REVISTA DO LÉO 8 - maio 2018

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 8 – MAIO - 2018


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


EDITORIAL

A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 -


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER NATAÇÃO PARA BEBÊS – Professora maranhense é referencia mundial - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MANIFESTAÇÕES DO LÚDICO E DO MOVIMENTO NO MARANHÃO ´Leopoldo Gil Dulcio Vaz O PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO - PEDRO HERRERA ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO – introdução – Leopoldo Gil Dulcio Vaz LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS – Proposta – Leopoldo Gil Dulcio Vaz CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO – Leopoldo Gil Dulcio Vaz CAPOEIRAGEM NO/DO MARANHÃO – SÉCULO XXI – Leopoldo Gil Dulcio Vaz ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES A PROFISSÃO “EDUCAÇÃO FÍSICA” – INCLUI O CAPOEIRA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ É A EDUCAÇÃO FÍSICA UMA CIÊNCIA? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ VAMOS SALVAR OU “ESQUECER” A MEMÓRIA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016? - LAMARTINE DACOSTA NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE FLUTUANDO EM PAZ - (... no Dia Mundial das Águas) - EDMILSON SANCHES CARTAS AO MHARIO – ou O ENCALHE ou de Juazeiro a São Luis – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CAVALEIRO SONETÁRIO DO QUIXOTE VENCEDOR’, DE ROSSINI CORRÊA - FERNANDO BRAGA PE. JOÃO NO IHGM – PH REVISTA – 31/03/2018 POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ AO MEU MESTRE SEBASTIÃO: TAPERA-EVIRE NÃO!!! EUSSAUAP É O CORRETO!!! – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ AS DORES DO CRESCIMENTO - CERES COSTA FERNANDES

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MEMÓRIA DA EDUCAÇ]AO FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


NATAÇÃO PARA BEBÊS – Professora maranhense é referencia mundial LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Falar em Natação para Bebês, sem se reportar ao trabalho da Professora de Educação Física DENISE MARTINS DE ARAÚJO (Reg. CREF5 000080-G/MA) - da Academia ‘VIVA ÁGUA’, de São Luís do Maranhão -, é desconhecer a história dessa modalidade no Brasil. Denise é dos pioneiros! Começou a trabalhar com Natação aos 12 anos de idade, acompanhando seu pai, Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo – o Prof. Dimas -, também pioneiro da Educação Física maranhense. Naquela época, Dimas reiniciou suas atividades na sua São Luís. Dava aulas de Natação naquelas casas em que havia piscina. Denise o acompanhava e com o passar do tempo passa a assumir as aulas com os alunos de menor idade. Daí, a seguir a carreira do pai – uma tradição familiar, pois quatro de seus irmãos militam na Educação Física – foi um caminho natural, até sua graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Maranhão. Desde os tempos de adolescente, a agora jovem empresária vem trabalhando com bebês e desenvolvendo seu método de ensino de natação – o “Método Viva Água”. Em 1983, abriu a sua “Escola de Natação Viva Água’, a primeira do Maranhão e pioneira no Brasil a se dedicar à Natação para Bebês. Em 1994, organizou um ‘workshop’ “Criança e Natação”, e trouxe à São Luís uma das maiores autoridades mundiais, o Prof. Dr. Stephen Langendorfer. Ao final da semana de estudos, o Dr. Langendorfer recusou-se a receber o pró-labore acertado, alegando que aprendera muito mais do que viera ensinar... Como conseqüência, a Profa. Denise foi convidada aproferir palestra durante o “International Infant Aquatic EducationConference”, realizado na Austrália em 1995, por indicação do Dr. Langendorfer. Foi então que se começou a sistematização de seu método de ensino da Natação para Bebês. Até então, vinha desenvolvendoo de forma empírica, baseada em sua experiência e experimentações. Em 1997, em Oaxaca – México, durante o ‘Word Aquatic Babies Congress’, habilitou-se junto à ‘National Swim School Association’ como professora de natação para bebês. Essa associação americana é credenciada para qualificar os professores da área em todo o mundo. Presidente na União Nacional das Escolas de Natação – UNEN – pela segunda vez, é requisitada em todos os seus encontros anuais a proferir palestras não só sobre Natação para Bebês, mas sobre os mais variados temas sobre natação, especialmente administração e eventos utilizando-se do meio aquático. Este ano, a Profa.Denise assumiu a Presidência da Seccional do Maranhão do CREF 5ª. Região, que abrange os estados do Ceará, Piauí e Maranhão. “Método Viva Água” de Ensino de Natação para Bebês A Profa. Denise, junto com o também Professor de Educação Física Oswaldo Telles de Sousa Neto, com uma proposta de aproximar o homem de sua origem, criaram a ESCOLA DE NATAÇÃO VIVA ÁGUA. Nesses 25 anos de atuação, mais de 15.000 alunos de 0 a 80 anos viveram com os mesmos festas, competições e títulos com muita alegria. Como resultado desse trabalho, e após anos de estudo e pesquisas na área de natação para crianças, desenvolveram um método próprio de ensino de natação - o Método Viva Água. Esse método de ensino concebe a aprendizagem na água e pela água, distinguindo-se dos demais pelo seu caráter evolutivo. Baseando-se em dados científicos, leva em conta o estado de adiantamento das ciências humanas e das ciências físicas e seu nível de assimilação pelos educadores. Por ter feito da natação um objeto de estudo, evoca a especificidade da natação, demarcando-a com certas fronteiras; ultrapassando as aparências para evidenciar a sua estrutura e acompanhar sua evolução histórica. A natação só será verdadeiramente uma atividade humana a serviço do homem quando a sua pedagogia se


libertar da rotina e se comprometer ativamente com a atitude experimental, daí nossa missão institucional: “educar através do meio aquático”. Para a Viva Água, saber nadar é ter resolvido, no meio aquático, em cada eventualidade, qualitativa e quantitativamente o triplo problema, equilíbrio, respiração, e propulsão, componentes básicas inerentes ao ato de nadar, e cujo domínio é necessário para garantir um comportamento ajustado na água. Todavia, para se alcançar estes objetivos são necessários efetuar ajustamentos sucessivos que se realizam através e na presença das seguintes condições: freqüentar com assiduidade o meio aquático e PRATICAR NATAÇÃO, isto é, ter o gosto e a possibilidade, ou ainda a obrigação de expressar-se no elemento líquido, dentro de certa periodicidade, tomando consciência das próprias limitações e capacidade de progresso, propondo-se um ou mais objetivos, e escolhendo a maneira de executá-los. Essa proposta vem sendo estudada há mais de 25 anos e fundamenta-se no crescimento e desenvolvimento da criança. Para uma aprendizagem bem estruturada em natação, enfatizamos três pontos básicos na realização das atividades aquáticas:  Afeto e contato - fatores primários no desenvolvimento do organismo e da saúde. Eles levam à aquisição de maior segurança e confiança, promovendo uma situação favorável ao crescimento e desenvolvimento  Brincadeiras e jogos - responsáveis pelo desenvolvimento nos processos de criatividade e socialização  Estímulos aquáticos - um ambiente que permita à criança explorar e descobrir todas as potencialidades de movimento que as atividades aquáticas podem lhe oferecer e permita o aflorar do desenvolvimento natural. O que preocupa as crianças: 

NOVO AMBIENTE FÍSICO E HUMANO – vestiário (ter conforto para despir e vestir); recinto (fechado, úmido, ruidoso); a água (temperatura, extensão, clareza); as pessoas (outras crianças, outros adultos); DESCONHECIDO; insegurança transmitida pelo ambiente ou pelo acompanhante que pode projetar na criança a sua própria insegurança. (SARMENTO & MONTENEGRO, 1992, p. 36). FACILITAR A SEGURANÇA É: respeitar o ritmo da criança; as crianças não têm todas a mesma evolução e, por isso, há que aceitar os avanços e recuos no processo adaptativo; evitar as situações inesperadas; evitar a sobrecarga de estímulos (barulho, confusão); evitar exigir demais da criança; motivar atos lúdicos de prazer e não utilizar a ‘chantagem afetiva’. (SARMENTO & MONTENEGRO, 1992, p. 40) AUTONOMIA ““... Implica que a criança consiga deslocar-se no meio aquático com ‘à vontade’ suficiente para não se afogar. Para isso há que desenvolver o conhecimento da água à superfície em profundidade, o que inclui necessariamente a realização de algumas tarefas (SARMENTO & MONTENEGRO, 1992, p. 27).

AJUDAR A CRIANÇA A SER AUTÔNOMA É: NÃO TER PRESSA em que ela adquira técnica e domine a água; NÃO PREGAR PARTIDAS INESPERADAS, de modo a que a criança não perca a confiança na segurança que os pais lhe oferecem; NÃO QUERER QUE A CRIANÇA SE SEPARE da mãe/pai rapidamente. Pode atrasar mais a autonomia, forçando uma separação (embora, neste caso, a criança continue a visualizar a mãe/pai); NÃO DRAMATIZAR AS SITUAÇÕES que eventualmente possam acontecer (beber água, engasgar-se, ter água nos olhos, nos ouvidos...) e devolver a segurança à criança, através da calma, dos carinhos e do riso; DEIXAR A CRIANÇA CONDUZIR a sua ação através das brincadeiras e do prazer que a água proporciona (SARMENTO & MONTENEGRO, 1992, p. 46)


NÍVEIS DE APRENDIZAGEM E SEUS OBJETIVOS NÍVEL I INICIANTE

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I ADAPTADO

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I AVANÇADO

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II -

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ADAPTAÇÃO BÁSICA Adquirir segurança e confiança no meio aquático Executar a submersão, saltos e deslocamentos, com controle visual, fazendo uso de materiais Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades Demonstrar independência no meio aquático, distinguindo as fases da respiração Executar flutuação Executar deslocamentos, saltos, giros e rolamentos Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades Executar deslocamentos em posições e direções diversificadas Desenvolver o equilíbrio Executar flutuação com mudanças de decúbito Executar cambalhotas e saltos na horizontal Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades Adquirir habilidades de equilíbrio, flutuação e deslocamentos, em diferentes situações Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades

FORMAÇÃO TÉCNICA

Deslocar-se em diferentes situações, com e sem vestimentas, realizando saltos na posição aerodinâmica com hiperextensão do corpo Executar as pernadas dos quatro estilos

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IV -

V -

APLICAÇÃO

Consolidação e desenvolvimento das aquisições anteriores Aprendizagem de “crawl” rústico e pernadas de costas

Nadar o estilo crawl com respiração bilateral Executar a pernada de costas com braços no prolongamento do corpo Consolidação e desenvolvimento das aquisições anteriores; Nadar crawl e costas, com saídas e viradas Vivências de situações de aplicação com

Caráter desportivo e utilitário Nadar os quatro - Adaptação das estilos, com saídas e técnicas às viradas características de Conhecer e identificar cada situação as regras oficiais da - Adaptação natação significativa do Conhecer e aplicar as organismo ao técnicas de salvamento esforço - Treino de Base Conhecer e identificar - Treino de Alto as regras oficiais da Rendimento natação - Especialização na Conhecer e aplicar as Técnica e na técnicas de salvamento distância


Saber nadar é ter resolvido, no meio aquático, em cada eventualidade, qualitativa e quantitativamente o triplo problema, equilíbrio, respiração, e propulsão, componentes básicas inerentes ao ato de nadar, 1. O equilíbrio – quando se entra na água a força de impulsão impede o apoio no fundo com a mesma estabilidade que em terra. As perturbações de equilíbrio provocadas por essa força e a natureza dos apoios necessários para as ações propulsivas, determinam que a deslocação tenha de ser efetuada em decúbito ventral ou dorsal, ou seja, segundo um equilíbrio horizontal. Este equilíbrio acarreta várias implicações, a primeira das quais e porventura mais significativa, diz respeito à necessidade de imergir a cabeça, o que direciona e limita a função respiratória (p. 22). 2. A respiração – A respiração perde, assim, o seu caráter automático para ter um caráter voluntário. A expiração é feita na água, sendo necessário vencer a pressão desta. Contudo, inicialmente, não é a pressão que inibe o executante, mas sim a presença dos naturais reflexos de defesa. Uma vez controlados esses reflexos de defesa, e na presença de movimentos propulsivos, a respiração passa a ser condicionada por eles, pois não é possível respirar em qualquer momento. Mas será importante exigir o controle da respiração com a expiração na água? (...) De todos os ajustamentos necessários para garantir uma conveniente adaptação à água, a respiração é de todos o que assume maior importância. Pode-se nadar depressa, ou devagar, com boa ou má técnica, mas o ‘à vontade’ que se revela na água está mais diretamente relacionado com o domínio do controle respiratório (p. 22-23). 3. A propulsão – A propulsão assenta nas técnicas desportivas “livres”, “costas”, “peito”, e mariposa. Mas será importante a aprendizagem destas técnicas, mesmo para aqueles que não têm a pretensão de vir a entrar em competições? Poderemos afirmar que existe uma natação cujos objetivos justifiquem uma opção diferente? Estas técnicas provam-o as experiências, são as melhores bases para desenvolver uma deslocação eficaz em economia de esforço, sendo, por outro lado, moldáveis e ajustáveis em vista o desempenho de tarefas específicas como o salvamento ou outras (p. 23). Todavia, para se alcançar estes objetivos são necessários efetuar ajustamentos sucessivos que se realizam através e na presença das seguintes condições: freqüentar com assiduidade o meio aquático e PRATICAR NATAÇÃO, isto é, ter o gosto e a possibilidade, ou ainda a obrigação de expressar-se no elemento líquido, dentro de certa periodicidade, tomando consciência das próprias limitações e capacidade de progresso, propondo-se um ou mais objetivos, e escolhendo a maneira de executá-los. O resultado de uma pesquisa bibliográfica em que se verificaram como diferentes autores avaliam “saber nadar” constatou-se que o conceito não aparece explícito, mas parece estar implícito na proposta que cada autor faz para o final da primeira fase de formação, por alguns designada “aprendizagem”, como forma de distingui-la da fase de aprimoramento da condição física, técnica, tática e psicológica tendo em vista a competição. Encontraram-se dois grupos distintos: 1. Cumprir uma distância em determinada(s) técnica(s). Neste grupo alguns autores propõem diferentes distâncias e técnicas de acordo com a idade dos alunos. 2. Executar um conjunto de habilidades aquáticas sem discriminar qualquer distância.


GRAU DE ADAPTAÇÃO AO MEIO AQUÁTICO GAMA 0

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I -

II

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III

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CRITÉRIO não tem controlo sobre os reflexos de defesa; não Domina o equilíbrio horizontal expira na água com face mergulhada, revelando à vontade e controlando os reflexos de defesa; Domina o equilíbrio ventral e dorsal com apoio do movimento de pernas; Desloca-se sem controlo respiratório; Salta da berma por mergulho * nada 25 m em técnica ventral; * nada 12m-15m em costas; recupera um objecto do fundo, à uma profundidade superior à sua altura; salta para a água de plataforma superior à sua altura (de pés); efectua uma cambalhota recuperando a posição inicial * nada 100m crawl; * nada 50m costas; * nada 25m bruços; nada 10m-12m em imersão; salta para a água de plataforma superior à sua altura (de cabeça); Domina o reboque elementar de um naufrágio * nada 200m crawl; * nada 100m costas; *nada 50m bruços; nada 100m “estilos”; Domina as viragens

CLASSIFICAÇÃO INADAPTADO

ADAPTAÇÃO NÃO SUFICIENTE

ADAPTAÇÃO FÍSICA

ADAPTAÇÃO SUFICIENTE

ADAPTAÇÃO BOA

Seqüência metodológica adaptada CANTARINO DE CARVALHO, 1994, p. 26 A VIVA AGUA, por dois anos, manteve sob contrato um técnico cubano – Pedro Herrera – para formatação ao nosso trabalho de iniciação esportiva aos nossos alunos. Pedro deixou-nos vários trabalhos escritos sobre a iniciação de natação competitiva para crianças. O que percebemos, foi que havia muita semelhança entre os métodos de trabalho desenvolvidos em Cuba e aquele que vínhamos desenvolvendo na Viva Água. Na Viva Água, trabalhamos com os seguintes níveis de aprendizagem:

NÍVEIS DE APRENDIZAGEM E SEUS OBJETIVOS NÍVEL

ADAPTAÇÃO BÁSICA -

I INICIANTE

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I ADAPTADO

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Adquirir segurança e confiança no meio aquático Executar a submersão, saltos e deslocamentos, com controle visual, fazendo uso de materiais Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades Demonstrar independência no meio aquático, distinguindo as fases da respiração Executar flutuação Executar deslocamentos, saltos, giros e rolamentos Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades

FORMAÇÃO TÉCNICA

APLICAÇÃO


I

-

AVANÇADO -

-

II

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III

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Executar deslocamentos em posições e direções diversificadas Desenvolver o equilíbrio Executar flutuação com mudanças de decúbito Executar cambalhotas e saltos na horizontal Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades Adquirir habilidades de equilíbrio, flutuação e deslocamentos, em diferentes situações Apresentar bem estar e satisfação no desenvolvimento das atividades

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Deslocar-se em diferentes situações, com e sem vestimentas, realizando saltos na posição aerodinâmica com hiperextensão do corpo Executar as pernadas dos quatro estilos

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Consolidação e desenvolvimento das aquisições anteriores Aprendizagem de “crawl” rústico e pernadas de costas

Nadar o estilo crawl com respiração bilateral Executar a pernada de costas com braços no prolongamento do corpo Consolidação e desenvolvimento das aquisições anteriores; Nadar crawl e costas, com saídas e viradas Vivências de situações de aplicação com

Caráter desportivo e utilitário -

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IV

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V

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Nadar os quatro estilos, com saídas e viradas Conhecer e identificar as regras oficiais da natação Conhecer e aplicar as técnicas de salvamento Conhecer e identificar as regras oficiais da natação Conhecer e aplicar as técnicas de salvamento

Adaptação das técnicas às características de cada situação Adaptação significativa do organismo ao esforço Treino de Base Treino de Alto Rendimento Especialização na Técnica e na distância


JORNADA DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1º e 2 de setembro de 2011 MINI-CURSO – 1º DE SETEMBRO 09:00 as 12:00 horas

ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO1 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ2 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão vazleopoldo@hotmail.com

Ao se reconstruir a História do Esporte, do Lazer e da Educação Física no Maranhão, se buscou construir, ao mesmo tempo, uma metodologia de pesquisa historiográfica, em que, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, utilizando-se de fontes primárias - cronistas de época, relatos de viajantes, jornais, bandos, documentos oficiais -, procurou-se recuperar e organizar essas fontes, reagrupando-as e as tornando pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte, lazer, e educação física, dada a abrangência dos termos? Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980; SILVA, 1987; SANTIN, 1996; DAMASCENO, 1997). Ao levantarem-se questões sobre valores culturais e da identidade cultural, verifica-se que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística: “Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral. “Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado...”. (SILVA, 1987, p. 20-21).

1 O presente estudo constitui-se do segundo capítulo de minha tese intitulada “Manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão: Colônia e Império”, onde se procura resgatar e registrar as manifestações culturais de caráter recreativo e esportivo que se vinculem às raízes etno-culturais do Maranhão, nos períodos da Colônia e do Império. 2 Licenciado em Educação Física (UFPR, 1975); Especialista em Metodologia do Ensino (UFPR/UFMA, 1979); Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986); Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993); Professor de Educação Física (aposentado) do IF-MA (1979-2009); Pesquisador-associado do Atlas do Esporte no Brasil (www.atlasesportebrasil.org.br); Diretor do Centro Esportivo Virtual (www.cev.org.br); Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira 40; Vice-Presidente do IHGM, gestão 2010-2012. CV: http://lattes.cnpq.br/2105898668356649


A perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros (SILVA, 1987). Assumir a história como condutora da reflexão é antes de qualquer coisa tomar partido, é assumir as questões do esporte, do lazer e da educação física como compromisso social e, nesse sentido, “a compreensão da realidade é fundamental para sua transformação”. Os quase quinhentos anos de existência da sociedade brasileira não foram suficientes para criar uma consciência do passado, se comparada à outras sociedades, particularmente à européia ocidental. A contribuição que a história pode trazer para a explicação da realidade em que vivemos “faz com que o historiador parta do presente para o passado, sabendo-se situado no futuro do passado que estuda” (NUNES, 1996, p. 19). Ao se discutir questões relacionadas à diferentes metodologias empregadas na escrita da história da educação física e dos esportes, percebe-se que, embora existam tentativas de superação das formas tradicionais da escrita da história, esta ainda permanece ligada à escola positivista, baseada nas histórias dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos (PILATTI, 1996; CERRI, 1977). O paradigma tradicional diz respeito essencialmente à política, na valorização dos acontecimentos, dos fatos, dos vencedores, das pessoas que fizeram isso ou aquilo. Para se fazer história a partir desta concepção basta juntar um número suficiente de fatos bem documentados, dos quais nasce espontaneamente a ciência da história. A reflexão teórica, em particular a filosófica, é inútil e até prejudicial, porque introduz na ciência positiva um elemento de especulação. A história passou a ser vista como reconstrução do acontecido (PILATTI, 1996; CERRI, 1997). Diversos autores (PILATTI, 1996; CARDOSO e BRIGNOLI, 1983; CARDOSO e VAINFAS, 1997) consideram a história como o produto da reconstrução, da busca de provas de comprovação, da apresentação e verificação de hipóteses. Ao se referir ao lugar que a teoria ocupa na investigação histórica, PILATTI (1996) serve-se de Ribeiro para analisar se a História da Educação Física no Brasil possui objeto e método próprios: “... há pelo menos três enfoques: um, mais antigo, situado na História política de afirmação tradicionalista; outro, localizado na Pedagogia, mais especificamente na pedagogia histórico-crítica; e, finalmente, um que terceiro se encontra na insatisfação com as respostas dadas pelos dois primeiros, mas que ainda não definiu seu referencial teórico”. (PILATTI, 1996, p. 85).

O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA (3) “... conhecer a história da Educação Física e desenvolver com esses dados a consciência histórica dos professores de E.F. (como competência que se apóia nas operações mentais: perceber, interpretar e orientar) pode colaborar na análise e compreensão de nosso habitus profissional (como sentido prático que dirige nossas ações). A investigação em História e a circulação da informação histórica pode ser parte do processo de construção e desenvolvimento da consciência histórica dos professores de E.F. como perspectiva para interpretar a conjuntura e o estrutural na E.F. escolar de hoje”. (AISENSTEIN, 1996).

Para AISENSTEIN (1996), a historia serve para reconstruir a gênese de um objeto cultural (aquele que estamos tentando conhecer, ou a atividade em que nos desempenhamos), com o objetivo de compreendê-lo em seu contexto macro de produção, a partir das variáveis que confluíram na sua construção, dos atores que intervieram do tipo de práticas que realizaram etc. Ao se analisar o momento atual da historiografia brasileira sobre a educação física e o esporte, alguns autores (VERENGUER, 1994; CAVALCANTI, 1994; GEBARA, 1994, 1998) consideram esse último como objeto de estudos da história, separado da educação física, pois compreendem que a educação física e o esporte são objetos diferenciados que vai demandar caminhos metodológicos e preocupações teóricas diferenciadas, daí considerar-se o esporte como objeto da Histórica separado da Educação Física (MELO, 1995, 1997, 1997b; GENOVEZ, 1998).

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Publicado em LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, n.4, v.14, junio 1999, disponível em www.efdeportes.com


Qualquer tentativa de reconstruir os caminhos pelas quais passou a Educação Física no Brasil se reveste de dificuldades, dada a amplitude do termo. Estudar e analisar a História da Educação Física no Brasil é tarefa que requer cuidados especiais visto que, sob a denominação Educação Física encontra-se um grande leque de atividades motoras com objetivos e/ou funções bem variadas, pois é possível o termo designando atividades motoras do cotidiano. “Confundir estas atividades com a Educação Física ou com práticas esportivas é comum entre os leigos” (VERENGUER, 1994, p. 204). Com o que concorda CAVALCANTI (1994) quando afirma que a História da Educação Física no Brasil confunde-se com a história das atividades físicas e esportivas. A questão da definição do objeto de estudo é fundamental para a definição da história, pois o que se constata é uma pluralidade de histórias. Assim, a soma dessas histórias (História das Atividades Físicas, História dos Esportes, História da Dança, etc.) é o que se convencionou chamar-se de História da Educação Física. Inspirado em SAVIANI (1994), o autor afirma que a produção do conhecimento historiográfico (historiografia) da Educação Física brasileira é quase sempre marcada pela não clareza do seu objeto de estudo e, "... de uma História que venha contemplar em sua unidade e a totalidade as questões relativas a um determinado objeto de estudo” (CAVALCANTI, 1994, p. 62). Ao analisar a historiografia da Educação Física no Brasil, constata que: "... em períodos anteriores à década de 80, revelam trabalhos (...) que se caracterizaram pela forma hegemônica e acrítica, os quais se limitavam aos relatos dos fatos passados, destacando os grandes fatos, marcos cronológicos e/ou vultos políticos. Nesse sentido a História caracterizava-se como uma história factual. “A História da Educação Física no Brasil, até então, desenvolveu-se tendo como referência a política, na qual os fatos políticos irão marcar o perfil predominante dos trabalhos produzidos nessa época.“ (p. 6061).

A História da Educação Física no Brasil esta estruturada em função da periodização dos grandes acontecimentos políticos de cada época. Dentre os autores (historiadores) da Educação Física desse período, destaca-se a figura de Inezil Pena MARINHO (s.d., 197[?], 1979, 1980, 1981, 1984), que emprega a seguinte periodização: Brasil Colônia (1500-1822), Brasil Império (1822-1889), Brasil República (1899 em diante). GEBARA (1992), tratando da periodização na história da Educação Física/Ciências do Esporte no Brasil, considera que o recurso à periodização induz a um duplo equívoco, com os acontecimentos políticos que delimitam tanto a Colônia quanto o Império não tem qualquer relação com a delimitação do objeto em análise – Educação Física. Por outro lado, e mais grave, a Educação Física passa a ser vista a partir de relações exteriores a ela mesma, pois “tal postura induz a uma postura metodológica bastante limitada e limitadora, e o objeto se descaracteriza, perdendo sua especificidade própria.” (p. 32). Gebara periodiza a Educação Física em função do Esporte, instaurando duas balizas temporais (PILLATI, 1995), ao sugerir que a gênese da Educação Física no Brasil corresponde ao início do século XX, com a introdução dos esportes modernos. A outra, ao indicar que esse processo de escolarização da Educação Física no Brasil, “processo que, de forma bastante marcante, acabou por configurá-la no País, perduraria até os anos 60, quando um conjunto de fatos indicaria a configuração de um novo patamar no desenvolvimento histórico da Educação Física” (GEBARA, 1992, p. 22). Com o que concorda PILLATI (1994, 1995), quando afirma que os marcos divisórios utilizados para delimitar períodos são externos à própria Educação Física/Ciências do Esporte, o que acaba por determinar diversas periodizações distintas, pois a adequada periodização se dá em função da pertinência do objeto de estudo à área. Assim, os marcos divisórios devem ser da Educação Física/Ciências do Esporte. Destaca a proposta de GEBARA (1992), onde é encontrada uma periodização (implícita) com o objeto pertinente à área, evitando-se o reducionismo da idéia de Educação Física à Educação Física Escolar, visível quando o objeto é deslocado para a área da educação. PILLATI (1994, 1995) ensina que existem periodizações explícitas e implícitas. Normalmente quando a periodização é explicitada pelo autor, a discussão considera um longo período cronológico. Já na periodização implícita duas formas distintas são possíveis, uma, onde o estudo abrange uma determinada faixa temporal e outra onde a distribuição interna da matéria proporciona a periodização.


Já o ensino da História da Educação Física e dos Esportes, nos cursos de Educação Física, se limitam à apresentação dos chamados “conteúdos clássicos”, aparecendo uma série de nomes e fatos considerados como relevantes enclausurados no interior de períodos consagrados tradicionalmente e importados da História Geral (Grécia antiga, Roma, Idade Média,...)," a partir de uma ausente, confusa e não consciente compreensão historiográfica” (MELO, 1997b). Nos Estados Unidos, o estudo da História da Educação Física e do Esporte se encontra bastante avançado, mas os professores de Educação Física que desempenham a docência de disciplinas vinculadas à esta subárea de estudo “não demonstram ter conhecimentos metodológicos adequados” (PARK, 1992, citado por MELO, 1997b). Tanto CAVALCANTI (1994) quanto PILLATI (1995) chamam-nos a atenção para um período que parece estar se tornando um marco histórico na Educação Física brasileira, considerando-se aquilo que alguns autores (OLIVEIRA, 1983, 1984, 1985; GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, 1991; BRACHT, 1992, 1992b, 1995; GOELLNER, 1992; TAFFAREL e ESCOBAR 1994) denominam “salto qualitativo” ocorrido nessa área do conhecimento. A partir da década de 80 firma-se na Educação Física uma corrente influenciada pela discussão que era levada a efeito no âmbito mais geral da pedagogia no Brasil. Começa a refletir o papel social da Educação Física, contextualizando-a no sistema educacional. Essa transformação qualitativa ocorre não somente em relação à prática, mas também quanto aos pressupostos teóricos, dialeticamente produzidos e responsáveis pela superação dessa mesma prática. Assim, GHIRALDELLI JUNIOR (1991), com sua proposta de aprofundar as discussões que estavam ocorrendo nessa área do conhecimento, ao apresentar uma classificação das tendências e correntes da Educação Física brasileira, recorreu à seguinte periodização: Educação Física Higienista (até 1930); Educação Física Militarista (1930-1945); Educação Física Pedagogicista (1945-1964); Educação Física Competitiva (pós-64) e, finalmente, Educação Física Popular. Ao discutir o problema da periodização da história da Educação Física/Ciências do Esporte brasileiro, PILLATI (1994, 1995) afirma que nos trabalhos de investigação da história ou de teor histórico, as questões são normalmente tratadas a partir de divisões do todo específico em diferentes sucessões temporais, ou seja, todo processo histórico é periodizado. Periodizar tem por objetivo descobrir a estrutura interna de uma determinada época histórica, ou seja, dar significado à passagem do tempo, identificando e ordenando seqüências cronológicas (Almeida, 1988, citado por Pillati, 1994, p. 391-392). O grande problema, para não se falsificar a matéria histórica, é especificar onde deverão ser feitos esses cortes. Apresenta, então, dois princípios de periodização, um mais geral, o diacrônico produzido ao longo do tempo, o qual reúne num só conjunto todas as totalidades concretas da produção, cada uma com seus momentos e desenvolvimentos, e outro, mais específico, o sincrônico onde o momento presente é privilegiado de forma a objetivar a situação atual: “No princípio diacrônico a realidade é percebida como totalidade presente, constituindo um universo de significados, colocado e mais ou menos estático. “Neste princípio (sincrônico) o fenômenos são estudados/trabalhados sobre um pano de fundo fixo ou entendidos como um ambiente externo.” (Notas de pé de página, Pillati, 1994, p. 392, 393)

É nas questões mais gerais que o princípio da periodização deve ser buscado, e no que se refere ao ensino de história tradicionalmente ministrado em nossas escolas, essa divisão se apresenta como História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, correspondente às Idades Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, encontrando-se também divisões por especialidades – História Social, por exemplo. Na construção do conhecimento histórico da Educação brasileira, os trabalhos aparecidos a partir dos anos 80 se destacam pela problematização de questões relativas à Educação Física, “... contextualizando os diversos momentos da sua história e, em cada um desses momentos a Educação Física parece ter cumprido um determinado papel na Educação e na Sociedade brasileira” (CAVALCANTI, 1994, p. 69). Esse autor crê que, só será possível a concretização de uma História da Educação Física brasileira com a vinculação da Educação Física à educação:


“... ao se escrever uma História (unificada) da Educação Física brasileira em seu conjunto, isto é, como totalidade, cremos vir a ser necessário a explicitação da concepção de Homem e de Educação e, ter em conta, o caráter concreto do conhecimento histórico-educacional que se configura em um movimento que parte do todo caótico (síncrese) e atinge, através da abstração (análise), o todo concreto (síntese). “Se a Educação Física, até hoje, não respondeu efetivamente acerca do seu papel no Quadro da educação, provavelmente, deve-se ao fato de ter tentado fazê-lo equivocadamente. O que queremos dizer é que, ao se tentar escrever a História da Educação Física, Quase sempre, acaba-se por escrever a História do Esporte na Escola, isto é, acaba-se privilegiando a questão do esporte em detrimento à questão da educação.” (CAVALCANTI, 1994, p. 70).

No que se refere à história da educação brasileira, foram localizadas duas tendências: "... sendo uma em que o objeto em exame determina a periodização e, portanto, a postulação de diferentes marcos históricos; e outra em que, independentemente do objeto e da ótica a partir da qual ele é tomado, as periodizações são dadas pelos marcos consagrados na chamada referência “política” – Colônia, Império, Primeira República, Período de Vargas, República Populista e o Pós-64”. (WARDE, 1984, citada por PILLATI, 1994, p. 394)

A questão que irá responder ao questionamento central destes trabalhos, sem dúvidas encontra-se na resposta à pergunta: qual o objeto de estudo da Educação Física brasileira? Ou, neste trabalho, qual o objeto de estudo da História da Educação Física maranhense? GENOVEZ (1998) pergunta por que o esporte, como objeto da História, não tem conquistado o espaço que lhe corresponde nem mesmo em simpósios de historiadores, já que tem sido estudado por renomados pesquisadores de nível internacional - como MORGAN, ROGEK, HOBSBAWM, e o sociólogo DUNNING. Para explicar tal ostracismo, volta ao início do século, quando a historiografia brasileira se desenvolvia com bases rankianas. Orientada para as abordagens clássicas (década de 30) e influenciadas por abordagens acadêmicas e sociológicas (década de 60), com trabalhos orientados para o negro e a escravidão e, nos últimos anos, para a História social da família, do trabalho, do Brasil colonial e da escravidão e, durante a década de 70, voltaram-se para o “movimento operário” e a “revolução”, além das pesquisas de temas sócioeconômicos, matéria que despertava enorme interesse naquele momento. Neste contexto, os poucos trabalhos com uma perspectiva histórica do esporte nasciam envoltos, em primeiro lugar, por influência da História tradicional, positivista e, em segundo lugar, por ser considerado assunto secundário em meio a temas como revolução, classe trabalhadora, marxismo e tantos outros". (GENOVEZ, 1998) Pelas dificuldades inerentes à historiografia brasileira e, principalmente, pela afinidade desta com a sociologia, é que se pode compreender o menosprezo da História com o esporte. GENOVEZ (1998) serve-se de DUNNING (1985, p. 17) para afirmar que a percepção da tendência que orienta o pensamento reducionista e dualista ocidental, o esporte é entendido como coisa vulgar, uma atividade de lazer orientado para o prazer, que compreende ao corpo mais que à mente, e sem valor econômico. Como conseqüência disto, o esporte não é considerada como um fenômeno que se vincule com problemas sociológicos de significado equivalente aos que habitualmente estão associados com os temas “sérios” da vida econômica e política: “Sem valor econômico e considerado vulgar, os historiadores, tal como os sociólogos, insistem em perceber o esporte como um objeto de estudo incapaz de mostrar as mais tênues representações das relações sociais que, fora da lógica esportiva, parecem excludentes, como a competição e a cooperação ou o conflito e a solidariedade. É justamente, por abrir esta possibilidade de análise que podemos pensar o esporte como um objeto da História social ou da História cultural.” (GENOVEZ, 1998)

Ainda segundo essa autora, HOBSBAWN (1988, p. 245) nos abre para que se estude o esporte como um instrumento, como tantos outros, utilizado para inculcar valores e normas de comportamento através da repetição: “... Desta maneira, o esporte pode ser um indício, um indicador, das relações humanas e das


ações que as legitima, podendo, em alguns casos, colocar-se como suporte da coesão grupal”. Pergunta, então: “Porém, em que podem concretamente contribuir a História social e a História cultural? Por que o esporte seria, por excelência, o objeto destas duas áreas da história? Mais que respostas acabadas, o que intentaremos situar são os elementos para futuras discussões. Exatamente, por ser um objeto, todavia recente para a História, muitos debates serão necessários para esclarecer cada vez mais as possibilidades metodológicas.” (GENOVEZ, 1998)

Serve-se de FEBVRE (1989), para expor algumas dessas possibilidades metodológicas, referindo-se à História social entendida pelos Annales - nascida para contrapor-se à História factual, centrada em heróis e batalhas – priorizava os fenômenos coletivos e as tendências em longo prazo. A partir da década de 60, a História social se apresentou mais próxima da antropologia, privilegiando as abordagens socioculturais sobre os enfoques socioeconômicos. Além da questão social e de conduta, há também outro aspecto que é o simbólico. Segundo a autora, uma área de investigação pouco explorada pela História cultural, preocupada com a sexualidade e a moralidade cotidiana do período colonial do século XIX, ou também com a mentalidade e a cultura escrava. Sem dúvida, o interesse pelo informal, como festas, crenças, etc., abre para o historiador espaços para o estudo do lazer ou do esporte. Gestos, cores, emblemas ou artifícios que rodeiam as práticas esportivas podem ser objetos de estudo da História cultural. O movimento dos Annales, segundo SILVA (1995), é caracterizado pela substituição da História-narração pela História-problema; pelo entendimento de que a História é uma ciência em construção, que não é apenas política; e que a história não se constrói sozinha e, por isso, necessita de intercâmbios e debates com outras ciências sociais. Com essa nova concepção, há uma ampliação dos limites da História; da noção de fontes; há uma construção da temporalidades múltiplas e a relação passado-presente torna-se mais estreita, reafirmando as responsabilidades do historiador. MELO (1997, 1997b), discute se haveria diferenças significativas entre Educação Física e Esporte para que suas histórias sejam estudadas separadamente. Ou ambos os objetos deveriam ser estudados em uma única abordagem? Coloca que tais discussões não foram precedidas entre os estudiosos brasileiros, que invariavelmente preferem utilizar o termo História da Educação Física e do Esporte. Internacionalmente, porém, tem sido uma questão que merece uma atenção especial. PARK (1992) trabalha com o termo História do Esporte, considerando as práticas esportivas, incluindo a educação física e outras manifestações da cultura corporal. Em principio considera “História do Esporte” uma categoria/expressão que inclui, como mínimo, lutas atléticas, atividades de recreação, e Educação Física (p. 96). Na Grã-Bretanha, a discussão parece orientar-se num sentido diferente, com os historiadores britânicos, em sua grande maioria criticada a ausência de um maior rigor na definição de que pode ou não ser considerado como esporte. Melo situa-se com esta última postura, compreendendo que Educação Física e Esporte são objetos diversos que vão requerer caminhos metodológicos e preocupações teóricas diferenciadas; seus compromissos e sua construção têm sentidos distintos. Para diversos autores, (PILATTI, 1996; MELO, 1995, 1997, 1997b; GENOVEZ, 1998) o Esporte encontra uma maior abertura na História que a Educação Física, não por ser considerada a última menos importante, senão “por ser entendida como um campo específico de conhecimento, talvez mais técnico. Sem dúvidas, é inegável que seu estudo, também, apresenta questões pertinentes” (GENOVEZ, 1998). Ao analisar os estudos da educação física brasileira MELO (1994, 1995, 1997, 1997b), os situa em três momentos distintos: uma primeira fase, marcada pelo caráter embrionário do desenvolvimento dos estudos, onde predominam os livros importados orientados para os aspectos históricos da ginástica; a segunda, marcada pelo início de uma produção e uma preocupação maior nos estudos históricos tanto nos aspectos qualitativos como nos quantitativos, ainda que apresentado semelhanças com a fase anterior, já aparece certos desenvolvimentos com o uso documental; e a terceira, marcada pela busca do redimensionamento das características dos estudos históricos ainda que busquem ressaltar os aspectos ideológicos da educação física, se apresentam metodologicamente confusos em relação à História. As obras relacionadas com estas três fases apontam para uma bibliografia na qual poucos são os autores que possuem uma formação em História:


(1)primeira fase, chamada de embrionária, baseia-se na utilização de livros importados e marcados por um caráter documental-factual desprovido de análise crítica mais desveladora da realidade. Esta fase vai até o final dos anos 30; (2)segunda fase, marcada por uma produção mais efetiva com os estudos históricos, tendo no professor Inezil Penna Marinho seu maior expoente, dominando a área dos anos 40 até meados dos anos 80. Os autores dessa fase continuam a se limitar ao levantamento de dados e fato; (3)terceira fase, iniciada na década de 80, onde estudiosos retomam uma produção mais efetiva e impregnados pelo marxismo ou de forma mais críticas de interpretação passam a proceder reestudo e a interpretação da História da Educação Física brasileira a partir da emergência atual dos fatos e de uma concepção crítico-dialética. (MELO, 1995): “... Independentemente das diferenças entre os trabalhos em suas respetivas fase, o compromisso de todos os investigadores que abordaram a História da Educação Física esteve vinculado à necessidade de entender diretamente a Educação Física e/ou justificar algumas questões e modificações. No que se refere à História dos Esportes, desde o século passado e no início deste século podemos identificar estudos, normalmente desenvolvidos fora dos circuitos acadêmicos tradicionais. Tais estudos foram repetidamente escritos por antigos praticantes e/ou apaixonados por determinados esportes, muitas vezes jornalistas especializados que acompanhavam o desenvolvimento dessas modalidades ... Na obra dos autores vinculados à História da Educação Física, principalmente aos da Segunda fase, os aspectos históricos dos esportes já se diferenciavam dos ligados à educação física...”. (MELO, 1997b, p. 6)

Um reflexo da confusão conceitual no que se refere ao estudo da História dos dois objetos, é que no Brasil a História do Esporte não tem tido um espaço tão significativo, como na Inglaterra, onde estes estudos têm uma preocupação diferente dos estudos de História da Educação Física. Sua preocupação básica não é, nem foi, entender o esporte em si, mas simplesmente recompilar informações sobre os esportes. “Hoje é, fundamentalmente, utilizar o esporte como objeto relevante para entender a sociedade” (MELO, 1997b). A história do esporte é uma história relativamente autônoma que mesmo estando articulado com os grandes acontecimentos da história econômica e política, tem seu próprio tempo, suas próprias leis e evoluções, suas próprias crises, em suma, sua cronologia específica (BORDIEU, citado por MEZZADRI, 1994, p. 8). Já FERREIRA NETO (1996), divide a história da pesquisa na História da Educação Física do Brasil em dois momentos: de 1930 a 1980 e de 1980 até hoje e identifica três concepções de história que lhe serve de orientação: (1)História Episódica, que marca o primeiro momento (1930 a 1980), que privilegia os seguintes pontos de interesse: a política, a narrativa dos acontecimentos, a “visão de cima”; é escrita conforme um modelo explicativo linear e pretende ser objetiva (p. 95); (2)Concepção Marxista da História - que marca o segundo momento (1980 até hoje) e convive não pacificamente com a Nova História -. Essa concepção - caracterizada por Ferreira Neto a partir de Sierra Bravo -, possui enfoque totalizador do objeto de investigação, não separando seus elementos; estudo de objeto de pesquisa em suas formas mais acabadas e aspectos dominantes, começando pelo seu elemento mais simples; não se detêm nas aparências sensíveis, mas busca as essências subjacentes; enfoca a realidade em sua gênese e movimento histórico; busca conhecer e compreender a realidade como práxis; observar a unidade entre teoria e prática e considera as idéias como expressão das relações sociais e estas como expressões do modo de produção e das forças produtivas (p. 95); (3)História Nova: se interessa por toda atividade humana (tudo tem história); analisa as estruturas; oferece uma “visão de baixo”; amplia as possibilidades de uso de fontes, inclusive orais e visuais, na recuperação da história; o modelo explicativo admite mediações multidirecionais na explicação do objeto e considera irreal a objetividade absoluta (p. 95-96).


FREITAS JÚNIOR (1995), ao proceder a analise dos trabalhos apresentados no I Encontro de História da Educação Física e dos Esportes (1994), constata que a partir da década de 70 a Educação Física passa a ser refletida com mais cuidado, havendo um crescente interesse pelos estudos históricos. Dividindo os grupos de trabalhos apresentados e utilizando de um mecanismo denominado técnica de estatística de agrupamento, encontrando três modelos teóricos, de acordo com a bibliografia central desses trabalhos. Assim, o primeiro modelo é composto por trabalhos clássicos, onde se acredita que o desenvolvimento da história é um processo evolutivo, que parte de uma simplicidade originária (sic) e vai pouco a pouco se complicando: “Buscando na construção mecanicista da teoria do Reflexo, associado ao pensamento positivista que pressupõe uma relação cognitiva, onde não existe nenhuma interdependência entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Nesta concepção denominada résgatae o objetivo do conhecimento atua sobre o aparelho perceptivo do sujeito que é um agente passivo, contemplativo e receptivo; o produto deste processo é o conhecimento, cuja gênese está em relação com a ação mecânica sobre o sujeito, que descreve o objeto”. (FREITAS JÚNIOR, 1995, p. 355)

Para o autor, esse modelo é clássico, e estão aí inseridos Inezil Penna Marinho, Jair Jordão e A. R. Accioly, que até a década de 60 foram as principais fontes geradoras da produção bibliográfica brasileira no âmbito da Educação Física. O segundo modelo é composto por trabalhos atuais de características sócio-econômicas, onde o conhecimento e o comprometimento do historiador estão sempre condicionados socialmente, neste modelo teórica história passa a existir enquanto produto da atividade do historiador (sujeito) que conhece, sobre o passado (objeto do conhecimento). “A história Rerum-gestarum que é escrita por este modelo, tem na busca de um molde ideal(izado), que pode estar no passado, o seu eixo norteador. Ao escrever esta história devemos adequá-la aos novos tempos, o que de certa forma poderá possibilitar algumas transformações necessárias e pertinentes para a Educação Física atual”. (FREITAS JÚNIOR, 1995, p. 355-356)

Os autores que se servem desse modelo foram buscar na educação suporte para os seus trabalhos, onde o referencial passou a ser e evolução das idéias pedagógicas no Brasil. Destacam-se Lino Castellani Filho e Paulo Ghiraldelli Júnior. O terceiro modelo é caracterizado pela ênfase dada ao corpo, através da interpretação ativista da teoria do reflexo, onde neste modelo não há preponderância de um dos elementos da relação cognitiva, como no primeiro modelo que é objeto e no segundo o sujeito. Em suas “considerações para a história do lazer no Brasil”, GEBARA (1997) afirma que as civilizações antigas não tinham um nome para o lazer no sentido que o entendemos hoje, sendo que o jogo e o brinquedo se constituem em fatos tão ou mais antigos do que o homem, baseado em uma afirmação de Huizinga de que “o jogo é fato mais antigo que a cultura”, pois os animais brincam antes mesmo de os homens os ensinarem a tanto. Identifica, segundo Gilles Provost, duas vertentes que explicam a gênese e a formação do lazer moderno: a primeira, e a mais conhecida, consiste em buscar no passado os fatores históricos, sociais econômicos, entre outros que produziram, de alguma maneira, o lazer nas diferentes sociedades; a segunda tendência a retratar a formação do lazer busca verificar o momento histórico, particularmente no ocidente, em que uma concepção ideológica estruturada se manifestou com relação ao lazer. Tal fenômeno se articularia então a três movimentos históricos: 1. à ideologia do lazer racional na Inglaterra a partir de meados do século passado; 2. ao pensamento social americano do início deste século; 3. às concepções do movimento trabalhista, tendo em vista a redução da jornada de trabalho ocorrida entre o final do século passado e meados deste século. BRUHNS (1991), ao apresentar suas “reflexões sobre o conhecimento do lazer”, afirma que esse conhecimento só pode ser entendido como um processo de relação cognitiva entre sujeito e objeto, a qual pode se efetuar dentro de modelos, nos quais o sujeito pode ser considerado ativo ou passivo, individual ou social, e o objeto, real e concreto ou idealizado. Os estudos sobre a dicotomia lazer/trabalho aparecem com


o advento da sociedade industrial, com alguns autores voltando-se de maneira intensa ao estudo do fenômeno lazer, por seu destaque na nova ordem das coisas. Ao analisar os estudos sobre o lazer na sociedade brasileira, afirma existir uma separação de 50 anos entre estes estudos e os estudos efetivados principalmente em Europa, no pós-guerra. Se nos países desenvolvidos, o fato histórico marcante articulador foi o processo de industrialização, no Brasil este marco parece ter sido estabelecido pelo processo de urbanização, efetivada a partir da década de 70, quando houve uma inversão a favor da população urbana. Identifica, nos estudos brasileiros sobre o lazer, quatro vertentes: (1)“romântica”, onde o lazer apresenta-se como o espaço sem conflitos, numa certa “paz social”, propondo o encontro com a felicidade imaginada; aqui incluem-se os estudos voltados para o resgate do tradicional, carregadas de nostalgia pelo passado e denomina-os de “folcloristas”, pois constituem-se de estudo descritivos, estáticos e mecânicos (o conhecimento evidencia-se como um reflexo). Na tentativa de descobrir jogos, festas, danças, realizam um “levantamento”, certos de intenção de preservação da “autenticidade”. Não interpretam nem explicam esses fenômenos sociais, os quais devem ser explicados em relação aos processos de transformação social; (2)“moralista”, notada sobretudo no que diz respeito aos esportes na afirmação de sua adequação para a juventude, pois apropriam-se de um espaço, o qual poderia ser preenchido por perversões sexuais, drogas, roubos e outros; (3)“compensatória”, pois o lazer compensaria o trabalho alienante e insatisfação advinda, como se trabalho e lazer fosse dois fatores separados da existência e a alienação em um deles não tivesse nenhuma relação com a alienação no outro; (4)“utilitarista”, indicando o tempo disponível como recuperação da força de trabalho ou tempo útil para incrementar o consumo supérfluo e a indústria de bens voltados para tal produção. Em outro estudo, GEBARA (1996) levanta algumas questões metodológicas quanto ao uso de fontes na construção da história, ao criticar dois clássicos da história da educação física do Brasil - Inezil Penna Marinho e Jair Jordão Ramos. Ante a possibilidade da existência do fenômeno esportivo no Brasil anteriormente à segunda metade do século passado, afirma que essas posições (de Marinho e Jordão Ramos) se estabelecem devido a utilização inadequada das fontes históricas, induzindo a percepção de que atividades esportivas teriam existido desde os primeiros momentos da colonização. Apresenta duas questões fundamentais: uma, refere-se a forma pela qual as fontes primárias têm sido usadas por historiadores da educação física e do esporte no Brasil; a segunda, refere-se a multiplicidade dos tempos do historiador, apresentando-se uma relação entre o historiador e suas fontes, na perspectiva da temporalidade da constituição de um determinado objeto de estudo. Referindo-se ao uso de fontes primárias (relato de viajantes), afirma que algumas perguntas devem ser feitas pelos historiadores às suas fontes: quais perguntas fizeram (Marinho e Jordão Ramos) aos documentos? A leitura do documento autoriza as conclusões afirmadas? Levanta, ainda, outra questão de ordem metodológica, que se refere à construção temporal: “... um observador externo, um colonizador vive seu próprio tempo, diferente das populações nativas; a construção conceitual do homem do século XVI dificilmente poderia corresponder a um outro processo civilizatório instaurado em outro tempo cultural” (p. 76). A transformação de um documento em fonte histórica é papel do historiador, pois implica em respeitar a fonte em sua integridade constitutiva, em dar coerência as conclusões, ou indícios que estas fontes podem apresentar e, acima de tudo, é preciso ter em mente que todo documento tem um interlocutor, para o qual este documento é produzido. Paul Vayne, discorrendo sobre a historiografia, afirma que: “... a história tem uma crítica, mas não tem método, pois não há método para compreender. Qualquer um pode, portanto, improvisar-se historiador ou antes poderia, se, à falta de métodos, a história não pressupusesse que se tenha uma cultura ... Mas é uma cultura, não um saber; consistem em dispor duma lógica, em poder por-se cada vez mais questões sobre o homem, mas não em saber responder-lhes”. (citado por VEIGA, 1996, p. 50-51).


CONCLUSÃO A história se faz na construção de respostas a desafios que nos vêm sendo postos pelas práticas culturais dos seres humanos na sociedade. Em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento e esta sempre teve primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representam os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levadas para a esfera do lazer (lúdico): “Do brinquedo, do jogo ao lazer moderno um longo processo ocorreu. Para melhor entendê-lo, torna-se necessário compreender as formas pelas quais os homens viveram seus múltiplos tempos, em especial o tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho. Mais do que isso, torna-se necessário entender como e quando os homens passaram a separar, no seu cotidiano, estes diferentes tempos. (GEBARA, 1997, p. 62).

Considerar a importância da história para o educador, qualquer que seja sua área de atuação, é contribuir para que ele se mova no mundo de hoje com uma larga consciência de sua significação como sujeito histórico. Nesse sentido, Anísio Teixeira já afirmava: “A Pedagogia é toda a cultura humana ou não é nada” (NUNES, 1996). No entanto, construir esta perspectiva é fruto de um árduo e contínuo trabalho na direção de superar os constrangimentos da nossa formação e das nossas circunstâncias, de forjar uma nova erudição na prática da produção do conhecimento histórico: “... Afirmar-se como educador construindo sua identidade pela pesquisa histórica é, antes de tudo, partilhar a concepção de que somos historiadores pela prática e pelo projeto intelectual. (...) ela (afirmação) requer, para além da intenção, a ação concreta, o que significa abraçar as lutas da história no campo institucional, no campo da teoria, na identificação de acervos, na preservação e uso social de fontes documentais, na democratização do conhecimento. Implica, sobretudo, uma nova forma de contato com a experiência vivida, com o intuito de adensá-la, de tornar clara a ligação entre a história que o historiador faz e aquela que o produz”. (NUNES, 1996, p. 19-20).

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MANIFESTAÇÕES DO LÚDICO E DO MOVIMENTO NO MARANHÃO4

Corrêa (1993)5 ao comentar carta do padre jesuíta João Tavares6 a um superior, descrevendo a paisagem da Ilha de São Luís, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão, afirma que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão: "Como na Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria) antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de diligência em atividade física. Permitiria – na contrapartida da terra de gente excepcional – a alternativa das recreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria etc., considerada a educação do pensamento e do sentimento um fragmento indispensável das recreações.." (CORRÊA, 1993, p. 40) 7 .

Para Corrêa (1993) 8, 9, a afirmativa do padre João Tavares foi riquíssima, porque vaticinou uma permuta as delícias (da Itália) pelas recreações (do Maranhão). Sociologicamente significativa, haja vista que, na substituição, as delícias européias não terminariam trocadas pelos trabalhos americanos. “Ao contrário, o fundamento do intercâmbio seria a validade indicada como vantajosa - a das recreações maranhenses." (p. 39). Ao se estudar fenômenos culturais tais como o lazer, o tempo livre, a recreação e os esportes, tornam-se necessário identificar as variáveis que direta e/ou indiretamente determinam e interferem com os mesmos para a devida análise e projeção futura. É preciso perceber que não se pode analisar tanto o lazer como o esporte independentemente do conjunto de suas práticas; é preciso pensar o espaço das práticas como um sistema no qual cada elemento recebe um valor distinto, ou seja, para compreender um esporte, é preciso reconhecer que posição ele ocupa no espaço dos esportes (BORDIEU, 1987, 1990)10. É preciso, também, relacionar este espaço do esporte com o espaço social, que se manifesta nele, estabelecendo, desta forma, as propriedades socialmente pertinentes que fazem com que um esporte tenha afinidade com interesses, gostos e preferencias de uma determinada categoria social. Em suma, o elemento determinante do sistema de preferências está associado a uma posição social e a uma experiência originária do mundo físico e social, qual seja o hábitus (DAMASCENO, 1997)11.

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Publicado em Lecturas: Educación Física y Deportes Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 37 - Junio de 2001 disponível em http://www.efdeportes.com/ 5 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luís: SIOGE, 1993. 6 Ver “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”, no Volume IV “Outros Escritos”, desta Coleção. 7 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luís: SIOGE, 1993. 8 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luís: SIOGE, 1993. 9 Ver “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”, no Volume IV “Outros Escritos”, desta Coleção. 1010 BORDIEU, Pierre. Programa para uma Sociologia do Esporte. in COISAS DITAS. São Paulo : Brasiliense, 1990, p. 207-228; BORDIEU, Pierre. QUESTÕES DE SOCIOLOGIA. Rio de Janeiro : Marco Zero, 1983; BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa : Difel, 1989, citado por DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-102 11 DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-102


O habitus, como “o produto de uma aquisição histórica que permite a apropriação do adquirido histórico” (BORDIEU, 1989)12 106 -, é história incorporada, coletiva e individualmente na medida em que propicia formas particulares de manifestações: as práticas nele e por ele forjadas e expressas. Nenhuma prática social escapa ao controle ideológico do sistema de significações da ordem cultural. As invenções esportivas constituem apenas uma das possibilidades destas manifestações culturais. Um esporte é reconhecidamente pertencente a uma ordem cultural quando reproduz, no ato de sua instauração, os valores da cultura que lhe emprestou as condições de sua gênese. Toda sociedade sustenta-se sobre uma construção simbólica - uma representação, entendida como “‘universos consensuais’ criados pelas interações sociais no âmbito das quais as novas representações vão sendo produzidas e comunicadas, passando a fazer parte desse universo como teorias do senso comum, que ajudam a forjar a identidade grupal e o sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo” (MAZZOTTI, 1994, citado por DAMASCENO, 1997)13 -, base de um sistema de significações, que dá força e inspiração a toda iniciativa de criação e de invenção. É necessário percorrer o caminho da (re) construção da estrutura do espaço do esporte e do lazer enquanto produtos objetivados das lutas históricas tal como se pode apreendê-los num dado momento do tempo, quer dizer, como se dá a formação desses enunciados (construção de novas representações), como eles se organizam entre si para constituírem-se em um novo conjunto de proposições que são aceitas e, portanto, apreendidas. Incorporadas pela sociedade que passa a assumir este novo estatuto de representação, pois “não há outro modo de compreender as transformações a não ser a partir de um conhecimento da estrutura” (BORDIEU, 1990)14. O nosso problema se concentra justamente nesse tipo de produto não material que se consome no ato de produção. O movimento corporal humano é singular, se realiza e, concomitantemente, vai sendo consumido por praticantes e assistentes. Não pode ser reproduzido de forma alguma. Um jogo, uma dança, etc., são situações históricas onde transcorrem subjetividades e relações objetivas particulares que jamais poderão se repetir. Marinho (s.d.)15 e Jordão Ramos (1974)16, ao estudarem a história da educação física e dos esportes no Brasil Colonial, apresentam as corridas, a natação, a caça, a pesca, a canoagem, o arco e flecha e a dança praticadas pelos índios como “primeira manifestação do lúdico e do movimento” (DIECKERT e MERHINGER, 1989, 1989b, 1994)17109, muito embora fossem essas atividades executadas no seu dia-adia, responsáveis por sua sobrevivência enquanto povo. A esse respeito, Gebara (1994b; 1997, 1998)18 110, afirma que a máquina e o relógio transformaram o universo das ações motoras, “os homens não mais definem seu potencial e habilidade muscular”.

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BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa : Difel, 1989, citado por DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-102 13 MAZZOTTI, Alda Judith Alves. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à Educação. in Imaginário social e educação: revendo a escola, citada por DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. In REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-102 14 BORDIEU, Pierre. Programa para uma Sociologia do Esporte. in COISAS DITAS. São Paulo : Brasiliense, 1990, p. 207-228 15 MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo: Cia. Brasil Ed.(s.d.). 16 17

DIECKERT, Jürgen & MEHRINGER, Jakob. A CORRIDA DE TORAS NO SISTEMA CULTURAL DOS ÍNDIOS BRASILEIROS CANELAS (relatório de pesquisa provisório). Zeitgschift Muncher Beltrdzur Vulkerkunde, julho, 1989; DIECKERT, Jürgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989; DIECKERT, Jürgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canela. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 166-180, jan. 1994. 18 GEBARA, Ademir. O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física. In ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, II, Ponta Grossa-Pr, 1994. COLETÂNEA... Ponta Grossa: DEF/UEPG; Campinas: Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física/FEF/UNICAMP, 1994;


Instrumentos externos são introduzidos no sentido de “avaliar mais racionalmente, ou mais produtivamente, a atividade física do trabalhador. Está aí a chave para compreendermos a constituição dos esportes modernos”: “... Não é admissível, dessa maneira, pensar a História do Esporte no Brasil, a partir das atividades motrizes componentes do cotidiano indígena. O remar e o pescar, bem como o uso do arco e da flecha, estão determinados por ritmos musculares autônomos. Os remadores olímpicos de hoje, pelo contrário tem seu treinamento planejado a partir de ritmos cronométricos. A história do esporte, lazer e Educação Física no Brasil, a par das questões teóricas apontadas, implicam ainda um processo de colonização, no qual valores e atitudes foram aqui estruturados, tendo em vista, em muitos casos a iniciativa de colonizadores, e mais freqüentemente de imigrantes...”

Mas Huizinga (1980)19 considera que “... mesmo as atividades que visam à satisfação imediata das necessidades vitais, como por exemplo, a caça tende assumir nas sociedades primitivas uma forma lúdica”. O lúdico - ludens - abrange tanto os jogos infantis como a recreação, as competições, as representações liturgias e teatrais e o jogo de azar. Aparece em todas as culturas e épocas, sob a forma de jogo, de festa, manifestação de uma dada cultura. O lúdico, como "forma significante", primária, é compreendido como fator cultural de vida. Em seus aspectos - luta por alguma coisa e representação de alguma coisa - representam, ambas as funções, uma figuração imaginária de uma realidade desejada. O jogo serve explicitamente para representar um acontecimento cósmico: "A palavra celebrar quase diz tudo: o ato sagrado é celebrado, isto é, serve de pretexto para uma festa", ensina Huizinga (1980) 20. Esse autor não faz distinção entre "jogo" e "festa", pois ambos implicam uma eliminação da vida cotidiana, onde predominam a alegria; são limitados, ambos, no tempo e no espaço; e possuem regras estritas. Deve-se considerar que existe uma História que explica a esportivização dos jogos e práticas corporais, como existe outra História no que se refere à localização dessas práticas em espaços culturais e sócioeconômicos distintos (GEBARA, 1994b, 1997, 1998) 21.

GEBARA, Ademir. Pero Vaz de Caminha & Inezil Penna Marinho: fontes e métodos na construção da história do esporte no Brasil. In ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, IV, Belo Horizonte, 22 a 26 de outubro de 1996. ANAIS... Belo Horizonte: EEF/UFMG, 1996, p. 71-80; GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org.). Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Unicamp, 1997, p. 61 -81; GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98). 19 20 21

HUIZINGA, Johan. HOMO LUDENS: O JOGO COMO ELEMENTO DA CULTURA. 2a. ed. São Paulo : Perspectiva, 1980. HUIZINGA, Johan. HOMO LUDENS: O JOGO COMO ELEMENTO DA CULTURA. 2a. ed. São Paulo : Perspectiva, 1980.

GEBARA, Ademir. O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física. In ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, II, Ponta Grossa-Pr, 1994. COLETÂNEA... Ponta Grossa: DEF/UEPG; Campinas: Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física/FEF/UNICAMP, 1994; GEBARA, Ademir. Pero Vaz de Caminha & Inezil Penna Marinho: fontes e métodos na construção da história do esporte no Brasil. In ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, IV, Belo Horizonte, 22 a 26 de outubro de 1996. ANAIS... Belo Horizonte: EEF/UFMG, 1996, p. 71-80; GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org.). Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Unicamp, 1997, p. 61 -81; GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98).


CADERNOS VIVA ÁGUA O PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO por Pedro Herrera (Convênio Brasil-Cuba de Natação) tradução de Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Oswaldo Telles de Sousa Neto e Denise Martins de Araújo São Luís - Maranhão Janeiro de 1997

O PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO PEDRO HERRERA 22 1. Introdução: Independentemente do que é tratado na literatura desportiva, consideramos importante valorizar a experiência acumulada de nosso coletivo durante estes anos. A partir desta podemos afirmar que, se em algum aspecto se tenha manifestado constantemente, tem sido a correção sistemática dos microciclos em dependência das situações imprevistas que se tenham apresentado; dito de outra forma, temos que ser analíticos diariamente em tudo o que fazemos na medida em que um plano se executa, os atletas irão se desenvolvendo e, por isso mesmo, nem sempre este plano se comporta exatamente igual como quando foi concebido em seu início. As concepções para planejar não diferem em muito quanto à ordem que se planeja em teoria, quanto à forma de sua execução, podem haver diferenças. Dentro de um número considerável de aspectos a se ter em conta para o planejamento de um ano, encontramos:

22

Professor de Educação Física, especializado em natação infantil; Técnico da Escola de Natação Viva água (Convênio BrasilCuba).


nível do grupo tempo disponível velocidade de nado volumes cumpridos quantidade de microciclos (de acordo com a quantidade de competições, se deve fazer as menores possíveis  objetivo para cada capacidade  intensidades a atingir em cada capacidade (valorizar as características funcionais/idades)     

2. Para planejar: Como foi exposto anteriormente, a partir desde momento que se começa a considerar os seguintes aspectos: 1. definir a quantidade de semanas que terá o macrociclo ou os microciclos, aspecto básico em todo planejamento, tomando sempre como ponto de partida as competições fundamentais e de passagem; 2. ordenar as capacidades semanais tomando como base o objetivo essencial de cada etapa e ordenandoas de acordo com a estrutura do macrociclo e do objetivo final; 3. quilometragem atingida em cada capacidade para assim poder estruturar a semana e o objetivo fundamental; 4. levar uma dinâmica em acordo com o anteriormente exposto e uma seqüência lógica quanto às capacidades mais importantes e de mais quilometragem às menos importantes e de menos quilometragem Havendo todos estes elementos, se seguem os passos correspondentes com a estrutura organizativa que se deseje desenvolver. Exemplificando: Primeiro passo: no primeiro passo se organizam as semanas que leva o macrociclo com suas respectivas competições de passagem e fundamentais SEMANAS 1 2 3 Capacidade Volume Intensidade RI RII MVO2 RL TOL Rapidez Comp. Passagem Comp. Fundamental Sendo: RI - resistência aeróbica 1 ou umbral aeróbio;

4

5

6

x

RII - resistência aeróbica 2 ou umbral anaeróbio; MVO2 - potência máxima aeróbica (máximo consumo de oxigênio). RL - resistência lactácida TOL - tolerância ao lactato Comp. – competição

7

8

9

10

11

12

x x


Segundo Passo: ordenamento das capacidades: SEMANAS Capacidade

1 RI

2 RII

3 RII

Volume Intensidade RI RII MVO2 RL TOL Rapidez Comp. Passagem Comp. Fundamental

4 RII

5 MVO 2

6 MVO 2

7 RL

8 RII

x

9 MVO 2

10 RL

11 TOL

12 CF

x x

Terceiro Passo: volume geral por semanas: SEMANAS Capacidade

1 RI

2 RII

3 RII

4 RII

Volume Intensidade RI RII MVO2 RL TOL Rapidez Comp. Passagem Comp. Fundamental

70

65

65

60

5 MVO 2 55

6 MVO 2 55

7 RL

8 RII

50

65

x

9 MVO 2 55

10 RL

11 TOL

12 CF

45

40

30

x x

Quarto Passo: picos importantes em cada capacidade: SEMANAS Capacidade

1 RI

2 RII

3 RII

4 RII

Volume Intensidade RI RII MVO2 RL TOL Rapidez Comp. Passagem Comp. Fundamental

70

65

65

60

20

22

18

5 MVO 2 55

6 MVO 2 55

4,8

3,2

7 RL

8 RII

50

65

9 MVO 2 55

10 RL

11 TOL

12 CF

45

40

30

1

0,4 1

1

16 3,2 1

1

1

1

1 x

1

1

1

1

1 x

x


Quinto Passo: rellenar por capacidade - tomando como exemplo RII: SEMANAS Capacidade

1 RI

2 RII

3 RII

4 RII

Volume Intensidade RI RII MVO2 RL TOL Rapidez Comp. Passagem Comp. Fundamental

70

65

65

60

6

20

22

18

5 MVO 2 55

6 MVO 2 55

2 4,8

2 3,2

7 RL

8 RII

9 MVO 2 55

10 RL

11 TOL

12 CF

50

65

45

40

30

-

16

2 3,2

-

-

-

1

1 x

1

0,4 1

1

1 1

1

1

1 x

1

1

1

x

Sexto Passo: neste passo se restam todas as capacidades por semanas e a diferença se agrega à RI: Sétimo Passo: se procede a colocar os testes pedagógicos: SEMANAS Capacidade

1 RI

2 RII

3 RII

4 RII

Volume Intensidade RI RII MVO2 RL TOL Rapidez Comp. Passagem Comp. Fundamental Testes Pedagógicos

70

65

65

60

6

20

22

18

5 MVO 2 55

6 MVO 2 55

2 4,8

2 3,2

7 RL

8 RII

9 MVO 2 55

10 RL

11 TOL

12 CF

50

65

45

40

30

-

16

2 3,2

-

-

-

1

1 x

1

0,4 1

1

1 1

1

1

1 x

1

1

1

x x

x

Como podemos observar, a concepção de um plano de treinamento é uma execução lógica de idéias levadas ao papel de uma forma gráfica, dando-lhe a importância que requer cada capacidade. Sem uma planificação acertada e precisa, não se pode organizar nenhum processo pedagógico e menos um plano com vistas a atingir altos resultados desportivos. O plano de treinamento é concebido para que se modifique, se façam as adequações e se troque tantas vezes como as afetações lógicas de todo processo o requeiram. Em correspondência com o conhecimento que os treinadores adquirem, assim serão os resultados que se alcancem. 3. Controles do processo de treinamento Durante quase 60 anos, os fisiólogos do exercício se interessaram pelos controles mais exatos para diagnosticar o estado funcional do desportista. A resposta do lactato no sangue durante o exercício tem sido visto como uma variável de medição de rotina em condições de laboratório e por conseguinte a mais exata das que se avaliam. Nas últimas décadas, no controle médico da natação, se tem utilizado como parâmetro de muita importância os níveis sangüíneos de ácido láctico e de uréia.


Alguns tipos de atividade, como natação, corridas, remo, etc., podem sobrecarregar os processos anaeróbicos em grande medida quando se realizam a um nível de intensidade programado. A sensação de esforço depende em grande medida da rapidez com que um glucogenio se degrada até formar ácido láctico (ASTRAND & RODHAL, 1986). Na execução do trabalho dos nadadores, onde a intensidade sobrepassa a oferta de oxigênio, se produz a elevação de forma significativa da concentração de lactato no sangue portanto sua medição permite conhecer o estado metabólico (esfera funcional), a capacidade láctica em forma geral, estabelecer o nível de rendimento ao aplicar diferentes cargas físicas, assim como prognosticar resultados. JERVELL, em 1929, foi o primeiro a descobrir a relação curvilínea do lactato em correspondência com a intensidade de trabalho durante o exercício. Ao final da década de 60, a antiga RDA começou a usar o ácido láctico como um parâmetro de exercício em desportes de resistência, sendo os pioneiros na natação. MARGARIA (1965) demonstrou como a concentração de ácido láctico no sangue aumenta linearmente com a duração do exercício. Sem dúvidas, as décadas de 80 e 90 têm marcado um tento no progresso dos rendimentos desportivos em muitas disciplinas entre as quais se destaca a natação. Neste desporte, um dos que mais adeptos e espectadores atrai em torneios de nível olímpico e mundial, é onde se observa níveis de rendimento competitivos extraordinários, os quais são produto inegavelmente da ciência aplicada ao desporte de forma racional, individual e objetiva de cargas de treinamento, as quais somente podem ser eficazes quando se realiza um controle constante das respostas adaptativas do organismo às demandas do treinamento mesmo. Os propósitos fundamentais para os quais se realiza o controle do lactato no sangue são: 1. determinar o desenvolvimento da resistência aeróbica e anaeróbica que pode ocorrer durante o cumprimento de cada uma das etapas do treinamento; 2. determinar as velocidades mínimas requeridas para incrementar as velocidades em cada uma das capacidades; 3. Prognosticar resultados desportivos em competições fundamentais. TABELA DE CONTROLE DE CAPACIDADES TENDO EM CONTA SEU GASTO ENERGÉTICO TRADUZIDO EM MILIMOLES/LITRO CAPACIDADE RI RII MVO2 RL TOL

MM/L 2-3 4-6 7-9 10-12 12

PROCESSO Aeróbico Aeróbico Potência Aeróbica Anaeróbico Anaeróbico

TEMPO DE MEDIÇÃO EM CADA UMA DAS CAPACIDADES DEPOIS DE UM ESFORÇO CAPACIDADE RI RII MVO2 RL TOL

TEMPO DE MEDIÇÃO Imediato ao minuto 2:30´-3:00´ 3:30´-4:00´ 4:00´-7:00´

PROCESSO Aeróbico Aeróbico Potência Aeróbica Anaeróbico Anaeróbico


3.1. Como diagnosticar as velocidades de nado ? Em todo processo de treinamento o princípio da individualização é o mais importante, daí partimos se se querem atingir altos resultados desportivos. O lactato é o único meio conhecido a partir do qual se pode diagnosticar individualmente a que velocidade deve nadar o atleta em cada uma das capacidades com uma margem de erro mínima. Lógico que isso requer tempo e experiência por parte do treinador. Para um melhor entendimento, incluiremos uma tabela para se recorrer quanto deve ser o incremento de tempo, de acordo com as diferentes distâncias que normalmente se treina, e para isso tomaremos por base uma prova de 200 metros na capacidade de RI como parâmetro: Nome: Estilo: Distância: Tempo realizado: Lactato: Velocidade x 100:

Rodolfo Falcón Costas 200 metros 2:32:00 3,16 mml/l 1:16

Para desenvolver a capacidade RI: Distância

Velocidade x 100

Resto ou soma

Tempo a realizar

100

1.16

-2

1:14

200

1.16

-

2:32

300

1.16

+6

3:54

400

1.16

+8

5:17

500

1.16

+10

?

800

1.16

+16

?

1500

1.16

+32

?

Velocidade x 100

Resto ou soma

Tempo a realizar

100

1.16

-3

1:13

200

1.16

-4

2:28

300

1.16

-6

3:48

400

1.16

-8

5:04

500

1.16

-10

?

800

1.16

-16

?

1500

1.16

-32

?

Para desenvolver a capacidade de RII: Distância


Todas estas tabelas foram elaboradas com as experiências de anos em que a habilidade do treinador tem um papel fundamental porque nisto tem incidência dois fatores: a duração da série a pausa. 3.2. UREIA (controle sérico) Outro controle que tem sido objeto de investigação é a determinação da uréia sangüínea (metabolização final da degradação das proteínas) por sua importância como indicador da suportabilidade das cargas físicas e para valorizar a recuperação do atleta às cargas. Os aminoácidos constituem a unidade estrutural e funcional das proteínas. Sua função é fundamentalmente estrutural como elemento plástico e de funções enzimáticas entre outras. Como substrato energético ocupam uma terceira ordem depois dos carbohidratos e dos lipídios, portanto sua utilização predominante somente se efetua logo após esgotar-se as reservas destas e sua utilização nos dá a medida de quanto custa ao organismo do atleta a realização de determinada atividade tanto em volume como em intensidade. Esta energia é aportada pela glucogênese que tem entre seus catabolitos o amoníaco, o qual é tóxico para o organismo e por determinadas reações é transformado em uréia, que é uma forma não tóxica mediante a qual é expulsa. As causas fundamentais do aumento da uréia são: 1. 2. 3. 4. 5.

por trocas renais altas cargas de treinamento em volumes e intensidades déficit de substratos energéticos estresse psíquico e físico fatores nutricionais Valores normais de uréia em atletas: entre 5,5-7,5 mml/l

 5,5 : se denomina zona baixa e corresponde a processos de treinamento pouco estimulantes  6,5 : processo de aquisição de novas capacidades  7,5: nível alto de cansaço e pouca assimilação e recuperação das cargas do treinamento. Neste nível não se deve treinar com altas cargas mais de dois dias consecutivos, se deve cuidar dieta e descanso Os dias em que se deve tomar mostras de uréia são segundas, quartas e sextas . Se não houver essa possibilidade, se devem tomar então segundas e sextas. Tradução de: Leopoldo Gil Dulcio Vaz - professor do CEFET-MA; Oswaldo Telles de Sousa Neto - professor do CEFET-MA; sócio-proprietário e Diretor Técnico da Escola de Natação Viva Água; Denise Martins de Araújo - sócia-proprietária e Diretora Pedagógica da Escola de Natação Viva Água.


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


DAREMOS INÍCIO À PUBLICAÇÃO DO

LIVRO-ÁLBUM

MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO

INTRODUÇÃO Tem já algum tempo que venho me dedicando à escrita da memória do esporte, da educação física e do lazer no/do Maranhão. Temos o “Atlas do Esporte no Maranhão” 23, o livro de memórias “Querido Professor Dimas” 24; já mantive um blog, o Blog do Leopoldo Vaz, dentre outros já disponibilizados, e outros ainda em construção25... 2 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL; IHGM, 2013. Em CD. 24 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de. QUERIDO PROFESSOR DIMAS (Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) e a Educação Física maranhense: uma biografia (autorizada). São Luís: EPP, 2014.


Contar a vida de alguém requer pesquisa, entrevistas e despojamento de idéias pré-concebidas. Pela quantidade de questões que levanta, o tema é um sem fim de perguntas... Ao depararmos com um personagem emblemático, que influenciou toda uma geração, temos um bom argumento para contar uma História de Vida (FUKELMAN, 2015) 26. São muitos os métodos e as técnicas de coleta e análise de dados em uma abordagem qualitativa e, entre eles, a história de vida ocupa lugar de destaque. Através da história de vida pode-se captar o que acontece na intersecção do individual com o social, assim como permite que elementos do presente fundamse a evocações passadas. Podemos, assim, dizer, que a vida olhada de forma retrospectiva faculta uma visão total de seu conjunto, e que é o tempo presente que torna possível uma compreensão mais aprofundada do momento passado27. É o que, em outras palavras, nos diz SOARES (1994) quando discute as articulações entre os conceitos vida e sentido: Somente a posteriori podem-se imputar, aos retalhos caóticos de vivência, as conexões de sentido que os convertem em ‘experiência’ (SOARES, 1994:23). A advertência de Coriolano P. da Rocha Junior – pertinente - (2015) 28 de que estudos sobre a história do esporte, normalmente, associam seu surgimento, sua constituição aos elementos da modernidade, e tendo por referências as pesquisas feitas a partir de cidades como São Paulo (SP) e mais ainda, o Rio de Janeiro (RJ). Para Coriolano: [...] o cuidado deve estar em não querer analisar outras localidades a partir da realidade destas duas. É preciso entender as peculiaridades de cada uma, suas especificidades, que dão a elas maiores ou menores possibilidades de assumirem o esporte como uma prática cotidiana. E aqui, os estudos históricos são centrais, justo por nos darem a possibilidade de compreendermos a forma como se estabeleceu, ao longo dos tempos, o fenômeno esportivo em cada espaço.

Ainda seguindo Coriolano Rocha Junior (2015), é importante ressaltar que: [...] a investigação a partir da compreensão de um projeto de modernização local, também guarda enormes diferenças em relação a outros estados, mesmo que estes tenham servido de inspiração. As realidades locais fizeram com que houvesse diferenciações, no porte, no tipo, no período de realização e no perfil dos agentes executores. Para Spindola e Santos (2003)29, a história de vida é uma das modalidades de estudo em abordagem qualitativa. O termo História de Vida, traduzido de historie (em francês) e de story e history (em inglês), tem significados distintos. O sociólogo americano Denzin propôs, em 1970, a distinção das terminologias: life story (a estória ou o relato de vida) é aquela que designa a história de vida contada pela pessoa que a vivenciou. Nesse caso, o pesquisador não confirma a autenticidade dos fatos, pois o importante é o ponto de vista de quem está narrando. No relato de vida o que interessa ao pesquisador é o ponto de vista do sujeito.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de; VAZ, Delzuite Dantas Brito. QUERIDO PROFESSOR DIMAS - (Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) – e a educação física maranhense – uma biografia autorizada. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES – revista digital, Buenos Aires, ano 8, n. 48, maio de 2002. Disponível em www.efdeportes.com 25 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão (Organizadores). SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores). MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão (Organizadores). SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luis: ALL, 2015 (no prelo) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS. Sorocaba, JORNAL DO CAPOEIRA, 2003-6, disponível em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PERFIS ACADÊMICOS: FUNDADORES (Academia Ludovicense de Letras). São Luís: ALL, 2014. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. PERFIS ACADEMICOS: OCUPANTES DE CADEIRAS (IHGM). São Luís: IHGM, 2013, edição eletrônica, disponível em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. PERFIS ACADEMICOS: FUNDADORES E OCUPANTES (IHGM). São Luís: IHGM, 2013, edição eletrônica, disponível em VAZ Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O "sporteman" Aluísio Azevedo. LECTURAS: EDUCACION FISICA y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 25, setembro de 2000, disponível em < www.efdeportes.com > 26 FUKELMAN, Clarisse (Organizadora). EU ASSINO EMBAIXO: BIOGRAFIA, MEMÓRIA E CULTURA. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2015. 27 In SERVIÇO SOCIAL EM REVISTA / publicação do Departamento de Serviço Social, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual de Londrina. – Vol. 1, n. 1 (Jul./Dez. 1998)- . – Londrina : Ed. UEL, 199828 ROCHA JUNIOR, Coriolano P. O esporte em Salvador: a realidade da pesquisa. In História(s) do Sport. https://historiadoesporte.wordpress.com/2015/03/02/o-esporte-em-salvador-a-realidade-da-pesquisa/ , publicado em 02 de março de 2015, acessado em 02 de março de 2015. 29 SPINDOLA, Thelma; SANTOS, Rosângela da Silva. Trabalhando com a história de vida: percalços de uma pesquisa(dora?). Rev Esc Enferm USP 2003; 37(2):119-26.


O objetivo desse tipo de estudo é justamente apreender e compreender a vida conforme ela é relatada e interpretada pelo próprio ator. Em “Apontamentos metodológicos: biografias de atletas como fontes” Rafael Fortes (2015) 30, afirma que livros biográficos são uma fonte pouco explorada na história do esporte no Brasil. Para esse autor, as fontes principais continuam sendo jornais e revistas, além de crônicas, obras de literatos etc. As biografias sob a forma de livro são um importante elemento da construção de representações sobre o esporte, embora não tão poderosas quanto o jornalismo periódico e as transmissões ao vivo por televisão e rádio. Faz, então, uma análise de como tais obras poderiam ser enriquecidas pela discussão existente na História a respeito da viabilidade/possibilidade da biografia como trabalho científico. Vale a pena acompanhar este debate, por proporcionar reflexões teórico-metodológicas interessantes: 1.

Considerando que as biografias são obras sobre um indivíduo, que elementos são mobilizados para construir, descrever, explicar, narrar etc. sua trajetória (noção por si só rica, em termos de análise), bem como seus resultados, realizações etc.? É possível identificar traços comuns às biografias de atletas de modalidades individuais? E às de atletas de modalidades coletivas? Indo além: é possível perceber semelhanças e diferenças entre as características comuns, considerando tal dicotomia?

2.

Quanto à autoria: quem é o autor da obra? O próprio atleta? O jornalista? Ambos? Parece-me haver três principais tipos, do ponto de vista formal:

a) Autobiografias em sentido estrito: o atleta escreve o texto (ou, ao menos, é assim que o livro é publicado: atribuindo o texto ao esportista). b) Autobiografias com um (co)autor (geralmente um jornalista) [...] o "com" ou um "e" seguido do nome do jornalista está estampado na capa. Fico com a sensação de que, nestes casos, o autor é o jornalista e coube ao atleta dar os depoimentos e ajudá-lo com outras informações [...] é impossível saber ao certo que papeis foram desempenhados por cada um. c) Biografias escritas por um jornalista. Neste caso, há a divisão entre "autorizadas" e "não autorizadas". As categorias são discutíveis (como, em parte, ficou evidente o debate travado em certos veículos de comunicação brasileiros há cerca de um ano e meio, a partir do grupo Procure Saber), mas há outros aspectos que podem ser analisados: os objetivos de quem escreve, os interesses da obra para a coletividade, a forma e o conteúdo.

30 FONTES, Rafael. Apontamentos metodológicos: biografias de atletas como fontes. In BLOG História(s) do Sport - Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer, UFRJ, POSTADO EM Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2015. Disponível em https://historiadoesporte.wordpress.com/2015/02/23/apontamentos-metodologicos-biografias-de-atletas-como-fontes /, acessado em 23 de fevereiro de 2015. Para saber mais sobre metodologia e história do esporte: MELO, Victor Andrade de. ESPORTE, LAZER E ARTES PLÁSTICAS: DIÁLOGOS. Rio de Janeiro: Apicuri/Faperj, 2009. MELO, Victor Andrade de; DRUMOND, Mauricio; FORTES, Rafael; SANTOS, João M. C. M. PESQUISA HISTÓRICA E HISTÓRIA DO ESPORTE. Rio de Janeiro: 7Letras/Faperj, 2013 MELLO, Victor Andrade de. História Oral e História da Educação Física no Brasil - uma possibilidade necessária. In ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, II, Ponta Grossa, 1994. COLETÂNEAS ..., p. 271-284; MELLO, Victor Andrade de. Alberto Latorre de Faria: a biografia como possibilidade de pesquisa para a história e do esporte no Brasil. CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, VI, Rio de Janeiro, 1998. COLETÂNEAS..., p. 541-547 MELLO, Victor Andrade de; e FARIA JÚNIOR, Alfredo Gomes de. ALBERTO LATORRE DE FARIA, HISTÓRIA ORAL E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In ENCONTRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE, I, Campinas, 1994. COLETÂNEAS... Campinas: FEF/UNICAMP, 1994, p. 180-185 VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL - da chegada de Antônio Paraibano à região do Brejo - Município de Pastos Bons - à fundação da cidade de Paraibano-Ma. São Luís: UFMA, 1990. (Monografia de graduação em História). (Mimeog.). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Os esportes, o lazer e a educação física como objeto de estudo da História. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Buenos Aires, Revista Digital, VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO; REVISTA IHGM, No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 124, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Produção do Conhecimento em Educação Física e Desportos no Nordeste Brasileiro. In REVISTA MOVIMENTO HUMANO & SOCIEDADE, São Luís, v. 2, n. 5... ANAIS DA III JORNADA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFMA, São Luís, 05 a 08 de dezembro de 1995. São Luís: NEPAS, 1995, p. 14-21


Góis Junior; Lovisolo; Nista-Piccolo (2013) 31, ao analisarem a utilização do modelo elisiano 32 em problemas de pesquisa no campo da História da Educação Física33, e as características teóricas do processo civilizador de Elias, colocam que: “coletivamente, os indivíduos buscam no esporte, vivenciar emoções fortes, liberdade, poder”: O processo civilizador é construído a partir da teoria das configurações sociais, ou seja, como uma configuração inicial de poder político, econômico, social se transforma em outra, e concomitantemente, são transformadas as estruturas de personalidade dos indivíduos. Se não estudamos a relação entre estrutura política, poder e a personalidade dos indivíduos em sua conduta, não estudamos o processo civilizador.(Góis Junior; Lovisolo; Nista-Piccolo, 2013, p. 777).

Utilizo-me da História Oral34, designação que se dá "ao conjunto de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária" (BROWNW e PIAZZA, citados por CORRÊA, 1978, p. 13) 35. Já na definição de Camargo (citado por ALBERTI, 1990) 36, é o "conjunto sistemático, diversificado e articulado de depoimentos gravados em torno de um tema", ou como ensino a própria Alberti (1990), é o "método de pesquisa... que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunham, acontecimentos...". A História Oral é legítima como fonte porque não induz a mais erros do que outras fontes documentais e históricas37. Alberti (1990) chama-nos atenção da responsabilidade do entrevistador enquanto coagente na criação do documento da História Oral, já que sua biografia e sua memória são outras, e não estão em questão - é a dupla pertinência cultural (Max CAISSON, citado por ASSUNÇÃO, 1988) 38. Em qualquer pesquisa parte-se da questão de que há algo a investigar. Ao decidir-se pelo emprego da técnica da história oral, como sendo a mais apropriada, estabeleceram-se também os tipos de fonte de

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GÓIS JUNIOR, Edivaldo; LOVISOLO, Hugo Rodolfo; NISTA-PICCOLO, Vilma Lení. PROCESSO CIVILIZADOR: APONTAMENTOS METODOLÓGICOS NA HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA. In Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 35, n. 3, p. 773783, jul./set. 2013, p. 773-783. 32 Segundo GÓIS JUNIOR, Edivaldo; LOVISOLO, Hugo Rodolfo; NISTA-PICCOLO, Vilma Lení (2013), “Os estudos de Elias ganharam maior repercussão na área de Educação Física por influência de artigos que tematizaram o Esporte à luz do modelo eliasiano, sobretudo na Inglaterra. Por exemplo: Eric Dunning (DUNNING; MENNEL, 1998; DUNNING; SHEARD, 1979; DUNNING; MURPHY; WILLIAMS, 1988; DUNNING, 1999; MURPHY; WILLIAMS; DUNNING, 1990), em diversos estudos, Sport Matters: Sociological Studies of Sport, Violence and Civilisation; The roots of football hooliganism; Barbarians, gentlemen and players: a sociological study of the development of rugby football, Football on Trial: Spectator Violence and Development in the Football World, sustentam a tese de que o Esporte, tanto na efetiva prática, como em sua espetacularização através dos veículos de comunicação de massa, formação de torcidas, e consequentes explosões de violência, é explicado a partir da formação do estado e monopólio da violência, e concomitantemente, com a formação de personalidades humanas e mecanismos de autocontrole”. Ver ainda: ELIAS, N. O PROCESSO CIVILIZADOR: UMA HISTÓRIA DOS COSTUMES. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994a. ELIAS, N. O processo civilizador: formação do estado e civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994b. DUNNING, E.; MENNEL, S. Elias on germany, Nazism and the Holocaust: on the balance between `civilizing’ and ‘decivilizing’ trends in the social development in Western Europe. British Journal of Sociology, London, v. 49, n. 3, p. 339-358, sept. 1998. DUNNING, E.; SHEARD, K. BARBARIANS, GENTLEMEN AND PLAYERS: A SOCIOLOGICAL STUDY OF THE DEVELOPMENT OF RUGBY FOOTBALL. Oxford: Martin Robertson, 1979. DUNNING, E.; MURPHY, P.; WILLIAMS, J. The roots of football hooliganism. London: Routledge, 1988. 33 DUNNING, E. SPORT MATTERS: SOCIOLOGICAL STUDIES OF SPORT, VIOLENCE AND CIVILIZATION. London: Taylor & Francis, 1999. ELIAS, N.; DUNNING, E. A BUSCA DA EXCITAÇÃO. Lisboa: Difel, 1992. GEBARA, A. Norbert Elias e a teoria do processo civilizador: contribuição para a análise e a pesquisa no campo do lazer. In: BRUHNS, H. T. (Org.). TEMAS SOBRE O LAZER. Campinas: Autores Associados, 2000. p. 33-46 LANDINI, T. S. A Sociologia de Norbert Elias. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, São Paulo, n. 61, p. 91-108, 2006. 34 A História Oral tem sido utilizada desde o século XIX como uma técnica para se escrever História. A motivação maior na recuperação das técnicas orais parte de historiadores que percebem a necessidade de uma nova interpretação da História perante a sociedade (MELLO e FARIA JÚNIOR, 1994). 35 CORRÊA, Carlos Humberto P. HISTÓRIA ORAL - Teoria e prática. Florianópolis : UFSC, 1978 36 ALBERTI, Verena. HISTÓRIA ORAL - a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: FGV/CPDOC, 1990. 37 "... o Programa de História Oral, indissociável da pesquisa documental e arquivística, apostou na estruturalidade da História e na dimensão social dos eventos, da vida e do desempenho de seus protagonistas, tanto quanto no caráter voluntarista e transformador da ação política em sua busca de mudar e atualizar as estruturas ..." (CAMARGO, citado por ALBERTI, 1990, p VIII). 38 ASSUNÇÃO, Mathias Rohrig. A GUERRA DOS BEM-TE-VIS: a Balaiada na memória oral. São Luís : SIOGE, 1988


dados, tendo em vista que a história oral vale-se de outras fontes, além das entrevistas (SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989) 39. Foram utilizados dois tipos de fontes de dados: 1. Reportagens de jornais, crônicas, relatos e literatura acadêmica, que nos permite o estudo do processo de implantação da Capoeira, e seu desenvolvimento como esporte moderno no/do Maranhão; 2. Depoimentos dos Mestres Capoeiras do Maranhão, partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiras do Maranhão, promovido pela UFMA E SEDEL, sob a coordenação do Prof. Mestre Capoeira Tarcísio Ferreira. Estabelecidos os métodos e os entrevistados, restou-nos definir as entrevistas. Foram estabelecidas algumas categorias simples, que foram surgindo empiricamente, a partir das primeiras, utilizadas como pretexto para o entrevistado se lançar no esforço de rememoração. São perguntas de ordem genealógica, história pessoal, sobre educação, educação física, esportes, pessoas conhecidas, relacionamento com a capoeira e seus mestres, enfim, lembranças "daqueles bons tempos". O trabalho que se pretendeu foi o de integrar a uma estrutura social elementos e fatos isolados, procurando uma explicação causal, sem esquecer a descrição história (CARDOSO, 1988) 40. Para Berkoffer Jr. (citado por CARDOSO, 1988, p. 77), ... a História (entendida como explicativa, respondendo aos porquês?) não pode explicar totalmente à 'crônica' (que responde a perguntas do tipo 'o que', 'quem', 'quando', 'onde', 'como'?). Assim, “toda entrevista individual traz à luz direta ou indiretamente uma quantidade de valores, definições e atitudes do grupo ao qual o indivíduo pertence” 41. O método de história de vida, portanto, procura apreender os elementos gerais contidos nas entrevistas das pessoas, não objetivando, contudo, analisar suas particularidades históricas ou psicodinâmicas. Nesse sentido, histórias de vida, por mais particulares que sejam, são sempre relatos de práticas sociais: das formas com que o indivíduo se insere e atua no mundo e no grupo do qual ele faz parte42. O objetivo é apresentar a História de Vida de dos Mestres Capoeiras do Maranhão, e enfatizar, por meio do relato de Histórias de Vida individuais, caracterizar a prática social de um grupo: o dos Mestres Capoeiras do Maranhão, na construção do Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, segundo proposta por André Luiz Lacé Lopes43.

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SILVA, M. Alice Setúbal: GARCIA, M. Alice Lima: FERRARI, Sônia C. Miguel. MEMÓRIAS E BRINCADEIRAS NA CIDADE DE SÃO PAULO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX. São Paulo: Cortez, 1980. 40 CARDOSO, Ciro Flamarion. UMA INTRODUÇÃO À HISTÓRIA. 7 ed. São Paulo : Brasiliense, 1988 41 GLAT, R. Somos iguais a vocês: depoimentos de mulheres com deficiência mental. Rio de Janeiro: Agir; 1989. Citado por SPINDOLA, Thelma; SANTOS, Rosângela da Silva. Trabalhando com a história de vida: percalços de uma pesquisa(dora?). Rev Esc Enferm USP 2003; 37(2):119-26. 42 SPINDOLA, Thelma; SANTOS, Rosângela da Silva. Trabalhando com a história de vida: percalços de uma pesquisa(dora?). Rev Esc Enferm USP 2003; 37(2):119-26. 43 ANDRÉ LUIZ LACÉ LOPES - Jornalista e Administrador, com Mestrado em Administração Pública (1970) pela Universidade de Syracuse, New York, USA. Sete livros publicados até agora, sendo quatro sobre Capoeiragem, sobre a qual já escreveu mais de quatrocentas crônicas e artigos publicados no Brasil e no exterior. Entre vários cargos e funções exercidos foi assessor e professor do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, Superintendente Administrativo do Clube de Regatas do Flamengo, Diretor da Oficina de Assuntos da Juventude, da Organização dos Estados Americanos (OEA, Washington, D.C.), diretor-presidente da Adplan Juvesporte, consultor da Fundação Roberto Marinho (Área Esportiva) e Chefe de Gabinete da Secretaria Estadual de Esporte do Rio de Janeiro. Alguns prêmios na área da literatura.


LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS A idéia de se construir um Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras é do Mestre Lacé – André Luiz Lacé Lopes – do Quilombo do Leblon – RJ. Em correspondência pessoal, via correio eletrônico, apresentoume seu projeto, em dez tópicos, a ser desenvolvido naquele Estado: Rio de Janeiro. Por que não no Maranhão, também? Desafiou-me... No inicio dos anos 1980 – século passado! – a Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – mantinha um curso de formação de Técnico em Educação Física; e a disciplina História da Educação Física e dos Esportes. Em uma das turmas, fui responsável pela mesma. O ensino era aquele programa clássico: Antiguidade, Grécia, Roma, Idade Média, Renascimento, Idade Moderna, Idade Contemporânea; uma unidade sobre o Brasil; e só... E no Maranhão? Nada... Foi assim que comecei meus estudos sobre a História da Educação Física, dos Esportes, e do Lazer no Maranhão44. Em 1995, junto com a Profa. Delzuite Dantas Brito Vaz conseguimos um 2º lugar no Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” - Prêmio “Antônio Lopes” de Pesquisa Histórica, com “PERNAS PARA O AR QUE NINGUÉM É DE FERRO”: AS RECREAÇÕES NA SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX 45. Alguma referencia às atividades lúdicas e do movimento dos negros...; apareceu a Capoeira... Em 2004, encontrei o Prof. Dr. Lamartine Pereira da Costa em um dos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança 46; tomei conhecimento do “Atlas do Esporte no Brasil” 47, que ele estava a organizar; comprometi-me a escrever um capítulo sobre o Maranhão – Cluster Esportivo de São Luis48... Foi assim que entrei em contato com o Prof. André Luiz Lacé Lopes, autor de capitulo sobre a Capoeiragem 49. Desde então trocamos correspondência, e passei a colaborar, por insistência dele, com o “Jornal do Capoeira”50, editado pelo Miltinho Astronauta; passei a escrever sobre a Capoeira no/do Maranhão... 44

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Revista Digital, Año 4. Nº 14. Buenos Aires, Junio 1999, disponível em http://www.efdeportes.com/ 45 Artigo publicado nos Coletâneas do III Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física, DEF/UFPR; DEF/UEPG; FEF/UNICAMP, Curitiba, 10 a 17 de novembro de 1995, p. 458; Publicado nos Anais da III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, São Luís, 05 a 08 de dezembro de 1995, p. 58; Publicado nos Anais do X Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Goiânia, 20 a 25 de outubro de 1997, p. 1005. 46 O 8º Congresso, realizado em Ponta Grossa, no Paraná. Ver mais em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Capoeira nos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança. JORNAL DO CAPOEIRA, Edição 73 - de 14 a 20 de Maio de 2006, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 47 DaCOSTA, Lamartine Pereira. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/capoeira O "Atlas do Esporte no Brasil" é uma publicação inicial do Sistema de Informações sobre Esporte e Atividade Física [...] com a finalidade de promover ou criar vias de promoção de levantamentos sobre atividades físicas em geral em perspectiva nacionais e visando à utilidade pública. Os dados desta publicação são referidos até ao final do ano de 2004. Trata-se de um livro que apresenta os resultados de uma das maiores pesquisas sobre esporte até hoje feitas no mundo: cerca de 410 colaboradores qualificados e 17 editores, trabalharam voluntariamente durante dois anos, levantando memória (passado) e inventário (presente) de diferentes facetas do esporte e de atividades físicas congêneres, cobrindo todo o Brasil. São 924 páginas tamanho duplo, com centenas de mapas, quadros e tabelas, completadas por uma seção especial com cerca 200 fotos e figuras que sintetizam a história do esporte brasileiro, do Descobrimento do Brasil em 1500 aos Jogos Olímpicos de Atenas-2004. O obra é multidisciplinar, com seus capítulos apresentados em língua portuguesa (textos completos) e inglesa (resumos e textos complementares) [...]. O formato livro foi adotado inicialmente mas outros suportes estão previstos para o desdobramento futuro da obra. http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 48 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cluster Esportivo de São Luis do Maranhão, 1860 – 1910. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, 2.7. http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis-maranhao-1860-1910/ 49 LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/capoeiragem/ 50 MILTINHO ASTRONAUTA (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA. Disponível em http://www.capoeira.jex.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Alunos do Curso Sequencial de Educação Física turma C, da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Capoeiragem No Maranhão. Parte I. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão - Parte II - Afinal, O Que É Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Maranhão - Parte IV - Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte V - Capoeira regional". IN In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte VI - A Capoeira "CARIOCA". In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br


Dessas trocas, Mestre André Luiz Lacé Lopes enviou-me documento em que propunha "Dez Projetos para o Rio de Janeiro" chamando-me atenção para o "Projeto Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira no Rio de Janeiro", em que propunha o cadastramento dos aproximadamente 150 mestres capoeiras do Rio de Janeiro; uma página para cada mestre, com foto. Haveria uma parte Introdutória com resumo da História da Capoeira no Rio de Janeiro e, também, resumo crítico dos principais livros sobre o assunto. Este projeto estava, na ocasião, com 12 biografias51. Em outra correspondência, ao indagar sobre um aspecto da Capoeira no Maranhão, sugeriu-me a elaboração do "LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO", assim como anteriormente já havia sugerido a criação de um "Centro de Capoeiragem do Maranhão". Os demais projetos eram: 1. Projeto SEIS RODAS ESPECIAIS de CAPOEIRA - Idealização (através de concurso para arquitetos urbanistas), construção e implantação de uma Programação Anual. Rodas especiais, concha acústica de cimento para a "orquestra", roda acimentada de apresentação e arquibancada tipo anfiteatro. 2. Projeto "CENTRO DE MEMÓRIA DA ARTE-AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO" - um espaço que poderá abrigar o "Centro de Memórias da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem". 3. Projeto CONCURSO LITERÁRIO ANUAL - Redação, para o Ensino Médio; Monografia, para o Ensino Superior - Tema Básico: Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. 4. Projeto FUNDAÇÃO RIO CAPOEIRA - Criação de um Organismo que realmente contemple todos os múltiplos aspectos da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem. O Projeto incluirá a criação de um PONTO DE ENCONTRO DOS CAPOEIRAS que, em princípio, será calcado na experiência vitoriosa do Espaço nos Capoeiras, no Mercado Popular da Uruguaiana. 5. Projeto LABORATÓRIOS DE CAPOEIRA - Série de experiências práticas testando a real eficácia da Capoeira enquanto Luta Marcial. 6. Projeto FUNDAMENTOS DA CAPOEIRA - Criação de um grupo multidisciplinar para estudar, sem fantasias, os fundamentos da Capoeiragem em todos seus múltiplos aspectos: religioso, filosófico, ritmo e cantado, histórico, sociológico etc. 7. Projeto UNIVERSIDADE DA CAPOEIRA - Projeto, inicialmente, apresentado do Governo Federal e, depois, à Universidade Estácio de Sá. 8. Projeto HOMENAGENS ESPECIAIS - Exemplo: reforma completa do túmulo do Sr. Agenor Sampaio, Sinhozinho, com colocação solene de uma Placa de Agradecimento. 9. CAPOEIRA EDITORIAL - Republicação enriquecida por uma avaliação crítica dos principais livros escritos Capoeiragem - ODC, Plácido de Abreu, ZUMA, Inezil Penna Marinho etc.

Em 2006, já iniciada a elaboração do Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão), propus a André Lacé, ao Miltinho Astronauta, e ao Carlos Cavalheiro a elaboração do Atlas da Capoeira (gem) no Brasil (e no Mundo): A TÍTULO DE JUSTIFICATIVA Miltinho, At. de André, Lamartine, Laércio: Sinto-me provocado! Você tem colocado no nosso “Jornal do Capoeira” o pioneirismo do Maranhão na construção do Atlas da Capoeira e do Livro-Álbum dos Mestres (e Contramestres) Capoeira; eu, a frente desse projeto... O que, sabemos, não é verdade! A idéia de construção de um Atlas deve-se ao Professor-Doutor Lamartine Pereira da Costa (Mestre Capoeira) e ao Mestre André Luis Lacé Lopes (Mestre em Administração), a do Livro-Álbum. Como você disse, em correspondência pessoal, citando Mestre Caiçara, "Cada quá no seu cada quá"... VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Qual Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br 51 LOPES, André Luiz Lacé. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão).


Em “CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO” 52, publicado ano passado no Jornal, proponho-me a “resgatar os primórdios da capoeira praticada em São Luís do Maranhão (Brasil), assim como seu estágio atual, através do resgate da história de vida de seus principais atores – os Mestres de Capoeira... Ainda, procura-se cadastrar os Mestres atuantes em São Luís, através de projeto apresentado por Mestre André Lacé, do Rio de Janeiro (Brasil)...”. PROPOSTAS - "CADA QUÁ NO SEU CADA QUÁ"... ATLAS DA CAPOEIRA (GEM) no BRASIL (e no MUNDO...). Não devemos nos afastar do “ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL”; a construção – coletiva, como se propõem no Atlas – será parte integrante do mesmo, inserido no capítulo das “Tradições”. Assim, dentro da estrutura proposta por DaCosta (org.) (2005; Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro : Shape), devemos estabelecer as origens e a definição da Capoeira, para em seguida, traçar a sua memória (fatos e acontecimentos, quando, quem, onde, como, porque) em ordem cronológica... O objetivo, explicitado, é o de “elaborar mapeamento por meio de levantamento de fatos de memória e de inventário das condições presentes de ocorrências” - dessas atividades, no caso, da Capoeira (gem) -, “constituindo um conjunto de dados espaciais (mapas) e/ou dados quantitativos (tabelas e quadros) e qualitativos (textos descritivos e analíticos resumidos), com as respectivas interpretações que possam render significados setoriais, regionais e nacionais” - (agora, internacionais, também). No Atlas, fez-se a opção pela cronologia dos fatos de memória como sustentação de cada capítulo. O “Atlas da Capoeira” seguirá essa mesma construção; assim sendo, é um documento de memória e não de história, a qual poderá ser mobilizada para as devidas interpretações , se julgadas convenientes por outros estudos. LIVRO-ALBUM DOS MESTRES CAPOEIRA Naturalmente, seguirá a proposta de André Lace... E será parte integrante do Atlas da Capoeira (gem). Cada Estado – e País – elaborará o seu. Mas, quem é o Mestre Capoeira (e o Contramestre...); na falta de uma regulamentação – desculpe Mestre André – comum a todas as capoeiras, se ficará com a tradição: o reconhecimento, como Mestre, pelos seus pares; junto com o nome pelo qual é conhecido dentro da capoeira (batismo), o nome “civil”, e principalmente, quem o iniciou, quem o preparou, quem lhe outorgou o título. Como se observa esse(s) nome(s) não é necessariamente o mesmo, muito embora se encontrem mestres que tem toda a sua trajetória ligada a um mesmo Mestre...; quando se deu o reconhecimento pela Mestria; a qual capoeira pertence (estilo); e uma breve história de vida. OPERACIONALIZAÇÃO Além dos dados já constantes no Atlas do Esporte no Brasil – Capoeira, por Sérgio Luiz de Sousa Vieira (p. 116-117); e Capoeiragem, por André Lace Lopes (p. 386-387), devemos proceder à busca da memória da Capoeira – Brasil, Estados, Outros Países -; o que for comum, no capítulo geral – Brasil -; cada estado da Federação, com suas especificidades; e cada país onde hoje se pratica a Capoeira – fora o Brasil – o resgate de sua memória...

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Capoeira em São Luis do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005. http://www.jornalexpress.com.br


CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO53 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Existe uma Capoeira do Maranhão!!! Estudos demonstram que a Capoeira tenha surgido – como a entendemos, e com esse nome – lá pelo final dos 1700, quando aparece o nome do Tenente Amotinado - João Moreira: [...] segundo os melhores cronistas, data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘Capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. (LIMA, 1925) 54.

– e de um negro chamado Adão, pardo, escravo, preso por ser “capoeira” em 12 de abril de 1789 (CAVALCANTI, 1999) 55, embora desde o ano anterior 1788 as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice-reis (CARNEIRO, 1977)56. Cabe, neste momento, definir o que se entende por Capoeira: a) “Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada”. Federação Internacional de Capoeira – FICA57 b) “um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (VIEIRA, 2005)58.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 54 Lima, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. DA CAPOEIRA: COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 55 In CAVALCANTI, Nireu. O Capoeira, Jornal do Brasil, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor) 56 CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977 57 Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 58 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40.


A “regulamentação” da Capoeira como atividade física dá-se nas primeiras décadas do século passado. Segundo Reis (2005) 59, e Vidor e Reis (2013) 60 foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva, destacando-se dois mestres baianos negros e originários das camadas pobres da cidade, Bimba - criador da capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiu-jítsu e luta greco-romana -, e Pastinha - contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. Para Reis (2005) 61, e Vidor e Reis (2013) 62, Bimba e Pastinha elaboraram, através da Capoeira, estratégias simbólicas e políticas diferenciadas que visavam em última instância, ampliar o espaço político dos negros na sociedade brasileira e propõem dois caminhos possíveis para a inserção social dos negros naquele momento histórico: “A capoeira "mestiça" representada pela capoeira Regional. Embora incorpore elementos de lutas ocidentais, a capoeira Regional guarda elementos que reafirmam a identidade étnica negra nas músicas, nos toques do berimbau e nos próprios movimentos que, conforme depoimento de mestre Bimba são provenientes também do batuque e do maculelê (Rego, 1968:33). Assim, a capoeira Regional, ao colocar em contato sistemas de valores distintos e, portanto, construções corporais distintas (os movimentos corporais brancos e os negros), opera uma mediação, criando um campo simbólico ambíguo e ambivalente: (a) A capoeira Regional seria uma afirmação de identidade que é mais ampla que a da capoeira Angola pois afirma não a existência do negro excluído da sociedade branca mas sua presença enquanto parte da sociedade brasileira e, finalmente, enquanto símbolo da nação como um todo. (b) tem no ecletismo de que faz prova (por exemplo, a incorporação de elementos de outras formas de luta e a nova racionalidade na maximização dos efeitos dos golpes) um elemento de dinamismo que permite a construção de uma nova presença negra no cenário nacional. (c) têm um preço a pagar por tudo isso, no plano político, que significa renunciar à afirmação de uma diferença na "identidade negra".

A capoeira Angola, em contrapartida: a capoeira “pura”, como forma inequívoca de afirmação da identidade étnica. A capoeira Angola, em sua própria designação, reafirma peremptoriamente sua origem étnica e, ao "conservar" a construção corporal negra, demarca uma forma culturalmente distinta de jogar capoeira. (a) existindo como resistência no momento de inclusão do negro na sociedade brasileira, só é revalorizada como reafirmação dessa mesma resistência em função da recuperação de uma "identidade negra" específica no cenário nacional, no bojo da construção política (contemporânea) de uma "consciência negra". (b) essa construção só se torna possível a partir de uma postura "conservadora", que reinventa a tradição e só se mantém com a recuperação simultânea dos outros elementos que, no plano simbólico, organizam essa "visão de mundo negra" (como por exemplo, a afirmação da origem africana da capoeira a partir do ritual de iniciação denominado dança da zebra ou "N'Golo").

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REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 60 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. CAPOEIRA – herença cultral afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2013 61 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 62 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. CAPOEIRA – herença cultral afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2013


Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro63 foi considerada: Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta: Expressão brasileira surgida nos guetos negros há mais de um século como forma de protesto às injustiças sociais, arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta, a capoeira foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. A decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi concretizada terça-feira (15) [de julho de 2008] no Palácio Rio Branco, em Salvador (BA).

Sendo definida como uma arte multidimensional, um fenômeno multifacetado - ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música - que tem na roda o ritual criado pelos capoeiristas para desenvolver esses vários aspectos64. Parto do entendimento de que a Capoeira é uma prática cultural no sentido mais dinâmico possível do termo. Mas, o que é a Capoeira? 65 Como podemos defini-la? Tenho encontrado as mais variadas respostas: capoeira é luta; capoeira é um esporte; capoeira é folclore; outros dizem que é um lazer; é uma festa; é vadiação; é brincadeira; é uma atividade educativa de caráter informal. Não me conformo com essas classificações simplistas e reducionistas; compreendi que a Capoeira é tudo isso... Compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança66. Para Mestre Tuti (2011) 67: A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de análises em seus diversos aspectos – teórico, técnico, didático, tático, filosófico etc. - e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um trabalho (entenda-se: Mestre, Professor, Instrutor etc.). Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira.

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CAPOEIRA É REGISTRADA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO - África 21 - Da Redação 16/07/2008 - http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 64 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 65 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 66 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 67 Mestre Tuti in Chamada na ‘Benguela’ -17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’


Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc68. A arte apresenta registros documentais e iconográficos desde o século XVIII69. O que é ‘capoeira’? Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 70. Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“? Conforme a conceitua Araújo (1997) 71 ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70).

Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando a Decisão (205) de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores) (ARAÚJO, 1997). Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968) 72: [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA – Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79) 73.

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COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1999 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. 70 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 71 ARAUJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPÓLIGAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA – de uma actividade guerreira para uma actividade lúdica. (S.L.): PUBLISMAI – Departamento de Publicações do Instituto Superior Maia (Porto), 1997. 72 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982 73 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007. 69


ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008.

Ou devemos entendê-la como: “... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira) 74; assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a “... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 3940) 75.

“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)76. “Carioca”uma briga de rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX 77. Para Câmara Cascudo (1972) 78, Capoeira: [...] jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. (Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore) 79.

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Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 75 PEREIRA DA COSTA, Lamartine. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Belo Horizonte: SHAPE, 2005, VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa - Capoeira - http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/escolher_linguagem.php; 76 LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 77 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC 78 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. 79

CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.


Para a capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. CAPOEIRA ANGOLA - a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha -; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano. CAPOEIRA REGIONAL - é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil. CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA – o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”: - CONTEMPORÂNEA – é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro; - ANGONAL – neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro – Mestre Boca e outros; - ATUAL – denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998) 80.

Do Atlas do Esporte no Brasil: “Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). “Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizandose, de modo geral, como uma atividade lúdica.” (VIEIRA, 2006) 81.

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VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 81 VIEIRA, Sergio Luiz De Souza. Capoeira. In DaCosta, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2005, p. 1.44-1.45) DaCOSTA, 2006, , obra citada. p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br


Na pesquisa realizada pelo IPHAN, ela é definida como: “[...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal. 82

Seguindo a justificativa do IPHAN, a partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, através do artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de reclusão), a repressão policial abateu-se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram considerados por muitos como “mendigos ou vagabundos”. Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas. 83. Mais adiante, durante a República Velha, a capoeiragem era uma manifestação de rua, afro descendente, e muitos dos seus praticantes tinham ligações com o candomblé, o samba e os batuques. A iniciação dos capoeiras nessas atividades acontecia provavelmente na própria família, no ambiente de trabalho e também nas festas populares. Ainda sobre o universo das ruas, estudiosos revelam que o cancioneiro da capoeira se enriqueceu dos cantos de trabalho, e que o trabalhador de rua, em momentos lúdicos ou de conflitos, também se utilizava dos golpes e movimentos da capoeira. 84. Consideram que já na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro-brasileiras começaram a ser discutidas, e passaram a constituir um referencial cultural do país. Ao final dos anos 30 a capoeira foi descriminalizada e passou de um extremo a outro, a ponto de ser defendida por historiadores e estudiosos como esporte nacional, considerada a verdadeira ginástica brasileira. A manifestação já foi apontada como esporte, luta e folguedo, e era praticada por diferentes grupos sociais, principalmente a partir do século XX. 85.. Assim, em 1937 “[...] a capoeira começou ser treinada como uma prática esportiva, e não apenas como uma “vadiação” de rua. Neste mesmo ano Mestre Bimba criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia. “A capoeira regional nasceu como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de aprendizagem, descreveu os golpes, toques, cantos, indumentárias especiais, batizados e formaturas. “Em seguida, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado através de métodos próprios. “A ideia da capoeira como arte marcial brasileira criou polêmica, pois era defendida por uns e criticada por outros, principalmente pelos angolanos, que afirmavam a ancestralidade africana do jogo.” 86.

82

IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 83 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 84 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 85 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 86 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (préprint). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print).


Na linha do tempo estabelecida pelos estudos do IPHAN, uma grande leva de capoeiristas chegou ao Rio por volta de 1950 oriundos da Bahia [a diáspora da capoeira baiana, no entender de Lacé Lopes]. O mais importante deles foi Mestre Arthur Emídio, que trouxe um estilo de capoeira diferente, de movimentação veloz e marcialmente eficaz, mas que mantinha orquestração musical. Ainda na década de 50 a capoeira passou a ser retratada e divulgada por artistas como Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger, entre outros. Nos anos seguintes, entre 60 e 70, ganhou espaço também nas produções artísticas do Cinema Novo, Tropicália e Bossa Nova.87 . Para os estudos do IPHAN, foi a partir de 1970 a capoeira se expandiu em larga escala pelo Brasil. A angola deve sua recuperação, em grande parte, à atuação de Mestre Moraes, aluno de Pastinha, a partir de 1980, com a fundação do Grupo Capoeira Angola Pelourinho, que fortaleceu sua prática na Bahia e a disseminou pelo centro-sul do país e no exterior. 88 . Em 1975 o esporte chegou à Nova York, e em 1990, Mestre João Grande inaugurou a primeira escola de capoeira angola dos EUA: Capoeira Angola Center: Apesar do fluxo de capoeiristas para a Europa e EUA ter-se iniciado a partir de 1970, a princípio para a realização de shows, e em seguida para a formação de novos grupos nesses locais, foi a partir dos anos 1990 que o movimento da capoeira se intensificou, alcançando hoje o status de prática cultural realmente globalizada [...]”89.

A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1984; (4) e daí até os dias atuais. Mestre Euzamor (2006)90 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Mário Martins Meireles (2012) 91 traz – embora se questione o uso da palavra capoeira em seu texto – que, por volta de 1702, “[...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.[...] (p. 98), referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas. Segundo Coelho (1997, p. 5) 92 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem lingüística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 93. Encontrei na correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça 94 em “A Amazônia na era Pombalina”, traz-nos carta de 87

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 88 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 89 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 90 MESTRE EUZAMOR in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC (anexo II) 91 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99. 92 ARAÚJO, 1997, obra citada. 93 ARAÚJO, 1997, obra citada, 94 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C.


Mendonça Furtado95 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: [...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...] (p. 300). (grifos do texto). Mundinha Araújo96 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira, no Código de Posturas de Turiaçú do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 97. Encontrei, ainda, que em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus).

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Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado 96 Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 97 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009


Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).98 De acordo com Mestre Bamba do Maranhão, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-de-Crioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga99: Para Ferreti (2006) 100, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula101. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira.

Fonte: LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: 2005, p. 18 98

[Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/ http://www.jornalexpress.com.br/ 100 FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf 99

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O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".


“Batuque”, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira102. Na biografia de Mestre Bimba 103, consta: Da fusão da capoeiragem de outrora (Primitiva) com o Batuque (Samba-Luta), nasce a Luta Regional Baiana ou Capoeira Regional Baiana, uma criação do Mestre Bimba, Manoel dos Reis Machado, que com sua criatividade desenvolveu uma “Metodologia de Ensino” [...] coisa que não existia pois a capoeira outrora era aprendida de “oitiva” (olhando). Instituiu uma forma de charanga (orquestra) e cancioneiro especifico (quadras e corridos), desenvolveu e preservou “Tradições”, criou e formalizou rituais (Entrar no Aço (batizado), Nome de Guerra, Cerimônia de Formatura, etc.). Em 1918 iniciou o ensino e criação da capoeira Regional Baiana e em 1928 o Mestre Bimba deixa o depoimento: “Em 1928, eu criei, completa, a regional, que é o Batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. Sua obra ganhou o mundo e graças a sua Capoeira Regional Baiana a capoeiragem chegou a lugares antes imagináveis: [...] “Eu não fiz capoeira para mim, eu fiz capoeira para o mundo”!!!

Mestre André Lacé 104, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas 105.

Fonte: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/03/bimba-cual-es-la-verdadera-historia.html 106 LIBRO: Artes do corpo Escrito por Vagner Gonçalves da Silva 102

CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 103 Disponível em CCCB, MESTRE BIMBA, disponível em http://capoeirabaiana.net/mestre-bimba/ 104 LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 105 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 106 SILVA, Vagner Gonçalves da (org.), ARTES DO CORPO 0 MEMÓRIA AFRO BRASILEIRA. São Paulo, Selo Negro Edições, 2004.


Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’: 1835 na Rua dos Apicuns, local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural:A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” (ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36).

Mestre Militar afirma que a capoeira no Maranhão tem seu inicio em 1835 (Costa, 2009) 107. 1843 o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “um outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor: Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em consequência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer consequências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192)108. 107

COSTA, C. A. A. História da Capoeira no Maranhão. In: < http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeira-domaranhao.html>. 108 CASTRO, César Augusto. CASTRO, C. A.. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007


A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184)109. Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842110, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? 1860 A IMPRENSA - CH RIBEYROLLES. VARIEDADES. A Fazenda (continuação do numero anterior), São Luis, 29 de setembro de 1860, p. 2 publica um artigo, dividido em partes, que apareciam em várias edições, como era costume na época, sob o titulo A FAZENDA: Jogos e danças dos negros – No sábado à noite, depois do ultimo trabalho da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e repouso, concede-se aos negros uma ou duas horas para a dança. Reúnem-se então no terreiro, chamam-se, grupam-se incitam-se, e a festa começa. Aqui, é a capoeira, espécie de dança física, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do Congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas, que os sons da viola aceleram ou demoram: mais além tripudia-se uma dança louca, na qual olhos, seios, quadris, tudo fala, tudo provoca; espécie de frenesi convulsivo e inebriante a que chamam lundu. Alegrias grosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tudo isto é nojento, é triste, porém os negros apreciam estas bacanaes, e outros aí encontram proveito. Não constituirá isto um sistema de embrutecimento?

. 1861 publicado em A IMPRENSA - OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia., p. 4, de 11 de dezembro de 1861 o seguinte: “[...] Serafim é um jovem de cara lavada, moreno, barba a lord Raglan, desempenado de capoeira, e andar de cahe a ré, como marinheiro tonto, ou redactor do Porto Livre, nas horas em que o sol procura as ondas do mar [...]” 1863 Josué Montello, em seu romance “Os degraus do Paraíso” 111, em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863 quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: "Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas." O que é confirmado por VIEIRA FILHO (1971) 112 quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato.

109

CASTRO, César Augusto. CASTRO, C. A.. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007 110 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001 111 MONTELLO, José. OS EGRAUS DO PARAÍSO. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 112 VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUIS. São Paulo: Olympia, 1971


Mario Meireles (2012) 113–, no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública (1863-1918), p. 222-225, referindo-se a falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: “Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima.” (p. 222).

1883 PACOTILHA – 24 fev. “Publicações a pedido: Negócios do Maranhão: [...] Outro facto do correspondente Eugenio Pavolide é de um preto capoeira, quem em junho passado, pôz em sobressalto a praça do Mercado e ruas adjacentes. Espancara um pobre homem e também as praças da policia [...]Até lá que viva que viva entregue à defesa dos Pavolides, os quais um deles talvez saldoso, o espera no hotel onde neste momento começou a purgar as suas façanhas de capoeira...” “(...) Pelas linguagens e pelas expressões de que nos temos servido nas diversas vezes que temos vindo à imprensa discutir negócios daquella sociedade evidencia-se que não temos aprendizagem de capoeira e nunca descemos ao circo de operações physicas.”. 1883, - PACOTILHA - 17 mar. –

1883, PACOTILHA - 25 junho – “(...) Os outros vaiaram no. Afinal accudiram em chusmas. Genibaldo fazia milagres de capoeira, sem conseguir approximar se delles, que o instigavão.” 1883, PACOTILHA 25 junho – 1883, PACOTILHA – 20 ago. “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia – que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)”.1883, PACOTILHA – 20 ago. 1883, PACOTILHA - 25 set “(...) sem mais interrogações, pó-se na perna, à frente da tropa, a sacudir o corpo n’ uns movimentos de capoeira, gingando de alegria e enchendo o ar de assovios silvantes.”1883, PACOTILHA - 25 set 1884 PACOTILA – 31 mar “ O magarefe Serafim, um crápula de força, cheio de insolência (...) Mas sendo o Serafim um capoeira traquejado, sahiu incólume da pendencia”. 1884 PACOTILA – 31 mar 1884, - PACOTILHA – 31 jul. “N’uma estação de urbanos: - Sr. Tenente, tenho seguro um capoeira. – Traga-o a minha presença. – Bem o quero fazer, meu tenente, mas o maldito não me quer largar.” 1885 PACOTILHA – 31 out. – em crônica acerca de estreia de uma peça de Artur Azevedo, no Rio de Janeiro – O mandarim – o comentarista refere-se aos tipos e a interpretação dos artistas: “(...) Barreto não foi infeliz em alguns tipos - o do capoeira e o do Jornal do Commercio optimos”.” 1885 - PACOTILHA – 30 nov. – sobre o lançamento da nova obra de Aluizio de Azevedo:

113

MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar). São Luis: Faculdade Santa Fé, 2012


1886 – PACOTILHA – 22 mai. -


1887 PACOTILHA – 17 set.


1888 PACOTILHA - 6 fev.

1889 PACOTILHA 23 jul. –


No mês de julho desse mesmo ano teriam ocorrido outras duas conferências em que os republicanos foram apedrejados pelos libertos de 13 do maio (denominados capoeiras) insuflados pelos monarquistas. (Fonte: Luiz Alberto Ferreira - Escola Caminho das Estrelas O MOVIMENTO REPUBLICANO NO MARANHÃO - 1888-1889). 1890 PACOTILHA – 27agosto


1899 PACOTILHA 14 jun, em Carolina


SÉCULO XX 1900 PACOTILHA 15 fev. em Cururupu


1901 PACOTILHA 24 jan – Um conto de Viriato Correa:


1901- PACOTILHA 20 mai, sobre a passagem de um cometa:

1902 PACOTILHA 21 abr


- JORNAL A CAMPANHA 20 set, p. 2 in “Sombrinhas – [...] Si tu fores homem, salta pr’á cá, torneou Eudamidas, tirando o palitot, e fazendo gestos de capoeira”. 1903 JORNAL A CAMPANHA 04 set, p. 2 in “Traças e Troças – de Geraldo Cunha: [...] Meus senhores, apesar de minha horripilante figura, do meu gingado de capoeira que faz lembrar o andarzinho do Godois, sempre me soube colocar na sociedade do homem [...]”. 1904 PACOTILHA 16 fev. uma crônica: O Travesseiro:

1909 – PACOTILHA 14 jun. JIU-JITZU: Noticia sobre a luta de Ciriaco com Maeda, ocorrida no Rio de Janeiro e adequação da Capoeira como luta nacional:



1911 DIÁRIO DO MARANHÃO 3 mar. PUF


Mas, já por essa época, a Capoeira recebi um tratamento como “esporte”, como se vê de notícias de jornais, assim como consta de livro sobre a História do Esporte no Maranhão, do grande jornalista esportivo Dejarde Martins: 1877 MARTINS (1989). In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO114. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (179).

Ou este anúncio, de 1884, em que havia um desafio entre um “Sansão do século XX; cabe ressaltar que era comum, desde a fundação de nosso teatro, a apresentação de espetáculos de força nos palcos, com ‘artistas’ se apresentando, identificando-se como discípulos de Amoros “THEATRO SÃO LUIZ 22 DE JUNHO DE 1884 – Terceiro e ultimo espetáculo – função de D. Máxmo Rodriguez, o invencível Sansão do Seculo XX – primeiro Hercules do mundo... terminará o espetaculo com o”

1884, PACOTILHA – 21 jun 1915 NASCIMENTO DE MORAES115, em uma crônica que retrata os costume e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utilizam o termo capoeiragem: A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000, p. 95).

Em outro trecho é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés 114

MARTINS, Dejarde Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís, s/e, 1989(?) NASCIMENTO DE MORAES. VENCIDOS E DEGENERADOS. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000. 115


para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”. (in MARTINS, 2005) 116

1918 O JORNAL – 27 abr. – A ESMO “Não a duvida: o Maranhão conquistou agora um dos elementos civilizadores de que carecia para ser uma cidade genuinamente moderna. (...) Já tínhamos, é certo, muitos outros: a pedra da memória, os bondes, o cais, o sorvete em carrocinha, a guarda noturna, o refresco de maracujá chupado por canudo, etc, etc. (...) No gênero esporte tínhamos já o foot Ball, com jogos adjacentes e diversões anexas,e já tivemos até a luta romana. (...) Faltava o Box. (...) Pois vamos ter o Box! [...] Acho que a coisa ficaria melhor assim: o Smith de maiollot e luvas de coiro, boxando; o João Pedro, de calça arregaçada e chapéu a ré, espalhando-se na cabeçada e na rasteira... Ai sim o meu entusiasmo vibraria, como vibrou quando eu li, nos telegramas da imprensa, aquela excelsa vitoria que, no Rio, sobre um mestre japonez de jiu jitsu, ganhou um capoeira do bairro da Saude, por meio de um genial e glorioso rabo de arraia! [...]”

- O JORNAL - 18 jul – Como se conta a História “Há muito o Martiniano Santos apregoava o seu incomensuaravel valor na capoeira, no rabo de arraia, etc. No bairro da Camboa ele era tido e havido como o campeão e, por isso, temido e respeitado em extremo. ([...]”

1920 O JORNAL – S. Paulo e os Jogos Olympicos da Antuerpia – [...] Em todas as (lutas) que conheço, que são, o jiu jitsi, a greco-romana, a livre, as cat-as-catche-can, a turca e até a ... capoeira se quizessem um numero genuinamente brasileiro.[...]”

1920 - DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 02 de dezembro – “Nos meandros da politicagem – O Urbano diz que tem medo do Machado e não confia no Domingues, o primeiro porque é um estratégico, o segundo porque é um capoeira...”

1921 O JORNAL – 1 fev - Entreatos “[...] Dei-lhe esperanças, v. avançou, pulou daqui pra acolá, fez capoeira e veio afinal, envergonhado, cair debaixo da verdade. [...]

1921 - PACOTILHA 18 OUT – DESPORTOS

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MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís: UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005


1922 O JORNAL – 3 jun – A INCONFIDFENCIA DO ICARAHY – Jil Veloso: “[...] Porque, Oldemar de Lacerda, cedo ou tarde, é fatal, fará de Sansão na tragicomédia reaccionaia. Não a (?) templos, compensal-o á, contudo que desbarate a barricada do messias de Pindotiba, a coices de capeira enfezado...”. 1922 - DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 26 de agosto – “Os industriaes de commissões – [...] Já o burocrata, entre apavorado e espavorido, enxugara, por tres vezes, o suor escachoante do rosto e mãos, quando o Chico Páo Pombo aproximando-se-lhe, em requebros de capoeira aposentado, propoz -: Prá que lado qué aderná, seo dotô!? (...) E, estendendo-lhe o braço esquerdo à altura do hombro direito, acurvou-se, rápido, para a direita – joelhos em flexão – e, retezando a perna d’esse flanco, impulsionou-a em sime-circulo para a frente! (...) E quando o pé de Páo de Pombo tocou o artelho esquerdo do misero Sancho, toda a assistência applaudiu, freneticamente, a queda desastrada de seu corpo cevado e flácido como uma bola de borracha... “.

1922 - DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 06 out – “Guarda Avançada – Hontem, às 21 horas, os senhores Carlos Burnett e Murilo Serra foram estupidamente agredidos por um guarda civil que terminou por convidar aqueles senhores para um ‘joguinho’ de capoeira ali mesmo na Praça Deodoro onde se deu o facto. (...)”.

1923 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 23 ago – “Um sportmen excêntrico – O quitandeiro da rua dos Affogados, canto com a da Cruz, tem lá as suas excentricidades. A de nosso homem, porém, não é das mais plausíveis, dado o seu gênero: insuflar garotos de pouca idade para “treinarem” o “box” e a capoeira, etc.(...) Hontem, às 18:15 horas tivemos ocasião de assitir um desses desagradaveis “treinos”, em sua casa comercial, por dois pequenos que ali foram comprar kerozsene e outros gêneros. (...) A assistência era enorme e composta dos mais intrangisentes ‘habiutés’. O exercício era um mixto de capoeira e ‘box’ importando em sérias quedas no chão encimentado [...]”.

1923 - A PACOTILHA – 05 set – OS DESORDEIROS

1924 – PACOTILHA – UMA REVELAÇÃO




1924 - A PACOTILHA – 02 AGO – UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE – O ULTIMO CAPOEIRA...




1925 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 31 jan – “LITERATURA – Serenata – [...] Assentados em bancos, numa bizarria interessante, estavam o Militão Gallinha, desdentado e morfanho, o Zezinho Côxo, o compadre Paulo – o Rei da Capoeira -, o Nenê de Adriana, o Paulinho das abacattelas e outros.”

1927 – 08 SET – NA POLICIA E NAS RUAS


1928 – PACOTILHA – 08 MAI

A segunda fase – que identificamos – é a dos anos 30/40, indo até meados dos anos 50. Não existem evidencias de que fosse, ainda praticada, a não ser algumas que dizem ser os estivadores da Rampa Campos Melo praticantes da “carioca”, assim como lembranças de que em Codó – sem precisar-se o período, também era praticada com esse nome; Cururupu também é mencionada, como cidade onde se praticava “a carioca”, nas palavras de um senhor, negro, à época da declaração, com mais de 80 anos: praticava na juventude, mas não era conhecida, aquela manifestação do movimento, como capoeira... Mestre Diniz diz que via os carregadores, no porto, praticando ‘capoeira’, quando vinha à cidade, junto com seu pai para fazerem compras; ficava na canoa, o aguardando; tinha, conforme dizia, entre 7 e 9 anos; como nascido em 1929, deveria ser lá pelo final dos anos 30: 1936/1938. Mestre Firmino Diniz teve os primeiros contatos com a capoeira ainda na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista daquela época: Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. 1933 NOTICIAS 14 jul – JANUARIO MIRANDA – Junius Viactor:


1935 A PACOTILHA 24 JAN – ‘BOM CRIOULO’ – nascimento Moraes – critica a livro de Adolpho Caminha:

1948 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 23 jul – “A OBRA SOCIAL DO P.S.T. – [...] Essa atitude desprimorosa, que caracterisa antes de tudo a mentalidade de capoeira dos seus autores, vem mostrar ao Maranhão e ao Brasil que aqui, na terra gonçalvina (...)” ANOS 50/60 Como podemos observar, há uma ‘primeira fase’ da Capoeiragem praticada no Maranhão, de seu aparecimento, no inicio dos anos 1800, e que vai até os anos 30/40, quando aparece no relato de alguns dos, hoje reconhecidos, Mestres mais antigo, em especial verificado pela ‘história de vida’ de Mestre Diniz, que se refere aos seus tios, e a outros capoeiras que vira ‘jogar’ em sua infância. Segundo Fábio Alexx (2012) 117, a capoeira tem indícios de ter aparecido no Maranhão na década de 1870, na região da Baixada. Todavia, há também registros que narram sua aparição entre 1830 e 1840, reaparecendo, já na capital maranhense, aproximadamente, 100 anos mais tarde: A partir daí esquiva-se para ressurgir no início da década de 1960, representada pela Academia Bantu, pioneira em capoeira no estado. À frente do projeto estava o aluno do Mestre Artur Emídio (1930-2011), o Mestre Roberval Serejo (1936-1971), um marinheiro que serviu a Marinha de Guerra do Rio de Janeiro e foi morto quando trabalhava na construção do Porto do Itaqui. Há vários relatos, portanto, inclusive de Mestre Patinho, que afirmam que Mestre Roberval Serejo foi antecessor de Sapo.

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ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html


Parte dos Mestres participes do Curso da UFMA/DEF 2017 desconhece, ou têm pouca informação, sobre a capoeiragem praticada antes de chegada de Serejo, do Grupo Aberrê, e logo em seguida, Sapo: GRUPO 4. Não era de nossa época, não tínhamos informações da mesma, nem da sua História e não das suas lideranças e grupos.118 GRUPO 5. Não, apenas tínhamos conhecimento através de pesquisas que existiam pequenos grupos de capoeiristas chamados ‘maltas’. 119 Mas a maioria tem algum conhecimento, embora restrito, e na maioria das vezes, se limita ao ‘ouvir dizer’, de antes das Rodas de Rua organizadas pelo Velho Diniz, ou mesmo Caranguejo: GRUPO 2. Existem relatos que existiam grupos de pessoas que se reuniam em vários pontos da cidade, tais como: Mercado Central, Praia Grande, nos Portos, Sítio do Apicum, e em frente ao Cemitério do Gavião. Nesta época não existia grupos de capoeira, mas existiam relatos que um cidadão cujo apelido Caranguejo se reunia nos fins de tarde com outras pessoas para realizar roda de capoeira nas imediações do Cemitério do Gavião.120 GRUPO 6. Temos conhecimento da existência da capoeira antes do Mestre Sapo e Roberval Serejo, liderada por sua vez por Mestre Diniz, que costumavam reunir-se na Barrigudeira e faziam suas apresentações na Praia do Olho D´Água.121 GRUPO 1. Todos concordaram conhecer parcialmente a sua História; todos concordaram que existiam grupos de pessoas, por exemplo, Betinho (hoje, Mestre Paturi). Elmo Cascavel, Babalú, Alderbam, Alô e Leocádio; (os líderes eram) Manoelito, Leocádio, Alô e Paturi; (quanto aos locais) Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas (antiga fábrica de arroz) 122 GRUPO 3. Entendemos que tem uma 1ª fase em 1835; os negros se encontravam no Canto da Viração, jogando ‘Carioca’; 2ª fase – final dos anos 50, com a chegada de Roberval Serejo, o qual formou o Grupo Bantu de capoeira; 3ª fase – em 1968, dá-se a chegada do Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo); promoveu várias atividades: criação das escolinhas de Capoeira; prática da capoeira nos CSU; representou o estado do Maranhão no Campeonato Brasileiro, em São Paulo; inseriu a Capoeira nos JEMs. 123 Kafure (2017) 124 não sabe dizer quem eram os líderes daquelas rodas de rua, mas sabe “[...] que existiam as práticas do Tarracá125 e da Pernada ou Punga dos Homens126”. 118

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 120 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 121 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 122 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 123 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 124 ROCHA, Gabriel Kafure da. DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz através de mensagem eletrônica, datada de 25 de agosto de 2017. 125 Ver: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – O TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. REI ZULU E SEU ESTILO DE MMA – O “TARRACÁ” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. . SAPO x ZULU. DEU ZULU... 126 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “PUNGA DOS HOMENS” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE A “PUNGA” – VISITAÇÃO A CÂMARA CASCUDO VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO(A) 119


Podemos estabelecer que, naquele final dos anos 50, quando da chegada de Roberval Serejo de volta à cidade, que o Velho Diniz já mantinha suas ‘rodas’ em alguns lugares da cidade. Para Boás (2011)127, a capoeira começou realmente a dar as caras na década de 1960, aparecendo vários praticantes que ficaram conhecidos: Nessa época começou a circular pela cidade o nome de Roberval Serejo, que estava de volta a São Luís, pois estava servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e lá aprendeu capoeira com o mestre baiano Arthur Emídio. Com o tempo, Serejo foi reunindo amigos e admiradores e formou um pequeno grupo de capoeira, que fazia seus treinamentos nos quintais de suas casas e na rua mesmo. O grupo foi crescendo e, em 1968, criou-se a primeira academia de capoeira de São Luís, chamada Bantu. Esse grupo contava com Roberval Serejo, o Capitão Gouveia (sargento da polícia militar), Babalu, Bezerra, Ubirajara, Jessé Lobão, Patinho, dentre outros. A primeira sede do grupo foi o Sítio Veneza, onde hoje funciona a Guarda Municipal, no bairro da Alemanha. Depois se mudou para a casa de Babalu, na Rua da Cotovia, próximo a Igreja de São Pantaleão. Roberval Serejo era escafandrista e morreu em 1971, quando trabalhava mergulhando, durante as obras do Porto do Itaqui. Com a sua morte, muitos de seus alunos deixaram de treinar, mas outros continuaram e o que mais se destacou e continuou a dar aulas foi o Sargento Gouveia.

Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 128. 129

Greciano Merino (2015) ao discorrer da (re)introdução da capoeira no Maranhão faz referencia às mudanças conjunturais sócio-pol-iticas que acomretiam o Maranhão naquele períod0o, com a substituição das 130 131 oligarquias dominantes – Vitorinismo e depois, pelo Sarneysmo – e a ‘formação de um Maranhão Novo”:

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM) REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 Disponível também em http://www.capoeiravadiacao.org/index.php?option=com_content&view=article&catid=10%3Abiblioteca&id=46%3Apungados-homens-tambor-de-criouloa-qpunga-dos-homensq&Itemid=38 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens+-+capoeiragem+no+maranhao 127 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 128 MARTINS, 2005, obra citada. 129 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada 130 VITORINISMO - Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1945 a 1965, que teve no senador Vitorino Freire a sua figura de realce. BUZAR, Benedito. EU E O VITORINISMO, domingo, 23 de novembro de 2014. In Blog do Buzar, https://www.blogsoestado.com/buzar/2014/11/23/eu-e-o-vitorinismo/ Para CALDEIRA (1978, p, 60) “o vitorinismo, com efeito, foi um coronelismo. Das suas formas de ação excluiu-se a propensão para a dominação econômica. Nesse caso (ao nível de Estado), essa dominação se processava de forma indireta, ou seja, por meio do apoio que dispensava às suas bases de sustentação, através da concessão de garantias específicas. No plano político propriamente dito – esfera exclusiva do interesse do vitorinismo – a sua ação se centrava em torno do controle dos partidos políticos e das sub-lideranças políticas com ele identificadas que, juntamente com os coronéis do estado davam a configuração real do vitorinismo”. CALDEIRA, José de Ribamar. Estabilidade social e crise política: o caso do Maranhão. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 46, p. 55-101, 1978. 131 SARNEISMO Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1965 até os dias atuais, que teve no Presidente José Sarney Costa a sua figura de realce. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sarney http://atlas.fgv.br/verbete/4909 A era Vitorinista perdurou até 1965, quando entra em voga o nosso próximo monarca: Sarney, que toma posse em 1966 no Governo do Estado. A era Sarney iniciou-se em 1965, no entanto, o crescimento do seu nome começou na eleição de 1960 com a ascensão de Newton de Barros Belo, eleito governador pelo PSD-PTB-UDN. Nesta época, Vitorino começa a perder prestígio junto ao governo de Jânio Quadros e cresce o de José Sarney. Assim, Sarney passa a ser o principal interlocutor entre


[...] En esa coyuntura socio-política la capoeira, desde el campo de las representaciones y del imaginario, encuentra su espacio dentro de las dinámicas, conflictos e interacciones de los procesos que modelan, adaptan y transforman la identidad maranhense. Souza (2002)132, Martins (2005)133, Vaz (2005)134 y Pereira (2009)135, destacan la figura de tres capoeiras como los principales responsables por esa reconstitución: Roberval Serejo, Firmino Diniz (Mestre Diniz) y Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo).

Mais adiante, sobre os prioneiros dessa tradição da implantação da capoeira nos anos 60, coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio136 durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ 137. A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015)

Esse pesquisador caracteriza a capoeira praticada nessa época, que não possuía ‘organização’, apesar de ser definada a Bantu como ‘academia’, pois esta não tinha uma estrtura formal, como as atuais escolas/academias e/ou grupos/núcleos de Capoeira: La capoeira era practicada de una forma empírica sin metodologías definidas ni lugares preparados, surgía en los patios de las casas, en la sala de estar de algún iniciado o iniciante y en espacios de la calle apartados de lugares muy transitados. (GRECIANO MERINO, 2015).

A Capoeira, por essa época, era marginalizada, conforme já dito em diversos depoimentos. Afirma Greciano Merino (2015): No debemos olvidar que la capoeira estaba todavía bastante discriminada y existía un amplio prejuicio a su alrededor. En este sentido el Maestro Til (Gentil Alves) afirma que “(...) en aquella época entrenábamos casi escondidos, porque a la policía no le gustaba, decían que era cosa de delincuentes”138; o como afirma el Maestro Indio: “Cuando comencé en 1972 y hasta 1984, la capoeira era marginalizada dentro de São Luís, todo capoeira era considerado vagabundo, marginal, ‘porrero’, alborotador”139. La capoeira, como se percibe a través de estos testimonios, no despertaba el interés de una población aprensiva y estaba lejos de cualquier reconocimiento por parte de los poderes estatales y de las autoridades. Por eso, la intención de Serejo al formar este grupo sería realizar exhibiciones

Newton Belo e o Palácio do Planalto. http://blogdocontrolesocial.blogspot.com.br/2012/06/um-breve-relato-da-historiaoligarquica.html 132 SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. 133 MARTINS, 2005, obra citada. 134 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf 135 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009. 136 599 Capoeira de Itabuna, al sur del Estado de Bahía, que se trasladó a Rio de Janeiro a principio de los años cincuenta donde desarrollaría un importante liderazgo en el desarrollo de la capoeira de vertiente mas deportiva. (GRECIANO MERINO, 2015) 137

Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. Véase: Pereira, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. (GRECIANO MERINO, 2015) 138 Véase: Pereira, Roberto Augusto A. O mestre Sapo, a passagem do quarteto Aberrê por São luís e a (des)construção do “mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. Recorde: Revista de História do Esporte, Vol. 3, número 1, junio de 2010, p. 6. (GRECIANO MERINO, 2015)


públicas “con pantalón, camiseta y calzado (conga) de la misma forma que había aprendido con el maestro Artur Emídio en Rio de Janeiro”140. (GRECIANO MERINO, 2015).

O desconhecimento de uma história da capoeira no Maranhão, antes da chegada de Roberval Serejo – final dos anos 50 – vem de criar o ‘mito’ de que esse “Renascimento” da capoeira em São Luís se dá justamente com a sua chegada e, logo após, a criação do Grupo “Bantus“ (PEREIRA, 2010; KAFURE, 2012, GRECIANO MERINO, 2015) 141, do qual participava além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio, os Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].142 Por esa época, Roberval Serejo era o principal nome da Capoeira no Maranhão, conforme Greciano Merino (2015)143:

Roberval Serejo adquirió una significativa popularidad y se convirtió en el líder de ese movimiento en la ciudad, como confirma el testimonio del maestro Diniz: “Roberval llegó aquí primero (...) si hubo alguien que detonó ese asunto de la capoeira por aquí fue Roberval Serejo”. Pero un accidente de trabajo en la construcción del puerto de Itaquí ,donde trabajaba como escafandrista en el servicio de salvamento, acabó con su vida en junio de 1971. Con su muerte el grupo se desagregó y sus integrantes siguieron caminos dispares. El maestro Firminio Diniz (1929-2015) se sintió apasionado por la capoeira desde su infancia, recuerda que “cuando iba con su padre a la ciudad mientras éste iba a comprar él se quedaba en el barco desde donde veía a los estibadores jogar capoeira en la rampa Campos Melo”144.

Mestre PATURI, em depoimento relata que: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e Logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. (ANTONIO ALBERTO CARVALHO , 2017, Depoimentos) 145 .

Firmino Diniz, conhecido também como Mestre Diniz ou Velho Diniz também serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu Mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo e 139

Véase: Sousa, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. p. 50. 140 Pereira, Roberto Augusto A. Op. Cit., 2009, p. 6. 141 PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: RECORDE: REVISTA DE HISTÓRIA DO ESPORTE. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010. ROCHA, 2012, obra citada GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 142

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: edição do autor, 2013; 2015 (2ª Ed. Revista e atualizada), disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao ; issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 143 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 144 Véase: Vaz, Leopoldo y Vaz, Delzuite. A Carioca. Op. Cit., 2013, p. 1. 145 MESTRE PATURI – ALNTONIO ALBERTO CARVALHO. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, UFMA/DEF 2017.


posteriormente com Gouveia passaram a freqüentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o Mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 146.

Augusto Pereira (2010) 147 destaca, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de Mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital.148 Para Greciano Merino, Cuando abandonó la marina y regresó a São Luís, a finales de la década de 1960, quiso dar continuidad a aquello que había aprendido, pasando a promover periódicamente una roda durante los domingos por la mañana. Es decir, fue uno de los principales responsables por la estructuración y difusión de las rodas de capoeira en São Luís, puesto que, desde su punto de vista, la capoeira era un arte popular que precisaba ser mostrado en público. En ese sentido afirma: “comencé a desarrollar la capoeira, a divulgarla, mi intención era hacer con que todo el mundo supiese que existía esa cosa folclórica bonita que era la capoeira, quería demostrar que no se necesitaba ir al teatro y pagar caro para ver una cosa bonita, en la calle también acontecía, cuando hacíamos rodas se llenaba de personas que querían asistir”149. Hasta ese momento las rodas carecían de ritual, los capoeiras se reunían en la puerta de un bar, en la casa de algún capoeira, en la propia calle o en la playa y comenzaban a intercambiar “pernada”. El maestro Ribaldo “Branco” recuerda que “en esa época esas brincadeiras que hacíamos no tenían berimbau, el berimbau solo va aparecer después, con Diniz, antes de eso la roda era sólo batiendo palmas o tocando pandeiro, la mayoría de las veces era sólo con palmas” 150. Diniz, siguiendo la corriente que había conocido en Rio de Janeiro, introdujo elementos rituales e instrumentos que no existían en las rodas de la calle, como él mismo recordaba: “yo construí los instrumentos. Yo hice el agogô, anduve por las cerrajerías, mi agogô pesaba casi cuatro kilos, compre dos atabaques, todo de cedro, yo mismo cubrí, compre el cuero, conseguí pandeiros, conseguí los berimbaus, fui a buscar alambre en las casas de neumáticos, sacaba el alambre, ese esfuerzo fue para atraer a las personas a las rodas. Ellos venían y cuando yo no podía ir, iban a buscar los instrumentos en casa” (GRECIANO MERINO, 2015)151

Graciano Merino identifica os frequentadores dessas rodas promovidas pelo Velho Diniz, segundo depoimentos que colheu: Sargento Gouveia, Babalu, Alô, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Ribinha, Sururu, Alan, Gordo, Theudas, Mimi, Raimundão, Sansão, Pavão, Naasson (‘cara de anjo’), Faquinha, Valdeci, Curador, Paturi, Rui Pinto, Alberto Euzamor, Elmo Cascavel, Patinho, Bambolê, Manoel Peitudinho, Cural, De Paula, Didi, Miguel, Joãozinho (Wolf), Cordão de Prata, Esticado, La Ravar... entre otros. (GRECIANO MERINO,

2015) Sem dúvidas, que Diniz foi figura fundamental porque conseguiu inserir a capoeira no sistema de pensamento da cidade. Isto é: 146

PEREIRA, 2009, obra citada. PEREIRA, 2010, obra citada 148 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 149 PEREIRA, 2009, obra citada, p. 12. 150 PEREIRA, 2009, obra citada, p. 113 151 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 147


[...] gracias a la acción de este emprendedor, las rodas emergen como un elemento hologramático en el mecanismo del sistema complejo-ciudad. La ciudad, en tanto que sistema orgánico, pasa a reconocer la existencia de la capoeira como uno de sus múltiples elementos interactuantes, dotada de una autonomía relativa y cohesionada de forma involuntaria con el conjunto urbano a través de sus múltiples interacciones con otros agentes, planos, niveles y temporalidades. (GRECIANO MERINO, 2015) 152 .

Em 1966, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões – sede do governo estadual. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues – Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira:153 Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, ‘a época, menores de idade: - Locais das exibições de Canjiquinha fora da Bahia, dentre elas: “1966 – Maranhão – Bacabal, no teatro de Arena Municipal; São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da Capital; Ginásio Rodrigues Costa”. (Rego, 1968, p. 277 citado por MARTINS, 2005) 154. Capoeira no ginázio Será, finalmente, hoje, no Ginázio Costa Rodrigues, a exibição de Canjiquinha o rei da capoeira baiana que juntamente com Brasília, Careca e Sapinho formam um discutido quarteto... Entusiasmo do Governador Sexta-feira última Canjiquinha e seus colegas fizeram uma demonstração no Palácio dos Leões para o governador José Sarney e sua família...155.

FOI SUCESSO ABSOLUTO A APRESENTAÇÃO DOS CAPOEIRISTAS BAIANOS Na noite de ante ontem, foi realizada a primeira apresentação em público dos "capoeiristas da Bahia" que se encontram em São Luís, tendo a apresentação dos mesmos agradado a seleta platéia que compareceu ao ginásio coberto do Campo do Ourique. Aplaudido delirantemente Os "capoeiristas" foram aplaudidos delirantemente pelo público, durante a hora e meia de apresentação de um sem números da luta de "capoeira" e do folclore africano, o que veio demonstrar o alto grau cultural do nosso público, para apresentações dessa espécie, quando <<Canjiquinha>> mais uma vez com seus pupilos brilharam em seus esmerados trabalhos. Nova apresentação Dado o êxito alcançado artisticamente pelos representantes baianos no esporte-folclore da "capoeira", os patrocinadores da referida temporada resolveram fazer nova apresentação, desta vez na noite de domingo vindouro, proporcionando assim que maior número de ludovicenses possam presenciar a difícil

152

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes 154 REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968) 155 JORNAL PEQUENO, 16 de junho de 1966 153


arte de luta de <<capoeira>>, que cada dia vem tomando vulto em todo o território nacional, no emprego da defesa pessoal.156.

Em 1966, Mestre Sapo, incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e, em 1967 Mestre Sapo retorna a São Luis para trabalhar na construção civil, e posteriormente na Secretaria de Agricultura. Em 1972, começou a dar aulas de capoeira, no ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Sapo morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis, vítima de atropelamento.157 De acordo com Kafure, A história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha era composta por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer agora no final de 2011. Considerando então uma capoeira desconstruída, a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem". (KAFURE, 2012) 158

Mestre Patinho assim se expressa: [...] bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio (sic) e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. Daí por volta de 62 e 63 (sic, a data correta é 1966) esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. 156 157

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O IMPARCIAL, 18 de junho de 1966 http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html ROCHA, 2012, obra citada


Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão.159

Fábio Allex (2012) 160 conta que: Em 1965 (sic), Mestre Patinho, já totalmente inserido e embriagado pela fonte da capoeira, conhece Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, discípulo do baiano Washington Bruno da Silva, o Mestre Canjiquinha (1925-1994), em oportunidade de demonstração realizada no Palácio dos Leões (essa demonstração foi em 1966). Por conseguinte, Sapo, de acordo com relatos populares, fixa residência em São Luís, possivelmente a convite de integrantes da gestão do então governador do Estado José Sarney (ano de 1968). O intuito seria promover a capoeira, o que o colocaria no posto de referência mais efusiva e responsável pela reaparição do jogo-arte durante a década de 1970, no Maranhão, além de ter sido também o mais proeminente incentivador e professor de Patinho.

Patinho afirma que conheceu Sapo em 1967 (?) numa roda na Ponta d´Areia: Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente, estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas161. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.162

Nas rememorações dos diversos praticantes de capoeira desse período, as datas são desencontradas – como natural, após tantos anos passados. Sapo – Anselmo Barnabé Rodrigues – só retorna à São Luis dois anos depois da passagem do grupo de Canjiquinha: [...] Foi então que Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues) voltou com o grupo para Salvador para pedir autorização para seu pai, pois ainda era menor de idade (tinha 17 anos), retornando em seguida a São Luís para ensinar capoeira. (MARTINS, 2005) 163. 159

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira, aluno do Curso Seqüencial de Educação Física, da UEMA, em trabalho apresentado à Disciplina História da Educação Física e dos esportes, ministrada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 2006. 160 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 161 PROFESSOR DIMAS, como é conhecido ANTONIO MARIA BEZERRA DE ARAÚJO, professor de educação física, só retorna do Pindaré para São Luís no ano de 1969: Quando voltou do Pindaré, em 69, no começo do ano, foi procurar emprego, indo trabalhar no Colégio Batista Daniel de La Touche e no Colégio Maranhense, dos Irmãos Marista, e fez um curso para ir para o CEMA. In VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz; ARAÚJO, Denise Martins de; VAZ, Delzuite Dantas Brito Vaz. Querido professor Dimas (Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) e a educação física maranhense: uma biografia. Buenos Aires, REVISTA EDUCACION FÍSICA Y DEPORTOS, ano 8, maio de 2001, disponível em http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 Mayo de 2002 Ver também: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins. QUERIDO PROFESSOR DIMAS – Antonio Maria Bezerra de Araujo e a educação física maranhense (uma biografia autorizada). São Luis: Viva Água, 2014; 162 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira, aluno do Curso Seqüencial de Educação Física, da UEMA, em trabalho apresentado à Disciplina História da Educação Física e dos esportes, ministrada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 2006. 163 MARTINS, 2005, obra citada.


Patinho, em depoimento a Martins (2005) 164, diz que conheceu Sapo através do Professor Dimas, quem o recrutou para a Ginástica Olímpica, procurando pessoas para essa modalidade entre alguns capoeira que a praticavam no Parque do Bom Menino – Raimundão estava entre eles... -; acontece que Dimas só vem a implantar a Ginástica Olímpica em 1972/73165... O Grupo de Mestres (seis, conforme divisão para os depoimentos, em comum), assim se manifesta sobre esse período de transição, dos anos 60 – chegada de Serejo e Sapo – até o meado dos anos 80, já com a morte de ambos: a. Quanto à definição: GRUPO 1. Era Capoeira de Rua (fundo de quintal) 166. GRUPO 2. Capoeira de Rua167 GRUPO 5. Nesse período definimos como ‘capoeiragem’, com as características de realizações de rodas de rua, praças e praias e logradouros168 b. Quanto às características: GRUPO 1. o jogo era feito ao som do disco vinil na porta de casa169; GRUPO 3. se caracterizava como capoeira objetiva (luta) 170; GRUPO 4. Como a capoeira maranhense ficou a característica de Angola e da Capoeiragem171 GRUPO 6. Como uma capoeira educativa, sua característica: a inclusão de floreios acrobáticos, uma formação de bateria e seus cânticos172 c. Quanto às principais lideranças: GRUPO 1. a partir da Escolinha do Mestre Sapo173 GRUPO 2. Praticada por Serejo e seu Grupo Bantu174; GRUPO 4. os principais líderes: sapo, Serejo, e Diniz175. GRUPO 6. tendo como principal liderança o Mestre Sapo176. d. Podemos falar, a partir daí, de uma Capoeira do Maranhão – ou Maranhense e/ou Ludovicense -?

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MARTINS, 2005, obra citada VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 166 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 167 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 168 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 169 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 170 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 171 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 172 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 173 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 174 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 175 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 176 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 165


GRUPO 1. Não177. GRUPO 3. sim, com certeza: a partir dessa época temos dados que comprovam a organização e formação da Capoeira do Maranhão178. GRUPO 5. Sim, podemos dizer que a partir daí surge uma capoeira ludovicense179 Kafure (2017) 180, em correspondência pessoal, confirma a existência de uma capoeiragem maranhense, mas que não se trata de uma modalidade (estilo?) mas sim, uma identidade; afirma: Pelo o que eu entendo existe a capoeiragem maranhense, que não é uma modalidade da capoeira, mas sim uma identidade. Nesse sentido, a capoeiragem maranhense é como se fosse uma camada da realidade da capoeira no Maranhão, é como se ela sempre existiu e continua existindo, mas fica por trás das segmentações de angola, regional ou contemporânea. Ou seja, ela existe na maneira do capoeirista lidar com o outro e expressar o seu próprio amor pela cultura capoeirística.

Prossegue: Eu acredito que existam três ou quatro períodos, basicamente o antes de Sapo, o de Sapo, o de Patinho e o de depois de Patinho. Por essa via, não sei dizer como está atualmente, mas a atividade da capoeira, pelo menos no centro de São Luís, esteve muito ligada ao Tambor de Crioula e a boêmia que envolvia esse círculo de pessoas (KAFURE, 2017) 181

ANOS 70 ATÉ MEADOS DE 1980 As rodas de rua de São Luís continuaram acontecendo durante boa parte da década de 70, lideradas pelo Mestre Diniz e freqüentada pelos capoeiras remanescentes da Bantu e pelos alunos mais velhos e experientes do Mestre Sapo, como: Jessé, Alô, Loirinho e Manuel Peitudinho. Segundo Mestre Pato, “Mestre Sapo proibia seus alunos mais jovens de participarem das rodas de rua, pois os que a freqüentavam eram os que já tinham mais autonomia”.

Para Greciano Merino (2017) 182: El maestro Sapo quiso tener el control absoluto de la capoeira en São Luís y vetaba cualquier tipo de práctica que escapase de su control, pues consideraba que podría perjudicar la imagen de la capoeira y, por consiguiente, el trabajo educativo-deportivo que estaba desarrollando como representante del organigrama gubernamental. No admitía la presencia de otros maestros en la ciudad, quería ser la única referencia aplicando el principio taxativo: “o estas conmigo o no estas con nadie”. Sapo era uno de los capoeiras mejor preparados del país, en 1978 fue subcampeón del peso pesado en el I trofeo Brasil de Capoeira disputado en São Paulo. Por eso, casi nadie tenía el coraje de enfrentarle dentro de la roda, su 177

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 179 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 180 ROCHA, 2017, obra citada. 181 ROCHA, 2017, obra citada. 182 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 178


sola presencia intimidaba y su nombre era temido en el ámbito de la capoeira local. El maestro Açogueiro recuerda como le ayudó en innumerables ocasiones a detonar alguna roda que estuviese aconteciendo en la ciudad, planeaban como debían llegar y salir del lugar y, una vez allí, o las personas entendían que tenían que acabar o Sapo usaba al propio Açogueiro para jugar sucio y que se generase una confusión donde él intervenía. El único movimiento que respetó durante la década de 1970 fue la roda del maestro Diniz, aunque, como confirma el propio Diniz, también fue advertido por Sapo: “Me dijo que le gustaría que yo no hiciese estas fiestas de capoeira en la calle, para no crear problemas sociales (...) ‘tu puedes hacerlas, pero no cuentes conmigo’, de manera que nadie le vio nunca en las rodas que yo hacía”183. Él era muy celoso de lo que ocurriese con sus alumnos y les aconsejaba que no participasen de esas rodas en la calle, pues no se responsabilizaba de lo que les ocurriese en esos lugares. Si se enteraba que alguno de sus alumnos había sido golpeado o humillado en alguna roda, él personalmente se ocupaba de vengar la afrenta.

Mestre Rui lembra de que nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participavam de diversos campeonatos, tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, [...] onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na Casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos anos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornouse cabo do Exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do Exército, grande capoeirista da época184.

Índio do Maranhão185 vem conhecer capoeira através da televisão, conforme recorda: Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão.

Continua: [...] foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. 183

Apud. PEREIRA, 2009, obra citada, p. 25 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 185 MESTRE ÍNDIO DO MARANHÃO – OSIEL MARTINS FREITAS. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 184


[...] em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fatopode, Nelson Galinha, Geraldo Cabeça, Manoel Pretinho, Cesar Dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca Diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro. De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo Cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mas sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua, e sobre seu comando.

Mestre Curió186 era praticante de karatê, quando veio a conhecer a Capoeira, conforme lembra: Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionou-a com a Punga dos Homens 187, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes.

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MESTRE CURIÓ – JOÃO PALHANO JANSEN. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, por ocasião do Curso de Capacitação dos Mestres capoeia do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 187 Sobre a Punga dos Homens, ver: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Pungada dos Homens & A Capoeiragem no Maranhão - MESTRE BAMBA, do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/20/cronica-da-capoeiragem-punga-dos-homens-algumas-novasconsideracoes/ HAIKEL, Marco Aurélio. A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA. Conferencia de abertura do evento A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA. São Luís, 18 de maio de 2012 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO (A) -“PUNGA DOS HOMENS”. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA. Volume 09, Número 02, jun/dez 2006 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Punga dos Homens e Capoeira no Maranhão. In DaCOSTA, Lamartine PEREIRA. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006 disponível em WWW.atlasdoesportebrasil.org.br HAIKEL, Marco Aurélio. Tambor-de-Crioulo(a) no Maranhão. In DaCOSTA, Lamartine PEREIRA. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006 disponível em WWW.atlasdoesportebrasil.org.br REIS, José Ribamar Sousa dos. Tambor-de-Crioula. In FOLCLORE MARANHENSE, Informes. 3 ed. São Luís : (s.e.), 1999, p. 35 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL estendida CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/ainda+sobre+a+punga+dos+homens+-+maranhao VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... disponível em http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/29/3702/


Essas rodas aconteciam em vários pontos da cidade, como o Parque do Bom Menino, Madre Deus e Praça Gonçalves Dias, mas o local preferido era a Praça Deodoro. Segundo Mestre Patinho, essas rodas eram muito violentas e havia uma estreita relação de alguns participantes com a criminalidade. Daí a preocupação do Mestre Sapo em relação à participação de seus alunos nessas rodas.

A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo: [...] faziam parte do grupo os alunos Manuel da Graça de Jesus da Silva (Manuel Peitudinho), “Alô”, “Elmo” e Antônio José da Conceição Ramos (Patinho), de acordo com o testemunho de Mestre Patinho. Seu Gouveia contou que a academia Bantu funcionou até aproximadamente 1970, data suposta em que o Mestre Roberval Serejo faleceu, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui. (MARTINS, 2005) 188.

Kafure (2017) 189 acredita que Sapo – da linhagem de Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de re-educação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’: Eu já ouvi os mais velhos falarem, de como Sapo veio da linhagem de Canjiquinha e que conseqüentemente acabou escolhendo se estabelecer no Maranhão, onde desenvolveu um importante trabalho de uma re-educação das lutas e ritos primitivos dos valentões da ilha, por assim dizer.

Lembra Mestre Rui190: Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, nos reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão.

Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos191, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira192, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores:

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ – Elástico aplicado pelo Mestre Marco Aurélio, disponível em http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/22/tarraca-elastico-aplicado-pelo-mestre-marco-aurelio/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO. Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. 188 MARTINS, 2005, obra citada. 189 ROCHA, 2017, obra citada. 190 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 191 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito) 192 VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada.


Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê. Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Segundo Mestre Índio (Oziel Martins Freitas), ele utilizava exercícios como corrida, polichinelo e flexões para essa preparação. Mestre Sapo se ele se definia como angoleiro ou regional, encontramos o seguinte: 9 alunos responderam angoleiro e os outros 6 responderam que ele não se definia unicamente como angola ou regional, pois ensinava as duas vertentes. De acordo com Antônio Alberto de Carvalho (Mestre Paturi), ele falava em capoeira de angola, mas ensinava misto, ou seja, angola e regional. Segundo o Mestre Pato, ele se definia somente como capoeira e que ensinava “as três alturas, as três distâncias e os três ritmos”. Nestes aspectos, ele se referia ao jogo alto, baixo e médio; ao longe, perto e o médio; e aos toques de angola (lento), São Bento pequeno (médio) e São Bento grande (acelerado). Acreditamos que esses fundamentos em capoeira que Mestre Sapo praticava são heranças de seu Mestre (Canjiquinha) que também os usava, de acordo com a confirmação de Mestre Pato. Além dessas influências, Mestre Sapo utilizava alguns movimentos da Capoeira Regional que ganhou muito mais projeção na década de 70 do que a de angola. (MARTINS, 2005) 193

Mestre Rui lembra que se iniciou com Sapo, pois [...] nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do Ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula194. Mestre Patinho retrata bem essa busca de qualificação, através da prática de outras modalidades da lúdica e do movimento, para se situar como ‘Mestre Capoeira’: Eu sou formado em Educação Física licenciatura, tenho especialidade em ginástica olímpica masculina e feminina, né? Exerci minha vida quase inteira como arte-educador na área do corpo, né? E tenho, fiz quinze anos na ginástica olímpica como atleta, depois como técnico da seleção maranhense, fiz dez anos de judô, oito anos de balé clássico, oito anos estudando a educação física mesmo, né? E quatro anos de jiu jitsu, dois anos de boxe, nove anos de caratê, cinqüenta anos de capoeira que eu vou fazer ano que vem, né? Dançarino popular também, danças populares, sonoplasta, sou ator, né? E vim de uma aborrecência muito difícil, então pra ti entender mais essa questão tem que ter o portifólio... 195 Mestre Rui Pinto lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, freqüentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol: No mesmo período já com 15anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira 193

MARTINS, 2005, obra citada. RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 195 BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 194


não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados196. Mestre Gavião197 lembra dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: [...] ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. Segundo Laércio Elias Pereira (1982) profissional, na área da Educação Física:

198

, Mestre Sapo buscava, constantemente, uma qualificação

[...] pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraias nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo.[...] Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física ia ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: ‘Fique calmo!’, ‘Olha o bíceps!’.

No ano de 1978, Mestre Sapo, juntamente com o seu discípulo Pato, participaram do primeiro Troféu Brasil, o que seria o primeiro campeonato brasileiro de capoeira, promovido pela Confederação Brasileira de Boxe (CBB). Ambos foram vice-campeões em suas respectivas categorias, sendo que o resultado do Mestre Sapo foi muito contestado pelo público e pelos Mestres presentes, fazendo com que a organização do evento lhe homenageasse com uma medalha de ouro. Segundo Mestre Pato199: Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da 196

RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 197 MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 198 PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, SEDEL. Revista DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17 199 MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006.


Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. Ainda nesse ano de 1978 que Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente.

Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão. Conforme os Mestres: GRUPO 2. Após a morte de Sapo o ciclo dele se encerra 200 GRUPO 1. Deu-se uma parada nas Rodas, nas Praças – Gonçalves Dias201 GRUPO 5. [...] a capoeira saiu das ruas 202 GRUPO 6. Deu-se o esfriamento do movimento da capoeira203

Com a (re) estruturação da Educação Física e Esportiva, iniciada por Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão 204 e a conseqüente implantação dos Festivais Esportivos da Juventude – FEJ – e, depois, Jogos Escolares Maranhenses – JEMs -, o Ginásio Costa Rodrigues recebeu várias ‘escolinhas de esportes’, dentre elas, a de Capoeira, sob a responsabilidade do Professor Anselmo: [...] Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo (PEREIRA, 1982) 205.

Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação. É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: 200

O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 202 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 203 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 204 VAZ, 2017 (inédito), obra citada VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 201

205

PEREIRA, 1982, obra citada, p. 17.


GRUPO 1. [...] padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação206 . GRUPO 2. [...] contudo houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições207 .

GRUPO 3. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Retorna com uma padronização de uniformes, instrumentação e disciplina. Implantação do sistema de graduação pelo Mestre Pezão, na década de (19)90208. GRUPO 4. [...] os capoeiristas buscam uma nova organização, criando grupos, academia e começam a divulgar a capoeira mais freqüente209. GRUPO 5. Após a morte de Sapo, começou o movimento de surgimento de grupos de capoeira, sim, a capoeira saiu das ruas, começou a se organizar, passando a ser desenvolvida em espaços fechados, como escolas, academias e clubes. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão210. GRUPO 6. a partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão211.

De acordo com Greciano Merino (2015)212, Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária: [...] que sintonizaba con las formas que la dictadura militar proyectaba en el seno de la sociedad213 . La rigidez de ese método, según explican sus alumnos 214, se aplicaba a través de una fuerte preparación física215622 y de la incesante repetición de secuencias de movimientos. El alumno para demostrar que 206

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 208 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 209 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 210 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 211 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 207

212 213

214

215

Debemos destacar que durante el período dictatorial brasileño se refuerza ese proceso que impulsó la capoeira en los años 30, o sea, el gobierno pasa a estrechar los lazos con los practicantes de la capoeira. Así, en 1972, la capoeira es reconocida oficialmente como deporte por el Ministerio de Educación y Cultura, incluyéndose en un proceso de institucionalización y burocratización que busca promover la homogeneización de esta práctica a nivel nacional. Dos años después se crea en São Paulo la primera federación de capoeira de Brasil, procurando difundir la capoeira como arte marcial brasileña. Este hecho es cuestionado por algunos segmentos que entendían que ese proceso de “marcialización” de la capoeira infringía principios básicos de esta práctica. En 1975, se realiza, en São Paulo, el primer torneo nacional de capoeira, para su realización se construye un reglamento técnico [...] (GRECIANO MERINO, 2015) Informaciones extraídas deI “Encuentro de Mestres”, evento organizado por la Associação Centro Cultural de Capoeiragem Matroa, el día 1/04/2013. Con la participación de Antonio José da Conceição Ramos “mestre Patinho”, Jose Ribamar Gomes da Silva “mestre Neguinho”, João José Mendes da Silva “Mestre Açougueiro”, Nasson de Souza “Cara de Anjo”. (GRECIANO MERINO, 2015) Que Sapo definía como Educación Física Generalizada, en la que integraba aparatos de gimnasia como el plinto y las colchonetas. (GRECIANO MERINO, 2015).


había asimilado el fundamento de esos movimientos debía aplicarlos correctamente en la roda, y si no era capaz de cumplir con las exigencias de su grado la respuesta inmediata era un golpe correctivo que le alertase de que debía depurar aún más su jogo. Debido a la dureza de los entrenamientos mucha gente abandonaba las aulas, lo que propiciaba una amplia rotatividad de alumnos en la escuela y que ésta estuviese separada en dos grupos diferenciados: los iniciantes y los veteranos. Esa división propiciaba, a través de un estímulo competitivo, que los primeros se esforzasen por conquistar un lugar en el grupo de los avanzados y que éstos mantuviesen una gran tensión para mantenerse como los referentes del grupo.

O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR, 1969, CUNHA, 2014) 216.

[...] ‘Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer’, de 1979, foi escrita originalmente em francês por Listello e traduzida pelo então professor da USP Antonio Boaventura da Silva e colaboradores. Esta obra parece ter sido uma adaptação do MDG para a realidade brasileira, pois foi publicada após quase duas décadas de contato com o Brasil e em parceria com uma universidade brasileira. (CUNHA, 2014?)217.

A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira , que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de professores de Educação Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem muma ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 219 218

Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações:

216

FARIA JR. Alfredo Gomes de. INTRODUÇÃO À DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 217 CUNHA, 2014, obra citada 218 LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão. 219 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016.


GRUPO 1. [...] (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias [...]220 GRUPO 2. [...] Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 221.

Para Kafure (2017) 222, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessa ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes223, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE224, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 225.

Kafure considera que o modelo de capoeira baiano foi talvez a condição de sobrevivência da prática da ética da malandragem: [...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de 220

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 222 ROCHA, 2017, obra citada. 223 MESTRE MORAES - PEDRO MORAES TRINDADE é um notório mestre e difusor da Capoeira Angola pós-Pastinha. Seu pai também era capoeirista praticante de Capoeira Angola. Começou a treinar por volta dos oito anos na academia de Mestre Pastinha que já cego e sem dar aula, passou o controle da academia para seus alunos. Moraes foi aluno de Mestre João Grande, que junto de João Pequeno eram grandes discípulos de Pastinha. Por volta dos anos 80, na intenção de preservar e transmitir os ensinamentos de seus mestres, fundou o GCAP - Grupo de Capoeira Angola Pelourinho - na tentativa de resgatar a filosofia da capoeira em suas raízes africanas, que havia perdido seu valor para o lado comercial das artesmarciais. Atualmente vive em Salvador, Bahia e divide seu tempo entre lecionar Inglês e Português numa escola pública, e presidir os projetos culturais da GCAP. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes 224 O LABORARTE é um grupo artístico independente, com 35 anos de trabalhos culturais desenvolvidos no Maranhão, produzindo nas áreas de teatro, dança, música, capoeira, artes plásticas, fotografia e literatura. O grupo está sediado num casarão colonial no centro de São Luís e desenvolve atividades culturais permanentes: oficina de cacuriá, oficina de teatro, oficina de ritmos populares do Maranhão, além de manter uma escola de capoeira angola. Anualmente realiza o "Iê! Camará- Encontro de Capoeira Angola". http://www.iteia.org.br/laborarte 225 BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 221


ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é super importante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade. Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) 226 .

Greciano Merino (2015) 227 assim se pronuncia: A saber, el paso desde la rivalidad provocada por la enemistad hacia la tolerancia fundada en la ética y el respeto sin perder la combatividad de la lucha, característica inherente y fundamental de este ‘arte de guerra’. Consecuentemente la ‘Escuela de Capoeira Angola del Laborarte’ viene propiciando el diálogo entre los Capoeiras de la ciudad a través de encuentros, festivales, ciclos de debate, fórums y rodas abiertas, como la que acontece todos los viernes y que está considerada como una roda de referencia de la ‘Capoeiragem Maranhense’. En la estela de esta tradición es común observar que los alumnos del Maestro Patinho siguen sus pasos desde una perspectiva propia de estudio que se extiende hacia el arte en la búsqueda de una vida plena de conocimiento y sabiduría. Desde esta perspectiva es como se fundan las otras escuelas objeto de estudio: el ‘Centro Cultural Educacional Mandingueiros do Amanhã’ que desarrolla un proyecto sociopedagógico donde se abriga a niños criados en condiciones críticas de vida fomentando su autoestima y su dignidad para ayudar a que su inserción en la sociedad sea con plena consciencia de los derechos y responsabilidades que tienen en tanto que ciudadanos. El Centro de Capoeiragem Matroá, que es un espacio donde, desde la perspectiva de las prácticas corporales, se despliega un amplio estudio de la influencia afro-indígena en la capoeira ‘maranhense’; además su sede sirve como punto de encuentro para fortalecer los vínculos entre las diversas escuelas y vertientes de la ciudad a través de una capoeira basada en el buen combate. El Centro Cultural Mestre Patinho trata de preparar individuos saludables para la vida a través del desarrollo de un juego equilibrado cuyo centro de conexión está basado en el dominio de los fundamentos básicos de la Capoeira a partir de la base de una capoeira integral que parte de la siguiente premisa: “O novo no velho sem molestar as raízes” .

A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo”: [...] a escola funciona no Laborarte, nós temos nove pontos, pra você entender melhor nós temos aqui a nossa árvore genealógica (...) olha, aqui está a minha trajetória, a raiz vem ser onde eu comecei, quem foram meus netos e tal... e aqui nos temos aqui a Escola de Capoeira do Laborarte e hoje eu estou aqui no Centro Cultural Mestre Patinho, então quem são as pessoas que estudam no centro cultural, quem está dando aula, quem são os alunos formados, que aqui é sobre a minha trajetória. É a árvore genealógica dos nossos trabalhos, hoje aqui nós somos sabe quantas escolas no Maranhão? somos nove escolas no Maranhão regidas pela escola do Laborarte... 228

226

ROCHA, 2017, obra citada. GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 228 In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 227


Fonte: ALLEX, 2912

229

[...] Aí você vai ver aqui Mandingueiros do Amanhã; quem é, Escola do Laborarte quem é? Nelsinho, e todos eles vão passando, Escola Criação quem é o cara? Mestre Serginho; Aí aqui, Centro Matroá? Marco Aurélio e contra-mestre Júnior, então assim tu vai vendo aonde agente ‘tá’ aqui no Maranhão, e lá fora uma mestra Elma que trabalha em Brasília, Florianópolis e Rio Grande do Sul, e também a galera nossa que está dando aula lá fora como o Bruno Barata que está no Rio de Janeiro, que está trabalhando com a capoeira, aí tem uma galera da gente que ‘tá’ trabalhando aí, e a gente que mora em São Luís, que vai nos Estados Unidos e volta, em Portugal e volta, mas não fazemos questão de estarmos lá, porque o importante é que a gente estude a capoeira no Brasil ‘pra’ entender o que é jogar capoeira,’ pra’ depois ir lá fora fazer uma oficina porque vai ser difícil ‘pra’ ver o que vai ser mal empregado lá fora 230 .

Mestre Alberto Euzamor231 fala que se desconhecia a existência de estilos de capoeira. Explica que: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; Memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogado hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda).

Mestre Patinho se definia, quando conheceu Sapo, 229

ALLEX, 2012, obra citada In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 231 MESTRE ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, quando da construção do Livro-Álbum Mestres de Capoeira de São Luis, 2006 230


[...] me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. [...] Eu quero deixar uma (...) A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-Do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro "gingar", dizia: "Preto ta disfarçando de angola", quando investia pegava um pontapé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento232.

Mestre Rui233 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima.

O mesmo diz Mestre Socó234, pois para ele Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem Angola nem regional, era conhecido como “Capoeiragem.

Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto235, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas.

Para Mestre Índio, [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola

232

MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006. 233 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 234 MESTRE SOCÓ – EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 235 MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 236

Por não ter um estilo definido, ou não se filiar aos estilos hoje reconhecidos: Angola, Regional e/ou Contemporânea, foi perguntado aos Mestres como eles chamariam, ou definiriam a capoeira praticada, hoje, no Maranhão e o que é “jogar nos três tempos”, e se essa era a principal característica da Capoeira do Maranhão: O GRUPO 1 - formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO - a denominaria “Capoeira Tradicional Maranhense”, com seu: “jogo baixo, intermediário e em cima”, as três alturas ou as três distancias, considerando ser essa a sua principal característica. Para o segundo grupo, formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; SENZALA; MARINHO, CM MÁRCIO, “É definida em grupos, associações, Federações, sendo que cada um tem seu estilo de jogo e sistema de graduação”. Já os Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BOCUDA; NILTINHO (GRUPO 3), a denominam como “capoeira mista”, ou seja, incutir o novo no velho sem molestar as raízes: “Jogar em um determinado toque as três alturas - Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande”. Como a Capoeira Maranhense – conforme o grupo 4 - se joga nos três tempos e joga no toque de Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande de Angola - jogo em baixo, no meio, e em cima -, essa é a característica maranhense. O GRUPO 5 a definiria como “’Capoeira mista’, jogada nos três tempos, que significa os três toques do berimbau, Angola, S.B. P. de Angola, e S.B.G de Angola” (JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO). Com o que concorda o GRUPO 6237, que a define como: [...] uma capoeira mista, por assim ser jogada em três tempos: jogo de chão, malícia: 2º no São Bento pequeno, que um jogo de muita acrobacia e destreza e, 3º o São Bento Grande, que é um jogo em cima rápido e de combate.

Patinho238 sintetiza a Capoeira do Maranhão: [...] buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento.

236

ENTREVISTA COM MESTRE ÍNDIO MARANHÃO, disponível em http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-comMestre-Indio-Maranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau

237

O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006.

238


Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar.

Segundo Greciano Merino (2015) 239, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: [...] Podemos resaltar que a través del intenso estudio dedicado a esta “lucha-juego-arte”, desarrolló un amplio conocimiento del movimiento humano cuya profundidad alcanza matrices culturales de diversas lenguajes.

É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folcóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)240, expresaba que: “El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”241. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”242. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural.

Prossegue:

239

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte 241 Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 240

242

Haikel, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014.


En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 243 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor244. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito245. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás.

Em algumas notas de uma entrevista (VAZ, 2006) 246, Patinho colocava: - Capoeira é fundamento, três alturas, três distancias, três ritmos... - Capoeiragem: jogo estratégico para a guerra - é um jogo de xadrez; - Bimba não criou um estilo, ele criou um método: para se afirmar na "chamada de Angola" para disfarçar o jogo estratégico - passa-dois, balão cinturado - malícia, jogo de malícia, jogo de transformação, jogo de cintura: oitiva, rústica... - A Angola... É autodefesa, busca do diálogo corporal, é transformação, jogo de dentro, você encontra a sua altura, o seu jogo, sua dimensão; é diferente da capoeira do pós-modernismo; capoeira é matemática; é história; é geografia... Tem que estar em contato, é comunhão, todo dia... - No jogo estratégico, não pode baixar a guarda; deve-se respeitar o oponente; mesmo que o adversário não saiba jogar, o bom Capoeirista joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar... -

Não existe uma capoeira, Angola, Regional, cada jogador tem a "sua Capoeira”...

- Não consigo sobreviver da Capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre, hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses - são 37... - o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um Doutor... § § §

Diálogo da Trilogia: Angola - gunga São Bento Pequeno - viola São Bento Grande - violinha

São células na mesma cadência que preenchem o espaço melódico - pulsação; A roda tem regência... O Traíra (Mestre), no local de Angola, fazia Santa Maria; quando chega em São Bento grande, fazia cavalaria ...

243

VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 244 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 245

Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 246 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, JORNAL DO CAPOEIRA http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006


Kafure (2017) considera que essa característica de jogar nos três tempos é gananciosa, mas não deixa de ser o ideal de um "super capoeirista": [...] e isso para mim é impossível. Justamente porque a vida tem três tempos, a infância, a maturidade e a velhice e o ritmo de cada um desses tempos é diferente. Então assim, eu acho que o tempo da capoeiragem maranhense é o tempo médio, pois nem é devagar demais nem rápida demais, como se encontra em alguns grupos na Bahia (lá existem bem visível os extremos). Eu acho que uma das grandes belezas e riquezas da capoeiragem maranhense é a multiplicidade de grupos e rodas em um território pequeno. Pelo menos quando eu morava em São Luís, quase todo dia era dia de roda, pelo o que eu me lembro, de quarta à sábado (curioso que no domingo quase nunca tinha). Enfim, geralmente nas capitais do Brasil, roda de capoeira é de sexta à domingo. Então acho que essa pluralidade de rodas, mesmo com os zumzumzum entre grupos e mestres, ainda assim dava uma perspectiva muito boa de aprendizado para alguém que realmente queira aprender a ser um bom capoeira.

Sapo não definía sua metodología nem como Angola nem como Regional; de sua perspectiva de ensino, a capoeira estava formada por uma serie de fundamentos de jogo que se aplicavam em função das circunstancias que a roda requeria 247. Por isso, não se importava em graduar aos seus alunos248:

[...] sólo de entrenar con dureza los fundamentos para que éstos adquiriesen la excelencia en la calidad de su jogo, es decir, “su proyecto no consistía en formar sino en enseñar”. Sin embargo, a lo largo de este periodo, va modificar algunos aspectos de su metodología y de su didáctica, influenciado por varios profesores de educación física y por el contacto que tuvo con el grupo Beribazú de Brasilia, normas además de una nomenclatura unificada para los golpes. El Estado, a través de estas acciones, trataba de proyectar a nivel nacional una nueva dimensión pedagógica que serviría para aumentar la práctica de una capoeira aferrada a los valores de la nación249.(GRECIANO MERINO, 2015)

Prossegue: Su capoeira se enfoca hacia un aspecto más deportivo, pasando a examinar a sus alumnos a través de series de movimientos secuenciados que se correspondían con una escala de cuerdas de colores, como ocurre en las artes marciales. Participó en eventos, simposios y torneos nacionales en diversos Estados e incentivó a sus alumnos para que completasen su formación participando de los cursos de arbitraje y viajasen a Rio de Janeiro para estudiar con Inezil Penna Marinho250. Asimismo, batalló mucho para conseguir que la capoeira formase parte de los Jogos Escolares Maranhenses (JEM’s) como un deporte de competición. Todo eso sin dejar de explorar ese lado folclórico de la capoeira que le había llevado hasta São Luís251. Por tanto, su profunda dedicación al estudio del arte de la capoeira252627 le llevan a

247

El Maestro Sapo seguía una especie de mezcla de las dos vertientes, sus enseñanzas consistían en una práctica que estuviese de acuerdo con el ritmo que dictaba el toque de berimbau: Angola (jogo lento y rastrero), São Bento Pequeno (jogo que mezclaba movimientos altos con rastreros en una cadencia intermedia) y São Bento Grande (jogo practicado encima y en una cadencia acelerada). Los 3 berimbaus tocaban la misma célula. (GRECIANO MERINO, 2015). 248 El Maestro Sapo no dejó ningún alumno formado como maestro, sus alumnos más avanzados se graduaron a través de este grupo que fue donde él recibió oficialmente el título de maestro. (GRECIANO MERINO, 2015). 249 Véase: Reis, Letícia Vidor de Sousa. O mundo de pernas para o ar: a Capoeira no Brasil. Publisher Brasil, São Paulo, 1997. (GRECIANO MERINO, 2015). 250 Inezil Penna Marinho publica en 1945 el libro “Subsídios para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem”, esta obra fue explícitamente inspirada en la “Ginastica nacional (capoeiragem) metodizada e regrada” de Aníbal Burlamaqui. (GRECIANO MERINO, 2015). 251 Entre los años 1977-1979 Sapo formó un cuadro folclórico de exhibición con juego de luces que presentaba principalmente en el recinto ferial (EXPOEMA), durante los festejos juninos, y en algunos terreiros durante determinadas fiestas de santo.


convertirse en un profesional de reconocido prestigio por la sociedad. Ese reconocimiento unánime motivó que asumiese el papel de celador de la capoeira en São Luís, mostrando su intolerancia hacia las rodas de calle (que no fuesen las suyas o las del maestro Diniz) y hacia la abertura de grupos que no fuesen suyos. (GRECIANO MERINO, 2015)

Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, em resposta à questão: QUAL, QUEM, COMO, E PORQUE HOUVE A NECESSIDADE DE UM MOVIMENTO ‘PRÓ-CAPOEIRA’ A PARTIR DE MEADOS DO 85?

GRUPO 4.

253

O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis.

GRUPO 5254. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990. GRUPO 6255 Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança. GRUPO 1256. Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão; GRUPO 2. Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita257 GRUPO 3. Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira258.

252

253

Entre las actividades que se presentaban destacan el samba de roda y el maculele que se entrenaba con palos de escobas y después se ejecutaba con machetes. . (GRECIANO MERINO, 2015). Cabe destacar que en una época que las informaciones eran escasas debido a los limitados y precarios medios de comunicación, el maestro Sapo poseía un importante acervo de libros discos y recortes de prensa con informaciones de lo que acontecía en varios Estados. . (GRECIANO MERINO, 2015).

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 255 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 256 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 257 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 258 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 254


ONDE ACONTECEU? QUAIS OS RESULTADOS?

GRUPO 1. Sá Viana, Bairro de Fátima, Anjo da Guarda, Coroadinho, Liberdade, etc.; foi positivo no sentido de fortalecer a interação entre os grupos259 GRUPO 2. [...] na área Itaqui-Bacanga, no Teatro Itaqui-Cucuiba, e teve como resultado o fortalecimento da Capoeira; a partir daí, outros grupos da cidade passaram a realizar outros eventos, em prol da Capoeira260 GRUPO 3261. Foi feito o Pré-capoeira no Bairro do Anjo da Guarda, no Teatro Itapicuraíba. GRUPO 4262. O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga [...] com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis. GRUPO 5263. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; [...] com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990.

Mestre Índio do Maranhão, já retornado do Rio de Janeiro onde fora em busca das ‘raízes da capoeira’, fala sobre esse momento da revitalização da Capoeiragem Maranhense/ludovicense: [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. [...] Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruande, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento264. Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo; foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em 1987, eu Mestre Índio Maranhão fundei o Grupo de Capoeira Filhos de Ogum, na Casa da Finada Mãe Angela, uma Ialorixá, zeladora de Guias, caboclos e Orixás, na travessa da Fortuna no bairro Monte Castelo e esse meu trabalho iniciou-se no dia 07 de Julho de 1987, com a denominação Filhos de Ogum, em 1998 se chamou Centro Cultural Filhos de Ogum e por motivo religioso de alguns alunos cristãos, quando do seu registro oficial em 2002 se nominou Associação Cultural de Capoeira São Jorge e permanece até os dias atuais.

259

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 261 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 262 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 263 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 260

264

In http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1, Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau


Devoto de São Jorge desde março de 1973, após uma briga na Areinha, que começou com o Gilmar sendo agredido por um rapaz da Liberdade, então começamos uma grande confusão, onde todos entraram em confronto que demorou demais para parar. Foi quando ficamos sendo ameaçados e perseguidos pelos rapazes da Liberdade, foi quando então a mãe do companheiro Wilson Botão nos procurou e nos deu a oração de SÃO JORGE, na qual eu depositei a minha fé há 28 anos e mantenho até os dias de hoje, realizando todos os anos Uma grande Festa em Louvor a São Jorge onde a festa maior é a roda de capoeira265.

Greciano Merino (2015) 266 considera que no começo da década de 1980, a capoeira no Maranhão estava marcada por uma forte influencia militar e pelo isolamento dos grupos e academias, onde: [...] era difícil que un Capoeira visitase otro establecimiento y en caso de que eso aconteciese era común que emanasen actos de violencia. En ese contexto Mestre Patinho tiene la clarividencia de proyectar un centro de enseñanza diferenciado a través de algo que hasta entonces era aceptado con reticencia: la concepción de “escuela”. Patinho funda la Escuela de Capoeira Angola del Laborarte (Laboratorio de expresiones artísticas do Maranhão) en 1985 haciendo converger en una única expresión varias influencias: la escuela, la tradición popular, el mundo del arte y la lucha. Desde este espacio se pasa a fomentar, a través del diálogo y del reconocimiento de la diversidad, aquello que seria un punto de inflexión fundamental en la capoeira ‘maranhense’

Mestre Pirrita (2017) 267 mudou para o bairro Anjo da Guarda no ano de 1979, e, junto com Jorge Navalha, seu cunhado, começou a treinar capoeira com mais dedicação; Nessa época já tinha entrosamento com outros capoeiristas de São Luís, passando a participar de rodas que aconteciam na Praça Deodoro e na Praia do Olho D’água, organizadas por Pezão, chegando a marcar presença em outras rodas de capoeira que aconteciam na ilha. Começou a ensinar o que já sabia a alguns jovens, que o procurava para aprender capoeira, foi aí que surgiu a idéia de formar um grupo, o Grupo de Capoeira Aruandê, formado por Pirrita dirigente, Jorge, Sabujá, Zezão, Cícero, Roquinho, João Bicudo, Bigu e mais alguns alunos, tendo durado pouco tempo. Volta a treinar outros alunos em 1980, tendo novamente problemas com os alunos, pelas normas que estabelecera. Procura alguns capoeiristas experientes para fazerem exibições de capoeira nos festejos juninos, permanecendo ainda o nome de grupo Aruandê; quando terminaram os festejos juninos, o grupo novamente se dispersou, por incompreensão dos participantes. Conforme seu depoimento 268: Nessa mesma década de 80, a capoeira do nosso estado passou no anonimato, pois rodas de capoeira já não se olhava, as pessoas que praticavam tinham se acomodado, não se olhava mais as rodas na Deodoro, Casas das Minas e Praia do Olho D’água. Nesse período Mestre Pirrita e o Mestre Jorge tiveram a idéia mais uma vez de reunir os capoeiristas que freqüentavam seu centro de treinamento, entre eles estavam Sabujá, João Bicudo, Urucunga, Cícero, Ribaldo Preto e outros, e aproveitando a época do carnaval começaram a reativar as rodas de capoeira na Praça Deodoro, despertando nos capoeiristas a vontade de voltarem a jogar capoeira em nossa praça.

265

MESTRE ÍNDIO DO MARANHÃO – OSIEL MARTINS FREITAS. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 266 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada 267 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 268 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


Mestre Pirrita deu um grande passo, pois os capoeiristas veteranos voltaram a se encontrar na Praça Deodoro para a prática da capoeira. Entre eles: Ruy Pinto, Euzamor, Candinho, Curador, Pelé, Patinho, Madeira, De Paula, Banana, Miguel, China e outros. Relata Greciano Merino (2015)269: La precipitada muerte del maestro Sapo va dejar una multitud de capoeiras dispersos por la ciudad sin que exista una organización ni una jerarquía entre ellos. Se inicia un proceso de formación estructural que coincide con un momento de grandes transformaciones en la sociedad brasileña, marcado por el cambio de paradigma político que se produce con el fin de la dictadura militar y la implantación de la democracia representativa. Esas transformaciones influyen en el proceso evolutivo de la capoeira, que hasta ese momento venía creciendo de un modo exponencial por todo el territorio brasileño fomentado desde las instituciones públicas como una práctica deportiva nacional. En esa nueva coyuntura sociopolítica se produce el resurgir de la capoeira Angola, se fundan grupos franquicia de carácter masivo y se desencadena el proceso de expansión global de la capoeira270. La Capoeira de São Luís se vio alcanzada por ese conjunto de transformaciones macro-estructurales canalizadas a través de una serie de capoeiras que, a titulo individual, se aventuran a emprender trabajos en diversas áreas de la ciudad. Entre otros podemos destacar a Patinho (Escuela de Capoeira Angola do Laborarte), Indio do Maranhão (Associação Cultural de Capoeira São Jorge), Neguinho (Pro-dança), Jorge Navalha (Filhos de Aruanda), Pirrita (Associação de Capoeira Aruandê), Ribaldo Branco (Grupo Cascavel), Evandro (Mará Brasil), Sena Palhano (Associação Cativos de Capoeira), Madeira (Sirí de Mangue), Jacaré (Cordel Branco), Euzamor, Rui Pinto...etc. La iniciativa de esos trabajos pioneros sirvió para formalizar diversos métodos de enseño y modos de ritualizar la roda, formando a toda una generación de capoeiras que son los maestros que conducen el movimiento en la actualidad: Marco Aurelio (Associação Centro Cultural de Capoeiragem Matroá), Senzala (Acapus) Gavião (Tombo da Ladeira), Abelha (Escola de Capoeira Angola Cortiço do Abelha), Fabio Arara (Pequeno sou Eu Maior é Deus ), Nelsinho (Laborarte), Jota Jota (Nação Palmares), Tutuca (Giramundo), Mizinho (Centro Cultural e Educacional Maranhão Arte Capoeira), Baé (Associação de Cultura Educacional Candiero de Capoeira), Generoso (Jogo de Dentro), Juvenal (Associação de Capoeira Jeje Nagô), Militar (Grupo K de Capoeira), Ary (Grupo Arte Vida), Bamba (Centro Cultural e Educacional Mandingueiros do Amanhã), Socó (Vale do Engenho), Negão (Sociedade Cultural de Capoeira Congo-Aruandê), entre otros. Para dinamizar el perfil de los estilos de capoeira en São Luís hemos de señalar que, además de la determinación de ese grupo de capoeiras locales, también fue fundamental el contacto con maestros de otros estados. Desde una perspectiva translocal, varios capoeiras y maestros de la ciudad como Marco Aurelio, Madeira, Gavião, Abelha, Indio, Ribaldo Branco, etc. realizan viajes a otros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia y Brasilia; buscando nuevas ideas, símbolos y valores que complementasen sus trabajos de Capoeira. Cuando retornan de esas estancias traen consigo innovaciones tanto a nivel de organización, como de práctica, unos con influencias de la Capoeira Regional y otros con influencias de la Capoeira Angola. En esa época no había distinción entre estilos, pero entre los grupos que existían ya se percibían ciertas tendências para la Regional o para la Angola. Como apunta el maestro Nelsinho: “Todos los grupos entrenaban aspectos de la Angola y la Regional, hacían un jogo mas lento o un jogo mas rápido, la capoeira local se caracterizaba de esa forma, pero al mismo tiempo, en esa época, había grupos que tenían una tendencia mas para Angola o mas para Regional, a pesar de que eso no era definitivo”271. Después de ese momento de transición pasaron a crecer exponencialmente el número de grupos ya definidos como Regional o como Angola.

269

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. Véase: Assunção Röhrig, Matthias. Capoeira The History of an Afro-Brazilian Martial Art. Routledge, London and New York, 2005, pp. 167-204. 271 DA SILVA, Alysson Cezar Pavão. Análise da Capoeira angola em São Luís do Maranhão: concepções, contexto histórico e evolutivo. Monografia presentada al curso de Licenciatura en Educación Física de la Universidad Federal de Maranhão (UFMA), São Luís, 2010, p. 47. 270


Segundo Pirrita272, neste período a área Itaqui-Bacanga passa a ser uma grande referência da capoeira do nosso estado, pois reunia capoeira de todos os bairros para o Anjo da Guarda, sob sua liderança e de Jorge Navalha, pois ambos começam a realizar grandes eventos, como: Torneio Classe Estreante, I, II, III e IV Movimento Pró-Capoeira, I Festival Capoeira nos Bairros Nessa época já existiam na área Itaqui-Bacanga, vários grupos organizados como: Aruandê (Mestre Pirrita), Filho de Aruanda (Mestre Jorge), Filhos de Ogum (Mestre Índio) e Marabaiano (Mestre Jair). Além dos eventos, realizavam batizados, e rodas em vários locais, como a Praça do Anjo, Teatro Itapicuraíba, Barrigudeira, Mercado do Anjo da Guarda e União de Moradores do Sá Viana, e aos sábados, Mestre Pirrita recebia grande número de capoeirista em sua academia. Em 1985, os grupos ‘Aruandê’ e ‘Filhos de Aruanda’ promoveram o Primeiro Movimento PróCapoeira do Maranhão, que tinha por objetivo reunir todos os capoeiristas; segundo Mestre Pirrita: Em agosto do ano em curso, o grupo Aruandê, participou do Primeiro Encontro de Capoeira do Maranhão, e de várias reuniões onde estavam presentes vários capoeiristas do Maranhão. Em 1986, o grupo Aruandê se destacou entres outros grupos de nosso estado, junto ao grupo Filhos de Aruanda com apoio do CCN-MA - Centro de Cultura Negra do Maranhão realizaram o Segundo Movimento PróCapoeira do Maranhão e o Primeiro Torneio de Classe Estreante, com objetivo de chamar atenção da classe capoeirística para a necessidade de melhor organização da capoeira em nosso estado, no torneio de classe estreante, o grupo Aruandê ficou em segundo lugar por equipe, receberam o troféu destaque os alunos Brasil, Zeca e Magno, recebendo medalhas de ouro, prata e bronze273.

Prossegue: [...] o grupo Aruandê marcou presença no Programa Nacional de Capoeira - PNC, onde as reuniões aconteceram no Centro de Cultura Popular, contando com a presença de vário capoeiristas de São Luís, o subsecretário de educação física da SEED, Professor Person Cândido Matias, explicou a importância do PNC em nosso estado. Na candidatura do deputado Luis Pedro, o grupo Aruandê foi convidado para marcar presença na câmara dos deputados, dando naquele local uma verdadeira exibição de capoeira, aproveitando a oportunidade, o Professor Pirrita, levou ao conhecimento de todos a falta de apoio a capoeira em nosso estado274.

Em agosto de 1986 alguns participantes dos grupos ‘Aruandê’, ‘Cascavel’ e ‘Raízes de Palmares’ fizeram várias apresentações de capoeira na EXPOABA em Bacabal-MA, com objetivo de difundir naquela comunidade a capoeira arte, cultura e esporte, praticado por todas as camadas sociais, tendo êxito no objetivo. 272

MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 273 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 274 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


Em 1986, aconteceu em Brasília-DF o Primeiro Festival Praia Verde SESC-DF de Capoeira; o Maranhão foi representado por uma delegação composta pelo professor Pirrita e o seu aluno Negão, do grupo ‘Aruandê’; pelos professores Neguinho, do grupo ‘Argolonã’; Evandro, do grupo ‘Raízes de Palmares’; Vânio do grupo ‘Cascavel’; professor Jorge do ‘Filhos de Aruanda’; e o professor Tita do grupo ‘Unidos de Angola’275 . Com o objetivo de levar a capoeira aos colégios, não como jogo de competição, e sim como educação física, reunira-se no dia 13 de março de 1987, no ginásio do SESC, para criação desse projeto, o Professor de Educação Física da UFMA, Demosthenes Montavane, o Professor de Educação Física do SESC, Carlos Alberto, o professor do Grupo ‘Aruandê’, Pirrita e seus alunos Brasil e Ciane, o professor do grupo ‘Cascavel’, Vânio, o professor do grupo ‘Raízes de Palmares’, Evandro e o professor do ‘grupo de Apoio a Capoeira’, Betinho (Paturi). Em 24 de abril 1987, todos os grupos de capoeira de São Luís foram convocados para uma reunião na sede do Bumba Meu Boi da Floresta, tendo como objetivo a melhor organização da capoeira e que os capoeiristas veteranos dessem oportunidades para os novatos participarem de rodas abertas, que sempre aconteciam na cidade; Niltinho, representante do CCN, explica aos demais que a capoeira não deve ser mostrada com violência, e sim com toda a sua beleza; entre os participantes veteranos destacaram-se: Pirrita, Neguinho, Pelé, Ruy, Candinho, e outros. No dia 01 de maio de 1987 aconteceu uma grande manifestação da comunidade do Bairro Anjo da Guarda e adjacências na luta pela legalização dos terrenos da área Itaqui-Bacanga. Naquela oportunidade, houve exibição de capoeira pelo grupo Aruandê 276. Logo em seguida, a 30 de maio, o CCN promoveu no Ginásio Costa Rodrigues, a ‘I Mostra de Capoeira do Maranhão’, com o objetivo de mostrar para a sociedade a importância dessa cultura, e conscientizar os órgãos competentes em relação à capoeira; houve competições entre os grupos presentes, ficando o grupo Aruandê em 2º lugar no Estilo Regional e 2º lugar no Estilo Angola. Ainda em 1987, no dia 29 de agosto, os grupos Aruandê e Filhos de Aruanda promoveram o ‘III Movimento Pró-Capoeira do Maranhão’. Neste evento juntaram-se no Ginásio do SESC vários capoeiristas e simpatizantes tendo o apoio da Federação e do CCN-MA277. Com o intuito de melhorar a organização da capoeira do Estado do Maranhão, reuniram-se os representantes dos grupos de capoeira, Pirrita, Jorge, Roberval Sena, Vânio, Evandro e Índio, com o objetivo de se organizar em associações de capoeira, para a criação da ‘Federação de Capoeira do Estado do Maranhão’; na ocasião foram registradas as Associações de Capoeira Aruandê, Filhos de Aruanda e Cativos já existentes. Houve várias reuniões sempre presentes os representantes de associações e grupos, as quais foram registradas em atas. Houve eleição dos membros da Federação, tendo Mestre Sena eleito Presidente, Jorge, Vice, e Pirrita, Secretário. Logo após a eleição, Sena relatou que todas as associações teriam que seguir o sistema de graduação da Federação, contradizendo o que tinha falado antes da eleição, que as associações teriam apenas que se filiarem. Com a nova idéia, o mestre Pirrita deixou o cargo e se ausentou das reuniões, pois tinha se decepcionado e não concordava com as normas impostas pela Federação278. Já Mestre Curió (2017)279 vai desenvolver suas atividades no Anil, outro pólo da Capoeira, conforme seu depoimento:

275

MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 276 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 277 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 278 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 279 MESTRE CURIÓ – JOÃO PALHANO JANSEN. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


[...] e em 1980 já estava morando no Bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. No afã de sua própria aprendizagem começara a se reunir com amigos e vizinhos no seu quintal, para aprenderem um pouco do que ele já sabia, isso por volta dos anos 80 no bairro do Rio Anil. Numa época em que ainda era incerta a definição de “mestre” no universo capoeirando ludovicense, sua aprendizagem se confundia com o ensinamento propriamente dito, “amigo” e “discípulo” não eram categorias muito diferenciadas, o que de fato existia era uma relação de troca de conhecimentos e experiências em diversos espaços da cidade (ruas, praças e quintais). Entretanto, por meio de sua ética e humildade, conquistou o respeito e admiração das pessoas, de maneira que o título de “mestre”, dado a ele, foi obra da experiência do tempo. Foi aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, que o Mestre Curió desenvolveu no bairro uma trajetória de 40 anos de capoeira. Na década de 90 criou o Grupo de Capoeira Arte Negra.

Baé (2017) 280 em 1976 começa a freqüentar os treinos de Mestre Paturi, que na época não tinha academia para treinar, utilizando-se de locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. Embora já houvesse criado o ‘GRUPO CANDIEIRO’ desde 17 de Fevereiro de 1999, no começo de 80 ainda treinou um período com o Mestre Jacaré e depois, por motivo de local de trabalho e estudo, passou um período com Mestre Pato. Começo de 88 passa a treinar com Edmundo da Conceição (Mestre Edybaiano), da ‘Associação de Capoeira regional do Mestre Edybaiano’; em 1993, por recomendação de seu Mestre Edy Baiano passou a treinar em Salvador. O Contramestre Formiga Atômica (2017) 281 nos traz outro local de prática da capoeira, desta vez, no Bairro do São Francisco, quando começou a treinar: [...] com dois irmãos: Michael Clean Cruz Alves seu apelido (Shell) e o Flávio de Arruda Cruz (seu apelido “Braço”, por ter o braço quebrado) que treinaram com Aldo (Lôlô) e Otacílio que também eram irmãos e que vieram treinar com Leles que mais tarde se tornaria o mestre Madeira, nesse período o nosso local de treino era uma casa de festa chamada Cajueiro, localizada no São Francisco, travessa da rua 02 que mais tarde se chamaria de Espaço Aberto um clube de reggae chamado também de “ casa da música”, tivemos que parar com os treinos porque o proprietário “ Sr Ferreirinha” na época não permitiu que continuássemos com os treinos no clube, assim ocasionou o término do grupo (1983). Por volta de 1985 começam a treinar no Centro Comunitário, localizado na rua 03 no Bairro do São Francisco e quem dava aula nesta época era o jovem Fabio Gonçalves Filho, que era chamado de Fabinho e mais tarde se tornaria mestre “ Fabio Arara”, que por sua vez treinava com o mestre “ Madeira” e ainda no Centro Comunitário, conheci um português de nome Lincon, professor Lincon que nos ensina ginástica olímpica , foi com quem aprendi executar meus primeiros saltos[...]

Informa, ainda, de outros dois locais – FEBEM, próximo ao Cemitério do Gavião, e a Academia de Mestre Madeira, da Rua Humberto de Campos: [...] após esse período eu fui matriculado em uma instituição para menores “FEBEM” – Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, localizada na Rua do Norte, próximo ao Cemitério do Gavião em São Luís –MA, nesta fundação passava o dia todo fazia oficina de mecânica e treinava capoeira com um professor que se chamava Herbeth na ocasião levava meu irmão caçula, o Marcilio José a quem o professor chamava de Lambisgoia por ele ser muito magrinho, depois o mestre Madeira trocou esse apelido para Pelezinho. Em 1987 [...] foi quando eu conheci o mestre Madeira e me matriculei em sua academia na Rua Humberto de Campos, era um sobrado de piso de taco, pois já tinha condições financeiras para pagar as mensalidades.

O Mestre Roberto (2017) capoeira naqueles anos 1980: 280

282

nos diz como eram, então, organizados alguns grupos de

MESTRE BAÉ – FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 281 CONTRAMESTRE FORMIGA ATÔMICA – SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


Iniciei na capoeira na década de 80, primeiramente com o meu irmão Nato Filho, segunda geração de alunos do GRUPO AÚ CHIBATA; [...] continuei com mestre Guldemar (...) fundador da Associação Aú Chibata (...) destaco o braço direito do Mestre Guda, Sebastião de Sousa Sabino o C.Mestre Ciba, que á época já servia o Exército, de onde trazia as atividades físicas, ou seja, na década de 1980 o regimento interno do Grupo Aú Chibata era totalmente militarista e machista, onde não era permitido a presença de mulheres no grupo; regra que durou alguns anos, sendo quebrada por mim [...]

Mestre Militar (2017) 283 iniciou-se na Capoeira já em 1982 com o Mestre Neguinho no ‘Grupo de Capoeira Angolano’, na Escola de Dança Pró-Dança, que era localizada na Rua 13 de Maio no Centro. Treinava como bolsista, pois não tinha como pagar. Seus pais não gostavam da capoeira, e como minha mãe trabalhara para um dirigente da TV Difusora. Por seu depoimento, ficamos sabendo que vários capoeiras : O pessoal que faziam sua segurança todos eram Capoeiristas como: Mestre Rui Pinto, Batman, mestre Alberto (Euzamor) e outros.

Passou a ter contato com Mestre Coquinho, que hoje faz parte do quadro de Mestres da ‘Associação Grupo “K” de Capoeira’; na época, lecionava na extinta FEBEM, localizada na Fonte do Bispo, na Madre Deus no Centro. Embora a Capoeira estivesse voltando para as ruas, continuava existir nas escolas, pois já era praticada como competição, no programa dos Jogos Escolares: Em 1987 – Tive a Participação no XV Jem’s , no governo de Cafeteira, através do Profº Robson, Professor de Ed. Física e Capoeirista da Escola São Lazaro, na qual eu era estudante.

Mestre Militar participava das rodas de rua escondido tanto de seus pais, como de seu Mestre Coquinho. Foi quando conheceu Mestre Madeira (Siri de Mangue), com quem treinou por um tempo, e teve contatos com outros Capoeiristas, que já tinham nome no cenário da Capoeira do Maranhão: Candinho e Batman, seus vizinhos, e que o levavam para as rodas de Capoeira, que eram realizadas por eles aos Domingos pela manhã, na Coroa da Praça Gonçalves Dias, em frente à Igreja dos Remédios. Roda que só entrava para jogar, quem tinha muito axé ou era apadrinhado. Também através do Candinho que passou a participar das Rodas na Praça Deodoro: Logo após fui fazer parte do Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares, do Centro de Cultura Negra, que era composto por Evandro (hoje Mestre do Grupo Mara Brasil), Militar, Nijon, Manoel, Mizinho (hoje Mestre Mizinho do grupo Maranhão Arte), Tutuca (hoje Mestre Tutuca do Gira Mundo) Careca, Wilson, Assis e outros. Através deste Grupo, eu participei da: 1ª Mostra de Capoeira do Maranhão, organizada pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão - CCN. Em março de 1988, participei do 1º Campeonato Inter - Bairro realizado pela Associação de Capoeira Aruandê de Mestre Pirrita e Aruanda do Mestre Jorge Navalha; A 1ª Gincana Mirante – na Praia da Ponta D`Areia, como a Participação de Vários Grupos da Capital. No mesmo ano, fui treinar com o Mestre Roberto, conhecido como Mestre Jacaré, que lecionava em uma Academia de Karatê localizada na Rua 18 de Novembro, no Bairro da Camboa, até o ano de 1990.

É através de Mestre Militar que ficamos sabendo de outros locais em que a capoeira começava a se infiltrar, pois com a formação do Grupo Nagoas (1991), sediado provisoriamente na Associação de Moradores na Rua da Brasília - Bairro da Liberdade, este grupo tinha em sua formação muitos bons 282

MESTRE ROBERTO – ROBERTO JSAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 283 MESTRE MILITAR – CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


capoeiristas, oriundo de outros grupos como: Careca, Juricabra, Abacate, Cudinho, Mata rato, Daniel, Wilson, Junior de Assis, Cabecinha (hoje Contra-Mestre do Grupo Liberdade Negra), e o Cacá (hoje ContraMestre do Grupo Ludovicense) entre outros: Através do Grupo Nagoas, realizávamos tradicionalmente Rodas todas as Sextas - Feiras na Praça do Bairro Camboa. Também revitalizamos uma Roda tradicional do Bairro do Monte Castelo (Largo da Conceição), que ocorria durante todos os dias nos Festejos de Nossa Senhora da Conceição, no mês de Dezembro. Lá participaram várias Gerações de Capoeiras, dentre eles : Miguel, Evandro, Bulão, Dunga, Ruso, Beleleco, Chicão, Curador e outros.

Militar afirma que - apesar de bons capoeiristas fazerem parte do grupo na época -, constantemente estavam envolvidos em confusões no centro da cidade: Criávamos badernas em festas e praças só para ter o prazer de testar a potência de nossos golpes. Não sabia que essa atitude que era comum em muitos dos Capoeira da minha época, iria render a muitos do grupo, inclusive a mim, a fama de desordeiro (Marginal).

Mestre Pedro (2017) 284, que se iniciou na Capoeira em 1983, no Anjo da Guarda, com Mestre Jair e Bira e também frequentava as aulas de Mestre Bigu, no São Raimundo, bem demonstra a mobilidade dos jovens iniciantes na Capoeira, em busca de ensinamentos. O que se nota que essa mobilidade era causada pelo afastamento do Mestre, que saíra de São Luis, para buscar as raízes da capoeira em outros estados, notadamente Bahia, Rio de Janeiro, e até mesmo São Paulo: [...] no mesmo ano comecei a treinar com o Mestre Jorge Navalha da Associação Filhos de Aruanda, devido à ida do Professor Bigú para a cidade de São Paulo – SP; permaneci treinando até o final da década de 80, quando comecei treinar com o Mestre Pirrita da Associação Aruandê, permanecendo até o ano de 1995, devido ao afastamento do mestre Pirrita. Nesse ano de 1995 a Associação Aruandê foi desativada, e a partir de outubro de 1996 juntamente com o Mestre Nelson fundamos o "Grupo de Capoeira Raízes", no bairro Vila Mauro Fecury II no eixo Itaqui-Bacanga, onde mais tarde em julho de 2002 se tornaria a Associação Cultural Afrobrasileira Raízes no bairro Anjo da Guarda, também no eixo Itaqui-Bacanga, onde permaneço até a presente data, coordenando as atividades da Associação Raízes, sem o mestre Nelson que se afastou para fundar uma outra associação.

Percebe-se ser comum a divisão – ou afastamento – intergrupos, seja por desavença com o Mestre, devido à seus métodos rigorosos, conservadores, seja por viagens de estudo e aperfeiçoamento, ou mesmo busca de melhores condições de vida, seja para fundar-se novas associações e/ou núcleos, sendo que a maioria permanecendo ligada ao grupo original, quando da maestria: Ao longo desse período realizei vários atividades voltadas para a capoeira, em parceria com o mestre Nelson e outros mestres de capoeira do eixo Itaqui-Bacanga, dentre elas podemos mencionar o 1º e 2º Venha Ver, mostras de capoeira que homenagearam os mestre Patinho (falecido) e Jorge nos anos de 2002 e 2003 respectivamente, em 2002 criação da Liga de Educadores de Capoeira da Área ItaquiBacanga - LECAIB, composta pelos mestres Pedro e Nelson (Raízes), Kaká e Cadico (Amarauê), Juvenal (Jêge-Nagô), Negão (Congo -Aruandê), Jorge (Filhos de Aruanda), pelos contramestres Presuntinho (Marabaiano), Neto e Reginaldo (Amarauê) e Cafezinho (Escorpiões). A LECAIB foi criada devidos os coordenadores de grupos de capoeira da Área Itaui-Bacanga não concordarem com a maneira que se conduziam as Federações de Capoeira de nosso estado, pois por muitas vezes as reuniões dessas entidades acabavam em discussões divergentes entres seus afiliados, e não se definia nada em prol da 284

MESTRE PEDRO – PEDRO MARCOS SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


capoeira, sendo quando uma das Federação fazia algum evento a outra não participava, e com isso quem perdia era a capoeira; daí resolveu-se criar a Liga de Educadores, onde nos dois primeiros eventos chegou a reunir mais de 600 participantes, mas caiu no mesmo erro das Federações: o ego individual de alguns falou mais alto do que o objetivo, que era de fazer uma capoeira forte e unida em nossa capital, principalmente na área aonde ela atuava, vindo a extinguir-se dois anos após a sua fundação. Continuando a nossa participação na realização podemos citar também o 1º e 2° Festival Balneário de Capoeira, realizado na cidade de São José de Ribamar nos anos de 2007 e 2008, o 1° e Festival de Cantigas Inéditas, que prestou homenagem aos mestres Ciba (falecido) e Pirrita, realizados no Parque Botânico da Vale e Teatro Itapicuraíba, ambos no bairro Anjo da Guarda. (MESTRE PEDRO, 2017) 285.

Estes rompimentos intergrupos, e a conseqüente formação de novas associações/núcleo – na maioria das vezes na mesma área de influencia de seu mestre formador -, assim como a aprendizagem por dois – ou mais – mestres simultaneamente, é confirmada por Mestre Cacá (2017) 286: Iniciei na capoeira em 1984, aos 12 anos de idade, no Colégio Silva Martins, com Valderez (atualmente, Sargento da Polícia Militar do Maranhão) e Robson (professor de educação física), treinei até o final de 1985, com participação nos JEM’S – 1984 e 1985; em 1986 treinei por algumas semanas com Mestre Patinho (no LABORARTE), depois com o Mestre Neguinho (no PRODANCE) e com o Mestre Jorge Navalha (no teatro Itapicuraiba). No ano de 1986 treinei, simultaneamente, com o Mestre Jorge Navalha e com Mestre Erasmo (na época, recruta do Exército). Os treinos com Erasmo duraram até o início de 1987, quando o Mestre Índio se mudou do Bairro de Fátima para o Sá Viana – como o Mestre Índio, que na época era considerado professor (considerado, porque naquele tempo não tinha professores, contramestres e mestres de capoeira no Maranhão – existiam os capoeiristas mais experientes), assumiu os treinamentos de capoeira no Sá Viana. Então treinei com o Mestre Índio de 1987 até 2001; fui batizado em 1987 (apelido de batismo – Marreta) e formado professor em 1994– pelo Mestre Índio. Em 2001, houve um desentendimento do Mestre Índio com Cadico (hoje, mestre Cadico); na oportunidade o Mestre Índio afastou Cadico da diretoria do grupo (na época – Associação de Capoeira Filhos de Ogum– hoje, Grupo São Jorge), então, como éramos muito unidos, resolvemos sair do grupo, Cadico, Neto e Eu. Nesse mesmo ano fundamos a Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA. No ano de 2002 fui consagrado Contramestre e, em 2009 Mestre de Capoeira, pelo Mestre Jorge Navalha. De 1993 até 2001, dei aulas de capoeira na União de Moradores/Clube de Mães do Sá Viana, juntamente com Cadico (hoje, mestre Cadico), pois o Mestre Índio passava muito tempo no Rio de Janeiro. De 2001 a 2006 dei aulas de capoeira na União de Moradores do Angelim Velho/ Novo Angelim/ Novo Tempo III - Angelim, e em um casarão na Rua da Estrela – centro (onde atualmente funciona a Casa da França no Brasil); de 2007 até os dias atuais, dou aulas de capoeira na Madre Deus (Conselho Cultural/ Sede do Boi/ Choperia Madre Deus) e no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira.

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MESTRE PEDRO – PEDRO MARCOS SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 286 MESTRE CACÁ – CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


CAPOEIRAGEM NO/DO MARANHÃO – SÉCULO XXI Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua, com a formalidade das ‘aulas em escolas da educação formal’, através de escolinhas de esportes... QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DOS GRUPOS/NUCLEOS DE CAPOEIRA, HOJE EXISTENTES

GRUPO 1. Padronização, sistema de graduação, metodologia de ensino, sistema administrativo287 GRUPO 2. Nos dias atuais, a diferença é a organização, com o uso de uniformes, sistemas de graduação, criação de Federações e associações, com apresentações culturais e com o reconhecimento de Mestre. São liderados pelos Mestres, Contramestres e Professores288. GRUPO 3. Sua padronização de uniformes, musicalidade, instrumentação, didática, metodologia de ensino289. GRUPO 4. Hoje, a maioria dos grupos e associações são reconhecidos por poder jurídico, os grupos anteriores eram formados por pessoas anônimas, sem poder jurídico290. GRUPO 5. Os Grupos/Associações, hoje existentes, possuem um método de treinamento e suas características são: 1. Organização; 2. Uniforme de treinamento, com logo e identificação; 3. Sistema de graduação291; GRUPO 6. Hoje, os grupos são mais organizados, com registros jurídicos, federações e maior numero de participantes292.

O QUE OS DIFERENCIA DAQUELES PRIMEIROS GRUPOS, FORMADOS A PARTIR DA ‘BANTUS’, E QUEM ERAM/SÃO AS LIDERANÇAS?

GRUPO 1. diferencial, a gestão administrativa; Mestres e Contramestres, e Professores (Formados) 293

GRUPO 3. Eram liderados por Mestre Índio, Mestre Patinho, Pirrita, Jorge, Miguel, Ribaldo, De Paula, (Começo dos anos 80) 294. 287

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 289 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 290 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 291 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 292 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 293 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 294 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 288


GRUPO 5. Lideranças – professores, contramestres e mestres295.

Buscamos com Mestre Patinho o ‘trabalho’ do Mestre Capoeira, nesses tempos de correção política: Bem na minha versão, até porque eu tenho uma sacação de que a capoeira é uma arte cultural desportiva hoje que ‘tá’ (sic) no mundo aí, né? Então, em cento e cinqüenta países, então é muito né? e a capoeira era a única essência de corporal e educacional que a comunidade tinha acesso sem ônus e hoje é muito caro ‘pra’ se fazer capoeira, e meu trabalho é o trabalho com a questão da educação inclusiva, né? não só como a questão do mongolóide, especial, como nós temos lá o Bamba, você vê, tem os meninos, eu aqui infelizmente ainda não tenho condição de atender essa demanda, mas assim há muitos anos que a galera vai pra rua, aí fazer besteira, se distanciam da leitura escolar, então eu acho muito importante, meu trabalho é muito voltado pra isso, pela questão do social, agora eu tenho que me sustentar, eu tenho alguns ‘padrinhos’, esses padrinhos são meus companheiros de estudo, são aquelas pessoas que pagam cinqüenta reais que é barato, né? Meu trabalho é um dos trabalhos mais baratos que existem nesse país porque se você vai ao Rio, São Paulo é cento e cinqüenta é duzentos reais uma mensalidade de capoeira, e aqui quem pode pagar, paga cinqüenta reais, e quem já passou da aborrecência e não tem condições de pagar, eu faço a permuta, chega mais cedo e dá uma varrida na sala, tem uma hora que eu chamo a atenção dos alunos para afinar os instrumentos, porque as pessoas acham que os instrumentos da capoeira não tem afinação, está entendendo?, então essa coisa toda que a gente faz questão de ser diferente mesmo, de respeitar as diferenças, ‘pra’ poder entender melhor a diversidade. (BOÁS, ? )296.

. Diniz organizava rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira, com a chegada de Roberval Serejo no início dos anos 60; a criação do Grupo “Bantus“ só se dá em 1968. Participava, além de Mestre Roberval Serejo, Mestre Diniz, Mestre Jessé Lobão, Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. De acordo com Gouveia [José Anunciação Gouveia] o pequeno grupo de capoeira, liderado por Roberval Serejo não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 297. Sapo, em 1972, começou a dar aulas de Capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Paturi cria a “Associação Comunitária Grupo de Apoio á Capoeira” em 1979 e o processo de registro só em 1983. Informa Mestre Til que o grupo liderado por Ribaldo Branco se reunia no quintal de sua casa, quinzenalmente, quando era realizada uma roda, ao som do LP de Mestre Pastinha. Dessa roda, de fundo de quintal, participavam: Ribaldo Branco – o seu idealizador – Luis Murilo, Alô, Ribaldo Preto, Leocádio, Garfo de Pau, Sansão, Zeca Diabo, Martins, além de outros alunos. Mestre Rui Pinto afirma que ‘começou como brincadeira’ no fundo quintal de parentes – no caso, de Mestre Jacaré, seu primo, treinando sem orientação, aprendendo apenas observando os mais experientes, e depois tentando repetir os movimentos. Passam a reunir-se no Bom Milagre e no Parque do Bom Menino, 295

O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 297 MARTINS, 2005, obra citada. 296


para treinar, e tocar instrumentos e cantar, aprendendo em pouco tempo a construir berimbau e outros apetrechos. Mestre Socó também freqüentava o Bom Milagre, e depois, as rodas de Mestre Diniz. Sua iniciação já de dá de forma mais organizada, com treinamentos aos sábados e domingos, ministradas por Raimundão, jogando o que chamavam de ‘capoeiragem’. As rodas já apareciam em datas festivas, como os feriados cívicos, festas de igreja, dia do trabalho, na Casa das Minas, no terreiro de Jorge Babalô, no dia 13 de maio, como aconteciam no bairro do João Paulo, aos sábados pela tarde, em casa de Beto, próxima à antiga estrada de ferro. Grupos de capoeiras também desfilavam no Carnaval... Nessa época, não era necessário o reconhecimento como Mestre Capoeira para dar aulas, bastava saber e conhecer na prática o ‘jogo da capoeira’. Ao se mudar para o Bequimão, Socó faz uma parceria com Curió, que já tinha formado seu “Grupo Arte Negra”; depois, passa a se denominar, esse grupo, de “Arte Fiel Capoeira”. É desse período, com a formação desses grupos iniciais, com seus líderes passando a ser tratados como ‘Mestre’, que começa a instituir um sistema de graduação, e consagrar outros mestres. Índio do Maranhão também declara que começou na capoeira como uma brincadeira de criança; com algumas ‘manhas’, passa a observar e, depois, freqüentar as rodas do Velho Diniz. Já com um certo conhecimento, sente necessidade de um aprofundamento maior e ‘migra’ para o Rio de Janeiro: Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio, Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro.

Para Índio, o grande ensinamento de Mestre Diniz, quem lhe deu toda a orientação e a quem deve tudo – saúde, dinheiro e obrigação – foi: [...] me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio, aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia é da Bahia; tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho.

Em 1987, Mestre Índio Maranhão funda o “Grupo de Capoeira Filhos de Ogum”, na Casa da Finada Mãe Angela, uma Ialorixá, zeladora de Guias, caboclos e Orixás, na travessa da Fortuna no bairro Monte Castelo; em 1998, passa a se denomiar “Centro Cultural Filhos de Ogum” e por motivo religioso de alguns alunos cristãos, quando do seu registro oficial em 2002 se nominou “Associação Cultural de Capoeira São Jorge”: Devoto de São Jorge desde março de 1973, após uma briga na Areinha, que começou com o Gilmar sendo agredido por um rapaz da Liberdade, então começamos uma grande confusão, onde todos entraram em confronto que demorou demais para parar. Foi quando ficamos sendo ameaçados e perseguidos pelos rapazes da Liberdade, foi quando então a mãe do companheiro Wilson Botão nos procurou e nos deu a oração de SÃO JORGE, na qual eu depositei a minha fé há 28 anos e mantenho até os dias de hoje, realizando todos os anos Uma grande Festa em Louvor a São Jorge onde a festa maior é a roda de capoeira.

Com suas andanças com a capoeira, passou, além do Rio de Janeiro, por Goiânia, São Paulo, Fortaleza, Belém e outros estados. Em julho de 1999 foi à Espanha pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua do Rio de Janeiro, por intermédio de um intercâmbio, onde passou 35 dias na Catalunha.


Pirrita, em 1979 se muda para o bairro Anjo da Guarda. Lá retorna os treinos de capoeira, e incentiva seu cunhado, Jorge, a fazer o mesmo, iniciando, aí, um movimento de ‘restauração’ da capoeira, retirando-a do estado de letargia a que se lhe acometera, com a morte de Sapo. Passam a participar das rodas que ocorriam na Praça Deodoro e no Olho d´Água, organizadas, agora, por Pezão. Têm a idéia de formar um grupo, surgindo o “Grupo de Capoeira Aruandê”, formado por Pirrita dirigente, Jorge, Sabujá, Zezão, Cícero, Roquinho, João Bicudo, Bigu e mais alguns alunos, tendo durado pouco tempo, por razão de alguns participantes não quererem seguir as normas, colocadas por Pirrita. Durante as Festas Juninas, o grupo comandado por Pirrita se apresenta nas diversas festas que ocorriam, em especial na área Itaqui-Bacanga. Comenta: Nessa mesma década de 80, a capoeira do nosso estado passou no anonimato, pois rodas de capoeira já não se olhava, as pessoas que praticavam tinham se acomodado, não se olhava mais as rodas na Deodoro, Casas das Minas e Praia do Olho D’água. Nesse período Mestre Pirrita e o Mestre Jorge tiveram a ideia mais uma vez de reunir os capoeiristas que frequentavam seu centro de treinamento, entre eles estavam Sabujá, João Bicudo, Urucunga, Cícero, Ribaldo Preto e outros, e aproveitando a época do carnaval começaram a reativar as rodas de capoeira na Praça Deodoro, despertando nos capoeiristas a vontade de voltarem a jogar capoeira em nossa praça.

Os capoeiristas veteranos voltam a se encontrar na Praça Deodoro, para a prática da capoeira. Entre eles: Ruy Pinto, Euzamor, Candinho, Curador, Pelé, Patinho, Madeira, De Paula, Banana, Miguel, China e outros. A área Itaqui-Bacanga passa a ser uma grande referência da capoeira no Estado, pois lá se reuniam capoeiras de todos os bairros. Sob a liderança de Mestre Pirrita e de Mestre Jorge, começam grandes eventos da época, como: ‘I - Torneio Classe Estreante, ‘II, III e IV Movimento Pró-Capoeira’, ’I Festival Capoeira nos Bairros’, nessa época já existiam na área Itaqui-Bacanga, vários grupos organizados. Além dos eventos, os mesmos realizavam batizados, e havia rodas em vários locais como: Praça do Anjo, Teatro Itapicuraíba, Barrigudeira, Mercado do Anjo da Guarda, e União de Moradores do Sá Viana, e aos sábados, Mestre Pirrita recebia grande número de capoeirista em sua academia. Mestre Curió dá uma idéia de como era o ambiente em que viviam os capoeiras: Boêmio, era frequentador das danceterias e dos clubes de reggae espalhados pela ilha, o Pop Som da Jordoa, o Espaço Aberto do São Francisco, na praia da Ponta da Areia, etc., entre o reggae e as rodas de rua, sua capoeira foi vivenciada num ambiente de periferia e de muita marginalização.

É interessante resgatar como se tornou Mestre Capoeira, naquela época em que a definição de “mestre” no universo capoeirando ludovicense, sua aprendizagem se confundia com o ensinamento propriamente dito, “amigo” e “discípulo” não eram categorias muito diferenciadas, o que de fato existia era uma relação de troca de conhecimentos e experiências em diversos espaços da cidade (ruas, praças e quintais): Curió era praticante de Karatê quando ouviu falar de outra modalidade de luta: Capoeira. Lembrouse que já a havia visto, no arraial de Zé Copertino no João Paulo, no período das festas juninas. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionoua com a ‘Punga dos Homens’, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. [...] entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”.


Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar em casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Aproximadamente dez anos depois, quando já se sentia suficientemente preparado para entrar na roda, jogou novamente com Curador e retribuiu a “lição”, caiu dentro dele atropelando seus martelos e meia-luas, jogando-o no chão. Caído, Curador exclamou: “Mestre! Mestre!”, ao que respondeu Curió: “Tu que é meu mestre!”. Desde então, o Mestre Curió sempre diz de forma irônica que seu mestre foi Curador, pois despertou nele o que precisava em sua aprendizagem. Curió criou o ‘Grupo de Capoeira Arte Negra’. Em 25 de maio de 2000 o mestre Curió juntamente com o mestre Socó recebeu um certificado de contra-mestre dado pelo mestre Miguel pelo ‘Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo’. Mais tarde também foi reconhecido formalmente pela Federação Maranhense de Capoeira. Em 2014, de volta a São Luís, por incentivo dos amigos e discípulos, revitalizou o grupo de capoeira mudando o nome para ‘Arte Fiel’, em alusão ao seu ideal evangélico. Em 2015, em parceria com seu filho Roberto, fundou o ‘Instituto Funcional Viva Rio Anil’, uma entidade sem fins lucrativos que engloba várias atividades esportivas e culturais. O reconhecimento do ‘Mestre Capoeira’, atualmente, ainda se dá da forma tradicional, isto é, pelo reconhecimento dos demais mestres, pela sua experiência e, sobretudo, antiguidade, e a partir da instituição dos sistemas de graduação (final dos ano 70 – Sapo, Pezão -, meados dos 80, com Pirrita e Jorge Navalha, e a fundação da Federação de Capoeira do Maranhão: GRUPO 3. Mestre Sapo usava uma graduação muito restrita, em meados da década de (19)70; em 89, chega a São Luis a graduação pelo Mestre Pezão; em 1990, foi fundada a FMC (Federação Maranhense de Capoeira); em 2001, foi fundada a FACAEMA (Federação de Capoeira do Estado do Maranhão) 298. GRUPO 5. Na década de 70, quando os capoeiristas do Maranhão começaram a adotar o sistema de graduação da C.B.P. (Confederação Brasileira de Pugilismo), nasce a hierarquia na Capoeira299. GRUPO 2. Reconhecimento popular, e também reconhecimento pelo segmento; usava-se o sistema da Federação Brasileira de Pugilismo na década de 70300 GRUPO 4. No Maranhão não existia uma unificação no sistema de graduação, cada mestre e graduado por sua instituição que o mesmo faz parte; exemplo: Federações, Associações que têm um sistema próprio301. GRUPO 1. Através da FMC – Federação Maranhense de Capoeira - e a FACAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – 1994 à 2003; as Federações, FMC e FACAEMA302 GRUPO 6. O reconhecimento do Mestre de Capoeira deu-se pela necessidade da formação e da titulação de um profissional mais presente e qualificado por meio de uma graduação e certificado303.

O Contramestre Formiga Atômica relata a trajetória de seu mestre, Madeira, quando da formação deste, e a intensa procura de vários dos capoeiras contemporâneos na busca de melhores conhecimentos: 298

MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO. JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 300 MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 301 PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 302 PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 303 MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 299


[...] mestre Madeira (...) Seu nome José Raimundo Leles da Silva, filho de Raimundo Ferreira da Silva e Teresinha de Jesus Leles da Silva. O nome da sua academia era ‘Clube Center’ onde ele ensina karatê e Capoeira; sem demora ele viaja para São Paulo se forma professor e recebe uma autorização para dar aula pela ‘Cordão de Ouro’ do mestre Suassuna; vindo de São Paulo, ele viaja para Bahia e conhece o mestre Canjiquinha, formado a mestre por esses dois mestres, conhece também o mestre Waldemar Rodrigues da Paixão, quem lhe ensinou muita coisas; segundo ele o mestre Waldemar teve quatro mestres que foram: Calabi, Piri Piri, Canário Pardo e Siri de Mangue e dos mestres que ele teve o que ele mais gostou foi Siri de Mangue e por isso em homenagem ao mestre Waldemar o mestre Madeira mudou o nome do seu grupo para (Siri de Mangue Capoeira).

Formiga Atômica, em 2011, se afasta do “Siri de Mangue” e fundei o “Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira” , grupo do qual é presidente-fundador, porém continua ligado ao “Siri de Mangue”, e também junto com o seu Mestre, Madeira. É Mestre Mizinho quem nos dá uma idéia da trajetória dos capoeiras ‘da nova geração’, aquela que se insere no mundo da capoeira após a morte de Sapo – a maioria nem havia nascido ainda – e começam a se destacar a partir do inicio do século XXI: No ano de 1999 fui graduado a Mestrando pelo Mestre Evandro. No entanto, no começo do ano 2000 saí do Grupo do Mestre Evandro, o ‘Mára-Brasil’, e decididamente com o Contramestre Jota-Jota e Contramestre Manoel, fundamos a ‘Associação Nação Palmares Capoeira’ [...] Neste período obtive minha primeira viagem internacional, com destino a duas cidades: Bordeaux e Lille, na França, na Europa. Nesta viagem foi uma equipe de quatro capoeiristas: Contramestre Mizinho, Contramestre Tutuca, Contramestre Manoel e o Monitor Betinho; através da ajuda do Contramestre Jota-Jota que já se encontrava na França, ficamos na cidade de Bordeaux por um mês, e depois CM Tutuca, CM Manoel e o Monitor Betinho voltaram para o Brasil enquanto continuei na cidade de Lille, com o CM Jota-Jota para realizar outro trabalho, onde me mantive por mais um mês. Em 11 de outubro de 2003, fui formado a Mestre pela “FECAEMA” (Federação de Capoeira do Estado do Maranhão) numa solenidade no “Convento das Mercês”.

Mizinho, ao sentir a necessidade de pôr em prática meus conhecimentos através de todo o aprendizado que adquiriu da Capoeira, e sentindo-se capaz de oferecer grande contribuição na arte, na cultura, no esporte, e até mesmo no meio educacional, para a formação do caráter de crianças, adolescentes e na profissionalização de adultos, decidiu fundar - em 15 de março de 2006 - o “Centro Cultural Educacional Maranhão Arte de Capoeira”. Hoje o “Maranhão Arte Capoeira” desenvolve um trabalho com uma equipe de 17 (dezessete) professores, 01 (um) Monitor, 06 (seis) alunos formados e 10 (dez) estagiários. De todos, 11 (onze) são da cidade de São Luís e 08 (oito) do município de Icatu - MA. Através da qualificação de Mestre desses profissionais, promove aulas 02 (duas) vezes na semana e capacitações práticas e teóricas uma vez ao ano: Atualmente nosso trabalho abrange 15 (quinze) bairros em São Luís: Maracanã, Nova República, Vila 2000, Quebra-Pote, Fé em Deus, Coroadinho, Alemanha, Cidade Operária, Santa Efigênia, Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira e Filipinho; e em 03 (três) municípios maranhenses: Icatu, Santa Quitéria e Cururupu. Fora do Brasil, tenho trabalho com dois alunos na Europa, na cidade de Bordeaux com o Mestre Betinho do Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira) e na cidade de Torcoing com o Mestre Mão de Onça do Grupo Nação Palmares de Capoeira, ambos na França.

No ano de 2005 recebeu da Câmara de Vereadores de São Luís uma comenda pelos bons serviços prestados pela valorização da Capoeira numa cerimônia no interior da Plenária da Câmara de Vereadores juntamente com outros Mestres de Capoeira. Outro que já tem carreira internacional consolidada é Luis Senzala:


Atualmente, sou Mestre da ‘Escola de Capoeira Angola Acapus’ fundada em 1998, com sede própria na Travessa Marcelino Almeida 173 A. Centro Histórico – Praia Grande. Ministro aulas que abordam musicalidade, fabricação de instrumentos, história da Capoeira, aulas práticas (com a preocupação de preservar e difundir os rituais e fundamentos da Capoeira/ Tradição); Realiza atividades na Sede da Escola de Capoeira Angola ACAPUS: Palestras com Mestres convidados; rodas e aulas práticas abertas à comunidade. Realização de vivencias em bairros de São Luis e intercambio com praticantes de outras nacionalidades. Ministro oficinas de fabricação de berimbau, pandeiro, reco-reco, atabaque, agogô, caxixi, e repassamos como a matéria prima é adquirida e como preservá-la; Realizamos palestras com mestres e pesquisadores convidados e aulas teóricas sobre a história da Capoeira, com temas diversificados, principalmente sobre os personagens que fizeram parte dos primeiros registros da Capoeira em São Luis e no Maranhão. Ministrei aulas em Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Trabalhos sociais no Movimento de Menino e Menina de Rua, Casa João e Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. Diploma de honra ao mérito recebido pela Câmara Municipal de São Luis, pelos trabalhos sócioeducativos desenvolvidos em prol da comunidade Ludovicense através da Capoeira.

Mestre Abelha, a partir de 2001, começa a viajar pelo mundo ministrando oficinas e dando palestras sobre a Capoeira Angola, incluindo Brasil, Itália, França, Bélgica, Suíça, Holanda, Áustria, Alemanha e Grécia. Em 2013, fixa moradia definitiva em Atenas-Grécia, onde organizou a “Escola de Capoeira Angola Cortiço do Abelha”, com suas sedes na Grécia, Itália, Austrália e França. Mantém a sede em São Luis, e em outros estados brasileiros... É ainda em 2001 que se dá a realização do 1º CONGRESSO TÉCNICO DA FACAEMA, na Academia de Mestre Edmundo. Neste congresso que se tomou a decisão de caracterizar, através da formação da orquestra, a Capoeira do Maranhão/Ludovicense: GRUPO 3. No ano de 2001, reuniu-se na Academia de Mestre Edmundo representantes da Capoeira de vários segmentos, para a padronização de uma bateria, que seria única, nos grupos filiados à FECAEMA. Estavam presentes, da Capoeira Angola: Marco Aurélio, Abelha, Piauí; de outros segmentos: Índio, Baé, Mizinho, Paturi, Ciba, Edmundo. Decidimos cantar no Gunga e no Médio304..

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MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO.


Fonte: Greciano Merino, 2015

Ainda temos a registrar a atuação do “Forum Permanente da Capoeira do Maranhão”: GRUPO 1305. Um forma democrática de discussão para a organização, valorização, divulgação e políticas públicas para a Capoeira. GRUPO 2306. Vemos como um grande avanço da Capoeira do Maranhão onde as idéias podem ser debatidas por todos livremente. GRUPO 3307. Vemos como uma complementação dos grupos existentes em conjunto buscando políticas públicas e a afirmação da própria capoeira como segmento social. 305

PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 307 MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO. 306


GRUPO 4308. Com a criação do Fórum Permanente, a capoeira ganha um grande aliado, conseguindo junto ao IPHAN a salvagem quando da Capoeira me junto à UFMA o Curso de Capacitação dos Mestres do Maranhão. GRUPO 5309. A atuação do Fórum ainda é muito tímida para as pretensões da Capoeira do Maranhão. GRUPO 6310. O grupo vê o Fórum como um grande aliado no desenvolvimento de políticas publicas para o movimento voltado a capoeira. Marco Aurélio Haikel, em postagem no facebook do dia 20 de agosto de 2017, fala sobre o Fórum de Salvaguarda da Capoeira do Maranhão: NESTE FINAL DE SEMANA OCORREU O FÓRUM QUE ESTABELECEU O PLANO DE SALVAGUARDA DA CAPOEIRA NO MARANHÃO. Há mais de dez anos capoeiras veem se reunindo para refletirem e debaterem questões ligadas à Capoeira. Mais tarde com a amplitude que foram tomando tais reuniões deram ensejo à criação do Fórum Permanente da Capoeira no Maranhão, um espaço político capaz de manter o foco nos debates sobre os rumos da Capoeira, com vistas a estreitar relacionamentos institucionais, ato contínuo acompanhar execução de políticas públicas de interesse da Capoeira, tendo por base seu viés pedagógico e sua natureza transversal. Muitas foram as experiências vividas, nem todas agradáveis é verdade, mas longe de se tornarem obstáculos à dinâmica dos encontros, primeiro, entre lideranças, depois, a partir de um natural amadurecimento foi tomando corpo e encampando capoeiras, de mestres/as a alunos/as, independente de estilos, todos/as irmanadas/os na construção de um espaço não formal, mas agregador das mais diversas entidades de Capoeira, inclusive, capoeiras enquanto indivíduos e não assiciados a qualquer grupo. Entre as diversas ações realizadas, destaque para essa que teve início há três anos, quando ocorreu o primeiro contato com a equipe da Superintendência do IPHAN, no Maranhão. A partir daí ocorreram uma série de ações e reuniões institucionais que culminou na formação de uma comissão mista, a qual, com base no que se discutiu, refletiu e decidiu ao longo de anos e experiências elaborou uma Minuta do Plano de Salvaguarda da Capoeira no Maranhão que, submetida ao crivo da Plenária do Fórum - diga-se, não o que precedeu e deu origem a esse momento histórico - mas, do Fórum da Salvaguarda da Capoeira no Maranhão, que reunido durante dois dias, 27 e 28, deu origem ao documento que formalizará o Plano de Salvaguarda da Capoeira no Maranhão. Há que se ressaltar que no referido encontro as lideranças e demais capoeiras presentes primaram pelo diálogo e participação política de mais alto nível. Um verdadeiro exercício de cidadania, respeito, desejo e consciência de se está realizando um marco histórico e significativo para esta e futuras gerações de capoeiras, sob o prisma institucional e de reconhecimento enquanto bem patrimonial. Novas perspectivas se abrem, sobretudo, no desenvolvimento e execução de políticas públicas sob uma ótica transversal em que a Capoeira, na condição de patrimonio cultural imaterial brasileiro, juntamente com o potencial pedagógico que possui pode ser um instrumento a ser utilizado nas mais diversas áreas saúde, educação, cultura, segurança, ambiental... - a fim de atuar junto a um público diverso, como crianças, jovens, adultos e idosos. Parabéns à Capoeira, e, em particular, à Capoeira no Maranhão. 308

PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 310 MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 309


Concordamos com Almeida e Silva (2012) 311, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 312. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas313. Mestre Gavião já viajou por muitos estados brasileiros a procura de capoeira, e sempre buscou manter suas raízes, só absorvendo o que achava interessante para enriquecer sua capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, o viu jogando e perguntou: “Oh Mestre, essa sua capoeira é africana?” Poderia – ou deveria! – ter respondido: “Não, é Capoeira do Maranhão, de São Luis, ludovicense!!!” É a “Capoeiragem Tradicional Maranhense”314

311

ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 312 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 313 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 314 Assim a denominaram os Mestres Capoeiras partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiras do Maranhão, adeptos da denominada ‘capoeira mista’, após os estudos realizados, passando de ora em diante a assim denominar seu estilo de luta, conforme correspondência pessoal, via Facebook, de Mestre Baé, em 28 de setembro de 2017.


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.



A PROFISSÃO “EDUCAÇÃO FÍSICA” – INCLUI O CAPOEIRA315 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação A profissão “Educação Física” - regulamentada por determinação da Lei nº 9696/98316 -, é prerrogativa do profissional graduado em Curso Superior de Educação Física (Licenciatura ou Bacharelado), com registro no Sistema CONFEF/CREFs, a prestação de serviços à população em todas as atividades relacionadas à Educação Física e nas suas diversas manifestações e objetivos. É, portanto, um campo profissional legalmente organizado, integrado a área da saúde e da educação. A Resolução CONFEF nº 046/2002, de 18 de Fevereiro de 2002317, que dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional dispõem em seu artigo 1º.: “Art. 1º - O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais -, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo.” (D.O.U. nº 53 de 19 de março de 2002 - Seção 1 - pág. 134). (Grifos meus).

No “DOCUMENTO DE INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA” (Resolução CONFEF nº 046/2002, de 18 de Fevereiro de 2002) vamos buscar algumas explicações sobre essa intervenção profissional. O termo “Educação Física” contempla, dentre outros, os significados:  O conjunto das atividades físicas e desportivas318; 315

Por “capoeiras” entende-se os agentes de uma prática cultural oriunda dos africanos no Brasil denominada Capoeira ou Capoeiragem, que passou por um processo de criminalização entre finais do século XIX e início do XX chegando aos dias atuais a ser considerada uma das principais manifestações da cultura afro-brasileira e esporte de caráter nacional, compondo a grade curricular obrigatória dos cursos de Educação Física em algumas universidades brasileiras, como por exemplo as universidades baianas UEFS, UFBA e UCSAL. IN Oliveira, Josivaldo Pires de. BANDOS DE MARGINAIS”: OS CAPOEIRAS NO LIVRO DIDÁTICO HISTÓRIA E CIVILIZAÇÃO. 316 Disponível em http://www.confef.org.br/ 317 in D.O.U. nº 53 de 19 de março de 2002 - Seção 1 - pág. 134, disponível em http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/ 318

No âmbito deste trabalho, considera-se: ATIVIDADE FÍSICA - todo movimento corporal voluntário humano, que resulta num gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do cotidiano e pelos exercícios físicos. Trata-se de comportamento inerente ao ser humano com características biológicas e sócio-culturais. No âmbito da Intervenção do Profissional de Educação Física, a atividade física compreende a totalidade de movimentos corporais, executados no contexto de diversas práticas: ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais. EXERCÍCIO FÍSICO - Seqüência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos corporais, executados de forma planejada, segundo um determinado objetivo a atingir. Uma das formas de atividade física planejada,


 A profissão constituída pelo conjunto dos graduados habilitados, e demais habilitados, no Sistema CONFEF/CREFs, para atender as demandas sociais referentes às atividades físicas nas suas diferentes manifestações, constituindo-se em um meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seres humanos;  O componente curricular obrigatório, em todos os níveis e modalidades do ensino básico, cujos objetivos estão expressos em Legislação específica e nos projetos pedagógicos;  Área de estudo e/ou disciplina no Ensino Superior;  O corpo de conhecimentos, entendido como o conjunto de conceitos, teorias e procedimentos empregados para elucidar problemas teóricos e práticos, relacionados à esfera profissional e ao empreendimento científico, na área específica das atividades físicas, desportivas e similares. Quanto ao Exercício Profissional, o Profissional de Educação Física é aquele que exerce suas atividades por meio de intervenções, legitimadas por diagnósticos, utilizando-se de métodos e técnicas específicas, de consulta, de avaliação, de prescrição e de orientação de sessões de atividades físicas e intelectivas, com fins educacionais, recreacionais, de treinamento e de promoção da saúde, observando a Legislação pertinente e o Código de Ética Profissional e, sujeito à fiscalização em suas intervenções no exercício profissional pelo Sistema CONFEF/CREFs. Na sua intervenção, o Profissional de Educação Física utiliza-se de procedimentos diagnósticos, técnicas e instrumentos de medidas e avaliação funcional, motora, biomecânica, composição corporal, programação e aplicação de dinâmica de cargas, técnicas de demonstração, auxílio e segurança à execução dos movimentos, servindo-se de instalações, equipamentos e materiais, música e instrumentos musicais, tecnicamente apropriados. O exercício do Profissional de Educação Física é pleno nos serviços à sociedade, no âmbito das Atividades Físicas e Desportivas, nas suas diversas manifestações e objetivos. O Profissional de Educação Física atua como autônomo e/ou em Instituições e Órgãos Públicos e Privados de prestação de serviços em Atividade Física, Desportiva e/ou Recreativa e em quaisquer locais onde possam ser ministradas atividades físicas, tais como: Instituições de Administração e Prática Desportiva, Instituições de Educação, Escolas, Empresas, Centros e Laboratórios de Pesquisa, Academias, Clubes, Associações Esportivas e/ou Recreativas, Hotéis, Centros de Recreação, Centros de Lazer, Condomínios, Centros de Estética, Clínicas, Instituições e Órgãos de Saúde, "SPAs", Centros de Saúde, Hospitais, Creches, Asilos, Circos, Centros de Treinamento Desportivo, Centros de Treinamento de Lutas, Centros de Treinamento de Artes Marciais, Grêmios Desportivos, Logradouros Públicos, Praças, Parques, na natureza e outros onde estiverem sendo aplicadas atividades físicas e/ou desportivas. Mas o sistema CONFEF/CREF deixou aberto a participação de “leigos”319 - aqueles profissionais não graduados em curso superior de Educação Física. Esses profissionais deveriam requerer sua inscrição mediante o cumprimento integral e observância de alguns requisitos:  comprovação oficial da atividade exercida, até a data do início da vigência da Lei nº 9696/98, ocorrida com a publicação no Diário Oficial da União (DOU), em 02 de Setembro de 1998, por prazo não inferior a 03 (três) anos.

estruturada, repetitiva, que objetiva o desenvolvimento da aptidão física, do condicionamento físico, de habilidades motoras ou reabilitação orgânico-funcional, definido de acordo com diagnóstico de necessidade ou carências específicas de seus praticantes, em contextos sociais diferenciados. DESPORTO/ ESPORTE - Atividade competitiva, institucionalizado, realizado conforme técnicas, habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinado por regras preestabelecidas que lhe dá forma, significado e identidade, podendo também, ser praticado com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus praticantes, realizado em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos: da natureza, radicais, orientação, aventura e outros). A atividade esportiva aplica-se, ainda, na promoção da saúde e em âmbito educacional de acordo com diagnóstico e/ou conhecimento especializado, em complementação a interesses voluntários e/ou organização comunitária de indivíduos e grupos não especializados. (Resolução CONFEF Nº 046/2002, De 18 de Fevereiro de 2002, que dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional., disponível em http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/). 319

Resolução CONFEF nº 045/2002 Dispõe sobre o registro de não-graduados em Educação Física no Sistema CONFEF/CREFs, D. O. U. nº 38 de 26 de fevereiro de 2002 - Seção 1 - pág. 29


 a comprovação do exercício, se fará por: carteira de trabalho, devidamente assinada; ou contrato de trabalho, devidamente registrado em cartório; ou, documento público oficial do exercício profissional; ou, outros que venham a ser estabelecidos pelo CONFEF. Deverá, também, obrigatoriamente, indicar uma atividade principal, própria de Profissional de Educação Física, com a identificação explícita da modalidade e especificidade. Já na CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES - CBO/2002 -320, a ocupação “Educação Física” tem como Norma Regulamentadora a Lei nº 9.696, de 01 de setembro de 1998 – que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Educação Física e cria os respectivo Conselho Federal e Regionais de Educação Física. São Profissionais da Educação Física (Família 2241): 2241-05 - Avaliador físico - Orientador fisiocorporal 2241-10 - Ludomotricista - Cinesiólogo ludomotricista 2241-15 - Preparador de atleta 2241-20 - Preparador físico - Personal treanning, Preparador fisiocorporal 2241-25 - Técnico de desporto individual e coletivo (exceto futebol) - Treinador assistente de modalidade esportiva, Treinador auxiliar de modalidade esportiva, Treinador esportivo 2241-30 - Técnico de laboratório e fiscalização desportiva 2241-35 - Treinador profissional de futebol - Auxiliar técnico- no futebol, Auxiliar técnico- nos esportes, Coordenador de futebol, Professor de futebol

Fonte: CBO/2002 Esses Profissionais desenvolvem, com crianças, jovens e adultos, atividades físicas; ensinam técnicas desportivas;realizam treinamentos especializados com atletas de diferentes esportes; instruem-lhes acerca dos princípios e regras inerentes a cada um deles; avaliam e supervisionam o preparo físico dos atletas; acompanham e supervisionam as práticas desportivas; elaboram informes técnicos e científicos na área de atividades físicas e do desporto. Esta família não compreende a ocupação de professor de educação física do ensino superior, classificada na família ocupacional 2344. A família ocupacional de 2391 - professores de educação física escolar que engloba as atividades do ensino formal de educação física exceto professores de nível superior. Para nosso estudo, devemos recorrer as descrições das “Famílias afins” - 3771 - ATLETAS PROFISSIONAIS; e 3772 - ÁRBITROS DESPORTIVOS. 3771-05 - Atleta profissional (outras modalidades) 3771-10 - Atleta profissional de futebol 3771-15 - Atleta profissional de golfe 3771-20 - Atleta profissional de luta - Atleta de judô, Atleta de karatê, Atleta de taichichuan, Jodoísta, Judoca, Karateca, Lutador de aikidô, Lutador de capoeira, Lutador de fullcontact, Lutador de hapkidô, Lutador de karatê, Lutador de kendô, Lutador de sumô, Lutador de taekwondô 3771-25 - Atleta profissional de tênis 3771-30 - Jóquei 3771-35 - Piloto de competição automobilística 3771-40 - Profissional de Atletismo 3771-45 - Pugilista -

Fonte: CBO/2002 Descrição sumária - Tomam parte como profissionais em competições e provas esportivas. Participam, individualmente ou coletivamente, de competições esportivas, em caráter profissional. 320

http://www.mtecbo.gov.br/index.htm


Verifica-se que nessa categoria, aparece o Atleta profissional de luta, no qual se insere o Lutador de capoeira. Já no quadro de Árbitros, não aparece a capoeira, a menos que se o insira na classe Árbitro desportivo, que é descrito como aqueles profissionais que zelam pela observância do regulamento nas competições esportivas, controlando o andamento das mesmas, registrando as infrações, aplicando as penalidades e fazendo as marcações necessárias para assegurar o processamento desses eventos dentro das normas estabelecidas pelos órgãos desportivos. Procurando pela descrição profissional do Lutador de Capoeira (código 3771-20, temos como condições gerais de exercício os profissionais que trabalham em clubes, agremiações esportivas, academias, órgãos da administração pública afetos aos esportes, no ensino etc. Não há regras comuns para todas as modalidades de esporte. Para obterem a profissionalização seguem, regras específicas das agremiações esportivas a que se vinculam, construindo, portanto, trajetórias diferenciadas, baseadas em diferentes combinações entre tempo de exercício do esporte, participação em jogos e eventos, premiações etc. A maioria trabalha como autônomo, em horários irregulares. Em algumas atividades, alguns profissionais podem estar submetidos a condições especiais de trabalho, como pressão psicológica, ruído intenso e altas temperaturas, bem como permanecer por longos períodos em posições desconfortáveis. Exige, como formação e experiência: escolaridade formal não é pré-condição para o exercício das ocupações desta família. A formação prática dos atletas profissionais pode se dar tanto por meio de treinos e exercícios realizados individual e/ou coletivamente, em geral, com a supervisão de treinadores ou técnicos, como por meio de participação em provas, competições, jogos e certames. O Regulamento Internacional da Capoeira321 adota o seguinte Sistema Oficial de Graduação, natureza obrigatória para todas as entidades integrantes do Sistema Desportivo da Capoeira, a saber: A- GRADUAÇÃO INFANTIL ALUNOS (03 a 12 anos): 1º estágio - iniciante: sem corda ou sem cordão 2º estágio - batizado: cinza claro/verde 3º estágio - graduado: cinza claro/amarelo 4º estágio - graduado: cinza claro / azul 5º estágio - intermediário: cinza claro/verde/ amarelo 6º estágio - adiantado: cinza claro / verde / azul 7º estágio - estagiário: cinza claro / amarelo / azul B- GRADUAÇÃO PADRÃO ALUNOS (a partir de 13 anos): 1º estágio - iniciante: sem corda ou sem cordão 2º estágio - batizado: verde 3º estágio – graduado: amarelo 4º estágio – graduado: azul 5º estágio – intermediário: verde e amarelo 6º estágio – adiantado: verde e azul 7º estágio – estagiário: amarelo e azul C- DOCENTES DE CAPOEIRA 321

Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001.


8º estágio - Formado: verde, amarelo e azul 9º estágio - Monitor: verde e branco 10º estágio - Instrutor: amarelo e branco 11º estágio - Contramestre: azul e branco 12º estágio - Mestre: branco D- CONSELHO SUPERIOR DE MESTRES: 13º estágio – Mestre Integrante: branco brasão em cobre 14° estágio – Mestre Efetivo: branco brasão em prata 15º estágio – Mestre de Honra: branco brasão em ouro. Em seu Título VI - Da Qualificação para o Ensino da Capoeira, os seus artigos 20 e 21:  A formação e qualificação para o ensino da Capoeira se fundamentará nas competências e habilidades teóricas e práticas necessárias para nossa época, onde o docente de capoeira, de um modo geral, é um empreendedor ou um prestador de serviços, e ocorrerá ao longo de sua vida como capoeirista, desde o estágio inicial até o mais elevado nível de docência.  São consideradas as seguintes competências para os docentes de Capoeira: A- Atenção à Saúde – os docentes, em seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção e proteção da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. B- Tomada de Decisões – fundamentado na capacidade de tomar atitudes visando o uso apropriado e a eficácia para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas. C- Comunicação – primar pela comunicação verbal, não-verbal e habilidades da escrita e da leitura. D- Liderança – estar apto a assumir posições tendo em vista o bem estar da comunidade. E- Administração e Gerenciamento – estar apto a tomar iniciativas gerenciais e administrativas dos recursos humanos, físicos e materiais. F- Ética – possuir princípios morais que se devem observar no exercício profissional ajustando-se às normas de relações entre os diversos membros da coletividade, bem como manter confidencialidade de informações na interação com outros profissionais e o público em geral. G- Educação Continuada – os profissionais devem ser capazes de aprender continuadamente, tanto na sua formação quanto na sua prática, devendo desta forma aprender a aprender, tendo a responsabilidade na busca constante de novas informações e o compromisso com a educação Para se atingir as graduações propostas pela FICA, são estabelecidos os seguintes tempos mínimos para promoção, de acordo com o artigo 31 de seu Regulamento Internacional: NÍVEIS DE GRADUAÇÃO

IDADE MÍNIMA

TEMPO DE CAPOEIRA

Aluno do 1° ao 7° estágio (infantil)

03 aos 12 anos

De ano em ano

Aluno do 1° ao 7° estágio (normal)

13 anos em diante

4 anos e 11 meses

8° estágio: Formado

18 anos

5 anos

9° estágio: Monitor

20 anos

7 anos

10° estágio: Instrutor

25 anos

12 anos

11° estágio: Contramestre

30 anos

17 anos

12° estágio: Mestre

35 anos

22 anos

13° estágio: Integrante – CSM

45 anos

30 anos


14° estágio: Efetivo – CSM

55 anos

40 anos

15° estágio: Honra – CSM

65 anos

50 anos


É A EDUCAÇÃO FÍSICA UMA CIÊNCIA ? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação

Há anos vimos apresentando ao Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão - CEFET-MA proposta para implantação de um CURSO SUPERIOR DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM TREINAMENTO ESPORTIVO ESCOLAR. Todas foram rejeitadas, sob a alegação de que a área de Educação Física não era científica - Educação Física não é ciência - e de que tampouco pertencia à área tecnológica. Essas questões - Educação Física como ciência - foram discutidas na 52ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - 52 ª SBPC -, realizada em Brasília no mês de julho de 2000. O Grupo de Trabalho Temático - GTT - Epistemologia e Educação Física, do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE -, se manifestou a respeito da questão: a educação física é uma ciência ? BRACHT (2000) pergunta-se se é possível ter-se claro o que é e o que não é ciência ? E responde que, hoje, isto está muito difícil. Pode-se dizer, ou descrever, o que fazem os cientistas, mas não há acordo possível quanto aos contornos ou às características da ciência. E essa é uma decisão arbitrária, pois exige uma opção por uma determinada visão do que seja a ciência. Ora, a separação entre o "saber" - característica da ciência (conhecimento) - e o "fazer" - característica da técnica (habilidade) - implícita na afirmação de que "tecnólogos não são cientistas" é fruto de uma distinção teórica e tradicional que há muitos séculos se faz (ALLEN, apud AGUIAR, 1992). O que deteve a ciência grega foi o divórcio entre a técnica e a teoria, entre o técnico e o pensador e não a presença de erros de teorias e de métodos, haja vista que o germe de muitas teorias atualmente vigentes aparece nas obras dos sábios gregos (MORAIS, 1988), havendo necessidade de se rever a posição de se ver os gregos como "intelectuais que desdenhavam o trabalho manual ou que rejeitavam a tecnologia" (PRICE, 1976 : 53) dada à descoberta do mecanismo de Antiquetera, pois homens que o fizeram poderiam construir quaisquer outro aparelho mecânico. O desprezo pelo trabalho manual e pelas artes mecânicas, na Grécia, provém das classes militares e caracteriza exatamente as sociedades e os Estados militaristas em sua oposição às sociedades e Estados industriais. O desprezo ao trabalho manifestado por Platão, Aristóteles e os médicos pós-hipocráticos foi estendido a toda a Antigüidade clássica, o que não corresponde com a realidade, haja vista a existência de uma vasta corrente espiritual no mundo antigo que honrava o trabalho manual e as artes mecânicas. Na cultura do mundo antigo acabou predominando justamente a oposição radical entre a técnica e ciência contra a qual haviam se colocado os médicos da escola hipocrática e os cínicos. Essa antítese tinha origem na própria estrutura econômica de uma sociedade escravagista onde a abundância de 'máquinas vivas' tornava supérflua a construção de máquinas que tendessem a substituir o trabalho humano, e onde o desprezo que se sente pelo escravo (ou por quem execute atividades manuais) estende-se à própria atividade (MONDOLFO, citado por ROSSI, 1989). No mundo grego as técnicas evoluíram do estado de saberes sagrados e mágicas até a "techné", já que a técnica é tão velha quanto a humanidade, tendo origem na descoberta do fogo, no polimento das pedras, no cozimento dos alimentos, ainda no período paleolítico. Já a ciência surge na Jônia e data do século VI a.C., tendo origem num tipo de saber teórico. A palavra "epistemé" significa "saber", mas um saber adjetivado de "theoretiké" - saber teórico. "Theoria" vem do verbo "theorein" que quer dizer "ver". "Epistemé theoretiké" é um "saber adquirido pelos 'olhos do espírito': capazes ... de descobrir a verdade como ela na verdade é" (VARGAS, 1985: 14). Para os gregos, teoria liga-se assim à "alethéia" - verdade - o que está des-coberto. Quando a teoria é descoberta, o saber passa a ser demonstrativo e comprovado, aparecendo, assim, a necessidade de edificar teorias não só sobre as propriedades dos números e figuras geométrica como também para o conhecimento da "physis" - natureza. "Quase todos os primeiros tratados filosóficos gregos intitulavam-se Perí physis - A


respeito da Natureza" (VARGAS, 1985: 16). Em o "Timeu", que tinha como subtítulo "Perí physis", Platão trata de explicar o mundo a partir da teoria sobre a realidade. Esta obra "dominou o conhecimento humano sobre a natureza por quase dois milênios, considerando-se ter sido o único tratado sobre a natureza conhecido pelo Ocidente medieval" (VARGAS, 1985: 16). As "idéias", em Platão, não são símbolos abstratos - são reais. São "arquétipos" das coisas, semelhantes ao que hoje se chama de modelo, mas "... é preciso frisar que um modelo pode ser um simples símbolo, enquanto que as idéias platônicas são reais. Por isso a teoria de Platão é chamada de 'realismo das idéias' ... as idéias das coisas estão fora do mundo e as aparências do mundo imitam as idéias ... hoje existe a possibilidade de se aceitar que só é real aquilo que é organizado pela mente. Pensar dessa maneira é pensar por meio de modelos mentais. A ciência moderna é plena de pensamento baseado em modelos." (VARGAS, 1985 : 17).

Outra teoria grega que se impôs foi a de Aristóteles. "O que a inteligência 'vê': por trás das aparências cambiantes, são as substâncias - o que está por trás: o elemento inteligível da realidade". A passagem de "potência" ao "ato" explica todas as transformações que se do na natureza - as "causas". A doutrina aristotélica, baseada na crença de que "tudo que existe são substâncias, as quais, embora só possam ser vistas pelos 'olhos do espírito', no se separam dos objetos percebidos - é o primeiro modelo do que se chama de realismo" (VARGAS, 1985 : 17). Esse autor afirma, mais adiante, não ser apenas sobre a natureza que se pode fazer teoria," sendo reais certos objetos formais que não existem na natureza - como, por exemplo, os da matemática" (p. 18): "Estabeleceu-se desde então o princípio do conhecimento teórico que poderia ser expresso da seguinte forma: para conhecer tanto as formas do pensamento quanto a natureza não procurar o conhecimento das próprias coisas a partir de suas idéias ou sua substância, separada ou não dos objetos visíveis, que as torna inteligíveis. Em linguagem moderna: procurar algo que simbolize o que se quer conhecer e, por meio do qual, se possa trabalhar com o intelecto. Só então será possível trabalhar com o intelecto. Só então será possível atuar cientificamente, conhecer a realidade e a verdade. Pois teoria, realidade e verdade são conceitos conexos. Conhecer a verdade e a realidade das coisas em si é misticismo e não ciência" (p. 18).

Prossegue VARGAS (1985), é com Tales, no ano 600 a.C. que "descobre-se a maneira de saber que se chama, até hoje, de teoria". A partir do ano 200 a.C. Alexandria se torna o centro do saber, do que se chamou cultura helênica, ou helenística, conjugando-se, ali, as culturas egípcia antiga, grega e judaica. No Museu de Alexandria existiu uma "escola de investigação que foi a primeira a separar o saber em especialidades" (p. 20): "O saber que se desenvolveu em Alexandria não é mais puramente teórico, no sentido contemplativo da epistéme grega. Ele recebe da magia egípcia o caráter de procurar intervir na natureza para modificarlhe o curso ... A teoria é o processo mental pelo qual se substitui a realidade por um modelo inteligível; nas este não é suficiente para fazer ciência, no sentido moderno da palavra. A magia tem uma outra função: a de dirigir-se para o domínio da natureza ... é o princípio da Alquimia, ausente na epistéme theoretiké. Quando a geometria é aplicada como agrimensura, no Egito e na Babilônia, tem um caráter eminentemente mágico e não de epistéme. A conjugação da magia com a teoria torna-se, assim, extremamente importante para que se possa entender o que vem a ser a ciência de hoje." (p. 22-23).

O Museu de Alexandria é destruído por volta do ano 400. O saber helenístico sobre a natureza, herdado pelos romanos, é "degredado a uma técnica que tinha muito mais de arte que de ciência". Até os anos 1600 a teoria perdurou como teoria de Deus - Teologia -, baseada na revelação cristã, porém apoiada na lógica grega. No Renascimento a magia reaparece pois "se descobre uma série de tratados mágicos de Alexandria através de manuscritos trazidos por fugitivos de Bizâncio", reacendendo o interesse pelo domínio da


natureza "o que é uma condição básica para o restabelecimento da ciência moderna". A síntese de teoria, como contemplação de idéias (modelo) e da vontade de atuação sobre a natureza, é a ciência de hoje (p. 2223): "Atentando para o que faz quando se faz tecnologia ou engenharia (a mais material de todas as profissões) verifica-se que não se está preocupado com as coisas materiais: o concreto armado ou o solo de fundação. O que preocupa o técnico é aquilo que nesse materiais, é traduzível por formas, dimensões, ou números. Mesmo quando se constrói ou se misturam materiais o que mais interessa são as quantidades mensuráveis, portanto símbolos; em linguagem grega: idéias e substâncias." (p. 18). "Assim se abre o mundo da 'prática', no qual a realidade aparece sob um novo aspecto" (p. 18).

Essa realidade é que se constitui como objeto da ciência. Mas quando, prossegue, "se opõe à vontade dos homens e pode, por eles, ser transformada - no sentido de que se chamou de 'prática' - constitui-se como objeto da técnica. A atitude de quem faz tecnologia é a combinação de ambas." (p. 19). O que se verificou na evolução da técnica, desde a Grécia, foi diferente do que aconteceu com a ciência. Desde que os homens passaram a fazer uso de instrumentos, à medida que a produção de instrumentos vai-se desenvolvendo, aparece a necessidade de certos homens encarregarem-se delas - os artesãos - e, com eles, certa consciência técnica. Junto com o artesão, a necessidade do aprendizado, nascendo as categorias de mestres (ou sacerdotes) e aprendizes (ou acólitos), formando-se as sociedades fechadas (ou seitas religiosas), com seus segredos e sua tradição. É essa a origem das technei gregas: "Ela é ... o saber humano que pode ser transmitida de homem a homem (pela educação) de como realizar algo (que seja material ou espiritual) de uma maneira eficiente." (VARGAS, 1985, p. 19). Um dos livros de Hipócrates chamava-se justamente "Téchne" e tinha, como finalidade, "... transmitir aos aprendizes como fazer, bem e eficientemente, medicina. É um tratado que parte do princípio de que, na medicina, não se deve tomar como objeto de preocupação explicar a doença, mas sim curar o doente... Evidentemente a medicina grega era muito rudimentar em relação à nossa e ainda muito contaminada pela magia. Serve, porém, como notável exemplo do que hoje em dia se pode chamar de técnica: um saber dirigido a um determinado fim prático e que, evidentemente, pode ser conduzido pela teoria." (VARGAS, 1985, p. 19-20)

Os romanos desenvolveram a arquitetura e a medicina a um grau jamais atingido pelos gregos. Obras como o De architectura, de Vitrúvio e De re medicina, de Celso comprovam o grau técnico a que chegaram as artes romanas. Durante toda a Idade Média esse tipo de saber não só preservou-se, como também desenvolveu-se, sob o nome latino de "Artes" - sete eram as "artes mecânicas": tecelagem, forjaria, navegação, agricultura, caça, medicina e a guerra: "Essa várias artes e nelas se incluíam, além da Arquitetura a Agricultura, a Navegação, a Caça, as Artes Militares, não apenas a Medicina, mas também o Direito. Aliás, essas duas 'artes' disputavam entre si, nas universidades da Alta Idade Média, a primazia da formação humana. Todas elas mantinham, entretanto, aquelas características, apontadas por Hipócrates, como necessárias para uma téchne - isto é, um saber dirigido não para a contemplação da realidade, mas para um determinado fim prático." (VARGAS 1985, p. 20)

A Idade Média foi uma época de grandes progressos nas técnicas da tecelagem, da navegação, do uso da força motriz das rodas-d'água, dos moinhos e da atrelagem dos cavalos, mantendo-se a medicina e o direito como centros dos interesses medievais e, não houve o hiato de interesse que se verificou nas ciências da natureza. A controvérsia grega, entre "epistéme theoretiké" e "techné" deixou de ter sentido durante a Idade Média, não havendo, então, como contrapor a Teologia (como teoria) e as "artes" (como técnica); porém recrudesceu nos tempos modernos, entre ciência e técnica. (VARGAS, 1985; GAMA, 1989).


ROSSI (1989) afirma que alguns dos temas tratados em Europa durante os anos 1400 e 1700 aparecem ligados à discussão sobre as artes mecânicas. Nesse período: "... os técnicos da emergente Idade Moderna escreveram e publicam livros, expressaram idéias sobre as artes, as ciências e suas relações, tentaram enfrentar polemicamente a tradição, opuseram seu tipo de saber e abordagem da realidade natural àqueles teorizados e praticados nas universidades" (p. 10).

É da atividade técnica medieval que surgem duas funções: a do técnico ou artesão - aquele que sabe fazer ou por experiência própria ou por aprendizado - e a do servo "alheios aos instrumentos, os quais são fabricados pelos próprios artesãos, para sua utilização pessoal" (VARGAS, 1985,p. 70). Essas funções evoluíram para as que distinguem a técnica moderna. Esta baseia-se na existência do técnico, com educação eventualmente científica, capaz de projetar e fabricar máquinas, as quais são manobradas pelos operários - dos quais não se exigem, necessariamente conhecimentos técnico-científicos, mas somente a habilidade manual de operar as máquinas (p. 70-71). Durante o Renascimento amadureceram "as mentalidades que se alimentavam igualmente do saber da técnica e do saber teórico das ciências" (p. 71). De acordo com ROSSI (1989) a literatura dos séculos XV e XVI é extraordinariamente rica em Tratados de caráter técnico, correspondendo a um interesse renovado pelas obras matemáticas e técnicas da Antigüidade clássica, aparecendo inúmeras edições de Euclides, Arquimedes, Apolônio, Diofano, Papo, Heron, Aristarco..., edições estas acrescidas de comentários "tornando-se cada vez mais orgânicos e amplos, aos quais se acrescentam sempre novas noções e onde freqüentemente se procede a uma verdadeira integração do texto" (p. 31). Tanto VARGAS (1988) quanto ROSSI (1989) destacam que os progressos das "Artes" e o aparecimento da "Nova Ciência" deve-se às mudanças culturais provocadas pelas navegações ibéricas. A descoberta de novas terras e o alargamento dos limites do mundo "... permitiam 'experimentar' e, de certa forma, sentir de modo palpável a limitação das doutrinas dos antigos" (ROSSI, 1989, p.64). Para esse autor, é no século XVI, nos textos de "artesãos superiores" e "engenheiros", que se encontram presentes as primeiras formulações do novo conceito de ciência e do progresso científico. Para ZILSEL (citado por ROSSI, 1989, p. 68), a oficina, o arsenal e o ateliê - locais onde os homens trabalham juntos - se contrapõem à cela do monge e ao gabinete do humanista, extraindo-se dessa oposição "... que o nascimento do capitalismo e a concorrência econômica levaram esses homens [os técnicos] a teorizar, para seu trabalho, finalidades muito diferentes e certamente mais impessoais do que as de santidade individual ou a imortalidade literária". Para ROSSI (1989) toda a obra de Francis Bacon se destina a substituir uma cultura do tipo retórico-literário por uma do tipo técnico-científico: as invenções, o reflorescimento das artes mecânicas, as descobertas geográficas, as viagens de exploração, as novas condições políticas da Europa modificaram as condições de vida de toda a terra, compreendendo, ainda, a transformação no modo de pensar, na filosofia. Escreve Bacon (apud ROSSI, 1989, p. 75-76): "seria vergonhoso para os homens se, depois de terem desvendado e elucidado o aspecto do globo material, isto é, das terras, mares, astros, os limites do globo intelectual continuassem confinados dentro dos estreitos limites das descobertas dos antigos... Aconteceu que, por dois mil anos, as ciências permaneceram paradas e se mantêm sempre quase nas mesmas condições, sem realizar nenhum progresso digno de nota; pelo contrário, floresceram ao máximo com seu primeiro autor e em seguida declinam. Ao invés disso, nas artes mecânicas, que se fundam na natureza e na luz da experiência, vemos suceder o contrário: elas [...] como se penetradas por um espírito vital, continuamente crescem e progridem: antes toscas, depois convenientes, enfim refinadas, sempre progredindo".

Não apenas Bacon mas Campanella, Bruno, Alessandro Tassoni, Pierre Borel, Charles Perrault, Boileau, Fontenelle, Jonathan Swift, George Hakewill, Joseph Glanvill, Henry Stubbe, William Wotton, John Edwards, entre outros, defendiam a tese de superioridade dos modernos e o argumento da perfectibilidade das artes e ciências:


"As conquistas da ciência e da técnica são testemunhos vivos da superioridade dos modernos; elas oferecem a prova mais evidente do caráter progressivo do conhecimento. O saber 'transmissível' (e, portanto, sempre reutilizável e suscetível de aperfeiçoamento) é superior a todas as formas de sabedoria espiritual solitária. Para o homem de cultura ... nascera naqueles anos uma nova tarefa: a colaboração intelectual. Desse ideal de um saber resultante da colaboração originam-se as constantes relações entre os eruditos, os grandiosos epistolários, as grandes academias e sociedades científicas do século XVII". (ROSSI, 1989, p. 84)

Ainda de acordo com ROSSI (1989), Descartes, em vários de seus textos, se ocupou com máquinas e artifícios. Em seu "Regulae" é encontrada a afirmação de que o método "imita aquelas artes mecânicas que não necessitam de ajuda de outras, mas dizem elas mesmas como se devem fabricar seus instrumentos" (p. 91). No fim de sua vida, Descartes elaborou o projeto de uma grande escola de artes e ofícios, "que teria a tarefa de estabelecer contatos efetivos entre o trabalho dos cientistas e o dos artesãos e técnicos" (p. 95). Segundo esse autor é em Galileu que, pela primeira vez, encontramos historicamente realizada a plena convergência entre a tradição que desemboca nas experiências e na prática dos artesãos e técnicos e a grande tradição teórica e metodológica da ciência européia (p. 97). Para Leonard OLSCHKI (citado por ROSSI, 1989, p. 97), a investigação teórica da mecânica prática e sua transformação em ciência são obra de Galileu: em sua obra se fundem, num sólido conjunto de conhecimento teórico, a mecânica empírica e a ciência do movimento. VARGAS (1988) lembra que Galileu, antes mesmo de estar nas universidades está nos arsenais de Veneza. NOGUEIRA (1990) serve-se de A. León para lembrar que: “... é somente a partir do século XVIII, em particular após os artigos da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert consagrados às descrições dos ofícios (e que se tornaram o símbolo do ingresso da técnica no universo fechado da cultura), que a tecnologia passa a ser colocada como uma disciplina 'racional e universal', e que seu ensino passa a ser progressivamente associado ao estudo das ciências. Todavia, considera-se geralmente que o caráter científico da tecnologia é relativamente recente, visto que o 'pensamento técnico viveu independente do pensamento científico até o século XIX. Foi somente no alvorecer do século XX que se propagaram, de modo fulminante, as maravilhas de uma tecnologia fundada e sistematizada pela ciência" .

Ainda de acordo com essa autora, o ensino das técnicas produtivas sempre existiu, pois "... as corporações medievais transmitiam exotéricamente os saber-fazer da profissão". Essa autora define o ensino tecnológico como "um estudo sistemático dos procedimentos de produção" (p. 172-173). Já o termo tecnologia foi empregado pela primeira vez por Johann Beckmann, professor de ciências econômicas em Gottingen. Iniciador das disciplinas de Comércio e Tecnologia nas escolas, é considerado o "pai da tecnologia", tendo trabalhado na coleta e explanação científica, das artes, das técnicas e artesãos. "A escolarização ajudará a incrementar os negócios" era seu lema. (KLEMM, 1978, apud GAMA, 1985, p. 8.). Na "Introdução sobre Tecnologia", de 1777, Beckmann afirma, ainda no subtítulo, seu conceito de tecnologia: "Para conhecimento dos ofícios, fábricas e manufaturas, especialmente daquelas que têm contato estreito com a agricultura, a administração pública e as ciências camaralísticas" (GAMA, 1985, p. 6). Para BECKMANN "... a história das artes pode dedicar-se a enumerações das invenções, ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de um trabalho manual, mas é a tecnologia que explica de maneira completa, clara e ordenada, todos os trabalhos, assim como seus fundamentos e suas conseqüências" (apud GAMA, 1985, p. 7)

No século XVIII surge, em Paris, a "École Polytechnique", cuja finalidade era ensinar a aplicação das matemáticas aos problemas de engenharia civil, militar e naval. Cumpre lembrar que é no século XVIII que se começa a utilizar o termo "engenheiro" para designar aqueles que faziam técnicas baseando-se em


princípios científicos. Na Inglaterra, por essa época, era constituída a "The Lunar Society", que reunia inventores, cientistas e escritores, isto é, promovia a aproximação da prática com a inteligência inglesa, resultando dessa união os progressos técnico-científicos da Revolução Industrial. Nos países de língua alemã, além da aproximação das técnicas civis, mecânicas e navais das ciências físico-matemáticas deu-se pela criação das Escolas Técnicas Superiores: a de Praga, fundada em 1806; a de Viena, em 1815; a de Karlsruhe, em 1825; a de Munique, em 1827; o "Eidgenossische Technische Hochschule", de Zurique, fundado em 1854 - modelos para o "Massachusetts Institute of Technology" (1865), a "Escola Politécnica de São Paulo" (1898), o "Carnegie Institute of Technology" (1905), o "Califórnia Institute of Technology" (1919). De acordo com GAMA (1985) foi José Bonifácio de Andrada e Silva o primeiro a empregar o termo "tecnologia" em língua portuguesa, no ano de 1793, em relatório apresentado à Academia de Ciências de Lisboa. Andrada e Silva já enfatizava a necessidade de se eliminar a oposição entre teoria e prática em sua obra "Memória sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal": "A técnica atual - como sucessora da techné e das artes romanas - além de ser um saber apoiado em teorias científicas, é assessorada por uma nova disciplina, a Tecnologia ... a essência da técnica moderna e da Tecnologia é a sua conjugação com as teorias científicas. Essa conjugação é to forte que no há mesmo, hoje em dia, critério algum para se estabelecer distinção entre ciência e técnica. A separação entre ciência pura, ciência aplicada e suas aplicações técnicas deixou de ter sentido." (VARGAS, 1985, p. 25).

SPENGLER (1933) apresenta uma comparação entre o saber de um cientista e o saber de um técnico: "A visão de um cientista é comparável ao olhar de um boi. Um olhar parado, periscópio, abrangendo todo o horizonte. É um olhar que no valoriza nada - vê tudo com igual interesse ou igual indiferença. A viso do técnico entretanto é semelhante ao olhar da águia: direto para a presa e no vê nada além dela. No vê mais nada quando se lança para a presa - só lhe aparece um ponto de interesse: onde agarrar a presa. Essa é uma imagem da diferença do saber teórico, incapaz de valorizar diferentemente algo. Para o cientista vale tanto a pata de uma pulga quanto uma galáxia inteira sob o ponto de vista do conhecimento. Para o técnico, entretanto, só o objeto que pretende manusear interessa. Esquece-se de tudo e aplica todas as suas forças em resolver o problema particular. Portanto, a técnica é um saber que no se preocupa em explicar; mas, somente, em fazer ou conseguir algo." (apud VARGAS, 1985, p. 21).

Inúmeros autores (GRAMSCI, 1978; SOARES, 1982; KUENZER, 1988, 1988b, 1989, 1992; FRIGOTTO, 1989; SILVA JUNIOR, 1990; NOGUEIRA, 1990; FOGAÇA, 1992) consideram que nas modernas sociedades capitalistas essa separação se dá a nível ideológico, havendo a necessidade de demonstrar-se que o saber obtido com a prática é inferior ao saber oficial obtido na escola: "Esse movimento é inerente ao próprio modelo capitalista, que se caracteriza por uma separação permanente entre teoria e prática, concepção e execução, pensamento e ação. Não obstante a realidade capitalista ser dialética, não existindo essa separação ao nível da práxis, ela precisa ser produzida e justificada, como condição necessária de dominação do capital sobre o trabalho ... é preciso negar o trabalho como a forma pela qual o homem produz o conhecimento, no conjunto das relações sociais, construindo-se a si mesmo e à História e sendo construído por ambos, enquanto apreende, compreende e transforma a natureza, num processo em que reflexão e ação, atividade intelectual e manual não se separam." (KUENZER, 1989, p. 137).

MARX (1980) já afirmava ser próprio do modo de produção capitalista separar diferentes trabalhos e, portanto, o trabalho intelectual e manual. Este processo de dissociação começa


"... com a cooperação simples, onde o capitalista representa frente aos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social do trabalho. O processo segue avançando na manufatura que mutila o trabalhador, ao convertê-lo em trabalhador parcial. E culmina na grande indústria, onde a ciência é separada do trabalho como potência independente de produção e resulta a serviço do capital." (apud SOARES, 1982, p. 24).

Para KUENZER (1989) isto é possível pela negação do trabalho como local privilegiado de produção do saber, pois "...ao separar-se ao nível das relações sociais o que é absolutamente inseparável ao nível da práxis - pensamento e ação ..." desloca-se para outra instância e para outros agentes a produção do saber, negando-se o seu caráter de produção coletiva: as escolas, os centros de pesquisa, as universidades, com seus intelectuais. (p. 138). SANTOS (1988) considera ser necessário ter-se uma visão das tendências gerais que seguem o desenvolvimento das forças produtivas, das tecnologias e da ciência contemporânea, para que se possa ter, assim, "uma noção de nosso (Brasil) atraso educacional, de nosso atraso científico e tecnológico" (p. 56). A revolução técnico-científica é a forma pela qual avança e se organiza a produção contemporânea e que "... desde a Segunda Guerra Mundial a humanidade ingressou numa nova fase de desenvolvimento das forças produtivas e de sua capacidade de produção. Até então a produção se baseava fundamentalmente em formas pragmáticas, empíricas, em tentativas em que a ciência tinha sido sempre um fator complementar da produção. Eventualmente o desenvolvimento da tecnologia aplicou o conhecimento científico, mas era uma aplicação no sistemática. Simplesmente se aproveitava o conhecimento científico eventualmente para o avanço da tecnologia e da produção ... [após a segunda Guerra Mundial] vimos o aparecimento de novos ramos de produção que são aplicação direta da ciência. Não são ramos de produção que eventualmente usam o conhecimento científico, mas que só podem existir como aplicação direta da ciência ... Depois que nós [a humanidade, no o Brasil] começamos a conquistar o espaço [1957] ... entramos em uma outra configuração científica e tecnológica ... esse fato de que a tecnologia se converte numa ciência aplicada, muda a relação entre a ciência e a produção. Isto gera um fenômeno novo na história da humanidade, o aparecimento dos centros de pesquisa junto à produção." (p. 57-58).

MARCELINO (1985), em seu "Descentralização da ciência e tecnologia" utiliza-se de Price, para afirmar: "já há mais de 20 anos, que as bases da riqueza dos países estavam se deslocando da qualidade das terras de cultura e depósito de minerais para recursos menos tangíveis: o conhecimento científico e tecnológico" (p. 11). No entendimento de MARCELINO (1985) a atividade científica e tecnológica é "... toda atividade sistemática relacionada à geração, fomento, disseminação e aplicação do conhecimento científico nos domínios das Ciências Exatas e Naturais, nas Ciências Agropecuárias, nas Ciências de Engenharia, nas Ciências da Saúde e nas Ciências Sociais e Humanas. Ela apresenta os progressos que são obtidos no estado da arte, tendo em vista aumentar ... o composto de conhecimentos utilizáveis que uma sociedade pode aplicar e dirigir para a consecução dos seus objetivos econômicos, sociais e culturais." (p. 15).

Assim, a multiplicidade de pontos de vista sobre a definição de ciência e tecnologia leva-nos a buscar opinião de abalizados educadores para estabelecer uma conceituação desses termos. Para os autores do "Relatório de avaliação dos CEFETs..." (MEC, 1992), ciência e tecnologia são entidades distintas, que se relacionam entre si, interagindo de maneira complexa. A natureza desse inter-relacionamento é controvertida, e tem merecido crescente atenção por parte de filósofos, historiadores, cientistas e engenheiros: "Os dicionaristas definem ciência como 'um ramo do conhecimento ou de estudos que trata de fatos ou verdades sistematicamente ordenados apresentando-se sob a operação de leis gerais'... Tratando-se das Ciências Naturais, as leis gerais obviamente serão as leis da natureza ...Tecnologia é definida pela maioria dos dicionaristas, e é percebida pela sociedade, como ' o estudo científico das artes industriais'


ou a 'aplicação da ciência à indústria', ou simplesmente 'ciência aplicada' ... Tecnologia pode também ser compreendida como a 'teoria de uma técnica', entendendo-se por técnica o conjunto dos métodos e pormenores práticos essenciais à execução perfeita de uma profissão. s vezes, por metonímia, tecnologia é empregada por técnica ou por conjunto de técnicas" (p. 8).

Para MARCELINO (1985) à medida que se passa da pesquisa básica, voltada para a busca do conhecimento, para a pesquisa aplicada e o desenvolvimento, passa-se de Ciência à Tecnologia. Afirma, ainda, utilizandose de Sabato (1978) que "... a Ciência gera o conhecimento visando o valor de uso. Cabe à Tecnologia partir do valor de uso e alcançar o valor comercial." (p. 17). Ainda de acordo com MARCELINO (1985), tecnologia significava, originalmente, o conhecimento sistemático das artes industriais. "Esse conhecimento era então implementado através das técnicas." (p. 17): " Tecnologia é o conjunto de conhecimentos da sociedade que diz respeito às artes industriais. Mudança tecnológica é o avanço da tecnologia, avanço este freqüentemente sob a forma de novos métodos de produção, novas concepções que permitem a produção de produtos dotados de novas características importantes e novas técnicas de organização, mercadologia e administração." (MANSFIELD, 1968, apud MARCELINO, 1985, p. 17).

LONGO (1979), numa definição já clássica, afirma que ciência "é o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao universo objetivo, envolvendo seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais" (p. 3). Define tecnologia como "o conjunto ordenado de todos os conhecimentos - científicos, empíricos ou intuitivos - empregados na produção e comercialização de bens e serviços" (p. 4). Para este estudo, compartilha-se das definições de FREIRE-MAIA (1991), para quem faz-se ciência por dois motivos - curiosidade intelectual e interesse em fins utilitários. O interesse neste último move a realização de ciência aplicada (tecnologia). Para esse autor, a ciência pode ser realizada sob dois aspectos fundamentais: Ciência-disciplina - ciência já feita (tal como é ensinada): " conjunto de descrições, interpretações, leis, teorias, modelos, etc., que visa ao conhecimento de uma parte da realidade e que resultam da aplicação de uma metodologia especial (metodologia científica). É a ciência formalizada disciplina - que o professor ministra aos seus estudantes e estes devem aprender na linha pela qual é ensinada para que possam fazer exames e ser aprovados" (p. 17). Ciência-processo - ciência em vias de fazer-se: é aquela que o cientista realiza e que pode ser dividida em duas fases: a própria pesquisa (isto é, os procedimentos de investigação) e a divulgação de seus resultados (isto é, sua publicação original). "Ciênciaprocesso: primeiro estágio - atividade, na base de uma metodologia especial (metodologia científica), que visa à formulação de descrições, interpretações, leis, teorias, modelos, etc., sobre uma parcela da realidade; segundo estágio - divulgação dos resultados assim obtidos" (p. 18). Mais adiante, define ciência como "um conjunto de descrições, interpretações, teorias, leis, modelos, etc., visando ao conhecimento de uma parcela da realidade, em contínua ampliação e renovação, que resulta da aplicação deliberada de uma metodologia especial (método científico)" (FREIRE-MAIA, 1991, p. 24). Afirma, ainda, que antigamente era tida como ciência pura aquela que no tivesse preocupações e nem possibilidades previsíveis de aplicação e como ciência aplicada aquela diretamente voltada para soluço de problemas práticos e, como tal, apresentava uma perspectiva próxima de aplicação: "Como várias pesquisas da antiga 'ciência pura' acabam tendo aplicação e outras tantas da chamada 'ciência aplicada' terminaram no produzindo os frutos esperados, prefere-se, em geral, dizer ciência básica e aplicação da ciência, isto é, tecnologia. A primeira não visa diretamente ao seu aproveitamento na área da utilização prática, mas pode vir a encontrá-la; isto significa que ela se faz com a única preocupação de resolver problemas de conhecimento, sem excluir a possibilidade de que possa vir a ter poderosa influência no setor que não foi procurado de início. A tecnologia, por outro lado, visa, de início e durante todo o seu trajeto, à procura de uma aplicação" (p. 24-25)


Não há, pois, dois tipos de ciência - uma "pura" e outra "aplicada". O que há é ciência e aplicação da ciência. O que há é a pesquisa básica (que pode gerar aplicação) e a pesquisa tecnológica (que diretamente visa a essas aplicações) (FREIRE-MAIA, 1991). Nos dias correntes, "... torna-se cada vez mais difícil discernir ciência de tecnologia ... os cientistas precisam de recursos técnicos para execução de suas pesquisas e a tecnologia tem a sua sobrevivência estabelecida pelos avanços científicos [pois] não é raro que sejam encontrados cientistas que embora não sendo cientistas puros não se julguem tecnólogos, pela real predominância das pesquisas intrinsecamente científicas em sua vida profissional. Ainda que lance mão de recursos da tecnologia, ele é um cientista. E as mesmas coisas podem ser ditas a respeito dos tecnólogos". (MORAIS, 1988, p.17).

De acordo com SANTOS (1988), a grande renovação do conhecimento científico e das novas formas de conhecimento não diretamente científicos, da literatura, dos mais distintos campos, não só do conhecimento como também da produção cultural, não permitem mais pensar a educação independente da pesquisa, com o que concorda DEMO (1991) ao considerar que quem ensina carece pesquisar; quem pesquisa carece ensinar. "Não se atribui a função de professor a quem não é basicamente pesquisador" (p. 15). Para esse autor necessário se faz desmistificar a separação artificial entre ensino e pesquisa. A imagem de "universidades que apenas ensinam" (p. 12) está ligada ao fato de a grande maioria dos professores só ensina: "seja porque não domina sofisticações técnicas da pesquisa, mas sobretudo porque admite a cisão como algo dado. Fez 'opção' pelo ensino, e passa a vida contando aos alunos o que aprendeu de outrem..." (p. 13). No lado oposto está o pesquisador exclusivo, "que já considera o ensino como atividade menor" (p. 13). O importante, afirma DEMO, é compreender que sem pesquisa não há ensino. A ausência de pesquisa degrada o ensino a patamares típicos da reprodução imitativa. Para esse autor o móvel estrutural e histórico da pesquisa é sua raiz política, pois informação garante poder. Cita como exemplo a pesquisa tecnológica, que adquiriu o primeiro lugar como estratégia de acumulação do capital, pois o capitalismo avançado, sem sair do contexto da mais-valia, descobriu que a maneira mais efetiva de fazer o capital crescer é a criação de conhecimento novo via tecnologia. Segundo SANTOS (1988) "se a própria produção material se liga à pesquisa, a produção do conhecimento e das pessoas preparadas para a vida e as atividades produtivas não pode se separar do campo da pesquisa. A atividade tecnológica depende cada vez mais do conhecimento científico. Não podemos mais pensar numa atividade tecnológica desempenhada por pessoas que no tenham uma formação científica básica. Daí que as escolas técnicas têm um problema grave. Elas poderão preparar pessoas para a função de controle, observação etc., mas, para um mínimo de capacidade tecnológica exige-se uma formação científica sólida. Pensar um técnico que não tenha uma sólida formação científica é muito precário para o nível de desenvolvimento das forças produtivas que se avizinha" (p. 61-62).

FOGAÇA (1992), ao tratar da crise da educação brasileira tendo como referencial os novos requisitos educacionais e o processo de modernização da economia, analisa as relações entre economia e educação na perspectiva das propostas neoliberais, que refletem o aprofundamento da internacionalização da produção, o que por sua vez, é o resultado da atual revolução tecnológica. Afirma ser necessário adequar o sistema educacional brasileiro a essa nova fase do desenvolvimento econômico, num paradigma tecnológico que muda substancialmente o papel da educação (p. 15) e confere aos sistemas de ensino maior responsabilidade no que se refere à inserção dos indivíduos na esfera produtiva. O novo paradigma aparece em função da introdução de novas tecnologias, de base microeletrônica, resultante da incorporação do avanço científico e tecnológico às esferas da organização do trabalho e do processo de produção: "As inovações que caracterizam essa nova fase do capitalismo implicam na eliminação de algumas ocupações tradicionais e na criação de novas ocupações, assim como criam novas possibilidades de


organização do trabalho, que podem levar tanto à revisão da própria distribuição espacial das áreas de produção nas indústrias, como a uma mudança nas hierarquias ocupacionais. No conjunto, essas inovações e as transformações organizacionais e ocupacionais delas decorrentes compõem um novo paradigma de organização do trabalho e do processo de produção, que tem por base a automação flexível e que sucede ao paradigma fordista/taylorista, baseado na automação rígida" (p. 18).

Considera que do paradigma da automação flexível deve emergir um novo conceito de qualificação que não se resume ao domínio de habilidades motoras para o exercício de tarefas mecânicas e repetitivas mas ao contrário, "... se coloca como produto dos conhecimentos científicos e tecnológicos". (p. 20). As inúmeras reformas educacionais ocorridas em vários países nos anos 60 e 70 representaram uma tentativa de adaptar o ensino superior a novas condições e requisitos provenientes daquilo que se chamou de transição do ensino de elite para o ensino de massa. Como tentativa de respostas a esses desafios fundamentais, e como mecanismo de interligação dos vários setores da sociedade, tendo em vista um quadro de rápida aceleração das mudanças sociais e tecnológicas, foram criados os centros de educação tecnológica. O modelo CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica - visou ampliar as possibilidades de acesso ao nível superior, alterando a estrutura de ofertas de cursos e diversificando os currículos para o atendimento de uma clientela mais heterogênea rompendo o sistema perverso de acesso às instituições públicas onde as camadas mais favorecidas economicamente acabam tendo o monopólio das vagas. "O fato dos CEFETs serem voltados à educação tecnológica no significa que neles a componente científica seja excluída ou minimizada. Pelo contrário, uma forte base científica permeia todos os currículos dos cursos oferecidos pelos CEFETs, dentro do princípio de que a tecnologia nada mais é do que ciência aplicada" (MEC, 1992, p. 7). Voltemos então à questão primeira, que começou a ser discutida no Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte - CONBRACE - realizado em Belém do Pará, em 1993. O tema: Educação Física/Ciências do Esporte (Ciência do Movimento Humano, Ciências do Movimento Humano, Ciência da Motricidade Humana): que ciência é essa ? derivam um sem número de outras, como: A Educação Física deveria ser uma ciência ? É imperativo que se defina a identidade epistemológica de "nossa" área como uma identidade científica ? E mais, identidade da área só pode ser entendida como configuração de uma ciência ? Mas, afinal, não estamos já frente a uma nova ciência, a da Motricidade Humana ? (CBCE, 1993). Ora, a Educação Física demanda ciência ! A Educação Física precisa fundamentar-se cientificamente ! A Educação Física precisa tornar-se ciência, deve reconhecer-se e ser reconhecida como ciência ! Enquanto prática social, conquistava legitimidade social a medida que aqueles que a propunham podiam demonstrar "cientificamente" sua necessidade imperiosa, apelando e vinculando-a, além disso, a valores desejáveis como a educação (formação) e saúde (CONBRACE 1993; BRACHT, 1992; 1992b; 1995, 2000). BRACHT (2000) apresenta-nos dois pressupostos, ao discutir as possibilidades e os limites da razão científica, para estabelecer as bases da relação desejável da Educação Física com a ciência: a) de que a educação física não é uma ciência, que sua característica central é a de ser uma prática de intervenção social imediata, que obviamente não pode prescindir do conhecimento científico para efetivar tal intervenção; b) que não é possível satisfazer critérios epistemológicos que permitam identificar uma ciência (seja Educação Física, do Movimento Humano ou da Motricidade Humana). (p. 55-57).

Nesse caso, o que se indicada é a articulação de diferentes abordagens a partir de um objetivo comum (princípio da interdisdiplinariedade). A questão é exatamente esta: qual seria este objeto comum ? Para BRACHT (2000), no caso das ciências do esporte, que surgiram com força na década de 1970 como novo, para contrair, em nome da educação física, o matrimônio com a ciência, o objetivo comum era a melhoria da performance esportiva. Se o objetivo se limitasse a conhecer mais sobre o fenômeno esportivo, isto poderia ficar a cargo das disciplinas científicas existentes.


Concordamos com Bracht, quando afirma ser a Educação Física uma denominação que, apesar de tudo, permanece como aquela que melhor identifica o campo; é preciso Ter clareza sobre as dificuldades que estão colocadas para situá-la e legitimá-la no campo científico como um todo, principalmente a de atender a especificidade da sua produção acadêmica e junto com esta, os limites deste campo acadêmico. (p. 57). E isso implica no reconhecimento de que a atividade científica é necessária (científica e socialmente) e é própria desta área - no caso a Educação Física; Ciência(s) do Esporte; Ciência(s) do Movimento Humano; Ciência da Motricidade Humana, que são as denominações mais usadas. Concomitantemente a esse reconhecimento, a comunidade acadêmica procede à classificação desta área emergente. Para BRACHT (2000): "... Classificações são elaboradas com base em diferentes critérios e dependem da finalidade da própria classificação: se aplicada ou básica, se fazendo parte das ciências naturais, exatas ou sociais e humanas, ou como é o caso do CNPq, em grandes áreas (biológicas, da vida e da saúde; exatas, da terra e engenharias; humanas, sociais, letras e artes) e, posteriormente, em áreas e subáreas. De qualquer forma, as classificações procuram construir categorias que resumem traços comuns, e que por sua vez, permitem diferenciar uma área de outra (...) No caso das chamadas disciplinas científicas clássicas ou tradicionais (biologia, física, química, matemática, sociologia, psicologia) esta definição e diferenciação parece não ser por demais problemática. No entanto, quando adentramos às chamadas 'ciências aplicadas', como Medicina, Odontologia, Engenharias, etc., que são práticas 'mosaico' (...), as caracterizações e classificações começam a criar dificuldades, principalmente quando a finalidade é demarcada por uma prática científica de outra". (p. 58).

Essas dificuldades apresentam-se, também, quando da estruturação das Universidades em Centros, Faculdades, Institutos. Pergunta-se pelos critérios a utilizar: epistemológicos, campo de atuação profissional? Ambos ? Cabe, para a discussão que fazemos aqui, uma diferenciação. Para BRACHT (2000), algumas disciplinas, ou áreas, estão legitimadas no âmbito acadêmico (são reconhecidas, no duplo sentido), em função de seu papel especificamente acadêmico-científico, como fornecedoras, em princípio, de um saber básico que, através de várias mediações, pode alavancar o desenvolvimento tecnológico: é o caso da física, da biologia, da química, da sociologia, da matemática, e suas mais variadas especialidades ou ramificações. Outras foram legitimadas em função da importância de sua intervenção social imediata como a Medicina e suas correlatas, a Pedagogia/Educação, e outras. Estas últimas estão ligadas, pelas suas características, mais às profissões (para alguns, estas fariam pesquisas aplicadas, enquanto as primeiras fariam pesquisas básicas): "Como seu objetivo (no caso da Medicina, da Educação, da Educação Física, etc.) determina que seu objeto não pode ser demarcado na mesma perspectiva das ciências ditas básicas - uma delimitação do tipo disciplinar/monodisciplinar - pois o sucesso da intervenção do aporte de um conjunto (mosaico) de conhecimentos (e saberes), devidamente articulados, normalmente oriundos de disciplinas científicas muito diferentes (no caso da Medicina: desde a biologia, passando pela química, física, psicologia até a antropologia e a sociologia), em função disso, em muitos casos, há uma sobreposição de aportes teóricos e práticas científicas. Por exemplo, sociologia da educação pode ser sociologia, e ao mesmo tempo, ciência da educação, Normalmente estão num e noutro..." (BRACHT, 2000, p. 59).

Exemplifiquemos agora com a Educação Física: sociologia do esporte, fisiologia do exercício, história da Educação Física e/ou do Esporte, biomecânica, aprendizagem motora, etc. Cada uma destas "áreas" ou "subáreas" possui, em princípio, um objeto próprio que é definido, no plano da produção do conhecimento, a partir dos pressupostos teóricos-metodológicos das disciplinas clássicas que lhe dão suporte: sociologia, fisiologia, história, física, psicologia, etc. Por outro lado, de alguma forma elas estão vinculadas (ou deveriam estar) ao objetivo da intervenção no plano da Educação Física ou do Esporte (é isto que pode caracterizar o objeto como sendo da Educação Física, caso contrário elas poderiam ser classificadas como de sociologia, fisiologia, etc.).


Se no plano epistemológico estas práticas científicas estão vinculadas às disciplinas clássicas, no plano da "tecnologia" (aplicação) elas estão vinculadas a uma prática social denominada de Educação Física, ou Esporte, ou ... O mesmo acontece com a Medicina, a Educação, o Serviço Social, etc. (BRACHT, 2000, 60). 8. BIBLIOGRAFIA: AGUIAR, Afranio Carvalho. in Curso de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Belo Horizonte: UFMG, 1992. ALLEN, Thomaz J. Disthinguishing engeneers from scientists. (s.l., s.e, s,d.) citado por AGUIAR, Afrânio Carvalho. Informação em ciência e tecnologia. Belo Horizonte : UFMG, 1992. (Notas de aula) BRACHT, Valter. EDUCAÇÃO FÍSICA E APRENDIZAGEM SOCIAL. Porto Alegre : Magister, 1992. BRACHT, Valter. et. Al. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo : Cortez, 1992b. in DAÓLIO, Jocimar. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), junho 1995, p. 2428. BRACHT, Valter. Mas afinal, o que estamos perguntando com a pergunta “o que é Educação Física?”. REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 2 (2), julho de 1995, Separata. BRACHT, Valter. Educação física & Ciência: cenas de um casamento (in)feliz. In REVISTA BRASILEIRA DE CI6ENCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 22, n. 1, setembro de 2000, p. 53 - 63 COLÉGIOBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. VII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Belém, 06 a 10 de setembro de 1993. ANAIS ..., UFPA, 1993 DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo : Atlas, 1991 FOGAÇA, Azuete. Modernização industrial: um desafio ao sistema industrial brasileiro. In DESEP-CUT. A educação e os trabalhadores. São Paulo : CUT; Página aberta, 1992, p. 13-46. FREIRE-MAIA, Newton. A ciência por dentro. Petrópolis : Vozes, 1991. FRIGOTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. Um (re) exame das relações entre educação e estrutura ª econômica-social capitalista. 3 ed. São Paulo : Cortez, 1989. GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia. São Paulo : T. ª Queiroz : EDUSP, 1985 GAMA, Ruy. A tecnologia e o trabalho na história. São Paulo : Nobel : EDUSP, 1986. GAMA, Ruy (org.). Ciência e técnica (antologia de textos históricos. São Paulo : T. A, Queiroz, 1992. GAMA, Ruy. As "modas" tecnológicas. Revista Politécnica, São Paulo, n. 204/205, p. 85-95, jan./jun., 1992. º KUNZER, Acácia. Ensino de 2 Grau: o trabalho como princípio educativo. São Paulo : Cortez, 1988. º

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LAMARTINE COM ARTIGO ESPECIAL PARA O SAUDE PELA PRÁTICA Artigo exclusivo ao SAUDE PELA PRÁTICA: http://www.saudepelapratica.com.br/ Diante do anúncio pelo COMITÊ OLIMPICO DO BRASIL -COB, que não sabia, onde colocar o acervo dos JOGOS OLIMPICOS DO RIO DE JANEIRO, realizado em 2016, registramos com muita dor, pois somos olímpicos e, recorremos ao TIME LAMARTINE, pois conheço o trabalho desse MESTRE querido, sendo a maior autoridade nacional e uma das maiores do mundo sobre assuntos olímpicos e solicitamos a ele uma manifestação e ela, para a nossa honra, chegou agora, no momento em que o BRASIL tem a prisão de um EX-PRESIDENTE LULA, e na ânsia de fazer chegar á comunidade, porque está sendo veiculado com texto de qualidade, de quem realmente conhece. Já estamos transcrevendo em nosso site SAÚDE PELA PRÁTICA FELIZ E HONRADO, pelos nossos leitores, segue o seu artigo. OBRIGADO MAIS UMA VEZ LAMARTINE. (CLERY - EDITOR)

VAMOS SALVAR OU “ESQUECER” A MEMÓRIA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016?

LAMARTINE DACOSTA Rio de Janeiro, RJ, 08/04/2016 Tenho sido solicitado a me manifestar sobre o acervo de informações dos Jogos Olímpicos 2016 como também sobre o projeto do Museu Olímpico, uma vez que havia – e ainda há – expectativas de ambos se


tornarem legados pós Olimpíadas do Rio de Janeiro. Também tomei conhecimento sobre o que tem circulado na mídia e nas redes sociais, com relação aos cinco mil volumes de documentos dos Jogos e ao projeto do Museu que não encontraram destino até agora, antecipando o risco de serem simplesmente deixados ao abandono. Diante dessas circunstâncias, importa alertar inicialmente que para aqueles familiarizados com as peculiaridades da cultura nacional, as heranças olímpicas do acervo 2016 e do museu sempre suscitaram a hipótese de tragédia anunciada. Isto porque o “esquecimento” da memória é um fato comum presente nas tradições brasileiras, embora o país tenha historiadores de destaque e de engajamento sócio-cultural. Não constitui surpresa, portanto, que tenha se tornado popular nos anos de 1970 o dito de Ivan Lessa – um dos intelectuais brilhantes do “Pasquim” - de que "a cada 15 anos o brasileiro esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos". Esta pitada de ironia tem muitos fatos que a justificam no nosso dia-a-dia porém é no âmbito do esporte e da educação física que ela ganha frequentemente propriedade. Afinal, foi no Brasil que houve o incrível “esquecimento” dos Jogos Olímpicos Sul-Americanos de 1922 –coincidentemente ocorridos no Rio de Janeiro –, o primeiro megaevento esportivo do país que movimentou um público de 60% da população da cidade durante a sua realização com seis nações participantes. E o que dizer sobre Centro Esportivo Virtual - CEV (Laércio Pereira et al.) com suas batalhas infindáveis nos dias presentes para preservar documentos e revelar acontecimentos “esquecidos” de valor históricos em sua área de atuação? E se o exemplo do CEV não for suficiente podemos citar a epopeia do Atlas do Esporte no Brasil de 2005 (ver página on-line do Conselho Federal de Educação Física -CONFEF) que teve mais quatro recriações nos Estados em anos posteriores (RS, SE, MA e Niterói-RJ), e que desencavou do desconhecimento informações e documentos em grande escala e por todo o país. Em resumo, os exemplos do CEV e do Atlas são inspiradores – como o são hoje vários outros de menor visibilidade atuantes no esporte brasileiro – gerando por conseguinte hipóteses de tratamento construtivo dos objetos de memória dos Jogos 2016. Nestas condições me permito a fazer sugestões pessoais a partir do projeto gigante do Atlas do Esporte, iniciativa liderada pelo CONFEF e na qual atuei como gestor entre 2003-2005. Em primeiro lugar sugiro que se assuma a preservação da memória dos Jogos 2016 e de sua projeção museológica como dever cívico e não como “restos” de 2016 sujeitos a um jogo de empurra de responsabilidades entre instituições e gestores. É claro que neste caso todos nós brasileiros sabemos que há limitações para a preservação de memória desde que não tem valor de troca no mundo da política nacional; sabemos outrossim que em nosso país arbitragens jurídicas para gerenciar os “restos” olímpicos e identificar responsáveis correm o risco de se alongarem por décadas sem resultados práticos. Ou seja: se a direção renovada do Comitê Olímpico do Brasil-COB – aparentemente sendo ele o receptor final dos “restos” no jogo de empurra já em andamento - resolver assumir atitudes cívicas pondo nas devidas proporções os exageros de marketing e de vantagens comerciais que dominaram a administração anterior, então ter-se-á lugar um passo simples mas fundamental para a solução realista do problema. Em segundo lugar, ainda na perspectiva do civismo, sugiro que o novo COB torne-se um efetivo promotor dos valores olímpicos, seja por dever de ofício (ver “Carta Olímpica”) ou por dar sentido adequado à sua renovação a fim de atender a atual “Agenda Olímpica 2020” (ver Youtube), também do COI, que busca associar valores tradicionais do Movimento Olímpico às demandas atualizadas das sociedades e culturas locais. Nesta visão de empreendedorismo e inovação da Agenda 2020, presumo que o novo COB possa liderar, sem riscos de contaminação com legados tóxicos, tanto o Acervo como o Museu, por via da criação de um movimento de voluntariado. Como tal, este dispositivo de baixo custo reuniria pessoas físicas e instituições que pudessem viabilizar e criar uma imagem pública dando sentido prático a uma gestão orientada por valores olímpicos e espírito esportivo. E antes que me acusem de sonhador por ver o esporte por lentes acadêmicas sem realismo prático ou político, apresso-me em dar conteúdo à minha proposta. Em resumo, a solução do voluntariado de pessoas e associativismo de entidades esportivas foi a solução tentada em 2003 no projeto do Atlas do Esporte no Brasil, com liderança do CONFEF e sob minha responsabilidade gerencial e técnica. Em retrospecto, o projeto do Atlas abriu voluntariado para sua criação e recebeu mais de 500 adesões quando se previa 200, o que nos obrigou – eu e o corpo editorial, também formado por voluntários - a selecionar interessados em se tornarem autores de uma centena de capítulos planejados.


Ao final, três anos depois, a obra somava 410 autores voluntários e 300 capítulos, manejando cerca de três mil arquivos distribuídos em vários repositórios eletrônicos. Com o Acervo Atlas organizado partiu-se para a busca de adesões das instituições de esporte – antigo COB inclusive – para a as tarefas de editoração e impressão, surgindo finalmente um compartilhamento de despesas com 14 entidades do esporte e educação física nacionais. Claro está que o Acervo e o Museu herdados dos Jogos de 2016, são diferentes do Atlas 2003-2005 em seus propósitos e necessidades operacionais, mas se tornarão muito próximos em termos de procedimentos e tecnologias, se a opção de voluntariado for levada em conta. Em outras palavras a metodologia usada no Atlas foi de fatiamento em módulos das operações, distribuindo-se as fatias em linhas de tempo e atribuindo funções de acordo com as possibilidades de cada voluntário e, em estágios mais adiantados, a cada entidade com disponibilidade de recursos e meios de suporte. Este método – hoje mais recomendado por indução das crises econômicas do país - implica em progredir de acordo com as disponibilidades, geralmente oscilantes num ambiente de recursos escassos, e com apoio da informática para acompanhar e controlar tarefas. Como tal, há prolongamentos na duração das operações, por vezes surgindo imprevisibilidades, porém se trata da desvantagem advinda do uso do voluntariado com seus custos baixos ou mesmo nulos. Cogitando-se do lado positivo da modulação, a experiência do Atlas mostrou que a autonomia típica do voluntariado – pessoas e entidades – mostrava-se então redefinida ou descoberta sucessivamente por cada fatia, o que afinal apresentava resultados relevantes ou de modo surpreendente. Outra constatação foi a de que as mulheres – tanto autoras como editoras - eram bem mais eficientes do que os homens no trato dos fatiamentos e nos arranjos de adaptação às disponibilidades de recursos e mão de obra no tempo e no espaço. Em contas finais cabe informar aos novos líderes do COB que os ímpetos de inovação e empreendedorismo do Atlas ressurgiram recentemente, por criação autônoma e mais avançada em termos de gestão, no projeto do eMuseu Nacional do Esporte. Esta entidade está atualmente em implementação no Velódromo do Parque Olímpico -RJ sob liderança de Bianca Gama Pena da UERJ e por meio de vários suportes iniciais da Autoridade de Governança do Legados Olímpico – AGLO. Hoje o projeto do eMuseu está avançando por fatiamento e por fases incluindo mais de uma dezena de parcerias, cujos compartilhamentos apoiam-se em adaptações às possibilidades operacionais e financeiras. Neste particular, e já me espelhando no eMuseu, sugiro finalmente que o novo COB lidere o salvamento do Acervo 2016 e do projeto do Museu Olímpico simplesmente dando partida a um projeto de voluntariado e modular, de custos limitados à existência de disponibilidades financeiras. As etapas posteriores do projeto – não importando seus prazos alongados - dependerão naturalmente de sucessivas negociações em tempo e ritmo próprios. Também recomendo uma associação com o projeto do eMuseu do Parque Olímpico -RJ que poderia trazer vantagens para ambos empreendimentos. De resto, permito-me trazer à atenção dos novos dirigentes do COB que há um espírito esportivo – às vezes emergindo como “olímpico” – latente no país em que pese os desvios de esquecimento do passado e as possíveis mazelas dos gestores dos Jogos 2016. Este espírito explicaria a sobrevivência do CEV, o voluntariado do Atlas e as atuais parcerias do eMuseu. Diante desses exemplos, cabe perguntar finalmente, com a devida vênia e respeito: podemos admitir que o novo COB estaria perdendo uma boa oportunidade de sincronia com o espírito esportivo nacional ao optar pelo “jogo de empurra” que hoje ameaça a memória olímpica 2016? Ou será que estamos todos – nós esportistas brasileiros e o novo COB - diante mais uma vez de oportunidades que estão sendo compreendidas como problemas? Afinal, poderemos ou não, TODOS UNIDOS salvar a memória dos Jogos Olímpicos de 2016, convocando a participação relativa de cada um?


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


FLUTUANDO EM PAZ - (... no Dia Mundial das Águas) EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br Há dois anos eram lançadas às águas as cinzas do professor João Renôr Ferreira de Carvalho, que morreu dia 19/03/2016, em São Luís (MA), e que estudou e dividiu conhecimentos no Brasil e no estrangeiro -- fez mestrado e doutorado em Paris (França). Em Imperatriz, João Renôr foi professor de muitos, lançou livros, fez pesquisas, era membro da Academia Imperatrizense de Letras, entidade que fundei em abril de 1991. Regularmente ele e eu nos encontrávamos, seja pelas ruas das cidades (Imperatriz, Caxias), seja em ônibus que cortam as estradas do interiorzão maranhense, onde, em localidades diferentes, Renôr e eu debulhávamos e partilhávamos alguns saberes... e por aí... Há dois anos, no encontro dos rios amazônidas Solimões e Tapajós, João Renôr iniciou sua última navegação de longo curso... * O que pode ser ou servir de túmulo? A simples cova, tumba, mausoléu, sepultura? O Atlântico serviu de tumba líquida para Gonçalves Dias. Também no Atlântico, no canal da Mancha, morreu Hendrik Marsman, festejado poeta holandês, que cantava os "largos rios" de seu país. Le Corbusier, arquiteto suíço-francês, que gostava de se exibir, morreu no Mediterrâneo, mas o mar o devolveu às rochas... Já, Saint-Exupèry, este o Mediterrâneo acolheu. João Renôr Ferreira de Carvalho atravessou mares em sua busca e partilha de conhecimento(s). Passou anos na França e na Amazônia. Ultrapassou grandes extensões de água. Sua terra, o Maranhão, tem "mar" no nome ("mpará-nã", em tupi, "rio largo"). Muitos dos estudos do João Renôr voltavam-se para a Amazônia, um imenso mar de terra com imensos rios que parecem mar... e neles Renôr quis, como desejo final, que as cinzas em que se tornou seu corpo fossem espalhadas. Como todos os rios, como todas as águas se comunicam, é bem provável que um pouco, um pouquinho só, algo infinitesimal de João Renôr circule regularmente pelo rio Tocantins... ...pelo Itapecuru, pelo Poty, pelo Parnaíba, pelos cursos d'água de Pastos Bons e Riachão... -- e por tantos rios, riachos e ribeirões, mares e oceanos da produtiva vida acadêmica e pessoal do grande historiador, professor, pesquisador, escritor, doutor João Renôr. Flutue em paz, meu amigo. Fotos: O professor João Renôr, com um de seus livros e na Academia Imperatrizense de Letras (na terceira foto, da esquerda para a direita, os acadêmicos Renôr, Benedito Batista, Jurivê de Macedo, Edna Ventura, Liratelma Cerqueira, Edmilson Sanches e Zeca Tocantins).


ELITISMO NO IHGM – FASE DE REVISTA ELETRONICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O objetivo deste estudo é de verificar quais os colaboradores mais produtivos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM – em sua fase de publicação no formato eletrônico. Para tal se utilizará da Lei de Lotka, na sua formulação original322. PRODUTIVIDADE DE AUTORES A Lei de Lotka, ou Lei do Quadrado Inverso323 - relacionada à produtividade de autores é fundamentada na premissa básica de que “alguns pesquisadores publicam muito e muitos publicam pouco -, aponta para a medição da produtividade de autores, mediante um modelo de distribuição tamanho-freqüência dos diversos autores em um conjunto de documentos. Voos (1974) enuncia que a relação entre o número de autores e o número de artigos publicados por esses, em qualquer área científica, segue a Lei do Inverso do Quadrado 1/n2. Isto é, em um dado período de tempo, analisando um número n de artigos, o número de cientistas que escrevem dois artigos seria igual a ¼ do número de cientistas que escreveram um. O número de cientistas que escreveram três artigos seria igual a 1/9 do número de cientistas que escreveram um, e assim sucessivamente. Já a Lei de Bradford, ou Lei de Dispersão324, permite, mediante a medição da produtividade das revistas, estabelecerem o núcleo e as áreas de dispersão sobre um determinado assunto em um mesmo conjunto de revistas: A Lei de Bradford, relacionada à dispersão da literatura periódica científica, enuncia que “se periódicos científicos forem ordenados em ordem decrescente de produtividade de artigos sobre determinado assunto, poderão ser divididos em um núcleo de periódicos mais particularmente dedicados ao assunto e em vários grupos ou zonas, contendo o mesmo número de artigos que o núcleo. O número de periódicos (n), no núcleo e zonas subsequentes, variará na proporção 1:n:n2 [...] Pergunta-se, então, de que maneira é possível fazer este diagnóstico? Uma das possibilidades consiste na utilização de métodos que permitam medir a produtividade dos pesquisadores, grupos ou instituições de pesquisa. Para tanto, torna-se fundamental o uso de técnicas específicas de avaliação que podem ser quantitativas ou qualitativas, ou mesmo uma combinação entre ambas. Para Vanti (2002) 325, a avaliação da produtividade científica deve ser um dos elementos principais para o estabelecimento e acompanhamento de uma política nacional de ensino e pesquisa, uma vez que permite um diagnóstico das reais potencialidades de determinados grupos e/ou instituições, existindo diversas formas de medição, voltadas para avaliar a ciência e os fluxos da informação326, dentre estas a bibliometria, a cienciometria, a informetria e a webometria.

322

LOTKA, A. J. The frequency of distribuition of scientific productivity. JOURNAL OF THE WASHINGTON ACADEMY OF SCIENCES, v. 16, n.12, p. 317-323, 1926; 323 LOTKA, A. J. The frequency of distribuition of scientific productivity. JOURNAL OF THE WASHINGTON ACADEMY OF SCIENCES, v. 16, n.12, p. 317-323, 1926, citado por GUEDES, Vania L. S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica. 324

BRADFORD, S. C. Sources of information on specific subjects. ENGINEERING, [s.l.], v.137, p. 85-86, 1934. (BROOKES, 1969, citado por GUEDES, Vania L. S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica.

325

VANTI, Nadia Aurora Peres. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. IN CI. INF., Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago. 2002, p. 152-162

326

“A palavra avaliar vem do latim ‘valere’. Esta apresenta, entre outras acepções, a de ser merecedor ou digno de alguma coisa. A avaliação, dentro de um determinado ramo do conhecimento, permite dignificar o saber quando métodos confiáveis e sistemáticos são utilizados para mostrar à sociedade como tal saber vem-se desenvolvendo e de que forma tem contribuído para resolver os problemas que se apresentam dentro de sua área de abrangência.” (VANTI, 2002, p. 152, op. Cit.)


O termo “bibliometria” foi cunhado por Pritchard em 1969. A medição da ciência tem seu início com Paul Otlet, em 1934 e podemos nos referir ainda aos trabalhos de Hulme (1922) e Cole e Eales (1917). Outro grande pesquisador da área foi Ranganathan (1948) 327. Pode-se definir a bibliometria como: “[...] o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da informação registrada. A bibliometria desenvolve padrões e modelos matemáticos para medir esses processos, usando seus resultados para elaborar previsões e apoiar tomadas de decisões”. Já a “cienciometria” surgiu na antiga URSS e Europa Oriental e foi empregado especialmente na Hungria. Originalmente, referia-se à aplicação de métodos quantitativos para o estudo da história da ciência e do progresso tecnológico. As primeiras definições consideravam a cienciometria como “a medição do processo informático”, onde o termo “informático” significava “a disciplina do conhecimento que estuda a estrutura e as propriedades da informação científica e as leis do processo de comunicação”. Este termo alcançou notoriedade com o início da publicação, em 1977, da revista Scientometrics, editada originalmente na Hungria e atualmente na Holanda. (VANTI, 2002). “Cienciometria é o estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma disciplina ou atividade econômica. A cienciometria é um segmento da sociologia da ciência, sendo aplicada no desenvolvimento de políticas científicas. Envolve estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação e, portanto, sobrepondo-se à bibliometria”. O termo informetria foi proposto pela primeira vez por Otto Nacke, 1979. Este termo foi adotado imediatamente pelo mesmo VINITI, na antiga URSS, instituição que impulsionou a criação de um comitê com este nome na Federação Internacional de Documentação: o FID/IM – Comitte on Informetry. Sua aceitação definitiva data de 1989, quando o Encontro Internacional de Bibliometria passou a se chamar Conferência Internacional de Bibliometria, Cienciometria e Informetria. Alguns autores apresentam tais termos como sinônimos, porém outros consideram que a informetria compreende um campo mais amplo que a cienciometria e que englobaria, também, a bibliometria. (VANTI, 2002). “Informetria é o estudo dos aspectos quantitativos da informação em qualquer formato, e não apenas registros catalográficos ou bibliografias, referente a qualquer grupo social, e não apenas aos cientistas. A informetria pode incorporar, utilizar e ampliar os muitos estudos de avaliação da informação que estão fora dos limites da bibliometria e cienciometria”. Esse termo designa uma extensão recente das análises bibliométricas tradicional ao abarcar o estudo das modalidades de produção da informação e de comunicação em comunidades não acadêmicas. A informetria se distinguiria claramente da cienciometria e da bibliometria no que diz respeito ao universo de objetos e sujeitos que estuda, não se limitando apenas à informação registrada, dado que pode analisar também os processos de comunicação informal, inclusive falada, e dedicar-se a pesquisar os usos e necessidades de informação dos grupos sociais desfavorecidos, e não só das elites intelectuais. “... a informetria é um subcampo emergente da ciência da informação, baseada na combinação de técnicas avançadas de recuperação da informação com estudos quantitativos dos fluxos da informação” e encontra sua utilidade na administração de coleções em bibliotecas, no desenvolvimento de políticas científicas e pode ajudar na tomada de decisões em relação ao desenho e manutenção de sistemas de recuperação de informação. (VANTI, 2002) A webometrics ou webometria consiste na aplicação de métodos informétricos à World Wide Web. Além do termo webometrics, também se encontra na literatura a expressão cybermetrics, que corresponde ao nome da revista apresentada oficialmente durante a VI Conferência Internacional de Cienciometria e Informetria, em Jerusalém, no ano de 1997. (VANTI, 2002) Em termos genéricos, estas são algumas possibilidades de aplicação dessas técnicas:  identificar as tendências e o crescimento do conhecimento em uma área;  identificar as revistas do núcleo de uma disciplina;  mensurar a cobertura das revistas secundárias;  identificar os usuários de uma disciplina;  prever as tendências de publicação;  estudar a dispersão e a obsolescência da literatura científica;  prever a produtividade de autores individuais, organizações e países; 327

FONSECA, E. N. Bibliografia estatística e bibliometria: uma reivindicação de prioridades. CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, Brasília, v. 2, n.1, p. 5-7, 1973; FONSECA, E. N. (Org.). Bibliometria: teoria e prática. São Paulo : EDUSP, 1986; RAVICHANDRA RAO, I. K. Métodos quantitativos em biblioteconomia e ciência da informação. Brasília : ABDF, 1986..


     

medir o grau e padrões de colaboração entre autores; analisar os processos de citação e co-citação; determinar o desempenho dos sistemas de recuperação da informação; avaliar os aspectos estatísticos da linguagem, das palavras e das frases; avaliar a circulação e uso de documentos em um centro de documentação; medir o crescimento de determinadas áreas e o surgimento de novos temas.

ELITISMO - “POUCOS COM MUITO E MUITO COM POUCOS” O padrão de distribuição das leis e princípios bibliométricos segue a máxima conhecida como “Efeito Mateus na Ciência”, que diz: “aos que mais têm será dado em abundância e, aos que menos têm até o que têm lhes será tirado” 328. Trata-se de uma abordagem ao efeito Mateus mediante a análise de processos psicossociais, que afetam o sistema de avaliação e distribuição de recompensas científicas. Por exemplo: cientistas altamente produtivos, de universidades mais conceituadas, obtêm frequentemente mais reconhecimento que cientistas igualmente produtivos, de outras universidades. Para se verificar quais são os colaboradores mais produtivos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – publicações eletrônicas - se utilizará da Lei de Lotka, na sua formula original329, sem as variações apresentadas por Alvarado (2003) 330. No geral, os autores concordam que, para uma correta aplicação do modelo de Lotka, devem-se seguir as seguintes recomendações331: a) Selecionar um campo específico de produção científica. Quanto mais específico o campo, melhor o resultado; b) Selecionar uma bibliografia existente ou elaborar uma bibliografia sobre o campo específico cuja cobertura seja exaustiva. Quanto mais extensa e exaustiva melhor. Sugere-se que a cobertura dessa bibliografia seja maior ou igual a dez anos; c) Contar a produtividade de cada autor, considerando-se também os coautores. Isso significa que se deve adotar o método da contagem completa; d) Ordenar os dados coletados em uma tabela de frequências para facilitar a visualização dos mesmos; e) Selecionar o modelo estatístico mais adequadamente sugerido pelos dados tabulados; f) Calcular os valores esperados ou teóricos, seguindo as especificações do modelo estatístico escolhido; g) Estabelecer as hipóteses a serem testadas e a região de rejeição dessas hipóteses no nível de significância de a = 0.05; h) Testar a qualidade do ajuste dos dados, usando-se o teste do quiquadrado ou Kolmogorov-Smirnov. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO E SUA REVISTA O hoje Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM – foi fundado em dezembro de 1925, por Antonio Lopes da Cunha332: 328

MERTON, R. K. The Mathew effect in science. SCIENCE, [s. l.], v. 159, n. 3810, p. 58, Jan. 1968, citado por GUEDES, Vania L. S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica; 329 LOTKA, A. J. The frequency of distribuition of scientific productivity. JOURNAL OF THE WASHINGTON ACADEMY OF SCIENCES, v. 16, n.12, p. 317-323, 1926; 330 ALVARADO, Rubén Urbizagástegui. A Llei de Lotka: o modelo Lagrangiano de Poisson aplicado à produtividade de autores. IN PERSPECT. CIENC. INF., Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 188-207, jul./dez. 2003; 331 CAFÉ, Lígia; BRÄSCHER, Marisa. ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO E BIBLIOMETRIA. ENC. BIBLI: R. ELETR. BIBLIOTECON. CI. INF., Florianópolis, n. esp., 1º sem. 2008; ALVARADO, Rubén Urbizagástegui. A Lei de Lotka: o modelo Lagrangiano de Poisson aplicado à produtividade de autores. IN PERSPECT. CIENC. INF., Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 188-207, jul./dez. 2003; VANTI, Nadia Aurora Peres. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. IN CI. INF., Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago. 2002, p. 152-162; MOSTAFA, Solange Puntel. Citações epistemológicas no campo da educomunicação. COMUNICAÇÃO & EDUCAÇÃO, São Paulo, (24): 15 a 28, maio/ago. 2002; WORMELL , Irene. Informetria: explorando bases de dados como instrumentos de análise. CI. INF., Brasília, v. 27, n. 2, p. 210-216, maio/ago. 1998; TESTA James, A base de dados ISI e seu processo de seleção de revistas. CI. INF., Brasília, v. 27, n. 2, p. 233-235, maio/ago. 1998


“Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha idéia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à idéia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a idéia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto. (p. 110) “A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutido e votado os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembléia geral. (p. 111)333. Denominava-se “Instituto de História e Geografia do Maranhão” 334, e tinha como objetivos: (a)O estudo e difusão do conhecimento da história, da geografia, da etnografia, etnologia; e arqueologia, especialmente do Maranhão; (b)O incremento à comemoração dos vultos e fatos notáveis de seu passado; e (c) A conservação de seus monumentos 335: Em seu Artigo IV336 constava: “para a publicação dos seus actos sociaes, das investigações que realizar e dos trabalhos de seus sócios sobre assumptos que se relacionarem às siciencias (sic) de que se deverá ocupar, assim como de contribuições de igual gênero enviadas por investigadores competentes, o Instituto manterá uma Revista bimensal ou trimestral.” (p. 62). Assim, em agosto de 1926 surgia a “HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão”, anno I - 1926 – num. 1, julho a setembro, com 97 páginas, contendo ilustrações, e impressa na Typ. Teixeira - São Luiz 337, seguindo-se: GEOGRAFIA E HISTÓRIA – REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, ano 2, n. 1, novembro, 1948 REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, ano 28, n.3, agosto de 1951. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, ano IV, n. 4, junho de 1952. REV. IHGM, São Luís, ano IV, n. 05, dezembro de 1952 REV. IHGM, São Luís, anoVII, no. 06, dezembro de 1956 REV. IHGM, São Luís, ano LIX, n. 07, dezembro de 1984 REV. IHGM, São Luís, Ano LIX, n. 8, março 1985 REV. IHGM, São Luis, ano LIX, n. 9, junho de 1985 REVISTA DO IHGM, São Luís, ano LIX, no. 9, outubro de 1985. REVISTA DO IHGM, São Luís, ano LX, no. 11, março de 1986 REVISTA DO IHGM, São Luis, (ano LX, n. 12, 1986) REVISTA DO IHGM, São Luís, ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 REVISTA DO INST. HIST. E GEOG. DO MARANHÃO, São Luís, ano LXII, n. 14, março de 1991 REV. DO INST. HIST. E GEOG. DO MARANHÃO, São Luis, a. LXII, n. 15 jan. 1982 REVISTA DO INST. HIST. E GEOG. DO MARANHÃO, São Luís, ano LXIII, n. 16, 1993 332

Antônio Lopes da Cunha nasceu na cidade de Viana – Maranhão -, em dia 25 de maio de 1889 e faleceu em São Luís a 29 de novembro de 1950. Filho do desembargador (e futuro governador do Estado) Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha. Foi o fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. 333 LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. 334 Art. II do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61; 335 Art. I do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61; 336 Do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61-64. 337 HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926


REVISTA DO INST. HIST. E GEOG. DO MARANHÃO, São Luís, ano LXIv, n. 17, 1996 REV. DO IHGM, São Luís, no. 18, 1997 REV. DO IHGM, São Luís, no. 19, 1997 REV. DO IHGM, São Luís, no. 20, 1998 REV. DO IHGM, São Luís, no. 21, 1998 REV. DO IHGM, São Luís, no. 22, 1999 REV. DO IHGM, São Luís, no. 23, 2000 REV. DO IHGM, São Luís, no. 24, setembro de 2001 REV. DO IHGM, São Luís, no. 25, (s.d) REV. DO IHGM, São Luis, no. 26, 2002 REV. DO IHGM, São Luís, no. 27, jul. 2007 A Elite dos Autores se constitui daqueles que produziram acima de 11,61 artigos. Esses Autores – nove (6,68%), incluindo-se os artigos “dos Editores” (144 – 26,14%, QUADRO acima) – produziram 51,35% dos artigos publicados. Temos como pertencentes a essa Elite: QUADRO 3 - ELITE DE AUTORES DO IHGM – 1926/2007 NÚMERO DE AUTORES

NÚMERO DE ARTIGOS

NOME

1

26

FREITAS, J. C. M. de

1

20

SOARES, L. A. N. G.

2

18

1

16

ROCHA, O. P

1

15

CARVALHO, A. S. de

2

13

CORREIA LIMA, O. OLIVEIRA, E. M. de

COELHO NETTO, E.; SEGUINS, J. R.

Temos, ainda, um bloco intermediário com outros nove autores (6,67%), que produziram 13,25% dos artigos publicados: QUADRO 4 – ELITE INTERMEDIÁRIA DE AUTORES DO IHGM – 1926/2007 NÚMERO DE AUTORES

NÚMERO DE ARTIGOS

NOME

1

11

MOURA, C.

1

10

VIANA, O.P.

1

9

CARVALHO, R. da S. BRITO, S. B.

3

8

CAÑEDO, E. V. da S. O. de TRAVASSOS FURTADO

 

1

7

2

6

ROCHA, S. P. FERNANDES, J. FERREIRA, M. de C.

Com cinco artigos - COUTINHO, M.; CUNHA, C.; ELIAS FILHO, J.; LOPES DA CUNHA, A.; VIVEIROS, J. de. Enquanto com quatro artigos aparecem: DINO, N.; LEITE, J. M. S.; PEREIRA, J. da C. M.; SANTOS, M. L. F.; SILVA, A. R. da; VIEIRA FILHO, D.;


e três artigos com parecem: BARBOSA, T.; GUIMARÃES, R. C.; LIMA COELHO, C. A.; LIMA, C. de; MAGALHÃES, M. dos R. B. C.; MEDEIROS, J. F.; MOHANA, K.; PEREIRA, M. E. M.; SANTANA, P. R. de; SOUSA, E.;  e com duas colaborações: AROSO, O. C. L. ; BURITY, E. de A.; BUZAR, B.; CARVALHO, B. de; CARVALHO, J. B. de; COSTA, B. E.; FERREIRA, A.; FIALHO, O.; GASPAR, C. T. P.; JORGE, S.; MEIRELES, M. M.; REGO, T. de J. A.; REIS, L. G. dos; RUFINO FILHO, A; SALGADO FILHO, N.; SOARES, O.; SOUSA, F. E. de; VASCONCELOS, A.; VASCONCELOS, B.; VIEIRA da SILVA, R. E. de C. Esse grupo de 41 autores (30,35%) produziu 119 artigos (30,35%). Os demais – 76 autores, 56,30% - contribuíram com um artigo cada, totalizando 13,80% da produção acadêmica registrada. A identificação dos autores foi dificultada tendo em vista que nem sempre o nome foi grafado corretamente. Muitas das vezes, abreviado, aparecendo o primeiro e ultimo nome apenas; como muitos sócios e colaboradores têm nomes parecidos, isso dificulta saber quem é quem, constando, assim, as grafias que aparecem e, muitas das vezes, podem se referir a mesma pessoa. Quando foi possível a identificação, foi considerado o mais completo. Da mesma forma – o que pode causar algum problema nessa identificação -, optou-se pela grafia de Sobrenome em caixa alta, e os demais em maiúsculo. 

A ‘NOVA’ REVISTA DO IHGM - FORMATO ELETRÔNICO A partir do numero 28, a revista do IHGM começa a ser disponibilizada em formato eletrônico, sendo que este número – o 28 – foi publicado no formato tradicional – papel. Nessa nova fase, com as facilidades das ferramentas disponíveis, foi possível atingir a meta de publicação trimestral – quatro edições ao ano. NUMERO

DATA DE PUBLICAÇÃO

NUMERO DE ARTIGOS

NUMERO DE AUTORES

17

14

DEZEMBRO

26

17

AGOSTO

20

15

NOVEMBRO

34

13

MARÇO

35

16

JUNHO

20

17

34

SETEMBRO

22

12

35

DEZEMBRO

37

13

36

MARÇO

57

23

JUNHO

37

21

SETEMBRO

55

57

39

DEZEMBRO

55

27

40

MARÇO

33

24

JUNHO

64

39

SETEMBRO

87

43

ANO 28 29 30 31

2008

2009

32 33

37 38

41 42 43

2010

2011

2012

MES

DEZEMBRO


CARTAS AO MHARIO – ou O ENCALHE ou de Juazeiro a São Luis Cheguei hoje de Juazeiro do Norte. Foram dois dias de estrada, para percorrer os supostos 1001 km 12h52min segundo o Google Maps. Fui ate lá, seguindo o roteiro de menor caminho. SãoLuis-TeresinaJuazeiro... O que impressiona é o estado das rodovias no Piauí; boas, bem sinalizadas, o que não acontece com as do Maranhão, do Ceará e do Pernambuco, por ande passei tanto na ida, quanto na volta. Fui de São Luis a Picos, onde dormi; no dia seguinte Juazeiro. Na volta, até Teresina; parei para dormir e lá chegando minha filha Louise liga, perguntando onde estava... Teresina! acabara de chegar... E as noticias: - Estou em Bacabal, tentando chegar a São Luis... Como? Se estava em Santa Inês e não passa por Bacabal, são mais de 200 km de desvio... - Sim, Arari estava cortada; a única alternativa, vir por Bacabal... E não estava passando! O Rio já tomara a ponte... Peritoró também estava cortada, a chuva levara a ponte, sem possibilidade de passagem para São Luis. A única alternativa, ir por Parnaíba... No dia seguinte – segunda-feira - informações da PRF: São Luis estava isolada... Só mesmo por Parnaíba... Vi no mapa que poderia ir por Coelho Neto e de lá, Chapadinha... E seguir para São Luís Não, Coelho Neto estava com problemas, com um encalhe muitas carretas ficaram presas em um atoleiro na entrada da cidade; alguns carros pequenos conseguiam passar, mas só com tração, veiculo passeio não! Não arriscaria... Alternativa? Sim, poderia ir por União, de lá para Miguel Alves, pegaria uma balsa, para atravessar o Parnaíba ate Duque Bacelar, Buriti, Palestina, Chapadinha... Cortaria cerca de 300 km, da passagem por Parnaíba. A estrada estava boa, sem problemas (ou pelo menos, não tinham noticias...). Vamos tentar! Retorno a Teresina, pego a Avenida Kennedy em direção a cidade de União; mais ou menos uma hora, estrada boa, sem grandes problemas, paisagem bonita, muitas fazendas antigas, muita cana... União a Novo Lino, próximo à cidade, quase três km de buracos, menos de 10 km/h... Depois a estrada esta um pouco maltratada em alguns trechos, mas às 11 horas de “la manãna” estou em Miguel Alves. Nova informação: a estrada para a balsa esta cortada, carro pequeno não passa... Apenas 7 km até o pontal... Menos de 30 metros intrafegáveis... As ruas de acesso, cobertas pela água... Uma rua bem calçada leva ate o pontal... Mas... Um trator trabalhando! Arrumando o trecho! O trator dá passagem! Sou o primeiro a passar... Mais 7 km, o pontal... Muita carreta em direção contraria, desviando o trajeto interrompido... Arari ainda sem passagem; Peritoró, só daqui a uma semana; Coelho Neto, talvez pela tarde... Vamos em frente... A balsa acabara de sair, o Parnaíba muito cheio, a balsa não atraca em frente, do outro lado do rio, mas tem que ir ate a cidade, rio abaixo - Duque Bacelar... O que se fazia em 15 minutos, faz-se em uma hora... E o rio, subindo... 13:15h a balsa esta de volta... Vamos atravessar o Parnaíba... Problemas do outro lado, no Maranhão... Muitos trechos com atoleiros... Próximo a Buriti, talvez não passe... Essa a informação de quem vem do outro lado, desviando das chuvas, procurando alternativas para levar suas cargas... Boas informações da PRF... Um detalhe, eu não dirigo, nem tenho carteira, minha mulher, Del, ao volante... Gosta de estrada... Mas não tem o menor senso de direção, para virar a esquerda, tem que haver informação adicional: o braço do relógio... Mas esta indo bem, não precisei usar a pá, nem a corda uma única vez... Sempre trago no carro... Atravessamos o Parnaíba, ah João, João,que dor no coração...


Seguindo a correnteza, não o trilho do trem, mas sem problemas, mais rápido, rio abaixo... Duque Bacelar... Vamos em frente, estrada sendo construída, boa, só com a base sem o asfalto, mas estão trabalhando... Informações de que a frente esta um pouco ruim, dois dias sem chuva, já, na região... A poucos quilômetros, enchente, estrada cortada, desabrigados, aqui, muito pó na estrada... Sorte!? Mas nuvens negras se formam... Vem chuva, logo... Seguimos... Um trecho muito ruim. Nos baixos, não há obra de engenharia! Não há arte! A água fica represada, e logo, logo, esse trecho virara lamaçal, e interrompida, antes mesmo de se colocar o asfalto... Quem é o Engenheiro? - melhor, o fiscal que não vê uma barbaridade dessas? Como se constrói uma estrada sem obras de arte? As pontes ainda em construção, mas sem os desvios, e passa-se dentro do rio... Bom que há dois dias não chove... Esse seria o problema... Seguimos, com o alerta que adiante haveria problemas... Chegou o lugar: duas carretas encalhadas, atravessadas na pista, sem condição de passagem, uma fila imensa de caminhões, nos dois sentidos da rodovia... Já dois dias... Estamos já pelo meio do dia... Quase uma hora da tarde... mas espere os carros da frente estão passando... Sim, estão passando! Carro pequeno passa por dentro do quintal das casas a beira de estrada... Não vamos ficar... Vamos em frente... Depois do lodaçal - e do desvio - volta-se a estrada, calçada! As pessoas estão reconstruindo a estrada... Colocando pedras para fazer uma base e tirar as carretas atravessadas... Mais um dia, para eles... Um pouco antes desse trecho, passamos por uma ponte, que esta sendo construída... Passa-se pelo leito do riacho... Pessoas ajudam e cobram pela "flanelagem" - sim, aqui no meio do nada encontramos flanelinhas cuidando da manobra dos carros..., mas há dois dias não chove... Sabe que fazem? Represam o rio! Para ter muita água e obrigar os motoristas de carros pequenos a pedir ajuda - cobram R$ 10,00 pela passagem... A travessia do Parnaíba custa R$ 8,00, e com a cheia e mudança do local de atracação, 30 minutos para baixo e hora e meia para cima... Um trecho de 10 metros? R$ 10,00 reais para ser empurrado... O carro da frente passou sem problemas, sem a 'ajuda', o de trás, desligou o motor e foi empurrado – “deis toes”, cinco homens empurrando e um flanelando... - o seguinte passou sem problemas... observei... vamos! Por aqui, marcha reduzida, não haverá problemas... passamos, sem ter que pagar... Mas o rio fora represado, para ter água e os 'atravessadores de carro' terem como cobrar, um palmo de água se transforma em 50 cm e nem esta chovendo, nesse trecho há dois dias... Passamos esse trecho, o do atoleiro pouco mais adiante, e chegamos ao asfalto... Até em casa, parando apenas para abastecer, almoçar em Chapadinha, milho assado, milho cozido, banana, tudo on que a estrada oferece aos viajantes, e temos direito! E em Itapecuru-Mirim, muita gente na ponte... O que esta acontecendo? O rio Itapecuru esta subindo! Mais um pouco e a água começa a passar por sobre as cabeceiras da ponte - a ponte é construída em arco! Mas as cabeceiras logo estarão com água... No sentido Sao Luis-Itapecuru, de vinda, antes da cidade, na Trizidela como se chama aqui o outro lado do rio, a rua que o margeia já esta tomada pelas águas, as pessoas já começam a sair de suas casas - por que sempre esperam o ultimo minuto? - com os pertences na cabeça, o rio está subindo! Arari, o desvio não funcionou... Novas chuvas levaram o aterro (desvio) que estava sendo construído; Coelho Neto continua com os carros atolados, carro pequeno passa, mas tracionado e puxado por trator... Bacabal já deu passagem, pois desde ontem minha filha chegou a casa lá pelas 10 de noite... Esperou quase seis horas até o rio dar passagem; mesmo problema que esta afligindo Itapecuru-Mirim, as cabeceiras da ponte estão cobertas de água - ponte em arco... Peritoró ainda sem dar passagem, a chuva levou a ponte... Desvio, só por Parnaíba... Estou em casa, cheguei as 18:30h, sai de Juazeiro ontem, as seis da manhã... Fui levar meu neto, pois minha filha mais velha, Loreta, mudou para lá... Foi transferida de Fortaleza, para ficar mais perto de casa... Antes de Fortaleza, estava em Poços de Caldas... Para visitá-la, saída de manha, até Campinas, de lá ate Poços, mais três horas, de ônibus; saia no vôo das cinco da manha e três da tarde estava em Poços... Fortaleza, duas horas de vôo ou saída pela manhã e a noite estava lá, de carro... Agora, mais próxima, dois dias inteiros, de carro!


Chegamos bem..., mas quanta miséria na estrada, especialmente no Maranhão... até quando? Leopoldo Gil Dulcio Vaz Desde o Maranhão ps. Roberto Drumont escreveu um conto magnífico, "O encalhe dos 300", quando a estrada entre Maringá e Campo Mourão estava sendo construída; eu estava lá! Eu estava nesse encalhe, vindo de Tuneiras para Maringá... Junto com o Roberto, e mais de 300 veículos, entre carros, ônibus e caminhões... Não sei por que lembrei desse encalhe, agora, depois que passei pelo de Duque Bacelar e soube do de Coelho Neto... Carros no atoleiro... Vale uma reprodução, Mhario... O encalhe dos 300... PS. do ps. Mhario, ainda estamos ilhados. Verdadeiramente ilhados, na nossa querida Ilha do Maranhão...


CAVALEIRO SONETÁRIO DO QUIXOTE VENCEDOR’, DE ROSSINI CORRÊA FERNANDO BRAGA

in Caderno Alternativo do Jornal O Estado do Maranhão, de 4 de novembro de 2015. Ilustração, a capa do livro ‘Sonetário do Quixote Vencedor’ e seu autor Rossini Corrêa.

Disse certa vez Dom Quixote a Sancho que contasse algum conto para entretê-lo, como teria prometido, ao que Sancho correspondeu que de boa vontade o fizera, se o modo do que estava ouvindo lho consentisse: - Mas enfim – disse ele – seja como for farei diligências para contar uma história. Dê-me Vossa Mercê toda atenção que já principio, a contar uma aventura sobre o próprio andante, mas como se fora ele, o leal escudeiro, Sancho Pança, que assim o via através de seus olhos de fiel servidor e acompanhante... Era uma vez... O que era; como atrás de tempos, tempos vêm... Era uma vez um cavaleiro poeta apaixonado não por Dulcinéia Del Toboso, mas por uma outra castelã, o que, não muito desigual ao da Triste Figura, assim começou, enamorado, um canto, a dizer ter perdido o destino: “Vede: Sou um louco sonhador cretino, / a querer o mundo sem dor, mal e peste / - pobre Quixote que perdeu o destino...” E depois do caminho, distraído, perdeu Rocinante: “E desenganado, sofre a dor angustiante / e vai trotando no vazio seco de um graveto / - pobre Quixote que perdeu Rocinante”. Adiante, o poeta cavaleiro, perdeu o próprio caminho: “Cruéis para mim foram os fados: / [tudo em mim foi dor ou desvario, / olhos postos na luz, e já vazados] / sempre morrer de calor dentro do frio”. E desditoso, o cavaleiro poeta perdeu a fantasia: “Sem uma gota de verdadeira poesia, /náufrago no pantanoso areal da Vida / - pobre Quixote que perdeu a fantasia...” E tempo há, dentro do tempo, que o cavaleiro poeta perde a amizade: “Se querem saber: sou eu mesmo Sancho. / Ele é o outro de mim mesmo dispersado. / E, pela metade, eu agora me desmancho, / que um não pode ser o ser dilacerado.” Lá pelas páginas tantas, Sancho diz que o amigo perdeu o projeto / e sem planta baixa edificou a casa. / Mas, mesmo assim, arquitetou o teto / escondeu na alma um pedaço de asa.”


Pobre Quixote – o herói de La Mancha, desta vez perde o melhor de seu, a vergonha: “Mesmo que contra o homem tudo deponha, / inclusive, por ser este animal que bate, / tudo logo corrompe em que a mão ponha: / e infamando seu cão, cruel, ainda late...” Depois, agora, para melhor, “Nobre Quixote perdeu a tristeza / e recuperou o horizonte da alegria. / Tirou o pombo da cartola da beleza /e na fileira do bem inventou o dia.” Neste momento, ele, Quixote, que também não é o andante da triste figura, mas o Cavaleiro poeta, da bela postura, apruma-se e canta uma Elegia dos Visionários: “E Quixote, todo ancho, / colherá um verde lírio / e responderá: bom Sancho, / somos filhos do delírio.” E alguma musa, que não é Dulcineia e tampouco Aldonza, mas o pseudo amor dest’outro Quixote, o poeta da bela figura, passa pelos moinhos de vento com o nome disfarçado de “Mona Lisa... Infinita das minhas emoções”, e a caminho, “Infinita Mona Lisa das minhas quimeras...”, e em serenata “Infinita Mona Lisa da minha guitarra” [...] E os dois, cansados de tantas andanças, chegam à Santa Helena, onde Bonaparte amargou a sorte de grande soldado, para dizer, ele, o Quixote poeta e da bela alegria, não de La Mancha, mas de uma Ilha com o epíteto de ser “dos amores”, não aquela cantada por Camões e pintada por Malhoa, mas a de São Luís do Maranhão... Descobrimo-lo pelo coloquial do termo, que só naquela doce ilha é usado, e brada feliz: “Como Bonaparte vão sonhando no caminho, / lambendo-se no cio à sombra de um vinho, / noivos chamando-se pequeno e pequena”. Depois, o nosso herói que já se misturou com as histórias minha e de Sancho, chega à Ibéria, e canta sob o belo azul peninsular: “Colorido dia de Espanha, / de Espanha e Portugal: / [este ouro que o azul apanha e transforma em mel e sal]”. Este ouro não será o reflexo das areias do Tejo, visto pelos olhos de Sancho? Finalmente, o Quixote poeta e brilhante chega ao Quinto Encontro, ao lembrar-se talvez do Quinto Império, predito pelo Bandarra, sapateiro de tanto espanto: “Nunca jamais se turvam/ mesmo a Lisboa do alto... Com uma vontade de salto, / Lisboa meu chão de nuvem”. Por fim, lança esta sentença ao seu escudeiro: “Hás de saber, Sancho amigo, que eu nasci por determinação do Céu nesta Idade de Ouro para ressuscitar bela a de ouro ou dourada. Eu sou aquele para os que estão dados os perigos, as grandes façanhas, os valorosos feitos...” E assim tem sido este cavaleiro, poeta e da brilhante figura, a transmitir bênçãos alegrias... E esperanças! *Nota de Rossini Corrêa: Este livro, ‘Sonetário do Quixote Vencedor’, “fora escrito entre o Cairo, no Egito e Valletta, em Malta. “em nítida demonstração de que o verbo, o princípio, a energia, o espírito e a substância são universais, legando ao barro humano e ao bicho da terra destinos estrelares. Nascer é renascer a cada dia, sob o norte, a bússola e o signo prognóstico da reinvenção do humano a melhor, com um par de asas suplantando os pés de ferro, chumbo e concreto.”]




POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 Blog do Leopoldo Vaz • sábado, 01 de abril de 2017 às 10:09 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2017/04/01/poesia-maranhense-contemporanea/

Trabalhando na construção de uma ‘antologia ludovicense’, já na Introdução coloquei que “Escrevi para aprender”[1]; e é isso mesmo. Fundador da Academia Ludovicense de Letras, desde a sua primeira hora, não me sentia à vontade, por não deitar os olhos para a literatura de São Luis, e do Maranhão em sua extensão. Criada a ALL, um dos projetos era a elaboração da dita antologia, por seus membros. Não acontecendo, resolvi por conta e risco faze-la. Não aceita pelos pares, tornou-se obra de minha exclusiva responsabilidade. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção – daquilo que se trata por espaço intelectual, e análise das estratégias de afirmação[2], disputas e repertórios nele acionados -, constituíram-se em importantes fontes para obtenção de dados relativos aos agentes em questão, as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Busquei nas obras citadas as informações necessárias, assim como me utilizei amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhi informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sites particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem… Sempre que começo algum texticulo, parto do conhecimento do que se trata; assim, fui buscar ‘na nuvem’ o que é uma “Antologia”; de acordo com a Wikipédia[3], (ανθολογία ou “coleção de flores”, em grego), é uma coleção de trabalhos literários (ou musicais) agrupados por temática, autoria ou período. A palavra vem do nome da mais antiga antologia que se tem conhecimento, organizada pelo poeta grego Meléagro. É usado para categorizar coleções de obras curtas, tais como histórias curtas e romances curtos, em geral agrupados em um único volume para publicação. Refe-se a coleção de trabalhos literários. I.S. Eliot [4] nos assegura que o valor primordial das antologias, como de resto de toda literatura, é “nos dar prazer, embora outras serventias possam prestar aos leitores interessados”. Entre elas, assinala o poetacrítico, “as antologias são uteis porque ninguém tem tempo de ler tudo, e existem poemas dos quais apenas algumas passagens permanecem vivas” (in BARBOSA FILHO, 2004)[5]. No Maranhão, foram publicadas, já, várias antologias, que se tornaram clássicas, como: Parnaso Maranhense, de Gentil Homem de Almeida Braga; Panteon Maranhense, de Henriques Leal; Os novos atenienses – subsídios para a história literária do Maranhão, de Antônio Lobo (2008, 3 ed.), a do cinquentenário da Academia Maranhense de Letras, Antologia AML 1908-1958[6], de Mário Meireles; Arnaldo de Jesus Pereira; Domingos Vieira Filho (1958); para a construção da presente antologia recorreremos a elas, sempre que necessário, mas a principal fonte será Clóvis Ramos: Nosso céu tem mais estrelas – 140 anos de literatura maranhense (1972); Onde canta o sabiá – estudo histórico-literário da poesia do Maranhão (1972); Roteiro literário do Maranhão – neoclássicos e romanticos (2001); Rossi Corrêa, com O modernismo no Maranhão (1989); Formação social do Maranhão – o presente de uma arqueologia (1993); e Atenas Brasileira – a cultura maranhese na civilização nacional (2001); Jomar Moares com seu Apontamentos de literatura maranhense (1976); e quando necessário nos Perfis Academicos da AML (1993); Assis Brasil e A poesia maranhense no século XX (1994); Arlete Nogueira da


Cruz, com o seu magistral Sal e Sol (2006); José Henrique de Paula Borralho, com Uma Athenas equinocial – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro (2010) e Terra e Ceu de Nostalgia – tradição e identidade em São Luis do Maranhão (2011); e por fim, Ricardo Leão: Os atenienses – a invenção do cânone nacional (2011). É desse ultimo que nos utilizamos, no uso do termo atenienses para definir a condição de literatos do Maranhão: “Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes – depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial brasileiro. […]”. (Leão, 2011, p. 33)[7].

Esclarece, ainda, que a adoção do “tropo ateniense também se inspira na obra do crítico maranhense Frederico José Correia, em seu Um livro de crítica (1878)[8], no qual critica a invenção em torno da Atenas Brasileira, particularmente endereçada ao biógrafo maranhense Antonio Henriques Leal, autor do Pantheon Maranhense”.

Esse autor utiliza o conceito de “cânone” que é, com efeito, uma seleção de obras que atende critérios de eleição e exclusão, os quais podem: “[…] orientados pela questão da representatividade histórica e da fundação e formação de uma literatura, compondo, enfim, a arqueologia do campo intelectual e dos letrados de um país ou, no caso específico da literatura, seguir uma orientação de acordo com a representatividade estética dos textos”. (p. 34). “[…] O cânone, portanto, é uma lista de textos, autores e obras, coadjuvada por uma elaborada narrativa historiográfica que, apesar de sua pretenção em ser verídica, como se resto o é toda historiografia, traz consigo motivações que, pelo fato de incluir excluindo, trai e solapa a sua pretenção histórica enquanto verdade absoluta, natural e indubitável.” (p. 36).

Reis Carvalho (citado por DURANS, 2012)[9] dividiu a literatura maranhense em três ciclos, admitindo que, para essa classificação, não houve “na realidade fatos decisivos e característicos na sua evolução, capazes de representar as linhas divisórias de cada ciclo”. Ele, porém, demarca cronologicamente a literatura da seguinte maneira: “o primeiro ciclo vai de 1832 a 1868”; “o segundo ciclo da literatura maranhense abrange a geração nascida das duas primeiras décadas do último semi-século, de 1850 a 1870”; “O terceiro ciclo […] compreende os escritores nascidos nas duas primeiras décadas da última geração do século passado, 1870 a 1890” (CARVALHO, 1912, v. 4, p. 9737, 9742 e 9748)[10]. Mário Meireles[11], seguindo e citando a periodização de Reis Carvalho, admite, no século XIX, a presença de três grandes ciclos, embora ressaltando que, no início daquele século, ocorreu um ciclo de transição (1800-1832) que, para ele, não apresentava relevância para a história literária do Maranhão. No prefácio da Antologia da AML apresentam as seguintes fases: Primeira fase: de maior extensão de tempo, que vai dos séculos XVII a XVIII, da “literatura sobre a terra”; Segunda fase: de transição, do primeiro quartel do seculo XIX, de características essencialmente coimbrão, periodo do romantista classicista[i]; Terceira fase: do segundo ao terceiro quartel da centúria oitocentista, quando surge a imprensa periódica, regresso dos doutores de Coimbra, que vem constituir o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro[ii]; São Luis torna-se a Atenas Brasileira;


Quarta fase: do terceiro ao ultimo quartel do seculo passado (o livro é de 1958…), com o surgimento do naturalismo[iii], do parnasianismo[iv], do simbolismo[v]; os intelectuais da terra são afastados para fora dela, reconhecidos como literatos nacionais; Quinta fase, e para os Autores, a penultima, dos ultimos anos do seculo XIX para o primeiro quartel do seculoo XX, ciclo do decadentismo[vi]; Sexta, e ultima fase analisada pelos antologistas da AML, atual, para eles, que que corresponde ao ciclo do modernismo[vii]. Meireles (1980)[12] caracteriza, os ciclos literários maranhenses através dos títulos dos capítulos de sua obra: “Séculos XVI e XVII – Literatura sobre o Maranhão”; “Século XVIII – Ainda literatura sobre a terra”; “Século XIX – O ciclo de transição do seu primeiro quartel (1800-1832)”; “Século XIX – Segundo Ciclo (1832-1868) – O grupo maranhense no Romantismo brasileiro. O Maranhão Atenas Brasileira”; “Século XIX – o ciclo de 1868 a 1894. Os homens de letras do Maranhão passam a ser, essencialmente, literatos nacionais”; “Século XX: o ciclo de 1894 a 1932, o decadentismo; a reação local para estabelecer, no Maranhão, os foros de Atenas Brasileira”; “Os tempos atuais”. Na primeira edição de História do Maranhão[13] – no capítulo intitulado Panorama Cultural do Maranhão no Império -, aponta os ciclos literários maranhenses, traçando um esquema parecido com os dos autores supracitados. Ele, porém, associa características econômicas a esses ciclos : “Este Grupo Maranhense abrange, no tempo, o ciclo que vai de 1832 a 1868 e corresponde assim, no campo econômico, ao ciclo do algodão”. E continua: “Com o ciclo do açúcar, sobrevém o ciclo literário de 1868 a 1894 […] desfazendo-se o Grupo local, os nossos homens de letras passam a emigrar cedo para o Sul, onde, granjeando justo renome, fazem-se essencialmente literatos nacionais” (MEIRELES, 1980, citado por DURANS, 2009; 2012) [14].

Durans (2009; 2012) [15] afirma que no século XVII, inicia-se uma literatura descritiva acerca do Maranhão produzida pelos colonizadores, a fim de identificar, caracterizar, relatar e descrever a terra conquistada: Essa produção inicial é denominada ‘literatura de viajantes’, ‘relatos de viajantes’, entre outras denominações. Esses textos tinham como função descrever os aspectos naturais, econômicos e sociais das terras descobertas, com o fim de servir como fonte de informação e de propaganda da terra conquistada. Com o tempo e sua ampla divulgação na imprensa européia, tais produções vão se tornando cada vez mais bem elaboradas.

Já Jomar Moraes é responsável por consolidar a demarcação da literatura maranhense em ciclos, uma vez que se propõe a atingir o objetivo de […] apreciar a evolução da literatura maranhense, assim como o papel que lhe cabe no contexto da literatura brasileira, examinando a questão sob seus aspectos mais relevantes […]: o da importância pessoal de certas figuras e o da repercussão que como grupo geracional foi possível alcançar […]. (MORAES, 1976, grifo nosso)[16].

Para Durans (2012) [17] esse objetivo fica mais evidente com a própria organização do livro, em capítulos e tópicos, apresentados de forma temporalmente linear e delimitando momentos literários. A partir da segunda parte, intitulada Autonomia literária, aparecem os seguintes capítulos: “1832-1868 – Grupo maranhense”; “1870/1890 – Um vigoroso sopro renovador”; ”1899/1930 – Os Novos Atenienses”; “Depois de 1922”. Prossegue Durans (2012) [18], para quem:


A literatura maranhense apresenta três grandes ciclos, nascendo de fato com a geração romântica, uma vez que antes dela somente existiam relatos sobre o Maranhão e não uma literatura do Maranhão propriamente dita. Didaticamente, muitos autores que se debruçam sobre a crítica, análise e história da literatura maranhense dividem-na em ciclos e gerações que encerram especificidades consoantes ao tempo em que foram produzidos.

Antonio Lobo, segundo nota n’ A PACOTILHA – Jornal da Tarde, edição de 14 de maio de 1909, quando do anuncio do lançamento de seu novo livro – Os Novos Atenienses, traz-nos a seguinde ‘divisão’: Os novos atenienses Deverá circular, na semana proxima, o livro de nosso confrade Antonio Lobo, cuja impressãoterminou hoje, nas oficinasa da Revista do Norte. De accordo com a promessa feita, ha tempos, inserimos aqui a summula desse trabalho. Introducção – aplicação ao actual movimento literário do Maranhão da doutrina de A. Coste, sobre a independencia entre os phenomenos ideologicos e sociologicos. PRIMEIRA PARTE OS FACTOS I – O seminario maranhense e a phase da decadencia literaria que ao seu desapparecimento se seguiu. II – Manoel de Béthencourt e as tentativas de reeacção literaria de O Seculo e A Philomatica. III – A visita de Coelho Neto e a influencia pela mesma exercida sobre o nosso renascimento literário. Applicação a semelhante influencia de uma das leis da imitação de G. Tarde. IV – Fran Pacheco e a Oficina dos Novos. As conferencias do Centro Caixeiral. Os dissidentes da Renascença Maranhense. A Actualidade. Nova Athenas. A Revista do Norte. As actuaes associações literarias: Gremio Literaio Maranhense, Cooperação Sotero dos Reis, Clube Nina Rodrigues, Gremio Odorico Mendes, A Academia Maranhense. SEGUNDA PARTE AS INDIVIDUALIDADES I – Os Poetas. A poesia maranhense em geral. Os poetas de livros: I. Xavier de Carvalho – Ignacio Raposo – Côrrea de Araujo – Costa Gomes – Vieira da Silva – Maranhão Sobrinho. Os Poetas sem livros: Francisco Serra, Alfredo Assis, Luzo Torres, Luiz carvalho, Agostinho Reis, Humberto de Campos, Vespasiano ramos, Francisco Lisboa, filho, Godofredo Vianna, Fdabiano Vieira, Carlos Rego, Ameriuco Cesar, Altino Rego, Heraclyto Mattos, Lemos Vianna, Arlindo Martins, Nascimento Moraes, Octavio Galvão, Leonete Oliveira, e Laura Rosa. (Segue-se, a este ultimo capitulo, a transcrição de diversas producções dos poetas menos estudados). II – Os prosadores. A gramamatica (sic) e a estilistica, de accordo com a doutrina de R. De La Grasserie. Os pescadores de capaphatons. Os prosadores de livro: Viriato mCorrêa – Astolfo Marques – Godofredo Vianna – Domingos barbosa – José Ribeiro do Amaral- JustoJansen ferreira – Barbosa de Godois. Os prosadorees sem livro. Os jornalistas. Os contistas. Os cronistas. Luzo Torres, Clodomir Cardoso, João Quadros, Alfredo Assiz, Luis carvalho, Antonio Lopes, Fabiano Vieira, José Barreto, Raul Pereira, Luiz Vianna, Alfredo Fernandes.

Alfredo de Assis assim se manifesta, ao comentar o livro de Antonio Lobo – Os Novos Atenienses[19]: […]Como quer que seja, Antonio Lobo, que abraça a teoria de Adplphe Coste, excellentemente a interpreta e applica ao estudo de nosso meio literaio, tomado no que hodiernamente apresenta e nas


causas genetrizes do seu desenvolvimento, que ell filia principalmente á vista de Coelho Neto ao Maranhão. Este acontecimento repercutiu profundamente no espírito da mocidade, que se alheara quase que inteiramente dos labores intelectuaes depois que d’aqui se partiu o notável jornalista Manoel de Bethencourt, cuja influencia não foi perduraqdoira e se exteriorisou apenas pelo apparecimento dos Fructos Selvagens, livro de versos de I. Xavier de Carvalho, e de alguns jornaes e revistas literárias de ephemera duração. Depois da passagem de Coelho Neto foi que surgiu a Officina dos Novos, fundada por Francisco Serra, João Quadros, e Astolfo Marques, e que tantos e tão valiosos serviços prestou e continua a prestar as letras maranhenses. Antonio Lobo, ao lado de Fran Paxeco, foi sempre o seu mais poderoso sustentáculo. Em Os Novos Atenienses esta, magnificamente elaborada, na linguagem clara, espontânea e bem trabalhada pelo autor, o histórico desta importante sociedade de letras, das phases que a precederam desde o desaparecimento de O Semanário Maranhense, que Antonio Lobo chama o canto do cisne da geração literária, que aqui viveu em meados do século findo, e dos emprehendimentos e conquistas posteriormente realizadas. Estas ultimas constituem o assumpto especial das duas partes do livro, que se inscrevem sob a epigraphe de Poetas e Prosadores, e onde estão postos em foco todos os novos athenienses, os de livros publicados e aquelles cujos trabalhos andam ainda esparsos em jornaes e revistas. Não preciso encarecer o mérito do livro de Antonio Lobo, o escriptor maranhense é suficientemente conhecido. Termino, por isso, circunscrevendo-me apenas a um enthusiastico parabem ás letras da minha terra, ás quaes elle acaba de trazer mais um titulo de gloria. Alfredo de Assis

É Ramos (1972, p. 9-10)[20] quem afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases: 1ª fase – de extensa duração, é “a da literatura sobre a terra”, feita pelos cronistas a contar dos padres capuchos d´Abbeville e d´Evreux; 2ª fase – a do ciclo de transição, em que desapareceram os ultimos cronistas e ensaia-se a literatura da terra, já no primeiro quartel do século XIX, literatura que se caracteriza pela feição coimbrã, fruto do classicismo; 3ª fase – a que surge a imprensa periódica – “o Conciliador”, “O Argos da Lei”, e “O Censor”, e que os filhos da terra, formados em Coimbra, de regresso da Europa, constituem o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro, justamente a geração de Odorico Mendes, Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, e Gonçalves Dias; 4ª fase – a partir de 1865, a que possibilitou o surgimento do naturalismo, do parnasianismo e do simbolismo, de poetas e escritores levados por força do fator economico a se transferirem para o Sul do país, e foram, muitos deles, literatos nacionais: Teixeira Mendes, Teófilo Dias, Adelino Fontoura, Artur e Aluisio Azevedo, Coelho Neto, Dunshee de Abranches; 5ª fase – com inicio em 1900, em consequencia da visita de Coelho Neto ao Maranhão, de intelectuais que procuraram, permanecendo na terra natal, desenvolve-la, faze-la outra vez grande centro de cultura, a geração de Antonio Lobo, Correa de Araujo, e Nascimento de Moraes, fase áurea do simbolismo no Maranhão, que viu também, como escritores nacionais, Humberto de Campos, Viriato Correa, e Graça Aranha; 6ª fase – ciclo do modernismo, segundo Meireles (1958) a fase atual, mas de transição, de poetas ainda apegados a velhas formulas, neoromanticos uns, neoparnasianos outros, neosimbolistas grande parte, já se firmando alguns poucos, nos canones trazidos pelo modernismo: a fase inaugurada em 1927 por Astolfo Serra; 7ª fase – inicio do movimento “Renovação”[viii], sob a orientação de Antonio Lopes, é a geração de 45[ix], quando o modernismo se impôs no Maranhão, principalmente na pintura com J. Figueiredo, cubista; Floriano Teixeira, na mesma linha de Portinari; Cadmo Silva, surrealista, e Jorge Brandão;


a fase de Erasmo Dias, em que o Maranhão viu emigrar mais alguns de seus melhores talentos: Josué Montello, Manoel Caetano Bandeira de Melo, Franklin de Oliveira, e Osvaldo Marques; 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com exito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta[x] e neoconcretista[xi], ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenomeno que também ocorreu no ambito nacional; 9ª fase – a patir de 1969, de jovens que buscavam, atraves de movimentos como a Antroponáutica[xii], novas formulas poeticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores[xiii].

Recorremos, ainda, a Clóvis Ramos (2001) [21] – fênix renasce das cinzas, ao propor-se a realizar o “sonho do Dr. Eliezer Moreira Filho”, com a publicação de uma Antologia escolar maranhense. Abrangência das fases diversas da rica vida literária do Maranhão. São elas: Volume I – quando a brilhante aurora despertava: cronistas franceses, os portugueses da fase colonial e a poesia neoclássica do Maranhão; Do sol meridiano a luz dourada – os românticos da geração de Gonçalves Dias; Um Sol de fogo – geração de Sousândrade; Volume II – onde as estrelas cantam – no tempo de Frutuoso Ferreira, tempo também de Teófilo Dias, Raimundo Correia, Catulo, Coelho Neto e Graça Aranha (fase do movimento naturismo e do parnasianismo); De rosas cor de rosa no sol posto – o simbolismo no Maranhão; Vão se abrindo as estrelas e as juremas – sobre o sincretismo, que resultou nos caminhos abertos para o modernismo, entre nós; Volume III – Asas cantando sob um céu lilás – os ecléticos e os da geração de Corrêa da Silva; Volume III – o despenhadeiro das auroras – a geração de 45, de poetas e escritores voltados ao hermetismo, à poesia de vanguarda – pós-modernos, uns e outros ainda apegados aos ritmos tradicionais; Rosas manhãs – contendo a poesia atual do Maranhão; Um quarto volume, sendo preparado para apresentar, ainda, autores maranhenses, antigos e modernos, que não foram incluídos nos roteiros, e já prontos.

E mais adiante, apresenta-nos novo roteiro, com os títulos que formam o Novo Parnaso Maranhense: A irmã da noite – a grande poesia do Maranhão, estudo e antologia; A pedra e o monte – a poesia neoclássica do Maranhão; O astro das manhãs – o Maranhão na poesia romântica e utra-romantica; A flor do abismo – ainda os românticos e parnasianos do Maranhão ou a geração de 1880; No infinito mar – poetas tradicionalistas, de estilo clássico-romantico; Sinos do entardecer – que exalta bandeira Tribuzzi – ainda com a poesia tradicionalista de poetas imbuídos de sincretismo; Soluços nas ramadas – começo do modernismo no Maranhão ou geração de 1900; Velário das estrelas – o modernismo no Maranhão, a geração de 1930; A música dos violinos ou a geração de 45; Verbo em chamas – movimentos de vanguarda, poetas pós-modernos, ou a geração de 60; Espelho grande do tempo – movimentos de vanguarda, pós-modernos; Brisa e espuma – a nova poesia do Maranhão; O céu é a mesma luz – que o continua, reunindo poetas do final do século XX, de Enes de Sousa (João Nascimento Sousa), Antonio Carlos Alvim, Leonardson dos Santos Castro, Lenita de Sá, Francisco de


Assis Peres Sousa, Paulo Melo Souza, Cesar William, e Luís Inácio Araujo – nascidos nas décadas de 1960/70, e outros, a João Fábio Ramos de Souza, o mais moço, nascido em 1983 […]

Dinacy Corrêa (2015) [22] coloca que: de geração em geração, de Gonçalves Dias a Sousândrade (1832/1902 – autor, dentre outros títulos de O Guesa Errante, escrito entre 1858-1888), passando por Maria Firmina dos Reis, em seus Cantos à Beira-Mar (1871), remontando ao Grupo Maranhense (1832/64), passando pela Oficina dos Novos (1900), por Corrêa de Araújo (que, transitando do parnasiano ao pré-moderno, antecipa a geração de 30/40)… Lembrando Bandeira Tribuzi (que, com Alguma Existência, descortina novos horizontes estéticos)… Chegando a Ferreira Gullar (que com o seu Poema Sujo –1976, estruturalmente complexo, num misto de lirismo e memória narrativa, vem a ser classificado como um dos melhores poetas brasileiros do século XX), a Luís Augusto Cassas, no transe do século XX/XXI… A poesia maranhense vai construindo/percorrendo seu itinerário histórico-literário. A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012)[23].

[1] MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 [2] SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. [3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Antologia [4] ELIOT, T. S. Ensaios de Doutrina Crítica. Lisboa: Guimarães Editores, 1977, citado por BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004. [5] BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004. [6] MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958

Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA

MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958. Edição fa-similar comemorativa do centenario de fundação da Academia Maranhense de Letras, AML, 2008. [7] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 [8] CORRÊA, Frederico José. UM LIVRO DE CRÍTICA. São Luis: Tip. Do Frias, 1878. CORRÊA, Frederico José. UM LIVRO DE CRÍTICA. 2 ed. São Luis:Pitomba, 2015. Com ensaios de Ricardo Leão e Henrique Borralho

[9] DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 [10] CARVALHO, Antônio dos Reis. A literatura maranhense. In: BIBLIOTECA Internacional de Obras Célebres. Rio de Janeiro: Sociedade Internacional, 1912. v. 20. (citado por DURANS, 2012). [11] MEIRELES, Mário. Panorama da literatura maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1955; MEIRELES; FERREIRA; e vieira filho, 1958; 2008, obras citadas; [12] MEIRELES, 1955, obra citada; [13] MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. [14]DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua


Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014.

em

DURANS, 2012, obra citada; [15] DURANS, 2009; 2012, obras citadas; [16] MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976 [17] DURANS, 2009, obra ciatada. [18] DURANS, 2012, Obra citada. [19] A Pacotilha, 25 de maio de 1909 – Os novos atenienses [20] RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. [21] RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: neoclássicos e românticos. Quando a brilhante aurora despontava – do sol meridiano a luz dourada – um sol de fogo. Niterói: Clovis Ramos, 2001 [22] CORRÊA, Dinacy A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol.2, no. 2, maio-junho de 2015. [23] DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 [i][i] O Classicismo teve início na Itália no século XIV e apogeu no final do século XVI, espalhando-se rapidamente pela Europa, com a criação da imprensa as informações eram divulgadas com maior rapidez – ocorreu dentro do Renascimento. É uma literatura antiga que sofreu várias influências principalmente greco-latinas, devido à criação das primeiras universidades. Em 1527, quando Francisco Sá de Miranda retornava a Portugal, vindo da Itália, trazendo o doce estilo novo (soneto + medida nova). Clóvis Monteiro assinala que o Classicismo em Portugal durou três séculos de atividades literárias: iniciado em 1527 e encerrado em 1825. No Brasil Colônia, o Classicismo português do período cultista também influenciou a literatura, como por exemplo, na obra Prosopopéia de Bento Teixeira, que imitava os versos de Camões, até meados do século XVIII, quando surgiria uma literatura nacional ou brasileira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_classicista [ii]O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas “Suspiros poéticos e saudades”, de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos. Ainda no mesmo ano, no Brasil – momento histórico em que ocorre o Romantismo, 14 anos após a sua Independência – esse movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da liberdade, sentimentos que se ajustavam ao espírito de um país que acabava de se tornar uma nação rompendo com o domínio colonial. Três fundamentos do estilo romântico: o egocentrismo, o nacionalismo e liberdade de expressão. O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou individualismo. Evidencia a tendência romântica à pessoalidade e ao desligamento da sociedade. O artista volta-se para dentro de si mesmo, colocando-se como centro do universo poético. A primeira pessoa (“eu”) ganha relevância nos poemas. O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades locais. Opondo-se ao registro de ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo pastoralismo em todos os lugares, o Romantismo propõe um destaque da chamada “cor local”, isto é, o conjunto de aspectos particulares de cada região. Esses aspectos envolvem componentes geográficos, históricos e culturais. Assim, a cultura popular ganha considerável espaço nas discussões intelectuais de elite. A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da escola romântica. “Nem regra , nem modelos “- afirma Victor Hugo, um dos mais destacados românticos franceses. Pretendendo explorar as dimensões variadas de seu próprio “eu”, o artista se recusa a adaptar a expressão de suas emoções a um conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma forma, afasta-se de modelos artísticos consagrados, optando por uma busca incessante da originalidade. Primeira geração – Indianista ou Nacionalista; Segunda geração – Ultrarromantismo ou Mal do Século; Terceira geração – Condoreira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil [iii] Naturalismo – literária conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. O naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de ordem filosófica. No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciada pela leitura de Émile Zola. O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores marcos da literatura brasileira: O cortiço. http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo#Naturalismo_em_Portugal_e_no_Brasil [iv]O parnasianismo é uma escola literária ou um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do RealismoNaturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França. No Brasil, o parnasianismo dominou a poesia até a chegada do Modernismo brasileiro. A importância deste movimento no país deve-se não só ao elevado número de


poetas, mas também à extensão de sua influência, uma vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do país, praticamente até o advento do Modernismo em 1922. http://pt.wikipedia.org/wiki/Parnasianismo#No_Brasil [v] Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época. Movido pelos ideais românticos, estendendo suas raízes àliteratura, aos palcos teatrais, às artes plásticas. Não sendo considerado uma escola literária, teve suas origens de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire [vi] Decadentismo é uma corrente artística, filosófica e, principalmente, literária que teve sua origem na França nas duas últimas décadas do século XIX e se desenvolveu por quase toda Europa e alguns países da América. A denominação de decadentismo surgiu como um termo depreciativo e irônico empregado pela crítica acadêmica, mas terminou sendo adotada pelos próprios participantes do movimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Decadentismo [vii] O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. O movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco. Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de Parnasianismo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil; http://www.infoescola.com/literatura/modernismo/ [viii] “O movimento de renovação colocado pelas escolas literárias não consiste necessariamente na exclusão de uma geração anterior, mas um retorno a um movimento que vem antes do modelo negado. Assim aconteceu com o Arcadismo, que revisita os modelos clássicos; com o Parnasianismo, que retoma o Classicismo; e com o Simbolismo, que reassume o subjetivismo romântico. Assim também ocorreu com a literatura neo-ateniense, que pretendia revalidar o foro de Atenas Brasileira, igualandose a todos os outros”. DURANS, 2009, obra citada. [ix] Na literatura brasileira, a chamada Geração 45 surgiu a partir de trabalhos de poetas que produziam uma literatura oposta às inovações modernistas de 1922. Uma fase de literatura intimista, introspectiva e de traços psicológicos. http://www.infoescola.com/literatura/geracao-de-45/ [x] Poesia concreta é um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal. Surgiu na década de 1950 no Brasil e na Suíça, tendo sido primeiramente nomeada, tal qual a conhecemos, por Augusto de Campos na revista Noigandres de número 2, de 1955, publicada por um grupo de poetas homônimo à revista e que produziam uma poesia afins. Também é chamada de (ou confundida com) Poesia visual em algumas partes do mundo. O poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica) . seu problema: um problema de funções- relações desse material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia de gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto, usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área linguística específica – “verbivocovisual”- que participa das vantagens da comunicação não-verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra, com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação: coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não verbal, com a nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens. a poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à verbificação : “a moeda concreta da fala” (sapir). daí suas afinidades com as chamadas “línguas isolantes”( chinês) : “quanto menos gramática exterior possui a língua chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente ( humboldt via cassirer) . o chinês oferece um exemplo de sintaxe puramente relacional baseada exclusivamente na ordem das palavras ( ver fenollosa, sapir e cassirer). http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_concreta [xi] Neoconcretismo foi um movimento artístico surgido no Rio de Janeiro, Brasil, em fins da década de 1950, como reação ao concretismo ortodoxo. Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro. Eram contra as atitudes cientificistas e positivistas na arte. A recuperação das possibilidades criadoras do artista (não mais considerado um inventor de protótipos industriais) e a incorporação efetiva do observador (que ao tocar e manipular as obras torna-se parte delas) apresentam-se como tentativas de eliminar a tendência técnico-científica presente no concretismo. O movimento neoconcreto nunca conseguiu imporse totalmente fora do Rio de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas, partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações simbólicas ou sentimentais. O MANIFESTO NEOCONCRETO – No dia 23 de março de 1959, o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil , (dirigido por Reynaldo Jardim, participante do movimento) publicou o ‘Manifesto Neoconcreto’, assinado por Ferreira Gullar , Reynaldo Jardim , Theon Spanudis , Amílcar de Castro , Franz Weissmann , Lygia Clark e Lygia Pape . http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoconcretismo. [xii] Em 26 de maio de 1972, foi lançada, em Noite de Autógrafos, em São Luís do Maranhão, a antologia poética Antroponáutica, que apresenta poemas de poetas até então inéditos, em livros. Eram eles Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Valdelino Cécio. Para eles, alguma coisa estava errada, já que a Semana de Arte Moderna havia acontecido, de maneira ruidosa, há 52 anos antes, em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo e poucos, à exceção de Nascimento Moraes Filho, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Oswaldino Marques, Lago Burnett e José Chagas, pouquíssimos


outros dela tomaram conhecimento, decorridas cinco décadas. Era como se São Luís vivesse ainda em plena época do soneto parnasiano sem tomar conhecimento sequer da linguagem revolucionária de O Guesa, de Sousândrade. GASPAR, Viriato. Os Trinta Anos Pós-Antroponáutica. GUESA ERRANTE, Suplemento literário – Jornal pequeno, São Luis, 29 de novembro de 2005. [xiii]Com a instituição dos Jogos Florais no ano de 1960, o movimento dos trovadores (então sob a égide do GBT, Grêmio Brasileiro de Trovadores) teve um grande impulso, embora ainda incipiente. Com a fundação e o estatuto definitivo em 1966, a entidade passa a multiplicar-se pelo país inteiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Brasileira_de_Trovadores Categoria A VISTA DO MEU PONTO • Literatura & Esporte


AO MEU MESTRE SEBASTIÃO: TAPERA-EVIRE NÃO!!! EUSSAUAP É O CORRETO!!! Por Leopoldo Vaz • domingo, 05 de julho de 2015 às 17:35 http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/ao-meu-mestre-sebastiao-tapera-evire-nao-eussauap-ocorreto/

Meu querido Mestre Sebastião, tenho em mãos, de Luiz F. F. Tavares o belissimo “A ILHA E O TEMPO – séculos e vidas de São Luis do Maranhão 1612 – 2012“, premio IV Centenário de São Luis, do Instituto Geia. Publicado em 2012. Deparo-me, às páginas 35-36 com um erro do autor, que esperava não haver, dada a erudição e conhecimento da História do Maranhão da Comissão encarregada de avaliar as obras enviadas… Mas está lá: “Mas nem tudo ocorrera perfeitamente bem. Na aldeia de Tapera-evire, um indio já centenário, Momboré-Uaçu, criaria um impasse aos franceses […]. Meu Mestre: esse episódio foi em Uçaguaba – antes, Miganville; depois Aldeia da Doutrina; e hoje conhecida como Vila de Vinhais, a Velha… VEJAMOS: Fundada a França Equinocial, a 8 de setembro de 1612, saíram a visitar a Ilha os lugares-tenentes de Daniel de La Touche, De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D’ Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upaon-Açú, de nome David Migan. As aldeias do Maranhão tinha até quatro cabanas, medindo de 26 a 30 pés de largura por 200 a 500 pés de comprimento, segundo o número de pessoas que nelas habitavam. Algumas aldeias possuíam de 200 a 300 habitantes, outras de 500 a 600, e às vezes mais. As casas eram dispostas em forma de quadrado, havendo uma praça grande e bonita ao centro. Relata o padre Abbeville (1975): “levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O Sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho”. O Padre Claude D’Abbeville foi quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes. Pela sua descrição, a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais foi o primeiro núcleo residencial dos brancos que se estabeleceram no Maranhão. No Forte – a hoje cidade de São Luís – ficava apenas uma guarnição de oito soldados, a vigiar. Os demais, habitavam as aldeias então existentes. A primeira a ser ocupada, foi Eussauap. Segundo Capistrano de ABREU , “EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”. (D’ ABEVILLE, 1975). Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; 1 possuía três. Eussauap possuía quatro, sendo uma das maiores aldeias da ilha e nela existiam quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiaçu e Tapire-Evire”. – Junipar, a aldeia principal da ilha, contava com cinco principais.


É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que 4 a 6 luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí – padres – plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para os servirem. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o Sr. de Sancy e D’ Abbeville a sua visitação. Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado. Além da capela construíram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa. A Eussauap de D’ Abbeville (1612) é chamada de Uçagoaba pelos padres Manoel Gomes e Diogo Nunes (1615) e, a partir de 1622, recebe o nome de Aldeia da Doutrina dos padres Luís Figueira e Benedito Amodei. Em 1º. de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista dos Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757. Mas vamos a outro trecho, de outro artigo que escrevi, sobre esse assunto – afinal tem anos que pesquiso a História do bairro onde moro, e venho publicando esses escritos, em vários meios, dedicados à História, especialmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão: Vamos nos concentrar em Vinhais e em São Luis. É sabido que onde se localiza a hoje Vila Velha de Vinhais – ou Vinhais Velho, como queiram – havia um grande aldeamento indígena, quando da chegada dos franceses, Tupinambá. Era conhecida como Uçaguaba: “EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto …”. ( apud D’ ABEVILLE, 1975, p.107)[1].

Uçaguaba recebe a partir de 1594 o navegador Frances Jacques Riffault, estabalecendo ali uma feitoria: MiganVille. Jacques Riffault, personagem constante em nossa história, contava com o auxilio de seus compatriotas Charles D’Estenou – Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine, e de Davi Migan, natural de Vienne, no Delfinado. Ambos haviam conquistado a amizade dos silvícolas, e tinham o domínio da língua nativa. Vamos encontrar Jacques Riffault na hoje Alcântara, cuja ocupação remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado “Tapuitapera” (“casa dos Tapuias”) à época de sua chegada. Estabelecidas relações amistosas entre os dois povos, esta aldeia teria fornecido de trezentos a quatrocentos trabalhadores para a fortificação do nascente núcleo colonial na ilha Grande, depois ilha de São Luís, após a chegada de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière (1612). Dentre outros franceses, frequentava a Ilha Grande o Capitão Guérard, que em 1596 armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – o Poste chegou ao Camocim – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil.


Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente datada de 8 de maio de 1602, autorizando-o a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O Senhor de la Ravardière com o navegador Jean Mocquet parte a 12 de janeiro de 1604 com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto. Ante a desistência de Mont-Barrot, o monarca francês, por Carta Patente de 6 de julho de 1605 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho: “Luis, a todos os que virem a presente. Saúde.O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai […] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade. Segundo o sócio do IHGM Antonio Noberto, é confirma a presença de franceses pelo Padre Luis Figueira, em sua Relação do Maranhão (de 1608): “Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q’ viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q’ tinhão vindo do maranhão q’ la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão”. Em 1607 – ou 1609 – Carlos Des-Vaux retorna à França cansado de esperar por Riffault, e é recebido por Henrique IV. Ainda em 1609, Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as “terras” de Riffault: “[…] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento […] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”. […]

O historiador Antonio Noberto continua: Segundo, tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d’Areia)”. Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o “chefe dos negros” (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era “parente do governador de Dieppe”. Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Magestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um pseudônimo, no entender de Pianzola: “[…] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil


guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[…].(NOBERTO SILVA, 2011). Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34

Continuemos com Noberto Silva (2011): “[…] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan”. Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Vejamos outro artigo, também publicado: […] O Vinhais Velho de hoje já recebeu diversas denominações: Uçaguaba, MiganVille, Sítio de “Monsier Pineau”; Aldeia da Doutrina, São João dos Poções, Vila Nova de Vinhais; já foi habitada por índios e por europeus; e sua História tem já mais de 400 anos: sua ocupação por europeus precede à fundação de São Luís. A ideia, da Comissão dos 400 anos da Igreja de São João Batista, é contar essa História em sete passos, informações relevantes sobre a constituição dessa Comunidade.

PASSO 1 – ESTA TERRA TINHA DONO: OS TREMEMBÉ E DEPOIS OS TUPINAMBÁ – OS PRIMITIVOS HABITANTES

O Maranhão é território de uma rica história de intercâmbio e conflítos entre os povos indígenas nativos e europeus – franceses, holandeses, ingleses, espanhóis e portugueses. No século XVII, a populaçõa indígena do Maranhão era formada por aproximadamente 250.000 pessoas, pertencente a cerca de 30 etnias, a maioria delas, hoje, não existindo mais. Antes dos Tupinambás, os Tremembé, havendo indícios de ocupação pelo menos de seis a nove mil anos. Os Tremembé, originalmente nômades, viviam num território que se estendia nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII nas missões de Tutoya. Os primitivos habitantes da Ilha Grande – Upaon-Açú – foram, primeiro, os TREMEMBÉ e depois os TUPINAMBÁ; esses habitavam a Aldeia de Uçaguaba.

PASSO 2 – UÇAGUABA Servimo-nos de Claude d´Abbeville para identificar UÇAGUABA. Diz aquele missionário capuchinho que aqui chegando a ‘missão’ de LaRavardiére, os franceses atravessam o braço de mar, indo se fixar em um promontório onde, a 12 de agosto, uma sexta-feira, dia consagrado a Santa Clara, celebram o santo ofício da missa. A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colonia. Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D’ Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha:


“(…) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (…)”. (D’ABBEVILLE, 1975, p. 114) . (grifos nossos). Capistrano de ABREU esclarece que: ” EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto …”. ( apud D’ ABEVILLE, 1975, p.107).

Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro – “… é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou SolaUaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire”.

É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho “… de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu …” e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco, 80 anos antes (cerca de 1835). Mas Uçaguaba – como vimos significando como “TERRA ONDE SE COME CARANGUEIJOS’, segundo nossos primeiros cronistas – D´Abbeville e D´Evreux – desde a última década dos anos 1500 já fora ocupada por europeus, de viersos Estados, e por iniciativa de franceses. Estamos falando de MIGANVILLE

Passo 3 – DE MIGANVILLE A sítio Pineau – A CHEGADA DOS FRANCESES Miganville, de Davi Migan, natural de Vienne, no Delfinado. A Vila Velha de Vinhais é o núcleo habitacional mais antigo do Maranhão. Referimo-nos à ocupação por brancos, pois os Tupinambás ocupam aquele espaço há mais tempo, provavelmente desde 80 anos antes da chegada dos Franceses de La Ravardiére. Se estabeleceram aqui entre 1535 1560/70. Jacques Riffault, personagem constante em nossa história, desde 1594 se estabelecera em Upaon-açu (Ilha de São Luís) com uma feitoria, contando com o auxilio de seus compatriotas Charles D’Estenou – Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine, e de Davi Migan, natural de Vienne, no Delfinado. Ambos haviam conquistado a amizade dos silvícolas, e tinham o domínio da língua nativa. Frequentava a Ilha Grande o Capitão Guérard, que em 1596 armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste, chegou ao Camocim – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo, funcionando desde então uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. O historiador Antonio Noberto continua: tanto comércio fez com que bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d’Areia).


Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o “chefe dos negros” (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era “parente do governador de Dieppe”. Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[…] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville […]”. (NOBERTO SILVA, 2011).

Continuemos com Noberto Silva (2011): “[…] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com ‘duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas’. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan”.

Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos.

PASSO 4 – A ALDEIA DA DOUTRINA

Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso “haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado”. Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa. Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: “A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco …”. (MORAES, 1987, p.58).


A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com CAVALCANTI FILHO (1990) a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: “… Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão … desta primeira, denominada ‘Aldeia da Doutrina'”.(p. 31).

MEIRELES (1964), conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida – a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” – costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocá-los, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irriquieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida… Cesar MARQUES (1970), em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais – freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências – ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “… foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. “Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. … foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).

PASSO 5 – VILA DE VINHAIS COELHO (1990) em seu “Política indigenista no Maranhão Provincial”, ao analisar “o lugar do índio na legislação: a questão da terra”, afirma que ” a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações” e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a ” elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes”. Cita, dentre outros exemplos, que ” a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais”. Pois bem, a antiga Aldeia da Doutrina é elevada à categoria de vila em 1o. de agosto de 1757 com a denominação de Vinhais – Vila Nova de Vinhais – a nossa hoje Vila Velha de Vinhais. Era comum darem-se nomes às vilas e cidades do Maranhão o mesmo nome de vilas e cidades existentes em Portugal. Vinhais é uma vila portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves. A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas. O hoje bairro de São Luís, Vinhais Velho – ou Vila Velha de Vinhais como também é conhecido – já foi independente; isto é, se constituiu, no dizer de hoje, em município. Durante o consulado pombalino (1755-


1777), um ano depois da tentativa de regicídio a D. José, o Marques de Pombal expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias (Setembro 1759), confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autônomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio. Em 1º de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757. No ano de 1779, a Vila de Vinhais contava 630 ‘almas”; a cidade de São Luís, 13.000, a Vila do Paço do Lumiar 808, conforme regidstro na Biblioteca da Ajuda. Notícias de todos os governadores e populações das provincias do Brasil. Documento no. 2001 (54 – v. 12 no. 5). De acordo com BARBOSA DE GODOIS (1904), o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário. Buscamos uma vez mais em Cesar MARQUES (1970) outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais: “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções.[…] [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. […] “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633).

Ainda às págiasm 632 do referido Dicionário …, César Marques informa que no referido têrmo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonálo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juiz-de-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do Grão-Pará em 10 de fevereiro de 1757: “Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendo-se praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”. “O padre provincial do Carmo, Frei Pedro da Natividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará. “O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeu que não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado não havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, ficando assim excluída da ordem de Sua Magestade. “No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade.


“Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais. “Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias. “Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633)

[1] ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975


AS DORES DO CRESCIMENTO CERES COSTA FERNANDES Cidades são como crianças. Para crescerem, precisam enfrentar as dores do crescimento. Se as infantis sentem-se nos ossos, as urbanas vêm no bojo do progresso em forma de descaraterização ou morte de espaços ideais. As mudanças na urbe nos estremecem as raízes e enfraquecem as referências de sermos parte de um lugar, reconhecer, no rosto da cidade, o nosso próprio rosto. Fazer o quê? Talvez, realizar a química do familiar dentro do novo: sem recusar o progresso, guardar a alegria dos espaços e momentos perfeitos. Assim, acaricio amorosamente as imagens e lembranças marcantes da minha infância. Dia desses, passando pela fachada de faz-de-conta das Lojas Americanas, na Rua Grande, destaquei do conjunto a casa rosa – bem no lugar onde era a Mercearia Neves – e, no burburinho da rua e em meio aos gritos dos camelôs, liguei a máquina do tempo. Vi-me, então, em frente à antiga mercearia: rua tranquila, calçadas limpas, pessoas bem arrumadas (à época, nem os muito pobres iam às compras de chinelos ou shorts). Uma menina de uns seis ou sete anos, pela mão da avó, entra no salão da loja. Lá dentro, entre curiosa e encantada, olha as altas paredes forradas de prateleiras de madeira cheias de mercadorias, algumas requintadas para a São Luís daqueles anos: queijo cuia, tâmaras, bolachas cream crackers em latas enormes, biscoitos recheados em latas coloridas – tudo sempre em latas ou vidros. As embalagens modernas não existiam. E lá vem o próprio dono atendê-las, todo gentilezas. É seu Borges, um homem louro e elegante, sempre vestido de branco, mais parecendo um médico. A menina ganha uma maçã. Desconfio que prefira um chocolate. Mas as uvas, peras e maçãs, frutas raras – devido à falta de estradas, nos chegavam de avião –, eram o requinte da mesa. Caras, eram coisa para doentes ou para compor a ceia natalina. A visita à mercearia deve ter sido para uma compra especial. As compras in loco eram raras, pois a Mercearia Neves tinha o mais perfeito serviço de atendimento e entrega que jamais vi. Todos os dias, de manhã cedo, vinha um empregado da loja trazer a caderneta em que eram escritos os pedidos de compra. No meio da manhã, chegavam as mercadorias. Vinham num tabuleiro de madeira, equilibrado em uma rodilha de pano na cabeça do entregador, se a casa fosse próxima, ou trazido de caminhonete, se a casa fosse mais distante. Um dado interessante é que se comprava diariamente. Havia a entrega, não importava o valor da compra, sem acréscimo de preço. E se, em meio a algum processo culinário, faltava um ingrediente, era só telefonar e pronto. As compras podiam ser pagas no fim do mês, sem cartão, pré-datados, juros, coisa alguma. Só na confiança do cliente. No Natal, meu avô e meu pai, ganhavam brindes; mas os brindes de meu avô eram sempre melhores. Por conta, acho, de ele ser um grande freguês: tinha apenas treze filhos. Naqueles dias, o uso de geladeira era raro, guardar comida, nem pensar. A alimentação era comprada diariamente. Muito da energia familiar gastava-se no planejamento e confecção das refeições. A compensação é que, além dos secos e molhados, todo o resto oferecia-se de porta em porta: frutas, verduras, peixes frescos, aves, doces. Gaba-se, hoje, a comodidade das compras pela Internet e as entregas a domicílio. Sei não, mas o mercado virtual ainda deve levar um bocado de tempo para equiparar-se àquele do centro de São Luís. Podia-se pegar a mercadoria, sentir o cheiro das frutas, provar, escolher, ao som dos pregões: Veeerdureiro! Chega na pamonha!... Peeeixe friêsco!. Camareu!.. Em meio ao regateio de preços e às novidades contadas pelos “fregueses” no seu saboroso linguajar. Uma feira andante. Com o empurrão de um cavalheiro, dá-se o clique. Retorno ao burburinho da Rua Grande.


NĂŁo que eu despreze o mundo de variedades dos supermercados modernos: a gente entra com uma lista de vinte itens e sai com uma compra de quarenta. Consumista que sou, adoro. Mas nĂŁo vou perdendo assim sĂł aquela menina que guardava, ainda inteira, a capacidade de maravilhar-se com as coisas mais simples e achava que as grandes cidades do mundo eram aquelas onde havia mercearias neves, e as frutas, balas de coco, sorvetes, pirulitos e derressol fossem oferecidos nas portas. Acho que concordo com ela.


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