REVISTA DO LÉO - n. 6 - MARÇO 2018

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 6 – MARÇO DE 2018


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


EDITORIAL A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada à duas áreas, de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a educação física, os esportes e o lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL. Estou resgatando minhas publicações, disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz”, que por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, nas Comunidades do CEV – Centro Esportivo Virtual, http://cev.org.br/ - Educação Física no Maranhão, História, Atletismo, Capoeira, as quais sou administrador, e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão”, colocarei seus capítulos, no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização. No campo da Literatura ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR NÚMEROS ANTERIORES VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 -


SUMÁRIO EXPEDIENTE

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EDITORIAL

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SUMÁRIO

4 MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

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ALUÍZIO AZEVEDO E A EDUCAÇÃO (FÍSICA) FEMININA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ “PERNAS PARA O AR QUE NINGUÉM É DE FERRO”: AS RECREAÇÕES NA SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ AS CAVALHADAS E O MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O JOGO DAS ARGOLINHAS: O INÍCIO DO ESPORTE EM MARANHÃO ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

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GINÁSTICA GERAL DJANETE MENDONÇA CÉLIA FONTENELE PEREIRA

79 GINÁSTICA RÍTMICA DESPORTIVA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ GINÁSTICA ARTÍSTICA (OLÍMPICA) - A GINÁSTICA OLÍMPICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ MARANHÃO PENHA

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HANDEBOL HANDEBOL EM OUTRAS CIDADES - BREJO DOS ANAPURUS - MATA ROMA - GUIMARÃES HANDEBOL DE AREIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JIU-JITSU BRASILEIRO ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES LEONARDO DELGADO TERMOS TÉCNICOS USADOS NO FUTEBOL E FUTSAL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SÍTIO DO FÍSICO: PRIMEIRA ESCOLA TÉCNICA DO MARANHÃO ? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O LÚDICO E O MOVIMENTO COMO ATIVIDADE EDUCATIVA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A PRÁTICA MÉDICA NO MARANHÃO COLONIAL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL: UMA REDE SOCIAL EM CIÊNCIAS DO ESPORTE?

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NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE MHARIO LINCOLN JOÃO BATISTA DO LAGO FERNANDO BRAGA SOUSÂNDRADE, O PRÓPRIO GUESA FERNANDO BRAGA OS ÚLTIMOS VERSOS DE BANDEIRA TRIBUZI FERNANDO BRAGA O LIRISMO DE RAIMUNDO CORREIA CERES COSTA FERNANDES LUCY E O ABRIGO DE BONDES EDÔNIO ALVES MACHADO DE ASSIS E O FUTEBOL

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MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


ALUÍZIO AZEVEDO E A EDUCAÇÃO (FÍSICA) FEMININA1 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão

DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”

RESUMO: O objetivo deste estudo é identificar as atividades físicas praticadas durante o período imperial (1823-1889) em Maranhão, e traçar uma parte da construção histórica da participação da mulher maranhense nas atividades físico-esportivas no século XIX. Verifica-se que já em 1827, a mulher maranhense participa das mesmas atividades físicas praticadas pelos homens, e, a partir de 1844, com a fundação do primeiro colégio feminino, têm aulas de educação física. O escritor Aluízio Azevedo, autor de "O Mulato", faz críticas à inatividade da mulher maranhense, sugerindo a prática de exercícios físicos com base em uma educação positivista, em voga na época. Estabelece-se, ainda, quem foram as primeiras professoras de Educação Física em Maranhão (Brasil). Palavras-chave: Educação Física; Mulher; História; Maranhão ABSTRACT: The obejective of this study is to identify the physical activities practiced during the imperial period (1823-1889), and draw up one part of th historical construction of the participation of the natural of Maranhão´s woman used in the physical sporting activities in the XIX century. Its observed that yet in 1827, the natural of Maranhão´s woman used to participate of the same physical activities – riding on foot and on a horseback games (pella – primitive style of tennis) – practiced by men, and had physical education classes. In 1880, Aluizio de Azevedo, author of O Mulato, made a criticism over the inativity of the woman natural of Maranhão, suggesting the practice of the physical exercises, based on a positivist education, fashionable at that time. It´s appointed, yet, who would be the firts teachers of Physical Education in Maranhão (Brasil). Key words: Physical Education, Woman, History, Maranhão

Manifestações do lúdico e movimento em São Luís do Maranhão – século XIX São Luís do Maranhão, à época da partida de D. João VI (1816), era uma cidade em crescimento, consolidando e expandindo o conjunto arquitetônico que a opulência maranhense estampou. À sociedade maranhense não faltavam os contornos de relações sociais definidas. De alicerce agrário, com produção em latifúndio e dominação senhorial, conheceu como culturas econômicas o arroz e o algodão - com as peles e os couros, a cana-de-açúcar, a borracha, a pecuária constituindo-se em negócios complementares -, "fabricando centros urbanos de residência de exportação/importação de mercadorias, formulando uma imagem cultíssima de si mesma (resultado da remessa dos filhos à educação européia)" (CORRÊA, 1993:74). Os comerciantes formavam uma casta que dominava a economia da província. Eles e os ricos fazendeiros, cujos filhos haviam estudado na Europa, formavam a classe dirigente aparentemente iluminada na convencionalmente chamada "Atenas brasileira". d'ORBIGNY (1853, citado por MÉRIAN, 1988), registrou, quando de sua passagem por São Luís do Maranhão no século passado, a notável elegância e as maneiras da população branca: Em sua maioria criadas em Portugal, as jovens senhoritas da região traziam consigo o gosto pelo trabalho e pela ordem, recato e comportamento geralmente alheios às nativas... Quanto aos rapazes, quase todos eles vão estudar nos melhores colégios da França ou da Inglaterra. (p. 13).

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Trabalho aprersentado no VII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, Gramado/RS, 29 de maio a 1 de junho de 2000. ANAIS... p. 250-255


São Luís conhecia então uma renovação cultural importante: Manoel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, Trajano Galvão e, sobretudo Antônio Gonçalves Dias, deram à Província do Maranhão um brilho que ela nunca conhecera (MÉRIAN, 1988). A vida social procurava manter os foros aristocráticos. À Sociedade Filarmônica sucedera o Clube Familiar. As festas dos Remédios, de Santa Filomena e de Santo Antônio "... serviam de pretexto também para as exibições de modas e de elegâncias... " (ABRANCHES, 1941:131). A população de São Luís tinha como atividade de recreação, além das festas religiosas, das danças, dos movimentos literários, os piqueniques como uma das preferidas pelos jovens abastados: "Quase sempre aos Sábados, à tarde, ou aos domingos pela madrugada partiam da cidade em busca daqueles e outros sítios pitorescos, onde nas delícias do banho nos riachos, da juçara, dos cajus e mangas e das peixadas, pacas ou tatus com leite de coco e outros pratos saborosos, passavam o domingo, regressando à tarde, quando não o faziam segunda-feira. As vezes levavam damas em sua companhia..." (ABRANCHES, 1941:54).

Outra forma de manifestação do lúdico na São Luís do período imperial se constituía nos passeios a cavalo pela cidade, como ABRANCHES (1993) lembra em seu "Esfinge de Grajaú", relatando os passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: "... o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais...". (p. 16-17).

Desde antes de 1854 havia em São Luís quem alugasse cavalos para passeios pela cidade e seus arrabaldes, informa VIEIRA FILHO (1971). As cavalgadas para São José de Ribamar, Maioba, Vila do Paço, Turu e outros pontos da Ilha constituíam, de acordo com LOPES (1975) "... divertimento muito de predileção dos homens da melhor sociedade sanluisense". O cavalo se constituiu como meio dessas atividades, como peça importante para as atividades do lazer, então praticadas, até o advento do automóvel, já no século XX: "Não faz muitos anos saíam a passeio aos domingos nas cidades da região dos campos baixos do Maranhão, os rapazes das famílias abastadas, montando em fogosos ginetes... “Em São Luís, até fins do século XIX e mesmo depois, havia esse costume. De três guapos cavaleiros conservou-se muito tempo a lembrança... Saíam os três cavaleiros todos os domingos envergando cartolas cor de cinza..." (p. 51).

Os longos passeios pelos arrabaldes permitiam o contato com o ar livre e com a natureza, e se constituíam forma de divertimento salutar, pois reúnem harmoniosamente a solução quanto ao medo de doenças que impedia a vida laboriosa, por um lado, e o medo da crítica que a rígida moral implicava, por outro. Às mulheres, “responsáveis primordiais na criação dos novos seres”, recomendava-se, sobretudo os exercícios do corpo que obrigavam a andar ao ar livre, como os passeios a pé ou a cavalo. Às exigências de ordem médica, seguem-se as de ordem econômica, para favorecer a orientação adequada às necessidades práticas que vinham ocupando os indivíduos. Nesta linha de reflexão, HASSE (1985) conclui que não é possível nem deve ser consentido à mocidade “huma applicação séria todo o dia”, sendo preciso dar liberdade ao corpo e ao espírito. “Este, depois de haver descansado, ficaria em melhor estado para o trabalho” (p. 28):


“... Começa a generalizar-se a idéia de que os divertimentos são necessários a todos os homens e, em particular, à mocidade. Esta tem para com eles uma propensão natural e eles servem muitas vezes de hum grande socorro, tornando-se nocivos quando em excesso, levando o espírito a perder a sua força ... Os divertimentos, por possuírem um valor determinado ao nível do bom equilíbrio geral, são permitidos e aconselhados desde que mantenham circunspeção.” (p. 28-29).

Aluízio AZEVEDO, em conto autobiográfico, afirma que, aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: "Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (MÉRIEN, 1988:47).

O jogo, enquanto divertimento para os mais jovens torna-se objeto de atenção, “no desejo de promover desde cedo um conjunto de hábitos e de atitudes favoráveis à transformação de usos caducos” (HASSE, 1985:28). Dunshee de ABRANCHES (1941), em suas memórias, lembra que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde "ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares ...". (p. 157).

Desde 1836 havia um bilhar funcionando junto ao Largo do Carmo, conforme informa VIEIRA FILHO (1971), autor da "Breve história das ruas e praças de São Luís". Por essa época, os moradores se recolhiam cedo, pois a cidade mal iluminada e sem vigilância noturna, não oferecia a menor margem de segurança, de sorte que o toque de recolher às nove, era quase desnecessário: "apenas na botica do padre Tezinho, no largo do Carmo, onde havia um bilhar francês, restavam alguns cavaquistas renitentes." (VIEIRA FILHO, 1971:16). A botica do padre Tezinho já funcionava dez anos antes, pois Garcia de ABRANCHES (1980) anunciava, em 1826, que os números anteriores de "O Censor" poderiam ser adquiridos naquele estabelecimento: "Na mesma Botica se acha á venda uma interessante Obra intitulada - Economia da vida humana Obra Indiana traduzida do Inglez, e ultimamente do Francez, serve para instrução da Mocidade; para dirigir as paixões; servindo ao mesmo tempo de Recreio ás pessoas de bom gosto; a 320 réis." (O CENSOR MARANHENSE, no. 10, sábbado, 25 de fevereiro de 1826, p. 178, citado por ABRANCHES, O Censor Maranhense, 1980).

Para defenderem seus ideais, puças e cabras, republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, maçons e católicos, dentre outros, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal":


"... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174).

O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de ABRANCHES (1941) em suas memórias: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos" (p. 187), com os membros desse clube abolicionista juntando o útil ao agradável: "... E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabavam esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos... Apezar de só ter uma filha, agasalhava na sua hospitaleira residência uma parentella basta e jovial, em que superabundava o sexo frágil. Não faltavam pianistas, violinistas, e cantores nesse grupo variegado de moças casadeiras e gentis. Os saraus ali se succediam desde as novenas de N. S. dos Remédios á véspera de Reis. Era que, todos os annos, a família Travassos armava um presépio. Os ensaios das Pastorinhas iniciavam-se desde fins de Outubro; e, depois delles fatalmente seguiam-se dansas até á meia-noite...". (p. 187-188).

HASSE (1985) ao tratar da “disciplina do corpo”, afirma que, atuando como verdadeiro instrumento simbólico, econômico e social, o corpo persiste na contínua afirmação de certo valor individual e coletivo num conjunto de práticas através das quais se acionam dispositivos que enunciam o seu autentico estatuto cultural numa retificação constante, integrando-se, dentro destas práticas, os gestos e comportamentos do cotidiano, conservando uma tênue reminiscência aristocrática, enquanto outros pretendem vincar a diferença em face de um poder social decadente como era o da nobreza, ou ainda, firmar certa distinção perante camponeses e operários. A vida, ao se transferir da cidade para o campo, transforma a casa no centro de toda a vida social, “ponto fulcral onde tem lugar a organização, administração e montagem de cada representação individual” (p. 18). Aí, na casa da cidade, têm lugar momentos privilegiados como as reuniões e os banquetes, os bailes e as partidas, ocasiões que alimentam formas de sociabilidade e de ostentação, situações múltiplas propícias a escolhas de futuras uniões. No que diz respeito à ginástica, a sua importância estaria sobejamente reconhecida pelo enorme apreço que dela haviam feitos as nações mais célebres da Antigüidade. O desporto e a ginástica estabelecem a conciliação entre o contato com a natureza e a promoção de uma disciplina cada vez mais apurada e despercebida. Só a partir do século XIX se torna possível o desenvolvimento da ginástica no sentido de contribuir para o controle e o autodomínio de cada indivíduo tendo em vista o benefício coletivo (HASSE, 1985, p. 32). Através da ginástica procede-se a uma racionalização das atitudes selecionando, organizando e sistematizando novos gestos mais adequados também às representações da nova elegância. Do encontro daquelas duas visões de mundo, aumentava a atenção sobre o corpo, sobre os gestos, atitudes e movimentos, tornando-se delicado progredir através de qualquer atividade física que ultrapassasse um limiar definido pelo bom tom: “... Este limiar representava uma autêntica linha limite que impedia toda a prática para além do simples passatempo, um recurso a formas agradáveis a que uma pessoa bem educada se devia dedicar no desejo legítimo e louvável de promover a perfeita conservação do corpo. Porém, jamais lhe seria permitido que tais práticas de simples passatempo se transformassem em verdadeiras ocupações.” (HASSE, 1985:27)

Ainda segunda essa autora, acompanhando a vida, os manuais de civilidade não deixam de assinalar diferentes formas de movimento e atividades diversas, úteis a uma educação correta e consideradas no quadro das recreações, como uma das coisas indispensáveis à vida, na qual ninguém pode prescindir.


Atividades físicas feminina Em Maranhão, desde a década de 1820 tem-se informações de que também as mulheres participavam de atividades físicas, conforme relata DUNSHEE DE ABRACHES em suas memórias, quando relata os períodos em que seu tio, Frederico Magno de Abranches - o Fidalgote - e sua amada - Maricota Portinho passavam no sítio da família. Além de darem longos passeios pelos arrabaldes da ilha, em companhia de outros jovens, os namorados costumavam praticar esportes, como a péla (forma primitiva de tênis): “... Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão ...” (DUNSHE DE ABRANCHES, 1970:31).

Cabe lembrar que Antônio Francisco Gomes, em 1852, propunha além da ginástica, os exercícios de natação, esgrima, dança, jogo de malha e jogo da pella para ambos os sexos (CUNHA JÚNIOR, 1998:152) Quanto ao ensino da educação física, desde 1844, quando foi fundado o primeiro colégio destinado exclusivamente às moças, em São Luís, as atividades físicas faziam parte do currículo: "... não somente sobre as disciplinas escolares com também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas. Às quintas-feiras, as meninas internas participavam de refeições, como se fossem banquetes de cerimônia, para que se habituassem 'a estar bem á mesa e saber como se deveriam servir as pessoas de distinção'. Uma vez por semana, à noite, havia aula de dança sob a rigorosa etiqueta da época, depois de uma hora de arte, na qual ouviam bôa música e aprendiam a declamar." (ABRANCHES, 1941:113-114).

Esse colégio - o "Collegio das Abranches", como era conhecido o Collégio N. S. da Glória -, fora fundado pelas tias de Dunshee de Abranches, D. Marta (Martinha) Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches (mulher de Garcia de Abranches, o Censor), educadora espanhola nascida nas Astúrias provavelmente por volta de 1800 (JANOTTI, 1996) – e pela sua filha, D. Amância Leonor de Castro Abranches, e tinha, ainda, como professora, D. Emília Pinto Magalhães Branco, mãe dos escritores Aluízio, Artur e Américo de Azevedo. É neste colégio que Aluízio de Azevedo faz seus preparatórios para o Liceu Maranhense. Embora escola feminina, aceitava meninos para os preparatórios. Anos mais tarde, já escritor famoso, Aluízio Azevedo, em sua obra, ao traçar o perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata - cujo papel reservado era apenas o de mãe -, compara a mulher da burguesia maranhense à lisboeta desocupada, denunciando o ócio em que viviam. Como igualmente denunciava "o ócio dos padres que viviam do trabalho de pessoas honestas e crédulas" (MÉRIEN, 1988:158), sendo estes, os padres, também "culpados pelo atraso da instrução pública" (p. 159). Aluízio considerava que todo "o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres" (MÉRIEN, 1988:164) e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher: "Do procedimento da mulher... depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade... “Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade dessa sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, darem-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la


principalmente a trabalhar...". (Aluízio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988: 166 167).

O mesmo tema é retomado quando da publicação de "O Mulato", criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Aluízio tinha consciência que parte dos leitores em potencial era constituída pelas mulheres da pequena burguesia portuguesa e maranhense da cidade e pelas filhas dos fazendeiros que encontravam na leitura uma diversão contra o tédio que pesava sobra a vida cotidiana e ociosa que tinham. No entender de MÉRIEN (1988), os discursos de Raimundo sobre a condição feminina, o papel da esposa e da mãe na educação das crianças, são dirigidos mais a elas do que a Manuel Pescada: "O senhor tem uma filha, não é verdade ? Pois bem ! Logo que essa filha nasceu o senhor devia ter em vista prepará-la para vir a ser útil... dar-lhe exercícios, alimentação regular, excelente música, estudos práticos e principalmente bons exemplos; depois evitar que ela fosse, como é de costume aqui, perder nos bailes o seu belo sono de criança...". (ALUIZIO AZEVEDO, O MULATO, 1881: 268269, citado em MÉRIEN, 1988: 288-289).

Considerando o caso concreto dos bailes, HASSE (1985) afirma que a dança desempenha uma função particular, pois, ela é a forma de entretenimento adequada a tornar mais elegantes e agradáveis os gestos, soltando vigores em excessos. Entre as diferentes qualidades do entretenimento umas, como aquelas que promovem os exercícios do corpo contribuem para a conservação da saúde outras, tendo por principal objeto a utilidade, prestam-se a tornar os jovens mais agradáveis como é o caso da dança e da música: “... A dança seria a arte de mover o corpo, os braços e os pés com elegância, ao som da música. Representava uma prenda necessária a quem tem de viver no mundo e um exercício verdadeiramente proveitoso. O seu ensino devia ser indicado desde cedo para poder fornecer desembaraço ao corpo e chegar a dançar com graça e a tempo.” (p. 19).

Os bailes e o teatro representavam formas clássicas de entretenimento distinto. Integravam-se, por isso, com enorme facilidade nos costumes da austera burguesia pela familiaridade existente com estas formas de entretenimento. Para HASSE (1985), a dança recebia o acordo dos mais renitentes: "... que finalizam por considerá-la indispensável a uma pessoa de certo estatuto social. Por outro lado, os bailes que se organizavam e onde a dança surgia como principal motivo de interesse constituía excelentes meios de demonstrações quase inesgotáveis de poder uma vez que implicavam imperativos de vulto para uma encenação de grandeza insuperável favorecedora de certa rivalidade”. (p. 19).

Para essa autora, tal circunstância não impedia, porém, que não se desejasse criar em torno elas uma atribuição clara de utilidade que justificasse plenamente o tempo perdido de forma ligeira, preocupação, aliás, constante em múltiplos aspectos da vida do século XIX. A moralidade vigente, “rigorosa e hipócrita”, impedia que fosse de outro modo, sossegando-se consciências inquietas relativamente às atividades, cada vez mais generalizadas, que escapavam nitidamente ao foro do trabalho. Na verdade, o baile e a freqüência dos salões bem como o teatro, seriam sempre obrigações sociais desgastantes a que a civilidade e a vida no mundo obrigavam, um costume de fato integrado nos níveis sociais mais prestigiados. Dois amigos de Aluízio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo - Antonieta (carta a Julia, "Diário do Maranhão", São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, "Pacotilha", São Luís, 9.6.1881), respectivamente - falando "de suas impressões e do impacto que o livro “O Mulato”, lhes causara" sobre a condição de vida de Ana Rosa, que lembrava a vida que as mocinhas maranhenses levavam. Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher


maranhense, "lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio", onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, "a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses" ((MÉRIEN, 1988:290-2911). Conclusão No período compreendido entre a "adesão" do Maranhão ao Império brasileiro - 1823 - e a proclamação da República - 1889 -, São Luís viveu um período áureo de produção cultural, que se estendeu até meados do século, fruto do desenvolvimento econômico, seguido de um período de decadência, provocada pela perda gradual do trabalho escravo, consolidado com a abolição da escravatura. Denominada de "Atenas brasileira", as recreações aqui praticadas se identificam com aquelas que se aproximam da noção de lazer expressa na origem grega, da "scholé", em que a aristocracia ocupava seu tempo com atividades de contemplação teórica, especulação filosófica e ócio (JIMENEZ GUZMAN, 1986), típica das sociedades escravocratas. No segundo período, iniciado por volta da década de 1860, aproxima-se, a ocupação do tempo, com atividades que podem ser identificadas como características do "otium" romano, transformando-se num fenômeno elitista, ostentatório, já desprovido de sentido filosófico - conforme denuncia Aluízio Azevedo em sua obra, e observado na descrição da sociedade ludovicence, notadamente em LISBOA (s.d.; 1991) e DUNSHEE DE ABRANCHES (1941; 1993). Os ludovicences, como hoje, dedicavam-se aos passeios e aos piqueniques pelos arrabaldes da Ilha. E, como hoje, mantinham uma produção cultural intensa, dedicando-se ao teatro, à poesia, ao romance, à crítica dos costumes e, sobretudo, bisbilhotando a vida alheia, conforme está registrado nos inúmeros jornais - políticos e literários -, folhetos, revistas, "bandos", coletâneas de poesias e peças teatrais publicadas (CORRÊA, 1993; MÉRIAN, 1988), justificando o título de "Atenas brasileira". Em Maranhão, desde a década de 20 a mulher participa de atividades físicas, pois como descreve DUNSHEE DE ABRACHES em suas memórias sobre seu tio Frederico Magno, o Fidalgote e sua amada, Maricota Portinho, costumavam, além de dar longos passeios pelos arrabaldes da ilha, em companhia de outros jovens, jogar a péla – forma primitiva de tênis – durante a estadia de suas famílias no sítio do Censor, como era conhecido Garcia de Abranches. Isso, em 1827. Quanto ao ensino da Educação Física, desde 1844, quando foi fundado o primeiro colégio destinado exclusivamente às moças, em São Luís, a atividade física fazia parte do currículo. Quem teria sido a professora? As tias de Dunshee de Abranches, D. Martinha? Ou sua filha, D. Amância? Ou teria sido D. Emília Branco, mãe dos escritores Aluízio, Artur e Américo de Azevedo? Então seria uma delas – ou as três – a(s) primeira(s) professora(s) de educação física no Maranhão (Brasil)? Bibliografia ABRANCHES, João Antônio Garcia de. O CENSOR MARANHENSE 1825-1830. (Edição fac-similar). São Luís: SIOGE, 1980. (Periódico redigido em São Luís de 1825 a 1830, por João Antônio Garcia de Abranches, cognominado "O Censor"; reedição promovida por iniciativa de Jomar Moraes). AZEVEDO, Aluízio. O MULATO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, (s.d.). CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE ARQUEOLOGIA. São Luís: SIOGE, 1993.

UMA

CUNHA JÚNIOR, Carlos Fernando Ferreira da. A produção teórica brasileira sobre educação physica/gymnastica no século XIX: questões de gênero. In CONGRESSO BRASLEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSCA, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. COLETÂNEA... Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 1998, p. 146-152. DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, João. O CAPTIVEIRO. Rio de Janeiro

(S.E.), 1941.

DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, João. A SETEMBRADA - A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO - romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970.


DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, João. A ESFINGE DO GRAJAÚ. São Luís: ALUMAR, 1993. HASSE, Manuela. A disciplina do corpo. LUDENS, Lisboa, vol. 10, n. 1, dez./out., 1985, p. 18-38. JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Três mulheres da elite maranhense. In DE HISTÓRIA, São Paulo, v. 16, n. 31 e 32, 1996, p. 225-248.

REVISTA BRASILEIRA

JIMENEZ GUZMAN, Luís Fernando. TEORIA TURÍSTICA. Bogotá: Universidade Colômbia, 1986.

Autônoma de

MÉRIEN, Jean-Yves. ALUÍSIO AZEVEDO VIDA E OBRA (1857-1913) - O VERDADEIRO BRASIL DO SÉCULO XIX. Rio de Janeiro : Espaço e Tempo : Banco Sudameris; Brasília : INL, 1988. VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO e aum. São Luís : (S.E.), 1971.

LUÍS. 2a. ed. rev.


JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS?2 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Tenho escrito sobre a memória do esporte moderno no Maranhão. Dentre as modalidades implantadas consta, a partir da primeira década dos 1900, o ‘jiu-jitsu”. Inúmeras referencias se apresentam em nossa imprensa escrita da época, até os anos 1960. Esta é como a da introdução do Judô no Maranhão, por membros da família Leite – considerados oficialmente como seus precursores. O que vimos contestando. Durval Paraíso, durante evento de arbitragem ocorrido no ano de 1980 - e por mim idealizado e coordenado -, afirmava que desde os anos 30 já se praticava Judô e que ele era um desses praticantes. Encontramos nos anos 40, 50, e 60 registro de sua participação em eventos de “luta - livre”, que ocorriam na cidade, com desafios entre praticantes de artes marciais e boxe.

Durval Paraíso, Jorge Saito, Paulo Leite, Fernando Pereira, Adalberto Leite, Bernardo Leite, Agachados: Geraldão, Serrinha, Carlos e Olivar Leite Filho.

1980 – realizada uma Clinica de Arbitragem de Judô, promovida pela Confederação Brasileira de Judô, Federação Maranhense de Judô, e a Secretaria de Esportes e Lazer, no período de 21 a 26 de outubro; a Clínica foi ministrada pelos professores Avany Nunes de Magalhães e Antonio Oliveira Costa, e coordenada pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Essa Clínica visou formar o primeiro quadro oficial de árbitros da FMJ. Na ocasião foi prestada homenagem a

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NOVA VERSÃO, ATUALIZADA (janeiro 2018).


Durval Paraíso, o mais antigo judoca em atuação no Maranhão; começou a praticar judô ainda na década de 1930. 3

Servimo-nos da Wikipédia para estabelecer a memória dessas artes marciais, aparecidas no Maranhão. O “The Kodokan Institute”, e conhecido em português como “Kodokan” - Instituto do Caminho da Fraternidade foi a primeira escola de judô, fundada no Japão, por Jigoro Kano, em 18824. O Judô teve uma grande aceitação em todo o mundo, pois Kano conseguiu reunir a essência dos principais estilos e escolas de jujitsu, arte marcial praticada pelos "bushi", ou cavaleiros, durante o período Kamakura (1185-1333), a outras artes de luta praticadas no Oriente e fundi-las numa única e básica.5. Foi só no final de 1886, após uma célebre competição, contra várias escolas de jujutsu, organizada pela polícia, que definitivamente ficou constatado o grande valor do judô kodokan. O resultado dessa jornada constituiu-se num marco decisivo na aceitação do judô, com o reconhecimento do povo e do governo que passaram oficialmente a prestigiar o judô kodokan. Depois da célebre ‘vitória de 1886’, como ficou conhecida, o judô kodokan começou a progredir com passos confiantes. A fórmula técnica do judô kodokan foi completada em 1887, enquanto a sua fase espiritual foi gradativamente elevada até a perfeição, aproximadamente, em 1922. Nesse ano, a Sociedade Cultural Kodokan foi inaugurada e um movimento social foi lançado, com base nos axiomas seryoku zen'yo (lit. máxima eficácia) e jita kyoei (lit. prosperidade e benefícios mútuos)6. Jigoro Kano, com a finalidade de iniciar uma campanha de divulgação do judô, no ocidente, em 1889, visita a Europa e os Estados Unidos da América, proferindo palestras e demonstrações. O Judô foi considerado desporto oficial no Japão nos finais do século XIX e a polícia nipônica introduziu-o nos seus treinos. O primeiro clube judoca na Europa foi o londrino Budokway (1918) 7.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (org.) Atlas do Esporte no Maranhão – Judô, disponível em http://novo.cev.org.br/biblioteca/judo-5/ . https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodokan 5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4 . 6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodokan 7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4 . 4


Em 1909, um fato marcante parecia devolver a hegemonia do judô à Kodokan. O governo japonês resolve tornar a Kodokan uma instituição pública, uma vez que a prática do judô estava tendo ótima aceitação. Nessa época o judô começava a ser introduzido em quase todas as nações civilizadas do mundo, todavia, no ocidente o termo ‘jujutsu’ ainda era empregado, embora o nome Jigoro Kano fosse citado. Quero acreditar que o Jiu-jitsu – ou o kodokan, ou o jujutsu - devem ter sido apresentados aos sócios do FAC - Fabril Athetic Club8 - pelo escritor Aluísio Azevedo. Ao abandonar as carreiras de caricaturista e de escritor, abraça a carreira pública em busca de sobrevivência como funcionário concursado do Ministério de Relações Exteriores; torna-se Cônsul, servindo por quase três anos no Japão - entre setembro de 1897 a 1899 -, na cidade de Yokohama, onde deve ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar Tênis e Futebol, quando de sua estada na Inglaterra. Informa MARTINS (1989) que Nhozinho Santos, em 1908, implanta mais duas modalidades esportivas no FAC: o Tiro, com inscrição na Confederação Brasileira de Tiro; e o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos9. Em “A Pacotilha”, São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo “JIU-JITZÚ” - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão.

Gazeta de Notícias, abril de 1909 – anuncio publicado várias vezes 8

Clube fundado em 1907 por Nhozinho Santos MARTINS, Djard Ramos. MERGULHO NO TEMPO. São Luís: Sioge, 1989; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 8º, Ponta Grossa, UEPG... Coletâneas ... disponível em CD-ROOM, novembro de 2002. 9


“A Pacotilha” - de 18 de abril de 1910, segunda feira, no. 90 -, noticia de que o “Fabril Athletic Club” – FAC - estava preparando uma jornada esportiva para recepcionar ao Barão de Rio Branco, em visita à São Luís. Em nota do final da noticia é informado que: "Tem funcionado neste clube aos domingos pela manhã, um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia." Nesse mesmo ano, 13 associados do Fabril Athetic Club – FAC - se desligam dessa agremiação pensando na formação de outra, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o “ONZE MARANHENSE”, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins. Consta que o “Jiu-jitsu” foi introduzido no Brasil, oficialmente, por Mitsuyo Maeda, - "Conde Koma" -, por volta de 1914. Nunes e Rubio (2012) trazem que: O Judô é uma modalidade esportiva de origem japonesa que chegou ao Brasil no século passado e que hoje em dia é praticado por cerca de dois milhões de pessoas. A introdução do judô no Brasil ocorreu, principalmente, a partir dos imigrantes japoneses. Os primeiros chegaram oficialmente com Kasato Maru10, em 1908. Entretanto os imigrantes japoneses vieram para o Brasil com o objetivo precípuo de fazer fortuna e retornar para sua terra natal. A prática do judô na colônia japonesa era uma das formas de manutenção de sua cultura e diversão que, somente aos poucos, foi permitida aos brasileiros- natos. Outra versão para o início dessa modalidade é a chegada dos primeiros professores-lutadores11, com o intuito de difundir esta prática no país. Dois deles, Mitsuyo Maeda e Soishiro Satake eram representantes da Kodokan12, contemporâneos em sua iniciação na escola de Jigoro Kano. Ambos chegaram ao Brasil em 14 de novembro de 1914, tendo entrado no país por Porto Alegre. Em 18 de dezembro de 1915, a trupe de lutadores chegou a Manaus, o grupo era composto ainda por Laku e Shimisu. Antes disso os lutadores rodaram o Brasil em demonstrações e desafios. Posteriormente Conde Koma, ou Eisei Mitsuyo Maeda radicou-se em Belém do Pará, enquanto Satake ficou em Manaus (ASARI & TSUKAMOTO, 200813; FRANCHINI & DORNELLES, 200514; NUNES, KOSSMANN & SCHAMES, 200515). Em 1915, o Conde Koma - em viagem de exibição pelo Brasil para divulgar sua arte -, e a caminho de Belém (novembro daquele ano), passou por São Luís e fez algumas exibições. O Conde Koma, em 1915, apresentava-se em São Luis – onde passou cerca de três meses16:

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Nome do primeiro navio de imigrantes japoneses a chegar ao Porto de Santos, em 1908. Em 1914 chegaram ao Brasil Mitsuyo Maeda, Soishiro Satake, Laku, Shimitsu e Okura. 12 Escola criada por Jigoro Kano para desenvolver o judô, o termo significa escola para desenvolver o caminho. 13 ASARI, A.Y.; TSUKAMOTO, R.Y. Da terra do sol nascente ás terras férteis do Paraná: territorialização e organização social de nikkeys. In: SAKURAI, C. et al. (Orgs.). Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. 14 FRANCHINI, E.; DORNELES, A.G. Judô. In: Da COSTA, L.P.; MIRAGUAYA, A. Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005. 15 NUNES, A.V.; KOSSMANN, F.T.; SCHAMES, M. Judô no Rio Grande do Sul. In: MAZO, G.Z. (Org.). Atlas do esporte no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: [S.l.], 2005. 16 PACOTILHA, 09 e 10 de dezembro de 1915 11



PACOTILHA, 09 e 10 de dezembro de 1915 17

De acordo com Elton Silva , Koma sempre praticou Judô Kodokan, o termo "Jiu-Jitsu" é genérico e usado por todos os japoneses fora do Japão, incluindo Kano. O próprio Conde Koma falava isso abertamente na imprensa americana, onde existem dezenas de jornais onde ele explica isso. Sada Miako ficou instruindo militares e civis até 1912, quando foi exonerado da Marinha. Depois disso foi para a colônia japonesa em São Paulo e posteriormente deve ter voltado ao Japão. Os japoneses que deram continuidade ao ensino do "Jiu-Jitsu" no Brasil eram todos ligados ao método de Kano, sendo oriundos ou não do Kodokan. Ainda esclarecendo mais, informa que Katsukuma Higashi, o co-autor do livro “The Complete Kano Jiu-Jitsu”18, esclarece: “Alguma confusão surgiu com o emprego do termo “Judô”. Para esclarecer, vou declarar que Judô é o termo selecionado pelo Professor Kano para descrever seu sistema mais precisamente que Jiu-Jitsu. Professor Kano é um dos líderes da educação no Japão. E é natural que ele deva velar pela palavra técnica que mais precisamente descreva seu sistema. Mas os japoneses geralmente ainda chamam pela popular nomenclatura Jiu-Jitsu”.

Para Nunes e Rubio (2012), desde a criação da Kodokan, por Kano em 1882, diversas escolas de jujutsu (“ryu”) aderiram ao Kodokan, inclusive no Brasil:

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SILVA, Elton. Correspondência pessoal, via facebook, 28/11/2017,com o autor, esclarecendo alguns termos e dúvidas. https://www.facebook.com/elton.judo/posts/1476521202429319?comment_id=1477134512367988&reply_comment_id=1477140 569034049&notif_id=1509214453043699&notif_t=feed_comment_reply 18 The Complete Kano Jiu-Jitsu (Judo) (Inglês) Capa Comum – 11 jul 2016. por H. Irving Hancock (Autor), Katsukuma Higashi (Autor). https://www.amazon.com.br/Complete-Kano-Jiu-Jitsu-Judo/dp/0486443434


[...] surgiu aqui uma nova escola, com ênfase na luta de solo e nos combates de vale-tudo, o Jiujítsu Brasileiro. Da mesma forma que o judô derivou das antigas escolas do jujutsu japonês, o jiu-jítsu brasileiro é uma derivação de uma escola mais antiga, o Judô ou, como era conhecido até a década de 40, Jiu-jitsu Kano (ARIMA, 190819; GRACIE, 200820; OIMATSU, 198421) Nunes e Rubio (2012) esclarecem: No caso de Maeda e Satake, o estilo era o Judô Kodokan. A transformação do antigo jiu-jitsu japonês em judô, ou jiu-jitsu Kano, foi ocorrendo aos poucos. Enquanto o jiu-jitsu era ensinado majoritariamente através de um processo visual e os resultados nos combates reais eram o principal objetivo, Kano propunha um método de ensino sistemático com princípios que buscavam o aprimoramento da sociedade (CARR, 199322; CRAIG, 199523; KANO, 1954, 1986, 2008b24; VINÍCIUS RUAS, 25 comunicação pessoal, 2010) .

Já em Belém do Pará, o professor Koma passou a lecionar o verdadeiro Jiu Jitsu – diz-se -, a seu dileto aluno Carlos Gracie. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie foram os precursores do que hoje é chamado de Jiu Jitsu Brasileiro, de eficiência comprovada no mundo inteiro26, muito embora em “O livro proibido do Jiu-Jitsu” seu autor Marcial Serrano coloque dúvidas de que os Gracies foram alunos de Koma, quando da estada deste em Belém. Na realidade, foram alunos de um praticante ensinado por Koma, e depois, por Omori, em São Paulo, lá pelos anos 30... Em “O Jornal”, de 27 de abril de 1918, era anunciado o match de Box, com a participação dos campeões Jemy Smith, americano, e João Pedro, brasileiro (baiano). Terminado o jogo, seriam efetuados diversos encontros de jiu-jitsu, entre Jemy Smith e alguns rapazes. No ano de 1946, conforme destaque no jornal “O Combate”, de 6 de agosto, sob o título: “UM DELEGADO DE POLICIA MESTRE DE CAPOEIRA E ‘JIU-JITSU”– contraventores presos com ”cabeçadas’ e ‘rabos de arraia’ – Invadindo residência, o delegado de Alcântara atraca-se com os seus desafetos, armando verdadeiros “sururus”: Assim que assumiu a Delegacia de Alcântara, o delegado nomeado pelo Interventor Saturnino belo, resolveu por em prática uma idéia que há muito tempo vinha acalentando carinhosamente. Convocou para uma reunião, o Prefeito, o escrivão da Coletoria Federal e o tabelião do 2º ofício. E expoz o seu plano, dizendo-lhes mais ou menos o seguinte: -- A nossa crise é de homens, mas de homens fortes. Precisamos – como diria Pittigrili – ser bastante fortes para quebrar a cara de 75%, do próximo. Querendo colaborar na grandeza de nosso paíz, cuja glória, um dia, se firmará pela capacidade física dos seus filhos., eu venho já de há muito tempo, me dedicando a um acurado estudo do ‘jiu-jitsu’, essa tradicional luta do Japão, cuja prática estimula os movimentos, dá 19

ARIMA, S. Judo: japanese physical cultura, being a further exposition of jujitsu and similar arts. Tokyo: Mifsumura, 1908. GRACIE, R. Carlos Gracie: o criador de uma dinastia. Rio de Janeiro: Record, 2008. GRACIE, R.; DANAHER, J. Matering jujitsu. Champaign: Human Kinetics. 2003. 21 OIMATSU, S. The way of Seiryoku Zenyo - Jita kyoei and its instruction. Bulletin for the Scientifi c Study of kodokan Judo, Tokyo, n.6, p.3-8, 1984. 22 CARR, K.G. Making way: war, philosophy and sport in Japanese judo. Journal of Sport History, Los Angeles, v.20, n.2, p.167-88, 1993. 23 CRAIG, D. Japan’s ultimate martial art: jujitsu before 1882 the classical Japanese art of self-defense. Boston: Charles Tittle, 1995. 24 KANO, J. Energia mental e física: escritos do fundador do judô. Tradução Wagner Bull. São Paulo: Pensamento, 2008. KANO, J. Illustrated Kodokan Judo. Tokyo: Kodansha, 1954. KANO, J. Tokyo: Kodansha, 1986-1989. KANO, J.. Judô Kodokan. Tradução Wagner Bull. São Paulo: Cultrix, 2008. 25 RUAS, Vinicius. Comunicação pessoal, 2010. Vinícius Ruas Ferreira da Silva - Comunicação pessoal em entrevista concedida na região oceânica de Niterói, em 12/nov./2010. 26 www.pef.com.br/esportes/?e=jiu-jitsu. 20


agilidade e resistência ao corpo, proporcionando grandes capacidades de defesa e concorrendo para o nosso bem estar físico, moral e espiritual, pois o ju-do, como vulgarmente chamamos essa luta, assegura a confiança em nós mesmos... Os outros tres big olhavam, boquiabertos para o delegado ‘sportman’. E ele continuou sua explanação, afirmando que não tem fundamento a suposição de que o jin-jutsu (sic) foi trazido ao Japão por Chin-Gen-Pin e Chaen Yuan, da dinastia de Ming, na China. Explicou que os verdadeiros do ju-do, foram os japoneses, por intermédio do médico Akiuyama Shirobei, estabelecido em Nakasaki e que lhe deu o nome de “Yoskin-riyu”, método que foi depois aperfeiçoado em Kusatsu por Yanagi Sekiaki Minamoto-no-Massarati, pertencente à classe feudal da província de Kynshu. -- Se quizermos ser fortes – explicou o delegado – devemos aperfeiçoar os nossos conhecimentos sobre o ju-do. A força vence tudo, Conhecendo alguns golpes e contragolpes, seremos os donos desta terra. Ninguém ousará defrontar-se conosco. Querem aprender como é? E passando da teoria à prática, o delegado gritou para o escrivão: -- Isto aqui se chama “nagewaza”! e aplicou-lhe um brasileiríssimo ponta-pé no estomago! O prefeito arregalou os olhos e nem teve tempo de abrir a boca. O atlético delegado deu-lhe uma cabeçada bem maranhense, explicando: -- Isto é ‘haraigoshi’! O prefeito caiu desmaiado, por cima do escrivão, que continuava estendido no solo. Quanto ao tabelião, foi mais rápido. Defendeu-se de uma rasteira que o delegado dizia chamar-se ‘osotogari’, meteu-lhe o pescoço debaixo do braço e explicou, por sua vez: -- e isto aqui, chama-se ‘grampo’, meu filho! Sáe desse! Serenados os ânimos, o delegado, auxiliado pelo tabelião, tratou de fazer o prefeito e o escrivão recuperarem os sentidos, fazendo-lhes beber ‘água de lima’, método que ele chamou de ‘kwasei-ho’. E a reunião terminou ali mesmo. No dia seguinte, 29 de maio, dia de inicio da festa do Espirito Santo, saíram os quatro a percorrer a cidade, utilizando-se em todas as barracas do gostoso método “kwassei-ho”. De então para cá, segundo as noticiais que recebemos de Alcântara, o delegado ‘cisma’ com qualquer popular, não discute, nem hesita: Aproxima-se e diz: -- “Esteje preso, por infração! Si o ‘infrator’ pergunta o motivo, entram, então em prática os conhecimentos “judoisticos” da original autoridade, que com uma cabeçada e dois rabis de arraia estende por terra o adversário, intimando os presentes a conduzirem o preso para a cadeia. Assim aconteceu, há dias, quando ele invadiu a residência de um rapaz conhecido pelo nome de Antonio “Pirulico”, onde se travou uma luta espetacular, no decorrer da qual, em virtude dos ‘haraigoshi, e dos ‘nage-wasa do delegado, foram quebrados os potes, os alguidares, o espelho, cadeiras e a mesa do pobre rapaz. [...] E assim termina a ‘história’ do delegado de Alcântara, discípulo emérito do método de ‘ju-do’, fundado pelo dr. Prof. Gigoro Kano e adotado pelo Kodohwan em Tóquio [...]

No “Diário de São Luis”, edição de 1º de junho de 1949, era anunciado a realização de um festival esportivo em prol da igreja do Anil, com duas taças em disputa, e uma luta de jiu-jitsu, entre os desportistas Durval Paraíso e o Sargento Cirino. Na edição de 4 de junho, trata de uma “atraente tarde esportiva que se realizaria no estádio santa Izabel”:


Em 1949, conforme noticia o Diário de São Luis, edição de 13 de junho, seria aberta a temporada de lutas daquele ano. Nessa data seria fundada a Academia Maranhense de Pugilismo, e todas as lutas dali em diante seriam controladas pela novel entidade. Idealizada por Carlos Ribeiro, a diretoria era assim composta: Presidente de Honra: Cesar Aboud; Presidente: Diógenes Barbosa; Secretário: Durval Paraíso; Tesoureiro: Zilmar Cruz; Diretor Técnico: Carlos Ribeiro; Diretor de Publicidade: José de Ribamar Bogea; Conselho Fiscal: Ivis Miguel Azar, João Silva, e Edmirson Viegas. Suplentes: Raimundo Gonçalves, Raimundo Francisco do nascimento, e Tácito José de Sousa. A abertura da temporada de 1949 iniciaria no mês de julho, com caráter solene, e contaria com lutas de jiu-jitsu livre, Box, etc. Na década de 1950, encontramos que Rubem Goulart mantinha uma ‘escolinha de judô’, no SESC. E que em 1952 anuncia a criação do Curso de Educação Física do Aero-Clube, conforme registro em PACOTILHA, quinta-feira, 24 de abril de 1952 p. 3; dentre os esportes a serem ensinados, consta judô e luta-livre. Em A PACOTILHA, quinta-feira, 24 de agosto de 1956, p.3, sob o título “TOLEDO DESAFIA BLACK PARA UM DUELO DE JUDÔ”, anunciando, para a próxima semana o confronto entre os campeões do Paraná e do Maranhão Lutadoras esperadas. Na próxima semana, os admiradores do pugilismo em nosso estado terão o ensejo de presenciar o primeiro duelo do judô. Toledo, o campeão maranhense vem de lançar um desafio a Black Maciron, campeão paranaense. Os que acompanham a temporada de Luta Livre e Vale Tudo, aguardam com vulgar interesse a resposta de Black


DISPOSTO A VENCER Na manhã de hoje Toledo com pareceu à redação dos Diários Associados a fim de comunicar o seu desafio e também declarar aos nossos desportistas que está disposto a conquistar novo triunfo para as cores do Maranhão, no duelo do Judô. A 29 de agosto – “BLACK ACEITA O DESAFIO COM BOLSA”. O lutador paranaense aceita o desafio de uma luta de judô, desde que haja uma bolsa para o vencedor. Já na década de 1960, e de acordo com Antonio Matos – um dos maiores nomes do Judô maranhense, junto com Cláudio Vaz, Emílio Moreira, e James Adler – o Judô foi introduzido no Maranhão pela família Leite. Depois, surgiu o Major Vicente. O que é confirmado por Cláudio Vaz, que afirma que Paulo Leite já praticava Judô, em São Luís, antes da chegada do major Vicente.

Em 1966, PAULO LEITE funda a academia "JUDÔ CLUBE IRMÃOS LEITE"; sua primeira sede foi um salão nos altos do antigo Banco do Maranhão, na Rua da Estrela nº. 175 - Praia Grande; mudando-se depois para Rua Rio Branco nº. 276 - Centro. Após terminar o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Ceará, onde iniciou a prática do JUDÔ com o Professor Antonio Lima, retorna a São Luís e, como atleta sagrou-se campeão em vários torneios e campeonatos no estado do Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, e São Paulo. Além de iniciar todos os seus irmãos na prática do JUDÔ, formou vários atletas, inclusive as primeiras mulheres judocas dentre elas sua esposa Margarida. Iniciou o JUDÔ nas escolas de São Luis, sendo pioneiro o Colégio Marista. Promoveu a vinda da seleção Baiana de JUDÔ, evento este que lotou o Ginásio Costa Rodrigues, quando foi homenageado juntamente com o professor Lhofei Shiozawa (atual 2º vice presidente da CBJ - Confederação Brasileira de Judô), pelo também judoca da época, Cláudio Vaz dos Santos, o conhecido desportista "ALEMÃO".


Em 1968, Cláudio Vaz dos Santos – o Cláudio Alemão - retorna do Rio de Janeiro a São Luís, já como praticante de Judô. Com a chegada do Major Vicente é criada a academia “Samurai”, que funcionava atrás do Ginásio Costa Rodrigues; além de Cláudio, praticavam Marco Antonio Vieira da Silva, seu irmão Fabiano Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda. Cláudio Vaz perdeu dois campeonatos para Paulo Miranda. O judô só era defensivo, não valia pontos ofensivos, só valia a defesa, você sempre contra atacava, mas não valia o ataque, só valia a defesa. O Major Vicente permaneceu em São Luís por três anos, criando uma elite de judocas no Maranhão; esse trabalho durou de 68 até 70. Ainda nesse ano é criada a segunda escola de Judô em São Luís, no Clube Sírio Libanês, tendo como instrutor o Major Vicente, após a introdução da modalidade pelo Prof. Paulo Leite; faziam parte do grupo, além de Antonio Matos, Marco Antonio Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda, Sargento Leudo, Cláudio Vaz dos Santos, Francisco Camelo, Alberto Tavares, Gabriel Cunha, Durval Paraíso, Mestre Sapo – Anselmo Barnabé Rodrigues, o maior capoeirista que o Maranhão já teve. É em 1969 que a primeira seleção maranhense de Judô é formada, para disputar um Campeonato Brasileiro, em Brasília-DF; a equipe era formada por Antonio Matos, Paulo Juca Chaves Miranda. Sargento Leudo, e Francisco Camelo, técnico: Major Vicente.


No ano de 1970 com a transferência do Major Vicente para o Rio de Janeiro, o grupo já formado procurou trazer um professor no nível dele; foi quando Jorge Saito - campeão das Forças Armadas – foi trazido para o Maranhão.

Em resposta à indagação: o que se praticava em São Luis? Indaguei a Elton Silva 27 podemos dizer, então, que o que se praticava, em São Luis, identificado como jiu-jitsu era o kodokan, hoje judo? Ao que respondeu: Se veio de Sada Miako ou de Conde Koma, sim. Não conheço ninguém até hoje que não tenha ensinado Kodokan Judô no Brasil. Nunes e Rubio (2012) também esclarecem a confusão de termos:

A nomenclatura do que eles ensinavam também é motivo de controvérsia. Quando a prática se referia as lutas de vale-tudo ou defesa pessoal era chamado de jiu-jitsu ou jujutsu e quando se referiam ao ensinamento das técnicas com objetivos de formação e mais adiante de competições denominavam judô28. O termo jiu-jitsu Kano, era uma das denominações encontrada até a criação das federações regionais (HANCOCK & HIGASHI,190529; KAWASE, SUGIHARA & UENO, 197930).

27

SILVA, Elton. Correspondência pessoal, via facebook, 28/11/2017,com o autor, esclarecendo alguns termos e dúvidas. https://www.facebook.com/elton.judo/posts/1476521202429319?comment_id=1477134512367988&reply_comment_id=147 7140569034049&notif_id=1509214453043699&notif_t=feed_comment_reply 28 Vinícius Ruas Ferreira da Silva - Comunicação pessoal em entrevista concedida na região oceânica de Niterói, em 12/nov./2010. 29 HANCOCK, H.I.; HIGASHI, K. The complete Kano Jiu-Jitsu (Judo). New York: Dover, 2005. Originaly published: London/NewYork: G.P. Putnam’s Sons, 1905. 30

KAWASE, I.; SUGIHARA, M.; UENO, T. Nihongo: a pronúncia da lingua japonesa. Tokyo: The Japan Foundation, 1979.


EMILIO MOREIRA E JORGE SAITO, 2018, Pindamonhangaba-SP


“PERNAS PARA O AR QUE NINGUÉM É DE FERRO”: AS RECREAÇÕES NA SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX 31 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 32 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ 33

".. Morava na rua da Cruz, próximo ao bêco Escuro, na descida do açougue, os filhos do popular Bazola, célebre pelas festas retumbantes que todos os anos promovia pelo transcurso do 28 de julho [de 1823], data da adesão do Maranhão à Independência”. (VIEIRA FILHO, 1971, p. 170). Dunshee de Abvranches (1970), em seu romance histórico sobre a “Setembrada” descreve as várias festas que se realizavam em Maranhão no período de 1822 a 1831. Para esse memorialista, de todas as terras do Brasil, a maranhense sempre foi, e é ainda, a mais aferrada às tradições: Os costumes dos tempos coloniais e os do primeiro império ali ainda dominam, aperfeiçoados naturalmente pela cultura intelectual, até hoje inexcedível, das classes dominante [...] O Natal jamais deixou de ser em S. Luiz uma festa genuinamente popular. Desde o começo de dezembro, ninguém mais pensa em outra coisa a não ser gosar essas semanas de alegria e de folguedos. [...] E, de fato, nesses dias faustosos, esquecem-se ódios e dores, aborrecimentos e misérias, e ricos e pobres não aspiram senão partir para os sítios pitorescos que margeiam o Caminho Grande e, por êle, se desdobram pelo Anil, a Maioba, a Vila do Paço e S. José de Riba-Mar. Os que ficam na cidade, também animadamente se divertem. Por todos os bairros, mesmo os mais miseráveis, armam-se presépios para receber os bandos de pastorinhas... (p. 27). As festas são parte indissociável da cultura maranhense, se constitui em [...] testemunho da brava resistência de um povo que teve contra si a caturrice opressora e egoísta dos colonizadores, fato continuado após a Independência, durante todo o Império e até a primeira metade deste século, embora em intensidade declinante. (MORAES, 1986, p. 177). São Luís do Maranhão, à época da partida de D. João VI (1816), era uma cidade em crescimento, consolidando e expandindo o conjunto arquitetônico que a opulência maranhense estampou. À sociedade maranhense não faltavam os contornos de relações sociais definidas. De alicerce agrário, com produção em latifúndio e dominação senhorial, conheceu como culturas econômicas o arroz e o algodão - com as peles e os couros, a cana-de-açúcar, a borracha, a pecuária constituindo-se em negócios complementares -, "fabricando centros urbanos de residência de exportação/importação de mercadorias, formulando uma

31

Segundo lugar no Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” - Prêmio “Antônio Lopes” de Pesquisa Histórica, 1995; Artigo publicado nos Coletâneas do III Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física, DEF/UFPR; DEF/UEPG; FEF/UNICAMP, Curitiba, 10 a 17 de novembro de 1995, p. 458- ; Publicado nos Anais da III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, São Luís, 05 a 08 de dezembro de 1995, p. 58; Publicado nos Anais do X Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Goiânia, 20 a 25 de outubro de 1997, p. 1005 - , 32 Professor de Educação Física; Mestre em Ciência da Informação; CEFET-MA/DCS; 33 Professora de História; Especialista em Metodologia do Ensino Superior; CEM “Liceu Maranhense”.


imagem cultíssima de si mesma (resultado da remessa dos filhos à educação européia)" (CORRÊA, 1993, p. 74). Dessa educação dá-se o encontro de duas visões do mundo diferentes, senão opostas: uma dominada pela religião na sua expressão mais doentia, a outra dominada pela certeza da experiência, pelo caminho trilhado à luz do espírito científico, condutora da nova mentalidade. São Luís conhecia então uma renovação cultural importante: Manoel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, Trajano Galvão e sobretudo Antônio Gonçalves Dias, deram à Província do Maranhão um brilho que ela nunca conhecera (MÉRIAN, 1988). Os comerciantes formavam uma casta que dominava a economia da província. Eles e os ricos fazendeiros, cujos filhos haviam estudado na Europa, formavam a classe dirigente aparentemente iluminada na convencionalmente chamada "Atenas brasileira". d'Orbigny (1853, citado por Mérian, 1988), registrou, quando de sua passagem por São Luís do Maranhão no século passado, a notável elegância e as maneiras da população branca: Em sua maioria criadas em Portugal, as jovens senhoritas da região traziam consigo o gosto pelo trabalho e pela ordem, recato e comportamento geralmente alheios às nativas... Quanto aos rapazes, quase todos eles vão estudar nos melhores colégios da França ou da Inglaterra. (p. 13). Do encontro daquelas duas visões de mundo, aumentava a atenção sobre o corpo, sobre os gestos, atitudes e movimentos, tornando-se delicado progredir através de qualquer atividade física que ultrapassasse um limiar definido pelo bom tom: [...] Este limiar representava uma autêntica linha limite que impedia toda a prática para além do simples passatempo, um recurso a formas agradáveis a que uma pessoa bem educada se devia dedicar no desejo legítimo e louvável de promover a perfeita conservação do corpo. Porém, jamais lhe seria permitido que tais práticas de simples passatempo se transformassem em verdadeiras ocupações. (HASSE, 1985, p. 27) Acompanhando a vida, os manuais de civilidade não deixam de assinalar diferentes formas de movimento e atividades diversas, úteis a uma educação correta e consideradas no quadro das recreações, como uma das coisas indispensáveis à vida, na qual ninguém pode prescindir (HASSE, 1985). Dunshee de Abrabnches (1970), em suas memórias, descreve como eram passados os dias de passeio por essa classe formada pelas “gentes de bem”, fazendo o relato de um passeio ao sítio de seu avô, o rico comerciante português Garcia de Abranches - o Censor -, nos arrebaldes de São Luís, quando as famílias dos amigos então se reuniam para passar os períodos de festas e os finais de semana: [...] as moças e rapazes formavam bandos gárrulos e irriquietos que, desde a adrugada até o cair da tarde, saíam em excursões pela floresta e pelos sítios vizinhos, voltando carregados de cófos com frutas, cachos de jussaras e de burutis, flores silvestres, emfim, tudo que apanhavam pelos caminhos e atalhos. [...] arcia de Abranches tinha a paixão da caça; e , quando imaginava dar uma batida às pacas, pouco se importava do sol e da chuva: não regressava à casa antes de trazer as vítimas visadas. [ ... ] Atirador emético e adestrado nos jogos atléticos, alto, magro e ágil, [Frederico Magno] trepava como um símio até os galhos mais finos das árvores para apanhar uma fruta cobiçada pelas jovens ali presentes. Encantava-as também a precisão dos seus tiros ao alvo. E causava-lhes sustos e gritos quando trepava sem peias por um coqueiro acima ou se balançava no tope de uma jussareira para galgar as ramas de uma outra em um salto mortal, confirmando o título que conquistara entre os da terra de campeão da bilharda. [...] A monotonia das noites era sempre suavisada por divertimentos improvisados. Enquanto os três


velhos [Garcia de Abranches, Comendador Meireles e Manoel Portinho] , chefes de família, se entretinham em partidas de cartas ou de gamão, com alguns roceiros vizinhos, os moços mantinham-se sempre em constante hilaridade e algazarra a propósito dos jogos de prendas ou iam para o terreiro ouvir os desafios dos cablocos, tocadores de viola.(p. 28). Durante séculos, a caça constituíra um direito da nobreza. Em 1823 ainda era defendida sua conservação como restrita a este grupo social, à velha ordem, justificando-se este parecer pelo fato de se considerar que na sociedade não podem andar armados todos os homens, mas apenas alguns (HASSE, 1985). O povo e os eclesiásticos não deviam se ocupar da caça porque isso “apartaria os primeiros do seu commercio e da cultura da terra” e aos segundos porque “são devedores de todo o seu tempo ao povo para, entre outras coisas, lhe ensinar as orações e a instruir na sã moral pelo que devem ocupar-se do estudo e das funções do seu ministério” (HASSE, 1985, p. 27): [...] Sabiamente a caça fora destinada, segundo este parecer, àqueles que devem pela lei governar e defender os outros, achando-se entre o descanso e os prazeres nobres que lhes são concedidos. [...] Para estes, a caça é o meio de adquirir um caráter de força e de paciência que os deve distinguir, uma ocasião de se tornarem diligentes, activos, atentos, prudentes e corajosos, incapazes de temer a fadiga ou a desgraça”. [...] Porém, quando a actividade da caça é bem dirigida, como um jogo, torna-se um meio eminentemente salutar para o homem hipocondríaco, para aquele que vive na sumptuosidade e na moleza, ou para aquele outro que tem vida sedentária. Desta maneira, a caça seria integrada no quadro geral das práticas benéficas e úteis à sociedade, quadro extenso onde se incluíam diversas atuações. (HASSE, 1985, p. 27-27). A caça fora destinada àqueles que devem pela lei governar e defender os outros, “achando-se entre o descanso e os prazeres nobres que lhes são concedidos” (HASSE, 1985, p. 27): Para estes, a caça é o meio de adquirir um caráter de força e de paciência que os deve distinguir, uma ocasião de se tornarem diligentes, activos, atentos, prudentes e corajosos, incapazes de temer a fadiga ou a desgraça. [...] Este privilégio, a par de outros, fôra perdido entretanto pelo evoluir das condições econômicas admitindo-se, em 1874, que a caça é uma forma salutar de recreio que oferece determinadas vantagens. (HASSE, 1985, p. 27). Os longos passeios pelos arrabaldes permitiam o contato com o ar livre e com a natureza, e se constituíam forma de divertimento salutar, pois reúnem harmoniosamente a solução quanto ao medo de doenças que impedia a vida laboriosa, por um lado, e o medo da crítica que a rígida moral implicava, por outro. Às mulheres, “responsáveis primordiais na criação dos novos seres” (HASSE, 1985), recomendava-se sobretudo os exercícios do corpo que obrigavam a andar ao ar livre, como os passeios a pé ou a cavalo, pois: [...] além de fortificarem a constituição animavam o semblante, sugerindo-se brandamente a relação favorável entre a saúde e a beleza, forma atraente de promover com delicadeza a aderência a práticas sadias conduzidas pelo desejo de seguir os conselhos avisados dos médicos. (HASSE, 1985, p. 28). O jogo, enquanto divertimento para os mais jovens, torna-se objeto de atenção, “no desejo de promover desde cedo um conjunto de hábitos e de atitudes favoráveis à transformação de usos caducos” (HASSE, 1985, p. 28). Às exigências de ordem médica, seguem-se as de ordem econômica, para favorecer a orientação adequada às necessidades práticas que vinham ocupando os indivíduos. Nesta linha de reflexão, Hasse conclui que não é possível nem deve ser consentido à mocidade “huma applicação séria todo o dia”,


sendo preciso dar liberdade ao corpo e ao espírito. “Este, depois de haver descansado, ficaria em melhor estado para o trabalho” (HASSE, 1985, p. 28): [...] Começa a generalizar-se a idéia de que os divertimentos são necessários a todos os homens e, em particular, à mocidade. Esta tem para com eles uma propensão natural e eles servem muitas vezes de hum grande socorro, tornando-se nocivos Quando em excesso, levando o espírito a perder a sua força. [...] Os divertimentos, por possuírem um valor determinado ao nível do bom equilíbrio geral, são permitidos e aconselhados desde que mantenham circunspeção. (HASSE, 1985, p. 28-29 Ainda se referindo ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno de Abranches, seu sobrinho relembra que [...] Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão [...]. (DUNSHE DE ABRANCHES, 1970, p. 31). Oliveiura Marques (S.D.) ao referir-se às distrações na idade média em seu “A Sociedade Medieval Portuguesa”, refere-se ao jogo da péla, como pertencente ao campo dos desportos violentos: D. Duarte não o louvava (ao jogo da péla), antes pelo contrário o incluía na lista dos jogos que entretinham a mocidade da sua época, em detrimento dos exercícios de cavalaria. Mas D. João I encarava o jogo da péla como muito útil para o treino das armas: ‘e hoje em neste dia alguns, quando estão folgados e lhes é mister fazerem em armas, jogam alguns dias a péla, porque este jogo lhes faz tender os membros’. Não possuimos descrição deste jogo de bola, que deveria ser de arremessos, talvez com o intuito de derrubar qualquer obstáculo ou simplesmente de atingir um ponto distante.” (citado por VIERIA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 85). Fortunato de Almeida (in História de Portugal, tomo V), ao referir-se aos costumes e aspectos sociais, falando dos jogos desportivos e passatempos diversos, descreve o que seria o jogo da péla: Nas ruas e outros lugares públicos concorriam muitos eclesiásticos e seculares a jogar e a ver jogar a ‘bola ou mancaes’. O Bispo de Coimbra D. Afonso de Castelo Branco, nas suas constituições de 1591, proibia aos eclesiásticos semelhantes exibições; e proibia em especial o jogo da pela nos jogos públicos, ‘principalmente despindo-se em calças e gibão, como alguns com poucos respeito de seu estado fazem’, No século XVIII chamava-se a este jogo o jogo dos paus. Mancais era o nome que no século XVI se dava aos paus destinados a ser derribados com a bola. [...] Em Lisboa, jogava-se a péla num pátio descoberto e público em cuja porta esteve este dístico latino: Lude pede, insulta, suda, contende, labora; Si tibi contingat perdere, solve, tace. Jogavam seus parceiros, três de cada parte, com péla de couro, que se enchia de ar com uma seringa. Jogou-se a princípio com a palma; nos princípios do século XVIII, introduziu-se o uso francês de jogar com raqueta.”. (citado por VIERA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 90-91).


Grifi (1989), ao se referir aos jogos de bola, encontrou que Galeno, “o famoso médico grego”, recomendava tal prática para fins higiênicos e até mesmo escreveu um tratado específico sobre “o jogo da pequena bola”. Mas os jogos de bola, na Grécia, já aparecem nos poemas homéricos (p. 68). Mais adiante, afirma que nos séculos XIV, XV, e XVI destacou-se mais que os outros os jogos da bola, que se fundiu-se às manifestações folclorísticas, no novo contexto das estruturas renascentistas: Na França, particularmente, a bola (de dimensões maiores da normal), nascido no tardomedievo, como instrumento de contenda incruenta, torna-se momento lúdico e agonístico, aberto a todos. Os jogos mais conhecidos são a paume, o pallone, a soule, a crosse, aos quais seguiram-se, na Itália, o calcio-fiorentino, o pallone al bracciale, a pallacorda, a palla al vento, a palla-maglio, o tamburello.[...] A paume (jeu de paume) consiste em bater a bola com a mão e substituiu os ludus pilae cum palma romano; conhecido já no século XII foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis. “ (GRIFI, 1989, p. 188). Lyra Filho ( 1974), ao discorrer sobre os jogos com bola em diferentes culturas, refere-se ao tlatchtli praticado pelos primitivos mexicanos, numa descrição do Abade Prévost: “o local deste exercício é parecido com o jogo da péla e o instrumento consiste numa pelota feita de goma de uma árvore que se desenvolve em estufas quentes ... não se marcavam chaças como no jogo da péla” (p. 152). Mais adiante, ao referir-se aos costumes dos índios brasileiros, e descrever o jogo de petecas, afirma que esta distingue-se da péla romana (p. 175) A vida social de São Luís procurava manter os foros aristocráticos. À Sociedade Filarmônica sucedera o Clube Familiar. As festas dos Remédios, de Santa Filomena e de Santo Antônio "... serviam de pretexto também para as exibições de modas e de elegâncias ... " (ABRANCHES, 1941, p. 131). A festa dos Remédios tornou o largo onde era realizada famoso. Realizada no mês de outubro, "quando sopravam os ventos gerais e o sol é morno e caricioso" (VIEIRA FILHO, 1971, p. 88), essa festa foi descrita por diversos cronistas e escritores mas nenhum o fez de modo tão feliz, evocador e pitoresco como João Francisco Lisboa. Lisboa (1991) dedica dois folhetins às festas de São Luís - a de Nossa Senhora dos Remédios e à Festa dos Mortos ou A procissão dos Ossos - destacando ser a primeira a "mais popular desta boa cidade de São Luís" (LISBOA, s.d., p. 27), querendo dizer ser esta a mais concorrida pelo povo de todas as classes e condições, "e a que, na variedade das distrações que proporcionava, deixa mais satisfeitos os concorrentes". João Francisco LISBOA (1991), o Tímon, vencendo a feroz misantropoia de que o acusavam propõe-se a narrar "o mais agradavelmente que puder" (p. 307) o que tão agradavelmente presenciou e gozou: Já um mês ou mais antes do dia da milagrosa Senhora, começa o azáfama da sua festa; as belas e os elegantes perdem o sono, imaginando nos meios de melhor ataviar-se ... Aviados ou não os preparativos, no dia aprazado começam as novenas, anunciadas a girândolas de foguetes, ao estouro das bombas, a toque de zabumba, e a repiques de sinos, ao meio-dia em ponto na ermida da milagrosa Virgem. É de notar que no Maranhão as festas públicas, quer religiosas, quer civis ou políticas, parecem que nada valem sem foguetes, sinos, zabumbas, bandeiras, ariris, acessório obrigatório a quase todas elas. (LISBOA, 1991, p. 308; LISBOA, s.d., p. 29). A festa dos Remédios, segundo esse autor, tem a particularidade de se dividir em duas partes, uma externa e outra interna: Eis a externa. O povo, sem distinção de classe e condições, aflui ao anoitecer de todos os pontos da cidade, e ocupa promiscuamente o Largo dos Remédios, uns de pé, outros sentados em bancos e cadeiras, uns parados, outros passeando, aqueles fumando, estes devorando doces, estes outros simplesmente conversando, e alguns até engolfados em silenciosa e gozosa


meditação. Cada um vestido segundo o seu capricho. E a todos a lua ilumina, o vento refresca, e a poeira incomoda sofrivelmente. Reina por toda parte o prazer e a cordialidade, e é quase geral a efusão dos bons sentimentos [...] No antigo alpender de Nossa Senhora, e numa barraca erguida a poucos passos de distância, tocam alternadamente a música dos Educandos [Artífices], e a banda de cornetas do Corpo Fixo.- Nem escolha nas peças; nem esmero na sua execução; os instrumentos parecem velhos e rachados, e estão certamente desafinados. Será prudente aplicar o ouvido e a atenção a outros objetos [...] Agora a parte interna.- entremos na igreja. É pequenina, e está principalmente atulhada de pretas e mulatas; as brancas, as senhoras, a gente do grande tom, essa ocupa as tribunas, as janelas, e até os púlpitos que das salinhas assobradadas, que estão ao lado da igreja, deitam para o interior dela. Nestas salinhas, há mais fresco, e melhor companhia, e o escrito mais bem disposto, pode melhor entregar-se à devoção e às meditações religiosas ... Silêncio, e a postos ! Os cânticos vão começar ! Toca a encher os melhores lugares. Os nossos cavalheiros, cuja cortesia é aliás digna de um eterno renome, nem sempre dão a precedência às donas e donzelas, como a razão e ordem consertavam. Elas também querem ver e ouvir [...]. (O PUBLICADOR MARANHENSE no. 1173, 15.out.1851, citado em OBRAS DE JOÃO FRANCISCO LISBOA, v. IV, 1991, p. 308-313). Moraes (1989) comenta que João Lisboa não fez uma mera descrição da festa, mas de um vasto e movimentado conjunto de quadros, retratos e análises da vida em São Luís (p. 13). Aluisio Azevedo, em "O Mulato", não se furta à tentação de descrevê-la. Refere-se ao folhetim de João Lisboa, quando o Freitas explica a Raimundo que São Luís tem seus encantos, citando "os nossos faustos - A festa dos Remédios !" (p. 50). Após descrevê-la (1881), e compará-la com a descrição que o Tímon fizera (1851), afirma que "- Há também para os moleques, um pau-de-sebo, balanços e cavalinhos. É verdade, o doutor sabe o que é um pau-de-sebo ?" (p. 52). Para Domingos Vieira Filho (1971), a Festa dos Remédios: Eram três dias de ruidosa alegria, a que não faltavam fartas comesainas, barracas de sorte, leilões de prenda, balões de papel colorido soltos entre a bulha festiva da meninada, palmeiras ariri, de onde pendiam lanterninhas chinesas e luminárias, cadeiras de passeio no largo, e como remate obrigatório, o flirt de moçoilas cruelmente espartilhadas e afundadas num ror intérmino de anáguas e saias, com o repazio despreocupado, casquilho e feliz, a imaginação ardendo em chamas de românticas aventuras. (p. 88-89). Além das festas religiosas, haviam as profanas, com o carnaval do Maranhão se constituindo desde o período colonial em ponto máximo de atração da cidade. Como hoje, o carnaval de rua dominava soberano: [...] e dava gosto participar do movimento do corso e sair pelas ruas engrossando o bando de mascarados e entrudando os encautos. Para o Largo dos Quartéis (Praça Deodoro) convergiam assim todas as brincadeiras de caninha verde, de cheganças e de fandangos, os ursos, os estrepitosos baralhos, os fofões guisalhantes com suas carecas e narizes medonhos, tudo enfim se concentrava numa folia animada, a vez por outra não faltavam entrevero em pauladas e correrias. (VIEIRA FILHO, 1971, p. 66). Câmara Cascudo (1972) registra em seu "Dicionário do folclore brasileiro" o verbete carnaval: Foi, até meados do séc. XIX, o entrudo brutal e alegre que Debret pintou e de que todos os velhos recordam. Pelo norte, centro e sul do Brasil o movimento era igual. água, farinha do reino, fuligem, goma, ensopando os transeuntes. água molhando famílias e ruas inteiras, em


plena batalha. Criados, outrora escravos, carregando bilhas, latas, cântaros, para suprimento dos patrões empenhados na guerra... Depois o entrudo admitiu formas mais doces, com as laranjinhas-de-cheiro e borrachas com água perfumada... Era a herança fiel e completa do entrudo português, com suas alacridades absolutas...". (p. 247). Quanto à "caninha verde", esse autor registra ser dança cantada no sul e centro do Brasil, constando de uma roda de homens e mulheres. Em Portugal é uma das mais populares do Minho. Os negros brasileiros dançavam-na com prazer, com ritmo e maneiras peculiares à raça (p. 232-233). Já as "cheganças" se constituem em auto popular, do ciclo do natal. Em Portugal era dança no séc. XVIII, extremamente lasciva e sensual, tendo se tornado popularíssima, chegando a ser proibida por D. João V em 1745. O "fandango" tem vários sentidos no Brasil. É o bailado dos marujos ou marujada e ainda chegança dos marujos ou barca. No norte-nordeste, é a denominação de uma dança dramática, sinônimo de marujada. Quanto ao "urso", segundo Câmara Cascudo, é símbolo do moleiro, desajeitado, pouco inteligente, intrigante, desleal. Mas essas festas eram as dos "brancos", a minoria beneficiária da estratificação das classes sociais, e em cuja base estavam os negros escravos (CORRÊA, 1993; MORAES, 1986, GEBARA, 1997), privados de tudo - "da alegria da liberdade e da liberdade para suas ricas alegrias" (MORAES, 1986, p. 177). Domingos Vieira Filho (1971), ao traçar a história da Rua dos Apicuns dá-nos notícias de ser local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: A esse respeito em 1855 um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." (VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). O famoso Canto-Pequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Vieira Filho (1971) afirma que ali, "alguns domingos antes do carnaval costumava um magote de pretos se reunir em atordoada medonha" (p. 30), a ponto de em 1863 um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato, nestes termos: Entrudo: - Sobre êste inocente brinquedo, pede-nos um nosso assinante que chamemos a atenção da polícia para a grande algazarra e ajuntamento de pretos, que todos os domingos fazem no Canto Pequeno, a ponto de impedirem o trânsito das famílias". (ed. de 9-1a. 1863. S. Luís)." (p. 30). Além do controle da disciplina do trabalho, implicam também no controle das populações trabalhadoras, escravas ou não. Também em São Paulo os jornais da época pediam “... ver a polícia o inconveniente de se permitirem as chamadas congadas dos pretos” (GEBARA, 1997, p. 74). Pode-se tirar desses fatos algumas indicações possíveis, a partir dessas evidências, relativas ao lazer das populações mais pobres e escravizadas que viviam no Brasil: de um lado a proibição de danças, batuques ou jogos quando deles praticassem escravos. A explicação dessas proibições vai desde o controle do contato entre escravos, e por extensão entre estes e a população livre, passando pelo controle da mobilidade do trabalho. É possível admitir que o lazer das populações pobres poderia tornar-se delituoso pelo simples fato de existir. Da rua do Ribeiro (hoje, Paula Duarte), mandada construir em 1796, costumava sair um cérebre baralho, chamado da praia do Caju, "consignado e ensaiado por nhá Joaquina Rosa Frazão, genitora do crioulo João Boneco, tipo loquaz e benquisto de todos" (p. 148), conforme nos informa Domingos Vieira


Filho. E essa grossa negralhada sarapintada de alvaidade ou tapioca, com música de pancadaria, reco-reco, pandeiro, cuícas, etc., saia a percorrer a cidade cantando estes versos: "Arriba, siriba, arriba Minina esses teus olhos "Cajueiro, cajuá, São bonitos, benza a Deus "Arriba siriba, arriba Ninguém lhe bote quabranto "Quero ver, minha Yayá. Que ainda serão meus." (VIEIRA FILHO, 1971, p. 14 9). O baralho é brincadeira típica do carnaval maranhense do passado, e consistia em grupos de negros "esmolambados e pintalgados de tapioca" (CÂMARA CASCUDO, 1972, p. 139) que percorriam as ruas da cidade, empunhando chapéus de sol e sombrinhas desmanteladas numa atordoada infernal. Informa esse autor que "baralho" era termo depreciativo, e na crônica policial dos jornais antigos volta e meia se fazia menção às "negras do baralho". Das "danças inconvenientes" dos negros já se tentara coibir desde o período colonial, quando o capitão de Infantaria Domingos Duarte Sardinha proibiu, por um bando de 30 de dezembro de 1744, que negros usassem tambores, batuques, violas, pandeiros e outros instrumentos, que façam provocar danças e ajuntamentos. Informa ainda MORAES (1986) que, quase um século depois, é publicado no jornal "A Estrela do Norte do Brasil" veemente protestos contra as manifestações dominicais de regozijo dos pretos. A imprensa, refletindo preconceitos fortemente arraigados, oferece farto registro sobre a repressão contra as festas populares da época: Danças inconvenientes - pelo Exmo. Sr. Dr. Chefe de polícia foi expedida esta portaria: No. 823 - Secretário de polícia do Maranhão, 14 de novembro de 1876./ Recomendo a Vmc. Muito terminantemente, que não consinta que nesta cidade haja de hoje em diante ensaios e danças de cheganças, congos, fandangos, turés, etc. por deponentes contra a civilização da capital da província, fazendo dissolver esses divertimentos, que nem sequer devem transitar pelas ruas. / Deus guarde a Vmc. - O chefe de polícia da capital. / Idênticas aos subdelegados do 1o. 2o. e 3o. distritos. [...] O ato acima transcrito, sendo prova de atenção a uma justa reclamação da imprensa e dos que prezam os nossos foros de povo civilizado, merece a aprovação de todos. / Que sejam permitidas essas danças nos três dias de carnaval admite-se, mas com o que ninguém concorda é que tais foliões conservem-nos em carnaval perpétuo, fazendo os seus mascarados percorrerem as ruas todo os domingos. / Bem fez o Sr. Dr. Chefe de polícia. (O PAÍS, edição de 16.nov.1876, p. 3, citado por MORAES, 1986, p. 178) Conta Rubem Almeida (citado por VIEIRA FILHO, 1971) que na hoje Praça Benedito Leite, "havia nesse terreno casebres que abrigava mulheres de vida airada" (p. 45) e que para desabrigá-las sugeriu-se à Corte a criação no local de um jardim botânico. Ao tempo em que se chamava Largo do João do Vale realizavam-se, ali, animadas retretas, conforme lê-se em crônica de Eloy, o Herói, que outro não era senão o nosso Artur Azevedo: O nosso jardim das plantas está quase despalperado com a derruba que nele fizeram que foi por demais cruel e exagerada. Graças, porém, ao comandante Azevedo, o Largo do João do Vale não é mais um matagal como era dantes, e, graças ao presidente da província, a música dos grilos e cigarras já ali não faz praça como fazia, porque a banda do 5o. tem levado de vencida toda aquela malta bravia por meios de notas afinadas e por afinar. (O Domingo, 26-5-1873, citado por VIEIRA FILHO, 1971, p. 46). Aluízio Azevedo, em sua obra, e em especial no "O Mulato", faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance:


As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel. (p. 9). Traça, esse autor, um perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata, cujo papel reservado era apenas o de mãe. Compara a mulher da burguesia maranhense à lisboeta desocupada, denunciando o ócio em que viviam. Como igualmente denunciava "o ócio dos padres que viviam do trabalho de pessoas honestas e crédulas" (MÉRIEN, 1988, p. 158), sendo estes, os padres, também "culpados pelo atraso da instrução pública" (p. 159). Aluísio considerava que todo "o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres" (p. 164) e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher: Do procedimento da mulher [...] depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade [...] Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar[ ...]. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988, p.166, 167). O mesmo tema é retomado quando da publicação de "O Mulato", criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Aluísio tinha consciência que parte dos leitores em potencial era constituída pelas mulheres da pequena burguesia portuguesa e maranhense da cidade e pelas filhas dos fazendeiros que encontravam na leitura uma diversão contra o tédio que pesava sobra a vida cotidiana e ociosa que tinham. No entender de MÉRIEN (1988), os discursos de Raimundo sobre a condição feminina, o papel da esposa e da mãe na educação das crianças, são dirigidos mais a elas do que a Manuel Pescada: O senhor tem uma filha, não é verdade ? Pois bem ! Logo que essa filha nasceu o senhor devia ter em vista prepará-la para vir a ser útil... dar-lhe exercícios, alimentação regular, excelente música, estudos práticos e principalmente bons exemplos; depois evitar que ela fosse, como é de costume aqui, perder nos bailes o seu belo sono de criança [...]. (ALUIZIO AZEVEDO, O MULATO, 1881, p. 268-269, citado em MÉRIEN, 1988, p. 288-289). Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo - Antonieta (carta a Julia, "Diário do Maranhão", São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, "Pacotilha", São Luís, 9.6.1881), respectivamente - falando "de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara" sobre a condição de vida de Ana Rosa, que lembrava a vida que as mocinhas maranhenses levavam (MÉRIEN, 1988, p. 291). Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, "lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio" (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, "a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses" (p. 290). Para defenderem seus ideais, puças e cabras, republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, maçons e católicos, dentre outros, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas


denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": [...] só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos. (ABRANCHES, 1941,p. 174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de Abranches (1941) em suas memórias: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos" (p. 187), com os membros desse clube abolicionista juntando o útil ao agradável: [ ...] E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisados athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos ... Apezar de só ter uma filha, agasalhava na sua hospitaleira residência uma parentella basta e jovial, em que superabundava o sexo frágil. Não faltavam pianistas, violinistas, e cantores nesse grupo variegado de moças casadeiras e gentis. Os saraus ali se succediam desde as novenas de N. S. dos Remédios á véspera de Reis. Era que, todos os annos, a família Travassos armava um presépio. Os ensaios das Pastorinhas iniciavam-se desde fins de Outubro; e, depois delles fatalmente seguiam-se dansas até á meia-noite [...]. (ABRANCHES, 1941, p. 187-188). Hasse (1985) ao tratar da “disciplina do corpo”, afirma que, atuando como verdadeiro instrumento simbólico, econômico e social, o corpo persiste na contínua afirmação de certo valor individual e coletivo num conjunto de práticas através das quais se acionam dispositivos que enunciam o seu autentico estatuto cultural numa retificação constante, integrando-se, dentro destas práticas, os gestos e comportamentos do cotidiano, conservando uma tênue reminiscência aristocrática, enquanto outros pretendem vincar a diferença face a um poder social decadente como era o da nobreza, ou ainda, firmar certa distinção perante camponeses e operários. A vida, ao se transferir da cidade para o campo, transforma a casa no centro de toda a vida social, “ponto fulcral onde tem lugar a organização, administração e montagem de cada representação individual” (p. 18). Aí, na casa da cidade, têm lugar momentos privilegiados como as reuniões e os banquetes, os bailes e as partidas, ocasiões que alimentam formas de sociabilidade e de ostentação, situações múltiplas propícias a escolhas de futuras uniões. Considerando o caso concreto dos bailes, a autora firma que a dança desempenha aí uma função particular, pois, ela é a forma de entretenimento adequada a tornar mais elegantes e agradáveis os gestos, soltando vigores em excessos. Entre as diferentes qualidades do entretenimento umas, como aquelas que promovem os exercícios do corpo contribuem para a conservação da saúde outras, tendo por principal objeto a utilidade, prestam-se a tornar os jovens mais agradáveis como é o caso da dança e da música: [...] A dança seria a arte de mover o corpo, os braços e os pés com elegância, ao som da música. Representava uma prenda necessária a quem tem de viver no mundo e um exercício verdadeiramente proveitoso. O seu ensino devia ser indicado desde cedo para poder fornecer desembaraço ao corpo e chegar a dançar com graça e a tempo. (HASSE, 1985, p. 19). No que diz respeito à ginástica, a sua importância estaria sobejamente reconhecida pelo enorme apreço que dela haviam feitos as nações mais célebres da antigüidade. O desporto e a ginástica estabelecem a conciliação entre o contato com a natureza e a promoção de uma disciplina cada vez mais apurada e despercebida. Só a partir do século XIX se torna possível o desenvolvimento da ginástica no sentido de contribuir para o controle e o autodomínio de cada indivíduo tendo em vista o benefício coletivo (HASSE,


1985, p. 32). Através da ginástica procede-se a uma racionalização das atitudes selecionando, organizando e sistematizando novos gestos mais adequados também às representações da nova elegância. Clovis Ramos (1986), escrevendo sobre o aparecimento da imprensa no Maranhão registra, no período colonial, que "... jornalista era o magnífico João Tavares com sua 'Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão'...", e no Império o aparecimento de inúmeros jornais políticos e literários, coletâneas de poesia e de peças teatrais, sendo publicados, no período de 1821 a 1860, 183 jornais (RAMOS, 1986, 1992), a grande maioria de caráter político. Os jornais com objetivo de recrear - de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo - foram: a "Folha Medicinal", de 1822, redigida por Manuel Rodrigues de Oliveira - o "Médico do Tijuco"pretensamente voltada para a medicina, tratou somente de política; de 1827, é o "Minerva", folha política, literária e comercial, com fim de instruir o povo, dedicou-se mais à política; "A Bandarra", é de 1828, folha político, literário e comercial. Apenas esses dois últimos, dos 21 jornais do período de 1821 a 1830 dedicaram-se a divulgar literatura. Alguns periódicos tiveram contribuições de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa (RAMOS, 1986). No período de 1831 a 1860, Ramos (1992), no seu segundo volume sobre a "opinião pública maranhense", registra o aparecimento em 1831, do "Atalaia dos Caiporas", periódico político, moral, literário e comercial; em 1839, do "O Recreio dos Maranhenses", folha literária publicada por Francisco de Sales Nunes Cascaes; em 1840, de "A Revista", de propriedade de Francisco Sotero dos Reis. Embora folha política, teve grande significação, estampando artigos de crítica literária e apresentando grandes escritores nacionais. Publica artigo assinado por Gonçalves Dias, entitulado "descobridor de talentos". "O Jornal Maranhense" aparece em 1841. Periódico oficial, trazia como epígrafe uma frase de Tímon: "a verdadeira educação de um Povo livre faz-se nos jornais". Fundado por Sotero dos Reis, contava também com Odorico Mendes como redator. Em 08.10.1841 noticiava a apresentação de um malabar em São Luís. Tratou, nessa mesma edição, da Sociedade Dramática Maranhense, que é o começo do Teatro no Maranhão. Essa Sociedade alugara o Teatro União (hoje, Artur Azevedo), de 1841 a 1845 e sua programação era recebida com entusiasmo, com os incentivos da imprensa. Para Abranches (1941) a "Sociedade Dramática Maranhense", havia dado um novo impulso à vida teatral de São Luís, revelando inúmeros atores. Em 1852 apresentaram-se várias companhias francesas, italianas e portuguesas, com seus espetáculos líricos e peças de teatro. Afirma, em suas memórias que: [...] Em certos salões, o luxo e a elegância consorciavam-se com as mais requintadas exibições artísticas. A Sociedade Philarmonica dava mensalmente no salão de festas do Collegio N. S. da Glória, um grande concerto seguido de baile a rigor. No Theatro S. Luiz succediam-se as companhias estrangeiras de opera e nacionaes de comedias. (ABRANCHES, 1941, p. 123124). Os bailes e o teatro representavam formas clássicas de entretenimento distinto. Integravam-se, por isso, com enorme facilidade nos costumes da austera burguesia pela familiaridade existentes com estas formas de entretenimento. Em 1844, o "Collégio N. S. da Glória", também conhecido como "Collegio das Abranches", em seus primitivos estatutos, dispunha: [...] não somente sobre as disciplinas escolares com também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas. Às quintas-feiras, as meninas internas participavam de refeições, como se fossem banquetes de cerimônia, para que se habituassem 'a estar bem á mesa e saber como se deveriam servir as pessoas de distinção'. Uma vez por semana, à noite, havia aula de dança sob a rigorosa etiqueta da época, depois de uma hora de arte, na qual ouviam bôa música e aprendiam a declamar. (ABRANCHES, 1941, p. 113-114). A dança recebia o acordo dos mais renitentes:


[ ...] que finalizam por considerá-la indispensável a uma pessoa de certo estatuto social. Por outro lado, os bailes que se organizavam e onde a dança surgia como principal motivo de interesse, constituíam excelentes meios de demonstrações quase inesgotáveis de poder uma vez que implicavam imperativos de vulto para uma encenação de grandeza insuperável favorecedora de certa rivalidade. (HASSE, 1985, p. 19). Tal circunstância não impedia, porém, que não se desejasse criar em torno elas uma atribuição clara de utilidade que justificasse plenamente o tempo perdido de forma ligeira, preocupação, aliás, constante em múltiplos aspectos da vida do século XIX. A moralidade vigente, “rigorosa e hipócrita”, impedia que fosse de outro modo, sossegando-se consciências inquietas relativamente às atividades, cada vez mais generalizadas, que escapavam nitidamente ao foro do trabalho. Na verdade, o baile e a freqüência dos salões bem como o teatro, seriam sempre obrigações socias desgastantes a que a civilidade e a vida no mundo obrigavam, um costume de fato integrado nos níveis sociais mais prestigiados (HASSE, 1985). Em 1842, aparece o "Museu Maranhense", periódico recreativo e de instrução, destinado à arte do Desenho. Nesse mesmo ano surge o " O Publicador Maranhense", órgão oficial e de interesse geral onde João Lisboa critica o novo regulamento do Teatro, não aprovando a mudança do nome de Teatro União fundado em 1817 - para Teatro de São Luís depois da reforma por que passou, entregue pronto e aformoseado ao público em 1852. No ano de 1845 aparece o "Jornal de Instrução e Recreio", revista literária, órgão da Associação Literária Maranhense fundada nesse ano. Eram seus colaboradores Luís Antônio Viera da Silva, Antônio Henriques Leal, Pedro Guimarães, Augusto Frederico Collins, Reys Rayol. Informa RAMOS (1992) que além de "muitos artigos de ensino - métodos e sistematizações de estudo tudo leitura amena, era verdadeiro repositório de trabalhos dignos de maior divulgação" (p. 116). Foi a voz do Romantismo no Maranhão, tendo contado, também, com Gonçalves Dias, Ayres de Vasconcelos Cardoso Homem, Gregório de Tavares Ozório, dentre seus colaboradores. "O Almazém", também aparecido nesse ano de 1845, era jornal de instrução e recreio, onde seus editores queriam "armazenar não provisões de armas do sermão de Vieira, mas os conhecimentos úteis" (RAMOS, 1992, p. 118). Ocupou-se das mulheres e sua educação. No ano seguinte, 1846, apareceu "O Arquivo Maranhense", jornal científico e literário, também órgão da Associação Literária Maranhense, tendo contado com Gonçalves Dias, ainda jovem e interessado em teatro, dentre seus colaboradores. Escreveu em seu primeiro número: "Fiéis ao nosso programa, o nosso fim continua a ser - a Instrução e o Recreio -..." (RAMOS, 1992, p. 121). O "Jornal Caxiense" era interessado em instruir, informar, sem esquecer, contudo, de dar orientação política. O "Jornal da Sociedade Filomática Maranhense" tinha por fim "... o progresso material e moral da Província do Maranhão, ocupando-se de todos aqueles ramos da ciência, das artes, e das letras que forem mais conducentes ao fim mencionado..." (RAMOS, 1992, p, 129). De 1849, é a "Revista Universal Maranhense", dedicada às ciências, agricultura, indústria, literatura, belas artes e comércio. No ano seguinte apareceu "A Marmota Maranhense", folha literária e recreativa. O "Jornal de Tímon", publicado em fascículos de 1852 a 1854, foi, no dizer de Viveiros de Castro (citado por RAMOS, 1992), "revista literária, de publicação mensal, na qual João Francisco Lisboa conquistou muito justamente a nomeada de um dos primeiros prosadores da língua portuguesa" (p. 189). O "Gabinete Português de Leitura", criado em 1852 por iniciativa do comerciante português David Gonçalves de Azevedo - pai de Aluísio e Artur Azevedo -, tinha como objetivos: Promover a instrução e recreios pelos meios seguintes: - organizar uma livraria escolhida nas ciências, literatura, comércio e artes; - subscrever os mais acreditados periódicos nacionais e estrangeiros; - quando os interesses da associação o permitirem, coligir as obras de mérito na língua portuguesa, fazer reimprimir os livros raros e imprimir os manuscritos interessantes da mesma língua". (MÉRIEN, 1988, p. 17). É ainda desse ano de 1852 o aparecimento de "A Marmotinha", semanário literário e recreativo fundado por José Mathias Alves Serrão. Nos anos seguintes aparecem "A Violeta", periódico literário e recreativo dedicado à juventude estudiosa (1853); "O Botão de Ouro", registrado como jornal joco-sério e


recreativo e "A Sentinela", periódico literário e informativo (1854); de 1855 é o "Diário do Maranhão" embora jornal do Comércio, Lavoura e Indústria, publica várias notas sobre a Companhia Lírica - chegada de Gênova - Itália, que permaneceu vários anos em São Luís, demonstrando o ardor do maranhense pelo teatro. Em "O Sentinela", edição de 23.10.1855, número 41, é informado que "tivemos a satisfação de ler um novo jornal recreativo intitulado "A Saudade", dedicado ao belo sexo maranhense". (RAMOS, 1991, p. 213). De 1857 é "A Estrela da Tarde", periódico recreativo; de 1858, o "Jornal do Comércio", periódico instrutivo, agrícola e recreativo. "O Século", fundado por Luís Antônio Vieira da Silva, além de órgão político, foi também periódico literário, crítico e recreativo. O "Verdadeiro Marmota", jornal literário, foi saudado, em 1860, nestes termos elogiosos: "reaparece este interessante jornal, depois de ter por algum tempo, pela indolência e lassidão, que geralmente ataca os jornais recreativos nesta província..." (citado por RAMOS, 1992, p. 237). Em 1860, contando com uma população de 35 mil pessoas, São Luís tinha matriculado em suas escolas primárias 2 mil rapazes e 400 moças e no secundário, 180. Esses poucos números mostram que era muito reduzido o número de pessoas que acediam à leitura: Já que os livros atingiam a minoria da população, já que o teatro era freqüentado e controlado pela burguesia, foi a imprensa que desempenhou um papel de primeiro plano para a penetração de idéias novas em São Luís do Maranhão. Ainda aqui, o movimento de renovação iria interessar essencialmente aos jovens maranhenses, alunos do liceu ou caixeiros. (MÉRIEN, 1988, p. 146). O ensino primário havia se desenvolvido desde a independência. Em 1838 é inaugurado o "Liceu Maranhense", dirigido pelo famoso gramático Francisco Sotero dos Reis. O Liceu passou a substituir os preceptores dos filhos da burguesia comercial e da oligarquia rural (MÉRIAN, 1988). No entender de Dunshee de Abranches, a fundação desse colégio, logo seguido do colégio das Abranches, do Colégio do Dr. Perdigão e de tantos outros, contribuiu para com o progresso da educação mental da juventude, levando o Maranhão tornar-se, de fato e de direito, a Atenas brasileira. Aluísio Azevedo (citado por MÉRIEN, 1988), em conto autobiográfico, afirma que, aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (p. 47). Dunshee de Abranches (1941), em suas memórias, lembra que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde [...] ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias [...]. (p. 157). Para Vieira Filho (1971), desde 1836 havia um bilhar funcionando junto ao Largo do Carmo, conforme informa o autor da "Breve história das ruas e praças de São Luís". Por essa época, os moradores se recolhiam cedo, pois a cidade mal iluminada e sem vigilância noturna, não oferecia a menor margem de


segurança, de sorte que o toque de recolher às nove, era quase desnecessário: "apenas na botica do padre Tezinho, no largo do Carmo, onde havia um bilhar francês, restavam alguns cavaquistas renitentes.”(VIEIRA FILHO, 1971, p. 16) . A botica do padre Tezinho de há muito funcionava em São Luís. Garcia de Abranches (1980) anunciava, em 1826, que os números anteriores de "O Censor" poderiam ser adquiridos naquele estabelecimento: Na mesma Botica se acha á venda uma interessante Obra intitulada – Economia da vida humana - Obra Indiana traduzida do Inglez, e ultimamente do Francez, serve para instrução da Mocidade; para dirigir as paixões; servindo ao mesmo tempo de Recreio ás pessoas de bom gosto; a 320 réis. (O CENSOR MARANHENSE, no. 10, sábbado, 25 de fevereiro de 1826, p. 178, citado por ABRANCHES, O Censor Maranhense, 1980). Dunshee de Abvranches (1931) em seu festejado “a Setembrada”, também se refere à Botica do Padre Tezinho: Nessa noite de 6 de setembro de 1822, reuniam-se à porta da botica do Padre Tezinho, como aliás era de hábito, algumas figuras mais poderosas e influentes pelos haveres e pela situação social dentre os portuguêses de S. Luiz do Maranhão. (p. 7) É o Censor - Garcia de Abranches - que relata a existência de um outro bilhar, quando de um passeio por São Luís do Maranhão, ao retornar do exílio a que fora submetido: Depois de examinar outros edifícios novos e bem formados, também de puças, que aquella praça goarnecem; voltei pela praia grande, e quaze o fundo da calçada divizei noutra rua sobre o lado esquerdo huma formoza caza de cantaria fina com uma larga baranda na frente em mea lua ao gosto da Corte, que me dissero ser de Faustino Antônio da Rocha, e que havia ganhado o jogo aquelle chão a hum herdeiro lá das Perguiças, o que eu não pude crer; e que ainda conservava hum bilhar e hum botequim de que elle se não desprezava, por não ser tolo, e que também era puça, e que não uzava de vara e covado por pertencer á classe de liquidos... (O CENSOR MARANHENSE, no. 2, sábbado, 5 de fevereiro de 1825, p. 29). A população de São Luís tinha como atividade de recreação, além das festas religiosas, das danças, dos movimentos literários, os piqueniques como uma das preferidas pelos jovens abastados: Quase sempre aos sábados, à tarde, ou aos domingos pela madrugada partiam da cidade em busca daqueles e outros sítios pitorescos, onde nas delícias do banho nos riachos, da juçara, dos cajus e mangas e das peixadas, pacas ou tatus com leite de coco e outros pratos saborosos, passavam o domingo, regressando à tarde, quando não o faziam segunda-feira. As vezes levavam damas em sua companhia.." (p. 54). Outra forma de manifestação do lúdico na São Luís do período imperial se constituía nos passeios a cavalo pela cidade, como ABRANCHES (1993) lembra em seu "Esfinge de Grajaú", relatando os passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: [...] Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para


fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio... Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne... o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais[...]. (p. 16-17). Desde antes de 1854 havia em São Luís quem alugasse cavalos para passeios pela cidade e seus arrabaldes: E no trecho [da rua Afonso Pena] próximo ao Largo do Carmo os comerciantes Baltazar Pereira e Bemzinho Mendes mantinham as cocheiras de suas seges de aluguel, novidade para a época porque tinham as rodas de borrachas e eram forradas de veludo. (VIEIRA FILHO, 1971, p 28). As cavalgadas para São José de Ribamar, Maioba, Vila do Paço, Turu e outros pontos da Ilha constituíam, de acordo com Lopes (1975) [...] divertimento muito de predileção dos homens da melhor sociedade sanluisense[...] . O cavalo se constituiu como meio dessas atividades, como peça importante para as atividades do lazer, então praticadas, até o advento do automóvel, já no século XX: Não faz muitos anos saíam a passeio aos domingos nas cidades da região dos campos baixos do Maranhão, os rapazes das famílias abastadas, montando em fogosos ginetes [ ..] Em São Luís, até fins do século XIX e mesmo depois, havia esse costume. De três guapos cavaleiros conservou-se muito tempo a lembrança ... Saíam os três cavaleiros todos os domingos envergando cartolas cor de cinza [...]. (p. 51). No Campo do Ourique [hoje, Parque Urbano Santos] funcionou, em 1881, um pequeno hipódromo, e aí foram realizadas várias e interessantes corridas, promovidas pelo "Racing Club Maranhense". CONCLUSÃO A história se faz na construção de respostas a desafios que nos vêm sendo postos pelas práticas culturais dos seres humanos na sociedade. Ao se resgatar e registrar as manifestações culturais de caráter recreativo e esportivo que se vinculem às raízes etno-culturais do Maranhão, nos períodos da Colônia e do Império, através da leitura de cronistas de época (fontes primárias) e de historiadores (fontes secundárias) procurou-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. No período compreendido entre a "adesão" do Maranhão ao Império brasileiro - 1823 - e a proclamação da República - 1889 -, São Luís viveu um período áureo de produção cultural, que se estendeu até meados do século, fruto do desenvolvimento econômico, seguido de um período de decadência, provocada pela perda gradual do trabalho escravo, consolidado com a abolição da escravatura. Denominada de "Atenas brasileira", as recreações aqui praticadas se identificam com aquelas que se aproximam da noção de lazer expressa na origem grega, da "scholé", em que a aristocracia ocupava seu tempo com atividades de contemplação teórica, especulação filosófica e ócio (JIMENEZ GUZMAN, 1986), típica das sociedades escravocratas. No segundo período, iniciado por volta da década de 1860, aproxima-se, a ocupação do tempo, com atividades que podem ser identificadas como características do "otium" romano, transformando-se num fenômeno elitista, ostentatório, já desprovido de sentido filosófico - conforme


denuncia Aluízio Azevedo em sua obra, e observado na descrição da sociedade ludovicence, notadamente em LISBOA (s.d.; 1991) e Dunshe de ABRANCHES (1941; 1993). Às festas - "parte indissociável da cultura maranhense" (MORAES, 1986) -, se dedicavam com igual intensidade brancos e negros escravos, com as características próprias de cada classe social, misturando-se apenas naquelas de caráter religioso. Os ludovicences, como hoje, dedicavam-se aos passeios e aos piqueniques pelos arrabaldes da Ilha. E, como hoje, mantinham uma produção cultural intensa, dedicando-se ao teatro, à poesia, ao romance, à crítica dos costumes e, sobretudo, bisbilhotando a vida alheia, conforme está registrado nos inúmeros jornais - políticos e literários -, folhetos, revistas, "bandos", coletâneas de poesias e peças teatrais publicadas (CORRÊA, 1993; MÉRIAN, 1988), justificando o título de "Atenas brasileira". BIBLIOGRAFIA ABRANCHES, Dunshe de A SETEMBRADA - A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO - romance histórico. Rio de Janeiro : Jornal do Brasil, 1970. ABRANCHES, Dunshee de. O CAPTIVEIRO (MEMÓRIAS). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941, (Edição fac -similar). ABRANCHES, Dunshee de. A ESFINGE DO GRAJAÚ (MEMÓRIAS). São Luís : ALUMAR, 1993. ABRANCHES, Garcia de. O CENSOR MARANHENSE 1825-1830. (Edição fac-similar). São Luís: SIOGE, 1980. (Periódico redigido em São Luís de 1825 a 1830, por João Antônio Garcia de Abranches, cognominado "O Censor"; reedição promovida por iniciativa de Jomar Moraes). AISENSTEIN, Angela. “La investigacion histórica en educacion fisica”. LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Buenos Aires, v.1, n. 3, dezembro de 1996, < http://www.sirc.ca/revista/efdxtes.htm> (17/05/98) AZEVEDO, Aluísio. O MULATO. Rio de Janeiro : Tecnoprint, (s.d.). CÂMARA CASCUDO, Luís da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. 3a. ed. atual. Rio de Janeiro : Tecnoprint, 1972. CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luís : SIOGE, 1993. GEBARA, Ademir. Pero Vaz de Caminha & Inezil Penna Marinho: fontes e métodos na construção da história do esporte no Brasil. In ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, IV, Belo Horizonte, 22 a 26 de outubro de 1996. ANAIS... Belo Horizonte : EEF/UFMG, 1996, p. 71-80. GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org). Introdução aos estudos do lazer. Campinas : Unicamp, 1997, p. 61 -81 GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. < http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98). GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre : D.C. Luzzatto, 1989. HASSE, Manuela. A disciplina do corpo. LUDENS, Lisboa, vol. 10, n. 1, dez./out., 1985, p. 18-38. JIMENEZ GUZMAN, Luís Fernando. TEORIA TURÍSTICA. Bogotá : Universidade Autônoma de Colômbia, 1986. LISBOA, João Francisco. CRÔNICA MARANHENSE - ARTIGOS DE JOÃO FRANCISCO LISBOA. In MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Rio de Janeiro : Departamento de Imprensa Nacional, 1969. vol. 1 e 2, série Estudos e Documentos III. LISBOA, João Francisco. A FESTA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS. São Luís : Legenda, (s.d.). LISBOA, João Francisco. OBRAS COMPLETAS.... v. IV, 3a. ed. São Luís : ALUMAR, 1991. LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON: APONTAMENTOS, NOTÍCIAS E OBSERVAÇÕES PARA SERVIREM DE HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís : AML/ALUMAR, 1990. Tomo II, vol. 2.


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A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO NO MARANHÃO 34 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 35 Introdução: O sistema de informação científica e tecnológica utiliza fundamentalmente dois canais de comunicação: os canais formais - ou de literatura - e os canais informais - ou pessoais. O principal universo da atividade científica e tecnológica é informação verbalmente codificada (periódicos, anais de congressos, etc.) e seu produto essencial também é informação verbalmente codificada (artigos publicados em revistas científicas, comunicação em congressos), constituindo insumo para outras pesquisa científicas, e assim sucessivamente (AGUIAR, 1991). Conhecimento novo, resultado de pesquisa, é registrado na literatura científica. A análise da ciência através da produção escrita é objeto de estudo de historiadores, sociólogos e cientistas da informação. A Bibliometria, ou cientometria, ocupa-se da análise estatística dos processos de comunicação escrita, tratamento quantitativo (matemático e estatístico) das propriedades e do comportamento da informação registrada (FIGUEIREDO, 1977), oferecendo posibilidades de análise quantitativa da produção literária. Como ciência da ciência, tem um caráter puramente teórico e como finalidade, aplicar recursos da ciência na análise da própria ciência; como técnica, tem aplicação no campo da documentação científica (SÁ, 1978). A Bibliometria tem os seguintes objetivos: (1) analisar o tamanho (extensão), crescimento e distribuição da bibliografia; e (2) estudar a estrutura social dos grupos que produzem e utilizam a literatura científica ( LOPES PIÑERO, 1972, citado por LIMA, 1986). É possível trabalhar, no campo da documentação científica, com quatro temas: (a) crescimento e envelhecimento da literatura científica; (b) a dispersão das publicações científicas; (c) a produtividade dos autores científicos e a "visibilidade"de seus trabalhos; e (d) a relação entre autores (cientistas), descobrimentos múltiplos e a transmissão de idéias através de publicações (comunicação científica, "gatekeepers", colégio invisível...) (LIMA, 1986). Literatura esportiva na América Latina SONNESCHEIN (1980, citado por VAZ & PEREIRA, 1992) constatou que a literatura esportiva disponível na América Latina é escassa, cara, de pouca atualidade e na sua maioria ignora as condições sócio-econômicas, bio-médicas e culturais predominantes nos esportes e na educação física do subcontinente. O que provoca a elaboração de trabalhos de pesquisa desassociados da realidade prática; da docência; da organização; e da administração, pois são realizados em grande parte com fundamentos de informação técnica inadequados ou nulos. Essa carência é explicada pelo baixo volume de produção; acessibilidade limitada e altos custos de venda de material bibliográfico, pois à exceção da Argentina, México e Cuba, os demais países importam entre 90% e 100% de sua literatura. Essa literatura padece de atualidade, considerando que cerca da metade dos textos disponíveis são traduzidos de outros idiomas. Esse autor encontrou um espaço de quatro a seis anos entre a publicação de livros no idioma original e a sua tradução. Se se considerar que o conhecimento científico tarda em média dois anos desde a sua concepção até a sua publicação em uma revista e quatro anos até sua publicação em forma de livro, e que se passem outros quatro anos mais até que apareça a versão em espanhol ou português, encontramo-nos ante o fato de que 34 35

Palestra apresentada na III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMa, 1995. Professor de Educação Física do CEFET-MA; Mestre em Ciência da Informação


conhecimentos científicos e técnicos publicados em forma de livros sofram um atraso de dez anos. O aparecimento de artigos traduzidos em publicações periódicas é de cerca de cinco anos. Sugere, então, que se amplie a bibliografia disponível e se estabeleçam centros de documentação e informação, cuja tarefa principal seria a seleção e elaboração de literartura adaptada às condições do meio e a disseminação massiva dessa literatura. Produtividade e elitismo na educação física brasileira: VAZ, PEREIRA & SANTOS (1993), ao estudarem a produtividade de periódicos brasileiros dedicados às ciências do esporte e a elite de autores da área, indexaram 5.014 artigos de periódicos publicados no período de 1936 a 1992 em 13 revistas devotadas à educação física e aos esportes. Utilizaram-se da Lei de BRADFORD (citado por LIMA, 1986, p. 128): “se periódicos científicos forem dispostos em ordem decrescente de produtividade de artigos sobre determinado tema, pode-se distinguir um núcleo de periódicos mais particularmente devotados a este tema e vários grupos ou zonas que incluem o mesmo número de artigos que o núcleo, sempre que o número de periódicos existente no núcleo e nas zonas sucessivas seja de ordem de 1: n : n2: n3: n4...” . Para deteminar o núcleo de periódicos mais produtivos, estabeleceu-se como "tema determinado" as áreas caracterizadas por GONÇALVES & VIEIRA (1989): segmentos biomédico, humanístico e gimnicodesportivo. Para a determinação da elite de autores, utilizaram o "Princípio de Elitismo", de SOLA PRICE (1965, citado por LIMA, 1986), segundo o qual "toda a produção de tamanho N tem uma elite igual à raiz quadrada de N". Para LIMA (1986), quando se trata de autores, produtividade e elitismo, observa-se que "...a produtividade é mais acentuada em alguns autores que produzem 2/3 da literatura registrada em determinado campo do conhecimento. Este grupo de mais produtivos pode ser a elite quantificável através do Princípio do Elitismo". Encontrou-se, como a década mais produtiva, a de 80, em que aparecem 45,61% dos artigos, publicados em 10 revistas. Dos periódicos analisados, pode-se determinar as Revistas Brasileira de Ciências do Esporte e Educação Physica como as mais importantes da área, seguindo-se a Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, a Brasileira de Ciência e Movimento, a Sprint, o Boletim da FIEP e os Arquivos da Escola nacional de Educação Física. A elite de autores se constitui daqueles que produziram pelo menos 11 artigos. Ao se distribuir essa produção por área, temos como pertencentes à elite de autores aqueles com uma produção de, no mínimo, nove artigos na área Humanística; sete artigos na área Biomédica; e seis artigos na área Gímnico-desportiva. Encontrou-se, dentre os autores pertencentes à elite, um autor que manteve uma produção ao longo de 50 anos (décadas de 40 a 80): Inezil Penna Marinho; e dois autores que mantiveram uma produção ao longo de quatro décadas: (Waldemar Areno (dos anos 40 aos 70) e Alfredo Gomes de Faria Junior (60 a 90). Confirma-se o grupo do CELAFISCS - com Victor Matsudo à frente, com 103 artigos publicados no período -, como o mais produtivo núcleo de pesquisadores na área das Ciências do Esporte. Verifica-se que a elite de autores (2,07%) produziu 46,44% dos artigos indexados.


Produção do conhecimento: Educação Física e Esportes no Maranhão VAZ & VAZ (1995), ao identificarem as recreações praticadas pelos ludovicenses durante o período imperial - 1823/1899 - utilizando-se de cronistas de épocas e de historiadores, encontraram uma primeira referência à produção do conhecimento na área da educação física e dos esportes no Maranhão. Trata-se da "Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão", do padre jesuita JOÃO TAVARES, publicado em meados do século XVIII. CORRÊA (1993), ao comentar carta desse mesmo João Tavares, descrevendo as paisagens da Ilha, afirma a um superior seu, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão, que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão: "Como a Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria), antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de deligência em atividade física. Permitiria - na contrapartida da terra da gente excepcional - a alternativa das reecreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria, etc., considerada a educação do pensamento e de sentimento um fragmento indispensável das recreações. "(p. 39-40). São Luís do Maranhão, no período do Império, localizada em uma ilha geográfica, torna-se uma ilha cultural, pois era tão mais fácil ir à Europa que ao Rio de Janeiro. As poderosas famílias maranhenses podiam manter suas ligações culturais com Portugal, mandando os filhos estudarem em Coimbra, o que contribuiu para a formação de uma elite cultural, um tipo de "intelligenzia" regional composta de poetas, novelistas, dramaturgos, oradores, teoristas, historiadores, publicistas e políticos - são desse período Manoel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, Trajano Galvão e sobretudo Antônio Gonçalves Dias; mais tarde aparecendo Artur e Aluízio Azevedo, Sousândrade, dentre outros - a quem São Luís, seguindo a linha tradicional e romântica do século XIX, obcecada por comparações com o Velho Mundo, deve o epíteto de "Atenas Brasileira". Registra-se, nesse período, o parecimento de inúmeros jornais - segundo RAMOS (1986; 1992), 183, entre os anos de 1821 a 1860 - a grande maioria de caráter político. Com o objetivo de recrear - de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo -, foram 28, dentre os quais, "O RECREIO DOS MARANHENSES", de 1839 e o "JORNAL DE INSTRUÇÃO E RECREIO", de 1845, sendo que este continha muitos artigos de ensino - métodos e sistematizações de estudo. Foi a voz do romantismo no Maranhão. Aluísio Azevedo, tanto em "O Mulato", quanto em várias crônicas publicadas na imprensa maranhense, lá pelos anos 1870-80, pregava a necessidade de uma educação positivista, incluindo-se a educação física feminina: "... é dar à mulher [maranhense] essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos ... evitra a diástese nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à miotilidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar." (ALUÍSIO AZEVEDO, CRÔNICA, "O PENSADOR", São Luís, 10.12.1880, citado por VAZ & VAZ, 1995). DUNSHEE DE ABRANCHES (1941) , nascido em 1867, em seu livro de memórias "O Captiveiro", lembra que o "Club dos Mortos", constituído por alunos do "Lyceo Maranhense" seus colegas de preparatórios (o Liceu foi fundado em 1838), reunia-se no porão de sua casa - o Solar dos Abranches -, no


início da Rua dos Remédios: "... e como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos..." (p. 187). MARTINS (1989) em "Esportes - um mergulho no tempo", registra que as atividades esportivas têm um renascimento na primeira década de século XX, quando Nhozinho Santos - JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS - retorna da Ingleterra e introduz o futebol e o atletismo no Maranhão, com a fundação, em 27 de outubro de 1907, do Fabril Athletic Club, da Fábrica Santa Izabel: "... várias atrações foram organizadas ... na corrida, sairam vencedores Joaquim Belchior e M. Lopes. No 'place-kick', E. Dolber tirou o primeiro lugar, ficando Jasper (Moon) em segundo. No concurso de peso, vitória de Jasper (Moon), que lançou o peso à distância de 9 l/2 jardas...". (O IMPARCIAL, 29 de outubro de 1907, p. 5, citado por VAZ, 1992). De acordo com VAZ (1991), esta foi, provávelmente, a primeira competição de atletismo registrada no Brasil, disputada por brasileiros. 1907. E a CBAt reconhece como a primeira, uma competição disputada em São Paulo em 1918. Nosso primeiro professor de Educação Física - de acordo com MARTINS (1989) - foi Miguel Hoerhan, que lecionava em inúmeros estabelecimentos de ensino, em 1910. Não custa lembrar que desde 1842, no "Colégio das Abranches", para meninas, a educação física fazia parte do regulamento. Quem teria sido o professor ? as tias de Dunshee de Abranches, D. Martinha ou D. Amância Leonor de Castro Abranches ? Então seria uma delas - ou ambas - a primeira professora de educação física. Não é de admirar que aquele ilustre maranhense tivesse aparelhos de ginástica e de pesos no porão de sua casa, para exercitarse, lá pelo final de 1870, início de 1880. Na década de 1940, são enviados para o Rio de Janeiro alguns jovens, para estudarem na Escola Nacional de Educação Física - dentre estes, Rubem Teixeira Goulart. Logo após, a Profa. Mary Santos, Prof. Dimas... Na década de 70, é fundado o Curso de Educação Física desta Universidade, e são criados os Jogos da Juventude (1972), logo mudado de denominação, para Jogos Escolares Maranhenses. Em 1979, é criada a Secretaria de Desportos e Lazer - SEDEL. Em sua estrutura, haviam duas divisões de estudo e pesquisa, uma para os desportos e outra para o lazer. O objetivo, era produzir pesquisas na área, para serem utilizados, seus resultados, para melhoria do desempenho de nossos atletas, nos Jogos Brasileiros, e resgatar as manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão. Parece-me que só passou de intenção. Em 1980, foi realizada a I Conferência sobre Documentação e Informação Esportiva na América Latina, na Colômbia. Participou, representando a SEDEL, o Prof. Laércio Elias Pereira, então professor desta Universidade. A segunda Conferência seria realizada em 1982, em São Luís do Maranhão. Mas o que apresentar ? Qual era nossa produção científica ? A SEDEL, com sua Divisão de Estudos e Pesquisa não estudava nada e não pesquisava nada, embora contasse com um quadro de funcionários lotados; a UFMA estava ainda se debatendo com a formação de seu quadro de professores. Lembro que em 1976, quando cheguei ao Maranhão, haviam apenas cinco professores com formação superior; em 1980, esse número aumentara em 100%, éramos 10 ... Partiu-se então, para produzir alguns trabalhos que pudessem ser apresentados naquele evento. Surgiu, então, na área da documentação, o "ÍNDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS", do Prof. Laércio Pereira, publicado pelo MEC em 1983; o "ÍNDICE DA REVISTA STADIUM", dos Prof. Leopoldo G. D. Vaz e Laércio Pereira, publicado pela SEDEL, em microficha, em 1984; o Prof. Sidney Zimbres iniciou uma pesquisa sobre aptidão física de jogadores de volibol; a profa. Tânia Araújo, sobre menarca de atletas; o prof. Demóstenes, sobre aptidão física, o Vicente Calderoni - acho que ainda era acadêmico à época, começa a resgatar a história do Handebol maranhense ... E a conferência não aconteceu. Em 1980 apareceu a "Revista Desportos & Lazer", editada pela SEDEL, tendo o Prof. Sebastião Jorge como Editor-Chefe e o Laércio Pereira como responsável - ambos professores desta UFMA. Durou nove números, apenas (foi publicata até 1983), mas teve uma boa repercussão a nível nacional, com


inúmeros trabalhos de pesquisa divulgados. O primeiro trabalho de pesquisa publicado foi o do Prof. Sidney Zimbres; apareceu no no. 2, janeiro/março de 1981, p. 20-23: "Futuros campeões do volibol passam pela análise científica". Mais recente, é o "Cadernos 'Viva Água'", da Escola de Natação da Denise Araújo e Osvaldo Teles; alguns artigos científicos sobre natação foram publicados. Não podemos esquecer a contribuição do Edivaldo "Biguá" e da Tânia Araújo, com suas páginas dedicadas ao esporte amador - publicadas no "Imparcial”, e hoje no "O ESTADO DO MARANHÃO", que sempre abriram espaço para publicação de trabalhos de pesquisa. Ainda em 1980, foi realizado em São Luís o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte - Região Norte/Nordeste, no período de 10 a 13 de setembro; trabalhos de pesquisa foram apresentados: Isidoro Cruz Neto (Ascensão social do negro através do desporto); Lino Castellani Filho (Análise dos aspectos do desenvolvimento política/desporto, face aos XXII Jogos Olímpicos); Demóstenes Montovani (Prescrição de treinamento aeróbico levando em consideração somente a distância percorrida); Sidney Zimbres (Volibol infanto-juvenil do Maranhão: características das qualidades físicas, dados antropométricos e aspectos gerais). Pode-se estabelecer como o ano de 1980 como o do início das atividades de pesquisa científica no âmbito da UFMA, da SEDEL e da então Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje CEFET-MA. Referências bibliográficas: ABRANCHES, João Dunshee de. O Captiveiro (Memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941. AGUIAR, Afrânio Carvalho. Informação e atividades de desenvolvimento científico, tecnológico e industrial: tipologia proposta com base em análise funcional. Ciência da Informação, Brasília, v. 20, n. 1, p. 7-15, jan./jun., 1991. ARAÚJO, Vania Maria Hermes de. Estudo de canais informais de comunicação técnica: seu papel na transferência de tecnologia e na inovação tecnológica. Ciência da Informação, Brasília, v.8, n. 2, p. 79-100, jul./dez., 1979. CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís : SIOGE, 1993. FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Biblioteconomia e bibliometria. in Tópicos modernos em Biblioteconomia. Brasília : ABDF, 1977, p. 17-25. GONÇALVES, Aguinaldo & VIEIRA, Paulo Cesar Trindade. Uma caracterização da produção científica da área de Educação Física e Esportes no Brasil: avaliação trienal de seu comportamento no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 10, n. 2, p. 50-59, janeiro de 1989 LIMA, Regina Célia Montenegro de. Bibliometria: análiswe quantitativa da literatura como instrumento de administração em sistemas de informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 15, n. 2, p. 59-80, jul./dez., 1986. LOPES PIÑERO, J.M. El análisis estatistico y sociométrico de la literatura científica. Valencia : Facultad de Medicina, 1972, citado por LIMA, Regina Célia Montenegro de. Bibliometria: análise quantitativa da literatura como instrumento de administração em sistemas de informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 15, n. 2, p. 59-80, jul./dez., 1986. MARTINS, Djard. Esporte: um mergulho no tempo. São Luís : SIOGE, 1989. MOURA e CASTRO, Cláudio de. Há produção científica no Brasil ? in SCHARTZMAN, Simon & MOURA e CASTRO, Cláudio. (org). Pesquisa universitária em questão. São Paulo : Ícone; Campinas: UNICAMP, CNPq, 1986, p. 190-224. RAMOS, Clóvis. Os primeiros jornais do Maranhão - 1821 - 1830. São Luís : SIOGE, 1986. RAMOS, Clóvis. Opinião pública maranhense (1831 a 1860). São Luís : SIOGE, 1992.


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AS CAVALHADAS E O MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nesta semana, observamos as chamadas, em uma novela de televisão - Estrela-guia, da Rede Globo realizada na cidade de Perinópolis-GO, por seus personagens. Aliás, nas chamadas de hoje, Quarta-feira, a personagem principal - vivida por Sandy - pede para ir assistir às cavalhadas... e nós já tivemos cavalhadas em São Luís ... As cavalhadas de Pirenópolis não são realizadas nesta época do ano, mas por força da novela, foi feita uma encenação para atender às necessidades da Globo. Normalmente, acontece durante a Festa do Divino... A "Festa do Divino Espírito Santo" foi trazida para o Brasil ainda no século XVI. Em Portugal, a "Festa do Divino" aparece desde as primeiras décadas do século XIV e foi estabelecida pela Rainha D. Izabel (12711336), casada com D. Diniz (1261-1325) e começou com a construção da Igreja do Espírito Santo em Alenquer. O cerimonial consta de passeio pela cidade, levantamento de mastro enfeitado de frutas naturais, feita por um grupo de caixeiras (tocadoras de caixa). Esta festa até hoje é realizada em Alcântara, com muita pompa e honraria. Mas sem as cavalhadas... No processo de colonização do Maranhão a Igreja teve um importante papel, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É na igreja que essa população encontra uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia. Essa alegria era representada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso: O Te-Deum, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente. Em 1678, o primeiro bispo, D. Gregório de Matos (1679-1689), foi recebido com uma festa foi,... "onde, por oito dias consecutivos houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria." As encamisadas constituíam-se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas-feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices. Primitivamente foi ataque de guerreiro, onde os soldados punham camisas sobre as couraças como disfarce. Depois, mascarada noturna, com archotes. Tornou-se desfile, incluído nas festividades públicas. A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile, de que fala um documento da Câmara de Coimbra, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. O termo cavalhada refere-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria e se constituíam em atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Os principais e mais famosos jogos cavalheirescos eram: o torneio, o bigorno, a giostra, o carosello, o passo d'arma, a gualdana, a quintana, a corrida dall'anello. As primeiras cavalhadas realizadas no Brasil acontecerem em abril de 1641, no Recife, embora haja registro de uma encamisada realizada em março daquele ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV.


Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão. Para Antonio Lopes, além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha. A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. Originária de antiqüíssima justa, desde o século XVI que se corre a argolinha no Brasil. No Mapa Cultural do IBGE, encontra-se a descrição de cavalhadas realizadas em Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba como cortejo e torneio a cavalo em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha com a ponta de lança, em plena corrida. Jomar Moraes registrar em seu "Guia de São Luís" que cavalhadas, congadas, fandangos, cheganças e mascaradas, tivemo-los durante o período colonial No Maranhão já as tivemos, as cavalhadas. Aliás, essa é uma frase que se costuma muito ouvir. Já tivemos... A argolinha é a primeira "manifestação esportiva" praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado, referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 - ou abril -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses. --------------------------LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ é Professor de Educação do CEFET-MA e Mestre em Ciência da Informação


O JOGO DAS ARGOLINHAS: O INÍCIO DO ESPORTE EM MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Mestre em Ciência da Informação Professor de Educação Física do CEFET-MA Uma função essencial do calendário é a de ritmar a dialética do trabalho e do tempo livre. Trata-se de permitir o entrecruzamento do tempo mais disciplinado, mais socialmente controlado, com o tempo cíclico das festas e, mais flexível, do jogo. Outra, está em articular os tempos de trabalho e de não-trabalho, ou ainda, articular o tempo linear-regular do trabalho com o tempo cíclico da festa, do jogo e, do mesmo modo, do esporte. O calendário seria o resultado complexo de um diálogo entre a natureza e o homem; diálogo este não estranho ao lazer, ao esporte e ao jogo. (Le GOFF, 1992; GEBARA, 1997, 1998). Em São Luís do Maranhão, a Câmara tinha que mandar celebrar, além da procissão de Corpus Christis, quatro festas anuais: a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro. Fora essas datas, só se realizavam cerimônias festivas quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo Esses tempos de festa serviam para regular o calendário do trabalho. Ao contrário do uso do tempo após a revolução industrial, o tempo era regulado pela natureza. O ritmo do trabalho era dado pelo ritmo do homem no comando de ferramentas e instrumentos de trabalho (GEBARA, 1997, 1998). Em 1678, D. Gregório de Matos - primeiro bispo do Maranhão (1679-1689) - foi recebido com uma festa. Teve lugar, no adro da igreja, uma comediazinha. Finda ela, foi D. Gregório para a casa de Manuel Valdez, onde, por oito dias consecutivos, ou mais, houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria. (MEIRELES, 1977). A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile de que fala um documento da Câmara de Coimbra, citado por Viterbo, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. (CÂMARA CASCUDO,1972). Esse autor registra o termo "cavalhada" referindo-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha (CÂMARA CASCUDO,1972). Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria, como afirma Grifi (1989), ao referir-se às atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Ao descrever as distrações na Idade Média, Oliveira Marques ensina que, uma vez a cavalo, o nobre medieval podia entrega-se a uma série de exercícios desportivos. Desses, os mais vistosos e conhecidos eram sem dúvida as justas e os torneios, embora seja difícil distinguí-los. Em princípio, a justa travava-se entre duas pessoas, enquanto o torneio assumia foros de contenda múltipla. No dizer de Grifi (1989), a "giostra" era disputada somente entre dois cavaleiros, diferente do torneio que era combate em times. Eram usadas "armas corteses", isto é, armas desapontadas ou cobertas por uma defesa. O confronto consistia de uma corrida a cavalo de um contra o outro, lança em riste, com o objetivo de desequilibrar o adversário, melhor ainda, de fazer cair, ao mesmo tempo, cavalo e cavaleiro. Em torno do século XIV espalhou-se o mau costume de usar lanças ou armas desapontadas. Variante das justas eram as chamadas canas. Em vez de lanças, os jogadores, a cavalo, serviam-se de canas pontiagudas com que se acometiam. O jogo possuía as suas regras, evidentemente muito diferentes das que regiam os torneios. Popularíssimos no fim da Idade Média mostrava-se espetáculo quase obrigatório nos festejos públicos, ao lado das justas e das touradas. O jogo das canas, de antiga tradição nacional, continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza. Da cavalaria medieval, que durante


longo tempo conservou a tradição dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas. As cavalhadas constituíram nos tempos coloniais e no Império um atraente exercício. Embora quase privativo dos jovens afortunados. Ao povo habituado à pasmaceira elas valeram por oferecerem espetáculos ou, como Fernando Azevedo escreveu, ‘memoráveis torneios de opulência aristocrática’. Será preciso distinguir as cavalhadas que os mancebos ricos disputavam daqueles outros jogos que no Rio de Janeiro foram conhecidos como o jogo das manilhas e em tantos outros cantos do país com o jogo das argolinhas. A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e, de acordo com GRIFI (1989), a corrida dall'anello - corrida do arco - consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. No Brasil, desde o século XVI se corre a argolinha, e chegou a estender-se até meados do século XIX. Marinho (s.d.) refere-se a uma cavalhada realizada em abril de 1641, no Recife. Portugal estava sob o domínio da Espanha e esta em guerra com a Holanda. Os holandeses haviam invadido o Brasil quando sobreveio a trégua entre estes e os espanhóis, a qual, naturalmente, se estendeu às colônias. Para festejá-la, foram organizados torneios eqüestres em que portugueses e brasileiros competiram contra holandeses. Já Câmara Cascudo (1972) registra uma encamisada realizada em março desse mesmo ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão. Para Lopes (1975), nesses torneios do tempo colonial os corcéis eram árdegos, de viçosa estampa e traziam arreios de preço. Os cavaleiros e seus 'peões' vestiam com esmero trajes de cores vivas e os primeiros, montados à gineta ou bastarda, exibiam a sua destreza na arte nobre de bom cavalgar. Além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha (LOPES, 1975). Concluindo, encontramos no Maranhão, ainda no Século XVII, como parte da herança cultural portuguesa, além das danças e comédias representadas no adro das igrejas, o entrudo e as cavalhadas, estas sob as formas de encamisadas, do jogo das canas e do jogo das argolinhas. É a argolinha a primeira "manifestação esportiva" praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado (citado por Câmara Cascudo , 1972), referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 - ou abril, conforme Marinho (s.d.) -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses. BIBLIOGRAFIA CÂMARA CASCUDO, Luís da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. 3a. ed. atual. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org). Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Unicamp, 1997, p. 61 -81 GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98). GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto, 1989. Le GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1992 LOPES, Antônio. Meios de transporte na ilha de São Luís. in LOPES, Antônio. DOIS ESTUDOS MARANHENSES. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1975, p. 45-58.


MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo: Cia. Brasil Ed.(s.d.). MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/ SIOGE, 1977. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS... São Caetano do Sul: CELAFISCS: UNIFEC, 1992, p 27. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial in ONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS... . Belém: UFPA, 1993, p 137. VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. HOMO LUDICUS - ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA PORTUGUESA. vol. 2. Lisboa: Compendium, (s.d.).


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


GINÁSTICA GERAL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

DEFINIÇÃO E ORIGENS De acordo com o ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL (2006), a Ginástica Geral é uma modalidade bastante abrangente, valendo-se das várias propostas de Ginástica (Artística, Rítmica, Aeróbica, Trampolim, Acrobática, dentre outras), além de variadas possibilidades de manifestações corporais. Estas podem ser diversos tipos de danças e expressões folclóricas, apresentados através de coreografias musicadas em grupos, com propostas livres e criativas, sempre fundamentadas nos elementos gímnicos, oportunizando a expressão dos aspectos multiculturais de quem as desenvolve e, principalmente, sem qualquer tipo de limitação para a sua prática, seja quanto às possibilidades de execução, sexo ou idade. Segundo a Federação Internacional de Ginástica - FIG, a Ginástica Geral (GG) culmina em âmbito internacional com o seu evento oficial para a modalidade, a Gymnaestrada Mundial. Este é um mega-evento realizado a cada quatro anos, sem a perspectiva da competição, atualmente com cerca de 25 mil participantes de todo o mundo. Na Gymnaestrada acontecem, além das demonstrações regulares, um grande fórum de instrutores, demonstrações educativas e uma feira de equipamentos e materiais esportivos. Além disso, a GG constitui a base histórica e cultural de todas as atividades da FIG, a qual propõe, em seu programa de desenvolvimento, que esta modalidade seja a base de todas as atividades físicas como também do chamado “Esporte para Todos” (no Brasil denominado por vezes “esporte participação”, “esporte não formal” ou “esporte de inclusão”). Em resumo, a GG para a FIG nasceu de uma concepção “sociocultural, livre de motivos especulativos e/ou econômicos”, reunindo, afinal, 30 milhões de praticantes no plano internacional. Enquanto tal a GG, da forma promovida pela FIG, é “altamente reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional – COI devido aos seus objetivos humanísticos e educacionais”. Em outras palavras, a Gymnaestrada é um Festival de Ginástica em que qualquer praticante atua ativamente. Esta expressão aponta, outrossim, para o objetivo de tal festival, uma vez que “Gymna” significa ginástica e “Strada”, caminho. No Brasil, pode-se afirmar que aconteceu a primeira apresentação de ginástica quando da descoberta das novas terras em 1500, pois conforme relatado na carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, D. Manuel, um dos tripulantes da frota de Pedro Álvares Cabral realizou exercícios acrobáticos e danças junto com os índios. Mais pontualmente, a partir de 1824, a imigração alemã para o Brasil trouxe consigo o Turnen (Ginástica Alemã). Esta prática teve manifestações em todos os Estados do sul do país, estendendo-se também ao RJ e ao ES. Em especial, no Rio de Janeiro, então capital do país, o Turnen era uma das formas de exibição existentes no Cassino Fluminense, o mais famoso lugar de diversão da cidade em meados do século XIX. Ao eclodir a Segunda Guerra Mundial e com a conseqüente nacionalização das instituições e atividades culturais de origem alemã, a tradição do Turnen dissolveu-se no Brasil, mas permanecendo sua influência nos primórdios da educação nacional ATIVIDADES FÍSICAS NO SÉCULO XIX No início do século XIX, foram encontradas outras formas de atividade física, como as caminhadas. Além desses passeios, praticava-se a caça, como o fazia Garcia de Abranches - o Censor. Seu filho, Frederico Magno de Abranches - o Fidalgote - era “... Atirador emético e adestrado nos jogos atléticos, alto, magro e ágil, trepava como um símio até os galhos mais finos das árvores para apanhar uma fruta cobiçada pelas jovens ali presentes. Encantava-as também a precisão dos seus tiros ao alvo. E causava-lhes sustos e gritos quando trepava sem peias por um coqueiro acima ou se balançava no tope de uma jussareira para galgar as ramas de uma outra em um salto mortal, confirmando o título que conquistara entre os da terra de campeão da bilharda.”. A GYMNÁSTICA 1841 O primeiro registro encontrado onde aparece a palavra “ginástica”, conforme anúncio no “JORNAL MARANHENSE” sob o título de: “THEATRO PUBLICO - Prepara-se para Domingo, 21 do corrente huma representação de Gimnástica que será executada por Mr. Valli Hércules Francez, mestre da


mesma arte de escola do Coronel Amoroz em Paris; e primeiro modelo da academia Imperial de Bellas Artes do Rio de Janeiro, que terá a honra de apresentar se pela primeira vez diante d’este Ilustrado público, a quem também dirige agradar como já tem feito nos principais Theatros de Europa , e deste Império. “Mr. Valli há contractado o Theatro União, para dar sua função, junto com Mr. Henrique, e tem preparado para este dia um espetáculo extraordinário que será composto pela seguinte maneira: Exercícios de forças, Agilidade e posições Acadêmicas Exercícios no ar e muitas abelidades sobre colunnas assim como admiraveis sortes nas cordas “Nos intervalos de Mr. Valli, se apresentará Mr. Henrique, para executar alguns exercícios de fizica, em quanto Mr. Valli descansa.” 1861 já se tinha, no Maranhão, a cadeira de Ginástica, conforme se depreende de anúncio do Instituto de Humanidades:


- No guia de profissionais, do Almanaque do Maranhão, aparece como Professor de Esgrima e ginástica Alfredo Hall, residente na Rua do Alecrim, 17:

1853 No “O Observador”, edição de 25 de abril, o Inspetor da Instrução Pública publica seu relatório, na parte em que trata das escolas particulares de primeiras letras e médio da capital, constata que nos dois colégios existentes não havia aula de Ginástica:


1876 Aulas de Ginástica na Escola Agrícola são criticaas pelos pais de aluno: :

1877 em comentário do dia 1 de setembro, no Jornal Diário do Maranhão, dentre as novidades de São Luis, evidenciando a chegada do progresso, temos a instalação de clubes de ginástica; nesse mesmo jornal apareciam avisos das aulas:


1899 18 de outubro anunciado a aprovação do estatuto do Clube de Ginática e Esgrima e sessão para eleição de sua diretoria

- 23 de outubro anuncio de atividades relacionadas à esgrimas e á ginástica

1900 “... um esplêndido exercício na educação dos músculos; a ginástica e a esgrimagem, um meio excepcional para desenvolver todo o corpo de forma racional e completa. Tudo isso era muito


importante, e até era um princípio filosófico, porque ensejaria a formação do um corpo bem desenvolvido, proporcional e harmonioso...". (MARTINS, 1989, p. 229-30). - 5 de fevereiro convocação de reunião do Club de Ginástica e Esgrima, ficando-se sabendo do local de sua sede, na Praça do Carmo:

- 26 de março O Jornal A Pacotilha anuncia que recebera o Estatuto do Clube de Ginástica e Esgrima, e a relação de seus principais dirigentes:

- 4 de abril convocação da reunião (mensal) do Clube de Ginástica e Esgrima,

1901 o “Regimento para as Escolas Estadoaes da Capital” (Decreto nº16 de 04 de Maio de 1901; NASCIMENTO, 2007a, 2007b,) 36, instituía, no seio de suas diretrizes gerais, questões referentes a 36

REGIMENTO PARA AS ESCOLAS ESTADOAES DA CAPITAL, a que se refere o Decreto nº16 de 04 de Maio de 1901. In: Collecção das leis e decretos do Estado do Maranhão de 1912. Republica dos Estados-Unidos do Brazil. Maranhão: Imprensa Official, 1914. NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. A EDUCAÇÃO HIGIÊNICA EM SÃO LUÍS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2007b. (Graduação em Pedagogia). NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. PELAS CRIANÇAS DESVALIDAS: o Instituto de Assistência à Infância do Maranhão nas primeiras décadas do século XX. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2007a. (Graduação em História).


“inspecção e asseio” normatizando desde a entrada dos alunos em que caberia às professoras proceder á uma revista do asseio dos mesmos “tomando as providencias necessárias em ordem a estarem todas as condições regulares de limpeza de mãos, unhas, rosto e penteado do cabello, no momento de serem iniciados os exercícios escolares” (REGIMENTO, 1901, p.80) conforme a classe a que pertence o estudante. Percebem-se nítidos traços de influência militar em termos de linguagem e recomendações na modelagem deste corpo escolarizado, quando instituem os exercícios abaixo descritos: “a) Os da primeira classe constarão de marchas e contramarchas com variações apropriadas a darem facilidade de movimento dos alumnos; b) Os da segunda versarão sobre movimentos em varios tempos, com e sem flexão dos membros, desacompanhados de instrumentos; c) Os da terceira se comporão dos mesmos exercicios das segunda, mas com instrumentos; d) Os da quarta de exercicios de barra de extremidades esphericas, barra fixa, apparelhos gyratorios.” (REGIMENTO, 1901, p.80, grifos nosso). 1903/1910 registra-se a passagem do professor de Ginástica Miguel Hoerhan pelo Maranhão: Djard MARTINS (1989) registra em seu já clássico “Esporte, um mergulho no tempo” 37 o nascimento das atividades esportivas no Maranhão e traz Miguel Hoerhann como o primeiro professor de Educação Física, atuando na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989). É o próprio Miguel quem confirma essa condição 38, em nota publicada no jornal “O Paiz” em 21 de novembro de 1909, no Rio de Janeiro: ‘EDUCAÇÃO PHYSICA CARTÃO COMEMORATIVO DE 20 ANOS DE TRABALHO NO BRASIL Mens sana in corpore sano; vita non este vivere; sede vivere Miguel Hoerhann, capitão-tenente honorário da armada nacional, professor de educação física da Escola Naval, Colégio Militar, Externato Aquino, e professor de ginástica e esgrima do Automóvel Club do Brasil – Ex-professor dos colégios Brasileiro-Alemão, Abílio Rouanet, João de Deus, Instituto Benjamin Constant, e Instituto Nacional de Surdos Mudos, no Rio de Janeiro. Ex-professor dos colégios São Vicente de Paulo, Notre Dame de Sion, Ginásio Fluminense e Escola Normal Livre; 37

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MARTINS, Dejard. ESPORTE, um mergulho no tempo. São Luís: SIOGE, 1989. Prezado Sr. Leopoldo Vaz, boa noite. Tomei a liberdade de lhe contatar quando soube de suas dúvidas, pelo pessoal do Arquivo Histórico de Ibirama - SC, acerca de Miguel Hoerhann, meu tataravô. Resido em São José, cidade vizinha de Florianópolis, capital de Santa Catarina e recém doutorei-me em História. Justamente trabalhei com a nacionalização dos Xokleng, comunidade indígena de SC, a qual o filho de Miguel, Eduardo Hoerhann dedicou toda a sua vida. Eduardo Hoerhann nasceu em Petrópolis em 1896. Filho de Miguel, (no anexo você consegue algumas informações sobre ele) e de Carolina, sobrinha-neta do Duque de Caxias. Alguns dados do Museu estão equivocados. Há uns anos, vi que os senhores disponibilizaram digitalizado, o livro Esgrima de Baioneta, de autoria do Miguel Hoerhann. Fiquei muito contente descobrir isso, e uma pena que ainda não consegui imprimi-lo em capa dura, mas parabéns pelo capricho. O sr enviou para a sra. Aparecida um diploma assinado pelo Miguel. Há possibilidade de enviar para mim numa resolução maior? Está ilegível em 9 k. No mais, espero poder ter ajudado em algo. Infelizmente, muitas informações se perderam. Cordialmente, Rafael Hoerhann. Disponível em educacao-fisica/

http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/02/27/miguel-hoerhan-nosso-pioneiro-professor-de-


sócio-fundador e 1º. Turnwart do Turnerein Petrópolis, em Petrópolis. Ex-professor da Escola Normal e grupos escolares Menezes Vieira e Barão de Macaúbas e do colégio Abílio, em Niterói. Exdiretor do serviço de Educação Física; ex-professor da Escola Normal, escola modelo Benedito Leite; Instituto Rosa Nina, Liceu Maranhense, e escolas estaduais e municipais; fundador e 1º presidente e 1º diretor dos exercícios do Club Ginástico Maranhense; em S. Luis do Maranhão. Exprofessor do Ginásio São Bento e ex-secretário do I. e R. Consulado da Áustria e Hungria, em São Paulo. 20 anos de devotado trabalho no Brasil (de 24 até 44 anos de idade, desde 1889 a 1909). Ex-Instrutor da imperial e real marinha de guerra da Áustria, condecorado com a medalha militar de bronze, conferida por sua imperial e real majestade apostólica Francisco Jose I, Imperador da Áustria-Hungria (desde 15 até 23 anos de idade, 1880-1888).

1904 primeira referencia que se tem desse professor de educação física é de um diploma dado a diversas autoridades e intelectuais, dentre os quais a Fran Paxeco, Cônsul Honorário de Portugal no Maranhão; consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, Diretor da Educação Physica, e foi passado em 18 de maio de 1904:

. Miguel Hoerhann foi instrutor de artilharia do império austro-húngaro, professor de esgrima e ginástica sueca nos estados do Maranhão e Rio de Janeiro. Nesta cidade, a ginástica era voltada para o treinamento militar dos novos cadetes e oficiais da Marinha Brasileira e do Colégio Militar. Miguel tem vasta produção de artigos em periódicos e é autor do livro Esgrima de Baioneta, publicado no Maranhão em 190439: 39

O livro digitalizado está disponível no link:


Ao Excelentíssimo Senhor Coronel Alexandre Colares Moreira. Digníssimo Governador do Estado do Maranhão. Respeitosamente oferece o autor

http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/Main.php?MagID=37&MagNo=68


Fica-se sabendo que se trata de reimpressão de edição de 1896:

De acordo com Dagnoli (2008); e Gomes (2009): “[...] Miguel Hörhann (Miguel Hoerhann) nasceu na Áustria e faleceu no Rio de Janeiro; foi instrutor de Artilharia na Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria até 1884, e Capitão-Tenente da Armada Nacional. Sua mãe, Carolina de Lima e Silva Aveline, pertencia à aristocracia militar do Estado do Rio de Janeiro, neta do Duque de Caxias.” 40, 41,42. 1903 anuncio informando sua nomeação em 1903, como professor de ginástica da Escola Normal de Niterói:

- Gazeta de Petrópolis, edição de 15 de setembro de 1903, informa-se que Miguel Hoerhann estava em São Luis, nomeado que fora Diretor da Educação Physica, conforme a edição 204 de “A Pacotilha”, da capital do Maranhão: 40

DAGNONI, Cátia. O CHOQUE ENTRE DOIS MUNDOS O CONTATO ENTRE O ÍNDIO E O BRANCO NA COLONIZAÇÃO DO VALE DO ITAJAÍ – um estudo sobre a interpretação do imigrante europeu a respeito dos Xokleng 1850 – 1914. Blumenau, 2008, Dissertação de Mestrado, Universidade Regional de Blumenau http://proxy.furb.br/tede/tde_arquivos/3/TDE-2009-0218T080906Z-442/Publico/Diss%20Catia%20Dagnoni.pdf 41 http://pagfam.geneall.net/2762/pessoas.php?id=1168057 42 GOMES, Iraci Pereira. OS XOKLENG E A COLONIZAÇÃO DO VALE DO ITAJAÍ: ANÁLISE DE UMA CARTA DE EDUARDO DE LIMA E SILVA HOERHANN - ENCARREGADO DO SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS (SPI) IV Congresso Internacional de História, 9 a 11 de setembro de 2009, Maringá. http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/748.pdf


- Na edição de 19 de maio de 1903, de A Pacotilha – Jornal da Tarde – é anunciada a chegada do Sr. Miguel Hoerhann, contratado pelo Governo do Estado para reorganizar o serviço de educação física, voltado para o Liceu, Escola Normal e Modelo, escolas estaduais e do município:

- No Diário, de 19 de maio também e anunciada a chegada do novo professor de Ginástica:


- No dia 20 de maio, as aulas têm início:

- Em maio, a educação física é tornada obrigatória em todos os estabelecimentos de ensino, não apenas no Liceu e Escola Normal, e Escola Modelo:


- Logo a seguir, são distribuídas as aulas de ginástica para as diversas escolas do município:


- Em 6 de julho é anunciada a chegada de sua família :

- Em 11 de agosto, o Professor Miguel recebe os aparelhos de ginástica, solicitados para o Liceu Maranhense, conforme oficio:

- 04 de junho de 1903 aparece anuncio n´A Pacotilha em que Miguel Hoerhann, como já fizera em Petrópolis e Niterói, oferece seus serviços como professor particular de ginástica:


- Logo no dia 05/06, anuncia o inicio das aulas:

- A 30 de junho, outro aviso, convocando os alunos inscritos:

- No mês de agosto novo anuncio em A Pacotilha, do dia 31, já assinado como Diretor da Divisão de Educação Física do Maranhão, sobre a realização de um concurso poético, tendo por tema a Ginástica. Verifica-se que se referia ao Turnen43, haja vista a citação dos “4 Fs”, como a divisa da ginástica: 43

Turnen: expressão do idioma alemão traduzido como “ginástica” por Tesch (2011), mas que além da ginástica com aparelhos (atual ginástica artística) englobava a corrida, jogos, esgrima, entre outras práticas. MAZO, Janice Zarpellon; PEREIRA, Ester Liberato. PRIMORDIOS DO ESPORTE NO RIO GRANDE DO SUL: os imigrantes e o associativismo esportivo. IN GOELLNER, Silvana Vilodre; MÜHELEN, Joanna Coelho von. MEMORIA DO ESPORTE E LAZER NO RIL GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2013. Vol. 1. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/83615/000906885.pdf?sequence=1 TESCH Leomar. Turnen: transformações de uma cultura corporal europeia na América. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011


“Abre-se aos cultores das musas uma produção poética, em que entrem as palavras que constituem a divisa da gymnastica: FIRMA, FORTE, FRANCO, FIEL, e que tenha por tema a glorificação da abnegação, do trabalho perseverante e nobre, do vigor do espírito como consequência dos exercícios physicos [...]”

- O anuncio se repete nos meses seguintes, sendo que a 26 de setembro aparece um poema exaltando a ginástica, de autor anônimo. Conforme a redação, não querendo participar do concurso, mesmo assim faz seu poema: - outubro de 1903, reabria as aulas de ginástica:

1904 Pacotilha de 11 de fevereiro Fran Paxeco escreve sobre o concurso que Miguel Hoerhann instituíra, como primeiro ato na função de Diretor do Serviço de Educação Física do Estado do Maranhão –


concurso de poesia44. O artigo louva a iniciativa de Miguel Hoerhann em promover o concurso poético, e divulgando a ginástica entre a juventude:

RASPÕES CRITICOS FORÇA E POESIA: - o estimulo da educação física pelas criações literárias. O Sr. Miguel Hoerhann, em boa hora nomeado pelos poderes públicos para dirigir o serviço da educação física na capital do Maranhão, abriu um concurso poético entre os literatos maranhenses. O seu tema é a glorificação dos exercícios ginásticos, dentro destas e daquelas bases. Não discutiremos se o esforçado professor procedeu avisadamente, ao demarcar esses limites, pois configura-se-nos que bastava determinar a orientação geral dessas composições. Mas cremos que os concorrentes, descingindo-se das minúcias desses liames, não encontrarão o mínimo repudio por parte do júri. O Sr. Hoerhann, que encara as suas funções oficiaes como um apostolado, não contente com as suas palestras e artigos de propaganda e com as suas aulas particulares, a que ocorreram muitos moços, pensou bizzaramente, ao inaugurar o edificante incentivo dos concursos poéticos. Os três eleitos desse duplamente aprezivel certamen serão galardoados com coroas, já expostas nos Armazens Teixeira, - uma de louro, de ouro, outra de louro, de prata, e uma terceira, de folhagem verde, artificial. Deseja depois o Sr. Hoerhann, que encerra o concurso no dia 18 do corrente, fazer uma entrega solene dos prêmios aos escolhidos, num dia próximo, talvez lá para março, quando “os ares,que uma nuvem escurece” retomarem a sua limpidez habitual. E não haveria então oportunidade para efetivar, conjuntamente, o seu anclo de uma festa ginástica – em aparelhos -, no próprio edifício da Escola? Acrfetiamos que os jovens poetas do Maranhão não hesitarão em associar-se às belas intenções do ilustrado e indefesso propugnador da educação física. A Beletristica, em qualquer dos seus departamentos, é hoje a grande filtradora das conquistas ontidas peça sciencia. Com os seus dixies, transvertendo essas verdades cruas em alegorias acessíveis às multidões, que se deixavam arrastar mais pela imaginação do que pelo raciocínio, a poesia, o romance e o drama, assimilando as conclusões dos laboratórios e da filosofia, converteram-se em inespugnáveis instrumentos de aperfeiçoamento social. A arte pela arte evolouse. Só os palavrosos, inanes e resiveis, é que ainda hoje a cultivam. E que melhor missão poderiam ambicionar os beletristas que ai despontam do que a de contribuir, cantando, idealizando, para o robustecimento dos seus coestadanos?... Não há presentemente – nação ou homem de governo, higienista ou simples publicista – quem não faça incidir os seus intuitos de regeneração da humanidade sobre este ponto basilar – o da instrução física, para que o corpo suporte prazenteiro a sobrecarga dos que-fazeres espirituaes que a civilisação lhe impõe, no seu infreavel galoupar. Nas sanguisedentas eras do regimen militar, franco e exclusivo, a seleção operava-se no campo da batalha. E a Grecia não trepidava até em enganar os que nasciam valetudinários. Dos seus ginásios saíram os artistas, os beletristas, os scientistas, os filósofos, os estadistas, os guerreiros. Mens sana in corpore sano. Respirava-se Força e Poesia por todos os poros. Executava-se, no alvorecer da fecunda ocidentalidade, a divisa de Camões – “braço à armas feito mente às musas dada”. As guerras, século em fora, foram rareando. As sociedades foram-se capacitando de que era mais enobrecedor viver do trabalho livre do que da pilhagem desbragada. Nisto, empolgado o militarismo pelo industrilismo, descortina-se um novo alvo: as aventuras da vida canibalescamente belicosa transmutam-se na relativa placidez das expedições marítimo-comerciaes. Há combates, ainda, mas já como um meio, não como um fim. E, neste interregno bendito, o vigor vae-se submergindo, entorpecendo-se as gerações, que ficam lassas. A riqueza atrofia – e nessa época era-se luxuosamente rico ou pensava-se em sê-lo. É neste momento de fausto que a Inquisição, desesperado arranque do catolicismo, manietado pelo jesuitismo, vibra a mais profunda machadada dos povos que a toleraram. Uns foram despenhados nas fogueiras nos conventos. Não aconteceu o mesmo aos paizes protestantes, onde as idéias de liberdade hastearam e manutiram o equilíbrio do organismo individual e coletivo. O seu gênio esportivo, exercitando nos vagares recreativos os 44

Publicado no Blog do Leopoldo Vaz em 10/01/2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/10/fran-paxeco-e-a-introducao-da-educacao-fisica-no-maranhao-novosachados/ Publicado no CEV, Comunidade Educação Física no Maranhão, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/fran-paxeco-e-a-introducao-da-educacao-fisica-no-maranhao-novos-achados/


furores que antigamente se aplicavam ao tropel mavortico, é que os previlegiou com o nervo da resistência que os abroquela. E foram as suas provas que serviram de espelho aos latinos, os quaes tiveram na França, em Edmond Damolins, o seu maior campeador. O mundo caminha para a paz, - di-lo a evolução humana. (Não nos aparteiem com a contenda russa-japoneza, porque ela concretisa exatamente o principio do fim, ou seja o desarmanento universal, ujma vez resolvida a partilha da Turquia e da China). É necessário, portanto, desaparecidos os derivativos bélicos, que avigoravam as nacionalidades, prover e prever a organisação duma sociedade ginástica pedagógica, estudando as as paragens em que ela se houver de exercer e aclimar. É uma tese a tratar, em tal presuposto, a da influencia da educação física nas regiões tropicaes. E é este o caso do Maranhão. O que ninguém refuta é que todo aquele que, em criança, se privou dos exercícios ginásticos, se mais tarde se embrenha por profissões puramente inteletuaes, permanece eternamente engoiado. O seu ser – ou se esgota prematuramente ou degenera a breve trecho. Só as inúmeras variantes do esporte dos nossos dias podem outorgar aos pacíficos cidadãos do século XX a harmonia que falece as suas anemiadas faculdades. E concorrer para a realisação deste fito, pela palavra ou pela Penna, é concorrer para o advento do reinado ideal duma Fôrça altruísta e duma Poesia consoladora. Porque ser forte é ser bom e belo! Fran PAXECO.

- O Governador do Estado, em mensagem ao Congresso do Estado, apresenta seu relatório de atividades do exercício do ano anterior, e refere-se à Educação Physica:


- As aulas de Ginástica são suspensas nas escolas municipais

- Em setembro, convocam-se os sócios do Clube Ginástico Maranhense. Nota-se o símbolo dos “4 Fs” :

O Governador do Estado, em mensagem ao Congresso do Estado, apresenta seu relatório de atividades do exercício do ano anterior, e refere-se à Educação Physica: - Ao que parece, em 1911 Miguel Hoerhann já estava no Rio de Janeiro, conforme o (Diário Oficial da União (DOU) de 12/08/1911), Pg. 14. Seção 1) - Miguel Hoerhan ministrava “exercícios de gymnastica sueca, de esgrima, de espada e florete” no Colégio Militar – Rio de Janeiro. É listado junto com outros


professores – “dirigidos pelos instructores professor Miguel Hoerhan, tenente Migrel Ayres e capitão Valério Falcão” – durante visita dos membros do Conselho Superior de Ensino. 1904 - A "gymnástica" era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende desse anúncio, publicado em 1904: "PARA OS ALUMNOS DE AULA PARTICULAR DE GYMNÁSTICA. "A Chapellaria Allemã acaba de despachar: "camizas de meia com distinctivos; Distinctivos de metal com fitas de setim e franjas d'ouro; Distinctivos de material dourado para por em chapéus; Chapellaria Allemã de Bernhard Bluhnn & Comp.; 23 - Rua 28 de julho – 23. (A CAMPANHA, 6ª feira, 8 de janeiro de 1904, p. 5). 1907 - o nascimento das atividades esportivas no Maranhão se deu pelas mãos de Nhozinho Santos Joaquim Moreira Alves dos Santos -, quando foi fundado, em 1907, o Fabril Athletic Club. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física.: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." - O sexo feminino também tinha suas aulas de ginástica, pois fazia parte do currículo da Escola Normal, conforme resultado dos exames publicados, como era comum à época: "CURSO ANEXO - Foi este o resultado dos exames de hontem: GYMNÁSTICA - Núbia Carvalho, Maria Varella, Neusa Lebre, Hilda Pereira, Margarida Pereira, Almerinda Parada, Leonor Rego, Rosilda Ribeiro, Fanny Albuquerque, Agrippina Souza, Cecilia Souza, Roza Martins, Esmeralda Paiva, Neusa Silva, grau 10. Faltaram 12". (O MARANHÃO, Sexta-feira, 15 de novembro de 1907). 1911 A 17 de agosto, Fran Paxeco escreve artigo, publicado n´Pacotilha 45: O culto da saúde A verdadeira pedra filozofal está simplesmente numa vida regrada. Assim no-lo prega o dinamarquêz Muller, no livro o meu sistema, traduzido em mais de uma dúzia de línguas. O afamado apóstolo da cultura fízica leciona e executa. Obteve, em diversos campeonatos, 130 e tantos prêmios. É perito nas corridas de velocidade e rezistência, salto em comprimento, remo, natação, mergulho, jogo do martelo, lançamento da bola de 16 libras inglezas, luta Greco-romana, alteres, jogos da bola de 56 libras, disco, dardo, lutas de tração, de cinco e dez pessoas. Sai-se perfeitamente no box e no foot-ball. Leu, muito moço, obras de fiziologia e jinastica. Um artigo sobre pedestrianismo, visto depois, ensinouo a correr nos bicos dos pés. Travou conhecimento, a seguir, dos volumes do austríaco Vitor Silberer, que introduziu o gosto do desporto em sua terra. Caiu-lhe sob os olhos, a breve trecho, um guia popular de saúde . Esperimentou , após, todos os sistemas jinásticos, incluzive o sueco, então em voga. “Mas foram os exercícios em caza – confessa -, organizados por mim só, e as corridas ao mar livre, que transformaram a criança doente, que era, num rapaz robusto e sadio”. Refere-se ao processo de Sandow, que se divulgou bastante. “MO método é bom, pra produzir bicipetes salientes; mas como se sabe, a fôrça vital não está no braço. – Acho preferível ter coração, pulmõis, pele, dijestão, rins e fígado normais a bons bicipetes. Condena Sandow, porque “despeza completamente a boa atitude jeral do corpo”, exibindo os seus educandos “com o dorso e as pernas arqueados”. Ling “conduz ao escesso oposto” e abandona muitas coisas úteis. Declara, por fim, que o seu sistema “conjstitue uma média, entre estes dois estremos”. Chegai à concluzão, acentua o sr. Muller – de que os pontos por onde a maioria dos corpos humanos se afasta do mideal da saúde e da beleza são a pele e o ventre. 90% dos reprezentantes da nossa espécie necessita de exercícitar os nusculos e os órgãos abdominais e tratar da pele. O manual do bravo jinasta, elucidado por ilustraçõis, dispensa outro indicador. Qualquer, seguindolhe o rejimem, poderá enrijar-se e prevenir moléstias. Promanon da esperiencia de séculos a solida ciência da nossa época. Assim, das contraprovas do atletismo, proveiu a remodelação e aperfeiçoamento dos órgãos do reino humanal. Os fiziólogos 45

Publicado no Blog do Leopoldo Vaz, em 09/01/2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/09/12321/ Publicado no CEV/Comunidade Educação Física no Maranhão, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/nova-contribuicoes-de-fran-paxeco-introducao-da-educacao-fisica-e-dos-esportesno-maranhao-brasil-1


intervieram, no momento psicolojico, - deixam passar o chacoteante chavão -, com as suas teorias, completando, nos laboratórios, o que a prática dos curiozos desnudára. Mas, antes de Mosso, Lombroso, Demeny, Toulouse, Marey, Desfosses e uma lejião doutros se manifestar. Gladstone, aos 80 anos, pra que o vigor se lhe não entorpecesse, rachava os mais pétros carvalhos, Tolstoi e Zola amavam o ciclismo, Brieux ostentava-se um belo jinasta, Prévost adora os jogos ao ar livre, mPaul Adam e Pierre Mael são atletas. Etc. O dr. Tissié e o professor Demeny profligam os torneios e voltas preconizados por Ling, proclamando a jinastica hijienica, afim de equilibrar, no meio-termo, o evolver corpóreo. Ao tenaz sueco todavia, não se deve negar o grande méritode atrair as almas prá sistematização, nos tempos modernos, do que fora um hábito instintivo dos antigos. Muller e Demeny, marcadamente, evanjelizam a jinastica racional, ou educativa, harmonizando o que metodizam com os movimentos naturais, sem sacrifício da compleição particular de cada um. Num dos paragrafos de seu livro, G. Demeny afirma-nos que a influencia psíquica do exercício se consegue, em conjunto, na dansa associada à múzica, nos jogos em comum, nas aplicaçõis úteis, exijindo iniciativa, coragem, audácia. Os desportos de todas as categorias, as lutas, os assaltos, os combates – são a melhor escola do caráter e da personalidade. Depara-se ai o laço da solidariedade e da dsciplina, junto à maior independência. É preciso rebater, pelos jogos livres, a sensaboria e a rijidez duma jinastica escluziva. Pode ser-se regrado, sem tais inconvenientes. Os efeitos somáticos dos movimentos não são os únicos dezejaveis. Menosprezar as conseqüências psíquicas – alegria, entuziasmo e as qualidades éticas mais altas do individuo – é truncar a educação, reduzir-lhe disparadadamente o alcance. Vê-se que os motivos de reputado professor francez se estribam em irrefragáveis doutrinas, hoje aceitas pelos sabedores e pelos ignorantes. O dr. Toulouse, que alcançou numa nomeada mundial, com o seu escrito, sobre o ciclópico romancista de Rougon-Macquari, enviou ao pariziense Excelsior, o jornal-revista da moda, um lúcido artigo acerca do debatissimo surmenage. Conta-nos que os neurastênicos pejam mnos consultórios médicos e os azilos, ameaçando aniquilar ou pelo menos, dimunuir o valor da raça. Começa por nos descrever um homem rico, seu conhecido, que contraiu uma séria perturbação nervoza, por se ocupar em demazia, e sem ordem, duma pequena serie de raridades livrescas, a cujo exame, bibliografia e classificação só se entregava – quando lhe dava na gana. Divide em duas classes o labor mental. Um é fácil, espontâneo, como quando meditamos em assuntos pouco nítidos, sonhos ambiciozoz, lembranças do passado, reflexõis dissemilhantes. O espírito divaga, passeia, regressa ao ponto central, evade-se, ao sabor de mil pequenos ajentes, não domináveis. Esta atividade é a menos fatigante. Um trabalho, em que aq criação seja o elemento preponderante, toma a maior parte das vezes esse aspeto, embora isto sorprenda muitas criaturas, que respeitam as elevadas especulações inteletuais. Eis porque os artistas, os sábios, os inventores,, os homens de negócio são capazes de conservar horas a fio no seu posto, sem pestanejar. A segunda face do labor mental é voluntária. A alteração consciente é constante e mantem o espírito num limite estreito, de que não pode arredar. O esforço rezulta penozo. Há serviços maquinais, que fatigam com facilidade, ainda que o gasto inteletivo ou muscular na seja intenso. Os afazeres voluntários demonstram-se como os mais exaustivos. Aconselha que se crie o costume de ter tanto menos pressa quanto mais houver que fazer. Já Franklin assim reciocinava, ao esternar que – “os homens ocupados são os que teem mais tempo”. Quando houver trabalho em barda, cumpre que se descanse mais e se moderem os jestos, que se relacionam diretamente com o pensamento. Não se deve concentrar a atenção em vários assuntos. Mas, quando mo campo em que ela se exerce é muito estrito, há num novo perigo, - objeta ainda o0 considerado médico francez. Se se não varia uma tarefa esgotante, chega-se depressa ao estado em que a só idéia dessa tarefa basta para neurastenizar. O ramerão do serviço diário possue outra desvantagem: abate o interesse, sem o qual a boa vontade se some e a canseira sobrevem rapidamente. A mesma incongruência aparece, quando ocorre o contrário, quando o interesse é demaziado, passional, caraterizando-se pela angustia do sucesso, o receio sw peoceder maL, o escesso de amor próprio. Como reconhecer, pergunta o dr. Toulouse, que o trabalhar nos alenta? Basta um sinal, esclarece. O trabalho não será demais, se o espírito, ao repouzar, estiver izento de preocupacõis, não se fizar na faina que tem entre mãos, se o sono for tranqüilo, inabalável. Com este avizos, secos e precizos, somente maltratará o organismo quem de todo se recuzar a súber a suave escada, prescrita pelos jinastas e fiziolojistas. Topar-se-á, no cimo dela, o gôzo duma razoável saúde. Fran Paxêco.


1915 - ao mesmo tempo em que era anunciada a criação de um clube para a prática dos esportes, "UM CLUBE ESPORTIVO - Fundado um club esportivo - Club Zinho - com o fim de proporcionar aos seus associados diversão como sejam passeios maritimos, pic-nic, exercícios físicos, ginástica pelos processos mais modernos. Presidente: Hilton Raul - Vice presidente: Guilherme Matos".( O JORNAL, 05 de maio de 1915) - Nas datas importantes, o jogo de futebol aparece como parte das programações, como as comemorações da Batalha do Riachuelo, pela Escola de Aprendizes Marinheiros, quando seriam executadas "Gymnástica Sueca com armas, Gymnástica sueca sem armas, corridas com três pernas, corrida do sacco" e uma partida de futebol, entre os "teams" "Marcílio Dias" e um formado por representantes do F. A. Club. (Jornal O ESTADO, 10 de junho de 1916). - No final de 1916, é anunciada para o dia 3 de dezembro a inauguração do Bragança Sport Club, contando a programação com uma regata entre as equipes 1 e 2, a se realizar no Rio Bacanga, às 7 horas da manhã. Às 15 horas, estavam programados exercícios militares pelos alunos do Instituto Maranhense; às 16 horas, haveria um "Momento Literário", com recitação de poesias e monólogos, pelos sócios, e, às 17 horas, a partida de foot-ball entre os teams 1 e 2. Às 19 horas, a sessão solene de inauguração, seguida de soireé dançante. "Como um novo sol refletindo nas paragens longínguas do azul, appareceu o Club Sportivo 'José Floriano'", fundado por um grupo de rapazes de nossa terra com o fim único de "cultivar o physico e revestir de ganho e belleza todas as linhas plasticas do corpo". (Jornal O ESTADO, 30 de novembro de 1916). 1917 Fundação do Clube José Floriano em São Luís, em homenagem ao maior dos mestres da cultura física do país: "inflamando-se de enthusiasmo e de energia para combater o enfraquecimento de uma geração e dar vida e armonia aos músculos, admirados com embevecimento, nos grandes athletas e nas antigas estátuas de mármore guardadas nos velhos museus de Roma e Grécia", dizia F. de Souza Pinto, ressaltando o quanto era importante a boa forma física em Grécia e Roma antigos, nos Estados Unidos e na Alemanha atuais, como exemplo de uma raça: "E o Brasil, a terra verdejante de palmeiras e bosques floridos tem também os seus representantes e mestres de luta e acrobacia em que figura como principal elemento de nossa raça o afamado José Floriano Peixoto, cujo nome cercado de sorrisos e de feitos foi escolhido por patronimico do club, que acaba de apparecer nesta terra tristonha do norte, que há-de um dia figurar nos campeonatos, tendo para saudar as suas victórias a música melodiosa dos cântigos cheios de saudade e poesia dos nossos queridos sabiás". (F. de Souza PINTO, in "O ESTADO", 15 de fevereiro de 1917). 1935 – anuncio de professor de ginástica sueca – A PACOTILHA, janeiro

1970 – durante a cerimônia de encerramento do 3º. Campeonato Intercolegial, organizado pelo Serviço de Educação Física, Recreação e Esportes, sob a direção de Mary Santos, no Ginásio Costa Rodrigues houve uma belíssima demonstração de Ginástica Feminina Moderna, sob a direção da professora Marise Brito, pelas alunas das escolas secundárias da Capital, sendo muito aplaudida pelo grande público. (Fonte: SANTOS, Mary. Educação (crônicas). São Luís: SIOGE, 1988,p. 11-112)


GINÁSTICA RÍTMICA DESPORTIVA DJANETE MENDONÇA CÉLIA FONTENELE PEREIRA 1980 – A Secretaria de Desportes e Lazer – SEDEL - forma sua Escolinha de Ginástica, dirigida pela profa. Lea Branco 1981 – o Colégio Universitário – COLUN - forma sua Escolinha de GRD, dirigida pela profa. Waldecy Vale 1982 – A GRD é disputada pela primeira vez nos JEM´s, com a participação das seguintes escolas, já com suas respectivas equipes de treinamento: ETFM (Djanete Mendonça); Batista (Luis Carlos Campos); D. Bosco (Silvia Monteiro); Maristas (Silvana Martins Araújo); COLUN (Waldecy Vale). 1985 – O Colégio Zoe Cerveira inicia sua equiupe de GRD,m com Célia Fontenele Pereira 1986 – Célia Fontenele Pereira cria a Escolinha do Divina Pastora 1987 – O Colégio Batista tem como professora de GRD Liane Melo, que fica até 1993; o Colégio Girassol cria sua Escolinha de GRD,com Leila Pereira como técnica; os Maristas tem Rosinete Teixeira como técnica Período de 1986/88 – O Maranhão passa a disputar campeonatos interestaduais da modalidade 1988 – Os Jogos Escolares Brasileiros são disputados em São Luís, com a GRD realizada na ETFM, com a participação do RJ, AM,DF, PR, PA, SC. 1989 – Participação do Maranhão na GRD dos JEB´s, em Brasília 1990 – Realização de diversos cursos de arbitragem de GRD 1998 – Reestruturação da FEMAG; Leila Costa (RS) ministra curso de arbitragem estadual, devido ao baixo nível da GRD no estado e da arbitragem dos JEM´s.

Fonte: PEREIRA, Célia Fontenele. A Ginástica Rítmica Desportiva (GRD) no ensino fundamental (5ª. A 8ª.séries) nas escolas particulares de São Luís – Maranhão: contribuições, limites e possibilidades. Monografia de Graduação em Educação Física. UFMA 1999. Orientadora: Waldecy das Dores Vieira Vale.


GINÁSTICA ARTÍSTICA (OLÍMPICA) A GINÁSTICA OLÍMPICA Leopoldo Gil Dulcio Vaz 1841 - primeiro registro encontrado onde aparece a palavra “ginástica”, conforme anúncio no “JORNAL MARANHENSE” sob o título de: “THEATRO PUBLICO” - Prepara-se para Domingo, 21 do corrente huma representação de Gimnástica que será executada por Mr. Valli Hércules Francez, mestre da mesma arte de escola do Coronel Amoroz em Paris; e primeiro modelo da academia Imperial de Bellas Artes do Rio de Janeiro, que terá a honra de apresentar se pela primeira vez diante d’este Ilustrado público, a quem também dirige agradar como já tem feito nos principais Theatros de Europa , e deste Império. Mr. Valli há contractado o Theatro União, para dar sua função, junto com Mr. Henrique, e tem preparado para este dia um espetáculo extraordinário que será composto pela seguinte maneira:Exercícios de forças, Agilidade e posições Acadêmicas, Exercícios no ar e muitas abelidades sobre colunnas assim como admiraveis sortes nas cordas, Nos intervalos de Mr. Valli, se apresentará Mr. Henrique, para executar alguns exercícios de fizica, em quanto Mr. Valli descansa.” 1944 - o professor José Rosa do Liceu Maranhense ministrava nas aulas de educação física a Ginástica Acrobática DÉCADA DE 1970 - 1974 – O prof. ANTONIO MARIA ZACHARIAS BEZERRA DE ARAÚJO – o PROFESSOR DIMAS – foi o introdutor da Ginástica Olímpica, hoje Artística, em São Luís do Maranhão. 1974/75/76 - a Ginástica Olímpica tinha um núcleo pequeno, sem divulgação em escolas funcionando apenas com as escolinhas do Ginásio Costa Rodrigues, mantida pelo antigo DEFER, com alunos pertencentes às diversas escolas de São Luís: Liceu Maranhense, Humberto Ferreira, La Roque, Centro Caixeiral, CEMA, o antigo Pituxinha, o Rosa Castro, o Santa Teresa, e o colégio Batista; - A estratégia daqueles primeiros tempos, por falta de professores, era pegar os melhores alunos e transformá-los em instrutores e distribuí-los pelas diversas escolas, especialmente as públicas. O primeiro dos alunos de Dimas a trabalhar como instrutor de Ginástica Olímpica foi Juvenal Castro, ainda em 1975, depois veio Raimundão (1977), José de Arimatéia, que hoje é também professor de educação física; Josué, que é também formado em educação física, e o próprio filho do Dimas, Maurício 1979 - chega às escolas, sendo a primeira o Colégio Batista, por influência do Dimas, que era professor de Educação Física do Colégio; as demais escolas foram no Santa Teresa, Japonês - Inácio Bispo dos Santos; no La Roque, Raimundo Aprígio - Raimundão; no Pituxinha, Juvenal Castro; no CEFET, antiga Escola Técnica, Vanilde Maria Carvalho Leão; no SESC, tinha uma escolinha, com alunos de varias escolas, nessa época, grátis, como técnico, Raimundão; CEMA; Rosa Castro. - participação de alguns atletas nos Jogos Escolares Brasileiros. 1981 – Chegada da primeira aparelhagem oficial da modalidade. Até então eram construídas por Dimas e por Raimundão. O pai deste era marceneiro e construía os aparelhos segundo orientação de Dimas. - fundação da Federação Maranhense de Ginástica Olímpica. O primeiro presidente foi o professor Dimas; sendo vice- presidente o professor Juvenal; e o diretor técnico o professor Raimundão. Quando acabou o mandato do professor Dimas, assumiu a Federação o professor Juvenal, durante dois mandados; depois do professor Juvenal, Raimundo assumiu por um mandato na Federação; aí teve outros presidentes, como Cláudio Cabral Marques - hoje, Juiz de Direito - e a professora Valdeci Vieira das Dores Vale, professora de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, que já ocupou por três vezes o cargo de vice-presidente, continuando no cargo, com o professor Raimundo Aprígio Mendes como presidente até 2005. Depoimento prestado por RAIMUNDÃO –RAIMUNDO APRÍGIO MENDES 1956 - nasce no dia 06 de setembro, em São Luís. 1967/68 –eu fazia o Ginásio, o antigo ginásio, eu era aluno do, do CEMA, colégio de um porte grande, estadual, nesta época. Eu tive o prazer de ser aluno de Educação Física, do prof. Dimas, eu fiz aula com ele no Parque do Bom Menino, era lá que nós desenvolvíamos as atividades de educação física, quando ele era prof. do CEMA. E lá eu vim a me interessar um pouco, eu vim enxergar o que era esporte, o que era um trabalho de atividade de educação física até porque eu tinha conhecimento só teórico ou então só pela palavra das pessoas. E lá nós praticávamos tudo, nós praticávamos handebol, praticávamos basquete, ele chegou até se interessar a levar uma das turmas para fazer natação; ai viu eu jogando capoeira, me convidou


para fazer ginástica olímpica, então eu fiquei nos dois, mas depois eu me interessei mais pela ginástica, até porque teve uma coisa assim, digamos assim, eu aprendi a gostar mais da ginástica olímpica. 1974/79 - não havia disputa de Ginástica Olímpica nos JEM´s, ela tinha um núcleo bem pequeno não era divulgado nas escolas, só a partir de 79 que ela veio chegar nas escolas e a primeira escola que abraçou a ginástica olímpica foi o colégio Batista, por influência do Dimas até por ele era prof. de educação física do Colégio Batista, e ele implantou a Ginástica Olímpica no Colégio Batista e com o meu trabalho e o trabalho dos outros instrutores nós começamos é ter alunos de outras escolas; nós tínhamos uma Escolinha e com isso nós tínhamos vários alunos pertencentes às diversas escolas de São Luís, tínhamos Liceu, Humberto Ferreira, o La Roque, o Centro Caixeiral, o CEMA, o SESI, o antigo Pituxinha, o Rosa Castro, o Santa Tereza, e o colégio Batista; então nós começamos pensar numa competição, ou melhor, implantar é a ginástica olímpica nos jogos escolares maranhense. Essa competição ela foi mais a nível individual, só após de dois anos é que começamos a fazer mesmo competição não só no individual mais também em equipes; os professores nesses colégios, Por exemplo, no Batista estava o Dimas, depois o Juvenal e Raimundão; No Santa Tereza - se chamava Japonês, era Inácio Bispo Dos Santos; No La Roque, eu treinava o La Roque por de traz dos bastidores; No Pituxinha que é o Meng, Objetivo Hoje - era o Juvenal; antiga Escola Técnica, que eu trabalhei CEFETE e CEMA quem trabalhava principalmente na parte da ginástica era profa. Vanilde Leão; No SESC –eu tinha uma escolinha. Lá nós tínhamos alunos de varias escolas, até porque a escolinha nessa época era uma escolinha grátis, a função principal dela mesmo era divulgar a modalidade ter praticantes de ginástica olímpica; No Rosa Castro, como era defronte do SESC a maioria dos alunos treinavam na escolinha do SESC; porque o nosso objetivo era fazer a competição então nós éramos técnicos de vários alunos, mas nós não tínhamos assim digamos apadrinhamento com nenhum nós preparávamos todos com igualdade e o melhor vencia a competição. 1976 - treinava Capoeira no grupo do Mestre Sapo, que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues; período da tardezinha, tipo assim 17:30 e ... ia até 20:30 horas. 1977 - o professor Dimas apareceu no final de 1977, à procura de pessoas que tivessem uma boa habilidade para a pratica da Ginástica Olímpica; Nessa época, tinha 14 anos; Então muitos alunos de Ginástica Olímpica dessa época vieram da Capoeira, ele preferiu assim porque os alunos da Capoeira já sabiam fazer alguns saltos que a Ginástica exige, e já tinham um bom trabalho de preparação física, principalmente na parte de resistência orgânica e flexibilidade. 1978 – começou como atleta de Ginástica Olímpica – A minha carreira como atleta ... logo no primeiro ano, eu participei dos Jogos Estudantis Brasileiros, realizado em São Paulo, foi mais a titulo de ganhar experiência, nós não tínhamos nem um aparelho oficial de Ginástica Olímpica; tudo era braçal, tudo era feito aqui mesmo, e a gente não tinha nem noção, só para você ter uma idéia, eu tive que saltar num cavalo que eu fui conhecer chegando no Estado de São Paulo, no ginásio onde foi realizada a competição. - instrutor – O meu envolvimento com o trabalho de Ginástica Olímpica veio acontecer no final de 1978, o prof. Dimas querendo difundir mais essa modalidade, principalmente em nossa cidade começou a formar instrutores; eu fiz parte desse grupo; e meu trabalho se iniciou numa escolinha no SESC, localizado na Praça Deodoro, e até hoje continua no prédio do SESC, e de lá eu fiz um trabalho mais ou menos uns três anos, esse trabalho, ele tinha como finalidade, não só atender, ser um trabalho solidário, de atender à comunidade, mas também um trabalho que se voltava para as competições, principalmente os Jogos Escolares Brasileiros. - quem eram os outros atletas que se tornaram instrutores naquela época – o Juvenal, começou primeiro do que eu, já veio de 75; José de Arimateia, que hoje é professor de educação física, o Josué, que é também formado em educação física, e o próprio filho do Dimas que se chama Maurício... – Molusco - ele começou a ginástica no Ginásio Rubem Goulart, 80 83,84 por ai; ele começou com o prof. Juvenal, e depois conseguimos um certo beneficio escolar para ele, pela própria habilidade, pela própria competência que ele tinha de se desenvolver nessa modalidade, e nós levamos para o Batista, conseguimos uma bolsa integral, ai ele passou fazer, ele passou a fazer parte do meu trabalho, porque eu já estava trabalhando no colégio Batista e continuo até hoje trabalhando com ginástica olímpica. - o material - teu pai tinha uma carpintaria, ele faleceu deixou esse material todo com você, e quando havia uma necessidade, por exemplo, de consertar algum equipamento, ou mesmo de fabricar o equipamento, você que era o responsável por isso, por que você já tinha essa habilidade em carpintaria também - eu acompanhei o meu pai em varias situações de trabalho e com isso eu ganhei um pouco de experiência nessa área então; na ginástica olímpica nós tínhamos muita dificuldade em ter aparelhos, então a gente fez uma montagem de aparelhos, usando a estrutura de madeiras, e nós fabricamos aqui umas argolas, fabricamos umas paralelas, principalmente masculina, principalmente do sexo masculino, a alem disso quando qualquer material


quebrava, e sendo de madeira, eu consertava, nós comprávamos materiais, fazíamos substituição, pequenos reparos, e assim a gente levou a ginástica mais ou menos por vários anos. só tivemos a uma primeira uma aparelhagem oficial de ginástica olímpica, mais ou menos por volta de 1980, 81, 82 por ai. 1979 - o Dimas levou uma equipe de ginástica, e essa equipe se apresentou muito bem; nós conseguimos uma ótima colocação, daí porque o Governo Federal, achando que o Maranhão poderia ser um pólo de ginástica olímpica, resolveu investir na ginástica olímpica, no caso ai, construindo essa praça esportiva que a gente tem aqui na Av. Kennedy, especificamente para a área de ginástica olímpica. 1980 - a ginástica passou a fazer parte dos JEM´s 1981 - A federação de ginástica nasceu que a antiga secretaria de desporto e lazer SEDEL foi fundada até pela necessidade da... Do próprio trabalho da SEDEL em poder ajudar as federações, as modalidades seria necessário que todas elas tivesse um órgão ou uma entidade representativa ou uma entidade jurídica no caso as federações. E a SEDEL nessa época que você deve se lembrar bem, que você fez parte da fundação SEDEL e você conhece bem... A estrutura dessa época era para que as modalidades tivessem um recurso até para facilitar a prestação de contas deste órgão ao Governo do Estado seria necessário que tivesse também federações, ou seja, entidades jurídicas que também pudessem prestações de contas para a SEDEL. Então as federações surgiram e foi fundada com os clubes de futebol um pouco enrolado depois tivemos que re-fundar essas... É a federação por questão de estatuto errado e ela foi fundada - O primeiro presidente da federação foi o prof.Dimas, O vice presidente era o prof. Juvenal, O diretor técnico neta época era o prof. Raimundão 1985/1988- assim que acabou o mandato do prof. Dimas, assumiu a federação o prof. Juvenal tirando dois mandados, 1988 - - depois do prof. Juvenal eu tive um mandato na federação e me afastei da federação; eu tive que re-fundar essa federação em 1988 e hoje nós estamos filiados à Confederação Brasileira de Ginástica , só que nós não participamos de competição pelo auto investimento, que cada competição exige, como se sabe a ginástica olímpica é um esporte muito caro e até mesmo pra nós participarmos de competições seria necessário um recuso financeiro muito elevado que esta acima de nossas condições, mas de vez enquanto nós participando com um, não em equipe, mas ao menos nos individuais nós temos participado dos eventos da confederação brasileira de ginástica o ultimo evento que nós participamos foi 1999.. - Aí teve outros presidentes , só pra você ter uma idéia o Cabralzinho foi presidente também de federação de ginástica.

- E a prof.Valdeci também da Universidade Federal de Maranhão já ocupou não o cargo de presidente – Valdeci Vieira das Dores Vale, profa. de educação física da Universidade Federal do Maranhão e a modalidade em que ela se destaca é a ginástica rítmica desportiva - já ocupou vários cargos, já ocupou por três o cargo de vice-presidente da federação, é atualmente a vice-presidente da federação maranhense de ginástica 1992 – forma-se em Química Industrial na Universidade Federal do Maranhão 1996 – realiza Curso Internacional de Técnicas de Ginástica Olímpica, realizado no Flamengo 1997 – realização da 1. "Copa Dimas" de Ginástica olímpica - a família ginástica maranhense considera o Professor Dimas o pai da Ginástica Olímpica maranhense, porque ele quem introduziu a Ginástica em nosso estado, tanto ao nível de competição, como ao nível de recreação e etc... 1999 - Torneio Internacional de Ginástica Olímpica – participação do Maranhão com quatro atletas e conseguimos uma boa colocações, os meninos chegaram aqui cheio de medalhas inclusive nós temos até um troféu que prova nossa participação, uma boa participação.

2001 - o prof. Raimundo Aprígio Mendes é o presidente da federação de ginástica, até 2005.


HANDEBOL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ MARANHÃO PENHA Origens Na Antiguidade grega e romana houve jogos aparentados com o atual Handebol. Assim ocorreu com o “Jogo Urânia”, dos Gregos (descrito por Homero em Odisséia) e com o ”Harpaston” dos Romanos (retirado dos desenhos do médico romano Claudius Galenus). Idade Média, o jogo Fangballspiel praticado na Alemanha e cantado por Walter von der Vogelweide tinha certas características que podiam ser descritas como as formas originais do Handebol. No século XVI, Rabelais na França descreve uma forma de Handebol: ”eles jogam uma bola utilizando a palma da mão”. 1897 o Handebol dos tempos modernos foi jogado pela primeira vez em Nyborg, Dinamarca. Década de 1910, o Handebol conquista uma ascensão com os primeiros impulsos que haviam sido dados paralelamente pela Dinamarca, Alemanha e Suécia, ao surgir o chamado Handebol a 11 no final do século XIX. Considera-se geralmente que os pais fundadores do Handebol a 11 são os professores de Educação Física alemães, que na virada do século, criaram o novo esporte a partir do Raffball e do Königsbergerball (Konrad Koch). 1919, o professor Karl Schelenz (Berlim – Alemanha) lança o Handebol como o esporte de grande terreno (campo) na Europa. Em seguida, ele apresenta melhorias nas regras sendo reconhecido também como um dos pais do Handebol a 11. 1928, durante os Jogos Olímpicos de Amsterdam foi criada a Federação Internacional de Handebol Amador-IAHF. Entre seus fundadores, estava Avery Bundage (EUA), futuro presidente do Comitê Olímpico Internacional. No Brasil, o Handebol surgiu no seio dos grupos étnicos germânicos que habitavam o país e por intermédio de Emil Schemehlin, que trouxe o esporte após a Primeira Guerra Mundial, na sua versão praticada em campo. 1928, já se registravam jogos amistosos de Handebol de Campo entre clubes da Colônia Alemã do sudeste e sul do país. [...] 1972 Inclusão do Handebol nos Jogos Universitários BrasileirosJUB realizados em Fortaleza-CE. - Nos JEBs, o Handebol teve a participação de aproximadamente 10 equipes femininas e 12 masculinas. 1973 IV JEBs em Maceió-AL, com 16 equipes femininas e 20 masculinas. - I Campeonato Brasileiro Juvenil feminino e masculino, em Niterói-RJ. 1974 Realiza-se a primeira disputa adulta de nível nacional. 1976 Cria-se o I Campeonato Brasileiro de Handebol Masculino Adulto com colocações de destaque por representações do Nordeste do país: 1º Maranhão e 2º Paraíba. - segundo Alvaro Ribeiro Perdigão Neto no Campeonato Brasileiro Adulto de 1976 realizado na cidade do Rio de Janeiro a Paraíba não participou. A correta classificação foi 1° lugar Maranhão, 2° Pará, 3° Ceará, 4° Pernambuco, 5° Amazonas, 6° Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, eliminado por irregularidade. 1978 O I Campeonato Brasileiro de Handebol Feminino Adulto teve em primeiro a seleção do Amazonas e, em segundo, a de Pernambuco, o que confirmou a expansão do Handebol por todo o Brasil. 1979 Em primeiro de junho: fundação da Confederação Brasileira de Handebol–CBHb. Até esta data o Handebol Brasileiro fazia parte da Confederação Brasileira de Desportos - CBD. A desvinculação da CBD foi para atender uma determinação da nova legislação esportiva à época. Neste estágio, já existiam algumas Federações Estaduais que fizeram parte da transição e portanto são consideradas fundadoras da CBHb: Federação Paulista de Handebol; Federação de Handebol do Estado do Rio de Janeiro; Federação Maranhense de Handebol; Federação Pernambucana de Handebol; Federação Cearense de Handebol; Federação Gaúcha de Handebol e Federação Paraense de Desportos. Estas entidades e as outras que compareceram na Assembléia de Eleição no dia 22 de agosto de 1979 no Rio de Janeiro, são também consideradas fundadoras a saber: Federação Paranaense de Handebol; Federação Mineira de Handebol; Federação Amazonense de Handebol, Federação Sergipana de Handebol e Federação Paraibana de Handebol. O fato da sigla ter o “b” minúsculo após o “H” em CBHb deu-se em função da Confederação Brasileira de Hipismo ser mais antiga e, portanto, já


existir a sigla CBH já registrada no então Conselho Nacional de Desportos-CND. Fonte: EDGAR HUBNER E CLÁUDIO REIS. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS D O ESPORTE N O BRASIL . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 8.73, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/359.pdf No Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/185.pdf http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/186.pdf 1960 – o Handebol foi introduzido no Maranhão pelo Prof. Luiz Gonzaga Braga e o professor José Rosa, ambos da ETFM, hoje IF-MA. Após participarem dos Jogos Estudantis Brasileiros do Ensino Industrial – JEBEI -, e como a modalidade seria introduzida nos Jogos seguintes, fizeram um curso no Rio de Janeiro e, ao retornarem, preparam um grupo de alunos. O jogo-exibição foi realizado no aniversário da ETFM, a 23 de setembro, na quadra interna. - O Prof. José Geraldo de Mendonça participou dessa apresentação e deu o seguinte depoimento: “... a primeira exibição de Handebol no Maranhão foi realizada na quadra da Escola Técnica em 1960, por dois grupos de atletas que o prof. Braga treinou, no dia 23 de setembro. Prof. Braga foi participar de um treinamento de professores das Escolas Técnicas fora do estado e quando veio trouxe uma bola de handebol, selecionou dois grupos de atletas alunos dele de educação física. Marcou na quadra interna aqui onde hoje é o prédio grande, com esparadrapo no chão as áreas de gol do handebol e fez no dia 23 de setembro uma exibição; até então era desconhecido no Maranhão, mas só ficou nisso; ele trouxe a idéia, treinou dois grupos de educação física, e no dia 23 de setembro... eu estava nesse grupo; lembro, Edil (Edir Muniz, sobrinho do Prof. Braga); Edir (Carvalho) estava, é de Codó, Braga é de Codó está entendendo; deixa eu me lembrar... não sei se Abdoram participou, mais Abdoram era do grupo, Abdoram, Frazão, deixa eu me lembrar quem mais era do nosso grupo aqui, parece que Walmir também estava, Walmir, da mecânica, não... Valderez, não era metido a esportista, Valderez não gostava metido a esportista aqui nessa época era eu e Eldir nós éramos quem vibrávamos com esse tipo de coisa...Me parece que o Macário (da Costa) também era deste grupo” (in Entrevistas) 1967 – é ministrado um curso - através de convênio entre os estados do Maranhão e São Paulo -, pelo Prof. Nelson Gomes da Silva, com 120 horas de duração, com uma turma de 25 candidatos. Após o término do curso, foi realizado um jogo de Handebol entre os participantes. De acordo com o Prof. José Maranhão Penha, foi o primeiro jogo disputado no Maranhão, na modalidade. Participantes do curso: Ana Rosa de Souza Silva; Benedita Duailibe; Clarice Barros Rosa; Dinorah Pacheco Muniz; Elena da Conceição Pereira; Florileia Tomasia de Araújo; Felicidade Mendes de S. Nascimento; Ivete D´Aquino Castro;Ivone da Costa Reis; Julio Elias Pereira (major Julio); Maria José Reis Maciel; Maria das Grças R. Pereira; Maria da Conceição Sá Melo; Maria da Glória Castro Fernandes; Maria de Jesus Carvalho de Brito; Maria do Rosário Silva Maia; Maria do Rosário Silva; Maria da Conceição Santos Souza; Neide Moerira da Silva; Odinéia Trompa Falocão; Pedro Ribeiro Sobrinho; Reginaldo Heluy; Sebastiana de Carvalho Pires; Sonia Maria dos Santos Resende. - O Estado do Maranhão, 17 de setembro: PROFESSOR PAULISTA INTRODUZ O ‘HANDEBOL’ EM SÃO LUIS: Tivemos no dia 8 p.p., na abertura do I Campeonato Inter-Funcionalismo a primeira apresentação do HANDEBOL, por professoras de educação física, treinadas na temporada de atualização pedagógica: Iniciação ao handebol (processos pedagógicos) pelo prof. Nelson G. da Silva, da equipe paulista. O handebol é um esporte alemão, criado logo após a 1ª grande guerra mundial. Popularizou-se em toda Alemanha, principalmente no meio estudantil, onde adotaram por suas características principais de velocidade, energia, habilidade e, em uma palavra, pelo seu valor educativo. Pelo impulso dado na Alemanha, pela sua crescente popularidade, incluiu-se no programa dos Jogos Olimpicos de Berlim. O Handebol pode ser praticado tanto em campo como em salão, sendo por este ultimo vem encontrando maior aceitação, dada a maior velocidade empregada e a constante sensação de gol que se lhe oferece. Na Europa é praticado por diversos países, principalmente: Alemanha, Suécia, Dinamarca, Checoslovaquia, Romenia, etc. Dentre estes países é na Alemanha que vem encontrando maior numero de praticantes de handebol, existindo cerca de 400.000 praticantes.


No Brasil, vem se desenvolvendo lentamente, mas de maneira segura, sendo S. Paulo o berço de sua prática, desde fevereiro de 1940, quando se fundou a Federação Paulista de handebol. Que estas professoras, juntamente com o professor Nelson Gomes da Silva, mantenham vivo o entusiasmo demonstrado nesta primeira apresentação e difundam este belo esporte para nosso enriquecimento cultural e para que possamos cada dia mais orgulhar de nosso povo.

1970 – o Handebol já era disputado quando da realização do 3º. Campeonato Intercolegial, organizado pelo Serviço de Educação Física, Recreação e Esportes, sob a direção de Mary Santos. O Batista foi o campeão de Handebol (randebol); nas demais modalidades disputadas: Liceu Maranhense (Basquetebol e Futebol de Salão); São Luís (Voleibol Masculino) e a Escola Normal (Voleibol Feminino). Os municípios cujas equipes foram campeãs de suas chaves são: Pedreiras, Esperantinópolis, Timon, Chapadinha, Itapecuru, Guimarães, Cururupu, Pinheiro, Peri-Mirim, Codó, Zé Doca, Colinas, Paço do Lumiar, Primeira Cruz, e Humberto de Campos. (Fonte: SANTOS, Mary. Educação (Crônicas). São Luís: SIOGE, 1988, p. 111-112) - Campeão estadual - Batista (Intercolegial) 1971 – ministrado outro curso, pelo Prof. Wilson Carlos dos Santos (segundo Maranhão, este curso foi em 1970; Laércio o dá como 1971);


- chega ao Maranhão o Professor piauiense Jamil de Miranda Gedeon Filho; veio ministrar um curso de atualização em Handebol; como conseqüência deste curso, o Handebol começou a ser difundido no Estado; o Prof. Jamil coordenou a modalidade de Handebol nos IV Jogos Intercolegias, tendo participado dessa competição 11 (onze) escolas da Capital: Liceu Maranhense, Escola Normal, Santa Teresa, Conceição de Maria, Cardoso Amorim, Nina Rodrigues, São Luís, Luis Viana, CEMA, SENAC, além de 82 (oitenta e dois) municípios do interior, dentre estes, Imperatriz, Balsas, Barra do Corda, Passagem Franca, Timon, Coroatá, Pedreiras, Bacabal, Santa Inês, Chapadinha, Itapecuru-Mirim, Humberto de Campos, Rosário, São José de Ribamar, Viana, Pinheiro, Carutapera, Guimarães; sendo que este último Município, foi o campeão feminino da competição. - realização do Primeiro Festival Esportivo da Juventude; idealizado por Cláudio Vaz dos Santos - Campeão Estadual – Batista (Festival Esportivo da Juventude) - ALVARO RIBEIRO PERDIGÃO NETO Integrou a primeira equipe de Handebol do Colégio Marista participante do FEJ de 71 e 72, goleiro das seleções Adultas de 74 e 76, goleiro do Litero em 76, 77 e 78, Campeão do primeiro Campeonato Maranhense masculino/76 por esta equipe, coordenador Esportivo e técnico de Handebol do Marista, Dom Bosco, além das seleções femininas do Jebs e Grêmio Litero Recreativo Português filiado na Federação em 1975 quando era dirigida por Laércio Elias Pereira. Foi Campeão Brasileiro Adulto em 1976; Presidente da Federação Maranhense de Handebol no período de 26/ novembro/ 87 com 07 Clubes filiados e entregou com 16, todos devidamente legalizados; um título de Campeão Brasileiro Juvenil Masculino sob comando do professor Viché; recebeu a Placa de Prata como vencedor do Prêmio Brahma de Esportes de 1990 pelo melhor desempenho entre as Federações do Estado; ao longo dos seus 2 mandatos realizou 75 competições e 3 cursos sobre arbitragem, também deixando 403 atletas registrados. Em 1991 a TV Difusora realizou 03 transmissões ao vivo de Campeonatos Maranhenses feitas por Biguá e a rádio Educadora duas transmissões dirigida pelo experiente Márcio Pinto. Em 1992 foram novamente 03 transmissões realizadas por Biguá todas do Ginásio Costa Rodrigues. 1972 – realização do 2º. FEJ; no Governo Pedro Neiva de Santana os Jogos Intercolegias foram substituídos pelos FEJ – Festival Esportivo da Juventude, criado por Cláudio Vaz dos Santos, que substituíra Mary Santos na direção dos esportes tanto no Município quanto no Estado; Cláudio Alemão contou com a colaboração de Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo – o Prof. Dimas; - foi ministrado um curso pelo MEC - antigo Curso de Suficiência, para formação de professores - em que o maranhense Ary Façanha de Sá era o Coordenador. Diversos professores e técnicos participaram desses cursos e foram dadas aulas das mais variadas modalidades esportivas. Um dos professores não veio e um antigo jogador de basquetebol - ex-seleção brasileira - ministrou as aulas de Handebol (Laércio afirma que esse curso pode ter sido dado antes deste ano). - Em outro curso, no Governo Nunes Freire, sendo Coordenador de Esportes Cláudio Vaz dos Santos, veio uma equipe do Rio de Janeiro com três professores para ensinar Basquete (Rui); Atletismo (José Teles da Conceição); e Handebol (um professor de nome Wilson (sic, Maranhão diz que esse professor esteve aqui em 1970, Laércio, em 1971). - credita-se a Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo, o Prof. Dimas, a introdução do Handebol no Maranhão, após assistir a modalidade nos JEB´s de Belo Horizonte, em 1971. Ao retornar a São Luís, começa a ensinar a modalidade e a introduz a partir dos II FEJ, idealizados por ele e Cláudio Vaz dos Santos, o Cláudio Alemão. - A segunda escola a praticar o Handebol, segundo essa versão, foi o Colégio Batista “Daniel De LaTouche”, do qual Dimas era professor, muito embora o Prof. Rubem Goulart (também professor da ETFM, nessa época) já houve feito uma apresentação da modalidade naquela escola. Logo a seguir, o Colégio Maranhense, dos irmãos Maristas (Dimas também era professor), e foi organizada uma Escolinha no Ginásio Costa Rodrigues. - Dimas é o grande responsável pelo desenvolvimento do Handebol do Maranhão, junto com Laércio Elias Pereira. - Campeão estadual - ETFM 1973 – o Prof. Laércio faz sua primeira visita ao Maranhão: tendo voltado da Olimpíada com vários cursos de Handebol e sendo treinador da General Motors EC, da Seleção Paulista Feminina que iria para os JEBs, e da Escola Superior de Educação Física de São Caetano; convidado a dar cursos pelo Brasil pela ODEFE, houve um circuito de cursos que incluía Maceió, São Luís e Manaus. Em São Luis, enquanto dava o curso, ajudava o Prof. Jamil Gedeon a treinar o time de Handebol que ia para os JEBs. Deu problema no curso de Manaus e o Cláudio Vaz pediu que ficasse treinando no tempo que estaria em Manaus – com essa demora em retorna a São Paulo, o seu auxiliar como técnico da seleção paulista foi efetivado... Depois, pediu para que acompanhasse a equipe


nos JEBs em Brasília. Acertou a ida para Brasília – pois o seu substituto o fez permanentemente -, conseguindo classificar a equipe para as quartas de finais; mas no dia que ia começar essa fase, o Basquete levou todos os atletas para jogar o Campeonato Brasileiro em Fortaleza; o Maranhão ficou em oitavo. - Quando da realização dos – agora - JEM´s, Laércio veio para arbitrar os jogos, tendo apitado uma memorável partida entre Batista e Marista, ambos treinadas pelo Prof. Dimas; Laércio trouxe um seu atleta da GM para auxilia-lo na arbitragem: Edivaldo Pereira, o Biguá,; além do Handebol, Biguá apitou várias outras modalidades. Terminado os JEM´s, Biguá se estabelece no Maranhão – primeiro, como atleta, a seguir como técnico, depois como jornalista e dirigente esportivo; acabou virando cidadão maranhense. 1974 – em janeiro, o Prof. Laércio Elias Pereira volta para morar no Maranhão; é estabelecida a “Missão” do Handebol, com a chegada posterior de Horácio e Viché (Vicente Calderoni Neto); o Projeto Handebol – a “Missão do Laércio” - foi estabelecida pelo Cláudio Vaz e apoiada pelo Secretário de Educação Magno Bacelar. - Além do Handebol, o objetivo era implantar um curso de Educação Física na então FESM (hoje, UEMA) sendo aprovada a Lei de no. 3489, de 10 de abril de 1974, que “cria a Escola Superior de Educação Física do Estado do Maranhão e dá outras providências”; foi publicada no Diário Oficial do Estado do Maranhão de 10 de maio de 1974 – ano LXVII, num. 88, pg. 1). - Dimas, compreendendo suas limitações na modalidade, se afasta, passando a dar todo o apoio aos “paulistas” que estavam chegando, e se dedicando a sua outra paixão, a Ginástica Olímpica. - É dessa época a grande rivalidade do Handebol Maranhense, era entre o Batista e a Escola Técnica (CEFET), nascida de um jogo entre o Batista - base da seleção maranhense que foi aos JEB's - e a Escola Técnica - no final dos JEM's. O primeiro técnico da ETFM foi Aldemir Carvalho de Mesquita, posto assumido depois pelo Prof. Juarez Alves de Sousa e a seguir, pelo Laércio Elias Pereira; com a sua saída assumiu a equipe o Prof. José Maranhão Penha. - O Maranhão participa do Campeonato Brasileiro Adulto Masculino, realizado em Fortaleza, conseguindo um terceiro lugar; com Álvaro Perdigão e Raimundo Nonato Vieira (Vieirinha) (goleiros); Luis Fernando Figueiredo, Vicente Calderoni Filho (Viché), Edivaldo Pereira da Silva (Biguá), Sebastião Sobrinho Pereira (Tião), Phillipe Moses Camarão (Phil), Rubem Goulart Filho (Rubinho), Manoel de Jesus Moraes, Antonio Luis Amaral Pereira, Joel Gomes da Silva, José Maria (Zeca); o técnico era Laércio Elias Pereira. - Além do Adulto Masculino, o Maranhão participa do Juvenil Feminino – o primeiro brasileiro – em São Paulo, contando com reforços do time da GM. - De acordo com ALVARO RIBEIRO PERDIGÃO NETO - na cidade de Fortaleza conseguimos o terceiro lugar, no ano de 76 conquistamos o título de Campeão Brasileiro no Rio de Janeiro. Tenho algumas anotações desses belos momentos, inclusive do período de nossos treinamentos realizados na praia do Olho D'água. Os trabalhos eram físicos, muita movimentação com bola ou seja, passes e recreativos, em momento algum houve colocação de traves para caracterizar realmente um jogo de Handebol. Pouco tempo depois do título, Laércio e o Cláudio Vaz organizaram um jogo de Handebol de campo disputado no Estádio Nhozinho Santos durante o intervalo da partida entre os times do Moto Clube e Sampaio Corrêa. As equipes foram compostas por 11 atletas de cada lado, também tinham os mesmos nomes. Nesse jogo, eu, fui goleiro do Moto e saímos com a vitória. 1975 – movimento para fundar a Federação Maranhense de Handebol – FMAH -, tendo como primeiro presidente Laércio Elias Pereira; a federação não era legalizada 1976 – agosto - a Federação Maranhense de Handebol convoca para treinamento visando o II Campeonato Brasileiro Adulto Masculino, Belo Horizonte - 2ª quinzena de outubro; Apresentação: Domingo, 8 de agosto de 1976 – 7:00 horas, Ginásio Charles Moritz: convocados os seguintes atletas: do SAMPAIO CORREA Futebol Clube - Luis Carlos Ribeiro – BOI; Sebastião Pereira Sobrinho – TIÃO; José MURILO; João DAMASCENO; Manoel de Jesus Moraes; José LOPES Neto; FERNANDO Souza; IVAN Soares Telles; do CLUBE RECREATIVO JAGUAREMA Francisco de ARRUDA; Louis Phillip Camarão – PHIL; Fernando Antonio Lima – TONHO; ALEXANDRE Nonato Moraes; José Castelo Branco – TADEU; do GRÊMIO LÍTERO RECREATIVO PORTUGUÊS - ALVARO Perdigão; LUIS FERNANDO Figueiredo; Vicente Calderoni Filho – VICHÉ; Luis Verônico DUGUEIRA; ANTONIO CARLOS Pereira; do MOTO CLUBE DE SÃO LUÍS - José Henrique Azevedo – MANGUEIRÃO; José GILSON Caldas; Rubem Teixeira Goulart – RUBINHO; José Carlos R Santos – BAGAGE; Antonio ZACHARIAS Castro; MARCIO Vasconcellos; do MARANHÃO ATLÉTICO CLUBE: JOEL Gomes Costa; LUIS HENRIQUE Neves; Sérgio Abreu – SERGIO ELÉTRICO; DEMERVAL Viana Pinheiro; Técnico: Laércio Elias Pereira.


- O Maranhão sagrou-se campeão do II CAMPEONATO BRASILEIRO DE HANDEBOL; a equipe era formada por: Luis Fernando, Mangueirão, Álvaro, Gilson, Rubinho, Ricardo, Joel, Moraes, Tião, Viché, e Ivan; o técnico foi o prof. Laércio Elias Pereira, tendo como auxiliar o Prof. José Maranhão Penha. O Prof.Laércio só pode chegar para os últimos jogos, e a equipe foi dirigida até então pelo prof. Maranhão. - principais clubes de handebol do Maranhão eram: Sampaio Correa FC, Clube Recreativo Jaguarema, Grêmio Literário Recreativo Português, Moto Clube e Maranhão Atlético Clube. 1977 – JEB´S – Brasília – Maranhão vice-campeão masculino e vice-campeão no feminino. - o Prof. Marco Antonio Gonçalves (Marcão), substitui o prof. Laércio na presidência da FMHA 1978 – JEB´S – João Pessoa-PB – 3º. Lugar masculino - Campeonato Brasileiro APAES – Natal-RN – Campeão Masculino 1979 – II Campeonato Brasileiro Juvenil de Handebol, realizado em São Luís – Maranhão. A equipe do Maranhão sagrou-se campeã brasileira, tendo como técnico, Vicente Calderone Filho, Viché.. - Phil Camarão é eleito presidente da FMHA 1980 – Lister Castelo Branco Leão funda a Federação de Handebol, no dia 18 de dezembro de 1980 e o seu primeiro mandato vai até 83; a segunda gestão vai 30 de janeiro de 83 até 30 de janeiro de 86.( Segundo Álvaro Perdigão) - Campeonato Brasileiro APAES – Curitiba-Pr – campeão masculino 1981 – JUB´S – São Luís-Ma – vice-campeão masculino; técnico: José Maranhão Penha - Campeonato Brasileiro entre FEBEM – Rio de Janeiro – Campeão Masculino - JEB´S – DF – 3º. Lugar masculino - Herberth Schalcher é eleito presidente da FMHA 1982 - Campeonato Brasileiro APAES – Belém – PA – campeão feminino - Lister Castelo Branco Leão é eleito presidente da FMHA, e vai exercer o mandato até 1987 1983 - Campeonato Brasileiro entre Colégios Batista – Rio de Janeiro –RJ – campeão masculino 1984 – Campeonato Brasileiro Intermaristas – Belém-PA – vice-campeão feminino 1985 – JEB´S – São Paulo – 3º. Lugar feminino 1986 – JEB´S – Vitória-ES – 3º. Lugar masculino - Campeonato Brasileiro Intermaristas – João Pessoa-PB – vice-campeão feminino 1988 – JEB´S – São Luís – MA – Campeão masculino - Campeonato Norte-Nordeste APAES – São Luis-MA – campão masculino e feminino - Campeonato Brasileiro APAES – Bauru-SP – campeão feminino - Campeonato Brasileiro Intermaristas – Fortaleza-CE – campeão masculino e feminino - Campeonato Brasileiro Intermaristas – São Luis-MA – campeão masculino e feminino - Álvaro Perdigão é eleito presidente da FMHA, 1989 1990 1991 – AA Alumar ou AD Girassol (?) 1992 – AA Alumar ou AD Girassol (?) 1993 – AA Alumar (?) 1994 – Moto Clube (?) 1995 – Moto Clube (?) 1996 – Moto Clube (?)


1997 – Moto Clube (?) 1998 – Moto Clube (?) 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 – Dom Bosco 2006 – Dom Bosco 2007 – Dom Bosco 2008 - FAMA 2009 - FAMA 2010 2011 2012 – Pinheirinho Handebol Clube 2013 – Pinheirinho Handebol Clube

Mirim Feminino (Primeira Divisão) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís)

2012 – 2013 2014 Masculino Adulto (Primeira Divisão) 2014 2013 – Uniceuma 2012 – CEUMA 2011 – CEUMA 2010 – Reinch/Proflab 2009 – Faculdade São Luis 2008 – Pinheirinho Handebol Clube – PHC 2007 – Reinch 2006 – Pinheirinho Handebol Clube – PHC 2005 – Pinheirinho Handebol Clube – PHC 2004 a 1999 – Desconhecidos OBSERVAÇÕES: 1 – Os titulos que contem (?) são de fontes duvidosas; 2 – Não encontrado os campeões dos anos 2004 a 1999 e de 1990 a 1975 ano de fundação da federação (Só oficializada em 1980).

Masculino de Areia Adulto (Primeira Divisão) 2006 2007 – Pinheirinho Handebol Clube – PHC 2008 – Reinch 2009 2010 – Faculdade São Luis 2011 –


2012 2013 Feminino de Areia Adulto (Primeira Divisão) 2006 2007 – Dom Bosco 2008 – São Luis 2009 – Não Houve 2010 – FAMA 2011 2012 2013 Areia Juvenil Masculino (Primeira Divisão) 2013 – RR Handebol Futuro-MA (São Luis) Areia Infantil Masculino (Primeira Divisão) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 2013 Areia Infantil Feminino (Primeira Divisão) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 2013 Juvenil Masculino (Primeira Divisão) 2011 – Upuon Açu 2012 2013 Junior Masculino (Primeira Divisão) 2009 – CAD 2010 2011 2012 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) ou Liceu 2013 – Junior Feminino (Primeira Divisão) 2012 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) ou Upaon Açú 2013 Cadete Masculino (Primeira Divisão) 2008 – Upuon Açu 2009 210 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 2013 Cadete Feminino (Primeira Divisão) 2011 – AESF 2012 – 2013 -


Infantil Masculino (Primeira Divisão) 2009 – Upaon-Açu 2010 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) Infantil Feminino (Primeira Divisão) 2007 – Colégio EFRAIM 2008 – Colégio EFRAIM 2009 – Colégio EFRAIM 2010 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 2013 Mirim Masculino (Primeira Divisão) 2010 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 – 2013


OUTRAS CIDADES

BREJO DOS ANAPURUS 1988 – os principais esportes praticados no Município são: Futebol de Campo, Futebol de Salão (Futsal), Handebol, baralho e damas; os times de Futebol de campo existentes são América, Brejo Esporte Clube, Gonçalves Dias, Ipiranga, São Paulo, Halley, e AABB.

MATA ROMA 1988 – os principais esportes praticados são: futebol, futsal, handebol (masculino e feminino), e jogo de baralho. Entre os times existentes, destacam-se: Ideal Sport Club, Palmeiras, Vasco, Cruzeiro, Botafogo, Santa Rita Futebol Clube, Juventude Sport Clube, Ginazinho e Unidade Bandeirantes (estes dois últimos femininos).

GUIMARÃES Altamira Costa Nascimento Goulart; Delciane Santos Silva; Maria Inês da Glória F. Coelho; Marinalva Silva

1979 – Alguns professores participam de um curso em São Luís, promovido pela então Secretaria de Desportos e Lazer – SEDEL -; quando do retorno o Handebol foi introduzido nas escolas pelos professores Rui Moreira, Isabel Pinheiro e Cláudio Tonio. 1981 – realização da I Mini-Olimpíada, com a disputa de várias modalidades esportivas, dentre as quais o Handebol; a equipe campeã foi a da 2ª. série da ensino médio, com as seguintes jogadoras: Laurenice (goleira); Carmenilde, Niridalva, Almerinda, Joana Costa, Maria José Pimenta, Dinorah, e o técnico foi Rui Moreira. 1987 – realizado os Jogos Olímpicos Vimarenses, como seguimento da Mini-Olimpíada (1981), disputadas várias modalidades esportivas, dentre elas, o Handebol; esses jogos foram realizados pela Comissão Municipal de Desportos e Lazer – Comdel -, pelos professores Aelson de Jesus Martins, José Maria Mondego, João Raimundo Costa Pontes, Joselita Pereira Sousa, Carmenilde Coimbra, Valdemir Pestana 2005 – o Handebol é praticado apenas nas escolas de Ensino Fundamental e Médio Fonte: AGUIAR, Alibel Francisco Mondego; COIMBRA, Carmenilde; PONTES, João Raimundo Costa. ENTREVISTAS


HANDEBOL DE AREIA ORIGEM - O Handebol de areia deu seus primeiros passos nas praias brasileiras, como uma adaptação do esporte voltada a recreação, mas voltou à Europa para suas primeiras competições oficiais, realizadas na costa italiana nos anos 1990, na praia de Giulianova, onde surgiram os primeiros times.

DEFINIÇÃO E REGRAS - O handebol de areia ou handebol de praia é um jogo em que duas equipes trocam passes de bola, tentando marcar gols na equipe adversária. O jogo é similiar ao (h)andebol, mas é jogado em um campo de areia ao invés de uma quadra convencional. É regulamentado pela Federação Internacional de Handebol (IHF). Uma das diferenças para o (h)andebol convencional é que o jogo é realizado em dois tempos de dez minutos cada, e cada equipe possui 4 jogadores titulares, sendo 3 jogadores de linha e 1 goleiro, e até 4 reservas. Dimensões do campo -O campo é um retângulo de 27mx12m, tendo em cada uma das extremidades do comprimento uma área de 6 m reservada aos goleiros. As traves devem medir 2x3m (altura x largura) e os postes devem ter 8 cm de espessura. Eventos importantes O Campeonato Mundial de Beach Handball é o principal evento da modalidade. Há também os Jogos Mundiais, um evento poliesportivo em que são disputados somente esportes não olímpicos (mas reconhecidos pelo COI), sendo o (h)andebol de areia um deles. Não se sabe exatamente e quando se originou este esporte, mas de forma mais ou menos unânime, todos concordam ter sido em Itália por volta do ano 1993. Com o voleibol de praia, rugby de praia, e outros esportes que acabaram por ser adaptados o handebol acabou por seguir o mesmo caminho. Foi algo que surgiu naturalmente e apenas com o intuito de expandir a modalidade e se puder jogar com os amigos enquanto se esta na praia. Atualmente o esporte é totalmente regulamentado e está sobre a tutela da Federação Internacional de Handebol. http://sportsregras.com/handebol-praia-areia-historia-regras/ COMPETIÇÕES Existem várias competições já, desde as ligas nacionais até ao Campeonato Mundial de Beach Handball. Apesar de não ser esporte Olímpico, ele figura como uma das modalidades dos Jogos Mundiais, que é uma competição composta por diversos esportes que não são Olímpicos. CARATERÍSTICAS DO HANDEBOL DE PRAIA Agora vamos ver quais são as caraterísticas e fundamentos do handebol de praia e destacar as diferenças que tem do handebol tradicional. O jogo é composto por duas equipas, as quais jogam durante 2 partes de 10 minutos cada. Ganha quem tiver marcado mais golos. Se o jogo tiver empatado então é jogada mais 1 parte de 10 minutos. Se mesmo assim não se resolver, o jogo vai para lances de 6 metros (idêntico ás grandes penalidades do futebol.) QUADRA A quadra deve ter como medidas 12 metros de largura por 27 metros de comprimento. Ela é dividida por várias linhas como pode ver na imagem abaixo. Deve ter pelo menos 40 centímetros de profundidade de areia (por vezes não se joga na praia, mas sim em campos artificiais, usado mais em competições internacionais). EQUIPAS As equipas devem ser compostas por 8 elementos de máximo (não podendo ter menos de 6 elementos). No campo jogam 4 jogadores de cada equipa, sendo que 3 deles são jogadores de campo e 1 é o goleiro/guardaredes. O goleiro pode sair da sua área e jogar como jogador de campo desde que não saia da sua área com a bola nas mãos. As substituições são ilimitadas e devem ser feitas na linha lateral no meio campo, junto á mesa dos Oficiais de Mesa. Se for substituição do goleiro por um goleiro avançado (funciona como um 4º jogador de campo) já pode ser feita na linha de fundo junto da baliza e o outro jogador deve usar um colete ou camisola de cor diferente. BOLA E UNIFORMES Bola A bola deve ter de borracha antiderrapante. Para os homens, a bola deve pesar cerca de 360g e medir 17,5cm de diâmetro. Já para as mulheres a bola deve pesar cerca de 290g e medir cerca de 16,5cm de diâmetro. Para os escalões mais novos o tamanho e peso da bola também podem variar. Uniformes Os homens devem usar calção e t-shirt, as mulheres devem usar calção e top. Os jogadores devem jogar descalços, mas é permitido jogarem de meias ou com bandagens. GOLO NO HANDEBOL DE PRAIA É considerado golo cada vez que a bola ultrapassar a linha de golo entre os postes da baliza. Esse golo irá valer 1 ponto. Existem casos onde há bonificações, tais como: Se o goleiro marcar golo enquanto esta fora da sua área, vale +1 ponto; Se o goleiro marcar golo e estiver na sua área, vale +2 pontos; Se o golo for marcado de livre de 6 metros, vale +1 ponto; BOLAS PARADAS Existem diferentes tipos de bolas paradas, sendo que se parecem bastante com o do handebol tradicional. CANTO É canto sempre que a bola sair pela linha de fundo adversária e o ultimo jogador a tocar na bola for também da equipa adversária (em exceção ao goleiro). Este é marcado na interseção da linha de 6 metros com a linha lateral no lado em que a bola saiu.


LANÇAMENTO LATERAL O lançamento lateral é efetuado quando a bola sai pela linha lateral, sendo que este pertence á equipa inversa ao jogador que tocou em ultimo pela bola. Ele deve ser feito na linha lateral no local onde saiu a bola. Se foi para lá da linha dos 6 metros, então deve se efetuar no mesmo local do canto. LANCE LIVRE Após a infração de alguma regra, o time adversário ganha um Lance livre, e este deverá ser cobrado no local em que foi realizada a falta. Durante a cobrança os jogadores de defesa devem estar no mínimo de um metro de distância da cobrança e alinhados na linha de 6 metros. LANCE DE 6 METROS Assim como no handebol de quadra, o lance de seis metros acontece sempre que um jogador sofrer uma falta grave. Na cobrança o atleta não deve tocar ou cruzar a linha da área do gol até o arremesso da bola. O goleiro e os outros jogadores devem manter-se a uma distância mínima de 1 metro do arremessador. Se um gol for marcado em uma cobrança de 6 metros, o time é bonificado com um ponto extra. http://sportsregras.com/handebol-praia-areia-historia-regras/ 1994 - após participar do XXV Congresso da IHF realizado em Amsterdã na Holanda, o Prof. Manoel Luiz Oliveira apresentou a variação da modalidade ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro), sugerindo sua inclusão no Festival Olímpico de Verão em 1995, e teve sua proposta aceita. Com apenas um ano para organizar sua primeira competição internacional de handebol de areia, o Brasil convidou as duas nações pioneiras, Holanda e Itália, além de Portugal, e como os holandeses não puderam vir, os argentinos foram convidados para substituí-los. Já para formar a primeira equipe brazuca, foram convocados atletas oriundos do Handebol de quadra de clubes do Rio de Janeiro e São Paulo, que seriam treinados pelos professores William Felipe e Leoni Nascimento, supervisor e técnico, respectivamente, enquanto técnicos, árbitros e jogadores passaram a receber cursos e treinamentos de profissionais estrangeiros como a técnica italiana Simoneta Montani e os árbitros Piero Di Piero e Gampiero Masi. Como resultado a Seleção Brasileira foi campeã do Torneio de Beach Handball do Festival Olímpico de Verão, realizado entre 24 e 26 de janeiro de 1995, no Rio de Janeiro. NO MARANHÃO 1976 - De acordo com ALVARO RIBEIRO PERDIGÃO NETO - na preparação para o Campeão Brasileiro no Rio de Janeiro, em 1976 do período de treinamentos, realizados na praia do Olho D'água. Os trabalhos eram físicos, muita movimentação com bola ou seja, passes e recreativos, em momento algum houve colocação de traves para caracterizar realmente um jogo de Handebol. Pouco tempo depois do título, Laércio e o Cláudio Vaz organizaram um jogo de Handebol de campo disputado no Estádio Nhozinho Santos durante o intervalo da partida entre os times do Moto Clube e Sampaio Corrêa. As equipes foram compostas por 11 atletas de cada lado, também tinham os mesmos nomes. Nesse jogo, eu, fui goleiro do Moto e saímos com a vitória. 1988 - Alvaro Ribeiro Perdigão Neto, falando sobre o Handebol de Praia, durante sua gestão à frente da Federação Maranhense de Handebol, realizou o primeiro Campeonato de Handebol de Praia, com 7 jogadores de cada lado; o segundo em 89, o terceiro em 90 e o quarto em 91. 1990 – foi incluída essa modalidade nos jogos de Verão do Calhau, promovido pela Mira Esportes.

Masculino de Areia Adulto (Primeira Divisão) 2006 2007 – Pinheirinho Handebol Clube – PHC 2008 – Reinch 2009 – 2010 – Faculdade São Luis2011 – 2012 2013 Feminino de Areia Adulto (Primeira Divisão) 2006 2007 – Dom Bosco 2008 – São Luis 2009 – Não Houve 2010 – FAMA 2011 2012 2013


Areia Juvenil Masculino (Primeira Divisão) 2013 – RR Handebol Futuro-MA (São Luis) Areia Infantil Masculino (Primeira Divisão) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 2013 Areia Infantil Feminino (Primeira Divisão) 2011 – BG HC – Barbosa de Godóis Handebol Clube (São Luís) 2012 2013


JIU-JITSU BRASILEIRO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

JU-JUTSU TRADICIONAL. Definição = Koryu são as artes marciais tradicionais originalmente criadas para o uso nos campos de batalha pelos samurais. Seu objetivo de criação foi a eficiência em combate pois os guerreiros precisavam de um estilo infalível afinal eram suas vidas que estavam em jogo. Por isso, os estilos pertencentes a essa categoria são perceptivelmente mais rígidos e geralmente visam pontos vitais e formas eficazes de derrotar o oponente, predominantemente por meio da provocação de dor que cause uma reação imediata no individuo assim havendo tempo para a realização da técnica. Essas técnicas precisam de agilidade, ma ai e timming bem condicionados. São freqüentes em Koryu técnicas que se de fato efetuadas causariam quebramentos, levariam a inconsciência, danificariam as articulações ou ainda resultariam na morte do Uke. Esse é mesmo o propósito do Koryu, é muito mais agressivo e visa o condicionamento do praticante para que ele saiba também usar as técnicas em situações empíricas. Um koryu (ko-antigo, ryu-escola) deve se enquadrar nos itens abaixo: koryu deve ser uma arte datada de antes da restauração Meiji (1868) 1) O koryu deve conseguir provar ser desse escopo temporal através de documentação; 2) O koryu deve ter suas características didáticas tradicionais preservadas. 3)O koryu deve ter sido criado pela classe guerreira (bushi). Dragger explica isso em seus trabalhos sobre Bujutsu antigo e moderno; 1; Ausência de faixas 2. Sem Sparring, apenas Kata. 3. Treinando para a batalha . Todos os Bujutsu tradicionais tinham como meta matar alguém para defender ou tomar um território, ou lutar em uma grande batalha. (Elton Silva). ORIGENS Quero acreditar que o Jiu-jitsu deve ter sido apresentado aos sócios do Fabril Athetic Club (fundado em 1907) pelo escritor Aluísio Azevedo. Ao abandonar as carreiras de caricaturista e de escritor, abraça a carreira pública em busca de sobrevivência como funcionário concursado do Ministério de Relações Exteriores. Torna-se cônsul, servindo por quase três anos no Japão, entre setembro de 1897 a 1899, na cidade de Yokohama, onde deve ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar Tênis e Futebol, quando de sua estada na Inglaterra. 1908 Informa MARTINS (1989) que Nhozinho Santos, em 1908, implanta mais duas modalidades esportivas no FAC: o Tiro, com inscrição na Confederação Brasileira de Tiro; e o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos. (MARTINS, Djard Ramos. MERGULHO NO TEMPO. São Luís: Sioge, 1989; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 8º, Ponta Grossa, UEPG... Coletâneas ... disponível em CD-ROOM, novembro de 2002. 1909 Em “A Pacotilha”, São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo “JIU-JITZÚ” certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espirito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão. Ha alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a platéia daquela casa de diversões com a sua agilidade indiscritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a platéia a medir forças com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na platéia um conhecido "malandrão". Feito o desafio, o "camarada" não teve duvidas em aceitar, subindo ao palco. Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês "escreveu" diante do campeão, "mingou" abaixo do "cabra"; este assentou-lhe a testa que o japones andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou-se, quis virar "bicho", mas o brasileiro, que não tinha nada de "paca" foi queimando o grosso de tal maneira que a policia teve que


intervir para evitar ... o japonês. 'A Folha do Dia' narra o seguinte: 'Diversos freqüentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Cyriaco Francisco da Silva, dizendo-se o mesmo senhor vencido o jogador japonês que se exibe atualmente naquela cada de diversão. O Sr. Cyriaco é brasileiro, trabalhador no comercio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando-lhe um "rabo de arraia" formidável, que no primeiro assalto o prostrou. O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta. Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu-jitzu a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair. GAZETA DE NOTÍCIAS, 18 DE ABRIL DE 1909


GAZETA DE NOTÍCIAS, 19 DE ABRIL DE 1909

GAZETA DE NOTÍCIAS, 26 DE ABRIL DE 1909

1910 “A Pacotilha” - de 18 de abril, segunda feira, no. 90 consta noticia de que o “Fabril Athletic Club” – FAC - estava preparando uma jornada esportiva para recepcionar ao Barão de Rio Branco, em visita à São Luís. Em nota do final da noticia é informado que: "Tem funcionado neste clube aos domingos pela manhã, um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia."


- 13 associados do Fabril Athetic Club – FAC - se desligam dessa agremiação pensando na formação de outra, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o ONZE MARANHENSE, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins.

1918 27 de abril, O Jornal

1946 – Jornal O COMBATE – 6 DE AGOSTO


BOX

JIU-JITSU, JUJUTSU, OU JUDÔ: O QUE SE PRATICAVA EM SÃO LUIS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Tenho escrito sobre a memória do esporte moderno no Maranhão. Dentre as modalidades implantadas consta, a partir da primeira década dos 1900, o ‘jiu-jitsu”. Inúmeras referencias se apresentam em nossa imprensa escrita da época, até os anos 1960. Esta é como a da introdução do Judô no Maranhão, por membros da família Leite – considerados oficialmente como seus precursores. O que vimos contestando. Durval Paraíso, durante evento de arbitragem ocorrido no ano de 1980 - e por mim idealizado e coordenado -, afirmava que desde os anos 30 já se praticava Judô e que ele era um desses praticantes. Encontramos nos anos 40, 50, e 60 registro de sua participação em eventos de “luta - livre”, que ocorriam na cidade, com desafios entre praticantes de artes marciais e boxe.

Durval Paraíso, Jorge Saito, Paulo Leite, Fernando Pereira, Adalberto Leite, Bernardo Leite, Agachados: Geraldão, Serrinha, Carlos e Olivar Leite Filho.

1980 – realizada uma Clinica de Arbitragem de Judô, promovida pela Confederação Brasileira de Judô, Federação Maranhense de Judô, e a Secretaria de Esportes e Lazer, no período de 21 a 26 de outubro; a Clínica foi ministrada pelos professores Avany Nunes de Magalhães e Antonio Oliveira Costa, e coordenada pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Essa Clínica visou formar o primeiro quadro oficial de árbitros da FMJ. Na ocasião foi prestada homenagem a Durval Paraíso, o mais antigo judoca em atuação no Maranhão; começou a praticar judô ainda na década de 1930. 46

46

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (org.) Atlas do Esporte no Maranhão – Judô, disponível em http://novo.cev.org.br/biblioteca/judo-5/ .


Servimo-nos da Wikipédia para estabelecer a memória dessas artes marciais, aparecidas no Maranhão. O “The Kodokan Institute”, e conhecido em português como “Kodokan” Instituto do Caminho da Fraternidade foi a primeira escola de judô, fundada no Japão, por Jigoro Kano, em 188247. O Judô teve uma grande aceitação em todo o mundo, pois Kano conseguiu reunir a essência dos principais estilos e escolas de jujitsu, arte marcial praticada pelos "bushi", ou cavaleiros, durante o período Kamakura (1185-1333), a outras artes de luta praticadas no Oriente e fundi-las numa única e básica.48. Foi só no final de 1886, após uma célebre competição, contra várias escolas de jujutsu, organizada pela polícia, que definitivamente ficou constatado o grande valor do judô kodokan. O resultado dessa jornada constituiu-se num marco decisivo na aceitação do judô, com o reconhecimento do povo e do governo que passaram oficialmente a prestigiar o judô kodokan. Depois da célebre ‘vitória de 1886’, como ficou conhecida, o judô kodokan começou a progredir com passos confiantes. A fórmula técnica do judô kodokan foi completada em 1887, enquanto a sua fase espiritual foi gradativamente elevada até a perfeição, aproximadamente, em 1922. Nesse ano, a Sociedade Cultural Kodokan foi inaugurada e um movimento social foi lançado, com base nos axiomas seryoku zen'yo (lit. máxima eficácia) e jita kyoei (lit. prosperidade e benefícios mútuos)49. Jigoro Kano, com a finalidade de iniciar uma campanha de divulgação do judô, no ocidente, em 1889, visita a Europa e os Estados Unidos da América, proferindo palestras e demonstrações. O Judô foi considerado desporto oficial no Japão nos finais do século XIX e a polícia nipônica introduziu-o nos seus treinos. O primeiro clube judoca na Europa foi o londrino Budokway (1918) 50. Em 1909, um fato marcante parecia devolver a hegemonia do judô à Kodokan. O governo japonês resolve tornar a Kodokan uma instituição pública, uma vez que a prática do judô estava tendo ótima aceitação. Nessa época o judô começava a ser introduzido em quase todas as nações civilizadas do mundo, todavia, no ocidente o termo ‘jujutsu’ ainda era empregado, embora o nome Jigoro Kano fosse citado. Quero acreditar que o Jiu-jitsu – ou o kodokan, ou o jujutsu - devem ter sido apresentados aos sócios do FAC - Fabril Athetic Club51 - pelo escritor Aluísio Azevedo. Ao abandonar as carreiras de caricaturista e de escritor, abraça a carreira pública em busca de 47

https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodokan https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4 . 49 https://pt.wikipedia.org/wiki/Kodokan 50 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jud%C3%B4 . 51 Clube fundado em 1907 por Nhozinho Santos 48


sobrevivência como funcionário concursado do Ministério de Relações Exteriores; tornase Cônsul, servindo por quase três anos no Japão - entre setembro de 1897 a 1899 -, na cidade de Yokohama, onde deve ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar Tênis e Futebol, quando de sua estada na Inglaterra. Informa MARTINS (1989) que Nhozinho Santos, em 1908, implanta mais duas modalidades esportivas no FAC: o Tiro, com inscrição na Confederação Brasileira de Tiro; e o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos52. Em “A Pacotilha”, São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo “JIU-JITZÚ” - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão.

Gazeta de Notícias, abril de 1909 – anuncio publicado várias vezes

“A Pacotilha” - de 18 de abril de 1910, segunda feira, no. 90 -, noticia de que o “Fabril Athletic Club” – FAC - estava preparando uma jornada esportiva para recepcionar ao Barão de Rio Branco, em visita à São Luís. Em nota do final da noticia é informado que: "Tem funcionado neste clube aos domingos pela manhã, um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia." Nesse mesmo ano, 13 associados do Fabril Athetic Club – FAC - se desligam dessa agremiação pensando na formação de outra, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o “ONZE MARANHENSE”, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, 52

MARTINS, Djard Ramos. MERGULHO NO TEMPO. São Luís: Sioge, 1989; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 8º, Ponta Grossa, UEPG... Coletâneas ... disponível em CD-ROOM, novembro de 2002.


e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins. Consta que o “Jiu-jitsu” foi introduzido no Brasil, oficialmente, por Mitsuyo Maeda, "Conde Koma" -, por volta de 1914. Nunes e Rubio (2012) trazem que: O Judô é uma modalidade esportiva de origem japonesa que chegou ao Brasil no século passado e que hoje em dia é praticado por cerca de dois milhões de pessoas. A introdução do judô no Brasil ocorreu, principalmente, a partir dos imigrantes japoneses. Os primeiros chegaram oficialmente com Kasato Maru53, em 1908. Entretanto os imigrantes japoneses vieram para o Brasil com o objetivo precípuo de fazer fortuna e retornar para sua terra natal. A prática do judô na colônia japonesa era uma das formas de manutenção de sua cultura e diversão que, somente aos poucos, foi permitida aos brasileiros- natos. Outra versão para o início dessa modalidade é a chegada dos primeiros professores-lutadores54, com o intuito de difundir esta prática no país. Dois deles, Mitsuyo Maeda e Soishiro Satake eram representantes da Kodokan55, contemporâneos em sua iniciação na escola de Jigoro Kano. Ambos chegaram ao Brasil em 14 de novembro de 1914, tendo entrado no país por Porto Alegre. Em 18 de dezembro de 1915, a trupe de lutadores chegou a Manaus, o grupo era composto ainda por Laku e Shimisu. Antes disso os lutadores rodaram o Brasil em demonstrações e desafios. Posteriormente Conde Koma, ou Eisei Mitsuyo Maeda radicou-se em Belém do Pará, enquanto Satake ficou em Manaus (ASARI & TSUKAMOTO, 200856; FRANCHINI & DORNELLES, 200557; NUNES, KOSSMANN & SCHAMES, 200558). Em 1915, o Conde Koma - em viagem de exibição pelo Brasil para divulgar sua arte -, e a caminho de Belém (novembro daquele ano), passou por São Luís e fez algumas exibições. O Conde Koma, em 1915, apresentava-se em São Luis – onde passou cerca de três meses59:

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Nome do primeiro navio de imigrantes japoneses a chegar ao Porto de Santos, em 1908. Em 1914 chegaram ao Brasil Mitsuyo Maeda, Soishiro Satake, Laku, Shimitsu e Okura. 55 Escola criada por Jigoro Kano para desenvolver o judô, o termo significa escola para desenvolver o caminho. 56 ASARI, A.Y.; TSUKAMOTO, R.Y. Da terra do sol nascente ás terras férteis do Paraná: territorialização e organização social de nikkeys. In: SAKURAI, C. et al. (Orgs.). Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. 57 FRANCHINI, E.; DORNELES, A.G. Judô. In: Da COSTA, L.P.; MIRAGUAYA, A. Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005. 58 NUNES, A.V.; KOSSMANN, F.T.; SCHAMES, M. Judô no Rio Grande do Sul. In: MAZO, G.Z. (Org.). Atlas do esporte no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: [S.l.], 2005. 59 PACOTILHA, 09 e 10 de dezembro de 1915 54


PACOTILHA, 09 e 10 de dezembro de 1915 60

De acordo com Elton Silva , Koma sempre praticou Judô Kodokan, o termo "Jiu-Jitsu" é genérico e usado por todos os japoneses fora do Japão, incluindo Kano. O próprio Conde Koma falava isso abertamente na imprensa americana, onde existem dezenas de jornais onde ele explica isso. Sada Miako ficou instruindo militares e civis até 1912, quando foi exonerado da Marinha. Depois disso foi para a colônia japonesa em São Paulo e posteriormente deve ter voltado ao Japão. Os japoneses que deram continuidade ao ensino do "Jiu-Jitsu" no Brasil eram todos ligados ao método de Kano,

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SILVA, Elton. Correspondência pessoal, via facebook, 28/11/2017,com o autor, esclarecendo alguns termos e dúvidas. https://www.facebook.com/elton.judo/posts/1476521202429319?comment_id=1477134512367988&reply_comment_id=1477140 569034049&notif_id=1509214453043699&notif_t=feed_comment_reply


sendo oriundos ou não do Kodokan. Ainda esclarecendo mais, informa que Katsukuma Higashi, o 61 co-autor do livro “The Complete Kano Jiu-Jitsu” , esclarece: “Alguma confusão surgiu com o emprego do termo “Judô”. Para esclarecer, vou declarar que Judô é o termo selecionado pelo Professor Kano para descrever seu sistema mais precisamente que Jiu-Jitsu. Professor Kano é um dos líderes da educação no Japão. E é natural que ele deva velar pela palavra técnica que mais precisamente descreva seu sistema. Mas os japoneses geralmente ainda chamam pela popular nomenclatura Jiu-Jitsu”. Para Nunes e Rubio (2012), desde a criação da Kodokan, por Kano em 1882, diversas

escolas de jujutsu (“ryu”) aderiram ao Kodokan, inclusive no Brasil: [...] surgiu aqui uma nova escola, com ênfase na luta de solo e nos combates de vale-tudo, o Jiu-jítsu Brasileiro. Da mesma forma que o judô derivou das antigas escolas do jujutsu japonês, o jiu-jítsu brasileiro é uma derivação de uma escola mais antiga, o Judô ou, como era conhecido até a década de 40, Jiu-jitsu Kano (ARIMA, 190862; GRACIE, 200863; OIMATSU, 198464) Nunes e Rubio (2012) esclarecem: No caso de Maeda e Satake, o estilo era o Judô Kodokan. A transformação do antigo jiu-jitsu japonês em judô, ou jiu-jitsu Kano, foi ocorrendo aos poucos. Enquanto o jiu-jitsu era ensinado majoritariamente através de um processo visual e os resultados nos combates reais eram o principal objetivo, Kano propunha um método de ensino sistemático 65 66 com princípios que buscavam o aprimoramento da sociedade (CARR, 1993 ; CRAIG, 1995 ; 67 68 KANO, 1954, 1986, 2008b ; VINÍCIUS RUAS, comunicação pessoal, 2010) .

Já em Belém do Pará, o professor Koma passou a lecionar o verdadeiro Jiu Jitsu – diz-se -, a seu dileto aluno Carlos Gracie. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie foram os precursores do que hoje é chamado de Jiu Jitsu Brasileiro, de eficiência comprovada no mundo inteiro69, muito embora em “O livro proibido do Jiu-Jitsu” seu autor Marcial Serrano coloque dúvidas de que os Gracies foram alunos de Koma, quando da estada deste em Belém. Na realidade, foram alunos de um praticante ensinado por Koma, e depois, por Omori, em São Paulo, lá pelos anos 30... Em “O Jornal”, de 27 de abril de 1918, era anunciado o match de Box, com a participação dos campeões Jemy Smith, americano, e João Pedro, brasileiro (baiano). Terminado o jogo, seriam efetuados diversos encontros de jiu-jitsu, entre Jemy Smith e alguns rapazes. No ano de 1946, conforme destaque no jornal “O Combate”, de 6 de agosto, sob o título: “UM DELEGADO DE POLICIA MESTRE DE CAPOEIRA E ‘JIU-JITSU”– contraventores presos com ”cabeçadas’ e ‘rabos de arraia’ – Invadindo residência, o delegado de Alcântara atraca-se com os seus desafetos, armando verdadeiros “sururus”: Assim que assumiu a Delegacia de Alcântara, o delegado nomeado pelo Interventor Saturnino belo, resolveu por em prática uma idéia que há muito tempo vinha 61

The Complete Kano Jiu-Jitsu (Judo) (Inglês) Capa Comum – 11 jul 2016. por H. Irving Hancock (Autor), Katsukuma

Higashi (Autor). https://www.amazon.com.br/Complete-Kano-Jiu-Jitsu-Judo/dp/0486443434 62

ARIMA, S. Judo: japanese physical cultura, being a further exposition of jujitsu and similar arts. Tokyo: Mifsumura, 1908. GRACIE, R. Carlos Gracie: o criador de uma dinastia. Rio de Janeiro: Record, 2008. GRACIE, R.; DANAHER, J. Matering jujitsu. Champaign: Human Kinetics. 2003. 64 OIMATSU, S. The way of Seiryoku Zenyo - Jita kyoei and its instruction. Bulletin for the Scientifi c Study of kodokan Judo, Tokyo, n.6, p.3-8, 1984. 65 CARR, K.G. Making way: war, philosophy and sport in Japanese judo. Journal of Sport History, Los Angeles, v.20, n.2, p.167-88, 1993. 66 CRAIG, D. Japan’s ultimate martial art: jujitsu before 1882 the classical Japanese art of self-defense. Boston: Charles Tittle, 1995. 67 KANO, J. Energia mental e física: escritos do fundador do judô. Tradução Wagner Bull. São Paulo: Pensamento, 2008. KANO, J. Illustrated Kodokan Judo. Tokyo: Kodansha, 1954. KANO, J. Tokyo: Kodansha, 1986-1989. KANO, J.. Judô Kodokan. Tradução Wagner Bull. São Paulo: Cultrix, 2008. 68 RUAS, Vinicius. Comunicação pessoal, 2010. Vinícius Ruas Ferreira da Silva - Comunicação pessoal em entrevista concedida na região oceânica de Niterói, em 12/nov./2010. 69 www.pef.com.br/esportes/?e=jiu-jitsu. 63


acalentando carinhosamente. Convocou para uma reunião, o Prefeito, o escrivão da Coletoria Federal e o tabelião do 2º ofício. E expoz o seu plano, dizendo-lhes mais ou menos o seguinte: -- A nossa crise é de homens, mas de homens fortes. Precisamos – como diria Pittigrili – ser bastante fortes para quebrar a cara de 75%, do próximo. Querendo colaborar na grandeza de nosso paíz, cuja glória, um dia, se firmará pela capacidade física dos seus filhos., eu venho já de há muito tempo, me dedicando a um acurado estudo do ‘jiu-jitsu’, essa tradicional luta do Japão, cuja prática estimula os movimentos, dá agilidade e resistência ao corpo, proporcionando grandes capacidades de defesa e concorrendo para o nosso bem estar físico, moral e espiritual, pois o ju-do, como vulgarmente chamamos essa luta, assegura a confiança em nós mesmos... Os outros tres big olhavam, boquiabertos para o delegado ‘sportman’. E ele continuou sua explanação, afirmando que não tem fundamento a suposição de que o jin-jutsu (sic) foi trazido ao Japão por Chin-Gen-Pin e Chaen Yuan, da dinastia de Ming, na China. Explicou que os verdadeiros do ju-do, foram os japoneses, por intermédio do médico Akiuyama Shirobei, estabelecido em Nakasaki e que lhe deu o nome de “Yoskinriyu”, método que foi depois aperfeiçoado em Kusatsu por Yanagi Sekiaki Minamoto-noMassarati, pertencente à classe feudal da província de Kynshu. -- Se quizermos ser fortes – explicou o delegado – devemos aperfeiçoar os nossos conhecimentos sobre o ju-do. A força vence tudo, Conhecendo alguns golpes e contragolpes, seremos os donos desta terra. Ninguém ousará defrontar-se conosco. Querem aprender como é? E passando da teoria à prática, o delegado gritou para o escrivão: -- Isto aqui se chama “nagewaza”! e aplicou-lhe um brasileiríssimo ponta-pé no estomago! O prefeito arregalou os olhos e nem teve tempo de abrir a boca. O atlético delegado deu-lhe uma cabeçada bem maranhense, explicando: -- Isto é ‘haraigoshi’! O prefeito caiu desmaiado, por cima do escrivão, que continuava estendido no solo. Quanto ao tabelião, foi mais rápido. Defendeu-se de uma rasteira que o delegado dizia chamar-se ‘osotogari’, meteu-lhe o pescoço debaixo do braço e explicou, por sua vez: -- e isto aqui, chama-se ‘grampo’, meu filho! Sáe desse! Serenados os ânimos, o delegado, auxiliado pelo tabelião, tratou de fazer o prefeito e o escrivão recuperarem os sentidos, fazendo-lhes beber ‘água de lima’, método que ele chamou de ‘kwasei-ho’. E a reunião terminou ali mesmo. No dia seguinte, 29 de maio, dia de inicio da festa do Espirito Santo, saíram os quatro a percorrer a cidade, utilizando-se em todas as barracas do gostoso método “kwassei-ho”. De então para cá, segundo as noticiais que recebemos de Alcântara, o delegado ‘cisma’ com qualquer popular, não discute, nem hesita: Aproxima-se e diz: -- “Esteje preso, por infração! Si o ‘infrator’ pergunta o motivo, entram, então em prática os conhecimentos “judoisticos” da original autoridade, que com uma cabeçada e dois rabis de arraia estende por terra o adversário, intimando os presentes a conduzirem o preso para a cadeia. Assim aconteceu, há dias, quando ele invadiu a residência de um rapaz conhecido pelo nome de Antonio “Pirulico”, onde se travou uma luta espetacular, no decorrer da qual, em virtude dos ‘haraigoshi, e dos ‘nage-wasa do delegado, foram quebrados os potes, os alguidares, o espelho, cadeiras e a mesa do pobre rapaz. [...] E assim termina a ‘história’ do delegado de Alcântara, discípulo emérito do


método de ‘ju-do’, fundado pelo dr. Prof. Gigoro Kano e adotado pelo Kodohwan em Tóquio [...] No “Diário de São Luis”, edição de 1º de junho de 1949, era anunciado a realização de um festival esportivo em prol da igreja do Anil, com duas taças em disputa, e uma luta de jiu-jitsu, entre os desportistas Durval Paraíso e o Sargento Cirino. Na edição de 4 de junho, trata de uma “atraente tarde esportiva que se realizaria no estádio santa Izabel”:

Em 1949, conforme noticia o Diário de São Luis, edição de 13 de junho, seria aberta a temporada de lutas daquele ano. Nessa data seria fundada a Academia Maranhense de Pugilismo, e todas as lutas dali em diante seriam controladas pela novel entidade. Idealizada por Carlos Ribeiro, a diretoria era assim composta: Presidente de Honra: Cesar Aboud; Presidente: Diógenes Barbosa; Secretário: Durval Paraíso; Tesoureiro: Zilmar


Cruz; Diretor Técnico: Carlos Ribeiro; Diretor de Publicidade: José de Ribamar Bogea; Conselho Fiscal: Ivis Miguel Azar, João Silva, e Edmirson Viegas. Suplentes: Raimundo Gonçalves, Raimundo Francisco do nascimento, e Tácito José de Sousa. A abertura da temporada de 1949 iniciaria no mês de julho, com caráter solene, e contaria com lutas de jiu-jitsu livre, Box, etc. Na década de 1950, encontramos que Rubem Goulart mantinha uma ‘escolinha de judô’, no SESC. E que em 1952 anuncia a criação do Curso de Educação Física do AeroClube, conforme registro em PACOTILHA, quinta-feira, 24 de abril de 1952 p. 3; dentre os esportes a serem ensinados, consta judô e luta-livre. Em A PACOTILHA, quinta-feira, 24 de agosto de 1956, p.3, sob o título “TOLEDO DESAFIA BLACK PARA UM DUELO DE JUDÔ”, anunciando, para a próxima semana o confronto entre os campeões do Paraná e do Maranhão Lutadoras esperadas. Na próxima semana, os admiradores do pugilismo em nosso estado terão o ensejo de presenciar o primeiro duelo do judô. Toledo, o campeão maranhense vem de lançar um desafio a Black Maciron, campeão paranaense. Os que acompanham a temporada de Luta Livre e Vale Tudo, aguardam com vulgar interesse a resposta de Black DISPOSTO A VENCER Na manhã de hoje Toledo com pareceu à redação dos Diários Associados a fim de comunicar o seu desafio e também declarar aos nossos desportistas que está disposto a conquistar novo triunfo para as cores do Maranhão, no duelo do Judô. A 29 de agosto – “BLACK ACEITA O DESAFIO COM BOLSA”. O lutador paranaense aceita o desafio de uma luta de judô, desde que haja uma bolsa para o vencedor. Já na década de 1960, e de acordo com Antonio Matos – um dos maiores nomes do Judô maranhense, junto com Cláudio Vaz, Emílio Moreira, e James Adler – o Judô foi introduzido no Maranhão pela família Leite. Depois, surgiu o Major Vicente. O que é confirmado por Cláudio Vaz, que afirma que Paulo Leite já praticava Judô, em São Luís, antes da chegada do major Vicente.

Em 1966, PAULO LEITE funda a academia "JUDÔ CLUBE IRMÃOS LEITE"; sua primeira sede foi um salão nos altos do antigo Banco do Maranhão, na Rua da Estrela nº. 175 - Praia Grande; mudando-se depois para Rua Rio Branco nº. 276 - Centro. Após terminar o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Ceará, onde iniciou a prática do JUDÔ com o Professor Antonio Lima, retorna a São Luís e, como atleta sagrouse campeão em vários torneios e campeonatos no estado do Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, e São Paulo. Além de iniciar todos os seus irmãos na prática do JUDÔ, formou vários atletas, inclusive as primeiras mulheres judocas dentre elas sua esposa Margarida. Iniciou o JUDÔ nas escolas de São Luis, sendo pioneiro o Colégio Marista. Promoveu a vinda da


seleção Baiana de JUDÔ, evento este que lotou o Ginásio Costa Rodrigues, quando foi homenageado juntamente com o professor Lhofei Shiozawa (atual 2º vice presidente da CBJ - Confederação Brasileira de Judô), pelo também judoca da época, Cláudio Vaz dos Santos, o conhecido desportista "ALEMÃO".

Em 1968, Cláudio Vaz dos Santos – o Cláudio Alemão - retorna do Rio de Janeiro a São Luís, já como praticante de Judô. Com a chegada do Major Vicente é criada a academia “Samurai”, que funcionava atrás do Ginásio Costa Rodrigues; além de Cláudio, praticavam Marco Antonio Vieira da Silva, seu irmão Fabiano Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda. Cláudio Vaz perdeu dois campeonatos para Paulo Miranda. O judô só era defensivo, não valia pontos ofensivos, só valia a defesa, você sempre contra atacava, mas não valia o ataque, só valia a defesa. O Major Vicente permaneceu em São Luís por três anos, criando uma elite de judocas no Maranhão; esse trabalho durou de 68 até 70. Ainda nesse ano é criada a segunda escola de Judô em São Luís, no Clube Sírio Libanês, tendo como instrutor o Major Vicente, após a introdução da modalidade pelo Prof. Paulo Leite; faziam parte do grupo, além de Antonio Matos, Marco Antonio Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda, Sargento Leudo, Cláudio Vaz dos Santos, Francisco Camelo, Alberto Tavares, Gabriel Cunha, Durval Paraíso, Mestre Sapo – Anselmo Barnabé Rodrigues, o maior capoeirista que o Maranhão já teve. É em 1969 que a primeira seleção maranhense de Judô é formada, para disputar um Campeonato Brasileiro, em Brasília-DF; a equipe era formada por Antonio Matos, Paulo Juca Chaves Miranda. Sargento Leudo, e Francisco Camelo, técnico: Major Vicente.


No ano de 1970 com a transferência do Major Vicente para o Rio de Janeiro, o grupo já formado procurou trazer um professor no nível dele; foi quando Jorge Saito - campeão das Forças Armadas – foi trazido para o Maranhão.

Em resposta à indagação: o que se praticava em São Luis? Indaguei a Elton Silva70 podemos dizer, então, que o que se praticava, em São Luis, identificado como jiu-jitsu era o kodokan, hoje judo? Ao que respondeu: Se veio de Sada Miako ou de Conde Koma, sim. Não conheço ninguém até hoje que não tenha ensinado Kodokan Judô no Brasil. Nunes e Rubio (2012) também esclarecem a confusão de termos: A nomenclatura do que eles

ensinavam também é motivo de controvérsia. Quando a prática se referia as lutas de valetudo ou defesa pessoal era chamado de jiu-jitsu ou jujutsu e quando se referiam ao ensinamento das técnicas com objetivos de formação e mais adiante de competições denominavam judô71. O termo jiu-jitsu Kano, era uma das denominações encontrada até a criação das federações regionais (HANCOCK & HIGASHI,190572; KAWASE, SUGIHARA & UENO, 197973).

1950 – Jornal O Combate, São Luis, 20 de julho

70

SILVA, Elton. Correspondência pessoal, via facebook, 28/11/2017,com o autor, esclarecendo alguns termos e dúvidas. https://www.facebook.com/elton.judo/posts/1476521202429319?comment_id=1477134512367988&reply_comment_id=14771 40569034049&notif_id=1509214453043699&notif_t=feed_comment_reply 71 Vinícius Ruas Ferreira da Silva - Comunicação pessoal em entrevista concedida na região oceânica de Niterói, em 12/nov./2010. 72 HANCOCK, H.I.; HIGASHI, K. The complete Kano Jiu-Jitsu (Judo). New York: Dover, 2005. Originaly published: London/NewYork: G.P. Putnam’s Sons, 1905. 73

KAWASE, I.; SUGIHARA, M.; UENO, T. Nihongo: a pronúncia da lingua japonesa. Tokyo: The Japan Foundation, 1979.


1952 - Jornal O Combate, São Luis, 21 de março:

1956 – Jornal O Combate, São Luis


1957 - Jornal O Combate, SĂŁo Luis, 19 de janeiro

:


BOX 1914 O Jiu-jitsu foi introduzido no Brasil, oficialmente, por Mitsuyo Maeda, - "Conde Koma" -, por volta de 1914. Em 1915, o Conde Koma - em viagem de exibição pelo Brasil para divulgar sua arte -, e a caminho de Belém (novembro daquele ano), passou por São Luís e fez algumas exibições. Em Belém do Pará, o professor Koma passou a lecionar o verdadeiro Jiu Jitsu a seu dileto aluno Carlos Gracie. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie foram os precursores do que hoje é chamado de Jiu Jitsu Brasileiro, de eficiência comprovada no mundo inteiro (fonte: www.pef.com.br/esportes/?e=jiu-jitsu). 1925 Geo Omori fundou a primeira academia de Jiu Jitsu no Brasil, mas o esporte só se consolidou com a família Gracie. Como explicar que o Jiu-jitsu foi introduzido – no Brasil - em 1914/15, pelo Conde Koma, e que a primeira academia date de 1925, criada por Geo Omori se desde 1909 já era praticada no Rio de Janeiro – e consta que “o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros.” e, provavelmente desde 1908, e certamente desde 1910, em São Luís do Maranhão? Se em 18 de abril de 1910, segunda feira, em “A Pacotilha” de no. 90 consta noticia de que no “Fabril Athletic Club” – FAC – estava em funcionamento um “um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia” ?; E que também no “Onze Maranhense - fundado nesse mesmo ano de 1910, de uma dissidência do FAC -, desenvolveu-se, dentre outras atividades esportivas, a luta livre, introduzida por Álvaro Martins? segundo informa Dejard Ramos Martins?


1993 - O jiu-jitsu está presente no MMA desde o começo. Foi exatamente para provar sua eficácia num combate real, ou naquilo que esportivamente fosse mais próximo, que a Família Gracie, ao longo de todo o Século XX, promoveu desafios contra outras artes marciais, culminado no UFC 1, em 1993, nos EUA, idealizado por Rorion Gracie.


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.


CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Centro de Ensino Médio "Liceu Maranhense" Resumo Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura brasileira, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. A exemplo do que acontece em França, Itália, Espanha e Portugal, propõem-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. História Abstract Through the rescue and the registration of sportive cultural manifestations in bra\ilian literature, one tries to reconstruct the history of sport, leisure and physical education in Brazil. From the example of what happens in France, Italy, Spain and Portugalit is proposed to gather in our country, with the construction of a brazilian anthology of sport texts. Key-words: Physical Education. Sports. Literature. History. Introdução: Em 1994, o Ministério da Educação e do Desporto - MEC - constituiu Grupo de Trabalho (MEE/INDESP, 1996) para elaborar a aproximação conceitual de Esporte e Cultura, iniciando-se, no Brasil, uma discussão sobre “Esporte de Criação Nacional”. Com a identificação do problema conceitual, se fez necessário desenvolver a dissecação do título. No instante em que se separa a idéia “Esporte” de um lado e “Criação Nacional” de outro, percebe-se a possibilidade de um desdobramento fértil. Enquanto o “esporte” pode ser entendido como um jogo, uma brincadeira, uma dança, um ritual, etc., o atributo de “criação nacional” por sua vez, pode ser entendido como de “Criação Cultural”, ou com “Identidade Cultural” (SANTIN, 1996). SILVA (1987), ao levantar a questão da perda dos valores culturais e da identidade cultural, afirma que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística: “Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral. “Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado...”. (p. 20-21)


Considera, ainda, que a perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros, com o que concordam DIECKERT; KURZ & BRODTMANN (1985) quando afirmam que no Brasil deve haver uma educação física brasileira e critica o modelo internacional do esporte corporal do povo brasileiro, que possui a capoeira como uma das maiores riquezas, além de outros jogos, danças e ritmos. DIECKERT (1987) destaca ainda o quanto é importante que essas manifestações sejam resgatadas, para não se transformarem em peças de museu. Da mesma forma, Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA (1985), ao analisar um tipo de esporte baseado na cultura, enfatiza o significado dos jogos tradicionais das diversas formas de desporto popular e ainda das pequenas agremiações locais, que cedem lugar ao imperialismo do desporto-instituição, reprodutor e multiplicador das “taras do ter”. Para SILVA (1987), a perda desses valores levou a sociedade a explorar o corpo dos cidadãos como se fosse objeto e não sujeito, imprimindo-lhe gestos e movimentos ginástico-desportivos padronizados, reduzindo o acesso às danças e aos jogos da lúdica popular e resultando na perda da ludicidade, que deve ser compreendida como o estado de espírito que dispõe o homem a ser alegre e brincar livremente. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte e por lazer, dada a abrangência dos termos. Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980; SILVA, 1987; SANTIN, 1996; DAMASCENO, 1997). O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos: "Durante a realização dos Jogos, desaguavam em Olímpia tudo o que na Grécia havia de artístico, filosófico e desportivo. Os poetas escancaravam o que lhes medrava na alma, os sofistas dialogavam com auditórios eruditos e os atletas competiam entre sí. Enfim, arte, filosofia e desporto num conúbio que muito enriqueceu a literatura grega. Já Homero poetizara as corridas de carros, mas literatura centrada no desporto... foi Píndaro o primeiro" (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d: 9).

Depois dele, muitos outros. "E no gaiato tagarelar das ruas de Atenas, o desporto nascia como verdadeiro fenômeno cultural". Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna. VIEIRA E CUNHA & FEIO (s.d.) justificam a feitura de uma antologia portuguesa de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do senso-comum que se tem dessa manifestação, não se resume a "uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expresso apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura" (p. 7). Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; um meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um "fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana" (p. 8): "Ainda integrado na luta pela compreensão do desporto, permitimo-nos recordar que a Cultura Física é uma Ciência do Homem e como tal deve ser analisada, estudada, praticada, difundida e... defendida! Daí que, ao nível da interdisciplinaridade com outros ramos do saber, não seja demasiado encarecer quanto à educação física e os desportos dialecticamente se relacionam, quer com as outras Ciências do Homem, quer com as Ciências da Natureza e as Ciências LógicoDedutivas..." (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.: 8).


Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática desportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (FAVERO, 1994). A Atenas brasileira Na literatura dos viajantes, ABBEVILLE (1975:236) foi quem primeiro registrou, no Maranhão, as atividades dos primitivos habitantes da terra. Para esse autor é por não terem ambições materiais que os índios da Ilha do Maranhão têm na dança o primeiro e principal exercício; além da dança, têm como exercício a caça e a pesca. Já SPIX e MARTIUS afirmam serem os Jês hábeis nadadores, havendo o registro de serem também grandes corredores: "... timbiras de canela fina (corumecrãs)... famosos pela velocidade na corrida, esses índios enrolavam suas pernas com fios de algodão que acreditavam afinar-lhes as pernas e proporcionarlhes leveza para correr..." (citados por CALDEIRA, 1991:77-78).

A literatura maranhense tem início com o surgimento da imprensa. RAMOS (1986), escrevendo sobre o seu aparecimento no Maranhão registra, no período colonial, que "... jornalista era o magnífico João Tavares com sua 'Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão'...". No período imperial registra-se o aparecimento de inúmeros jornais políticos e literários, coletâneas de poesia e de peças teatrais, sendo publicados entre 1821 e 1860, 183 jornais (RAMOS, 1986, 1992), a grande maioria de caráter político. Os jornais com objetivo de recrear - de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo - foram: a "Folha Medicinal", de 1822; o "Minerva", de 1827; "A Bandarra", 1828. Apenas esses dois últimos, dos 21 jornais do período de 1821 a 1830 dedicaram-se a divulgar literatura. Alguns periódicos tiveram contribuições de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa (RAMOS, 1986). RAMOS (1992) ainda registra o aparecimento em 1831, do "Atalaia dos Caiporas"; em 1839, do "O Recreio dos Maranhenses”; 1840, de "A Revista"; "O Jornal Maranhense" aparece em 1841. Periódico oficial, trazia como epígrafe uma frase de Tímon: "a verdadeira educação de um Povo livre faz-se nos jornais". De 1842, são o "Museu Maranhense", " O Publicador Maranhense"; de 1845, o "Jornal de Instrução e Recreio",. "O Almazém"; de 1846, "O Arquivo Maranhense", contando com Gonçalves Dias, ainda jovem e interessado em teatro, dentre seus colaboradores. Escreveu em seu primeiro número: "Fiéis ao nosso programa, o nosso fim continua a ser - a Instrução e o Recreio -..." (RAMOS, 1992: 121). De 1849, a "Revista Universal Maranhense”. O "Jornal de Tímon", publicado em fascículos de 1852 a 1854, foi, no dizer de Viveiros de Castro (citado por RAMOS, 1992), "revista literária, de publicação mensal, na qual João Francisco Lisboa conquistou muito justamente a nomeada de um dos primeiros prosadores da língua portuguesa" (p. 189). Ainda desse ano de 1852, "A Marmotinha". Nos anos seguintes aparece "A Violeta" (1853); "O Botão de Ouro" e "A Sentinela" (1854); de 1855 é o "Diário do Maranhão"; em sua edição de 23.10.1855, número 41, é informado que "tivemos a satisfação de ler um novo jornal recreativo intitulado "A Saudade", dedicado ao belo sexo maranhense". (RAMOS, 1991: 213). De 1857 é "A Estrela da Tarde"; de 1858, o "Jornal do Comércio. O "Verdadeiro Marmota", jornal literário, foi saudado, em 1860, nestes termos elogiosos: "reaparece este interessante jornal, depois de ter por algum tempo, pela indolência e lassidão, que geralmente ataca os jornais recreativos nesta província..." (citado por RAMOS, 1992:237). Em 1860, contando com uma população de 35 mil pessoas, São Luís tinha matriculado em suas escolas primárias 2 mil rapazes e 400 moças e no secundário, 180. Esses poucos números mostram que era muito reduzido o número de pessoas que acediam à leitura. O ensino primário havia se desenvolvido desde a independência. Em 1838 é inaugurado o "Liceu Maranhense", dirigido pelo famoso gramático Francisco Sotero dos Reis. O Liceu passou a substituir os preceptores dos filhos da burguesia comercial e da oligarquia rural (MÉRIAN, 1988). No entender de Dunshee de Abranches, a fundação desse colégio, logo seguido do colégio das Abranches, do Colégio do Dr. Perdigão e de tantos outros, contribuiu para com o progresso da educação mental da juventude, levando o Maranhão tornar-se, de fato e de direito, a Atenas brasileira.


Dois autores maranhenses Dunshee de Abranches João Dunshee de Abranches Moura nasceu à Rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista. Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelo “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993). Em “A Setembrada”, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô e Frederico Magno de Abranches, seu tio. Referindose ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno, seu sobrinho relembra que: “... Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão” (DUNSHEE DE ABRANCHES, 1970:31).

GRIFI (1989), ao se referir aos jogos de bola, encontrou que Galeno, “o famoso médico grego”, recomendava tal prática para fins higiênicos e até mesmo escreveu um tratado específico sobre “o jogo da pequena bola”. Mas os jogos de bola, na Grécia, já aparecem nos poemas homéricos (p. 68). Mais adiante, afirma que nos séculos XIV, XV, e XVI destacou-se mais que os outros os jogos da bola, que se se fundiu às manifestações folclorísticas, no novo contexto das estruturas renascentistas: “Na França, particularmente, a bola (de dimensões maiores da normal), nascido no tardomedievo, como instrumento de contenda incruenta, torna-se momento lúdico e agonístico, aberto a todos. Os jogos mais conhecidos são a paume, o pallone, a soule, a crosse, aos quais seguiram-se, na Itália, o calcio-fiorentino, o pallone al bracciale, a pallacorda, a palla al vento, a palla-maglio, o tamburello (...) A paume (jeu de paume) consiste em bater a bola com a mão e substituiu os ludus pilae cum palma romano; conhecido já no século XII foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis. “ (p. 188).

O “O Captiveiro”, não é apenas um livro de memórias. Escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trava-se, na verdade de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993). Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de ABRANCHES (1941) em suas memórias: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos ... Apezar de só ter uma filha, agasalhava na sua hospitaleira residência uma parentella basta e jovial, em que superabundava o sexo frágil. Não faltavam pianistas, violinistas, e cantores nesse grupo variegado de moças casadeiras e gentis. Os saraus ali se succediam desde as novenas de N. S. dos Remédios á véspera de Reis. Era que, todos


os annos, a família Travassos armava um presépio. Os ensaios das Pastorinhas iniciavam-se desde fins de Outubro; e, depois delles fatalmente seguiam-se dansas até á meia-noite...". (p. 187-188).

Nessa mesma obra, Dunshee de ABRANCHES (1941) lembra que o "Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís" (p. 155), mantinha em sua barbearia - a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo - um bilhar, onde "ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias...". (p. 157).

Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993), deparamo-nos como uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993). Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: "... Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio... Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne... o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais...". (p. 16-17).

Aluísio de Azevedo Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor. Publica em 1879 “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulado”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1990); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996). Aluísio Azevedo, em conto autobiográfico, afirma que, aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: "Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (citado por MÉRIEN, 1988: 47).

Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça um perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata, cujo papel reservado era apenas o de mãe. Compara a mulher da burguesia maranhense à lisboeta desocupada, denunciando o ócio em que viviam. Como igualmente denunciava "o ócio dos padres que viviam do trabalho


de pessoas honestas e crédulas" (MÉRIEN, 1988:158), sendo estes, os padres, também "culpados pelo atraso da instrução pública" (p. 159). Aluísio considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher: "Do procedimento da mulher (...) depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade (...) Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educála física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar... “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166, 167).

O mesmo tema é retomado quando da publicação de "O Mulato", criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Aluísio tinha consciência que parte dos leitores em potencial era constituída pelas mulheres da pequena burguesia portuguesa e maranhense da cidade e pelas filhas dos fazendeiros que encontravam na leitura uma diversão contra o tédio que pesava sobra a vida cotidiana e ociosa que tinham. No entender de MÉRIEN (1988), os discursos de Raimundo sobre a condição feminina, o papel da esposa e da mãe na educação das crianças, são dirigidos mais a elas do que a Manuel Pescada: "O senhor tem uma filha, não é verdade? Pois bem! Logo que essa filha nasceu o senhor devia ter em vista prepará-la para vir a ser útil... dar-lhe exercícios, alimentação regular, excelente música, estudos práticos e principalmente bons exemplos; depois evitar que ela fosse como é de costume aqui, perder nos bailes o seu belo sono de criança...". (Aluizio AZEVEDO, O Mulato, 1881).

Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo - Antonieta (carta a Julia, "Diário do Maranhão", São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, "Pacotilha", São Luís, 9.6.1881), respectivamente - falando “de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara" sobre a condição de vida de Ana Rosa, que lembrava a vida que as mocinhas maranhenses levavam (MÉRIEN, 1988:291). Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, "lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio" (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, "a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses" (p. 290). A preocupação social é um traço marcante na obra de Aluízio, que buscava, com aguda capacidade de observação, compreender científicamente os elementos determinantes da realidade do Brasil. Em "O Mulato", faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance: "As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel." (p. 9).


Conclusão A literatura ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos cerca, quando descreve a sociedade em que a história se passa. Pode ser usada como fonte de pesquisa, ao se identificar, na narrativa, as manifestações de caráter esportivo, recreativo e de lazer. Buscou-se em dois autores maranhenses - Aluízio Azevedo e Dunshe de Abranches - trechos em que se referem à cultura corporal no Maranhão, no século XIX, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. Referências bibliográficas ABBEVILLE, Claude d'. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975. ABRANCHES, Dunshe de A SETEMBRADA - A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970. ABRANCHES, Dunshee de. O CAPTIVEIRO (MEMÓRIAS). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941 ABRANCHES, Dunshee de. A ESFINGE DO GRAJAÚ (MEMÓRIAS). São Luís: ALUMAR, 1993. AZEVEDO, Aluísio. O MULATO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, (s.d.). AZEVEDO, Aluísio. O CORTIÇO. 29 ed. São Paulo: Ática, 1996. CALDEIRA, José de Ribamar C. O MARANHÃO NA LITERATURA DOS SÉCULO XIX. São Luís : AML/SIOGE, 1991.

VIAJANTES DO

DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-102 DIECKERT, Jürgen; KURZ, Dietmar; BRODTMANN, Dietmar. ELEMENTOS E PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985. DIECKERT, Jürgen. A educação física no Brasil.. A educação física brasileira. (in) ESCOBAR, Micheli & TAFFAREL, Celí N. Z. METODOLOGIA ESPORTIVA E PSICOMOTRICIDADE. Recife: Gráfica Recife, 1987, p. 2-19. FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque, O espaço PROEDES: memória, pesquisa, documentação. IN GOLDFABER, José Luiz (org.). ANAIS DO IV SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA. Belo Horizonte: FAPEMIG; São Paulo: Anna Blaume: Nova Stella, 1994. P. 100103. GASPAR, Carlos. DUNSHE DE ABRANCHES. São Luís: (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre : D.C. Luzzatto, 1989. HUIZINGA, Johan. HOMO LUDENS: O JOGO COMO ELEMENTO DA CULTURA. 2a. ed. São Paulo : Perspectiva, 1980. MÉRIAN, Jean Yves. ALUÍSIO AZEVEDO VIDA E OBRA (1857-1913) - O VERDADEIRO BRASIL DO SÉCULO XIX. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Banco Sudameris Brasil; Brasília: INL, 1988. MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO DOS ESPORTES. INDESP. COLETÂNEAS: DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL. Brasília, 1996. RAMOS, Clóvis. OS PRIMEIROS JORNAIS DO MARANHÃO. São Luís: SIOGE, 1986. RAMOS, Clóvis. OPINIÃO PÚBLICA MARANHENSE: JORNAIS ANTIGOS DO MARANHÃO (1831 a 1861). São Luís: SIOGE, 1992 SANTIN, Silvino. Esporte: identidade cultural. COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília, 1996, p. 13-26.


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TERMOS TÉCNICOS USADOS NO FUTEBOL E FUTSAL LEONARDO DELGADO Barra do Corda Faz-se necessário definirmos os termos técnicos específicos do futebol e futsal, usados pelos técnicos nos treinos e jogos. Muitas vezes falamos, e o atleta não entende o que queremos dizer. Colocamos alguns termos, com os quais trabalhamos e constantemente usamos no nosso dia a dia, e até mesmo para que a linguagem do futsal possa ser ampliada pelas pessoas que o acompanham. ABRIR JOGO: Forma de jogar coletivamente com os jogadores mais abertos (distanciados), executando passes longos, de forma a criar espaços na defensiva contrária. ADAPTAÇÃO DEFENSIVA: Manobra de ajuste defensivo, tendo em conta o ataque. AGRESSIVIDADE: Estado de tensão física e mental do jogador para pressionar o adversário de posse de bola ou impedir que um jogador contrário possa receber a bola em condições. AJUDA: Princípio de colaboração entre jogadores de uma equipa no ataque e na defesa. No ataque os APOIOS são considerados uma forma de ajuda. ALA: Esquerdo ou direito. Posição do jogador que joga pelas alas. AMPLITUDE: Ataque no sentido transversal (largura) do campo. NGULO DE PASSE: Espaço entre passador e receptor. Não confundir com linha de passe. Quanto maior for a amplitude do ângulo de passe, mais possibilidades de êxito no passe. ANTECIPAÇÃO: Ação defensiva que consiste em antever os movimentos de ataque para se adiantar no espaço e no tempo ao adversário, impedindo a recepção da bola. APOIO: Jogador em condições de receber a bola como AJUDA ofensiva, para facilitar a ação do colega de posse de bola. ÁRBITRO: O jogo disputa-se sob o controle dum árbitro que dispõe de toda a autoridade necessária para velar pela aplicação das Leis do Jogo no quadro do jogo que é chamado a dirigir, desde a sua entrada no recinto onde se encontra o retângulo de jogo e acaba quando o tiver abandonado. ÁREA DE GRANDE PENALIDADE: Em cada topo do campo, a 6 m de distância de cada poste da baliza, está traçado um semicírculo perpendicular à linha de baliza o qual se prolonga no interior do campo com um raio de 6 m. A parte superior deste semicírculo é uma linha de 3,16 m, exatamente paralela à linha de baliza entre os dois postes de baliza. O espaço compreendido no interior deste semicírculo denomina-se de ÁREA DE GRANDE PENALIDADE. ASSISTÊNCIA ou ÚLTIMO PASSE: Passe ao colega que consegue rematar para golo. ATACANTE: Jogador da equipa que ataca. ATACAR: Ação de quem tem a posse de bola e dentro dos princípios do jogo lhe compete procurar o gol. Também se pode utilizar nos sentidos ofensivo e defensivo de " ... atacar a bola ". ATAQUE PLANEJADO ou ATAQUE ORGANIZADO: É o conjunto de ações ofensivas organizadas na procura da finalização em dado momento do jogo. ATITUDE DEFENSIVA: Posição básica defensiva, que nos permite reagir rapidamente ao ataque. ATITUDE: Disposição e estado de tensão psicológica e física do jogador em jogo. BALIZAS: As balizas estão colocadas no centro de cada linha de baliza. A distância que separa os dois postes é de 3 m, e o bordo inferior da barra transversal situa-se a 2 m do solo. BARREIRA: Forma de colocação dos jogadores defensores ante a bola, para tapar o ângulo de remate à baliza, nas faltas. BATE: termo usado quando um jogador chuta a bola em gol.


BATER DE PRIMEIRA OU DE SEGUNDA: Momento de finalizar uma ação ofensiva planeada, em que remata à baliza o primeiro ou o segundo jogador que vem em apoio do jogador de posse de bola. BLOQUEIO ou CORTINA: Ação ofensiva que consiste na interposição à ação defensiva de um adversário, para libertar o colega da marcação. Pode ser direta ou indireta, consoante o colega tenha a posse de bola ou não. BOLA AO SOLO: Depois de uma interrupção temporária do jogo, provocada por uma causa não prevista nas Leis do Jogo, o jogo deve ser recomeçado com uma bola ao solo. BOLA FORA DO JOGO: A bola está fora do jogo quando : - atravessar completamente a linha de baliza (linha de fundo) ou linha lateral, quer junto ao solo quer pelo ar; - o jogo seja interrompido pelo árbitro; toque no teto. BOLA: Esférico feito de couro ou material equivalente, com uma circunferência de 64 cm no máximo e 62 cm no mínimo, pesa entre 400 e 440 g no começo do jogo e tem uma pressão que pode variar entre 0,4 e 0,6 atmosferas. CAIXOTE: é um tipo de marcação realizada onde três ou os quatro jogadores fecham o pivô adversário, impedindo que ele dê seqüência à jogada. CANETA OU SAIA: drible ou passe executado entre as pernas de um jogador. CHUTE DE CANTO: O pontapé de canto é uma forma de recomeço do jogo. Um golo pode ser marcado diretamente de um pontapé de canto, mas unicamente contra a equipa adversária. Um pontapé de canto é assinalado quando a bola, tocada em último lugar por um jogador da equipa defensora, ultrapassar completamente a linha de baliza (linha de fundo), quer seja rente ao solo ou pelo ar, sem que um golo tenha sido marcado em conformidade com a Lei 11 das Leis do Jogo. CHUTE DE GRANDE PENALIDADE: Um pontapé de grande penalidade deve ser assinalado contra a equipe que cometa, dentro da sua própria área de grande penalidade e no momento em que a bola esteja em jogo, uma das dez faltas punidas com pontapé-livre direto. CHUTE DE LINHA LATERAL: O pontapé de linha lateral é uma forma de repor a bola em jogo. É concedido quando a bola ultrapassar completamente a linha lateral, quer seja pelo solo ou pelo ar ou tenha batido no teto, no local em que a bola ultrapassou a linha lateral, à equipa adversária do jogador que tocou abola em último lugar. COBRIR A BOLA: Diz-se quando o jogador de posse de bola, se interpõe entre a bola e o opositor, de modo a que este não lhe possa tocar. COLOCAÇÃO: Conceito de dupla referência, quanto à técnica (posição) e à táctica (situação). COMPENSAÇÃO ou COBERTURA: É uma forma de ajuda defensiva. Posição defensiva para se opor a um atacante que ultrapassou um colega. CONDUÇÃO: Ação de transporte de bola de forma controlada. CONTENÇÃO: Tem aplicação em contextos diferentes. Aplica-se quando se pretende retardar o ataque ou defender mais recuado. CONTRA - ATAQUE ou ATAQUE RÁPIDO: Ação de jogo ofensivo rápido e em superioridade numérica ou posicional. Ação de resposta rápida ao ataque adversário. CONTRA: Disposição da equipa que defende e espreita sair em contra-ataque. CONTROLE DE BOLA: Ação do jogador que domina a bola. DEFENSOR: Jogador da equipa que defende. Ver DEFESA. DEFESA ATIVA: Aplica-se quando se pretende ganhar rapidamente a posse de bola, criando situações de superioridade 2x1. DEFESA HOMEM A HOMEM (H X H): Sistema defensivo coletivo onde cada defensor faz marcação individual.


DEFESA MISTA: Sistema defensivo coletivo, onde parte dos jogadores fazem marcação por zona e outros individual. DEFESA PASSIVA: Aplica-se quando se joga defensivamente na expectativa. DEFESA ZONA: Sistema defensivo coletivo onde cada jogador tem um espaço definido para defender. DEFESA: Função da equipa que não tendo a posse de bola, tem como objetivo tentar impedir que a equipa adversária consiga atingir os objetivos no ataque. DESDOBRAMENTO: Movimento de um jogador para ocupar o lugar deixado livre por um colega que se integrou no ataque. DESMARCAÇÃO: Movimento no ataque para se libertar da marcação ou vigilância do defensor contrário. DIAGONAL: Movimento ofensivo caracterizado por uma entrada na direção da baliza contrária, feita diagonalmente à linha lateral. DIMINUI, TIRA, APERTA: acontece quando os jogadores que estão marcando, aproximam-se dos adversários, impedindo-os de progredirem ao ataque. DIVIDIR A MARCAÇÃO: é a situação onde o jogador que está marcando fica em dúvida se marca esse ou aquele jogador; geralmente acontece em bolas paradas. DOBRA: há quando dois jogadores marcam o jogador que está com a bola. DOIS CONTRA UM: Ação de dois defensores contra um atacante. DOIS PARA UM: Ação de dois atacantes para um defensor. DRIBLE: É o modo segundo o qual, um jogador ultrapassa o seu opositor, sem perder o domínio da bola. EFEITO: Trajetória curva que a bola adquire, quando se realiza um passe ou um remate. ENCAIXAR A MARCAÇÃO: acontece quando uma equipe consegue fazer uma ótima marcação e impedir que a equipe adversária consiga impor seus movimentos ofensivos. ENCOSTO: Ação de empurrar ombro a ombro o oponente com o fim de obter vantagem na disputa do lance. Segundo as Leis do Jogo é punido com falta. ENTRADA: Movimento ou trajetória de cariz ofensivo de penetração na defesa contrária. Pode ser interna (pela frente do defensor) ou externa (pelas costas). Também se aplica em sentido defensivo, quando um jogador tenta ganhar a posse de bola ao seu direto opositor, numa disputa imediata e instantânea. ENTRAR NA BOLA: é a maneira de receber a bola, quando o jogador a domina com a sola do pé, tirando-a do seu marcador, desequilibrando o mesmo. EQUILÍBRIO DEFENSIVO: Significa encontrar o posicionamento defensivo da equipa. ESTÁTUA: quando o jogador que vai receber a bola do seu companheiro, fica parado; não finta, sendo pressionado por seu marcador, não conseguindo receber a bola. ESTICAR O JOGO: O mesmo que dar profundidade ao jogo. FALTAS ACUMULADAS: São todas as sancionadas com pontapé-livre direto a que se referem as mencionadas na Lei 12 das Leis do Jogo. As cinco primeiro faltas acumuladas por cada equipa em cada período, deverão ficar registadas no boletim de jogo. FILOSOFIA DE JOGO: Forma particular de interpretar ou entender o jogo. FINALIZAÇÃO: Concretização com remate de uma ação ofensiva. FINTA: É a ação segundo a qual um jogador engana o seu opositor para ganhar vantagem, com ou sem bola. Pode-se considerar a SIMULAÇÃO uma finta. FIXO ou CENTRAL: Posição defensiva mais atrasada de Forma de defesa que propicia uma rápida recuperação da posse de bola.

um

jogador

FUNDAMENTOS: Técnicas a que recorrem os jogadores para resolver situações de jogo.

de

campo.


FUNIL: é quando um ou dois jogador(es) que está(ão) na(s) ala(s), está (ão) longe da linha de passe, escondendo-se do jogo. GINGA, BALANÇO, VAI-E-VEM, DÁ O GATO: todos estes termos querem dizer o mesmo que finta , ou seja: livrar-se momentaneamente do seu marcador sem a posse de bola, para poder recepciona-la para dar continuidade à jogada da sua equipe. GOL: Um gol é marcado quando a bola transpõe completamente a linha de baliza, entre os postes e por baixo da trave. GUARDA REDES: Jogador encarregado de defender a baliza. Único jogador com função e regras especificas no jogo. É o único jogador autorizado a jogar a bola com as mãos dentro da área e tem limitação regulamentada quando joga com os pés. INFERIORIDADE NUMÉRICA: Aplica-se defensivamente quando há desigualdade de jogadores. INTERCEPÇÃO: Ação defensiva que visa impedir que um passe ou um remate à baliza chegue ao seu destino, através da interposição na sua trajetória. INTERVALO: O intervalo entre as duas partes do jogo, não deve exceder os 15 minutos. IR À QUEIMA: Ação defensiva em disputa direta, de atacar a bola de forma instantânea. JOGADA: Ação estratégica ofensiva. JOGAR CURTO: O mesmo que jogar apoiado ou com os jogadores mais juntos. JOGAR NA FRENTE: Posicionamento do defensor relativamente ao atacante, para obstar a que possa receber o passe. JOGO ABERTO: Situação de jogo onde se cria espaço de jogo livre para 1X1 com poucas ajudas defensivas. LANÇAMENTO DE BALIZA: O lançamento de baliza é uma das formas de recomeço do jogo. Um gol não pode ser marcado diretamente de um lançamento de baliza. Um lançamento de baliza será concedido quando a bola tocada em último lugar por um jogador da equipa atacante, ultrapassar completamente a linha de baliza (linha de fundo), quer seja rente ao solo ou pelo ar, sem que um golo tenha sido marcado em conformidade com a Lei 11 das Leis do Jogo. LER O JOGO: Princípio que consiste em decifrar a estratégia (defensiva ou ofensiva) da equipa adversária, de modo a melhor poder contrariá-la. LINHA DA BOLA: é uma linha imaginária em relação ao local onde está a bola. LINHA DE PASSE: Linha imaginária entre o jogador que fará o passe e o receptor. LINHA DE REMATE OU FINALIZAÇÃO: Linha imaginária entre o atacante de posse de bola e a baliza. LINHA DEFENSIVA: Linha imaginária a partir da qual a equipe ou o jogador que defende começa a exercer pressão no jogador portador da bola. Na marcação defensiva à zona, tendo em conta que o que importa é cada jogador defender o seu espaço, existem várias linhas defensivas a considerar. Por ex.: Em 2:2 é diferente de 1:1:2, ou de 1:2:1 MARCA DE GRANDE PENALIDADE: Sobre uma linha imaginária perpendicular ao meio da linha de baliza entre os postes, e a 6 m desta linha, está feita, de forma visível, uma marca, que se denomina MARCA DE GRANDE PENALIDADE. MARCAÇÃO INDIVIDUAL: Ação defensiva individual onde o defensor tem a responsabilidade de marcar o seu opositor direto, acompanhando os seus movimentos por todo o campo. MARCAÇÃO ZONA: Ação defensiva individual onde o defensor tem uma zona restrita sob sua responsabilidade. Contrariamente à marcação individual, aqui o importante não é o opositor, mas sim o espaço que temos a defender. MARCAÇÃO: Ação de sentido defensivo individual. Existem várias formas de marcação defensiva. MOVIMENTAÇÕES ou ROTAÇÕES: Movimento de ataque planeado, com troca de posições entre os jogadores.


MUDANÇA DE RITMO: Alteração de velocidade no movimento ofensivo, para ganhar vantagem sobre o defensor. PADRÃO DE JOGO: é um tipo de movimentação repetitiva e constante, realizada por uma equipe com o objetivo de chegar ao gol adversário. PARALELA: Movimento ofensivo ou passe, caracterizado por uma entrada na direção da baliza contrária, feita paralelamente à linha lateral. PARTES DO JOGO: O jogo compreenderá dois períodos iguais de 20 minutos cada um. PASSE DE GANCHO, GANCHINHO, CAVADO: é um passe levantando a bola. Pode ser alto ou à meia altura. PASSE PICADO: Diz-se de passe efetuado por alto, com execução técnica particular. PASSE: Forma dos jogadores comunicarem entre si com a bola. O passe pode ser curto ou longo, rasteiro ou por alto, com efeito ou picado. PEDALADA: é um drible executado por um jogador que passa as pernas por cima da bola, uma perna de cada vez. Requer coordenação em velocidade. PISAR: Ação técnica ofensiva que consiste em parar a bola com a planta do pé, passando-a ao colega. PIVÔ CRAVADO: acontece quando o jogador que faz a função do pivô, está sempre próximo à área do adversário, dando referência ao seu ataque. PIVÔ: Posição do jogador atacante mais adiantado. É o jogador que fruto do seu posicionamento, mais vezes joga de costas para a baliza adversária. POLIVALENTE ou UNIVERSAL: Aplica-se ao jogador que através das suas características físicas e técnicas, se pode adaptar a qualquer posição num sistema de jogo. PRESSING: Marcação intensiva, sobre uma parte ou a totalidade dos jogadores da equipa adversária, com o objetivo de obstar à sua progressão atacante. PRESSIONAR: Ação defensiva que consiste numa atitude agressiva sobre o adversário, provocando o erro. Ação que pode ser desenvolvida individual ou coletivamente. PROFUNDIDADE: Ataque no sentido longitudinal do campo. QUEBRA ou MUDANÇA DE DIREÇÃO: Mudança de direção no movimento ofensivo de entrada na defensiva contrária, para ganhar vantagem sobre o defensor. RECEPÇÃO: Gesto técnico de receber a bola. RECUPERAÇÃO DE BOLA: Ação de ganhar a posse de bola. RECUPERAÇÃO DEFENSIVA: Ação de uma equipa ou um jogador de recuperar o posicionamento ou equilíbrio defensivo, após uma ação ofensiva. REFERÊNCIA: existe quando um jogador está posicionado em local determinado da quadra, para a bola chegar até ele; geralmente é o pivô, e no ataque. REMATE ou FINALIZAÇÃO: Gesto técnico de finalização ofensiva. RODAR: Ação característica do jogador pivô, que recebendo a bola, roda e finaliza. RODÍZIO: acontece quando três ou quatro jogadores de uma equipe movimentam-se dentro da quadra, trocando as posições, com o objetivo de chegar ao ataque. ROLINHO: drible executado com a sola do pé, entre as pernas do adversário. SAÍDA: Termo que se pode aplicar em diversas situações de jogo, dependendo do seu contexto, tais como: Ação defensiva do GR, saindo da sua área restrita, para dificultar a ação do atacante; - Ação ofensiva da equipa de posse de bola, jogando sob "pressing". Saía de pressão; - Jogada estudada para começo ou recomeço de jogo. Bola de saída. SEGUNDA MARCA DE GRANDE PENALIDADE: Sobre uma linha imaginária perpendicular ao meio da linha de baliza, entre os postes, e a 10 m desta linha, está feita, de forma visível, uma marca, que se


denomina SEGUNDA MARCA DE GRANDE PENALIDADE. SEGUNDO PAU: é a bola cruzada, na direção do lado oposto de onde está o goleiro, muito comum nos jogos. SIMULAÇÃO: Ação de finta de entrada sem bola, tentando ganhar vantagem sobre o defensor (marcador direto), de forma a poder receber a bola. SISTEMA DE JOGO DEFENSIVO: Conjunto de ações defensivas coordenadas, executadas segundo um padrão de jogo, com o objetivo de dificultar as ações ofensivas contrárias. SISTEMA DE JOGO OFENSIVO: Conjunto de ações ofensivas coordenadas, executadas segundo um padrão de jogo, com o objetivo de criar desequilíbrios na defensiva contrária. SISTEMA DE JOGO: Conjunto de ações coordenadas, segundo um padrão de jogo pré definido. SOBE A MARCAÇÃO: acontece quando a equipe que está marcando passa a realizar a marcação na quadra do adversário, diminuindo os espaços do jogo. SOBRECARGA: Termo aplicado para atacar a defesa à zona, que proporciona uma superioridade numérica numa das alas. SOBREPOSIÇÕES: Movimentos de intercepções dos jogadores trocando de posições. SUBIR: Termo defensivo para defender "mais à frente" ou "mais subido". Também se aplica em sentido ofensivo, ou seja, mais apoio ao ataque. SUBSTITUIÇÃO: Troca de um jogador em jogo por um suplente. TÁCTICA: Ação organizada, imediata e inteligente, para solucionar uma situação de jogo. TAPAR ou COBRIR: Ação de defender determinado espaço do campo, para dificultar as ações ofensivas. TÉCNICA: Significado de eficácia na execução. TEMPO MORTO: As equipas têm a possibilidade, através do treinador, de pedir um minuto de tempo morto em cada um dos períodos, mas só será permitido quando a equipa estiver de posse de bola. TEMPORIZAÇÃO: Termo aplicado em diversas situações de jogo, tais como: - Manter a posse de bola; Aguardar a recuperação posicional dos colegas; - Em final de jogo, de posse de bola, deixar esgotar o tempo de jogo. TIMING: É o momento certo no tempo e no espaço, para realizar uma ação no jogo. TOCAR E SAIR: Aplica-se em ação ofensiva coletiva de fazer passar a bola e entrar na defensiva contrária, com o objetivo de deslocar a mesma, para assim, criar espaços. Bastante aplicado em 4:0 TRABALHAR O ATAQUE: Termo aplicado para serenar o jogo, no sentido da equipa preparar o ataque planeado. TRANSIÇÃO: DEFESA / ATAQUE: Momento em que se ganha a posse de bola e se prepara o ataque. ATAQUE / DEFESA: Momento em que se perde a posse de bola e começa a recuperação do equilíbrio defensivo. TRIVELA ou BOLA CORTADA: Efeito que se dá ao passe ou remate, com a parte exterior do pé, descrevendo uma trajetória curva. TROCA DE ALA COM PIVÔ: troca de posição entre dois jogadores, onde o que está no pivô vai para uma das alas, e o que está em uma das alas vai para o pivô. TROCAS ou PERMUTAS: Ação dos jogadores, por troca de posições em campo. Podem ser defensivas ou ofensivas. VARIANTE: Possível solução alternativa às definidas, respeitando o padrão de jogo. VIGIL NCIA: Observação por um jogador defensor do movimento e atitudes de um jogador adversário, que não intervém diretamente no jogo. VISÃO PERIFÉRICA: Capacidade de ver em amplitude.


ZONA DE SUBSTITUIÇÕES: A zona de substituições situa-se do mesmo lado em frente de cada banco dos técnicos e substitutos, dessa mesma equipa, ou seja, no lado do meio campo de cada equipa que atua como defensora.


SÍTIO DO FÍSICO: PRIMEIRA ESCOLA TÉCNICA DO MARANHÃO ? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INTRODUÇÃO: Na apresentação de sua "História da técnica e da tecnologia", Ruy GAMA (1985) - ao analisar a obra de Johan Beckmann - pergunta: "o que há de comum entre o pensamento de José de Bonifácio, cientista que estudou na Alemanha na segunda metade do século XVIII, e os de Manuel Jacintho, 'filósofo' às voltas com inventos destinados ao aperfeiçoamento dos engenhos de açúcar, do físico (médico) português Antônio José da Silva Pereira (que sob suspeitas e pressões montou um curtume no começo do século XIX, em S. Luís do Maranhão), de Benjamin Franklin, Jacob Bigelow e de tantos outros americanos ? ". (p. 11). É o próprio GAMA (1985), ao discutir a natureza política do problema tecnologia, que nos dá uma primeira resposta ao questionamento levantando, quando refere-se aos "segredos de ofício" - onde passar do conhecimento do "know-how" para o do "know-why" exige o enfrentamento de corporações mais poderosas do que as antigas corporações de ofício : "... Voltam à memória as palavras de Beckmann sobre a união de 'sábios' e 'fabricantes', as de José Bonifácio sobre as relações entre a 'Theorica e a prática', o discurso de Manuel Jacintho sobre a ciência e as obras práticas, e o lema do MIT Mens et Manus ...". (p. 12). Johan Beckmann foi professor de ciências econômicas em Göttinguen. Para ele - e para seus seguidores -, a questão básica estava na união dos sábios e fabricantes. Considera que a tecnologia estava intimamente ligada à escola, tendo adotado como lema "a escolarização ajudará a incrementar os negócios" (GAMA, 1985, p. 8). Foi o iniciador das disciplinas de comércio e tecnologia - termo esse forjado por ele para designar a disciplina que descreve e ordena os ofícios e as indústrias existentes. Para Benjamin Franklin, a questão da independência americana passa também pela separação entre o saber metropolitano e o fazer colonial, sentido que pode ser identificado em seus esforços para instituir o ensino técnico na Pensilvânia, já em 1749. Franklin afirmou, já no fim de sua vida, que a "Ciência, no século vindouro serviria às artes como uma criada" (GAMA, 1985, p. 10). Algumas décadas depois, o médico Jacob Bigelow reintroduz nos Estados Unidos a palavra "technology", numa série de aulas que deu em Harvard: "... Em 1861 foi fundado o MIT - Massachusetes Institute of Technology, o que contou com a participação de J. Bigelow, a quem se deve a presença da palavra 'technology' no nome da instituição, indicando que, ao invés de orientar-se para o conhecimento 'puro', deveria voltar-se para finalidades práticas: Mens et Manus foi o lema adotado pelo Instituto, bastante revelador na pretensão de unir a teoria à prática". (p. 10-11). José Bonifácio de Andrade e Silva, em relatório apresentado no ano de 1793 à Academia de Ciências de Lisboa - da qual era secretário, refere-se à tecnologia, voltando a empregá-la na Memória sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal, onde enfatizava a necessidade de se


eliminar a oposição entre teoria e prática. Manuel Jacintho de Sampaio e Melo, senhor de engenho, também escreve com veemência sobre o uso da ciência para finalidades práticas, ainda no alvor do século XIX. O médico Antonio José da Silva Pereira tentou construir às margens do Bacanga, no Sítio Santo Antonio da Alegria, um avantajado complexo industrial, cujas ruínas atestam a grandiosidade de seu sonho: " As sólidas paredes e muralhas do Sítio - esta é a única certeza - não foram construidas a toa. O intrincado da imensa construção deveria obedecer a um plano muito bem estudado. O Físico fez construir, alí, além de uma casa grande, uma fábrica de pólvora, dezenas de poços para preparação de couros, tanques e fornos para fabricação de velas, uma usina para beneficiamento de arroz, uma oficina mecânica, outra de cerâmica, celas para presos, tudo com originalidade arquitetônica. Afora isso, há outros conjuntos, tudo extremamente bem sólidos. Há paredes com quase dois metros de largura. Em pedra e cal. E a funcionalidade deixa embasbacado muito técnico de agora. "Não há, no Sítio do Físico, apenas pedras, muralhas, construções super-sólidas. Há mecânica. Muita mecânica também. E tudo avançado. Por exemplo, a usina de beneficiamento de arroz. Para que uma usina tão grande? As peças de ferro e bronze vão surgindo. Cinco pedras-mós já foram encontradas, e tão pesadas, tão pesadas, que nem dez homens conseguem ergê-las ... no topo das paredes, cachas (sic). Para abastecimento dágua. W (sic) no interior das calhas furos regulares para descompressão do ar ... E a gente, deste século XX a pensar que o tijolo furadinho é inveção do homem moderno ... "O sistema de esgotos é tão avançado como o de abastecimento dágua. E o despejo no Igarapé não é coisa comum. Nada disto. é feito de tal, com tal técnica e ciência que funciona até hoje, melhor, talvez do que muita obra moderninha. "Sobre tudo paira o ar de mistério." (VALDIRA, 1972, p. 2). Ao tempo da chegada do Físico-Mor - junho de 1799 - , São Luís era a cabeça da Capitania-Geral do Maranhão, governada por Dom Diogo de Souza, Governador e Capitão-Geral no período de 1798 a 1804. Contava com "vinte e duas mil almas debaixo da direção de um só Pároco" ( MEIRELES, 1977, p. 180). A adminstração da cidade tinha como principais órgãos: o Senado da Câmara - composto do juiz de fora, como presidente nato, três vereadores e um escrivão; a Junta da Fazenda Real; a Junta de Justiça; a Junta da Coroa; a Provedoria dos Defundos e Ausentes; e a Intendência da Marinha, esta criada em 1797, cujo primeiro titular foi o Capitão de Mar-e-Guerra Pio Antônio dos Santos, chegado a São Luís em 24.12.1798, um ano antes, portanto, do desembarque do Físico-Mor. Pouco depois, a 8 de julho, desembarca o 11o. titular da Diocese do Maranão, D. Joaquim Ferreira de Carvalho, assumindo solenemnete o cargo no dia 27. Seria essa a primeira solenidade ocorrida em S. Luís desde a recente chegada de Silva Pereira, em princípios do mês anterior", informa MORAES (1980, p. 17). Já a 27 de novembro de 1799, D. Joaquim envia relatório ao Ministro do Reino, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, informando-o da situação dos negócios eclisiásticos do Maranhão, os quais não eram dos melhores. Afirma que não encontrara aqui "... nem letras, nem Religião, nem costumes..." (MEIRLES, 1977). Lamentava-se, em seu relatório, da "... inexistência de estabelecimentos educacionais ...": " ... falta de uma 'casa de educação onde se possa formar bons Ministros para a Igreja e bons cidadãos para o Estado'. Tal fato significava o completo desmoronamento de todo um sistema educacional que, a cargo dos jesuítas e outros religiosos desde os primeiros tempos da vida colonial, atingira seu apogeu na primeira metade do século XVIII. É oportuno lembrar que pelo Breve 'Expondi Nobis', de 25 de junho de 1727, o Papa Benedito XIII concedia ao Vicariato de Carmo a faculdade de conferir o grau de doutor em Teologia aos concludentes desse curso no Convento de São Luís.... por essa época, estudantes transferidos da Universidade de Coimbra para São Luís podiam concluir seus estudos de Filosofia e Teologia..." (MORAES, 1980, p. 19).


O FÍSICO-MOR DO MARANHÃO: Segundo MORAES (1980), até hoje não exite um corpus de dados informativos que permita levantar o perfil biográfico de Antônio José da Silva Pereira. Afirma haver, sobre o Físico-mor, uma curiosíssima e intrigante "... conspiração de silêncio" que " ... envolveu na mais incompreensível indiferença a figura desse capitão de indústria cujo pioneirismo e arrojo empresarial não se admite tenha parecido desimportante aos olhos de seus contemporâneos, fosse eles residentes no Maranhão ou viajantes que aqui passassem em missão de estudo ou simplesmente fazendo turismo". (p. 39). Antonio José da Silva Pereira foi o primeiro Físico-mor do Maranhão, da parte da Real Junta do Proto-Medicato. Formado por Coimbra no ano de 1796, seria nomeado para a função por Carta Régia de 5 de dezembro de 1798: "... Dito ao Escrivão da fazenda sobre ter S. Majestade nomeado para Físico-Mor desta Capitania a Antônio José Pereira da Silva (sic) / Pela carta Régia da cópia n0 1 foi Sua Majestade servida nomear a Antônio José Pereira da Silva (sic) para Físico-Mor desta Capitania vencendo quatrocentes mil réis por ano, pagos da fazenda Real. (...) Deus guarde a V.M. - Palácio de São Luís do Maranhão, 15 de julho de 1799. - D. Diogo de Sousa - Sr. Elias Aniceto Martins Vidigal." ( Ofício s/n, registrado sob número 219, das fls. 41-v, transcrito do códice "Objetos Diversos - 1798-1800", do Arquivo Público do Maranhão, citado por MORAES, 1980, p. 29). Este autor chama atenção para o fato de que, das duas vêzes em que é referido no ofício, o Físicomor teve seu apelido de família trocado de Silva Pereira para Pereira da Silva, quando de sua apresentação. MEIRLES (1993; 1995a; 1995b; 1995c), ao traçar as histórias da medicina e da farmácia no Maranhão, esclarece que a profissão de médico, no período colonial, tinha dupla especialidade - físicos e cirurgiões - e só seria regulamentada, em Portugal, pelos regimentos de 25/2/1571, dado ao Físico-Mor do Reino, e de 12/12/1617, dado ao Cirurgião-Mor do Reino. A essas autoridades sanitárias maiores, sediadas na Corte, cabia conhecer de todos os fatos ou delitos ocorridos no domínio da saúde pública e decidir a respeito, sem apelação ou agravo: "A estas autoridades máximas no campo da saúde, é que competia nomear, dentre os diplomados por aqueles cursos, os físicos e cirurgiões-mores que seriam seus delegados comissionários nas províncias e nas capitanias ... a Coroa nomeava os físicos e cirurgiões que, sem aos mesmos estarem sujeitos, serviriam nas tropas e hospitais militares. (MEIRELES, 1993, p. 18; 1995a, p. 206). Nas Notas, MEIRELES esclarece que foi só a partir de 1425, na Universidade de Paris - fundada em 1150 - que se fizeram distintos, com currículos própios, os cursos de médico (físico ou clínico), de cirurgião e de boticário: "... o studium generale, fundado em Lisboa no ano de 1290 e depois em 1537, transformado na Universidade de Coimbra, já mantinha um curso de medicina, ao qual se seguiriam os da Escola Médico-Cirúrgica e do Real Hospital de São José, ambos na Corte.". (1993, p. 17; 1995a, p. 205).


Os cirurgiões eram tidos em menor conta que os físicos, que exerciciam a clínica geral; daí possivelmente, porque só obtiveram seu Regimento, em Portugal, cerca de cem anos depois de que baixado para aqueles outros. Esse autor esclarece que: "Ao tempo (da fundação de São Luís - 1612), e aliás desde a velha Grécia de Antes de Cristo, já se distinguiam, entre os que se dedicavam à arte de curar, e mesmo antes que existissem escolas regulares de medicina, os Klinikos e os cheirurgikos; no Império dos Césares, embora a profissão não fosse considerada digna de um cidadão romano e deixada para os escravos, e por excelência os gregos, já se distinguiam não só clinici e os chirugli como os occulari." (MEIRELES, 1993, p. 23; 1995, p. 203). ... "E foi então com o Renascimento, que marca no tempo o início da Idade Moderna, que os discípulos de Hipócrates, de Galeno e de Avicena passaram à designação com que viriam, para o Brasil, a partir do século XVI, os primeiros médicos portugueses - os físicos (physicós), os que haviam estudado as coisas da Natureza, apelido que ainda sobrevive nos physicians ingleses ..." ( MEIRELES, 1995b, p. 166). No reino de D. Maria I (1777/1816), os regimentos de 1521 e de 1617 foram alterados para que, com a extinção dos cargos de Físico-mor do Reino e de Cirurgião-mor do Reino, suas atribuições passassem, na metrópole, para um colegiado, integrado por sete deputados graduados em medicina: foi a Real Junta de Proto-Medicato, a qual estaria representada, nas províncias e colônias, por delegados-comissários que continuariam sendo o Físico-mor e o Cirurgião-mor de cada unidade" (MEIRELES, 1993, p. 40; 1995a, p. 220). Para MEIRELLES, o Físico-mor foi um "Homem de idéias avançadas e tido como suspeito de simpatizante de Napoleão Bonaparte que então pretendia impor a toda a Europa, pela força das armas, os ideais igualitários da Revolução Francesa e que acabaria por mandar invadir Portugal (1808), seu corpo apareceu boiando nas águas da Praia das Mercês (15/11/1818), sem que jamais se tenha apurado se fora assassinado ou se teria se suicidado." (1993, p. 40; 1995a, p. 220). Sobre o Físico, existem nuitas hipóteses. Uma delas refere-se aos interesse de Napoleão Bonaparte. Outras dizem respeito à correspondência que manteria com generais de Napoleão, com a rainha Carlota Joaquina e mesmo com San Martin, o Libertador - "... Há indícios muito concludentes de que San Martin veio a São Luís, especialmente para um encontro com o Físico. Mas para quê ?" (VALDIRA, 1972, p. 2) Prossegue, indagando: "O que veio ele fazer no Maranhão ? Até hoje é mistério. Ninguém conseguirá saber. Nem os de sua época. Nem os historiadores. Possuiu 600 escravos, e os usou como mão de obra para erguer aquilo que a todos dá a impressão de um império logístico. Ficava ao lado da capital, mas com o crescimento da cidade, está hoje bem no perímetro urbano. "Qual o objetivo da construção ? Ninguém soube. O que há, hipóteses ..." (p. 2) . Pergunta, ainda, se o Físico foi um revolucionário ou traidor ?


"Em 1818 o Físico se suicidou. Por que ? Só hipóteses, não obstante as pesquisas de vários historiadores. Entre outras destaca-se uma que o considera colaboracionista de Napoleão. Teria participado com sua técnia e sabedoria nas campanhas de Napoleão na Espanha, Holanda, Rússia." (p. 2). Em conversa com o então proprietário do "Sítio do Físico", VALDIRA (1972) informa que "Seu" Joaquim Cavalcanti Silva sempre pesquisou sobre o antigo proprietário - o Físico - e faz também suas indagações: "Por que um catedrático de Universidade de Coimbra, que era também médico particular da Rainha de Portugal, sairia de Portugal ? Só mesmo em missão oficial..." (p. 2). Clóvis MORAIS, em seu "Terra timbira", refere-se ao "O SÍTIO DO FÍSICO", revelando ter sido sua morte por enforcamento, temeroso das consequências de suas opiniões políticas: "Com a prisão e exílio de Napoleão, em 1816, e a aclamação de Dom João VI, como Rei de Portugal, houve radical mudança política entre o Reino Unido Portugal-Brasil, e o fracasso dos planos da Rainha Carlota Joaquina, o Físico-Mor ficou tomado de pavor. Prevendo a sua condenação, suicidou-se, por enforcamento, no dia 14 de novembro de 1818." (p. 38-39). MORAES (1980) informa ser 15 de novembro de 1817 a data de sua morte: "Sistematicamente os que se têm referido ao Físico-Mor dão-no como falecido em 1818. O erro certamente provém de César Marques, que em seu Dicionário (p. 459) assim afirma. Mas todos os documentos oficiais até hoje consultados registram 1817 e assim o diz a certidão de óbito lavrada às fls. 242 do Livro de Óbitos da Sé, n0 7, correspondente ao período de 1807 a 1819..." (p. 56). LIMA (1981), em seu "História do Maranhão", afirma serem as ligações do Físico-mor com a então Princesa Carlota Joaquina e com o "Cabrinha", como era alcunhado o então governador da Província, a causa de seu suicídio: "O tal 'Cabrinha' [Francisco de Melo Manuel da Câmara, governador do Maranhão no período de 1806 a 1809] tantas fez que, temeroso decerto do julgamento da posteridade, carregou consigo toda a correspondência oficial, ao deixar o cargo. Dele, porém, ainda se sabem muitas cousas, que foi briguento, infamante e vingativo, além de ter-se comprometido, quando da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, com declarada simpatia aos franceses, de quem ocultava as derrotas, publicando sofregadamente seus triunfos, e blasonando que 'se estivesse em Lisboa nada sofreria, porque seu sogro era amigo de Junot, o qual talvez, longe de perseguílo, bem poderia fazê-lo muito feliz e engrossar-lhe os bens'. Entretinha amizade íntima com o físico-mor Antônio José da Silva Pereira, partidista da causa francesa sem o menor rebuço. Êste médico, 'homem ativo, laborioso e empreendedor', e que aqui chegou quando os corsários franceses fizeram muitas depredações nas águas da capitania, ergueu à margem direita do rio Bacanga, no Sítio Santo Antônio da Alegria, com área superior a 100 hectares e, que depois passou a ser conhecido como 'Sítio do Físico', um complexo industrial que compreendia um cortume, indústria de beneficiamento de arroz, f'ábrica de cal, cera, pólvora, etc., abrangendo edifícios com paredes de 8m de altura, espessas de l,50m, inúmeros tanques de curtir couro, duas mós enormes, senzala, 12 casas pequenas, 18 prisões de escravos, igreja, praça, rede de esgotos, fornos, escadaria e rampa do porto, casa-grande alpendrada com 30 compartimentos e duas dezenas de padrões de azulejos, tudo calçado em cantaria e pedra preta lavrada e cujas ruínas ainda são admiradas, e isto, note-se, ao tempo em que a cidade não possuía engenheiro, 'ficando as obras de edificação a cargo de curiosos, sem planos assentados e direção fixa',


segundo César Marques. Personagem misterioso, lendário, teria sido médico do estado-maior de Napoleão, e também de D. Maria I, a louca, mãe de D. João VI. Por isso travara amizade com D. Carlota Joaquina, suposto elemento de ligação entre o físico e seus partidários (notadamente o governador) e o estado-maior francês, com vistas a um hipotético apoio à França. Nada se pode afirmar, mas certas atitudes do governador tornaram-se suspeitas, e D. Carlota, que já se envolvera em várias revoluções, contra seu próprio marido, bem que era capaz... "Causa espécie que esse empreendimento de tal envergadura e tamanha importância econômica e social haja permanecido sistematicamente ignorado de autores locais e visitantes que se ocuparam, até minuciosamente, às vezes, da história e da vida da cidade, e nem os contemporâneos do físico-mor, nem os seus pósteros, o comentaram ou, apenas citam, porquanto esse relevante parque industrial ainda está aí, suas ruínas testemunham seu significado e grandeza. Não fôra César Marques que, em uns poucos verbetes de seu 'Dicionário', lhe dedica algumas linhas, tratando mais do homem e do médico, do que de sua extraordinária obra, e estaria ele irremediávelmente sepultado no mais absoluto silêncio, a que o conduziria sua misteriosa morte, sem sacramento, devida, segundo o mestre César Marques, ao suicídio por 'desgostos profundos e loucura'. "(p. 109-110). Busquemos em Cesar Augusto MARQUES -" Dicionário histórico-geográfico da província do Marannhão", de 1870 - , mais algumas referências ao Físico-Mor: " ATANADOS (SOLA OU COURO PREPARADO) - Houve antigamente grandes fábricas para êste gênero de indústria. Lembramo-nos de uma montada em grande escala na Praça do Mercado, onde esteve o teatro público, a qual pertencia a Lourenço Belfort, e no sítio do Físico, geralmente à margem direito do Bacanga, ainda se vêem os restos de outra, também espaçosa ... Tudo isto desapareceu...". (p. 99). Prossegue, mais adiante, ao referirir-se sobre a adminstração do Governador e Capitão-General D. Francisco de Melo Manuel da Câmara: "Entre seus adversários veio surpreendê-lo a notícia da invasão de Portugal pelas tropas sob o mando do General Junot em 18 de novembro de 1807, e da partida do Príncipe Regente e da Família Real no dia 29 do mesmo mês em busca das terras do Império de Santa Cruz. "Falando destas ocorrências, na ausência habitual de critérios, disse por vêzes que se estivesse em Lisboa nada sofreria dos invasores, porque seu sogro o General João Forbes era amigo de Junot, e portanto êste longe de o perseguir, talvez até o fizesse muito feliz, engrossando mais os seus bens. "Em suas conversações fazendo o paralelo da educação da França com a de Portugal, avaliando os recursos de uma e de outra nação, dava sempre preferência à França, e não poucas vêzes falava em desabono de sua terra natal. "Estas práticas imprudentes, auteradas e aumentadas por vozes apaixonadas, o fizeram passar por amigo da causa invasora, havendo para isto tais fundamentos e bem fortes, e entre êstes cita-se o ter êle ocultadoà chegada de vários navios a êste porto as derrotas, que sofriam os franceses, e publicado sofregamente os seus triunfos. "Entretinha êle amizade íntima com Dionísio Rodrigues Franco, professor de filosofia, e com o Físico-Mor Antônio José da Silva Pereira, ambos partidistas da causa francesa, porém aquêle com reserva e êste sem o menor rebuço. "Esta intimidade dá motivos para crer-se nesses boatos de então". (p. 349-350).


Sobre um atrito ocorrido em 1808 entre o Juiz de Fora Luís de Oliveira Figuiredo Almeida e os vereadores da Câmara de São Luís, MORAES (1980), citando César Marques, comenta: "Para rebater uma representação que o magistrado enviara ao Príncipe Regente, o Governador convocou uma reunião que é assim registrada: Imediatamente, à noite no palácio do Governador, reuniram-se com o fim de estudar os meios de nulificá-la Sebastião Gomes, Joaquim Velho, Castelin e Basson, o Capitão Café, o Físico-Mor, o Filosofia, (...) e outros." (p. 48; MARQUES, 1870, p. 353). Cesar Marques ainda registra, sob os verbetes "Higiene Pública", "Hospital Militar", "Junta da Administração da Real Fazenda", "Médicos e Cirurgiões" e "Quina", o que segue: "... Deste físicos-mores aqui houve dois, sendo um o Dr. Antônio José da Silva Pereira, nomeado por Decreto de 5 de dezembro de 1798 ...". (p. 371) ... " ... O Capitão-Geral Paulo José da Silva Gama em seu ofício n0 1, de 2 de janeiro de 1812, disse ao Conde de Aguiar que no ano antecedente a Junta da Real Fazenda, de livre e espontâneo arbítrio e sem ouvir o parecer e exame do físico-mor e mais professores, mudou o Hospital Real de um lugar, onde se achava establecido a 51 anos para outro, em que são frequentes e constantes os males, que resultam prejudiciais às curas dos doentes." (p 379). ... " ... Contra o parecer e exame do físico-mor e mais cirurgiões, e sem prévia licença mudou o Hospital ...". (p. 422). ... "Médicos e Cirurgiões. - São os seguintes por ordem cronógica, quando for possível, os médicos e cirurgiões que aqui exerceram sua profissão: .... "Antônio José da Silva Pereira. - Por Decreto de 5 de dezembro de 1798 o Dr. Antônio José da Silva Pereira, da Universidade de Coimbra, foi nomeado físico-mor, e para aqui veio exercer êsse cargo. "Foi o criador do sítio conhecido à margem do Bacanga pelo nome de Físico. Homem ativo, laborioso e empreendedor aí levantou grandes muros, edificou muitas casas e fundou fábricas para curtir couros, dscascar arroz, fabricar cêra, cal, etc. "Infelizmente desgostos profundos ou atos de loucura o levaram a suicidar-se, e na manhã de 15 de novembro de 1818 o mar atirou seu corpo às praias das Mercês." (p. 458-459). ... " [Em 6 de abril de 1803 disse o governador D. Diogo de Sousa]... ser antiguíssimo o uso que se fazia no sertão da casca da árvore chamada quinaquina, e que o Dr. Antônio José da Silva Pereira principiou a aplicá-la com bom sucesso nas febres intermitentes com o título de cascas amargosas de Pernambuco". (p. 548). ================= VER EM MEIRELES, 1995, P. 220; 1993 P. 41 SOBRE ATÉ QUANDO FOI FISICO-MOR =================


MORAES (1980) informa que o Físico-mor nasceu por volta do ano de 1767 "... partindo da informação que contava 29 anos ao concluir o curso de Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1796." (p. 65): "Sabendo-se que levou 9 anos para fazer seu curso superior, teria ingressado na Universidade aos 20 anos, hipótese bem mais aceitável que a decorrente de sua qualificação como testemunha arrolada em sindicância realizada em 1814, para apurar responsabilidades do ex-Governador e Capitão-General do Maranhão, Francisco de Melo Manuel da Câmara. Naquela peça processual, segundo extratos publicados na imprensa maranhense por João da Mata Moraes Rego, teria o Físico, em 1814, apenas 40 anos de idade, o que avança a data de seu nascimento para cerca de 1774 e fá-lo matricular-se na Universidade de Coimbra com apenas 13 anos." (p 65). Pergunta-se MORAES (1980): "Teria o Físico diminuído sua idade no depoimento?" (p. 65). Diz a mencionada qualificação: "15a - Antônio José da Silva Pereira, natural Sanhoane [Sanhoão - Santo Antonio da Madeira de Sanhoão], comarca de Vila Real, Físico-Mor da Capitania, 40 anos.". (p. 66). Recorre-se ao assentamento de óbito do Físico para resgatar mais alguns dados biográficos: "Aos dezessis dias do mês de novembro do ano de mil, oitocentos e dezessete, nesta Cidade do Maranhão, Freguesia de Nossa Senhora da Vitória da Catedral faleceu sem sacramento o Doutor Físico-Mor deste Estado do Maranhão (,) Antônio José da Silva Pereira, natural da freguesia de Santo André da Madeira de Sanhoão, Bispado do Porto, filho legítimo de Custódio José da Silva e de Teresa Maria de Jesus Pereira, era casado nesta Cidade com D. Rosa Tavares da Silva Pereira, de cujo matrinômio não houveram filhos, não fez testamento, foi achado morto na beira de uma praia, e dizem ter se afogado, foi envolto em hábito de N. Sra. do Carmo e sepultado na Igreja do Convento de Nossa Sra. das Mercês. Para constar se fez este assentamento em que me assino. José Joaquim Lisboa." (Livros de Óbitos da Sé, no. 7 - 18071819, fls. 242. Curia Metropolitana da Arquidiocese de São Luís, citado por MORAES, 1980, P. 66). Silva Pereira colou grau em Medicina pela Universidade de Coimbra, "... de onde não sairia como aluno destacado, hava vista que além da reprovação sofrida no ano letivo de 1789, foi 'aprovado simpliciter em sua formatura (1796), e de seus quatro examinadores obteve os seguintes conceitos: bom por um, suficiente por um, medíogre por dois'."(MORAES, 1980, p. 68). O SÍTIO SANTO ANTONIO DA ALEGRIA: Situado à margem direita do Rio Bacanga, no município de São Luís, o Sítio Santo Antonio da Alegria pertenceu ao Físico-Mor do Maranhão. De acordo com MORAES (1980), "ainda não dispomos de fontes fidedignas que possibilitem precisar como e quando entrou Silva Pereira na posse do Sítio Santo Antônio da Alegria, popularmente conhecido como Sítio do Físico ..."(p. 31). Maria VALDIRA, em artigo sobre o Sítio do Físico publicado em 1972, pergunta: "... qual o objetivo da construção ? Ninguém soube, O que há, hipóteses.


... "... o Físico que dera nome ao Sítio era tudo, menos Físico... Era Químico, Médico, Engenheiro, Político.Português de nascimento, desembarcou no Maranhão em 1798. Chamava-se José da Silva Pereira, e tinha o título de Físico-Mor da Corte Portuguesa." (p. 2). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia. São Paulo : T.A. Queiroz : Ed. da Universidade de São Paulo, 1985. LIMA, Carlos de. História do Maranhão. (s.l., s.e.), 1981 MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico-geográfico da províncai do Maranhão. Maranhão : Tip. do Frias, 1870. (reimpressão de 1970) . MEIRELES, Mário M. História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão. São Luís : UFMA/SIOGE, 1977. MEIRLES, Mário M. Apontamentos para a história da medicina no Maranhão. São Luís : SIOGE, 1993. MEIRELES, Mário M. Apontamentos para a história da medicina no Maranhão. IN _______. Dez estudos históricos. São Luís : ALUMAR, 1995, p. 197-256. MEIRELES, Mário M. Apontamentos para a história da farmácia no Maranhão. IN _______. Dez estudos históricos. São Luís : ALUMAR, 1995, p. 161- 193. MEIRELES, Mário M. Dez estudos históricos. São Luís : ALUMAR, 1995. MORAES, Jomar. O Físico e o sítio (tentativa de reconstituiçõao histórica). São Luís : SIOGE, 1980. MORAIS, Clóvis. Terra timbira. Brasília : (s.e.), 1980. VALDIRA, Maria. História feita de pedra. São Luís : (s.e.), 1972, p. 2. (Recorte de jornal).


O LÚDICO E O MOVIMENTO COMO ATIVIDADE EDUCATIVA74 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Introdução A limitação da possibilidade crítica expressa na recente produção teórica da educação física brasileira (GAYA, 1994; TAFFAREL e ESCOBAR, 1994; BRACHT 1995) pode ser explicada pela ausência da categoria “atividade” no sentido marxista, explicativa das mudanças trazidas pelo modo de produção capitalista, pois a atividade lúdica do homem, entendida como toda atividade humana, aparece como um sistema incluído no sistema de relações da sociedade, não existindo em absoluto fora destas relações (TAFFAREL e ESCOBAR, 1994). Para essas autoras, quando se analisa a atividade temos que assinalar que a atividade objetiva gera não somente o caráter objetivo das imagens senão também a objetividade das necessidades, das emoções e dos sentimentos. Argumentações como as que vêm sendo utilizadas por alguns autores explicam-se pela não consideração da Educação Física como produção não material que, em determinados estágios e pela influência de certos fatores próprios do sistema capitalista, sofre o mesmo processo de privação das suas qualidades sensíveis sofrido pela produção material. Ghirardelli Junior (1990) servindo-se de Marx - Capítulo Sexto (Inédito) de O Capital - diferencia dois tipos de produto: (a) aquele que é de fato o produto material, e que tem todas as possibilidades de se integrar à lógica do valor de troca e se transformar em mercadoria à medida que se instauram relações sociais capitalistas; e (b) aquele que é o produto não material, e que, pela sua própria natureza, coloca resistência à sua integração no âmbito das relações sociais capitalistas à medida que não se adapta à forma de mercadoria tão confortavelmente como o primeiro (p. 199). Para esse autor, o produto material é produzido para consumo posterior. Quanto ao produto não material, aparece uma nova divisão: existem aqueles que podem ser consumidos posteriormente, como o livro, o quadro, mas existem aqueles que são essencialmente consumidos no ato de produção, como o trabalho clínico do médico, a aula do professor, a efetivação na Educação Física do movimento corporal humano (em forma de aula, jogo, desporto, espetáculo, etc.). Aqui, neste segundo caso, é que o capitalismo e seu processo de mercadodização encontram mais resistência e só as vencem, dentro de certas medidas, alterando profundamente o produto em suas qualidades mais íntimas. O nosso problema se concentra justamente nesse tipo de produto não material que se consome no ato de produção. O movimento corporal humano da Educação Física é singular, se realiza e, concomitantemente, vai sendo consumido por praticantes e assistentes. Não pode ser reproduzido de forma alguma. Um jogo, uma dança, etc., são situações históricas onde transcorrem subjetividades e relações objetivas particulares que jamais poderão se repetir. Pergunta-se, então, o que é Educação Física? A pergunta pelo que é a Educação Física pode ser interpretada como uma busca do ser da Educação Física, da essência. Mas o que é, então, a essência de algo ou de uma prática social? (BRACHT, 1995). Esse autor coloca, como Heidegger, que a essência da Educação Física seria aquilo que a define enquanto tal e concomitantemente a distingue de outras práticas ou fenômenos. Identidade é tomada como aquelas características que distinguem a educação física enquanto uma prática social específica, portanto conjunto de características que definem seu estatuto próprio e ao mesmo tempo a diferenciam (BRACHT, 1992). Buscando uma definição de termos básicos que delimitem, num primeiro momento, concretamente, um campo/objeto, esse autor advoga a utilização do termo educação física para se referir a “prática pedagógica que tem tematizado elementos da esfera da cultura corporal/movimento” (1995, p. 35).

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Trabalho final da disciplina Problemas Fundamentais da Pedagogia, ministrada pela Dra. Ida Hernandez DEZEMBRO DE 1997; CONVÊNIO CEFET-MA/ISPETP-CUBA - CURSO DE DOCTORADO EM CIÊNCIAS PEDAGÓGICAS - INSTITUTO SUPERIOR PEDAGÓGICO PARA A EDUCAÇÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL ISPETP -CUBA


A corporeidade como objeto da educação física No entendimento de Alves (1997), as ações humanas se manifestam e se expressam corporalmente quando se pensa na multidmensionalidade do sujeito. Volta-se o olhar, em primeiro lugar, para a corporeidade. Santin (1987, 1990, 1992, 1996) afirma que a corporeidade, sob o ponto de vista filosófico, não corresponde a um elemento mensurável, mas a uma imagem que construímos na mente. Após consultar dicionários e manuais, conclui que estes são ambíguos ao definir o que seja corporeidade: “a qualidade do ser corpóreo”, ou “aquilo que constitui o corpo como tal”, ou simplesmente, como “a idéia abstrata do corpo”. Portanto, “a corporeidade seria a propriedade básica que nos garante a compreensão do corpo” (1990, p. 137). Em sua analise, parte de três atitudes para buscar os aspectos filosóficos da corporeidade: uma, ontológica, em que a corporeidade significaria exatamente aquilo que constitui o corpo como tal (1990, p. 137); outra, epistemológica, onde a corporeidade é tomada como a concretude espaço-temporal do corpo humano enquanto organismo vivo, a partir das descobertas das ciências experimentais, sendo assumida essa tarefa pela biologia, pela genética, pela anatomia e pela fisiologia (1990, p. 137-138); e uma terceira, que chama de fenomenológica, não está preocupada nem em garantir as bases ontológicas, nem construir uma epistemologia objetiva e rigorosa da corporeidade, mas tentar descrever as imagens de corporeidade que o imaginário humano construiu ao longo da história da humanidade, incluídas também as imagens metafísicas e científicas. Ela tenta captar as possíveis implicações culturais, sociais, educacionais, políticas e ideológicas que tais imagens geraram nos indivíduos e na sociedade. A corporeidade, portanto, sob o ponto de vista dessa atitude, não se constitui num elemento mensurável, ela é apenas a imagem construída na mente a partir da maneira como os corpos são percebidos e vivenciados (1990, p. 138). Conclui que o importante não é definir corporeidade, mas compreender as diferentes corporeidades que inspiram e determinam o tratamento dos corpos humanos, desenvolvidos pelas culturas humanas, em geral, e pelas atividades da Educação Física, em especial. Para Bracht (1992), a materialidade corpórea foi historicamente construída e, portanto, existe uma cultura corporal, resultado de conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumulados pela humanidade. Já Pereira (1988) fala de uma cultura física como toda a parcela da cultura universal que envolve exercício físico, como a educação física, a ginástica, o treinamento desportivo, a recreação físico-ativa, a dança, etc. Betti (1992) lembra que Noronha Feio já se referiu a uma cultura física como parte de uma cultura geral, que contempla as conquistas materiais e espirituais relacionadas com os interesses físico-culturais da sociedade. E Kofes (1985) afirma que o corpo é expressão da cultura, portanto cada cultura vai se expressar através de diferentes corpos, porque se expressa diferentemente enquanto cultura. Manuel Sérgio Veira e Cunha (1982) considera que a transformação da realidade objetiva é um processo material onde se entrechocam contradições de vária ordem que se torna imperioso superar e resolver, na linha da construção do Homem por si mesmo. Para esse autor, a Educação Física possui um objeto específico: as condutas motoras. Ao se referir às Culturas Física e Desportiva, afirma que esta advém daquela, entendendo por Cultura Física o aspecto criativo, subjetivo, original da pessoa, manifestado através da conduta motora do indivíduo. Do ponto de vista antropológico, Manuel Sérgio considera Cultura Física a maneira como os homens exprimem a sua conduta motora, em conformidade com a tradição e o modo de expressão grupal ou societária: [...] Se a Cultura, na acepção usada neste passo, é o conjunto de comportamentos e de modos de pensar, próprios de uma sociedade, a Cultura Física não pode compreender-se desinserida de um clima gregário que preservou e perpetuou determinados valores e determinadas técnicas corporais. (...) “Daí que a Cultura Física, sob o ângulo de visão de que nos ocupamos agora, apresente os seguintes elementos culturais: usos e costumes, crenças, a linguagem, as tradições, a música, a dança, os padrões de comportamentos, etc. e seja, por isso, o veículo transmissor de uma das feições, da conduta motora, que vão dar originalidade às Atividades Corporais de um povo. (...) “E, dessa forma, é possível descobrir na Cultura Física a história motora de uma comunidade e daqui partir em demanda da cultura e das estruturas sociais. A


motricidade surge sempre carregada de sentido. Afinal, porque é ela a estar em jogo em qualquer actividade humana. (...) “... a cultura desportiva (...) representa um domínio da cultura física que sintetiza as categorias, as instituições e os bens materiais, criados para a valorização da actividade física, nos quadros da pedagogia, do lazer ou da competição, com o fim do aperfeiçoamento biopsicológico e espiritual do homem...”. (p. 62-63). O termo Cultura Corporal tem duplo sentido: no primeiro, se pressupõe uma técnica sobre o corpo, com a palavra cultura significando sinônimo de treinamento, adestramento do corpo; é nesse sentido que termos como culturismo e fisioculturismo são utilizados. O sentido de Cultura Corporal parte da definição ampla de Cultura e diz respeito ao conjunto de movimentos e hábitos corporais de um grupo específico (DAÓLIO, 1995). Para esse autor, é evidente que o conjunto de posturas e movimentos corporais representam valores e princípios culturais. Ao falar das técnicas corporais, serve-se de Mauss, que as definiu como as maneiras de se comportar de uma sociedade; esse antropólogo francês considerou os gestos e os movimentos corporais como técnicas próprias da cultura, passíveis de transmissão através das gerações e imbuídas de significados específicos: “... Técnicas corporais culturais, porque toda técnica é um hábito tradicional, que passa de pai para filho, de geração para geração”. Só é possível falar em técnica, por ser cultural. (MAUSS, 1974, v.2, apud DAOLIO, 1995 : 26). Soares (1987), ao refletir sobre o esporte, considerando-o objeto do aparelho cultural num contexto de análise althusseriana, verifica que esta atividade está sempre a serviço das ações e relações sociais subjetivas de aprendizagem dos “saberes práticos” (“dessavoir fair”). Essas ações e relações são veiculadas através de sua prática, e, geralmente, estão em consonância e no contexto da proposta da classe dominante, com igual disseminação de chauvinismo de primeira ordem: “Então, poderíamos usar de mediação para a transformação, negando um objeto para substituí-lo por outro, ou seja, será negando totalmente o modelo-padrão de esporte elitista que daremos um salto para sua democratização ? Acreditamos que não. Adotando uma linha de pensamento Luckácsiana, não será através da ruptura com a cultura burguesa, em sua totalidade, que se fará emergir uma nova cultura. Mas, com a revisão crítica da cultura burguesa se resgatarão os elementos culturais válidos para qualquer situação de mudança.” (p. 36). Atividade deve ser entendida como uma forma de apropriação da realidade e de modificação dessa, que mediatiza a ação humana na natureza. É, portanto, uma propriedade inerente à vida e que se torna humana quando consciente. A atividade produz a consciência e esta se apresenta como uma linguagem psíquica que revela ao sujeito o mundo que o rodeia (GOELLNER, 1992). Entende ser relevante, ao discutir a apropriação do conhecimento, abordar a questão da internalização, que nada mais é do que a reconstituição interna de uma operação externa, e que não se dá apenas numa transição simples da atividade externa para o plano interior da consciência, mas na formação do próprio plano; daí ser possível afirmar que a construção do conhecimento e da cultura se dá, a princípio, num plano social e posteriormente, num plano individual. Serve-se de Marx para afirmar que a prática é a base do conhecimento humano, um processo que no decorrer do seu desenvolvimento faz surgir tarefas cognitivas que originam a percepção e o pensamento: a atividade humana, na sua forma inicial e básica é sensorial, prática, durante a qual os homens se põem em contato prático com o mundo circundante, experimentam em si mesmos as resistências desses objetos e atuam sobre eles, subordinando-se às suas propriedades objetivas (p. 290). Silva (1985) entende ser a prática o processo capaz de servir para transformar a natureza e as relações entre os homens; devendo se orientar por um conhecimento que sirva de luz para o operar e agir da prática. A unidade teórico-prática deve se constituir numa totalidade dialética, a qual não privilegia nenhuma isoladamente. A prática é fundamental, pois é no concreto das relações sociais que o homem transforma e se transforma. Conclusão Marx, nos Fundamentos da crítica à economia política, já afirmava que “economizar tempo de trabalho é aumentar o tempo livre, isto é, o tempo que serve ao desenvolvimento completo do indivíduo. O tempo livre para a distração, assim como para as atividades superiores, transformará naturalmente quem dele tira proveito num indivíduo diferente”.


Ao se indagar qual a importância do lúdico e do movimento no processo educacional, se quer saber qual é a importância das atividades que se realizavam no tempo do não-trabalho, pois é na prática das atividades lúdicas e do movimento - atividades recreativas e desportivas culturais - que o homem conforma seus pontos de vista, seus juízos, suas convicções. Durante a atividade desenvolve suas capacidades de homem, sua iniciativa, sua individualidade. É nela que se dá a assimilação das normas de vida em comum, com a aproximação dos jovens com a riqueza material e espiritual criadas pelas gerações precedentes. É na corporeidade que se situa o ponto central de encontro do homem consigo mesmo. Ela é “a presença e a manifestação do ser humano...”. (SANTIN, apud ALVES, 1997, p. 939). Daí ser a corporeidade a condição primeira para que se reinstaure a presença do ser humano (ALVES, 1997). Referências bibliográficas ALVES, Vânia de Fátima Noronha. Desvendando os segredos de um “programa de índio”: a linguagem corporal lúdica Maxakali. In CONGRESSO BRASILEIROS DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, X, Goiânia, 20 a 25 de outubro de 1997, p. 938-945. ANAIS... Goiânia : CBCE : UFGO, 1997, vol. II. BETTI, Mauro. Ensino de primeiro e segundo graus: educação física para quê? REVISTA BRASILEIRAA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, 13 (2), 1992, p. 282-287. BRACHT, Valter. EDUCAÇÃO FÍSICA E APRENDIZAGEM SOCIAL. Porto Alegre : Magister, 1992. BRACHT, Valter. et. Al. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo : Cortez, 1992b. in DAÓLIO, Jocimar. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), junho 1995, p. 24-28. BRACHT, Valter. Mas afinal, o que estamos perguntando com a pergunta “o que é Educação Física?”. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), julho de 1995, Separata. BRUHNS, Heloísa (org). CONVERSANDO SOBRE O CORPO. Campinas : Papirus, 1985. DAÓLIO, Jocimar. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), junho 1995, p. 24-28. GAYA, Adroaldo. Mas afinal, o que é Educação Física? REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 1 (1), setembro 1994, Separata, p. 1-6. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Indicações para o estudo do movimento corporal humano da Educação Física a partir da dialética materialista. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 11 (3), 1990, p. 196-200. GOELLNER, Silvana Vilodre. A categoria da atividade e suas implicações no desenvolvimento humano. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13 (2), Janeiro de 1992, p. 288-292. KOFES, S. E sobre o corpo, não é o próprio corpo quem fala? Ou o discurso desse corpo sobre o qual se fala. In BRUHNS, Heloísa (org). CONVERSANDO SOBRE O CORPO. Campinas : Papirus, 1985. MAUSS. M. Sociologia e antropologia. São Paulo : EPU/EDUSP, 1974, v. 2. In DAÓLIO, Jocimar. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), junho 1995, p. 24-28. PEREIRA, F. M. Dialética da cultura física: introdução crítica à educação física, do esporte e da recreação. São Paulo : Ícone, 1988. In DAÓLIO, Jocimar. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), junho 1995, p. 24-28. TAFFAREL, Celi Nelza Zulke; ESCOBAR, Micheli Ortega. Mas, afinal, o que é Educação Física?: um exemplo do simplismo intelectual. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 1 (1), setembro 1994, Separata, p. 7-12. SILVA, Francisco Martins da. Reflexões filosóficas e sociais acerca do desporto. REVISTA ARTUS, Rio de Janeiro, n. 15, 1985, p. 34-38. SANTIN, Silvino. EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA ABORDAGEM FILOSÓFICA DA CORPOREIDADE. Ijuí : Unijuí, 1987. SANTIN, Silvino. Aspectos filosóficos da corporeidade. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, 11 (2), janeiro 1990, p. 136-145. SANTIN, Silvino. EDUCAÇÃO FÍSICA : TEMAS PEDAGÓGICOS. Porto Alegre : Edições EST / 1992

ESEF -UFRGS,

SANTIN, Silvino. Esporte: identidade cultural. COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília, 1996, p. 13-26. SOARES, Antônio Jorge G. Reflexões sobre as dimensões do esporte. REVISTA ARTUS, Rio de Janeiro, n. 20, dezembro de 1987, p. 36-39. VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio. A PRÁTICA E A EDUCAÇÃO FÍSICA. 2ª ed. Lisboa : Compendium, 1982.


A PRÁTICA MÉDICA NO MARANHÃO COLONIAL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Reportagem divulgada neste inicio de 201875, sobre a prática médica no Brasil Colonial - no livro As práticas e os saberes médicos no Brasil colonial (1677-1808), de Ana Carolina de Carvalho Viotti 76, traz que a medicina européia chegou ao Brasil a bordo das caravelas de Pedro Álvares Cabral. Entre os principais integrantes da expedição desembarcou, em abril de 1500, João Faras, médico, astrônomo e astrólogo judeu, íntimo do rei D. Manuel I. Segundo a Autora foi feito um levantamento mais completo possível dos escritos publicados por médicos e cirurgiões que atuaram no Brasil durante o período considerado, enfocando os médicos e a hierarquia que havia entre eles, as doenças e como os doentes eram descritos, e por fim, as receitas e os ingredientes empregados em sua confecção. A escolha de 1677 como marco inicial foi uma opção menos esperada: “Trata-se da data de publicação da obra mais antiga que repertoriei: um livro escrito por Simão Pinheiro Mourão, médico diplomado pela Universidade de Coimbra, denunciando a prática da medicina por pessoas não licenciadas”. Trata-se de Queixas repetidas em ecos dos arrecifes de Pernambuco contra os abusos médicos que nas suas capitanias se observam tanto em dano das vidas de seus habitadores – foi bastante intencional, porque ela explicita, logo de início, um conflito que perpassou todo o período, constituído pela oposição entre médicos formados nas universidades europeias e práticos não diplomados e curandeiros que atuavam no país”. A diferenciação medieval entre médicos e cirurgiões-barbeiros perdurou com bem menor rigidez na colônia do que do outro lado do Atlântico ao longo dos séculos 17 e 18. A Autora refere-se, ainda, há várias pesquisas sobre a participação de judeus ou cristãos-novos nas chamadas “artes médicas” praticadas na colônia. Em especial, destaca-se o livro, já antigo, de Bella Herson: Cristãos-novos e seus descendentes na medicina brasileira: (1500-1850) [São Paulo, Edusp, 1996]. Dadas as condições de poucos médicos e muitas pessoas a serem atendidas, vários religiosos, especialmente os jesuítas, passaram a atuar como médicos práticos ou enfermeiros. Até a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, em 1756, foram eles que mantiveram as boticas, como eram chamadas as antigas farmácias, e também os hospitais. E NO MARANHÃO?

Sabe-se o cirurgião de Daniel de La Touche como o primeiro ‘médico’ a atuar por aqui. Mas me pergunto se em Miganville não havia um físico-mor também. Afinal, a feitoria de Jacques Riffault contava com cerca de 400 homens brancos ali vivendo, onde é hoje a nossa Vila Velha de Vinhais desde 1594. Ainda não temos registros, mas já li que havia um padre jesuíta (?) entre eles... A chegada dos Jesuítas e a Fundação do Colégio - 1618 77 A presença de ordens religiosas na colônia prendia-se, teoricamente, aos interesses pela conversão e educação dos nativos, instrumento de dominação da política colonial europeia (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 30) 78. 75

ARANTES, José Tadeu. A prática médica no Brasil Colonial. Agência FAPESP, 15 de janeiro de 2018, in http://agencia.fapesp.br/a_pratica_medica_no_brasil_colonial/26987/ 76 http://www.bv.fapesp.br/pt/pesquisador/73940/ana-carolina-de-carvalho-viotti/ 77 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dants Brito; VAZ, Loreta Brito. INDÍCIOS DE ENSINO TECNICO/PROFISSIONAL EM MARANHÃO: 1612 – 1916. São Luís: CEFET-MA, Novembro de 2003 78 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990.


Em 1618, os jesuítas instalam-se em Maranhão, na antiga Aldeia da Doutrina (hoje, Vila do Vinhais Velho). Além dessa primeira, duas outras missões situavam-se na Ilha: a aldeia de São Gonçalo ou Tuaiaçu Coarati – que se destacou pela produção de sal; e a de São José, onde os padres da Companhia mais exercitaram suas funções, e foi aldeia de serviço de El-Rei. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 31) 79. Em 1622, fundam o Colégio 80 e a Igreja Nossa Senhora da Luz (atual Igreja da Sé). O “Colégio de Nossa Senhora da Luz” era a "cabeça" da missão jesuítica no Maranhão (CAVALCANTI FILHO, 199081; VAZ e VAZ, 199482; PELLEGRINI, 2000)83. De acordo com o Pe. José Coelho de Souza, em “Os jesuítas no Maranhão” 84, os jesuítas fundaram diversas estabelecimentos de ensino em São Luís, Alcântara, Parnaíba, Guanaré e Aldeias Altas, Vigia e Belém: colégios, seminários, escolas: Nesses estabelecimentos existiram escolas rudimentares de aprendizagem mecânica, o que hoje chamaríamos Escolas de Artes e Ofícios. Houve aí também as primeiras oficinas de pinturas e escultura, sendo essas oficinas postulado e conseqüência da construção dos colégios. No Colégio Nossa Senhora da Luz notava-se a Pinturia, vocábulo que não anda nos dicionários, mas é admiravelmente bem formado: era uma sala grande no corredor de cima, quase junto à portaria. Nela se ataviavam e pintavam as imagens que se esculpiam noutra oficina, a de escultor e entalhador, anexa à carpintaria. Era frequente o pedido a Portugal de se mandarem irmãos peritos em diversas artes, entre as quais a de pintor, para serem mestres. (p. 27).

São Luís foi a primeira cidade do Estado onde os jesuítas exerceram o ensino. O Colégio de Nossa Senhora da Luz, em curto espaço de tempo, tornou-se excepcional centro de estudos filosóficos e teológicos da ordem no Estado (universitate de artes liberais). Era o que melhores condições de estudos oferecia. Já em 1709, o Colégio do Maranhão era Colégio Máximo, nomenclatura usada pelos discípulos de Loyola para seus estabelecimentos normais de estudos superiores. Nesse colégio funcionavam as faculdades próprias dos antigos colégios da Companhia: Humanidades, Filosofia e Teologia, e, mais tarde, com graus acadêmicos, no chamado curso de Artes. Os estudos filosóficos compreendiam: no 1º ano, Lógica; no 2º, Física; no 3º, Matemática. O Colégio Máximo do Maranhão85 outorgava graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XIII. Dentre os estabelecimentos de ensino dos jesuítas, as Escolas Gerais ocuparam um lugar de destaque, pelo fato de terem tornado o ensino popular ao alcance de todos. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 36) 86. Ao se estudar a origem das Corporações de Ofícios 87 – Guilda, Grêmio – verifica-se que antes do século XII, tem-se notícia de uma “scholae” de pescadores e açougueiros em Ravena. O uso do termo “scholae” (associação de ofício) indica, provavelmente, que já não havia somente a preocupação coletiva com a formação de seus continuadores, mas ostentavam também um patrimônio cultural e pedagógico dotado de técnicas particulares de transmissão.

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CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 80 Os primeiros conventos, fundados pelas ordens religiosas, que abriram escolas para meninos, foram denominados de colégio; os outros conservaram o nome de conventos In ALMEIDA, José Ricardo Pires de. HISTÓRIA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NO BRASIL (1500 - 1889). São Paulo: EDUC; Brasília: INEP/MEC, 1989, p. 25 - nota de pé-de-página. 81 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 82 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 83 PELLEGRINI, Paulo. A descoberta da Arte Sacra. IN O IMPARCIAL, São Luís, Domingo, 23 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 45. 84 SOUSA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1977. 85 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O COLÉGIO MÁXIMO DO MARANHÃO. IHGM, palestra. 86 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 87 RUGIU, Antonio Santoni. NOSTALGIA DO MESTRE ARTESÃO. Campinas: Autores Associados, 1998


Artesãos de vários gêneros formavam-se nas oficinas dos mosteiros que faziam às vezes de escolas de Arte no sentido lato, e cuidavam especialmente do treinamento de jovens, em laboratórios artesanais destinados a instruir a mão-de-obra necessária. Essas “oficinas” deram origem às “universitates”. As universitates (associações) de artesãos são progressivamente institucionalizadas e conquistam proteção dos poderes públicos. Tal ascensão se iniciou no século XII e culminou no século XIV. É acompanhada da difusão das “universitates magistrorum” ou “universitates scholorum”, isto é, aquelas que hoje chamamos universidades, associações particulares dedicadas à produção de bens intelectuais típicos das Artes Liberais (trívio e quadrívio e depois também Teologia e Direito, e mais tarde ainda, Medicina), não ainda, porém, no vértice do prestígio cultural e social. Inicialmente, de fato, a distinção entre universitates de Artes “mecânicas” e universitates de Artes liberais eram pouco marcadas. As Artes Mecânicas compreendiam todas as atividades artesanais, inclusive aquelas dos médicos, desvalorizados pelo próprio nome de “mecânica” – derivado de mecor, aris (mechor, aris, no latim clássico = rebaixar, adulterar, depreciar). As Artes Liberais correspondiam a todas as atividades aplicadas no Trívio (gramática, retórica, lógica) e no Quadrívio (matemática, geometria, astronomia, música). (RUGIU, 1998, p. 25-26; 30). Nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas (ALENCASTRO, 2000, p. 87) 88. A "Aldeia da Doutrina" foi o primeiro aldeamento de índios implantado pelos jesuítas e estava localizada onde é, hoje, a Vila Velha do Vinhais (VAZ e VAZ, 1994) 89. Os aldeamentos distinguiam-se das tabas, por serem sítios de moradia de indivíduos de uma ou de várias tribos, compulsoriamente deslocados, misturados, assentados e enquadrados por autoridades do governo metropolitano. Forros, os índios dos aldeamentos só podiam ser utilizados mediante salário, nos termos da lei (ALENCASTRO, 2000, p. 120) 90. Os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura (1615), principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Pernambuco (VAZ e VAZ, 199491; MARQUES, 197092; CAVALCANTI FILHO, 1990) 93: "E como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, nela estabelecessem todos os costumes, que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos". Em 1664, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, é levantado o Convento de Nossa Senhora da Assunção - que o povo chamou sempre de Convento das Mercês -, e nesse convento funcionavam, primeiro uma escola de primeiras letras e de música e, depois, uma aula de latim, de gramática, de filosofia e de cantochão, para rapazes. Era servida de uma boa biblioteca (MEIRELES, 1995, p. 34-35) 94. Como ‘primeiro médico maranhense’ temos: P. ANTONIO PEREIRA95, natural de São Luis do Maranhão, onde nasceu em 1638. E entrou para a Companhia de Jesus nesta mesma cidade pelo ano de 1655. Estudou parte em Portugal, parte na Bahia e entre os seus estudos se incluem algumas noções de Medicina. Voltou ao Maranhão, onde ficou Mestre de Noviços:

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ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 89 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 90 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 91 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 92 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Maranhão: Tip. do Fria, 1870. (reedição de 1970). 93 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 94 MEIRELES, Mário Martins. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: Alumar, 1995. 95

LEITE, Serafim. ARTES E OFÍCIOS DOS JESUÍTAS NO BRASIL – 1549-1760. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2008. Edição fac-similar da de 1953: Lisboa – Rio de Janeiro, Edições Brotéria e Livros de Portugal, p. 234


E como quer que pelo Brasil, onde tinha estudado curso de Teologia, havia também concorrido com os enfermos, e dando-se por entendido em matéria de curá-los, era buscado dos doentes aos quais acudia assim para a saúde do corpo como a da alma com muita caridade. (BETTENDORF, 1990) 96.

Até onde consigo entender, este seria nosso primeiro médico! Pois nascido em São Luis e aqui exercido a Medicina... Salvo melhor juízo... Serafim Leite97 não traz somente esse ‘médico’ como praticante da arte de curar. Seu livro trata das artes e ofícios praticados pelos padres da Companhia de Jesus, localizando-os e, sempre que possível, trazendo suas origens. Utilizou-se dos arquivos gerais e outras obras. Esclarece que da ação dos jesuítas é conhecida a obra pedagógica, o esforço na liberação dos naturais da terra e a defesa contra seu extermínio, a catequese religiosa, a moralidade cristã dos costumes, a cultura literária, linguística, e científica, como elementos políticos a serviço da expansão e unidade territorial da nova nação que se criava. Explicita seu processo e método, as fontes de que se valeu, a bibliografia impressa, e passa a tratar dos Ofícios e dos Irmãos, dos ofícios domésticos, dos que não são comuns, propriamente os ofícios mecânicos, ai localizando os barbeiros, enfermeiros, cirurgiões, farmacêuticos... Os que nos interessam, responsáveis pela Arte de Cura. Na segunda parte, em ordem alfabética, identifica-os: ALBERTI, Domingos (1711 – 1751 – 1752...). Natural de Saluzzo, onde nasceu em 11 de abril de 1711. Entrou na Companhia em Roma a 9 de julho de 1736. Farmacêutico (pharmacopola). Chegou ao Maranhão em 1751, deixando de pertencer à Companhia no ano seguinte. COELHO, Domingos (1645 – 1678 – 1716). Natural de Castelo Rodrigo (Beira Baixa), onde nasceu em 1645. Entrou para a Companhia em Lisboa, a 1 de fevereiro de 1675. Chegou ao Maranhão em 1678. Conhecia bem a arte cirúrgica e farmacêutica. Faleceu no Colégio de São Paulo em 4 de maio de 1716. FERREIRA, Clemente (1713 – 1734 – 1741). Natural da Diocese de Coimbra (os Catálogos têm Vila Boa; a Lembrança, S. Pedro de Espinho); Nasceu em 1713. Entrou na Companhia a 25 de abril de 1734, chegado esse mesmo ano ao Maranhão. Farmacêutico e enfermeiro (pharmacopola et infirmarius). Faleceu em 8 de janeiro de 1741, no Maranhão. FONSECA, P. Manuel da (1734 – 1753 – 1782...). Natural de Vilar (Diocese de Braga), onde nasceu a 5 de abril de 1734. Entrou para a Companhia em 24 de março de 1753. Esteve no Maranhão e no Colégio do Pará. Conhecido como “Boticário do Maranhão ou Tapuitapera”. GAIA, Francisco da (1675 – 1700 – 1747). Natural de Santa Marta (Braga), onde nasceu por 1676. Entrou na Companhia a 15 de março de 1700. Residia no Colégio do Pará como enfermeiro e farmacêutico (pharmacopola). Faleceu no Pará em 20 de janeiro de 1747. JOSÉ, Romão (... – 1746 – 1750...). Entrou na Companhia no Maranhão em 1746. Farmacêutico do Colégio do Pará em, 1750. ORLANDINI, P. João Carlos (1646 – 1679 – 1717). Natural de Sena (Toscana), onde nasceu em 1646. Entrou na Companhia em Genova em 1662. Chegou a Lisboa em 1678 e embarcou para as Missões do Maranhão e Pará no ano seguinte de 1679. Foi missionário de grandes recursos. Era entendido em coisas de medicina e sabia como se deve acudir aos doentes e achacosos com tudo o que lhe parecesse necessário e útil. Faleceu em Itacuruçá (Xingu) a 29 de agosto de 1717. PEREIRA, João (1696 – 1718 – 1758). Natural de Açores (Diocese de Miranda do Douro) em Trás-osMontes, onde nasceu a 15 de agosto de 1696. Entrou na Companhia pelo Pará a 30 de setembro de 1696. Irmão de grande virtude e capacidade, que mostrou em vários ofícios incluindo o de enfermeiro no Colégio do Maranhão, em 1735. Faleceu com 62 anos de idade, no Maranhão a 13 de dezembro de 1758.

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BETTENDORF, João Felipe. CRONICA DOS PADRES DA COMPANHIA DE JESUS NO ESTADO DO MARANHÃO. 2ª Ed. Belém: FCPTN/SECULT, 1990, p. 304 97 LEITE, Serafim. ARTES E OFÍCIOS DOS JESUÍTAS NO BRASIL – 1549-1760. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2008. Edição fac-similar da de 1953: Lisboa – Rio de Janeiro, Edições Brotéria e Livros de Portugal, p. 234


PEREIRA, José (1717 – 1732 – 1793). Natural de S. Eulália de Ferreira (Figueira da Foz), onde nasceu a 5 de setembro de 1732. Foi enfermeiro do Colégio do Maranhão. Faleceu em 19 de dezembro de 1795 em Pesaro. PEREIRA, Manuel (1714 – 1732 – 1753). Natural de Poiares (uma das varias povoações deste nome, da Diocese de Braga). Nasceu em 10 de maio de 1714. Entrou na Companhia no Maranhão a 5 de julho de 1732. De ofício barbeiro (barbitonsor) e enfermeiro. Passou depois ao Pará, onde veio a falecer em 1 de setembro de 1753. PINHEIRO, P. Luis (1698 – 1720 – 1733...). Natural de Celas (Coimbra), onde nasceu a 3 de março de 1698. Entrou na Companhia a 17 de fevereiro de 1720, seguindo neste mesmo ano para o Maranhão. Farmacêutico (pharmacopolas). Em 1730 chama-se-lhe “Padre Boticário”. RODRIGUES, Manuel (1630 – 1661 – 1724...). Natural de Ponta Delgada (Açores), onde nasceu em 1630. Entrou na Companhia em 1656 e embarcou de Lisboa para o Maranhão em 24 de novembro de 1660. Ocupou variados cargos dentre os quais enfermeiro e farmacêutico. Trabalhou com os Índios Guajajaras do Rio Pinaré. VIEIRA, Antonio (1681 – 1723 – 1750). Natural da freguesia de Nossa Senhora da Graça (Diocese de Funchal), onde nasceu em 1681. Chegou ao Pará com 17 anos. Entrou para a Companhia de Jesus a 6 de outubro de 1723. Foi enfermeiro do Colégio do Maranhão algum tempo. Faleceu a 22 de junho de 1750.


CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL: UMA REDE SOCIAL EM CIÊNCIAS DO ESPORTE? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA O pedagogo, o historiador, o físico também “transferem” informação e “geram” conhecimento. No entanto, o organizador dos saberes está preocupado em desdobrar as possibilidades de preservação, representação e de transmissão desta “informação” do pedagogo, do historiador, do físico. (SALDANHA, 2012, p. 23-4) 98. CEV – FERRAMENTA DE BUSCA OU REDE SOCIAL? Com o advento da Internet e desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC’s, as relações sociais foram completamente alteradas e o fluxo da comunicação científica teve que ser reestruturado e readaptado aos novos ambientes (TAVARES, VALÉRIO e SILVA, 2012) 99: A Web 2.0 permitiu a criação de sistemas de compartilhamento de informações e a interação entre pessoas. Mecanismos esses, que dentro da comunidade científica, possibilitaram a rápida comunicação de resultados de pesquisas e a disseminação de informação entre os grupos de pesquisadores. [...] as RSVs [100 ] são consideradas fontes de informação que proporcionam ao pesquisador, de maneira rápida, a informação necessária para obtenção de conhecimento. Durante a análise, percebeu-se que os pesquisadores dão mais ênfase à utilização de fontes primárias de informação, ou seja, livros e periódicos. Mas alguns ainda são mais resistentes, usam apenas a versão impressa, descartando a utilização de qualquer meio digital. (...) Enfim, parece adequado refletir sobre a importância e o alcance que essas redes têm atingido no processo de comunicação, pois os sujeitos sociais podem partilhar de vários materiais de interesse comum, de forma que as informações que circulam em rede tende a ser especializada, atendendo as necessidades desses grupos.

A Internet definitivamente mudou a forma pela qual a literatura acadêmica é publicada e disponibilizada. Se houve um aumento substancial das fontes de informação, este foi acompanhado pelo surgimento de inúmeras possibilidades de busca e localização da literatura. Motores de busca, bases de dados, indexadores, agregadores, sites Web do periódico e/ou do publisher, redes sociais, ferramentas para comentar e compartilhar publicações e muitos outros foram criados e aperfeiçoados ao longo do tempo, oferecendo aos leitores várias formas de chegar aos mesmos conteúdos101. 98

SALDANHA, Gustavo Silva. Uma filosofia da Ciência da Informação: organização dos saberes, linguagem e transgramáticas. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012, citado por SCHNEIDER, Marcos. ÉTICA, POLÍTICA E EPISTEMOLOGIA: INTERFACES DA INFORMAÇÃO. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 57-77. 99 TAVARES, Aureliana Lopes de Lacerda Tavares; VALÉRIO, Erinaldo Dias; SILVA, Tiago José da in SBPC 65, F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Documentação e Informação Científica - 1. Documentação e Informação Científica: A Comunicação Cientifica em Redes Sociais Virtuais, disponível em http://www.sbpcnet.org.br/livro/65ra/resumos/resumos/9008.htm. 100 Redes Sociais Virtuais 101 Nassi-Calò, Lilian. A busca por literatura científica: como os leitores descobrem conteúdos. In Blog Scielo em Perspectiva, publicado em 19 de maio de 2016, disponível em http://blog.scielo.org/blog/2016/05/19/a-busca-por-literatura-cientificacomo-os-leitores-descobrem-conteudos/#.WKWI_m_yuHs.


[...] bases bibliográficas seguem sendo a fonte mais relevante, sua importância vem diminuindo desde 2008, perdendo lugar para motores de busca acadêmicos, redes sociais e serviços de agregadores como EBSCO, ProQuest e JStor. Serviços de bibliotecas ganharam relevância em 2012 e vem mantendo sua posição. Apesar de desaconselhados por bibliotecários, fontes veiculadas pelos próprios periódicos e/ou seus publishers vem crescendo em importância através das áreas, setores e perfis de países (INGER e GARDENER, 2013) 102.

Para Garvey (1979, p. 10) 103, a comunicação científica104 […] inclui o espectro total de atividades associadas à produção, disseminação e uso de informação, desde o momento em que o cientista concebe a ideia para a sua pesquisa até quando a informação sobre os resultados de sua pesquisa é aceita como parte do conhecimento científico […].

Fonte: Silva, Mugnaini, Mucheroni105

A entrada em cena das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no final do século XX e início do século XXI, especialmente da Internet e da Web, vêm produzindo sensíveis alterações nos processos tradicionais de comunicação científica, alterando padrões e comportamentos, introduzindo uma série de mudanças e abordagens, possibilitando novas formas de produção, circulação, disseminação, recuperação e uso da informação - listas de discussão, bibliotecas digitais, laboratórios virtuais, arquivos abertos e, mais recentemente, blogs e redes sociais. (PRINCE, 2013) 106. Essa autora apresenta algumas reflexões sobre o processo de absorção e uso de redes sociais na comunicação científica, apresentando algumas iniciativas e

102

INGER, S. and GARDNER, T. Scholarly Journals Publishing Practice. Academic journal publishers’ policies and practices in online publishing. Fourth survey 2013. 2013. ISBN: online 978-0-907341-46-8; ISBN 978-0-907341-45-1. Available from: http://www.alpsp.org/Ebusiness/ProductCatalog/Product.aspx?ID=359, citado por Nassi-Calò, 2016, obra citada 103 GARVEY, William D. Communication: the essence of science. Oxford: Pergamon Press, 1979, citado por PRINCE, Eloisa. COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E REDES SOCIAIS. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 196-216 104 O termo “comunicação científica”, cunhado na década de 1940 pelo físico e historiador da ciência John Bernal, denota o amplo processo de geração, transferência e uso de informação científica (CHRISTÓVÃO; BRAGA, 1997). In PRINCE, Eloisa. 2013, p. 196-216, obra citada. 105 SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog. 106 PRINCE, Eloisa. 2013, p. 196-216, obra citada


implementações que estão ocorrendo no exterior e no Brasil, de modo a promover pesquisas no âmbito da ciência da informação, especialmente no escopo da comunicação científica: [...] as redes sociais estão presentes em todos os níveis e segmentos da sociedade e, na ciência, não é diferente. Elas possibilitam maior interação entre os atores envolvidos no processo – autores, leitores e editores - de maneira rápida, imediata e interativa, apontando para novas práticas de comunicação e informação, ampliando a visibilidade e alcance das pesquisas realizadas e sua disseminação para a comunidade específica e sociedade em geral. Dentre essas tecnologias emergentes, destaca-se uma vasta relação de redes sociais e blogs - Facebook107, Orkut108, MySpace109, Twitter110 , Mendeley111, ResearchGate112 , UniPHY113, LinkedIn114, Friendster115, fotologs116 e outras. [...] É importante destacar, também, as novas plataformas desenvolvidas para compartilhamento de dados científicos primários, como a e-Science (e-Ciência)117.

O quadro abaixo relaciona as fontes preferenciais utilizadas por pesquisadores da América do Sul para buscar artigos em 2015 (em ordem decrescente de importância): Base de dados bibliográfica Motor de busca acadêmico Site do publisher Agregador Motor de busca geral Site do periódico Serviços de biblioteca Alertas de periódicos Redes sociais gerais e acadêmicas Site de sociedade científica Fonte: INGER, S. and GARDNER, 2015, in Nassi-Calò, 2016

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Hoje, o pesquisador precisa lidar diariamente com o volume crescente de informação científica publicada. Um recurso crescente para encontrar informação relevante é o uso de redes sociais como filtros de conteúdo. Redes como blogs, Twitter, Facebook, e serviços mais especializados e acadêmicos como Mendeley e similares são usados para recomendar e discutir artigos e conteúdo científico em geral, expondo ao mundo a discussão que antes estava restrita ao laboratório ou aos corredores dos centros de pesquisa. Daí, que as facilidades oferecidas pelas redes sociais acrescentam também novas camadas de métricas de impacto da pesquisa muito mais dinâmicas, que vão além das citações, como compartilhamentos, número de acessos e 107

Disponível em: <https://www.facebook.com/>. Disponível em: <http://www.orkut.com.br/About>. 109 Disponível em: <https://myspace.com/> 110 Disponível em: <https://twitter.com/>. Microblog limitado a 140 caracteres. Os posts no Twitter são chamados de tweets. Criado em 2006 por Jack Dorsey. 111 Disponível em: <www.mendeley.com>. Gerenciador de referências e rede social acadêmica. 112 Disponível em: <www.researchgate.net>. Dirigida a cientistas e pesquisadores. 113 Disponível em: <www.aipuniphy.org>. Voltada para físicos e engenheiros 114 Disponível em: <http://br.linkedin.com/>. 115 Disponível em: <http://www.friendster.com/>. 116 O Flickr <http://www.flickr.com/>, Fotolog <http://www.fotolog.com.br/> e Instagram <http://instagram.com>, por exemplo, são sites para gerenciamento e compartilhamento de imagens. 117 Termo criado em 1999 pelo diretor do Gabinete de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, John Taylor. Para uma visão sobre o tema e-Science, ainda que inicial no âmbito da ciência da informação, consulte o trabalho de Medeiros e Caregnato publicado em 2012. Recentemente, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Microsoft Research promoveram, de 13 a 15 de maio de 2013, o Latin American e-Science Workshop 2013. A cidade de São Paulo sediou em 2014, a 10th IEEE International Conference on e-Science 2014. 118 INGER, S. and GARDNER, T. How Readers Discover Content in Scholarly Publications. Trends in reader behavior from 2005 to 2015. 2015. ISBN 978-0-9573920-4-5 Available from: http://www.simoningerconsulting.com/nar/how_readers_discover.html, citado por Nassi-Calò, 2016, obra citada 108


outras, medidos no intervalo de dias a meses, que ajudam a preencher o vazio entre a publicação de um artigo e a contagem de citações tradicionalmente medida. Também geram novas possibilidades para a comunicação da ciência, criando formas de disponibilização de conteúdo que agilizam o processo de publicação, tornando-o mais próximo do público interessado, mais familiar e com grande alcance e facilidade de acesso. Este é um avanço sem volta, e compreender e acompanhar o seu uso pode trazer benefícios para todos: publishers, editores, pesquisadores, estudantes, instituições acadêmicas e o público interessado 119. As redes sociais120, conforme definido por Marteleto (2001, p. 72) 121, compreendem: [...] um sistema de nodos e elos; uma estrutura sem fronteiras; uma comunidade não geográfica; um sistema de apoio ou um sistema físico que se pareça com uma árvore ou uma rede. A rede social, derivando deste conceito, passa a representar um conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados.

Para Sotero (2011) 122, as redes sociais: [...] existem desde sempre na história humana, tendo em vista que os homens estabelecem relações entre si formando comunidades ou redes de relacionamentos presenciais. Hoje, por meio da internet, estamos transcrevendo nossas relações presenciais no mundo virtual de forma que aquilo que antes estava restrito a nossa memória agora está registrado e publicado. As tecnologias da web 2.0 ampliaram as possibilidades de interação na medida em que nos permitem visualizar as conexões existentes para além dos nossos relacionamentos presenciais [...].

A rede social ResearchGate123 agrega mais de 3 milhões de pesquisadores de vários países e áreas de conhecimento, e cerca de 92 mil pesquisadores brasileiros,16 e sua proposta é facilitar a comunicação e a troca de experiências entre pessoas que atuam numa mesma área ou especialidade. Foi fundada em 2008, pelos físicos Ijad Madisch e Sören Hofmayer e pelo pesquisador da Computação Horst Fickenscher 124. O termo “blog” é a abreviatura do termo original da língua inglesa “weblog” (diário da Web) e parece ter sido usado pela primeira em 1997 por Jorn Barger (BLOOD, 2000 apud GOMES, 2005, p. 311) 125:

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Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGADM/UFES), SciELO promove seminário sobre o uso de Redes Sociais na Comunicação Científica. http://www.ibict.br/sala-de-imprensa/noticias/scielo-promove-seminariosobre-o-uso-de-redes-sociais-na-comunicacao-cientifica/image/image_view_fullscreen) disponível em http://www.periodicos.ufes.br/ppgadm/announcement/view/37 http://jorgewerthein.blogspot.com.br/2012/08/uso-de-redes-sociais-na-comunicacao.html 120 Para uma visão sobre redes sociais e/ou suas ferramentas metodológicas veja FERREIRA, Gonçalo Costa. Redes sociais de informação: uma história e um estudo de caso. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 16, n. 3, set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141399362011000300013&lng=pt&nrm=iso>, que apresenta um panorama histórico dos conceitos de redes e redes sociais, descrevendo sinteticamente o método de Análise de Redes Sociais (ARS). 121 MARTELETO, Regina Maria. Análise de redes sociais: aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, p. 71-81, jan./abr. 2001. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/226/201>. 122 SOTERO, Frederico. As redes sociais são o futuro da Internet? E qual seria o futuro das redes sociais? 2011. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/16465551/Futuro-Da-Internet-e-Redes-Social> 123 BENGSCH, Danielle. Pesquisadores brasileiros no ResearchGate, in PRINCE, Eloisa. COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E REDES SOCIAIS. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 196-216 124 Disponível em: <http://www.researchgate.net/> 125 GOMES, Maria João. Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE INFORMÁTICA EDUCATIVA, 7., Leiria, 2005. Anais…. Leiria: Escola Superior de Educação de Leiria, 2005. p. 311-315. Disponível em: <http://stoa.usp.br/cid/files/-1/3104/Blogs-final-nome.pdf>.


[...] é uma página na Web que se pressupõe ser actualizada com grande freqüência através da colocação de mensagens – que se designam ‘posts’ – constituídas por imagens e/ou textos normalmente de pequenas dimensões (muitas vezes incluindo links para sites de interesse e/ou comentários e pensamentos pessoais do autor) e apresentadas de forma cronológica, sendo as mensagens mais recentes normalmente apresentadas em primeiro lugar. A estrutura natural de um blog segue portanto uma linha cronológica ascendente. (GOMES, 2005, p. 311) 126.

Enfatizando o uso de blogs científicos pela comunidade científica, Alves (2011) 127 comenta: [...] Outros espaços de comunicação científica são os blogs científicos, ainda pouco utilizados no Brasil, mas na Europa e EUA são bastante difundidos, principalmente entre as áreas de exatas e biomédicas. Os chamados pre-prints são expostos nesses espaços e através das colaborações dos pares, o texto é debatido, revisado e em seguida publicado novamente, um processo mais rápido do que o processo de submissão aos periódicos. E por fim, os colégios invisíveis eletrônicos, local de debate de idéias e surgimento de novos caminhos para pesquisas, e que após esse convívio geram novos artigos e pesquisas. (ALVES, 2011).

Fabrício Marques (2012)128, editor de política da revista de divulgação científica Pesquisa FAPESP, apresenta um bom resumo sobre o uso das redes sociais pela comunidade científica, destacando o impacto no modo de trabalhar dos pesquisadores através do uso das novas ferramentas digitais: O cotidiano dos pesquisadores está sofrendo o impacto de uma nova onda de ferramentas digitais, tais como redes sociais, softwares on-line e blogs, capazes de estimular novas parcerias, acelerar o intercâmbio de informações ou garantir acesso instantâneo a dados científicos de seu interesse.

Muitos cientistas utilizam blogs de ciência para postar informação sobre seu trabalho e assim obter comentários de outros cientistas e também de pessoas fora do círculo usual de leitores. Temos a Technorati, uma empresa que desenvolveu um motor de busca especializado em blogs. Seu diretório registra 1.329.732 blogs,18 das mais diversas categorias (entretenimento, esporte, política, tecnologia etc.), e os blogs classificados como científicos somam 13. 547129. Uma relação de blogs de ciência no Brasil e exterior pode ser vista no blog da revista Ciência Hoje, no post de Carla Almeida “A ascensão dos blogues de ciência”130. O blog “Bússola” traz textos sobre a atualidade científica no Brasil e no mundo e é atualizado por jornalistas, pesquisadores e colaboradores do Instituto Ciência Hoje131. O modelo de escala livre, proposto por Barabási e Albert propõem um modelo que 1. incorpora o crescimento das redes e do numero de vértices e 2. a propriedade de ligação preferencial dos novos vértices a vértices mais proeminentes. É modelo “Scale-free network”.132 126

GOMES, 2005., obra citada ALVES, Letícia. Informação e os sistemas de comunicação científica na Ciência da informação. DataGramaZero: revista de informação, v. 12, n. 3, jun. 2011. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/jun11/Art_04.htm>. 128 MARQUES, Fabrício. Curtir e compartilhar. Pesquisa FAPESP, n. 195, maio 2012. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2012/05/Pesquisa_195-15.pdf> 129 Disponível em: <http://technorati.com/>. 130 Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/07/a-ascensao-dosblogues-de-ciencia> 131 Visando o debate e o fortalecimento dos blogs sobre ciência, foram realizados os Encontros de Blogs Científicos em Língua Portuguesa (EWCLiPo). A primeira edição ocorreu em dezembro de 2008, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). A cidade de Arraial do Cabdo, no Rio de Janeiro, foi sede do II EWCLiPO, em 2009, que teve como organizadores a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). 132 BARABÁSI, A. L. et al. Evolution of the social network of scientific collaborations. Physica A 311, 590–614, 2002, citado por SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog. 127


Fonte: BARABÁSI, 2002

Pensando em informação – mais complexo (Floridi), propõe o seguinte fluxo:

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Fonte: Adaptado de Floridi, 2002 .

133

Floridi, L. Information ethics: an environmental approach to the digital divide. Philosophy in the Contemporary World, v. 9, n. 1, p. 39–45, 2002.citado por SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog.


O CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL Lá, no distante (e isolado...) Maranhão, dos anos 1970 (século passado), em que a correspondência pedestre (via ECT) levava pelo menos 15 dias para ir – e outro tanto para voltar -, a São Paulo, por exemplo, e que uma ligação telefônica era feita através de ‘dona’ TELMA – ligava-se e a telefonista, a quem chamávamos de D. Telma, mas na realidade era a sigla de Telecomunicações do Maranhão (depois Telemar, hoje OI), e isso lá no posto para interurbanos localizados nos baixos do Hotel Central, na Praça Benedito Leite - que o hoje Professor Doutor Laércio Elias Pereira idealizou o Centro Esportivo Virtual, ainda numa era pré internet; tinha-se - ligado à Escola de Engenharia da UFMG -, uma ferramenta de comunicação interpares Bitnet – onde atuavam os gatekeepers134, os ‘sentinelas da tecnologia’, para diferenciar dos membros do ‘colégio invisível’ 135, que ocorre principalmente na área das ciências sociais. Só tempos depois se falaria de Internet, e da rede mundial de computadores. Como futuro ex-jornalista – abandonou o curso de comunicação pela educação física – começou com a publicação de um jornal mural – o BOLETEFE – Boletim de Educação Física, Esportes e Lazer, pregado nas paredes do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão – UFMA -, lá pelo ano de 1980. Crescia, na medida que surgiam noticias, datilografadas, e depois colada ao final da página... Depois, com a mudança do seu editor/redator chefe para a UFMG, lá foi ele, o Boletefe, com o nome de O PEREBA136... Antes, Pereira se dedicara à redação de uma revista dedicada aos Desportos e Lazer – esse o título – órgão oficial da então recém criada Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão – SEDEL (1979) -; Pereira, no Maranhão desde 1974, quando da criação da tal secretaria de estado, participa desde a sua implantação ainda no Plano de Governo de João Castelo, instalado em novembro de 1978, culminando com a criação da secretaria em maio de 1979; passa a assessorar o Secretário, até sua saída em 1989... Com as dificuldades de comunicação, naquela época, com os centros mais adiantados, e sentindo a necessidade de informações, e sua disseminação, uma de suas bandeiras de vida, afinal seu projeto de vida, participa, em 1980, de um encontro sobre informação desportiva na Colômbia137. O segundo encontro deveria ocorrer no Maranhão, no ano de 1982... a grande questão da época: qual a produção científica originada no Maranhão? Que pesquisa? Que experiências poderíamos apontar? Então, ainda no final de 1979, Pereira criou um “decálogo”: dez pontos que deveria abordar, para produção, circulação de informações da/sobre as Ciências do Esporte.

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“a person whose job is to open and close a gate and to prevent people intering without permission; someone who has the power to decide who gets particular resources and opportunities, and who does not” http://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/gatekeeper#translations O termo surgiu em 1947, no campo da psicologia, criado pelo psicólogo Kurt Lewin. Foi aplicada ao jornalismo em 1950 por David Manning White. Essa teoria surgiu nos anos 50, nos Estados Unidos, como forma de deferência ao jornalismo e ao seu poder. Acredita que o processo de produção da informação é um processo de escolhas, no qual o fluxo de notícias tem que passar por diversos "gates" (portões) até a sua publicação. Entende que há intencionalidade no jornalismo e que o processo é arbitrário e subjetivo. A teoria esbarra em alguns limites: (1) A análise da notícia apenas a partir de quem a produz; (2) Esquece que as normas profissionais interferem no processo; (3) Desconsidera a estrutura burocrática e a organização. http://teoriadojornalismouniube.blogspot.com.br/2010/11/teoria-do-gatekeeper.html. A diferença básica entre este e aquele tempo é, entretanto, a dimensão que essas escolhas tomaram. Com a popularização do uso da internet, em âmbito mundial, muito tem se discutido sobre o trâmite de informações nas novas redes de relacionamento, sites de pesquisa e empresas que veiculam conteúdo online. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gatekeeping . 135 A expressão Colégio Invisível, ou muitas vezes encontrada no plural como, Colégios Invisíveis, foi criada por Robert Boyle (1627-1691) define um grupo de pesquisadores que trabalham juntos, mas não estão fisicamente próximos, não trabalham na mesma instituição, podem ter nacionalidade diferentes e falar língua diversas. O que os une é o objeto da pesquisa. Hoje pode-se também usar a expressão Colégios Virtuais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_invis%C3%ADvel 136 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Tema-livre apresentado Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 45, Recife-Pe, julho de 1993; Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, 8, Belém-Pa, setembro de 1993; 137 1ª CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO ESPORTIVA NA AMÉRICA LATINA, realizada em Medellin, no ano de 1980. COMITÊ DE INFORMACION Y DOCUMENTACION DEPORTIVA DE LATINO AMÉRICA. Declaracion de Medellin sobre informacion y documentacion deportiva en latinoamerica. Educacion Fisica y Deporte, Medellin, v. 2, n. 2 : 39-43, maio 1980.


Pouco antes desse encontro na Colômbia, Laércio Elias Pereira e Leopoldo Gil Dulcio Vaz criaram o CEDEFEL-MA - Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer: Para atacar o problema da dispersão da Informação em Ciências do Esporte foi desencadeado um trabalho de indexação de artigos de revistas no início da década de 80 que serviu de base para a implantação de um Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer CEDEFEL. As ações do CEDEFEL estão voltadas para um processo de criação de um modelo de "Centro Referencial" - informação sobre a informação - com o objetivo de recuperar e organizar as informações básicas em Educação Física, Esportes e Lazer e efetivar a comunicação entre especialistas.(VAZ, PEREIRA, 1992)138

Assim, como consta no resumo de sua tese de doutoramento, na Escola de Educação Física da UNICAMP, Partindo da necessidade de facilitar a disseminação e busca da informação para profissionais, estudantes e pesquisadores da preparação profissional em Educação Física e Esportes, num ambiente em que a quantidade de informação duplica a cada dois anos, buscou-se a alternativa dos recursos da Internet, elegendo para este trabalho um experimento de potencialização de três canais de informação: 1) Sítio W3; 2) Lista de discussão e 3) Gatekeepers (pessoas, vetores de tecnologia). Optou-se pela construção de um centro referencial (informação sobre a informação), a partir de tecnologias Internet utilizadas pelos projetos do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp e, como modelo inicial, a proposta do Hospital Virtual, uma metáfora de um hospital real, para a montagem do Centro Esportivo Virtual - CEV. (PEREIRA, 1998) 139.

Hoje, 21 anos após o aparecimento do CEV, para as novas gerações, essa história até pode aparecer engraçada, mas exigiu anos de trabalho e aperfeiçoamento, na medida em que as tecnologias da informação evoluíam. Primeiro o que é (era) informação140, em especial, em Educação Física e Esportes – Ciências do Esporte; ênfase na sua evolução no Brasil. Quais recursos disponíveis, e com o advento da Internet, quais as possibilidades e como utilizá-los. Como funcionavam, até então, os sistemas de ‘gatekeepers’ e ‘colégios invisíveis’, e qual e como sua utilização na área em questão. Construiu-se, então, uma versão experimental do CEV; e em sua versão atualizada constantemente, na medida da evolução tecnológica, partindo-se da interação dos três canais de informação escolhidos para o trabalho: 1) Sítio W3; 2) Lista de discussão e 3) Gatekeepers. Desta forma ao criar o CEV optou por trabalhar a informação enquanto saber, ao mesmo tempo representacional e performático, cujo ciclo de vida sofre as seguintes metamorfoses: percepção, pensamento, registro, circulação, acesso, decodificação, pensamento, uso (SCHNEIDER, 2013) 141.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DO ESPORTE: A EXPERIÊNCIA DO CEDEFEL-MA. Tema livre apresentado no XVIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, São Caetano do Sul, outubro de 1992. 139 PEREIRA, Laércio Elias. Centro esportivo virtual: um recurso de informação em educação física e esportes na internet. Tese de Doutorado em Educação Física: Campinas: UNICAMP, Orientador: João Batista Andreotti Gomes Tojal, disponível em http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000215735 , acessado em 13/02/2017 140 Informação é a resultante do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (humano, animal ou máquina) que a recebe. Le Coadic, pesquisador da área da Ciência da Informação, destaca que o valor da informação varia conforme o indivíduo, as necessidades e o contexto em que é produzida e compartilhada. (LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos 1996). Uma informação pode ser altamente relevante para um indivíduo e a mesma informação pode não ter significado nenhum para outro indivíduo. Informação enquanto conceito carrega uma diversidade de significados, do uso quotidiano ao técnico. Genericamente, o conceito de informação está intimamente ligado às noções de restrições, comunicação, controle, dados, forma, instrução, conhecimento, estimulo, padrão, percepção e representação de conhecimento. https://pt.wikipedia.org/wiki/Informa%C3%A7%C3%A3o 141 SCHNEIDER, Marcos. ÉTICA, POLÍTICA E EPISTEMOLOGIA: INTERFACES DA INFORMAÇÃO. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO.Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 57-77.


Para esse autor, caberia à Ciência da Informação142 estudar e gerenciar esse ciclo, minimizando seu potencial entrópico, tecendo a crítica e propondo soluções para os problemas relacionados à qualidade, ao uso, à restrição, à circulação e ao acesso, o que envolve questões de ordem política, econômica, técnica e cognitiva: Por essa via, chegamos a uma conclusão um tanto surpreendente: a “informação”, em si mesma, não seria o principal objeto da CI, e sim a OS [organização dos saberes] 143, enquanto conjunto de práticas e teorias voltadas à produção, gestão e crítica da “metainformação” [144], da informação sobre a informação. (SCHNEIDER, 2013, p.60)145.

Schneider (2013) serve-se de Saldanha (2012) 146 para delimitar os campos, entre a CI e os demais, pois: A diferença deste campo, a CI, para os demais, no trato com a informação, está na preocupação com a elaboração de uma “metainformação”. O pedagogo, o historiador, o físico também “transferem” informação e “geram” conhecimento. No entanto, o organizador dos saberes está preocupado em desdobrar as possibilidades de preservação, representação e de transmissão desta “informação” do pedagogo, do historiador, do físico. (SALDANHA, 2012, p. 23-4).

Continuamos com Schenider (2013) para caracterizar o ‘organizador de saberes”: O “organizador dos saberes”, portanto, deve executar suas tarefas não apenas munido de competências técnicas, mas principalmente de erudição crítica – Saldanha (2012) remonta essa erudição à ecdótica [147] dos primeiros bibliotecários – e de uma perspectiva humanista. Aqui, a interdisciplinaridade do campo mostra-se absolutamente necessária. E é aqui também que a CI aproxima-se mais intimamente de nosso objeto, dado que a ética, a filosofia política e a epistemologia podem ser concebidas como metainformação, metadiscursos, enquanto discursos – que são um momento do ciclo de vida dos saberes – sobre os discursos (e sobre seus referentes) de natureza moral, política e científica. A CI, então, pode produzir um metadiscurso crítico sobre a história da relação entre esses metadiscursos. Nessa história, a propósito, a informação, a metainformação e a OS – localização, classificação, arquivamento, disponibilização, reprodução, legitimação, hierarquização, eliminação, restauração, combinação, confrontação etc. –, ainda que com outros nomes, têm desempenhado papéis nada desprezíveis.

O CEV é um “centro referencial de informação em Educação Física, Esportes, Lazer”. Centro referencial – informação sobre a informação!! Baseado na vivencia de Pereira (1998) 148 na área de informação em

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A Ciência da informação é um campo interdisciplinar principalmente preocupado com a análise, coleta, classificação, manipulação, armazenamento, recuperação e disseminação da informação. Ou seja, esta ciência estuda a informação desde a sua gênese até o processo de transformação de dados em conhecimento. Alguns profissionais afirmam que a Ciência da Informação pode ser dividida em seis correntes teóricas[2]. Elas são: (1) Estudos de natureza matemática (incluindo a recuperação da informação e a bibliometria); (2) Teoria sistêmica (origem em princípios da biologia); (3) Teoria crítica (fundamentam-se principalmente nas humanidades – particularmente na filosofia e na história); (4) Teorias de classificação e representação; (5) Estudos em produção e comunicação científica; (6)Estudos de usuários (seu objetivo era o de mapear características de determinada população para planejar as informações mais adequadas a serem oferecidas com fins de educação e socialização). https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_da_informa%C3%A7%C3%A3o 143 OS - organização dos saberes 144 Metadados ou Metainformação, são dados sobre outros dados. Um item de um metadado pode dizer do que se trata aquele dado, geralmente uma informação inteligível por um computador. Os metadados facilitam o entendimento dos relacionamentos e a utilidade das informações dos dados. https://pt.wikipedia.org/wiki/Metadados 145 SCHNEIDER, Marcos, 2013, p. 57-77, obra citada. 146 SALDANHA, Gustavo Silva. 2012, citado por SCHNEIDER, Marcos. 2013, p. 57-77, obra citada. 147 Ciência que busca, por meio de minuciosas regras de hermenêutica e exegese, restituir a forma mais próxima do que seria a redação inicial de um texto, a fim de que se estabeleça a sua edição definitiva; crítica textual. 148 PEREIRA, Laércio Elias, 1998, obra citada


educação física e esportes, tomando como base os três canais de comunicação, a partir das tecnologias da Internet utilizadas nos projetos do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp (SABBATINI, 1997) 149: O envolvimento com a Informação e Documentação Esportiva vinha da criação do Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer CEDEFEL, em 1980 no Maranhão, como Prof. Leopo1do Gil Dulcio Vaz, que mais tarde viria a cursar o mestrado em Ciência da Informação na Escola de Biblioteconomia da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais -, que valeu urna apresentação na I Conferencia Latinoamericana de Informação e Documentação Esportiva- Medellín, Colômbia- e uma função na primeira diretoria da Associação Latinoamericana e do Caribe para Documentação e Informação Esportiva (1980). Na segunda metade da década de oitenta, o convite, feito pelo Diretor da recém criada Faculdade de Educação Física da Unicamp, João Batista A. G. Tojal, para submissão ao processo de seleção e depois trabalhar como professor de Handebol na Unicamp - 1986/1990 - trouxe um novo alento para o trabalho, com informação em Educação Física, servindo como ponto catalisador das experiências anteriores. Com promoção da Faculdade de Educação Física e do Núcleo de Informática Biomédica - NIB - da Unicamp, coordenamos o I Simpósio Brasileiro de Informática em Educação Física e Esportes- chancela do CBCE - em 1987, e o segundo como satélite do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte – CONBRACE - de 1989, em Brasília.

A organização da informação em Ciências do Esporte teve seu início em 1947, na Europa. Em 1959 foi criada a "INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR SPORTS DOCUMENTATION" - IASI -, sendo Cuba o primeiro país latino-americano a se filiar (1964), seguindo-se o México, Colômbia, Venezuela e Brasil, em 1981 150. O "WORD INDEX OF SPORTPERIODICALS" (IASI, 1984) - surgido da necessidade levantada durante o encontro da "COMISSIOM INFORMATION SOURCES" da IASI, realizada na Holanda em 1979, concluído em 1984 - apresenta 2.196 títulos de periódicos da área das Ciências do Esporte de 54 diferentes países. É organizado combinando-se título do periódico e país de origem, sob uma entrada principal. Neste índice aparecem apenas os títulos das revistas, endereço, periodicidade, país de origem. Há uma relação de unitermos (keywords) utilizados e um índice de assuntos, onde o número de entrada, da IASI, remete às referências151. O sistema utilizado pelo Instituto de Ciências del Deporte, da Universidad de Antioquia - Colômbia152, baseia-se na classificação apresentada pelo "SPORTWISSENCHAFT" (1978)153. No Brasil, a organização da informação na área tem seu início com o Centro de Documentação e Informação do ISEFL. De acordo com MEDINA (1980) 154, em 1940 foi criado o Instituto Nacional de Educação Física e em 1964 foi instalado o seu setor de Documentação, Informação e Divulgação, com recursos do Fundo de Fomento do Desporto Nacional. Em 1972 este setor é transformado em Centro de Investigação, Documentação e Informação e, em 1974, recebe nova denominação: Centro de Documentação e Informação, com o objetivo de: a) fornecer apoio documental aos cursos, trabalhos de pesquisa e às ações de formação permanente de docentes; b) editar documentação de caráter científico, técnico e pedagógico no âmbito da Educação Física e Esportes; e c) manter relações de intercâmbio com centros congêneres nacionais e internacionais 149

SABBATINI, Renato. A horae a vez da Internet. Intermedic. Campinas: Nucleo de Informatica Biomedica da Unicamp. V.1 n.l. jul/ago 1997. SABBATINI, Renato. WebWacker. Intermedic. v.1, n. 1. P.l9, 1997. SABBATINI, Renato. Brasil: aplicaciones de Internet en Salud. In OLIVERI, N. (Org) Internet, Te1ematica y Salud. Mexico: Editorial Medica Panamericana, 1997, p.441-442 150 MARQUES, Maria Lícia Bastos. Situação atual da informação desportiva na América Latina. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 2 : 123, jan. 1990. 151 INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR SPORTS INFORMATION. WORLD INDEX OF SPORTSPERIODICALS. Holanda: IASI, 1984. 152

GARCIA ZAPATA & OUTROS. Bibliografia deportiva . Medellin : Universidad de Antioquia, 1979.

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BUNDSINSTITUT FUR SPORTWISSENCHAFT KLN. Literatur der Sportwissenchaft. SPORTDOKUMENTATION 1/78.

154

MEDINA, Paulo. O Centro de Documentação e Informação do ISEFL. CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTACION I INFORMACION DEPORTIVA EN LATINOAMERICA, I, Medellin, 1980. ANAIS... Medellin : Convenio Colombo-Aleman de Educacion Fisica, Deporte y Recreacion, 1980, p. 135-153.


Ainda em 1974 é criado, pela Federação Brasileira de Medicina do Esporte, o Centro de Documentação e Informação de Medicina do Esporte - CEDIME -, com sede em Porto Alegre-RS, hoje Centro de Documentação e Informação das Ciências do Esporte. De acordo com SIDERMANN (1980)155 os objetivos do CEDIME são: a) organizar e fomentar a informação e documentação das Ciências do Esporte e influir na pesquisa, ensino e prática profissional; b) coletar, organizar e divulgar bibliografias; c) publicar com regularidade um bibliografia seletiva; e d) editar a Revista de Medicina do Esporte. O SISTEMA BRASILEIRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DESPORTIVA - SIBRADID -, funcionando junto à Biblioteca da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais EEF/UFMG - desde 1985 utiliza um sistema de informação bibliográfica denominado de "MINISIS", adotado pela IASI e pelo "SPORT INFORMATION RESOURCE CENTER" - SIRC -, base de dados localizada no Canadá 156. Há uma tentativa de implantação do programa "MICRO-ISIS" pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT - com a finalidade de padronizar o uso do computador por parte das universidades universitárias 157. O sistema adotado pelo SIBRADID utiliza terminologia extraída do SportThesaurus do SIRC e permite interagir com seus usuários, fornecendo e recebendo dados, através de uma rede de vinte núcleos regionais e setoriais 158, sendo a base central a EEF/UFMG, interligada ao SIRC/Canadá. Para atacar o problema da dispersão da informação técnico-científica em Educação Física, Esportes e Lazer foi criado, em 1980, o Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer do Maranhão - CEDEFEL-MA-, que reuniu profissionais da Universidade Federal do Maranhão - UFMA; da Escola Técnica Federal do Maranhão - hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, IF-MA; da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; e da Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão - SEDEL-MA, sob a coordenação dos professores Laércio Elias Pereira e Leopoldo Gil Dulcio Vaz159. A formação desse grupo de trabalho deu-se pelo fato de a II CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DESPORTIVA NA AMÉRICA LATINA ter sido programada para São Luís-Ma, em 1982. A conferência não foi realizada, mas estudos sobre documentação esportiva foram levados adiante, aparecendo, em 1983, o "ÍNDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS", seguindo-se o "ÍNDICE DA REVISTA STADIUM" (1986) 160. A criação de um modelo de Centro Referencial - informação sobre a informação - para facilitar a comunicação entre especialistas e a procura de formas alternativas de editoração, que permitam a apropriação de grandes quantidades de informações pelos centros de menor poder aquisitivo é a proposta do CEDEFEL-MA, criando em 1980 161.

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SINDERMAN, Renate. Documentacion y informacion del deport en el Brasil. CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTACION E INFORMACION DEPORTIVA EN LATINOAMERICA, I, Medellin, 1980. ANAIS... Medellin: Convenio Colombo-Aleman de Educacion Fisica, Deporte y Recreacion, 1988, p. 135-153. 156 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Introdução ao sistema MINISIS. Belo Horizonte : EEF/UFMG, 1989 (mimeog). 157 GASPAR, Anaiza Caminha. Biblioteca. CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, São Luís: UFMA/Associação dos Arquivistas Brasileiros, 1989. (anotações de aula).(mimeog). 158 MARQUES, Maria Lícia Bastos. Situação atual da informação desportiva na América Latina. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 2 : 123, jan. 1990. 159 PEREIRA, Laércio Elias. INDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS. Brasília: SEED/MEC, 1983. PEREIRA, Laércio Elias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e Outros. Organização da Informação em Ciências do Esporte veiculada em periódicos de língua portuguesa. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís: UFMA, 1990. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. ÍNDICE DA REVISTA STADIUM. São Luís: SEDEL, 1984 (edição em microficha). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Índice da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. REVISTA BRASLEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 10, n. 1: 33-45, set. 1988. 160

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Coleta de bibliografia para processamento por computador. ENCONTRO DE PESQUISADORES DA UEMA, I, São Luís, 1986. ANAIS... São Luís, 1986.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. ÍNDICE DA REVISTA STADIUM. São Luís: SEDEL, 1984 (edição em microficha). 161

PEREIRA, Laércio Elias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Organização da Informação em Ciências do Esporte veiculada em periódicos de língua portuguesa. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís: UFMA, 1990.


O desenvolvimento de um sistema gerenciador de banco de dados próprio solucionou uma das principais dificuldades encontradas na indexação de periódicos. A utilização de uma listagem de palavras-chave, acumulada pela Escola de Educação Física da USP e que vem recebendo modificações nos últimos anos, resolveu em parte outra dificuldade, a inexistência de um "thesaurus" em Ciências do Esporte162; e iniciar um cotejamento com o "SPORTS THESAURUS" do SIRC para construir/adaptar um "thesaurus” 163 brasileiro em Ciências do Esporte. Mas Pereira (1996) recua ainda mais, considerando como marco inicial o seu trabalho de editor do jornal Opinião "Informativo Oficial do Centro Acadêmico – CA - Ruy Barbosa", da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo - USP - na época ainda pertencente a Federação das Escolas Superiores do Estado de São Paulo e que dividia as instalações do Ginásio do Ibirapuera com apresentações de circos e músicos populares, o que fornecia grandes temas de protesto para o vibrante informativo, que chegou a manter o editor alguns dias longe da Escola e da sede do CA, vasculhada pela policia política. O primeiro número ostentava uma época combativa: maio de 1968: O trabalho continuou sempre entre as publicações e as instituições de preparação e de organização profissional. A coluna "Opinião" do Jornal do CA foi aceita como "Rumorismo" na Revista Esporte e Educarão, "Revista na(sic) Associação dos Professores de Educação Física do Estado de São Paulo" APEF-SP. 0 Rumorismo duraria ate o ultimo numero dessa Revista (1977), que teve como editor o autor da coluna, apostando na esperança de que o mestrado então recém implantado na Universidade de São Paulo - tema da capa- nunca mais iria deixar desaparecer revistas de Educação Física por falta de artigos (PEREIRA, 1985)164. A seção Rumorismo voltaria em outra revista da APEF-SP "Corpo e Movimento", em 1984. No intervalo, houve a tentativa de manter periódicos técnicos de Educação Física no Maranhão - Jornal Desportos e Lazer (10 números) e Revista Desportos & Lazer (9 números), sempre como co-editor anônimo por conta da ação do sindicato dos jornalistas, que exigia registro profissional aos integrantes da redação. Em São Luis do Maranhão, o Rumorismo também chegou a ser uma coluna das paginas de esporte do "Jornal Pequeno". (PEREIRA, 1992, p. 4) 165.

Para Laércio Elias Pereira (1992, obra citada) o que mais o motivou a ir para o Maranhão, naquele inicio da década de 1970 foi uma das mais fecundas experiências de televisão educativa do Brasil. Tele-salas de recepção dos programas longe da sede São Luis, e animadas por professores com baixa formação escolar, levados, então, a modernas concepções pedagógicas de terem que discutir o conteúdo das emissões com os alunos, premidos pelas circunstancias. A emissão das aulas era intermitente, prevendo o trabalho com os conteúdos nos intervalos. O contato com a Televisão Educativa do Maranhão - TVE-MA marcaria um fecundo encontro com os professores que estavam no processo de criação do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão. O Pro£ Dimas (Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araujo) 166, responsável pela Educação Física no sistema TVE, e um pioneiro na EF do Estado, fazia parte do grupo de implantação do curso. A televisão era um recurso a ser explorado pela Educação Física. A produção e as aulas eram grandes recursos de informação para os professores:

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DORIA, Irene Meneses. Sugestões para uma classificação decimal de Educação Física e Esportes. (IN) CONGRESSO PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, I, São Paulo, 1940. ANAIS... São Paulo, 1942, p. 243-246 (citada por SILVA, Maria Stela Vercesi, op. cit.). SILVA, Maria Stela Vercesi. Adaptação da classificação decimal de Dewey para Educação Física. REVISTA PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, São Paulo, v. 3, n. 4: 43-46, jun. 1989. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias & Outros. Indexação: em busca da construção de um thesaurus em Ciências do Esporte. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís, 1990. GOMES, Hagar Espanha (Coord.). MANUAL DE ELABORAÇÃO DE TESAUROS MONOLINGUES. Brasília: Programa Nacional de Bibliotecas de Instituições de Nível Superior, 1990. 163 GOMES, Hagar Espanha (Coord, 1990, obra citada. 164 PEREIRA, L.E., MUNOZ PALAFOX, G. Curso Paralelo: Informática e Educação Física e Esportes. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIENCIAS DO ESPORTE, 4, 1985, Poços de Caldas: Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, p.8. 165 PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada, p. 4 166 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins. QUERIDO PROFESSOR DIMAS (Antonio Maria Bezerra de Araujo) e a educação física maranhense: uma biografia (autorizada). São Luis: EPP, 2014.


A participação na criação do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE, em 1978, e a integração das diretorias até 1985 também serviram como campo de atuação na informação cientifica na área. A organização de congressos, o acompanhamento da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, o Boletim Brasileiro de Ciências do Esporte e o informativo da Diretoria "Pensando Alto" (PAIVA, 1994) 167 exigiram urna imersão importante no universo dessa informação cientifica. Contribuiu, também, a participação nas discussões sobre as publicações da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e a reativação de secretarias estaduais, como responsável pela secretaria regional da SBPC na Região Norte entre 1984-85. (PEREIRA, 1992) 168 .

No âmbito acadêmico, a participação na busca de um adequado suporte de informação para a primeira turma de mestrado da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo - EEFUSP - na medida em que integrava a Comissão de Pós-Graduação como representante discente - levou a busca de disciplinas (Mídias Alternativas e Cibernética Pedagógica) na Escola de Comunicação e Artes - ECAUSP, onde se deu o inicio do contato com as "mídias alternativas" (que mais tarde, com o aumento da capacidade de processamento dos computadores, permitindo a maior interatividade entre as pessoas e as maquinas, passariam a ser chamadas de "mídias interativas"): Nas disciplinas da ECA, foram iniciados, também, os contatos com o que passou a ser chamado de "mídias interativas". Durante o doutorado em comunicação - 1985, não concluído - apresentamos, com o professor Gabriel Munhoz Palafox - que tinha vindo do México para estagiar no Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS) e, na época, cursando o mestrado em Educação, trazendo na bagagem um moderno computador de 8 bits - a proposta de um calendário esportivo em videotexto, que não encontrou patrocinador, mas serviu para um bom treinamento na iniciação com a informática e as perspectivas do uso do computador na comunicação, já que o videotexto foi um precursor da WWW. Com Gabriel Palafox, foi iniciada urna serie de cursos de "Informática em Educação Física e Esportes” (PEREIRA, L. E., PALAFOX,G.M.,1985)169 Gabriel abordava a parte referente a Informática e nos tratávamos da informação - a "telemática", como passou a ser chamado o avanço marcado pela união da informática com os meios de comunicação. Estávamos envolvidos pelo entusiasmo do recém contato com o Prof. Fredric Litto, então chefe do Departamento de Radio e Televisão da ECAIUSP, e que viria a criar e dirigir a Escola do Futuro e a Associação Brasileira de Educação a Distância. Também teve influencia nesse trabalho a nossa passagem funcional pelo Ministério da Educa;;ao – MEC (1985-86), na Comissão Ministerial criada para elaborar propostas para a utilização do satélite Brasilsat I pela Educação, alem da responsabilidade de coordenar, pelo lado do Ministério da Educação e Cultura, o projeto de implantação do Sistema Brasileiro de Informação e Documentação Esportiva. (PEREIRA, 1992) 170.

Na UFMG, um dos pólos pioneiros da implantação de redes eletrônicas no Brasil, inicia-se a utilização da Bitnet, em 1991, intensificando os contatos com o Núcleo de Informática Biomédica- NIB/Unicamp e a Escola do Futuro- USP: Com a aposentadoria em 1994, volto para Campinas e integro-me ao recém criado Laborat6rio de Estudos Avançados em Jornalismo- LABJOR em urna serie de projetos de Jornalismo Esportivo, juntamente com o Prof. João Tojal. Estava formado o tripé - Escola do Futuro, Núcleo de Informática Biomédica e Laborat6rio de Jornalismo - que daria sustentação a uma proposta de trabalho no doutoramento em Educação Física na Unicamp: "A Criação de um repertório de Informação para a Formação e Atualização Profissional em Educação Física- uma base de dados em CDROM', sob a orientação do Prof. João Tojal, culminando urna proposta que vinha sendo trabalhada desde o "I Simpósio Brasileiro de Informática em EF&Esportes ", em 1987. Como suporte técnico fundamental no tripé citado, e preciso registrar que o Núcleo de Informática Biomédica já oferecia, desde 1986, um curso de verão para professores universitários da área de saúde - quase que exclusivamente para medicina – que estivessem interessados em implantar a disciplina Informática em Saúde nos cursos das 167

PAIVA, Fernanda. Ciência e poder simbólico no CBCE. Vitória: CEFD-UFES, 1994 PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada 169 PEREIRA, L. E., MUNOZ PALAFOX, G, 1985, obra citada 170 PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada 168


instituições de ensino superior. Como o curso era caro, nunca tinha havido a oportunidade de financiamento de urna atividade do gênero para a Educação Física. Tampouco tínhamos profissionais, em número suficiente, para montar a infra estrutura de um curso especifico. Em 1996, recebemos convite para participarmos desse curso, como parte das atividades do doutorado. Durante o curso, nas discussões que se seguiram a exposição do Prof. Renato Sabbatini sobre o Hospital Virtual, que ele havia criado no NIB, surgiu a idéia: "por que não um Centro Esportivo Virtual na Internet, em vez do trabalho documental e restritivo da criação do CD ROM?". (PEREIRA, 1992) 171.

Estava lançada urna proposta e iniciados os trabalhos que culminaram, com o apoio do Instituto Nacional do Desenvolvimento dos Desportos- INDESP, na implantação da fase experimental do Centro Esportivo Virtual, trabalho de preparação iniciado em março e foi para o ar com domínio próprio em agosto de 1996. Como na sua concepção original o Centro Esportivo Virtual - CEV1 – tinha uma característica mais de uma base de informação documental (teses, revistas, endereços de instituições e ligações para outras páginas; então voltou-se a atenção para o lançamento de páginas experimentais, que tinham a função de testar tecnologia e atacar setores específicos de usuários, em busca de mobilização. CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL, HOJE A maior comunidade acadêmica e de pesquisa em Educação Física, Esportes e Lazer da Internet: Comunidades é o ponto de encontro para troca de informações sobre conceitos, livros, congressos e artigos entre pesquisadores, professores e estudantes da área de Educação Física, Esportes e Lazer; hoje, está migrando para o Facebook Quem é Quem Procurando alguém? Aqui você encontra uma extensa lista de nomes dos atores da Educação Física, Esportes e Lazer. http://cev.org.br/qq

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PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


JOÃO BATISTA DO LAGO

João Batista do Lago é, sem dúvida, um poeta excepcional. Ratifica-se tal conceito na entrevista exclusiva que fiz com ele. Uma história de vida poética de muita luta e de exemplos. Viajor no espaço-tempo da poesia visceral, Batista do Lago representa o final de uma geração de literatos maranhenses escrivinhadores de sentimentos líricos ou através de textos fortes misturando Alan Poe e Drummond. Pode? Sim, pode! Mas, no fundo, Joao Batista Gomes Do Lago se considera um poeta surracionalista, “tal qual no surrealismo utilizo as palavras como objeto para alcançar o objetivo de uma ‘experienciação’ para uma nova realidade experimental, sacando-a do campo da simples epistemologia e introduzindo-a no campo daontologia pura; (...) isso sugere a desverbalização da palavra em si, de si e para si, o que significa a desconstrução do discurso da palavra ou do texto homófono, para constituí-lo e fixá-lo como ‘sujeito’ do discurso substancial, real e concreto”. Seja bem-vindo poeta. Deixe fluir, deixe acontecer... (Mhario Lincoln).

O LIVRO Cânticos Viscerais é o terceiro livro de João Batista do Lago que, acertadamente, em suas próprias palavras, o define como seu “ponto ideal”. Não se trata de mais um livro de poesias; são poesias de um novo espírito poético, poesias que se esteiam na polêmica da razão… ou das razões. São arguições profundas que se ultrapassam num devir poético. Simpatizante das concepções bachelardianas, João Batista sente ser necessário adentrar os caminhos de uma poética que recorde à razão sua função agressiva, turbulenta, em que se multiplicam as “ocasiões de pensar”.


Esta razão necessariamente há de ser polêmica, há de provocar, de desancorar do local onde naufragou – este, já agora, inútil destroço. Há uma tensão dinâmica, fluida, e não uma cisão entre a poética de João e seu pensar racional sobre o real. Para além de uma inserção advém uma complementariedade; há um poeta no racional extraindo insights, compreensões retiradas a fórceps, dores “viscerais” por trás da persona alegre… Trata-se aqui de uma construção que desfragmenta, fractaliza e se recria a partir de blocos de uma linguagem assimétrica: a obra? Estética harmoniosa, cromática, ferina de palavras-sílex, suaves, e fertilizadas flores beijadas por beija-flores… A crise inserta na Pós-Modernidade (leia-se aqui a ruptura da legitimidade das meta-narrativas) gerou um mal-estar na confiabilidade, na credibilidade dos grandes discursos. João não consegue esconder esse malestar e, para além disso, revela-o pela – metaforicamente – face mareada, pré-emética, deixando-se ver sinal e sintoma. VISCERALIDADE A dor em João é-lhe tão “visceral”, que por vezes beira a impotência de um moribundo. Quais as dores que o exasperam? São as dores do (des)conhecimento e mesmo do conhecimento, as dores da inconformação frente às ideologias que espalham subserviência e misérias, as dores que se mimetizam em prazeres, que se escondem por trás das máscaras assépticas, as dores da inocência perdida, do abuso criminoso, da inocência de si; as dores de abortos covardes das utopias felizes; de caminhar solitário num mar de dores anestesiadas. Com uma pitada de Bachelard, diria que João vê o estrume, mas também vê a flor! E de ambos aspira-lhes a essência do perfume… mesmo que fatal. Aspira convicto, consciente do mal que pode evolar da flor ou do bem que pode estar mimetizado no estrume. Porque o João se debruça sobre ambos – independente, objetivo e total no seu conhecer, na sua contemplação. E, por isso, apreende no instante… e retifica a apreensão – dolorido – no próximo apreender… A apreensão causa dor. A noção de dor em João, como já foi dito, é dilacerante: do fundo de suas entranhas, no estranho ventre algo chegou a termo! O concepto, pronto para vir à luz, tem de rasgar-lhe por dentro e não é possível adiar… Há dor no concepto e no parturiente. O pósparto exige recuperação; o recém-NATO, adaptação. É João a sentir a ferida de si a doer, a dor dos feridos todos, a dor de ser e de existir consciente, a dor da inconsciência no outro de que lhe crescem feridas… Por que o “visceral”? Porque a dura palavra coaduna-se com o real; é-lhe velha irmã, conhecida, companheira do dia a dia. Porque a estética virtuosa já carece de sentido, já não mais perturba a desvirtuose em que estamos imersos; já não é mais capaz de perfumar o que se apresenta pútrido na ausência de virtude das cidades, dos países, dos escravos felizes de senhores vis. VOYEUR João, voyeur de si, artífice de metáforas como pendular meta-fora de si, delator nobre do injusto/covarde/leviatânico grande outro… Seu escancaramento de si e do real, apesar do que lhe causa, tão bem expresso nas suas viscerais palavras, não lhe é obstáculo, não lhe convida a participar do banquete dos acomodados. São, antes, “pontos vélicos” bergsonianos a lhe impulsionar a busca. João Batista do Lago evidencia nas contradições, nas antíteses tão bem insertas, a dualidade mal encoberta que se revela à análise crítica – do olho que quer ver. Assim, enriquece seus gritos-denúncia contra uma exploração de ideologias e dogmas, deixando a descoberto o amontoado de inúteis discursos desumanizados, desarraigados… Há no poeta uma inquietação tanto com a tentativa de reencontro de sua dimensão universal, quanto com a miserável condição humana que se esconde nos becos das cidades, ou que escoa a céu aberto, onde caminham outros homens-cidades humanos poluídos de exploração homo homini lupus na alcatéia de um “deus mercado”…


GRITO FERIDO Nosso poeta, de tímpanos feridos, mostra o grito calado, ouvido dentro de si que é abafado pelo ensurdecedor ruído uníssono de caducos filosofares, que deixa proscritos os quereres, que torna impossível os pensares… Lembra-me ele um rebelde aluno em casarões-escolas mofados a distrair a atenção para o principal – que não é ensinado; bêbado feliz que faz escárnio da abstinência alheia: ora sem bandeira de si, ora fractal bandeira de todas as cores… Tal qual o pintor que se utiliza das cores na criação de suas obras, João Batista vai customizando, ao buscar novos matizes, dentre os espectros visíveis do real; vai decompondo fractais sintonizado na frequência espectral de tons monocromáticos; vai tingindo os degradês de braços, pernas e pés explorados com cores carregadas – irônicas, sarcásticas linhas poéticas viscerais… Essa visceralização ocorre no instante instintual, onde o experienciar converte-se em impressão-explosão poética. Há um grito em João Batista do Lago que o ensurdece e berra para a Ágora sonolenta; um grito que quer que seja pública, não rês, bovina resignação de homens tangidos por uma sorte não pressentida. Falo de um João que se insurge primeiro dentro de si e, aos poucos, transborda para o outro que também carrega em si. Assim como quer a este outro desperto, desperta atônito de seu próprio despertar. Na sua orfandade de origens é um homem distanciado de si, na miserabilidade de se contemplar em uma vida que é um reflexo de sua condição atual, numa época desarraigada, inconsciente, repetidora (de iguais!). Ao carregar nos ombros seu próprio sofrimento de ser dor e de ver as dores do mundo, imola-se em cada verso que destrincha com os talheres baratos e descartáveis que lhe são oferecidos tão “gentilmente”. Cada palavra que liberta, cada frase que solta das brancas e suadas páginas é um pedido sempre último de que se nidifique fertilizado em úteros-mentes que gestarão versos vivos. E, pelo amor de Deus, ou dos deuses, que não se aborte a Poesia! É visceral a dor da certeza de que é humana a mão (de carne e ossos que irão apodrecer); que, à semelhança do conto da árvore a reconhecer ser de madeira o cabo do machado que lhe abaterá, também são humanas as mãos que distribuem a fome, os sermões que excomungam, que expõem mãos diferentes em circos de horrores modernos… E por isso, a fumaça dos turíbulos já não sobe aos céus: seus ductos e ictos apenas conduzem às profundezas torpes do ser (des)humano. Há um lobo no altar da ovelha; há filhotes de lobos a beijar ovelhas… “Poeta maldito”, herege a blasfemar contra seu alienofágico “deus mercado”… Bendito rebelde que incita, concita seus pares, excita-se com o sonho de se acabarem os matadouros onde se prepara o banquete de duras carnes humanas. É dilacerante a dor que calcina os ossos, a dor de se sentir brasa viva de si, a dor nos ouvidos onde ecoa o tropéu dos cascos a espezinhar as dignidades, onde se escuta centauros chicoteando os direitos… O sujeito da poética de João é um João cognoscente, ávido e árido de si; é um João que se oferece sacrificialmente, que faz libações ao sensório cru – e nu – de seu próprio experienciar… irrepetível conhecimento. João oferece o que não é de se oferecer; se angustia por oferecer o que, neste carecer do ofertar, não será compreendido, será mesmo até inconveniente: será um choque visceral… algo, por certo, a ser evitado… A poesia lá está, às vezes, pregada no âmago da cruz-poeta; quando ele a desprende, há a sensação de um chute “na boca do estômago”, há uma dor visceral, que parte das entranhas da cruz e perpassa – dolorida e pulsante – pelas veias do real. E o que é este real? É o instante no homem que jaz liberto na cruz… Do alto de seu madeiro, não se queda – alheio e surdo – aos choros: vê tanto a funcionalidade deste como o despropósito de chorar. Do alto de sua cruz implora a morte: que a todos iguala, que revela e retira as algemas da verdade, tão insistentemente escondida no viver; a morte que é símbolo do fim da procrastinação da procura, da morte dos regimes, sistemas, filosofias, dogmas, ideologias, procuras de João… Jaz na cruz um João, pássaro na mira do caçador de si… UM BUSCADOR DE SI É o nosso poeta um buscador de si. Na busca de seu perfil esbarra nos obstáculos – seus perfis escondidos. É, ao mesmo tempo, sujeito e objeto do conhecimento de si e por isso, inevitáveis são o conflito e a dor


oriundos do próprio ato de conhecer. No enfrentamento de seus obstáculos, de certa forma, sentimento de caos, supera-se avançando para outro caos. Ao mesmo tempo que retifica seus perfis, alarga sua via crucis e segue na “intensidade de presença” de um novo João. Sua poética, qual bisturi a lhe cortar o corpus, desfolha-lhe as camadas, textos de si mesmo, expondo-lhe à luz do dia os nervos-análise que se permitiu dissecar. A cortar-lhe: um insensível bisturi; a ser cortado: já um meta-corpus. Na alcova fértil de seu “quarto”, seus frios/quentes suores são rimas, por vezes ásperas; eilas avesso do cetim, doloridos chutes que a esperança lhe dá do âmago de seu ventre grávido. A poesia aqui é um pensamento que se aventura, uma aventura que se pensou. Dinâmica e intuída, insights de si, direciona-se redirecionando, compreende-se além de si. Em sua alcova, João biparte-se, reformula seus signos: há significado e significados, há mais nulos significantes… João decifra-se e devora-se… A vertente “noturna” de João revela-se na poesia que, ora o faz precipitar-se nos abismos, ora o leva a despencar, ele mesmo, impelido e seduzido pelo abismo de sua (in)compreensão. O lado “noturno” ri-se do lado “diurno” de João e o provoca no leito de seu “quarto”… E as palavras, situações, estupefações, ao passarem pelo crivo de um João racional, amalgamam-se no instante – amante – capturado e traduzem-se no verso em gozo… Caminhante – dos irmãos, o caçula de Dante -, o poeta vai tropeçando sobre si, por entre as ruínas de suas construções mentais, coletando as cinzas-amostras, material de estudo em seu laboratório de cientista-poeta. Já de outras vezes, João navega turbulento, singrando os mares cheios dos monstros dos erros e ilusões. Açoitam-lhe os ventos da linguagem que, racionalmente tenta usar, fustigam-lhe as tempestades de incoerência… mas continua a proteger a bússola sonhando com o farol (gedanken) que, intui, está a se ocultar por trás do vagalhão de suas ancestrais paixões… Por vezes a vontade louca de se lançar ao mar, de se oferecer ao altar de Netuno como um lobo a se redimir perante a ovelha cobiçada outrora: seu intuito é o de libertar rebanhos. A tentativa de descontrução na palavra da dor embutida nas guerras, nas misérias cotidianas coloca na face do poeta um olhar que irrompe da noite, ao modo do Sol, e escancara à luz (razão) do dia as mazelas, a podridão mal encoberta, o fétido cheiro que já não mais incomoda, pois os olfatos já se acostumaram e as máscaras também fedem… Uma preocupação assola a alma: será possível ser a si mesmo se há moldes em todo lugar? Na família, na escola, na igreja, no trabalho, na sociedade? Será que tudo já foi dito, será possível a desalienação, libertarse do jugo ideologizante e ideologizado? ABRINDO AS GAVETAS DO EU E surge, por vezes, o medo de abrir “as gavetas do Eu”, o medo de se ver desnudo, sem máscaras frente a si mesmo; o medo do confronto consigo mesmo, das fragilidades visceralmente expostas… É um medo que queima e enregela qual arrepio de alma… Os olhos – janelas d’alma – refletem tanto a visão de si, interno-olhar, quanto releituras, (re)visões do que se apresenta ao olhar. Se leitura hoje, releitura amanhã e, para além do amanhã, leituras outras existirão… Quais olhares surgirão? Existirão olhares? Será pura e vã inquietação?… Existem as leituras dos vencedores; as esquecidas estórias dos vencidos; há espaços reais aos seus tempos; há verdades forjadas, mentiras transmutadas em verdade única; há vidas ceifadas cheias de verdades amordaçadas… De onde o direito de espalhar o ódio que contamina os inocentes, os civis que ainda não estão na guerra? Por ser um buscador, o poeta recorda-se do realismo ingênuo, subjetivo e egocêntrico e passa épido por um empirismo “claro”, qualitativo e quantitativo de si. Do racionalismo tradicional extrai-se como noção de um João relativo inserto num paradigma racional e, refeito de si, pulando as pedras limosas da razão, ainda meio zonzo já escorrega em seus referenciais e se estatela na grande pedra… surracionalmente feliz. Já agora é um João simultâneo a se olhar; não mais absoluto, nem relativo. Compõe-se (ou fragmenta-se?) a partir do dual na dimensão quadridimensional do espaço-tempo. Seduz-lhe a pedra, por ora. E maravilha-se, angustia-se, devaneia, filosofa oniricamente na poesia! Sente-se arquetípico, pressente um meta-João a ferir-lhe as entranhas feitas de todos os “Joões”. A taça não transbordou. Saboreia-se pressentindo a dor da cicuta que ingere e, digere – antropofágico – cada um de seus


pedaços, enquanto o “dia” não vem. João sonha desperto (devaneia) enquanto é tecida a “noite” em que cabem seus versos, mas, serve-se destes para antever o pesadelo do diurno sonhar… A cada nova poesia: a experiência do instante, do tapa do real na ilusão, do novo e do velho, do profundo que diz Não ao Sim da razão. E o poeta se alarga, se retifica dolorido, “visceral” eternum retorno e perda de si, lato e strictu sensu João… Ah, João, já a pensar em outras pedras ou está a pedra a golpear por Amor? São feitas nesta poética várias alusões aos quatro elementos: água, ar, fogo, terra. Podem ser escritos tratados (e já foram) sobre a simbologia oculta nesses elementos alquímicos, elementos de criação, elementos poéticos. Mas, num recorte, que nos interessa aqui, cabe atentar para a decomposição que o poeta faz criando desses símbolos metáforas de metáforas. Assim, na busca do ouro alquímico de seu próprio ser e de sua consciência no real, o fogo tanto pode servirse de seu papel de nilificador (uma espécie de redução a cinzas), quanto de purificador (uma espécie de lapidação das imperfeições). Poderá ser símbolo de paixão, do íntimo, do instintual que queima, de corporificação do desejo que consome. Há, porém, um sentido maior, não excludente dos demais, o de transcendência: o fogo, ao consumir matéria (e, aqui também, espírito) dialetiza o sujeito e o objeto João, purifica-o e lapida-o em suas arestas antagônicas… e que dor inevitável, que luz que cega! POÉTICA DA FLUIDEZ Já da Água nos vem à mente a noção de fluidez, de uma poesia que é afluente (deságua e compõe rios), que João faz fluidicamente, como fecundante rio a fertilizar margens. Mas na água se lavam também os pecados originais, nela nasce o novo homem… Ecce homo…; dela bebe-se iniciaticamente a “Verdade” que sustenta. Águas há assassinas, violentas, profundas nas quais submergem homens que convivem com as águas primaveris e claras em que se banham despreocupados os jovens corpus amantes. Já aqui, em meio às águas, João até pensa irônico no peixe-poeta, crístico símbolo a se deixar pescar, pois que peixes e água são partes de um todo só… Do Ar, capta-lhe, em seu movimento ascensional, a dupla face da queda e do vôo. Sobe assim, pleno em devoção, buscando o elevado Olimpo no qual fará uma oblação de si. Há vestígios arqueológicos de deuses no Olimpo? E como se livrar das impurezas que o alçaram lá? Já agora é a Terra, pois, a lhe avisar de suas raízes, do repouso e do ventre que lhe germina e sepulta. É a terra a lhe fazer brotar uma nostalgia do vivido e do que poderia ser… Saudade menina de um menino João… um bem querer de Pátria amada, de uma amada distante no tempo, de chão natal amado, inocente pandoravelmente a espiar… E assim as antíteses diurno/noturno (racional/onírico) amam-se despudoradas e inocentes no universo alquímico de João… Penso (será que realmente existo no meu pensar?) agora (serei mais uma na Ágora sonolenta?), por fim, na impressão que me fica após a leitura deste livro. Pareceu-me que o poeta envia aos seus leitores a seguinte mensagem: – “É preciso reaprender a capacidade de se espantar; é urgente adentrar, pela iniciação poética, o umbral do conhecimento; é imperioso o despertar consciente e atuante diante do que é dado, do que é imposto, levantar o véu da essência que a aparência encobre. É necessário também sentir que há sangue tanto nas próprias veias quanto na história da humanização; é urgente também redescobrir-se numa reinserção. Porque é um desrespeito valer-se da poesia de uma forma vil… é proibido alienar-se a poesia!” Obrigada pelos mergulhos no abismo, por dar voz aos gritos tão nossos, pela denúncia (porém atente: Si vis pacem para bellum… se queres a Paz, prepara-te para a guerra!), pelo fogo, pela água… e pelo ar e pela terra… Obrigada pelo ocaso-interregno; pelas primaveras que estão contidas nas geleiras… Obrigada, mais que simplesmente, visceralmente… Lembrei-me de um trecho de um imortal, nosso poeta Carlos Drummond de Andrade, de sua magnífica poesia intitulada Procura da poesia; dizia ele: – “Chega mais perto e contempla as palavras./ Cada uma/ tem mil faces secretas sob a face neutra/ e te pergunta, sem interesse pela resposta,/ pobre ou terrível que lhe deres:/ Trouxeste a chave?” Creio que João Batista do Lago a tem…


SOUSÂNDRADE, O PRÓPRIO GUESA FERNANDO BRAGA Joaquim de Sousa Andrade [Sousândrade] nasceu em Guimarães [MA], a 9 de julho de 1812, faleceu m São Luís, a 21 de abril de 1902. Ao contrário de seus contemporâneos não foi a Coimbra ou a Olinda buscar o seu título universitário: conquistou-o em Paris, formando-se em Engenharia de Minas e em Letras, pela Sorbonne. É, talvez, por isso, se não mesmo pela originalidade extravagante de sua personalidade, que escapou à formação coimbrã, costume do grupo que integrou no tempo; foi um poeta diferente, estranho e revolucionário em sua arte, que desponta como o mais remoto precursor do modernismo e ainda hoje um desafio marcante à teoria literária. Sousândrade foi o primeiro Intendente de São Luís, após a Proclamação da República, cuja administração dedicou à educação e à reforma urbanística da cidade. Foi professor de grego no antigo Liceu Maranhense, idealizou com sua tendência progressista, a instalação, em São Luís, da primeira universidade brasileira – a da Atlântida – posteriormente denominada de Nova Atenas, não vingando por causa de baixos níveis políticos. Sousândrade foi ainda o autor do desenho da bandeira maranhense, em cujas cores branca, vermelha e preta, quiseram significar a fusão da raça brasileira. É patrono da cadeira nº 18 da Academia Maranhense de Letras e colaborou com o pseudônimo de Conrado Rotenski em 'A Casca da Caneleira' [São Luís, 1866 – romance por uma dúzia de esperança], escrito juntamente com Trajano Galvão, Gentil Homem de Almeida Braga, Dias Carneiro e Joaquim Serra, todos integrantes do grupo maranhense. Esse romance fora escrito no mirante do 'Palais Porcelaine', solar erguido na Rua Grande, esquina com Rua do Passeio, precisamente no Canto da Viração, que era a morada de Gentil Homem de Almeida Braga. Este poeta, até pela aglutinação de seu nome [Sousândrade], é um esteta intemporal, mergulhado universalmente no sintático e no lexical, completamente novo e original, arredio dos cânones [românticos] de seus contemporâneos, codificados nos fins do século passado. Uma presença conflitante de sua própria superação perante a historicidade da literatura em crise, a qual presenciou e sofreu suas diversas mutilações. Depois de chegar da Europa, para onde foi por favores de amigos, depois de negada ajuda pelo Imperador Pedro II [onde na Inglaterra criticou a monarquia sendo aconselhado a sair] se aventurou em viagem pelo Amazonas, contornando os Andes e rumando para os Estados Unidos, m 1871, levando em sua companhia a filha Maria Bárbara, cuja educação acompanhou até 1885, no ‘Sacre-Coeur’, quando então regressou ao Maranhão. Nessa peregrinação nasceu o seu famoso 'Guesa errante', fruto do testemunho de um mundo capitalista – que despertava em plena ascensão industrial em Nova Iorque – com seus escândalos financeiros e políticos, a fermentar toda a Walt Street [integrantes do Canto X do Guesa – Inferno de que nos fala Augusto e Haroldo de Campos. D. Invenção, São Paulo, 1964], bem como o arcabouço de uma democracia fundada no dinheiro e a expensas das misérias da competição desenfreada. O autor também de 'Harpas Selvagens', Rio, 1857, Impressos, São Luís [2 vols.], 1978-9; 'Eólias', incluído em 'Obras Poéticas' [1º tomo], Nova Iorque, 1874 e 'Novo Edem', São Luís, 1888-9, sem pertencer à escola satânica, ou ao modismo de Byron, tem muito do Lord Peregrino em seus contos magoados, apondo-se, ainda, à frente na exemplificação de normas de conduta e de dignidade, e crendo que todo o poeta, sob pena de escravidão e morte, deve ser o que ele é não o que aconselham para ser, porque o templo da liberdade, quando profanado, converte-se em túmulo de loucura, como justiceiramente asseverava. Sousândrade foi o primeiro no Brasil, a inaugurar uma estética modernista. Sua contribuição à poesia, como em período revolucionário, reside fundamentalmente, segundo o e enfoque crítico de Alfredo Bosi, nos processos de composição: arquitetura dos sons ao plurilingüístico; no manejo verbal à montagem sintática, surpreendendo a forma – com a resolução – no entendimento de Hegel, ou a forma tão necessária à poesia como idéia ou, ainda, como diz Roland Barthes [in Le degré zéro de l’écriture, Paris, 1972] uma forma com os indicadores do escândalo, porque esplêndida ela é fora de moda; anárquica, ela é anti-social; uma forma que em si mesma seja a própria solidão. “O Guesa errante” [poema pan-americanista e autobiográfico de 13 cantos] foi editado em Nova Iorque, em 1876 e em Londres, possivelmente em 1888, publicados em etapas como o fez Byron com “Dom Juan” e Goethe com ”O Fausto”. Esta narrativa épica é original e onomatopaica, e seu universo surgiu de um poema delineado pelo molde de Chiuld Harold, na gênese de uma lenda da Colúmbia, narrada por Ferdinand Denis, ficando o poeta a imagem da romaria de um índio


destinado a morrer no templo do sol. O Guesa desce os Andes, se esquece de seu “alterego”, convive com os selvagens engole o grande rio; e o poeta se incorpora em seu próprio protagonista e com sua natureza a emprestar, com sangue, o seu sofrimento mais íntimo ao índio viageiro, parafraseando o comentário de Frederick G. Williams e Jomar Moraes, estudiosos da obra sousadradina. Cabe aqui lembrar – como Stendhal – o que premonizou Sousândrade: “Ouvi dizer já por duas vezes, que “O Guesa errante” Será lido cinqüenta anos depois; entristeci – decepção de quem escreve cinqüenta anos antes”. E isso se fez verdade porque só agora a crítica de vanguarda está tentando, ao descobri-lo, fazer-lhe a merecida e árdua interpretação, já que o poeta tem sido, no estrangeiro, objeto de estudos e pesquisas para tese de doutoramento em diversas universidades, por ter sido na Europa e nos Estados Unidos que mais intensificou a sua criação, mas carecendo, entre nós, e depressa, de uma atenção mais densa e acuidade, porque crendo como Píndaro “os gênios nascem e não se fazem”. É-nos devido dizer, ao finalizar, que Sousândrade é o núcleo de seu próprio itinerário, de seu próprio roteiro. É em seu viajar o próprio universo dos fatos e a própria represa mítica da palavra. É ele o poeta que cunhou a sua própria metáfora de vida [estou na pedra!] quando de pedra necessitava para viver, arrancando-a e vendendo-a em sua 'Quinta da Vitória', em São Luís, para comprar o pão de cada dia. É ele, Sousândrade – esse poeta extraordinário – o próprio Guesa.


OS ÚLTIMOS VERSOS DE BANDEIRA TRIBUZI FERNANDO BRAGA Excertos de ‘Breve Memorial do Longo Tempo’ Bandeira Tribuzi São Luís, janeiro de 1977 “Adeus. Lá vou para o exílio português navegando pelo patriotismo de meu pai que desconfia das letras brasileiras e gostaria que todos os filhos nascidos no Brasil fossem bons portugueses até no sotaque com que ele resistia aos seus sessenta anos brasileiros. ” .......... [Depois, tantos anos mais tarde, entendi. Sobretudo quando encontrei Antônia, que fora minha ama-menina, como puta em Coimbra...] .......... Minh’alma tinha palmeiras onde o demônio da vida também mandava seus pássaros cantar uma outra cantiga. O sabiá do meu corpo desafiava o de minh’alma: meu ouvido era de terra e só um canto escutava. Ó sombras das Torres de Anto dos choupais da beira-rio que é dessas sombras que à tarde convosco se confundiam... Ó capa preta, manto da noite enrolando-me os sonhos, ó pedras sábias que D. Diniz ergueu em templo à deusa ciência. Ó Coimbra, inteligência romântica de um País sentimental, fonte de santas heresias a pulsar para sempre nos corações que um dia na água de tua fonte os lábios jovens embriagaram. .......... Mãe, entre tuas-minhas dores,


eu antigo menino está recém-nascendo. Não esqueças o limão em meus olhos para o ácido dom de ver ainda que seja a morte: O poema não morre. O amor não morre.”

No dia 2 de fevereiro de 1927 nascia, em São Luís, José Tribuzi Pinheiro Gomes. Dono de espírito irrequieto, o poeta caminhou com desenvoltura pelo jornalismo, economia, política e música. Faleceu em 8 de setembro de 1077, aniversário de fundação da Cidade de São Luís. Lembrado por sua obra, uma herança que contempla áreas distintas e comprova a grandeza do maranhense, Tribuzi era filho do português Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes e da maranhense Amélia Pinheiro Gomes. O codinome Bandeira foi incorporado devido à predileção do jornalista pela obra de Manuel Bandeira, a quem admirava. Antes de completar três anos de idade, seguiu com a família para a terra natal do pai, Portugal. Na Europa, frequentou escolas em Porto, Aveiro e Coimbra e por lá permaneceu até concluir sua formação superior. Formado em Filosofia e Ciências Econômicas e Sociais, Bandeira Tribuzi retornou a São Luís em 1946. Bandeira Tribuzi juntamente com José Sarney, Ferreira Gullar, Lago Burntt, Floriano Teixeira, Calos Alberto Madeira, Cadmo Silva, Yedo Saldanha, Luís Carlos Bello Parga e outros poetas da chamada geração de 45, fundaram em São Luís o ‘Grupo Ilha’, que funcionava em uma movelaria de propriedade da família do pintor Pedro Paiva, na Rua do Sol... Formação – Apesar de filho de comerciante bem-sucedido, não assumiu cargo na firma do pai. A sólida formação humanística o impeliu para outras paragens. Sob a influência de nomes como Sá-Carneiro, José Regio, Fernando Pessoa e Carlos Drumond de Andrade, além de Garcia Lorca, o poeta e escritor logo contagiaria sua geração com ideias novas. Foi contemporâneo e amigo do poeta português Fernando Ferreira de Loanda. Não tardou para que o jovem poeta unisse em torno de sua figura um grupo de amigos para discutir artes plásticas, música e literatura. O poeta Ferreira Gullar reconhece que foi Tribuzi o primeiro a mostrar aos maranhenses versos do Modernismo. Até 1946, data na qual Tribuzi regressou de Portugal e 24 anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922, os autores locais ainda escreviam com rimas e simetria de versos. A obra versificada de Tribuzi está publicada em 10 livros e foi reunida no volume Poesias Completas (1979), reeditado em 1986 com o título de Poesia Reunida. Em 2002, os versos do poeta ganharam nova seleção em Obra Poética, dentro da coleção Maranhão Sempre, editada pela Secretaria de Estado de Cultura, com textos de José Sarney, Jomar Moraes e Nauro Machado. Em sua biografia, destaca-se a autoria da marcha-rancho Louvação a São Luís, tomada como hino da cidade que tanto cantou. Amigo e contemporâneo do escritor e senador José Sarney, com o qual fundou o jornal O Estado do Maranhão, Tribuzi morreu dia 8 de setembro de 1977, no dia do aniversário de São Luís, aos 50 anos.


O LIRISMO DE RAIMUNDO CORREIA

FERNANDO BRAGA Raimundo da Mota Azevedo Correia, nasceu a bordo do vapor ‘Mogúncia’, nas costas do Maranhão, em 13 de maio de 1860, e faleceu em Paris, em 13 de setembro de 1900. cursou humanidades no Colégio Pedro II, bacharelando-se em Direito pelas Arcadas do Largo de São Francisco, na capital paulista. Exerceu a magistratura no Estado do Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Foi professor da Faculdade de Direito de Ouro Preto, de História, no Rio de Janeiro e diplomata em Lisboa. Estava em Paris, aonde fora em tratamento de saúde, vindo a falecer. Seus restos mortais foram traslados para o Rio de Janeiro, em 1920, pela Academia Brasileira de Letras, da qual era sócio fundador. Sua formação intelectual se deu no período da transição do romantismo para o realismo, fase carregada de descrença material. Pertenceu a uma geração de ilustres intelectuais que iria ter grande participação com a Proclamação da República. Tinha um caráter extremamente simples, bondoso e sensível, mas inclinado para a solidão, a abstração, e o devaneio, reflexos em sua poesia que o faziam, ainda, um homem cheio de escrúpulos morais e de uma sensibilidade muito aguda. a sua poesia era o espelho, repito, de seu temperamento: triste, pessimista, nervoso e irritadiço. No início, atravessa o romantismo cultuando autores portugueses como Camões, Castilho, Bernardes e Bocage de quem herdou a perfeição métrica. Por influência do meio acadêmico de São Paulo e inclinado aos ideais revolucionários que levaram a literatura para o realismo, o poeta se fixa no Parnasianismo até o fim da vida, consagrando-se juntamente com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac na chamada “Trindade Parnasiana Brasileira”. Raimundo Correia deixou-nos as seguintes publicações: Primeiros sonhos (poesias), 1879; Sinfonias (poesias), 1883; Versos e Versões (poesias), 1887; Aleluias (poesias), 1891; Poesias, 1898. Foi o poeta Raimundo Correia um dos maiores líricos brasileiros, aliando o seu natural pessimismo filosófico a uma estética de vigor formal o que mais tarde fez Manuel Bandeira escrever que o poeta maranhense “certamente é o maior artista do verso que jamais tivemos”. Ouçamo-lo neste ‘Amor e vida’: Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida, Este amor infeliz, como se fora Um crime aos olhos dessa, que ela adora, Dessa, que o crendo, crera-se ofendida. A crua e rija lâmina homicida Do seu desdém vara-me o peito; embora, Que o amor que cresce nele, e nele mora, Só findará quando findar-me a vida! Ó meu amor! como num mar profundo, Achaste em mim teu álgido, teu fundo, Teu derradeiro, teu feral abrigo! E qual do rei de Tule a taça de ouro, Ó meu sacro, ó meu único tesouro! Ó meu amor! tu morrerás comigo! A escritora Margarida Patriota [mulher do meu querido amigo, editor Joaquim Campelo], há tempos, no seu discurso de posse na Cadeira nº 37, da Academia Brasiliense de Letras, patroneada por Raimundo Correia, transporta-se à época do poeta a se colocar em seu cenário participativo, produzindo deste formidável sortilégio, estas colocações, depois enfeixadas na plaqueta “Para compreender Raimundo Correia”, uma


edição da Alhambra, Brasília, s/d: “Assim, remexendo papéis velhos, fito o daguerreotipo amarelado que retrata o poeta de “Mal secreto”, e, súbito, o sortilégio se produz / deixo minha época pós-moderna, pródiga em esportes, técnicas, e inventos, e desço curiosa a ladeira das eras que me leva às rodas do Segundo Império. Então, na rua estreita e irregular onde se inscrevem os rastros ainda frescos das caleças, um menino franzino engravata-se de homem feito para dar um giro. Conta ele apenas oito anos, e já parece caricatura de senhor austero, afeito ao mando, frente ao moleque de andar leve, que vai batendo de porta em porta, a vender novelas de Macedo”. Adiante, encasaca-se de acadêmico um rapaz frágil, de buço azulado e rosto pálido. Contrai ao rosto a severidade altiva e pesarosa do empertigado, fatiotado, precocemente fatigado estudante de Direito dos nossos primórdios republicanos (...) Sigo em frente, e espartilhada à conveniência 'fin-desiècle' enveredo pelo salão nobre onde, ao som do piano, o contido Juiz da 3ª Vara, de nome Raimundo de São Luís da Mota de Azevedo Correia declama “O Corvo” de Edgard Allan Poe, na recente tradução de Machado de Assis. Enquanto a récita prossegue, tomo assento na marquesa de palhinha, junto ao vulto de um senhor, que me sussurra: - Raimundo, hoje, parece que declama menos bem. Viro-me, e na penumbra reconheço o editor Valentim Magalhães, amigo antigo e fiel do declamante”. Além da perfeita descrição, também a magia do transitório convívio é singular e genial. Para minha satisfação, convido, por derradeiro, a escritora Margarida Patriota para encerrar este dedo de prosa: “de regresso à atualidade, desvencilho-me do espartilho, repondo o retrato de Raimundo Correia na estante.” --------------------* in Jornal O Estado do Maranhão, 17 de outubro de 2007


LUCY E O ABRIGO DE BONDES CERES COSTA FERNANDES Ludovicense da gema se agita quando o assunto é mexer no seu patrimônio histórico. O assunto da hora é a permanência ou não do abrigo “novo”, de 1952, da Praça João Lisboa, quando da reforma anunciada pela Prefeitura/ IPHAN. Excrescência arquitetônica, não tombada, já teve sua utilidade: era posto de carros-depraça e servia lanches aos frequentadores contumazes da Praça. O abrigo agora é depósito de sujeira e bares sem higiene. Trânsito caótico, barracas e camelôs; ninguém mais pensa na João Lisboa como lugar de convivência. O mastodonte discrepa da harmonia do conjunto da Praça. Nas redes sociais, rola até enquete sobre a retirada do falso histórico. Nada contra a mistura do antigo e moderno, se oportuna e de bom gosto. O Centro Georges Pompidou, de arquitetura pós-moderna, na velha Paris, é exemplo disso. Deixo a polêmica pra vocês. Quero falar do primeiro abrigo, o dos bondes, saudado com regozijo pelos usuários que, ao perder a sua serventia, também começou a incomodar. As coisas, como as pessoas, têm seu domingo de ramos e sua sexta-feira da paixão. Leiamos um trecho da crônica, de 1947, da grande escritora maranhense Lucy Teixeira, provavelmente, no mesmo ano da sua inauguração. Diz ela: “A inauguração de um abrigo público na Praça João Lisboa trouxe à mesma uma feição mais moderna, às vezes parecendo-nos, ao atravessarmos a velha praça, estarmos em cidade bonita do sul.” (...) “um dos motivos a nosso ver mais pessoal é o de podermos conversar um pouquinho com os conhecidos, ás 11,40 ou ao findar da tarde quando, cansados, preparamo-nos para a eterna e quotidiana reivindicação qual seja a de um lugar no bonde ou no ônibus. Mas não é só poder conversar com os conhecidos e antigos vizinhos, velhos moradores da Jordoa, João Paulo ou Anil. O principal, o surpreendente é que, prevenidos contra o sol e a inverneira, possamos ainda fazer novas relações com pessoas bastante agradáveis, sem dúvida. Por exemplo: a moça chega apressada, a chuva não para, só aborrecendo. Olha para um lado, para o outro e, depois de verificar a ausência de rostos conhecidos, escolhe galante desconhecido para, ”se mal pergunto”: O sr. Pode me dizer se o ‘Areal’ já passou? Estou aqui há seis minutos e nada. É o meu bonde. Ah... o sr. mora por lá? Bem, aqui o leitor, por obséquio continuará em sua respectiva mente o diálogo encetado, dando-lhe colorido pessoal. Poderá também prosseguir na próxima semana justamente como filme seriado. O abrigo servirá ainda de ponto de encontro: Espere-me no abrigo, do lado de quem vai, às duas, viu? E aí, sucedem-se encontros, desencontros e conhecimentos. (...) Quase noite. Estava chovendo. Procurei o abrigo (eis que conheço João).” As palavras mágicas de Lucy remetem à minha relação com esse abrigo, são boas recordações: domingos à noite, eu e meus pais – nosso bonde era o São Pantaleão – descíamos no abrigo e rumávamos até à Rua Grande, a ver as vitrines de tecidos, móveis e (encanto) as novidades da Real Joias; depois, um sanduíche de fiambre com Guaraná Champanhe, no Moto Bar, ou sorvete de ameixa no Hotel Central. De volta ao abrigo após o passeio modesto – mas tão bom! –, descíamos do bonde no Largo do Santiago, defronte de casa. Haveria, no mundo, alguma criança mais feliz que eu? Volto a Lucy: “E assim, amigos meus se eterniza no coração feminino ou masculino a lembrança de um novo abrigo, se público, também particularíssimo como local de simples quão significativos acontecimentos pessoais.” Fiquem com estas justas palavras de Lucy. Não me cabe dizer mais nada. ceresfernandes@superig.com.br


MACHADO DE ASSIS E O FUTEBOL EDÔNIO ALVES Até onde sei – e confesso que sei um pouco, uma vez que estudei o tema para uma tese de doutorado -, o grande escritor brasieliro Machado de Assis nunca escreveu tendo como tema, seja de longe ou de perto, o futebol. Até porque, no ano de sua morte (1908), no fim da primeira década do século 20, o jogo de futebol estava apenas ganhando fôlego no Rio de Janeiro para se espalhar como um rastilho de pólvora incotornável, só na década seguinte, a década de 20, pelo Brasil afora. Foi a partir dos anos 20 do século 20, portanto, que o jogo de futebol se consolidou no Rio de Janeiro já como um esporte popular e avassalador no gosto do desportista carioca, posteriormente se espalhando pelo Brasil e iniciando uma trajetória de influência na cultura nacioanal a que os escritores tiveram que dar atenção, embora que inicialmente apenas o envolvendo numa polêmica renhida entre os que o defendiam e os que o atacavam enquanto uma novidade estrangeira que, então, forçava instalação na nosssa terra. Para se ter uma ideia, nos primeiro anos da década de 1910 apenas o jornalista e escritor João do Rio deu atenção, nos seus escritos, ao futebol, tomando-o como ocupação novidadeira da elite carioca que o importara da Europa e o adotara como forma de esporte, lazer e festejo social. Na ficção, por exemplo, o tema sequer existia por essa época. Não é de se estranhar, portanto, que um escritor sisudo – embora sarcasticamente irônico com as ditas coisas sérias do mundo, (à maneira de um Voltaire), como era nosso Machado de Asisis -, fosse perder tempo com um tema tão sem importância e banal, estigma que até hoje parece cercar a matéria, a ponto de um dos seus maiores cultores nas nossa letras, o dramaturgo, jornalista e escritor, Nelson Rodrigues, o ter resumido assim ao redimensionar essa circunstância que ainda hoje cerca o assunto: “Das coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais importante”, asseverou certa vez. Pois bem! Não escreveu sobre futebol, o nosso Machado de Assis, mas criou (ou mais apropriadamente, tomou de empréstimo também dos ingleses tal qual fizemos com o esporte bretão) um tipo de narrador que deu uma inflexão geral (sapecou um grande drible) no campo da literatura brasileira, algo que até hoje causa espanto e certa novidade na maneira de se narrar ou contar histórias com finalidade estética ou artística. Trata-se do chamado “defundo autor”, aquele que já bateu as botas e partiu dessa para a melhor, podendo, assim, “viver e contar também melhor” as coisas da vida e da morte, já que não lhe resta mais compromisso algum com nada ou com ninguém, contingência que só a “indesejada das gentes” pôde lhe conceder de benefício final e definitivo, espécie de lincença poética radical e libertadora. Então! Como se costuma afirmar nos meios acadêmicos de literatura - e algumas teorias da narrativa parecem confirmar -, a condição de morto sempre confere a um narrador-protagonista que opere a partir de uma primeira pessoa atuante ou testemunhal, uma espécie de salvo-conduto ou imunidade para que possa intervir como queira na vida dos entes com os quais conviveu e que, por este recurso técnico de verossimilhança, ainda conviverá para todos os efeitos do bem e do mal. Este, pois, é precisamente o caso em questão do narrador Mindinho, o do conto de futebol que analisaremos nesse pequeno ensaio para esta coluna do Correio das Artes, ou seja: aquele que não só conta, mas até autonomeia a própria história. Talvez daí, dessa circunstância de olhar para o mundo dos vivos por cima do nariz (afinal, ele já está morto mesmo!), é que esse tipo de personagem-narrador ou narrador-personagem, como queiram, se comporte perante a existência dos que ficaram quando de sua partida desta para a melhor com uma arrogância que diria judicante, nas suas histórias exemplares.


É uma dessas histórias, portanto, que o leitor vai acompanhar a seguir, a qual deixo como minha homenagem à relação de Machado de Assis com o futebol, algo que sei que não houve, mas que também sei houve, conforme todos perceberão, na análise do conto em tela. Desçamos ao texto, pois: *** Mindinho Conto de José Cruz Medeiros Narrativa em que, à maneira de um narrador machadiano, aquele que escreve com a pena da galhofa e da melancolia, nos é contada a curiosa história da vingança de um jogador de futebol já falecido sobre o seu companheiro de clube ainda vivo. E tudo isso por causa de uma “desfeita moral” que o narrador habilmente faz transformar-se numa espécie de traição em que o jogo da bola entra como elemento de conteúdo e significação. Noutras palavras: o ponto culminante de uma trama onde tudo pode ser resumido no emblemático aforisma: sorte no amor, azar no jogo. Ou vice-versa. Principalmente, vice-versa, como o leitor verá ao ler essa literalmente fantástica estória curta de futebol. Escrito numa prosa elegante e deliciosamente corrente; fluida até, no seu intuito narrativo, este conto de José Cruz Medeiros, pra início de conversa, inscreve-se entre aqueles dos melhores do gênero, a exemplo de “O jogo encoberto”, de Aécio Consolin, já analisado aqui e que também trata de uma traição entre companheiros de time e de jogo de bola. Desta vez, com efeito - mas, com efeito mesmo, o artifício literário para tratar do tema é bem mais sofisticado, uma vez que o narrador-protagonista só age na trama a partir da sua condição de morto, coisa que solertemente vai logo avisando ao leitor: “A turma prefere o domingo, que é o dia da vitória. Eu não; comigo é na quarta-feira. É quando me levanto contente, satisfeito da vida. Tudo muito claro, os passarinhos vêm comer as migalhas de pão que eu atiro no quintal... Ou será ilusão? Porque foi, justamente, numa tarde de quarta-feira, belíssima, que eu morri”. Uma outra de suas característica marcantes, também, é o passar a considerar as coisas humanas a partir dali, da saída do mundo dos vivos, através de um prisma em que se acentuam drasticamente o seu lado risível, melancólico, profundamente cômico no seu paradoxo fundante. Como se a pobre condição humana dos vivos não fosse além de um ajuntamento de fatos aleatórios, circunstâncias imperativas e disposições alógicas, sem finalidade última ou sentido algum. Aquilo que na sentença lapidar do poeta se resumiria assim: “Uma agitação feroz e sem finalidade”, a própria vida. Então, porque já fixada a sua condição de morto na narrativa, lá vai agora o nosso Mindinho contar episódios do seu enterro, oportunidade que aproveita para ir perfilando para o leitor um amontoado de pareceres seus sobre eventos comezinhos que agora e antes esclarecem um pouco da sua trajetória de vivente e agora de defunto. “Mas eu estava ‘pesado” mesmo, nessa minha dolorosa trajetória: uma das cordas escorregou e o caixão, embicando perigosamente para baixo, foi jogado violentamente contra o raso da cova, e assim fiquei à espera dos vermes. Algumas pessoas assustaram-se, outras acharam graça, e eu, em tudo isso, percebi que meu enterro, que sempre esperei ser cristão e ameno, virou palhaçada pura”. Note-se aí o tom sarcástico e irônico com que o narrador vai encaminhando as coisas da vida, aparentemente sempre balizadas por algum sistema moral ou ético, para um patamar de relatividade que, lá na frente, no momento crucial da sua narrativa, vai justificar teoricamente a sua atitude de vingança frente ao amigo. Essa travessia é feita por um trecho exemplar em termos de procedimentos formais de textualidade. Um momento em que, depois de ter sido largado definitivamente no cemitério, deixa patente o personagem-narrador, ao nível de um sintagma textual de sugestão, essa sua possibilidade de vingança: “Sentia falta de um companheiro, de uma palavra amiga. Os que ali permaneciam eram estranhos. Os coveiros de enxada às costas, deixavam o serviço, e eu me via só e triste, imerso numa profunda desolação. Queria ver os meus, falar-lhes, mas o certo é que uma força poderosa tolhia-me os movimentos. Luzes estranhas davam conta de que me encontrava no limiar de uma nova existência, sem nada compreender desse mundo fantástico e irreal, feito do impossível e do imponderável”. Pois esse mundo fantástico e irreal, feito do impossível e do imponderável, tanto pode ser, no caso, o além mundo do personagem; o nosso mundo real mesmo, que todos nós sabemos dotado de toda essa


imponderabilidade e fantasia, ou o mundo textual da literatura onde tudo é possível e justificável, desde que as instâncias sejam inscritas sob a plausibilidade da sua coerência narrativa interna. Assim é que o narrador vai esclarecendo melhor as coisas: “Esse isolamento deveria ser motivado por mim mesmo. Certamente. Eu não seria coisa muito boa, vista que uma chusma de diabinhos andava sempre a me cercar”. Em seguida, a confirmar certa epigonia de retórica machadiana, mas uma louvável epigonia do tipo, o narrador faz surgir na história um personagem esclarecedor da sua nova condição existencial, mas funcionalmente irônico: “Quem tentou me esclarecer um pouco foi um velho de nome Camargo, falecido em 1868. Dizia-se filósofo. Outro dia me encontrou aqui e foi perguntado: “- Rapaz, que tristeza é essa? - (...) Como se chama? - (...) Mindinho! – exclamei com ênfase. - (...) E o que fazia, antes de vir pra cá? - (...) Futebol – respondi com certo desalento. O senhor sabe, sou o Mindinho – insisti.” A ironia em questão, a se depreender das considerações que seguem, por parte do filósofo de cova e de caixão, o senhor Camargo, decorre do fato do escritor José Cruz Medeiros servir-se justamente dele, um sábio, para firmar, na sua história, a repercussão no âmbito literário, da representação social do futebol como uma ocupação menor, um ofício que por privilegiar os pés e não a cabeça na sua execução, opõe também o trabalho intelectual ao manual, com todas as significações socais depreciativas daí decorrentes. “Não sou contra o futebol”, diz ele. “Nem contra qualquer exercício físico, à exceção do boxe, que é digno do tempo das cavernas. Ou dos circos romanos. Mas o amigo deve convir que o futebol deixa o cérebro assim (com o indicador e o polegar configurou uma bola, pequeníssima...) e o pé deste tamanho! (e abriu os braços para mostrar um pé de metro e meio)”. Cite-se também aqui a resposta do personagem-narrador, por ser absolutamente necessária ao caso em questão. “- O senhor fala assim porque naturalmente nunca ouviu falar da célebre dupla Mindinho-Piúca, os ‘backs’ mais famosos do continente, declarei, imprimindo, agora, um tom irônico às minhas palavras. Piúca é o meu companheiro de vitória, o meu grande amigo. Criamos um sistema de defesa que é um assombro. Verdadeiramente. O senhor não se lembra do notável embate com os argentinos, em 1950? Que dia!” Aplanado o terreno situacional, em que o leitor já sabe quem conta a história, a partir de que circunstância, sobre que tipo de atividade humana, e desta, sobre que aspecto vai tratar a narrativa, o narrador, ajudado por seu colega filósofo, descobre que pode pensar e agir de novo como qualquer homem vivo, apesar de morto. A partir daqui, inicia-se o final da sua história. Descobre que dia é hoje na sua vida de defunto, e esse dia é dia de Vasco e Flamengo, o seu time de coração e de ofício profissional. E descobre também que pode voltar a encontrar os seus: “Vi então que podia me locomover à vontade. Comecei a flutuar como um tapete mágico, ao sabor do meu desejo. Como uma criança que principia a andar. Dentro de breves instantes, eis-me a rever as paisagens de minha predileção: Laranjeiras, Cosme Velho, a Barra da Tijuca, de onde guardo as recordações de uma excelente pequena”. E eis também que de repente Mindinho se vê diante dos seus entes mais queridos, momento-chave de sua história: “E fui entrando, de mansinho. Atravessei a porta como um raio-X, e vi-me na sala. Nada se modificara. Tudo era silêncio. Minha filha de oito anos tinha ido até à casa da vizinha e o menino, de dois, brincava pelo chão com uma bola. E minha mulher? Foi quando lhe ouvi o riso, gostoso e cristalino. A sua voz era a mesma: doce como o melado de Campos. Não, não posso dizer o que presenciei então...” Em seguida a esta visão perturbadora para os seus olhos de jogador-defunto, ou melhor, de defunto jogador, para melhor entendermos o que se sucede, o nosso Mindinho presenteia seus ouvintes-leitores com uma das mais criativas e inusitadas jogadas já perpetradas no campo de jogo das narrativas de estória curta. Uma vingança espetacular pra cima do seu colega de time e de zaga, a qual só o tema do futebol poderia


possibilitar. Pra entender tudo, vá o leitor a esse excelente texto de José Cruz Medeiros que, através das palavras de Mindinho, termina deliciosamente assim: “Você lembra dessa lavagem do Flamengo? A gente não esquece. Todo mundo botou a culpa no Piúca, uma desmoralização completa. Que continue a viver com minha mulher. E dizia-se meu amigo, o miserável! Mas está frito: Lea não dá pelota para quem não for cartaz... E, se der, agora já não tem importância”. O AUTOR DO CONTO: José Cruz Medeiros nasceu no dia 19 de setembro do ano de 1909, em Curitiba, Paraná, e morreu em 9 de setembro de 1982. Estreou como contista com o livro, Bicho carpinteiro, em 1959, e a partir daí desenvolveu uma boa carreira de escritor de histórias curtas e ensaísta. Foi membro da União Brasileira de Escritores-UBE e responsável, durante muito tempo, pelo “Boletim Bibliográfico Brasileiro”, revista mensal que prestou importantes serviços ao pensamento da literatura brasileira. Tem publicado ainda, fechando a sua obra, os livros de contos, Pinheiros (1956); Uns contos por aí (1969) e A hora nona (1981). Seu conto, “Cavalo Miranda”, foi incluído na antologia “Contos Brasileiros de Bichos”, publicada em 1970 e organizada por Cyro de Matos e Hélio Pólvora. Já o conto de futebol, Mindinho, que segue, venceu o Concurso de Conto Desportivo do Rio de Janeiro, em 1958, integrando a comissão julgadora Paulo Mendes Campos, Antonio Olinto e Henrique Pongetti. Esta narrativa aí analisada está publicada na coletânea, Contos brasileiros de futebol, organizada em 2005 por Cyro de Matos, sob os auspícios da Editora LGE, de Brasília. Edônio Alves | 25/02/2018 às 20:43 | Categorias: História do Esporte | URL: https://wp.me/pvzlx-2h0



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