REVISTA DO LEO - 12 - SETEMBRO 2018

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 12 – SETEMBRO - 2018


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


EDITORIAL

A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – que por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra

PAXECO:

VIDA

E

OBRA

VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018

MAIO

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SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER MEMÓRIA DO ESPORTE NO MARANHÃO A MARINHA E A CAPOEIRAGEM - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A PROFISSÃO “EDUCAÇÃO FÍSICA” – INCLUI O CAPOEIRA - Leopoldo Gil Dulcio Vaz INFLUENCIA MILITAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MIGUEL HOERHANN - PIONEIRO DA EDUCAÇÃO PHYSICA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA UEMA - JOSÉ NILSON ANDRADE; LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) ATLETAS OLIMPICOS MARANHENSES LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA CONTRAMESTRE SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA MESTRE ROBERTO MESTRE TUTCA MESTRE LUIZ SENZALA MESTRE MILITAR ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ - MESTRE BAÉ; LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DE BARREIRINHAS – MA: ao Zé Maria - da Casa da Farinha -, do Povoado de Tapuio - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE A ARTE DE CURAR NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SÃO LUIS OU VINHAIS VELHO? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O PENSAMENTO DO JORGE BENTO ESCLARECIMENTO: PORQUE TOMO POSIÇÕES BALIZAS PARA A EDUCAÇÃO DO MANICÓMIO DAS MÉTRICAS, RANKINGS E QUEJANDOS PROFISSÃO DO FUTURO: OUVINTE

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MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


MEMÓRIA DO ESPORTE NO MARANHÃO OBJETIVOS (a) recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural; (b) resgatar e registrar as manifestações culturais de caráter recreativo e esportivo que se vinculem às raízes etnoculturais do Maranhão, no período compreendido do início da colonização até a "inauguração" do esporte moderno, através da leitura de cronistas de época (fontes primárias) e de historiadores (fontes secundárias). (c) estabelecer, com base na história oral, os fundamentos do esporte moderno no Maranhão, sua consolidação após sua implantação, e os desdobramentos posteriores, até a criação dos Jogos Escolares Maranhenses – JEM’S –, sua consolidação e estado de arte atual.

JUSTIFICATIVA A comunidade científica da área da Educação Física e dos Esportes tem vivido, nos últimos anos, uma crise paradigmática. A epistemé tem sido motivo de reflexão na tentativa de estabelecer um referencial teórico que torne a "prática" mais "científica" e a conseqüente aceitação da Educação Física como Ciência.

Tendo acumulado uma postura voltada para o esporte, fez deste um fim em si mesmo - e seu objetivo principal - esquecendo-se que o substantivo - educação - é mais importante que o adjetivo - física. Parecenos que a Educação Física precisa descobrir que pertence à cultura do homem. Alguns pensadores - como Manuel Sérgio, Silvino Santin, João Paulo Subirá Medina, João Batista Freire, Lino Castellani Filho, dentre outros, têm-se voltado para os aspectos histórico-culturais - têm "filosofado" sobre a questão do esporte, do jogo, enfim, da importância que o lúdico assume na prática da Educação Física. Não é fato novo, nem tende a se esgotar. O "corpo" começa a ser descoberto na sala de aula do professor de educação física. A educação só é possível se for de "corpo inteiro". É o que demonstra a recente produção acadêmica, voltada para os aspectos filosóficos, na busca de um referencial para a prática da sala de aula, procurando deixar de lado a concepção de "adestramento" que nossa profissão assumiu. Ainda "pensamos" sobre um modelo "importado" enquanto estudiosos de outros países (DIECKERT & MEHRINGER, 1989, 1989b, 1994) vêm buscar junto aos nossos índios respostas à questões básicas. Algumas dessas questões começam a ser respondidas em 1994, quando o Ministério da Educação e do Desporto - MEC - constituiu Grupo de Trabalho para elaborar a aproximação conceitual de Esporte e Cultura (MEE/INDESP, 1996), iniciando-se, no Brasil, uma discussão sobre “Desporto de Criação Nacional” (SANTIN, 1996; MAGALHÃES PINTO, 1996; Da COSTA, 1996; GUIMARÃES, 1996; SODRÉ, 1996; FERREIRA, 1996; PARAÍSO, 1996; VAZ, 1996a, 1996b).

Com a identificação do problema conceitual, se fez necessário desenvolver a dissecação do título. No instante em que se separa a idéia “Esporte” de um lado e “Criação Nacional” de outro, percebe-se a possibilidade de um desdobramento fértil. Enquanto o “esporte” pode ser entendido como um jogo, uma brincadeira, uma dança, um ritual, etc. , o atributo de “criação nacional” por sua vez, pode ser entendido como de “Criação Cultural”, ou com “Identidade Cultural” (SANTIN, 1996). Ao levantarem-se questões sobre a perda dos valores culturais e da identidade cultural, verifica-se que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística:


“Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral. “Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado...”. (SILVA, 1987, p. 20-21) A perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros (SILVA, 1987). DIECKERT; KURZ & BRODTMANN (1985), consideram que no Brasil deve haver uma Educação Física brasileira e criticam o modelo internacional do esporte corporal do povo brasileiro, que possui a capoeira como uma das maiores riquezas, além de outros jogos, danças e ritmos. DIECKERT (1987) destaca ainda o quanto é importante que essas manifestações sejam resgatadas, para não se transformarem em peças de museu. Da mesma forma, Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA (1985), ao analisar um tipo de esporte baseado na cultura, enfatiza o significado dos jogos tradicionais das diversas formas de desporto popular e ainda das pequenas agremiações locais, que cedem lugar ao imperialismo do desporto-instituição, reprodutor e multiplicador das “taras do ter”. Para esse autor, a perda desses valores levou a sociedade a explorar o corpo dos cidadãos como se fossem objeto e não sujeito, imprimindo-lhe gestos e movimentos ginástico-desportivos padronizados, reduzindo o acesso às danças e aos jogos da lúdica popular e resultando na perda da ludicidade, que deve ser compreendida como o estado de espírito que dispõe o homem a ser alegre e brincar livremente. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte, lazer, e educação física, dada a abrangência dos termos ? Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica ? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980; SILVA, 1987; SANTIN, 1996; DAMASCENO, 1997). Procurando esclarecer questões antropológicas e esportivas sobre a origem e o sentido da cultura corporal, do movimento e lúdica e as suas respectivas formas de expressão - como DIECKERT & MEHRINGER (1989a, 1989b, 1994) – este estudo tem como objetivo resgatar e a registrar as manifestações culturais de caráter recreativo e esportivo que se vinculem às nossas raízes etno-culturais. Estas questões aparecem quando, em curso de formação de Professores de Educação Física mantido pela então Escola Técnica Federal do Maranhão - hoje, Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (CEFET-MA) -, verificou-se que os livros que tratam da história do esporte, lazer e da Educação Física do Brasil não fazem referências às atividades físicas, esportivas e de lazer praticadas pelos brasileiros, senão considerar algumas manifestações dos primitivos habitantes e de negros africanos para cá trazidos como tal (MARINHO, (s.d.), 197[?], 1980, 1981, 1984; JORDÃO RAMOS, 1974; GEBARA, 1996). E o que se falar, então, dessas atividades no Maranhão ? VAZ (1991) resgata a primeira competição de atletismo realizada em São Luís no ano 1907. Em 1992, apresenta, durante um Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, outro trabalho de pesquisa, intitulado “Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial” (VAZ, 1992; 1993; 1995a; 1995b; 1996a). Em 1995 , “Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX” - tendo como co-autora a Profa. Delzuite Dantas Brito Vaz, do Liceu Maranhense -, pesquisa ganhadora do Prêmio Antônio Lopes de Pesquisa Histórica, do XX Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, (VAZ & VAZ, 1995a; 1995b; 1995c; 1997). Ainda desse ano, é apresenta a primeira versão da “Corrida entre os índios Canelas” (VAZ, 1995c, 1996b). Prosseguindo, depois de abordar os períodos Colonial e do Império, começa a investigar a Primeira República - onde aparece a introdução do Esporte Moderno no Maranhão (VAZ, 2000, 2000b, 2000c), com a análise da participação de Aluísio Azevedo - Aluísio Azevedo e a Educação (Física) Feminina (VAZ e VAZ, 2000a; 2000b); O Sportman Aluísio Azevedo (VAZ, 2000c; 2000d); A inauguração do foot-ball em Maranhão (VAZ, 2000e, 2000f).


Assumir a história como condutora da reflexão é antes de mais nada tomar partido, é assumir as questões do esporte, do lazer e da educação física como compromisso social e, nesse sentido, “a compreensão da realidade é fundamental para sua transformação” (NUNES, 1996, p. 19). Para NUNES (1996), os quase quinhentos anos de existência da sociedade brasileira não foram suficientes para criar uma consciência do passado, se comparada à outras sociedades, particularmente à européia ocidental. A contribuição que a história pode trazer para a explicação da realidade em que vivemos “faz com que o historiador parta do presente para o passado, sabendo-se situado no futuro do passado que estuda”(p. 19). Considerar a importância da história para o educador, qualquer que seja sua área de atuação, é contribuir para que ele se mova no mundo de hoje com uma larga consciência de sua significação como sujeito histórico. No entanto, construir esta perspectiva é fruto de um árduo e contínuo trabalho na direção de superar os constrangimentos da nossa formação e das nossas circunstâncias, de forjar uma nova erudição na prática da produção do conhecimento histórico:

“... Afirmar-se como educador construindo sua identidade pela pesquisa histórica é, antes de mais nada, partilhar a concepção de que somos historiadores pela prática e pelo projeto intelectual. (...) ela (afirmação) requer, para além da intenção, a ação concreta, o que significa abraçar as lutas da história no campo institucional, no campo da teoria, na identificação de acervos, na preservação e uso social de fontes documentais, na democratização do conhecimento. Implica, sobretudo, uma nova forma de contato com a experiência vivida, com o intuito de adensá-la, de tornar clara a ligação entre a história que o historiador faz e aquela que o produz”. (NUNES, 1996, p. 19-20). Paul Vayne, discorrendo sobre a historiografia, afirma que: “... a história tem uma crítica, mas não tem método, pois não há método para compreender. Qualquer um pode, portanto, improvisar-se historiador ou antes poderia, se, à falta de métodos, a história não pressupusesse que se tenha uma cultura ... Mas é uma cultura, não um saber; consistem em dispor duma lógica, em poder por-se cada vez mais questões sobre o homem, mas não em saber responderlhes”. (citado por VEIGA, 1996, p. 50-51). Ao se discutir questões relacionadas à diferentes metodologias empregadas na escrita da história da educação física e dos esportes, percebe-se que, embora existam tentativas de superação das formas tradicionais da escrita da história, esta ainda permanece ligada à escola positivista, baseada nas histórias dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos (PILATTI, 1996; CERRI, 1977). O paradigma tradicional diz respeito essencialmente à política, na valorização dos acontecimentos, dos fatos, dos vencedores, das pessoas que fizeram isso ou aquilo. Para se fazer história a partir desta concepção basta juntar um número suficiente de fatos bem documentados, dos quais nasce espontaneamente a ciência da história. A reflexão teórica, em particular a filosófica, é inútil e até prejudicial, porque introduz na ciência positiva um elemento de especulação. A história passou a ser vista como reconstrução do acontecido (PILATTI, 1996; CERRI, 1997). Diversos autores (PILATTI, 1996; CARDOSO e BRIGNOLI, 1983; CARDOSO e VAINFAS, 1997) consideram a história como o produto da reconstrução, da busca de provas de comprovação, da apresentação e verificação de hipóteses. Ao se referir ao lugar que a teoria ocupa na investigação histórica, PILATTI (1996) serve-se de Ribeiro para analisar se a História da Educação Física no Brasil possui objeto e método próprios: “... há pelo menos três enfoques: um, mais antigo, situado na História política de afirmação tradicionalista; outro, localizado na Pedagogia, mais especificamente na pedagogia histórico-crítica; e, finalmente, um que terceiro se encontra na insatisfação com as respostas dadas pelos dois primeiros, mas que ainda não definiu seu referencial teórico”(PILATTI, 1996, p. 85).


No momento atual da produção historiográfica sobre o esporte e a educação física, o Esporte encontra uma maior abertura na História que a Educação Física (PILATTI, 1996; MELO, 1995, 1997, 1997b; GENOVEZ, 1998): “Não por ser considerada a última [educação física] menos importante, senão por ser entendida como um campo específico de conhecimento, talvez mais técnico. Sem dúvidas, é inegável que seu estudo, também, apresenta questões pertinentes” (GENOVEZ, 1998).

A educação física e os esportes são objetos diferenciados que demandam caminhos metodológicos e preocupações teóricas diferenciadas, daí considerar-se o esporte como objeto da Histórica separado da educação física (MELO, 1995, 1997, 1997b; GENOVEZ, 1998). AISENSTEIN (1996) firma que “... conhecer a história da Educação Física e desenvolver com esses dados a consciência histórica dos professores de E.F. (como competência que se apoia nas operações mentais: perceber, interpretar e orientar) pode colaborar na análise e compreensão de nosso habitus profissional (como sentido prático que dirige nossas ações). A investigação em História e a circulação da informação histórica pode ser parte do processo de construção e desenvolvimento da consciência histórica dos professores de E.F. como perspectiva para interpretar a conjuntura e o estrutural na E.F. escolar de hoje”. (AISENSTEIN, 1996).


A MARINHA E A CAPOEIRAGEM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ RESUMO Analisa-se o termo ‘capoeira’, para se estabelecer sua historicidade, e os principais acontecimentos em que se envolveram a Marinha – de Guerra e a Mercante – com a Capoeira(gem) e os Capoeiras. Palavras-chave: MARINHA; CAPOEIRA; HISTÓRIA ABSTRACT Analyzes the term 'capoeira', to establish its historicity, and the major events that have engaged the Navy War and Merchant - with Capoeira(gem ) and the Capoeiras . Keywords: NAVY ; CAPOEIRA; HISTORY

O que é ‘capoeira’?1 Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi 2; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 3.

DEBRET – 1816/1831

1 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Edição do Autor, 2014. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu/1 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. JORNAL DA CAPOEIRA http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388. LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/capoeiragem/ REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. 2 MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982 3 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40.


Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968): [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira4. Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“? Ou conforme a conceitua Araújo (1997) 5 ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79): “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores)6. Ou devemos entendê-la como: [...] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira); assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a ‘... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40).

Considera-se como prática do desporto formal da Capoeira sua manifestação cultural sistematizada na relação ensino-aprendizagem, havendo um ou mais docentes e um corpo discente, onde se estabelece um sistema de graduação de alunos e daqueles que ministram o ensino, havendo uma identificação indumentária por uniformes e símbolos visuais, independentemente do recinto onde se encontrarem. Considera-se como pratica desportiva não formal da Capoeira sua manifestação cultural, sem qualquer uma das configurações estabelecidas pelo Artigo anterior, e que seja praticada em recinto aberto, eminentemente por lazer, o que caracterizará a liberdade lúdica de seus praticantes: Capoeira – jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. (Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore) 7.

“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388). Para a capoeira, apresentam-se quatro momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte; e o reconhecimento como patrimônio imaterial do povo brasileiro.

4 Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA – Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79 5 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997. 6 BRASIL. Decisão 205, de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153 7 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.


Do Atlas do Esporte no Brasil8: Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. 9, 10.

Na pesquisa realizada pelo IPHAN, ela é definida como: [...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal.11

Seguindo a justificativa do IPHAN12, a partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, através do artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de reclusão), a repressão policial abateu-se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram considerados por muitos como “mendigos ou vagabundos”. Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas. Mais adiante, durante a República Velha, a capoeiragem era uma manifestação de rua, afrodescendente, e muitos dos seus praticantes tinham ligações com o candomblé, o samba e os batuques. A iniciação dos capoeiras nessas atividades acontecia provavelmente na própria família, no ambiente de trabalho e também nas festas populares. Ainda sobre o universo das ruas, estudiosos revelam que o cancioneiro da capoeira se enriqueceu dos cantos de trabalho, e que o trabalhador de rua, em momentos lúdicos ou de conflitos, também se utilizava dos golpes e movimentos da capoeira. Já na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro-brasileiras começaram a ser discutidas, e passaram a constituir um referencial cultural do país. Ao final dos anos 30 a capoeira foi descriminalizada e passou de um extremo a outro, a ponto de ser defendida por historiadores e estudiosos como esporte nacional, considerada a verdadeira ginástica brasileira. A manifestação já foi apontada como esporte, luta e folguedo, e era praticada por diferentes grupos sociais, principalmente a partir do século XX. Assim, em 1937: [...] a capoeira começou ser treinada como uma prática esportiva, e não apenas como uma “vadiação” de rua. Neste mesmo ano Mestre Bimba criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia. A capoeira regional nasceu como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de 8 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br 9 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. 10 DACOSTA, 2005, 2006, obra citada. 11 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 12 IPHAN, 2008, obra citada.


aprendizagem, descreveu os golpes, toques, cantos, indumentárias especiais, batizados e formaturas. Em seguida, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado através de métodos próprios. A ideia da capoeira como arte marcial brasileira criou polêmica, pois era defendida por uns e criticada por outros, principalmente pelos angolanos, que afirmavam a ancestralidade africana do jogo.13.

JOÃO MOREIRA (TENENTE AMOTINADO) O primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por quatro ou cinco homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. “Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores” (Hermeto Lima, 1925) 14. Macedo (1878) 15 afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o pau e ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés” 16. A MARINHA E A CAPOEIRAGEM O primeiro episódio que se tem notícia do envolvimento da Marinha com os capoeiras deu-se durante a revolta das tropas estrangeiras no Rio de Janeiro em 1828 17. Pol Briand18 cita o Relatório de Le Marant, em que o almirante, no pedido de D. Pedro I, botou tropas de marinha em terra para guardar o Palácio e o Arsenal da Marinha, enquanto as tropas brasileiras saiam destes lugares para abafar a revolta. Diz-se que foram os capoeiras que dominaram a revolta, derrotando as tropas estrangeiras sublevadas. Para Briand, a aparição do termo capoeira na relação da revolta das tropas estrangeiras no Rio de Janeiro mostra a invenção interessada de uma tradição da capoeira. Segundo esse autor, foi Capistrano de Abreu quem denunciou ser o sr. Pereira da Silva o inventor da intervenção dos capoeiras.19 Para Briand, todos os escritores anteriores concordam em dizer que as autoridades brasileiras mobilizaram o povo, escravos incluídos, para impedir a comunicação dos três focos da revolta. O populacho (populace) para Debret, 20 os moleques para Walsh21 massacraram os revoltosos isolados, enquanto as tropas brasileiras, apoiadas por infantaria de marinha francesa e inglesa desembarcada dos navios estacionados na Baia, atacavam com canhões os seus quartéis.

13 VAZ, 2014, obra citada. 14 LIMA, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925 15 MACEDO, Joaquim Manoel. Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: Perseverança, 1878, pg. 99. 16 O texto em tela se relaciona também com o Tenente João Moréia. 17 No 9 de junho de 1828, um castigo desmedido, inflito por um motivo de vez fútil e duvidoso a um soldado alemão -- 250 açoites, podendo significar a morte na tortura, sem contar que no Brasil, os livres não levavam açoites -- provoca, no 201º açoite inflito à frente da tropa, à sublevação. Os soldados apelam ao Imperador, que nega-se a recebê-los. Eles entrincham-se nos seus quarteis, e dois outros regimentos se rebelam, matando o pondo em fuga oficiais brasileiros. Chega a noite. É uma crise como ainda se conhece em nossos dias: as autoridades querem retomar o controle, mais ficam enfraquecidas; os poderes estrangeiros, as marinhas francesa e britânica, que dispõem de uma força considerável na Baia de Guanabara, querem, sem demostrar-se partidários, preservar a vida e os bens dos seus conterrâneos; e a oposição política procura aproveitar da situação. Un dia passa sem decisão. Os Brasileiros de todas as tendâncias concordam em reduzir a revolta pela força. Para impedir a comunicação entre os três quarteis insurgentes, põem os soldados estrangeiros fora da lei, pode-se ferir e mata-los sem risco de sanção penal. Homens e crianças das classes mais baixas de livres e escravos perseguem os isolados. Estas presas, que não são realmente guerreiros, escondem-se, ou, com mais freqüença, caiem feridos o mortos. Nos dias seguintes, as tropas de artilheria e a cavalaria do Minas Gerais retomam o controle dos quarteis. Os revoltosos sobrevivantes são presos, e na sua maior parte, ora mandados de volta para Europa, ora expediados nas províncias. In Nota de BRIAND, Pol. HISTÓRIA DE UM MITO DA CAPOEIRA. Blog da A s s o c i a t i o n d e C a p o e i r a P A L M A R E S d e P a r i s , www.capoeira-palmares.fr, disponível em http://www.capoeira-palmares.fr/histor/legenda.htm 18 Rapport du Contre-Amiral Le Marant, commandant de la station navale française à Rio de Janeiro, au Ministre de la Marine. A bord de la régate la Surveillante en rade de Rio Janeiro, le 14 juin 1828. Archives de la Marine, BB/4/ 506, Campagnes 1828.10, f.o 78. In BRIAND, Pol. HISTÓRIA DE UM MITO DA CAPOEIRA.. Blog da A s s o c i a t i o n d e C a p o e i r a P A L M A R E S d e P a r i s , www.capoeira-palmares.fr, disponível em http://www.capoeirapalmares.fr/histor/legenda.htm Ver também: Esboço fiel dos acontecimentos dos dias 9, 10, 11 e 12 de junho de 1828. Rio de Janeiro: Imperial Tipografia de Pedro Planch. Cópia literal do impresso, Rio de Janeiro, 20/6/1865, Seção de Manuscritos-Biblioteca Nacional (SM-BN), II-34, 16, 19. 19 PEREIRA DA SILVA. João Manoel, Secondo periodo do reinado de Dom Pedro I no Brazil, narrativa historica, Rio de Janeiro:Garnier, 1871. .p. 269-274, 286-291. Disponíverl em http://www.capoeira-palmares.fr/histor/legenda.htm 20 Debret, Jean-Baptiste, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou Séjour d'un artiste français au Brésil, depuis 1816 jusqu'en 1831 inclusivement,époques de l'avènement et de l'abdication de S.M. don Pedro, premier fondateur de l'Empire brésilien. Paris:Didot Frères, 3 volumes in-Folio publiés en livraisons de 1834 a 1839 21 Walsh, Robert, Notices of Brazil in 1828 and 1829,London:Frederick Westley & A.H. Davis, 1830; reprinted in Boston, 1831.


Segundo Álvaro Pereira do Nascimento22 a Marinha de Guerra, em seus recrutamentos, tinha dentre os vadios e malfeitores, capoeiras. Conforme consta em Relatório do Ministro da Marinha (1888 "Annexos") nota-se que, de 1840 a 1888, foram recrutados à força 6.271 homens para o Corpo de Imperiais Marinheiros, e recebidos somente 460 voluntários. Essa diferença com certeza asseverava o dito por vários ministros da Marinha ao longo do século XIX e início do XX, isto é, a falta de voluntários levava ao imediatismo do recrutamento forçado23: Entre as autoridades civis, os chefes de polícia eram o braço direito do ministro da Justiça e dos presidentes de província para assuntos de alistamento, e precisavam pôr seus delegados e subdelegados na rua para alcançar a quantidade de alistados destinada à cada província. Nesse sentido, todo homem pego pela malha como recruta, suspeito de deserção, vadio, arruaceiro, gatuno, capoeira ou órfão poderia ser enviado para a Marinha ou para o Exército. Se até um homem negro com sinais de castigo podia ser capturado e enviado para as Forças Armadas, o que dizer daqueles sem marcas? ...Mando apresentar [...] o moleque livre Martinho de Tal, solteiro, de 16 anos, capoeira, ex-sineiro da igreja de Santa Anna, e que pretende passar por peruano quando até mal sabe uma ou outra palavra de espanhol e aqui na Corte é muito conhecido, infelizmente, sempre vadio.

Em 1865, o Brasil, junto com a Argentina e o Uruguai, declarou guerra ao Paraguai. O exército brasileiro formou seus batalhões e, dentro destes, um imenso número de capoeiras. Muitos foram "recrutados” nas prisões; outros foram agarrados à força nas ruas do Rio e das outras províncias; aos escravos, foi prometida a liberdade no final do conflito. Na própria Marinha, o ramo mais aristocrático das Forças Armadas, destacou-se a presença dos capoeiras. Não entre a elite do oficialato, mas entre a "ralé" da marujada24: Marcílio Dias (o herói da Batalha do Riachuelo, embarcado no "Parnahyba") era rio-grandense e foi recrutado quando capoeirava à frente de uma banda de música. Sua mãe, uma velhinha alquebrada, rogou que não levassem seu filho; foi embalde, Marcílio partiu para a guerra e morreu legando um exemplo e seu nome. (Correio Paulistano, 17/6/1890) 25.

Os capoeiras do Batalhão de Zuavos, especialistas em tomar as trincheiras inimigas na base da arma branca, fizeram misérias na Guerra do Paraguai. Manuel Querino descreve-nos "o brilhante feito d'armas" levado a efeito pelas companhias de "Zuavos Baianos" no assalto ao forte Curuzu, quando os paraguaios foram debandados. Destacam-se dois capoeiras nos combates corpo-a-corpo: o alferes Cezario Alves da Costa - posteriormente condecorado com o hábito da Ordem do Cruzeiro pelo marechal Conde d'Eu -, e o alferes Antonio Francisco de Melo, também tripulante da já citada corveta "Parnahyba" que, entretanto, teve sua promoção retardada devido ao seu comportamento, observado pelo comandante de corpos: "O cadete Melo usava calça fofa, boné ou chapéu à banda pimpão e não dispensava o jeito arrevesado dos entendidos em mandinga". (REIS, 1997, p.55) 26.

O 31º de Voluntários da Pátria - policiais da Corte do Rio de Janeiro com grande percentagem de capoeiras - também se destacou na batalha de Itororó: esgotadas as munições,"investiu contra os paraguaios com golpes de sabre e capoeiragem" (COSTA, Nelson in SOARES, op.cit., 1944, p.258) 27. Devido a estas ações de bravura e temeridade, começou a surgir dentro do Exército e da Marinha, de maneira velada e não explícita, o mito que o capoeira seria o "guerreiro brasileiro". Cinco anos depois, 1870, os sobreviventes da Guerra do Paraguai voltaram, agora transformados em "heróis", e flanavam soltos pelas ruas do Rio. Muitos engrossaram as fileiras das maltas cariocas e, não raro, pertenciam também à força policial.

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Do cativeiro ao mar: escravos na Marinha de Guerra. In http://cap-ang.blogspot.com.br/2009/09/do-cativeiro-ao-mar-escravos-na-marinha.html 23 O autor faz referencia a Nascimento 1997: cap. 2, sem explicitar a fonte. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101546X2000000200005 24 PASSOS NETO, Nestor S. dos. "Jogo Corporal e Comunicultura", ECO-UFRJ, 2001. In http://www.nestorcapoeira.net/hfp.htm 25 Citado por PASSOS NETO, Nestor S. dos. "Jogo Corporal e Comunicultura", ECO-UFRJ, 2001. In http://www.nestorcapoeira.net/hfp.htm 26 REIS, Letícia Vidor de Sousa. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher Brasil. 1997. 27 Citado por NESTOR CAPOEIRA. (PASSOS NETO, Nestor S. dos.). IN história, filosofia e pesquisa, 2007. Disponível em http://www.nestorcapoeira.net/hfp.htm


Na Revolta da Armada (1893-1894) capoeiristas pró-Exército e pró-Marinha lutaram entre si28. O pesquisador francês Pol Briand29, informa que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha30 foram Aprendizes Marinheiros no início do Séc. XX. Pastinha ingressou na escola em 1902, e ensinava capoeira a seus colegas aprendizes da Marinha. Em “Areia do Mar” 31, ladainha do Abadá Capoeira (Pato): Areia do mar, areia do mar o que você tem, para me contar Me conta de Pastinha e de Bimba por favor seu Pastinha na marinha Mestre Bimba estivador

Vicente Ferreira – Pastinha - nasceu em Salvador, na Bahia, em 05 de Abril de 1889. Filho de uma mulata baiana e de um comerciante espanhol, aprendeu capoeira ainda na infância, através dos ensinamentos de um africano chamado Benedito, buscando aprender a se defender depois de muito apanhar de um menino de seu bairro. Aos 12 anos entrou, em Salvador – onde morou a vida toda – na Escola de Aprendizes de Marinheiro32 e, posteriormente, na Marinha, lá permanecendo até os 20 anos. Em 1910 dá baixa e começa a dar aulas de capoeira em um espaço onde funcionava uma oficina de ciclistas. Ainda na Marinha, teve contato com esgrima, florete e ginástica sueca, o que nos mostra que conheceu outros estilos de luta que não a capoeira33. De acordo com Matthias Röhrig Assunção (2014) 34, no Brasil, os oficiais da Marinha foram os primeiros a se interessar pelo jiu-jítsu. Navios da Marinha brasileira já aportavam no Japão desde o século XIX. Em 1905, dois oficiais da Marinha, Santos Porto e Adler de Aquino, publicaram o manual Educação física japonesa , traduzido de um livro em inglês de H.I. Hancock (PIRES, 2001, p. 9535; VIEIRA, 1995, p. 15436; CAIRUS, 2012, p. 38-39) 37. José Cairus assinalou que a introdução ao livro pelos militares explica por que consideram o jiu-jítsu superior à capoeira: a arte marcial brasileira teria sido durante o Império desviado por criminosos, o que a teria levado à decadência. Em 1907 começa a circular um livro: “O.D.C. Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira” (2a. edição)38. Rio de Janeiro, Livraria Nacional. Corre uma versão em que a autoria do livro é atribuída ao primeiro tenente da Marinha José Egydio Garcez Palha39. Tendo esse oficial falecido em 1898, seu livro 28

DONATO, Hernâni. HISTÓRIA DOS USOS E COSTUME NO BRASIL: 500 anos de vida cotidiana. São Paulo: Melhoramentos, 2005, p. 286 29 On line in http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/search/label/Ginga-SAVATE . Ver também: KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança? Campinas: Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1. SOUSA, Celso. La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive. Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, 2006 in [http://www.esefex.ensino.eb.br/atual_trab/%40cap I.PDF 30 http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Pastinha 31 http://www.letrasdemusicas.fm/abada-capoeira/areia-do-mar-pato#seu-pastinha-na-marinha 32 [...] ingressou na escola da marinha, por desejo de seu pai que não apoiava sua prática de capoeira. Na escola ele costumava ensinar capoeira aos amigos. Com 21 anos, ele deixou a escola da marinha e se tornou um pintor profissional. MESTRE PASTINHA In Abadá Capoeira, disponível em http://www.abadadc.org/paginas/pastinha.htm 33 FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Política e Bens Culturais. 34 ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Ringue ou academia? A emergência dos estilos modernos da capoeira e seu contexto global. Hist. cienc. saudeManguinhos vol.21 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2014 Epub Jan 01, 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702014005000002 . Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702014000100135 35 PIRES, Antonio Liberac Cardoso Simões. Movimentos da cultura afro-brasileira : a formação histórica da capoeira contemporânea, 1890-1950. Tese (Doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas. 2001. 36 VIEIRA, Luiz Renato. O jogo de capoeira : corpo e cultura popular no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint. 1995. 37 CAIRUS, José. The Gracie clan and the making of Brazilian jiu-jitsu : national identity, performance and culture, 1801-1993. Tese (Doutorado) – Graduate Programme in History, York University, Toronto. 2012 38 Edição do livro apócrifo ‘Guia do Capoeira ou Gymnástica Brasileira’ é 1904. Nele a autoria é feita pelas iniciais ‘O.D.C.’, que significada à época: ofereço, dedico e consagro’. (Vieira, 2005) 39 Em 1890 era Capitão de Fragata, e pertencia ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ocupando a função de Secretário Suplente. E ainda, que em janeiro de 1980 fora exonerado da função que ocupava no Ministério da Marinha. Em julho de 1890 aparece o livro Aprendiz do Marinheiro, organizado por Garcez Palha, então 1º Tent. e José Vitor de Lamare, Capitão-Tenente. Em 1894, nomeado Secretário do Ministro da Marinha, Almirante Elisiário Barbosa. Em 1898, a


sobre capoeira foi publicado posteriormente sobre a sigla ODC. (Lace Lopes, 2005) 40. Segundo alguns estudiosos, "ODC" não representa as iniciais do possível nome do misterioso autor; "ODC" significa simplesmente, "Ofereço, Agradeço, Consagro". Livro duplamente misterioso. Pelo seu autor que não quis aparecer e, sobretudo, pelo seu desaparecimento da Biblioteca Nacional. Por sorte, antes desta ocorrência, Annibal Burlamaqui teve a chance copiá-lo (sem ter como reproduzir as ilustrações). Enquanto o original não reaparece é esta cópia que está correndo o mundo. Em 1908, a Marinha do Brasil importa mestres japoneses para o ensino do jiu-jitsu a seus homens. O judoca japonês, Sada Miako, foi contratado para ensinar aos oficias da Marinha, e considerou-se adotar o jiu-jítsu no treinamento dos recrutas. Isso provocou debates e comentários irônicos da imprensa nacionalista, que em geral dava preferência ao uso da capoeira sobre tradições importadas de luta41. Época de profissionalização, além das mudanças nas estruturas internas, reforma de regulamento, inserção de novas práticas, bem como a intensificação das preocupações com as atividades físicas. Em uma visita do navioescola Benjamim Constant ao Japão, em sua volta vieram alguns japoneses, ocasião em que houve demonstrações de jiu-jitsu (CANCELLA, 2014) 42. Assim a introdução das técnicas japonesas de luta no Brasil provocou reações e respostas de vários segmentos da sociedade: os capoeiras, os aficionados em esportes de combate, os intelectuais e os militares (Assunção, 2014; Cancella, 2014). Acompanhava o professor Sada Miyako, seus ajudantes M. Kakihara, e Sensuke He. Os marinheiros brasileiros receberam lições dessa arte marcial de origem japonesa43 Em artigo publicado no Jornal do Capoeira44 em 2005, escrevi que em "A Pacotilha", São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, aparecera noticia que tem por titulo "JIU-JITZÚ" - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. [...]"Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. [...] "Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. [...] Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que o brasileiro 'sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta'. (Grifos nossos).

Para o Mestre André Lacé (s.d.) 45, Francisco da Silva Ciríaco, mais conhecido como Macaco Velho, nascido em Campos, foi um dos mais afamados capoeiristas no Rio de Janeiro, na virada do século 19 para os 20. Era o mestre preferido pelos acadêmicos de medicina, fenômeno que se repetiu na Bahia, décadas mais tarde, com Mestre Bimba. Foram esses estudantes que insistiram no confronto da Capoeira (Macaco Velho) com o jiu-jitsu (Sada Miyako, campeão japonês). Evento que acabou ocorrendo, no dia 1º de maio de 1909, com um fulminante desfecho: aplicando um literalmente surpreendente rabo-de-arraia, Ciríaco encerrou a luta em alguns segundos. Mesmo existindo uma versão – jamais comprovada – de que Ciríaco teria utilizado um recurso, digamos, de rua, mesmo assim, luta é luta, vale-tudo é vale-tudo, e ninguém jamais poderá negar o mérito da vitória. Tanto assim, que Mestre Ciríaco saiu vitorioso do Pavilhão Internacional Paschoal Segreto, com o povo cantando pelas ruas “a Ásia curvou-se ante o Brasil”. No dia seguinte, a Capoeira foi notícia em quase todos os jornais, valendo registrar, por oportuno, a ocorrência de algumas redações cautelosas, quase envergonhadas da própria cultura brasileira, como a nota do jornal do Commercio (02.05.1909, pág. 7):

10 de março, noticia de que seu enterro fora muito concorrido, incluindo o representante do Presidente da República, Tent. Ávila, ajudante de ordens. Garcez Palha foi autor da obra Efemérides Navais. Era lente da Escola Naval. Redator da Revista Marítima Brasileira por vários anos, chegando a seu Diretor. Foi membro da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro. 40 LACÉ LOPES, 2005, obra citada 41 ASSUNÇÃO, 2014, obr citada 42 CANCELLA, Karina. O ESPORTE E AS FORÇAS ARMADAS NA PRIMEIRA REPÚBLICA: das atividades gymnasticas às participações em eventos esportivos internacionais. (1890-1922). Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 2014, p. 108-1110. 43 CANCELLA, 2014, p. 108-1110, obra citada. 44 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005, Dispon[ível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 45 LACÊ, André. Disponível em CD-Room, enviado ao autor. CIRÍACO, HERMANNY, ARTUR E HULK


O sportman japonez do tão apreciado jogo jiu-jitsu foi hontem vencido pelo preto campista Cyriaco da Silva, que subjugou o seu contendor com um passo de capoeiragem”.46

A nota, curiosamente, não menciona o nome do “sportman” perdedor. Mais adiante, entretanto, no mesmo jornal garimpei o seguinte anúncio: “JIU-JITSU: Mr. Sada Miyako, professor contratado para leccionar na marinha brasileira encarrega-se de dar lições particulares a domicílio. Cartas para a Rua Gonçalves Dias n. 78 ou para a Fortaleza de Willegaignon”.

Em recente novela de época, da Rede Globo de Televisão, em um dos episódios – segundo a sinopse – ocorre a seguinte cena47: Zé fica danado ao saber que a Marinha contratou japonês para ensinar jiu-jítsu Zé Maria (Lázaro Ramos) está se dando bem como administrador do jornal Correio da República, mas ele ainda não está livre de testemunhar o preconceito contra a capoeira. Depois de ter sido expulso da Marinha após a Revolta da Chibata, ele descobre no jornal que o governo contratou um japonês para ensinar jiu-jítsu aos marinheiros brasileiros. “A capoeira é proibida, sinônimo de vadiagem. Agora, se a luta vem do Japão, é chamada de arte marcial. Eu queria só ver esse japonês lutar!”, reclama Zé, indignado. Jonas (George Sauma) avisa que o japonês vai fazer uma exibição no Pavilhão Nacional, na Praça Tiradentes, o local onde se realizam os campeonatos de luta greco-romana. “É jiu-jítsu, luta greco-romana... Esse é o Brasil. Só não ganha respeito o que vem do meu povo”, reclama Zé. Será que ele vai deixar isso barato?

O escritor Coelho Neto (maranhense) apresenta um projeto de lei para a Câmara dos Deputados tornando obrigatório o ensino da capoeira nas escolas civis e militares; usa de dois argumentos para sua proposta pedagógica: o primeiro, era de que a capoeira, como excelente ginástica, promovia um desenvolvimento harmonioso do corpo e dos sentidos; o segundo atribui à capoeira um sentido estratégico de defesa individual (Reis, 1997, p. 88-89) 48. Gomes Carstruc, no jornal O Paiz, de 22 de outubro de 1923 conclama que o jogo da Capoeira seja adotado pela Marinha de Guerra: [...] todos os brasileiros a cultivarem o Jogo da Capoeira – ‘um jogo elegante, próprio para a defeza individual, jogo de destreza nobre e não brutal e aviltante’ e que poderia ser, certamente, adotado oficialmente pela ‘nossa marinha de guerra’ – e a exevrarem o boxe – um jogo no qual ‘duas feras, ridículas nas suas formas inestheticas, nem bem quadrúpede, nem bem bimano, quase reptil, quase mono; as duas feras se esmurram, quebram-se mandíbulas, esmigalham-se dentes, cegam-se a murros, assassinam-se com pesados socos, diante dos seus semelhantes, embriagados com tanta estupudez.’ 99 99

Cf. A. Gomes Carstruc. Cultivemos o jogo de capoeira e tenhamos asco pelo do boxe. O PAIZ, Edição Extraordinária, anno XI, no. 14.246, 1ª. Página. Rio de Janeiro, segunda feira, 22 de outubro de 1923.49

Lamartine Pereira Da Costa50, 51, Mestre Capoeira, foi o introdutor, oficialmente, da capoeiragem na Marinha. Escreveu vários artigos e dois livros específicos sobre o assunto; em 1961, apresenta-nos 46 Ver também CANCELLA, 2014, p. 108-1110. 47 http://gshow.globo.com/novelas/lado-a-lado/Vem-por-ai/noticia/2013/01/ze-fica-danado-ao-saber-que-a-marinha-contratou-japones-para-ensinar-jiujitsu.html 48 REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR – A CAPOEIRA NO BRASIL. São Paulo: Publisher Brasil; FAPESP, 1997 49 Fonte: O que a escola faz com o que o povo cria: até a capoeira entrou na dança! Cesar Augustus Santos Barbieri, São Carlos – SP – Agosto 2003 – Tese. In Blog Asociasion de capoera deportiva, disponível em http://cap-dep.blogspot.com.br/2011/01/1923-jogo-da-capoeira-adotado-pela.html 50 DA COSTA, Lamartine Pereira. Capoeiragem: a arte da defesa pessoal brasileira. Rio de Janeiro: [s.n.], 1961 DA COSTA, Lamartine Pereira. Capoeira sem mestre. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1962. 51 LAMARTINE PEREIRA DA COSTA. Graduação em Ciências Navais pela Escola Naval (1958), licenciatura em Educação Física pela Escola de Educacao Fisica do Exercito (1963) e doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho (1989). Atualmente é professor titular da Universidade Gama Filho, membro Conselho Pesquisas do Comité Olimpico Internacional em Lausanne (Suiça) e professor visitante da Universidade Técnica de Lisboa. Atuou como professor visitante da Universidade do Porto (Portugal), da Academia Olimpica Internacional (Grecia) e da Universidade Autonoma de Barcelona (Espanha). No Brasil foi


“Capoeiragem: a arte da defesa pessoal brasileira” (Rio de Janeiro: [s.n.], 1961) e logo a seguir “Capoeira sem mestre” (Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1962), onde propunha uma espécie de ensino de capoeira por correspondência, pois a luta poderia ser a sós, como no Box, dispensando a figura do mestre (Reis, 1997, p. 156) 52. Como professor de Educação Física escreveu dezenas de artigos, coordenou dezenas de projetos a nível nacional e internacional. Com doutorado em Filosofia, além de professor universitário, tornou-se um consultor internacional em sua área profissional. "Dança de negros e arma de malandros: capoeira oficializada na Marinha". Com esse título, o Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 30 março de 1966 noticia que Lamartine Pereira da Costa, com a cooperação dos Mestres Artur Emídio e Djalma Bandeira promove um curso de capoeira especialmente para oficiais e praças da Marinha. (Lace Lopes, 2005) 53. Lamartine Pereira da Costa54, à época oficial da Marinha, deu-me o seguinte depoimento sobre os livros que publicou55: A versão "Arte de Defesa Pessoal Brasileira” é 1961 e a "Sem Mestre” é de 1962, mas o conteúdo é o mesmo. A obra de 1961 foi publicada por mim já que nenhuma editora quis se envolver com o tema. A de 1962 foi da Edições de Ouro (editora hoje inexistente) que me propôs fazer um livro popular de baixo custo e titulo chamativo. O publico da versão 1962 foi o geral sem um foco preciso como todo livro popular, vendido em qualquer lugar. O meu livro de 1961 foi o quarto livro publicado sobre a capoeira. Os dois primeiros foram de pouca penetração desde que eram contra a lei vigente entre 1900 e década de 1928, período de publicação dos livro ODC e Aníbal Burlamaqui. O terceiro foi um estudo histórico publicado pelo Inezil Pena Marinho (professor da então Universidade do Brasil, hoje UFRJ) com pouca circulação. O meu seguiu-se ao do Inezil porque havia uma deficiência na apresentação da luta pelos seus golpes e movimentos. Este ultimo livro em meados dos anos de 1960 já tinha vendido 60 mil exemplares e a capoeira se popularizou. Claro está que houve vários livros e artigos sobre a capoeira ao longo da historia brasileira, mas por menções, citações ou textos menores. Livros pioneiros são os citados acima embora se possa discutir se essas obras foram efetivas em termos de impactos culturais. Desconheço a obra do Mestre Bimba dos anos de 1960 mas posso garantir que ela não existia quando do lançamento dos dois livros citados desde que a razão que me motivou a produzi-los foi da ausência de fontes sobre a capoeira. Estive na Bahia entre 1960 e 1961 e constatei que os mestres famosos cultivavam o segredo (típico da cultura africana). Meu mestre - o baiano Artur Emidio, radicado no Rio de Janeiro - também cultivava o segredo e me alertou sobre as dificuldades para ser ter registros de utilização pedagógica como eu antevia a época. Artur Emidio e Djalma Bandeira foram meus mestres, mas Novis e Vieira foram meus apoiadores no financiamento para a publicação do livro 1961. A produção do livro de 1961 foi muito simples com desenhos calcados em fotografias. A semelhança com figurações ODC é meramente casual em face de que eu somente conhecia a obra do Inezil.

Há que se destaca que, em 1967, A Força Aérea Brasileira organizou o I Congresso Nacional de Capoeira; como também organizou o II Congresso Nacional de Capoeira. Nestes dois eventos, aviões da FAB trouxeram Mestres de todo o Brasil com o objetivo de dar uma organização nacional efetiva à prática da luta (Vieira, 2005) 56. Em 1995, outro Oficial da Marinha lança livro sobre o assunto: SANTOS, Esdras M. dos. “Conversando sobre capoeira”. São Paulo: JAC. Livro emocionado, desassombrado e extremamente professor da Universidade Católica de Petrópolis (Engenharia), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Mestrado em Geografia), UNIRIO (Mestrado em Memoria Social), USP (Mestrado Educação Física) e UERJ (Graduação Educação Física). Tem experiência nas áreas de Educação Física, Administração, Historia e Filosofia com ênfase em meio ambiente, esportes, lazer e Gestão do Conhecimento. Tem produção contínua em pesquisas desde 1967 no Brasil e no exterior, com inicio na area de meio ambiente. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4721721A5 52 REIS, 1997, obra citada. 53 LACÉ LOPES, 2005, obra citada, p. 386-388; 2006. 54 Da COSTA, Lamartine Pereira. Depoimento de Lamartine P. Da Costa sobre livros de Capoeira no Brasil – 15fev15. Em Correspondência pessoal. De: "Lamartine DaCosta" Enviada:segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015 05:56:19 Para:"Leopoldo Gil Dulcio Vaz" (vazleopoldo@hotmail.com)- Re: MARINHA + CAPOEIRA / MARANHÃO. 55 Em 1960, Lamartine Pereira da Costa, então oficial da Marinha, diplomado em Educação Física pela E.E.F.E e instrutor chefe dos cursos de Escola de Educação Física da Marinha, CEM-RJ, lança um livro que se tornou o clássico da capoeira: Capoeiragem – A arte da Defesa Pessoal Brasileira. http://www.capoeiramestrebimba.com.br/busca_reconhecimento.html 56 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40.


informativo. Preciosa fonte de informações e esclarecimento sobre a trajetória da Capoeira Regional. (Lace Lopes, 2005) 57. Aliás, para o Mestre André Lacé, estudioso da Capoeira, um grande mote, ainda virgem, é o papel das Marinhas - de Guerra e Mercante - na propagação e no intercâmbio capoeirístico nos portos brasileiros e do mundo. (Lace Lopes, 2005) 58. A esse propósito, já expusemos em vários eventos o que consideramos uma influencia europeia na Capoeira, configurada através da Chausson/Savate (VAZ, 2013; 2014) 59, praticado por marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos 'leões marinhos' em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Houve intenso tráfico entre os portos brasileiros - Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luis e Belém - e Marselha. Encontramos em nossas pesquisas artes marciais que se localizavam justamente nas rotas dos navios dos impérios coloniais assim como nas rotas ancestrais dos malaios e indús que povoaram Madagascar. Posteriormente, em cada rixa da barra em portos franceses era comum ver chutes infligidos em qualquer parte do corpo. Os marinheiros chamavam "Chausson" este tipo de combate, em referência à chinelos normalmente usados a bordo. Marinheiros gauleses e espanhóis eram instruídos com estas formas de ataques e defesas. Na época de Napoleão Bonaparte, os soldados do imperador exibiam publicamente suas "aptidões" chutando a bunda de seus prisioneiros. A punição era conhecida como “Savate”, que pode ser traduzido como "sapato velho” 60. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira 61, e em Recife, com as gangues de Rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês) 62 em Paris e das maltas de fadistas63 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos.

57 LACÉ LOPES, 2005, obra citada, p. 386-388; 2006 58 LACÉ LOPES, 2005, obra citada, p. 386-388; 2006 59 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Uma origem da Capoeira é a Ringa-Moringue Maugache? ANAIS do CONGRESSO ISHPES – PHYSICAL EDUCATION AND SPORT AROUND THE GLOBE: PAST, PREENTE AND FUTURE. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2013, p. 173-202 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? ANAIS XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA. Londrina-PR, 19 a 22 de agosto de 2014b. VAZ, 2014, obra citada. 60 On line http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/pelea-de-marinos-savate.html 61 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 62 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira). 63 SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf


http://cap-dep.blogspot.com/search/label/1890-BRASIL-Capoeiragem%20prohibido

O "Chausson" era do sul da França e usava somente os pés; já no Norte, usava-se a combinação de pés e mãos abertas - "savate”. Enquanto os homens se reúnem em um duelo de tiro com espadas ou bastões, as classes mais populares lutavam com os pés e batendo com os punhos, de modo que o Savate, esgrima, pés e punhos, tornaram-se a prática de "Thugs" no momento, para citar apenas Vidocq, Chefe simbólico do fim do século XVIII. O contato com essas formas de luta se dá, também, com a interação entre marinheiros, nas constantes viagens entre os dois lados do Atlântico, pois navios da marinha francesa entre 1820 e 1833 foram de Brest (cidade natal de Savate) para Portos do Brasil (Capoeira), Martinica (Ladja) e Bourbon (Moringa):


Fonte: Tratado de hygiene naval, ou, Da influencia das condições physicas e moraes ... Por J. B. Fonssagrives, on line http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1820-1833-BREST%28Cuna%20del%20SAVATE%29Navios%20de%20la%20Armada%20frecuentando%20BRASIL%28Capoeira%29%20-MARTINICA%28Ladja%29%20Y%20BOURBON%28Moringue%29

Fonte: LIBRO:Souvenirs d'un aveugle Escrito por François Arago, Jules Janin Edición: 4 - 1868 - http://books.google.com/books?id=5hGQKQrB8QC&hl=es&source=gbs_navlinks_s, on line:Ç http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1840-RIOSavate%20y%20Bast%C3%B3n%20en%20Rio%20de%20Janeiro


Câmara Cascudo64 informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas. Para Costa (2007) 65, no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48) 66; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968)67 ; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73)68; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)69. Todos eram capoeiristas. Em postagem no Blog “École de capoeira angola de Paris” 70, ao se discutir “o que é um contramestre?”, se esclarece a origem dessa graduação. Segundo Mestre Jogo de Dentro, a origem do termo contramestre estaria na intima relação que capoeiras possuíam com os trabalhos portuários. Muitos capoeiras trabalhavam nos portos como estivadores, como marujos, como pescadores, ou ainda, por morarem em cidades litorâneas compartilhavam uma cultura portuária que foi incorporada pela cultura da capoeira que os mestres do inicio do século XX estavam construindo. O autor da matéria encontrou material produzido no século XIX que pode ser elucidador sobre a questão dos contramestres na Capoeira Angola. Trata-se da obra: Princípios de Direito Mercantil e Leis da Marinha para o uso da mocidade Portuguesa, destinado ao comércio, de1819 e impresso em Lisboa. Em nota publicada no jornal sorocabano “Cruzeiro do Sul” 71 ao reproduzir notícia da pretensão de se fundar uma academia de capoeira no Rio de Janeiro em 1920, tem-se notícias sobre outros homens do mar que utilizavam a capoeira como defesa, em suas brigas pelos portos afora: UM DESPORTO NACIONAL O dr. Raul Pederneiras e o professor Mario Aleixo pretendem fundar no Rio uma escola [...] por ser a capoeiragem um desporto excellente. [...] Um japonez, jogador afamado do "jiú jutsú" foi vencido há tempos pelo capoeira carioca Cyriaco.Raul Pederneiras pensa em reviver esse desporto, auxiliado pelo professor Mario Aleixo, que já ensinou "jiú-jutsú" e capoeiragem à polícia civil do Rio.Os francezes chamam aquelle desporto de "savate": os pés, as mãos, a cabeça, tudo o capoeira emprega quando se defende. A "Folha" cita um marujo brasileiro, um tal "Boi", que num porto francez resistiu a uma escolta numerosa, só se utilizando da cabeça e dos pés.72 (Grifos meus).

Luciano Milani73, em entrevista com Mestre Bola Sete, divulgada pelo Jornal do Capoeira, traz a informação que o grande capoeirista Pessoa Bababá era marinheiro da Marinha Mercante. Discípulo de Mestre Pastinha ingressa em sua academia em 1969: José Luiz Oliveira Cruz, o mestre Bola Sete, nasceu em 31 de maio de 1950, iniciou na capoeira em 1962 como autodidata, em 1968 começa a treinar com o grande capoeirista Pessoa Bababá, marinheiro da Marinha Mercante e discípulo de Mestre Pastinha, em 1969 ingressa na academia de Vicente Ferreira Pastinha, [...].

64 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: TECNOPRINT, 1972. 65 COSTA, Neuber Leite Capoeira, trabalho e educação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. 66 NESTOR Capoeira: Pequeno Manual do Jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. 67 REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. 68 PIRES, Antonio Liberac A. Capoeira na Bahia de Todos os Santos: estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 69 CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (Cadernos de Folclore). 70 http://www.angola-ecap.org/matieres-a-penser/em-portugues/87-o-que-e-um-contramestre 71 CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. O ensino da capoeiragem no início do século XX. In JORNAL DO CAPOEIRA, 02.08.2005 - Sorocaba " SP, www.capoeira.jex.com.br, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/o+ensino+da+capoeiragem+no+inicio+do+seculo+xx 72 Cruzeiro do Sul, 31 jan 1920 73 MILANI, Luciano. Mestre Bola Sete & Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPEIRA, 31 de Julho de 2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/mestre+bola+sete+capoeira+angola ; www.lmilani.com


A Capoeira maranhense teve, dentre seus precursores Roberval Serejo 74, que fundou o grupo “Bantus”. Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio75, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira. Mestre Patinho relata o aparecimento desse grupo: [...] bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci [...]outro amigo que era marinheiro da Marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão [...]76.

Em meados dos anos 2000, a Marinha do Brasil realizou uma parceria com ONGs num projeto social chamado “Cidadão do Amanhã”, coordenado pela ONG Ativa, com o grupamento dos Fuzileiros Navais, em que se realizavam atividades de recreação e ensino de capoeira 77.

74 Mestre Mirinho (Casimiro José Salgado Corrêa) In LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO – em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. 75 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ARTHUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUIS DO MARANHÃO. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/15/cronica-da-capoeiragem-artur-emidio-e-a-capoeiragem-em-sao-luis-do-maranhao/ 76 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in “Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira do Maranhão”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 77 http://raivosocdonatal.blogspot.com/2008/01/capoeira-na-marinha-projeto-social-2006.html#ixzz3RYppoBen


A PROFISSÃO “EDUCAÇÃO FÍSICA” – INCLUI O CAPOEIRA78 Leopoldo Gil Dulcio Vaz Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação A profissão “Educação Física” - regulamentada por determinação da Lei nº 9696/9879 -, é prerrogativa do profissional graduado em Curso Superior de Educação Física (Licenciatura ou Bacharelado), com registro no Sistema CONFEF/CREFs, a prestação de serviços à população em todas as atividades relacionadas à Educação Física e nas suas diversas manifestações e objetivos. É, portanto, um campo profissional legalmente organizado, integrado a área da saúde e da educação. A Resolução CONFEF nº 046/2002, de 18 de Fevereiro de 200280, que dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional dispõem em seu artigo 1º.: “Art. 1º - O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais -, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo.” (D.O.U. nº 53 de 19 de março de 2002 - Seção 1 - pág. 134). (Grifos meus). No “DOCUMENTO DE INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA” (Resolução CONFEF nº 046/2002, de 18 de Fevereiro de 2002) vamos buscar algumas explicações sobre essa intervenção profissional. O termo “Educação Física” contempla, dentre outros, os significados:  O conjunto das atividades físicas e desportivas81; 78

Por “capoeiras” entende-se os agentes de uma prática cultural oriunda dos africanos no Brasil denominada Capoeira ou Capoeiragem, que passou por um processo de criminalização entre finais do século XIX e início do XX chegando aos dias atuais a ser considerada uma das principais manifestações da cultura afro-brasileira e esporte de caráter nacional, compondo a grade curricular obrigatória dos cursos de Educação Física em algumas universidades brasileiras, como por exemplo as universidades baianas UEFS, UFBA e UCSAL. IN Oliveira, Josivaldo Pires de. BANDOS DE MARGINAIS”: OS CAPOEIRAS NO LIVRO DIDÁTICO HISTÓRIA E CIVILIZAÇÃO. 79 80

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Disponível em http://www.confef.org.br/ in D.O.U. nº 53 de 19 de março de 2002 - Seção 1 - pág. 134, disponível em http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/

No âmbito deste trabalho, considera-se:

ATIVIDADE FÍSICA - todo movimento corporal voluntário humano, que resulta num gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do cotidiano e pelos exercícios físicos. Trata-se de comportamento inerente ao ser humano com características biológicas e sócio-culturais. No âmbito da Intervenção do Profissional de Educação Física, a atividade física compreende a totalidade de movimentos corporais, executados no contexto de diversas práticas: ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais. EXERCÍCIO FÍSICO - Seqüência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos corporais, executados de forma planejada, segundo um determinado objetivo a atingir. Uma das formas de atividade física planejada,


 A profissão constituída pelo conjunto dos graduados habilitados, e demais habilitados, no Sistema CONFEF/CREFs, para atender as demandas sociais referentes às atividades físicas nas suas diferentes manifestações, constituindo-se em um meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seres humanos;  O componente curricular obrigatório, em todos os níveis e modalidades do ensino básico, cujos objetivos estão expressos em Legislação específica e nos projetos pedagógicos;  Área de estudo e/ou disciplina no Ensino Superior;  O corpo de conhecimentos, entendido como o conjunto de conceitos, teorias e procedimentos empregados para elucidar problemas teóricos e práticos, relacionados à esfera profissional e ao empreendimento científico, na área específica das atividades físicas, desportivas e similares. Quanto ao Exercício Profissional, o Profissional de Educação Física é aquele que exerce suas atividades por meio de intervenções, legitimadas por diagnósticos, utilizando-se de métodos e técnicas específicas, de consulta, de avaliação, de prescrição e de orientação de sessões de atividades físicas e intelectivas, com fins educacionais, recreacionais, de treinamento e de promoção da saúde, observando a Legislação pertinente e o Código de Ética Profissional e, sujeito à fiscalização em suas intervenções no exercício profissional pelo Sistema CONFEF/CREFs. Na sua intervenção, o Profissional de Educação Física utiliza-se de procedimentos diagnósticos, técnicas e instrumentos de medidas e avaliação funcional, motora, biomecânica, composição corporal, programação e aplicação de dinâmica de cargas, técnicas de demonstração, auxílio e segurança à execução dos movimentos, servindo-se de instalações, equipamentos e materiais, música e instrumentos musicais, tecnicamente apropriados. O exercício do Profissional de Educação Física é pleno nos serviços à sociedade, no âmbito das Atividades Físicas e Desportivas, nas suas diversas manifestações e objetivos. O Profissional de Educação Física atua como autônomo e/ou em Instituições e Órgãos Públicos e Privados de prestação de serviços em Atividade Física, Desportiva e/ou Recreativa e em quaisquer locais onde possam ser ministradas atividades físicas, tais como: Instituições de Administração e Prática Desportiva, Instituições de Educação, Escolas, Empresas, Centros e Laboratórios de Pesquisa, Academias, Clubes, Associações Esportivas e/ou Recreativas, Hotéis, Centros de Recreação, Centros de Lazer, Condomínios, Centros de Estética, Clínicas, Instituições e Órgãos de Saúde, "SPAs", Centros de Saúde, Hospitais, Creches, Asilos, Circos, Centros de Treinamento Desportivo, Centros de Treinamento de Lutas, Centros de Treinamento de Artes Marciais, Grêmios Desportivos, Logradouros Públicos, Praças, Parques, na natureza e outros onde estiverem sendo aplicadas atividades físicas e/ou desportivas. Mas o sistema CONFEF/CREF deixou aberto a participação de “leigos”82 - aqueles profissionais não graduados em curso superior de Educação Física. Esses profissionais deveriam requerer sua inscrição mediante o cumprimento integral e observância de alguns requisitos:

estruturada, repetitiva, que objetiva o desenvolvimento da aptidão física, do condicionamento físico, de habilidades motoras ou reabilitação orgânico-funcional, definido de acordo com diagnóstico de necessidade ou carências específicas de seus praticantes, em contextos sociais diferenciados. DESPORTO/ ESPORTE - Atividade competitiva, institucionalizado, realizado conforme técnicas, habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinado por regras preestabelecidas que lhe dá forma, significado e identidade, podendo também, ser praticado com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus praticantes, realizado em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos: da natureza, radicais, orientação, aventura e outros). A atividade esportiva aplica-se, ainda, na promoção da saúde e em âmbito educacional de acordo com diagnóstico e/ou conhecimento especializado, em complementação a interesses voluntários e/ou organização comunitária de indivíduos e grupos não especializados. (Resolução CONFEF Nº 046/2002, De 18 de Fevereiro de 2002, que dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional., disponível em http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/). 82

Resolução CONFEF nº 045/2002 Dispõe sobre o registro de não-graduados em Educação Física no Sistema CONFEF/CREFs, D. O. U. nº 38 de 26 de fevereiro de 2002 - Seção 1 - pág. 29


 comprovação oficial da atividade exercida, até a data do início da vigência da Lei nº 9696/98, ocorrida com a publicação no Diário Oficial da União (DOU), em 02 de Setembro de 1998, por prazo não inferior a 03 (três) anos.  a comprovação do exercício, se fará por: carteira de trabalho, devidamente assinada; ou contrato de trabalho, devidamente registrado em cartório; ou, documento público oficial do exercício profissional; ou, outros que venham a ser estabelecidos pelo CONFEF. Deverá, também, obrigatoriamente, indicar uma atividade principal, própria de Profissional de Educação Física, com a identificação explícita da modalidade e especificidade. Já na CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES - CBO/2002 -83, a ocupação “Educação Física” tem como Norma Regulamentadora a Lei nº 9.696, de 01 de setembro de 1998 – que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Educação Física e cria os respectivo Conselho Federal e Regionais de Educação Física. São Profissionais da Educação Física (Família 2241):

2241-05 - Avaliador físico - Orientador fisiocorporal 2241-10 - Ludomotricista - Cinesiólogo ludomotricista 2241-15 - Preparador de atleta 2241-20 - Preparador físico - Personal treanning, Preparador fisiocorporal 2241-25 - Técnico de desporto individual e coletivo (exceto futebol) - Treinador assistente de modalidade esportiva, Treinador auxiliar de modalidade esportiva, Treinador esportivo 2241-30 - Técnico de laboratório e fiscalização desportiva 2241-35 - Treinador profissional de futebol - Auxiliar técnico- no futebol, Auxiliar técnico- nos esportes, Coordenador de futebol, Professor de futebol Fonte: CBO/2002

Esses Profissionais desenvolvem, com crianças, jovens e adultos, atividades físicas; ensinam técnicas desportivas;realizam treinamentos especializados com atletas de diferentes esportes; instruem-lhes acerca dos princípios e regras inerentes a cada um deles; avaliam e supervisionam o preparo físico dos atletas; acompanham e supervisionam as práticas desportivas; elaboram informes técnicos e científicos na área de atividades físicas e do desporto. Esta família não compreende a ocupação de professor de educação física do ensino superior, classificada na família ocupacional 2344. A família ocupacional de 2391 - professores de educação física escolar que engloba as atividades do ensino formal de educação física exceto professores de nível superior. Para nosso estudo, devemos recorrer as descrições das “Famílias afins” - 3771 - ATLETAS PROFISSIONAIS; e 3772 - ÁRBITROS DESPORTIVOS. 3771-05 - Atleta profissional (outras modalidades) 3771-10 - Atleta profissional de futebol 3771-15 - Atleta profissional de golfe 3771-20 - Atleta profissional de luta - Atleta de judô, Atleta de karatê, Atleta de taichichuan, Jodoísta, Judoca, Karateca, Lutador de aikidô, Lutador de capoeira, Lutador de fullcontact, Lutador de hapkidô, Lutador de karatê, Lutador de kendô, Lutador de sumô, Lutador de taekwondô 3771-25 - Atleta profissional de tênis 3771-30 - Jóquei 3771-35 - Piloto de competição automobilística 3771-40 - Profissional de Atletismo 3771-45 - Pugilista Fonte: CBO/2002 83

http://www.mtecbo.gov.br/index.htm


Descrição sumária - Tomam parte como profissionais em competições e provas esportivas. Participam, individualmente ou coletivamente, de competições esportivas, em caráter profissional. Verifica-se que nessa categoria, aparece o Atleta profissional de luta, no qual se insere o Lutador de capoeira. Já no quadro de Árbitros, não aparece a capoeira, a menos que se o insira na classe Árbitro desportivo, que é descrito como aqueles profissionais que zelam pela observância do regulamento nas competições esportivas, controlando o andamento das mesmas, registrando as infrações, aplicando as penalidades e fazendo as marcações necessárias para assegurar o processamento desses eventos dentro das normas estabelecidas pelos órgãos desportivos. Procurando pela descrição profissional do Lutador de Capoeira (código 3771-20, temos como condições gerais de exercício os profissionais que trabalham em clubes, agremiações esportivas, academias, órgãos da administração pública afetos aos esportes, no ensino etc. Não há regras comuns para todas as modalidades de esporte. Para obterem a profissionalização seguem, regras específicas das agremiações esportivas a que se vinculam, construindo, portanto, trajetórias diferenciadas, baseadas em diferentes combinações entre tempo de exercício do esporte, participação em jogos e eventos, premiações etc. A maioria trabalha como autônomo, em horários irregulares. Em algumas atividades, alguns profissionais podem estar submetidos a condições especiais de trabalho, como pressão psicológica, ruído intenso e altas temperaturas, bem como permanecer por longos períodos em posições desconfortáveis. Exige, como formação e experiência: escolaridade formal não é pré-condição para o exercício das ocupações desta família. A formação prática dos atletas profissionais pode se dar tanto por meio de treinos e exercícios realizados individual e/ou coletivamente, em geral, com a supervisão de treinadores ou técnicos, como por meio de participação em provas, competições, jogos e certames. O Regulamento Internacional da Capoeira84 adota o seguinte Sistema Oficial de Graduação, natureza obrigatória para todas as entidades integrantes do Sistema Desportivo da Capoeira, a saber: A- GRADUAÇÃO INFANTIL ALUNOS (03 a 12 anos): 1º estágio - iniciante: sem corda ou sem cordão 2º estágio - batizado: cinza claro/verde 3º estágio - graduado: cinza claro/amarelo 4º estágio - graduado: cinza claro / azul 5º estágio - intermediário: cinza claro/verde/ amarelo 6º estágio - adiantado: cinza claro / verde / azul 7º estágio - estagiário: cinza claro / amarelo / azul B- GRADUAÇÃO PADRÃO ALUNOS (a partir de 13 anos): 1º estágio - iniciante: sem corda ou sem cordão 2º estágio - batizado: verde 3º estágio – graduado: amarelo 4º estágio – graduado: azul 5º estágio – intermediário: verde e amarelo 6º estágio – adiantado: verde e azul 7º estágio – estagiário: amarelo e azul

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Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001.


C- DOCENTES DE CAPOEIRA 8º estágio - Formado: verde, amarelo e azul 9º estágio - Monitor: verde e branco 10º estágio - Instrutor: amarelo e branco 11º estágio - Contramestre: azul e branco 12º estágio - Mestre: branco D- CONSELHO SUPERIOR DE MESTRES: 13º estágio – Mestre Integrante: branco brasão em cobre 14° estágio – Mestre Efetivo: branco brasão em prata 15º estágio – Mestre de Honra: branco brasão em ouro. Em seu Título VI - Da Qualificação para o Ensino da Capoeira, os seus artigos 20 e 21:  A formação e qualificação para o ensino da Capoeira se fundamentará nas competências e habilidades teóricas e práticas necessárias para nossa época, onde o docente de capoeira, de um modo geral, é um empreendedor ou um prestador de serviços, e ocorrerá ao longo de sua vida como capoeirista, desde o estágio inicial até o mais elevado nível de docência.  São consideradas as seguintes competências para os docentes de Capoeira: A- Atenção à Saúde – os docentes, em seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção e proteção da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. B- Tomada de Decisões – fundamentado na capacidade de tomar atitudes visando o uso apropriado e a eficácia para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas. C- Comunicação – primar pela comunicação verbal, não-verbal e habilidades da escrita e da leitura. D- Liderança – estar apto a assumir posições tendo em vista o bem estar da comunidade. E- Administração e Gerenciamento – estar apto a tomar iniciativas gerenciais e administrativas dos recursos humanos, físicos e materiais. F- Ética – possuir princípios morais que se devem observar no exercício profissional ajustando-se às normas de relações entre os diversos membros da coletividade, bem como manter confidencialidade de informações na interação com outros profissionais e o público em geral. G- Educação Continuada – os profissionais devem ser capazes de aprender continuadamente, tanto na sua formação quanto na sua prática, devendo desta forma aprender a aprender, tendo a responsabilidade na busca constante de novas informações e o compromisso com a educação Para se atingir as graduações propostas pela FICA, são estabelecidos os seguintes tempos mínimos para promoção, de acordo com o artigo 31 de seu Regulamento Internacional: NÍVEIS DE GRADUAÇÃO

IDADE MÍNIMA

TEMPO DE CAPOEIRA

Aluno do 1° ao 7° estágio (infantil)

03 aos 12 anos

De ano em ano

Aluno do 1° ao 7° estágio (normal)

13 anos em diante

4 anos e 11 meses

8° estágio: Formado

18 anos

5 anos

9° estágio: Monitor

20 anos

7 anos

10° estágio: Instrutor

25 anos

12 anos

11° estágio: Contramestre

30 anos

17 anos

12° estágio: Mestre

35 anos

22 anos

13° estágio: Integrante – CSM

45 anos

30 anos

14° estágio: Efetivo – CSM

55 anos

40 anos

15° estágio: Honra – CSM

65 anos

50 anos


INFLUENCIA MILITAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM / ALL vazleopoldo@hotmail.com RESUMO – A historiografia no campo da educação física tem afirmado, em vários estudos, a prerrogativa dos militares na educação por meio da educação física. Desde o século XVIII, encontram-se propostas precursoras de um tipo de Educação Física que se tornaria em modelo pedagógico para os séculos seguintes: a gymnastica, constituída como um conjunto de exercícios organizados com o objetivo de cuidar do corpo. EDUCAÇÃO FÍSICA. INFLUENCIA MILITAR. HISTÓRIA

A historiografia no campo da educação física tem afirmado, em vários estudos, a prerrogativa dos militares na educação por meio da educação física (FINOCCIO, 2013). Desde o século XVIII, encontram-se propostas precursoras de um tipo de Educação Física que se tornaria em modelo pedagógico para os séculos seguintes (Basedow; Guts Muths; Vieth; Nachtegall; e outras): a gymnastica, constituída como um conjunto de exercícios organizados com o objetivo de cuidar do corpo (FINOCCHIO, 2013). O pedagogo e ativista político Friedrich Ludwig Jahn, por volta de 1809, adotou um princípio educacional realista, à guerra nacional, e desenvolveu um tipo de ginástica com valorização da luta. Criou aparelhos que se constituíam em representações de obstáculos naturais (ROUYER, 1977, citado por FINOCCHIO, 2013). Além de criar aparelhos e novas formas gímnicas, fundou, em 1811, o primeiro ginásio ao ar livre de Hasenheide, Berlim. Daí nasceu o termo "Turnkunst" pelo qual ele substitui a palavra "Gymnastik". A ginástica de Jahn, com um conteúdo mais social e patriótico, rapidamente superou as ideias pedagógicas de Guts-Muths, tendo por objetivo formar homens fortes para defender a pátria. Embora já houvesse várias formas de ginástica, acrescentou aos exercícios já conhecidos, as barras e a barra alta. Para Coertjens, Guazzdelli e Wasserman (2004) a utilização dos ‘turner’ entre o discurso nacionalista e a prática esportiva nos pequenos estados que, anos mais tarde, formaram o Estado alemão. A ginástica (turnen) se transforma em uma escola de patriotismo, educação para se preparar para a guerra de libertação; seu curso visava o "despertar da identidade nacional" (construção de uma nação). A ginástica é um conceito que engloba modalidades competitivas e não competitivas e envolve a prática de uma série de movimentos exigentes de força, flexibilidade e coordenação motora para fins únicos de aperfeiçoamento físico e mental. Tem sua origem no grego, gymnastiké - da palavra grega “gymnos” (nu) pelo fato de, na antiguidade clássica, os exercícios se praticarem com o corpo nu. É o conjunto dos exercícios corporais sistematizados, para esse fim, realizados no solo ou com auxílio de aparelhos e aplicados com objetivos educativos, competitivos, artísticos e terapêuticos, etc. A prática só voltou a ser retomada - com ênfase desportiva e militar - no final do século XVIII, na Europa, com a influência de vários pensadores que se debruçaram sobre as vantagens da prática do exercício físico, destacando-se o contributo de Jean-Jacques Rousseau na obra pedagógica "Emílio", em que o autor se refere à necessidade da pratica física como meio para atingir a razão. A partir daqui surgiram várias correntes, que encontraram eco na Alemanha com Johann Bernard Basedow, pedagogo e educador, que conseguiu assimilar e transformar os princípios orientadores de Rousseau e impulsionou a ginástica, tendo para isso criado em 1775 o pentatlo de Dassau, no seu "Philanthropicum", constituído por provas de corrida, saltos, transporte, de equilíbrio e de trepar. Foi o primeiro pedagogo, desde a Antiguidade, a defender que o exercício físico deveria fazer parte dos programas das escolas primárias.


Em 1784, Christian Gotthlif Saltzmann, pedagogo e educador, abre outro "Philanthropicum", em Schneppenthal. Em 1785, Johann Christoph Friedrich Guts-Muths, professor e educador, inicia sua obra com um novo conceito de ginástica. As ideias filantrópicas e os conteúdos pedagógicos de Guts-Muths tiveram eco nos países da Europa, especialmente na Suécia, Dinamarca e França. No período de 1861 a 1871 verifica-se a presença de alunos de nacionalidade brasileira no Philantropinum, sediado em Schnepfenthal. John Locke (1632-1704), um dos mais importantes teóricos do liberalismo, sintetiza suas concepções educacionais: formação do gentleman e dos “sem propriedades”. A educação dos que possuem a propriedade privada e posses deveria ser feita por preceptores capacitados e cultos, em local aprazível e com boas condições higiênicas, com ênfase nos saberes clássicos e na preparação do jovem como bom administrador dos negócios da família, para assumir posições de comando no estamento estatal e na guerra. Desde 1771 em Portugal, sob o balizamento da Universidade de Coimbra, se estabeleceu que as atividades físicas como conteúdo educacional, atendiam aos pressupostos da nova educação. As “Artes Liberais” nos Estatutos do Collegio Real de Nobres da Corte, e cidade de Lisboa eram a Cavalaria, Esgrima, e Dança. Apesar de contar ainda um sentido cavalheiresco (educação dos nobres), essa introdução se deu através das ideias burguesas. Immanuel Kant (1724-1804) propôs o fortalecimento das escolas públicas, em relação às domésticas, sob a consideração de que são mais propícias ao ensino de várias habilidades, e formadoras do caráter. Recomendava ainda escolas experimentais, que dariam direcionamento às várias escolas elementares. Em síntese, tinha como plano educativo uma educação pela moralidade, o fortalecimento das escolas públicas e o desenvolvimento de uma experimentação educativa. Para Finocchio (2013) em suas propostas de formação do ser humano, a burguesia pensava a educação como essencial à formação plena da personalidade do indivíduo, incluindo aí a educação do corpo como uma necessidade. A gymnastica consistia na metodização da educação do corpo, imprescindível à formação do homem, não só fortalecendo o corpo, mas enriquecendo o espírito e enobrecendo a alma. Francisco de Amorós y Ondeano (1770-1848) é conhecido por ser um dos fundadores da Educação Física moderna. Em razão de suas ideias liberais e do apoio a José Bonaparte I, em 1814 exilou-se na França e aí desenvolveu a Escola Francesa de Ginástica. Seu método, de inspiração pestalozziana e fundamentado em Locke e Rousseau, defendia a “educação integral”. Contudo, em sua ginástica prevalecia o lado militar sobre o educativo, tal como se pode notar em seu tratado Nouveau Manuel d’Education Physique, Gymnastique et Morale, no qual propõe um soldado da Pátria e um benfeitor da Humanidade. Diferente da europeia, desenvolvida ao final do século XVIII e início do seguinte, de caráter nacionalista, e visando à disciplina e ao treinamento físico, bem como à defesa nacional, a Educação Física na Inglaterra tomou aspecto diverso de outras nações: seu destaque não se deu na ginástica, mas no Esporte, em estreita relação com as transformações socioeconômicas resultantes das alterações produzidas pela Revolução Industrial, iniciada em 1760. Ainda que adotasse a gymnastica nas escolas básicas, como meio da educação do físico, era no ensino secundário, destinado à aristocracia e à burguesia, que se aprimoravam o cuidado do físico e o cuidado da formação moral, empregando os esportes. No começo do século XIX, o clérigo Thomas Arnold se utilizou de uma forma de ócio da classe dirigente, os jogos populares, para criar um novo modo de educação. O desporto, naquele momento, teve por função propor às classes dirigentes enriquecidas, mas em estado de degradação física e moral, uma formação mais adequada, em relação à tradicional. Apesar de grande reação religiosa e dos meios intelectuais, o desporto foi adotado para responder às conveniências práticas do imperialismo britânico (ROUYER, 1977, citado por FINOCCHIO, 2013). A partir da segunda metade do século XIX houve, ao seu final, uma biologização da educação física (PAIVA, 2003), ocorrendo a migração da preocupação com a abrangência da formação humana para o estabelecimento de sua especificidade, biológica. Finocchio (2013) ao analisar o processo de constituição do pensamento burguês nas relações econômicas, políticas e sociais brasileiras e o papel, dito civilizador, da educação em suas propostas de adequação da nação ao modo de produção capitalista, enfoca as expressões do pensamento burguês na Europa e sua influência sobre a gymnastica/educação física, considerando-a como elemento constitutivo de seu projeto educacional. Num segundo momento, observa a inclusão da Educação Física/Gymnastica na educação burguesa e, finalmente, identifica como essa prática assume funções objetivas em atendimento às


sociedades em que se manifestaram e como são organizadas em “métodos” de Gymnastica. Às condições políticas da Alemanha no século XIX, por exemplo, deve-se o desenvolvimento de uma ginástica com função militarnacionalista; no desenvolvimento industrial e científico da Suécia, sobressai uma função nacionalista, de cuidados com o cidadão de forma que pudesse preservar a paz, na formação do soldado e do operário. O método ginástico de Ling (1776-1839), fundamentado em estudos anatomo-fisiológicos, com um viés médico higiênico, é composto por uma série de movimentos segmentados, com uma série racional de movimentos. De acordo com Cancella (2012); Cancella e Mataruna (2013); e Finocchio (2013) a prática esportiva em meio militar foi intensificada na virada do século XIX para o XX sob o argumento de que para a estruturação das Forças Armadas era fundamental o desenvolvimento físico do pessoal militar. Estas atividades eram consideradas importantes para a formação não somente de militares mais preparados, mas também de potenciais “soldados-cidadãos” e “cidadãos-marinheiros” entre os praticantes civis. Por isso, as atividades físicas e esportivas foram gradativamente incorporadas aos currículos de instituições de ensino do país, iniciando este processo pelas escolas militares. Percebe-se a aproximação dos militares não somente das atividades ginásticas, mas também de práticas que possibilitassem o desenvolvimento de habilidades fundamentais para o exercício militar no período, práticas que posteriormente passariam a ser realizadas também em caráter esportivo como a natação, a esgrima e a equitação (CANCELLA, 2011). Os projetos de modernização para o Exército Brasileiro espelhavam-se nos modelos de organização das Forças estrangeiras. Assim, na edição de 1906 da Revista Militar, o Capitão do Estado-Maior de Artilharia Liberato Bittencourt destacava no artigo “Princípios geraes de organização dos exércitos” 12 temas que deveriam ser levados em conta neste processo de modernização. Entre os princípios elencados pelo autor, destaca-se o de número 10 “[...] Principio de educação physica, intellectual e moral: organisar os exércitos de modo a serem elles grandes escolas de educação physica, intellectual e moral da mocidade [...]”. A prática dos exercícios físico-militares nas escolas fazia parte de uma filosofia educacional geralmente desconhecida por regentes e pais. Alguns destes acreditavam que seus filhos corriam o risco de ter que entrar para a carreira militar por estarem participando dessas aulas nas escolas. Também havia aqueles que não viam nenhum sentido ou utilidade nos exercícios. Outros apontavam os riscos para a saúde de crianças e jovens, especialmente por inexistirem espaços físicos para a realização das atividades. (NASCIMENTO, 2012). Prossegue Nascimento (2012), essas atividades ensinadas por professores e militares tinham como objetivo preparar os alunos, a fim de que pudessem ser chamados para defender a nação em conflitos armados no futuro. O funcionamento dos nossos batalhões formados por estudantes e a prática desses exercícios nas escolas daqui foram bem menos intensos do que na Europa, mas ocorreram em instituições educacionais de vários estados e geraram muita polêmica. Melo e Peres (2013) e Peres (2013) trazem que a Junta Central de Hygiene Pública apresentava um relatório – a 15 de abril de 1885 -, cuja “espinhosa tarefa” era “levar ao conhecimento do Governo Imperial os factos mais culminantes occorridos no Império relativamente à saúde publica” (1885, p. A-F-1). A análise da estatística das mortes na cidade do Rio de Janeiro, um dos pontos centrais do relatório, dedicava especial atenção às causas da “notável” mortalidade infantil ocorrida no ano anterior. As relações entre higiene, medicina e saúde estruturaram projetos públicos e privados de educação (sobretudo, escolar) da população brasileira no decorrer do Império. Assim, a relação entre educação física, exercícios corporais e saúde pública não era gratuita e nem óbvia. Tratava-se de uma construção que se deu de forma lenta, paulatina e muitas vezes pouca harmônica entre atores, práticas e ideias que configuravam o saber médico-científico do século XIX. (MELO, PERES, 2013; PERES, 2013). BIBLIOGRAFIA BITTENCOURT, Liberato. Princípios geraes de organização dos exércitos. Revista Militar, ano VIII, p. 341, citado por CANCELLA, Karina. A defesa da prática esportiva como elemento de preparação dos militares por meio das publicações institucionais “Revista Marítima Brasileira” e “Revista Militar”. Anais do XV ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO, 2012.


BRASIL. Decreto n° 2.116, de 01 de março de 1858. Aprova o Regulamento reformando os da Escola de aplicação do exercito e do curso de infantaria e cavalaria da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, e os estatutos da Escola Militar da Corte. Disponível em: http://www.camara.gov.br/Internet/InfDoc/conteudo/colecoes/ Legislacao/1858-pronto/leis1858/dec%20n%b02116-p1-01031858.pdf#page=1. BRASIL. Decreto n° 4.720, de 22 de abril de 1871. Altera o Regulamento da Escola de Marinha, em virtude da autorização contida no § 18 art. 8º da Lei nº 1836 de 27 de Setembro de 1870. BRASIL. Decreto n° 5.529, de 17 de janeiro de 1874. Aprova o Regulamento para as Escolas do Exercito. CANCELLA, Karina Barbosa O esporte e a Marinha do Brasil: primeiras aproximações e a institucionalização da prática esportiva através da criação da Liga de Sports da Marinha. In ANAIS DO XXVI SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH • São Paulo, julho 2011 CANCELLA, Karina. A defesa da prática esportiva como elemento de preparação dos militares por meio das publicações institucionais “Revista Marítima Brasileira” e “Revista Militar”. Anais do XV ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO, 2012.

CANCELLA, Karina Barbosa; MATARUNA, Leonardo. Liga Militar de Football e a Liga de Sports da Marinha: uma análise comparativa do processo de fundação das primeiras entidades de organização esportiva militar do Brasil. In HOFMANN, Annette; VOTRE, Sebastião (organizadores). ESPORTE E EDUCAÇÃO FÍSICA AO REDOR DO MUNDO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2013, p. 119-132. COERTJENS, Marcelo, GUAZZELLI, Cesar Barcellos; e WASSERMAN, Cláudia. Club de Regatas Guahyba-Porto Alegre: o nacionalismo em revistas esportivas de um clube teuto-brasileiro (1930 e 1938). In Rev. bras. Educ. Fís. Esp, São Paulo, v.18, n.3, p.249-62, jul./set. 2004,

FINOCCHIO, José Luiz. A inserção da Educação Física/gymnastica na Escola Moderna – Imperial Collegio de Pedro II (1837-1889). 2013. 258f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de PósGraduação em Educação, Linha de Pesquisa: História, Políticas e Educação. Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2013 FREIRE, Domingos José. Relatório do Presidente da Junta Central de Hygiene Publica. In: BRASIL. Ministério do Império. Relatorio do anno de 1884 apresentado a assemblea geral legislativa na 1ª sessão da 19ª legislatura (publicado em 1885). Rio de Janeiro: Ministério do Império. p.A-F-1 – A-F-9. 1885, citado por PERES, 2013. FREIRE, Domingos José. Relatório apresentado ao governo imperial pelo Dr. Domingos José Freire, Presidente da Junta Central de Hygiene Publica. Epidemias na cidade e subúrbios. Endemias. Tuberculoses pulmonares. In: BRASIL. Ministério do Império. Relatorio do anno de 1883 apresentado a assemblea geral legislativa na 4ª sessão da 18ª legislatura (publicado em 1884). Rio de Janeiro: Ministério do Império. p.AF2-1 – A-F2-39. 1884; citado por PERES, 2013, obra citada. KANT, Immanuel (1724-1804). Sobre a Pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Unimep, 1996. MAZO, Janice Zarpellon; PEREIRA, Ester Liberato. PRIMORDIOS DO ESPORTE NO RIO GRANDE DO SUL: os imigrantes e o associativismo esportivo. IN GOELLNER, Silvana Vilodre; MÜHELEN, Joanna Coelho von. MEMORIA DO ESPORTE E LAZER NO RIL GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2013. Vol. 1.

MELO, V. A., PERES, F. F. O corpo da nação: posicionamentos governamentais sobre a educação física no Brasil monárquico. História, ciências, saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 2013, no prelo. PAIVA, Fernanda Simone Lopes de. Sobre o pensamento médico-higienista oitocentista e a escolarização: condições de possibilidade para o engendramento do campo da Educação Física no Brasil. 2003. 475 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.

PERES, Fábio. Educação Física, Higiene e Saúde Pública na Corte – Parte 1. Blog História(s) do Sport, disponibilizado em dezembro de 2013, in http://historiadoesporte.wordpress.com/2013/12/15/educacao-fisica-higiene-e-saude-publica-nacorte-parte-1/#like-4117 , acessado em 14 de dezembro de 2013.

TESCHE, Leomar. A Prática do Turnen entre Imigrantes Alemães e seus descendentes no Rio Grande do Sul: 18671942. Ijuí: Ed. Unijuí, 1996. TESCHE, L. O TURNEN, a Educação e a Educação Física. Ijui: Unijui, 2002 TESCHE, Leomar.. O Turnen, a Educação e a Educação Física nas Escolas Teuto-brasileiras, no Rio Grande do Sul: 1852-1940. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002.


TESCH Leomar. Turnen: transformações de América. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011 http://vamos_fazer_educacao_fisica.blogs.sapo.pt/10679.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Gin%C3%A1stica

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MIGUEL HOERHANN - PIONEIRO DA EDUCAÇÃO PHYSICA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IF-MA / IHGM – ALL vazleopoldo@hotmail.com RESUMO Registra-se o nascimento das atividades esportivas no Maranhão e traz Miguel Hoerhann como o primeiro professor de Educação Física, atuando na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física. EDUCAÇÃO FÍSICA; HISTÓRIA; MARANHÃO

Djard MARTINS (1989) registra em seu já clássico “Esporte, um mergulho no tempo” o nascimento das atividades esportivas no Maranhão e traz Miguel Hoerhann como o primeiro professor de Educação Física, atuando na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989).

É o próprio Miguel quem confirma essa condição, em nota publicada no jornal “O Paiz” em 21 de novembro de 1909, no Rio de Janeiro: ‘EDUCAÇÃO PHYSICA/CARTÃO COMEMORATIVO DE 20 ANOS DE TRABALHO NO BRASIL/ Mens sana in corpore sano;/ vita non este vivere;/sede vivere


Miguel Hoerhann, capitão-tenente honorário da armada nacional, professor de educação física da Escola Naval, Colégio Militar, Externato Aquino, e professor de ginástica e esgrima do Automóvel Club do Brasil – Ex-professor dos colégios Brasileiro-Alemão, Abílio Rouanet, João de Deus, Instituto Benjamin Constant, e Instituto Nacional de Surdos Mudos, no Rio de Janeiro. Ex-professor dos colégios São Vicente de Paulo, Notre Dame de Sion, Ginásio Fluminense e Escola Normal Livre; sócio-fundador e 1º. Turnwart do Turnerein Petrópolis, em Petrópolis. Exprofessor da Escola Normal e grupos escolares Menezes Vieira e Barão de Macaúbas e do colégio Abílio, em Niterói. Ex-diretor do serviço de Educação Física; ex-professor da Escola Normal, escola modelo Benedito Leite; Instituto Rosa Nina, Liceu Maranhense, e escolas estaduais e municipais; fundador e 1º presidente e 1º diretor dos exercícios do Club Ginástico Maranhense; em S. Luis do Maranhão. Ex-professor do Ginásio São Bento e ex-secretário do I. e R. Consulado da Áustria e Hungria, em São Paulo. 20 anos de devotado trabalho no Brasil (de 24 até 44 anos de idade, desde 1889 a 1909). Ex-Instrutor da imperial e real marinha de guerra da Áustria, condecorado com a medalha militar de bronze, conferida por sua imperial e real majestade apostólica Francisco Jose I, Imperador da Áustria-Hungria (desde 15 até 23 anos de idade, 1880-1888). A primeira referencia que se tem desse professor de educação física é de um diploma dado a diversas autoridades e intelectuais, dentre os quais a Fran Paxeco, Cônsul Honorário de Portugal no Maranhão; consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, Diretor da Educação Physica, e foi passado em 18 de maio de 1904 Miguel Hoerhann foi instrutor de artilharia do império austro-húngaro, professor de esgrima e ginástica sueca nos estados do Maranhão e Rio de Janeiro. Nesta cidade, a ginástica era voltada para o treinamento militar dos novos cadetes e oficiais da Marinha Brasileira e do Colégio Militar. Miguel tem vasta produção de artigos em periódicos e é autor do livro Esgrima de Baioneta, publicado no Maranhão em 1904 Na construção da biografia desse professor encontramos uma carta de apresentação datada de 28 de maio de 1912, e escrita pelo Dr. Generino dos Santos, destinada a Manuel Tavares Miranda, Chefe da 2a Secção do Serviço de Proteção aos Índios – SPI; o jovem Eduardo era, na ocasião, filho único do CapitãoTenente Miguel Hoerhann: De acordo com Dagnoli (2008); e Gomes (2009): “[...] Miguel Hörhann (Miguel Hoerhann) nasceu na Áustria e faleceu no Rio de Janeiro; foi instrutor de Artilharia na Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria até 1884, e Capitão-Tenente da Armada Nacional. Sua mãe, Carolina de Lima e Silva Aveline, pertencia à aristocracia militar do Estado do Rio de Janeiro, neta do Duque de Caxias.”. Rafael Hoerhann, em outra correspondência, esclarece essas dúvidas: Miguel veio da cidade de Sankt Pölten na Baixa Áustria. Francês era seu sogro, Guilherme Plaxton Aveline, também oficial da Marinha. Nasceu a 03 de abril de 1865; conforme mensagens de felicitações publicadas em 1900 (03/04) e 1901 (04/04) na Gazeta de Petrópolis. Miguel foi casado em segundas núpcias, com Adelina Figueira Cordeiro, com quem teve outros três filhos: Arria Hoerhann, e Hermani Paulo Figueira Cordeiro Hoerhann, e Miguelzinho que morreu aos dois anos de idade. Foi Capitão-Tenente Honorário da Armada. Como consta de sua declaração, Miguel foi Instrutor da Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria de 1880 a 1888 - dos 15 até 23 anos de idade. Desde o ano de 1894 em Petrópolis, em 1898 estava exibindo-se como esgrimista, em “desafios”, conforme anúncios publicados no jornal “Gazeta de Petrópolis”. Observa-se que atuou como professor de esgrima, ginástica, e natação em Petrópolis, depois em Niterói, antes de vir para o Maranhão. Deu aulas particulares, e em escolas particulares, antes do ingresso


em escolas públicas, naquelas duas cidades. Além de aulas de ginástica, ensinava também esgrima, como parte do currículo. Nas férias, aos alunos internos, se ofereciam essas atividades, inclusive o curso de esgrima era pago à parte, conforme se depreende de anuncio de inicio das aulas. Na edição de 26 de março de 1896, e seguintes, aparece colaboração de Miguel Hoerhann, discutindo a importância da ginástica médica. Em 1898, volta a participar dos ‘desafios’ de esgrima, enfrentando diversos oponentes. Essas demonstrações – certamente para atrair alunos para sua escola – ocorriam no teatro da cidade. Ainda nesse ano de 1898, na mesma Gazeta de Petrópolis aparece nova colaboração de nosso Miguel Hoerhann, mas desta feita na área da literatura, escrevendo um conto que teve por titulo “A Ressurreição”, publicado em capítulos, como era costume na época, na forma de folhetim. Juntamente com outros cidadãos austríacos, alemães, húngaros, comparece à missa de Francisco José I, Imperador da Áustria, conforme registrado na Gazeta de Petrópolis; ali, informa-se ser ele cônsul em disponibilidade do Império. No dia 03 de abril de 1900 aparece anuncio de felicitações ao Sr. Miguel Hoerhann, distinto professor de ginástica do Ginásio Fluminense, ao mesmo tempo em que aparecem anúncios do curso de ginástica pedagógica, e esgrima, que iniciava no Salão Floresta: No ano de 1900, em dezembro, por decreto é nomeado para a Guarda Nacional, lotado no Rio de Janeiro, no posto de capitão: No mesmo jornal, de janeiro de 1901 em que é publicado o Decreto de seu ingresso na Guarda Nacional com o posto de capitão, aparece sua eleição para a diretoria do Clube Alemão; E anuncio, do dia 24 de abril, de licença dada ao professor da Escola Normal de Niterói, por 20 dias; Em 1902, março, ainda estava em Niterói, conforme anuncio de uma subscrição a favor de um conterrâneo, que morreu de febre amarela; estava subscrevendo uma lista para ajuda à família; Novo anuncio, desta vez informando sua nomeação em 1903, como professor de ginástica da Escola Normal de Niterói. Na Gazeta de Petrópolis, edição de 15 de setembro de 1903, informa-se que Miguel Hoerhann estava em São Luis, nomeado que fora Diretor da Educação Physica, conforme a edição 204 de “A Pacotilha”, da capital do Maranhão: No dia 04 de junho de 1903 aparece anuncio n´A Pacotilha em que Miguel Hoerhann, como já fizera em Petrópolis e Niterói, oferece seus serviços como professor particular de ginástica; Logo no dia 05/06, anuncia o inicio das aulas; A 30 de junho, outro aviso, convocando os alunos inscritos. No mês de agosto novo anuncio em A Pacotilha, do dia 31, já assinado como Diretor da Divisão de Educação Física do Maranhão, sobre a realização de um concurso poético, tendo por tema a Ginástica. Verifica-se que se referia ao Turnen, haja vista a citação dos “4 Fs”, como a divisa da ginástica: “Abre-se aos cultores das musas uma produção poética, em que entrem as palavras que constituem a divisa da gymnastica: FIRMA, FORTE, FRANCO, FIEL, e que tenha por tema a glorificação da abnegação, do trabalho perseverante e nobre, do vigor do espírito como consequência dos exercícios physicos [...]” O anuncio se repete nos meses seguintes, sendo que a 26 de setembro aparece um poema exaltando a ginástica, de autor anônimo. Conforme a redação, não querendo participar do concurso, mesmo assim faz seu poema. Em outubro de 1903, reabria as aulas de ginástica. Em 1904, Fran Paxeco escreve artigo louvando a iniciativa de Miguel Hoerhann em promover o concurso poético, e divulgando a ginástica entre a juventude. No mês de agosto de 1904, Miguel faz publicar anuncio em A Pacotilha (22 de agosto) em que pretende comprar armas de índios. Em setembro, convocam-se os sócios do Clube Ginástico Maranhense. Nota-se o símbolo dos “4 Fs” .


Em anuncio sobre os exames que se realizariam com os alunos da Escola Normal, Miguel Hoerhann fez parte da banca examinadora da Disciplina de Desenho; será que além de Ginástica, ensinava naquele estabelecimento também desenho: Ao que parece, em 1911 Miguel Hoerhann já estava no Rio de Janeiro. Fran Paxeco escreve novo artigo sobre “jinastica’ (sic), ressaltando o trabalho de nosso professor de educação física: Em 1911, Miguel Hoerhan ministrava “exercícios de gymnastica sueca, de esgrima, de espada e florete” no Colégio Militar – Rio de Janeiro. É listado junto com outros professores – “dirigidos pelos instructores professor Miguel Hoerhan, tenente Migrel Ayres e capitão Valério Falcão” – durante visita dos membros do Conselho Superior de Ensino. (Diário Oficial da União (DOU) de 12/08/1911), Pg. 14. Seção 1).

BIBLIOGRAFIA MARTINS, Dejard. ESPORTE, um mergulho no tempo. São Luís: SIOGE, 1989. http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/Main.php?MagID=37&MagNo=68


MAZO, Janice Zarpellon; PEREIRA, Ester Liberato. PRIMORDIOS DO ESPORTE NO RIO GRANDE DO SUL: os imigrantes e o associativismo esportivo. IN GOELLNER, Silvana Vilodre; MÜHELEN, Joanna Coelho von. MEMORIA DO ESPORTE E LAZER NO RIL GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2013. Vol. 1. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/83615/000906885.pdf?sequence=1 TESCH Leomar. Turnen: América. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011

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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA UEMA JOSÉ NILSON ANDRADE85 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ86 A UEMA87 A Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, é uma instituição de ensino superior, e teve sua origem88 na Federação das Escolas Superiores do Maranhão - FESM89. Transformada em Universidade Estadual do Maranhão através da Lei nº 4.400 de 30 de dezembro de 1981, teve seu funcionamento autorizado pelo Decreto Federal nº 94.143 de 25 de março de 1987. Reorganizada conforme Leis nº 5.921, de 15 de março de 1994 e 5.931, de 22 de abril de 1994, alterada pela Lei nº 6.663, de 04 de junho de 1996, é uma Autarquia de regime especial, pessoa jurídica de direito público. A UEMA é atualmente, vinculada à Gerência de Estado da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento Tecnológico - GECTEC e goza de autonomia didático-científica90, administrativa91, disciplinar92 e de gestão financeira e patrimonial93, de acordo com o que preceitua o art. 272 da Constituição do Estado do Maranhão. São objetivos da UEMA promover o ensino de graduação e pós-graduação, a extensão universitária e a pesquisa, promover a difusão do conhecimento, a produção de saber e de novas tecnologias interagindo com a comunidade, com vistas ao desenvolvimento social, econômico e político do Maranhão. A Universidade Estadual do Maranhão está organizada com observância de alguns princípios, dentre os quais: II - estrutura orgânica, com base em departamentos, coordenados por centros, tão amplos quanto lhes permitam as características dos respectivos campos de atividades; III - indissociabilidade das funções de ensino, pesquisa e extensão, vedada a duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes.

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Professor de Educação Física da UEMA. Ex-Professor de Educação Física da UEMA; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – cadeira 40, patroneada por Dunshee de Abranches. 87 http://www.uema.br/institucional/a_uema.htm 88 Teve sua fase inicial com a criação de escolas isoladas, no Governo José Sarney, e foi transformada em Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM) no Governo Pedro Neiva de Santana. No dia 30 de dezembro de 1981, o então governador João Castelo, transformou a FESM em Universidade Estadual do Maranhão. A UEMA conta com 25 cursos distribuídos para cerca de oito mil alunos, em 18 cidades do Maranhão. Possui também cursos de pós-graduação e cursos à distância, contabilizando, com isso, cerca de 35 mil alunos. 89 A FESM foi criada pela Lei 3.260 de 22 de agosto de 1972, para coordenar e integrar os estabelecimentos isolados do sistema educacional superior do Maranhão. Constituída inicialmente por quatro unidades de ensino superior: Escola de Administração, Escola de Engenharia, Escola de Agronomia e Faculdade de Caxias, a FESM incorporou, em 1975, a Escola de Medicina Veterinária e em 1979, a Faculdade de Educação de Imperatriz. 90 A autonomia didático-científica consiste no exercício de competência privativa para estabelecer a sua política e os seus programas de ensino, pesquisa e extensão, criar, modificar, fundir ou extinguir cursos e currículos pleno, conferir graus, expedir diplomas e certificados, assim como outorgar bolsas, prêmios, títulos e outras dignidades universitárias. 91 A autonomia administrativa consiste no exercício de competência privativa para elaborar e reformular o seu Estatuto, normas a estes complementares, baixar seus regimentos e manuais, dispor sobre o pessoal dos seus quadros, proverem os cargos comissionados e as funções gratificadas, contratar obras e serviços de que necessitar, propor ao Chefe do Poder Executivo seus planos de cargos e salários e respectivas alterações, assim como escolher e indicar àquela autoridade nomes para o exercício dos cargos de Reitor e Vice-Reitor. 92 A autonomia disciplinar consiste na competência privativa para aplicar aos corpos docente, técnico- administrativo e discente as regras do seu Estatuto, do Estatuto dos Servidores Civis do Estado do Maranhão e do seu Regimento Interno; estabelecer normas de conduta pessoal, coletiva e de segurança a serem, obrigatoriamente, observadas em todos os campi da Universidade. 93 A autonomia de gestão financeira e patrimonial consiste no exercício de competência para gerar e captar recursos, incorporar bens e recursos ao seu patrimônio, dispor dos mesmos, elaborar e administrar seus orçamentos e planos de trabalho, manter em suas contas os saldos anuais dos respectivos recursos, contabilizando-os, como Receita Patrimonial, para o exercício seguinte. 86


A EDUCAÇÃO FÍSICA94 NO ENSINO SUPERIOR A Educação Física no Ensino Superior tem sua inserção como componente curricular obrigatória que imperou no Brasil até o advento da Lei n º 9394/96. A nova LDB provocou a aceleração das discussões em razão da omissão no seu texto das referencias diretas à Educação Física como se apresentaram na legislação anterior, deixando por conseqüência em aberto, as ações e reações pertinentes, dependentes das concepções dos professores, administradores do ensino superior e principalmente aos interesses econômicos das IES e dos governos.95 Hoje, há uma polêmica disputa entre sua obrigatoriedade versus não obrigatoriedade, com os defensores da eliminação da obrigatoriedade da educação física no ensino superior, nas suas inúmeras tentativas de justificá-las, recaem basicamente em três premissas11: I - as origens da obrigatoriedade nos regimes autoritários instalados no país com o notório objetivo de desmobilizar os estudantes através da prática de esportes (SOUZA e VAGO, 1997) 96; II - o entendimento de que a legitimidade da disciplina Educação Física não deve ser considerada apenas por normas jurídicas e sim para que se desenvolvam o lazer, a recreação e o desporto de forma livre e voluntária, vislumbrando com isto a expansão das atividades de extensão à comunidade (RAMOS, 1995) 97. E III “Os argumentos até agora utilizados por aqueles que teimam em defender a permanência do caráter de obrigatoriedade a ela vinculada, são tanto de natureza corporativa (o fim da obrigatoriedade implicaria em diminuição do campo de trabalho) quanto administrativa (a média de atividades de ensino da Faculdade de Educação Física seria bastante abalada – para baixo – com tal medida”. (Castellani Filho, 1997) 98: Após dezembro de 1996, os contrários à obrigatoriedade contabilizaram positivamente a falta de referência na nova LDB sobre a Educação Física no ensino superior, dando margem às interpretações tendenciosas que na prática estão provocando um processo de exclusão da disciplina dos currículos escolares. Entretanto, através do Parecer n º 376/9799 do Conselho Nacional de Educação vislumbrou-se a 94

HEROLD JUNIOR, Carlos. A educação física do ponto de vista da história. Revista Da Educação Física - UEM 8(1): 59-71, 1997;

OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. Educação física escolar e ditadura militar no Brasil (1968-1984): entre a adesão e a resistência. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 25, n. 2, p. 9-20, jan. 2004; PAULA, Heber Eustáquio de; FARIA, Eliene Lopes. A educação física no terceiro grau: contexto atual e perspectivas. PENSAR A PRÁTICA, Vol. 1 (1998) 95 SILVA, Ivo da. A LDB e a extinção da Educação Física no ensino superior: a quem interessa? Fundação Universidade Regional De Blumenau – Furb, 2008. 96

SOUSA, Eustáquia Salvadora, VAGO, Tarcísio Mauro. A nova LDB: repercussões no ensino da Educação Física. Presença Pedagógica, jul. - ago. 1997. V. 3, n. 16, p. 19 – 29 97 RAMOS, Marcy Garcia, GONÇALVES, Aguinaldo. Educação Física no Terceiro Grau. Revista Brasileira De Ciências Do Esporte, São Paulo, jan. 1998. P. 25 – 30. 98

CASTELLANI FILHO, Lino. Os impactos da Reforma Educacional na Educação Física Brasileira. Revista Brasileira De Ciências Do Esporte, São Paulo, set. 1997. P. 20 – 33.

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Parecer nº 376-CES, DE 11/06/97 - EDUCAÇÃO FÍSICA - ENSINO SUPERIOR. Estabelece a competência às instituições de ensino superior para decidirem sobre a oferta ou não da disciplina de Educação Física, em seus cursos de graduação, nos termos do processo nº. 23001.000159/97-25. Homologado em 9/07/97, publicado no DOU de 11/07/97. P. 14.732. SOCIEDADE MINEIRA E CULTURA / MG E OUTRAS - Consulta sobre a obrigatoriedade da disciplina Educação Física no Ensino Superior: I- RELATÓRIO – Histórico: Diversas Universidades, após a promulgação da LDB, têm se dirigido ao CNE para consultar sobre a obrigatoriedade da disciplina de Educação Física nos currículos de nível superior. Ora, o art. 26, Parágrafo 3o. da LDB define a Educação Física como, "componente curricular da Educação Básica" cuja oferta deverá estar "integrada à proposta pedagógica da Escola", "ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos". Nenhuma outra menção sobre o ensino de Educação Física é feita na Lei, do que se depreende que sua oferta passa a ser facultativa para o ensino superior. Caberia, então, apenas às Instituições de Ensino Superior, conforme disposto no art. 47 parágrafo 1º informarem "aos interessados, antes de cada período letivo os programas dos cursos e demais componentes curriculares" que oferecerão. Com mais razão, essa prerrogativa é estendida às Universidades, às quais no exercício de sua autonomia, conforme art. 53, inciso II, cabe "fixar os currículos dos seus alunos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes. Além disso, tendo em vista, ter a Lei superada a definição de currículo mínimo para os cursos de graduação, a


possibilidade da situação ser revertida dependendo das propostas de ensino de cada IES e não de norma fixadas pelos órgãos superiores. EDUCAÇÃO FÍSICA NA UEMA O Departamento de Educação Física, dentro da estrutura da UEMA, está situado no Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais100 – CECEN http://www.uema.br/centros/cecen/Educacaofisica/index.html, do Centro de Ensino de São Luís – Capital. A UEMA ainda tem, na Capital, os seguintes Centros: Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA); Centro de Ciências Tecnológicas (CCT); Centro de Ciências Agrárias (CCA): E no interior os Centros de Ensino de: Açailândia; Bacabal; Balsas; Caxias; Carolina; Imperatriz; Pinheiro; e Santa Inês. Em todos, é mantido um setor que cuida da educação física e práticas esportivas: 1. Escolas isoladas O Prof. José Geraldo de Mendonça, em entrevista sobre a Educação Física no Maranhão nos anos 60/70 trabalhou como professor de Matemática e foi Coordenador de Esportes do Colégio dos irmãos Maristas, no período de 1966 ate 1972; diz ele que quando saiu do Marista: “[...] fui coordenar o esporte na Escola de Engenharia do Maranhão [...]”.101 2. FESM A Federação das Escolas Superiores do Maranhão foi criada pela Lei 3.260 de 22 de agosto de 1972, para coordenar e integrar os estabelecimentos isolados do sistema educacional superior do Maranhão. Constituída inicialmente por quatro unidades de ensino superior: Escola de Administração, Escola de Engenharia, Escola de Agronomia e Faculdade de Caxias, incorporou em 1975 a Escola de Medicina Veterinária, e em 1979 a Faculdade de Educação de Imperatriz. Em 1976 foi admitido para dar aulas na Escola de Engenharia o Professor Iran Carneiro dos Santos. As aulas deveriam ser dadas aos sábados, mas apenas a chamada era feita, pelo encarregado da Bibliotecal, anotando-se a presença dos alunos que apareciam para jogar bola (pelada). Nessa época, ainda, o servidor administrativo Lister Castelo Branco estava envolvido com as práticas esportivas, inclusive recebendo uma gratificação para ministrar as aulas. Consta que essa situação perdurou até 1978. Ainda em 1977, no segundo semestre, foi admitido como professor José de Ribamar Carvalho – Professor Carvalhinho. Era corredor de rua, com certo destaque na região, e fez um curso de licenciatura curta em Educação Física, no Recife. Ao voltar, foi admitido como professor de educação física. Castellani Filho lembra que: oferta de Educação Física decorre de proposta institucional de ensino e não de norma oriunda de órgão superior. II- VOTO DA RELATORA - Considerando o exposto, sou de Parecer que cabe às Instituições de Ensino Superior decidirem sobre a oferta ou não de Educação Física, nos seus cursos de graduação. Brasília - DF, 11 de junho de 1997. (a) Silke Weber - Relatora III DECISÃO DA CÂMARA - A Câmara de Educação Superior acompanha o Voto da Relatora. Sala das Sessões, em 11 de junho de 1997. (aa) Éfrem de Aguiar Maranhão – Presidente; Jacques Velloso - Vice - Presidente (in Documenta (429) Brasília, Jun. 1997). 100

Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais – CECEN - destina-se a formar profissionais nas áreas de licenciaturas. Diretor: Andréa de Araújo; além da Educação Física, abriga os seguintes Departamentos: de Educação e Filosofia; de História e Geografia; de Letras; de Matemática; de Química e Biologia. http://www.uema.br/institucional/regimento_centros.htm

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MENDONÇA, José Geraldo de. Entrevista concedia a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. In VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A EDUCAÇÃO FÍSICA, OS ESPORTES E O LAZER MARANHENSE 1930-1990 NA MEMÓRIA ORAL. (no prelo).


“[...] e logo naquele mesmo ano [1977] eu me envolvi na construção de um projeto para Educação Física, na Educação Superior, na... hoje UEMA, naquela época FESM; não tinha curso de Educação Física, tinha o setor de prática esportiva, por conta da implementação daquele decreto, daquela lei 6251 de 75 que já apontava para a regulamentação de 77 que veio que veio depois, e falava da parte esportiva obrigatória; e eu, o Zartú, trabalhamos em torno do projeto. O Zartú era o coordenador na época, e eu tive essa associação [...] CASTELLANI FILHO, Lino. Entrevistas).102 O hoje Professor Doutor Zartú Giglio Cavalcante ingressou na FESM em 1º de abril de 1977: “[...] Naquele período enfrentamos o desafio (eu e o Lino) de apresentarmos um projeto de implantação da Educação Física curricular, para o cumprimento da exigência do decreto-lei 69.450. Após a implantação da EF em todos os currículos dos cursos da época (Engenharia Mecânica e Civil; Agronomia, Veterinária, Administração), iniciamos o processo de aulas, normalmente. No mesmo ano realizamos os I Jogos inter-unidades da FESM. Foi um campeonato que envolveu todas as unidades, em várias modalidades... Na mesma ocasião [1977] ainda na gestão do pró-reitor Raimundo Muniz, foi criado o Departamento de EF, e eu tive o privilégio de ter sido o primeiro chefe do DEF da FESM. Já no ano de 1978 (agosto aproximadamente) fiquei à disposição de Secretaria de Educação, depois retornei à UEMA, e, enfim... O Nilson entrou na FESM , pelo que me recordo, no meio do ano de 78 [...]”. (CAVALCANTE, Zartú Giglio, 2009)103. De acordo com Castellani Filho (2009) 104, em 1977 a obrigatoriedade da Educação Física no ensino superior já estava prevista em Lei desde 1969, por conta do Decreto-Lei 705, que declarava a obrigatoriedade da EF em todos os níveis e ramos de escolarização. Os motivos desse Decreto - que contrariava o previsto no Artigo 40, letra "C" da lei nº 5540 de 1968 (que reformava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional [lei nº 4024/61], pela qual a EF deveria ser incentivada na educação superior através da contratação de profissionais qualificados e de construção de instalações esportivas, dando ênfase à prática esportiva - explicitados nas obras desse pesquisador: “Educação Física no Brasil: a história que não se conta105", e mais tarde retomada e publicada no livro "Política Educacional e Educação Física” 106. No entanto, foi com a Regulamentação da Lei nº 6251/75 pelo Decreto nº 80228 de 1977 que a denominada "prática esportiva" foi sistematizada no ensino superior através da criação legal da figura das "Associações Atléticas Acadêmicas" vinculadas a um quadro que enaltecia tanto o seu caráter formativo (por conta de sua dimensão lúdico-esportiva) quanto o seu lado competitivo, que a articulava com o esporte universitário coordenado nacionalmente pela CBDU - Confederação Brasileira de Desporto Universitário - e estadualmente pelas federações universitário-acadêmicas: “Fui então contratado pela FESM para - ao lado do professor Zartú Giglio Cavalcante - dar conta do Projeto de Implantação da Prática Desportiva, naquela instituição de educação superior, nela permanecendo até o ano de 1978 quando me insiro na Universidade Federal do Maranhão, compondo o grupo responsável pela criação do curso de EF naquela universidade, como também, junto à sua PróReitoria de Extensão e Assuntos Estudantis - PREXAE - onde elaboro e passo a 102

CASTELLANI FILHO, Lino. ENTREVISTAS. Concedida a Leopoldo Gil Dulcio Vaz em 2002. In CORRESPONDENCIA ELETRONICA endereçada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 02/04/2009. 104 CASTELLANI FILHO, Lino. Correspondência eletrônica pessoal - lino.castellani@uol.com.br - a Leopoldo Gil Dulcio Vaz – vazleopoldo@hotmail.com, postada em 1º de abril de 2009. 105 CASTELLANI FILHO, Lino. A educação física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Autores Associados, 1998. 106 CASTELLANI FILHO, Lino. Política educacional e educação física. Campinas: Editores Associados, 1998. CASTELLANI FILHO, Lino. A educação física no sistema educacional brasileiro: percurso, paradoxos e perspectivas. Campinas: UNICAMP. Tese de Doutorado em Educação. 103


desenvolver o "Projeto de Assessoramento ao Desporto Universitário" responsável pela estruturação das Associações Atléticas Acadêmicas no âmbito da UFMA, da retomada das atividades da FAME - Federação Acadêmica Maranhense de Esporte - no universo da qual assumo a direção técnica que me levou a coordenar a realização dos Jogos Universitários Maranhenses de 1978, 79, 80 e 81; chefiar sua delegação esportiva aos Jogos Universitários Brasileiros de 1978 (Curitiba, PR), 1979 (João Pessoa, PB) e 1980 (Florianópolis, SC) e culminando com a coordenação geral dos 32º JUBs, realizados em São Luis em 1981.” O Professor José Nilson Andrade foi admitido em abril de 1978. Em 1979, após a saída do Prof. Zartú, assume a Chefia do Departamento. O Curso de Educação Física da FESM Em 1974, pela Lei no. 3.489, de 10 de abril 107, o Governo do Estado cria a Escola Superior de Educação Física do Estado do Maranhão, com o objetivo (art. 1º) de formar professores e técnicos de Educação Física e Desportos bem como desenvolver estudos e pesquisas relacionados com a sua área específica de atuação. O curso foi criando com toda a estrutura, com coordenação, área, dotação orçamentária... Mas não foi implantado. Na mesma época, a Universidade Federal estava implantando o dela e, parece, houve um acordo em que o Estado abriria mão então de iniciar o seu curso para dar oportunidade para que a Universidade Federal abrisse o dela108. Sobre o curso, o Professor Doutor Laércio Elias Pereira109 esclarece: "... conversei bastante com o Cláudio Vaz sobre a possibilidade de criar um curso de Educação Física no Maranhão. Resolvemos Cláudio e eu, chamar o Prof. Domingos Salgado para montar o processo de criação do curso de Educação Física na Federação das Escolas Superiores [FESM, hoje UEMA], o que aconteceu com o empenho do secretário Magno Bacelar e o Assessor João Carlos, ainda em 1974. (PEREIRA, Laércio Elias, entrevista). O projeto foi elaborado pelo Professor Domingos Salgado, contratado pelo então Departamento de Educação Física da SEDUC, chefiado por Cláudio Vaz dos Santos: “Nós íamos fazer uma escola de Ed. Física particular, já tinha toda a documentação, o professor Salgado deu para mim [...] Como eu sentia a 107

Lei no. 3.489, de 10 de abril de 1974. Cria a Escola Superior de Educação Física do Estado do Maranhão e dá outras providências. DIÁRIO OFICIAL, São Luís, Sexta-feira, 10 de maio de 1974, ano LXVII, no. 88, p. 1 108 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MEMÓRIA ORAL DOS ESPORTES, DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO LAZER MARANHENSE - 1940/1990. 2009 (no prelo). Volume III da Coleção Memória(s) do Esporte, Lazer, e Educação Física - Apontamentos para sua História no Maranhão. 109 Laércio Elias Pereira – Professor. Brasil. Maceió - AL. http://ligcev.com/laercio. Coordenador Geral do CEV http://cev.org.br/. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8503227889653136. Nascido há (muito) mais de meio século em São Caetano do Sul - SP, onde se formou e trabalhou como metalúrgico como quase todo mundo lá, veio pra vida a passeio - e não em viagem de negócios. Cursou Educação Física na USP, depois de um vestibular em Sociologia. Passou por várias universidades (São Caetano, Maranhão, Paraíba, Mossoró, Minas Gerais, Católica de Brasília, UDESC, FMU, Alagoas) e foi assessor da SEED- MEC. Atualmente dirige o Centro Esportivo Virtual e é Coordenador de Projetos Especiais da ESEF de Muzambinho. Ex-secretário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SEC/MA; fundador e ex-presidente do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE; um dos criadores do Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Esportiva (SIBRADID); do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), tendo sido Conselheiro Federal de 1998 a 2002, e da Confederação Brasileira de Handebol. Fez mestrado na USP (dissertação: Mulher & Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV), é membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI, e goleiro de futebol de salão do Antigamente Futebol Clube há 45 anos.


necessidade de ter professores formados e o que eu trazia eram poucos em relação à necessidade que nós tínhamos, nós achamos um início para formar a escola de Educação Física particular. [...] mas antes não houve uma tentativa da fundação de uma Escola de Educação Física na FESM, chegou inclusive a ser baixado um decreto (...). Em 1974, já com Magno Bacelar como Secretario de Educação] Mas foi essa a iniciativa nossa [...] Nós começarmos a trabalhar e deve ter sido isso que chegou lá, nós tínhamos um interesse de fazer uma Escola de Educação Física aqui, eu não posso dizer assim com certeza [Domingos Fraga Salgado?] Domingos Fraga Salgado, foi que eu trouxe para criar e Escola de Educação Física, com o Magno Bacelar. Ele que obteve toda documentação, foi quando a UFMA criou, aí parou [...] Logo em seguida, é feito o do ITA, com a Terezinha Rego [...] Salgado e Laércio participavam ativamente nesse projeto [...] Eu sei que nós chegamos, avançamos, não foi concretizado, eu sei nós avançamos nesse ponto, o Salgado veio para cá fazer isso, eu trouxe ele para cá. No tempo eu tinha muita liberdade de pagar, Magno quando queria o serviço pagava do próprio bolso, não tinha o Wellington e ele me dava um cheque, hoje ele é um homem de porte limitado, na época ele era o mandão, então ele me apoiou demais. Quando o Magno assumiu eu fiquei muito forte na Secretaria”. (VAZ DOS SANTOS, Cláudio. Entrevistas) Sidney Zimbres, que participou da criação do curso da UFMA, não lembra como ocorreu a criação do curso da FESM: “... eu me lembro de ter ouvido dizer - já tem o curso na UEMA – FESM -, eu cheguei a dar aula na FESM seis meses; dei aula de Prática Esportiva; eu me lembro que a Secretaria de Administração ficava lá no Santo Antônio, eu fui lá para assinar o contrato, dei aula seis meses de Prática Esportiva lá, depois, quando eu entrei na UFMA, não fui mais". (ZIMBRES, Sidney. Entrevista)17.


CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física Mestre Baé liga (20/10/2014). Há muito não nos falávamos. Conta-me sobre o ultimo ano, o ter deixado a Federação e ir cuidar de sua vida, de sua família, e de seu Grupo. Perspectivas de se estabelecer na Europa. Além do Tocantins e Pará, continuando a expansão pelo interior do Maranhão... Fala de que está indo com regularidade ao Piauí, onde a Capoeira está a começar... Digo que não! A Capoeiragem no Piauí é tão antiga quanto a do Maranhão... Têm a mesma origem, desde meados dos 1800 se tem notícias; falei dos Basson, de Parnaíba: Um aluno [do Colégio Pedro Segundo]110, reconhecido como capoeira, foi José Basson de Miranda Osório, nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982) 111 Para Costa (2007) 112, no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48) 113; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968)114 [...](GRIFOS MEUS).

FONTE: PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. Citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA.

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[...] Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio. In CUNHA JR, C F F. Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” - uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163195, jul./dez. 2004 on line, disponível em http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1841-Gymnasia%20militar%20en%20el%20Colegio%20Pedro%20II 111 PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 112 COSTA, Neuber Leite CAPOEIRA, TRABALHO E EDUCAÇÃO. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. 113 NESTOR CAPOEIRA: PEQUENO MANUAL DO JOGADOR. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. 114 REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: UM ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968.


Jornal ‘O Papiro”, de 1874, periódico literário, de Teresina-PI, edição de 9 de julho, em “Reminiscências Infantis” escrevia Lívio Druso:

No jornal “A Época”, órgão conservador, disponível os números de 1878 a 1884, se encontram dez referencias sobre ‘capoeira’, nem sempre relacionadas com capoeiristas e capoeiragem. Na edição de 7 de maio de 1880, por exemplo, ao referirem-se alguns queixosos sobre a atuação do Juiz e das tropas regulares em Jaicó, identifica o Juiz como um cínico, afirmando ‘Que capoeira? Como sabe ser estupidamente cínico.’ Voltemos ao Dr. Basson, e a esse mesmo jornal, edição de 22 de setembro de 1883; o articulista o identifica como ‘capoeira’, e utiliza outro termo para identificar os praticantes da arte da capoeiragem: caceteiro:

Em diversas edições, posteriores, em se tratando de fatos e intrigas da política local, dos interiores do Piauí, sempre que se queria denegrir alguém, se lhe referia como “capoeira”:


Campo Maior

Amarante

Barras

Barras

Barras

Passemos aos registros do Jornal “O Apóstolo”, disponíveis os anos de 1907 a 1912, com seis ocorrências. As do ano de 1909 – a partir de outubro – se referem à capoeira como mato, necessitando de a cidade ser remodelada, eliminando-se “essas capoeiras”, em críticas à proposta do novo Governador de ajardinar a cidade. Outros, a terrenos pertencentes a alguém, e que estaria sendo invadido. Mas há referencia também à prática da “capoeira” a que nos referimos, enquanto arte-luta, como esse comentário:


Baé, podemos ir um pouco mais longe; sabemos que no período colonial desde o Ceará até Rondônia e o Caribe, desde o Atlântico até os contrafortes dos Andes, havia nesse território o grande estado do Maranhão, criando em 1617 e implantado a partir de 1621; o Piauí ficou subordinado ao Maranhão até 1816. Portanto, nossas histórias são as mesmas, subdividindo-se na medida em que o território foi sendo desmembrado; primeiro, o Ceará que voltou a Pernambuco; o Piauí foi a última Província a ser desmembrada... Em meu livro “Crônica da Capoeiragem” (2014) 115 trago um capítulo - “RES PRO PERSONA” 116,117 onde procuro esclarecer a origem do termo “capoeira”. O que é ‘capoeira’? 118 Verniculização do tupiguarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi119; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 120. Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968): [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA – Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79). Por Capoeira deve-se entender individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno?

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRÔNICA DA CAPOEIRAGEM. São Luís: Edição do Autor, 2014 Por metonímia res pro persona, o nome da coisa passou para a pessoa com ela relacionado. 117 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/18/8331/ 118 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 LACÉ LOPES, 2007, obra citada. LACÉ LOPES, 2006, obra citada. REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, 2005, obra citada. p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 ARAUJO; JAQUEIRA, 2008, obra citada. 119 MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982 120 VIEIRA, 2005, obra citada p. 39-40. 116


DEBRET – 1816/1831

Conforme a conceitua Araújo (1997) capoeiragem como:

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ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por

a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva? (p. 70). Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando a Decisão (205) de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores). Quando surgiu? No entender de muitos capoeiristas, quando o primeiro escravo angolano pisou a Terra de Santa Cruz (hoje, Brasil), já o teria feito no passo da ginga e no ritmo de São Bento Grande: numa noite escura qualquer, o primeiro negro escapou da senzala, fugiu do engenho, livrou-se da servidão, ganhou a liberdade... escapou o segundo e o terceiro, na tentativa de segui-lo, fracassou. Recapturado, recebeu o castigo dos negros (...) as perseguições não tardaram e o sertão se encheu de capitães-do-mato em busca dos escravos foragidos. Sem armas e sem munições, os negros voltaram a ser guerreiros utilizando aquele esporte nascido nas noites sujas das senzalas, e o esporte que era disfarçado em dança se transformou em luta, a luta dos homens da capoeira. ’A capoeira assim foi criada’. (Jornal da Capoeira, n. 1, 1996). (Vieira e Assunção, 1998, p. 83) 122. Durante as invasões holandesas - SÉCULO XVII, 1640 - surgem as expressões: ‘negros das capoeiras’, ‘negros capoeiras’, e ‘capoeiras’. (MARINHO, 1982; VIEIRA, 2004, 2005) 123. Com o advento das invasões holandesas, na Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640, houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo-se em centenas de quilombos, tendo como consequência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. (Vieira, 2005) 124. 121

ARAÚJO, 1997 , obra citada.. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 123 MARINHO, 1982, obra citada VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. VIEIRA, 2005, obra citad p. 39-40. 124 VIEIRA, 2005, obra citada p. 39-40. 122


Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (VIEIRA, 2005) 125. Segundo Coelho (1997, p. 5) 126 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem linguística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5)127. Encontrei em Marcos Carneiro de Mendonça128, em seu festejado “A Amazônia na era Pombalina”, carta de Mendonça Furtado129 a seu irmão, o Marques de Pombal – datada de 13 de junho de 1757 -, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: “[...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...]” (p. 300). (grifos do texto). Para Vieira (2004)130: [...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Nossas origens – Maranhão e Piauí – são as mesmas; nossas histórias - até pelo menos 1816 é a mesma – se confundem. Mesmo após a separação, somos estados siameses. Os episódios da Balaiada transcorreram tanto no Maranhão – seu início – quanto no Piauí. Parnaíba teve um papel importante no combate aos insurretos. E os balaios praticavam a capoeiragem... Fico por aqui; devemos buscar mais informações...

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VIEIRA, 2005, obra citada p. 39-40. ARAÚJO, 1997, obra citada. 127 ARAÚJO, 1997, obra citada 128 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 129 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado 130 VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/ . 126


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


ATLAS – ATLETAS OLIMPICOS MARANHENSES ATLETISMO

ARY FAÇANHA Ary Façanha de Sá nasceu no dia 1º de abril de 1928, em Guimarães (MA). Filho de um Juiz de Direito. Descobriu o que era o atletismo em 1949, no Colégio São Luis, onde estudou; depois muda para o Rio de Janeiro. Corria, saltava, mas gostava mesmo era de futebol, chegado a jogar pelo Moto Clube, porém a atividade era proibida pela sua mãe, receosa que ele se machucasse. Começou a treinar atletismo no Fluminense, com o técnico Frederico. Logo no primeiro treino saltou 6 metros e passou a se dedicar a essa prova. Em seu primeiro campeonato, obteve o 2º lugar. No ano seguinte, venceu o campeonato de juniores e também o campeonato brasileiro. Foi preterido na primeira edição dos Jogos Pan-Americanos realizados em Buenos Aires, em 1951, mesmo tendo o melhor índice. Isso o fez se dedicar ainda mais aos treinos, para não mais ser esquecido ou superado. Foi, então, ao Jogo Olímpicos de Helsinque, em 1952. Estava em 3º lugar na prova de salto, quando uma chuva torrencial interrompeu a competição. Ao saltar, seu sapato de couro encharcou, impedido-o de fazer um salto melhor. Terminou a prova em 4º lugar. Foi recordista brasileiro de salto em distancia. Em 1955, foi campeão universitário na Espanha. Foi também aos Jogos Olímpicos de Melbourne, na Austrália, em 1956. Desiludido com a prova de salto, passou a correr os 110 e os 400 metros com barreiras. Formado em Educação Física, atuou como técnico no Vasco da Gama. Em 1965, mudou-se para Brasília, onde passou a trabalhar como Professor de Educação Física e, depois, Diretor de Escola. Em 1968, foi para a Secretaria de Esporte do Ministério de Educação e Cultura (MEC), e, nessa Secretaria, criou os Jogos Estudantis Brasileiros

CODÓ José Carlos Gomes Moreira nasceu em Codó (MA), em 28 de setembro de 1983, daí seu apelido. Jogava futebol no colégio e em uma competição escolar seu time foi desclassificado. Inscreveu-se na prova de atletismo e venceu a competição dos 100 metros e dos 200 metros. A partir desse campeonato, começou a treinar num projeto da Prefeitura de Codó. Em 2002, durante uma competição em Belém, foi convidado a treinar na equipe BM&F com o técnico Katsuhico Nakaya. Mudou-se para São Paulo em 2003, mas não apresentou resultados expressivos. No ano seguinte, passou a treinar em Londrina (PR), onde se destacou. Em 2006, foi campeão do Troféu Brasil nos 100 metros rasos. Passou a treinar em Presidente Prudente (SP), com o técnico Jaime Neto, momento em que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, no revezamento 4x100 metros. Participou dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, competindo nos 100 metros rasos e no revezamento 4 x 100 metros, prova em que alcançou a 4ª colocação. Embora não estivesse envolvido, a ocorrência dos casos de doping na equipe o fez perder a motivação para


treinar. Voltou a competir em 2012, quando novamente ganhou o Troféu Brasil e fez parte d equipe de revezamento que foi aos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, mas não competiu. Depois de sofrer duas lesões, passou a se dedicar aos treinamentos visando à preparação para os Jogos Olimpicos do Rio de Janeiro em 2016. (RUBIO, 2015, p. 67-68)131.

JOELMA DAS NEVES SOUSA nasceu em Timon (MA), em 13 de julho de 1984. Não gostava d sulas de educação física, porque não tinha habilidade com bola e as aulas eram sempre jogos. Começou a praticar atletismo aos 12 anos, em um projeto social da Prefeitura de sua cidade natal, motivada pela irmã Joseline, que também corria e tinha como técnico Antonio Nilson. No princípio, corria descalça, porque não tinha tênis. Em 2007, bateu o recorde da região Norte-Nordeste, resultado que lhe rendeu o convite par correr pela equipe BM&F Bovespa. Porém, antes da mudança, descobriu um tumor maligno no ovário que exigiu cirurgia e quimioterapia, dificultando sua preparação para as competições daquele ano. Em 2008, mudou-se para São Caetano. Nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, fez parte da equipe de revezamento 4 x 400 metros que conquistou a medalha de ouro. No ano seguinte, foi aos Jogos Olímpicos de Londres. Atualmente, prepara-se para participar dos Jogos Olímpicos do Rio d Janeiro, em 2016. (RUBIO, 2015, p. 105) 132.

BASQUETEBOL

ISIANE CASTRO MARQUES nasceu em São Luis (MA), em 13 de março de 1982. Começou a jogar em 1994, no Colégio Batista, quando um Professor de Educação Física a identificou como talentosa. Conheceu o técnico de basquete Betinho, que iniciou efetivamente seu treinamento. Jogava pela seleção maranhense, quando foi convidada a se transferir para o BCN/Osasco, com a técnica Maria Helena. Lá ficou até os 19 anos. Foi, então, convocada para as seleções brasileiras de base. Participou do Campeonato Mundial da China, em 2002 e recebeu convite para atuar n Europa, pelas equipes: Yaya Maria Broegán, Perfumarias Avenidas, Hondarribia-Irun, Extragasa Vilagarcia, da Espanha; Pays d’ 131 132

RUBIO, Kátia. ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS. São Paulo : SESC-SP, 2015. RUBIO, Kátia. ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS. São Paulo: SESC-SP, 2015.


Aix Basket 13, da França; B. C. Euras Ekaterinburg spartk Moscow, da Rússia; USK, da Sérvia; Wisla CanPack, da Polonia; TTT Riga, da Letonia; Besiktas JK, da Turquia, e na sequencia, foi para os EUA onde jogou pelas equipes do Miami Sol, Phoeix Mercury, Seatle Storm, Atlanta Dream, Connecticut Sun, e Washington Mystics, todos da WNBA. Foi aos Jogos Olimpicos de Atenas, em 2004. Participou dos Mundiais: do Brasil, em 2006, terminando na 4ª colocação; e da Republica Tcheca, em 2010. No ano seguinte foi aos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara e conquistou a medalha de bronze. Atualmente joga no Maranhão Basquete. (RUBI, 2015, p. 151) 133 NATAÇÃO

PHILLIP CAMERON MORRISON nasceu em São Luís (MA), em 29 de dezembro de 1984. Filho de pai norte-americano e mãe brasileira, Phillip tem dupla cidadania. Começou a nadar no Maranhão, onde conquistou dois títulos estaduais. Em 2001, foi estudar na Luisiânia, nos EUA, onde também nadava e venceu as principais competições de high school. Esses resultados lhe renderam uma bolsa para estudar n Universidade Stanford. Foi aos Jogos Olimpicos de Pequim, em 2008, como reserva, no revezamento 4 x 200 metros nado livre. È formado em Earth Systems e, atualmente, trabalha em uma empresa de tecnologia em San Francisco, Califórnia. (RUBIO, 205, p. 231) 134. FUTEBOL

TANIA MARANHÃO Tânia Maria Pereira Ribeiro nasceu em São Luis (MA), em 3 de outubro de 1974. Iniciou sua carreira jogando futsal em sua cidade natal. Em 1993, transferiu-e para a Bahia para jogar futebol no Eurosport. Atuou, também, pelas equipes: Saad, São Paulo, e Rayo Vallecano, da Espanha. Foi aos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003, e do Rio de Janeiro, em 2007, tornando-se bi-campeã pan-americana. Disputou os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1966. De Sidney, e 2000, de Atenas, em 2004, quando conquistou a medalha de prata; e de Pequim, em 2008, conquistando novamente a medalha de prata. Participou, ainda, das Copas do Mundo de 1999 e 2003 e sagrou-se vice-campeã na Copa da China, em 2007. Jogou pelo Vasco e, atualmente, joga pelo Botafogo e na equipe da Marinha, pela 133 134

RUBIO, Kátia. ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS. São Paulo: SESC-SP, 2015. RUBIO, Kátia. ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS. São Paulo: SESC-SP, 2015.


HANDEBOL

CHINA Winglitton Rocha Barros nasceu em 22 de junho de 1974, em São Luis (MA). Começou a jogar handebol aos 10 anos, sob a orientação do técnico Zé Pinheiro Silva. Seu desempenho lhe valeu uma bolsa de estudos na Escola Santa Tereza. Em 1991, mudou-se pra Chapecó (SC), a convite do técnico Luis Celso Giacomini. Passou ainda pelas equipes: Caçador, Concórdia, Metodista/São Bernardo, são Caetano, e Vasco da Gama. Chegou à seleção brasileira adulta em 1995, ano em que conquistou a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Mar-del-Plata. No ano seguinte, participou dos Jogo Olimpicos e Atlanta. Atuou na Itália por duas temporadas e, no retorno, ao Brasil, jogou pelo Pinheiros. Encerrou a carreira de atleta em 2008. Em 2009, formou-se me Jornalismo e fez pósgraduação em Gestão Pública. Foi secretário-adjunto de projetos especiais da Secretaria de Estado do esporte e Lazer do Maranhão. (RUBIO, 2015, p. 362-363) 135.

ANA PAULA RODRIGUES nasceu em São Luis (MA) em 18 de outubro de 1987. Começou a jogar Handebol na escola, em 2001, até se transferir para Guarulhos, em 2006. No ano seguinte foi para a Espanha, onde atuou pelo IBM Puertodulce e pelo Elda Prestigio. Em 2011, mudou-se para a Áustria, para defender o Hypo Niederöstreich. Foi aos Jogos Olímpicos Pequim, em 2008, e de Londres, em 2012. Participou dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, quando a Seleção conquistou a medalha de ouro. Foi campeã mundial em 2013, na Sérvia. Em Ana Paula Rodrigues Belo ou simplesmente Ana Paula (São Luís, 18 de outubro de 1987) é uma jogadora brasileira de handebol que joga como central. Atualmente defende o Hypo Niederösterreich. Integrou a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2012.[1] Foi campeã mundial com a seleção em 2013 na Sérvia.

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RUBIO, Kátia. ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS. São Paulo: SESC-SP, 2015.


SILVIA PINHEIRO Silvia Helena Araujo Pinheiro Pitombeira nasceu em São Luis (MA), no dia 1º de novembro de 1981. Começou a jogar Handebol aos 12 anos, na escola, em Blumenau. Depois, passou pelas equipes Osasco e Metodista. Desde 2003, atua no exterior. Em 2004, jogou pelo Gil Eanes, de Portugal, posteriormente no Itxako, da Espanha, e também, na Hungria. Foi bicampeã pan-americano em Santo Domingo, em 2003, e em Guadalajara, em 2011. Participou dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Atualmente, está no Hypo Niederöstreich, da Áustria. (RUBIO, 2015, p. 377)136 VOLEI DE PRAIA

ROBERTO LOPES Roberto Lopes da Costa nasceu em Bacabal (MA), em 6 de outubro de 1966. Depois de se mudar para Fortaleza (CE), começou a freqüentar a AABB, em 1979, onde fez a escolinha de voleibol, modalidade que praticou até 1986. Migrou para o vôlei de praia, em 1988, formando dupla com Franco Neto. Foi bicampeão do Circuito Mundial em 1995 e, no ano seguinte, participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta, onde obteve o 9º lugar. Em seu regresso, foi morar e jogar nos Estados Unidos. Nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg , em 1999, conquistou a medalha de bronze. Encerrou carreira de atleta em 2008. Fez Faculdade de Educação Física, especializou-se em treinamento esportivo e fez mestrado. É professor universitário e trabalhou na Secretaria de Estado. Montou, em Fortaleza, um centro de treinamento de vôlei de praia. Foi manager da FIFA, em Fortaleza, para a Copa do M

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RUBIO, Kátia. ATLETAS OLIMPICOS BRASILEIROS. São Paulo: SESC-SP, 2015.


LIVRO-ÁLBUM

MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO


Contramestre SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA (1979)

SÍLVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ 1973 CONTRAMESTRE SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA CAPOEIRA, sou obediente ao berimbau: o que ele tocar eu jogo, se ESTILO Angola, Regional, Contemporânea ou Benguela Capoeiragem Tradicional Maranhense DADOS SÍLVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ PESSOAIS São Luis, 08 de setembro de 1973 Filho de José Ribamar Sá Cruz e Otacília Domingues Pereira Casado com a Senhora Joedite de Fátima Sales Cruz, tem 03 filhas, Gabriela de Fátima Sales Cruz, Poliana Samara Sales Cruz e Rayanne Fonseca Cruz e uma Neta Julia De Fátima Pinheiro Cruz. Técnico em Eletromecânica Superior incompleto em Pedagogia MESTRE

GRUPO/NÚCLEO

MADEIRA Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira - 2011

NOME: Sílvio José da Natividade Pereira Cruz, nome dado por uma tia, chamada Tia Teté.


Casado com a Senhora Joedite de Fátima Sales Cruz, tem 03 filhas, Gabriela de Fátima Sales Cruz, Poliana Samara Sales Cruz e Rayanne Fonseca Cruz e uma Neta Julia De Fátima Pinheiro Cruz. ORIGEM DO SEU NOME  SÍLVIO: Escolhido por sua tia avó, irmã da mãe do seu pai  JOSÉ: Nome do seu Pai  NATIVIDADE: Por sua tia ser muito católica e eu ter nascido no dia 08 de Setembro, no dia de Nossa Senhora da Natividade, ela colocou esse nome.  PEREIRA: Sobrenome da sua mãe  CRUZ: Sobrenome do seu pai. Filho de José Ribamar Sá Cruz e Otacília Domingues Pereira, nasceu no dia 08 de Setembro de 1973, na Avenida Cajazeiras, na maternidade Benedito Leite no Centro, São Luís – MA. O apelido “Formiga Atômica” foi um de vários que o seu mestre Madeira lhe deu. Por ser de estatura pequena, mas considerado muito forte para sua pequena estatura, e muito pulador, os outros apelidos foram: Borracha e Tamanduá, ficando mesmo Formiga Atômica, mas é mais conhecido como (CM Sílvio ou Silvinho) Meus primeiros contatos coma a capoeira foi no final dos anos 70, através da novela Escrava Isaura, comecei a fazer meus primeiros movimentos por volta de 1979, com um amigo de nome Fernando que ensinava um grupo de crianças em um quarto de chão batido no fundo de sua casa, foi quando comprei um saco de açúcar na quitanda do Sr. Joãozinho e pedi para uma vizinha chamada Tereza fazer minha primeira calça meia canela de capoeira, depois de ficar quase uma semana de molho para poder largar o açúcar. Por volta de 1983, comecei a treinar com dois irmãos de nome: Michael Clean Cruz Alves seu apelido (Shell) e o Flávio de Arruda Cruz (seu apelido “Braço”, por ter o braço quebrado) que treinaram com Aldo (Lôlô) e Otacílio que também eram irmãos e que vieram treinar com Leles que mais tarde se tornaria o mestre Madeira, nesse período o nosso local de treino era uma casa de festa chamada Cajueiro, localizada no São Francisco, travessa da rua 02 que mais tarde se chamaria de Espaço Aberto um clube de reggae chamado também de “ casa da música”, tivemos que parar com os treinos porque o proprietário “ Sr Ferreirinha” na época não permitiu que continuássemos com os treinos no clube, assim ocasionou o término do grupo. Por volta de 1985 começo a treinar no Centro Comunitário, localizado na Rua 03 no Bairro do São Francisco e quem dava aula nesta época era o jovem Fabio Gonçalves Filho, que era chamado e Fabinho e mais tarde se tornaria mestre “Fabio Arara” com quem aprendi vários movimentos, que por sua vez já treinava com o mestre ”Madeira” e ainda no Centro Comunitário, conheci um português de nome Lincon, professor Lincon que nos ensina ginástica olímpica, foi com quem aprendi executar meus primeiros saltos, após esse período eu fui matriculado em uma instituição para menores “ FEBEM” – Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, localizada na Rua do Norte, próximo ao cemitério do Gavião em São Luís –MA, nesta fundação passava o dia todo fazia oficina de mecânica e treinava capoeira com um professor que se chamava Herbeth; na ocasião levava meu irmão caçula, o Marcilio José, a quem o professor chamava de lambisgoia por ele ser muito magrinho, depois o mestre Madeira trocou esse apelido para Pelezinho. Em 1987 com 14 anos de idade eu já estava registrado profissionalmente, consegui um emprego de zelador em uma conservadora (Conservadora Timbira Serv. Gerais) foi quando eu conheci o mestre Madeira e me matriculei em sua academia na Rua Humberto de Campos, era um sobrado de piso de taco, pois já tinha condições financeiras para pagar as mensalidades. Seu nome José Raimundo Leles da Silva, filho de Raimundo Ferreira da Silva e Teresinha de Jesus Leles da Silva. O nome da sua academia era Clube Center onde ele ensina karatê e Capoeira, sem demora ele viaja para São Paulo se forma professor e recebe uma autorização para dar aula pela ‘Cordão de Ouro’ do mestre Suassuna, vindo de São Paulo, ele viaja para Bahia e conhece o mestre Canjiquinha, formado a mestre por esses dois mestres, conhece também o mestre Waldemar Rodrigues da Paixão quem lhe ensinou muita coisas segundo ele o mestre Waldemar teve quatro mestres que foram: Calabi, Piri Piri, Canário Pardo e Siri de Mangue e dos mestres que ele teve o que ele mais gostou foi Siri de Mangue e por isso em homenagem ao mestre Waldemar o mestre Madeira mudou o nome do seu grupo para (Siri de Mangue Capoeira).


Em 2011, me ausentei do Siri de Mangue e fundei o Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira, grupo do qual sou presidente-fundador até os dias atuais e continuo ligado ao Siri de Mangue também junto com o meu mestre Madeira. A minha escolaridade é superior incompleto em Pedagogia, sou Técnico em Eletromecânica, continuo trabalhando, estudando e dando aula. Tenho participado de vários eventos, viagens em prol da capoeira, em uma dessas conheci o mestre Suassuna, Jogo de Dentro, Cobra Mansa entre outros em Ilhéus - BA O meu principal desafio na capoeira foi viajar sozinho para Bahia sem conhecer nada e ninguém, aos 18 anos, e hoje faço parte da primeira turma do Curso de Capacitação para Mestres e Contramestres da Capoeira do Maranhão, na UFMA Universidade Federal do Maranhão,Organizado pelo Fórum da Capoeira do Estado. O meu estilo de CAPOEIRA, eu costumo dizer que sou obediente ao berimbau o que ele tocar eu jogo, se Angola, Regional, Contemporânea ou Benguela. Sou CAPOEIRISTA, eu toco todos os instrumentos da Capoeira, eu canto, eu Jogo, eu fabrico Instrumentos ligados à Arte, ensino e ainda faço composições, pesquiso, tento ser completo. A capoeira pra mim é meu vício, meu esporte, lazer, minha arte, minha filosofia de vida, é o que eu vivo. Sílvio José da Natividade PereiraCruz (Formiga Atômica) Liberdade Capoeira Siri de Mangue – Mestre Madeira 08/2017


Mestre ROBERTO (Década de 1980)

ROBERTO JAMES SILVA SOARES 1969 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

ROBERTO Maranhense Capoeiragem Tradicional Maranhense ROBERTO JAMES SILVA SOARES São Luis – MA, 14 de agosto de 1969 (Bairro Santa Cruz) Filho de Raimundo Nonato Soares (militar) e Joana Dias da Silva Soares (dona de casa) Formação escolar: Nivel Médio - Técnico em Laboratórios <roberto.soares1408@gmail.com> Guda (Guldemar Almeida de Araújo) Ciba (Sebastião de Sousa Sabino) Baé (FLORIZALDO DOS S. MENDONÇA)

MESTRE

GRUPO/NÚCLEO

Associação Cultural AREIAS BRANCAS

e

Desportiva

Capoeira


HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei na capoeira na década de 80, primeiramente com o meu irmão Nato Filho segunda geração de alunos do GRUPO AÚ CHIBATA, logo ele foi para servir na Marinha devido a sua ida para a Marinha continuei com mestre Guldemar Almeida de Araújo o Mestre Guda o qual era mestre e fundador do nome que logo se tornou Associação Aú Chibata tendo na época vários alunos que logo depois se tornaram c.mestres daquela associação, onde citarei alguns c.mestres Nato Filho, Riba ou Macaco, Ademir, dentre outros, todos eles sempre defenderam a capoeira como um grande veículo de inclusão social e dentre os c.mestres destaco o braço direito do Mestre Guda, Sebastião de Sousa Sabino o C.Mestre Ciba, que á época já servia o Exército de onde trazia as atividades físicas, ou seja, na década de 1980 o regimento interno do Grupo Aú Chibata era totalmente militarista e machista a onde não era permitido a presença de mulheres no grupo; regra que durou alguns anos, sendo quebrada por mim, pois comecei a namorar a mãe dos filhos hoje minha esposa Ana Luzia. Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas; Hoje, tenho plena convicção que a Associação Aú Chibata de Capoeira foi, e ainda é, a única a realizar seus batizados todos na mata e sempre dando inicio á meia noite, pois o Mestre Guda tem suas crenças, Minha vida na capoeira deu-se a partir do final de 1999, quando fui morar no município de Tutoia, levado por um futuro aluno; eu ainda era do Grupo Aú Chibata; realizei o primeiro batizado capoeira organizado no município no ano de 1999 á 2000, onde levei vários mestres convidados dentre eles, mestres INDIO, VÃNIO, MIZINHO, e MESTRE BAÉ. Um ano depois, mais ou menos, com muito pesar e magoado, me desfiliei do Grupo Aú Chibata, a casa que me iniciou na capoeira, e devendo até hoje os dois mestres que me ajudaram: o Mestre CIBA, hoje falecido, e o Mestre GUDA, hoje em plena atividade. Filiei no Centro de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira, na época era projeto e logo depois se tornou associação, onde o sr. FLORIZALDO DOS S. MENDONÇA, o Mestre BAÉ, aceitando o meu pedido depois de ano e onde estou até hoje, e já iniciando um trabalho na cidade de Tutoia-Ma, com a autorização do meu atual mestre o Mestre Baé, como c.mestre da Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS uma homenagem ás dunas brancas da cidade. CAPOEIRÁ É:


Mestre TUTUCA (1981)

JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES 1967

MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

TUTUCA Capoeira Capoeiragem Tradicional Maranhense JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES São Luís – MA, 25 de novembro de 1967 Filho de João Alves Fernandes e de Conceição de Maria Borges Escolaridade: 2º Grau – Escola Humberto Teixeira Formado a contra mestre de capoeira em 08 de Março de 1994 pela associação de capoeira Mara Brasil. Formado a contra mestre pela Federação Maranhense de Capoeira em 10 de abril 1994 Formado a Mestre em 23 de Março de 2002 pelo seu próprio Mestre Evandro

MESTRE

EVANDRO GRUPO/NUCLEO Grupo Gira Mundo Capoeira (fundado em 23/04/1998)


HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei a Capoeira no ano de 1981com o Mestre Evandro aos 12 anos de Idade, no Laborarte Hoje Mestre e fundador do Grupo Gira mundo Capoeira fundado em 23 de abril de 1998; Atualmente sua sede funciona na Associação da Caixa Econômica Federal do Maranhão (APCEF/MA), desde 1998, tendo alguns núcleo nos bairros periféricos da cidade de São Luis, aulas ministrada por alunos graduado a Estagiários, Monitores, Formados, instrutores, Contra Mestres. Na comunidade da Vila Kiola, João Paulo, Sol e Mar, São José de Ribamar, Vicente Fialho. Graduados Envolvidos: Estagiário Marquinho, Monitor Deivid, Formado Malheiros, Instrutora Neta, Instrutor Ronald. Contra Mestre formados por mim: CABEÇA, MAGÃO. - Arbitro pela Federação de Capoeira do Estado do Maranhão( FECAEMA) e pela Federação Maranhense de Capoeira. (FMC). PARTICIPAÇÃO EM EVENTO: - Festival de HAUSTS DE GARONNE 15 de julho de 2000 na cidade de BORDEAUX (França) - 5º encontro mundial de capoeira FICAG realizado em comemoração aos 20 anos de que acontece no período do dia 09 a 14 de julho 2012 na cidade de Belo Horizonte/MG. - IIIº Movimento Pró – Capoeira do Maranhão - IV Movimento Pró – Capoeira Filhos de Aruanda, Aruandê e Clube Center. - Projeto Cultura Capoeira nos Bairros, promovido pelas associações de capoeira Aruandê e Filhos de Aruanda. - Roda de Capoeira Vamos ver realizada pela associação de capoeira Angola. - 2º Encontro Estadual de Capoeira realizado pelo Grupo Candieiro. - 1º, 2º, 3ºEncontro nacional de capoeira realizado pela associação de capoeira São Jorge. - 1º Tem Sinhá na Roda, realizado pela Federação Maranhense de Capoeira. - Oficina de Movimentos e Instrumentação de Capoeira realizada pela associação de Capoeira São Jorge. - Oficina de percussão Ministrada pelo mestre Pezão. - Clinica FECAEMA de capoeira. - Copa ceut realizada pelo grupo Raizes do Brasil. - Copa cajuína realizada pelo grupo Raizes do Brasil Cursos: - Fundamento da Malicia (FECAEMA) - Capoterapia, (FMC) - Capoeira Inclusa (ASSOCIAÇÃO VOLTA AO MUNDO). - Capacitação de Mestres do Estado do Maranhão Pela (UFMA). - Capoeira inclusa para deficiente visual e auditivos. - 1º Festival de capoeira nos Bairros realizado pela associação FILHO DE OGUM. - Batizados e troca de cordas em outros estado como Rio de Janeiro, Belém, Teresina, Fortaleza, Belo Horizonte, Campinas – SP. - Batizados e troca de cordas no Estado do Maranhão. Eventos Organizados: - 1º Oficina de Capoeira Ginga da Solidariedade, 1º 2º, 3º, 4º - Festival Ludovicense de Capoeira com os mestres da cidade. - 1º Festival de Canto de Ladainha. - Batizados com Oficinas e cursos de Capoeira com Mestres de outros Estado e do Estado do Maranhão.


HOMENAGEM: Pelo reconhecimento a importância do seu nome na capoeira maranhense. GRUPO CANDIEIRO. HONRA AO MÉRITO: ao apoio em reconhecimento a capoeira e a cultura brasileira através desta entidade. CAPOEIRÁ É: Capoeira: é a luta de um povo disfarçada em dança para confundir seu opressor no tempo da Escravidão. Mestre Tutuca!


Mestre LUIZ SENZALA (1981)

LUIS AUGUSTO LIMA 1971 MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

LUIS SENZALA CAPOEIRA ANGOLA LUIS AUGUSTO LIMA São Luís, 8 de abril de 1971 FILHO DE AUGUSTO DOS ANJOS LIMA E MARIA MADALENA LIMA ESCOLARIDADE 2° GRAU COMPLETO ESCOLA RONALD DA SILVA CARVALHO Diploma de honra ao mérito recebido pela Câmara Municipal de São Luis MADEIRA FABIO ARARA

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Escola de Capoeira Angola Acapus, fundada em 1998


HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei a Capoeira no ano de 1981 com o Mestre Madeira na Academia Club Center, hoje Siri de Mangue, aos 11 anos de Idade. Também fiz parte do grupo Tombo da Ladeira do Mestre Gavião. Atualmente, sou Mestre da Escola de Capoeira Angola Acapus fundada em 1998, com sede própria na Travessa Marcelino Almeida 173 A. Centro Historico – Praia Grande. Ministro aulas que abordam musicalidade, fabricação de instrumentos, história da Capoeira, aulas práticas (com a preocupação de preservar e difundir os rituais e fundamentos da Capoeira/ Tradição); Realiza atividades na Sede da Escola de Capoeira Angola ACAPUS: Palestras com Mestres convidados; rodas e aulas praticas abertas a comunidade. Realização de vivencias em bairros de São Luis e intercambio com praticantes de outras nacionalidades. Ministro oficinas de fabricação de berimbau, pandeiro, reco-reco, atabaque, agogô, caxixi, e repassamos como a matéria prima é adquirida e como preserva-la; Realizamos palestras com mestres e pesquisadores convidados e aulas teóricas sobre a história da Capoeira, com temas diversificados, principalmente sobre os personagens que fizeram parte dos primeiros registros da Capoeira em São Luis e no Maranhão. Ministrei aulas em Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Trabalhos sociais no Movimento de Menino e Menina de Rua, Casa João Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. Diploma de honra ao mérito recebido pela Câmara Municipal de São Luis pelos trabalhos sócio-educativos desenvolvidos em prol da comunidade Ludovicense atraves da Capoeira. CAPOEIRA É :A ARTE DE SABER VIVER AO REDOR DO MUNDO. EM OUTRAS PALAVRAS, CAPOEIRA É MINHA VIDA.

Na minha biografia eu acho que esqueci de colocar uns dos professores na epoca que eu treinava com mestre Madeira, o nome do mestre Fabio Araara, por favor coloque o nome dele na minha biografia, por gentileza, obrigado. O mestre era Madeira e na ausencia dele quem dava aula para nós eram o professores Gavião e Fabio Arara, hoje mestres de capoeira. O mestre Madeira chamava nós de o quarteto na época: Mestre Madeira Mestre Gaivão Mestre Fabio Arara Mestre Luis Senzala


Mestre MILITAR (1982)

CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA 1971 MESTRE ESTILO

MILITAR Regional CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA Cândido Mendes – MA, 19 de maio de 1971 Filiação: Sebastião de Jesus Costa e Marilourdes Almeida Nogueira Costa Escolaridade: 2º Grau 1994 9 de janeiro - Contra-Mestre pela Associação de Apoio à Capoeira. Associação - Antonio Alberto Carvalho (Mestre Paturi)

DADOS PESSOAIS

2001 - Formado e Reconhecido a Mestre - Sr. Reinaldo Santana (O Mestre Bigodinho) 2003- Reconhecido a Mestre pela Federação de Capoeira do Rio de Janeiro (FCERJ) e pela Federação Nacional de Capoeira do Brasil (FNC do BR). Profissional de Educação Física reconhecido pelo Conselho Regional de Educação Física Sistema CONFEF/CREF-05 RG:000479 - P/MA mestremilitar@hotmail.com / mestremilitarmaranhao@yahoo.com.br / https://www.facebook.com/mestremilitar BIGODILHO

MESTRE

GRUPO/NÚCLEO GRUPO K DE CAPOEIRA


HISTORICO DO MESTRE MILITAR – SÃO LUIS – MARANHÃO – BRASIL. Carlos Adalberto Almeida Costa (MESTRE MILITAR) nascido em 19 de maio de 1971 em Cândido Mendes – MA, iniciou na Capoeira em 1982 com 11 anos de idade com o Mestre Neguinho no Grupo de Capoeira Angolano, na Escola de Dança Pró-Dança, que era localizada na Rua 13 de Maio no Centro. Onde treinei como bolsista por quatro anos, por intermédio de Marco Antônio Vieira da Silva (Dirigente da Rádio e TV Cidade). Eu não tinha como pagar, meus pais não gostarem da capoeira. E como minha mãe trabalhou para ele, e sempre falava que o pessoal que faziam sua segurança todos eram Capoeiristas como: Mestre Rui Pinto, Batman, mestre Alberto (Euzamor) e outros. Resolvi pedir seu apoio. Minhas aulas eram à noite, sempre que saia da escola já ia direto para academia, sem o consentimento dos meus pais. Até rodas para eu participar, muitas vezes tinha que fugir de casa para participar. Nestas pequenas fugas de casa conheci vários capoeiristas e passei a ter contato com o Mestre Coquinho que hoje faz parte do quadro de Mestres da Associação Grupo “K” de capoeira. Na época o Mestre Coquinho lecionava na extinta FEBEM, localizada na Fonte do Bispo, na Madre Deus no Centro. O Mestre Neguinho nunca tomou conhecimento, que paralelamente, eu treinava Capoeira de Rua. Deixei de treinar com o mestre Neguinho porque o mesmo não quis mais saber de Capoeira e deixou de dar aulas. Em 1987 – Tive a Participação no XV Jem’s , no governo de Cafeteira, através do Profº Robson, Professor de Ed. Física e Capoeirista da Escola São Lazaro, na qual eu era estudante. Nesse meio Tempo, tive contato também com o Mestre Madeira (Siri de Mangue) onde treinei por um tempo. Resolvi sair e procurar o Professor Robson que já não tinha interesse pela capoeira, mas através dele, passei a ter contato com alguns Capoeiristas que já tinham nome no cenário da Capoeira do Maranhão; Como: Candinho e Batman – os mesmos eram vizinhos do Profº Robson e da Escola que eu estudava. Ambos sempre me levavam para as rodas de Capoeira, que era realizada por eles aos Domingos pela Manhã. Na Coroa da Praça Gonçalves Dias, em frente à Igreja dos Remédios. Roda que só entrava para jogar, quem tinha muito axé ou era apadrinhado. RsRs Rs. Também através do Candinho que passei a participar das Rodas na Praça Deodoro. Logo após fui fazer parte do Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares, do Centro de Cultura Negra, que era composto por Evandro (hoje Mestre do Grupo Mara Brasil), Militar, Nijon, Manoel, Mizinho (hoje Mestre Mizinho do grupo Maranhão Arte), Tutuca (hoje Mestre Tutuca do Gira Mundo) Careca, Wilson, Assis e outros. Através deste Grupo, eu participei da: 1ª Mostra de Capoeira do Maranhão. Organizada pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão - CCN. Após 1 Ano e Meio, resolvi sair.

Em março de 1988, participei do 1º Campeonato Inter - Bairro realizado pela Associação de Capoeira Aruandê de Mestre Pirrita e Aruanda do Mestre Jorge Navalha.


A 1ª Gincana Mirante – na Praia da Ponta D`Areia, como a Participação de Vários Grupos da Capital. No mesmo ano, fui treinar com o Mestre Roberto, Conhecido como Mestre Jacaré que lecionava em uma academia de karatê que era localizada na Rua 18 de novembro, no bairro da Camboa até o ano de 1990.

Em 1991, dei formação ao grupo Nagoas que era sediado provisoriamente na Associação de Moradores na rua da Brasília - Bairro da Liberdade, este grupo tinha em sua formação muitos bons capoeiristas, oriundo de outros grupos como: Careca, Juricabra, Abacate, Cudinho, Mata rato, Daniel, Wilson, Junior de Assis, Cabecinha (hoje Contra-Mestre do Grupo Liberdade Negra), e o Cacá (hoje Contra-Mestre do Grupo Ludovicense) entre outros. Apesar de bons capoeiristas fazerem parte do grupo na época, nós constantemente estávamos envolvidos em confusões no Centro da Cidade. Criávamos badernas em festas e praças só para ter o prazer de testar a potência de nossos golpes. Não sabia que essa atitude que era comum em muitos dos Capoeira da Minha época, iria render a muitos do grupo, inclusive a mim, a fama de desordeiro. (Marginal) Só depois de muitas Inimizades, que me conscientizei. E passei olhar a Capoeira de forma diferente. Vi também que a educação que meus Pais e Mestres me passaram, estava sendo manchada por atos involuntários, apenas pela empolgação da arte e copiando o que costumava ver outros capoeiristas fazendo. muitas foram as vezes que acabávamos com as rodas de outros grupos. Esse tipo de ato já não me trazia Satisfação. Analisei e vi que para eu ser um boa capoeira não precisaria de má fama e sim ser um bom educador. Em 1993 deixei de compor o grupo Nagôas e no mesmo ano dei formação ao Grupo “K” de Capoeira com o objetivo de Resgate e Profissionalização da Capoeira em nosso estado. Ainda no Ano de 1993, embora eu nunca tenha sido aluno do Mestre Antônio Alberto Carvalho (Mestre Paturi), mas sempre que ele precisava eu me coloquei a disposição para ajudá-lo na realização de Apresentações de seu Grupo, e pelo Respeito, o procurei para me formar. Eu já tinha trabalhos Reconhecidos e queria me profissionalizar ainda mais. No dia 09 de janeiro de 1994 me formei a ContraMestre pela Associação de Apoio à Capoeira. Associação dirigida por Antonio Alberto Carvalho (Mestre Paturi) .


Criei e Realizei vários Projetos em São Luís do Maranhão: Projeto Curumim: Nos Bairros: Maiobão, Coroadinho, Parque dos Nobres, Ilhinha, Diamante, Liberdade e Camboa. Com objetivo de educar e socializar Crianças e Jovens em situação de risco. Projeto Capoeira na Praça: deu – se no intenção de resgate das rodas que ocorriam na Praça Deodoro e nos Carnavais de Rua na Madre deus. Esse projeto foi realizado de 1995 a 2013. Capoeira na Escola – que foi Executado em Várias Escolas Estaduais com o Apoio do Governo Estadual e o Projeto Alvorada do Governo Federal. Projeto Capoeira para Turista Ver: este era realizado com a finalidade de ultrapassar Barreiras Internacionais fazendo apresentações em Hotéis, em período de visitação Turísticas com objetivo da valorização da Arte Capoeira praticada no Maranhão. Com o objetivo de conhecer outros capoeiras e expandir meu trabalho em outras cidades do Estado e outros Estados, passei a fazer viagens. Nessas Viagens resolvi conhecer Salvador – BA. No ano 2000 sai Rumo a Salvador onde conheci bons Capoeiristas e Mestres como: Neco, Boa Gente, Boca Rica, Lua hasta, Cebolinha, Nenel (filho de Bimba), Cafuné e muitos outros alunos de Bimba que compõem a Fundação Mestre Bimba.

Também tive a oportunidade de conhecer o Sr. Reinaldo Santana (O Mestre Bigodinho). O único Aluno do Mestre Waldemar da Paixão vivo na Época.


Pelo qual em 2001 fui formado e Reconhecido a Mestre Sr. Reinaldo Santana (O Mestre Bigodinho) Sei que a Capoeira que tenho é uma Mescla de cada Mestre por quem passei, vi e tive a oportunidade de jogar. A cada um devo o que aprendi. Ao meu Mestre devo Dinheiro, Saúde e Obrigação!! Foi ele que me ensinou a caminha, a ser Racional e Construir o melhor pela minha Arte. Hoje em todos os lugares que passo, divulgo não só o meu trabalho mais também o nome de meu Mestre. Reinaldo Santana (Mestre Bigodinho). Através de Trabalhos realizados junto a Secretaria de Educação e outros Órgãos como a Promotoria de Infância e Juventude. Fiz o Diferencia em levar a Capoeira para os Desfiles Junto a Forças Armadas. Não pelo prazer de ser o único Mestre de Capoeira a repetir a mesma façanha de Mestre Bimba. Mas para contar mais um Ganho da nossa Capoeira.

Desfile : 07 de Setembro de 2006, junto as Forças Armadas e apresentação para o governador José Reinaldo e Milhares de Pessoas.

Esse feito já tinha sido realizado em outros anos por escolas que trabalhei e realizando projetos Sociais como: O Projeto Capoeira Na Escola e O Projeto Curumim.

Sou Reconhecido a Mestre desde 2003, também pela Federação de Capoeira do Rio de Janeiro (FCERJ); E a pela Federação Nacional de Capoeira do Brasil (FNC do BR).

. Sou Profissional de Educação Física reconhecido pelo Conselho Federal e Estadual de E.D. Fisica CONFEF e CREF-05 RG:000479 - P/MA PROJETOS QUE PARTICIPEI: PROJETO ORFÃO DE MIM - COM A 1ª PROMOTORIA DE INFANCIA.


PROJETO CAPOEIRA EM SENA - COM O SESC - MARANHÃO. PROJETO ESCOLA DE VIDA - COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO. PROJETO 2º TEMPO - SECRETARIA DOS ESPORTES DO ESTADO DO MARANHÃO E O MINISTERIO DOS ESPORTES. PROJETO ESCOLA ABERTA - SECRETARIA DE ED. DO ESTADO E DO MUNICIPIO. PROJETO MAIS EDUCAÇÃO - SECRETARIA DE ED. DO MUNICIPIO. LECIONEI NAS ESCOLAS: NO LICEU MARANHESE, CEGEL, FILIPE CONDURU, JOSUÉ MONTELO, RUBEM ALMEIDA, SOUSANDRADE, BACELAR PORTELA, DARCY RIBEIRO, CIDADE DE SÃO LUIS CONTATO : WhatsApp 098 - 98862 - 2162 OU PELO E-MAIL: mestremilitar@hotmail.com / mestremilitarmaranhao@yahoo.com.br / https://www.facebook.com/mestremilitar

O que é a capoeira: A CAPOEIRA É UMA EXPRESSÃO CULTURAL BRASILEIRA, QUE TRABALHADA MESMO O SEU POTENCIAL DE LUTA MARCIAL E ESPORTE. LIGANDO ELA A EDUCAÇÃO E AO SOCIAL, ELA PODE MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DE QUALQUER INDIVIDUO.


MESTRE MILITAR CAPOEIRA REGIONAL ;

CORREÇAO :

A 1ª Gincana Mirante – na Praia da Ponta D`Areia, como a Participação de Vários Grupos da Capital. No mesmo ano, fui treinar com o Mestre Roberto ( Grupo Cordel Branco ), Conhecido como Mestre Jacaré que lecionava em uma academia de karatê que era localizada na Rua 18 de novembro, no bairro da Camboa até o ano de 1990. Com o Mestre Jacaré, no Evento realizado no CSU do Bairro da Cohab, Recebi a 3ª Corda Amarela.( o meu Padrinho- Mestre Patinho ). Em 1991, dei formação ao Grupo Nagoas que era sediado provisoriamente na Associação de Moradores na rua da Brasília - Bairro da Liberdade, este grupo tinha em sua formação muitos bons capoeiristas, oriundo de outros grupos como: Careca, Juricabra, Abacate, Cudinho, Mata rato, Daniel, Wilson, Junior de Assis, Cabecinha (hoje Contra-Mestre do Grupo Liberdade Negra), e o Cacá (hoje Contra-Mestre do Grupo Ludovicense) entre outros. através do Grupo Nagoas, realizávamos tradicionalmente Rodas todas as Sextas Feiras na Praça do Bairro Camboa. também Revitalizamos uma Roda tradicional do Bairro do Monte Castelo ( Largo da Conceição ) roda que ocorria durante todos os dias nos Festejos de Nossa Senhora da Conceição. no Mês de Dezembro. lá participaram várias Gerações de Capoeiras, dentre eles : Miguel, Evandro, Bulão, Dunga, Ruso, Beleleco, Chicão, Curador e outros. Apesar de bons capoeiristas fazerem parte do grupo na época, nós constantemente estávamos envolvidos em confusões no Centro da Cidade. Criávamos badernas em festas e praças só para ter o prazer de testar a potência de nossos golpes. Não sabia que essa atitude que era comum em muitos dos Capoeira da Minha época, iria render a muitos do grupo, inclusive a mim, a fama de desordeiro. (Marginal)


ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ MESTRE BAÉ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 1757 encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 137. Carta de Mendonça Furtado a seu irmão, o Marques de Pombal – datada de 13 de junho de 1757138. Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. Nesse período, o Piauí fazia parte do Estado Colonia do Maranhão e Grão-Pará.

1836 nascimento de José Basson de Miranda Osório, em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. Perito na arte da capoeira139. 1874 Jornal ‘O Papiro”, periódico literário, de Teresina-PI, edição de 9 de julho, em “Reminiscências Infantis” escrevia Lívio Druso140:

1878/1884 no jornal “A Época”, órgão conservador, se encontram referencias sobre ‘capoeira’, nem sempre relacionadas com capoeiristas e capoeiragem, tratando de fatos e intrigas da política local, dos interiores do Piauí, sempre que se queria denegrir alguém, se lhe referia como “capoeira”. 141 1880 Jornal A Época, 7 de maio de 1880, referia sobre alguns queixosos sobre a atuação do Juiz e das tropas regulares em Jaicó, identifica o Juiz como um cínico, afirmando ‘Que capoeira? Como sabe ser estupidamente cínico.’ 142 1883 Jornal A Época, edição de 22 de setembro de 1883; o articulista identifica o Dr. Basson como ‘capoeira’, [José Basson de Miranda Osório foi Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor

137

ARAÚJO, 1997, obra citada VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRÔNICA DA CAPOEIRAGEM. São Luís, 2014 139 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRÔNICA DA CAPOEIRAGEM. São Luís, 2014 140 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ. Correspondência eletrônica pessoal a Mestre Baé, 21/10/2014 141 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ. Correspondência eletrônica pessoal a Mestre Baé, 21/10/2014 142 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ. Correspondência eletrônica pessoal a Mestre Baé, 21/10/2014 138


da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982)]

para identificar os praticantes da arte da capoeiragem: caceteiro.

144

143

e utiliza outro termo

1907/1912 Jornal “O Apóstolo” a partir de outubro se refere à capoeira, mas como mato, necessitando de a cidade ser remodelada, eliminando-se “essas capoeiras”, em críticas à proposta do novo Governador de ajardinar a cidade. Outros, a terrenos pertencentes a alguém, e que estaria sendo invadido. Mas há referencia também à prática da “capoeira” enquanto arte-luta:

1954 nascimento de José Carlos de Lima (Mestre Zé Carlos), nascido no dia 06/11/1954 em Teresina, conhecido inicialmente como Mestre Bimba, tendo que mudar de apelido devido a coincidência com um dos mais famosos mestres da história da capoeira no Brasil, é funcionário público e iniciou na capoeira no ano de 1976, em Feira de Santana, retornando ao Piauí em 1977, onde se manteve até hoje ensinando e divulgando a capoeira. Reside à rua Ivan Messias Melo, nº 554, bairro Cristo Rei. Se destacou pela forma plástica e de bastante leveza com que jogava capoeira, acompanhado de mais dois irmãos, em especial com apresentações no carnaval de escolas de samba do Piauí, nas décadas de 1970 e 1980, bem como em escolas públicas, além de ser pioneiro na difusão da capoeira na imprensa televisiva, exibindo-se em programas de auditórios e reportagens ao vivo. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1957 nascimento de Inocêncio de Carvalho Neto (Mestre Caramurú), natural da localidade de Betúlia, no município de Simplício Mendes, Piauí. Nasceu em 18/08, residente em um Chalé, na Rua Beira Mara, 1666, Bairro Beira Mar, Luiz Correia-PI. Exerce a função de Marceneiro, sendo Microempresário de uma pequena fábrica de marcenaria. É Mestre de Capoeira da Associação Cultural Lua Nova de Capoeira, ministrando aulas numa academia própria que montou num galpão que adquiriu, ao qual pretende construir, nos fundos, sua própria residência. É poeta e escritor, tendo seu nome e uma pequena biografia registrada no Dicionário de Poetas Piauienses Contemporâneos. Possuí vasta experiência na Capoeira com viagens a vários estados do Brasil, em espacial Goiás, Brasília, Pernambuco e Rio de Janeiro. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1962 nascimento de José Gualberto da Silva Neto (Mestre Tucano), nascido em Teresina-PI em 07/08/1962, tem 32 deles dedicados à prática efetiva da capoeira, iniciada no ano de 1978 em Teresina, pelos ensinamentos do professor carioca Paulo Capoeira, um dos pioneiros do ensino da capoeira por aqui, com aulas às segundas, quartas e sextas-feiras no Clube do SESC, na Ilhotas. Possui vasta experiência conquistada pela inserção e participação em eventos de capoeira pelo Brasil e viagens internacionais, organizando eventos de capoeira e participando de encontros promovidos por 143

PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 144 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM NO PIAUÍ. Correspondência eletrônica pessoal a Mestre Baé, 21/10/2014


outros mestres de capoeira. É professor de Educação Física, pela UFPI, com Especialização em Esportes e Saúde, também pela UFPI, exercendo sua função de professor efetivo da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), na APAE, Escola Consuelo Pinheiro, localizada no Bairro Cabral, zona norte da cidade, desenvolvendo atividades de esportes, artístico-culturais e de capoeira com crianças e jovens surdas e portadoras de dificuldades mentais leves, a mais de 20 anos. Reside à Rua Dr. Arêa Leão, 1082, Bairro Mafuá, em Teresina e desenvolve trabalho de capoeira na Casa da Cultura (Prefeitura Municipal), no centro da cidade, às terças e quintas feiras, e no Colégio Alceu Brandão (SEDUC), zona sul, aos sábados e domingos. É Mestre de capoeira pela Associação Cultural Raízes do Brasil e ajudou a fundar a primeira associação legalmente constituída do Piauí, a Associação Esportiva, Cultural e Filantrópica Quilombo Capoeira, no dia 12 de outubro de 1984. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1963 nascimento de Mestre Chocolate, nascido em Teresina-PI, no dia 26/09/1963, tem 48 anos, reside em Caracas na Venezuela onde desenvolve trabalhos com capoeira e cultura brasileira em várias instituições culturais, sociais e educacionais naquele país. Iniciou na capoeira no ano de 1978, com o Mestre Tucano, seu irmão. Foi um dos precursores, ao lado do Mestre Tucano, da capoeira nas escolas de Teresina-PI. Logo cedo partiu para São Paulo e depois ao Rio de Janeiro, treinando e ensinado capoeira ao lado de renomados mestres dessa arte, retornando a Teresina, onde passou breve temporada, seguindo para Caracas, capital da Venezuela, desenvolvendo sua capoeira e criando a Associação Humaitá - celeiro de bambas. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1966 o mestre baiano Washington Bruno da Silva (Canjiquinha) faz suas exibições fora do Estado da Bahia, destacando exibição em Teresina-PI [Rego, 1968, p. 277 - Capoeiras Famosos e seu Comportamento na Comunidade Social”]

1969 Mestre Caramurú (reconhecido no universo da capoeira como o pioneiro dessa cultura no Piauí) chegou a Teresina no ano de 1969, iniciando na prática da capoeira no ano de 1970, pelos ensinamentos de um primo oriundo de Salvador-BA, chamado Washington, que veio morar na Via Militar, no bairro Marquês, zona norte da cidade, mais precisamente no Clube do Marquês, clube dos oficiais do Exército do Piauí. Mestre Caramurú fala de seu início na capoeira: Quando esse primo nosso chegou, ele chegou pela manhã e já fez aquela cara de descolado, morava na capital Salvador, outra vivência, outra coisa, então ele chegou em casa e já foi logo andando na rua, queria saber onde eu estava, qual o colégio e tudo mais, e ele já foi logo me pegar no colégio. Na estrada ele já vinha dizendo que fazia capoeira em Salvador, e foi uma coisa que me fascinou, a tarde a gente brincando em um campo no Marquês, que na época era um campo enorme, de chão batido, não tinha praça, os circos vinham e ficavam lá acampados. A gente ficava lá brincando de bola, e lá rolou o primeiro “au” que eu vi, um “au”, uma “benção”, uma “armada”, um salto, um “s” dobrado, porque pra gente, naquele tempo , um “s” dobrado era bonito demais (risos), então aí começou esse movimento, eu e o Washington, o nome dele era Washington Vieira de Carvalho, só que ele me ensinou de uma maneira meio drástica, ele me dava muita pancada, me botava no chão, doía, ralava joelho, ralava cotovelo quando eu caia, não tinha a manha de cair em queda de rins nem “negativa”, nem “cocorinha”, aí eu fui aprendendo. Depois de uns dias, a gente brincando, e eu disse “olha, hoje você não me derruba mais”, um dia de tarde, depois de uma pelada, tinha suado, fomos jogar, aí eu passei a me embaraçar com ele, de igual pra igual, aí eu dei umas duas rasteiras seguras nele, ele levantava a perna, e eu ia por baixo, só que eu entrava no corpo, eu era mais forte do que ele, ele era maior mais era magro, eu entrava com meu corpo por baixo do dele, empurrava com as mãos e puxava como se fosse uma baianada, uma alavanca lateral, e por duas vezes eu consegui derrubar ele, e aí ele disse “ você já aprendeu”. Me lembro disso como se fosse hoje. Aí começou minha grande audácia de querer fazer aquilo ali sempre com as pessoas.[...] isso foi no ano de 70, de junho até julho, ele (seu primo) esteve com a gente até agosto, que eu me lembro que logo depois do meu aniversário ele foi embora. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

do

do

berimbau

aos

espaços

escolares.

1971 Segundo Mestre Caramurú a capoeira em Teresina teve início no ano de 1971, enquanto prática realmente instituída, em local próprio e com o uso de vestimentas características. Durante o ano de 70 não, de jeito nenhum, procurei em muitos lugares, eu andava na Vermelha, tinha uma tia que morava na Vermelha, não tinha, passei a frequentar o Círculo Militar quando o presidente era o Carlito, não tinha ninguém com capoeira por lá em 1970, só fui achar uma pessoa pra jogar capoeira em 1971, isso mais ou menos no carnaval, que era uma pessoa que veio de Fortaleza chamado Cláudio, que disse que iria


retornar e montar um grupo de Capoeira. [...] não me lembro se ele era daqui, ele só veio pra cá, passou alguns meses, inclusive deu aula, na segunda vez que ele veio ele deu aula no SESC, mas isso bem depois, 74, 75 por aí. Ele não veio logo em seguida nesse tempo que a gente se encontrou no Círculo Militar. (Mestre Caramurú)

- As primeiras manifestações ficaram a cargo de um pequeno grupo de amigos que se reuniam para a prática da capoeira, conhecido como “thurma”, que pregavam a liberdade de expressão e eram representados enquanto intelectuais, se constituindo numa espécie de grupo fechado, mais atrelado à forma livre de se manifestarem e conduzirem suas experiências: Meu nome é Inocêncio de Carvalho Neto, nascido no povoado de Betúria, da fazenda Malhadinha, uma das fazendas mais antigas do Piauí, tá no mapa de 1970 pra trás, tem um pontinho lá com o nome de “Fazenda Malhadinha”, onde tinham nove escravos nessa fazenda. Na época, eu me lembro vagamente que eu passei só três anos com meus pais legítimos, a gente ia lá comer manga, essa manga rosa, e andar naquele grande porão de pedra que tem lá até hoje, e a coisa que eu achava muito bonita era um paredão de pedra, a cerca lá era de pedra, feita pelos escravos. Então logo depois tive que fazer uma cirurgia, minha mãe me deu pra minha tia, que morava em Floriano, pra fazer essa cirurgia, e a minha tia gostou muito de mim e não me devolveu mais pra minha mãe (risos), fui criado em Floriano. Então minha infância foi em Floriano, e em 69 meu pai deixou a firma onde trabalhava em Floriano e a gente veio morar em Teresina, em dezembro de 1969. Nossa mobília veio toda em um barco e desceu ali onde hoje em dia é o Troca-Troca em Teresina, aí começamos a morar em Teresina, lá na Rua Tiradentes, próximo ali a Coelho de Rezende, quase esquina com essa rua, e fui estudar no Colégio João Costa, se não me engano é ali atrás do Lindolfo Monteiro, e logo anos depois foi montado o polivalente. Lá no João Costa é que onde começou praticamente os movimentos de capoeira, veja o porquê: lá tinha a quadra da LBA, uns dois pés de manga, muito grande, então aquelas pessoas iam fazer aquela assistência social, aquela coisa toda, e ficavam muitas pessoas lá, então certo dia recebemos uma carta que dizia que um primo meu de Salvador iria passar uns três meses com a gente. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1974 Mestre Caramurú inicia um pequeno grupo de capoeira, denominado de Nova lua de Capoeira, sendo o primeiro grupo que se tem notícia no Piauí, por volta de 1974, época que coincide com a chegada de alguns capoeiristas de outros centros que se estabelecem em Teresina: O “Lua Nova”, [...] foi fundada aí, a raiz dela foi aí, porque primeiro foi “Lua Nova de Capoeira”, depois, com o tempo, é que pessoas me diziam pra fundar uma associação com pessoas que tivessem certa importância na área do esporte ou na área social, daí coloquei como associação, mas não registrada em cartório, não é a associação mais antiga de Teresina, é o grupo de capoeira mais antigo de Teresina. Só veio a haver outro grupo fundado por mim, Carlão, Sevilha, Henry, Paulinho de Tarso, que não é o Paulinho Velho, é o Paulo de Tarso do Rio de Janeiro, o “Paulo Capoeira”, Luís Bahia, que era o Hippie, o Serginho e o Ricardinho, que são dois irmãos do Rio de Janeiro, amigos dele que logo depois vieram pra cá, eram artesãos na época, inclusive me tornei artesão por causa desses dois irmãos. [...] Então, daí em meados de 74 e 75 é que se tem uma amizade com o Paulo Capoeira, que é igual ao Washington, [...] o Washington veio da Bahia e o Paulo Capoeira veio do Rio de Janeiro. Era soldado do exercito, o irmão também era cabo, [...] Resultado: eles vieram embora pra cá devido a recessões lá, aquela coisa toda, ficou muito crítica a situação deles, então o Paulinho veio pra cá, pra casa da avó deles, que ficava no Mafuá, próximo de mim e próximo de Carlão, aonde eu convivia diariamente, que era a casa do coronel, pai do Carlão, e a gente criou aquela amizade, aquela coisa toda. O Paulinho era um eximo capoeirista, malandro do morro, tinha um grupo de capoeira lá no morro, malandro daqueles de gingar, e fazer gesto de macaquice e tal, fazia do corpo o que ele queria, praticamente ele era um “negro de mola”, ta entendendo? Aí a gente começou a treinar, e ele viu que eu tinha potencial, já foi investindo em mim, “olha, você tem que fazer isso aqui comigo direto, não pode sair daqui, tem que ter responsabilidade”, e eu não queria ter muita responsabilidade não. [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1975 nas memórias dos mestres, a capoeira começou a se aproximar da escola ainda no ano e 1975, porém somente por meio de apresentações pontuais em escolas públicas, sem nenhum vínculo institucional: Em 1975 a gente fez várias apresentações, vou te citar alguns colégios onde a gente se apresentou: em um colégio na Vermelha, no CSU do Parque Piauí, no colégio da Ampliação no Parque Piauí, no Demóstenes Avelino, próximo à linha do trem, no rumo de quem vai descendo na Pires de Castro, fizemos apresentação várias vezes no Helvídio Nunes, porque a diretora era muito amiga da minha mãe, e ela sempre pedia pra gente fazer apresentação lá, de 75 em diante, em 78 foi quando eu zarpei de Teresina, eu viajei mesmo pra não voltar seguidamente. Fizemos também em um colégio, não me recordo o nome, onde a turma falava “pagou


passou”, próximo à São Benedito, tinha o Colégio São Francisco, no centro, depois da Igreja São Benedito, apresentamos muito ali também,fica próximo ao Karnak, por ali. (Mestre Caramurú)

1976 Mestre Marcondes e seus familiares, e o professor Paulo Capoeira formam uma grande turma de jovens capoeiristas divulgando assim a arte da capoeira no estado do Piauí. http://culturaeformacao.blogspot.com.br/2011/03/capoeira-no-piaui.html

- Mestre Zé Carlos - nascido em Teresina a 06/11/1954 - conhecido inicialmente como Mestre Bimba, iniciou-se na capoeira, em Feira de Santana, retornando ao Piauí em 1977, onde se manteve até hoje ensinando e divulgando a capoeira: Eu comecei a capoeira no Piauí em 1977, quando fui convidado para uma ala no carnaval por Mario de Araujo Lima, ex-carnavalesco, engenheiro da prefeitura, falecido, que Deus o tenha em um bom lugar, e com isso começou o movimento da capoeira no Piauí. Foi se não me engano onde hoje é o atual Bradesco, e eu cheguei e já existiam pequenos focos de capoeiristas, aqueles que passam um mês e viajam para o Sul, para São Paulo, e chegam aqui e dizem que são professores de capoeira (risos), e também semi-analfabetos na área. - [...] O inicio foi o seguinte: como eu jogava bola todo dia à tarde lá no campo do Clube do Marquês, a gente queria ficar dentro do clube, mas os oficiais não deixavam ter essa coisa assim de menino, bagunça de menino. Lá tinha um racha que era dos oficiais, todo dia de tarde tinha essa pelada deles, e a gente esperava eles terminarem essa pelada deles lá pelas 18 horas, já tudo escuro, porque não tinha refletor lá, só tinha uns pés de manga muito grande, a quadra e o clube do lado, e um portão bem grande de garagem direto pro rumo da quadra. Então a gente esperava terminar isso aí e ia jogar rapidinho, eu e mais quatro colegas vizinhos que eu já estava ensinando. Dentro desse primeiro prefácio de treinamento de capoeira, consegui mais cinco pessoas ao redor do clube, a molecada de lá mesmo que jogava bola por lá, a gente já era amigo, e de tanto eles verem a gente treinar eles se interessaram. Ficou mais ou menos oito pessoas praticando capoeira. (Mestre Caramurú) (Grifos meu) [SILVA, Robson Carlos da. As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

1977 após haver retornado do Rio de Janeiro, o capoeirista conhecido como Paulo Capoeira, se estabelece por mais tempo na cidade, propondo uma melhor organização da capoeira, com a abertura de turmas, instituindo horários de treinos, seguindo uma determinada metodologia de ensino e ampliando a difusão dessa arte como uma atividade educativa, capaz de agregar pessoas de idade, sexo, formação, etnia e classe sociais as mais diversas, conseguindo, por meio do contato de parentes seus, acesso ao Serviço Social do Comércio (SESC), que seguindo a política de unidades instaladas em outros centros, estabelece a capoeira como uma das atividades ofertadas à comunidade. Se iniciava, assim, uma nova época da capoeira no Piauí, notadamente marcando o aparecimento de outros capoeiristas que se firmariam como os mestres e guardiões da capoeira piauiense: 1978 em Teresina, o professor carioca Paulo Capoeira, dava aulas às segundas, quartas e sextas-feiras no Clube do SESC, na Ilhotas. [SILVA, Robson Carlos da] - Mestre Tucano - nascido em Teresina-PI em 07/08/1962 – iniciou na capoeira com o professor carioca Paulo Capoeira, um dos pioneiros do ensino da capoeira em Teresina. Bom, eu iniciei na capoeira mais ou menos na metade de setembro de 1978, acho que pelo dia 15 ou 16 de setembro desse ano, aqui em Teresina, no Ginásio do SESC, hoje chamado de SESC Ilhotas, que é o Ginásio de Esportes do SESC Ilhotas, na época com o professor Paulo Capoeira, em 1978. Então, naquela época, a capoeira em Teresina não era muito difundida, mas chamava a atenção das pessoas, as pessoas achavam a capoeira bonita, ela sempre chamou atenção como beleza plástica, pela sua agilidade, pela sua música, pela sua expressão corporal, porém ela não tinha uma aceitação muito grande pela sociedade, os movimentos da capoeira eram bonitos, muito bem praticados, mas a questão é que as pessoas achavam que o capoeirista não era um sujeito bem quisto, então em 1978, não só aqui como no Brasil de um modo geral, a capoeira não era muito bem aceita como ela é hoje, e aqui em Teresina especialmente, porque aqui tem mais de um tipo de preconceito, além de achar que a capoeira era coisa de quem não tinha o que fazer, era coisa de drogado, era coisa de gente pobre, era coisa de vagabundo, tinha mais um preconceito que pesava muito: se você não era baiano, não era bom de capoeira. Então diziam assim: “ah, é piauiense, se não é baiano então não presta na capoeira”. A visão que se tinha na época da sociedade piauiense era a seguinte, o karate tava em alta, nessa época eram muito difundidos os filmes de Bruce Lee, e tinha toda aquela coisa do kung-fú chegando, o judô ainda não tinha ainda uma difusão grande, a musculação começava a chegar aqui, a natação estava no auge... e tudo isso era o que dava status aqui em Teresina, as pessoas não aceitavam nem o maratonista, quem corria na rua era vaiado. Então era uma sociedade muito provinciana ainda, e com isso a capoeira não era muito bem aceita, então nós iniciamos em um período um pouco difícil [...]. (Mestre Tucano) [SILVA, Robson Carlos da.


As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651]

- Mestre Chocolate - nascido em Teresina-PI, no dia 26/09/1963 - iniciou na capoeira no ano de 1978, com o Mestre Tucano, seu irmão: [...] depois que ele entrou e começou a praticar capoeira no SESC com Paulo Capoeira, e depois começamos a treinar e a fazer aula de capoeira com ele e com o Gladstone, que era um capoeirista que existia no centro da cidade, e nos reuníamos lá no Pirajá, onde hoje é a UESPI. Todos os dias nos dirigíamos para aquele lugar, por volta de 4 ou 5 horas da manhã, para treinarmos capoeira. (Mestre Chocolate) [SILVA, Robson Carlos da]

- Nessa época (1978), chegou o Paulista (Mestre Albino), quando a gente tava fazendo roda no SESC, todo domingo tinha roda, a gente dava aula na terça e no sábado, eram dois dias na semana, e no domingo fazíamos a roda. E num desses domingos apareceu um paulista lá, calça de malha e tudo. [...] E, nesse tempo, quando aparece o Paulista, alguns meses depois chegam três irmãos, também lá no SESC, nessas rodas que eu, o Paulinho e o Deuto estavam fazendo, aí esses três irmãos eram José Francisco, José de Ribamar e o José Carlos (Mestre Zé Carlos), se não me engano, o outro moreno, bem menor. [...] Zé Carlos veio com esse apelido de Bimba. O Paulinho deu um descaramento nele, não gostou do apelido dele, porque não era pra ninguém ter o apelido de “Bimba”, isso na filosofia da gente. [...] eles vieram pra estar com a gente no SESC, o primeiro contato de Bimba, José Carlos e José Francisco foi no SESC [...] assim como o de Albino também foi lá. Só que o Albino ele já tinha estado comigo no Marquês, porque a mãe dele morava ali próxima a Primavera, tava começando esse bairro, pouquíssimas casas por lá [...]. (Mestre Caramurú) - Outro nome que merece destaque neste período, podendo ser apontado sua inserção na história da capoeira do Piauí é um professor da Escola Federal do Piauí, identificado como Mestre Marcondes, porém sem conseguir notoriedade, nem tampouco um reconhecimento unânime entre os praticantes dessa arte. Sua presença é apontada quase sempre enquanto referência por sua oportunidade de conhecer e praticar capoeira em Brasília, notadamente com alguns mestres de renome, tais como Adilson e Tabosa, sem, no entanto, maior influência na capoeira praticada em Teresina: [...] foi mais ou menos em 74, 75, nesses meados aí, que a gente já tinha bastante informação, já jogava bastante, já fazia roda,lá no colégio João Costa, depois me mudei pro João Clímaco, e já tinha roda de capoeira porque era eu que fazia, e depois foi que fui conhecer o Marcondes através de um grande amigo meu que era goleiro, o Madeirinha, jogava ali naquela pracinha em frente a aquela penitenciária, que hoje não existe mais.[...] E ele veio pra morar, a família dele veio morar ali, acho que ainda hoje ta do mesmo jeito, com aquela calçada alta, então a gente se conheceu assim, porque eu jogava capoeira, e falaram “olha eu também jogo capoeira e tal” foi quando eu conheci Leal, quando eu conheci finado Zé Maria, quando conheci a turma ali do Pó de Arroz, o pessoal do Fluminense, aquela coisa toda, jogava no Bariri, foi nessa época que eu conheci ele. Mas ele chegava assim: “sou professor“. Era contramestre. (Mestre Caramurú)

1979 alguns dos capoeiristas que se iniciaram no SESC, começam a se organizar em torno de seus próprios alunos, fundando os primeiros grupos organizados do Piauí. Neste período, a capoeira passa a ser conhecida e difundida, seguindo por várias dimensões diferentes, muitos encontros e desencontros, surgindo outras pessoas que marcariam sua presença de forma significativa neste processo. - Os já conhecidos Zé Carlos e Albino seguem cada qual na formação de seu grupo, seguindo o mesmo caminho os irmãos Tucano e Chocolate, além de outros capoeiristas oriundos do SESC, tais como Valtinho e seu irmão John Grandão. São estes grupos que trarão uma nova roupagem à capoeira, fundando verdadeiras escolas de capoeira, formando discípulos e proporcionando a abertura de novas possibilidades para esta cultura em Teresina, inclusive ampliando seus espaços de atuação para fora do estado. - Mestre Zé Carlos que forma o grupo Irmão Unidos, desenvolvendo suas atividades no bairro Piçarra, na zona sul da cidade; - Mestre Albino funda o grupo Escravos Brancos, no Centro Social Urbano da primavera (CSU Primavera), zona norte da cidade; - Mestres Tucano e Chocolate fundam o grupo Palmares, no Centro de Treinamentos do Pirajá, no bairro Matinha, na zona norte de Teresina; e - John Grandão, juntamente com seu irmão Valtinho, iniciam o grupo Nova Lua, no bairro Cabral, também na zona norte de Teresina.


- A chegada da capoeira às escolas de Teresina se dá de forma efetiva, mais precisamente a partir da segunda

metade do ano, quando os capoeiristas, em busca de espaço para treinar, decidem utilizar os espaços vazios, aos finais de semanas, das escolas públicas de Teresina, grandes pátios e quadras de esportes que ficavam fechadas sem nenhuma utilização pela comunidade próxima ou distante do entorno destas escolas. Então ser aceito na escola era mais difícil ainda, mas como, em alguns casos já tínhamos estudado nas escolas e as diretoras nos conheciam elas autorizavam. O complicado era o vigia abrir os portões. Não foram raras as vezes que tivemos de pular os portões, pois o vigia fechava e ia embora. Nossa experiência mais importante foi no Colégio Benjamin Baptista, o Polivalente, pois conseguimos montar um grupo grande de praticantes e que foi base para os capoeiristas que continuaram a tradição da capoeira em Teresina; continuaram treinando, acompanharam a evolução da capoeira, alguns pararam, como Monteiro, Edson, este sobrinho do mestre Marcondes, um dos pioneiros da capoeira no Piauí; outros se formaram e hoje são mestres, como Bobby e Chocolate. Quando íamos solicitar autorização para treinar capoeira na escola, a diretora fazia sempre algumas exigências, tais como: somente utilizar o pátio e a quadra; evitar andar pelos corredores, salas e outras dependências; manter a escola limpa e segura, pois era proibida a entrada de quem não fosse treinar; permitir que os alunos da escola participassem do grupo. Aí, ainda era comum a gente fazer apresentações na escola, no recreio, quando tinha alguma festa, ou torneios de esportes, que naquele tempo envolviam toda a escola e outras escolas. Também, como já disse, nós mesmos estudávamos na escola e já tinha um vínculo com os professores, a diretora e os outros alunos; isso facilitava muito a aceitação da capoeira, pois a diretora sabia a quem estava entregando a escola. Assim, sempre tinha alunos da escola treinando. (Grifos meu). (Mestre Tucano)

1980 um grupo de jovens capoeiristas formaram o grupo Quilombo Capoeira, formado pelos irmãos Tucano, Bobby e Chocolate, além do professor John Grandão, que levaram a capoeira em todos os locais públicos, instituições privadas e os mais diversos locais onde a capoeira pudesse ser aplicada, desenvolvida e conhecida pelo público em geral. http://culturaeformacao.blogspot.com.br/2011/03/capoeirano-piaui.html

- destacam-se nomes como Mestre Albino, Mestre Traíra, professor Alberto, Mestre Deuton, dentre outros. http://culturaeformacao.blogspot.com.br/2011/03/capoeira-no-piaui.html

- Mestre Albino procurou e manteve contato com Tucano e Chocolate, indo ao Pirajá em busca de informações sobre a capoeira que lá se fazia. Aconteceu, assim, um dos contatos que contribuiu para o surgimento de uma nova época na capoeira do Piauí, que seria o encontro efetivo dos grupos, promovendo um significativo intercâmbio entre as escolas dessa cultura, além do fortalecimento dos grupos, não esquecendo do clima de rivalidade que a partir de então fica mais evidente, favorecido pelo próprio encontro destas pessoas e de suas concepções. - Nos anos 80, a capoeira no Piauí teve um grande crescimento sendo conhecida a nível nacional e internacional, revelando grandes talentos, com participação em encontros nacionais, internacionais, shows, cursos, JEBs, JUBs, participação de pessoas portadoras de deficiência, consolidando-se definitivamente nos anos 90 até os dias atuais. http://culturaeformacao.blogspot.com.br/2011/03/capoeira-nopiaui.html

- jornal “O Estado”, com data provável do dia 28/12/1980, assinada pelo jornalista Kenard Cruel, com o título “Praticantes de Capoeira pedem apoio ao Governo”, na qual era chamada a atenção para um grupo de capoeiristas que procuravam despertar nas autoridades políticas, empresariais e da sociedade em geral sobre as dificuldades em se organizarem e a necessidade de serem reconhecidos enquanto grupo representativo dessa cultura, no sentido de realizar eventos em Teresina e participar dos eventos nos grandes centros em que essa arte tinha um desenvolvimento consistente. 1981 e se estendendo até a segunda metade da década de 1980, algumas destas pessoas começam a se encontrar, trocando ideias, visitando os espaços de treinamento e fortalecendo os laços no sentido de melhor organizar a capoeira, surgindo daí os grandes grupos de capoeira, que conseguem arregimentar significativa parcela de alunos, atraindo a atenção da imprensa e despertando nas autoridades o efetivo interesse nessa cultura, identificando seu potencial educativo e cultural. Neste período, acontece também a saída de cena dos capoeiristas que iniciaram o movimento do SESC, alguns voltando a seu estado de origem, como Paulo Capoeira (Paulinho) que retorna ao Rio de Janeiro, “[...] aí o Paulinho disse ‘estou indo embora, não vou demorar muito, mas você fica aqui com a rapaziada e tudo mais’ [...]” (Mestre Caramurú); outros acabam viajando para fora do estado e retornam envolvidos com


outras atividades ou, como é o caso de mestre Caramurú, que se afasta em longas viagens pelo Brasil e, ao retornar, se casa e segue trabalhando a capoeira, porém em outras cidades. - Mestre Chocolate conta de forma pormenorizada alguns desses acontecimentos: Depois veio o Bozó, no Pirajá, que é onde fica a UESPI, com o Quinzinho, com o Monteiro, e nesse período veio o Bobby, que se entrosou depois, o Zé Almeida, e nessa trajetória encontramos em Teresina um aluno de Mestre Pastinha, que ele se dizia ser desertor da Marinha nessa época e estava viajando pelo Brasil. Ele era um cara que vivia na periferia da cidade, na ponte do Rio Parnaíba. Em troca de levarmos comida pra ele, conversava e tal, ele traçou alguns treinamentos pra gente. Ele era conhecido como Mariano, e foi o primeiro contato que tivemos com um professor da Bahia, que era aluno do Pastinha da capoeira de Angola. Depois de um determinado tempo encontramos um pessoal do Mercado Modelo, que vieram fazer uma apresentação aqui, que foi o Cacau e o Coringa, e a gente começou a ter um contato com esses caras por um período, falava, se comunicava e tal, e mais pra frente tivemos contatos com o Paulão do Ceará, começamos a viajar pro Ceará pra fazer roda, encontrar as pessoas e encontramos o Paulão, que era do grupo Senzala, comandado pelo Camisa, do Rio de Janeiro. Lá em Fortaleza conhecemos o Paulão e seus alunos, que eram o Dingo, Dunga, Gamela, Araminho, Querido, Pica-pau, muitos alunos dele.

1983 vinda do Mestre Guarulhos, de São Paulo, mestre filiado à Federação Paulista de Capoeira, essa, por sua vez, filiada à Confederação Brasileira de Pugilismo, com o propósito de visitar familiares, levando Mestre Albino a enxergar ali uma oportunidade única de promover o que considerava um antigo sonho seu, criar a Federação Piauiense de Capoeira e se candidatar a presidente, alcançando, em sua concepção, a liderança dos capoeiristas do Piauí. - Primeiro Batizado de Capoeira de Teresina, sob coordenação do mestre Guarulhos, reunindo significativa parcela dos capoeiristas em atividade naquela ocasião, porém não conseguindo o consenso entre estes. Seu objetivo era efetivar a graduação de todo o pessoal, concedendo o grau de professor de capoeira para alguns capoeiristas que desenvolviam atividades frente a seus grupos e, para os considerados pioneiros e fundadores da capoeira no Piauí, o grau de mestre, tudo conforme as normas oficiais da Federação Paulista de Capoeira, inclusive com a entrega dos certificados, devidamente carimbados e assinados por mestre Guarulhos, ficando decidido a seguinte relação dos que seriam mestres: Albino, John Grandão, Tucano, Chocolate, Bobby e Monteiro. Não houve um consenso porque queriam nos impor uma sistematização e critérios que não tinha nada haver com nossa história. Neste período não tínhamos graduação, mas seguir as da Federação, sem critérios e ficar dependente da decisão do Albino, não dava.” (Mestre Tucano), e muita gente que naquele período dava aula ficou de fora, alguns não aceitando o convite para participar do evento e outros nem mesmo sendo lembrados, visto que “O Alberto, conhecido como Beto, começou a dar aulas no Jockey ainda no início dos anos oitenta e mesmo não sendo convidado foi lá e ainda distribuiu uns certificados de curso de extensão em capoeira, ministrado por ele, da Universidade Federal. O pessoal do Monte Castelo, que estavam se chegando ao nosso grupo, também nem foram chamados, nem o pessoal do grupo Mocambo, o Zumba e o Baixinho. Ai acabou que a gente discordou e resolvemos não participar, ou seja, fomos pro evento, tocamos, participamos da roda, mas não aceitamos a graduação, nem o diploma de mestre ou de professor. (Mestre Chocolate)

1984 12 de outubro primeira associação legalmente constituída do Piauí, a Associação Esportiva, Cultural e Filantrópica Quilombo Capoeira. Extrato publicado no Diário Oficial do Estado do Piauí, ano LIV, n. 09, 96º da República, em 16 de janeiro de 1985. - De acordo com relato feito na Ata de criação da Associação Quilombo Capoeira, registrada no dia 12/10/1984, na academia Lumasa, antiga academia de musculação de Teresina, o grupo Quilombo teve como principal objetivo reunir capoeiristas de vários grupos, dispostos a pensar e trabalhar em comum pelo crescimento da capoeira no Piauí, por sua divulgação e prática, o que de fato ocorreu como fica evidente por meio da descrição das pessoas presentes neste momento, alguns dos quais já comandavam seus próprios grupos com bastante significância nesse universo, outros se encontravam praticando capoeira sem nenhuma orientação, somente seguindo aspectos que aprenderam de encontros aleatórios, desejando, a partir da associação a um grupo organizado, se atualizarem e se adaptarem aos novos rumos que tomava a capoeira no Piauí. - Joaquim Gutenberg, conhecido na capoeira como Quinzinho recorda aquele período: Eu me recordo daquele tempo, porque fui eu quem foi despertar a atenção dos meninos. Como morava e tinha amizade muito próxima ao Monteiro, ouvi ele comentar que o Albino estava organizando a Federação, já com toda a papelada em ordem e iria criar a Federação, sendo presidente. E quem não fosse filiado teria de parar de dar aulas, pois seria exigência para quem quisesse dá aulas ser filiado à Federação, além de padronizar o


uso de cordéis, que era a graduação, com as cores da bandeira do Brasil e cordas trançadas. Então, fui correndo à casa do Zé (Tucano), Roberto (Chocolate) e do Bobby, além de avisarmos o John e o Thomas (Rapadura). Então foi daí que saiu a ideia de criarmos uma associação, legal mesmo e reconhecida. Inclusive fomos até Fortaleza e lá procuramos o Canário que nos recebeu muito bem e falou que não tinha essa pressão, que Federação não pode impedir ninguém de dar aulas. Na verdade, todos éramos jovens, a maioria estudante, sem muita experiência sobre estas coisas. Mas no final, aconteceu tudo normal, o Albino fundou a Federação, nós criamos nossa associação, e cada qual seguiu seu rumo. (Quinzinho).

1985 jornal O Dia, edição do dia 15/03/1985, na página 09, por meio de uma reportagem que trazia informações a respeito do primeiro curso de capoeira organizado em Teresina, numa promoção da Associação Quilombo Capoeira e que seria realizado nos dias 18 a 22 de março daquele ano de 1985. - 19 de outubro fundado o grupo Mocambo, pelo professor Zumba, que destaca entre outros componentes, Palmeira, Jabiraca, Pajé. 1986 jornal O Dia, 11/01/1986, título é “Capoeira teve atividades importantes no ano passado”, trazendo em seu corpo um apanhado das principais atividades desenvolvidas por diversos grupos de capoeira de Teresina e ressaltando o crescimento e expansão de sua prática no Piauí. A matéria destaca os principais líderes da capoeira (Sob a liderança de José Gualberto/Tucano, John, Robson Bobby e Roberto Dídio/Chocolate [...]) que seguem trabalhando de forma efetiva para sua valorização e melhoria técnica de seus praticantes (Quatro viagens a Fortaleza, visando maior aprimoramento técnico com consagrados professores da capital alencarina), corroborando a opção que tive na escolha dos mestres que foram entrevistados no corpo dessa pesquisa, tais como os mestres Tucano e Chocolate; destaca, ainda, a criação de novos grupos de capoeira, assim como o processo de institucionalização destes em associações (Fundação de três associações, aumentando, oficialmente, o número de adeptos e praticantes: Quilombo Capoeira, Palmares Capoeira e Engenho Bantos Capoeira), aliado ao planejamento de novas atividades para o ano de 1986 (Agora, para a temporada de 1986, todos os esforços já começam a ser feitos, a fim de que o número de atividades seja bem maior, expandindo-se mais ainda a capoeira pelo território piauiense). 1987 “Jornal Aliás”, produzido pelos alunos do Colégio Geo-Trópicos, tendo por editor Wellington Soares, cujas matérias eram propostas e produzidas pelos próprios alunos, (SOARES, 1987, p. 01). A edição número três, de maio de 1987, trouxe uma matéria com o título “A Capoeira e o preconceito”, escrita pelo aluno do terceiro ano científico Delson Lustosa de Figueiredo, que à época havia iniciado a prática da capoeira com o professor John Grandão, do grupo Senzala, em Teresina. Traz como única alusão à capoeira no Piauí a passagem citada: “[...]. Em Teresina, o Grupo Senzala é liderado por professores competentes que, através dos seus trabalhos, a capoeira do Piauí está sendo reconhecida e bem vista em todas as outras academias do grupo senzala no país. Já tivemos a oportunidade de trazer o mestre Camisa à Teresina, quando entramos para o grupo e teremos a honra de contar com sua presença mais uma vez juntamente com os melhores capoeiristas do Brasil, em novembro para o 3º BATIZADO DE CAPOEIRA DO GRUPO SENZALA DO PIAUÍ. (FIGUEIREDO, 1987, p. 02. Destaque do autor). [SILVA, Robson Carlos da] 1990 Roda de Rua 7 de setembro, Teresina ano 1990 jogo duro (Boquinha Raiz do Brasil); Capoeiristas jogando Baú, Cobra preta, Paulinho Velho,Tucano, Paulo Urubu, Urubutinga, Mineral, Boby, Carnaúba, Dureza, John Grandão, Mandioca, Piva, Touro, Fofão, Boquinha, Waguener. https://www.youtube.com/watch?v=Z-mIyTWU1gg

1991 revista “Impacto” de número n. 12 do ano de 1991, trouxe uma matéria com o título “Capoeira: arte ou violência”, realizada e produzida por Soraia Cristina, que se incumbiu de contatar por telefone e acertar as entrevistas com os mestres à frente dos grupos de capoeira que se mais destacavam no período de realização da reportagem, levando em consideração aqueles com maior visibilidade na mídia, bem como de levantamento prévio mantido com pessoas da área do esporte e da cultura que indicaram, a partir de conhecimento e convivência frequente em eventos e acontecimentos sociais, quais os mestres mais atuantes e que promoviam a prática dessa cultura em Teresina. Assim sendo, foi mantido contato com o mestre Bobby (Robson Carlos da Silva), na época um dos componentes do grupo Senzala, desenvolvendo trabalho no clube do SESC e coordenando outros trabalhos em escolas particulares (Pituchinha, Cavalinho Azul, Sintagma etc), além da escola pública João Soares no Monte Castelo, bairro da zona sul da cidade. Também foi procurado o professor Zumba (Raimundo Nonato) que se destacava com trabalho junto ao grupo Mocambo, desenvolvendo suas atividades no bairro Mocambinho, um dos maiores bairros da zona norte da cidade e alcançando êxito no processo de


escolarização da capoeira naquele entorno social, promovendo a prática da cultura em escolas públicas, centros paroquiais e clubes sociais de esporte e lazer, em especial no “Clube do Manoelzinho”, uma das mais tradicionais casas de festas e shows daquele bairro no período destacado. O texto da reportagem ressalta a existência já na década de 1990 de vários grupos de capoeira em Teresina apontando o grupo Senzala e o grupo Mocambo como destaques, como fica evidente nas palavras da autora do texto: “Atualmente em Teresina existem vários grupos, sendo que cada um tem sua história diferente, mais (sic) basicamente a mesma origem e seguimento. O grupo Senzala por exemplo, que foi fundado pelo famoso mestre-camisa (sic) tem vários grupos em bairros de Teresina e cidades do interior, aparecendo como destaque na lista de componentes, Bob, Grandão, Tucano, Paulinho Velho. [...] Outro grupo que tem se destacado, inclusive como um dos melhores do Piauí, é o grupo Mocambo, fundado em 19 de outubro de 1985 e tem como fundador o professor Zumba, que destaca entre outros componentes, Palmeira, Jabiraca, Pajé, dentre outros. (IMPACTO, 1991, p. 07). (grifo meu). [SILVA, Robson Carlos da] - [...] a Federação que atualmente está sendo organizada pelo professor Albino, é totalmente descaracterizada, pois até agora em termos práticos não trouxe benefícios, restringindo-se somente em campeonatos que favorece aos despeitos que se assenta gradativamente entre os grupos, não existindo sequer, entrosamento em termos organizativo e sistemático. (IMPACTO, 1991, p. 09). [Trata-se do mestre Albino e o grupo Escravos Brancos] [SILVA, Robson Carlos da] 1996 Revista Bugaloo - número 08 junho/julho, editada pela Point Editoração e vendida em bancas de revistas, com abrangência em vários estados do nordeste, tais como Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Período em que a capoeira já esta institucionalizada de forma mais efetiva em Teresina com os grandes grupos de capoeira, na realidade segmentos que se filiavam a um grupo de grande relevância e visibilidade no mundo da capoeira, comandado por um mestre, também, de renome e trabalho valorizado, notabilizado por uma significativa parcela de seguidores e várias filiais espalhadas pelo país e pelo exterior, os quais podem ser identificados como grupoempresa. O texto, com o título de “IÊ, Viva a Capoeira, Camará”, é assinado por Fátima Guimarães e centra seu foco no que ela denomina de “época de transformações” em que a capoeira no Piauí, por meio dos trabalhos dos mestres e seus grupos, começa a colher bons resultados, ilustrando e justificando esse desenvolvimento com os grandes eventos de capoeira organizados em Teresina, notadamente pelos grupos que se destacam pela proporção de suas atividades e os espaços que ocupam na sociedade piauiense e em especial ao grupo Abadá Capoeira, cujos coordenadores se responsabilizam pelo evento que a autora do texto se propõe descrever e tecer comentários elogiosos. [SILVA, Robson Carlos da] - Nos dias 13, 14 e 15/06/96, Teresina gingou ao som de birimbaus (sic) e acordou com o som dos atabaques [...] A cidade começa a ter uma visão diferente na quinta-feira dia, 13/06, onde um aulão de capoeira foi realizado em frente à Assembleia. Era um gingado só. Ao lado da avenida não havia distinção de raça, cor, classe social ou profissão. Eram 17:30 e o sol aproveitava para reverenciar os capoeiristas. [...]. “O objetivo da aulão é divulgar a capoeira e mostrar que ele pode ser praticada por qualquer pessoa e em qualquer lugar” como afirma o instrutor Bob. [...]. [Revista Bugaloo - número 08 junho/julho] - sexta-feira dia, 14/06, foi realizado o Festival de Cantigas de Capoeira no Ginásio do Sesc, com premiações de 1º, 2º e 3º lugares. As participações foram diversas, em (sic) aos capoeiristas visitantes registramos a presença de: Morcêgo (Mestrando) do Rio de Janeiro, Edinho (Professor) de Brasília, Papagaio (Instrutor) de Recife; somados com alunos e graduados de Juazeiro (Ba), Petrolina (Pe), Fortaleza (Ce), Floriano (Pi), Bélem (Pa) e Açailândia (Ma). A organização do evento ficou satisfeita com o êxito alcançado. “Para demonstrar o elevado nível de formação, o grupo Abadá Capoeira – Pi, proporcionou ao público e aos participantes do evento uma programação variada: toques, samba, capoeira, maculelê, apresentações e reportagens; além de suprir a necessidade de se realizar um grande evento de capoeira em Teresina”, comenta o instrutor Bob. (GUIMARÃES, 1996, p. 12). (grifos meus). [Revista Bugaloo - número 08 junho/julho]. 2007 início dos “Jogos Abertos Capoeira Ginga Piauí”, em comemoração ao Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. 2009 SILVA, Robson Carlos da; CALAND; Tâmara da Costa Sobral. Inserção, atuação e permanência da mulher nos grupos de capoeira de Teresina-PI: notas etnográficas. Revista FSA, Teresina, v.6, n.1, jan./dez. 2009, http://www4.fsanet.com.br/revista/index.php/fsa/article/view/427/206


- SILVA, Robson Carlos da. A capoeira como elemento de fortalecimento das identidades social e cultural de crianças e jovens na escola. http://www.meionorte.com/blogs/edilsonnascimento/a-capoeira-como-elemento-de-fortalecimento-das-identidades-social-ecultural-de-criancas-e-jovens-na-escola-111089

2010 Rodrigo Batista Maia, Maria do Carmo de Carvalho e Martins, Cláudio Henrique Lima Rocha, Irapuá Ferreira Ricarte,Vítor Brito da Silva, David Marcos Emérito de Araújo, Lívia de Barros Rocha Tolentino e Silva, Moisés Tolentino Bento da Silva. Efeito da Prática de Capoeira sobre os Parâmetros Cardiovasculares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/5703 2012 SILVA, Robson Carlos da (Orientador: VASCONCELOS, Jose Gerardo). As narrativas dos mestres e a história da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/7651 2013 21 de janeiro criado o Fórum Estadual de Capoeira do Piauí (FEC/PI) é um espaço democrático e de articulação estadual que objetiva contribuir para o desenvolvimento da capoeira. Missão: Contribuir para o desenvolvimento da capoeira (angola e regional) enquanto expressão cultural, esportiva e lazer pertencente ao patrimônio cultural brasileiro. Descrição: Fórum Estadual de Capoeira do Piauí (FECPI) surge do anseio da comunidade capoeirista de criar espaços democráticos para discussão de questões que dizem respeito a promoção e valorização da capoeira, seus mestres e praticantes. Tal fato foi consubstanciado no dia 21 de janeiro de 2013, no Memorial Zumbi dos Palmares, na ocasião em que ocorreu a “Reunião Ampliada Pró-Fórum Estadual de Capoeira do Piauí” e reativação da “Federação Piauiense de Capoeira”. O evento contou com a participação de 34 capoeiristas de 10 entidades de capoeira: 1. ACTC; 2. Alforria Capoeira; 3. Associação Cultural de Capoeira Escravos Brancos; 4. Associação Cultural de Capoeira Iê Berimbau; 5. Associação Cultural de Capoeira Raízes do Brasil;6. Associação Cultural de Capoeira Zumbi; 7. Confiança Brasil Capoeira; 8. Escola de Capoeira; 9. Ginga Piauí; 10. Grupo Oscapoeira. Dentre os mestres participantes destacaram-se: 1. Mestre Albino; 2. Mestre Corujão; 3. Mestre Diogo; 4. Mestre Oscar; 5. Mestre Touro; 6. Mestre Ulisses. Estiveram presentes a este ato político as seguintes lideranças e praticantes de capoeira: 1. Aerton Ezequiel Alves; 2. Alan Duarte; 3. Antonio Cardoso da Silva; 4. Antonio Francisco Ramos; 5. Antonio Francisco Ramos; 6. Carlos Henrique Andrade; 7. Childerico Robson; 8. Cristiano Soares P. da Silva; 9. Denys Lucas Barros de Freitas; 10. Fabiano Luper; 11. Francisco C. O. Silva; 12. Francisco de Assis de Deus; 13. Francisco Marciel da Silva; 14. Geni Carlos da Cruz Barros; 15. Jeovania Evangelista Lima; 16. José Francisco Alves; 17. José Gonçalves Cordeiro Neto; 18. Luzinan de Sousa e Silva; 19. Marcio Alves da Silva; 20. Marcio R. Duarte; 21. Maria Eliane Sousa Veras; 22. Natanael Santos da Costa; 23. Paulo Rogério Cardoso de Sousa; 24. Ricardo Henrique C. e Silva; 25. Robson de Sousa Nascimento; 26. Rogéria Pereira da Cruz Ramos; 27. Rômulo Thiago de Oliveira Guimarães; 28. Ulisses Soares Ubirajara. A partir desse encontro com mestres e representantes das diversas entidades de capoeira, com atuação em Teresina e noutros municípios Piauienses, deliberou-se a realização da I Reunião do Fórum Estadual de Capoeira para o dia 04 de fevereiro de 2013, para se discutir o regimento interno e composição organizacional para atuarem em prol da capoeira no campo da cultura, desporto e educação como indutor de políticas públicas e de controle social. https://www.facebook.com/pages/F%C3%B3rum-Estadual-de-Capoeira-doPiau%C3%AD/416004545160533?sk=info; http://forumcapoeirapiaui.webnode.com/nossa-historia/

2014 agosto

Encontro Nacional de Capoeira, realizado em Teresina durante o último final de semana.

http://redeglobo.globo.com/pi/redeclube/noticia/2014/08/ge-piaui-destaca-o-encontro-nacional-de-capoeira-realizado-emteresina.html

- SILVA, Robson Carlos da. A CAPOEIRA NOS ESPAÇOS UNIVERSITÁRIOS: PRÁTICAS E ESTUDOS. O projeto desenvolve suas ações na comunidade dos bairros Pirajá e Matinha, do entorno social à UESPI, tendo como foco crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, utilizando como instrumento a Capoeira, patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, oferecendo contextos de desenvolvimento humano apropriado à formação cidadã destes. As ações envolvem dinâmicas e “conversas na roda” em que se discute temas referentes aos problemas familiares e sociais que


envolvam crianças e adolescentes, trabalhados por especialistas nas áreas de saúde, direito, psicologia etc. disponível em http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/index.php?view=article&catid=63%3Acat-boaspraticas&id=458%3Auniversidade-estadual-do-piaui-uespi&format=pdf&option=com_content&Itemid=78

- agosto BERIMBAU DE RENDA é um espaço pensado para fortalecer o movimento de mulheres capoeiristas. O evento se lança como o 1º Festival de Músicas de Capoeira direcionado à voz feminina, a ideia é proporcionar uma maior visibilidade e engajamento das mulheres que cantam e emocionam nas rodas de Capoeira. BERIMBAU DE RENDA propõe ampliar as possibilidades de cada vez mais nós mulheres ocuparmos um espaço que também é nosso que por vezes abrimos mão por insegurança, vergonha ou por não existir um incentivo geral para que o espaço da mulher na capoeira seja cada vez mais visto e explorado. BERIMBAU DE RENDA tem um foco no festival de canto, que nessa primeira edição não será competitiva, porém as músicas participantes deverão ser inéditas, mas não obrigatoriamente autoral, o evento é também uma plataforma de encontros entre mulheres capoeiristas, onde toda a essência da capoeira será abordada por meio de conversas, aulas, rodas e muita música, é claro. BERIMBAU DE RENDA é inovador e conta com todas e todos os capoeiristas para que seja um evento lindo, cheio de perfume, cheio de cor e de muito amor pela Capoeira. Fanpage do evento >>https://www.facebook.com/pages/Berimbau-de-Renda/1449076471988892 Wilena Weronez (artista autônoma) http://www.revistacapoeira.com.br/2014/02/10/1o-festival-de-musicas-de-capoeiradirecionado-a-voz-feminina-em-piaui/

- setembro 06 a 07 a cidade de Brasileira vai sediar o Circuito Piauí Norte de Capoeira Escravos Brancos no Ginásio Poliesportivo. O organizador do evento Thersandro Meneses, pioneiro no município com a prática de capoeira com o Grupo Escravos Brancos, garante que vai ser um grande evento “e que é um orgulho para a nossa cidade, receber grandes nomes da capoeira de todo o Piauí neste circuito”. - outubro 10 e 11 a Associação Cultural de Capoeira Raízes do Brasil vai realizar o X Encontro de Capoeira do Litoral em comemoração aos seus dez anos de existência em Parnaíba. No evento será realizada troca de cordas, formação de monitores, batizado. Prestigiará o encontro, mestres e contra mestres e professores de outros estados. A Capoeira Raízes do Brasil de Parnaíba tem sede na Rua Benedito dos Santos Lima, 108, no Bairro Pindorama.


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.


“BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – CEFET-MA INSTITUO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Professora de História – CEM “LICEU MARANHESE” SOBRE JOÃO TAVARES 145 Clóvis Ramos (1986; 1992) 146 ao analisar o surgimento da imprensa no Maranhão, afirma ser jornalista o magnífico João Tavares com sua Informação das recreações do rio Munim do Maranhão. Em seu roteiro literário do Maranhão (2001) 147·, refere-se a João Tavares como: “... cronista, professor de humanidades e filosofia, missionário. Padre da Companhia de Jesus, nascido no Rio de Janeiro a 24 de setembro de 1679, chegado ao Maranhão, e catequizando índios, os tremembés, arrebanhou-os em aldeias, fundou a cidade de Tutóia. Faleceu no Maranhão em onze de julho de 1744. Deixou manuscritos valiosos, interessado em explicar, também, o nome Maranhão e o fenômeno das pororocas, que o fascinava. No Dicionário histórico e geográfico da província do Maranhão de César Marques, no verbete Maranhão, vem mostrado como um escritor original, de prosa poética. (RAMOS, 2001, p. 3-4). Esse Autor, baseado em César Marques148, e citando como bibliografia: Breve descrição das grandes recreações do rio Munim do Maranhão, 1724, passa a transcrever o que consta das páginas 454/455 daquele dicionário: “AS POROROCAS DO MARANHAY “Foi de indústria, por dar gosto a Vossa Revma. que, como tão perito na língua brasílica, folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por boca e por escritos antigos, sobre nunca assentarem em nada de quanto disseram nada tem fundamento no meu fraco entender. Veja os antigos manuscritos da missão. “O padre Bartolomeu Leão, da Província do Brasil, reformador do catecismo da língua brasílica, me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma brasílico, soubesse dele o que sentia nesse ponto. Ambos morreram ignorantes do que aqui quero dizer, e nunca o dissera sem ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhay. Pelo que digo que a 145 146

SOUZA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís : Fundação Cultural do Maranhão, 1977, p. 56-57

RAMOS, Clóvis. OS PRIMEIROS JORNAIS DO MARANHÃO – 1821 - 1830. São Luís : SIOGE, 1986; RAMOS, Clóvis. OPINIÃO PÚBLICA MARANHENSE (1831 a 1861). São Luís : SIOGE, 1992. 147 RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001 148 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970.


palavra Maranhay se compõe de dois verbos e de um substantivo. Os verbos são maramonhangá, que significa brigar e anham que significa correr (até aqui atinava o dito Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra ou letra que significa água, e ainda tirada de Maranhão por corrupção de palavra, assim como estão infinitos nomes da língua brasílica corrupta pela pronúncia dos portuguese. “Nesta palavra não podia atinar o padre Leão sem ver ou lhe disserem o que passa pelo Maranha. Deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava que são as pororocas, cujo aspecto é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay – água que corre brigando. Perguntar-me-hão pois porque não se chama o Maranhay pororoca; respondo que pororoca é a palavra que explica o que se ouve; parece-me que se compõe da palavra opõe, que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan, que significa roncar continuamente, como o mar; ou é palavra simples, feita pela freqüêntativa, tirada sempre do verbo opõe. De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar ou estalar, de onde do que se ouve se chama aquela fúria das águas – pororoca; e do que se vê se chama todo este Estado – Maranhão”. (RAMOS, 2001, p. 3-4; MARQUES, 1970, p. 437). Realmente, César Marques àquelas páginas refere-se às pororocas do Rio Munim, mas a descrição é outra, como se observa: “O Padre João Tavares na carta já alegada dá dêste fenômeno da pororoca uma tão poética descrição, que nos pareceu que sem ela não ficaria bem acabado êste maravilhoso quadro: ‘Enquanto a maré vaza tudo vai em paz; em enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente, que vem do oceano, com a vazante, que vem dos ditos rios (Mearim e Pindaré). O lugar desta peleja dista da barra dos dois rios como vinte léguas. Briga ali a enchente com a vazante, sem a maré passar daquele lugar para diante por espaço de tr6es horas. Nestas três horas toma a enchente fôrça, e nas águas vivas toma maior fôrça; forma grande pé atrás, alteia sobre a vazante à maneira de dois homens, que estivessem forcejando peito a peito, e um dêles vencendo levasse o outro abaixo de costas; assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas, e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal estouro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés, ou três serras de águas, lançando para trás a modo de guedelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo quanto é baixo com tal fúria , que parece vai a ofender a seus contrários, ou a acudir a algum descuido da natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras e cobre em três horas tudo quanto havia a cobrir nas seis ordinárias de uma maré. Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas, e daí para cima enche em três horas.” (MARQUES, 1970, p. 455). Prossegue César Marques a descrição da pororoca - não encontrada no texto da “Breve descrição...” abaixo transcrita – como se fosse daquela carta. Como a cópia que tenho, em microfilme, é cópia de outra, conforme consta no final do texto149; é de se supor que no original do Padre Tavares houvesse as explicações citadas: “Restava agora examinar a causa desta extraordinária vagância das águas, a qual vi, e repetidas vêzes tornei a ver, sem nunca chegar a perceber a sua verdadeira causa. Ocorria-me que o pêso das águas doces pugnando com as salgadas, depois de grandes pugnas, vinha a vencer a fôrça das águas do mar, e com fôrça do receio que tinha tido naquela pugna, rompia naquele extraordinário ímpeto. Porém contra isto está que em muitos, ou em todos os mais rios não faz êstes efeitos, e só são particulares no Estado do Maranhão, onde os há só aqui e nos rios Mearim e Pindaré perto da cidade de S. Luís do Maranhão; e também se diz há uma pequena pororoca no rio Guamá perto da cidade do Pará e nos mais rios nada, nem nos da Europa e outras partes, e só conta a mesma maravilha no Rio Ganges da Índia. Além do que “Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724. - “Biblioteca Pública Eborence - “Códice CV 1 = 7 = a folha 165”. 149


observa-se no curso da dita pororoca que em muitas partes e rios largos sucede correr primeiro uma margem e depois descer pela outra por modo de redemoinho, correndo ao redor quantas canoas encontra, e acabando isto vai surgir mais acima, continuando o mesmo ímpeto com que principiara, de que se convence Ter outra causa êste movimento tão extravagante. Faz um grande estrondo o mar da pororoca, e se ouve em uma légua de distância; comove também os ares em forma que sempre a precede um grande vento comovido dos mares dela. “Isto é o que observei; deixo a outros o discurso das suas verdadeiras causas”. (p. 455). Ainda do que consta do Dicionário... de César Marques, no verbete História (p. 372-376), ao relacionar as obras disponíveis do Catálogo dos Manuscritos da Biblioteca Pública Eborence, onde foram colhidas notícias de diversos manuscritos sobre as coisas do Maranhão, encontrando-se entre aqueles uma: “- Breve descrição das grandes recreações do rio Monim do Maranhão, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, missionário do dito Estado – 7 fôlhas em quarto” (p. 375). Às páginas 437/448, sob o verbete Maranhão, César Marques passa analisar a etimologia desse nome Maranhão, com base em textos disponíveis e explicações apresentadas. Afirma aquele autor que, para servir de contrapeso às hipóteses de algumas destas pretendidas etimologias 150: “... acrescentaremos outra opinião, que se não for a verdadeira terá ao menos o mérito de ser fundada em inéditas indagações sobre a língua brasílica. O Padre João Tavares não escreve na sua carta Maranhão, mas sim Maranhay, do que dá a seguinte satisfação - ...” (p. 437). transcrevendo o que Clóvis Ramos (2001) trás como sendo das páginas 454/455 daquele Dicionário, acima já transcrito ... Ainda à página 438, e ainda referindo-se ao estado do Maranhão, traz que: “O alegado Padre Tavares, para quem o país era tão familiar, escreveu na carta sobredita o seguinte: ’Dizerem os cronistas que há aqui um rio, que se chama Maranhão, do qual tomou a denominação todo o Estado, é para mim consideração pia, que eles fizeram. E, se não, digamme: onde está esse rio ?’” 151. Já o sociólogo Rossini CORRÊA (1993)152, comenta uma carta de João Tavares a um superior seu – seriam as “Breves descrições...” ? -, descrevendo a paisagem da Ilha de São Luís, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão. Afirma que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão, conforme consta das “Breves descrições...”, tecendo os seguintes comentários: "Como na Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria) antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de diligência em atividade física. Permitiria - na contrapartida da terra de gente excepcional - a alternativa das recreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria etc., considerada a educação do pensamento e do sentimento um fragmento indispensável das recreações. ." (40).

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Estas são comentários de João Francisco Lisboa, em seus Apontamentos para a história do Maranhão; de um jornal português, Panorama vol. 3, 1939, retirado da obra Maranhão conquistado a Jesus Cristo e à Coroa de Portugal pelos religiosos da Companhia de Jesus; do livro do padre Manoel Rodrigues, Marañon y Amazonas, dentro outros, que reproduzem estes textos (MARQUES, 1970, p. 437) 151 152

Alguns autores trazem esse rio como sendo o Mearim CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: o presente de uma arqueologia. São Luís : SIOGE, 1993


“A afirmativa do padre João Tavares foi riquíssima, porque vaticinou uma permuta - as delícias (da Itália) pelas recreações (do Maranhão). Sociologicamente significativa, haja vista que, na substituição, as delícias européias não terminariam trocadas pelos trabalhos americanos. Ao contrário, o fundamento do intercâmbio seria a validade indicada como vantajosa - a das recreações maranhenses." (p. 39). O Padre jesuíta João Tavares é considerado o fundador da cidade de Tutóia - Ma; era natural do Rio de Janeiro, onde teria nascido a 24 de setembro de 1679. Viera para o Maranhão como mestre de Filosofia e Teologia, tendo ensinado também Gramática. Foi Vice-Reitor do Colégio153. Cumprida sua missão, deramlhe opção de voltar ao Rio de Janeiro, não a aceitando, por amor aos Teremembés. Faleceu em São Luís, em 11 de julho de 1743 – (ou 44, segundo Ramos, 2001). Os Teremembés dominavam vastas regiões do norte maranhense – região dos Lençóis e Delta do Parnaíba -; o governo manda uma expedição, em 1679, sob o comando de Vital Maciel Parente; encontrando um troço de índios, estes são dizimados – mais de 300. Somente em 1722, se efetuaria a redução desses índios, por obra do Pe. João Tavares, cognominado Apóstolo dos Teremembés. O próprio padre descreve os costumes daqueles índios marítimos, definindo-os como “peixes racionais”. Em 1724, o missionário pediu, e obteve duas léguas de terra e a ilha dos Cajueiros. Teve problemas com fazendeiros – três irmãos e um primo, que a invadiram, para criação de gado – e, não conseguindo resolvê-lo com o Governador – que também tinha interesse na região, retirando índios para seu serviço -, recorreu a ElRei, que deu ganho de causa ao missionário e exigiu que se cumprissem as condições do aldeamento: servir aos brancos nas pastagens de gado vacum e cavalar e garantir para a Coroa a vigilância daquela faixa marítima. O padre comprou os gados introduzidos irregularmente aos fazendeiros. A missão chamou-se Nossa Senhora da Conceição. Em 1730, contava com 233 índios ainda pagãos, que aprendiam a doutrina. João Tavares situou a aldeia nas praias dos Lençóis, onde faz barra principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também Canal de Tutóia. César Marques (1970), no verbete Tutóia, de seu Dicionário..., informa serem os índios Trememés (sic), os mais bem figurados, valentes e prestimosos que tinha a Capitania, segundo o pensar do Governador Gonçalo Pereira Lobato e Sousa – 1753/1761. Esses índios tinham, em 1727, no tempo do Governador e CapitãoGeneral João da Maia da Gama – 1722/1728 -, duas datas de seis léguas de terra, as quais foram medidas e demarcadas à custa dos mesmos índios. Prossegue: “Pouco tempo era passado quando das bandas da Parnaíba vieram uns homens que foram situando aí fazendas de gado vacum e cavalar, e sucitando-se questões entre eles, os índios os expeliram, e um jesuíta, que lá vivia em muita intimidade, com o fim de terminar tais pendências, comprou aos seus legítimos donos o gado existente, e de então por diante ficaram os padres da Companhia possuindo como suas as terras destes índios.” (p. 622) (grifos meus). César Marques não traz João Tavares como o fundador de Tutóia, nem o identifica como o jesuíta que vivia entre os Teremembés - embora fosse conhecido como o Apóstolo desses índios -, o mesmo ocorrendo com

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O Colégio de Nossa Senhora da Luz, em curto espaço de tempo, tornou-se excepcional centro de estudos filosóficos e teológicos da ordem no Estado (universitate de artes liberais). Era o que melhores condições de estudos oferecia. Já em 1709, o Colégio do Maranhão era Colégio Máximo, nomenclatura usada pelos discípulos de Loyola para seus estabelecimentos normais de estudos superiores. Nesse colégio funcionavam as faculdades próprias dos antigos colégio da Companhia: Humanidades, Filosofia e Teologia, e, mais tarde, com graus acadêmicos, no chamado curso de Artes. Os estudos filosóficos compreendiam: no 1º ano, Lógica; no 2º, Física; no 3º, Matemática.

O Colégio Máximo do Maranhão outorgava graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XIII. Dentre os estabelecimentos de ensino dos jesuítas, as Escolas Gerais ocuparam um lugar de destaque, pelo fato de terem tornado o ensino popular ao alcance de todos. (CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís : SIOGE, 1990, p. 36).


CARDOSO (2001)154, que apresenta a descrição dos 217 municípios maranhenses. Às páginas 572-581 traz a descrição de Tutóia, basicamente transcrevendo do que consta no Dicionário de César Marques, não fazendo referência, também, a João Tavares... João Tavares, padre da Companhia de Jesus, é o autor da “Breve descrição das recreações do Rio Muni do Maranhão, pelo João Tavares da Companhia de Jesus missionário, do dito estado. 1724”. A seguir, transcrição do manuscrito disponível no Arquivo Nacional, Divisão de Manuscritos 5, 3, 24 155: “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, missionário no dito Estado, ano 1724”. 156 “São as águas deste Rio tão salutíferas que seis dias purgou com suavidade, a quantas por ele navegamos. Toda a margem deste Rio é de claras areias, em partes descampadas, em parte rendadas em aprazível selva, em partes cobertas de arvoredos copado, em partes cortados de água e lamenta, a que chamam os naturais igarapé, em partes com ribanceiras de altura de dez palmos, de cima das quais desfazem de quando em quando torrentes de frias águas da grossura de um homem encorpado com suave sussurro, a que chamam os naturais tororoma157. “Pelas costas das margens do Rio se levantam grossas árvores entremeadas em parte de vistosas palmeiras entremeadas com as celebres Baunilhas, droga hoje tão apreciada para sal do chocolate, e como rezam; pois é tal a sua graça que não há fera nem aves que a não procure. “Entre tanto recreativo arvoredo se viu de espaço a espaço umas árvores a que chamam Visgueceyras estas se levantam sobre o mais arvoredo, como para serem vistas, com uma ástea branca, direta, sem algum outro ramo por toda a astea. Querendo armar a copa, cruza dois braços como fez Jacob, sobre eles forma toda a copa maneiras de uma meia laranja com 50 e tantas braças de circuito. Acima desta abóbada não se verá umas folhas mais altas que a outra; o mais curioso jardineiro não tosquiará uma muito mais esfericamente. Não brota fruta alguma pela rama, como o comum das árvores; toda a sua recreativa fruta, esta por baixo da copa, tão igual no comprimento toda pendente, que se pode pegar uma régua pelas extremidades sem que toque com alguma demora, cada fruta terá palmo e meio de comprimento tornando à maneira de bilros de fiar rendas, finíssima sobre o delgado no pé, em grosso proporcionalmente para o meio, torna a abaichar para fazer garganta, inha para fazer cabeça, e a cubra em ponto rombuda. “O que mais eleva a atenção que depois de tanta coerência, e igualdades do sujeito, se veja tanta incoerência incidentais, por que em uma árvore se vê toda a fruta de verde claro: em outra a fruta cor de carmesim, em outra toda a fruta de verde escuro; em outra toda a fruta variada de verde claro, verde escuro e de cor escarlate. Tanto me arrebatava na vista destas árvores que em aparecendo alguma já me chamávamos Soldados para me darem a recreação de a ver em antecipada recompensa das vistas, que ao depois me deva para chorar.

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CARDOSO, Manoel Frazão. Tutóia. In O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001, p. 572-582.

Os Autores tomaram conhecimento desse texto de João Tavares quando da elaboração de artigo intitulado “’Pernas para o ar que ninguém é de ferro’- as recreações em São Luís do Maranhão, no período imperial”, estudo segundo colocado do Prêmio “Antônio Lopes” de Pesquisa Histórica, do Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, 1995, quando se referiam aos jornais que se dedicavam ao lazer, instrução, literatura e artes, editados nos primórdios da imprensa maranhense. A primeira referência encontrada foi em Rossini Corrêa, logo depois em Clóvis Ramos; após cerca de 10 (dez) anos de buscas – Biblioteca Pública Benedito Leite, Arquivo Público do Estado do Maranhão, Biblioteca Nacional e no próprio Arquivo Nacional - quando tomou conhecimento da conclusão do levantamento dos manuscritos disponíveis – junho de 2003 – fez nova consulta, dando-selhe conta de que havia uma cópia dentre aqueles documentos. Mandaram buscar, então, cópia; adquirida através de suporte em microfilmagem (custo: R$ 40,00), fotocopiada na Biblioteca Pública Benedito Leite (custo: R$ 78,00 !). 156 A transcrição do documento foi feita pelos Autores, e revista por Jairo Ives de Oliveira Pontes, professor de História do CEFET-MA; e Heitor Ferreira Carvalho, professor de História, técnico do Arquivo Público do Maranhão, a quem os Autores agradecem. 157 Tororoma – do Tupi, corrente fluvial forte e ruidosa (Jairo Ives de Oliveira Pontes, comunicação pessoal)


“A largura deste Rio será como de vinte braças, por minha estimativa terá 200 léguas até a nascença. O peixe, as aves, a caça, e o mel, há em grande abundância. Enquanto navegamos, saiam a terra 10, 12, soldados pelas oito horas da manhã, pelas dez da mesma manhã os avistamos lavando-se a beira do Rio; tomávamos ali ponta, a bondade de meu Deus. “Ali vi porcos monteses, veados de várias castas, antas de tamanho do maior capado, tamanduá uaçú, como uma vitela tatupeba vestido verdadeiramente de armas brancas; ali vi os pobres dos macacos, espretados tão sisudo, como defuntos. Voltei os olhos para as aves e ali vi o Nambyaçú, gênero como de Perdiz comum peito de carne com entrecascas, como cebola em tanta quantidade que debulhamos os entrecascas encheram um prato ordinário. É esta ave mui escassa por falhar, sura 158 vistosa bem armada, voa como a Perdiz, mas a grandeza, que chega a de uma Pavoa, faz que d6e grande baque quando pousa e que não se esconde quando pretende põem 12 ou 15 ovos de azul celeste do tamanho dos da Pavoa; chamo-lhe a gênero como da Perdiz, por ser o maior do qual tenho visto oito espécies de perdizes. Tem o 2º lugar macacauã, o qual canta infortunadamente como o galo, `meia noite formando silabas da maneira que o galo forma quatro. Tem o 3º lugar a perdiz verdadeira assim chamada por ser assim em tudo semelhante a da Europa. “Segue-se o Namby por antonomasia, cujos ovos são da cor de rosa, impertinentes no falar, e aonde muito ao remedo. Segue o piscoapa que será como uma franga de quatro meses. Segue-se o Nambú pintado de branco, com friso, e pé encarnado. Segue-se uma espécie, que agora estando escrevendo falou junto a minha choupana. Fui a o ver, ele se escondeu a erva de sorte que o não cheguei a ver. Disseram-me estes Tapuias que era como uma franga. Segue-se a Tureirina que é como uma rola, a que canta às Avemarias, meia noite e ao amanhecer. “Ali vi os Mutuns pouco menos de um peru, Huns de crista cor de coturno e penacho negro, e encrespado, outros de crista amarela e penacho; as fêmeas são pintadas de branco, e negro, com lavores como primaveras com penacho crespo, e pintado de branco e preto; metia compaixão ver essa ave morta, se bem que sabe bem de qualquer sorte guisado. Ali vi as Jacutingas pouco menores que os Mutuns. Ali vi os Jacumins tão estimados por serem as penas contra o ar, por se demesticarem bem, pela galanteria com que a todos de casa faz festas todas as manhãs pela comparação com que em vendo as galinhas com pintos os furta todas às Mães, e os cria com grande cuidado; no mato dá sinal às 8 horas da noite, a meia noite, e de madrugada. Ali vi o Turu, ave como um franganete, com crista de galo, anda em bandos, cantam juntos a tarde, e de madrugada. Foi o que vi de caças, e aves nesta vez, em outras vezes vi outras castas, perdoando os caçadores as vezes, e caças de menor grandeza, como as pacas, cantam juntos à tarde e de madrugada. “_______ Pacas, quatis, Acutio, Araras e papagaios prombo, trocas, etc “Sentei-me a ver aquela benção do Altíssimo, e me esqueci de quantos trabalhos tem esta miserável vida. Vendo-me os soldados absorto, a mim que tenho visto todo sertão desde o Rio de Janeiro até o Maranhão, disseram-me: mais se admirará R. Padre se por aqui viaje quando o Verão oferta mais e faltam águas pelo sertão, e vêm caça e que habitar a beira do Rio. Ferviam os caldeirões e fervia o peixe a comer os fragmentos da cozinha. Lançavam os Soldados uma tripa crua de porco montês dentro da água, e logo pularam e nele vinham e nela vinham pegadas as Piranhas, a duas e a quatro, de sorte que em vinte credos enchiam um cagete de peixe. São estas Piranhas do tamanho, cor e figuram de um panpasso pequeno. As deste rio são gostosas, brancas, de carne alva, e gordura cor de azeite. Chamaram-lhe os naturais piranha, que no seu idioma quer dizer tesouras por que são mui mordazes, e corta o seu dente de sorte que nada agüentará que não tema a piranha. “Deixo de usufruir o delicioso Manduba, Mandim Açú, ______ leitões da água doce. “Não é alheio dessa relação, nem de fim dela, dizer que tem esta Ilha do Maranhão a forma de uma cobra em arco, cuja cauda é a ponta de areia onde está até a Fortaleza da barra, e cuja cabeça é aquele negro boqueirão o qual está olhando para a cauda por entre cuja cauda e cabeça entram para o ventre desta Serpente, onde está situada a Cidade do Maranhão: serve de crista postiça a esta cobra a Ilha das Cobras, por entre a qual e o boqueirão tão medonhamente passamos a buscar a terra firme. Esta fazendo ponta em Itaculumin, dá um cerco a aquela cobra de trezentas e tantas léguas na minha estimação até a ponta do Mearim; Meari Itaculumin são duas pontas da grande meia lua que faz a terra firme para dentro deste meia-lua absorvem a cobra, ou Ilha do Maranhão para cujo efeito abre a terra firme set horrorosas bocas dos sete famosos Rios 158

do Tupi, panturrilha (Jairo Ives de Oliveira Pontes, comunicação pessoal)


que deságuam ao redor da Ilha do Maranhão: para a parte da cabeça até as costas da cobra lança a terra firme os quatro maiores Rios, convém a saber: Pinaré que para Ter mais força deságua unido com o Meari, Itapecurú, Muni; destes quatro rios não sabemos a nascença ainda dos três primeiros; para a frente do meio da cobra, até a cauda, lança a terra firme três deliciosos rios; convém a saber Tutuaba, Anajatuba, Periá, destes três sabemos as nascenças, mas de nenhum dos sete sabemos os haveres dos seus incultos exteriores. Só sabemos serem habitados por homens, feras, ferozes; serem de terras pingues cercados para fora de amenas e férteis campinas sobremodo as quais = fluunt Lacte et mele = sem exageração; sertões frios, e por isso sadios. “O quanto excedem estes sertões no saudável aos do Pará, assim foram seus habitadores mais um pouco macios. Quantas vezes navegando por estes Rios, dizia como magoa do meu coração: ahi! Senhor, não sois ainda servido de povoan estes Rios de missões, certos que se isto se chegasse a conseguir como se vai dispondo deixam os Religiosos as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhay. “Terá Vossa Reverendíssima reparado na ortografia com que escrevo a palavra – Maranhay – contra o comum. Foi de industrias por dar gosto a V.R. que como tão perito na língua Brasílica folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por bocas e por escritos antigos, e sobre nunca assentarem em nada, de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender; Vejam-se os antigos manuscritos da missão. O Padre Bartolomeu Leão da Província do Brasil, reformador do Catecismo da língua Brasílica me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o Padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma Brasílico, soubesse dele o que sentia neste ponto; ambos morreram ignorantes de que aqui quero dizer, e nunca o disseram ser ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhãy: Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-me-ão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe. 159 “De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay. 160 “Dizem os cronistas que há aqui um Rio que se chama Maranhon, do qual tomam a denominação todo o Estado é para mim consideração para que ele fizeram. E se não digam-me onde está este Rio ? 161 “Já que entretive a Relação com estas curiosidades mais próprias para Crônica, quero dizer o que entendo da fundada da pororoca ou causa dela. É de saber que como estas terras são tão rasas visivelmente se se vê a terra abaixando do sertão para o mar, isto se vê sem embaraço de duvidas no Rio Itapecurú pelo qual quem vai navegando vê ao longe terra alta de uma a outra parte. Chega ao lugar em que mascara a terra alta e a vê a rasas como a de donde marcar a tem alta. “Deste mesmo lugar já demarca outra tem alta, e chegando a dela terra tão baixa ao parecer como o de donde demarcara terra alta, e assim todo o Rio até onde chamam as areias. “Donde a vir descendo a terra para o Mar de quatro centos e mais léguas. Faz que venham as águas com peso. Para mais peso sobre o Rio Pinaré e Rio Meari; por uma mesma faz, unidos estes dois grandes pesos d’água, acham o mar em que deságuam encanado com meia légua de largura. Por esta meia légua de mar, saírem estes dois Rios Pinaré e Meari, até chegarem e faz, que se forme entre a Ilha dos Caranguejos, e a terra firme. Em quanto a maré vaza tudo vai em paz em a maré enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente que vem do Oceano com a vazante que vem dos ditos Rios, o lugar desta peleja dista da barra dos 159

Comparar este trecho com a descrição em Ramos, Clóvis, 2001, acima. Comparar este trecho com a descrição em Ramos, Clóvis, 2001, acima. 161 Comparar este trecho com a descrição em Marques, César, 1970, acima. 160


dois rios com vinte léguas; brigam ali a enchente com a vazante sem a maré passar daquele lugar para diante por esforço de três horas. Nestas três horas torna a enchente força e nas águas vivas torna maior força; Forma grande pé atrás alteia sobre a vazante, a maneira de dois homens que estiveram forcejando peito a peito e um deles vencendo levasse o outro a largo de costas, assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal esturro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés ou três serras d’água lançando para trás a modo de gadelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo o que há com tal fúria a que parece vai a ofender a seus caminhos, ou a acudir a algum da Natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras, e cobrem em três horas tudo quanto havia cobrir nas seis ordinárias de uma maré. “Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas e daí para cima enche em três horas. Deixada aqui estas notícias, e continuando minha navegação pelo Rio Muni acima. 162 “Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724. “Biblioteca Pública Eborence “Códice CV 1 = 7 = a folha 165 “Nota: neste doc. Vem sempre escrita “Maranhay” em vez de Maranhão.”

162

Comparar este trecho com a descrição em Marques, César, 1970, acima.


APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DE BARREIRINHAS – MA: ao Zé Maria - da Casa da Farinha -, do Povoado de Tapuio Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação CEFET-MA

¨... Povo simples que acolhe no abraço e cativa que vem com amor...¨ (hino de Barreirinhas) INTRODUÇÃO Em minha ultima viagem a Barreirinhas - Ma163, acompanhando delegação dos Ministérios de Turismo e da Pesca (representando o MEC/CEFET-MA), juntamente com a missão espanhola da Agência de Cooperação Internacional, conheci o Zé Maria, da Casa da Farinha, do povoado de Tapuio. Em nossas conversas, sentimos falta de informações sobre Barreirinhas e sua história... Zé Maria: comecemos por “Tapuio”... Quando fui a Barreirinhas pela primeira vez164, visitei o Tapuio. Perguntei ao guia (Louro) porque o povoado se chamava assim: “não sei”, foi a resposta... A mesma resposta dada pelo Edi Silveira (professor) e a Professora Eliane (diretora da Escola)165... Talvez porque tenha sido uma aldeia indígena? É o que afirma Maria das Graças Rocha: “Outro indício de que o território de Barreirinhas era habitado por aborígenes quando a colonização portuguesa ali chegou, é a existência de povoado com o nome de Tapuio”. (p. 32)166 Mas quem foram os tapuios? Lima (1998)167 ensina que “tapuia” era a denominação genérica de uma das grandes divisões dos índios brasileiros: tupi-guarani e tapuia. Os tupis habitavam o litoral e os tapuias o interior. Para Maranhão; Mendes Jr.; e Roncari: “... os tapuias constituem um conjunto muito difícil de ser definido, em virtude das contradições entre os cronistas que a eles se referiram. Ao que tudo indica, tapuia era um termo utilizado pelos tupinambás para referir-se a índios pertencentes a um tronco lingüístico não-tupi, provavelmente do tronco macro-jê. O naturalista alemão von Martius (que esteve no Brasil no século XIX), autor do "Glossário das Línguas Brasileiras", afirmou que a palavra significava "inimigos". Outro cronista, Fernão Cardim, elaborou uma lista de setenta e seis tribos que

163

Período de 09 a 16 de outubro de 2004 Julho de 1999 165 2001 166 ROCHA, Maria das Graças Cantanhêde Silva Rocha. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE BARREIRINHAS: DA COLONIZAÇÃO AOS DIAS ATUAIS. São Luís : UFMA, 1997. Monografia de graduação em História 167 LIMA, Carlos de. VIDA, PAIXÃO E MORTE DA CIDADE DE ALCÂNTARA-MARANHÃO. São Luís : SECMA, 1998 164


seriam pertencentes ao grupo tapuia, mas que possuíam línguas, hábitos e costumes diferentes entre si. Desta maneira, torna-se impossível estabelecer detalhes maiores a respeito. ”Deixando de lado, por muito difícil, uma referência completa às pequenas tribos, são estes os principais grupos que contataram os portugueses, nos primeiros tempos após a sua chegada. “No total, compunham uma população - na época da descoberta - de um milhão a um milhão e duzentas mil pessoas, hoje reduzida, diante da penetração da "civilização", a menos de cem mil.” .168 (grifos nossos) Muito embora os índios habitantes dos Lençóis fossem os Tremembés, a memória popular registra que outras tribos se localizavam no Preguiças. De acordo com Enéas Conceição169 estes indígenas eram da nação Caeté, que teriam residido nos campos próximos à entrada do rio até o início do século passado e foram catequizados pelos capuchinhos. Maria das Graças Rocha considera plausível essa hipótese, por haver uma localidade ainda hoje denominada Caeté, como registro deste passado distante: “Nesta localidade, costuma-se encontrar vestígios arqueológicos, como artefatos domésticos (pedaços de louça de porcelana e cerâmica), quando as dunas mudam de lugar. Este fato reforça a hipótese da existência desses índios e de catequizadores naquele lugar. Aliás, ainda levantando possibilidades, a invasão das ‘dunas vivas’, que se deslocam ao sabor dos ventos nessa região, pode ter contribuído para afastar os primitivos habitantes desse local”. (p. 32, citando Enéas Conceição)170. Assim, como há uma localidade chamada Tapuio no Periá, conforme informa Röhrig Assunção (1988): “Encontrou-se, nessa parte do Maranhão, somente duas aldeias com uma consciência de que descendem diretamente de povos indígenas: Periá (município de Humberto de Campos) e São Miguel (município de Rosário): ‘aqui era a aldeia dos índios Tiririca e Papacouro. Um pau cruzado era o meio do caminho. De lá era Miritiba que mandava (a família Mendes) e daqui para lá eram os índios. A princesa Isabel deu para N. Sa. da Conceição padroeira do Periá essa terra. “’Eram duas aldeias vizinhas e unidas. Aqui o Periá e a Tapuia ali. Ai ainda chama o Tapuio, é mais pra baixo do rio’.” (Depoimento de Marcolino Alves da Costa, Periá – Humberto de Campos, a Röhrig Assunção, 1988, p. 129). OS TREMEMBÉS “Cesar Marques, que cita Gonçalves Dias, explica que – "Taramembé quer dizer jorro, curso de água que abranda, ou que se espalha suavemente". (In “PANORAMA HISTÓRICO DE TUTÓIA E ARAIOSES", de PAULO OLIVEIRA, São Luis, 1.987.)171. Vamos a outras explicações: os Tremembés. Servimo-nos de Oliveira (1987), em seu “Panorama histórico de Tutóia e Araioses” 172 quando trata dos “Índios Tremembés, seus usos e costumes”: 168

fonte : Brasil História - texto e consulta. autores :Ricardo Maranhão, Antônio Mendes Jr. e Luiz Roncari, texto capturado em 23/10/2004, disponível em http://www.tg3.com.br/colonial/indios.htm 169 CONCEIÇÃO, Enéas Miranda. FRAGMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DE BARREIRINHAS. S.p. 170 ROCHA, Maria das Graças Cantanhêde Silva Rocha. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE BARREIRINHAS: DA COLONIZAÇÃO AOS DIAS ATUAIS. São Luís : UFMA, 1997. Monografia de graduação em História 171

disponível em http://www.sergioramos.com.br/tutoia/historia/historia-02.htm, texto capturado em 23/10/2004, através do sitio www.talentosbrasil.com.br ). 172

Os tópicos históricos sobre Tutóia, foram extraídos do livro"PANORAMA HISTÓRICO DE TUTÓIA E ARAIOSES", de PAULO OLIVEIRA, São Luis, 1.987). disponível em


“Os ameríndios que habitavam no Maranhão, desde os tempos pré-históricos, classificavam-se em quatro principais grupos, a saber: Lácidos, Nordéstidas, Brasílidas e Mamelucos173. Os Nordéstidas se constituíram de duas únicas tribos: os Araioses e os Taramambeses (Taramenbeses ou Tremembés). “Os Araioses habitavam no Delta do Parnaíba, enquanto os Taramenbeses conviviam no litoral maranhense, na área compreendida entre Turiaçu e Araioses. Sobre os Araioses pouca coisa se sabe, principalmente porque os esporádicos historiadores que abordam o tema reportam-se mais aos Tremembés do que àqueles”. “O Padre Ivo D’Evreux deve ter sido o primeiro europeu a referir-se à nação Tremembé, pois não se conhece outro que o tenha precedido no assunto. O referido missionário capucinho, que acompanhou a expedição dos franceses, em 1.612, rumo ao Maranhão, quando aqui instalado e, registrando o mundo dos ameríndios aqui encontrado, fez referências a essa tribo, que dizia habitar além da Montanha Camossy, e nas planícies e areias da banda do rio Tury, não muito distante das Árvores Secas, das Areias Brancas, e da pequena Ilha de Santana’..." (Ivo d’Evreux, II Viagem ao Norte do Brasil", versão de C. Marques, Rio, 1.927). “A forma dicionarizada deste integrante do grupo nordéstida, define o Tremembé, como o indivíduo dos Tremembés. E, na sua sinonímia, surgem múltiplas denominações, entre: "Taramambezes", chamado por Berredo; "Tremembés", designado pelo padre Ivo; "Tramambés" e "Tremembés", por C. Marques; "Tramembés", "Traramembés" e "Terembés", citados por outros cronistas. “Cesar Marques, que cita Gonçalves Dias, explica que – ‘Taramembé quer dizer jorro, curso de água que abranda, ou que se espalha suavemente’’. “O cronista piauiense P. da Costa, sobre o assunto, diz-nos que esses índios eram tapuias do ramo Cariri, famosos por serem exímios nadadores e, por isso mesmo, classificados pela Provisão Régia de 24 de abril de 1.723, de "peixes racionais". Que eram assim consignados, por serem extraordinários na forma de nadar, pescar e mergulhar, adaptando-se ao reino marinho similares a autênticos peixes. “A respeito dessa incrível habilidade de natação de tais silvícolas, o nosso César Marques, com mais propriedade, expõe-nos o porque dessa alcunha de ‘peixes racionais’ (Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, Rio, 1.970): ‘Eram esses índios, entre todos os outros, insignes nadadores, e tão ousados, que só com o auxílio de seus braços, e quando muito de um pequeno remo, atravessavam a nado muitas léguas de mar. E quando eram acometidos, para se livrarem do perigo, nadavam mergulhando por muitas horas sem virem ao lume da água. E quando faziam isto, armavam-se de simples paus aguçados e curvos e assim afrontavam tubarões, e lh’os introduziam pelas bocas quando aqueles monstros as abriam para devorá-los, conseguindo assim por este meio extraordinário matá-los e trazê-los à praia.’ “Os índios Tupis e seu oriundos, os Tupinambás, tremiam nas vertentes quando tinham a desdita de confrontar-se com os Tremembés, descendentes dos Tapuias, que era a designação dada pelos Tupis aos indígenas inimigos. Ou conforme relato de Odilon Nunes, historiador piauiense, "os tupis jamais se assenhorearam de seus penates que sempre defenderam com heroísmo e tenacidade" (Odilon Nunes, Pesquisas Históricas do Piauí, Teresina, vol I). “Também, tinham razão os Tupis em temer os Tremembés, pois ‘eram os mais bem figurados, valentes e prestimosos que tinha esta Capitania, segundo o pensar do governador Gonçalo Pereira Lobato’, e citado por Marques; ou de conformidade com o padre Ivo, que argumentava: - ‘os Tremembés eram ferozes inimigos dos Tupinambás’; enquanto Carlos Lima discrimina-os de ‘ferozes, vingativos e traiçoeiros’ (Carlos de Lima, História do Maranhão, São Luís, 1.981). “Por conseguinte, não eram tanto assim; pois, uma vez conquistada a amizade de tal gentio, este se tornava prestativo, camarada, dócil, ou, sintonizando opinião de Pereira Costa, eram ‘mansos e pacíficos, formosos e bravos’. Como quem quer dizer, ‘leão doméstico não é uma exfera". Mesmo, caso fossem indomáveis, como atesta Marques, jamais seriam catequizados pelos jesuítas, que os agrupou em aldeamento, similares aos Tupinambás, seus arquiinimigos. http://www.sergioramos.com.br/tutoia/historia/historia-02.htm, www.talentosbrasil.com.br ). 173

texto

capturado

Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, nº 8, São Luís, 1.985

em

23/10/2004,

através

do

sitio


“Referente aos seus costumes e usos, acrescentamos que, em tempo de guerra, tocavam sua trompas feitas de grosso madeiro, cavado no centro, com duas aberturas nas extremidades, semelhante a uma trompa. Esta informação vem através do padre Ivo d’Evreux, em sua citada obra, na qual acresce que tais ameríndios traziam seus machados de pedra sempre amolados, uma vez que tinham o hábito de os amolarem, em todas as noites de lua crescente; e diante de cujo ato as moças e os meninos índios, dançavam defronte das choupanas; pois acreditavam eles que, burilando suas armas sob aquele rito e superstição, jamais seriam derrotados. “De destaque, ainda, quanto aos seus usos e costumes, antes de conhecerem a sistemática de aldeamento, esses ameríndios não possuíam casas fixas, a não ser choupanas rústicas e frágeis, erguidas aqui e acolá, ao longo de suas perambulanções pelo litoral maranhense. Não gostavam de plantar, pois sua vida nômade não permitia o trato com a lavoura, vivendo e convivendo, errantes, ao longo da costa litorânea e das planícies, preferencialmente, de onde, como enfatiza o padre Ivo, com um simples relance de vista alumbravam tudo o quanto estivesse ao alcance dos olhos. Também, para dormir, utilizavam como cama o próprio areial branco, geralmente esconso em local estratégico, bem protegidos e bem camuflados por entre os galhos das árvores; ou, como esclarece melhor o referido capucho: - ‘servem-se desses lugares de areias brancas, e de árvores secas para agarrar os Tupinambás, como ratoeiras para pilhar ratos.’ “Sobre a compleição física dos mesmos, o respeitável missionário enfoca, de forma quixotesca: ‘São todos robustos a ponto de segurarem pelo braço um de seus inimigos e atirarem ao chão, como se fosse um capão’. “Incrivelmente, a essa robustez e força se associava o canibalismo por eles praticado. Aliás, também os Tupinambás, antes de catequizados, praticavam a antropofagia, comendo a carne de seus inimigos, não por fome, mas por vingança e honradez, através de um ato requintadamente nefando e perverso. Ao mesmo tempo em que os Tremembés, seus ferozes adversários, apesar de praticarem também o canibalismo, tinham hábitos diversos, quando da matança de seus inimigos, que era de fato destes nunca se serviram duas vezes da mesma arma que servira para abate do adversário. Quando guerreavam utilizavam sempre arma nova ou que nunca tivesse sido utilizada em matanças anterior. E diz o padre Ivo que, as armas já usadas eram deixadas exatamente no local onde caíra morto o inimigo “Finalmente, para sintetizar este dantesco mundo dos Tremembés, tais se selvagens não conduziam consigo muita bagagem em suas andanças vagamundas, porquanto contentavam-se com seus arcos e flechas, machados, um pouco de cauim, algumas cabaças pra conduzir água e panelas para cozinhar a bóia. “Pelos menos esses hábitos persistiram até conhecerem seus catequizadores, quando então houve uma performance quase total, posto que, das arriscadíssimas pescas dos tubarões, passaram, após o aldeamento e a civilização, para a pesca de tartarugas, da coleta de sarnambis, dos sururus e dos ovos das gaivotas que abundavam na Croa das Gaivotas, tarefas estas menos perigosas e mais condizentes com a aculturação cristã recebida, através dos jesuítas.”. (grifos nossos). Para Lima e Aroso (1989)174, os Tremembés são descendentes da corrente migratória dos Nordéstidas, que aqui chegaram por volta de 5.000 a 4.000 anos a.C. e empurraram os Jês (da corrente dos Lácidas – 7.000 a 5.000 a.C.) para o interior. Dividia-se em dois grupos, Tremembés (marítimos) e Muras (fluviais). Sua expansão deu-se no Nordeste brasileiro, permanecendo no litoral, nunca se internando pelo interior, limitando-se às praias e estuários dos rios e igarapés; não foram grandes expansionistas, indo do Pará ao cabo de São Roque. Comprimidos pelos Tupis-Guaranis, na época do contato, se reduziam às praias do Maranhão e parte do Ceará. Seu habitat era o delta do Parnaíba (Tutóia) e baia de Turiaçú. Ao listarem os ameríndios maranhenses, em sua antiguidade da localização (p. 101), consta:    174

Tamembés – P319 Taramembeses – C614 Taramembeses – C317, 614, 622

LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olir Corria Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989.


Teremembés – C317, 614, 622, D178

onde: C – César Marques, 1870; D – D’Evreux, 1612; P – Paula Ribeiro, 1819. Quanto à sinomínia: 

Teremembés – Taramembeses, Tremembés, tremens, Aiaiás, Anapurus, Caicaises, Cuajás, Guajajaras, Manjes, Guajajaras, Gojajaras, Manajós, Manxós, Mirins, Perejás, Periás, Preás, Perianos, Tabajaras, (p. 103)

Esses Autores, aos estudarem as correntes migratórias do Maranhão, informam, ainda, que os nordéstidas maranhense eram representados por um único povo: os Tremembés (Taramembé, Tremembé), que ocupava inicialmente a costa maranhense, antes da chegada dos Brasílidas. Com a invasão dos Tupis-Guaranis, perderam a ilha de São Luís e seus arredores. Sua área preferida era o Delta do Parnaíba e a Baía de Turiaçú. Foram os fundadores de Turiaçú e Tutóia. São originários da III Corrente de Canals-Pompeu Sobrinho, que os denominou de “nordéstidos”, embora Estevão Pinto os tenha agrupado entre os “Cariris”; os Tremembés seriam cariris maranhenses. Quanto a sua cultura, descreve-os Lima e Aroso, que viviam no litoral, onde eram grandes pescadores; quase não praticavam a agricultura; eram exímios nadadores, capazes de nadar longas distâncias e mergulhar por tempo longo; usavam canoas, barcos de couro e jangadas; eram nômades e, como tal, carregavam pouca coisa consigo, em suas freqüentes andanças pelas praias sem fim. Por isso, as casas eram mais paraventos, construídos no meio da praia para permitir, inclusive, boa visibilidade dos inimigos. Não possuíam rede, dormiam no chão, sobre a areia do próprio piso da casa. Possuíam, contudo, cerâmica.175 Eram muito aguerridos e temidos pelos Tupinambás, seus velhos inimigos. Praticavam o canibalismo, pois comiam indiferentemente, inimigos e náufragos portugueses, o que lhes custou sérias e fatais represálias. Muitas foram às guerras contra os Tremembés. Resistiram à invasão dos Tupinambás; dos franceses, aliados a estes. Dos portugueses... O Gov. Inácio Coelho passou grande vexame numa de suas viagens pelo interior. Numa parada em Turiaçú, como era costume, os Tremembés tentaram cortar as amarras do navio do Governador, com o fim de levá-lo a deriva, aprisionar e comer os prisioneiros e ficar com seus pertences. Retornando a São Luís, mandou uma expedição contra esses índios, sob o comando de Vidal Maciel Parente, em 1679. Essa expedição foi composta de 30 canoas e um barco grande, 140 soldados e 470 índios. Surpreendidos, foram dizimados; dos 300 índios encontrados, apenas 37 se salvaram...176 Os Tremembés de Tutóia foram poupados – possivelmente porque prevenidos. Informam Lima e Aroso que sua presença posterior é atestada pelo Governador Lobato e Sousa, que os considerava prestimosos. Melo e Povoas em viagem pelo Maranhão, quase cem anos depois (1767), observou-lhes as condições sócioeconômicas. E quanto aos Caetés, diz a lenda que “a região dos Lençóis Maranhense era habitada pelos índios caetés, que um dia acordaram com a aldeia soterrada pela areia.177. Informa Alves Júnior178 que o nome Caeté significa “gente da floresta” e foram aqueles que devoraram o primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha quando o azarado naufragou na costa do nordeste,

175

Lima e Aroso encontraram restos dessa cerâmica em sambaquis em Tutóia e Turiaçu, assim como machados de pedra polida comum (p. 44) 176 SOUSA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1977 177 in http://www.intercities.com.br/pacotes/ saoluislencois.htm 178 in Ozias Alves Júnior. “Uma breve história da língua tupi, a língua do tempo que o Brasil era canibal”, texto capturado em 23/10/2004, disponível em http://www.uni-mainz.de/~lustig/guarani/lingua_tupi.htm.


em 16 de julho de 1556; vagavam por Alagoas. Já Maranhão, Mendes Jr. e Roncari179 ensinam que quando os portugueses chegaram ao Brasil, entraram em contato com diversas tribos localizadas no litoral: “Um dos grupos mais importantes foi o dos tupinambás, um dos grandes inimigos da colonização portuguesa. Espalhados por uma parte da costa brasileira, eram encontrados sobretudo na Bahia e no Rio de Janeiro, migrando, mais tarde, para o Maranhão, o Pará e a ilha de Tupinambaranas (Amazonas). Povo extremamente belicoso, a guerra desempenhava papel destacado na sua economia, como fator de ‘conservação e aumento dos recursos naturais sujeitos ao domínio tribal .’ ”Desta forma entraram em conflito com os goitacases, os tupiniquins, os carajás, os caetés, os botocudos, os tupinas, os diversos grupos dos tapuias e, após o início da colonização efetiva do Brasil pelos portugueses (1530), moveram guerra contra estes, sendo expulsos ou aniquilados...”. (grifos nossos). Os índios Tupis que povoaram o Maranhão e o Pará procediam provavelmente da Bahia e Pernambuco em ondas migratórios sucessivas depois de 1562, primeiro caminhando para o interior e depois tomando a direção norte, detendo-se na foz do Amazonas. Por terem contato com os portugueses, adquiriram um conhecimento íntimo de seu processo de colonização. Daí, quando da chegada dos franceses ao Maranhão180, encontrarem certa resistência na aldeia de Eussauap (hoje, Vila Velha de Vinhais) por parte de um velho de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Dessas migrações, participaram principalmente os índios Caetés e Tupinambás. No Maranhão e no Pará continuaram em grande parte solidários. Com exceção dos que povoaram a região da serra de Ibiapaba, os demais se conservaram aliados e amigos. Contudo, “não se pode dizer o mesmo quanto à ligação destes grupos locais com os Caetés”181. Vamos ver o que dizem Lima e Aroso (1989) sobre os Caetés. Primeiro, pertenciam ao grupo dos Brasílidas, os mais recentes a se instalarem por essas bandas, por volta de 3.000 a 2.000 anos, vindos da região cisandina da bacia amazônica. Grandes imigrantes atravessaram os Andes e pelos afluentes noroestes do Amazonas chegaram a sua região setentrional (p. 27). Faziam repetidas migrações pelo litoral brasileiro, ocupando-o quase todo, na época do contato. Tiveram de empurrar os Lácidas e os Nordéstidas, ocupando os melhores lugares. Quando à sua cultura, descendentes de grandes navegadores protomalaios, facilmente se adaptaram à navegação fluvial, pelo uso de canoas (ubá). Eram agricultores mais evoluídos, cultivando a mandioca, o milho, alimentos básicos de sua alimentação. Ceramistas exímios foram responsáveis pela melhor cerâmica pré-histórica do Brasil. Os Tupis-Guaranis foram seus descendentes, dentre outras nações, que por sua vez deixaram outros inúmeros povos, como os do nordeste brasileiro: Tabajara (na Ibiapaba e no litoral de Pernambuco e Paraíba) os Tupinambás (litoral da Bahia e Maranhão), Caeté (litoral de Pernambuco e Alagoas)(p. 29). Bem, Zé Maria, Tremembés ou Caetés? Qual deles constituiu a aldeia onde hoje se localiza Tapuio? Ao que parece, seriam Tremembés, pois estes eram tapuios – inimigos – dos Caetés... Ou seriam outros? Pois Röhrig Assunção (1988)182, em “A guerra dos Bem-te-vis”, ao tratar do “tapuia” ao caboclo” (p. 126) afirma que os franceses e portugueses, quando começaram as suas incursões pelo litoral 179

Brasil História - texto e consulta. autores :Ricardo Maranhão, Antônio Mendes Jr. e Luiz Roncari, texto capturado em 23/10/2004, disponível em http://www.tg3.com.br/colonial/indios.htm). 180

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ROTEIRO HISTÓRICO-TURÍSTICO PARA OS ALUNOS DE ATLETISMO DO CEFET-MA. São Luís : CEFET-MA/DCS, 2002. (disponível em www.cefet-ma.br/revista, n. 9, v.5, n.2 – jul-dez 2002, disponibilizado em setembro de 2004) 181 texto capturado em 23/10/2004, disponível no sítio http://www.rosanevolpatto.trd.br/Tupinambas.htm. 182 RÖHRIG ASSUNÇÃO, Matthias. A GUERRA DOS BEM-TE-VIS: a Balaiada na memória oral. São Luís: SIOGE, 1988


maranhense, depararam sobretudo com os índios Tupinambás que viviam, sedentários, em aldeias bastante populosas antes dos grandes extermínios promovidos por Bento Maciel e os irmãos Albuquerque: “Com o início da colonização, os portugueses vão distinguindo entre os indígenas da civilização tupi e os demais, chamados ‘Tapuias’ e que eram, em geral, da família Ge. “O Maranhão oriental... era povoado no litoral pelos Teremembés; os Araioses e Anapurus no Parnaíba; os Aracarés no Preguiça; Os Barbados, Gamelas e Tupinambás no Itapecuru e adjacências e os uruatis, Guanarés e Caicases mais na região do Munin”. (p. 126-127). (grifos meus). Sabemos que muita cacaria (restos de cerâmica), pontas de flechas, é encontrada nessa região. Que tal juntar esses achados para se verificar a quem pertenciam? Aos Tremembés ou aos Caetés? Ou aos Aracarés? Mesmo porque seria interessante ter esses achados arqueológicos na Casa de Farinha, constituindo um museu local... vamos trabalhar nisso?

ESSE NOME BARREIRINHAS... Sobre Barreirinhas, porque tem esse nome, a mesma resposta do guia: não sabia, mas ouvira falar que recebera esse nome por causa de umas barreiras de barro... Parece-nos que o nome ¨Barreirinhas¨ surgiu em função da “existência de muitas barreiras e ladeiras de areia existentes na região”183. “A sucessão de barreiras que avançam do litoral para o interior em forma de dunas (de base argilosa) deu origem ao nome Barreirinhas. Para fazer jus ao nome cedido pela natureza, a sede do município situa-se ao pé de barreiras, cujo ponto mais alto é o denominado Morro da Ladeira, o qual tendo perdido sua cobertura vegetal sobre a ação devastadora dos ventos e ameaça invadir a entrada principal da cidade”. (Rocha, 1997, p. 13)184 Tomando por base Feitosa 185, a área em que Barreirinhas está situada constitui-se de terreno baixo e arenoso seguido de relevos moderados ao longo do litoral, compostos de sedimentos que integram a bacia de Barreirinhas186. Nela registram-se planícies e falésias de base argilo-arenosa a qual tem sido relacionada à formação de barreiras ou dunas vivas, que se deslocam constantemente pela ação dos ventos alísios, formando os Lençóis Maranhense187. O movimento das dunas nessa região constrói elevações que atingem 183

in http://www.ministeriojovem.mma.org.br/desbravadores/22a-regiao/A História de Barreirinhas . ROCHA, Maria das Graças Cantanhêde Silva Rocha. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE BARREIRINHAS: DA COLONIZAÇÃO AOS DIAS ATUAIS. São Luís : UFMA, 1997. Monografia de graduação em História 185 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: uma primeira tentativa de reconstituição. São Luís : Augusta, 1983 186 A bacia de Barreirinhas é considerada uma continuidade da bacia de São Luís, e é constituída de fossas tectônicas formadas por sedimentos de diversas eras, originadas e consolidadas em ambiente marinho, como fósseis de animais aquáticos e anfíbios, que existiam no período devoniano, quando mais da metade da superfície do Maranhão estava submersa sob mares rasos e quentes (in FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: uma primeira tentativa de reconstituição. São Luís : Augusta, 1983) 187 Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses: Localização: Município de Barreirinhas, Primeira Cruz e Santo Amaro (MA). Área: 155 mil há. Cenário dominado por dunas e lagoas de água doce. As grandes formações de areia alcançam até 40 metros de altura e são formadas pela ação dos ventos, que sopram constantemente do mar, empurrando a areia trazida p/ o litoral pela força dos grandes rios da região. O avanço continente adentro chega a 50 Km e estende-se por cerca de 70 Km de praias desertas. As imensas lagoas de águas coloridas, formadas pelas chuvas que caem de dezembro a julho, são povoadas por peixes e aves migratórias como o maçarico-rasteirinho e a marreca-de-asa-azul, que visitam o local em busca de alimento. A visita ao parque pode ser feita de duas formas: a mais rápida, a partir de Barreirinhas, é contratar um carro com tração nas 4 rodas p/ chegar as lagoas a oeste da cidade (as mais famosas são a Lagoa Azul e a Lagoa Bonita. Pousadas de Barreirinhas oferecem esse passeio. A outra opção é descer o Rio Preguiças de barco até o povoado de Atins e seguir a pé por 40 min. até as dunas. O transporte pelo Rio pode ser feito por barco de linha (3:30 h de percurso) ou por lancha de aluguél (1 h de percurso). Os mais aventureiros também podem usar o povoado de Atins como ponto de partida para trilhas com destino a Baixa Grande (8 h de caminhada) e Queimada dos Britos (1 dia de caminhada), vilarejos situados dentro da área do parque. (dados capturados em 23/10/2004, do sítio 184

(http://www.turismo.ma.gov.br/pt/; http://www.webturismo.com/cidades/barreirinhas.shtml)


até cinco (05) metros de altura. Esse fenômeno acontece sempre que as elevações sem cobertura vegetal que, avançando para o interior, vão sendo fixadas pela vegetação. Seguindo a orla marítima, encontra-se a embocadura do Preguiças e a Ponta do Mangue. Destacam-se ainda as ilhas fluviais das Flores e a do Arroz. E de acordo com o IBGE188, no município predominam solos de origem marinha pouco desenvolvidos, de baixa capacidade de retenção de umidade, formados pela ação dos ventos e com muito baixa fertilidade natural (quartzosas) associados a solos medianamente profundos formado pela mistura de partículas finas e concreções, bem drenadas, porosas e apresentando baixa fertilidade (solos concrecionários lateríticos). Ocorrem associados a esses dois tipos já descritos, ou em associações distintas: solos alagados e salinos pouco desenvolvidos, que aparecem normalmente no litoral e próximo às desembocaduras dos rios sob influência das marés; solos medianamente profundos; encharcados no período das chuvas , secos e duros na época da estiagem (solos indiscriminados de mangues + solonchak solonetzico (p. 5). Complicado? Mas explica a origem do nome “Barreirinhas” dado à cidade, e por extensão ao Município, e os “Lençóis Maranhense”. Vamos a outra explicação, que você me pediu...

... E ESSE NOME MARANHÃO189 Mas de onde vem esse nome “Maranhão”? recorramos ao Padre Antônio Vieira, que em seu sermão da Quinta dominga da Quaresma, do ano de 1654; servindo-se de uma fábula, afirma que: “ ... caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. “Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (Lisboa, 1991) Origem e significação do nome dado a terra Simão Estácio da Silveira, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, escrito em 1624, afirma que a "... terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”. (Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois in História do Maranhão (1904) e Berredo in Anais Históricos)190. 188

IBGE. BARREIRINHAS-MA. Rio de Janeiro : IBGE, 1984 (Coleção de Monografias Municipais). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ROTEIRO HISTÓRICO-TURÍSTICO PARA OS ALUNOS DE ATLETISMO DO CEFET-MA. São Luís : CEFET-MA/DCS, 2002. (disponível em www.cefet-ma.br/revista, n. 9, v.5, n.2 – jul-dez 2002, disponibilizado em setembro de 2004) 190 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro : Biblioteca Nacional, 1976 BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro : Tipografia Ideal, 1988. BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís : Ramos d’Almeida, 1904, vol. 1 e 2 189


Marañon era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome. Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão - dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar ? e o outro responde: Non. Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (desproposidatamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás - indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (Tavares, 1727; Silveira, 1976; Berredo, 1988; Meireles, 1980).

A Fundação do Maranhão Credita-se a Cristóvão Colombo a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492 e a Pedro Álvares Cabral o “achamento” do Brasil em 21 de abril de 1500. Mas quem “descobriu” o Maranhão ?       

Diogo de Teive, em 1452 ? Gonçalo Fernandes Távire e João Vogado, em 1453 ? João Coelho, se verdadeira sua viagem, em 1493 ? Com certeza, sabe-se que os espanhóis chegaram antes que os portuguêses, pois Alonso de Ojeda, com Juan de Las Casas e Américo Vespúcio estiveram por aqui em 1497; ou com Juan de Vergara e Garcia de Ocampo, em 1499; Vicente Pinzón visitou o Maranhão em Janeiro de 1500 – e vendo-se aquém da Linha de Tordesinhas, portanto em terras portuguesas, retorna; e Diogo De Lepe também visita-nos em Março de 1500.

Em qualquer hipótese, o Maranhão já era conhecido antes do pretendido descobrimento casual do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Mas o Maranhão passou todo o século XVI praticamente fora da história política de Portugal. (Meireles, 1980; 2001)191. A Ilha do Maranhão – Upaon-Açú – é invadida pelos franceses em 1612, que aí tentam fundar uma colônia – La France Equinoxiale. Em 1615, os franceses são expulsos e a região é incorporada aos domínios lusitanos durante a união das Coroas Ibéricas – 1580/1640. Essa reconquista das terras do norte do Brasil é o ponto de partida para o avanço do sistema colonial português. A colonização foi iniciada por ilhéus açorianos chegados em duas levas, nos anos de 1620 e 1621, dando a São Luís uma feição de burgo, transformando o simples posto militar avançado em uma povoação de colonos a que se precisaria dar uma administração civil. A imensa extensão territorial e o isolamento daquelas áreas levaram a coroa a separá-la da administração central do Brasil – Bahia era a sede do Governo Geral - criando o Estado Colonial do Maranhão, tendo

191

MEILRELES, Mário M. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980; MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 3 ed atual. São Paulo:Siciliano, 2001.


como sede a vila de São Luís, cuja jurisdição estendia-se às terras atualmente ocupadas pelos estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Piauí, Ceará, Mato Grosso e Tocantins. Constituía-se de duas Capitanias Gerais – Maranhão e Grão-Pará, as quais tinham sob sua tutela onze capitanias subalternas: a Capitania Geral do Maranhão compreendia as capitanias do Ceará, do Itapecurú, do Icatú, do Mearim, todas as quatro da Coroa, e mais as de Tapuitapera, de Caeté e de Vigia, estas três de donatários. A Capitania Geral do Grão-Pará estendia sua jurisdição às capitanias secundárias do Gurupá (da Coroa) e às de Joanes, de Cametá e do Cabo do Norte, estas de donatários. Essa divisão administrativa perduraria até 1652, quando pela Carta Régia de 25 de fevereiro de 1652 foi extinto o Estado do Maranhão, agora sob a denominação de Maranhão e Grão-Pará; em 1651 o Pará passou a ser cabeça do Estado, denominando-se do Grão-Pará e Maranhão. A Carta Régia de 6 de agosto de 1653 repartiu-o em quatro capitanias – São José do Piauí; Maranhão; Grão-Pará; e São José do Rio Negro – todas sujeitas a um governador e capitão-general, e tinha como sede a cidade de Belém. Em 1772, a região recebeu nova organização administrativa, repartindo-se em dois estados: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí. Até 1811, o Piauí ficou subordinado ao Maranhão. Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, e a conseqüente elevação da colônia lusa da América à condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, em 1815, o Maranhão passou a ser uma Província, subordinada ao Rio de Janeiro. Dessa maneira, alcançaria a Independência. (Cavalcanti Filho, 1990)192. Colonização do Maranhão Inicia-se com Martin Afonso de Sousa, que mandou um de seus navios descobrir as terras do Norte. Diogo Leite saiu de Pernambuco e chegou até o Rio Gurupi. Com a divisão do Brasil em Capitanias, a do Maranhão foi dada a João de Barros, mas não chegou a ser instalada. Se associando a Aires da Cunha, naufragou no Boqueirão. Os sobreviventes teriam fundado a Vila de Nossa Senhora de Nazaré, em 1534. Essa Vila teria sido instalada na Ilha Grande, alguns a dão como na Ilha do Medo e outros, em terras continentais – Alcântara. O certo, é que muito ano depois se descobriu uma tribo de índios denominada de Barbados Rouxés, que se diziam descendentes dos “perós” – portugueses. Eram de pele clara, olhos pouco amendoados, cabelos claros, e cultivavam barba, como os perós, e cominam pão de milho zaburro, como os perós... Não se davam com as demais, de quem se mantinham permanentemente em guerra, aguardando a volta – socorro ? - dos seus pais... Abandonada por João de Barros, a Capitania do Maranhão foi dada a Luís de Melo e Silva, que organiza duas expedições ao Maranhão, naufragando na segunda, no Boqueirão. Os portugueses abandonam a idéia de conquista do Maranhão por mar. Tentam chegar, então, por terra: Pedro Coelho de Sousa sai da Paraíba e não consegue passar do Ceará, pois os índios não deixam. Os Padres Francisco Pinto e Luís Figueira também não conseguem passar do Ceará. Franceses no Maranhão Os Portugueses abandonam a conquista do Norte, dadas as dificuldades de se entrar no Golfão maranhense transpor o Boqueirão. Piratas estrangeiros começam a se estabelecer aqui, vivendo em boa paz com os índios Desde 1594 os Franceses organizam expedições com o objetivo de se estabelecerem no Maranhão. Jacques Riffault estabelece uma Feitoria e ao retornar à França, deixa alguns tripulantes, dentre eles, Charles Des Vaux. Este, após nove anos de espera, consegue retornar a França, relatando as riquezas da terra e, em 1604, conduz Daniel De LaTouche para fazer um reconhecimento e comprovar a veracidade das informações. 192

CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís : SIOGE, 1990.


Com a morte do Soberano - Henrique IV - a organização de uma armada de conquista é adiada até 1611, já no reinado de Luís XIII. Em 1612, Daniel De La Touche, Senhor de La Ravardiére; o Barão De Rassily e o Barão De Sancy aportam à Ilha Grande, fundando uma colônia, a qual deram o nome de França Equinocial. Organizam a defesa da Ilha, com a construção de um Forte - de São Luís - em homenagem a Luís XIII e um ancoradouro - Porto de Santa Maria -, em homenagem a Rainha-Mãe - Maria de Medicis. A 8 de setembro de 1612, tem lugar a implantação da cruz na Ilha do Maranhão. Fundada a França Equinocial, a 8 de setembro de 1612, saíram a visitar a Ilha os lugares-tenentes de Daniel de La Touche, De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upaon-Açú, de nome David Migan. D' Abbeville (1975) descreve as aldeias do Maranhão como tendo até quatro cabanas, medindo de 26 a 30 pés de largura por 200 a 500 pés de comprimento, segundo o número de pessoas que nelas habitavam. Algumas aldeias possuíam de 200 a 300 habitantes, outras de 500 a 600, e às vezes mais. As casas eram dispostas em forma de quadrado, havendo uma praça grande e bonita ao centro. (História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas, p. 114)193. O Padre Claude D’Abbeville foi quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes. Pela sua descrição, observa-se que a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais foi o primeiro núcleo residencial dos brancos que se estabeleceram no Maranhão. No Forte - a hoje cidade de São Luís - ficava apenas uma guarnição de oito soldados, a vigiar. Os demais, habitavam as aldeias então existentes. A primeira a ser ocupada foi Eussauap (hoje, Vila Velha dos Vinhaes). Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; uma possuía três. Eussauap possuía quatro - "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiaçu e Tapire-Evire". A aldeia principal da ilha contava com cinco principais. A Ilha Rebelde É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que quatro a seis luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí - padres - plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para os servirem. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o Sr. de Sancy e D' Abbeville a sua visitação. A COLONIZAÇÃO DAS “PERGUIÇAS” “rio Preguiças pela lentidão de suas águas”. Os Portugueses deram início à colonização efetiva do território maranhense. Duas frentes se destacam: a primeira, partindo do litoral – da Ilha – estendendo-se para o interior através dos rios Munin, Itapecuru, Pindaré e Mearim – Frente Litorânea; a segunda, vinda do Piauí, como expansão das frentes pernambucana e baiana – Frente do Interior. (Cabral, 1992)194. 193

194

d' ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte : Itatiaia; São Paulo : EDUSP, 1975.

CABRAL, Maria do Socorro Coelho. CAMINHOS DO GADO: conquista e ocupação do sul do Maranhão. São Luís : SIOGE, 1992.


Para Rocha195, o devassamento da região de Barreirinhas se deu pelas duas Frentes – do Litoral, como extensão da colonização de Tutóia; e do Interior, a partir da corrente pecuária que ultrapassou o Piauí, na altura de Campo Maior, atravessou o Parnaíba para a região de São Bernardo e Brejo, e de lá chegou à região de Barreirinhas. A primeira frente – do Litoral – chegou com a ação missionária dos jesuítas, que atravessaram o Parnaíba pela primeira vez em 1656, quando fizeram também o primeiro contato com os Tremembés196. A redução dos Tremembés foi trabalho dos jesuítas. Começou nas “primeiras tentativas da Restauração maranhense contra os intrusos franceses”, conforma informam Lima e Aroso (1989, p. 45), e pode ser dividida em duas fases – luta armada contra os potiguares, numa fracassada expedição de Pero Coelho de Sousa, iniciada pelos padres Francisco Pinto e Benedito Amodei na parte mais setentrional da Serra Grande (Ibiapaba); após conseguida a pacificação desses índios potiguares, partiram para a dos Tremembés do Ceará e do Maranhão. “Aqueles aborígenes, tidos como tapuias e muito selvagens, embaraçavam a passagem para o Maranhão, de vez que ocupavam todo o litoral, por onde pretendiam passar os missionários, que preferiam viajar a pé, próximo ao litoral, à medida que iam conquistando almas” (Lima e Aroso, 1989, p. 45; grifos nossos).     

em 1655, o Governador Vidal de Negreiros considerava necessária a construção de uma fortaleza na barra de Camocim, a fim de neutralizar a ação dos Tremembés, do litoral, e dos Tabajaras (serra); em 1658, o Governador Freire de Andrade tentou restaurar o Forte do Periá, em defesa contra os Tremembés em 1675, os Tremembés foram finalmente reduzidos, pelo padre Pedro Pedrosa, sempre com a finalidade de facilitar o caminho para o Maranhão e Grão Pará; em 1679, como vimos, Vidal Maciel Parente ainda fazia terrível excursão contra eles. Nesse ano, estavam tamém aldeados em Turiaçú, em outra missão jesuítica. Por esse tempo, ocupavam o litoral noroste, desde Caeté. Em 1722, os Tremembés são finalmente reduzidos, pelo padre João Tavares.

Os Teremembés dominavam vastas regiões do norte maranhense – região dos Lençóis e Delta do Parnaíba -; o governo manda uma expedição, em 1679, sob o comando de Vital Maciel Parente; encontrando um troço de índios, estes são dizimados – mais de 300. Somente em 1722, se efetuaria a redução desses índios, por obra do Pe. João Tavares, cognominado Apóstolo dos Teremembés. O próprio padre descreve os costumes daqueles índios marítimos, definindo-os como “peixes racionais”. Informamos197 que o Padre jesuíta João Tavares198 é considerado o fundador da cidade de Tutóia - Ma; era natural do Rio de Janeiro, onde teria nascido a 24 de setembro de 1679. Viera para o Maranhão como mestre de Filosofia e Teologia, tendo ensinado também Gramática. Foi Vice-Reitor do Colégio. Cumprida sua missão, deram-lhe opção de voltar ao Rio de Janeiro, não a aceitando, por amor aos Teremembés. Faleceu em São Luís, em 11 de julho de 1743 – (ou 44, segundo Ramos, 2001)199. Em 1724, o missionário pediu, e obteve, duas léguas de terra e a ilha dos Cajueiros. Teve problemas com fazendeiros – três irmãos e um primo, que a invadiram, para criação de gado – e, não conseguindo resolvê-lo 195

ROCHA, Maria das Graças Cantanhêde Silva Rocha. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE BARREIRINHAS: DA COLONIZAÇÃO AOS DIAS ATUAIS. São Luís : UFMA, 1997. Monografia de graduação em História 196 SOUSA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís : Fundação Cultural do Maranhão, 1977. 197 Sobre João Tavares, ver VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. São Luís : (inédito). 198 João Tavares, padre da Companhia de Jesus, é o autor da “Breve descrição das recreações do Rio Muni do Maranhão, pelo João Tavares da Companhia de Jesus missionário, do dito estado. 1724” 199 RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001; RAMOS, Clóvis. OS PRIMEIROS JORNAIS DO MARANHÃO – 1821 - 1830. São Luís : SIOGE, 1986; RAMOS, Clóvis. OPINIÃO PÚBLICA MARANHENSE (1831 a 1861). São Luís : SIOGE, 1992.


com o Governador – que também tinha interesses na região, retirando índios para seu serviço -, recorreu a El-Rei, que deu ganho de causa ao missionário e exigiu que se cumprissem as condições do aldeamento: servir aos brancos nas pastagens de gado vacum e cavalar e garantir para a Coroa a vigilância daquela faixa marítima. O padre comprou os gados introduzidos irregularmente aos fazendeiros. A missão chamou-se Nossa Senhora da Conceição. Em 1730, contava com 233 índios ainda pagãos, que aprendiam a doutrina. João Tavares situou a aldeia nas praias dos Lençóis, onde faz barra principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também Canal de Tutóia. César Marques (1970)200, no verbete Tutóia, de seu Dicionário ..., informa serem os índios Trememés (sic), os mais bem figurados, valentes e prestimosos que tinha a Capitania, segundo o pensar do Governador Gonçalo Pereira Lobato e Sousa – 1753/1761. Esses índios tinham, em 1727, no tempo do Governador e Capitão-General João da Maia da Gama – 1722/1728 -, duas datas de seis léguas de terra, as quais foram medidas e demarcadas à custa dos mesmos índios. Prossegue: “Pouco tempo era passado quando das bandas da Parnaíba vieram uns homens que foram situando aí fazendas de gado vacum e cavalar, e sucitando-se questões entre eles, os índios os expeliram, e um jesuíta, que lá vivia em muita intimidade, com o fim de terminar tais pendências, comprou aos seus legítimos donos o gado existente, e de então por diante ficaram os padres da Companhia possuindo como suas as terras destes índios.” (p. 622) (grifos meus). César Marques não traz João Tavares como o fundador de Tutóia, nem o identifica como o jesuíta que vivia entre os Teremembés - embora fosse conhecido como o Apóstolo desses índios -, o mesmo ocorrendo com Cardoso (2001)201, que apresenta a descrição dos 217 municípios maranhenses. Às páginas 572-581 traz a descrição de Tutóia, basicamente transcrevendo do que consta no Dicionário de César Marques, não fazendo referência, também, a João Tavares... No que se refere a segunda frente – a do Interior -, Rocha (1997) acompanha a hipótese de Simonsen (1996)202 de que seria derivada da expansão da pecuária que veio do Piauí e atravessou o Parnaíba. Ambas as frentes foram seguidas pela pecuária. As fazendas levaram a instalação de povoados, fixando a conquista do território e expulsando definitivamente os índios. Para Cardoso203, admite-se como origem de Barreirinhas um povoado à beira do rio Mocambo, onde o Governo Imperial, em 1849, mandou construir uma ponte: era o entroncamento dos caminhos vindos da comarca de Campo Maior-PI à do Brejo-MA e desta à de Icatu-MA, através do mencionado rio Mocambo (p. 73): “A fertilidade da pastagem para as criações, bem proporcionais à lavoura motivou a ponte atendendo aos viajantes do julgado São Bernardo da Parnaíba à então freguesia de São José do Periá (1835), Miritiba – atual Humberto de Campos – ensejando afluência de pessoas e povoados. A fertilidade do Preguiças, navegável e cheio de afluentes (rio Preguiças pela lentidão de suas águas), com povoamento quer atraiu a então freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Barreirinhas, com os seguintes povoados: Santo Antônio, Barreira Velha, São Domingos, Alto Bonito, Santa Rosa e Morro Alto. Tudo em torno do rio, com destaque para o de Santo Antônio pela fazenda de criação de gado, engenho de açúcar, rapaduras e aguardente, propriedade da Companhia de Jesus”. (p. 73). Ainda seguindo Röhrig Assunção (1988, p. 127), os Jesuítas tiveram a sua fazenda de Santo Inácio, no Preguiça (hoje no lugar chamado Santo Antônio, município de Barreirinhas) outra no Alegre (hoje 200

MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970 201 202

CARDOSO, Manoel Frazão. Tutóia. In O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001, p. 572-582.

SIMONSEN, Roberto. HISTÓERIA ECONÔMICA DO BRASIL – 1500/1820. São Paulo: Cia Editora nacional, 1996 203 CARDOSO, Manoel Frazão. O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001.


município de Primeira Cruz). Tiveram fazendas também em Tutóia, em Araioses e as três fazendas de gado Santo Agostinho, Bacuri e Sambaíba na Lagoa do Santo Agostinho (hoje Lagoa do Bacuri/município de Magalhães de Almeida). A Fazenda de Santo Antônio, dos Inacianos, é considerada um dos embriões da ocupação da área onde se originou o município de Barreirinhas. Estava situada na margem esquerda do rio Preguiça, a poucos quilômetros da atual sede, em terras da antiga fazenda Santo Inácio, também de propriedade da Companhia de Jesus. “... seus donos eram portugueses que ali estabeleceram um engenho movido à força hidráulica, para produzir açúcar e aguardente, utilizando o trabalho escravo. A produção seria vendida para a capital da província do Maranhão e para outras províncias, sendo transportada por embarcações a vapor que ancoravam no porto da própria fazenda. “A memória oral registrou que sua proprietária, Dona Ana, senhora de escravos, tratava seus cativos com crueldade”. (Pereira, 1977, citado por Rocha, 1997, p. 33)204. Coelho Neto (1985) 205 informa que em 1816 foi cedida uma sesmaria a Sotero Antonio Reis, às margens do Rio Preguiças. Outra fazenda é a Santa Cruz - situada a seis quilômetros da sede do Município. Antiga Fazenda dos Macacos, que pertenceu à família Carvalho, foi adquirida por Manoel Carlos Godinho, filho de portugueses. Este trabalhava em São Luís, na farmácia da família Machado, quando o patrão morreu. Casou-se com a viúva e mudou-se para Barreirinhas, adquirindo a fazenda dos Carvalhos. Construiu um casarão, ao lado do qual fincou uma cruz de madeira, renomeando a propriedade de “Fazenda Santa Cruz”, em 1843 (Rocha, 1997, p. 33). Continuemos com Cardoso (2001), ao se referir a “lugares, pastagens e trajetos”, pela época de formação do povoado: (p. 73-74): “À margem da estrada vinda do julgado de São Bernardo da Parnaíba à freguesia de São José do Periá, os lugares: Vertente, Buriti Amarelo e Santo Amaro. No caminho Brejo via Icatu encontravam-se Campineirase Butirizinho, hoje pertencente a Urbano Santos. E mais os lugares Casso, Santa Cruz, São José, Olho d’Água, Morro Branco, Onça, Surrão e Bom Jesus, que em 1860 já eram sedes de quarteirão pertencentes à freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Barreirinhas, de ótimas águas, pastagens para criações e mato para a lavoura.” A freguesia foi criada pela Lei Provincial no. 48, de 18 de junho de 1858, com território desmembrado de Tutóia, Brejo, Miritiba (hoje, Humberto de Campos) e São Bernardo, e instituída canonicamente em 1º. de outubro do mesmo ano, segundo César Marques; para Rocha, seria 1º. de dezembro, tendo sido seu primeiro vigário o Pe. José pacífico Serra, nomeado em dezembro de 1861206. “LEI NO. 48 DE 18 DE JUNHO DE 1858 “João Pedro Dias Vieira, vice-presidente da província do Maranhão, faço saber a todos os habitantes que a Assembléia Legislativa provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte: “Art. 1º. Fica creado na Comarca do Brejo, no lugar Barreirinhas nas Preguiças, uma freguesia com a vocação de Nossa Senhora da Conceição. 204

Antonio Pereira, em entrevista sobre o município de Barreirinhas, concedida a ROCHA, Maria das Graças Cantanhêde Silva Rocha. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE BARREIRINHAS: DA COLONIZAÇÃO AOS DIAS ATUAIS. São Luís : UFMA, 1997; junho de 1997, p. 33 205 COELHO NETO, Eloy. GEO-HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: SIOGE, 1985, p. 134. 206 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970 , p. 108; ROCHA, Maria das Graças Cantanhêde Silva Rocha. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO MUNICIPIO DE BARREIRINHAS: DA COLONIZAÇÃO AOS DIAS ATUAIS. São Luís : UFMA, 1997. Monografia de graduação em História, p. 37 CARDOSO, Manoel Frazão. Barreirinhas. In O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001, p. 73-75.


“Art. 2º. A freguesia começará da Lagoa Grande próximo à barra do Preguiças no litoral, e dahi partirá em linha recta à foz do rio Lago, e por este acima até as suas cabeceiras no Guarumã, e dahi pela estrada que guia do Santa Rosa a São Bernardo até o rio Vertente inclusive, deste ponto a mesma linha ira ao Facão do Capitão Raimundo de Caldas Ferreira exclusive, donde partirá às cabeceiras do Surrão e deste lugar no antigo sítio do major Antonio Pereira na margem direita do rio Mocambo e por este acima até a barra do riacho Morros de Joaquim Alves da Fonseca inclusive. Da casa deste seguirá a mencionada linha recta pela estrada ds Barrocas, que vão as cabeceiras do Espigão, e por este abaixo até as extremas da fazenda Cajuieiro do Salgado inclusive com Santo Amaro, e dali ao litoral na baixa cruz.” (in Rocha, 1997, anexo). De acordo com Marques – em seu Dicionário..., de 1870: “... Tem esta freguesia de norte a sul quatorze léguas de extensão, e, de leste a oeste, vinte e duas provavelmente. “Esta assenta à margem do rio Preguiças, em terreno fertilíssimo, regado por um rio importante, por vários riachos e regatos, e alguns lagos, dando assim sinais evidentes de ser lugar muito apropriado para a agricultura, principalmente estando longe da capital apenas 48 horas de viagem. “Este lugar é abundante de peixe, e seus campos são ótimos para a criação de gado vacum, e plantação de cana – de- açúcar. “É o 3º. Distrito de paz, pertencente à Tutóia e está dividido em 14 quarteirões. “Distingue-se o quarteirão das Barreirinhas por ser a sede da freguesia e a residência do pároco e das autoridades; o de Santo Antonio por ser nele situada a fazenda, tão falada, de S. Inácio, pertencente a Companhia de Jesus; o de Alto-Bonito, pelos grandes riachos – Estiva, Riachão, Bacuri, Tiririca, São Roque, Mirim, Prata e Palmeiras, os quais desembocam no rio Preguiças, facilitando assim o embarque em pequenas canoas, de arroz, milho e farinha de mandioca, gêneros estes que dali são exportados. “Neste caso também estão o quarteirão de S. José, pelos riachos Palmeiras, Tamburi, Riachinho, Taboca, Riacho do meio, etc. e de Buriti Amarelo, pelos riachos Murim, Santa Cruz, Cocal e outros; o da Onça, pelos riachos Onça, Tabatinga e Barra; o do Bom Jesus, `margem do riacho do mesmo nome, importante pela sua população, uberdade e extensão do terreno e gênio laborioso dos seus habitantes. Todos esses lugares são apropriados para colocação de engenho destinados ao fabrico de açúcar e aguardente. “O quarteirão do Cassó é importante por ter em seu centro uma lagoa que fornece peixe para toda a sua população que não é pequena: o do Morro Branco, pela abundância de árvores de construção, que aí é ótimo ramo de negócios; o de Santo Amaro em sua máxima parte situado na costa do mar, bem como o de Buritizinho e do Surrão, pelos seus campos e chapadas tão boas para a criação de gado vacum e cavalar, muar e lanígero, sendo notável que todos estes estirões tenham margens frescas e apropriadas para a plantação de cana e do arroz. “Existem no centro boas matas próprias para a plantação do milho, mandioca, algodão e outros gêneros. “Fabricam-se açúcar e aguardente, cultivam-se arroz, milho e mandioca, e existem alguns criadores de gado vacum e cavalar. “Faz-se alguma navegação para a capital desta Província e para a vila da Parnaíba por meio de canoas grandes. “Tem uma cadeira pública de primeiras letras para meninos, outra particular e uma de ensino da língua francesa eGeografia também particular.” (p. 108).


Em 1860, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Barreirinhas possuía 7.334 habitantes, sendo 6.763 livres e 571 escravos, distribuídos em diversos quarteirões: Quarteirões Livres Escravos Barreirinhas 530 20 Santo Antônio 320 150 Santa Cruz 380 160 São José 410 10 Buriti Amarelo 580 150 1º., 2º., e 3º. Quarteirões do Casso 1.505 Morro Banco 200 Santo Amaro 430 15 Olho D’Água 348 16 Onça 340 Bom Jesus 530 50 Buritizinho 360 Surrão 550 Campeineiras 270 TOTAL 6.763 571 Fonte: MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970, p. 108-109.

Total 550 470 540 430 730 1505 200 445 364 340 580 360 550 270 7.334 GEOGRÁFICO DA

Barreirinhas não pertenceu individualmente a nenhum dos quatro municípios que o constituiu, tendo perdido alguns quarteirões: Cassó e Santo Amaro passaram para Miritiba (Humberto de Campos), Buritizinho, para o de Morros; Surrão e Campineira para o de Brejo; Guaribas e Bom Jesus para o de Urbano Santos, que surgiu em 1929. Foi termo judiciário de Tutóia até 1936, passando para a de Araioses até 1956, voltando para Tutóia. Antes, porém. Lá por 1872 foi termo de São Bernardo, Tutóia, Araioses e de si própria. (Cardoso, 2001, p. 73-74). De acordo com Rocha (1997), 

em 1864, a área de Barreirinhas foi reduzida com a transferência dos quarterões do Cassó para o município de Humberto de Campos;


 

em 1871, a 14 de junho, através da lei Provincial no. 951, a povoação de Barreirinhas passou a categoria de Vila, e estava automaticamente criado o município com esse mesmo nome, passando a ser administrado por uma Câmara Municipal, conforme as leis do Império. Esta mesma lei extinguiu a vila d Viçosa (Tutóia), ficando o seu território anexado à vila e município de Barreirinhas. Tutóia só resgatou a sua autonomia em 29 de dezembro de 1890, desmembrando-se de Barreirinhas para voltar a ser município. Em 1872, a 15 de junho, através da lei Provincial n. 955, passou a ser sede da Comarca de Barreirinhas, composta dos Termos de Barreirinhas e de São Bernardo. Posteriormente foi integrada também pelos termos de Tutóia e Araioses. Em 1938, o Município de Barreirinhas não era mais seda de Comarca – decreto-lei no. 45, de 29 de março de 1938 -, mas termo da Comarca de Araioses, juntamente com os termos de Araioses, Tutóia e São Bernardo.

Para Rocha (1997) causa estranheza que essa medida seja referida pelo IBGE como ato de criação do município de Barreirinhas, uma vez que este ato já havia se consolidado em 1871, quando Barreirinhas se tornou município.  

Em 1967, a Comarca de Barreirinhas foi recriada, passando o município a contar com juiz e promotor. Em 1978, pela lei no. 176, de 20 de maio, foram criados os hino, brasão e bandeira do município.

Quanto à localização, Barreirinhas pertence à Zona do Litoral Nordeste 04 – Lençóis Maranhese -, com sede à margem direita do Preguiças, 42 quilômetros da foz, em terreno arenoso e plano; latitude Sul: 2º 37’50”; longitude W Gr. 42º 45’45”. Distante 166 quilômetros em linha reta da capital; altitude de oito (8) metros na sede municipal. Tem seus limites, ao Norte com o Oceano Atlântico, Praias dos Lençóis e o município de Primeira Cruz; ao Leste com Tutóia e São Bernardo; ao Sul com o município de Santa Quitéria do Maranhão e a Oeste com o de Primeira Cruz (Cardoso, 2001, p. 75).


A título de conclusão Zé Maria, como se vê, Tapuio não é mencionado em nenhum momento, quando se observa a história de Barreirinhas, no período de ocupação do território dos Lençóis. Quando Tapuio foi criado? É preciso verificar entre os moradores mais antigos a partir de quando começou a sua ocupação por brancos e quando se constituiu em povoado reconhecido. Vamos trabalhar nisso? Assim como é necessário resgatar – assinalando os locais – os restos de material de origem indígena – restos de cerâmicas, urnas funerárias, sambaquis, pontas de flecha, etc. que porventura sejam achadas por essa região... E Laranjeiras? E Cantinho?


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


A ARTE DE CURAR NO MARANHÃO207 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Caro Confrade sei de seu interesse em relatar uma história da arte de curar no Maranhão; ou uma História da Medicina no Maranhão. Sei que temos o cirurgião de Daniel de La Touche como o primeiro ‘médico’ a atuar por aqui. Mas me pergunto se em Miganville não havia um físico-mor também. Afinal, a feitoria de Jacques Riffault contava com cerca de 400 homens brancos ali vivendo, onde é hoje a nossa Vila Velha de Vinhais desde 1594. Ainda não temos registros, mas já li que havia um padre jesuíta (?) entre eles... Vamos ao que interessa; não sei se o Confrade já localizou o P. ANTONIO PEREIRA208, natural de São Luis do Maranhão, onde nasceu em 1638. E entrou para a Companhia de Jesus nesta mesma cidade pelo ano de 1655. Estudou parte em Portugal, parte na Bahia e entre os seus estudos se incluem algumas noções de Medicina. Voltou ao Maranhão, onde ficou Mestre de Noviços. E como quer que pelo Brasil, onde tinha estudado curso de Teologia, havia também concorrido com os enfermos, e dando-se por entendido em matéria de curá-los, era buscado dos doentes aos quais acudia assim para a saúde do corpo como a da alma com muita caridade. (BETTENDORF, 1990) 209.

Até onde consigo entender, este seria nosso primeiro médico! Pois nascido em São Luis e aqui exercido a Medicina... Salvo melhor juízo... A chegada dos Jesuítas e a Fundação do Colégio - 1618 210 A presença de ordens religiosas na colônia prendia-se, teoricamente, aos interesses pela conversão e educação dos nativos, instrumento de dominação da política colonial europeia (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 30) 211. Em 1618, os jesuítas instalam-se em Maranhão, na antiga Aldeia da Doutrina (hoje, Vila do Vinhais Velho). Além dessa primeira, duas outras missões situavam-se na Ilha: a aldeia de São Gonçalo ou Tuaiaçu Coarati – que se destacou pela produção de sal; e a de São José, onde os padres da Companhia mais exercitaram suas funções, e foi aldeia de serviço de El-Rei. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 31) 212.

207

Publicado no Blog do Leopoldo Vaz, em 20/03/2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/03/22/carta-ao-confrade-aymore-ou-a-arte-de-curar-no-maranhao/ Publicado no Blog do Leopoldo Vaz, em 31 de agosto de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/08/31/11487/ 208

LEITE, Serafim. ARTES E OFÍCIOS DOS JESUÍTAS NO BRASIL – 1549-1760. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2008. Edição fac-similar da de 1953: Lisboa – Rio de Janeiro, Edições Brotéria e Livros de Portugal, p. 234 209 BETTENDORF, João Felipe. CRONICA DOS PADRES DA COMPANHIA DE JESUS NO ESTADO DO MARANHÃO. 2ª Ed. Belém: FCPTN/SECULT, 1990, p. 304 210 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dants Brito; VAZ, Loreta Brito. INDÍCIOS DE ENSINO TECNICO/PROFISSIONAL EM MARANHÃO: 1612 – 1916. São Luís: CEFET-MA, Novembro de 2003 211 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 212 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990.


Em 1622, fundam o Colégio 213 e a Igreja Nossa Senhora da Luz (atual Igreja da Sé). O “Colégio de Nossa Senhora da Luz” era a "cabeça" da missão jesuítica no Maranhão (CAVALCANTI FILHO, 1990214; VAZ e VAZ, 1994215; PELLEGRINI, 2000)216. De acordo com o Pe. José Coelho de Souza, em “Os jesuítas no Maranhão” 217, os jesuítas fundaram diversas estabelecimentos de ensino em São Luís, Alcântara, Parnaíba, Guanaré e Aldeias Altas, Vigia e Belém: colégios, seminários, escolas: Nesses estabelecimentos existiram escolas rudimentares de aprendizagem mecânica, o que hoje chamaríamos Escolas de Artes e Ofícios. Houve aí também as primeiras oficinas de pinturas e escultura, sendo essas oficinas postulado e conseqüência da construção dos colégios. No Colégio Nossa Senhora da Luz notava-se a Pinturia, vocábulo que não anda nos dicionários, mas é admiravelmente bem formado: era uma sala grande no corredor de cima, quase junto à portaria. Nela se ataviavam e pintavam as imagens que se esculpiam noutra oficina, a de escultor e entalhador, anexa à carpintaria. Era frequente o pedido a Portugal de se mandarem irmãos peritos em diversas artes, entre as quais a de pintor, para serem mestres. (p. 27).

São Luís foi a primeira cidade do Estado onde os jesuítas exerceram o ensino. O Colégio de Nossa Senhora da Luz, em curto espaço de tempo, tornou-se excepcional centro de estudos filosóficos e teológicos da ordem no Estado (universitate de artes liberais). Era o que melhores condições de estudos oferecia. Já em 1709, o Colégio do Maranhão era Colégio Máximo, nomenclatura usada pelos discípulos de Loyola para seus estabelecimentos normais de estudos superiores. Nesse colégio funcionavam as faculdades próprias dos antigos colégios da Companhia: Humanidades, Filosofia e Teologia, e, mais tarde, com graus acadêmicos, no chamado curso de Artes. Os estudos filosóficos compreendiam: no 1º ano, Lógica; no 2º, Física; no 3º, Matemática. O Colégio Máximo do Maranhão218 outorgava graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XIII. Dentre os estabelecimentos de ensino dos jesuítas, as Escolas Gerais ocuparam um lugar de destaque, pelo fato de terem tornado o ensino popular ao alcance de todos. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 36) 219. Ao se estudar a origem das Corporações de Ofícios 220 – Guilda, Grêmio – verifica-se que antes do século XII, tem-se notícia de uma “scholae” de pescadores e açougueiros em Ravena. O uso do termo “scholae” (associação de ofício) indica, provavelmente, que já não havia somente a preocupação coletiva com a formação de seus continuadores, mas ostentavam também um patrimônio cultural e pedagógico dotado de técnicas particulares de transmissão. Artesãos de vários gêneros formavam-se nas oficinas dos mosteiros que faziam às vezes de escolas de Arte no sentido lato, e cuidavam especialmente do treinamento de jovens, em laboratórios artesanais destinados a instruir a mão-de-obra necessária. Essas “oficinas” deram origem às “universitates”. As universitates (associações) de artesãos são progressivamente institucionalizadas e conquistam proteção dos poderes públicos. Tal ascensão se iniciou no século XII e culminou no século XIV. É acompanhada da difusão das “universitates magistrorum” ou “universitates scholorum”, isto é, aquelas que hoje chamamos universidades, associações particulares dedicadas à produção de bens intelectuais típicos das Artes Liberais (trívio e quadrívio e depois também Teologia e Direito, e mais tarde ainda, Medicina), não ainda, porém, no vértice do prestígio cultural e social. Inicialmente, de fato, a distinção entre universitates de Artes “mecânicas” e universitates de Artes liberais eram pouco marcadas. 213

Os primeiros conventos, fundados pelas ordens religiosas, que abriram escolas para meninos, foram denominados de colégio; os outros conservaram o nome de conventos In ALMEIDA, José Ricardo Pires de. HISTÓRIA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NO BRASIL (1500 - 1889). São Paulo: EDUC; Brasília: INEP/MEC, 1989, p. 25 nota de pé-de-página. 214 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 215 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 216 PELLEGRINI, Paulo. A descoberta da Arte Sacra. IN O IMPARCIAL, São Luís, Domingo, 23 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 4-5. 217 SOUSA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1977. 218 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O COLÉGIO MÁXIMO DO MARANHÃO. IHGM, palestra. 219 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 220 RUGIU, Antonio Santoni. NOSTALGIA DO MESTRE ARTESÃO. Campinas: Autores Associados, 1998


As Artes Mecânicas compreendiam todas as atividades artesanais, inclusive aquelas dos médicos, desvalorizados pelo próprio nome de “mecânica” – derivado de mecor, aris (mechor, aris, no latim clássico = rebaixar, adulterar, depreciar). As Artes Liberais correspondiam a todas as atividades aplicadas no Trívio (gramática, retórica, lógica) e no Quadrívio (matemática, geometria, astronomia, música). (RUGIU, 1998, p. 25-26; 30). Nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas (ALENCASTRO, 2000, p. 87) 221. A "Aldeia da Doutrina" foi o primeiro aldeamento de índios implantado pelos jesuítas e estava localizada onde é, hoje, a Vila Velha do Vinhais (VAZ e VAZ, 1994) 222. Os aldeamentos distinguiam-se das tabas, por serem sítios de moradia de indivíduos de uma ou de várias tribos, compulsoriamente deslocados, misturados, assentados e enquadrados por autoridades do governo metropolitano. Forros, os índios dos aldeamentos só podiam ser utilizados mediante salário, nos termos da lei (ALENCASTRO, 2000, p. 120) 223. Os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura (1615), principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Pernambuco (VAZ e VAZ, 1994224; MARQUES, 1970225; CAVALCANTI FILHO, 1990) 226: "E como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, nela estabelecessem todos os costumes, que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos".

Em 1664, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, é levantado o Convento de Nossa Senhora da Assunção - que o povo chamou sempre de Convento das Mercês -, e nesse convento funcionavam, primeiro uma escola de primeiras letras e de música e, depois, uma aula de latim, de gramática, de filosofia e de cantochão, para rapazes. Era servida de uma boa biblioteca (MEIRELES, 1995, p. 34-35) 227. Serafim Leite228 não traz somente esse ‘médico’ como praticante da arte de curar. Seu livro trata das artes e ofícios praticados pelos padres da Companhia de Jesus, localizando-os e, sempre que possível, trazendo suas origens. Utilizou-se dos arquivos gerais e outras obras. Esclarece que da ação dos jesuítas é conhecida a obra pedagógica, o esforço na liberação dos naturais da terra e a defesa contra seu extermínio, a catequese religiosa, a moralidade cristã dos costumes, a cultura literária, linguística, e científica, como elementos políticos a serviço da expansão e unidade territorial da nova nação que se criava. Explicita seu processo e método, as fontes de que se valeu, a bibliografia impressa, e passa a tratar dos Ofícios e dos Irmãos, dos ofícios domésticos, dos que não são comuns, propriamente os ofícios mecânicos, ai localizando os barbeiros, enfermeiros, cirurgiões, farmacêuticos... Os que nos interessam, responsáveis pela Arte de Cura. Na segunda parte, em ordem alfabética, identifica-os: ALBERTI, Domingos (1711 – 1751 – 1752...). Natural de Saluzzo, onde nasceu em 11 de abril de 1711. Entrou na Companhia em Roma a 9 de julho de 1736. Farmacêutico (pharmacopola). Chegou ao Maranhão em 1751, deixando de pertencer à Companhia no ano seguinte. COELHO, Domingos (1645 – 1678 – 1716). Natural de Castelo Rodrigo (Beira Baixa), onde nasceu em 1645. Entrou para a Companhia em Lisboa, a 1 de fevereiro de 1675. Chegou ao Maranhão em 1678. Conhecia bem a arte cirúrgica e farmacêutica. Faleceu no Colégio de São Paulo em 4 de maio de 1716. 221

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 223 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 224 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 225 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Maranhão: Tip. do Fria, 1870. (reedição de 1970). 226 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 227 MEIRELES, Mário Martins. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: Alumar, 1995. 222

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LEITE, Serafim. ARTES E OFÍCIOS DOS JESUÍTAS NO BRASIL – 1549-1760. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2008. Edição fac-similar da de 1953: Lisboa – Rio de Janeiro, Edições Brotéria e Livros de Portugal, p. 234


FERREIRA, Clemente (1713 – 1734 – 1741). Natural da Diocese de Coimbra (os Catálogos têm Vila Boa; a Lembrança, S. Pedro de Espinho); Nasceu em 1713. Entrou na Companhia a 25 de abril de 1734, chegado esse mesmo ano ao Maranhão. Farmacêutico e enfermeiro (pharmacopola et infirmarius). Faleceu em 8 de janeiro de 1741, no Maranhão. FONSECA, P. Manuel da (1734 – 1753 – 1782...). Natural de Vilar (Diocese de Braga), onde nasceu a 5 de abril de 1734. Entrou para a Companhia em 24 de março de 1753. Esteve no Maranhão e no Colégio do Pará. Conhecido como “Boticário do Maranhão ou Tapuitapera”. GAIA, Francisco da (1675 – 1700 – 1747). Natural de Santa Marta (Braga), onde nasceu por 1676. Entrou na Companhia a 15 de março de 1700. Residia no Colégio do Pará como enfermeiro e farmacêutico (pharmacopola). Faleceu no Pará em 20 de janeiro de 1747. JOSÉ, Romão (... – 1746 – 1750...). Entrou na Companhia no Maranhão em 1746. Farmacêutico do Colégio do Pará em, 1750. ORLANDINI, P. João Carlos (1646 – 1679 – 1717). Natural de Sena (Toscana), onde nasceu em 1646. Entrou na Companhia em Genova em 1662. Chegou a Lisboa em 1678 e embarcou para as Missões do Maranhão e Pará no ano seguinte de 1679. Foi missionário de grandes recursos. Era entendido em coisas de medicina e sabia como se deve acudir aos doentes e achacosos com tudo o que lhe parecesse necessário e útil. Faleceu em Itacuruçá (Xingu) a 29 de agosto de 1717. PEREIRA, João (1696 – 1718 – 1758). Natural de Açores (Diocese de Miranda do Douro) em Trás-osMontes, onde nasceu a 15 de agosto de 1696. Entrou na Companhia pelo Pará a 30 de setembro de 1696. Irmão de grande virtude e capacidade, que mostrou em vários ofícios incluindo o de enfermeiro no Colégio do Maranhão, em 1735. Faleceu com 62 anos de idade, no Maranhão a 13 de dezembro de 1758. PEREIRA, José (1717 – 1732 – 1793). Natural de S. Eulália de Ferreira (Figueira da Foz), onde nasceu a 5 de setembro de 1732. Foi enfermeiro do Colégio do Maranhão. Faleceu em 19 de dezembro de 1795 em Pesaro. PEREIRA, Manuel (1714 – 1732 – 1753). Natural de Poiares (uma das varias povoações deste nome, da Diocese de Braga). Nasceu em 10 de maio de 1714. Entrou na Companhia no Maranhão a 5 de julho de 1732. De ofício barbeiro (barbitonsor) e enfermeiro. Passou depois ao Pará, onde veio a falecer em 1 de setembro de 1753. PINHEIRO, P. Luis (1698 – 1720 – 1733...). Natural de Celas (Coimbra), onde nasceu a 3 de março de 1698. Entrou na Companhia a 17 de fevereiro de 1720, seguindo neste mesmo ano para o Maranhão. Farmacêutico (pharmacopolas). Em 1730 chama-se-lhe “Padre Boticário”. RODRIGUES, Manuel (1630 – 1661 – 1724...). Natural de Ponta Delgada (Açores), onde nasceu em 1630. Entrou na Companhia em 1656 e embarcou de Lisboa para o Maranhão em 24 de novembro de 1660. Ocupou variados cargos dentre os quais enfermeiro e farmacêutico. Trabalhou com os Índios Guajajaras do Rio Pinaré. VIEIRA, Antonio (1681 – 1723 – 1750). Natural da freguesia de Nossa Senhora da Graça (Diocese de Funchal), onde nasceu em 1681. Chegou ao Pará com 17 anos. Entrou para a Companhia de Jesus a 6 de outubro de 1723. Foi enfermeiro do Colégio do Maranhão algum tempo. Faleceu a 22 de junho de 1750.


SÃO LUIS OU VINHAIS VELHO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras No próximo sábado, a Academia Ludovicense de Letras – ALL – dentro das comemorações do quinto aniversário de sua fundação, apresentará a palestra ‘O Forte do Sardinha”, proferida pelo acadêmico Antonio Noberto. Será na Praça Botafogo, no BASA/ Ilhinha/São Francisco, às 09 horas da manhã... Segundo o Presidente da ALL, as comemorações se estendem até o 8 de setembro, aniversário de São Luis. Por isso, já se está iniciando as comemorações de mais um maniversário de nossa ciade... Mas... será??? Em “Dois estudos”, de José de Ribamar Caldeira, consta “O Discurso de Japi-açu e Momboré-uaçu”. Da análise desses discursos temos a informação de que A "ilha de Maranhão" e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580. Muitos desses índios ainda viviam e se recordavam de que, tempos após a sua chegada à região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim. Em seu discurso, Japi-açu alude ao domínio dos portugueses, que os forçou a abandonar sua terra (Pernambuco e Potiu) e a refugiar-se aqui (Upaon-açú). Existem inúmeras outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580). A costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado uma nova extensão dos Tupi, que para escaparem do convívio com os portugueses optaram por migrar para Oeste – em busca da Terra sem males – fixando-se no Maranhão após terem combatido e expulsado para distante de si outros grupos indígenas por eles aqui encontrados. Charles des Vaux, junto com Jacques Riffault, David Migan, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas. Em 1583, dois capitães franceses disseram a sir Walter Ralegh conhecer o Maranhão, mas nunca se saberá se se tratava do Maranhão ilha ou do Maranhão rio. Já em 1594, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luis, no Maranhão. Junto com Charles des Vaux aporta na Ilha Grande, atual Ilha de São Luis, no Maranhão. O navio de Jacques Riffault naufraga nos baixios da ilha, mais tarde denominada Sant´Ana. Aqui desembarcados fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas". Mas para os seus planos, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão, estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Tem-se noticias também de Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava descobrir por terra o porto do


Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua. O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá. Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês. Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 veem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos. O Forte Sardinha, edificado em local estratégico, elevado e fronteiro ao porto de Jeviré, dava proteção a este ancoradouro, à feitoria implantada pelo capitão Jacques Riffault e pelo imediato Charles d’Esternou des Vaux, e à povoação onde residia o tradutor e parente do governador de Dieppe, David Migan, no atual Vinhais Velho. E vigiava também a entrada do rio Anil, principal via aquática para o interior. O nome Ilhinha, aliás, sugere o óbvio, que toda aquela região formava uma pequena ilha, pois margeada por um lado pelo Igarapé da Jansen, que no início dos mil e seiscentos ficou conhecido como rio da Olaria, que se juntava a Lagoa, ao Renascença e ao Jaracati, até se encontrar com o rio Maioba ou Cutim, que mais tarde receberia o nome de rio Anil, ao pé da ponte Bandeira Tribuzzi. A pequena ilha era o abrigo ideal contra invasões, pois enquanto dificultava qualquer ataque inimigo, permitia escape para o interior da Ilha Grande em direção à aldeia de Uçaguaba, que se tornou a Miganville do tradutor francês David Migan, primeira povoação europeia do Maranhão e de toda a região. Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia). É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1992) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan


[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011). Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. O então ativo complexo bélico-portuário-comercial sob a proteção do Forte Sardinha foi esvaziado e substituído pelo momento oficial estabelecido no Maranhão da França Equinocial pelos generais La Ravardière e Razilly: Tem-se, pois, que a ocupação do Maranhão com o estabelecimento de uma povoação ininterruptamente ocupada por europeus, em especial, franceses, se deu em 1594, com o estabelecimento de Miganville, mais junto á aldeia de Uassap - Eussauap – hoje, Viva Velha de Vinhais. ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975. CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. DOIS ESTUDOS: os discursos de Japi-açu e Momboré-uaçu e Vdiagem no Maranhão, 1800-1850. São Luis: EDUFMA, 2004 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22. Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 EVANDRO JUNIOR. : Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida. IN Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-lafrance.html . MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982


NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 3, julho a setembro de 2016, p. 237-240, pré-print. Palestra apresenta por ocasião das comemorações dos 404 anos de fundação de são Luis, promovida pela Academia Ludovicense de Letras, em 8 de setembro, na casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche. NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN JORNAL PEQUENO, SÃO LUIS, 8 DE SETEMBRO DE 2016 NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN O IMPARCIAL, SÃO LUIS, 8 DE SETEMBRO DE 2016 NOBERTO DA SILVA, Antônio. O Maranhão francês sempre foi forte e líder. In http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/omaranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/, 05/11/2011 14h25 05/11/2011 14h25. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS - os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SIOGE, 1992. VAZ Leopoldo Gil Dulcio. UM DISCURSO, UMA CERTEZA... DOS 422 ANOS DA VILA (VELHA) DE VINHAIS. In ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 3, julho a setembro de 2016, p. 237-240, pré-print.VAZ Leopoldo Gil Dulcio. DOS 422 ANOS DA VILA (VELHA) DE VINHAIS. In BLOG DO Leopoldo Vaz, sexta-feira, 16 de setembro de 2016 às 16:47, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/09/16/dos-422-anos-da-vila-velha-de-vinhais/


O PENSAMENTO DO JORGE BENTO Esta é uma Revista aberta às contribuições... Tomo a liberdade – devidamente autorizado – de replicar aqui o Pensamento do Jorge Bento... O conheci, pessoalmente, em 1992, numa palestra na UFMG. O nosso GuruGeek Laércio o trouxe para falar sobre Lazer... eu estava fazendo meu Mestrado em Ciência da Informação; minha ultima especialização fora em Lazer e Recreação, daí meu interesse, ainda maior, pois se tratava de Jorge Bento!!! Já o conheci, de alguns escritos e livros. Creio que - não sei quem é o maior, mas vamos colocalos na mesma posição, de fora de concurso, pois – se Jorge, Manuel Sérgio ou Silvino Santi os maiores e melhores filósofos da nossa tão combalida Educação Física – prefiro a tradição da denominação, mas aceito a Motricidade Humana e as Ciências dos Esportes... Jorge falou sobre Gilberto Freire... uma palestra em que até hohe recordo algumas das bombásticas expressões usadas, em especial na comparação entre os nossos povos – que ele considera um só, e adota a cidadania luso-brasileira, pois... O português é aquele pçovo trágico, que venera o Cristo crucificado, dolorido, sofrido, sentindo-se abandonado, mas mesmo assim, disposto a todos os sacrifícios, como decorrência de sua sorte e vivência, dai vestirem-se as mulheres sempre de preto, com lenço à cabeça, andar curvado, como se carregassem todos os pecados do mundo, um peso insuportável... já o brasileiro, venera o Cristo menino, a criança brincalhona, e por isso, um povo alegre, vivaz, colorido... isso na interpretação de um artigo escrito por Gilberto Freire, em 193... (2, 9u 9?) e publicado em inglês, numa palestra na Inglaterra, inédito em português, ou no Brasil... gostaria de te-lo reproduzido nestas páginas... Desde então o acompanho mais de perto, trocando correspondência, agora em tempos de redes sociais, e palavras quase diárias. Semprer replico e comportilho suas colocações, em especial quando se referem à Educação e à Educação Física/Motricidade Humana... Aproveitem!!!!


ESCLARECIMENTO: PORQUE TOMO POSIÇÕES Durante a longa carreira académica tive acesas disputas, e até fiz inimizades; 99,90% delas surgiram em defesa da matriz e missão da Universidade, da autonomia, identidade e honorabilidade da Faculdade. A carreira acabou; há quem estranhe que continue a pronunciar-me sobre assuntos da academia. Não percebo a estranheza: somente estou jubilado do exercício de funções, não da afirmação de posições! Em nome delas mantenho-me no ativo. O compromisso com a Universidade e Faculdade, contra a sua perversão e apoucamento, contra os seus inimigos externos e internos, morrerá apenas comigo. Já não tenho voz nem lugar oficial. Mas não prescindo da fala e de a exercitar. Falarei até ao fim, a bem da comunidade, sobretudo dos frágeis. Exortá-la-ei a não ceder à injustiça e à louca ‘competitividade’. Porque estas arruínam o carácter coletivo da sua atividade, envenenam a relação com a instituição e com os outros, roubam a alegria e a beleza ao trabalho, transformam-no numa diabólica incubadora de doenças psicossociais.


BALIZAS PARA A EDUCAÇÃO Discorrer acerca da função e orientação da educação, da escola e da universidade é um desafio para ser assumido com mais dúvidas e perguntas do que certezas e respostas. Anda bem quem o encarar como exercício da imaginação e perscrutação, numa viagem congregadora do passado, presente e futuro. Como será o mundo quando as crianças, que agora iniciam a escolaridade, concluírem o percurso da instrução? Que profissões terão desaparecido e surgido no entretanto? Continuará a haver os serviços de agora, e com o mesmo perfil? Quais os novos bens materiais e imateriais requeridos? Até onde irão a primazia da cultura digital sobre a analógica, o crescendo das atividades mentais e a redução das físicas? Que princípios enformarão o cenário civilizacional, cultural, laboral, etc. no médio prazo? As indagações querem significar a insensatez de centrar na ‘empregabilidade’ a reflexão sobre a missão da escola e da universidade. É impossível antecipar o cenário do futuro e o leque de competências e habilidades para responder às respetivas exigências. Hoje e sempre, a referência axial do labor educativo mora na formação da Pessoa, Humana, Divina, Ética, Livre. Não há outro empreendimento tão exaltante. São as Pessoas, não os escorpiões, insetos, ratos, serpentes e vermes, que criam um mundo novo e melhor.


DO MANICÓMIO DAS MÉTRICAS, RANKINGS E QUEJANDOS Mais uma vez, a comunicação social inunda-nos hoje com a droga dos rankings de cursos e universidades. Que fazer? Sacudir os ombros ou denunciar a manobra opiácea? As bitolas instituídas para avaliar as instituições de educação, formação e investigação, os docentes e pesquisadores são parte do sofisticado arsenal de técnicas de cosmética e propaganda, promovido pela globalização neoliberal. Não são indicadores fiáveis da qualidade do labor desenvolvido, do bem ou mal-estar sentido; enviesam problemas de fundo, devido à falta de escrutínio esclarecido. A credibilidade e a integridade da academia murcham, envenenadas pelo exibicionismo e prosápia, e pela procura de vantagem e visibilidade. Alastra a autoalienação destrutiva, com a auréola de ‘competitividade’. Eis um manicómio elevado a catedral! A serventia da maioria dos ‘papers’, se fossem pesados e não contados, não teria peso algum na balança da fecundidade! A inalienável obrigação de produtividade gerou um produtivismo estéril; à feira da vaidade não corresponde uma genuína utilidade. O rei vai nu, vestido somente com as penas do autoengano. De nível similar é a relevância de linhas de pesquisa conformes a modismos falhos de consistência conceptual. E também não se desconhece a falácia do celebrado ‘fator de impacto’. Tal como mostrou o filme ‘O Clube dos Poetas Mortos’, a verdade e a grandeza do mundo e da vida são reveladas pela palavra e pela poesia. Sobre isso pouco ou nada dizem as métricas. Devem, pois, ser olhadas com parcimónia. Muita gente parece cega e não ver o óbvio; mas tem cura, conquanto tome os remédios adequados. Um deles é a leitura de autores que pensam e respiram fora da caixa oficial. Para quê? Para abrir um caminho não trilhado, em vez de prosseguir no mesmo. A saída do ambiente mórbido é, desde logo, um sinal de sanidade.


PROFISSÃO DO FUTURO: OUVINTE Nesta era da hiperagitação e pressa somos pobres de tempo. Mesmo os ricos de dinheiro têm pouco tempo para si e nenhum para os outros, inclusive os familiares. O avanço do narcisismo amarfanha a capacidade de ouvir e dialogar. Para obviar a situação e também para a caricaturar, Byung-Chul Han propõe a invenção de uma nova profissão: a de ‘ouvinte’. Trata-se de reintroduzir a disponibilidade para se ouvir a si e, sobretudo, para prestar atenção e escutar o outro. Não se confunde com a atitude do confessor da religião católica; este não é desinteressado, ouve para saber as falhas de quem confessa e lhe aplicar a coima da penitência. Ora, o ‘escutar’, de que carecemos, é um ato de dar as boas-vindas a outrem, para que ele fale e se liberte falando. O ouvinte ideal não é o que ouve tudo em silêncio, anota e analisa, para avaliar o estado do falante e prescrever soluções. Há uma ‘ética da escuta’: abster-se de julgar, oferecer amabilidade e hospitalidade, albergar e proteger. Deste jeito, o ouvinte esvazia e suspende o ego, como se fosse ninguém e o outro fosse tudo, e nisto se compraz. A proposta de Byung-Chul Han convida-nos a refletir sobre o definhamento do sentido da sociedade atual: estamos conectados, mas abolimos as relações de proximidade e vizinhança. A anulação da distância pela conexão digital não gera a proximidade pessoal. A consequência ‘política’ é óbvia: sem diálogo, sem escuta, sem intercâmbio não há vizinhos, não há Pólis ou Cidade, não há comunidade, nem genuína sociedade. Para o ser, a sociedade deve pôr fim à privatização envergonhada das insuficiências de cada um, reparar a capacidade perdida de escutar as vozes, os medos e sofrimentos dos outros. Somente assim corresponde à sua essência: uma ‘comunidade de ouvintes’, que se escutam e doam tempo uns aos outros. Quiçá, é em torno deste propósito que importa congregar os ofícios estruturantes da profissão pedagógica. Para tornar a equipa e o grupo um modelo da ‘comunidade de ouvintes’, um locus privilegiado de aprimoramento e respiração da aptidão para escutar e comunicar, ‘coisa’ rara e singular, valiosa e essencial. Entendamos a escolaridade como tempo de educação da escuta, onde se opera o milagre da abertura ao outro, um ‘tempo bom’, de sementeira e criação da comunidade, concidadania e convivialidade.



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