REVISTA DO LEO 16, JANEIRO 2019

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 16 – JANEIRO - 2019


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


REVISTA DO LÉO

NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 - EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 - SETEMBRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20?


EDITORIAL

A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – que por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html A partir deste número, com novos colaboradores, internacionaliza-se, com os Lusofonos... Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER MEMÓRIA DO ESPORTE NO MARANHÃO

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ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO - GINÁSTICA - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

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QUERIDO PROFESSOR DIMAS: RECORDAR É VIVER – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DENISE MARTINS DE ARAUJO

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ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (ORGANIZADOR/EDITOR) LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA GENEALOGIA DE MESTRE DINIZ MESTRE ABELHA MESTRE FRED MESTRE MIRINHO MESTRE MARCO AURÉLIO MESTRE DOMINGOS DE DEUS MESTRE NELSINHO MESTRE PUDIAPEM ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA Curso de Formação de Treinadores de Futebol - ÉTICA NO FUTEBOL - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM CAPOEIRA PIAUIENSE DELEGADO DE POLICIA NA CÔRTE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O FIM DO MINISTÉRIO DO ESPORTE: BOA OU MÁ NOTÍCIA? - CLEBER DIAS REFLEXÕES DE MESTE ANDRÉ LACÉ – ANDRÉ LACE LOPES “NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE” - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA - A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL: EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL – alguns apontamentos para sua História - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ TEMPO AO TEMPO - RICARDO RICCI UVINHA - Entrevista concedida à Revista E do Sesc sobre a importância do lazer como um direito social e seu papel na atenção à saúde e qualidade de vida. LUSOFONIA MONGE DA SILVA E O TREINO DESPORTIVO - Por MANUEL SÉRGIO O PENSAMENTO DO JORGE BENTO EXERCÍCIO DA EMPATIA: PARA O SENTIDO DA VIDA O MEU LADO PUNIÇÕES POR PLÁGIO E FRAUDE O QUE SE APRENDE NO DESPORTO? PROMETEU CRUCIFICADO FOME DE LUZ

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MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


SALA-MEMÓRIA DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ "Preservar os testemunhos do passado é, substancialmente, dar-lhes condições de continuarem a ser utilizados no presente em toda sua potencialidade" (SUANO, citado por MARQUES JÚNIOR, 1991, p. 101). Tendo em mente esta perspectiva, propõe-se a criação da "SALA MEMÓRIA DO ESPORTE no MARANHÃO", que terá como objetivo geral: coletar, armazenar, preservar, organizar e divulgar os documentos referentes à memória do ESPORTE MODERNO no MARANHÃO, dos grandes atletas maranhenses, e dos eventos esportivos relevantes. As ações para operacionalização desse projeto podem ser divididas basicamente em duas frentes de trabalho: a pesquisa documental (incluindo a documentação histórica, a produção intelectual e as publicações geradas), e a coleta da memória oral. A pesquisa histórica - na qual se incluem, dentre outros, os trabalhos ligados à memória institucional - caracteriza-se predominantemente pelo uso de dados primários. Ao lado da história oral, constituída por testemunhos de pessoas que viveram e presenciaram mais de perto os fatos narrados, pode-se afirmar que os chamados documentos de arquivo representam as fontes básicas para atividades de pesquisa histórica e, em especial, para a recuperação da memória de uma instituição. De acordo com SCHELLENBERG (citado por MARQUES JÚNIOR, 1991, p. 102), documento de arquivo é todo aquele material produzido e acumulado em decorrência de desempenho das funções administrativas relacionados aos objetivos de qualquer instituição pública ou privada, que tenha sido considerado de valor - e preservado - para fins de referência e pesquisa. Nessa categoria, incluem-se, dentre outros registros, as correspondências, as normas e regulamentos, os relatórios, as atas de reuniões, etc. A "Sala Memória do Esporte no Maranhão" terá como objetivos específicos: 1. recuperar, preservar, organizar e armazenar os documentos relevantes para a história do esporte moderno em Maranhão; 2. recuperar e preservar, fisicamente, os documentos importantes relativos à memória, utilizando técnicas adequadas a cada tipo de material; 3. analisar e indexar as correspondências, as normas e regulamentos, os relatórios, as atas de reuniões, etc., das diversas instituições dirigentes do esporte em Maranhão; 4. recuperar, preservar, organizar e armazenar os documentos referentes à produção intelectual da comunidade acadêmica referentes aos esportes, a educação física e ao lazer no Maranhão; 5. recolher a memória oral através de entrevistas com pessoas que vivenciaram os grandes momentos esportivos no Maranhão ; 6. fazer um esboço da História do Esporte no Maranhão, a partir das informações obtidas; 7. divulgar os documentos da memória do esporte no Maranhão, dos grandes atletas, dos dirigentes, técnicos e professores, e das instituições esportivas maranhenses através de publicações, catálogos e exposições. O projeto Memória será constituído, para sua operacionalização, dos seguintes sub-projetos:

a) Documentação histórica:


a.1. Abrangência:  atas de fundação dos clubes esportivos, federações esportivas, órgãos públicos ligados aos esportes, lazer e educação física maranhense, com seus respectivos índices;  depoimentos de pessoas consideradas como importantes em alguma modalidade esportiva, praticada em Maranhão, que possa contribuir para a escrita de sua historia ;  coleção de fotografias, plantas arquitetônicas, cartazes, convites, discursos, programas de eventos, etc...;  levantamento de notícias publicadas na imprensa local e nacional (recortes de jornais) sobre os esportes maranhenses Liceu, sobre os grandes atletas do Maranhão;

a.2. Metodologia: A metodologia básica a ser adotada consiste em leitura de atas e sua indexação, levantamento, organização e tratamento de documentos, coleta de depoimentos. a.3. Produtos: a) b) c) d) e)

coleção de atas, armazenadas na memória; índice por assuntos, remetendo para livro e página; arquivo de documentos importantes referentes a assuntos registrados nas atas; coleção de fitas (e transcrição) de depoimentos de pessoas ligadas ao esporte no Maranhão; coleção de plantas arquitetônicas, fotografias, programas, cartazes, discursos, etc., sobre os esportes maranhenses, sobre os atletas, dirigentes, treinadores; f) índices para recuperação da informação contida nesse material; g) arquivo de recortes de notícias sobre os esportes maranhense e sua comunidade; h) esboço de uma História do Esporte no Maranhão.

b) Produção intelectual: b.1. Universo  atletas, dirigentes, técnicos e funcionários técnico-administrativos, em exercício, aposentados, falecido b.2. Abrangência:  livros, artigos, capítulos de livros, trabalhos apresentados em eventos, textos didáticos, resenhas, traduções, prefácios...;  teses de conclusão de curso, de mestrado, de doutorado, livre docência e memoriais;  projetos e relatórios de pesquisa. b.3. Metodologia:  Levantamento do universo, consulta a documentos, entrevistas. b.4. Produtos:  acervo de livros, monografias, teses, dissertações e projetos e relatórios de pesquisa;

monografias,


 arquivo de cópias de artigos, capítulos de livros, trabalhos em eventos, relatórios de pesquisa, etc.;  catálogos de referências bibliográficas e resumos;  elaboração da publicação : Produção Intelectual sobre o Esporte Maranhense.

c) Publicações geradas c.1. Abrangência:  documentos sobre o Esporte Maranhense; jornais, revistas e boletins publicados c.2. Metodologia:  análise documental. c.3. Produtos:  coleção de documentos sobre o Esporte Maranhense, coleção de jornais, revistas e boletins publicados;  catálogo dos documentos sobre o Esporte Maranhense, em ordem alfabética de títulos.

d) Divulgação.    

constituição de uma "Sala Memória"; divulgação dos documentos da memória através de publicações, catálogos e exposições; exposição permanente do material coletado e produzido; criação de um Prêmio, específico sobre o Esporte no Maranhão.

Sugere-se a criação de um grupo de estudos - no âmbito do próprio SESP, reunindo uma equipe interdisciplinar de professores de História, de Literatura, de Bibliotecários e de Supervisores, com apoio da Secretaria -, para dar prosseguimento ao levantamento de documentos e possibilitando a criação de uma "Sala Memória do Esporte Maranhense", onde possam estar disponíveis para estudos e conhecimento das futuras gerações.


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO GINÁSTICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

ORIGENS - As primeiras referências sobre a prática de atividades lúdicas e de movimento que encontramos em Maranhão datam do período de ocupação do território maranhense. Ao se fazer uma análise do trabalho desportivo, considera-se que nesse mundo, antes da chegada dos brancos, a sobrevivência exigia qualidades atléticas, exercícios constantes, com descanso e repouso intercalados, de duração sumamente variável. Por isso, os índios se tornavam atletas naturais, para sobreviver, pois tinham que, em terra, andar, correr, pular, trepar, arremessar, carregar, e, na água, nadar, mergulhar e remar, também realizar trabalho-meio, autolocomotor, com suas próprias forças, apenas e/ou, também, com auxílio de instrumentos primitivos, para obtenção de produtos necessários. Entre a infância e a puberdade, e a adolescência e a virilidade ou maioridade, entre os 8 e 15 anos, a que chamamos mocidade, os kunnumay, nem miry nem uaçu, tomavam parte no trabalho dos seus pais imitando o que vêem fazer. Não se lhes manda fazer isto, porém eles o fazem por instinto próprio, como dever de sua idade, e já feito também por seus antepassados. Trabalho e exercício, esses mais agradáveis do que penosos, proporcionais à sua idade, os quais os isentava de muitos vícios, aos quais a natureza corrompida costuma a prestar atenção, e a ter predileção por eles.Eis a razão porque se facilita à mocidade diversos exercícios liberais e mecânicos, para distraí-la da má inclinação de cada um, reforçada pelo ócio mormente naquela idade”. SÉCULO XVIII - encontram-se propostas precursoras de um tipo de Educação Física que se tornaria em modelo pedagógico para os séculos seguintes: a gymnastica, constituída como um conjunto de exercícios organizados com o objetivo de cuidar do corpo (Finocchio, 2013) 1. Dentre seus precursores temos: John Locke (1632-1704) 2, um dos mais importantes teóricos do liberalismo, sintetiza suas concepções educacionais: formação do gentleman e dos “sem propriedades”. A educação dos que possuem a 1

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FINOCCHIO, José Luiz. A inserção da Educação Física/gymnastica na Escola Moderna – Imperial Collegio de Pedro II (18371889). 2013. 258f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa: História, Políticas e Educação. Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2013. John Locke (Wrington, 29 de agosto de 1632 — Harlow, 28 de outubro de 1704) foi um filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social. Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no que era percebido pelos sentidos. A filosofia da mente de Locke é frequentemente citada como a origem das concepções modernas de identidade e do "Eu". O conceito de identidade pessoal, seus conceitos e questionamentos figuraram com destaque na obra de filósofos posteriores, como David Hume, Jean-Jacques Rousseau e Kant. Locke foi o primeiro a definir o "si mesmo" através de uma continuidade de consciência. Ele postulou que a mente era uma lousa em branco (tabula rasa). Em oposição ao Cartesianismo, ele sustentou que nascemos sem ideias inatas, e que o conhecimento é determinado apenas pela experiência derivada da percepção sensorial. Locke escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a origem e a natureza do conhecimento. Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra. Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais - direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões. Dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro Tratado sobre o Governo Civil, critica a tradição que afirmava o direito divino dos reis, declarando que a vida política é uma invenção humana, completamente independente das questões divinas. No Segundo Tratado sobre o Governo Civil, expõe sua teoria do Estado liberal e a propriedade privada. http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke


propriedade privada e posses deveria ser feita por preceptores capacitados e cultos, em local aprazível e com boas condições higiênicas, com ênfase nos saberes clássicos e na preparação do jovem como bom administrador dos negócios da família, para assumir posições de comando no estamento estatal e na guerra. Aos “despossuídos” de bens cabia uma educação fundamentada na religião e nas artes manuais, capacitando-os para o trabalho (citado por Finocchio, 2013) 3. Para a nobreza e a burguesia, propõe uma escola da vida, que se afaste da escolástica, ainda presente nas Universidades. Diz que o fundamento de uma boa educação está no desenvolvimento da civilidade, dos bons costumes, na formação da personalidade, no equilíbrio entre caráter e inteligência. À educação física, retomando o conceito de mens sana in corpore sano (Juvenal, Sátiras X), recomenda a esgrima, a equitação e passeios ao ar livre, visando a desenvolver o corpo e o espírito fortes: Em Pensamentos sobre Educação (1693), Locke dá ao termo físico dois sentidos: physis, referindo-se ao estudo da natureza e vinculado à vida corporal, física. Precursor do empirismo moderno procura conciliar a teoria do racionalismo de Descartes e do empirismo de Bacon. Sobrepõe-se às tradições humanísticas e, sob a influência do antropocentrismo, mais apropriadamente do empirismo, deposita, em seu projeto educacional, além da boa formação do caráter, uma preocupação com a capacidade de desenvolver, com o conhecimento obtido pela experiência sensível, a transformação da natureza. Daí sua recomendação de uma escola para a vida, na qual se desenvolvam as virtudes práticas, vindo a educação física a obter uma importância sem precedentes na Idade Moderna, ressaltando a educação do corpo no fortalecimento moral. (citado por Finocchio, 2013). Na formação do gentil homem, de Locke, a educação física tem grande destaque, voltada à formação moral, além do corpo e da higiene, com o emprego de jogos e do treinamento ao ar livre. Para ele, a educação física, sob a inspiração do modelo grego, conduziria o homem à sua formação civilizada. A formação do gentleman inglês passaria, necessariamente, pela educação física. Johann Bernard Basedow (1723-1790) 4, incluiu a ginástica no currículo de sua escola-modelo Philantropinum, em Dessau, Alemanha. Anteriormente ao emprego da ginástica, eram desenvolvidas atividades físicas junto aos alunos do Philantropinum oriundas das práticas medievais, como a equitação, a natação, a esgrima, a dança e os jogos. Posteriormente, seriam acrescidos os exercícios como correr, saltar, arremessar, transportar e trepar, componentes básicos da Ginástica “natural”. (in Finocchio, 2013). Immanuel Kant (1724-1804) propôs o fortalecimento das escolas públicas, em relação às domésticas, sob a consideração de que são mais propícias ao ensino de várias habilidades, e formadoras do caráter. Recomendava ainda escolas experimentais, que dariam direcionamento às várias escolas elementares. Em síntese, tinha como plano educativo 5 uma educação pela moralidade, o fortalecimento das escolas públicas e o desenvolvimento de uma experimentação educativa. A educação era entendida como a disciplina e a instrução com a formação do homem que o afastava da condição de bruto e selvagem. Com esse propósito, Kant estabeleceu uma visão unificada de ser humano, concebendo a educação como meio de desenvolver no homem todas as suas disposições naturais. Para Kant: A atividade educativa divide-se depois em “física” e “prática”. A educação física é “negativa” quando enuncia conselhos para criar os bebês (aleitamento), fazer adquirir hábitos (ao que Kant se opõe), realizar o “endurecimento” (pense-se em Locke), regular a liberdade a ser concedida às crianças e às intervenções para “vencer a teimosia”. A educação física é, pelo 3

FINOCCHIO, 2013, obra citada. Johann Bernard Basedow (1723-1790) como grande admirador de Rousseau, incluiu a ginástica no currículo de sua escolamodelo Philantropinum, em Dessau, Alemanha. À disciplina deu-se o mesmo status das disciplinas intelectuais. Anteriormente ao emprego da ginástica, eram desenvolvidas atividades físicas junto aos alunos do Philantropinum oriundas das práticas medievais, como a equitação, a natação, a esgrima, a dança e os jogos. Posteriormente, seriam acrescidos os exercícios como correr, saltar, arremessar, transportar e trepar, componentes básicos da Ginástica “natural”. (in FINOCCHIO, 2013). 5 KANT, Immanuel (1724-1804). Sobre a Pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Unimep, 1996. 4


contrário, “positiva” quando visa à cultura, ou ao “exercício das atividades espirituais”. Nesse campo, segundo Kant, um papel fundamental é assumido pelo “jogo” (como movimento do corpo e exercício “da habilidade”) e pelo trabalho (“é sumamente importante que as crianças aprendam a trabalhar, “porque o homem tem necessidade de uma ocupação, nem que seja acompanhada de um certo sacrifício”). A instrução deve, depois, valorizar a memória ao lado da inteligência e iniciar também a educação moral através da adaptação da conduta às “máximas” que devem tender para a formação do caráter [...].(Cambi, 1999, citado por Finocchio, 2013) 6. Para Finocchio (2013) em suas propostas de formação do ser humano, a burguesia pensava a educação como essencial à formação plena da personalidade do indivíduo, incluindo aí a educação do corpo como uma necessidade. A gymnastica consistia na metodização da educação do corpo, imprescindível à formação do homem, não só fortalecendo o corpo, mas enriquecendo o espírito e enobrecendo a alma. Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1759-1839) 7 desenvolveu as regras para as práticas da educação física, introduzindo um sistema de exercícios nas grades escolares, com os princípios básicos da ginástica artística. Em 1793, publicou Gymnastik für die Jugend, o primeiro livro escrito sistematizado da ginástica. Sete anos mais tarde, seu livro fora traduzido para a língua inglesa e publicado, na Inglaterra onde se tornou referência no meio -, sob o título de Gymnastics for youth: or A practical guide to healthful and amusing exercises for the use of schools. Gerhard Ulrich Anton Vieth (1763-1836) 8 atribuía importância à prática do exercício físico para a formação moral e física do indivíduo e insistia na obrigatoriedade de Educação Física nos âmbitos da escola e da universidade. Afirmando que os exercícios físicos deveriam visar ao aperfeiçoamento completo do corpo humano, os classificava de acordo com as diferentes partes do corpo, em exercícios simples e combinados. Preferia, entretanto, classificá-los em exercícios passivos (exercícios de oscilação, atitudes, fricções e massagens, banho e exercícios de endurecimento) e exercícios ativos, que se dividiam em exercícios para os sentidos e para os membros, como marchar, corridas, exercícios de trepar, saltos, dança, exercícios de tração e de repulsão, lançamentos, lutas, esgrimas, volteios e transporte de fardos, além da patinação, do tiro, da equitação e de jogos diversos. Friedrich Ludwig Jahn (1778-1811)9 - pedagogo e ativista político -, por volta de 1809 adotou um princípio educacional realista, e desenvolveu um tipo de ginástica com valorização da luta. Criou aparelhos que se constituíam em representações de obstáculos naturais, o Turnen, que teve grande aceitação da classe dominante, adquirindo caráter militar e patriótico, e constituindo-se em uma primeira forma de instrução física militar destinada as massas, que corresponde às necessidades práticas da burguesia (Rouyer, 1977, citado por Finocchio, 2013) 10. Além de criar aparelhos e novas formas gímnicas, fundou, em 1811, o primeiro ginásio ao ar livre de Hasenheide, Berlim. Daí nasceu o termo "Turnkunst" pelo qual ele substitui a palavra "Gymnastik".

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FINOCCHIO, 2013, obra citada. Johann Christoph Friedrich Guts Muths (Quedlinburg, 9 de agosto de 1759 - Waltershausen, 21 de maio de 1839) foi um professor e educador alemão. http://pt.wikipedia.org/wiki/Guts_Muths 8 Gerhard Ulrich Anton Vieth (1763-1836) publicou o primeiro de três volumes de sua obra “Ensaios de uma Enciclopédia dos Exercícios do Corpo” (Versuch einer Enzyklopädie der Leibesübungen), Vieth tornou-se o primeiro professor de ginástica a demonstrar a necessidade de se proporcionar ao exercício físico uma base anátomo-fisiológica tendo em vista a sua preparação científica, que lhe permitia compreender e delinear os efeitos biológicos e higiênicos da ginástica, como também estabelecer uma relação de causa e efeito entre a atividade física e as suas influências sobre o corpo. (in FINOCCHIO, 2013). 9 Friedrich Ludwig Christoph Jahn (Lanz, Prússia, 11 de agosto de 1778) estudou teologia e filologia na Universidade de Greifswald. No ano de 1811, sistematizou a prática da ginástica e a transformou em modalidade esportiva. Durante esse tempo, criou as associações Turnwerein – clubes de ginástica - para jovens praticantes e interessados. Por conta disso, é considerado o pai da ginástica. Com o passar do tempo, seus centros foram considerados abrigos de discussões políticas, pois lá se cultivavam a força moral e a exaltação patriótica. Foi influente na organização do movimento de Burschenschaft, que promovia os ideais nacionalistas entre estudantes da universidade alemã. Morreu em outubro de 1852, aos 74 anos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Ludwig_Jahn 10 FINOCCHIO, 2013, obra citada. 7


A ginástica de Jahn, com um conteúdo mais social e patriótico, rapidamente superou as ideias pedagógicas de Guts-Muths, tendo por objetivo formar homens fortes para defender a pátria 11. Embora já houvesse várias formas de ginástica, acrescentou aos exercícios já conhecidos, as barras e a barra alta. Para Coertjens, Guazzdelli e Wasserman (2004) 12 a utilização dos ‘turner’ entre o discurso nacionalista e a prática esportiva nos pequenos estados que, anos mais tarde, formaram o Estado alemão: “[...] Nesse período, as noções de unidade pátria e povo foram idealizadas, entre outras coisas, através do esporte. Isso aconteceu com o objetivo de fomentar a resistência ‘alemã’ contra as invasões napoleônicas e, mais tarde, intensificar o processo de unificação do Estado alemão. Considerava-se que o exercício físico regular contribuía para o processo de disciplinalização e militarização da sociedade, principalmente, dos jovens. Esse ponto de vista ficou conhecido sob o nome de ‘Turnen’, ‘ginástica’, inserindo-se perfeitamente o esporte num contexto social e político mais complexo.” A ginástica (turnen) se transforma em uma escola de patriotismo, educação para se preparar para a guerra de libertação; seu curso visava o "despertar da identidade nacional" (construção de uma nação). Francisco de Amorós y Ondeano (1770-1848) 13 é conhecido por ser um dos fundadores da Educação Física moderna. Em razão de suas ideias liberais e do apoio a José Bonaparte I, em 1814 exilou-se na França e aí desenvolveu a Escola Francesa de Ginástica. Seu método, de inspiração pestalozziana e fundamentado em Locke e Rousseau, defendia a “educação integral”. Contudo, em sua ginástica prevalecia o lado militar sobre o educativo, tal como se pode notar em seu tratado Nouveau Manuel d’Education Physique, Gymnastique et Morale, no qual propõe um soldado da Pátria e um benfeitor da Humanidade. A Educação Física na Inglaterra tomou aspecto diverso de outras nações europeias; desenvolvida ao final do século XVIII e início do seguinte, de caráter nacionalista, e visando à disciplina e ao treinamento físico, bem como à defesa nacional; seu destaque não se deu na ginástica, mas no Esporte, em estreita relação com as transformações socioeconômicas resultantes das alterações produzidas pela Revolução Industrial, iniciada em 1760. Ainda que adotasse a gymnastica nas escolas básicas, como meio da educação do físico, era no ensino secundário, destinado à aristocracia e à burguesia, que se aprimoravam o cuidado do físico e o cuidado da formação moral, empregando os esportes. No começo do século XIX, o clérigo Thomas Arnold se utilizou de uma forma de ócio da classe dirigente, os jogos populares, para criar um novo modo de educação. O desporto, naquele momento, teve por função propor às classes dirigentes enriquecidas, mas em estado de degradação física e moral, uma formação mais adequada, em relação à tradicional. Apesar de grande reação religiosa e dos meios intelectuais, o desporto foi adotado para responder às conveniências práticas do imperialismo britânico (Rouyer, 1977, citado por Finocchio, 2013)14.

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http://vamos_fazer_educacao_fisica.blogs.sapo.pt/10679.html COERTJENS, Marcelo, GUAZZELLI, Cesar Barcellos; e WASSERMAN, Cláudia. Club de Regatas Guahyba-Porto Alegre: o nacionalismo em revistas esportivas de um clube teuto-brasileiro (1930 e 1938). In Rev. bras. Educ. Fís. Esp, São Paulo, v.18, n.3, p.249-62, jul./set. 2004, disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rbefe/v18n3/v18n3a04.pdf 13 Francisco Amorós y Ondeano (Valência, 1770 – Paris, 1848) foi um professor e militar espanhol, naturalizado francês. Iniciou seu trabalho na Espanha, e em 1814, desenvolveu suas ideias no contexto da ginástica. Seu trabalho consolidou-se na França, no século XIX, na Escola de Ginástica Francesa. Em 1818, criou o Ginásio Militar, no qual deu origem a ginástica eclética, que misturou as técnicas e ideias de Guts Muths e Jahn. Após, idealizou uma série de itens que considerava essencial para sua obra, entre eles, a ênfase à resistência à fadiga, o andar e o correr sobre terrenos fáceis ou difíceis, o saltar em profundidade, extensão e altura, com ou sem ajuda de materiais, a arte de equilibrar-se em traves fixas, o transpor barreiras, o lutar de várias maneiras, o subir com auxilio de corda com nós ou lisa, fixa ou móvel, a suspensão pelos braços, a esgrima e vários outros procedimentos aplicáveis a um grande número de situações de guerra ou de interesse público geral. Amoros faleceu em 1848, aos 78 anos de idade. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Amoros 14 FINOCCHIO, 2013, obra citada. 12


A partir da segunda metade do século XIX houve, ao seu final, uma biologização da educação física (Paiva, 2003) 15, ocorrendo a migração da preocupação com a abrangência da formação humana para o estabelecimento de sua especificidade, biológica: “[...] a educação physica, aquela ampla e integrante do projeto de educação integral, é submetida a uma dupla reconversão: a) foi preciso reduzi-la à gymnastica, codificando-a como disciplina escolar e a ela impondo os trâmites e procedimentos próprios dessa operação – organizar seus tempos e seus espaços, suas metodologias, seus processos de avaliação, a materialidade de suas práticas, etc.; e, b) foi preciso ressignificar, também reduzindo, educação física e gymnastica à ginástica, isto é, aos procedimentos metódicos de exercitação corporal sistematizada visando o ganho de aptidão física.” ( p. 421). A educação física na escola, por força da influência médica, foi pensada como ginástica em seu sentido de cuidado com o corpo, principalmente com preocupações higiênicas de aptidão física. Para Finocchio (2013) 16 a sociedade burguesa estabeleceu um perfil biológico de homem: “[...] Sob essa perspectiva a educação física, inicialmente como ginástica, adotou uma perspectiva dominante, anátomo-fisiológica. Sob os ideais burgueses buscou-se a formação de uma sociedade constituída de homens fortes capazes de produzir e gerenciar riquezas. A Inglaterra do final do século XIX ilustra o pensamento liberal exemplarmente: utilizando-se de uma educação diferenciada, inseriu na educação básica a ginástica para a formação do homo habillis e o esporte para a formação do gentleman”. O método ginástico de Pier Henrich Ling (1776-1839) 17, fundamentado em estudos anátomo-fisiológicos, com um viés médico higiênico, é composto por uma série de movimentos segmentados, com uma série racional de movimentos. A consideração do processo de instituição do pensamento burguês é fundamental, pois, associada à estrutura política e socioeconômica do Segundo Reinado brasileiro, nos permite identificar, por meio do exame da organização dos Planos de Estudos da Escola Secundária (Imperial Collegio de Pedro II), como aquelas propostas educacionais de gymnasticas, originadas na Europa com o desenvolvimento da sociedade burguesa, aqui são efetivamente colocadas em prática e a que função davam atendimento. De acordo com Cancella (2012; 2014) 18; Cancella e Mataruna (2013); e Finocchio (2013) 19 a prática esportiva em meio militar foi intensificada na virada do século XIX para o XX sob o argumento de que para

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PAIVA, Fernanda Simone Lopes de. Sobre o pensamento médico-higienista oitocentista e a escolarização: condições de possibilidade para o engendramento do campo da Educação Física no Brasil. 2003. 475 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003. 16 FINOCCHIO, 2013, obra citada. 17 Pier Henrich Ling, militar e instrutor de esgrima na Universidade de Luna, desenvolveu um método sob uma concepção anatômica, com exercícios corretivos, com base nos preceitos e princípios científicos incorporados ao sistema de educação e, portanto, à gymnastica. 18 CANCELLA, Karina. A defesa da prática esportiva como elemento de preparação dos militares por meio das publicações institucionais “Revista Marítima Brasileira” e “Revista Militar”. Anais do XV ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUHRIO, 2012. Disponível em http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338498190_ARQUIVO_ANPUH2012_KarinaBarbosaCancella.pdf CANCELLA, Karina. O ESPORTE E AS FORÇAS ARMADAS NA PRIMEIRA REPÚBLICA – das atividades gymnásticas às participações em eventos esportivos internacionais. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2014.


a estruturação das Forças Armadas era fundamental o desenvolvimento físico do pessoal militar. Estas atividades eram consideradas importantes para a formação não somente de militares mais preparados, mas também de potenciais “soldados-cidadãos” e “cidadãos-marinheiros” entre os praticantes civis. Por isso, as atividades físicas e esportivas foram gradativamente incorporadas aos currículos de instituições de ensino do país, iniciando este processo pelas escolas militares. Para Silva e Melo (2011), A defesa pela ampliação da educação física no sistema de ensino baseava-se nos benefícios que trariam para o corpo e mente dos jovens. No meio militar, esta defesa era reforçada pelas observações dos cuidados de FFAA de outros países com os processos de preparação do corpo dos combatentes, considerando os exercícios físicos como um dos melhores instrumentos para a manutenção da forma e da disciplina das tropas. Com o crescimento da prática da ginástica nas instituições militares ao longo do oitocentos, muitos de seus membros passaram a atuar no meio civil como instrutores de ginástica nas escolas, uma vez que ainda não existiam escolas de formação em Educação Física no país naquele momento e os militares eram os principais promotores destas práticas no Brasil. Finocchio (2013) entende que não tenha sido casual a designação, em 1860, do primeiro mestre de gymnastica da Escola da Marinha, o civil Pedro Orlandini (Professor italiano de diversos saberes: gymnastica, esgrima, dança, língua inglesa, francês e italiano) e, em 1861, o Alferes Pedro Guilherme Meyer, do Exército. A contratação de um especialista em gymnastica foi feita em atendimento às necessidades militares de proporcionar um aprimoramento na formação das forças armadas, por meio do desenvolvimento físico. Esse processo de profissionalização do Exército, com o treinamento militar para menores, implicou a inserção da gymnastica em suas escolas. Finocchio (2013) emprega essa terminologia – gymnastica - para se referir a uma prática educacional em construção no século XIX: Os termos gymnastica ou exercícios gymnasticos foram utilizados no interior do Collegio de Pedro Segundo para fazer referência às práticas corporais – esgrima, jogos e exercícios ginásticos propriamente ditos – que eram oferecidos aos seus alunos. (Gondra, 2000, p.125) 20.

LÚDICO E MOVIMENTO NO MARANHÃO COLONIAL Do período Colonial informam-nos os cronistas de que já se praticavam algumas formas de atividade física desde 1678, quando da chegada do primeiro Bispo ao Maranhão. Realizaram-se, como costume da época, as famosas cavalhadas – desfiles a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas, touradas. Produtos do feudalismo e da cavalaria - do tardio medievo português, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas, essas manifestações do entusiasmo popular talvez tenham nascido com as atividades recreativa que pipocaram em certos centros, conforme as feições econômicas das regiões. As cavalhadas, as vaquejadas, e até mesmo as touradas, assim como os sinais do recriativismo admissível, tiveram arenas de atração transitória. 1681 – Os jesuítas mantinham uma casa para recreio dos padres e dos estudantes na Praia de São Marcos, onde havia uma fazenda dos jesuítas adquirida de Maria Sardinha, provavelmente antes de 1700. Informa José Coelho de Souza que Antonio Vieira comprara uma propriedade em 1681 no São Francisco, onde se 19

CANCELLA, Karina Barbosa; MATARUNA, Leonardo. Liga Militar de Football e a Liga de Sports da Marinha: uma análise comparativa do processo de fundação das primeiras entidades de organização esportiva militar do Brasil. In HOFMANN, Annette; VOTRE, Sebastião (organizadores). ESPORTE E EDUCAÇÃO FÍSICA AO REDOR DO MUNDO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2013, p. 119-132. FINOCCHIO, 2013, obra citada. 20 FINOCCHIO, 2013, obra citada.


construiu uma pequena casa de residência com sua varanda para o mar e que servia de casa de descanso nos dias de folga (dias de sueto). 1713 - Os jesuítas fundaram, em Maranhão, a “Casa dos Exercícios e Religiosa Recreação de Nossa Senhora da Madre de Deus”, em São Luís. Localizada na Ponta de Santo Amaro, era destinada à recreação e descanso dos religiosos e dos alunos do Colégio Máximo do Maranhão, nos fins de semana; ou ainda para realização dos exercícios espirituais; além dos religiosos, recebiam pessoas do povo, para os exercícios espirituais– hoje, seriam os retiros. A Quinta já existia desde 1713, quando o Capitão-Mor Constantino de Sá requisitou à Câmara a utilização de certos materiais existentes nessa ponta de Santo Amaro para uma ermida que estava erguendo a “Nossa Senhora da Madre de Deus, Aurora da Vida”. Os padres compraram a Quinta para Casa de Campo dos Mestres e estudantes do Colégio do Maranhão, no qual havia, em 1731, estudos gerais de Teologia, Filosofia, Retórica, Gramática, e “ultimamente uma escola de ler, escrever e contar”. A este primeiro destino – casa de campo, a tal casa de recreação -, veio juntar-se, anos depois, o de servir para Casa dos Exercícios Espirituais. A casa ficou juridicamente dependente do Reitor do Colégio, mas com administração autônoma, sob a regência de um Superior próprio. 1760 - a Casa constava de dois corredores: um que era a frontaria a par do frontispício da nova igreja, com 10 aposentos, cinco em cada andar, “para hospedagem dos exercitantes seculares e habitação dos religiosos da casa”; outro corredor, de norte a sul, com outros tantos cubículos, destinados ao repouso e recreação dos estudantes. 1771 em Portugal, sob o balizamento da Universidade de Coimbra, se estabeleceu que as atividades físicas como conteúdo educacional, atendia aos pressupostos da nova educação. As “Artes Liberais” nos Estatutos do Collegio Real de Nobres da Corte, e cidade de Lisboa eram a Cavalaria, Esgrima, e Dança. Apesar de contar ainda um sentido cavalheiresco (educação dos nobres), essa introdução se deu através das ideias burguesas. ATIVIDADES FÍSICAS NO SÉCULO XIX - No início do século XIX, foram encontradas outras formas de atividade física, como as caminhadas. Além desses passeios, praticava-se a caça, como o fazia Garcia de Abranches - o Censor. Seu filho, Frederico Magno de Abranches - o Fidalgote - era “... Atirador emético e adestrado nos jogos atléticos, alto, magro e ágil, trepava como um símio até os galhos mais finos das árvores para apanhar uma fruta cobiçada pelas jovens ali presentes. Encantava-as também a precisão dos seus tiros ao alvo. E causava-lhes sustos e gritos quando trepava sem peias por um coqueiro acima ou se balançava no tope de uma jussareira para galgar as ramas de uma outra em um salto mortal, confirmando o título que conquistara entre os da terra de campeão da bilharda.”. 1829 - primeira aula de dança de que se tem notícia data de 1829, como se vê de anúncio publicado em “O FAROL”: “Carlos Carmini, de nação italiana, recentemente chegado a esta cidade, faz saber aos ilustres habitantes da mesma que ensina tôda e qualquer dança, segundo o gosto moderno, tanto em sua casa (que ao presente é na rua da Palma, no. 10), como também pelas particulares para que seja chamado; prestando-se ao ensino das ditas danças, tanto a pessoas grandes como para meninos...” (In “O FAROL MARANHENSE”, 25 de agosto de 1829, citado por VIVEIROS, 1954, p. 376). Sobre as atividades lúdicas dos negros é publicado em “A Estrela do Norte”, em 1829 a seguinte reclamação de um morador da cidade: “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d’elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém ? “. A GYMNÁSTICA - O primeiro registro encontrado onde aparece a palavra “ginástica” data de 1841, conforme anúncio no “JORNAL MARANHENSE” sob o título de: “THEATRO PUBLICO - Preparase para Domingo, 21 do corrente huma representação de Gimnástica que será executada por Mr. Valli Hércules Francez, mestre da mesma arte de escola do Coronel Amoroz em Paris; e primeiro modelo da


academia Imperial de Bellas Artes do Rio de Janeiro, que terá a honra de apresentar se pela primeira vez diante d’este Ilustrado público, a quem também dirige agradar como já tem feito nos principais Theatros de Europa , e deste Império. “Mr. Valli há contractado o Theatro União, para dar sua função, junto com Mr. Henrique, e tem preparado para este dia um espetáculo extraordinário que será composto pela seguinte maneira: Exercícios de forças, Agilidade e posições Acadêmicas Exercícios no ar e muitas abelidades sobre colunnas assim como admiraveis sortes nas cordas “Nos intervalos de Mr. Valli, se apresentará Mr. Henrique, para executar alguns exercícios de fizica, em quanto Mr. Valli descansa.” 1842 - O Prof. Antônio Joaquim Gomes Braga, diretor do Colégio de Nossa Senhora da Conceição, localizado Rua do Desterro, ao apresentar o Plano de Estudos, informa que as aulas de “Dansa e Muzica para os internos serão pagas à parte”. (in JORNAL MARANHENSE, 1º de outubro de 1841). 1843 - outro colégio particular anuncia em seus planos de estudos as aulas de dança para seus alunos, aberta à comunidade: “AULA DE DANÇA, começará em Novembro próximo a ter exercícios no Colégio de N. S. dos Remédios na rua do Caju em os dias feriados, isto é, duas vezes por semana das 9 as 11 horas da manhã. Os que já frequentam outras aulas do Colégio são admitidos mediante o premio de 3:000 rs. mensais; porém os que não estão neste caso concorrerá com 4:000 reis.“Também haverá outra aula, que principiará com a noite na 3ª e 6ª feiras para as pessoas que não podem ir de dia, os quais farão despesa de 5:000 reis. Nestes serão ensinadas as danças nacionais e estrangeiras, tanto simples, como dobradas, e etc. “O diretor do Collégio está convencido de que os pais de familias tendo no seu devido apreço esta prenda não deixarão de promover, que ele não falte a educação de seus filhos: muito principalmente não alterando esta aula no Colégio a introdução dos meninos, por ser somente nos feriados. “Collegio de N. S. dos Remédios, 24 de outubro de 1843.” (A REVISTA, n. 207, Quarta-feira 8 de novembro de 1843) 1844 - fundado o primeiro colégio destinado exclusivamente às moças, em São Luís, as atividades físicas faziam parte do currículo: “... não somente sobre as disciplinas escolares com também sobre o preparo physico, artístico e moral das alumnas. Às quintas-feiras, as meninas internas participavam de refeições, como se fossem banquetes de cerimônia, para que se habituassem 'a estar bem á mesa e saber como se deveriam servir as pessoas de distinção'. Uma vez por semana, à noite, havia aula de dança sob a rigorosa etiqueta da época, depois de uma hora de arte, na qual ouviam bôa música e aprendiam a declamar." (ABRANCHES, 1941, p. 113-114). Esse colégio - o "Collegio das Abranches", como era conhecido o Collégio N. S. das Glória -, foi fundado por D. Marta (Martinha) Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches - educadora espanhola nascida nas Astúrias provavelmente por volta de 1800 –, e pela sua filha D. Amância Leonor de Castro Abranches, e tinha, ainda, como professora, D. Emília Pinto Magalhães Branco, mãe dos escritores Aluizio, Artur e Américo de Azevedo. 1852 - Antônio Francisco Gomes propunha além da ginástica, os exercícios de natação, esgrima, dança, jogo de malha e jogo da pella para ambos os sexos (CUNHA JÚNIOR, 1998, p. 152) 21 1853 - No “O Observador”, edição de 25 de abril, o Inspetor da Instrução Pública publica seu relatório, na parte em que trata das escolas particulares de primeiras letras e médio da capital, constata que nos dois colégios existentes não havia aula de Ginástica:

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CUNHA JÚNIOR, Carlos Fernando Ferreira da. A produção teórica brasileira sobre educação physica/gymnastica no século XIX: questões de gênero. In CONGRESSO BRASLEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSCA, VI, Rio de Janeiro, dezembro de 1998. COLETÂNEA... . Rio de Janeiro : Universidade Gama Filho, 1998, p. 146-152.


Deve-se lembrar de que na legislação de ensino da época, já constava o de ginástica, dentro do núcleo das Belas Artes, que compreendia o desenho, música, dança, esgrima, e ginástica:

DÉCADA DE 1860 - o Sr. Alfredo Bandeira Hall lecionava inglês (1861), tendo inclusive publicado uma gramática adotada pelo Lyceo Maranhense, e exerceu a função de Inspetor de Ensino, atuando em vários exames da 2ª Freguesia. Antes, no ano de 1860, aparecia como agente de leiloes na cidade, conforme anúncios em O Publicador Maranhense. Remédios para bexigas, importados da Inglaterra por Alfredo Bandeira Hall também estavam à disposição do público, em algumas farmácias da capital (1883). No guia de profissionais, do Almanaque do Maranhão, aparece como Professor de Esgrima e ginástica Alfredo Hall, residente na Rua do Alecrim, 17:

1861 já se tinha, no Maranhão, a cadeira de Ginástica, conforme se depreende de anúncio do Instituto de Humanidades:


1861 a 1871 verifica-se a presença de alunos de nacionalidade brasileira no Philantropinum22, sediado em Schnepfenthal23; dentre esses alunos vamos encontrar: NOME LOCAL E ANO NASCIMENTO de La Roque, Jean de La Roque, Auguste de La Roque, Henri de La Roque, Guilherme De La Roque, Luiz de La Roque, Carlos

PERÍODO DE ESTUDOS Pará, 1850 Pará, 1851 Pará, 1849 Cametá, 1853 Pará, 1856 Pará, 1857

1861 – 1866 1861 – 1867 1861 – 1864 1863 – 1869 1865 – 1871 1865 – 1871

Temos a existência da Família LaRocque no Maranhão. Os LaRocque - importante família estabelecida no Pará, procedem de dois irmãos: I - HENRIQUE de LaROCQUE (c. 1821 – Porto ?), que deixou geração do seu casamento, em 1848 – Pará -, com Matilde Isabel da Costa ( ? – 1919); e II – LUIZ de LaROCQUE (c. 1827 – Porto ?), que deixou geração de seu casamento, em 1854 (Pará) com sua cunhada Emília Ludmila da Costa. Ambos, filhos de JOÃO LUIZ de LaROCQUE (c. 1800 – a. 1854) e de Rosa Albertina de Melo. Entre os membros dessa família registra-se o senador HENRIQUE de LaROCQUE ALMEIDA, advogado diplomado pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro (hoje, UFRJ).24 No Dicionário, é dada como sobrenome de origem escocesa, o que é contestado por Henrique Artur de Sousa, para quem a família LaRocque estabelecida no Brasil é de origem portuguesa, da cidade do Porto – encontrou uma primeira referência no início da colonização do Brasil, nos anos 1500, em São Vicente ... -, o que parece ser a versão verídica, haja vista que o falecimento de dois membros dessa família – os irmãos Henrique e Luís, filhos de João Luís de LaRocque e sua mulher Rosa Albertina de Melo – se dão na cidade do Porto, no século XIX... (vide Dicionário...) Efetivamente alguns LaRocque se estabeleceram no Maranhão, a partir de 1832. Henrique Artur de Sousa genealogista estabelecido em Brasília encontrou documentos no Arquivo Público do Estado do Maranhão “firmados de próprio punho” de três membros da família LaRocque, quando de sua chegada, “de que haviam estudado na Alemanha”, numa cidade chamada Schnepfenthal ! Filhos de Jean Francoise de LaRocque: Carolina – depois Baronesa de Santos; Henrique de La Rocque; Guilherme de LaRocque; João Luís de LaRocque; Luís de LaRocque; Rosa; Amélia; Antônio de LaRocque. Desses irmãos, quatro estudaram na Alemanha; Henrique de LaRocque Júnior, e seus irmãos João e Augusto, também podem ter estudado na Alemanha ... Henrique de LaRocque Júnior - viria construir o Mercado de Ver-o-Peso, em Belém do Pará -, vem a ser avô do Senador LaRocque... 22

Em janeiro de 1999, o Prof. Dr. Lamartine Pereira Da Costa fez um anúncio através do CEV (Centro Esportivo Virtual www.cev.org.br): “Permitam-me iniciar o ano de 1999 fazendo um anuncio importante para o desenvolvimento da Historia do Esporte no plano nacional e internacional, como também mobilizar os amigos da Lista e fora dela para que sejam iniciadas pesquisas no tema que se segue.”. 23 Fonte: Preisinger, M. (Arquivos de Schnepfenthal – 1998) 24 in DICIONÁRIO DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS, vol. II, BARATA, Carlos Eduardo de Almeida; CUNHA BUENO, Antônio Henrique da. Arquivos da Biblioteca Pública “Benedito Leite”.


1869 - é anunciada a criação de um novo colégio - o Collégio da Imaculada Conceição - sendo seus diretores os Padres Theodoro Antonio Pereira de Castro; Raymundo Alves de France; e Raymundo Purificação dos Santos Lemos. Internato para alunos de menor idade, seria aberto em 07 de janeiro de 1870. Do anúncio constava o programa do colégio, condições de admissão dos alunos, o enxoval necessário, e era apresentado o Plano de Estudos tanto do 1º grau como do 2º grau, da instrução primária; o da instrução secundária; e da instrução religiosa. No que se referia às Bellas Artes – desenho, música vocal e instrumental, gymnástica, etc., mediante ajustes particulares com os senhores encarregados dos alunos. O novo colégio situava-se na Quinta da Olinda, no Caminho Grande, fora do centro da cidade, e possuía água corrente, tanque para banhos, árvores frutíferas, jardim, bosque e lugar de recreação. (A ACTUALIDADE n. 28, 28 de dezembro de 1869). 1874 Diário do Maranhão, de 16 de janeiro, uma nota sobre a reforma do ensino agrícola, traz que:

1876 - No Diário do Maranhão, edição de 16 de janeiro aparece anuncio de colégio de Lisboa – Colégio Acadêmico Lisbonense, em que é apresentado o programa de estudos, dentre elas a Gymnástica, sendo o professor Mr. Jean Rogers, professor de suas Altezas Imperiais; era representante nesta cidade o Sr. Luis Manoel Fernandes, a quem poderia se solicitar informações. - Ainda neste jornal, edição de 10 de março em seção geral, artigo dedicado à Reforma necessária na Instrução Pública, defendendo sua inclusão no currículo, mas com as condições necessárias ao seu ensino:


- Na edição de março de 1876, o editor chama atenção para a modalidade de aula de ginástica que o professor da escola agrícola aplicava a seus alunos:


- Em edição de outubro desse ano, reproduzindo matéria vinda da Bahia, o comentarista da coluna nossas escolas, ainda se referindo à reforma do ensino, diz que deveria se ter mais atividades práticas nas escolas:


- A Ginástica, especialmente a que fazia uso de aparelhos, se prestava para espetáculos circenses, como já vimos em anúncios do princípio do século. No jornal O Apreciável, edição de 1876 se comentava o espetáculo de ginástica dado pelos ginastas portugueses Pena e Bastos. Nos anos 1880, pelo menos três companhias circenses visitavam São Luis, com apresentações de ginástica, o mesmo acontecendo na década seguinte, como em 1890, em que o cidadão Candido de Sá Pereira solicitava o Teatro de São Luis para três apresentações de Ginástica, sendo lhe deferido o pedido e ser aviso o administrado do Teatro (A República, expediente de 12 de abril de 1890). 1877 - Instigante esse anuncio encontrado em 27 de agosto de 1877:

- Símbolo da modernidade que se implantava, o Club de Ginástica e Esgrima era referido como uma das evidencias dos avanços que a cidade apresentava:

1879 - no Publicador Maranhense, de 5 de dezembro de 1879 anunciava-se as aulas do colégio espanhol, que iniciara suas atividades já em 1848; incluída entre as matérias a ginástica:


1880 - Aluísio Azevedo, tanto em "O Mulato" - publicado em 1880 -, como em uma crônica publicada em 10.12.1880, propõe uma educação positivista para as mulheres maranhenses: "... é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista ... é preciso educá-la física e moralmente ... dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente ...". Alguns amigos de Aluísio, a fim de ‘incentivar’ a leitura de seu romance, publicado sob a forma de folhetim nos jornais de São Luís, passam a escrever aos jornais, fazendo-se passar por jovens senhoritas. Uma dessas cartas, publicadas em Pacotilha, edição de 9 de junho de 1881, em que “Julia” escreve à “Antonieta”:


1883 - publicado o seguinte anúncio:

1884 - Também no interior, os colégios ofereciam, em seus programas de ensino, a Ginástica, como se vê desse anuncio no Diário do Maranhão de 7 de março de 1884:


Ao expor seu programa, Isaac Martins informa que para as aulas de ginástica dispunha de amplo pátio para os exercícios de ginástica e ‘correria’ – Atletismo? – e para a natação, as águas puras e cristalinas do Rio Corda. Temos aqui outra informação importante – as aulas de natação, em escola do interior do Estado – Barra do Corda – em uma escola popular:

É o seguinte o programa escolar:


1886 - O Dr. Gouveia Filho, na edição de A Pacotilha, jornal da tarde, de 24 de abril de 1886 trazia um artigo, numa coluna ‘Litteratura”, com o título “Educação Physica”, onde afirma que essa palavra não tinha significação entre nós:


- Em outro artigo, em edição seguinte, também é ressaltado – desta vez por Ramalho Urtigão – a ginástica como parte do processo educacional:

1887 - O Jornal A Pacotilha de 7 de dezembro de 1887 traz nota sobre a reforma da instrução pública, em que:

1889 - O Sr. Sabino Erres, que fundara uma Escola de Ginástica – a 15 de Novembro – em 1889, e que funcionou em diversos lugares nesta cidade, apresentando-se no Teatro com seus alunos, assim como na sede de sua escola, com programas de trapézio e barras, cordas. Em 1890 – no Diário de 1º de abril publica aviso que estava disposto a concorrer à cadeira de ginástica, que se abria no Liceu, em função da reforma do ensino:


O “artista” Sabino Erres continuava a apresentar-se em funções de circo, executando números de gymnástica, utilizando-se de cordas, trapézios e barras, junto com outros ‘artistas’ ginastas – como Diocleciano Belfort. Continuava com sua escola, a 15 de novembro, de ginástica; pelo que se depreende, na formação de ‘artistas de ginástica’, para apresentação em espetáculos. 1890 - A adaptação das escolas estaduais às novas normas da instrução pública não se dá de forma a contentar a todos. Assim, em a Pacotilha de 29 de março de 1890 um certo Reginaldo faz o seguinte comentário:


- 23 de abril de 1890, é publicada a nova lei, da reforma da instrução pública, em que é criada a Escola Normal, anexa ao Liceu Maranhense, com as seguintes cadeiras:

- Reginaldo volta à carga, em sua coluna “De relance”, fazendo sua análise da reforma da instrução pública. Volta a falar sobre a inclusão das disciplinas de música e ginástica:


1891 - Em outubro de 1891, a Pacotilha começa a publicar uma série de artigos sobre a Ginástica em diversos países, apresentando análise de suas vantagens na educação das crianças. Passa a relatar os inúmeros métodos que estavam aparecendo – francesa, sueca, dinamarquesa, alemã, e era introduzida a “ginástica educativa”, em bases fisiológicas e higiênicas. Logo a seguir – edições seguintes – ainda falando da Itália, refere-se à ginástica Feminina; passa a discutir a ginástica na Alemanha, e a sua obrigatoriedade na escola. - Ao mesmo tempo, o vice-governador Carlos Peixoto (in A Cruzada, 28 de outubro de 1891), em telegrama ao Ministro da instrução Pública, relata a situação do Liceu Maranhense e as dificuldades do curso preparatório. Fala das cadeiras e da falta de professores. O Ministro diz que a oferta de disciplinas deve obedecer à legislação vigente, caso contrário não serão reconhecidos os estudos. José Rodrigues, ao comentar o telegrama e a resposta a ele, diz:

- Pouco antes era publicada poesia, nesse mesmo jornal - A Cruzada, em agradecimento, ao Grande Tenor que se despedia da terra; lá é colocado que, além de canto e musica, era também professor de Esgrima e Ginástica:


1894 aparecem notas sobre uma literatura específica – manuais de ginástica, italianos, que são analisados, em virtude de conferencias que estavam acontecendo naquele país. Comentários sobre a ginástica nas escolas, em especial as alemãs. Por aqui, uma escola oferecia aulas de Ginástica, dentre outras matérias:


- As críticas às aulas de Ginástica no currículo do Liceu Maranhense – seu anexo, a Escola Normal -, voltam à baila, na edição de A Pacotilha de 7 de junho de 1894. Diz o articulista que as críticas feitas através da imprensa pela inclusão dessa cadeira, até aquele momento, que justificava sua não oferta, e a consequente nomeação do professor:


- Mas, nessa mesma edição, consta a ‘aclamação’ (nomeação) do professor de ginástica:

No Almanaque Administrativo de 1896 constava no quadro de docentes tanto do Liceu Maranhense como da Escola Normal, o professor João da Mata Lopes como titular da cadeira de Ginástica. Em 1910, esse professor requer a aposentadoria, por ser professor vitalício (Correio da Tarde, 30 de agosto de 1910). - edição de 27 de julho de 1894, voltava à carga a questão da nomeação do professor. Ele, nomeado Lente do Liceu, com base na Lei da Instrução Publica de 1893, não tinha reconhecido assento na Congregação, por julgar, a direção da escola, matéria técnica:


1895 - Em janeiro saem novas normas para a instrução pública, estabelecida provas práticas para algumas das novas disciplinas:


- Parece-nos que em julho a questão do professor estava resolvida; João da Mata Lopes assumira sua cadeira, e iniciava suas aulas... Mas aparece outro problema: os uniformes para as aulas práticas de ginástica, em especial, a das alunas:

- 1895, novembro - os primeiros exames das cadeiras incluídas na reforma de 1893, e depois de toda a polemica - da contração do professor, de sua participação na Congregação, de as provas serem práticas, e dos uniformes dos alunos -, observa-se que apenas alunos do Liceu – sexo masculino... – se submeteram às provas:


- Jรก na Escola Normal:


1896 - Um ano depois, 1896, novos exames das alunas da Escola Normal:

1898, o Governador do Estado faz uma visita ao Liceu Maranhense e observa as aulas de Ginรกstica:


1899, nova adaptação do currículo tanto do Liceu quanto da Escola Normal, para se adaptar à nova Lei do Ensino Secundário. Novamente, necessária a adequação curricular para que houve a equiparação com o Colégio Pedro II; essa a discussão da edição de 27 de abril,

- No dia 17 de outubro de 1899 é criado o Clube de Ginástica e Esgrima:

1900 fica-se sabendo o local da sede do clube


- em março, seu Estatuto é encaminhado à imprensa, e fica-se sabendo quem são os seus fundadores e principais dirigentes:

- nova reforma da instrução pública:


1901 o “Regimento para as Escolas Estadoaes da Capital” (Decreto nº16 de 04 de Maio de 1901; Nascimento, 2007a, 2007b,) 25, instituía, no seio de suas diretrizes gerais, questões referentes a “inspecção e asseio” normatizando desde a entrada dos alunos em que caberia às professoras proceder á uma revista do asseio dos mesmos “tomando as providencias necessárias em ordem a estarem todas as condições regulares de limpeza de mãos, unhas, rosto e penteado do cabello, no momento de serem iniciados os exercícios escolares” (Regimento, 1901, p.80) conforme a classe a que pertence o estudante. Percebem-se nítidos traços de influência militar em termos de linguagem e recomendações na modelagem deste corpo escolarizado, quando instituem os exercícios abaixo descritos: a) Os da primeira classe constarão de marchas e contramarchas com variações apropriadas a darem facilidade de movimento dos alumnos; b) Os da segunda versarão sobre movimentos em varios tempos, com e sem flexão dos membros, desacompanhados de instrumentos; c) Os da terceira se comporão dos mesmos exercicios das segunda, mas com instrumentos; d) Os da quarta de exercicios de barra de extremidades esphericas, barra fixa, apparelhos gyratorios. (Regimento, 1901, p.80, grifos nosso). - nova reforma da instrução pública, ajustando-a ao currículo do Ginásio Nacional, o Governo divulga o salário pago aos professores, tanto do Liceu Maranhense quanto da Escola Normal; nota-se que o numerário do Professor de Ginástica e Esgrima – duas disciplinas!!! – era 50% menor do que a dos outros mestres:

25

REGIMENTO PARA AS ESCOLAS ESTADOAES DA CAPITAL, a que se refere o Decreto nº16 de 04 de Maio de 1901. In: Collecção das leis e decretos do Estado do Maranhão de 1912. Republica dos Estados-Unidos do Brazil. Maranhão: Imprensa Official, 1914. NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. A Educação Higiênica em São Luís nas primeiras décadas do século XX. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2007b. (Graduação em Pedagogia). NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. PELAS CRIANÇAS DESVALIDAS: o Instituto de Assistência à Infância do Maranhão nas primeiras décadas do século XX. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2007a. (Graduação em História).


- Na Escola Normal, as alunas eram chamadas para os exames de Ginástica. A banca, formada por três professores, contava com o Dr. Achiles Lisboa, o professor de Ginástica João da Mata Lopes, e Luis Ory


- Na edição de A Pacotilha de 8 de novembro de 1901 era anunciado a morte de Pedro Nunes Leal, fundador do Instituto de Humanidades. Da relação dos seus professores, o Sr. Alfredo Hall, de Esgrima e Ginástica – contratado em 1861 - que já faziam parte daquele notável estabelecimento de ensino:


- um novo colégio é aberto em São Luis:


1902 - folhetim publicado em “A Campanmha”, edição de 16 de outubro de 1902, sob o titulo “o que custão as mulheres’, tradução do dr. Nuno Alvares, referindo-se à personagem Branca de La Faye afirma ser ela, jovem de seus treze anos, possuidora de variadíssimos conhecimentos:

- E mais:

1903 - Na edição de 19 de maio de 1903, de A Pacotilha – Jornal da Tarde – é anunciada a chegada do Sr. Miguel Hoerhann, contratado pelo Governo do Estado para reorganizar o serviço de educação física, voltado para o Liceu, Escola Normal e Modelo, escolas estaduais e do município:

- No Diário, de 19 de maio também e anunciada a chegada do novo professor de Ginástica:


- No dia 20 de maio, as aulas têm início:

- Em maio, a educação física é tornada obrigatória em todos os estabelecimentos de ensino, não apenas no Liceu e Escola Normal, e Escola Modelo:


- Logo a seguir, são distribuídas as aulas de ginástica para as diversas escolas do município:


- Em 6 de julho ĂŠ anunciada a chegada de sua famĂ­lia :


- Em 11 de agosto, o Professor Miguel recebe os aparelhos de ginástica, solicitados para o Liceu Maranhense, conforme oficio:

MIGUEL HOHERANN – ver box Embora Djard MARTINS (1989) - em seu já clássico “Esporte, um mergulho no tempo” 26 - traga Miguel Hoerhann como nosso primeiro professor de Educação Física, verificamos que haviam vários professores atuando em diversos estabelecimentos, inclusive oficiais – tanto na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense:

"E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989).

26

MARTINS, Dejard. ESPORTE, um mergulho no tempo. São Luís: SIOGE, 1989.


É o próprio Miguel quem confirma essa condição27, em nota publicada no jornal “O Paiz” em 21 de novembro de 1909, no Rio de Janeiro: ‘EDUCAÇÃO PHYSICA CARTÃO COMEMORATIVO DE 20 ANOS DE TRABALHO NO BRASIL Mens sana in corpore sano; vita non este vivere; sede vivere Miguel Hoerhann, capitão-tenente honorário da armada nacional, professor de educação física da Escola Naval, Colégio Militar, Externato Aquino, e professor de ginástica e esgrima do Automóvel Club do Brasil – Ex-professor dos colégios Brasileiro-Alemão, Abílio Rouanet, João de Deus, Instituto Benjamin Constant, e Instituto Nacional de Surdos Mudos, no Rio de Janeiro. Ex-professor dos colégios São Vicente de Paulo, Notre Dame de Sion, Ginásio Fluminense e Escola Normal Livre; sócio-fundador e 1º. Turnwart do Turnerein Petrópolis, em Petrópolis. Ex-professor da Escola Normal e grupos escolares Menezes Vieira e Barão de Macaúbas e do colégio Abílio, em Niterói. Ex-diretor do serviço de Educação Física; ex-professor da Escola Normal, escola modelo Benedito Leite; Instituto Rosa Nina, Liceu Maranhense, e escolas estaduais e municipais; fundador e 1º presidente e 1º diretor dos exercícios do Club Ginástico Maranhense; em S. Luis do Maranhão. Ex-professor do Ginásio São Bento e ex-secretário do I. e R. Consulado da Áustria e Hungria, em São Paulo. 20 anos de devotado trabalho no Brasil (de 24 até 44 anos de idade, desde 1889 a 1909). Ex-Instrutor da imperial e real marinha de guerra da Áustria, condecorado com a medalha militar de bronze, conferida por sua imperial e real majestade apostólica Francisco Jose I, Imperador da Áustria-Hungria (desde 15 até 23 anos de idade, 1880-1888). “AOS MEUS DISCIPULOS Caros discípulos! Vivamente me tenho lembrado de vós! Recordando, um por um, os numerosos estabelecimentos de ensino, desde o sul até o extremo norte, de nossa vasta e grande Republica, onde, cônscio de minha nobre e útil missão, sempre lecionei com ardor, vos vi, na imaginação, todos reunidos formando legiões de muitos e muitos milhares. Estas reminiscências decorrem do inicio de minha carreira, abrangendo todos os fatos que se passaram, ate a presente data da minha vida de professor neste belo pais. E – folgo em dizê-lo – causaram-me uma grande e indescritível alegria: o supremo tribunal 27

Prezado Sr. Leopoldo Vaz, boa noite. Tomei a liberdade de lhe contatar quando soube de suas dúvidas, pelo pessoal do Arquivo Histórico de Ibirama - SC, acerca de Miguel Hoerhann, meu tataravô. Resido em São José, cidade vizinha de Florianópolis, capital de Santa Catarina e recém doutorei-me em História. Justamente trabalhei com a nacionalização dos Xokleng, comunidade indígena de SC, a qual o filho de Miguel, Eduardo Hoerhann dedicou toda a sua vida. Eduardo Hoerhann nasceu em Petrópolis em 1896. Filho de Miguel, (no anexo você consegue algumas informações sobre ele) e de Carolina, sobrinha-neta do Duque de Caxias. Alguns dados do Museu estão equivocados. Há uns anos, vi que os senhores disponibilizaram digitalizado, o livro Esgrima de Baioneta, de autoria do Miguel Hoerhann. Fiquei muito contente descobrir isso, e uma pena que ainda não consegui imprimi-lo em capa dura, mas parabéns pelo capricho. O sr enviou para a sra. Aparecida um diploma assinado pelo Miguel. Há possibilidade de enviar para mim numa resolução maior? Está ilegível em 9 k. No mais, espero poder ter ajudado em algo. Infelizmente, muitas informações se perderam. Cordialmente, Rafael Hoerhann. Disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/02/27/miguel-hoerhan-nosso-pioneiro-professor-deeducacao-fisica/


que temos no nosso intimo, o tribunal da consciência, aprovou os meus atos. Na verdade, a mais alta felicidade e alegria residem no intimo, na consciência perfeitamente tranquila e na certeza de havermos, digna e devotadamente, cumprido os nossos deveres. Do trabalho provem os mais altos gozos da vida! e este sentimento de felicidade e alegria me impeliu a expandir-me, publicando o presente. Eis porque vos incito a prosseguirdes vossa nobre obra de regeneração de vós mesmos -: Tão preciosos bens, como a saúde e o vigor físico, só se conseguem – bem o sabeis – pelo esforço próprio. Muitos de vós já sois pais e mães de família. A uns e outros aconselho, pois: “Cuida da educação física e moral dos vossos filhos”. A humanidade esta ilustrando uma área inteiramente nova; importantes e formidáveis cometimentos nos aguardam num futuro bem próximo; e para resistir, para vencer, se faz necessária uma geração sadia e forte: – no físico, e principalmente no caráter. Tão preciosas qualidades são indispensáveis, não só ao vosso bem estar e felicidades pessoais, como ao serviço da família, da pátria e da humanidade. Desejando-vos longa e bem preenchida existência, vos saúdo cordial e efusivamente. Em 21 de novembro de 1909 Miguel Hoerhann 3, Rua Pedro Domingues, Encantado, Rio (grifos nossos) Como consta de sua declaração, Miguel foi Instrutor da Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria de 1880 a 1888 - dos 15 até 23 anos de idade.

1884 – aos 19 anos de idade, Instrutor de Esgrima da Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria


Desde o ano de 1894 em Petrópolis, em 1898 estava exibindo-se como esgrimista, em “desafios”, conforme anúncios publicados no jornal “Gazeta de Petrópolis” 28:

Observa-se que atuou como professor de esgrima, ginástica, e natação em Petrópolis, 29 depois em Niterói, antes de vir para o Maranhão. Deu aulas particulares, e em escolas particulares, antes do ingresso em escolas públicas, naquelas duas cidades:

Além de aulas de ginástica, ensinava também esgrima, como parte do currículo. Nas férias, aos alunos 28

Gazeta de Petropolis Periodicidade: Trissemanal, Fundado em 2 junho 1892 por Bartholomeu Ferreira Sudre, Formato tabloide, Designação cronológica: Ano 1,n.1(jun.1892)-Imprenta: Petropolis,RJ : [s.n.], 1892- Local: Petropolis RJ , disponível em: http://catcrd.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=bs&pr=diper3_pr&db=diper3_db&use=ti&disp=list&ss=NEW&arg=gazeta|de|petro polis 29 Anúncios publicados no jornal “Gazeta de Petrópolis”, por várioas edições e anos, conforme arquivos disponíveis em http://hemerotecadigital.bn.br/; http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, acessados em 7 e 8 de março de 2013.


internos, se ofereciam essas atividades, inclusive o curso de esgrima era pago à parte, conforme se depreende de anuncio de inicio das aulas do ano de 1896. Na edição de 26 de março de 1896, e seguintes, aparece colaboração de Miguel Hoerhann, discutindo a importância da ginástica médica. Em janeiro de 1901, em que é publicado o Decreto de seu ingresso na Guarda Nacional com o posto de capitão, aparece sua eleição para a diretoria do Clube Alemão:

1903 - Na Gazeta de Petrópolis, edição de 15 de setembro de 1903, informa-se que Miguel Hoerhann estava em São Luis, nomeado que fora Diretor da Educação Physica, conforme a edição 204 de “A Pacotilha”, da capital do Maranhão:

- No dia 04 de junho de 1903 aparece anuncio n´A Pacotilha em que Miguel Hoerhann, como já fizera em Petrópolis e Niterói, oferece seus serviços como professor particular de ginástica:


- Logo no dia 05/06, anuncia o inicio das aulas; e a 30 de junho, outro aviso, convocando os alunos inscritos:

- Em 19 de julho de 1903, uma referencia à viagem do Rio de Janeiro para o Maranhão do Sr. Miguel Hoerhann, em companhia de Monteiro Lobado. Escreve ele sobre nosso ilustre professor, com o titulo “A Paz”, transcrito da Folha do Norte:


- Nosso Diretor da Divisão de Educação Física começa a publicar artigos:


Efetivamente, nas edições seguintes aparece o artigo prometido, dividido em várias seções, publicados ao longo do tempo, tratando da ginástica médica. - No mês de agosto novo anuncio em A Pacotilha, do dia 31, já assinado como Diretor da Divisão de Educação Física do Maranhão, sobre a realização de um concurso poético, tendo por tema a Ginástica. Verifica-se que se referia ao Turnen, haja vista a citação dos “4 Fs”, como a divisa da ginástica: “Abre-se aos cultores das musas uma produção poética, em que entrem as palavras que constituem a divisa da gymnastica: FIRMA, FORTE, FRANCO, FIEL, e que tenha por tema a glorificação da abnegação, do trabalho perseverante e nobre, do vigor do espírito como consequência dos exercícios physicos [...]” Não se tem noticias do resultado desse concurso, mas em Janeiro de 1904 aparecem os mesmos anúncios de, provavelmente, novo concurso, com prazo de inscrições até o dia 31 de janeiro daquele ano. Na primeira semana de fevereiro, novos anúncios, nova data de termino das inscrições: 18 de fevereiro.

- No mês de março, foram entregues os prêmios aos vencedores do concurso poético, não se informando, no entanto, os nomes e nem se dá noticias dos poemas:

- Na edição de 15 de março, nota de que fora publicada na Revista do Norte o poema colocado em primeiro lugar do Concurso Poético:



- Colégio 15 de novembro anuncia os exames finais de 1903, constando o de Ginástica:

1904 - em carta ao Reitor do Seminário, M.N. pedia que fosse adaptado o seu currículo, com a inclusão de aulas de Ginástica, obrigatórias, e que o Diretor da Divisão de Educação Física poderia se responsabilizar pelas mesmas:


- O Governador do Estado, em mensagem ao Congresso do Estado, apresenta seu relatório de atividades do exercício do ano anterior, e refere-se à Educação Physica:

- As aulas de Ginástica são suspensas nas escolas municipais


- A "gymnástica" era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende desse anúncio, publicado em 1904: PARA OS ALUMNOS DE AULA PARTICULAR DE GYMNÁSTICA A Chapellaria Allemã acaba de despachar: camizas de meia com distinctivos Distinctivos de metal com fitas de setim e franjas d'ouro Distinctivos de material dourado para por em chapéus Chapellaria Allemã de Bernhard Bluhnn & Comp. 23 - Rua 28 de julho – 23. (A CAMPANHA, 6ª feira, 8 de janeiro de 1904, p. 5). - Em crítica a político eminente – Benedito Leite – com o título de “Peste de Caroço”, o autor faz um retrospecto do governo e, do momento, se refere às escolas e a introdução das aulas de Ginástica e a contratação de professor estrangeiro – de nome alemão:


- Escolas particulares, de educação primária, como o Instituto Rosa Nina oferecem seus cursos, enfatizando o conteúdo dos mesmos. Nesse anuncio, chama-nos a atenção o método utilizado no Jardim de Infância – o de Froebel30, em que é enfatizado os ‘dons’: jogos, movimentos graduados acompanhados de canto.

- Um poema é publicado, falando das aulas de ginástica no Jardim de Infância:

30

Friedrich Wilhelm August Fröbel (Oberweißbach, 21 de abril de 1782 — Schweina, 21 de junho de 1852) foi um pedagogo e pedagogistas alemão com raízes na escola Pestalozzi. Foi o fundador do primeiro jardim de infância. http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Fr%C3%B6bel


- Convocam-se os sócios do Clube Ginástico Maranhense. Nota-se o símbolo dos “4 Fs” :

- Miguel Hoerhan publica um livreto sobre o uso da baioneta: Esgrima de Baioneta 31; refere-se ao estudo comparativo que fizera, cotejando-o com as instruções para a infantaria do Exército brasileiro, guia oficial publicado pela imprensa oficial, no Rio de Janeiro em 1897. Não pretendeu, mesmo, escrever uma obra totalmente original:

31

O livro digitalizado está disponível no link: http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/Main.php?MagID=37&MagNo=68


Fica-se sabendo que se trata de reimpressão de edição de 1896:

- Das primeiras referencias que se tem desse professor de educação física é de um diploma dado a diversas autoridades e intelectuais, dentre os quais a Fran Paxeco, Cônsul Honorário de Portugal no Maranhão; consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, Diretor da Educação Physica, e foi passado em 18 de maio de 1904:


O que nos chama atenção, são elementos icnográficos que aparecem no Diploma: na bandeira com as cores nacionais (verde e amarela) 32 onde está impresso os “4Fs”, traduzidos na parte de baixo, esquerda, do referido diploma como ‘Firme, Forte, Franco, Fiel”:

32

32

De acordo com Hobsbawm as bandeiras, os hinos e as medalhas são tradições inventadas pelos governos para construir a nação e unificar a população em torno desta ideia. As festividades das sociedades de ginástica eram “comemorações em


Mazo e Gaya (2006) 33, ao estudar as associações esportivas de Porto Alegre-RS trazem que nas bandeiras adotadas por essas associações sempre havia a inscrição dos quatro “efes” posicionados no formato quadrangular: frish, fromm, frölink e frei, que significavam, respectivamente: saudável, devoto, alegre e livre. Os “efes” também eram encontrados em todas as bandeiras desportivas da Alemanha. Em Porto Alegre a bandeira da Turnerbund reproduziu o símbolo dos “efes”, além da simbologia da insígnia com as datas históricas do turnen. Afirmam que a adoção de símbolos e exaltação dos heróis alemães aparecia nos uniformes da Turnerbund, símbolos que identificavam a pátria de origem. (Mazo e Gaya, 2006). O diploma traz ainda imagens de ginástica sendo executadas em diversos aparelhos, em claras referencias ao turnen:

honra de Jahn, com várias competições atléticas, jogos olímpicos, demonstrações nos vários aparelhos, exercícios físicos, etc.”. Hobsbawm, E.; Ranger, T. (orgs.) (1984). A invenção das tradições. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 33 MAZO, Janice e GAYA, Adroaldo. As associações desportivas em Porto Alegre, Brasil: espaço de representação da identidade cultural teuto-brasileira. Rev. Port. Cien. Desp. [online]. 2006, vol.6, n.2, pp. 205-213. ISSN 1645-0523. http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/rpcd/v6n2/v6n2a09.pdf


Turnen é constituído pela ginástica (Geräteturnen mais tarde Kunstturnen – ginástica artística), pelos jogos, pelas caminhadas, pelo teatro, pelo coral. De maneira que não existe um vocábulo que consiga traduzir com fidelidade o sentido de Turnen para o português; Tesche ao utilizar o vocábulo “ginástica”, em seus estudos, se refere ao Turnen34. Como já observou Leomar Tesche (1996, 2002) 35 não existe um vocábulo que consiga traduzir com fidelidade o sentido de Turnen para o português. Fazer ginástica seria uma tradução para Turnen, ou seja, um conjunto de exercícios corporais realizados no solo ou com auxílio de aparelhos e aplicados com objetivos educativos, competitivos, artísticos, etc. Para efeito de esclarecimento, turnen, Turn e Turner é um radical alemão que também está presente em várias línguas germânicas, tanto em línguas desaparecidas quanto em vivas, em todas elas significa torcer, virar, voltear, dirigir, mover, fazer grande movimento. Tesche36 utiliza, em seu trabalho, os vocábulos Turnen e Ginástica como sinônimos 37. Para Mazo e Mühellen (2013) 38 o Turnen é uma expressão do idioma alemão traduzido como “ginástica” por Tesche (2011), mas que além da ginástica com aparelhos (atual ginástica artística) englobava a corrida, jogos, esgrima, entre outras práticas. - anunciado o inicio das aulas da Escola de Ginástica, com a inclusão de mais uma escola municipal:

- O salário do professor de ginástica, conforme os relatório do Presidente da Província ao Congresso Estadual, permanecia em 1$200,000, tanto para o Liceu quanto para a Escola Normal; o Diretor da Educação Física recebia 7$200,000 e ainda havia uma verba de 600$000 para material de expediente de ginástica. Do relatório fica-se sabendo que o Professor do Liceu requerera licença de suas atividades e, logo a seguir, reclamava o salário de Diretor, por substituição por yres meses ao Sr. Miguel Hoerhann.

34

http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema6/0610.pdf SEYFERTH, Giralda. Nacionalismo e identidade étnica. 35 TESCHE, Leomar. A prática do Turnen entre os imigrantes alemães e seus descendentes no Rio Grande do Sul:1867 – 1942. Ijuí: Unijuí, 1996. TESCHE, Leomar. O Turnen, a Educação e a Educação Física ns Escolas Teuto-brasileiras,no Rio Grande do Sul: 1852 – 1940. Ijuí: Unijuí, 2002. 36 TESCHE, Leomar. A Prática do Turnen entre Imigrantes Alemães e seus descendentes no Rio Grande do Sul: 1867-1942. Ijuí: Ed. Unijuí, 1996. TESCHE, L. O TURNEN, a Educação e a Educação Física. Ijui: Unijui, 2002 TESCHE, Leomar.. O Turnen, a Educação e a Educação Física nas Escolas Teuto-brasileiras, no Rio Grande do Sul: 1852-1940. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002. TESCH Leomar. Turnen: transformações de uma cultura corporal europeia na América. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011 37 http://pt.wikipedia.org/wiki/Gin%C3%A1stica 38 MAZO, Janice Zarpellon; PEREIRA, Ester Liberato. PRIMORDIOS DO ESPORTE NO RIO GRANDE DO SUL: os imigrantes e o associativismo esportivo. IN GOELLNER, Silvana Vilodre; MÜHELEN, Joanna Coelho von. MEMORIA DO ESPORTE E LAZER NO RIL GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2013. Vol. 1. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/83615/000906885.pdf?sequence=1 TESCHE, 2011, obra citada. aaa


1905 - sobre a fundação do Club Ginástico Maranhense, sob o titulo ‘Educação Physica”, aparece a informação de que Miguel Hoerhan não mais dirigia a Divisão de Educação Física:

- A 29 de maio de 1905 o Diário anuncia a retirada do Diretor de Ginástica com a sua família – mulher e filho -, para o Rio de Janeiro:


- O tradicional colégio 15 de novembro realiza seus exames de final de ano. Convida todos os alunos, professores, tutores, responsáveis, para assistirem às provas. Na de Ginástica, prática, realizada dia 10 de dezembro, um domingo, os alunos foram examinados nas destrezas em vários aparelhos:

1907 - o nascimento das atividades esportivas no Maranhão se deu pelas mãos de Nhozinho Santos Joaquim Moreira Alves dos Santos -, quando foi fundado, em 1907, o Fabril Athletic Club. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física.: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." - é inaugurado o Fabril Athletic Club, a 28 de outubro. Várias demonstrações de ginástica, de jogos – denominados ‘gaiatos’ -, cabo de guerra, e o tão esperado jogo de futebol. O Governador do Estado, presente, lastimou-se por não poder continuar com as aulas de Ginástica:


- O sexo feminino também tinha suas aulas de ginástica, pois fazia parte do currículo da Escola Normal39, conforme resultado dos exames publicados, como era comum à época: CURSO ANEXO Foi este o resultado dos exames de hontem: GYMNÁSTICA Núbia Carvalho, Maria Varella, Neusa Lebre, Hilda Pereira, Margarida Pereira, Almerinda Parada, Leonor Rego, Rosilda Ribeiro, Fanny Albuquerque, Agrippina Souza, Cecilia Souza, Roza Martins, Esmeralda Paiva, Neusa Silva, grau 10 Faltaram 12. (O MARANHÃO, Sexta-feira, 15 de novembro de 1907). - No dia 26 de dezembro é registrada uma partida de futebol entre alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros, como parte de sua preparação física. O futebol, além de outras modalidades e atividades, principiava a se utilizado como prática de educação física nas escolas: "Aprendizes Marinheiros: Hontem, às 4 horas da tarde, os aprendizes marinheiros, fizeram exercícios de 'foot-ball' na arena do Fabril Athletic Club e um assalto simulado de florete, sob a direção do respectivo instructor da Escola. Os alumnos revelaram-se disciplinados e agiram com muito garbo e desembaraço.Domingo próximo, às 5 horas da manhã, haverá novo exercício no mesmo local". (O MARANHÃO, 26/12/1907). 1908 - Em um outro anúncio, publicado em 1908, o "professor de instrucção physica" avisava que pretendia realizar "os exames de seus alumnos na próxima quinta feira" (em O MARANHÃO, Segunda-feira, 02 de março de 1908, p. 2, n. 257). - o FAC fez as reformas de seus estatutos, para incluir o manejo de armas - prática do tiro - entre suas atividades, com o fim de prestar um serviço às juventude, valendo-se da Lei do Sorteio Militar. Com a ajuda do então tenente Luso Torres, foi fundada uma seção de Instrução Militar, a fim de preparar os sócios que nela quisesse tomar parte e gozar dos favores da referida lei. 1909 - Talvez para se beneficiar dessa Lei, e livrar os jovens da elite maranhense da instrução militar, o Tiro Maranhense informava que já chegava a 120 o número de pessoas inscritas naquela Sociedade. Em 10 de abril é anunciada a posse da diretoria, na Câmara Municipal. (O MARANHÃO, sábbado, 03 de abril de 1909). 1910 - No início da década desaparece o hábito de repousar nos fins de semana, substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. Essas atividades, divulgadas pelos jornais, começaria a apresentar seus primeiros sinais de mudança ainda nas últimas décadas do século XIX, com o surgimento e fortalecimento gradual dos esportes. 1911 - No Correio da Tarde (1911) é publicada uma série de artigos sobre os conhecimentos e aptidões que um agente policial deveria ter. Dentre estas, a prática de ‘ginástica aplicada’, para que tivesse condições físicas de exercício profissional. Chega mesmo a dar exemplos de atividades cotidianas, em que o uso da força e de destrezas seriam necessárias, como o escalar muros e obstáculos. Em 1922, outros artigos, ressaltando o papel da ginástica na preparação/formação do soldado... 1915 - ao mesmo tempo em que era anunciada a criação de um clube para a prática dos esportes, "UM CLUBE ESPORTIVO - Fundado um club esportivo - Club Zinho - com o fim de proporcionar aos seus associados diversão como sejam passeios maritimos, pic-nic, exercícios físicos, ginástica pelos processos mais modernos. Presidente: Hilton Raul - Vice presidente: Guilherme Matos".( O JORNAL, 05 de maio de 1915)

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“A Escola Normal do Maranhão foi criada pelo decreto nº 21 de 15 de Abril de 1890 e, logo após, dia 19 de Abril de 1890, foi criada a Secretaria de Instrução Pública. Seu criador foi o Dr. José Tomás de Porciúncula (RJ/1854-RJ/1901). Médico, nomeado Interventor pelo presidente da República, uma de suas preocupações foi reorganizar o Ensino e criar a Escola Normal”.


- O F. A. Club é (re)inaugurado - agora, como Foot-Ball Athletic Club. Foi realizado a tradicional soireé, ao som de polkas e valsas, e antes, aconteceu o jogo (match) de foot-ball. As senhoritas presentes vibravam com as jogadas de seus "sportman" favoritos, destacando-se Guilhon, Gallas, Paiva, Anequim, Ribeiro, Cláudio, e Schleback. Ainda ao "Red" coube a vitória da "luta de tração", tendo vencido o grotesco "maçã em água salgada" o Travassos, e Nava a disputa da "quebra potes cheio d'água, com olhos vendados". 1916 - Dos chamados "concursos grotescos" - no início das atividades do FAC, em 1907, eram chamados de gaiatos - constava: frutas em água salgada - que deveriam ser tiradas com a boca, ganhando com conseguisse cinco primeiro -; boxe com olhos vendados (disputado em um tempo de cinco minutos; quebrar potes cheios de água com os olhos vendados. Constavam ainda provas de Atletismo, o place-kick (chute à bola) e a luta de tração (cabo de guerra) (Jornal O ESTADO, 02 de fevereiro de 1916) - Nas datas importantes, o jogo de futebol aparece como parte das programações, como as comemorações da Batalha do Riachuelo, pela Escola de Aprendizes Marinheiros, quando seriam executadas "Gymnástica Sueca com armas, Gymnástica sueca sem armas, corridas com três pernas, corrida do sacco" e uma partida de futebol, entre os "teams" "Marcílio Dias" e um formado por representantes do F. A. Club. (Jornal O ESTADO, 10 de junho de 1916). - No final de 1916, é anunciado para o dia 3 de dezembro a inauguração do Bragança Sport Club, contando a programação com uma regata entre as equipes 1 e 2, a se realizar no Rio Bacanga, às 7 horas da manhã. Às 15 horas, estavam programados exercícios militares pelos alunos do Instituto Maranhense; às 16 horas, haveria um "Momento Literário", com recitação de poesias e monólogos, pelos sócios, e ,às 17 horas, a partida de foot-ball entre os teams 1 e 2. Às 19 horas, a sessão solene de inauguração, seguida de soireé dançante. "Como um novo sol refletindo nas paragens longínguas do azul, appareceu o Club Sportivo 'José Floriano'", fundado por um grupo de rapazes de nossa terra com o fim único de "cultivar o physico e revestir de ganho e belleza todas as linhas plasticas do corpo". (Jornal O ESTADO, 30 de novembro de 1916). 1917 - Com essas palavras era saudada a fundação de mais um clube esportivo em São Luís. O nome, em homenagem ao maior dos mestres da cultura física do país: "inflamando-se de enthusiasmo e de energia para combater o enfraquecimento de uma geração e dar vida e armonia aos músculos, admirados com embevecimento, nos grandes athletas e nas antigas estátuas de mármore guardadas nos velhos museus de Roma e Grécia", dizia F. de Souza Pinto, ressaltando o quanto era importante a boa forma física em Grécia e Roma antigos, nos Estados Unidos e na Alemanha atuais, como exemplo de uma raça: "E o Brasil, a terra verdejante de palmeiras e bosques floridos tem também os seus representantes e mestres de luta e acrobacia em que figura como principal elemento de nossa raça o afamado José Floriano Peixoto, cujo nome cercado de sorrisos e de feitos foi escolhido por patronimico do club, que acaba de apparecer nesta terra tristonha do norte, que há-de um dia figurar nos campeonatos, tendo para saudar as suas victórias a música melodiosa dos cântigos cheios de saudade e poesia dos nossos queridos sabiás". (F. de Souza PINTO, in "O ESTADO", 15 de fevereiro de 1917). - em relatório encaminhado à Câmara dos Vereadores pelo Intendente Municipal era relatada a situação da Instrução Pública, de há muitos anos lutando com as dificuldades e a precariedade das instalações das diversas escolas municipais:


Pacotilha, 13 de dezembro de 1917 1919 - Interessante esse anuncio d’ A Pacotilha de 11 de setembro de 1919:

1920 - os Maristas ofereciam, em seu curriculo, aulas de Ginástica Sueca, - e de exercícios militares:

A Ginástica Sueca40 é um método caracterizado por uma concepção anatômica, corretiva e biológica, com base nos preceitos e princípios da ciência que foram incorporadas pela o sistema de educação (e por extensão a concepção de ginástica). Seu "ginásio" foi concebido para contribuir para uma educação integral para crianças de desenvolvimento anatomofisiológicas para preparar o soldado para a guerra e 40

foi criada por Pier Henrich Ling (1776-1839), militar e instrutor de esgrima de Medicina da Universidade de Luna. http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Gin%C3%A1stica-Sueca/287924.html http://www.efdeportes.com/efd190/seculo-xix-e-o-movimento-ginastico-europeu.htm


desenvolver o sentido estético através de um fortalecimento do corpo e correção de defeitos físicos. É executada em aparelhos como a barra fixa, argolas, swing escadas ou escaladas. - Em outubro de 1920, são publicados diversos avisos de que as aulas do Liceu Maranhense haviam iniciado, inclusive as dos cursos profissionais, incluídas as de Ginástica. Haveria aulas aos sábados, inclusive. A 9 de dezembro são marcados os exames dos colégios equiparados, com a indicação da banca examinadora; a seguir, saem os resultados :

1921 – - Em O Jornal, agosto de 1921, um leitor faz referencia ao Tiro de Guerra, e às suas lembranças de quando desfilava pelas ruas da cidade, em desfile militar. Defende a ginástica como necessária à educação dos jovens:


O “Tiro Maranhense” foi fundado em 1909 para se beneficiar da Lei do Sorteio Militar e livrar os jovens da elite maranhense da instrução militar. Informava que já chegava a 120 o número de pessoas inscritas naquela Sociedade. (O MARANHÃO, sábbado, 03 de abril de 1909). O Fabril Athletic Clube – fundado um ano antes, 1907, como clube esportivo -, em uma das reformas de seus estatutos, incluí o manejo de armas - prática do tiro - entre suas atividades, com o fim de prestar um serviço à juventude, valendo-se da Lei do Sorteio Militar. Com a ajuda do então tenente Luso Torres foi fundada uma seção de Instrução Militar, a fim de preparar os sócios que nela quisesse tomar parte e gozar dos favores da referida lei. O Clube Euterpe – primeiro clube social e esportivo fundado em São Luís, no ano de 1904, e extinto em 31 de dezembro de 1910 - passou a difundir, dentre outras atividades esportivas, o "tiro ao alvo", a partir de 1908, valendo-se da Lei do Sorteio Militar. Deve-se levar em consideração que havia, entre os clubes e as escolas, a oferta de exercícios militares, uma espécie de ‘servir ao Exército’, em que a instrução militar era dada nos próprios estabelecimentos, por oficiais, ao invés de ‘prestação do serviço militar’; aos que participassem dessas atividades – nos clubes e/ou escolas – estariam isentos do serviço militar... daí a inclusão de “Tiro” em nossos clubes.

A Pacotilha, 1º de setembro de 1910 - os exames da Escola Normal Primária nos trazem os nomes dos examinadores da disciplina de Ginástica, assim como a dos alunos que prestaram os referidos exames naquele ano de 1921; nota-se entre os alunos Luis M. Rego:



1922 - Em novembro, aviso do Centro de Cultura FĂ­sica comunicando o afastamento do professor de ginĂĄstica dinamarquesa:


- anuncio de aparelhos de ginástica

1925 - As escolas apresentam, seus novos currículos, devido à Reforma do Ensino, baixada pelo Decreto n. 16.782 de 13 de janeiro:


- a partir de 1925, a disciplina de Ginástica passa a ser obrigatória no ensino Ginasial:

1926 - no Liceu Maranhense havia a troca de professores de Ginástica, conforme quadro de professores daquele ano, publicado n’ A Pacotilha, em 10 de abril:

- O Curso Profissional do Liceu Maranhense- Normal, que era ministrado na Escola Modelo Benedito Leite, no final de 1926, contava com as seguintes alunas, que seriam examinadas pela banca formada pelos professores:


1927 - A Folha do Povo, de março de 1927 publicava nota de que era contratado um professor alemão – Carl Bender -, para as aulas de ginástica, assim como esse mesmo professor era contratado para lecionar em novo estabelecimento de ensino que abria:


- Outra escola anuncia seus professores, inclusive o de Ginรกstica, em destaque aos demais, o Tent. Jonas Porciuncula de Moraes:


- Nesse mesmo jornal, no mĂŞs seguinte, 19 de maio de 1927, aparece a seguinte nota:

1928 - maio de 1928, aparece uma pequena nota, referindo-se Ă s aulas do professor alemĂŁo:


- No Liceu Maranhense, lá estava ele, como examinador dos alunos do Curso Normal, na disciplina de Ginástica, junto com professoras examinadoras. Apenas uma aluna aprovada – Esther Nina, com grau 6...

- Já aparecera artigo condenando o Boxe, luta realizada no Teatro Arthur Azevedo. Discutia-se sua adequação como prática esportiva, condenando-o, especialmente a luta preliminar, de dois amadores, alunos de um de nossos estabelecimentos de ensino.

Novamente, nessa fase de consolidação dos esportes no Maranhão, algumas atividades esportivas eram colocadas como perigosas para a juventude. Logo acima, reclamação de pais sobre as aulas de ginástica a que eram submetidas as mulheres. Outra nota condena o futebol, esporte não próprio para nosso clima, porém exaltando outras atividades físicas/esportivas:


1929 - as mudanças no ensino secundário (1925) também se deram no interior, como esta nota do relatório do Governador, de 1929, em que se refere à cidade de Viana, onde se oferecia a cadeira de Ginástica:


- Também em Cururupu havia a oferta da cadeira de Ginástica, conforme aviso de nomeação de professor, de 1929:

1935 - aparece um anúncio de aulas de Ginástica:

1936 - Em A Pacotilha de abril de 1936, o Dr. Cesário Veras, então deputado, pronuncia um discurso defendendo a educação física; faz um pequeno histórico de sua implantação:


- Assim, nesse mesmo ano é aprovada a Lei que estabelece a obrigatoriedade da prática da Educação Física nas escolas estaduais, conforme publicação em A Pacotilha de 6 de maio de 1936:




1944 - o professor José Rosa do Liceu Maranhense ministrava nas aulas de educação física a Ginástica Acrobática 1948 - Ginástica acrobática no Anil: Diário de São Luis, 9 de outubro de 1948

1970 – durante a cerimônia de encerramento do 3º. Campeonato Intercolegial, organizado pelo Serviço de Educação Física, Recreação e Esportes, sob a direção de Mary Santos, no Ginásio Costa Rodrigues houve uma belíssima demonstração de Ginástica Feminina Moderna, sob a direção da professora Marise Brito, pelas alunas das escolas secundárias da Capital, sendo muito aplaudida pelo grande público. (Fonte: SANTOS, Mary. Educação (crônicas). São Luís: SIOGE, 1988,p. 11-112)


QUERIDO PROFESSOR DIMAS: RECORDAR É VIVER Para KOWALSKI (2000) no surgimento dos rituais comunitários, responsáveis pelas transformações de sensações encadeadas por impulsos amplos, que vêm de fora: do remo, do futebol, as corridas de carro, o carnaval, o espetáculo da emoção e o delírio das multidões, estabeleceu-se uma sintonia entre a quebra da identidade colonial e a construção da identidade nacional, coletiva, cultural, brasileira. O esporte é então concebido como uma escola de coragem e de virilidade, capaz de ajudar a modelar o caráter e estimular a vontade de vencer, que se conforma às regras, que adota uma atitude exemplar - o fair-play -, jogo justo e honesto, comportamento cavalheiresco: "Por outro lado, as exigências econômicas e culturais para praticar as novas modalidades esportivas... reforçariam ainda mais a conotação de que esta prática cultural se afirmava como um signo de distinção social". (p. 393). É nesse sentido específico que certos esportes aparecem como elemento de diferenciação do estilo de vida. A prática esportiva torna-se um indicativo de pertencimento social, tendo em vista que a prática de certas modalidades (tênis, crickt, crockt, remo) estava condicionada, em Maranhão, à participação em associações esportivas (os clubs), enquanto outras (foot-ball) vinham alcançando uma maior difusão social, irradiando-se por todos os lados. Emblemático, desse período romântico do esporte maranhense - e em especial do futebol - é a biografia esportiva de vários "sportman" e "cracks" do futebol da época - que abrange os anos 15 a 45. Tomamos por base as matérias publicadas no jornal "O Esporte", nascido no ano de 1947, - "órgão puramente esportivo" - que tinha por objetivo "incentivar ainda mais a prática dos desportos na capital maranhense, para que possamos manter a posição de prestígio que ocupamos no cenário esportivo nacional, depois das vitórias de 1946". Fundado, dirigido e escrito por José Ribamar Bogéa, sua primeira edição circulou no dia 21 de julho de 1947 e sobreviveu até 1951... Em uma sessão denominada "Recordar é Viver", são oferecidos aos leitores biografias de vários "sportman" e de cracks do futebol, em que se pode traçar como se deu o desenvolvimento do esporte em terras maranhenses, após a implantação na primeira década dos "novecento" (1900). As primeiras biografias referiam-se a atletas em atividades, em atuação nos diversos clubes da capital - Moto Clube, Sampaio Corrêa, Maranhão Atlético, e Tupan, responsáveis pelas conquistas naquele ano de 1946. Em 10 de setembro de 1947, com o título "um clube que honra o patrimônio esportivo de nosso estado" é anunciado o 10º aniversário do glorioso Moto Clube, o poderoso rubro-negro de Santa Izabel. O garboso Moto Clube, por ocasião de seu 10º aniversario - 13 de setembro - estava passando por uma crise em seu departamento de futebol, por falta de... Técnico. No relatório da diretoria, César Aboud i prestava contas de sua gestão iniciada em 14 de setembro de 1944, e falava que as exigências técnicas, cada vez mais prementes, fizeram com que o clube abraçasse o profissionalismo, investindo soma apreciável na aquisição de atletas, mas os resultados foram compensadores - foram conquistados três campeonatos de futebol - 44, 45 e 46. No basquetebol, também fora campeão em 46 e vice no Voleibol. No Atletismo, o Moto participou de algumas provas, destacando-se a Corrida de São Silvestre, tendo conseguido o primeiro lugar, por equipes. Era o início do profissionalismo no futebol maranhense, com a importação de atletas de nível, especialmente do Ceará e Pernambuco. Reinicio, na verdade, pois em 1910 o FAC começa a contratação de jogadores de outros estados e foi Nhozinho Santos - e não César Aboud -, quem começou essa prática, muito embora antes do Moto Club se profissionalizar, o Sampaio Corrêa já iniciara as importações e, o Moto segundo se depreende do relatório de atividades de seu decimo aniversário -, fez apenas se ajustar naquilo que vinha acontecendo, para não ficar atras, tecnicamente. Já naqueles anos reclamava-se dessa importação desenfreada, em detrimento da "prata da casa".


Barbosa Filho, em reportagem publicada dia 28 de julho de 1947, apresenta-nos a "biografia de um crack": ZUZA, conhecido como "o professor", meia canhoto do Moto Clube e considerado o melhor meia do norte em sua posição. José Ferreira Filho, seu nome de batismo, nasceu em 16 de agosto de 1916, tendo começado a jogar futebol em sua cidade natal, Caruarú, ingressando no quadro infantil do Central; em 1935, passa para o quadro de aspirantes e em seguida, para o de titulares. Em 1937, conquista o vice-campeonato do torneio intermunicipal. No ano seguinte, o Caruaru participa do campeonato da primeira divisão, mas não vai até o final, licenciando-se; Zuza passa a integrar, então, o time do América. Em 1938, está no Ferroviário, atuando por duas temporadas. Nos anos de 1941 a 1945, vamos encontrá-lo no Ceará Sporting Clube. Como o Ceará fora suspenso pela FCD, o Moto Clube vai buscá-lo - naquele ano, o Moto Clube forma seu time com profissionais -. Além de Zuza, vem também Rui. Zuza participou daquele cérebre jogo entre Mineiros 3 x 7 Maranhenses ... (O Esporte, São Luís, 28 de julho de 1947, p. 2.) Outro atleta que vinha se destacando, também importado, era REGINALDO do Carmo Menezes; nascido no Recife, em 16 de julho de 1915, começou com o futebol aos 12 anos, no Norte América e depois, no Oceano, quadros "dos pés descalços" do subúrbio de Santo Amaro. Reginaldo passa a jogar bola em troca de algumas cambadas de peixe, doadas pelo presidente do Norte América; passou também pelo Íbis. No ano de 1947, REGI já defendia as cores do Sampaio Corrêa e seu maior prazer era vencer o MAC (O Esporte, São Luís, 03 de agosto de 1947, p. 2.). Comentado até os dias de hoje, GEGECA - Argemiro Martins foi outro pernambucano a ingressar no Sampaio Corrêa. No seu primeiro treino, demonstrou muita classe e entusiasmo. Também veio do Íbis, como Reginaldo. Gegeca nasceu no Recife, em 27 de junho de 1920, sendo seu primeiro clube o Maurití, do Porto da Madeira, passando para o Encruzilhada, onde atuou ao lado de Orlando, China e outros grandes azes do futebol nacional. Aos 17 anos deixou de jogar com os "pés descalços" e ingressou no Santa Cruz, jogando até 1940, quando se transferiu para o Íbis. Em 1943, estava de volta ao Santa Cruz, retornou ao Íbis, lá permanecendo até receber a proposta do Sampaio Corrêa (O Esporte, São Luís, 10 de agosto de 1947, p. 2). AREL - "ele aprendeu na mesma escola de Expedito e Ubaldo"- a reportagem começa exaltando o fato de o MAC, apesar de não ter grandes títulos, tem a fama de celeiros de cracks. Isso, já em 1947! Já era tido como uma grande "fábrica" de elementos que se destacavam no cenário nacional, como Expedito e Ubaldo, que brilhavam naquele ano no Rio de Janeiro e São Paulo e que haviam defendido o Sampaio Corrêa em 1943. Outro elemento que poderia estar entre os grandes azes do futebol nacional era o médio Arel. Tendo passado pelo Maranhão Atlético Clube em 1938, depois jogou peladas no campo do Luso Brasileiro, do Vasco da Gama e no Tupan. Foi campeão pelo MAC em 1943. Era natural do Pará, embora tido como maranhense (O Esporte, São Luís, 13 de agosto de 1947, p. 2). HAROLDO Almeida e Silva nasceu em 25 de março de 1922, no Rio de Janeiro. Aos 15 anos já jogava futebol nos campos das Laranjeiras, mesmo bairro onde nasceu. Jogou no Castelo Branco, clube de bairro, passando para o São Cristóvão, até 1945, quando veio para o Moto Clube, indicado por um senhor Soares, da Federação Metropolitana. Em 1947, estava sem contrato e desejando voltar para o Rio de Janeiro. Motivo - vida cara e ordenado pequeno (O Esporte, São Luís, 17 de agosto de 1947, p. 2). COELHO - José Coelho Neto nasceu em Fortaleza em 12 de abril de 1922. Começou a jogar pelo Cruzeiro de Camocim, para onde seu pai - funcionário público - foi transferido, em 1935. Em 1939, seu pai volta a Fortaleza e Coelho - já com fama de bom centroavante - passa a defender as cores do Realengo, time do bairro de Aldeotas. Em fins de 1940, deixa o time de João Bombeiro e transfere-se para o Riachuelo, onde joga até 1942, sagrando-se vice-campeão da 2ª divisão. Em 1943, esteve no Baependí e em 1944, ingressou no Fortaleza, como ponta-direita. Depois de vários jogos, inclusive um campeonato brasileiro, veio para o MAC, chegando aqui em 9 de dezembro de 1945. - o avante do MAC contava com apenas três anos de profissionalismo (O Esporte, São Luís, 24 de agosto de 1947, p. 2). GALEGO - jogador do Moto Clube, não se saia bem nos jogos locais, mas nos fora da cidade... Chegou a ser cogitado até para a seleção brasileira... Natural de Belém do Pará, onde nasceu em 26 de julho de 1921, começou a jogar futebol no juvenil do Paissandú, em 1937. Troca o Paissandú pelo União e em 1940 passa para o Tuna Luso Comercial. Transfere-se para o Recife, onde joga no América. Com saudades de casa, volta a Belém e, sem contrato, retornou para Recife, contratado pelo Santa Cruz. Passa a jogar pelo


Maguari e quando este é extinto, vem para São Luís, jogar pelo Moto Clube (O Esporte, São Luís, 31 de agosto de 1947) Mas esses eram os cracks da bola, importados de outras plagas e que iniciaram a profissionalização de nosso futebol, ganhando exclusivamente para jogar. Muitos maranhenses tiveram destaque, não só no futebol, mas em outras modalidades. O ano de 1946 foi considerado o de maior destaque para os esportes maranhenses, em especial, para o Futebol, com os clubes locais ganhando inúmeras partidas por esse Brasil todo - Ceará, Belém, Recife, assim como de clubes de outras partes, quando vinham para São Luís, se apresentar, sofriam derrotas sem explicação, como aconteceu com o Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo... Também no Basquetebol o Maranhão teve destaque em toda a região norte-nordeste, assim como no voleibol e alguns atletas apareceram no Atletismo... A biografia esportiva de RAIMUNDO ROCHA dá-nos idéia de como foram aqueles primeiros tempos, após a inauguração do futebol e a introdução dos esportes modernos em Maranhão, após a fundação da Associação Maranhense de Esportes Amadores - A.M.E.A. DICO, como era conhecido, além de ter sido campeão várias vezes, como futebolista, alcançou outros títulos sugestivos como campeão regional de Atletismo, Voleibol, Basquetebol, etc.: era um atleta completo. Nasceu a 11 de fevereiro de 1903 em Barro Vermelho, município de Viana. Ainda pequeno, veio para São Luís, vindo a residir na Rua da Manga, 46. Junto com um amigo, Elízio, formou o Paissandú - um clube dos "pés descalços" - que nos dá a exata dimensão de como esses clubes eram formados: quatro forquilhas serviam como áreas e era transportado para os locais escolhidos para as lutas - Desterro, Madre Deus, Largo de São Pantaleão, Santiago. Logo que a turma chegava, tratava de fazer os buracos e enterrar as forquilhas, para que fossem iniciadas as disputas. Nessa época, Dico era auxiliar de alfaiate e era quem confeccionava as bolas. Arrumava bexiga de boi no Matadouro e fazia de taboca de mamão a respectiva bomba para encher a esfera. Depois de cheias, as bexigas eram cobertas de lona, para ficarem mais resistentes; fazia sempre cinco a seis bolas de cada vez, prevendo o aparecimento dos policiais e a prisão das esferas, pois quando os soldados apareciam ninguém se lembrava da bola que estava em jogo. Todos tratavam de arrancar as forquilhas e correr para voltar depois e armar o campo, a fim de que a luta fosse reiniciada, com nova bola. A primeira posição de Dico foi ponta-direita. Em 1918, ele já figurava no Fênix e atuava como médio; em 1919, já era goleiro de fama e estava jogando no Luso, sagrando-se campeão maranhense. Nessa época, o time de Antero Novaes formava com Negreiros, Cantuária, Cabral, Sezão, Kepler, Santa Rosa (o velho Santa Rosa dos Correios e Telégrafos...), Santana, Dantas, Joãozinho, Rochinha e outros. Com esse time, o Luso foi bi-campeão, em 1920. Dico foi para Fortaleza, a convite do Guarani, pois iriam participar pela primeira vez de um campeonato brasileiro e precisavam de um bom guarda-metas. Jogou por três anos. Após a temporada em Ceará, Dico volta a São Luís, para o mesmo Luso, jogando uma temporada, quando o time foi extinto pelo Dr. Tarquínio Lopes... Terminado o Luso, Hermínio Bello formou o América. Dico ficou pouco tempo, passando-se para um novo clube - o Sírio Brasileiro, onde também teve destaque como guarda-metas. O time da Montanha Russa tinha em sua diretoria Silvio Tavares, Chafi Saback, Antoninho, Simões, Jamil Jorge, Pires de Castro, Fiquene, Benedito Metre e outros; dentre os jogadores, destacavam-se Stelman Porto, César Aboud, Ferdinando Aguiar, Toninho, Osvaldo, Amintas, e outros. Após ser campeão pelo Sírio, Dico transfere-se para o MAC, em conseqüência da cisão que houve no grêmio dos árabes e que deu origem ao aparecimento do grêmio atleticano. Seus companheiros eram: Enes, Adolfo, Filemon, Stelman, Bombom, Babí, Silvio, Antenor, Chaves, Driblador, etc. Depois, Dico abandonou a prática de futebol, dedicando-se ao cargo de técnico do próprio MAC, até o dia em que César Aboud tomou conta dos "cracks" maranhenses. Um ano depois, Dico figurava como técnico do FAC, em uma excursão vitoriosa à Teresina. Na volta, passou a ser treinador do Moto Clube. Não esse Moto Clube que conhecemos, cheio de valores e elementos importados - esta reportagem foi escrita em 1947... -; quando Dico treinava o Moto Clube, o grêmio da Fabril contava apenas com Mourão, Jabá, 91, Zequinha, Barbado, Veloz, Barata...


Dico, em toda a sua carreira esportiva, ganhou 48 medalhas, sendo 35 de ouro: em futebol; corrida rústica; provas de velocidade; salto com vara; arremesso do peso; lançamento de dardo; lançamento de disco; volei; basquete; e boxe. Encerrou a carreira como árbitro de futebol (O Esporte, São Luís, 28 de novembro de 1947, p. 2). Outro atleta de destaque, que nos dá uma idéia de como surgiam os grandes valores do esporte no passado, especialmente do que podemos chamar de "Liga dos Pés Descalços" - as pequenas agremiações que surgiam da vontade de um grupo de garotos em praticar algum esporte - foi PAULO MELADO, como era conhecido Paulo Silva. Nasceu em São Luís em 10 de janeiro de 1912, na Rua do Machado, próximo à Praia do Caju. Começou a jogar futebol no corredor da "Pacotilha", ao lado de Badico e outros veteranos. O corredor da "Pacotilha" não era um campo de futebol, pois era muito estreito e servia apenas para as clássicas partidas de bola de meia. O Leãozinho F. C. da rua Afonso Pena foi o primeiro clube de Paulo Melado; era dirigido por Carlos Moreira e eram seus companheiros: Tunico (irmão de Mourãozinho), Lúcio, Eusébio e outros. Depois do Leãozinho, foi para o Tupi, disputar a primeira divisão da antiga AMEA. Sentiu os efeitos da mudança, pois quando jogava no Leãozinho, as traves tinham apenas 4 metros de largura e uns 2 metros de altura. Entretanto, aos poucos foi se acostumando aos 7 metros - era goleiro - e se tornou ídolo da família 'indígena'. Nessa época, jogavam pelo Tupy: Driblador, Pé de Remo, Café, Cação, João Pretinho e outros. Foram vicecampeões da cidade. Em 1928, transferiu-se para o Vasco da Gama, jogando ao lado de Cecílio, Neófito, Massaricão, João Pretinho, até 1931, quando recebeu convite de Carneiro Maia e foi para o América. Por três anos seguidos foram vice-campeões da cidade: Paulo Melado (gol); Raiol e Grajaú; João Franco, Neófito e Vicente Rego; Santana, Papacina, Veríssimo, Cristóvão e Corea. Em 1934, estava convocado para a seleção maranhense e em 1935, passa para o Sírio Brasileiro, jogando até a sua extinção. Em 1938, após uma passagem pelo Itapecurú - tem uma desilusão amorosa e volta para São Luís, vindo a integrar o quadro do Sampaio Corrêa. Após algumas partidas, transfere-se para Teresina. Em 1941, estava de volta, desta vez para jogar no Moto Clube, formando ao lado de Zezico, Juba, 91, Clímaco, Mojoba, Barata, Mourão, Brandão, Aderson, Valter e outros; o técnico, era o tenente José Ribamar Raposo (O Esporte, São Luís, 30 de novembro de 1947, p. 2). Outro crack do futebol do passado, que nos dá uma idéia de como funcionava a "Liga dos Pés Descalços", nesses primeiros tempos, de consolidação do esporte maranhense e em especial, do futebol - foi TANGA, como era conhecido João Geraldo Pestana; nascido em São Luís em 24 de setembro de 1901, começou a se destacar no campo do XI Maranhense, de Gentil Silva, próximo ao cais. Jogava na equipe do Maranguape, e as partidas terminavam na hora do almoço e prosseguiam à tarde no corredor da Pacotilha. Tanga muitas vezes se encontrou com Dico... O presidente do Fênix, em 1918, fez o convite para defender as cores do clube. A sede do Fênix, nessa época, ficava nos fundos da vacaria de D. Lúcia, na rua da Independência. O amadorismo, nessa época, era um fato, com os jogadores se cotizando para comparem as equipagens e alugar os campos de jogo. Fazia-se o esporte, por esporte... Quando foi para o Fênix, Tanga levou junto o amigo Dico. O mesmo acontecendo em 1919, quando passou para o Luso. Após ter sido campeão, em 1920, seguiu, em companhia de Dico, para o Ceará, para defender as cores do Guarani. Lá, conseguiu um bom destaque, após um período ruim e somente voltou a São Luís quando foi convocado. Ao regressar, passou a defender as cores do FAC. Porém, disputou apenas um jogo: o grêmio "milionário" - pertencia à elite - depois de abater o Fortaleza por 3 x 0, foi sepultado, fincando em liberdade cracks de projeção como Paulo Cunha, Rivas, Astrolábio, Bacalhau, Dávila, Tanga, Guilhonzinho, Enéas. Com a morte do FAC, surgiu o Santa Cruz, clube de elite, contando com Ricardo Costa, Agenor Vieira, Luzico Guterres, Zé Ramos, Aníbal Verry, Zé Joaquim, Bernardino Cunha, Zé Melo, e outros. Após jogar no Santa Cruz, Tanga abandona o futebol (O Esporte, São Luís, 14 de dezembro de 1947, p. 2). MASSARIQUINHO - Jaime Damião da Costa - nasceu em São Luís no dia 12 de fevereiro de 1906. Começou a jogar bola no 18 de Novembro, de Alfredo da Bateria, equipe do Gazômetro, e contava com o concurso de Paulo Melado e João Canhoteiro; depois, Jaime ingressa no Leãozinho F.C.


No dia em que fundaram o Sampaio Corrêa, na casa de Inácio Coxo, na Praça da Alegria, Jaime estava presente, sendo sócio-fundador do tricolor de São Pantaleão. No dia da estréia do Sampaio, compareceu ao campo, mas com a camisa do Leãozinho para jogar contra o Iole, na preliminar - não era bom o suficiente para jogar no clube que ajudara a fundar -; Inácio Coxo, Rochinha, Vítor, João Catá, Nhá Bá e Teodorico também jogaram pelo Leãozinho e venceram por 1 x 0, gol de Jaime. O Sampaio, jogando contra o Luso, também venceu por 1 x 0 e formou com Rato; Zénovais e João Ferreira; Rui Bride, Chico Bola e Raiol; Tunilinga, Mundiquinho, Zezico, Lobo e João Macaco. Jaime só estreou no Sampaio em 1928, contra o Tupan - 7 x 4 para o Sampaio. Prosseguiu com sua jornada no Sampaio até 1937, sendo campeão em 28 e 29; vice em 30 e 31; campeão em 32, 33 e 34; vice em 35. Em 36, não houve campeonato na cidade, devido a uma dissidência. Em 1937, está no MAC, sagrando-se campeão; 38, vice-campeão - o título foi do Tupan -; em 1939, volta para o Sampaio, sagrandose campeão nesse ano e em 1940; vice em 41; campeão em 41 e vice em 43, ano em que o Moto Clube alcançou o ponto máximo pela primeira vez. Jaime formou na seleção maranhense de 1930 a 1941, sempre com boa atuação, não sendo "barrado" uma vez sequer (O Esporte, São Luís, 14 de janeiro de 1948, p. 2). CARLOS VARELA nasceu em São Luís no dia 1º de novembro de 1906. Começou a jogar futebol nas peladas do Largo da Conceição, conhecido como Estádio Varela, ponto de exibição de Severino, Pé de Remo, Mourão, Agenor Vieira, Carlos Tajra, João Almeida... Depois das peladas do Largo da Conceição, Varela passou a jogar no São Luiz, do Colégio dos Maristas, transferindo-se, em seguida, para o União, de Saladino Cruz, onde tinha a companhia dos cracks Sarrabulho e Almeida. Depois do São Luiz, passou para o Baluarte F.C., se exibindo no campo do Onze Maranhense, no Cais, juntamente com João Almeida, Cabelo de Ouro, Kenard, etc. Em 1922, com 16 anos, Varela ingressou no juvenil do FAC. Em 1924, juntamente com Hilton Monteiro, funda o Dublin F. Clube, contando na estréia com Belmiro, Alemão, Gregório, Zé da Quinta, Valério Monteiro, Severino, Delfim Nunes, Clarindo, e outros. Foi no Dublin que Varela encerrou a sua carreira esportiva em 1927, quando o clube foi extinto (O Esporte, São Luís, 18 de janeiro de 1948, p. 2). VITAL FREITAS nasceu em São Luís e começou a bater bola no campo da Igreja São Pantaleão, contra os times do catecismo do Desterro, Conceição, Carmo, Sé e outras igrejas. Depois, Vital passou a atuar no quintal de Chico Rocha, no Apicum e num terreno de Manduca, à rua do Outeiro, onde nasceu o Sampaio Corrêa. Nos campos da Camboa, Madre Deus, Quinta do Barão, Praça da Alegria, Largo de Santiago, Praça Clodomir Cardoso, ele aperfeiçoou a sua "chuteira”!... E tinha como parceiros naqueles tempos, os cracks Manoel Beleza, Nhá Bá, Virador, Inácio Coxo, Pedro Gojoba, Daniel Rocha, Nemézio, Zé Novais, Valdemar Sá, Coelho, Paulo Lobo, Antônio Benfica e outros. Esses elementos, sob a orientação de Vital e Natalino Cruz, fundaram o Sampaio Corrêa em 1923, inspirados pelo grande feito do aviador patrício Pinto Martins que, com Valter Hilton, fez o "raid" das duas Américas num hidroavião que tinha o nome de "Sampaio Corrêa II". Vital Freitas sentiu-se bem em ter oferecido a primeira camisa em que o esquadrão "boliviano" envergou no retângulo de grama e que tinha a gola verde, todo o corpo amarelo e uma bola vermelha no peito esquerdo. O Sampaio Corrêa estreou em uma partida contra o Luso Brasileiro, à época o líder invicto do futebol maranhense. Foi árbitro o veterano Antero Novais e o Sampaio venceu por 1 x 0. Além de diretor do Sampaio, Vital foi árbitro da AMEA, da qual foi fundador juntamente com Guilhonzinho Coelho e Antônio Carneiro Maia, tendo trabalhado para a fundação do Moto clube, ao lado de Vítor Santos (O Esporte, São Luís, 05 de abril de 1948, p. 2). PAULO KRUGER DE OLIVEIRA nasceu em São Luís em 28 de fevereiro de 1901, no Bairro do Diamante e pertencia à família Ramos de Oliveira. Começou a jogar futebol no Instituto Maranhense, de Oscar de Barros. Em 1916, na casa de Manoel Guimarães, na Rua Rio Branco, fundou o Barroso Futebol Clube. Este clube tinha entre seus craques Carlos de Moraes Rêgo - irmão do professor Luis Rêgo - e Tasso Serra. Depois que o Barroso terminou, em 1918, Paulo atende convite de Saturnino Bello e Antero Matos e transfere-se para o FAC, ao lado de Agenor Vieira e Joaquim Carvalho.


Oliveira passa a jogar no gol da equipe "milionária", ao lado de Cantuária, Roxura, Saracura, Enéas, Carlito, Danilo e outros. Em 1920, Paulo Kruger abandona o FAC, passando a dirigir o Santa Cruz. Três anos depois volta a jogar, até 1925. Abandonando o gol em definitivo. Foi secretário da AMEA e a presidiu em 1930 (O Esporte, São Luís, 29 de fevereiro de 1948, p. 2). ABRAHÃO HELUY - o Abrahão do Bar Garota, hoje em dia (1948) só tem barriga; todavia já foi um craque de bola. Foi goleiro exímio. Nasceu em 3 de julho de 1905 e começou a jogar futebol no time do Chico Gomes. A primeira camisa que vestiu foi a do Onze Maranhense, de Carvalho Branco, em 1914, ao lado de Gentil Silva e Polari Maia. Depois (1916) ingressou no Baluarte, fazendo companhia a Carlos Tajra, Kenard, João Metre e outros. Em 1917, transferiu-se para o América, onde teve como companheiro Palmério. Após breve temporada, passou-se para o juvenil do Luso Brasileiro, onde fazia misérias no arco, enquanto Luiz Vieira, Silva, Raimundo e outros elementos que atuavam na retaguarda, o defendiam contra os assaltos dos adversários. Quando cansou de jogar no Luso, rumou para o FAC, encerrando a sua carreira em 1921 (O ESPORTE, São Luís, 22 de fevereiro de 1948, p. 2). Francisco Tavares - o CHICO BOLA - nasceu em São Luís, à rua do Passeio, no dia 3 de dezembro de 1903. Fã do Sampaio Corrêa, daqueles que gritam em campo quando seu time é prejudicado, começou a bater bola em 1918, no Largo de São Pantaleão, no terreno onde hoje se ergue a Maternidade, ao lado de Zizico e Tutrubinga. O primeiro clube organizado de que participou foi o Cruz Vermelha, do dr. Hamelete Godois, onde jogava no ataque. Depois, ingressou no Oriente, um clube da 2ª Divisão, de Almir Vasconcelos; seu bairro passou a ser, então, o Santiago. Afastou-se por algum tempo do futebol, quando o Oriente foi extinto, retornando para jogar no Sampaio, levado por Almir Vasconcelos, em 1925. Os colegas de bola eram, nessa época, Zé Ferreira, Munduquinha. Lobo, Raiol, Novais, e outros. Em 1926, deixou a Bolívia transferindo-se para o Luso, onde foi campeão em 1926 e 27. Nessa época teve o auge de sua carreira, tendo formado na seleção maranhense por duas vezes; na primeira vez, perderam para o Pará por 5 x 1 e no ano seguinte, fomos eliminados pelos cearenses por 3 x 0. No jogo efetuado em Belém, em 1926, foi a primeira vez que uma seleção saiu para participar de um campeonato brasileiro, formando com Tomaz; Colares e Grajaú; Guanabara, Bola e Jagunço; Tunubinga, Mundiquinho, Zezico, Lobo e Raiol. Chico Bola jogou no Luso até o dia em que o grêmio "azulino' foi extinto. Depois do Luso, formou no quadro do Santa Cruz, abandonando o futebol definitivamente em 1929. A maior emoção de Chico Bola no futebol verificou-se em 1916, quando o Sampaio estreou nos gramados oficiais. O grêmio tricolor viera dos subúrbio, com o concurso de jogadores sem experi6encia. O Luso, ao contrário, possuía grandes craks, como Dico, Negreiros, Wanick, Rochinha e muitos outros. Mas o Sampaio, fazendo alarde de invejável fibra, superou o Luso por 1 x 0. Chico saiu-se a brilhar nesse jogo., Raiol marcou o goal do Sampaio...( O ESPORTE, São Luís, 21 de março de 1948, p. 2). Outro nome que merece ser destacado, como autor de feitos magníficos no passado, no terreno esportivo, é o de SIMÃO FÉLIX, um esportista que chegou a ser perfeito dada a grande quantidade de esportes que praticou e vitórias soberbas que conseguiu alcançar. Simão Félix, maranhense de Grajaú, onde nasceu em 3 de maio de 1908, praticou o futebol, o basquetebol, voleibol, motociclismo, natação, remo e muitas outras modalidades. Era um autêntico campeão. Veio para São Luís em 1915, quando tinha 7 anos de idade, localizando-se na Rua da Palma. Largo das Mercês e Quartel da Polícia [onde hoje é o Convento das Mercês]; foram os seus primeiros locais de diversão. Em tais locais, começou a chutar "bola de meia" e aprender a correr, em vista de aproximação dos policiais. Depois do futebol, passou a ser remador. Construiu a piscina do Genipapeiro, em companhia de outros colegas e fez daquele local o seu ponto de recreio. Possuía um bom "yole" e remava com relativa facilidade. Como futebolista, jogava pelo Sírio. Faltava um guardião para o time da Montanha Russa e Simão, que era bamba no basquete e volei, foi encarregado de guarnecer a cidadela do Sírio. No dia da estréia do grêmio árabe, Simão fez defesas espetaculares, chegando a defender três penalidades. O Sírio venceu o Libertador por 1 x 0. Antoninho, Simão, Fuad Duailibe, Chafi Heluy, César Aboud, Amintas Pires de Castro, Silva e Jaime também colaboraram bastante. Simão disputou várias partidas pelo Sírio, porém devido a seu estado de saúde deixou de praticar esportes por algum tempo, indo para o interior do Estado. Quando não quis mais jogar como


goleiro, João Mandareck estava fazendo misérias no arco, Simão passou a zaga, até a extinção do Sírio, abandonando o futebol. Continuou apenas com a prática da bola-ao-cesto, bola ao ar (volei ?), atletismo, motociclismo, tênis, remo e outros esportes. Simão Félix deixou de praticar o basquete e o volei em 1947, quando figurou na equipe do Pif-Paf, num campeonato interno organizado pelo Moto Clube. O crack praticou também o box, tendo disputado uma luta no Éden (cine Éden, onde hoje é a loja Marisa, na Rua Grande) contra um pugilista cearense. Era louco por corrida de bicicleta e motocicleta. Como também a pé, demonstrando sempre muita resistência. No lançamento do peso, do disco e do dardo era bamba, o mesmo acontecendo nos 100 metros e no salto em extensão (O ESPORTE, São Luís, 11 de abril de 1948, p. 2). RAUL ANDRADE nasceu em Belém do Pará, em 15 de maio de 1891. Estudante do Ginásio Paes de Carvalho, aprendeu a manejar o balão, tendo iniciado sua carreira esportiva aos 12 anos, em 1903. E quando foi fundado o Esporte F. C. em 1908, o crack Raul já dominava bem o balão, atuando na aza média e na zaga. Seus colegas eram Moraes, Coronel Castanha Podre e outros. Três anos depois, o Esporte mudava de nome, passando a ser o Time Negro (hoje, Paissandú). Em 1914, Raul veio a São Luís a passeio (a Primeira Guerra Mundial estava começando...) para visitar sua família e, em companhia de outros esportistas, fundou dois times com os nomes de França F. C. e Alemão F. C., com as camisas dos citados grêmios correspondentes às bandeiras francesas e alemãs. Em 1915, era fundado o Foot-Ball Athletic Club - FAC - o antigo Fabril Athletic Club, com outra denominação, mas ainda funcionando no mesmo local, com as mesmas pessoas. O grêmio "milionário" pertencia à elite empresarial e comercial ludovicence - possuía dois grandes quadros - o Red Futebol Clube e o Black Esporte Clube. A diretoria era uma só, entretanto sempre existiu rivalidade entre os integrantes do Red e do Black. Nessa época, o futebol maranhense já possuía três bons clubes, que eram os quadros do Red e do Black (FAC) e o XI Maranhense. Nhozinho Santos e Saturnino Belo eram os principais dirigentes. Em 1916, com o concurso de alguns elementos do FAC e alguns esportistas nascia o Luso Brasileiro, vindo então a rivalidade que deu origem aos tradicionais clássicos - Luso x FAC, a maior sensação do futebol maranhense do passado. O Dr. Raul deixou de praticar o futebol quando o Remo fez sua primeira visita ao Maranhão. Ainda enfrentou a turma paraense, jogando pelo Red. Além de ser sócio fundador do FAC, passou a ser diretor e foi tesoureiro da antiga AMEA (O ESPORTE, São Luís, 18 de abril de 1948, p. 2). FILESMON GUTERRES é natural de Santo Antônio, município de Pinheiro, onde nasceu em 22 de novembro de 1909. Seu primeiro clube foi o Red and White, da cidade de Pinheiro. Quando tinha 17 anos de idade, veio para São Luís procurar trabalho e estudar. Passou a morar no Beco da Lapa, 55, na casa de Josimo Carvalho. Após dois meses em São Luís, foi levado por João Baueres para o Sírio Brasileiro. Sua primeira partida foi contra o Luso Brasileiro, de Newton Belo, Chico Bola, Guilhon, Amintas Guterres, Balduíno; enquanto o Sírio contou com Augusto, Fuá (Fuad ?) e Simão Félix; César Aboud, Filemon e Nariz; Sílvio Tavares, Jaime, Pires de Castro e Eupídio. Em 1932, abandonou o Sírio, devido a um aborrecimento e juntamente com outros colegas, fundaram o Maranhão Atlético Clube. O caso é que o sr, Jurandir Sousa Ramos queria mudar o nome do Sírio e muitos associados não concordaram. Em conseqüência, 86 sócios do grêmio da colônia síria abandonaram o citado esquadrão e fundaram o MAC (O ESPORTE, São Luís, 30 de maio de 1948, p. 2). Outro nome que lembra-nos a glória do esporte maranhense em nosso passado recente foi VALÉRIO MONTEIRO, nascido em Alcântara no dia 1º de abril de 1901. Aos 6 anos veio para a capital. Morando numa vivenda à rua Jacinto Maia, defronte ao antigo Gazômetro, dando suas fugidas para as peladas da Praia do Caju, onde existia, na época, uma verdadeira escola de futebol, tendo conseguido diploma naquela zona atletas como Clarindo, Cabelo, Lucas (Júlio Galas), Beleza e outros. E Valério Monteiro foi um dos elementos preparados na "Universidade Futebolística da Praia do Caju". Valério jogava no Paulistano da Praia do Caju, quando foi comandado pelo Sr, Jacques Vieira para defender o Spark F. Clube, grêmio da primeira usina elétrica que o Maranhão possuiu. Depois, foi levado pelo português David Martins Sousa para o Luso Brasileiro.


Após um grande período em que o futebol maranhense viveu em abandono, Valério aparece no Sírio como diretor, jogador de futebol e astro do basquete e volei (O ESPORTE, São Luís, 14 de novembro de 1948, p. 2). Outro astro foi JAIME PIRES NEVES, natural de Pindaré-Mirim (antigo Engenho Central). Viveu dos 3 aos 17 anos na Europa - Espanha, depois Portugal, onde estudou e aprendeu a jogar futebol. Aos 18 anos, vamos encontrá-lo em São Luís passando a jogar pelo Materwel, grêmio interno do MAC. No dia 13 de setembro de 1937, Jaime participou da fundação do Moto Clube de São Luís, passando a ser sócio e atleta do clube das motocicletas. Estreou o Moto em campos oficiais, jogando contra o MAC, com o placar de 2 x 2. Ainda jogou até 1941, quando César Aboud começou a contratar jogadores para o seu onze... (O ESPORTE, São Luís, 26 de junho de 1949, p. 4) LUIZ DE MORAES REGO - é natural do Maranhão. Nasceu em 28 de outubro de 1906, no lar de João Maia de Moraes Rego e Custódia Veloso de Moraes Rego, à rua da Palma, 14, tendo aprendido as primeiras letras na Escola Modelo Benedito Leite. Futebol para Luiz Rego começou muito cedo; ele fazia parte das peladas da Praça Antônio Lobo, em companhia de Antônio Frazão, José Ramos, Júlio Pinto, Marcelino Conceição, Totó Passos, Fernando Viana, e outros. Jogava na ponta canhota e muitos candieiros de gás andaram quebrando com seus violentos petardos. Luiz Rego nunca se esqueceu daqueles tempos de peladas, lembrando que os treinos aconteciam no corredor de um sobradão da Rua da Cruz, entre a rua do Alecrim e Santo Antônio, sob a luz de uma lamparina, às 4 horas da madrugada. Nessa época, tinha 14 anos de idade. Na Escola Normal, jogava no Espartaco, um clube formado exclusivamente por alunos daquele estabelecimento de ensino; seus colegas eram Oldir, Valdir Vinhaes, Carlos Costa, José Costa, José Ribamar Castro, Jaime Guterres, Peri Costa, e outros. E como adversário do Espartaco apareceu logo depois o "João Rego", clube formado por Antônio Lopes, que contava com Frazão, Penaforte, Aragão, Clodomir Oliveira e Luiz Aranha. Quando passou para a Escola de Farmácia, mudou para o time dessa escola, formando com Milton Paraíso, Chareta e Frazão. Em 1927, quando terminou a Escola de Farmácia, o endiabrado crack passou a ser o respeitado Professor Luiz Rego. Foi diretor da Escola Normal entre 1932 e 1936, tendo sido dono da parte da educação no Governo Paulo Ramos (Diretor de Instrução Pública). A fundação de seu colégio data de 1935. No Colégio de São Luiz sempre cuidou do esporte. Incentivava a prática de jogos, organizava clubes e embaixadas esportivas, que muitas das vezes saiam de São Luís a fim de fazer grandes apresentações em outras plagas vizinhas. Graças à disposição do Professor Luiz Rego, o Colégio de São Luiz formou destacados valores do nosso esporte, dentre os quais podem ser citados Rubem Goulart, José Rosa, José Gonçalves da Silva, Luiz Gonzaga Braga, Valber Pinho, Celso Cantanhede, Americano, Sales, David, Ataliba, Tent. Paiva, Rui Moreira Lima, e muitos outros. Inclusive Dimas, que foi aluno, e depois, professor do Colégio de São Luiz... RINALDI LASSALVIA LAULETA MAIA, nascido São Luís do Maranhão no dia 05 de fevereiro de 1914, filho de Vicente de Deus Saraiva Maia e de Júlia Lauleta Maia; iniciou sua carreira esportiva como crack de futebol, no América - clube formado por garotos do 2º ano do ginásio, e que praticava o "futebol com os pés descalços". Em 1939, o jovem atleta já era jogador do Liceu Maranhense, sagrando-se bicampeão estudantil invicto, nos anos de 1941 e 1942. Apesar de jogar no Liceu, Rinaldi figurava em quadros da 1ª divisão da Federação Maranhense de Desportos - FMD -, primeiramente no Vera Cruz (o clube que nunca perdeu no primeiro tempo...), onde fez "misérias" ao lado de Sarapó, Jenipapo, Cícero, Sales, etc. Depois, figurou na equipe do Sampaio Corrêa. No "Bolívia", Rinaldi foi elemento destacado, muito embora jogasse ao lado de um Domingão. Foi considerado "O Menino de Ouro" da "Bolívia". Em 1941, Rinaldi começa a praticar o Basquetebol, tendo ao lado Gontran Brenha e Eurípedes Chaves e outros, defendendo as cores do Vera Cruz. Nessa época, não havia campeonatos de bola-ao-cesto, contudo, era público e notório que o Vera Cruz era o campeão da cidade. O grêmio do saudoso Gontran apenas tinha como adversário perigoso o quadro do "Oito de Maio". Nas disputas de Volei levava sempre a pior, porém, vencia todos os encontros de bola-ao-cesto. O Vera Cruz era um campeão autêntico...


O melhor ano do esporte para Rinaldi foi 1942. Nessa temporada o jovem atleta conquistou nada menos de três títulos sugestivos: campeão invicto de futebol pelo Sampaio Corrêa; campeão invicto de futebol, pelo Liceu Maranhense; e campeão de basquetebol, pelo Vera Cruz. Em 1943, coberto de louros, Rinaldi embarcou para o Rio de Janeiro, a fim de cursar a Escola Nacional de Educação Física. Na Cidade Maravilhosa, o filho de Vicente de Deus Saraiva Maia conseguiu seu objetivo, formando-se como Professor de Educação Física. Voltou a São Luís em 1945. Muita gente julgou que Rinaldi ainda fosse um crack da esfera. Contudo, mero engano! O jovem atleta apenas apareceu em campo, no dia de seu desembarque, para satisfazer o pedido de amigos, mas fez ver que havia abandonado o futebol em definitivo. Seu esporte predileto passa a ser a bola-ao-cesto. Em 1946, Rinaldi figurava na equipe de basquetebol do Moto, sagrando-se campeão do "Torneio Moto Clube". Quando da visita do "five" rubro-negro a Belém, Rinaldi teve oportunidade de brilhar na capital guajarina e colaborou naquela magnífica campanha dos motenses. Em 1947, Rinaldi tomou outra decisão. Deixou o Moto Clube e tratou de reorganizar o Vera Cruz, seu antigo clube. O seu sonho foi realizado, uma vez que o Vera reapareceu e hoje figura na liderança do campeonato de basquetebol da cidade. E Rinaldi é figura destacada no grêmio cruzmaltense. Atua na guarda, onde se vem destacando, juntamente com o professor Luiz Braga, outra grande figura do basquete maranhense. Cabe ressaltar que o Vera Cruz foi campeão naquele ano. (O Esporte, São Luís, 25 de outubro de 1947, p. 2.) RUBEM TEIXEIRA GOULART iniciou-se no esporte no Colégio de São Luiz, do professor Luis Rego. Em 1935, quando veio de sua cidade natal, Guimarães, principiou jogando futebol no "scratch" do seu educandário, permanecendo no time até 1938. Nesse mesmo período, passou a jogar volley-ball, no Dourado, melhor agremiação existente naquela época, sendo seus companheiros de "team" Boneca, Dias Carneiro, Furtado da Silva, Sócrates, Manola e alguns outros. Do Dourado, transportou-se para as fileiras do União, onde demorou pouco, tendo formado ao lado de Elba, Mitre, Álvaro, Rabelo, etc. Ainda em 1937, foi fundador do Brasil, composto exclusivamente por alunos do Colégio de São Luiz. Nesse mesmo tempo Alexandre Costa criou o Flamengo, o mais acérrimo rival de seu conjunto. Formava no seu "five" elementos do quilate de Mauro Rego, Tenente Paiva, Américo Gonçalves, Boneca, José Alves e Manoel Barros, tendo servido de padrinhos o Dr. Clodoaldo e Altiva Paixão. Encerrando como invulgar brilhantismo o seu curso de ciências e letras, locomoveu-se para a Capital do país, a fim de cursar a Escola Nacional de Educação Física, isto em 1942. Durante dois anos Rubem permaneceu na Cidade Maravilhosa. Seus dias naquele centro esportivo proporcionaram-lhe o ensejo necessário demostrar ao público "guanabarino" o valor de um atleta nortista. Na Escola Nacional de Educação Física conquistou títulos retumbantes. No seio da escola, era um atleta de escola, participando de todos os esportes ali praticados, tendo o seu lugar efetivo nas equipes de volley-ball, basket-ball e atletismo. Foi campeão interno de volley nas competições efetuadas na ENEF; vice-campeão de Halterofilismo, peso médio, além de ter participado das Olimpíadas Universitárias de 1942, nas representações de volley, basket, futebol e atletismo. Alcançou os seguintes lugares nas provas de Atletismo: 2º lugar nos 100 metros rasos, com a marca de 11,2s; 2º em salto em distância num espaço de 6,25 metros; 2º no salto em altura com 1,70 m (igualou também o record); obteve logar em arremesso do peso com 12 metros; sagrando-se ainda campeão por equipe no revezamento 4 x 100 metros. Depois da brilhante temporada em São Paulo, participou, no ano de 1943, de diversas competições atléticas no Rio, defendendo as cores do Fluminense, saindo-se vice-campeão do decatlo, com 5.007 pontos: 100 metros rasos Salto em distância Arremesso do peso Salto em altura 400 metros rasos 110 m. s/ barreiras Lançamento do disco Salto com vara Lançamento do dardo 1.500 metros rasos

11,0s 6,19m 10,23m 1,70m 54,1s 19,5s 30,16 m 2,70 m 29,25 m 5m29,0s

827 pts. 620 pts. 463 pts. 661 pts. 665 pts. 422 pts. 404 pts. 397 pts. 278 pts. 270 pts.


Total

5.007 pts

Regressando a São Luís, ocupou o cargo de Inspetor de Educação Física do S.E.F.E., permanecendo nesse emprego de março de 1944 a março de 1945, quando foi transferido para a Escola Técnica de São Luís. Além de inspetor do S.E.F.E. foi instrutor de educação física do Colégio Estadual (Liceu ?) e do Colégio de São Luís. Preparou fisicamente os atletas de futebol que, em 1944, derrotou o Ceará por 2 x 0. Como professor na Escola Técnica de São Luís prestou sua valiosa colaboração ao Moto Clube, desempenhando a função de preparador físico da equipe de César Aboud (O ESPORTE, São Luís, 23 de abril de 1950, p. 5-6. ). É nesse ambiente que Dimas chega a São Luís do Maranhão, em 1944...


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


O Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão teve a seguinte matrícula:

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12. 13.

Nome ALBERTO PEREIRA ABREU ALCEMIR FERREIRA DE ARAUJO FILHO AMARO ANTONIO DOS SANTOS ANTONIO ALBERTO CARVALHO ANTONIO CARLOS SILVA CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO GENTIL ALVES CARVALHO HÉLIO DE SÁ ALMEIDA JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES

Mestre Euzamor Mizinho Marinho Paturi CM Bocuda Militar Cacá Socó Baé Leitão Til Gavião Tutuca


14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30.

JOÃO PALHANO JANSEN JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ JORGE LUIS LIMA DE SOUSA JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO JOSÉ TUPINAMBÁ DEVID BORGES LUIS AUGUISTO LIMA LUIS GENEROSO DE ABREU NETO MÁRCIO COSTA CORREA NELSON DE SOUZA GERALDO OSIEL MARTINS FREITAS PEDRO MARCOS SOARES REGINALDO FERREIRA DE SOUSA ROBERTO JAMES SILVA SOARES RUI PINTO CHAGAS SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ VICENTE BRAGA BRASIL

Curió CM Diaco Jorge Navalha Manoel Niltinho Negão Senzala Generoso Mulato Canarinho Indio Pedro Reginaldo Roberto Rui Formiga Atômica Pirrita


LIVRO-ÁLBUM

MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO


GENEALOGIA DE MESTRE DINIZ ZÉ BAIANINHO

MANÉ CATUMBI

DINIZ

NEGÃO

BOCUDA

INDIO DO MARANHÃO

JORGE NAVALHA LEITÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, 2018

NILTINHO


Mestre ABELHA (1979)

JULIO SÉRVIO COELHO SERRA 1967 MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS MESTRE

ABELHA ANGOLA JULIO SÉRVIO COELHO SERRA Viana-Ma, 23 de setembro de 1967 Professor de Capoeira Angola 1999 – Mestre Capoeira Angola - João Pequeno de Pastinha Mestre João Pequeno de Pastinha (João Pereira Dos Santos)

GRUPO/NUCLEO Escola Cortiço do Abelha Me chamo Julio Sérvio Coelho Serra, nasci na cidade de Viana-Ma em 23 de setembro de 1967. Criei-me em São Luis do Maranhão, no mundo da capoeira sou conhecido como Mestre Abelha. Comecei a praticar a capoeira com os meus 12 anos em São Luis. Em 1998- fui pra Salvador a convite do senhor João Pereira Dos Santos, o ilustre Mestre João Pequeno de Pastinha, onde ele me acolheu em sua casa, conseqüentemente me formando professor de capoeira Angola, na sua (academia de João Pequeno de Pastinha Centro Esportivo de Capoeira Angola ) no Lago do Carmo no Forte Santo Antonio e dando o nome da minha escola ( Cortiço do Abelha ).


Em 1999- o Cortiço do Abelha realiza a I Clinica de Capoeira Angola em São Luis do Maranhão trazendo o seu tutor o ilustre Mestre João Pequeno de Pastinha, onde eu tive o privilegio de ser reconhecido (mestre de capoeira Angola, por ele.) 2001- começo a viajar pelo mundo ministrando oficinas e dando palestras sobre a capoeira Angola, incluindo Brasil, Itália, França, Bélgica, Suíça, Holanda, Áustria, Alemanha e Grécia. 2013- eu faço moradia definitiva em Atenas-Grécia, onde organizo a Escola de Capoeira Angola Cortiço do Abelha na Grécia, Brasil, Itália, Austrália e França.


Mestre FRED (1980) FREDERICO PIRES 1963 Entrevista realizada por Fábio Luiz B. Silva Enéas do Espírito Santos Estilo

Mestre

MARANHENSE PARA ANGOLA Patinho

Nome FREDERICO PIRES Filiação Flavio Pires – Delci Pires Local e Data de nascimento São Luis – 03 de fevereiro de 1963 Endereço Rua do Mocambo, 158 – Centro Fone 098 8115 3104 Endereço Eletrônico Academia Brinquedo de Angola – Fonte das Pedras Projeto Capoeira Arte & Ação – Rua do Giz, 158 – Centro HISTÓRIA DE VIDA Quando começou a jogar capoeira tinha apenas 17 anos de idade. Possuiu apenas um mestre conhecido pela alcunha de Patinho, José da Conceição Ramos. Motivo que o levou a jogar capoeira foi lúdico, o musical de apreciação a vida, natureza, espírito, alma, não viver isolado, mas sempre em contato com eterno. Principiou a capoeira no Parque Bom Menino; instituidor da capoeira Angola no Laborarte com Mestre Patinho e Mestre Telmo. Inspirado no seu único mestre devido a lucidez que tem em seu poder.


Mestre MIRINHO (1982) CASEMIRO JOSÉ SALGADO CORREA 1966 Estilo

Mestre

CAPOEIRA MISTA:

Ivandro Costa

ANGOLA E REGIONAL.

Mestre Baê

Nome CASEMIRO JOSÉ SALGADO CORREA Filiação Pai – Pedro Alcântara Correa. - Mãe – Rosires Salgado Correa. Local e Data de nascimento Cururupu – Ma – 08de outubro de 1966. Endereço Rua Porto Caratatiua, n° 23 – Ivar Saldanha. Telefone – 3249 – 4862 Endereço Eletrônico Academia Academia – Rua Santa Rosa, n° 82 – Forquilha. CEP: 65037-200 HISTÓRIA DE VIDA Iniciou a capoeira em 03 de março de 1982, com 15 anos, na Rua do Poço – Bairro da Liberdade, passando poucos dias. Depois mudou para o Laborarte. Na época, não podia colocar o nome identificando capoeira, pois era discriminada. Do Laborarte, passamos para o CCN (Centro de Cultura Negra) com o mesmo estilo (capoeira mista) que durou até 1986. Comecei a dar aulas em Cururupu, onde fui o pioneiro fundando o grupo de capoeira Águia Negra. Posteriormente viajei para Vargem Grande fundando o grupo “Grito de Liberdade”, depois vim para São Luís ficando parado, só estudando a origem da capoeira e da cultura negra para a comprovação dos fatos e a discriminação racial, mas sempre participando de rodas de capoeira.Em 2000, conheci o mestre Baé e até hoje ele é o meu instrutor. Escolhi a capoeira, porque sempre fui voltado para a origem negra, pois a mesma me fascina, está no meu sangue. Nunca lutei outro estilo, só a capoeira; não só pela luta, mas pelos rituais. Considero que o capoeirista é um artista e um artesão, pois o mesmo confecciona seus próprios instrumentos. A capoeira no Maranhão é muito boa, é a das melhores existentes no Brasil, precisando apenas ser lapidada. O meu objetivo em relação a capoeira é resgatar aquela que os negros praticavam na época, a essência da verdadeira capoeira que hoje ficou muito estilizada.

Entrevista realizada por Hermílio Armando Viana Nina O Mestre Mirinho nasceu no dia 8 de outubro de 1966 na cidade de Guimarães (MA). Quando se iniciou na capoeira já contava 16 anos, isto em 1982, pelas mãos de Mestre Evandro, daquela cidade. Em São Luís praticou inicialmente na Rua do Poço da Liberdade e também no Laborarte. Em 1986 montou seu primeiro grupo na cidade de Cururupu (MA), especificamente no Palácio das Festas. No ano seguinte, 1987, cria o denominado grupo Grito da Liberdade na cidade de Vargem Grande (MA). Atualmente Mestre Mirinho é membro do grupo Candieiro. Este grupo desenvolve a capoeira no interior do Estado, já estando nas cidades de Tutóia, Icatú, Paulino Neves, Cachoeira Grande e Morros. O próximo passo é a cidade de Presidente Juscelino. A função de Mestre Mirinho no grupo é transmitir sobre o desenvolvimento e a história da capoeira no Brasil, sua origem, etc. Compreende também o ensino dos rituais, músicas e ritmos, tirados dos diversos instrumentos utilizados. O Mestre Mirinho é casado e tem dois filhos, Ruan de 13 e Carla de 11 anos. Já estão sendo iniciados na capoeira pelo Mestre. Quando na está atuando na Capoeira, o Mestre Mirinho é um comerciante autônomo. Como pessoa é extremamente educada e gentil, conhecedor das origens e importância da Capoeira. Ele defende que a origem da capoeira no


Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantos”, em época remota. Este grupo praticava a capoeira na antiga guarda municipal no Parque Veneza. Para o mestre Mirinho, aquele que transmite a capoeira tem que estar preparado para transmiti-la. É ter uma completa visão do que ser educador. É preciso ser um poeta, um compositor e um cantor também, além de instrumentista. Resume-se em se dar completo, em uma só palavra, amor pela capoeira. Entrevista realizada por: Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra Iniciou-se na capoeira em 1982, com 15 anos de idade, na Rua do Poço, na Liberdade, depois mudou-se para o Laborarte. Do Laborarte passou para o Centro de Cultura Negra, permanecendo até 1986. Começou a dar aulas em Cururupu, fundando o grupo de capoeira Água Negra, depois foi para Vargem Grande, fundando então o Grupo grito de Liberdade. Voltando a São Luís, onde se prendeu aos estudos da Cultura Negra e origem da capoeira. Desde 2000 está com o Mestre Baê. Buscou a capoeira devido a origem negra, onde a mesma o extasiara. Se identificou muito com os rituais, a música. Compara o Capoeirista como um artesão, um artista onde consegue confeccionar sues próprios instrumentos. Acha a Capoeira do Maranhão de excelente qualidade necessitando somente ser lapidada, onde sua meta é regatar a real essência deste maravilhosa arte. Entrevista realizada por: Maria do Socorro Viana Rego Iniciou a capoeira em 03 de março de 1982, com 15 anos, na Rua do Poço – Bairro da Liberdade, passando poucos dias. Depois mudou-se para o Laborarte. Na época não podia colocar o nome identificando capoeira, pois era discriminada. Do Laborarte passamos para o CCN (Centro de Cultura Negra) com o mesmo estilo (capoeira mista) que durou até 1986. Comecei a dar aulas em Cururupu, onde fui o pioneiro fundando o grupo de capoeira Águia Negra. Posteriormente viajei para Vargem Grande fundando o grupo Grito da Liberdade, depois vim para São Luís ficando parado, só estudando a origem da capoeira e da cultura negra para a comprovação dos fatos e a discriminação racial, mas sempre participando de rodas de capoeira. Em 2000, conheci o mestre Baé e até hoje ele é meu instrutor. Escolhi a capoeira porque sempre fui voltado para a origem negra, pois a mesma me fascina, está no sangue. Nunca lutei outro estilo, só a capoeira; não só pela luta, mas pelos rituais. Considero que o capoeirista é um artista e um artesão, pois o mesmo confecciona seus próprios instrumentos. A capoeira no Maranhão é muito boa, é das melhores existentes no Brasil, precisando apenas ser lapidada. O meu objetivo em relação a capoeira é resgatar aquela que os negros praticavam na época, a essência da verdadeira capoeira que hoje ficou estilizada. Entrevista realizada por: Raimunda Lourença Correa Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra Maria do Socorro Viana Rego Hermílio Armando Viana Nina


Mestre MARCO AURÉLIO (1984)

1963

MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MARCO AURÉLIO ANGOLA MARCO AURÉLIO HAIKEL 11 de março de 1963 Filiação: José Antonio Haikel – Maria dos Ramos Jansen Haikel Advogado marcohaikel@bol.com.br

MESTRE

PATINHO

GRUPO/NÚCLEO Matro-á HISTÓRIA DE VIDA Começou na Faculdade; conheceu seu mestre lá, tem 21 anos de roda. Conhece a capoeira desde 0s 7 anos, mas não praticava porque sua mãe não deixava, daí quando entrou na Faculdade conheceu Mestre Patinho, e com os seus amigos influenciaram começou a praticar. Ele conta que, como sua mãe achava a capoeira coisa de marginal ele entrou na turma de basquete, pois ele achava legal as manhas dos dribles, as gingas e as formas que o basquete tem, então achava parecido com a capoeira. Hoje tem a sua própria academia Matroa, perto da Poemese e agora nesses últimos meses por motivo de saúde doença (problema no joelho) sua academia está sem o Mestre jogando,mas comanda a roda.


Mestre DOMINGOS DE DEUS (1985)

1968 Estilo Angola

Mestre Mestre Patinho

Nome José Domingos de Deus Santos Filiação Orivaldo Correa Furtado e Ana Julia de Deus Sousa Local e Data de nascimento Humberto de campos, 22 de setembro de 1968 Endereço Rua 02, casa 432 – São Francisco Endereço Eletrônico Academia Academia Renascença 8 a 10 alunos Academia Matruá com 20 alunos HISTÓRIA DE VIDA Começou em 1985, com o Mestre Lelis no Clube Center; parou durante um ano e em 1987 voltou e foi para o Laborate, com o Mestre Patinho.


Mestre NELSINHO (1986)

NELSON BRITO MARTINS 1975 MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MESTRE

NELSINHO Angola NELSON BRITO MARTINS Rio de Janeiro – 19 de abril de 1975 Filiação: José Carlos Castro Martins – Cíntia de brito Martins Rua Oscar Galvão, 35 – Centro Fone: 8126 99 04 Graduado em Educação Física Patinho

GRUPO/NUCLEO

LABORARTE

Entrevista realizada por Felipe Albuquerque Barboza Neto

HISTÓRIA DE VIDA “Nasci no Rio de Janeiro; vim de uma família pobre, mas os meus pais sempre tiveram cuidado com meu estilo de vida. Quando criança fiz tudo o que uma criança saudável faz. Eu estudava na escola Ronald Carvalho, uma das grandes escolas da época.” COMO COMECEI, QUEM ME INCENTIVOU “Como eu moro perto do Laborarte e o Mestre Patinho era amigo de meus pais e do meu tio, conheci o Mestre. Logo, meus familiares me levaram para assistir a capoeira; com isso, em 1986, pela primeira vez eu entrava em uma roda; e como eu tinha de dividir o tempo entre estudar e jogar capoeira, me afastei, em 87. Em 1990, tive uma passagem de dois meses e parei novamente. “Em 1992, voltei novamente, pois até hoje jogo capoeira; passei a estudar a fundo, inclusive a história da capoeira é controversa, mas o que eu sei através da pesquisa dos livros do professor Leopoldo, apesar de não conhecê-lo, mais digo que admiro muito; a capoeira nasceu no Rio de Janeiro no século ( ) que era chamada capoeiragem. Outro


registro nos mostra que 1877 a capoeira tinha adeptos aqui em São Luis especialmente na rua das Hortas, também falava-se na mesma época em Turiaçú, inclusive era proibida.” CAPOEIRA – LUTA OU DANÇA “Eu definiria como luta, dança e jogo; ela é tudo isso e muito mais. Não dá para defini-la só em uma coisa”. “A capoeira é muito dinâmica, tanto é que ela mexe com toda parte do corpo, com todos os grupos musculares.” A CAPOEIRA AJUDA NO MEIO SOCIAL “Depende de quem trabalha a capoeira e como trabalha, não basta só ensinar a criança a movimentar-se, o professor tem que mostrar a história, a realidade dos fatos, o cotidiano.” OS INSTRUMENTOS “A capoeira como é dança também,precisa dos seus instrumentos, como: três berimbaus chamados de gunga (grande), viola de centro (médio), a violinha, e ainda tem a cabaça pequena. Os instrumentos dão um diferenciamento entre os dois estilos de capoeira, a de Angola e a Regional. Na Regional pode-se usar um berimbau e dois pandeiros.” DIFERENÇAS ENTRE ANGOLA X REGIONAL “Há várias diferenças, hoje a Regional é apenas o conteúdo luta, é mais voltada para o esporte. O criador da Regional foi o Mestre Bimba, ele era baiano”. “A capoeira Angola é mais folclórica, voltada aos nossos costumes. Outra diferença básica é que a Regional é jogada alta e rápida e a Angola é um jogo mais lento, mas pode acelerar. A roda de Angola é sentada, a Regional, os integrantes ficam em pé.” O SOM ENCANTA E O GINGADO TAMBÉM “Quando eu escuto, e olho uma roda de capoeira eu me emociono, ainda mais quando o jogo tem um som melódico, uma roda harmônica com uma música bem tocada e um bom coro, é muito legal para a alma.” QUANTOS ALUNOS VOCE ENSINA “Atualmente 60 alunos: 15 no Laborarte, 30 no Projeto Criação no bairro do São Francisco e 15 na Universidade Federal do Maranhão onde eu faço o Curso de Educação Física e graças a Deus estou me formando”. “Agora fui convidado para o Projeto 2º. Tempo com mais de 100 alunos, vou pegar sete turmas de capoeira sempre pela manhã e tarde.” A CAPOEIRA COMO TERAPIA “A capoeira, assim como qualquer ocupação que leve o cidadão a ser reconhecido como cidadão também dá sua contribuição nas questões de ajuda aos problemas através do envolvimento com o grupo, trazendo o mesmo para atividade de conhecimento. Pode também ser usado nas atividades físicas, por exemplo, uma pessoa obesa pode praticar capoeira.” DISCRIMINAÇÃO “A falta de conhecimento sobre a capoeira faz que muitos tenham impressão inversa da modalidade. Às vezes, nós mesmos somos culpados por exemplos muitos professores não procuram estudar e visam à capoeira como arma, no entanto a capoeira é uma arte que envolve a música, dança, luta e o jogo, mais tudo nos conformes”. “Eu me sinto privilegiado, pois sou universitário, tenho um estudo avançado, isso me dá uma visão e um respaldo perante a sociedade.” OS MOVIMENTOS “A capoeira é complexa, o mesmo movimento tem três ou mais nomes, dependendo da vontade do Mestre, tem movimentos que ao ser executado se transforma em outra série, são exercícios que o aluno faz na roda sem que tenha exercitado.” A MUSICA “As músicas da capoeira são de conteúdo simples e são transmitidas de mestre para mestre. Tem música que são criadas na roda e a letra é cantada de acordo com o acontecimento do dia”. “A roda sempre começa com a ladainha, são usados cânticos corridos, como “ ia, ia, deu uma volta só ...” “As quadras são músicas usadas na roda, geralmente quando termina usa-se o corrido: “adeus, adeus seria, eu já vou embora, adeus, adeus sereia eu já vou embora !... A ROUPA


“A calça chama-se abada, não é obrigatória o uso, se a pessoa quiser entrar na roda com outro tipo de calça, pode fazer a capoeira normal, só não é permitido a entrada de pessoas com bermuda.” CONSIDERAÇÕES FINAIS “Graças à capoeira eu me vi de uma forma diferente. Hoje, trabalho dentro dela, fiz amigos, tive conhecimento e exercito o meu corpo. “A capoeira também é uma ocupação e ajuda muito na formação das pessoas.”


Mestra PUDIAPEN (Olhando o Sol) (1989) 1956 Estilo Angola Tradicional Angolagem

Mestre Mestre Patinho Mestre Acinho de Jesus

Nome Izabel Cristina R. de Miranda Filiação Zacarias Barbosa de Miranda e Raimunda Rodrigues de Miranda Local e Data de nascimento Lagoa do Pascoal (antigo município de Pedreiras) hoje, Santo Antonio dos Lopes, 1º. De dezembro de 1956 Endereço Rua V-10, q. 18, c. 11 – Parque Shalon Endereço Eletrônico Academia HISTÓRIA DE VIDA Iniciei os conhecimentos elementares da capoeira num curso de extensão da Universidade Federal do Maranhão, em 1989, e num salão na Praia Grande, no mesmo período, com alguns alunos adiantados do Mestre Patinho. Em 1990, participei de oficinas da Universidade Federal do Maranhão com o Mestre Canjiquinha-Bahia A partir de 1990, ingressei no Laborarte, onde estudei com o Mestre Patinho de 1990 a 1994 Em 1993, comecei os estudos de capoeira com o Mestre Acinho (Assuero Costa Silva), que dava aulas no Laborarte substituindo o Mestre Patinho, quando estava ausente Participei na coordenação de vários everntos de capoeira em São Luís, promovido pelo Laborarte, como o Iê Câmara, Festival de Cânticos de Capoeira, Seminários, etc; Em 1994, estagiei acompanhando Mestre Patinho em oficinas no Colégio Pitágoras, Colégio Crescimento, e num salão da Praia Grande, localizado na escadaria da Rua do Giz, próximo ao Hotel Central - viajei para a cidade do Porto-Portugal para participar do Festival Internacional de Expressões Ibéricas, onde participei das apresentações do grupo de Tambor de Crioula do Mestre Felipe, Cacuriá de Dona Teté, e grupo de capoeira do Mestre Patinho. - A partir de 1994 a 2004, estagiei com o Mestre Acinho, acompanhando-o a diversas viagens para Portugal, Salvador, Rio de janeiro, São Paulo, Minas Gerais, e outros estados, para participar de encontros e seminários nacionais e internacionais, ocasião em que participei de oficinas com mestres de várias linhagens, como por exemplo: Mestre João Pequeno (BA), Mestre Pelé (Mestre de Mestre Sapo), Mestre Lepoldina (RJ), Mestre Curió (BA), Mestre Lua Rasta (BA), Mestre Cobrinha Mansa (BA), Mestre Lua de Bobó (BA), Mestre Arerê (RJ), Mestre Jurandi, e outros. - Aprendi e aprofundei os conhecimentos sobre os fundamentos, história, técnica e musicalidade, incluindo toques, cânticos e confecções de berimbaus e caxixis, com o Mestre Acinho e alguns mestres de outros estados. Em 1996, fui graduada aluna formada pelo Mestre Acinho De 1998 a 2000, auxiliei nas oficinas de capoeira ministradas no Tijupá Queimado – Maiobão, para crianças e adolescentes Em 1999, fui graduada contra-mestre pelo Mestre Acinho - visitei as tribos indígenas Canelas e Guajajaras, ocasião em que fizemos demonstrações de capoeira na tribo Canela, juntamente com Mestre Acinho e seu aluno formado Adriano Em 2000, ajudei o Mestre Patinho na formação da sua academia, em sua residência, que atualmente é o Centro Cultural Mestre Patinho, local onde dei aulas para iniciantes juntamente com o Mestre Acinho, quando o Mestre


Patinho viajava Em 2004, auxiliei nas oficinas de capoeira ministradas na Associação de Tambor de Crioula Manto de São Benedito, no bairro da Cidade Olímpica. Atualmente, ministro aulas na comunidade periférica do Araçagi Em 2004, fui graduada aluna formada pelo Mestre Acinho Em 2005, fui graduada mestra (nível branco – 3º grau) pelo Mestre Acinho, fundador do Nucleo Internacional de Capoeira


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.


JORNADA DE EDUCAÇÃO FÍSICA 2011

ASPECTOS HISTÓRICOS DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ41 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão vazleopoldo@hotmail.com

O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA

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O presente estudo constitui-se do segundo capítulo de minha tese intitulada “Manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão: Colônia e Império”, onde se procura resgatar e registrar as manifestações culturais de caráter recreativo e esportivo que se vinculem às raízes etno-culturais do Maranhão, nos períodos da Colônia e do Império. Ao se reconstruir a História do Esporte, do Lazer e da Educação Física no Maranhão, se buscou construir, ao mesmo tempo, uma metodologia de pesquisa historiográfica, em que, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, utilizando-se de fontes primárias - cronistas de época, relatos de viajantes, jornais, bandos, documentos oficiais -, procurou-se recuperar e organizar essas fontes, reagrupando-as e as tornando pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte, lazer, e educação física, dada a abrangência dos termos? Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980; SILVA, 1987; SANTIN, 1996; DAMASCENO, 1997).

Ao levantarem-se questões sobre valores culturais e da identidade cultural, verifica-se que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística: “Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral.

“Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a 41

Licenciado em Educação Física (UFPR, 1975); Especialista em Metodologia do Ensino (UFPR/UFMA, 1978); Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986); Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993); Professor de Educação Física (aposentado) do IF-MA (1979-2009); Pesquisador-associado do Atlas do Esporte no Brasil (www.atlasesportebrasil.org.br); Diretor do Centro Esportivo Virtual (www.cev.org.br); Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira 40; Vice-Presidente do IHGM, gestão 2010-2012. CV: http://lattes.cnpq.br/2105898668356649 42 Publicado em LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, n.4, v.14, junio 1999, disponível em www.efdeportes.com


cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado...”. (SILVA, 1987, p. 20-21). A perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros (SILVA, 1987). Assumir a história como condutora da reflexão é antes de qualquer coisa tomar partido, é assumir as questões do esporte, do lazer e da educação física como compromisso social e, nesse sentido, “a compreensão da realidade é fundamental para sua transformação”. Os quase quinhentos anos de existência da sociedade brasileira não foram suficientes para criar uma consciência do passado, se comparada à outras sociedades, particularmente à européia ocidental. A contribuição que a história pode trazer para a explicação da realidade em que vivemos “faz com que o historiador parta do presente para o passado, sabendo-se situado no futuro do passado que estuda” (NUNES, 1996, p. 19).

Ao se discutir questões relacionadas à diferentes metodologias empregadas na escrita da história da educação física e dos esportes, percebe-se que, embora existam tentativas de superação das formas tradicionais da escrita da história, esta ainda permanece ligada à escola positivista, baseada nas histórias dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos (PILATTI, 1996; CERRI, 1977). O paradigma tradicional diz respeito essencialmente à política, na valorização dos acontecimentos, dos fatos, dos vencedores, das pessoas que fizeram isso ou aquilo. Para se fazer história a partir desta concepção basta juntar um número suficiente de fatos bem documentados, dos quais nasce espontaneamente a ciência da história. A reflexão teórica, em particular a filosófica, é inútil e até prejudicial, porque introduz na ciência positiva um elemento de especulação. A história passou a ser vista como reconstrução do acontecido (PILATTI, 1996; CERRI, 1997). Diversos autores (PILATTI, 1996; CARDOSO e BRIGNOLI, 1983; CARDOSO e VAINFAS, 1997) consideram a história como o produto da reconstrução, da busca de provas de comprovação, da apresentação e verificação de hipóteses. Ao se referir ao lugar que a teoria ocupa na investigação histórica, PILATTI (1996) serve-se de Ribeiro para analisar se a História da Educação Física no Brasil possui objeto e método próprios: “... há pelo menos três enfoques: um, mais antigo, situado na História política de afirmação tradicionalista; outro, localizado na Pedagogia, mais especificamente na pedagogia histórico-crítica; e, finalmente, um que terceiro se encontra na insatisfação com as respostas dadas pelos dois primeiros, mas que ainda não definiu seu referencial teórico”. (PILATTI, 1996, p. 85). O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA “... conhecer a história da Educação Física e desenvolver com esses dados a consciência histórica dos professores de E.F. (como competência que se apóia nas operações mentais: perceber, interpretar e orientar) pode colaborar na análise e compreensão de nosso habitus profissional (como sentido prático que dirige nossas ações). A investigação em História e a circulação da informação histórica pode ser parte do processo de construção e desenvolvimento da consciência histórica dos professores de E.F. como perspectiva para interpretar a conjuntura e o estrutural na E.F. escolar de hoje”. (AISENSTEIN, 1996).


Para AISENSTEIN (1996), a historia serve para reconstruir a gênese de um objeto cultural (aquele que estamos tentando conhecer, ou a atividade em que nos desempenhamos), com o objetivo de compreendê-lo em seu contexto macro de produção, a partir das variáveis que confluíram na sua construção, dos atores que intervieram do tipo de práticas que realizaram etc. Ao se analisar o momento atual da historiografia brasileira sobre a educação física e o esporte, alguns autores (VERENGUER, 1994; CAVALCANTI, 1994; GEBARA, 1994, 1998) consideram esse último como objeto de estudos da história, separado da educação física, pois compreendem que a educação física e o esporte são objetos diferenciados que vai demandar caminhos metodológicos e preocupações teóricas diferenciadas, daí considerar-se o esporte como objeto da Histórica separado da Educação Física (MELO, 1995, 1997, 1997b; GENOVEZ, 1998). Qualquer tentativa de reconstruir os caminhos pelas quais passou a Educação Física no Brasil se reveste de dificuldades, dada a amplitude do termo. Estudar e analisar a História da Educação Física no Brasil é tarefa que requer cuidados especiais visto que, sob a denominação Educação Física encontra-se um grande leque de atividades motoras com objetivos e/ou funções bem variadas, pois é possível o termo designando atividades motoras do cotidiano. “Confundir estas atividades com a Educação Física ou com práticas esportivas é comum entre os leigos” (VERENGUER, 1994, p. 204). Com o que concorda CAVALCANTI (1994) quando afirma que a História da Educação Física no Brasil confunde-se com a história das atividades físicas e esportivas. A questão da definição do objeto de estudo é fundamental para a definição da história, pois o que se constata é uma pluralidade de histórias. Assim, a soma dessas histórias (História das Atividades Físicas, História dos Esportes, História da Dança, etc.) é o que se convencionou chamar-se de História da Educação Física. Inspirado em SAVIANI (1994), o autor afirma que a produção do conhecimento historiográfico (historiografia) da Educação Física brasileira é quase sempre marcada pela não clareza do seu objeto de estudo e, "... de uma História que venha contemplar em sua unidade e a totalidade as questões relativas a um determinado objeto de estudo” (CAVALCANTI, 1994, p. 62). Ao analisar a historiografia da Educação Física no Brasil, constata que: "... em períodos anteriores à década de 80, revelam trabalhos (...) que se caracterizaram pela forma hegemônica e acrítica, os quais se limitavam aos relatos dos fatos passados, destacando os grandes fatos, marcos cronológicos e/ou vultos políticos. Nesse sentido a História caracterizava-se como uma história factual. “A História da Educação Física no Brasil, até então, desenvolveu-se tendo como referência a política, na qual os fatos políticos irão marcar o perfil predominante dos trabalhos produzidos nessa época.“ (p. 60-61). A História da Educação Física no Brasil esta estruturada em função da periodização dos grandes acontecimentos políticos de cada época. Dentre os autores (historiadores) da Educação Física desse período, destaca-se a figura de Inezil Pena MARINHO (s.d., 197[?], 1979, 1980, 1981, 1984), que emprega a seguinte periodização: Brasil Colônia (1500-1822), Brasil Império (1822-1889), Brasil República (1899 em diante).

GEBARA (1992), tratando da periodização na história da Educação Física/Ciências do Esporte no Brasil, considera que o recurso à periodização induz a um duplo equívoco, com os acontecimentos políticos que delimitam tanto a Colônia quanto o Império não tem qualquer relação com a delimitação do objeto em análise – Educação Física. Por outro lado, e mais grave, a Educação Física passa a ser vista a partir de relações exteriores a ela mesma, pois “tal postura induz a uma postura metodológica bastante limitada e limitadora, e o objeto se descaracteriza, perdendo sua especificidade própria.” (p. 32). Gebara periodiza a Educação Física em função do Esporte, instaurando duas balizas temporais (PILLATI, 1995), ao sugerir que a gênese da Educação Física no Brasil corresponde ao início do século XX, com a introdução dos esportes modernos. A outra, ao indicar que esse processo de escolarização da Educação Física no Brasil, “processo que, de forma bastante marcante, acabou por configurá-la no País, perduraria até os anos 60, quando um conjunto de fatos indicaria a configuração de um novo patamar no desenvolvimento histórico da Educação Física” (GEBARA, 1992, p. 22). Com o que concorda PILLATI (1994, 1995), quando afirma que os marcos divisórios utilizados para delimitar períodos são externos à própria Educação Física/Ciências do Esporte, o que acaba por determinar diversas periodizações distintas, pois a adequada periodização se dá em função da pertinência do objeto de estudo à área. Assim, os marcos divisórios devem ser da Educação Física/Ciências do


Esporte. Destaca a proposta de GEBARA (1992), onde é encontrada uma periodização (implícita) com o objeto pertinente à área, evitando-se o reducionismo da idéia de Educação Física à Educação Física Escolar, visível quando o objeto é deslocado para a área da educação. PILLATI (1994, 1995) ensina que existem periodizações explícitas e implícitas. Normalmente quando a periodização é explicitada pelo autor, a discussão considera um longo período cronológico. Já na periodização implícita duas formas distintas são possíveis, uma, onde o estudo abrange uma determinada faixa temporal e outra onde a distribuição interna da matéria proporciona a periodização. Já o ensino da História da Educação Física e dos Esportes, nos cursos de Educação Física, se limitam à apresentação dos chamados “conteúdos clássicos”, aparecendo uma série de nomes e fatos considerados como relevantes enclausurados no interior de períodos consagrados tradicionalmente e importados da História Geral (Grécia antiga, Roma, Idade Média,...)," a partir de uma ausente, confusa e não consciente compreensão historiográfica” (MELO, 1997b). Nos Estados Unidos, o estudo da História da Educação Física e do Esporte se encontra bastante avançado, mas os professores de Educação Física que desempenham a docência de disciplinas vinculadas à esta sub-área de estudo “não demonstram ter conhecimentos metodológicos adequados” (PARK, 1992, citado por MELO, 1997b).

Tanto CAVALCANTI (1994) quanto PILLATI (1995) chamam-nos a atenção para um período que parece estar se tornando um marco histórico na Educação Física brasileira, considerando-se aquilo que alguns autores (OLIVEIRA, 1983, 1984, 1985; GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, 1991; BRACHT, 1992, 1992b, 1995; GOELLNER, 1992; TAFFAREL e ESCOBAR 1994) denominam “salto qualitativo” ocorrido nessa área do conhecimento. A partir da década de 80 firma-se na Educação Física uma corrente influenciada pela discussão que era levada a efeito no âmbito mais geral da pedagogia no Brasil. Começa a refletir o papel social da Educação Física, contextualizando-a no sistema educacional. Essa transformação qualitativa ocorre não somente em relação à prática, mas também quanto aos pressupostos teóricos, dialeticamente produzidos e responsáveis pela superação dessa mesma prática. Assim, GHIRALDELLI JUNIOR (1991), com sua proposta de aprofundar as discussões que estavam ocorrendo nessa área do conhecimento, ao apresentar uma classificação das tendências e correntes da Educação Física brasileira, recorreu à seguinte periodização: Educação Física Higienista (até 1930); Educação Física Militarista (1930-1945); Educação Física Pedagogicista (1945-1964); Educação Física Competitiva (pós-64) e, finalmente, Educação Física Popular.

Ao discutir o problema da periodização da história da Educação Física/Ciências do Esporte brasileiro, PILLATI (1994, 1995) afirma que nos trabalhos de investigação da história ou de teor histórico, as questões são normalmente tratadas a partir de divisões do todo específico em diferentes sucessões temporais, ou seja, todo processo histórico é periodizado. Periodizar tem por objetivo descobrir a estrutura interna de uma determinada época histórica, ou seja, dar significado à passagem do tempo, identificando e ordenando seqüências cronológicas (Almeida, 1988, citado por Pillati, 1994, p. 391-392). O grande problema, para não se falsificar a matéria histórica, é especificar onde deverão ser feitos esses cortes. Apresenta, então, dois princípios de periodização, um mais geral, o diacrônico produzido ao longo do tempo, o qual reúne num só conjunto todas as totalidades concretas da produção, cada uma com seus momentos e desenvolvimentos, e outro, mais específico, o sincrônico onde o momento presente é privilegiado de forma a objetivar a situação atual: “No princípio diacrônico a realidade é percebida como totalidade presente, constituindo um universo de significados, colocado e mais ou menos estático. “Neste princípio (sincrônico) o fenômenos são estudados/trabalhados sobre um pano de fundo fixo ou entendidos como um ambiente externo.” (Notas de pé de página, Pillati, 1994, p. 392, 393) É nas questões mais gerais que o princípio da periodização deve ser buscado, e no que se refere ao ensino de história tradicionalmente ministrado em nossas escolas, essa divisão se apresenta como História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, correspondente às Idades


Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, encontrando-se também divisões por especialidades – História Social, por exemplo. Na construção do conhecimento histórico da Educação brasileira, os trabalhos aparecidos a partir dos anos 80 se destacam pela problematização de questões relativas à Educação Física, “... contextualizando os diversos momentos da sua história e, em cada um desses momentos a Educação Física parece ter cumprido um determinado papel na Educação e na Sociedade brasileira” (CAVALCANTI, 1994, p. 69). Esse autor crê que, só será possível a concretização de uma História da Educação Física brasileira com a vinculação da Educação Física à educação: “... ao se escrever uma História (unificada) da Educação Física brasileira em seu conjunto, isto é, como totalidade, cremos vir a ser necessário a explicitação da concepção de Homem e de Educação e, ter em conta, o caráter concreto do conhecimento histórico-educacional que se configura em um movimento que parte do todo caótico (síncrese) e atinge, através da abstração (análise), o todo concreto (síntese). “Se a Educação Física, até hoje, não respondeu efetivamente acerca do seu papel no Quadro da educação, provavelmente, deve-se ao fato de ter tentado fazê-lo equivocadamente. O que queremos dizer é que, ao se tentar escrever a História da Educação Física, Quase sempre, acaba-se por escrever a História do Esporte na Escola, isto é, acaba-se privilegiando a questão do esporte em detrimento à questão da educação.” (CAVALCANTI, 1994, p. 70).

No que se refere à história da educação brasileira, foram localizadas duas tendências: "... sendo uma em que o objeto em exame determina a periodização e, portanto, a postulação de diferentes marcos históricos; e outra em que, independentemente do objeto e da ótica a partir da Qual ele é tomado, as periodizações são dadas pelos marcos consagrados na chamada referência “política” – Colônia, Império, Primeira República, Período de Vargas, República Populista e o Pós-64”. (WARDE, 1984, citada por PILLATI, 1994, p. 394) A questão que irá responder ao questionamento central destes trabalhos, sem dúvidas encontra-se na resposta à pergunta: qual o objeto de estudo da Educação Física brasileira? Ou, neste trabalho, qual o objeto de estudo da História da Educação Física brasileira? GENOVEZ (1998) pergunta por que o esporte, como objeto da História, não tem conquistado o espaço que lhe corresponde nem mesmo em simpósios de historiadores, já que tem sido estudado por renomados pesquisadores de nível internacional - como MORGAN, ROGEK, HOBSBAWM, e o sociólogo DUNNING. Para explicar tal ostracismo, volta ao início do século, quando a historiografia brasileira se desenvolvia com bases rankianas. Orientada para as abordagens clássicas (década de 30) e influenciadas por abordagens acadêmicas e sociológicas (década de 60), com trabalhos orientados para o negro e a escravidão e, nos últimos anos, para a História social da família, do trabalho, do Brasil colonial e da escravidão e, durante a década de 70, voltaram-se para o “movimento operário” e a “revolução”, além das pesquisas de temas sócio-econômicos, matéria que despertava enorme interesse naquele momento. Neste contexto, os poucos trabalhos com uma perspectiva histórica do esporte nasciam envoltos, em primeiro lugar, por influência da História tradicional, positivista e, em segundo lugar, por ser considerado assunto secundário em meio a temas como revolução, classe trabalhadora, marxismo e tantos outros". (GENOVEZ, 1998) Pelas dificuldades inerentes à historiografia brasileira e, principalmente, pela afinidade desta com a sociologia, é que se pode compreender o menosprezo da História com o esporte. GENOVEZ (1998) servese de DUNNING (1985, p. 17) para afirmar que a percepção da tendência que orienta o pensamento reducionista e dualista ocidental, o esporte é entendido como coisa vulgar, uma atividade de lazer orientado para o prazer, que compreende ao corpo mais que à mente, e sem valor econômico. Como conseqüência disto, o esporte não é considerada como um fenômeno que se vincule com problemas sociológicos de significado equivalente aos que habitualmente estão associados com os temas “sérios” da vida econômica e política: “Sem valor econômico e considerado vulgar, os historiadores, tal como os sociólogos, insistem em perceber o esporte como um objeto de estudo incapaz de mostrar as mais


tênues representações das relações sociais que, fora da lógica esportiva, parecem excludentes, como a competição e a cooperação ou o conflito e a solidariedade. É justamente, por abrir esta possibilidade de análise que podemos pensar o esporte como um objeto da História social ou da História cultural.” (GENOVEZ, 1998) Ainda segundo essa autora, HOBSBAWN (1988, p. 245) nos abre para que se estude o esporte como um instrumento, como tantos outros, utilizado para inculcar valores e normas de comportamento através da repetição: “... Desta maneira, o esporte pode ser um indício, um indicador, das relações humanas e das ações que as legitima, podendo, em alguns casos, colocar-se como suporte da coesão grupal”. Pergunta, então: “Porém, em que podem concretamente contribuir a História social e a História cultural? Por que o esporte seria, por excelência, o objeto destas duas áreas da história? Mais que respostas acabadas, o que intentaremos situar são os elementos para futuras discussões. Exatamente, por ser um objeto, todavia recente para a História, muitos debates serão necessários para esclarecer cada vez mais as possibilidades metodológicas.” (GENOVEZ, 1998) Serve-se de FEBVRE (1989), para expor algumas dessas possibilidades metodológicas, referindose à História social entendida pelos Annales - nascida para contrapor-se à História factual, centrada em heróis e batalhas – priorizava os fenômenos coletivos e as tendências em longo prazo. A partir da década de 60, a História social se apresentou mais próxima da antropologia, privilegiando as abordagens socioculturais sobre os enfoques socioeconômicos. Além da questão social e de conduta, há também outro aspecto que é o simbólico. Segundo a autora, uma área de investigação pouco explorada pela História cultural, preocupada com a sexualidade e a moralidade cotidiana do período colonial do século XIX, ou também com a mentalidade e a cultura escrava. Sem dúvida, o interesse pelo informal, como festas, crenças, etc., abre para o historiador espaços para o estudo do lazer ou do esporte. Gestos, cores, emblemas ou artifícios que rodeiam as práticas esportivas podem ser objetos de estudo da História cultural. O movimento dos Annales, segundo SILVA (1995), é caracterizado pela substituição da Histórianarração pela História-problema; pelo entendimento de que a História é uma ciência em construção, que não é apenas política; e que a história não se constrói sozinha e, por isso, necessita de intercâmbios e debates com outras ciências sociais. Com essa nova concepção, há uma ampliação dos limites da História; da noção de fontes; há uma construção da temporalidades múltiplas e a relação passadopresente torna-se mais estreita, reafirmando as responsabilidades do historiador. MELO (1997, 1997b), discute se haveria diferenças significativas entre Educação Física e Esporte para que suas histórias sejam estudadas separadamente. Ou ambos os objetos deveriam ser estudados em uma única abordagem? Coloca que tais discussões não foram precedidas entre os estudiosos brasileiros, que invariavelmente preferem utilizar o termo História da Educação Física e do Esporte. Internacionalmente, porém, tem sido uma questão que merece uma atenção especial. PARK (1992) trabalha com o termo História do Esporte, considerando as práticas esportivas, incluindo a educação física e outras manifestações da cultura corporal. Em principio considera “História do Esporte” uma categoria/expressão que inclui, como mínimo, lutas atléticas, atividades de recreação, e Educação Física (p. 96). Na Grã-Bretanha, a discussão parece orientar-se num sentido diferente, com os historiadores britânicos, em sua grande maioria criticada a ausência de um maior rigor na definição de que pode ou não ser considerado como esporte. Melo situa-se com esta última postura, compreendendo que Educação Física e Esporte são objetos diversos que vão requerer caminhos metodológicos e preocupações teóricas diferenciadas; seus compromissos e sua construção têm sentidos distintos.

Para diversos autores, (PILATTI, 1996; MELO, 1995, 1997, 1997b; GENOVEZ, 1998) o Esporte encontra uma maior abertura na História que a Educação Física, não por ser considerada a última menos importante, senão “por ser entendida como um campo específico de conhecimento, talvez mais técnico. Sem dúvidas, é inegável que seu estudo, também, apresenta questões pertinentes” (GENOVEZ, 1998). Ao analisar os estudos da educação física brasileira MELO (1994, 1995, 1997, 1997b), os situa em três momentos distintos: uma primeira fase, marcada pelo caráter embrionário do desenvolvimento dos


estudos, onde predominam os livros importados orientados para os aspectos históricos da ginástica; a segunda, marcada pelo início de uma produção e uma preocupação maior nos estudos históricos tanto nos aspectos qualitativos como nos quantitativos, ainda que apresentado semelhanças com a fase anterior, já aparece certos desenvolvimentos com o uso documental; e a terceira, marcada pela busca do redimensionamento das características dos estudos históricos ainda que busquem ressaltar os aspectos ideológicos da educação física, se apresentam metodologicamente confusos em relação à História. As obras relacionadas com estas três fases apontam para uma bibliografia na qual poucos são os autores que possuem uma formação em História: (1) primeira fase, chamada de embrionária, baseia-se na utilização de livros importados e marcados por um caráter documental-factual desprovido de análise crítica mais desveladora da realidade. Esta fase vai até o final dos anos 30; (2) segunda fase, marcada por uma produção mais efetiva com os estudos históricos, tendo no professor Inezil Penna Marinho seu maior expoente, dominando a área dos anos 40 até meados dos anos 80. Os autores dessa fase continuam a se limitar ao levantamento de dados e fato; (3) terceira fase, iniciada na década de 80, onde estudiosos retomam uma produção mais efetiva e impregnados pelo marxismo ou de forma mais críticas de interpretação passam a proceder reestudo e a interpretação da História da Educação Física brasileira a partir da emergência atual dos fatos e de uma concepção crítico-dialética. (MELO, 1995): “... Independentemente das diferenças entre os trabalhos em suas respetivas fase, o compromisso de todos os investigadores que abordaram a História da Educação Física esteve vinculado à necessidade de entender diretamente a Educação Física e/ou justificar algumas questões e modificações. No que se refere à História dos Esportes, desde o século passado e no início deste século podemos identificar estudos, normalmente desenvolvidos fora dos circuitos acadêmicos tradicionais. Tais estudos foram repetidamente escritos por antigos praticantes e/ou apaixonados por determinados esportes, muitas vezes jornalistas especializados que acompanhavam o desenvolvimento dessas modalidades ... Na obra dos autores vinculados à História da Educação Física, principalmente aos da Segunda fase, os aspectos históricos dos esportes já se diferenciavam dos ligados à educação física...”. (MELO, 1997b, p. 6) Um reflexo da confusão conceitual no que se refere ao estudo da História dos dois objetos, é que no Brasil a História do Esporte não tem tido um espaço tão significativo, como na Inglaterra, onde estes estudos têm uma preocupação diferente dos estudos de História da Educação Física. Sua preocupação básica não é, nem foi, entender o esporte em si, mas simplesmente recompilar informações sobre os esportes. “Hoje é, fundamentalmente, utilizar o esporte como objeto relevante para entender a sociedade” (MELO, 1997b). A história do esporte é uma história relativamente autônoma que mesmo estando articulado com os grandes acontecimentos da história econômica e política, tem seu próprio tempo, suas próprias leis e evoluções, suas próprias crises, em suma, sua cronologia específica (BORDIEU, citado por MEZZADRI, 1994, p. 8). Já FERREIRA NETO (1996), divide a história da pesquisa na História da Educação Física do Brasil em dois momentos: de 1930 a 1980 e de 1980 até hoje e identifica três concepções de história que lhe serve de orientação: (1) História Episódica, que marca o primeiro momento (1930 a 1980), que privilegia os seguintes pontos de interesse: a política, a narrativa dos acontecimentos, a “visão de cima”; é escrita conforme um modelo explicativo linear e pretende ser objetiva (p. 95); (2) Concepção Marxista da História - que marca o segundo momento (1980 até hoje) e convive não pacificamente com a Nova História -. Essa concepção - caracterizada por Ferreira Neto a partir de Sierra Bravo -, possui enfoque totalizador do objeto de investigação, não separando seus elementos; estudo de objeto de pesquisa em suas formas mais acabadas e aspectos dominantes, começando pelo seu elemento mais simples; não se detêm nas aparências sensíveis, mas busca as essências subjacentes; enfoca a realidade em sua gênese e movimento histórico; busca conhecer e compreender a realidade como práxis; observar a unidade entre teoria e prática e considera as idéias


como expressão das relações sociais e estas como expressões do modo de produção e das forças produtivas (p. 95); (3) História Nova: se interessa por toda atividade humana (tudo tem história); analisa as estruturas; oferece uma “visão de baixo”; amplia as possibilidades de uso de fontes, inclusive orais e visuais, na recuperação da história; o modelo explicativo admite mediações multidirecionais na explicação do objeto e considera irreal a objetividade absoluta (p. 95-96). FREITAS JÚNIOR (1995), ao proceder a analise dos trabalhos apresentados no I Encontro de História da Educação Física e dos Esportes (1994), constata que a partir da década de 70 a Educação Física passa a ser refletida com mais cuidado, havendo um crescente interesse pelos estudos históricos. Dividindo os grupos de trabalhos apresentados e utilizando de um mecanismo denominado técnica de estatística de agrupamento, encontrando três modelos teóricos, de acordo com a bibliografia central desses trabalhos. Assim, o primeiro modelo é composto por trabalhos clássicos, onde se acredita que o desenvolvimento da história é um processo evolutivo, que parte de uma simplicidade originária (sic) e vai pouco a pouco se complicando: “Buscando na construção mecanicista da teoria do Reflexo, associado ao pensamento positivista que pressupõe uma relação cognitiva, onde não existe nenhuma interdependência entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Nesta concepção denominada résgatae o objetivo do conhecimento atua sobre o aparelho perceptivo do sujeito que é um agente passivo, contemplativo e receptivo; o produto deste processo é o conhecimento, cuja gênese está em relação com a ação mecânica sobre o sujeito, que descreve o objeto”. (FREITAS JÚNIOR, 1995, p. 355) Para o autor, esse modelo é clássico, e estão aí inseridos Inezil Penna Marinho, Jair Jordão e A. R. Accioly, que até a década de 60 foram as principais fontes geradoras da produção bibliográfica brasileira no âmbito da Educação Física. O segundo modelo é composto por trabalhos atuais de características sócio-econômicas, onde o conhecimento e o comprometimento do historiador estão sempre condicionados socialmente, neste modelo teórica história passa a existir enquanto produto da atividade do historiador (sujeito) que conhece, sobre o passado (objeto do conhecimento). “A história Rerum-gestarum que é escrita por este modelo, tem na busca de um molde ideal(izado), que pode estar no passado, o seu eixo norteador. Ao escrever esta história devemos adequá-la aos novos tempos, o que de certa forma poderá possibilitar algumas transformações necessárias e pertinentes para a Educação Física atual”. (FREITAS JÚNIOR, 1995, p. 355-356) Os autores que se servem desse modelo foram buscar na educação suporte para os seus trabalhos, onde o referencial passou a ser e evolução das idéias pedagógicas no Brasil. Destacam-se Lino Castellani Filho e Paulo Ghiraldelli Júnior. O terceiro modelo é caracterizado pela ênfase dada ao corpo, através da interpretação ativista da teoria do reflexo, onde neste modelo não há preponderância de um dos elementos da relação cognitiva, como no primeiro modelo que é objeto e no segundo o sujeito. Em suas “considerações para a história do lazer no Brasil”, GEBARA (1997) afirma que as civilizações antigas não tinham um nome para o lazer no sentido que o entendemos hoje, sendo que o jogo e o brinquedo se constituem em fatos tão ou mais antigos do que o homem, baseado em uma afirmação de Huizinga de que “o jogo é fato mais antigo que a cultura”, pois os animais brincam antes mesmo de os homens os ensinarem a tanto. Identifica, segundo Gilles Provost, duas vertentes que explicam a gênese e a formação do lazer moderno: a primeira, e a mais conhecida, consiste em buscar no passado os fatores históricos, sociais econômicos, entre outros que produziram, de alguma maneira, o lazer nas diferentes sociedades; a segunda tendência a retratar a formação do lazer busca verificar o momento histórico, particularmente no ocidente, em que uma concepção ideológica estruturada se manifestou com relação ao lazer. Tal fenômeno se articularia então a três movimentos históricos:

1. à ideologia do lazer racional na Inglaterra a partir de meados do século passado; 2. ao pensamento social americano do início deste século; 3. às concepções do movimento trabalhista, tendo em vista a redução da jornada de trabalho ocorrida entre o final do século passado e meados deste século. BRUHNS (1991), ao apresentar suas “reflexões sobre o conhecimento do lazer”, afirma que esse conhecimento só pode ser entendido como um processo de relação cognitiva entre sujeito e objeto, a qual


pode se efetuar dentro de modelos, nos quais o sujeito pode ser considerado ativo ou passivo, individual ou social, e o objeto, real e concreto ou idealizado. Os estudos sobre a dicotomia lazer/trabalho aparecem com o advento da sociedade industrial, com alguns autores voltando-se de maneira intensa ao estudo do fenômeno lazer, por seu destaque na nova ordem das coisas. Ao analisar os estudos sobre o lazer na sociedade brasileira, afirma existir uma separação de 50 anos entre estes estudos e os estudos efetivados principalmente em Europa, no pós-guerra. Se nos países desenvolvidos, o fato histórico marcante articulador foi o processo de industrialização, no Brasil este marco parece ter sido estabelecido pelo processo de urbanização, efetivada a partir da década de 70, quando houve uma inversão a favor da população urbana. Identifica, nos estudos brasileiros sobre o lazer, quatro vertentes: (1) “romântica”, onde o lazer apresenta-se como o espaço sem conflitos, numa certa “paz social”, propondo o encontro com a felicidade imaginada; aqui incluem-se os estudos voltados para o resgate do tradicional, carregadas de nostalgia pelo passado e denomina-os de “folcloristas”, pois constituemse de estudo descritivos, estáticos e mecânicos (o conhecimento evidencia-se como um reflexo). Na tentativa de descobrir jogos, festas, danças, realizam um “levantamento”, certos de intenção de preservação da “autenticidade”. Não interpretam nem explicam esses fenômenos sociais, os quais devem ser explicados em relação aos processos de transformação social; (2) “moralista”, notada sobretudo no que diz respeito aos esportes na afirmação de sua adequação para a juventude, pois apropriam-se de um espaço, o qual poderia ser preenchido por perversões sexuais, drogas, roubos e outros; (3) “compensatória”, pois o lazer compensaria o trabalho alienante e insatisfação advinda, como se trabalho e lazer fosse dois fatores separados da existência e a alienação em um deles não tivesse nenhuma relação com a alienação no outro; (4) “utilitarista”, indicando o tempo disponível como recuperação da força de trabalho ou tempo útil para incrementar o consumo supérfluo e a indústria de bens voltados para tal produção. Em outro estudo, GEBARA (1996) levanta algumas questões metodológicas quanto ao uso de fontes na construção da história, ao criticar dois clássicos da história da educação física do Brasil - Inezil Penna Marinho e Jair Jordão Ramos. Ante a possibilidade da existência do fenômeno esportivo no Brasil anteriormente à segunda metade do século passado, afirma que essas posições (de Marinho e Jordão Ramos) se estabelecem devido a utilização inadequada das fontes históricas, induzindo a percepção de que atividades esportivas teriam existido desde os primeiros momentos da colonização. Apresenta duas questões fundamentais: uma, refere-se a forma pela qual as fontes primárias têm sido usadas por historiadores da educação física e do esporte no Brasil; a segunda, refere-se a multiplicidade dos tempos do historiador, apresentando-se uma relação entre o historiador e suas fontes, na perspectiva da temporalidade da constituição de um determinado objeto de estudo. Referindo-se ao uso de fontes primárias (relato de viajantes), afirma que algumas perguntas devem ser feitas pelos historiadores às suas fontes: quais perguntas fizeram (Marinho e Jordão Ramos) aos documentos? A leitura do documento autoriza as conclusões afirmadas? Levanta, ainda, outra questão de ordem metodológica, que se refere à construção temporal: “... um observador externo, um colonizador vive seu próprio tempo, diferente das populações nativas; a construção conceitual do homem do século XVI dificilmente poderia corresponder a um outro processo civilizatório instaurado em outro tempo cultural” (p. 76). A transformação de um documento em fonte histórica é papel do historiador, pois implica em respeitar a fonte em sua integridade constitutiva, em dar coerência as conclusões, ou indícios que estas fontes podem apresentar e, acima de tudo, é preciso ter em mente que todo documento tem um interlocutor, para o qual este documento é produzido. Paul Vayne, discorrendo sobre a historiografia, afirma que: “... a história tem uma crítica, mas não tem método, pois não há método para compreender. Qualquer um pode, portanto, improvisar-se historiador ou antes poderia, se, à falta de métodos, a história não pressupusesse que se tenha uma cultura ... Mas é uma cultura, não um saber; consistem em dispor duma lógica, em poder por-se cada vez mais questões sobre o homem, mas não em saber responder-lhes”. (citado por VEIGA, 1996, p. 50-51).

CONCLUSÃO A história se faz na construção de respostas a desafios que nos vêm sendo postos pelas práticas culturais dos seres humanos na sociedade. Em diferentes culturas e diferentes épocas


houve alguma forma de manifestação do movimento e esta sempre teve primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representam os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levadas para a esfera do lazer (lúdico): “Do brinquedo, do jogo ao lazer moderno um longo processo ocorreu. Para melhor entendêlo, torna-se necessário compreender as formas pelas quais os homens viveram seus múltiplos tempos, em especial o tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho. Mais do que isso, torna-se necessário entender como e quando os homens passaram a separar, no seu cotidiano, estes diferentes tempos. (GEBARA, 1997, p. 62). Considerar a importância da história para o educador, qualquer que seja sua área de atuação, é contribuir para que ele se mova no mundo de hoje com uma larga consciência de sua significação como sujeito histórico. Nesse sentido, Anísio Teixeira já afirmava: “A Pedagogia é toda a cultura humana ou não é nada” (NUNES, 1996). No entanto, construir esta perspectiva é fruto de um árduo e contínuo trabalho na direção de superar os constrangimentos da nossa formação e das nossas circunstâncias, de forjar uma nova erudição na prática da produção do conhecimento histórico: “... Afirmar-se como educador construindo sua identidade pela pesquisa histórica é, antes de tudo, partilhar a concepção de que somos historiadores pela prática e pelo projeto intelectual. (...) ela (afirmação) requer, para além da intenção, a ação concreta, o que significa abraçar as lutas da história no campo institucional, no campo da teoria, na identificação de acervos, na preservação e uso social de fontes documentais, na democratização do conhecimento. Implica, sobretudo, uma nova forma de contato com a experiência vivida, com o intuito de adensá-la, de tornar clara a ligação entre a história que o historiador faz e aquela que o produz”. (NUNES, 1996, p. 19-20).

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CURSO DE FORMAÇÃO DE TREINADORES DE FUTEBOL ÉTICA NO FUTEBOL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão / Academia Ludovicense de Letras São Luis – Maranhão - 29 e 30 de abril de 2016 ÉTICA substantivo feminino 1.

parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

2. p.ext. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. "ética profissional"

A palavra "ética" vem do grego ethos e significa aquilo que pertence ao "bom costume", "costume superior", ou "portador de caráter". Princípios universais, ações que acreditamos e não mudam independentemente do lugar onde estamos. Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão. Na filosofia clássica, a ética não se resumia à moral (entendida como "costume", ou "hábito", do latim mos, mores), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na vida privada quanto em público. A ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que não eram abrangidos na física, metafísica, estética, na lógica, na dialética e nem na retórica. Assim,

a

ética

abrangia os campos que atualmente são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, às vezes política, e até mesmo educação física e dietética, em suma, campos direta ou indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão clássica da ética pode ser encontrado na obra Ética, de Spinoza. Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia, particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas“ e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal. A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa freqüência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.


Definição e objeto de estudo O estudo da ética dentro da filosofia, pode-se dividir em sub-ramos, após o advento da filosofia analítica no século XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradição filosófica. Estas subdivisões são: Metaética, sobre a teoria da significação e da referencia dos termos e proposições morais e como seus valores

de verdade podem ser determinados Ética normativa, sobre os meios práticos de se determinar as ações morais Ética aplicada, sobre como a moral é aplicada em situações específicas

Ética descritiva, também conhecido como ética comparativa, é o estudo das visões, descrições e crenças que se tem acerca da moral Ética Moral, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual. Termo Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos hábitos da espécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Um campo de estudos assim seria obviamente muito vasto para poder ser investigado por qualquer ciência ou filosofia particular. Além disso, porções desse campo já são ocupadas pela história, pela antropologia e por algumas ciências naturais particulares (como, por exemplo, a fisiologia, a anatomia e a biologia),se considerarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos humanos normais e elementos de seu caráter. No entanto, a ética, propriamente dita, restringe-se ao campo particular do caráter e da conduta humana à medida que esses estão relacionados a certos princípios – comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmente caracterizam a própria conduta e a de outras pessoas empregando adjetivos como "bom", "mau", "certo" e "errado". A ética investiga justamente o significado e escopo desses adjetivos tanto em relação à conduta humana como em seu sentido fundamental e absoluto. Outras definições Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisa por várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de "boas" ou "más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E os experimentos em questões morais (sem considerar as consequências práticas inconvenientes que provavelmente propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética, pois a consciência moral seria instantaneamente chamada para a elaboração do experimento e para fornecer o tema de que trata o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência. A filosofia é um processo de reflexão sobre os pressupostos subjacentes ao pensamento irrefletido. Na lógica e na metafísica ela investiga, respectivamente, os próprios processos de raciocínio e as concepções de causa, substância, espaço e tempo que a consciência científica ordinária não tematiza nem critica. No campo da ética, a filosofia investiga a consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos morais sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as instituições e formas de vida social que ela mesma ajudou a criar. "Que ação particular atenderá os critérios de justiça sob tais e tais circunstâncias?" ou "Que grau de ignorância permitirá que esta pessoa particular, nesse caso particular, exima-se de responsabilidade?"


A consciência moral tenta obter um conhecimento tão completo quanto possível das circunstâncias em que a ação considerada deverá ser executada, do caráter dos indivíduos que poderão ser afetados, e das consequências (à medida que possam ser previstas) que a ação produzirá, para então, em virtude de sua própria capacidade de discriminação moral, pronunciar um juízo. O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um problema que recebe uma resposta mais clara e definitiva à medida que os indivíduos se tornam mais aptos a aplicar, no curso de suas experiências morais, aqueles princípios da consciência moral que, desde o princípio, já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há um sentido em que se pode dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades inerentes à natureza da própria moralidade, embora permaneça verdade que as questões que a ética procura responder não são questões com as quais a própria consciência moral jamais tenha se confrontado. O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas morais que pareçam semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas desconsideram, quando agem imoralmente, os preceitos e princípios implícitos da consciência moral produzirão certamente, cedo ou tarde, o desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em dúvida a autoridade da consciência moral e a validade de seus princípios; ou de, por outro lado, justificar juízos morais particulares, seja por uma análise dos princípios morais envolvidos no juízo e por uma demonstração de sua aceitação universal, seja por alguma tentativa de provar que se chega ao juízo moral particular por um processo de inferência a partir de alguma concepção universal do Supremo Bem ou do Fim Último do qual se podem deduzir todos os deveres ou virtudes particulares. Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação contra as instituições morais e os códigos de ética existentes; tal argumentação pode se originar da atividade espontânea da própria consciência moral. Mas quando essa argumentação torna-se uma tentativa de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essa tentativa começa a ser, com efeito, um esforço de tornar a moralidade uma disciplina científica – e especialmente quando a tentativa é vista, tal como deve ser vista afinal, como fadada ao fracasso (dado que a consciência moral supera todos os padrões de moralidade e realiza-se inteiramente nos juízos particulares), pode-se dizer então que tem início a ética como um processo de reflexão sobre a natureza da consciência moral. A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertentente profissional. Existem códigos de ética profissional, que indicam como um indivíduo deve se comportar no âmbito da sua profissão. A ética e a cidadania são dois dos conceitos que constituem a base de uma sociedade próspera. ÉTICA PROFISSIONAL Definições da Web Deontologia, na filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo a qual as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas. Portanto inclui-se entre as teorias morais que orientam nossas escolhas sobre o que deve ser feito. ... http://pt.wikipedia.org/wiki/Ética_profissional O que é ética profissional? A ética profissional é um conjunto de valores e normas de comportamento e de relacionamento adotados no ambiente de trabalho, no exercício de qualquer atividade. Ter uma conduta ética é saber construir relações de qualidade com colegas, chefes e subordinados, contribuir para bom funcionamento das rotinas de trabalho e para a formação de uma imagem positiva da instituição perante os públicos de interesse, como acionistas, clientes e a sociedade em geral. Líderes de empresas e organizações têm defendido que bons ambientes de trabalho, com relações amigáveis e respeitosas, contribuem para o aumento do nível de confiança e comprometimento entre os funcionários,


refletindo no aumento da produção e no desenvolvimento da empresa. E que comportamentos antiéticos prejudicam o clima organizacional, afetando o rendimento das equipes. O Código de Ética Profissional Algumas profissões contam com Conselhos de Representação que têm a responsabilidade de criar Códigos de Ética específicos para cada área de atuação. Você já deve ter ouvido falar no Conselho Federal de Medicina (CFM), ou no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), dois exemplos bastante conhecidos. No nosso caso, SISTEMA CONFEF/CREF Esses Códigos de Ética criados pelos Conselhos existem para padronizar procedimentos operacionais e condutas de comportamento, garantindo a segurança dos profissionais e dos usuários de cada serviço. Eles estabelecem princípios ético-morais de determinada profissão, e preveem penas disciplinares aos trabalhadores que não obedecerem aos procedimentos e normas de sua área, protegendo a sociedade de injustiças e desrespeito em qualquer esfera. Por isso, cabe ainda aos Conselhos a função de fiscalizar o cumprimento dos Códigos de Ética. Fique atento às normas estabelecidas em sua profissão. Independentemente de ter ou não um Código específico, todas as profissões exigem o cumprimento de valores morais e princípios éticos considerados universais como a honestidade, a competência e a responsabilidade. http://www.guiadacarreira.com.br/carreira/o-que-e-etica-profissional/

CÓDIGO DE ÉTICA - RESOLUÇÃO N°025, DE 2.000 DO CONFEF INDRODUÇÃO I - O código de Ética II - A Deontologia III - Das Responsabilidades, Deveres e Proibições IV - dos Direitos V - dos Benefícios e Honorários Profissionais VI - das Infrações VII - das Penalidades VIII - do Julgamento IX - dos Casos Omissos

Dispõe sobre o Código de Ética dos Profissionais registrados no Sistema CONFEF/CREFs O PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, no uso de suas atribuições estatutárias, conforme dispõe o inciso VII, do art. 37 e: CONSIDERANDO, o disposto no inciso VI, do artigo 6º, do Estatuto do Conselho Federal de Educação Física, instituído pela Lei n.º 9.696, de 01 de setembro de 1998;Saúde em Movimento CONSIDERANDO que o Conselho Federal de Educação Física - CONFEF é formador de opinião e educador da comunidade para compromisso ético e moral na promoção de maior justiça social;Saúde em Movimento CONSIDERANDO que um país mais justo e democrático passa pela adoção da ética na promoção das atividades físicas, desportivas e similares; CONSIDERANDO que a ética tem como objetivo estabelecer um consenso suficientemente capaz de comprometer todos os integrantes de uma categoria profissional a assumir um papel social, fazendo com que, através da intersubjetividade, migre do plano das realizações individuais para o plano da realização social e coletiva; CONSIDERANDO que a Educação Física teve seu conceito renovado no Manifesto Mundial de Educação Física FIEP - 2000 e que este documento preconizou no seu art. 15, que os atuais profissionais


de Educação Física precisam readaptar suas atuações e seu processo de aperfeiçoamento em função dos caminhos propostos por este Manifesto; CONSIDERANDO as conclusões do I Simpósio de Ética no Esporte e na Atividade Física, realizado em parceria com a Universidade Castelo Branco e o INDESP, produzidas e apresentadas pela Comissão Especial do Simpósio,composta pelos Profs. João Batista Andreotti Gomes Tojal, Lamartine Pereira da Costa, Heron Beresford e Antonio Roberto da Rocha Santos; CONSIDERANDO as análises e propostas apresentadas pela Comissão de Ética do CONFEF, integrada pelos Profs. João Batista Andreotti Gomes Tojal, Alberto dos Santos Puga Barbosa e Carlos Alberto Oliveira Garcia; CONSIDERANDO as contribuições recebidas pelo CONFEF, através da página na internet e por mensagem eletrônica; CONSIDERANDO a análise da proposta do Código de Ética apresentada pelo Prof. Jose Maria de Camargo Barros; CONSIDERANDO a Minuta do Código de Ética do profissional de Educação Física produzida pelos Profs. João Batista Andreotti Tojal, Lamartine Pereira da Costa e Heron Beresford, disponibilizada na internet para reflexão e análise; CONSIDERANDO, finalmente, o que decidiu o Plenário do CONFEF em Reunião Ordinária, realizada em 20 de fevereiro de 2000; RESOLVE: Art. 1º - Fica aprovado o Código de Ética Profissional de Educação Física que, com esta, é publicado; A ÉTICA E A DEONTOLOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA INTRODUÇÃO Considerada como um importante fator na vida dos indivíduos, a Educação Física apresenta aspectos que lhe conferem características para a sua profissionalização. Entre eles são destacados dois que são a existência de um conhecimento especializado e técnico e a existência de uma competência especial para a devida aplicabilidade, possibilitando que seus valores e benefícios sejam efetivos à sociedade. Na aplicabilidade, traduzida pela atuação do profissional, deve apresentar uma dimensão política e outra dimensão técnica que, mesmo distintas, podem e devem estar sempre articuladas. Apesar dessa aparente dicotomia, na Educação Física há uma dimensão ética integradora dessas duas dimensões, que define a condição de unicidade e indissociabilidade do conhecimento e habilidades na competência profissional, em qualquer que seja o espaço, situação ou local de atuação. Na Educação Física é reconhecida também, a função fundamental da sua teoria, cujo valor encontra-se nos resultados das investigações, que buscam esclarecer e explicar a realidade, visando a elaboração dos conceitos correspondentes e dando suporte a prática. A filosofia da Educação Física, também reforça a dimensão ética, discute seus valores, significados, leva a busca de um desempenho profissional competente, indicando a necessidade de um saber ou um saber fazer, que venha a efetivar-se como o saber bem ou um saber fazer bem, que torne o ideal sublime dessa profissão prestar sempre o melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas, destacando não só a dimensão técnica, mas também a dimensão política, como é desejável. Assim, a atuação profissional está baseada na ética que parte da existência da história da moral, enquanto conjunto de normas que regulam o comportamento individual e social do homem, tendo como ponto de partida, seus valores, princípios e normas, buscando atender aos anseios da sociedade. Por essa condição, a qualidade e competência da atuação dos profissionais, sustentam-se na ética da Educação Física evitando com isso, sua redução a uma atividade normativa ou pragmática que a transformaria em um objeto do senso comum, isto é, num conjunto de regras ou normas adquiridas informalmente.


Sabe-se que, com o desenvolvimento e necessidades de hoje, a sociedade já não aceita mais essa alternativa.

I - O código de Ética A construção do código de Ética para a profissão da Educação Física foi desenvolvida através do estudo da historicidade da sua existência, da experiência de um grupo de profissionais brasileiros da área e da resposta da comunidade específica de profissionais que atuam com esse conhecimento em nosso país. Assim foram estabelecidos os 12 (doze) itens norteadores da aplicação do código Deontológico que fixa a forma pela qual se devem conduzir os profissionais de Educação Física inscritos no CONFEF. 01º - O código de Ética do profissional de Educação Física, formalmente vinculado às Diretrizes Regulamentares do Conselho Federal de Educação Física - CONFEF (Lei Federal n.º 9696 de 01 de Setembro de 1998), define-se como um instrumento legitimador do exercício da profissão, sujeito portanto a um aperfeiçoamento contínuo que lhe permita dar um sentido educacional a partir de nexos de deveres e direitos. 02º - O profissional de Educação Física, inscrito no CONFEF e, conseqüentemente, aderente ao presente Código de Ética, é conceituado como um interventor social, e como tal, deve assumir o compromisso ético com a sociedade colocando-se assim a seu serviço primordialmente, independente de qualquer outro interesse, sobretudo de natureza corporativista. A referência básica deste Código de Ética em termos de operacionalização, é a necessidade em se caracterizar o profissional de Educação Física diante das diretrizes de deveres e direitos estabelecidos regimentalmente pelo CONFEF e seus desdobramentos, isto é, os Conselhos Regionais de Educação Física - CREF`S. Tal sistema deve assegurar, por definição, qualidade, competência e atualização técnica, científica e moral dos profissionais nele incluídos por inscrição e registro legal. 05º - O sistema CONFEF/ CREF deve pautar-se pela transparência em suas operações e decisões, devidamente complementada por acesso de direito e de fato dos beneficiários e destinatários à informação gerada nas relações de mediação e de pleno exercício legal. Considera-se pertinente e fundamental, nestas circunstâncias, a viabilização da transparência e do acesso ao sistema CONFEF/CREF, através dos meios possíveis de informação e de outros instrumentos que favoreçam a exposição pública. 06º - Em termos de fundamentação filosófica, este Código de Ética visa assumir uma postura de referência aos deveres e direitos de modo a assegurar o principio de garantia aos Direitos Universais aos beneficiários e destinatários. Procurando dotá-lo da capacidade de aperfeiçoamento contínuo, este Código de Ética deve adotar um enfoque científico identificando sistematicamente ordens e proibições contidas nos deveres e direitos. Tal processo de atualização progressiva e permanente define-se por proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis. 07º - As perspectivas filosófica, científica e educacional do sistema CONFEF/CREF, tornam-se complementares a este código ao se avaliar fatos na instância do comportamento moral, tendo como referência um princípio ético que possa ser generalizável e universalizado. Em síntese, diante da força de lei ou de mandamento moral (costumes) de beneficiários e destinatários, a mediação do CONFEF/CREF produz-se por posturas éticas (ciência do comportamento moral), símiles à coerência e fundamentação das proposições científicas. 08º - O ponto de partida do processo sistemático de implantação e aperfeiçoamento do Código de Ética do profissional de Educação Física, delimita-se pelas Declarações Universais de Direitos Humanos e da Cultura, como também pela Agenda 21 que situa a proteção do meio ambiente em termos de relações entre os homens e mulheres em sociedade. Estes documentos de aceitação universal elaborados pelas Nações Unidas, juntamente com a legislação pertinente à Educação Física e seus profissionais nas esferas federal, estadual e municipal constituem a base para a aplicação da função mediadora do sistema CONFEF/CREF no que concerne ao Código de Ética.


09º - Além da ordem universalista internacional e da equivalente legal brasileira, o Código de Ética deverá levar em consideração, valores que lhe dão o sentido educacional almejado. Em princípio, tais valores como liberdade, igualdade, fraternidade e sustentabilidade com relação ao meio ambiente são definidos nos documentos já referidos. Em particular, o valor da identidade profissional no campo da atividade física - definido historicamente durante 25 séculos - deve estar presente associado aos valores universais de homens e mulheres em suas relações sócio- culturais. 10º - Levando-se em consideração a experiência histórica e internacional, o dever fundamental do profissional de Educação Física é o de preservar a saúde de seus beneficiários nas diferentes intervenções ou abordagens conceituais, ao lidar com questões técnicas, científicas e educacionais, típicas de sua profissão e de seu preparo intelectual. 11º - O dever fundamental da preservação da saúde dos beneficiários implica em responsabilidade social do profissional de Educação Física e como tal não deve e mesmo não pode ser compartilhado com pessoas não credenciadas quer de modo formal, institucional ou legal. Este dever, corresponde ao direito do pleno exercício da profissão de Educação Física, única e tão somente, aos profissionais preparados e formados em cursos de Graduação do ensino superior, legalmente estabelecidos e específicos e explicitamente incluídos na área de conhecimento da Educação Física, observados seus currículos e programas de formação. 12º - O dever complementar e essencial à preservação da saúde dos beneficiários é o de alcance e manutenção da qualidade, competência e responsabilidade profissional, ora entendido como o mais elevado e atualizado nível de conhecimento que possa legitimar a intervenção e exercício do profissional de Educação Física. II - A Deontologia O CONFEF/CREF, reconhecendo que o profissional de Educação Física, além das designações usuais de Professor de Educação Física, Técnico Desportivo, Treinador Esportivo, Preparador Físico, Personal Trainner, poderá ser designado, de acordo com as características da atividade que desempenha, com as seguintes denominações: Técnico de esportes; Treinador de esportes; Preparador Físico-corporal; Professor de Educação Corporal; Orientador de Exercícios Corporais; Monitor de Atividades Corporais; Motricista; Cinesiólogo, entre outros. Assim, é possível ao sistema CONFEF/CREF estabelecer os princípios fundamentais que balizem o exercício do profissional em Educação Física: Considerando que a profissão de Educação Física é comprometida com o desenvolvimento corporal, intelectual e cultural, bem como com a saúde Global do ser Humano e da comunidade, devendo ser exercida sem discriminação e preconceito de qualquer natureza; Considerando que o profissional de Educação Física deve respeitar a vida, a dignidade, a integridade e os direitos da pessoa Humana, em particular de seus beneficiários; Considerando que o profissional de Educação Física deve procurar no exercício de sua profissão prestar sempre o melhor serviço, a um número cada vez maior de pessoas, com competência, responsabilidade e honestidade; Considerando que o profissional de Educação Física deve atuar dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e desenvolvimento das potencialidades Humanas, daqueles aos quais presta serviços; Considerando que o profissional de Educação Física deve exercer sua profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais e éticos; Considerando as relações do profissional de Educação Física com os demais profissionais com os quais mantenha interfaces de trabalho, relações essas que devem basear-se no respeito, na liberdade e independência profissional de cada um, na busca do interesse e do bem estar dos seus beneficiários. Estabelece o quadro de Responsabilidades e Deveres, Direitos e benefícios.


III - Das Responsabilidades, Deveres e Proibições Art. 1º - São deveres e responsabilidades dos profissionais de Educação Física: I - Promover uma Educação Física no sentido de que a mesma constitua-se em meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seus clientes através de uma educação efetiva para promoção da saúde e ocupação saudável do tempo de lazer. II - Assegurar a seus clientes um serviço profissional seguro, competente e atualizado, livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência, utilizando todo seu conhecimento, habilidade e experiência; III - Orientar seu cliente, de preferência por escrito, quanto às atividades ou exercícios recomendados, levando-se em conta suas condições gerais de saúde; IV - Manter o cliente informado sobre eventual circunstância adversa que possa influir no desenvolvimento do trabalho que será prestado; V - Renunciar às suas funções, tão logo se positive falta de confiança por parte do cliente, zelando, contudo, para que os interesses do mesmo não sejam prejudicados, evitando declarações públicas sobre os motivos da renúncia; VI - Exercer a profissão com zelo, diligência, competência e honestidade, observando a legislação vigente resguardando os interesses de seus clientes ou orientados e a dignidade, prestígio e independência profissionais; VII - Zelar pela sua competência exclusiva na prestação dos serviços a seu encargo; VIII - Manter-se atualizado dos conhecimentos técnicos, científicos e culturais no sentido de prestar o melhor serviço e contribuir para o desenvolvimento da profissão; IX - Avaliar criteriosamente sua competência técnica e legal e somente aceitar encargos quando capaz de desempenho seguro para si e para seus clientes; X - Promover e/ou facilitar o aperfeiçoamento técnico, científico e cultural do pessoal sob sua orientação profissional; XI - Guardar sigilo sobre fato ou informações que souber em razão do exercício profissional; XII - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe; XIII - Manter-se atualizado, cumprindo e fazendo cumprir os preceitos éticos e legais da profissão; XIV - Emitir publicamente parecer técnico sobre questões pertinentes ao campo profissional, respeitando os princípios éticos deste código, os preceitos legais e o interesse público; XV - Comunicar formalmente aos Conselhos de Educação Física fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pelo cumprimento ético e legal da profissão; XVI - Apresentar-se adequadamente trajado para o exercício profissional, considerando os diversos espaços e atividades a serem desempenhadas; XVII - Respeitar e fazer respeitar o ambiente de trabalho, bem como o uso de materiais e equipamentos específicos; XVIII - Conhecer, vivenciar e difundir os princípios do "Espírito Esportivo". I - Contratar, direta ou indiretamente, serviços com prejuízos morais ou desprestigio para a categoria profissional; II - Auferir proventos em função do exercício profissional que não decorra exclusivamente de sua prática correta e honesta; III - Assinar documentos ou relatórios elaborados por outrem, alheio a sua orientação, supervisão ou fiscalização;


IV - Exercer a profissão quando impedido, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não habilitados ou impedidos; V - Concorrer para a realização de ato contrário à lei ou destinado a fraudá-la no exercício da profissão; VI - Prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado ao seu patrocínio; VII - Interromper a prestação de serviços, sem justa causa e sem notificação prévia ao cliente; outro(s) não habilitado(s) ou impedido(s); IX - Aproveitar-se das situações decorrentes de seu relacionamento com seus clientes para obter vantagem corporal, emocional, financeira ou qualquer outra. Art. 3º - A conduta do Profissional de Educação Física com relação aos colegas deve ser pautada nos princípios de consideração, apreço e solidariedade em consonância com os postulados de harmonia da categoria profissional. Parágrafo Único - O espírito de solidariedade não induz nem justifica a conivência com o erro ou atos infringentes de normas éticas ou legais que regem a profissão. Art. 4º - O profissional de Educação Física deve, em relação aos colegas, observar as seguintes normas de conduta: Evitar referências prejudiciais ou de qualquer modo desabonadoras; Abster-se da aceitação de encargo profissional em substituição a colega que dele tenha desistido para preservar a dignidade ou interesses da profissão, desde que permaneçam as mesmas condições que ditaram o referido procedimento; Jamais apropriar-se de trabalhos, iniciativas ou soluções encontradas por colegas, apresentando-os como próprios; Evitar desentendimento com colegas ao qual vier a substituir no exercício profissional. Art. 5º - O profissional de Educação Física deve, com relação à profissão, observar as seguintes normas de conduta: Emprestar seu apoio moral, intelectual e material às entidades de classe; Zelar pelo prestígio da profissão, da dignidade do profissional e do aperfeiçoamento de suas instituições; Aceitar exercer o cargo de dirigente nas entidades de classe, salvo circunstâncias que justifiquem sua recusa, e exercê-lo com interesse e dedicação; Jamais utilizar-se de posição ocupada na direção de entidade de classe em benefício próprio, diretamente ou através de outra pessoa; Acatar as resoluções votadas pelas entidades de classe, inclusive quanto a tabelas de honorários; Auxiliar a fiscalização do exercício profissional e zelar pelo cumprimento deste código, comunicando, com discrição e com embasamento, aos órgãos competentes as irregularidades de que tiver conhecimento; Não formular, junto aos clientes e estranhos, maus juízos das entidades de classe ou profissionais não presentes, nem atribuir erros ou dificuldades que encontrar no exercício da profissão à incompetência e desacertos daqueles; Manter-se em dia com o pagamento da anuidade devida ao Conselho Regional de Educação Física; Apresentar aos órgãos competentes as irregularidades ocorridas na administração das entidades de classe de que tomar conhecimento. IV - dos Direitos – Art. 6º - São direitos dos profissionais de Educação Física; I - Exercer a profissão sem ser discriminado por questões de religião, raça, sexo, idade, opinião política, cor, orientação sexual ou de qualquer outra natureza;


II - Recorrer ao Conselho Regional de Educação Física quando impedido de cumprir o presente código e a lei, no exercício profissional; III - Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Educação Física sempre que sentir-se atingido no exercício profissional; IV - Recusar a realização de medidas ou atitudes profissionais que, embora permitidos por lei, sejam contrárias aos ditames de sua consciência ética; V - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional assim como do seu aprimoramento técnico, científico e ético; VI - Apontar falhas nos regulamentos e normas de instituições que oferecem serviços no campo da Educação Física ou de eventos, quando julgar tecnicamente que estes não sejam compatíveis com este código ou prejudiciais aos clientes, devendo dirigir-se por escrito obrigatoriamente ao Conselho Regional de Educação Física; VII - Receber salários ou honorários pelo seu trabalho profissional. V - dos Benefícios e Honorários Profissionais. Art. 7º - O profissional de Educação Física deve fixar previamente o contrato de serviços, de preferência por escrito, em bases justas, considerando os seguintes elementos: A relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade do serviço a ser prestado; O tempo que será consumido na prestação do serviço; A possibilidade de ficar impedido ou proibido de prestar outros serviços paralelamente; O fato de se tratar de cliente eventual, temporário ou permanente; Necessidade de locomoção na própria cidade ou para outras cidades, do Estado ou País; Sua competência, renome profissional e equipamentos e instalações; Maior ou menor oferta de trabalho no mercado onde estiver inserido; Valores médios praticados pelo mercado em trabalhos semelhantes. Art. 8º - O profissional de Educação Física poderá transferir a prestação dos serviços a seu encargo a outro Profissional de Educação, com a anuência do cliente. Art. 9º - É vedado ao Profissional de Educação Física oferecer ou disputar serviços profissionais mediante aviltamento de honorários ou concorrência desleal. VI - das Infrações Art. 10 - A transgressão dos preceitos deste Código constitui infração disciplinar, sancionada segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades: Advertência escrita reservada com ou sem aplicação de multa; Censura pública, no caso de reincidência específica; Suspensão do exercício da profissão; Cancelamento do registro profissional e divulgação do fato. Art. 11 - O conhecimento efetivo de qualquer infração deste Código por um profissional nele inscrito, sem a correspondente denúncia ao respectivo Conselho Regional, constitui-se em infração ao mesmo.

VII - das Penalidades


Art. 12 - Aplicação de penalidades, conforme os preceitos deste código, ocorrerão após o julgamento pelo T.R.E. e no caso de recurso pela sentença do T.S.E. Art. 13 - A penalidade prevista como advertência, consiste numa admoestação ao infrator reservadamente, acompanhada ou não do pagamento de multa que poderá variar entre 1 e 10 vezes o valor da anuidade. Art. 14 - A censura pública consiste numa repreensão que será registrada em sua ficha no CREF na presença de duas testemunhas. Art. 15 - A suspensão do exercício profissional não poderá ultrapassar a 29 dias com prejuízo dos proventos. Art. 16 - O cancelamento do registro profissional de Educação Física, impede o exercício profissional em qualquer circunstância. VIII - do Julgamento Art. 17 - O julgamento das questões relacionadas às transgressões a este Código de Ética caberá, inicialmente, aos Conselhos Regionais de Educação Física, que funcionarão como Tribunais Regionais de Ética. § 1º - O recurso voluntário somente será encaminhado ao Tribunal Superior de Ética Profissional se o Tribunal Regional de Ética Profissional respectivo mantiver a decisão recorrida. § 2º - É facultado recurso de efeito suspensivo, interposto no prazo de 30 dias, para o Conselho Federal de Educação Física em sua condição de Tribunal Superior de Ética Profissional. IX - dos Casos Omissos Art. 18 - As omissões deste Código serão analisadas pelo Conselho Federal de Educação Física. CÓDIGO DE ÉTICA DA CBF MINUTA EM DISCUSSÃO 2016 C A P Í T U L O I - APRESENTAÇÃO 1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 2. ABRANGÊNCIA E ESCOPO C A P Í T U L O 2 - PRINCIPIOS GERAIS DE ÉTICA RELACIONADAS À GESTÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO 3. CONDUTAS ESPERADAS 4. CONDUTAS GERAIS VEDADAS 5. CONDUTAS VEDADAS RELATIVAS A CLIENTES, FORNECEDORES E PARCEIROS 6. CONDUTAS VEDADAS RELATIVAS A GOVERNOS E AUTORIDADES 7. CONDUTAS VEDADAS RELATIVAS À SOCIEDADE 8. CONDUTAS VEDADAS AOS DIRIGENTES DE ENTIDADES DESPORTIVAS PROFISSIONAIS DE FUTEBOL C A P Í T U L O 3 - PRINCIPIOS GERAIS DE ÉTICA RELACIONADOS A VANTAGENS INDEVIDAS 9. CONFLITO DE INTERESSES 10. SUBORNO E CORRUPÇÃO 11. COMISSÕES 12. INDISCRIMINAÇÃO 13. PROTEÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA E MENTAL 14. INTEGRIDADE DOS JOGOS E COMPETIÇÕES C A P Í T U L O 5 - APLICABILIDADE DO CÓDIGO E MEDIDAS DISCIPLINARES


19. SANÇÕES APLICÁVEIS 20. SUSPENSÃO PARCIAL DA APLICAÇÃO DE SANÇÕES 21. REGRAS GERAIS PARA APLICAÇÃO DE SANÇÕES 22. REINCIDÊNCIA 23. CONCURSO DE INFRAÇÕES 24. PRAZO DE PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO C A P Í T U L O 6 - DISPOSIÇÕES FINAIS 25. APROVAÇÃO E EXECUÇÃO A N E X O I - REGIMENTO DA COMISSÃO DE ÉTICA, DA CAMARA DE INVESTIGAÇÃO E DA CAMARA DE TOMADA DE DECISÃO Representam, para a Confederação Brasileira de Futebol, os seguintes princípios éticos CAPÍTULOI APRESENTAÇÃO - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS a) Atuação segundo padrões que assegurem o respeito à vida, o bem-estar no trabalho, a saúde e a segurança das pessoas e integrantes da entidade; b) b) Estrita observância do conjunto de leis, normas, costumes e regulações e melhores práticas da CBF, as quais regem suas atividades; c) c) Conformidade com os princípios da probidade e da boa-fé; d) d) Observância dos interesses das federações, clubes, patrocinadores e demais entidades com as quais se relaciona; e) e) Transparência sobre os procedimentos envolvidos em suas atividades; f)

f) Manutenção do estrito sigilo sobre as informações confidenciais que lhes forem confiadas em razão dos relacionamentos estabelecidos com a sociedade;

g) Atuação de forma consciente e responsável perante a sociedade em que se insere, buscando seus objetivos empresariais com responsabilidade social, de modo a também contribuir para o desenvolvimento desta sociedade e para a valorização da cidadania. h) No respeito pelo primado da Ética, isto é, saber distinguir o que é “bem”, do que é “mal”, o treinador desempenha um papel particular. i) Os deveres do treinador não se esgotam no cumprimento estrito e rigoroso das suas tarefas profissionais. j) O treinador interfere directamente na vida daqueles que estão sob a sua orientação desportiva mas, para além dessa superior responsabilidade, ele é um modelo de referência, exactamente pela natureza das suas funções, cujas condutas se estendem aos outros agentes que o rodeiam e à sociedade em geral. Ele é um elemento decisivo na estrutura do futebol e do futsal, pelas implicações da sua acção na direcção do processo desportivo e, nessa qualidade, peça fulcral no seio das organizações desportivas e nas consequentes repercussões em toda a sociedade.


CÓDIGO DE ÉTICA E DE CONDUTAS DO TREINADOR DE FUTEBOL E DE FUTSAL Associação Nacional dos Treinadores de Futebol 1. Preâmbulo Embora não seja usual a definição de conceitos em documentos desta natureza, apresentam-se algumas noções básicas sobre o tema, dado que se pretende, também, que este Código tenha um sentido pedagógico. A ética está ligada à moral e estabelece o que é bom, mau, permitido ou desejado em relação a uma acção ou decisão. Ética pode ser definida como a ciência do comportamento moral, já que estuda e determina como devem agir os membros de uma sociedade. Um código, por sua vez, é uma combinação de sinais que tem um determinado valor dentro de um sistema estabelecido. Na lei, é conhecido como código o conjunto de normas que regem um determinado assunto. Um código de ética, portanto, define regras que regem o comportamento das pessoas dentro de uma empresa ou organização. Embora a ética não seja coercitiva (não impõe penalidades legais), o código de ética supõe uma normativa interna de cumprimento obrigatório. As normas mencionadas nos códigos de ética podem estar vinculadas a normas legais. O principal objectivo destes códigos é manter uma linha de comportamento uniforme entre todos os integrantes de uma organização. 1.1 - A função do treinador na sociedade Numa sociedade em que a prática desportiva assume elevada importância social e cultural, a função do treinador de futebol e de futsal, profissionalmente reconhecida por Lei, assume papel de relevo, não só pelo quadro específico da sua intervenção com praticantes e outros agentes mas pelo que representa de modelo e exemplo em muitos dos seus comportamentos. Neste quadro é decisivo o estabelecimento de um código de ética, vinculado às actuais normas legais que referem que “São objectivos gerais do regime de acesso e exercício da actividade de treinador de desporto: a) A promoção da ética desportiva e do desenvolvimento do espírito desportivo; b) b) A defesa da saúde e da segurança dos praticantes, bem como a sua valorização a nível desportivo e pessoal.

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Quer quando orientados para a competição desportiva quer quando orientados para a participação nas demais actividades físicas e desportivas.” No respeito pelo primado da Ética, isto é, saber distinguir o que é “bem”, do que é “mal”, o treinador desempenha um papel particular. Os deveres do treinador não se esgotam no cumprimento estrito e rigoroso das suas tarefas profissionais. O treinador interfere directamente na vida daqueles que estão sob a sua orientação desportiva mas, para além dessa superior responsabilidade, ele é um modelo de referência, exactamente pela natureza das suas funções, cujas condutas se estendem aos outros agentes que o rodeiam e à sociedade em geral. Ele é um elemento decisivo na estrutura do futebol e do futsal, pelas implicações da sua acção na direcção do processo desportivo e, nessa qualidade, peça fulcral no seio das organizações desportivas e nas consequentes repercussões em toda a sociedade. Por isso, a função do treinador impõe-lhe uma diversidade de obrigações legais e morais, muitas vezes difíceis de conciliar, perante: A profissão em geral ou qualquer colega em particular;

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O praticante;

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Os outros agentes activos da actividade desportiva;


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O clube e os dirigentes na instituição que o contrata;

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Os membros, dirigentes e outros, de instituições potencialmente contratantes;

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- Os membros, dirigentes e outros, de instituições com quem compete;

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- As instituições que dirigem o desporto, nacional e internacionalmente;

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- Os elementos da comunicação social;

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- Os cidadãos em geral que se relacionam com as actividades desportivas.

1.2 – As ligações ao Código de Ética da FIFA Como foi referido um Código de Ética “está vinculado às actuais normas legais” e também o da FIFA se aplica aos treinadores, num conjunto de orientações, que se transcrevem em bloco, para mais fácil reconhecimento, particularmente as seguintes: 1 - As pessoas singulares Este código aplica-se a todos os oficiais. Oficiais são todos os conselheiros, membros de comités, árbitros e árbitros assistentes, treinadores e outras pessoas responsáveis técnicos, médicos e administrativos na FIFA, numa confederação, associação, liga ou clube. 3 - Normas gerais 1. Dos treinadores espera-se que estejam conscientes da importância da sua função, assim como das suas obrigações e responsabilidades. A sua conduta deve reflectir o facto de que eles suportam e ainda mais os princípios e objectivos da FIFA, … a federação de todas as maneiras e abster-se de qualquer acção que pudesse ser prejudicial a essas metas e objectivos. Devem respeitar o significado de sua fidelidade a FIFA, … federação, clubes, e representá-los honestamente, dignamente, respeitavelmente e com integridade. 2. Os treinadores devem mostrar compromisso com uma atitude ética no exercício das suas funções. Devem comportar-se e agir com total credibilidade e integridade. 3. Os treinadores não podem, de forma alguma, abusar da sua posição como parte de sua função, especialmente para tirar proveito para ganhos ou fins pessoais. 5 – Conflito de interesses No exercício das suas funções os treinadores devem evitar todas as situações que possam dar lugar a conflito de interesses. Há conflito de interesses quando um treinador tem ou parece ter interesses privados ou pessoais susceptíveis de impedir o cumprimento das suas obrigações com integridade, independência e determinação. Por interesse privado ou pessoal entende-se nomeadamente o facto de retirar benefícios para si, parentes, amigos ou conhecidos 7 – Discriminação Os treinadores não podem ofender a dignidade de uma pessoa ou grupo de pessoas através de palavras ou actos de desprezo, discriminatórios ou para denegri-las, relativos à etnia, raça, cor, Cultura, língua, religião ou sexo. 8 – Protecção de direitos pessoais No exercício das suas funções os treinadores devem assegurar que os direitos pessoais das pessoas com quem eles estão em contacto e com quem eles lidam sejam protegidos, respeitados e salvaguardados. 9 – Lealdade e confidencialidade 1. No exercício das suas funções os treinadores devem reconhecer o seu dever fiduciário especialmente para com a FIFA. Federação, Clubes.


2. No exercício das suas funções, os treinadores deverão manter em absoluta confidencialidade toda a informação recebida, de acordo com o princípio da lealdade. A divulgação de informação ou opinião deve efectuarse de acordo com os princípios, directrizes e objectivos da FIFA, federação e clubes 10 – Aceitação ou oferta de prendas e benefícios 1. Aos treinadores não é permitido aceitar prendas ou outros benefícios que excedam o valor médio relativo de costumes culturais locais a partir de quaisquer terceiros. Se houver dúvida, as prendas devem ser declinadas. 2. No exercício das suas funções os treinadores podem dar prendas ou outros benefícios de acordo com o valor médio relativo de costumes culturais locais a quaisquer terceiros, desde que não sejam ganhas vantagens desonestas e não haja conflito de interesses. 12 – Comissões Os treinadores estão proibidos de aceitar comissões ou promessas de entidades para negociar acordos de qualquer tipo no exercício das suas funções, salvo se o órgão que os preside lhes tenha expressamente permitido fazê-lo. Na ausência de tal órgão que preside, o órgão ao qual o treinador pertence, decidirá. 13 – Apostas Os treinadores estão proibidos de participar, directa ou indirectamente, em apostas, jogos, lotarias e eventos similares ou transacções relacionadas com jogos de futebol. Eles são proibidos de ter participações, ativa ou passivamente, em empresas, consórcios, organizações, etc, para promover, exercer como corrector, organizar ou realizar tais eventos ou organizações. 14 – Dever de informação e comunicação 1. Os treinadores devem denunciar qualquer evidência que indique uma violação das regras de conduta ao Secretário Geral da FIFA, que deverá relatá-la ao órgão competente. 2. As pessoas implicadas terão que, se lhes for solicitado, apresentar elementos ao órgão responsável e, em particular, declarar detalhes de seu conhecimento e fornecer as provas solicitadas para inspecção. 1.3 - A natureza das regras profissionais e éticas 1.3 - 1 - As regras profissionais e éticas aplicáveis ao treinador estão adequadas a garantir, através da sua espontânea observância, o exercício correcto de uma função que é reconhecida como de elevada importância em todas as sociedades civilizadas. O incumprimento dessas regras pelo treinador, não sendo susceptível de ser objecto de sanções disciplinares, é, no entanto, indispensável à honorabilidade e reconhecimento da função. 2 - Princípios gerais que a ANTF elege como referências éticas para o treinador 2.1 – A independência, como qualidade de preservação da isenção relativa a qualquer pressão, que o limite no cumprimento dos seus deveres. 2.2 – A competência, como saber integrado, técnica e cientificamente suportado e em permanente reconstrução. 2.3 – A responsabilidade, como atitude firme e disponível, dirigida ao bem do outro, com mobilização pessoal e assertiva. 2.4 – A integridade, como conjunto de qualidades pessoais que se expressam numa conduta honesta, justa, idónea e coerente. 2.5 – O respeito, como exigência subjectiva de reconhecer, defender e promover em todas as dimensões a dignidade humana. 2.6 - As incompatibilidades como exigência ao treinador de exercer a sua função com a independência necessária e em conformidade com o seu dever de pugnar pela obtenção dos objectivos e resultados desportivos legítimos, das instituições em que exerce a profissão.


3 – Relações com a profissão em geral ou qualquer colega em particular 3.1 – O treinador deve pugnar pela sua formação profissional e desportiva com o propósito de valorização o Futebol Português. 3.2 – O treinador deve contribuir com ponderação, para a pacificação do desporto, abstendo-se de, em público ou em privado, comentar acintosamente actuações de outros agentes desportivos. 3.3 – Ao treinador compete desenvolver acções concertadas com colegas de profissão no seio dos organismos da classe, tendo em vista a defesa intransigente dos direitos e obrigações da sua profissão. 3.4 – O treinador deve contribuir para a inovação regulamentadora e legislativa que fomente e defenda a estabilidade laboral, considerando o trabalho como um meio de sua valorização profissional. 3.5 – O Treinador não pode representar ou agir por conta de duas ou mais entidades relativamente ao mesmo objecto desportivo, se existir um conflito ou um risco sério de conflito entre os interesses dessas entidades. 3.6 – O treinador no âmbito da sua função deve abster-se de se ocupar dos assuntos de qualquer entidade que não aquela em que exerce a sua actividade profissional, quando surja um conflito de interesses, quando exista risco de quebra de fidelidade, ou quando a sua independência possa ser comprometida. 3.7 – A solidariedade profissional exige ao treinador evitar litígios inúteis, ou qualquer outro comportamento susceptível de denegrir a reputação da profissão, promovendo uma relação de confiança e de cooperação entre os treinadores. Porém, a solidariedade profissional nunca pode ser invocada para colocar os interesses da profissão contra os interesses das entidades onde exerce a sua função. 3.8 – Os treinadores devem actualizar e melhorar o seu nível de conhecimento e das suas competências profissionais, numa posição de formação profissional contínua, tendo em consideração a dimensão universal da sua profissão. 3.9 – Litígios entre treinadores 3.9 - 1 - Quando um treinador considere que um colega violou uma regra profissional e ética deve chamar a atenção do colega para esse facto. 3.9 - 2 - Sempre que qualquer diferendo pessoal de natureza profissional surja entre treinadores, devem os mesmos, em primeiro lugar, tentar resolver a questão de forma amigável por entendimento directo. 3.9 - 3 - O treinador não deve iniciar um processo contra um colega, relativo a um litígio previsto nos n.os 3.9.1 e 3.9.2, sem previamente informar a associação de classe, por forma a conceder-lhe a oportunidade de mediar a resolução amigável do diferendo. 3.10 – É dever do treinador só exercer funções para as quais está habilitado, de acordo com os regulamentos em vigor. É igualmente dever do treinador o exercício das funções para as quais é efectivamente contratado, não podendo, em qualquer caso, ludibriar ou contornar os regulamentos e instituições para, de qualquer forma e em benefício próprio ou de terceiros, exercer funções diferentes daquelas que estão legitimamente previstas. 4 – Relações com o praticante 4.1 – É dever do treinador pugnar pela valorização desportiva e pessoal de todos os praticantes que estão sob a sua direcção, criando condições de equidade de tratamento e igualdade de oportunidades. O treinador deve obrigar-se a si próprio, a colocar todo o seu conhecimento e toda a sua competência, direccionados para máxima elevação possível das competências desportivas e pessoais, de todos os praticantes que estão no seu âmbito de intervenção. 4.2 – Os/as treinadores/as que interajam com crianças e jovens deverão adoptar um comportamento modelo, integro e respeitador. O contexto desportivo não pode ser usado para lograr as suas expectativas, ou subvalorizar as suas capacidades. Todas as acções dos treinadores de Futebol/Futsal deverão submeter-se às necessidades das crianças, num ambiente seguro, saudável e de bem-estar. Devem adoptar uma atitude positiva durante as sessões de treino, e encorajar tanto o esforço como o resultado e o espírito desportivo. Devem assegurar-se que o seu nível de qualificações é apropriado às necessidades das crianças e aos diferentes níveis da prestação desportiva, reconhecendo as necessidades de desenvolvimento dos/as atletas. Os/as treinadores/as devem dedicar especial atenção à prevenção do assédio e abuso sexual sobre mulheres, jovens e crianças no desporto, respeitando as orientações específicas sobre comportamentos convenientes e inadmissíveis, de acordo com a Resolução do Conselho da Europa, 3/2000.


4.3 – É dever do treinador, particularmente na intervenção com crianças e jovens, promover a vivênvcia e sensibilidade para valores positivos de carácter social e desportivo, tendo em conta que se trata de etapas em que o praticante constroi ou solidifica a sua personalidade. 5 – Relações com os outros agentes activos da actividade desportiva 5.1 - É dever do treinador contribuir para o cumprimento das regras éticas nas relações com os outros agentes desportivos ou com qualquer outra pessoa que exerça funções no domínio desportivo, ainda que a título ocasional. Pela natureza das suas funções, de direcção de parte significativa do processo desportivo, com responsabilidades pedagógicas relevantes, exige-se ao treinador extremo rigor na defesa desses princípios éticos, constituindo-se como um modelo de referência, abstendo-se, por isso, de quaisquer condutas ofensivas ou que possam denegrir premeditadamente a dignidade de outros. 6 – Relações com o clube e os dirigentes na instituição que o contrata 6.1 – O treinador deve, em todas as circunstâncias, observar o princípio da boa fé e da lealdade funcional e o carácter partilhado das suas funções, nos limites estabelecidos legalmente. 6.2 – O treinador deve abster-se de aceitar o exercício de qualquer tarefa profissional fora do âmbito das funções para que foi contratado. 6.3 – O treinador não pode colocar em risco o cumprimento do dever de lealdade profissional relativamente a outras entidades. 6.4 – O treinador pode, no entanto, estabelecer os contactos e compromissos inerentes à defesa dos seus direitos profissionais, com as entidades que entender, no integral respeito pelo que está regulamentado. 7 – Relações com os membros, dirigentes e outros, de instituições potencialmente contratantes 7.1 – O treinador deve abster-se de aceitar o exercício ou compromisso de qualquer tarefa profissional que colida com as funções que esteja a exercer, colocando em causa os deveres de lealdade para com a entidade em que está contratado. 7.2 – Ao treinador é garantido o direito de negociar com as entidades que entender para a garantia e/ou continuidade da sua actividade profissional, cumprindo o que está regulamentado. Não é criticável neste sentido, e na dinâmica contratual actual, que o treinador estude diversas propostas em simultâneo, da mesma forma que as entidades contratantes o fazem com diversos treinadores, desde que impere o princípio da verdade e da assumpção dos compromissos. 8 – Relações com os membros, dirigentes e outros, de instituições com quem compete 8.1 – O treinador deve cumprir e estimular de forma exemplar a aplicação dos princípios do espírito desportivo com as entidades com quem compete, realçando as possibilidades de afirmação dos valores da convivência e da tolerância que o desporto pode promover, contribuindo, com as suas afirmações e actos, para que um clima positivo se verifique, antes, durante e depois da competição propriamente dita. 9 – Relações com as instituições que dirigem o desporto, nacional e internacionalmente 9.1 – O treinador deve adequar as suas condutas aos diferentes contextos nacionais e internacionais em que vive e exerce a profissão, não perdendo a sua identidade e direitos pessoais e profissionais, mas considerando, no entanto, os diferentes hábitos, tradições e culturas, no desenvolvimento da sua função. Terá como referência significativa neste domínio o já apresentado Código de Ética da FIFA. 10 – Relações com os elementos da comunicação social 10.1 – Ao treinador é devido o mesmo sentido de relações positivas com a Comunicação Social, que com todos os outros intervenientes no fenómeno desportivo. Dadas as particularidades destas entidades, é devido o realce de independência a elas relativo, para obviar a quaisquer situações de vantagem ou favoritismo, de que o treinador se deve abster. É desejável o aproveitamento de oportunidades proporcionadas por estas entidades para o exercício do previsto no ponto 8.1. 11 – Relações com os cidadãos em geral que se relacionam com as actividades desportivas. 11.1 - O treinador tem a obrigação profissional, como pedagogo e condutor de outros cidadãos praticantes, de promover os valores éticos do desporto, mantendo o respeito e a disciplina inerentes à relação social de uma comunidade. 11.2 – O treinador deve manter-se fiel à verdade, lutando contra a ignomínia, a calúnia e a manipulação do pensamento e da vontade colectivas


Lei 8650/93 – Treinador de Futebol [TREINADOR DE FUTEBOL] LEI Nº 8.650/1993. Dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 8.650, DE 20 DE ABRIL DE 1993. Dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º A associação desportiva ou clube de futebol é considerado empregador quando, mediante qualquer modalidade de remuneração, utiliza os serviços de Treinador Profissional de Futebol, na forma definida nesta Lei. Art. 2º O Treinador Profissional de Futebol é considerado empregado quando especificamente contratado por clube de futebol ou associação desportiva, com a finalidade de treinar atletas de futebol profissional ou amador, ministrando-lhes técnicas e regras de futebol, com o objetivo de assegurar-lhes conhecimentos táticos e técnicos suficientes para a prática desse esporte. Art. 3º O exercício da profissão de Treinador Profissional de Futebol ficará assegurado preferencialmente: I - aos portadores de diploma expedido por Escolas de Educação Física ou entidades análogas, reconhecidas na forma da Lei; II - aos profissionais que, até a data do início da vigência desta Lei, hajam, comprovadamente, exercido cargos ou funções de treinador de futebol por prazo não inferior a seis meses, como empregado ou autônomo, em clubes ou associações filiadas às Ligas ou Federações, em todo o território nacional. Art. 4º São direitos do Treinador Profissional de Futebol: I - ampla e total liberdade na orientação técnica e tática da equipe de futebol; II - apoio e assistência moral e material assegurada pelo empregador, para que possa bem desempenhar suas atividades; III - exigir do empregador o cumprimento das determinações dos órgãos desportivos atinentes ao futebol profissional. Art. 5º São deveres do Treinador Profissional de Futebol: I - zelar pela disciplina dos atletas sob sua orientação, acatando e fazendo acatar as determinações dos órgãos técnicos do empregador; II - manter o sigilo profissional. Art. 6º Na anotação do contrato de trabalho na Carteira Profissional deverá, obrigatoriamente, constar: I - o prazo de vigência, em nenhuma hipótese, poderá ser superior a dois anos; II - o salário, as gratificações, os prêmios, as bonificações, o valor das luvas, caso ajustadas, bem como a forma, tempo e lugar de pagamento. Parágrafo único. O contrato de trabalho será registrado, no prazo improrrogável de dez dias, no Conselho Regional de Desportos e na Federação ou Liga à qual o clube ou associação for filiado. Art. 7º Aplicam-se ao Treinador Profissional de Futebol as legislações do trabalho e da previdência social, ressalvadas as incompatibilidades com as disposições desta Lei. Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 9º Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 22 de abril de 1993; 172º da Independência e 105º da República. ITAMAR FRANCO Walter Barelli Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 22.4.1993


CÓDIGO DE ÉTICA - Módulo 6 Prof. Fabio Cunha O Código de Ética dos Treinadores de Futebol segundo a Associação Brasileira de Treinadores de Futebol, diz: “Art. 1o – São deveres dos treinadores, além da defesa, zelar pelo prestígio da classe, da dignidade das Entidades e Associações, do aperfeiçoamento técnico dos atletas em geral. Art. 2o – Deve o Treinador: a) Cumprir com honestidade o contrato que firmam; b) Ser pontual (e assíduo) no cumprimento de seus deveres; c) Providenciar para que as equipes a seu cargo se apresentem nos locais de jogos, dentro do horário oficial, previamente determinado; d) Respeitar as autoridades, assim como as que estiverem em função nos jogos, acatando suas decisões; e) Cumprir e afazer cumprir pelos atletas a seu cargo os deveres para com a disciplina; f) Responsabilizar-se pela atuação de sua equipe; g) Difundir entre seus atletas os conhecimentos relativos às regras e às leis desportivas; g) Não firmar contrato com associação ou entidade, quando estas mantiverem outro treinador, sem a anuência expressa do mesmo treinador; h) Recusar compromisso que considere ilegal ou imoral; Respeitar sua entidade de classe enaltecendo-a sempre que possível. Art. 3o – Não é permitido ao Treinador: a) Fazer declarações aos órgãos de informações que envolvam matéria de ordem administrativa das entidades e associações; b) Fazer comentários desairosos com referência aos seus colegas; c) Envolver-se em qualquer questão política das associações ou entidades. Art. 4o – Relações com as Diretorias: a) Deverá o treinador tratar os diretores e demais funcionários das associações ou entidades com respeito e independência, não deixando de prescindir de igual tratamento por parte deles, zelando sempre pelas prerrogativas a que tem direito; b) Apresentar-se condignamente trajado no exercício da função; c) Ouvir a associação de classe, antes de tomar qualquer atitude que direta ou indiretamente se relacione com a classe. Art. 5o – Deverá sempre o treinador contratar previamente seus serviços por escrito. a) Neste instrumento de locação de serviços, deverá constar além da parte pecuniária (luvas, se houver, salários, gratificações, prêmios etc.) o que se refere às suas obrigações de trabalho, seus deveres e direitos, ficando sempre assegurada a sua condição de liderança da sua equipe de trabalho; Em caso de desistência ou renúncia do cargo, deverá sempre o treinador notificar a associação ou entidade a que estiver servindo, da sua liberação, evitando sempre causar prejuízo com a sua atitude. Art. 6o – Sempre que tenha conhecimento de transgressão ao presente Código, a Associação chamará a atenção do responsável para o dispositivo violado, sem prejuízo das penalidades que couberem, representando à Comissão Disciplinar sempre que o caso exija.


Art. 7o – Fica criada uma Comissão Disciplinar dos Treinadores, a qual será bienalmente constituída de três membros, indicados pela Associação e nomeados pelo seu Presidente. Art. 8o – O presente Código vigorará a partir de 7 de julho de 1976, cabendo à ABTF as providências para sua execução e divulgação. Rio de Janeiro, 7 de julho de 1976. A DIRETORIA” (LEAL, 2001) Executivo de Futebol Área de Atuação

Formação sugerida ► Ensino Superior Completo. ► Conhecimento da Legislação Esportiva. ► Conhecimento em registros e Transferências. ► Conhecimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). ► Noções básicas de Informática. ► Conhecimento da língua inglesa. Código de Ética ► Exemplar conduta entre os Executivos (respeito, lealdade, transparência, entre outros). ► Troca constante de informações significativas. Relação com Treinadores ► Construir e estabelecer uma confiança recíproca entre as partes. ► Esclarecer que as diretrizes do trabalho sempre serão definidas pela Instituição. ► Não vincular-se a carreira do treinador. Relação com Atletas ► Implantar Manual de procedimentos, por escrito. ► Promover demonstrações periódicas das normas, através de palestras e/ou reuniões. ► Estabelecer limites de relacionamentos. ► Fazer obedecer a hierarquia do clube. ► Manter contato freqüente, visando identificar possíveis problemas com antecedência prévia.


UM CAPOEIRA PIAUIENSE DELEGADO DE POLICIA NA CÔRTE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ43 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIALUDOVICENSE DE LETRAS+ Ao buscar as formas ancestrais da Capoeiragem, deparei-me com o livro de Pedro Figueiredo Alves da Cunha: “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)” 44. Ao tratar da “a capoeira na Academia de Direito” [de São Paulo] (p. 87-153), trás quatro personagens, brancos, da elite, praticantes do jogo-luta-arte: um professor – de francês, baiano – e três de, à época, alunos: Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira45, José Basson de Miranda Osório46, e Couto de Magalhães47. Para Costa (2007) 48, no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia – e agora, com a obra de Cunha, inserimos São Paulo -, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, 43

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. 2 ed. São Luís: Edição do Autor, 2015. Disponível em https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 44 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo: Alamenda, 2013. 45 LUIZ JOAQUIM DUQUE ESTRADA TEIXEIRA, nasceu em 06 Junho 1836, no Rio de Janeiro-RJ, falecendo em 09 Setembro 1884 na mesma cidade. Filho de Joaquim José Teixeira e Rita Manuela Duque Estrada Furtado, casado com Isabel Duque Estrada Teixeira, e pai de Luiza Tosta Duque Estrada Teixeira. Doutor em direito pela faculdade de S. Paulo; membro da assembleia provincial do Rio de Janeiro; deputado geral pelo distrito da Côrte nas legislaturas, 14ª, 15ª, 16ª e 18ª; e pela Província do Rio de Janeiro na 16ª; 1º juiz de paz da freguesia da Glória, na Côrte, onde é chefe do partido conservador; distinto advogado, filosofo e literato, membro do Instituto da Ordem dos Advogados brasileiros; deputado geral em 18814. Fonte: https://www.geni.com/people/Luiz-Joaquim-Duque-Estrada-Teixeira/6000000032673397007 46 JOSÉ BASSON DE MIRANDA OSÓRIO era filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório e nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde seguiu para São Paulo, ingressando na Faculdade de Direito. Foi um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822. Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. Faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais, justamente a um mês depois do falecimento de Dona Filismina Basson Carvalho Osório, sua cunhada, sobrinha e esposa. Em sua homenagem, José Basson é o nome de uma Rua, localizada no Centro de Parnaíba, cujo percurso vai da Praça Santo Antonio à Av. Capitão Claro. PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982, p. 236). 47 JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES (Diamantina, 1 de novembro de 1837 — Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1898) foi um político, militar, escritor e folclorista brasileiro.Iniciou os estudos no Seminário de Mariana. Estudou matemática na Academia Militar do Rio de Janeiro e frequentou o curso de Artilharia de Campanha em Londres. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1859, doutorando-se em direito em 1860. Couto de Magalhães conhecia bem o interior do Brasil e foi o iniciador da navegação a vapor no Planalto Central. Foi conselheiro do Estado e deputado por Goiás e Mato Grosso. Foi presidente das províncias de Goiás, de 8 de janeiro de 1863 a 5 de abril de 1864, Pará, de 29 de julho de 1864 a 8 de maio de 1866, Mato Grosso, de 2 de fevereiro de 1867 a 13 de abril de 1868, e São Paulo, de 10 de junho a 16 de novembro de 1889, presidência que ocupava quando foi proclamada a república. Preso e enviado ao Rio de Janeiro, foi liberado em reconhecimento da sua enorme cultura e ações em prol do desbravamento dos sertões brasileiros. Foi afiliado a maçonaria durante o cargo. Falava francês, inglês, alemão, italiano, tupi e numerosos dialetos indígenas. Foi quem iniciou os estudos folclóricos no Brasil, publicando O selvagem (1876) e Ensaios de antropologia (1894), entre outros. Fundou em 1885 o primeiro observatório astronômico do estado de São Paulo, na sua chácara em Ponte Grande, às margens do rio Tietê. https://pt.wikipedia.org/wiki/Couto_de_Magalh%C3%A3es 48 COSTA, Neuber Leite CAPOEIRA, TRABALHO E EDUCAÇÃO. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007.


p. 48) 49; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968)50; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73)51; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)52. Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio53. Outro professor, Pedro Meyer, para além da esgrima, desenvolveu um trabalho mais abrangente no CPII: Nesse sentido, é esclarecedor o relatório apresentado pelo inspetor geral da Instrução Pública do Município da Corte em 1859: Durante o anno passado começou a funccionar com a possível regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares que permittem a maior parte dos exercicios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer 17. De acordo com o inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do coronel Francisco Amoros y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa, falecido em 1848. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amoros, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinville-le-Point, local para o qual Foi transferido em 1852, o principal ginásio antes dirigido pelo Coronel Amoros (Baquet, 199-). Segundo Carmen Lúcia Soares (1998), no método organizado por Amoros destacavam-se os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No CPII, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos.54. Um aluno, reconhecido como capoeira, foi José Basson de Miranda Osório55, nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. 49

NESTOR CAPOEIRA: PEQUENO MANUAL DO JOGADOR. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: UM ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968. 51 PIRES, Antonio Liberac A. CAPOEIRA NA BAHIA DE TODOS OS SANTOS: ESTUDO SOBRE CULTURA E CLASSES TRABALHADORAS (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 52 CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (CADERNOS DE FOLCLORE). 53 Guilherme de Taube, como a maioria dos mestres de gymnastica que passariam pelo CPII ao longo dos oitocentos, era um exoficial do Exército. Sua experiência com os exercícios ginásticos no meio militar serviu como um atestado de sua aptidão para o emprego no Colégio. Durante todo o período imperial não haveria concurso para esse cargo, sendo os profissionais contratados diretamente pelo Reitor ou pelo Ministro do Império, de acordo com a necessidade da instituição. A gymnastica era considerada uma atividade eminentemente prática. Ao contrário dos responsáveis pelas outras cadeiras oferecidas pelo CPII, os pretendentes ao cargo de mestre de gymnastica não eram avaliados por seu conhecimento teórico, mas por sua perícia e experiência de trabalho com esta arte no meio militar ou nas instituições escolares civis. [...] (CUNHA JR, C F F. Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” - uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004) on line, disponível em http://eubras.blogspot.com/search/label/1841-Gymnasia%20militar%20en%20el%20Colegio%20Pedro%20II 54 CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN EDUCACION FÍSICA Y DEPORTE, Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 http://www.efdeportes.com/; CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html 55 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Piauí. In CRONICA DA CAPOEIRAGEM, obra citada, p. 723-738 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atlas da Capoeiragem no Piauí. In CRONICA DA CAPOEIRAGEM, obra citada, p. 740-768 50


Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982) 56: Para Carvalho (2001) 57, entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam: “A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street do Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade. Cunha (2013) 58, ao analisar os depoimentos de vários casos de policia que coletou, reconstituiu uma faceta do jogo da capoeira naquela época caracterizada por uma espécie da dança na qual um homem armado de navalha nas mãos tentava acertar uma varinha curta sustentada pelo adversário. A documentação mostra a capoeira como uma ‘atenuante’ nos casos de ofensa física em São Paulo, uma vez que é associada a uma ‘brincadeira’. [...] 59 ... Correspondências reproduzidas pelo Farol Republicano, em 1829, revelam o envolvimento de um professor de francês do Curso Anexo à recém-montada Academia de Direito, criticado por jogar capoeira também em um chafariz com negros. O caso aponta ser a cabeçada um importante componente do caráter de luta que tal prática já trazia, mas que ganhava ares de brincadeira, beirando a espetáculo, com palmas e assobios acompanhando o gestual. O professor não seria o único intelectual a participar de encontros com cativos e libertos, sendo acompanhado por alguns estudantes do Curso Jurídico em diversas ‘patuscadas’ e desordens noturnas60. 56

PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 57 CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html 58 Obra citada, p. 352 59 Aqui, refere-se à análise de um jogo de capoeira entre um africano livre e um cativo, maranhense, tidos como ‘meninos do chafariz’. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864, in REVISTA DO LÉO 15, DEZEMBRO de 2018, p. 123-124, disponível em https://issuu.com/home/published/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20 60 CUNHA, 2013, p. 152-153.


Informa Cunha (2013), que dentre essas ‘patuscadas’, estava o furto de galinhas, perus, cabritos, que se transformavam em almoços e jatares, promovidos pelos acadêmicos. Em suas investidas noturnas, aos quintais alheios, algumas vezes confrontavam-se grupos de escravos e/ou libertos, que também perambulavam pelas ruas e, algumas vezes, haviam confrontos. Dai, diz o pesquisador, alguns desses estudantes dominavam a principal forma de ataque-defesa dessas populações menos favorecidas. Duque-Estrada comentava com seus colegas que (CUNHA, 2013, p. 128): a prevenção existente contra a capoeiragem era justificada pela degeneração dela. A verdadeira capoeiragem, explicava ele, não admite o auxilio de armas de qualquer natureza. O seu principio básico é que – o homem deve empregar para a sua defesa, ou para o ataque somente os órgãos que da natureza recebeu. E, com efeito, são eles mais que suficientes para a completa preservação da pessoa e para a subjugação do adversário por mais terrível que este seja, ou por mais armado que se apresente, uma vez que não conheça o segredo da arte ou não disponha de agiloidade resultante do seu exercício. Em seguida, expunha ele com método, com clareza, e de modo convincente as funções agressivas ou defensivas da cabeça, das mãos, dos pés, das pernas, e até dos joelhos, próprias a darem imediatamente superioridade nos jogos da capoeira. Cunha (2013) destaca haver “um segredo da arte” entre os praticantes, um significado profundo. Também indica o pesquisador haver, na cidade de São Paulo, uma metodologia de ensino e aprendizagem, algo que ele, o autor, conforme diz, não tem como conferir entre escravos, forros e homens livre pobres, pois não deixaram relatos escrito. Nesse sentido, o uso da palavra “arte”, na fala de Duque-Estrada, implica na compreensão, entre os estudantes de Direito, de que a capoeira era mais do que um ‘jogo de escravos, aproximando-se de outras artes marciais, como o boxe e o savate, e até mesmo como uma forma de expressão artística. Chegou a cogitar-se em fundar uma “Escola de Capoeiragem” em São Paulo, ideia de “um importante capitalista, então na sua completa integridade mental, o general Couto de Magalhães”. Cunha (2013, p. 138) considera que Couto de Magalhães tenha praticado capoeira com estudantes e em meio a cativos e libertos por volta de 1850, além de ter grande proximidade com Duque-Estrada, chegando os dois a participar do mesmo jornal acadêmico. O general ao que parece não desistiu da ideia de fundar uma ‘escola de capoeiragem’, pois em 1897, durante a 2ª Conferencia para o Tricentenário de Anchieta, defendeu o uso da capoeira pelos militares, como mforma de treinamento para lutas corpo a corpo. Voltemos à Basson. Na turma de 1855-1859, José Basson de Miranda Osório era reconhecido como conhecedor da capoeira. Um piauiense descrito como “baixo, claro, loiro, olhos azuis e imberbe. Perito na arte da capoeiragem, destro e valente cacetista”. “Valente e bom capoeira, chefe do grupo de matadores de cabritos”.


Cunha (2013) detalha qual era a atividade ordinária desse grupo: uma espécie de esporte noturno com caçadas a galináceos pelos quintais e cabritos pelas praças e ruas da cidade. Identificado desde os primeiros anos da faculdade, esse “esporte acadêmico” perdurou até o final dos oitocentos, provavelmente associado à capoeira. Continuando o relato, para fazer parte desses exercícios, era essencial estar pronto para os enfrentamentos, como ocorreu certa vez com Basson, surpreendido “quando já havia deitado a unha” em um peru e “apesar da chuva de pancadaria que lhe caiu sobreb o costado, não largou o peru, raciocinando, explicou ele depois que pior seria apanhar a sova e ainda ficar sem o peru. Basson era discípulo de José Calmon Nogueira da Gama, o Juca Gama, exímio esgrimista, de uma das mais tradicionais famílias paulistas. “Robusto e acrobata”.


O FIM DO MINISTÉRIO DO ESPORTE: BOA OU MÁ NOTÍCIA? por Cleber Dias cleberdiasufmg@gmail.com A eleição de Bolsonaro alarmou setores ligados aos esportes. O motivo das preocupações, porém, não estava nas suas filosofias políticas ou nas suas declarações polêmicas. Eram bem mais mundanas as razões do sobressalto. Ainda durante o segundo turno das eleições, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro manifestou preocupações quanto ao futuro dos investimentos governamentais para o setor, que beneficiam grandemente instituições como o próprio Comitê Olímpico Brasileiro.[1] Confirmada a eleição de Bolsonaro, Leandro Cruz, atual Ministro do Esporte, queixou-se do fato de sua equipe não ter sido procurada pelo grupo responsável pela transição de governos. Segundo ele, a falta de interesse prenunciava a pouca importância política que o novo governo pretendia atribuir aos esportes.[2] Como reação, Leandro Cruz tentou justificar a importância de um ministério exclusivamente dedicado aos esportes em artigo na Folha de São Paulo. Segundo dizia esse artigo, mais que bons resultados em competições internacionais, ações governamentais para o setor esportivo justificam-se pelas suas supostas capacidades de promover “inclusão social”. Nas palavras do ministro: “Somos um ministério que mostra resultados sociais. Todos sabemos dos benefícios do esporte na saúde, para geração de empregos e na prevenção à violência”.[3] Mas, afinal, faz sentido reivindicar a existência de um Ministério do Esporte? O Ministério do Esporte de fato tem “resultados sociais” para mostrar? Porque seria benéfico ou vantajoso para o país uma estrutura institucional desse tipo? Seria correto que os esportes podem prevenir a criminalidade, melhorar os índices de educação, gerar empregos e promover a “inclusão social"? Há algum fundamento objetivo para essas crenças? O que nos dizem as evidências disponíveis? * Primeiro, esportes não oferecem oportunidades amplas e efetivas de emprego ou ascensão social. Em 2015, mais de 80% dos jogadores de futebol do Brasil – que é a modalidade com maiores oportunidades profissionais de trabalho e renda – ganhavam apenas até R$ 1.000 por mês, conforme dados oficiais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Comparados com dados do Ministério do Trabalho, é um salário médio inferior ao de categorias profissionais como as de “garçom”, “ascensorista”, “ajudante de pedreiro”, “tratador de porcos” e “catador de material reciclável”. Além disso, a maioria dos contratos de trabalho no futebol é temporário, restrita ao primeiro semestre do ano, quando se realizam os campeonatos estaduais. Depois disso, cerca de 60% desses jogadores têm os contratos de trabalho rescindidos e estão oficialmente desempregados.[4] Um estudo da Fundação João Pinheiro, considerando um amplo universo de ocupações possíveis no setor esportivo, indicou rendimentos médios mensais ainda menores, entre R$ 487 e R$ 560 (em 2010). Segundo este estudo, cerca de 70% dos atletas auferem rendimentos abaixo do salário mínimo e necessitam de uma segunda ocupação. Além disso, conforme indica o estudo, as oportunidades de trabalho nessa área são limitadas, respondendo por menos de 0,5% das vagas de emprego formal no Brasil (a maioria em atividades de condicionamento físico, que em certa medida se diferenciam de esportes propriamente ditos). Não bastasse, entre 2007 e 2012, o desempenho do setor foi inferior ao da média dos demais setores econômicos do país.[5] Se emprego e salário parecerem boas estratégias para a “inclusão social”, os interessados nesse assunto talvez devam buscar outras alternativas que não os esportes. Por mais tocantes que sejam casos de atletas que obtiveram prosperidade por meio dos esportes, tratam-se de exceções que apenas confirmam a regra. * Afora limitações na capacidade do setor esportivo oferecer empregos e assim oportunidades de ascensão social, boa parte dos investimentos governamentais nessa área não se destinam a propósitos de promoção da saúde, estímulo a participação esportiva ou mesmo a tal “inclusão social” – apesar desses tópicos serem frequentemente citados pelos que saem em defesa do envolvimento governamental com esportes, como fez o atual ministro Leandro Cruz e como fazem vários outros que se engajam nessa causa. Há poucos meses, quando o governo de Michel Temer anunciou a criação de um Fundo Nacional para Segurança Pública, que seria em parte constituído por recursos antes destinados aos esportes, uma ampla coalização se mobilizou a fim de tentar reverter a decisão. Durante audiência na Comissão de Esporte da Câmara, o velejador Lars Grael, superintendente de relações institucionais do Comitê Brasileiro de Clubes, classificou a medida como um “equívoco histórico” e um “crime lesa pátria”.[6] O judoca Tiago Camilo, presidente da comissão de atletas do Comitê Olímpico Brasileiro, sugeriu que a diminuição de gastos no esporte comprometeria medidas de combate à violência.[7] Por meio de um vídeo na internet, o tenista Gustavo Kuerten também se manifestou, classificando a medida como “totalmente insensata”; um “ato de desespero e covardia”, ele disse.[8] O ex-jogador de futebol Raí, a ex-jogadora de basquete Magic Paula e Louise Bezerra, ligados a organização Atletas pelo Esporte, também criticaram a medida. Segundo argumentaram, a expectativa de diminuição de


recursos do Ministério do Esporte era “um gol contra para as áreas que têm impacto na prevenção da criminalidade”. Segundo eles, “esporte e educação são parte da estratégia utilizada com êxito em diversos países para diminuir os índices de criminalidade”.[9] Até o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, associação científica que reúne estudiosos brasileiros dos esportes, publicou uma manifestação contra a medida, onde se destacava o esporte e o lazer como "direitos sociais inalienáveis".[10] Nenhuma dessas declarações, contudo, parece ter levado suficientemente em conta a dureza terra-a-terra das políticas de esportes no Brasil, onde cerca de 70% dos recursos públicos gastos nessa área destinam-se ao alto rendimento.[11] Conforme disseram Felipe Sigollo e Pedro Trengrouse, respectivamente, atual secretário executivo adjunto do Ministério do Esporte e professor da Fundação Getúlio Vargas, “sob a ótica do alto rendimento, o Brasil, sem dúvida, está entre os países com maior investimento esportivo nos últimos anos. Foram R$ 8,3 bilhões nos estádios da Copa, R$ 7,2 bilhões nas arenas dos Jogos Olímpicos e, desde 2001, quase R$ 10 bilhões das loterias destinados ao Ministério do Esporte, Comitê Olímpico do Brasil, clubes de futebol, Comitê Paralímpico Brasileiro, Comitê Brasileiro de Clubes e Federação Nacional de Clubes / A soma corrigida de incentivos fiscais, Jogos Pan-Americanos, Mundiais Militares, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Paralímpicos —com os valores destinados anualmente ao esporte olímpico pelas loterias e empresas estatais— passa de R$ 100 bilhões”.[12]. Por princípio, esportes de alto rendimento oferecem poucas oportunidades de participação, além de terem consequências nulas ou até negativas para a maioria da população. Não esqueçamos as violações de direitos humanos e as escassas evidências de legados positivos dos megaeventos recentemente realizados no Brasil.[13] A linguagem abstrata dos direitos sociais inalienáveis pode ser comovente, mas pode também ser enganosa e vazia de conteúdo político. Em palavras de ordem desse tipo, genéricas e pré-fabricadas, não há diagnósticos implícitos ou explícitos, nem tampouco o direcionamento para reivindicações ou propostas concretas. Tudo se resume a um palavrório velho e desgastado. Não é um golpe do azar, portanto, que quase 59% de escolas de ensino fundamental do país não tenham quadras esportivas, conforme dados oficiais do Censo Escolar de 2017 (número que pode chegar a 71%, se considerarmos apenas escolas municipais, que reúnem 64% dos estabelecimentos de ensino fundamental do país).[14] Como se vê, 15 anos de existência de um Ministério do Esporte fizeram muito pouco pela “inclusão social” de crianças e jovens das escolas públicas do país. Em 2005, um relatório do Tribunal de Contas da União sobre o Programa Segundo Tempo, iniciativa do Ministério do Esporte que oferece oportunidades de práticas esportivas para crianças e jovens depois do turno escolar, já apontava para uma falta de representatividade desta ação, que atendia, na época, apenas 1% do total da população entre 7 e 17 anos.[15] Não foi falta de recursos, no entanto, o que impôs essa estreiteza de horizontes e essa tibieza de resultados. Foi falta de prioridade política pura e simplesmente. Ou melhor, foi o predomínio de outras prioridades políticas. * Na mesma época em que ações do Ministério do Esporte voltadas ao esporte educacional atendiam um número reduzidíssimo de crianças e jovens, o Brasil se preparava para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007, que apenas iniciaram a abertura dos cofres públicos para a família olímpica. Pouco depois viriam ainda os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. Nenhum desses esforços, porém, que demandaram altos investimentos, como se sabe, não parecem ter melhorado ou ampliado as condições de prática esportiva das escolas brasileiras, como o provam as atuais situações da maioria desses estabelecimentos de ensino. Dentre as poucas e pobres ações governamentais voltadas aos esportes educacionais, as evidências capazes de sustentar que tais investimentos são benéficos ou eficientes são também bastante controversas. Crianças que praticam esportes têm vantagens educacionais decorrentes deste envolvimento? Projetos com esportes podem de fato prevenir a criminalidade? A literatura especializada nesses assuntos é extensa e inconclusa. Pesquisas sobre os efeitos de esportes sobre a educação, de maneira geral, realizadas em diferentes lugares e a partir de diversos métodos, frequentemente indicam resultados conflitantes.[16] Em meio a achados tão controvertidos, nenhum estudioso sério se precipitaria em afirmar categoricamente que projetos esportivos podem cumprir promessas de desenvolvimento, prevenção ao crime, combate a delinquência juvenil ou "inclusão social", independente das circunstâncias gerais que os envolvem. Ao contrário, existem mesmo sérias objeções acadêmicas à ideia de que o esporte ou políticas públicas nesse setor podem afetar condições gerais de vida e cidadania. Na verdade, vários pesquisadores que estudam o assunto se referem a suposição de que os esportes podem agenciar transformações sociais como algo "problemático", "sem muito efeito" ou tão somente como "ideologias carentes de evidências". Andrew Guest, por exemplo, professor da Universidade de Portland, nos Estados Unidos, ao realizar uma pesquisa de campo em meio a um projeto de esportes para residentes de um campo de refugiados na África, concluiu que a iniciativa simplesmente não era capaz de promover os objetivos que prometia. Conforme suas duras palavras, “suspeito que o esporte não pode ser uma parte útil do desenvolvimento [...] Esportes não desenvolvem diretamente ninguém ou qualquer comunidade”.[17] Alguns outros vão além, afirmando não apenas que os esportes, na maioria das vezes, de fato não são capazes de promover a tão almejada "inclusão social", como dizem ainda que políticas públicas concentradas em oferecer esportes para comunidades pobres podem até mesmo atrapalhar o desenvolvimento social. Conforme famosas palavras de Jay Coakley, professor da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, ao direcionar recursos públicos geralmente escassos para tais projetos, essas iniciativas, apesar de bem-intencionadas, podem às vezes camuflar e até fazer esquecer os verdadeiros


problemas que afligem essas comunidades.[18] Nesse sentido, tais projetos desviam a atenção dos problemas fundamentais e acabam por dificultar a orquestração de esforços com maior potencial de realmente mitigar a pobreza e promover o desenvolvimento. Frequentemente, projetos de esportes voltados para residentes de bairros pobres limitam-se a oferecer escusas para políticos dissimularem que estão fazendo algo de útil e importante em favor desses grupos, quando na verdade estão fazendo muito pouco ou quase nada; ou então para que gestores de organizações não governamentais garantam recursos financeiros para suas próprias instituições, quando não para os seus próprios bolsos. Em todos os casos, é a indústria do problema social em plena ação. O principal problema dos pobres é sempre a pobreza, e não a falta de oportunidades de praticar esportes. Quando o ministro do esporte afirma que “todos sabemos dos benefícios do esporte”, ele talvez precise então especificar melhor o sujeito da oração. Todos, quem? * Fred Coalter, professor da Escola de Esportes da Universidade de Stirling, na Escócia, e uma das principais autoridades internacionais em estudos sobre políticas de esporte, dono de uma volumosa e reputada obra sobre o assunto, há anos vem chamando atenção para a sistemática falta de evidências que marca o pensamento e a prática política da atuação governamental com relação aos esportes. Segundo suas conclusões, não é a participação em esportes o que contribui para a “inclusão social”, mas sim a “inclusão social” o que permite a participação em esportes.[19] Rigorosamente no mesmo sentido, Anthony Veal, professor da Universidade Tecnológica de Sidnei, na Austrália, concluiu, a partir de um amplo estudo de quase 30 países europeus, que a desigualdade de renda é o fator fundamental a facilitar ou dificultar a participação em práticas esportivas. Desse modo, ele afirma, políticas públicas dedicadas especificamente aos esportes teriam pouca ou nenhuma capacidade de alterar os índices de participação esportiva, mesmo quando fossem estes os objetivos dessas políticas (o que de todo modo nunca foi o caso do Ministério do Esporte no Brasil, que sempre privilegiou os esportes de alto rendimento, como destacamos). Segundo palavras do pesquisador australiano, “se a causa fundamental dos problemas sociais é a desigualdade estrutural na sociedade, políticas focadas diretamente sobre o problema da desigualdade na participação esportiva dificilmente serão bem-sucedidas”.[20] Situações bem documentadas em que esportes parecem ter contribuído ou de alguma forma tomado parte em iniciativas bem-sucedidas com propósitos de desenvolvimento social existem, mas não são tantas quanto os defensores mais entusiastas do envolvimento governamental com esportes fazem parecer. “Desenvolvimento”, “cidadania” ou “inclusão social”, além de conceitos cheios de ambiguidades, não contam com fórmulas pré-estabelecidas para a sua realização, de modo que alcançá-los é um empreendimento difícil e incerto. Nesses casos, o que pesquisadores examinam não é se esportes podem ou não oferecer oportunidades nesse sentido – o que é sempre relativo e dependente de uma grande variedade de condições, às vezes inteiramente circunstanciais. O que se examina são justamente as condições que parecem facilitar ou dificultar a realização de objetivos dessa natureza. Ninguém sabe ao certo que condições são essas. Se soubessem, haveria então uma fórmula pronta para ser seguida e seríamos todos felizes para sempre. No entanto, embora não ofereçam receitas, o acúmulo de pesquisas sobre o assunto já sugere insights e aponta caminhos. De projetos para a prática de esportes entre meninas na Índia, até jogos de basquete em bairros com altos índices de criminalidade nos Estados Unidos, passando pela oferta de esportes para jovens com suas famílias na Islândia, um elemento frequentemente presente é a profunda articulação dessas iniciativas com outros projetos e instituições movidos por finalidades muito mais amplas do que a prática de esportes em si mesmo.[21] Profunda articulação com outros projetos e instituições movidos por finalidades muito mais amplas, bem entendido, não equivale a discursos bonitos, mas vazios, de que o propósito deste ou daquele projeto de esportes é o de formar cidadãos e não atletas, o que muitas vezes está limitado ao plano meramente retórico. Projetos de esportes que acontecem na escola ou que dizem ter finalidades educativas, mas que não têm relação com currículos, com professores ou com projetos pedagógicos das escolas, na prática não guardam nenhuma articulação nem com as escolas, nem tampouco com projetos educacionais de maneira mais ampla. Com efeito, é precisamente desta maneira desarticulada das escolas e de seus projetos pedagógicos que funciona o Programa Segundo Tempo - aquela iniciativa do Ministério do Esporte que oferece oportunidades para uma parcela reduzidíssima da população em idade escolar. * Ao que tudo indica, portanto, nas situações em que há indícios empíricos de que os esportes parecem ter desempenhado algum efeito positivo e significativo sobre projetos de desenvolvimento social, o esporte aparece como uma espécie de pretexto ou “ponto de partida” para mobilizar e motivar indivíduos a se engajarem em certas ações – que podem ser de combate ao crime, de orientação sexual, de reforço escolar, de capacitação para o trabalho ou de desincentivo ao consumo de álcool entre jovens, entre várias outras possibilidades.[22] Assim, quanto mais integrado com outros projetos e instituições voltadas a “inclusão social” ou a prevenção da criminalidade, melhor; enquanto mais isolado dessa rede de ação, pior.


Nesse contexto, a ideia de subordinar políticas de esporte a políticas educacionais, vinculando o Ministério do Esporte ao Ministério da Educação, parece não apenas boa, como talvez seja a mais lógica e sensata medida a ser tomada nesse quesito. Tal decisão, de fato, pode representar uma derrota para os atletas de alto nível, para os gestores de organizações nãogovernamentais que manejam iniciativas ligadas aos esportes ou ainda para os dirigentes de federações e confederações esportivas, que apesar de serem entidades privadas e oferecerem benefícios limitadíssimos ao conjunto da população, se é que oferecem algum, têm historicamente sido os principais beneficiários das políticas e investimentos públicos em esportes no Brasil. Como bem demonstrou certa vez João Malaia, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, desde que o Estado brasileiro se envolveu sistematicamente com o apoio e o financiamento de práticas esportivas, ainda nos meados da década de 1920, subsídios para atletas participarem em competições internacionais e para a organização de grandes eventos esportivos têm sido a tônica dessas políticas.[23] Grosso modo, políticas de esporte no Brasil têm sido apenas uma forma sutil e mais ou menos hipócrita de garantir acesso de grupos privilegiados às chaves que guardam os recursos dos cofres do Tesouro. Muitos dos que criticam e se mobilizam contra a extinção do Ministério do Esporte fazem-no, é certo, por boa fé; movidos que estão por uma ideologia obtusa, mas bem-intencionada, como o são quase todas as ideologias. Outros, porém, menos inocentes, fazem-no apenas por receio de que a diluição institucional das ações governamentais dessa área lhes prive do acesso direto ao balcão de negócios que a porta da sala dos Ministros de Estado pode franquear com mais facilidades. A defesa do esporte ou de uma decidida ação do Estado nessa área, porém, não deve se confundir com a defesa dos interesses de atletas de elite. Tampouco deve se confundir com os interesses de grandes federações e confederações esportivas. Também não deve se limitar a reproduzir uma ideologia ingênua e mal informada, que atribui superpoderes de transformação social aos esportes. Tudo isso são apenas fantasias irrealistas ou lobbies corporativos (chamados também rent-seeking, isto é, tentativas de obter vantagens econômicas por meio da influência política). Talvez já tenha passado da hora das vozes críticas que pensam o esporte se erguerem contra esse estado de coisas, a fim de se empenharem mais decididamente em separar o bebê da água suja da bacia. Conforme revelaram os dados do Diagnóstico Nacional do Esporte, a maior parte dos praticantes de esportes no Brasil (70%) não têm vínculos com instituições esportivas (clubes, ligas ou federações).[24] O caráter informal e institucionalmente desorganizado desses esportistas amadores tende a privá-los de representação política nas instâncias decisórias do poder público. Afinal, não se veem em Brasília lobistas ou grupos de pressão organizados a defender os interesses difusos dos que praticam esporte por lazer. Em defesa desses grupos, não há manifestos, cartas públicas, vídeos no youtube, discursos no Congresso ou artigos em jornais de grande circulação. O fim do Ministério do Esporte como estrutura autônoma, em favor de ações integradas às políticas educacionais, afora garantir, ao menos formalmente, o cumprimento do preceito constitucional que determina privilegio do investimento estatal nesse setor ao esporte educacional, algo olimpicamente ignorado nos últimos anos, pode ser o prenúncio de uma pequena vitória para os milhões de estudantes das redes públicas de educação do Brasil, onde de fato se concentram os jovens e crianças pobres do país, quase sempre desprovidos de quaisquer apoios ou incentivos para a prática de esportes. Nada garante que será esse o caso. Oxalá, que assim seja! _____________________________________ [1] Marcelo Laguna. Haverá mobilização se próximo governo cortar verbas, diz presidente do COB. Folha de São Paulo, 11 out. 2018. [2] Diego Garcia, João Gabriel e Sérgio Rangel. Esporte não será prioridade em governo Bolsonaro, diz atual ministro. Folha de São Paulo, 13 nov. 2018. [3] Leandro Cruz. O esporte como prioridade. Folha de São Paulo, 16 nov. 2018, p. A3. [4] Rodrigo Capelo. A fábrica de ilusões do futebol. Época, 22 fev. 2016. [5] Fundação João Pinheiro. Cadeia produtiva do esporte de alto rendimento em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2013. [6] https://www.youtube.com/watch?v=PbSZ9ZtjEF8. [7] Marcelo Laguna. Entidades do esporte se unem para evitar perda de R$ 300 milhões. Folha de São Paulo, 12. jun. 2018. [8] https://www.youtube.com/watch?v=vaxZG_PPXak. [9] Raí, Magic Paula e Louise Bezerra. Um novo 7 a 1 no esporte brasileiro. Folha de São Paulo, São Paulo, 1 jul. 2018, p. A3. [10]http://www.cbce.org.br/upload/biblioteca/Manifesta%C3%A7%C3%A3o_CBCE_MP_841.pdf [11] Marcelo Resende Teixeira e colaboradores. Esporte, fundo público e pequena política: os reveses de um orçamento (r)emendado. Movimento, Porto Alegre, v. 24, n. 2, p. 593-606, abr./jun. de 2018; Fernando Mascarenhas. O orçamento do esporte: aspectos da atuação estatal de FHC à Dilma. Revista Brasileira Educação Física e Esporte, v. 30, n.4, p. 963-980, out./dez. 2016. [12] Felipe Sigollo e Pedro Trengrouse. Investimento inteligente no esporte. Folha de São Paulo, 26 jun. 2018, p. A3.


[13] Andrew Jennings e colaboradores. Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas? São Paulo: Boitempo, 2014; Dave Zirin. O Brasil dança com o diabo: Copa do Mundo, Olimpíadas e a luta pela democracia. São Paulo: Lazuli, 2014, especialmente cap. 7; Flávio de Campos. O lulismo em campo: aspectos da relação entre esportes e política no Brasil. In: Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros (organizadores). Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo. São Paulo: Boitempo / Fundação Lauro Campos, 2017, p. 241-247. Uma visão mais panorâmica sobre o assunto encontra-se em John Horne. The Four ‘Knowns’ of Sports Mega‐Events. Leisure Studies, v. 26, n. 1, p. 81-96, 2007. [14] Brasil. Censo Escolar 2017: notas estatísticas. Brasília / Rio de Janeiro: Ministério da Educação / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2018, p. 6. [15] Tribunal de Contas da União. Relatório de Avaliação do Programa Segundo Tempo. Brasília: Tribunal de Contas da União, 2006, p. 20 e 84. [16] Dois exemplos: Richard Bailey. Physical education and Sport in Schools: a Review of Benefits and Outcomes. Journal of School Health, vol. 76, p. 397-401, 2006; H. David Hunt. The effect of extracurricular activities in the educational process: influence on academic outcomes? Sociological Spectrum, v. 25, issue 4, 2005. [17] Andrew M. Guest. The diffusion of development-through-sport: analysing the history and practice of the Olympic Movement’s grassroots outreach to Africa. Sport in Society, v. 12, n. 10, Dec. 2009, p. 1.346 e 1.348. [18] Jay Coakley. Using sports to control deviance and violence among youths: Let’s be critical and cautious. In: Margaret Gatz, Michael A. Messner & Sandra J. Ball-Rokeach (Editors). Paradoxes of Youth and Sport. Albany: SUNY Press, 2002, p. 13-30. [19] Anthony J. Veal. Leisure, income inequality and the Veblen effect: cross-national analysis of leisure time and sport and cultural activity. Leisure Studies, v. 35, issue 2, 2016, p. 226. [20] Uma síntese recente das observações deste autor sobre o assunto pode ser encontrada em Fred Colter. Sport for Development: What game are we playing? New York: Routledge, 2013. [21] Tess Kay. Developing through sport: evidencing sport impacts on young people. Sport in Society, v. 12, issue 9, p. 1.177-1.191, 2009; Inga Dóra Sigfúsdóttir e colaboradores. Substance use prevention for adolescents: the Icelandic Model. Health Promotion International, v. 24, Issue 1, p. 16–25, 2009; Douglas Hartmann e Brooks Depro. Notes on Midnight Basketball and the Cultural Politics of Recreation, Race, and At-Risk Urban Youth. Journal of Sport and Social Issues, v. 25, n. 4, p. 339-371, 2001. [22] Geoff Nichols e Iain Crow. Measuring the Impact of Crime Reduction Interventions Involving Sports Activities forYoung People. Howard Journal, v. 43, n. 3, p. 227-236, 2004; Douglas Hartmann. Theorizing Sport as Social Intervention: A View From the Grassroots. Quest, v. 55, n. 2, p. 118-140, 2003. [23] João Manuel Casquinha Malaia Santos. Brazil: An Emerging Power Establishing Itself in the World of International Sports Mega-Events. The International Journal of the History of Sport, v. 31, Issue 10, p. 1312-1327, 2014. [24] Brasil. Diesporte, caderno 2: o perfil do sujeito praticante ou não de esportes e atividades físicas da população brasileira. Brasília: Ministério do Esporte, 2016, p. 40. * Para o artigo completo em PDF: O fim do Ministério do Esporte - boa ou má notícia [pdf].


BOX 4 – REFLEXÕES DE MESTE ANDRÉ LACÉ

De:

André Lacé - Enviada:

Para:

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

61

segunda-feira, 11 de novembro de 2013 14:45:46

Prezado Leopoldo Vaz, Continuo aguardando mais informações do Professor João Alberto Barreto. [...] Mas, data venia, a clássica e tradicional manipulação dos governos, especialmente os ditatoriais, das culturas populares mereceria, pelo menos, alguns parágrafos. Em que pese ser assunto que muitos preferem colocar para debaixo do tapete da História. Leia o Manual do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda, por exemplo. Não tenho dúvida que interferiram também na afro-capoeira, cooptando alguns, perseguindo os demais (veja foto). Se não fosse embranquecido e aburguesado, o ensino da capoeira poderia também formar perigosos líderes populares. Urgia, pois, localizar um símbolo negro e embranquecer o seu trabalho. A Capoeira Regional não existiria não fosse a fundamental contribuição de dois médicos maçons, um deles, do mesmo estado do interventor na Bahia, na época, com problemas em relação à protestos estudantis na Faculdade de Medicina. Essa contribuição está bem clara no livro de Decânio, inclusive substituição de parte da liturgia afro-brasileira pela liturgia acadêmica, cuja fonte era a fantástica Universidade de Coimbra. Com base, então, na Gyminastica Nacional” de ZUMA e outros, foi criada a “Regional”. Que, ao meu juízo, nem é luta eficaz nem é, obviamente, folclore autêntico. Já existem alguns “papers” sobre isso, mas, atenção, é tema explosivo, abominado por algumas vestais deste templo da fantasia. Minha sugestão é apenas tocar de leve nessa versão, diplomaticamente, pois é de interesse pesquisatório. Outro tópico que me parece interessante é a possibilidade do Moringue ser o avozinho da afro-capoeira e, também, do savate e do chausson. Em Marselha, setembro passado, tive a sorte de conversar cm um aluno do Mestre Camaleão, nascido na Ilha de Reunion, no Oceano Índico, onde eu também já estive. 61

Correspondencia pessoal - From: alace@alternex.com.br To: vazleopoldo@hotmail.com Capoeiragem & Reviews & Criticism.docx


Reflexão I Curiosa e sintomática a pergunta [...] que me fez: Quando e como a Angola começou a renascer superando a pressão da regional? Em certa medida, através de algumas crônicas, publicadas até em jornais no exterior e veiculadas também na Internet, já andei refletindo sobre esse tema. Entendo que os "regionalistas" têm uma relação de Amor e Ódio com os "angoleiros". De ÓDIO porque tentaram de todos os modos venderem a Regional como a melhor capoeira do mundo, a capoeira definitiva, podendo as demais serem jogadas no lixo. A rigor ainda tentam e tentarão sempre, mas, jamais conseguirão. E relação de AMOR, pois, sempre que acusada de alienada e alienante, a Regional corre para debaixo da saia da Angola e da Negritude. Quem contribuiu, de maneira brilhante e talentosa, para a Angola não sucumbir ao massacre marqueteiro de sua "rival", sem sombra de dúvida, foi o Pedro Moraes Trindade. Para começar, assim como Rafael Flores fez a Regional refluir no Rio de Janeiro, Moraes fez o mesmo trabalho com a Angola (sem negar o mérito de grandes “angoleiros”, muito antes dele, como o grupo Joel Lourenço de Almeida e outros, favorito disparado do grande e saudoso baiano Edison Carneiro). Foi no Rio que as duas, no período estipulado pela sua pergunta, começaram a ressoar mais fortemente para o resto do Brasil e pelo mundo afora. Haja vista para o caso mais recente, do extraordinário Minotauro, excelente lutador na Bahia, à medida que veio para o Rio, ficou ainda melhor e estourou para o mundo. Queiram ou não, sem negar as crescentes mazelas da Cidade Maravilhosa, é ainda onde os sucesso regionais ressoam para o mundo. Assim como os irmãos Minotauro & Minotouro, Moraes já chegou mestre no Rio, mas, foi no Rio que, dando voltas do mundo com exímios capoeiras, aprimorou ainda mais seu talento. Quem assistiu a "volta do mundo" que o Moraes fez com Artur Emídio, no Terreiro São José Omulu & Omolocô, lá no Pantanal, em Duque de Caxias, concordará plenamente com o que estou afirmando. Do Rio, Moraes ganhou o mundo, especialmente Estados Unidos, onde realizou palestras e exibições que impressionaram a todos. Até porque, além de jogar, tocar e cantar muito bem, Moraes tem realmente fundamento, tem ideologia, tem militância. Além do Morais, eu salientaria também outro extraordinário nome, João Grande! Quem assistiu a uma aula do Mestre em sua academia em Manhattan, concordará também comigo. Bueno, fico por aqui, mas sem negar jamais a contribuição dos grandes mestres de angola, começando pelo extraordinário e saudoso Pastinha e seu outro fiel e brilhante seguidor João Pequeno, passando por Mestre Caiçara e tantos outros, e já valendo dedicar um bom espaço para o talento capoeirístico e o trabalho social do Cobra Mansa Sendo também oportuno lembrar que, uma resposta completa, teria que dar igual destaque a vários outros estilos de Capoeira. Reflexão II Parece mesmo a lenda do "menino que acabou com a hipocrisia do povo deslumbrado com a roupa do rei que desfilava, simplesmente, pelado". - O Rei está nu, exclamou ele. Claro o angoleiro dinamarquês Hans Christian Andersen conta essa história bem melhor. O resumo que você apresenta sobre a Capoeira Regional, muito correta, permite perceber as contradições que caracterizam a sua gênese e evolução, vejamos dois simples exemplos: 1. Como sempre se apresenta, ao mesmo tempo, duas versões conflitantes entre si: Primeiro, que a Regional nasceu do Batuque; Segundo, que a Regional nasceu do enriquecimento da capoeira tradicional praticada em Salvador, enriquecida com vários golpes e movimentos de lutas estrangeiras.


2. O terrível Departamento de Imprensa e Divulgação, DIP, e similares, da Era Vargas.

Uma das estratégias desse departamento era identificar e cooptar lideranças populares. Especialmente na Bahia, onde, com certa razão, o povo baiano não gostou da nomeação de um tenente cearense para governálos. Ora, Cisnando (Sisnando? Vejo o nome gravado dessas duas maneiras), conhecedor de várias lutas estrangeiras, também cearense, foi fundamental na formulação do convite que Bimba recebeu para se apresentar no Palácio do Governador. E, também, no seu contrato para trabalhar no CPOR baiano. Embora não seja especialista em biografia, registro que a trajetória o Senhor Sisnando, uma vez formado em medicina, foi extremamente vitoriosa, inclusive ocupando cargos públicos e, salvo engano, elegendo-se prefeito em alguma cidade baiana, o que, para um municipalista convicto como eu, o torna pessoa ainda mais importante). 2.1 Foi lá, no Exército, onde Bimba tomou conhecimento das "Emboscadas", exercício militar tão antigo quanto o mais antigos dos exércitos. Já li, entretanto, tese "doutorá" jurando que foi ao contrário, Bimba é que teria ensinado ao Exercício, o exercício secular das Emboscadas dramatizadas. 2.2 O CPOR, aliás, e a propósito, parece mesmo ter sido um marco na gestação da “Regional”. Coincidindo com a exigência de pagamento e teste para entrar na “academia”, com o objetivo de afastar os vagabundos e melhorar a imagem da capoeira, pode-se perceber que os novos alunos estavam mais para o CPOR do que para o serviço militar do povão, como simples soldado (“reco”). A nova exigência pode ter impedido a entrada de vagabundos, mas acabou impedindo também o ingresso de candidatos pobres, geralmente afro-descendentes, com grande potencial de patriotismo e liderança (constante preocupação dos órgãos de inteligência de todas épocas pelo mundo afora). Repare, Matthias, que, salvo engano, o próprio Sisnando, no retrato colocado no Quadro de Honra de formados por Mestre Bimba, aparece fardado. 2.3 Em longa e extremamente simpática e reveladora entrevista que fiz com Mestre Bimba demonstrando excelente percepção e grandeza ainda maior contou detalhes sobre o aluguel (atrasado) que pagava para uma instituição religiosa: cria-se filho para a vida, mas o fato é que, hoje em dia, ao invés de arriscarem vir ao Pelourinho (na época, realmente, muito abandonado) os pais preferem matricular seus filhos em locais mais apropriados e aprenderem capoeira com um de meus ex-alunos. Impossível discordar, mas, sem dúvida, esse quadro é que provocou o seu “exílio” para Goiás (leia as cartas de Mestre Oswaldo de Souza, em anexo). 2.4 Outro fato significativo, mas, muito pouco explorado, é que o tenente Juracy, assim como tratou de freqüentar a cultura baiana, inclusive candomblés, era também informante do FBI. Da mesma forma que, segundo vários pesquisadores, alguns mestres de capoeiras mais modernos foram informantes da chamada Ditadura Militar. Não se trata aí de reviver fantasmas e ideologias, mas, convenhamos, a História da Capoeira, desde África (Costas Ocidental e Oriental) está pontilhada de tais exemplos. [...] A verdadeira História da Capoeira acabará aflorando. Antes, porém, teremos que aturar a publicação bilíngüe de alguns livros luxuosos,


patrocinados por verbas públicas, provando por mais A mais B, de maneira surrealista que “a Regional, não só veio do Batuque, como, também, não veio do batuque”. E que Tenente Juracy Magalhães, autor da famosa frase "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", era um comunista da pesada, filiado ao POLOP, e defensor da linha sino-cubana. Creio que na tradução do seu livro para o português, tais reflexões – sem ironia e de maneira bem acadêmica - deverão merecer algum espaço. “The History of an afro-brazilian Martial Art” (Matthias Röhrig Assunção)

[...] dizer que seu trabalho foi uma grata surpresa, um dos mais completos que li, até com coragem, não de agradecer minha modesta colaboração quando da sua primeira visita aqui em casa, mas, de comentar algumas de minhas afirmações e citar alguns dos meus livros ao final do seu. Coisa raríssima, seguramente você desagradou a muita gente, especialmente aos meninos de recado da tal liga do dendê.. Alguns deles, aliás, também citados e elogiados em seu livro. Não o estou culpando, Matthias, você deve ter sido muito bem recebido por eles e, seguramente, teve a oportunidade de também vivenciar a parte boa da Bahia, que é realmente fascinante e majoritária. Bueno, o que interessa agora é que você tem planos de verter seu livro para o português. Excelente idéia! Chance milagrosa e oportuna para serenamente mergulhar fundo, refletir muito e escrever sobre os aspectos absolutamente fundamentais para a melhor compreensão do fenômeno Capoeiragem. Com prazer, nessa sua nova visita ao Quilombo do Leblon, passei-lhe as mãos, um CD-ROM com o Power Point que utilizei como apoio em longa palestra (quase dez horas) que realizei num curso sobre Capoeiragem, nível de pósgraduação (?), promovido pela Universidade Estácio de Sá. Aliás, palestra que você também fez e igualmente, até hoje, não recebeu o que prometeram pagar. Tenho certeza que os temas abordados merecerão a sua atenção. A seguir, como simples sugestão, adianto alguns desses temas: 1. A “Luta Regional Baiana” não é eficaz como LUTA nem pode ser considerada folclore puro. Afirmação tão antipática e surpreendente para muitos, quanto absolutamente verdadeira. Como luta, se posta à prova, perderá para lutador de qualquer outra arte marcial. Em condições de igualdade, é claro, quanto à idade, peso, preparo físico, tempo de treinamento etc. Sua gestação, tendo de pano de fundo a ERA VARGAS, sem dúvida alguma se fundamenta na capoeiragem – teoria e prática - do Rio de Janeiro Antigo. A parte teórica fica por conta de “ODC”, Cyriaco, ZUMA, Coelho Netto, Pederneiras, Plácido de Abreu, Calixto & Lima Campos, Sinhozinho e alguns outros. Além de


intercâmbios e publicações do Rio de Janeiro que corriam todo o Brasil, muitas das quais acabavam na mão de capoeiras que as tomavam como fonte e inspiração. Foi assim com a criação da Regional. 3. Que se fundamentou também nas primeiras academias de capoeira que surgiram, Matthias, pioneiristicamente, no Rio de Janeiro! Em termos práticos, o exemplo de Cyriaco é emblemático. – veja o Power Point: tinha sua metodologia própria, ensinava aos acadêmicos de medicina, fez luta histórica com japonês, campeão de judô. Os feitos de Cyriaco correram todo o Brasil, muito especialmente a Bahia. Você negaria isso? 3.1 A famosa luta foi realizada em 1909, local público, com bilheteria, presença de autoridades e da sociedade em geral, com autorização legal, estaria a Capoeira proibida nessa época? Teria a capoeira saído da ilegalidade somente décadas mais tarde com a exibição-show que Bimba fez para Vargas? Como diria o talentoso e saudoso Bussunda, “fala sério”. Veja no Power Point como até a liturgia acadêmica ajustada pelos acadêmicos de medicina do Rio à Capoeira, décadas mais tarde, inspirou ajustes semelhantes na Bahia, quando os acadêmicos de medicina de lá, tendo o momento político de fundo, elegeram um Cyriaco local. 4. A marca nazistóide da Regional Parabéns, você mencionou o terrível DIP. Na versão do seu livro para o português, entretanto, sugiro que você mergulhe mais nessas águas podres, de escafandro, mas, mergulhe. A criação da Regional está intimamente ligada a essas circunstâncias. Até hoje. O jovem tenente cearense Juracy Magalhães, que Vargas impôs ao povo baiano, era informante do FBI, certo? O jovem Sisnando, acadêmico de medicina, conhecedor de lutas estrangeiras e aluno conceituado de Bimba, também cearense, era conhecido de Juracy, certo? O DIP (da época) usava a velha estratégia de cooptar lideranças populares para poder fortalecer o próprio Poder, evitando, no berço, qualquer tendência a rebeldia. Escolheram, então, um grande líder popular e uma bandeira negra, para diabolicamente embranquecer e aburguesar manifestação popular sócio-culturalesportiva potencialmente perigosa. Daí o emprego no CPOR (salvo engano, Sisnando também andou por lá, fazendo seu serviço militar) onde Bimba, entre outros aprendizados, tomou conhecimento do exercício de Emboscadas, secularmente praticado pelos exércitos do mundo. O fanatismo, entretanto, jura de pé junho que foi Bimba que ensinou a Emboscada ao Exército Brasileiro. E nem vou mencionar as palmas nazistóides e a mudança radical no significado das letras, dos apelos sociais passaram para a bravata pessoal. Tudo que o DIP (da época) queria. O “confronto” de lutas promovido no Parque Odeon, em Salvador, está embutido aí. Evento coordenado por um major do Serviço de Inteligência, com Mestre Bimba assessorando a elaboração do Regulamento das Lutas programadas. Além disso, como você sabe muito bem, Mestre Bimba funcionou ainda como Árbitro de algumas lutas e – last but not least – lutou algumas outras, saindo vitorioso em todas elas. Claro, o evento do Parque Odeon foi também cópia do Rio, mais precisamente dos eventos promovidos por Paschoal Segreto, no seu Pavilhão Internacional (onde Cyriaco lutou). No seu livro você preferiu ficar com as interpretações do carioca (Baixada Fluminense, “naturalizado” baiano ) - “Bimba é Bamba”. Ora, imagine – releve a insistência - um pesquisador assessorando a elaboração de um “Regulamento para um Concurso de Pesquisas”, participando da Comissão de Julgamento dos trabalhos apresentados (“árbitro”) e concorrendo a esse mesmo concurso! E quanto às lutas “magistralmente” vencidas pela Regional em São Paulo, cantadas em prosa e versos, em artigos e trabalhos doutorais? Narrativas que deixam sempre de fora um pequeno detalhe: Todas essas lutas em São Paulo foram, simplesmente, combinadas. Foi um espetáculo de “marmelada”. Não importa, em função de tais “vitórias” decretaram e espalharam pelo mundo que a Regional era a luta mais eficaz do mundo. Simplesmente, não é, jamais foi e jamais será.


Depois dessa “vitoriosa” passagem por São Paulo, já sem Bimba (que retornou à Salvador declarando à imprensa local que o confronto tinha sido um sucesso), o grupo de alunos selecionados da Regional seguiu para os confrontos no Rio de Janeiro, onde a os capoeiras cariocas tiveram vitórias acachapantes (embora comicamente negadas em cartório). O nome do famoso Sinhozinho, mais do que nunca, ficou a merecer louvação, um formador de campeões! Matthias, não foi intencional, mas considero um absurdo o pouco espaço, quase nenhum, que você, em seu livro, dedicou à inestimável contribuição do Seu Agenor Sampaio para com a capoeira em sua função luta (luta de verdade). Sinhozinho merecia capítulo inteiro, onde você aproveitaria e daria detalhes sobre a vida e obra do não menos extraordinário Rudolf Hermanny. Afinal, Matthias, quem, no mundo da Capoeira, lutou capoeira, sem marmelada, contra um dos melhores alunos dos Gracie? Por mais de uma hora, tudo devidamente documentado? Bimba, Besouro Cordão de Ouro, Jair Moura, Fred Abreu, Camisa? Não estou sugerindo criticar esses nomes, e sim, passar a valorizar também aqueles outros. O livro ficará mais justo e completo. Sem esgotar o assunto, eu lembraria ainda o eterno impasse sobre a gênese da Regional. Até hoje, os novos livros, parecendo até coisa combinada (“marmelada”!?) ora dizem que veio do Batuque, ora juram que veio do enxerto de movimentos e golpes de outras lutas na tradicional capoeira que então se jogava na Bahia. Sendo que começa a tomar corpo uma terceira versão pela qual a Regional viria lá da Ilha de Reunião. By the way, você sabe quando começou essa nova especulação? Tem muito mais, como você verificará através do Power Point que ora lhe ofereci, paro por aqui. Estou encaixotando todo meu pequeno acervo para mandar para o novo MIS RJ; antes, porém, salvei em DVDs registros que me pareceram mais relevantes, todos eles sempre a disposição de pesquisadores inteligentes, com bom back ground e, sobretudo, bem intencionados. Seu caso.


“NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física

Jeronimo de Viveiros62 publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?” 63: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus64. Mario Meireles (2012)65 ao tratar da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas resolviam suas questões com brigas nas ruas: enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira66. (p. 98). Jeronimo de Viveiros67 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847: A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu

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Jerônimo de Viveiros (Maranhão, 1884 — São Luís, 29 de novembro de 1965), foi um professor e historiador maranhense. Foi membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a cadeira de nº 8. Filho de Jerônimo José de Viveiros e de Maria Francisca de Viveiros descendia de uma família de posses no Maranhão. Seus avós paternos foram o Barão e deputado provincial ,além de fidalgo e cavaleiro da Casa Imperial do Brasil, Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho e Mariana Francisca Correia de Sousa. E seu bisavô paterno foi o senador do Império do Brasil Jerônimo José Viveiros, sendo este filho de Alexandre José de Viveiros e de Francisca Xavier de Jesus Sousa. Foi demitido, pelo interventor do Maranhão Paulo Ramos em 1937, do cargo de catedrático de História do Liceu Maranhense. O mesmo procedimento adotou o prefeito de São Luís, Pedro Neiva de Santana que o demitiu das funções de Ajudante de Inspetor do Ensino Municipal. Dona Luiza Viveiros encaminhou carta ao ditador Getúlio Vargas e ao ministro da Justiça, Francisco Campos, relatando os abusos contra o marido, trancafiado na Penitenciária, sem direito a receber o seu advogado, que lutava para libertá-lo devido a debilidade de sua saúde. A insistência dela resultou na liberdade do esposo, após o que se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi admitido no corpo . docente do Colégio Pedro II OBRAS: História do Comércio do Maranhão, 3 vol. (1950); A Rainha do Maranhão; A ficha de Adelino Fontoura na Academia; Benedito Leite, um verdadeiro republicano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Viveiros 63 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. 64 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107. 65 MEIRELES, Mário. A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702). In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99 66 Pela data, 1702, cremos não ser ainda a Capoeiragem... 67 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847


CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava-se na casa do chefe...68.(Grifos meus).

MELLO, 2016

O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 69, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado70 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro71 esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 72:

68

AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150. 69 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 70 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295, 71 Augusto Olímpio Gomes de Castro, mais conhecido por Gomes de Castro, (Alcântara, 7 de novembro de 1836 — Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1909) foi um promotor, escritor e político brasileiro. Filho do capitão Januário Daniel Gomes de Castro e Ana Francisca Alves de Castro. Casou-se com Ana Rosa Viveiros de Castro, filha do Barão de São Bento. Foi pai do ministro do Supremo Tribunal Federal Viveiros de Castro. Fez seus estudos secundários no Liceu Maranhense, concluídos em 1856, e formou-se em direito pela Faculdade de Direito do Recife em 1861. Foi membro da Academia Maranhense de Letras. Ficou à frente dos jornais a Situação (1864-1868), dirigindo o Tempo (1878-1881), e depois O Paiz, de 1882-1888. Foi filiado ao Partido Conservador. Foi promotor da cidade de Alcântara de 1862 a 1864, presidente da Câmara dos Deputados de 1887 a 1888, ministro da Marinha, senador durante o período 1909-1911 e presidente das províncias do Piauí, de 28 de agosto de 1868 a 3 de abril de 1869 e do Maranhão, de 28 de outubro de 1870 a 19 de maio de 1871, de 14 de outubro de 1871 a 29 de abril de 1872, de 4 de outubro de 1873 a 18 de abril de 1874, de 28 de setembro de 1874 a 22 de fevereiro de 1875, e de 7 de julho a 25 de julho de 1890. Deputado provincial de 1862 a 1863, 1868 a 1869, 1870 a 1872 e 1873 a 1877. Deputado geral de 1867 a 1868, 1869 a 1872, 1872 a 1875, 1877, 1882 a 1889. https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Ol%C3%ADmpio_Gomes_de_Castro 72

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA &sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false


Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaramse por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos). Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX.


MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física Ontem (21/11/2018), foi lançado documentário sobre Mestre Patinho, direção de Alberto Greciano Merino e produção de Bruno Ferreira, dentro do Festival de Filmes “Maranhão na Tela”:

O filme DIVINO PATO (2018, documentário, 27 minutos), dirigido por Alberto Greciano e produzido por Bruno Ferreira será exibido hoje (quarta-feira, dia 21/11) pela programação do Maranhão na Tela. As sessões acontecem no Kinoplex Golden, no Calhau às 16h30 e 21h30. Não percam a oportunidade de ver este documentário sobre o ícone da capoeiragem maranhense na telona do cinema! Agradecimentos especiais ao Centro Cultural Mestre Patinho e FAPEMA que viabilizaram o Projeto de Patrimônio Imaterial que desenvolvemos este ano no Museu Histórico do Maranhão.

Certamente baseado em sua tese de doutorado, defendido na Universidade Autônoma de Barcelona, em 201573. 73

GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015.


Poucas pessoas no lançamento dessa obra magnífica!!! A maioria, para assistir ao filme que se lhe seguiu, produtores, diretor, atores... Da Capoeira, identifiquei umas poucas pessoas: Nelsinho, o filho de Patinho e uma acompanhante, e eu. E só... Depois da apresentação, seguiu-se uma discussão, em torno de um cafezinho, já na praça de alimentação... Conversamos sobre a ancestralidade da capoeiragem maranhense – Capoeiragem tradicional maranhense74 – e a participação de Sapo e Pato Rouco no ressurgimento da capoeira em São Luís, na década de 60. Sobre os pioneiros dessa tradição da implantação da Capoeira nos anos 60, Grciano Merino (2015) 75coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ . A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015) Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. 76 De acordo com Kafure (2012), a história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha eram compostos por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer no final de 2011. Considerando então uma capoeira desconstruída, a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem".77 Nelsinho se posiciona de que os capoeiras que atuavam em São Luís, antes da chegada de Serejo, Sapo e a continuação da obra de revitalização, por Patinho, não deixaram descendência... Pato, no depoimento que prestou no documentário, fala de que aprendera capoeira com Jessé Lobão, às escondidas, com aulas no quintal de sua casa, e que não poderia falar disso para ninguém.

74

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, ufpr/Universidde Positivo, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2018. 75 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 76 Veja-se PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. 7777

KAFURE, 2012; ROCHA, 2012, obras citadas


Ora, a capoeira, naqueles anos – décadas de 30 a 50 – era feita às escondidas, nos quintais das casas dos seus praticantes, certamente devido à repressão policial. Mas havia as rodas de Mestre Diniz (anos 1950 em diante)...

Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 – teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Mestre Diniz se referia ainda a outros Capoeiras da época de sua infância, como “Caranguejo”, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 200278, citado por MARTINS, 2005, p. 30) 79. Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO – final do ano 1959, e início dos anos 60 - e a criação do Grupo “Bantus“, do qual participavam, além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].80 Firmino Diniz, conhecido também como Velho Diniz, serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo, e, posteriormente com Gouveia, passaram a frequentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas81. Sobre isso, Roberto Augusto A. Pereira diz que:

78

SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002 79 BRITO, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS, monografia de graduação em Educação Física orientado pelo Prof° Drdo. Tarciso José Melo Ferreira, 2005 80 http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. Uma análise das contribuições de Mestre Sapo para a capoeira em São Luís. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 81 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: Recorde: Revista de História do Esporte. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010.


(...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 82 Quanto à afirmação de que não havia descendência de Mestre Diniz, por exemplo, tomamos a graduação de Mestre Índio do Maranhão:

Mestre Índio Maranhão Graduado por mestre Diniz em 07 de setembro de 1996 na presença do irmão de capoeira o Mestre 83 Patinho - ambos treinaram juntos na adolescência .

82

PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. 83 Fonte: http://saojorgerj.blogspot.com.br/2008/07/mestre-indio-maranho-vai-espanha.html


GENEALOGIA DE MESTRE DINIZ ZÉ BAIANINHO

MANÉ CATUMBI

DINIZ

JORGE NAVALHA

INDIO DO MARANHÃO

NEGÃO BOCUDA

LEITÃO

NILTINHO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, 2018

Para Mestre Mirinho84 – Casimiro José Salgado Corrêa - a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantus”, em época remota (anos 60). Este grupo praticava a capoeira na antiga Guarda Municipal, no Parque Veneza. Mestre Patinho relata o aparecimento desse grupo: bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci... Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60; Babalú, um apaixonado pela capoeira; outro amigo que era marinheiro da Marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio (sic) e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. “Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.” (Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira) 85.

84

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO, em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. 85 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO MARANHÃO”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. Grifos meus


(Mestre Catumbi) Mestre Firmino Diniz Babalú Manuel Peitudinho Ubirajara Elmo Cascavel

GRUPO BANTUS | (Mestre Artur Emídio) Mestre Roberval Serejo | Patinho

(Mestre Djalma Bandeira) Mestre Jessé Lobão Gouveia Alô Didi

Mestre Euzamor86 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Distingue os tipos de capoeira como: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogados hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Explica o motivo que levou a esta escolha que foi origem, habitat, vindo do sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência cotidiana “Madre Deus”. Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio87, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 88.

Patinho, aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões... No ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos 89: Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os 86

Mestre ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU (1962-2017), iniciou-se na Capoeira em 1969. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum da capoeiragem no Maranhão, em entrevista concedida a José Lindberg A. Melo. E Fábio Luiz B. Silva 87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Artur Emídio e a capoeiragem em São Luis do Maranhão. In http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/15/cronica-da-capoeiragem-artur-emidio-e-a-capoeiragem-em-sao-luisdo-maranhao/ 88 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. Monografia apresentada ao Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. São Luís, UFMA/DEF, 2005. Orientador: Prof. Drdo. Tarcísio José Melo Ferreira 89 In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes.


para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.

Mestre Patinho – o mestre de referencia da capoeira maranhense -, afirma ter recebido influencia de Artur Emídio: “Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê”. (Mestre Patinho in Entrevistas) 90 Roberval Serejo morre em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui; seus alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo, que forma, então, seu grupo e passa a dar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco: “Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passe a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas que não tinha tempo de se dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira”. (MARTINS, 2005).91 Sapo, que participava do Quarteto Aberrê (nome em homenagem ao mestre de Canjiquinha), juntamente com Vitor Careca e Brasília, além do próprio Mestre Canjiquinha, líder do grupo baiano, de fato, depois de estabelecido em São Luís, a partir de 1966, segundo Roberto Augusto Pereira (2010)-92, passa a ministrar aulas de capoeira somente após cinco anos, no Ginásio Costa Rodrigues, já no governo Pedro Neiva de Santana. ABERRÊ | CANJIQUINHA JESSÉ LOBÃO

SAPO | PATINHO

ROBERVAL SEREJO

A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Sapo – da linhagem de Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de reeducação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’

90

Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio0. “MESTRES DE CAPOEIRA DO MARANHÃO”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 91 MARTINS, 2005, obra citada, p. 36, grifo nosso 92 PEREIRA, Roberto Augusto. O Mestre Sapo, a passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (des)construção do ‘mito’ da ‘reaparição’ da capoeira no Maranhão dos anos 60 RECORD, Revista de História, v. 3, n. 1, 2010, disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/748


Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores93. Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê. Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação contudo, houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, mostras e competições. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária. Passa a utilizar – como todos os professores da época, o Método Desportivo Generalizado, introduzido, no Maranhão, por Laércio Elias Pereira.94 A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira95, que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de professores de Educação 93

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito); VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de. QUERIDO PROFESSOR DIMAS – Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo e a Educação Física maranhense: uma biografia autorizada. São Luis: EPP, 2014, VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. IN XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DOS ESPORTES, ALZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, i congresso internacional de história dos esportes, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2015, UFPR/Universidade Positivo, Tema Livre 94 O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR. Alfredo Gomes de. Introdução à didática de Educação Física. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 95

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão.


Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem numa ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 96 Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações: (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias 97. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 98. Para Kafure (2017) 99, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessas ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 100 . [...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no Maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é superimportante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016.

Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, pelo Grupo 1, formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 98 Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz pelo Grupo 2, formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 99 ROCHA, 2017, obra citada. 100 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes ; http://www.iteia.org.br/laborarte BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf


Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) . A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo” 101. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão. A partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão. Mestre Rui102 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto103, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas. A existência de grupos – vamos dizer assim, já que àquela época, final dos anos 50, inicio dos anos 60, antes da passagem de Serejo e Sapo -, é confirmada por Mestre Paturi – ANTONIO ALBERTO CARVALHO – que diz: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fatima , Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. Passei um Período treinando com SAPO, no Ginásio Costa Rodrigues, e depois no Alberto Pinheiro . Depois passei a treinar direto com ALÔ na 28, mais precisamente na CASA E BAR DO DEZICO. Mestre “Socó” 104 iniciou-se na pratica da capoeira em 1971, com mestre Raimundo Aprígio, no bairro Bom Milagre, no qual ele era aluno de mestre Gouvêia, que foi aluno de Roberval Cerejo. Treinávamos aos 101

ROCHA, 2017, obra citada. RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 102 103

MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


sábados e domingos. Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem (Angola nem regional), era conhecido com “Capoeiragem”; Eram alunos: Miguel, “China”, Zé Mario, “Socó”, Beto, “Cabeca”, “Boi”, “Raspota”, Danclei, Messias, Batata, Nei, Roberval, Riba e muitos outros: Eu participava muito das rodas de capoeiras do mestre Diniz, no qual estavam: “Curador”, “Pelé”, “Didí”, “Cordão de Prata”, “Pesão’’, Miguel, “China”, D´Paula, “Mimoso’’, Alberto, Rui, “Jacaré’’, Mariano,”Boi’’, Nei,” Faquinha’’, Ze Melo, ‘’Pato’’, ‘’Aló’’, Sebastião e muitos outros. Fizemos muitas rodas no feriado de 7 de setembro, e nos festejos de Nossa Senhora da Conceição, também no dia do soldado no quartel do 24º BC, na Casas das Mina, Jorge Babalaô no dia 13 de maio, dia dos escravos no bairro da Fé em Deus, assim como nos sábados a tarde tínhamos no João Paulo, na casa do Beto na antiga Estrada de Ferro. No fim dos anos 70 foi feito um bloco carnavalesco por Afonso “Barba Azul”, que era aluno do finado mestre “Sapo”, era na Rua da Saúde, onde se reuniu a grande massa capoeirista, para desfilar no carnaval da João Lisboa. No ano de 1976, no bairro do Diamante centro, no estacionamento do “fomento”, (Ministério da Agricultura), treinávamos capoeira, com os alunos, “Biné”, Celso, Alex, Missinho, Déco, Mauro Jorge, Marcelo, “Uruca”,” Motor”, e muitos outros. Aprendiam a praticar a capoeira com Socó. Nessa época, não era necessário o reconhecimento como mestre para dar aula, bastava saber e conhecer na pratica o “jogo” da capoeira. Ouçamos Mestre Índio do Maranhão105: Eu como todo menino traquino, pulador e saltador, aos meus 9 para 10 anos já apresentava vocação para a luta. Gostava de brigar, “tarracar”, termo usado pelos mais velhos da época, por esta razão era chamado para “garrotiar” com os garotos do meu tope ou até maiores naquela época. Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão. Filho de policial e mãe crente da Assembleia de Deus, eles jamais deixariam eu fazer capoeira, quando falei que queria fazer foi um terror a palavra capoeira para meus pais. Como eu em minha inocência, queria era praticar capoeira, toda tarde subia para o Alto de Fátima e ia correr, pular, saltar, fazer movimentos de minha cabeça, e nisso eu passei um bom tempo, saltando e pulando fazendo movimentos de capoeira, sem saber que todos os movimentos que executava eram de capoeira. Foi quando um companheiro me observando, um bom tempo, chegou pra mim e disse: - Tu quer fazer judô comigo? então lhe respondi: - Não, eu quero é capoeira. Ele então falou, eu faço judô lá no Ginásio Costa Rodrigues com Jorge Saito, um japonês, mas todo dia eu assisto o treino do Mestre Sapo, ai eu venho e te passo os nomes dos movimentos Na semana seguinte ele estava lá e já foi me falando, eu vou dá uma meia lua de frente e você se abaixa, o nome da defesa é cocorinha, eu vou dá um martelo e você faz assim....uma resistência. Essa atenção comigo durou de julho de 1971 a Abril de 1972, ele se chamava José de Ribamar, mas era conhecido como Hipopótamo, apelido que ele não gostava, foi esse rapaz que me iniciou na capoeira com os primeiros passos, porém ele não era capoeira. 104

EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA (1961); (1971 INICIA-SE NA cAPOEIRA). IN Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres capoeira do Maranhão, 2017. 105 Mestre INDIO DO MARANHÃO - OSIEL MARTINS FREITAS (1957); iniciou-se na Capoeira em 1972. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres capoeiras do Maranhão. Depoimentos, 2017


No dia 22 de junho, ano que eu me intitulo capoeira, foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “ Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. Final de julho, começo de agosto, eu brincando de rouba bandeira na Rua Nossa Senhora de Fátima, bem em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fato pode, Nelson galinha, Geraldo cabeça, Manoel pretinho, Cesar dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro. De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mais sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua,e sobre seu comando. Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio, Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro. Mas o mestre que me deu toda a orientação para eu me tornar um capoeira, foi o Velho Firmino Diniz a quem eu devo Saúde, dinheiro e obrigação, foi quem me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia e da Bahia tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho.


Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo, foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em outro depoimento, Mestre Índio do Maranhão (2015) 106 conta como eram essas rodas, que constituíam verdadeiros momentos de ensinamentos e troca de experiências, sem a formalidade de uma ‘escola/grupo de capoeira’ nos moldes atuais: tenho conhecimento da história da capoeira de São Luís do Maranhão, pois o Velho Diniz passava isso para a gente. Ele dizia que a história da capoeira lá no Maranhão, precisamente em São Luís, ela começa em 1885. Ele dizia que os estados mais antigos da capoeira, eram Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Maranhão. A capoeira chega em 1885 no Maranhão, porque os escravos que eram enviados para lá, vinham do Rio de Janeiro, não vinham de outros estados, eram específicos do Rio de Janeiro, enviados para a cidade de Turiaçu, e de Turiaçu para São Luis. Deste período de 1885 a 1959, quando surgiu o primeiro grupo de capoeira, um grupo chamado Grupo Bantu de Capoeira, comandado por Roberval Cereja (sic), que era marinheiro, e foi do Rio de Janeiro para São Luís, e chegando lá montou esse trabalho de capoeira. Lembro muito bem do Velho Diniz contando isso para a gente, eram: Roberval Cereja, Babalu, Jese, Patinho, Bizerra, Manuel Peitudinho, Murilo, Lourinho, Elmo Cascavel e Alô, esse grupo de 10 pessoas. Era um grupo isolado, não saia muito até por causa do preconceito da época e da taxação que aquela rapaziada recebia de vagabundo, arruaceiro e etc, pois capoeira era tudo o que não prestava na boca da sociedade. Então nego se isolava muito, treinavam muito ali e às vezes saiam para as festas, onde aconteciam as brigas, ai eles quebravam a galera e os caras às vezes nem sabiam de quem estavam apanhando, anos depois vieram a saber, que eram da capoeira. Em 1966, um grupo chamado Aberrê, fez sua primeira viagem a São Luis, era comandado pelo Mestre Canjiquinha, acompanhado de Brasília, Vitor Careca e João Pequeno. Dois anos depois eles retornaram, isso em 1968, dessa vez com uma alteração no quarteto, tendo Canjiquinha como mentor, Sapo Cola, Brasília e João Pequeno, o Vitor Careca não foi. Assim eles ficaram como uma referência dos percussores da capoeira, sendo que o Sapo Cola, a convite do governador, permaneceu em São Luis. Dessa forma, até o José Sarney, querendo ou não, tem um dedo dele na capoeira do Maranhão, isso em 1968 quando ele foi governador do nosso estado. A roda de capoeira mesmo que me marcou, foi quando eu comecei a frequentar as rodas do Velho Diniz, que era uma roda lá na Bom Milagre, com vários companheiros que eu lembro até hoje o nome deles, que era o Velho Diniz como chefe da roda, Sargento Gouveia, Babalu, Jese, Elmo Cascavel, Esticado, Raimundão, Alan, Gordo, Volf, Mimi, Ribaldo Branco, Ribaldo Preto, Zeca Diabo, Curador, Cordão de Prata, Sabujá, Patinho e Mareco, tinha mais ou menos uns 30 capoeiras que ele comandava essa galera todinha que comparecia lá nessa roda, e isso marcou a minha iniciação na capoeira, foi a roda da Bom Milagre, eu estava com uns 15 anos de idade na época, hoje estou com 58, daqui a 2 anos eu completo os 60 anos nesse mundo cão ai da capoeira. Mestre Curió107 dá seu depoimento: 106

Entrevista com Mestre Índio Maranhão: Conheça um pouco da história dos 43 anos de capoeira do Mestre Índio Maranhão por suas palavras. Saiba como ele conheceu a capoeira, como a vive e como aprendeu a história da capoeira do Maranhão na qual ele ensina aos seus alunos com alegria e dedicação. In

http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1; Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau; grifos nossos

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João PalhanoJansen, o Mestre Curió, casado com dona Joana Santos Reis Jansen, da qual teve quatro filhos, nasceu em 15 de fevereiro de 1956 na comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, no interior do Estado do


Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionou-a com a Punga dos Homens, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. No mesmo ano, em 1975, aos 19 anos de idade, já fazia alguns movimentos e golpes da capoeira, sem no entanto saber direito o que fazia. Passou a assistir as apresentações de capoeira na antiga Estrada de Ferro, na casa de um amigo conhecido como Beto do Cavaco. Começou a se motivar. Os dois ainda iniciantes, brincavam juntos tentando aprender alguma coisa. Por meio desse amigo entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”. Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar a casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Beto do Cavaco o levou para treinar com Raimundão. Treinou apenas dois meses, pois Raimundão precisou viajar para o Rio de Janeiro. Ali conheceu alguns capoeiras que também estavam aprendendo, Miguel, Tancrei, Boi, Caninana, Socó, dentre outros. Sem seu mestre, passou a treinar sozinho novamente, fazendo o que já sabia e esporadicamente pegando dicas com um e com outro, aprendendo a capoeira “no tempo”. Autodidata também não teve mestre de berimbau, aprendeu olhando e imitando. Quando ele conheceu a capoeira ainda morava na Jordoa, no João Paulo, e já com família, mulher e filhos, prosseguiu treinando. Em 1979 mudou-se para o bairro do Coroado, alguns meses depois para o bairro do Sacavém, e em 1980 já estava morando no bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. Na época em que Mestre Sapo ensinava nas escolas da cidade, Curió aprendia a arte da capoeira nos quintais e nas rodas de rua. Não conheceu pessoalmente o Sapo, só ouvia falar. Entretanto, conheceu personalidades da capoeira que não foram alunos de Sapo, mas de capoeiristas anteriores a ele. Mestre Baé108 também relata que, naqueles anos iniciais, a capoeira era praticada nos quintais, com os ‘mestres’ ensinando durante as rodas que ocorriam na cidade, sem uma formalização, do tipo ‘grupo’, ‘escola’, ou ‘academia’: Em 1974 conheci O SR. ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO (MESTRE PATURI) na Avenida Kennedi em frente da Paulo Frontim pois foi o primeiro local onde fui morar e logo depois me mudei para o bairro de Fátima; morava ao lado do bar da ZILOCA, que era um local muito freqüentado pelos amigos capoeiristas do Mestre Paturi, mas foi só em 1976 através de ALÔ que comecei a freqüentar os treinos do Mestre Paturi, na época não tinha Maranhão. Seus pais se chamavam Domingos PalhanoJansen e Antônia PalhanoJansen. Aos oito anos de idade foi para Santana, uma cidadezinha da região. Aos 10 anos de idade, sem saber, foi vendido para trabalhar em regime de escravidão numa fazendo do interior do Estado, mas sendo observador das coisas ao seu redor, percebeu que havia algo de errado e fugiu. Com 12 anos se mudou para a cidade de Coroatá. Aos 16 anos veio para São Luís, capital do Estado. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO, 2017. Grifos meus 108 Mestre BAÉ - FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. In DEPOIMENTO. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Album dos Mestres capoeiras do Maranhão, 2005. entrevista realizada por: Raimunda Lourença Correa; Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra; Maria do Socorro Viana Rego; José César Sousa Freire; Hermílio Armando Viana Nina ; Roberval Santos Corrêa. Grifos meus.


academia para a gente treinar pois a gente treinava era nos locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. Em outro depoimento109: Iniciei a capoeira em fevereiro de 1977, na feira do João Paulo com o finado Alô, depois passei a treinar com o mestre Paturi até conhecer o mestre Patinho tendo me afastado devido o mesmo ter se dedicado só à capoeira de angola, e meu objetivo eram me aprofundar mais na capoeira, pois a mesma está no sangue. Em 1989, comecei a praticar e estudar a capoeira regional pelo Brasil inteiro. Mestre Rui Pinto110 lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, frequentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol:

Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão. Mas esse treinamento durou pouco, pois nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula. No mesmo período já com 15 anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados. As competições de capoeira chamadas de “A Grande Roda” só aconteciam em Salvador no mês de Dezembro de cada ano, e por falta de patrocínio poucos éramos os alunos que iam, pois os custos eram altos, a outra forma de ir era por conta própria, o que era muito difícil para alguns. Nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participamos de diversos campeonatos tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na igreja de nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. 109

Mestre BAÉ - FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Livro-Album dos Mestres capoeiras do Maranhão, 2017. Grifos meus. 110 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos a nos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do exército, grande capoeirista da época. Com a morte de Mestre Sapo em 1982, a capoeira sofreu uma grande perda, causando a dispersão de muitos capoeiristas que o tinham como mestre, enfraquecendo assim a capoeiragem (congregação dos capoeiras), por um curto período de tempo. Até que movimentos começaram a ser criados renovando e incentivando a manutenção da capoeiragem, que, com esse incentivo fui em busca de mais informações em outros estados, como São Paulo, no DEF (Departamento de Educação Física - em Água Branca), e em União dos Palmares – Serra da Barrica – Alagoas, e dessa forma adquiri mais conhecimento. Hoje componho o Fórum Permanente dos Mestres de Capoeira, e faço parte do Curso de Capacitação de Mestres do Maranhão. Mestre Gavião111 lembra-se dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. Ainda em 1978, Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente.

Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão. 111

MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’[112] a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica.113.

Para Mestre Índio, [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 114 Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os 112

MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA (Resumo do Projeto Geral). 2 ed. Brasília: 1982 PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao Mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17. 114 ENTREVISTA COM MESTRE ÍNDIO MARANHÃO, disponível em 113

http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau


problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc. 115. Para Mestre Tuti (2011) 116: Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira. Kafure (2012) 117 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc.; entende por desconstrução, primeiramente: o tipo de transformação que se inicia no discurso acerca do folguedo ou cultura popular. Logo, um discurso sobre a capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Então podemos dizer que essa palavra mestre é a primeira desconstrução fundamental de toda a capoeira, pois sendo ela uma luta afro-brasileira transmitida pelos escravos vindos de angola e congo, questionamos até que ponto ela era ensinada por supostos "mestres", já que diversas origens rituais foram atribuídas a esta cultura. É de fato impossível encontrar uma origem específica desta brincadeira popular ou arte marcial... Esse autor se propõe: [...] a nível do Maranhão analisar(emos) a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (KAFURE, 2012) 118. Como também reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”: [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira

115

COELHO, T. DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL. São Paulo: Iluminuras, 1999 Mestre Tuti in CHAMADA NA ‘BENGUELA’ -17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’ 117 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In 116

http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html, 118

em segunda-feira, 5 de março de 2012 ROCHA, Gabriel Kafure

da.

AS

DESCONSTRUÇÕES

DA

CAPOEIRA.

http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html, em segunda-feira, 5 de março de 2012

publicado In

publicado


singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato.119. Segundo Greciano Merino (2015) 120, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folclóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)121, expresaba que: El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”122. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”123. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural. Prossegue:

119

ROCHA, 2012, In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 121 Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte 122 Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 123 HAIKEL, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 120


En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 124 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor125. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito126. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis127. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990 128. Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança129. As lideranças: Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão130; Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita131; Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira132. Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – 124

VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 125 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 126 Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 127 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 128 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 129 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 130 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 131 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 132 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO.


notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua... Concordamos com Almeida e Silva (2012) 133, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 134. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas135.

133

ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 134 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 135 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118


GENEALOGIA DE MESTRE SAPO

BENEDITO

PASTINHA

ZECA

ABERRÊ

ARTUR EMÍDIO

CANJIQUINHA ZULU

PELE

JESSÉ LOBÃO

ROBERVAL SEREJO

SAPO

PATINHO AÇOUGUEIRO

RAIMUNDÃO

ANTONIO BEERRA DE PAULA LUCIEL RUI PINTO ALBERTO ALZAMOR

LEOCÁDIO

MANUELITO

AUBERDAN ALÔ

PATURI


GENEALOGIA DE MESTRE RAIMUNDÃO

SAPO MIGUEL ARCANGELO

RAIMUNDÃO

BAE

CURIÓ ALZAMOR

SOCÓ MILITAR

MARCIO MULATO


GENEALOGIA DE MESTRE PATO JESSÉ LOBÃO

ROBERVAL SEREJO SAPO BARTÔ

PATO

MARCO AURELIO

FRED

BAMBA

PEZÃO

JORGE NAVALHA

INDIO

CACÁ

LEITÃO

PIRRITA NELSON CANARINHO

DOMINGOS DE DEUS

DIACO PEDRO

NEGÃO MADEIRA

NELSINHO

GAVIÃO

PUDIAPEN SILVIO ARY

BOCUDA


GENEALOGIA DE MESTRE PATURI LEOCÁDIO

UBERDAN

MANUELITO SAPO

ALÔ PATURI EDI BAIANO

BAMBA BAÉ GUDA

LZAMOR

MILITAR

ROBERTO CURIÓ MIRINHO

MARCIO MULATO

CIBA

EVANDRO


CAPOEIRAS CITADOS PELOS ALUNOS-MESTRES EM SEUS DEPOIMENTOS RODAS DO VELHO DINIZ 1929-1914 / (40/50?) Catumbi Alô Babalú Boi Cordão de Prata Curador Didi Diniz Elmo Cascavel Esticado Faquinha Gouveia Índio do Maranhão Jacaré Jessé Lobão Luciel Rio Branco Miguel Mimoso Nei Patinho Paturi Pelé Pesão Raimundão Rui Sapo Sebastião Socó Tacinho Ubirajara Zé Melo Cara de Anjo PATINHO 1953-2017 / (1962) Sapo Babalu Bamba Bruno Barata Diniz Elma Jessé Lobão Júnior Marco Aurélio Nelsinho Roberval Serejo Sapo Serginho Tacinho

GRUPO BANTU ROBERVAL SEREJO Djalma Bandeira Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Jessé Lobão Patinho Raimundão Sapo Ubirajara

PATURI 1946 / (1962) Adalberto Alô Auberdan Babalu Baé Butão Carral Cordão de Prata Curador Fato Pode João Bicudo Leocádio Lourinho Manoelito Ramos Ribaldo Branco Ribaldo Preto

QUARTETO ABERRÊ Canjiquinha

Brasília Sapo Vitor Careca

RIBALDO BRANCO ? / (?) Sapo Alô Babalu Cara de Anjo Diniz Garfo de Pau Gouveia Jessé Leocádio Luis Murilo Martins Raimundão Ribaldo Preto Sansão Til Zeca Diabo

SAPO (Grupo Bantu) Associação Ludovicense de Capoeira Angola 1948-1982 / (50?) Pelé/Canjiquinha/Zulu Afonso Barba Azul Alberto Euzamor Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Índio do Maranhão Jessé Lobão Patinho Paturi Raimundão Ribaldo Branco Rui Ubirajara

TIL 1955 / (1968) Ribaldo Branco Ribaldo Branco


Rola Zé Raimundo Zeca Diabo ALBERTO EUZAMOR 1962-2017 / (1969) Luciel/Sapo/Rui Luciel Rio Branco Sapo Rui Pinto Cacá

RUI PINTO 1960 / (1970) Sapo Alberto Euzamor De Paula Didi Gouveia Jacaré Marquinhos Raimundão Roberval Sena

SOCÓ 1961 / (1971) Raimundão/Miguel Alberto Alcimar Alô Ball Batata Beto (Curió) Biné Bodinho Boi Cabeça Caco Carlos Cesar Celso Chicão China Cobra Negra Cordão de Prata Curador Curio Danclei De Paula Deco Didi Eduardo Faquinha Generoso Gouveia Irineu João Batata Juruna Marcelo Mauro Jorge Messias Miguel Arcangelo Mimoso Miro Mizinho Motor Nei Pato Pelé Pesão Português Raimundão Raspota Riba Roberval Roberval Serejo Rui Sebastião Travolta Uruca Valderez

ÍNDIO DO MARANHÃO 1957 / (1972) Diniz Alan Alô Babalú Bambolê Batista Boi Cabral Candinho Carioca Carlinhos Cebola Cesar Dentinho Cordão de Prata De Paula Didi Diniz Elmo Cascavel Emídio Esticado Faquinha Fato Pode Geraldo Cabeça Gordo Gouveia Jesse Leocádio Louro Manoel Peitudinho Manoel Pretinho Mimoso Murilo Nelson Galinha Patinho Paturi Pelé Raimundão Ribaldo Branco Ribaldo Preto Rodolfinho Sabuja Samuel Sansão Sapo Sócrates Teudas Tião Carvalho Til Valdecir Wolf Zeca Diabo


Wadson Zé Mário Zé Melo PIRRITA 1955 / (1971/72) Pezão Babalu Baiano Banana Bigu Borracha Brasil Candinho Cara de Anjo China Cícero Curador Curió De Aço De Paula Diniz Euzamor Evandro Gouveia Índio Jair João Bicudo Jorge Navalha Leonardo Madeira Magno Manoel Peitudinho Miguel Negão Neguinho Nelson Pato Pedro Pelé Pezão Ribaldo Preto Ribinha de Tapuia Rico Roquinho Ruston Ruy Pinto Sapo Suruba Tita Tucano Urucanga Vanio Zé da Madeira Zeca Zezão GAVIÃO 1967 / (1977)

JORGE NAVALHA 1963 / (1973) Pato Betinho Jacaré Pato Pirrita Roberval Sena

FORMIGA ATÔMICA 1973 / (1979)

CURIÓ 1956 / (1975) Raimundão Beto do Cavaco Boi Caninana Curador João Matavó Manoel Peitudinho Miguel Raimundão Sapo Socó Tancrei Zé Copertino

ROBERTO 1969 / (198?)

BAÉ ? / (1976) Paturi/Edybaiano /Bamba Alô Edibaiano Fred Iran Jacaré Marco Aurélio Pato Paturi Riba Telmo

TUTUCA 1967 / (1981)


Madeira/Pirrita Baiano Bigu Curador Didi Fábio Arara Louro Madeira Pato Pirrita Raimundinho Sapo Sócrates LUIS SENZALA 1971 / (1981) Madeira Gavião Madeira

Madeira Madeira Shell Braço Lôlô Otacílio Fábio Arara Herberth Pelezinho

Guda/Ciba/Baé Ademir Baé Ciba Guda Macaco Nato Filho

MILITAR 1971 / (1982) Bigodilho Abacate Alberto Euzamor Assis Batman Beleleco Bulão Cabecinha Cacá Candinho Careca Chicão Coquinho Cudinho Curador Daniel Dunga Evandro Jacaré Jorge Navalha Junior de Assis Juricabra Madeira Manoel Mata Rato Miguel Mizinho Neguinho Nijon Paturi Pirrita Robson Rui Pinto Ruso Tutuca Wilson

MIZINHO 1968 / (1982) Evandro Banana Beleleco Betinho Brinco Dourado Chicão Cláudio Danclay Euzamor Evandro Jota Jota Luisinho Manoel Miguel Patinho Rui Pinto Sabujá Sapo Toba Tutuca

NEGÃO 1966 / (1983) Pirrita

MARINHO 1968 / (1983) Medicina Açougeiro Alberto Euzamor Betinho Cachorrão

PEDRO 1970 / (1983) Pirrita Bigú Bira Cadico Cafezinho

Pirrita

Evandro Evandro Cabeça Magão

LUIS GENEROSO 1074 / (1982?) Dunga / Madeira Beleleco Curador Gavião Madeira Miguel Pato Senzala Socó

CACÁ 1972 / (1984) Jorge Navalha Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha


Ciba Jair Jorge Jorge Navalha Juvenal Kaká Negão Nelson Neto Patinho Pedro Pezão Pirrita Presuntinho Reginaldo

NELSON 1966 / (1985) Jorge Navalha/Pirrita Jorge Navalha Pedro Pedro Marcos Pesão Pinta Pirrita

Ciba Dentinho Edybaiano Evandro Fernando Fred Gavião Indio Madeira Mizinho Nissim Notre Dame Patinho Paturi Ribaldo Sarará Simpson Terra Samba Til Tutuca DIACO 1963 / (1986) Pirrita Negão Pirrita

MANOEL 1975 / (1988) Evandro Evandro

Indio

PEZÃO 1956 / (?) Bartô Bartô

REGINALDO 1975 / (1986) Erasmo Cadico Erasmo Jorge Kaká

NILTINHO 1975 / (1989) indio

DE PAULA 1956 / (1973) Sapo Gudemar Sapo Babalú Gouveia Cordão de Prata Curador Batista Magrinho

Neguinho Neto Patinho Robson Valderez

LEITÃO ? / (1986) Indio/Jorge Navalha Cacá Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha Patinho

BOCUDA 1973 / (1989) Negão/Indio Negão Indio Jorge Navalha

MÁRCIO MULATO 1978 / (1994) Alberto/Curió/ Militar/Baé Alberto Euzamor Baé Bico Camaleão Camelo Curió Dedé Fafá Kaká Militar Ney Quebraossos Teodorinho

SENA 1976 / (?) Cbp-rj

AÇOUGUEIRO 1950 / (1967) Sapo Pinta Sapo


RAIMUNDÃO 1956 / (1976) Sapo

ZUMBI BAHIA 1953 / (1976) Bigode/Boa Gente

Sapo

FRED 1963 / (1980) Patinho Patinho Telmo

MIRINHO 1966 / (1982) Evandro/Baé Evandro Roberval Serejo

NELSINHO 1975 / (1986) Patinho Patinho

PUDIAPEN 1956 / (1989) Patinho/Acinho Patinho Assuero

BAMBA MARANHÃO 1966 / (1978) Patinho Euzamor Patinho Sapo MARCO AURÉLIO 1963 / (1984) Patinho Patinho

ABELHA 1967 / (1979) João Pequeno

DOMINGOS DE DEUS 1968 / (1985) Patinho Lelis Patinho


IDENTIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE PRÁTICA DE CAPOEIRA PELOS MESTRES: RODAS, GRUPOS/NÚCLEOS MESTRE SAPO SEREJO

RODAS

DINIZ PATINHO

Praça Deodoro Praça Deodoro Olho d´Água Bom Menino

PATURI

Rio das Bicas Fátima Parque Amazonas

TIL EUZAMOR

Quintal de Casa

RUI

Quintal de casa Casa das Minas Jorge Babalo Deodoro Madre Deus Praça da Saudade Largo do Caroçudo Bom Milagre Fé em Deus João Paulo/Beto Fomento/Diamante

SOCÓ

ÍNDIO

Centro Comunitário/ Bairro de Fátima Bom Milagre/Diniz Paulo Frontin/Diniz

PIRRITA

Praça Deodoro Olho d’ Água Cada das Minas

JORGE CURIÓ

João Paulo Estrada de Ferro

GRUPOS/NUCLEOS Ginásio Costa Rodrigues Bantu/Sítio Veneza Bantu/Rua Cotovia Ginásio Costa Rodrigues Academia Senzala Laborarte Lítero Gladys Brenha Centro Cultural Mestre Patinho Mandingueiros Escola Criação Centro Matro-á Maré do Chão Brinquedo de Angola Ginásio Costa Rodrigues Alberto Pinheiro Casa e Bar do Dezico (28) Encruzilhada da UFMA Associação Comunitária Grupo de apoio à Capoeira Ginásio Costa Rodrigues Ginásio Costa Rodrigues ITA/MENG C ITA/MENG

Sede do PDT Grupo Arte Negra Grupo Arte Fiel Capoeira Escola Maria Helena Duarte Ginásio Costa Rodrigues Grupo de Capoeira Filhos de Ogum Associação Cultural de Capoeira São Jorge Ginásio Costa Rodrigues Praça Gonçalves Dias Grupo de Capoeira Aruandê Grupo Filhos de Aruanda Centro de Cultura Negra do Maranhão Grupo Cascavel Grupo Raízes de Palmares Grupo Argolonã Grupo Unidos de Angola Associação de Capoeira Filho de Aruanda Grupo de Capoeira Arte Negra

OUTROS DEFER

São Pantaleão

Bairro de Fátima, Areinha, Centro de Esportes (Vila Embratel) Igreja de Fátima São Bernardo

Madre Deus

Anjo da Guarda Itaqui-Bacanga FETIEMA SESC Bumba Meu Boi da Floresta Federação de Capoeira do Estado do Maranhão

Jordoa Sacavém


Praça Caxias

Duque

de

BAÉ

Paulo Frontin/Paturi Bar da Ziloca

GAVIÃO

Desterro Praia Grande Rua da Alegria 13 de Maio/Jorge Babalaô

FORMIGA ATOMICA

ROBERTO

TUTUCA

SENZALA

MILITAR

Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo Instituto Funcional Viva Rio Anil Associação de Capoeira Regional do Mestre Edy Baiano Grupo Candieiro Escola Alberto Pinheiro Academia Real de Karatê Grupo Tombo da Ladeira

Anil Bequimão Federação Maranhense de Capoeira

Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira Casa de Festa Cajueiro FEBEM/Rua do Norte Academia Clube Center GRUPO AÚ CHIBATA Centro de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS Grupo Gira Mundo Capoeira

São Francisco

Academia Club Center/ Siri de Mangue Grupo Tombo da Ladeira Escola de Capoeira Angola Acapus

Praça Gonçalves Dias Praça Deodoro Praia da Ponta D`Areia Madre Deus

Grupo de Capoeira Angolano, Escola de Dança PróDança Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares Grupo Mara Brasil Grupo Maranhão Arte Grupo Gira Mundo Associação de Capoeira Aruandê Associação de Capoeira Aruanda Grupo Nagoas Grupo Liberdade Negra Grupo Ludovicense Associação de Apoio à Capoeira GRUPO K DE CAPOEIRA

Tutóia-MA

Associação da Caixa Econômica Federal do Maranhão (APCEF/MA), Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Movimento de Menino e Menina de Rua/ Casa João Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. FEBEM/ Fonte do Bispo/ Madre Deus Escola São Lazaro Gincana Mirante Academia de karatê/Camboa Secretaria de Educação Promotoria de Infância e Juventude Projeto Capoeira Na Escola Projeto Curumim


MIZINHO

LUIS GENEROSO

PEDRO

NEGÃO

MARINHO

CACÁ

Beira-Mar

Academia do Mestre Socó Parque do Bom Menino/CCN Associação de Moradores da Liberdade Laborarte CSU do Habitacional Turú Grupo Mára-Brasil Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira Grupo Nação Palmares de Capoeira GRUPO “MARANHÃO ARTE CAPOEIRA”,

Ginásio Castelão Maracanã Nova República Vila 2000 Quebra-Pote Fé em Deus Coroadinho Alemanha Cidade Operária, Santa Efigênia Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira Filipinho; Bacabal, Imperatriz, Cururupu, Pinheiro, São João Batista, Viana, São Mateus Icatu, Santa Quitéria Bordeaux e Lille/ França

Grupo de Capoeira Jogo de Dentro Academia de Madeira

Caxias /DEFER

Associação Marabaiano Associação Filhos de Aruanda Liga de Educadores de Capoeira da Área Itaqui-Bacanga LECAIB Associação Aruandê Grupo Jêge-Nagô Grupo de Capoeira Congo-Aruandê ASSOCIAÇÃO CULTURAL AFRO-BRASILEIRA RAÍZES Associação de Capoeira Aruandê Associação de Mães de Vila Nova Programa Grupo de Capoeira Congo-Aruandê Associação Cultural Capoeira Raça Grupo Salve Axé

Anjo da Guarda São Raimundo Parque Botânico da Vale Teatro Itapicuraíba

Laborarte/Prodance Grupo São Jorge Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA

Club da Alumar academia CIA DO CORPO academia Corpo Suor GIM Esporte Center academia MK3 Associação da Caixa JEM´s Teatro Itapicururiba União de Moradores/Clube de Mães do Sa Viana União de Moradores do Angelim Velho/Novo Angelim/novo tempo III – Angelim Conselho Cultural/Sede do Boi/Choperia Madre Deus


CANARINHO

Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes Grupo Marabaiano, Grupo Aruandê Grupo Filhos de Aruanda

CM DIACO

Associação Atlética Barcelona, em Matões Turú Grupo de Capoeira Aruandê Associação Maranhão Capoeira Grupo Amarauê Capoeira Grupo de Capoeira União e Consciência Negra grupo Filhos de Aruanda Laborarte Grupo Filhos de Ogum Grupo de Capoeira Malungos Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. Associação Mara-Brasil Capoeira Associação Cultural de Capoeira São Jorge Grupo de Capoeira União LABORARTE Associação de Capoeira JEJE NAGO

CM REGINALDO CM LEITÃO

MANOEL

NILTINHO

CM MARCIO

Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM grupo Arte Negra do grupo de capoeira Candieiro

Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira. Igreja Nossa Senhora Aparecida no Bairro Mauro Fecury II Fundação Assistencial da Criança e do Adolescente (FASCA) Federação Maranhense de Capoeira Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) PACRIAMA LIGA DE EDUCADORES DA ÁREA ITAQUI BACANGA (LECAIB) grupo comunitário, Unidos Venceremos

Associação da União da Consciência Negra Complexo Cultural GDAM Projetos Jatobá e Embratel

Centro Social Urbano no Habitacional Turu. Academia Parati Fitness no Habitacional Turu Associação de Moradores do Bairro Sá Viana Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA SESC – Serviço Social do Comercio Projeto Quinto Batalhão de Arte / Turma do Quinto FEBEM


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL – alguns apontamentos para sua História LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Gostaria de agradecer ao Confrade Osvaldo Pereira Rocha o convite para estar junto aos Senhores neste dia. Tenho me dedicado ao resgate da memória dos Esportes, Educação Física e Lazer no/do Maranhão; e dentro dessa área de pesquisa, a Educação surge naturalmente; tenho escrito algumas coisas sobre a educação maranhense e, em especial, devido à minha atuação profissional nos últimos 34 anos como professor de educação física do hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IF-MA. Participando de evento promovido pela Maçonaria, com a temática “Educação Pública no Brasil”, procurarei desenvolver o tema fazendo cotejamento da importância da Maçonaria para a Educação brasileira. Seguiremos Silva e Soares (s.d.), então, quando estes pesquisadores afirmam que, no final do século XIX e início do XX, as lojas maçônicas funcionavam como importantes espaços de sociabilidade e convívio, influindo no cotidiano tanto das cidades pequenas quanto nas maiores. Nelas, os grandes temas que mobilizavam a sociedade brasileira do período eram discutidos e novas práticas culturais eram aprendidas. Através da imprensa e dos debates parlamentares, os maçons procuravam se apresentar como herdeiros das “luzes” e como membros de uma organização filantrópica dedicada à causa do progresso. Apresentavam uma imagem da Maçonaria como escola onde se ensinava e aprendia virtudes que consideravam como fundamentais: a liberdade de pensamento, a independência da razão, o auxílio mútuo. (Mansur, 1999). A Maçonaria torna-se instrumento importante, mas não o único, na defesa da escola leiga, não relacionada à religião e função do Estado. Entre outras acusações, mas principalmente pelo posicionamento para a educação, a Ordem Maçônica foi objeto de violentas reações do poder dos estados, bem como de bulas papais de condenação. O medo dos poderosos não é tanto pela forma esotérica das reuniões dos maçons, mas principalmente pelo fato de, pela educação natural, libertar o pensamento do cidadão, conscientizando-o de seu papel na sociedade e no Universo. A ordem maçônica não concorda com posicionamentos radicais ou de concentração de poder, e isto lhe


rendeu poderosos inimigos. A vingança de insidiosos perseguiu maçons; miríades morreram para manter a ação de educar o homem do povo em direção à liberdade. (Mansur, 1999, Boller, 2011) Esse discurso que difundia o ideal liberal republicano afirmava que somente por meio da educação o indivíduo poderia ser transformado em cidadão produtivo e consciente de seus direitos e deveres. Também colocava em evidência a situação educacional do final do Império, que possuía uma rede escolar primária precária, com um corpo docente predominantemente leigo e uma escola secundária freqüentada por alunos que pertenciam a uma classe econômica mais favorecida. Em todos os níveis da organização escolar brasileira ministrava-se um ensino com um conteúdo desligado da vida, não havendo preocupação filosófica ou cientifica e que alfabetizava alguns indivíduos, formava poucos conhecedores de latim e grego e pouquíssimos “doutores”. (Silva E Soares, s.d.) Para esses Autores, durante a segunda metade do século XIX, a questão da educação também era discutida pelos maçons brasileiros, usando como instrumentos para a divulgação de suas idéias, a construção de uma rede de escolas, criação de “aulas noturnas” e bibliotecas. Diante dos problemas relativos à fragilidade do sistema educacional e do fato que apenas uma pequena parcela da sociedade tinha acesso a esse sistema, a Maçonaria participou de ações práticas para a questão, intervindo nessa realidade. (Silva E Soares, s.d.) Na visão da maçonaria, a sociedade brasileira deveria entrar definitivamente na modernidade. Em conjunto com outros atores sociais, defendia o progresso econômico e social do Brasil, acompanhado de um ensino de qualidade, laico e em condições de servir a maioria da população. As escolas maçônicas foram criadas principalmente para alfabetizar os adultos pobres, de acordo com a idéia de “educar para libertar”, lema adotado da maçonaria. (Silva E Soares, s.d.) Assim, desde o começo do século passado, o desenvolvimento do sistema educativo brasileiro foi marcado por relações conflitantes entre diferentes grupos sociais (Akkari, 2001). Numa pesquisa histórica sobre a penetração protestante norte-americana no Brasil, Mesquida (1994) explicou como as elites intelectuais e políticas da região do Sudeste (maçons, republicanos, anticlericais, positivistas) sustentaram a igreja metodista na sua tentativa de instalar um ensino alternativo ao fornecido pelas escolas católicas e públicas, consideradas como passadistas, rígidas e pouco propensas a impulsionar o desenvolvimento econômico. Para Moraes (2006), o ideário liberal maçônico e republicano, era de que só através da educação era possível transformar o indivíduo em cidadão produtivo e consciente de seus direitos e deveres cívicos, capaz – portanto – de exercer a liberdade propiciada pela cidadania. A luta contra o analfabetismo e pela difusão da instrução ao povo obedecia a objetivos políticos precisos: o alargamento das bases de participação política no país, a conformação da cidadania, indispensáveis a legitimação do Estado Republicano. A grande campanha pela instrução do povo foi deflagrada pela Maçonaria republicana e, posteriormente, pelos clubes republicanos. As Lojas Maçônicas foram as primeiras a criar, nas Províncias, escolas ou aulas noturnas para alfabetização de adultos, trabalhadores livres ou escravos. (Moraes, 2006). Nos anos antes do final do Império, parte da Maçonaria apoiava a proclamação da República como solução para muitos dos problemas da nação e as iniciativas dos maçons na área da educação visavam à formação dos trabalhadores, principalmente da nova classe operária. Os integrantes de Lojas Maçônicas que simpatizavam com os ideais republicanos defendiam uma escola laica, científica e positiva. Segundo Silva (2007), é preciso levar em contar não apenas a questão da filantropia, mas também os interesses políticos e econômicos que estavam sendo defendidos por determinado grupo social. Para Barbosa (2006), com a proclamação da República, houve um aumento das escolas patrocinadas pela maçonaria, cuja proposta era instruir os analfabetos em um curto espaço de tempo, ensinando-os a ler, escrever, contar e conhecer aspectos históricos e geográficos do Brasil. Apesar dos cursos serem de curta duração, os alunos deixavam de freqüentá-los assim que aprendiam o que consideravam como necessário, principalmente, em virtude das dificuldades financeiras enfrentadas pelos alunos que freqüentavam essas aulas noturnas. No resgate da instrução pública maranhense vou me ater até o princípio do século passado, quando o hoje IF-MA se consolidou; antes uma rápida passada nos períodos principais na história da educação (pública) brasileira. Ainda seguindo Akkari (2001), se distingue quatro períodos principais na história das lutas em prol da escola pública no Brasil. O primeiro (1934-1962) é marcado, nos anos 30, pela discussão entre católicos e leigos quanto às orientações gerais da política educativa no país (Libaneo, 1985). Nos anos 50 e 60, o debate articulou-se em torno do conflito entre os defensores da escola particular e os da escola pública. Os primeiros, agrupados em torno da igreja católica, defendiam uma concepção religiosa e humanista do ensino; reclamavam até um financiamento público para a educação particular, de modo a garantir a “liberdade de escolha” dos pais. Os segundos, animados por


movimentos progressistas e leigos, estimavam que apenas a escola pública estivesse apta a garantir as mesmas chances educativas para todos os cidadãos brasileiros. No plano pedagógico, esse primeiro período corresponde à introdução do pensamento pedagógico liberal no Brasil, principalmente por meio do engajamento dos pedagogos liberais em favor de uma melhor resposta à demanda social crescente por educação. Esse movimento culminou com o lançamento, em 1932, do manifesto dos pioneiros da escola nova, o qual preconizava uma universalização do ensino pelo desenvolvimento de um sistema de educação público. Esse documento considerava o ensino como uma função eminentemente social e pública (Azevedo et al., 1932). Da mesma forma, cabe assinalar a influência preponderante, no plano pedagógico, da Escola Nova com a contribuição central de Dewey. (Akkari, 2001) O primeiro período acabou com a promulgação, em 1962, pelo Congresso brasileiro, de uma legislação completa sobre a educação (Lei de Diretrizes e Bases). Apesar de reforçar a escola pública no plano legislativo depois desse primeiro período, essa lei não constituiu um avanço sensível na construção do sistema público de educação. As comunidades desfavorecidas e as populações rurais permaneceram afastadas da escolarização maciça. (Saviani, 1992; Akkari, 2001) O segundo período, muito breve, corresponde ao surgimento do movimento de educação popular que se desenvolveu entre 1962 e 1964, graças, em particular, ao trabalho pioneiro do movimento de educação básica (MEB) e à atuação do pedagogo Paulo Freire. O debate deslocou-se, na época, do campo escolar para o da alfabetização de adultos e da educação popular num contexto político marcado por múltiplas lutas sociais. (Saviani, 1992; Akkari, 2001) O terceiro período teve início em 1964 com o advento do regime militar, que interrompeu brutalmente as expectativas suscitadas no país pelas campanhas de alfabetização popular. Esse regime tentou implementar uma política educativa tecnicista, centrada nos conceitos de racionalidade, eficiência e produtividade. Essa orientação, inspirada principalmente pelos acordos entre o Ministério da Educação e a Agência Americana de Ajuda ao Desenvolvimento (US-AID), foi combatida pela maioria dos educadores brasileiros, que não hesitaram em recusar o caráter autoritário do regime e de sua proposta pedagógica (Saviani, 1992). O quarto período começa no início dos anos 80 com o retorno progressivo à democracia. O debate girou, na época, em torno da democratização do ensino e da permanência das crianças desfavorecidas na escola. Várias medidas legislativas em prol da escola pública foram votadas, como a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996. (Saviani, 1992; Akkari, 2001) INSTRUÇÃO PÚBLICA NO MARANHÃO136 No Maranhão, o ensino técnico/profissional comemora este ano, 400 anos de sua implantação; inicia-se com a chegada dos franceses, em 1612. (Pianzola, 1992; Meireles, 1989). Em sua “Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614”, Ives D’Evreux (2002) diz ser fácil civilizar os selvagens à maneira dos franceses e ensinar-lhes os ofícios que havia em França. Após descrever as habilidades do Ferrador, índio do Mearim, afirmando que exerciam outros ofícios, além de ferreiro: tanoeiro, carpinteiro, marceneiro, cordoeiro, alfaiate, sapateiro, tecelão, oleiro, ladrilhador e agricultor. Esse Padre, que passou mais de dois anos em Maranhão, propõe ao Soberano francês a criação de um seminário onde se devem educar os filhos dos selvagens, única esperança da firmeza da religião naquele país.

E São Luís é Fundada – 1616 Das ordens dadas por Alexandre de Moura a Jerônimo de Albuquerque, consta a construção de uma cidade São Luís - no entorno do Forte de São Felipe: “[...] deverá restaurar e aumentar a fortaleza segundo as plantas do engenheiro Frias”. (Pianzola, 1992:265). Para tanto, devia se utilizar dos artesãos franceses que ficaram na Ilha. 136

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito; VAZ, Loreta Brito. INDÍCIOS DE ENSINO TECNICO/PROFISSIONAL NO MARANHÃO: 1612 – 1916. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.34, p.97-107, jun.2009 - ISSN: 1676-2584, p. 97-107

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão: esboço histórico. In REVISTA “NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA” v. 2, n. 1 – jul.-dez. 1998 –, disponível em www.cefetma.br/revista VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, Educação tecnológica: origens e pressupostos. In FORUM DE AVALIAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE LICENCIATURA DO CEFET-MA, I, São Luís, 1995.


A CHEGADA DOS JESUÍTAS E A FUNDAÇÃO DO COLÉGIO - 1618 A presença de ordens religiosas na colônia prendia-se, teoricamente, aos interesses pela conversão e educação dos nativos, instrumento de dominação da política colonial européia (Cavalcanti Filho, 1990). Em 1618, os jesuítas instalam-se no Maranhão, na antiga Aldeia da Doutrina (hoje, Vila do Vinhais Velho). Em 1622, fundam o Colégio e a Igreja Nossa Senhora da Luz (atual Igreja da Sé), além de diversos estabelecimentos de ensino. Nesses estabelecimentos existiram escolas rudimentares de aprendizagem mecânica, o que hoje chamaríamos Escolas de Artes e Ofícios. Houve aí também as primeiras oficinas de pinturas e escultura, sendo essas oficinas postulado e conseqüência da construção dos colégios. (Souza, 1977). Pellegrini (2000) localizava naquele Colégio a Biblioteca, as escolas para os filhos dos colonos e as oficinas de carpintaria, serralharia, pintura e estatuaria, onde eram formados os mestres-de-obras, carpinteiros, entalhadores, e douradores responsáveis pela edificação de igrejas, confecção de altares e das imagens utilizadas pelos jesuítas no trabalho de evangelização. Foram as oficinas da Companhia de Jesus que instauraram uma 'escola maranhense' de arte. Trabalhando lado a lado com entalhadores europeus, aprendizes locais desenvolveram-se como artistas. Seriam esses trabalhadores indígenas? Pelo regimento 1611 é novamente autorizada a escravização indígena, consagrando-se o sistema de aldeamento. Nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas (Alencastro, 2000).

1622 – PRIMEIRAS ATIVIDADES INDUSTRIAIS Os primeiros engenhos de açúcar que tivemos foram instalados na ribeira do Itapecurú, em 1622, por Antônio Muniz Barreiros. Quem eram os operários que o faziam funcionar? De onde aprenderam os ofícios? Estariam entre aqueles quarenta casais, do contrato de Antônio Ferreira Betancor, de 1621? Atendendo à Casa de Garcia D'Ávila os desbravadores do Piauí e da região dos Pastos Bons, no Maranhão – o Governador-Geral autorizara remeter ao Estado do Maranhão seis mestres de fazer açucares. (Coelho Netto, 1979). Para Alencastro (2000), faz falta um estudo sistemático dessas diversas atividades e, em particular, da construção naval, pois em tempos de piratas, corsários e batalhas marítimas, o trabalho indígena ajudou a recompor as frotas. Ao lado da indústria canoeira havia uma construção naval de porte fornecendo embarcações para o tráfico atlântico de africanos. Boa parte do corte, transporte e preparo do madeirame, da carpintaria, coragem, mastreação e velame produzidos nessas diversas oficinas navais repousavam sobre o trabalho dos índios públicos. O COMÉRCIO E O ENSINO DE ARTES MECÂNICAS ENTRE OS INDÍGENAS Como dito, nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas, assim como esses índios - dos aldeamentos - só podiam ser utilizados mediante salário, nos termos de lei de 1611. Renôr (1989), ao divulgar alguns documentos raros da história do Maranhão investigando sobre o cativeiro dos índios (1723), apresenta-nos, dentre as testemunhas arroladas para depor diante do Ouvidor Sindicante, alguns oficiais artesãos: oficial de sapateiro; oficial de ourives; oficial de carpinteiro. João Renôr esclarece que o regime de trabalho assalariado entre os índios do Maranhão foi introduzido por Xavier de Mendonça Furtado. O antigo sistema de remuneração não era definido e não havia salário em dinheiro. Pagavam-se os salários dos carpinteiros, dos índios e de todos os tipos de artesãos em peças de pano. A partir da ordem de Mendonça Furtado todos passam a receber salários ou por mês ou por dia. Os vários ofícios exercidos pelos índios – e os respectivos salários eram: de serviços ordinários, os sem qualificação profissional, e recebiam a quantia de 400 réis por mês; os índios especializados eram Pilotos que operavam nos “Ofícios das Canoas”, recebiam quatro tostões por mês correspondendo ao velho pagamento de 4 varas de pano; os proeiros passaram a receber a quantia de três tostões por mês, correspondendo ao valor de três varas e uma terça de pano; e os oficiais mecânicos (artesãos) que na época eram chamados por “Oficiais dos Ofícios Mecânicos” eram diaristas na razão de sessenta réis por dia e o “decomer” (a bóia) por conta do patrão. Se o referido Oficial Mecânico quisesse trabalhar “a seco” (sem a bóia do patrão) recebia por dia de serviço a quantia de cem réis.


OS NEGROS E OS TRABALHADORES LIVRES Como Corrêa (1986), se pergunta se os escravos transformavam-se em concorrentes dos artistas, nas atividades de prestação de serviços mecânicos e liberais? Nesse autor buscamos a respostas, que afirma que a princípio, preservado o instituto jurídico da escravidão, como os afamados escravos de ganho dos senhores, que perambulavam pelas cidades como esmoleres e/ou como trabalhadores, recebendo o treinamento e a habilitação minimamente compatíveis com a prestação de serviços diversificados – e portadores, entretanto, da característica comunitária de renderem uma contrapartida em dinheiro, na qual o dividendo majoritário pertencia ao proprietário de quem trabalhava. Portanto, há a confirmação de que o crescimento da concorrência aos artistas tinha raízes sociais no declínio da escravidão, com a habilitação de escravos urbanos e domésticos para os ofícios liberais como os de rendeira, costureira e alfaiates e os de pedreiro, sapateiro e carpinteiro. Os artistas liberais e mecânicos ficaram circundados pelo consórcio da concorrência do mercado de trabalho (Corrêa, 1986).

AULA DE FORTIFICAÇÃO Em 1699, era recomendado que se abrisse, em São Luís, uma aula de fortificação para até três alunos, que receberiam, enquanto durasse o curso, uma diária de Rs$ 0,50. Essa recomendação se dá pelo fato de haver em Maranhão, três engenheiros, que poderiam ministrar essa aula. Não se tem notícia de que essa aula chegou a funcionar (Meireles, 1995:55; Pacheco, 1924?). O ARSENAL DA MARINHA Através da Carta Régia de 16 de outubro de 1798, o governo português criou o Arsenal de Marinha para dar sustentação às ações mercantis e apoio logístico à Real Armada Portuguesa. O Arsenal de Marinha foi durante mais de quatro décadas um Centro de Profissionalização direcionada ao trabalho marítimo no Maranhão. Além de formar a mão-de-obra para esse trabalho e quadros para a Armada, fazia concertos de navios em suas oficinas, bem como barcos e outros meios de transporte flutuantes. Segundo Leandro (2002), o trabalho marítimo absorvia um considerável número de trabalhadores e escravos de forma direta e indireta, todos como características bem distintas. Dentre esses trabalhadores havia operários estratégicos para a segurança do Estado: carpinteiros e calafates. Os carpinteiros e calafates eram os operários que embarcavam nos navios da Armada, e o arsenal formava operários nas diversas categorias profissionais, inclusive criando companhias de operários formadas por índios. Sendo um centro de formação profissional tinha como preparar os gentios ensinando-lhes uma profissão, promissora à época (Leandro, 2002). Com a criação da Escola de Máquinas da Marinha, e de acordo com o Decreto no. 252, de 03 de março de 1860, a instituição recebia menores egressos, com formação, das oficinas dos Arsenais (Leandro, 2002). Ressalta Leandro (2002) que o curso de máquinas era oferecido pela Marinha para os menores no momento em que o Brasil era um país meramente produtor de matérias-primas. Isto colocava a Marinha em destaque, como uma instituição moderna do Império que estava transformando os menores abandonados e carentes em profissionais engajados na política de modernização da Marinha e conseqüentemente no meio social. Com o fim da Marinha a vela, e com os novos navios de ferro, comprados no exterior (Inglaterra, França e Estados Unidos), inicia-se um processo de modernização da Armada, exigindo homens mais qualificados e instruídos para operarem os novos navios de guerra. Criam-se escolas para formar esse pessoal qualificado, sendo a primeira fora da Corte -, a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Pará, que serviu de referencia para as demais instaladas em outras Províncias. Em 1861, a Marinha cria na Província do Maranhão a Companhia de Aprendizes Marinheiros pelo Decreto no. 2.725, de 12 de janeiro de 1861, quando Ministro da Marinha o Conselheiro Francisco Xavier Pais Barreto. Foi comandado pelo 1º Tenente da Armada, José Francisco Pinto, imediatamente subordinada ao Capitão do Porto. O seu pessoal é de 218 praças, a saber, um comissário, um escrivão, um contramestre, dois guardiões, um mestre de armas, oito marinheiros de classe superior, e duzentos aprendizes, sujeitos às disposições do Regulamento que acompanhou o Decreto no, 2003, de 24 de outubro de 1857. (Marques, 1970; Leandro, 2002).


APRENDIZES DAS ARTES MECÂNICAS Nos primórdios da tipografia no Maranhão – a primeira data de 1821 – junto com os primeiros prelos, vieram os primeiros tipógrafos – mestres que transmitiam suas artes -, como informa Frias (2001): “Depois dos tipógrafos que vieram do estrangeiro, nos primeiros anos do estabelecimento da tipografia entre nós, e que ensinaram o que sabiam, e era o que então se usava na Europa, jazeram os que com eles aprenderam e os discípulos destes, na ignorância dos inventos que de dia em dia se introduziam lá fora na tipografia”. (p. 19). O que é confirmado pelo aviso publicado em “O Conciliador do Maranhão”, em que: “Na Typographia Nacional se admitem Alumnos e Aprendizes das Artes de que ellas se compoem; começando com o vencimento a 160 a 240 que se lhe aumentará conforme se adiantarem. Quem pretender occupar-se em alguns desses lugares procure o Director, assiste nas cazas unidas à mesma Typographia”. (O CONCILIADOR DO MARANHÃO, Quarta-feira, 05 de dezembro de 1821, n. 42, p. 108). Em 1859, aparece uma revista dedicada às artes e à indústria, denominada “O ARTISTA”, sob a direção dos engenheiros Fernando Luís Ferreira e seus filhos, Drs. Luís Vieira Ferreira, e Miguel Vieira Ferreira. Publicação interessante e de muita utilidade, sustentou porfiada luta em favor das classes operárias. Nas notas, Joaquim Serra (Ignotus) revela que: “Na verdade, O Artista, de início, ‘jornal principalmente dedicado às artes mecânicas’, e, a partir do no. 12, ‘dedicado à indústria e principalmente às artes’, veio à luz da imprensa a 21 de maio de 1862.” (Serra, 2001). Na antiga Companhia de Navegação Maranhense eram ensinadas as artes mecânicas, tão necessárias à manutenção dos navios, conforme informa Eurico Teles de Macedo (2001), em seu “O Maranhão e suas riquezas”, quando recorda que, em 1906, ainda alcançara a velha companhia. Com o título “instrução profissional”, o jornal “O Artista” dá-nos mais notícias dessa escola de aprendizes mecânicos, funcionando na Casa de Fundição da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão (O ARTISTA, Maranhão, 15 de março de 1868, n. 3, Segunda série) O Sr. Antonio Joaquim, em seu Relatório, fala das dificuldades que vinha enfrentando no funcionamento da escola, em especial a freqüência dos alunos aprendizes às aulas: “O tempo para os offícios de carpinteiro e ferreiro será de 5 annos, e para os offícios de modellador, fundidor e machinista de 7 annos, e para caldeireiro a vapor de 6 annos. Os dous primeiros annos para quaisquer dos offícios será sem vencimentos. Este tempo sem vencimento é meramente de experiência para que o administrador possa conhecer melhor a intelligência, comportamento moral, e assiduidade na freqüência das officinas, e só depois d’este tirocínio é que começarão a vencer um pequeno jornal, não excedente de 1$000 rs. na último anno. Todo aprendiz é obrigado a freqüentar as aulas noturnas de instrucção primária e mechanica aplicada, sob pena de ser demitido se não o fizer. Passados os dous primeiros annos, então será lavrado o contracto contando-se para isso o tempo que servirão sem vencimentos sugeitando-se o pai, mãi, ou tutor do aprendiz, a uma multa de 150$000 se antes de acabar o tempo o aprendiz deixar o estabelecimento por qualquer motivo a não ser doença incurável. Não se admitem aprendizes menores de 12 annos e mais de 14 por consideração alguma. Nos dous primeiros annos sem vencimentos o aprendiz será obrigado a fazer todo o serviço da casa que lhe for


ordenado. “Fundação em 23 de abril de 1868 - Antonio Joaquim L. da Silva” (O ARTISTA, Maranhão, n. 9, 26 de abril de 1868). (Grifos nossos).

AS AULAS DE COMÉRCIO No Maranhão, a primeira aula de comércio que se teve foi aberta em 1811. Ensino eficiente do Comércio só se teve no período da Regência Permanente Trina, em que foi criada, pelo Decreto de 2 de agosto de 1831, uma cadeira. Foi seu lente, por concurso público, Estevão Rafael de Carvalho, que fizera o curso de matemática na Universidade de Coimbra. (O PUBLICADOR OFICIAL, n. 22, Quarta-feira, 04 de janeiro de 1832). Mais tarde, em 1838, quando Vicente Tomaz Pires de Figueiredo Camargo, pela Lei de número 77, de 24 de junho, cria o Liceu Maranhense, a cadeira de Rafael de Carvalho passou a fazer parte do Curso de Comércio daquele estabelecimento. Em 1893, é criada a Cooperativa dos Artistas e Operários Maranhenses, sob a liderança de Manoel Godinho e Francisco Trossa. As classes laborais promoveram a Escola Operária, dirigida pelo professor Joaquim Alfredo Fernandes, que funcionava às segundas, quartas e sextas-feiras, na Rua da Mangueira, 44. Consagravam, na verdade, o antigo raciocínio de que sem ilustração, não haveria libertação.

Depois do Centro Artístico Eleitoral, houve o aparecimento dos Partidos Operário Brasileiro e Operário Federal no Maranhão. Do primeiro partido, consta de seu programa promover “[...] a instrução primária, technica e secular gratuitas e obrigatórias” (art. 10º) e no art. 33: “creação de estabelecimentos profissionais technicos, a expensas dos municípios, dos Estados e da união para aprendizagem e regularisação de aptidões, por commissões peritas de operarios”. (in Corrêa, 1986: 133)

A CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES A instalação da Casa dos Educandos Artífices data de 23 de agosto de 1841, pela lei número 105. O então Presidente da Província, Dr. João Antônio Miranda, envia à Assembléia Legislativa mensagem criando-a, com os objetivos de desviar os jovens dos caminhos dos vícios e oferecer à Província trabalhadores e artífices. Ali se formavam os quadros profissionais de alfaiates, pedreiros, carpinteiros, charuteiros em razão de o estabelecimento ter oficinas preparadas para o ensino prático dessas profissões. Em 11 de janeiro de 1842, no JORNAL MARANHENSE, é publicado o Regulamento da Casa dos Educandos: “[...] casa de educação de artífices para onde serão recolhidos os meninos pobres e desvalidos de toda a Província, que o mesmo Presidente julgar aptos a aprender todos os ofícios mecânicos, tendo com tudo preferência os Expostos da Santa Casa de Misericórdia[..]”. [Em seu artigo terceiro] [...] a Casa garante aos Educandos a instrução de primeiras letras, e princípios religiosos, o ensino de um ofício mecânico, e o exercício militar a uma Guarda Nacional [...]; [no artigo quarto], [...] As Primeiras Letras e princípios religiosos são ensinados pelo próprio Diretor ou por um mestre de escolha do Governo; os ofícios aprendem-se no Arsenal e obras públicas e particulares; a instrução militar é dada imediatamente pelo diretor e pedagogo dos Educando [...]; [e mais adiante, quando é tratado do Regime da Escola, sabe-se que o dia de estudo/trabalho começava às 5 horas da manhã (artigo 18), com] [...] formatura e competente revista, para se verificar se não faltou algum, se há doentes, se estão vestidos com aceio e regularidade [...]; [após o que], [...] se dirigirão ao Oratório, ou à melhor sala, e farão as orações. [Findo o ato religioso, (art. 19)], [...] se encaminharão à sala de escholla, que durará até às 07:30 hora”; [concluída a lição (art. 20), e] [...] anunciado o fim dos trabalhos pelo toque de sineta [...], [irão todos para] [...] a sala de rancho, onde a pé almoçara”. [Concluído o almoço (art. 21)] [...] e separadas as classes correspondentes às diferentes oficinas, serão expedidos os Educandos para os respectivos trabalhos. [No artigo 22, consta que, recolhidos à Casa ]“ [... ] serão servidos do jantar à uma hora, findo o qual se dirigirão à seus ofícios. [Às 7 horas, a ceia deverá estar pronta (artigo 23)]. [Após esta haverá orações, como pela manhã e] [...]ir-se-ão deitar, sendo todos estes e os subsequentes atos anunciados por sineta. [No artigo 24, consta a permissão] “ [...]a cada um empregar-se no trabalho, que lhe parecer, durante a noite [...] [sem que atrapalhem o repouso dos demais]. (JORNAL MARANHENSE, terça-feira, 11 de janeiro de 1842, n. 52). No advento da República, em 13 de dezembro de 1889, com quase meio século de existência, fechava suas portas. A Casa dos Educandos Artífices foi extinta em 1900. Informa Meireles (1995), que com a Proclamação da República, a Junta que assumiu, demonstrando um republicanismo exagerado e ridículo, determinou a destruição e recolhimento aos depósitos de todos e quaisquer vestígios materiais do antigo regime:


"Dentro desse espírito, por certo, é que foi demitido o funcionalismo público, visto como, vindo do Império, só poderia ser monarquista e que se extinguiu, sem razão plausível, a útil e modelar instituição de ensino que era a Escola de Aprendizes Artífices." No dizer de Lima (2001), o estabelecimento ministrou ensino profissionalizante por mais de trinta anos em oficinas de alfaiate, sapateiro, carpina, marceneiro e pedreiro, além de coronheiro, espingardeiro e surrador de cabedal (couro, manufaturado, sola); aulas de primeiras letras, aritmética, álgebra, geometria, desenho, escultura, geografia, francês, música. (p. 104).

A ESCOLA PRÁTICA DE AGRICULTURA Em 1851, a Assembléia Provincial teve a coragem de rejeitar uma primeira proposta para a criação de uma Escola de Agricultura Prática. Uma segunda proposta, feita em 1856, foi aprovada, transformada em lei de no. 446, de setembro desse mesmo ano, só vindo a ser regulamentada por ato de 10/09/1858, pelo então Presidente da província Conselheiro João Lustosa da Cunha Paranaguá, segundo Meireles (1995:61). Para Marques (1970:263) a Escola Prática de Agricultura foi criada em 07 de abril de 1859, tendo por fim o seguinte: "[...] 1º - ensinar à mocidade da Província a agricultura prática e teoricamente; 2º - Instituir uma série de experiências e ensaios concernentes ao melhoramento do sistema atual de nossa lavoura, criando ao mesmo tempo um centro de observação e demonstrações práticas para a instrução dos lavradores; 3º Transplantar para a Província os métodos e progressos agrícolas, cuja proficiência houver sido abonada por uma esclarecida e constante experiência dos países estrangeiros mais adiantados [...]". (p. 263). Conhecida como Escola do Cutim, por sua localização na ilha de São Luís, Meireles considera que não fosse, a rigor, um estabelecimento de ensino superior, e sim, um instituto de grau médio, profissionalizante, para a formação de técnicos agrícolas, pois tinha por objetivo primordial ensinar prática e teoricamente a profissão de lavrador: "[...] mas, por outro lado, deveria fazer pesquisas e experiências que levassem ao aperfeiçoamento do sistema de lavoura usado na terra e visando trazer, para o Maranhão, os métodos e processos agrícolas mais atuais e que já houvessem aprovados em países estrangeiros[...]". (Meireles, 1995:61). A escola foi aparelhada com diversos instrumentos agrícolas: arados, semeadeiras, descaroçadores de algodão, e outros mais. Vieram para a escola, dos Estados Unidos, sementes selecionadas dos diversos gêneros cultivados na Província. Da Europa, foram trazidos cabeças de gado vacum de raças superiores, além de livros para formar sua Biblioteca. Ainda dos Estados Unidos, foi contratado o técnico – francês - Louis Clement, onde administrava estabelecimentos rurais. Para ministrar aulas nessa Casa foi autorizada a ida para Europa de três jovens, que deveriam estudar agricultura, e, ao retornarem, ensinar nessa escola. Com o fim de ainda ensinar na Escola, dois jovens, que já estudavam na Europa Ciências Naturais, a expensas da província, receberam ordens para se dedicarem aos estudos agronômicos (Cabral, 1984, p. 62). Outra escola de agricultura existente foi o “Aprendizado Agrícola Cristino Cruz”, instalado na administração de Francisco de Assis Lopes Júnior (1910-1912), no Município de Guimarães, nas imediações de Capitua. O projeto inicial figurava uma obra de extraordinária importância para o Município e para o Estado. Funcionou durante pouco tempo, com escolas de profissionalização para aprendizes de vários ofícios, onde se destacavam as avançadas técnicas no setor agrícola bem como da industrialização de madeira, através de requintados móveis. Ozório Jorge de Melo Anchieta foi um dos professores da referida escola. Na gestão de Otávio Augusto Coelho de Souza (1913-1915), com o advento da I Guerra Mundial, em 1914, o Aprendizado foi desativado, com as instalações a mercê do vento, do sol, da chuva e das mãos desonestas, posto que grande parte do material desaparecesse do local. Em 1916, por determinação do Governador Herculano Nina Parga o que sobrou do Aprendizado foi transferido para São Luís, ainda com o nome original – Aprendizado Agrícola Cristino Cruz – cuja escola transformou-se na atual “Escola Agrotécnica Federal de São Luís”, instalada no Maracanã. (Oliveira, 1984). “A INSTRUÇÃO DO OPERÁRIO É UM CAPITAL PRECIOSO” - A CLASSE OPERÁRIA VAI PARA A “ESCHOLLA”...

Aparece em “O PUBLICADOR OFICIAL” aviso em que


“Fernando Luz Ferreira propõem-se a dar aulas de Desenho em sua casa na Rua do Giz no. 9, das 4 as 6 da tarde pelo preço de 6$000. Dá também lições de Aritmética e Geometria” (O PUBLICADOR OFICIAL, 12 de abril de 1834, no. 252).

Em 1845, a Sociedade Philomática Maranhense faz publicar, através de seu Secretário, um anúncio no seu “JORNAL DE INSTRUÇÃO E RECREIO” onde: “[...] se faz público aos habitantes desta província e especialmente desta Cidade que a mesma sociedade deliberou que se fizessem, para ilustração do Povo, Cursos elementares de Sciencia, os quais fossem públicos e gratuitos: Curso Elementar de Geometria e suas aplicações – feito nas 5as. Feiras às nove horas da manhã, pelo sócio Doutor Alexandre Theóphilo de Carvalho Leal; Curso Elementar de Physica e Mecânica aplicada, feito aos domingos às onze horas da manhã pelo sócio Doutor Júlio Bayer; Curso Elementar de Chimica aplicada e de Mineralogia feito aos domingos às dez horas da manhã pelo sócio doutor José da Silva Maia, e preparada pelo sócio Luiz Bottentuit; Curso Elementar de Botânica e Zoologia, feito as 5ª ao meio-dia, pelo sócio Doutor Tibério Cesar de Lemos” Em 1870, é funda a “Escola Onze De Agosto”- recebeu esse nome porque foi fundado nesse dia naquele ano pelos bacharéis João Antônio Coqueiro, Antônio de Almeida e Oliveira, Martiniano Mendes Pereira, Manuel Jansen Pereira. Era uma sociedade criada com o fim de estabelecer cursos noturnos para as classes operárias. Essa Escola, segundo Corrêa (1986), tinha por finalidade possibilitar a educação noturna às classes operárias, “[...] de sorte que contava com o beneplácito dos poderes estabelecidos, interessados na captura e no controle dos segmentos trabalhadores, exercidos pelo patronato humanitário sob a chancela de Gomes de castro, Presidente da Província, consultado para a aprovação definitiva dos estatutos do educandário proletário.” (p. 69). No dia 04 de julho de 1872, é publicado anúncio em "Publicador Maranhense - Jornal do Commércio, Administração, Lavoura e Indústria": "CURSO DE CONSTRUÇÃO PRÁTICA - Esta aula, de grande utilidade para os carpinas e pedreiros que se acha encarregado o Dr. Agostinho Autran começará a funccionar na escola popular Onze de Agosto Terça-feria 9 do corrente às 7 da noite". (PUBLICADOR MARANHENSE, Maranhão, Quarta-feira, 4 de julho de 1872, n. 79, p. 4, NOTICIÁRIO). Nesta mesma edição, e logo abaixo, aparece outro anúncio de um: "CURSO DE GEOMETRIA APPLICADA ÀS ARTES - “O Dr. Emílio Autran começará a explicação dessa matéria na mesma escola popular, hoje a 7 horas da noite". (PUBLICADOR MARANHENSE, Maranhão, Quarta-feira, 4 de julho de 1872, n. 79, p. 4, NOTICIÁRIO). Joaquim Vieira da Luz, em seu festejado "Fran Pacheco e as figuras maranhenses", lembra que Frank Lorain Kirk - Mestre Frank, de nacionalidade norte-americana - homem de idade provecta, corpulento, de poucas palavras e muita ação, "[...] na precária oficina da E.F. de Caxias a Cajazeiras [construída na primeira década dos anos 1900], formou sucessivas turmas de artífices - torneiros, serralheiros, mecânicos, que se tornaram mestres de outras gerações; sem ser engenheiro, montou, em prazo muitos meses mais curto que o contrato, a ponte sobre o rio Itapecurú, em Caxias, (da E.F. São Luís-Teresina), dirigindo, ele próprio, uma das pesadas locomotivas que foram colocadas em toda extensão da ponte para comprovar a solidez da obra". (p. 112) ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO MARANHÃO No dia 27 de outubro de 1909, no "Jornal do Commercio", editado na cidade de Caxias, era noticiado: "ESCOLA PROFISSIONAL - O Governo cedeu a antiga casa dos educandos para nella funcionar a escola profissional que o governo federal projecta criar aqui". (JORNAL DO COMMÉRCIO, 1909). Esse mesmo jornal noticia, em 11 de novembro de 1909, a criação da Escola de Aprendizes Artífices do Maranhão, nos seguintes termos: ”ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES - É do teor seguinte o decreto n. 7.566, de 23 do corrente, de parte da Agricultura, que creou nas Capitaes dos Estados da República, escolas de aprendizes , para o ensino profissional primário gratuito: 'O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, em execução da lei número 1.606, de 20 de dezembro de 1908:Considerando:[...]" (JORNAL DO COMMÉRCIO, 1909).


Instalada em 16 de janeiro de 1910, com o objetivo de formar operários e contramestres, contou com uma matrícula inicial de 74 alunos, sendo que apenas 56 a freqüentaram em seu primeiro ano de funcionamento. Foi seu primeiro Diretor, José Barreto da Costa Rodrigues. Dejard Martins (1989), em seu "Esporte, um mergulho no tempo", informa que: "A 16 de janeiro de 1910, inaugurou-se a Escola de Aprendizes Artífices, que se instalou na Praça da República, onde hoje funciona a Delegacia do Ministério da Agricultura. Essa instituição tinha como objetivo primordial, o desenvolvimento de cursos de primeiras letras, desenho, profissão de sapateiro, marceneiro, alfaiate e ferreiro. Bons mestres asseguravam o êxito do empreendimento: Almir Augusto Valente, Vicente Ferreira Maia, Hermelina de Souza Martins, Cesário dos Santos Véras, Alberto Estevam dos Reis, Alexandre Gonçalves Véras, Alexandre Gonçalves Nunes, Eduardo Souza Marques e Nestor do Espírito Santo. A criação da Escola despertou, entre os alunos, o interesse pelas práticas desportivas e, como não podia deixar de ser, pelo futebol." (p.317) Em 1915, o ensino industrial sofre uma alteração, quanto à sua organização, dando-se autonomia às Escolas de Aprendizes Artífice. Na edição do dia seguinte, é anunciada a abertura dos do ano letivo de 1915, apresentando-se o quadro de alunos e os problemas que a Escola enfrentaria, devido à Portaria baixada pelo Ministro da Agricultura: "A ESCOLA DE ARTÍFICES - Reabre-se, amanhã, 16, as aulas deste estabelecimento profissional. Dos 316 alunos matriculados neste estabelecimento, 4 terminaram o curso; foram eliminados por falta de freqüência, 147 e 1 por falecimento, passando para 1915, l64 alunos. Este ano foram matriculados 131, atingindo a marca total de 265. “Da portaria do ministro da agricultura de 7 do corrente, foram dispensados os adjuntos de professor Jerônimo José de Viveiros, Fernando Cardozo, Elvira Magalhães de Assis, Gilberto Maia Costa, Cleomar Falcão, José Piracicaba de Moraes Rego, Antonio Bernardino Sales, e Venâncio Erico Fernandes. "Essa rezolução vem atropelar grandemente a marcha do ensino do instituto aos olhos a impossibilidade de um só professor lecionar 295 alunos e um só mestre ensinar 80 aprendizes, em cada oficina". (O JORNAL, 15 de janeiro de 1915). Em 05 de fevereiro de 1916, o governador Herculano Parga apresentou mensagem ao Congresso Legislativo do Estado demonstrando interesse pela organização e desenvolvimento do ensino profissional e técnico no Estado. Em sua mensagem, cita como "[...] exemplo frisante da poderosa Allemanha e da florescente república da América septentrional como provar de modo incontestável que não são apenas as sciências puras, mas, sobretudo as sciências applicadas, o ensino profissional e technico, que prepraram os luctadores mais temidos, quer nos momentos pacíficos, quer em attitudes belligerantes". (O ESTADO, 1º de maio de 1916). Afirma que não basta a Escola de Aprendizes Artífices, um primeiro passo, e apela aos senhores deputados para a criação de um internato onde "... possão receber diffundido o organizado, por esta, o ensino os desprotegidos da fortuna, residentes nesta capital e no interior do estado". Em seu discurso, refere-se ao ato impensado da primeira junta governativa republicana, que fechou a antiga Escola dos Educandos, que "[...] incontestáveis serviços prestou e que remodelada de accordo com a evolução pedagógica, ainda hoje estava produzindo fructos abundantes e proveitosos", pois: "Já vão rareando os artistas competentes nas diversas manifestações de trabalhos manuaes, outrora tão numerosos e procurados - a nossa honra, o nosso orgulho - applaudidos e victoriosos, onde quer que se apresentassem, e isso porque são hoje limitadas as fontes em que lhes seja facultada haurir orientados e receber os preparos indispensáveis". (O ESTADO, Segunda-feira, 1º de maio de 1916) A TÍTULO DE CONCLUSÃO Concordamos com Ferreira (2002), quando afirma que rebuscar o legado imperial/ escravocrata se constitui na atividade primeira de quem se propõe a investigar o nascedouro do ensino (profissional/industrial) no Brasil. Sob o signo do castigo, da prisão e da subordinação se articulou todo um processo marcado por relações de produção em que o trabalho e coerção andavam sempre de braços dados.


Assim como Cunha (1984, citado por Ferreira, 2002:37), para quem a vigência de relações escravistas de produção, desde os tempos da Colônia funcionava como desincentivo para que a força de trabalho se orientasse para o artesanato e a manufatura. Aquele autor aponta – justificando sua tese – que: “[...] a subordinação do trabalhador e a inclinação exagerada dos senhores/empregadores de ver todo produtor/subordinado como ‘coisa sua’, podendo ser esta uma das razões pelas quais as corporações/ irmandades de ofício não tiveram, no Brasil Colônia, o desenvolvimento experimentado por outros países. Demonstra ainda que, desde os tempos coloniais, o Estado coagia homens livres a se transformarem em operários.”. (p. 37). O Estado não fazia isto com quaisquer homens livres, mas com aqueles que social e politicamente não estavam em condições de opor resistência. Procedimento semelhante era adotado para com os menores, os órfãos, os abandonados, os desvalidos em geral - os que não podiam opor resistência, portanto -, que eram encaminhados pelo Estado através dos juízes e das Santas Casas de Misericórdia, aos arsenais militares e de marinha, onde eram internados e submetidos à aprendizagem de ofícios manufatureiros. (Cunha, 1984; Cabral, 1984; Turazzi, 1989; Ferreira, 2002). Observam-se, também, na gênese das escolas de aprendizes artífices múltiplos laivos de preconceito, tais como: (a) contra o despreparo do trabalhador nativo; (b) frente ao trabalhador imigrante; e (c) em relação às atividades de caráter manual – destinados aos “desvalidos da fortuna”. (Ferreira, 2002:38). A criação dessas escolas – uma iniciativa tímida e cheia de ambigüidades – foi estribada mais na preocupação de oferecer uma resposta às pressões da sociedade do que, propriamente, atender à demanda de mão-de-obra do mercado de trabalho, na época praticamente insipiente na grande maioria dos Estados contemplados com aquelas escolas, salvo São Paulo e Rio de Janeiro, que possuíam indústrias e empresas suficientes para, em tese, absorver pessoal qualificado de nível inicial (Turazzi, 1989; Ferreira, 2002). Esse sobrevôo rápido pelas condições históricas da constituição do sistema educativo maranhense e brasileiro revela os principais debates ideológicos contemporâneos no país. Quase monopólio das ordens eclesiásticas nos seus primórdios, a educação formal foi progressivamente organizada pelo Estado imperial e, em seguida, pela república, para acompanhar o desenvolvimento econômico e a modernização. A forma de atuação dos maçons - desde sua introdução no Brasil até a primeira década dos 1900, período a que nos reportamos - refere-se a esforços para fortalecer a própria organização maçônica, através da ampliação da quantidade de lojas e de políticas de formação dos membros da maçonaria. (Mansur, 1999) O ideário maçônico recebeu ampla divulgação: nos debates parlamentares, com a edição de boletins de circulação restrita, com a criação de pequenos jornais destinados ao público em geral, além das inúmeras contribuições de maçons na “grande imprensa”. Ao mesmo tempo, diversas iniciativas concretas são efetivadas, com destaque para as que resultaram na criação de instituições de auxílio mútuo, de beneficência e de educação. Se as instituições de auxílio mútuo eram restritas ao “povo maçônico”, as de beneficência (asilos, hospitais e orfanatos) e as educacionais estavam, entretanto, destinadas a todos os homens, fossem maçons ou “profanos”. (Mansur, 1999) Para Alexandre Mansur (1999), de todas essas iniciativas, a que apresentou melhores resultados foi a construção de uma ampla rede de escolas primárias e de bibliotecas, com aulas diurnas e noturnas, para os filhos dos maçons e para as classes populares, atendendo tanto aos homens quanto às mulheres. As escolas criadas e mantidas pelas lojas propunham-se a difundir a instrução para promover o progresso e alargar a civilização, disseminando os princípios democráticos e a defesa da liberdade, principalmente a liberdade de consciência. Dessa forma, a universalização do ensino laico transformou-se na principal bandeira de luta contra os conservadores. As lojas assumiram uma função pedagógica, ao promover a formação política na mais ampla acepção do termo. Na batalha que se travava entre as “luzes” da ciência, do progresso e da civilização em oposição às “trevas” da ignorância, da intolerância e do atraso, os maçons atuavam discretamente, nas “sombras”.


A estratégia maçônica voltava-se para os setores populares, através da ampliação quantitativa das escolas leigas, em oposição à estratégia da Igreja católica, centrada na educação das elites. A maçonaria assumiu um papel primordial no enfrentamento da “questão social”, através da busca da harmonização entre capital e trabalho, com a adoção de uma estratégia de incentivo à formação de associações operárias e a ampliação do número de escolas voltadas para o operariado. (Mansur, 1999) Já o Estado brasileiro nunca quis ou pôde controlar o conjunto do processo de escolarização de massa ao longo do século XX. O ensino particular constituiu-se progressivamente como a única opção para os filhos da elite social. Apesar de uma legislação e de um discurso político onipresentes, a rede pública padece de numerosas fraquezas qualitativas e quantitativas. O resultado atual é um sistema educativo fragmentado, organizado em redes disparates, dificilmente comparável entre si. (Saviani, 1992; Akkari, 2001). Vou elencar alguns problemas da escola, hoje, tendo por base entrevista com uma diretora de escola pública137: Gerenciamento equivocado - falta apoio estrutural para a escola desempenhar seu serviço: "Um dos maiores problemas da educação é um gerenciamento equivocado. As escolas estão sem apoio estrutural para desempenhar o seu serviço. Esse problema não é só em função do serviço público. Acho que a sociedade também, junto com a administração, não ligam para ele. Responsabilidade de educar está em cima apenas da escola: “No meu ponto de vista, a educação é uma obrigação da escola (Estado), do trabalho das empresas, da igreja, de todo mundo. E está sobrando só para a escola fazer isso. Devido a tantas mudanças que estão acontecendo na sociedade e na própria civilização, a escola não está tendo condições de desempenhar bem esse papel. Porque sozinha ela não dá conta. É muita coisa contra." "Outro problema que acho da escola hoje é que o aluno não tem mais obrigação de estudar. Se ele quer ser alguém ele faz por conta. E nós aqui fazemos um esforço tremendo para que ele tenha interesse, pois se a população é pobre, ela tem que ser ainda mais exigida, para ver se eles encontram outras alternativas." A formação de professores é deficiente; "Além do problema de falta de investimento em recurso humano, acho também que há muita interferência externa. Remuneração para professores desestimula: "Os recursos que o governo oferece são suficientes. Em termos materiais acho que dá. O problema é o recurso humano, que é desvalorizado. A remuneração é muito ruim e não estimula ninguém a se interessar." Muita interferência externa - leis são muito permissivas: professor pode faltar muito; “Há muita falta de professor amparada por lei. Essa lei não ajuda o desempenho da escola. Há muita permissividade legal. O professor só faz isso porque a lei permite. Nós cumprimos o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas trata-se de um estatuto que está sendo muito mal interpretado e aplicado. Ele dá muita permissividade. O aluno não tem limite. Recebemos reclamações quando tentamos pôr limites eles, mas ainda assim os pais gostam das escolas, pois acham que elas estão pondo limites em seus filhos." Na escola pública, por tudo depender do governo, as iniciativas às vezes são tolhidas A principal diferença na administração de escolas públicas e privadas é que na privada, você pode fazer qualquer iniciativa desde que ela não seja proibida por lei. Já na pública, você só pode fazer o que está previsto na lei. Isso tolhe um pouco a questão das iniciativas."

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Entrevista: Maria Tereza Veneziani Sbrana, FOLHA ONLINE, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/educacao/te2406200522.shtml


Diferenças na educação pública atual e a de tempos atrás: "Está diferente porque a população é diferente. É um problema de gerenciamento antigo, não é de agora. A formação de professores é deficiente. A popularização do ensino universitário não foi acompanhada de qualidade. É muita vaga no ensino particular para uma educação que não é selecionada." "A escola pública era mais valorizada antigamente, pois eram poucas. A seleção para entrada nessas escolas era muito rígida. Muito difícil entrar. Também não tinha quem ficasse sem escola, pois a demanda não era tão grande como hoje." Participação dos pais: "A participação dos pais na escola é mínima. Escola ideal: "A escola ideal seria onde o aluno tivesse a atenção possível, onde ele pudesse ter as aulas possíveis. Não é necessário muito recurso tecnológico. Felizmente ou infelizmente, a forma de aprendizado é a mesma através dos tempos. Podemos usar recursos de vídeo ou técnicas mais modernas, mas isso não é o fundamental, segundo minha experiência. Se o professor é bom, ele dá conta com o quadro e o giz na mão." Até brinco dizendo que faz tempo que quero lançar o projeto ‘Pró-Aula’, que é dar aula um mês inteiro seguido sem interferência, sem tirar o professor da classe, sem chamá-lo para videoconferência, nem palestra... É para o aluno ter aulas, simplesmente aulas. Para encerrar, deixo a seguinte questão: "MAS O QUE É A ESCOLA?"; sigo Gabriel Perissé, autor dos livros “Literatura & Educação” e “Os sete pecados capitais e as virtudes da educação” 138: "A escola não é ilha isolada no oceano social. Não é lugar para guardar crianças, ou reformá-las, embora possa ajudar, orientar e até alimentar. A escola não é paraíso na terra. Nem o inferno entre nós. Nem o purgatório. A escola não está aí por acaso. A escola salvará a sociedade se a sociedade salvar a escola. “Os professores, na escola, não são mágicos, não são heróis (embora heroísmo não falte a muitos deles), não são gênios (muito menos da lâmpada...), não são mercenários, não são santos, não são famosos, não são poucos, não são suficientes, não são muitos, não são o que pensamos que são. “Os professores são pessoas cuja profissão é ajudar na humanização de outras pessoas, os alunos. E que, por isso, devem ser tratados não como funcionários apenas, ou técnicos, ou ‘aplicadores’ de conteúdos apostilados. Devem ser compreendidos e tratados como seres humanos livres, críticos e criativos. Como profissionais que ocupam um lugar único na vida social, profissionais de quem muito se espera. “Cabe aos professores avaliarem os alunos. Avaliação não é punição. Não é acusação. Não é vingança. Não é fatalismo. Não é perseguição. Não é condescendência, tampouco. Tampouco é um fechar os olhos para lacunas e preguiças. “Cabe aos pais acompanharem os filhos. Conversar com os filhos sobre a escola. Conversar com a escola sobre os filhos. Conversarem pai e mãe entre si sobre a escola que os filhos freqüentam. Seja escola pública ou privada. “Cabe aos alunos entenderem a escola. Cuidarem dela. Defendê-la. A escola não é apenas um espaço físico. A escola não é ponto de tráfico de drogas. A escola não é a sede do tédio. A escola não é escola de samba. Não é apenas lugar de encontro. Mas o que é a escola mesmo? A escola não é uma idéia vaga. Não é um lugar onde haja ou não vagas. A escola não é vagão de trem onde entramos e do qual saímos quando chega a próxima estação. A escola não é a sua quadra de esportes (abandonada ou ampliada), não é um conjunto de salas de aula (sufocantes ou arejadas), não são suas paredes (sujas ou limpas), janelas (abertas ou fechadas), portas

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PERISSÉ, Gabriel. Os sete pecados capitais e as virtudes da educação, in JORNAL VIRTUAL PROFISSĂO MESTRE - Profissăo Mestre – Ano 6, nº 85 – 17/09/2008


(com cadeados ou não), armários (vazios ou cheios), escadas (perigosas ou seguras), computadores (novos ou obsoletos), bibliotecas (reais ou fictícias). A escola não é o que vemos. A escola não é arquivo morto. A escola não é cabide de empregos. Não é moeda de troca política. Não é campo de batalha. Não é um curso de idiomas. Não é empresa competitiva. A escola não é clube, não é feira, não é igreja, não é partido." Pergunto, então: O que é essencial do ponto de vista da qualidade da escola? (Mezomo, 1994): - De que adianta concentrar esforços na transmissão de conhecimentos "acabados" se o que o aluno precisa é "aprender a aprender"? - O que adianta concentrar esforços na capacitação técnica dos alunos, para torná-los "mão-de-obra" qualificada, se não se lhes indicam as dimensões éticas e sociais do conhecimento e do trabalho? - O que adianta cumprir um calendário escolar se o essencial, a aprendizagem, não foi garantida e, às vezes, nem possibilitada? - O que adianta, também, "avaliar" a escola por índices que não medem sua qualidade, mas apenas a quantidade de sua produção: número de professores, titulados ou não; regime de dedicação; relação professor-aluno; relação custo/aluno; teses ou trabalhos publicados, e coisas do gênero? - O que adianta aprimorar a estrutura, se os processos não são avaliados e redesenhados e se os resultados não são confrontados com a missão da escola? Evidencia-se a necessidade de se "reeducar" a escola para o essencial, para aquilo que a diferencia para aquilo que a valoriza, para aquilo que lhe dá sentido e legitimidade e para aquilo que lhe garante a otimização de resultados. A "reeducação da escola" importa na substituição de suas "certezas" e do "conhecimento acabado" pela busca permanente de novas respostas às suas "dúvidas" sem, contudo ter a pretensão de esgotá-las de forma definitiva (Mezomo, 1994). A escola que é preciso inventar é aquele que possibilita uma formação tecnológica, humanista e ética e que educa as pessoas para a aprendizagem permanente e interminável. Como afirma Mezomo (1994), "nada, portanto,... de desânimo diante da crise, que nada mais é do que um tempo de aprendizado, de experiências e de reformas" (in UNIVERSIDADE, v. 5, p. 258). Mas então o que é a escola? E sabe a escola nos dizer o que ela é, a que veio, para que existe? Alguém sabe? A escola é um problema insolúvel. A escola é uma probabilidade. A escola é uma experiência. A escola é uma esperança. Obrigado.

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TEMPO AO TEMPO RICARDO RICCI UVINHA Entrevista concedida à Revista E do Sesc sobre a importância do lazer como um direito social e seu papel na atenção à saúde e qualidade de vida.

https://www.sescsp.org.br/online/artigo/12740_TEMPO+AO+TEMPO?fbclid=IwAR1KaZ3QVmSJPG4Lsh9hDBrquEwn VrFG38lLFHOWvIcN9OTgeBI29HtqHOk

Como você costuma aproveitar o seu momento de lazer? E que restrições encontra para vivenciar esse tão desejado período? Essas são algumas das questões investigadas pelo organizador do livro Lazer no Brasil: Grupos de Pesquisa e Associações Temáticas (Edições Sesc São Paulo), lançado neste ano. Professor de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e líder do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Lazer da USP (Giel-USP), Ricardo Uvinha pesquisa a importância e os impactos desse tempo dedicado ao não trabalho na sociedade contemporânea. Autor de diversos artigos e livros sobre a relação do turismo com administração, saúde e atividades físicas, o especialista atuou como presidente da Comissão Científica do Congresso Mundial de Lazer, que ocorreu no Sesc Pinheiros, em agosto. No evento, pesquisadores dos cinco continentes participaram de palestras, workshops e apresentaram trabalhos sobre as principais barreiras – físicas, socioeconômicas e simbólicas – que ainda dificultam o acesso ao lazer. Nesta entrevista, Uvinha fala sobre o conceito e os impactos do lazer desde o período que antecede a Antiguidade Clássica até os dias de hoje, quando a fronteira entre trabalho e tempo livre encontra-se cada vez mais tênue. Como e quando se deu o nascimento do conceito de lazer? A palavra lazer foi concebida como fruto da pós-Revolução Industrial. Mas a manifestação associada ao lúdico, à diversão, inclusive fora do ambiente de trabalho, já existia muito antes e é importante destacar esse fenômeno. Se analisarmos autores que estudam os aborígenes da Austrália, vamos encontrar registros de manifestações ligadas ao jogo, à diversão e até mesmo a guerras e lutas há 40 mil anos antes de Cristo. Temos o período do Egito Antigo, da Pérsia, da Síria, da Babilônia, enfim, todas essas épocas, até mesmo na pré-Grécia Antiga já temos manifestações evidentes e das mais diversas, associadas ao jogo e à diversão. Na Grécia Antiga há o registro da chamada skole, e nela o espaço para os gregos refletirem e manifestarem o culto ao corpo e ao espírito, onde o ócio é muito valorizado. Tanto que o negócio é a negação ao ócio. Ou seja, o ócio era o momento mais importante da sociedade grega, permitida aos filósofos, ao passo que o negócio era algo considerado secundário, feito pelos imigrantes, pelos escravos. Na Roma Antiga, também há manifestações claras. São as chamadas licere: há uma permissividade para as pessoas se divertirem, principalmente pela política do Pão e Circo. As arenas de gladiadores que eram construídas serviam como espaço de manifestação desse ambiente do não trabalho. O negócio acaba sendo sobrepujado em detrimento ao ócio, principalmente a partir do cristianismo. Os próprios rituais de celebração à natureza e à colheita podem ser vistos como lazer por serem festas e rituais alegres e com música? Certamente podem ser ligados ao lazer porque dialogam com o tempo. Veja, estamos falando de tempo de trabalho e tempo de não trabalho. A Revolução Industrial marca um período muito forte de controle do tempo: do tempo cronometrado. Evidente que o relógio já existia, mas ele passa a fazer muito sentido nessa época. Então, você tem um tempo para trabalhar e um tempo para descansar desse trabalho. No período préRevolução Industrial há o que chamamos de tempo cíclico, diferente do tempo linear, que é da Revolução Industrial. Ou seja, o tempo rural: as pessoas trabalhavam em certas épocas do ano. No período de chuva, por exemplo, não se trabalhava. O mesmo no período de inverno rigoroso. Era o tempo das estações que davam o tom. A partir do momento da instalação da máquina, e o relógio é uma máquina importante, você tem de tal a tal horário para desenvolver seu trabalho. Não importa se chove ou se o inverno é rigoroso. Você tem que trabalhar. Assim, evidente que no tempo de trabalho as pessoas tinham controle do patrão, da indústria e tudo mais, mas o não trabalho, o tempo que se despendia para a atividade esportiva, para o bar ou para uma festa também tinha certo controle. Era importante saber como o trabalhador se divertia para ele recuperar a força do trabalho. Ou seja, para ele não estar ligado a vícios.


O que significa lazer no século 21? Essa palavra já esteve bastante associada ao período pós-Revolução Industrial como um tempo liberado das obrigações. Esse é um conceito que foi difundido fortemente pelos autores da linhagem norte-americana e inglesa. Ou seja, o lazer é ligado a um direito do trabalhador. Isso perdurou durante um bom tempo em termos de discussão. Hoje temos o lazer, sem dúvida, associado ao chamado tempo livre das obrigações, mas ficou muito difícil a gente separar o lazer do trabalho. Em muitas atividades, você fica em dúvida se é lazer ou se é trabalho. Percebemos, após uma pesquisa recente e a realização do Congresso Mundial de Lazer, neste ano, que o lazer está presente em diversas culturas. A forma como ele se manifesta depende muito das relações que se estabelecem com o meio societário, com as questões ligadas à economia daquela cultura, daquele país. Ou seja, nesse sentido o lazer acaba sendo um produto muito importante de manifestações de valores culturais dos mais diversos. Sejam eles esportivos, sejam eles turísticos, sociais, entre outros vários elementos. Ter mais capital por conta do excesso de trabalho não significa ter MAIS qualidade de vida Em que momento o ócio começa a ser condenado em função do negócio? Principalmente com o surgimento do capitalismo. Max Weber, em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, explora muito bem essa questão. Essa racionalidade do trabalho que é valorizada pelo surgimento do capitalismo a partir da burguesia, da valorização do capital, prejudica o não trabalho. Porque o que honra o homem é o trabalho. Então, o não trabalho acaba sendo uma dimensão desprivilegiada, um vício a ser combatido. Nesse sentido, um ocioso remete à vagabundagem, à preguiça, a algo que deve ser combatido. E a Igreja acaba controlando esse tempo de não trabalho. É no período da Revolução Industrial que se começa a refletir mais propriamente sobre esse papel do não trabalho. O que estudiosos pensaram a respeito naquela época? Entre os autores que se referem a essa época, em especial Paul Lafargue [ativista político, jornalista e escritor socialista, 1842-1911], genro do Karl Marx, que escreveu O Direito à Preguiça, faz uma reflexão a respeito desse controle do não trabalho. Outra referência é Thorstein Veblen [economista e sociólogo norteamericano, 1857-1929], que mostra que esse tempo de lazer também vai ser importante para o consumo. Veblen nomeia o consumo conspícuo, que é algo a ser ostentado. As pessoas passam a ostentar sua condição de classe no tempo liberado de trabalho, no modo como se vestem, como se comportam à mesa, os lugares que escolhem como destino de viagem. Tudo isso é consumo de ostentação, no tempo fora do ambiente do trabalho. Veblen acaba assumindo uma importância singular para a análise desse período. Como se dá a centralidade do trabalho na vida das pessoas? O trabalho ainda tem uma centralidade importante para as novas gerações. Em termos hierárquicos, quando olhamos para dimensões da vida, como segurança, saúde, educação e trabalho, o lazer não é considerado, em geral, como a mais importante dimensão da vida. O trabalho acaba tendo esse destaque. Essa centralidade no trabalho não pode ser ignorada e em nenhum momento estou dizendo que deva se centralizar tudo no não trabalho. Mas o que a gente pensa é que o trabalho pode ser mais humanizado. Ou seja, um ambiente em que as pessoas possam trabalhar de forma colaborativa, sentir-se pertencentes àquele ambiente. Onde a carga de pressão, que provoca ódio, possa ser minimizada. Como em empresas do Vale do Silício: a pessoa consegue trabalhar melhor – repare que é um discurso bem funcionalista – se ela estiver num ambiente mais convidativo. E, como são empresas de tecnologia e por isso demandam muita criatividade, o ambiente de trabalho deve ser altamente convidativo. Agora, sabemos que é muito difícil um ambiente desses dentro de uma fábrica, por exemplo. Podemos afirmar que o lazer está invadindo o espaço de trabalho? O trabalho tem sido mais lúdico, associado a um espaço do jogar, do prazer. E digo isso justamente por conta da porosidade do tempo de trabalho e do tempo de não trabalho. Hoje é praticamente impossível dizer que há uma fronteira clara como já houve no período da Revolução Industrial. O trabalho invade nossa vida nos finais de semana. Então, eu diria duas coisas importantes a respeito desse cenário. Uma é essa


flexibilidade entre lazer e trabalho, uma conexão cada vez mais frequente. Outra é o aspecto lúdico levado para o trabalho, uma forma de vê-lo ligado ao prazer, ao relaxamento. As pessoas estão chegando a um consenso de que a saúde mental, algo que temos explorado muito no contexto do lazer, vem sofrendo muito como consequência do excesso de dedicação ao trabalho. Ainda que estejamos numa sociedade capitalista, ter mais capital por conta do excesso de trabalho não significa ter mais qualidade de vida. E o que dificulta o acesso ao lazer? Poderia dar exemplos? O eixo central do Congresso Mundial do Lazer 2018 foi Lazer Sem Restrições. Discutimos sobre barreiras de acesso ao lazer. Por exemplo: o fato de muitas pessoas enfrentarem restrições de ordem econômica e simbólica. Neste último caso, a pessoa não se sente convidada a entrar num determinado equipamento de lazer, como um museu ou um espaço esportivo, ainda que sejam gratuitos. Ela não se sente pertencente àquele espaço. A pesquisa que fizemos, envolvendo sete universidades e financiada pelo Ministério do Esporte, teve como tema o Lazer do Brasileiro. Quais foram os parâmetros utilizados para essa pesquisa? Usamos as categorias do Joffre Dumazedier [sociólogo francês, pioneiro nos estudos do lazer e de formação] de conteúdos culturais do lazer. Para organizar e sistematizar as respostas, consideramos seis categorias de lazer: artísticas (ir ao teatro, cinema...), intelectuais (leitura como atividade ligada ao lazer, seja de jornal, revista ou livro, jogar xadrez, entre outras); manuais (artesanato, transformação de objetos, a capacidade de manipulação); sociais (busca por relacionamentos, como bares, cafés, festas, bate-papo, dança); físico-esportivas (esportes dos mais diversos, sem nenhum conteúdo ligado ao trabalho); turísticas (viagens). Adicionamos ainda o ócio, ou seja, o não fazer nada. Muitas pessoas falaram que ficam em casa sem fazer nada. E captamos essa resposta. Entrevistamos 2.400 pessoas de todas as regiões do país com perguntas sobre o que faziam no tempo livre e o que gostariam de fazer se não tivessem nenhuma restrição [ao lazer]. E quais os resultados obtidos? Aparece como destaque a questão da viagem: as pessoas gostariam de viajar no tempo livre, mas a questão econômica, no caso a falta de dinheiro, também aparece fortemente. Questões de ordem simbólica também surgiram. Para os gestores de espaços onde muitas pessoas não se sentem convidadas a entrar, este é um enorme desafio: como incluir essa gente? Também percebemos disparidades quanto ao uso do tempo livre. Ou seja, as pessoas bastante dedicadas ao trabalho formal, quando têm tempo livre, pegam um segundo emprego para complementar a renda familiar. Então, o trabalho informal acaba sendo associado a esse contexto. Para os homens, no tempo livre, o contexto físico-esportivo aparece com destaque. E, para as mulheres, surgem atividades sociais, ações dedicadas ao relacionamento face a face, como cafés e bares. Isso tudo num contexto geral no Brasil. Também há estudos que mostram que o lazer diminui as taxas de violência numa cidade. Isso, de fato, acontece? Não vamos caracterizar o lazer como a salvação dos problemas de segurança pública. No entanto, é muito forte a correlação entre privação de acesso ao lazer e violência. Na Zona Leste de São Paulo, uma região com 4,5 milhões de habitantes, é forte o contexto da violência, como também é forte a dificuldade de acesso a equipamentos de lazer. Assim, quando se olha para o lazer, muitas vezes o aproximamos de atividades associadas a práticas físico-esportivas, como se distribuir quadras poliesportivas em todos os pontos de São Paulo fosse uma solução. Não se pergunta para a população o que ela gostaria de ter. Nem se pergunta se uma biblioteca seria algo significativo, ou mesmo um espaço para oficinas de artesanato. Um exemplo bacana é o de Medellín, na Colômbia, que sofreu muito com o crime organizado e com a violência urbana. Lá, o lazer foi fundamental para a diminuição da violência. As bibliotecas escolhidas pela população é que impulsionaram esse novo cenário. Não estou dizendo que o lazer salva, mas ajuda a atenuar a violência. Na Zona Sul, a exemplo do Jardim Ângela, uma região também violenta, ou na Cidade Tiradentes, na Zona Leste, temos toda uma questão da valorização do lazer da comunidade, a instalação de ruas de lazer, que funcionam aos domingos, cuja ideia é convidar as pessoas para ajudar a montar uma programação. O trabalho tem sido mais lúdico, tem sido muito mais associado a esse ambiente do jogar, do prazer


Como pensar o lazer a partir do aumento da expectativa de vida? Defendemos uma educação para o lazer e para esse momento da aposentadoria. O fato é que, por conta da centralidade do trabalho, as pessoas acabam sem saber o que fazer depois. Se pensarmos no que os britânicos chamam de life long learning, ou seja, um aprendizado para toda a vida, o lazer também faz parte desse contexto. De alguma forma, a possibilidade de usufruir do lazer, ainda que as possibilidades socioeconômicas não sejam privilegiadas, não significa ter que ficar em casa. Nisso entra uma atratividade necessária para que se possa usufruir de um lazer pensado para o momento da aposentadoria. Algo fundamental e que deve ser pensado previamente. As pessoas que, de alguma forma, foram sensibilizadas sobre o período de lazer no momento da aposentadoria, experimentam esse tempo sem culpa. Na USP temos, na Universidade Aberta da Terceira Idade, um contingente significativo de idosos e idosas e este é um exemplo de educação para lazer. Pessoas vêm para fazer cursos dos mais diversos. A ideia é que homens e mulheres convivam com a variedade e com o acesso diferenciado de atividades culturais nesse ambiente do não trabalho. Geralmente, são as idosas que mais procuram essas atividades. O homem aposentado ainda tem muito essa centralidade do trabalho, acha que é bobeira o lazer e fica em casa procurando um trabalho porque não consegue conviver com o não trabalho. Há uma culpa por haver tempo livre. Então, com esses homens, a gente tem feito a ação de mostrar a importância do lazer, de uma atividade cultural. O lazer pode ser uma ferramenta importantíssima para entender o papel das tecnologias nos vários contextos Como as tecnologias influenciam o tempo de lazer na sociedade? O lazer pode ser uma ferramenta importantíssima para entender o papel das tecnologias nos vários contextos. Desde aquelas que envolvem aplicativos e equipamentos culturais de lazer, caso dos museus, por exemplo, que vêm alterando a programação para oferecer mais conectividade e interatividade com os visitantes. A questão é: como usar a tecnologia a nosso favor? Elas vieram mostrar essa porosidade do tempo de trabalho e do não trabalho. E a tecnologia acabou sendo uma ferramenta, uma mediadora desse imbricamento. Deixar de responder um e-mail por 24 horas parece algo que não deveria acontecer. Mas o imediatismo que a tecnologia trouxe é algo inexorável. Cabe a nós refletir sobre como usar a tecnologia a nosso favor para valorizar, inclusive, o lazer como direito social.


LUSOFONIA ESPAÇO DESTINADO A DIVULGAR O QUE SE PASSA NO MUNDO LUSÓFONO, - EM ESPECIAL O PENSAMENTO DO MESTRE JORGE OLIMPIO BENTO – E OUTROS PENSADORES DE LÍNGUA PORTUGUESA, EM ESPECIAL DE OUTROS PAÍSES QUE ADOTAM A LÍNGUA COMUM.


MONGE DA SILVA E O TREINO DESPORTIVO Por MANUEL SÉRGIO ESPAÇO UNIVERSIDADE HTTPS://WWW.ABOLA.PT/NNH/NOTICIAS/VER/763370?FBCLID=IWAR2KVYHU3VAKA1DH4A9MIB95QKPK22DBXTBM7KTIOK YA0627VFKGW339C4Q

“Já saio pouco de casa!” tal é o seu estribilho exclamativo e sorridente, quando o convidam “para ir aqui ou acolá”. Tem 71 anos de idade, é professor aposentado da Escola Secundária de Camões e, há trinta e quarenta anos, corporizava um “dogma” aceite por quem fazia ou ensinava desporto: “o Monge da Silva é o português que mais sabe de treino desportivo”. Trabalhou, com êxito. no S.L.Benfica (onde foi campeão nacional, conquistou 2 Taças de Portugal e a Supertaça) no Portimonense e noutras equipas primodivisionárias. Lecionou, no INEF (Instituto Nacional de Educação Física) as disciplinas de “Fisiologia I e II” e “Teoria de Jogos e Desportos”; e, no ISEF (Instituto Superior de Educação Física) as disciplinas de “Teoria do Treino” e de “Metodologia do Treino”. E, com uma complacência, que é virtude muito sua, apiedava-se dos que o procuravam, vindos de Lisboa e doutras cidades do País, ávidos do seu saber e da sua tranquila generosidade. É de salientar ainda que trabalhou, sempre como metodólogo do treino, com um saber surpreendente, “in illo tempore”, em várias seleções nacionais, chegando a campeão mundial de seniores e europeu de juniores, na modalidade de hóquei em patins. Um currículo a merecer franco aplauso! Sem favor! Beneficia de uma inesgotável memória. Uma tarde, depois de escutar-me uma crítica vivaz, entremeada de uma anedota, ao positivismo (ou ao fisiologismo) de alguns treinos que eu observara no Estádio do Restelo, recitou-me, de cór, a definição de Educação Física, que aprendera na aula de “Ginástica Teórica” do Doutor Celestino Marques-Pereira: “A Educação Física é um aspeto da educação integral que, através de uma processologia específica, baseada no movimento humano, cientificamente organizado, visa contribuir para o aperfeiçoamento e desenvolvimento, por igual expresso, das capacidades globais hereditárias do ser humano, no sentido de uma mais ampla, profunda e completa integração do indivíduo e da sociedade”. E terminou, emocionado e grato e com o ar grave de quem está a fazer uma afirmação convicta: “Era um professor com nível verdadeiramente universitário. Admirava-o bastante!. Parecia um neurofisiologista afamado”. Não sendo médico, o Doutor Celestino era, com toda a certeza, um fisiologista e um frequentador assíduo dos melhores livros desta área do conhecimento. Hoje, no treino, já impera um paradigma sistémico. Edgar Morin, na esteira de Von Bertalanffy, define o sistema como “um conjunto de unidades em inter-relações mútuas”. E aprofunda esta definição, quando concebe o sistema como “unidade global organizada de inter-relações entre elementos, ações ou indivíduos”. A grande novidade da noção de sistema reside na ideia de totalidade que faz do sistema um todo organizado, cuja explicação deverá procurar-se na sua natureza sistémica ou organizacional. Assim, “o sistema que resulta da disposição das partes é mais do que a adição ou a simples justaposição de um conjunto de partes. É o produto das interacções entre as partes, as quais, posicionando as partes no seio de um todo, transformam as partes em partes de um todo. Aparecem assim qualidades novas e inéditas, qualidades não isoláveis do todo, irredutíveis às qualidades e propriedades dos componentes. A estas qualidades chamam-se emergências” (Robin Fortin, Pensar com Edgar Morin, Instituto Piaget, Lisboa, 2014, p. 54). É o que acontece, com Messi e já aconteceu com Ronaldo, quando jogam nas seleções nacionais dos seus países e que são vivamente criticadas por comentadores televisivos e doutros órgãos da Comunicação Social que, com ar sisudo, algo conselheiral, os recriminam pelo “desinteresse” que manifestam (dizem eles), sempre que envergam as camisolas das equipas representativas, respetivamente, da Argentina e de Portugal. O Dr. Monge da Silva inteiriçou a figura e, com galhardia na voz, declamou: “É que tanto Messi como o Ronaldo são elementos doutras totalidades, que são os clubes onde jogam habitualmente”. E acentuou: “Eles são elementos doutras totalidades, que não são as seleções nacionais dos seus países”. E murmurou, por fim: “Mas, para chegar rapidamente a esta conclusão, é preciso estudar mais do que futebol. E, de facto, o Edgar Morin é um dos autores indicados”.


Monge da Silva (digo-o sem qualquer receio): já foi, em Portugal (e não será ainda, hoje?) a coluna mestra da teorização do treino desportivo. E teorização, de facto, que nascia de um profissional que nele (no treino) tão denodadamente trabalhou. E repetia, feliz, a sua costumada frase: “Para mim, uma teoria, sem prática, para nada serve”. E, simpático, ainda me perguntou: “Você tem uma frase que quer dizer isto mesmo…”. Respondi-lhe, imediatamente: “A prática é mais importante do que a teoria e a teoria só tem valor, se for a teoria de uma determinada prática”. A teoria, por si só, não transforma. A transformação acontece, quando a teoria é materializada na prática. A transformação não é um plano, um projeto, uma ideia, mas um trabalho que, objetivamente, transforma a própria realidade. E Monge da Silva, com a alma no olhar e no sorriso fresco, continuou: “Que a prática não é teoria, é realidade inquestionável que se observa, no treino desportivo. Há rapaziada, recém-licenciada, que teoriza primorosamente o treino desportivo, e não sabe liderar uma equipa profissional desportiva. É que o trabalho do treinador, como prática, não se resume a um trabalho ideológico, espiritual, especulativo. O treino tem, principalmente, uma dimensão histórica, objetiva, material”. De facto, eu não fujo ao que diz o Monge da Silva, natureza rica, múltipla e variada, com indiscutível papel de relevo, no desenvolvimento do Desporto, em Portugal: a teoria não é prática, mas uma atividade que perspetiva e antecipa uma nova prática e portanto, em determinados momentos, não dispensa e supõe uma revolução ao nível das mentalidades. A prática está no princípio da teoria mas, porque toda a teoria representa uma opção, uma escolha, sem teoria a prática não nos diz, com manifesta nitidez, nem quem é, nem a que vem. Já com o “Sapere aude” (ousa saber) de Kant, a teoria é bem mais do que um apêndice da prática… Voltei a questionar o Monge da Silva: “O que é, para o meu Amigo, o treino?”. E ele: “ É um método de aproximação à realidade humana e material, que constitui o Desporto, e à sua complexidade”. E prosseguiu, sempre apoiado na sua prodigiosa memória e no seu coração magnânimo: “Quando o Manuel Sérgio começou a ensinar que o desporto era mais do que desporto, fundamentado no conceito de totalidade da escola hegelo-marxista, apontou uma realidade que a toda a hora se verifica no Desporto, a começar no treino”. Aqui, interrompi o Monge da Silva, para referir: “De facto, o meu conceito de totalidade radica na escola hegelo-marxista, mas não escondo que um dos meus mestres é também o Padre Teilhard de Chardin que produziu uma frase maravilhosa, cientificamente fundamentada, que eu não esqueço nunca: A matéria destila espírito, ou seja, não há matéria sem espírito, nem espírito sem matéria. Quero dizer-lhe, a propósito, que considero Teilhard de Chardin um dos predecessores de ILya Prigogine, de Gaston Bachelard, de Edgar Morin e alguns mais, quero eu dizer: todos aqueles que perceberam, logo durante os princípios do século passado, que tudo é complexo”. Monge da Silva continuou: “Por isso, no treino, não há soluções-pronto-avestir, nem métodos-pronto-a-vestir. Prefiro a sua periodização antropológica e tática à periodização tática de que tanto se fala. É que são os jogadores, que vou treinar, que me determinam as características do treino que vou liderar”. Não tenho qualquer receio em salientar que, antes de Monge da Silva, no nosso país, os parâmetros do treino eram observados e estudados, isoladamente, cartesianamente. E foi a sua informação exaustiva, o seu estudo incessante que dele me aproximou. Foi o Monge da Silva que, em plena década de 70, me ensinou o que era o treino desportivo. Com José Maria Pedroto, Artur Jorge, Fernando Vaz, José Mourinho, Jorge Jesus. Já no campo da Gestão do Desporto não escondo o que aprendi com o Prof. Gustavo Pires. Tive, de facto, bons mestres. Raras vezes, a eloquência do orador e a eloquência do professor se encontram reunidas na mesma pessoa. Mas estes, de Desporto, muito me ensinaram. Por amor à Verdade o digo. Contra ventos e marés. Manuel Sérgio é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto


O PENSAMENTO DO JORGE BENTO Esta é uma Revista aberta às contribuições... Tomo a liberdade – devidamente autorizado – de replicar aqui o Pensamento do Jorge Bento... O conheci, pessoalmente, em 1992, numa palestra na UFMG. O nosso GuruGeek Laércio o trouxe para falar sobre Lazer... eu estava fazendo meu Mestrado em Ciência da Informação; minha ultima especialização fora em Lazer e Recreação, daí meu interesse, ainda maior, pois se tratava de Jorge Bento!!! Já o conheci, de alguns escritos e livros. Creio que - não sei quem é o maior, mas vamos colocalos na mesma posição, de fora de concurso, pois – se Jorge, Manuel Sérgio ou Silvino Santi os maiores e melhores filósofos da nossa tão combalida Educação Física – prefiro a tradição da denominação, mas aceito a Motricidade Humana e as Ciências dos Esportes... Jorge falou sobre Gilberto Freire... uma palestra em que até hohe recordo algumas das bombásticas expressões usadas, em especial na comparação entre os nossos povos – que ele considera um só, e adota a cidadania luso-brasileira, pois... O português é aquele pçovo trágico, que venera o Cristo crucificado, dolorido, sofrido, sentindo-se abandonado, mas mesmo assim, disposto a todos os sacrifícios, como decorrência de sua sorte e vivência, dai vestirem-se as mulheres sempre de preto, com lenço à cabeça, andar curvado, como se carregassem todos os pecados do mundo, um peso insuportável... já o brasileiro, venera o Cristo menino, a criança brincalhona, e por isso, um povo alegre, vivaz, colorido... isso na interpretação de um artigo escrito por Gilberto Freire, em 193... (2, 9u 9?) e publicado em inglês, numa palestra na Inglaterra, inédito em português, ou no Brasil... gostaria de te-lo reproduzido nestas páginas... Desde então o acompanho mais de perto, trocando correspondência, agora em tempos de redes sociais, e palavras quase diárias. Semprer replico e comportilho suas colocações, em especial quando se referem à Educação e à Educação Física/Motricidade Humana... Aproveitem!!!!


EXERCÍCIO DA EMPATIA: PARA O SENTIDO DA VIDA A vida não tem qualquer sentido imanente. Somos nós quem o deve inventar. E faltam-nos tantas ferramentas para essa invenção! Talvez o inventemos criando a arte do usufruto da existência. Mas… como? Fazendo vários exercícios. Um deles poderá ser a exercitação diária e obrigatória da empatia. Se sairmos do nosso reduto e nos abeirarmos dos outros, sobretudo dos desconhecidos, se falarmos com eles e escutarmos a sua voz mesmo cansada, desiludida e abafada, se lhes dirigirmos a atenção, o olhar e a palavra, ganharemos lugar e papel num coro polifónico. Canções e poemas de harmonia alegrarão a terra, para gáudio do céu. Não sendo este, não vislumbro qual seja o sentido da vida. Contentarmo-nos em ser espantalhos num mundo de confusão e pontas soltas?!

O MEU LADO Nasci frágil. De fragilidade tem sido feita a minha vida. Até nas fases e situações de força e poder aparentes, a fragilidade estava lá incontida e ululante, mesmo que os outros não a vissem e ouvissem, por baixo da carapaça da superfície. Por isso, para mim não foi difícil a escolha. Sem ter lido François de Chateaubriand (1768-1848), já se encontrava enraizada em mim a decisão irrevogável: “A ameaça do mais forte faz-me sempre passar para o lado do mais fraco.” Sinto-me obrigado a ficar assim até ao fim. Desde que o mundo é mundo, os fracos não ameaçam, antes geram e sustentam os fortes. São vítimas destes e, não raras vezes, de si próprios.

PUNIÇÕES POR PLÁGIO E FRAUDE A Universidade de Coimbra, soube-se ontem, puniu 77 indivíduos, devido a práticas de plágio e fraude. Um dos visados foi castigado por ter associado o nome a trabalho alheio. Nenhum professor faz parte da lista dos punidos; todos são estudantes. Então não há docentes que colocam o nome em trabalhos para cuja elaboração o seu contributo é nulo ou insignificante? Pelos vistos, na Universidade de Coimbra não há. E nas outras universidades? A praga existe; alguns ficariam com o currículo reduzido a pó, cinza e nada, se ela fosse expurgada. Na academia há muita gente talentosa e laboriosa. Mas também há quem colha frutos na árvore da batota e ladinice. Os falsários assinam artigos que não têm uma linha e gota do seu labor e suor; nem sequer os leem Da sua lavra, é escassa a obra exibida; medram na planura da consciência apodrecida. Isto chama-se corrupção! Porque é que as autoridades académicas assobiam para o lado e não a enfrentam? Porque a casa e a corporação viriam a baixo, tal é a extensão da mancha e da indignidade ética.

O QUE SE APRENDE NO DESPORTO? Bem, ao desporto está associada uma enciclopédia de valores e virtudes. Não vejo mal nisso, mesmo que se trate de ideações propensas a iluminar o belo e a esconder o feio. Mas… o que aprendemos realmente? Muitas coisas positivas, que não sei formular de modo abrangente e clarividente. No mínimo, podemos aprender a perder e ganhar cada vez melhor, até chegar a ser brilhantemente. Isto para mim é bastante e constitui um guião para a educação. Professores e treinadores


devem privilegiar esta aprendizagem. Ah, como o mundo seria ridente, se fosse tingido pela amabilidade luminescente entre quem ganha e perde! Todos seriam vencedores e não haveria perdedores.

Prometeu crucificado Quem chega à Universidade do Minho dá de caras com a assombrosa criação do Mestre José Rodrigues. A figura de Prometeu está ali diante dos nossos olhos, lembrando-nos o arrojo que ele cometeu e o castigo que lhe foi aplicado por Zeus. Muitos dos passantes pelo monumento não têm ciência de que o filho de Jápeto roubou aos deuses os atributos e dons divinos, para os entregar às criaturas desvalidas criadas pelo seu irmão Epimeteu e, assim, as tornar humanas. Ignoram que, devido a esse feito desmedido e generoso, foi acorrentado e posto à mercê de abutres que, todos os dias, lhe roíam as entranhas. Não sabem que só Hércules, o criador dos Jogos Olímpicos, logrou soltá-lo das amarras. Também não sabem que os pensadores da Modernidade se inspiraram no Titã para estabelecer o alvo da educação e formação: desacorrentar os pés, as mãos, o coração, a razão, o espírito, o entendimento, o ânimo e a vontade dos indivíduos para que estes ascendam a Seres Humanos de verdade. O fogo prometeico é indispensável a todas as áreas da atividade humana. Porém parece hoje em vias de se extinguir. Não é mais Prometeu quem pontifica na universidade. Está nela crucificado pelos cabos-de-ordem do senso comum e conformismo, a mando dos inimigos do pensamento crítico e divergente. Os seus seguidores são poucos e sofrem o mesmo destino. Quanta falta faz um Hércules como o de outrora! Mas já não há heróis daquele teor; a imaginação encontra-se domesticada, a boca amordaçada e a coragem algemada. Um dia, a luz do mito renascerá, fulgurante.

Fome de Luz Dezembro tem dias curtos, chuvosos, cinzentos e frios. Pelo menos na Europa é assim. Talvez por isso, ele incita a convocar a Luz, que tanta falta faz à Humanidade. Alegramos as nossas casas, as avenidas, praças e ruas das cidades, os estabelecimentos comerciais e outros locais com iluminações, que extasiam os olhos, aquecem o coração e revelam à alma e à vontade os caminhos da ideação. A sensibilidade desperta para dramas e necessidades que, no resto do ano, passam à margem da atenção. Comovemo-nos e imaginamos Jesus a operar milagres. O filho de Deus e do melhor do Homem anda por aí, incarnado nas pessoas fraternas e generosas. Se invocássemos o Seu nome com mais força e convicção, quem sabe se Ele, em carne e osso, não viria e pousaria em nós a milagrosa mão?!


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CÉSAR ALEXANDRE ABOUD - nasceu no Acre, na cidade de Cruzeiro do Sul, em 23 de fevereiro de 1910, filho de Júlia Drubi (viúva) e de Alexandre Aboud (com quem casa em segundas núpcias). Quando contava dois anos, a família muda-se para São Luís; aqui, foi alfabetizado por dona Santinha e mais tarde passa a estudar no Colégio dos Maristas, onde fez o curso primário. Com o falecimento do pai, Alexandre Aboud, a família muda-se para Buenos Aires, em 1920; na Argentina, César estudou na Escola Bartolomeu Mitre e, aos 11 anos, estava trabalhando na firma de José Gasard, como transportador de mercadorias. Em 1922, a família está de volta a São Luís, passando a estudar no Colégio Gilberto Costa, e, com 14 anos, empregou-se na firma Chames Aboud. Após anos de trabalho, já se transformara em um comerciante sólido e industrial, vindo a adquirir a Fábrica Santa Izabel, de Nhozinho Santos, em 1938. A devoção de César pelo esporte encontra-se em sua infância, quando começou a formar sua personalidade de esportista. Em Buenos, dedicava-se ao boxe, chegando a ser pugilista de renome. Quanto ao futebol, aos 4 anos de idade (?) já tinha organizado em São Luís um time - o Botafogo - que saia pela cidade a desafiar a garotada. Na adolescência fez parte do Esporte Clube Sírio Brasileiro, formado à base de descendentes libaneses, do qual foi dirigente e jogador. Anos mais tarde, depois de liderar uma dissidência do Sírio Brasileiro, fez-se técnico do Maranhão Atlético Clube. Em 1939, já era notória a sua dedicação ao esporte, recebendo convite do capitão Vitor Santos para dirigir o Moto Clube de São Luís, uma de suas maiores paixões, tendo sido seu presidente por 15 anos. Procedeu a mudanças no Moto, começando pela camisa, que mudou a cor de verde e branca para vermelha e preta, por causa do Flamengo. Reestruturou o clube, ampliou o quadro associativo, criou os departamentos de voleibol, e basquetebol, e reformou o estádio do Santa Izabel, em 1942, construindo arquibancadas e dotando-o de condições apropriadas para o exercício do bom futebol que há época se praticava no Maranhão. O plantel de jogadores, da melhor qualidade técnica, era freqüentemente requisitado para apresentações nos grandes centros esportivo do país. Recursos para tal fim eram fornecidos pela fábrica, que mantinha a agremiação esportiva. O falecimento de César Aboud ocorreu em São Luís, a 20 de agosto de 1996 O Esporte, São Luís, 14 de setembro de 1947


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