do UFC – constitui-se em estilo de luta utilizado pelo lutador Rei Zulu, e difundido, recentemente, por seu filho Zuluzinho186, e por Anderson Silva187. Durante muito tempo Rei Zulu foi considerado no mundo das artes marciais mistas como um "brawler", termo usado nos Estados Unidos para designar um lutador que não possui um estilo, um brigador que vai para a luta apenas com coragem e agressividade, sem apresentar técnicas especificas de qualquer arte marcial188. Mas anos mais tarde, Rei Zulu revelara em entrevista que aprendeu com seu pai o seu estilo de luta e que o transmitiu ao seu filho o também lutador Zuluzinho, estilo de luta que se chama tarracá, um tipo de luta tradicional do Estado do Maranhão, muito popular na região do Pindaré e na baixada maranhense. Rei Zulu ficou famoso por desafiar lutadores do Brasil e de outras partes do mundo. Após 17 anos de competição estava invicto após 150 lutas (década de 1980). Rei Zulu lançou um desafio à família Gracie para ver quem era o melhor lutador de Vale Tudo de toda a nação 189. Em entrevista - antes da primeira luta contra Rickson Gracie (1980) -, disse que “seria mais um freguês de pancada e que não se preocupava com a alimentação antes da luta, pois “comia até ferro derretido”. Rei Zulu é considerado por Rickson Gracie o mais difícil oponente com quem já lutou: [...] nos anos 80, Rickson travou cerca de 231 combates (nacionais e internacionais), e afirma ter sagrado-se vencedor em todos por finalização. No Brasil, a rivalidade entre o Jiu-Jitsu e a Luta Livre era tamanha, que houve a necessidade de se provar ao público, qual arte marcial e lutador era superior, assim, foi organizada uma luta entre Rickson e o temido Rei Zulu, com isso, após Rickson Gracie vencer por duas vezes o grande Rei Zulu (que estava no auge e há 150 lutas invicto), nunca mais teve desafiantes a altura enquanto lutou.( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rickson_Gracie) Rei Zulú é a maior referencia do “Vale Tudo” no/do Maranhão. Nascido Casimiro de Nascimento Martins, em 09 de junho de 1947 é um lutador de Vale-Tudo: “criado em Pontal, no interior do Maranhão. Lá, aprendeu a Tarracá, luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região. Como seus 17 irmãos, nunca frequentaram a escola. 185 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Palestra apresentada no CONGRESSO INTERNACIONAL 400 ANOS DA PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO, São Luis, 23 a 25 de outubro de 2019, promovida pela Casa dos Açores do Maranhão. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarrac%C3%A1 186 Wágner da Conceição Martins, mais conhecido por Zuluzinho (São Luís, 19 de maio de 1978), é um lutador brasileiro de MMA. É filho do famoso lutador Rei Zulu[1] e seu pupilo nas técnicas de Tarracá e MMA. Assim como o pai, virou lenda viva no Maranhão e fez carreira internacional. Derrotou grandes nomes do MMA como o japonês Ikuhisa Minowa e o russo Vladimir Kuchenko. Em seu cartel, constam ainda lutas contra Fedor Emelianenko, Minotauro e Eric Butterbean Esch. Em 2011, venceu uma luta sem sequer ter lutado, pois seu adversário, Assuério Silva, ao ver Zuluzinho, desistiu da luta e foi vaiado impiedosamente pelo público. https://pt.wikipedia.org/wiki/Zuluzinho 187 Anderson da Silva, mais conhecido como Anderson Silva ou Spider[(São Paulo, 14 de abril de 1975) é um lutador brasileiro de artes marciais mistas e ex-Campeão Peso Médio do UFC. Anderson conquistou 17 vitórias seguidas e 10 defesas de título consecutivas, tendo a sequência interrompida no dia 6 de julho de 2013, quando perdeu o cinturão Peso Médio do UFC para o Chris Weidman. "Spider" é considerado o melhor lutador da história pelo presidente do UFC, Dana White. https://pt.wikipedia.org/wiki/Anderson_Silva 188 https://pt.wikipedia.org/wiki/Rei_Zulu_(lutador) 189 http://sportv.globo.com/site/combate/noticia/2014/10/maracanazinho-consagra-rickson-e-ve-aurora-de-nova-geracaohistorica.html


Cresceu forte e brincalhão. Aos 14 anos, mudou-se com a família para a Vila Ilusão (sic), na Ilha de São Luís.” (LAROCHE, 2010) 190 (grifos nossos). O Rei Zulu191 tornou-se famoso também pelas caretas que faz enquanto luta. Ele diz que as caretas são para mostrar que está feliz por estar ali. Nunca frequentou academias de musculação, mas desenvolveu um estilo de luta próprio, e realiza seu treinamento físico diariamente com pedras pesadas, pneus, marreta e diz não gostar de frequentar academia, por isso treina no quintal de casa: empurrar paredes, lançar pedras com mais de 5 Kg a grandes distâncias, correr entre arbustos, levantar carroças com pedras e andar com uma corda no pescoço puxando dois pneus eram instrumentos utilizados em seu arcaico treinamento. Possuía uma força naturalmente descomunal.

http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140 É pai do também lutador Zuluzinho192. Em entrevista (Budo International, Blackbelt) Zuluzinho enumera seu jiu-jítsu (faixa-roxa) e Vale Tudo, afirma ter aprendido Tarracá com seu pai, responsável pelo método de treinamento utilizado pelo lutador em todos esses anos.

Rei Zulu e seu filho Zuluzinho Rei Zulu nunca praticou artes marciais, desenvolveu seu estilo próprio que se aproxima de brigas de ruas:

190 LAROCHE, Marília de. “Conheça Rei Zulu e Zuluzinho, os lutadores do Maranhão, disponível em http://www.divirtase.uai.com.br/html/sessao_13/2010/11/15/ficha_ragga_noticia/id_sessao=13&id_noticia=30972/ficha_ragga_noticia.shtml e em http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140 191 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rei_Zulu 192 Algumas lutas de Zuluzinho: http://www.youtube.com/watch?v=2RZtRfylWqA; http://www.youtube.com/watch?v=twbmb_i5YNk


Eu só sei que ele afirma ter criado Tarracá a partir do zero, porque eu encontrei uma entrevista muito curto em um blogspot, aparentemente, ele ainda luta e corre uma academia onde ensina Tarracá. (WingChun Lawyer)193 Mauricio Kubrusly, em “Me leva Brasil” 194 entrevistou Rei Zulu em São Luis do Maranhão, onde reside: - Quem primeiro me treinou foi meu pai. E tem a prática com zorras, os pneus… é que no interior chama zorras. E ele conhecia também o tarracá, a luta dos índios.

Marc Magapi195, em outra reportagem, descreve o ritual do Rei Zulú em suas lutas, como também informa ser seu pai o criador do estilo que “desenvolveu”: Rei Zulú (Eu como até ferro derretido) – Nascido em São Luiz, Maranhão, este folclórico lutador, é protagonista de inúmeras histórias por conta das décadas em que praticou o vale tudo (um cartel com mais de 250 lutas). Zulú entrava no ginásio, seguindo um ritual, que tinha início com uma volta olímpica, na qual saudava o público presente, sempre com o braço esquerdo estendido. Ao subir no ringue, o maranhense jogava-se no chão, rolava para o lado, dava cambalhotas, movimentava os ombros para frente e para trás e fazia inúmeras caretas. Zulú tinha a característica de zombar de seus adversários, acreditando sempre em sua força descomunal para vencê-los no momento que bem quisesse. Um autodidata do mundo das lutas, que sempre se disse representante do “Tarracá”; estilo criado por seu pai, que consistia basicamente em se “atracar” com o adversário, nunca teve aulas de jiu-jitsu, capoeira ou luta livre em uma academia. Esse mesmo autor informa ter havido em São Luís do Maranhão uma “arena de lutas”, denominada de “Terreiro Tarracá”, no Bairro do João Paulo, onde era disputado um campeonato semanal de Vale Tudo, conforme se vê em “O encontro de Magapi com Rei Zulú” 196: De Barreirinhas, em conversa com alguns professores de educação física de algumas comunidades do interior daquele município, falaram-me haver por ali, ainda, um jogo/luta semelhante ao descrito, mas que ali, denominavam de ‘queda’.

193 http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 194 Kubrusly, Mauricio in http://fantastico.globo.com/platb/melevabrasil/2008/04/08/zuluzinho-x-zuluzao/ 195 MAGAPI, Marc. “Esses loucos lutadores e http://www.fisiculturismo.com.br/forum2/viewtopic.php?t=27186

suas

estranhas

manias”disponível

196MAGAPI, Marc “O encontro de Magapi com Rei Zulú” disponível em http://magatown.br.tripod.com/antigas.htm; Ver também http://www.sherdog.net/forums/f2/closed-door-underground-fights-389143/

em


197 Em palestra apresentada no CONGRESSO INTERNACIONA 400 anos da PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO, São Luís, 23 a 25 de outubro de 2019, promovida pela Casa dos Açores do Maranhão, referime à esse jogo/luta que aparece na Baixada Maranhense198. Informo que encontrei descrição de luta-jogo semelhante ao “tarracá”, trazida por vaqueiros portugueses - de origem açoriana - durante o período colonial, a Galhofa - o “wrestling tradicional transmontano” - que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha.

197 O distrito da Guarda é um distrito de Portugal pertencente à província tradicional da Beira Alta. Limita a norte com o distrito de Bragança, a leste com Espanha, a sul com o distrito de Castelo Branco e a oeste com o distrito de Coimbra e com o distrito de Viseu. Tem uma área de 5 518 km² (7.º maior distrito português) e uma população residente de 168 898 habitantes (2009).[2] A sede do distrito é a cidade com o mesmo nome. https://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_da_Guarda 198 Chama-se Baixada Maranhense a região a oeste e sudeste da ilha de Upaon-Açu (São Luís), formada por grandes planícies baixas que alagam na estação das chuvas, criando enormes lagoas entre os meses de janeiro e junho. https://pt.wikipedia.org/wiki/Baixada_Maranhense


MASCARADAS, CAVALHADAS, ARGOLINHA, JOGO DAS CANAS199 Sim, há cavalhadas em São Miguel, na Ribeira Grande, informa Luiz Nilton Corrêa200. Diz o Padre Edmundo Pacheco201 que no baú da promessa da realização das Cavalhadas encontram-se os louvores ao Divino Espírito Santo e o reconhecimento a São Pedro pela proteção ao povo, como Chefe da Igreja Universal, a qual incluía a bênção aos animais domésticos, de modo particular aos cavalos pela sua importância nos trabalhos agrícolas e no transporte. O cortejo das Cavalhadas é o único que se realiza nos Açores e tem sido objecto de investigação e de estudo por entusiastas de diversos pontos do mundo. De origem religiosa, exprime reconhecimento ao Santo Pescador por ter, nos tempos do século XVI, impedido que a igreja, a ele dedicada, fosse destruída por crise vulcânica. O cortejo é constituído por cavaleiros, montados nos seus cavalos, que percorrem as ruas da zona da cidade. Numa outra versão da origem das Cavalhadas de S. Pedro diz-se que havia um Mouro, convertido em Cristão Novo, muito abastado que vivia na Ribeira Seca. Por mais que ele se esforçasse, a população não o aceitava e o nosso homem sofria com isto. Uma vez, teve uma ideia e fazendo questão de a por em prática, vestiu a sua melhor roupa e colocou uma máscara na sua face. Juntou a sua vasta família, criados e servos e vestindo-os a rigor montados nos seus melhores cavalos, desfilaram em embaixada até São Pedro. As pessoas curiosas juntaram-se rapidamente em grande número junto à Igreja. O Mouro fazendo ajoelhar o seu cavalo começou a apregoar as loas, demonstrando um grande conhecimento da Doutrina Cristã. Ao acabar retirou a máscara. O Povo espantou-se ao descobrir quem era aquela personagem de máscara. A partir daquela altura o nosso Mouro passou a ser muito bem aceite pela população e todos os anos como um agradecimento a São Pedro lá voltava ele em embaixada!202 Câmara Cascudo (1972)203 registra o termo "cavalhada" referindo-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria, como afirma GRIFI (1989)204, ao referir-se às atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. As cavalhadas constituíram nos tempos coloniais e no Império um atraente exercício. Embora quase privativo dos jovens afortunados. Ao povo habituado à pasmaceira elas valeram por oferecerem espetáculos ou, como Fernando Azevedo escreveu, ‘memoráveis torneios de opulência aristocrática’. Será preciso distinguir as cavalhadas que os mancebos ricos disputavam daqueles outros jogos que no Rio de Janeiro foram conhecidos como o jogo das manilhas e em tantos outros cantos do país com o jogo das argolinhas.

199 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS... São Caetano do Sul: CELAFISCS: UNIFEC, 1992, p 27. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial in CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS... . Belém: UFPA, 1993, p 137. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O Jogo das Argolinhas. In CEV – Centro Esportivo Virtual, disponível em http://cev.org.br/biblioteca/o-jogo-das-argolinhas/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiro Esporte Praticado no Maranhão. EDUCAÇÃO Física no Maranhão/BLOG DO CEV, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/primeiro-esporte-praticado-maranhao/ AS CAVALHADAS E O MARANHÃO. Do Blog do Leopoldo Vaz , publicado na Revista do IHGM, no. 31, novembro de 2009 http:issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009, disponível em http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/ CAVALHADAS (TAMBÉM) EM SÃO BENTO informa Vavá Melo. do Blog do Leopoldo Vaz, publicado na Revista do IHGM, no. 31, novembro de 2009, disponível em http:issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 , disponível em http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/, 200 Correspondência pessoal, via correio eletrônico, em 1º de novembro de 2019. 201 In Cavalhadas de São Pedro., in BLOG DE JOÃO FREITAS, disponível em http://cavalhadas-de-sao-pedro.blogspot.com/ 202 https://www.facebook.com/MariaRodriguesSiva/posts/lenda-das-cavalhadas-de-s-pedro/557521764294123/ 203 CÂMARA CASCUDO, Luís da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. 3a. ed. atual. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. 204GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto, 1989.


Ao descrever as distrações na Idade Média, Oliveira Marques 205 ensina que, uma vez a cavalo, o nobre medieval podia entrega-se a uma série de exercícios desportivos. Desses, os mais vistosos e conhecidos eram sem dúvida as justas e os torneios, embora seja difícil distingui-los. Em princípio, a justa travava-se entre duas pessoas, enquanto o torneio assumia foros de contenda múltipla. No dizer de GRIFI (1989) 206, a "giostra" era disputada somente entre dois cavaleiros, diferente do torneio que era combate em times. Eram usadas "armas corteses", isto é, armas desapontadas ou cobertas por uma defesa. O confronto consistia de uma corrida a cavalo de um contra o outro, lança em riste, com o objetivo de desequilibrar o adversário, melhor ainda, de fazer cair, ao mesmo tempo, cavalo e cavaleiro. Em torno do século XIV espalhou-se o mau costume de usar lanças ou armas desapontadas. Variante das justas eram as chamadas canas. Em vez de lanças, os jogadores, a cavalo, serviam-se de canas pontiagudas com que se acometiam. O jogo possuía as suas regras, evidentemente muito diferentes das que regiam os torneios. Popularíssimos no fim da Idade Média mostrava-se espetáculo quase obrigatório nos festejos públicos, ao lado das justas e das touradas. O jogo das canas, de antiga tradição nacional, continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza. Da cavalaria medieval, que durante longo tempo conservou a tradição dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas. Encontramos no Maranhão, ainda no Século XVII, como parte da herança cultural portuguesa, além das danças e comédias representadas no adro das igrejas, o entrudo e as cavalhadas, estas sob as formas de encamisadas, do jogo das canas e do jogo das argolinhas. Em São Luís do Maranhão, a Câmara tinha que mandar celebrar, além da procissão de Corpus Christis, quatro festas anuais: a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro. Fora essas datas, só se realizavam cerimônias festivas quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo. Em 1678, D. Gregório de Matos - primeiro bispo do Maranhão (1679-1689) - foi recebido com uma festa. Teve lugar, no adro da igreja, uma comediazinha. Finda ela, foi D. Gregório para a casa de Manuel Valdez, onde, por oito dias consecutivos, ou mais, houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria. (MEIRELES, 1977)207. Para LOPES (1975)208, nesses torneios do tempo colonial os corcéis eram árdegos, de viçosa estampa e traziam arreios de preço. Os cavaleiros e seus 'peões' vestiam com esmero trajes de cores vivas e os primeiros, montados à gineta ou bastarda, exibiam a sua destreza na arte nobre de bom cavalgar. Além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha. O jogo das canas, de antiga tradição nacional, continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza. Da cavalaria medieval, que durante longo tempo conservou a tradição dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas. A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e, de acordo com GRIFI (1989) 209, a corrida dall'anello - corrida do arco - consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos.

205 Citado por VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. HOMO LUDICUS - ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA PORTUGUESA. vol. 2. Lisboa : Compendium, (s.d.). 206GRIFI, 1989, obra citada 207 MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/ SIOGE, 1977. 208 LOPES, Antônio. Meios de transporte na ilha de São Luís. in LOPES, Antônio. DOIS ESTUDOS MARANHENSES. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1975, p. 45-58. 209 GRIFI, 1989, ora citada.


É, a argolinha, a primeira "manifestação esportiva" praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado (citado por CÂMARA CASCUDO, 1972)210, referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 - ou abril, conforme MARINHO (s.d.)211 -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses. No Brasil, desde o século XVI se corre a argolinha, e chegou a estender-se até meados do século XIX. MARINHO (s.d., obra citada) refere-se a uma cavalhada realizada em abril de 1641, no Recife. Portugal estava sob o domínio da Espanha e esta em guerra com a Holanda. Os holandeses haviam invadido o Brasil quando sobreveio a trégua entre estes e os espanhóis, a qual, naturalmente, se estendeu às colônias. Para festejá-la, foram organizados torneios eqüestres em que portugueses e brasileiros competiram contra holandeses. Já CÂMARA CASCUDO (1972, obra citada) registra uma encamisada realizada em março desse mesmo ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão.

JOGOS E BRINCADEIRAS TRADICIONAIS212 Nos relatos de experiências do livro dos 30 anos do NEA (ALVES, 2015)213, Mariangela Leite (2016)214 lista 26 (vinte e seis) brinquedos e brincadeiras de base açoriana. LércioVitorino de Jesus Oliveira (2016) 215 também se refere às brincadeiras de rua das crianças, realizadas na Laguna, distrito do Ribeirão Pequeno, assim como outros depoentes, rememorando essas atividades naquele Colóquio dos 30 anos do NEA. Verificamos que muitos daqueles brinquedos e/ou brincadeiras, jogos infantis, aconteciam – e acontecem – também, e eram objetos de lembranças de crianças e de mais velhos. Considerando “Jogo” como atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatória dotada de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida cotidiana”. (Huizinga, l980, p. 33)216. Abrange jogos de força e de destreza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo gênero. Por definição do Atlas do Esporte no Brasil (Alexandre Marcos de Mello, 2005, p. 35-36), jogos e esportes tradicionais são atividades lúdicas, competitivas e/ou cooperativas, que refletem a identidade cultural de um determinado grupo étnico, distinguindo-se dos esportes de apelo internacional sujeito a padrões organizacionais e regras universais. Já os jogos e brincadeiras tradicionais infantis são atividades passadas de geração a geração, em geral aprendidas pelas crianças mais novas com as de mais idade, durante ato de brincar. Também denominados de jogos populares. PAPAGAIO – papagaio de papel, coruja, arraia. Na descrição do Dicionário Morais: folhas de papel, ou lenço, estendidas sobre uma cruz de canos, e cortados em figura oval, com um rabo na parte fina, que se soltam ao ar, e lá se mantêm, seguras por um cordel ou barbante. Os portugueses trouxeram o papagaio do oriente, Japão, e China, onde é popular. No Brasil chama de raia ou arraia, em alusão a forma ramboidal do 210 CÂMARA CASCUDO, 1972, obra citada. 211 MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo: Cia. Brasil Ed.(s.d.). 212 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; CRUZ, Reinaldo da Conceição. . Jogos tradicionais e brincadeiras infantis do Maranhão. In ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. IN DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS D O ESPORTE NO BRASIL . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3-2.3, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/188.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; CRUZ, Reinaldo da Conceição. Jogos e brincadeiras tradicionais. In ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/jogos-tradicionais-brincadeiras-infantis-1/ 213 Alves, 2016, obra citada. 214 LEITE, Mariangela. Brinquedos e brincadeiras de base açoriana. In Alves, 2016, obra citada., p. 207-208 215 OLIVEIRA, Laércio Vitorino de Jesus. Memória: um patrimônio irrenunciável. Comunidades do distrito de Ribeirão Pequeno da laguna. In Alves, 2016, obra citada. P. 181-196 216 Huizinga, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 1980. ISBN 9788527300759.


peixe (Câmara Cascudo, 1972, p. 669-670). No Maranhão, usam-se as denominações: papagaio, pipa, bode, sura e curica. Papagaio – a tala do meio é maior – longitudinal maior – rabo de algodão amarrado na linha; Pipa – tala transversal é maior, rabo de papel amarrado num fio – a pipa é de uso mais recente; Bode – papagaio grande, com rabo de algodão; Sura – papagaio grande, sem rabo;é “selado”; Curica – papel de jornal ou grosso, com talo, e rabo do próprio papel, geralmente usados pelos garotos menores. O papagaio, ou pipa, em São Luís, é lançado geralmente no período invernoso (chuva) quando o vento é mais ameno. Pipódromo – locais de prática de empinar pipas – Vinhais, Cohab, Areinha e São José de Ribamar. PETECA – Gude: jogo infantil com bolinhas de vidro, que se deve fazer entrar em três buracos, ganhando o jogador que chegar em primeiro lugar, de volta ao primeiro buraco (Câmara Cascudo, 1972, p. 440-441). No Maranhão, recebe o nome de Peteca: bolinha de gude; jogada no período de chuva, porque é mais fácil de fazer a borroca (buraco). Borroca – jogado em número de três buracos, feitos com o calcanhar; jogo de ida e volta, para começar a matança. A peteca é jogada do primeiro para o terceiro buraco; não havendo distancia definida, mas usa-se aproximadamente 2 a 2,5 metros, de um para o outro; quem fica mais próximo da barroca, ou acerta-a, começa o jogo, indo e voltando e, após esse percurso, sem errar os buracos, começa a “matança”, isto é, acertar a peteca dos outros jogadores; dependendo do acerto entre os jogadores, antes do início do jogo, a “paulada” vale um certo número de “petecas”. Triângulo – como o nome diz, usa-se a figura de um triângulo, para definir a área de matança. Os jogadores colocam certo número de petecas no seu interior; é estabelecido duas linhas, a aproximadamente 5 a 2 metros de distância, em lados opostos; os jogadores se posicionam em uma das linhas, jogam suas petecas para acertar a linha contrária, ou o mais próximo, possível desta, para determinar quem inicia o jogo; aqueles que a ultrapassem, ficam por ultimo, na mesma ordem inversa da distância; o primeiro, começa a “espirrar”a bola dos outros - acertar as petecas que estão no interior do triângulo, procurando projetá-las para fora das linhas, e ao mesmo tempo, que a sua não fique no seu interior – começando o “mata-mata” - pode continuar matando as bolas dos adversários, até errar ou tirar todas; ganha quem conseguir o maior número de petecas. AMARELINHA – de acordo com Câmara Cascudo (1972, p. 25-26) também chamada Academia ou cademia. Jogo ginástico infantil, muito antigo e muito espalhado por todo o Brasil. Em outras regiões, da América Latina, denomina-se de La Pelegrina, e é idêntico ao Jogo das Odres, dos romanos e às Ascólias, dos gregos. ELÁSTICO – jogo de destreza; que consiste em ultrapassar um elástico, de aproximadamente 3 a 5 metros, colocado a determinadas alturas, começando pela altura do quadril, seguro por dois competidores; o saltador projeta-se para cima, procurando ultrapassar o elástico, sem tocá-lo; a uma determinada altura, geralmente na altura do peito, pode utilizar-se do pé, apoiando por sobre – parte de cima – o elástico, puxando-o para baixo, ao mesmo tempo que o ultrapassa – pulando para o outro lado. Geralmente é brincado pelas meninas, mas meninos participam. XUXO ou CHUCHO – jogo de destreza; consiste em “fincar” uma pequena aste de ferro fino no chão, por dois ou mais competidores, que fazem desenhos no chão, geralmente um triângulo, do local onde a aste fincou no chão, em linha reta, até o seguinte arremesso. BETE-OMBRO – jogo em que participam duas duplas, dois atacantes e dois defensores, de uma casa – hoje, utiliza-se garrafa de plástico, antigamente, a casinha era constituída e três paus, em triângulo, apoiados um no outro – delimitada por um círculo, em que o objetivo é derrubar a casa, com uma bola – hoje, de borracha (frescobol), antigamente, de pano -. Os defensores devem rebater a bola, jogando-a longe, o que possibilita trocarem de lado. Cada troca de lado, vale um certo numero de pontos; ganha quem atinge um determinado numero, conforme combinação previa. Quando os atacantes conseguem derrubar a casa do adversário,invertem-se os papéis. Jogado geralmente nas férias escolares.


PIÃO – pinhão, brinquedo de madeira, periforme, com uma ponta de ferro, por onde gira pelo impulso do cordão enrolado na outra extremidade e puxado com violência e destreza. Ostrombos dos gregos e o turbo dos romanos, é o mesmo jogo do pião das crianças de hoje. No Brasil, a maioria das condições para o jogo é semelhante à registrada em Portugal (Câmara Cascudo, 1972,p. 712-713). Também denominado de finca. JOGOS E BRINCADEIRAS INFANTIS EM DIVERSAS LOCALIDADES BURITI BRAVO - As crianças divertem-se brincando de corridas, peteca, cancão, boca-de-forno, pular corda. Etc. COELHO NETO - Brinquedos populares: usa-se o talo do buriti, lata ou madeira para fazer brinquedos populares, como: carros, mesinhas, cadeirinhas, camas, etc.; confeccionam-se ainda bonecas de pano, pipas; CURURUPU - Lúdica popular – as crianças do município divertem-se com as brincadeiras bola queimada, bola ao túnel, soltar a vara porteiro. Os adultos distraem-se com jogos de salão, como dominó, dama, baralho, gamão e xadrez. GUIMARÃES - BRINCADEIRAS INFANTIS – papagaio (pipa); peteca (bola de gude); corda, boca de forno, pião, cai no poço, pata cega. Cantigas de roda. MATINHA - Brinquedos populares: são fabricados pelas próprias crianças, sendo os preferidos – catavento, flauta de taboca ou mamão; caninhos de bambu; gangorra; pião; avião de tala de cerca; perna de pau; burra de imbaúba; papagaio de papel; carrinho de madeira; gaiola; pultriqueiro de madeira e aviãozinho de lata. MIRADOR - lúdica popular: as crianças do município têm poucos divertimentos, que são: brincadeira do cancão, da boca de forno, de pular corda, do baralho, que é utilizado para jogos de “três sete”, “pife”, “buraco”, “bisca”, etc. PEDREIRAS - Lúdica popular – as brincadeiras populares praticadas pelos adultos são os jogos de baralho, dama, dominó, etc., enquanto as crianças se divertem brincando de roda, peteca, cancão, etc. SÃO DOMINGOS DO MARANHÃO - Lúdica popular: as crianças do Município têm poucas opções de lazer, passando seu tempo livre com brincadeiras de rua como; cancão; boca de forno; pular cordas; bambolê.


O ENTRUDO – E O FANDANGO, CHEGANÇA, CONGO, CANINHA VERDE - E O CARNAVAL DE RUA NO/DO MARANHÃO Para MEIRELES (1977)217 a Igreja teve um importante papel na colonização do Maranhão, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É nessa mesma igreja que essa população encontra "... uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia ...". Essa alegria era presentada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso, "O Te-Deum, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente."(p.65). Lisboa (1990)218 nos relata que a Câmara de São Luís tinha que mandar celebrar, além da procisso de Corpus Christis, quatro festas anuais "... a saber a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro ...". Fora essas datas, só se realizavam cerimonias festivas "... quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo" (MEIRELES, 1977) 219. Foi o que ocorreu com D. Gregório de Matos (1679-1689), recebido com uma festa que durou mais de oito dias e "... foi, no pode haver dúvidas...um verdadeiro carnaval" : "O carnaval já existia no Maranhão a esse tempo, haja vista que Bettendorf informou, por exemplo, que tendo Pedro Cesar de Menezes governado quase cinco anos sucedeu-lhe Inácio Coelho da Silva, no começo de 1678 pelo entrudo; em outra passagem, referindo-se à Revolta de Bequimo, diz que a primeira conjura do Convento de Santo Antonio foi uma dominga antes do entrudo do ano de 1684, que foi a 15 de fevereiro." (MEIRELES, 1977, p.81) Em Portugal, a folia momesca era chamada de Entrudo do latim “introitus”, que tem como tradução, entrada ou início. Praticado desde a Idade Média, o entrudo lusitano tinha uma série de brincadeiras que variavam de aldeia em aldeia. Nessas festividades, haviam imensos bonecos confeccionados de madeira e tecidos. Bonecos estes que inspiraram o carnaval pernambucano e o carnaval maranhense. Em São Luís, existe um bloco chamado ‘Bandida’, que percorre as ruas do centro ludovicense cuja atração principal é uma enorme boneca de madeira, revestida com chita e papel machê. Na verdade, esse bloco tem uma mistura de elementos que nos lembram não só o entrudo por causa desse adereço, mas também por utilizar a rua como instrumento de diversão e as ‘molhadas’, para sujar os participantes da brincadeira (SANTOS, 2017)220 Em São Luís, está ligada à sobrevivência de manifestações anteriores como o congo, a chegança, o fandango e o coco. Além destas manifestações parecidas às que se festejavam nas demais regiões do Brasil (às vezes sob denominações diversas), era popular em São Luís a caninha verde. Brincadeira trazida do Minho (MARTINS, 1998)221; Registra-se em São Luís também a proibição de cheganças, congos, e fandangos.

217 MEIRELES, Mário M. História da arquidiocese de São Luís do Maranhão. São Luís : UFMA/ SIOGE, 1977. 218 LISBOA, João Francisco. Jornal de Tímon: apontamentos, notícias e observações para servirem de história do Maranhão. São Luís : AML/ALUMAR, 1990. Tomo II, vol. 2. 219 MEIRELES, 1977, obra citada.. 220 Santos, Maysa Leite Serra dos. Silêncio, vou “lê” um aviso: a fuzarca dos fuzileiros - um estudo histórico sobre o bloco Fuzileiros da Fuzarca . – São Luís, 2017. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em História, Ensino e Narrativas da Universidade Estadual do Maranhão para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Fábio Henrique Monteiro Silva. http://www.ppghist.uema.br/wp-content/uploads/2016/12/TCC-Maysa.pdf 221 MARTINS, Ananias Alves, Carnaval de São Luís. Diversidade e Tradição, São Luís, Func, 1998.


Martins (1996) 222, afirma que principiou como carnaval de rua, inaugurado pelos negros, que fugindo das agruras da escravidão, reproduziam antigas brincadeiras portuguesas, ou as suas próprias, trazidas do continente africano, o que faziam, num primeiro momento, em épocas de festas religiosas e colheitas, mas que com o tempo convergiram para a quadra carnavalesca. O FANDANGO e a CHEGANÇA eram brincadeiras de natal; o CONGO saía na festa de Rosário em janeiro e a CANINHA VERDE, era em junho, época da colheita portuguesa. Adaptadas com uma encenação, característica brasileira.

Desenho de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) – Festa do Entrudo http://www.paginasmovimento.com.br/josu%C3%A9-montello-s%C3%A3o-lu%C3%ADs-domaranh%C3%A3o.html Fala-se aqui de um tempo em que os homens livres e proprietários pouco se manifestavam nas ruas, sendo o carnaval do ENTRUDO a grande exceção. Nele ricos, pobres e sacerdotes se misturavam para jogar água e pó nos transeuntes. Existe rico registro do entrudo do Maranhão, herdado dos portugueses, onde os escravos acompanhavam seus senhores com baldes d’água, para lhes servir de munição: O CONGO era um ritual narrativo das antigas epopéias Angola-congolesas, com temas de cerimônia de coroamento de monarcas do CONGO e a luta dessas monarquias contra outras, lutas contra o invasor, etc., que assimilou técnicas dramáticas dos antigos autos africanos e se manifestou na Maranhão em passeatas carnavalescas, como as que percorriam o Caminho Grande, no século passado, para terminar no Centro da Cidade. Quanto à CANINHA VERDE, trata-se da uma festa popular de origem minhota, criada em Portugal para atrair moças e rapazes para a colheita. Classicamente é uma brincadeira de roda, envolvendo homens e mulheres, divididos em sexos e seções que se defrontam, cantando e permutando lugares. No Brasil ganhou um auto de casamento que se desenrola em torno do litígio entre os noivos e os pais da noiva, além de novos nomes para os protagonistas. No Maranhão se tornou desde cedo manifestação urbana, sendo dançada além de São Luís, nas cidades do Vale do Itapecuru. A CHEGANÇA era dançada em Portugal, como uma reprodução cênica das lutas contra os Mouros, mas apenas como dança e indumentária. A dança era considerada lasciva, "ancas contra ancas", peneirando-se 222 MARTINS, Ananias Alves. CARNAVAL DO MARANHÃO - UMA TRADIÇÃO DE DOIS SÉCULOS. In BOLETIM DA COMISSÃO MARANHENSE DO FOLCLORE 4, edição on line, Fevereiro de 1996, disponível em http://www.cmfolclore.ufma.br/arquivos/cd6a7db37c8932cc41a9074bd04d7a96.pdf


"coxa contra coxa" e chegou a ser proibida. No entanto, no Maranhão aparecia com um ciclo de autos, cada dia entrosando-se no episódio central outro episódio ou jornada, se constituindo na CHEGANÇA mais completa que Antonio Lopes havia conhecido. Tinha a Nau Catarineta, o episódio do Mouro, o do imediato, o do piloto, o do mestre e o da marujada.. Mathias Röhrig Assunção (2001) 223 pergunta se existirá um carnaval maranhense que seja mais que um carnaval no Maranhão? É difícil de definir no que consiste exatamente o chamado carnaval maranhense, de traçar-lhe limites que o demarcariam nitidamente dos outros carnavais brasileiros. Desde a época colonial, manifestações externas foram introduzidas, reapropriadas e acabaram tornando-se maranhenses. A partir de quando adquiriram caráter “maranhense”? Há vários anos que o carnaval em São Luís dividiu-se em três festas bastante distintas, até em sua configuração espacial: o Carnaval de Passarela no Anel Viário, no centro, onde domina o desfile das escolas de samba maranhenses (o modelo carioca), o carnaval de trio da Avenida Litorânea (o modelo baiano) e o Carnaval de Rua, em diversos bairros da cidade, onde se destaca o bairro boêmio da Madre Deus. Assunção coloca que: Tradicionalmente, existem três ciclos festivos maiores na parte setentrional do Maranhão: o junino, o natalino e o carnavalesco. O ciclo natalino perdeu em importância relativa, como no resto do país (me refiro a manifestações tradicionais como reisados e presépios, não à cultura de consumo). Contrariamente a outras regiões, o ciclo junino continua, de longe, o mais importante. No município de São Luís, registram-se três vezes mais organizações juninas que carnavalescas.[...] Cabe salientar também que existem múltiplas relações e influências entre o ciclo junino e o carnavalesco, porque são praticamente os mesmos indivíduos que mantêm ambas as práticas festivas. Buscando as origens do Carnaval no Maranhão, em especial, São Luís, coloca: Em muitos aspectos e nas linhas gerais, sua evolução, até a década de 1980, enquadra-se na periodização estabelecida para os outros carnavais no Brasil: a existência do Entrudo, desde os tempos coloniais, mas reprimido a partir da segunda metade do século XIX, a sua substituição pelo modelo veneziano, o aparecimento de cordões e ranchos populares, a partir do final do século XIX, e das escolas de samba, a partir da década de 1930. No entanto, algumas peculiaridades merecem ser destacadas. A repressão (ainda não documentada para São Luís) ao Entrudo não resultou no seu desaparecimento, subsistindo brincadeiras de Entrudo (sobretudo com maisena) até os dias de hoje (11) 224. Ramsés Silva (2009)225, em seu Blog dedicado à cultura maranhense, diz que São Luís, atualmente, vive um momento de resgate das características originais e primitivas do seu Carnaval. As primeiras manifestações momescas teriam aparecido em São Luís entre o final do século XVIII e o início do século XIX. E o representante maior das referidas manifestações, principalmente na segunda metade do século XIX, teria sido a brincadeira do Entrudo. O termo surgiu em Portugal e significa "entrada", e era festejado em comemoração à entrada da primavera, antes do cristianismo. Depois da implantação do cristianismo na Europa, a data de celebração do Entrudo acabou convergindo com o período carnavalesco. No Brasil, o Entrudo reinou absoluto no período colonial, atingindo seu apogeu durante o século XIX.

223 ASSUNÇÃO, Mathias Röhrig. Resgatando o carnaval de rua: a fuzarca maranhense contra a homogeneização nacional-global. REVISTA USP, São Paulo, n.48, p. 159-178, dezembro/fevereiro 2000-2001, p. 159-178 224 “O Ressurgimento do Entrudo no Carnaval”, in O Imparcial, 25/2/1982. A referência mais antiga ao Entrudo no Maranhão, ao meu conhecimento, é a notícia no jornal O Globo de 1854, encontrada por David Touro Linger: Dangerous Encounters. Meanings of Violence in a Brazilian City, Stanford, Stanford Univ. Press, 1992, p. 64. 225 SILVA, Ramsés. Os Antigos Carnavais. In BLOG EM CENA, São Luis, 8 de fevereiro de 2009, disponível em http://saoluisemcena.blogspot.com/2009/02/os-antigos-carnavais.html


RESGATE DE UMA MEMÓRIA DE FAMÍLIA Entrevista com Judith Bogéa Bittencourt via correio eletrônico, resposta em 03/11/2019226 O que a motivou a pesquisar sobre as origens familiares? Quando começou esse interesse? Como envolveu os familiares? 1.1 - A motivação teve início da memória de criança, quando com minhas tias avós, Bogéa e as Bittencourt me embalavam com suas conversas sobre a família, tanto relatavam as questões pessoais como do que gostavam de fazer, brincar, trabalhar, viajar, assim como fatos históricos dos idos de 1880 em diante depois que nasceram, além desses momentos que para mim eram de puro encantamento, pois os considerava uma viagem, havia os exemplos delas de como agiam e de como eram as suas atenções para conosco suas sobrinhas e netas, os meninos nasceram após nós as meninas e muitas das tias e avós faleceram quando eles eram bem pequeninos às vezes a nascer. 1.2 - Pela lembrança de infância passei a guardar papéis “velhos”, segundo alguns, e documentos que meus pais e seus antepassados guardavam desde 1869, além de cartões postais com endereços e santinhos, do início do Séc. XX em diante e livros, mais sobre os Bogéa, que me possibilitaram confirmar o relato que as tias avós faziam das famílias Bogéa e Bittencourt. 1.3 – Já mais próximo em torno de 2006 um amigo enviou-me um anexo via e-mail, com o anexo, intitulado “Retrato de Família” ao abrir o anexo deparo com uma fotografia onde estavam 5 pessoas, 2 maiores e 3 menores todos envolvidos por uma burca, como esse meu amigo é muito atento e provocador decidi responder com uma planilha com onze folhas, se não estou enganada, onde relatei o nome, data e local de nascimento, renascimento, ocupação, maneiras de viver e de gostos até do que gostavam de se alimentar e outras observações dos antepassados dos de Campos Gomes, Fernandes Bogéa, Gomes Bogéa, Fortuna da Silva, de Souza Bittencourt, Bittencourt e Silva, Fortuna Bittencourt, Serrão Martins, de Castro Martins, Martins Bittencourt até os Bogéa Bittencourt daí em diante com conversas, leituras e pesquisas busco o que entendo me conhecer um pouco mais através deles. A família foi-se envolvendo com relatos e perguntas que eram e ainda hoje são feitas para termos informações, hoje creio já é possível identificarmos a maneira de ser até dos sobrinhos netos com os antepassados, mesmo os falecidos, justo pelas narrações do modo de ser e a semelhança física, através de algumas fotografias antigas que refletem a postura e o jeito de olhar. Você faz parte da casa dos Açores do Maranhão (?). 226 Olá Leopoldo, Sim, como cito nas respostas das questões que você solicita iniciei as buscas sobre a família Bogéa Bittencourt e seus antepassados mais por curiosidade e busca de autoconhecimento, assim como para melhor relacionar as formas de interações entre familiares, pois devido a conversas de infância com tias avós e avôs deslumbrava que cada um de nós tem em si um pouco dos que nos antecederam e dos que convivem conosco [... ] de fato o bisavô Bittencourt gostava de ser reconhecido como português, sem que isso nele, conforme relatos de suas filhas, deixasse de existir o sentimento de ilhéus, haja vista que partiu da Freguesia de Santa Cruz de uma ilha Graciosa, no Atlântico, e se fixou antes dos 20 anos numa ilha, também no Atlântico, em uma terra que já foi Terra de Santa Cruz, tantas coincidências! Anexo, envio lhe as respostas das questões do seu e-mail de 01.11.2019, assim como as efemérides que tento concluir e melhor elaborar dos Bittencourt, outro anexo intitulado “A Arte como expressão da Vida através do Teatro e da Música. Zeca Bittencourt e o Teatro Phenix” é um pouco de um Bittencourt brasileiro descendente direto de um português de Açores, graciosense e de uma brasileira, maranhense, ludovicense. Tento fazer isso de cada um dos antepassados diretos com mais detalhamento, e dos tios avós, é muito trabalho prazeroso. Sim, de fato tenho escrito alguns fatos sobre nossos antepassados e por sugestão da Professora Inez Peralta ao irmão Aristides irei junto a ele, que tem se dedicado a buscar novas informações sobre o tema, elaborar um projeto para desenvolvermos o trabalho na forma das normas. Gostaria de ter suas observações sobre como iremos elaborar esse projeto, depois lhe envio a nossa proposta. Abraços, Judith Bogéa Bittencourt.


Sim faço parte da Casa dos Açores do Maranhão como Sócia fundadora. Como se deu essa interação? como soube desse movimento? desde quando está integrado à ele? quem são (ou foram) as pessoas que deram início à esse movimento? e sabe porquê? De forma curiosa, inclusive para mim, soube desse movimento. Depois de muitos escritos, conversas com familiares e amigos deles, leituras a documentos, papéis antigos e pesquisas solicitei aos meus irmão uma reunião, que ocorreu em 28.08.2019, em família, só com irmãos, pois no próximo dia 24 deste mês mamãe fará 15 anos de falecida, considerei que este fosse um momento para entregar aos meus irmãos alguns documentos que sabia ser importante, também, para eles, como oração de mamãe para os filhos e toda família, fotografias antigas, documentos do nosso irmão, também, falecido em 1981 entre outros o que gerou mais congregação entre nós então propus lhes mostrar os escritos, ainda em forma embrionária, que tento organizar dos Bogéa Bittencourt. Depois desse momento Aristides o irmão caçula solicitou-me conversar em sua casa com ele e Paulo. Já havia, em outras oportunidades sabido do interesse de Paulo Matos pelos Bittencourt pois sempre comentava, quando estava com Aristides em comemoração familiar, das ações do Jorge de Lemos Betancourt e a vinda, através dele, dos açorianos portugueses para o Maranhão. Nessa encontro, na casa de Aristides, Paulo comentou-me que havia recebido, se não me engano há um ano atrás, uma menção da Câmara Municipal de São Luís, MA, quando então fez oratória na Câmara, sobre o tema da vinda dos açorianos para o Maranhão no início do Séc. XVII junto com Simão Estácio da Silveira e nessa reunião Paulo falou-me da intenção da criação da Casa dos Açores do Maranhão e convidou-me e ao irmão Aristides a dela sermos integrantes como sócios-fundadores, quando aceitamos, creio em meados de setembro de 2019. Até onde foi nas suas pesquisas? Os escritos como chamo o fruto das pesquisas é um continuar que nunca acaba, ainda há pouco enviei um email para um conterrâneo da avô paterna Judith natural de São Bento, MA, solicitando-lhe informações dessa terra e lhe enviei um documento de São Bento do seu interesse onde consta o nome do pai dela o bisavô Christovam Pedro S. Martins, para achar a descriminação desse S. de Serrão foi uma temporada de pesquisa, pois nem na certidão de casamento dos avós havia o detalhamento, foi encontrado de forma casual, junto com o nome dos seus irmãos e o dele num periódico antigo. Do lado do Bogéa estou nos sétimos antepassados diretos avós e no Bittencourt nos quintos antepassados diretos avós dentre fatos e atos. Busco também descrever como envio, anexo, algumas referências dos tios avós como o caso do tio José “Zeca” Fortuna de Bittencourt, onde incluo a participação das suas irmãs e filha, pretendo desenvolver bem mais as delas. Esse anexo foi solicitado para um colega do primário que participou em 2007 de um curso de pós em música e precisava de informações inéditas sobre partituras e sua história. Algum parentesco com Joana Bittencourt, de Pinheiro? Creio que seja possível haja vista temos a mesma identidade cultural pois o tio avô José “Zeca” Fortuna de Bittencourt era um dos fundadores do Teatro Phenix que ficava localizado na Rua de São Pantaleão entre as Ruas Grande e a de Santana em São Luiz, MA e do qual as tias avós Fortuna Bittencourt muito me relataram a respeito e vim confirmar seus relatos, em periódicos antigos como Pacotilha entre outros. Tive a oportunidade de conhecer Joana no IHGM quando da posse do Pe. Meireles nessa casa, conversamos um pouco e fiquei sabendo que ela, se não estou enganada, é esposa ou irmã do Beto Bittencourt. Sei que há Bittencourt em Caxias gostaria de saber onde nos encontramos neste ramo da família, com certeza há um vínculo, pois dizem que é só de um ramo dos Portugueses de Açores. Voce tem conhecimento de manifestações culturais, ou históricas, de base açoriana, no Maranhão? ainda existe essa memória? Do que o bisavô da freguesia de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Açores, cantava e narrava histórias e estórias para as suas filhas o que dele ficou elas nos repassaram com seu carinho, estórias narradas, doces saborosos,


músicas cantadas e relatadas em versos que elas faziam. Das estórias lembro uma do jeito que contavam para nós, das músicas e danças lembro ainda hoje, uma como dançávamos e do verso cantado tenho um em papel de carta fino escrito, com caneta tinteiro, em 1959 que fizeram no dia em que completei 7 anos, é uma relíquia para mim, pena que não gravei a voz delas, porém tenho a melodia comigo de tudo tenho o doce gosto do convívio com elas que também faziam citação sobre os corsos de carnaval, e creio que tinham participação nos mesmos quando jovens, elas eram pessoas alegres e colaboradoras. Pelo que ouvi falar foram os açorianos quem trouxeram o fogareiro e o ferro de engomar para o Maranhão. Quanto ao “tarracá”, citado na sua palestra no Congresso, conhecia como brincadeiras de criança, com meus irmãos nos atarracávamos, antes do banho, éramos 4 nessa época, Aristides, o caçula é temporão, nasceu depois dos meus 13 anos, e dos 9 anos após o então caçula Fernando, não sabia que era um termo de brincadeiras açorianas. Quais são os membros da diretoria da casa? voce tem o endereço eletronico, para que possa entrar em contato? Os membros da CAMAR são o Presidente que é Paulo Campos Matos, dois sócios fundadores que são Judith e o irmão Aristides Bogéa Bittencourt, há outros membros como José Batista da Hora Júnior e Altemar Lima Souza, estes estão na programação do Congresso, os outros Paulo poderá relacionar com seus endereços eletrônicos, pois não lembro os nomes completos. Sobre os Bogéa pesquisei nos livros das famílias ararienses do Pe. Brandt e Silva, nos livros do Dr. Washington Cantanhede sobre Vitória do Mearim, MA, no Raízes de Arari de Marise Ericeira, 2012, os da AAL- Academia Arariense e Vitoriense de Letras, os de Antenor Bogéa do Dr. Sálvio Dino, entre outros, de alguns jornais da AAL e do que me foi relatado por familiares tento escrever para que os sobrinhos e demais gerações se encantem e conheçam suas origens através da vivência dos seus antepassados. Tenho feito buscas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, há informações preciosas que vêm corroborar com alguns relatos, outros os corrigem e alguns acrescentam, é saldável a história pois é o cenário de nossas vidas. Espero ter-lhe esclarecido o que me foi solicitado e continuemos com nossas buscas e trocas de informações. Abraços, Judith Bogéa Bittencourt


A ARTE COMO EXPRESSÃO DA VIDA ATRAVÉS DO TEATRO E DA MÚSICA. JUDITH BOGÉA BITTENCOURT Nos idos do final do século XIX, por volta de 1890 descortinava em José Fortuna de Bittencourt (18771934), através da vontade da expressão artística, a dimensão prática do exercício da arte com a comunhão do espírito e elevação da alma. Na plenitude do enlevo dessa vontade ele gerou com amigos a ideia de criação do Teatro Phenix. José Fortuna de Bittencourt era filho de Antônio de Bittencourt e Silva (1840-1922) e de Josephyna Rosa Fortuna Bittencourt (Saldanha da Silva, solteira) (1844-1919), seus avós paternos eram Antonio de Souza Bittencourt e Maria de Loreto de Bittencourt e Silva (em torno de 1815-1877) e os avós maternos eram Felippe José Pereira Fortuna I (1821-1869) e Anna Francisca da Silva Fortuna (Saldanha Fortuna, solteira (1825-1914). Antonio de Bittencourt e Silva, era natural da freguesia de Santa Cruz da Ilha dos Açores, Portugal, negociante e representante atacadista de especiarias que recebia da Europa no porto do Pará para vender em São Luís, era autodidata em astronomia, matemática e carpintaria e maçom da Loja Estrella do Oriente (Fonte: Estrela do Oriente anuário MA Ed.5 (1) p. 13 de 31.12.1878), era moreno, olhos pretos, esbelto, usava bigode longo nas laterais, cabelos ondulados e era bonito sua esposa Josephyna Rosa Fortuna Bittencourt, natural na época da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Sam Luiz, Província do Maranhão, Brasil, maranhense, ludovicense, cuidava da família e do lar, era branca, olhos azuis celeste, esse casal teve onze filhos. Felippe José Pereira I nasceu na Província Trás-os-Montes, Portugal, chegou no Brasil em torno de 1936, era comerciante proprietário de Bahularia localizada na Praça do Comércio ou Rua da Estrela nº 15, onde aceitava discípulos para aprenderem os ofícios de bahuleiro, tamanqueiro e sapateiro. Fonte: O Paiz (MA) Ed. 18 (1) p. 4 de 1864 e Almanak Adinistrativo, Mercantil e Industrial (MA) Ed. 1 (1) pp .225 e 217 respectivamente de 1863 e 1868. Felippe José casou com 19 anos em 1844, com Anna Francisca da Silva Fortuna, maranhense, ludovicense, brasileira, ela casou aos 15 anos, também cuidava da família e do lar, este casal teve doze filhos. Os pais de Zeca Bittencourt e seus irmãos moravam na Rua de São Pantaleão nº 41 no Bairro de São Pantaleão em São Luís, Maranhão, num sobrado que foi o local onde no térreo, (segundo relato das irmãs Fortuna Bittencourt para a sobrinha neta Judith Bogéa Bittencourt), o Teatro Phenix iniciou sua atuação. José Fortuna Bittencourt (conhecido como tio Zeca pelos sobrinhos), nasceu em São Luís, MA em 02 de Fevereiro de 1877, tinha no período de 1930, barba branca, era alegre e muito folião, gostava de música e literatura segundo narração dos seus sobrinhos Oswaldo, Celeste e Antônio todos Martins Bittencourt. Zeca Bittencourt teve cinco irmãs e seis irmãos, quatro irmãos faleceram ainda crianças e um adolescente. Seus três únicos sobrinhos eram filhos do irmão Fernando da Silva Bittencourt, funcionário da Fábrica Martins Irmãos, e de Judith Martins Bittencourt, natural de São Bento, MA que era artesã de prendas artesanais como crochês e ponto de cruz além fazer geleias saborosas que ensinou aos filhos que por sua vez ensinaram aos seus netos, por exemplo, fazíamos geleia de mamão bem clarinha, ensinada por papai, era dia de festa e muita alegria realizarmos essa tarefa, em alguidares de bronze da família, na Rua das Hortas, 345, no Bairro dos Remédios. Tio Zeca criou, segundo Maria José Estrela Rodrigues (Zezé Estrela), o tio materno da mesma, Fernando dos Santos Estrela que trabalhou na Booth Comércio Marítimo em São Luís, MA. Fernando era filho biológico de José Euletério da Costa Estrela, tio Zeca, também, criou Arthur da Silva Maia um português muito bonito, alto, branco segundo relatos de Zezé Estrella. Segundo Luiza Helena Rodrigues da Cruz que foi colega de turma, na Escola Modelo Benedito Leite no curso primário, de Oswaldo Martins Bittencourt sobrinho de tio Zeca, ele Zeca Bittencourt era uma pessoa alegre, comunicativa e simpática.


José de Bittencourt participou do Grupo Thalia, conjunto de amadores teatrais também como ator. Fontes: Jornal Pacotilha de 27.07.1020 Ed. 00175 e Jornal O Diário de S. Luiz Ed. 00104 (1) p. 2 de 04.05.1921 Ano II nº 104 na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. José Fortuna exerceu as seguintes atividades de trabalho: Escriturário do Tesouro Público do Estado entre 1913 e 1937, conforme descrito no Periódico A Pacotilha de 25.11.1926 e também como vice-diretor da Biblioteca Pública Benedito Leite em São Luís-MA, fato relatado em Periódico. As fontes citadas foram encontradas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Suas irmãs colaboraram na condução do Teatro Phenix da seguinte maneira: - Apolônia Filomena Fortuna Bittencourt conhecida como Sinhá ou Pulu, era a irmã primogênita de Zeca Bittencourt, loira, olhos azuis celestes nasceu em São Luís, MA na data de 14/08/1873 e tinha como responsabilidade, como exímia doceira que era, fazer doces para serem vendidos na portaria do Teatro. Trabalhou na Padaria Modelo na Rua de São Pantaleão da família Vasconcelos e era amiga de Carmita (doceira) a quem transmitiu os segredos da sua profissão. Vovó Sinhá como a chamávamos faleceu no dia 31/12/1970 com 97 anos. - Maria Silvina Fortuna Bittencourt conhecida como Totó ou Cotinha nasceu em São Luís, MA na data de 17/02/1875, era magrinha, olhos verdes, baixa. Gostava de contar estórias e com a narração dos contos seduzia e enlevava qualquer criança ou adulto creio eu. Tinha como tarefa engomar as roupas dos figurantes do Teatro Phenix. Faleceu em 1960 - Alice Fortuna Bittencourt, nossa tia Alice, nasceu em São Luís, MA em 18/02/1883, era loira, olhos azuis celestes nasceu em São Luís, MA e contribuía com o Teatro Fhenix com as notícias sobre os comentários e sugestões das peças. Trabalhava como concursada nos Telegrafo Nacional. Faleceu em 1960 - Alzira Fortuna Bittencourt conhecida como Nhanhá ou Nhazinha, nossa querida tia Nhanhá nasceu em São Luís, MA em 10/05/1884, era morena clara, olhos verdes, baixa, alegre, calma, organizada, gostava de cantar e dançar músicas folclóricas com suas sobrinhas netas quando éramos crianças. Era Vigilante aposentada da Escola Modelo Benedito Leite, na época localizada no Largo de São João, esquina com a Rua da Paz, o prédio era conhecido como Palácio das Lágrimas. Colaborava na participação da gestão do Teatro Phenix na atividade da bilheteria. Faleceu em 1965. Todas as tias-avós Bittencourt eram prestativas, amigas e de imenso carinho para com seus sobrinhos e nós seus sobrinhos netos. José Fortuna de Bittencourt foi casado com Rosa Sampaio de Bittencourt. Fonte: O Combate Ed. 2730 Necrológico José de Bittencourt de 15.12.1934 n º 2.730 p. 1, depois separou-se dela, não entendi porque ela colocou a nota no jornal. Zeca Bittencourt teve dois filhos adotivos de coração Fernando dos Santos Estrella casado com Lucíllia Estrella e Artur da Silva Maia casado com Conceição (Conchita) Maia Odette Bittencourt sua filha, nascida em 04.04.1895, é fruto de seu namoro com Filomena a quem deu o sobrenome Bittencourt e consta na certidão de Odette Bittencourt (ouvi falar que Filomena ou a mãe dela era lavadeira, negra). Filomena Bittencourt segundo tia Odette em seu raríssimo assunto sobre a mãe disse-me, quando eu tinha dez anos de idade, que a mãe foi morar em Belém, PA em 1905, quando a filha Odette tinha 10 anos de idade. Odette é neta materna de Belízia do Carmo, conforme consta em sua certidão de nascimento. Tia Odette foi criada pelo pai e avós paternos com a companhia das tias que considerava como irmãs e três delas viveram com ela, as tias Alzira “Nhanhá” e Maria Silvina “Totó” até falecerem na Rua das Hortas nº 207 e Apolônia Filomena (Sinhá ou Pulu) até quando tia Odette foi morar no Rio de Janeiro com a prima, a Professora Normalista e funcionária pública federal aposentada Lúcia Rocha Pinto, na Pavuna, Guanabara, R.J. O teatro particular Phenix teve o reconhecimento de Américo Azevedo quando em 21 de agosto de 1895 escreveu a comédia em 1 acto “Um Par de Cemmendadores” segundo consta representada com grande sucesso no teatro Phenix e em 21 de agosto de 1898, escreveu ao seu particular amigo Zeca Bittencourt como está oferecida a comédia em 1 acto “O Fim do Mundo”, pelo autor. Essa comédia foi impressa em 1899 na T.p. da Alfaiataria Teixeira em machina MARINOM.


Odette Bittencourt era a única prima pelo lado paterno dos irmãos Oswaldo, Celeste e Antonio Martins Bittencourt. Era mulata, olhos castanhos e bastantes expressivos e graúdos, bastante alta, magra, esbelta, gostava de ler, tocar piano, conversar, ouvir a voz do Brasil, ir ao teatro, viajar e tinha muitos amigos. Odette Bittencourt era funcionária pública federal concursada pelo Telegrapho Nacional (Fonte: Folha do Povo (MA) Ed. 247 (1) P. 3 de 17.10.1924). Orientada pelo pai e ao mesmo tempo, também, pelos avós paternos de quem também teve apoio na orientação do seu rumo de vida, estudou e aprimorou-se na arte pelo gosto do teatro e com o estudo do piano, de 1908 a 1911, na Escola de Muzica, assim escrita na época (Fonte: A Pacotilha Escola de Muzica Ed. 43 de 31.02.1911). Nesse período, início do século XX, ganhou partituras do seu pai José e do seu avô Antônio, assim sendo, teve a oportunidade de ensinar piano aos seus sobrinhos Oswaldo e Antônio Martins Bittencourt. (Fonte: Narração oral de Oswaldo Martins Bittencourt para sua filha primogênita Judith Bogéa Bittencourt). Sempre que havia apresentação de peças teatrais Odette levava os sobrinhos para apreciarem as mesmas. A querida tia Odete faleceu em 16.10.1978 no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro e seus restos mortais estão no cemitério do Caju. Sempre que ela ia ao Rio de Janeiro, fato que ocorria uma vez ao ano, após aposentada, ela ficava hospedada no Hotel Ferreira Viana no Largo do Catete e aproveitava para passear, rever amigos e adquirir partituras de piano. A família Fortuna Bittencourt mudou de moradia da Rua de São Pantaleão, nº 41 para a Rua das Hortas, nº 207 no bairro dos Remédios, localizada defronte da Praça Odorico Mendes no início do século XX, para onde Odete também passou a residir levando as partituras de piano algumas manuscritas. A casa da Rua das Hortas tem três janelas e uma porta na fachada, azulejo colonial na fachada e uma exuberante caramboleira no quintal e até os dias de hoje no século XXI permanece com as mesmas características de sua fachada com alteração de ter uma garagem construída debaixo de uma de suas três janelas Em 1971 Odette Bittencourt foi residir com sua prima pelo lado materno, Lúcia Rocha Pinto, que morava na Vila Rosário no Bairro da Pavuna, R.J. e era funcionária pública do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro. Antes de partir para o Rio de Janeiro Odette Bittencourt deu a sua sobrinha neta de coração, Judith Bogéa Bittencourt, filha do seu primo Oswaldo e de Rosa Nely, as suas partituras de piano, algumas do tempo do império, que ficaram na Rua das Hortas n. 345 no Bairro dos Remédios. Odette Bittencourt faleceu em 14/10/1977 no Rio de Janeiro onde seus restos mortais estão no cemitério São Francisco de Assis no Caju. (Foto missa dia da esperança com amigas e sua sobrinha neta/prima em 2º grau Judith) As partituras foram da Rua das Hortas para a Av. Antares n. 1.015 no bairro do Recanto dos Vinhais, para onde a família Bogéa Bittencourt mudou-se em setembro de 1980. A partir de 2006 as partituras estão na residência de Judith Bogéa Bittencourt no Condomínio Jardim Tropical, III Etapa, na Rua Fernando de Noronha, Cohama em São Luís, MA. Assim conheci e fiquei sabendo de fatos vividos pela família Fortuna Bittencourt, como a participação das minhas tias avós, no final do século XIX, no teatro particular Fhenix localizado na Rua de São Pantaleão, nº 41 e conduzido por José Fortuna de Bittencourt, o tio Zeca Bittencourt, que mesmo sem tê-lo conhecido é como se o tivesse próximo a mim, através das minhas tias avós irmãs de tio Zeca. São Luís (MA.) 30 de Janeiro e 2007.


ORIGEM DOS BITTENCOURT JUDITH BOGÉA BITENCOURT Os nomes cujo final acabavam em Court com um nome germânico em seu inicio, devem sua origem a fazendas cujos donos eram alemães, como Beet em alemão significa acelga ou beterraba, concluísse que o sobrenome se refira a um agricultor destas hortaliças, foram registradas as variantes: Betencor, Betancor, Batancor e Bethencourt, Bithancourt. Fonte: http://www.armorial.net (brasão) http://www.geocities.com.br/Ibenzi/ (texto). Foi intensa a imigração Açoreana, e várias famílias deste sobrenome fixaram-se pelo Brasil. No Sul, foi enorme o número de imigrantes das Ilhas das Canárias, assim como em São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro e no Maranhão trazidos pelo Sr. Jorge de Lemos Bitancourt no Sec. XVII. Sobrenome normando de um povo medieval que se estabeleceu no norte da Península Ibérica (hoje na Normandia-França), e se fixou em terras dos navegadores normandos originados dos povos Vikings. Bittencourt provêm da nobre geração e linhagem dos Betencurt, oriundos de França, com solar e casa na província da Normandia, senhores de Granville e Tinturiére, em Caux, ducado de Longueville. Vieram dos Açores em três ramos representados por Antão Gonçalves de Ávila Betencourt, que diretamente de Espanha se foi estabelecer na ilha Terceira, no primeiro período da sua colonização, por Francisco de Betencourt, que da Madeira se passou à referida ilha Terceira, pouco mais ou menos em meado do século XVI, e por Gaspar de Betencurt, que da Madeira também mudou residência para a ilha de S. Miguel. Fonte Bittencourt da Bahia, tia de Bitencourt do Rio de Janeiro. 2016. Os Betencurts das Ilhas do Faial e Pico vieram, em primeiro lugar, por via de Filipa Vaz de Ávila, casada com Álvaro Pereira da ilha do Pico, a qual presumo descender (neta talvez, à falta de melhor opinião) de Maria Gonçalves de Ávila, filha de Antão Gonçalves de Ávila Betencourt, a que acima me refiro, e casada com Antão Fernandes Leal; em segundo lugar, e já modernamente, no começo do século passado, por José Betencourt de Vasconcelos, natural da ilha Terceira, e descendente da conhecida casa de Vital de Betencurt. Fonte: Bittencourt da Bahia, tia de P. C. M. Bitencourt F. 2016. Em inglês Court House significa casa do fórum ou da justiça. EFEMÉRIDES DOS BITTENCOURT DO SÉC. XI AO SÉC. XX. Organizado por Judith Bogéa Bitencourt ANO NOME DO AN ANO LOCAL OCUPAÇÃO/ BITTENCOURT O FALE ORIGEM TÍTULO NA C. SC. 880 BIttencourt Norte da África, região dos Mouros. Povos oriundos do Norte de África, praticantes do Islã, nomeadamente Ma rrocos, Argélia, Ma uritânia e Saara Ocidental, invasores da região da Península Ibérica, Sicília, Ma lta e parte de França, durante

FATOS

A maior parte dos mouros da Penín-sula Ibérica eram descendentes de ibéricos convertidos ao islamismo. Portanto, não havia significativa diferença fenótipa entre mouros e cristãos da Ibéria.


a Idade Média, entre os Sec. V e XV. Fonte Wikipédia

Fonte Wikepédia. Mouros, eram povos nômades oriundos principalmente da região do Saara Ocidental e da Mauriânia. Fonte::http://pt.w ikipedia.org/wiki /Mouros.

De Bittencourt, 920 a judeus. 1250

Sacro Império Romano Germânico

1066

Senhor Bittencourt ou Buthencourt

de

1087

Guilherme Bittencourt, Era filho do solteiro Roberto I, duque da Normandia, com sua amante Arlete. Tipo viking nórdico chamado “O Conquistador” (Norte da Inglaterra, França e Escócia). Foi Senhor do falecido de BosaAsselin, em 1206. Guilherme foi casado com Matilde, o casal teve 9 filhos (4 homens e 5

09.09. 1087

Falaise, França O castelo de Falaise foi o local de nascimento de Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia e rei da Inglaterra. Falaise é uma comuna no departamento de Calvados, na região administrativa da Nor mandia, no noroeste de França.

Descendem do Sa-cro Império Roma-no Germânico, final da Idade Média. Fonte: História da ColöniaGermânia. P.74. Entre os Sécs. V e XV foi a queda do Império Romano do Ocidente. Era cavalheiro de William, O Conquis-tador, Duque da Normandia, na inva-são da Inglaterra. Guilherme -Iniciou o feudalis-mo - Introduziu o edfíi-cio estilo Castelo. - Trouxe o 1º Circo para a Inglaterra.


mulheres. 10961 Jean, Senhor 100 Bittencourt.

1164 1200

1206

1209

1220

de

Gaspar Bethancourt

de

Guilherme Bithencourt

de

João de Bethencourt ou Jean Bitencourt, navegador viking, se estabeleceu na Normandia Um bispo com recursos de judeus construiu a Fortaleza de Godesberg, assim é possível entender a expulsão dos judeus em 1423, período medieval. E tudo aconteceu na cidade onde estão os ossos dos 3 Reis Magos que em 1164 vie-ram para Köln. Fonte: Christian Kremer. 2018 Fhilippe de 122 Bethencourt 0

Cavalheiro de Robert II, Duque da Normandia, na Cruzada à Terra Santa entre 1006 e 1100. Germânia

1278

Senhorio de Béthencourt e de St. Vincent de Rouvray na Normandia Fonte: 3

Filho de João de Bethencourt

1339

1º administrador morgado de Mor-gado de Águas de Mel Senhor do feudo de Basc-Asselin, mencionado em documento de 1206. Senhor de Béthencourt e St. Vicent de Rouvray, na Normandia.

Na Normandia, morre Jean III de Bittencourt em

Sepultado na Capela da igreja do priorado deSigy-en-Bray, comuna francesana região administrativa da AltaNormandia,no departame nto Seine-Maritime.


13.03.1364 em Battlof Co-cherel Picardia, França 8

1340

1402 1403

Bittencourt

Messire Jehan de Bethancourt ou Jean de Bettencourt

14051

Messire no dicionário é o título dado anteriormente aos senhores da mais alta nobreza, então reservado ao único

xx.x x.xx xx

xx.xx. xxxx

Em Porto de Rochelle, ao lado dos normandos to-mam a Ilha das Canárias na Espanha

França, da região da Nor-mandia, lugar de Béthencourt, -Nord na região de Nord Pas - de - Calais, na Picardia Senhor Lugares Bittencourt Granville,

dos de e na

Cavaleiro profes-so da Ordem de São João de Je-rusalém, nessa época chamada Ordem de Rodes. Foi da Academia de Rouen de 1853 a 1854, [2]

Em 2019, situada no norte do país, compre-ende três departamentos: Aisne, Oise e Somme. Sua capital é Amiens. Fonte: Wikipédia, a enci-clopédia livre. São um arquipélago espanhol no Ocea no Atlântico, ao lado de Marrocos, constituindo uma Região Autónoma do Reino da Espanha. As ilhas Canárias são o território mais próximo do arquipélago português da Madeira, com esta compartilhando a região da Macaronésia, junto ainda dos Açores e de Cabo Verde. Fonte Wikipédia. Sem filhos. Herdeiros: os filhos de seu irmão Reinaldo de Bittencourt os dois irmãos: Maciot e Henri de Betten-court. Falecendo Maciot, ven-deu Henri de Bettencourt as Ilhas das


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chanceler da França e que se tornou um nome honorífico atribuído oralmente. O pai de João de Bittencourt armou navios, decidido a en-contrar novas terras e desco-briu as Ilhas Canárias na Espanha, das quais se tornou Senhor e Rei das Ilhas das Canárias.

Normandia. Camareiro Mor do Duque de Borgo-nha foi casado com Mada-me Maria de Branquemont Florenville e Sedan

Lugares Bittencourt Granville Normandia

1490 1496

Diogo Bittencourt

de

Pe. João Bittencourt

de

Canárias ao Infante D. Henrique de Portu-gal, passando em seguida à Ilha da Madei-ra onde se fixou e teve as saboarias da ilha. Jean obteve a legitima-ção de uma filha bastarda, que foi casada com Rui Gonçalves da Câmara, casamento de que também não houve descendência. Perante esse facto a esposa instituiu com o citado marido o mor-gado que veio a ser conhecido por Morgado de Águas de Mel, chamando para seu primeiro administrador Germano Gaspar deBethancourt, seu pri-mo. Ilha das Canárias em 1404 passou a ser Comarca em 1417.

de e na Foi Cônego da Sé de LisboaPortugal

Ilha das Canárias conquis-tada pela Coroa de Caste-la que vencem os


guerrei-ros Guaches 4 1570

Dom Henrique de Próx Bettencourt imo de 157 0

1560

Pedro de Bittencourt de Freitas Jorge de Lemos Próx Bitancourt, esposo imo de de 155 Joana Bettencourt 5.

1560

Cavaleiro da Or-dem de Malta (Ver 1) Conselheiro Real Mestre da Ordem de Avis

Cidade Angra Heroís-mo, localizada Ilha Terceira Arquipélago Açores.

de Vasconcelos.

do na do de

Angra do Heroísmo é uma cidade açoriana localizada na costa sul da ilha Ter-ceira, onde há uma Reser-va Florestal de recreio do Monte Brasil.

1562

Antonio Bitencur

1570

Frade (Padre) S. Bartholomeu Bittencourt Francisco de Bettencourt

1592

O Brasão de Armas foi concedido por Decreto Real, em 1579 (Ver 7)

No início do Sec. XVII foi junto com Simão Estácio da Silveira (Ver 6) dos primeiros portugue-ses a levar gente para o Maranhão, de navio, das Ilhas dos Açores, locali-zadas na Região Autônoma dos Aço-res e, desde 1976, forma o Arquipélago Açoriano da Repú-blica Portuguesa com 9 ilhas vulcânicas, quais sejam: Ilha Terceira, ilha São Miguel, ilha de São Jorge, ilha das Flores, ilha de San-ta Maria, ilha Graciosa, ilha do Fai-al e a ilha do Pico. Ver 5

Mendes

1592 Em Angra

Das ilhas Canárias os Bettenourt passaram à ilha da Madeira e desta para os


Açores, na pessoa de Francisco de Bettencourt que faleceu em Angra em 1592, deixando como herdeiro o filho primogénito João de Bettencourt de Vas- concelos, tristemente celebrizado pela ade-são que teve à causa de Filipe II de Espa- nha. Esta Adesão valeu-lhe ter sido dego-lado na Praça Velha da cidade de Angra do Heroísmo, a mando da justiça do Prior do Crato. Origem: Wikipé-dia, a enciclopédia livre. 1795

Antonio de Souza Próx Próxi de Betten-court, imo mo de esposo de de 1872 179 Maria de Loreto 5 1877 Bettencourt e Silva Fonte: 180 Diá0 rio do Maranhão Ed 1127 (1) p. 3 de 1877

Ambos naturais da Fre-guesia de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Reino de Portugal.

Escrivão de Juiz de Paz, na Fre-guesia de Santa Cruz, Ilha Gracio-sa, Reino de Portugal em 1840. Fonte: www.repositoriohistor ico.pt e a cer-tidão de casa-mento do seu filho ocorrido em 23.01.1868 na Catedral da Sé em Sam Luiz, MA, Brasil.

1840

Antonio de Bittencourt e Silva, esposo de Josephyna Rosa Silva Fortuna Bittencourt (Saldanha Silva, solteira). Casaram, na Cathedral da Sé na

Freguesia de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Reino de Portugal.

Comerciante, negociante e importador de especia-rias. Fonte: Publi-cação Maranhen-se. Ed. 105 (1) p. 3 de 1875,

184 0 194 4

Font e de

1922 1919

Migrou para o Brasil em torno dos seus 16 anos de idade. Relato de suas filhas para a primogênita bisneta.

A partir de 1875 teve lojas nas Ruas Viajou de navio e Grande, da Paz e no aportou no Porto


Avenida Maranhense, (hoje em 2019, Praça D. Pedro II), em Sam Luiz, Maranhão, Brasil, às 19:30 h, na data de 23.01.1869 no Ano da Graça de Deus. Fonte: Certidão de casamento guardada pelo bisneto Oswaldo Martins Bittencourt e, hoje em 2018, com a tataraneta Judith Bogéa Bittencourt. O casal teve 11 filhos sendo 6 homens: Antônio (1873-1874) gêmeo de Apolônia Filomena “Sinha ou Pulu”, José Fortuna de Bittencourt conhecido como Zeca Bittencourt (1877-1934), Fernando da Silva Bittencourt, conhecido na família como Dinho (18791954), Miguel (1877-1877 ao nascer), Djalma (1878-1895), Antônio (18821888) e 5 mulheres: Apolônia Filomena (Sinhá ou Pulu) (1873-1970) gêmea do 1º Antonio falecido aos 6 meses, Alice (1883-1960), Leopoldina (18761878), Maria Silvina “Totó ou Cotinha” (18751960, Alzira “Nhanhá” (1884-

nasc ime nto de Ant onio de Bitt encour t e Silva. ww w.re posi torio hist oric o.pt

Largo do Comércio no final Sec. XIX e início do Sec. XX em São Luís-MA. Fonte: Almanak Administrativo da Província do Maranhão Ed. 5 (1) p.365 de 1873;

de Belém, PA.

Do Pará dirigiuse para o Maranhão onde começou a trabalhar em armazéns da Praça do Comércio, Bairro da Praia São Era Marçon da Grande, Augusta Loja Es-trella Luís, MA. do Oriente com título de 1º Diac. em 1876, Na comemoração 1877, 1878... Fontes: da semana dos Anuário Augusta Loja 300 anos da Estrella do Oriente fundação da Ed. 1 (2) p. 3 e cidade de São Estrella do Oriente Luiz, ocorrida Anuário do Mara- aos dias nhão Ed. 5 (1) p. 13 06.09.1912 de 31.12.1878 Antonio participou da Exposição no Palácio do Governo com apoio da Sociedade Festa Popular do Traba-lho, quando ele expos redes de São Bento e sua filha Alice Fortuna Bitten-court expos doces de bacuri e geleia de goiaba. Fonte: Pacotilha (MA.) Ed. 212 (1) p.1 de 06.09.1912 Antonio de Bithencourt e Silva A Expozição.


1848

1879

1877

1965) todas com sobre nome Fortuna Bittencourt, elas não casaram e não tiveram filhos. Antônio Corrêa de Próx Mendonça imo Bittencourt de 184 8

Fernando da Silva Bittencourt, esposo de Judith de Castro Martins Bittencourt, tiveram 3 filhos.

187 9

Portugal

1954 1949

188 9

José Fortuna de 187 Bittencourt foi 7 casado depois separado de Rosa Sampaio de

1934

Empreendedor, negociante.

São Luís, MA, Guarda Livros e Brasil. Escriturário da Firma Martins Ir-mãos & São Bento, MA, Cia. Brasil. O escritório des-sa firma era loca-lizado na Rua Portugal, nº 199, Bairro da Praia Grande, São Luís MA, Brasil. Título de sócio numerário da Sociedade Centro Caixeiral confe-rido pela direto-ria dessa enti-dade, em 1898. José natural de Um dos sócios do São Luís, MA, teatro Fhenix e vi-ceBrasil. diretor da Biblioteca Pública Benedito Leite em São Luís-

Criou em 1855 a Colônia Agrícola de Santa Thereza, em Cururupu, MA, Bra-sil, em parceria com 140 colonos natu-rais das Ilhas dos Açores, Portugal. Fonte: Publicação Maranhense Ed 1583 (1) p.1 de 12.05.1859. Criou na data de 17.09.1854 a Colô-nia Agrícola de Bitiuia em Cururupu, MA, Brasil. Fonte: Publicador Maranhense Ed 1583 (1) P.1 de 27.09.1854


1895

1902

Bittencourt e depois companheiro de Filome-na Bittencourt Odette Bittencourt. 189 Filha de José 5 Fortuna de Bittencourt e de Filomena Bittencourt. Solteira, sem filhos com ami-gos de coração.

Pedro Calmon 190 Moniz de 2 Bittencourt, esposo de

Filomena natural MA da África

1977

1985

Hermínia Caillet Calmon de Bittencourt. O casal teve 3 filhos.

Edmundo Bittencourt

1910

Régis

Jacob (do 191 Bandolim) Pick 0 Bittencourt, esposo de Adélia Freitas Bittencourt, pais de Elena, dentista e Sérgio Bittencourt,

1969

São Luís, MA, Ensinava confec-ção Brasil. flores artifici-ais. Fonte: Jornal Pacotilha nº 28 de 20.06.1908 Funcionária Pú-blica Federal, concursada, do Telegrapho Nacional, aos 29 anos. Fonte: Folha do Povo (MA) Ed. 247 (1) P.3 de 17.10.1924. Amargosa, BA, Escritor, jurista, Brasil. historiador e polí-tico. Membro da Academia Brasileira de Letras. Paraná, Brasil Reitor da Universidade Federal do Brasil, atual UFRJ. Doutor honoris causa das Uni-versidades de Coimbra e pro-fessor das univer-sidades do Méxi-co, San Marcos, Quito e Nova York. Fonte: http://www.historiabrasil.com/ bibliografia/pedrocalmon.htm Engenheiro Civil

Excelente tia avó dos seus sobrinhos. Odette estudou piano desde 1908 na Escola de Músi-ca. Fonte Pacotilha Ed. 43 de 1911 e Curso de prendas domésticas aos 13 anos.

Ex-presidente do Departamento de Estradas e Rodagens – DNER. Homenageado com seu nome na rodovia São Paulo-Curitiba Cacheira de Compositor, ban- Estudou no Itapemirim, dolista brasileiro de Colégio Anglo M.G., Brasil. choro. Americano no R.J. Morou em casa avarandada em Jacarepaguá, R.J. Fonte:


jornalista.

1923

Wikipédia, enciclopédia livre.

Oswaldo Martins 192 Bittencourt, esposo 3 de

1922

2000

2004 Rosa Nely Bogéa 192 Bittencourt 2 (Gomes Bogéa, solteira), tive-ram 5 filhos.

1924

1925

1936

1940

Celeste Martins 192 Bittencourt T. da 4 Costa, esposa de

2010

1999

Alfredo Tavares da Costa, tiveram 2 filhas. Antônio Martins Bittencourt, esposo de

192 5

Lizete Mendes B. Bittencourt, tiveram 3 filhos Armando de Senna Bittencourt

193 6

192 5

194 0

2011

a

São Luís, MA, Concursado como Brasil. Odontólogo do INSS e Profº Universitário, Mé-dico. Odontóloga do Serviço Dentário Escolar do Esta-do do Vitória do Baixo MA. espe- cialista em Mearim, MA, Odon-topediatria, com Brasil. diplomação reconhecida pelo C.F.O.

São Luís, MA, Estatística dos Brasil. serviços públicos estadual e federal Funcionária Pú-blica.

São Luís, MA, Odontólogo e AuBrasil. ditor Fiscal concursado do INSS Estilista São Luís, MA, Brasil.

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Rio de Janeiro, Vice-almirante e R.J. Brasil Engenheiro Na-val. Membro efetivo do Instituto Histó-rico e Geográfico Brasileiro (IHGB), e Membro da Academia de Mari-nha de Portugal. Fonte: https://ihgb.org.br/per fil/userprofile/ASBitte ncourt.html Idealizou a Cor-veta Barroso.

Em entrevista o Engº Armando S. Bittencourt cita que os Bittencourt têm tradição em enge-nharia e marinha além de gostar de história. Cita que ha 2.300 naufrágios na costa brasileira, são sítios arqueológicos em naufrágio, isso im-plica, segundo sua proposta, em fazer o Mapa desse Patrimônio Histórico.


Notas: [1] A Ordem de Malta[nota 1] ou Cavaleiros Hospitalários (oficialmente Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta) [nota 2] é uma organização internacional católica que começou como uma ordem beneditina fundada no século XI na Palestina, durante as Cruzadas, mas que rapidamente se tornaria numa ordem militar cristã, numa congregação de regra própria, encarregada de assistir e proteger os peregrinos àquela terra[2] e de exercer a caridade. Tem como Santo Padroeiro São João Esmoler (550-619), Patriarca de Alexandria.[3] Atualmente, a Ordem de Malta é uma organização humanitária soberana internacional, reconhecida como entidade de direito internacional. A ordem dirige hospitais e centros de reabilitação. Possui 12.500 membros, 80.000 voluntários permanentes e 20.000 profissionais da saúde associados, incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares e paramédicos. Seu objetivo é auxiliar os idosos, os deficientes, os refugiados, as crianças, os sem-teto e aqueles com doença terminal e hanseníase (esta a par com a Ordem de São Lázaro), atuando em cinco continentes do mundo, sem distinção de raça ou religião. [4] Em 31 de Maio de 1899, no reinado do rei D. Carlos I, é constituída a Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta. A partir de então voltaram a ser admitidos cavaleiros e damas da Ordem de Malta, em Portugal, sendo que, atualmente (2017), a Assembleia dos Cavaleiros Portugueses tem membros em todos os graus ou classes, a saber: 1ª Classe - Membros professos e capelães, que fizeram votos religiosos; 2.ª Classe - Membros que fizeram a promessa de Obediência; 3.ª Classe Membros que não professaram os votos religiosos ou a promessa, mas que se comprometeram a viver de acordo com as normas da Ordem e da Igreja[16]. Datam do século XIX os primeiros brasileiros associados à Ordem de Malta. Dom Pedro I, proclamador da independência do Brasil, pertencia à ordem, bem como, Dom Pedro II.[17] Em dezembro de 1951, o Brasil reconheceu o estatuto internacional da ordem, com quem passou a ter relações diplomáticas.[18] [2] Fontes: Crônica da Conquista das Ilhas das Canárias por Jean Bihencourt. Da Publicação da Sociedade de História da Normandia, p. 249 e 256,1874. Deslile, Journal des Savantes (Revista Acadêmica), Nov. 1896, p.644 - 649. João de Bethencourt (século XI) - Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre . João de Bethencourt (em francês: Jean) foi um nobre francês e senhor de Béthencourt e St. Vicent de Rouvray, na Normandia. Seu nome provém do Castelo de Béthencourt que era a sede dos seus domínios na Normandia. O primeiro Bettencourt, cujo nome foi buscar no castelo e territórios de Buttecourt, Buthencourt ou Bethencourt - conforme as grafias e línguas em que o nome era escrito e traduzido -, de que foi Senhor, acompanhou o rei Guilherme I de Inglaterra "O conquistador", Duque da Normandia, na invasão de Inglaterra em 1066. Esse primeiro João de Bethencourt morreu na Batalha de Hastings e foi enterrado na localidade de Battle Abbey, Battle, Kent, Inglaterra. Outro João de Bethencourt participou junto com Roberto II da Normandia na Primeira Cruzada com destino à Terra Santa, em 1096. Séculos depois, em 1402, um descendente do primeiro João de Bettencourt, também chamado Jean de Bettencourt, organizou uma expedição militar destinada à conquista e submissão das ilhas Canárias e de sua população, de origem guanche. Como obteve sucesso neste empreendimento de conquista, passou a usar o título de Rei das Canárias. 3 - Fontes de referência: Os Bettencort, J. Moniz de Bettencourt, Edição do Autor, 1ª Edição, Lisboa, 1993, pág. 12.e Livro Genealogias da ilha Terceira de António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, pág. 11. 4 Fonte: Generation sour Bittencourt, 1200-2000, Almanaque dos Conflitos, em 2016. 5 Os portugueses começaram a povoar as ilhas Açorianas, por volta 1432, oriundos principalmente do Algarve, do Alentejo, da Estremadura e do Minho, tendo-se registado, em seguida, o ingresso de flamengos, bretões e outros europeus e norte-africanos. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. Analisando o DNA mitocondrial de açorianos oriundos de três regiões do arquipélago (oriental, ocidental e central), 81,3% apresentavam DNA mitocondrial de origem europeia, 11,3% de origem africana e 7,5% do Oriente Próximo ou de origem judaica. O grupo que mais apresentou contribuições não europeias foi o oriental (cerca de 25%), a maior parte africanas (18,2%). No grupo central, por outro lado, as contribuições não europeias ficaram em 15%, a maior parte judaica ou do Oriente Próximo (10%), enquanto a contribuição


africana ficou em 5%. O grupo ocidental foi aquele que apresentou menor grau de ascendências não europeias (6,5%), a maior parte africanas. Em relação às linhagens masculinas, também houve uma predominância de contribuições europeias, porém mais uma vez foram detectadas contribuições africanas, do Oriente Próximo/judaica e até mesmo indiana (1,1%).[13] Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. Os documentos históricos revelam que o Arquipélago dos Açores foram povoados, sobretudo por portugueses, e as regiões do Algarve, Alentejo e Minho eram destacadas como fornecedoras de colonos. Também foi relatada a presença de povoadores oriundos do arquipélago da Madeira, assim como de indivíduos de origem judaica. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. A Graciosa é uma ilha situada no extremo noroeste do Grupo Central do arquipélago dos Açores, 37 km a nordeste da ilha de São Jorge e 60 km a noroeste da Terceira, com centro aproximadamente nas coordenadas geográficas 28° 05’ W e 39° 05’ N. Wikipédia Área: 60,65 km² Largura máxima: 7 km. 6 Simão Estácio de Sá foi o 1º Presidente da Câmara Municipal da cidade de Sam Luiz do Maranhão inaugurada em 1619. Comandou a chegada, em 1619, de trezentos casais dos Açores, tendo sido eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de São Luís. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre..[5]Fonte . Era amigo de Jorge Lemos de Bitencourt 7 Fonte: Brasões Sociedade Comercial, Arquivo Heráldico Genealógico, Arquivo Nacional da Torre de Tombo, “Livro Grande” “Paço de Sintra”, “Resenha das Famílias Grandes e Titulares Portuguesas”, “As Nobres e Titulares Famílias Espanholas e Portuguesas”. 8 Foi integrada à Gália Bélgica na época romana, mais tarde foi dominada por diversos nobres feudais. No século XII se criaram diversas comunas e Filipe II de França a divide em 1185 em dois distritos administrativos, Amiens e Vermandois, aos quais vai progressivamente integrando a seus domínios. A Picardia no primeiro sentido do termo, área românica tendo escapado da germanização da antiga Bélgica, antes de se tornar uma entidade política. Disputada pela França a Inglaterra durante a Guerra dos Cem Anos. Fonte Wikipédia, a enciclopédia livre.


“NOS BAIXOS DO MARANHÃO”: PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO - SÉCULOS XIX-XX (RECORTES & MEMÓRIAS)

“Nos Baixos do Maranhão” documenta a colonização açoriana no Estado do Maranhão, no Nordeste Brasileiro, um dos primeiros destinos dos açorianos, ainda no começo do século XVII227.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Licenciado em Educação Física – Mestre em Ciência da Informação

“Recortes & Memórias” é série de artigos que tenho escrito, com base na memória resgatada de jornais publicados em São Luís, e outras cidades do Maranhão - além de outros estados – que tratam de questões pertinentes ao assunto abordado. Tenho utilizado os recortes de noticias desses jornais, disponibilizados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx), Ao se buscar os lugares da memória, entendemos que podem ser considerados como movimentos que têm por função evitar que o presente se transforme num processo do esquecimento e da perda de identidades. [...] não existe memória espontânea, ressalta, ainda, a necessidade dos homens de alimentarem a história com os resquícios do passado, de organizarem e manterem os referidos lugares de memória. Pois, tanto a História como a memória, tem essência comum: são antídotos do esquecimento. Em decorrência disso, são também espaços de poder. Le Goff, 2003 228. (Nora, 1993 229 citado por Costa, 2007) 230. Os jornais ocupam um lugar privilegiado como armazenadores e formadores da memória social. A partir dessa ótica, os jornais poderiam ser pensados como construtores de lugares de memória, no sentido dado por

227 https://casasdosacores.org/eventos/nos-baixos-do-maranhao-e-dez-ilhas-e-um-mundo/ 228 LE GOFF, Jacques. Documento e monumento. In: _____. História e memória. 5. ed. São Paulo: UNICAMP, 2003, p.535-553, citado por COSTA, Márcia Cordeiro, obra citada. 229 NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, v.10, n.10, p. 8-13, dez. 1993, citado por COSTA, 2007, p. 46-63. 230COSTA, Márcia Cordeiro. ESQUERDA E FOLHA ACADÊMICA COMPONDO A HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR DO MARANHÃO: impressos estudantis lugares de memória. Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, ISSN 1808-8031, Vol. 1 esp., 2007, p. 46-63 disponível em https://scholar.google.com.br/scholar?start=20&q=%22faculdade+de+direito+do+maranh%C3%A3o%22+&hl=ptBR&as_sdt=0,5


Pierre Nora (1993, citado por Ribeiro, 1966) 231. Mais precisamente seriam eles, se não os lugares de memória, com certeza espaços privilegiados no arquivamento e produção da memória histórica, pois a imprensa, no processo histórico, deixa vestígios, marcas e produtos ao longo da trajetória socioeconômica e cultural da humanidade, sendo: [...] elemento potencial de memória habilitada para ser recuperada como traço distinto de identidades coletivas e individuais, acerca de um passado instituído. Galves (2000) afirma ainda que: [...] um olhar cuidadoso dos jornais pode permitir reconstrução de cenários e de relações de poder imprescindíveis para a compreensão de dinâmicas locais. (GALVES, 2008) 232 Servimo-nos, assim, de fontes provenientes da imprensa escrita. Ao estabelecer a metodologia para a pesquisa, nos ativemos à proposta por DaCosta (2005)233; e Vaz, (2014)234. Como no Atlas, aqui se trabalha com marcos históricos235, mas não se faz história236. Assim, ao se utilizar desta fonte – primária – devem-se levar em conta todos os periódicos disponíveis para consulta: utilizamo-nos da Hemeroteca da Biblioteca Nacional237. Ao se falar nos Açores – Arquipélago -, deve-se ter em conta que Portugal está dividido geográfica e administrativamente em parte Insular (arquipélago da Madeira e dos Açores no Oceano Atlântico) e parte Continental, situada em território europeu. O arquipélago dos Açores localiza-se no Atlântico Norte, estando dividido em três grupos de ilhas: grupo Oriental, constituída por Santa Maria e São Miguel; grupo Central, constituído pelas ilhas Terceira, São Jorge, Pico, Faial e Graciosa; e o grupo Ocidental, formado pelas ilhas Flores e Corvo. Atualmente, o território possuiu uma área de aproximadamente 2.333km². A Ilha de São Miguel é a de maior área, com 750km², seguida da terceira, com 500km²; a menor é a do Corvo, com 15km². Os Açores estão distantes 800 milhas da costa de Portugal, estando sob o domínio português desde 1432. O arquipélago foi historicamente povoado por descendentes de portugueses e flamengos (Flandres e Bélgica). O clima dos Açores é temperado marítimo e com intensa umidade relativa do ar. A situação geográfica do arquipélago, isolado no Oceano Atlântico e com fenômenos vulcânicos, fez com que os ilhéus estivessem voltados para o mar; ao mesmo tempo que impôs a solidão, despertou a criatividade para a sobrevivência nas limitações do espaço através da expressão cultural. O Oceano acabou sendo a fronteira da expansão agrícola que instigou a expectativa de dias melhores e de fartura em terras que o homem tornaria produtivas pelo trabalho A presença açoriana no Maranhão se evidencia – até agora - já nas “guerras de conquista” a partir do inicio dos 1600. Nas primeiras expedições de conquista e ocupação, ainda ao tempo de João de Barros, e depois na tentativa, em 1539, foi a vez do fidalgo lusitano Luís de Melo da Silva. e sua nau São Francisco, que naufragou nos baixios do Maranhão. Tenta retornar, mais tarde, após se recuperar, e naufraga no maroceano, nunca mais se ouvindo falar dele, ou de sua nau. Não se encontrou, ainda, repito, se algum Ilhéu esteve entre as pessoas que aqui vieram se estabelecer. O certo que a colonização inicia-se já a partir de 1619, com os primeiros “casais” – o cabeça da família, a mulher e filhos -, comemorando-se, neste ano de 2019, os 400 anos dessa ‘presença’ – colonização. O que se tem que antes desse período, do inicio da colonização, essa presença era ‘temporária’, isto é, não se constituía em colonização, pois o pertencer às tropas para cá enviadas, desde Portugal - e, no período de 1580 a 1640, União Ibérica, espanhóis -, os primeiros colonizadores foram aqueles franceses que aqui permaneceram, após a derrota na Batalha de Guaxenduba da expedição de Daniel de LaTouche. Aqui 231 RIBEIRO, A. P. G. A história do seu tempo: a imprensa e a produção do sentido histórico. Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996, citado por COSTA, Márcia Cordeiro, obra citada. 232 GALVES, M. C. Jornais e políticos no município de Avaré. São Paulo: UNESP, 2000, citado por COSTA, Márcia Cordeiro, obra citada. 233DaCOSTA, Lamartine Pereira (org).Atlas Do Esporte No Brasil. Rio de Janeiro: SHAPE, 2005http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 234 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, disponível em http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ 235 Memória - registros descritivos e datados; não é diagnóstico nem plano. 236 História - processo de interpretação sob forma de narrativa com base temporal. 237http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/


ficaram, após a (re) conquista por já haverem constituído família, unindo-se com autóctones. Mas a partir de 1619, com a chegada dos açorianos, estes já vinham para ficar na terra – posto que viessem com as famílias, em busca de nova oportunidade de crescimento. Cunha (2015)238 ao discutir o processo de ocupação e colonização do Maranhão, afirma ter havido duas entradas gerais, uma pelo litoral, a partir de São Luís, e outra pelo sertão Maranhense, que geraram duas formações socioespaciais diferentes devida à influência de fatores naturais, culturais e econômicos. Assim, a Coroa Portuguesa fez uma primeira intervenção. Inseriu, em 1620 [19], cerca de 840 casais de colonos açorianos (COUTINHO, 2004239; MEIRELES, 1960240), ao lado dos Fortes nos estuários dos rios do Golfão Maranhense - baia de São Marcos onde desemboca o rio Mearim e o rio Pindaré e baia de São José onde deságua os rios Itapecuru e Munim. Para esse autor, A alta fertilidade dos vales dos rios, o solo plano, abundancia de terras cultiváveis, ajudaram organizar uma economia natural a base de uma produção policultora (farinha de mandioca, aguardente, arroz, vegetais e etc), a pesca e criação de animais pequenos. Com o passar do tempo, os colonos fugindo da economia natural, fabricavam pequenos barcos artesanais de mangue levando seus produtos até o porto de São Luís trocando por instrumentos de produção (ferramentas, sementes, utensílios domésticos, etc.). Os que acumularam primitivamente começaram a se fixar no vale do Itapecuru passando a utilizar mãode-obra escrava dos índios Guajajaras e aproveitaram o fértil vale para produzir arroz. Em cem anos, a ocupação do Maranhão se restringiu na porção norte, apesar da baixa densidade, a posição era estratégia, São Luís rodeada de fortificações e protegida, pela barreira natural, o canal do Boqueirão. No golfão maranhense, do lado direito, os colonos açorianos se fixaram no vale do rio Itapecuru. Do lado esquerdo, os jesuítas fixaram reduções (Tapuitapera, atual Alcântara) no vale do Mearim-Pindaré. Porém, havia precárias condições de transportes e comunicações que desestimulou o desenvolvimento do povoamento e da acumulação6 . Segundo Coutinho (2004) tinha ano que não atracava nenhuma embarcação no porto de São Luís. E ainda sofreu invasão da maior potência mundial da época, os holandeses. Podemos para efeito de melhor compreensão, afirmar que essa primeira fase de ocupação do norte do Maranhão foi caracterizada: externamente pela concorrência mercantilista, erosão de Portugal como potência mundial, invasões de monarquias feudais inimigas e por medidas para garantir o domínio útil sobre as terras da coroa portuguesa (fortes e edificações); internamente por ocupação nas áreas próximas a São Luís, no Golfão Maranhense e economicamente nas relações escrava do índio, economia natural dos colonos açorianos e falta de mão de obra241 . Para Cunha (2015)242, numa segunda fase, a Coroa Portuguesa fez outra intervenção na ocupação da área litorânea. Ocorreu na metade do XVIII, sob a liderança do Marquês de Pombal, que: trocou a escravidão indígena pela negra; expulsou os jesuítas; criou a Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (CGGPM) (MEIRELES, 1960)243. A CGGPM teve um papel significativo no desenvolvimento da ocupação do Maranhão continental. Passou a aplicar uma engenhosa política de preços, trouxe mestres agricultores da Europa e a fornecer créditos aos agricultores para comprarem escravos negros, instrumentos e ferramentas de produção, sementes de qualidade de algodão e arroz, mais tarde cana-de-açúcar. Assim, houve um espraiamento dessas culturas e consequentemente, o aumento do povoamento nos vales dos quatros grandes rios navegáveis genuinamente maranhenses:  Rio Itapecuru: baixo leito - ocupados pelos colonos açorianos, onde se tornaram comerciantes, pela proximidade de São Luís, gerando entrepostos e as cidades comerciais de Itapecuru-Mirim, Rosário; Médio leito (mata dos cocais) - fixaram-se migrantes nordestinos, andando pelo caminho da Bahia, fugindo de longas estiagens. Uns se tornaram capatazes (cearenses e paraibanos) nas fazendas de algodão, outros se

238 CUNHA, Roberto César. OCUPAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DAS DUAS FORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MARANHÃO. In CaderNAU-Cadernos do Núcleo de Análises Urbanas, v.8, n. 1, 2015, p. 133-152., disponível em file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/IHGM/A%C3%87ORES%202019/5525-15636-1-PB.pdf 239 COUTINHO, M. A revolta de Bequimão. São Luís. Instituto Géia, 2004. 240 MEIRELES, Mário M. História do Maranhão. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001. [1960]. 241 RANGEL, Ignácio. Obras reunidas. v.1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005 242 Obra citada 243 Obra citada


tornaram senhores de escravos (sobretudo pernambucanos) e surgiram as cidades de Aldeias Altas e Caxias (VIVEIROS, 1954)244.  Rio Munim: fixação de escravos fugitivos (quilombos) e reduto de índios selvagens. Economia natural de policultura. Região de chapadas pequenas e mata fechada. Mais tarde surgiu a cidade de Cachoeira Grande.  Rio Mearim – Pindaré: no médio vale as terras dos jesuítas ociosas foram ocupadas por colonos açorianos fugindo da economia natural e aproveitando os recursos existentes. Alguns viraram senhores de escravos do arroz e cana. Os capatazes dessas fazendas eram pernambucanos, pois, estavam treinados na cultura da canade-açúcar, que era mais difícil seu manejo e precisaria de mais atenção dos escravos. A relação era mais tensa e havia mais fuga, e consequentemente, surgiram vários quilombos e cidades (Cidade de Viana). Outros viraram comerciantes pois os rios facilitavam a navegação e comunicação com São Luís. PindaréMirim dinamizou e virou uma cidade comercial e depois industrial. (VIVEIROS, 1954) 245. Como exemplo, lemos no testamento do açoriano Ignácio Soares, de 1797: Sou natural da Ilha das Florez do Bispado de Angra na ilha terceira (...) solteiro, nunca fui casado e que assim não tenho herdeiros forçosos ou ne cessários que hajam de herdar os meus benz, que eu com o suor de meu rosto e sem incargo algum de consciência adquiri pelo meu trabalho porque nada do que possuo são benz herdados (...) (MOTA, 2006, P. 132, (grifos da autora)246. Ou conforme Carlos Cordeiro e Artur Boavida Madeira (2003) 247: [...] já havia, pelo menos na década de 1670, no Maranhão, açorianos que tinham arrecadado uma fortuna considerável. Numa dessas levas, provavelmente das primeiras décadas de seiscentos, terão chegado os irmãos Pereira de Lemos – Bartolomeu, António e Catarina –, filhos de João Pereira de Lemos e Isidra Gonçalves Vilalobos, naturais da freguesia de N. Senhora do Rosário (Topo), da ilha de S. Jorge. No testamento do primeiro, Bartolomeu Lemos, solteiro, realizado em São Luís do Maranhão, em 29 de Julho de 1676, é perceptível que tinha acumulado fortuna, constituída por terras, casas, escravos, engenhos de açúcar, gado e dinheiro. O numerário provinha, sobretudo, de actividades comerciais que mantinha, inclusivamente com a ilha Terceira, para onde enviava essencialmente açúcar. Encontrava-se perfeitamente integrado na sociedade de São Luís do Maranhão, sendo membro de várias irmandades, destacando-se, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia, de que tinha sido provedor. O irmão, António Pereira de Lemos, também solteiro, de posses um pouco mais modestas, pelo que se pode perceber do seu testamento, efectuado em 21 de Agosto de 1679, foi criador de gado e proprietário de algumas fazendas. Também foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de São Luís do Maranhão248. Coutinho (2005)249, ao trazer-nos a biografia de Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho, o Barão de São Bento, (p. 314-318), nascido em Alcântara em 12/01/1819, diz ser ele bisneto paterno de Francisco de Viveiros, natural do lugar de Relves, cidade de Ponta Delgada, bispado de Angra, em Portugal, e de sua mulher Maria Rosa de Viveiros. Outro nobre maranhense, o Barão de Itapary José Joaquim Seguins de Oliveira, nascido em São Luis a 17.06.1858, vinha de uma ilustre família, a Silva Raposo do Amaral, que espraia seus ramos a

244 VIVEIROS, Jerônimo. História do comércio do Maranhão - 1612/1895. São Luís: Associação Comercial do Maranhão/ Lithograf, 1° v. 1992. [1954]. 245 Obra citada 246 MOTA, Antonia da Silva. FAMILIA E FORTUNA NO MARANHÃO COLONIA. São Luis: EDUFMA, 2006. XXVIII Concurso Literario Cidade de São Luis, Premio Antonio Lopes Pesquisa Histórica, 2º lugar, 2004. 247 CORDEIRO, Carlos; MADEIRA, Artur Boavida. A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL (1541-1820) uma leitura em torno de interesses e vontades. In ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, VII (2003), p. 99-122 248 Cfm. MARTINS, Ananias Alves, “Imigrantes esquecidos na fronteira norte. Açorianos na colonização e na cultura. Maranhão, século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 16-41. 249 COUTINHO, Milson. FIDLGOS E BARÕES – UMA HISTÓRIA DA NOBILIARQUIA LUSO-MARANHENSE. São Luis: Geia, 2005


das raízes do patriarca desse clã, o português Brás da Silva do Amaral, natural da Ilha de São Miguel, Portugal. Ele nasceu cerca do ano de 1740 e contraiu núpcias com Josefa Maria Lobo Raposo, nascida na real Vila de Obidos, pelo ano de 1761 (COUTINHO, 2005, p. 380)250. Josemar Lima (2017) 251 registra sobrenomes, comuns em Itapecuru Mirim, como Abreu, Aguiar, Albuquerque, Alencar, Almeida, Alves, Amorim, Araújo, Azevedo, Bandeira, Barbado, Barbosa, Barros, Cabral, Caldas, Carneiro, Coelho, Costa, Cruz, Félix, Ferraz, Freitas, Guimarães, Lima, Lins, Lopes, Machado, Marques, Mendes, Moreira, Monteiro, Mota, Muniz, Nogueira, Oliveira, Peixoto, Pinto, Ramos, Ribeiro, Rodrigues, Rocha, Santos, Silveira, Siqueira, Teixeira e Ximenes são heranças dos nossos patrícios açorianos. Para ele, A Festa do Divino Espírito Santo e suas caixeiras; A Dança do São Gonçalo, uma dança só para homens; Os Folguedos Juninos e seus quitutes; As Ladainhas Cantadas em Latim; e As Festas de Largo são, também, legados deixados pelos açorianos e muitos deles continuam povoando a vida dos itapecuruenses até os dias atuais. Não se pode falar em ‘migração’, ou que fossem imigrantes: estavam se deslocando dentro de um mesmo País – o Império Português, embora então unido à Espanha –, com uma mesma língua, e uma mesma cultura... Conforma ressalta Weber (2006)252: Nem todos os processos de imigração resultam em colonização: os deslocamentos forçados, como a escravidão, e a fixação dos emigrantes em espaços urbanos não são usualmente reconhecidos como colonização. O estudo de grupos étnicos tem significância justamente em decorrência de todos esses fenômenos: imigrações em massa ou por redes sociais; processos de ocupação coletiva de determinados espaços distantes do lugar de origem das populações; imigração não-voluntária de habitantes de um lugar para outro distante; inserção em uma sociedade já constituída de novos grupos sociais. Não sendo equivalente à identidade nacional, a identidade étnica também permite analisar as consequências das migrações internas e as identidades regionais. Podemos considerar, então, que só a partir da Independência – 1822, 1823 em nosso caso, quando houve a anexação, por força das armas, da então “Província do Maranhão” ao Império brasileiro. A partir daí, embora mesma língua, mesma cultura, já não era mais o mesmo país... o Brasil fora ‘inventado”. Segundo Magalhães (2014)253 a história da imigração, da colonização e da presença portuguesa no Maranhão no século XIX não foi ainda abordada com a devida atenção. Temas clássicos como, quantitativos, perfil, ocupações, envolvimento nos acontecimentos locais, sociabilidades e colonização foram pouco ou nunca tocados. Em seu texto privilegia as colônias portuguesas voltadas para a agricultura, pois estas implicavam a doação de lotes de terras, sendo assim deixadas de lado as colônias operárias de Maracassumé, constituídas por trabalhadores “chins” e a de Arapapahy, que engajou portugueses: Em 1852 o cônsul português Raimundo Capela a pedido da Sociedade Geográfica de Lisboa elaborou um mapa da população portuguesa no Maranhão, admitindo as imperfeições254

250 Obra citada 251 LIMA, Josemar. OS AÇORIANOS EM ITAPECURU MIRIM. Série Crônicas – Ano IV/nº 41/2017, in BLOG DA JUCEY SANTANA, disponível em http://juceysantana.blogspot.com/2017/05/os-acorianos-em-itapecuru-mirim.html 252 WEBER, Regina. Imigração e identidade étnica: temáticas historiográficas e conceituações DIMENSÕES • vol. 18 – 2006 P. 237-260, disponível em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/148537/000644090.pdf?sequence=1 253 MAGALHÃES, Marcelo Vieira. IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO NO MARANHÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: O CASO DOS PORTUGUESES. XII ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA ANPUH/RS, de 11 a 14 de agosto de 2014, UNISINOS, São Leopoldo: Hisatória, verdade e ética, disponível em http://www.eeh2014.anpuhrs.org.br/resources/anais/30/1406981137_ARQUIVO_RESUMOimigracaoecolonizacaoportuguesanoMaranhaoANPUH.pdf 254 1 O número apresentado pelo cônsul é com certeza muito maior, já que muitos portugueses desembarcavam na capital e não se matriculavam no consulado, indo viver no interior da província ou mesmo em São Luís sem registro oficial.


chegou ao número de 2.120 indivíduos (CAPELA, 1882, p. 241)255, o que representava aproximadamente 0,58% da população da província256 . Na capital, outro censo foi realizado em 1855 por João Nunes de Campos (1855) e dava conta de 808 portugueses vivendo na cidade, contra 76 outros estrangeiros257. O número era elevado, representava quase 10% da população recenseada258, sendo que entre os 654 declarantes de ocupação, 80% concentravase no comércio259(As notas do autor, de pé-de-página, estão abaixo) Entre crises e investimentos um debate ganhava espaço, o da substituição do escravo pelo estrangeiro, pois: o trabalhador estrangeiro, segundo seus defensores, contribuiria significativamente para a transformação da província, tinha um papel determinante não só como trabalhador e civilizador, mas também como exemplo de moralidade a ser seguido. O trabalhador nacional, por sua vez, foi deixado de lado, desqualificado e abandonado pelo sistema produtivo, associado á preguiçosa e á indolência, taxado como perigoso. [...] Na fala do presidente de província á Assembleia provincial em 1851, José Olímpio Machado demonstrava sua preferência pelos açorianos que “segundo informações se aclimata(va)m com muita facilidade nesta província” (MACHADO, 1851,p. 45)260 . Já o Regulamento da Diretoria de Colonização de 19 de abril de 1855 colocava entre suas próprias obrigações a indicação dos países onde deveriam ser contratados os colonos, observando nossa religião, forma de governo e língua (MARANHÃO, 1855)261. Entre os atributos associados á estes colonos estavam o de promover o desenvolvimento de métodos e máquinas (FRANCO SÁ, 1847, p. 61)262 ou serem “inteligentes”, “moralistas” e “industriosos” 263. Regina Faria (2001)264 aponta uma mudança de mentalidade lenta em relação ao trabalhador local, iniciada na década de 1840 e que nas décadas posteriores ganharia espaço nos discursos e nas práticas dos maranhenses. Para Magalhães (2014)265, a década da imigração e da colonização no Maranhão foi 1850266, além das seis colônias formadas e os 887 contratados e engajados fixadas nelas, pretendia-se levar á província até o final 255 CAPELA, Raimundo. Relatório. Boletim da Sociedade Geográfica de Lisboa. 3 série, n. 4, 1882. 256 2 O presidente da província Antonio Candido da Cruz Machado, muito preocupado com a contagem, aperfeiçoou os registros de nascimento e óbito no Maranhão e calculou para 1856 a população maranhense em 360.000 (BRASIL, 1922). 257 3 Espanhóis, franceses, italianos, sardenhos, suíços e ingleses, que se ocupavam das mais variadas atividades, eram caixeiros, negociante, chapeleiros, ourives, médicos e dentistas. 258 4 É possível que estejam inclusos alguns dos trabalhadores do canal do Arapapahy, que nos deteremos mais adiante. 259 5 Foi considerado todos que tinham alguma relação com o comércio, como negociantes, caixeiros, quitandeiros, sócio em armazém, lojista, etc. 260 MACHADO, Eduardo Olimpio. Relatório do presidente da província do Maranhão, o doutor Eduardo Olimpio Machado, na abertura da Assembleia Legislativa Provincial no dia 1. de novembro de 1853. Maranhão: Typ. Constitucional de I.J. Ferreira, 1853. MACHADO, Eduardo Olimpio. Relatório do presidente da província do Maranhão, o doutor Eduardo Olimpio Machado, na abertura da Assembleia Legislativa Provincial no dia 3 de maio de 1855. Maranhão: Typ. Const. de I.J. Ferreira, 1855. ________. Fala dirigida pelo exm. presidente da província do Maranhão, o dr. Eduardo Olimpio Machado, á Assembleia Legislativa Provincial, por ocasião de sua instalação no dia 7 de setembro de 1851. Maranhão: impresso na Typ. Constitucional de I.J. Ferreira, 1851. ________. Relatório do presidente da província do Maranhão, o doutor Eduardo Olimpio Machado, na abertura da Assembleia Legislativa Provincial no dia 3 de maio de 1854, acompanhado do orçamento da receita e despesa para o ano de 1855. Maranhão: Typ. Constitucional de I.J. Ferreira, 1854. 261 MARANHÃO. Regulamento de colonização. Maranhão, ? 1855 262 FRANCO SÁ, Joaquim. Relatório á Assembleia Legislativa Provincial do Maranhão pelo exmo. senhor presidente da província, Joaquim Franco de Sá, na sessão aberta em 3 de maio de 1847. Maranhão: Typ. Maranhense, 1847 263 Estas qualidades atribuídas aos colonos que deveriam ir para o Maranhão podem ser encontradas nos relatórios e falas de presidente de província do Maranhão entre os anos de 1847 e 1853 264 FARIA, Regina Helena Martins. A Transformação do Trabalho nos Trópicos. Recife: Dissertação de Mestrado defendida na Universidade Federal de Pernambuco, 2001. _______. Trabalho escravo e trabalho livre na crise da agroexportação escravista no Maranhão. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 1998.


de 1855 mais de 1.000 colonos, a Diretoria de Colonização, criada no mesmo ano tinha planos de introduzir mais de cinco mil colonos nos anos seguintes, quando deixaria de estar vinculada ao Tesouro Provincial e se constituiria em repartição própria (MACHADO, 1855, p. 53)267. havia a intenção de fundar pelo menos mais uma colônia e povoar outra já existente. Em 16 de março de 1855 o presidente da província do Maranhão, Eduardo Olímpio Machado, autorizava Manoel Joaquim dos Santos a contratar e trazer 100 pescadores e as famílias daqueles que as tinham de Portugal. Os pescadores seriam empregados exclusivamente nessa atividade e teriam a função de abastecer o mercado da capital com peixes, além de servirem de “escola prática aos nossos pescadores, e de núcleo da povoação marítima” do Araçagi (MACHADO, 1855, p. 56). A colônia forneceria casas gratuitamente e o contrato destinava recursos á compra de equipamentos e embarcações. O estabelecimento não chegou a se constituir. Ainda segundo Magalhães (2014), para por em prática o plano da colonização estrangeira no Maranhão uma considerável legislação foi elaborada, recursos foram disponibilizados e sociedades criadas: - Lei Provincial n. 106, de 27 de Agosto destinava até 6 contos para a introdução de colonos. - Herculano Pereira Penna, presidente do Maranhão em 1848 recordava que a Lei Geral 514 de 28 de outubro daquele ano liberava á cada província 6 léguas quadradas de terras devolutas para a colonização (PENNA, 1849, p. 43)268. - Em 1851 foi elaborada a Lei Provincial n. 312, de 24 de novembro, que incluía recursos ao transporte de colonos para a implantação de uma colônia agrícola; - a Lei n. 339, de 23 de dezembro de 1853, criava a Caixa de Colonização; - o Regulamento de 19 de abril de 1855, fundava a Diretoria de Colonização da Província do Maranhão. - Em 1866 a Lei Provincial n. 793 de julho, destinava recursos á imigração espontânea; - Em 26 de junho de 1867, criava-se a Comissão Auxiliadora da Imigração e Colonização; - A Lei provincial n. 906, de 15 de julho de 1870, criava a Sociedade Promotora da Colonização; - Lei Provincial n. 1435, de 17 de abril de 1888. (FARIA, 2001:180-195)269 Viveiros (1992)270 menciona uma sociedade fundada em São Luís ainda em 1827 com esse objetivo. Aviso publicado no “Farol Maranhense”271, edição de 1829 (abril): 265 Obra ciatada 266 Se somarmos os 847 portugueses destinados ás colônias aos 2.120 registrados no censo consular de 1852, têm-se quase três mil portugueses no Maranhão, o que representaria cerca de 0,83% da população total, sem dúvida o número mais expressivo em toda a história do Maranhão. 267 MACHADO, Eduardo Olimpio. Relatório do presidente da província do Maranhão, o doutor Eduardo Olimpio Machado, na abertura da Assembleia Legislativa Provincial no dia 3 de maio de 1855. Maranhão: Typ. Const. de I.J. Ferreira, 1855 268 PENNA, Herculano Ferreira. Fala dirigida pelo exmo. presidente da província do Maranhão, Herculano Ferreira Penna, á Assembleia Legislativa Provincial, por ocasião de sua instalação no dia 14 de outubro de 1849. Maranhão: Typ. de J.A.G. de Magalhães, 1849 269 FARIA, 2001, obra citada 270 VIVEIROS, Jerônimo. História do Comércio do Maranhão (1612-1885). São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. 271 Farol Maranhese (MA) - 1827 a 1831 Ano 1829\Edição 00058


Em 1841, o então presidente de província João Antônio de Miranda chamava a atenção para a necessidade de se legislar sobre o tema, criando um artigo sobre o orçamento e distribuição de terrenos (MIRANDA, 1841, p. 56 e 57) 272. Em 1843, eram vendidas mós de pedra dos Açores no comércio local, conforme anúncio de “O Commercio” 273 de 23 de julho:

Em 1845, conforme publicado em “O Publicador Maranhense”274, edição de 17 de setembro, a construção de estradas no Minho haveria de prejudicar a vinda de Ilhéus para o Brasil, no processo de colonização então implantado: 272 MIRANDA, João Antonio de. Discurso recitado pelo exmo. Sr. Doutor João Antonio de Miranda, presidente da província do Maranhão, na abertura da Assembleia Legislativa Provincial, no dia 3 de julho de 1841. Maranhão: Typ. Monarchica Const. de F. de S.N. Cascais, 1841. 273 O Commercio : Folha Official, Mercantil, Politica, e Litteraria (MA) - 1842 a 1847 - Ano 1843\Edição 00178 274 Publicador Maranhense (MA) - 1842 a 1885 - Ano 1845\Edição 00318


Em artigo publicado em “O Farol”, no ano de 1851, mês de agosto 275, tratando do “tráfico”, o autor se reporta à questão da colonização dos açorianos para o Brasil:

275 O Farol : Folha Politica e Commercial (MA) - 1850 a 1854 Ano 1851\Edição 00068



O “Correio dos Anúncio”276, edição de junho de 1851

As seis colônias fundadas entre os anos de 1853 e 1855 funcionaram em regime de parceria ou engajamento. Duas delas eram identificadas como colônias de operários, a de Arapapahy e a de Maracassumé, as outras quatro eram agrícolas, Santa Izabel, Santa Tereza, Petrópolis e Pericaua: A colônia de Pericaua funcionou no município de Turiaçu e foi fundada pela Companhia Prosperidade, com sede na cidade do Porto, em Portugal, estava voltada para a produção agrícola, mas também á exploração aurífera e madeira para construção de embarcações. A companhia chegou a engajar 112 colonos 276 Correio D'annuncios : E Semanario Commercial do Maranhão (MA) - 1845 a 1851 Ano 1851\Edição 00060


portugueses, sendo 95 homens, incluindo 11 menores de 16 anos e 11 mulheres, entre elas 4 menores (CRUZ MACHADO, 1856, p.59). Moradias previamente construídas os esperavam na colônia e seus membros recebiam salários por suas jornadas (Almeida, 2008, p. 109). Petrópolis, instalada a uma légua da vila de Codó, recebeu seus primeiros colonos em 1855 em um terreno de 1.800 braças de frente e 3.000 de fundo adquirido por Francisco Marques Rodrigues, onde foram construídas casas para os colonos. A intenção era plantar arroz, onde metade da produção ficaria com os colonos, como exigia o contrato de parceria. Entre seus membros existiam 91 colonos, sendo 55 do sexo masculino e 36 do sexo feminino, incluindo 13 menores. Em Cururupu, foi fundada a colônia Santa Tereza em maio de 1855 pelo português Antonio Bittencourt, que contratou pessoalmente 140 açorianos das Ilhas Graciosas13, onde 76 eram homens e 64 mulheres, entre eles estavam 51 menores de ambos os sexos. O contrato era de parceria e a colônia funcionaria em suas terras, onde plantariam arroz. Santa Izabel, assentada em Guimarães, foi a mais duradoura, mesmo com a troca de direção devido à morte do coronel Torquato Coelho de Souza, seu fundador. Ainda em 1861 o presidente de província noticiava que está continuava a “florescer”. Apesar de o contrato ter sido assinado em abril de 1852, os colonos só mudaram-se para as terras destinadas á colônia em Dezembro de 1853, com 51 portugueses, mas o relatório de presidente de província de 1853 contava 48 indivíduos, devido à morte de uma mulher e dois recémnascidos. Em Outubro deste ano chegavam mais 11, aproximandose dos 80 que foram prometidos. Entre os 59 que iniciaram Santa Izabel, 40 eram homens e 19 eram mulheres, sendo entre eles 16 menores de ambos os sexos.(Grifos meus). O “Jornal Caxiense”277, edição de 22 de maio de 1852 traz a seguinte resolução:

277 Jornal Caxiense (MA) - 1846 a 1852 Ano 1852\Edição 00316


278

278 Torquato Coelho de Sousa - "Torquato Coelho de Souza" Data de nascimento: 20 Novembro 1804 Falecimento: 05 Setembro 1860 (55) Família imediata: Filho de Manuel Coelho de Sousa e Maria Francisca da Pureza Gomes Husband of Luísa Helena dos Reis Pai de Filomena Coelho Riedel Irmão de Manoel Coelho de Sousa, Jr. e João Coelho de Sousa Occupation: Coronel https://www.geni.com/people/TorquatoCoelho-de-Sousa/6000000023598313280










Esses migrantes do contrato acima seriam os mesmos que chegavam à Cururupu, em 1854, conforme relata “O Observador”279, de 24 de agosto?

279 O Observador (MA) - 1847 a 1861 - Ano 1854\Edição 00349







O mais antigo registro da área datada' de 1792, quando por sesmaria foi concedido um quinhão ao português Manoel Coelho de Souza, havendo de tornar-se uma das mais prósperas lavoura de cana-de-açúcar' e algodão da freguesia de Guimarães, a quem a região pertencia geográfica e politicamente. José Coelho de Souza e Torquato Coelho de Souza deram continuidade ao florescimento dessa produção, entretanto em 1925 ocorreria um fato inusitado. O Último herdeiro de tal família, Artur Coelho de Souza, tendo contraído uma grande divida, hipotecou as Terras de Frechal. Conscientes das dificuldades, os negros trabalharam arduamente e, com uma só safra da lavoura de algodão, conseguiram saldar a divida. Agradecido, o fazendeiro deixou em testamento parte das terras de Frechal aos negros.280 Segundo o Diário do Maranhão281 de 29 de outubro de 1855, estava deixando o porto de São Luis com destino aos Açores o cuter português Quilha de Ferro.

280 COSTA, Ivan R; Pesquisador do https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/03D00017.pdf 281 Diario do Maranhão (MA) - 1855 a 1911 Ano 1855\Edição 00033

PVN/SMDDH

e

CCN-MA.


Na edição de 22 de fevereiro de 1956, desse mesmo jornal, é apresentado o relatório do Gabinete Português de Leitura, informando-se que se recebia, regularmente, diversos jornais, sendo dos Açores, O Correio Michaelense e O Açoriano Oriental. O Jornal “A Conciliação”282, edição de 27 de setembro de 1856 lê-se a seguinte réplica do jornal oficial:

282 A Conciliação (MA) – 1856 Ano 1856\Edição 00002


No Diário do Maranhão, edição de 30 de março de 1857 sai nota sobre a necessidade de braços, tendo em vista a proibição do tráfico de escravos negros. A nota refere-se à Alagoas, mas faz referecnia à situação do Maranhão:

No “O Observador” de 22 de maio de 1857283 é publicado a seguinte nota, referente ao contrato do ano anterior, com o sr. Francisco Marques Rodrigues:

283 O Observador (MA) - 1847 a 1861 - Ano 1857\Edição 00563




No artigo original, passa-se da 8ª condição, para a 15ª:








Clerisvaldo Costa (2018)284, ao discorrer sobre a Colônia Petrópolis, na cidade de Codó-MA, refere-se ao seu contratador, Francisco Marques Rodrigues, como não se dispondo de informações precisas sobre o mesmo. Sabe-se que em 1864 aparecia como um dos membros da Companhia Confiança Maranhense, que tinha como presidente Joaquim Marques Rodrigues e que fora responsável por diversas construções em São Luís. A família Marques Rodrigues era de empreendedores. Em 1839 o “Crônica Maranhense” anunciava chegada de barco, proveniente do Porto, trazendo mercadorias consignadas a Francisco Marques Rodrigues e Irmão. Além de mercadorias de Portugal, também aparece a chegada de escravos consignadas aos mesmos. Os interesses da família eram muito variados: Francisco Marques Rodrigues era membro da comissão fiscal do Banco do Maranhão, fundado por Joaquim Marques Rodrigues em 1857 (nome de seu pai e também de um de seus irmãos). Este ultimo foi também fundador do jornal Diário Maranhense e do Conciliação, juntamente com Antônio Rego. Francisco Marques Rodrigues era natural de Portugal e fora casado com d. Josepha Baptista, que morreu antes de 1830. Vivera em São Luís, Caxias e Codó. Antes de 1855 já era proprietário de terras em Codó, e adquirira propriedades para instalar a colônia, que deveria ser ocupada por migrantes vindos dos Açores, Na mesma de Guimarães – hoje, município de Porto Rico do Maranhão (séc. XIX), havia a Fazenda Santa Maria. O primeiro proprietário da fazenda Santa Maria foi o açoriano Manoel Ignácio Vieira, patriarca do famoso clã Dias Vieira, de Guimarães, que batizou o lugar com o nome de sua ilha natal, nos Açores. Entre os seus filhos, figura Casemiro Dias Vieira, que foi intendente em Guimarães no séc. XIX. Um dos filhos de Casemiro Dias Vieira foi o ilustre Casemiro Dias Vieira Júnior, que governou o Maranhão por três vezes e foi deputado federal constituinte de 1891. Após a morte de Casemiro Dias Vieira Júnior em Londres, onde atuava como embaixador, a fazenda Santa Maria passa para uma de suas filhas, D. Délia Dias Vieira Salazar que, em 1930, vende a propriedade por 6 contos de réis para Emídio Silva da Fonseca e sua esposa, D. Iolanda Ferreira Diniz pais, entre outros, de Luís Henrique Diniz Fonseca (ex prefeito de Porto Rico do Maranhão) e Graça Fonseca Paz (ex deputada estadual). A fazenda Santa Maria está na família Diniz Fonseca desde então.(SILVA, 2019)285. João Pedro Dias Vieira (Guimarães, 30 de março de 1820 — Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1870) foi um magistrado, professor e político brasileiro. Pai do também senador e ministro do Supremo Tribunal de Justiça João Pedro Belfort Vieira e do ex-governador do estado do Maranhão Manuel Inácio Belfort Vieira. Filho do capitão Manuel Inácio Vieira, patriarca das famílias Vieira, e Dias Vieira, do Maranhão. Iniciou seus estudos na Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco, transferindo-se, depois, para a Faculdade de Direito de São Paulo, obtendo diploma de bacharel em direito, em 1841. Foi professor de Filosofia e Retórica no Maranhão. Promotor público em São Luís do Maranhão e mais tarde na comarca de Itapecuru Mirim, também no Maranhão. Foi proprietário e redator do jornal “O Dissidente”, no Maranhão. Sobre o conselheiro Dias Vieira, publicou o Jornal do Brasil, em 1932: “Era de grande actividade, prudência e patriotismo, qualidades sempre reveladas em todos os actos da sua extensa vida pública. Morreu em extrema pobreza, tendo o governo imperial concedido à sua viúva, Isabel Nunes Belfort, uma pensão annual de um conto e duzentos mil réis.” Foi ministro dos Estrangeiros, ministro do Império e da Marinha, em 1854; deputado geral, presidente de província e senador do Império do Brasil de 1861 a 1870 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Pedro_Dias_Vieira). Os costumes açorianos impregnavam os modos de viver na São Luís, ainda no meado dos 1800, pois em 1862 era publicado anuncio em “O Publicador Maranhense”286, edição de 10 de fevereiro – e seguintes – de anúncio da chegada de queijos açorianos:

284 COSTA, Clerisvaldo. Imigração portuguesa para o Maranhão em meados do século XIX: o caso da colônia Petropolis de Codó. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Universidade federal do Maranhão, Campus Codó, Licenciatura em História, julho de 2018. 285 SILVA, Ramsés de Souza .GENEALOGIA MARANHENSE: Os Dias Vieira e os Diniz Fonseca. Postagem no facebook em 12 de novembro de 2019, disponível em Ramssés De Souza Silva, https://www.facebook.com/fazendashistoricasdomaranhao/photos/pcb.3464882880283769/3464882433617147/?type=3&the ater 286 Publicador Maranhense (MA) - 1842 a 1885 - Ano 1862\Edição 00033


No Almanaque Histórico287, edição de 1862 consta:

A Coalização288, de 8 e julho de 1863 anuncia o lançamento de um livro de poesias, autoria de João Rodrigues d’ Oliveira Santos, que estava sendo bem aceito, inclusive nos Açores:

287 Almanak Historico de Lembranças Brasileiras (MA) - 1862 a 1868 Ano 1862\Edição 00001 288 A Coalição (MA) - 1862 a 1866 Ano 1863\Edição 00054


Sabe-se que esse cidadão era representante do Banco União, do Porto, e atendia resgates de várias partes de Portugal, incluindo-se dos Açores:

Diário do Maranhão289, edição de 9 de agosto de 1877, traz em seu Almanach 289 Diario do Maranhão (MA) - 1855 a 1911 Ano 1877\Edição 01203


A discussão sobre a vinda desses colonizadores para o Maranhão, ainda era questionada em 1878, pela nãovinda dessas gentes, para a Colônia Militar de São Pedro de Alcântara, conforme escrevia para O Paiz 290 o major José Manoel da Cunha:

290 O Paiz (MA) - 1863 a 1889: Ano 1878\Edição 00213





Em “A Pacotilha”291, edição de 25 de agosto de 1883 aparece essa poesia:

291 Pacotilha (MA) - 1880 a 1909 Ano 1883\Edição 00230


A 16 de fevereiro de 1884 aparecem dois anúncios em “A Pacotilha”, recrutando colonos açorianos:

Nas edições seguintes, o anuncio é repetido:


Também de A Pacotilha, edição de 11 de dezembro de 1884, extraímos a seguinte nota:


“A Pacotilha”, de 11 de abril de 1885, publica excerto de O Paiz, de 1871, assinado por Henriques Leal, sobre a colonização açoriana para o Brasil. Resgate da História da Imprensa no Maranhão, do período de 1820 a 1880



Em “A Pacotilha” de 2 de abril de 1886 era anunciado a chegada de vinho dos Açores, seguido de um comentário sobre as propriedades medicinais e o motivo de seu cultivo nas Ilhas:



Em nota de “A Pacotilha” de 5 de julho de 1888 era noticiado a compra e mudas de videiras, para serem introduzidas no Brasil:

No “Tribuna Liberal”292, edição de 25 de fevereiro de 1889 informava, da chegada de imigrantes, a vários portos no Brasil – inclusive saída de paquete do Rio de janeiro para o Sul, que havia aportado um paquete tr Ano 1883\Edição 00230azendo 450 imigrantes, procedentes dos Açores:

O Diário do Maranhão – jornal do comércio e indústria, em sua edição de 11 de março de 1901 traz um relatório da Companhia Usina Castello. Diante das dificuldades em manter a produção agrícola, refere-se à necessidade de se trazerem italianos e açorianos, como trabalhadores:

A Pacotilha293·, edição de 28 de setembro de 1905, publica anuncio de “filtros açorianos”:

292 Tribuna Liberal (MA) - 1888 a 1889 - Ano 1889\Edição 00085 293 Pacotilha (MA) - 1880 a 1909 - Ano 1905\Edição 00231


Na edição de 15 de outubro de 1906, os Armazéns Teixeira anunciam que:


O Jornal “O Combate”294, em sua edição de 16 de novembro de 1925 – e seguintes – anuncia estar à venda na Casa Americana filtros açorianos

294 O Combate (MA) - 1925 a 1965 Ano 1925\Edição 00174


SANTIAGO DO CACÉM LEMBRA O SEU “FILHO” QUE FUNDOU O CEARÁ Por Sul Informação • 5 de Novembro de 2019 - 15:00 https://www.sulinformacao.pt/2019/11/santiago-do-cacem-lembra-o-seu-filho-que-fundou-oceara/?fbclid=IwAR3Dx_6J7L5LWp5U8dRsUQjIyn8HS6LXb6lv4qYUfVZus5TSGkHWiYi2vkQ Homenagens decorrem em Portugal e no Brasil

Martim Soares Moreno, o militar alentejano que fundou o Ceará e se distinguiu na resistência contra as ocupações francesas e holandesas no Brasil, será homenageado este sábado, 9 de Novembro, em Santiago do Cacém. A agenda das efemérides portuguesas, a que se junta uma conferência em Lisboa, associa-se a um vasto programa evocativo no Brasil. Deste lado do Atlântico, é a ocasião para, graças a novos estudos científicos, reconciliar a memória local com um filho da terra (Santiago do Cacém) de que se perdera há muito o rasto. 2019 representa uma data importante na história luso-brasileira. Cumpre-se neste ano o quarto centenário da nomeação do 1º capitão-mor do Ceará, uma medida do rei D. Filipe II de Portugal (III de Espanha) que constitui a certidão de nascimento do que virá a ser, mais tarde, o Estado do Ceará. A escolha do monarca foi para uma figura conhecida no Brasil, mas que tem passado quase despercebida aos portugueses: Martim Soares Moreno. Quando a efeméride é assinalada em Fortaleza, com um amplo programa evocativo, Santiago do Cacém, terra natal do fundador do Ceará, faz-lhe justiça após séculos de esquecimento. As investigações de José António Falcão, da Academia Portuguesa da História, em arquivos de Portugal, Espanha, França e Holanda têm permitido compreender melhor não só as origens do militar alentejano, mas também a sua carreira no Brasil, durante a época filipina. Neste sentido, em Portugal estão programadas atividades em Lisboa e Santiago do Cacém. Dia 7 de Novembro, às 17h00, na Sociedade de Geografia de Lisboa, terá lugar uma conferência sobre a “Jornada do Maranhão”, levada a cabo em 2019 pela Expedição Martim Soares Moreno, que reviveu a epopeia do militar alentejano desde o “Rio Siará” até a ilha de São Luís, no Maranhão, ressaltando a importância desse périplo para a definição dos limites territoriais atuais do Brasil.


Em Santiago do Cacém, no dia 9, decorrerão atividades a cargo da Câmara Municipal, do Instituto do Ceará e da Real Sociedade Arqueológica Lusitana, com uma sessão de homenagem a Martim Soares Moreno, nos Paços do Concelho, às 11h00. Segue-se a inauguração, na Praça Conde de Bracial, de uma placa comemorativa do IV Centenário da sua nomeação como capitão-mor do Ceará. Do outro lado do Atlântico, 2019 tem sido palco, no Estado do Ceará e, em particular, em Fortaleza, a capital, de importantes celebrações em torno da figura de Martim. O Instituto do Ceará, em sessão solene realizada a 11 de Março, estabeleceu o presente ano como sendo o “Ano de Martim Soares Moreno”. Desde 1993 que a 10.ª Região Militar do Exército Brasileiro, com o comando em Fortaleza, recebeu a denominação de “Região Martim Soares Moreno”, o que dá bem a noção do peso histórico do militar alentejano no Nordeste daquele extenso país. Em 2018, uma Lei, aprovada pelo Congresso Nacional do Brasil e sancionada pelo Presidente da República, inscreveu o nome de Martim Soares Moreno no “Livro dos Heróis da Pátria”, a mais alta distinção do país. Esse tombo, conservado no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília, homenageia os que engrandeceram a nação brasileira. A Assembleia Legislativa do Ceará, por seu turno, em 2019, instaurou o dia 26 de Maio, no calendário oficial deste Estado, como o “Dia Martim Soares Moreno”. Martim Soares Moreno nasceu em Santiago do Cacém, ao redor de 1586, no seio de uma família acomodada. Chegou ao Nordeste do Brasil ainda muito jovem, em 1602, como soldado, empenhando-se na luta pela ocupação do Ceará. Um tio militar, Diogo de Loures Moreno, incentivou-o a seguir a carreira das armas e a aprender a língua e os costumes dos índios. Integrando a expedição do sargento-mor Pêro Coelho de Sousa, em 1603, dirigiu nesse mesmo ano a construção da primeira fortaleza, o forte de Santiago, na margem direita da foz do rio Siará (sobre o qual se erguerá, em 1613, o forte de São Sebastião), e iniciou a colonização da região. Tornou-se, assim, o virtual fundador da futura capitania do Ceará, de que virá a ser capitão-mor, em 1619. Muito contribuiu para o sucesso da iniciativa o facto de ter convivido, desde cedo, com os índios locais, ao ponto de ser considerado filho adotivo de Jacaúna: o grande cacique dos potiguares. Algo que lhe permitiu desenvolver uma profícua ação “diplomática” junto dos índios, criando valiosas alianças para incursões bélicas, nas quais ia nu e com o corpo tingido de jenipapo, de forma a não se distinguir dos locais sob o seu comando. A estratégia de proximidade com as comunidades indígenas revelar-se-ia da maior importância para combater os franceses que ocupavam o Maranhão. Em 1613, Martim Soares Moreno percorreu este território e o vizinho Pará, em missões de reconhecimento, indo parar às Antilhas, de onde viajou para Sevilha. Regressou ao Brasil em 1615, onde tomou parte na campanha de reconquista do Maranhão, assumindo papel decisivo, à frente de um contingente de 900 homens, na expulsão definitiva dos franceses e na captura da cidade de São Luís. No ano seguinte fez nova viagem às Antilhas. O navio em que seguia foi capturado no alto mar por um corsário francês, após violento combate, que o deixou seriamente ferido, com uma cutilada no rosto e uma mão a menos. Reconhecido por familiares dos expulsos do Maranhão como um dos inimigos portugueses, foi preso e levado para Dieppe, onde um tribunal o condenou à morte. Negociações diplomáticas permitiram-lhe ficar livre, após dez meses de cárcere, e voltar à Península Ibérica, onde recebeu a patente de capitão-mor do Ceará, pelo período de dez anos, como se regista em carta régia de 26 de Maio de 1619. Uma vez no Brasil, desempenhava esse cargo quando os Holandeses tomaram Pernambuco (1630). Participou então, à frente de pequenos, mas aguerridos contingentes de índios e soldados do Ceará, na resistência contra os invasores não só em solo pernambucano, mas também na Paraíba e em Cunhaú, na capitania do Rio Grande (1631-1636), e, mais tarde (1645-1648), no esforço militar para a recuperação de Pernambuco. Voltou definitivamente a Portugal, em 1648, onde faleceu em data desconhecida.


Lembrando a fraternidade de Martim Soares Moreno com as comunidades indígenas, José de Alencar fê-lo uma das figuras principais do romance Iracema (a índia tabajara dos lábios de mel), publicado em 1865, leitura obrigatória para todos os estudantes brasileiros.


A REVOLTA DE CUMÃ (1617-1621). ALÍRIO CARDOSO295

O ano era 1617. O local, uma pequena comunidade chamada Cumã, próxima à ilha de São Luís do Maranhão. Numa manhã nublada de janeiro, um pequeno gesto, tão despretensioso como a leitura de uma carta, iniciou uma das mais relevantes, e menos conhecidas, rebeliões nativas do norte da América portuguesa: a revolta de Cumã (1617-1621). Tudo ocorreu quando, nas cercanias da fortaleza de Cumã, erguida pelos portugueses para ajudar na proteção da Amazônia contra ameaças estrangeiras e reforçar a ligação com o vizinho Pará, um índio chamado Amaro leu em voz alta uma carta na presença de outros membros da nação tupinambá. A missiva seria parte da correspondência trocada entre Francisco Caldeira Castelo Branco, fundador da cidade de Belém, em 1616, e o capitão-mor Jerônimo de Albuquerque, maior autoridade portuguesa do Maranhão. A carta teria sido enviada através de emissários tupinambá do Pará a serviço dos portugueses e revelaria uma suposta trama portuguesa cuja intenção seria escravizar todos os índios da região. A leitura da carta pelo índio Amaro teve reações imediatas e graves consequências. Nas horas seguintes, um grupo de índios invadiu a fortaleza da cidade e massacrou os cerca de trinta soldados brancos que faziam guarda. Esse era apenas o começo. Poucos dias depois, intensificaram-se os contatos entre os tupinambá do Maranhão e seus parentes da capitania do Pará. Nos meses subsequentes, outras nações indígenas, insatisfeitas com a presença lusa, também participam da revolta. Ao longo dos quatro anos seguintes, a rebelião que começou como um motim dos tupinambá da pequena Cumã se torna uma guerra geral contra os portugueses, envolvendo outras nações indígenas. Seu impacto aumenta exponencialmente com o tempo, ao ponto de obstruir as comunicações entre as duas principais cidades da região, Belém e São Luís e, mais importante ainda, alarmar as 295 Alírio Cardoso é professor do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão. É coautor, com Carlos Augusto Bastos e Shirley Nogueira, de História Militar da Amazônia. Guerra e Sociedade (séculos XVII-XIX) (Curitiba: Editora CRV, 2015)


autoridades lusas da distante Lisboa. Ao mesmo tempo, a repressão portuguesa ao movimento foi brutal, liderada por um capitão de campo que tinha ambições políticas maiores, Bento Maciel Parente. Além da perseguição aos responsáveis diretos pelo movimento, morte e escravização dos demais índios envolvidos, houve também uma tentativa de construir novos acordos com as chefias indígenas da região, chamados na época de índios principais. O motim de Cumã, tão pouco conhecido da historiografia brasileira, deve ser compreendido além do seu cenário meramente local e comparado com outras rebeliões nativas que colocaram em xeque o poder dos europeus nas áreas conquistadas. Entretanto, os desdobramentos locais também são relevantes para entender a dimensão do conflito, principalmente no que diz respeito à situação do trabalho nativo no período anterior às leis do governo do rei D. João IV (1640-1656), amigo pessoal do famoso jesuíta Antônio Vieira (16081697), mais restritivas em relação ao período em que as coroas de Espanha e Portugal estiveram unidas. Voltando à revolta de Cumã, este motim nos apresenta alguns personagens relativamente conhecidos da literatura especializada e outros quase completamente ignorados pelos historiadores. O primeiro deles é Jerônimo de Albuquerque, sertanista experiente, militar fundamental na conquista portuguesa da região, e na expulsão dos franceses que ocupavam a cidade de São Luís desde 1612. Albuquerque era bem considerado pelos setores militares de Lisboa, e também de Madri, por uma qualidade cada vez mais valorizada naqueles dias: era um português “sertanista” que falava línguas indígenas e conhecia bem o método nativo de fazer a guerra, e não poucas vezes celebrava vantajosos acordos com suas lideranças. De fato, ele mesmo tinha sangue indígena correndo nas veias, herdado da parte materna. Supostamente, foi Jerônimo de Albuquerque quem escreveu a tal carta conspiratória lida em voz alta pelo índio Amaro. Outro personagem importante da revolta foi o capitão de Mar e Guerra, Bento Maciel Parente. Parente que nasceu em Portugal, Vianna do Castelo provavelmente, mas passou quase toda a vida em Pernambuco, havia se notabilizado no combate aos tapuias rebeldes na Paraíba e no Rio Grande do Norte. O posto de principal agente português da repressão à revolta de Cumã permitiu a esse militar uma ascensão meteórica na burocracia luso-americana culminando com a obtenção do cargo de governador do Estado do Maranhão, em 1637. Foi ele, aliás, o governador quando da invasão holandesa ao Maranhão, em novembro de 1641. Parente também era figura bem conhecida na corte de Madri, onde circulava com certa frequência. Menos conhecido são as propostas elaboradas por este militar, e enviadas a Lisboa e Madri, sobre a implementação em solo português do sistema de encomienda, notório sistema peruano de repartição do trabalho indígena, cuja característica mais importante era a pouca intervenção missionária. Dentre todos os personagens da revolta de Cumã, menos notório de seus protagonistas é mesmo o índio Amaro. Sobre ele há infinidades de perguntas, quase nenhuma certeza. Era índio tupinambá da região ou, como outros, veio de algum lugar do Brasil com os portugueses? Era mesmo uma chefia nativa, índio principal? Tinha acordos ou negócios com Jerônimo de Albuquerque, ou desacordos com seu filho, Matias de Albuquerque? Sabia de fato ler em português ou havia simulado a leitura da tal carta? Foi o verdadeiro deflagrador do movimento, ou apenas cooptado pelas lideranças tupinambá do Cumã? O pouco que sabemos vem do processo aberto após o fim da revolta, e outros relatos do início do século XVIII. Amaro era provavelmente aquilo que podemos chamar de índio de segunda geração, dentro do processo de contato. Este tupinambá provavelmente foi trazido de Pernambuco como língua, como os portugueses chamavam os tradutores, mediadores e guias, homens fundamentais nas incursões por novas terras. Amaro, pelo que sugerem as poucas fontes a respeito, foi educado pelos jesuítas do Recife, sendo completamente verossímil que soubesse ler, escrever e interpretar com precisão os sentidos das palavras em língua portuguesa. Outro argumento a favor da ideia de que Amaro era índio alfabetizado, decorre do fato de que os demais índios acreditaram, sem muito custo, na sua versão. Para os tupinambá do Maranhão, Amaro poderia, sim, ter interceptado uma carta de Jerônimo de Albuquerque, poderia ler o documento, compreender seu fundamento. Para os demais tupinambá, estes pareciam motivos suficientes que justificassem uma reação tão enérgica contra os portugueses. O início da rebelião, então, não havia começado como um engodo, mas como um ato de confiança. Há, por outro lado, motivos para crer que os próprios índios do Cumã já tinham planos para uma rebelião, antes mesmo da leitura da carta conspiratória de Jerônimo de Albuquerque. Mas, não há dúvida de que Amaro ganhou, com o tempo, relevância no episódio.


Por tudo que dissemos, o índio Amaro é um bom exemplo de um extraordinário fenômeno que poderia advir do contato entre europeus e índios, a existência de nativos que estavam constantemente estacionados entre dois mundos, duas culturas, e demonstravam capacidades próprias para interagir entre as referências ocidental e nativa, ganhando, não raramente, vantagens pessoais ou coletivas com isso. A revolta de Cumã ocorre num contexto internacional delicado para os portugueses. Nesta época, Portugal era território anexado ao império Espanhol, ligado aos castelhanos, desde 1580, pela chamada União Ibérica. Este também é um período em que a Amazônia recebe diversas incursões estrangeiras, rivais dos espanhóis, como franceses, ingleses, irlandeses e principalmente holandeses. Em Lisboa, e em Madri, homens bem informados já conheciam tais atividades, e sabiam que esses “piratas” tinham ostensivo apoio indígena, e com esse respaldo traficavam diversos produtos amazônicos e construíam fortalezas na região. A revolta de Cumã ocorria num momento em que os portugueses acabavam de chegar à Amazônia, sabiam, portanto, que desembarcavam na região com certo atraso, pois os acordos entre franceses, holandeses e as nações indígenas do Maranhão e do Grão-Pará já estavam avançados. Há relatos posteriores que afirmavam, inclusive, que o próprio índio Amaro teria alguma relação com os franceses, fato nunca comprovado, mas que elevaria enormemente as preocupações em torno da rebelião. Sabe-se, no entanto, que o levante estava sendo discutido na corte lusitana, em banquetes e reuniões, e até mesmo o general francês Daniel de La Touche, comandante da ocupação francesa do Maranhão, havia feito comentários laudatórios à iniciativa tupinambá, o que foi considerado uma provocação. Por isso mesmo, uma consequência derivada da revolta foi a busca por novas alianças entre portugueses e índios. Essa nova política ganhará sua melhor versão na guerra aos holandeses (1630-1654), cujo papel da Amazônia portuguesa ainda não foi devidamente estudado. As revoltas indígenas da Amazônia são tão complexas quanto a sociedade formada nessa nova terra. Motins e rebeliões nativas tinham motivações diversas, mas muitas vezes apresentavam como protagonistas índios que conheciam razoavelmente a política branca. Eram homens, que como Amaro, viviam constantemente entre dois mundos, com seu nome cristão e sobrenome nativo, e que cada vez mais pareciam ter consciência de sua importância nessa sociedade híbrida e mestiça. Referências: BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749]. CARVALHO JUNIOR, Almir Diniz de. Índios Cristãos. A conversão dos gentios na Amazônia Portuguesa (1653-1769). Campinas: Tese de doutorado (história) apresentada à Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 2005. GRUZINSKI, Serge. O Pensamento Mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. MONTEIRO, John M.. Tupis tapuias e historiadores: Estudos de História indígena e do indigenismo. Tese de Livre Docência (História) apresentada à Universidade Estadual de Campinas, 2001. IBÁÑEZ BONILLO, Pablo. “Desmontando a Amaro: una re-lectura de la rebelión tupinambá (1617-1621)”. Topoi, vol. 16, nº. 31, (jul./dez. 2015), p. 465-490.


CONTINUANDO A BUSCA PELOS “MANEZINHOS” LEOPLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Licenciado em Educação Física. Mestre em Ciência da Informação

Provocado pela realização do “Congresso Internacional Açores 400 anos”, e fundação da “Casa dos Açores do Maranhão”, promoção desta e do IHGM, com a participação de diversas outras Casas – Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro... – além de pesquisadores, e autoridades vindas das Ilhas, que buscam o resgate da presença açoriana no Brasil, e em outras partes do mundo – além da África, Estados Unidos, Canadá e outros em que a presença portuguesa se fez presente. Santa Catarina, pelo que foi exposto, lidera a busca pelos ‘manezinhos’, como são chamados os descendentes de açorianos que para cá vieram, e aqui ajudaram a construir a identidade brasileira. Esse o resgate que se quer fazer, na busca das raízes. Desde a realização do Congresso, venho buscando evidencias dessa participação – e memória – procurando pelos ditos ‘manezinhos’. Muito de nossa cultura deve-se à esses ilhéus... Nossas mais caras tradições vêm desse povo que se espalhou pelo mundo onde houve influencia portuguesa. A busca da identidade, a “açorianidade”, como se tem propalado... "Açorianidade" é expressão cunhada pelo poeta açoriano Vitorino Nemésio296: O conceito de "açorianidade"297 foi definido por Nemésio em 1932 e, desde então, foi amplamente divulgado em contextos bem diferenciados, desde estudos de âmbito literário a intervenções de ordem política. Naquele ano, por ocasião do V Centenário do Descobrimento dos Açores, afirmou: "(...) Quisera poder enfeixar nesta página emotiva o essencial da minha consciência de ilhéu. Em primeiro lugar o apego à terra, este amor elementar que não conhece razões, mas impulsos; e logo o sentimento de uma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar. Um espírito nada tradicionalista, mas humaníssimo nas suas contradições, com um temperamento e uma forma literária cépticos, - o basco Baroja, - escreveu um livro chamado Juventud, Egolatria 'O ter nascido junto do mar agrada-me, parece-me como um augúrio de liberdade e de câmbio'. Escreveu a verdade. E muito mais quando se nasce mais do que junto do mar, no próprio seio e infinitude do mar, como as medusas e os peixes (...) Uma espécie de embriaguez do isolamento impregna a alma e os actos de todo o ilhéu, estrutura-lhe o espírito e procura uma fórmula quási religiosa de convívio com quem não teve a fortuna de nascer, como o logos, na água (...) (...) Meio milénio de existência sobre tufos vulcânicos, por baixo de nuvens que são asas e bicharocos que são nuvens, é já uma carga respeitável de tempo - e o tempo é espírito em fieri (...) Como homens, estamos soldados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra. A geografia, para nós, vale outro tanto como a história, e não é debalde que as nossas recordações escritas inserem uns cinquenta por cento de relatos de sismos e enchentes. Como as sereias temos uma dupla natureza: somos de carne e pedra. Os nossos ossos mergulham no mar. 296 Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (Praia da Vitória, 19 de dezembro de 1901 — Lisboa, 20 de fevereiro de 1978) foi um poeta, romancista, cronista, académico e intelectual açoriano que se destacou como autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 297 https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio


Um dia, se me puder fechar nas minhas quatro paredes da Terceira, sem obrigações para com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba."298 Posteriormente, em 1975, em quatro novos textos299 publicados no Diário Insular, o mesmo foi retomado e aprofundado. É o próprio Nemésio que recorda: "Outro sintoma linguístico da impulsividade afirmativa dos Açores como etnia ou espaço geográfico originais está no emprego da palavra 'açorianidade'. Quem escreve estas linhas passa por inventor desse vocábulo, há bons quarenta anos. Luís Ribeiro, o insigne etnógrafo e jurisconsulto açoriano de 'Os Açores de Portugal' - opúsculo de grande valia, pela posição de contraste, para o emancipalismo de hoje - foi um dos que generosamente me 'patentearam' por tão pobre criação vocabular. Porque lia então muitos ensaístas espanhóis, incluindo o clássico Pi y Margall de 'Las nacionalidades', decalquei sobre 'hispanidade e argentinidade' (Unamuno) o meu 'açorianidade' ".300 A preocupação com a identificação dos açorianos-descendentes – expressão cunhada por Eugênio Pascale Lacerda301 - acontece quase que concomitante com a construção da identidade do açoriano no arquipélago dos Açores 302, que vai acontecer após a chamada Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), iniciando-se o processo de implantação da Região Autônoma dos Açores, e contribuindo para a tentativa de construção de uma identidade regional por diferenciação do espaço nacional (FERREIRA, 2016) 303, e, num segundo momento, os esforços foram concentrados na construção de uma identidade açoriana transnacional O discurso da açorianidade traduz-se como: [...] processo continuo de apropriação, difusão e circulação de símbolos, ideias e emblemas capazes de fazer operar centenas de organizações em torno de uma ‘comunidade de sentimentos’ que tem os Açores como raiz e centro simbólico e suas terminações localizadas nas expressões populares locais, quer das ilhas, quer das comunidades da diáspora” (LACERDA, 2003) 304. Ao se proceder qualquer levantamento acerca dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil naquela época, facilmente se chega à constatação que uma das mais importantes participações foi a dos que procederam do Arquipélago dos Açores, pois foram eles que desbravaram as regiões mais remotas, caracterizadas por apresentarem condições tanto de clima quanto de solos e localização geográfica completamente diferentes das predominantes nas áreas até então habitadas da Colônia, e a despeito disso conseguiram se estabelecer e até mesmo fundar ou ajudar a fundar vilas e cidades nesses rincões mais longínquos (PEREIRA, 2002)305.

298 NEMÉSIO, Vitorino. "Açorianidade". in: Insula, Número Especial Comemorativo do V Centenário do Descobrimento dos Açores, nº 7-8 (Julho-Agosto), Ponta Delgada, 1932. p. 59. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio 299 Dois deles publicados inicialmente pelo Jornal Novo. Recorde-se que o momento à época, em Portugal e nas ilhas era conturbado, nomeadamente no que concerne às ideias de processo revolucionário e de autonomia regional. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio 300 NEMÉSIO, Vitorino. Açores: De onde sopram os ventos. in: Diário Insular, nº 8815, 5 Out. 1975. p. 1 e 3. apud: Revista DI, nº 257, 9 Mar. 2008. p. 4-11. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio 301 LACERDA, Eugenio Pascale. O Atlântico açoriano: uma antropologia dos contextos globais e locais na açorianidade. Florianópolis, 2003. Tese doutorado - Departamento de Antropologia da UFSC, 2003 citado por FERREIRA, 2016, obra citada 302 MENDES, José Manoel de Oliveira. Do ressentimento ao reconhecimento: vozes, identidades, e processos políticos nos Açores (1974-1996). Coimbra. Tese de Doutorado – Faculdade de Econokia da Universidade de Coimbra, citado por FERREIRA, 2016, obra citada 303 FERREIRA, 2016, p. 131-154, obra citada. 304 LACERDA, 2003, obra citada 305 PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74


Busquei, inutilmente, até agora, entre nossos pesquisadores e homens de estudo da história, através de entrevistas, o que sabiam ou o que tinham, e o porquê dessa busca, neste momento. Inclusive às nossas autoridades, que deveriam preservar e incentivar essas memórias, como os Senhores Secretários de Cultura e de Turismo, estado e Município de São Luís, além de outros municípios, em que houve intensa migração, sem qualquer tipo de resposta, até o momento... Oremos, pois... Observamos, nos estados do Sul, que o resgate dessa memória – e identidade - tem trazido inúmeros benefícios à população, mormente ao turismo, na geração de renda e emprego. Por que não aqui? As nossas festas em que predominam os tambores, são de origem açoriana, muitas delas, com o tráfico negreiro incorporado seus ritmos e, hoje, se fazem de origem africanas. Temos como exemplo a Festa do Divino, os nossos diversos tambores, sejam de “crioulo”, de “crioula”: O CONGO era um ritual narrativo das antigas epopeias Angola-congolesas, com temas de cerimônia de coroamento de monarcas do CONGO e a luta dessas monarquias contra outras, lutas contra o invasor, etc., que assimilou técnicas dramáticas dos antigos autos africanos e se manifestou na Maranhão em passeatas carnavalescas, como as que percorriam o Caminho Grande, no século passado, para terminar no Centro da Cidade. Quanto à CANINHA VERDE, trata-se da uma festa popular de origem minhota, criada em Portugal para atrair moças e rapazes para a colheita. Classicamente é uma brincadeira de roda, envolvendo homens e mulheres, divididos em sexos e seções que se defrontam, cantando e permutando lugares. No Brasil ganhou um auto de casamento que se desenrola em torno do litígio entre os noivos e os pais da noiva, além de novos nomes para os protagonistas. No Maranhão se tornou desde cedo manifestação urbana, sendo dançada além de São Luís, nas cidades do Vale do Itapecuru. A CHEGANÇA era dançada em Portugal, como uma reprodução cênica das lutas contra os Mouros, mas apenas como dança e indumentária. A dança era considerada lasciva, "ancas contra ancas", peneirando-se "coxa contra coxa" e chegou a ser proibida. No entanto, no Maranhão aparecia com um ciclo de autos, cada dia entrosando-se no episódio central outro episódio ou jornada, se constituindo na CHEGANÇA mais completa que Antonio Lopes havia conhecido. Tinha a Nau Catarineta, o episódio do Mouro, o do imediato, o do piloto, o do mestre e o da marujada. Nosso costume de “farinhadas”, das comidas a base da mandioca – sim, indígena, mas incorporada pelos portugueses e disseminada por todos os territórios em que se fizeram presentes, o seu fabrico e costumes alimentares; as festas, as crendices, as curandeiras, o modo de cultivo da cana de açúcar, do tabaco, do cacau... Cunha (2015)306 ao discutir o processo de ocupação e colonização do Maranhão, afirma ter havido duas entradas gerais, uma pelo litoral, a partir de São Luís, e outra pelo sertão Maranhense, que geraram duas formações socioespaciais diferentes devida à influência de fatores naturais, culturais e econômicos. Assim, a Coroa Portuguesa fez uma primeira intervenção. Inseriu, em 1620 [19], cerca de 840 casais de colonos açorianos (COUTINHO, 2004307; MEIRELES, 1960308), ao lado dos Fortes nos estuários dos rios do Golfão Maranhense - baia de São Marcos onde desemboca o rio Mearim e o rio Pindaré e baia de São José onde deságua os rios Itapecuru e Munim. Para esse autor, A alta fertilidade dos vales dos rios, o solo plano, abundancia de terras cultiváveis, ajudaram organizar uma economia natural a base de uma produção policultora (farinha de mandioca, aguardente, arroz, vegetais e etc), a pesca e criação de animais pequenos. Com o passar do tempo, os colonos fugindo da economia natural, fabricavam pequenos barcos artesanais de mangue levando seus produtos até o porto de São Luís trocando por instrumentos de produção (ferramentas, sementes, utensílios domésticos, etc.). Os que acumularam primitivamente começaram a se fixar no vale do Itapecuru passando a utilizar mãode-obra escrava dos índios Guajajaras e aproveitaram o fértil vale para produzir arroz. Em cem anos, a ocupação do 306 CUNHA, Roberto César. OCUPAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DAS DUAS FORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MARANHÃO. In CaderNAU-Cadernos do Núcleo de Análises Urbanas, v.8, n. 1, 2015, p. 133-152., disponível em file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/IHGM/A%C3%87ORES%202019/5525-15636-1-PB.pdf 307 COUTINHO, M. A revolta de Bequimão. São Luís. Instituto Géia, 2004. 308 MEIRELES, Mário M. História do Maranhão. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001. [1960].


Maranhão se restringiu na porção norte, apesar da baixa densidade, a posição era estratégia, São Luís rodeada de fortificações e protegida, pela barreira natural, o canal do Boqueirão. No golfão maranhense, do lado direito, os colonos açorianos se fixaram no vale do rio Itapecuru. Do lado esquerdo, os jesuítas fixaram reduções (Tapuitapera, atual Alcântara) no vale do Mearim-Pindaré. Porém, havia precárias condições de transportes e comunicações que desestimulou o desenvolvimento do povoamento e da acumulação6 . Segundo Coutinho (2004) tinha ano que não atracava nenhuma embarcação no porto de São Luís. E ainda sofreu invasão da maior potência mundial da época, os holandeses. Podemos para efeito de melhor compreensão, afirmar que essa primeira fase de ocupação do norte do Maranhão foi caracterizada: externamente pela concorrência mercantilista, erosão de Portugal como potência mundial, invasões de monarquias feudais inimigas e por medidas para garantir o domínio útil sobre as terras da coroa portuguesa (fortes e edificações); internamente por ocupação nas áreas próximas a São Luís, no Golfão Maranhense e economicamente nas relações escrava do índio, economia natural dos colonos açorianos e falta de mão de obra309 . Se lermos os termos de incentivo às migrações – antes da independência, internas, posto sermos uma só Pátria, uma só língua, uma só cultura: a portuguesa! Trata-se, sim, de colonização, e não de migração... Apenas se transferia de local de moradia e trabalho, incentivado por diversas razões, desde a ocupação do território – em seu início – até oferta de trabalho, em caso de tragédias naturais nas Ilhas... Que iam desde terremotos, erupções vulcânicas, incêndios e superpopulação... Mas vieram e colonizaram-nos. Em nosso caso, Maranhão, comemorou-se os 400 anos dessa presença, embora já desde 1603, na primeira tentativa de reconquista da terra, após a ocupação francesa, estivessem presentes. Registremos: S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos do Maranhão Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o S. Macaio não. “SÃO MACAIO” é uma canção dançada nos Açores. Foi, sobretudo, na ilha Terceira onde se generalizou a sua tradição. Tudo leva a crer que o seu nome original seja São Macário e que o nome com que ficou conhecido seja já uma degeneração do primeiro. Acredita-se que São Macário, seria um navio que andava entre as ilhas e o Brasil e que teria naufragado numa das suas viagens. Pois como diz a canção: “São Macaio, deu à costa nos baixios do Maranhão... toda a gente se salvou...(...) só o São Macaio é que não”. Muito embora haja informação que esse naufrágio tenha se dado em meado dos 1700, a presença açoriana no Maranhão é bem anterior - mais de 150 anos -, e as comemorações dos 400 anos da migração para estas bandas também não contempla as primeiras presenças, que vem desde 1603... A primeira tentativa para expulsar os franceses do Maranhão foi a do açoriano Pêro Coelho de Sousa que chegou de Pernambuco em 1603 e desembarcou no Ceará com 65 soldados e mais de 200 índios. Já Barretto (1958) 310 diz que integravam a expedição 86 europeus e 200 indígenas, e à frente, Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda. O Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: [...] “descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem”. Em obediência ao Regimento, iniciou, na foz do rio Jaguaripe, uma fortificação em 10 de agosto de 1603. Pero Coelho de Souza (Ilha de São Miguel, fins do século XVI — Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores. Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do 309 RANGEL, Ignácio. Obras reunidas. v.1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005 310 BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958.


Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII. Concunhado de Frutuoso Barbosa, exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590 Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governadorgeral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que há anos atuavam na capitania do «Siará Grande». Esse fidalgo da casa do rei e militar experiente, partiu da Paraíba para a conquista as terras cearenses. Partiu da Paraíba com destino ao Rio Jaguaribe para dali seguir até a Serra da Ibiapaba. Entretanto, em 1604, quando se encontrava nos arredores da Serra Grande (Ibiapaba), encontrou forte resistência dos nativos da região auxiliados por alguns franceses. Após uma série de lutas, conquista a região de Ibiapaba, vencendo os franceses e indígenas locais. Depois dessa vitória, ele tenta entrar mais na região na direção do Piauí, mas devido à rebelião de seus homens, retorna à barra do rio Ceará, onde ergue o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa. Após tal construção, deixa seus homens no então erguido forte e retorna à capitania da Paraíba para angariar mais recursos e trazer sua família. Nessa ida às terras paraibanas ele leva consigo diversos indígenas escravos para a venda. Dezoito meses depois da sua ida à Paraíba, Pero Coelho retorna ao Ceará, juntamente com a Srª Maria Tomásia Cardiga, sua esposa, e seus filhos. Contudo, devido à seca que então assolava as terras cearenses na época, assim como os desânimos de seus homens, os ataques dos índios e a não chegada dos recursos prometido por Diogo de Campos Moreno, Pero Coelho abandona o Fortim de São Tiago e ruma de volta à Paraíba. Nessa jornada ele ainda ergue um forte à margem esquerda do rio Jaguaribe, o Fortim de São Lourenço, mas em razão dos mesmos motivos que o fizeram partir da Barra do Ceará, ele abandona definitivamente essa capitania. Ainda nessa jornada de abandono, Coelho perde o filho mais velho. Segundo o sargento-mor Diogo de Campos Moreno, ainda em 1614, Pero Coelho de Souza foi o primeiro europeu a ter seu nome ligado à escravidão das populações indígenas no Brasil, tornando primeiro os índios da Ibiapaba e do rio Jaguaribe cativos. Tal relato do sargento-mor mostra que Pero Coelho de Souza, homem nobre do Brasil colônia, arregimentou soldados e índios para ir conquistar o História do Maranhão num trajeto passando por mar até o Ceará e, dali, indo por terra, passa pela Serra de Ibiapaba, não indo além, tendo em vista os confrontos violentos com os autóctones tabajaras da serra, liderados pelo morubixaba (cacique) Irapuã. Nesse confronto armados saíram vencidos os tabajaras, os quais foram levados como escravos e vendidos nos engenhos do litoral.Aproximadamente oitocentos índios que acompanhavam e ajudavam a Pero Coelho de Souza na condição de aliados também foram posteriormente escravizados. Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, a paga dos seus serviços.311 Pero Coelho de Souza - Capitão mor que participa na conquista do Ceará e foi um dos moradores influentes da cidade de Filipéia, Paraíba (1599). Também aparece na documentação como Pedro. "Na fase inicial da actividade de Diogo Botelho (1602-1607), o açoriano Pero Coelho de Sousa, radicado na Paraíba, propôs ao novo governador-geral, com o apoio do influente cunhado, Frutuoso Barbosa, a organização de uma expedição destinada a prosseguir a conquista da costa do Brasil a partir do Rio Grande do Norte [...] A expedição tinha como missões essenciais assegurar, por todos os meios possíveis, a paz com os índios; reconhecer o litoral com o objectivo de detectar pontos estratégicos e assinalá-los com vista a futuras ocupações; capturar todos os estrangeiros que fossem encontrados e enviá-los para Pernambuco, abatendo aqueles que oferecessem resistência; procurar informações junto dos indígenas sobre a possível existência de minas de ouro e prata, bem como de jazidas de pedras preciosas e, finalmente, fundar fortes e povoações nos lugares mais adequados, procurando sempre conservar a amizade dos ameríndios". (COUTO, 1997:187) 312. 311 FONTE:https://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho_de_Sousa 312 AGS, Archivo General Simancas, Secretarías Provinciales, 1515, f. 43v. ANTT. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte I, Maço 112, Doc. 57. Salvador, Frei Vicente do, História do Brasil Couto, Jorge, "As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão e o projecto da França equinocial" Anônimo, Livro do Tombo do Mosteyro de Sam Bento da Parahyba. Numero III


Logo após essa tentativa de se chegar ao Maranhão, houve, em 1607, outra, com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado.

Francisco da Costa Pinto, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba. Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão. No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró, juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território. Em 2 de fevereiro do 1607, celebraram a primeira missa no território do atual Estado do Ceará, na foz do Rio Jaguaribe. Durante a viagem, esteve em um aldeamento denominado como Paupina, que corresponde atualmente ao centro de Messejana. Os dois avançaram até a Chapada de Ibiapaba, chegando a habitar com os índios Tabajara. Em 11 de janeiro de 1608, foi assassinado pelos índios Tocarijus, instigados pelos franceses que mantinham contatos na região por meio da Feitoria da Ibiapaba. O martírio ocorreu, provavelmente, onde, atualmente, está localizado o Município de Carnaubal, sendo enterrado no sopé da Serra Grande. “..] investindo com furor e crueldade diabólica contra o servo de Deus, lhe deram repetidos golpes com suas "ybirassangas", que são uns paus duros, largos e compridos, na cabeça, até que lha amassaram toda e lhe deram uma morte muito cruel, aos onze de janeiro de 1608” Depois da sua morte e sepultamento recebeu o alcunha de Amanaiara (o senhor da chuva) em Tupi, entre a etnias indígenas, transformando-se assim numa entidade espiritual. Os seus restos mortais viraram amuletos para o combate à seca, sendo estes trasladados até a Parangaba pelos índios Potiguara. Em janeiro de 2016, foi celebrada uma missa em Tianguá, para celebrar o início de seu processo de canonização.313 A ocupação do Maranhão faz parte da política de construção de uma linha de defesa no litoral norte do Estado do Brasil. Sobre o tema, três questões estão sempre presentes nas fontes disponíveis: 1) A expulsão imediata dos franceses; 2) As providências para travar o avanço de ingleses e holandeses pelo litoral; 3) A

ILHA, fr. Manuel da, Narrativa da custódia de Santo Antônio do Brasil, 1584-1621 http://brasilhis.usal.es/pt-br/personaje/pero-coelho-de-souza-sousa 313 FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Pinto_(padre)


possibilidade de integração comercial entre o Maranhão e as Índias de Castela, sobretudo com o Vice-Reino do Peru. Alírio Cardoso (2011) 314 apresenta, em um quadro, a origem de alguns oficiais que participaram da Conquista do Maranhão e Grão-Pará (1615-1616, baseado em Berredo (1988) 315. São eles: NOME

POSTO

ORIGEM

Manuel de Sousa de Eça

Capitão-Mor/

Ilhas dos Açores

Capitão de Infantaria Diogo de Campos Moreno

Sargento-Mor

Tanger ou Ilha Terceira

Bartolomeu Ramires

Incerto

Ilhas dos Açores

Domingos Correia

Maestro de Caravela

Ilha Graciosa (Açores)

FONTE: CARDOSO (2011), de acordo com BERREDO, Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780.

Manuel de Sousa d'Eça (? - ?)316 foi um administrador colonial que governou o Grão-Pará de 06 de outubro de 1626 a outubro de 1627. Embarcou de Portugal para o Brasil em 25 de março de 1624 e em 19 de junho de 1641 ajudou a repelir um ataque da nau francesa Régente a um forte em Jericoacoara. MANUEL DE SOUSA (DE SOUZA) DE EÇA (DEÇA) (DE SÁ) (E SÁ) 317. Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Capitão-môr do Pará que participa en la conquista de Maranhão. Fue enviado, con el rango de capitão-môr o de capitão de Infantaria, como parte de la flota de socorro integrada por siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses (CARDOSO, 2011, p. 331, CARDOSO, 2012, p. 164). En julio de ese mismo año envió un informe al Consejo de Indias, el "Roteiro do Rio das Amazonas, dado pelo capitão Manuel de Souza Dessa al S.or Vizorrey", en el cual "resume as três questões mais emblemáticas sobre a geopolítica luso-maranhense": que la ruta maranhaense ya era transitada por varias naciones enemigas de la Monarquía Hispánica (franceses, holandeses e ingleses), que estas naciones explotaban económicamente el territorio de Maranhão, y sobre el enorme valor estratégico del río Amazonas para asegurar la integración de los territorios de la Monarquía Hispánica en América. (CARDOSO, 2012, pp. 68-69, 202, 209, 213) Tras la conquista de Maranhão, acompañó en 1615 al capitão Frias de Mesquita en su viaje a Sevilla para presentar los planos para el fuerte de São Felipe. (CARDOSO, 2012, p. 167) Recebe alvará de provedor da fazenda do Rio das Amazonas a 22 de dezembro de 1616 e no ano seguinte recebe alvará de capitão de viagem do Pará. Estaba en Pernambuco en 1624 para unirse a la expedición de Francisco de Moura contra los holandeses que estaban en Salvador de Bahía. 318 314 CARDOSO, 2011, obra citada 315 Berredo, Bernardo Pereira de. Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780. 316 Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Sousa_d%27E%C3%A7a Cardoso, Alírio, "The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union (1596-1626)" Cardoso, Alírio, Maranhão na Monarquia Hispânica: Intercâmbios, guerra e navegação nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655). Disponível em http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1638 317 http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1631 318 ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1613-Março-26-Lisboa.Carta de provedor da fazenda da Paraíba a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L.32, fl. 66v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1613-Março-28-Lisboa. Carta de provedor dos defuntos de Pernambuco a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L.29, fl. 208. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1616-Dezembro-22, Lisboa. Alvará de provedor da Fazenda Real do rio das Amazonas a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 35, fl. 148v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1617-Janeiro-14, Lisboa. Alvará de capitão de viagem do Pará a Manuel de Sousa de Sá. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 35, fl. 151. AHU, Arquivo Histórico Ultramarino, AHU_CU_014, Cx. 1, D. 14. Cardoso, Alírio, "The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union (1596-1626)" Salvador, Frei Vicente do, História do Brasil


Diogo de Campos Moreno (Tânger, 1566 – 1617) 319 foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. Diogo de Campos Moreno 320 Nacido en Tanger o en la Ilha Terceira, participó como alférez en la Guerra de Flandes, en los ejércitos de Alejandro Farnesio. Nombrado Sargento mor do Brasil en 1602 cuando va a Brasil con el gobernador Diogo Botelho (Alvará de 25 de enero de 1602). A su vuelta a Europa en 1613 el rey Felipe III extinguió el cargo, pero lo volvió a nombrar para el mismo en 1613 cuando lo mandó a la conquista de Maranhão (Alvará de 19 de diciembre de 1613). Participó en las campañas para la conquista de Maranhão de 1614 y 1615. Según Cardoso (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164) fue enviado como sargento-mor en la flota de socorro, integrada por siete navíos y seiscientos hombres, que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. Figura en un documento del AHU de Lisboa según el cual se ordena: 'Pagareis ao Sargento-môr do Estado Diogo de Campos Moreno, 209.600rs que tantos tem em cada hum ano por proviçoes e Regimento de S. Mgde a saber, 80.000rs de sargento mor deste estado, e trinta e tres mil e seiscentos rs para hum atambor que su Mgde lhe concede en seu Regimento, e 96.00 rs para ajuda de custo que tudo monta os 209.600rs. AHU, Bahia, LF, Cx. 1, Doc 9.Autor de la "Relação das Praças fortes, ..." de 1609. Probable autor del "Livro da Razao do Estado do Brasil" de 1612. Autor de la "Jornada do Maranhão por ordem de Sua Magestade feita no ano de 1614". Bartolomeu Ramires 321 Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Enviado con cargo desconocido o "Incerto" en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 con el fin de

Chambouleyron, Rafael, "Conquista y colonización de la Amazonia portuguesa" Santos Pérez, José Manuel, "La conquista y colonización de Maranhão-Grão Pará: el gran proyecto de la Monarquía Hispánica para la Amazonia brasileña (1580-1640)" 319 https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno 320 http://brasilhis.usal.es/en/node/32 AGS, Archivo General Simancas, Secretarías Provinciales, 1506, fol. 19, Sobre o ordenado que ha de haver Diogo de Campos Moreno que se envia a Conquista de Maranhao. AGS, Archivo General Simancas, Secretarías provinciales, 1506, fol. 31v. sobre la confirmación de Diogo Campos Moreno como Sargento mor del Estado do Brasil ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, PT/TT/MR/1/68. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Dezembro 19. 1613, Alvará de Sargento-mor do Maranhão a Diogo de Campos Moreno. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L.32, fl. 169v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Janeiro-25, 1602, Alvará de Capitão e Sargento-Mor, a Diogo de Campos Moreno. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 6, fl. 280 v. Anónimo (Atribuido a Diogo de Campos Moreno por Varnhagen y Hélio Vianna), Report on the State of Brazil-1612 (Livro da Razão do Estado do Brasil, edición de Engel Sluiter). Rodrigues, José Honório , História da História do Brasil: historiografia colonial Moreno, Diogo de Campos, Livro que da Razão do Estado do Brasil- 1612 (edição crítica com introdução e notas de Hélio Vianna) Moreno, Diogo de Campos, Relação das praças fortes do Brasil (1609). Edição de José Antonio Gonsalves de Mello. Salvador, Frei Vicente do, História do Brasil Cardoso, Alírio, "The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union (1596-1626)" Cardoso, Alírio, Maranhão na Monarquia Hispânica: Intercâmbios, guerra e navegação nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655) Moreno, Diogo de Campos, Jornada do Maranhão Corrêa, Helidacy Maria Muniz, A conquista do Maranhão e Grão-Pará na política ibérica Moura, Alexandre de, "Documentos para a História da conquista e colonização da costa leste-oeste do Brasil" Santos Pérez, José Manuel, "La conquista y colonización de Maranhão-Grão Pará: el gran proyecto de la Monarquía Hispánica para la Amazonia brasileña (1580-1640)" Moreno, Diogo de Campos, Livro que da razao do Estado do Brasil. Ilustrado por João Teixeira Albernaz. Moreno, Diogo de Campos, Jornada do Maranhão por ordem de Sua Majestade feita no ano de 1614 321 http://brasilhis.usal.es/en/node/1638


arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Domingos Correia322 - Lugar de nacimiento: Ilha Graciosa. Mestre de caravela. Enviado en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Recebeu em julho de1635 Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil. 1Recebeu em junho de 1635 Carta de Provedor do Rio de Janeiro. Depois da ocupação do importante ponto estratégico da ilha do Maranhão, em 1615, Jerónimo de Albuquerque ficou ao comando das forças lusas na cidade de São Luís, fundada, em 1612, pela força expedicionária gaulesa derrotada (ALMEIDA, 2012) 323; diz-nos esta autora: “que nesta altura estava a ser dada prioridade à ocupação efectiva e controlo desta região por parte dos governantes”: Em 1615 Jorge de Lemos Bettencourt propôs-se a encaminhar dos Açores para o Pará mil pessoas de forma a constituir-se um núcleo populacional, mas na prática só conseguiu transportar cerca de metade dos efectivos. Quando esses colonos chegaram ao Maranhão, em 1618, souberam através da população local das condições inóspitas e das dificuldades que iriam encontrar no estabelecimento na região do Pará. A própria região do Maranhão carecia de gente para a constituição de povoados, pelo que se dava prioridade ao expediente de povoar essa zona comparativamente ao restante conjunto brasílico. O próprio governador do novo Estado do Maranhão tardou a ocupar o seu posto. [...]. O capitão-mor Jorge de Lemos Bettencourt (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109, IN . CORRÊA, 2012) 324. Jorge de Lemos de Bettencourt, nascido em 1540, era filho de Jorge de Lemos, o velho, filho de João Dias de Lemos (1480), nasceu em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e de Maria Gonçalves De Ávila, nascida em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e tinha duas irmãs,. Francisca de Lemos, e Ignez Gomes de Ávila, 1560, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal.325 Casado com Joana Bettencourt de Vasconcelos, pais de Pedro de Lemos Betancur, nascido em 1580, na Terceira; Francisco de Lemos Bettencourt; Jorge de Lemos Bettencourt, (II); Pedro de Lemos Betancur e Ignes Betancurt.326 Marques (2005) 327 coloca que, já em 1615, o governo português apela para a Igreja através dos Jesuítas e para os Açores, através de decreto real, requisitando casais para vir conquistar a região amazônica, prometendo-lhes em troca uma nova vida num novo mundo. Nesta altura, a intenção da coroa portuguesa é, ao mesmo tempo, controlar a densidade populacional do arquipélago açoriano, mas também dar aos habitantes das nove ilhas melhores condições de sobrevivência no Novo Mundo, já que as ilhas eram 322 http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1639 ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1635-Julho-27-Lisboa. Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil, a Domingos Correia. Chancelaria de D. Filipe III, Doações, L. 32, fl. 259 v. ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 1635-Junho-29-Lisboa. Carta de Provedor do Rio de Janeiro, a Domingos Correia. Chancelaria de D. Filipe III, Doações, L. 29, fl. 293. 323 ALMEIDA, Fernando Cabral Martins de. O controlo e a ocupação da região do Amazonas pelos Portugueses no século XVII. . Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades. http://cvc.institutocamoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/fernando_almeida.pdf 324 CORRÊA, 2012, obra citada 325 http://heuser.pro.br/getperson.php?personID=I3198&tree=heusers 326 https://www.geni.com/people/Jorge-Lemos-o-Velho/6000000009601887306 327 MARQUES, Francisca Ester. IMIGRAÇÃO AÇORIANA NO MARANHÃO E FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS: PRESENÇA AÇORIANA NO NORTE E NORDESTE. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, n. 28, São Luis 2005, p. 45-60.


constantemente assoladas por terramotos e erupções vulcânicas; saqueadas por piratas e corsários de todos os lados e por pragas que arrasavam as suas lavouras, causando mutações na economia local e transtornos às famílias. Mas, por outro lado, também queria garantir na região Amazônica a consolidação do domínio português e a fixação das fronteiras geográficas, quer assegurando a defesa do litoral quer organizando núcleos de colonização no Pará e no Maranhão; prossegue Marques (2005): Mas, o decreto real que requisitava os casais era selectivo e não aceitava qualquer cidadão que desejasse se alistar. A preferência era para os casais com filhos jovens ou em fase de procriação e para as mulheres donzelas, jovens e solteiras que desejasse constituir família. Era desta forma que a coroa portuguesa pretendia garantir um povoamento de qualidade na região, já que a intenção da coroa era a de que essa primeira corrente migratória fosse definitiva e pudesse iniciar um processo de miscigenação em cada parte do novo território. Assim, o alistamento dos casais imigrantes consistia em anotar, além do nome, a naturalidade, a residência, a idade, a profissão, a estatura, a cor dos cabelos, da pele e dos olhos, o formato do rosto, a forma do nariz, da boca e da barba, o estado civil e, se casado, o nome da mulher, a filiação desta, a sua naturalidade e idade, e, caso tivessem filhos, o nome e as respectivas idades. Mas, para além destes, a Coroa Portuguesa enviou também muitos degredados do Reino, assim como uma grande quantidade de homens de pequenos ofícios tais como pedreiros, oleiros, serralheiros, mercadores, mecânicos e ferreiros para a fixação definitiva dos casais. Daí que, os primeiros imigrantes açoreanos que aportaram no Maranhão em 11 de abril de 1619 vieram às custas do contratador Jorge de Lemos de Bettencourt que conseguiu, através da carta régia de 12 de abril de 1617, autorização para transportar 300 casais ao Pará, num total de mil pessoas, ao final do qual receberia o valor de 400 mil réis e a capitania de Pernambuco. Em 1618, os imigrantes partem dos Açores, sob o comando do Capitão Simão Estácio da Silveira, em três navios, mas parte deles morre na viagem chegando ao Maranhão apenas 95 casais ou 561 almas, segundo Frei Vicente do Salvador: «Na nau de que fui por capitão se embarcaram perto de trezentas pessoas, alguns com muitas filhas donzelas, que, logo chegando, casaram todas e tiveram vida que cá lhes estava mui impossibilitada, e se lhes deram suas légias de terra.» (Silveira 2001328, citado por MARQUES, 2005) Simão Estácio da Silveira foi um dos pioneiros da colonização portuguesa no Maranhão. Era de origem açoriana. Foi juiz da primeira Câmara de São Luís, procurador da conquista do Maranhão. Escreveu a obra "Relação Sumária das Cousas do Maranhão" (1619), publicada em 1624 em Lisboa, com o propósito de atrair colonos portugueses para a região. Simão Estácio da Silveira é o patrono da Câmara Municipal de São Luís, havendo em sua homenagem medalha de mérito municipal do mesmo nome. Comandou a chegada, em 1619, de trezentos casais dos Açores, tendo sido eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de São Luís. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%A3o_Est%C3%A1cio_da_Silveira O capitão Jorge de Lemos de Bettencourt, na carta encaminhada ao rei Filipe III, de Espanha, de 6 de maio de 1619, em que prestava contas de sua chegada ao Maranhão, asseverou: “tudo sai por este teor; com a povoação que fiz ordenamos Câmara e deixo tudo reduzido à razão para que torne a terra a cobrar fama que parece que escandaliza escrever-se isto duma terra que tudo produz excelentemente” (STUDART, p. 210, citado por CORRÊA, 2012) 329. 328 SILVEIRA, Simão Estácio da. Relação Sumária das Cousas do Maranhão: dirigida aos pobres deste Reino de Portugal, (8ª ed). São Paulo: ed. Siciliano, 2001, citado por MARQUES, 2005, obra citada 329 Carta de Jorge de Lemos de Betancor dando conta de como chegou ao Maranhão e do estado do logar. 6 de maio de 1619. In: STUDART, Guilherme. Documentos para a história do Brasil e especialmente do Ceará. Fortaleza: Typ. Studart, 1904, 1º v. in STUDART, Guilherme. Documentos para a história do Brasil e especialmente do Ceará. Fortaleza: Typ. Studart, 1904, 1º v., citado por CORRÊA, Helidacy Maria Muniz. COMUNICAÇÃO POLÍTICA, PODERES LOCAIS E VÍNCULOS: A Câmara de São Luís do


Rodrigues e Madeira (2003)330 afirmam que, estes primeiros imigrantes, logo que chegam: [...] também rebelam-se contra as precárias condições que tiveram que suportar desde o início da viagem; condições semelhantes as que eram infringidas aos escravos africanos e que iam desde a má alimentação até a superlotação das embarcações, já que estas viagens eram sempre financiadas por particulares em troca de favores da Coroa Portuguesa. Por exemplo, a viagem que deveria ser efetuada pelo contratador João Pereira Seixas custaria: «os casais (marido e mulher) em idade útil e com filhos, num total de 400 praças, implicariam num investimento de 1.600 mil réis, ou seja, 4 mil réis por casal; a roupa, 400 mil réis; as ferramentas e as armas, outros 400 mil réis, e o fretamento do navio, 600 mil réis. Prosseguem: assim que chegam ao Maranhão, os colonos recusam-se a seguir para o Pará: “Em terras amazônicas, o conflito estalou entre Jorge de Lemos de Bettencourt e os colonos, que, ao invés de seguirem para o Pará, ficaram no Maranhão, situação que levou o rei a ordenar que se determinassem os motivos por que tal acontecera.” (Rodrigues e Madeira, 2003)331. Marques (2005) 332 coloca que este primeiro conflito denota desde logo uma situação que se tornaria comum nas expedições posteriores: a falta de uma política real para a vinda dos colonos que, sem garantias de qualquer ordem, acabavam por se envolver em conflitos com os contratadores num primeiro momento e, com os residentes locais num segundo momento: De fato, já nesta primeira viagem, os colonos açorianos, com receio de serem mortos ou de passarem fome do Pará, exigem do rei que garanta a permanência de 333 pessoas no Maranhão ou a terça parte dos mil indivíduos envolvidos que Jorge Lemos de Bittencourt se obrigara a transportar. O contratador, no entanto, insistia que a sua missão tinha sido cumprida a serviço do rei e que os colonos eram apenas súditos, sem vontade. «esta jente são suditos (sic) e não tem vontade (....) toda esta gente veo por sua vontade para o para como he notorio não tem de que se queixar.» (Rodrigues e Madeira, 2003)333. Para tentar resolver os impasses gerados por essas revoltas, o Senado da Câmara que havia sido criado provisoriamente em 1615 é finalmente instituído em 1619 com o objetivo de organizar a vida civil e econômica da ilha, ficando o Capitão Simão Estácio da Silveira como juiz e Presidente; Antonio Simões como Procurador; os Sargentos-morAntonio Vaz Borba e Álvaro Barbosa como Vereadores e Jorge da Costa Machado como Juiz. “Dentre as medidas mais importantes, cite-se a instalação da Câmara, de que Estácio da Silveira foi feito juiz. Já em dezembro do mesmo ano de 1619, regressava ele a Lisboa, credenciado pela Câmara como procurador da conquista do Maranhão, cujos interesses se propunha defender.” (DUARTE. 2001)334.

Maranhão e a política luso-imperial de conquista do espaço. Outros Tempos, vol. 09, n.14, 2012. p.121-135. ISSN:1808-8031. file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/IHGM/A%C3%87ORES%202019/13-39-2-PB.pdf 330 RODRIGUES, José Damião & MADEIRA, Artur Boavida. "Rivalidades Imperiais e Imigração: Os açorianos no Maranhão e no Pará nos séculos XVII e XVIII", in Anais de História de Além-Mar, Lisboa, vol. IV,2003, citados por . MARQUES, 2005, obra citada 331 RODRIGUES, MADEIRA, 2003, obra citada. 332 MARQUES, 2005, obra citada. 333 RODRIGUES, MADEIRA, 2003, obra citada. 334 DUARTE, Sebastião Moreira. "Introdução", in. Relação Sumária das cousas do Maranhão: dirigida aos pobres deste reino de Portugal. São Paulo: ed. Siciliano, 2001.


Jerônimo de Viveiros (1084) 335 nos traz quem foram os concorrentes dessa eleição: Reunindo o povo, por um bando, e feita a votação, saíram por eleitores Rui de Sousa, capitão Pedro da Cunha, sargento mor Afonso Gonçalves Ferreira, Álvaro Barbosa Mendonça e capitão Bento Maciel Parente. Formou-se assim o corpo de Eleitores, cinco, que elegeu os capitães Simão Estácio da Silveira e Jorge da Costa Machado para juízes, o sargento mor Antônio Vaz Borba e Álvaro Barbosa para vereadores e Antônio Simões para procurador. Estes escolheram Estácio da Silveira para presidente. Foi esta a primeira Vereação da nossa cidade. Perdeu-se a data de sua instalação, mas sabe-se que em 09 de dezembro de 1619 ela já escreveria ao Rei, comunicando a sua instalação e os seus primeiros serviços à coletividade, e que foi portador desta carta o seu próprio presidente A 12 de julho de 1619, Antônio Ferreira de Bittencourt, natural da ilha de São Miguel, conseguiu uma autorização da Fazenda Real dos Açores para transportar, no período de três anos, cerca de 50 casais para o Maranhão, tudo à custa da sua fazenda. De fato, o navio São Francisco chega ao Maranhão no dia 29 de outubro de 1621 com 40 casais, totalizando 148 pessoas, conforme consta a certidão datada de 24 de novembro de 1622, apresentada pelo provedor da Fazenda Real dos Açores . “Estavam esses colonos contemplados no plano de governo metropolitano de instalar a indústria de açúcar incluindo dois engenhos de moer cana-de-açúcar, o primeiro sendo instalado na terra firme à margem do rio Itapecuru.” (MARIN, 2002, citado por MARQUES, 2005))336. Em 1620 Manoel Correa de Melo conseguiu transportar 200 casais, oferecendo em troca 400 mil réis para Jorge de Lemos Bittencourt. Lima (2002)337 informa: No governo de Diogo da Costa Machado (1619-1622), chegaram a São Luís, em duas levas, algumas famílias açorianas; a primeira, em 1620, trazida por Manuel Correa de Melo e por conta de Jorge de Lemos Bittencourt, sob promessa de uma recompensa de 400 mil réis pela introdução de 200 casais; a segunda, no ano seguinte, de responsabilidade de Antônio Ferreira Bittencourt, providências oficiais destinadas a instalar, na capitania, dois engenhos de açúcar. A sorte destes imigrantes permanece ignorada. Sequer conhecemos aqui as chaminés de mãos postas características das casas dos Açores. Será que ainda é possível rastrear sinais da presença dessa gente? Pereira (2002)338 nos dá uma noção de quanto era diminuta a população que habitava o Maranhão àquela época, segundo Viveiros (1992), citando a "Informação de Bernardo Pereira de Berredo a D. João V", decorridos 100 anos da chegada dos primeiros açorianos a São Luís, a capital maranhense contava apenas com 854 moradores; a Vila de Santo Antônio de Alcântara, com 332; a Vila de Santa Maria do Icatu, com 54; Mearim, com 64 e Itapecuru, com 74. De uma maneira geral, nenhuma dessas localidades prosperava, pois "da capital, ninguém saía com medo dos tapuyas; dos engenhos de Alcântara só um não estava de fogo morto; o gentio do Icatu impedia a extração do azeite de andiroba; as cachoeiras do

335 VIVEIROS, Jerônimo de. Historia do Comércio do Maranhão (1612-1695). 1984, v.01,. 336 MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo. "Açorianos nas terras conquistadas pelos portugueses no vale do Amazonas" Açorianos no Cabo Norte "Século XVII", in BARROSO, Vera Lúcia Maciel. Açorianos no Brasil. Porto Alegre: Ed. Est, 2002. 337 LIMA, Carlos.. Reportagem-viagem ao Divino Espírito Santo dos Açores. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, 24, 2002, p. 14-16 338 PEREIRA, José Almeida. CONTRIBUIÇÃO DOS AÇORES À COLONIZAÇÃO DO BRASIL NOS SÉCULOS XVII E XVIII. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, 2002, https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74


Itapecuru dificultavam a navegação; a criação de gado do Mearim estacionava por causa da indiada e, entretanto, era lá que se abastecia de carne o Maranhão". De acordo com Jerônimo José de Viveiros, "a chegada daquele piloto à frente de cerca de 400 pessoas transformou a vida de São Luís, que deixou de ser um simples quartel de tropa, defensor do domínio de uma nação, para tornar-se uma povoação de colonos, cuja vida civil e econômica precisava ser organizada" (Viveiros, 1992) 339. Para Marques (2005), os primeiros imigrantes açorianos foram responsáveis pelo estabelecimento de uma base demográfica mais estável para a ocupação e exploração dos solos, incluindo aí também os responsáveis pela viagem como aconteceu com o Capitão-mor Simão Estácio da Silveira340: Os colonos recebiam na sua chegada, mantimentos fornecidos ou pelos contratadores ou pelo governo local; terras para fazerem casa de moradia e para o aproveitamento agrícola dos solos com as culturas de pimenta, tabaco canela e também de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e aguardente. Segundo Duarte (2001) 341, Simão Estácio da Silveira tudo fez para desenvolver a nova terra: “Nesse sentido, de Lisboa e de Madri dirigiu petições ao Rei, ora propondo novo itinerário para a prata extraída do Perú, ora buscando arrendar a exploração de pau-brasil, pelo que oferecia pagamento em dinheiro e se comprometia a fundar povoações, desde que lhe fosse permitido introduzir colonos e gado nas novas terras. Do muito que pleiteou, nada obteve.” Não conformado e ainda no governo do Capitão-mor Diogo da Costa Machado, Simão Estácio da Silveira escreve a obra Relação Sumária das cousas do Maranhão: dirigida aos pobres deste Reino de Portugal, onde relata com entusiasmo as riquezas e a exuberância da nova terra. Ele começa por reforçar as fronteiras que nesta época estavam a ser confirmadas pelo Tratado de Tordesilhas: “O Maranhão é uma conquista muito grandiosa e dilatada, cuja governação Sua Magestade tem demarcado desde o Ceará (que está em três graus e um terço da parte do Sul) até o último marco do Brasil, que está em dois graus da banda do Norte, em que há de costa perto de quatrocentas léguas até o rio de Vicente Yánez Pinzón, onde dizem estar um padrão de mármore com as armas de Portugal desta parte, e as de Castela da outra, mandado ali fixar pela cesárea magestade do Imperador Carlos V. Corre dele a costa a leste quarta a sueste. Tomou este nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Perú, e para o sul tem mais de quinhentes léguas pelo sertão.”(SILVEIRA, 2001) 342. Para este açoriano, o Maranhão era a melhor terra do planeta pela riqueza, abundância e tranquilidade tal como diz no final da sua Relação :

339 VIVEIROS, J. de. - História do comércio do Maranhão (1612-1895). Edição fac-similar. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. v.1. 340 Recebeu em 30 de julho de 1619 duas léguas de terras e, uma outra por carta no dia 6 de agosto do mesmo, confirmadas de acordo com a Ordenação de Felipe III em 27 de julho de 1622, conforme registro das Chancelarias Régias de Felipe III. 341 DUARTE, 2001, obra citada. 342 SILVEIRA, 2001, obra citada.


“Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correrem os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor [...].” (SILVEIRA, 2001) 343. No ano de 1621, teria chegado um segundo grupo de açorianos, agora composto por 40 casais, trazidos por Antônio Ferreira Bettencourt (Lisboa, 1858; 1866344; Marques, 1970345; Berredo, 1988346 e Viveiros, 1992347). Em 1624, quando estas palavras são escritas o Maranhão contava já com 300 habitantes, divididos nas fortalezas de São Felipe e São Francisco em São Luís; São José, no povoado de Itapari e a de Nossa Senhora da Conceição na região de Itapecuru. Além dessas, contava com duas estâncias onde moravam alguns franceses que ficaram na ilha, depois de casados com índias, mestiços e portugueses, assim como nove aldeias espalhadas nas circunvizinhanças, cujos índios serviam aos colonos. (MARQUES, 2005) 348. Em 1625, mediante contrato celebrado com o governo português, o novo capitão-mor do Maranhão, Francisco Coelho de Carvalho, trouxe mais algumas dezenas de açorianos. Em 1632, encerrando essa primeira corrente, chegariam mais outras dezenas. A partir de 1633, novas levas de imigrantes estimulados pelas palavras de Simão Estácio da Silveira chegaram no Maranhão em dois períodos distintos, já depois de Portugal ter reconquistado a sua independência em 1640. O primeiro foi em 1648-1649 quando um decreto real, expedido em 19 de setembro de 1648, quis recrutar 100 casais na ilha de Santa Maria, ou mais ou menos entre 500 a 600 pessoas, tarefa que foi concedido por ordem do Conselho Ultramarino de 6 de abril de 1649 ao mercado alemão Martin Filter. Deste modo, além dos 52 casais que foram de Santa Maria, outras 365 pessoas da ilha de São Miguel chegaram ao Maranhão em agosto do ano seguinte, conforme relata Manuel de Sousa Menezes num artigo de 1952349 (citado por MARQUES, 2005) 350. A segunda corrente de açorianos teria ocorrido nos anos de 1675 e 1676 e o motivo principal se deveu à erupção de um vulcão na Ilha do Faial, o que deixou um grande contingente de ilhéus em sérias dificuldades (Lisboa, 1866; Wiederspahn,1979351 e Berredo, 1988). O rei de Portugal determinou ao governador do Faial, Jorge Goulart Pimentel, que providenciasse o envio de 100 casais de "homens dos mais idôneos para o trabalho e mulheres mais capazes de propagação" para povoarem o Maranhão. 343 SILVEIRA, 2001, obra citada. 344 LISBOA, J. F. Jornal de Tímom. Lisboa: [s. n.], 1858. t. 2. LISBOA, J. F. - Obras de João Francisco Lisboa. São Luís do Maranhão: Typ. de B. de Mattos, 1866. v. 3 345 MARQUES, C. A. - Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão. 3.ed. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 346 BERREDO, B. P. de. Anais históricos do Estado do Maranhão. 4. ed. São Luís: ALUMAR/Billiton/ALCOA, 1988. 390p. 347 VIVEIROS, J. de, 1992. v.1, ora citada. 348 MARQUES, 2005, obra citada. 349 MENESES, Manuel de Sousa. "Os casais açorianos no povoamento de Santa Catarina". Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. IX, 1952. 350 MARQUES, 2005, obra citada. 351 WIEDERSPAHN, H. O. - A colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ /Instituto Cultural Português, 1979.


Uma terceira leva de açorianos destinados à Região Norte do Brasil ocorreu no período entre 1752 e 1756, quando o todo poderoso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de Pombal - procurou empreender uma corrente migratória para o Grão-Pará e o Maranhão, tomando como ponto de partida, mais uma vez, o Arquipélago dos Açores. A partir daí, as migrações concentraram-se nos atuai Pará e Amapá... Seria somente durante o consulado pombalino e na sequência do Tratado dos Limites m 1750, que novos contingentes de Açorianos chegariam ao litoral amazônico (...) Desse modo, desde o início de 1750 que assistimos à execução por parte da Coroa Portuguesa, de uma política de incentivos ao transporte de colonos para o então Estado do Grão-Pará e Maranhão. (Rodrigues e Madeira, 2003)352. Para Marques (2005), é somente com a intervenção pombalina em 1750 que os colonos passaram a ser denominados de açorianos e a ter um tratamento diferenciado porque tinham que cumprir dois objetivos claros: o de miscigenação e o de urbanização. Para tanto, os colonos passaram a ser pequenos proprietários de terras que antes pertenciam a donatários, foram incentivados a produzir com financiamentos públicos, maior diversidade de produtos, entre os quais legumes e mandioca para o abastecimento da região e até poderiam receber honras e títulos pelo trabalho desenvolvido. Para Cunha (2015)353, numa segunda fase, a Coroa Portuguesa fez outra intervenção na ocupação da área litorânea. Ocorreu na metade do XVIII, sob a liderança do Marquês de Pombal, que: trocou a escravidão indígena pela negra; expulsou os jesuítas; criou a Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (CGGPM) (MEIRELES, 1960)354. A CGGPM teve um papel significativo no desenvolvimento da ocupação do Maranhão continental. Passou a aplicar uma engenhosa política de preços, trouxe mestres agricultores da Europa e a fornecer créditos aos agricultores para comprarem escravos negros, instrumentos e ferramentas de produção, sementes de qualidade de algodão e arroz, mais tarde cana-de-açúcar. Assim, houve um espraiamento dessas culturas e consequentemente, o aumento do povoamento nos vales dos quatros grandes rios navegáveis genuinamente maranhenses:  Rio Itapecuru: baixo leito - ocupados pelos colonos açorianos, onde se tornaram comerciantes, pela proximidade de São Luís, gerando entrepostos e as cidades comerciais de Itapecuru-Mirim, Rosário; Médio leito (mata dos cocais) - fixaram-se migrantes nordestinos, andando pelo caminho da Bahia, fugindo de longas estiagens. Uns se tornaram capatazes (cearenses e paraibanos) nas fazendas de algodão, outros se tornaram senhores de escravos (sobretudo pernambucanos) e surgiram as cidades de Aldeias Altas e Caxias (VIVEIROS, 1954)355.  Rio Munim: fixação de escravos fugitivos (quilombos) e reduto de índios selvagens. Economia natural de policultura. Região de chapadas pequenas e mata fechada. Mais tarde surgiu a cidade de Cachoeira Grande.  Rio Mearim – Pindaré: no médio vale as terras dos jesuítas ociosas foram ocupadas por colonos açorianos fugindo da economia natural e aproveitando os recursos existentes. Alguns viraram senhores de escravos do arroz e cana. Os capatazes dessas fazendas eram pernambucanos, pois, estavam treinados na cultura da canade-açúcar, que era mais difícil seu manejo e precisaria de mais atenção dos escravos. A relação era mais tensa e havia mais fuga, e consequentemente, surgiram vários quilombos e cidades (Cidade de Viana). Outros viraram comerciantes pois os rios facilitavam a navegação e comunicação com São Luís. PindaréMirim dinamizou e virou uma cidade comercial e depois industrial. (VIVEIROS, 1954) 356. Como exemplo, lemos no testamento do açoriano Ignácio Soares, de 1797:

352 RODRIGUES, MADEIRA, 2003, obra citada. 353 Obra citada 354 Obra citada 355 VIVEIROS, Jerônimo. História do comércio do Maranhão - 1612/1895. São Luís: Associação Comercial do Maranhão/ Lithograf, 1° v. 1992. [1954]. 356 Obra citada


Sou natural da Ilha das Florez do Bispado de Angra na ilha terceira (...) solteiro, nunca fui casado e que assim não tenho herdeiros forçosos ou ne cessários que hajam de herdar os meus benz, que eu com o suor de meu rosto e sem incargo algum de consciência adquiri pelo meu trabalho porque nada do que possuo são benz herdados (...) (MOTA, 2006, P. 132, (grifos da autora)357. Ou conforme Carlos Cordeiro e Artur Boavida Madeira (2003) 358: [...] já havia, pelo menos na década de 1670, no Maranhão, açorianos que tinham arrecadado uma fortuna considerável. Numa dessas levas, provavelmente das primeiras décadas de seiscentos, terão chegado os irmãos Pereira de Lemos – Bartolomeu, António e Catarina –, filhos de João Pereira de Lemos e Isidra Gonçalves Vilalobos, naturais da freguesia de N. Senhora do Rosário (Topo), da ilha de S. Jorge. No testamento do primeiro, Bartolomeu Lemos, solteiro, realizado em São Luís do Maranhão, em 29 de Julho de 1676, é perceptível que tinha acumulado fortuna, constituída por terras, casas, escravos, engenhos de açúcar, gado e dinheiro. O numerário provinha, sobretudo, de actividades comerciais que mantinha, inclusivamente com a ilha Terceira, para onde enviava essencialmente açúcar. Encontrava-se perfeitamente integrado na sociedade de São Luís do Maranhão, sendo membro de várias irmandades, destacando-se, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia, de que tinha sido provedor. O irmão, António Pereira de Lemos, também solteiro, de posses um pouco mais modestas, pelo que se pode perceber do seu testamento, efectuado em 21 de Agosto de 1679, foi criador de gado e proprietário de algumas fazendas. Também foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de São Luís do Maranhão359. Coutinho (2005)360, ao trazer-nos a biografia de Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho, o Barão de São Bento, (p. 314-318), nascido em Alcântara em 12/01/1819, diz ser ele bisneto paterno de Francisco de Viveiros, natural do lugar de Relves, cidade de Ponta Delgada, bispado de Angra, em Portugal, e de sua mulher Maria Rosa de Viveiros. Outro nobre maranhense, o Barão de Itapary José Joaquim Seguins de Oliveira, nascido em São Luis a 17.06.1858, vinha de uma ilustre família, a Silva Raposo do Amaral, que espraia seus ramos a das raízes do patriarca desse clã, o português Brás da Silva do Amaral, natural da Ilha de São Miguel, Portugal. Ele nasceu cerca do ano de 1740 e contraiu núpcias com Josefa Maria Lobo Raposo, nascida na real Vila de Obidos, pelo ano de 1761 (COUTINHO, 2005, p. 380)361. Josemar Lima (2017) 362 registra sobrenomes, comuns em Itapecuru Mirim, como Abreu, Aguiar, Albuquerque, Alencar, Almeida, Alves, Amorim, Araújo, Azevedo, Bandeira, Barbado, Barbosa, Barros, Cabral, Caldas, Carneiro, Coelho, Costa, Cruz, Félix, Ferraz, Freitas, Guimarães, Lima, Lins, Lopes, Machado, Marques, Mendes, Moreira, Monteiro, Mota, Muniz, Nogueira, Oliveira, Peixoto, Pinto, Ramos, Ribeiro, Rodrigues, Rocha, Santos, Silveira, Siqueira, Teixeira e Ximenes são heranças dos nossos patrícios açorianos. Para ele, A Festa do Divino Espírito Santo e suas caixeiras; A Dança do São Gonçalo, uma dança só para homens; Os Folguedos Juninos e seus quitutes; As Ladainhas Cantadas em Latim; e As Festas de Largo são, também, legados deixados pelos açorianos e muitos deles continuam povoando a vida dos itapecuruenses até os dias atuais. 357 MOTA, Antonia da Silva. FAMILIA E FORTUNA NO MARANHÃO COLONIA. São Luis: EDUFMA, 2006. XXVIII Concurso Literario Cidade de São Luis, Premio Antonio Lopes Pesquisa Histórica, 2º lugar, 2004. 358 CORDEIRO, Carlos; MADEIRA, Artur Boavida. A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL (1541-1820) uma leitura em torno de interesses e vontades. In ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, VII (2003), p. 99-122 359 Cfm. MARTINS, Ananias Alves, “Imigrantes esquecidos na fronteira norte. Açorianos na colonização e na cultura. Maranhão, século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 16-41. 360 COUTINHO, Milson. FIDALGOS E BARÕES – UMA HISTÓRIA DA NOBILIARQUIA LUSO-MARANHENSE. São Luis: Geia, 2005 361 Obra citada 362 LIMA, Josemar. OS AÇORIANOS EM ITAPECURU MIRIM. Série Crônicas – Ano IV/nº 41/2017, in BLOG DA JUCEY SANTANA, disponível em http://juceysantana.blogspot.com/2017/05/os-acorianos-em-itapecuru-mirim.html


Encerra Marques (2005): Passados quatro séculos desde a primeira leva de imigrantes, ainda é possível observar vestígios desta presença em todos os cantos do Maranhão. Da festa do Divino do Espírito Santo ao baile de São Gonçalo, das festas juninas ao carnaval passando pela culinária, pela decoração e cores das casas, pelos nomes das famílias e pelos traços fisionômicos a presença açoriana ainda se faz sentir em cada sorriso do maranhense. [...] Num período de 135 anos, chegaram 6.254 indivíduos (MARQUES, 2005) 363: No século XIX continuou a chegada de portugueses – em especial, açorianos – ao Maranhão... Assim, toda a região amazônica, do Maranhão ao Pará, do Amazonas ao Amapá foi constituída por esse lastro político açoriano que forjou os costumes, a cultura, as festas, o modo de ser e de estar açoriano, os bailados, as lendas, os mitos e as superstições, o jeito de falar e a alma alegre que se incorporou ao saber local, tornando-se aspectos comuns às duas culturas desde então, resultado da intensidade religiosa milenar e devocional, a moralidade única da palavra dada, o sentido de insularidade e a cultura folclórica que sustentam, ao longo dos séculos, o imaginário popular (MARQUES, 2005) 364. Encontramos no Maranhão, ainda no Século XVII, como parte da herança cultural portuguesa, além das danças e comédias representadas no adro das igrejas, o entrudo e as cavalhadas, estas sob as formas de encamisadas, do jogo das canas e do jogo das argolinhas. A origem da Festa do Divino se encontra em Portugal do século 14, com uma celebração estabelecida pela rainha Isabel (1271-1336) por ocasião da construção da igreja do Espírito Santo, na cidade de Alenquer. A devoção se difundiu rapidamente e tornou-se uma das mais intensas e populares em Portugal.365 A devoção ao Divino encontrou um solo fértil para florescer nos territórios portugueses, especialmente no arquipélago dos Açores. De lá, espalhou-se para outras áreas colonizadas por açorianos, como a Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América, e diversas partes do Brasil.366 A Festa do Divino Espírito Santo no Maranhão é um dos muitos festejos que fazem parte da cultura popular, destacando-se como um dos mais importantes, por sua ampla difusão e pelo impacto que tem sobre a população. Provavelmente teve início com os colonos açorianos e seus descendentes, que desde o início do século XVII começaram a habitar a região. Em meados do século XIX, a tradição da festa do Divino estava firmemente enraizada entre a população da cidade de Alcântara, de onde teria se espalhado para o resto do Maranhão, tornando-se muito popular entre as diversas camadas da sociedade, especialmente as mais pobres. Essa popularidade entre os setores mais humildes da população maranhense, inclusive os escravos, talvez possa ser explicada pela ênfase não só na fartura, mas também na fraternidade e na igualdade, que o culto ao Divino costuma apresentar367. Hoje, existem dezenas de festas do Divino espalhadas por todo o Estado, levando adiante uma tradição viva e dinâmica, em que se destaca a beleza do repertório musical. É realizada no mês de maio ou junho, terminando no Domingo de Pentecostes, sendo que desde o Sábado de Aleluia, os festeiros começam a se

363 MARQUES, Francisca Ester. IMIGRAÇÃO AÇORIANA NO MARANHÃO E FUNDAÇÃO DE SÃO LUIS: PRESENÇA AÇORIANA NO NORTE E NORDESTE. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, n. 28, São Luis 2005, p. 45-60. 364 MARQUES 2005, obra citada 365 https://www.google.com/search?q=DEBET+%2B+FESTA+DO+DIVINO&oq=DEBET+%2B+FESTA+DO+DIVINO&aqs=chrome..69i 57.12327j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8 366 https://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_do_Divino_Esp%C3%ADrito_Santo 367 São Luís.». turismosaoluis.com.br PACHECO, Gustavo, GOUVEIA, Cláudia, e ABREU, Maria Clara. Caixeiras do Espírito Santo de São Luís do Maranhão. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2005.


preparar para o grande dia em que o imperador recepciona seus convidados com um almoço e farta mesa de doce368. Além de ser um rito importante para os cristãos, a festividade faz parte do calendário religioso afrobrasileiro. Foi assim que Bartira, formada na Casa Fanti-Ashanti – ligada ao tambor de mina e ao candomblé –, aprendeu todos os fundamentos e particularidades da celebração e se tornou uma das mulheres caixeiras, personagens estruturais na Festa do Divino. São elas que conhecem todo o ritual, os toques e os cânticos. “São responsáveis pelas partes mais importantes da festa, como costumamos cantar: ‘Deixe-me cantar bem alto para chamar as companheiras. Sem elas não se faz festa, quem toca caixa é caixeira’”, diz a diretora. 369 Em Alcântara, no Maranhão, a tradição do Divino é revivida com a presença de cerca de 100 mil pessoas. Além da corte imperial, os participantes representam personagens do Brasil colonial. Pela tradição, o imperador prende alguém antes da festa, acusando-o de provocar desordem. Durante os festejos, ocorrem o levantamento de mastro, missas e cortejo370. Nos relatos de experiências do livro dos 30 anos do NEA (ALVES, 2015)371, Mariangela Leite (2016)372 lista 26 (vinte e seis) brinquedos e brincadeiras de base açoriana. LércioVitorino de Jesus Oliveira (2016)373 também se refere às brincadeiras de rua das crianças, realizadas na Laguna, distrito do Ribeirão Pequeno, assim como outros depoentes, rememorando essas atividades naquele Colóquio dos 30 anos do NEA. Verificamos que muitos daqueles brinquedos e/ou brincadeiras, jogos infantis, aconteciam – e acontecem – também, e eram objetos de lembranças de crianças e de mais velhos. Considerando “Jogo” como atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatória dotada de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida cotidiana”. (Huizinga, l980, p. 33)374. Abrange jogos de força e de destreza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo gênero. Em palestra apresentada no CONGRESSO INTERNACIONA 400 anos da PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO, São Luís, 23 a 25 de outubro de 2019, promovida pela Casa dos Açores do Maranhão, referime à esse jogo/luta que aparece na Baixada Maranhense375. Informo que encontrei descrição de luta-jogo semelhante ao “tarracá”, trazida por vaqueiros portugueses - de origem açoriana - durante o período colonial, a Galhofa - o “wrestling tradicional transmontano” - que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha. Mathias Röhrig Assunção (2001) 376 pergunta se existirá um carnaval maranhense que seja mais que um carnaval no Maranhão? É difícil de definir no que consiste exatamente o chamado carnaval maranhense, de traçar-lhe limites que o demarcariam nitidamente dos outros carnavais brasileiros. Desde a época colonial, manifestações externas foram introduzidas, reapropriadas e acabaram tornando-se maranhenses. A partir de quando adquiriram caráter “maranhense”?

368 https://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_do_Divino_Esp%C3%ADrito_Santo 369 https://www.itaucultural.org.br/rumos-2015-2016-registro-da-tradicao-festas-do-divino-espirito-santo-pelo-brasil 370 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/festa-do-divino-comemoracao-tem-sete-seculos-deexistencia.htm 371 Alves, 2016, obra citada. 372 LEITE, Mariangela. Brinquedos e brincadeiras de base açoriana. In Alves, 2016, obra citada., p. 207-208 373 OLIVEIRA, Laércio Vitorino de Jesus. Memória: um patrimônio irrenunciável. Comunidades do distrito de Ribeirão Pequeno da laguna. In Alves, 2016, obra citada. P. 181-196 374 Huizinga, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 1980. ISBN 9788527300759. 375 Chama-se Baixada Maranhense a região a oeste e sudeste da ilha de Upaon-Açu (São Luís), formada por grandes planícies baixas que alagam na estação das chuvas, criando enormes lagoas entre os meses de janeiro e junho. https://pt.wikipedia.org/wiki/Baixada_Maranhense 376 ASSUNÇÃO, Mathias Röhrig. Resgatando o carnaval de rua: a fuzarca maranhense contra a homogeneização nacional-global. REVISTA USP, São Paulo, n.48, p. 159-178, dezembro/fevereiro 2000-2001, p. 159-178


Ramsés Silva (2009)377, em seu Blog dedicado à cultura maranhense, diz que São Luís, atualmente, vive um momento de resgate das características originais e primitivas do seu Carnaval. As primeiras manifestações momescas teriam aparecido em São Luís entre o final do século XVIII e o início do século XIX. E o representante maior das referidas manifestações, principalmente na segunda metade do século XIX, teria sido a brincadeira do Entrudo. O termo surgiu em Portugal e significa "entrada", e era festejado em comemoração à entrada da primavera, antes do cristianismo. Depois da implantação do cristianismo na Europa, a data de celebração do Entrudo acabou convergindo com o período carnavalesco. No Brasil, o Entrudo reinou absoluto no período colonial, atingindo seu apogeu durante o século XIX. Judith Bogéa Bittencourt se lembra de suas origens, em trabalho de pesquisa genealógica reversa que está empreendendo e nos trás: Antonio de Bittencourt e Silva, era natural da freguesia de Santa Cruz da Ilha dos Açores, Portugal, negociante e representante atacadista de especiarias que recebia da Europa no porto do Pará para vender em São Luís, era autodidata em astronomia, matemática e carpintaria e maçom da Loja Estrella do Oriente (Fonte: Estrela do Oriente anuário MA Ed.5 (1) p. 13 de 31.12.1878), era moreno, olhos pretos, esbelto, usava bigode longo nas laterais, cabelos ondulados e era bonito sua esposa Josephyna Rosa Fortuna Bittencourt, natural na época da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Sam Luiz, Província do Maranhão, Brasil, maranhense, ludovicense, cuidava da família e do lar, era branca, olhos azuis celeste, esse casal teve onze filhos. Na entrevista que me concedeu, perguntada se tinha conhecimento de manifestações culturais, ou históricas, de base açoriana, no Maranhão? Ainda existe essa memória?, responde: Do que o bisavô da freguesia de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Açores, cantava e narrava histórias e estórias para as suas filhas o que dele ficou elas nos repassaram com seu carinho, estórias narradas, doces saborosos, músicas cantadas e relatadas em versos que elas faziam. Das estórias lembro uma do jeito que contavam para nós, das músicas e danças lembro ainda hoje, uma como dançávamos e do verso cantado tenho um em papel de carta fino escrito, com caneta tinteiro, em 1959 que fizeram no dia em que completei 7 anos, é uma relíquia para mim, pena que não gravei a voz delas, porém tenho a melodia comigo de tudo tenho o doce gosto do convívio com elas que também faziam citação sobre os corsos de carnaval, e creio que tinham participação nos mesmos quando jovens, elas eram pessoas alegres e colaboradoras. Pelo que ouvi falar foram os açorianos quem trouxeram o fogareiro e o ferro de engomar para o Maranhão. Quanto ao “tarracá”, citado na sua palestra no Congresso, conhecia como brincadeiras de criança, com meus irmãos nos atarracávamos, antes do banho, éramos 4 nessa época, Aristides, o caçula é temporão, nasceu depois dos meus 13 anos, e dos 9 anos após o então caçula Fernando, não sabia que era um termo de brincadeiras açorianas. Ao discorrer da origem dos Bittencourt do Maranhão, relata: Foi intensa a imigração Açoreana, e várias famílias deste sobrenome fixaram-se pelo Brasil. No Sul, foi enorme o número de imigrantes das Ilhas das Canárias, assim como em São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro e no Maranhão trazidos pelo Sr. Jorge de Lemos Bitancourt no Sec. XVII. Sobrenome normando de um povo medieval que se estabeleceu no norte da Península Ibérica (hoje na Normandia-França), e se fixou em terras dos navegadores normandos originados dos povos Vikings378.

377 SILVA, Ramsés. Os Antigos Carnavais. In BLOG EM CENA, São Luis, 8 de fevereiro de 2009, disponível em http://saoluisemcena.blogspot.com/2009/02/os-antigos-carnavais.html 378 Os nomes cujo final acabavam em Court com um nome germânico em seu inicio, devem sua origem a fazendas cujos donos eram alemães, como Beet em alemão significa acelga ou beterraba, concluísse que o sobrenome se refira a um agricultor destas hortaliças, foram registradas as variantes: Betencor, Betancor, Batancor e Bethencourt, Bithancourt. Fonte: http://www.armorial.net (brasão) - http://www.geocities.com.br/Ibenzi/ (texto). Fonte: Judith Bittencourt – origem dos Bittencourt. In Correspondencia pessoal.


[...] Vieram dos Açores em três ramos representados por Antão Gonçalves de Ávila Betencourt, que diretamente de Espanha se foi estabelecer na ilha Terceira, no primeiro período da sua colonização, por Francisco de Betencourt, que da Madeira se passou à referida ilha Terceira, pouco mais ou menos em meado do século XVI, e por Gaspar de Betencurt, que da Madeira também mudou residência para a ilha de S. Miguel. Fonte Bittencourt da Bahia, tia de Bitencourt do Rio de Janeiro. 2016. Os Betencurts das Ilhas do Faial e Pico vieram, em primeiro lugar, por via de Filipa Vaz de Ávila, casada com Álvaro Pereira da ilha do Pico, a qual presumo descender (neta talvez, à falta de melhor opinião) de Maria Gonçalves de Ávila, filha de Antão Gonçalves de Ávila Betencourt, a que acima me refiro, e casada com Antão Fernandes Leal; em segundo lugar, e já modernamente, no começo do século passado, por José Betencourt de Vasconcelos, natural da ilha Terceira, e descendente da conhecida casa de Vital de Betencurt. Fonte: Bittencourt da Bahia, tia de P. C. M. Bitencourt F. 2016. Continuado a busca pelos ‘manezinhos’, consultamos o “Dicionário...” de Cesar Marques (1870, 1970, 2009)379 referencias à participação açoriana na conquista e colonização do Maranhão. A primeira é encontrada à página 73, conforme o índice remissivo, e remete ao verbete “AÇORISTA”: (AL) Açoristas – Assim eram denominados os colonos vindos das Ilhas dos Açores para povoar o Maranhão. Levas de açoristas vieram em 1620 à custa de Jorge de Lemos Bittencourt, “a quem se fez promessa de uma comenda de 400$ pelo benefício de meter no Maranhão 200 casais”. A de 1621 era de 40 casais, tendo chegado ao porto de São Luís trazido por Antônio Ferreira de Bittencourt. No governo de Francisco Coelho de Carvalho, seu irmão, o Des. Antônio Coelho de Carvalho, donatário da capitania de Cumã levou para esta, num nacio inglês, uma leva de colonos acoristas./ Foi para fazer propaganda das vantagens da emigração do Reino e suas ilhas adjacentes para o Maranhão que o cap. Semão Estácio da Silveira, ligado à empresa formada para manter açoristas, escreveu em 1624 sua Relação sumária das coisas do Maranhão, dirigida aos pobres do Reino.” No verbete “Arroz”, p. 146-160, á pag. 148 consta: (AL) [...] Carneiro de Freitas, em seu Relatório já citado, pretende que o arroz vermelho ou “da terra” fora trazido dos Açores para o Maranhão pelos primeiros colonos que das ilhas adjacentes de Portugal vieram para plagas maranhenses em 1624. Mais adiante, verbete “Expedições antigas”, pags. 455-461, consta na página 457 ‘expedição por terra”, referencia à de 1603, por Pero Coelho de Sousa, “homem fidalgo, natural dos Açores” [...]. No verbete “Governadores do Maranhão, à pag. 503, referindo ao governo de Diogo da Costa Machado: [...] Nesse mesmo anoà cidade de São Luis chegou das Ilhas dos Açores um navio comandado por Manoel Correiua de Melo à custa de Jorge de lemos Bittencourt “a quem foi prometida uma comenda de 400$000 réis, se a esta capitania trouxesse 200 casais!./ Vieram nele por conta de tal débito algumas famílias e ainda outra, conduzindo igual carga e o próprio Bittencourt. O cap. Diogo da Costa Machado foi incansável e pródigo em abrigar estes primeiros colonos que teria o Maranhão, os quais se julgavam “felizes na mudança dos pátrios lares”. O inverso também acontecia, como consta à página 562, quando trata do governo de José Tomás de Menezes, que, destituído do governo do Maranhão, fora conduzido para o governo das Ilhas dos Açores, ato logo a seguir revogado. 379 Vamos utilizar a edição de 2008 – MARQUES, Cesar Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed., revista e ampliada. São Luis, AML, 2008, edição crítica de Jomar Moraes, índice remissivo de Lino Moreira. Tenho as duas edições anteriores...


À página 738, sob o verbete “Ilha do Maranhão” as páginas 726 a 730, ao tratar das “freguesias”, consta: [...] 1621, reinando a epidemia das bexigas aqui, aportou uma embarcação, vinda do das Ilhas dos Açores, com 40 casair, e que Diogo da Costa, depois de acomodar todas as famílias com a costumeira liberalidade, para aplacar a ira de Deus, que durava ainda na sua maior força, lhe levantou à sua conta a igreja matriz (...) essa freguesia é a de N. S. da Vitória.


E CUMPRE-SE A PROFECIA: ALGUMAS NOTAS SOBRE A COLONIZAÇÃO AÇORIANA NO NORTE DO BRASIL – MARANHÃO E GRÃO-PARÁ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Licenciado em Educação Física. Mestre em Ciência da Informação Frei Diogo das Chagas380, por meados do século XVII, se socorria de um hipotético dito, em tom profético, atribuído ao infante D. Fernando, que parecia condensar o que já então era uma realidade nas ilhas: “elle como profetizando disse os primeiros pouoadores dessas Ilhas roçarão, e trabalharão, e seus filhos semearão, os netos uenderão, e os mais descendentes fugirão dellas o que assim aconteçeo, conforme o que ate aqui os tempos nos tem mostrados” (CORDEIRO; MADEIRA, 2003)381 Para Rodrigues (2015) 382, a participação açoriana na colonização do Brasil (e, depois, no Estado do Maranhão e Gão-Pará...) foi significativa, como reconhece a historiografia. No total, se acrescentarmos aos números que foram apresentados os de alguns recrutamentos militares que também se efetuaram nas ilhas açorianas, a documentação disponível para o século XVII permite apontar para uma corrente migratória considerável, entre os 5.000 e os 6.000 indivíduos: ANOS ILHAS NÚMEROS 1618 Grupo Central 95 casais / 561 almas 1621 São Miguel ? 40 casais / 148 pessoas 1649 Santa Maria, São Miguel 52 casais / 365 pessoas 1666 Faial 50 casais 1675 Faial 234 pessoas 1677 faial 223 pessoas Quadro 1: Contingentes de povoadores dos Açores na Amazónia (século XVII).383 1615, Jorge de Lemos de Bettencourt, capitão e fidalgo da Casa Real, se ofereceu para, à sua custa, transportar duzentos casais dos Açores para o Pará, num total de mil pessoas384. 1618, A leva de colonos partiu dos Açores e, segundo os dados apresentados por frei Vicente do Salvador, chegaram ao Maranhão somente 95 casais, com alguns solteiros, num total de 561 almas, transportadas em três navios385.

380 Cf. Frei Diogo das Chagas, Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, direcção e prefácio de Artur Teodoro de Matos, colaboração de Avelino Freitas de Meneses e Vitor Luís Gaspar Rodrigues, Ponta Delgada-Angra do Heroísmo, Universidade dos Açores/Centro de Estudos Gaspar Frutuoso-Secretaria Regional da Educação e Cultura/Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 1989, p. 120. 381 Citado por CORDEIRO, Carlos; MADEIRA, Artur Boavida. A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL (1541-1820) uma leitura em torno de interesses e vontades. ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, VII (2003) 99-122, https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/384/1/Carlos_Cordeiro_p99-122.pdf 382 RODRIGUES, José Damião. Das pequenas ilhas ao vasto sertão: os casais açorianos no povoamento de uma fronteira imperial (Amazónia, século XVII). Naveg@mérica. Revista electrónica editada por la Asociación Española de Americanistas [en línea]. 2015, n. 15. Disponible en: . [Consulta: Fecha de consulta]. ISSN 1989-211X. 383 RODRIGUES, 2015, obra citada. 384 Cf. Arquivo dos Açores, 2ª Série, Ponta Delgada, Direcção Regional da Cultura-Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, vol. I, 1999, doc. 53, pp. 242-246, maxime p. 243. In RODRIGUES, 2015, obra citada.


1619 a primeira leva terá chegado somente em 11 de Abril (CORDEIRO, MADEIRA, 2003)386: “A colónia do Maranhão prosperou constantemente: em 1621 duzentos colonos [casais?] dos Açores [possivelmente aqueles que terão chegado em 1619] aos quais seguiram mais quarenta, vieram reparar os danos causados pelas bexigas”387. Em terras amazónicas, o conflito estalou entre Jorge de Lemos de Bettencourt e os colonos, que, ao invés de seguirem para o Pará, ficaram no Maranhão. Os ilhéus não se mostraram disponíveis para acatar as ordens do chefe da expedição e, em requerimento feito em São Luís do Maranhão a 11 de Maio e assinado por 34 dos naturais das ilhas, apresentaram as suas razões, reclamando que ficasse no Maranhão a terça parte dos mil indivíduos que Jorge de Lemos de Bettencourt se obrigara a transportar e declarando que, aparentemente, o contratador pretendia que todos fossem para o Pará, o que eles recusavam, pois o Pará era então uma região em estado de guerra e sem “modo de povoar”. Devido a este insucesso e ao não cumprimento do estipulado, o rei questionaria mesmo Jorge de Lemos de Bettencourt acerca desta questão388 Martins (2002) afirma tratar-se dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão389. Nova proposta de transporte de ilhéus para a conquista. Desta vez, o licenciado António Ferreira de Bettencourt, natural de São Miguel, conseguiu a mercê do ofício de provedor da Fazenda Real dos Açores por três anos ao oferecer-se para trazer da Flandres dois mestres na arte do fabrico de salitre e pólvora e para colocar no Maranhão cinquenta casais, tudo à custa da sua fazenda. 1621, criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, com capital em São Luís do Maranhão, reconhecendo-se a importância estratégica e económica da foz e bacia do Amazonas, assim como das dificuldades de comunicação que existiam entre o Maranhão e a sede do governo da América portuguesa, situada em São Salvador da Baía. 1622, a 24 de Novembro, o provedor da Fazenda Real dos Açores apresentou o traslado autêntico de uma certidão emitida pelo escrivão da Fazenda na conquista do Maranhão, datada de 29 de Outubro de 1621, confirmando a chegada no navio São Francisco de quarenta casais, perfazendo 148 pessoas390. 1624, por alvará de 21 de Março, o Estado do Maranhão e Grão-Pará fosse separado do Estado do Brasil. 1628, estariam prontos mais 200 casais que aguardavam a chegada de navios que os transportassem para as “conquistas do Maranhão e Rio391 1641, dando continuidade à guerra contra os Ibéricos e à sua dinâmica de conquista territorial na América do Sul — Pernambuco estava sob ocupação neerlandesa desde 1630 —, os Holandeses ocuparam o Maranhão. 1644, depois da expulsão dos Holandeses, o recém-criado Conselho Ultramarino defendeu a necessidade de povoamento do Estado do Maranhão e, em consulta de 29 de Julho desse mesmo ano, sugeriu a D. João IV que fossem concedidas passagens e mantimentos a todos aqueles que pretendessem seguir para aquela região 385 SALVADOR, frei Vicente do. Historia do Brasil. 3ª ed. Revista por Capistrano de Abreu e Rodolpho Garcia, São PauloCayeiras-Rio de Janeiro, Companhia Melhoramentos de S. Paulo, s. d. [1931], p. 456. 386 Cf. Arquivo dos Açores, 2ª Série, Ponta Delgada, Direcção Regional da Cultura-Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, Vol. I, 1999, doc. 53, pp. 242-246. Cf. igualmente Manuel Diégues Júnior, “Contribuição dos casais ilhéus à fixação do ‘uti-possidetis’”, in Anais do Primeiro Congresso de História Catarinense, Outubro de 1948, Florianópolis, Imprensa Oficial, 1950, vol. II, p. 474, citado por CORDEIRO, Carlos; MADEIRA, Artur Boavida. A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL (1541-1820) uma leitura em torno de interesses e vontades. ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, VII (2003) 99-122, https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/384/1/Carlos_Cordeiro_p99-122.pdf 387 Cf. J. I. de Abreu e Lima, Compêndio da História do Brasil, Rio de Janeiro, 1882, p. 74, cit. por Manuel de Paiva Boléo, Filologia e História. A emigração açoriana para o Brasil (com documentos inéditos), Coimbra, Edição da Casa do Castelo, 1945, p. 10. 388 Cf. carta régia de 5 de Março de 1619, in Documentos para a História do Brasil e especialmente a do Ceará: 1608-1625. Editados por Guilherme de Studart [Barão de Studart], Fortaleza, Typ. Minerva, de Assis Bezerra, 1909, vol. 2, pp. 181-182. In RODRIGUES, 2015, obra citada. 389 Cf. Ananias Alves Martins, “Imigrantes esquecidos na fronteira norte. Açorianos na colonização e na cultura. Maranhão, século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 16-41. 390 Cf. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Conselho Ultramarino (CU), Brasil-Maranhão, caixa (cx.) 1, doc. 51, de 24 de Novembro de 1622. 18 Cf. COSTA, João Paulo Oliveira. In RODRIGUES, 2015, obra citada. 391 Cf. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Açores, caixa 1, doc. 43 (01/08/1628).


de fronteira392. Trata-se dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão393 1648-1649, mais alguns casais das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel eram conduzidos à capitania do Maranhão394: pelo Decreto de 19 de Setembro de 1648, pretendia-se recrutar, em Santa Maria, 100 casais, “que constavam de quinhentas para seiscentas pessoas”395. 23 de Abril de 1649, partiram, de Santa Maria e de S. Miguel, para o Maranhão 52 casais, com 365 indivíduos, onde terão chegado em Agosto do ano seguinte396. 1650 Esta leva, em particular, não agradou ao Governador do Maranhão, Luís de Magalhães, que, solicitava lhe enviassem degredados para colmatar a falta de gente, porque “a q. elle se enuiou da Ilha de S.ta Maria não hauer sido de nenhum seru.ço, nem utilidade, por seu pouco prestimo, e coitadisse q. não presta para mais q. p.a fogir ao trabalho, e pedir esmolas p.las portas” 397 1654 , o padre António Vieira, em carta dirigida a D. João IV, escrita no Maranhão e datada de 4 de Abril, numa referência explícita à situação vivida em La Rochelle durante os conflitos religiosos em França: “O Maranhão e o Pará é uma Rochela de Portugal, e uma conquista por conquistar, e uma terra onde V. M. é nomeado, mas não obedecido” 398. 1666-1667, segunda leva por gente do Faial, terão transitado para ali 50 casais da ilha do Faial, que se estabeleceram no Pará399. Comenta Rodrigues (2015), a quem estamos seguindo, [...] mesmo com a chegada de novos povoadores oriundos das ilhas, por meados do século XVII existiam apenas nove povoações portuguesas na região, com menos de 3.000 moradores brancos e, em 1663, o procurador do Estado do Maranhão, Manuel da Vide Souto Maior, afirmava que o número de moradores naquele território era de 700, uma cifra que incluía somente a população adulta e masculina23. Por esse motivo, e face à apetência das nações rivais pelas riquezas das terras do Maranhão, Paulo da Silva Nunes, representante dos moradores, defendia que, para a defesa daquele Estado, eram necessários “muitos mil moradores brancos” e que a solução estaria em povoar o Estado do Maranhão com casais da Madeira, determinando a coroa que “em cada anno, sem duvida alguma, se lhe remetão sincoenta cazaes de moradores das ditas ilhas ou de outras partes, quando naquellas já os não haja”400. No Pará, o cenário era ainda pior: uma carta do governador do Estado informava, em 1674, que o número de moradores não excedia os duzentos casais e que as três companhias pagas aí existentes não atingiam os sessenta homens. Face a este panorama, o Conselho Ultramarino emitiu um parecer sublinhando o “quanto convinha, que V. A. mandasse cazais das Ilhas, para povoarem aquella Conquista”401. 392 Cf. AHU, CU, Brasil-Maranhão, cx. 2, doc. 155 393 Cf. Ananias Alves Martins, “Imigrantes esquecidos na fronteira norte. Açorianos na colonização e na cultura. Maranhão, século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 16-41. 394 Cf. Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII. Aspectos sócio-económicos (1575-1675), Castelo Branco, Edição da autora, 1979, p. 29. A este propósito cf., também, AHU, Açores, caixa 2, doc. 4 (16/04/1649). 395 Cf. “Mandado do Conselho da Fazenda, para o Almoxarife da ilha de Santa Maria. 1648”, in Arquivo dos Açores, vol. I, p. 485. 396 Cf. Manuel de Sousa Menezes, “Os casais açorianos no povoamento de Santa Catarina”, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, n.º 9, 1952, p. 40-104, maxime p. 68. 397 Cf. Manuel de Paiva Boléo, Filologia e História…, ob. cit., p. 35 – Anexo: doc. 17. 398 . VIEIRA, padre António. Cartas. Coordenadas e anotadas por J. Lúcio de Azevedo. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, reimpressão da edição de 1970, 1997, tomo I, carta LXVIII, pp. 405-414, maxime p. 406 399 Cf. Walter F. Piazza e Vilson Francisco de Farias, “O contributo açoriano ao povoamento do Brasil”, Actas da III Semana de Estudos da Cultura Açoriana e Catarinense, Ponta Delgada, 1993, pp. 191-220. Cf., também, Rosa Elizabeth Acevedo Marin, “Açorianos nas terras conquistadas pelos portugueses no vale do Amazonas. Açorianos no Cabo Norte – século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 42-60. 400 “Description de Maranhao”, In: MAURO, Frédéric. Le Brésil au XVIIe siècle. Documents inédits relatifs à l’Atlantique Portugais. Separata de Brasília. Coimbra. 1963, vol. XI, pp. 183-191, maxime p. 189; CHAMBOULEYRON, Rafael. A Amazônia colonial e as ilhas atlânticas. Canoa do Tempo. Revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas. Jan./Dez. 2008, vol. 2, n. 1, pp. 187-204, maxime pp. 203. 24 Cf. “Description de Maranhao”, in MAURO, Frédéric. Ob. cit., p. 191 401 Cf. AHU, CU, Brasil-Maranhão, cx. 5, doc. 590, carta do governador do Maranhão de 25 de Julho de 1674 e consulta do Conselho Ultramarino de 16 de Outubro de 1674.


1672. devido às erupções que atingiram a Ilha de Faial402, a 22 de Dezembro desse ano, os oficiais da câmara da vila da Horta escreveram ao Infante D. Pedro, então curador do rei e governador dos reinos, solicitando que os moradores das freguesias do Capelo e da Praia, no norte da ilha, passassem ao Maranhão, devido à sua muita pobreza403 1673, a 7 de Outubro, a questão fora abordada em consulta do Conselho Ultramarino e, a 28 de Novembro, este órgão examinou a proposta de João Pereira Seixas de levar para o Maranhão os casais da ilha do Faial a bordo da sua fragata, assunto que foi retomado em consulta de 13 de Janeiro de 1674404 28 de Novembro, consulta do Conselho Ultramarino é especialmente útil para a análise do mecanismo de transporte dos casais até terras sul-americanas na medida em que nos permite conhecer a relação de custos apresentada por João Pereira Seixas: os casais (marido e mulher), em idade útil e com filhos, num total de 400 praças, implicariam um investimento de 1.600.000 réis, ou seja, 4.000 réis por casal; a roupa, 400.000 réis; as ferramentas e as armas, outros 400.000 réis; e o fretamento do navio, 600.000 réis. (RODRIGUES, 2015, obra citada.) Desconhece-se se este transporte de casais teve lugar, informa Rodrigues, 2015. 1674, o capitão-mor da ilha do Faial, Jorge Goulart Pimentel, tinha já prontos 100 casais que deveriam seguir no ano seguinte para o Brasil405·. Exigia-se, então, que os casais fossem compostos “dos homens mais idoneos para o trabalho, cujas mulheres sejam capazes de propagação e tenham mais filhos para se formar uma nova povoação; para cujo effeito ordenareis sejam de todos os officios: lavradores, pedreiros, carpinteiros, e ferreiros, serralheiros, sapateiros e alfaiates”406. 1675, a 18 de Agosto, partia daquela ilha a fragata Nossa Senhora da Palma e São Rafael com 50 casais faialenses (234 pessoas), tendo por destino o Pará. O capitão-mor Jorge Goulart Pimentel dava ainda conta de “que os outros cincoenta cazais ficarão promptos, e muytos delles, por pobres, em cazas suas, sustentandoos à sua custa; e que alem destes 50 que estão promptos, se podem tirar daquella Ilha, e da do Pico (de que he Governador) cem cazais mais, sem todos estes fazerem falta”407. Em todo este processo, Jorge Goulart Pimentel contou com as prestimosas colaborações do provedor da Fazenda Real nos Açores, Agostinho Borges de Sousa, e do almoxarife do Faial, Jorge Furtado de Arês, motivo pelo qual seriam elogiados pelo Conselho Ultramarino, que, em consulta de 20 de Outubro de 1675, sugeriu ao príncipe regente que a todos agradecesse408 . 1677, na charrua Nossa Senhora da Penha de França e São Francisco Xavier, propriedade de Francisco da Costa, da ilha Terceira, partia a segunda leva de colonos para o mesmo porto (Pará), num total de 50 homens, 47 mulheres e 126 “pessoas de família”, com uma ajuda de custo de 8.000 réis para cada casal e levando em sua companhia, por vontade do governador, o padre Carlos de Andrade409 Nesse mesmo ano, encontravam-se também a aguardar transporte 200 casais de gente da ilha Graciosa, que “hera muyto pobre faltos de todo necessario”410. Para o período 1665-1706, Rafael Chambouleyron (2008)411 identificou cerca de 90 sesmarias concedidas pelos governadores e na sua maioria, confirmadas pelos monarcas portugueses, o que revela

402 A este propósito, cf. “Erupção na Ilha do Fayal (1672)”, in Arquivo dos Açores, vol. III, pp. 344-5, 350-1 e 432-4. 403 Idem, cx. 5, doc. 574, representação da câmara da Horta de 22 de Dezembro de 1672. 404 Idem, cx. 5, doc. 581, consulta do Conselho Ultramarino de 7 de Outubro de 1673; doc. 583, consulta do Conselho Ultramarino de 28 de Novembro de 1673; e doc. 585, consulta do Conselho Ultramarino de 13 de Janeiro de 1674. 405 Cf. Arquivo dos Açores, vol. V, 1981, pp. 265-267. 406 Ibidem. 407 Cf. AHU, CU, Açores, cx. 2, doc. 17, de 20 de Outubro de 1675. Veja-se, igualmente, a “Allegação de serviços feitos por Jorge Goulart Pimentel”, in Arquivo dos Açores. 1980, vol. I, pp. 368-370. 408 Cf. Arquivo dos Açores, 2ª Série, vol. II, 2001, doc. 17, pp. 126-128. 409 CORRÊA, Aires Jacome. Historia documental da Revolução de 1821 na ilha de S. Miguel para a separação do governo da Capitania Geral da ilha Terceira. Revista Michaelense, Ano 4, n.º 1, Março de 1921, pp. 907-1000, maxime p. 949. Existe alguma confusão de datas sobre este transporte. Julgamos que este movimento terá correspondido à segunda leva de colonos para o Pará documentada no Arquivo dos Açores, vol. I, pp. 371-376, e vol. V, 1981, p. 267 410 Cf. AHU, CU, Açores, cx. 2, doc. 18, de 6 de Agosto de 1677.


“uma lógica particular de ocupação do território pela agricultura, a partir do sistema fluvial composto pelos rios Acará, Moju, Capim e Guamá, na capitania do Pará; e principalmente na ilha de São Luís e na fronteira oriental da capitania do Maranhão”. Cordeiro e Madeira (2003, obra citada) registram o sucesso desses colonos: Independentemente do sucesso, ou não, destas movimentações, já havia, pelo menos na década de 1670, no Maranhão, açorianos que tinham arrecadado uma fortuna considerável. Numa dessas levas, provavelmente das primeiras décadas de seiscentos, terão chegado os irmãos Pereira de Lemos – Bartolomeu, António e Catarina –, filhos de João Pereira de Lemos e Isidra Gonçalves Vilalobos, naturais da freguesia de N. Senhora do Rosário (Topo), da ilha de S. Jorge. No testamento do primeiro, Bartolomeu Lemos, solteiro, realizado em São Luís do Maranhão, em 29 de Julho de 1676, é perceptível que tinha acumulado fortuna, constituída por terras, casas, escravos, engenhos de açúcar, gado e dinheiro. O numerário provinha, sobretudo, de actividades comerciais que mantinha, inclusivamente com a ilha Terceira, para onde enviava essencialmente açúcar. Encontrava-se perfeitamente integrado na sociedade de São Luís do Maranhão, sendo membro de várias irmandades, destacando-se, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia, de que tinha sido provedor. O irmão, António Pereira de Lemos, também solteiro, de posses um pouco mais modestas, pelo que se pode perceber do seu testamento, efectuado em 21 de Agosto de 1679, foi criador de gado e proprietário de algumas fazendas. Também foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de São Luís do Maranhão412 O recurso aos casais das ilhas foi interrompido no final da década de 1670, apesar de todos os obstáculos, uma dinâmica de ocupação e exploração do solo amazónico continuou a manifestar-se na viragem para o século XVIII, embora o fluxo emigratório açoriano foi mais contido na primeira metade do século. A promulgação da lei de 20 de Março de 1730, com aplicação nas ilhas, constituiu forte entrave à livre circulação de pessoas entre o Reino e o Brasil, ao exigir uma justificação documental a todos os que para ali pretendessem deslocar-se.Ao longo da primeira metade de Setecentos a Coroa continuou, contraditoriamente, a apoiar e a promover a saída de casais ilhéus. Interessava, sobretudo, povoar, explorar e defender as regiões fronteiriças do Sul – Sacramento, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – e do Norte – Maranhão e Pará. Cordeiro e Madeira, 2003, obra citada). 1747, alguns dos casais matriculados foram encaminhados para o Pará e Maranhão. 1751, encontravam-se alguns casais “que se tinhão alistado para irem para o estado do Pará e Maranhão”413. As Instruções régias, de Maio, para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que foi desempenhar o cargo de Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará e Maranhão, davam conta da necessidade de se proceder, com a maior brevidade, à instalação daqueles casais414. 1752 Em Janeiro, em correspondência para seu irmão, Sebastião José de Carvalho e Melo, Mendonça Furtado afirma: “achei já o navio do transporte dos casais das Ilhas dos Açores, que tinha chegado a êste porto em 29 de agôsto [de 1751], e entregou 486 pessoas [86 casais], não lhe morrendo na viagem mais do que quatro, porém, nas que trouxe da Ilha Terceira vieram alguns velhos e muitas crianças”415. Referindo411 CHAMBOULEYRON, Rafael. A Amazônia colonial e as ilhas atlânticas. Canoa do Tempo. Revista do Programa de PósGraduação em História da Universidade Federal do Amazonas. Jan./Dez. 2008, vol. 2, n. 1, pp. 187-204, maxime pp. 203. 24 . “Description de Maranhao”, in MAURO, Frédéric. Ob. cit., p. 191 CHAMBOULEYRON, Rafael. As sesmarias e a ocupação do território na Amazonia colonial. In: DE ALMEIDA, Suely Creusa Cordeiro [et al.]. (orgs.). Loc. cit., pp. 359 e 362. 412 Veja-se a transcrição destes testamentos em Ananias Alves Martins, “Imigrantes esquecidos na fronteira norte. Açorianos na colonização e na cultura. Maranhão, século XVII”, ob. cit., pp. 34-41. 413 Cf. AHU, Açores, caixa 3, docs. 45 (29/5/1751), 46 (26/6/1751) e 50 (18/2/1752). 414 1 “Instruções régias, públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, capitão-general do Estado do Grão Pará e Maranhão”, in Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina. Correspondência inédita do governador e capitão-general do Estado do Grão Pará e Maranhão Francisco Xavier de Mendonça Furtado – 1751- -1759, Tomo I, São Paulo, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963, p. 29. 415 Cf. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina…, ob. cit., Tomo I, pp. 207-209, Doc. 10.


se aos povoadores, o Governador queixava-se: “não têm servido até o presente mais que de uma desordem contínua, e perturbação de esta terra”416. Ainda assim, em Janeiro, esses povoadores seriam instalados na nova povoação de São José do Macapá e o Governador aguardava a chegada de outro navio das ilhas417. Novembro, chegaram mais 430 pessoas das ilhas418. Segundo Francisco Xavier de Mendonça Furtado, estes ilhéus participaram na colonização das vila de Bragança e de Ourém, nas “margens dos rios Guaçu e Caeté”419 1753, José Rodrigues Esteves e Bento José, propõem-se arrematar à coroa o transporte de gente dos Açores para o Brasil. Como muitos casais haviam desistido de partir, os armadores apresentam uma proposta para os substituir pelo transporte de 900 soldados açorianos para o Pará420. 1754, Setembro, outro navio com casais ilhéus naufragou já com o Pará à vista. Transportava 74 pessoas, das quais 38 acabaram por perecer421 1758, a lei de 4 de Julho é peremptória em limitar a emigração, sob o argumento da insuficiência de mão-deobra para assegurar o normalidade da vivência insular422. Judith Bogéa Bittencourt (2019)423, em correspondência pessoal, informa-nos, sobre os acontecimentos posteriores, já no século XIX: [...] a vinda dos açorianos para a fazenda onde hoje está estabelecido o Povoado Colônia, em Mirinzal. O Quilombo do Frechal em Guimarães, MA também pertenceu a Torquato Coelho de Souza, filho do colonizador açoriano Manoel Coelho de Souza como cita Souza Neto, 1976 depois foi propriedade por herança de família do Dr. Hugo Napoleão Coelho de Souza que foi Juiz em Vitória do Baixo Mearim e casou com Maria Raymunda Fernandes Bogéa (Bogéa Coelho de Souza, após casada). Em pesquisas no Observatório de 24.08.1854 n. 549, a matéria Advertência relata que vieram açorianos para a Villa S. João de Cururupu e para o Alto Itapecuru e Gurupi para empresas do português Sr. Antonio Corrêa de Mendonça Bittencourt, esse empreendimento que buscava integrar pessoas da região e os açorianos não foi avante porém a proposta do Bittencourt além de pretender unificar portugueses e brasileiros dessa região almejava através de trabalhos diversificados contribuir para o desenvolvimento do Litoral Ocidental do Maranhão que na minha percepção poderia replicar sua ação a vizinha Baixada Maranhense e seus municípios lindeiros a esse setor do litoral maranhense. A saga desse português está sendo descrita pelo historiador Eulálio Leandro que esteve presente no recente Congresso dos 400 anos da vinda dos açorianos para o Maranhão. Refere-se à Colonia Santa Izabel, assentada em Guimarães – (hoje, Mirinzal), mais duradoura, mesmo com a troca de direção devido à morte do coronel Torquato Coelho de Souza, seu fundador. Ainda em 1861 o presidente de província noticiava que esta continuava a “florescer”. Apesar de o contrato ter sido assinado em abril de 1852, os colonos só mudaram-se para as terras destinadas á colônia em Dezembro de 1853, com 51 portugueses, mas o relatório de presidente de província de 1853 contava 48 indivíduos, devido à morte de uma mulher e dois recém-nascidos. Em Outubro deste ano chegavam mais 11, aproximandose dos 80 que foram prometidos. Entre os 59 que iniciaram Santa Izabel, 40 eram homens e 19 eram mulheres, sendo entre eles 16 menores de ambos os sexos. 416 3 Ibidem. 417 Cf. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina…, ob. cit., Tomo I, p. 209-211, Doc. 29. 418 Cf. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina…, ob. cit., Tomo I, pp. 318-323, 34ª Carta 419 Cf. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina…, ob. cit., Tomo II, pp. 586-589, 86ª Carta de 12 de Setembro de 1754. Sobre a importância política destas movimentações e a criação de novas povoações cf. José Damião Rodrigues e Artur Boavida Madeira, “Rivalidades imperiais e emigração: os açorianos no Maranhão e no Pará nos séculos XVII e XVIII”, Anais de História de Além-Mar, vol. IV, Lisboa, CHAM/FCSH/Universidade Nova de Lisboa, 2003, pp. 247-263. 420 Cf. AHU, Açores, caixa 3, doc. 15 (17/8/1747). 421 Cf. Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina…, ob. cit., Tomo II, pp. 605-606, 92ª Carta de 26 de Setembro de 1754. 422 Cf. Códice 529 do Arquivo Histórico Ultramarino: a capitania-geral dos Açores durante o consulado pombalino (introdução e fixação do texto de José Guilherme Reis Leite), Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura/Direcção Regional dos Assuntos Culturais – Universidade dos Açores, 1988 pp. 89-92. 423 BITTENCOURT, Judith Bogéa. Correspondencia pessoal via correio eletrônico, postado em 23 de novembro de 2029 ao autor


O mais antigo registro da área datada de 1792, quando por sesmaria foi concedido um quinhão ao português Manoel Coelho de Souza, havendo de tornar-se uma das mais prósperas lavoura de cana-de-açúcar' e algodão da freguesia de Guimarães, a quem a região pertencia geográfica e politicamente. José Coelho de Souza e Torquato Coelho de Souza deram continuidade ao florescimento dessa produção, entretanto em 1925 ocorreria um fato inusitado. O Último herdeiro de tal família, Artur Coelho de Souza, tendo contraído uma grande divida, hipotecou as Terras de Frechal. Conscientes das dificuldades, os negros trabalharam arduamente e, com uma só safra da lavoura de algodão, conseguiram saldar a divida. Agradecido, o fazendeiro deixou em testamento parte das terras de Frechal aos negros.424

424 COSTA, Ivan R; Pesquisador do https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/03D00017.pdf

PVN/SMDDH

e

CCN-MA.


HERANÇA GASTRONÔMICA PORTUGUESA/ AÇORIANA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Licenciado em Educação Física. Mestre em Ciência da Informação

A cozinha maranhense sofreu influência portuguesa, indígena e africana..Alguns consideram que, apesar da breve estadia, a gastronomia francesa marcou muito o local, mas a portuguesa e a indígena são as mais importantes. O arroz e a farinha-d'água ou de puba são os ingredientes básicos. Ambos, em muitas circunstâncias, ascendem à categoria de prato principal ou quase425. Tem-se certeza da influencia portuguesa, marcada pela colonização açoriana, pois passando o tempo na nova terra: Em cem anos, a ocupação do Maranhão se restringiu na porção norte, apesar da baixa densidade, a posição era estratégia, São Luís rodeada de fortificações e protegida, pela barreira natural, o canal do Boqueirão. No golfão maranhense, do lado direito, os colonos açorianos se fixaram no vale do rio Itapecuru. Do lado esquerdo, os jesuítas fixaram reduções (Tapuitapera, atual Alcântara) no vale do Mearim-Pindaré. Porém, havia precárias condições de transportes e comunicações que desestimulou o desenvolvimento do povoamento e da acumulação426. Os colonos fugindo da economia natural, fabricavam pequenos barcos artesanais de mangue levando seus produtos até o porto de São Luís trocando por instrumentos de produção (ferramentas, sementes, utensílios domésticos, etc.). Os que acumularam primitivamente começaram a se fixar no vale do Itapecuru passando a utilizar mão-de-obra escrava dos índios e aproveitaram o fértil vale para produzir arroz. Ao discutir o processo de ocupação e colonização do Maranhão, verifica-se ter havido duas entradas gerais, uma pelo litoral, a partir de São Luís, e outra pelo Sertão Maranhense, que geraram duas formações socioespaciais diferentes devida à influência de fatores naturais, culturais e econômicos (CUNHA, 2015)427. Assim, a Coroa Portuguesa fez uma primeira intervenção, inserindo – a partir de 1619-21 - cerca de 840 casais de colonos açorianos (COUTINHO, 2004428; MEIRELES, 1960429), ao lado dos Fortes nos estuários dos rios do Golfão Maranhense - baia de São Marcos onde desemboca o rio Mearim e o rio Pindaré e baia de São José onde deságua os rios Itapecuru e Munim. Para Cunha (2015) 430, A alta fertilidade dos vales dos rios, o solo plano, abundancia de terras cultiváveis, ajudaram organizar uma economia natural a base de uma produção policultora (farinha de mandioca, aguardente, arroz, vegetais e etc), criação de animais pequenos, e a pesca. Naquela época, as ilhas dos Açores se encontravam entre as regiões portuguesas que forneciam o maior contingente de emigrantes que se dirigiam para o ultramar. Isso acontecia porque o Arquipélago já se achava

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Culin%C3%A1ria_do_Maranh%C3%A3o CUNHA, Roberto César. OCUPAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DAS DUAS FORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MARANHÃO. In CaderNAU-Cadernos do Núcleo de Análises Urbanas, v.8, n. 1, 2015, p. 133-152., disponível em file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/IHGM/A%C3%87ORES%202019/5525-15636-1-PB.pdf 427 CUNHA, 2015, obra citada 428 COUTINHO, M. A REVOLTA DE BEQUIMÃO. São Luís. Instituto Géia, 2004. 429 MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001. [1960]. 430 CUNHA, Roberto César. OCUPAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DAS DUAS FORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MARANHÃO. In CaderNAU-Cadernos do Núcleo de Análises Urbanas, v.8, n. 1, 2015, p. 133-152., disponível em file:///G:/LEOPOLDO%20ATUAL/IHGM/A%C3%87ORES%202019/5525-15636-1-PB.pdf 426


densamente povoado, predominando ali, inclusive, o regime de pequenas propriedades rurais e famílias numerosas (PEREIRA, 2002 431; BOXER, 1981432. e DUNCAN, 1972433). No governo de Diogo da Costa Machado (1619-1622), chegaram a São Luís, em duas levas, algumas famílias açorianas; a primeira, em 1620, trazida por Manuel Correa de Melo e por conta de Jorge de Lemos Bittencourt, sob promessa de uma recompensa de 400 mil réis pela introdução de 200 casais; a segunda, no ano seguinte, de responsabilidade de Antônio Ferreira Bittencourt, providências oficiais destinadas a instalar, na capitania, dois engenhos de açúcar. A sorte destes imigrantes permanece ignorada. Sequer conhecemos aqui as chaminés de mãos postas características das casas dos Açores. Será que ainda é possível rastrear sinais da presença dessa gente? Pergunta Lima (2002)434. A Coroa Portuguesa, em nova intervenção na ocupação da área litorânea, na metade do XVIII, sob a liderança do Marquês de Pombal, trocou a escravidão indígena pela negra; expulsou os jesuítas; criou a Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (CGGPM) (CUNHA, 2015)435. Para Meireles (1960)436: A CGGPM teve um papel significativo no desenvolvimento da ocupação do Maranhão continental. Passou a aplicar uma engenhosa política de preços, trouxe mestres agricultores da Europa e a fornecer créditos aos agricultores para comprarem escravos negros, instrumentos e ferramentas de produção, sementes de qualidade de algodão e arroz, mais tarde cana-deaçúcar. Assim, houve um espraiamento dessas culturas e consequentemente, o aumento do povoamento nos vales dos quatros grandes rios navegáveis genuinamente maranhenses: - Rio Itapecuru: baixo leito - ocupados pelos colonos açorianos, onde se tornaram comerciantes, pela proximidade de São Luís, gerando entrepostos e as cidades comerciais de Itapecuru-Mirim, Rosário; Médio leito (mata dos cocais) - fixaram-se migrantes nordestinos, andando pelo caminho da Bahia, fugindo de longas estiagens. Uns se tornaram capatazes (cearenses e paraibanos) nas fazendas de algodão, outros se tornaram senhores de escravos (sobretudo pernambucanos) e surgiram as cidades de Aldeias Altas e Caxias (VIVEIROS, 1954) 437.

 Rio Munim: fixação de escravos fugitivos (quilombos) e reduto de índios selvagens. Economia natural de policultura. Região de chapadas pequenas e mata fechada. Mais tarde surgiu a cidade de Cachoeira Grande. No século XIX continuou a chegada de portugueses – em especial, açorianos – ao Maranhão... Assim, toda a região amazônica, do Maranhão ao Pará, do Amazonas ao Amapá foi constituída por esse lastro político açoriano que forjou os costumes, a cultura, as festas, o modo de ser e de estar açoriano, os bailados, as lendas, os mitos e as superstições, o jeito de falar e a alma alegre que se incorporou ao saber local, tornandose aspectos comuns às duas culturas desde então, resultado da intensidade religiosa milenar e devocional, a moralidade única da palavra dada, o sentido de insularidade e a cultura folclórica que sustentam, ao longo dos séculos, o imaginário popular (MARQUES, 2005) 438.

431 PEREIRA, Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 432 BOXER, C. R. O império colonial português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 1981, citado por PEREIRA, 2002 433 DUNCAN, T. B. - Atlantic islands: Madeira, the Azores and the Cape Verdes in seventeenth-century commerce and navigation. Chicago: University of Chicago Press, 1972, citado por PEREIRA, 2002. 434 LIMA, Carlos.. Reportagem-viagem ao Divino Espírito Santo dos Açores. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, 24, 2002, p. 14-16 435 Obra citada 436 Obra citada 437 VIVEIROS, Jerônimo. HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO - 1612/1895. São Luís: Associação Comercial do Maranhão/ Lithograf, 1° v. 1992. [1954]. 438 MARQUES 2005, obra citada


Preto que vendes aí? É arroz do Maranhão, Que Sinhá mandou vender Na casa do Salomão439.

São frequentes os registros do apelido de papa-arroz, designando os maranhenses. Os maranhenses dão esse nome a um passarinho, comum nas regiões arrozeiras. Em Sertão Alegre, Leonardo Mota (2002)440 afirma: “O piauiense chama o maranhense de papaarroz. Este, em represália, chama o piauiense de capa-garrote e, sobretudo de espiga”. Outro registro interessante, do mesmo livro, pode explicar a designação de arroz escoteiro, muito comum no Maranhão, para o arroz simples, comido sem acompanhamento. O arroz, alimento de ricos e pobres, esteve desde cedo presente na mesa brasileira, sob diversas formas441. É o que registra Carlos de Lima442, afirmando que o que se fala de Recife, aplica-se ao Maranhão e ao Brasil: Com respeito à alimentação, podemos dizer que os ricos comiam perus, galinhas, frutas, o famoso queijo-do-reino, passas, biscoitos, sal, manteiga, bacalhau, presunto e carnes importadas, bebiam vinhos, café, chá, licores, etc.; os pobres farinha de mandioca, fubá de arroz e de milho, feijão preto, toucinho, carne salgada; cachaça e chibé, além de largo uso de batatas-doces, goiabas, ananases, melancias, laranjas (FREYRE apud LIMA, 1998). A constatação da presença tradicional do cuxá apenas no Maranhão e de sua difusão atrelada à migração de maranhenses tem levado a especulações em relação à sua origem e a da população daquele estado. Considerando os seus ingredientes básicos, pode se afirmar que o cuxá é negro, branco e caboclo como o povo maranhense. Mas, levando em conta sua vinculação maior à população negra, tanto no passado como na atualidade, pode se dizer que o cuxá é uma produção cultural da população afro-brasileira do Maranhão, que vem sendo cada vez mais assimilada pela sociedade maranhense mais ampla e já se transformou em símbolo443. O Cuxá é um angu de farinha de mandioca (produto indígena) com folhas de vinagreira (Hibiscus Sabdariffa L.) - também conhecida como azedinha, quiabo-de-Angola e denominada kutxá na África, entre os mandinga (ASSUNÇÃO, 2003) 444, temperado com gergelim torrado (muito usado por negros islamizados – mandingas, auças), camarão seco (denominado poti no Maranhão do século XVII, pimenta de cheiro, sal, cheiro verde, alho e cebola (esses últimos difundidos no Brasil pelos portugueses). Recebeu influência das culinárias indígena e portuguesa, mas surgiu com a forma que tem hoje na cozinha de populações negras de baixa renda (NUNES PEREIRA, 1979)445, mas há muito tempo tornou-se tradicional no Maranhão, entrando na mesa das famílias mais ricas, como registrou Astolfo Serra (1965)446, e hoje faz parte do menu de restaurantes turísticos de São Luís, como vem sendo lembrado por Zelinda Lima (1998)447.

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LIMA, Zelinda. Pecados da gula. V. 1. São Luís: CBPC, 1998. MOTA, Leonardo: Sertão alegre: poesia e linguagem do sertão nordestino. 3. ed. Rio de Janeiro; São Paulo; Fortaleza: ABC Editora, 2002. 441 ROCHA, Maria de Fátima Sopas. O FOLCLORE ARROZEIRO. IN Boletim da Comissão maranhense do Folclore, 38, agosto de 2007 442 LIMA, Carlos de. Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara - Maranhão. São Luís: SECMA, 1998 443 FERRETI, Mundicarmo. O cuxá na cultura maranhense e seu registro como patrimônio cultural brasileiro. In BOLETIM DA COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE 38, agosto 2007 444 ASSUNÇÃO, Matthias Rohrig. Maranhão, terra de mandinga. In: NUNES, Izaurina de A. Olhar, memória e reflexões sobre a gente do Maranhão. São Luís: CMF, 2003, p. 57-63 445 NUNES PEREIRA, Manoel. A Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos voduns do Panteão daomeano no estado do Maranhão. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, 1979. 446 SERRA, Astolfo. Guia Histórico e Sentimental de São Luís do Maranhão. Rio de Janeiro: Civilizações Brasileiras, 1965. 447 LIMA, Zelinda M. de Castro e. Pecados da gula: comeres e beberes das gentes do Maranhão. 2 v., SÃO Luís: CBPC, 1998. 440


Poema de Artur Azevedo448 Como o nosso Manoel Costa Mandou pelo Macieira Um molho de vinagreira Lá de Jacarepaguá, Num delicado bilhete Me perguntas, caro amigo, Se quero, amanhã, contigo, Comer arroz de cuxá. Que pergunta! Pois ignoras Que sou, por este petisco, Homem de andar ao lambisco, Ora aqui, ora acolá? Pois não sabes que, apenas Eu me apanhei desmamado, Me atirei como um danado Ao belo arroz de cuxá? Gosto do peru de forno Gosto de bofes de grelha, E tenho uma paixão velha Por torradinhas com chá; Mas nos pitéus e pitanças Que custam tanto e mais quanto, Nunca achei o mesmo encanto Que achei no arroz de cuxá. Visitei o velho mundo E, nos restaurantes caros, Os acepipes mais raros Comi que nem um paxá; Mas, quer creias, quer não creias, Nenhum achei mais gostoso, Mais fino, mais saboroso Que o nosso arroz de cuxá! A tua “Mulata Velha” É com razão orgulhosa Da moqueca apetitosa, Do doirado vatapá; Mas, baiano, tem paciência; Forçoso é que te executes! Nada valem tais quitutes Ao pé do arroz de cuxá. Eu tenho muitas saudades Da minha terra querida... Onde atravessei a vida O melhor tempo foi lá. Choro os folguedos da infância E os sonhos da adolescência; Mas... choro com mais freqüência O meu arroz de cuxá. 448

AZEVEDO, Artur Azevedo apud LIMA, Zelinda. Pecados da gula. V. 1. São Luís: CBPC, 1998. p. 78-82.


Porque – deixa que t´o diga – Esse prato maranhense Ao Maranhão só pertence E n´outra parte não há. Aqui fazem-no bem feito (Negá-lo não há quem ouse); mas... falta-lhe “quelque chose”; não é o arroz de cuxá. Pois aqui há bom quiabo E bem bom camarão seco; Há vinagreira sem peco; Bom gergelim também há! E o prato, aqui preparado, Do nosso mal se aproxima! Acaso também o clima Influi no arroz de cuxá? Ora, qual clima! qual nada! É o mesmo quitute, creio; Falta-lhe apenas o meio; Nos seus domínios não está. No Maranhão preparado Naturalmente acontece Que sendo o mesmo, parece Ser outro arroz de cuxá. Eu, quando o como, revejo Entre a cheirosa fumaça, Passado que outra vez passa, Com que eu não contava já; Portanto, não me perguntes... Não me perguntes, amigo, Se eu quero amanhã, contigo, Comer arroz de cuxá. Pergunta se quer o espaço O passarinho que adeja; Pergunta se a flor deseja O sol que a vida lhe dá; Pergunta aos lábios se um beijo Aceitam, quente e sincero; Mas não perguntes se eu quero Comer arroz de cuxá. Como a criança quer leite, Jóias a dona faceira, Fitas a velha gaiteira, E um maridinho a sinhá; Como o defunto quer cova, Quer o macaco pacova, Eu quero arroz de cuxá. Febricitante, impaciente, Cá fico as horas contando! Do bolso de vez em quando


O meu relógio sairá, E amanhã, às seis em ponto, Irei, com toda a presteza, A tua pródiga mesa Comer arroz de cuxá.

Ele é servido como acompanhamento para pratos do mar, como torta de caranguejo ou de camarão, peixes e camarões fritos. A base desta preparação é a vinagreira (hibiscus sabdariffa), conhecida também como azedinha, caruru-azedo, quiabo-róseo, quiabo-roxo, quiabo-azedo e rosélia, oriunda da África, mas também muito usada na culinária francesa. O Maranhão já foi um dos maiores produtores de mandioca do país, mas hoje importa farinha d'água do Pará, fécula do Paraná e amido azedo de Minas Gerais. É muito usada na preparação das paçocas, farofas e pirões, chibés, tiquaras e mingaus. Outro hábito é o bolo de macaxeira ou de tapioca acompanhada com batata-doce e fruta-pão. A tiquira, pouco conhecida no país, é a aguardente de mandioca, base da alimentação de nossos indígenas. Ela ainda é feita, artesanalmente, apenas no Maranhão e em menor escala no Piauí e na Bahia. A bebida foi consumida historicamente pelas classes mais pobres e pelos escravos do Maranhão, que a produziam e pelos seus descendentes, fato que a discriminou e gerou preconceito. Para aqueles que pregam que “a cachaça é nossa”, pode-se contestar que a tiquira é muito mais, pois a mandioca é brasileira e a cana de açúcar estrangeira. A comida é muito saudável, pois há pouca gordura e muito peixe fresco com moderado tempero à base de tomate, cebola, pimentão, pouco alho e cebolinha verde. Diferente da Bahia, o Maranhão não utiliza muito a pimenta, preferem levá-la à mesa e cada um se serve como bem entender. Na carne se utiliza cominho em pó e pimenta-do-reino como tempero. Há também as tortas típicas que são as de camarão (seco ou fresco), peixe seco (especialmente pescada, jabiraca e tainha), miúdos de galinha, sururu e caranguejo. Além de cozidos particularmente apreciados, como o sarrabulho, mocotó, chambari e tantos outros pratos. Chamou-me atenção artigo no Portal do Folclore Português449, sobre um festival de sarrabulho, realizado em Ponte de Lima: Ponte de Lima, a Vila mais antiga de Portugal orgulha-se de um passado tradicional, rico em usos e costumes. E foi com base nestes valores ancestrais que foi sendo construída uma Vila atrativa, moderna, empreendedora e dinâmica, transformando-se cada vez mais no ponto de encontro de famílias e turistas que se encantam pela tipicidade das ruas históricas e pelas nossas gentes, afáveis e acolhedoras. As Feiras temáticas que, anualmente, são realizadas, aliadas à arte de bem cozinhar, transformam-se em eventos de referência, a nível empresarial e turístico, atraindo milhares de visitantes ao longo de todo o ano. A revitalização dos costumes do povo limiano através da valorização das velhas tradições passará pela mostra de produtos regionais – derivados do Porco – e pela tradicional matança do porco, que em tempos foi uma prática recorrente do mundo rural português.

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https://folclore.pt/xii-feira-do-porco-e-as-delicias-do-sarrabulho/


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